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As 13 Maldições - Primeiro capítulo

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Com uma história repleta de fantasia e de mistério, As 13 Maldições, de Michelle Harrison, chega como continuação ao sucesso do primeiro volume da série: Os 13 Tesouros, vencedor do Waterstone's Children's Book Prize, uma das mais importantes premiações britânicas para livros infantojuvenis. No Reino Unido, as vendas dos títulos da autora já somam quase 300 mil exemplares.

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asasas

MalDiçõesMalDiçõesMalDições

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trilogia 13 tesouros

Os 13 Tesouros

As 13 Maldições

Os 13 Segredos

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Page 3: As 13 Maldições - Primeiro capítulo

rio de Janeiro | 2013

Tradução

Carolina selvatici

Tradução

Carolina selvatici

asasas

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Prólogo

A meia-noite se aproximava do bosque do Carrasco, e duas garotas

corriam pela floresta, fugindo, buscando desesperadamente uma

saída. Cada um dos pesados passos na escuridão sufocante as dei-

xava mais próximas da hora das bruxas, a fusão momentânea entre o

mundo humano e o reino das fadas.

A morena, a menor das duas, corria com mais vontade. Por causa

de trapaças e mentiras, o instante em que os dois mundos se conec-

tassem a lançaria para o reino das fadas, a não ser que ela saísse da

floresta a tempo.

A segunda garota, magrela e com jeito de menino, indicava o caminho.

Os olhos verdes buscavam qualquer clareira que sinalizasse o fim da

floresta. Suas mãos latejavam à medida que ela corria, e, dos talhos

dolorosos, pingava sangue. A menina os sofrera ao cortar as cordas

que mantinham a companheira presa alguns momentos antes.

as duas corriam mais e mais, passando entre as árvores e sobre o

tapete de folhas e raízes que compunha o solo da floresta. Acima delas,

no ar, criaturas sobrenaturais planavam e davam rasantes, esperando

o momento em que a menina seria entregue a elas. Entre os troncos

nodosos pelos quais passavam, rostos apareciam e as chamavam.

o tempo estava acabando e não havia sinal do fim da floresta.

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Ofegantes, as duas garotas não tinham escolha a não ser continuar

correndo. Mas chegou o momento em que o inevitável não pôde

mais ser adiado.

— Pare — murmurou a menina menor, diminuindo a velocidade.

— Não podemos parar! — sibilou a outra. — Mexa-se. Eu disse

MEXA-SE!

A morena parara de correr e caíra sentada no chão, fechando os

olhos e tapando os ouvidos com as mãos para abafar algum barulho

que apenas ela podia ouvir.

— Levante — gritou a menina mais alta com urgência. — Tanya,

você não pode parar agora. Levante!

Mas Tanya já estava sendo levada pelas fadas e desmoronava no

chão da floresta, tentando descansar. A meia-noite chegara, e a tran-

sição estava acontecendo. Não havia nada que as duas pudessem

fazer para evitar. Videiras se arrastavam e serpenteavam na direção

da menina caída, amarrando-a, prontas para arrastá-la em direção às

entranhas escuras do reino das fadas. Sacando a faca, a outra garota

tentou cortá-las, rasgá-las... Mas eram muitas plantas. Em pouco

tempo, Tanya ficaria presa. A não ser que...

A solução era tão óbvia que a menina mais alta não acreditou que

somente havia pensado nela naquele momento. Com mãos ensan-

guentados e trêmulas, ela vasculhou o bolso e tirou uma pequena

tesoura de prata. Ajoelhando-se ao lado de Tanya, pressionou a ponta

do objeto contra o polegar da garota inconsciente até uma gota escura

de sangue se formar. Apertando o próprio polegar molhado e vermelho

contra a ferida, ela segurou firme enquanto Tanya se remexia diante

da sensação incômoda.

— Como foi que eu...? — começou a perguntar.

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— Levem-me — sussurrou a outra garota, pressionando a mão com

ainda mais força contra a de Tanya. O sangue das duas se misturou

e, com ele, o legado da menina amaldiçoada. — Levem-me no lugar

dela — repetiu. — Ela tem uma vida pela frente. Eu, não... Levem-me

no lugar dela.

