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1 TOXICIDADE DE EFLUENTE DE VIVEIRO DE CAMARÃO: PERSPECTIVA PARA ANÁLISE DE RISCOS E TOMADA DE DECISÔES José Roberto Nunes Costa 1 Iracema de Andrade Nascimento 2 Solange Andrade Pereira 3 RESUMO A carcinicultura, na última década, cresceu no mundo, acima da média das atividades agrárias. Como qualquer atividade antrópica, esta também impactou de diferentes formas, os locais da sua instalação, contudo, pouca pesquisa científica tem sido produzida sobre os impactos da atividade, em especial sobre a avaliação dos impactos causados pelos efluentes da atividade. Assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar a toxicidade dos efluentes de viveiros de camarão por ora da drenagem para despesca, verificar existência de diferenças na qualidade da água entre os vários estratos da coluna d’água por meio de testes de toxicidade efetuados com embriões de ostra Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828), buscando relacionar as possíveis anormalidades observadas em embriões de ostras com os valores medidos dos parâmetros físico-químico das amostras de efluente. Os resultados dos bioensaios com embriões de ostras demonstraram a ocorrência de toxicidade do efluente para os organismos testes e comprovaram que este teste, aplicado juntamente com a análise de parâmetros físico-químicos, contribui para uma melhor avaliação da qualidade do efluente. Os resultados também mostraram a existência de um gradiente de qualidade ao longo da coluna d’água dos viveiros de camarão, sendo que o estrato de superfície apresentou melhor qualidade que o estrato de fundo. Palavras chaves: toxicidade, efluente de camarão, bioensaio, embriões de ostra. 1 Engenheiro de Pesca. Professor do Instituto Federal de Educação Tecnológica da Bahia - IFBA/BA Mestre em Ecologia e Biomonitoramento. E-mail: [email protected] 2 Bióloga Professora da Universidade Federal da Bahia UFBA Doutora em Biologia Marinha E-mail: [email protected] 3 Bióloga Professora Universidade Federal da Bahia UFBA Doutora Em Biologia e-mail: [email protected]

Artigo Toxicidade de Efluentes p Arq Cienc Do Mar

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Artigo Toxicidade de Efluentes p Arq Cienc do Mar

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  • 1

    TOXICIDADE DE EFLUENTE DE VIVEIRO DE CAMARO: PERSPECTIVA

    PARA ANLISE DE RISCOS E TOMADA DE DECISES

    Jos Roberto Nunes Costa 1

    Iracema de Andrade Nascimento2

    Solange Andrade Pereira3

    RESUMO

    A carcinicultura, na ltima dcada, cresceu no mundo, acima da mdia das atividades

    agrrias. Como qualquer atividade antrpica, esta tambm impactou de diferentes formas, os

    locais da sua instalao, contudo, pouca pesquisa cientfica tem sido produzida sobre os

    impactos da atividade, em especial sobre a avaliao dos impactos causados pelos efluentes

    da atividade. Assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar a toxicidade dos efluentes de

    viveiros de camaro por ora da drenagem para despesca, verificar existncia de diferenas na

    qualidade da gua entre os vrios estratos da coluna dgua por meio de testes de toxicidade efetuados com embries de ostra Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828), buscando

    relacionar as possveis anormalidades observadas em embries de ostras com os valores

    medidos dos parmetros fsico-qumico das amostras de efluente. Os resultados dos

    bioensaios com embries de ostras demonstraram a ocorrncia de toxicidade do efluente para

    os organismos testes e comprovaram que este teste, aplicado juntamente com a anlise de

    parmetros fsico-qumicos, contribui para uma melhor avaliao da qualidade do efluente. Os

    resultados tambm mostraram a existncia de um gradiente de qualidade ao longo da coluna

    dgua dos viveiros de camaro, sendo que o estrato de superfcie apresentou melhor qualidade que o estrato de fundo.

    Palavras chaves: toxicidade, efluente de camaro, bioensaio, embries de ostra.

    1Engenheiro de Pesca.

    Professor do Instituto Federal de Educao Tecnolgica da Bahia - IFBA/BA

    Mestre em Ecologia e Biomonitoramento.

