As Revoluções Burguesas

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    f) 1 r'" iL '.~ o HCUL 0 X X

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    As revolucoes burguesasAntonio Edmilson Martins RodriguesProfessor Adiunto de Historia Moderna da UniversidadeFederal FluminenseProfessor Adiunto de Historia do Rio de Janei ro daUnivers idade do Estado do Rio deJaneiroProfessor Adjunto de Hist6ria Modema da PontificiaUniversidade Cat6licaIRJ

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    : r . . . .

    APRESENTAc;AO

    Com toda certeza voces ja assistirarn a alguma aula de hist6ria que lhesexplicou as formas de desenvolvimento do capitalismo no fim do seculox v m . Par iss0, todos voces sabem que 0 capitalismo adquiriu sentido e esta-beleceu as suas formas de dominic a partir do fim do seculo XVIll com aprocesso de desenvolvimento das revolucoes burguesas.

    Entretanto, muito antes da vitoria dos burgueses e cia inauguracao deuma nova etapa na hist6ria da humanidade, 0 homem, a vida e as relacoessociais e politicas ja haviam se transformado com relacao ao que foram asantigas formas de exploracao da Idade Media (Hobsbawm, 1975).

    Em especial, a s ecu lo XVI II , nao por acaso identificado com as Luzes, foio momenta onde ganharam consistencia novos modes de pensar 0 homem eo mundo, funcionando como momenta de slntese de mudancas ja anuncia-das pela secularizacao da Igreja, ern especial pelas reformas religiosas, pelorornpimento com a tutela ideol6giea naquilo que dizia respeito a natureza eao natural, atraves da revolucao cartesiana, e pelas transformacoes cienrifi-cas dela oriundas.

    Ao Iado dessas rupturas corn a tutela religiosa, d es en vo lv eu -s e uma f or -te tendencia de explicacao daquilo que era 0 desenrolar da vida social e doseu entendimento como resultado da at;ao das virtudes humanas decorrentesdo exercicio da razao,o seculo XVIII representou para a hist6ria da hurnanidade urn rnomen-to novo, no qual a primazia cia razao elegeu 0 homem e as suas virtudescomo responsaveis pelo progresso material e tecnico e pela descoberta de queessa nova experiencia s6 podia alcancar seus objetivos sea liberdade de vivere pensar fosse 0 leito do novo caminho (Vacher, 1972).

    Representado pela associacao entre razao e liberdade, 0 Seculo das Luzesinaugurou uma nova forma de ver a humanidade, onde a igualdade foi a nova

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    o SECULO XXmestra das trocas e das virtudes humanase a referenda para todas as crit icasao dominic aristocratico das sociedades do Antigo Regime (Goubert, 1971).

    Esse movimento do esclarecimento, atraves da razao, fortaleceu as rup-turas com as form as estatais do seculo XVII - os Estados absolutistas _reivindicando uma participacao no Estado que se originou das a~6es detransforrnacao, principalmente da economia, valorizando a hornem produ-tor em detrimento do nobre, que vivia a custa do rei nas sociedades de Corte(Hobsbawm, 1977).

    Essas transformacoes tam bern elegeram urn novo lugar de onde as Luzespodiam seexpandir e, ao mesmo tempo, seconsagrar na forma de rnovimen-tos intelectuais. A cidade, em oposicao ao campo, passou a ser a espaco ori-ginal das novidades, onde as novos valores anunciavam-se e divulgavam-se,transformando-se em ideais burgueses, em novas vis6es de mundo e emnovas formas do viver social.o desenrolar desse movimento de privilegio das cidades foi a tomada deconsciencia politica por parte dos burgueses. A nova sociedade rnadificou assuas relacoes, introduzindo a virtude e 0 conhecimento e produzindo novasformas de sociabilidade, nao rnais representadas pela hierarquia do nasci-mento, mas marcadas pela eficacia das acoes dos homens, pela capacidade derransformacao da natureza (Weber, 1985).

    As reorias sabre 0progress a material, tecnico e intelectual assumiramimportancia decisiva para que esses novos homens entendessem que a suahistoria seria 0 resultado de sua consrrucao do futuro no presente e que 0progresso era aquilo que movia 0 aperfeicoamenro da razdo humana.

    A natureza, alterada pela a~ao do trabalho humano, ganhou uma novaqualificacao. Ela foi, ao mesmo tempo, 0campo de a~oes do homem e 0 tro-feu final dessa aplicacao, por sua eleicao de portadora da abundancia.

