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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NAS QUESTÕES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA DO ENEM 2015 Viviana da Cruz Vicente 1 Gustavo Isaac Killner 2 Resumo: A gênese deste estudo está na análise realizada a partir do Exame Nacional do Ensino Médio 2015 (ENEM). Por intermédio das questões de Ciências da Natureza do referido exame, foi possível verificar como é abordada a representação de gênero em relação às profissões. Os resultados iniciais indicam que o ENEM se estrutura numa concepção binária e opressora, na qual a concepção de gênero se restringe a homens e mulheres. A mulher, quando não é invisibilizada, constantemente carrega a influência dos pensamentos patriarcais reforçados por Rousseau e Hegel, segundo os quais elas devem ser educadas para casar, ter filhos e também para ser subordinadas aos homens. Em suma, não devem trabalhar em ambientes externos ao lar e muito menos discordar de uma decisão masculina. No século atual, por exemplo, o estereótipo de que os indivíduos possuem papéis a serem ocupados na sociedade parecem ainda ter vestígios desse pensamento, embora a inserção no mercado de trabalho tenha ocorrido para elas. Com os estudos curriculares (em específico o surgimento das teorias pós-críticas), transformações no método de como e o que ensinar passaram a corroborar com discussões acerca das desigualdades de gênero, raciais e culturais, entre outras. A partir desta pesquisa documental e bibliográfica, esperamos que o presente trabalho motive pesquisadores (as) a prosseguir estudos na área de gênero, ciência e currículo. Palavras-chave: Ciências da Natureza. Gênero. Currículo. Introdução A partir da década de 70, após as discussões acerca da perspectiva crítica de currículo, emergiu nos Estados Unidos uma forma inédita de pensar o desenvolvimento dos conteúdos escolares: a concepção pós-crítica (Silva, 1999, p. 111). Esta, com grande influência do pós- modernismo, pós-estruturalismo e pós-colonialismo contribuiu para que a sociedade refletisse em torno das desigualdades de gênero, raça, etnia, cultura e outros temas que se posicionassem contra os estereótipos. Sob o viés da pedagogia pós crítica, com o desenvolvimento das novas formas de produção, a globalização trouxe à tona a pluralidade cultural e os currículos tiveram que ser repensados de acordo com as novas demandas (Sacristán, 2007, p. 27-8). Esperava-se, assim, que os materiais didáticos e avaliações escolares, internas e externas, incorporassem o multiculturalismo e também as discussões sobre as concepções de gênero. Em particular a respeito das investigações associadas ao tema gênero, elas ampliaram o conceito de diversidade sexual e ajudaram a identificar novas formas de identidade de gênero. Além 1 Mestranda em Ensino de Ciências no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil. 2 Professor Doutor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NAS QUESTÕES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA

DO ENEM 2015

Viviana da Cruz Vicente 1

Gustavo Isaac Killner 2

Resumo: A gênese deste estudo está na análise realizada a partir do Exame Nacional do Ensino Médio 2015 (ENEM).

Por intermédio das questões de Ciências da Natureza do referido exame, foi possível verificar como é abordada a

representação de gênero em relação às profissões. Os resultados iniciais indicam que o ENEM se estrutura numa

concepção binária e opressora, na qual a concepção de gênero se restringe a homens e mulheres. A mulher, quando não

é invisibilizada, constantemente carrega a influência dos pensamentos patriarcais reforçados por Rousseau e Hegel,

segundo os quais elas devem ser educadas para casar, ter filhos e também para ser subordinadas aos homens. Em suma,

não devem trabalhar em ambientes externos ao lar e muito menos discordar de uma decisão masculina. No século atual,

por exemplo, o estereótipo de que os indivíduos possuem papéis a serem ocupados na sociedade parecem ainda ter

vestígios desse pensamento, embora a inserção no mercado de trabalho tenha ocorrido para elas. Com os estudos

curriculares (em específico o surgimento das teorias pós-críticas), transformações no método de como e o que ensinar

passaram a corroborar com discussões acerca das desigualdades de gênero, raciais e culturais, entre outras. A partir

desta pesquisa documental e bibliográfica, esperamos que o presente trabalho motive pesquisadores (as) a prosseguir

estudos na área de gênero, ciência e currículo.

