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MARDEN RICARDO LEITE CHAVES O TEXTO E A FORMA DA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA: UM ESTUDO COMPARATIVO EM DIFERENTES MEIOS Viçosa-MG Curso de Comunicação Social Jornalismo 2013

Artigo sobre Crítica Cinematográfica - MardenChaves.pdf

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MARDEN RICARDO LEITE CHAVES O TEXTO E A FORMA DA CRTICA CINEMATOGRFICA: UM ESTUDO COMPARATIVO EM DIFERENTES MEIOS Viosa-MG Curso de Comunicao Social Jornalismo 2013 MARDEN RICARDO LEITE CHAVES O TEXTO E A FORMA DA CRTICA CINEMATOGRFICA: UM ESTUDO COMPARATIVO EM DIFERENTES MEIOS MonografiaapresentadaaocursodeComunicao Social/JornalismodaUniversidadeFederaldeViosa, comorequisitoparcialparaobtenodottulode bacharel em Jornalismo. Orientadora: Giovana Santana Carlos Viosa-MG Curso de Comunicao Social Jornalismo 2013 Universidade Federal de Viosa Departamento de Comunicao SocialCurso de Comunicao Social/ Jornalismo MonografiaintituladaOTextoeaFormadaCrticaCinematogrfica:umestudo comparativoemdiferentesmeios,deautoriadoestudanteMardenRicardoLeiteChaves, aprovada pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores: _______________________________________________ Profa. Ma. Giovana Santana Carlos Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV _______________________________________________ Prof. Me. Henrique Moreira Mazetti Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV _______________________________________________ Profa. Ma. Laene Mucci Daniel Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV Viosa, 12 de abril de 2013 AGRADECIMENTOS Aosmeuspaiseaomeuirmo,peloapoioconstanteeincondicionalemtodasasetapasda minha vida.Aos meus avs, que sempre estaro presentes. Aos meus amigos pelo companheirismo nos bons e maus momentos.Aos professores da UFV que deixaram sua marca no meu aprendizado e amadurecimento, em especialminhaorientadora,professoraGiovana,queacreditounestetrabalhoenosmeus esforos, cobrando sempre o meu melhor. RESUMO A crtica cinematogrfica presena marcante no jornalismo cultural desde o incio do sculo XX. Se misturando evoluo do prprio cinema, a crtica desenvolveu suas especificidades, suas funes e estilos em diferentes meios de publicao. Tendo isso em vista, a pesquisa em questopretendeanalisarcrticascinematogrficasemtrsdistintosmeiosjornalsticos, selecionandorepresentantesdeumjornalimpresso,umarevistaeumsite.Apartirdisso, buscaremosidentificarainflunciadosveculosselecionadossobreascrticasanalisadas, bemcomooselementosmaispredominantesnostextos,entreelesostiposdecrtica,as tendncias adotadas pelos autores e os papeis e funes por eles exercidos junto ao leitor e ao cinema. Palavras-chave: crtica cinematogrfica; jornalismo cultural; meio; veculo; cinema. ABSTRACT FilmcriticismisastrongpresenceintheculturaljournalismsincetheearlyTwentieth century.Mixingitselfwiththecinemaevolution,criticismdevelopeditsspecificities,its functionsandstylesindifferentmediaplatforms.Withthatinmind,thisresearchaimsat analyzing film reviews in three distinct news media, selecting a newspaper, a magazine and a website.Fromthis,wewillseektoidentifytheinfluenceoftheselectedvehiclesonthe analyzedreviews,aswellasthemostprevalentelementsinthetexts,includingthetypesof film criticism, the trends adopted by the authors and the roles and functions exercised by them in relation to the reader and to the cinema. Key-words: film criticism; cultural journalism; media; vehicles; cinema. LISTA DE GRFICOS GRFICO 1: O nmero de palavras em cada crtica do Estado.............................................................................................................................54 GRFICO 2: O nmero de palavras em cada crtica da Bravo!..............................................................................................................................55 GRFICO 3: O nmero de palavras em cada crtica do Cinema em Cena.................................................................................................................................57 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Os principais tipos de crtica utilizados no Estado....................................................53 TABELA 2: A estrutura das crticas do Estado...........................................................................53 TABELA 3: A estrutura das crticas da Bravo!.............................................................................55 TABELA 4: Os principais tipos de crtica utilizados na Bravo!.........................................................................................................................................55 TABELA 5: Os principais tipos de crtica utilizados no Cinema em Cena...........................................................................................................................................56 TABELA 6: A estrutura das crticas do Cinema em Cena.............................................................57 SUMRIO INTRODUO ........................................................................................................09 CAPTULO 1 - O JORNALISMO CULTURAL E A CRTICA DE CINEMA NO BRASIL......................................................................................................................11 1.1. Um breve histrico ........................................................................................12 1.2. A evoluo da crtica de cinema no jornalismo cultural ...............................14 1.3. Um panorama atual: a internet e o embate resenha versus crtica ................18 1.4. As especificidades e o papel da crtica cinematogrfica................................19 1.4.1. Os estilos e categorias ................................................................................19 1.4.2. Os papis e funes ................................................................................... 22 CAPTULO 2 - A FORMA: A CRTICA CINEMATOGRFICA NOS DIFERENTES MEIOS JORNALSTICOS ........................................................................................25 2.1. O jornal Impresso ..........................................................................................25 2.1.1. O jornal Estado de S. Paulo (Estado) .......................................................28 2.2. A revista ........................................................................................................29 2.2.1. A revista Bravo! .........................................................................................32 2.3. A internet .......................................................................................................32 2.3.1. O site Cinema em Cena ..............................................................................35 CAPTULO 3 - O TEXTO: A CRTICA CINEMATOGRFICA NO JORNAL ESTADO, NA REVISTA BRAVO! E NO SITE CINEMA EM CENA .......................................37 3.1. Metodologia ....................................................................................................37 3.2. O filme nacional: Eu Receberia as Piores Notcias dos seus Lindos Lbios ..39 3.2.1. A crtica do jornal Estado de S. Paulo (Estado) ........................................ 39 3.2.2. A crtica da revista Bravo! ...........................................................................40 3.2.3. A crtica do site Cinema em Cena ............................................................... 42 3.3. O filme americano: Drive ............................................................................... 43 3.3.1. A crtica do jornal Estado de S. Paulo (Estado) .........................................43 3.3.2. A crtica da revista Bravo! ............................................................................45 3.3.3. A crtica do site Cinema em Cena ................................................................46 3.4. O filme estrangeiro de arte: Holy Motors....................................................47 3.4.1. A crtica do jornal Estado de S. Paulo (Estado) ........................................47 3.4.2. A crtica da revista Bravo! ..........................................................................49 3.4.3. A crtica do site Cinema em Cena...............................................................50 3.5. Estudo comparativo das crticas ....................................................................52 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................60 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .....................................................................62 ANEXOS .....................................................................................................................64 9 INTRODUO Exercciodeanliseartstica,compartilhamentodeconhecimentosespecficosou simples manifestao de opinio individual. Inserida no jornalismo cultural, a conceituao de crticadecinemaedeartes,deumaformageral-podesertoabrangentequanto controversa.Situadasjhdcadasemespaosdeculturadejornaiserevistas,acrtica encontrouumaexpansoesobrevidanomeiovirtualcomairrefutvelecrescenteforada internet no cenrio global. Nesse universo, a quantidade de blogs1 e sites especializados em cinema numerosa. Profissionaisdefatodareaecinfilosqueapenasdesejamexpressarsuasimpressese avaliaes sobre determinadas obras encontraram, na internet, uma alternativa grande mdia. Contudo,osgrandesveculossejamelesimpressosouvirtuais-aindaexercempapelde destaque no cenrio da crtica brasileira com seu alcance e crticos de renome.Com uma presena em diferentes meios e suportes, os elementos e o discurso de uma crticacinematogrficapodemsofrervariaesrelacionadasaosespaosemqueso publicadasesuasrespectivaslinhaseditoriais.Odiscursodacrticadecinemareflete claramenteapresenadeumenunciador,deumsujeitofalante.Algumqueexpressasua opinio,garantindoocartersubjetivodaretrica,jquenohdiscursosemumsujeito influenciadoporfatoressociais,interessesparticulareseopiniessubjetivas (ALCANTARILLA, 2010). O enunciador em questo no se faz presente apenas na figura do crtico, mas tambm nadoveculodepublicao,comsuaspeculiaridades,vantagenselimitaes.sabidoque cadameiojornalsticoestsubmetidoaoseuformato,suaplataformae,claro,suaprpria linha editorial. No caso da crtica cinematogrfica, no diferente: jornais, revistas e sites tm suasparticularidadesqueserefletemnaescolhadostiposdefilmesaseremanalisados,na abordagem dessas anlises, nos componentes da obra citados, no papel exercido pelo autor da crtica etc. Tomando por corpus deste estudo crticas de cinema de um jornal impresso (O Estado de S. Paulo ou Estado), de uma revista cultural (Bravo!) e de um site especializado (Cinema em Cena2), esta pesquisa pretende analisar e traar uma comparao entre os elementos mais

1Umblog,abreviadodeweblog,umapginapessoalatualizadaporumapessoaouumgrupocomcerta regularidade. Nele, possvel publicar diversos tipos de contedo, de textos a vdeos.2 Endereo do site: http://www.cinemaemcena.com.br/plus/index.php 10 presentesnascrticasdetaisveculos,levando-seemcontacaractersticascomootipode crtica, tendncias adotadas pelos textos, funo exercida pela crtica(seu papel e objetivos), alm da influncia das mdias escolhidas sobre os textos crticos. Umestudocomparativodecrticascinematogrficasemdistintosmeiossejustifica noapenasportraarumpanoramadeumtipodecrticaculturalnopasatualmente,mas tambmportentaridentificarsimilaridades,diferenaseespecificidadesdeumalinguagem crticaentreosveculosselecionados.Justifica-setambmpelaescassezdepesquisasque abordem crticas em diferentes meios, sendo mais comum encontrar trabalhos que tomem por objeto de estudo um nico veculo ou um nico nicho. Partindo dos objetivos desta pesquisa, foram buscados autores que fornecessem vises histricas e contemporneas - sobre a crtica cinematogrfica e o jornalismo cultural, como DanielPiza(2003)eRachelBarreto(2005).Foramconsultadastambmbibliografiasque auxiliassemnoentendimentoenoesclarecimentodasespecificidadesdecadaumdosmeios miditicosselecionados,entreelasestoliteraturasdeJuarezBahia(2009),MarliaScalzo (2004) e Joo Canavilhas (2001).Combasenesseseoutrosautoresenapropostadesteestudo,seroabordadoso histrico e a evoluo do jornalismo de cultura e da crtica de cinema, bem como seus estilos, funeseoutrasparticularidades.Emseguida,soapresentadososdiferentesmeiose veculosemqueessascrticasestoinseridas.Noltimocaptulo,tm-seaapresentaoda metodologiaeasanlisesindividuaisdostextoscrticos.Porfim,seroexpostosoestudo comparativo e as concluses da pesquisa. 11 CAPTULO 1 - O JORNALISMO CULTURAL E A CRTICA DE CINEMA NO BRASIL Prticaprofissionaldotadadeinmerosconceitos,definiesedivergncias,o jornalismoencontranocampoculturalummeioigualmenteextensoediferenciadoemsuas delimitaesesignificados.SegundoJosLuizdosSantos(apudFERREIRA,2011),se tomarmosporbaseavisomaisampladecultura,osdiversoselementosdarealidadesocial que caracterizam nossa existncia formam a cultura. Elementos estes que, to frequentemente, tambm so objetos do exerccio jornalstico. Fruto da unio desses dois meios, o jornalismo cultural, portanto, tem, ao menos em teoria, um campo de atuao de dimenses invejveis. Noentanto,paraDanielPiza(2003,p.07),aexpressojornalismocultural incmoda, j que parece implicar um papel secundrio, quase decorativo, uma impresso quereforadaporboapartedagrandeimprensadopas.Aindasegundooautor,o jornalismoculturalpossuiumadiversidadedetemaseefeitosquenocondizemcomo tratamentosegmentadoqueelerecebe.ParaPiza(Idem),aculturaestemtudo,desua essncia misturar assuntos e atravessar linguagens.DeacordocomElianeBasso(2006),convencionou-sedefinirjornalismocultural comoumaespecializaonascidadanecessidadedeatenderdeterminadosegmentodo pblicoeaprofundarnostemasabordados,como,segundoaautora,acontecenasdemais sees do jornalismo. Para ela, todavia, o jornalista, crtico e ensasta argentino Jorge Rivera (2003) quem traz uma conceituao mais abrangente e coerente sobre o jornalismo cultural: [...]umazonamuitocomplexaeheterogneademeios,gneroseprodutos que abordam com propsitos criativos, crtico, reprodutivos ou divulgatrios os terrenos das belas artes, das belas letras, as correntes do pensamento, ascinciassociaisehumanas,achamadaculturapopularemuitosoutros aspectosquetmavercomaproduo,circulaoeconsumodebens simblicos,semimportarsuaorigemoudestinaoestamental(RIVERA apud BASSO, 2006, p.02).3 RachelBarreto(2005),emsuadissertaoCrticaOrdinria:acrticadecinemana imprensa brasileira, diferencia o jornalismo cultural pela sua temtica e forma:

