As eleições de 1974 em Minas Gerais

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  • 8/6/2019 As eleies de 1974 em Minas Gerais

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    AS ELEIES DE 1974EM MINAS GERAIS

    Fbio Wanderley Reis

    O material a ser apresentado neste trabalho corresponde aosresultados de um survey executado em Belo Horizonte logo aps aseleies de novembro de 1974 pelo Departamento de Cincia Poltica daUFMG, tendo se procedido coleta de dados no perodo entre 10 e 20 dedezembro. A pesquisa se baseou em amostra dos eleitores da cidaderealizando-se um total de seiscentas entrevistas.1

    A anlise que se segue resulta de um primeiro exame dos dados, queteve em vista a oportunidade da presente publicao. Tem, portanto, carter

    exploratrio. Um critrio importante na escolha do foco a ser adotado foi ode permitir alguma comparao com os resultados preliminaresanteriormente divulgados de pesquisa semelhante executada em So Paulo

    pelo CEBRAP.2 Como se ver, as observaes feitas at o momento comfreqncia sugerem pistas para a anlise que no puderam ainda serseguidas.

    Publicado no volume Os Partidos e as Eleies no Brasil, organizado por Bolvar Lamounier eFernando Henrique Cardoso, Rio de Janeiro, CEBRAP/Paz e Terra, 1975.

    1Todos os professores e numerosos estudantes do programa de mestrado do Departamento participaramem algum grau das diferentes fases do trabalho. Devem ser especialmente mencionadas, porm, asestudantes Maria de Jesus Pires Salgado, Maria Dirlene Trindade Marques, Stela Maris Murta, SandraStarling de Azevedo, Maria Aurora Rabelo Lemos e Vera Lcia Alves de Brito, sem cujo interesse ediligncia a pesquisa teria sido totalmente impossvel.

    Na elaborao da amostra, no foi preocupao central a de assegurar estrita representatividade comrespeito ao eleitorado belo-horizontino, mas antes a de permitir a explorao dos correlatos do voto juntoa diferentes categorias da populao da cidade. Alm da simplificao acarretada no trabalho deamostragem, com ganho de tempo que permitiu realizar a coleta de dados em circunstncias maisfavorveis pela proximidade da data das eleies, esse critrio se justifica pelo fato de que o objetivobsico visado com a pesquisa era antes terico procurar apreender as razes dos resultados de 15 denovembro do que fornecer uma adequada descrio do comportamento eleitoral especfico dapopulao de Belo Horizonte, apesar da inevitvel referncia ao contexto belo-horizontino.

    Concretamente, o trabalho de amostragem valeu-se de estudos recentes realizados pelo PlanoMetropolitano de Belo Horizonte (PLAMBEL), com base nos quais a cidade foi dividida em zonas queagregavam distritos de acordo com a renda familiar mdia destes ltimos. Decidiu-se aplicar 100questionrios em cada uma das cinco zonas ou categorias de distritos assim estabelecidas (ou seja,distritos de renda familiar mdia de 1 a 4 salrios mnimos, de 5 a 6, de 7 a 8, de 9 a 11 e de 12 a 14),selecionando-se em cada categoria aqueles distritos que apresentavam maiores concentraes na faixa derenda correspondente e procedendo-se ento ao sorteio das residncias a serem visitadas. Decidiu-seainda aplicar outros 100 questionrios na Cidade Industrial, de maneira a se obter uma subamostra deoperrios industriais, perfazendo-se o total de 600 entrevistas. Na apresentao a ser feita aqui, no seconsidera separadamente essa subamostra, manipulando-se os dados apenas em funo das informaesconstantes dos prprios questionrios com respeito s diversas variveis examinadas.

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    Veja-se As razes de um Resultado Inesperado, Viso, vol. 46, no. 2, 27 de janeirode 1975.

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    I

    Os resultados das eleies em Minas Gerais permitiram ao MDBdobrar sua representao parlamentar, elegendo 24 deputados estaduais(contra 12 em 1970) e 14 deputados federais (contra 7 em 1970). Foitambm eleito o candidato do MDB ao Senado, Itamar Franco, que contoucom 1.443.257 votos, contra 1.263.839 votos dados a Jos Augusto FerreiraFilho, da Arena. Para esse resultado positivo para o partido (apesar de que aArena se tenha mantido majoritria no estado, elegendo 23 deputadosfederais e 37 estaduais), a contribuio de Belo Horizonte foi decisiva. As

    mdias das percentagens de votos dados aos candidatos do MDB nasdiversas zonas eleitorais da cidade so de 65% para senador, 47,2% paradeputado federal e 50,7% para deputado estadual (contra l4,6%, l8,1% e20,3% para a Arena, respectivamente), alm de cerca de 6,5% de votos delegenda dados ao MDB, contra cerca de l,6% dados Arena. O MDB foiamplamente vitorioso nas eleies para todos os nveis (Senado, CmaraFederal e Assemblia Estadual) em todas as zonas eleitorais da cidade.Particularmente no que se refere eleio para o Senado, as maiores

    propores obtidas pelo candidato da Arena (nas zonas 27A e 27B, que

    incluem os melhores bairros residenciais da cidade) no ultrapassam 20%do total dos votos, caindo para cerca de 12,5% nas demais zonas.As hipteses que se poderiam formular para a explicao dos

    resultados especificamente belo-horizontinos no panorama dos resultadosnacionais das eleies no se apresentam prontamente ao analista. Por umlado, em confronto com centros como So Paulo ou Rio de Janeiro, oacelerado crescimento de Belo Horizonte resulta sobretudo de um macio

    processo migratrio proveniente do interior do prprio estado, donde j sehaver dito que a cidade experimenta antes um processo de ruralizao

    permanente do que propriamente de urbanizao. Pareceria razovelesperar, portanto, que o conhecido tradicionalismo das populaes mineirasdo interior, o qual certamente responde pelo contraste que os prpriosresultados eleitorais evidenciam entre BeloHorizonte e o resto do estado,se fizesse igualmente sentir em termos de distanciar o comportamentoeleitoral da populao de Belo Horizonte em relao quele que se podeobservar nos centros maiores. Por outras palavras, Belo Horizonterepresentaria um stio intermedirio do ponto de vista da atuao doscondicionamentos especificamente urbanos sobre disposies e opinies

    polticas suscetveis de influir sobre o voto.

    Contudo, se algo parece claro com respeito s eleies de 15 denovembro o carter nacional da exploso emedebista, que desmentiu de

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    QUADRO 1Votos para Senador por Sexo, Idade e Tempo de Residncia em Belo Horizonte (%).

