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1 As possíveis relações de poder entre os gêneros e os ecos de uma tradição do patriarcalismo histórico. Marco Aurélio de Brito 1 Resumo Nosso texto tentará resgatar fatos importantes da história, onde a mulher foi objeto de manipulação religiosa e política devido às relações de poder por meio das ideologias patriarcais. A partir dos ecos das tradições orais e dos escritos da antiguidade podemos encontrar dentro desse escopo semiótico, possíveis discussões entre os gêneros, quebrando assim os paradigmas sociais durante diversos períodos históricos e controvertidos da construção humana, depois seguiremos passando pelo pensamento religioso, pelas abordagens socioculturais do mundo antigo até o contemporâneo. Por meio dos instrumentais teológicos e filosóficos faremos um trabalho hermenêutico das histórias bíblicas e mitológicas diante do conceito das deidades femininas e também das personagens que se opuseram ao poder patriarcal na temporalidade histórica. Para isso buscaremos respostas na filosofia, antropologia e as ideologias sociológicas das sociedades antigas tentando resgatar seu sentido na atualidade. Com isso nosso artigo apresenta a história da mulher desde os primórdios até nosso tempo presente, onde houve momentos de ascensão em que elas até foram representadas em culto as deusas-mãe, e também foram consortes dos deuses mais poderosos de cada etnia. Apontaremos também mulheres que se tornaram ícones de seu tempo e que foram capazes de transformar sua sociedade. Além disso, discorremos apresentando em todos os períodos da história o sofrimento, o descaso, a humilhação e principalmente os abusos contra a mulher. Palavras-chave: Mulher; Deusas; Rainhas; Abusos; 1 Doutorando em Ciências da Religião na UMESP, e Pós-Graduado em Filosofia. Univ. CLARETIANO, Professor de Teologia Fatej e Setepeb. Participa do Grupo de Pesquisa-Arqueologia e do Grupo de Pesquisa Oracula, ambos na UMESP. Diretor do Instituto Teológico Quadrangular. E-mail: [email protected]

As possíveis relações de poder entre os gêneros e os ecos ... · parte delas eram deusas femininas, ... momento em que foram encontradas diversas estatuetas no oriente com aproximadamente

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As possíveis relações de poder entre os gêneros e os ecos de uma tradição do

patriarcalismo histórico.

Marco Aurélio de Brito1

Resumo

Nosso texto tentará resgatar fatos importantes da história, onde a mulher foi objeto de

manipulação religiosa e política devido às relações de poder por meio das ideologias

patriarcais. A partir dos ecos das tradições orais e dos escritos da antiguidade podemos

encontrar dentro desse escopo semiótico, possíveis discussões entre os gêneros, quebrando

assim os paradigmas sociais durante diversos períodos históricos e controvertidos da

construção humana, depois seguiremos passando pelo pensamento religioso, pelas

abordagens socioculturais do mundo antigo até o contemporâneo. Por meio dos

instrumentais teológicos e filosóficos faremos um trabalho hermenêutico das histórias

bíblicas e mitológicas diante do conceito das deidades femininas e também das personagens

que se opuseram ao poder patriarcal na temporalidade histórica. Para isso buscaremos

respostas na filosofia, antropologia e as ideologias sociológicas das sociedades antigas

tentando resgatar seu sentido na atualidade. Com isso nosso artigo apresenta a história da

mulher desde os primórdios até nosso tempo presente, onde houve momentos de ascensão

em que elas até foram representadas em culto as deusas-mãe, e também foram consortes

dos deuses mais poderosos de cada etnia. Apontaremos também mulheres que se tornaram

ícones de seu tempo e que foram capazes de transformar sua sociedade. Além disso,

discorremos apresentando em todos os períodos da história o sofrimento, o descaso, a

humilhação e principalmente os abusos contra a mulher. Palavras-chave: Mulher; Deusas; Rainhas; Abusos;

1 Doutorando em Ciências da Religião na UMESP, e Pós-Graduado em Filosofia. Univ. CLARETIANO, Professor de Teologia Fatej e Setepeb. Participa do Grupo de Pesquisa-Arqueologia e do Grupo de Pesquisa Oracula, ambos na UMESP. Diretor do Instituto Teológico Quadrangular. E-mail: [email protected]

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1. Introdução

Apesar de todas as evoluções científicas o mundo atual parece não ter evoluído da

mesma forma quando se compara ao ideal sociológico, é inegável a desigualdade entre as

pessoas em todas as áreas da vida, mas nos referimos principalmente às relações humanas e

socioculturais, tudo isso se deve a interpessoalidade dos ideais de moral e ética que estão

longe de ser uma realidade e por isso ainda temos muita estrada para percorrer.

