16
1 VERDADEIROS MEDOS E FALSAS CONFIANÇAS: PERCEPÇÃO DE RISCO NUMA ÁREA DE ELEVADA PERIGOSIDADE NATURAL Eduardo BRITO HENRIQUES Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa [email protected] Margarida QUEIRÓS Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa [email protected] Resumo A publicação do célebre Risk Society. Towards a New Modernity de Ulrich Beck há já uma dezena e meia de anos atrás chamou a atenção para o facto de as sociedades da modernidade tardia se caracterizarem, comparativamente às sociedade da “primeira modernidade” e mais ainda às sociedades tradicionais, por uma muito maior exposição aos riscos, e sobretudo a riscos muito mais diversos, não apenas já naturais, mas também tecnológicos, resultantes do próprio progresso. Argumentava-se ainda nessa obra que tudo isto tivera como consequência a geração de uma nova visão da própria vulnerabilidade humana e uma alteração profunda na percepção dos riscos. O aumento do interesse pelo estudo dos riscos, muito visível na Geografia, mas que se estende a outras áreas disciplinares, decorre, em larga medida, deste novo contexto societal e ideológico. Porém, tudo isso se tem traduzido até agora muito mais num esforço com vista à determinação objectiva dos riscos (quantificação da perigosidade e da exposição humana a esses perigos) do que propriamente ao estudo de como eles são avaliados e integrados na prática de vida das populações. E, todavia, um bom conhecimento destas percepções seria fundamental para que se pudessem implementar acções preventivas e mitigadoras destinadas a aumentar os níveis de segurança das populações. É para esse objectivo que contribui o presente texto. A sua finalidade é, a partir de um inquérito realizado junto de cerca de 500 residentes, dar a conhecer o modo como a população do Algarve, que reconhecidamente constitui simultaneamente uma área de intensa procura turística e de elevada perigosidade sísmica, concebe esse perigo e como o hierarquiza no quadro dos muitos outros que a sociedade de risco nascida da modernidade tardia comporta.

Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

Embed Size (px)

DESCRIPTION

artigo académico

Citation preview

Page 1: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

1

VERDADEIROS MEDOS E FALSAS CONFIANÇAS: PERCEPÇÃO DE

RISCO NUMA ÁREA DE ELEVADA PERIGOSIDADE NATURAL

Eduardo BRITO HENRIQUES Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa

[email protected]

Margarida QUEIRÓS Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa

[email protected]

Resumo

A publicação do célebre Risk Society. Towards a New Modernity de Ulrich Beck há já

uma dezena e meia de anos atrás chamou a atenção para o facto de as sociedades da

modernidade tardia se caracterizarem, comparativamente às sociedade da “primeira

modernidade” e mais ainda às sociedades tradicionais, por uma muito maior exposição aos

riscos, e sobretudo a riscos muito mais diversos, não apenas já naturais, mas também

tecnológicos, resultantes do próprio progresso. Argumentava-se ainda nessa obra que tudo

isto tivera como consequência a geração de uma nova visão da própria vulnerabilidade

humana e uma alteração profunda na percepção dos riscos.

O aumento do interesse pelo estudo dos riscos, muito visível na Geografia, mas que se

estende a outras áreas disciplinares, decorre, em larga medida, deste novo contexto societal e

ideológico. Porém, tudo isso se tem traduzido até agora muito mais num esforço com vista à

determinação objectiva dos riscos (quantificação da perigosidade e da exposição humana a

esses perigos) do que propriamente ao estudo de como eles são avaliados e integrados na

prática de vida das populações. E, todavia, um bom conhecimento destas percepções seria

fundamental para que se pudessem implementar acções preventivas e mitigadoras destinadas a

aumentar os níveis de segurança das populações.

É para esse objectivo que contribui o presente texto. A sua finalidade é, a partir de um

inquérito realizado junto de cerca de 500 residentes, dar a conhecer o modo como a população

do Algarve, que reconhecidamente constitui simultaneamente uma área de intensa procura

turística e de elevada perigosidade sísmica, concebe esse perigo e como o hierarquiza no

quadro dos muitos outros que a sociedade de risco nascida da modernidade tardia comporta.

Page 2: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

2

Palavras-chave: riscos, vulnerabilidades, sociedade de risco, percepção de risco, população

residente, Algarve.

Abstract

The Ulrich Beck’s Risk Society, Towards a New Modernity (first published in German

in 1986 and translated into English in 1992) is one of the most influential books on social

analysis in the late twenties as the author demonstrate a theory about a distinctive form of

society ("risk society'') that includes a specific perspective on the way in which we experience

risks to health and the environment today. Modern society is exposed to a particular type of

risk (manufactured risks) that is the result of the modernization process itself. Because

manufactured risks are the product of human activity, there is the potential to assess the level

of risk that is being produced. Social relations have changed with the introduction of

manufactured risks and reflexive modernization: modern society has become a risk society in

the sense that it is increasingly occupied with debating, preventing and managing risks that it

has produced.

