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Saúde em Debate ISSN: 0103-1104 [email protected] Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Brasil Reinaldo, Amanda; Wetzel, Christine; Prado Kantorski, Luciane A inserção da família na assistência em saúde mental Saúde em Debate, vol. 29, núm. 69, enero-abril, 2005, pp. 5-16 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Rio de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406345217002 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Saúde em Debate

ISSN: 0103-1104

[email protected]

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Brasil

Reinaldo, Amanda; Wetzel, Christine; Prado Kantorski, Luciane

A inserção da família na assistência em saúde mental

Saúde em Debate, vol. 29, núm. 69, enero-abril, 2005, pp. 5-16

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406345217002

Como citar este artigo

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ARTIGOS ORIGINAIS / ORIG/~L ARnCLE5 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Ainser~ao da família na assistencia em saúde mental

Family Inclusion in Mental Health (are

Amanda Reinalda1

Ch risti ne WetzeFLuciane Prada Kantorski3

Recebido: 24/11/01

Modificado: 30/07/03

Aprovado: 30/07/03

RESUMO

I Enfermeira. Doutoranda do Programa de

Enfermagem Psiquiátrica da Escola de

Enfermagem de Ribeiráo Preto,

Universidade de Sáo Paulo, Ribeiráo

Preto, Brasil.

[email protected]

2 Docente da Escola de Enfermagem da

Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. Doutoranda do Programa de

Enfermagem Psiquiátrica da Escola de

Enfermagem de Ribeiráo Preto,

Universidade de Sáo Paulo, Ribeiráo

Preto, Brasil.

[email protected]

3 Docente da Faculdade de Enfermagem e

Obstetrícia, Universidade Federal de

Pelotas. Doutora em Enfermagem.

Pesquisadora do CNPq, Pelotas, Rio

Grande do Sul, Brasil.

[email protected]

Este estudo aborda a inserfdo daJamilia na assisténcia em saúde mental.

Para tanto, os autores realizaram um resgate histórico da exclusdo da

Jamilia, no período da consolidafdo do campo psiquiátrico no seio da

medicina. Posteriormente, mostraram que, através dos movimentos

riformistas pós-Segunda GuerraMundial, desencadeou-se o questionamento

desta lógica, emergindo propostas precípuas de inserfdo daJamilia na

assisténcia de saúde mental e,finalmente, a proposta atual de inserfdo,

tendo como modelo os pressupostos da Riforma Psiquiátrica.

PALAVRAS-CHAVE: Familia; saúde mental.

ABSTRACT

This study addressesJamily inclusion in mental health careo To that

end, the authors conducted an historical recovery QfJamily exclusion during

the period Qfconsolidation Qfthe p~chiatricfield in the heart Qfmedicine.

Then, they showed that, through riforming movements qfter world War JI,

this logic began to be questioned and proposalsJorJamily inclusion in

mental health care emerged,finally leading to the current inclusion proposal,

which is based on the assumptions Qfthe P~chiatric Riform.

KEYWORDSJamily; mental health.

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REINALDO, Amondo; WETZEl, Chrisnne & KANTOR5KI, lucione Pmdo

INTRODU~AO

Neste estudo procuraremos en­

focar a inser~áo da família na as­

sistencia em saúde mental, tema

que ganha novos contornos a luz

da Reforma Psiquiátrica proposta

em vários países do mundo. A re­

leváncia desta temática está no fato

de que este novo cenário tem cau­

sado grande impacto na prática

cotidiana de equipes de saúde men­

tal, que buscam imprimir no seu

fazer os pressupostos de urna prá­

tica renovadora.

A participa~áo da família na as­

sistencia em saúde mental tem sido

preocupa~áo de diversos estudiosos

que tentam entender um pouco mais

esse universo complexo evidencia­

do como lacus de aten~áo para os

trabalhadores da saúde mental (SCH­

NEIDER, 2001; SILVA, 1998; KOGA & FU­

REGATO, 1998; WAIDMAN, 1998 ECOlVERO

& MACHADO, 1998). Com esse mesmo

intuito, Wetzel (2000) e Hirdes (2000)

estudam o contexto dos servi~os que

propóem a inser~áo da família na

assistencia, enquanto outros tratam

de tecnologias de assistencia a fa­

mília, principalmente a visita domi­

ciliar (OLlVEIRA, 2001).

Assim, com a finalidade de dis­

cutir a questáo da família e sua re­

la~áo com o portador de sofrimento

psíquico em diferentes épocas, rea­

lizamos urna ref1exáo teórica, atra­

vés da qual estabelecemos urna in­

terlocu~áo com alguns autores que

tratam dessa temática.

Acreditamos que os familiares

devem ser vistos também como pro­

tagonistas do momento de transfor­

ma~áo que ora vivemos e "com esse

novo protagonismo delineia-se efe­

tivamente, um novo momento no

cenário da saúde mental brasileira"

(AMARAmE,1995:130).

A delimita~áo do tema 'assisten­

cia a família', dentro do campo da

saúde mental, nos remete ao seu

caráter histórico, pois as práticas

relacionadas a família estáo ligadas

APARTICIPACÁO DA FAMíUA

NA ASSISTENCIA EM SAÚDE MENTAL

TEM SIDO PREOCUPACÁO DE DIVERSOS

ESTUDIOSOS QUE TENTAM ENTENDER UM

POUCO MAIS ESSE UNIVERSO COMPLEXO

a mudan~as de toda urna racionali­

dade, e náo percebemos a assisten­

cia a família atrelada apenas a urna

série de determina~óes, como se náo

houvesse qualquer possibilidade de

transforma~áo fora do espa~o ma­

cro. Essa possibilidade existe por­

que os servi~os de saúde se confor­

mam como um espa~o importante

para essa práxis, e também porque

a tensáo ocasionada pela inser~áo

de novos atores no cenário da as­

sistencia em saúde mental, nas úl-

timas décadas, criou espa~os impor­

tantes na luta pela mudan~a da ló­

gica assistencial neste país.

