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OS RISCOS NATURAIS EM DESTAQUE NAS PÁGINAS ONLINE DO JORNAL PÚBLICO E DO JORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS Um estudo sobre a abordagem adotada por estes periódicos na divulgação das notícias sobre as cheias e inundações em Portugal Continental, no ano de 2014, e sobre a perceção que os leitores têm dessas notícias Docentes: Filomena Amador Teresa Firmino Jorge Trindade Discentes: Anne Nogueira, [email protected] Marco dos Santos, [email protected] Ana Oliveira, [email protected] Xosé Carreira, [email protected] Lisboa, 25 de julho de 2015 UNIVERSIDADE ABERTA Doutoramento em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento UC: Seminário de Aprofundamento Metodológico II

As cheias nos jornais online Público e Diário de Notícias em 2014

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Um estudo sobre a abordagem adotada por estes periódicos na divulgação das notícias sobre as cheias e inundações em Portugal Continental, no ano de 2014, e sobre a perceção que os leitores online têm dessas notícias.

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  • OS RISCOS NATURAIS EM

    DESTAQUE NAS PGINAS

    ONLINE DO JORNAL

    PBLICO E DO JORNAL

    DIRIO DE NOTCIAS

    Um estudo sobre a abordagem adotada por estes peridicos na divulgao das notcias sobre as cheias e inundaes em Portugal Continental, no ano de 2014, e sobre a perceo que os leitores tm dessas notcias

    Docentes: Filomena Amador

    Teresa Firmino

    Jorge Trindade

    Discentes: Anne Nogueira, [email protected]

    Marco dos Santos, [email protected]

    Ana Oliveira, [email protected]

    Xos Carreira, [email protected]

    Lisboa, 25 de julho de 2015

    UNIVERSIDADE ABERTA

    Doutoramento em Sustentabilidade Social e

    Desenvolvimento

    UC: Seminrio de Aprofundamento Metodolgico II

  • 1 | Pgina

    ndice

    INTRODUO..................................................................................................................................... 2

    1. ENQUADRAMENTO TERICO ..................................................................................................... 4

    1.1. CHEIAS E INUNDAES ......................................................................................................... 4

    1.1.1. DEFINIES ....................................................................................................................... 4

    1.1.2. AS CONSEQUNCIAS DE CHEIAS E INUNDAES ............................................................... 5

    1.1.3. PREVENO E MITIGAO DAS CONSEQUNCIAS DAS CHEIAS E INUNDAES ............... 6

    1.2. RISCO, RESILINCIA E VULNERABILIDADE .......................................................................... 7

    1.2.1. DEFINIES DE RISCO, RESILINCIA E VULNERABILIDADE ............................................ 7

    1.2.2. AVALIAO DE RISCOS DE CHEIAS E INUNDAES .......................................................... 8

    1.3. RISCO, SUSTENTABILIDADE E RESILINCIA ....................................................................... 10

    1.4. RISCO: COMUNICAO E PERCEO................................................................................... 10

    1.4.1. COMUNICAO DO RISCO ............................................................................................... 10

    1.4.2. PERCEO DO RISCO ....................................................................................................... 11

    2. TEMA, QUESTES DE PARTIDA, OBJETIVOS DE INVESTIGAO E INSTRUMENTOS E TCNICAS

    DE INVESTIGAO .......................................................................................................................... 12

    3. ANLISE DA ABORDAGEM ADOTADA PELOS RGOS DE COMUNICAO NA DIVULGAO

    DE NOTCIAS SOBRE AS CHEIAS, ATRAVS DA ANLISE DE CONTEDO ........................................ 13

    3.1. METODOLOGIA .................................................................................................................... 13

    3.2. CONSTRUO DA FICHA PARA A ANLISE DE CONTEDO ................................................. 15

    3.3. APRESENTAO DOS RESULTADOS .................................................................................... 17

    4. ANLISE DA ABORDAGEM ADOTADA PELOS RGOS DE COMUNICAO NA DIVULGAO

    DE NOTCIAS SOBRE AS CHEIAS, ATRAVS DA TCNICA DO QUESTIONRIO ONLINE .................... 21

    4.1. METODOLOGIA .................................................................................................................... 21

    4.2. QUESTIONRIO CONSTRUDO E UTILIZADO ........................................................................ 23

    4.3. APRESENTAO DOS RESULTADOS .................................................................................... 25

    5. CONCLUSES FINAIS .............................................................................................................. 36

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................. 39

    ANEXOS .......................................................................................................................................... 44

    ANEXO I - FICHA APLICADA NA ANLISE DE CONTEDO ............................................................. 44

    ANEXO II - QUESTIONRIO ONLINE ............................................................................................... 45

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    INTRODUO

    No mbito da disciplina de Seminrio de Aprofundamento Metodolgico II, do Doutoramento

    em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento, foi solicitado pela equipa de docentes o

    desenvolvimento de um trabalho final em torno do tema: Como so abordados pelos rgos de

    comunicao social, jornais de referncia com pginas online, o tema dos riscos naturais (cheias,

    deslizamentos ou sismos) e como so percecionados pelos seus leitores?

    O presente trabalho congregou os alunos que optaram pelo estudo concreto do risco de cheias,

    e que definiram como tema de estudo especfico: Os riscos naturais em destaque nas pginas

    online do Jornal Pblico e do Jornal Dirio de Notcias. Um estudo sobre a abordagem adotada

    por estes peridicos na divulgao das notcias sobre as cheias e inundaes em Portugal

    Continental, no ano de 2014, e sobre a perceo que os leitores tm dessas notcias.

    Aps aturada pesquisa, foi constitudo um referencial terico que proporcionou as seguintes

    questes partida as quais, por sua vez conduziram ao estabelecimento dos objetivos da investigao:

    Classificar as notcias sobre o tema das cheias, para efeitos de criao de base de dados,

    quanto: local onde ocorreu a cheia; data em que ocorreu a cheia; data de publicao da

    notcia, entidades envolvidas, sistema afetado (sistema social, ambiental, econmico), com

    detalhe por tipo de danos.

    Classificar por categorias: jornalismo de cincia ou de divulgao de cincia,

    jornalismo declarativo e jornalismo de opinio.

    Apurar se existe nos leitores a perceo da hiptese de serem afetados social, ambiental e

    economicamente pelo risco de cheias.

    Apurar se a perceo do risco das cheias, a partir da leitura dos peridicos online, deixa os

    leitores mais atentos e mais participativos, reduzindo a sua exposio.

    Para atingir os objetivos propostos foram utilizados, como instrumento, o questionrio online

    com questes fechadas e como tcnica a anlise de contedo de notcias o mtodo Delphi.

    Destacam-se como principais concluses: (i) a ocorrncia de cheias em Portugal gera mais

    perdas sociais e econmicas do que ambientais; (ii) os sistemas de alerta e aviso, e todo o sistema

    integrado de operaes de proteo e socorro, tm funcionado e evitado a perda de vidas; (iii) os

    leitores consideram que a perspetiva social a mais afetada aquando da ocorrncia de cheias

    (evidenciam-se, no entanto, grandes diferenas na perceo dos danos entre os leitores residentes nos

    distritos de Leiria, Setbal e Santarm, e os leitores que residem no distrito de Lisboa); (iv) os leitores

    com menos de 42 anos consideram que o mais grave a destruio ambiental, enquanto os leitores

    acima dessa idade apontam para perdas sociais; (v) quedas de rvores, deslizamentos de terras e

    derrocadas, estradas interrompidas, danificadas ou inundadas, so para os leitores as consequncias

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    mais provveis das cheias, e apesar de no se terem registado mortes em 2014, os leitores consideram

    ser esse o seu maior perigo.

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    1. ENQUADRAMENTO TERICO

    1.1. CHEIAS E INUNDAES

    1.1.1. DEFINIES

    As inundaes so definidas por Schmidt-Thom e Kallio (2006:43) como fases de alta gua

    onde gua transborda do seu leito natural ou artificial para terra normalmente seca, inundando sua

    vrzea, em intervalos mais ou menos regulares. So um fenmeno natural quando o caudal do rio

    to forte que o seu leito se torna demasiado pequeno para conter a gua. Ocorrem mais

    frequentemente na Europa durante a primavera, quando a neve e o gelo do inverno fundem. As

    inundaes fortes podem ocorrer de forma irregular em intervalos de 10, 50 ou 100 anos.

    Interessa, tambm, diferenciar os termos cheias e inundaes: as cheias provocam

    inundaes, mas as inundaes nem sempre resultam das cheias. As cheias so fenmenos

    hidrolgicos temporrios, enquanto as inundaes podem ser temporrias ou permanentes. Por

    exemplo, as alteraes significativas nos regimes de precipitao, frequncia e intensidade de

    fenmenos meteorolgicos, e a consequente subida eusttica do nvel do mar, que so situaes

    decorrentes das alteraes climticas, podem com elevada probabilidade potenciar a ocorrncia de

    cheias de origem martima, com inundaes intensas e permanentes.

    As cheias so consideradas catstrofes, mas nem sempre constituem um risco, como o caso

    quando existe um aumento brusco de caudal sem que a gua exceda os limites do leito normal.

    Quando existe transbordo da linha de gua do leito normal para o leito de inundao, ou seja, quando

    existe o alagamento a reas que normalmente no esto submersas, que estamos perante uma

    inundao e, apesar da sua natureza aleatria, possvel prever com assinalvel rigor a sua ocorrncia

    e os estragos que pode causar (Correia, 1993).

    As cheias e as inundaes so fenmenos complexos que devem ser analisados sob o prisma

    da interdisciplinaridade. Para alm dos aspetos estritamente hidrolgicos e hidrulicos, destacam-se

    as dimenses associadas ao ordenamento do territrio e gesto do espao urbano, bem como as

    dimenses econmicas e sociais. A avaliao dos problemas das cheias em todas estas dimenses

    essencial para que as solues preconizadas lhes deem uma resposta eficaz e socialmente aceitvel.

    Como refere o NRDC (Natural Resourses Defence Council: s/p) , as inundaes podem causar uma

    srie de impactos e riscos sanitrios, nomeadamente, death and injury, contaminated drinking water,

    hazardous material spills, increased populations of disease-carrying insects and rodents, moldy

    houses, and community disruption and displacement.

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    1.1.2. AS CONSEQUNCIAS DE CHEIAS E INUNDAES

    A atuao antrpica na impermeabilizao de solos, impedindo a infiltrao das guas, e na

    destruio da vegetao, atravs de incndios que despem os solos, promove o escorrimento

    superficial. Em situao de pico de precipitao, o escorrimento superficial vai processar-se com

    grande rapidez provocando inundaes, arrastamentos de terras e de blocos de pedra de grande

    dimenso, que geram muita destruio, como recentemente aconteceu na ilha da Madeira. Esta

    situao confina em bola de neve, porque o arrastamento das terras vai assorear os leitos das linhas

    de gua, reduzindo a sua capacidade de vazo. Na Madeira, a floresta de encosta deve ser preservada

    por ser determinante para a amortizao do efeito de cheias.

