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SUMÁRIO
SUMÁRIO__________________________________________________________2
1. FICHA CATALOGRÁFICA ___________________________________________3
2. APRESENTAÇÃO _________________________________________________5
2.1. Tema ______________________________________________________________ 5
2.2. Justificativa _________________________________________________________ 5
2.3. Objetivos ___________________________________________________________ 7
2.4. A Escolha dos Contos_________________________________________________ 9
2.5. Proposta de Análise Segundo o Interacionismo Sócio-Discurssivo_____________ 10
2.6. Metodologia________________________________________________________ 11
3. APRESENTAÇÃO DE UM MODELO DIDÁTICO_________________________13
3.1. O Modelo Didático da Narrativa de Aventuras de Viagens____________________ 14
3.2. O Que Dizem os Experts Sobre o Gênero ________________________________ 16
3.3. As Regularidades do Gênero Conto de Aventura De Viagem Pelo Mar, Segundo a Proposta de Análise de Textos Do Interacionismo Sócio-Discursivo________________ 19
a) Infra-estrutura textual: _________________________________________________ 22
b) Os mecanismos de textualização ________________________________________ 31
c) Os mecanismos enunciativos____________________________________________ 33
4. SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO GÊNERO CONTO DE AVENTURA ____________36
4.1. Apresentação da Situação ____________________________________________ 38
4.2. Primeira Produção___________________________________________________ 40
4.3. 1ª Oficina: Contexto de Produção_______________________________________ 43
4.4. 2ª Oficina: Infra-Estrutura Global dos Textos ______________________________ 46
4.5. 3ª Oficina: Mecanismos de Textualização ________________________________ 52
4.6. 4ª Oficina: Mecanismos Enunciativos ____________________________________ 56
4.7. 5ª Oficina: Refacção de Texto _________________________________________ 64
REFERÊNCIAS ____________________________________________________64
3
1. FICHA CATALOGRÁFICA
AS PRÁTICAS DISCURSIVAS EM UM GÊNERO DA CRIAÇÃO LIT ERÁRIA:
CONTOS DE AVENTURA
Autora Maria Aparecida da Cruz Barbosa
Escola de Atuação Escola Estadual Dr. Olavo Garcia Ferreira da
Silva
Município da escola Londrina
Núcleo Regional de Educação Londrina
Orientador Profª Drª Elvira Lopes Nascimento
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar História e Arte.
Público Alvo Alunos da 8ª série/9º ano do Ensino
Fundamental
Localização Rua Sinode Bighinatti, 266
Apresentação
Esta Unidade apresenta uma sequência
didática com propostas de atividades
articuladas a uma prática discursiva da esfera
da comunicação da criação literária que visam
aprimorar os conhecimentos linguísticos e
discursivos dos alunos, conforme propõem as
Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(2008). Para construí-la, escolhi um gênero de
narrativa ficcional, configurado no conto de
aventura . A seleção desse gênero deve-se por
4
sua temática atraente e instigante, em que o
desafio e a aventura atraem o leitor,
relacionando o discurso às práticas sociais.
Palavras-chave Gênero – conto de aventura – discurso –
práticas sociais.
5
2. APRESENTAÇÃO
2.1. Tema
As práticas discursivas em um gênero da criação literária: conto de
aventura.
2.2. Justificativa
Esta unidade didática tem por objetivo apresentar e desenvolver um
trabalho pautado no interacionismo sociodiscursivo do Grupo de Genebra e autores
representantes no Brasil, em específico neste caso, com o discurso predominante
do narrar ficcional da esfera social literária, configurado no gênero conto de
aventura, com os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Dr
Olavo Garcia Ferreira da Silva. O gênero conto por suas características
sociolingüísticas foi eleito para a primeira seqüência didática, por conter os
6
conteúdos necessários para o ensino-aprendizagem e também pela magia que ele
desperta no homem. A unidade será composta por cinco contos: Pegue O Oeste de
Jack London, Além do grande mar de Márcia Kupstas, O Velho Sumares de Vergílio
Várzea, Juventude de Joseph Conrad e A ilha do Tesouro de Robert Louis
Stevenson.
Nesta proposta, três contos serão lidos e analisados dentro da
concepção de Fiorin e de Bronckart, com ênfase no Interacionismo sociodiscursivo
dos estudiosos do Grupo de Genebra. Os dois contos ficarão como leitura para
maior compreensão do gênero.
Após a escolha dos contos darei início ao modelo didático de
gênero, sustentado no que dizem as autoras Rojo (2001) e Gonçalves (2009) que
apontam a modelização didática como um dos pontos cruciais no processo de
transposição didática, na medida que ele será o ancoradouro das atividades de um
determinado gênero que será levado à sala de aula para o desenvolvimento de
atividades. O modelo didático engloba todas as vertentes, propostas pelo modelo de
análise de 2003, p. (13).
Os autores Dolz, Noverraz e Schneuwly argumentam que para
trabalhar com a língua, através dos gêneros, deve-se considerar três aspectos: os
conhecimentos existentes sobre gêneros textuais, as capacidades observadas dos
7
aprendizes e os objetivos de ensino que se pretende atingir. Assim o próximo passo
será a elaboração de uma sequência didática como encaminhamento metodológico
de trabalho com os gêneros.
A sequência didática deve partir de uma produção inicial, na qual
será mapeada as capacidades de linguagem dominadas pelos aprendizes, a
mediação e a intervenção necessária para levar os alunos a produzirem um texto do
gênero escolhido, com as devidas marcas lingüísticas e características. Como
conclusão, o aluno fará uma produção final na qual terá oportunidade de colocar em
prática a aprendizagem adquirida em cada módulo, sendo possível uma avaliação
de todo o processo.
2.3. Objetivos
2.3.1. Geral
Envolver os alunos em uma prática discursiva em sala de aula que
promova o letramento abrangendo os quatro eixos que fundamentam o ensino de
8
Língua Portuguesa: oralidade, leitura, escrita e análise lingüística, através das
ferramentas denominadas modelo didático de gênero e seqüência didática de um
gênero da ordem do narrar ficcional configurado no conto de aventura.
2.3.2. Específicos
a) Construir um modelo didático do gênero conto de aventura que
aponte as regularidades deste gênero.
b) Identificar as características do conto de aventura apresentadas
pelos experts no gênero.
c) Analisar um corpus de textos do gênero em foco dessa prática
discursiva para apontar particularidades da infra-estrutura global, dos mecanismos
de textualização e dos mecanismos enunciativos.
d) Realizar a transposição didática dos contos de aventura
selecionados por meio de uma seqüência didática.
e) Implementar esta seqüência didática na escola, em turmas de 8ª
série/9º ano do ensino fundamental.
f) Adquirir dados das produções iniciais, intermediárias e finais dos
alunos para verificação de seu aprendizado.
g) Organizar uma coletânea dos contos produzidos.
h) Confeccionar cartazes para a divulgação da coletânea.
9
i) Expor a coletânea de contos no espaço escolar.
2.4. A Escolha dos Contos
Os textos selecionados pertencem à esfera literária, sendo narrativa
ficcional configurada no conto de aventura, e serão utilizados no processo de
ensino-aprendizagem.
Segue a apresentação dos contos e seus respectivos autores e
suportes de publicação:
• Conto “Pegue o Oeste” (“Make Westing”):
Autor: Jack London (autor americano, nascido em São Francisco,
Califórnia, em 1876).
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Os melhores contos de aventura, organizado por Flávio Moreira da Costa,
publicado pela editora Agir, Rio de Janeiro, 2008.
• Conto “Além do grande mar”
Autora: Márcia Kupstas (autora brasileira, nascida em São Paulo
(SP), em 1957).
10
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Sete faces da aventura, publicado pela editora Moderna, São Paulo, 1996.
• Conto “O Velho Sumares”
Autor: Vergílio Várzea (autor brasileiro, nascido em Florianópolis,
Santa Catarina, em 1863).
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Os melhores contos de aventura, organizado por Flávio Moreira da Costa,
publicado pela editora Agir, Rio de Janeiro, 2008. Os contos falam sobre aventuras
realizadas em alto mar por capitães de embarcações e suas tripulações..
