As Aflições dos Homens e as Consolações de Deus (O problema da Santa Missa), Gustavo Corção

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    AS AFLIES DOS HOMENS E ASCONSOLAES DE DEUS

    AULA DE GUSTAVO CORO (06/10/1975)

    Hoje, vou falar a propsito de um tema sobre o qual escrevi ultimamenteem um artigo, o problema da Santa Missa e do Pontificado doisproblemas interligados [v.texto anexo] .

    Em torno da codificao da Missa pelo grande Papa Pio V, especialmente daBula chamada Quo Primum , fez-se um grande rudo em toda a Europa

    recentemente, quando as vozes catlicas se levantaram em sinal de justaindignao contra a mutilao feita na liturgia pelos padres conciliares padres convocados para fazer um conclio que no houve. No houveconclio porque eles quiseram que fosse diferente de todos os demais equem quiser fazer uma coisa na Igreja diferente de todas as outras, omelhor a fazer arranjar de ser excomungado, porque a fica logo diferentede tudo que catlico. Os bispos declararam, primeiro, que esse conclioseria diferente de todos os outros o que j o desqualifica como catlico e segundo, que seria essencialmente pastoral, o que, no tempo, ns todosengolimos, mas hoje, com reflexo, vemos que uma afirmao estranha,pois todos os conclios so pastorais, no sentido de que uma reunio depastores tem de ser pastoral. Seno, que h de ser? No entanto, para sedizer que esse conclio era essencialmente, unicamente, pastoral,deformaram o sentido da palavra "pastoral".

    A teologia pastoral est fundamentada em um dos evangelhos maistrgicos, marcado pela intolerncia da Santa Igreja em face do mal, e peladisposio do pastor em dar a vida em defesa do bem e em oposio aomal: Eu sou o Bom Pastor. Quem, dentro da Igreja, no amaapaixonadamente o bem e no odeia apaixonadamente o mal, no dignodo Reino de Deus. Fica bem marcado o sinal catlico: amar o bem e odiar omal. E o pastor que no amar o bem e no odiar o mal, no bom pastor ,e o pastor que no estiver disposto a dar a vida por suas ovelhas tambmno . Ora, a antiga definio de pastoral aquele zelo pelo qual o pastor sedispe a lutar pela s doutrina, a lutar pelos costumes, a lutar pela f at osangue, a estar pronto para dar a vida pelas almas indefesas. Pastoral,portanto, era termo alto que significava a santa intransigncia da Igreja, adisposio de dar at o sangue para no transigir. No entanto, no apenas

    mudaram-lhe o sentido desta palavra, mas passaram at a pronunci-la demodo diferente.1

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    Houve, nisto que hoje ocorre na Igreja, vrios fenmenos paralelos ligados questo de linguagem: primeiro, uma modificao do lxico catlico. Oscatlicos, no conclio e fora dele, passaram a usar palavras que no eram dolxico catlico; segundo, uma semntica feita sem o menor respeito pelo

    significado das palavras, uma mudana do sentido das palavras; terceiro,uma mudana tambm fontica: neste conclio, a palavra pastoral tinhade ser dita, no sei por qu, assim: PASTORAAAL! Eu vi isto em minhacasa diversas vezes, e no sabia por que o padre, cuja situao emocionalno saberia exprimir sem ser em termos um pouco imprprios, por que elefazia aquelas caretas para dizer esta palavra austera: Pastoral. Ah! Topastoraaal! Assim tambm, por exemplo, a palavra moo. Todo mundosabe o que um moo: o moo essencialmente um homem que ainda nosabe direito o que ele . Se hoje me entrevistassem sobre o que o moo eu perdi esta oportunidade, mas aproveitarei logo que houver a ocasio eu diria como Euclides da Cunha, o moo antes de tudo uma besta!Alguns, com o tempo e o correr dos dias, escaparo desta condio e setornaro homens razoveis e at ilustres, e at, quem sabe, admirveis,mas a maioria perseverar esta a condio humana. Agora deixou dese dizer do moo o que o moo , e passou a chamar-lhe de jovem, termoque nem na linguagem portuguesa nem na brasileira era usual. Em meutempo dizia-se moo. Posso ter corrido outros riscos em minha vida, maseste jamais corri: jovem jamais fui, sobretudo Jooovem!

