As Palhaçadas de Biu

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as palhaadas de biu autor: manoel camilo dos santos no serto pernambucano no interior do estado distante duma cidade um velho remediado tinha uma fazendola vivia ali descansado. chamava-se z Gibo esse velho fazendeiro tinha um filho somente e esse ainda solteiro foi o maior caipora que houve no mundo inteiro. biu enquanto foi menino numa escola aprendia era muito inteligente mas sempre sempre sofria devido o seu caiporismo apanhava todo dia. sempre lhe acontecia na escola uma moleza virava ali um tinteiro borrava os livros da mesa era uma surra de "bolo" que levava com certeza. quando nada acontecia devido a moleza dele era um se levantar e o banco cair com ele alm da queda a vaia s botavam a culpa nele. antes mesmo ele aprendeu, ler, escrever e contar depois deixou a escola pra no morrer de apanhar j estava rapaz feito s pensava em se casar. biu sabia muito ler mas era muito acanhado se via moa de perto ficava encabulado baixava a vista e ficava muito tempo ali calado. por tanto o saber de biu de quase nada servia no queria trabalhar no comprava nem vendia como era filho nico

o pai no o aborrecia. um dia biu disse ao pai: "eu... s um menino sortro mai minha vida igu a de um prisionro v invent um negoo pra tomm ganha dinhro. o velho disse: " verdade eu sempre tenho dizido qui voc m fio um tanto esmurecido num si fio de pai pobe tem idade e soi sabido." biu disse: "eu tenho vontade de cort carne na fra" disse o velho: "pi ento mate a vaca lavandra leve pra cidade e venda negoo de premra". na quinta-feira seguinte logo cedo combinaram pegaram a dita vaca no mesmo instante mataram fizeram a carne em mantas depois de seca emalaram. biu junto com um portador saram de madrugada uma gua com a carga e biu em outra selada quando chegaram na rua a feira estava trancada. quando chegaram na feira embora com pouco jeito arranjaram uma torda biu ficou bem satisfeito ficando mesmo de frente ao sobrado do prefeito. depois biu casualmente olhando para as janelas do sobrado do prefeito viu trs moas muito belas passou o dia entretido somente a olhar pra elas. as moas passaram o dia na varanda do sobrado destraindo com a feira biu de l admirado passou o dia e tarde vendeu a carne fiado.

as trs moas na varanda passaram o dia brincando nem viram aquele "besta" que lhes estava espreitando era biu, o qual voltou pra casa se pabulando. quando biu chegou em casa o velho lhe perguntou: "cuma te fosse de fra vendeu tudo que lev?" biu disse: "a fra foi rim e a carne toda sobr. "cuma a fra foi rim vend a carne fiado arrumei um casamento cum a moa do sobrado e quero qui m pai v acert o meu noivado." o velho disse: "m fio casamento assim num vai logo da premeira vei qui voc na rua sai?" biu sorrindo disse ao velho: "eu sou jeitoso m pai." o rapaz dizendo isto no mesmo instante saiu o velho olhando a velha lhe perguntou: "voc viu? mim diga se acha jeito naquela histra de biu." a velha disse: "eu sei de l tudo pode acontec gente moa o fute se lembra o qui fei voc do mermo jeito seu fio." disse o velho: "pode s." a velha disse: "essas coisa mermo da mocidade e eu sendo voc ia logo amanh na cidade just este casamento." o velho disse: " verdade." o velho disse: " mermo apoi amenh eu v Qui tudo s presta im quente voc agora acert e biu voc vai tomm." biu respondeu: "sim senh." no outro dia cedinho se prepararam direito

