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revista técnico-profissional ARTIGO TÉCNICO o electricista 137 projecto de postos de transformação 1› INTRODUÇÃO Um aspecto essencial de qualquer projecto eléctrico prende-se com os dimensionamentos dos materiais e equipamentos. Apenas com um cálculo correcto é possível garantir o cumprimento dos regula- mentos, a funcionalidade das instalações e a segurança de pessoas e bens. 2› CÁLCULOS DIMENSIONAIS Os condutores eléctricos utilizados nos postos de transformação, para além das situações de funcionamento normal, poderão ter de funcionar em sobrecarga e até em situações de curto-circuito, em- bora por períodos de tempo muito limitados. Nestas situações excepcionais o aquecimento e as forças mecânicas a que os condutores são submetidos podem atingir valores bastante acima do normal, podendo por isso daí resultar dano para eles e para outros componentes, o que se pretende evitar. Por esta razão o dimensionamento dos condutores reveste-se de alguma com- plexidade de modo a garantir o melhor funcionamento mesmo em situações excepcionais, sendo necessário determinar previamente o valor que a intensidade da corrente eléctrica poderá atingir em todas as situações. 2.1› Intensidade na alta e baixa tensões Onde: S › potência do transformador em kVA U p › tensão composta do primário em kV U s › tensão composta do secundário em kV I p › corrente do primário em A I s › corrente do secundário em A W Fe › perdas no ferro em kW W Cu › perdas nos enrolamentos em kW 2.2› Corrente de curto-circuito A corrente de curto-circuito é determinada pela potência de curto- circuito no lado da média tensão e pela reactância de fugas do trans- formador. Henrique Ribeiro da Silva Dep. de Engenharia Electrotécnica (DEE) do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) {4.ª PARTE - CÁLCULO DOS CONDUTORES} Apesar de todos os componentes de um posto de transformação serem importantes, dado que têm a seu cargo uma determinada função, os condutores são alvo de uma atenção especial na me- dida em que terão de resistir a situações excepcionais. 3 3 S W W S Fe Cu I I p s U U p s = = 100 3 3 S S cc I I ccp ccs U u U p cc s × = =

ARTIGO TÉCNICO o electricista projecto de postos de … · 2017. 7. 13. · 2.4› Verificação da densidade de corrente Figura 1 . Capacidade de condução de corrente para barras

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projecto de postos de transformação

1› INTRODUÇÃOUm aspecto essencial de qualquer projecto eléctrico prende-se com os dimensionamentos dos materiais e equipamentos. Apenas com um cálculo correcto é possível garantir o cumprimento dos regula-mentos, a funcionalidade das instalações e a segurança de pessoas e bens.

2› CÁLCULOS DIMENSIONAISOs condutores eléctricos utilizados nos postos de transformação, para além das situações de funcionamento normal, poderão ter de funcionar em sobrecarga e até em situações de curto-circuito, em-bora por períodos de tempo muito limitados.

Nestas situações excepcionais o aquecimento e as forças mecânicas a que os condutores são submetidos podem atingir valores bastante acima do normal, podendo por isso daí resultar dano para eles e para outros componentes, o que se pretende evitar. Por esta razão o dimensionamento dos condutores reveste-se de alguma com-plexidade de modo a garantir o melhor funcionamento mesmo em situações excepcionais, sendo necessário determinar previamente o valor que a intensidade da corrente eléctrica poderá atingir em todas as situações.

2.1› Intensidade na alta e baixa tensões

Onde:S › potência do transformador em kVAUp › tensão composta do primário em kVUs › tensão composta do secundário em kVIp › corrente do primário em AIs › corrente do secundário em AWFe › perdas no ferro em kWWCu › perdas nos enrolamentos em kW

2.2› Corrente de curto-circuitoA corrente de curto-circuito é determinada pela potência de curto-circuito no lado da média tensão e pela reactância de fugas do trans-formador.

Henrique Ribeiro da SilvaDep. de Engenharia Electrotécnica (DEE) do

Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP)

{4.ª PARTE - CÁLCULO DOS CONDUTORES}

Apesar de todos os componentes de um posto de transformação serem importantes, dado que têm a seu cargo uma determinada função, os condutores são alvo de uma atenção especial na me-dida em que terão de resistir a situações excepcionais.

3 3

S W WS Fe CuI Ip sU Up s

− −= =

100

3 3

S SccI Iccp ccsU u Up cc s

×= =

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Onde:Iccp › corrente de curto-circuito na MT em kAIccs › corrente de curto-circuito na BT em kAScc › potência de curto-circuito do lado de MT em MVAUp › tensão primária composta em kVUs › tensão secundária em Vucc › tensão de curto-circuito do transformador em percentagem

Na expressão de Iccs desprezou-se a impedância a montante do transformador (rede de potência infinita).

2.3› Dimensionamento dos barramentosNos postos de transformação, por razões de ordem mecânica e li-gadas a outros serviços, no lado da média tensão não se empregam aparelhos e barramentos com corrente estipulada inferior a 200 A.

Os aparelhos e barramentos têm intensidades estipuladas de 200, 400 e 630 A.

2.4› Verificação da densidade de corrente

Figura 1 . Capacidade de condução de corrente para barras de cobre (curva a) e

de alumínio (curva b).

Onde d é a densidade de corrente em A/mm2 e S a área da secção recta do barramento, em mm2.

As densidades de corrente devem ser respeitadas para se não ultra-passarem as temperaturas máximas de regime permanente.

ImáxdS

=

PUB

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A estabilidade mecânica do barramento é garantida quando o mo-mento resistente for superior ao momento flector.