    E-mail: [email protected] 2 Biloga

    Professora da Universidade Federal da Bahia UFBA Doutora em Biologia Marinha

    E-mail: [email protected] 3 Biloga Professora Universidade Federal da Bahia UFBA

    Doutora Em Biologia

    e-mail: [email protected]

  • 2

    ABSTRACT

    The shrimp farming, in the last decade, has grown in the world above the average of

    agricultural activities. Like any human activity, this has also impacted in different ways the

    places of its installation; however, little scientific research has been produced on the impact of

    the activity, especially on the evaluation of the impacts caused by the effluents of activity.

    The objectives of this study were to evaluate the toxicity of shrimp ponds effluents at moment

    of drainage for shrimp removal, verify the existence of differences in water quality between

    the various layers of the water column by toxicity tests performed with oyster embryos of

    Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828), trying to relate the possible abnormalities in oyster

    embryos with the measured values of physical-chemical parameters of effluent samples. The

    results of bioassays with oyster embryos demonstrated the occurrence of the effluent toxicity

    for testing bodies and proved that this test, applied together with the analysis of physical-

    chemical parameters, contributes to a better assessment of the quality of the effluent. The

    results also showed the existence of a quality gradient along the water column of shrimp

    ponds, where the surface layer showed better quality than the bottom stratum.

    Key Words: toxicity, shrimp effluent, bioassay, oyster embryos.

  • 3

    INTRODUO

    O cultivo de camaro marinho nas duas ltimas dcadas se desenvolveu em nvel mundial,

    gerando expressivos lucros e impactos como a destruio de manguezais e reas adjacentes,

    excessivo lanamento de efluentes e eutrofizao de ambientes, acusado de provocar a

    reduo na produo pesqueira e a perda de diversidade gentica (PAEZ-OZUNA, 2001;

    CHUA et al., 1989 apud BIAO, 2004). No Brasil, somente a partir dos anos 90 do sculo

    passado a carcinicultura se mostrou como uma promissora atividade econmica.

    A degradao dos manguezais pela expanso do cultivo do camaro promove a perda de

    benefcios e servios e implica em custos ambientais e sociais no apropriados ou assumidos

    pela indstria (HUITRIC et al., 2002). Dentre os impactos negativos causados pela

    carcinicultura aps a sua instalao, a poluio dos corpos receptores por efluentes de

    viveiros, o mais comum (BOYD, 2003; BOYD e GAUTIER, 2000; TROTT e ALONGI,

    2000), tornando o ambiente inadequado existncia de organismos vivos (BOYD, 2001).

    At o presente, o controle de qualidade de efluentes lquidos efetuado apenas por meio da

    determinao de parmetros ambientais de natureza fsico-qumica, e regulamentada por

    norma federal (Resoluo do Conselho Nacional de Meio Ambiente, CONAMA N. 357 de

    2005), que estabelece padres quantitativos de emisso para efluentes em geral (GHERARDI-

    GOLDSTEIN, et al., 1990), inclusive os originrios da atividade camaroneira. Entretanto, as

    anlises qumicas no levam em conta os possveis sinergismos com outras substncias, em

    misturas complexas com o efluente, mostrando-se incapazes de possibilitar uma estimativa

    dos reais impactos biolgicos ao ambiente (GHERARDI-GOLDSTEIN et al, 1990;

    NASCIMENTO, 2002).

    Testes com organismos vivos podem, de forma integrativa, responder s interaes de

    substncias qumicas em uma mistura complexa. Por esta razo, e em virtude de ainda no

    existirem padres biolgicos de toxicidade na norma legislativa, o objetivo deste trabalho foi

    utilizar um mtodo biolgico para avaliar a qualidade dos efluentes da drenagem para colheita

    de camares e relacionar os resultados desses com os resultados de testes fsico-qumicos.

  • 4

    MATERIAL E MTODOS

    Os trs viveiros, amostrados se encontram instalados nas fazendas Valena Bahia Maricultura

    (VBM) e SOHAGRO, situados, lado a lado, no esturio do rio Uma, municpio de Valena,

    margem continental do canal formado entre a ilha de Tinhar e o continente, na latitude 13

    21 30 S e longitude 39 00 W. O canal onde feita a captao e a descarga das fazendas

    apresenta largura acima de 1000m, elevado fluxo de gua e salinidade mdia anual de 30,

    comunicao pessoal da VBM, (2006). As coletas de efluente ocorreram em duas campanhas

    (SHE 14 em janeiro de 2006, SHE 20 e VBM 02 em outubro 2006) sempre durante a

    drenagem final dos viveiros para colheita dos camares, em dias que dependeram apenas da

    ocorrncia da operao colheita de camares.