    VOTO PARA SEXO IDADESENADOR

    M F 18a30 31a40 Maisde40Itamar Franco 67,6 63,7 74,3 64,1 57,0Jos Augusto 16,6 18,1 12,3 15,7 24,2Brancos e Nulos 3,2 4,8 3,3 2,5 5,5 No Votou 4,9 5,1 3,7 8,8 3,5 NS, NR 7,7 8,3 6,4 8,9 9,8(N) (328) (272) (242) (159) (198)

    VOTO SEXOPARA M FSENADOR IDADE

    18a30 31a40 Maisde40 18a30 31a40 Maisde401. Franco 76,1 66,6 58,9 72,3 61,3 54,1J. Augusto 10,0 15,4 25,0 15,1 16,0 23,5Brancos.e Nulos 3,8 0,0 4,4 2,6 5,3 7,0 No Votou 3,0 9,5 3,5 4,4 8,0 3,5 NS,NR 7,1 8,5 8,2 5,6 9,4 11,9(N) (130) (84) (112) (112) (75) (85)

    TEMPO DE RESIDNCIA EM BELO HORIZONTEVOTO PARASENADOR At 5 anos 6 a 10 11 a 20 Mais de 20 SempreItamar Franco 61,1 64,9 73,9 60,3 66,2

    Jos Augusto 15,3 19,0 11,2 23,3 18,0Brancos e Nulos 3,4 2,8 1,4 3,5 7,3 No Votou 12,9 5,5 5,9 2,1 2,2 NS, NR 7,0 8,3 7,9 11,0 6,5(N) (85) (74) (153) (146) (139)

    Primeiro, idade parece claramente um fator mais decisivo nocondicionamento da preferncia por Itamar Franco do que sexo. Apesar deque os dados revelem consistentes diferenas porcentuais indicando maior

    inclinao emedebista entre os homens que entre as mulheres, taisdiferenas so mais ntidas e pronunciadas entre as diversas categorias deidade, e a tabulao do voto simultaneamente por sexo e idade revela queas mulheres de certa categoria de idade so sempre mais emedebistas doque os homens da categoria imediatamente mais idosa.

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    QUADRO 2Voto para Senador por Escolaridade e Renda Familiar (%)

    ESCOLARIDADEVOTO Nenhum Primrio Ginas. Ginas. Colegial Colegial Univ. Univ.PARA e prim. completo incom. compl. incom. compl. incom. compl.SENADOR incompl.

    Itamar 58,7 69,2 68,7 60,4 79,4 59,7 81,6 60,0J. Augusto 11,5 11,1 12,5 27,0 11,7 27,5 10,2 33,3Br. e nulos 4,8 1,9 1,5 6,2 5,8 4,5 4,0 5,0

    No votou 9,6 6,5 6,2 4,1 - 2,2 4,0 - NS, NR 15,4 11,3 11,1 2,3 3,1 6,1 0,2 1,7(N) (104) (153) (64) (48) (34) (87) (49) (60)

    RENDA FAMILIARVOTO I II III IV V VIPARASENADORItamar Franco 61,2 69,7 72,3 71,5 61,4 49,1Jos Augusto 6,3 12,4 16,1 18,9 22,8 39,3Br. e nulos 2,7 4,0 2,3 2,1 7,0 9,8

    No votou 9,9 6,2 5,3 - 3,5 1,8 NS, NR 19,9 7,7 4,0 7,5 5,3 -(N) (111) (129) (130) (195) (57) (61)

    I=at 900 cruzeiros mensais; II=de 901 a 1500; III=de 1501 a 3500; IV=de 3501 a8000; V=de 8001 a 15000; VI=acima de 15000.

    O aspecto mais importante a ser salientado, porm, o grande apoio,em si mesmo, dado ao candidato emedebista por parte da populao mais

    jovem, aspecto este cuja significao voltaremos a explorar adiante.Em segundo lugar, um padro primeira vista curioso surge nas re-

    laes entre o tempo de residncia em Belo Horizonte e o voto: as propores favorveis a Itamar crescem consistentemente medidaque nos deslocamos dos que migraram at h cinco anos para os quemudaram para Belo Horizonte entre 11 e 20 anos atrs, caindo, porm,entre os que sempre residiram na cidade ou nela residem h mais de vinteanos. A explicao para tal padro, que no podemos verificar com as ta-

    bulaes atualmente disponveis, provavelmente se encontra em algumaforma de associao entre o tempo de residncia em Belo Horizonte e aidade dos entrevistados.

    Revelador, finalmente, o que se pode observar nas relaes do voto

    com as duas variveis de posio social utilizadas, ou seja, escolaridade e

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    renda familiar. Apesar de que as variveis classicamente usadas comoindicadores de posio scio-econmica (ocupao, escolaridade e renda)tndem a mostrar-se altamente correlacionadas entre si e a apresentar

    padres semelhantes de associao com outras variveis, isso no se d to

    claramente no caso presente. Para comear por escolaridade, certatendncia geral pode ser discernida no sentido de diminurem as diferenasem favor de Itamar Franco nos nveis educacionais superiores (se seagregam os diversos nveis educacionaIs em dois grupos que incluem osque tm at ginsio incompleto e os que tm ginsio completo ou mais, as

    propores de votos dados a Jos Augusto passam de 11 ,5% a 23,7%,enquanto as dos votos por Itamar Franco permanecem ao redor de 66% nosdois casos). Tal tendncia no muito ntida, porm, havendo oscilaesno consistentes nas diversas categorias (se bem que o aumentoespecialmente marcado de votos por Itamar Franco e a diminuio dosvotos arenistas nos casos de colegial incompleto e superior incompleto

    possam talvez ser interpretados em terms da exposio direta a umambiente estudantil como tal) e umarelativa constncia na proporo devotos emedebistas (que o agrupamento das categorias ressalta).

    J no que se refere renda familiar, porm, o padro geral bastantedistinto. No obstante o fato que tambm se observa nas categorias mais

    baixas de escolaridade de que nos nveis inferiores de renda aspropores de votos emedebistas tendem a diminuir em funo do aumentode respostas de tipo no sei ou no votei, a partir do terceiro nvel mais

    baixo as variaes de tais votos se do em direo consistente e emmagnitudes em geral importantes, enquanto os votos arenistas aumentamlinear e significativamente medida que aumenta a renda. Por outro lado,observa-se ainda que a relao entre votos emedebistas e arenistas, que denada menos de 10 para 1 no nvel mais baixo de renda, reduz-se paraapenas aproximadamente 5 para 4 no nvel mais alto, e a categoria de rendasuperior a quinze mil cruzeiros a nica entre as diversas categorias detodas as variveis at aqui examinadas em que a freqncia dos votosdados a Jos Augusto se aproxima significativamente da que corresponde a

    Itamar Franco. Tudo isso sugere que questes de natureza econmico-social de repercusso mais imediata sobre as condies de vida da

    populao tero tido importncia especial no condicionamento da decisodos eleitores, representando um fator capaz de dividir de maneira maisntida as opes do que questes de natureza mais estritamente poltica oude significao mais remota, cuja adequada apreciao tende a requerercerta sofisticao intelectual e a estar mais exposta influncia de variveiscomo nvel educacional. Como veremos, outros resultados de nossa

    pesquisa tendem a corroborar essa sugesto.