Nas relações interpessoais essa realidade se torna mais evidente que em qualquer

outra área humana, assim podemos perceber as diferenças entre as raças, as ideologias

religiosas, e e seu preconceito quando nos deparamos com o relacionamento humano.

Em pleno século XXI, ainda temos problemas de ordem social que impede com que

possamos crescer como uma sociedade com justiça e direitos iguais. Além do racismo, da

homofobia, e a pedofilia que ainda são latentes no mundo, o abuso contra a mulher é real e

produz crimes tão sórdidos quanto os outros em todo mundo.

Antes de pontuarmos essas relações tempestuosas que ainda permeiam a atualidade

queremos apontar situações desse tipo que envolveu também o mundo antigo até a

presente data. Com isso podemos entender que a sociedade em si está em conflito desde

seus primeiros passos.

2. Mulher além do seu tempo

Ao falarmos especificamente sobre as relações de gênero, vemos que os primeiros

documentos da história humana já revelam as intrigas entre ambos os sexos. Mas o que

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chama nossa atenção, é que da mesma forma que ao lermos esses documentos com

ferramentas como a análise narratológica, semiótica e linguística, podemos perceber traços

de um mundo por trás do texto que mostra que aparentemente como exceção pelo menos

por enquanto a mulher era tida em autoestima por algumas tribos e reinos antigos.

Um primeiro ponto a se destacar seriam as ideias de deidades desse tempo, grande

parte delas eram deusas femininas, mostrando assim o valor vital que a mulher tinha para

aquele período. Obviamente seu maior trunfo era a fertilidade e o cuidado como mãe, mas

não deixa de ser um ponto forte de seu sentido. Isso é possível compreender a partir do

momento em que foram encontradas diversas estatuetas no oriente com aproximadamente

10.000 anos de idade ou mais. E por onde essas deidades femininas com seios e quadris

largos conhecidos como deusas-mãe eram comuns. Nesse período tribal acreditava-se que

elas eram as responsáveis pela fertilização da terra, onde também muitas delas cuidavam da

vida e alimentação dos povos antigos.

Além disso, os deuses mais poderosos da antiguidade não estavam sozinhos no

comando dessas sociedades, a grande maioria tinham suas deusas entre eles estavam, os

sumérios, os egípcios, os babilônios, os gregos, romanos e também os hebreus que dividiam

uma deusa no Oriente próximo chamado Ashera que era a consorte de Baal e também muito

possivelmente de Iavé, segundo descobertas arqueológicas entre elas uma especificamente

em tel-arad localizada em Israel onde haveria dois tronos dentro de um templo encontrado

nesse lugar, onde a estela maior era de Iavé e a menor da deusa em questão.

Não queremos dizer com isso que a autoridade feminina era uma realidade

irrevogável, é evidente que não, os povos antigos eram patriarcais e com isso a autoridade

masculina era superior, mas haviam suas exceções. Como podemos perceber em muitos

momentos e principalmente em relação ao culto e o cuidado familiar onde à mulher tinha

sua força.

Mas engana-se se era apenas nesse aspecto que poderíamos imaginar a mulher

como instrumento de poder da história humana. Ela também foi Faraó no Egito Antigo e seu

nome era Hatshepsut sua história quase apagada pelo seu sucessor que tentou ocultar sua

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existência. Mas, ela também fez várias obras, entre monumentos, obeliscos, esculturas e

foram encontradas diversas inscrições a seu respeito.

Existem dois sítios que são as principais fontes de estudos dessa pesquisa “A capela

vermelha de Amon em Karnak e o templo construído por Hatshepsut em Deir el-Bahri –

Djeser-djesure”(SOUSA,2010.p.74). Assim esses locais deixaram claro o poder e a grande

influência na cultura egípcia que esse “Faraó” mulher foi capaz de exercer demonstrando

sua força e visão de mundo já avançado para sua época.

Outra mulher egípcia que não podemos esquecer seria Cleópatra que viveu próximo

ao ano 50 a.C se tornou um dos nomes mais conhecidos da história e que foi poderosa no

Egito, e que causou grande conflito entre dois grandes poderosos romanos: Julio Cesar e

Marco Antonio.