    Eu no diria, entretanto, que foi propriamente o conclio, especificamente,marcadamente, a causa disto tudo. O conclio j foi, por sua vez, um efeitode uma causa anterior. Veio de mais longe estamos cansados de falaraqui de um desvio grave que ocorreu quando comeou o Humanismo adisputar lugar ao Cristianismo. Nesse tempo comeou a crise a trabalhardentro da Igreja. Eu diria at que o Humanismo Renascentista , em si, umfenmeno histrico mais significativo, mais grave, mais profundo e maisperverso do que a Reforma de Lutero. S hoje sabemos disto, a duras penasaprendemos, e por isto temos de estar sempre fazendo revises. Mas

    devemos estar vigilantes porque o diabo est usando todos os recursos.Estes exemplos so ilustrativos: ele usa a fontica, a semntica... os desviosteolgicos ele at est usando pouco, porque hoje em dia ningum maisestuda teologia.

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    Ora, este artigo que escrevi ultimamente para a PERMANNCIA visa advertirpara dois graves e importantssimos problemas da nossa vida religiosa. Eume lembro de ter comeado o artigo com uma palavra de Santo Agostinho,lembrando que A Igreja peregrina na terra entre as aflies dos homens eas consolaes de Deus. As aflies dos homens que atingem os membros

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    da Igreja so de dois tipos: o primeiro, produzido pelos homens que estofora da Igreja pelo mundo. Como sabemos, a Igreja peregrina nestemundo entre trs cruis inimigos [1], sendo um deles o mundo inimigo docaptulo XV de S. Joo. A palavra mundo equvoca e tem trs sentidos

    diferentes. Um deles puramente ontolgico: a entidade dos homens quecobrem o planeta, e que Cristo veio salvar. O mundo, neste sentido, objetode solicitudes de Nosso Senhor, e no tem conotao moral. Noutro sentido,tem a conotao moral de no fazer parte da Igreja, mas de ser algo neutro,superficial, e costuma-se dizer que mundano o catlico mais preocupadocom as coisas deste mundo do que com as coisas da Igreja. Mas este aindano o sentido propriamente grave de inimigo da Igreja. Este o terceirosentido, usado para designar certos movimentos histricos que no mundose armam especificamente contra a Igreja, pretendendo ser anti-Igreja,sendo dirigida por Satans e/ou por homens a seu servio para a perdiodas almas. Porm, quando Santo Agostinho diz ...entre as aflies doshomens e as consolaes de Deus, refere-se tambm a aflies do mundoneutro, como, por exemplo, quando temos uma reunio social h semprealguma pessoa prezada e amada dizendo besteiras contra a Igreja, oucontra sua prpria alma e a dos outros. Este o mundo indiferente que nosabe o que faz, no sabe o que diz. Mas no propriamente o "mundoinimigo", do qual, infelizmente hoje fazem parte a maioria dos Bispos ereligiosos, e aqueles que efetivamente militam contra a Igreja Catlica.Ainda h um segundo tipo de aflies dos homens, produzidos pelosprprios membros da Igreja; tratam-se daqueles atritos que produzimosentre ns, uns com os outros, quando deveramos nos amar e trabalhar emsuave e doce concordncia a servio de Deus, mas se interpe o nossoamor-prprio, produzindo pequenas querelas que sangram o corao e queatrasam a boa causa e o bom servio, e que, sobretudo, prejudicam o nossovo para o cu, que deve ser a nossa preocupao principal.

    As aflies dos homens, ento, para ns, so mltiplas, variadssimas e nosperseguem por toda parte, por mais que ns nos abriguemos aqui dentro e

    fujamos sempre recomendvel fugir um pouco do mundo. inteiramente contra-indicado para uma alma catlica se abrir para o mundo,como foi dito a partir do sculo XX, como, por exemplo, pela espiritualidade,digamos, de Maritain e sua corrente, de todos os ativistas dos anos 30 e doPapa Joo XXIII, que se escancarou ao mundo um pouco excessivamente.Mostrar interesse pelo mundo, sim, mas interesse segundo aquilo que essencial, que a salvao das almas, e no segundo a sociologia e aeconomia. Destes problemas a Igreja pode se desinteressar totalmente queno estar fugindo de sua misso foi isso que os papas do sculo XIX noperceberam. Maritain diz que se estava processando um perigosofechamento ao mundo, que se agrava e se torna mximo em 1932. Mas ele