2.5. Proposta de Análise Segundo o Interacionismo Sócio-Discurssivo
O Após a seleção dos contos será feito um estudo dos textos
segundo Bronckart (2003, p. 118; 119) que apresenta um conjunto de regularidades
ensináveis no gênero conto de aventura. De acordo com a proposta do ISD, serão
abrangidos os seguintes aspectos:
a) Contexto de produção : contexto físico e sócio-subjetivo de produção:
o lugar e o momento de produção, o emissor, o interlocutor, o lugar social
11
de interação, o lugar histórico da interação, a posição social do emissor, a
posição social do interlocutor, o objetivo e o conteúdo temático do texto.
b) Plano discursivo : plano textual global, tipo de discurso predominante e
a seqüência discursiva (tipologia) predominante.
c) Plano linguístico-discursivo : pronomes, dêiticos, modalizadores,
elementos coesivos, características dos períodos e frases, dos parágrafos,
do léxico (advérbios, adjetivo, substantivo, verbos, etc.).
2.6. Metodologia
A metodologia de ensino será desenvolvida de acordo com o
diagnóstico feito na produção dos alunos com realização de oficinas para sanar as
possíveis dificuldades através da seguinte sequência didática:
• Apresentação do projeto aos alunos;
• Leitura dos contos selecionados;
• Produção inicial de um conto de aventura;
12
• Realização de oficinas desenvolvendo atividades que abranjam a
oralidade, a leitura, escrita e análise lingüística, dentro de uma
proposta de avaliação formativa;
• Produção final de um conto de aventura;
• Avaliação.
13
3. APRESENTAÇÃO DE UM MODELO DIDÁTICO
Para desenvolver essa unidade didática, seguiremos a elaboração
de um modelo didático proposto por Hila e Nascimento, contendo os três níveis de
análise textual (BRONCKART,2003), os quais correspondem às capacidades
lingüísticas, neste quadro adaptado por Lousada (2006):
NÍVEIS DE ANÁLISE ASPECTOS A SEREM ANALISADOS
(inicialmente pelo professor e em seguida
transformados em exercícios para os alunos)
O contexto de produção/
capacidade de ação
- Trata-se de que gênero textual?
- Onde podemos encontrá-lo?
- Quem o escreveu/ falou? O emissor e seu papel
social.
- A quem? O interlocutor e seu papel social.
- Quando? O momento psíquico e subjetivo.
- Onde? Lugar psíquico institucional.
- Para quê? Objetivo de interação.
14
3.1. O Modelo Didático da Narrativa de Aventuras de Viagens
Na medida em que objetivamos investigar os efeitos das práticas de
linguagem sobre o desenvolvimento humano, o interacionismo sociodiscursivo
(BRONCKART, 1999/2003; SCHNEUWLY & DOLZ, 2004) adota uma concepção de
organização dessas práticas materializadas em textos, ou seja, elabora “modelos”
de análise.
Segundo Nascimento (2009), o modelo de análise de textos
proposto pelo ISD (interacionismo sociodiscursivo) apresenta, de um lado, um
modelo das condições de produção do texto (dois planos: mundo físico e mundo
sócio-subjetivo) e, do outro, um modelo da sua arquitetura interna.
Nessa perspectiva, a arquitetura interna dos textos dos diferentes
gêneros textuais está dividida em três níveis:
a) Infra-estrutura textual, que compreende o plano geral do texto, os
tipos de discurso, tipos de seqüências;
15
b) Os mecanismos de textualização (conexão, coesão nominal e
coesão verbal), que conferem coerência temática ao texto;
c) Os mecanismos enunciativos (distribuição das vozes e
explicitação das modalizações), responsáveis pela coerência interativa.
Metodologia de análise interacionista sociodiscursiva aliada ao
dispositivo seqüência didática na forma como é concebida pela vertente “mais
didática” do ISD, assume especial importância para a metodologia do ensino e da
aprendizagem de Língua Portuguesa, uma vez que oferece princípios que
possibilitam estabelecer referências para orientar os professores na construção dos
objetos de ensino, visando o desenvolvimento de capacidades que permitem, aos
nossos alunos, agir com eficácia e de forma consciente na interação com os outros,
com o conhecimento e com o contexto em que se inserem.
Portanto, para desenvolver o processo, utilizarei as ferramentas
mediadoras das práticas pedagógicas com gêneros textuais (modelo didático do
gênero seguido pela elaboração de uma sequência didática). O modelo didático vai
apontar as regularidades do gênero que serão objeto de ensino nas diferentes
etapas do projeto didático.
16
Com essa finalidade, apresentamos a seguir os resultados das
análises que vão constituir o modelo didático do gênero “narrativa de aventuras”,
posteriormente dando especial enfoque à narrativa de aventuras de viagens pelo
mar.
3.2. O Que Dizem os Experts Sobre o Gênero
Segundo Todorov (1980), os contos maravilhosos originam-se de
narrativas orientais. Diferente dos contos de fadas (de origem celta e problemática
existencial), sua problemática é social: o herói ou anti-herói encontrará sua auto-
realização na conquista de bens e de poder material como em "Ali Babá e os
Quarenta Ladrões". A aventura de busca, nesse caso, parte, geralmente, da
necessidade de sobrevivência física ou da miséria dos protagonistas.
Ainda de acordo com Todorov (1980), embora narrativas
maravilhosas, o conto de fadas e o conto maravilhoso ou de aventura expressam
atitudes bem diferentes diante da vida: no primeiro, ligadas ao ideal, aos valores
eternos, ao espírito; no segundo, ligadas ao sensorial, ao concreto, à vida prática.
Segundo COELHO (1987), o conto maravilhoso pode ter ou não a presença de
fadas, mas obrigatoriamente deve ter elementos feéricos. Outra distinção muito
significativa é o núcleo problemático, que no conto de fadas caracteriza-se pela
17
busca do herói pela realização pessoal marcada pelo teor existencialista. Nessa
busca, o herói enfrenta adversidades e contratempos, e recebe, na maioria das
vezes, o auxílio de uma fada para alcançar seu ideal, o amor. O termo fada vem do
latim fatum que significa destino, fado. Sendo assim, atuam como mediadoras
intervindo no destino do herói ou da heroína. Há fadas que podem dificultar a
trajetória do herói e são comumente conhecidas como bruxas. A dualidade entre o
bem e o mal é outro aspecto importante do conto de fadas. Nessa batalha, o bem
sempre vence o mal, o que indica o conteúdo moralizante dos contos.
Por sua vez, os contos maravilhosos apresentam a problemática da
tentativa de ascensão social, realização exterior, ainda segundo COELHO (1987).
Nesses contos, o protagonista ou o antagonista partindo da pobreza tenta ascender
socialmente e na busca por riquezas acontecem as aventuras e desventuras. É
importante salientar que as fadas não integram o universo maravilhoso desses
contos, outros elementos mágicos estão presentes (duendes, animais e objetos
falantes, entre outros).
Para Cordeiro, Azevedo e Mattos (2000), a narrativa de aventura de
viagem aparece como romance de viagens durante o século XVII a fim de abrir
novas perspectivas para a ação do homem no mundo. As narrativas de aventuras
destacam as habilidades humanas de realização (coragem, generosidade, etc.),
desvelando uma ética de ação. O motivo que orienta as aventuras está
18
fundamentado, na maior parte das vezes, em valores ideológicos típicos da época
em questão.
O início da narrativa apresenta o alvo que move o protagonista, o
qual poderá ou não efetivar-se, e também os vários problemas (tempestades,
avarias nas embarcações, longas viagens, piratas, doenças) que este deverá
enfrentar.
Segundo Dolz e Schneuwly (2004), "a narrativa de aventura é um
gênero narrativo que apresenta acontecimentos imprevistos, comportando riscos,
assumidos por um ou vários heróis". Tomando, uma vez mais, Bronckart (1997)
como base, poder-se-ia dizer que uma narrativa de aventuras de viagens é um
gênero pertencente à ordem do narrar, cujo tipo de discurso mais comum é a
narração.
