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As Raízes Contratualistas do Republicanismo e Federalismo Contemporâneos. De Bodin a Kant. Filosofia Política II 28 de Março e 5 de Abril de 2019 Viriato Soromenho-Marques (FLUL)

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As Raízes Contratualistas do Republicanismo e Federalismo

Contemporâneos. De Bodin a Kant.

Filosofia Política II

28 de Março e 5 de Abril de 2019

Viriato Soromenho-Marques

(FLUL)

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Índice

1. Os Grandes Debates da Modernidade: Bodin, Althusius, Hobbes [Rousseau], Espinosa, Locke…

2. O peso da realidade: teoria e prática do despotismo esclarecido.

3. O crepúsculo do contratualismo: Burke e Kant.

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Os Grandes Debates da Modernidade: Bodin, Althusius, Hobbes [Rousseau], Espinosa, Locke…

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Jean Bodin: diferença entre translatio imperii e concessio imperii (1)

• "Mas consideremos o caso [...] onde vários cidadãos, aos quais se confere poder absoluto para dirigir o Estado e governar plenamente, sem deferir às oposições ou apelos de qualquer espécie, e que isso ocorra todos os anos, diremos nós que esses [cidadãos] estariam dotados do poder soberano? Porque só é absolutamente soberano quem não reconhece nada maior além de si próprio, depois de Deus. Eu digo, não obstante, que esses não têm a soberania, atendendo a que eles não são mais do que depositários do poder que lhes foi entregue durante um certo período de tempo."

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Jean Bodin: diferença entre translatio imperii e concessio imperii (2)

• (Mais posons le cas [...] ou plusieurs des citoyens, ausquels on donne puissance absoluë de manier l'estat & gouverner entierement, sans deferer aux oppositions ou appellations en sorte quelconque, & que cela se face tous les ans, dirons nous pas que ceux là auront la souveraineté? Car celui est absolument souverain, qui ne recongnoist rien plus grand que soy apres Dieu. Je dy neantmoins que ceux là n'ont pas la souveraineté, attendu qu'ils ne sont rien que depositaires de la puissance qu'on leur a báillee à certain temps. Les six livres de la république [1576)]:Liv. I, cap. VIII, 124).

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J. Althusius: a política é a arte contratual da associação

• “Politics is the art of associating (consociandi) men for the purpose of establishing, cultivating, and conserving social life among them. Whence it is called «symbiotics». The subject matter of politics is therefore association (consociatio), in which the symbiotes pledge themselves each to the other, by explicit or tacit agreement, to mutual communication of whatever is useful and necessary for the harmonious exercise of social life.” (Politica, 17).

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J. Althusius: Os três sentidos de «Polity».

• Polity como “communication of right” (“things, services, common rights”), “citizenship”.

• Polity como “the manner of administering and regulating the commonwealth”[Plutarco, “statecraft”].

• Polity como “the form and constitution of the commonwealth by which all actions of the citizens are guided [sentido aristotélico]” (Politica, 18).

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O Autor e a obra

• Joahnnes Althusius (1557-1638).

• Politica methodice digesta et exemplis sacris et profanis illustrata (1603; 1610 e 1614).

• Politica, translated by F. S. Carney, forword by Daniel J. Elazar, Indianapolis, Liberty Fund, 1995.

• Um federalismo neo-aristotélico.

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Hobbes e Rousseau a preto e branco (1)

"A filosofia do Senhor Rousseau de Genebra é quase inversa da de Hobbes. Um crê que o homem natural é bom, e o outro considera-o mau. Segundo o filósofo de Genebra, o estado de natureza é um estado de paz; segundo o filósofo de Malmebury, é um estado de guerra. São as leis e a formação da sociedade que tornaram o homem melhor, se se acreditar em Hobbes; e que o depravaram, se acreditarmos no Senhor Rousseau [...]"