vestiram roupa de mescla e botaram para-peito selaram as bestas e sairam cada qual mais satisfeito. quando chegaram na rua bem de frente ao sobrado amarraram os animais num p de figo copado bateram palmas na porta nisto saiu um criado. o criado perguntou-lhes: - tem negcio com o patro? "tenho e num tenho seu moo t im casa o capito? quiria fal cum ele", disse o criado: - pois no. o prefeito se achava na sala superior o criado foi entrando e dizendo: - senhor doutor l fora tem dois vaqueiros querem falar com o senhor. o prefeito que estava bastante preocupado disse: - ora inda mais esta no negocio com gado mas diga a eles que entrem - disse o prefeito zangado. o criado disse: - entrem o velho disse: "por no" entrou um atrs do outro tudo de chapu na mo com as esporas arranhando o mosaico do salo. quando chegaram na sala o velho disse: "bom dia seu maj, eu s o dono da fazenda da cutia e vim just o casamento do m fio cum sua fia." - e que casamento este? - o prefeito perguntou, o velho disse: "num seio ta ele qui cont." biu disse: "t p cas cum a fia do sinh." o doutor disse: - ou lindalva, nisso a mais velha chegou: - ser esta a sua noiva? o prefeito perguntou:

biu levantou a cabea e respondeu: "nom sinh." - volte minha filha e mande a sua irm Conceio e esta quando chegou o pai perguntou: - ento ser esta sau rapaz? biu olhou e disse: - no. volte minha filha e mande a sua irm Nazar esta chegando na sala disse: - pronto pra que disse o doutor: - ser esta? biu olhou e disse: - . - s noiva deste rapaz? perguntou o doutor ligeiro a moa lhe respondeu: - nunca vi este vaqueiro biu disse: "mai eu j vi a sinhora um dia intro." biu disse: "eu s aquele qui onte passei o dia cortano carne na fra e menc cum alegria l de riba do sobrado uiava eu e sirria." "apoi bem eu s aquele qui quando menc sirriu eu balancei p seu lado o leno qui int caiu eu lhe perguntei baixinho menc qu cas cum biu"? "e de tarde fui pra casa cum todo contentamento passei a noite agarrado cum menc no pensamento e agora vim pra gente acert o casamento." o doutor fez ar de riso pro rapaz e pro velhote a moa se retirou dizendo: - que parparote em dias de minha vida nunca vi este timote. disse o prefeito: - pois vamos cuidar dessa arrumao e disse ao criado: - v diga ao tenente joo que me mande as ordenanas porque tenho preciso.

nisto o doutor retirou-se biu perguntou sem consolo: "ordenana ser sordado?" disse o velho: "ou rapai tolo qui danado de sordado ordenana num bolo." disse o velho: "ele mandou foi faz caf pra gente e mandou busc os bolo na casa de seu tenente." nisso a polcia chegou o velho disse: "oxente!" disse o prefeito aos soldados: - os senhores sem demora agarrem estes vaqueiros e os arrastem para fora dem cada um, um molho depois mandem irem embora. um soldado foi ao velho tomou-lhe logo o quic e o outro agarrou biu e danou-lhe um pontap biu disse: "ta m pai caf com bolo o que ." nada valeu peditrio foi couro no houve jeito o faco falou francs foi a torto e a direito: - casamento bom este dizia em grito o prefeito. quando a polcia soltou-os eles fizeram carreira nas bestas e onde passavam era grande a tinideira com tanta velocidade que s se via a poeira. a velha estava na porta cheia de contentamento foi dizendo: "viva os norvo" o velho neste momento pulou e disse: "gua via fala a im casamento." "pro caso desse poiqura apanhei qui quage morro t cum a guela rouca de tanto pidir socorro eu num seio aonde qui t qui num mato esse cachorro." "levei tanta facozada

qui v a hora morr pro caso desse safado mai agora eu v diz se falare nisso ainda eu mato ele e voc." no outro sbado seguinte biu disse: "hoje eu resvo aquela carne fiada qui vindi aquele povo" o velho disse: "o que t vai apanh de novo." biu disse: "m pai aquela mim but s na mulra aquela mim ficar pro premra e derradra" disse o velho: "j seu corno namore moa na fra." biu disse isso e montou-se e saiu muito vexado entrou na rua com medo de encontrar com soldado procurou seu devedor o qual no foi encontrado. ficou muito desgostoso no meio do pessoal ento para distrair-se comprou ali um jornal lendo encontrou um anncio que vinha da capital. dizia assim o anncio: precisamos de um rapaz o que tiver competncia em casas comerciais se apresente em recife na rua largo da paz na casa nmero cinquenta com loja e mercearia a firma a seguinte: j. m. & cia. o emprego guarda livro assim o jornal dizia. biu quando leu o jornal fez logo um plano certeiro disse: "v compr uma roupa e mand cus ligro e digo a m pai qui v pro recife s caxro." biu chegou em casa e disse o plano que j trazia o velho disse: "m fio