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    http://www.permanencia.org.br/gustavocorcao/Conferencias/aflicoes.htm#n1http://www.permanencia.org.br/gustavocorcao/Conferencias/aflicoes.htm#n1
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    aponta a data em que terminou esta confuso: a fundao da revista Esprit ,revista caracterstica do progressismo. Ora, nunca vi um pensadordescrever um fenmeno to rigorosamente ao contrrio do que aconteceu.Como que o mundo catlico pde engolir aquelas trs pginas em que o

    filsofo nos diz que foi no sculo XX que se agravou o rigorismo catlico?Onde foi que o pensador observou este fenmeno? No resto de sua filosofia,Maritain era um mestre, mas nas suas filosofias poltica e cultural cometeuerros graves, e sua idia mestra, a de que devemos ser abertos, o pe aonvel de nosso Tristo de Athayde.

    A partir do sculo XVII o que se observa na Igreja o laxismo, orelaxamento cada vez maior, e a cada vez maior abertura ao mundo. Essemal veio crescendo e nada o traduz melhor que as aflies dos homens.Pode ser que em outras pocas as aflies dos homens de que sofria aIgreja fossem mais internas do que externas.

    Essas aflies dentro da Igreja serviram para suscitar pelos seus prpriosatritos, movimentos de santificao: a vida de todos os santos exemplodisso. A pequenez e a mesquinharia de seus companheiros de vida religiosaforam os estimulantes, os instrumentos de paixo, que levaram, porexemplo, Santa Terezinha do Menino Jesus a se santificar. Aquelamesquinharia que a cercava foi a maneira humana de que Deus se serviupara acelerar a sua santificao. As almas verdadeiramente generosas

    postas em contato com os ressentimentos humanos se beneficiam. Aocontrrio, as almas que no so verdadeiramente generosas, de amor-prprio inflamado, nesse contato com outro amor-prprio inflamado, entramno jogo dos ressentimentos. As almas libertadas postas no choque damesquinharia encontram a ao do sofrimento mais purificador. Santa

    Terezinha foi mais suscitada a se tornar santa pela mesquinharia das suasirms do que pela morte de seu filho espiritual. Essas aflies para ela erammenores do que a mesquinharia e os atritos das casas internas, que o queh de pior dentro da Igreja. A pessoa que fala em abertura da Igreja,

    decididamente, no sabe o que Igreja.Este fenmeno vai desaparecendo e tomando um outro aspecto. Apequenez de uma alma que sai todo dia do mosteiro e vai fazer no-sei-quprograma na televiso, esta pequenez ningum mais percebe, nem mais sepercebe se h alma. O problema desaparece porque fica tudo superficial,tudo mundano, tudo meio imbecil. As pessoas que se contentam com osremdios, com as aspirinas baratas dos psiclogos modernos, diro queessas pessoas estavam torturadas, que davam sinal de tortura psquica, eque agora esto mais vontade, mais oxigenadas. As atuais autoridades daIgreja chamam a isso de aberturas para o mundo, e por estas mesmasaberturas que as almas se precipitam, e por esses caminhos, com todas

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    as caractersticas do mundo, que as almas se afastam da coisa que existeno centro da Igreja, e que est muito longe de ser amena: a cruz de NossoSenhor, plantada num dia que escureceu, para que todos ns soubssemosque a paixo de Nosso Senhor uma dor, um espetculo de oprbrio, um

    espetculo horrvel e sombrio, e aprendssemos a no procurar aqui nestemundo todas as alegrias, roubadas verdadeira Esperana teologal.

