Artigo Sobre Qualidade de Vida No Trabalho 1

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE GESTO E NEGCIOS MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO ADRIANA ZOQUI DE FREITAS CAYRES NISHIMURA PRODUO BIBLIOGRFICA DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO PIRACICABA 2008

ADRIANA ZOQUI DE FREITAS CAYRES NISHIMURA PRODUO BIBLIOGRFICA DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administrao da Faculdade de Gesto e Negcios da Universidade Metodista de Piracicaba, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Administrao. Campo de Conhecimento Estudos Organizacionais e Gesto de Pessoas Orientadora: Profa. Dra. Dalila Alves Corra PIRACICABA 2008

Nishimura, Adriana Zoqui de Freitas Cayres Produo bibliogrfica da qualidade de vida no trabalho / Adriana Zoqui de Freitas Cayres Nishimura. 2008. 280 f. Orientadora: Dalila Alves Corra Dissertao (mestrado) Faculdade de Gesto e Negcios Metodista de Piracicaba Universidade

1. Qualidade de Vida no Trabalho. 2. Qualidade de Vida. 3. Produo Bibliogrfica. I. Corra, Dalila Alves. II. Dissertao (mestrado) Universidade Metodista de Piracicaba. III. Ttulo

ADRIANA ZOQUI DE FREITAS CAYRES NISHIMURA PRODUO BIBLIOGRFICA DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administrao da Faculdade de Gesto e Negcios da Universidade Metodista de Piracicaba, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Administrao. Campo de Conhecimento Estudos Organizacionais e Gesto de Pessoas Data de aprovao 16/12/2008 Banca Examinadora: Profa. Dra. Dalila Alves Corra Universidade Metodista de Piracicaba Prof. Dr. Mrio Sacomano Neto Universidade Metodista de Piracicaba Prof. Dr. Jos Antonio Monteiro Hiplito Universidade de So Paulo

Dedicatria A meus queridos pais Ivanilde e Antonio (este in memorian), por me darem o bem mais precioso de que dispomos: a vida. Ao meu amado esposo, Ricardo, por tudo que fomos, somos e ainda seremos juntos. Ao meu adorado filho, Eduardo, cujo sorriso espelha dia-a-dia o milagre de nossa existncia. s minhas irms, Andrea e Alina, grandes companheiras de toda uma vida. Dalila, por sua dedicao, competncia e generosidade. Ao Universo, o Sol, as Estrelas.... E tudo que vive!

AGRADECIMENTOS Em meio s dificuldades e percalos envolvidos neste processo que durou dois anos, gostaria de agradecer algumas pessoas que tiveram um papel fundamental para que eu chegasse a esta realizao: Ao meu grande companheiro, Ricardo, por seu amor, pacincia, compreenso, socorro tecnolgico, e por ter sido pai e me em muitos momentos; Ao Dudu, pelos momentos roubados de sua infncia, e pelo conforto de seus precoces conselhos para relaxar, brincar e me divertir, que ouvia nos momentos d e cansao; minha me, por todos os momentos em que carinhosamente me acolheu, e pelo perfeccionismo e organizao herdados de uma bibliotecria; A todos os demais familiares e amigos, pelo apoio e nimo que me deram; minha orientadora, Profa. Dalila Alves Corra, por me influenciar com as qualidades de um bom pesquisador: seriedade, persistncia e amor pelo conhecimento; Banca do Exame de Qualificao, composta pelos Professores Dalila Alves Corra, Mrio Sacomano Neto e Jos Antonio Monteiro Hiplito, por suas valiosas contribuies dadas ao projeto de pesquisa; Ao Centro de Tecnologia da Informao Renato Archer CTI, pelo apoio recebido para participar do programa de mestrado, em especial de seu Diretor, Jacobus W. Swart, e de Mrcio Augusto Martins e Reinaldo Ismael Morilha, que confiaram em meu potencial; e Diviso de Recursos Humanos; A todos os amigos do CTI, em especial, Reinaldo Oliveira, Cleonice Teracine e Ve ra Alves, que estiveram sempre presentes, me dando foras. s colegas e amigas Elisabeth Ana de Wit e Larissa Costa Moreira, que assumiram com zelo minhas atividades quando precisei me dedicar dissertao; Rosilene Santos e Elvita Ballarini, que em momentos diferentes, cuidaram de meu lar e de meu filho com responsabilidade e carinho; Adriana Turchetti, meu agradecimento especial por me ajudar a trabalhar com meus contedos internos e sair em busca de meus sonhos; Por fim, agradeo centelha divina de que todos dispomos para mantermos a f, resistirmos s adversidades, e lutarmos dignamente por nossas conquistas.

'Embora nada possa devolver os momentos do esplendor na relva, no sofreremos. Ao contrrio, encontraremos foras no que ficou atrs . William Woodsworth

RESUMO O tema Qualidade de Vida no Trabalho QVT vem ganhando interesse crescente por parte da sociedade, das organizaes e dos pesquisadores. Trata do bem-estar do trabalhador, e desponta como uma prtica de competitividade adotada pelas organizaes, visando sua sobrevivncia em um ambiente complexo, uma vez que a produtividade dos trabalhadores est associada a um nvel satisfatrio de qualidade de vida. Paradoxalmente, a insero das organizaes num contexto de adotar melhores prticas para o bem-estar do trabalhador convive com um quadro de precarizao de sua sade fsica e mental, resultante de um ambiente de elevada presso, que submete o trabalhador a esforos que esto alm de sua capacidade de gerenciamento. Tendo em vista a relevncia que o assunto encerra, a QVT tem sido objeto de estudo de vrios campos do conhecimento humano, e este interesse produziu expressivo conhecimento sistematizado, representado por estudos e pesquisas desenvolvidos em contexto organizacional, difundidos atravs de artigos cientficos publicados em peridicos e anais. Este cenrio serviu de base para o presente estudo, que teve por objetivo elaborar uma anlise descritiva da produo bibliogrfica nacional da temtica QVT, selecionando para a pesquisa 51 artigos publicados em peridicos e anais Qualis A da CAPES, especficos do campo da gesto, no perodo de 2000 a 2007. Numa abordagem qualitativa, elegeu-se a anlise de contedo como tcnica de anlise dos dados, e foram estabelecidas as seguintes categorias de anlise: dimenso terico-conceitual, proposta do estudo, utilizao de modelos e instrumentos de QVT, metodologia utilizada e consideraes finais. Como resultado final, o estudo apresenta um quadro de informaes sobre a estruturao terico-metodolgica e emprica da produo bibliogrfica nacional analisada. Palavras-chaves: qualidade de vida no trabalho, qualidade de vida, produo bibliogrfica.

ABSTRACT The Quality of Working Life has been presenting an increasing interest of organizations, researchers and the whole society. Concerning to the welfare of workers, it appears as a practice of competitiveness adopted by organizations, looking for survival in a complex environment, once the workers productivity is associated to a satisfactory level of quality of life. Contradictorily, the inte gration of the organizations in the context of adopting best practices for the welfare of w orkers faces with a picture of deterioration of their physical and mental health, as a result of a high pressure environment, that submits workers to strong efforts, higher than their capacity of internal management. In view of the importance that the matter takes , the Quality of Working Life has been the object of study of several fields of human knowledge, and this generated significant systematized knowledge, represented by studies and researches developed in the organizational context, disseminated through articles published in scientific journals and annals. This scene formed the basis for the present study, which aimed to develop a descriptive study on the t opic of bibliographical production of Quality of Working Life. It was selected for th e resarch 51 articles published in Qualis A CAPESscientific journals and annals, specific t o the field of Management, in the period of 2000 to 2007. In a qualitative approach, t he analysis of content was elected as a technique of analyzing the data, and were established the following categories of analysis: theoretical and conceptual dimension, proposals of the studies, the use of models and instruments of Qualit y of Working Life, methodological proceedings and main comments. As a final result, t he study presents a framework of information on the theoretical, methodological and empirical structures of the national bibliographical production reviewed. Keywords: quality of working life; quality of life; bibliographical production

LISTA DE QUADROS Quadro 1 -Taxonomia das Definies de Qualidade de Vida............................. . 25 Quadro 2 -Evoluo do Conceito de Qualidade de Vida no Trabalho QVT...... 40 Quadro 3 -Modelo de QVT de Walton............................................... ................... 42 Quadro 4 -Modelo de QVT de Balanger............................................. .................. 43 Quadro 5 -Modelo das Dimenses Bsicas da Tarefa de Hackman & Oldham...44 Quadro 6 -Indicadores da Qualidade de Vida no Trabalho de Westley............... 45 Quadro 7 -Vises da Qualidade de Vida no Trabalho de Mendelewski e Orrego.......................................................................... ....................... 46 Quadro 8 -Modelo dos Elementos de QVT de Werther e Davis........................ ...46 Quadro 9 Fatores de Nadler e Lawler para Projetos de QVT........................ .....47 Quadro 10 -WHOQOL Abreviado..................................................... .................... 50 Quadro 11 -Escala de Qualidade de Vida de Flanagan.............................. ........ 51 Quadro 12 -Dimenses e Componentes da Escala de Qualidade de Vida de Flanagan................................................................ ............. 52 Quadro 13 -ndice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers (IQV)................ 5 3 Quadro 14 -Hexgono de Kertesz.................................................... ................... 55 Quadro 15 -Escala de Walton para Percepo de Qualidade de Vida no Trabalho........................................................................ .................... 57 Quadro 16 -Fases da Implantao Estratgica do Programa de QVT................. 59 Quadro 17 -Indicadores Empresariais de Qualidade Vida no Trabalho............... 62 Quadro 18 -Relao dos Peridicos Integrantes do Estudo............................... ..68 Quadro 19 -Objetivos e Contribuio dos Estudos (peridicos).......................... 209 Quadro 20 -Resultados e Recomendaes dos Estudos (peridicos)...............216 Quadro 21 -Objetivos e Contribuio dos Estudos (anais)............................. .....228 Quadro 22 -Resultados e Recomendaes dos Estudos (anais) ......................238