Geography, as other social sciences, is concerned about risks in society mainly as a

result of this new narrative of risk. Nevertheless the focus has been much more about findings

concerning the objective population exposition on risks (e.g. calculating probable risks) than

about how the risks are assessed and integrated in the populations’ daily life. An objective

knowledge of these perceptions would be basic to implement preventive action, mitigate risks

and raise the populations’ levels of security.

The present paper focus on this goal from a research instrument, a questionnaire,

consisting of a series of questions and other prompts for the purpose of gathering information

from about 500 inhabitants, in this case about risk perception. The geographical search area is

Algarve, Portugal, as it is known as a contemporary touristic sun and sea destination but also

a powerful seismic hazard area.

Key-words: risk, vulnerability, risk society, risk perception, population, Algarve.

Page 3: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

3

1. Introdução

1.1 Tema e objectivo

As duas últimas décadas representaram um período de viragem no modo como

cientistas e autoridades passaram internacionalmente a entender as catástrofes. A ideia da

catástrofe como uma inevitabilidade a que apenas se pode responder por intermédio do

planeamento de emergência pertence ao passado. Hoje a essa visão semi-fatalista e reactiva

contrapõe-se uma outra perspectiva baseada no direito à segurança ambiental, o que pressupõe

toda uma nova agenda científica e política destinada a reduzir os riscos a que as populações

estão sujeitas.

O estudo dos riscos representa até certo ponto a recuperação de uma preocupação

humanista, ao recolocar o ser humano no centro da atenção científica e ao procurar que a

integridade física e o bem-estar das pessoas apareçam como a finalidade última da reflexão. O

estudo dos riscos não pode por isso ser circunscrito apenas à determinação dos factores

desencadeantes de acidentes e à descrição dos processos pelos quais se dão. O perigo existe

sempre e apenas por referência a um alvo no qual se possa eventualmente fazer sentir. Daí que

a actual teoria dos riscos enfatize não apenas a necessidade de conhecermos bem o

funcionamento dos sistemas naturais, sociais e tecnológicos por forma a podermos prever a

ocorrência de acidentes e antecipar o seu curso, mas também as características das populações

que estão em risco, designadamente o seu grau de exposição aos perigos, vulnerabilidade e

resiliência (Alexander, 2000; Dayton-Johnson, 2004).

O conceito de vulnerabilidade nem sempre tem sido definido de forma exactamente

semelhante. Abundam na literatura as definições de vulnerabilidade, mesmo quando usado

neste campo de aplicação mais estrito que é o estudo dos riscos (cf. Thywissen, 2006).

Genericamente, porém, é mais ou menos consensual que a vulnerabilidade diz respeito à

capacidade que as pessoas e os grupos têm de anteciparem, lidarem com, resistirem e

recuperarem dos acidentes. Este entendimento da vulnerabilidade implica portanto que no

estudo dos riscos se “desloque o foco das dinâmicas biofísicas dos eventos para a produção

social, económica e política do ambiente”, uma vez que é também em função da forma como

se organizam as sociedades e dos recursos de que as pessoas dispõem para fazer face às

adversidades, que se devem as maiores ou menores consequências dos acidentes (Hogan &

Marandola Jr., 2005: 463).

Na avaliação da vulnerabilidade pode-se assumir uma abordagem mais sociocêntrica, ou

mais psicocêntrica. Ambas são necessárias. As abordagens que se centram mais na dimensão

societal são sobretudo importantes para avaliar a capacidade das populações resistirem ao

Page 4: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

4

impacto dos acidentes e recuperarem deles. As abordagens que se focam essencialmente na

percepção do perigo e nas representações mentais dos riscos, por seu turno, ajudam a perceber

a capacidade que as populações têm de anteciparem e de lidarem com os riscos, e isso importa

pois é em larga medida com base nestas questões de carácter intersubjectivo que as pessoas

tomam decisões susceptíveis de as colocarem numa situação de maior ou menor exposição

aos perigos. Assim, no contexto da "modernidade reflexiva" (Beck, 1992; 2000), onde

consideramos que a partir de novos argumentos gerados pelos impactos da perspectiva do

risco, novos padrões cognitivos se desenham para nortear tomadas de decisões, abrangendo

desde as mais amplas às mais quotidianas.