Palavras-chave: Ciências da Natureza. Gênero. Currículo.

Introdução

A partir da década de 70, após as discussões acerca da perspectiva crítica de currículo,

emergiu nos Estados Unidos uma forma inédita de pensar o desenvolvimento dos conteúdos

escolares: a concepção pós-crítica (Silva, 1999, p. 111). Esta, com grande influência do pós-

modernismo, pós-estruturalismo e pós-colonialismo contribuiu para que a sociedade refletisse em

torno das desigualdades de gênero, raça, etnia, cultura e outros temas que se posicionassem contra

os estereótipos.

Sob o viés da pedagogia pós crítica, com o desenvolvimento das novas formas de produção,

a globalização trouxe à tona a pluralidade cultural e os currículos tiveram que ser repensados de

acordo com as novas demandas (Sacristán, 2007, p. 27-8). Esperava-se, assim, que os materiais

didáticos e avaliações escolares, internas e externas, incorporassem o multiculturalismo e também

as discussões sobre as concepções de gênero.

Em particular a respeito das investigações associadas ao tema gênero, elas ampliaram o

conceito de diversidade sexual e ajudaram a identificar novas formas de identidade de gênero. Além

1 Mestranda em Ensino de Ciências no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, São Paulo,

Brasil. 2 Professor Doutor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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da tradicional representação binária, na qual a sociedade divide as pessoas apenas em duas

categorias (homens e mulheres) e determina para elas papeis sociais bem definidos, em geral numa

perspectiva chauvinista, as novas concepções de gênero incluem transexuais, travestis,

crossdressers, transgêneros, cisgêneros e entre outras (São Paulo, 2014, p. 15-16). Apesar disto,

reconhecimento de novas identidades, esta análise das questões do ENEM foi elaborada a partir da

descrição binária. Silveira destaca que o binarismo (composto apenas pelos gêneros masculinos e

femininos) constitui o padrão dominante para normatizar um modelo de comportamento de base

religiosa, científica, educativa, jurídica e política, segundo o qual homens e mulheres deveriam se

pautar (Silveira, 2008, p. 48).

O filósofo francês Rosseau (1712-1778), que viveu no século das Luzes (iluminismo) e se

dedicou à pesquisa sobre a origem das desigualdades, destacou a existência de dois elementos

(relacionados às diferenças) que foram estudados: o natural (que consiste em pesquisar aspectos

associados com a idade, saúde, forças do corpo e qualidades de espírito) e o outro moral (que é

autorizado pelo consentimento dos homens). Ao considerar que a figura feminina tem um modelo

de conduta que deve ser seguido, e que é reforçado pelos homens, Rosseau fez a seguinte afirmação

sobre a figura feminina:

Da boa constituição das mães depende inicialmente a dos filhos; do seio das mulheres

depende a primeira educação dos homens; das mulheres dependem ainda os costumes

destes, suas paixões, seus gostos, seus prazeres, e até sua felicidade. (...) Serem úteis, serem

agradáveis a eles e honradas, educá-los jovens, cuidar deles grandes, aconselhá-los,

consolá- los, tornar-lhes a vida mais agradável e doce; eis os deveres das mulheres em

todos os tempos e o que devemos lhes ensinar já na sua infância (ROSSEAU, 2004, p.433).

Esse pensamento, associado às ações que dele decorrem, naturalizam o papel subserviente

da mulher, que foi e ainda vem sendo fortemente moldada apenas para ser mãe e esposa

(Rosemberg, 1994, p. 27-62). Contudo, o questionamento do papel “natural” delas na sociedade,

promovido principalmente pelos movimentos feminista e GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e

Transexuais), incorporou elementos que contemplam as desigualdades de oportunidades dadas aos

homens, às mulheres e aos demais gêneros sexuais (Saffioti,2001, p.157-163).