As videiras que se arrastavam sobre Tanya se tornaram mais lentas...

Depois mudaram de direção, voltando-se para a outra menina.

A garota sentiu o frio úmido das folhas escuras contra sua pele à

medida que os ramos rastejavam sobre ela. Ignorando o impulso de

fugir, manteve-se impassível e permitiu que as plantas a escondessem.

A tesoura caiu de sua mão e foi engolida junto com ela pela folhagem.

um zumbido começou a soar em seus ouvidos, como uma nuvem de

insetos que eventualmente deu lugar a sussurros.

ela sentiu seu corpo ser levado pelas videiras que a cobriam e a

puxavam ora para um lado ora para outro, como um gato que brinca

com uma aranha. As vozes se tornaram mais claras — eram comentá-

rios curiosos das criaturas sobrenaturais que esperavam a nova mora-

dora de seu mundo. Então a folhagem recuou com a mesma rapidez

que avançara, deixando a menina encolhida no chão, no meio de

uma multidão de observadores do reino das fadas. Eles a vigiavam

com olhos brilhantes: alguns meramente curiosos, outros, com mais

intensidade. Eram jovens e anciãos, belos e horríveis. Ao ver que a

observavam, a garota se levantou num pulo e se lançou numa corrida

com um grito feroz. Ao ouvir o som do berro, mais da metade das

fadas correu de volta para seus esconderijos, deixando vários buracos

na massa de criaturas que se reunira. Ela escolheu o mais próximo e

fugiu.

seus pulmões ardiam, ainda não recuperados da corrida anterior

ao lado de Tanya. Mas agora Tanya se fora e estava em segurança,

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de volta ao outro lado, ao mundo dos humanos. A menina ouviu

passos atrás de si, e asas se movimentando no ar. Galhos se mexiam,

tentando fazê-la tropeçar enquanto fugia. Cada pulo para driblá-los se

tornava mais difícil à medida que suas pernas se cansavam e ficavam

mais pesadas.

então ela viu: um buraco em uma velha árvore enorme, um espaço

grande o suficiente para se esconder. Chegando mais perto, percebeu

que havia frutinhas verdes entre os ramos de folhas e as reconheceu.

Nenhuma fada se aproximaria dali. A menina jogou a mochila dentro

do tronco oco e pulou em seguida, puxando a folhagem cheia de

frutinhas para esconder melhor o lugar. Seu corpo se contraiu quando

pegadas apressadas passaram pelo esconderijo e seguiram caminho.

Tudo ficou em silêncio. Ela conseguira. Escapara.

Exausta, a menina adormeceu. Quando o sol se levantou, horas

depois, ela não acordou. Nem se mexeu quando a noite caiu outra

vez. Á sua volta, a floresta cresceu, embalando a velha árvore e seu

tronco oco em braços folhosos.

A garota continuou a dormir.

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D ESDE QuE AS FADAS hAVIAM SEQuESTRADO SEu

irmão mais novo, rowan Fox — ou red, como ela se cha-

mava agora — não pensara em nada a não ser em como

trazê-lo de volta. Isso a consumira e se tornara seu único objetivo,

sua razão de ser. O desaparecimento do menino acontecera menos

de dois meses depois da morte de seus pais, um ano e meio antes. Na

primeira oportunidade, Red fugira para procurá-lo e, nos meses que

se seguiram, vivera apenas com sua esperteza e se recusara a duvidar

— por um momento sequer — de que o encontraria. Sua determinação

fora recompensada. Ela havia feito uma descoberta. A descoberta.

Finalmente conseguira chegar ao reino das fadas.

O sol se punha quando Red acordou de um sono que fora como

um buraco negro. Estava encolhida dentro do tronco oco de uma

árvore antiga. Tremendo, estendeu a mão fria e dormente para afas-

tar o emaranhado de galhos e arbustos que a escondia da floresta.