AEXCLUSAO DA FAMíUA

Para entendermos o 'retorno da

família' ao cuidado do doente pre­

cisamos resgatar como ela foi ex­

cluída do tratamento. Segundo Sa­

raceno (1999), existe urna literatu­

ra vastíssima sobre a família do

paciente psiquiátrico, mas ele res­

salta que a história da psiquiatria

tem sido também a história das ati­

tudes da psiquiatria em rela~áo a

família do paciente: no velho mani­

comio, a família era cúmplice resig­

nada e grata pela interna~áo do pa­

ciente, de modo que a institui~áo se

auto-reproduzia gra~as a essa gra­

tidáo (as vezes concretamente ex­

pressa pelos familiares na forma de

pequenas ou grandes doa~óes, des­

tinadas a manter o status qua).

Com a institui~áo do asilo e do

tratamento moral no século XVIII,

inaugura-se o campo da psiquiatria

no seio da ciencia médica, e o louco

passa a adquirir o status de doente

mental; insere-se o quadro nosoló­

gico da época e a loucura perde seu

caráter mágico que vigorou na An­

tiguidade e na Idade Média.

As idéias do Iluminismo, os prin­

cípios da Revolu~áo Francesa e a

Declara~áo dos Direitos do Homem

- esta última nos Estados Unidos ­

propiciaram terreno fértil para que

crescessem as denúncias contra o

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confinamento dos doentes mentais

"em promiseuidade eom toda espé­

eie de marginalizados soeiais" (RE­

ZENDE, 1992:25). Apartir da Revolu­

~áo Industrial, com base nos ideais

do liberalismo, o antigo sistema de

assistencia passou a ser criticado

por desperdi~ar for~a de trabalho e

vidas humanas que poderiam estar

sendo empregadas na indústria. Sen­

do assim, todos os que estavam con­

finados nos asilos e náo eram con­

siderados loucos foram libertados.

Apartir da segunda metade do sé­

culo XIX, a psiquiatria assumiu um

caráter positivista e passou a seguir a

orienta~áo das demais ciencias natu­

rais, quando o importante era obser­

var e descrever os distúrbios do com­

portamento humano, táo peculiar a

medicina biológica. Operíodo pós-guer­

ra se conformou como o cenário para

o projeto de reforma psiquiátrica e

novas questóes referentes ao papel ea

natureza da institui~o asilar e do sa­

ber psiquiátrico foram postas em ques­

tionamento, e esses, por sua vez, sus­citaram os diferentes movimentos re­

formistas da psiquiatria que surgiram

em vários países (AMARANTE, 1995).

O isolamento terapeutico foi tam­

bém urna resposta a sociedade que

conc1amava urna solu~áo para os

insanos, solu~áo que estabeleceu

urna media~áo entre os lemas liber­

tários da Revolu~áo Francesa e as

medidas de caráter mais drástico,

destinadas aos vagabundos e trai­

dores. Ogesto simbólico de Philippe

Pinel, de liberta~áo dos loucos das

correntes, náo deu ao doente o di­

reito de sair do asilo, mas, sim, o

direito ao tratamento em urna insti­

tui~áo autorizada para tanto.

"Por que se apregoa a liberdadepara todos, enquanto o louco, ao con­trário, deve permanecer enclausura­do? Porque a internafao nao é clau­sura: o alienado está pn'vado de liber­dadejustamentepor estarsob ojulgoda alienafao mental, enquanto deveser Isolado, pois o Isolamento visa seutratamento e, portanto, a sua comple­ta lzberdade. " (AMARANTE, 2000:50)

oISOlAMENTO DO LOUCO COM SEU

AFASTAMENTO DA FAMíLlA, ERA REALIZADO

COM ARGUMENTOS TÉCNICOS QUE

FUNDAMENTARAM ONASCIMENTO

DA PSIQUIATRIA, OS QUAIS AINDA

SE MANTEM ATÉ OS OlAS ATUAIS

Portanto, urna das imposi~óes da

prática asilar era isolar do mundo

exterior o indivíduo, ou seja, romper

o foco de influencias náo controla­

das pelo meio, justificando o "isola­

mento terapeutico". O próprio Pinel,

no Traité médieo-philosophique sur

l'aliénation mentale, publicado no

ano de 1809, explica as bases do iso­

lamento como prática terapeutica:

"Em geral, é tao agradável paraum doente estarno seio daJamilia eaireceber os cuidados e as consolafoes

Ainser¡fio do fomilio no ossistencio em soúde mentol

de uma amizade terna e indulgente,que enuncio penosamente uma ver­dade triste, mas constatada pela ex­penéncia repetida, ou s(!ja, aabsolutanecessldade de corJliar os alienados amaos estrangeiras ede isolá-lo de seusparentes." (apud CASTEL, 1991 :86)

Como vemos, nesse período, o

isolamento do louco com seu afas­

tamento da família, era realizado

com argumentos técnicos que fun­

damentaram o nascimento da psi­

quiatria, os quais ainda se mantem

até os dias atuais. Um exemplo é a

proibi~áo de visitas em algumas

institui~óes psiquiátricas, principal­

mente nos primeiros dias de inter­

na~áo. Estas institui~óes veem o

familiar apenas como um fornece­

dor de informa~óes um pouco mais

fidedignas sobre o paciente, ou como

possível fator etiológico da sua do­

en~a. As bases do tratamento mo­

ral, desenvolvidas no século XVIII,

tiveram resolutividade na exc1usáo

do entáo doente mental, sendo esta

fundamentada em argumentos cien­

tíficos, cuja supera~áo encontra di­

versas barreiras. Mesmo frente a

todo o questionamento dessa práti­

ca no cotidiano das institui~óes,

percebemos que estes fundamentos

ainda permanecem.