Em particular, a partir dos problemas enfrentados pelas mulheres tanto nos estudos quanto

no mercado profissional, as feministas realizaram reinvindicações sobre os conteúdos que eram

ministrados nas escolas (que, segundo elas, eram diferenciados conforme os gêneros) e também das

possíveis consequências que a ausência destes proporcionariam no acesso a algumas carreiras.

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A intensificação da diversidade sexual no cenário escolar ganhou novos contornos a partir

da década de 80, quando a pós-modernidade possibilitou conquistas aos questionamentos femininos

e o avanço nas concepções de gênero (Buttler, 1999, p.11-28). Entretanto, como aponta Stearns, as

vitórias construídas não reduziram o preconceito de gênero e muito menos eliminaram a concepção

de que existem papéis sexuais determinados conforme os sexos (Stearns, 2007, p. 250).

Nesse mesmo período, a reorganização do mundo do trabalho e a globalização das formas de

produção, consumo e controle de qualidade, levaram à adoção de padrões externos de avaliação

escolar e impuseram a criação de um “Estado Avaliador” (Afonso, 2000, p. 49). Esse foi capaz de

produzir um sistema nacional de avaliação do rendimento escolar que, no Brasil, consubstanciou-se

na Prova Brasil, no extinto Provão (atual ENADE) e no ENEM (Exame Nacional do Ensino

Médio), objeto desta pesquisa. A versão inicial desse exame, mais ligada às habilidades e

competências, foi produzida em 1998 e persistiu até 2008. Entretanto, a partir de 2009 um novo

formato foi criado, mais conteudista e menos abstrato, que tem vigorado até os dias atuais. O

ENEM é realizado anualmente por mais de 5 milhões de estudantes, muitos dos quais dedicam boa

parte de seu tempo de estudo resolvendo questões dos anos anteriores. Partindo da hipótese de que

as representações de sociedade e do papel da mulher nessa sociedade podem ser veiculados e

inculcadas pelas questões do ENEM, esta pesquisa se propõe a verificar como a mulher é retratada

em tais questões e problematizar a representação de gênero nas carreiras, a partir do exame 2015.

Um histórico a partir do ENEM

Com a emergência de se criar uma certificação para um currículo baseado em competências

e habilidades, conforme definido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs), a sugestão de um instrumento de avaliação externa veio à tona.

A primeira versão do exame ocorreu em 1998 e esta consistia em uma avaliação individual,

na qual as pessoas submetidas ao processo se candidatavam voluntariamente. O propósito do exame

era possibilitar uma referência para auto avaliação a partir das competências e habilidades que o

estruturaram (Brasil, 2008, p.14). Conforme o Documento Básico inicial do ENEM, a intenção,

além de avaliar o desempenho do aluno, era de mensurar o desenvolvimento de competências

fundamentais ao exercício pleno da cidadania (MEC/INEP, 1998, p.5).

Cada vez mais, com o aumento das desigualdades e diferenças no ambiente escolar, as

exigências e características da pós-modernidade contribuíram para que o exame fosse reformulado.

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O ENEM, inicialmente usado apenas como forma de análise da etapa final da Educação Básica,

passou a ser empregado pelas Instituições Federais como método de acesso ao Ensino Superior.

Este, por sua vez, ocorria por meio de um cadastro em uma plataforma virtual denominada SiSU

(Sistema de Seleção Unificada). Deste modo, após 2008, o ENEM teve mudanças significativas

envolvendo desde o aumento da quantidade de questões (de 63 para 180 itens) quanto o enfoque

delas e o tempo de duração de prova que duplicou.

Descrição do trabalho desenvolvido

A investigação consistiu em pesquisa documental, a partir do bloco de questões de Ciências

da Natureza, propiciada por meio da versão 2015 (1 ͣ e 2 ͣ aplicações) do caderno. Por intermédio das

observações, 88 enunciados compuseram a investigação e, em especial, essa se caracterizou pela

análise textual discursiva (Moraes e Galiazzi, 2006, p. 117-128).