Seguimos agora para a tradição dos hebreus onde podemos compreender através da

literatura bíblica vozes que ecoam desses textos e que podem representar segundo Athalya

Brenner uma tradição oculta onde às mulheres teriam certa autoridade e que não poderia

ser descartada completamente, pois era uma forte lembrança da cultura oral desse povo, e

de onde se constituía a principal fonte para a transmissão e da construção literária da bíblia.

Podemos apontar sobre esse aspecto a tradição de Miriam que era considerada

profetiza, além de ser uma das vozes do cântico de Moisés, temos também as parteiras do

Faraó e da própria mãe de Moisés Joquebede, essas mulheres se destacaram justamente

pelas fortes lembranças de suas ações para a tradição cultural desse povo, aqui não importa

a realidade factual do texto, mas sim a ideia que elas representam para a sociedade de seu

tempo, ou seja, se elas estão representadas aqui de alguma forma é que mulheres parteiras,

e mães capazes de arriscar suas vidas pelos seus filhos, deixa transparecer uma possível

oposição ao tradicionalismo patriarcal, além da autoridade profética assinalada pelo texto,

parece revelar a grande estima desse povo por elas. Assim também como Débora que além

de profetiza atuou como juíza no meio do povo.

Adiantando um pouco mais chegando ao Novo Testamento onde a nova fé também

envolvem a força feminina no trabalho religioso, além de mantenedora do ministério

profético de homens taumaturgos entre eles o Cristo. Foram também muito possivelmente

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uma forte liderança religiosa e essa última foi muito questionada por líderes patriarcas da

igreja antiga como também vemos até hoje por lideranças fundamentalistas. Mas com um

olhar mais liberal e imparcial podemos perceber como as mulheres poderiam sim ter

exercido cargos de grande importância em seu tempo.

Entre elas poderíamos citar a própria mãe do Cristo, além de Marta, Maria sua irmã,

Maria Madalena, Febe a diaconiza, e Jônia que apesar das contradições e discussões sobre

se era um nome feminino ou masculino, o que em alguns autores dizem que esse nome seria

comum nesse período para mulheres, ainda que não se possa chegar a uma conclusão mais

especifica, mas seria viável pelo menos até o terceiro século da era Cristã, e para complicar

ainda mais essa questão, ela é citada como uma apóstola da igreja.

O mundo grego também reflete aspectos idênticos na verdade muito das ideologias

do mundo antigo foram influenciados pela cultura helênica que advinha da Grécia que se

espalhou através das vitórias de Alexandre o grande a partir do ano 300 a.C.

Nessa cultura as divindades femininas também possuíam poder, e as mulheres

tinham em alguns momentos grande importância, e uma das mais importantes mulheres

gregas foi Helena de Tróia ainda que seja uma história mitológica isso demonstra o valor e

como elas poderiam influenciar política e socialmente aquele povo, ainda que o conto

homérico tenha diversas outras conotações esse ponto é relevante diante do fato que o

amor de um homem por uma mulher pode ocasionar novas perspectivas na vida social.

Outro grande fato que devemos lembrar e dessa vez histórico, seria a vida de Hipácia

que viveu próximo ao ano 350 d.C, e foi filósofa e considerada a primeira matemática

registrada e reconhecida historicamente, uma neoplatônica que lecionou em Alexandria, e

que foi assassinada pela nova fé cristã que florescia, e esse fato se deu, simplesmente

porque ela resolveu discutir diversas questões importantes na área da ciência e

principalmente questionou a fé irracional dos cristãos alexandrinos.

Na idade média existiram também muitas mulheres influentes e poderosas tanto na

tradição cristã como freiras, rainhas, filósofas que transformaram seu tempo.

Por fim, no século XX, mulheres como Hannah Arendt filósofa alemã que em seu

próprio contexto de vida, precisou fugir de seu país em um período de guerra. Sendo judia

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conseguiu escapar do holocausto e se refugiar nos Estados Unidos onde lecionou e acabou

se tornando uma das mais influentes personalidades do mundo no século XX.

Após esse momento, surge a oportunidade para testemunhar o julgamento do

Tenente-Coronel da SS nazista Adolf Otto Eichmann que se refugiou na Argentina. Com esse

processo ela pôde teorizar sobre o sentimento humano e em seu artigo para a revista The

New Yorker, o que viria a mais tarde se tornar seu livro mais polêmico e intrigante conhecido

como “Eichmann em Jerusalém” escrito em 1963.

