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8/2/2019 AS DEMANDAS E AS RESPOSTAS PROFISSIONAIS DO SERVIO SOCIAL NA
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AS DEMANDAS E AS RESPOSTAS PROFISSIONAIS DO SERVIO SOCIAL NA
SOCIEDADE CAPITALISTA
Andrssa Gomes Carvalho de Amorim1
INTRODUO
O presente artigo est baseado na compreenso de que o Servio Social uma
profisso inserida na diviso social e tcnica do trabalho, bem como na totalidade das
relaes sociais, por isso historicamente determinado pelas relaes entre as classes em
confronto na sociedade capitalista. A sua interveno profissional desenvolve-se nas
organizaes estatais, empresariais e filantrpicas (sem fins lucrativos e com fins lucrativos),
em atividades assistenciais, majoritariamente, atravs da execuo direta de servios
sociais. Assim, o assistente social, ao ser inserido na diviso social e tcnica do trabalho,como vendedor de sua fora de trabalho, tem que atender as demandas constitudas pelas
instituies as quais est vinculado, e isso que marca o seu perfil de assalariado.
Nessa direo, considerando a historicidade da profisso, entendemos que ela se
configura e (re)configura no mbito das relaes entre o Estado e a sociedade, fruto das
transformaes nos processos de produo e reproduo da vida social que institui limites e
possibilidades ao exerccio profissional, condicionando as respostas profissionais dos
assistentes sociais aos limites do sistema capitalista (IAMAMOTO, 2002).
Ao longo dessa exposio, objetiva-se analisar a relao entre as demandas e asrespostas profissionais do Servio Social na trajetria histrica da profisso no Brasil. Dada
a complexidade do assunto, torna-se necessrio caracterizar as demandas que so
colocadas profisso, sob a forma de demandas institucionais e profissionais; e investigar
as respostas profissionais articuladas aos projetos profissionais ora hegemnicos no interior
da categoria profissional, tendo em vista um projeto societrio mais amplo e as expectativas
particulares do Servio Social no Brasil.
Estas breves linhas indicam um processo de investigao sobre o tema iniciado no
Trabalho de Concluso do Curso de Servio Social, subsidiando a pesquisa de mestrado
acerca das particularidades do Servio Social.
DESENVOLVIMENTO
O Servio Social uma profisso inserida na diviso social e tcnica do trabalho,
demandada na e para esta sociedade, como parte das estratgias do Estado, para atender
s demandas da questo social, via execuo direta das polticas sociais. Sendo as polticas
sociais a base de sustentao funcional-ocupacional da profisso, ao passo que estas so
1 Assistente Social. Mestranda em Servio Social pela Universidade Federal de Alagoas. E-mail:[email protected]
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substantivamente alteradas interfere nas particularidades do exerccio profissional do
assistente social no campo institucional. Assim, o Servio Social, aqui considerado uma
prtica profissional na relao com o usurio, os empregadores e os demais profissionais,
encontra-se historicamente determinado por condies objetivas e subjetivas2 quecircunscrevem a sua interveno profissional (GUERRA, 2006).
Para legitimar-se nessa sociedade, o Servio Social, como profisso, tem que
responder as suas demandas. Estas, por sua vez, so produzidas por necessidades
pautadas nas relaes sociais, historicamente colocadas por interesses antagnicos das
classes sociais (capital e trabalho), da ser a atividade profissional do assistente social
permeada pela contradio. Assim, as demandas profissionais so originrias dessas
mesmas necessidades e o prprio Servio Social constitui-se em demanda de mercado no
capitalismo monopolista (Cf. NETTO, 1992).
As demandas que chegam ao Servio Social so histricas e, portanto, modificam-
se ao longo do tempo. Para a profisso, so colocadas demandas institucionais entendidas
como canais de reconhecimento e legitimidade das demandas sociais, mas que expressam
fundamentalmente as necessidades do capital. As demandas institucionais so diferentes
das demandas sociais, uma vez que o que demandado pela instituio sempre mais
reduzido do que realmente expressa a demanda social. Algumas demandas institucionais
respondem mais diretamente a reproduo do capital, outras indiretamente, mas isso no
exclui o fato delas sempre contribuir para a reproduo do capital (GUERRA, 2006). Nesse
sentido, para cada demanda existe uma necessidade social que a produz e existem
interesses antagnicos para a sua definio como demanda (MOTA; AMARAL, 1998).
