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A EVOLUÇÃO NO PROCESSO DE INSTITUIÇÃO DE ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL EM JOÃO PESSOA – PB Resumo Este artigo aborda fatores determinantes no processo de expansão dos aglomerados subnormais e a metodologia de instituição das Zonas Especiais de Interesse Social do município de João Pessoa - PB. Esses aglomerados cresceram e se espalharam rapidamente, a partir da década de 1970, por toda a poligonal urbana, em especial nas áreas de várzeas e encostas dos rios que cortam o município. Neste sentido, as ZEIS foram analisadas enquanto instrumento urbanístico voltado ao ordenamento do uso e ocupação do solo urbano. Este trabalho como foco a análise dos aspectos de evolução da Prefeitura Municipal de João Pessoa junto à identificação desses aglomerados e à instituição legal das ZEIS. Para tal, foram realizadas pesquisas bibliográficas junto à legislação vigente, pesquisas de campo para o levantamento de informações e posterior sistematização dos dados coletados, ilustrados através de tabelas e mapas temáticos. O artigo constata, em suas considerações, a evolução no processo de criação das ZEIS, segundo as orientações expressas no Estatuto das Cidades e Plano Diretor Municipal. Palavras-chave: Zona Especial de Interesse Social; Aglomerados Subnormais; Planejamento; Estatuto das Cidades; Plano Diretor. EVOLUTION IN THE PROCESS OF INSTITUTION OF THE SPECIAL ZONES OF SOCIAL INTEREST IN JOÃO PESSOA - PB Abstract This study approaches the determinant factors in the shantytowns expansion process and the methodology adopted for the institution of the Special Zones of Social Interest (SZSI) in the city of João Pessoa – Paraíba. These shantytowns grew and spreaded themselves, from the 1970’s, through all urban area, specially in the lowland areas and the shores of the João Pessoa’s Government evolution in identifying these shantytowns and in creating a legal frame for the SZSI. To

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A EVOLUÇÃO NO PROCESSO DE INSTITUIÇÃO DE ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL EM JOÃO PESSOA – PB

Resumo

Este artigo aborda fatores determinantes no processo de expansão dos aglomerados subnormais e a metodologia de instituição das Zonas Especiais de Interesse Social do município de João Pessoa - PB. Esses aglomerados cresceram e se espalharam rapidamente, a partir da década de 1970, por toda a poligonal urbana, em especial nas áreas de várzeas e encostas dos rios que cortam o município. Neste sentido, as ZEIS foram analisadas enquanto instrumento urbanístico voltado ao ordenamento do uso e ocupação do solo urbano. Este trabalho como foco a análise dos aspectos de evolução da Prefeitura Municipal de João Pessoa junto à identificação desses aglomerados e à instituição legal das ZEIS. Para tal, foram realizadas pesquisas bibliográficas junto à legislação vigente, pesquisas de campo para o levantamento de informações e posterior sistematização dos dados coletados, ilustrados através de tabelas e mapas temáticos. O artigo constata, em suas considerações, a evolução no processo de criação das ZEIS, segundo as orientações expressas no Estatuto das Cidades e Plano Diretor Municipal.

Palavras-chave: Zona Especial de Interesse Social; Aglomerados Subnormais; Planejamento; Estatuto das Cidades; Plano Diretor.

EVOLUTION IN THE PROCESS OF INSTITUTION OF THE SPECIAL ZONES OF SOCIAL INTEREST IN JOÃO PESSOA - PB

Abstract

This study approaches the determinant factors in the shantytowns expansion process and the methodology adopted for the institution of the Special Zones of Social Interest (SZSI) in the city of João Pessoa – Paraíba. These shantytowns grew and spreaded themselves, from the 1970’s, through all urban area, specially in the lowland areas and the shores of the João Pessoa’s Government evolution in identifying these shantytowns and in creating a legal frame for the SZSI. To make possible this study, were made bibliographical research based on the laws in force, direct research at the places related to this work, for the information collection and its posterior systematization, represented by thematic tables and maps. This study demonstrates that there is an evolution in the creation of SZSI process, according to the express orientations of the Cities Statute and the City’s Direction Plan.

Keywords: Special Zones of Social Interest; Shantytowns; Planning; Cities Statute; City’s Direction Plan

1 INTRODUÇÃO

1.1 O ESPAÇO URBANO E O DEFICIT HABITACIONAL

A cidade não se trata de um espaço homogêneo e o crescimento populacional desenfreado provoca o aumento das necessidades daqueles que ali habitam e, consequentemente, processos excludentes vão transformando a paisagem e a vida das pessoas. Segundo Villaça (2001, p.17) a cidade foi decomposta em vários elementos e foram produzidos diversos estudos sobre temas específicos. Ainda segundo o autor isso gerou uma frágil visão de conjunto, incapaz de ajudar na construção de uma base teórica mais ampla sobre o espaço intraurbano.

Os espaços apartados das cidades brasileiras são um retrato da desigualdade social e dos efeitos devastadores da concentração de renda: moradias indignas em lugares inadequados para a população mais carente. O enfrentamento dos problemas sobre o controle da cidade e sua expansão ainda depara-se com questões ditadas pela especulação imobiliária que incide sobre as áreas providas de infraestrutura.