    Aps um desastre natural como uma cheia ou inundao, as consequncias podem ser sociais,

    econmicas e ambientais e, segundo Mateu Bells (1990) podem persistir por muito tempo, mesmo

    depois de as cheias terem recuado.

    No que diz respeito s consequncias sociais, o maior dano a perda de vidas humanas. As

    inundaes apresentam tambm um risco para a sade pblica. O abastecimento de gua pode ser

    contaminado com materiais txicos que aumentam o risco de transmisso de doenas de tipo fecal-

    oral. Alm disso, os agentes patognicos so outra ameaa para aqueles que tm de andar

    constantemente em guas sujas provenientes de inundaes. As pessoas podem vir a ser feridas

    devido a rvores cadas, linhas de energia danificadas, resduos de construo e demolio, entre

    outros. Mesmo uma leso leve, como um corte na perna, pode ser fatal se se infeta e h acesso

    limitado a hospitais. As inundaes destroem casas e levam as pessoas a serem deslocadas ou

    desalojadas. Os abrigos de socorro podem ficar cheios, sem capacidade para acomodar todas as

    vtimas, o que muitas vezes tambm leva a um risco acrescido de doenas, situaes de fome e de

    insegurana social. Podem existir tambm consequncias de instabilidade poltica associadas ao

    desastre. Finalmente, as vtimas das cheias tambm podem sofrer de transtornos mentais, como stress

    ps-traumtico, o que ter impacto sobre a sua capacidade de continuar com as suas vidas.

    Em termos de consequncias econmicas, no h dvida que as comunidades que sofrem os

    efeitos das inundaes requerem grandes somas de dinheiro para reconstruir todo tipo de

    infraestruturas. A destruio tambm significa uma diminuio nas receitas para a economia. As

    inundaes podem ter efeitos econmicos globais se o pas afetado por inundaes v um grande

    leque dos seus recursos danificados; haver menos oferta disponvel e, portanto, os preos iro subir

    para os seus cidados e para os importadores que dependem desses recursos.

    Ao nvel das consequncias ambientais, as inundaes podem causar danos em reas

    agrcolas, prejuzo lavoura e na oferta de alimentos. A saturao hdrica do solo por tempo

    prolongado prejudica as colheitas e a vida da floresta por no poderem desempenhar as funes de

    que precisam para se desenvolver. As inundaes podem tambm espalhar a contaminao, porque as

    guas de enchentes promovem o transporte de guas dos esgotos e guas residuais, pesticidas, metais

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    pesados, entre outros, que acabam por chegar ao mar, tendo efeitos graves na sade humana e nos

    ecossistemas costeiro. As inundaes podem ainda fazer migrar animais, como roedores e cobras, que

    transportam condies potencialmente perigosas para os seres humanos e animais (remete-se, por

    extenso de ideia, para a propagao da pesca negra, na Baixa Idade Mdia, pelo rato preto).

    Finalmente, as inundaes causam outros desastres como deslizamentos e incndios devido a

    falhas eltricas, e outros sem previsibilidade com ainda mais consequncias sociais, econmicas e

    ambientais.

    1.1.3. PREVENO E MITIGAO DAS CONSEQUNCIAS DAS CHEIAS E INUNDAES

    O planeamento territorial a principal arma contra as inundaes (Leopold, 1968). Uma

    preveno de inundaes eficaz devia passar por: (i) estudar as reas de maior risco; (ii) planear as

    cheias e inundaes em canais urbanos; (iii) delimitar as zonas de inundao em todo o territrio por

    perodos de retorno relevantes (3 anos, 10 anos, 50 anos e 100 anos); (iv) limitar o uso de reas

    inundveis; e (v) incorporar os resultados dos mapas de riscos no planeamento urbano.

    As medidas de preveno das cheias devem ser adotadas em vrios nveis, nomeadamente o

    institucional e individual, em trs momentos distintos: antes, durante e aps as cheias e as inundaes.

    A nvel institucional destacam-se as seguintes medidas preventivas, j implementadas em

    Portugal, as quais visam minimizar o risco de cheia: limpeza e desobstruo dos sumidouros, valetas

    e outros canais de drenagem, removendo folhas cadas das rvores, areias e pedras que ali se

    depositaram previamente poca das chuvas; reforo da vigilncia de sedimentos e partculas em

    suspenso e arraste de detritos nas linhas de gua; reforo na gesto das estaes de tratamento de

    gua, garantindo um bom funcionamento das mesmas; manuteno de florestas de encosta; utilizao

    de tcnicas culturais adequadas; estabelecimento de zonamentos e regulamentao do tipo de

    ocupao e impermeabilizao do solo; sistemas de seguros e regulamentos de construo;

    desobstruo de linhas de gua principalmente junto a pontes, aquedutos e outros estrangulamentos

    do escoamento; limpeza de linhas de gua assoreadas; limpeza dos resduos slidos urbanos (muitos

    deles de grandes dimenses) depositados ilegalmente nos troos marginais dos cursos de gua;

    verificao (e eventual reparao) de possveis situaes de desmoronamentos das margens das linhas

    de gua, de modo a evitar obstrues ou estrangulamentos; e inspeo visual de diques ou outros

    aterros longitudinais s linhas de gua destinados a resguardar os terrenos marginais (CONFAGRI,

    2009, s/p).

    Embora a preveno seja prefervel mitigao, a mitigao ser sempre uma atuao

    necessria, tanto para corrigir os erros de planeamento territorial como para corrigir as incertezas

    climatricas, as mudanas no uso dos solos e as incertezas da engenharia hidrolgica.

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    A Comisso Europeia (2003), no relatrio Best Practices on Flood Prevention and Mitigation,

    salienta que as medidas de mitigao estruturais e as medidas no estruturais devem ser

    preponderantes, uma vez que apresentam solues mais sustentveis a longo termo para problemas

    relacionados com gua, reduzindo a vulnerabilidade de pessoas e bens (UNDP, 2004). As medidas

    estruturais so baseadas na construo de controlo de gua, de fluxos e sedimentos transportados

    pelas enxurradas, tais como modificao dos canais de escoamento, a construo de barragens, bacias

    de reteno e diques ou ainda a construo de reas de grande permeabilidade (zonas de lazer ou

    agrcolas) junto nas zonas inundveis para permitir o escoamento da gua das cheias em momentos de

    grande caudal.

    As medidas no-estruturais so baseadas em: a) implementao de sistemas de monitorizao

    das variveis hidrometeorolgicas da bacia; b) construo de sistemas de alerta precoce para alertar a

    populao; c) elaborao de planos de emergncia e evacuao da populao; e d) o mapeamento de

    ameaa e risco (Ortigo et al., 2000). Estas medidas no-estruturais, de acordo com a ONU

    (Organizao das Naes Unidas) (Adikari e Yoshitani, 2009), devem levar em conta medidas

    destinadas a desenvolver processos de conhecimento e de participao pblica.

    Os sistemas de alerta precoce contra cheias e deslizamentos de terra so normalmente

    baseados na monitorizao da chuva, com pluvimetros, e monitorizao de presso de poros por

    piezmetros, devendo ambos os instrumentos estar conectados a um sistema de aquisio e

    transmisso de dados (Ortigo et al., 2000).

    1.2. RISCO, RESILINCIA E VULNERABILIDADE

    1.2.1. DEFINIES DE RISCO, RESILINCIA E VULNERABILIDADE

    A UNDP (2010) define o risco como a probabilidade da ocorrncia de consequncias danosas

    - tais como mortes, danos nas propriedades, perdas de meios de subsistncia, interrupo na atividade

    econmica, e danos no meio ambiente - resultantes de interaes entre riscos naturais ou induzidos

    pelo Ser Humano e condies de vulnerabilidade.

    A UNISDR, The United Nations Office for Disaster Risk Reduction, (2007/2009),

    desenvolveu um banco de definies bsicas sobre a reduo do risco de desastres, baseadas na

    considerao de diferentes fontes internacionais, para promover um entendimento comum sobre o

    assunto, e para utilizao pelo pblico, autoridades e profissionais.

    Assim, a resilincia definida pela UNISDR (2007-2009: s/p) como a capacidade de um

    sistema, comunidade ou sociedade expostos a riscos de resistir, absorver, acomodar e se recuperar dos

    efeitos de um perigo, de forma atempada e eficiente, nomeadamente atravs da preservao e restauro

    das suas estruturas bsicas essenciais e funes.

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    De igual modo, a vulnerabilidade definida como as caractersticas e circunstncias de uma

    comunidade, sistema ou ativo que tornam mais suscetveis aos efeitos nocivos do perigo (UNISDR

    (2007-2009: s/p). Acrescenta ainda que existem muitos aspetos de vulnerabilidade, decorrentes de

    vrios fatores fsicos, sociais, econmicos e ambientais, como por exemplo a m conceo e

    construo de edifcios, a proteo inadequada dos ativos, a falta de informao e a sensibilizao do

    pblico, o limitado reconhecimento oficial dos riscos e medidas de preparao, e o desrespeito pela

    gesto ambiental sensata. A vulnerabilidade pode variar significativamente dentro de uma

    comunidade e ao longo do tempo. Esclarece ainda que esta definio identifica vulnerabilidade como

    uma caracterstica do elemento de interesse (comunidade, sistema ou ativo), a qual independente da

    sua exposio embora na utilizao comum o termo seja frequentemente utilizado de forma mais

    ampla para incluir a exposio do elemento (UNISDR, 2007-2009).

    O risco pode ser conceptualizado numa frmula triangular (Cardona, 1993):

    Risco = Ameaa x Vulnerabilidade - Resilincia

    Estes trs elementos da equao de risco so (ou devem ser) tecnicamente avaliados por

    equipas de especialistas multidisciplinares.

    1.2.2. AVALIAO DE RISCOS DE CHEIAS E INUNDAES

    Os instrumentos de planeamento territorial devem equacionar o ordenamento das reas de

    risco de cheias e inundaes, tendo em conta a sua especificidade. Em Portugal, as reas inundveis

    no urbanas esto dentro dos limites da REN (Reserva Ecolgica Nacional), onde se integram os

    leitos dos cursos de gua e zonas ameaadas por cheias e as reas adjacentes, e nas reas urbanas,

    por fora da lei, s reas inundveis devem ser aplicadas medidas condicionantes para a definio da

    ocupao (Pereira e Ventura, 2004).

    Se os problemas associados ocorrncia de cheias so complexos e requerem uma abordagem

    multidisciplinar, o mesmo se passa, naturalmente, com as solues que podem ser adotadas para lhes

    fazer face. No prudente partir de solues pr-concebidas ou simplesmente extrapoladas de outro

    local. A anlise cuidada das especificidades locais fundamental e as solues a adotar devem ter em

    conta no apenas os aspetos estritamente tcnicos, mas tambm os aspetos econmicos, sociais e

    ambientais.