No estudo que de seguida se apresenta foi à análise desta última dimensão que

consagrámos a nossa atenção. O objectivo consistiu em estudar a percepção e o grau de

internalização da noção de risco pela população residente no Algarve. Partindo do princípio

de que a consciência de perigo pode ajudar a elevar os níveis de segurança das populações, ao

justificar a correcção de possíveis práticas desadequadas e a tomada de medidas de

acautelamento e de prevenção de eventos potencialmente danosos, procurámos averiguar até

que ponto essa ideia de risco está ou não incorporada pela população residente no Algarve, e

como varia essa percepção em função dos vários tipos de riscos. O Algarve é, na verdade,

uma das regiões portuguesas que maior dinamismo demográfico registou nos últimos

decénios, como resultado de um forte desenvolvimento do turismo e do imobiliário. Entre

1991 e 2001, a população residente no Algarve aumentou 15,8%, contra uma variação média

de 5% no conjunto do país, e as estimativas do INE para meados do presente decénio indicam

o prosseguimento desta tendência de crescimento, ao sugerirem que de 2001 para 2006 a

população terá aumentado de novo em 6,2%, ou seja, em mais 26 310 novos residentes. Muito

deste crescimento deve-se aos saldos migratórios positivos que a região tem mantido com o

resto do país, e mesmo até a um reforço da sua atractividade no plano internacional como

destino de migrações laborais e de reforma. O Algarve, não obstante, é também das parcelas

do território português que maior perigosidade natural apresenta, sobretudo sísmica, pelo que

se explica plenamente que se procure avaliar a percepção de risco pela população nesta região

(cf. Zêzere et al, 2006): tomando como referência Portugal Continental, “A distribuição

espacial das intensidades sísmicas máximas, com base tanto na sismicidade histórica como na

sismicidade instrumental, mostra que os valores mais elevados são atingidos no Sudoeste de

Portugal, nomeadamente no Algarve e na Região de Lisboa e Vale do Tejo (ibid.: 5). O

Algarve é, além disso, a crer na experiência histórica, a região de Portugal Continental com

maior susceptibilidade de tsunamis, cuja génese nesta área da Península Ibérica está associada

Page 5: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

5

à ocorrência de sismos violentos com epicentro no mar, além de possuir algumas das áreas

mais susceptíveis à erosão marinha e à ocorrência de cheias rápidas (ibid.: 14).

1.2 Método de pesquisa e amostra

Para o desenvolvimento deste estudo procedemos à realização de uma pesquisa

extensiva, com administração face-a-face de um inquérito à população residente no Algarve.

O inquérito foi realizado entre 22 e 30 de Janeiro de 2008 e abrangeu uma amostra de 512

pessoas, cobrindo a totalidade dos concelhos da região (pelo menos 20 inquéritos em cada um

deles).

Não se utilizou nenhum método probabilístico sistemático na recolha dos elementos da

amostra. A amostragem baseou-se na interpelação ao acaso na rua, o que, não obstante o

número muito aceitável de inquéritos realizado (que colocaria a amostra em níveis de

confiança de 99,9%, para limites de erro de ± 2,5), impõe que se tenha algum cuidado na

extrapolação dos resultados para o universo em estudo.

Ainda a respeito das características da amostra, deve dizer-se que ela apresenta um

pequeno enviesamento por sobrerrepresentação dos elementos de sexo feminino. As

mulheres, que no conjunto da população algarvia representavam 50,5% em 2001, estão

presentes na amostra recolhida numa proporção de 54,3%. O método usado na selecção dos

elementos da amostra também explica que haja uma representação ligeiramente exagerada da

população em idade activa, pelo menos tendo por termo de comparação os dados dos últimos

censos, enviesamento esse que parece dever-se sobretudo a uma subrepresentação da

população jovem: em 2001, a população idosa correspondia no conjunto da região a 18,7%

dos residentes e os jovens (população com menos de 15 anos) a 13,1%; na amostra recolhida

em 2007, os idosos correspondem a apenas 15,4% e a população com menos de 20 anos

corresponde a uns escassos 5,7%.

2. Sentimento de segurança e percepção de risco na população algarvia: análise dos

resultados do inquérito

2.1. A ideia de risco e o sentimento de segurança

Para avaliarmos os níveis de segurança percebida da população em estudo iniciámos o

inquérito com uma questão genérica em que pedíamos aos inquiridos que qualificassem como

se sentem no dia-a-dia tendo em consideração os diversos riscos que correm. O objectivo era

perceber até que ponto a população algarvia tinha incorporada uma ideia de risco difuso.

Eram dadas aos inquiridos seis hipóteses de resposta, correspondendo a diferentes níveis

Page 6: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

6

ordinais numa hierarquia do sentimento de risco, desde o “extremamente seguro” (6) ao

“extremamente inseguro” (1).