3Nooriginal:[...]unazonamuycomplejayheterogneademedios,gnerosyproductosqueabordancon propsitoscreativos, crtico, reproductivos o divulgatorios los terrenos de las bellas arte, las bellas letras, las corrientesdelpensamiento,lascienciassocialesyhumanas,lallamadaculturapopularymuchosotros aspectosquetienenqueverconlaproduccin,circulacinyconsumodebienessimblicos,sinimportarsu origen o destinacin estamental. 12 Ojornalismoculturalsediferenciadojornalismopraticadoemoutras editorias (como o jornalismo econmico ou poltico) pela sua temtica e pela sua forma. O prprio tema influi na forma das matrias: o referente no um acontecimento,masumprodutocultural;asnecessidadesdeimediatismoe atualidade so diferentes com relao cultura ou poltica, por exemplo; a prpria posio que os produtos culturais ocupam nas vidas dos leitores no podesercomparada,porexemplo,crnicapolicial.Todosessesfatores, entre outros, fazem com que as matrias do jornalismo cultural tenham uma especificidade com relao s outras editorias. (2005, p. 52). Componente caracterstico desse grande mosaico, a crtica de artes se firmou como um dosprincipaiscarros-chefesdepublicaesecadernosvoltadoscultura.Nestapesquisa,a crticadecinemaobjetodeanlisee,paraisso,faremosumbreveresgatehistricodo gneroe,consequentemente,doprpriojornalismocultural,bemcomosuaevoluoe momento atual. 1.1. Um breve histrico De acordo com Rachel Barreto (2005), no h como se analisar e discutir o cenrio da crtica cinematogrfica atual sem olhar sua origem e trajetria. Ela afirma que para pensar a trajetriadacrtica,devemosrelacion-la,ainda,evoluodosleitoreseespectadoresede suasformasderelaoecontatocomocinemaeojornalismo(BARRETO,2005,p.11).Nessesentido,aevoluohistricadacrticadecinemaestintimamenteassociadaao prprio surgimento e evoluo do jornalismo cultural. Nohumadataespecficaqueindiqueonascimentodojornalismocultural.Ainda assim,segundoPiza(2003),acriao,em1711,darevistadiriaTheSpectatorpordois ensastas ingleses, Richard Steele e Joseph Addison, foi um marco dos momentos iniciais do jornalismocultural.Aintenodarevistaeralevarparaosclubes,assembleiasecafs londrinosafilosofiaquepermeavaoambienteacadmico.Livros,peras,msica,teatroe poltica eram discutidos pela publicao num discurso espirituoso, reflexivo e acessvel. Barreto(2005)afirmaquenosculoXIXqueojornalismoculturalseestabelece mais definitivamente, contando com a presena de intelectuais de renome, entre eles o francs Sainte-Beuve,quandoganhastatusepermiteaespecializaoeodesenvolvimentode carreirasexclusivamentenarea,semanecessidadedeumlastroematividadesacadmicas ouartsticas(BARRETO,2005,p.12).EmmeadosdosculoXIX,ojornalismocultural alcana os pases do continente americano. Nos Estados Unidos, encontra territrio frtil para 13 suaevoluonasinmerasrevistasejornaisquesurgiamalavancadaspelogrande crescimento do pas. Segundo Mariana Cardoso (2010), os artigos opinativos ainda eram um das principais forasdojornalismocultural,cenrioqueperdurouatofimdosculoXIX,quandoas crticas de arte conquistaram, inicialmente na Frana, um maior espao nas publicaes. nas primeirasdcadasdosculoXXqueojornalismoculturalcomeaaganharforanoBrasil, tornando-seveculoparafuturosgrandesescritoresnacionaisqueiniciaramacarreiracomo crticosculturais,entreelesMachadodeAssis.Piza(2003)citaJosVerssimocomoo grandecrticodoperodo.AmigodeMachadoediscpulodeSainte-Beuve,tevetodasua carreira construda como crtico, ensasta e historiador literrio.ComoafirmaBarreto(2005),acrticaculturalbrasileirateveseudesenvolvimento ligadoaumafunopedaggica,moldadoradogostodasociedade,aliadaaumafuno recreativa,sendoacontinuaodoprazerdosespetculosou,paraaquelesquenotinham acessoaeles,seusubstituto(BARRETO,2005,p.13).Ocrticoprofissionalganhoumais espaonosjornaiserevistasapsageraodeMachadodeAssiseJosVerssimo.Esse crticonosanalisaasobrasimportantesacadalanamento,mastambmrefletesobrea cena literria e cultural (PIZA, 2003, p.32). Piza(2003)destacaosurgimentodarevistaOCruzeiro,em1928,comoumdos marcosdoestabelecimentodojornalismoculturalnopas.Sualinhaeditorialeravoltadas crnicaseacrticaliterria.RaqueldeQueiroz,JosLinsdoRegoeVinciusdeMorais estavamentreosrenomadoscolaboradoresdapublicao.DeacordocomCardoso(2010), anos depois, j na dcada de 1950, os principais jornais do Brasil j dedicavam um caderno ao jornalismo cultural, entre eles destaca-se o Caderno B, do Jornal do Brasil.AindasegundoCardoso(2010),asdcadasde1960e1970representaramoutro importantemomentodatrajetriadessejornalismonopas,jquefoiumperodomarcado pelo predomnio da produo artstica brasileira e pelas ressalvas ideia de indstria cultural eproduoestrangeira,levantadaspelorepdioanoodeculturacomoprodutoea necessidade de se valorizar a produo nacional. Nas dcadas seguintes,a cultura de massa no mais vista como necessariamente negativa e colonialista e legitimada pelos jornalistas de cultura (CARDOSO, 2010, p. 20). Essa nova fase se diferencia ao dar ateno produo cultural de artistas e pases perifricos, um reflexo claro do processo de globalizao.Paralelamenteaomomentoemqueacrticadearteeoprpriojornalismose profissionalizavam e se legitimavam, ainda no incio do sculo XX, o cinema algo recente e 14 em plena evoluo naquela poca - tentava se estabelecer como uma nova forma de arte e no apenasumacuriosidadetecnolgica.natentativadealcanaroreconhecimentoartstico dessanovaformadelinguagemvisual,que,dentrodojornalismodecultura,surgemas primeiras publicaes voltadas ao cinema e, consequentemente, crtica cinematogrfica. 1.2. A evoluo da crtica de cinema no jornalismo cultural Segundo Barreto (2005), os anos 10 do ltimo sculo foram marcados pelas primeiras tentativas de consolidar o cinema como arte, culminando, nos anos 20, com o nascimento de algumas revistas especializadas, alm de associaes, cineclubes e cinematecas. Nesse mesmo perodo,osavanosdocinema,alavancadosporcineastaspioneiroscomoD.W.Griffith consideradooprincipalresponsvelpelaevoluodoselementostcnicosedaorganizao lgico-narrativadosplanos-traaramodesenvolvimentodoqueviriasefirmarcomoa linguagem cinematogrfica, dotada de uma lgica e discursos prprios.Nomesmoperodo,nosessanovaarteemexpanso,mastambmoprprio jornalismoculturaltinham,suavolta,arealidadedasvanguardaseuropeias:surrealismo, dadasmo,futurismo,expressionismo,almdasvanguardasrussaslideradasporpioneiros comoDzigaVertov,SergeiEisenstein,entreoutros.Sobreainflunciadessasvanguardas, Barreto (2005, p. 15) afirma que elas levavam uma viso do cinema como um instrumento de comunicaoprofundamenteinovadorerevolucionrio,capazdenegarouironizarcomos valores estticos tradicionais. Desse modo, ainda durante o cinema mudo que a sua legitimao reconhecida por parcelaconsiderveldasociedadeeottulodestimaarte,finalmente,alcanado.O cinemacomea,ento,aganharespaoemseesculturaisdejornaiserevistas.Contudo, essa insero inicial era marcada pelo vis noticirio e publicitrio dos textos.DeacordocomRachelBarreto(2005),aindanadcadade20,jhavianoBrasil revistasespecializadas,comoaTelaeaPalcoseTelas.Comotempo,otompuramente informativo, focado apenas na publicidade e em sinopses das tramas, foi cedendo lugar a uma abordagemmaisavaliativadasobras,combrevescomentrioseanlises.Acrticaassume umafeiomaisaprofundadaeintelectualizadaemduaspublicaesdofinaldadcada, CinearteeespecialmenteFan(BARRETO,2005,p.16).Duranteosanos30,ateoria cinematogrficaganhaforapormeiodepublicaesdetericoscomoBelaBalzs,Hugo MunsterbergeRudolfArnheim.Aindaqueemplenaevoluo,acrticadecinema,ata 15 dcadade1940,seassemelhavascrnicaseensaiospoticos,sendoassinadospor jornalistas, escritores e poetas, em sua maioria, por meio de pseudnimos.SegundoCardoso(2010),arealidadepoltica,econmicaesocialdoBrasilnosanos de1950,juntamenteaoreconhecimentodocinemacomoarte,foramcontribuies primordiaisparaoaugedacrticacinematogrficanopas.Aliadoaocenrionacional,destacam-se influncias externas como a era de ouro de Hollywood, o neorrealismo italiano - responsvelporrevolucionaraestticadocinemaaoadotarlocaesreaiseatoresno profissionais no final da dcada de 40 - bem como o revisionismo da crtica cinematogrfica promovido por crticos daquele pas e a criao, em 1951, da revista Cahiers du Cinma pelo crtico e terico Andr Bazin. Nessecontexto,aindanadcadade50,ojornalismoculturalsevemmeioauma ondaderenovaodaproduotextualedeexperimentaogrfica,tendocomocarros-chefes cadernos de cultura de publicaes como o Jornal do Brasil e o ltima Hora. Todavia, omomentofoimarcadoporumasignificativamudananojornalismobrasileiroque, gradualmente,abandonavaomodeloopinativo,deinflunciafrancesa,eadotavaonorte-americano, privilegiando a objetividade e a informao em detrimento da opinio.Onovomodelonoimpediu,contudo,oaumentodaveiculaodecadernose suplementosdedicadosculturanosprincipaismeiosimpressos.SegundoBarreto(2005), nessa poca de efervescncia cultural, no somente os jornalistas, mas tambm os intelectuais tinhampapeldedestaquenaimprensanacionalemuitos,associadosproduoartstica, procuravamajudarapolitizaropovoecriarnelemaiorconscinciasocial(BARRETO, 2005, p. 20). O interesse do grande pblico brasileiro frequentador das salas de cinema, no entanto, recaasobreaschanchadasnacionaiseocinemaindustrialhollywoodiano.Assim,como afirmaCardoso(2010),haviaumadiscrepnciaclaraentrecrticoseespectadoresnoque tangiaasproduescinematogrficasdaqueleperodo.Issonosignificaquenohaviaum pblicomaisintelectualizadoereceptivoaosfilmesmaisapuradosemsualinguageme contedo. [...]haviaumpblicomaismaduroemelhorpreparadopolticae culturalmente,quecompreendiamelhoralinguagemcinematogrficae atribuaumpapelmaisintelectualaosfilmes.Havia,ento,doistiposde pblicodiferentes,comestgiosintermediriosentreeles:aquelesquese 16 colocavamcomointerlocutoresdascrticasmaisaprofundadaseosleigos que buscavam somente o entretenimento (CARDOSO, 2010, p.27). DeacordocomBarreto(2005),frenteaessecenrioqueacrticadecinemasofre umatransformao,atravsdecrticosqueprocuravamcompreendermelhoropapelda crtica,levandosempreemconsideraoarelaoentreoespectadoreocinema.Desse modo,aindasegundoaautora,criou-seumvocabulriomaisespecializadoparatratardos componentes da stima arte, ampliou-sea dimenso das anlises, incluindo aspectos formais docinemacomoatcnicaeaesttica.Comoresultado,oscrticoscomearamase especializaremsuasfunes.Aautoratambmdestacaalegitimaodacrtica cinematogrfica poca, um reflexo da legitimao do prprio cinema como arte. Destaca-se, nessecontexto,amineiraRevistadeCinema,lanadaem1954,pautadapeladiscusso aprofundada e reflexiva.Nasdcadasseguintes,aexpansodacrticasegueseucursoascendente,alavancada por novos avanos tecnolgicos e de linguagem que propiciaram ao cinema um dos momentos maisricosdesuahistria.SegundoBarreto(2005,p.24),essafasevistapelagrande maioria dos jornalistas com certa nostalgia: [...]umperodoemquehaviaespaoparacrticaseanlisesaprofundadas, escritas,geralmente,porintelectuaiscomalgumconhecimentosobrea linguagemdocinema.Ocontatocomopublicoleigo,naspublicaesno especializadas,eramarcadoporumtomdidtico,quevisavainiciaros espectadoresnossegredosdastimaarte,inclusiveapontandoquaisfilmes deveriam ver e como deveriam interpret-los. A razo para o saudosismo diante da crtica e do jornalismo cultural daquela poca avisodequemuitoseperdeudelparac.ParaCardoso(2010),anecessidadedese acompanhar uma arte em plena evoluo como o cinema, seus aspectos tcnicos e artsticos e as implicaes polticas e filosficas que ele levantava e questionava, alm da maior seriedade comaqualeraencaradopodemserapontadoscomoelementosfundamentaisparaum momento sem igual na histria da crtica cinematogrfica e que, claramente, deixou saudades. Sobreojornalismoculturalcomoumtodo,DanielPiza(2003,p.07)acreditanosetratar apenasdeumaperdadeespao,mastambmdeumaperdadeconsistnciaeousadiae, como causa e efeito, uma perda de influncia. 17 Seporumladoaqueleperodofoimarcadopelaefervescnciacrticaecultural, tambmfoicaracterizado,noBrasil,peloforteteorpoltico.DeacordocomBarreto(2005), osmomentosqueantecederamesucederamogolpemilitarde1964forammarcadospelas manifestaesdepaixespolticaseacrticadecinemanoficoudeforadessatendncia. Segundoaautora,oscrticosnacionaisprosseguiamcomaideiadeumcinemabrasileiro legtimo, sem influncias estrangeiras e com uma linguagem cinematogrfica prpria. Indo ao encontro do desejo da crtica, surge o Cinema Novo, procurando mudar a forma, a linguagem e o contedo, bem como a realidade do pas.