    A anlise e a gesto de riscos de inundao no dispensam o conhecimento de alguns

    conceitos essenciais ao seu pleno entendimento. As inundaes podem acontecer na sequncia de

    diversos fatores. Entre eles, destacam-se as precipitaes prolongadas e intensas. Outras inundaes

    so causadas por precipitaes rpidas mas muito fortes em terrenos planos sem grande capacidade de

    drenagem superficial sendo a capacidade de reteno do solo e do leito dos rios excedida, o que

    provoca inundaes que formam os chamados planos de inundao.

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    A estimativa de caudais de ponta de inundao em situaes de insuficincia de registos

    fiveis de caudais mximos anuais - o que, infelizmente, habitual - pode fazer-se utilizando vrios

    procedimentos que podem ser obtidos segundo trs tipos de abordagem (Chow et al., 1994):

    - Frmulas empricas, deduzidas a partir da experincia, tendo em considerao a rea da

    bacia hidrogrfica, sendo que estas no associam os resultados s precipitaes nem probabilidade

    de ocorrncia.

    - Frmulas estatsticas-cinemticas que tm em conta o ajuste estatstico de precipitaes e as

    caractersticas do movimento da gua na bacia hidrogrfica, expressas atravs das noes de tempo de

    concentrao e da precipitao umbral ou crtica, que origina o maior caudal de ponta para um dado

    perodo de retorno (Bruner, 1995). Neste tipo entrariam o mtodo clssico ou racional Q=C I A (em

    que Q representa o deflvio superficial em m3/s; C, o coeficiente de deflvio superficial; I, a

    intensidade pluviomtrica; A, a rea da bacia hidrogrfica em h) e os modelos por computador como

    HEC-HMS (Hydrologic Modeling System) e HEC-RAS (modelo computacional para o fluxo de rios

    da USACE, United States Army Corps Engineers (USACE, 2002).

    - Modelos baseados em inteligncia artificial (ANN, Artificial Neural Networks) que tm

    como objetivo o conhecimento de padres de chuva e a regionalizao dos valores obtidos para

    algumas seces por correlao com as caractersticas fsicas da bacia. Este provavelmente o tipo de

    modelo mais promissor.

    Mesmo nos mais avanados modelos ANN, do ponto de vista do conhecimento cientfico,

    pode dizer-se que a definio de zonas inundveis por probabilidade de ocorrncia est num estado

    preliminar do processo de investigao, mais concretamente, no da identificao de variveis e da

    aprendizagem estatstica. No existe ainda um mecanismo fsico geral das inundaes aceite e

    confirmado.

    A Diretiva Europeia 2007/60/CE relativa avaliao e gesto dos riscos de inundaes surge

    no quadro da ao comunitria no domnio da poltica da gua, para dar resposta ao aumento de

    ocorrncias e da gravidade dos seus impactos. Esta Diretiva define risco de inundao como a

    combinao da probabilidade de inundaes e das suas potenciais consequncias prejudiciais para a

    sade humana, o ambiente, o patrimnio cultural e as atividades econmicas.

    De acordo com a informao do website de sustentabilidade da Universidade Politcnica da

    Catalunha, estima-se que aproximadamente 40% das mortes resultantes de desastres naturais so

    provocadas pelas inundaes. A legislao tem avanado no sentido de proibir a construo em

    zonas suscetveis de serem inundadas em um perodo de retorno de 100 anos e o mapeamento dos

    resultados dos modelos hidrolgicos e hidrulicos como o referido HEC-RAS em GIS revelou o que

    permitiu comunicar melhor as reas de risco.

    O reflorestamento de reas no curso superior dos rios ajuda a minimizar o efeito das fortes

    chuvas e das inundaes subsequentes. Em conformidade com a Diretiva Europeia relativa s

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    inundaes, as medidas mais eficientes passam por retornar o espao natural aos rios atravs da

    gesto adequada dos territrios onde atravessam linhas de gua. Ficou patente a ineficcia das

    medidas exclusivamente hidrulicas, e por isso a Diretiva preconiza a renaturalizao dos

    ecossistemas fluviais atravs da recuperao das plancies aluviais naturais como meio natural de

    laminao de inundaes.

    1.3. RISCO, SUSTENTABILIDADE E RESILINCIA

    A ligao entre o risco e a sustentabilidade no uso e ocupao do territrio passa pelo

    estabelecimento de planos de gesto de riscos, tambm apelidados de planos de resilincia. No caso

    de se tratar do risco de inundao, os planos de gesto de riscos tornaram-se cada vez mais

    importantes, quer como resultado do impacto das alteraes climticas quer como uma exigncia da

    Diretiva Inundaes da UE 2007/60 / CE.

    Sounders e Becker (2015) defendem que uma vez que a resilincia e sustentabilidade esto

    interligadas, seria til um maior reconhecimento dos diversos fatores que contribuem para a

    resilincia, tais como processos pessoais, comunitrios e institucionais, com o planeamento a ser um

    elemento chave, muitas vezes esquecido. Reconhecendo e contando com uma ampla gama de fatores

    de resilincia, esta pode aproximar-se do conceito de sustentabilidade e, em consequncia, as metas

    de sustentabilidade e resilincia podem tornar-se mais estreitamente alinhadas. Assim, uma

    comunidade resiliente tambm deve ser uma comunidade sustentvel, a fim de atender s exigncias

    legislativas e, mais importante, para garantir a satisfao das necessidades das geraes futuras na

    perspetiva econmica, social, cultural e ambiental (Sounders e Becker, 2015).

    1.4. RISCO: COMUNICAO E PERCEO

    1.4.1. COMUNICAO DO RISCO

    Entre os objetivos prioritrios da UNESCO (UNDP, 2004), no domnio da reduo do risco de

    desastres naturais, destacam-se os que se direcionam comunicao da cincia: promover uma

    melhor compreenso dos riscos naturais e a sua intensidade, na distribuio no tempo e no espao;

    atravs da educao e formao na comunicao melhorar a preparao e sensibilizao da opinio

    pblica; e compreender qual a perceo social dos riscos.

    No caso concreto da comunicao em situaes de riscos naturais, esta deve ser baseada nas

    necessidades do pblico, e tem versado principalmente nas questes de risco e perigos, medidas de

    mitigao e preveno, comportamentos adequados em caso de sinistro e promoo da aceitao do

    mesmo. A maior parte das prticas de comunicao visam mais o desenvolvimento de capacidades de

  • 11 | Pgina

    conhecimento e as capacidades motivacionais ou atitudinais (de sensibilizao) do que o fomento das

    capacidades sociais/ organizacionais e psicolgicas. Hoppner et al. (2010: 108) advogam que as

    prticas de comunicao dos riscos naturais giram em torno da comunicao de eventos e do risco

    objetivo que deles advm, em vez do entendimento dos riscos mais amplos sociais, econmicos e

    culturais que so relevantes para as pessoas e as comunidades em risco. No entanto so estes modelos

    mentais ou percees subjetivas de risco e vulnerabilidades que modelam resposta das pessoas aos

    perigos naturais.

    Atualmente, praticamente todos os media esto sob um nico guarda-chuva, a rede das redes,

    que unifica o tratamento destes fenmenos e, especialmente atravs das redes sociais, que permitem

    dar destaque aos que vivem o desastre diretamente divulgando imagens e vdeos para o mundo. Isto

    pode parecer positivo, mas est repleto de perigos, como acontece com outras situaes na rede.

    Muita informao nem sempre igual a boa informao (Molto, 2014).

    1.4.2. PERCEO DO RISCO

    O modo como os trs elementos do risco referidos em 1.2.1 (ameaa, vulnerabilidade e

    resilincia) so socialmente percebidos, ou seja a perceo popular, muitas vezes no coincide quando

    se fala em perodos de retorno muito longos. Por vezes existe uma amplificao e noutras, uma

    atenuao na perceo do risco.

    O risco de inundaes tem a particularidade sobre outros fenmenos naturais de adotar

    rapidamente novas formas e afetar novos territrios em resposta s mudanas na dinmica scio

    territorial. A interao quotidiana com o territrio determina tambm as diferentes noes que temos

    sobre o mesmo. Da que a Diretiva das Inundaes da Comisso Europeia (2007/60/CE) reconhea a

    necessidade de participao do pblico no desenvolvimento e implementao de polticas contra esse

    risco. De acordo com esta Diretiva, qualquer nova estratgia ou ao a ser tomada para melhorar a

    gesto dos riscos de inundao deve considerar a perceo e a avaliao dos diversos atores sociais

    envolvidos, assim como as preferncias sobre estratgias e aes a empreender.

    Estudos mais recentes, tais como o de Bradford et al. (2012), tambm acentuam a questo da

    participao pblica. Os autores consideram que a perceo pblica de risco de inundao e

    informaes de risco de inundao so muitas vezes esquecidas quando se desenvolvem os planos de

    gesto dos riscos de inundaes (Bradford et al., 2012: s/p) porque os cientistas e o pblico em geral

    percecionam o risco de maneiras diferentes. Sabe-se que, no passado, as estratgias de gesto dos

    riscos de inundaes falharam devido a esta desconexo entre as autoridades pblicas e a populao.

    Assim, consideram que a perceo do risco conceituada como um pilar de resilincia social,

    representando uma abordagem inovadora para o problema. Como resultado dos seus estudos

  • 12 | Pgina

    identificam recomendaes de processo para melhorar a gesto dos riscos de inundaes cujo

    planeamento passa pela participao pblica.

    Em suma, a maneira como feita a comunicao do risco, em particular o risco de inundao,

    e o modo como esse risco percecionado pelas comunidades, justificam a necessidade de se fazer um

    estudo sobre a abordagem feita pelos peridicos portugueses na comunicao do risco de inundao

    bem como da perceo que os leitores tm dessas notcias.

    2. TEMA, QUESTES DE PARTIDA, OBJETIVOS DE INVESTIGAO E INSTRUMENTOS E

    TCNICAS DE INVESTIGAO

    Dada a proposta geral de tema feita pelo grupo de docentes Como abordado pelos rgos

    de comunicao social, jornais de referncia com pginas online, o tema dos riscos naturais (cheias,

    deslizamentos ou sismos) e como so percecionados pelos seus leitores? - bem como os jornais

    online propostos Pblico e Dirio de Notcias (DN) - o grupo comeou por analisar a hiptese de

    efetivamente focar o trabalho nos dois jornais referidos, de mbito nacional, ou analisar um jornal

    portugus e um jornal espanhol, tendo-se equacionado o jornal Pblico de Espanha: primeiro, porque

    um elemento do grupo nasceu e reside em Madrid, segundo, para ter um leque de dados que

    abrangesse os dois pases.