    Examinemos, porm, alguns correlatos do voto para senador denatureza diferente dos at aqui observados. Uma dimenso bvia a da

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    identificao partidria dos eleitores, com respeito qual um aspecto deinteresse especial corresponde a possveis alteraes na percepo dos

    partidos e nas preferncias partidrias que possam estar relacionadas comas queste envolvidas na campanha eleitoral e nos resultados do

    pleito. As perguntas a esse respeito contidas em nosso questionriopermitem saber no apenas qual o partido preferido pelos entrevistados,mas tambm se se trata de preferncia antiga (desde acriao dos dois

    partidos, na formulao que se deu pergunta correspondente) ou recente.O quadro 3 apresenta a distribuio dos votos para o Senado nas ltimaseleies de acordo com preferncia antiga ou recente por cadaum dos dois partidos, assim como de acordo com o voto para o Senado em1970, o que prov outra maneira de se avaliar a forma assumida pelosdeslocamentos do eleitorado. Alm disso, alguma apreciao daconsistncia partidria da preferncia por determinado candidato ao Senadose pode ter com os dados do quadro 4, onde os votos para deputado federalso tabulados segundo o voto para o Senado, mantido constante onvel educacional.4

    Por um aspecto, os dados do quadro 3 no fazem mais do quemostrar com nmeros precisos o que bastante evidente pelos prpriosresultados das eleies de novembro, isto , a maneira pela qual amensagem dos candidatos do MDB se revelou capaz de atrair o eleitorado ede penetrar mesmo redutos arenistas ou at ento alheios, por qualquermotivo, participao eleitoral. V-se, por exemplo, que, enquanto os

    entrevistados que declaram preferir o MDB, seja recentemente ou de longadata, votaram maciamente no candidato do partido, 28,8% entre osarenistas de sempre e nada menos de 48,4% dos que declaram ter passado a

    preferir recentemente a Arena deram seus votos a Itamar Franco, querecebeu ainda 58,5% dos votos dos eleitores de nossa amostra quedeclaram no ter preferncia partidria. Consistentemente com taisverificaes, enquanto apenas 3% dos entrevistados que votaram pelocandidato do MDB ao Senado em 1970 votaram agora por Jos Augusto,nada menos de 5l,8% dos que votaram anteriormente pela Arena fizeram-

    no agora pelo MDB, o qual contou ainda com propores amplamentemajoritrias dos votos das pessoas que votaram em branco ou anularamseus votos em 1970, ou que no eram ainda eleitores naquela poca, ou queno votaram, ou que simplesmente no recordam como votaram. Toavassaladora a presena do candidato emedebista entre as diversascategorias que o que chega a ser surpreendente e a merecer meno ofato, que deveria parecer bvio, de que entre os arenistas de sempre o

    4Como agora sabemos pelos dados apresentados acima, teria sido provavelmente

    melhor usar renda familiar como varivel de controle nessa e em outras tabelas em que procuramosneutralizar o efeito de posio scio-econmica.

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    candidato da Arena conte com a maioria absoluta das preferncias, o queindica, seja como for, a existncia em Belo Horizonte de um hardcore de arenistas fiis.Essa banalidade surpreendente se v reforada, ganhando tambm alguminteresse, diante dos dados constantes do quadro 4. Observa-se a que,

    embora os eleitores de Jos Augusto entre os entrevistados de menorescolaridade se tenham mostrado comparativamente propensos a votar emcandidatos ou na legenda do MDB para deputado federal, entre oseleitores de Jos Augusto que contam com maior escolaridade queencontramos o maior grau de consistncia entre os votos para o Senado e aCmara, enquanto os eleitores de Itamar Franco que contam com baixonvel educacional se situam em segundo lugar. Essa verificao contrastacom os resultados encontrados em So Paulo,5 onde a ordem quanto aconsistncia dos votos nos dois nveis se inverte no que se refere aemedebistas de posio scio-econmica baixa earenistas de posioscio- econmica alta, e onde a proporo de consistentes entre estesltimos se mostra algo inferior de Belo Horizonte, enquanto se mostramuito superior desta cidade entre os primeiros. Apesar dc que, em seusaspectos mais significativos, tanto no que se refere ao anteriormenteexposto quanto a outros dados a serem examinados, os resultados de BeloHorizonte sejam anlogos aos de So Paulo, essas indicaes apontam parao papel de fatores em alguma medida peculiares ao contexto belo-horizontino e que tero provavelmente a ver com as caractersticasrapidamente esboadas acima. Tais fatores respondero, talvez, no s pela

    existncia de um ncleo arenista mais consistente, ainda que de dimensesreduzidas, mas tambm pela provvel persistncia de fenmenos como ovoto de cabresto ou os currais eleitorais de maneira mais conforme aos

    padres tradicionais e pelo maior peso que presumivelmente ter sidoatribudo pelos eleitores de Itamar Franco s qualidades puramente pessoaisdo candidato.

    5 Cf. As Razes de um Resultado Inesperado, citado acima.

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    QUADRO 3Voto para Senador por Preferncia Partidria e por Voto paraSenador em 1970 (%).

    PREFERNCIA PARTIDRIAVOTO MDB MDB re- Arena Arena re- Sem pre-PARA Sempre centemente sempre centemente ferncia NR, NSSENADORItamar Franco 82,8 84,7 28,8 48,4 58,5 61,6Jos Augusto - 4,6 55,8 42,0 13,0 23,1Brancos e nulos 2,2 1,1 4,6 3,2 9,2 -

    No Votou 8,6 3,4 5,4 6,4 2,3 7,7 NS, NR 6,4 6,2 5,4 - 17,0 7,6(N) (139) (176) (111) (31) (130) (13)

    VOTO PARA SENADOR EM 1970MDB Arena Brancos, Menos de No

    nulos 18 anos votou NSItamar Franco 84,2 51,8 63,7 76,8 63,2 64,4Jos Augusto 3,0 26,7 9,1 12,8 7,1 12,6Brancos e nulos 1,0 3,6 15,2 2,4 7,1 3,5

    No votou 8,0 2,4 3,1 - 19,3 4,2 NS, NR 4,0 6,0 9,2 8,2 3,6 15,3(N) (101) (172) (33) (86) (57) (143)

    QUADRO 4Voto para Deputado Federal e Voto para Senador, por Nveis de Escolaridade (%)

    ESCOLARIDADEVOTO At ginsio Ginsio completoPARA incompleto ou maisDEPUTADO VOTO PARA SENADORFEDERAL Itamar Jos Itamar Jos

    Franco Augusto Franco AugustoMDB 74,2 16,2 70,5 3,0Arena 7,9 64,8 21,0 95,3Brancos e nulos 7,5 2,7 6,5 1,7

    No votou 3,7 - 1,0 -NS, NR 6,7 16,3 1,0 -(N) (211) (37) (184) (66)

    Ainda duas observaes tomando diretamente o voto para o Senado

    como varivel dependente. Elas se referem s relaes entre essa varivel eas respostas a duas perguntas de nosso questionrio atravs das quais se

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    tratou de apreender as atitudes dos entrevistados com respeito a doisaspectos do panorama scio-econmico e poltico do pas nos ltimos anos,a saber, a presena crescente das corporaes multinacionais na economia eo esforo governamental de legitimao poltica atravs da propaganda

    ufanista centrada no tema do desenvolvimento econmico. Em um caso,solicitou-se a opinio dos entrevistados (positiva, indiferente ou negativa)com respeito ao papel das empresas americanas no pais; em outro, elesforam convidados a escolher, diante da pergunta sobre como lhes pareciaque o Brasil se comparava com os pases mais ricos e poderosos domundo, entre alternativas de resposta que iam desde o Brasil nunca serum deles at o Brasil j pode ser considerado um deles. No quadro 5temos a tabulao do voto para senador pelas respostas a tais perguntas,mantido constante o nvel educacional.