    Atravs de comunicao pessoal da Valena Bahia Maricultura. (2006), a seguir, descrevemos

    algumas caractersticas dos ciclos de engorda estudados nesse trabalho (Tabela 1)

    Fazenda e Viveiro

    . SOHAGRO VBM

    Variveis SHE 14 SHE 20 VE 02

    rea do viveiro (ha) 4,15 3,99 2,0

    Data do Povoamento 14/11/05 05/0706 29/07/06

    Data da Despesca 08/03/06 10/10/06 10/10/06

    Durao do Ciclo (dias) 114 98 74

    Lmina dgua Mxima (m) 1,85 1,85 1,65

    Densidade (camaro/m2) 26,74 24,3 14,0

    Sobrevivncia (%) 82 82 85

    Peso Mdio Final (g) 6,0 5,06 5,33

    Biomassa Final (kg) 7778 4024 1268

    Biomassa por hectare (kg) 1874,21 1008,52 634

    Fornecimento do alimento bandeja lano lano

    Tempo de uso do viveiro < que 5 anos < que 5 anos > 10 anos

    Clima na coleta ensolarado nublado nublado

    Fonte: Dados da pesquisa, 2006 e fornecidos pela equipe tcnica da VBM e SOHAGRO Maricultura

    Tabela 1 - Caractersticas dos viveiros e ciclos de cultivo Fonte: Comunicao pessoal da VBM maricultura.

    Buscou-se amostrar efluentes de viveiros que reunissem condies semelhantes quanto ao

    tamanho, densidade de povoamento, manejo alimentar, tipo de rao utilizada e local de

    captao de gua e de lanamento de efluentes. As amostras de efluentes foram coletadas

  • 5

    utilizando garrafas de polipropileno (estreis), de cor opaca, com tampa roscada e capacidade

    para 1 Litro. As amostragens foram feitas no interior de trs viveiros, prximo comporta de

    drenagem, imergindo a garrafa coletora e mantendo a boca 10 cm da superfcie da gua, at

    o seu completo enchimento.

    Para execuo dos testes de toxicidade e determinaes fsico-qumicas foram colhidas

    amostras compostas (homogeneizadas) do efluente, em diversos nveis da coluna dgua

    assim denominados: estratos de superfcie (A=100 a 75% da lmina dgua total, B=75 a 50%

    lmina dgua total e C=50 a 20% lmina dgua total), representativas de 80% do volume de

    gua drenada do viveiro, com trs replicas denominadas de S1, S2 e S3, e amostras compostas

    dos estratos de fundo (D=20% e E=10%), tambm com trs replicas denominadas de F1, F2 e

    F3, correspondente aos 20% do volume final de gua da drenado do viveiro.

    Aps a coleta, as amostras foram estocadas em caixas isotrmicas, contendo gelo ensacado de

    forma a se conservarem entre a temperatura de 1 e 7C, conforme recomendado na literatura

    (NASCIMENTO, 2002). No momento e local das coletas de efluente, foram tomadas

    medidas de pH (pHmetro digital, marca Metller-Toledo), de oxignio dissolvido e

    temperatura (oxmetro digital, marca Metller-Toledo), e da salinidade (refratmetro tico,

    marca Atago).

    Das amostras foram efetuadas anlise dos parmetros: DBO5, fosfato, nitrognio amoniacal e

    slido totais em suspenso, no Laboratrio de Meio Ambiente da Escola Politcnica da

    Universidade Federal da Bahia (UFBA), seguindo-se a metodologia do Standard Methods for

    the examination of Water and Wastewater, 20th. Edition, 1998. Com as mesmas amostras

    foram efetuados testes de toxicidade a embries de ostras da espcie Crassostrea rhizophorae,

    no Laboratrio de Biologia Marinha do Instituto de Biologia da UFBA (LABIOMAR),

    utilizando protocolo estabelecido por Nascimento (1998).

    O teste de toxicidade consistiu na exposio dos organismos teste a solues de efluente nas

    seguintes concentraes: 4,6; 10,0; 22,0; 46,0 e 85%, pelo perodo de 24 horas e posterior

    verificao da ocorrncia de diferena entre as taxas de anormalidades obtidas em indivduos

    expostos gua do mar pura (controle) e nas diferentes diluies do efluente.