    legtimo o homem ter certas alegrias terrestres, moderadas, de objetos datemperana e da vida espiritual, mas deve-se tomar cuidado com a noode felicidade inerente natureza humana. Todos os homens querem serfelizes, disse Aristteles. Mas o catlico, o homem salvo pelo Sangue deCristo, que ouviu um dia, sentado no cho, o Sermo da Montanha porque todos ns estvamos l, e, se no estvamos, estivemos um dia aop de outra montanha quando um Cristo-sacerdote nos repetiu esse sermo compreendeu que todas essas bem-aventuranas eram promessas para aPtria verdadeira, e no promessas para este Vale de lgrimas, porque oMeu Reino no deste mundo. E isto no fuga, nem recusa ao mundo, esim a colocao das coisas em seus verdadeiros lugares. O mundo tem umaimportncia capital para ns, porque o lugar de nossa santificao, ocadinho onde ns vamos ser provados, e, portanto, tem um valor infinito.Mas, imaginem se toda uma corrente religiosa se voltar para a procura dafelicidade aqui neste mundo, imaginem se uma civilizao se polarizar porum marcado hedonismo... Ora, a caracterstica da civilizao moderna, que

    escapou a Maritain, a do hedonismo desenfreado. O hedonismo afilosofia do prazer, o culto do prazer. Fazer disto a filosofia da vida desprezar as bem-aventuranas e cada qual eleger-se as suas prprias. Enunca o mundo foi to furiosamente hedonista e to infeliz como o mundomoderno, e nunca os catlicos to abertos para o mundo.

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    As consolaes de Deus, oferecidas pela Santa Igreja, so principalmente, aSanta Missa, que o contato com Jesus estarei convosco at o fim dostempos. pensar que Ele continua falando ao nosso lado, como em Emas lembra como nosso corao ardia enquanto Ele falava e dia-a-diaouvi-lo, e reconhec-lo na Sagrada Eucaristia. Essa a principal consolaode Deus. A outra consolao de Deus, a de termos dentro da Igreja umahierarquia protetora: o pastor capaz de dar a vida por suas ovelhas, capazde ensinar quando aquele quer se desgarrar e errar. Ento, com essas duasconsolaes de Deus ns podemos fazer frente a todas as aflies doshomens. Estamos ameaados de sermos privados desta principalconsolao de Deus com os ataques feitos ao Sacrrio e ao centro da vidareligiosa, que a celebrao da Santa Missa. E justamente esses ataques

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    esto sendo realizados pela hierarquia, ou seja, estamos tambm sendoprivados de pastores. No h mais pastores, no sei onde esto.

    Desde So Pedro at o sculo VI quantos papas tero sido reconhecidos eapresentados como santos? A resposta : TODOS. Durante toda a IdadeMdia, onde houve pela primeira vez uma civilizao crist, o papa noestava ainda to exposto. A poca de ouro para Igreja foi a dos mrtires; amelhor posio que a Igreja pode ter neste mundo a da perseguio. Ocritrio fica proposto em termos bem ntidos: se quiseres servir e serseguidor de Cristo a est: Csar ou o dente do leo. Hoje, para umprogressista, inteiramente impensvel que um homem tenha dado a suavida, e de uma maneira especialmente penosa: ser derrubado no cho, eum bicho enorme, uma boca enorme, um hlito horroroso, aqueles dentescravando nas carnes e a pessoa morrendo, sendo comida por um bicho.Dificilmente podem imaginar a fora de alma de um Santo Incio deAntioquia que, condenado pelo juzo de Roma, veio de Antioquia, e nosportos em que parava, os cristos o saudavam e ele fazia um pequenosermo, onde comeava dizendo que era um trigo de Cristo que iria sermodo nos dentes de um leo, e que j tinha impacincia de chegar l .Esses cristos que o tinham visto, iam para casa com uma idia um poucomais aproximada do que seja o Cristianismo. Esse era um bispo, meu Deus,esse era um bispo de Antioquia! No admira que neste tempo, se os bisposeram assim, os papas eram santos.

    Na Idade Mdia, a civilizao era crist, os santos floresciam e abundavamem conseqncia do martrio, do sangue de mrtires que semearam santospela Europa toda. A Europa encheu-se de santos, as figuras mais belas egloriosas, durante um milnio.