LISTA DE TABELAS Tabela -Distribuio da freqncia por peridico.......................................... .. 202 Tabela -Ano de publicao dos artigos (peridicos).................................... ..... 203 Tabela -Nmero de autores por artigo (peridicos)................................... ...... 203 Tabela -IES de origem dos autores (peridicos).................................... .......... 204 Tabela -Estado geogrfico de origem dos artigos (peridicos)........................ 204 Tabela -Artigos por regio geogrfica (peridicos).................................... ..... 205 Tabela -Palavras-chaves dos artigos (peridicos).................................. ......... 206 Tabela -Perspectiva terico-conceitual (peridicos)................................. ........ 207 Tabela Uso de citaes diretas (peridicos)........................................... ........ 209 Tabela Uso de citaes indiretas (peridicos)......................................... ..... 209 Tabela Tipos de objetivos (peridicos)............................................ .............. 211 Tabela Tipologia dos estudos (peridicos)......................................... ........... 212 Tabela Campo empricos dos estudos (peridicos)..................................... . 213 Tabela Sujeitos da pesquisa (peridicos).......................................... ............214 Tabela Instrumentos de coleta de dados (peridicos)............................... ... 214 Tabela Tcnicas de coleta de dados (peridicos) .................................... ... 215 Tabela Modelos e instrumentos de QVT (peridicos) ................................ .. 215 Tabela -Distribuio da freqncia por anais............................................ ...... 219 Tabela -Ano de publicao dos artigos (anais)....................................... ....... 220 Tabela -Nmero de autores por artigo (anais)...................................... ......... 221 Tabela -IES de origem dos autores (anais)....................................... ............. 222 Tabela -Estado geogrfico de origem dos artigos (anais)........................... ... 222 Tabela -Artigos por regio geogrfica (anais)....................................... ......... 222 Tabela -Palavras-chaves dos artigos (anais)..................................... ............ 223 Tabela -Perspectiva terico-conceitual (anais).................................... .......... 223 Tabela Uso de citaes diretas (anais).............................................. .......... 225 Tabela Uso de citaes indiretas (anais)............................................ ......... 227 Tabela Tipos de objetivos (anais)............................................... ................. 230

Tabela Tipologia dos estudos (anais)............................................ .............. 233 Tabela Campo empricos dos estudos (anais)........................................ ..... 234 Tabela Sujeitos da pesquisa (anais)............................................. ............... 235 Tabela Instrumentos de coleta de dados (anais).................................. ....... 236 Tabela Tcnicas de coleta de dados (anais) ....................................... ........ 236 Tabela Modelos e instrumentos de QVT (anais) ................................... ...... 237

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABQV Associao Brasileira de Qualidade de Vida ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior EnANPAD Encontro Nacional dos Cursos de Ps-Graduao em Administrao EnEO Encontro Nacional de Estudos Organizacionais EnGPR -Encontro Nacional de Gesto de Pessoas e Relaes de Trabalho GQVT Gesto da Qualidade de Vida no Trabalho PQVT Programa de Qualidade de Vida no Trabalho QV Qualidade de Vida QVT Qualidade de Vida no Trabalho QT Qualidade Total RAC Revista de Administrao Contempornea REAd Revista Eletrnica de Administrao RAUSP Revista de Administrao da USP RAP Revista Brasileira de Administrao Pblica RAE Revista de Administrao Eletrnica TQM Total Quality Management

SUMRIO 1. INTRODUO....................................................................... ............................13 1.1 Problema de Pesquisa ....................................................... .............................16 1.2 Objetivos do Estudo ........................................................ ................................21 1.2.1 Objetivo Geral ........................................................... ...................................21 1.2.2 Objetivos Especficos ...................................................... .............................21 1.3 Justificativas e Contribuies do Estudo ....................................... ..................22 2. FUNDAMENTOS DE QUALIDADE DE VIDA (QV) E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) .............................................................. .......................24 2.1 Dimenses Conceituais de Qualidade de Vida (QV)............................... ........24 2.2 Conceitos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ........................... ...........28 2.3 Evoluo Histrica do Conceito de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ....35 3. MODELOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAO DE QUALIDADE DE VIDA (QV) e QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT)....................................41 3.1 Modelos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).............................. ...........41 3.2 Instrumentos de Avaliao de Qualidade de Vida (QV) e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ......................................................... .........................49 4. GESTO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) .........................58 4.1 Aspectos e Estratgias da Gesto dos Programas de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) .............................................................. ............................58

5. METODOLOGIA DO ESTUDO ....................................................... ..................67 5.1 Tipologia do Estudo......................................................... ................................67 5.2 Procedimentos Metodolgicos do Estudo ........................................ ...............68 5.2.1 O Processo de Seleo dos Peridicos............................................ ........... 68 5.2.2 Relao dos Anais do Estudo................................................... ................... 69 5.2.3 O Processo de Seleo dos Artigos............................................. ............... 69 5.2.4 Anlise da Produo Bibliogrfica................................................. ................71 5.2.5 Categorias de Anlise da Produo Bibliogrfica................................... ...... 72 6. APRESENTAO DOS DADOS COLETADOS ..............................................75

6.1 Apresentao dos Dados Coletados Atravs dos Peridicos .........................75 6.1.1 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico REAd............................. 75 6.1.2 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico Rausp............................. 82 6.1.3 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico RAP............................. . .87 6.1.4 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico RAC............................... 89 6.1.5 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico RAE Eletrnica.............. 95 6.1.6 Apresentao dos Dados Coletados no Peridico Cadernos EBAPE..........97

6.2 Apresentao dos Dados Coletados Atravs dos Anais ............................... 101 6.2.1 Apresentao dos Dados Coletados nos Anais do EnANPAD...................101 6.2.2 Apresentao dos Dados Coletados nos Anais do EnEO................... .......1 74 6.2.3 Apresentao dos Dados Coletados nos Anais do EnGPR................... ....181

7. ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS COLETADOS.................................202 7.1 Resultado da Anlise das Categorias do Estudo ................................ ..........202 7.1.1 Peridicos Componentes do Estudo............................................ .............. 202

7.1.2 Ano de Publicao dos Artigos................................................. .................. 202 7.1.3 Nmero de Autores por Artigo................................................ .....................203 7.1.4 IES de Origem dos Autores................................................. ........................204 7.1.5 Estado Geogrfico de Origem dos Estudos..................................... ...........204 7.1.6 Freqncia de Artigos por Regio do Pas.......................................... ....... 205 7.1.7 Palavras-Chaves dos Artigos............................................... ...................... 205 7.2 Resultados da Anlise das Categorias do Estudo................................ .........206 7.2.1 Dimenso Terico-Conceitual................................................... ..................206 7.2.2 Uso de Citaes Diretas....................................................... .......................207 7.2.3 Uso de Citaes Indiretas..................................................... ...................... 209 7.2.4 Proposta do Estudo........................................................ .............................210 7.2.5 Metodologia Utilizada..................................................... .............................212 7.2.6 Utilizao de Modelos e Instrumentos de QVT................................... ........215 7.2.7 Consideraes Finais.......................................................... ........................216 7.3 Resultado da Anlise das Categorias do Estudo................................. ..........219 7.3.1 Anais Componentes do Estudo............................................... ....................219 7.3.2 Ano de Publicao dos Artigos................................................. .................. 220 .3.3 Nmero de Autores por Artigo................................................. .................. ..220 7.3.4 IES de Origem dos Autores................................................. ........................221 7.3.5 Estado Geogrfico de Origem dos Estudos..................................... ...........221 7.3.6 Freqncia de Artigos por Regio do Pas.......................................... ....... 222 7.3.7 Resumos e Palavras-Chaves dos Artigos..................................... ..............222 7.4 Resultados da Anlise das Categorias do Estudo................................ .........223 7.4.1 Dimenso Terico-Conceitual................................................... ..................223 7.4.2 Uso de Citaes Diretas....................................................... .......................224 7.4.3 Uso de Citaes Indiretas..................................................... ...................... 227 7.4.4 Proposta do Estudo........................................................ .............................228 7.4.5 Metodologia Utilizada..................................................... .............................232 7.4.6 Utilizao de Modelos e Instrumentos de QVT................................... ........237 7.4.7 Consideraes Finais..........................................................

........................238 8. CONSIDERAES FINAIS............................................................. ................249 8.1 Caracterizao dos Artigos ..................................................... ......................250 8.2 Dimenso Terico-Conceitual .................................................... ...................250 8.3 Proposta do Estudo....................................................... .. .............................252 8.4 Metodologia Utilizada....................................................... ................ .............252 8.5 Utilizao de Modelos de QVT.................................................... ........ .........255 8.6 Consideraes Finais............................................................ .........................256 8.7 Limitaes do Estudo......................................... .................. .........................257 8.8 Sugestes para Pesquisas Futuras ............................................. .................257 8.9 Concluses.................................................................... ................................ 258 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................... ..........260 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS (ARTIGOS ANALISADOS)...................... 267

1. INTRODUO O tema Qualidade de Vida -QV tem merecido interesse crescente por parte da sociedade, do governo, das empresas e dos pesquisadores. A preocupao com a sade e com o prolongamento da expectativa da vida humana tem sido constante em todas as esferas e povos. No atual contexto organizacional, o bem-estar do trabalhador assume relevncia e novos contornos, recebendo a denominao de Qualidade de Vida no Trabalho -QVT. Os recentes congressos, seminrios, pesquisas, debates cientficos e empresariais, promovidos no campo da gesto, bem como em outros campos do conhecimento humano, apontam o investimento em Qualidade de Vida e Qualidade de Vida no Trabalho como aspectos diferenciadores para a sade dos indivduos e sobrevivncia das organizaes. O interesse observado na esfera organizacional foi representado, inicialmente, p ela tentativa de reduo do esforo fsico do operrio e pela busca de sua maior satisfao. A partir dos sculos XVIII e XIX as condies de trabalho passaram a ser estudadas de forma sistematizada, primeiramente, pelos economistas liberais, tai s como Adam Smith, mais tarde pelos tericos da Administrao Cientfica, entre eles, Frederick Winslow Taylor e Henri Fayol, seguidos pelo psiclogo Elton Mayo. Tais esforos constituram-se as condies que propiciaram a criao da Escola de Relaes Humanas, entendida como um movimento fundado para se contrapor desumanizao no trabalho vigente. Neste movimento, registra-se o avano das iniciativas sobre o tema sade e satisfao do trabalhador e, nos anos 1950 os estudos de Eric Trist foram relevantes para designar experincias calcadas na relao indivduo-trabalho-organizao, com base na reestruturao da tarefa, tendo por objetivo tornar a vida dos trabalhadores menos penosa. (SAMPAIO, 1999). Apesar de tais estudos tangenciarem a questo da qualidade de vida, a expresso QVT somente apareceu na literatura no incio do sculo XX, na Inglaterra. A partir d e estudos realizados nos Estados Unidos, na dcada de 1960, cujo objetivo era tornar o trabalho mais agradvel nas linhas de montagem, o movimento de melhorias da qualidade de vida dos trabalhadores ganhou impulso e ampliao de seu campo de anlise.