Segundo o IBGE (2010) - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais de 80% da população do país reside em áreas urbanas. A população, antes predominantemente rural, migra para as cidades que tomam grandes proporções. De uma maneira geral, as cidades brasileiras incluídas nesse percentual apresentam muitos problemas em comum e esses são agravados pela ausência de planejamento, políticas fundiárias, controle sobre o uso e a ocupação do solo.

Segundo o título Demanda Habitacional no Brasil, produzido pela CAIXA – Caixa Econômica Federal, no ano de 2011, o déficit habitacional do Brasil ultrapassa 9 milhões de moradias e esse número representa algo em torno de 15% do total de unidades habitacionais existentes no país. O documento conclui ainda que a maior demanda de moradias concentra-se entre as famílias com renda inferior a dois salários mínimos. Conforme o Censo 2010 constata-se que o Brasil tem um total de 56.541 mil domicílios para uma população de 190.732 mil habitantes, ao que corresponde uma média de 3,37 habitantes por domicílio.

Essa problemática ficava distante da observação da cidade legal. Hoje a segregação sócioespacial está evidenciada pela aproximação das áreas periféricas e seus aglomerados subnormais das áreas de alto poder aquisitivo das cidades.

Com a Constituição Federal de 1988 (CF) houve uma redefinição institucional, acentuadamente municipalista, que acarretou em um efetivo processo de descentralização e municipalização das políticas habitacionais, permitindo uma maior integração entre as políticas de moradias, políticas fundiárias e de controle do uso e ocupação do solo. Porém, sem a atribuição de competências e responsabilidades, sem a definição de incentivos e devida alocação de recursos significativos muito pouco poderia ser feito pelos governos municipais para o enfrentamento dessa problemática.

Seguindo essa temática é essencial retomar o processo de planejamento do setor habitacional visando aumentar os recursos disponíveis, com foco na fatia da população mais atingida.

1.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O PROCESSO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO PÚBLICA

Segundo Lacombe e Heilborn (2003, p.162), planejamento é um processo administrativo que visa determinar a direção a ser seguida para alcançar um resultado desejado. O planejamento urbano é o processo de criação e desenvolvimento contínuos,

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garantindo o desenvolvimento econômico e social do município, proporcionando aos seus habitantes o favorecimento da inclusão social e uma melhor qualidade de vida.

Segundo a CF (1988) compete aos municípios promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. A elaboração do planejamento urbano envolvendo políticas de regularização fundiárias e imobiliárias, zoneamento, requalificação de áreas centrais, prevenção a riscos de desmoronamento de encostas, recuperação de áreas ambientalmente degradadas são atribuições municipais, cabendo a União definir as diretrizes gerais da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano envolvendo estados, municípios e sociedade.

Apesar das atribuições municipais definidas na Constituição, as ações de planejamento dentro das cidades junto aos vazios urbanos e áreas de preservação permanente não acompanharam a sua dinâmica de crescimento. As periferias foram sendo invadidas e ocupadas num processo de urbanização desordenado e arriscado promovendo segregação social e ambiental.

O objetivo de integrar investimentos e ações nas cidades do Brasil, diminuindo a desigualdade social e favorecendo a sustentabilidade ambiental, fez com que lideranças sindicais e sociais, ONG’s, intelectuais, pesquisadores, professores universitários e demais profissionais se unissem em torno de um movimento social que conquistou e vem conquistando grandes avanços ao longo dos últimos anos. A inserção inédita da questão urbana na Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Cidade e a criação do Ministério das Cidades são exemplos concretos dessas conquistas. Com isso, setores como a habitação, saneamento, transporte e trânsito passaram a serem vistos como integrantes efetivos e paralelos das políticas publicas de uso e ocupação do solo.

1.3 ESTATUTO DAS CIDADES E PLANO DIRETOR

O Estatuto das Cidades, lei 10.257 de 10 de junho de 2001, constitui um grande avanço na legislação brasileira naquilo que diz respeito ao desenvolvimento, sustentabilidade, uso e ocupação do solo nas cidades brasileiras. Trata-se ainda de uma conquista dos movimentos populares em defesa do direito à cidade e à habitação, permite abordagens sistêmicas para o desenvolvimento urbano e a implantação de programas de ordenamento territorial urbano e rural.

Segundo o Estatuto das Cidades, no que diz respeito ao planejamento, em especial aos municípios, cabem os instrumentos voltados para a gestão pública, tais como:

Plano Diretor; Disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; Zoneamento ambiental; Plano Plurianual; Diretrizes Orçamentárias e Orçamento Anual; Gestão orçamentária participativa; Planos, programas e projetos setoriais; Planos de desenvolvimento econômico e social.