    A deciso acabou por recair na anlise dos artigos sobre cheias publicados pelo jornal Pblico

    e pelo jornal Dirio de Noticias, ambos nacionais, devido complexidade da realidade espanhola

    constituda por duas situaes hidrolgicas completamente diferentes (por um lado, as bacias que

    vertem para o Cantbrico e para o Atlntico, e por outro, as bacias que vertem para o Mediterrnio

    caraterizadas por muitas enxurradas). A par da questo da diversidade e complexidade hidrolgica,

    existe ainda a questo da Espanha ser constituda por vrias regies com caratersticas (ex. lngua e

    cultura) muito diferentes, pelo que no existe jornais cuja leitura assdua homogeneamente em todas

    as regies.

    De facto, Portugal tem caratersticas muito mais homogneas, tanto em termos hidrogrficos

    como culturais, pelo que a opo pelos jornais sugeridos pelo corpo docente afigurou-se mais

    razovel (IPMA, 2014; ANPC, 2014; CIRAC, 2014). A opo seguida ainda foi escurada no facto

    destes dois jornais pertencerem ao grupo dos 3 jornais online portugueses mais lidos, segundo o site

    Alexa Rank.

    No que diz respeito ao perodo de tempo estudado a opo recaiu sobre o ano de 2014, ano de

    grande pluviosidade no continente portugus (IPMA, 2014; ANPC, 2014; CIRAC, 2014).

    A smula de todas as supracitadas opes resultou na escolha do tema: Os riscos naturais

    em destaque nas pginas online do Jornal Pblico e do Jornal Dirio de Notcias. Um estudo sobre a

  • 13 | Pgina

    abordagem adotada por estes peridicos na divulgao das notcias sobre as cheias e inundaes em

    Portugal Continental, no ano de 2014, e sobre a perceo que os leitores tm dessas notcias.

    QUESTES DE

    PARTIDA OBJETIVOS DE INVESTIGAO

    INSTRUMENTOS

    E TCNICAS DE

    INVESTIGAO

    1. Quantas foram as

    notcias sobre o tema das

    cheias, em que local

    ocorreram as cheias, com

    que frequncia e o que

    afetaram?

    1.1. Classificar as notcias sobre o tema das cheias, para

    efeitos de criao de base de dados, quanto: local onde

    ocorreu a cheia; data em que ocorreu a cheia; data de

    publicao da notcia, entidades envolvidas, sistema

    afetado (sistema social, ambiental, econmico), com

    detalhe por tipo de danos.

    Anlise de

    contedo por

    mtodo Delphi.

    (Anexo I).

    2. Qual foi a abordagem

    adotada pelos rgos de

    comunicao na

    divulgao de notcias

    sobre cheias?

    2.1. Classificar por categorias: jornalismo cientfico,

    jornalismo de divulgao cientfica, jornalismo

    declarativo e jornalismo de opinio.

    Anlise de

    contedo por

    mtodo Delphi.

    (Anexo I).

    3. O risco de cheias

    percecionado pelos

    leitores?

    3.1. Apurar se existe nos leitores a perceo da hiptese

    de serem afetados social, ambiental e economicamente

    pelo risco de cheias.

    3.2. Apurar se a perceo do risco das cheias, a partir da

    leitura dos peridicos online, deixa os leitores mais

    atentos e mais participativos, reduzindo a sua exposio.

    Questionrio

    online. Questes

    fechadas.

    (Anexo II)

    3. ANLISE DA ABORDAGEM ADOTADA PELOS RGOS DE COMUNICAO NA DIVULGAO

    DE NOTCIAS SOBRE AS CHEIAS, ATRAVS DA ANLISE DE CONTEDO

    3.1. METODOLOGIA

    Para classificar as notcias que versam sobre o tema das cheias quanto ao tipo de jornalismo, e

    para fazer inferncias a partir dessas notcias para o contexto social de forma objetiva - de danos que

    tenham ocorrido e estejam relatados nas mesmas -, utilizou-se a anlise de contedo, uma tcnica

    aplicvel na anlise de dados qualitativos que auxilia a compreenso dos fenmenos (Bardin, 2004;

    Saunders et al., 2009).

    A aplicao da tcnica seguiu trs etapas: (i) pr-anlise, ou fase de leitura geral, onde se teve

    o primeiro contacto com os dois peridicos, se identificaram as notcias a analisar, e definiu a

  • 14 | Pgina

    representatividade da amostra com base em critrios homogneos, e a sua pertinncia para o objetivo

    da anlise; (ii) categorizao, ou fase de definio e desenvolvimento das categorias, onde agregou-se

    e classificou-se a informao em categorias temticas que listaram e delimitaram. As categorias

    iniciais foram agrupadas por temas, originando categorias intermdias, e ests ltimas tambm foram

    agrupadas num processo de afunilamento at chegar s categorias finais; e (iii) inferncia e

    interpretao, ou fase de produo de resultados, na qual se fez a anlise comparativa.

    Sendo um trabalho para realizar em equipa (composta por quatro especialistas), em que todos

    os membros estavam obrigados a realizar a anlise das mesmas notcias de acordo com os mesmos

    critrios de classificao (definidos democraticamente e consensualmente), e numa mesma folha

    gerada no Google Docs1 existia a possibilidade de no ser produzida diferenciao de resultados, no

    porque essa diferenciao no existisse, mas porque existia a possibilidade dos especialistas poderem

    receber influencias entre si, capazes de poder determinar o sentido da avaliao individual. Para evitar

    homogeneidades na interpretao, optou-se por integrar neste processo, com as devidas adaptaes, o

    mtodo Delphi2.

    O mtodo Delphi no interativo (a equipa no se rene) e funciona em ciclos. usado para

    facilitar a formao de opinio crtica em grupo, de forma refletida e democrtica, e promove uma

    maior capacidade de inovao e criatividade na investigao, pois potencia ideias e estratgias de

    ao pelo grupo envolvido no processo de estudo (Fernandes, 2014:130). Este mtodo privilegia o

    consenso, e o facto de as respostas serem dadas individualmente e anonimamente, facilita a liberdade

    de expresso e limita as inibies (Kaynak et al., 1994; Landeta, 1999; Hder e Hder, 1995; Cuhls,

    2005).

    Na adaptao que se fez do mtodo Delphi, por forma a adequ-lo presente investigao,

    aps uma fase inicial de interpretao e categorizao, onde cada especialista classificou per si cada

    uma das notciais (sem que a equipa tenha reunido)3, existiu uma outra fase, que designmos de

    consenso, onde os especialistas discutiram em grupo cada uma das notcias alvo de homogeneidade

    na interpretao na fase inicial, avaliando as mltiplas alternativas de forma a chegar melhor

    soluo (consenso e deciso final).

    1 O ficheiro online, base para a anlise de contedo, pode ser consultado em:

    https://drive.google.com/open?id=0B_vqqzwtjLroNWt0cmloY0ZkYmM. 2 Mtodo Delphi surge no ps-II Guerra numa tentativa de aproximar posies dos especialistas, quando

    conflituosas, numa perspetiva coerente e unificada. 3 Na primeira fase, da avaliao individual, cada especialista gozou de uma quota individual de 25% (4 * 25% =

    100%). Este mecanismo permitia em situao de ausncia injustificada de um especialista na fase de interpretao,

    que os votos desse fossem distribudos pelos restantes. Tal soluo no teve de ser implementada, tendo existido

    plena participao dos elementos da equipa na aplicao da tcnica de anlise de contedo e do mtodo Delphi.

  • 15 | Pgina

    3.2. CONSTRUO DA FICHA PARA A ANLISE DE CONTEDO

    A ficha de anlise de contedo o documento que assim se designou onde se definiram os

    elementos a analisar em cada uma das notcias, e onde se procedeu respetiva anlise. Para a

    definio dos elementos a observar em cada notcia, o grupo deu os seguintes passos: (i) pesquisou

    trabalhos na rea da comunicao social que tivessem os mesmos objetivos, e/ou que versassem sobre

    os jornais em estudo; (ii) analisou as categorias de inventariao adotadas no DISASTER - Desastres

    naturais de origem hidro-geomorfolgica em Portugal: base de dados SIG para apoio deciso no

    ordenamento do territrio e planeamento de emergncia; (iii) fez uma pesquisa exploratria, em

    ambos os peridicos, para perceber se o perodo de um ano era vivel (pelo nmero de notcias), ou se

    era demasiado ambicioso; (iv) analisou algumas notcias, de forma aleatria, para identificar

    elementos que poderiam analisados e para simular o tempo necessrio anlise.

    Para a elaborao da ficha de anlise de contedo teve-se em considerao o facto de os

    jornais Dirio de Notcias e Pblico serem, quanto periodicidade dirios matutinos, quanto

    difuso nacionais, e quanto ao contedo, ambos informativos gerais, bem como de referncia

    (Castro, 2001: 3). Tambm se considerou o facto de que ambos tinham em comum as sees

    Sociedade, Educao, Cincia e Ambiente, e o maior interesse pblico nas notcias internacionais,

    sociais e desportivas (Castro, 2001: 5). Foram aspetos que em conjunto com a informao

    climatolgica consultada no IPMA, como j foi referido no ponto anterior, ajudaram na definio do

    perodo em anlise, o ano de 2014.

    Considerou-se ser da mxima importncia as notas de leitura que os elementos do grupo

    retiraram de alguns textos referentes ao projeto DISASTER - que pretende colmatar a lacuna de

    informao relativa s ocorrncias de desastres de origem hidro-geomorfolgica com consequncias

    danosas em Portugal Continental por ter sido atravs dessas leituras que se construram as ideias das

    categorias a analisar. Por outras palavras, foram-se buscar ideias s categorias utilizadas nesse

    projeto, a saber: tipo (cheia ou movimento de vertente), sub-tipo (i.e. cheia progressiva, cheia

    repentina, fluxo de detritos) data, localizao, fonte, data da fonte, nmero de pgina, nmero de

    mortes, feridos, desalojados, evacuados ou desaparecidos, entidades envolvidas, prejuzos materiais e

    fator desencadeante. () cada ocorrncia codificada e georreferenciada (Santos et al., 2012: 893).