Os ambientes de trabalho dos anos 1970 registraram propostas do gerenciamento participativo e da democracia industrial como disposies de gerenciamento condizente com a busca de qualidade de vida no trabalho. A visibilidade que o assunto ganhou na esfera empresarial, a partir dos anos 199 0, vincula-se aos impactos gerados pelas profundas mudanas ocorridas na economia mundial, oriundas do processo da globalizao, as quais geraram tambm grande complexidade para as organizaes e indivduos. Neste cenrio, a necessidade de se atingir e manter elevados ndices de produtividade e de metas alia-se preocupao com o bem-estar do trabalhador. Isto porque o atendimento de tais propostas dependem de estados e condies satisfatrias da sade dos trabalhadores. Empiricamente, tem sido demonstrado que a produtividade dos trabalhadores est associada a um nvel satisfatrio de qualidade de vida em seu ambiente de trabalho (FERNANDES, 1996; RODRIGUES, 2000; LIMONGI-FRANA e ARRELLANO, 2002; LIMONGI-FRANA, 2004). A insatisfao do trabalhador merece ateno porque ela pode sinalizar para uma cadeia de ocorrncias na esfera comportamental, as quais redundam em indesejveis problemas no campo do trabalho, mostrando relao direta com o aumento do absentesmo, a diminuio do rendimento, a alta rotatividade nos postos de trabalho, at o surgimento de doenas psicossomticas. Estes aspectos so alimentos para uma corrente de novos eventos relacionados ao estresse ocupacional compreendido como uma elevada carga ou nvel de presso que est muito alm da capacidade de autogerenciamento do trabalhador (LIPP, 2000; ANDREWS, 2003; LIMONGI-FRANA e RODRIGUES, 2005; ROSSI, 2005). A fixao de metas e os desafios impostos no campo profissional so, comumente, aspectos concebidos como orientaes estimulantes para empreender e suscitar o comprometimento e a satisfao do trabalhador. Contudo, estes aspectos, deliberadamente, tambm esto se configurando em elementos estressores e coadjuvantes das situaes de deteriorao da capacidade laborativa do indivduo. Identifica-se ento, uma contradio que reverbera no comprometimento da sade fsica e mental do indivduo, refletindo na queda da rentabilidade e da produtividad e das empresas. Desse modo, o prprio contexto de trabalho est a contribuir para o

fortalecimento das doenas ocupacionais. Nesta circunstncia, o propsito da QVT tem-se vinculado dimenso do sofrimento no ambiente de trabalho, ou seja, ela tem carter reativo, quando se espera que ele priorize o prazer e a satisfao. Tendo em vista a relevncia que o assunto assume diante da sociedade, uma vez que a esfera produtiva depende da sade do trabalhador, bem como a ausncia e secundarizao desta afetam as condies de trabalho, gerando custos tangveis e intangveis ao errio pblico, sociedade e s empresas; a QVT tem sido objeto de estudo de vrios campos do conhecimento humano. Adquire status de varivel multidisciplinar, sendo objeto de estudo de reas como Administrao, Sade, Psicologia, Educao Fsica, Sociologia, Engenharia, Economia, Ergonomia, Direito, Ecologia, entre outros (LIMONGI-FRANA e ARRELLANO, 2002; JORGE, CORRA e GIULIANI, 2007). Este interesse tem se traduzido na produo de conhecimento sistematizado, visto que j se pode contabilizar um expressivo acervo constitudo de estudos, artigos e pesquisas desenvolvidos no contexto organizacional brasileiro , atravs de abordagem terico-conceitual, mas em boa parte, utilizando pesquisa aplicada. Elucidar esta produo, no contexto da produo bibliogrfica nacional, do campo da gesto, propsito deste estudo. Compreender como o fenmeno vem sendo formatado nos contextos organizacionais, bem como conhecer a natureza da pesquisa cientfica sobre o mesmo constituem a sua perspectiva. Esta compreenso ser construda a partir da seguinte dimenso: o tratamento que os pesquisadores tm adotado para produzir conhecimento sobre a temtica qualidade de vida no trabalho. Nesta perspectiva, a anlise descritiva da produo bibliogrfica mostra-se essencial para apontar e contextualizar as contribuies que a comunidade cientfica tem oferecido sociedade no debate deste tema. Evidencia-se, tambm, o interesse de conhecer como tal tema tem sido aplicado em contextos empricos. O entendimento sobre produo bibliogrfica, no presente estudo, diz respeito ao que Rattner (1994) denomina de conhecimento qualificado, sistematizado, criteria do, crtico e de amplo alcance desenvolvido pela comunidade cientfica, com a finalidade

de desvendar aspectos explcitos e implcitos de um fenmeno social. O estudo elege como fonte de anlise, as publicaes em peridicos e em anais de eventos cientficos nacionais, que sigam o padro Qualis da CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. O Sistema Qualis refere-se ao resultado do processo de classificao dos veculos utilizados pelos programas de ps-graduao para divulgao da produo intelectual de seus docentes e alunos. A produo bibliogrfica um dos elementos constituintes da produo intelectual, juntamente com a produo tcnica e a produo artstica de um pesquisador. De acordo com consulta realizada pgina da CAPES, o rgo denomina produo bibliogrfica os trabalhos publicados nos veculos Qualis, utilizados para a divulgao da produo intelectual dos programas de ps-graduao stricto sensu (mestrado e doutorado). So classificados por categorias indicativas de qualidade (A, B, C); por mbito de circulao (local, nacional e internacional); e por rea de avaliao. A opo pela publicao em veculos Qualis CAPES justifica-se, inicialmente, pelo seu reconhecimento de rgo responsvel pela poltica de ps-graduao stricto sensu no pas. Desempenha papel fundamental na construo, na expanso e na consolidao do conhecimento e da pesquisa cientfica. Trata-se, portanto, de um estudo bibliogrfico sobre a produo bibliogrfica nacional, do campo da gesto, sobre o tema QVT, publicada em veculos Qualis CAPES no perodo de 2000 a 2007, cuja finalidade mais abrangente elucidar compreenso sobre o assunto. 1.1 Problema de Pesquisa Ultimamente, a preocupao com a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ganhou maior nfase a partir dos impactos, sobre a vida humana, das mudanas de natureza poltica, estrutural e socioeconmica, ocorridas (e em vigncia), em escala global. Tais mudanas estabelecem, continuamente, novas formas de organizar e realizar o trabalho, novos desafios profissionais, novos padres de atingimento de

metas, novas vises sobre relacionamentos -entre outros aspectos que permeiam o contexto de trabalho. Tantas novidades no esto desacompanhadas de grandes preocupaes sobre a capacidade do trabalhador para absorv-las sem que isto venha comprometer a esfera da sua sade. Os prprios avanos das cincias desencadearam mudanas profundas nos padres de vida da sociedade, propiciando-lhe novos servios e produtos e contribuindo para o aumento de expectativa de vida com qualidade. Neste cenrio, a economia mais gil, informacional, global e competitiva para atender novas demandas de um pblico exigente por bons produtos e servios, em todas as cadeias produtivas. Neste mercado, caracterizado pela alta competitividade, as empresas so desafiadas a repensar seus modelos de gesto. O enfoque, que era no produto, passa a ser em quem o produz. Conforme bem sinalizaram as propostas da Escola de Relaes Humanas, o trabalhador passa a ser visto como um dos recursos mais preciosos da empresa. O trabalhador, principalmente de alta qualificao, no deixa de ser um produto, disputado pelas empresas que oferecem melhores condies de trabalho. Soma-se a isto a insurgente questo da responsabilidade social. A prpria sociedade escolhe os produtos que vai consumir, tendo por critrios de escolha a tica, o cuidado com o meio-ambiente, a forma como trata seus colaboradores (FISCHER, 2002; DIAS, 2006). Todas estas transformaes esto corroborando para levar as empresas ao desenvolvimento de novas mentalidades sobre o desempenho humano em contexto de trabalho. Tem se tornando lugar comum a possibilidade de aceitar que, cada vez mais, o alcance de metas de competitivida de e a obteno da vantagem competitiva sinalizam para o comportamento humano, enquanto diferencial competitivo (FISCHER, 2002). Neste contexto, as propostas de aes e programas de QVT ganham destaque, justificadas pela necessidade de as empresas contarem com trabalhadores saudveis e capazes de resistirem elevada carga de cobrana e tenses decorrentes do campo competitivo em que operam. Para enfrentar tais desafios, as

empresas implantam aes destinadas sade do trabalhador. Uma gama de iniciativas desenvolvida em nome da QVT: a ginstica laboral; a visita programada de familiares empresa; a introduo de prticas de lazer; o calendrio de jogos interdepartamentais; as paradas intervalares do trabalho, entre outras iniciativ as. No entanto, tais prticas, ainda que possam repercurtir em algum tipo de ganho para o indivduo, mostram-se incompletas e simplificadas para atender expectativas de um programa de qualidade de vida no trabalho. A concesso do prmio As Melhores Empresas para se Trabalhar destaca as melhores prticas de QVT das empresas concorrentes, em reconhecimento aos investimentos destinados a sade do trabalhador. Sobre este propsito algumas questes so pertinentes para se conhecer a tendncia que o assunto vem ganhando no meio empresarial, tanto quanto, para tentar compreender a perspectiv a que ele assume, o que real ou aparente: -o que de fato seriam as melhores prticas de QVT? -quais so os fundamentos que esto formatando estas prticas? -os programas adotados pelas empresas so revestidos de uma perspectiva conceitual e filosfica? -tais programas resultam de pesquisas de avaliao, de aplicao de instrumentos validados para auferir a QVT? -permeiam todos os fatores que poderiam ser relacionados s boas condies de trabalho, indo alm dos clssicos aspectos de salrio, segurana e sade no trabalho? -interessam-se pelo significado psicossocial do trabalho, pela autonomia, pelo compartilhamento das decises? Paralelo s indagaes lanadas sobre as prticas de QVT, desenvolvidas no contexto empresarial, registra-se vasta produo bibliogrfica sobre o tema, oriunda de diferentes campos, em especial, o campo da gesto, e que recorrente nas apresentaes de trabalhos em congressos representativos da rea de Administrao, tal como o EnANPAD Encontro Nacional dos Cursos de PsGraduao em Administrao e, com freqncia, em peridicos de padro Qualis A das reas de Administrao e de Sade. Tambm neste contexto, a indagao pertinente no sentido de questionar:

