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Relatório Técnico ABRAPCH 003/2014 AS ORIGENS DA CRISE DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO 2013-2015 Março de 2015 Faça o download em www.abrapch.org.br Associação Brasileira de Fomento às Pequenas Centrais Hidroelétricas NÓS ACREDITAMOS NO BRASIL! A desequilibrada participação das PCHs, que possuem 10 GW em projetos prontos para construir, nos leilões de energia da EPE, em nove anos!

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Relatório Técnico ABRAPCH 003/2014

AS ORIGENS DA CRISE DO SETOR ELÉTRICO

BRASILEIRO 2013-2015

Março de 2015

Faça o download em www.abrapch.org.br

Associação Brasileira de Fomento às Pequenas Centrais Hidroelétricas

NÓS ACREDITAMOS NO BRASIL!

A desequilibrada participação das PCHs, que possuem 10 GW em projetos

prontos para construir, nos leilões de energia da EPE, em nove anos!

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

ABRAPCH – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FOMENTO ÀS PEQUENAS CENTRAIS HIDROELÉTRICAS 2 Rua Professor Macedo Filho, 175, Bom Retiro, Curitiba –Paraná – CEP 80.520-340 - Fone / Fax: (41) 3088-5444 www.abrapch.com.br [email protected]

AS ORIGENS DA CRISE DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO 2013-2015

No regime republicano democrático, a população escolhe seus representantes e governantes, que por sua vez, nomeiam os magistrados.

No Brasil, após vinte e um anos de ditadura, trinta anos de uma redemocratização incompleta e vacilante dificultam a participação da sociedade na formulação das políticas públicas nacionais.

A corrupção e outros costumes políticos muito atrasados negam assim, aos cidadãos o direito de influir nas politicas e nas decisões do Estado com relação a diversos temas que afetam sua vida cotidiana, criando e mantendo benefícios indevidos a alguns e provocando males a todos.

Dentre todos os efeitos deste afastamento, um em especial tem provocado graves consequências: o grande desconhecimento da população sobre os imensos recursos naturais que possui o Brasil nos campos energético e biológico, bem como sobre as formas de dar a eles um manejo sustentável e racional.

Uma das principais causas desse desconhecimento é sem dúvida a não promoção pelo governo federal - em tempo algum -, de um debate organizado e sistemático sobre as políticas publicas de energia elétrica, similar ao que existe há mais de setenta anos, nas áreas da Saúde e a Educação, que ao lado de outros 65 setores já contam com a realização periódica de Conferencias Nacionais.

A falta de uma Conferência Nacional de Energia Elétrica é, a nosso ver, a causa principal pela qual o Brasil foi levado a depender de recursos muito mais caros, não renováveis e que sofrem severo controle de monopólios no mercado internacional.

Este relatório pretende ser uma contribuição da ABRAPCH para a conscientização da sociedade brasileira sobre os enormes recursos energéticos renováveis de que possui o Brasil. E sobre a necessidade de discutir as políticas públicas que precisam ser adotadas para que sejam utilizados de forma racional pelos brasileiros.

Pois só se controla aquilo que se conhece.

Assim, este Relatório começa com a mais importante reflexão de todas, analisando onde se localiza o ponto de partida de onde derivaram todos os erros de planejamento, todos os equívocos na precificação dos leilões e todo o desequilíbrio não apenas entre oferta e demanda, mas entre os montantes de energia cara, - comprada aos montões como se fosse barata, e de energia barata comprada em pequenas quantidades, nos leilões de energia.

Assim, este Relatório começa analisando as Notas Técnicas DEE-0099/08 e DEE-0102/08 emitidas pela Empresa de Pesquisa Energética, responsáveis pelo desequilíbrio que o gráfico da capa, tão bem ilustra e ao mesmo tempo decora artisticamente.

Boa Leitura! Aguardamos não apenas os seus comentários, mas sua ajuda para divulgar o que você lerá, ampliando o clamor pela convocação da Primeira Conferência Nacional de Energia Elétrica ainda em 2015!

Ivo Pugnaloni – Diretor Presidente da ABRAPCH

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

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Capítulo I

As origens da crise de oferta 2013-2015. A Nota Técnica EPE-

DEE-RE 0099/08

A metodologia estabelecida pela Nota Técnica EPE-DEE-RE 0099/08 da EPE, ao ter adotado nove

premissas equivocadas, como por exemplo, ter desconsiderado as perdas nos sistemas e os

ganhos operacionais, serviu para superestimar as chamadas “Garantias Físicas” da maioria das

hidroelétricas brasileiras.

Dessa superestimação originaram-se a postergação de investimentos e outras graves falhas no

planejamento da expansão. O resultado ainda invisível para a população foi dependermos cada

vez mais de térmicas fósseis, como se isso fosse bom e saudável.

E motivo para termos queimado 40 bilhões de dólares com importação desse tipo de combustível

em apenas dois anos, enquanto todo o saldo da balança comercial do país entre 2011 e 2014 foi

de 48 bilhões de dólares.

Esse enorme “rombo” nas contas do setor elétrico é um dos maiores responsáveis por boa parte

dos problemas econômicos do Brasil.

E se esse “rombo” não for fechado com a construção de mais hidrelétricas, com maior

capacidade de reservar agua, nos levará sem dúvida a uma situação sem saída, de inadimplência

generalizada e de falência nacional.

Rever essa Nota Técnica e corrigir suas premissas é tarefa primordial do ministério de minas e

energia. Todos os agentes do setor precisam preocupar-se com essa revisão. Sem ela, nenhuma

medida será eficaz no médio e no longo prazo.

1. Na nota técnica DEE-099/08 da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, está a principal

origem das falhas no planejamento da expansão, que precisam ser corrigidas

imediatamente, nos próximos leilões.

2. Isso só será feito com o estabelecimento de preços viáveis, que sejam previamente

conhecidos de todos e com a reabertura, para todas as fontes de energia, de iguais prazos

de cadastramento.

3. Senão for assim, tudo o que o governo federal fizer para remediar a situação será colocar

mais esparadrapo em perna gangrenada.

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

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4. As graves falhas no planejamento elétrico do nosso sistema não ocorreram de uma hora

para a outra. Por isso, elas podem passar despercebidas ao cidadão comum, mas

bloqueiam o crescimento da economia e dos empregos, trazem de volta a inflação e podem

estar ameaçando até mesmo, a estabilidade do regime democrático.

5. Essas falhas são conhecidas de vários especialistas que mostraram existir uma verdadeira

campanha para a “fossilização” da matriz energética brasileira, como exposto no trabalho

“Uma Itaipu de Poluição e Energia Cara”, há quase dez anos. Infelizmente essa e outras

advertências remetidas ao MME naquele então e antes até, não foram nem ouvidas, mas

ignoradas com indiferença e mesmo, com certo desdém.

6. Provas completas desses equívocos estão em pelo menos três auditorias realizadas pelo

Tribunal de Contas da União, como a aprovada pelo acordão nº 1.196/2010, que apontou

entre as falhas a imprecisão do banco de dados de potência das hidrelétricas; a

inadequação do cálculo do custo do déficit e da não incorporação de peculiaridades do

mercado livre nos mesmos. Bem como a publicação intempestiva dos planos decenais de

expansão, a ausência de planejamento integrado e de públicas de desenvolvimento da

indústria do gás.

7. Sobre o mesmo tema, dois anos antes, o acordão TCU nº 2.164/2008, já apontara graves

falhas causadas pela restrição na oferta de energia de hidrelétricas nos leilões em relação

ao planejado e os impactos nos custos da matriz elétrica e os prejuízos ambientais devidos

à restrição na oferta de hidrelétricas nos leilões, apontando como causa, falhas sérias nos

procedimentos de licenciamento de geração.

8. O TCU cobra já há muitos anos que o ministério de minas e energia estruture um plano

estratégico para acompanhar e viabilizar, principalmente no campo ambiental, a expansão

da geração de energia hidrelétrica com incentivo para que os agentes setoriais realizassem

estudos que viabilizassem esse tipo de empreendimento, preocupado com o aumento da

geração termoelétrica fóssil e suas consequências para o preço das tarifas.

9. Quase todas essas recomendações do TCU e dos especialistas foram contrariadas e

infelizmente, ignoradas pelo ministério público federal em não atuar, como consta do

acordão TCU 1.171/2014 que constatou a desobediência reiterada e a inação do ministério

e de outras autoridades quanto a falhas no sistema de licenciamento ambiental que seriam

perfeitamente evitáveis.

10. Também do lado dos empreendedores, o estudo “Garantias físicas das Usinas Brasileiras: a

expectativa e a realidade” 1, realizado pela ENGENHO CONSULTORIA LTDA em outubro de

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2014 para a ABRAPCH, evidenciou falhas na Nota Técnica DEE-RE 0099/08 da EPE, empresa

de pesquisa energética do MME, no cálculo das Garantias Físicas das usinas hidrelétricas,

dado básico para o planejamento da expansão da oferta de energia elétrica no Brasil.

11. Segundo o estudo, há mais de dez anos, as principais usinas hidrelétricas, em todos os

estados brasileiros, com poucas e honrosas exceções, exibem vazões abaixo das chamadas

“garantias físicas” calculadas de acordo com a “Metodologia de Cálculo da Garantia Física

das Usinas Brasileiras” descrita naquele documento.

12. Além disso, a Nota Técnica da EPE não estabelece a metodologia que foi utilizada no

cálculo do custo marginal da expansão ou da tolerância admissível ao mesmo – fazendo

com que a configuração inicial, em si, já seja incerta. As condições de suprimentos futuros

são derivadas do passado, que pode não se repetir.

13. O período crítico histórico escolhido também não considera a evolução climatológica que

assistimos nessa última década. E ainda mais: foram incluídas no estudo algumas séries de

vazões de períodos de secas menos severas, levando a uma natural subestimação dos

períodos críticos e ao déficit de lastro em períodos mais severos, exatamente como o que

está ocorrendo no momento. Ele desconsidera importantes mudanças climáticas já

comprovadas, em várias regiões do Brasil. Também não foi considerada a curva de aversão

ao risco. Nem a tendência hidrológica.

14. Mais ainda, a Nota Técnica DEE-099/08 disponível no site da EPE, também não considerou

em separado a energia derivada do acoplamento hidráulico entre os subsistemas,

produzida por procedimentos operacionais e não por afluências naturais.

15. Também não são consideradas de forma separada as contribuições energéticas das usinas

não despachadas como eólicas, da biomassa e pequenas hidrelétricas que juntas somavam

quase 7% do sistema.

16. Não foram consideradas nem mesmo as perdas elétricas de 14% entre os sistemas e

subsistemas, levando governo e sociedade a acreditar que toda esta quantidade de

energia, que é perdida no transporte, realmente poderia ser utilizada pelos consumidores,

como se estivesse disponível nos reservatórios.

17. A desconsideração de premissas importantes teve como efeito a superestimação do valor

das garantias físicas. E por sua vez, como consequência direta essas informações imprecisas

e superestimadas impediram que o governo federal, mais precisamente a Presidência da

República, tivesse uma ideia da real situação do setor, e desta forma, que pudesse tomar

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com anterioridade, inúmeras providencias que teriam evitado a crise de oferta que

vivemos.

18. Dentre elas, a principal, o estabelecimento de preços corretos para o déficit e viáveis e

exequíveis para as energias renováveis nos leilões, principalmente para as hidrelétricas de

baixo impacto ambiental, que nunca conseguiram viabilizarem-se ao longo desses últimos

nove anos mercê de preços baixíssimos a elas impostos pelo ministério, considerados

inviáveis pela própria ANEEL.

19. O efeito disso tudo é que enquanto as pequenas hidrelétricas venderam apenas 1% do

total comprado pelo governo, as térmicas venderam 47% do total, mesmo com preços de 6

a 10 vezes mais caros, como ilustra o gráfico que ornamenta a capa deste Relatório, a guisa

de chamar a atenção para o desequilíbrio evidente que a NT 099/08 EPE provocou.

20. O que esteve na origem desse desequilíbrio evidente? O que teria justificado a fixação de

preços inexequíveis para algumas tecnologias renováveis, deixando o país vulnerável a

regimes hidrológicos não tão severos como os de 2012, quando acompanhadas de elevação

do consumo?

21. De toda forma, é importante anotar dois fatos inquestionáveis, facilmente constatáveis

mesmo por quem não tem prática diária com o planejamento energético.

22. O primeiro é que se as premissas de cálculo e condições de contorno que foram “deixadas

de lado” ou ignoradas na NT 0099/08 tivessem sido consideradas, teriam tornado mais

real e menos “otimista” o cálculo das garantias físicas, levando o governo a agir mais

rápido, há vários anos atrás, buscando equilibrar a evolução da oferta e da demanda.

23. O segundo fato é que não foram os empreendedores que fixaram essas metodologias de

cálculo para as hidrelétricas, mas sim as autoridades do setor, seguindo a nota técnica da

empresa oficial de pesquisa energética, a EPE.

24. Assim, não parece ser nem justo nem razoável agora que o ministério das minas e energia

venha a acusar os empreendedores de fraudarem os cálculos e puni-los severamente por

não atingirem metas inatingíveis com as premissas de cálculo fixadas de forma equivocada

com a anuência do próprio MME, que aparentemente, baseou suas decisões sobre preços e

quantidades de energia necessárias, na equivocada Nota Técnica que é analisada.

25. Atitudes assim, de punir quem investe, devem ser evitadas. Elas apenas desestimulam os

investimentos e fornecem sólidos elementos para estimular a judicialização dos problemas

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e não à sua solução. Além disso, elas agravam o problema da dependência crescente de

termoelétricas fósseis no Brasil, afastando investidores especializados em fontes

renováveis.

26. Muito menos razoável é que o MME continue a manter fechado o cadastramento de novos

empreendimentos hidrelétricos para concorrer no leilão A-5, marcado para 30 de abril de

2015.

27. Afinal, é graças aos limites de preços irrisórios, praticados nos últimos anos, por causa da

Nota Técnica atacada, ( considerados inviáveis pela própria ANEEL ) é que apenas pouco

mais de 200 MW de empreendimentos hidrelétricos foram cadastrados.

28. Afinal, agora que rumores indicam que a injustiça será corrigida e que preços possam

chegar pelo menos ao mesmo patamar das usinas de biomassa, por que razão não seria

razoável e de interesse público, reabrir o ministério o prazo de cadastramento por tempo

adequado?

29. Ou mesmo, porque não seria possível adiar um mês o leilão para que os interessados

sabendo dos novos preços divulgados publicamente e não “intramuros”, possam cadastrar

seus empreendimentos?

30. E não pelas pouco mais de 24 horas que durou sua estranha reabertura entre 12 e 13 de

fevereiro último, que o mercado não entendeu. Como não entendemos a reabertura por

apenas mais dez dias anunciada há pouco tempo pela portaria 40/2015.

31. Não acreditamos que o novo ministro Eduardo Braga, que estará concluindo seu período de

diagnóstico do setor em 31 de março, permitiria que quase 10.000 MW de energia de

pequenas hidrelétricas de baixíssimo impacto ambiental continuassem sendo impedidos de

participar do leilão apenas por que “o prazo de cadastramento já se acabou e quem quiser

vender para o mercado regulado que espere até novembro ou até abril do ano que vem”.

32. Afinal se assim ocorrer, estaríamos, em meio a toda essa crise, desprezando e impedindo

de concorrer nada menos do que 65% de uma nova Itaipu de energia limpa, renovável, de

uma indústria 100% nacional.