Entretanto, conforme Mota e Amaral (1998), apesar das necessidades sociais
estarem subtendidas s demandas profissionais, estas no se confundem com essas
necessidades propriamente ditas. Entendem as autoras que:
As demandas, a rigor, so requisies tcnico-operativas que, atravs do
mercado de trabalho, incorporam as exigncias dos sujeitos demandantes.Em outros termos, elas comportam uma verdadeira teleologia dosrequisitantes a respeito das modalidades de atendimento de suasnecessidades. Por isso mesmo, a identificao das demandas no encerrao desvelamento das reais necessidades que as determinam (ibidem, p. 25).
Por um lado, as demandas, quando incorporadas ao mercado de trabalho e
atendidas no mbito institucional, chegam ao profissional apenas como requisies tcnico-
2 Para Guerra (2000), as condies objetivas so aquelas relativas produo material dasociedade, so condies postas na realidade material (Ex: a diviso do trabalho, a propriedade dosmeios de produo, a conjuntura, os objetos e os campos de interveno, os espaos scio-
ocupacionais, as relaes e condies materiais de trabalho). As condies subjetivas so relativasaos sujeitos, s suas escolhas, ao grau de qualificao e competncia, ao seu preparo tcnico eterico-metodolgico, aos referenciais tericos, metodolgicos, ticos e polticos utilizados, dentreoutras (ibidem, p.53) [grifo nosso].
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operativas. Entretanto, por outro lado, apesar de oriundas das necessidades imediatas e
heterogneas dos sujeitos demandantes (capital e trabalho), gestadas na vida cotidiana
desses sujeitos, ultrapassam essas necessidades e assumem o estatuto de demandas
profissionais (Cf. GUERRA, 2004).Nesse sentido, ao Servio Social, quando inserido na diviso social e tcnica do
trabalho, requisitado um conjunto de atribuies, de referncias tericas, enfim, de um
acervo instrumental-tcnico para responder a essas necessidades. Nessa direo,
concordamos com Iamamoto (1994) sobre a sua tese de que o Servio Social, s pode
afirmar-se como prtica institucionalizada e legitimada na sociedade ao responder a
necessidades sociais (ibidem, p.55). E ainda, complementa Mota e Amaral que como
qualquer outra profisso inscrita na diviso social e tcnica do trabalho, o Servio Social,
para reproduzir-se, tambm depende da sua utilidade social, isto , de que seja capaz de
responder s necessidades sociais que so fonte de sua demanda (1998, p.26) [grifo das
autoras].
Historicamente, as demandas para o Servio Social, em particular, e tambm para
outras profisses, surgem quando o Estado passa a agir no capitalismo monopolista, como
rbitro no conflito entre capital e trabalho, mas apoiando os interesses do capital. Quando
para responder s necessidades da sociedade capitalista, o Estado passa a intervir na
questo social, deixando de ter uma ao coercitiva (em parte) e passando a ter uma ao
coesiva. Porm, as demandas do Servio Social advm, tambm, da sua insero em
outros organismos institucionais (alm das instituies estatais, as privadas e as
filantrpicas que podem ser privadas lucrativas e as no-lucrativas), o que conferem a
profisso um perfil particular em relao s outras profisses.
No Brasil, embora o Servio Social seja regulamentado como uma profisso
liberal3, o assistente social no tem total autonomia (tcnica e socioeconmica) para realizar
as suas atividades independentemente, j que tem demandas constitudas pelas instituies
(pblicas e privadas) as quais est vinculado, e isso que marca o seu perfil de assalariado.
importante salientar que o Servio Social tem o significado social contraditrio na
sociedade capitalista, pois, embora tenha como usurio o trabalhador4, demandado pelo
capital para atender a seus interesses de classe (IAMAMOTO; CARVALHO, 2003). Segundo
esses autores, essa concepo de contradio na profisso ocorre porque o movimento de
reproduo do capital, entendido como uma relao antagnica entre a burguesia e o
3 Segundo Iamamoto e Carvalho (2003, p.80, nota 12), a portaria 35, de 19.4.1949, do Ministrio deTrabalho, Indstria e Comrcio enquadra o Servio Social no 14 grupo de profisses liberais.
