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Artigo apresentado no XVI Encontro Nacional de Geógrafo (ENG), Porto Alegre, 2010
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Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças
- Espaço de Socialização de Coletivos –
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3
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REVISTA DISCENTE EXPRESSÕES GEOGRÁFICAS: AÇÃO COLET IVA PARA A PRODUÇÃO E APROPRIAÇÃO SOCIAL DO CONHECIMENT O
Elisa Rodrigues Dassoler
Geógrafa, Mestranda em Artes Visuais (UDESC); [email protected]
André Lima Sousa
Mestrando em Geografia (UFSC); [email protected]
André Vasconcelos Ferreira
Doutorando em Geografia (UFSC); [email protected]
Orlando Ednei Ferretti
Doutorando em Geografia (UFSC); [email protected]
RESUMO Este texto objetiva elucidar a trajetória da Revista Discente Expressões Geográficas no sentido de apresentar a forma, as concepções, os objetivos e os desafios desta organização coletiva de estudantes, assim como os temas que foram sendo pautados no percurso de sua construção.
PALAVRAS-CHAVE: Revista Discente; Coletivo; Conhecimento; Ciência; Liberdade de Apropriação do Conhecimento.
INTRODUÇÃO
Estas breves linhas que seguem são notas incompletas de uma história em processo,
escrita por quem vivencia a experiência de trabalhar na organização de uma publicação
acadêmica marcada por características particulares, em sua breve, porém, rica trajetória.
Dentre essas características podemos destacar: a construção coletiva, o compromisso
com a democratização e livre difusão do saber científico, o respeito às diferentes
abordagens metodológicas, a defesa da livre apropriação do conhecimento e a
transparência de seus processos.
A condição de uma revista discente acarreta alguns desafios extras que devem ser
levados em consideração. Uma das questões mais importantes de um periódico com
Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças
- Espaço de Socialização de Coletivos –
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3
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esse caráter diz respeito à situação provisória dos estudantes, seja nos cursos de
graduação ou pós, o que reforça a necessidade de renovação permanente do coletivo da
Revista através da entrada de novos integrantes a cada edição. A adesão de novos
membros pode ocorrer a qualquer momento, no entanto, se tem estimulado para que
aconteça, principalmente, no período que sucede o lançamento de uma edição, em que o
coletivo inicia uma nova jornada de trabalho, dando assim a possibilidade de cada novo
integrante vivenciar todas as etapas do processo de organização de um número
completo da Revista.
O Coletivo Expressões Geográficas, que organiza a Revista, é uma iniciativa autônoma
de estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da UFSC, como de
pesquisadores de Geografia e áreas afins, que, desde 2004, atua como espaço
acadêmico (profissional) e de ação política. Ao reconhecer e assumir a necessidade da
livre difusão do conhecimento, a Revista se coloca no debate sobre a problemática da
restrição ao uso dos meios de comunicação, e atua no sentido de fornecer uma
contribuição à luta pela socialização do conhecimento. A própria elaboração deste texto
é um exemplo disso, já que, realizado no intuito de socializar uma experiência coletiva
partilhada durante a constituição desta Revista, cujo mérito é o de fornecer um
“ciberespaço” acadêmico gerido coletivamente na perspectiva de desenvolver o
conhecimento científico, incluindo sua produção e difusão, relacionado ao campo
disciplinar da Geografia.
Assim, buscamos aqui reunir elementos da trajetória da Revista Discente Expressões
Geográficas apresentando a forma de organização do coletivo (através de comissões), as
concepções, os objetivos e desafios da Revista, bem como o diálogo proposto pela
mesma envolvendo Geografia e Comunicação. Procuramos também tecer considerações
finais que se fazem pertinentes dentro do processo de produção do conhecimento
científico livre.