O tema é riquíssimo. No século XIX, quando muitas descobertas já
estavam consolidadas e os ocidentais chegavam com facilidade aos quatro cantos
do mundo, a literatura apresentou grandes obras que mostravam aventureiros
viajando e conquistando as águas. Podemos citar Herman Melville, com sua obra
Moby Dick, sobre um capitão de navio baleeiro que faz uma particular perseguição à
baleia branca. O escritor americano Jack London criou, em O lobo do mar, a sua
versão de um obcecado capitão de navio. Também vivendo um “inferno particular”
19
está Lord Jim, personagem de Joseph Conrad no livro homônimo, um capitão que
abandona o navio e é eternamente atormentado por sua covardia.
Segundo Dolz (1999: 21), a narrativa de aventura é um gênero
narrativo que apresenta acontecimentos imprevistos, comportando riscos,
assumidos por um ou vários heróis.
3.3. As Regularidades do Gênero Conto de Aventura D e Viagem Pelo Mar,
Segundo a Proposta de Análise de Textos Do Interaci onismo Sócio-Discursivo
3.3.1. Contexto de Produção
Para a realização desse trabalho, foram selecionados cinco textos,
sendo feito um modelo didático para os três primeiros e os dois últimos indicados
para a leitura em sala de aula. Os textos são: “Pegue o Oeste” de Jack London,
“Além do grande mar” de Márcia Kupstas, “O velho Sumares” de Vergílio Várzea,
“Juventude” de Joseph Conrad, e “A Ilha do Tesouro” de Robert Louis Stevenson.
20
Durante a leitura dos experts, foi possível constatar que esse gênero
aparece como romance de viagens durante o século XVII, a fim de abrir novos
horizontes para a ação do homem no mundo. As narrativas de aventuras destacam
as habilidades humanas de realização (astúcia, audácia, coragem, generosidade,
etc.), desvelando uma ética de ação. O motivo que orienta as aventuras está
fundamentado, na maior parte das vezes, em valores ideológicos típicos da época
em questão.
Destinadas originalmente aos adultos, as narrativas de aventuras de
viagens de autores renomados têm se tornado cada vez mais acessíveis ao público
jovem, graças a numerosas adaptações disponíveis no mercado.
• Conto “Pegue o Oeste” (“Make Westing”):
Autor: Jack London (autor americano, nascido em São Francisco,
Califórnia, em 1876).
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Os melhores contos de aventura, organizado por Flávio Moreira da Costa,
publicado pela editora Agir, Rio de Janeiro, 2008.
Tradução de Roberto Muggiati.
Tema: uma narrativa de travessia pelo alto mar, com altas doses,
bem combinadas, de emoção, aventura e drama.
21
• Conto “Além do grande mar”
Autora: Márcia Kupstas (autora brasileira, nascida em São Paulo (SP), em 1957).
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Sete faces da aventura, publicado pela editora Moderna, São Paulo, 1996.
Tema: uma grande aventura que conta a coragem do povo viking
ao desafiar os perigos reais e imaginários do mar.
• Conto “O Velho Sumares”
Autor: Vergílio Várzea (autor brasileiro, nascido em Florianópolis, Santa Catarina,
em 1863).
Suporte de circulação: o conto faz parte da coletânea de contos no
livro Os melhores contos de aventura, organizado por Flávio Moreira da Costa,
publicado pela editora Agir, Rio de Janeiro, 2008.
Tema: a história de um capitão de um navio que transportava
negros, que com toda sua astúcia e habilidade consegue safar-se da fiscalização da
polícia inglesa.
A narrativa começa apresentando a finalidade da viagem que o
protagonista poderá ou não concretizar e também os vários contratempos
(tempestades, longas viagens, piratas, avarias na embarcação, doenças) que este
deverá enfrentar. Os textos se apresentam com um título que geralmente dá pistas
ao leitor do tipo de aventura que contém. Após o nome do autor, aparece a sua
biografia. O texto apresenta um número de páginas que vai de uma a quatro.
Portanto, é uma narrativa curta.
22
3.3.2. Arquitetura Interna
a) Infra-estrutura textual:
• Plano textual global: planejamento textual
O conto é composto por título, corpo (parágrafos, discurso direto e
indireto), com autor e tradutor. Escrito em prosa.
• Tipo de discurso predominante
É um discurso da ordem do Narrar que envolve a focalização e as
vozes do narrador e de personagens. Quando nos colocamos na ordem do Narrar, o
mundo discursivo é situado em “outro lugar” (Bronckart, 2003), mas esse outro lugar
deve permanecer, segundo Hambúrguer (1986), como um mundo parecido, ou seja,
um mundo que deve ser avaliado ou interpretado pelos leitores do texto. Podem
apresentar diferentes graus de desvios do mundo ordinário. Determina-se assim o
narrar realista, quando os desvios para os mundos construídos forem fracos e o
narrar ficcional quando os desvios forem potencialmente importantes (Bronckart,
2003).
Segundo Fiorin, para organizar um texto, o escritor utiliza um
narrador que é uma entidade que pode estar implícita ou explícita nele. É ele que
23
conta a história. Pode participar dos acontecimentos relatados como personagem
principal ou personagem secundário (narração em 1ª pessoa) ou não tomar parte
dos eventos narrados (narração em 3ª pessoa). Neste caso, pode ser intruso,
quando toma a palavra para comentar os fatos ou a composição da história, ou
neutro, quando está totalmente ausente do texto, deixando que os fatos se narrem
como que por si mesmos.
O narrador tem diversas funções. A primeira é de relatar a história.
Uma outra é a função de direção, ou seja, a de marcar as articulações, as
conexões, as inter-relações da história, a de organizar o texto. Outra função do
narrador é a de atestar a veracidade dos fatos relatados, o grau de precisão de suas
lembranças ou sentimentos que nele despertam um episódio.
Uma outra função do narrador é a ideológica, aquela em que o
narrador comenta a ação, avalia-a do ponto de vista de uma visão de mundo.
• Foco narrativo
Quanto ao ponto de vista narrativo (ou foco narrativo), o narrador
relata a partir de um ponto de vista, focaliza o que está sendo narrado de uma dada
maneira. O ponto de vista é, pois, a maneira como são vistos os acontecimentos
que estão sendo contados, a compreensão que se tem deles e o que se sabe ou se
24
conhece dos fatos num determinado momento. Temos três formas básicas de
focalização.
� Focalização parcial interna - Os fatos são compreendidos a
partir do ponto de vista de uma personagem. Nesse caso, o narrador
sabe mais que a personagem, mas conta apenas aquilo que a
personagem conhece.
� Focalização parcial externa – Nesse caso, vemos apenas as
ações das personagens, mas não sabemos quais são seus
pensamentos e sentimentos. Focaliza-se a exterioridade da cena e
não se vê a partir do íntimo de uma personagem, o que produz um
efeito de sentido de neutralidade e de objetividade.
� Focalização total – Nesse caso, não se vêem os acontecimentos
nem a partir do exterior nem a partir do íntimo de uma personagem.
Quem vê a cena narrada é onisciente (sabe tudo), sabe mais que as
personagens, conhece os sentimentos e os pensamentos de cada
uma delas.
25
Levando em consideração a exposição acima e a análise dos três
contos mencionados (“Pegue o oeste”, “Além do grande mar”, e “O velho Sumares”),
o narrador está em 3ª pessoa com a função de relatar os sentimentos e os
pensamentos de cada uma das personagens.
• Tipos de sequência
Numa narração, o conteúdo temático é desenvolvido em seqüências
ou segmentos narrativos, descritivos e dialogais. As seqüências narrativas são
fundamentais para o desenrolar da trama e, consequentemente, mais freqüentes.
As duas outras interligam-se às primeiras e dependem delas.
� Sequência narrativa: Em geral, uma seqüência narrativa (Adam,
1992, em Bronckart, 1997) organiza-se em cinco fases obrigatórias:
� “situação inicial" , em que são apresentados os elementos de base
que preparam o desenrolar da trama;
� “fase de complicação" , em que é criada uma tensão devido à
introdução de um elemento pertubador;
� “fase de ações ", que agrupa os acontecimentos ocorridos na fase
anterior;
26
� “fase de resolução" , em que os novos acontecimentos possibilitam
a resolução parcial ou total dos conflitos anteriores;
� “situação final" , que introduz um novo estado de equilíbrio.
Numa narrativa de aventuras de viagens, essas cinco fases podem
organizar-se de maneira mais complexa: a fase de ações pode levar a outras fases
de complicação e de ações e, também, a situações finais transitórias.
