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AS FRAÇÕES E SEUS SIGNIFICADOS OPERADOR MULTIPLICATIVO E QUOCIENTE: O CASO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE OLINDA Edilza Maria da Conceição Silva, UFPE, [email protected] Robson da Silva Eugênio, UFPE, [email protected] Verônica Gitirana Gomes Ferreira, UFPE, [email protected] Resumo Pesquisas apontam que alunos do 6º ao 9º ano tem dificuldade com frações. Este estudo analisou o desempenho e compreensão de alunos do 6º ano no campo dos números racionais considerando os significados quociente e operador multiplicativo. Para tal foi aplicado um teste diagnóstico com 65 estudantes de uma escola pública de Olinda. Os resultados evidenciam que os estudantes demonstram a não ruptura na passagem da compreensão das estruturas aditivas para as multiplicativas. Eles conseguem lidar com problemas com significado de quociente sem o uso da notação de frações. No entanto, problemas em que a fração assume o significado de operador mostram-se ser um ponto frágil no entendimento dos alunos sobre números racionais. Palavras-chave: Números Racionais, significados, estruturas multiplicativas. Abstract Researches have being pointing to 6th to 9th grade students´ difficulties on dealing with fractions. This study analyses 6th grade students´ ability and understanding in the conceptual Field of rational numbers, considering the multiplicative operator and quotient meanings. A diagnostic test was undertanken to 65 students of a state school from Olinda, a Brazilian city in Pernambuco. The results evidences that students did not overcome a barrier made by their knowledge on additive structure toward the multiplicative one. They can deal with the problems with quotient meaning without using fraction representation. Nonetheless, problems of fractions as multiplicative operator revealed to be a weak point on their understanding of rational numbers. Keywords: Rational Numbers, meanings, multiplicative estructure. Introdução Diversos estudos apontam que, embora seja um tema importante, pouco se tem investigado a respeito do desenvolvimento da compreensão dos estudantes no campo dos Números Racionais.

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AS FRAÇÕES E SEUS SIGNIFICADOS OPERADOR

MULTIPLICATIVO E QUOCIENTE: O CASO DOS ALUNOS DE

UMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE OLINDA

Edilza Maria da Conceição Silva, UFPE, [email protected]

Robson da Silva Eugênio, UFPE, [email protected]

Verônica Gitirana Gomes Ferreira, UFPE, [email protected]

Resumo

Pesquisas apontam que alunos do 6º ao 9º ano tem dificuldade com frações. Este estudo analisou o desempenho e compreensão de alunos do 6º ano no campo dos números racionais considerando os significados quociente e operador multiplicativo. Para tal foi aplicado um teste diagnóstico com 65 estudantes de uma escola pública de Olinda. Os resultados evidenciam que os estudantes demonstram a não ruptura na passagem da compreensão das estruturas aditivas para as multiplicativas. Eles conseguem lidar com problemas com significado de quociente sem o uso da notação de frações. No entanto, problemas em que a fração assume o significado de operador mostram-se ser um ponto frágil no entendimento dos alunos sobre números racionais.

Palavras-chave: Números Racionais, significados, estruturas multiplicativas.

Abstract

Researches have being pointing to 6th to 9th grade students´ difficulties on dealing with fractions. This study analyses 6th grade students´ ability and understanding in the conceptual Field of rational numbers, considering the multiplicative operator and quotient meanings. A diagnostic test was undertanken to 65 students of a state school from Olinda, a Brazilian city in Pernambuco. The results evidences that students did not overcome a barrier made by their knowledge on additive structure toward the multiplicative one. They can deal with the problems with quotient meaning without using fraction representation. Nonetheless, problems of fractions as multiplicative operator revealed to be a weak point on their understanding of rational numbers.

Keywords: Rational Numbers, meanings, multiplicative estructure.

Introdução

Diversos estudos apontam que, embora seja um tema importante, pouco se

tem investigado a respeito do desenvolvimento da compreensão dos estudantes

no campo dos Números Racionais.

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Nunes, Bryant, Magina e Campos (2002) afirmam que numa cultura em

que predominem o sistema métrico decimal, como por exemplo, no Brasil,

crianças provavelmente tenham dificuldades em resolver problemas envolvendo

frações. Estudos realizados pelos autores no Brasil e na Inglaterra evidenciaram

essa tendência. Por isso, sugerem que o tema seja tratado desde os anos iniciais

de escolarização numa busca pela compreensão do mesmo por parte dos

estudantes.