AidiadetransformaroBrasil eomundoatravsdocinemase refleteem uma crena no poder transformador do cineasta e do crtico, mediante a ao desalienadora.Estepontomarcaumaviradadacrticaemdireoauma orientaodeanlisemaissociolgicadoqueesttica,maisatentaaotema do filme e suas implicaes polticas e ideolgicas, mais preocupada com o contedo do que com a forma do cinema (BARRETO, 2003, p. 28). Nombitointernacional,osanosde1970solidificaramacrescentediversidadeentre diferentescrticos e publicaes, distanciando-seda predominncia de apenas uma escola ou correntecrtica.Aqueladcadatambmtrouxeaperdadointeressedosgrandesprodutores pelo cinema de autor (campo em que se desenvolvia grande parte das experimentaes com a tcnicaecomalinguagemedeondesurgiamalgunsdosfilmesmaiscriativos)eopblico mostra um declnio na cinefilia (BARRETO, 2005, p. 29). No por acaso, a partir do final dosanos70queocenriodeexpansoeevoluodacrticadecinemaedojornalismo cultural d lugar a certo desapontamento com o material que estava sendo produzido, alm do comeo do j citado saudosismo por parte dos profissionais do meio. ParaMarianaCardoso(2010),amudanaderumonacrticacinematogrficano partiu dos jornalistas ou daqueles que chefiavam as publicaes. A forma como o cinema e o jornalismopassaramaserencaradoseconsumidospelopblicooqueconduziu, verdadeiramente,essamudana.Asnovasformasdelinguagemeestticadastimaarte, trazidaspelastransformaesculturaisdaqueletempo,refletiram,inevitavelmente,no exerccio crtico. A mudana cultural tambm alterou o perfil dos leitores, alterou a relao dos leitores com o texto, seus desejos, sua relao com o cinema, a quantidade e qualidade do que consumido (CARDOSO, 2010, p.28). 18 Comachegadadadcadade1980,confirmou-seoprocessodeindustrializaoe padronizao do jornalismo mundial. O jornalismo cultural e a crtica cinematogrfica, por consequncia teve seu espao reduzido em publicaes dirias e semanais, dirigindo-se aos veculosmaisespecializados.Perde-se,segundoBarreto(2005),otomaprofundadoe analticodaproduocrtica,assumindoumformatodepequenaresenha,superficiale taxativa. O ideal no mais parece ser a anlise da obra audiovisual, mas oferecer ao leitor uma espcie de guia, simplesmente indicando quais filmes ele deve ou no assistir. De acordo com Cardoso (2010), a cultura considerada mais erudita continua a receber crticas mais elaboradas efundamentadas,massorestringidasspublicaesespecializadase,assim,aumpblico bastante restrito. 1.3. Um panorama atual: a internet e o embate resenha versus crtica Os anos 2000, se no trouxeram solues definitivas para esses desafios do jornalismo culturaledacrticadecinema,aomenosamenizarampartedelescomoestabelecimentoda internet como um dos principais meios de circulao de informaes. Para Cardoso (2010), a novadcadatrouxeaexpansodalinguagemdojornalismoculturalcomocrescimento exponencial de blogs, flogs4 e podcasts5, alm de meios de compartilhamento como o Youtube esitesespecializadosemcinema,msica,etc.Awebsetornou,assim,umaesperanade mltiplas possibilidades paraa crticaexercitaras ferramentas do meio ebuscar inovaes e qualidade,fugindodapadronizaoedeclnioanteriormentediscutidosesereaproximando, talvez, de seu pice criativo e analtico. A introduo da internet na produo da crtica cultural no alterou, porm, muitos dos obstculos e questionamentos da rea. Entre eles, o debate persistente em torno da nomeao detextoscrticos:seriamelesrealmentecrticasou,narealidade,resenhas?Umaindagao aparentementesimples,masquecarregaemsiumaverdadeiradiscussodanaturezado trabalhodocrticodeartes,relacionadacomajcitadaperdadeumaabordagemmais profundanaapreciaodaobraemfunodeumformatoquevisaguiarconsumidores. Segundo Cardoso (2010), a insero da crtica de cinema no formato jornalstico faz com que

4 Abreviao de fotoblog, o flog um tipo de blog feito com fotos. Popularizou-se com o sucesso das cmeras digitais e dos celulares com cmeras. 5 Podcast um formato de distribuio de arquivos digitais pela internet, divulgando arquivos de som, vdeo e imagens. 19 elasejasubmetidaacaractersticasprpriasdoformato,comoarotinadeproduo,as estratgias de comercializao e a competitividade.Para Barreto (2005), o que distingue a resenha e a crtica a qualidade informativa que cadaumacarrega,aindaqueambassejammanifestaesdojornalismoopinativoeteriam caractersticasemcomum,comooprivilgiodainterpretaoedaopiniosobrea informao (BARRETO, 2005, p. 37). Sobre a diferente qualidade informativa de cada uma, Daniel Piza (2003, p. 70) quem traa uma diviso: Maso que deveter um bom texto crtico?Primeiro, todas ascaractersticas deumbomtextojornalstico:clareza,coerncia,agilidade.Segundo,deve informaraoleitoroqueaobraouotemaemdebate[...].Terceiro,deve analisaraobrademodosinttico,massutil[...].Ataqui,tem-seaboa resenha. Mas h um quarto requisito, mais comum nos grandes crticos, que a capacidade de ir alm do objeto analisado, de us-lo para uma leitura de algumaspectodarealidade,deserelemesmo,ocrtico,umautor,um intrprete do mundo. Nodeinteresseprimriodestapesquisa,valedestacar,focarnadistinode resenhasecrticas.Asanlisesaquirealizadassero,fundamentalmente,baseadasno contedoeestruturadostextoscrticosselecionadosesuasrelaescomosveculosnos quaisforampublicados.Dessemodo,oformato(resenhaoucrtica)noqualessestextosse encaixamnosercategoriadeanlise,podendo,noentanto,serparteintegrantedas concluses retiradas desse processo. 1.4. As especificidades e o papel da crtica cinematogrfica 1.4.1. Os estilos e categorias Aotraarsuavisodaquiloemqueconsisteumgrandecrtico,Piza(2003)descreve umafiguraideal,umcrticodeartescientedesuasferramentas,deseupapeledesuas responsabilidadesjuntoaoleitor.Quaisseriam,porm,essasferramentas,essepapeleessas responsabilidades?RachelBarreto(2005,p.38)afirmaquepodemosdiferenciarascrticas com relao aos critrios, mtodos e abordagens escolhidos para a anlise. Piza (2003) quem elabora as classificaes de estilos de crticas que sero adotadas comoasprincipaiscategoriasdeanlisedestapesquisa.Paraoautor,ostextoscrticosse dividem em: 20 Impressionistas:segundoPiza(2003,p.71),ascrticasimpressionistassouma espciededescriodareaoimediatadeumautorsobredeterminadaobra, lanandoadjetivosparaqualific-la.Aindaquetenharecebidoumaconotao negativa, esse tipo de texto se favorece pela vantagem da sinceridade, de jogar limpo com o leitor.Estruturalista:crticasqueprocuramanalisaraspectosestruturaisdeumaobra,bem comoseuselementosdelinguagemequebuscaavali-ladiantedasmudanaspelas quaisaquelaartepassounodecorrerdosanos.ParaPiza(2003,p.71),essetipode textocrticoerra,emgeral,aovenderumaobjetividadeinatingvelaoleitore/ou abster-sededizer-lhequalaimportnciarelativadeler/ver/ouviraquelaobra. Contudo,suaprincipalqualidadeestabeleceradiscussoaooferecerpontosde referncia concretos.Focados noautor: estilode crtica bastante habitual no jornalismo brasileiro, tem seu focomaisemfalarsobreoautor,suaimportncia,seusmodos,seustemas,sua recepo,doqueanalisaraquelaobraespecficaousuacontribuiointelectualou artstica em conjunto (PIZA, 2003, p. 71).Focadosnotemaouconteudistas:deacordocomPiza(Idem),aquelacrticamais interessadaemdiscutirotemalevantadodoqueamaneiracomoaobraolevantou. Segundooautor,veemumromancehistrico,porexemplo,maispelasua interpretao do perodo e menos por suas qualidades narrativas. Piza(2003)relembra,noentanto,queaboacrticaaquelaqueconsegue, independentedoespaoaeladestinado,elaborarumacombinaosaudveldessesestilose suasprincipaisqualidadessinceridade,objetividade,atenoaoautoreaotema.Aindade acordocomoele,otextocrticodevelevarnovidadeereflexoparaoleitor,queseja prazerosolerporsuaargcia,humore/oubeleza(PIZA,2003,p.71).Mascomobem destacaBarreto(2005),torna-seperceptvelatendnciadostextoscrticosdesedirigirem mais para um estilo do que para outros. Se isso foge da produo crtica ideal imaginada por Piza(2003),poroutroladocontribuiparaumamelhoranliseindividualecomparativados textos.Emsuadissertao,Barreto(2005)apresentaoutraclassificaodetiposdecrtica propostaporEdwardMurray(1975).NoseulivroNineAmericanfilmcritics:astudyof theory and practice, Murray prope uma categorizao a partir da anlise dos textos de nove influentes crticos de cinema dos EUA na dcada de 1970.Sero includas aqui algumas das 21 classificaes de Murray (1975) a ttulo de possvel complementao e aprofundamento para asposterioresanlisesdapesquisa,vistoqueoautortrabalhacomcategoriasquetrazem similaridades com aquelas elaboradas por Piza (2003), ao mesmo tempo em que, ao contrrio desseltimo,lidaespecificamentecomacrticacinematogrfica.Podemoscitarcomo classificaes de Murray (1975, apud BARRETO, 2005): Crticaimpressionistaouno-crticaimpressionista:consiste,emgeral,nas impresses e sensaes do crtico ao ver o filme, tendo um carter bastante pessoale subjetivo. O fato de no seguir critrios organizados e invariveis na anlise das obras o que a classificaria como uma no-crtica.Crticahistrica:concentradanarelaodosfilmescomseucontextohistricode produo, essa crtica analisaseu contedo com relao aos fatos histricos reais de que trata (BARRETO, 2005, p. 39).Crtica biogrfica: leva em considerao aspectos da vida do realizador que possam se relacionar ao tema do filme ou sua forma de abordagem. Crtica sociolgica: essa categoria de crtica acredita que os filmes tm consequncias foradesimesmos,sendoinfluenciadosporeinfluenciandoocontextosocialmais amplo no qual se inserem (BARRETO, 2005, p. 39).Crtica etnolgica: analisa a obra sob uma vertente de fenmeno cultural ou a relao do prprio cinema com suas fontes culturais.Crticapsicanaltica:comobemresumeBarreto(2005,p.40),essetipodecrtica podeinterpretarpsicanaliticamenteasintenesdodiretorouaesepersonagens mostradospelofilme.Muitasvezessofrecomavulgarizao,simplificaoe aplicao mecnica de conceitos da teoria psicanaltica.Crticadegnero:concentra-senainserodosfilmesnosseusrespectivosgneros cinematogrficos,procurandoiluminartantoascaractersticasgeraisdosgneros quantoaformacomoessascaractersticassedesenvolvem,surgemeseatualizam naquele filme (BARRETO, 2005, p. 40).Crticaesttica:focadanosaspectosformaiseartsticosdeumfilme,tendosua atenovoltadaparaousodalinguagemcinematogrficaeseusrecursos(miseen scne ou montagem, por exemplo).Murray (1975) no acredita que essas categorias sejam excludentes, sendo plenamente possvelobservarresultadoshbridosentreosdiferentesestilosemodalidadesdecrtica.Algo que, segundo ele, favorvel ao proporcionar um pluralismo crtico em detrimento de 22 umanicavertente.ParaBarreto(2005,p.41),essarealidadedeumacrticapluralistae flexvel no significa mistura e confuso de sistemas, sendo mais uma seleo