Goffman (1999), ao trabalhar com

o conceito de institui~óes totais ­

entre as quais o manicomio -, res­

salta que elas sáo incompatíveis

com a família, pois a vida familiar,

as vezes, comparada com a vida

solitária, na realidade destas insti­

tui~óes contrasta mais com a vida

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REINALDO, Amondo; WETZEl, Chrisnne & KANTOR5KI, lucione Pmdo

em grupo, pois aqueles que comem

e dormem no mesmo espa~o, com

as mesmas pessoas, dificilmente

podem manter urna existencia do­

méstica significativa.

Nos hospitais psiquiátricos, em

maior ou menor grau, um grupo de

pessoas, durante um tempo (ou por

toda a vida) desenvolve todas as

atividades no mesmo lugar e com

as mesmas pessoas, característica

fundamental para que os pacientes

percam cada vez sua identidade,

num ambiente pobre, rígido e abso­

lutamente predeterminado em seu

funcionamento (GOFFMAN, 1999).

"Independen temente doJato dedeterminada instituil;;ao total agircomoJon;;a boa ou má na sociedadecivil, certamente teráJorfa, e estadepende em parte da supressao deum círculo completo de lares reaisou potenciais. Inversamente, aJor­mafao de lares dá umagarantia es­trutural de que as instituifoes to­tais nao deixarao de e'lfrentar resis­tencias. A incompatibilidade entreestas duasJonnas de organizafao so­cial deve esclarecer algo a respeitodasJunfoes sociais mais amplas deambas." (GOFFMAN, 1999:22)

Após a Segunda Guerra Mundi­

al, em tempos de crescimento eco­

nómico e de reconstru~áo social e

com o desenvolvimento dos movi­

mentos civis, de debates nos ámbi­

tos político e económico, da organi­

za~áo institucional e da assistencia

em saúde, (com particular enfase

em rela~áo ao manicómio e sua se­

melhan~a com os campos de con­

centra~áo), sornados a maior tole-

ráncia para as diferen~as, entre ou­

tras for~as, provocaram mudan~as

significativas na assistencia ao do­

ente mental, o que colaborou para

o surgimento de críticas ao hospital

psiquiátrico e propostas para sua

transforma~áoe até mesmo sua ex­

tin~áo (DESVIAT, 1999).

Frente acarencia de bra~os para

o trabalho, tanto a Europa como os

Estados Unidos passaram a exigir

a dinamiza~áo da estrutura hospi­

talar, além de novas modalidades e

Novos REFERENCIAIS EPRÁTICAS,

NOVOS OLHARES PARA ALOUCURA E

PARA AMENTE HUMANA EFORMAS

DIVERSAS DE TRATAMENTO,

EM DIFERENTES CONTEXTOS,

QUESTIONAM OMODELO HEGEMONICO

condi~óes mais humanas de trata­

mento ao doente mental, com vistas

amaior eficácia na recupera~áodos

doentes. O isolamento deixa de ser

interessante nesse contexto, diante

da formula~áo de urna política de

portas abertas.

"Lugarzero de trocas sociais. De­serto humano, ético e material. Noseio de uma sociedade que aspira aificiencia, aracionalidade, aquali­dade de vida, émuito difíciljustifícara presenfa arcaica do manicómio. "(MELMAN, 2001:56)

Nesse momento, surgem a comu­

nidade terapeutica (Inglaterra, 1959),

a psicoterapia institucional e psi­

quiatria de setor (Fran~a, 1962), a psi­

quiatria preventiva (Estados Unidos,

1963), e também a psiquiatria demo­

crática (Itália, 1973), como propostas

de assistencia cujos pressupostos

constituíam categorias primordiais de

urna cultura universal da reforma.

Novos referenciais e práticas, novos

olhares para a loucura e para a men­

te humana e formas diversas de tra­

tamento, em diferentes contextos,

questionam o modelo hegemónico.

Apesar das contribui~óes desses

movimentos, e das possibilidades de

mudan~as, eles esbarram na manu­

ten~áo da hegemonia do hospital psi­

quiátrico, como aponta Saraceno:

"Nos últimos cinqüenta anos cer­tamente o papel hegemónico do hos­pitalpsiquiátncoJoicolocado em ques­tao de maneiras diversas, em lugarese tempos diversos, através da ativa­fao de dispositivos de tratamento eassistencia diferentes. Muito.freqüen­temente, entretanto, ocolocarem ques­tao tal situafao nao signjficou colo­carem cheque, ou porque resultou emdispositivos paralelos ao hospitalpsi­quiátrico (é o caso da expenéncia

.francesa do setor), ou porque enca­lhou em uma crítica de grupos inte­lectuais sem o poder (ou a vontade)de traduzir o pensamento em umaprática de traniformafao real (é ocaso do movimento antipsiquiátricoingles). " (SARACENO, 1999:63)

Este autor ressalta que se a crí­

tica ao manicómio náo assume a

conota~áo de crítica a ideologia

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psiquiátrica, ela traduzir-se-á sim­

pIesmente na cria~áo de outros ce­

nários para o exercício da mesmís­

sima ideologia psiquiátrica.

Nesse contexto, a família é vista

como um sistema doente, no qual

um membro especialmente frágil

vem identificado por urna doen~a

socialmente reconhecida, inaugu­

rando-se, assim, um período de cul­

pabiliza~áo da família. É importan­

te ressaltar que a crítica as contri­

bui~óes teóricas da 'psicopatologia

familiar do psicótico' náo é em rela­~áo a teoria 'em si', mas a forma

como foi incorporada:

"Foirealizada umagrosseira emalJeita leitura dessas contribuir;6es e acumplicidadeprecedente Cfiquem tran­qüilos, pois nós cuidamos de seufi­lho') vem, em substituir;ao, uma res­ponsabilizar;ao por parte da psiquia­tná (far;am voces mesmos,já que so­bre o seufilho devem pensar voces').Certamentea análisedo sistemaJamzli­ar como sistema de signos complexosnao quen"a cn"ar uma teoná simpljfica­daquekgiámasseoabandonodops~

cótico para aJamília. " (idem, p.102 )

o autor diz que, com certeza, a

medida que a psiquiatria náo pode

mais seqüestrar impunemente, por

toda urna vida, o paciente do ma­

nic6mio, deve ocupar-se também do

'fora', parecendo sedutora a culpa­

biliza~áo da família e o conseqüen­te abandono do paciente para a fa­

mília culpada. Ocupar-se do paci­

ente 'fora' é mais difícil, cansati­

vo, de maior responsabilidade, ar­

riscado e, por isso, segundo um

enredo irresistível para os psiquia-

tras, 'aparece' urna teoria que le­

gitima urna prática.