A sequência narrativa nesse gênero textual apresenta as fases:
situação inicial na qual define o tempo e o lugar em que se passa a história e o
protagonista apresenta o objetivo da aventura. Complicações decorrentes da
situação inicial – as dificuldades enfrentadas são decorrentes do objetivo inicial.
Fase de ações – o protagonista é auxiliado na aventura. Resolução ligada à
situação inicial – os conflitos são resolvidos a partir do uso de habilidades
humanas, o protagonista alcança seu objetivo. Na situação final (desfecho) há um
novo estado de equilíbrio.
� Sequência descritiva: Uma seqüência descritiva (idem), muito
comum no gênero em questão, é definida por três fases não obrigatórias,
porém hierárquicas:
27
� "fase de ancoragem" , em que o tema da descrição é
estabelecido;
� "fase da aspectualização" , em que alguns aspectos do tema
são enumerados;
� "fase de relações" , em que os elementos descritos são
comparados a outros ou mantêm entre si uma relação metafórica.
Nesse gênero de conto a sequência narrativa se apresenta
dialogando com a sequência descritiva, como no texto “Pegue o Oeste”, o
enunciado que começa por um subtítulo “Faça o que fizer, pegue o Oeste! Pegue o
Oeste!” Instruções de navegação para chegar ao cabo Horn.
[...] Durante sete semanas havia se debatido contra os vagalhões do
cabo Horn e fora golpeado e rompido por eles [...] Mary Rogers estava tenso, a
tripulação estava tensa e o grandalhão Dan Cullen, comandante do navio estava
igualmente tenso. Talvez estivesse mais tenso que a maioria porque sobre ele
repousava a responsabilidade daquele combate titânico. [...] Ele abraçou o Horn e
uma dezena de vezes virou o navio contra o vento apontando para o cabo de ferro
na direção leste-pelo-norte ou norte-norte-leste, alguns quilômetros adiante. [...] Há
nesse segmento uma sequência de frases que fornecem a propósito do tema – título
( Pegue o Oeste) informações organizadas que constituem formas de planificação
convencionais, por meio das quais os acontecimentos são organizados e
28
sustentados por uma operação de caráter dialógico (respectivamente, criar uma
tensão e fazer ver, guiando o olhar do destinatário).
� Sequência dialogal: As seqüências dialogais, por sua vez, podem
constituir-se de três fases maiores:
� "fase de abertura" , em que os interlocutores iniciam o diálogo;
� "fase de transição" , em que o conteúdo temático é desenvolvido;
� "fase de encerramento" , em que os interlocutores encerram o
diálogo.
Nos textos em análise observou-se a presença de sequências
dialogais. A pontuação para marcar a mudança de interlocutores nas sequências
dialogais são os travessões.
Também é frequente o uso abundante de exclamação, de
interrogação e de reticências nos diálogos das personagens:
– Não estou vendo o barco de Swain – falou um menino sardento.
- Deve vir mais atrás – murmurou Bjarni. Texto “Além do grande
mar”.
[...] E, subitamente, vinte pulmões vigorosos estrugiram numa
explosão de pragas:
29
- Má raios os partam!...Covardes!...Má raios os partam...
Fora o mastro grande que rebentara, caindo de través sobre o
trincanis, destruindo a borda falsa.
-Felizmente ninguém apanhado! – gritou o contra-mestre, que vinha
para a popa, branco como cal. E o velho Sumares, junto ao leme, berrava,
apoplético, a bracejar:
- Salta à ré! Salta à ré! Com um milhão de diabos! Safa! Safa!...
As sequências narrativas e outras formas de planificação constituem
o produto de uma reestruturação de um conteúdo temático (Bronckart, 2003), já
organizado na memória do agente-produtor na forma de macroestrutura. E, depende
das representações que esse agente tem das propriedades dos destinatários de seu
texto, bem como o efeito que neles deseja produzir. Na medida em que se baseiam
nessas decisões interativas, as sequências têm um estatuto dialógico. São
estruturadas em turnos de fala, no caso do discurso interativo primário, assumidos
pelos agentes-produtores envolvidos em uma interação verbal, Adam (1992, pp.145-
68) recorre a Roulet e seus colaboradores (1985) propondo um protótipo de
sequência dialogal organizado em três níveis encaixados.
• Personagem/tempo/espaço
O herói, o protagonista, é um ponto móvel no espaço, não
apresentando traços particulares. "Os heróis de uma aventura", afirmam os autores,
são personagens audaciosas, temerárias, que vivem uma série de peripécias ou
resolvem um caso perigoso num lugar desconhecido que elas deverão explorar.
30
As personagens não são o centro de atenção do escritor, cujo
objetivo principal é colocar em evidência a diversidade estática do mundo (países,
etnias, grupos sociais, hábitos). As situações de contraste (sucesso/insucesso,
felicidade/infelicidade) são também bastante freqüentes (Bakhtin, 1979/1997) neste
gênero. A situação de antagonismo fica clara no conto “Pegue o Oeste”, expressa
através da visão de mundo dos personagens. O capitão Dan Cullen, materialista,
obstinado a atingir seu objetivo, deixa um náufrago de sua tripulação morrer no mar
para aproveitar uma situação de vento favorável para o movimento da embarcação.
O imediato demonstra vontade de salvar o companheiro, mas se sente intimidado
pela presença do capitão, que além do porte robusto, era um brutamontes
dominador na embarcação. George Dorety era o único passageiro a bordo, um
amigo da firma e escolhera fazer a viagem por causa de sua saúde. Representa a
ameaça para o capitão ao dizer que iria denunciá-lo por não ter salvado seu
marinheiro, e acaba sendo eliminado por ele.
O mar sempre fascinou o homem por sua grandeza e variedade,
pelo desafio constante que é o arrojar-se em suas águas e viajar, conquistar novas
terras. A tradição grega e a hebraica têm inúmeros relatos do mar. A Odisséia
mostra viagens marítimas muito importantes, e a Bíblia conta com várias histórias,
desde Noé e sua arca ao profeta Jonas engolido pela baleia, ou o próprio Moisés,
que abriu as águas do Mar Vermelho para a passagem do povo hebreu.
31
b) Os mecanismos de textualização
• Conexão
Os mecanismos de conexão (Bronckart, 2003) explicitam as
relações existentes entre os diferentes níveis de organização de um texto.
� Organizadores temporais: A narrativa desse gênero de conto se
caracteriza por expressões temporais, tais como “um segundo
depois”, “no mesmo dia”, “alguns minutos mais tarde”, “agora”, “de
repente”, “quinze minutos depois”, “há muitas horas”, “ao
amanhecer”, “uma noite”, “meses depois”, “começo de outono”, etc.,
presentes na narração de lutas ou de batalhas, e de expressões
como “durante o dia”, “à noite”, etc., utilizadas para situar uma ação.
� Organizadores espaciais presentes nesse gênero de texto
espaciais (no penhasco, na enseada, além da costa, no fundo, alto
mar, além do mar, no horizonte, à beira mar, no tombadilho, a
milhas, no sul do atlântico, no sul do pacífico, terras distantes,...) são
utilizados para situar a localização das personagens e das
embarcações.
• Coesão nominal
Os textos desse gênero apresentam mecanismos de coesão
referencial anafórica por retomadas ou sua substituição (Bronckart, 2003) no
desenvolvimento do texto por pronomes pessoais e possessivos, e alguns
32
sintagmas nominais pelos quais inserem-se os temas – “[...] o pequeno Bjarni
olhava o mar. O menino sabia que ficar no penhasco olhando em nada ajudava. [...]
O capitão Cullen sequer fez uma carranca. Na sua voz havia pesar ao dizer: [...]
Acendeu um charuto e olhou à sua frente. Durante duas semanas, o capitão ficou
sem a visão de um meridiano ou cronômetro”.
• Coesão verbal
Os tempos verbais predominantes são os pretéritos perfeitos e
imperfeitos, porém com várias ocorrências do mais que perfeito que inicia a
narrativa no texto “Pegue o Oeste” - Durante sete semanas o Mary Hogers estivera
entre a latitude de 50º sul no Atlântico e a latitude de 50º sul no Pacífico, o que
significava que, durante sete semanas, ele lutara para contornar o cabo Horn. E,
aparece também no texto “O velho Sumares” – O Galgo (nome da embarcação)
tomada a última barcada de negros, fizera -se de vela. O texto “Além do grande mar”
inicia-se com o pretérito perfeito – Há muitas horas o pequeno Bjarni olhava o mar.