    Entretanro, para que esses valores adquirissem a condicao de norteado-res de novos sistemas sociais e politicos, foi preciso derrotar aqueles que con-~olavam a antiga ordem. Tornou-se urgente eliminar as honras e os privile-gios decorrentes de relacoes pessoais com 0Estado. Esse movimento de crfti-ca ao Antigo Regime antecipou a consolidacao da ordem burguesa, no mododos Estados nacionais, e assegurou as transformacoes atraves das revolucoesburguesas (Hobsbawm, 1980).

    A construcao da nova ordem resultou, assim, das revolucoes burguesas,denominacao generic a e abrangente, que quer unificar as variados modos deluta dos burgueses contra as anrigos regimes e que, historicamente, envolve-

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    ram urn movimento social , polit ico e ideologico, que se introduziu na socie-dade do Antigo Regime, pulverizando-a de cima a baixo e estabelecendorelac,;oesque sugeriam aliancas entre nobres e burgueses para garantir 0novotempo, que propunham sistemas politicos onde interesses diferentes estabele-ceram uma pauta comum de mudancas.

    A segunda metade do seculo XVIII foi, par excelencia, 0 perfodo de apo-geu dessas contradicoes e crit icas, fazendo com que os novos ideals de liber-dade e igualdade ultrapassassem 0 mundo europeu e fossem, em outrasareas, as bases de processos revolucionarios distintos, tanto no seculo XVIII,com 0 exemplo americana das Treze Colonias, como no seculo XIX, com aexperiencia de modernizacao do japao. E born lembrar que tambern no pro-prio continente europeu ocorreram transformacoes ligadas ao progresso e asrevolucoes diametralmente diferentes dos exemplos de Franca e Inglaterra,tornados pelos historiadores como os tipos classicos de revolucoes burgue-sas, como 0caso da Alemanha (Hampson, s/d).

    Antes de examinarmos cada urn dos casas de desenvolvimento diferen-ciado e desigual de consolidacao do capitalismo, testa-nos apresentar urnquadro amplo e geral das condicoes que motivaram essas revolucoes e que,ao fim e ao cabo, permitiram-lhes uma identidade cornum ocidental.

    1.0mundo europeu da modernidade: 0 longo movimento detransformacoes do Renascimento ao Iluminismoo seculo XVI foi 0 momento de constituicao dos idea is modernos noOcidente. 0 Renascimento e Humanismo libertaram 0 homem da contem-placdo medieval e 0 elevaram a categoria de centro do mundo; 0 homem pas-sou a ser a medida de todas as coisas.Essa nova a~ao humana que experimentou a mundo, descobrindomodos de transformar a natureza, nao so anunciou uma nova composicaopolitica - os Estados modernos - mas agiu como fomentadora de novasatitudes mentais diante, principalmente, da Igreja, deterrninando 0 desenca-dearnento dos movimentos das reformas religiosas e, com elas, 0 estabeleci-mento de uma nova concepcao de individuo e de a~ao individual.

    Ao mesmo tempo, a invencao da perspectiva e 0 usa da matematicaconstruiram a nocao de infinite, gerando novas descobertas maritimas ealargando 0horizonte humano, tanto no conhecimento de novas costumes

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    " t a SECULO xxcomo na capacidade de dar uti lidade, especialrnente economics, aos novosrnundos descobertos (Rodrigues, 1995).o rnercantilisrno como urn conjunto de praticas e projetos economicosdesenvolvidos na Europa moderna s6 foi possivel pela associacao dos merca-dores aventureiros corn os Estados modernos. A associacao entre mercanti-lismo, reformas religiosas e Estados modernos originou os novos registros doespaco geografico, 0 campo, ate entao a base do processo de riqueza, trans-formou-se, adquirindo urn novo lugar na expansao da economia moderna.Nao valia mais a pena ser proprietario de vastas areas de terras improduri-vas, era preciso transforms-las em terras de trabalho e producao corn capa-cidade de produzir riqueza mais salida (Falc6n, 1986).

    Entretanto, as consequencias dessas mudancas ja apresentaram de saidasituacoes contradit6rias. Se, de urn lado, essas mudancas realcaram urn novotipo de producao, por outro trouxeram problemas, pois na maioria dasregioes rurais europeias esse processo provocou nao so riqueza mas tambempobreza.