Aforma enviesada como a teoria

sistemica foi tomada, causou conse­

qüencias enormes na produ~áo de

conhecimento e nas práticas volta­

das para a saúde mental que tinham,

supostamente, como eixo a família,

mas colocando-a como culpada e o

paciente como bode expiatório.

Estudo realizado por Ackerman

(1986) mostra como estas interpre­

ta~óes ainda tem for~a:

APROPOSTA CONTRA-HEGEMONICA AO MODELO

FUNDADO NA PSIQUIATRIA REMETE AOUTRO

PARADIGMA DE ATENCÁ0 ASAÚDE MENTAL,

QUE TEM AFAMíUA COMO PROTAGONISTA.

ESTA PROPOSTA CONFORMOU AS BASES DA

REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

"O paciente reve/a-seJreqüente­mente um emissáno diifarr;ado de umgrupoJamiliar emocionalmente difor­mado. Para oautor, umJator na moti­var;ao para que a pessoa stgá encami­nhada para a intemar;ao, é que umoutro membro daJamília procura con­trolare tranifonnarocomportamentodo paciente para me/hor qjustar-se asnecessidades suas ou da suaJamília,para discipliná-lo epuni-lo, para alivi­ar uma carga excessiva de culpa, oupara usá-lo como um bode expiatóno,por trás do qual outros membros da

Jamília podem ocultar seus própnostranstomos psiquiátricos. " (p. 112)

Ainser¡fio do fomilio no ossistencio em soúde mentol

Verificamos que ter a família

como cúmplice, em um primeiro

momento, e como ré, num segundo,

náo modificou em nada a sua ex­

clusáo, sempre legitimada pelo sa­

ber psiquiátrico.

oRETORNO DA FAMí L1A ACENA

Aproposta contra-hegem6nica ao

modelo fundado na psiquiatria re­

mete a outro paradigma de aten~áo

a saúde mental, que tem a família

como protagonista. Esta proposta

conformou as bases da Reforma Psi­

quiátrica Brasileira, porém como

náo é objetivo deste estudo analisar

o movimento da reforma, apresen­

taremos alguns conceitos importan­

tes para a compreensáo das novas

diretrizes que orientam as políticas

e as práticas de saúde mental, no

que diz respeito a inser~áo da famí­

lia no tratamento, pois entendemos

que essa questáo náo pode ser dis­

sociada de urna visáo mais ampla,

que nos remeta aos conceitos de

saúde/doen~a mental, práticas tera­

peuticas, e outros.

A proposta de mudan~a teve

como maior inspira~áo a Reforma

Psiquiátrica Italiana, conhecida

como movimento de desinstitucio­

naliza~áo, porque tece urna crítica

radical a psiquiatria e a institui~áo

que a operacionaliza no concreto: o

hospital psiquiátrico.

Para Rotelli et al. (1990:26), ape­

sar dos pressupostos científicos pre­

tendidos pela psiquiatria, ela foi a

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primeira prática desconfirmadora do

paradigma racionalista, baseado em

"um sistema de afdo que intervém

em um problema dado (a doen~a) para

perseguir uma solufdo racional, ten­

dencialmente ótima (a cura)".

Todo o processo da Reforma Psi­

quiátrica Italiana partia do pressu­

posto de "que o mal obscuro da psi­

quiatría está em ter separado um

ol?JetoJictício, a doenfa da existen­

cia complexa e concreta do pacien­

te e do corpo social", e sobre esta

separa~áo artificial se construiu um

conjunto de aparatos legislativos,

científicos, administrativos, além de

códigos de referencia cultural e de

rela~óes de poder, todos referidos adoen~a (ROTELLl et al., 1990:27).

Basaglia defende amplamente

esta, que segundo ele é a institui~áo

a ser negada; para o autor, a a~áo

no sentido de urna dimensáo negati­

va é, ao mesmo tempo, destrui~áo e

supera~áo (BASAGLlA, 1991). Oobjeto

da psiquiatria torna-se, entáo, náo

mais a periculosidade e a doen~a,

mas a "existencia-sqfrimento dos

pacientes e sua relafdo com o corpo

social" (RoTELLl etal., 1990:27).

De início, a doen~a mental foi

isolada até se conhecerem as neces­

sidades do homem, após isso, o pro­

cesso prático-crítico se aprofunda de

forma a transformar radicalmente a

redu~áo da loucura em doen~a men­

tal. Essa redu~áo e a simplifica~áo

foram utilizadas pela psiquiatria, a

qual empregou o modelo de inter­

ven~áo medicalizador do sistema

manicomial para excluir o homem,

enquanto ser social.

No final da década de 1970, com

o surgimento do movimento deno­

minado Reforma Sanitária e a orga­

niza~áo do Movimento dos Traba­

lhadores em Saúde Mental, inicia­

se no Brasil o questionamento do

modelo manicomial, centrado no

hospital psiquiátrico. Este movi­

mento envolveu diversos atores e

cenários e se configurou como um

espa~o importante de luta para mu-

As NOVAS DIRETRIZES

PRECONIZADAS PELA REFORMA

VISAM AMELHORIA DA

QUALlDADE DE VIDA DO USUÁRIO,

NA FORMA DO RESGATE

DE SUA CIDADANIA

dan~a da lógica assistencial, tendo

ocasionado, concretamente, mudan­

~as em várias esferas: legislativo,

servi~os, políticas, academia, enfim,

altera-se o ámbito institucional de

vários setores da sociedade.