33. E mais, estaríamos impedindo o início imediato de obras que injetariam na economia mais

de 70 bilhões de investimentos privados, gerando 200 mil empregos.

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34. Tudo isso com reservatórios menores do que 15 campos de futebol, espalhados pelos 27

estados da federação, próximos aos centros de carga, com menores perdas, exigindo

menores linhas de transmissão e cobrando menor impacto ambiental.

35. Tudo isso, com efeitos benéficos para o regime de evaporação e de formação de nuvens

nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que mais vem apresentando mudanças climáticas nas

últimas décadas.

36. Tudo isso em obras muito menores e por isso mesmo, menos sujeitas a desvios e fatos

lamentáveis, de ordem ética e moral, como os ocorridos nos últimos cinquenta anos.

37. Sem falar que com mais usinas e mais reservatórios mesmo de menor porte e menor

impacto, a energia excedente de outras fontes geradoras a biomassa, solar e eólica

poderiam ser neles armazenada, melhorando sua precificação e assim, sua viabilização.

38. Se os prazos fossem reabertos e os preços fossem mais atraentes, não continuaríamos a

ver alargado o enorme rombo nas finanças públicas de até agora, 40 bilhões de dólares,

que o ministro da fazenda, Joaquim Levy, ficou encarregado de diminuir.

39. Sem dúvida uma “missão impossível” se continuar armada essa verdadeira “bomba-

relógio” da geração termoelétrica fóssil, montada para explodir com precisão matemática

durante a crise econômica mundial de maior duração já verificada no mercado mundial.

40. Uma crise da qual, o Brasil vinha se livrando por meio de políticas anticíclicas que o

Governo Federal agora quer encerrar com medidas de pouco resultado pratico mas

altamente impopulares, sem ver que a verdadeira origem do desequilíbrio das finanças está

no setor elétrico e dentro dele, a maior causa dos problemas é a NT EPE-DEE-RE- 0099/08.

Recomendação:

Rever imediatamente, por meio de uma Audiência Pública, a Nota Técnica NT EPE-DEE-RE-

0099/08 e todos os procedimentos dela derivados como a NT EPE-DEE-RE 0102/08 que

estabeleceu a metodologia para o cálculo do Índice Custo-Benefício de várias fontes de

energia.

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Capítulo II

As origens da crise de oferta 2013-2015. O verdadeiro problema

do licenciamento ambiental é a falta de recursos.

O “problema ambiental” é apenas a falta de pessoal e de recursos nos órgãos ambientais e de

recursos hídricos estaduais e federais, na quantidade e no grau de capacitação adequada.

Essa falta de pessoal, principalmente nos Estados, seria um problema facilmente solúvel. Mas

como nunca procuramos resolvê-lo em sua origem, a solução encontrada, para não dilatar os

prazos das obras, tem sido simplesmente a de exigir-se nos Editais que as licenças ambientais

sejam apresentadas já no cadastramento dos empreendimentos.

Ou seja, ao invés de averiguar porque razão as licenças ambientais seriam tão difíceis de serem

obtidas a “solução genial” foi passar a exigi-las, CINCO ANOS ANTES da entrada em operação das

usinas, antecipando o problema, criando uma carga de trabalho inútil para um quadro já

pequeno de pessoal, sobrecarregando inutilmente a estrutura de licenciamento.

Tudo isso fora de hora. Tudo isso sem contribuir com nada em termos de recursos.

Um absurdo, uma exigência descabida, que só dificulta a oferta de energia de fonte hidráulica e

em nada contribui para o sucesso dos leilões, mas apenas para o aumento da oferta de energia

de origem fóssil, cujo licenciamento é rápido e cada vez mais acelerado em virtude da crise de

oferta.

Algo que o Tribunal de Contas da União já havia apontado desde 2009, mas que o ministério das

minas e energia, não apenas ignorou, mas vem usando cada vez com mais rigidez, como se pedir

licenças que se esgotam em dois anos e só podem ser renovadas uma vez, fosse algo eficiente e

adequado.

1. O mercado estranhou a recente publicação da portaria 40/2015 do ministério de minas e

energia que, apenas para o próximo leilão A-5, dilatou o prazo para apresentação das

licenças ambientais dos interessados que ainda não as tinham apresentado até o

fechamento do prazo de cadastramento.

2. Os novos prazos foram marcados no dia 10 de março para as hidrelétricas e em 23 de abril

para as termoelétricas fósseis.

3. A primeira pergunta que muitos agentes do setor se fizeram foi: “porque razão há prazos

diferentes, mesmo de poucos dias, para hidrelétricas e termelétricas?”

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4. Já a segunda pergunta foi muito mais incisiva: “por que razão, empreendimentos de fontes

diversas, que serão contratados para entrar em operação apenas daqui a cinco anos,

precisariam apresentar, a essa altura, apenas para cadastramento em uma concorrência,

cinco anos antes, as suas licenças ambientais?

5. Por que razão exige-se nesse momento o licenciamento ambiental que será necessário

daqui a mais de cinco anos, se as licenças de instalação, segundo várias resoluções do

CONAMA, tem validade de apenas dois anos, sendo renováveis apenas uma vez?

6. Por que fazer a mesma exigência de prazo tão antecipado, para fontes com licenciamento

ambiental tão complexo, como uma hidrelétrica e tão simplificado, tal como uma

termoelétrica? Seria isso isonômico, ou uma dificuldade criada artificialmente em desfavor

das hidrelétricas, cujo potencial energético é da União?

7. Tratamento igual para situações desiguais é uma das mais reprováveis formas de tratar

sem isonomia e sem equidade as pessoas e os agentes econômicos.

8. Ao contrário do que disseram conhecidos especialistas no papel de autoridades do setor

elétrico, sem nunca apresentarem qualquer solução, resolver o chamado “problema

ambiental” é relativamente simples.

9. Basta que nos leilões de energia os Editais não exijam o licenciamento ambiental antes do

tempo devido, razoável e viável, que não provoque o vencimento das licenças antes da

entrada em operação dos empreendimentos.

10. E mais, basta que a União reconheça suas obrigações de prover o país de energia elétrica,

como está na Constituição Federal e passe imediatamente a destinar recursos do ministério

de minas e energia para capacitar e contratar técnicos, reequipar os órgãos ambientais

estaduais para que estes cumpram um plano de trabalho específico, para o licenciamento

de um determinado numero de empreendimentos de geração e transmissão de energia

elétrica por estado e por ano.

11. A solução correta não é continuar restringindo a participação de interessados via a

introdução nos leilões de exigência de licenciamento cinco anos antes da entrada em

operação, mas sim abrir esse “gargalo”, removendo o obstáculo que é a falta de pessoal e

sua capacitação.

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12. A solução é imitar os exemplos dos ministérios de desenvolvimento agrário ( que repassa

recursos para os órgãos estaduais encarregados da extensão rural ) e da educação ( que

suplementa o piso salarial dos professores ).

13. Tudo dentro da lei. Tudo com um plano de trabalho a ser seguido e fiscalizado.

14. Aos que poderiam argumentar que isso iria sangrar o orçamento do MME e da república

esvaziando o tesouro nacional, é válido responder que, capacitar aos órgãos ambientais

seria muito mais barato do que, por falta de hidrelétricas licenciadas, firmar bilionários

empréstimos que agora tem que ser feitos para o gozo dos bancos dos que faturaram 40

bilhões de dólares vendendo combustíveis fósseis importado para tocar as térmicas.

15. A falta de hidrelétricas não licenciadas não pode mais continuar a ser debitada aos órgãos

ambientais, aos empreendedores, ao ministério público e aos chamados ambientalistas.

16. Afinal, cada um deles, embora existam vários casos notórios de “estrelato inconsequente”,

está no seu papel.

17. E nenhum desses atores tem culpa se o ministério de minas e energia, que pela

constituição federal é o maior interessado em que exista oferta suficiente, nunca deu a

mínima importância e nem fez questão de saber qual é a estrutura de que dispunha os

órgãos licenciadores estaduais e federais para essa missão que é da União.

18. E muito menos se estes órgãos tinham condições materiais de fazer o seu trabalho, na

velocidade que o crescimento da demanda por energia impõe.

19. Afinal, é bom lembrar, não são os estados da federação que possuem o poder de conceder

a terceiros o uso dos potenciais hidráulicos, mas sim, a União. E se a União pretende

realmente usar esse potencial, precisa dar condições para que isso aconteça. E não apenas

como agora, “delegar” mais essa tarefa aos Estados e Municípios, sem alocar recursos para

essas atribuições.

20. E ainda por cima, colocar nos leilões essa exigência de licenciamento ambiental antes do

prazo razoável, quase impossível de ser cumprida pelos agentes.

21. Impossível deixar de relacionar essa exigência inadequada e extemporânea de

apresentação do licenciamento ambiental para cadastro nos leilões com outra exigência de

mesma documentação imposta por oito anos pela hoje extinta SGH da ANEEL.

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

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22. De forma apontada como ilegal pela própria procuradoria do órgão e pelo TCU, essa

superintendência, hoje dissolvida, estabeleceu, como “rito” interno e como “condição”

para iniciar-se a análise de mais de 7.000 MW de projetos básicos de Pequenas Centrais

Hidrelétricas a apresentação de licença ambiental prévia.

23. Isso também teve como resultado dificultar a participação de PCHs nos leilões de energia

pois paralisou o trâmite da maioria desses processos durante mais de oito anos, já que os

órgãos ambientais não concordavam via de regra em despender recursos em estudos

realizados sobre projetos de engenharia que não haviam sido analisados pela ANEEL.

24. Sendo alvo de investigação do Tribunal de Contas da União por efeito de uma denuncia

formulada pela ABRAPCH este procedimento já foi analisado pela estrutura técnica do

Tribunal, que concluiu pela sua ilegalidade, ineficiência e falta de isonomia.

25. E ainda está sendo analisada pela corregedoria daquela agencia, também por efeito de

denuncia apresentada por esta Associação.

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Capítulo III

As origens da crise de oferta 2013-2015. Como as PCHs foram impedidas de participar dos leilões de energia pela fixação de

preços inviáveis.

A fixação pela EPE de preços-teto artificialmente baixos para a energia das PCHs provocou a inviabilização econômica da participação nos leilões de 810 projetos de usinas de baixo impacto ambiental, equivalentes a 65% de uma nova Itaipu e potencia total de 9,4 GW. A metodologia de cálculo desses preços inviáveis não foi nunca fornecida ao mercado, apesar de solicitada formalmente à Presidência da EPE pela ABRAPCH em várias oportunidades. Mesmo assim, por seus resultados, eles foram considerados como inviáveis para proporcionar retorno econômico mínimo não apenas para remunerar investimentos, mas até mesmo para cobrir custos de financiamento do BNDES, segundo estudo realizado em setembro de 2014 pela Diretoria da própria ANEEL. Através de questionamentos aos representantes da EPE no plenário de três eventos promovidos pela ABRAPCH e pela Frente Parlamentar de Apoio às Pequenas Centrais Hidrelétricas, parte desta metodologia pôde ser conhecida ainda que de forma aproximada. A análise destes depoimentos demonstrou que a mesma possui falhas graves não apenas em sua concepção técnica mas também nos seus mecanismos de segurança contra fraudes à livre concorrência de preços. Todas essas falhas apresentam grande potencial para forçar para baixo o nível máximo dos preços das PCHs, em desfavor da participação de mais interessados e da livre concorrência.

1. Outra causa muito importante para a atual crise de oferta foi a fixação pela EPE, até novembro

de 2013, de preços-teto progressivamente decrescentes para uma fonte que dispunha de 10

GW para concorrer nos leilões de energia para o ambiente regulado: as PCHs.

2. A figura 1 mostra que os preços-teto para as PCHs não foram apenas muito baixos durante

quase todos esses últimos 9 anos, mas que, ao invés de crescerem com o aumento da

percepção do risco, eles diminuíram em mais de 28 % entre 2010 e 2012, momento em que os

empreendedores começaram a denunciar publicamente a situação e a reivindicar mudanças

que só viriam em 2013, depois da fundação da ABRAPCH.

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Figura 1 – Evolução do Preços-teto para as PCHs

3. Importante observar na figura 2, que enquanto esses preços para as PCHs decresciam 28%, os

preços-teto das termoelétricas, subiam.

4. Vale notar que não se fala aqui do preço real por MWh efetivamente vendido durante o longo

período de sua operação, mas de um preço artificial, médio, obtido pelo cálculo do chamado

ICB ( Índice Custo Benefício ) calculado conforme a NT DEE-RE- 0102/08 da mesma EPE, sob a

expectativa e premissas de que se cumpririam as garantias físicas superestimadas para as UHEs

e que portanto as usinas térmicas operariam MUITO MENOS MESES POR ANO, do que

realmente viria a ocorrer.

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Figura 2 – Evolução do Preços-teto para todas as fontes

5. Essa sucessão de REDUÇÕES nos preços-teto das PCHs teve por efeito principal tornar

economicamente inviável a fabulosa potencia de quase 10 GW de usinas hidrelétricas de baixo

impacto ambiental que poderiam ter sido construídas em todas as regiões do país,

inviabilizando investimentos da iniciativa privada nestes potenciais nos quais o poder público,

por sua pequena escala, não teria normalmente qualquer interesse.

6. Vale notar que essa fixação reiterada de preços inexequíveis, sucedeu-se durante anos, de

forma totalmente contrária às recomendações do Tribunal de Contas da União, expostas nos

acórdãos mencionados no Capitulo I deste Relatorio.

7. A fixação continuada desses preços inviáveis permaneceu ocorrendo mesmo enquanto os

resultados mostraram leilões quase desertos de empreendimentos de PCHs. E mesmo quanto

agravava-se a dependência do sistema elétrico das térmicas fósseis para impedir o seu colapso.

8. Fica claro de ambas as figuras que se as recomendações do TCU tivessem sido seguidas pela

EPE e pelo MME desde aquela época, o Brasil poderia ter acrescentado ao seu sistema elétrico,

geração de fonte hidrelétrica equivalente à construção de 65% de uma nova Usina Binacional

de Itaipu.

9. Mas isso teria sido feito, produzindo impactos diminutos, já que os reservatórios típicos das

PCHs possuem área inferior à de 15 campos de futebol, estando distribuídos por todos os

estados, geralmente a pequenas distâncias dos centros de carga.

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10. Como resultado combinado da desobediência às recomendações dos Acórdãos do TCU, do uso

pela EPE de uma metodologia que superestimou as garantias físicas do parque gerador

hidrelétrico brasileiro e da fixação pela mesma EPE de preços-teto nos leilões baixos a ponto

impedir a participação nos leilões de hidrelétrica de pequeno porte, o Brasil abriu, nos anos de

2013 e 2014, sem precisar, um enorme mercado de 40 bilhões de dólares para negócios com a

venda de energia de termoelétricas fósseis e com a importação de combustíveis derivados do

petróleo e do gás.

11. Tudo isso provocando inédita elevação de preços das tarifas ao consumidor final, com graves

prejuízos à economia das famílias e à competitividade das nossas indústrias e do nosso

agronegócio.

12. Como mostra a figura 3, graças a todas essas decisões governamentais as pequenas usinas

hidrelétricas, conseguiram vender apenas pouco mais do que 1,25% % de tudo que foi

comprado nos leilões, nos últimos nove anos, superando apenas por poucos décimos por

cento, às fontes solares, recém chegadas ao mercado, que apesar de terem concorrido em

apenas dois leilões, quase conseguiram superar às PCHs, vendendo 1,07% do total adquirido.