-com que qualidade acadmica o assunto tem sido desenvolvido em nvel de produo bibliogrfica ? -quais tm sido os interesses e orientaes de estudo dos pesquisadores neste assunto? -quais so os tipos de estudos e quais metodologias tm sido empregadas pelos pesquisadores em suas interferncias nos ambientes de trabalhos? -quais contribuies cientficas tm sido produzidas pelos estudos realizados pelos pesquisadores? -O fato de serem produes publicadas por veculos QUALIS A suficiente para assegurar idoneidade de suas contribuies e recomendaes? As indagaes so pertinentes, pois na contramo das prticas empresariais e da pesquisa acadmica, notoriamente, observa-se a existncia e o crescimento de contextos de trabalho apresentando indivduos em nveis elevados de estresse ocupacional, vinculados a alto ndice de absentesmo, desenvolvendo doenas fsicas e mentais, entre outras manifestaes que comprovam nexo causal com o trabalho. Neste contexto, o assunto QVT mostra uma de suas complexidades, posto que sua proposta, de algum modo, amenizar o sofrimento do trabalhador, em muitas situaes, imposto pelas atuais condies de trabalho. Bom Sucesso (2002) argumenta que de grande importncia humanizar as relaes de trabalho, enfatizar a necessidade da coerncia e mostrar que os artefatos do trabalho, compreendidos pelos valores das culturas organizacionais determinam, alm da qualidade de vida, a imagem e a credibilidade no mundo dos negcios. Preocupados com a sade dos trabalhadores bem como com a eficcia empresarial, muitos especialistas tentam orientar aes de QVT no sentido de fazer desaparecer ou amenizar o sofrimento no contexto do trabalho. Dejours (1996) argumenta que esta tentativa em vo, pois o sofrimento ressurge e se cristaliza sob outras forma s oferecidas pela realidade. Esse ponto importante para a compreenso das situaes concretas -porque os trabalhadores se investem de esforos para lutar contra o sofrimento, mas tambm no hesitam em enfrentar as dificuldades e a adversidade das situaes de trabalho, chegam mesmo ao ponto de desejar

desafios e a superao de seus prprios limites. Neste sentido, a realidade do trabalho apresenta-se como um terreno propcio para jogar e re-jogar com o sofrimento, na esperana de que este desemboque nas descobertas e criaes socialmente e humanamente teis. As doenas no so bem-vistas no mbito do trabalho. Para o trabalhador que usa sua capacidade fsica e mental como garantia de retorno financeiro para sua sobrevivncia e de sua famlia, alm de outras necessidades, a doena, o sofrimento ou at mesmo a dor, geralmente significam fragilidade, limitao e preocupao quanto a sua capacidade, alm de queda de desempenho, produtividade e despesas a mais (LIMONGI-FRANA e RODRIGUES, 1999). O assunto tambm suscita a identificao de um paradoxo na gesto do trabalhador. O paradoxo refere-se a uma representao, pelo indivduo ou pelo grupo, de suas experincias, sentimentos, crenas e interaes por meio de duas realidades opostas e aparentemente inconciliveis. No mbito do presente estudo, liga-se s dimenses opostas sofrimento e prazer. Na linha do paradoxo, De Masi (2000) apud Vasconcelos (2001) argumenta sobre a contradio entre o atual desenvolvimento tcnico e a condio humana, indagando por que este desenvolvimento no acompanhado de um avano semelhante na convivncia civil e na felicidade humana: Como e por que milhes de trabalhadores, embora libertos do embrutecimento fsico, dotados de mquinas portentosas, encarregados de deveres intelectuais por vezes at agradveis e bem pagos vivem numa condio estressante e insuportvel? Como e por que a conquista da preciso transformou-se em idia fixa de pontualidade, da produtividade a todo custo, da competitividade, dos prazos, dos controles, das avaliaes, dos confrontos? Como o progresso material no se traduziu em melhor qualidade de vida? (DE MASI, 2000 apud VASCONCELOS (2001, p. 33) Peter Drucker (1995), notrio prtico do gerenciamento, sinaliza que a valorizao das pessoas no ambiente de trabalho mais aparente do que real, ao afirmar que hoje todas as organizaes consideram as pessoas como seu maior ativo. Entretanto, poucas praticam aquilo que pregam e menos ainda acreditam nisso. A

maioria ainda acredita, embora talvez no conscientemente, naquilo que acreditavam os empregadores do sculo XIX, ou seja, as pessoas precisam mais de ns do que ns delas. Nos ltimos anos, os movimentos sociais e a escola francesa, especialmente com Dejours (1996), trouxeram novas leituras sobre a condio humana no trabalho, pela anlise da psicopatologia do trabalho, corrente atravs da qual discutem-se os aspectos do sofrimento que o trabalho pode infligir ao indivduo, desembocando na Sndrome do Burnout (FREUDENBERGER e RICHELSON, 1980). Ao propor a anlise da produo bibliogrfica recente do tema, muito da qual resulta de pesquisa aplicada em empresas brasileiras ou grupos especficos de trabalhadores, este estudo pretende contribuir para a discusso desta temtica. Neste sentido, o qual evidencia o campo de complexidade que se insere a temtica QVT, o estudo busca responder a seguinte questo: Como se apresenta a produo bibliogrfica sobre a temtica QVT no mbito dos eventos e peridicos nacionais, relacionados rea de Administrao da CAPES? 1.2 Objetivos do Estudo 1.2.1 Geral Analisar a produo bibliogrfica nacional da temtica QVT, constante da rea de Administrao da Qualis CAPES, e publicada atravs de veculos de classe A desta rea. 1.2.2 Especficos Os objetivos especficos visam empreender uma anlise descritiva da referida produo na perspectiva de : -analisar as dimenses terico-conceituais adotadas na produo bibliogrfica eleita para o estudo; -identificar o uso de modelos de anlise e de avaliao de QVT nos contextos organizacionais; -analisar os procedimentos metodolgicos de interveno organizacional visando identificar os tipos de abordagens empricas adotadas pelos estudos;

-conhecer o campo emprico dos estudos, de modo a observar em quais contextos organizacionais foram desenvolvidos. Como resultado final, o estudo dever fornecer um quadro de informaes sobre a estruturao terico-metodolgica e emprica da produo bibliogrfica consultada nos veculos de publicao eleitos para a pesquisa. 1.3 Justificativas e Contribuies do Estudo A audincia que o assunto QVT vem ganhando pode ser estimada na perspectiva do seu impacto sobre a produo bibliogrfica nacional na rea pretendida. ttulo de exemplo, a literatura sobre o tema consta dos peridicos Qualis da rea de Concentrao 27 da CAPES, que abrange as reas de Administrao, Cincias Contbeis e Turismo. Esta rea concentra 72 peridicos Qualis A nacionais, sendo 11 especficos do campo de Gesto e Administrao (CAPES, 2008). Neste mbito, menciona-se a expressiva submisso de artigos sobre o tema apresentado no evento cientfico XXXI EnANPAD Encontro Nacional da PsGraduao em Administrao (classificado como Qualis A) no ano de 2007, que atingiu 15 submisses na seo GPRA Gesto de Pessoas, 09 na seo GPRB Relaes de Trabalho e 05 na seo EORB Comportamento Organizacional, totalizando 29 trabalhos. Em termos percentuais, as submisses com temtica em QVT e sade do trabalhador representam 25% da seo GPRA Gesto de Pessoas, 31% da seo GPRB Relaes de Trabalho e 11% da seo EORB Comportamento Organizacional. Alm desta produo, somente nos meses de abril e maio/2008 dois fruns foram realizados na UNICAMP Universidade de Campinas/SP, ambos abordando o tema QVT no ambiente corporativo (VILARTA e GUTIERREZ, 2008). A Associao Brasileira de Qualidade de Vida ABQV promove anualmente o Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida, que em 2008 j est na oitava edio. Tambm de iniciativa desta Associao o Prmio Nacional de Qualidade de Vida, implantado h doze anos, e bastante disputado pelas empresas. A International Stress Management Association, com representao no Brasil, promoveu em junho de 2008

o 8o Congresso de Stress da ISMA Brasil, associado ao 10 Frum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho. O IBQV Instituto Brasileiro de Qualidade de Vida, realizou em maio de 2008 o V Frum de Qualidade de Vida no Trabalho. A partir das consideraes a que o tema vincula-se, em especial, da sua caracterstica de varivel multidisciplinar (estudada em diferentes campos do conhecimento); associada complexidade dos atuais contextos organizacionais; ao acirramento imperativo do trabalho organizado pelo cumprimento de metas e entreg a de resultados; e ao estabelecimento de paradoxo na gesto do trabalhador, faz-se necessrio consider-lo a partir destas especificidades. Sobre esta perspectiva, o presente estudo pretende se constituir em fonte de consulta para estudantes e profissionais interessados no assunto e pesquisadores da temtica. Tais aes podem se vincular busca de nveis elevados de qualidade de vida no trabalho, posto que o tema de grande relevncia, inclusive para orienta r os processos de formulao de polticas de sade do trabalhador. Enquanto lcus de produo de conhecimento cientfico, a academia carece de estudos com interesse na investigao de pesquisas realizadas, sobremaneira no mbito nacional, visando conhecer e ponderar nveis de consolidao desta produo. Nesta especificidade, o estudo contribuir para as linhas de pesquisas do Mestrado Profissional em Administrao, da UNIMEP, atravs do Grupo de Pesquisa em Estudos Organizacionais e Gesto de Pessoas -GEOGEP. Alm disso, o resultado auferido com o estudo pretende contribuir com futuros estudos sobre a temtica, viabilizando escolhas de ordem terico-conceitual e metodolgica. Tanto quanto, o estudo assume condio de prottipo, visto que servir de base para a sua continuidade, pela ampliao do campo de anlise prevista para outras reas de conhecimento, outros veculos de divulgao da produo intelectual, entre outros interesses.

2. FUNDAMENTOS DE QUALIDADE DE VIDA (QV) E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) 2.1 Dimenses Conceituais de Qualidade de Vida (QV) A noo de Qualidade de Vida (QV) eminentemente humana, e abrange muitos significados que refletem conhecimentos, experincias, e valores de indivduos e coletividades (SCHMIDT, 2004). Consensualmente, os estudiosos identificam dois aspectos relevantes do conceito de qualidade de vida: subjetividade e multidimensionalidade (SEIDL e ZANNON, 2004). No que concerne subjetividade, trata-se de considerar a percepo da pessoa sobre o seu estado de sade e sobre os aspectos no-mdicos do seu contexto de vida. O consenso quanto multidimensionalidade refere-se ao reconhecimento de que o construto composto por diferentes dimenses. Corroborando o aspecto da subjetividade, estudiosos afirmam que a QV s pode ser avaliada pela prpria pessoa, ao contrrio das tendncias iniciais de uso do conceito, quando QV era avaliada por um observador, usualmente um profissional de sade. Tambm considerado um termo polissmico, com tendncia a valorizar a apreciao pessoal que as pessoas fazem de sua vida e seu bem-estar. Desta forma, muito influenciado pela histria familiar, pelas expectativas pessoais e tambm pela mdia (SAUPE, 2002). Historicamente falando, h indcios de que o termo tenha surgido pela primeira vez na literatura mdica na dcada de 1930. Em meados da dcada de 1970, Campbell (1976) apud Awad e Voruganti (2000, p.558) tentou explicitar as dificuldades existentes na conceituao do termo qualidade de vida: Qualidade de Vida uma vaga e etrea entidade, algo sobre a qual muita gente fala, mas que ningum sabe exatamente o que . Uma definio clssica de QV data de 1974 (ANDREWS apud BOWLING, 1995, p. 1448): Qualidade de Vida a extenso em que o prazer e satisfao tm sido alcanados . A noo de que QV envolve diferentes dimenses configura-se a partir dos anos 1980, acompanhada de estudos empricos para melhor compreender este fenmeno

