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ISSN 1676-8868 Revista de Educação Matemática - Vol 10, N° 11 (2007) © Sociedade Brasileira de Matemática A PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NO CONTEXTO DAS TICs: UMA EXPERIÊNCIA COM A UTILIZAÇÃO DO MAPLE EM CÁLCULO DIFERENCIAL Rosana Giaretta Sguerra Miskulin i - UNESP - Rio Claro/SP Marco Antônio Escher ii - UNESP - Rio Claro/SP Carla Regina M. da Silva iii UNESP - Rio Claro/SP Resumo: Este artigo apresenta excertos de uma pesquisa que retrata como o espaço da universidade, permeado de diferentes culturas, tais como: cultura institucional, cultura da experiência, cultura docente, cultura social, entre outras (PEREZ GOMES, 2001), influencia a cultura do professor de Matemática, quando este procura utilizar as TICs em uma aula de Cálculo Diferencial, com alunos do primeiro ano do curso de Ciência da Computação/UNESP/Rio Claro/2006. Nessa interação, tínhamos como objetivo compreender como a prática docente do professor de Matemática poderia ser re-elaborada sob as dimensões didático-pedagógica e epistemológica no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em relação aos alunos o nosso objetivo consistia em compreender como se relacionam os processos de exploração, visualização e representação dos conceitos matemáticos, em um determinado contexto da sala de aula, implícito na cultura institucional, o qual prioriza as TICs, ressaltando suas potencialidades didático-pedagógicas na introdução dos conceitos de Otimização em Cálculo Diferencial, por meio do Software MAPLE, contando ainda como auxílio da plataforma computacional de Educação á Distância TelEduc. Assim, buscando alternativas nos termos já cunhados e utilizados para "atividade", dentro da perspectiva de Investigação Matemática (PONTE, 2003) e (ESCHER, SILVA e MISKÜLIN, 2006), procuramos, no presente artigo, apresentar uma abordagem metodológica sobre esse termo, reestruturando algumas de nossas asserções teórico-metodológicas, de modo a re-significá-lo e passarmos a denominá-lo de "atividade exploratório-investigativa". Serão descritos excertos das experiências vivenciadas pelo professor da disciplina, por dois professores- monitores lv e pela interação dos alunos, desde a pesquisa para elaboração da aula, a preparação das atividades, a escolha do software, a dinâmica utilizada e desenvolvimento das atividades, a implementação na sala de aula e os depoimentos dos alunos sobre aulas com o software Maple. Com essas perspectivas tornou-se possível vivenciar a utilização das TICs em sala de aula como uma alternativa teórico-metodológica na introdução e visualização de conceitos matemáticos, desvelando uma possibilidade de incorporação destas na cultura do professor de Matemática. Palavras-Chave: Cultura Docente, Atividades Exploratório-Investigativas, Tecnologias de Informação e Comunicação e Cálculo Diferencial.

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A PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA NOCONTEXTO DAS TICs: UMA EXPERIÊNCIA COM A UTILIZAÇÃO DO

MAPLE EM CÁLCULO DIFERENCIAL

Rosana Giaretta Sguerra Miskulini - UNESP - Rio Claro/SP

Marco Antônio Escherii - UNESP - Rio Claro/SP

Carla Regina M. da Silvaiii UNESP - Rio Claro/SP

Resumo: Este artigo apresenta excertos de uma pesquisa que retrata como o espaço da universidade, permeado de diferentes culturas, tais como: cultura institucional, cultura da experiência, cultura docente, cultura social, entre outras (PEREZ GOMES, 2001), influencia a cultura do professor de Matemática, quando este procura utilizar as TICs em uma aula de Cálculo Diferencial, com alunos do primeiro ano do curso de Ciência da Computação/UNESP/Rio Claro/2006. Nessa interação, tínhamos como objetivo compreender como a prática docente do professor de Matemática poderia ser re-elaborada sob as dimensões didático-pedagógica e epistemológica no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em relação aos alunos o nosso objetivo consistia em compreender como se relacionam os processos de exploração, visualização e representação dos conceitos matemáticos, em um determinado contexto da sala de aula, implícito na cultura institucional, o qual prioriza as TICs, ressaltando suas potencialidades didático-pedagógicas na introdução dos conceitos de Otimização em Cálculo Diferencial, por meio do Software MAPLE, contando ainda como auxílio da plataforma computacional de Educação á Distância TelEduc. Assim, buscando alternativas nos termos já cunhados e utilizados para "atividade", dentro da perspectiva de Investigação Matemática (PONTE, 2003) e (ESCHER, SILVA e MISKÜLIN, 2006), procuramos, no presente artigo, apresentar uma abordagem metodológica sobre esse termo, reestruturando algumas de nossas asserções teórico-metodológicas, de modo a re-significá-lo e passarmos a denominá-lo de "atividade exploratório-investigativa". Serão descritos excertos das experiências vivenciadas pelo professor da disciplina, por dois professores-monitores lv e pela interação dos alunos, desde a pesquisa para elaboração da aula, a preparação das atividades, a escolha do software, a dinâmica utilizada e desenvolvimento das atividades, a implementação na sala de aula e os depoimentos dos alunos sobre aulas com o software Maple. Com essas perspectivas tornou-se possível vivenciar a utilização das TICs em sala de aula como uma alternativa teórico-metodológica na introdução e visualização de conceitos matemáticos, desvelando uma possibilidade de incorporação destas na cultura do professor de Matemática.