de critrios, princpios e padres superiores de diferentes sistemas de ideias, combinados e aplicados com rigor e propriedade.A autora ainda estabelece outras possveis distines entre tipos de crtica ao levar em conta a anlise dos elementos intrnsecos e extrnsecos a um filme. Segundo ela, se uma obra cinematogrficafossetomadacomoalgoautossuficiente,elapoderiaseranalisadapormeio de critrios inerentes a sua prpria realidade. Ao mesmo tempo, porm, no assistimos a um filme totalmente alheios a experincias anteriores. Para Barreto (2005, p. 43), a questo no traar uma delimitao entre abordagens e aspectos intrnsecos ao filme e aqueles extrnsecos aele,masobservaraformacomoosmesmoselementospodemseranalisadosapartirdo filme ou para alm do filme. Oanalistapodededicarsuacrticaaospersonagensouformacomoso caracterizados;aosatoresesuacarreiraouatuaonaquelefilme especfico;aoestilodoautorouformacomoesteestilotranspareceno filme; s intenes do autor ou forma como estas intenes so expostas e construdas no filme; ao contexto scio-cultural de produo do filme ou ao contextoscio-culturalexploradorerepresentadopelofilme;obrana histriadocinemaousrefernciashistriado cinemaquetransparecem na obra, e assim por diante. (BARRETO, 2005, p. 43). Diantedeumagamatoextensadecombinaesepossibilidadesdacrtica,no pareceprodutivoprocurar,nestapesquisa,simplesmenteencaixarascrticasdecinema selecionadas em categorias nicas e taxativas. de maior interesse a anlise da estrutura, do contedoedaformadostextosnostrsveculosescolhidos,bemcomoaidentificaode caractersticaseelementosmaisrecorrentes(mtodos,conceitoseenfoques),tomandoas classificaesapresentadascomoeixosetendnciasnorteadorasdessaanlise.Espera-se, assim,traarumbrevepanoramadacrticacinematogrficabrasileiraemtrsdiferentes meios de veiculao. 1.4.2. Os papis e funes Seocrticodecinemaedeartes,nogeraltem,aoseualcance,umaquantidade significativa de ferramentas, recursos e mtodosaos quais pode recorrerno seu momento de produo, seria igualmente amplo e diversificado o nmero de funes e papis possveis para ofazercrtico?Paracompreend-losnecessrio,segundoRachelBarreto(2005), 23 verificar os papis e funes que a crtica desempenha em relao ao cinema e em relao ao leitor. Noquedizrespeitoaoleitor,DanielPiza(2003,p.77)chamaaatenoparaa importncia da crtica em seu papel de formar o leitor, de faz-lo pensar em coisas que no tinha pensado (ou no tinha pensado naqueles termos), alm de lhe dar informaes. O autor acredita que o crtico perseguido por uma imagem negativa, principalmente em pases como onosso,onde,muitasvezes,taxadodecriadorfrustradoouchatoeressentido,cuja opinio deveria ser desconsiderada, cabendo a ele apenas introduzir uma obra ao leitor. Frente aisso,Piza(2003)defendequeimperativoaocrticosaberargumentarparaoleitorsobre suasescolhas,noserefugiandoemadjetivaesvaziasouemsimplesgosteiouno gostei. AindadeacordocomPiza(2003,p.78),obomcrtico,independentedesuarea especficadeatuao,deveterumaboaformaocultural.Ocrticocinematogrfico,por exemplo,nopoderserumbomprofissionalcasodesconheaaboaliteraturaeahistria dasartesvisuais[...];tambmdeveternoesslidassobreosassuntosabordadospelos filmes [...]. Para o autor, funo bsica do crtico, primeiro, compreender a obra, colocar-se no lugar do outro, suspender seus preceitos, para ento sedimentar as ideias e, mesmo que exprimindo dvidas, chegar a uma avaliao (PIZA, 2003, p. 79).Barreto (2005) vai mais alm, afirmando haver cinco tendncias principais no papel do crticoemrelaoaoseuleitor.Seriamelas:atendnciaaofornecimentodeinformaes, dependendodaprofundidadedaanlise(detemasaseremabordadosousimplessinopsedo filme at referncias a teorias do cinema); orientao de consumo do leitor, exercendo uma funodeguiaaoindicarsevaleounoapenaassistirdeterminadofilme;aodidatismo, procurandoestabelecerumarelaodeinstruoetransmissodesabereseopinies articuladas(BARRETO,2005,p.46);aocompartilhamento,emqueocrticopartedo pressupostodequeoleitorcompartilhadeparceladeseusconhecimentoseinteresses cinematogrficos,oquepossibilitaummaioraprofundamentodacrtica;eporfim,a tendnciapuradistraooudivertimento,naqual,segundoBarreto(2005,p.46),otexto pode servir como antecipao ou prolongamento do prazer do filme ou pode at mesmo ser lido independente dele.Noqueconcerneseupapeldiantedocinema,ocrtico,aobuscaroessencial embasamento de suas opinies e escolhas, muitas vezes acaba por imprimir suas noes ideais do que seria e para qu serviria o cinema. Para Barreto (2005), essa concepo pode variar 24 dependendo das propostas das diferentes publicaes. A autora tambm destaca que a crtica pode se submeter ao papel de analisar um filme de forma mais pormenorizada, sendo possvel descrever,caracterizarecompreenderaobra,facilitandosuainterpretao(BARRETO, 2005, p. 47).Aindasobreospapisimaginveisnodesempenhodacrtica,Barreto(2005)lembra quealgunscrticospodem,tambm,assumirumafunodecolaboradornamelhoriaenos avanos da stima arte. Trata-se de uma viso do texto voltado no apenas para o espectador, mastambmparaosintegrantesdaindstriacinematogrfica,queteriam,nacrtica,um reflexo das conquistas e erros de seus trabalhos (BARRETO, 2005, p. 48). Para ela, a crtica pode,ainda,teropapelderegistrodaevoluodocinemaemtemporeal,contribuindo tambm para arquivar sua histria.Como destaca Barreto (Idem), essas inmeras formas e abordagensdesepensarolugar,opapeleaformadacrticatransparecemnostextos, mesmo quando no so objeto de uma reflexo sistematizada. tendo isso em mente, junto aos tipos e estilos de textos crticos apresentados anteriormente, que pretendemos analisar as crticas de cinema selecionadas. 25 CAPTULO 2 - A FORMA: A CRTICA CINEMATOGRFICA NOS DIFERENTES MEIOS JORNALSTICOS Ao falarmos da crtica de cinema e sua insero no jornalismo cultural, apresentamos sua evoluo, seus variados conceitos, modalidades e questionamentos. Na tentativa de traar um panorama dessa crtica no Brasil, precisa-se, contudo, enxerg-la no apenas no mbito do jornalismocultural,masnarotinajornalsticacomoumtodo.Nessesentido,nadamais adequadoeproveitosoparaosobjetivosdestapesquisadoquebuscarentenderumpouco melhoressapresenadacrticanojornalismobrasileiropormeiodasplataformasdos veculos selecionados para o estudo: o jornal impresso, a revista e a internet. 2.1. O jornal impresso Comovistonocaptuloanterior,osjornaisimpressoseasrevistastiveramumpapel de suma importncia no surgimento e, depois, no estabelecimento da crtica cultural por todo o mundo. Foram veculos desses dois meios que primeiro abriram espao para o jornalismo de cultura.NoBrasil,nofoidiferente:ojornalOPaiz,em1897,publicouosprimeiros comentriosdocrticoteatralArthurAzevedoacercadosfilmesquecomeavamaser exibidos em casas de teatro. Dcadas mais tarde, a crtica j havia conquistado maior espao nos jornais e suas prprias revistas especializadas. Passamos pelo surgimento de publicaes icnicas e (algumas) duradouras e pela ascenso de nomes de peso no cenrio nacional, como AlexViany,CyroSiqueira,RubemBifora,MonizVianna,FranciscoLuisdeAlmeida Salles, Paulo Emlio Salles Gomes, Jacques do Prado Brando e Jos Lino Grunewald.Porm,delparac,muitacoisamudou.Seoscrticoseintelectuaisnoprecisam maislutarpelaaceitaodocinemacomoarteaindaqueessanooparea,porvezes, esquecidanovasrealidades(comooadventodainternet)eimpassesforamaoencontroda crtica cinematogrfica e ao jornalismo cultural nas ltimas dcadas. Em seu artigo Panorama daCrticaCinematogrficanoJornalismoImpressodoRioGrandedoNorte,Elidianedo Nascimento (2012) afirma que, nos anos de 1990, os jornais diminuram o espao dedicado s crticas de cinema e o prprio status do crtico como especialista no assunto, alegando a falta de interesse dos leitores em opinies mais elaboradas. 26 Essasuperficialidadeeessepersonalismosoocontrriodoquesempre pregaram e praticaram os crticos profissionais de todo mundo.[...] a arte sai perdendoquandonohumclimadedebatefomentadopelacrticade qualidadeeresponsabilidade,escritaporprofissionaisquesaibam fundamentaropiniesemconhecimentodehistriaetcnicaenuma linguagem cristalina e atraente (NASCIMENTO, 2012, p. 02). SegundoRachelBarreto(2005,p.49),ojornalismoimpescrticaspublicadas algumasdesuaslimitaesenecessidadesespecficas,que,paraalgunscrticos,soas grandes culpadas pelas deficincias da crtica. Barreto (2005) cita Heitor Capuzzo (1986), autordolivroOcinemasegundoacrticapaulista,paraquemostextosanalticosesto presentesemumaformapasteurizadanosgrandesjornais,ondepredominamanotciaea informao,relegandocrticaumcartersinttico.Aautoralembra,noentanto,queos diferentestiposdecrtica(aprofundadaouno)esto,emsuamaioria,subordinadasaos estilos das publicaes nas quais se encontram. No jornal dirio, por exemplo, mais comum apresenadesimplescomentriossobrefilmeseocinema,aopassoquenaspublicaes semanais, oespao dedicado scrticas propriamente ditas, j querequisitariam um tempo maior na sua elaborao. Aprofundando-se nas especificidades do jornal impresso, o autor Juarez Bahia (2009) afirma que ele o resultado de enormes e diversas transformaes na imprensa, na sociedade enaHistria.Paraoautor,ainflunciaeoalcancedoveculoimpressopodesermaiorou menorsecomparadoscomaTV,ordiooucinema,mas,entretodos,odemaior consistncia. Bahia atribui ao jornal uma grande persistncia e credibilidade, acreditando que ele ser cada vez mais indispensvel, mesmo diante da grande concorrncia dosveculos no impressos.Essacompetio,porm,limitadajque,deacordocomoautor,emmuitos casos, o jornal ou a revista deve agradecer aos meios como a TV e o rdio a repercusso que alcana (BAHIA, 2009, p. 79).Aindasobreascaractersticassingularesdojornalimpresso,Bahia(2009,p.82) destaca que, para que um veculo desse meio possa figurarem uma classe degrandeza, suas funesdeverocombinarautoridade(exatido,veracidade,equilbrio);credibilidade (confiana,conhecimento,moderao);legibilidade(linguagem,arte,estilo); profissionalismo(apresentaoclaraenopreconceituosadosfatos,quaisquerquesejam valoreseemoesdoveculo);critrio(sensodeprioridadenasescolhasdasnotcias,de modo a que o leitor tenha na primeira pgina o que mais importante). 