Foi nesse julgamento, que ela percebeu a necessidade de estudar e explorar temas

complexos da vida humana, entre eles a maldade, e porque isso ocorre em nossa sociedade.

Para Hannah o principal motivo para a banalização do mal está na inabilidade de pensar.

Sem a reflexão o homem se torna propenso a agir em favor de si mesmo sem pensar no

outro. O que em muitos momentos defenderíamos irracionalmente o nosso ser em

detrimento do outro ocasionando o mal sem a percepção do que seria justo.

Podemos rapidamente falar de Simone de Beauvoir, que mudou o conceito sobre os

direitos de cada pessoa principalmente da mulher, sua frase mais famosa ecoa entre os

meios acadêmicos trazendo grandes discussões entre conservadores e liberais: “Ninguém

nasce mulher: torna-se mulher”. Mas foi com outra frase que colocou a mulher muito mais

engajada em suas lutas fazendo-as capazes de vencer as dificuldades e diferenças deste

mundo capitalizado. “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a

separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”.

Como uma filosofa existencialista marcou sua época apresentando novas perspectivas

diante da diferença entre homens e mulheres tentando aproximar as relações, mesmo que

argumentando e discutindo seus problemas.

Assim como diversas outras histórias instigantes de nosso tempo, mulheres que

fizeram a história e transformou nosso tempo, sendo elas jornalistas, políticas, sociólogas,

filósofas e porque não dizer religiosas que produziram e produzem não apenas ideias, mas

tem mudado a estrutura intelectual do mundo.

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3. O mal que persegue o mundo feminino

Assim como percorremos a história da mulher com um olhar positivo, temos a

necessidade de apresentar as mazelas humanas e a perseguição que elas também sofreram.

Com isso podemos apresentar as relações que até hoje marcam a injustiça contra as

mulheres.

No mundo antigo apesar de na primeira parte desse trabalho apresentar as exceções

e as grandes histórias femininas, não podemos deixar de falar do mal que elas sofreram.

Nas guerras antigas elas eram as que mais sofriam, se fossem idosas poderiam ser

mortas, se fossem jovens poderiam ser abusadas, escravizadas e até mortas, se fossem

crianças muito provavelmente seriam levadas para serem escravas, sacrificadas aos deuses,

podendo também se tornar prostitutas ou se tivessem sorte até chegariam à mendicância.

Entre tantas histórias ruins, a religião que ocupou grande parte do poder na

antiguidade foi em parte responsável por essas ações repugnantes. As religiões patriarcais

que sempre existiram fizeram com que as mulheres se tornassem um ser inferior e em

muitos casos quase sem valor para a comunidade, reduzindo sua existência a maternidade e

ao cuidado do lar.

Nas batalhas além dos despojos de guerra, ou seja, ouro e prata, as mulheres se

tornaram também moeda e objeto de troca em campanhas militares, as que eram mantidas

vivas poderiam ser escravas sexuais, ou simplesmente servas para seus novos senhores.

Na cultura bíblica não era muito diferente, a Torá tentou diminuir esse sofrimento,

mesmo dando conotações um pouco menos injustas ainda tinha forte teor preconceituoso

contra a vida da mulher. Obviamente isso dependeria também do olhar interpretativo que

cada sacerdote e de senhores do mundo antigo que filtrasse essas relações, e essa pequena

abertura foi importante para a forma de interpretação desse mundo dentro do contexto do

primeiro século, onde Jesus um Galileu conhecido por suas ações taumaturgicas, e uma nova

mensagem do reino de Deus para os homens, ficando assim conhecido posteriormente

como Cristo, e que mesmo em um tempo de preconceito contra a mulher, trouxe um novo

olhar para condição delas.

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Isso se reflete em alguns textos do Novo Testamento, entre eles o evangelho de

Mateus 19 coloca uma discussão com fariseus e escribas sobre o divórcio, essa lei

explicitamente explicada nesse verso poderia dar o direito de separação simplesmente

porque o marido não gostou de algo que a mulher haveria feito. E o cristo diz que apenas

olhar para outra mulher estaria ele pecando, em outras palavras, o texto parece apontar

para um novo ponto em que agora sendo homem ou mulher que não amasse seu parceiro já

estaria em pecado, assim vemos que diminuiu o poder do homem contra a mulher,

colocando os dois no mesmo nível social, uma ação de direito muito bem elaborada pelo

texto bíblico.