13. Enquanto isso, as térmicas fósseis venderam 37% e as grandes hidrelétricas 33%. E as eólicas,

extremamente dependentes de térmicas fósseis para serem complementadas nos períodos

úmidos do ano, venderam quase 18% e as usinas a biomassa 9,7%.

Figura 3 – Percentual de Energia comercializada em todos os leilões, por fonte.

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14. Importante dizer que a falta de isonomia nos leilões é sua marca registrada, pois entre outras

assimetrias, o custo da energia das grandes hidrelétricas e das eólicas não inclui as linhas de

transmissão, pagas pelas tarifas deste setor, ao contrário das PCHs em cujo valor da energia já

estão incluídos os custos da transmissão.

15. Além desse, nenhum dos benefícios das PCHs ao sistema elétrico e ao meio ambiente são contabilizados ou sequer levados em conta na metodologia de cálculo, embora tenham sido muito bem descritos em dois trabalhos sobre a matéria elaborados pela ENGENHO CONSULTORIA para a ABRAPCH entregues em 2013 e 2014 à Secretaria de Planejamento Estratégico do MME e à Secretaria Executiva do ministério.

16. O atual sistema de cálculo dos preços-teto no qual apenas a EPE formula e estabelece preços baseando-se em projetos “cadastrados preliminarmente no leilão” sem a divulgação de preços-teto e em empreendimentos já construídos, é extremamente falho. Duas razões principais embasam essa afirmação, mostrados a seguir.

17. A primeira é que qualquer interessado em promover a venda de uma fonte mais cara, por exemplo, de termoelétricas fósseis, concorrente com as PCHs, visando afastar essa fonte da concorrência e criar demanda para sua fonte, devido à falta de energia de fonte hídrica, poderia perfeitamente apresentar para cadastro, em nome de terceiros ( conhecidos como “laranjas” ) uma quantidade significativa de projetos de PCHs, com orçamentos irrealmente baixos.

18. Ou até mesmo apresentar orçamentos reais, mas com “capex” muito baixos, de projetos que o mesmo não tenha real interesse em fazer depois participar do certame, mas apenas cadastrá-los para fazer com que o preço limite das PCHs que seria fixado pela EPE caísse a níveis impraticáveis.

19. Afinal, depois de ter rebaixado o preço calculado pela EPE com base nesses preços irreais e baixos, o interessado poderá não habilitar esses projetos e não concorrer, mas, com esse expediente o interessado “laranja” já teria conseguido o que desejava: induzir a EPE, o MME e a ANEEL a incidirem em erro que ao mesmo tempo ameaça a segurança e a modicidade tarifária ao fixarem preços irreais, inexequíveis e inviáveis como foram os que ao longo dos últimos anos levaram ao resultado ilustrado pelos gráficos abaixo.

20. A segunda razão é que, ao estabelecer preços com base em orçamentos de PCHs já construídas a EPE novamente está contaminando a amostra com custos de empreendimentos construídos em sítios com características extremamente favoráveis de queda, vazão e proximidade da rede de transmissão do SIN, que não existem mais, por já terem sido aproveitados.

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21. E novamente, subestimando para baixo os preços teto e inviabilizando a participação das PCHs nos leilões, favorecendo outras fontes, principalmente às termoelétricas fósseis, as únicas que podem concorrer com as PCHs no perído úmido do ano.

22. Vale a pena ressaltar também que tudo isso acontecia ao mesmo tempo em que agravou-se o

risco de déficit de energia elevando as tarifas de todos os consumidores brasileiros,

influenciando negativamente o crescimento da economia, a competitividade dos nossos

produtos, a balança do comércio exterior, o nível de emprego e a receita da arrecadação de

impostos.

23. De forma desastrosa para a percepção do consumidor, essa falta de isonomia entre as fontes e

essa clara “má-vontade” com a geração de origem hidroelétrica de baixo impacto ambiental e

o consequente aumento vertiginoso das tarifas ocorreram logo após a então MP 579 ter

baixado as mesmas tarifas pela retirada dos ativos amortizados.

24. Algo plenamente justificável, mas que aos olhos do consumidor típico, desinformado, resultou

aparentando ser apenas uma “manobra” eleitoreira, uma inconsequência que teria beirado a

desonestidade, voltada apenas para conseguir a re-eleição da presidenta Dilma Rousseff.

25. Os números acima mostram que, se dois fatos tivessem que ser escolhidos para marcar a

atuação do MME e da EPE nos últimos nove anos, estes seriam, de um lado, a não ocorrência

de um “apagão” formal, como visto em 2001.

26. Mas de outro uma ação prática, consciente ou inconsciente, para promover a completa

desmotivação da expansão da geração hidrelétrica de baixo impacto ambiental , com a

produção de um formidável “rombo” de 40 bilhões de dólares, que foram torrados em

combustíveis fósseis em pouco mais de dois anos, mas que poderiam ter construído um

enorme parque de geração hidrelétrica.

27. A tal ponto chegou essa situação que em setembro de 2014 a própria ANEEL declarou-os como

inviáveis, mesmo já tendo apresentado acréscimo de mais de 50% desde que a ABRAPCH

iniciou sua atuação, em abril de 2013, subindo de R$ 112/MWh para R$ 168/MWh em

novembro de 2014.

28. Graças a essa política de preços contrária às recomendações do Tribunal de Contas da União,

foi inviabilizada durante os últimos oito anos, a realização de investimentos da iniciativa

privada em 9,4 GW de projetos de 810 usinas hidrelétricas de baixo impacto ambiental em

todas as regiões do país.

29. Isso teria significado acrescentar ao sistema elétrico nacional mais do que 65% de uma nova

Usina Binacional de Itaipu, com reservatórios de área inferior à de 15 campos de futebol,

distribuídos por todos os estados, geralmente a pequenas distâncias dos centros de carga.

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30. Como resultado da desobediência de autoridades às recomendações dos Acórdãos do TCU e

pelo uso contínuo, sem qualquer questionamento, de uma metodologia falha, incompleta e

tendenciosa, um enorme mercado de 40 bilhões de dólares foi aberto para negócios com

termoelétricas fósseis e combustíveis derivados do petróleo e do gás.

31. Enquanto ao mesmo tempo, elevavam-se os riscos de déficit de energia, os custos de geração e

as tarifas de todos os consumidores brasileiros, influenciando negativamente o crescimento da

economia, a competitividade dos nossos produtos, a balança do comércio exterior, o nível de

emprego e a receita da arrecadação de impostos.

Recomendações

I. É preciso rever de forma emergencial a NT EPE 0099/2008 e a Portaria 463/09 do MME por

estarem há anos, levando autoridades a sociedade a superestimarem a garantia física das

hidrelétricas brasileiras, com todas as consequências derivadas deste erro.

II. Os atuais métodos de cálculo devem ser substituídos por metodologias hígidas, que

considerem todos os aspectos e variáveis envolvidas.

III. As novas metodologias devem ser fixadas pela ANEEL por atos administrativos válidos e

para tanto, submetidas a Audiências Públicas, que deverão realizar-se semestralmente,

para reavaliar seus resultados.

IV. Os novos métodos de cálculo não podem mais ser estabelecidos por meio de simples “Notas

Técnicas”, nem conter ou omitir premissas sem considerar o interesse público, a

transparência e os demais princípios constitucionais, principalmente o da precaução.

V. Até a publicação do ato administrativo que estabeleça a nova metodologia de cálculo das

Garantias Físicas das UHEs, emergencialmente, o MME deve promover uma revisão da

ultima edição do PDEE, escoimando-o dos erros de avaliação introduzidos pela NT 099/08.

VI. Na Revisão do PDEE 2015-2024, o MME, atendendo à recomendação do TCU, deve esforçar-

se por levar a leilão mais empreendimentos hidrelétricos, inclusive todas as 810 pequenas

usinas, de baixo impacto ambiental, que totalizam 9,4 GW com trâmite e construção

efetivas atualmente travadas pela ANEEL e pela EPE.

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Capítulo IV

As origens da crise de oferta 2013-2015. A “caça aos culpados e a punição dos inocentes”.

Como as PCHs foram desestimuladas a participar dos leilões de energia através da “punição por não cumprirem as garantias

físicas e se aproveitarem do MRE”

É fato notório que a maioria das grandes usinas hidrelétricas brasileiras não cumprem há vários anos as garantias físicas que lhes foram atribuídas de forma superdimensionada pela NT EPE-DEE-RE 0099/2008, como já vimos. Muitas delas, jamais cumpriram, em ano nenhum, este indicador de desempenho. Mas só as PCHs são lembradas pelo MME quando este órgão, seja em eventos em que participa algum de seus representantes, seja em reuniões mantidas pela ABRAPCH com os titulares da secretária executiva e de planejamento estratégico justifica sua má vontade para com as PCHs. Em várias dessas oportunidades, bem como em uma reunião do conselho de competitividade das fontes renováveis com a participação de representantes do MDIC, a ABRAPCH pode testemunhar tentativas de representante do MME em caracterizar as PCHs como “ultrapassadas”, “ineficientes” e “não cumpridoras de compromissos de geração assumidos com o MRE e com os contratos”. Em nenhuma dessas oportunidades, entretanto, a ABRAPCH constatou de parte das autoridades, qualquer sugestão para melhorar o desempenho de uma fonte energética que é de propriedade da União Federal.

1. O trabalho da empresa ENGENHO CONSULTORIA elaborado para a ABRAPCH em outubro de

2014 sobre garantias físicas, sob a supervisão da professora Leontina Pinto, mostra que as

metodologias de cálculo da garantia física para grandes usinas e para pequenas hidroelétricas

são diferentes.

2. As UHEs tem sua garantia fixada pelos períodos críticos, pelas vazões mínimas em um

determinado período. Só podem garantir o que geraram em períodos adversos.

3. Já para as PCHs a metodologia é mais simples, pois além de desconsiderar todas as premissas

que também não foram consideradas pela NT EPE REE 0099/08, a Portaria Ministerial 463/09,

considera a média da geração do período disponível (vazão hidrológica multiplicada pelo

rendimento da planta), descontadas as indisponibilidades.

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4. A figura 4 compara a garantia física e a geração das PCHs de janeiro de 2002 a julho de 2014,

mostrando que geração foi, em média, 18-20% mais baixa do que a garantia física calculada,

segundo a portaria 463/09 do MME que fixou a metodologia de cálculo para estas usinas.

Figura 4 – Comparação garantia física x geração PCHs (fonte: CCEE)

5. Já a Figura 5 mostra as mesmas grandezas para a UHE Itaúba, no rio Jacuí, no extremo sul. A

geração média também ficou 15,9% abaixo da garantia física. As médias móveis são 60%

inferiores à garantia física há muito tempo. E a geração acima da mesma só existiu nas cheias

de 2004/5 e 2009/11.

Figura 5 – Comparação Geração x Garantia Física - Itaúba

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6. A Figura 6 apresenta a mesma comparação para Itaipu, no rio Paraná, no Sudoeste. A geração

média de Itaipu é durante o total do tempo, apenas 3% maior que a garantia física, enquanto o

seu “déficit” de garantia física é longo.

Figura 6 – Comparação Geração x Garantia Física – Itaipu

7. A Erro! Fonte de referência não encontrada. 7 mostra a UHE Três Irmãos, no rio Tietê, no

Sudeste, um dos poucos rios que se comporta como esperado. Assim mesmo a geração supera

a garantia física em apenas 30% do período, menos em 2013/14, que corresponde à pior seca

do Sudeste desde 1931. Até mesmo no Tietê, em 2014, o déficit de garantia física foi

extremamente alto, atingindo 25%.

Figura 7 – Comparação Geração x Garantia Física – Três Irmãos

-30%

-10%

10%

30%

50%

70%

90%

110%

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

Var

iaçã

o

Ge

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o x

Gfi

sItaipu

Itaipú Geração (MWmédio) Itaipú Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

-50%

0%

50%

100%

150%

200%

250%

300%

350%

400%

-

100

200

300

400

500

600

700

Var

iaçã

o

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ação

x G

fis

Três Irmãos

Três Irmãos Geração (MWmédio) Três Irmãos Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

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8. A Figura 8 apresenta a comparação para a usina Furnas, localizada no rio Grande, no “médio”

Sudeste brasileiro. À primeira vista, o rio Grande comporta-se como esperado. Mas a seca que

se inicia em finais de 2012 é severa, com “déficit de garantia física” igual a 40% em 2014.

Figura 8 – Comparação Geração x Garantia Física – Furnas

9. As Figura 9 e 10 apresentam a usina Itumbiara, no rio Paranaíba, no “médio” Sudeste e a usina

Três Marias, localizada no rio S. Francisco, no extremo norte do Sudeste, quase no Nordeste.

10. Figura 9 – Comparação Geração x Garantia Física – Itumbiara

-50%

-40%

-30%

-20%

-10%

0%

10%

20%

-

100

200

300

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500

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900

1.000

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Furnas

Furnas Geração (MWmédio) Furnas Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

-50%

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-30%

-20%

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800

1.000

1.200

1.400

1.600

Var

iaçã

o

Ge

raçã

o x

Gfi

s

Itumbiara

Itumbiara Geração (MWmédio) Itumbiara Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

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ABRAPCH – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FOMENTO ÀS PEQUENAS CENTRAIS HIDROELÉTRICAS 24 Rua Professor Macedo Filho, 175, Bom Retiro, Curitiba –Paraná – CEP 80.520-340 - Fone / Fax: (41) 3088-5444 www.abrapch.com.br [email protected]

Figura 10 – Comparação Geração x Garantia Física – Três Marias

11. Desde 2007 a UHE Itumbiara não consegue gerar a sua “garantia” física, apresentando valores

40% abaixo desta meta. Na UHE Três Marias, o déficit de garantia médio para o período é

15,65%. Há apenas um curto período com geração superior à garantia física de 2009 e parte de

2010. O comum é um déficit que atinge valores significativos de quase 50% em 2014.

12. A figura 11 compara a garantia física calculada de acordo com a NT EPE-RE 0099/2008 para a

UHE Sobradinho, no Rio São Francisco, no nordeste, com a realidade da geração. A exemplo de

Itumbiara, o déficit de garantia física em Sobradinho é antigo. E persiste desde 2007, chegando

a 25% no período em análise e a 32% entre 2010 e 2014.

Figura 11 – Comparação Geração x Garantia Física – Sobradinho

-60%-50%-40%-30%-20%-10%0%10%20%

-

200

400

600

800

1.000

Var

iaçã

o

Ge

raçã

o x

Gfi

s

Sobradinho

Sobradinho Geração (MWmédio) Sobradinho Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

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13. Esta realidade é de todos conhecida no Nordeste, cujas hidrologias foram duramente afetadas

pelo evento “El Niño” de 1992. Mas infelizmente, como dissemos, esse fenômeno não teve

seus efeitos capturados pelo atual modelo de “garantias físicas” estabelecido pela NT

0099/2008 da EPE que não considerou nem mesmo as grandes e inéditas secas dos rios da

bacia Amazônica.

14. A Figura 12 apresenta a comparação para a usina Tucuruí, localizada no rio Tocantins, no

Norte.

Figura 12 – Comparação Geração x Garantia Física – Tucuruí

15. Há um importante déficit de garantia física, de 9% no período. Note-se a complementaridade

entre o norte e o nordeste. Mas assim mesmo, o déficit de garantia física, é comum a ambas,

Tucuruí e Sobradinho e essas UHEs não logram chegar ao patamar calculado pela atual

metodologia da NT 0099/2009.