Palavras-Chave: Cultura Docente, Atividades Exploratório-Investigativas, Tecnologias de Informação e Comunicação e Cálculo Diferencial.

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Introdução

A escola, enquanto espaço de interação social e entrelaçamento de culturas distintas (PÉREZ GOMES, 2001) tem-se mostrado como um local complexo, permeado de tensões e conflitos. As universidades e os cursos de Licenciatura experienciam mudanças tecnológicas e, apesar disso, de um modo geral, cultuam a reprodução de "velhas" práticas didático-pedagógicas. A utilização e a disseminação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nesses espaços fazem parte de um rol de possibilidades de enfrentamento e transcendência a essas tradições pedagógicas, trazendo aspectos didático-pedagógicos contemporâneos, proporcionando assim diferentes perspectivas teórico-metodológicas à cultura docente (PÉREZ GOMES, 2001). Nesse sentido, o professor de matemática assume um papel fundamental ao compatibilizar os métodos de ensino e teorias de trabalho com as TICs, tornando-as partes

integrantes da cultura do aluno. Assim, esse professor passa a ter novas possibilidades teórico-metodológicas que consideram as TICs na exploração, construção e disseminação do conhecimento matemático. Cabe a ele descobrir como utilizá-las e torná-las partes do processo educativo, criando novos contextos formativos, nos quais os alunos possam transformar informações, conteúdos e experiências compartilhadas em conhecimento. O que percebemos é que a cultura escolar demora a incorporar os meios tecnológicos, que já se encontram incorporados no dia a dia das comunidades.

Na literatura nacional e internacional, em Educação e em Educação Matemática, encontramos diversos educadores que recomendam reflexões sobre a utilização e disseminação das TICs no contexto educacional. A prática docente do professor de Matemática necessita ser repensada e re-significada no contexto das TICs, levando-se em conta as dimensões didático-pedagógica e epistemológica da prática docente, quando o professor utiliza novas formas de ensinar. Essas novas formas perpassam pelos limites e

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potencialidades das Tecnologias da Informação e Comunicação (TJCs), sua utilização em sala de aula e seus reflexos na prática docente.

Ao introduzirmos as Tecnologias da Informação e Comunicação, no contexto educacional, devemos refletir sobre as diversas questões que emergem desta ação, sendo que uma delas, envolve o conceito da cultura docente (PÉREZ GOMES, 2001) que é resultado de um entrelaçamento de culturas, as quais se entrecruzam na escola, como a cultura escolar, cultura institucional, cultura da experiência, Cultura Social, entre outras. Segundo Pérez Gomes (2001), a escola como qualquer outra instituição social, desenvolve e reproduz sua própria cultura específica, por isso devemos respeitar a cultura de cada escola e não impor as TICs sem refletir sobre o impacto e sobre a necessidade dessa implementação. A escolha e utilização da tecnologia a ser implementada na sala de aula dependerá, portanto, da cultura docente que está relacionada com a cultura da escola em que o professor está inserido,

Quando propomos introduzir as TICs na Educação, faz-se necessário pensarmos sobre a escolha da tecnologia e, conseqüentemente, do software a ser utilizado na sala de aula. devendo também esta escolha atender e contemplar os objetivos projetados pelo professor ao mediar o processo educativo. Miskulin (1999) diz existir duas maneiras de se utilizar computadores na Educação. Uma delas seria promover atividades projetadas para se ensinar da mesma forma o que já se ensinava na escola tradicional, apenas como um novo instrumento na sala de aula, outra, e mais adequada, segundo a autora, seria proporcionar novas atividades explorando os recursos que a tecnologia possui e propiciando aos alunos novas maneiras de visualização e representação dos conceitos matemáticos.

Nessa perspectiva. Carvalho e Pereira (2004) propõem que: "o professor precisa conhecer as limitações e as potencialidades do software escolhido" (p.52). Essa exploração pode ser feita por meio de atividades investigativas na sala de aula, concebidas de acordo com Ponte et al, 2003: "o que mais fortemente as caracteriza é este estilo de conjectura-teste-demonstração" (p.10) e ainda, "desenvolve-se habitualmente em três fases: (i) introdução da tarefa (...), (ii) realização da investigação (...) e (iii) discussão dos resultados" (p. 25).