    Dado o carter evidentemente ingnuo da questo sobre Brasilgrande, no de admirar que a adeso s alternativas de resposta maisotimistas ocorra com maior freqncia entre os entrevistados de nveis mais

    baixos de escolaridade, como se pode facilmente avaliar pelos nmeros queserviram de base ao clculo de porcentagens. Contudo, bastante ntido oefeito das opinies adotadas sobre as propores de votos dirigidas aos doiscandidatos ao Senado, que tendem claramente a variar no sentido de maiorfreqncia de votos emedebistas nas categorias que envolvem postura maiscritica nos dois casos. Consistentemente com observaes anteriores,

    porm, v-se que no tendem a passar pelas posies com respeito a

    questes desse tipo as linhas principais de diviso do eleitorado no ltimopleito: por um lado, propores muito elevadas de eleitores de ItamarFranco podem ser encontradas nas diferentes categorias das variveis emquesto: por outro, enquanto observamos anteriormente que o maior apoioa Itamar Franco tende a encontrar-se entre os estratos mais baixos da

    populao, podemos ver no quadro 5 que o efeito dessas variveis tende aser mais forte entre os eleitores de nvel social mais elevado, ondediferenas porcentuais mais significativas se do.Diante das informaes propiciadas pelo questionrio utilizado, que inclua

    pergunta direta sobre as razes que determinaram o voto do entrevistadopara o Senado, a maneira mais bvia de dar continuidade anlise a partirdeste ponto seria explorar tal pergunta. Contudo, esta era uma perguntaaberta, sem alternativas pr-estabelecidas, e as rcspostas obtidas referiam-se, em grande proporo, simplesmente ao fato de o candidato pertencer ao

    partido de preferncia do estrevistado. Examinaremos, assim, algunscorrelatos da preferncia partidria, combinando-os com a observao dealguns dados relativos s razes citadas pelos entrevistados para tal

    preferncia, as quais puderam ser classificadas em termos semelhantes s

    respostas relativas s razes do voto.

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    QUADRO 5Voto para Senador e Variveis de Opinio, por Nveis de Escolaridade (%)

    VOTO ESCOLARIDADEPARASENADOR At ginsio incompleto Ginsio completo ou mais

    a) Opinio sobre empresas americanas no pas

    Negativa Indiferente Positiva Negativa Indiferente PositivaItamar Franco 74,2 65,1 62,2 71,6 75,0 50,6Jos Augusto 9,0 12,8 12,2 14,4 18,9 33,7Brancos e nulos 1,5 2,7 3,2 7,4 1,7 7,7

    No votou 4,5 9,1 9,0 1,4 2,5 2,5NS, NR 10,8 10,3 13,4 0,2 1,9 5,5(N) (66) (109) (122) (67) (116) (77)

    b) Opinio sobre o Brasil como potncia mundialNunca ser, Ser em Nunca ser, Ser emou s a longo pouco tempo ou s a longo pouco tempo

    prazo ou j prazo ou j Itamar Franco 74,0 62,9 76,9 58,5Jos Augusto 11,1 11,9 12,8 32,2Brancos e nulos 1,2 3,5 6,8 2,6

    No votou 7,4 7,9 1,7 2,6NS, NR 6,2 13,6 1,7 3,9(N) (81) (227) (117) (152)

    Como as informaes quanto a preferncia partidria de quedispomosnos permitem discriminar entre preferncia antiga e recente porcada um dos dois partidos atuais, e tendo em vista o sentido da correlaoque antes encontramos entre idade e voto para o Senado, que revelava oapoio macio dos jovens ao candidato emedebista, torna-se do maiorinteresse examinar a relao existente entre idade e preferncia partidria.Os dados correspondentes se encontram no quadro 6, que permite vriasobservaes significativas. Em primeiro lugar, como se poderia esperar,

    patente a correlao entre idade e a preferncia total (antiga e recente)pelos dois partidos: enquanto cresce linearmente com a idade a prefernciatotal pela Arena, decresce linearmente a preferncia total pelo MDB. Almdisso, porm, observa-se que o MDB tem tido recentemente mais xito doque a Arena em atrair o apoio de eleitores em todas as faixas de idade,mesmo os que contam mais de 40 anos: com efeito, enquanto a proporodestes ltimos que passou recentemente a apoiar a Arena no ultrapassa4,2%, a proporo correspondente para o MDB de 21,6%, fazendo que a

    preferncia total por este partido seja superior que se dirige Arena em

    cerca de 13 pontos porcentuais mesmo entre a populao mais idosa. Mas averificao potencialmente de maior significao, diante da quantidade de

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    jovens que se incorpora a cada ano ao eleitorado, a ampla atrao que seobserva haver sido exercida recentemente pelo MDB na faixa mais jovem,isto , a que se situa entre 18 e 30 anos, que em sua grande maioria passoua participar do processo eleitoral depois de 1964.

    QUADRO 6Preferncia Partidria por Idade (%)

    PREFERNCIA IDADEPARTIDRIA 18 a 30 31 a 40 Mais de 40

    Arena, sempre 9,3 20,7 28,1Arena, recentemente 7,2 4,4 4,2

    Arena total 17,2 25,1 32,3MDB, sempre 20,0 30,4 23,4

    MDB, recentemente 44,7 23,7 21,6MDB total 64,7 54,1 45,0Sem preferncia 17,7 19,3 18,6

    NS, NR 0,4 1,5 4,1(N) (242) (159) (198)

    O sentido a ser atribudo capacidade de penetrao assim reveladapelo MDB, claramente interpretvel em funo da mensagem de mudanaeconmico-social e poltica vocalizada pelo partido, torna-se igualmente

    patente diante dos dados do quadro 7, onde as razes citadas pelosentrevistados para sua prpria preferncia partidria so tabuladas deacordo com a preferncia indicada. Enquanto razes formuladas em termosque expressam clara satisfao com as condies vigentes no pais socitadas por 30,0% de arenistas de sempre e por 24,l% de arenistas recentes,tais razes simplesmente no ocorrem entre os emedebistas, sejam antigosou novos. Por outro lado, um total de 44,5% de emedebistas novos citamrazes que puderam ser classificadas como indicando inequvocainsatisfao scio-econmica e poltica, proporo esta que se equilibra aoredor de 23% para emedebistas de sempre e arenistas recentes, caindo para10% entre arenistas antigos. Se s propores de emedebistas que citamrazes de inequvoca insatisfao se adiciona, como parece razovel, a

    parcela dos que se referem atuao que vem tendo o partido como razopara sua preferncia, os percentuais de insatisfao sobem para 48,2% entreemedebistas antigos e para nada menos de 57,6% entre emedebistasrecentes. Por outro lado, congruentemente com as infernciasanteriormente retiradas de outros dados, apesar de que as maioresfreqncias de razes formuladas em termos especificamente deinsatisfaopoltica se encontrem entre os emedebistas, especialmente os

    que se identificaram recentemente com o partido, o destaque de aspectosespecificamente polticos corresponde somente a uma minoria de casos em

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    todas as categorias, mesmo entre os emedebistas novos. Outros dadoslanam mais luz sobre este ponto, ao qual voltaremos adiante.