    Chegamos, assim, ao sculo XIII, e o ltimo papa santo da Idade Mdia foi S.Celestino V. De l at hoje quantos papas santos tivemos? Dois. Isto em si jsignifica em que situao est a Igreja em relao ao mundo, e em quesituao est o mundo em relao Igreja, isto deveria indicar algo a todosos papas que reinaram durante esse tempo e, principalmente, a esses maismodernos que tiveram idias audaciosas. Para cada catlico h hoje umcritrio elementar: se ns queremos saber qual o pensamento da Igreja,devemos procurar ouvir, consultar e ver as palavras e as obras dos doisltimos papas que a prpria Igreja nos diz que devem servir de exemplopara ns. A prpria Igreja quando canoniza para isto, para dizer: estesdevem ser mais especialmente ouvidos, mais especialmente seguidos comoexemplo. Para isto foram canonizados. Ora, justamente os ltimos papasreinantes tiveram o cuidado de evitar, especificamente, o que disseram e oque fizeram os dois ltimos papas santos: consultem tudo, menos S. Pio Ve S. Pio X. Ora, o que est canonizado em Pio X seu pontificado; o que

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    est canonizado em Pio V seu pontificado. Mais especialmente, o papa PioX no combate ao Modernismo, aos alargamentos da Igreja, aosaggiornamentos etc. com S. Pio X aprendemos quais so os erros domundo; S. Pio V, na codificao da Santa Missa, na sua vida, na sua

    santidade e na sua obra um modelo para quem quiser saber o que IgrejaCatlica. Para quem quiser saber as aflies do papado, deve-se ler ahistria de Alexandre VI e outras, abundantemente traadas, como a dospapas modernos que perderam a cabea.

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    Hoje, acabei de escrever um artigo que se chama Viva o Chile, ondecomeo dizendo, Leiam: o General Pinochet fez uma declarao no jornaldizendo, Viva a Espanha do General Franco, apoio integral ao governo daEspanha que est sendo cercado pelo mundo inteiro pelo fato de estarfazendo a represso ao comunismo e punindo com a pena capital osperversos assassinos de inocentes policiais..., e acrescenta, os outros quese solidarizaram so cmplices daqueles assassinos. No dia seguinte houvemais trs assassinatos cometidos por terroristas e hoje mais trs. Eacrescento em meu artigo que, um velho militante, que antes de 1964sempre lutou contra a perverso e a subverso com risco de vida, e, em1968, fora novamente ameaado, diariamente, v com infinita tristeza queo governo do Brasil, neste episdio, diz que sua poltica exterior

    pragmtica. Ora, este termo rigorosamente sinnimo de amoral. O velhomilitante que teve sua vida exposta e trabalhou incessantemente antes edepois de 1964 at hoje, no pode acompanhar esta atitude do governobrasileiro que se gloria de ser amoral, ao dizer que o problema dos outrospases no nos diz respeito. O combate ao comunismo, mal intrinsecamenteperverso, transcende as fronteiras. E quando o Brasil, gloriosamente, foi onico pas do mundo a resistir ao comunismo em nome da lei natural, nosdeu um critrio para desejar que esse mal no estivesse em pas nenhum:estar solidrio com os portugueses quando eles estivessem sofrendo, e com

    os espanhis quando estivessem sofrendo por sua vez, e no paraconsiderar esse um problema da rea interna de cada pas. Como velhocatlico, maior ainda a tristeza quando vejo que o rdio do Vaticano porque no ningum que est falando no Vaticano, mas o rdio, portanto,as ondas eletromagnticas faz um pronunciamento reprovando osterroristas, ao informar que eles mataram inocentes... trabalhadores. Ordio do Vaticano, atravs de seus dispositivos eletrnicos, suponho, filtroucuidadosamente a palavra policial, porque, do Vaticano no podia sair nada,evidentemente, em defesa de policiais, pois parece que a policia intrinsecamente m. Torno ento a invocar a luta que venho tendo, emrazo da qual me ofereo, coloco-me disposio daqueles que me

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    ameaaram, porque nunca me escondi, para que faam comigo o que estofazendo com os policiais da Espanha e que meu sangue caia na cabeadesses que hoje so neutros diante do que acontece na Espanha, oudaqueles do rdio do Vaticano visivelmente a favor dos terroristas.

    Chegamos a esse ponto. No sei quem fala ao rdio do Vaticano, mas ocritrio a abertura ao mundo, o critrio que a Igreja no pode sefechar; sua santa virgindade, sua santidade deve ser o que Lutero diziadela; os maus levitas, esto fazendo hoje na Igreja, o que Lutero dizia dela:A Prostituta.

