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As obras dos Padres invocados por Jenimo como crendo na virgindade perpétua não confirmam esta sua crença. A doutrina da pe rp étua vi rg indade foi ex po sta pe lo celibatário Jerónimo em 384, no seu tratado contra Helvídio. Com o auge do ascetismo e do mon aq uismo, tornou-se po pular nos séculos seguintes. A controvérsia entre Helvídio e Jerónimo sobre a virgindade perpétua teve lugar em 383, ou seja, mais de 300 anos depois da ascensão de Jesus. Um dos livros mais completos e documentados, escrito desde o ponto de vista católico, sobre o ensinamento dos primitivo s cristãos acerca da Bem-aventurada Maria é a obra de José A. de Aldama, S.I., titulada María en la patrística de los siglos I y II (Madrid: BAC, 1970). No capítulo sobre a virgindade perpétua diz: Dura nt e a co nt rové rsia surg ida em Roma no an o 383 so bre a vi rg indade pe rp ét ua de Ma ri a, ambas as pa rt es co nt endentes acudiram ao testemunho da tradição anterior. Helvídio citou como defenso res da su a pr óp ri a posição, isto é, como co nt rário s à vi rg indade po st pa rtum, Tert ul ia no e Vitorino de Pett au. São  Jerónimo, admi ti ndo o primeiro testemunho e negando o segundo, acrescentou outros mais antigos a favor da virgindade ... [refere Inácio, Policarpo, Ireneu e Jus tino Mártir] ... E no entanto, nas obras conservadas dos Padres citados não há modo de assi nalar passagens concret as às quai s pudesse referir-se São Jerónimo. Talvez aludisse ao modo com que ditos escritores designam Maria correntemente como a Virgem; epíteto difici lment e compr eensív el se tivesse deixado de sê-lo para passar a ser o modelo de uma mãe de família numerosa, como pretendia Helvídio. [1] É claro que o facto de não ser possível assi nalar text os expr essos dos Pa dr es do culo II a favor da vi rgindade  perpétua de Maria  , também não significa que eles negassem essa  prerrogativa da Mãe de Jesus. (p. 225-226; negrito acrescentado) Portanto, de acordo com o P. de Aldama, Te rtuliano ensinou explicitamente contra a virgindade perpétua, facto que foi admitido

As obras dos Padres invocados por Jerónimo como crendo na virgindade perpétua não confirmam esta sua crença

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8/3/2019 As obras dos Padres invocados por Jerónimo como crendo na virgindade perpétua não confirmam esta sua crença.

http://slidepdf.com/reader/full/as-obras-dos-padres-invocados-por-jeronimo-como-crendo-na-virgindade-perpetua 1/2

As obras dos Padres invocados por Jerónimo comocrendo na virgindade perpétua não confirmam esta suacrença.

A doutrina da perpétua virgindade foi exposta pelo celibatárioJerónimo em 384, no seu tratado contra Helvídio. Com o auge doascetismo e do monaquismo, tornou-se popular nos séculosseguintes.

A controvérsia entre Helvídio e Jerónimo sobre a virgindade perpétuateve lugar em 383, ou seja, mais de 300 anos depois da ascensão deJesus.

Um dos livros mais completos e documentados, escrito desde o pontode vista católico, sobre o ensinamento dos primitivos cristãos acercada Bem-aventurada Maria é a obra de José A. de Aldama, S.I.,titulada María en la patrística de los siglos I y II (Madrid: BAC, 1970).No capítulo sobre a virgindade perpétua diz:

Durante a controvérsia surgida em Roma no ano 383 sobre avirgindade perpétua de Maria, ambas as partes contendentesacudiram ao testemunho da tradição anterior. Helvídio citou comodefensores da sua própria posição, isto é, como contrários àvirgindade post partum, Tertuliano e Vitorino de Pettau. São

 Jerónimo, admitindo o primeiro testemunho e negando osegundo, acrescentou outros mais antigos a favor da virgindade ...

[refere Inácio, Policarpo, Ireneu e Justino Mártir]

...

E no entanto, nas obras conservadas dos Padres citados não hámodo de assinalar passagens concretas às quais pudessereferir-se São Jerónimo. Talvez aludisse ao modo com que ditosescritores designam Maria correntemente como a Virgem; epíteto

dificilmente compreensível se tivesse deixado de sê-lo para passar aser o modelo de uma mãe de família numerosa, como pretendiaHelvídio. [1]

É claro que o facto de não ser possível assinalar textosexpressos dos Padres do século II a favor da virgindade perpétua de Maria , também não significa que eles negassem essa prerrogativa da Mãe de Jesus.

(p. 225-226; negrito acrescentado)

Portanto, de acordo com o P. de Aldama, Tertuliano ensinouexplicitamente contra a virgindade perpétua, facto que foi admitido

8/3/2019 As obras dos Padres invocados por Jerónimo como crendo na virgindade perpétua não confirmam esta sua crença.

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inclusive por Jerónimo. Em contrapartida, não há testemunhosconcretos que apoiem tal crença no século II.

[1] Vejamos alguns exemplos do segundo século..."Maria, a mãe do Senhor" (Papias, c. 120)

"Jesus Cristo... descendia de David, e também de Maria" (Inácio deAntioquia, c. 105)

"Quando Maria o instou sobre o maravilhoso milagre do vinho eestava desejosa de participar do cálice de significação emblemáticaantes de tempo, o Senhor moderou a sua inoportuna pressa,dizendo: «Mulher, que tenho eu a ver contigo? A minha hora aindanão chegou». Ele aguardava aquela hora que era conhecida deantemão pelo Pai." (Ireneu de Lyon, c. 180)

"Capacitando [Jesus] para recapitular Adão de Maria" (Ireneu deLyon, c. 180)

"Já provei que é a mesma coisa dizer que Ele meramente  pareciamanifestar-se e afirmar que não recebeu nada de Maria." (Ireneu deLyon, c. 180)

"Mas, como parece, muitos mesmo até ao nosso próprio tempoconsideram Maria, por causa do nascimento da sua criança, comotendo estado na condição puerperal, embora não o tenha estado. Poisalguns dizem que, depois de parir, se a achou ainda virgem quandofoi examinada." (Clemente de Alexandria, c. 195)

"Em passagens subsequentes, o profeta evidentemente afirma que avirgem de quem convinha que Cristo nascesse deve derivar a sualinhagem da semente de David. Ele diz: «E nascerá um rebento daraíz de Jessé» - cujo rebento é Maria." (Tertuliano, c. 197)

É verdade que em muitas ocasiões a designam como «a VirgemMaria», mas isso ocorre regular e precisamente nas passagens que sereferem à concepção virginal.