Quando a luz ainda fraca da manhã começou a passar por entre as

folhas, ela viu as cicatrizes.

As palmas de suas mãos estavam cobertas com uma substância

escura: sangue seco. A pele, lacerada com cortes finos em todas as

direções. havia feridas demais para contar — no entanto, apesar

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do sangue, elas haviam se fechado e se transformado em cicatrizes

pra teadas. Sua mente voltou no tempo, lembrando-se de como se

ferira, ao libertar Tanya.

O estômago vazio da menina roncou. Além disso, sua bexiga

estava cheia e doía.

Fazendo uma careta, Red saiu do tronco e se afastou da árvore aos

tropeções. Sentia pequenas pontadas nos pés por ter ficado sentada

e encolhida por tanto tempo. Cuidadosa, deu uma rápida olhada à

sua volta. Incapaz de aguentar por mais tempo, abaixou as calças e se

agachou.

A floresta estava estranhamente silenciosa. Quando terminou, a

garota se levantou e tirou os pertences do tronco oco. Da mochila,

pegou a faca que sempre carregava consigo e a prendeu na bainha

do cinto. Depois deu alguns passos para trás e olhou para a copa da

árvore. Era um velho carvalho firme, mas, graças aos pássaros — ou o

que quer que vivesse na árvore —, sementes de outra planta haviam

se entranhado em algum recanto do tronco e tomado conta dele,

crescendo sobre toda a parte superior. um monte de frutinhas verme-

lhas chamou sua atenção. Eram frutos da sorveira, a planta que tinha

originado seu nome verdadeiro, rowan, apesar de a menina não ser

chamada por ele havia muito tempo. Rowan, além de ser o nome da

pequena árvore em inglês, significava “tornar-se vermelho” — vermelho

como os cabeloss de Red. A menina balançou a cabeça. Era outra

vida. Mas fora por essa razão que escolhera aquela árvore. As lendas

diziam que a sorveira protegia contra encantamentos — a magia male-

volente das bruxas... e das fadas.

uma inquietação a atingiu em cheio. As frutinhas estavam duras e

verdes quando ela entrara no tronco oco, pouco antes da meia-noite.

agora estavam vermelhas e macias, tinham amadurecido — do dia

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para a noite. Aquilo, somado às feridas cicatrizadas em suas mãos, a

perturbou. Parecia que o tempo passara.

Depressa, ela tentou se lembrar do que sabia sobre a planta. Os

frutos costumavam ficar vermelhos no outono. Mas, quando entrara

no tronco, pouco depois da meia-noite, ainda era o auge do verão.

Algo estava errado. Ela ouvira falar de passagens rápidas de tempo no

reino das fadas, mas, se sua suposição estivesse certa, aquilo signifi-

cava que, de alguma forma, mais de dois meses haviam se passado.

Red olhou para a floresta a seu redor. Nada se mexeu, mas ela

sabia que aquela sensação de isolamento pacífico era uma ilusão.

Não estava sozinha. Algo revelaria sua verdadeira natureza em algum

momento. Talvez um rosto no tronco de uma árvore ou uma canção

assombrada a convidasse para dançar. A menina ouvira falar dos peri-

gos do reino das fadas.

Agora que estava ali, tinha que estar pronta para enfrentá-los.

havia uma última coisa a fazer antes de ir embora. usando os nós

do tronco do carvalho como apoio para os pés, ela subiu num galho

da sorveira que era levemente mais fino que seu punho. Na mesma

hora, o galho quebrou com o peso de seu corpo e caiu no chão.

o pedaço de madeira era cerca de trinta centímetros menor do que

a altura da menina. Apoiando-o embaixo do braço, ela tirou a faca do

cinto e começou a cortar os gravetos e pequenos galhos que cresciam

dele, quebrando-os para criar um tipo de cajado. Agora, com mais

aquela proteção, ela estava pronta.

A menina começou a andar. A floresta estava silenciosa e fria.