O Estatuto das Cidades oferece instrumentos que auxiliam no planejamento e administração das ações de fiscalização e atuação no uso e ocupação do solo urbano, que devem também estar claramente mencionadas no Plano Diretor local:

Outorga Onerosa do Direito de Construir – refere-se à concessão emitida pelo Município para que o proprietário de um imóvel edifique acima do limite estabelecido pelo coeficiente de aproveitamento básico, mediante contrapartida financeira a ser prestada pelo beneficiário.

Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) – é um imposto de competência do Município, que recai sobre a propriedade predial e territorial urbana, tendo como fato

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gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel, e tem como base de cálculo seu valor venal.

Regularização Urbanística e Fundiária – é o processo que inclui medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais, com a finalidade de integrar assentamentos irregulares ao contexto legal das cidades.

Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) - são porções do território destinadas, prioritariamente, à recuperação urbanística, à regularização fundiária e produção de Habitações de Interesse Social.

Transferência do Direito de Construir – confere ao proprietário de um lote a possibilidade de exercer seu potencial construtivo em outro lote, ou de vendê-lo a outro proprietário.

Operações Consorciadas – são intervenções pontuais realizadas sob a coordenação do Poder Público e envolvendo a iniciativa privada, os moradores e os usuários do local, buscando alcançar transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental.

Concessão Especial para Fins de Moradia – Direito constituído pelo Poder Público ao particular, para que estabeleça residência ou utilize para fins de urbanização, para que seja atingida a função social da propriedade.

1.3.1 Zona Especial de Interesse Social

Junto aos altos índices de urbanização das cidades brasileiras os assentamentos precários apresentaram-se como forma predominante de moradia popular revelando a pouca eficiência do Estado em oferecer soluções para frear os alarmantes índices de desigualdade na distribuição de terra e renda.

Segundo o Guia para Regulamentação e Implementação de Zonas Especiais de Interesse Social (2009), publicado pelo Ministério das Cidades, a expressão “Zona Especial de Interesse Social” – ZEIS surgiu na ocasião da lei municipal de uso do solo da cidade de Recife com o objetivo de delimitar áreas urbanas “caracterizadas como assentamentos habitacionais surgidos espontaneamente, existentes e consolidados, onde são estabelecidas normas urbanísticas especiais, no interesse social de promover a sua integração na estrutura urbana”. Em 1999 esse instrumento foi citado em esfera federal através da Lei 9.785/99 estabelecendo os requisitos para infraestrutura básica das parcelas situadas em zonas habitacionais de interesse social criadas por lei. Com a aprovação do Estatuto da Cidade e Planos Diretores Municipais, que previam a criação de ZEIS, formou-se uma base legal solidificada para que os municípios pudessem fazer uso desse instrumento tanto para assentamentos precários quanto para vazios urbanos.

Neste sentido, a definição de ZEIS se dá como parcela de área urbana instituída pelo Plano Diretor ou definida por outra lei municipal, destinada predominantemente à moradia de população de baixa renda e sujeita a regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo. Segundo o Estatuto das Cidades (Guia para Implementação pelos Municípios e Cidadãos, 2001), os objetivos das ZEIS são:

Permitir a inclusão de parcelas marginalizadas da cidade, por não terem tido possibilidades de ocupação do solo urbano dentro das regras legais;

Permitir a introdução de serviços e infraestrutura urbanos nos locais em que antes não chegavam, melhorando as condições de vida da população;

Regular o conjunto do mercado de terras urbanas, pois em se reduzindo as diferenças de qualidade entre os padrões de ocupação, reduzem-se também as diferenças de preços entre as terras;

Introduzir mecanismos de participação direta dos moradores no processo de definição dos investimentos públicos em urbanização para a consolidação dos assentamentos;

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Aumentar a arrecadação do município, pois as áreas regularizadas passam a poder pagar impostos e taxas – vistas nesse caso, muitas vezes, com bons olhos pela população, pois os serviços e infraestrutura deixam de ser vistos como favores, e passam a serem obrigações do poder público;

Aumentar a oferta de terras para os mercados urbanos de baixa renda.

As ZEIS são classificadas em dois tipos básicos, de acordo com o nível de ocupação, assim sendo ZEIS de áreas ocupadas por assentamentos precários ou ZEIS de áreas vazias ou subutilizadas, com destinação predominante para a produção de habitação de interesse social (HIS).

Para dar maior respaldo a esse instrumento foram criados o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), pela Lei nº. 11.124/05, com o objetivo de viabilizar e gerir as políticas de habitação de interesse social, como fonte dos principais recursos o Orçamento Geral da União (OGU) e o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), dentre outros.

A destinação dos recursos do FNHIS atende diretrizes do Plano Nacional de Habitação e do Conselho das Cidades e sua aplicação é feita de forma descentralizada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios que aderirem ao SNHIS e atenderem a diversas condições, destacando-se: constituir Fundo de Habitação, com dotação orçamentária própria e conselho gestor do fundo e possuir Plano Local de Habitação de Interesse Social – PLHIS.

A Caixa Econômica Federal – CAIXA é o agente responsável pela operacionalização do repasse de recursos do FNHIS, bem como: verificação das condições de adesão ao SNHIS; análise da viabilidade das propostas previamente selecionadas pela Secretaria Nacional de Habitação/Ministério das Cidades; acompanhamento e atestado da execução dos projetos que foram objeto dos contratos de repasse.