Assim, este artigo apresenta excertos de uma pesquisa que retrata como o espaço da escola -universidade, permeado de diferentes culturas (PÉREZ GOMES. 2001) interfere na cultura do professor de Matemática, quando este procura

utilizar as TICs em uma aula de Cálculo Diferencial I, com alunos do primeiro ano do curso de Ciência da Computação/UNESP/Rio Claro/2006, os quais utilizavam o TelEduc, como apoio ao ensino presencial. Nessa interação, tínhamos como objetivo compreender como a prática docente do professor de Matemática poderia ser re-elaborada sob as dimensões didático-pedagógica e epistemológica no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em relação aos alunos o nosso objetivo consistia em compreender como se relacionam os processos de exploração, visualização e representação dos conceitos matemáticos, em um determinado contexto da sala de aula, implícito na cultura institucional, o qual priorizava as TICs, ressaltando suas potencialidades didático-pedagógicas na introdução dos conceitos de Otimização em Cálculo I, por meio do software MAPLE, contando ainda como auxílio da plataforma computacional para Educação à Distância – TelEduc, em uma perspectiva de Investigação Matemática (PONTE, 2003).

A Cultura Docente do Professor no Contexto das TICs

Segundo Pérez Gomes (2001) viver uma cultura e dela participar supõe reinterpretá-la e transformá-la. A cultura potencializa tanto quanto limita, abre ao mesmo tempo que restringe o horizonte de imaginação e prática dos que a vivem. Por outro lado, a natureza de cada cultura determina as possibilidades de criação e desenvolvimento interno, de evolução ou estancamento, de autonomia ou dependência individual.

Os aspectos da cultura abrem espaço para que se discutam os fenômenos de socialização e educação que ocorrem no cenário da escola, que possibilita o cruzamento de diferentes culturas provenientes dos atores desse espaço de interação, o que permite a construção de significados de cada indivíduo. Assim, cada cultura no ambiente escolar entrecruza-se com outras, que se apresentam diferenciadas nesse espaço, tais como: cultura escolar, cultura da experiência, cultura institucional e cultura do professor ou cultura docente. Identificando a ligação dessas culturas com a dimensão educativa, o autor afirma que:

È evidente que os estudantes aprendem muito mais e muito menos, em todo caso, algo diferente do que lhes é ensinado intencionalmente no currículo explícito. Tanto os intercâmbios acadêmicos como os intercâmbios pessoais ou as relações institucionais se encontram mediatizados pela complexa rede de culturas que se inter-relacionam neste espaço artificial, e que constituem uma rica e espessa teia de significados e de expectativas por

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onde transita cada sujeito em formação, precisamente no período mais ativo na construção de seus significados e de sua identidade (PÉREZ GOMES, 2001, p.18).

Tomando como meta o estudo das culturas, no caso, do professor, do grupo de formadores, da comunidade escolar e da própria escola como suporte à prática educativa, relativa à função que a escola desempenha, o referido autor, acima citado, realiza um estudo sobre as diferentes culturas que compõem o cenário educacional. Assim, a cultura docente pode ser traduzida pelo professor frente aos métodos que utiliza em classe; a qualidade, sentido e orientação das relações interpessoais; a definição de papéis e funções que desempenha; aos modos de gestão; as estruturas de participação; e aos processos de tomada de decisões.

A cultura docente é de fundamental importância no contexto educativo, pois, possibilita significado e identidades aos docentes a partir dos desafios, anseios e expectativas que permeiam as condições de trabalho do professor. Porém, essa cultura não determinará o comportamento do docente, pois todo professor tem seus próprios valores, interesses e ideologias. Como considera Hargreaves (1998, p.164), a cultura docente se encontra, nos dias de hoje, em um dilema,

[...] vivendo uma tensão inevitável e preocupante entre as exigências de um contexto social móvel, mutável, flexível e incerto, caracterizado pela complexidade tecnológica, pela pluralidade cultural e pela dependência dos movimentos do livre mercado mundial por um lado, e as rotinas, as convenções e os costumes estáticos e monolíticos de um sistema escolar sem flexibilidade, opaco e burocrático por outro. Nessa inevitável tensão os docentes se encontram cada vez mais inseguros e indefesos, se sentem ameaçados por uma evolução acelerada a que não podem ou não sabem responder. As certezas morais ou ideológicas de antes são questionadas e se desvanecem, sem encontrar substitutos nem compensações válidas e críveis. Por isso, com lamentável freqüência, suas reações são ineficazes, se caracterizam pela passividade, inércia ou regresso a comportamentos gregários, conservadores e obsoletos que dão primazia ao isolamento ou ao autoritarismo.

Com essas perspectivas teóricas, buscamos investigar, por meio das experiências vivenciadas por um professor de Matemática, a possibilidade da re-significação de sua prática docente, inserida na cultura docente, a qual considerava as TICs, no desenvolvimento de conceitos matemáticos, por meio de atividades exploratório-investigativas.

Atividades Exploratório-investigativas

Buscando alternativas nos termos já cunhados e utilizados dentro da perspectiva de Investigação Matemática (PONTE, 2003 e FIORENTINI e CRISTÓVÃO, 2006) procuramos no presente artigo apresentar uma abordagem metodológica a partir da perspectiva teórica - Investigação Matemática a partir das concepções já existentes, reestruturando algumas de nossas asserções, de modo à re-significá-las.