Entretanto, o exerccio da profisso de Assistente Social s regulamentado com a Lei n. 3.252, de27 de agosto de 1957 (Cf. CONSELHO FEDERAL DE SERVIO SOCIAL, 2006).4 Longe de nos atermos na discusso sobre a classe trabalhadora, aqui estamos nos referindo aosusurios dos servios sociais (trabalhador operrio, assalariados, empregados e/ou desempregados)
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proletariado, que determina a realidade vivida e representada pelos indivduos na
sociedade contempornea. Assim, a reproduo das relaes sociais est intimamente
ligada reproduo do capitalismo e a profisso de Servio Social tambm, j que esta
ltima demandada em determinadas conjunturas histricas para atender a interessesdivergentes entre as classes (ibidem).
Portanto, a estratgia profissional do assistente social deve ser traada levando em
considerao que a inter-relao entre as classes no pode ser excluda do contexto
profissional e, exatamente por isso, que a sua ao profissional pode ser ampliada pelas
possibilidades de redefinio de suas estratgias no espao scio-ocupacional, tendo em
vista que a delimitao das suas atribuies profissionais imprecisa.
O atendimento das demandas sociais que chegam para o Servio Social d-se no
mbito das polticas sociais, atravs da interveno institucional. Conforme Netto (1992), as
polticas sociais existem para responder as necessidades da sociedade capitalista, ou seja,
da subsuno do trabalho ao capital e, por isso, so frutos dessa tenso entre as funes
econmicas e polticas que, alis, so indissociveis, da ascenso do proletariado de
classe em si para classe para si e, portanto, das reivindicaes do trabalhador. Essas
polticas sociais vo se constituindo espaos para atuao de diversas profisses. Como
so os servios, incluindo-se a o Servio Social, que operacionalizam as polticas sociais, o
assistente social reconhecido como um dos profissionais executores dessas polticas
(alis, de fato um executor terminal de polticas sociais), embora tenha na sua execuo a
possibilidade de coordenar, elaborar e avaliar programas e/ou projetos sociais. Nesse
sentido, a interveno profissional existe para atender a demanda institucional, e no s,
visto que, h tambm demandas profissionais que podem ser atendidas.
Para Iamamoto (1994), o assistente social aparece como o profissional da coero
e do consenso nas relaes entre instituio e clientela, pois tem sua ao direcionada ao
campo poltico, uma vez que solicitado para atuar nas organizaes pblicas e privadas,
em atividades assistenciais, atravs da execuo de programas sociais. Conforme a autora,
essas atividades assistenciais se tornam mais intensas nos perodos de crise do capital,
principalmente para responder ao processo de organizao da classe trabalhadora, e,
assim, atenuar a crise. O assistente social chamado justamente para mediar o conflito, por
ser o profissional encarregado de prestar servios sociais, mediante um suporte
administrativo-burocrtico das instituies as quais est vinculado, exercendo sobre a classe
trabalhadora aes de cunho educativo, moralizador e disciplinador. Nesse sentido, a
natureza da profisso mais poltico-ideolgica do que econmica e o papel intelectual do
assistente social o de controle e disciplinamento dos trabalhadores, tanto no local em que
trabalham como em sua vida privada, familiar, atravs da persuaso, do convencimento.
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Na tica das demandas, impresso certo perfil prtica profissional do assistente
social nas aes de planejamento, execuo e viabilizao dos servios sociais
populao. No mbito institucional lhe atribudo o poder de selecionar, esclarecer os
direitos e servios, explicitar os deveres, integrar, mediar conflitos, persuadir, mobilizar,distribuir auxlios materiais e atender as solicitaes da populao. Ento, a sua prtica
voltada para uma linha de integrao da populao aos organismos institucionais, atravs
dos quais se exerce o controle social (IAMAMOTO, 1994, p.101).