Figura 1 – Sentimento de segurança experimentado no dia-a-dia numa amostra de população residente no

Algarve

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Extremamenteinseguro

Bastante a muitoinseguro

Relativamenteinseguro

Relativamenteseguro

Bastante a muitoseguro

Extremamenteseguro

%

Fonte: Recolha e elaboração própria (inquérito realizado em 2007)

Os resultados obtidos nesta questão, para a qual foram apuradas 512 respostas válidas,

parecem sugerir que não existe uma percepção alargada de perigo entre a população inquirida

(Figura 1). É um facto que os casos de sentimentos de grande conforto psicológico,

associados a uma ideia de extrema ou elevada segurança, são minoritários, não chegando a

abarcar um terço da população que fez parte da amostra. Não obstante, se olharmos para as

respostas agrupando os inquiridos em dois conjuntos, um compreendendo todos os que

sentem entre o “relativamente inseguro” e o “extremamente inseguro”, e um outro abarcando

os que se situam entre o “relativamente seguro” e o “extremamente seguro”, verificamos que

este segundo grupo concentra 72,4% das pessoas inquiridas. As frequências obtidas

distribuem-se entre as várias modalidades de resposta segundo uma curva unimodal de

assimetria negativa, centrada na categoria correspondente aos valores de segurança médios,

pelo que, em termos gerais, se pode dizer que há um sentimento de segurança mais ou menos

difuso entre a população, apenas não partilhado por um grupo que não chega a ser composto

por um terço dos inquiridos.

Quisemos saber se há algum perfil sociográfico especialmente associado a essa minoria

de habitantes que experimentam sentimentos de insegurança mais agudos. Pretendíamos

Page 7: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

7

concretamente saber se é possível estabelecer alguma relação entre o sentimento de segurança

experimentado e as características da população. Uma hipótese que se podia levantar era a de

variáveis como o sexo e a idade poderem estar na origem de percepções diferentes de risco,

por colocarem as pessoas em diferentes situações de vulnerabilidade. Por outro lado,

imaginámos que o capital cultural, medido através das habilitações literárias, pudesse

eventualmente contribuir também para uma maior ou menor consciencialização dos perigos a

que as pessoas estão sujeitas e, logo, para percepções variáveis destas quanto aos riscos que

correm quotidianamente. Essas hipóteses tinham aliás o respaldo de alguns estudos

internacionais onde parecem ter sido detectadas relações deste tipo, embora sem uma

confirmação que permitisse falar de consenso (cf. Sjöberg et alli, 2004). Os dados recolhidos,

porém, não permitiram comprovar estas hipóteses, antes pelo contrário. O grau de associação

entre o sexo e os níveis de confiança sentidos pela população no seu quotidiano, medido

através do teste V de Cramer, deu valores muito baixos, próximos do zero, ao mesmo tempo

que a interpretação do coeficiente λ demonstra que não é possível prever a existência de um

maior ou menor sentimento de segurança em função do sexo (Quadro 1).

Quadro 1 – Grau de associação entre o sentimento de segurança experimentado no dia-a-dia, o sexo, a

idade e as habilitações literárias numa amostra de população residente no Algarve

Sentimento de segurança vs: Sexo Idade Habilitações literárias

Graus de liberdade 5 30 25 Qui-quadrado 14,509 39,552 25,352 Teste V de Cramer 0,169 0,125 0,100 Coeficiente λ 0,029 0,034 0,026

Fonte: Recolha e elaboração própria (inquérito realizado em 2007)

A idade não manifestou ser uma variável mais relevante para as diferenças na avaliação

dos riscos que as pessoas correm no dia-a-dia. O teste V de Cramer foi neste caso ainda mais

baixo do que o obtido no cruzamento entre os níveis de segurança percebida e o sexo,

verificando-se que a possibilidade de prever um maior ou menor sentimento de segurança em

função da idade é praticamente nula (λ = 0,034). Mas mais baixo ainda foi, finalmente, o grau

de associação que se pôde obter com as habilitações literárias.

A ausência de uma relação entre os níveis de segurança sentidos ou percebidos

quotidianamente pelas pessoas e as suas características sociográficas parecem sugerir que a

percepção de risco se constrói a partir de elementos muito mais complexos, que têm a ver

com as idiossincrasias ou particularidades das pessoas, as suas biografias, as experiências

Page 8: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

8

mais ou menos traumáticas por que passaram, o próprio estado de espírito do momento, etc.

Está portanto longe de ser algo que se possa deduzir de forma mais ou menos mecânica a

partir das características demográficas ou da posição social da pessoa. Esta ausência de

relação, porém, poderá também ser vista como um argumento em favor das explicações da

percepção do risco mais baseadas no paradigma culturalista que no paradigma psicométrico

(cf. Queirós et alli, 2007); parece ter a ver mais com as “visões do mundo” que as pessoas

partilham do que com qualquer outra coisa (cf. Sjöberg, 1998; Oltedal et alli, 2004). Na

verdade, a relativa homogeneidade nas respostas parece ir em favor da ideia de que a

percepção é uma construção social que deve bastante ao ambiente institucional e à cultura

local que envolve os agentes e que constitui o meio em que estes se movem.