eu seno voc num ia." biu disse: "eu v m pai caxro tem garantia." biu mandou fazer a roupa vestiu-se e fez partida pra rua e pegou o trem bem satisfeito da vida no mesmo dia chegou na capital referida. quando chegou na central no meio da multido quase que fica assombrado vendo gente em borbuto perguntou a um chapiado: "hoje aqui tem prucisso?" disse o chapiado: - no isso aqui todo dia: "e esse povo qui qu qui buzina qui arrilia um passa e to passa chega mim fai agunia." perguntou-lhe o chapiado: - aonde s morador? "na fazenda da cutia onde m pai me cri": - j tinha vindo em recife? biu respondeu: "nom sinh." "foi essa a premra vei qui eu vim me impreg cunhece seu j. m. ? p onde eu v e p l l no laigo da pai vamo mai eu mim insin." o rapaz lhe disse: - vamos mas voc me paga bem eu levo sua maleta biu lhe disse: "num convm aqui tem muito gatume eu num cunfio im ningum." disse o rapaz: - est certo, seguiram nesse momento biu que nunca tinha visto semelhante movimento ia de cara pra cima que parecia um jumento. no mercado so jos biu fez uma palhaada ia olhando pra cima e tropeou na calada caiu com maleta e tudo

foi uma queda danada. quando biu se levantou o povo todo sorria disse o chapiado: - vamos no posso perder um dia seguiram e logo chegaram na dita mercearia. o rapaz disse: - aqui me pague, eu quero voltar biu botou a mala abaixo disse: "vot p pag? voc nem trove a maleta num vei s me insin." o rapaz disse: - a maleta eu lhe pedi pra trazer voc no quis me entregar a razo no sei por qu a viagem dois mil ris biu respondeu: "pago o que." - no paga? ora no paga voc paga at mais nisto foi chegando um guarda e disse: - pague ao rapaz, biu a pagou e disse: "dxa tist satanai." ele pagou e entrou na casa comercial disse: "bom dia patro eu s vim na capit foi pro caso dum anuno qui incontrei num jorn." o comerciante disse: - e o senhor tem competncia? biu respondeu: "eu num seio diz a sua incelena", o patro disse: - queremos um rapaz de conscincia. - voc do interior? lhe perguntou o patro: biu lhe disse: "nom sinh eu moro l no serto m pai um fazendro qui se chama z Gibo." o patro disse: - est certo tome conta do escritrio v enchendo essas faturas servio provisrio quero ver se voc faz servio satisfatrio.

nessa dita casa tinha seis ceixeiros no balco biu comeou nas faturas a ensino do patro at que chegou a hora de fazerem refeio. as onze horas do dia chegou na porta a criada e disse: - pronto, patro est pronta a feijoada. nisso o patro disse: - vamos almoar, rapazeada. os caixeros foram entrando biu tambm se levantou bateu a mo no tinteiro e a tinta derramou em cima do escritrio tudo que tinha borrou. o patro disse: - oh! rapaz botasse tudo a perder. biu tirou um leno branco comeou a embeber a tinta que nos papis era tanta a correr. disse o patro: - deixe isso e v embora almoar os caixeiros j esto na mesa a lhe esperar. biu entrou muito vexado quase sem poder falar. quando ele entrou na sala tropeou em um batente foi de arrojo e peitou em um espelho na frente o qual devido a pancada ficaram os cacos somente. quando biu chegou na mesa quase assombrado sentou-se nem disse ali aos caixeiros o que l fora passou-se comeou logo a comer no mesmo instante instalou-se. botou caf em um pires deu um chupo e engoliu formou um n na goela fechou os olhos e tossiu esticou-se na cadeira todo mundo ali sorriu. debaixo da dita mesa tinha um cachorro deitado