Conclusões

a) A primeira das conclusões desse estudo é que não são apenas as PCHs que não cumprem

as chamadas “garantias físicas”, mas quase 100% das grandes hidrelétricas brasileiras.

b) A segunda é que há evidencias de que, devido à desconsideração de premissas

importantes, todos os cálculos da chamada “garantia física” que forem realizados conforme

a NT EPE-DEE-0099/08 irão superestimar as reservas hídricas do sistema.

c) A terceira é que o superdimensionamento das garantias físicas pode ter contribuído para

retardar investimentos em novas hidrelétricas e assim provocado a necessidade de acionar

por mais tempo as termoelétricas que passaram a operar de forma ininterrupta. Os

resultados não permitem mais que MME adie o momento de rever as metodologias de

calculo das garantias físicas das UHEs e PCHs para melhor adequá-los à realidade.

-40%-20%0%20%40%60%80%100%120%140%

-

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

Var

iaçã

o

Ge

raçã

o x

Gfi

s

Tucuruí

Tucuruí Geração (MWmédio) Tucuruí Gfís (MWmédio)

Média Móvel Geração(MWmédio) Variação % (MM - Gfís)/Gfís

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Importante considerar os impactos que essas metodologias refletem sobre o ICB, calculado

pela NT 0102/08 também da EPE.

Capítulo V

As origens da crise de oferta 2013-2015. Dois pesos e duas medidas.

Por que razão existiria uma Portaria Ministerial definindo as garantias físicas das PCHs e apenas ma nota técnica de uma empresa de consultoria estatal para “indicar” a metodologia de cálculo das garantias físicas das grandes usinas hidrelétricas brasileiras?

1. Fato curioso, impossível de deixar de ser notado é que não se vê nenhuma autoridade

referir-se “ao não cumprimento das garantias físicas das grandes usinas brasileiras”, mas só

por parte das PCHs.

2. Nem mesmo, à vista de dados tão expressivos, como mostrados no Capitulo IV, fazer

qualquer autoridade um comentário à notória discrepância de resultados quando se

confronta os resultados calculados pela Nota Técnica e a realidade da geração efetiva.

3. Incrível como nenhuma autoridade tenha questionado essa NT quanto a uma possível

inaplicabilidade da mesma.

4. Já com relação às PCHs, apesar de responsáveis por pouco mais do que 1,7% de toda a

energia gerada, elas tem tido suas garantias físicas revistas para baixo semestralmente.

5. Além disso, as PCHs são publicamente criticadas pelas autoridades do MME em vários

eventos como inadimplentes com o MRE, ficando expostas a pagar energia ao valor do PLD

pelos períodos em que operaram abaixo da “garantia”, que foi calculada pela média das

vazões, seguindo a metodologia estabelecida por Portaria Ministerial.

6. Ora, é evidente que, se a garantia física das PCHs é calculada pela média histórica de sua

geração, não seria sensato exigir-se delas agora que tenham produção sempre superior à

média – que neste caso, deixaria de ser média.

7. De maneira contrária, com garantias calculadas pelo mínimo, seria de se esperar que,

normalmente, as UHEs produzissem energia superior à sua garantia física.

8. Mas não foi isso o que não ocorreu nos últimos dez anos, sem que nenhuma providência

fosse adotada quanto a isso pelas autoridades.

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9. De onde virá tamanha falta de isonomia no trato da coisa pública? Em que estarão

baseadas as autoridades setoriais para tratarem de forma tão distinta, duas fontes, que

utilizam um mesmo recurso natural da União Federal, que é o potencial hidráulico?

10. A resposta poderá ser encontrada mais adiante. Neste ponto é importante considerar as

diferenças de trato administrativo e judicial que advém do fato de que a metodologia de

cálculo da garantia física das pequenas centrais hidrelétricas seja fixada por uma Portaria

Ministerial, que é um ato vinculante, enquanto a metodologia para as grandes

hidrelétricas consta de uma simples Nota Técnica, sem caráter vinculante, de pouco ou

nenhum valor numa eventual demanda judicial.

11. A portaria nº 463/09 do MME, que define as garantias físicas das PCHs é um ato

administrativo vinculante, cuja observância é obrigatória, tornando as punições que devem

ser impostas através delas, um dever das autoridades.

12. Já uma Nota Técnica tão somente traduz a opinião de alguns técnicos sobre assunto de

interesse da administração, utilizada para embasar decisões superiores. Não tem força de

lei e nem mesmo, de regulamento.

13. A comparação entre a garantia física e a geração efetiva, feita no Capitulo IV, tanto para as

PCHs como para as grandes usinas, mostra o quanto são inadequadas as metodologias

usadas pelo governo federal para as duas fontes.

14. E como elas serviram para durante tantos anos, superestimarem os valores da garantia

física, iludindo ministros, presidentes e a própria população quanto às reais reservas de

energia de origem hidrelétrica que possuíamos.

15. Mas porque razão as UHEs não teriam até hoje, depois de tantos anos, suas garantias

físicas fixadas por regulamento?

16. Por outro lado, porque razão o cumprimento das garantias físicas das PCHs é fiscalizado

semestralmente, sendo as mesmas rebaixadas quando não cumprem uma média que

logicamente tem que ter pontos acima ou abaixo de um valor, para poder ser uma

média?

17. Graças a essa falta de isonomia de tratamento, apenas as PCHs são penalizadas “por não

cumprirem a Garantia Física”, nada acontecendo às UHEs.

18. Chega a ser digno de nota como após tantos anos, depois da publicação da portaria 463/09

nenhuma providencia tenha sido tomada para corrigir esses equívocos e essa clara

desigualdade.

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19. Além disso, numa também notável coincidência, todas as premissas não consideradas

nessa metodologia, caso tivessem sido consideradas, reduziriam o valor dessas garantias,

gerando menos receita aos investidores, mas por outro lado, teriam alertado há mais

tempo, o governo e a sociedade da necessidade de novas hidrelétricas em operação, para

evitar a dependência de termoelétricas movidas a combustíveis fósseis importados.

20. Fruto de visão otimista pré-existente ou uma simples coincidência, a consideração ou não

de premissas de cálculo em uma metodologia do serviço público deveria orientar-se pelo

princípio da precaução. E não pelo otimismo.

21. Ao analisar esse assunto novamente, o MME não deve permitir mais que as comparações

sejam feitas apenas para as PCHs, mas também para as UHEs.

22. A penalização através do mecanismo do GFS precisa ser revista, pois é extremamente

contestável, inclusive judicialmente, face à franca e aberta falta de isonomia no tratamento

das duas fontes.

23. E principalmente ao sinal inverso que emite para o mercado investidor em energia, pois

como um paradoxo, num período de escassez, ao invés do produto subir de preço, os

empreendimentos menores são penalizados, tendo que adquirir energia pelo preço do PLD.

24. Para retomar a confiança dos investidores em PCHs nos leilões e nas intenções reais do

governo em fazer avançar os 10 GW de PCHs parados, é fundamental a correção das

injustiças e o fim da argumentação falaciosa de que “as PCHs não cumprem as garantias

físicas” por parte de representantes do MME.

25. Afinal é a realidade quem teima em contradizer a metodologia estabelecida pela EPE e pelo

MME. Ou será que a natureza é quem deveria curvar-se a algoritmos que desconsideram

premissas importantes como as perdas elétricas?

26. E que culpa tem os empreendimentos se deixam de cumprir em alguns períodos, uma

média obtida por uma metodologia que a própria natureza mostra estar equivocada?

27. Os riscos da continuidade da aplicação desse conceito de “garantia física” tal como está

definido ao sistema brasileiro são muito mais profundos, ameaçando a sustentabilidade da

expansão da geração renovável e à modicidade tarifária.

28. Vale a pena lembrar que a garantia física das médias e grandes usinas localizadas nestas

bacias deveria ser muito mais fácil de ser atingida, pois é calculada sobre as hidrologias

mais críticas do histórico. Pode-se concluir que elas não vêm conseguindo atingir sequer o

patamar mínimo do período crítico – e estão muito abaixo da média histórica.

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29. Neste contexto, é razoável inferir que as PCHs localizadas nestas regiões também deverão

estar submetidas ao mesmo regime climatológico e não conseguirão, portanto, atingir

sequer o patamar mínimo – muito menos a média que é correspondente à sua garantia

publicada.

30. Em outras palavras, não seria razoável exigir das PCHs um patamar de geração

correspondente à média histórica, se as médias e grandes usinas não são capazes sequer

de atingir o patamar mínimo histórico.

31. Este é um problema crítico, que deve impactar fortemente o risco de suprimento de

energia elétrica brasileira. Os resultados, por sua importância, sugerem uma revisita ao

conceito de garantia física, o qual não parece mais sustentar-se na forma em que está.

32. Recomenda-se um estudo mais aprofundado, que combine as análises climatológicas e

energéticas necessárias para o desenho de uma garantia mais confiável, capaz realmente

de mitigar o risco de suprimento para o mercado brasileiro.

33. Importante ressaltar a respeito que esse estudo leve em conta as mudanças climáticas que

podem já ser comprovadas até mesmo através dos gráficos do Capitulo IV, posto que

ignorá-las iria novamente subdimensionar nossas necessidades de construir novas

hidrelétricas, abrindo mercado para o maior consumo de energia fóssil, que por sua vez, é

uma das grandes responsáveis por estas mudanças.

34. Caso contrário, quanto mais cresça o consumo das famílias e empresas brasileiras, mais

caras estarão as tarifas, já que através de um conceito teórico falho, que superestima as

garantias hidrelétricas, subestimadas estarão as necessidades de nova geração hidrelétrica.

35. E assim, de tempos em tempos, cada vez mais frequentes, o Brasil gerará cada vez mais

energia de termoelétricas fósseis, cumprindo a vontade dos adversários deste tipo de

energia, que é abundante em nosso país.

36. Sejam eles movidos por convicções ambientais ou por razões de mercado, interessados em

vender quantidades de derivados de petróleo, ainda maiores do que os 40 bilhões de

dólares queimados em 2013 e 2014.

37. É importantíssimo notar que embora representem apenas 3,5% da potencia instalada da

matriz, as PCHs são apontadas como “culpadas” por não cumprirem as garantias físicas

calculadas de acordo com a metodologia que não funcionou para quase nenhuma

hidrelétrica brasileira.

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Capítulo VI

As origens da crise de oferta em 2013-2015: Brasil, rico

em potenciais, pobre em consciência sobre assuntos

energéticos e ambientais.

Razões pelas quais precisamos na área de energia elétrica, que as políticas públicas sejam

discutidas e aprovadas por uma Primeira Conferência Nacional de Energia Elétrica.

1. Dados do SIPOT, o Sistema de Informações do Potencial Hidráulico Brasileiro, mantido pela

Eletrobrás mostram que é de 155 GW o potencial hidráulico remanescente. Conforme a

Tabela I, desse potencial 14 GW já estão em construção; 6,6 GW de PCHs estão em fase de

Projeto Básico; 16,3 GW em UHEs estão em Estudo de Viabilidade.

2. Mais de 71 GW já estão inventariados, mas devido à falta de estímulos e ao contrário,

devido à fixação de preços inviáveis pela EPE e às dificuldades na análise de projetos pela

ANEEL ainda esperam novos interessados elaborarem os projetos.

3. Além disso, novos 47 GW já foram identificados, mas ainda não foram nem inventariados tanto pela falta de interessados como por uma absurda proibição de realizarem-se novos inventários estabelecida pelo despacho 463/2013 do diretor geral da ANEEL Nelson Hubner, que precisa ser revogado imediatamente.

4. A distribuição deste total por bacias e por estágio de andamento é mostrada na Tabela II.

5. Apesar desta enorme disponibilidade, o Brasil vive uma crise sem precedentes, provocada segundo afirma auditoria do TCU aprovada pelo Acordão TCU nº 2.164/2008, pela restrição na oferta de hidrelétricas nos leilões, em relação ao planejado nos PDEEs; impactos nos custos da matriz elétrica e ambientais devidos à restrição na oferta de hidrelétricas nos leilões e às falhas nos procedimentos de licenciamento de geração.

6. Tudo isso, sob o olhar distante e aparentemente desinteressado das autoridades dos setores elétrico, ambiental e de planejamento e gestão, que já estão acostumados a conviver com essas dificuldades como se fossem inevitáveis e insuperáveis, sem esboçar qualquer reação além do desgaste enorme de tempo e recursos em construir gigantescas hidrelétricas na Amazônia.

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7. Aparentemente, até agora, não existiu a necessidade de existirem POLÍTICAS PÚBLICAS DISCUTIDAS COM A SOCIEDADE nas esferas municipal, estadual e federal, para tratamento conjunto das questões energéticas e das importantes questões ambientais a elas relativas.

Tabela 1 – Potencial hidráulico remanescente do Brasil por unidade da federação e por estágio

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Tabela 2 – Potencial hidroelétrico remanescente do Brasil por bacia hidrográfica e por estágio

8. Dessa falta de políticas públicas claras e previsíveis (e na medida do possível, consensuais), decorre lamentável distância que separa hoje não só cada um dos Ministérios envolvidos, mas cada um dos três Poderes constituídos da República nas esferas federal, estadual e municipal, para a condução conjunta das questões energéticas e ambientais.

9. Tudo se passa como se a sociedade, os agentes econômicos e as diversas autoridades e órgãos da administração pública nada tivessem a tratar, discutir e decidir, de forma conjunta e cooperativa, com relação à altamente complexa e fundamental questão energética e seus rebates naturais sobre questão ambiental.

10. Tudo se passa como se a sociedade tivesse apenas um direito sagrado e assegurado:

consumir, de forma indefinidamente crescente, todos os recursos que o MME e os agentes econômicos, reguladores e de operadores da área energética pudessem disponibilizar.

11. Tudo se passa como se a sociedade não tivesse nenhum dever “cidadão” na questão da

energia, mas apenas direitos de “consumidor” e isso, não importando o custo, as formas e os impactos econômicos, sociais e ambientais deste consumo.

12. Segundo essa visão, todo esse consumo de energia, deve ser feito sem quaisquer limites,

mas assim mesmo, a preços módicos, como se este fosse um direito a ser assegurado à sociedade exclusivamente pelo Governo Federal, não importando se a legislação ambiental permita que isso fisicamente possível manter essa modicidade ou não.

13. Tudo se passa como se dentro do governo federal, apenas o Ministério de Minas e Energia

devesse ser o responsável único por essa garantia, sem que nenhuma responsabilidade coubesse a outros ministérios, que produzem as regras ambientais, tributárias, de comércio exterior, do trabalho, etc.

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14. Ainda segundo essa visão, o consumo crescente de energia deve ser garantido, mesmo que as condições em que é feita a geração, a transmissão e a distribuição desta energia incluam ter que superar e vencer, - não importa de que maneira -, uma série de condições de contorno, de condicionantes e de limitações de todas as naturezas, inclusive as de ordem ambiental, legal, física e financeira.

15. Limitações essas para cuja constituição, estabelecimento legal ou imposição, o MME, a

Academia, a sociedade, os consumidores ou os agentes econômicos especializados nem sempre foram ouvidos, de forma a poder atestar sua viabilidade, necessidade e conveniência, seja pelo parlamento quando da edição de Leis, seja pelos decretos emitidos pelo Poder Executivo.

16. Da mesma forma, por falta dessas políticas públicas na área de energia, tudo tem se

passado dentro do MME e principalmente dentro da Empresa de Pesquisa Energética, como se a sociedade civil nada tivesse a dizer, reclamar ou propor quanto ao assunto “ENERGIA ELÉTRICA”.