27 Retornandoquestodaperiodicidade,Bahia(Idem)afirmaqueojornalimpresso tem a funo singular de coletar, publicar e disseminar notcias dentro de um tempo crtico. Segundooautor,seuxitoaocompetirnomercadodependedoseudesempenhonessa funoemenosdatecnologiaqueusaparaconverterosdadosempalavrasimpressas. Tecnologiaestaque,paraele,seconfigura,hojeemdia,noaprimoramentodetcnicas anteriores. Ametodologiadojornaldehojeoaprimoramentodametodologiadas pocas anteriores atual empresa jornalstica comandada por uma central de computao.Elaabrange,numprocessodesubstituiocrescentedo equipamentomecnicopeloequipamentoeletrnico,todasasfasesde produo que vai das notcias aos dados contbeis, documentao (textual efotogrfica),paginaoautomtica,aossubsistemasdeclassificados, anncios,saladerotativas,seodeexpedio,oficinas-satlites,etc. (BAHIA, 2009, p. 88). Aliada a essa metodologia do impresso e s suas especificidades, a apresentao visual doveculotambmdestacadaporJuarezBahia.Paraoautor,elaseincorpora personalidadedasmdiasimpressas.Eleacreditaque,devidosinflunciasdosanncios,a pgina impressa ganhou uma configurao horizontal, mas elementos verticais so dispostos, simultaneamente,afimdeatrairefocaraatenodosleitores.Antettulosesubttulos suprimidosnocausamdanosaottulo,asimplificaodacomposiofavorecea simplificaodosconceitosdearte,comocaracteresmaioresfacilitamaleitura(BAHIA, 2009, p. 86). Quanto aos principais tamanhos de jornais impressos, os formatos mais comuns soostandard(entre60x38cme75x60 cm),tabloide(aproximadamente38x30cm)e berlinense (cerca de 47x31,5cm) tambm chamado de berliner ou europeu.DeacordocomBahia(2009,p.86),adivisodejornaisemsees,cadernose encartes,influitantonomanuseiodaedioquantonasuaproduo,veiculaoe distribuio. Ele menciona tambm o uso da fotografia e da dosagem de cor como elementos rentveisgraficamente,seguindo-seasmesmasregrasdeevoluoecontedo.Oautor aindadestacaquenohfronteirasparaaevoluoeamelhoriadosveculosimpressos, garantindoqueosbonsjornaisseduzemosleitoresecriamrazesdefidelidadeque permanecem por geraes e geraes.Sobreareferidadivisodosjornaisimpressosemcadernosesees,LuizCaversan (2009),emseulivroIntroduodoJornalismoDirio,tratadeapresentaropapeleo funcionamentodediferenteseditoriaspresentesnosprincipaisjornaisdoBrasil(FolhadeS. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo). Entre elas, o autor introduz a editoria de cultura, rea 28 na qual as crticas de cinema so costumeiramente publicadas nesse meio e que, portanto, se faz importante a meno nesse captulo.ConceituadoporCaversan(2009,p.27)comoaeditoriaquetraztudooquese relacionacomaarte,culturaeentretenimento,ocadernoculturaldeumjornalimpresso possuireprtereseredatoresnormalmentecomespecializaesemtemasespecficose tambm um corpo de crticos para a anlise sistemtica da produo cinematogrfica, teatral, musical, de artes plsticas, entre outras. Segundo o autor, os cadernos culturais so tambm bastante baseados no jornalismo de servio, j que se apresentam como fonte de informao sobreaprogramaoculturaldacidade.Eledatenoaindapresenadecrnicas escritasporautoresfixosqueserevezamduranteasemanaedehistriasemquadrinhos, palavras cruzadas e horscopo.Para Sergio Vilas Boas (1996, p. 95), os cadernos de cultura dos jornais possuem um tommaisensasticoeopinativo.Otextomaissolto,comtendnciaaabsorver coloquialismos e neologismos de todo o tipo [...] tem estilo e pblico muito bem definidos.CitadoporCaversan(2009)comoumdostrsprincipaisjornaisdopas,oEstado refleteascaractersticasobservadaspelosautoreseserorepresentantedomeioimpresso selecionado para este estudo e, por isso, ser apresentado a seguir. 2.1.1. O Estado de S. Paulo (Estado) Denominado,inicialmente,comoAProvnciadeSoPaulo,ojornalfoifundadono dia4dejaneirode1875.SeunomeatualveioummsapsainstituiodaRepblicano Brasil, em 1889. Quase 100 anos mais tarde, em 1986, o jornal lanava aquele que se tornaria umdosprincipaiscadernosdiriosdojornalismoculturalbrasileiro:oCaderno2.Segundo DanielPiza(2003),aprimeirageraodocadernofoimarcadapornomescomoWagner Carelli,ZuzaHomemdeMello,EnioSqueff,entreoutros.Ageraoseguinteseriadirigida por Jos Onofre, crtico de cinema e literatura. Dessa turma, se destacaram Ruy Castro, Telmo Martino,PauloFranciseoutrosnovostalentos.Nomesmoperodo,deacordocomPiza (2003),enquantoocadernodeculturadaFolhaoIlustradasededicavamaisaocinema americanoemsicapop,oCaderno2procuravaequilbriomaiorcomliteratura,artee teatro.Noquedizrespeitoscrticascinematogrficas,ocadernopublicasuasavaliaes, geralmente, nasediesde sexta-feira, dia tradicional para lanamentos do cinema. Perodos 29 de festivais, como o Festival de Cannes, a Mostra Internacional de Cinema de So Paulo ou o FestivaldeCinemadoRiosoalgumasdasexcees,tendoreportagenseresenhas publicadasduranteasemana.Entrecrticasematriasmaiselaboradas,oCaderno2fazum apanhado diversificado de filmes a serem abordados, trazendo obras dentro e fora do circuito comercial,bemcomoproduesnacionaisegrandessucessosmundiais.Oprincipalnome dessa rea do caderno Luiz Carlos Merten, crtico de cinema gacho de longa carreira. Junto aMerten,ojornalistaecrticoLuizZaninOricchiotambmassinagrandepartedascrticas cinematogrficas do Estado. O jornal paulista tem circulao nacional, atingindo um pblico amploebastanteheterogneo.Desegundaasbado,seuvalorporediodeR$3,00, chegandoaosR$5,00nosdomingos.AmdiadacirculaodiriadoEstadoem2012foi de, aproximadamente, 235.000 exemplares, segundo a Associao Nacional de Jornais (ANJ). 2.2. A revista Assimcomonojornalimpresso,soinmerasascaractersticaseespecificidadesdo texto e da forma de uma revista. Buscando estabelecer as principais diferenas desse veculo para os outros meios de comunicao impressa, a autora Marlia Scalzo (2004, p. 39), em seu livroJornalismodeRevista,citaseuformatocomoumpontoque,visivelmente,distingue uma revista. Ela fcil de carregar, de guardar, de colocar numa estante e colecionar [...] seu papeleimpressotambmgarantemumaqualidadedeleituradotextoedaimagem invejvel.Aqualidadedestacvel,alis,oque,segundoaautora,proporcionaoutra vantagem da revista sobre os demais veculos, sobretudo o impresso: a sua durabilidade.Deacordocomaautora,atmesmootamanhodeumarevistacuidadosamente escolhidoparaagradardeterminadopblico-alvoeatenderespecificamenteaumtipode publicao.Scalzo(2004,p.40)explicaqueh,geralmente,umaprocurapormedidasque representem a melhor utilizao do papel e, por isso, uma maior economia. Para ela, com as inovaestecnolgicascontemporneas,novaspossibilidadespermitempensaremmuitos outrosformatosderevista,semcontudoelevaroscustosdeproduoetornaronegcio invivel. A autora ainda especifica os principais tamanhos e formatos de revista, explicando que as publicaes variam, em mdia, de 13,5x19,5cm at 25x30cm. Segundo ela, o formato mais comum de 20,2x26,6cm tamanho das revistas Veja e Time, por exemplo.Aindanoqueserefereaoaspectoformaldessemeio,SergioVilasBoas(1996) mencionaafotografia,odesigneotextocomoelementosfundamentaisencontradosna 30 revista.Segundooautor,elaadmiteusosestticosdapalavraerecursosgrficosdemodo bemmaisflagrantequeosjornais,[...]maisartsticaquantoaosaspectosdeprogramao visual (1996, p. 71). Vilas Boas (Idem) traa uma diviso estilstica das revistas, separando-as em trs grupos: as ilustradas, as especializadas e as de informao geral. De interesse maior paraestapesquisa,oveculoespecializadodefinidopeloautorcomosendotemticoou segundo a segmentao dos leitores. Sobre a fotografia, Scalzo (2004) afirma que, pela qualidade do papel e da impresso, as revistas sempre valorizaram a imagem. Ela chama a ateno para o fato de que, atualmente, com os computadores e as diversas possibilidades de se criar imagens digitais, surgiram vrias discusses sobre o uso e manipulao de fotografias nas revistas. As semanais de informao soasquemaisusamofotojornalismoe,muitasvezes,elefoioresponsvelporalgunsde seusgrandesmomentoseditoriais(2004,p.70).DeacordocomScalzo(2004,p.71),alm do fotojornalismo, h outro gnero de fotografia tpico de revistas: as fotos produzidas. Para essetipodefoto,almdofotgrafo,necessriocontarcomtodaumaequipedeproduo: pelomenosumprodutor(oureprter),almdecabeleireiros,maquiadores,assistentes, iluminadores etc..No que tange periodicidade, Scalzo (2004, p. 42) afirma quea publicao semanal, quinzenaloumensaldasrevistasacabainterferindosignificativamentenotrabalhodos jornalistasenvolvidosnasuaproduo.Almdesedistanciaraindamaisdotemporealda notcia,apublicaodeperiodicidademaislargaobriga-seanoperecertorapidamente,a durar mais nas mos do leitor. Para a autora, h a necessidade constante de se explorar novos ngulos, buscar notcias exclusivas, concentrar o foco naquilo que se deseja saber e entender o leitor.Essacaractersticaperidicaeaconsequenteprocuraporumadurabilidadedo contedorefletem,diretamente,notextodarevista.SegundoVilasBoas(1996,p.101),a produotextualseutilizaderecursosque,atcertoponto,conciliamaprticadenoticiar com a de narrar. A revista se apropria de algumas formas literrias e assim faz um jornalismo quediagnostica,investigaeinterpreta.Paraoautor,justamenteaquestodotempoo grande diferencial nessa abertura de portas para a criatividade e aelegncia do texto. Para isso,contudo,eledestacaqueprecisotcnica,mastambminspiraoecriatividade. Elementos que no possuem frmulas especificamente definidas.Todavia, esse texto mais desenvolto e estilstico no uma exclusividade desse tipo de publicao. Vilas Boas (1996) lembra, por exemplo, que os cadernos de cultura dos jornais e 31 seussuplementostendemaseaproximardochamadoestilomagazine,especificadoacima. Contudo,comoafirmaoautor,osassuntosculturaistmumaimportnciamenorparaos jornais no dia-a-dia do que outros, como poltica ou economia.J a revistaabordaria com a mesmadesenvolturaestilsticaqualquertema.Comtodosessescomponentesvisuaise lingusticos, no surpresa o preo superior das revistas em comparao com outros meios. O valor,aliadoaocontedomaiselaborado,acabaporatenderumaparcelamaisespecficado pblico, se comparado aos leitores dos jornais dirios.Tratandodarelaodaperiodicidadeedoseuimpactonaproduocrtica,Barreto (2004,p.50)acreditaquehumainterferncianosomentenasorganizaesdetrabalho, temposdeproduoeobjetivosdaspublicaes[...],masnaprpriaformaeobjetivosdas crticas.Alm do tempo, a simples insero de um gnero textual no caso, a crtica em um meio com uma estrutura e uma forma de trabalho j definidas, [...] acaba por impor aos textos que acolhe um formato, ento, por consequncia, a incorporao ao jornalismo marca profundamente a forma das crticas que a so veiculadas. Noentanto,aautoraapontaqueessecondicionamentoaoformatonoanulaas especificidades do texto crtico: Cadatexto,portanto,podetersuascaractersticasparticulares,maspossui uma forma geral (no caso a forma da crtica cinematogrfica) que orienta e determina,pelo menos em parte,a suaestruturao. Ao abrirmosum jornal ouumarevistaelermosumacrtica,rarasvezesnosdeparamoscomalgo completamentediferentedoqueesperamos.claroqueaformado dispositivovariadeacordocomapublicao(emfunodasdiferentes periodicidades,pblicos,objetivosetc.),mas,dentrodecadapublicao, existesempreumaunidade,certonmerodecaractersticasconstantesque sofrem pequenas variaes e modulaes (BARRETO, 2005, p. 52). Barreto (2005) ainda destaca que a crtica de cinema se distingue bem das reportagens e notcias informativas presentes nos jornais e revistas, mesmo quando elas tm o cinema ou a cultura como temas centrais. Segundo ela, na leitura de uma crtica no procuramos encontrar fatos e acontecimentos,mas anlises, interpretaes e opinies, bem como a presena de um enunciadorclaro,umautorquecompartilhaseupareceresuaexperinciadiantedoproduto cultural. Dentro do jornal ou revista, de acordo com Barreto (2005, p. 52), a crtica pode ser consideradaumespaoespecial,aindaquejinstitucionalizadoereconhecidopor produtoreseleitores,masque,aindaassim,seguesuasprpriasnormas,regrasefunes, que podem ser mais ou menos rgidas, de acordo com a publicao e com o autor. 