Dessa forma, as novas diretrizes

preconizadas pela Reforma visam amelhoria da qualidade de vida do

usuário, na forma do resgate de sua

cidadania, podendo essa qualidade

de vida ser oferecida por meio de um

melhor atendimento e da redu~áo

tanto das interna~óes como do perío­

do de dura~áo das mesmas e, sem­

pre que possível, manter o usuário

no meio familiar através de suporte

oferecido por urna rede de saúde.

Os problemas encontrados para

reinser~áo familiar no tratamento sáo

os mais diversos. Hoje, existem ser­

vi~os, tais como o hospital-dia, nú­

cleos e centros de aten~áo psicosso­

cial, oficinas terapeuticas, nas quais

a parceria com os familiares está

conseguindo reverter esse quadro,

pois as famílias que em geral fica­

vam sozinhas após o retorno do usu­

ário ao domicílio, já contam com o

apoio de institui~óes e associa~óes.

É fundamental real~ar, aqui, a

consciencia crescente dos trabalha­

dores de servi~os psiquiátricos que

estimulam um co-envolvimento da

família dos pacientes nos projetos

de reabilita~áo.

"(...)certamente mio todos os servifos(ao contrário, uma e.xígua minoda)adotam modelosJonnais de interven­fao, mas éimportante de qualque¡Jor­ma quese venha cnándo um talpontode encontro entre abordagens 'técni­cas' eabordagens 'empídcas' queaJa­mílzá do pacientedeixe de sercúmpliceou vítima da psiquiatná, tornando-seprotagonista responsávelpelos proces­sos de tratamento e organizafao domesmo." (SARACENÜ, 1999:126)

Segundo ainda Saraceno, vários

estudos (STRAUSS e col. 1977; BROWN

e col., 1972; LEFF & VAUGHN, 1985;

COHEN & SOKOVSKY, 1978; STRAUSS &

CARPENTER, 1972; DOHRENWEND e col.

1986) mostram que, náo necessari-

10 Saúde em Debate, Rio de Joneim, v. 29, n. 69, p. 5-16, jon./obr. 2005

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amente, a cronifica~áo e o empobre­

cimento do psicótico sáo resultados

intrínsecos da doen~a, mas da cons­

tela~áo de variáveis, as quais, na

maioria das vezes, sáo ligadas aos

contextos microssociais (família e

comunidade) e pressupóem estraté­

gias de manejo ambiental distantes

das propostas pelo modelo psiquiá­

trico biomédico. A necessidade de

reabilita~áo coincide com a neces­

sidade de elabora~áo de a~óes que

estejam mais próximas da realida­

de das variáveis implicadas na evo­

lu~áo da psicose. Estes estudos des­

montam algumas críticas de que os

pressupostos da reforma carecem de

dados científicos que os fundamen­

temo Como sabemos, os dados e evi­

dencias náo fundamentam a manu­

ten~áo do modelo manicomial, po­

rém indicam que as variáveis mi­

crossociais estáo mais implicadas

na evolu~áo da doen~a. As 'estraté­

gias de manejo ambiental' ainda

precisam ser mais bem entendidas

e desenvolvidas, e no Brasil existem

algumas experiencias significativas

que trabalham e atuam com o con­

texto, as quais precisam ser teori­

zadas para o preenchimento da la­

cuna existente sobre teorias e con­

ceitos dessa nova prática.

oCONTEXTO: ESPA~O CONSTRUTORDE RELA~ÓES

Urna série de teorias fundamenta­

das nas diversas correntes do relacio­

namento terapeutico náo traz a cena

a questáo do espa~o, que é fundamen­

tal dentro dessa nova abordagem.

Parece que a técnica sobrepóe todas

as questóes, podendo ser desenvolvi­

da em qualquer local, e estes estudos

trazem, a nós profissionais, urna ilu­

sáo de que a solu~áo técnica é boa

'em si'. Se o paciente náo melhora, o

problema náo está relacionado a téc­

nica e sim a sua aplica~áo: a rela­

~áo foi diretiva, ocorreu contra-trans­

ferencia; ou ao contexto: a família

náo colabora, o servi~o náo possui

DADOS EEVIDENCIAS NAO FUNDAMENTAM

AMANUTENCAO DO MODELO MANICOMIAL,

PORÉM INDICAM QUE AS VARIÁVEIS

MICROSSOCIAIS ESTAO MAIS IMPLICADAS

NA EVOLUCAO DA DOENCA

urna sala adequada; ou ao próprio

paciente: é refratário ao tratamento;

o prognóstico é reservado.

Barros (1996: 176), ao analisar as

práticas de ensino de enfermagem

psiquiátrica, observou que, apesar

de priorizar o relacionamento tera­

peutico como interven~áo, o campo

de estágio continua a ser realizado

em hospital psiquiátrico, considera­

do "pouco ou nada terapeutico, onde

os pacientes náo tem a oportunidade

de buscar a terapia e o terapeuta".

Ainser¡fio do fomilio no ossistencio em soúde mentol

Saraceno (1999) refere-se a des­

colagem entre realidades e modelos

teóricos que fundamentam as práti­

cas psiquiátricas, constatando que

em psiquiatria a influencia dos fato­

res de confusáo - presentes na reali­

dade - 'consome' as técnicas e os

modelos, e 'cria' técnicas e modelos

operativos que sáo de fato os objetos

desconhecidos e náo descritos.