O ar matinal, como um fantasma, formava redemoinhos na névoa

baixa que cobria o chão. Gotas de orvalho caíam. Red podia sentir o

cheiro do mofo úmido das folhas que se impregnara em suas roupas

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depois de tanto tempo dentro do tronco. Ele se misturava ao odor de

suor e sangue. Ela fedia — e sabia disso.

Red andava com determinação, seguindo o sol à medida que ele

subia no céu. O ar esquentou um pouco, mas um frio outonal se

manteve. Ainda assim, ela caminhava, com o cajado em pé e olhos e

ouvidos atentos qualquer som que indicasse que estava sendo perse-

guida. Quando a floresta começou a acordar, movimentos nas folhas

podiam ser vistos na copa das árvores. A menina olhou várias vezes

para cima e percebeu olhos sobrenaturais observando-a. Alguns desa-

pareciam assim que encontravam os dela. Outros, menos cuidadosos

e mais curiosos, saíam um pouco mais de seus esconderijos para ver

melhor, as asas e marcas se misturando com os tons de dourado, rubi

e castanho intenso recém-adquiridos pelas árvores.

Então ela ouviu o som bem-vindo de água corrente. Seu coração

se desanuviou. A menina caminhou na direção do barulho até encon-

trar o pequeno riacho que cortava a floresta.

O rio corria lentamente, carregando uma ou outra folha. Grata,

red se ajoelhou na margem, repousando o cajado de madeira com

cuidado à frente dos joelhos para mantê-lo por perto caso precisasse.

tirou a mochila das costas, abriu um dos compartimentos para pegar

o cantil e o chacoalhou. Estava quase vazio e continha menos de um

gole de líquido. Ela abriu a tampa e jogou o resto de água na grama

antes de mergulhar o frasco no rio. O líquido cobriu sua mão, gelado

e fresco.

Depois de encher o cantil, red tomou vários goles de água antes

de colocá-lo de volta na mochila. Em seguida, virou-se de novo para

o riacho e começou a lavar o sangue das mãos com cuidado, obser-

vando-o desaparecer na água corrente como um redemoinho de tinta

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vermelho-escura. Juntando as mãos em forma de concha, ela jogou

água no rosto e no pescoço. Sentindo-se refrescada, sentou-se e obser-

vou seu reflexo no riacho. Ele balançava com o movimento da água

e Red se assustou mais uma vez ao perceber que seu cabelos crescera.

Inclinando-se para a frente, levou uma das mãos à cabeça e tocou as

mechas curtas, de um castanho opaco. Ela mesma cortara o cabelos

apenas alguns dias antes num estilo curto e masculino. Agora ele com

certeza estava mais longo. um centímetro de sua cor ruiva natural

aparecia nas raízes. Sem dúvida, o tempo passara.

De repente, uma imagem apareceu na água ao lado de seu reflexo.

rápida como um gato, red pegou o cajado e se virou enquanto a cria-

tura se aproximava de um jeito ameaçador, parando a poucos centíme-

tros de distância. A menina escorregou para trás assustada, perdendo o

equilíbrio, e caiu no riacho, soltando o cajado de madeira. Ao mesmo

tempo, um bando de pássaros e fadas voou das árvores acima dela,

lançando gritos esganiçados de alerta enquanto fugiam do local.

Ao emergir da água gelada, Red viu o cajado correr rio abaixo, fora

de alcance.

uma bruta mão se estendeu na direção dela, acompanhada de uma

voz baixa:

— Venha, minha filha...

o rosto da dona da voz estava parcialmente escondido pela sombra

do capuz da capa verde que usava. Longos fios de cabelos grisalho

apareciam e se derramavam sobre os ombros da mulher. havia coisas

amarradas e presas às mechas: pedaços de pano e pequenos rolos de

pergaminho. Red pouco podia ver do rosto da outra. um nariz torto

— fino na base e largo na ponta — era a característica dominante.

As narinas eram grandes e rosadas. A boca era fina e curvada, e os

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lábios, sem cor como o resto da pele. No entanto, quando falou, a

parte interior da boca da mulher pareceu estranhamente vermelha.

havia marcas secas de saliva nos cantos. Red não sabia dizer se a cria-

tura era fada ou humana.