    Ns se quisermos saber onde se perdeu o caminho, onde est a verdadeiraIgreja, temos as figuras exemplares a consultar, temos o catecismo a reler.Primeiro a figura do Crucificado que deve estar sempre diante de ns arepetir o Sermo da montanha, essa pregao maravilhosa em que, pelaprimeira vez, Nosso Senhor anunciou a um povo simples, ignorante, que afelicidade que ele trazia e que ele anunciava no era deste mundo, era oavesso deste mundo. As outras figuras exemplares que podemos consultare olhar tambm so os santos, como So Joo da Cruz, exemplo de amor,que dizia que um s pensamento que no seja dirigido a Deus um roubo aSua Majestade. No deve ser fcil chegar a essa perfeio e ele a chegoucom a graa de Deus, mas tambm com um aproveitamento como muitopoucos tiveram, e os santos so aqueles que sabem aproveitar bem a graade Deus e os no-santos so aqueles que no aproveitam e at desprezam

    os dons de Deus.

    A Histria da Igreja est cheia de Papas medocres, e o Papa que no santo um triste Papa, e o Papa que no pe o problema da santidade emprimeiro lugar, mais triste ainda. O interesse temporal do Papa Paulo VI publicado todos os dias nas suas alocues, ele mesmo quemestridentemente anuncia que se interessa muito pelos interesses do mundo,pela paz! pela paz! Mas no pela paz que Cristo veio nos trazer, diferenteda que o mundo nos traz, porque no dessa que o Papa deve cuidar. Esta

    ele deve deixar com os homens e se voltar mais para os problemas da suasantificao e da santificao de seu rebanho. Em vez de pensar na paz domundo, em vez de fazer discurso na ONU, em vez de se afligir comexecues de terroristas, em vez de receber terroristas portugueses,receber, sim, os sacerdotes que do sinais de virtude e santidade. Masbasta dar sinais de virtude e santidade, o Vaticano se fecha, basta dar sinaisde subverso e comunismo, o Vaticano se abre.

    No estamos sendo atendidos por Deus no tipo de consolao de bonspastores, agora na atualidade do governo da Igreja. Mas temos presentesdentro da Igreja que no tm atualidade, porque ela no s o dia quepassa, abundantes consolaes na sua histria e, sobretudo, os recursos

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    espirituais do prprio Cristo na cruz, no sacramento da Santa Missa.Estaremos sempre ao p de Nosso Senhor, estaremos sempre com a cabeano joelho de Nossa Senhora, basta uma Ave-Maria rezada com um poucomais de amor filial. As chagas de Nosso Senhor esto oferecidas nossa

    adorao e essas so as consolaes que nos restam. E dizer isto como sefosse pouco seria a ltima das ltimas palavras que o catlico poderia dizer,porque estas consolaes sempre sero as maiores. Quanto s outras,pacincia.

    Peamos, ento, a Deus, coragem, porque ela nos vai ser pedida comotestemunho.

    (Transcrio: Haroldo Gomes)

    Notas:

    [1] [N. da P.] clssica a distino entre Igreja Padecente, Triunfante eMilitante, pertencendo primeira as almas do purgatrio, segunda, asalmas no cu, e terceira, todos ns, homines viatores . Combatem estaIgreja Militante e Peregrina os trs inimigos a que alude Gustavo Coro, asaber: a carne, o mundo e o demnio.

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    A VOZ DOS PAPASCANONIZADOS

    Gustavo Coro

    A Igreja diz Santo Agostinho peregrina no mundo entre as aflies doshomens e as consolaes de Deus. Nos dias que correm tornaram-se tograves e cruis as aflies trazidas pelos homens que mais imperiosa doque nunca se tornou a procura das consolaes de Deus.

    So vrias as fontes onde podemos receber o alvio e o conforto para anossa F. O principal sem dvida o Santssimo Sacramento do Altar onde

    Jesus est conosco, como prometeu, at a consumao dos sculos. A de

    ns se, em torno deste calvrio de cada dia, deste Sacrifcio incruento, oshomens da Igreja trouxerem a atoarda do mundo que impede nas almas ocontato do grande e decisivo mistrio de nossa salvao.