Assim concebemos atividades exploratório-

investigativas como atividades ou problemas nos quais

os alunos envolvem-se em processo de investigação de

soluções, buscando estratégias próprias,

experimentando conjecturas e hipóteses a respeito das diversas partes que compõem o problema, discutindo-as com seus colegas e re-elaborando-as no contexto prático no qual se insere o problema.

A natureza de uma atividade ou um problema não compreende em si mesma características de exploração e investigação. A mediação do professor no desenvolvimento da aula será de fundamental importância na constituição da característica exploratório-investigativa de uma atividade ou um problema de Matemática. O professor ao mediar o processo educativo, por meio de atividades exploratório-investigativas, cria situações desafiantes, investigativas, através dos recortes dessas atividades em vários problemas intermediários que possibilitam aos alunos deslocarem-se muitas vezes da atividade ou problema principal, olhando-o e percebendo-o sob uma outra perspectiva, possibilitando-lhes a busca de novos caminhos e a reavaliação constante de suas estratégias e objetivos, enfim, envolvendo-os, cada vez mais, no processo de investigação e construção do conhecimento matemático.

Apresentamos, assim, alguns excertos da experiência vivenciada por um professor de Matemática, exemplificando as possibilidades de possíveis re-signifícações de sua prática docente, no contexto das TICs.

Excertos das Experiências do Professor de Matemática: A Implementação das Atividades na Sala de Aula

Visando os nossos objetivos elaboramos atividades que pudessem promover a participação e o envolvimento dos alunos e desenvolvessem situações, conforme Ponte et AL (1999) considera que, ... toda a atividade matemática rica envolve necessariamente trabalho investigativo, com o reconhecimento da situação, a formulação de questões, a formulação de conjecturas, o seu teste e refinamento e a

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argumentação, demonstração e avaliação do trabalho realizado (p.02).

Discutimos e pesquisamos em livros de Cálculo I, problemas de cunho aberto, que pudessem servir de base para pensarmos nas atividades para os alunos de Computação. Assim, as atividades elaboradas objetivavam fazer com que esses alunos pudessem vivenciar os vários processos que caracterizam a atividade investigativa em Matemática, tais como: a exploração e formulação de questões, a formulação de conjecturas, o teste e a reformulação de conjecturas e, ainda, a justificação de conjecturas e avaliação do resultado (PONTE et al, 2003, p.29). Esses processos, característicos das atividades investigativas não são observados em sala de aula com atividades baseadas em uma abordagem tradicional, uma vez que implicam um domínio dos conteúdos matemáticos muito mais seguros e uma gestão da sala de aula multo mais complexa do que é requerida em aulas de simples exposição da matemática ou de resolução de exercícios. (PONTE et al, 2002, p.02). As atividades implementadas na sala de aula tinham essas características, pois, os alunos tinham um contato inicial e informal, até o presente momento, com discussões acerca de conteúdos matemáticos envolvendo Otimização e, além disso, desconheciam a utilização do software MAPLE na exploração e representação de problemas desta natureza.

Essas atividades tinham como objetivo, junto aos alunos, compreender como se relacionam os processos de exploração, visualização e representação dos conceitos matemáticos em um determinado contexto cultural, o qual priorizava as TICs, ressaltando suas potencialidades didático-pedagógicas na introdução dos conceitos de Otimização em Cálculo I.

Além do MAPLE, utilizamos nesse curso o TelEducv, como apoio ao ensino presencial, descrevendo todos os acontecimentos vividos desde a preparação das atividades, a escolha do software a ser utilizado, a dinâmica utilizada na apresentação das atividades aos alunos, o desenvolvimento das atividades, os comentários dos alunos e a análise e interpretação feita por nós, a partir da perspectiva teórica - Investigação Matemática.

Antes da implementação das atividades com o MAPLE, a professora havia discutido com os alunos atividades que envolviam problemas de Otimização, de uma maneira mais intuitiva, sem a utilização do conceito de Derivada de uma função. Os alunos haviam resolvido essas atividades e disponibilizaram suas resoluções nos Portfólios individuais do TelEduc. Além disso, os alunos comentaram as apresentações das resoluções das

atividades dos colegas, gerando um cenário de discussões e reflexões online sobre os conceitos envolvidos em Otimização. Muitos alunos para representarem as soluções de seus problemas utilizaram o Excelvi.

As atividades foram desenvolvidas em dois momentos. O primeiro deles foi chamado de Atividade Exploratório-Investigativa, no qual foi apresentado o software MAPLE e desenvolvido uma atividade em conjunto com os alunos - Exploração do Conceito de Otimização. Em um segundo momento, realizado na aula seguinte, foi entregue aos alunos uma folha contendo várias atividadesvii.