2 A EVOLUÇÃO NO PROCESSO DE INSTITUIÇÃO DE ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL EM JOÃO PESSOA – PB

2.1 O MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA

João Pessoa é a terceira cidade mais antiga do Brasil. Nasceu às margens do rio Sanhauá com o nome de Nossa Senhora das Neves (1585), depois Filipéia em homenagem ao rei da Espanha, Felipe II (1588); em seguida de Frederiskstadt (1634) sob o domínio Holandês; depois Parayba (1654) com a volta do domínio português. Sua denominação atual, João Pessoa, é uma homenagem ao político paraibano João Pessoa, assassinado em 1930, quando era presidente do Estado e concorria, como candidato a vice-presidente da República, na chapa de Getúlio Vargas.

Está localizado na porção leste do Brasil, limitando-se ao Leste com o Oceano Atlântico, a Oeste com os municípios de Bayeux e Santa Rita, ao Norte, com o município de Cabedelo e, ao Sul, com o município do Conde (Figura 01). Está inserida no retângulo envolvente delimitado pelas coordenadas 07° 14' 37,5''S, 34° 58' 30''W e 07° 03' 17,5''S, 34° 47' 28,4''W.

Segundo o IBGE (2010) a cidade possui extensão territorial de aproximadamente 211 Km2 e população de 723.515 mil habitantes. João Pessoa contém, oficialmente, 59 bairros (Lei 10.000/ 2003).

A Lei Complementar Nº. 59 de 30 de Dezembro de 2003 estabeleceu a Região Metropolitana de João Pessoa e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, na forma prevista no art. 24 da Constituição do Estado da Paraíba. A região é integrada pelos Municípios de João Pessoa, Bayeux, Cabedelo, Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Conde, Lucena, Mamanguape e Rio Tinto. Posteriormente, através da Lei Complementar Nº. 93 de 11 de Dezembro de 2009, o município de Pedras de Fogo também foi inserido à poligonal.

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Figura 01 – Mapa de localização do município de João Pessoa (Fonte: PMJP/SEPLAN, 2016).

O desenvolvimento urbano na cidade se deu com maior intensidade a partir da década de 1970, com destaque para o aparecimento de ocupações irregulares, principalmente nas áreas periféricas acompanhadas, também, pelo crescimento populacional que se intensificou na mesma data. Essas informações denotam a crescente necessidade de planejamento e gestão administrativa adequada ao perfil de crescimento da capital do Estado da Paraíba.

Segundo LEMOS (2005, p. 86) outro grande estímulo ao emergente mercado imobiliário se deveu ao fato de que o modelo econômico adotado na época provocou, em todo o país, uma acentuada migração do campo em direção às cidades criando um contingente populacional com necessidade de moradia. Por se tratar de mão de obra sem qualquer qualificação, pouco pode ser absolvida pela indústria, restando apenas a construção civil.

Com isso, visando disciplinar a ocupação do solo de acordo com a infraestrutura existente, entre os anos de 1973 e 1975 a Prefeitura Municipal de João Pessoa elaborou o Plano de Desenvolvimento Urbano – PDU, logo enfraquecido, nos anos subsequentes, pela pressão do mercado imobiliário (iniciativa privada) e política habitacional municipal (Governo do Estado). Segundo LAVIERI e LAVIERI (1999, p.50 apud LEMOS 2005, p. 89) a Prefeitura local perdeu a autonomia no planejamento da cidade ficando “subsumida pelas ações da esfera estatal, a qual passou a atuar diretamente na cidade, através de planos contratados aos escritórios de agências federais aqui implantados”.

O intenso processo de urbanização vivido no país, juntamente à ocupação desordenada de áreas de domínio público, promoveram a consolidação do processo de favelização e consequentemente um processo de transfiguração ambiental, haja vista que a maior incidência de ocupações irregulares se dá em áreas ambientalmente frágeis, sujeitas às inundações e deslizamentos, e que não despertam interesse especulativo do mercado imobiliário. Segundo LEMOS (2005, p. 94) a questão se agravou nesse período, sobretudo pela ausência de políticas públicas voltadas para a implantação de infraestrutura e serviços urbanos, capazes de atuar como instrumento mitigador da degradação dos espaços livres públicos dentro da malha urbana.

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2.2 ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA

O Plano Diretor da cidade de João Pessoa (1992) define Zonas Especiais como porções do território do Município com destinação específica e normas próprias de parcelamento, uso e ocupação do solo. O mesmo documento relaciona cento e dez (110) ZEIS espalhadas pela cidade.

No que diz respeito às ZEIS o documento define como zonas destinadas primordialmente a produção, manutenção e a recuperação de habitações de interesse social e devem compreender:

Terrenos públicos ou particulares ocupados por favelas ou por assentamentos assemelhados;

Glebas ou lotes urbanos isolados ou contíguos, não edificados, subutilizados ou não utilizados;

Edificações de valor para o Patrimônio Histórico que abriga ocupação plurifamiliar subnormal.