O modelo biomédico que susten­

ta a tese de que se náo há melhora

no quadro do paciente, pressupóe

que o motivo para que isso ocorra

é alguma questáo associada ao pa­

ciente, seus familiares, ao local

onde o tratamento está sendo reali­

zado, enfim a variáveis que náo sáo

inerentes as teorias que fundamen­

tam a psiquiatria biológica, este

modelo defende a exporta~áo do

setting para a realidade, náo de­

vendo este último adaptar-se a rea­

lidade, mas a realidade ao setting

(SARACENO, 1999). Esta afirma~áo é

fundamental quando tratamos da

inser~áo da família no tratamento,

pois ela pode aparecer de diversas

formas e, com freqüencia, aproxi­

ma-se da idéia de que a família deve

moldar-se ao servi~o, as suas nor­

mas, incorporando as verdades da

equipe, com o argumento de que

sáo os técnicos que detem o conhe­

cimento. A forma, o tempo e o es­

pa~o da rela~áo entre a família e a

equipe sáo determinados por esta

última e dificilmente seráo negoci­

áveis. Assim, a constru~áo de es­

pa~os de troca fica a desejar.

Saúde em Debate, Rio de Joneiro, v. 29, n. 69, p. 5-16, jon/obr. 2005 11

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REINALDO, Amondo; WETZEl, Chrisnne & KANTOR5KI, lucione Pmdo

Outra questáo importante é que

a separa~áo dos ámbitos da rede

social e da rede familiar é ilusória,

pois interven~óes que melhorem o

setting familiar, podem gerar tam­

bém expansáo na rede social. Oso­

frimento da rede familiar influi na

riqueza da rede social ampliada e

vice-versa.

Equal é, a partir disso, a rela~áo

possível entre equipe e família? Apro­

xima-se, da nossa concep~áo aquela

que Campos (2000) apresenta como

constru~áo de contratos, ou seja, a

de que a constitui~áo de rela~óes de

forma racional e consciente transfor­

ma o compromisso entre a família e

a equipe em estratégias de rela~áo.

Ocontrato entre eles implica conflito

e composi~áo, negocia~áo e luta,

imposi~áo e renúncia.

Nesse espa~o heterogeneo, os in­

teresses náo sáo os mesmos. Quanto

mais autoritária e rígida for a rela­

~áo com a família e quanto mais esta

estiver aprisionada a valores e teori­

as, menor o espa~o para as diversi­

dades, empobrecendo o poder real de

interven~áo, pois a equipe se defen­

derá do sentimento de impotencia

frente ao problema, enquanto a fa­

mília permanecerá em um papel se­

cundário, sem visualizar-se como

sujeito no processo. Construir espa­

~os de troca e de contratos torna mais

rico o campo de possibilidades, em

que os interesses individuais e cole­

tivos tornam-se explícitos, servindo

de fermento para a constru~áo da táo

falada rela~áo terapeutica.

oDESGASTE DA FAMíLlA

Para Saraceno (1999), é evidente

que tanto o plano psicológico quan­

to o plano material dos familiares

sofra graves danos, no que diz res­

peito aorganiza~áo da própria vida.

Os próprios familiares experimen­

tam, no decorrer do tempo, distúr­

bios e desabilita~óes psicossociais,

como o evidenciado pelo Scottisch

Schizophrenia Study, no qual os fa­

miliares de esquizofrenicos, depois

DEVEMOS TER AFAMíLlA

COMO ALIADA NO TRATAMENTO,

PORÉM PARA ARREGIMENTÁ-lA

ÉPRECISO QUE TENHAMOS

ALGO ALHE OFERECER

do primeiro episódio, sofrem de de­

sabilita~óes sociais transitórias e

distúrbios persistentes na rela~áo de

casal. Dificuldades de intera~áo en­

tre familiares e paciente sáo referi­

das pelos primeiros como o elemen­

to mais dificil a ser enfrentado e, no

decorrer do tempo, de aceitar. A

maior parte deles afirma que os efei­

tos sobre a própria saúde ao se vi­

ver com um paciente esquizofreni­

co sáo graves, e que os servi~os

psiquiátricos náo sabem e náo po-

dem oferecer suporte adequado. É

interessante que, em geral, a des­

peito desses sofrimentos e dessas

lamenta~óes, grande parte dos fami­

liares prefere ter o doente em casa a

evitar a sua interna~áo em hospital

psiquiátrico, como evidenciam os

estudos de Grad e Sainsbury (1968);

]onstoneecol. (1984).

Ainda segundo Saraceno (1999),

a interven~áo para aliviar, para os

familiares, o 'peso' da intera~áo e

manejo do psicótico náo obtém efei­

tos positivos somente sobre os

membros da família, como tam­

bém os orienta a diminuir a soli­

cita~áo de expulsáo do familiar

adoecido, obtendo assim beneficio

indireto para este último e para os

programas de reabilita~áo que

para ele sáo desenvolvidos.

Devemos ter a família como ali­

ada no tratamento, porém para ar­

regimentá-Ia é preciso que tenhamos

algo a lhe oferecer. Acreditamos que

a melhor forma é oferecer ajuda para

que encontre caminhos para resol­

ver ou suavizar seus problemas e

dificuldades. Ouvimos, freqüente­

mente, alguns jargóes sobre a famí­

lia: 'toda família tem o louco que

merece', 'o paciente tem urna máe

esquizofrenizante', 'náo trato a fa­

mília, só o paciente', os quais, de

certa forma, expressam o abandono

em que vivem os familiares, e reve­

lam que alguns profissionais de saú­

de ainda náo perceberam que a fa­

mília é urna aliada para manter o

usuário no domicílio.

12 Saúde em Debate, Rio de Joneim, v. 29, n. 69, p. 5-16, jon./obr. 2005

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Oliveira & Jorge (1999:379),

avaliando o relacionamento entre

usuário e família no Centro de

Aten~áo Psicossocial (CAPS) "Lugar

de Vida", em Fortaleza, revelam

que a família nem sempre está pre­

parada para arcar com os desgas­

tes, tensóes e conflitos causados

pelo convívio com o usuário. Para

as autoras, a presen~a do usuário

no lar cria permanente estado de

instabilidade emocional entre os

membros da família, motivo pelo

qual nem sempre estes aceitam o

'onus do convívio'. Ousuário é vis­

to como um foco de anormalida­

de, que tem poder de 'adoecer'

outros familiares. As famílias ou­

vidas no estudo se dividiram en­

tre aquelas que acreditam que o

lugar do usuário é na institui~áo

hospitalar, e outras que náo abrem

máo de te-los em casa. O segundo

grupo, entretanto, avalia que o re­

lacionamento poderia ser melhor,

se os servi~os de saúde ofereces­

sem suporte para tratamento e ser­

vi~os extra-hospitalares.