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Hobbes e Rousseau a preto e branco (2)

(La philosophie de M. Rousseau de Genève est presque l'inverse de celle de Hobbes. L'un croit l'homme de la nature bon, et l'autre le croit méchant. Selon le philosophe de Genève, l'état de nature est un état de paix; selon le philosophe de Malmebury, c'est un état de guerre. Ce sont les lois et la formation de la société qui ont rendu l'homme meilleur, si l'on croit Hobbes; et qui l'on dépravé, si l'on en croit M. Rousseau [...], Article "Hobbisme", Encyclopédie [1765]: tome VIII, 404).

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Hobbes: o medo mútuo em vez da boa vontade

"[...] a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não consistiu na boa vontade mútua de todos os homens, mas no medo recíproco que tinham uns pelos outros." ([...] the

original of all great and lasting societies consisted not in the mutual good will men had towards each other, but in the mutual fear they had of each other, De Cive, cap. I, §3, 6.

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Hobbes: os homens não são maus por natureza

"Mas isto, que os homens são maus por natureza, não se deduz deste princípio [que as disposições dos homens são naturalmente tais, que a não ser que sejam contidos pelo medo de algum poder coercivo, cada homem desconfiará e temerá o seu semelhante, pp. XIV-XV]. Porque, mesmo que os perversos fossem em menor número do que os justos, como, contudo, não os podemos distinguir existe a necessidade de suspeitar [...] Ainda menos se pode deduzir [desse princípio], que aqueles que são perversos o são por natureza."

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Texto original de Hobbes

(But this, that men are evil by nature, follows not from this principle [that the dispositions of men are naturally such, that except they be restrained through fear of some coercive power, every man will distrust and dread each other-pp. XIV,XV]. For though the wicked were fewer than the righteous, yet because we cannot distinguish them there is a necessity of suspecting [...] Much less does it follow, that those who are wicked are so by nature[...]. De Cive: XVI).

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Hobbes: a sociedade civil forma-se pelo desejo

individual de glória e amor próprio

"Todas as sociedades são ou para o ganho, ou para a glória: i.e., não tanto por amor do próximo, como por amor de nós próprios." (All society therefore is either for gain,

or for glory; that is, not so much for love of our fellows, as for the love of ourselves. De Cive: cap. I, §2, 5).

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Hobbes: As relações internacionais são a única realidade correspondente ao modelo do estado de

natureza • "Mas mesmo que nunca tivesse existido uma

época em que os indivíduos particulares se encontrassem numa condição de guerra de todos contra todos, contudo, em todos os tempos, os reis e pessoas dotadas de autoridade soberana, em virtude da sua independência, vivem em constante desconfiança, e na condição e atitude dos gladiadores [...]"

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Texto original de Hobbes

• (But though there had never been any time, wherein particular men were in a condition of warre one against another; yet in all times, Kings, and Persons of Soveraigne authority, because of their Independency, are in continuall jealousies, and in the state and posture of Gladiators[...]. Leviathan: cap. XIII, 115)

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Hobbes: o Leviatã como menor dos males

"E embora se possam imaginar muitas más consequências [derivadas] de um poder tão ilimitado, contudo, as consequências da falta dele, isto é, a guerra perpétua de todos os homens com os seus vizinhos, são muito piores." (And though of so unlimited a power, men may fancy many evil consequences, yet the consequences of the want of it, which is perpetual war of every man against his neighbour, are much worse. Leviathan: cap. XX, 195)

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Hobbes: os dois vectores do contrato social

"Esta submissão das vontades de todos esses homens à vontade de um só homem ou de um conselho é então realizada, quando cada um deles se obriga a si mesmo, por contrato com cada um dos restantes, a não resistir à vontade desse homem ou desse conselho a quem ele se submeteu."

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2 vectores do contrato social em 1642

(This submission of the wills of all those men to the will of one man or one council, is then made, when each one of them obligeth himself by contract to every one of the rest, not to resist the will of that one man or council, to which he hath submitted himself. De Cive: cap. V, §7, 68).