17. Prova disso é que, por exemplo, ao contrário da ANEEL, a EPE e o MME não promoveram

nos últimos cinco anos ao menos, qualquer Audiência Pública presencial.

18. Tudo se passa, por esta falta da discussão das políticas públicas de energia elétrica, como se o MME e a EPE, por princípio, tivessem sempre razão, em tudo.

19. Inclusive quanto às metodologias de cálculo das garantias físicas, que como visto neste diagnóstico, no seu Capitulo I, estiveram longe de confirmar sua validade, nos últimos 10 anos. É como se qualquer um, que não pertencesse aos quadros do MME e da EPE não precisasse ser ouvido e não pudesse expressar sua opinião.

20. E mesmo, se for ouvido, por uma deferência especial, não deva merecer crédito, porque estará defendendo apenas os interesses individuais de cada grupo, setor ou empresa; algo que deveria ser visto de forma natural e não com desconfiança numa democracia e num regime de mercado.

21. Eis assim o problema fulcral do setor elétrico brasileiro: a falta de políticas estáveis, conhecidas e na medida do possível estabelecidas pelo diálogo entre governo, consumidores e agentes econômicos. Defeito que sem dúvida propiciou, criou as condições para que a Nota Técnica DEE-RE-0099/08 pudesse ser publicada e nunca contestada.

22. É a falta dessas políticas públicas que explica a inexplicável passividade do EPE e do MME em tratar as importantes questões ambientais que precisam ser consideradas e resolvidas previamente para utilização do enorme potencial hidrelétrico brasileiro, como se não fossem elas importantes condicionantes do seu uso por nossa população.

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23. É essa postura passiva que deixa o Estado Brasileiro refém de agentes econômicos interessados no não aproveitamento dos nossos abundantes recursos hidráulicos, como se a questão ambiental não tivesse se tornado, após a edição da Lei Federal 9605/98, uma condicionante essencial ao aproveitamento desta enorme riqueza natural do país.

24. Tudo acontece, nessa atitude passiva, de agir apenas reativamente, através da AGU, peticionando em processos judiciais que anulam Licenças Ambientais, como se fosse impossível para o MME procurar mostrar à sociedade através de uma campanha informativa de comunicação social, as verdadeiras dimensões dos impactos ambientais de hidrelétricas dos vários portes.

25. E que, sejam elas pequenas, médias e grandes, sempre há possibilidade real de mitiga-los com vantagens ao ambiente, como provam inúmeros exemplos, e o programa “Cultivando Água Boa”, implementado pela Itaipu Binacional nos municípios de sua Área de Imapcto Direto.

26. Tudo acontece como se não tivesse o MME a obrigação de alertar à sociedade com anterioridade sobre consequências das decisões dessas políticas, que agora com a crise energética estão à vista de todos.

27. Tudo acontece como se o MME não tivesse obrigação de responder e posicionar-se sobre a verdadeira “Cruzada de Ódio às Hidroelétricas” promovida por organizações ambientais contra o aproveitamento dos recursos energéticos brasileiros pela sociedade brasileira.

28. Tudo acontece como se fosse normal, que estas O.N.G.s fossem financiadas em grande parte, por governos e empresas estrangeiras, algumas do setor petroleiro, como informa a Agência Brasileira de Inteligência através do relatório 0251/82260/ABIN/GSIPR 09 MAIO 2011, anexo.

29. Tudo acontece nessa postura tímida do MME e EPE como se essa “Cruzada” fosse imbatível

do ponto de vista do “marketing” e que humildes e resignados nenhum de nós pudéssemos fazer nada contra a campanha midiática milionária que financiou o famoso vídeo que artistas de telenovelas estrelaram contra a construção de Belo Monte, por exemplo.

30. Tudo acontece, como se os órgãos ambientais federais, a ANEEL, o MME, o MMA, a FUNAI, o MJ, pertencessem governos diferentes e não ao governo federal do Brasil.

31. Tudo acontece como se não fosse permitido a estes órgãos articular-se entre si para construir um entendimento conjunto e prévio, de respeito às leis ambientais e ao mesmo tempo, de aproveitamento dos vastos recursos hidrelétricos que o Brasil possui, espalhados em seu território em quase todos os estados da Federação.

32. Tudo acontece como se a única alternativa fosse submeter o planejamento estratégico da

expansão da oferta de energia a uma pregação radical e inconsequente, destituída de apoio

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

ABRAPCH – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FOMENTO ÀS PEQUENAS CENTRAIS HIDROELÉTRICAS 35 Rua Professor Macedo Filho, 175, Bom Retiro, Curitiba –Paraná – CEP 80.520-340 - Fone / Fax: (41) 3088-5444 www.abrapch.com.br [email protected]

popular, abrindo mão de aproveitar um potencial remanescente de 155 GW, igual a 150% de tudo que construímos nos últimos 130 anos.

33. Tudo acontece, - por falta de políticas públicas discutidas com a sociedade, como se o Brasil, tivesse que ser obediente e subalterno aos interesses de outros países e de empresas gigantescas do setor de petróleo que financiam, por interesses de mercado, bilionárias campanhas publicitárias anti-hidroelétricas não apenas no Brasil, mas em vários países em desenvolvimento.

34. Tudo acontece como se a sociedade não pudesse ser informada de que esse radicalismo,

pretensamente altruísta e ambientalista, é movido apenas e tão somente pelo interesse imediato em aumentar lucros impedindo a construção de novas hidrelétricas para promover a sua substituição por imensas quantidades de derivados de petróleo para gerar energia.

35. Tudo acontece, nessa política energética distante do interesse público, como se nosso país

devesse desistir deste enorme diferencial competitivo de que dispomos, apenas porque não possamos ouvir à sociedade e muito menos, dialogar com o Ministério do Meio Ambiente, com o CONAMA, com o Ministério Público Federal e com os Ministérios Públicos Estaduais.

36. Afinal, se a estes órgãos cabe defender os direitos difusos da sociedade quanto a possuir

um meio ambiente equilibrado, a mesma obrigação cabe a eles quanto a garantir energia limpa, em quantidade adequada, a preços módicos e não apenas ao MME.

37. Tudo de passa, como se essa aversão ao diálogo e essa indiferença passiva possam

continuar causando despesas com combustíveis equivalentes, nos anos de 2013 e 2014, a todo o saldo da balança comercial de 2011 a 2014!

38. Vale à pena reproduzir na íntegra um artigo recente de Claudio Salles e Alexandre Uhlig do

Instituto Acende Brasil, sobre essa quase obsessiva preferencia exclusiva da EPE e do MME em retirar dos arquivos do SIPOT, muito poucos empreendimentos hidrelétricos para serem leiloados, além dos projetos de mega-usinas na Amazônia.

“Nos últimos anos, a estratégia do governo para resolver o problema da oferta de hidrelétricas tem sido baseada em preparar grandes projetos para os leilões de energia.

Se, de um lado, essa opção de atuação no atacado tem o potencial de inserir mais energia na matriz elétrica com poucas tacadas, de outro, dezenas de projetos menores deixam de receber a devida atenção para expansão mais pulverizada e diversificada da geração de eletricidade.

Em 2015, está previsto o leilão da Usina Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, com 8.040MW de potência. Se considerarmos apenas as hidrelétricas totalmente

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brasileiras, a usina São Luiz do Tapajós será a terceira maior hidrelétrica brasileira, ficando atrás apenas de Belo Monte (11. 233MW) e Tucuruí (8.370MW).

A usina de Itaipu tem potência maior, 14.000MW, mas é dividida entre o Brasil e o Paraguai. Em sete anos, este será o quarto leilão com megausinas hidrelétricas.

Em 2007, foi leiloada a Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio, no rio Madeira, com 3.150MW de potência. Seis meses depois, a UHE Jirau foi arrematada, no mesmo rio, com 3.300MW. Já em 2010, ocorreu o leilão da usina de Belo Monte, com 11.233MW, no rio Xingu.

Não é difícil entender por que o governo optou por esse modelo, fundamentado em empreendimentos estruturantes. Uma das principais razões está relacionada às dificuldades encontradas no licenciamento ambiental de projetos hidrelétricos, independentemente da potência da usina, seja ela pequena central hidrelétrica (PCH), seja megausina.

Se a dificuldade para desenvolver um projeto é grande, pelo menos que ele forneça muita energia. Esse é o pensamento dominante no governo. Acaba sendo mais conveniente licenciar um empreendimento de 8.000MW do que 20 empreendimentos de 400MW.

Só que esse modelo tem limitações e não pode ser a única ação governamental.

Em primeiro lugar, por que concentra capital e risco em poucos projetos. O investimento previsto para São Luiz do Tapajós é de R$ 35 bilhões, uma dimensão de custo e risco inviável para grande número de investidores dispostos a empreender em escalas menores.

Além da concentração dos recursos, outro efeito do desenvolvimento de poucos projetos é a descontinuidade em toda a cadeia produtiva de hidrelétricas (empresas de engenharia, consultorias socioambientais, construtoras, fornecedores de equipamentos, comunidade acadêmica), o que pode concretizar de vez a perda de capacidade técnica que se verifica em várias competências brasileiras que já foram referência mundial.

Essa perda de capital intelectual para pequenos e médios projetos é difícil de reverter e deve ser evitada porque sua reconstrução demora décadas.

A concentração de agentes e de capital necessária para viabilizar grandes blocos de energia também vem acompanhada do aumento de custos e riscos na transmissão em função da localização de tais usinas, usualmente distantes dos maiores centros de consumo.

É preciso que o governo, por meio de regras claras e divulgadas com a devida antecedência, reinsira os projetos hidrelétricos médios e pequenos no planejamento oficial e crie condições para que tais projetos possam competir nos leilões regulados de forma equilibrada.

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Um bom sinal de equilíbrio seria definir preços-tetos realistas que capturem as externalidades positivas — e negativas — desses projetos.

O operador lógico, nessa equação, deve ser “e”, e não “ou”.

Não devem ser abandonados os grandes projetos hidrelétricos, mas é necessário, em paralelo, recuperar o planejamento de projetos médios e pequenos para alavancar o dinamismo empreendedor que aguarda ansioso por esses sinais.

Isso promoverá o retorno dos investimentos, o desenvolvimento da cadeia produtiva de hidrelétricas e a geração de emprego e renda para o Brasil, efeitos extremamente bem-vindos para o momento econômico que vivemos”.

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Capítulo VII

As origens da crise de oferta em 2013-2015: a

desconsideração da alternância dos períodos de máxima

geração das energias renováveis no Brasil.

A competição forçada imposta nos leilões pela EPE entre as fontes renováveis, num período de

enormes vantagens para as eólicas, que dispunham de vários incentivos fiscais, gerou

formidável avanço desta fonte e com isso um claro e previsível déficit nos períodos úmidos,

abrindo assim mais mercado para as termoelétricas fósseis.

Como foi possível que uma empresa de planejamento estatal, que deveria estar voltada ao

interesse público, tenha desconsiderado o importante e conhecido fenômeno da

complementaridade entre aos períodos de máxima geração das PCHs, das eólicas e das térmicas

a biomassa no Brasil, colocando-as para competir entre si, nos mesmos leilões, provocando ao

final, aumento do consumo de combustíveis fósseis?

1. Segundo a Figura 13, transcrita do Estudo “O Sistema Brasileiro: Retomada das PCHs e seus benefícios para o sistema” produzido em Outubro de 2013 pela Professora Doutora Leontina Pinto, para a ABRAPCH anexo, no Brasil, ocorre um fato raro com relação a outros países.

2. Este fato é o fenômeno climático da perfeita alternância e complementaridade entre os

períodos de ventos e chuvas e de maior ou menor produção de biomassa e insolação, devido à nossa extensão territorial e posição geográfica.

3. Esta é mais uma vantagem competitiva importante, que vem sendo ignorada em nossa política de expansão da geração. Basta consultar todas as edições do PDEE para verificar que a EPE sempre desconsidera como se fosse completamente inexistente o enorme potencial de 7.200 MW em 640 de projetos de PCHs com aceite, mas barrados na SGH/ANEEL, jamais considerados no planejamento.

4. Jamais a EPE se interessou por este enorme potencial, ou em buscar formas de resolver a a situação em que a ANEEL fazia uma exigência irregular de licença ambiental prévia para iniciar a análise de um projeto, irregularidade agora atestada pelo relatório do Tribunal de Contas da União sobre o processo TC 48.681/2012-0 anexo.

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Figura 13 – Geração eólica solar e hidráulica no nordeste

5. Sendo a EPE uma empresa estatal de consultoria, pesquisa e de planejamento energético, é

inacreditável e muito estranho, que à mesma nunca tenha sequer ocorrido questionar à ANEEL, sobre qual seria seu estoque de projetos de PCHs.

6. E nem sobre as razões da baixíssima produção da agencia quanto à aprovação de projetos e de inventários elaborados pelos empreendedores. E por isso, mesmo depois de receber, na pessoa de seu Presidente, há quase dois anos, relatórios e ofícios da ABRAPCH denunciando esta estranha situação.

7. Custa muito a crer, que se encontrando a todo o momento, em reuniões, e eventos, representantes e técnicos dos dois órgãos, ANEEL e EPE nunca tenham trocado ideias sobre as soluções para colocar em operação nada menos do que 10 GW de projetos de baixo impacto ambiental. Um número que sob todos os aspectos é grande demais para passar despercebido.

8. Como é possível que um potencial deste montante e nestas condições ambientais tenha sido desprezado enquanto alternativa por uma empresa estatal de planejamento?

9. Como é possível que a EPE, sabendo dessa baixa velocidade de analise de projetos pela ANEEL nada tivesse feito até hoje e nem se interessado em saber quais as causas dessa situação?

10. Como é possível que um país tenha 7,2 GW ( mais do que meia Itaipu ) em 640 potenciais hidrelétricos que o órgão encarregado de os analisar, analisasse em média apenas 43 projetos por ano e a empresa estatal encarregada do Planejamento da Expansão simplesmente ignorasse esse potencial no plano decenal de expansão, como se fossem inexistentes?

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11. É possível explicar como simples coincidência a sucessão de fatores que geraram alta dependência de termoelétricas fósseis?

12. Seriam apenas coincidências, por exemplo, o estabelecimento de metodologias inadequadas para o cálculo da garantia física que subestimam a necessidade de novas hidrelétricas?

13. Seriam apenas coincidências tanto a ANEEL quanto a EPE exigirem licenças ambientais muito antes do prazo adequado, dificultando a participação de novos projetos nos leilões?

14. Seria mais coincidência ainda, a imposição de preços inviáveis pela EPE, que impediram e ainda impedem que as PCHs participem nos leilões, vendendo pouco mais de 1,25% do total adquirido?

15. Nos períodos úmidos do ano, ou um país tem hidrelétricas para gerar, com reservatórios com capacidade adequada, o vai depender apenas de termoelétricas.

16. Como explicar que uma empresa de pesquisa estatal nunca tenha se interessado em saber as causas desse desperdício de recursos energéticos renováveis, de propriedade da União Federal, os potenciais hidráulicos de pequeno porte?

17. Como seria possível que o Ministério encarregado da gestão do potencial hidrelétrico nada respondesse nem nada fizesse a respeito, embora várias vezes tivesse sido alertado pela “Carta de São Paulo” em 2012 e em 2013 e 2014 através dos “Relatórios Técnicos 001/13 e 002/14 da ABRAPCH?

18. Como uma metodologia fornece resultados errados durante anos seis anos seguidos e nenhuma autoridade a questiona, exigindo sua reavaliação?