    QUADRO 7Razes de Preferncia Partidria por Preferncia Partidria (%)

    RAZES DEPREFERNCIAPARTIDRIA PREFERNCIA PARTIDRIA

    Arena Arena MDB MDBsempre recente- sempre recente-

    mente mente1. Razes que indicaminsatisfao pormotivos polticos 3,0 3.4 7,1 11,72. Idem por motivos

    econmicos - 3,4 0,9 8,03. Idem de contedoambguo ou complexo 4,0 6,9 5,4 14,64. Idem com refern-eia a classes ou

    categorias sociais 3,0 10,3 8,9 10,2Total insatisfao 10,0 24,0 22,3 44,5

    5. Razes que indicamsatisfao 30,0 24,1 - -6. Aluso a prefern-eia partidria anterior 10,0 3,4 19,6 0,77. Simples referncia atuao do partido 18,0 10,3 25,9 13,18. Outras respostas esem preferncia 32,0 38,2 32,2 41,7(N) (111) (31) (139) (176)

    Examinemos antes, porm, dentre o rol de possveis condicionantesda atual preferncia partidria dos eleitores, a maneira pela qual ela se

    relaciona com a preferncia que os entrevistados manifestam entre ospartidos existentes no pas at 1965. Os dados constam do quadro 8.

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    QUADRO 8Preferncia Partidria por Preferncia Partidria Anterior (%)

    PREFERNCIA PREFERNCIA PARTIDR1A ANTERIORPARTIDRIA PSD UDN PTB Sem pref. Outras NS, NR

    Arena sempre 20,5 45,8 15,3 9,7 9,6 9,0Arena recentemente 1,0 3,2 - 11,1 5,8 2,0MDB sempre 37,8 6,4 45,8 13,8 29,4 27,0MDB recentemente 21,4 21,3 23,8 35,0 25,4 39,0Sem preferncia 18,3 20,2 15,1 27,4 17,6 21,0

    NS, NR 1,0 3,1 - 3,0 2,2 2,0(N) (98) (94) (59) (197) (51) (100)

    Uma primeira observao que cabe fazer que a forma geral dadistribuio se aproxima bastante da que se encontrou em So Paulo nainvestigao anteriormente mencionada,6 apesar de que os dados paulistasno discriminem entre preferncias antigas e recentes. Uma proporo de59,2% de adeptos belo-horizontinos do antigo PSD do suas prefernciasao MDB, em confronto com 71,0% de pessedistas pauIistanos; entre osudenistas, 49,0% em Belo Horizonte e 5l,0% em So Paulo apiam aArena, enquanto os petebistas belo-horizontinos apiam o MDB numa

    proporo de 69,6%, contra 69,0% dos petebistas paulistanos. A diferenamais notvel se refere maior atrao exercida pelo MDB sobre os adeptosbelo-horizontinos de outros partidos: 54,8% deles manifestam prefernciapelo MDB, em contraste com apenas 23,0% em So Paulo. Deve-seassinalar ainda que, enquanto o MDB se mostra capaz de recrutar adeptosrecentes em propores comparveis entre os que apoiavam todos osdiferentes partidos antigos, as maiores propores de emedebistas novos seencontram entre os que declaram no ter preferncia entre tais partidos oucom respeito aos quais simplesmente no h informao de preferncia

    anterior, o que de novo sugere a capacidade de penetrao do MDB entrejovens alheios vida poltica anterior a 1964.Mas outro ponto a destacar o fato de que o quadro 8 propicia um

    dos poucos casos em que ocorre uma distribuio favorvel Arena entretodas as tabelas at aqui apresentadas, quer digam respeito ao voto para oSenado ou para a Cmara ou diretamente preferncia partidria: referimo-nos aos 49,% de ex-udenistas que declaram preferir a Arena, dos quais aquase totalidade corresponde a arenistas de sempre. Havamos antesobservado a tendncia concentrao de votos por Jos Augusto nos nveis

    6Id., p. 135.

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    educacionais mais altos e muito especialmente no estrato superior de renda.Vimos tambm que a nica parcela do eleitorado que apiamajoritariamente a Jos Augusto corresponde aos arenistas de primeirahora e que os eleitores de Jos Augusto so os que mais consistentemente

    manifestam a tendncia a votar nos candidatos da prpria Arena para aCmara Federal. Sabemos agora que a UDN contribui de maneira decisivapara compor o contingente arenista convicto, e o perfil do hardcorearenista anteriormente mencionado se delineia com clareza, aindaque de maneira nada surpreendente: posio social privilegiada eudenismo.

    Voltemo-nos agora, para concluir este rpido exame dos dados, paracertos itens que permitem explorar um pouco mais a relevncia assumida

    por temas de natureza diversa no contexto geral da campanha eleitoral ena disputa dos partidos. Uma primeira indicao a esse respeito se tem emalguns dados relativos percepo manifestada pelos entrevistados dasdiferenas existentes entre os dois partidos. As categorias de respostas sotabuladas no quadro 9 de acordo com a preferncia partidria e com o nveleducacional.

    A observao mais saliente tem a ver com as grandes propores deemedebistas, em ambos os nveis educacionais, que percebem taisdiferenas em termos das categorias ou classes sociais favorecidas por cada

    partido, identificando o MDB com os pobres, os trabalhadores oucategorias anlogas e a Arena com os ricos, a elite, o governo, etc.

    Tais propores so tambm relativamente elevadas, porm, entre osarenistas de nvel educacional baixo, especialmente entre os arenistasrecentes, o que certamente ajudar a explicar a tendncia manifestada comcerta freqncia pelos arenistas no sentido de votarem nos candidatos doMDB. Pode-se ver ainda que no so muito altas as freqncias dos quemanifestam uma imagem dos partidos em que o MDB percebido comomelhor por razes especificamente polticas, embora tais freqncias sejamnaturalmente maiores entre emedebistas que entre arenistas. Embora sejamtambm os emedebistas os nicos a fundarem a percepo de superioridade

    do MDB em razes que tm a ver com problemas estritamente econmicos(enquanto distinguveis da simples meno a partido dos pobres ou dosricos, etc.), v-se que as propores correspondentes so muito reduzidas,enquanto tende a elevar-se um pouco, especialmente entre emedebistas denvel educacional mais alto, a incidncia de respostas que manifestamsimpatia pelo MDB como partido orientado no sentido da mudana emgeral. No surpreendenternente, as propores de respostas que se mostramsimpticas Arena por perceb-la como eficaz e economicamentecompetente ou como politicamente melhor (trouxe ordem ao pas, por

    exemplo) predominam entre arenistas, sendo praticamente nulas entreemedebistas (apesar de serem tambm nulas entre os arenistas de baixo