32 ARevistaBravo!,tambmselecionadaparaestapesquisa,trazemsuaspginasum contedoespecializadoemcultura,comumaeditoriadecinemaeumaseodedicada crtica cinematogrfica, que ser a parte abordada neste estudo. 2.2.1. Revista Bravo! Fundadaem1997,aRevistaBravo!foiprimeiramentepublicadapelaEditora Dvila, de So Paulo. Revista de carter mensal especializada em cultura e, por isso, dirigida a um pblico mais especfico, a Bravo! traz em suas pginas matrias e crticas sobre cinema, literatura, msica, dana, teatro e artes plsticas. De acordo com Anna Cavalcanti (2011), em seu artigo A Definio de Cultura no Jornalismo Cultural: Um Olhar Sobre a Revista Bravo!, a publicao que, de incio, pautava temas mais eruditos e distantes da grande imprensa, foi, comotempo,sedirigindoparaumavertenteumpoucomaiscomercial.ParaCavalcanti (2011),essatendnciasetornouaindamaisclaraquandoarevistafoiadquirida,em2003, pelaEditoraAbril.Seguindoatrajetriacontrriadeboapartedaspublicaesculturaisdo pas, a revista tem se mostrado um xito editorial, com tiragens deaproximadamente34.000 exemplares, segundo o site da Editora Abril. Hoje, o valor de cada edio da revista de R$ 14,90.Cadareaculturalcobertapeloveculotemsuaprpriaseo.Napartededicadaao cinema, so, no mnimo, dez pginas dirigidas stima arte. Esto presentes nessa editoria de cinema: uma matria principal (normalmente com um nmero superior de pginas) sobre um filmequeestejaestreandoousobreacarreiradealgumcineasta;umasegundamatria,um poucomenor,tambmsobreobrasqueestejamsendolanadas;umapginadedicada especificamentecrtica(emalgumasedies,identificamosduaspginasreservadaspara texto crtico); uma pgina para os lanamentos em DVD daquele ms; duas pginas com Os melhores filmes na seleo de Bravo!, que mostram filmes com fichas tcnicas, sinopses e as colunas Por que ver, Preste ateno e O que j se disse. Os textos crticos so assinados por diferentes autores, poucas vezes se repetindo. 2.3 A internet Nouniversodainternet,asnormasefunesdotextocrticocitadasporBarreto (2005),aindaquemaisdifusas,podemserfacilmenteobservadasemgrandepartedos 33 infindveissites,pginaseblogsdedicadosaocinema.Arede,seporumladorepresentou umanovaesperanaparaoexercciodacrticamaisconsistenteesofisticada,poroutrodeu plenospoderesevozaqualquerpessoaquequeiraexpressarsuasopinies-maisoumenos elaboradassobredeterminadofilmeousobreocinemaeaculturaemgeral.Segundo MarianaCardoso(2010,p.36),qualquerpessoapodemanterumapginanawebeser produtor de um discurso miditico, [...] a internet permite que a mesma pessoa seja produtora e gestora do contedo divulgado em sua pgina.Omeiovirtualtrouxeumaverdadeirarevoluonascomunicaes.Ainternet possibilitou,deformanica,aintegraodediversasmdias(udio,vdeo,imagens, animao), tornando-seuma grande hipermdia. Para aautora PollyanaFerrari (2010, p. 52), quemescreveparaainternetdeveseatentaraomelhorusodosdiferentesrecursosemdias disponveis,combinando-osquandopossvelenecessrio.Isto,procurarpalavraspara certasimagens,recursosdeudioevdeoparafrases,dadosquepoderovirarrecursose assim por diante. Entreasferramentasdisponveisnarede,Cardoso(2010)destacaohipertextocomo ferramentadegrandevalornoacessoinformao.DeacordocomAlexPrimo(2003),o hipertextopossuiduascaractersticasprincipais:apermutabilidade,representadapela variedadedecombinaesdetextosecontedos;eapotencialidade,permitindoaformao de inmeros sentidos a partir dessas combinaes possveis. So essas e outras caractersticas dohipertextoe,logo,daprpriainternetquegarantemanolinearidadenoacessoao contedoinformativo,permitindoumaliberdadedenavegao-pormeiodoslinks-sem precedentesentrediferentescontedosrelacionadosounoentresi.Oque,paraacrtica cultural,forneceumcampoextensoderecursos,abordagensedistintosnveisde aprofundamento,modificandonoapenasaformacomfeitoojornalismo,masaforma como ele consumido (CARDOSO, 2010, p. 32). Noquedizrespeitoaotextoescritoparaainternet,Cardoso(2010)defendequeele precisaserconstrudodemaneiraquefixeaatenodoleitorpormeiodeumaboa disponibilizaodosdados.Paraaautora,cadapargrafodevepossuiralgumelementoque exera uma funo motivadora para se seguir adiante na leitura. Ela ainda afirma que no h ummodeloexatoaseradotado,masexistemtrsfundamentosbsicosparaotextona internet:objetividade,elaborandoumtextodiretoequeutilizedelinksparaacrescentar informaes que possam ser de interesse do leitor; navegabilidade, garantindo que o caminho 34 percorridopeloleitoratainformaosejaomaiscurtoesimplespossvel;evisibilidade, destacando as informaes principais. OautorportugusJooCanavilhas(2001),emseuartigoWebjornalismo: consideraessobreojornalismonaweb,destacacomoumfortetrunfodainterneta possibilidade de interao direta com o produtor de notcias ou opinies. O autor explica que em um jornal, por exemplo, o leitor se limita a enviar uma carta para a redao e aguardar sua possvelrespostaemumaedioposterior,masnaredearespostapodeserimediata.A natureza desse meio permitiria esse tipo de interao. No webjornalismo, a notciadeve ser encarada como o princpio de algo e no um fim em si prpria. Deve funcionar apenas como o "tiro de partida"para uma discusso com os leitores (CANAVILHAS, 2001, p. 03).DeacordocomCardoso(2010,p.35),agestodeinformaesnainternetabrange, fundamentalmente,quatroatores:ogestor/jornalista,oprodutor,ousurioeocontedo.A eficcia do sistema comunicacional e a utilizao desse contedo dependem da existncia de umarelaodequalidadeentreesteselementos.Entretanto,segundoaautora,oprincipal responsvel pela qualidade das informaes o jornalista e suas funes so as maiores nesse universovirtual,jquetrabalhodeleexplorar,damelhorformapossvel,osrecursos disponveisparatal,queincluemescolherosrecursosmultimdia,asfotos,linksetc.,como forma de produzir um contedo de melhor nvel.Com esse ambiente repleto de possibilidades, recursos e ferramentas, Rodrigo Carreiro (2009,p.08)apontaumamigraodacrticacinematogrficacontempornea,partindoda imprensaclssicaemdireoaociberespao,ondeelaencontraumambientemuitomais favorvelaoseupapeloriginal:incentivarumdebateestticoamploehorizontal,sem opinies impostas de cima para baixo, o que por si s jconstitui uma atitude de resistncia cultural.Oautorressalta,porm,queessatendncianoalgoconscienteeorganizado, tendo como personagens centrais uma nova gerao de cinfilos que exercem essa atividade de forma semi-amadora, e crticos descontentes com a imposio de limites tempo, espao, condies editoriais atividade crtica. AindaparaCarreiro(2009),essanovarealidadeabreumaperspectivainditaparaa crtica, na qual os crticos que trabalham na imprensa tradicional acabam por perder a funo de gatekeepers no exerccio da profisso. [...]ocibercinfilobuscacrticassobreosfilmesnomaisemjornais,mas emespaosvirtuaismaisconhecidoserespeitadosdentrodoscrculos cinfilos; websites independentes, sem laos com os grandes conglomerados demdiaclssica,incluindoatantoasrevistaseletrnicasdavertente 35 profissional da nova crtica quanto os blogs de crticos semi-amadores. Este cibercinfilo l comentrios sobre os filmes em fruns de discusso e integra listasdediscusso[...].Elecriablogseodivulgaatravsdeferramentas gratuitas existentes na Internet [...] (CARREIRO, 2009, p. 10). No entanto, os elementos desse novo cenrio trariam, segundo Carreiro (2009, p.12), um lado negativo, refletindo um aspecto importante da crise da atividade, ao contribuir para padronizarehomogeneizarodiscursodoscrticos,tantoprofissionaisquantoamadores. Como destaca o autor, quando acessamos sites agregadores de resenhas como, por exemplo, o americanoRottenTomatoes6facilmenteperceptvelagrandesemelhananaescritade crticosdediferentesregiesdoglobo,muitasvezesutilizandoexpressesecomparaes idnticas.Acrticadecinemaestariapassando,assim,porummomentodetransioque constitui, simultaneamente, uma crise (CARREIRO, 2009, p. 14). fato, nesse sentido, que a crtica decinema um objeto a ser analisado no apenas nomeioemqueseencontra,masemconjunto.Afinal,osprocessosemodificaespelas quaisatravessapercorretodoopanoramadaproduocrticanopas.Asobservaesdas anlises do contedo, da forma e da estrutura das crticas cinematogrficas em veculos de trs meios distintos da imprensa brasileira sero registradas nas concluses desta pesquisa. 2.3.2. Site Cinema em Cena ltimoveculoselecionadoparaesteestudo,oCinemaemCenafoicriadoem1997 pelo crtico de cinema e atual diretor do site Pablo Villaa, tornando-se o mais antigo veculo dedicado ao cinema da internet brasileira. O site possui um teor jornalstico, sendo focado em notcias relacionadas ao cinema: lanamentos, filmes em produo, premiaes, divulgao de trailers,almdevariadascolunasfixassobreclssicos,aspectostcnicos,curtas-metragens, etc. Dessa forma, dirigido a um pblico com um interesse maior na stima arte. Ele tambm ofereceumfrumparaosusurioscadastradosdiscutiremsobrefilmes,DVDs,Blu-rayse notciaspublicadasnosite.EntreasnovidadesmaisrecentesdoCinemaemCena,esto relanamentodoseupodcastoficial,noqualparticipamosredatoreseoeditor-chefedo veculo.Aindaqueconcentrehojeumavariedadedetemasligadosstimaarteemsua cobertura,ascrticasdePabloVillaacontinuamsendoocarro-chefedosite.Crticode cinemadesde1994,VillaaencontrounacriaodoCinemaemCenaumveculoparaseu

6 Endereo do site: http://www.rottentomatoes.com 36 trabalho.Ascrticasabrangemfilmesnacionais,internacionais,superprodueseaqueles mais artsticos, fora do circuito comercial e so publicadas, normalmente, em datas prximas sestreiasdasobras.Emcoberturasdefestivais,ondegrandeparceladosfilmesexibida previamenteaosseuslanamentosoficiais,PabloVillaautilizaseublogpessoal7para publicarascrticas,lanando-asnositeassimqueasobrasestreiamoficialmentenocircuito brasileiro. O Cinema em Cena possui uma mdia de 7.500 visualizaes dirias.