(SEIDL e ZANNON, 2004). Farquahar (1995), procedendo a uma reviso da literatura at o incio da dcada de 1990, props uma taxonomia das definies sobre QV at ento existentes, dividida em quatro tipos, que esto expostos no Quadro 1. Taxonomia das Definies de Qualidade de Vida Taxonomia Caractersticas e implicaes das definies I-Definio global Primeiras definies que aparecem na literatura. Predominam at meados da dcada de 80. Muito gerais, no abordam possveis dimenses do construto. No h operacionalizao do conceito. Tendem a centrar-se apenas em avaliao de satisfao/insatisfao com a vida. II-Definio com base Definies baseadas em componentes surgem nos anos em componentes 80. Inicia-se o fracionamento do conceito global em vrios componentes ou dimenses. Iniciam-se a priorizao de estudos empricos e a operacionalizao do conceito. III-Definio focalizada Definies valorizam componentes especficos, em geral voltados para habilidades funcionais ou de sade. Aparecem em trabalhos que usam a expresso qualidade de vida relacionada sade. nfase em aspectos empricos e operacionais. Desenvolvem-se os instrumentos diversos de avaliao da qualidade de vida para pessoas acometidas por diferentes agravos. IV-Definio combinada Definies incorporam aspectos dos Tipos II e III, favorecem aspectos do conceito em termos globais e abrangem diversas dimenses que compem o construto. nfase em aspectos empricos e operacionais. Desenvolvem-se instrumentos de avaliao global e fatorial. Quadro 1 -Taxonomia das Definies de Qualidade de Vida Fonte: Farquahar (1995) As definies de QV mais amplamente divulgadas na atualidade so as apresentadas pelo grupo de estudos de QV da Organizao Mundial de Sade (OMS), que considera que a Qualidade de Vida (QV) engloba as seguintes dimenses: sade fsica, sade psicolgica, nvel de independncia, relaes

sociais, meio-ambiente e padro espiritual. A definio de qualidade de vida para este rgo : Uma percepo do indivduo de sua posio na vida no contexto da cultura e sistema de valores em que ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes. um conceito de limites extensos e influenciados numa maneira complexa pela sade fsica, estado psicolgico, crenas pessoais, relacionamentos sociais e suas relaes com caractersticas relevantes do meio-ambiente. (WHOQOL Group, 1995, p. 1403). Outra definio de QV proposta por Ferrans e Powers (1985), que afirmam que embora a QV seja freqentemente avaliada em termos da satisfao com a vida, a importncia atribuda pelas pessoas s dimenses especficas que contribuem para sua qualidade de vida no tem sido considerada. Desta forma, a satisfao e a importncia apresentam-se de forma explcita na definio de QV proposta pelas autoras: a sensao de bem-estar de uma pessoa, que deriva da satisfao com as reas da vida que so importantes para ela. Existem definies amplas, como as descritas acima, e outras mais restritas e especficas, como as desenvolvidas no setor de sade, cuja acepo vai alm de estar com a ausncia momentnea de qualquer doena. Conforme definio adotada pela OMS, e amplamente conhecida, a sade no seria apenas a ausncia de doena, mas tambm o completo bem-estar biolgico, psicolgico e social. Minayo; Hartz e Buzz (2000) referem que a expresso qualidade de vida ligada sade definida como o valor atribudo vida, ponderado pelas deteriorizaes funcionais; as percepes e condies sociais que so causadas pela doena, agravos e tratamento; e a organizao poltica e econmica do sistema assistencial. A expresso QV tambm tem sido comumente utilizada na linguagem popular, nos meios de comunicao, nas campanhas publicitrias e polticas, e com grande freqncia, somente os aspectos objetivos so considerados, e no os subjetivos, ou seja, so descritos os fatores ambientais e sociais, tais como a qualidade do a r, nvel socioeconmico e educacional ligados s condies de vida externa (FLANAGAN, 1982).

Para Schmidt (2004), parece haver um consenso na literatura de que o conceito de qualidade de vida dinmico, mudando de acordo com a populao e o perodo em que a mesma avaliada. Entretanto, esse aspecto muitas vezes no tem sido considerado nos estudos que mensuram qualidade de vida (ALLISON; LOCKER e FEINE, 1997). Segundo Minayo, Hartz e Buzz (2000), quando se empregam somente indicadores econmicos ou sociodemogrficos, a apreenso da realidade, do bem-estar ou da qualidade de vida de um grupo, comunidade ou nao pode estar limitada. Por isso, alm de conhecer os indicadores objetivos como sexo, idade, salrio ou renda, ocupao, tipo de moradia, prtica de lazer, entre outros, e os indicadores subjetivos situacionais, como oferta de emprego, oportunidade de lazer, de tratamento mdicohospitalar, de educao formal, de transporte, entre outros, fundamental conhecer a percepo, pensamento e avaliaes subjetivas que as pessoas tm de si mesmas e de vrios componentes materiais reconhecidos como base social da qualidade de vida. Assim, a qualidade de vida deve congregar os componentes de bem-estar objetivo e bem-estar subjetivo. Analisando as definies existentes, a qualidade de vida pode ser considerada como a satisfao com o bem-estar fsico e mental, relao com outras pessoas, envolvimento em atividades sociais, comunitrias e fsicas, desenvolvimento e enriquecimento pessoal, recreao, e independncia para realizao de atividades (FERNANDES, 1996; FLANAGAN, 1982; BURCKHARDT et al.,1989; SCHMIDT, 2004). Segundo Saupe (2002), os estudos e trabalhados atualmente realizados sobre a temtica qualidade de vida podem ser classificados como: anlise ou discusso do conceito ou reviso da literatura; investigao sobre a QV de indivduos ou grupos submetidos a situaes especiais (tanto em situao de sade quanto de doena); estudos relacionados ao trabalho e a grupos de trabalhadores ou promoo de servios de sade; proposio e validao de instrumentos para mensurar e avaliar a QV.

2.2 Conceitos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) A Qualidade de Vida no Tabalho (QVT) constitui-se numa linha de pesquisa que se orienta por estudar os aspectos ligados ao bem-estar das pessoas em situao de trabalho. Bastante desenvolvida em alguns pases da Europa, nos Estados Unidos e no Canad, seu foco de investigao visa ao questionamento das formas a serem adotadas para que os cargos se mostrem mais produtivos e satisfatrios, com vantagem para as pessoas e organizaes, mediante a reformulao do desenho de cargos e postos de trabalho. (WALTON, 1974). O conceito de QVT abrangente e no consensual, necessitando ser definido com clareza (FERNANDES, 1996), pois como enfatizam Werther e Davis (1983), os cargos e postos de trabalho representam no apenas uma fonte de renda para os trabalhadores, mas tambm um meio de satisfazerem suas necessidades de toda ordem, com reflexos evidentes em sua qualidade de vida. As reformulaes do trabalho constituem o objetivo principal das aes implicadas na QVT, visando garantir maior eficcia e produtividade aliadas ao atendimento bsico das necessidades dos trabalhadores. Para Walton (1974), um dos principais expoentes nos estudos da temtica, a QVT tem como meta gerar uma organizao mais humanizada, na qual o trabalho envolve, simultaneamente, relativo grau de responsabilidade e de autonomia a nvel de cargo, recebimento de recursos de feedback sobre o desempenho, com tarefas adequadas, variedade, enriquecimento do trabalho e com nfase no desenvolvimento pessoal do indivduo. Para o autor, a idia de QVT calcada na humanizao do trabalho e responsabilidade social da empresa, envolvendo o entendimento de necessidades e aspiraes do indivduo, atravs da reestruturao do desenho de cargos e novas formas de organizar o trabalho, aliado a uma formao de equipes de trabalho com maior poder de autonomia e melhoria do meio organizacional. Como as empresas tm que ser constantemente competitivas no mercado global, s atingiro suas metas de produtividade atravs do comprometimento dos empregados, advindo de sua satisfao com o trabalho. Quando no levado em

conta o fator humano, o desempenho do cliente interno, que o empregado, fica comprometido pelos baixos nveis de satisfao, afetando o atendimento s exigncias do cliente externo, o que inviabiliza as estratgias voltadas para a melhoria da qualidade dos produtos e servios (FERNANDES, 1996). Os problemas ligados insatisfao no trabalho tm conseqncias que geram um aumento do absentesmo, diminuio do rendimento, alta rotatividade nos postos de trabalho, reclamaes freqentes, e doenas psicossomticas, sobremaneira causadas pelo estresse ocupacional. Estas repercusses na sade fsica e mental dos trabalhadores implicam na queda da rentabilidade empresarial. (FERNANDES, 1996; LIMONGI-FRANA e RODRIGUES, 2004). Para Limongi-Frana e Arrelano (2002), a QVT o conjunto das aes de uma empresa no sentido de implantar melhorias e inovaes gerenciais, tecnolgicas e estruturais no ambiente de trabalho, e envolve as seguintes reas de conhecimento cientfico, que tm prestado suas contribuies: Sade: nessa rea, a cincia tem buscado preservar a integridade fsica, mental e social do ser humano e no apenas atuar sobre o controle de doenas, gerando avanos biomdicos e maior expectativa de vida. Ecologia: v o homem como parte integrante e responsvel pela preservao do sistema dos seres vivos e dos instintos da natureza. Ergonomia: estuda as condies do trabalho ligadas pessoa. Fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na tecnologia industrial, visando a o conforto na operao. Psicologia: juntamente com a filosofia, demonstra a influncia das atitudes internas e perspectivas de vida de cada pessoa em seu trabalho e a importncia do significado intrnsico das necessidades individuais para seu envolvimento com o trabalho. Sociologia: resgata a dimenso simblica do que compartilhado e construdo socialmente, demonstrando suas implicaes nos diversos contextos culturais e antropolgicos da empresa. Economia: enfatiza a conscincia de que os bens so finitos e que a distribuio