Introdução do MAPLE e Atividade Exploratório-lnvestigativa: Exploração do Conceito de Otimização

A preparação das atividades foi dividida em três fases. A primeira delas foi a escolha do software MAPLE 9.5, para sistema operacional Linux viii, que se deu visto às potencialidades que o mesmo oferece para os conteúdos que são trabalhados em Cálculo Diferencial I - CDI. A segunda fase compreendeu a familiarização dos alunos com o software, a qual mostrou-se necessária, já que poucos alunos conheciam esse software. Essa familiarização processou-se a partir da exploração de seus comandos básicos e possibilidades de aplicação ao contexto da Matemática, especificamente cm Cálculo. A terceira e última fase foi chamada de Atividade Exploratório-Investigativa, na qual os alunos, juntamente com os professores, foram em busca de possíveis soluções para os problemas propostosix.

A dinâmica contou com a discussão da atividade exploratório-investigativa e o lançamento de "sugestões" de utilização do software. Os encaminhamentos para as possíveis soluções da atividade proposta e para o uso do software foram discutidos passo a passo, junto aos alunos. Os professores questionaram aos alunos, o que significava resolver a atividade proposta. O que significava pensar em calcular a distância de um ponto P, genérico, ao gráfico de uma função. Depois de várias discussões conjuntas, alunos/alunos e professores/alunos, foram levantadas algumas conjecturas e hipóteses pelos alunos, até que pudemos sintetizar essas discussõesx, quando os alunos concluíram que o conceito de distância entre duas grandezas estaria envolvido na solução do problema. Assim, os alunos escreveram mais formalmente o conceito de distância.

1) Dado um ponto P = (a,b) e o gráfico de uma função f,

calcular a distância de P ao gráfico da f.

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Por definição, a distância de P ao gráfico da f é a menor distância entre os pontos Q do gráfico e o ponto P. Vamos então

definir: Distância = .Nesta atividade tomamos uma função f(x) - cos x eum ponto P = (2 , 3 ). Um ponto do gráfico de f éda forma (x, cos(x)), assim a distância do ponto P aum ponto qualquer do gráfico é dada por:> dist(x): = sqrt ((2-x)^2 + (3-cos(x))^2;

Queremos a menor distância. Da fórmula acima vemos que distxi é uma função só de x, e podemos escrever dist(x). Os alunos fizeram o gráfico, abaixo apresentado. Vamos ver o gráfico da função dist(x). >plot(dist(x),x=0..3);

Analisando o gráfico acima, os alunos e professores discutiram sobre a representação do gráfico. Os alunos concluíram que esse gráfico era formado por pontos que representavam todas as distâncias do ponto dado P = (2,3) à função f(x) = cos x, no intervalo de 0 a 3. Como na atividade proposta procurava-se a menor distância entre todas, pela visualização do comportamento da função no gráfico, os alunos puderam perceber que o valor procurado situava-se perto do valor x = 0,5, por representar o menor valor explícito no gráfico. Assim, esta representação motivou os alunos a iniciarem uma discussão sobre uma possível estratégia matemática para encontrar o valor exato. Muitos deles optaram pelo uso de uma tabela no Excel, ou mesmo a ampliação do gráfico acima. Exemplo de tabela feita no Excel:

Ressaltamos que mesmo com a tabela, acima apresentada, e elaborada pelos alunos, eles chegaram a conclusão da impossibilidade de calcular o valor exato, embora eles houvessem conseguido, pela tabela acima, uma boa aproximação numérica. Nesse momento, os professores lançaram a seguinte questão: "Como conhecer o valor exato?" Os alunos pensaram e discutiram sobre as possibilidades de encontrarem o valor exato. Pela observação do gráfico da função

, os alunos perceberam que essa função passava por um valor que parecia ser o seu valor mínimo, valor este próximo de x = 0,5. Assim, os alunos ao perceberem isso falaram que o conceito de valor mínimo de uma função, provavelmente, influenciaria na escolha do valor exato. Nesse momento, os professores voltaram a falar sobre a introdução do conceito de Derivada de uma função, conceito trabalhado anteriormente na sala de aula pela professora, através de Applets (http://www.ima.umn.du_~arnold/calculus/secants/secants2/secants-g.html), os quais mostravam a concepção geométrica do conceito de Derivada de uma função, em um determinado ponto, como sendo igual ao coeficiente angular da reta tangente à função, naquele determinado ponto. Assim, no applet, acima apresentado pelo endereço na Internet, quando o ponto Q se aproximava cada vez mais do ponto P, no limite, a reta secante passaria a ser a reta tangente à curva e teríamos o conceito de derivada da função no ponto P.

Os alunos discutiram bastante e falaram sobre o conceito de derivada de uma função e chegaram auma conclusão que poderiam aplicar esse conceito naestratégia de resolução da atividade proposta,derivando a função dist, a qual representava a distânciae igualaram-na a zero. Portanto, do Cálculo, concluíramque a menor distância deve ser dada por um x queanula a derivada da função dist, ou seja, dist'(x)=0(derivada da função dist).

> Diff (dist(x),x) = diff (dist(x),x);> derivada:=diff(dist(x),x):

Resolvendo a equação derivada = 0 para “x” em [0,2].

> x[min]:=fsolve(derivada, x,0..2);

xmin:=0.6551969516

Escrevendo a resposta utilizando o comando subs. (Substituir o valor de x por x min na expressão dist).