Há ainda ocorrências no futuro do pretérito, no pretérito imperfeito do subjuntivo, e
no modo imperativo para exprimir as ordens de comando – pegue o oeste, [...]
sopra ! E também no infinitivo – Segurar ! Segurar forte!.
Os verbos estão no pretérito imperfeito, perfeito e mais que perfeito para marcar
anterioridade, ou futuro do pretérito para marcar posterioridade. O presente para
falar do mundo ordinário ( aparecem no diálogo das personagens).
33
c) Os mecanismos enunciativos
Os mecanismos enunciativos são responsáveis pela coerência
pragmática do texto (Bronckart, 2003), explicitando juízos de valores, opiniões,
pensamento, sentimento, determinando outro aspecto do conteúdo temático, as
fontes dessas avaliações e as instâncias que as assumem ou se responsabilizam
por elas: voz do autor empírico (Bakhtin, 1997), formada por várias vozes,
externalizadas pelo narrador. Vozes sociais (pessoas ou instituições humanas)
presentes, e também a voz das personagens , as quais compõem a narrativa de
maneira explícita ou implícita.
• Vozes
A voz do autor empírico no texto “Além do grande mar” – O Mar do
Norte parecia rebelde e pouco hospitaleiro, presságios de más notícias... vozes
sociais – Os viking, desconheciam a piedade. Sabiam que os sacrifícios ajudavam
os deuses a serem mais generosos para com eles. E, as vozes das personagens
representadas pela tripulação e através do discurso direto: Quem foi? – o capitão
Cullen perguntou.
- Mops, senhor – respondeu ansiosamente o marinheiro à roda do
leme.
- Má raios os partam!...
34
• Variedade lingüística
Neste gênero predomina a norma padrão formal e às vezes nos
diálogos das personagens, a informal: - Eu mesmo prendi bem a vela –
choramingou o imediato [...] – Prendeu bem? – o capitão rosnou [...] vocabulários
referentes a termos marítimos (navio, barco, tombadilhos, mastro, mastaréu, popa,
bordejava, maresia, convés, leme, velas, barômetro, tripulação, marinheiro, capitão,
naufrágio, vagalhão, calmaria, escotilhão etc.). Ainda as expressões: a bordo, à
costa, de bombordo à proa.
• Escolha lexical
Escolha lexical: adjetivação abundante para descrever as embarcações e as
personagens, substantivos próprios, substantivos concretos. O navio era novo , de
um modelo lindo , uma construção rara . Era colossal o vaso britânico, pelo seu
comprimento, um enorme pontal, a alterosa mastreação, [...] olhando o
monstruoso navio [...], a vela listrada de negro e vermelho . E também para
caracterizar o cenário: [...] Uma escuridão cinzenta amortalhava o mundo. As
nuvens eram cinzentas ; os grandes mares revoltos eram cor de chumbo; até os
ocasionais albatrozes eram acinzentados , enquanto as não eram brancas , mas
cinzentas sob o manto tenebroso dos céus. Mas claridades róseas começaram a
alastrar o céu – e o sol rompeu, num pasmoso esplendor tropical [...] e
personagens: Assombrava o convés à noite, um fantasma grande , troncudo e
robusto , moreno com a pele curtida por trinta anos de mar, e peludo como um
35
orangotango. Ele por sua vez era assombrado por uma instrução de navegação
para alcançar o cabo Horn.
Uso de substantivos próprios para identificar as embarcações: Mary
Hogers, o Galgo, o Contest; as personagens: Manuel Sumares, João Catarina, Dan
Cullen, George Dorety, Joshua Higgins, Bjarni, Swain, Olaf e alguns elementos do
cenário: Mar do Norte, Pacífico, Atlântico, Islândia, Groelândia, Normandia, cabo
Horn, etc, além da grande quantidade de substantivos concretos.
• Modalizadores
Há também a presença de advérbios modalizadores – Joshua
Higgins teria de lavar seu rosto muito rapidamente. O imediato lamuriou-se
desarticuladamente. Daí a dias, numa esplêndida manhã de sol vivo e mar calmo,
o navio, só com um mastro, entrava vitoriosamente o arvoredo. Todo aquele dia
seguiu-o, ameaçadoramente , como na última semana, a terrível proa, que só
desapareceu ao cerrar da noite, mas cujos faróis acesos brilhavam, através da
treva, espreitando-o sinistramente , como os olhos de um felino fantástico.
36
4. SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO GÊNERO CONTO DE AVENTURA
Após a produção do modelo didático é hora de pensarmos na
maneira de realizar as atividades orientadas pelo modelo mencionado. Temos as
sequências didáticas (SDs) como ferramentas (NASCIMENTO,2008) para trabalhar
com os gêneros textuais, as quais concretizarão-se por meio de um projeto de
ensino.
As Sequências Didáticas são definidas como “um conjunto de
atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero
textual” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 97). A finalidade de uma SD é
a apropriação e a reconstrução (pelos alunos) de uma prática de linguagem sócio-
historicamente construída, cuja reconstrução se dará através de uma prática de
linguagem, materializada nos gêneros textuais.
As atividades dentro das SDs serão gradativamente desenvolvidas e
bem articuladas, para permitir aos alunos uma apropriação progressiva das
características discursivas e linguísticas do gênero conto de aventuras de viagens,
dentro de um projeto de classe.
37
Inicialmente, para montar uma sequência didática é necessária a
escolha de um gênero , respeitando-se o contexto da escola onde se dará a
regência, o entorno específico dos alunos da sala na qual você desenvolverá o
projeto de ensino, assim como o conhecimento internalizado dos alunos sobre o
gênero.
Em seguida, elaborar as atividades com respaldo nas orientações
do modelo didático do gênero conto de aventura, seguindo as etapas da sequência
didática, conforme esquema abaixo, segundo Bronckart (...., p.):
Elaboração da Sequência Didática do Gênero Conto de Aventura de
viagem pelo Mar.:
38
4.1. Apresentação da Situação
Duração de uma aula.
1º Passo : Apresentação do Projeto e Produção
4.1.1. Objetivos
Oralidade e leitura:
• Envolver os alunos em torno de uma proposta de comunicação
coletiva oralidade, leitura e produção de contos de aventuras;
• Conceitualizar conto de aventura a partir de pesquisa (em livros,
Internet, dicionários, etc.);
• Motivar o aluno à leitura destacando partes de expectativas no
conto;
• Contatar o gênero conto de aventura através da leitura do conto
“Além do grande mar”;
• Realizar roda de leitura para que exponham seus pontos de
vista sobre o que leram;
39
• Apresentar informações sobre o tema, a linguagem, o autor e o
contexto sócio-histórico do gênero.
4.1.2.Metodologia
1) Nesta etapa, apresentarei a proposta do projeto aos alunos de
forma que eles respondam aos questionamentos: que tipo de contos vocês já
ouviram ou leram? O que entendem por aventura? É possível escrever um conto
com aventuras? O que é o gênero conto de aventura, a quem se dirige a produção,
qual o suporte material da produção, quem são os participantes, etc.
2) Explicarei a partir das respostas que essa será a nossa meta.
3) Informarei ao aluno o conteúdo com que vai trabalhar e a
importância do mesmo.
4) Realizarei a leitura do conto “Além do grande mar” de Márcia
Kupstas para sensibilizar o aluno com relação ao gênero estudado e para aquisição
de familiaridade com a prática social que ele materializa, convidando 4 alunos para
participar da leitura. Um será o narrador, os demais serão as personagens Bjarni,
Olaf e Leif. A professora será a 5ª leitora e representará as vozes sociais.
5) Farei uso da oralidade para os alunos contarem as histórias que
já conhecem.
6) Roda de apresentação de leitura, manifestação dos pontos de
vista dos alunos sobre o que leram.
7) Observação do tema, da perspectiva do autor, da linguagem do
texto, do suporte e do meio para circulação, etc.