Albuquerque (2010) nos chama a atenção para o fato de que as pesquisas

vêm demonstrando uma dificuldade existente em relação ao conceito de fração

tanto do ponto de vista do ensino, quanto da aprendizagem.

Merlini (2005) e Cavalcanti, Câmara dos Santos e Jófili (2007) apontam

que o conceito de fração é vivenciado com dificuldade mesmo entre alunos do 6º

ao 9º ano. Seus estudos evidenciaram que os melhores resultados surgiram

quando a situação apresentada envolvia o significado parte-todo.

Cavalcanti e Guimarães (2008) argumentam que vários estudos

demonstram também as dificuldades dos professores dos anos iniciais para

compreender os diversos significados que envolvem o conceito de fração. As

autoras afirmam que os professores apresentam melhor desempenho e

compreensão quando a situação envolve o significado parte-todo, assim como

ocorreu nos estudos de (CAVALCANTI e CÂMARA DOS SANTOS, 2006;

CANOVA, 2006). Dificuldades foram constatadas no estudo de Cavalcanti,

Câmara dos Santos e Jófili (2007) quando a fração assumia o significado de

operador multiplicativo.

Diante disso, estruturamos este estudo considerando as ideias de Nunes e

colaboradores a respeito dos Números Racionais, bem como a Teoria dos

Campos Conceituais de Gerard Vergnaud.

Vergnaud destaca, em um de seus estudos sobre campos conceituais, as

estruturas multiplicativas cujo domínio envolve multiplicações, divisões,

combinações, além dos conceitos de número racional, razão, fração, função

linear, espaço vetorial, entre outros (RODRIGUES, 2005, p.26).

Para Vergnaud (1986), os campos conceituais são a matéria-prima da qual

se constitui o desenvolvimento do processo cognitivo e ressalta ainda que cada

conceito envolve uma tríade fundamental frequentemente apresentada como (S)

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situações que dão significados ao conceito; (I) as relações e propriedades

invariantes; e as representações simbólicas (R) – desenhos, tabelas, fórmulas,

dentre outras que são usadas para representar um conceito.

Pesquisadores apresentam classificações diversas para os significados de

fração. São cinco os significados presentes no campo dos Racionais, como afirma

Nunes, Bryant, Pretzlik e Hurry (2003): fração como parte–todo, fração como

quociente, medida, operador multiplicativo, número. Cavalcanti e Guimarães

(2008) acrescentam ainda os significados probabilidade e razão.

Para um melhor entendimento dos significados nomeados para este

estudo, utilizamos a definição trazida em Cavalcanti e Guimarães (2008) dos

significados “quociente” e “operador multiplicativo”, estes foram exemplificados

por Cavalcanti e Guimarães da seguinte maneira:

Quadro 1: definição e exemplos dos significados

Significado Definição Exemplo

Quociente

A fração indica uma divisão e seu resultado. Nas situações de quociente, temos duas variáveis, sendo que uma variável corresponde ao numerador e a outra ao denominador.

Em uma festa foram distribuídos 2 bolos para 6 crianças igualmente. Quanto cada uma vai receber?

Operador multiplicativo

A fração indica um valor escalar aplicado a uma quantidade, ou seja, um multiplicador da quantidade indicada.

Numa jarra contendo 900 ml de suco Pedro bebeu 1/3 do líquido. Quantos mililitros ele bebeu?

Fonte: Cavalcanti e Guimarães (2008)

A ideia de escolher apenas dois significados como objeto de pesquisa,

surgiu em face da extensão do trabalho e da impossibilidade de abarcar todos os

significados no Método adotado em curto período de tempo. É neste contexto que

este estudo se insere, uma vez que, ele nasce como produto de uma proposta

para avaliação da disciplina Números e Operações do Programa de Pós-

Graduação em Educação Matemática e Tecnológica.

Assim, nós estruturamos esta pesquisa no sentido de analisar a

compreensão, as estratégias e o desempenho dos alunos de 6º ano do Ensino

Fundamental de uma escola do Município de Olinda, quanto à resolução dos

problemas envolvendo os significados: operador multiplicativo e quociente.

O método

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O presente estudo trata-se de uma diagnose que tem o propósito de

investigar a ideias dos estudantes sobre o campo dos Racionais. Assim, as

investigações foram realizadas em duas turmas do 6º (sexto) ano, constituídas

por 65 estudantes matriculados em uma escola pública de Olinda. Portanto, na

fase de coleta dos dados, cada aluno resolveu individualmente, um conjunto de

problemas apresentados em uma lista.

