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D. Tareja As nações todas são mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós. Ó mãe de reis e avó de impérios, Vela por nós! Teu seio augusto amamentou Com bruta e natural certeza O que, imprevisto, Deus fadou. Por ele reza! Dê tua prece outro destino A quem fadou o instinto teu! O homem que foi o teu menino Envelheceu. Mas todo vivo é eterno infante Onde estás e não há o dia, No antigo seio, vigilante, De novo cria! Ao contrário da D. Teresa de Camões (que participa nas lutas intestinas pelo Poder, movida por interesses pessoais), a D. Tareja de Pessoa apresenta um retrato positivo, onde não cabe qualquer referência à sua pretensa vida desregrada ou à sua intervenção política. D. Tareja esgota-se por inteiro na sua função de procriar («Ó mãe de reis e avó de impérios»), em consonância com o seu profundo instinto maternal («Teu seio augusto amamentou/ Com bruta e natural certeza»), exactamente o que, em Camões, a figura é acusada de não possuir. É também caracterizada pela energia criativa, a potencialidade («No antigo seio, vigilante,/ De novo cria!»).

As Mulheres Na Mensagem

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D. TarejaAs naes todas so mistrios.Cada uma todo o mundo a ss. me de reis e av de imprios,Vela por ns!

Teu seio augusto amamentouCom bruta e natural certezaO que, imprevisto, Deus fadou.Por ele reza!

D tua prece outro destinoA quem fadou o instinto teu!O homem que foi o teu meninoEnvelheceu.

Mas todo vivo eterno infanteOnde ests e no h o dia,No antigo seio, vigilante,De novo cria!

Ao contrrio da D. Teresa de Cames (que participa nas lutas intestinas pelo Poder, movida por interesses pessoais), a D. Tareja de Pessoa apresenta um retrato positivo, onde no cabe qualquer referncia sua pretensa vida desregrada ou sua interveno poltica. D. Tareja esgota-se por inteiro na sua funo de procriar ( me de reis e av de imprios), em consonncia com o seu profundo instinto maternal (Teu seio augusto amamentou/ Com bruta e natural certeza), exactamente o que, em Cames, a figura acusada de no possuir. tambm caracterizada pela energia criativa, a potencialidade (No antigo seio, vigilante,/ De novo cria!). O verso O que, imprevisto, Deus fadou aponta para o cumprimento de um destino que transcende a personagem A figura vale, como os demais heris de Mensagem, pela sua exemplaridade de figura predestinada (Deus fadou), sendo, por isso, fonte de regenerao (No antigo seio, vigilante,/ De novo cria!).

D. Filipa de Lencastre

Que enigma havia em teu seioQue s gnios concebia?Que arcanjos teus sonhos veioVelar, maternos, um dia?

Volve a ns teu rosto srio,Princesa do Santo Graal,Humano ventre do Imprio,Madrinha de Portugal!

Existe, neste poema, uma divinizao da personagem presente atravs dos seguintes elementos: na visita dos arcanjos em sonhos (a fazer lembrar a visita do arcanjo a Maria, me de Jesus); na designao de Princesa do Santo Graal. D. Filipa o smbolo da fecundidade protectora, legitimada pela visita do arcanjo; representa a capacidade criativa do povo portugus. , tambm, eterna procura (Princesa do santo Graal), potencialidade do Portugal-a-haver, fonte de inspirao e de regenerao (Volve a ns teu rosto).

Nota: As mulheres com papel activo na Histria, como D. Teresa, so fustigadas pelo discurso masculino que as trouxe at ns. Valem o que o amor dos homens vale, ou so medidas pela sua influncia limitada nas decises histricas dos maridos e dos pais, ou confinam-se maternidade que lhes inerente.

A Mulher na Mensagem

Amamentao, fecundidade protectora, instinto maternal e patriticoMes, esposas, noivasD. TarejaD. FilipaDe alta condioDo povo annimo

- heronas predestinadas- viglia e fonte de inspirao- energia criativaO herosmo como caminho de sofrimento ilustram