Inicialmente foi efetuada uma leitura dos itens, com a finalidade de identificar quais deles

envolviam pessoas vinculadas às atividades profissionais ou com estudos. Apenas dezoito

elementos se enquadraram nas características procuradas. Na sequência, com base nesses dezoito

itens, houve uma nova categorização, que consistiu em verificar o gênero presente, masculino ou

feminino. Os demais itens que não atendiam as demandas do trabalho foram desconsiderados.

Com base na análise das questões de ciências da natureza dos cadernos investigados, as

seguintes categorias foram identificadas:

Quadro 01: Categorias profissionais identificadas em questões do ENEM 2015

questão Página e

versão descritor Gênero

46

16- 1 ͣ

aplicação Por essa razão, muitos atletas masculino

51

18- 1 ͣ

aplicação Um grupo de pesquisadores desenvolveu masculino

55

20- 1 ͣ

aplicação Suponha que um produtor de rúcula hidropônica masculino

64

22- 1 ͣ

aplicação apesar de ser o último dos corredores masculino

67

23- 1 ͣ

aplicação os estudantes passaram a sentir cada vez mais sede masculino

68 24- 1 ͣ Um estudante, precisando instalar um computador masculino

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aplicação

70

25- 1 ͣ

aplicação Um garoto ... masculino

74

26- 1 ͣ

aplicação "biotecnologia" surgiu no século XX, quando o cientista masculino

75

26- 1 ͣ

aplicação O fenômeno ótico que, segundo os pesquisadores masculino

82

28- 1 ͣ

aplicação um professor levou para a sala de aula um saco de arroz masculino

85

29- 1 ͣ

aplicação Entre os anos de 1028 e 1038, Alhazen masculino

47

16- 2 ͣ

aplicação Durante a aula, um professor apresentou masculino

49

17- 2 ͣ

aplicação Um eletricista projeta um circuito com três lâmpadas masculino

54

18- 2 ͣ

aplicação Um estudante resolveu simular essa situação masculino

60

21- 2 ͣ

aplicação o processo de recuperação dessas áreas, pesquisadores masculino

83

29- 2 ͣ

aplicação O homem, observando esse processo, masculino

85

30- 2 ͣ

aplicação Para irrigar sua plantação, um produtor rural masculino

89

31- 2 ͣ

aplicação Durante uma aula experimental de física, os estudantes masculino

Resultados Obtidos

Dentro do conteúdo discursivo das dezoito questões que se mostraram vinculadas às

carreiras mencionadas no quadro 01, não foram encontradas referências a trabalho feminino em

nenhuma delas, o que indica que o exame destacou em sua totalidade a participação profissional

masculina, invisibilizando a mulher como trabalhadora.

Ainda que a investigação documental não tenha demonstrado a mulher vinculada às

carreiras encontradas, isto não significa que em outras pesquisas elas não se apresentaram

exercendo estas ou outras atividades profissionais. Segundo Abramo entre as décadas de 60 e 90, o

número de mulheres que ingressaram no mercado de trabalho cresceu de modo bastante

significativo. No período analisado por ela, foi possível constatar que a participação feminina em

atividades profissionais aumentou de dezoito para cinqüenta e sete (Abramo, 2000, p. 77).

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Apesar do contexto social da década de 80 ter favorecido aspectos relacionados com a

pluralidade e também a ampliação da participação da mulher em postos de trabalhos que eram

inacessíveis para elas, “a entrada de mulheres em profissões, cargos e espaços de trabalho que

anteriormente eram ocupados apenas por homens, abre a possibilidade para que os indivíduos

envolvidos se questionem sobre a validade de um modelo de divisão sexual do trabalho calcado em

habilidades ditas naturais” (Daniel, 2011, p.335). A cultura, que passou a ser incorporada nos

estudos curriculares com a concepção crítica e também no ENEM, apresenta indícios de uma

concepção machista em que o lugar das mulheres não é no mercado profissional e, principalmente,

nas atribuições que envolvam força ou maior uso da razão. A ausência das personagens femininas

em questões vinculadas às carreiras, e também em itens vinculados aos estudos, mostra que a

invisibilidade delas é reforçada tanto como alunas quanto trabalhadoras. Esse fato, que foi

percebido nas questões, é contrário aos dados apresentados por Abramo (2000, p. 77).