COLETIVO EM PROCESSO
Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças
- Espaço de Socialização de Coletivos –
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O processo de organização do Coletivo iniciou-se em 2004, motivado pelas afinidades
acadêmicas e pessoais de um grupo de estudantes do Programa de Pós-Graduação em
Geografia (PPGGEO) / UFSC, ampliando-se, na seqüência, com a entrada de estudantes
de Graduação da mesma instituição, que viam na organização de uma revista científica
um espaço para atuação acadêmica e política. A proposta inicial permanece ativa no
sentido de efetivamente fazer com que o conhecimento científico supere os muros da
Universidade por meio de sua maior difusão, rompendo assim com o crescente processo
de privatização dos recursos científicos em curso na atualidade.
O formato eletrônico cumpre um papel central dentro da estratégia de livre difusão do
conteúdo da Revista. O acesso é livre, gratuito e ocorre por meio do sítio
www.geograficas.cfh.ufsc.br, na internet. Basta acessar a página da Revista e baixar
qualquer publicação em formato PDF. Atuamos no sentido do que se convencionou
chamar de copyleft, que materializa um conceito de apropriação do conhecimento
diferente do copyright, das patentes e dos direitos autorais restritivos. Esse
posicionamento encontra-se no texto de Apresentação da Revista, que diz: “É
autorizada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista (copyleft), desde que
citados os nomes dos autores e a fonte, e a mesma não atenda a fins comerciais”. Ainda
neste sentido, destacamos que a escolha pela mídia eletrônica (via internet) se deu em
função do baixo custo de produção, divulgação e acesso, e é coerente com a proposta da
Revista, já que viabiliza de maneira mais ampla a participação e interação dos diversos
segmentos da sociedade, e não apenas dos tradicionais circuitos acadêmicos.
A periodicidade anual se afirma em função das condições materiais de produção da
Revista. Em tempos de enxugamento de prazos, recursos e infra-estrutura universitária,
a semestralidade significaria uma sobrecarga para os integrantes da comissão editorial,
cuja opção de trabalho não contempla remuneração financeira, sendo todo o trabalho da
Revista realizado de forma voluntária. Não esquecendo de citar o apoio dado em
momentos específicos pela UFSC, na figura de sua Administração Superior (Reitoria e
Pró-Reitorias), seu Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) e do PPGGEO.
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Atualmente, a Revista é organizada por comissões trabalho sob a coordenação geral da
Comissão Editorial, incluindo as Comissões de Artigos, Relatórios de Campo,
Entrevistas, Resumos (de monografias, dissertações e teses), a Secretaria, o Fórum de
Debates e Geoeventos (Blog, criado a partir do 2° Seminário Expressões Geográficas,
será tratado abaixo), além das Comissões de Pareceristas Internos, Externos e de Apoio
Técnico (ver Organograma, Figura 1).
O Organograma abaixo sintetiza o mais elevado desenvolvimento realizado, até o
momento, no processo de organização da Revista, estando assim suscetível a mudanças
nos próximos períodos, dadas em função da própria evolução e mudança permanente da
divisão interna do trabalho do Coletivo.
Figura 1: Organograma da Revista Discente Expressões Geográficas.
Fonte: Elaboração pelos autores.
Ainda sobre a organização do Coletivo, destacamos que o funcionamento se dá através
de reuniões mensais com os integrantes da comissão editorial, bem como em reuniões
Comissão Editorial
Comissão
de Artigos
Apoio Técnico
Comissão
de
Relatórios
de Campo
Comissão
de
Entrevistas
Comissão
de Resumos
Comissão de
GeoEventos e
Fórum de
Debates
Pareceristas
Internos
Pareceristas
Externos
Secretaria
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específicas de cada comissão. A articulação conta ainda com de debates e reflexões por
uma lista de e-mails, que inclui, atualmente, a comissão editorial e os pareceristas
internos.
Em cada nova edição, define-se coletivamente o expediente do número a ser lançado,
tendo em vista o trabalho desenvolvido por cada participante, em meio às comissões de
organização da Revista, incluindo o trabalho realizado durante o ano e no processo de
fechamento da edição, quando são feitas revisões finais e formatações, além da
produção coletiva do Editorial. Após o lançamento do número, o grupo se empenha na
divulgação da edição recém-publicada e encaminha a de chamada de novos trabalhos,
além de fazer o convite a mais estudantes para que participem da edição que se inicia.