O instrumento foi adaptado das pesquisas de Nunes, Campos, Magina e

Bryant (2002); Magina e Campos (2008) e envolve Números Racionais, no qual

constam 04 (quatro) problemas que abrangem a Ideia de representação

fracionária, distribuição equitativa e composição multiplicativa.

No primeiro momento as questões foram entregues aos estudantes, em

seguida os pesquisadores fizeram uma leitura dos itens em voz alta de todas as

questões e, posteriormente, os alunos iniciaram a resolução. A atividade foi

realizada durante a aula de Matemática com duração de 50 minutos. Para análise

dos dados, foi realizado um mapeamento das varáveis a serem observadas. Em

seguida foram organizadas as seguintes categorias: significado (quociente e

operador multiplicativo); Estrutura (distribuição equitativa e composição

multiplicativa), Variáveis: (discreta e contínua); notação (livre, estruturada);

habilidade (resolução de problema, representação). Os dados foram codificados,

digitados no programa SPSS tratados e analisados à luz do referencial teórico

que embasa este estudo.

O quadro a seguir apresenta as questões utilizadas na pesquisa e em

seguida algumas respostas dadas pelos estudantes.

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Quadro 2: Problemas apresentados aos estudantes para investigação. PROBLEMA 1 (Quociente)

PROBLEMA 2 (Quociente)

PROBLEMA 3 (Operador Multiplicativo)

1.) Temos três chocolates para distribuir igualmente entre quatro garotos.

a) Que parte do chocolate os garotos vão receber? Mostre a distribuição no desenho. b) Escreva em frações quanto cada um vai ganhar

2.) Na festa da escola os alunos da 3ª série (4º ano) receberam 4 pizzas para dividirem entre si. São 16 alunos.

a) Quanto cada aluno vai receber? b) Não havia na sala uma mesa ao redor da qual todos pudessem se assentar. Se os alunos se separarem em duas mesas, quantos alunos e quantas pizzas serão por mesa?

3.) João e Luís estavam jogando com suas bolinhas de gude e quiseram contar quantas bolinhas de gude cada um tinha ao final de uma partida.

a) João ganhou 1/3 das bolinhas

de gude.

b) Luís ganhou 2/3 das bolinhas de gude.

Fonte:Problemas adaptados de Nunes, Bryant, Magina e Campos (2002); Magina e Campos

(2008).

Ressaltamos, porém, que neste artigo estão analisadas apenas três dos

quatro itens propostos.

Resultados e discussão

Iniciamos as nossas análises investigando o acerto e erro dos estudantes

em relação aos tipos de problema. A tabela 1mostra que nas questões 1a, 1b, 2a

e 2b, que envolviam o significado quociente, tiveram o índice de acertos bastante

expressivo ao contrário das questões 3a e 3b que envolviam o significado

operador multiplicativo. Esses resultados apontam para a mesma direção dos

estudos de Cavalcanti, Câmara dos Santos e Jófili (2007), nos quais os

estudantes apresentaram as mesmas dificuldades ao responderem esse tipo de

questão. Na tabela 1 visualizamos o percentual das respostas dos estudantes por

tipo de questão.

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RESPOSTAS DOS ESTUDANTES

Acertou errou Não respondeu

TIPO DE

QUESTÃO

1a (quo) 30,8% 60% 9,2%

1b (quo) 7,7% 76,9% 15,4%

2a (quo) 80% 18,5% 1,5%

2b (quo) 52,3% 26,2% 6,2%

3a(op) 9,2% 69,2% 21,5%

3b (op) 10,8% 75,4% 13,8%

Total 31,8% 54,4% 11,3%

Tabela 1: acerto/erro por tipo de questão

Como podemos observar, as questões 1 e 2, que exploram o mesmo

significado (quociente), também apresentaram um índice de acerto e erro

diferenciados. Acreditamos que o grau de complexidade característico de cada

questão talvez possa ter contribuído para o tipo de resposta dada.