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Nova Formulação de Hobbes…

• "Eu autorizo e desisto do meu direito de me governar a mim próprio, em favor deste homem, ou desta assembleia de homens, sob a condição de que tu transfiras o teu direito para ele e autorizes todas as suas acções de modo semelhante."47

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..no Leviathan (1651)

• "I authorize and give up my right of governing myself, to this man, or to this assembly of men, on this condition, that thou give up thy right to him and authorize all his actions in like manner.", HOBBES, Leviathan, par. II, cap. XVII, p. 158.

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A base antropológica do contratualismo em Hobbes (1)

"Pois não existe finis ultimus, último fim, nem o summum bonum, supremo bem, como é referido nos livros dos antigos filósofos morais[...] A felicidade é um contínuo progresso do desejo, de um objecto para outro; não sendo a obtenção do primeiro outra coisa senão o caminho para [obter] o último [...]

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A base antropológica do contratualismo em Hobbes (2)

Assim, em primeiro lugar, determino como tendência geral de toda a humanidade um perpétuo e incansável desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte." (For there is no such finis ultimus, utmost aim,

nor summum bonum, greatest god, as is spoken of in the books of the old moral philosophers [...] Felicity is a continual progress of the desire, from one object to another; the attaining of the former, being still but the way to the later [...] So that in the first place, I put for a general inclination of all mankind, a perpetual and restless desire of power after power, that ceaseth only in death. Leviathan: cap. XI, 85-86).

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Hobbes: Entre Deus e o Lobo

"Para falar com imparcialidade, ambas as afirmações são absolutamente verdadeiras: que o homem é para o homem uma espécie de Deus; e que o homem é para o homem um lobo errante." (To speak impartially, both sayings are very true: that Man to Man is a kind of God: and that Man to Man is an errant Wolf. Ob cit.: II).

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Hobbes: Paixões e Discórdia

"Desta forma encontramos na natureza do homem três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo a desconfiança; e terceiro, a glória." (So that in the nature of man, we find three principal causes of quarrel. First, Competition; Secondly, Diffidence; Thirdly, Glory. Leviathan: cap. XIII, 112).

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Dois estados em confronto

• Estado de Natureza Estado Civil • Imediato <>

Mediato

• Natural <> Artificial

• Liberdade (ausência <> Obrigação (ditadas pela impedimento) lei natural)

• Guerra <> Paz

• Lógica individual <> Lógica colectiva

• Pluralidade discursiva <> Hierarquia discursiva • Uso privado da violência <> Monopólio estatal da violência • Suspeita permanente <>

Contrato

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Espinosa lê Maquiavel como um contratualista (1)

“De que meios um príncipe, orientado pelo

desejo de mando, deve servir-se para

consolidar e conservar o seu domínio, foi

abundantemente demonstrado pelo subtil

Maquiavel; no entanto, no que respeita à

finalidade, não se vê que ela seja

suficientemente considerada…

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Espinosa lê Maquiavel como um contratualista (2)

• Contudo, se propôs uma boa [finalidade], como é de esperar de um homem sábio, parece ver-se que demonstra de que imprudência muitos dão prova quando suprimem um tirano, enquanto não podem suprimir as causas que fazem com que um príncipe seja um tirano, mas, pelo contrário, quantos mais motivos houver para temer o príncipe, tantas mais causas haverá para o temer; o que acontece quando a multidão proclama o príncipe como exemplo e glorifica como um alto feito um atentado contra o soberano.