Nessa direo, na perspectiva adotada, entendemos serem as respostas
profissionais que do legitimidade profisso. Essas respostas so sempre de cada poca
e para uma determinada realidade. Isto , conforme Iamamoto (1994, p.103), as respostas
da categoria no so reflexas e unvocas. So mediatizadas pelas caractersticas
incorporadas pela profisso em sua trajetria histrica, que vo atribuindo um perfil peculiar
a essa profisso no mercado de trabalho.
Nesse contexto, entendemos ser necessrio considerar as vrias respostas
profissionais dadas s demandas na trajetria histrica da profisso, visto que h diferentes
perspectivas (conservadora e histrico-crtica) no interior do Servio Social. De acordo com
Trindade (2002, p.26-7), nos diversos projetos profissionais do Servio Social, podemos
encontrar diferentes concepes de profisso, que passam por distintas compreenses
acerca do objeto profissional, de seus objetivos, bem como sobre seu instrumental tcnico-
operativo.
Antes, porm, convm assinalar queos projetos profissionais, em determinadas
pocas, apesar de sua adeso ser hegemnica, no significa que seja a nica, haja vista
que estes projetos so vistos como elemento da cultura profissional e como fundamento dos
projetos sociais que so sempre coletivos, de classes. Netto (1999) argumenta que os
projetos profissionais surgem articulados aos projetos societrios, a partir das condies
conjunturais favorveis da realidade. So projees coletivas da profisso que envolve
sujeitos individuais e coletivos, sendo, por isso, um universo heterogneo que expressa
contradies e conflitos (Cf. NETTO, 1999).
Para a realidade brasileira, Iamamoto (1994) caracteriza o perodo anterior ao ano
de 1964 como a herana conservadora do Servio Social; e, posterior a 1964, destaca o
que se convencionou chamar de atualizao da herana conservadora e busca de ruptura
com a herana conservadora. A partir dessas consideraes da autora, pontuaremos as
respostas profissionais articuladas aos projetos profissionais, ora hegemnicos nesses
perodos.
Nos anos de 1930 do sculo XX, na emergente sociedade urbano-industrial, surge
o Servio Social no Brasil, como parte do movimento social da Igreja Catlica para
responder questo social, considerada, naquela poca, uma questo moral e religiosa.
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Posterior Igreja, o Estado tambm chamado para intervir na questo social. Desse
modo, o Servio Social, originariamente de bases confessionais, emerge como um
movimento de cunho reformista-conservador e centra sua prtica na comunidade, na famlia
e na individualizao dos casos sociais, objetivando reformar o homem dentro da sociedadeatravs de atividades de pesquisa e classificao da populao cliente.
Com a institucionalizao do Servio Social, a partir dos anos de 1940/1950, a
questo social, expresso das desigualdades decorrentes do aprofundamento do
capitalismo, passa por grandes mudanas. nesse contexto que a profisso ganha
legitimidade vinculada expanso das grandes instituies assistenciais. Com isso, amplia-
se o mercado de trabalho para a profisso e o Servio Social deixa de ser um instrumento
de distribuio da caridade privada das classes dominantes (IAMAMOTO, 1994, p.31),
passando a executar a poltica social do Estado e dos setores empresariais. Nessa direo,
alterada a clientela do Servio Social e consolidada a profissionalizao do assistente
social, porm, so mantidas as caractersticas bsicas de sua prtica conservadora.
Portanto, o perodo caracterizado por Iamamoto (1994) como a herana
conservadora do Servio Social vai desde o surgimento do Servio Social como profisso,
na dcada de 1930, at o perodo posterior institucionalizao deste, exatamente, no ano
de 1964. Nessa poca, o projeto profissional hegemnico na profisso de cunho
conservador tradicionalista, de natureza positivista e funcionalista, sendo a interveno
profissional baseada nas metodologias do Servio Social de Casos e do Servio Social de
Grupos e, em funo da modernidade, comprometida com a ordem social vigente.