de bens, recursos e servios deve envolver de forma equilibrada a responsabilidade e os direitos da sociedade. Administrao: procura aumentar a capacidade de mobilizar recursos para atingir resultados, em ambiente cada vez mais complexo, mutvel e competitivo. Engenharia: elabora formas de produo voltadas para a flexibilizao da manufatura, armazenamento de materiais, uso da tecnologia, organizao do trabalho e controle de processos. A autora situa dois movimentos principais na gesto da qualidade de vida no trabalho: um individual, caracterizado pelo aprofundamento da compreenso a respeito do estresse e das doenas associadas s condies do ambiente de trabalho, e um organizacional, referindo-se expanso do conceito de qualidade total, que deixa de restringir-se a processos e a produtos para abranger aspecto s comportamentais e satisfao de expectativas individuais, visando concretizao dos resultados da empresa. Sobre o estresse, Rodrigues (1992) concluiu que no h qualidade de vida no trabalho se as condies em que se trabalha no permitem viver em nvel tolervel de estresse, de preferncia tendo como meta o eustress (o lado bom do estresse), e no o distress, tenso nociva que gera os distrbios psicossomticos. Para LimongiFrana e Arrelano (2002), o estresse vivido no trabalho pela capacidade de adaptao, na qual sempre est envolvido o equilbrio obtido entre exigncias e capacidade. Se o equilbrio for atingido, obter-se- o bem-estar; se for negativo, gerar diferentes graus de incerteza, conflitos e sensao de desamparo. Neste contexto, o estresse talvez se constitua na melhor medida do estado de bem-estar da pessoa, j que a qualidade de vida no trabalho individualizada por meio de suas diferentes manifestaes de estresse. Limongi-Frana (2004) ainda apresenta uma proposta de consolidao dos diversos conceitos e abordagens acerca da QVT, agrupando as dimenses sob as quais o tema abordado por escolas de pensamento, sistematizadas pela autora como socioeconmica, organizacional e condio humana no trabalho. A escola de pensamento socioeconmica discute a QVT partindo-se da anlise das relaes de trabalho na era da globalizao e de seus paradoxos, uma vez que a globalizao

tem impulsionado novas relaes de trabalho e tendncias que, certamente, esto refletindo na segurana, na sade e nas expectativas do trabalhador. A referncia terica que mais fundamenta esta linha de pensamento Giddens (1998). Por sua vez, a escola de pensamento organizacional aborda a QVT sob a tica da dimenso especfica do local onde as relaes de produo ocorrem. Diversos autores contemporneos tm estudado as questes organizacionais da qualidade de vida no trabalho, destacando-se Walton (1973, 1974); Spink (1975); Fernandes (1996) e Rodrigues (1994). Do conjunto de contribuies da escola organizacional, Limongi-Frana (2004) destaca as seguintes caractersticas: expanso dos processos de qualidade e produtividade para o de qualidade pessoal; poltica de gesto de pessoas (valorizao e capacitao); marketing (imagem corporativa e comunicao interna); tempo livre (desenvolvimento cultural, hbitos de lazer e esporte); e risco e desafio como fatores de motivao e comprometimento. J a escola de pensamento condio humana no trabalho lida com a pessoa como um complexo biopsicossocial, ou seja, toda pessoa tem potencialidades biolgicas, psicolgicas e sociais que respondem simultaneamente s condies de vida. Esse conceito advm da medicina psicossomtica, cujo precursor Lipowski (1986). Trata-se de uma proposta conceitual da viso holstica de homem, que se coaduna com a perspectiva da Organizao Mundial de Sade (OMS), qual seja, a sade no seria apenas a ausncia de doena, mas tambm o completo bem-estar biolgico, psicolgico e social. Para Limongi-Frana (2004), esta leitura mais ampla do homem abre campo significativo para a compreenso dos fatores psicossociais no desempenho e na cultura organizacionais da sade no trabalho. Bom Sucesso (2002) defende que o trabalho em si, as condies em que se realiza e as variveis pessoais determinam o grau de satisfao e o bem-estar do trabalhador na empresa, constituindo o aspecto central nas discusses sobre a conceituao de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Esta autora elenca alguns aspectos e questionamentos acerca da contextualizao de QVT: -O impacto de trabalho na vida do indivduo e na efetividade da empresa; -As mudanas nas condies de trabalho que possam resultar em melhoria da

qualidade de vida; -Os efeitos da participao na deciso como fator de envolvimento e comprometimento do trabalhador; -Os efeitos da remunerao na qualidade de vida e a percepo do indivduo sobre a representatividade do seu salrio em relao a outros trabalhadores; -A segurana e demais condies de trabalho, os riscos envolvidos; -As perspectivas de crescimento e de carreira; -A dignidade com que a pessoa tratada: tolera-se a discordncia? Respeita-se a individualidade e a privacidade do empregado? Pode-se expressar um ponto de vista discordante sem resultar em punio ou segregao? -O gerente merecedor desse ttulo, por saber escutar, saber expor seu ponto de vista com firmeza e respeito ao outro e no agir como dono da verdade, inibindo a criatividade e a inovao? -H abertura nas relaes interpessoais? A sinceridade est instalada ou prevalecem a fofoca, os boatos, a delao, os jogos e a mentira? - tolervel o grau de estresse provocado pela funo? -H estmulo ao equilbrio entre o trabalho e a vida pessoal? -A pessoa realiza um trabalho que lhe significativo? -O empregado sente-se responsvel por seu produto? -Empenha-se no autodesenvolvimento? Percebe-se pelos questionamentos de Bom Sucesso (2002) que a autora atribui uma grande importncia questo dos relacionamentos interpessoais no trabalho, tendo enfocado boa parte de seus estudos em cima desta varivel. Para a autora, as relaes interpessoais, os conflitos, e, em especial, a maneira como a pessoa se relaciona na equipe afetam a satisfao no trabalho, a auto-estima e a forma como se sente em relao a si mesma. A histria de vida e os fatores relativos s variveis organizacionais resultam em atitudes dificultadoras ou facilitadoras nas relaes de trabalho, intensificando a preocupao e a responsabilidade pela promoo de QVT. (BOM SUCESSO, 2002, p. 21). Corroborando o pensamento de Bom Sucesso, Marchi (1994) salienta que para que as pessoas tenham qualidade de vida preciso, tambm, haver um ambiente

organizacional em que no existam restries sua auto-realizao e ao seu autodesenvolvimento. Na sntese de suas pesquisas, Bom Sucesso (2002) apresenta os seguintes elementos em sua definio de QVT: renda capaz de satisfazer as expectativas pessoais e sociais; orgulho pelo trabalho realizado; vida emocional satisfatria; autoestima; imagem da empresa/instituio junto opinio pblica; equilbrio entre trabalho e lazer; horrios e condies de trabalho sensatos; oportunidades e perspectivas de carreira; possibilidade de uso do potencial; respeito aos direit os; justia nas recompensas. Guimares (1998), buscando uma conceituao de QVT, considera que Uma interpretao restrita trata a QVT apenas como um mtodo de assepsia ambiental (melhorias somente no ambiente fsico), ou de engenharia de segurana (reduo de riscos). Tambm limitadas so as interpretaes que se restringem aos aspectos ergonmicos do trabalho, ou exclusivamente correlatos sade fsica e ocupacional dos empregados, ou ainda, aos aspectos psicolgicos/comportamentais do trabalho (explorao do potencial criativo do empregado, perspectivas de crescimento profissional, informaes sobre o seu desempenho, incentivos salariais. (GUIMARES, 1998, p. 79). Dentro desta concepo, a autora sugere uma concepo mais ampla de QVT, relacionada com qualidade de vida em geral, o que inclui a conquista da cidadani a por parte do trabalhador, mantendo uma relao direta e atvica com a democratizao industrial, enquanto compartilhamento do poder de deciso entre gerncias e trabalhadores, assumindo-se uma forma de participao plena em todos os nveis decisrios . (GUIMARES, 1995). Brigo (1997), relaciona a QVT democratizao do ambiente de trabalho e satisfao do trabalhador, que vai de encontro busca para humanizar as relaes de trabalho na organizao, mantendo uma relao estreita com a produtividade e principalmente com a satisfao do trabalhador no seu ambiente de trabalho. Para o autor, constitui-se a QVT, ainda, em condio de vida no trabalho, associada ao bem-estar, sade e segurana do trabalhador.

Bowditch e Buono (1992) sinalizam que um conjunto de definies equaciona a QVT com a existncia de um certo conjunto de condies e prticas organizacionais tais como cargos enriquecidos, participao dos empregados nos processos de tomada de decises, condies seguras de trabalho e assim por diante. Para estes autores, uma outra abordagem equaciona a QVT com os efeitos visveis que as condies de trabalho tm no bem-estar de um indivduo (por exemplo, manifestao de satisfao no local de trabalho, crescimento e desenvolvimento dos funcionrios, a capacidade de atender a toda a gama de necessidades humanas). Ao tratar especificamente do caso brasileiro, Hanashiro e Vieira (1990) referemse necessidade de se ter uma viso situacional de QVT, que parta de um contexto socioeconmico e poltico local, que totalmente diferente dos pases desenvolvidos. Neste sentido, para as autoras o conceito de qualidade de vida no trabalho amplo, flexvel e situacional. Para finalizar, uma outra leitura possvel de QVT encontra-se na expanso do conceito de qualidade total, que teve origem na engenharia e visava inicialmente processos e controles produtivos e tecnolgicos da fabricao do produto. Com a evoluo do conceito de qualidade total nos servios, abriu-se nova discusso sobre a necessidade de nele se incluir o conceito de qualidade pessoal, e conseqentemente, de qualidade de vida no trabalho. Para Limongi-Frana e Arrelano (2002), A qualidade de vida no trabalho uma evoluo da qualidade total. o ltimo elo da cadeia. No se pode falar em qualidade total sem incluir a qualidade de vida das pessoas no trabalho. O esforo que deve ser desenvolvido o da conscientizao, o de preparao de postura para a qualidade em todos os sentidos de produo, servio, desempenho e qualidade de vida no trabalho (LIMONGIFRANA e ARRELANO, 2002, p. 302).

2.3 Evoluo Histrica do Conceito de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) O conceito de qualidade de vida no trabalho (QVT) tem sido questionado ao longo dos anos, definindo-se no como modismo passageiro, mas como um processo que consolida a busca do desenvolvimento humano e organizacional. (LIMONGIFRANA e ARRELANO, 2002). Neste sentido, cabe uma apresentao de alguns estudos clssicos nesta temtica, que at hoje influenciam as pesquisas, a conceituao e a aplicao de modelos de QVT. Segundo Rodrigues (1999), com outros ttulos e em outros contextos, mas sempre voltada para trazer satisfao e bem-estar ao trabalhador na execuo de suas tarefas, a qualidade de vida sempre foi objeto de preocupao da raa humana. Historicamente exemplificando, os ensinamentos de Euclides (300 a .C.) de Alexandria sobre os princpios da geometria serviram de inspirao para a melhoria do mtodo de trabalho dos agricultores margem do Nilo, assim como a Lei das Alavancas, de Arquimedes, formulada em 287 a.C., veio a diminuir o esforo fsico de muitos trabalhadores (VASCONCELOS, 2001). As primeiras preocupaes cientficas sobre a influncia das condies fsicas do local de trabalho na produtividade industrial surgem na dcada de 1920, nos Estados Unidos, primeiramente com a experincia de Hawthorne, na Western Electric Company, onde se estudaram os efeitos da iluminao do ambiente de trabalho sobre a produtividade dos trabalhadores (SCHMIDT, 2004). Em seguida surgem os experimentos de Mayo (1927), considerado precursor dos estudos sobre o comportamento humano no trabalho, e que deram origem Teoria das Relaes Humanas, decorrente da necessidade de humanizao e democratizao do trabalho industrial. A maior contribuio do trabalho de Elton Mayo consiste na constatao de que o pagamento ou recompensa salarial no o nico fator decisivo na satisfao do trabalhador, e que o ser humano motivado por recompensas sociais, simblicas e no materiais. Algumas crticas foram feitas aos estudos de Mayo, sobretudo quanto aos procedimentos metodolgicos adotados. Mas no se pode desconsiderar o pioneirismo nos experimentos de Hawthorne,e sua grande relevncia para os estudos do comportamento humano e para a Qualidade de Vida no Trabalho (RODRIGUES, 1994).