    Em Estados como a Espanha, 0 processo de acesso aos metals preciososcoloniais induziu urna polftica de desvalorizacao da producao interna com 0conseqiiente movimento de incentivo as atividades cornerciais, e nao agrfco-las, fazendo com que a riqueza mercantil possufsse urn elemento de instabili-dade, fosse nos rnecanismos de troca, nas garantias de reservas estatais au namanutencao de um custo alto de controle dos mares para evitar a piratar ia . 0exemplo espanhol favoreceu 0crescimento da miseria e da pobreza nos cam-pos, que teve repercuss5es importantes nas cidades (Koenigsberger, 1974).

    Urn exemplo de outro t ipo foi 0 da Inglaterra , onde a valorizacao da pro-ducao aumentou os precos das terras e dos produtos agricolas, afastando urnelevado mimero de camponeses e pequenos proprietar ies dos campos, favo-recendo a transforrnacao das areas agricolas em terras de trabalho e produ-s:ao, mas, paradoxalmente, fazendo surgir rnovimentos sociais de rebeldia(Thompson, 1979).

    As mudancas at ingiram tarnbem as formas de organizacao social. Com 0crescimento docornercio, as cidades expandiram-se, promovendo alteracoesnos modos de realizacao das trocas, incentivando a invencao de novos ins-trumentos financeiros e consolidando a ideia de associar 0mercado e a cir-culacao de bens a producao,

    Novos hornens, ricos e urban as, dominaram 0 cenario das cidades, afas-tando delas as velhos habitos rurais. Se ate 0 seculo XVI a cidade moveu-se

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    . "Il!!tI

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    em decorrencla do movimento economico dos campos, agora a direcao se[llodificava. As transformacoes consolidararn a hegemonia da cidade sabre 0campo. A paisagem rural se urbanizou pela ac;ao direta dos homens ricos eurbanos (Hill, 1977).No impeto de aumentarem as suas rendas, os novos burgueses avanca-ram pelo campo, nao apenas estabelecendo relacoes comerciais, mas tornan-do-se proprietaries rurais de novo tipo, para os quais as terras, alem derepresentarem maior patrimonio, aumentavam incessantemente suas rique-zas. Essa atitude, rnais clara na Inglaterra, mostrou como, ao lado das for-mas de riqueza oriundas do mercantilisrno iberico, forrnaram-se outrosmecanismos de aumento das rendas, mais estaveis que os do comercio delongo curso, menos custosos no controle e mais garantidos em termos depatrirnonio (Rodrigues, 1975).A associacao campo-cidade foi positiva para ambos, no nivel dos interes-ses dos proprietaries urbanos. Nos campos, de forma diferenciada naEuropa Ocidental, as relacoes sociais se rnodificaram. Os antigos proprieta-rios nobres, pressionados pelos novos tempos, adapraram-se aos poucos epassaram a invest ir na producao, participando ativamente da vida urbana eda organizacao dos mercados, provocando urn processo de incorporacao dosnovos valores e sugerindo urn movimento politico de aliancas com oshomens ricos urbanos. Este procedimento observou-se tanto na Inglaterracomo nas areas rurais da Alemanha.Na Franca, entretanto, verificou-se urn movimento rnais complexo e, porisso, menos modernizador do ponto de vista dos interesses privados. A neces-sidade de manutencao da maquina adrninistrativa e mili tar do Estado fran-ces fez com que as iniciativas reais para ampliacao das rendas estatais pro-movessem urn movimento de reciprocidade entre rei e nobreza rural, favore-cendo 0processo de incorporacao da nobreza a vida urbana na forma irnpro-dutiva da sociedade de corte e produzindo urn movimento de fragmentacaodas propriedades rurais como iinica alternativa de producao de rendas danobreza (Elias, 1987).A consequencia mais penosa foi que 0 retalhamento das terras inviabili-zou 0 desenvolvimento da circulacao intern a de mercadorias , cr iando urnobstaculo a introducao de novos invest imentos e provocando tensoes entre anobreza urbana e a nobreza provinciana; esta ul tima, pelo fato de combatera centralizacao real, foi freqtientemente identificada pelos historiadores comos interesses feudais (Dobb, 1978).

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    ,':.

    As elites novas e antigas nao foram as iinicas a beneficiarem-senovos modos da economia e da politica, Os comerciante.s adquiriramnova expressao no meio urbano. De simples intermediarios entre as areasproducao e os mercados, transforrnaram-se em investidores, renovandomercados corn a incorporacao das novidades do Novo Mundo, oudo na ampliacao do usa utili tario dos campos atraves da atribuicao defunc;oes a determinadas materias-primas. Urn dos exemplos mais importan-:tes foi 0 uso da Ii i e as suas consequencias em termos de desenvolvimentomanufaturas urbanas e rurais (Koenigsberger, 1974).