2.2. Tipos de acidente e percepção de perigo

Quisemos averiguar até que ponto a percepção de risco era variável em função do tipo

de risco, e que acontecimentos potencialmente perigosos constituíam para a população

algarvia maior motivo de preocupação. Para tal, o questionário continha uma pergunta em que

se pedia aos inquiridos que avaliassem o grau de preocupação que lhe suscitava cada um dos

elementos constantes de uma lista de 23 potenciais perigos (naturais, tecnológicos e sociais),

medindo-se essa preocupação numa escala ordinal de 6 níveis (de 1 – “não me preocupa

nada” – a 6 – “preocupa-me imensamente”).

O Quadro 2 sintetiza os resultados a que se chegou. Percebe-se da sua análise que a

preocupação que suscitam os diversos perigos é bastante variável. É um facto que quando

questionados sobre o grau de preocupação que os problemas em concreto originam neles, os

inquiridos raramente responderam com níveis baixos. Todos os perigos referidos obtiveram

por isso níveis de preocupação médios superiores a 3. Ainda assim, embora num quadro de

preocupação mais ou menos assumida por qualquer dos perigos citados, há diferenças muito

sensíveis entre eles. Num extremos estão os aluimentos de terra (movimentos de vertente) e as

rupturas ou rebentamentos de barragem, que foram os únicos perigos citados a respeito dos

quais mais de 50% da população inquirida afirmou preocupar-se “pouco”, “muito pouco” ou

“nada”. No outro extremo encontram-se os incêndios, a criminalidade, os acidentes

rodoviários, a poluição da água e a poluição atmosférica, que provocam pelo menos

“bastante” preocupação entre 80% dos inquiridos.

Page 9: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

9

Quadro 2 – Grau de preocupação suscitado por perigos vários numa amostra da população residente no Algarve (n= 512)

Frequências (%) de respostas nas categorias

1 2 3 4 5 6

Não me preocupa

muito pouco pouco bastante muito Preocupa-me

imensamente

Grau de preocupação

(média)

Aluimentos de terra 12,3 16,4 23,2 24,2 15,0 8,9 3,4 Ruptura de barragens 14,1 15,3 21,4 17,7 16,3 15,3 3,5 Ciclones 11,5 12,9 21,7 21,7 16,2 16,0 3,7 Acidentes industriais 8,1 15,6 23,0 21,5 15,6 16,3 3,7 Tsunamis 14,4 14,4 17,8 16,8 13,0 23,6 3,7 Acidentes domésticos 6,0 13,6 24,6 26,1 15,3 14,4 3,7 Acidentes nucleares 13,3 15,3 17,9 14,3 11,6 27,6 3,8 Erosão da costa 6,8 10,2 19,7 31,3 18,2 13,8 3,9 Afogamento 8,4 13,4 16,2 23,2 15,5 23,4 3,9 Guerras 12,0 14,7 14,9 12,7 12,0 33,7 4,0 Cheias 6,4 9,3 18,9 24,3 20,5 20,5 4,0 Pesticidas/transgénicos 5,3 6,3 23,2 25,6 16,2 23,4 4,1 Sismos 5,5 7,6 18,5 25,9 18,5 24,0 4,2 Resíduos perigosos 4,8 7,4 15,1 29,5 20,6 22,5 4,2 Terrorismo 8,6 12,2 13,4 14,4 16,3 35,2 4,2 Doenças (pandemias) 3,6 15,1 14,8 15,8 16,5 34,2 4,3 Seca 2,1 4,3 14,6 32,0 22,0 25,1 4,4 Aquecimento global 3,1 3,3 15,3 26,3 20,5 31,5 4,5 Poluição atmosférica 2,9 3,8 10,7 29,6 21,2 31,7 4,6 Poluição da água 2,4 4,5 10,0 26,3 22,7 34,1 4,6 Acidentes rodoviários 1,9 5,0 10,7 24,3 24,0 34,0 4,7 Criminalidade 2,4 4,3 11,4 20,7 21,7 39,5 4,7 Incêndios 2,4 3,1 8,8 21,7 24,1 39,9 4,8

Fonte: Recolha e elaboração própria (inquérito realizado em 2007)

Para percebermos melhor a “estrutura dos medos” da população e as suas atitudes em

face dos vários riscos aplicámos uma taxionomia numérica aos padrões de resposta obtidos

para cada um dos perigos enunciados. O dendograma da Figura 2 mostra os resultados obtidos

na aplicação dessa metodologia, onde utilizámos a distância euclidiana como medida de

semelhança e a classificação hierárquica ascendente como medida de agrupamento. No nível

de corte A, que corresponde às maiores diferenças, percebe-se que os principais contrastes se

estabelecem entre, por um lado, os perigos naturais, percebidos como mais inevitáveis e

incontroláveis (isto é, mais independentes da vontade ou da acção humana), e, por outro lado,

todos os outros. Incluem-se nesse primeiro grupo os sismos, tsunamis, cheias, ciclones, a

erosão marinha, os aluimentos de terra e o rebentamento de barragens; este último, que na

verdade constitui um acidente tecnológico e deveria por isso aparecer mais ligado aos

acidentes industriais, integra-se neste grupo por ser percebido como um acidente de origem

não humana, até pelas suas estreitas relações com os eventos sísmicos.