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Espinosa lê Maquiavel como um contratualista (3)

Talvez [Maquiavel] tenha querido demonstrar que a multidão deve precaver-se de entregar de um modo absoluto a sua salvaguarda a um só. o qual, se não for frívolo a [ponto de] acreditar que pode agradar a todos, deverá constantemente ter medo de traições; e por tal facto é obrigado a defender-se mais a si e a atraiçoar a multidão em lugar de ocupar-se dela; e sou tanto mais levado a pensar isto deste homem prudentíssimo, quanto mais ele é tido como um defensor da liberdade, e quanto mais deu conselhos muito salutares para a defender." (Tractatus Politicus: tomo III, cap. V, § VII, 290-291. Tradução portuguesa de Luísa Ribeiro Ferreira)

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A lei natural em Locke…

a) A lei natural é acessível a todos os homens.

b) Esse acesso, porém, não dispensa a experiência.

c) A lei natural é universal mas não inata

d) A lei natural é universal mas não geral (não se confunde com o consenso).

• e) A lei natural é a base de toda a legislação positiva, mas isso não significa que todos os institutos positivos derivem da lei natural.

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..Sete Teses de Locke, em 1664

• f) A lei natural é o fundamento de toda a obediência política estável.

• g) A lei natural pode ser útil, mas a sua essência não reside na utilidade.

LOCKE, Essays on the Law of Nature [1664], pp. 108-121.

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Locke: Contrato e consentimento

• "Sendo os homens, como foi dito, todos livres, independentes e iguais por Natureza, ninguém pode ser expulso deste estado e submetido ao poder político de outro, sem o seu próprio consentimento.“ (Men being, as has been said, by Nature, all free, equal and independent, no one can be put out of this Estate, and subjected to the Political Power of another, without his own Consent.) LOCKE, Two treatises of government, cap. VIII, §95, p. 348.

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Locke: depois do contrato prevalece o princípio da maioria

• "Quando um número qualquer deles [homens] tenha assim consentido em formar uma comunidade, ou governo, eles ficam por meio disso logo incorporados, e constituem um corpo político, dentro do qual a maioria tem um direito de agir e decidir pela parte restante [da comunidade].“(When any number of Men have so consented to make one Community or Government, they are thereby presently incorporated, and make one Body Politick, wherein the Majority have a Right to act and conclude the rest.), LOCKE, Two treatises of government, cap. VIII, §95, p. 349.

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O peso da realidade: teoria e prática do despotismo esclarecido

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Frederico II: Um contrato de submissão paternalista

• "[...] mas que eles [os súbditos] escolheram de entre eles aquele que eles julgaram mais justo para os governar, o melhor para lhes servir de pai [...]" ([...] mais qu'ils ont choisi celui d'entre eux qu'ils ont cru le plus juste pour les gouverner, le meilleur pour leur servir de père[...]. Considérations sur l'état présent du corps politique de l'Europe [escrito em 1738, mas só publicado em 1788]: Oeuvres vol. VIII, 25-6]).

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Duplo contrato em Samuel Pufendorf.

Obra capital -- Do Direito Natural e das Gentes (De jure naturae et gentium, 1672) -- uma distinção entre o "pacto de união" (pactum unionis/Gesellschaftsvertrag)

e o "acto ou contrato de submissão" (pactum subjectionis/Unterwerfungsvertrag). Pelo primeiro contrato, voluntário e unânime, surgia a sociedade. Pelo segundo, por maioria, surgia o Estado e o respectivo regime político (ob. cit.: tomo II, Livro VII, cap. II, §§ 7 e 8).

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Pufendorf: a mediação “constitucional”

• Fazendo a ligação entre estes dois contratos/pactos Pufendorf previa ainda um "decreto para a forma de regime" (decretum circa formam regiminis), cujo desiderato era o de definir a "lei fundamental" (Grundgesetz) que deveria presidir ao pacto de submissão.

• Cf. Samuel A. PUFENDORF, De jure naturae et gentium (1681), to. II, liv. VII, cap. II, §§7-8, pp. 133-7. Sobre este tema: Robert DERATHÉ, JeanJacques Rousseau et la science politique de son temps, pp. 210-211; Ernst REIBSTEIN, Volkssouveranität und Freiheitsrechte, vol. II, p. 88 ss..