8) Formularei questões para aproximar os alunos do gênero, tais
como: Conhecem histórias nas quais os protagonistas tiveram que vencer
obstáculos para atingir seus objetivos? Quais histórias? Que tipos de obstáculos?
Informarei a eles que os contos selecionados são de aventura porque têm a
presença dos obstáculos a serem vencidos. Questione se já assistiram filmes,
desenhos animados ou séries sobre aventura.
40
4.2. Primeira Produção
2º Passo : A Produção Inicial
Duração de duas aula.
Atividade: Produção Inicial
Os alunos deverão produzir em duplas um texto de narração
ficcional que fará parte de uma coletânea, a qual será acervada na biblioteca. A
princípio não será necessária muita explicação, pois o objetivo é diagnosticar suas
habilidades sobre o gênero para ajudá-los a avançar.
4.2.1. Objetivos
• Reconhecer o gênero conto.
• Identificar suas caracterísiticas.
• Observar as capacidades dos alunos a respeito da sequência e
da forma escrita.
• Produzir um texto a partir das informações iniciais (oralidade e
leitura) realizadas na apresentação da situação.
41
• Identificar as dificuldades a partir da produção inicial que
precisam ser sanadas.
4.2.2. Metodologia
1) A produção inicial, a princípio, será simplificada, somente
dirigida à turma ou a um destinatário fictício, com o objetivo de realizar um
diagnóstico com a sala das capacidades que já dominam em relação ao gênero
conto de aventura (características contextuais e de organização interna).
2) Na avaliação formativa: a) Definirei os pontos em que precisarei
intervir melhor. b) Permitirá que eu adapte as oficinas de maneira mais precisa às
capacidades reais dos alunos. c) Determinará o percurso que o aluno tem ainda a
percorrer para ampliar o seu repertório de capacidades em relação ao gênero conto
de aventura, relacionadas à: função social do gênero, o estilo do gênero, o tema, a
forma textual, tipo de discurso predominante, coesão, seleção lexical, pontuação,
etc.
Atividade
• Momento da Produção :
1) Pedirei aos alunos que formem duplas, trocando idéias e
recriando o conto “Além do grande mar” de Márcia Kupstas;
2) Leiam e sigam os comandos abaixo;
3) Retomem o texto e observem as características dos elementos
da narrativa e os recriem com novas características.
42
4) Poderão começar pela escolha das personagens;
• Quem será a personagem principal (protagonista)?
• Quem será seu antagonista?
• Ela terá um companheiro ou uma companheira?
• Quais são as características dessa personagem?
• E de seu antagonista?
5) Mantenha o início da narrativa;
6) Recrie um novo conflito;
7) Continue com o mesmo desfecho.
8) Professor(a), comentar com os alunos que o conto apresenta dois
tipos de narrador:
Narrador Protagonista: aquele que funciona como personagem
central, não tendo acesso ao estado mental das demais personagens. Narra em
primeira pessoa, de um centro fixo, limitados às suas percepções, pensamentos e
sentimentos.
Narrador Onisciente Intruso : aquele que tem a liberdade de narrar
à vontade, podendo narrar da periferia dos acontecimentos, ou do centro deles, ou
ainda limitar-se a narrar como se estivesse de fora, ou de frente, podendo, ainda,
mudar e adotar várias posições. Seu traço característico é a intrusão, ou seja, seus
comentários sobre a vida, ou costumes, a moral, etc que podem ou não estar
entrosados com a história narrada. Esse narrador nos fala em terceira pessoa.
9) Quem vai contar a história? Agora é só produzir!
43
4.3. 1ª Oficina: Contexto de Produção
Duração de quatro aula.
4.3.1. Objetivos
• Discutir os elementos principais do contexto de produção.
• Ler os textos “Além do grande mar” e “O Velho Sumares” com
os alunos;
• Identificar a esfera de comunicação e o agrupamento aos quais
o gênero pertence;
• Reconhecer o contexto físico (suporte de circulação, emissor,
receptor, tempo e espaço da produção) e sócio-subjetivo da produção (papel social
do emissor e do receptor e a intenção do produtor);
• Identificar o conteúdo temático.
• Ampliar a capacidade oral e escrita de narração para que no
processo final, os alunos produzam um conto de aventura com as marcas do
gênero.
44
4.3.2. Metodologia
Montarei um ambiente com cartazes (produzidos anteriormente)
com imagens relevantes ao tema. Mudarei a disposição das carteiras na sala
(formando círculo). Distribuirei uma cópia do conto para cada aluno. Faremos uma
leitura em voz alta, iniciando pelo professor e em seguida por alunos estipulados
para lerem.
Após a leitura, apresentarei aos alunos o suporte físico (o livro)
utilizado para veicular o gênero conto. Falarei sobre a esfera a que pertence e sobre
o contexto de produção (quem escreveu; por que escreveu; para quem escreveu;
com que intenção). Comentarei sobre sua relevância no contexto social (quem lê;
por que lê; etc.).
Em seguida exibirei, na TV Pen Drive, uma reportagem transmitida
pela Rede Globo no programa Fantástico no dia 03 de julho de 2011, sobre os
pescadores que ficaram dias perdidos no mar, no Bra sil, por causa de
tempestades (para falar da proximidade do narrar realista, segundo Bronckart -
2003).
Solicitarei aos alunos anotações no caderno referentes aos
comentários realizados.
45
Atividades :
1) Leitura oral dos textos Além do grande mar , O velho Sumares,
e Pegue o Oeste.
2) Anotar nos cadernos as informações sobre os elementos do
contexto de produção.
3) Relacione o que há em comum entre os textos lidos e a
reportagem da TV Pen Drive.
4) Preencha a tabela a seguir, pois ela o auxiliará na compreensão
dos textos:
Gênero Conto
“Além do grande
mar”
Conto
“O velho
Sumares”
Conto
“Pegue o Oeste”
Foco narrativo
Personagem
protagonista
Presença do
discurso direto e
indireto
Seqüência
predominante
Espaço
Tempo
46
5) Atividade oral:
a) Que elementos caracterizam os contos como sendo de aventura?
b) Como Dan Cullen, o velho Sumares e Leif se livraram da situação
de complicação durante a viagem pelo mar?
c) Havia obediência às leis vigentes para os capitães?
4.4. 2ª Oficina: Infra-Estrutura Global dos Textos
Duração de quatro aula.
4.4.1. Objetivos
• Reconhecer a estrutura dos contos;
• Mencionar o tipo de discurso presente nos contos;
• Identificar os elementos que constituem a narrativa (foco
narrativo, personagens, tempo, espaço);
• Informar os tipos de sequências presentes no texto (narrativa,
descritiva e dialogal);
47
4.4.2. Metodologia
• Enumeração dos parágrafos no texto.
• Relacionar o texto a outros gêneros (poéticos, HQ, editoriais,
etc.).
• Reconhecimento das fases narrativas, descritivas e dialogais no
texto.
• Explicação sobre cada uma das fases.
• Realização das atividades propostas para assimilação dos
conteúdos.
Atividades:
1) Leia o trecho do texto abaixo, enumere os parágrafos e identifique
as sequências, preenchendo o quadro seguinte ao texto com o número
correspondente a cada sequência:
2) Professor(a), retome o modelo didático, observe as fases das
sequências na narrativa e suas respectivas características.
“O velho Sumares receava agora o alcance da artilharia que
montava o navio, mas guardava o sangue-frio habitual, observando o menor
movimento do inimigo. O piloto, no arco de gávea, procurava devassar o convés
inglês com o seu longo olhar. E a guarnição do Galgo, de cima do castelo, mirava, o
sobrolho carregado, a aproximação do brigue.
48
Era colossal o vaso britânico, pelo seu comprimento, um enorme
pontal, a alterosa mastreação, sendo que só as gáveas e os joanetes podiam dar
para todo pano do Galgo!
E alguns dos marinheiros, rudes velhos encanecidos no tráfico, que
tinham sido aprisionados de uma feita por um dos cruzeiros, lembravam-se ainda,
com terror, olhando o monstruoso navio, dos maus-tratos e da cruel desumanidade
da maruja inglesa. Os que ofereciam resistência nas abordagens ou davam combate
eram içados, depois, no lais das vergas, ou passados de mergulho por debaixo do
casco ou calabrotados...