7 Blog Dirio de Bordo: http://www4.cinemaemcena.com.br/diariodebordo 37 CAPTULO3-OTEXTO:ACRTICACINEMATOGRFICANOJORNAL ESTADO, NA REVISTA BRAVO! E NO SITE CINEMA EM CENA Tendo sido apresentados o histrico da crtica de cinema e sua insero no jornalismo cultural,osconceitos,funesetiposdecrtica,bemcomoosvariadosmeioseformasem que so publicadas, seguem agora as anlises das crticas selecionadas. Antes, contudo, se faz necessriojustificarasescolhasdosveculosexpostosnocaptulodois,apresentarosfilmes elegidos e introduzir os mtodos que sero utilizados. 3.1. Metodologia Com o objetivo de estabelecer uma anlise dos elementos, da forma e da estrutura da crticadecinemaproduzidaemtrsdistintosmeiosdaimprensabrasileira,estapesquisa procurou selecionar um veculo representante de cada uma dessas plataformas de publicao. Os veculos j apresentados no captulo anterior - foram selecionados a partir da relevncia que possuem no que dizrespeito ao jornalismo cultural e crtica de cinema no Brasil hoje. Cada um deles o jornal Estado, a revista Bravo! e o site Cinema em Cena so expoentes em seus respectivos meios.Partindodosveculosmencionadosedesuascrticascinematogrficasselecionadas, visamosidentificarcaractersticaseelementospredominantesnessaproduo,taiscomoo tipo de crtica (estruturalista, impressionista, focadas no autor ou no tema, entre outros), como estabelecidoporDanielPiza(2003),bemcomoascategoriascomplementaresexpostaspor EdwardMurray(1975)crticahistrica,biogrfica,sociolgica,esttica,entreoutras-, ambosdescritosnocaptulo1.Noiremos,contudo,nosprenderaclassificaesapenas, tendoemvistatambmidentificarastendnciasseguidaspelascrticas,segundoos apontamentos de Rachel Barreto (2005), as intenes do autor do texto crtico, qual funo ele exercejuntoaofilmeanalisadoeaoseuleitor,alm,claro,dasespecificidadesdomeio impresso,revistaouinternet-noqualacrticafoipublicadaeseuimpactonaformae contedo dos textos. Essas conceituaes, ferramentas e objetivos, sero a base para um estudo das crticas decinemaluzdaanlisedecontedo.Anliseestaque,deacordocomaautorafrancesa Laurence Bardin (2011, p. 35), aplicvel a todas as formas de comunicao, seja qual for a naturezadoseusuporte,sendo,portanto,idealparaesteestudocomparativoemdiferentes 38 meiosjornalsticos.Nessesentido,elaapontaumadasfunesdaanlise:umafuno heurstica,naqualaanlisedecontedoenriqueceatentativaexploratria,aumentaa propensoparaadescoberta.Aprofundando-senasuadefinio,aautora(2011,p.36) explica que a anlise de contedo um mtodo muito emprico, dependendo do tipo de fala a que se dedica e do tipo de interpretao que se pretende como objetivo. Pertencem, pois, ao domnio da anlise de contedo todas as iniciativas que, a partir de um conjunto de tcnicas parciais mas complementares, consistam na explicitao e sistematizao do contedo das mensagens e da expresso destecontedo,comocontributodendicespassveisounode quantificao[...].Estaabordagemtemporfinalidadeefetuardedues lgicasejustificadas,referentesorigemdasmensagenstomadasem considerao(oemissoreoseucontexto,ou,eventualmente,osefeitos dessas mensagens) (2011, p. 48). Tendo isto em mente, procurou-se, aps a escolha dos veculos miditicos em questo, decidir o nmero de crticas que seriam estudadas e quais seriam elas. Estabeleceu-se que trs crticas de cinema de trs diferentes filmes de cada publicao seria uma quantidade adequada paraosobjetivosdesteestudo,resultandonumtotaldenovetextoscrticosaserem analisados.Aescolhaporanlisesindividuaise,emseguida,umestudocomparativodas crticasfoibaseadanaestruturautilizadaporMarianaCardoso(2010)emsuadissertao. Paraselecion-los,oprimeirocritriofoianecessidadedequeostrsfilmeselegidos tivessem crticas nos trs veculos apresentados, possibilitando uma maior clareza em termos decomparao.Afimdegarantirqueascrticase,porconsequncia,asobrasfossem recentes,estabeleceu-setambmqueosfilmesdeveriamtersidolanadosoficialmenteem circuito nacional durante o ano de 2012. Finalmente,estipulou-seque,natentativadeabrangerumagamadiversificadade obrase,espera-se,decrticas,ostrsfilmesdeveriamrepresentartrsdistintoscontextosde produocinematogrfica:ocinemanacional,ocinemaestrangeirodearteeocinema americano.Nessesentido,foramselecionados:EuReceberiaasPioresNotciasdosseus LindosLbios,filmenacionallanadoemabrilde2012edirigidoporBetoBranteRenato Ciasca; Holy Motors, pelcula francesa lanada no Brasil em novembro de 2012 e dirigido por LeosCarax;eDrive,dirigidoporNicolasWindingRefnelanadonocircuitobrasileiroem maro do ltimo ano. As sinopses dos filmes esto nos anexos deste trabalho. 39 Destaforma,orestantedoterceirocaptuloserdivididopelosfilmesselecionadose suasrespectivascrticasdecadaveculo,todasanalisadasindividualmente.Aofinal,ser realizadoumestudogeralecomparativo,contrapondooselementosecaractersticasmais predominantes ou diferenciadas entre as crticas e seus meios. 3.2. O filme nacional: Eu Receberia as Piores Notcias dos seus Lindos Lbios 3.2.1. A crtica do jornal Estado de S. Paulo (Estado)8 A crtica do Estado para Eu Receberia as Piores Notcias dos seus Lindos Lbios tem autoriadeLuizCarlosMertenefoipublicadaemumboxaoladodeumamatriasobreo mesmofilme,escritaporLuizZaninOricchio.Juntas,reportagemecrticaocupammeia pginadoCaderno2dojornal.Aocontrriodamatria,otextocrticonopossuinenhuma fotodeacompanhamento.LogoabaixodaretrancaCrticaseguidapelonomedoautor, encontra-se a cotao dada pelo crtico ao filme analisado. Nesse caso, foram concedidas duas estrelas(deumtotaldequatro),representandoumconceitoregularejantecipandoa impressogeraldoautorcomrelaoobra.OttulodacrticaAnarrativa,deto fragmentada, avana aos trancos confirma o tom mais negativo do texto que se segue. Emseuprimeiropargrafo,LuizCarlosMertenfazumbreveresgatedacarreirado autor da obra o diretor Beto Brant e da evoluo de sua carreira como cineasta, passando de um estilo narrativo para um mais autoral. Aqui, Merten revela um enfoque inicial voltado ao autor da obra, aproximando-se do que Daniel Piza (2003) chama de crtica focada no autor, e da categoria de crtica biogrfica, apresentada por Edward Murray (1975).Esse foco, contudo, somente primrio. Ainda no pargrafo introdutrio, o autor cita a obraliterrianaqualofilmesebaseouedestacaqueessaumasegundaparceriacomo codiretorRenatoCiasca.Mertentambmlogotratadeabordaraspectosestruturaisdofilme (Narrativafragmentada,nasbordasdaficoedodocumentrio,afirma),enveredando-se no estilo da crtica estruturalista, de acordo com Piza (2003).Ao introduzir o tema do filme, Merten opta por uma descrio bastante superficial ao afirmarsetratar,basicamente,deumtringuloamorosocomcenasintensasentreaatriz CamilaPitangaeoatorGustavoMachado.Aomesmotempoemqueapresentaatramae avalia a intensidade das cenas, o autor as compara com outro trabalho da atriz, trazendo para

8 Ver Anexos 1 e 2. 40 suacrticaduasideiasabordadasporRachelBarreto(2005):ainserodeumelemento extrnseco ao filme e o fornecimento de informaes adicionais ao leitor. Luiz Carlos Merten, confirmandoessastendnciasapresentadaspelaautora,tambmcitaoclssicoitaliano Ladres de Bicicleta (1948, de Vittorio De Sica), relacionando certa polmica dos bastidores daquela obra neorrealista ao filme nacional.Na sequncia, naquele que talvez seja o principal pargrafo da crtica, Merten vale-se dehiprbolesparacriticar(Comoobradebordas,Eureceberiacomfrequnciada impresso de transbordar) e procura analisar aspectos totalmente intrnsecos obra. Traz, de incio, um foco no tema do filme, associando-se a outra categoria trabalhada por Piza (2003), para,emseguida,voltar-seaquestesestruturaiseelementosestticos(Ofadeineofade out, artifcios em desuso, so usados para abrir e fechar as cenas [...]).Ao fim do texto, o autor tece crticas a aspectos de atuao do elenco e ao terceiro ato daobra,chamando-odecatico.nessesmomentosdeadjetivaesejulgamentosmais subjetivosqueotextodoautorseassemelhanoodecrticaimpressionistadefinidapor Piza(2003)eMurray(1975).Paraencerrar,Mertenvoltaatraarumacomparaocomum trabalhoanteriordeCamilaPitangae,emsuafrasefinal,trazcertaironiacondescendente: Mas, claro, cinema de autor e os crticos (!) esto amando.Nogeral,tem-seumacrticaatentaadiversoscomponentesdofilme,masque,ao mesmo tempo, parece corrida por conta, talvez, do espao relativamente pequeno um total de365palavras-emqueseencontraedeacompanharumamatriamaisextensasobrea obra. 3.2.2. A crtica da revista Bravo!9 Na crtica do jornalista Alvaro Machado para a Revista Bravo!, o filme Eu Receberia asPioresNotciasdosSeusLindosLbiostambmrecebeumacrticanegativa,aindaque mais leve em seu tom se comparada com a de Luiz Carlos Merten para o Estado. A pgina da crtica possui uma foto do filme na sua parte superior, como de praxe nessa seo da revista. Uma legenda indica se tratar da atriz Camila Pitanga em uma cena da obra e traz a informao de que ela fora premiada por sua atuao no Festival do Rio.ComottuloDramademenoseumsubttuloquejapresentaopontocentralda crtica de Machado a falha na adaptao do romance literrio para as telas , o texto tem seu

9 Ver Anexo 3. 41 incio focado no tema do filme, segundo a categorizao de Piza (2003), ao destacar que seu grandetrunfo,almdasensualidadedaatrizprincipaledottulopotico,ahistria intrincada e instigante do livro de Maral Aquino.DestacandoaantigacolaboraododiretorBetoBrantcomAquino,Machado concentrasuacrtica,nessemomento,nacarreiradocineastaaodestacarqueessaparceria com o escritor rendeu seis filmes e que Eu Receberia... talvez represente o pice dessa relao deadaptaesfeitasporBrant.AlvaroMachado,noentanto,logotratadeestabelecerqueo problema central do filme se encontra justamente nessa adaptao. Aproximando-se da crtica estruturalista, ele afirma que o roteiro no chega a se libertar da narrativa literria.No instante seguinte, a crtica faz um questionamento retrico, atravs do qual o autor parece tentar retificar seu julgamento sobre a principal falha do filme junto ao leitor (De que outramaneiraexplicarosafrouxamentosdeconduodascenas,evidentesnasegundahora daprojeo?).Emseguida,Machadoelogiaoelencomuitoacimademdiaea fotografiadeLulaArajo,indoaoencontrodoqueMurray(1975)classificacomocrtica esttica.Notrechodedicadoapresentaodatramaedeseuspersonagens,oautorobserva que o enredotem a cara do Brasil, revelando um comentrio de certo cunho sociolgico queexpandidonopargrafofinaldotexto-aocontextualizaratramacomocenrio contemporneo do pas.OltimopargrafodivididopelosubttuloNotciasnoslbioserrados.Nele,o autordestacaque,diantedasuatramaintensaeexuberante,ofilmeteriaopotencialdese equivaleragrandezadosmelhoresfaroestesamericanos.Aqui,Machadoavalianooquea obra,masoqueelapoderiatersido,seguindoumdospossveispapeisdacrtica cinematogrfica apontado por Barreto (2005). tambm nessa parte final do texto que o autor retorna a sua anlise temtica e sociolgica, de acordo com categorizao de Murray (1975) daobra:Romanceefilmedeixamclaroopartidoquetomam,numatramade complexidadessociaissemtermosdecomparaocomoutrosargumentoshojenomundo inteiro.Aofinal,emumaltimacomparao,AlvaroMachadocitaoutrofilmeamaznico que,segundoele,possuiemexcessoatensointernaqueEuRebeceria...tantocarece.A crticadaBravo!paraofilmemostra-se,assim,concentrada,basicamente,nosaspectos narrativos e temticos da obra, deixando de lado outros elementos flmicos como a direo, a 42 trilha sonora, entre outros. Em termos de tamanho, a crtica de Bravo! um pouco maior que a do jornal, tendo 414 palavras. 