quando biu esticou a perna foi logo abucanhado ele ai pulou de costas e foi feio o resultado. um boto do palit quem tinha se colocado no croch da dita mesa estava bem engatado quando biu pululou de costas arrastou o toalhado. pulou com o toalhado por cima duma cadeira os pratos cairam todos e ficou a bagaceira o cachorro vendo aquilo endoideceu na carreira. os caixeiros ali ficaram tudo de talher na mo biu assombrado correu nessa mesma ocasio com a toalha entre as pernas foi esbarrar no balco: o patro quase se assombra quando biu chegou l fora entrou e viu o prejuzo disse: - ou tipo caipora voltou e disse: - rapaz pegue a reta e v embora. dali biu voltou pra casa dizendo muito zangado: "quage mim acunticia cuma da vei do sobrado demo leve certo emprego, patro caxro e sordado." e segiu pra casa a ps um tanto mal satisfeito quase liso resolveu a ir trabalhar no eito no "engenho chega e fica" ai sim, sofreu direito. quando chegou no engenho foi logo ao barraco comprou 100 gramas de carne e tomou um bom pifo comeou a conversar dizendo ser valento. o senhor do engenho disse: - v botar l no banheiro umas quatro latas d'gua e seja muito ligeiro

biu lhe disse: "v voc eu num s seu paricro." o homem partiu em cima pegou-o pelo gog Biu disse: "m patrozinho num me mate tenha d." nisto o mijo j estava correndo no mocot. tremendo e todo mijado a o homem o soltou e biu chorando correu a meia-noite chegou numa grande casa velha para dormir embocou. ento no quarto da casa tinha um defunto enforcado ele quando entrou, bateu com a cara no finado e assombrado agarrou-se com o defunto inchado. e deu um grito to grande quando o caso aconteceu deu um empurro no defunto que a casa estremeceu e assombrado gritando de estrada afora correu. no outro dia cedinho numa pequena cidade arranjou logo um servio com muita facilidade entendeu de se casar foi nova infelicidade. quando ali ganhou dinheiro comprou roupa se ajeitou com u'a moa doidada logo um namoro arranjou e a pedi-la em casamento um dia se destinou. na casa do pai da moa falou na porta e bateu: "ou de casa": - ou de fora o velho lhe respondeu. - quem ? perguntou o velho: "num ningum no s eu. quando o velho abriu a porta o besta s fez dizer: "eu vim pid sua fia d se quis ou num d." o velho disse: - primeiro me diga quem voc.

ele disse: "eu s Biu e m pai Z Gibo." o velho disse: - est certo entre aqui para o salo vamos acertar direito e tratar da arrumao. biu entrou e se sentou num recanto do salo com o chapu entre as pernas e a bengala na mo e com a cabea baixa a ningum dava ateno. e batendo com os ps o chapu escapoliu ele apanhou o chapu nisso a bengala caiu com todo o peso que tinha que o salo todo "zuniu". todo mundo ali sorriu com a queda da bengala e biu de encabulado j tinha perdido a fala nisso trouxeram o caf para tomarem na sala. porm biu que no sabia se o caf estava quente encheu a boce e gritou: no meio de toda gente espanou caf na cara de quem estava na frente. caram os pires das mos o caf se derramou por cima das pernas dele queimando tudo, gritou " caf quente danado", ai de costas pulou. pulou de costas e bateu com a cabea na janela que estava aberta atrs dele biu agarrou-se com ela mordeu-a e ficou chorando com a dor da pancada dela. biu chorando com a dor disse: "qui casa danada mim queimei com o caf eeessa amardiuada quage me quebra a cabea isso uma iscumungada. abriu a porta e saiu

vermelho como uma brassa dizendo: "cum essa dua danado quem mai se casa pode hav o qui hov morro e num sai mai de casa." da foi chegar em casa com trs semanas e meia contou tudo o que sofreu ao pai com cara feia disse o velho: "t soi mole qui s rabo de uveia." malimpregado m fio as letra qui tu aprendesse nem valeu a pena o meno os leite qui tu bebesse e os fogo que sortei logo assim qui tu nacesse. cum nada mai mim importa assim biu respondeu mai nunca eu sai de casa inda que diga um judeu longe de casa tu inrica o co qui v mai no eu.

fim