Page 10: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

10

Figura 2 – Grau de preocupação suscitado por perigos vários numa amostra da população residente no

Algarve: proximidade nos padrões de resposta

Fonte: Recolha e elaboração própria (inquérito realizado em 2007)

Descendo o corte para o nível B, o dendograma passa a evidenciar sete agrupamentos de

perigos. O grupo dos perigos naturais desagrega-se a este nível em três subgrupos, a que

correspondem graus de preocupação diferenciados e, sobretudo, diferenças nos padrões de

resposta entre as pessoas inquiridas. Aparece então um primeiro conjunto formado pelos

acidentes naturais que em princípio se julgarão potencialmente mais danosos (em extensão),

ou mais incontroláveis, como os sismos, tsunamis, cheias e ciclones. Comparativamente aos

outros riscos naturais, suscitam níveis de preocupação em média mais elevados. Apresentam

no entanto alguma disparidade de reacções na população, como se percebe pelo facto dos

coeficientes de variação das respostas serem para os acidentes que formam este grupo

superiores aos dos outros riscos naturais (na ordem dos 40%): há pessoas que parecem

revelar-se sensíveis a este tipo de perigos, outras manifestam uma clara despreocupação. Os

aluimentos de terras e a erosão marinha juntam-se num segundo conjunto a que correspondem

Page 11: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

11

níveis de preocupação mais baixos, provavelmente por estarem associados a acidentes

localizados, e por fim aparecem autonomizadas num grupo à parte as rupturas de barragens, a

respeito das quais se obteve um número de não respostas mais elevado, e que parecem não

configurar por tudo isso uma preocupação evidente entre a população.

Ainda ao nível do corte B, nos perigos que se podem classificar como tecnológicos,

sociais ou ambientais, individualizam-se quatro conjuntos. A origem da responsabilidade é a

variável que parece explicar que a eles se associem atitudes diferenciadas por parte da

população. Aparentemente, não é o grau de danos que o evento pode suscitar, nem a

interferência mais ou menos directa que pode ter na saúde ou no bem-estar pessoal do

inquirido, mas a maior ou menor dificuldade em controlar a sua ocorrência, que determina a

maior ou menor apreensão por ele suscitada. Quanto mais difusa, no sentido de mais dispersa

e colectiva é a presumível causa do perigo, maiores tendem a ser os níveis de preocupação

que ele sugere. Por outro lado, os dados parecem indicar que há pessoas que tendem a

valorizar os perigos que resultam mais do exercício do seu quotidiano, e outras que

manifestam níveis de preocupação mais elevados com os perigos que decorrem de

responsabilidade de outros, pois enquanto os acidentes domésticos e os afogamentos se

associam entre si num grupo, os acidentes industriais e nucleares se agrupam num outro.

Entre os perigos de origem difusa, é possível distinguir os que têm um âmbito mais

social, ou seja, que decorrem directamente das relações que se estabelecem entre as pessoas, e

os de natureza ambiental, que nas representações mentais dos riscos também aparecem com

uma génese ou responsabilidade humana, mas que se exprimem e são propagados através dos

sistemas naturais. Ambos apresentam níveis de preocupação que estão entre os mais elevados

de todos; são, uns e outros, os que mais parecem inquietar as pessoas. Há no entanto

diferenças na forma como se exprimem na população. Os perigos sociais – a criminalidade, o

terrorismo, as guerras e as pandemias – têm respostas mais díspares; a preocupação que

geram na população não é consensual. Os perigos ambientais, pelo contrário, além de

aparentarem ser aqueles para que as populações estão mais sensibilizados, são também

aqueles a respeito dos quais a preocupação é mais consensual, como se comprova pelo facto

dos coeficientes de variação obtidos nas respostas a respeito do grau de preocupação com

estes perigos serem de todos os mais baixos (entre 20 e 30%). Interessante é ainda constatar o

facto dos acidentes rodoviários aparecerem associados na estrutura das respostas aos riscos

ambientais, e não aos riscos de responsabilidade facilmente definível como são os restantes

acidentes.

Page 12: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

12

A análise da informação recolhida leva-nos a concluir, em suma, que há muito por fazer

ainda na sensibilização da população residente no Algarve para os riscos naturais. Não há

claramente uma percepção adequada da perigosidade que pode envolver a erosão marinha ou

os movimentos de vertente, tal como não parece haver uma noção apropriada a respeito do

grau de exposição que existe a perigos como a de um sismo ou de uma cheia. A insuficiente

internalização de uma ideia de risco associada a estes acidentes é algo que impede que se

evolua para uma cultura de maior exigência das populações em matéria de ordenamento do

território; e é algo, de resto, que se pode opor também ao desenvolvimento de uma atitude de

efectiva prevenção do risco, impedindo que se reduzam por essa via as vulnerabilidades da

população.