Nas sociedades cristãs do I e II século surgiu muitas histórias que refletem o valor da

mulher, mas vemos também a injustiça, pois é evidente que a igreja tentou esconder muitas

dessas relações sociais importantes.

Na idade média mulheres que se destacavam eram tratadas como bruxas e sofriam

sobre suposta maldição demoníacas. Já no inicio do século XX, as novas igrejas pentecostais

foram invadidas por mulheres que lideravam comunidades e eram até ministras sendo

respeitadas por sua comunidade, mulheres evangelistas na década de XX nesse mesmo

século se tornaram rádio evangelistas, a mais importante e conhecida nesse período era

Aimee Semple Mcpherson que no fim de seus dias, disse “Se fosse homem, teria feito muito

mais”.

Após metade do século XX, muitas coisas se alteraram, mas ainda vemos a injustiça

social e a desigualdade entre homens e mulheres.

Relatos desse tipo de atitude com extremo sofrimento tem atingido grande parte das

mulheres em todo mundo, as práticas de mutilação genital ainda é recorrente em diversos

lugares com milhares de meninas menores de 15 anos assim como relato o site da ONU.

Mutilação/corte genital feminino Embora em declínio, a prevalência de mutilação/corte

genital feminino (M/CGF) ainda é muito comum em 29 países Mais de 70 milhões de

meninas e mulheres de 15 a 49 anos de idade foram submetidas à mutilação/corte genital

femininas (M/CGF), normalmente no início da puberdade. Dos 29 países nos quais a

prevalência de M/CGF fica acima de 1%, apenas o Iêmen não está no continente africano.

Esse procedimento é extremamente perigoso, principalmente quando é realizado em

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condições insalubres, como é comum. Pode causar danos significativos de longo prazo e

aumenta o risco de complicações durante o parto, tanto para a mãe como para o bebê.

Além disso, restringe a possibilidade de um desenvolvimento sexual normal e saudável. A

prevalência de M/CGF vem declinando – as medições mostram que é menos comum em

meio a mulheres jovens do que em meio às mais velhas, e em meio às filhas em

comparação com suas mães. Mas os progressos são lentos, e milhões de meninas ainda

são ameaçadas pela prática.( http://www.unicef.org/brazil/pt/br_sowcr11web.pdf. p.33).

Apesar dos grandes avanços sociais, esse problema ainda recorrente no mundo nos

mostra que muitas ações precisam ser realizadas, por isso todo envolvimento social precisa

ser orquestrado com muito cuidado. Apesar do respeito a cada cultura, atitudes de violência

e desrespeito com o ser humano devem ser censuradas.

Após entendermos todo o processo de evolução social no mundo, fica evidente que o

caminho que percorremos foi importante, mas ainda temos mais a fazer até que todos

possam viver de forma igualitária e justa.

4. Conclusão:

Nosso artigo mostra as diversas facetas da história, aonde mesmo com todas as

diferenças entre o gênero, vimos que muitas mulheres puderam se destacar, e os traços

apresentados pelas divindades do mundo antigo mostram de alguma forma certa

valorização da mulher. Nas sociedades patriarcais foi possível perceber traços de autoridade

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da mulher que ficavam evidentes nos escritos desse período. Isso é claro a partir dos relatos

que se pulverizam dentro de textos sagrados e histórias míticas desse tempo.

Em períodos mais atuais, foram grandes as divergências e lutas que as mulheres

enfrentaram para abrir novos horizontes e se consolidar com direito a expressão, ao voto, e

todas as demais conquistas, mesmo assim, ainda sofrem alguma discriminação.

Ainda existem muita injustiça e os políticos e religiosos que poderiam agir de forma

mais útil diante dessa questão parecem não estar percebendo a gravidade e o que é pior

muitas das agressões contra as minorias são orquestradas por pessoas desse ambiente

fazendo com que a situação se torne cada vez mais crítica, isso é o que percebemos já que

muita dessas mutilações feitas nesses países é apoiada pela religiosidade local.

Mas sabemos que podemos alterar essa situação, já que muitas ONGs estão lutando

para essa mudança ocorrer, e a cada dia vemos a luta e esperamos que comecem a surgir

conquistas ainda maiores das que já aconteceram nesse sentido.

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