_ Um inferno! – concluía o velho gajeiro Domingos, o mais idoso da
campanha -; só faltava matar-nos, trincar-nos os bofes... Excomungados! E ali
estavam a segui-los! Só se aquele barco, o Galgo, já estivesse com craca, senão os
havia de ensinar, aos patifes, deixassem estar! E demais com quem! Com o velho
Sumares... Ora, os diabos!...
Os outros, que o ouviam, exclamavam entusiasticamente:
_ Quais quê! Ao Galgo nenhuma bala o pegavam! Aquilo era um
corisco para andar! Dessem-lhe vento, que era o que ele queria! E que fossem
bugiar os cursários!
E fixavam o Contest, franzindo o beiço, com profundo desdém,
como marinheiros que conhecem o seu barco.
O João Catarina, que subira do rancho para render o homem do
leme, e que ouvira o fim da conversa, gritou-lhes também, voltando-se, com uma
das mãos à cinta, endireitando a faca:
49
_ O quê, rapazes? o “carroça”? Não dava pra nada... Pois se aquilo
era pior do que uma bóia!...”
(Texto O velho Sumares, de Vergílio Várzea)
SEQUÊNCIA
NARRATIVA
SEQUÊNCIA
DESCRITIVA
SEQUÊNCIA
DIALOGAL
PARÁGRAFOS
2) Como sabemos, os textos narrativos são produzidos por
sequências formando-se o enredo , ou seja, o corpo do texto. Esse enredo é dividido
em partes correspondentes a cada fase da narrativa. A partir dessa informação:
a) Enumere as partes do texto “Pegue o Oeste” organizando-as de
maneira que se tenha:
1º situação incial
2º complicações
3º ações para resolver as complicações
4º situação final
( ) Das trinta e seis perigosas viagens à costa, nenhuma lhe
custara como aquela. À saída do porto, pegara logo uma lestada que arrebatara um
mastareu, inutilizando-lhe um homem e fazendo-o rolar, durante oito dias, aos
50
trambolhões, à capa. Depois fora aquele “raio do diabo” do Contest perseguindo-o,
na última semana, com uma tenacidade formidável [...]
( ) Até a antevéspera, em que conseguira escapar, graças à
intensa escuridão da noite, na baía de Biafra.
( ) O Galgo tomada a última barcada de negros, fizera-se de vela.
Bordejava ao terral da madrugada, na pequena enseada de Ambriz [...]
( ) Os faróis apagados para escapar aos cruzeiros ingleses e
ganhar o mar alto, onde ninguém os vencia.
4.4.3. Tipo de Discurso
4.4.4. Objetivos
• Reconhecer a voz do narrador;
• Identificar o diálogo entre as personagens;
• Classificar o discurso em direto ou indireto.
51
4.4.5. Metodologia
• Professor(a), retome o trecho do texto acima junto com seus
alunos;
• Explique o uso do travessão no discurso direto, onde há a fala
da personagem;
• Oriente os alunos sobre o discurso indireto, quando o narrador é
observador;
• Peça que eles identifiquem os discursos direto e indireto
Atividade:
1) Leia os parágrafos abaixo e diga em qual ocorre o discurso direto
e o indireto.
“E alguns dos marinheiros, rudes velhos encanecidos no tráfico, que
tinham sido aprisionados de uma feita por um dos cruzeiros, lembravam-se ainda,
com terror, olhando o monstruoso navio, dos maus-tratos e da cruel desumanidade
da maruja inglesa. Os que ofereciam resistência nas abordagens ou davam combate
eram içados, depois, no lais das vergas, ou passados de mergulho por debaixo do
casco ou calabrotados...
52
_ Um inferno! – concluía o velho gajeiro Domingos, o mais idoso da
campanha -; só faltava matar-nos, trincar-nos os bofes... Excomungados! E ali
estavam a segui-los! Só se aquele barco, o Galgo, já estivesse com craca, senão os
havia de ensinar, aos patifes, deixassem estar! E demais com quem! Com o velho
Sumares... Ora, os diabos!...”
4.5. 3ª Oficina: Mecanismos de Textualização
Duração de duas aulas.
4.5.1. Objetivos
• Explicar as relações existentes entre os diferentes níveis de
organização de um texto;
• Identificar as conexões realizadas nos textos, bem como seus
respectivos organizadores;
• Reconhecer as retomadas nominais e pronominais;
53
• Identificar os tempos verbais predominantes em trechos de texto
da narrativa;
4.5.2. Metodologia
• Professor(a), explique os níveis de organização de um texto da
narrativa (para isso retome o modelo didático);
• Organize atividades que contenham retomadas nominais e
pronominais. Explique aos alunos como são feitas as substituições (por pronomes
ou sinônimos);
• Explique aos alunos sobre a predominância do pretérito perfeito
e imperfeito na narrativa;
• Proponha aos alunos a realização das atividades sobre tempos
verbais.
Atividades
1) Observe as expressões em negrito nas frases retiradas dos
contos e indique os organizadores a que se referem ( temporais ou espaciais):3
54
a) Uma segunda semana se passou e certa manhã George Dorety
estava de pé na escada da cabina junto à extremidade final do tombadilho d e
popa .
b) O capitão Cullen avançou ao longo da popa .
c) Quinze minutos depois estavam sentados à mesa na cabina
com a comida servida diante deles
d) No convés os homens estavam recolhendo as velas maiores.
e) Durante sete semanas o Mary Hogers estivera entre a latitude
de 50º sul no Atlântico e a latitude de 50º sul no Pacífico , o que significa que,
durante sete semanas , ele lutara para contornar o cabo Horn.
Os textos do gênero conto de aventura apresentam mecanismos de
coesão referencial anafórica por retomadas ou sua substituição (Bronckart, 2003) no
desenvolvimento do texto por pronomes pessoais e possessivos, e alguns
sintagmas nominais pelos quais inserem-se os temas.
2) Identifique nos trechos abaixo as retomadas ou substituições,
destacando-as com cores diferentes:
a) “[...] o pequeno Bjarni olhava o mar. O menino sabia que ficar no
penhasco olhando em nada ajudava.”
b) “[...] O capitão Cullen sequer fez uma carranca. Na sua voz havia
pesar ao dizer: [...] Acendeu um charuto e olhou à sua frente. Durante duas
semanas, o capitão ficou sem a visão de um meridiano ou cronômetro.”
55
A maioria dos verbos presentes no gênero conto de aventura estão
no tempo passado. No entanto podemos perceber que essas ações não são todas
iguais. Então vamos destacar os dois tipos de passado que se destacam nesse
gênero textual.
1- PRETÉRITO PERFEITO: transmite a idéia de uma ação completamente
concluída.
Ex.: “Um dia, o avô, que naquele país lá longe era criança, foi visitar o tio que
morava na colina”.
“O avô saiu de casa bem cedinho”.
2- PRETÉRITO IMPERFEITO; Transmite a idéia de uma ação habitual ou
contínua. Também pode transmitir a idéia de ação que vinha acontecendo,
mas foi interrompida por outra ação. É também o tempo em que normalmente
são narradas as histórias. É reconhecido pela presença das desinências –va/
/ vê ou –ia/ -ie.
Exemplo: “O avô estava indo escondido da mãe”.
“Ele tentava cavar, mas não conseguia”.
Fonte: CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar.
Gramática: texto, reflexão e uso. São Paulo: Atual, 2004(p.163).
Os verbos estão no pretérito imperfeito, perfeito e mais que perfeito
para marcar anterioridade, ou futuro do pretérito para marcar posterioridade. O
presente para falar do mundo ordinário ( aparecem no diálogo das personagens).
3) Identifique as marcas de temporalidade dos acontecimentos
(ações) presentes neste trecho de texto sublinhando-as e indicando o tempo verbal:
56
“O capitão Cullen releu o seu esforço literário com admiração,
passou o mata-borrão na página e fechou o diário de bordo. Acendeu um charuto e
olhou à sua frente. Sentiu o Mary Hogers elevar-se e adernar e depois singrar em
frente e sabia que o navio estava fazendo nove nós. Um sorriso de satisfação
lentamente se abriu em seu rosto escuro e peludo. Enfim, tinha conseguido pegar o
seu oeste e enganar a Deus.”