    A escolha dos embries de ostras, da espcie C. rhizophorae como organismo teste deveu-se

    ampla distribuio que essa espcie apresenta nos ecossistemas estuarinos da regio,

  • 6

    importncia na ecologia e economia local, pela elevada sensibilidade que a espcie apresenta

    presena de poluentes e existncia de protocolo de teste de toxicidade, estabelecido por

    Nascimento (1998).

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Testes de Toxicidade

    No viveiro SHE 14, os organismos-teste expostos s amostras de efluente da superfcie

    apresentaram taxas de anormalidade menores que aqueles expostos s amostras do fundo,

    porm, foi encontrada variao significativa (p< 0,05) apenas nas concentraes de (46 e 85

    %). No viveiro VE 02, novamente os organismos-teste expostos s amostras de efluente da

    superfcie apresentaram taxas de anormalidade menores que aqueles expostos s amostras do

    fundo, contudo, houve variao significativa (p < 0,05) apenas nas concentraes (4,6, 10,0 e

    22,0 %). No viveiro SHE 20, foi encontrada a mais elevada taxa de anormalidade dos

    organismos-teste entre os viveiros estudados na maior concentrao (85%), seguido de uma

    grande reduo na taxa de anormalidade na concentrao de 46,0%. Entretanto, em nenhuma

    concentrao testada houve variao significativa (p < 0,05) nas taxas de anormalidade entre

    os estratos de superfcie e fundo, como pode ser verificado na tabela 2 abaixo:

    Tabela 2 - Resultados dos testes de toxicidade para o efluente do viveiro SHE 14, da fazenda SOHAGRO.

    % de Anormalidade nos Organismos Teste

    (risco lquido ou benefcio lquido) Concentraes (%)

    Amostra 88,0 46,0 22,0 10,0 4,6

    S1 4.31 -9,54 -9,85 -9,23 -11,38

    S2 2.15 -6,46 -6,15 -6,77 -10,77

    S3 1.23 -8,62 -7,38 -9,23 -10,77

    Mdia 2,56

    -8,20

    -7,79

    -8,41

    -10,97

    F1 8.31 -1,54 -5,54 -3,08 -1,54

    F2 7.08 -0,92 -3,69 -0,92 -1,23

    F3 5.23 0,62 -1,54 8,0 -0,62

    Mdia 6,87

    -0,61

    -3,59

    1,33

    -1,13

    Fonte: dados da pesquisa. Mtodo estatstico Trimmed Spearman-Karber.

    Os valores da anormalidade positivos indicam um percentual de anormalidade acima do

    encontrado no controle (risco liquido positivo), os valores negativos indicam anormalidade

    abaixo do encontrado no controle (risco liquido negativo).

  • 7

    A anormalidade ocorrida nas amostras de fundo do Viveiro VE 02, nas concentraes de 22,

    10 e 4,6%, pode ser explicada pelos elevados valores de slidos totais em suspenso,

    encontrados nas amostras de fundo do efluente desse viveiro (Figura 6) que, segundo

    Nascimento (1998), compromete a sobrevivncia de embries de ostras j acima de 100mg.L-

    1.

    Tabela 3 - toxicidade para o efluente do viveiro VE 02, da fazenda VBM,

    % de Anormalidade nos Organismos Teste

    (risco lquido ou beneficio liquido) Concentraes (%)

    Amostra 85,0 46,0 22,0 10,0 4,6

    S1 16.81 14,81 -2,85 -1,99 3,99

    S2 17.66 11,97 0,57 -0,28 -3,70

    S3 15,75 5,70 -4,56 -5,41 2,56

    Mdia 15,75 10,82 -3,70 -2,56 0,95

    F1 39.60 19,09 22,51 12,54 11,40

    F2 17.09 13,96 19,09 17,38 14,53

    F3 49.57 31,05 29,06 28,21 18,23

    Mdia 35,42 21,36 23,55 19,37 14,72 Fonte: dados da pesquisa. Mtodo estatstico Trimmed Spearman-Karber.