Na questão 1a, por exemplo, dos 65 estudantes investigados apenas

30,8% responderam corretamente. Na questão 1b, dos 65 estudantes que

responderam esta questão, o número de acertos caiu para 7,7%. Esse resultado

nos mostra que dependendo do nível de dificuldade da questão, os alunos podem

não responder ou responder de maneira inadequada a questão proposta. Uma

vez que na questão 2a e 2b, relativamente mais simples, os estudantes se saíram

bem melhor, porquanto a tabela 1 da página anterior nos mostra que o índice de

acerto aumenta para 80% das 65 respostas na questão a e 52,3% acertos das 65

respostas na questão b.

As respostas possíveis para o problema 1a se assemelham as encontradas

no estudo de NUNES (2002). Nós classificamos este problema como um

problema estruturado. Consideramos por questão estruturada àquelas em que o

estudante obrigatoriamente teria que utilizar o desenho ou responder conforme a

exigência do enunciado. No caso do problema 1a, possivelmente, o estudante

deveria seguir três tipos de estratégias. A primeira seria dividir os dois primeiros

chocolates em duas partes e dar a metade da barra a cada uma das pessoas, a

última barra seria dividida em quatro partes e distribuída de forma igual para

todos.

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A segunda possibilidade de resposta seria de imediato fazer a divisão das

três barras de chocolate em quatro pedaços cada uma, totalizando 12 pedaços

que seriam divididos por quatro pessoas, resultando em três pedaços para cada

uma. Ambas as possibilidades apoiando-se no desenho, ou ainda, responder a

questão só pelo enunciado. Independentemente da estratégia utilizada, seja por

desenho ou através do enunciado, a representação esperada em fração seria

3/12 ou a qualquer fração equivalente.

Destacamos como exemplo uma resposta dada por um estudante, que:

dividiu cada barra de chocolate em 4 pedaços e deu 3 pedaços a cada um.

Figura 1 – Resposta da questão 1a do protocolo 14

Outro exemplo de resolução apresentado surge quando o estudante afirma

não saber responder, mas faz a divisão correta dos chocolates utilizando o

desenho, dividindo 2 chocolates ao meio e o terceiro em 4 partes e utiliza setas

para mostrar de quem é cada pedaço. Isso evidencia que apesar de alguns

estudantes não saberem representar o resultado por fração, eles mostram a

resposta usando o desenho.

Figura 2 - Resposta da questão 1a do protocolo 64

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Por outro lado, no que diz respeito às estratégias utilizadas para a

resolução das questões, percebe-se através da tabela 2 apresentada a seguir,

que o uso da linguagem natural se destaca com 52,3% do total.

ESTRATÉGIA

NR RPF RPD LN RDF RD RM TOTAL

questão

Acertou 0 1,5% 5,9% 22,8% 0 1,5% 0 31,8% Errou 8,7% 7,0% 9,5% 26,9% 1,3% 0,7% 0,3% 54,3% Não respondeu 11% 0 0 0,3% 0 0 0 11,3%

Legenda: NR=não resolveu; RPF=resolveu o problema com fração; RPD=resolveu o problema por desenho; LN=linguagem natural; RDF=resolveu por desenho e fração; RD=resolveu por divisão; RM= resolveu por multiplicação.

Tabela 2: erro/acerto por tipo de estratégia

O que acontece quando os estudantes utilizam só a notação ou desenho?

Se realizarmos uma comparação entre os acertos das questões 2a e 2b, 3a e 3b

que envolvem os significados quociente e operador multiplicativo, observamos

que para ambas, o tipo de notação mais freqüente foi a resposta por número

inteiro, utilizando como estratégia de resolução a linguagem natural, por exemplo,

um dos estudantes respondeu a questão 2a da seguinte maneira: cada um dos

alunos vai receber 2 pedaços. Na questão 2b, ele respondeu: 8 alunos e duas

pizzas para cada.

Figura 3 - Respostas da questão 2a e 2b do protocolo 26

Dessa forma, 33% dos estudantes que resolveram as 4 questões utilizaram

esse tipo de estratégia, uma vez que nas questões 2a e 2b a notação era livre e

na 3a e 3b a notação era estruturada. Entendemos por questão livre, a utilização

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ou não do desenho para a resolução da questão e a possibilidade dos estudantes

terem a liberdade para responder do jeito que acreditassem.

Chamamos atenção para as questões 3a e 3b, que envolvia o significado

operador multiplicativo com quantidade discreta. Nestas questões, dentre os 65

protocolos analisados, cerca de 90% dos estudantes não resolveu ou deixou em

branco as alternativas do enunciado. Percebemos que os estudantes não

estavam associando o desenho aos itens de resposta, por exemplo: numa das

respostas dadas pelos estudantes, um deles respondeu que João ganhou 13

bolinhas de gude e Luís 23. Já em outra resposta, o estudante solucionou as

questões multiplicando o numerador pelo denominador, resultando em João

ganhou 3 bolinhas e Luís 6.