4.6. 4ª Oficina: Mecanismos Enunciativos
Duração de duas aulas.
4.6.1. Objetivos
• Ler o trecho abaixo;
• Reconhecer as vozes presentes (das personagens, do autor
empírico, sociais);
• Pesquisar em dicionários o significado das expressões
referentes a termos marítimos;
57
• Observar a escolha lexical utilizada neste gênero (adjetivos,
nomes próprios, etc.);
• Identificar e compreender o uso dos modalizadores;
• Realizar as atividades propostas.
4.6.2. Metodologia
• Professor(a), explique aos seus alunos a voz do narrador
empírico, das personagens e as vozes sociais;
• Explique o uso do travessão como pontuação para introdução
das vozes das personagens;
• Oriente sobre as possíveis vozes sociais (pessoas ou
instituições humanas) que atribuem juízos de valores, opiniões, pensamento,
sentimento;
• Comente com os alunos sobre a linguagem formal e informal,
bem como os termos específicos (marítimos);
• Explique a escolha lexical no conto;
58
• Apresente as funções expressas pelos modalizadores.
Atividades
1) Circule os modalizadores e indique as circunstâncias por eles
expressas:
“Joshua Higgins teria de lavar seu rosto muito rapidamente. O imediato lamuriou-se
desarticuladamente. Daí a dias, numa esplêndida manhã de sol vivo e mar calmo, o
navio, só com um mastro, entrava vitoriosamente o arvoredo. Todo aquele dia
seguiu-o, ameaçadoramente, como na última semana, a terrível proa, que só
desapareceu ao cerrar da noite, mas cujos faróis acesos brilhavam, através da
treva, espreitando-o sinistramente, como os olhos de um felino fantástico.”
2) Substitua as expressões destacadas por outras de mesmo
significado (use o dicionário)
“O navio era novo , de um modelo lindo , uma construção rara . Era
colossal o vaso britânico, pelo seu comprimento, um enorme pontal, a alterosa
mastreação, [...] olhando o monstruoso navio [...], a vela listrada de negro e
vermelho . E também para caracterizar o cenário: [...] Uma escuridão cinzenta
amortalhava o mundo. As nuvens eram cinzentas ; os grandes mares revoltos
eram cor de chumbo; até os ocasionais albatrozes eram acinzentados , enquanto
as não eram brancas , mas cinzentas sob o manto tenebroso dos céus. Mas
claridades róseas começaram a alastrar o céu – e o sol rompeu, num pasmoso
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esplendor tropical [...] e personagens: Assombrava o convés à noite, um fantasma
grande , troncudo e robusto , moreno com a pele curtida por trinta anos de mar, e
peludo como um orangotango. Ele por sua vez era assombrado por uma instrução
de navegação para alcançar o cabo Horn.”
3) Relacione as vozes do trecho do texto “Pegue o Oeste” aos seus
respectivos interlocutores:
(a) “Caçar velas! – gritou”.
(b) “Segurar! Segurar forte! – o segundo imediato berrava enquanto
saltava de popa”.
(c) “_ Capitão Cullen – Dorety disse -, o senhor está no comando
deste navio e não é apropriado que eu comente agora sobre o que faz”.
(d) “O capitão Cullen sequer fez uma carranca. Na sua voz havia
pesar ao dizer”:
( ) vozes sociais
( ) voz do capitão
( ) voz do imediato
( ) voz do passageiro Dorety
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4) Diga se neste parágrafo a linguagem é formal ou informal e
justifique:
“ _ Um inferno! – concluía o velho gajeiro Domingos, o mais idoso da
campanha -; só faltava matar-nos, trincar-nos os bofes... Excomungados! E ali
estavam a segui-los! Só se aquele barco, o Galgo, já estivesse com craca, senão os
havia de ensinar, aos patifes, deixassem estar! E demais com quem! Com o velho
Sumares... Ora, os diabos!...”
4.7. 5ª Oficina: Refacção de Texto
Duração de quatro aulas.
4.7.1. Objetivos
• Realizar uma troca de textos da produção inicial entre duplas de
alunos;
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• Reler a produção;
• Comentar a clareza da linguagem e adequação dos elementos
usados no texto;
• Refazer o texto a partir das informações dadas durante as
oficinas e observações feitas pelo colega;
• Divulgar, através de cartazes para a comunidade escolar, a
exposição da coletânea de contos na biblioteca;
4.7.2. Metodologia
• Professor(a), solicite aos alunos que retomem as duplas da
produção inicial e troquem os textos com outra dupla para a leitura dos mesmos;
• Comente sobre a necessidade de respeitar o texto do outro;
• Peça que justifiquem, com base nas oficinas realizadas, seus
comentários sobre o texto;
• Siga as recomendações e refaça o texto;
• Proponha aos alunos a divulgação da coletânea de contos de
aventura em murais pela escola e posteriormente acerve-a na biblioteca. Esse
projeto os motivaria, pois deixariam registradas suas capacidades de imaginação e
de produção de textos, uma vez que já estão na 8ª série. E, com certeza,
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influenciariam os de séries iniciais, espelhando-se nos colegas “contistas” de séries
mais avançadas;
• Confeccione cartazes divulgando seus contos em murais;
• Faça inauguração da coletânea, convidando os pais para ouvir a
apresentação de leitura ou dramatização de suas produções.
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Atividades
1) Em duplas, leiam o texto dos seus colegas e faça anotações
pertinentes.
2) Retome seu texto com as devidas anotações feitas pela dupla
leitora e refaça sua produção inicial com as devidas correções.
3) Releia seu conto e atente para a clareza e coerência das idéias.
4) Use sua criatividade! Confeccione cartazes coloridos, com frases
e desenhos que chamem a atenção do leitor para a leitura do seu conto.
5) Chegou a hora de expor o seu trabalho a seus leitores!
6) Vamos avaliar nosso desempenho. Forme um círculo com a
turma e respondam oralmente as seguintes questões:
a) Vocês conseguiram usar o conteúdo que estudaram ao longo das
oficinas para escrever sua história de aventura?
b) A troca de textos entre as duplas foi proveitosa?
c) Foi possível melhorar a história de vocês com base nas questões
que os colegas levantaram?
d) Houve muitas mudanças entre a primeira e a segunda versão da
narrativa de aventura que vocês produziram?
e) Como ficou o mural que vocês organizaram na sala? É fácil de ler
as histórias que nele foram colocadas?
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REFERÊNCIAS
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CARPEAUX, Otto Maria. Tendências contemporâneas da literatura . Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968. COELHO, Nelly Novaes. Conto. In: CEIA, Carlos (Org). E-Dicionário de Termos Literários . www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/index.htm - 50k - acesso em maio de /2011. CORDEIRO, G. S., AZEVEDO, I. C. M. e MATTOS, V. L. P. Escrevendo narrativas de aventuras na 3ª série : Colégio Arquidiocesano de São Paulo. COSTA, Flávio Moreira da (org.) Os melhores contos de aventura . Rio de Janeiro: Agir, 2008. D’AVILA, Antonio, Literatura infanto-juvenil . Coleção didática do Brasil. Vol.20 São Paulo: Editora do Brasil, 1967. FIORIN, J. L. e SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação . São Paulo 4ª edição, Ática, 2004.
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MAGGIO, E. et al. Sete Faces da aventura. São Paulo. Moderna. 1992 NASCIMENTO, Elvira Lopes. Os gêneros como instrumentos para o ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. IN: NASCIMENTO, E. L (Org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos objetos de en sino . São Carlos: Claraluz, 2009. NASCIMENTO, E. L. (org.) Gêneros textuais: da didática das línguas aos objetos de ensino . São Carlos: Editora Claraluz, 2009. ________ A transposição didática de gêneros textuais: uma pr oposta de trabalho . In: CRISTOVÃO, V. L. L.; NASCIMENTO, E. L. (Org.). Gêneros textuais: teoria e prática. Londrina: Moriá, 2004. P. 167-188. SAVIOLI, F. P. e FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e redação . 3ª ed., São Paulo, Ática. Reportagem exibida na Rede Globo no dia 03/07/2011 no programa Fantástico. Vídeo exposto no site www.youtube.com.br