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    nvel educacional). Em apreciao global, ressalta o fato de que a imagemamplamente predominante da estrutura partidria existente a queidentifica, de maneira em geral bastante singcla e pouco articulada emtermos de problemas especficos de qualquer natureza, o MDB com as

    camadas menos privilegiadas e a Arena com as camadas mais privilegiadasda populao.No muito distintos quanto ao panorama geral que permitem

    depreender so os dados do quadro 10, que apresentam em tabulaoanloga anterior as respostas dos entrevistados quanto a dificuldades

    pelas quais, em sua opinio, o pas esteja passando no momento ou venha apassar no futuro imediato. Verifica-se que as altas propores de respostasotimistas (negando a existncia de dificuldades ou crises) que tendem aocorrer entre os arenistas de ambos os nveis educacionais encontramcontrapartida em propores tambm altas entre os ernedebistas de nveleducacional inferior, o que pode ser posto em correspondncia, dado ocarter algo abstrato do item, com o elevado ufanismo que vimoscaracterizar os estratos mais baixos. Nenhum padro claro emerge, poroutro lado, quanto s referncias crise mundial em geral, enquanto seelevam bastante em todas as categorias (com tendncia a predominarementre os emedebistas, como seria de esperar) as referncias a problemaseconmico-sociais do pas sem aluso crise mundial em geral.Significativamente, praticamente nula, aparecendo em proporesmnimas mesmo entre os emedebistas, a referncia a dificuldades de

    natureza poltica.Este ltimo aspecto, que tende a corroborar certas inferncias

    anteriores, coloca um problema de especial interesse. Os dois quadrosseguintes, 11 e 12, permitem que se obtenha uma avaliao talvez maisadequada de sua significao. O quadro 11 apresenta, de acordo com a

    preferncia partidria, as porcentagens de respostas que indicam ignornciacompleta com respeito a alguns itens de uma escala que visa a apreender ograu de informao scio-poltica dos entrevistados. Dos quatro itensselecionados para esta apresentao, dois (BNH e MOBRAL)

    correspondem a aspectos da poltica social que vem sendo implernentadah alguns anos pelo governo federal, enquanto os dois restantes (Decreto-Lei 477 e A1-5) correspondem a aspectos salientes do debateespecificamente poltico contemporneo. Ambas as dimenses constituramteMas agitados pelos candidatos durante a campanha, o que aumenta a

    pertinncia dos dados a respeito.

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    QUADRO 9Diferenas Percebidas entre MDB e Arena, por Preferncia Partidria e Nvel deEscolaridade (%)

    DIFERENAS ESCOLARIDADEMDB-Arena At ginsio incompleto Ginsio completo ou mais

    PREFERNCIA PARTIDRIAArena Arena MDB MDB Sem Arena Arena MDB MDB Semsempre recent. sempre recent. pref. sempre recent. sempre recent. pref.

    1. MDB dos pobres,Arena dos ricos etc. 21,4 33,3 50,5 38,0 18,2 5,7 5,6 43,3 27,8 9,82. Diferenas que reve-lam simpatia por MDB por motivos polticos 4,8 - 11,8 - - 3,8 - 16,7 15,3 1,63. Idem, econmicos - - 4,3 4,3 - - - - 1,4 1,64. MDB = mudana emgeral 4,8 - 5,4 4,3 12,1 3,8 5,6 10,0 6,9 1,65. Arena = poder 11,9 8,3 - 3,3 9,1 11,3 16,7 3,3 8,3 13,16. Arena competente,eficaz 7,1 - - - 6,1 17,0 10,1 3,3 2,8 4,97. Arena melhor pormotivos polticos 11,9 - - - 6,1 18,9 16,7 - - -8. Arena = militares - - 1,1 - - - - 3,3 - -9. No h diferena 4,8 - 1,1 1,1 - - - - 2,8 21,310. NS, NR 16,7 33,3 11,8 26,1 36,4 5,7 16,7 - 8,3 21,311. Outras 16,6 25,1 14,0 22,9 12,0 33,8 28,6 20,1 26,4 24,8(N) (42) ( 12) ( 93) (92) (33) (53) (18) (30) (72) (61)

    Os nmeros do quadro 11 demonstram de maneira inequvoca que hdiferenas gritantes quanto visibilidade dos itens das duas dimenses para

    QUADRO 10Dificuldades do Pas, por Preferncia Partidria e Nvel de Escolaridade (%)

    PERCEPO ESCOLARIDADEDE At ginsio incompleto Ginsio completo ou maisDIFICULDADES PREFERNCIA PARTIDRIA

    Arena Arena MDB MDB Arena Arena MDB MDBsempre recent. sempre recent. sempre recent. sempre recent.

    1. Otimistas, no hdificuldades 36,5 41,6 34,3 34,0 32,7 47,0 11,4 18,42. Aluso a crisemundial 17,7 8,3 10,0 5,4 22,9 23,5 19,9 20,93. Econmico-sociais 33,3 41,6 34,3 42,8 31,1 29,5 45,7 43,44. Polticas - - 2,0 1,1 - - 2,8 1,35. Mescla 4,4 - 2,0 6,5 6,6 - 14,2 6,56. Outras 9,1 8,5 17,4 10,2 6,7 - 6,0 9,5(N) (45) (12) (99) (91) (61) (17) (35) (76)

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    a populao em geral. Enquanto so bastante reduzidas as propor es deentrevistados que se revelam totalmente desinformados quanto aos itensrelativos poltica social do governo, especialmente no que se refere aoMobral, so extremamente altas as propores correspondentes quanto aos

    aspectos de natureza nitidamente poltica, o que se torna tanto maisrevelador se se tem em conta que foram excludas das categorias aquiapresentadas mesmo as respostas que indicavam conhecimento vago ounebuloso dos itens em questo. A alta desinformao poltica que os dadosrevelam, por outro lado, ocorre mesmo entre os partidrios do MDB, no

    QUADRO 11Informao com Respeito a Diversos Itens

    por Preferncia Partidria

    % de respostas no PREFERNCIA PARTIDRIAsei o que ou Arena Arena MDB MDB Semtotalmente erradas a sempre recent. sempre recent. pref.respeito de:

    BNH 22,6 32,3 38,9 35,5 23,9MOBRAL 10,0 9,7 16,6 11,4 7,7Decreto-Lei 477 88,2 96,8 92,9 94,4 86,2AI-5 70,3 90,4 88,5 89,2 71,6(N) (111) (31) (139) (176) (130)

    decrescendo sequer entre os adeptos recentes desse partido, que vimosantes inclurem parcela substancial de insatisfeitos.Seria precipitado, porm, dar demasiado peso a tais constataes,

    como se pode perceber quando as confrontamos com os dados constantesdo quadro 12. Apresentam-se a as distribuies por preferncia partidriadas opes dos entrevistados diante de urna srie de questes, formuladasem termos de alternativas dicotmicas, atravs das quais se procurou cobrirdiversos aspectos do debate corrente com respeito ao panoramapoltico do

    pas e s conseqncias sociais da forma que vem sendo imprimida ao

    desenvolvimento econmico brasileiro. Como se pode observar, com umaspoucas excees no que se refere avaliao da capacidade que tem opovo de votar judiciosamente por parte dos arenistas e dos que no tm

    preferncia partidria, em todas as demais categorias proporesmajoritrias dos entrevistados e com freqncia grandes maiorias optam pela alternativa que envolve uma postura claramente crtica comrespeito s condies prevalecentes no pas. A preferncia por uma formaconseqentemente democrtica de organizao poltica e a disposiocrtica com respeito ao quadro de rigidez poltica e de desenvolvimentoelitista que vem caracterizando a vida brasileira so especialmente ntidas,

    por outro lado, entre os que se declaram identificados com o MDB, onde

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    tendem a ocorrer freqncias consistentemente mais altas de adeso salternativas correspondentes.