19. As respostas a essas perguntas ficam ainda mais difíceis quando na Figura 14 se percebe que os efeitos da alternância complementar entre as três principais fontes renováveis são ainda melhores quando se justapõe dados da geração em Belo Monte e das PCHs no Sul e no Sudeste.

20. Como afirma o trabalho citado acima:

“Em outras palavras, a instalação de PCHs no Sul e no Sudeste, além de conveniente do ponto de vista da confiabilidade, pode representar um precioso recurso energético, compensando a falta de geração das novas estruturantes amazônicas”.

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Figura 14 – Geração eólica solar e hidráulica no nordeste

21. Essa alternância complementar faz com que no Brasil, os reservatórios das hidrelétricas possam funcionar como verdadeiros “bancos” para armazenar energias renováveis de todos os tipos, como a eólica, a solar ou da biomassa.

22. Estas podem assim ser melhor precificadas, mesmo nos períodos em que sua geração exceda aos seus montantes contratados, viabilizando mais facilmente sua instalação.

23. Isso porque, mesmo nesses períodos de maior produção, sejam eles quais fossem as energias renováveis poderiam ser armazenadas nos reservatórios, depositadas como riqueza que são. Assim, quanto mais reservatórios de usinas hidrelétricas estiverem operando, mesmo de pequeno e médio porte, mais evitaríamos usar a energia caríssima das termoelétricas “para economizar” água dos grandes reservatórios.

24. E assim, da mesma forma, quanto mais energia eólica, solar e da biomassa tivermos gerando em qualquer período, mais agua armazenada nos grandes reservatórios teremos, para enfrentar os períodos de seca, a sociedade e os consumidores terão disponível.

25. Isso deixa claro que, se por qualquer motivo, excluirmos de nossa matriz às PCHs como uma das fontes renováveis a serem incentivadas, as demais como a eólica, da biomassa e a solar, que apresentam ciclos de maior produção nos períodos de seca, não poderão ajudar os grandes reservatórios a economizar água nos períodos úmidos, nos quais apenas as pequenas hidrelétricas poderiam fazê-lo.

26. E estas sim, gerando então com sua máxima vazão turbinada, poderiam economizar enormes quantidades de combustíveis fósseis que vem sendo usados para gerar energia termelétrica até nos períodos úmidos, com a desculpa de que “precisamos economizar água”.

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Capítulo VIII

O que o Brasil deixou de ganhar com preços inviáveis para as PCHs nos Leilões de Energia do MME

Seria de se supor que o estabelecimento de preços-teto justos nos leilões, que tornassem viável a construção de todos os tipos de empreendimentos de geração renovável, de forma equilibrada, para tirar partido do fenômeno da alternância dos períodos anuais de máxima produção, ou complementaridade, evitando o consumo de energia termoelétrica de origem fóssil, cara, importada e poluente, fosse o desejo das autoridades. Não haveria porque privilegiar ou perseguir alguma fonte.

1. Mas Infelizmente não foi isso que aconteceu. Durante todos esses últimos anos, até novembro

de 2013, os preços para PCHs diminuíram, em mais de 40%, não importando para a EPE se, em consequência, as compras totais de energia desta fonte fossem de quantidades irrisórias de menos 1% do total adquirido, ficando as térmicas fósseis com quase 40% deste total, conforme a Figura 3.

2. Enquanto esse bloqueio de preços-teto viáveis acontecia, preços-teto inexequíveis para as PCHs eram fixados, o MME e a EPE concordavam em pagar valores várias vezes superiores pela energia das usinas térmicas fósseis, que custaram aos consumidores e ao Tesouro Nacional preços que variaram entre R$ 800,00/MWh e R$ 1.160,00/MWh. E que geraram o enorme passivo sobre o Tesouro Nacional em termos de subsídios e empréstimos viabilizados pela CIDE.

3. As denúncias da ABRAPCH sobre essa situação de absurda e desequilibrada surtiram efeito e em outubro de 2014 a ANEEL admitiu a inviabilidade dos preços impostos pela EPE em estudo apresentado em um dos Encontros Regionais promovidos pela ABRAPCH, em Porto Alegre. Quando um estudo específico elaborado por aquele órgão, confirmou essa inviabilidade.

4. A Figura 15 mostra a evolução dos preços dos leilões A-3 e A-5. É de se perguntar à vista dos mesmos: com preços assim, sempre em queda acentuada imposta pela EPE, quais seriam os investidores que em sã consciência iriam investir colocando seus projetos de Pequenas Hidrelétricas de Baixo Impacto Ambiental para concorrer nesses certames?

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Figura 15 – Evolução dos Preços Teto das PCHs nos Leilões de Energia

5. A imposição de preços sem fundamento na realidade e cada vez mais inviáveis é incompreensível quando se leva em conta que a EPE e o MME como órgãos responsáveis pelo planejamento da oferta e da demanda deveriam saber que mesmo pagando preços pouco mais altos do que os atuais para as PCHs, o custo final de geração do sistema seria hoje muitíssimo menor do que os pagos para o uso das usinas termoelétricas que entram para suprir a falta de geração hidrelétrica.

6. Afinal, se o consumo crescer, como função do aumento do nível de vida da população e da atividade econômica e não forem construídas novas hidrelétricas e novos reservatórios, não é preciso ser especialista para prever que será necessário utilizar por muito mais tempo as térmicas fósseis existentes. Além de implantar novas.

7. Apenas os 2.200 MW de empreendimentos já outorgados pela ANEEL que foram afugentados dos leilões pelos preços inexequíveis de R$ 112,00/MWh, teriam gerado não apenas muito mais energia de fonte hídrica, mas muito mais investimento, muito mais obras e empregos na construção e na indústria.

8. E não a compra em dólar de combustíveis importados, que deixam no país apenas a poluição do ar que provocam.

9. Tendo em vista os últimos aumentos das tarifas no Brasil, chega a ser ridículo pensar que R$ 112,00/MWh já foi em 2013, o valor que a EPE queria impor aos investidores e ao BNDES em 2013, com a alegação de estar “perseguindo a modicidade tarifária”.

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10. É triste pensar ainda que outros 7.200 MW de PCHs já poderiam estar outorgados pela ANEEL,

não fosse uma estranha exigência de licenciamento ambiental antes da hora imposta irregularmente pela superintendência que teve seus procedimentos apontados como irregulares por relatório do Tribunal de Contas da União e extinta no primeiro dia útil de 2015.

11. É lamentável pensar na grande oportunidade perdida pelo Brasil quanto a novos projetos de geração, se todos esses empreendimentos tivessem sido outorgados em tempo normal e não em dez anos e com preços viáveis terem entrado em operação.

12. E se, à vista dessa “tempestade perfeita” da crise de oferta que já se anunciava iminente, esses agentes públicos, ao invés de refugiarem-se na negativa das evidencias, tivessem se unido, discutido as prioridades e decidido fazer tudo o que fosse possível, incluído aí o “supremo sacrifício” de dialogar com os órgãos ambientais estaduais para que fossem removidas as desconfianças e as dificuldades para que o Brasil pudesse gerar todo e qualquer quilowatt hidrelétrico que fosse possível, respeitando em tudo a legislação ambiental?

13. E se todas as edições anuais do Programa Decenal de Expansão da Geração, elaboradas pelo Ministério de Minas e Energia e pela Empresa de Pesquisa Energética, não tivessem, até aqui, de forma reiterada e inexplicável, omitido de publicação nada menos do que 10 GW em 810 projetos que estiveram parados na ANEEL e na própria EPE por todos esses anos?

14. Como isso terá acontecido em meio a tanto silêncio?

15. Terá existido alguma razão para esse vazio de informação? Por que razão, esse enorme potencial paralisado na ANEEL não foi considerado pela EPE nos Planos Decenais?

16. Por que razão a Empresa de Pesquisa Energética não teria achado importante pesquisar qual seria o montante de projetos de empreendimentos hidrelétricos de baixo impacto em estoque na ANEEL?

17. Por que razão a Empresa de Pesquisa Energética não teria achado importante pesquisar formas para ajudar a ANEEL a contornar seus problemas e a colocar mais projetos nos leilões para competir?

18. Terão ANEEL e EPE realizado o necessário dialogo entre si para conhecer a situação e buscar alternativas que pudessem destravar esse potencial todo de 10 GW?

19. São perguntas desagradáveis, mas importantes e que precisam ser levadas em conta num diagnostico que se pretenda elaborar para saber a origem daquilo que aí está, pois apenas essa primeira consequência infausta cortou quase pela metade o superávit da balança comercial de todo o primeiro mandato da Presidenta Dilma, de 47,9 bilhões de dólares, conforme mostra a Figura 16.

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Figura 16 – Evolução do Saldo da Balança de Pagamentos por período de Governo

20. A Figura 16 prova que se não fosse esse gasto perfeitamente evitável com termelétricas, o período de quatro anos de governo do primeiro mandato da Presidenta Dilma teria apresentado superávit comercial superior a 87 bilhões de dólares, fato que com certeza teria produzido resultados muito superiores no crescimento de PIB, no nível de emprego e em todos os indicadores econômicos e financeiros do país.

21. Por esta razão, à vista dos resultados nefastos para o setor elétrico que pode representar a tentação de “fazer-se economia” evitando a contratação de mais pessoal na ANEEL, não seria prudente doravante permitir-se o contingenciamento de verbas do orçamento da Agencia, principalmente destinadas ao gasto com pessoal especializado em análise de projetos de PCHs e de geração em geral.

22. Isso seria um verdadeiro “tiro no pé” e caminho certa para gastos muitos milhares de vezes mais elevados com derivados de petróleo e termelétricas.

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Capítulo VIII

Os prejuízos à competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional com preços inviáveis para as PCHs nos

Leilões de Energia do MME

A segunda consequência negativa dessa equivocada política pública no campo da expansão da geração, foi à constituição de uma enorme barreira às exportações brasileiras, fruto de uma jamais vista elevação das tarifas de energia.

Aumentando o “custo Brasil”, as tarifas realimentaram todo o sistema, contribuindo para, mais uma vez, interferir de forma negativa sobre o saldo da balança comercial.

1. Agora, além de aumentar os gastos com as importações de derivados de petróleo, as novas tarifas de energia elétrica contribuíram para diminuir a competitividade de nossos produtos, a confiança dos empresários e com isso, reduziram nossas exportações, dando origem às primeiras demissões em massa na indústria, que nos últimos anos, haviam deixado de fazer parte de nosso noticiário já que o desemprego nunca tinha sido tão baixo.

2. Prova dessa situação é mostrada na Figura 17, que compara o custo da energia no Brasil com

os nossos principais competidores, elaborado pela FIRJAN, a Federação das Indústrias no Estado do Rio de Janeiro. O Brasil, que havia retrocedido ao 12º lugar após a queda das tarifas em 2013, voltou a “avançar” e agora, com a geração excessiva das térmicas, devida à falta de novas hidrelétricas, passou a ocupar um nada honroso 4º lugar.

Figura 17 – Comparação de tarifas de energia para a indústria

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Capítulo IX

Os prejuízos com a não aplicação de R$ 70 bilhões em recursos privados na construção de PCHs.

A terceira forma pela qual essa política energética equivocada, derivada da superestimação de garantias físicas oportunizada pela NT EPE-DEE-RE 0099/08 contribuiu para prejudicar a economia nacional foi a não aplicação de mais de 70 bilhões de reais em investimentos privados na construção de pelo menos 810 destas pequenas usinas de baixo impacto ambiental e porte até 30 MW.

Esta quantidade de PCHs, segundo metodologia usada pelo BNDES, poderiam ter gerado mais de 250 mil empregos diretos, indiretos e por efeito renda.

Isto sem considerar a construção de usinas de porte médio e grande que aparentemente, apenas por não estarem dentro da Amazônia, não vem sendo “selecionadas” pela EPE para irem a leilão, que alega genericamente “dificuldades ambientais” para não fazê-lo.

1. Importante notar que a indústria de PCHs é há décadas, completamente nacional. Seriam

obras espalhadas em quase todos os estados do país. Sem falar nas CGHs, que recentemente tiveram seu limite ampliado para 3MW pela Lei 13.097/15.

2. Esse gigantesco volume de recursos, ao invés de gerar empregos no Brasil, foi enviado diretamente para gigantescas empresas de petróleo do exterior.

3. Em nosso país ficaram apenas as centenas de milhões de toneladas a mais de gases de efeito estufa e particulados, como lembra a Figura 18, que mostra a “Termelétrica João Pessoa”, localizada na periferia de Recife, no Estado de Pernambuco.

Figura 18 – Termelétrica João Pessoa, em Recife – PE

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4. Registre-se para avaliação posterior, que nenhuma das organizações que combatem feroz e irracionalmente às hidrelétricas grandes ou pequenas no Brasil, quase todas sustentadas com recursos vindos do exterior tenha realizado qualquer protesto contra o aumento de 63% nas emissões atmosféricas das termelétricas.

5. Talvez porque a “guerra contra as hidrelétricas”, - movida por elas mesmas – é que provocou esse aumento em apenas dois anos.

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Capítulo X

Quem lucra com os prejuízos que os brasileiros sofrem nas tarifas, na indústria, no crescimento econômico e no mercado

de trabalho?

As três consequências práticas da postura ambientalmente passiva e administrativamente hostil da EPE às PCHs e CGHs

1. A primeira consequência foi à drenagem para o exterior de importância equivalente a 40 bilhões de dólares, gasta nos últimos dois anos e meio, para impedir que um apagão ou racionamento de energia elétrica viesse a ocorrer.

2. Esse objetivo foi atingido ainda assim a duras penas, por meio de incomodas ordens de

interrupção de carga, sem aviso prévio à população e em áreas consideradas de menor importância, que diminuem a confiança dos consumidores nas distribuidoras e na capacidade de planejamento do governo federal.

3. Nossa proposta para evitar que nos próximos anos, não apenas essa enorme despesa volte a se

repetir, mas que o sistema interligado volte a ter confiabilidade aceitável é que o MME consiga convencer o Governo como um todo para a necessidade de priorizar de forma clara, inequívoca e decidida o aproveitamento, em primeiro lugar, do nosso enorme potencial hidrelétrico remanescente de 155 GW.

4. Este potencial já se encontra identificado, inventariado, projetado ou outorgado, conforme mostra a Tabela I que apresenta dados do SIPOT, e da ELETROBRÁS, disponíveis na internet. Esses dados do SIPOT não podem continuar sendo escondidos, desprezados e ignorados, como se fossem inúteis, imprecisos, ultrapassados, como insinuam alguns, sem qualquer prova para apresentar.

5. Esses dados do SIPOT, ao contrário, tem valor incomensurável, pois são a memória de centenas de levantamentos, inventários, estudos de viabilidade e projetos básicos e executivos de engenharia, fruto de estudos aprofundados, que muito custaram a várias empresas públicas e privadas, durante mais de seis décadas de permanente atividade.

6. Estes dados do SIPOT, que precisariam ser revisitados, conhecidos, divulgados, para que

possam a sociedade, o governo todo e os empreendedores deles terem ciência, pois demostram que espalhado nos vinte e sete estados da federação, existe este enorme potencial, cujo uso sistemático e planejado foi abandonado pela EPE e por este Ministério.

7. Outro ponto a esclarecer é a razão pela qual a EPE, nega-se há vários anos a colocar em regime

de leilão ou de simples autorização uma quantidade expressiva de usinas de pequeno, médio e até mesmo de grande porte, exceto algumas, de dimensões gigantescas, todas situadas na região da Amazônia, como já apontou auditoria do TCU acima citada.