3.2.3. A crtica do site Cinema em Cena10 A crtica de Pablo Villaa no site Cinema em Cena11 j se distingue das anteriores pela abordagembastantepositivaqueoautorconferesuaavaliaodofilme.Situada,comode costume,abaixodeumcabealhocomocartaz,afichatcnicadaobraeascotaesdo crtico(quatroestrelas)edosusurioscadastradosnosite,edeumaespciedemenucom abas para resenhas dos cinfilos, notcias sobre o filme, trailers, galeria de imagens e cartazes, a crtica de Villaa a que, provavelmente, maisabrangecomponentes flmicos, temticos e narrativos entre as trs selecionadas. Isso se reflete no tamanho da crtica, tornando-a a maior at o momento com 790 palavras.De forma semelhante crtica do jornal Estado, o autor inicia seu texto destacando o currculododiretorBetoBrant,colocando-ocomoumdoscineastasmaisinteressantesem atividade no pas, com sua aptido para tratar de temas complexos e com sua curiosidade pela experimentao da linguagem cinematogrfica.Ao mencionar o filme Crime Delicado (2005), tambm de Brant, Pablo Villaa esboa um comentrio bastante subjetivo (o mais belo e fascinante ataque minha profisso que j testemunhei), que se encaixa na categoria de crtica impressionista, como trabalhado por Piza (2003) e Murray (1975). A meno ao filme, contudo, no infundada: segundo ele, desde CrimeDelicadoqueodiretorvemapresentandoumaatenoaotemadarelaoentreo artista,suamusainspiradoraeaobrafinal.Aqui,oautortentaestabeleceroqueconsidera umanovapreocupaonotrabalhodocineasta,focando,aomesmotempo,nodiretoreno tema de seus filmes. H, ento, uma associao a outras duas categorias estabelecidas por Piza (2003): a crtica focada no autor e aquela centrada na temtica. DestacandoacontnuaparceriadeBetoBrantcomoescritorMaralAquinoeo codiretor Renato Ciasca, Villaa apresenta a sinopse da obra de maneira sucinta, mas precisa. Emseguida,eleseaproximadasnoesdecrticaestruturalistaedecrticaesttica-de acordo com Piza (2003) e Murray (1975), respectivamente -, ao citar o plano inicial do filme e qualseriasuasignificncia.Nessemomento,oautorrealizaumaanlisedaintenodo

10 Ver Anexo 4. 11 Link para a crtica: http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=11825 43 diretor e, assim, auxilia o leitor na compreenso de determinadas cenas e elementos flmicos, seguindo a tendncia ao didatismo apresentada por Barreto (2005).Acrticatambmdatenoespecialaoelencodaobra,mencionando,inicialmente, os atores Gustavo Machado e Zcarlos Machado. Vale destacar que, ao mencion-los, Villaa elogiaasatuaeseexemplificaotrabalhocuidadosodosatoresnacomposiodos personagens,citandocenasespecficaseoscontrapondoatravsdesuasatitudese caractersticas principais. a atriz Camila Pitanga, porm, a detentora dos maiores elogios do crtico, que a considera o grande destaque do filme. interessante observar que Villaa, ao contrriodoscrticosanteriores,avaliaanecessidadeounodascenasdenudezdaatriz, julgado-as importantes para a narrativa.Nospargrafosfinaisdotexto,oautorvoltaacitarelementosflmicoscomoa maquiagemeafotografiasupersaturadadealgunsplanosdofilme,destacando,pormeiode umahiprbole,asimagensareasquerevelammadeireirascomoverdadeirostumoresno meiodafloresta.PabloVillaafazmeno,ainda,violnciaesmortessempreforado campodevisodofilme,fazendonovamenteumaanlisedaintenododiretoraoafirmar queanoexibiodessascenasexerceafunodemanterofocodanarrativaoudeno apelar para o sensacionalismo. O crtico deixa para o fim sua nica observao negativa sobre ofilme:ousoexcessivodofadeinefadeout.Entretanto,aindaquepequenaebreve,a observaonopassasemumaexplicaodoautor:marcandoasconstanteselipses,[os fades] soam como uma soluo preguiosa em um filme normalmente to ambicioso. Excetuando-se os links fornecidos nas abas do menu acima da crtica e no cabealho, no qual o recurso de hipertexto utilizado nos nomes dos atores, roteiristas e diretores- que possuemsuaspginasespecficasdentrodoprpriosite-,otextocrticonofazusode nenhumtipodelinkemseucorpo.Valedestacarosistemadecomentrioslogoabaixoda crtica, possibilitando um grau de interatividade maior que nos outros veculos. 3.3. O filme americano: Drive 3.3.1. A crtica do jornal Estado de S. Paulo (Estado)12 AssimcomoparaofilmeEuReceberiaasPioresNotciasdosseusLindosLbios,a crticadojornalEstadoparaDrivetambmvemacompanhadadeumareportagemsobrea

12Ver Anexos 5 e 6. 44 obra.Narealidade,soduasmatrias:aprimeira,escritaporElaineGuerini,centradano atorprincipal,RyanGosling,epossui,aofinal,umlinkparaoleitorassistirotrailerdo longa-metragem no site do jornal; a segunda, de Luiz Carlos Merten, na realizao do filme. A crtica, novamente em um box, tem a autoria de Luiz Zanin Oricchio e possui 504 palavras. No total, dedicada uma pgina completa do Caderno 2 do jornal ao filme.Na cotao de quatro estrelas dada pelo autor, um reflexo de uma anlise positiva. No ttulodotexto,umacomparaoentreaobraemquestoeoclssicoTaxiDriver(1976,de MartinScorsese)antecipaaabordagemdacrticadeLuizZanin.Jdeincio,oautor apresentaoprotagonistaummotoristavividoporRyanGoslingedeclaraquea proximidadeevidentecomoutrahistriaprotagonizadaporummotorista:ofilmede Scorsese.AalegoriacomTaxiDriverdominamaiorpartedacrticadojornale,paraisso,o autorparececontarcomumconhecimentoprviodoleitorarespeitodofilmede1976, valendo-se,talvez,datendnciaaocompartilhamentopropostaporBarreto(2005).Nela,o crtico assume que seu leitor compartilhe de parte de seus conhecimentos e interesses sobre a stimaarte.Oautorprocura,natemticadeambososfilmes,traarinterpretaessobreo automvel como objeto fetiche da vida contempornea. Ao mesmo tempo em que se fixa na noodecrticafocadanotemadefinidaporPiza(2003),Zaninseaproximatambmdas crticas sociolgica e psicanaltica apresentadas por Murray (1975), ao discorrer sobre como o carroencontranoespaopsicolgiconorte-americanooseuhabitatnatural.Eleafirma ainda que o veculo o emblema da fora da tcnica e do triunfo individual [...].Aps destrinchara temtica das obras, ocrticofocaem seus protagonistas. Para ele, tantoopersonagemdeGoslingquantoointerpretadoporRobertDeNiroparecemimersos num universo de caosede ausncia de sentido, com a exceo das mulheres que entram em suas vidas. Ao observar que h uma mistura de ternura com violncia nos dois filmes, Luiz Zaninfazumasuposiodaintenodeseusrealizadores:Somosfeitosdessesmateriais, parecem dizer os dois diretores.A meno aos dois cineastas o americano Martin Scorsese e o dinamarqus Nicolas WindingRefnservecomoplataformaparaoautorestabelecer,agora,umacomparaode estilos,alinhando-secrticaestruturalistadePiza(2003)eestticadeMurray(1975). Citando a falta de um nome e de maiores horizontes para o protagonista de Drive como um reflexo do estilo de Refn, o crtico especifica uma determinada cena queconsiderafraca por ser explcita. 45 AbandonandoascomparaescomTaxiDriver,Zanindestacaoutroscomponentes flmicosdaobra,comoatonalidadequentedasimagenseascenasdeao.Voltando-se novamente para o tema do filme, ele estabelece novas interpretaes a respeito da sua trama. O autor ainda elogia Drive atravs dos gneros em que o filme se encaixa, de acordo com ele: [...]umbonitofilmedeao,umthrillerpsicolgicoenoirtardio[...].Zanindateno tambmatuaodeRyanGoslingecitaumacenaespecficaemumelevadorpara exemplificarejustificarsuaavaliao.Porfim,umaltimamenointensidadee vivacidade da obra e uma crtica ao cinema andino de Hollywood. 3.3.2. A crtica da revista Bravo!13 Seguindo o padro da revista em buscar diferentes autores para seus textos crticos, o de Drive escrito pela crtica NeusaBarbosa. Mantm-se tambm a estrutura de dispor uma foto do filme devidamente legendada - acima do texto.O ttulo Centrfuga de Influncias indica comparaes entre a obra e suas influncias na histria do cinema que, provavelmente, seroabordadasnacrtica.Osubttulo,almdeinformaraoleitorqueessaaprimeira produo norte-americana do diretor dinamarqus, retifica a impresso deixada pelo ttulo ao citar uma combinao de estilos to diversos quanto os de Clint Eastwood e Tarantino.Aoiniciarseutexto,aautorarelembraadisputa,noanoanterior,entreodiretorde Drivee seu conterrneoLars Von Trier no Festival de Cannes.O pargrafo inicial serve, na verdade, para apresentar o cineasta j que, em seguida, Neusa Barbosa estabelece uma crtica focadanoautorsegundocategorizaodePiza(2003)-,mencionandoascidadesonde NicolasWindingRefnnasceuefoicriado,bemcomoseusfilmesanteriores.Elaintroduz tambmatramadaobra,dandoenfoqueespecialpersonalidadeesmotivaesdo protagonista.O subttulo Mestre ninja perdido no tempo traz uma quebra no texto e revela outro padro seguido pelas crticas da Bravo!. O que se segue um verdadeiro estudo da trama e do personagemdeRyanGosling:[Ele]escondeatrsdorostodepedraumanatureza cavalheiresca.Nofundo,umaespciedemestreninjaperdidonotempo,identidadeque deixa escapar em alguns sinais [...]. Ao passo que se mostra focada, nesse momento, no tema do filme, Barbosa tambm chega prximo da noo de crtica psicanaltica de Edward Murray (1975) ao procurar enxergar o que se encontra implcito no personagem central.

13Ver Anexo 7. 46 curioso observar, porm, que a autora deixa para seu ltimo pargrafo as menes s influnciasdofilme.Emumtrechofinalestruturalista,elaafirmaqueaobradeRefn influenciada por SteveMcQueene Clint Eastwood, Quentin Tarantino e Guy Ritchie. Ainda assim,NeusaBarbosaprocuradeixarclaroque,mesmocomtantasinfluncias,odiretor conseguiucriarsuaassinaturaprpriaemDrive.Contudo,ofinalvoltadoparacomparaes deestilonomudaofatodeque,majoritariamentefocadanotemadofilmeeemseu protagonista,acrticaacabapordeixardeladooutroselementosflmicos.Mantendocerto padro com relao ao tamanho do texto, a crtica da revista tem 428 palavras. 3.3.3. A crtica do site Cinema em Cena14 Se a crtica da revista Bravo! para Drive manteve padres estruturais e de contedo, o textodePabloVillaaparaoCinemaemCena 15novamentesemostrabastanteabrangente, contemplando diversos detalhes e componentes da obra de Nicolas Winding Refn. No apenas essacaractersticaserepete,mastambmtodaadisposiodapginaondeacrticase encontra:cabealhocomcartazefichatcnicadofilme,incluindosuacotaodequatro estrelas,almdomenucomabasdeacessoanotcias,psteresetrailerseoespaopara comentrios.Maisumavez,amaiorcrticaentreostrsveculos:nototal,possui852 palavras. Naprimeirafrasedotexto,V