    Os comerciantes foram, sem diivida, a expressao mais pontual da a' ''''AJ''-tencia de fronteiras entre 0campo e a cidade. Mas nao houve beneficios ape-.nas para os proprietaries. Setores de trabalhadores rurais especializados e de .pequenos proprietaries tambem se beneficiaram do processo de circulacaode mercadorias e materias-primas, explorando os rebanhos de ovelhas emregioes improdutivas ou atraves das formas coletivas de desenvolvimento doartesanato, incorporando-se a economia monetaria e associando-se aos ..comerciantes; a consequencia foi 0 aumento da rapidez do fluxo entre cam-po e cidade (Falcon, 1986)_

    Os trabalhadores urbanos tam bern, em certo sentido, se beneficiaramcom as novas condicdes urbanas, pois elas abriram oportunidades nas manu-faturas e no comercio, alem do surgimento de novas profissoes no embalodas t ransformacoes (Thompson, 1979).

    Os muitos pobres e os antigos nobres, que nao modificaram seus velhoshabitos e valores, formaram 0contingente daqueles que nao obtiveram bene-ffcios diretos e que lutararn constantemente para manter suas posicoes,

    As rebelioes socia i s e a continuidade das guerras, acompanhadas das ten-soes urbanas resultantes do aumento da riqueza e das disputas polfticas,favoreceram a centralizacao politics, entenclida como mecanismo de ordempara garantia do progresso. Foi, nesse sentido, comum identificar 0 absolu-tisrno de L U I S XIV com urn tipo especiflco de progressismo capaz de efetuarreformas que asseguraram 0 fortalecimento da e conomia frances a, principal-mente atraves de Colbert (Deyon, 1975).

    A radicalizacao da economia monetaria alterou a paisagem europeia.Cresceram as cidades, aumentaram as populacoes, ampliararn-se as ativida-des comerciais, industrials e financeiras, Os bancos passaram a garantir a cir-culacao e a movimentar a intensificacao das trocas.

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    A S R E VO LU

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    ses, embora dominassem a vida urbana, encontravam-se sob 0 controle doEstado. 0 campo e a cidade eram afetados, indist intamente, pelas necessida-des do luxo da Corte e da manutencao da maquina real, na forma de eleva-~ao de contribuicoes fiscais ou criacao de novas impostos.

    Os atos de demonstracao de insatisfacao eram reprimidos em nome daordem e da manurencao da unidade do Estado, aumentavam as contribui-

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    o SECULO XXuma gama de intelectuals iluminados como David Ricardo, Adam Smith,Stuart Mill, J erem y Bentham e outros, mas por apresentar uma forma deconsolidacao dos valores burgueses que associou radicalismo com religiosi-dade, lucro com atua

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    o 5~CUlO XXpublicos, e transformado a vida poli tica, a revolucdo industria l niio deve seranalisada como simples consequencia de tais transformacoes, pois a revolu-" a o do seculo XVII nao possuia urn sentido burgues em seu infcio, era urnmovimento de oposicao a centralizacao real e combatia 0projeto de implan-tar;ao do absolutismo.

    A consciencia politica que fez a sociedade se levan tar contra 0 rei derivoudas modificacoes ocorridas desde 0 firn do seculo XV e, paradoxalmente,prornovidas pela reforma de Henrique VIII. Com 0 intui to de estabelecer acentral izacao, Henrique VIII elaborou urn movimento de reforrna religiosaque conduziu a urn processo de ampliacao do poder real, na rnedida em quefez com que todas as terras dos cat61icos viessem a se tornar propriedadereal. Com isso, haveria uma reducao signif icat iva do poder do Parlamento,urnavez que, distribuindo essas terras entre homens de sua confianca, 0 reipoderia aurnentar a sua representacao no Parlamento (Hill , 1977).o resultado, no entanto, foi negativo. Apropriando-se das terras pordesignio real, os gentis-homens ingleses passaram a defender a liberdade tra-dicional dos proprietar ies de terras na Inglaterra , assegurando a autonomiado Parlamento.

    Sucederam-se tensoes durante todo 0 seculo XVI entre reis e Parlamento,mas a vida economica inglesa se desenvolveu. Com a reform a de HenriqueVITI,houve urn aumento das areas cultivadas e uma presenca maior dos pro-dutos ingleses na economia espanhola; aumentaram as rendas dos proprieta-rios, mostrando-Ihes que 0 caminho estava no aumento da producao comounica altemativa de manutencao da riqueza.