A atualizao da herana conservadora traduz-se numa modernizao da
instituio Servio Social no sentido de: 1) dar suporte tcnico ao profissional; e 2)
aproximar o discurso profissional aos fundamentos da teoria da modernizao presente nas
Cincias Sociais (IAMAMOTO, 1994, p.32). Por um lado, h uma nfase nos discursos dos
assistentes sociais sobre a metodologia profissional (objeto, objetivos, mtodos e
procedimentos), em substituio crtica da vida social da poca. E, por outro lado,
instaura-se, ao mesmo tempo, no meio profissional uma tendncia psicologizao das
relaes sociais que ultrapassam as necessidades materiais em detrimento dos problemas
existenciais do indivduo, preservando, assim, o julgamento moral da clientela e a ausncia
de qualquer crtica que ultrapasse os limites do sistema (ibidem, p.34-5).
Cabe salientar que a busca de ruptura com o conservadorismo surge apenas no
final dos anos 1950 e incio da dcada de 1960. , nesse perodo, que comeam as
manifestaes no meio profissional e os primeiros questionamentos ao projeto profissional
conservador tradicional do Servio Social, com as primeiras influncias do Movimento de
Reconceituao, vindas de outros pases da Amrica Latina, desencadeando um incio de
mudanas significativas na profisso numa conjuntura de aprofundamento do debate poltico
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na sociedade. No entanto, essas manifestaes e questionamentos so apenas marginais,
visto que no puderam ser caracterizados ainda como ruptura com a herana conservadora,
uma vez que situam-se nos marcos do humanismo e do desenvolvimentismo, no atingindo
as bases da organizao da sociedade (op. cit., p. 36).Nesse sentido, a busca de ruptura com a herana conservadora faz parte de um
movimento social mais geral, entendida numa dimenso processual expressa na luta para
alcanar novas bases de legitimidade da ao profissional do Assistente Social
(IAMAMOTO, 1994, p.37). Ainda, conforme a autora:
Essa ruptura tem como pr-requisito que o Assistente Social aprofunde acompreenso das implicaes polticas de sua prtica profissional,reconhecendo-a como polarizada pela luta de classes. Essa compreenso
bsica para tornar possvel que o Assistente Social faa uma opo terico-prtica por um projeto coletivo de sociedade e supere as iluses de umfazer profissional que paira acima da histria. Isso implica, por sua vez, oenriquecimento do instrumental cientfico de anlise da realidade social e oacompanhamento atento da dinmica conjuntural (IAMAMOTO, 1994, p.37).
Na dcada de 1980, com o perodo de efervescncia poltica no Brasil e de
redemocratizao do pas, aliado, posteriormente, aprovao da Constituio Federal de
1988 (elevando as polticas sociais condio de direitos de cidadania), enfim, as condies
favorveis daquela determinada conjuntura levam parte da categoria profissional a pensar
uma direo estratgica vinculada a um projeto de mudana da ordem social estabelecida,legitimada pelo pensamento de Marx e luz da teoria histrico-crtica, em favor de um novo
projeto societrio.
O projeto profissional hoje hegemnico, denominado projeto tico-poltico do
Servio Social, significa um conjunto de intenes de comprometimento da profisso com
outra ordem social diferente do capitalismo, por isso a dificuldade de ser implementado
nesta sociedade, dinmica e de natureza dialtica, e no interior da profisso. Est expresso
nas atribuies e competncias profissionais (Lei n. 8662/93), no Cdigo de tica de 1993 e
nas diretrizes curriculares da formao profissional (1998) e os seus elementos constitutivosso vistos a partir das atribuies e objetivos profissionais, dos valores e princpios, dos
instrumentos e tcnicas, das racionalidades e do referencial terico-metodolgico.