    Outra fonte de grandes consolaes, sem as quais a alma catlica no podeviver, no consegue perseverar a do exemplo dos Santos, que soelevados pela Igreja glria do altar, no para acrescentar alguma coisa glria que j tem no Cu, mas para nos trazerem o esplendor de esperanairradiado por seu exemplo. A Igreja Catlica a Igreja de Cristo, e, porconseguinte a Igreja dos Santos.

    Mais salutar e vivificante se tornar a fonte de consolao procuradaquando nela se encontram cruzados esses valores excelsos: o mistrio daSanta Eucaristia e o mistrio da santidade. Quando, por exemplo, pensamosnum So Tarcsio, nossa meditao encontra um doce exemplo de conbiodos dois mistrios. Mais forte ainda ser o exemplo trazido por um So Pio Vque nos apresentado como exemplo de santidade pela obra principal quenos legou, e que precisamente consiste no resguardo que a codificaolitrgica o seu santo pontificado ergueu em torno da Santa Missa. Neste

    caso o exemplo de santidade nos oferecido na figura de um Papa. Decerto modo seria razovel esperar em tal cargo tal perfeio j que a boa

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    doutrina nos diz que Deus assiste com especial abundncia de graasaqueles que sobrecarrega com excepcional peso de cuidados.

    Seria de esperar se os homens respondessem a Deus como Ele deve sersempre ouvido que todos os papas fossem santos ou deixassem sinais deardente busca de perfeio. Mas a Igreja de Cristo, neste mundo, militaasperamente contra trs cruis inimigos: o Demnio, o Mundo-mundo e oAmor prprio. E por isto que se v uma assustadora diminuio de papascanonizadas, isto , apontados pela prpria Igreja como exemplo deseguidor de Jesus, na proporo em que, ao longo da histria, o humanismoobscurece o cristianismo, o amor prprio tido por dignidade humana, e omundo-inimigo (Jo XV) recebido como se coubesse Igreja a funo de seadaptar a ele, contrariando o que to energicamente disse o Apstolo.Nolite conformari huic sculo (Rom 12, 2). Corramos os olhos pelahistria da Igreja.

    At o ano 530 todos os papas so santos; at o fim do sculo XIII contam-se mais 19 papas canonizados. A partir deste sculo grandioso, sculo deSo Toms e So Lus de Frana, sculo que nos aparece hoje envolto numanvoa como se fora mais sonho do que realidade, em toda a enormedistncia que nos separa somente dois so os papas elevados aos altares:Pio V ( 1572) e Pio X ( 1914).

    Impe-se desde j uma concluso evidente, sobretudo quando contraposta sombria realidade dos espetculos de impiedade que a tantos arrastampara perdio eterna: a criteriosa ateno que merecem as vozes dessesdois papas na atoarda que ultimamente se inculca como magistrio catlico.Se algum, com fino escrpulo, quer atender virtude da santa obedinciaem matria sagrada, aproxime-se desses exemplos que, embora afastadosna cronologia do mundo, esto mais perto de ns do que a hierarquia atual.Estando colocados no altar, pela autoridade infalvel da prpria Igreja, estoperto de Cristo que no sacrrio est perto de ns.

    Este nmero de PERMANNCIA, motivado pelo que acabamos de dizer,oferece ao leitor matria de estudo, meditao e devoo, principalmenteem torno de questes que concernem ao Papado, e especialmente dequestes que se referem ao Mistrio do Santssimo Sacramento doAltar .

    Veementemente exortamos: leitor, procure compreender bem em queconsiste o drama de nosso tempo, procure aguar a inteligncia da F, sema qual corremos o risco de no ver as mais monumentais pedras de tropeo.

    Abra os olhos da F, alargue o corao para amar a Deus com a verdadeira

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    Caridade que Ele mesmo nos entregou como um talento de inestimvelvalor.

    Para a melhor compreenso de teu Credo ; para maior amor de tua Cruz,aproxima-te daqueles exemplos magnficos que a Igreja nos oferece. Paraisso trabalhamos com fervor escrevendo, traduzindo e rezando nestenmero especial que colocamos aos ps da Virgem Santssima, pedindopara nossos leitores a graa da lucidez sobrenatural.

    (Editorial da Revista PERMANNCIA, Nov/Dez de 1975, n 84/85 Ano VIII)

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