Por meio dos dados obtidos com a análise realizada a partir da categorização apresentada no

quadro 01, foi possível construir o Gráfico 01.

Gráfico 01: Distribuição de carreiras ocupadas por homens nas questões analisadas.

O gráfico acima mostra que o maior setor corresponde ao percentual de estudantes

masculinos que são descritos nos fragmentos. O resultado apresentado pelo gráfico, em que a

palavra estudantes está acompanhada do artigo “os” e portanto se refere ao sexo masculino, pode

estar vinculada ao fato de que nem sempre as mulheres tiveram acesso aos estudos. No Brasil foi

somente a partir de uma lei promulgada em 15 de outubro em 1827 que as protagonistas femininas

tiveram direito ao ensino formal. Durante o Império, a Escola Normal foi “uma das poucas

oportunidades, senão a única, de as mulheres prosseguirem seus estudos além do primário”

(Demartini e Antunes, 1993, p.6). Ao contrário dos homens brancos, criados para serem os chefes

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da casa, que foram detentores de várias oportunidades. Verifica-se que os discursos produzidos nas

questões analisadas, ainda refletem as desigualdades historicamente construídas.

Em razão da transformação presente no campo dos estudos, Abramo reforça aspectos que

mencionam a relação da instrução com o acesso ao mercado de trabalho. Segundo a autora, o nível

médio de instrução feminino (daquelas que estão presentes no mercado de trabalho), atualmente se

apresenta como sendo maior que os índices dos homens (Abramo, 2000, p.79). Portanto, o trecho do

discurso encontrado no documento em que a palavra estudantes foi acompanhada do artigo “os” ou

“um” é passível de discussão e reformulação.

Na concepção de Portinari a linguagem, além de expressar relações de poder, também

produz e pretende fixar as diferenças. Segundo ela “A linguagem é um turbilhão e nos usa muito

mais do que nós a usamos. Ela nos carrega, molda, fixa, modifica, esmaga” (Portinari,1989, p.18).

De acordo com Louro, a partir da problematização da frase de uma professora ao dizer que

“os alunos que acabarem a tarefa podem ir ao recreio”, nós devemos nos auto questionar se houve a

inclusão das meninas ou não em tal discurso. A partir deste exemplo, as feministas defendem que

formas de tratamento sejam incorporadas no ambiente escolar (Louro, 2014, p.69). Spender enfatiza

que: “ao utilizar a expressão genérica a referência é na verdade uma espécie constituída por

homens” (Spender, 1993, p.202). Consequentemente, pode se dizer que a linguagem promove a

ocultação das mulheres nos diversos discursos que encontramos na sociedade. Resgatando o excerto

“estudantes”, presente no ENEM 2015 acompanhado pelo artigo “os” ou “um” (representado no

Gráfico 01 pelo maior setor), podemos considerá-lo similar ao exemplo fornecido por Louro.

Ao relacionar as possibilidades que o grau de instrução pode proporcionar ao mercado de

trabalho, temos que, a partir dos dados fornecidos por Valdés e Gomáriz (1995), citado em Abramo

(2000), com base em investigações produzidas nas zonas urbanas da América Latina, as mulheres

economicamente ativas possuem nove anos de instrução. Na mesma região os homens, com um

tempo menor, se encontram com oito anos. Quando comparadas as dificuldades dos homens com

um nível educacional mais baixo, as mulheres em uma situação similar suportam mais barreiras

ocasionadas pelas desigualdades de gênero (Abramo, 2000, p. 79). Em suma, podemos considerar

que elas necessitam de maior instrução para atingir os mesmos postos que eles e, portanto,

considerar apenas “os” estudantes em vez de “as” também é um item não condizente com a

realidade em que o ENEM foi produzido. Com base nas discussões construídas, pode se defender a

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ideia de que as mulheres possuem a mesma capacidade que os homens de serem consideradas como

“estudiosas”. No entanto, parece que o padrão da linguagem ainda coloca o homem em uma posição

superior a elas.