    O clculo da CE50-24h, pelo mtodo estatstico Trimmed (Spearman-Karber) (Tabela 4) s foi

    possvel para as amostras do viveiro SHE 20, em razo da maior toxicidade encontrada na

    concentrao de 85%

    Tabela 4 - toxicidade para o efluente do viveiro SHE 20, da fazenda SOHAGRO,

    % de Anormalidade nos Organismos Teste

    (risco lquido ou beneficio liquido) Concentraes (%)

    Amostra CE50-24h 85,0 46,0 22,0 10,0 4,6

    S1 78,21 57.83 -0,85 -5,41 -5,70 -4,27

    S2 63,54 80.91 15,67 5,13 -3,70 -4,56

    S3 49,85 81.77 43,59 7,98 -2,28 -2,28

    Mdia 63,86 73,50 19,47 2,56 -3,89 -3,70

    F1 70,78 71.23 -0,57 -3,42 -4,84 -4,56

    F2 65,03 77.21 14,81 3,70 -4,27 -4,56

    F3 72,08 63.56 13,11 1,71 -4,27 -4,84

    Mdia 69,29 70,66 9,11 0,66 -4,46 -4,65 Fonte: dados da pesquisa. Mtodo estatstico Trimmed Spearman-Karber.

    Constatamos que viveiros que estocaram menor biomassa (SHE 20 e VE 02), foram aqueles

    cujos efluentes causaram maior taxa de anormalidade nos organismos-teste, contrariando a

    expectativa de que o efluente do viveiro que estocou maior biomassa (SHE 14) seria o

    causador de maior anormalidade. A anlise dessas ocorrncias sugere a hiptese de que as

  • 8

    maiores taxas de anormalidade nos organismos-teste, evidenciada nos viveiros SHE 20 e VE

    02, podem ser explicadas pela elevao dos valores da DBO no efluente de ambos e dos

    slidos totais em suspenso no viveiro VE 02, ambas justificadas pelo fornecimento da rao

    a lano nestes viveiros, ao contrrio da oferta do alimento em bandejas, praticada no viveiro

    SHE 14.

    A aplicao de teste estatstico de comparao de mdias das anormalidades entre os estratos

    de superfcie e fundo, considerando, em conjunto, os dados obtidos para todos os viveiros,

    no indicou variao significativa (p>0,05) na anormalidade, nas maiores concentraes

    estudadas dos efluentes (88, 85 e 46%), porm, mostrou uma variao significativa (p

  • 9

    amostras de fundo apresentaram valores inferiores a essa referncia, como pode ser verificado

    nas figuras 2 e 3 que se seguem:

    Variao do pH em viveiros na despesca

    7,2

    7,4

    7,6

    7,8

    8

    8,2

    8,4

    8,6

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    Amostras

    pH

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Variao do OD em viveiros na despesca

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    amostras

    OD

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Figura 1 - Variao do pH do efluente na despesca Figura 2 - Variao do OD do efluente na despesca

    A variao dos valores entre as coletas de gua de superfcie e de fundo possa possivelmente

    ser explicada pela maior biomassa de camaro, por unidade de volume, contida no viveiro no

    momento final da despesca. A elevao dos valores do OD ocorridas nas ultimas amostras dos

    viveiros SHE 14 e VE 02 de 2,2 para 2,7mg.L-1

    e de 4,0 para 4,8mg.L-1

    , respectivamente, foi

    ocasionada pela introduo de gua nova nos viveiros nos momentos finais da despesca, por

    motivo de os camares estarem nadando na superfcie, sob risco de morte por anoxia.

    Os resultados das medies de pH e OD, efetuados no campo no momento da coleta das

    amostras, apresentam comportamento semelhante a resultados de ciclos dirios desses

    parmetros, obtidos em outros ambientes aquticos de cultivo (BOYD, 1997).

    Com exceo de uma amostra de superfcie do viveiro SHE 14, todas as outras amostras de

    efluentes de superfcie e fundo, submetidas anlise da DBO5, apresentaram valores acima do

    limite mximo estabelecido pelo CONAMA para efluentes (5,0mg.L-1

    ). Os viveiros SHE 20 e

    VE 02, onde a rao foi distribuda a lano, apresentaram valores mais altos de DBO, que no

    viveiro SHE 14, onde a oferta do alimento se deu em bandejas. Esse fato contribui para

    corroborar a hiptese apresentadas por Boyd (1994) e Ostrensky (2002) de que o

    fornecimento da rao em bandejas se constitui numas das prticas de manejo, com melhor

    repercusso sobre a qualidade da gua do viveiro, representando um menor risco ambiental,

    no momento da despesca.