Caso não verifique a condição pode actuar-se, reduzindo o momento flector, aumentando a distância entre os barramentos e/ou diminuin-do ao comprimento do vão, ou actuar-se na secção ou configuração do barramento aumentando a secção, modificar a posição das barras ou alterar o perfil.

2.7› Esforços sobre os isoladores

Figura 2 . Esforço aplicado à cabeça dos isoladores.

F’ › esforço à cabeça do isolador, em kgf › força por unidade de comprimento, em kg/cmL’ › semi-soma dos vãos adjacentes, em cm

2.8› Módulo de flexão dos perfis mais usuais

F

' 'F f L= ×

23

33

4 43

cm6

cm32

cm32

hbW

dW

D dW

D

π

π

=

=

−=

23

33

4 43

cm6

cm32

cm32

hbW

dW

D dW

D

π

π

=

=

−=

2.5› Verificação dos esforços electrodinâmicosConhecidas a intensidade estipulada de um barramento In e a inten-sidade limite térmica (1 segundo) ITh, a intensidade limite electrodi-nâmica, ICh, calcula-se do modo seguinte:

Onde:ITh › intensidade limite térmica (1 s), em AS › secção recta do barramento, em mm2K › constante do material: Cu – 226 Al - 148qf › temperatura final do barramento, em ºCqi › temperatura inicial do barramento, em ºCICh › intensidade limite electrodinâmica, em At › duração da passagem da corrente, em s

Um curto-circuito bifásico entre duas fases contíguas provoca uma força sobre um condutor de comprimento L distanciado do outro do comprimento d dada pela expressão:

F › força sobre o condutor, em kgICh › corrente limite electrodinâmica, em kAL › vão do barramento, em cmd › distância entre os condutores, em cm

2.6› Esforço máximo suportável pelo barramento

Momento resistente Mr = W x sW › módulo de flexão da barra, função da sua geometria (dimensões e configuração)s › carga de segurança à flexão

234,5ln234,5

2,5

f

iTh Ch ThI s k I I

t

θθ

++

= × = ×

222,04 10ChI L

Fd

× −= ×

F Lapoios livres

8quando não há umadiferença específicaMomento flector

16entre apoios livres eencastrados

F Lencastrados

24

fF L

M

×

×

×

2cobre 1000 a 1200kg/cm2alumínio 400 a 600kg/cm

σ −=

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s – secção do barramentoa - constante – Cu = 13t – duração de passagem da corrente de curto-circuitoI – intensidade de correnteΔq - elevação de temperatura de 180 ºC, considerando o condutor inicialmente à temperatura ambiente

A fórmula seguinte permite determinar a intensidade de corrente de um modo mais aproximado:

qf e qi são as temperaturas final e inicial, respectivamente, em º Ck é uma constante igual a 226 para o cobre e 148 para o alumínio

3› CONCLUSÃODadas as diferentes restrições a que os condutores devem corres-ponder a sua definição é, na maior parte dos casos, feita de forma iterativa, ou seja, há necessidade de ir modificando a constituição e as condições de montagem deles à medida que o cálculo vai evoluin-do. À medida que o projectista vai ganhando experiência, aumenta a sua sensibilidade para esta acção e fica mais fácil perceber em cada caso, em função dos dados, qual ou quais as restrições preponderan-tes, que condicionam definitivamente o projecto.

BIBLIOGRAFIA

— Regulamento de segurança de subestações, postos de transforma-

ção e de seccionamento

— Vilela Pinto – MGCalc

— Siemens – Manual de Engª eléctrica (3 vol)

— DGE – Guias-técnicos de postos de transformação dos tipos A, CA e

CB

— Catálogos de empresas – Efacec, Schneider Electric, ABB, Jayme da

Costa

— Serrano José et al. – Técnicas y procesos en instalaciones de media

y baja tension

— Cotrim Admaro – Instalações eléctricas

— Bossi António, Sestio Ezio – Instalações eléctricas

— Negrisoli Manoel – Instalações eléctricas

I st

θα

∆= ×

234,5ln234,5

f

iThI s k

t

θθ

++

= ×

( )

34

44

4 4 4

cm12

cm64

cm64

hbI

dI

I D d

π

π

=

=

= −

( )

34

44

4 4 4

cm12

cm64

cm64

hbI

dI

I D d

π

π

=

=

= −

2.9› Momento de inércia geométrico dos perfis

2.10› Vibrações mecânicasA frequência própria de vibração de uma barra vem dada pela ex-pressão seguinte:

E › módulo de Young, kg/cm2

I › momento de inércia, cm4

p › peso linear, em kg/cmL › comprimento da barra, em cm

Atenção especial deve ser dada à possibilidade de ocorrência de res-sonância da vibração mecânica com a frequência da rede, ou o seu dobro, pelo que f0 não deve cair nos seguintes intervalos:

f0 ≠ [90, 110] e f0 ≠ [45, 55] Hz

2.11› Força críticaForça a considerar nos apoios de extremidade em consequência da dilatação das barras (o momento de torção pode considerar-se des-prezável)

Na escolha dos isoladores consideram-se as forças electrodinâmicas e as forças críticas.

2.12› Verificação do esforço térmicoA norma CEI 298 de 1981 determina a máxima intensidade admissí-vel durante 1 segundo de acordo com a expressão:

6 2

0 4 6 2

Cu: 1,2 10 kg/cm112 Hz E=

Al: 0,7×10 kg/cm

E If

p L

× ×=

×

22cr

E IF

×=