    No mbito da caracterizao, o grupo decidiu recolher para cada notcia, a hiperligao e o

    ttulo da notcia, o nome do jornal, o local onde ocorreu a cheia, a data de ocorrncia da cheia e a data

    da publicao da notcia. Tambm se decidiu classificar cada uma das notcias quanto a tipo de

    jornalismo, e pensou-se inicialmente em quatro categorias possveis, a saber: jornalismo cientfico,

    jornalismo de divulgao cientfica, jornalismo declarativo e jornalismo de opinio. No entanto, aps

    o primeiro teste ficha de anlise de contedo, percebeu-se que no existia espao per si para a

    categoria do jornalismo cientfico, por falta de enquadramento no perfil dos jornais em anlise, que,

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    como referimos citando Castro (2001: 5), tm mais interesse nas notcias internacionais, sociais e

    desportivas. A opo foi criar uma categoria mais abrangente, que se intitulou de jornalismo de

    cincia ou de divulgao de cincia, e outras duas categorias complementares, jornalismo

    declarativo e jornalismo de opinio. Foram adotadas as seguintes definies:

    O jornalismo de cincia ou de divulgao de cincia informa sobre a produo

    cientfica, aquele em que o jornalista analisa de forma cuidadosa os dados

    apresentados, detetando pontos fortes e pontos fracos, caso existam, nomeadamente,

    limitaes, falhas ou incoerncias (Rehman, 2013), e faz a traduo da linguagem

    especializada, de problemas complexos, para favorecer a compreenso e despertar o

    interesse do pblico em geral pela cincia e tecnologia (Feldmann, 1993: 393).

    O jornalismo declarativo um modelo baseado na reproduo literal de declaraes

    de figuras pblicas, convertendo-as em notcias ou utilizando-as para completar

    notcias, sem que haja por parte do jornalista qualquer interpretao dos contedos. A

    identificao deste tipo de jornalismo faz-se atravs da anlise dos contedos da

    notcias nos quais se empregam verbos declarativos tais como afirmar, admitir,

    assegurar, comentar, confirmar, explicar ou indicar. um tipo de jornalismo comum

    no jornalismo poltico, desportivo ou da chamada imprensa cor-de-rosa, em que os

    declarantes dominam o ritmo e o tempo do fluxo de notcias, no passando o jornalista

    de um porta-voz (Salaverra, 2002).

    O jornalismo de opinio aquele em que o jornalista emite uma opinio sobre um

    facto ou acontecimento, com base num juzo pessoal, atravs de um meio de

    comunicao, exercendo, deste modo, influncia sobre a opinio pblica (Mendonza,

    1989).

    Nota-se que as categorias foram produzidas a partir dos autores referidos nas mesmas. No

    entanto, foram adaptados para que fosse possvel a sua aplicao na anlise de contedo das notcias

    sobre cheias publicadas nos jornais de referncia estudados.

    Ao nvel da anlise de contedo, identificaram-se os tipos de sistemas poderiam ser afetados e

    que seriam importante analisar em cada uma das notcias, e definiu-se a seguinte categorizao:

    Sistema Econmico (ex. danos em bens mveis e imveis).

    Sistema Ambiental (ex. danos na fauna, flora e patrimnio geolgico).

    Sistema Social (ex. desalojamento, interrupo de servios bsicos, migrao, falta de

    acesso a mantimentos, perturbao da ordem pblica, problemas de sade pblica, alteraes

    nos padres de vida).

  • 17 | Pgina

    Nesta altura fizeram-se novos testes para validar a ficha de anlise de contedo, e percebeu-se

    que era necessrio ter mais algum detalhe. Optou-se por pormenorizar, e definiram-se possveis nveis

    de afetao para cada um dos sistemas, com base na seguinte escala: 1 (verde) - Pouco afetado; 2

    (laranja) Intermdio; 3 (vermelho) - Muito afetado; N.A. (branco) - Nada Referido.

    No entanto, o nvel de pormenor ainda no era suficiente, porque ainda no possvel uma

    caracterizao das cheias, por exemplo, em relao perigosidade. Por esta razo o grupo decidiu

    tornar ainda mais fina a anlise, identificando quais as partes afetadas por cada um dos sistemas,

    quanto a: mortes, feridos, desalojados ou evacuados, pessoas desaparecidas, entidades envolvidas,

    construes afetadas, instalaes agropecurias afetadas, instalaes industriais afetadas, vias de

    comunicao afetadas, interrupo de servios bsicos.

    Para testar a ficha de anlise de contedo, e para realizao da anlise de contedo em si, que

    como j foi referido, foi realizada online, em folha do Google Docs, foi atribudo a cada um dos

    elementos do grupo cheias uma identificao, com base no seu email pessoal, a saber: AJN: Anne

    Nogueira ([email protected]); APO: Ana Oliveira ([email protected]); MSN: Marco

    Santos ([email protected]); XCR: Xos Carreira ([email protected]).

    3.3. APRESENTAO DOS RESULTADOS

    Foram analisadas 74 notcias sobre cheias, referente ao territrio de Portugal Continental, e

    publicadas pelo Jornal de Noticias e no Jornal Pblico no ano de 2014. Destas, 65 eram do Jornal

    Dirio de Notcias e 9 do Jornal Pblico.

    As notcias reportam-se a acontecimentos que ocorreram um pouco por todo o pas, mas em

    especial no concelho e distrito de Lisboa (44), Santarm (8) e Setbal (6).

    Em 54 notcias, aquelas que reportavam para situaes de catstrofes, foi referida a data de

    ocorrncia das cheias. As restantes 20 notcias no tinham datas porque reportavam outros assuntos,

    como comentrios de especialistas, tcnicas para mitigar as inundaes e, sobretudo, notas de

    previso da ocorrncia de inundaes. As notcias que informavam a data da ocorrncia das cheias

    ocorreram nos meses de setembro/2014 (15%), novembro/2014 (14%), fevereiro/2014 (10%) e

    janeiro/2014 (8%), conforme grfico da Figura 1, meses que coincidem com os meses de maior

    pluviosidade (IPMA, 2014). As datas da publicao das notcias sobre cheias correspondem sempre

    s suas datas de ocorrncia, o que significa que os jornalistas publicaram sempre a ocorrncia no

    prprio dia.

  • 18 | Pgina

    Figura 1 Frequncia mensal da ocorrncia de cheias

    O tipo de jornalismo mais frequente, segundo avaliaram os especialistas atravs do mtodo

    Delphi, descrito na metodologia, foi o declarativo (75,68%), seguindo-se o jornalismo explicativo-

    opinio (18,92%) e o jornalismo de divulgao cientfica (5,41%), conforme grfico da Figura 2.

    Figura 2 Categorias de jornalismo

    No que se refere aos sistemas mais afetados4, conclui-se (Figura 3) que os sistemas mais

    afetados so o social e o econmico, sendo o menos afetado o ambiental, o que significa que as cheias

    em Portugal Continental, no ano de 2014, tiveram predominantemente danos socioeconmicos.

    4 Recorda-se que N.A. significa nada referido, 1 pouco afetado, 2 intermdio e 3 muito afetado

  • 19 | Pgina

    Figura 3 - Sistemas afetados. De 1 (pouco afetado) a 3 (muito afetado).

    O sistema social (Figura 4), que no foi ligeiramente menos afetado tal como o econmico,

    deve o resultado ao facto de no ter desparecido qualquer pessoa, no ter existido qualquer morte,

    embora haja a lamentar a existncia de dois feridos ligeiros que tiveram de ter tratamento hospitalar, e

    ainda sete desalojados/evacuados como se observa no grfico seguinte.

    Figura 4 Mortes, feridos, desalojados ou evacuados e pessoas desaparecidas.

    No combate ao flagelo das cheias, tanto a montante como a jusante, estiveram envolvidas

    diversas instituies, pblicas e de iniciativa privada, ilustradas no quadro 1 e agrupadas por reas, de

    forma quantitativa, no grfico da figura 5.

    Comando Metropolitano de Lisboa da PSP Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa

    Instituto Portugus do Mar e da Atmosfera (IPMA) Grupo de Trabalho Litoral (GTL)

    Autoridade Nacional da Proteo Civil (ANPC) Associao Portuguesa de Seguradores (APS)

    Associao Interprofissional de Horticultura do

    Oeste (AIHO)

    Instituto de Geografia e Ordenamento do Territrio

    da Universidade de Lisboa

    Delegao Martima da Rgua Cmara Municipal de Lisboa (CML)

  • 20 | Pgina

    Cmara Municipal de Lisboa (CML) Cmara Municipal de gueda

    Regimento Sapadores de Lisboa (RSL) Cmara Municipal de Sintra

    Associao Portuguesa de Seguradores (APS) Organizao Meteorolgica Mundial (OMM)

    Autoridade Nacional de Proteo Civil de Santarm Proteo Civil Municipal e Bombeiros da Lourinh

    Bombeiros Municipais de Santarm Estradas de Portugal (EP)

    Bombeiros das Caldas da Rainha Bombeiros Voluntrios de Carnaxide

    Bombeiros Sapadores do Porto Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (Lisboa)

    Bombeiros Voluntrios de Esmoriz QUERCUS

    Servio Municipal de Proteo Civil (SMPC) de

    Sintra

    Comando Distrital de Operaes de Socorro

    (CDOS) de Santarm

    Ministrio do Ambiente Agncia Portuguesa do Ambiente (APA)

    Marinha Portuguesa Energias de Portugal (EDP)

    Unidade Cinotcnica do Regimento de Sapadores

    Bombeiros de Lisboa

    Comando Distrital de Operaes de Socorro

    (CDOS) do Porto

    Comando Distrital das Operaes de Socorro

    (CDOS) de Braga

    Comando Distrital de Operaes de Socorro de

    Santarm,

    Bombeiros Voluntrios de Braga, bombeiros

    sapadores de braga

    Comando Distrital de Operaes de Socorro

    (CDOS) de Setbal

    Comando Distrital de Operaes de Socorro

    (CDOS) de Beja

    Comando Distrital de Operaes de Socorro

    (CDOS) de vora

    Direo Geral do Ambiente (DGA) Associao Portuguesa de Urbanistas

    Comando Metropolitano da PSP de Lisboa Guarda Nacional Republicana (GNR)

    Quadro 1 Listagem de entidades referidas nas notcias sobre cheias.

    Figura 5 Resumo agregado de entidades referidas nas notcias sobre cheias.

    Entidade Freq. %(*)

    ANPC, SIOPS (CCON, CCOD e CNOS) e CDOS 43 58,11%

    Bombeiros e INEM 28 37,84%

    IPMA 28 37,84%

    Cmaras municipais 14 18,92%

    Foras de segurana pblica (PSP, GNR e PM) 11 14,86%

    Associaes profissionais 3 4,05%

    Universidades 2 2,70%

    Outras entidades 11 14,86%

    (*) Percentagem sobre o total de notcias

    43

    28

    28

    14

    113

    2

    Entidades referidas nas notcias

    ANPC, SIOPS(CCON, CCOD e

    CNOS) e CDOS

    Bombeiros eINEM

    IPMA

    Cmarasmunicipais

  • 21 | Pgina

    As notcias analisadas sobre cheias demonstram que as cheias afetam mais as construes e as

    vias de comunicao, e menos as instalaes agropecurias e as instalaes comerciais e industriais,

    sendo que no levam interrupo dos servios bsicos.