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8. Para justificar-se, a EPE fornece desculpas tão genéricas quanto imprecisas sobre “as

dificuldades ambientais das hidrelétricas”, sem nada propor para resolver esse obstáculo, como se estivesse conformada com a situação. A empresa EPE age como se esse assunto, em absoluto, não merecesse qualquer pesquisa, qualquer estudo, qualquer iniciativa de diálogo para tentar superar essas dificuldades.

9. Tudo transcorre como se essas “dificuldades” fossem um fato imutável, uma condição

intrínseca da fonte hidráulica, um dado de contorno da questão. Um obstáculo intransponível.

10. Assim, a atitude do MME para com o aproveitamento do potencial hidráulico já identificado ou inventariado brasileiro tem sido a de colocar em leilão somente as chamadas “mega-hidrelétricas” nos mais longínquos rincões da Amazônia, como se, lá sim, na distante Amazônia, para essas “mega-obras” fosse fácil conseguir o licenciamento ambiental. E deu no que deu.

11. Os enormes atrasos na entrega das obras, causados por liminares, bloqueios, greves, motins,

incêndios, revoltas e todos estes desgastes junto às populações ribeirinhas e indígenas, não eram necessários.

12. Eles destruíram em grande parte quase toda a imagem pública da viabilidade do uso do nosso enorme potencial hidrelétrico e a confiança do empresariado na mais limpa e barata fonte de geração de energia de que o homem foi capaz de criar até esse momento.

13. Uma sucessão de erros que a nível nacional, também teve consequências graves. Até por

efeito-imitação, as fortes imagens dos noticiários de TV sobre os incêndios, bloqueios e revoltas, ocorridos nas obras das mega-usinas da Amazônia, tiveram um peso emocional considerável.

14. E logicamente, foram aproveitadas para iniciarem-se “Cruzadas Estaduais” contra todos os

empreendimentos hidrelétricos, mesmo com alagamento médio total inferior a 15 campos de futebol, como as PCHs. Foi uma “tempestade perfeita”, combinando, da pior forma todos os erros possíveis de serem cometidos na produção de energia hidroelétrica, uma atividade que poderia e pode ser feita dedicando-se todo o respeito devido à conservação do meio ambiente.

15. E o resultado é que nossos reservatórios do sudeste estão quase secos. E enquanto isso, a

culpa continua sendo posta nas costas de Simão Pedro, um pescador da longínqua Galileia que em sua defesa, não poderia dizer nada. Além é claro, de dizer que nós não podemos continuar apenas rezando para que chova a quantidade certa, nos lugares certos, no momento exato em que mais precisamos. Mesmo porque, outros povos estão fazendo os mesmos pedidos e fica difícil contentar a todos, num planeta só.

16. Ainda mais se quisermos continuar a promover a justiça social, diminuir as desigualdades,

permitir o aumento do consumo das famílias de bens e serviços e elevando o bem estar da população.

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Capítulo X

O uso dos potenciais hidrelétricos para recomposição da mata ciliar, mitigação das perdas das características originais das bacias e regularização das condições de

evaporação e distribuição das chuvas.

A utilização de 155 GW de aproveitamentos hidrelétricos remanescente, que supera a marca de 150% de todo o potencial que já aproveitamos nos últimos 100 anos, não seria feita, é lógico, de forma inconsequente, mas sim de forma eficiente.

E baseada nos modernos sistemas de geoprocessamento, análise do clima, respeitando de forma integral, mas inteligente, toda a legislação ambiental.

1. As PCHs, ao contrario de agredirem o meio ambiente, se projetadas, construídas e fiscalizadas pela sociedade e pelo governo, cumprindo o Novo Código Florestal, poderiam trazer enorme contribuição para a recomposição das matas ciliares, através da criação de áreas de preservação permanente, onde a flora e a fauna nativas e originais possam ser recompostas, mantidas e resguardadas pelos empreendedores como ocorre nas mais de 460 PCHs em operação.

2. Através destas áreas de preservação, as novas 810 PCHs contribuiriam muito para a conservação do solo, evitando assoreamento dos rios e a erosão do solo, o plantio e a mineração irregulares, a ocupação indevida das margens, os incêndios e as queimadas, a deposição de resíduos, de agrotóxicos e outros dejetos.

3. Esses aproveitamentos, também obedeceriam às modernas e avançadas politicas públicas para a promoção dos usos múltiplos dos recursos hídricos, das quais é exemplo recente a promulgação pela presidenta Dilma Rousseff da Lei 13.081/15, que trata da construção de eclusas em barragens destinadas ao aproveitamento hidrelétrico.

4. Essas políticas por sua vez, poderiam ser utilizadas também para a promoção da piscicultura, da aquicultura, da irrigação por gotejamento, da fruticultura, da indústria do lazer e do turismo às margens dos reservatórios.

5. Além é claro, de poderem ser projetados com previsão de finalidades complementares de abastecimento humano de agua potável, ainda mais se fossem construídas as obras mais próximas dos grandes centros consumidores de energia, como as pequenas centrais abaixo de 30 MW.

6. A implantação de pequenos reservatórios, como os das PCHs, contribui para a melhoria na formação e distribuição de chuvas no interior do Brasil. Somos um país com pouquíssimos

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lagos naturais, se comparado por exemplo com a Argentina, a Bolívia, o Chile e os próprios Estados Unidos.

7. As PCHs propiciam a evaporação no espelho d'água dos reservatórios, a formação de nuvens e a precipitação de chuvas. Também o perímetro molhado no entorno dos reservatórios, alimentando os mananciais e lençol freático, pode ajudar muito no cultivo agrícola.

8. Um exemplo das vantagens dos lagos artificiais para o clima é o Lago do Paranoá, formado pelo represamento desse rio, para a construção de Brasília, aproveitando a vazão para alimentar uma usina hidrelétrica de mesmo nome, que sustentou a Capital Federal por muitos anos. Ele ajuda a equilibrar a umidade relativa do ar tornando-a adequada à presença humana no árido clima do Planalto Central do Brasil.

9. Ao contrario de “destruir o bioma do Cerrado” como às vezes se veem publicações sensacionalistas afirmar, o Lago do Paranoá completou 55 anos de serviços relevantes, resultando ainda para os moradores de seu entorno em um dos mais valorizados metros quadrados do Brasil.

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Capítulo XI

As PCHs como vetores do Desenvolvimento Regional e Local Sustentável.

Fica claro que todas estas iniciativas, caso fossem previamente acertadas, planejadas e promovidas num clima de completa integração de ações entre os ministérios e os entes federativos, resultariam numa real coordenação de todas as políticas públicas nas áreas de energia, meio ambiente, emprego, mobilidade social e desenvolvimento regional.

1. Assim, o aproveitamento hidrelétrico deixaria de constituir-se em um “problema” que é

artificialmente criado, para transformar-se em uma solução real para vários problemas reais.

2. Estas PCHs seriam na verdade, um conjunto enorme de pequenas obras, de grande importância para o crescimento do país, principalmente das regiões interioranas onde estão situadas, garantindo assim sua sustentabilidade economia e social e o indispensável apoio da população, maior beneficiária dos enormes investimentos e do baixo custo da energia gerada.

3. Para que isso tudo tivesse ocorrido, ao invés de apenas apelar-se para o óbvio e fácil recurso de gerar eletricidade com combustíveis importados, não faltaram recursos.

4. Faltou isto sim, da parte do MME e da EPE, a mínima disposição para dialogar, estudar e planejar em conjunto com os empreendedores e com as associações setoriais quais seriam as melhores opções para que a expansão da geração se desse de forma equilibrada entre todas as fontes.

5. Faltou a intenção de estabelecer preços que fosse reconhecidamente exequíveis, que acompanhassem, no caso das PCHs, por exemplo, o rarear de projetos de altas quedas que foram construídos em primeiro lugar.

6. Faltou vontade de coordenar, de protagonizar, de gerir de forma a evitar conflitos com a área ambiental e principalmente de dialogar de forma preventiva e produtiva com o ministério público no âmbito federal e estadual, entendendo sua finalidade constitucional de defender os interesses difusos da sociedade, dos quais sem dúvida, ter acesso à energia elétrica limpa e barata é um dos principais.

7. Faltou tratar e dialogar com o Ministério Público, não apenas, na arena dos tribunais, mas também na mesa do entendimento, no terreno das discussões francas, sinceras e produtivas, realizadas com base na técnica, na ciência e nos legítimos interesses difusos da sociedade em proteger o meio ambiente, mas ao mesmo tempo, de dispor de energia a preços módicos, em quantidades suficientes. E não apenas através de uma disputa contenciosa cara, demorada e ineficiente.

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8. Não fossem essas falhas e omissões, é inegável que centenas desses empreendimentos, principalmente de pequeno e médio porte já estariam construídos.

9. E evitada estaria essa despesa bilionária com térmicas, que não apenas sangrou a economia brasileira nesses dois últimos anos, mas já ameaça nosso crescimento sustentável nos próximos anos.

10. Afinal, qual país, com um saldo comercial de 47,9 bilhões de dólares em quatro anos, poderá crescer se precisa gastar 80 bilhões de dólares em igual período apenas pra gerar energia?

11. E com custos de geração dessa ordem, aliados à ordem presencial de “buscar a realidade tarifária”, qual é o país que conseguiria manter suas exportações e o seu crescimento, com uma das tarifas mais caras do mundo?

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Capítulo XII

As origens da crise de oferta em 2013-2015: a falta de uma Conferencia Nacional que aumente o conhecimento da

população sobre o setor elétrico.

Razões pelas quais na área de energia elétrica, as políticas públicas devem ser discutidas e

aprovadas por Conferências Nacionais de Energia Elétrica, realizadas com base em decisões de

conferencias municipais e estaduais.

Nosso desafio é realizar a Primeira Conferencia Nacional de Energia Elétrica, pois apenas a participação da sociedade trará transparência, conhecimento e equilíbrio à discussão dos

aspectos ambientais envolvidos na questão energética brasileira. O Brasil precisa deixar de ser um país rico em potenciais energéticos, mas muito pobre em termos da consciência de seu povo sobre assuntos energéticos e ambientais. Afinal, quem não sabe direito o que possui, não tem praticamente nada.

1. Para contextualizar a necessidade da convocação da Primeira Conferencia Nacional de Energia

Elétrica, vale destacar que as posturas equivocadas do MME e da EPE, que estão na origem da atual crise de oferta ocorreram, exatamente num período no qual, há mais de uma década, nosso país promove o maior crescimento econômico e social de sua História.

2. Dezenas de milhões de famílias saíram da linha de miséria. E outras tantas da faixa da pobreza,

num inédito processo de diminuição das desigualdades e, simultaneamente do fortalecimento da indústria, do agronegócio e do setor de serviços.

3. Este processo levou ao crescimento do consumo e da demanda por energia elétrica e graças a essa combinação de crescimento do consumo e de passividade no debate das questões ambientais e imposição de preços inexequíveis para as PCHs nos leilões, combinadas com uma afluência bastante atípica, nosso país já iniciou o ano de 2015 totalmente dependente do caro “vício” de ter que consumir elevadas quantidades de derivado de petróleo para gerar energia elétrica para continuar a crescer.

4. A este respeito vale à pena consultar a Figura 19 que mostra o lentíssimo ritmo da ANEEL que

nos últimos dez anos, aprovou por ano, uma média de apenas 48,5 projetos de PCHs dos mais de 640 projetos que lá encontram-se travados pela burocracia, totalizando 7.200 MW que necessitariam mais de 15 anos de espera para poderem gerar energia, caso não tivessem sido tomadas medidas emergenciais várias delas a partir de denúncias da ABRAPCH.

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5. Em 2014, configurando nova e dramática queda de produção, a SGH aprovou apenas 20 projetos que foram outorgados.

Figura 19 – Produção anual em outorgas e estudos da extinta SGH da ANEEL

6. A postura inadequada desta área da ANEEL ( SGH ) , que viria a ser extinta em 02.01.2015, com

relação aos empreendimentos de PCHs, é apresentada no Relatório resultante de diligências do Tribunal de Contas da União no âmbito do processo TC 045681/2012-0 anexo.

7. Estudos realizados pela ABRAPCH em seus Relatórios Técnicos de 2013 e 2014, também anexos, comprovam em detalhes esta postura hostil à construção de novas PCHs por aquele órgão.

8. Já do lado da EPE e do MME essa postura hostil foi operacionalizada, por meio da fixação de preços absolutamente insuficientes e inviáveis nos leilões, como já demonstrou a própria ANEEL em estudo cujo resumo é apresentado também em anexo.

9. Basta analisar a situação hidráulica dos reservatórios do Sul, por exemplo, para perceber que, se apenas os mais de 650 MW em projetos de pequenas hidrelétricas já outorgadas naquela

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região, já tivessem sido construídas a situação do sistema elétrico do país seria totalmente outra hoje.

10. Nesta data, se considerarmos também os mais 1940 MW em projetos aceites, que a ANEEL

manteve parados por todos esses anos, o potencial total adicionado ao sistema, seria de mais novos 2580 MW hidráulicos, apenas na região Sul, onde os reservatórios ostentam hoje a média de 64,34% de capacidade segundo o O.N.S.

11. Nas demais Regiões, a situação também seria outra. No Sudeste seriam mais de 700 MW que já estão outorgados e mais 1700 MW em projetos aguardando analise da ANEEL. No Centro Oeste os números seriam de 500 MW outorgados e 1990 MW com aceite, esperando analise da ANEEL.

12. O grande desafio da nova gestão será o de imprimir ao MME o papel de protagonismo criador e proativo, que cabe a uma pasta desta importância.

13. Tal desafio estaria materializado na publicação de uma Portaria Ministerial convocando ainda para o final de 2015, a Primeira Conferência Nacional de Energia Elétrica.

14. Isso ocorrerá exatamente a 78 (setenta e oito) anos depois da realização da Primeira Conferencia Nacional de Saúde e 74 (setenta e quatro) anos depois da convocação da Primeira Conferência Nacional de Educação, realizadas ainda durante o primeiro governo de Getúlio Vargas.

15. Somente desta forma, convocando toda a sociedade para escolher o rumo a seguir, mediando o caminho entre energia e ambiente, será possível remover os obstáculos que, ao longo do tempo, as posturas de passividade, de falta de iniciativa e principalmente de falta de diálogo terminaram criando.

16. Foram essas atitudes que ergueram as muralhas que hoje existem entre os setores energéticos, ambientais e do ministério publico não só de um mesmo governo federal, mas até aos níveis estadual e municipal.

17. Muralhas atrás das quais, as posturas de passividade e de hostilidade às fontes hidráulicas de energia tentam agora eximir-se das responsabilidades pela crise, jogando toda a culpa no setor ambiental e no ministério público, encarregados da defesa dos interesses difusos da sociedade.

18. A prova de que tais muralhas existem e são muito fortes e de que a passividade é a postura que vigora está o fato indiscutível de que além de rezar para chover, infelizmente, não temos hoje, um conjunto de propostas concretas e articuladas entre si que possam superar a enorme dependência do nosso país para com a operação ininterrupta de caríssimas usinas termelétricas movidas por combustíveis fósseis refinados e importados, cujos preços além de insuportavelmente altos, estão sujeitos a flutuações que impedem a formulação de políticas claras, estáveis e aderentes a um planejamento prévio.