Em busca de potencializar a solução dos problemas e qualificação dos resultados, o Plano Diretor prevê a possibilidade de contratação de consultorias, elaboração de cadastros, estudos e mapeamento das principais características do município, seus problemas e potencialidades, dentre outros.

Com o objetivo de subsidiar decisões e ações públicas em relação à política habitacional do município, a Prefeitura Municipal de João Pessoa e a Technum Consultoria SS, em 2006, no âmbito do Programa Habitar Brasil, firmaram contrato para delimitação física georreferenciada do perímetro urbano da cidade, das áreas ocupadas por assentamentos irregulares, áreas de risco e de preservação ambiental apresentando, ainda, um conjunto de informações resultantes de estudos e análises quantitativas e integradas.

Diante do exposto no documento apresentado concluiu-se que, analisando o aumento populacional urbano ocorrido em João Pessoa, a evolução mais preocupante diz respeito ao crescimento populacional e físico dos assentamentos informais. Houve ainda uma redefinição das ZEIS instituídas pelo Plano Diretor de 1992, tendo o total de 110 Zonas Especiais de Interesse Social sido reduzido para 77(setenta e sete). Essa redução se deu pelo reagrupamento das ZEIS anteriormente constituídas ou pela desconstituição de outras.

Esses assentamentos foram classificados segundo suas características, como: áreas de risco, áreas inundáveis, áreas sujeitas a deslizamentos ou desabamentos, áreas com riscos de contaminação, áreas sob a linha de transmissão de alta tensão, entre outros. As áreas de várzeas e encostas dos rios urbanos, principalmente os rios Jaguaribe, Sanhauá, Paraíba e Timbó, são as áreas que mais concentram tais aglomerados e, constituem assim setores críticos dentro do conjunto urbano e social da cidade.

Outras características foram identificadas como sendo comuns a todos os assentamentos informais:

Construções desordenadas; Baixa renda da população; Ocupação irregular; Habitações precárias; Lotes fora do padrão; Ausência de infraestrutura e serviços urbanos; Ausência de equipamentos comunitários; Semelhança cultural e social entre as famílias; Lotes não legalizados; Endereço não oficial; Ocupação indevida em áreas públicas e particulares; População em vulnerabilidade social; Excluídos da cidade legal pelo baixo poder aquisitivo.

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A partir da identificação dessas características, foram definidos 4grupos nos quais os assentamentos foram separados de acordo com essas similaridades, e posteriormente mapeados, de acordo com o mapa abaixo (Figura 02):

Grupo 1 – Alto risco para a população: Mais de 30% da área do assentamento em situação de risco à saúde humana;

Grupo 2 – Médio risco para a população: Até 30% da área do assentamento em situação de risco à saúde humana;

Grupo 3 – Áreas de Preservação/Conservação Ambiental: áreas localizadas em Áreas de Preservação Permanente ou áreas de fragilidade ambiental;

Grupo 4 – Baixo risco para a população:o Grupo 4 A – Regularização no sentido amplo;o Grupo 4 B – Regularização da situação fundiária (titularidade).

Figura 02 – Mapa de Assentamentos Informais em João Pessoa (Fonte: PMJP/SEPLAN, 2007).

Após a finalização dos trabalhos, o produto intitulado Assentamentos Urbanos Informais de João Pessoa foi entregue e passou a ser a diretriz das políticas públicas do município voltadas às áreas mais carentes de infraestrutura da cidade, conforme indicação do referido documento.

Indicadas as áreas passíveis de serem transformadas em ZEIS e, consequentemente, receberem os incentivos, de ordem financeira, para a transformação da realidade local, instituiu-se na Prefeitura um esforço coletivo entre as Secretarias Municipais de Habitação, Planejamento, Infraestrutura e Meio Ambiente, no sentido de aprovar os projetos necessários para tal, pois o fruto dos estudos dos técnicos da Prefeitura e da Technum seriam suficientes apenas no tocante ao estudo detalhado das peculiaridades de cada área. Vale salientar que, alguns desses assentamentos teriam que passar por um processo de remoção de toda a comunidade inserida, pois a área que se encontra poderia representar risco eminente à saúde dos moradores (áreas sujeitas a deslizamentos e inundações, por exemplo).

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Em 1995 foi criado pela Lei Municipal 7.091 o Fundo de Desenvolvimento Urbano – FUNDURB com o objetivo de utilizar os recursos da OODC na realização de projetos e programas vinculados as Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS (tabela 01). O Fundo está vinculado à Secretaria de Planejamento, cabendo à Diretoria de Administração e Finanças – DAF, a responsabilidade por sua administração financeira e patrimonial. O FUNDURB é primordial na instituição e execução de políticas públicas nas áreas de ZEIS, já que dele parte o aporte de recursos voltados à habitação e infraestrutura.

Tabela 01 – Recursos pagos pela Outorga Onerosa ao FUNDURB (Fonte: SAGRES, 2016).