    Considerando que o maior nmero de notcias foi publicado com referncia a reas urbanas,

    nomeadamente em Lisboa e Setbal, percebe-se o motivo das instalaes agropecurias, comerciais e

    industriais terem sido as menos afetadas.

    Estes dados, espelhados no grfico da figura 6, permitem inferir que, aquando da ocorrncia

    de cheias, os principais danos so sociais e econmicos. Daqui tambm se pode inferir que o sistema

    de comunicao (e alerta precoce) funciona e evita danos sociais, como perdas de vidas. Pode ainda

    relacionar-se a menor perceo do risco de cheias com as menores consequncias sociais das mesmas,

    quando comparadas com as consequncias dos sismos e inundaes, socialmente mais nefastas.

    Figura 6 Construes, vias de comunicao, instalaes comerciais e industriais afetadas pelas

    cheias, e interrupo de servios bsicos.

    4. ANLISE DA ABORDAGEM ADOTADA PELOS RGOS DE COMUNICAO NA DIVULGAO

    DE NOTCIAS SOBRE AS CHEIAS, ATRAVS DA TCNICA DO QUESTIONRIO ONLINE

    4.1. METODOLOGIA

    A aplicao da tcnica seguiu cinco etapas (fases), com base em Almeida e Pinto (1995), realizadas

    de forma sequencial, a saber:

  • 22 | Pgina

    a) Planeamento do inqurito: balizou-se o problema de investigao, definiram-se as questes

    que considermos adequadas para dar resposta aos objetivos de investigao 3.1 e 3.2 (ver

    tpico 2), e delimitou-se o universo alvo do questionrio - os cibernautas residentes em

    Portugal continental em 2014. Decidiu-se que o inqurito online autoadministrado era o mais

    adequado para o pblico-alvo.

    b) Preparao do instrumento de recolha de dados: nesta fase elabormos o projeto do

    questionrio, com uma linguagem acessvel aos inquiridos e compatvel com os objetivos.

    Atravs do pr-teste ou inqurito-piloto, foram previamente ensaiados o tipo, forma e ordem

    das perguntas que, a ttulo provisrio, se incluram no questionrio preliminar.

    Foram realizados vrios pr-testes durante trs dias e em 3 crculos, quase em simultneo, e

    os comentrios de melhoria foram introduzidos no questionrio s no final de todo processo.

    Ou seja, no se operou qualquer alterao estrutura e contedo do questionrio enquanto

    decorreu o pr-teste, o que significa que em todos os casos os avaliadores estavam em

    igualdade de condies. A seguir indica-se a quem foram realizados os pr-testes.

    Pr-Teste crculo 1: Foi solicitada a opinio dos docentes da UC Seminrio de

    Aprofundamento Metodolgico II (SAM II), Professora Filomena Amador e Professor

    Jorge Trindade.

    Pr-Teste crculo 2: Foi solicitada a opinio dos colegas da UC SAM II.

    Pr-Teste crculo 3: Foi recolhida a opinio de expertos prximos entre os que

    resultaram muito teis as opinies de Anabela Ferreira, engenheira civil especialista

    em drenagem e de Manuela Garcia, jornalista.

    Durante esta etapa aperfeioaram-se as caractersticas a seguir adaptadas da empresa Infopoll

    (1998). O questionrio pretendia ser: interessante, simples, preciso, discreto, objetivo, com

    suficientes alternativas de resposta, bem estruturado e organizado de forma lgica.

    c) Nesta fase decidiram-se os pormenores de execuo material do questionrio online (aspecto

    grfico, problemas relacionados com a distribuio, difuso e devoluo dos questionrios,

    etc.). O questionrio foi criado com a tecnologia de formulrios online Google Docs e foi

    divulgado durante uma semana nas pginas pessoais dos discentes nas principais redes sociais

    e nos grupos de Facebook, LinkedIn e Google+ da Universidade Aberta.

    d) Anlise dos resultados: esta fase incluiu, alm de outras operaes, a codificao das

    respostas, o apuramento e tratamento da informao com folha de clculo.

    e) Apresentao dos resultados.

  • 23 | Pgina

    4.2. QUESTIONRIO CONSTRUDO E UTILIZADO

    O ttulo escolhido para o questionrio online foi A perceo do risco de cheias nos leitores

    do Jornal Pblico e do Jornal Dirio de Notcias online.

    No pgina online do questionrio, criada especificamente para este fim5, comeou-se por

    explicar que o questionrio integrava o conjunto das atividades letivas desenvolvidas no mbito da

    UC SAM II, do curso de Doutoramento em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento, lecionado na

    Universidade Aberta de Portugal, e que tinha como objetivo avaliar como o risco de cheias

    percecionado pelos leitores do Jornal Pblico online e do Jornal Dirio de Notcias online, que

    residiam em Portugal Continental no ano de 2014. Foi ainda explicado, com bastante detalhe, que a

    informao recolhida s seria utilizada para fins acadmicos, de forma estritamente annima,

    confidencial e agregada.

    As primeiras perguntas do questionrio visavam conhecer alguns dados do inquirido para uma

    caracterizao da amostra e uma ulterior segmentao significativa.

    Q.0.1: Sexo, idade, habilitaes literrias.

    Q.0.2: Distrito portugus em que morou maioritariamente no ano 2014.

    Q.0.3: Qual jornal online l com mais frequncia:

    - maioritariamente o jornal Pblico.

    - maioritariamente o jornal Dirio de Notcias.

    - Pblico e Dirio de Notcias por igual.

    - Nenhum dos dois jornais.

    Os questionrios respondidos por cibernautas que no liam habitualmente nenhum dos dois

    jornais em estudo foram considerados vlidos e analisados, o que permitiu fazer triangulao com a

    informao, enriquecendo o estudo. Independentemente dos cibernautas lerem ou no os peridicos

    em estudo, considerou-se que o mais importante a perceo que tm sobre a probabilidade e

    perigosidade da ocorrncia de cheias.

    Cada questo tinha associado um conjunto de respostas possveis, que o sistema informtico

    apresentava aos inquiridos de forma aleatria para evitar respostas induzidas pelo arranjo das

    hipteses. Desta forma, cada vez que um novo leitor tentasse responder ao questionrio, no s existia

    variao na numerao das questes, como havia variao na organizao das respostas possveis

    para cada uma das perguntas. Por exemplo, se dois leitores respondessem lado a lado ao questionrio,

    teriam forosamente que responder s mesmas questes, mas no na mesma sequncia.

    5 Para consultar a pgina online do questionrio, aceder aqui

    https://drive.google.com/open?id=15Uf7j7Qs_mIX0JHWxVmFyEbYeVYAzfjxqBF7dzpG23M

  • 24 | Pgina

    O objetivo de investigao n. 3.1. apurar se existe nos leitores a perceo da hiptese de

    serem afetados social, ambiental e economicamente (os trs piares da sustentabilidade) pelo risco de

    cheias. Este objetivo consegue resposta atravs das seguintes trs questes:

    Q.3.1.1. Considera que poder ser afetado por uma cheia na perspetiva:

    - Econmica (danos em bens mveis e imveis);

    - Ambiental (danos na natureza, nomeadamente na fauna e flora);

    - Social (desalojamento, interrupo de servios bsicos, migrao, falta de acesso a

    mantimentos, perturbao da ordem pblica, problemas de sade pblica, alteraes nos

    padres de vida).

    O inquirido podia optar por uma ou mais opes de resposta. As respostas no foram

    apresentadas sempre da mesma forma, alternavam por processo automtico para evitar

    respostas enviesadas.

    Alm disso, com base na formulao do risco (Risco = Ameaa x Vulnerabilidade) o

    leitor foi inquirido sobre as consequncias a priori (por probabilidade de ocorrncia) e a

    posteriori de uma cheia (caso a ameaa de cheia fosse cumprida, qual a mais danosa).

    Q3.1.2. Na eventualidade de ser afetado por uma cheia, selecione as consequncias que

    considera mais provveis.

    Q3.1.3. Na eventualidade de ser afetado por uma cheia, selecione as consequncias que

    considera mais perigosas.

    A seguir apresenta-se a lista de consequncias para ambas as questes anteriores:

    - Mortos, feridos ou desalojados.

    - Interrupo do fornecimento de gua, luz, telefone ou saneamento.

    - Estradas interrompidas, danificadas ou inundadas.

    - Perda de colheitas e/ou de animais/gado (ex. galinhas, porcos, vacas).

    - Danos em bens mveis (ex. recheio da habitao) e imveis (ex. casas inundadas).

    - Falta de acesso a mantimentos (produtos alimentares).

    - Aparecimento de doenas.

    - Queda de rvores, deslizamentos de terras e derrocadas.

    - Contaminao da gua.

    - Risco de incndios por falha eltrica.

    O inquirido podia optar por uma, duas ou trs opes de resposta. A lista foi

    apresentada em ordem aleatria.

  • 25 | Pgina

    O objetivo de investigao n. 3.2. apurar se a perceo do risco das cheias, a partir da leitura dos

    peridicos online, deixa os leitores mais atentos e mais participativos, reduzindo a sua exposio. Pela

    tcnica do questionrio elaboraram-se trs questes para tentar responder a este objetivo, a saber:

    Q.3.2.1. Considera que a informao sobre cheias e inundaes veiculada na imprensa

    suficiente e esclarecedora de modo a diminuir as consequncias nefastas das mesmas?

    Pergunta de resposta fechada, em que o inquerido s poderia responder: Sim / No.

    Q3.2.2. Com base na e perincia de vida, que adquiriu em ocorrncias de cheias no passado,

    e tambm em leituras das notcias sobre cheias, consegue :

    - Conhecimento que lhe vai permitir realizar aes de preveno de consequncias de cheias

    e inundaes?

    - Conhecimento que lhe vai permitir no futuro mitigar a exposio a cheias e inundaes?

    - Capacitao e incentivo para a participao nos processos de consulta pblica de gesto do

    territrio?

    O inquirido podia optar por uma ou mais opes de resposta. As respostas foram

    apresentadas em ordem aleatria.

    Q.3.2.3. Prefere que a informao sobre as cheias e os seus riscos lhe seja transmitida na

    forma de:

    - Notcias com declaraes de investigadores e acadmicos.

    - Notcias com declaraes de tcnicos da administrao e responsveis polticos.

    - Notcias com opinies dos jornalistas.

    - Notcias com detalhes do nmero de pessoas afetadas, danos nas construes e instalaes,

    e interrupes de servios.

    - Reportagens especficas de divulgao cientfica.

    O inquirido podia optar por uma ou mais opes de resposta. As respostas foram

    apresentadas em ordem aleatria para evitar respostas enviesadas.

    4.3. APRESENTAO DOS RESULTADOS

    O questionrio online foi aplicado entre 11 e 17 de julho, tendo recebido nesse perodo 52

    respostas validas, das quais 29 foram dadas no dia 14 de julho (Figura 7).