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19. Afinal, os preços destes combustíveis refinados estão sujeitos a controle monopolístico, apresentando elevado grau de imprevisibilidade, pois afetados por razões políticas, conflitos armados e bloqueios, seja por efeito de cartéis, seja pela volatilidade cambial.

20. A dependência das térmicas não existiria, não fossem decisões equivocadas de abandono de fontes renováveis estratégicas como as PCHs, principalmente por meio dos preços-teto dos leilões, tomadas pela Empresa de Pesquisa Energética e pelo MME, somadas às enormes demoras e exigências indevidas da ANEEL e a completa falta de articulação efetiva com o CONAMA, com o Ministério de Meio Ambiente e com os órgãos ambientais estaduais que executam atribuições delegadas.

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Capítulo XIII Resumo das principais propostas da ABRAPCH para colocar em operação, em 36 meses, mais de 10 GW de hidrelétricas

de baixo impacto ambiental, as PCHs.

Este relatório apontou as distorções ocorridas até aqui, que comprovam a urgência do MME adotar as seguintes medias:

a) ADIAMENTO DO LEILÃO A-5 POR 30 DIAS COM REABERTURA DA ETAPA DE CADASTRAMENTO

Os investidores estão ainda sob o impacto negativo de quase uma década de preços inviáveis e portanto desinteressantes. Caso seja verdade que uma nova política de preços também na aquisição de energia está para ser estabelecida, com preços exequíveis e atraentes, é preciso dar mais prazo aos empreendedores para que a conheçam e para ela se preparem.

b) DISPENSA DE LICENÇA AMBIENTAL PARA HABILITAÇÃO NOS LEILÕES

Para o cadastro e habilitação poderia ser exigido apenas o protocolo dos Estudos Ambientais e uma declaração do órgão licenciador de que os mesmos contem todos os elementos previstos em lei.

Se o prazo é de cinco anos para entrar em operação, há tempo de sobra para obter-se licenças ambientais. Principalmente se o governo federal, tal como ocorre nas áreas de saúde, educação, extensão rural, firmar convênios com os Estados, para custear a capacitação e o salário de técnicos dedicados exclusivamente ao licenciamento de empreendimentos de geração de energia de todas as fontes.

c) FIXAÇÃO DE PREÇOS-TETO EXEQUÍVEIS NOS LEILÕES

Estabeleça o Ministério de Minas e Energia, nos leilões A-5. A-3, leilões de ajuste e de fontes alternativas, preços-teto viáveis e comprovadamente exequíveis para as Pequenas Centrais Hidrelétricas, baseados em estudos nos quais participem o BNDES, o Ministério da Fazenda, e as associações setoriais envolvidas, com a divulgação da planilha-base dos cálculos.

Na fixação de preços devem ser considerados todos os custos incorridos e as vantagens proporcionadas por cada fonte, conforme metodologia estabelecida pelo MME.

No tocante à participação da ABRAPCH, considerar os estudos “Determinação do preço médio de venda de energia de PCHs para diversas faixas de potencia e queda”, elaborados pela LEME ENGENHARIA – TRACTEBEL ENGINEERING para a nossa Associação.

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

ABRAPCH – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FOMENTO ÀS PEQUENAS CENTRAIS HIDROELÉTRICAS 60 Rua Professor Macedo Filho, 175, Bom Retiro, Curitiba –Paraná – CEP 80.520-340 - Fone / Fax: (41) 3088-5444 www.abrapch.com.br [email protected]

Sem uma clara sinalização, já no primeiro leilão de 2015, de que doravante serão fixados preços comprovadamente exequíveis e atraentes para os investidores, não se poderá afirmar que exista priorização do setor para a sociedade.

Numa economia de mercado e num sistema hibrido como o estabelecido pelo atual modelo do setor elétrico brasileiro, é muito grande a importância das atitudes do Governo Federal na reconstrução de um clima de confiança e de estímulo ao investimento privado em energia de fonte hidrelétrica.

Principalmente no caso dos empreendimentos de baixo impacto ambiental, de menor porte, acessíveis ao capital de porte médio em várias regiões do país.

Foram mais de oito anos de penúria e de desilusão, - quase de perseguição -, que agora precisam ser superados por uma franca e aberta disposição por parte do Governo Federal de incentivar e buscar apoiar de todas as maneiras esse segmento que graças a preços inexequíveis conseguiu vender nos leilões menos de 1% do total adquirido enquanto as térmicas fósseis superaram 40%.

Estabelecer preços viáveis, mas calculando sempre e deixando bem claros o impacto dos mesmos nas tarifas finais aos consumidores é a maneira mais correta e republicana de equilibrar e balancear o interesse privado no investimento e o interesse público na modicidade tarifária.

Mas o que seriam preços viáveis? Sem medo de errar podemos dizer que a equalização com o preço / teto das térmicas a biomassa, seria um bom começo e francamente justificável.

Em primeiro lugar por representar uma solução isonômica, equilibrada e transparente. E em segundo lugar, por levar em conta que as térmicas a biomassa, ao contrário das PCHs, não necessitam adquirir áreas. E em terceiro lugar, devido às várias extremidades positivas que nunca foram condenadas por intransigência do MME e da EPE, que poderiam tê-los utilizado no dialogo com o MMA e Ministério Público, se tivessem vontade em manter as PCHs também fornecendo ao mercado.

Estas externalidades positivas para o sistema elétrico e para o ambiente foram exaustivamente analisadas pelos trabalhos da ENGENHO CONSULTORIA , em anexo.

d) INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES DE FOMENTO ÀS PCHs e MINI-CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Estabeleça o Ministério de Minas e Energia um grupo de trabalho destinado à coordenação de todas as ações da ANEEL, da EPE, do ONS, do MME, do MMA, ANA, IBAMA e CONAMA destinadas a permitir e acelerar a construção de 9.400 MW de hidrelétricas de baixo impacto ambiental com potência abaixo de 30 MW (PCH) cujos projetos hoje estão travados na ANEEL e na EPE, embora representem 65% de uma nova Itaipu.

Esta retomada deveria ser acompanhada da revogação pela ANEEL da resolução 463/2013 que proibiu o registro de novos inventários, reestabelecendo a plena vigência da resolução 393/98 enquanto nova regulamentação não é aprovada pela Agência.

Essa solução de integração entre vários órgãos do governo federal teria como objetivo tornar mais racional e ágil o processo de licenciamento ambiental, a analise de projetos de engenharia, as autorizações de geração, a construção e a entrada em operação no prazo de três anos, da maior

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RELATÓRIO TÉCNICO ABRAPCH n° 003/2014

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parte dessas 810 hidrelétricas de baixo impacto ambiental, totalizando 9.400 MW que estão parados na ANEEL e na Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

e) PRIORIDADE AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE EMPREENDIMENTOS DE GERAÇÃO

Apoiar financeiramente, através de Convênios, os órgãos ambientais estaduais e federais para que estes expandam os recursos humanos e materiais utilizados nas atividades de licenciamento ambiental de empreendimentos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

Com objetivo de zelar pelo tratamento isonômico entre as fontes de energia, apoiar no âmbito do CONAMA e perante o MMA a adequação das exigências de licenciamento ambiental ao impacto e porte das PCHs, através da elaboração de resolução específica

A importância da questão ambiental para o desenvolvimento, as mudanças no regime de afluências devem ainda ser analisadas para priorizar o licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas.

A primeira proposta é que o MME, dentro de sua competência de prover energia para o desenvolvimento sustentável do país, estabeleça convênios de cooperação técnica com os órgãos ambientais estaduais encarregados do licenciamento dos empreendimentos de geração hidrelétrica, prevendo repasse de recursos para projetos de capacitação e custeio, para que mais profissionais possam ser alocados nessas atividades.

Isso acontece já entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e órgãos estaduais de assistência técnica rural como a EMATER PARANÁ por exemplo, para o desenvolvimento de projetos específicos na área de assistência técnica rural a agricultores familiares.

A segunda proposta é que através de seus representantes no CONAMA, o MME apoie a iniciativa que a ABRAPCH encaminhou junto à Secretaria Executiva daquele Conselho, solicitando na forma regimental, que o mesmo constitua um Grupo de Trabalho que fique encarregado da elaboração de uma proposta de regulamento específico para o licenciamento ambiental de pequenas usinas de baixo impacto, tal como no ano de 2014, o setor de energia eólica conseguiu aprovar na forma da resolução 642/14 do CONAMA.

Não faz o menor sentido, que usinas de baixo impacto ambiental como as PCHs e CGHs continuem a ser licenciadas pela mesma resolução CONAMA nº 06, de 16 de setembro de 1987, que é utilizada para licenciar as mega-usinas na Amazônia, como Belo Monte, Santo Antonio e Girau, fato que gera enorme retardo no processo de licenciamento e na entrada em operação das usinas de menor porte.

Além disso, essa regulamentação encontra-se em grande parte desatualizada por ter sido editada há quase trinta anos.

f) APOIO EFETIVO À VIABILIZAÇÃO DA GERAÇÃO DISTRIBUIDA

Em conjunto com as distribuidoras e as PCHs, o MME deve fazer o possível para equilibrar as discussões destinadas a superar as dificuldades de conexão das PCHs ao sistema interligado nacional.

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Outro assunto importante, que gostaríamos de abordar com Vossa Excelência é o da conexão elétrica e da compra de energia das pequenas usinas pelas distribuidoras, prejudicadas pela operação desenfreada das termelétricas, necessitando sempre de mais e maiores subsídios do Tesouro e crescentes reajustes tarifários para não irem à falência.

Ocorre que algumas delas, usam vários argumentos para dificultar, encarecer ou mesmo impedir a conexão destes empreendimentos ao sistema interligado nacional.

g) APOIO EFETIVO À VIABILIZAÇÃO FINANCEIRA DAS PCHs

Adequar as condições de financiamento de PCHs pelo BNDES e pelos bancos privados.

Investimentos intensivos em capital como os da geração de energia demandam largos prazos de amortização e, portanto, financiamento.

Em compensação, passadas as fases de planejamento e construção, a fase de operação destes empreendimentos transcorre sob uma situação de riscos muito baixos, comparados com outros setores.

Assim, as garantias do financiamento deveriam ser maiores durante o período de construção e entrada em operação, não necessitando que o tomador apresentasse contratos de venda de energia de longo prazo como atualmente exige o BNDES. Afinal a energia passou a ser uma necessidade básica e o risco de não-venda e de inadimplência mínimos.

As atuais restrições ao crédito oficial pelas quais passa o país, por outro lado, deveriam estimular que governo e empresários procurassem viabilizar outras fontes de financiamento como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o chamado “Banco dos BRICS”.

h) PROGRAMA DE DIVULGAÇÃO DA RIQUEZA HIDRELÉTRICA DO BRASIL

De tempos em tempos, ouve-se na imprensa e em alguns eventos, afirmações quanto o “esgotamento de potencial hidrelétrico” do Brasil, algumas vindas inclusive de autoridades federais ligadas ao MME.

Esta é uma afirmação que não corresponde a verdade já que, segundo o sistema de Informação do Potencial Hidrelétrico da Eletrobrás, o SIPOT que é disponibilizado na internet, o potencial hidrelétrico remanescente do Brasil em julho de 2014 é de 155 MW. Ou seja, temos para construir mais do que o dobro de tudo que está operando e foi construído em 130 anos desde que a eletricidade chegou ao Brasil.

Todo esse potencial é uma enorme riqueza nacional. Algo que pouquíssimos países dispõem no mundo.

A menos que queríamos iludir a sociedade e justificarmos que estivemos construindo cada vez menos hidrelétricas e mais termoelétricas fósseis, é vital que todo este potencial seja conhecido pela sociedade e disponibilizado para construção nos leilões através de preços exequíveis.

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Em especial, ao MME como responsável pelo aproveitamento de todo potencial da União, cabe esclarecer perfeitamente à sociedade quanto ao montante deste enorme potencial remanescente, contrapondo ainda os excelentes resultados de programas ambientais como o “Cultivando Água Boa”, de Itaipu, à campanha de desinformação movida por organizações estrangeiras contra o uso das hidrelétricas do Brasil.

h) TRABALHO PROATIVO JUNTO AO MMA, MINISTÉRIO PÚBLICO E ORGÃOS ESTADUAIS

A situação de penúria dos reservatórios pode ter efeitos devastadores sobre as tarifas, como estamos assistindo.

Mas por outro lado, ela pode ser utilizada para tentar abrir um canal mais próximo e permanente de diálogo com o Ministério Público Federal, o IBAMA, os Ministérios Públicos Estaduais e o Ministério de Meio Ambiente. Afinal a proteção do interesse da sociedade em dispor de energia elétrica é um ponto comum entre todos estes setores.

De igual forma, o aumento da poluição atmosférica, provocado pelo acionamento por muito mais tempo das térmicas movidas a combustíveis fósseis, pode tornar-se mais um ponto de convergência entre o MME e os órgãos que dedicam especificamente à proteção ambiental.

Promover Seminários Técnicos sobre temas relacionados à Mitigação de Impactos Ambientais, por exemplo, poderia ser uma forma de tornar a atuação das partes mais cooperativa e eficaz mais próxima prevenindo futuras ações judiciais e desentendimentos no terreno administrativo.

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Capítulo XIV Desafios do MME para o Leilão A-5 marcado para 30.04.15.

Primeiro:

Equilibrar a fixação do preço teto dos leilões A-3 e A-5 de forma a tornar viável a maior quantidade dos 10 GW de empreendimentos de PCHs já outorgados ou que contam com “aceite técnico” da ANEEL e ao mesmo tempo, assegurar a modicidade tarifária ao consumidor final.

Segundo:

Equilibrar os preços para que a geração se expanda de forma sustentável, assegurando, ao mesmo tempo o crescimento das fontes fósseis, como sendo elas sim, as alternativas operacionais de segurança, privilegiando de forma decidida o aproveitamento das energias renováveis, pois estas dependem ainda de estímulo governamental devido às externalidades que apresentam quanto à escala, ao aproveitamento de recursos naturais de baixo custo, às questões ambientais e das novas tecnologias.

Terceiro:

Permitir, que o maior número possível de empreendimentos possam ser habilitados a participar, uma vez que por terem sido afugentados pelos preços anteriores, muitos deixaram de manter suas licenças ambientais em dia, já que a regulamentação do CONAMA hoje em dia, permite apenas uma renovação.

Quarto:

Abolir a exigência de que para serem cadastrados e habilitados os projetos possuam licenças ambientais já emitidas, pois o prazo cinco anos para entrada em operação é mais do que suficiente para obtê-las e os empreendedores estão sujeitos a pesadas multas em casos de atraso.

Quinto:

Permitir a participação de mais empreendimentos nos leilões de energia, simplificando as exigências sem perda da segurança de entrada em operação na data fixada, fazendo com que os mesmos gozem, por força de lei, de prioridade na tramitação em todos os órgãos públicos federais, estaduais e municipais e possam apresentar para habilitação apenas o protocolo dos estudos ambientais nos órgãos licenciadores;

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Sexto:

Impedir atrasos no licenciamento ambiental de empreendimentos de geração propondo alteração na atual resolução 237/97 do CONAMA que permitiu, através de alteração no artigo 10 da resolução 001/86, que a omissão proposital de um prefeito em não fornecer uma certidão quanto ao uso do solo, possa impedir o início da análise técnica dos estudos ambientais de uma PCH ou CGH pelos órgãos ambientais estaduais e federais encarregados pela Lei de promover o licenciamento para evitar todos os tipos de pressão ilícita, os que, atrasam por anos o processo de licenciamento.

De Curitiba para Brasília, em 19 de março de 2015.