"Conviver com uma pessoa queexige que seus pedidos Sf!jam atendi­dos imediatamente, porquepode ma­nifestar atitudes agressivas, sair decasa sem dizer para onde vai, quemuitas vezesJica acordado a noiteinteira conversando sozinho ouJa­lando coisas que só tcm significadopara si mesmo, nao constitui umatarifaJácil! Por acontecer repetidasvezes, altera o clima dentro de casa oque sem dúvida constitui desgaste

.físico ementalpara aJamília. " (KOGA

& fUREGATO, 1999:366)

É inegável que a convivencia

com a doen~a mental gera proble­

mas e dificuldades complexas, que

náo podem ser abordados de for­

ma simplificada. Os recursos teó­

ricos construídos sáo fundamen­

tais para direcionar urna releitura

das práticas utilizadas, mas náo

devem se conformar como camisas­

de-for~a, em que náo se vislum­

bram novas possibilidades de aten­

~áo. A inven~áo e a criatividade

sáo de grande importáncia para

oOLHAR PESSIMISTA DÁ LUGAR

AO OLHAR ABERTO QUE ABRANGE

UM UNIVERSO DE POSSIBILlDADES (oo.)

PERMITINDO QUE AFAMíLlA PARTICIPE DE

UMA NOVA FUNCÁO, AFUNCÁO

REABILlTATÓRIA

que, na dinámica do cotidiano, náo

transformemos nossas a~óes em

saberes e práticas cristalizados.

TRABALHANDO NO CAMPODAS POSSIBILlDADES

As considera~óes sobre os pro­

blemas sáo acompanhadas do re­

conhecimento de possibilidades de

enfrentamento. Substitui-se a pro­

fecia sobre o futuro, centrada na

doen~a, pelo reconhecimento das

Ainser¡fio do fomilio no ossistencio em soúde mentol

diferen~as individuais e da varie­

dade da rede de pertinencia dos

sujeitos, pela análise das condi~óes

e propostas dos projetos terapeuti­

cos, pela dinámica institucional e

pelo processo de desinterna~áo.

"Na transli;ao do autoritan'smo paraademocracia, em tennos macrossociais,ena transli;ao da instituzi;ao totalparaos equipamentos na comunidade, emtennos microssociaz's, muito de deses­peram:;a tem que ser desconstruído, enao somente entre internos, mas, muz~tas vezes, pn'ncipalmente, entreas equz~

pes de saúde. " (SARACENO, 1996: 16)

Essa desesperan~a cristalizada

nos discursos, saberes e práticas das

equipes de saúde náo valorizam a

procura de recursos escondidos,

nem tampouco do universo de pos­

sibilidades interativas existentes

hojeo Mudando o modelo do dano

para o modelo do desafio, altera-se

o processo de elabora~áo de prog­

nóstico: o olhar pessimista dá lu­

gar ao olhar aberto que abrange um

universo de possibilidades e diver­

sidades, de necessidades e de mo­

dos de resolu~áo, permitindo que a

família participe de urna nova fun­

~áo, a fun~áo reabilitatória.

Hirdes (2001) e Wetzel (2000), ao

analisarem um servi~o de saúde

mental que trabalha com um mode­

lo de inser~áo da família, trazem a

importáncia desta capitaliza~áo de

for~as da família para o sucesso do

trabalho. Esse processo passa por

diversas a~óes que envolvem a re­

organiza~áo do trabalho, a busca

Saúde em Debate, Rio de Joneiro, v. 29, n. 69, p. 5-16, jon/obr. 2005 13

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REINALDO, Amondo; WETZEl, Chrisnne & KANTOR5KI, lucione Pmdo

ativa através de visitas domicilia­

res, a permanencia de um membro

da equipe na casa da família, a des­

centraliza~áo das reunióes de fami­

liares, distribuídas entre os bairros

e a zona rural, facilitando a partici­

pa~áo do familiar. Há também a cri­

a~áo da associa~áo de familiares e

usuários, na qual a inser~áo do fa­

miliar transcende o aspecto mais in­

dividualizado, relacionado ao trata­

mento de um determinado usuário,

pois ele fará parte de um movimen­

to coletivo, em que diversos atores

buscam, na uniáo de esfor~os, urna

mudan~a mais abrangente.

Hirdes (2001) salienta que, ape­

sar de a prática de reunióes de fa­

miliares e entrevistas remeterem ao

trabalho desenvolvido e consolida­

do em institui~óes totais, estas, no

contexto comunitário, tem outra di­

mensáo, ou seja, o setting do hos­

pital psiquiátrico náo propicia urna

integra~áo dinámica no sentido de

resolver problemas in loco, porém

em um servi~o comunitário, através

das múltiplas estratégias de inter­

ven~áo, as necessidades, dificulda­

des e manejos podem ser trabalha­

dos em conjunto com a família.

A produ~áo dessa nova cultura

de rela~óes e possibilidades, que se

realiza em todos os níveis, tende a

transformar os papéis instituciona­

lizados, que se constituem em res-

postas as novas e diferentes neces­

sidades que se apresentam.

A assistencia psiquiátrica tem

percorrido um longo caminho de

transforma~áo que nos leva a pen­

sar sobre o que, antes, de forma

equivocada, era chamada 'a~áo re­

abilitadora', diante de urna visáo em

que o manejo técnico da psicose es­

tava distanciado de urna prática

política e social.