ORGANIZAÇÃO DE SEMINÁRIOS E PARTICIPAÇÕES EM EVENTO S
Em abril de 2005, como forma de reunir artigos para a primeira edição da Revista, foi
organizado o 1º Seminário Expressões Geográficas, que contou com a apresentação de
18 artigos provenientes de diferentes estados brasileiros. Destes, cinco foram
selecionados e publicados na primeira edição. Ainda sobre o evento, que teve a
participação de estudantes e professores, incluindo a Rede Pública de Ensino e o
Departamento de Geociências da UFSC, recebeu a presença do Prof. Dr. Ewerton
Vieira Machado, que fez uma breve exposição sobre a trajetória do movimento discente
na história do PPGEO-UFSC, ressaltando a importância da participação dos estudantes
nas atividades do Programa. O encerramento do seminário contou com a Aula Magna
intitulada “Monumentos, Política e Espaço”, proferida pelo Prof. Dr. Roberto Lobato
Corrêa, da UFRJ, que, em seguida, foi entrevistado, também a fim de compor o
primeiro número da Revista. A partir da segunda edição, a chamada de trabalhos foi
realizada através de cartazes e divulgação eletrônica (por e-mails e através do próprio
sítio da Revista).
Em abril de 2010, realizamos o 2º Seminário Expressões Geográficas com o debate em
torno da temática “Geografia e Comunicação”. Esse foi um momento importante de
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estreitar as relações da Revista com os interessados no debate sobre a comunicação.
Foram realizados, ao longo de cinco dias: dois Espaços de Debate (cada um contando
com três debatedores) em que foram abordados os temas “Mídia e Relações de Poder” e
“Mídia e Problemática Ambiental”; cinco Mini-cursos (teórico-práticos) com duração
de 8 horas cada (Grafite; Rádio Livre; Produção de Vinhetas Educativas; Arte e
Geografia; e Comunicação Popular); uma Mostra de Vídeo (curadoria coletiva com
convidados de outros estados); e cinco Conferências com importantes pesquisadores de
Geografia e Comunicação, a exemplo de Axel Borsdorf (Universidade de Innsbruck -
Áustria), Francisco Mendonça (UFPR), Hector Ávila Sanchez (Universidad Nacional
Autônoma de Mexico), Hugo Romero (Universidad de Chile) e Sérgio Amadeu da
Silveira (UFABC).
Ainda sobre a participação do Coletivo em eventos, destacamos a organização de uma
Mesa Redonda durante a 27ª SEMAGEO (Semana de Geografia da UFSC), no ano de
2006, onde se discutiu a questão dos Movimentos Sociais na América Latina. A Revista
também realizou várias exibições de filmes em diversos eventos relacionados com a
Geografia, além de ter sido convidada seguidamente para debater em outros espaços, a
exemplo da participação na Mesa Redonda sobre “Comunicação Livre”, realizada
durante a Semana de Integração do CFH-UFSC do ano de 2009, e de debates em Rádios
Livres e Comunitárias (Rádios Tarrafa e Campeche), dentre outros espaços.
DEBATES SOBRE A GEOGRAFIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
“Entendemos que a internet revolucionou a forma dos seres humanos de se comunicar, colocando seus usuários na condição de agentes e difusores de informações,
abrindo um vasto espaço para a prática da mídia independente pelo cidadão comum”. Trecho do Editorial da Edição nº 5 – Revista Discente Expressões Geográficas (2009)
A defesa da democratização do conhecimento, incorporada desde o primeiro número da
Revista, aos poucos, evoluiu no sentido de um debate mais geral sobre a relação entre a
produção e apropriação do conhecimento, incluindo as novas mídias que surgem de
forma mais intensa a partir das últimas décadas do século XX, definindo novas
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possibilidades de interação em rede. Isso pode ser percebido através das pautas que
constam nos editoriais das últimas edições, assim como na realização do 2º Seminário
sob o tema “Geografia e Comunicação”.