De acordo com o Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, publicado pelo IPEA (2017),

ainda que alterações no mercado de trabalho tenham ocorrido, e também mudanças nos aspectos

culturais da sociedade tenham se instaurado, as desigualdades permanecem. Acerca destas,

podemos citar as diferenças presentes nos desníveis salariais, na taxa de desemprego (a das

mulheres acaba sendo maior que a dos homens) e nas ocupações de trabalho.

Referente à segunda parte do gráfico 01, de maior destaque, verificamos a carreira de

cientista. De acordo com o filósofo Georg Hegel (1770 – 1831): "A mulher pode ser educada, mas

sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes" (Silva, 2011,

p.1).

Para Abramo as imagens de gênero são importantes no processo de constituição das

“categorias que vão estruturar a construção dos postos de trabalho e também os perfis de

qualificação e competência a eles associados” (Abramo, 2000, p. 90). As imagens que se tem da

mulher, embutida culturalmente na sociedade, tem os reflexos da dona do lar e mãe. É essa a

representação que se superpõe a personagem trabalhadora e, portanto, a possibilidade da

personagem feminina se envolver com pesquisas científicas (estando envolvidas com atribuições

domésticas) acaba sendo classificada como nula. Ainda que atualmente o contexto tenha se

alterado, a predominância nas carreiras científicas (em particular das ciências exatas) continua

sendo do público masculino.

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Ao retomar a análise do gráfico 01, é interessante notar que três carreiras tiveram um

empate: a de professor, atleta e agricultor. De maneira antagônica, em comparação com a figura

masculina, as mulheres não foram citadas e, não era de se estranhar, nas profissões que demandam

esforços físicos a invisibilidade continuou.

Conforme as pesquisas da Abramo, as atividades profissionais do setor urbano são as que

incorporam mais mulheres do que as desenvolvidas no setor rural. Entretanto, apesar de tal dado,

isto não significa que em outros países uma nova realidade seja encontrada como, por exemplo, a

centralização de mulheres em atividades rurais em vez de urbanas. Neste último caso, temos países

como Bolívia, Colômbia e Paraguai, entre outros (Abramo, 2000, p. 77).

Apesar de uma elevação significativa da presença feminina no mercado de trabalho, as

desigualdades não foram amenizadas ou reduzidas. A maior parte dos empregos femininos continua

centrada em alguns setores de atividade e agrupada em um pequeno número de profissões, e essa

segmentação continua estando na base das desigualdades existentes entre homens e mulheres no

mercado de trabalho, incluindo as salariais (Abramo, 2000, p.78).

Podemos verificar que, além das profissões que incorporam esforço físico, nas atividades

que demandam a utilização de ferramentas ou maquinários com mais tecnologias, são os homens

que marcam presença. No gráfico 01 é notável, mesmo com um percentual menor, que a figura

masculina foi apresentada vinculada à carreira de eletricista (atividade que demanda conhecimento

técnico, habilidades e um certo esforço físico).

Considerando que as indústrias absorvem muitos profissionais para trabalhar no setor

elétrico e também nos maquinários, ainda que a segmentação ocupacional dos gêneros persista no

mercado de trabalho, parece que a presença das mulheres nos serviços da indústria não é

considerada. Entre os anos 70 e 80, a industrialização era concebida como alternativa para expulsar

a força de trabalho feminina dos setores mais modernizados da economia (Abramo, 2000, p. 86).