Acreditando no potencial de

transforma~áo da família, os manu-

EM UM SERVICO COMUNITÁRIO,

ATRAVÉS DAS MÚLTIPlAS ESTRATÉGIAS

DE INTERVENCAO, AS NECESSIDADES,

DIFICULDADES EMANEJOS PODEM SER

TRABALHADOS EM CONJUNTO COM AFAMíUA

ais de orienta~áo aos familiares de­

vem ter um enfoque diferente, pois

os encontrados nos diversos servi­

~os, que tradicionalmente trazem

urna série de prescri~óes e informa­

~óes sobre a doen~a, normas do ser­

vi~o e horários de reunióes, retra­

tam a família como um depositário

passivo de informa~óes.

A Organiza~áo Mundial da Saú­

de (OMS) publicou um manual mos­

trando as diversas experiencias e

evidencias de diferentes origens, e

co-envolveu grupos de auto-ajuda de

familiares de esquizofrenicos na sua

elabora~áo (WHO, 1992).

Numa das partes, o documento

enfoca a rela~áo entre famílias e

profissionais, criticando o mecanis­

mo de culpabiliza~áo que, frente a

dramaticidade da situa~áo, apare­

ce para aliviar a todos os atores en­

volvidos. Ressalta a importáncia do

entendimento destes mecanismos

para que náo haja interferencia in­

devida no tratamento. Considera o

trabalho multiprofissional funda­

mental para melhorar a evolu~áo

do paciente, e questiona a hegemo­

nia do papel do médico na resolu­

~áo dos problemas.

A seguir, a afirma~áo que cons­

ta do referido manual:

"The more prqfessionals can

knowyour relative as a person, and

not on(y as a patient, the better thefr

treatment is like(y to become. Thatworks the other way as well. The

moreyou see the prqfessional trea­

tingyour relative as a person, with

skills and limitations, with know­

ledge and gaps in knowledge, with

imperfectjudgment, with general(y

good motives but with the usual

quirks qfhuman nature, the moreproductiveyourpartnership will be."(WHO, 1992:26)1

1 "Quanto mais os profissionais puderem conhecer o seu familiar como pessoa, e náo apenas como paciente, melhores seráo as perspectivas

do tratamento. Também se verifica o inverso: quanto mais voce perceber o profissional responsável pelo tratamento do seu familiar como

pessoa, com habilidades e limita<;óes, com um conhecimento dotado de falhas. capaz de avalia<;óes imperfeitas. com boas inten<;óes de

forma geral mas também com as nuances características da natureza humana. mais produtiva será a sua parceria."

14 Saúde em Debate, Rio de Joneim, v. 29, n. 69, p. 5-16, jon./obr. 2005

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Reiterando a importáncia de opro­

fissional ver o paciente como pessoa,

o manual também critica e questiona

a objetualiza~áo do paciente, constru­

ída na lógica do saber biomédico,

quando os profissionais se esquecem

que estáo lidando com urna pessoa

singular, e náo com um conjunto de

sinais e sintomas, ou dados estatísti­

coso O que parece inédito nesta afir­

ma~áo é o questionamento da ideali­

za~áo dos profissionais, construída

dentro dessa mesma lógica. Se pen­

sarmos em parceria, estas duas vias

sáo fundamentais.

CONSIDERA\ÓES FINAIS

Toda ciencia procura reservar

para si o seu campo de conhecimen­

to, e com a psiquiatria náo poderia

ser diferente. Durante muito tempo

ela tomou para si náo só a doen~a

mental, mas também o indivíduo

doente que foi seqüestrado do seu

meio social, e se viu excluído do

convívio familiar.

O doente seqüestrado passou a

ser objeto de estudo e tudo que era

diferente ou estranho a doen~a foi

expulso do espa~o asilar. Entretan­

to, hoje fazemos a releitura desse

fato, tendo em vista que o paciente

e sua família sáo seres múltiplos,

construídos dentro de urna realida­

de social que náo pode ser separa­

da. É inviável pensar que o corpo

biológico (doente) possa existir fora

da dimensáo social e longe de suas

rela~óes sociais (família, comunida-

de). O saber psiquiátrico produziu

o doente sem família e hoje tenta

desconstruir essa produ~áo.

sendo assim, pudemos observar

que a psiquiatria, por algum tem­

po, desmontou todas as rela~óes

que existiam entre doente e famí­

lia. Nos dias atuais, tenta recons­

truir (experiencias individuais de

ressocializa~áo, reabilita~áo psi­

cossocial, associa~óes de familia­

res que foram criadas a revelia das

institui~óes, etc.) modelos de aten­

~áo em saúde mental, capazes de

reconstruir aquelas rela~óes, tor­

nando o que era disjuntivo (famí­

lia-doente) em conjuntivo (família).

Ainda ternos um longo caminho a

trilhar e precisamos identificar espa­

~os onde a inser~áo da família possa

ser construída, como na assistencia,

ensino ou pesquisa. Na assistencia,

os servi~os devem priorizar a aten­

~áo a família procurando, no seu co­

tidiano, escrever urna nova história

da assistencia em saúde mental. O

ensino deve contemplar a inclusáo

de conteúdos relacionados a famí­

lia nos cursos de gradua~áo e de

pós-gradua~áo, na área da saúde,

além da realiza~áo de atividades

práticas e de estágios em servi~os

que estejam engajados as propostas

da reforma. Quanto a pesquisa, esta

deve estudar a dinámica de assis­

tencia na família e construir novas

estratégias e possibilidades para a

questáo, urna vez que a problema­

tiza~áo, a crítica e, principalmente,

a inven~áo, sáo fundamentais para

Ainser¡fio do fomilio no ossistencio em soúde mentol

todo o processo em um território em

que nada está dado, acabado.

Pensamos que negar, no sentido

de superar, possa vir a ocorrer atra­

vés da rela~áo dos diferentes atoresenvolvidos: profissionais, usuários

e famílias, na busca de contratos

como estratégias de rela~áo em um

espa~o no qual a constru~áo de par­

ceria com a família aconte~a atra­

vés de trocas que respeitem as di­

versidades, fazendo emergir as di­

feren~as, os conflitos, enfim, trocar

a lógica do dano pela do desafio.

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