— Venha — chamou a mulher de novo com dificuldade, como se

as palavras fossem estranhas à sua boca. Ela se encurvou de repente,

tossindo de forma horrível e doente.

A menina ficou parada, sem se mover um centímetro. Seu coração

ainda estava disparado por causa da aparição repentina da mulher.

Como se aproximara de modo tão silencioso? A água escorria de

Red, criando pequenos fios e sua mão segurava a bainha da faca,

pronta para sacá-la. A menina viu a cabeça da mulher se inclinar

e percebeu que ela vira a arma, ainda bem presa no cinto de Red.

A garota mexeu levemente a mão, como se fosse pegar a faca. Apesar

de não ter certeza de que a mulher queria feri-la, algo lhe dizia que

era melhor desconfiar. Desejava que a desconhecida fosse embora.

E, se fosse preciso assustá-la, assim seria.

a mulher recuou de modo tão silencioso quanto chegara, andando

por entre as árvores. Red a observou, ainda sem se mexer, enquanto ela

desaparecia lentamente. havia algo de estranho na maneira como se

movia — algo que a menina não conseguia identificar. Red se sacudiu

quando seus braços começaram a ficar arrepiados. Estava com frio

agora. E com fome também. Precisava encontrar comida — e logo.

Pegou a mochila e se preparou para voltar a caminhar, conferindo

com um tapinha leve, como de costume, se a faca estava no cinto.

A sensação familiar da bainha fria a tranquilizou. Colocou a mochila

nas costas e foi embora, determinada a andar num passo rápido para

se manter aquecida e se secar. As roupas molhadas estavam grudadas

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a seu corpo e a água gelada pingava de seu cabelos, escorrendo pelo

pescoço. Red sentiu um arrepio e andou mais rápido, irritada com o

fato de não ter outras coisas para vestir. Tudo que tinha era a roupa

do corpo.

a menina não tinha caminhado por muito tempo quando viu

outra fada. No silêncio da floresta, um movimento sutil dos galhos

chamou sua atenção. uma criatura cinzenta, do tamanho de uma

criança pequena, estava encolhida na árvore acima dela. Era atarracada

e gordinha, e sua pele lembrava couro de elefante. Orelhas grandes,

como as de um morcego, saíam de cada lado da cabeça arredondada.

Parecia uma horrenda gárgula de pedra. Red parou por um instante

antes de voltar a andar, sem tirar os olhos da fada. A criatura a encarou

sem vacilar com olhos âmbar e se agachou ainda mais sobre o galho,

segurando-o com garras que pareciam sujas e ásperas. A aparição

fez Red perceber que os outros murmúrios e sussurros da floresta

haviam cessado. Ou as fadas estavam muito quietas ou aquela parte

do bosque tinha, por mais estranho que fosse, muito poucas delas.

tomando cuidado, ela manteve o passo enquanto andava por

baixo dos galhos e passava sob a criatura. No caminho adiante havia

uma árvore caída. O tronco grosso chegava à altura do joelho da

menina. Depois dele, uma série de galhos, arbustos e outras folha-

gens se amontoavam. Ela precisava tomar cuidado com o chão que

pisava. Red tirou os olhos da “gárgula” por um instante para passar

pelo tronco. Quando fez isso, duas coisas aconteceram ao mesmo

tempo. A primeira foi um som estranho que veio de cima — o tilintar

de metal batendo contra metal. A segunda foi que, ao pousar o pé no

solo que havia logo após a árvore caída, o chão se abriu.

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Quando Red caiu para a frente, sacudindo os braços, sua perna

esquerda, ainda do outro lado da árvore, foi forçada contra o tronco,

carregada pelo peso da menina. Ela sentiu tecido e carne se rasgarem

ao baterem contra a superfície áspera e sua perna se esticar à medida

que a gravidade a empurrava. Estava caindo, através dos galhos e

da folhagem, dentro de um buraco. Enquanto o chão a engolia, a

última coisa que a menina ouviu foi uma gargalhada aguda — e tudo

escureceu.

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