  • 26 | Pgina

    Figura 7 Respostas recebidas por dia.

    A seguir apresentam-se de forma sequencial vrios grficos e respetivos quadros de frequncias

    absolutas e relativas, que dispensam comentrios descritivos por serem to elucidativos e de fcil

    leitura. No obstante, sempre que tal se mostre relevante, sero feitos comentrios.

    Q.0.1: Sexo, idade, habilitaes literrias.

    Figura 8 Sexo dos inquiridos.

    Figura 9 Idade dos inquiridos.

  • 27 | Pgina

    Figura 10 Habilitaes literrias dos inquiridos.

    Q.0.2: Distrito portugus em que morou maioritariamente no ano 2014.

    Figura 11 Distrito de residncia em 2014 dos inquiridos.

    O grosso das notcias analisadas foram publicadas no jornal Dirio de Noticias (65 no Dirio

    de Notcias e 9 no Pblico) (Figura 1), no entanto a maior parte dos cibernautas que respondeu ao

    questionrio referiu que l com mais frequncia o jornal Pblico (24 Pblico e 7 o Dirio de Notcias)

  • 28 | Pgina

    (Figura 12). Desta particularidade estatstica poderia ocorrer que a perceo do risco de cheias podia

    ser menor da parte dos leitores do jornal Pblico, uma vez que este peridico no publicar tanta

    informao sobre cheias, mas no foi o caso.

    Q.0.3: Qual jornal online l com mais frequncia:

    Figura 12 Jornal online e preferncia dos inquiridos.

    Q.3.1.1. Considera que poder ser afetado por uma cheia na perspetiva (...)

  • 29 | Pgina

    Figura 13 Perspetiva afetada. Segmentao por jornal.

    Os cibernautas que responderam ao questionrio, independentemente de serem leitores do

    jornal Pblico ou do jornal Dirio de Noticias, ou de nenhum dos dois, consideram que a ocorrncia

    de cheias produz maior impacte social, mas tambm um grande impacte ambiental e econmico,

    respetivamente (Figura 13). Os dados apurados revelam grande simetria nas respostas, mas podemos

    inferir que as respostas remetem acertadamente para a problemtica da ocorrncia das cheias no

    quadro do desenvolvimento sustentvel, envolvendo desta forma todas as vertentes do mesmo.

    No entanto, se se aumentar a fineza da anlise e for considerada a perceo da vulnerabilidade

    em reas especficas, so encontradas diferenas significativas entre a perceo dos leitores residentes

    no distrito de Lisboa e a perceo dos leitores residentes no distrito de Leiria, Santarm e Setbal. Os

    primeiros consideram que a ocorrncia de cheias afeta sobretudo o ambiente, enquanto os segundos

    Perspetiva afetada (Leitores do Pblico) Frequncia %

    Social 9 37,50%

    Ambiental 10 41,67%

    Econmica 11 45,83%

    Perspetiva afetada (Leitores do Dirio de Notcias) Frequncia %

    Social 5 71,43%

    Ambiental 2 28,57%

    Econmica 2 28,57%

    Perspetiva afetada (Leitores por igual do Pblico e do DN) Frequncia %

    Social 4 50,00%

    Ambiental 5 62,50%

    Econmica 3 37,50%

    Perspetiva afetada (No leitores do Pblico e do DN) Frequncia %

    Social 7 53,85%

    Ambiental 6 46,15%

    Econmica 5 38,46%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%Social

    AmbientalEconmica

    Perspetiva afetada

    Leitores maioritariamente do Pblico Pblico e DN por igual

    Maioritariamente DN No leitores

  • 30 | Pgina

    consideram que afeta especialmente a perspetiva social. Poderemos encontrar na interioridade algum

    fundamento para a justificao dos resultados alcanados (Figura 14).

    Destaca-se ainda, de forma positiva, o facto dos cibernautas com menos de 42 anos terem

    uma posio de princpio/ideolgica semelhante aos cibernautas com mais do que essa idade, com

    ligeiras diferenas: os primeiros destacam a perspetiva ambiental como a mais afetada, enquanto os

    segundos consideram que a perspetiva social a mais afetada com a ocorrncia de cheias ou

    inundaes. Com base nestes dados parece no existir qualquer confronto na perspetiva

    intergeracional (Figura 15).

    Figura 14 Perspetiva afetada. Segmentao por distrito de residncia em 2014.

    Decorre da anlise do grfico da Figura 14, que a perspetiva afetada econmica mais

    relevante que a social, enquanto nos distritos de Leiria, Santarm e Setbal a ordem de perceo da

    perspetiva afetada a inversa.

    Perspetiva afetada (Leiria+Santarm+Setbal) Frequncia %

    Social 16 59,26%

    Ambiental 9 33,33%

    Econmica 10 37,04%

    Perspetiva afetada (Distrito de Lisboa) Frequncia %

    Social 4 40,00%

    Ambiental 7 70,00%

    Econmica 6 60,00%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%Social

    AmbientalEconmica

    Perspetiva afetada

    Leira,Setbal,Santarm

    Distrito de Lisboa

  • 31 | Pgina

    Figura 15 Perspetiva afetada. Segmentao por idade dos inquiridos.

    A segmentao por idades foi feita no valor de 42 anos por este valor corresponder mdia e

    mediana de idades da populao respondente.

    A populao com mais de 42 anos tem uma maior sensibilidade socioeconmica enquanto a

    populao com mais de 42 anos apresenta maior sensibilidade socioambiental.

    Q3.1.2. Na eventualidade de ser afetado por uma cheia, selecione at trs consequncias que

    considera mais provveis.

    Q3.1.3. Na eventualidade de ser afetado por uma cheia, selecione at trs consequncias que

    considera mais perigosas.

  • 32 | Pgina

    Figura 16 Perceo de consequncias mais provveis e de consequncias mais perigosas.

    As consequncias mais perigosas aquando da ocorrncia de cheias, segundo os cibernautas,

    a perda de vidas humana, e a ocorrncia de feridos ou desalojados. Por outro lado, as consequncias

    mais provveis, e que acontecem com alguma frequncia, a queda de rvores, deslizamentos de

    terras e derrocadas, vias de comunicao interrompidas (inundadas) ou danificadas, e a interrupo do

    fornecimento de bens bsicos, como gua, luz, telefone ou saneamento (Figura 16).

    Em base a esta informao possvel criar um indicador de risco percebido como:

    ndice de risco percebido (Freq. consequncia provvel x Freq. consequncia perigosa) / N

    Total de Respostas

    Consequncia Frequncia % Frequncia %

    (Probabilidade) (Perigosidade)

    Mortos, feridos ou desalojados 16 29,63% 27 50,00%

    Interrupo do fornecimento de gua, luz, telefone

    ou saneamento 30 55,56% 14 25,93%

    Estradas interrompidas, danificadas ou inundadas 29 53,70% 12 22,22%

    Perda de colheitas e/ou de animais/gado (ex. galinhas,

    porcos, vacas) 13 24,07% 8 14,81%

    Danos em bens mveis (ex. recheio da habitao) e

    imveis (ex. casas inundadas) 19 35,19% 5 9,26%

    Falta de acesso a mantimentos (produtos alimentares) 10 18,52% 18 33,33%

    Aparecimento de doenas 7 12,96% 22 40,74%

    Queda de rvores, deslizamentos de terras e

    derrocadas 29 53,70% 16 29,63%

    Contaminao da gua 12 22,22% 21 38,89%

    Risco de incndios por falha eltrica 4 7,41% 10 18,52%

    16

    30

    29

    13

    19

    10

    7

    29

    12

    4

    27

    14

    12

    8

    5

    18

    22

    16

    21

    10

    0 5 10 15 20 25 30 35

    Mortos, feridos ou desalojados

    Interrupo do fornecimento de gua, luz, telefone ou

    Estradas interrompidas, danificadas ou inundadas

    Perda de colheitas e/ou de animais/gado (ex. galinhas,

    Danos em bens mveis (ex. recheio da habitao) e

    Falta de acesso a mantimentos (produtos alimentares)

    Aparecimento de doenas

    Queda de rvores, deslizamentos de terras e derrocadas

    Contaminao da gua

    Risco de incndios por falha eltrica

    Respostas

    Co

    nse

    qu

    e

    nci

    as

    Perceo de consequncias por perigosidade e probabilidade

    Perigosidade Probabilidade

  • 33 | Pgina

    Figura 17 Perceo de consequncias por indicador de risco percebido.

    A respeito d ao risco percebido (Figura 17), o facto de que a consequncia denominada

    queda de rvores, deslizamentos de terras e derrocadas fiquem acima em termos de risco percebido,

    que o risco de morte, feridos e desalojados tem a ver com o facto de que as pessoas tendem a

    sobrestimar a probabilidades de inundao e subestimar os danos decorrentes das inundaes, como

    patente em estudos feitos na Sua e na Holanda (Siegrist & Gutscher, 2006; Seifert et al., 2013).

    Q.3.2.1. Considera que a informao sobre cheias e inundaes veiculada na imprensa

    suficiente e esclarecedora de modo a diminuir as consequncias nefastas das mesmas?

    Consequncia (Risco) Frequncia %

    Queda de rvores, deslizamentos de terras e derrocadas 9 17,16%

    Mortos, feridos ou desalojados 8 15,98%

    Interrupo do fornecimento de gua, luz, telefone ou saneamento 8 15,53%

    Estradas interrompidas, danificadas ou inundadas 7 12,87%

    Contaminao da gua 5 9,32%

    Falta de acesso a mantimentos (produtos alimentares) 3 6,66%

    Aparecimento de doenas 3 5,70%

    Perda de colheitas e/ou de animais/gado (ex. galinhas, porcos, vacas) 2 3,85%

    Danos em bens mveis (ex. recheio da habitao) e imveis (ex. casas inundadas) 2 3,51%

    Risco de incndios por falha eltrica 1 1,48%

    9

    8

    8

    7

    5

    3

    3

    2

    2

    1

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    Queda de rvores, deslizamentos de terras e

    Mortos, feridos ou desalojados

    Interrupo do fornecimento de gua, luz, telefone

    Estradas interrompidas, danificadas ou inundadas

    Contaminao da gua

    Falta de acesso a mantimentos (produtos alimentares)

    Aparecimento de doenas

    Perda de colheitas e/ou de animais/gado (ex.

    Danos em bens mveis (ex. recheio da habitao) e

    Risco de incndios por falha eltrica

    Respostas

    Co

    nse

    qu

    n

    cias

    Consequncias e risco percebido

  • 34 | Pgina

    Figura 18 Perceo da qualidade das notcias como clara e suficiente ou no.

    Q3.2.2. Com base na experincia de vida, que adquiriu em ocorrncias de cheias no passado,

    e tambm em leituras das notcias sobre cheias, consegue (...)

    Figura 19 Conhecimento adquirido pelos inquiridos.