> menor[dist]:=subs (x=x[min], dist(x));

Figura 1 – Gráfico da Função Distância

Figura 1- Gráfico da Função Distância

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> resposta:=evalf(%); resposta :=2.584504271

visualização, exemplos de utilização do MAPLE e exercícios de Cálculo, nos quais os alunos poderiam utilizar o software ou não para resolvê-lo. Segue abaixo a atividade exploratório-investigativa apresentada aos alunos.

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A resposta encontrada 2,584804271 foi considerada satisfatória pelo grupo e, segundo os alunos, o uso do Maple foi de fundamental importância para chegarem à resposta de uma maneira matematicamente correta, diminuindo o número de cálculos e, de acordo com o gráfico abaixo, possibilitando a visualização da resposta correta, por meio da dinamicidade do software, os alunos arrastaram o ponto, visualizaram as diferentes posições dos objetos matemáticos.Chamaremos de L a reta que liga o ponto dado (2,3) ao ponto

encontrado: (dist (2,584804271 , 2,584804271)

> L :=[ [2,3], [x[min] , cos(x[min]) ]];L:= [[2, 3], [0.6551969516, 0.7929279378]]> plot({cos(x), L }, x=0..3 , scaling = constrained);

Consideramos que

essa

Atividade Exploratório-lnvestigativa teve um papel importante na

introdução do conceito de derivada e otimização de uma função e,

além disso, favoreceu a exploração e o conhecimento do MAPLE,

pois, os alunos compreenderam o significado geométrico da derivada

de uma função em um determinado ponto. Nesse processo, o dialogo

com os colegas, o diálogo com os professores, a dinamicidade do

software, em conjunto com as características pedagógicas da planilha

eletrônica –

Excel e o compartilhamento de significados no TelEduc, propiciaram

Primeira Atividade: "Visualização de Applet de Cálculo"

Em posse do endereço: http://www-math.mit.edu

~djk/calculus_beginners/tools/ tools04.html observe o que acontece nesse

applet e responda as questões:

i) Escreva um parágrafo interpretando a sua visualização geométrica.

ii) O que significa cada uma das opções apresentadas no applet?

iii) Quais possibilidades esse applet fornece para você relacionar os

conceitos matemáticos de Derivada de uma função?Na primeira questão, os alunos responderam o que percebiam

ao olhar para o Applet. Assim, interagindo com essa atividade observaram sobre a relação entre a dinamicidade da função e o conceito matemático implícito. Algumas observações dos alunos para a primeira questão:"No applet podemos colocar valores para uma função e é mostrado um gráfico com sua primeira e segunda derivadas." (T)xii

"O applet coloca a função no gráfico e mostra sua primeira e sua segunda derivada". (Ra)"O Applet coloca em um gráfico a função desejada e compara-a com até sua segunda derivada no mesmo gráfico." (Ri)"Vemos aí plotado um gráfico de uma função qualquer digitada no espaço a ela destinado e podemos, se preferido, ver o esboço tanto da primeira quanto da segunda derivada." (F)

Na segunda questão, eles descreveram o que cada item encontrado no applet significava, como por exemplo, “ 'y = f(x) =': Determina qual é o valor de y em função de x. 'xMin =' : O menor valor que x irá assumir. 'xMax =': O maior valor que irá assumir." (Ri)."Em cada botão vem escrito a função que ele realiza, mas pode-se ressaltar os principais: A barrinha dinâmica na parte de baixo da esquerda serve para atribuir vários valores de x para a função descrita." (F)

Para a resposta da última questão os alunos utilizaram conceitos, estudados anteriormente na disciplina, e alguns conceitos introduzidos na última aula com o MAPLE, vejamos algumas observações dos alunos, decorrentes das questões investigativas:

uma negociação de significados à respeito do conceito de Derivada.

Atividade Exploratório-lnvestigativa e suas Potencialidades no Processo de

Visualização de Conceitos Matemáticos

Foi elaborada uma atividade exploratória-investigativa que tinha

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Figura 3 – Gráfico da função cos(x) e o segmento L

Para a resposta da última questão os alunos utilizaram conceitos, estudados anteriormente na disciplina, e alguns conceitos introduzidos na última aula com o MAPLE, vejamos algumas observações dos alunos, decorrentes das questões investigativas:

como objetivo a apresentação de situações envolvendo applet’s de

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"Ajuda na visualização de gráficos, mostrando a primeira e segunda derivadas e o máximo e o mínimo." (T)"Algumas. Conceitos de máximo e mínimo, teste da segunda derivada e o gráfico das derivadas comparado ao das funções" (R)"Ao observarmos os gráficos da derivada (tanto primeira quanto segunda) podemos ver geometricamente onde essas serão iguais a zero e, alem disso, comparar tais resultados para saber onde a função é crescente ou decrescente e ainda provar isso ao comparar os resultados obtidos com o gráfico original." (F)