  • 10

    Variao da DBO em viveiros na despesca

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    Amostras

    DB

    O (

    mg

    .L-1

    )

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Variao do fosfato em viveiro na despesca

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    Amostras

    fos

    fato

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Figura 3 - Variao da DBO do efluente Figura 4 - Variao do fosfato do efluente na despesca na despesca

    A anlise de fosfato das 18 amostras dos viveiros, revelou que doze dessas apresentaram

    valores abaixo do recomendado pela GAA (0,3mg.L-1

    ) - o CONAMA no estabelece - e seis

    apresentaram valores acima deste limite (Figura 4).

    Em todos os viveiros, de forma clara nos viveiros SHE 14 e VE 02 e de forma discreta no

    viveiro SHE 20, os teores de fosfato apresentaram-se mais altos nas amostras de fundo, que

    nas de superfcie. Boyd (1994), estudando efluentes de fazendas de catfish, encontrou taxas

    mais elevadas da DBO e fosfato em guas de fundo de viveiros do que de superfcie.

    Variao do nitrognio amoniacal em viveiro na despesca

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    Amostras

    N.

    am

    on

    iac

    al

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Variao do slidos em suspenso em viveiro na despesca

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    S1 S2 S3 F1 F2 F3

    Amostras

    ST

    S (

    mg

    .L-1

    )

    SHE 14

    SHE 20

    VE 02

    Figura 5 - Variao do nitrognio amoniacal Figura 6 - Variao dos Slidos em suspenso

    do efluente na despesca do efluente na despesca

    Das 18 amostras de efluentes, dos trs viveiros, submetidas anlise de nitrognio amoniacal,

    apenas trs, provenientes da superfcie do viveiro SHE 14 apresentaram valores superiores ao

    limite estabelecido pelo CONAMA para efluentes ( 0,4mg.L-1) (figura 5). A variao dos

    valores encontrados para o nitrognio entre os estratos de superfcie e fundo nos viveiros

    estudados, com elevao dos valores em todas as amostras de fundo, pode estar associada s

    diferenas de biomassa, por unidade de rea, estocados nos viveiros e aos diferentes manejos

    alimentares aplicados.

  • 11

    Dentre os viveiros amostrados, apenas o SHE 20 apresentou valores de slidos em suspenso

    de superfcie e fundo abaixo do valor recomendado pela GAA ( 50mg. L-1), visto que o

    CONAMA no estabelece limite para esse parmetro. Os viveiros SHE 14 e VE 02

    apresentaram nas amostras de superfcie valores discretamente abaixo ou acima do padro

    estabelecido pela GAA, contudo, os valores de fundo encontrados nos mesmos viveiros,

    superaram em muito esse limite. Os elevados valores para slidos em suspenso encontrados

    no viveiro VE 20 no podem ser explicados com as informaes coletadas neste estudo,

    porm os valores mais elevados encontrados no SHE 14 em relao ao SHE 20, explicam-se

    pela maior biomassa de camaro colhida no primeiro (Tabela 1).

    A variao dos valores do fosfato, nitrognio amoniacal e slido em suspenso entre a

    superfcie e o fundo encontrados nos viveiros estudados, corrobora a hiptese da ocorrncia

    de diferena entre a qualidade da gua entre estratos de superfcie e de fundo dos viveiros de

    camaro.

    CONCLUSES

    O teste de toxicidade com embries de ostras se mostrou capaz de detectar anormalidades nos

    organismos expostos, por 24 horas, aos efluentes de viveiros de camaro, mesmo quando

    esses efluentes apresentaram caractersticas fsico-qumicas dentro dos padres especificados

    na legislao. Indicadores fsico-qumicos de qualidade de efluente de viveiro de camaro,

    isoladamente, se mostraram inadequadas para avaliao dos possveis impactos de lanamento

    do efluente no corpo receptor. Os resultados deste estudo comprovam a necessidade de

    tratamento prvio dos efluentes da atividade camaroneira, ao menos para a reduo do DBO,

    antes de seu lanamento no corpo receptor.

    Foi constatada a ocorrncia de melhor qualidade da gua no estrato de superfcie que no

    estrato de fundo dos viveiros de camaro, no decorrer da drenagem. Estes estudos devem ser

    ampliados para verificar a possibilidade de reutilizao da gua do estrato de superfcie dos

    viveiros de camaro e tratamento apenas da gua do fundo, contribuindo para a reduo do

    impacto do lanamento do efluente no ambiente.

  • 12

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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