O que acabámos formular tem corroboração nas respostas que obtivemos quando

perguntámos à população que probabilidade haveria de ocorrer cada um dos referidos

acidentes naturais nos horizontes de um, dez e cinquenta anos. A dificuldade que os

inquiridos manifestaram na resposta a esta questão, traduzida em elevadas taxas de não

resposta e numa forte incidência de respostas nas modalidades de categoria intermédia, que

são sempre um escape para a indecisão, constituem em si mesmos indicadores da ausência de

uma ideia clara acerca do risco que se corre.

De entre os eventuais perigos referidos, os sismos foram os que os inquiridos

considerarem mais prováveis de ocorrer (Figura 3): 27,5% dos inquiridos admitiam que a

hipótese de ocorrer um sismo num horizonte de um ano era muitíssimo elevada, de 80% ou

mais; 31,8% das pessoas achava que era essa a probabilidade num horizonte de dez anos, e

38,7% num horizonte de 50 anos. Sugere isto, portanto, que haverá uma parte da população

fortemente consciente da perigosidade sísmica do Algarve (no fundo, os que consideram

como quase certo que um sismo possa ocorrer no horizonte curto de um ano), mas para a

maioria dos inquiridos esse parece ser apesar de tudo um risco mais ou menos remoto: note-se

que só 38,7% das pessoas considerava muito provável (80% de probabilidade ou mais) que

um sismo pudesse ocorrer nos próximos 50 anos, e 48,7% se considerássemos uma

probabilidade superior a 60%.

Para o risco de cheias e de erosão da costa, a sensibilidade da população é ainda menor.

No caso das cheias, 17% dos inquiridos consideravam muito improvável que uma cheia

pudesse ocorrer no ano subsequente (probabilidade inferior a 20%), contra 15,8% que

considerava muito provável que isso sucedesse (probabilidade de 80% ou mais); mesmo num

horizonte de 50 anos, só 23,8% dos inquiridos admitia que a probabilidade de ocorrer um

acidente deste género fosse superior a 80%. Especialmente grave, contudo, é a desinformação

Page 13: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

13

que parece haver em relação à erosão marinha, claramente subestimada pela população

residente no Algarve: só 18% dos inquiridos parece compreender que se trata de um

fenómeno em curso, uma vez que foi essa a percentagem de pessoas que consideraram muito

provável que isso sucedesse no decurso do ano subsequente, e mesmo para um horizonte de

50 anos, só 28,3% dos inquiridos.

Figura 3 – Probabilidades estimadas de ocorrência de alguns acidentes naturais segundo a opinião de uma

amostra da população residente no Algarve

Sismos Tsunamis

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

Ciclones Aluimentos de terras

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

Cheias Erosão marinha

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

05

1015202530354045

[0-20[ [20-40[ [40-60[ [60-80[ [80-100] NS/NR

Classes de probabilidade (%)

%

1 ano

10 anos

50 anos

Fonte: Recolha e elaboração própria (inquérito realizado em 2007)

Aluimentos de terras, tsunamis e ciclones, por fim, são riscos que as pessoas residentes

no Algarve desprezam claramente, ou por não lhes atribuírem perigosidade (provavelmente o

caso dos aluimentos de terra), ou por os considerarem riscos muito remotos, a que a Região

do Algarve se não encontra muito exposta.

Page 14: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

14

3. Conclusão

Vivemos num contexto global. As informações sobre riscos, mesmo que contraditórias

ou difusas, circulam com rapidez interferindo no dia-a-dia e nas nossas tomadas de decisão. A

complexidade e omnipresença instaladas na problemática do risco exigem um posicionamento

da sociedade no sentido de efectuar escolhas esclarecidas, evitando aquelas acções mais

motivadas pelo desejo e pela afectividade do que por processos cognitivos que, de facto,

deveriam balizar tais escolhas. Transformar o perigo difuso em risco definido constrói

possibilidades acrescidas para que os riscos possam ser discutidos e analisados quer como

suportes de mobilização social, como de escolha instruída individual. Será, pois, fundamental

como afirma Beck (2000), o estabelecimento da distinção entre o risco e a percepção do risco.

Tal procedimento presta-se à compreensão do risco enquanto orientação de certa

objectividade, enquanto a percepção de risco é plena de subjectividade, colocando em termos

relativos os sentimentos expressados, pois estes são compostos com as sensibilidades

individuais sobre os perigos do mundo.