Observando esses depoimentos percebemos que as características pedagógicas da atividade exploratório-investigativa, por meio do applet, juntamente com a mediação dos professores auxiliaram no processo de visualização e compreensão dos conceitos matemáticos. Depois que as atividades foram aplicadas com os alunos, foi solicitado aos mesmos que escrevessem suas impressões sobre as potencialidades didático-pedagógicas do MAPLE, para o ensino de Cálculo. Assim, apresentamos, abaixo, um dos depoimentos enviados no TelEduc, por um dos alunos:

"Eu não conhecia o programa, mas achei bem interessante. Ele acaba parcialmente com o "problema" de trabalhar com a matemática no computador e, além disso, permite uma visualização aproximada do que seria o gráfico de uma função que não teríamos condições de desenhar à mão. É uma forma de mesclar o Cálculo com a Computação de forma dinâmica, e isso desperta o interesse dos alunos pela disciplina. O Maple deve ser trabalhado com mais tempo, já que, para utilizá-lo, é necessário conhecer" sua sintaxe, o que não é problema para um aluno da computação..." (G).

Em um outro momento, um outro aluno fez o seguinte depoimento:

"Percebe-se que o Maple é um software poderoso para tanto o cálculo como também para a matemática em geral basta dizer que em Geometria Analítica ele também foi utilizado. É uma pena que ele não seja freeware (de graça)." (F)

Nessa interação precisamos também ressaltar a aprendizagem do professor de Matemática e dos monitores no contexto das TICs. Podemos dizer que essa experiência com as atividades trouxeram benefícios também para nós, pois discutíamos as possibilidades de elaborarmos e implementarmos atividades que pudessem proporcionar contexto investiga ti vos aos alunos, das quais emergiam também desafios, para nós professores, ao mediarmos o processo, ao

lançarmos questões intermediárias, como por exemplo: "O que significa pensarmos sobre o conceito de distância, de uma coisa em relação à outra", entre outros conceitos matemáticos, como o conceito de Máximo e Mínimo de uma função, conceito de Otimização e de Derivada de uma função.

Assim aprendemos por elementos da cultura dos alunos, mesclados às características da cultura institucional e à nossa própria cultura da experiência a re-significar a nossa prática docente, no contexto das TICs.

Considerações Finais

Ao trabalharmos em sala de aula de Cálculo Diferencial I, estávamos inseridos em uma cultura institucional que, de certa forma, determinava e/ou influenciava a cultura docente do professor de Matemática. Assim, procuramos investigar e tentar compreender como a prática docente desse professor de Matemática poderia ser re-elaborada sob as dimensões didático-pedagógica e epistemológica no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).

Os excertos, mostrados nesse artigo, mostram que o professor de Cálculo I, juntamente com os seus alunos de Pós-Graduação, doutorando e mestranda, procuraram com a abordagem metodológica da Investigação Matemática, por meio das Atividades Exploratório-Investigativas, por meio da proposta pedagógica, por meio da mediação, por meio do ambiente TelEduc, com as suas características pedagógicas e computacionais e, ainda, por meio das potencialidades didático-pedagógicas do MAPLE, transcender as didáticas tradicionais, que os alunos estavam acostumados, em outras disciplinas do mesmo curso de Computação.

Em relação aos alunos o nosso objetivo consistia em compreender como se relacionavam os processos de exploração, visualização e representação dos conceitos matemáticos, em um determinado contexto da sala de aula, implícito na cultura institucional, o qual priorizava, pela ação do professor de Matemática, as TICs, ressaltando suas potencialidades didático-pedagógicas na introdução dos conceitos de Otimização em Cálculo I, por meio do software MAPLE.

As atividades desenvolvidas puderam mostrar várias situações presentes no processo de ensino e aprendizagem, na cultura da instituição, gerando situações nas quais foi possível observar a utilização da tecnologia em aulas de matemática. A utilização de novas dinâmicas e/ou recursos tecnológicos em aulas das disciplinas de graduação auxiliam a desvendar

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algumas dificuldades com que os alunos enfrentavam ao se depararem, principalmente, com novos conteúdos não trabalhados no Ensino Fundamental e Médio. Neste artigo, os alunos estavam todos no primeiro ano do curso de Ciência da Computação, tendo suas primeiras experiências em um ambiente educacional universitário. Vários autores da comunidade de educadores matemáticos citam essas dificuldades de compreensão, aquisição e aplicação dos conceitos de Limite, Derivada e Integral, na disciplina Cálculo, para alunos ingressantes (SOUZA, Jr; DALE, 2004; OLÍMPIO, 2005).

Em nosso trabalho essas dificuldades foram percebidas em momentos distintos. Um deles foi a compreensão e aplicação dos conceitos explicitados nas atividades. Os enunciados das atividades propostas tinham características de "problemas", com textos e enunciados com poucos símbolos matemáticos, fazendo com que os alunos tivessem a necessidade de compreender o texto e "matematizar" a situação implícita*'11. Normalmente, essa situação só é percebida no momento da avaliação escrita, ao considerarmos as características do ensino tradicional.