Embora, tanto na concepo conservadora quanto na concepo histrico-crtica a
perspectiva da ao profissional do assistente social esteja vinculada a sua participao na
regulao das relaes sociais, no exerccio do controle social e de manuteno da ordem,
o que as diferencia , justamente, o fato de que essa ao profissional est inserida e
legitimando a sociedade capitalista e isso no determinado pelo profissional (como
acreditavam os agentes profissionais na perspectiva conservadora), mas pela realidade.
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Na atual conjuntura, novas exigncias so colocadas para o Servio Social, pela
sociedade capitalista globalizada, e so traduzidas em novas demandas para a profisso,
que precisam ser atendidas pelos profissionais a partir de respostas qualificadas.
Entendemos por respostas qualificadas muito mais do que a competncia tcnica, tendo emvista que o assistente social um profissional dotado de capacidade terico-metodologica e
tico-poltica, como define o documento das diretrizes curriculares (1998), e essa
capacidade que garante uma relativa autonomia ao assistente social.
Para Mota e Amaral (1998), a existncia [dessa] relativa autonomia terica,
poltica, tica e tcnica que exercitada pelo profissional sob determinadas condies
objetivas ao atuar sobre uma dada realidade o leva a reconstruir metodologicamente,
atravs de uma ao profissional, o caminho entre a demanda objetivada e as relaes que
a determinam. este movimento que garante, na particularidade de cada ao profissional,
a reconstruo dos seus objetos de interveno e das suas estratgias de ao (ibidem,
p.42) [grifo das autoras].
Isso no significa, contudo, que o assistente social necessita nica e
exclusivamente de sua vontade, enquanto sujeito histrico, para que as respostas sejam
qualificadas. Se caminharmos nessa perspectiva, certamente estaremos fadando o Servio
Social a um retorno ao messianismo e ao fatalismo presentes na profisso na dcada de
1970 e incio da dcada de 1980 (IAMAMOTO, 1994). Ao contrrio, o que queremos dizer
que, apesar dos condicionantes internos e externos nos quais a prtica profissional se
desenvolve, muitas vezes as condies so favorveis, mas o assistente social no
aproveita.
Diante dessas constataes, entendemos que o assistente social ao nortear-se por
sua competncia profissional terica, tico-poltica e tcnico-operativa de orientao
marxista tornar claras as finalidades de sua ao e compreender o real significado de
suas demandas. Para tanto, necessrio que o assistente social tenha claro que a sua
prtica profissional est ligada ao processo histrico da realidade, j que o Servio Social
emerge e se desenvolve na sociedade capitalista para atender s necessidades antagnicas
(capital x trabalho) desta sociedade. Por isto, as possibilidades da profisso esto
condicionadas aos limites do sistema capitalista.
CONSIDERAES FINAIS
O estudo permitiu identificar que h uma relao intrnseca entre as demandas
dirigidas ao Servio Social e as respostas que os assistentes sociais vm dando a essas
demandas e que, por isso, essas duas categorias quando trabalhadas em conjunto fazem
parte de uma unidade indivisvel.
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Nessa direo, entendemos que as demandas dirigidas ao Servio Social so
heterogneas (pois expressam interesses diferentes, embora apaream na instituio como
sendo iguais), imediatas (porque a prpria configurao das polticas sociais requer um
atendimento urgente) e aparecem para os profissionais como requisies tcnico-operativas (dado o carter instrumental das diversas modalidades de interveno
profissional), embora apenas a sua identificao no elucide as reais necessidades que a
determinam.
importante destacar que o fato de ser imediata no descaracteriza a importncia
das demandas e respostas profissionais do assistente social na conjuntura vigente, pois,
ainda que no sejam suficientes, servem para atender as necessidades emergentes da
sociedade, bem como para amenizar as seqelas da questo social.
Com isso, fica evidente que a funcionalidade da profisso ao capitalismo, ou seja,
que a contradio posta de imediato na profisso, est na realidade e no na formao do
assistente social ou na sua prtica profissional. No entanto, isso no exclui a possibilidade
de o profissional apreender na realidade institucional as suas prprias demandas e
responde-las qualificadamente. Para isso, necessrio uma prtica reflexiva, pois o modo
de agir, as nossas aes, deixam marcas na sociedade.
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