    QUADRO 12

    Opinies sobre Diversos Problemas por Preferncia Partidria

    PREFERNCIA PARTIDRIAArena Arena MDB MDB Sem

    % de acordo com: sempre recent. sempre recent. pref.1. O governo deve ser elei-to, mesmo se isso dificultasua ao 58,6 64,6 81,3 77,3 63,92. O povo sabe o que fazquando vota 42,4 29,1 64,1 50,6 43,13. O desenvolvimento vemtornando os ricos mais ricos e

    os pobres mais pobres e j hora de mudar isso 52,3 64,6 81,3 76,8 59,34. O debate entre partidospolticos esclarece problemas eajuda a resolv-los 72,1 83,9 79,2 81,2 59,3(N) (111) (31) (139) (176) (130)

    II

    possvel distinguir dois nveis no que se refere aos interesses quese do em qualquer coletividade. No primeiro deles, que caberia designarcomo o nvel constitucional, temos demandas fundamentais por parte dosdiversos grupos que coexistem na sociedade, ou seja, aquelas demandasque dizem respeito s regras do jogo e s garantias de adequadasoportunidades de realizao dos interesses de cada grupo no dia-a-dia do

    jogo poltico. O segundo nvel, o operacional, corresponde precisamente confrontao cotidiana de interesses que, assumindo formas cambiantes einstveis, emergem, associam-se e se opem de acordo com as vicissitudes

    do processo poltico e econmico no mbito definido pela soluo dada ao problemaconstitucional.7

    Aplicada anlise dos fatores que respondem pela aquiescnciaprestada a determinado regime ou forma de governo, certas conseqnciasdecorrem dessa distino. As perspectivas de legitimao einstitucionalizao de formas polticas dadas dependem de que asorganizaes e procedimentos polticos que as constituem possam mostrar-se relativamente autnomos e isentos diante dos interesses que ocorrem no

    7A distino entre os nveis constitucional e operacional da vida poltica elaborada

    em James M. Buchanan e Gordon Tullock, The Ca/culus of Consent: Logical Fundations ofConstitutional Democracy (Ann Arbor, Michigan: lhe University of Michigan Press, 1962).

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    nvel operacional da vida poltica. Mas, se essa autonomia e iseno ho deser efetivas quanto a garantir o enfrentamento pacfico de interessescotidianos e o acatamento aparelhagem institucional que o enquadra, indispensvel que esta ltima no seja autnoma com respeito s demandas

    bsicas que se do no nvel constitucional, impondo-se, ao contrrio, queela se mostre sensvel a tais demandas e de alguma forma as incorpore egaranta. Pois autonomia das instituies polticas face ao nvelconstitucional isto , a ausncia de garantias destinadas a asseguraradequadas chances de realizao dos interesses correspondentes a todosos diferentes grupos ou foras sociais que compem a coletividade envolver inevitavelmente a subjugao de determinadas foras sociais poroutras e o predomnio da coero e do arbtrio sob formas abertas ouveladas.

    Vrios indcios sugeriam que o pas viera atravessando nos ltimosanos o que se poderia designar como um processo de tradicionalizao do

    poder, em que um grau crescente de aquiescncia, ainda que passiva. a umpoder arbitrrio deriva da mera capacidade que este revela de durar, semser alvo de contestao eficaz, e de sua prpria aparncia de solidez ou dealgo necessrio e inevitvel. Alm disso, um grande esforo de doutrinaoscio-poltica destinada a criar disposies favorveis ao regime nasdiversas camadas da populao se viera desenvolvendo em diferentes

    planos. Ao lado da forma institucional que tal esforo assumiu na inclusodo ensino obrigatrio de educao moral e cvica em todos os nveis do

    sistema educacional, intensa campanha propagandstica se conduziu porvrios anos atravs dos meios de comunicao de massas, apoiada nas altastaxas de crescimento econmico e dando nfase a temas de grande

    potencial de mobilizao psicolgica das camadas populares, tais como aidentificao simblica com uma ptria idealizada e com o unnime esforonacional de tornar realidade o brilhante futuro do pas no apenas comoterra de prosperidade, mas tambm como potncia mundial. Se a isso seacrescenta o carter manipulvel das massas que certas anlises da tradiocorporativista no pas ou do populismo brasileiro tendem a salientar, a

    aquiescncia ao regime pareceria um problema resolvido, e a ampla vitriado partido governamental nas eleies de 1970 pareceria fadada a repetir-seem 1974 e em momentos posteriores.

    A vitria emedebista nas eleies de novembro ltimo e suaspropores vieram revelar o equvoco dessa viso plausvel e mostrar que oproblema da legitimao do regime envolve exigncias mais complexas,subsistindo dramaticamente.

    Sem dvida, no se pode pretender ver nos resultados das ltimaseleies a evidncia de uma ntida percepo, por parte do eleitorado, dos

    problemas que configuram o panorama scio-poltico brasileiro daatualidade. Por um lado, dificilmente se poderia compatibilizar com essa

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    interpretao a simples flutuao das preferncias dos eleitores entre 1970e 1974, ainda que se atente para aspectos como as condies de liberdaderelativamente maior em que se realizou o ltimo pleito ou os efeitos dacrise econmica mundial: alm de que tais fatos claramente no podem dar

    conta da magnitude dos deslocamentos do eleitorado entre uma e outraeleio, recorrer a eles exigiria que se atribusse deciso de voto o sentidode resposta tpica a condies conjunturais, o que no se acomodariafacilmente imagem de um eleitorado consciente nas circunstncias quecercam o contraste entre as eleies de 1970 e 1974. Por outro lado, os

    prprios dados acima analisados indicam bastante claramente oscomponentes de desinformao e alheamento com respeito a aspectosimportantes da conjuntura scio-econmica e poltica do pas que seassociam s preferncias expressas pelo eleitorado, destacando-se, porexemplo, a reduzida salincia de questes propriamente polticas entre oseleitores de diferentes camadas sociais ou preferncias partidrias, o grandedesconhecimento de temas de relevncia bvia no debate poltico atual e ofato de que mesmo questes de natureza scio-econmica, mesmo sefiguram de maneira bastante mais ntida na conscincia dos eleitores,apenas mostrem alguma relao com o voto ou a preferncia pelo partidode oposio entre as camadas sociais comparativamente elevadas, apesar deque o apoio ao MDB provenha sobretudo dos nveis sociais mais baixos.