Adicionamos a isso uma dificuldade inicial no uso do software MAPLE, por não ser uma ferramenta de uso comum, e sim diretamente voltada a pesquisadores em Matemática. Observamos que, cm alguns momentos, a dificuldade em resolver uma atividade transportava-se para a dificuldade em não dominar a sintaxe dos comandos do software. No entanto, seus comandos foram assimiladas por uma grande parte dos alunos de maneira rápida, necessitando, em alguns momentos, da ajuda dos monitores presentes.

A utilização dessas AtividadesExploratório-Investigativas propiciou um ambiente no qual os alunos puderam trabalhar os conceitos matemáticos por meio das atividades solicitadas, buscando maneiras de solução destas, testando hipóteses e conjecturas e verificando-as com o auxílio do software, de acordo com Ponte (2003).

Podemos também salientar, por meio destas observações, a importância da utilização de Atividades Exploratório-Investigativas neste processo. A utilização dessa natureza de atividade, em sala de aula, não é uma prática comum e necessita de tempo para que alunos e professores façam uso delas. Para o aluno que nunca utilizou esse tipo de abordagem, é preciso atenção na leitura da atividade e domínio dos conceitos matemáticos implícitos no processo de resolução. Para o professor é necessário cuidado na preparação da

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aula para que a atividade não surta o efeito contrário ao desejado, ao invés de envolver, desestimular. Por essa razão, torna-se necessário que a cultura docente do professor de Matemática possa ser repensada no sentido de promover a cultura de atividades investigativas na sala de aula, no contexto das TICs, pois ao se trabalhar desde cedo nas aulas de prática de ensino ou nos estágios com essa abordagem pode-se incorporá-las de forma significativa no contexto educativo.

Pelo exposto, percebemos que a implementação de atividades desta natureza resgata a exploração de conceitos matemáticos por meio de uma abordagem metodológica diferenciada que auxilia no processo de exploração, visualização e representação do conceito matemático. Assim, constatamos a presença das dimensões didático-pedagógica e epistemológica da prática docente do professor de Matemática. Dimensões essas que resgatam as várias culturas implícitas na cultura docente e na cultura dos próprios alunos, quando se trabalha com as TICs na sala de aula de Matemática.

Com a abordagem desse artigo, acreditamos que a prática docente do professor de Matemática pôde ser re-elaborada sob as dimensões pedagógicas e epistemológicas no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O trabalho docente assumiu uma outra perspectiva a qual incorporou novas possibilidades teórico-metodológicas que consideraram as TICs na exploração, visualização, construção e disseminação do conhecimento.

Sabemos que a complexidade da prática docente, com as suas múltiplas dimensões interferem diretamente na cultura do professor. Cada professor/pesquisador traz consigo características e significados próprios de sua cultura, provenientes da filosofia educacional da instituição em está inserido, da cultura advinda de seu processo de formação, da cultura proveniente da sua experiência da ação docente e da cultura acadêmica, resultante da interação com os pares e os estudantes. Essa diversidade de culturas resulta em uma multiplicidade de "olhares" e perspectivas teórico-metodológicas que se entrelaçam, se complementam, se transformam e são re-significadas por cada professor/pesquisador, culminando em uma prática educativa carregada de valores, crenças, sentimentos, significados e conhecimentos construídos no individual, porém gerados no coletivo, que levam à constituição de uma nova cultura docente.

Essa cultura docente é de fundamental importância no contexto educativo - cultura e instituição, pois possibilita significado e identidade aos docentes a partir dos desafios, anseios e expectativas que permeiam as condições de trabalho do professor.

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Porém, somente essa cultura não determina o comportamento do docente, pois todo professor tem seus próprios valores, interesses e ideologias.

Com essas perspectivas, esperamos com a abordagem metodológica deste artigo propiciar aos professores reflexões sobre a cultura docente, a qual considera as potencialidades didático-pedagógicas das TICs nas aulas Investigativas de Matemática.

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i E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail:[email protected] O professor da disciplina é a Profa. Dra. Rosana Giaretta Sguerra Miskulin, primeira autora deste artigo. O outros dois autores são alunos de Doutorado e de Mestrado, respectivamente, orientandos da Profa. Rosana, no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática - IGCE - UNESP - Rio ClarovTelEduc — Ambiente de apoio a atividades presenciais e à distância. Para saber mais, veja no site www.hera.nied.unicamp.br/~teleduc

vi Planilha eletrônica - Microsoft ® Office Excel 2003 - Copyright © 1985-2003 Microsoft Corporation.vii Neste artigo apresentaremos as duas primeiras atividades.viii Sistema Operacional Livre - Copyright © 1989, 1991 Free Software Foundation, Inc.ix Gostaríamos de salientar que os parágrafos contidos em caixas são textos trabalhados e discutidos pelos alunos e professores em aula.x Os parágrafos iniciados pelo sinal ">" são comandos usados no MAPLE e os caracteres em itálico centralizados na página são respostas do MAPLE aos comandos utilizados anteriormente.xi dist — é um comando elaborado pelos alunos, que estipula a distância, explicitada acima.xii Utilizaremos somente a primeira letra do nome do aluno.xiii Observamos que no presente artigo foram apresentadas somente duas atividades