Mais adiante, na dcada de 1950, surge a Teoria Comportamental (ou Teoria Behaviorista), cuja preocupao est no comportamento humano, tendo como foco de estudo a motivao humana. Os expoentes desta teoria so Maslow (1954), McClelland (1972) e Herzberg (1968). de Abraham Maslow a Teoria da Hierarquia das Necessidades, cuja representao atravs de uma pirmide bastante clssica e difundida at hoje. Por esta teoria, as necessidades humanas so dispostas em cinco necessidades fundamentais, obedecendo a uma hierarquia de importncia, a saber: necessidades fisiolgicas, de segurana, sociais, de estima e de autorealizao. As necessidades primrias, como as fisiolgicas e de segurana, ocupam a base da pirmide, e as demais necessidades vo se afunilando at o topo da pirmide, consistindo a auto-realizao na maximizao das habilidades e do potencial humano (FERNANDES, 1996; RODRIGUES, 1994). Sobre esta teoria, pode-se afirmar que a satisfao ou no de uma ou mais necessidades gera no indivduo um impulso que o move em direo a adotar um comportamento, um motivo para a realizao de aes satisfatrias. Sendo o ciclo necessidade/comportamento um dos fatores que induzem as aes das pessoas, reconhece-se neste ciclo um dos fatores mais significativos para a anlise da Qualidade de Vida no Trabalho (STAMPS, 1997; CARANDINA, 2003). O trabalho de Maslow influenciou o desenvolvimento de outras teorias, como a Teoria dos Dois Fatores, de Frederick Herzberg, que apresenta um importante legado para os estudos sobre a satisfao profissional. Para Herzberg (1968), os fatores que produzem satisfao no trabalho so distintos dos que produzem insatisfao. Os fatores capazes de produzir insatisfao foram denominados de higinicos, e compreendem a poltica e a administrao da empresa; as relaes interpessoais com os supervisores; superviso; condies de trabalho; salrio; status e segurana no trabalho. J os fatores que produzem satisfao foram denominados de motivadores e compreendem a realizao; o reconhecimento; o prprio trabalho; a responsabilidade e o progresso ou desenvolvimento. (RODRIGUES, 1994; SCHMIDT, 2004). Aps aplicar sua pesquisa, Herzberg props que os fatores motivacionais fossem implantados nas empresas a partir do enriquecimento da tarefa ou cargo , que consiste em substituir tarefas simples e elementares do cargo por tarefas mais complexas, de forma a acompanhar o

crescimento de cada empregado, oferecendo-lhe condies de desafio e de satisfao profissional. Outro legado de Maslow representado pelas pesquisas de David McClelland, cuja teoria da motivao humana para o trabalho denomina-se Teoria das Necessidades Apreendidas. McClelland (1972) parte de conceitos de aprendizagem para formular sua teoria, pois acreditava que vrias necessidades so aprendidas pelo indivduo, quando enfrenta o medo em funo de sua cultura (STAMPS, 1997). Este pesquisador prope trs necessidades de realizao humana no trabalho: as pessoas gostam de ter responsabilidades, tendem a traar metas e correr riscos calculados, alm de desejarem obter feedback sobre seu desempenho. A necessidade de afiliao reflete o desejo das pessoas de interagirem socialmente, acompanhado da preocupao com a qualidade dessas interaes. Neste caso, o relacionamento social tem precedncia sobre as tarefas. E a terceira necessidade a de obteno e exerccio do poder e da autoridade, procurando influenciar as pessoas pela argumentao. Esta necessidade pode apresentar aspectos positivos, quando reflete um comportamento inspirador, ou negativos, quando procura dominar e submeter as pessoas (CARANDINA, 2003; SCHMIDT, 2004). Um outro estudo fundamental para a anlise do comportamento humano no trabalho foi o de Douglas McGregor, por meio da Teoria X e da Teoria Y, no campo da motivao. McGregor analisou o comportamento humano no trabalho, agrupando as idias relacionadas ao indivduo-trabalho da Administrao Cientfica de Taylor, da Teoria Clssica de Fayol e da Teoria da Burocracia de Weber, como bitolamento da iniciativa individual, aprisionamento da criatividade, estreitamento da atividad e profissional atravs do mtodo e da rotina de trabalho, a que referencia em sua Teoria X. Para McGregor (1960), o trabalho com base na administrao cientfica atende s necessidades bsicas do indivduo, mas oferece poucas oportunidades de satisfao de suas necessidades egostas, que englobam auto-estima (autorespeito, auto-confiana, autonomia, realizao, competncia e conhecimento) e a reputao (status, reconhecimento e aprovao). (RODRIGUES, 1994; SCHMIDT, 2004). De acordo com a Teoria X, o ser humano tem averso ao trabalho e preguioso,

38 necessitando ser coagido, controlado, dirigido, ameaado de punio para que se esforce para alcanar os objetivos da organizao. Encara o trabalho como um mal necessrio apenas para ganhar dinheiro. A Teoria Y, por sua vez, baseia-se no pressuposto de que as pessoas querem e necessitam trabalhar, visando objetivos com os quais se comprometem. O compromisso com os objetivos dependente das recompensas associadas execuo do trabalho, sendo que por esta teoria, as pessoas aprendem no s a aceitar responsabilidades, mas a procur-las; e tm a capacidade de usar a imaginao e a criatividade para buscar solues para os problemas organizacionais. McGregor prope com a Teoria Y que o trabalho no precisa ser um mal, propondo uma nova forma de ver o indivduo na organizao. Uma das crticas contra as teorias X e Y o fato de elas serem mutuamente exclusivas. Mas, para o contrapor, antes da sua morte, McGregor estava desenvolvendo a teoria Z, que sintetizava as teorias X e Y nos seguintes princpio s: emprego para a vida, preocupao com os empregados, controle informal, decises tomadas por consenso, boa transmisso de informaes do topo para os nveis mais baixos da hierarquia, entre outros. A Teoria das Expectativas, de Victor Vroom, tambm importante para os estudos da satisfao no trabalho. Segundo Vroom (1964) apud Schmidt (2004), as pessoas so motivadas a um bom desempenho no trabalho se elas acreditam, ou esperam, que sero recompensadas. Nesta teoria, a satisfao profissional de um indivduo produto da importncia relativa de vrias necessidades pessoais e relacionadas ao trabalho. E a motivao de uma pessoa determinada pela expectativa do indivduo de que seus esforos resultaro de um dado nvel de desempenho; pela expectativa de que esse nvel de desempenho ser um meio para obter xitos desejados e que a motivao tambm determinada pela antecipao da satisfao, pelos xitos a serem obtidos. No entanto, a origem da denominao do construto Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) atribuda a Eric Trist (1975) e seus colaboradores, que em 1950 desenvolveram estudos no Tavistock Institute de Londres, em termos de uma abordagem sociotcnica da organizao do trabalho, com o objetivo de analisar e reestruturar as tarefas para tornar a vida dos trabalhadores menos penosa (FERNANDES, 1996).

As pesquisas sobre QVT obtiveram um grande avano na dcada de 1960, sobretudo em funo de uma crescente conscientizao dos trabalhadores acerca de suas condies laborais, culminando em estudos para melhorar as formas de trabalho. Esta fase da QVT, cuja abordagem pode ser denominada de sociotcnica, se estendeu at 1974, sendo impulsionada pela perspectiva de uma sociedade progressista, tendo como base a sade, a segurana e a satisfao dos trabalhadores (RODRIGUES, 1994; SCHMIDT, 2004). Foi neste perodo que foi criada nos Estados Unidos o National Center for Productivity and Quality of Work ing Life, um laboratrio de estudos sobre a produtividade e a qualidade de vida do trabalhador nas atividades de produo. consensual na literatura que no perodo de 1974 a 1979 houve uma paralisao no desenvolvimento e preocupaes com a QVT (FERNANDES, 1996; LIMONGIFRANA e ARRELANO, 2002; RODRIGUES, 1994, SCHMIDT, 2004). O interesse pela QVT foi retomado no final na dcada de 1970, sendo representativo na dcada de 1980, por ocasio do surgimento de forte competio nos mercados internacionais, em que o Japo teve forte participao, com a divulgao de suas tcnicas de administrao, pautadas na Qualidade Total. Na Europa, houve um desenvolvimento de estudos alicerados no atendimento s necessidades psicossociais dos trabalhadores, de forma a elevar seus nveis de satisfao no trabalho. Os pases que mais despontaram nesta nova filosofia de QVT foram Frana, Alemanha, Dinamarca, Sucia, Noruega, Holanda e Itlia (HUSE e CUMMINGS, 1985 apud SCHMIDT, 2004). A dcada de 1990 foi essencial para a difuso dos conhecimentos e trabalhos sobre a QVT. Pases como Inglaterra, Canad, Mxico e ndia tiveram um desenvolvimento significativo na temtica. No Brasil, alguns grupos de estudos sobre QVT comearam a surgir nos Estados de So Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Cear, contribuindo para a difuso desta temtica (CARANDINA, 2003). Para Fernandes (1996), um trabalho bastante significativo que examina a QVT ao longo do tempo, de acordo com suas diferentes concepes, o de Nadler e Lawler