Destacamos, ademais, o acompanhamento que a Revista realiza em torno do recente
Projeto Substitutivo de Lei que visa controlar o fluxo de informações na internet,
conhecido como o “AI-5 Digital” ou, simplesmente, “Projeto Azeredo”, em referência
ao Senador Eduardo Azeredo, do estado de Minas Gerais, que assumiu a frente dessa
tentativa de criação de instrumentos de monitoramento e controle da informação na
internet. Com pretexto de coibir cibercrimes, o projeto visa criminalizar práticas hoje
tidas como corriqueiras, como baixar músicas e filmes, atendendo assim aos interesses
da indústria fonográfica e cinematográfica, dentre outras.
Este é um debate fundamental porque o futuro da internet tem se tornado um campo de
disputas políticas que diz respeito ao futuro dos bens imateriais, ou melhor, intangíveis,
esses que assumem importância progressiva no capitalismo contemporâneo e que são
alvo de interesses particulares. Em relato na seção Geoeventos, incluída no Blog da
Revista, consta a seguinte passagem sobre o futuro uso da internet:
Será ele forjado como um recurso de comunicação alternativa e de livre produção de conhecimento? Ou se transformará em um vasto dispositivo a serviço da vigilância estatal e corporativa? É nesse cenário que está sendo travada uma verdadeira batalha, quase silenciosa. O que está em jogo é a criação de mecanismos de ‘cercamento de informações’ institucionalizando a violação da privacidade e a criminalização dos usuários por práticas atualmente comuns. Em outras palavras, querem transformar uma exceção (a quebra da privacidade) no padrão de controle da rede. (SOUSA, 2009, p. 1-2)
Deste modo, entendemos que o conhecimento somente se desenvolve pela sua
facilidade de circulação e compreensão, e não no seu cerceamento e transfiguração em
direitos e patentes.
Para finalizar, divulgamos que a partir do lançamento da sua 6ª Edição, a Revista
passou a organizar um Blog (www.geografiaecomunicacao.ning.com) em que consta,
além da seção Geoeventos, um “Fórum de Debates”, que objetiva abrir espaço para
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discussões sobre a temática Geografia e Comunicação. Está, portanto, feito o convite
para a contribuição de outros coletivos, estudantes, profissionais e professores, com
sugestões, debates, etc.; ajudando a organizar este que, espera-se, seja um instrumento
construído em favor da mais livre troca e divulgação da informação e do conhecimento
produzido pela humanidade.
Faz-se importante destacar que escrevemos este texto na sequência do lançamento da 6ª
Edição da Revista, realizada no dia 28 de junho de 2010 juntamente com a conferência
do Prof. Dr. Hindenburgo Francisco Pires da UERJ, que teve como tema: “Redes
sociais colaborativas: as novas formas de apropriação do conhecimento social no século
XXI”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da proposta inicial de participar do “Espaço de Socialização de Coletivos” no
XVI Encontro Nacional de Geógrafos, buscamos trazer neste pequeno texto uma síntese
do processo organizativo da Revista Discente Expressões Geográficas, além dos
principais objetivos e realizações desta organização.
O debate da organização dos estudantes para a produção e difusão do conhecimento
científico tendo como base política o livre acesso, assim como a participação destes
junto a movimentos sociais, atuando na apropriação do território, nos parece uma
evidência de que os novos tempos colocam novas questões e possibilidades com que
nos defrontamos na realidade que almejamos construir.
REFERÊNCIAS
REVISTA DISCENTE EXPRESSÕES GEOGRÁFICAS. Editorial . Número 5 Ano V. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009. Disponível em: http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/
Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
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SOUSA, André L. AI-5 Digital: Liberdade e privacidade na Internet sob ameaça. In: Seção GeoEventos. Florianópolis, 2009. Disponível em: http://www.geografiaecomunicacao.wordpress.com