    No obstante, a importncia dos matizes introduzidos por outrosaspectos dos dados no pode ser negligenciada. A grande freqncia com

    que o voto pelo MDB se mostra relacionado com a percepo desse partidocomo o partido dos pobres, dos trabalhadores ou do povo, porcontraste com a imagem da Arena como o partido dos ricos, dogoverno ou da elite; a expresso amplamente majoritria,especialmente entre os emedebistas, de preferncia por formas polticasdemocrticas e o rechao ao quadro de rigidez poltica e desenvolvimentoelitista; tais observaes, se agregadas ao fato de que o voto emedebista

    provm em medida desproporcional dos setores jovens e menosfavorecidos da populao, indicam que a desinformao com respeito a

    certos aspectos da conjuntura poltico-econmica do pas, que tendero aapresentar-se como relativamente complexos e de difcil compreenso

    particularmente aos olhos de tais setores, est longe de poder ser vistacomo resultando em comportamento errtico diante das urnas. Por turvaque possa haver sido a apreenso das conexes entre as frmulas atravsdas quais o partido oposicionista expressou seu repdio s condiesexistentes, por um lado, e, por outro, as oportunidades que estas oferecem realizao dos interesses de amplos setores ou camadas da populao, ofato incontestvel que a identificao macia com o MDB se deveu s

    condies que lhe criaram a imagem de antigoverno e antielitismo e lhepermitiram emergir como o smbolo de um novo estado de coisas. Assim,

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    no parece forado pretender ver precisamente na conjugao da magnitudeda vitria do MDB com a reduzida disponibilidade ou propensoevidenciada por amplas parcelas do eleitorado para envolver-se emquestes diversas do dia-a-dia poltico-econmico do regime o sentido de

    um voto constitucional. As questes que estiveram em jogo nas eleiesde novembro de 1974, e que em seu significado essencial se colocaramcom nitidez para o eleitorado, imprimindo ao pleito o carter especial deque ele claramente se revestiu, foram: de que lado se est no que se refereaos interesses populares? que posio se adota perante o estado de coisasvigente no pais, a da conservao ou a da mudana?

    Resta, naturalmente, o problema de explicar precisamente essecarter especial do pleito, ou seja, de dar conta das condies que levaramo eleitorado a ver nele a ocasio de um protesto ao nvel constitucional,em contraste, por exemplo, com o voto conformista que encontramos em1970. Pois, como se assinalou acima, as propores assumidas pelareviravolta nas preferncias do eleitorado entre os dois momentos no

    parece explicvel pelas conseqncias imediatas sobre os nveis de vida dapopulao das dificuldades que o processo de desenvolvimento econmicodo pas passou a enfrentar, ou pelo efeito, em si mesmo, das condiesrelativamente mais liberais em que se travou o pleito. Nossa viso do

    problema congruente com as reservas anteriormente expostas quanto possvel interpretao dos resultados eleitorais em termos de um eleitoradoalerta e consciente, sem deixar, contudo, de ressaltar o carter

    problemtico, que aqueles resultados tornaram evidente, da questo dalegitimao do regime mesmo frente a uma populao em grande partedesinformada e alheia a certos aspectos mais complexos do jogo polticocotidiano.

    Diramos que a principal circunstncia nova que interfere nadefinio do clima das eleies de 1974 um efeito de psicologia coletivaque resulta da ruptura da anterior aparncia de invulnerabilidade e solidezdo sistema, ruptura esta cujas manifestaes se encontram em diversoseventos que assinalam a transio do governo Mdici ao governo Geisel e o

    desenrolar deste ltimo. As crticas a vrios aspectos da poltica do governoanterior pelos novos titulares de posies governamentais, envolvendomesmo denncias de corrupo; de maneira especial, o revisionismoeconmico, abalando o efeito politicamente legitimador do triunfalismo

    precedente e dando relevo ao problema da distribuio dos benefcios dodesenvolvimento econmico do pas; a prpria promoo oficial do temada abertura poltica: coisas como essas, que tm decerto como pano defundo a crise econmica, teriam desencadeado um processo simtrico mas agora de sinal contrrio quele que anteriormente designamos pela

    expresso tradicionalizao do poder, rompendo o clima de passividade eimpotncia engendrado pela persistncia, que j tendia para a

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    imemorialidade, de um sistema de aparncia monoltica e infenso aexames de conscincia. Desaparecem, assim, as condies associadas aparente eficcia do esforo de manipulao simblica em que seempenhava o regime. Naturalmente, alm de seu papel no sentido de ajudar

    a compor o novo quadro simblico que assim se estabelece, a relativaabertura poltica que se d com Geisel merece destaque especial pelo papelinstrumentalque ela claramente tambm cumpre: ela que ir permitir aoMDB tirar proveito do novo quadro, salientar os demais aspectos dareviso que o prprio governo iniciara, reivindicar a figura do presidenteGeisel em conexo com os temas de sua prpria campanha e assim realaras contradies do campo adversrio, dar nfase s questes simpticas aossetores populares e aos jovens e emergir, em suma, como o smbolo de umadisposio de mudana que as fissuras do monlito tornavamaparentemente vivel.

    Se voltamos questo de como avaliar a conscincia poltica doeleitorado luz dessa interpretao, ela traz implcita a idia de que, emmedida importante, o eleitorado brasileiro suscetvel de influncias que

    podem alterar grandemente sua disposio em funo de fatorescircunstanciais, o grau de estruturao ideolgica que o caracteriza

    precrio, apesar de certas tendncias bsicas que se exprimiramtradicionalmente na capacidade de apreender ainda que difusamente seus interesses em correspondncia com determinados partidos oumovimentos (o antigo PTB, por exemplo) e que se revelaram agora no

    apoio ao MDB na medida em que este se fez perceber como o partidopopular, dos pobres ou do povo.8 Contudo, a ser correta a interpretaoapresentada, deriva dela tambm a conseqncia de que as condies dexito da pretenso de assegurar para o sistema a lealdade das massas, at o

    ponto em que essa pretenso queira apoiar-se sobretudo na manipulaosimblica, incluiro exigncias de monolitismo e eficcia do aparato desustentao do sistema autoritrio dificilmente suscetveis de serematendidas em forma continuada. Ao contrrio, outras anlises sugerem queo problema da coeso o foco de um dilema institucional permanente

    desse aparato nas condies prprias do governo autoritrio.9 Seja comofor, o problema posto para o regime pelas eleies de 1974, ao ilustrar tanto

    8Algumas das colaboraes includas no presente volume examinam com destaque o que as eleies de1974 representam de continuidade e ruptura com respeito a padres de comportarnento eleitoralanteriores. Vejam-se Bolvar Lamounier, Comportamento Eleitoral em So Paulo: Passado e Presente;Fernando Henrique Cardoso, Partidos e Deputados em So Paulo: O Voto e a Representao Poltica; eHlgio Trindade, Padres Eleitorais no Rio Grande do Sul.9Veja-se Fbio Wanderley Reis, O Institucional e o Constitucional: Responsabilidade e Realismo naAnlisc do Processo Poltico Brasileiro, trabalho apresentado ao simpsio sobre Perspectivas Polticas

    do Brasil Contemporneo, XXVII Reunio Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia,Belo Horizonte, 15 de julho de 1975.

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  • 8/6/2019 As eleies de 1974 em Minas Gerais

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    os riscos do processo democrtico quanto os limites do projeto delegitimao do sistema vigente por via autoritria e manipuladora, indicacom clareza a necessidade de reformulao do prprio projetoconstitucional que tem estado subjacente forma corrente, sob patrocnio

    oficial, do debate sobre o problema institucional brasileiro, que no se podeesperar solucionar estavelmente sem a incorporao plena dos setorespopulares majoritrios.