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Frederico II: duplo contrato não afecta liberdade de pensar

"Se se remonta à origem da sociedade torna-se evidente que o soberano não tem nenhum direito sobre a maneira de pensar dos cidadãos. Não seria necessário ser-se demente para imaginar que os homens disseram a um homem seu semelhante: nós elevamos-te acima de nós porque nós gostamos de ser escravos, e nós damos-te o poder de dirigir os nossos pensamentos à tua vontade?" (Si l'on remonte à l'origine de la société, il est de toute évidence que le souverain n'a aucun droit sur la façon de penser des citoyens. Ne faudrait-il pas être en démence pour se figurer que les hommes ont dit à un homme leur semblable: Nous vous élevons audessus de nous, parceque nous aimons à être esclaves, et nous vous donnons la puissance de diriger nos pensées à votre volonté?. Essai sur les Formes de Gouvernement et sur les Devoirs des Souverains (1777): Oeuvres, vol. IX, 207).

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Frederico II: depósito ilimitado?

"O depósito mais precioso que está confiado nas mãos dos príncipes é a vida dos seus súbditos [...] Os bons príncipes consideram esse poder não limitado sobre a vida dos seus súbditos como o peso mais pesado da sua coroa [...]" (Le dépôt le plus précieux qui soit confié entre les mains des princes, c'est la vie de leurs sujets [...] Les bon princes regardent ce pouvoir non limité sur la vie de leurs sujets comme le poids le plus pesant de leur couronne[...]). L'Anti-

Machiavel (1740): cap. IX, 136

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Frederico II: A alma dos Estados

"Os soberanos [...] são como que a alma dos seus Estados: a carga do seu governo pesa sobre eles como o mundo sobre o dorso de Atlas." (Les souverains [...] sont comme l'âme de leurs États: le poids de leur gouvernement pèse sur eux seuls, comme le monde sur le dos d'Atlas. Ob. cit.:, cap. XXII, 204).

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Frederico II: imperativo ético

"Que desejaria eu do soberano se tivesse nascido na classe desses cidadãos, cujo [único] capital são os seus braços?" (Si j' étais né dans la classe de ses citoyens dont les bras sont le capital, que désirais-je du souverain?. Essai sur les Formes de Gouvernment et sur les Devoirs des Souverains (1777): Oeuvres, IX, 205).

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O primeiro servidor do Estado

O rei considerava-se a si próprio como "o primeiro servidor e o primeiro magistrado do Estado" (le premier serviteur et le premier magistrat de l'État. Oeuvres: vol. I, p. 123).

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Código Civil prussiano (Allgemeines Landrecht) de 1794

• "[...] o legislador [...] considera o príncipe como o único representante do Estado e dá-lhe todos os direitos que acabavam de ser reconhecidos à sociedade. Nesse código o soberano já não é o representante de Deus, ele é apenas o representante da sociedade, o seu agente, o seu servidor [...], mas ele representa-a sózinho." ([...] le législateur [...] considère le prince comme le seul représentant de l'État, et lui donne tous les droits qu'on vient de reconnaître à la société. Le souverain n'est plus dans ce code le représentant de Dieu, il n'est que le représentant de la société, son agent, son serviteur [...] mais il la représente seul. A. Tocqueville, L'Ancien Régime et la Révolution (1856): 337).

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Diderot: contra o despotismo

"O governo arbitrário de um príncipe justo e esclarecido é sempre mau. As suas virtudes são a mais perigosa e segura das seduções: elas acostumam insensivelmente um povo a amar, a respeitar, a servir o seu sucessor, mesmo sendo ele mau e estúpido. Ele retira ao povo o direito de deliberar, de querer ou não querer, de se opor até à sua vontade[...]" (Le gouvernement arbitraire d'un prince juste et éclairé est toujours mauvais. Ses vertus sont la plus dangereuse et la plus sure des séductions: elles accoutument insensiblement un peuple à aimer, à respecter, à servir son sucesseur quel qu'il soit, méchant et stupide. Il enlève au peuple le droit de délibérer, de vouloir ou de ne vouloir pas, de s'opposer même à sa volonté [...]. Textes politiques, 178).