    As figuras 18 e 19 mostram que a informao veiculada s pelos media sobre cheias e

    inundaes no esclarecedora o suficiente para diminuir as consequncias nefastas das mesmas. No

    entanto, quando os cibernautas conciliam o seu conhecimento emprico, de cheias que ocorreram no

    passado, com a informao que absorvem dos media, reconhecem que isso lhes pode trazer

    conhecimento capaz de mitigar no futuro a exposio a cheia e inundaes, e reconhecem mais

    Classe Frequncia %

    No 45 86,54%

    Sim 7 13,46%

    No

    Sim

    clara e suficiente a informao sobre cheias na imprensa?

    Conhecimento adquirido Frequncia %

    Conhecimento que lhe vai permitir realizar aes de preveno de

    consequncias de cheias e inundaes? 30 57,69%

    Conhecimento que lhe vai permitir no futuro mitigar a exposio a cheias e

    inundaes? 18 34,62%

    Capacitao e incentivo para a participao nos processos de consulta pblica de

    gesto do territrio? 14 26,92%

    30

    18

    14

    0 5 10 15 20 25 30 35

    Conhecimento que lhe vai permitir realizar aes depreveno de consequncias de cheias e inundaes?

    Conhecimento que lhe vai permitir no futuro mitigar aexposio a cheias e inundaes?

    Capacitao e incentivo para a participao nosprocessos de consulta pblica de gesto do territrio?

    Respostas

    Conhecimento adquirido

  • 35 | Pgina

    intensamente poderem obter um conhecimento que lhes permita realizar aes de preveno, e assim

    mitigar as consequncias do fenmeno.

    Q.3.2.3. Prefere que a informao sobre as cheias e os seus riscos lhe seja transmitida na

    forma de (...)

    Figura 20 Preferncia sobre tipos de notcias.

    Os cibernautas que responderam ao questionrio indicaram ter preferncia por peas

    jornalsticas declarativas, onde so citadas declarao de organismos oficiais, nomeadamente a

    ANPC, Bombeiros, IPMA e Autarquias. Revelam, tambm, interesse em notcias constitudas por

    reportagens de divulgao cientfica, e declaraes de investigadores e acadmicos, reconhecendo que

    os especialistas acadmicos gozam ainda de grande credibilidade junto do pblico geral, sendo

    geralmente considerados quando apontam uma orientao.

    Notcias (preferncia) Frequncia %

    Notcias com declaraes da Proteo Civil, bombeiros, polcia, autarcas, etc 31 59,62%

    Notcias com declaraes de investigadores e acadmicos 19 36,54%

    Reportagens especficas de divulgao cientfica 19 36,54%

    Notcias detalhadas sobre o nmero de pessoas afetadas, danos nas construes e

    instalaes, e interrupo de servios 14 26,92%

    Notcias com opinies de comentadores 2 3,85%

    31

    19

    19

    14

    2

    0 5 10 15 20 25 30 35

    Notcias com declaraes da Proteo Civil,bombeiros, polcia, autarcas, etc

    Notcias com declaraes de investigadores eacadmicos

    Reportagens especficas de divulgao cientfica

    Notcias detalhadas sobre o nmero de pessoasafetadas, danos nas construes e instalaes, e

    Notcias com opinies de comentadores

    Respostas

    Preferncias sobre tipos de notcias

  • 36 | Pgina

    5. CONCLUSES FINAIS

    As cheias excecionais so pouco previsveis e so muito frequentemente causa de danos

    considerveis. Quando ocorrem em zonas densamente povoadas podem originar grandes catstrofes,

    com perdas sociais, econmicas e ambientais muito significativas.

    O principal fator que dificulta a previso das cheias e inundaes a extrema rapidez do

    fenmeno. Uma cheia pode desencadear-se em algumas horas, no havendo, ento, tempo de fazer o

    que quer que seja. A melhor preveno, ou a preveno mais eficaz, consiste em elaborar mapas de

    risco em que se assinalam as zonas inundveis para declarar estas zonas como interditas construo;

    portanto, consiste em afastar as populaes de reas de risco. Para mitigar os efeitos das cheias e

    inundaes importante apostar na eficaz e eficiente comunicao pblica do risco, antes, durante e

    depois do fenmeno.

    Com todas as funes que os media desempenham na sociedade moderna (fontes de

    informao e de memorizao, intermediao entre grupos, palcos de conflitos, traduo de

    problemas complexos, divulgao de factos, construo de realidades, infraestruturao do nosso

    modo de vida, entre outros), tm um papel absolutamente crucial na formao ativa da opinio

    pblica, e em especial na comunicao do risco. Por este motivo foram analisadas 74 notcias alusivas

    ao tema das cheias, referentes a Portugal Continental e publicadas online em 2014 (65 pelo jornal

    Pblico e 9 pelo Jornal de Noticias), para se perceber como estes dois peridicos abordam o risco de

    cheias e de inundaes, e como esse risco percecionado pelos leitores. No se pode dizer que se

    tenha chegado a resultados inovadores.

    Cerca de 65% das notcias reportam-se a cheias que ocorreram no distrito de Lisboa, o que

    reflete a centralidade de Lisboa no contexto nacional, e existe uma forte relao entre data de

    ocorrncia de cheias e data da publicao das notcias. exemplo disso, o facto de cerca de 15% das

    notcias terem sido publicadas em setembro, 14% em novembro, 10% em fevereiro e 8% em janeiro,

    meses que de acordo com o IPMA foram de grande pluviosidade. Daqui decorre, e os dados

    estatsticos corroboram, que a maioria das notcias pode classificar-se como pertencentes categoria

    de jornalismo declarativo (75,68%) e categoria de jornalismo de opinio (18,92%). Por serem

    notcias muito centradas na capital, no existem relatos de danos em instalaes agropecurias e em

    instalaes comerciais e industriais, geralmente infraestruturas localizadas na periferia da mancha

    urbana.

    Quando ocorrem cheias e inundaes, os resultados do questionrio online revelam que as

    condies sociais so as mais afetadas, por motivos decorrentes de danos em edifcios habitacionais

    que condicionam a sua ocupao e interdio e/ou danos em vias de comunicao, o que gera

    desalojados mas, felizmente, sem grande perigosidade para a vida humana (apesar de no se

    registarem vtimas mortais, em 2014 registaram-se dois feridos ligeiros). No ano de 2014 as

    consequncias das cheias em Portugal Continental foram mnimas, e s por isso os dados apurados

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    so positivos. Para tanto, h a referir a eficcia do SIOPS Sistema Integrado de Operaes de

    Proteo e Socorro, e das entidades integrantes, atravs da atuao do CCON Centro de

    Coordenao Operacional Nacional, do CCOD Centros De Coordenao Operacional Distrital, e do

    CNOS Comando Nacional de Operaes de Socorro, na coordenao e direo estratgica das

    operaes de socorro. Tambm assinalvel o trabalho dos Bombeiros, INEM - Instituto Nacional de

    Emergncia Mdica, IPMA Instituto Portugus do Mar e da Atmosfera, Foras de segurana

    pblica (PM, PSP e GNR), Cmaras Municipais e respetivos gabinetes locais da Proteo Civil,

    ONGs, entre outras.

    Considerado um dos pontos de partida do presente estudo, o recurso tcnica de anlise de

    contedo permite-nos afirmar que - decorrente da fase de interpretao das notcias inseridas na

    amostra, a informao sobre cheias, sua previso, a minimizao das suas consequncias assim como

    as instabilidades que da podem ocorrer para a populao - a informao prestada pelos peridicos

    analisados no a necessria e suficiente para efeitos de mudanas de comportamentos e reduo da

    vulnerabilidade aos eventos naturais.

    As notcias analisadas sobre cheias e inundaes enquadram-se, na sua maioria, no tipo de

    jornalismo declarativo. Significa isto que a informao prestada pelos jornais selecionados apresenta

    informao de autoridades (Figura 2) que emitem declaraes as quais estaro as disponveis

    sociedade e portanto ao cidado. Existe uma forte presena da Proteo Civil e bombeiros nas

    notcias (Figura 5) tal e como desejam os leitores (Figura 20).

    Considerada a observao da relao entre jornalismo declarativo e o sistema afetado, sendo o

    sistema econmico o mais afetado e o ambiental o menos afetado, provavelmente a categoria de

    jornalismo mais relevante seria o de divulgao cientfica dada a manifestao dos inquiridos sobre a

    insuficiente informao prestada por aqueles meios de comunicao social.

    De acordo com questionrio online, consegue estabelecer-se uma relao entre a perceo do

    risco de cheias e as consequncias sociais. As catstrofes naturais afetam diretamente e indiretamente

    a estrutura social (ANPC, 2014). Os danos sociais so os mais percecionados e provveis de acordo

    com os inquiridos, sendo demonstrada preocupao com o que afeta mais o bem-estar dirio assim

    como com a atividade diria profissional (Figura 17).

    A informao prestada por estes media no suficientemente clara (Figura 18) pelo que o

    jornalismo declarativo no satisfaz a necessidade de conhecimento que conduza alterao de

    comportamentos. Esta anlise contrasta com a preferncia manifestada em inqurito sobre o tipo de

    notcias ou seja, por notcias com declaraes da proteo civil, bombeiros, policia, seguidas de

    reportagens especficas de divulgao cientfica. Neste aspeto, as possveis aes de mitigao

    resultam de experincias adquiridas e no fundamentalmente da informao que dada pelo

    informante (Figura 19).

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    Nas notcias analisadas, apenas existem declaraes de investigadores e acadmicos (Figura

    5) e a presena das universidades baixssima, apesar das preferncias dos inquiridos (Figura 20).

    Seria interessante analisar o modo como cientistas e jornalistas podem colaborar no sentido de os

    media assegurarem que, das informaes prestadas, constem aquelas que completam as declaraes,

    isto , que a contextualizao seja feita associando dados que contribuam para a mitigao e

    capacidade de prevenir consequncias nefastas, o que est acordo com o facto da cincia da

    comunicao estar ainda associada apenas ao modo de transmisso (Semir, 2010) em detrimento do

    seu contedo.

    Finalmente, a amostra reduzida e algumas perguntas importantes no realizadas, tudo

    consubstanciado, traduziu-se em evidncias pouco significativas para uma anlise estatstica mais

    elaborada. J numa fase avanada da investigao, sem retorno, identificaram-se duas questes que

    teria sido importante integrar no questionrio online, a saber: J vivenciou uma cheia? e J teve ou

    tem seguro de cheias?. Considera-se relevante a obteno desta informao dado que a perceo do

    risco de cheia e da sua perigosidade altera em funo do local de residncia, da idade e da experincia

    acumulada. A resposta a estas questes teria permitido perceber se a idade e o distrito de morada

    estavam ou no relacionados com a experincia de ter vivenciado uma cheia.

  • 39 | Pgina

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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