ANO VALOR2009 R$ 8.934.487,892010 R$ 11.856.901,182011 R$ 10.694.035,392012 R$ 11.044.393,092013 R$ 8.002.441,782014 R$ 8.072.950,972015 R$ 6.792.408,98

TOTAL R$ 65.397.619,28

Para que cada ZEIS recebesse os recursos necessários, vindos do Fundo de Desenvolvimento Urbano, provenientes da Outorga Onerosa do Direito de Construir - OODC precisaria obedecer a um tramite administrativo e, posteriormente, aprovado com força de lei municipal junto à Câmara de Vereadores local.

O processo de criação de uma ZEIS se dá, do ponto de vista legal e administrativo, de maneira simples. Solicita-se a criação da ZEIS do Conselho de Desenvolvimento Urbano – CDU, órgão pertencente à Secretaria de Planejamento com funções consultivas e deliberativas, e que tem o encargo da formulação da proposta de Desenvolvimento Urbano do Município, O Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), com funções consultivas e deliberativas, visando à geração de uma política de promoção do bem-estar coletivo e ordenamento das diferentes funções do Espaço Urbano Municipal.

Depois de solicitada a criação da área, soma-se ao projeto um memorial descritivo da área, objetivos e origem dos recursos. Posteriormente a Secretaria Geral do CDU instaura processo administrativo que será submetido à aprovação pelo Conselho. Após a aprovação o processo é enviado à Secretaria de Gestão Governamental e Articulação Política – SEGAP que, juntamente com a Procuradoria Geral do Município remeterá projeto de lei à Câmara Municipal de João Pessoa para apreciação e aprovação. Após aprovação pela Câmara e assim transformada em lei, segue para sanção do Prefeito e posterior publicação.

As solicitações para instituição de ZEIS, no município de João Pessoa, podem partir das Secretarias Municipais de Habitação, Planejamento, Infraestrutura, Meio Ambiente e Sociedade Civil Organizada, entre outros.

Desde a entrega do Diagnóstico (PMJP, 2007) a Prefeitura instituiu legalmente 46 ZEIS (Figura 03 e Tabela 02) e outras 36 estão à espera da aprovação da Lei (Tabela 03).

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Figura 03 – Mapa de João Pessoa com a delimitação das áreas de ZEIS (Fonte: PMJP/ SEPLAN, 2016).

Tabela 02 – ZEIS instituídas legalmente em João Pessoa (Fonte: PMJP/ SEPLAN, 2016).PROJETO LEI

MUNICIPALCOMUNIDADE BAIRRO

Parque Sul 10.636/2005 Parque Sul GrotãoPe. Ibiapina/Anaíde Beiriz 10.926/2006 Pe. Ibiapina/Anaíde Beiriz Distrito IndustrialCondomínio Residencial Amizade

10.835/2006 Condomínio Amizade Valentina Figueiredo

Jaguaribe A e B 10.884/2006 Áreas A e B JaguaribeCoopercasa Travessa Murilo Buarque

10.886/2006 Travessa Murilo Buarque Cristo Redentor

Porto do Capim 11.913/2010 Porto do Capim VaradouroAlto do Céu 11.946/2010 Alto do Céu Vale do JaguaribeAlto dos Mateus 11.947/2010 Alto dos Mateus Vale do JaguaribeGramame – Parque do Sol 11.601/2008 Parque do Sol GramameTimbó 11.602/2008 Timbó BancáriosTaipa Nova Vida 11.603/2008 Taipa Nova Vida Costa e SilvaTerra do Nunca 11.604/2008 Terra do Nunca RógerPadre Zé 11.853/2010 Padre Zé Padre ZéIlha do Bispo 11.705/2009 Ilha do Bispo Ilha do BispoSaturnino de Brito 11.710/2009 Saturnino de Brito TrincheirasRiacho 11.711/2009 Riachinho Treze de Maio

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Nossa Senhora de Nazaré 11.702/2009 Nossa Senhora de Nazaré FuncionáriosCitex/ Boa Vista 11.707/2009 Citex/ Boa Vista João Paulo IICondomínio da Fraternidade 11.914/2010 Condomínio Fraternidade FuncionáriosCondomínio Independência 11.949/2010 Condomínio Independência ParatibeSão Luís 11.917/2010 Comunidade São Luís Aeroclube e BessaCondomínio Girassol I 12.248/2011 Girassol I MangabeiraCondomínio Índio Piragibe 12.249/2011 Índio Piragibe Ilha do BispoCondomínio da Paz 12.251/2012 Paz Jardim VenezaCidadania e Resid. Manacá 12.246/2011 Cidadania e Resid. Manacá ParatibeCondomínio Liberdade 12.252/2012 Condomínio Liberdade ParatibeRiachinho 12.253/2012 Riachinho Treze de MaioSaturnino de Brito 12.247/2011 Saturnino de Brito TrincheirasGadanho 12.254/2012 Gadanho TambiáTravessa Yayá 12.259/2012 Travessa Yayá MiramarNovo Horizonte/Buraco da Gia 12.255/2012 Novo Horizonte/Buraco da