Figura 4 – Respostas das questões 3a e 3b do protocolo 26

Percebemos que os estudantes não demonstram noções sobre a utilização

da notação fracionária, nem utilizaram o desenho como apoio para as respostas,

exceto na questão 1a na qual o desenho é utilizado por todos os participantes.

Conclusões

Em relação a nossa pergunta de pesquisa, que era se os alunos do 6º ano

sabem trabalhar com frações, percebemos que a representação fracionária é

quase inexistente na resolução das questões, ou quando usada, o seu uso ocorre

de maneira inadequada.

Por outro lado, ficou explicita a utilização de estratégias que tomam por

base o desenho proposto na questão. Entretanto, essa representação não foi

suficiente para que os estudantes conseguissem resolver adequadamente as

questões propostas.

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Isso fica evidenciado especialmente nas questões 2a e 2b que envolvem o

significado quociente e a notação livre e as questões 3a e 3b referentes ao

significado operador multiplicativo, com notação estruturada. Visto que boa parte

dos estudantes acertaram a primeira (2a,2b) e erraram a segunda (3a,3b).

Constatamos que os estudantes mostraram respostas através do desenho,

especialmente na questão 1a, mas demonstraram não saber notar por fração

mesmo em outras situações que requeriam tal procedimento.

Outro aspecto a ser evidenciado neste estudo é que os estudantes

parecem demonstrar a não ruptura na passagem da compreensão das estruturas

aditivas para as multiplicativas. Uma vez que, nas questões propostas, os

participantes utilizaram várias estratégias que tomavam por base a adição ou por

vezes, a multiplicação e divisão, quando esse tipo de estratégia não era

adequada para a situação, levando-os assim ao erro.

Esse estudo nos ajuda a refletir sobre a importância de trabalhar os

números racionais e seus significados desde os anos iniciais do ensino

fundamental. Tal afirmativa apoia-se nas dificuldades encontradas pelos

estudantes diante das situações propostas e se nos basearmos especialmente

nas respostas dadas pelos estudantes para a questão 1a, na qual foi possível

resolvê-la adequadamente. Nunes e colaboradores (2002) também nos

mostraram em seus estudos essa possibilidade ao encontrarem resultados

bastante positivos com crianças em idade de 7 a 11 anos da Inglaterra e do

Brasil.

Os resultados apontam para a lacuna no ensino e aprendizagem dos

números racionais como operador e outros significados. A fração é reconhecida

pelo aluno quase que exclusivamente como parte-todo, apesar de em muitos

casos eles terem condições de resolver por outras estratégias os problemas. Este

resultado traz luz aos professores e educadores matemáticos para a necessidade

de dirigir atenção na elaboração, experimentação e análise de abordagens de

ensino que tragam os demais significados do racional, com o uso de sua

representação fracionária, para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

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Referências

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CAVALCANTI, J. D.; CÂMARA DOS SANTOS, M.; JÓFILI, Z. Um olhar sobre alguns obstáculos que permeiam as aulas de matemática: um exemplo com frações. Anais do IX ENEM - Encontro Nacional de Educação Matemática, Belo Horizonte, 2007. (Publicado em CDROM). MERLINI, V. L. O conceito de fração e seus diferentes significados: um

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Dissertação de Mestrado em Educação Matemática, PUC/SP, 2005.

NUNES, T.; BRYANT, P., PRETZLIK, U. & HURRY, J. (2003). The effect of situations on children’s understanding of fractions. Trabalho apresentado no encontro da British Society for Research on the Leaming of Mathematics. Oxford: June, 2003. NUNES, BRYANT, MAGINA E CAMPOS. Introdução à Educação Matemática: Os Números e as Operações Numéricas. 2ª edição. São Paulo: PROEM: 2002 RODRIGUES. W.R. Números racionais: um estudo das concepções de alunos após o estudo formal. Mestrado em Educação Matemática. Dissertação de Mestrado. PUC/SP, 2005.

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VERGNAUD, Gérard. Psicologia do desenvolvimento cognitivo e didática das matemáticas. Um exemplo: as estruturas aditivas. Análise Psicológica, 1. 1986. p. 75-90.