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Kant: organismo ou mecanismo?

"O Estado compreende na monarquia o organismo, que pressupõe uma vida no corpo do Estado; o governo despótico transforma a monarquia em mecanismo, o qual depende sempre de uma mão estranha." (Der Staat enthält in der monarchie den organismus, der ein leben im Staatskörper voraussetzt; die despotische regirung verändert sie in den mechanismus, der immer von fremder Hand abhängt. Refl. 7688: Ak. XIX,. 491).

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Kant: medo e despotismo

"No mecanismo [do Estado despótico] já não é pressuposta qualquer boa vontade, mas simplesmente o medo." (Beym Mechanismus wird kein guter Wille mehr vorausgesetzt sondern bloss die Furcht. Refl. 7700: Ak. XIX, 494. Sobre despotismo e mecanismo ver ainda: KU: §59, Ak. V, 352).

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Kant: autocracia republicana?

"Reinar autocraticamente e, no entanto, governar ao mesmo tempo de modo republicano, q.d., no espírito do republicanismo, e de acordo com uma analogia com ele, é o que faz um povo satisfazerse com a sua constituição." (Autokratisch herrschen, und dabei doch republikanisch, d.h., im Geiste des Republikanism und nach einer Analogie mit demselben, regieren, ist das, was ein Volk mit seiner Verfassung zufrieden macht. Streit: Ak. VII, 87).

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Kant: a essência do despotismo é má independentemente do príncipe

• "(...) Mas a forma de regime ou a constituição do Estado é certamente má, precisamente porque faz depender a boa qualidade do governo da vontade de um só, quer ele seja bom ou não." ([...] Aber die Regierungsart oder Staatsverfassung ist gewiss schlecht eben darum, dass die bonität der Regierung auf den Willen des einzigen ankommt, ob er gut sey oder nicht. Refl. 7637: Ak. XIX, 490).

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Kant: o Estado é uma pátria e não um património

• "O monarca, que é despótico, mantém o Estado como uma herança (patrimonium), aquele que é patriótico, mantém-no como a sua pátria."(Der Monarch, welcher despotisch ist, hält den Staat als ein Erbgut (patrimonium), der patriotisch ist, als sein Vaterland. Refl. 7636: Ak XIX, 490).

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Balanço do despotismo esclarecido (1)

• -- Em Portugal, com a morte de D.José I, em 1777, o Marquês de Pombal é afastado e a sua obra interrompida.

• -- Na Áustria, José II acaba por desagradar a todos as classes e protagonistas sociais: à Igreja, pelas suas ideias; aos nobres, pela defesa da emancipação camponesa; a estes últimos, pelo facto de a emancipação ter como preço o serviço militar obrigatório e o pagamento de pesados impostos.

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Balanço do despotismo esclarecido (2)

• -- Em Espanha, Carlos III morre em 1788 sem que as reformas fiscal e industrial tivessem sido cabalmente levadas a cabo.

• -- Na Rússia, a boa vontade manifestada por Catarina II, nomeadamente na reforma do obsoleto sistema de justiça imperial, não a livrou de as mais duras revoltas camponesas da história russa, terem ocorrido no seu reinado (1774-1775).