GiaCristo Redentor

Jardim Guaíba 12.258/2012 Jardim Guaíba OitizeiroVale das Palmeiras 12.256/2012 Vale das Palmeiras Cristo RedentorSão José e Chatuba 12.260/2012 São José e Chatuba ManaíraTito Silva 12.261/2012 Tito Silva MiramarBeira da Linha/ São Judas Tadeu

12.262/2012 Beira da Linha/São Judas Tadeu

Alto dos Mateus

São Rafael 12.263/2012 São Rafael Castelo BrancoRiacho da Bomba 12.264/2012 Riacho da Bomba Róger/ Padre ZéBoa Esperança 12.257/2012 Boa Esperança Cristo RedentorSanta Clara 12.265/2012 Santa Clara Castelo BrancoNova República 12.407/2012 Nova República João Paulo II5 de Junho 12.408/2012 5 de Junho Alto dos MateusEucalipto 12.409/2012 Eucalipto Jd. Cid.

UniversitáriaRes. Colinas de Gramame 12.879/2014 Res. Colinas de Gramame GramameComunidade do “S” 12.970/2015 Comunidade do “S” RogerPorto do Capim/ Curtume 12.969/2015 Porto do Capim/ Curtume Roger/ Varadouro

Tabela 03 – ZEIS aguardando aprovação na Câmara Municipal de João Pessoa (Fonte: PMJP/ SEPLAN, 2016).

PROJETO LEI MUNICIPA

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COMUNIDADE BAIRRO

Laranjeiras 6.187/2012 Laranjeiras José AméricoSanta Bárbara 6.188/2012 Santa Bárbara ParatibeIpês I, II/Tancredo Neves 15.709/2012 Ipês I, II/Tancredo Neves IpêsMuçumagro 54.275/2012 Muçumagro MuçumagroCafofo Liberdade 54.280/2012 Cafofo Liberdade ExpedicionáriosPadre Hildo bandeira 54.285/2012 Padre Hildo bandeira Tambauzinho/TorreColibris I 77.739/2012 Colibris I Cidade dos ColibrisColibris II 77.730/2012 Colibris II Cidade dos ColibrisRetificação Alto do Céu 80.708/2012 Alto do Céu Alto do CéuVila Mangueira 101.984/201

2Vila Mangueira Mangabeira

Arame 110.030/201 Arame Gramame

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2Colinas do Sul 116.783/201

2Colinas do Sul Gramame

Girassol II 121.752/2012

Girassol II Mangabeira

Vila da Mangueira/Cidade Verde

121.758/2012

Vila da Mangueira/Cidade Verde

Mangabeira

Cizone de Souza Acioly 42.113/2013 Cizone de Souza Acioly MumbabaNice de Oliveira 42.113/2013 Nice de Oliveira ParatibeComtérmica 42.113/2013 Comtérmica FuncionáriosRes. Diana Porto da Nóbrega

45.557/2013 Res. Diana Porto da Nóbrega

Bairro das Indústrias

Res. Vista Alegre 69.036/2013 Vista Alegre Gramame/FuncionáriosMangabeira Sul 78.302/2013

e 83.871/2013

Mangabeira Sul Mangabeira

Tambiá 103.524/2013

Tambiá Tambiá

Júlio Rafael 76.403/2013 Júlio Rafael Costa do SolCarlos Mariguela 87.722/2013 Carlos Mariguela Costa do Sol/

MangabeiraNelson Mandela 78.845/2013 Nelson Mandela MangabeiraNova Esperança 13.922/2014 Nova Esperança MangabeiraNossa Senhora Aparecida 1.655/2014 Nossa Senhora Aparecida ManaíraRes. Célio Pires de Sá 23.052/2014 Nossa Senhora Aparecida GramameBom Jesus 23.052/2014 Célio Pires de Sá Bairro das IndústriasJacarapé 49.358/2013

e 45.935/2014

Jacarapé Costa do Sol

Modificação Porto do Capim

76.349/2014 Modificação Porto do Capim

Varadouro

Manaíra/Tambaú/Miramar/Ipês/João Agripino

86.766/2014 Manaíra/Tambaú/Miramar/

Ipês/João Agripino

Manaíra/Tambaú/Miramar/

Ipês/João AgripinoRes. Vieira Diniz 89.062/2014 Res. Vieira Diniz Bairro das IndústriasVista Verde 15.452/2015 Vista Verde MumbabaGranja Paraíso 15.452/2015 Granja Paraíso Ernesto Geisel e GramameVista das Mangabeiras 123.294/201

5Vista das Mangabeiras Paratibe

Girassol III 11.334/2015 Girassol III Mangabeira

Vale salientar ainda que os recursos do FUNDURB são voltados, em sua totalidade, para áreas delimitadas como ZEIS. Porém, devido a gravidades dos problemas relacionados à habitação e à ausência de infraestrutura encontrados nessas áreas, somente esse Fundo não seria suficiente para a realização das intervenções necessárias ao bem estar das famílias e das possíveis áreas degradadas pela invasão. Assim sendo, as intervenções envolvem desapropriação de áreas particulares, obras de drenagem, pavimentação, esgoto, contenção de encostas, iluminação pública, implantação ou ampliação da rede de abastecimento de água, esgotamento sanitário, construção e/ou reforma das habitações, recuperação de áreas degradadas, investimentos em educação ambiental junto aos habitantes locais, entre outros.