Por meio de uma pesquisa efetuada no Chile, em particular no setor industrial, foi verificada

uma maior participação das mulheres nos trabalhos que envolviam o manuseio de máquinas

convencionais. Em contrapartida, naqueles maquinários com mais tecnologia (programáveis), os

números encontrados foram menores. Segundo Abramo: “a maquinaria tendia a ser incorporada nas

seções chaves do processo produtivo, no qual os postos de trabalho (mais qualificados) eram

ocupados principalmente por homens” (Abramo,2000, p. 87)

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Nas industrias, à medida que os maquinários de alta tecnologia eram incorporados, a

operação destes era dada aos homens. Consequentemente, a masculinação dos trabalhos foi

favorecida em razão dos executivos considerarem que os homens eram mais indicados para tal

tarefa. A partir dos comentários tecidos, podemos supor que as mulheres não foram favorecidas no

ambiente industrial que demandava a habilidade com recursos tecnológicos.

Contraditoriamente, a ação vinculada ao esforço físico e trabalho industrial, temos a ligação

com a parte intelectual que foi destacada no gráfico 01 pela carreira do magistério. O ENEM ao

fazer menção do cargo Professor, coloca o personagem masculino como sendo da disciplina Física.

Não é de se estranhar, pois como aponta Giffin, há um caráter identitário do homem com qualidades

relacionadas à mente, à produção e à razão (Giffin, 2005, p. 48).

Acerca das imagens de gênero, elas podem ser definidas como “configurações de

identidades masculina e feminina produzidas social e culturalmente, que determinam em grande

parte, as oportunidades e a forma de inserção dos homens e mulheres no mundo do trabalho”

(Abramo, 2000, p.89). Segundo a autora, estas caracterizam os denominados territórios femininos

ou masculinos e, consequentemente, contribuem para os processos que estruturam a divisão sexual

do trabalho.

Considerações finais

Desde os primórdios da construção da humanidade, é notória a distinção presente entre os

afazeres designados às mulheres (meninas) e homens (meninos). Ainda que muitas conquistas

tenham sido em partes alcançadas (elevação da participação delas no mercado de trabalho, acesso

aos estudos e entre outras.), existe um longo caminho a ser trilhado.

Com as reflexões, possibilitadas por este trabalho, são perceptíveis os discursos

preconceituosos de gênero. Desta forma, podemos dizer que parte da sociedade continua

concordando com as afirmações sexistas dos filósofos citados.

De acordo com Louro, “currículos, normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem,

materiais didáticos, processos de avaliação são, seguramente, loci das diferenças de gênero,

sexualidade, etnia, classe- são constituídos por essas distinções e ao mesmo tempo, seus produtores”

(Louro, 2014, p. 68). O modo como o currículo é empregado no ensino, faz todo o sentido na

diminuição das diferenças de gênero, raciais, entre outras.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

No contexto atual, as desigualdades persistem e são reforçadas pelos estereótipos de gênero

construídos ao longo da existência da humanidade. Entretanto, as condições se comparadas nas

décadas anteriores a 70, são bem diferentes. A partir da década de 70, com as lutas que foram

estabelecidas, direitos e uma nova realidade se formou: a da geração pós-crítica. Apesar do

surgimento desta nova realidade, os materiais e ambientes escolares necessitam ainda incorporar

mais ações que promovam a equidade nas diversas instâncias.

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The representatios of gender in questions about Natural Sciences in ENEM 2015

Abstract: The genesis of this study was based on the analysis carried out from the National High

School Examination 2015 (ENEM). Through the questions of Natural Sciences of this examination,

it was possible to verify how is gender representation in the professional aspects approached. The

conception of woman pointed out, constantly carries the influence of the patriarchal thoughts

reinforced by Rousseau and Hegel. According to the mentioned philosophers, men must be

educated to marry, have children and to be subordinate to man. In short, they should not work

outdoors; much less disagree with a male decision. In the present century, for example, the

stereotype that individuals have roles to play in society still seems to have traces of earlier

philosophers, although insertion into the labor market has occurred by them. With curricular studies

(specifically the emergence of post-critical theories), transformations in the method of how and

what to teach came to corroborate with discussions about gender, racial, cultural, and other

inequalities. From this documentary and bibliographical research, we hope that the present work

will motivate researchers to continue studies in the area of gender, science and curriculum.

Keywords: Natural Sciences. Gender. Curriculum.