(1983), exposto no Quadro 2: Evoluo do Conceito de Qualidade de Vida no Trabalho -QVT Concepes Evolutivas da QVT Caractersticas ou Viso 1-QVT como uma varivel (1959 a 1972) Reao do indivduo ao trabalho. Era investigado como melhorar a qualidade de vida no trabalho para o indivduo. 2-QVT como uma abordagem O foco era o indivduo antes do resultado (1969 a 1974) organizacional; mas, ao mesmo tempo, tendia a fazer melhorias tanto ao empregado como direo. 3-QVT como um mtodo (1972 a 1975) Um conjunto de abordagens, mtodos ou tcnicas para melhorar o ambiente de trabalho e tornar o trabalho mais produtivo e mais satisfatrio. QVT era visto como sinnimo de grupos autnomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integrao social e tcnica. 4-QVT como um movimento (1975 a 1980) Declarao ideolgica sobre a natureza do trabalho e as relaes dos trabalhadores com a organizao. Os termos administrao participativa e democracia industrial eram freqentemente ditos como ideais do movimento de QVT. 5-QVT como tudo Como panacia contra a competio (1979 a 1982) estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros problemas organizacionais. 6 QVT como nada (futuro) No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, no passar apenas de um modismo passageiro. Quadro 2 Evoluo do Conceito de QVT

Fonte: Nadler e Lawler (1983)

3. MODELOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAO DE QUALIDADE DE VIDA (QV) E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) 3.1 Modelos de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) No tocante aos modelos que identificam fatores determinantes da QVT nas organizaes, uma das dificuldades para investigar a qualidade de vida reside na diversidade das preferncias humanas e diferenas individuais dos valores pessoais e o grau de importncia que cada trabalhador d s suas necessidades, implicando provavelmente em elevado custo operacional (QUIRINO e XAVIER, 1987). Alguns autores desenvolveram modelos que identificam fatores presentes numa determinada situao de trabalho, que sirvam de critrios mais especficos e indicadores de qualidade de vida (FERNANDES, 1996). Os que se destacam na estruturao de modelos que identificam fatores determinantes de QVT nas organizaes so, entre outros, Walton (1973); Belanger (1973); Hackman e Oldham (1975); Lippitt (1978); Westley (1979); Mendelewski e Orrego (1980); Werther e Davis (1983), Thriault (1980), Nadler e Lawler (1983), Huse e Cummings (1985), Denis (1980), e mais recentemente no Brasil, Fernandes (1996). Walton (1973) um dos pesquisadores pioneiros da sistematizao dos critrios e conceitos de QVT, sendo uma referncia internacional na temtica. Para este autor, a QVT deve ter como meta a gerao de uma organizao mais humanizada, na qual o trabalho envolva relativo grau de responsabilidade e de autonomia no que se refere a cargo, recebimento de feedback do desempenho, tarefas adequadas, variedade, enriquecimento do trabalho e nfase no desenvolvimento pessoal do indivduo. (LIMONGI-FRANA e ARRELANO, 2002). atribuda a Walton (1974) a conceituao de QVT que se orienta em funo do Detaylorisme, que procura resgatar valores humansticos e ambientais negligenciados pelas sociedades industrializadas em favor do avano tecnolgico, da produtividade e do crescimento econmico. Em 1973, este autor prope um modelo conceitual composto de oito categorias com o objetivo de avaliar a QVT nas organizaes, conforme exposto no Quadro 3. Cabe ressaltar que este modelo utilizado correntemente nos trabalhos cientficos que aplicam uma metodologia de avaliao de QVT.

Modelo de QVT de Walton . Remunerao justa e adequada: trata-se da relao de salrio com outros trabalhos, desempenho da comunidade e padro subjetivo do empregado. Em sntese, eqidade salarial. . Segurana e salubridade do trabalho: os trabalhadores no devem ser expostos a condies ambientais, jornada de trabalho nem a riscos que possam ameaar sua sade. . Oportunidade de utilizar e desenvolver habilidades:ouso e o desenvolvimento das capacidades devem atender a certas condies, como autonomia, variedade de habilidades, informao e perspectiva de atividade, significado e planejamento da tarefa. . Oportunidade de progresso e segurana no emprego: manifestam-se no desenvolvimento pessoal, no desenvolvimento da carreira, na possibilidade de aplicao de novas habilidades, na sensao de segurana no emprego e na remunerao. . Integrao social na organizao: um ambiente favorvel nas relaes pessoais atingido com ausncia de preconceitos, democracia social, ascenso na carreira, companheirismo, unio e comunicao aberta. . Leis e normas sociais: o grau de integrao social na organizao est relacionado com o direito privacidade e a liberdade de expresso de idias, com tratamento eqitativo e normas claras. . Trabalho e vida privada: as condies de crescimento na carreira no devem interferir no descanso nem na vida familiar do empregado. . Significado social da atividade do empregado: a atuao social da organizao tem significado importante para os empregados tanto em sua percepo da empresa quanto em sua auto-estima. Quadro 3 Modelo de QVT Fonte: Walton (1973) Sobre o modelo de Walton, Fernandes (1996) destaca que embora no se desconheam a diversidade das preferncias e as diferenas individuais ligadas cultura, classe social, educao, formao e personalidade, tais fatores so intervenientes, de modo geral, na qualidade de vida da maioria dos indivduos. Des ta forma, quando tais aspectos no so bem gerenciados, os nveis de satisfao experimentados pelos trabalhadores em geral ficam abaixo do esperado, repercutindo em seus nveis de desempenho. Para Silva e Tolfo (1995), as oito dimenses inter-relacionadas formam um conjunto que possibilita ao pesquisador apreender os pontos percebidos pelos trabalhadore s como positivos ou negativos na sua situao de trabalho. Apresentam, ainda, a vantagem de analisar tanto o conjunto de condies e prticas organizacionais,

como aspectos relacionados satisfao e percepo dos empregados sobre os fatores positivos no trabalho. O Quadro 4 apresenta o modelo de QVT de Belanger (1973), que utiliza, como critrios para a anlise da qualidade de vida nas organizaes, os aspectos ligados a: trabalho em si; crescimento pessoal e profissional; tarefas com significado e funes e estruturas organizacionais abertas. Modelo de QVT de Belanger 1 O TRABALHO EM SI -Criatividade -Variabilidade -Autonomia -Envolvimento -Feedback 2 CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL -Treinamento -Oportunidades de crescimento -Relacionamento no trabalho -Papis organizacionais 3 TAREFAS COM SIGNIFICADO -Tarefas completas -Responsabilidade aumentada -Recompensas financeiras/no-financeiras -Enriquecimento 4 FUNES E ESTRUTURAS ABERTAS

-Clima de criatividade -Transferncia de objetivos Quadro 4 Modelo de QVT

Fonte: Belanger (1973) Hackman e Oldham (1975) propem um modelo de QVT baseado em caractersticas objetivas do trabalho, quais sejam: a) dimenses da tarefa: identificando seis atributos importantes para a satisfao no trabalho: variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da tarefa, inter-relacionamento, autonomia e feedback (do prprio trabalho e extrnseco). b) estados psicolgicos crticos: envolvendo a percepo da significao do

trabalho, da responsabilidade pelos resultados e o conhecimento pelos reais resultados do trabalho. c) resultados pessoais e de trabalho: incluindo a satisfao geral e a motivao para o trabalho de alta qualidade, bem como o absentesmo e a rotatividade baixa. Este modelo, que utilizado com freqncia em estudos cientficos, foi chamado de modelo das dimenses bsicas da tarefa , e pode ser visualizado no Quadro 5. Modelo das Dimenses Bsicas da Tarefa de Hackman & Oldham DIMENSES ESTADOS . RESULTADOS DA TAREFA PSICOLGICOS PESSOAIS E CRTICOS DE TRABALHO Variedade de habilidades Satisfao geral (VH) com o trabalho Percepo da (SG) Identidade da tarefa significncia (IT) . do trabalho (PST) Significado da tarefa Motivao interna (ST) para o trabalho (MIT) Inter-relacionamento (IR) Percepo da . responsabilidade Autonomia pelos resultados Produo de (AU) (PRT) trabalho de alta qualidade (PTQ) Feedback do prprio Trabalho (FT) Conhecimento dos . reais resultados Feedback extrnseco do trabalho (CRT) (FE) Absentesmo e rotatividade baixas Quadro 5 Modelo das Dimenses Bsicas da Tarefa

Fonte: Hackman e Oldham (1975) Lippitt (1978) apud Fernandes (1996, p.54), por sua vez, considera que so favorveis para melhor qualidade de vida no trabalho, situaes em que se oferecem

oportunidades para o indivduo satisfazer a grande variedade de necessidades pessoais, que seriam sobreviver com alguma segurana, interagir, ter um senso pessoal de qualidade, ser reconhecido por suas realizaes e ter uma oportunidade de melhorar sua habilidade e seu conhecimento . Para Fernandes (1996), um modelo de melhoria de qualidade de vida no trabalho baseado em tais fatoreschaves oferece possibilidade de atendimento tanto das necessidades do indivduo como da organizao, e vem ao encontro das expectativas dos empregados. Um outro modelo de indicadores da qualidade de vida no trabalho o de Westley (1979), adaptado por Ruschel (1993), apresentado no Quadro 6. Segundo este autor, os problemas polticos trariam a insegurana; o econmico, a injustia; o psicolgico, a alienao, e o sociolgico, a anomia. A insegurana e a injustia so decorrentes da concentrao do poder e da concentrao dos lucros e conseqente explorao dos trabalhadores. J a alienao advm das caractersticas desumanas que o trabalho assumiu pela complexidade das organizaes, levando a uma ausncia do significado do trabalho, e anomia resulta da falta de envolvimento mor al com as prprias tarefas. Indicadores da Qualidade de Vida no Trabalho de Westley ECONMICO POLTICO PSICOLGICO SOCIOLGICO * Eqidade salarial * Segurana no * Realizao * Participao nas * Remunerao emprego potencial decises adequada * Atuao sindical * Nvel de desafio * Autonomia * Benefcios * Retroinformao * Desenvolvimento * Relacionamento * Local de trabalho * Liberdade de pessoal interpessoal * Carga horria expresso * Desenvolvimento * Grau de * Ambiente externo * Valorizao do cargo * Relacionamento com a chefia profissional * Criatividade * Auto-avaliao * Variedade de tarefa * Identificao com a tarefa responsabilidade * Valor Pessoal Quadro 6 Indicadores de Qualidade de Vida no Trabalho

Fonte: Westley (1979), adaptado por Rushel (1993) Mendelewski e Orrego (1980) analisam os diversos enfoques da qualidade de vida no trabalho, e concluem que h uma relao direta entre a posio diante da QVT e

os seguintes tipos de viso: democrtica, gerencial, sindical e humanista. Esta inte rrelao pode ser observada no Quadro 7. Vises da Qualidade de Vida no Trabalho de Mendelewski e Orrego Viso democrtica Viso gerencial Democracia industrial Aumento da produtividade .Aumento da participao dos . Melhora dos inputs humanos antes empregados na tomada de decises dos inputs tecnolgicos ou do capital para a produo .Alcance das metas do movimento de relaes humanas Viso sindical Viso humanista Conquistas sociais Satisfao de necessidades .Alcance de poro mais eqitativa de .Satisfao no cargo entradas e recursos da organizao produtiva .Humanizao do trabalho .Alcance d