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Para tanto a Prefeitura local recorre a parcerias com o Governo Federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), com o objetivo de munir essas áreas com o maior número possível de benfeitorias.

3 CONSIDERAÇÕES

Ao longo dos últimos anos programas e projetos voltados para a solução da problemática habitacional surgiram como resposta ao agravamento da situação existente nas cidades brasileiras. Até a década de 1980 as poucas e ineficazes iniciativas governamentais para o problema traçavam como única solução a transferência dos moradores para assentamentos regulares, muitas vezes longe da oferta de trabalho e serviços básicos. Após anos de equívocos, surgiram, então, iniciativas visando à melhoria das condições das áreas consolidadas com a implantação da infraestrutura básica e de serviços, e a instalação de equipamentos públicos.

O crescimento populacional e físico dos assentamentos urbanos irregulares, ocorrido em João Pessoa, é preocupante principalmente por se tratar da parcela da população mais pobre, ocupando zonas onde há restrição à ocupação e/ou construção, dificultando o acesso aos serviços de infraestrutura e também pela impossibilidade legal de atuar em relação à regularização fundiária, por se tratar de áreas ambientalmente frágeis que representam risco, tanto ao meio ambiente quanto á saúde daqueles que ali habitam. Durante muitos anos pouco foi feito diante do problema que se alastrava e as políticas de planejamento e de gestão urbana se mostravam inadequadas, e por vezes insuficientes.

Embora as políticas públicas tenham avançado no que se refere aos financiamentos para programas habitacionais, as famílias de baixa renda, componentes da faixa social que demanda o maior número de residências, apontam dificuldades de acesso às linhas de crédito disponíveis para a construção da sua casa própria. Aprimorar políticas habitacionais e garantir o direito à propriedade através do processo de regularização fundiária é uma questão de primeira ordem para os gestores públicos, principalmente para àqueles que atuam na esfera municipal.

O município de João Pessoa tem apresentado avanços significativos diante dessas questões nos últimos anos. Ter o olhar voltado às legislações vigentes, base legal para o planejamento, que possibilitou a delimitação e a criação das ZEIS; o entendimento e a execução de políticas públicas voltadas ao cidadão mais carente, não fugindo dos conceitos de planejamento, gestão e urbanismo; e os esforços na tentativa de respeitar todos os atores que fazem parte do meio ambiente em que estamos inseridos, entendendo o espaço urbano como produto das ações antrópicas ali atuantes; a implantação de instrumentos de participação popular na gestão do espaço urbano, a exemplo do orçamento participativo e dos conselhos municipais, tem contribuído para a execução de políticas públicas eficientes.

Porém, a efetiva fiscalização do uso e ocupação desse solo, fragmentado e segregado, é primordial para o sucesso dessas ações e para a promoção de cidades sustentáveis. A legalização de todas as parcelas do espaço urbano e a inserção de políticas públicas pontuais precisa ocorrer paralelamente ao combate à ocupação de novas áreas, também frágeis, à oferta de trabalho, à manutenção de áreas verdes, praças e espaços para a prática de esporte e lazer, à mobilidade urbana e tantos outros problemas que a ilegalidade e a ocupação desordenada contribuem. Se assim não ocorrer estamos fadados ao fracasso de fazer parte de um círculo vicioso que fará impraticável a vida nas cidades.

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4 REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei Nº. 10.257 de 10 de Junho de 2001 - Estatuto das Cidades. Regulamenta os artigos. 182 e 183 da Constituição Federal.

BRASIL. Lei Nº. 11.977 de 07 de Julho de 2009 - Programa Minha Casa Minha Vida.

BRASIL. Programa Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. Manual para Apresentação de Propostas, Ministério das Cidades, 2005.

BRASIL. Plano Diretor Participativo. Guia para a Elaboração pelos Municípios e Cidadãos, Ministério das Cidades, 2004.

Guia para Implementação pelos Municípios e Cidadãos – Estatuto das Cidades, Instituto Pólis, 2005.

Guia para Regulamentação e Implementação de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS em Vazios Urbanos, Ministério das Cidades, 2009.

LACOMBE, F. &; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003.

LEMOS, N. A. B. Bacia hidrográfica urbanizada e degradação ambiental: o alto vale do rio Jaguaribe – João Pessoa (PB), João Pessoa, 2005.

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA – Perfil do Município de João Pessoa, 2004.

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA - Plano Diretor da cidade de João Pessoa, 1993.

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA - Relatório do Diagnóstico Consolidado dos Assentamentos Urbanos Informais Localizados em João Pessoa, 2007.

SAULE JÚNIOR, N. & CARDOSO, P. M. O Direito à Moradia no Brasil. São Paulo: Instituto Pólis, 2005. 160p.

VILLAÇA, FLÁVIO. O Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo. FAPESP, 2001.

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