O objectivo desta investigação consistiu em estudar a percepção e o grau de

internalização da noção de risco pela população residente no Algarve; procurámos averiguar

até que ponto a ideia de risco está ou não incorporada pela população residente, e como varia

essa percepção em função das tipologias de risco. Concluímos que as representações mentais

dos residentes no Algarve se desenham com melhor nitidez para os riscos naturais,

ambientais, sociais e tecnológicos com uma origem difusa e remota. Os acidentes localizados,

próximos e de ocorrência mais provável no quotidiano (cheias, aluimentos de terras e erosão

marinha) constituem uma preocupação menor. Depreende-se assim que, quando a população

sente uma maior dificuldade em controlar as ocorrências e são estas mais difusas e imputáveis

a outros, se regista um nível de preocupação mais elevado. A noção de “incontrolabilidade”

associada este tipo de riscos potencialmente danosos opõe-se à (falsa) noção de controlo sobre

ocorrências focalizadas e quotidianas. Significa que a sensibilidade dos residentes no Algarve

é elevada para as catástrofes, mais amplas e disseminadas nos seus impactos e com

consequências mais trágicas (por exemplo, associadas a ciclones e tsunamis), do que para os

episódios localizados (por exemplo, erosão de vertentes), colocando-se em situação de uma

maior exposição ao risco.

Há ainda muito por diligenciar na sensibilização da população residente no Algarve

para os riscos naturais. Não há claramente uma percepção adequada da perigosidade que pode

envolver a erosão marinha ou os movimentos de vertente, tal como não existe um

Page 15: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

15

conhecimento adequado sobre o grau de exposição a perigos como o de um sismo ou de uma

cheia.

A insuficiente internalização do risco é algo que impede que se evolua para uma cultura

associada à “modernidade reflexiva”, de maior exigência das populações e dos actores

relevantes em matéria de segurança. A protecção civil é um direito do cidadão - que deve

conhecer a natureza e condicionantes do território onde reside e trabalha. A prevenção e

mitigação de riscos naturais e tecnológicos começa no ordenamento do território, mas revela-

se uma prática ainda incipiente no Algarve.

4. Bibliografia

Alexander, D. (2000): Confronting Catastrophe - New Perspectives on Natural Disasters,

Oxford University Press, Oxford.

Beck, U. (1992): Risk Society: Towards a new modernity, Sage, London.

Beck, U. (2000): World Risk Society, Polity, Cambridge.

Dayton-Johnson, J. (2004): Natural Disasters and Adaptive Capacity, OECD Development

Center, Working Paper No. 237. Disponível em: www.oecd.org/dataoecd/30/63/

33845215.pdf [Consulta: 03-01-2007].

Hogan, D. J. & Marandola Jr., E. (2005): “Towards an interdisciplinary conceptualisation of

vulnerability”, Population, Space and Place 11, 455–471.

Lima, L. (1993): Percepção do Risco Sísmico: Medo e Ilusões de Controlo. Tese de

doutoramento, ISCTE, Lisboa.

Navarro, M. & Cardoso, T. (2005): “Percepção de Risco e cognição: reflexão sobre a

sociedade de risco”, Ciências & Cognição; Ano 2, Vol.6. Disponível em:

www.cienciasecognicao.org [Consulta: 03-06-2008].

Pelling, M. et alli (dir.) (2004): Reducing Disaster Risk: A Challenge for Development. A

Global Report, PNUD, Nova Iorque.

Queirós, M., Vaz, T. & Palma, P. (2007): “Uma reflexão a propósito do risco”, VI Congresso

da Geografia Portuguesa Pensar e intervir no território. Uma geografia para o

desenvolvimento, APG e UNL, Lisboa (no Prelo).

Sjöberg, L. (1998): “World views, political attitudes and risk perception”, Risk: Health, Safety

& Environment 9 (2), 137-152.

Page 16: Artigo - Verdadeiros Medos e Falsas Confianças. Percepção de Risco Numa Area de Elevada Perigosidade Natural

16

Sjöberg, L., Moen, B. & Rundmo, T. (2004): Explaining risk perception. An evaluation of the

psychometric paradigm in risk perception research, Rotunde Publikasjoner, Trondheim.

Thywissen, K. (2006): Components of Risk. A Comparative Glossary. UN Institute for

Environment and Human Security, Bona.

Oltedal, S. et alli (2004): Explaining Risk Perception. An Evaluation of Cultural Theory,

Rotunde Publikasjoner, Trondheim.

World Bank (2005): Hazard Risk Management. Disponível em: <http://216.239.59.104/

search?q=cache:GV6aGRqlriMJ:www.worldbank.org/hazards/+disaster+losses+developing

+countries&hl=de&start=6> [Consulta: 04-01-2008].

Zêzere, J. L., Ramos Pereira, A. & Morgado, P. (2006): Perigos Naturais e Tecnológicos no

Território de Portugal Continental, Apontamentos de Geografia nº19, CEG, Lisboa.