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O crepúsculo do contratualismo: Burke e Kant

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Burke: “Society is indeed a contract” (1)

• “Society is indeed a contract. Subordinate contracts, for objects of mere occasional interest, may be dissolved at pleasure; but the state ought not to be considered as nothing better than a partnership agreement in a trade of pepper and coffee, callico or tobacco, or some other such low concern, to be taken up for a little temporary interest, and to be dissolved by the fancy of the parties. >>

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Burke: “Society is indeed a contract” (2)

• “It is to be looked on with other reverence; because it is not partnership in things subservient only to the gross animal existence of a temporary and perishable nature. It is a partnership in all science; a partnership in all art; a partnership in every virtue, and in all perfection. As the ends of such a partnership cannot be obtained in many generations, it becomes a partnership not only between those who are living, but between those who are living, those who are dead, and those who are to be born. >>

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Burke: “Society is indeed a contract” (3)

• “Each contract of each particular state is but a clause in the great primaeval contract of eternal society, linking the lower with the higher natures, connecting the visible and the invisible world, according to a fixed compact sanctioned by the inviolable oath which holds all physical and moral natures, each in their appointed place. This law is not subject to the will of those, who by an obligation above them, and infinitely superior, are bound to submit their will to the law.” Edmund Burke, Reflections on the Revolution in France, Select Works of Edmund Burke, Indianapolis, Liberty Fund, 1999, vol. 2, pp. 192-193

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O contratualismo racional de Kant (1)

• "Mas [o contrato social] é uma mera Ideia da razão que tem, no entanto, uma realidade (prática) indubitável, a saber: que obriga todo o legislador a produzir as suas leis como se elas pudessem ter surgido da vontade unida de todo um povo, e a con-siderar todo o súbdito, na medida em que ele quer ser cidadão, como tendo concordado com uma tal vontade."57

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O contratualismo racional de Kant (2)

• "Sondern es ist eine blosse Idee der Vernunft, die aber ihre unbezweifelte (praktisch) Realität hat: nämlich jeden Gesetzgeber zu verbinden dass er seine Gesetze so gebe, als sie aus dem vereinigten Willen eines ganzen Volks haben entspringen können, und jeden Untertan, so fern er Bürger sein will, so anzusehen, als ob er zu einem solchen Willen mit zusammen gestimmet habe.", TP [1793], Ak. VIII, p. 297.

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Kant: contrato social é regra…

• "(O contrato social é a regra e não a origem da constituição política.)

• O contrato social não é o principium da edificação do Estado, mas da governação do Estado e contém o ideal da legislação, governo e justiça públicas. (...) O direito da legislação está originarie com o povo, mas derivative com o monarca."

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…e não origem

• "(Der socialcontract ist die Regel und nicht der Ursprung der Saatsverfassung.)

• Der socialcontract ist nicht das principium der Staatserrichtung sondern der Staatsverwaltung und enthält das ideal der Gesetzgebung, Regierung und Öffentlichen gerechtigkeit. (...) Das Recht der Gesetzgebung ist beym Volk originarie aber beym monarchen derivative.", Refl. 7734, Ak. XIX, p. 503.

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Kant: o contrato é normativo e não explicativo

• "O contractus originarius não é o princípio da explicação da origem do status civilis, mas o que ele deve ser." (Der contractus originarius ist nicht das Princip der Erklärung des Ursprungs des status civilis, sondern wie er seyn soll.), Refl. 7740, Ak. XIX, p. 504

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Kant: O contrato é a vontade geral como fonte de direito

• "A Ideia de uma vontade unida a priori (porque esta união é dever) é a fonte de todo o direito..." (Die Idee eines a priori vereinigten Willens (weil diese Vereinigung Pflicht ist) ist die Quelle alles Rechts...), Vorarbeiten zu MS-RL, Ak. XXIII, p. 304.

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Conclusões

• 1. A sociedade passa a ser entendida como uma realidade cognoscível e modificável, como resultado de um processo que pode ser compreendido e alterado racionalmente.

• 2. (Re) instauram-se de modo laico os conceitos fundamentais do republicanismo contemporâneo: soberania popular, igualdade natural dos homens, abrindo para a igualdade dos cidadãos perante a lei: livre consentimento, abrindo para o florescimento do constitucionalismo contemporâneo.

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