    Isso provocou contradicoes, uma vez que 0 poder real, cada vez maisl imitado, nao possuia meios de acumular recursos para manter sua estruturade poder. Tambem i9S0, por mais surpreendente que fosse, auxiliou 0 desen-volvimento ingles , pois fez com que surgissem as companhias de comercio ea polit ica colonial, principalmente com Elizabeth I , no fim do seculo XVI.

    Por maiores que fossem as confli tos , havia na Inglaterra uma conscien-cia clara da atencao para a producdo. Com as crises do seculo XVII, essasfontes de recursos apresentaram problemas, a manutencao da polit ica mer-cantilista inglesa tornou-se muito custosa, porque envolveu guerras, princi-palmente com a Franca, e a necessidade de recursos indicou como tinica sal-da 0 aumento das rendas rea i s atraves do fiscalismo ou aumento de impos-tos. A aplicacao dessa politica produziu graves conseqiiencias e reintroduziuo embate entre rei e Parlamento.

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    Foram esses conflitos que originaram a Revolucao Inglesa do seculoXVII, anunciando uma nova etapa de sua historia, com a consolidacao dosvalores burgueses atraves da monarquia Iimitada de caniter constitucional.

    Uma pergunta que sernpre surge quando urn historiador interpreta 0seculo XVII Ingles e : Como, depois de urn seculo de guerras eivis, a Inglaterrapade no seculo XVIII realizar a sua revolucao industrial? E e em direcao aspossiveis respostas que podemos encontrar elementos que podem explicar 0desenvolvimento ingles,o primeiro elemento importante foram as guerras civis do seculo XVII,que tiveram como vitoriosos os hornens comuns da sociedade inglesa. Ossetores burgueses foram os que mais forternente se bateram pela autonomiacom relacao ao poder real, associados aos interesses comerciais e financeirosde Londres. Juntos derrotaram os exercitos reais e derrubaram, durante urnbreve periodo da republica de Cromwell, a monarquia.o segundo elemento originou-se da configuracao da fereligiosa na socie-dade inglesa, especialmente pela nao-separacao entre fe e acao, que redun-dou na afirrnacao de uma etica e de uma moral capazes de desenvolver umadisciplina de trabalho e de poupan

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    " o HCULO XXprocessos de producao, m uit o b ern assinaIados por Marx, no Capital,do se referiu as f or rn as d e obtell~ao de renda nesse perfodo de passagemos Tempos Modernos (Marx, 1976).o que deve ser assinalado como importanie nessas formas na o saoos resultados obtidos pelos proprietanos de terras, mas 0 aumento dosdo s, a i nt ro ducao de uma e co nom ia mo ne ta ri a, a c ir cu la ca o de mercadorias,cultivo de novas p ro du to s a gr fc ola s, a . in.corporalfao de novas tecnicas detio etc. Tao importante quanto as aspectos an ter io rmen te mencionadosa s m u da nc as s oc ia is que d af d ec or re ram , A p ss sa gem d a f orma de obtencaorenda sabre 0 trabalho a consclidacdo do trabalho assalariado aumentoucapacidade de producao de riqueza em outros setores que nao apenas a aristo-.cracia. Pequenos e medics proprietaries surgiram, ao Iongo desse processo,assumindo func;5eseccnomicas, primeiro complementares, como a circulacao, .:porem mais tarde, controlando bancos e i ndtistrias (Dobb, 1978). .

    Essas modificacoes fizeram-se, no entanto, a custa de muitas lutas, prin-cipalmente por parte daqueles que foram exdufdos do processo iniciaI deacumulacao.

    Verificou-se isso atraves do chamado processo de cercamento dos cam-pos, que seiniciou no seculo XVI e que reve como objetivo radonalizar a usoda terra, dando-lhe uma funs;ao especffica de acordo com as tendencias deaurnento das rendas e de desenvolvimento dos mercados. Dessa forma, os cer-camentos podem ser identificados, desdeo seculo XVI, com uma tendencia deproducao que ja mostra a forca de uma economia capitalista (Iglesias, 1996).

    Esses cercamentos, queaumentararn a capacidade de obtencdo de rendapela profissionalizacao de sua producao, expulsaram famflias que viviam daagricultura e que tiveram como alternativas a concentracfo de seu trabalhono artesanato da la e 0 afastamento dessas unidades cercadas, ocupandonovas areas e funcionando como alargaclores da fronteira agricola. 0 impor-tante e perceber como a 16gica desse movimento engendrou formas deampliacao da producao e novas condicoes de fazer riqueza (Arruda, 1990).

    Se os cercamentos do seculo XVI estavam envolvidos com a producaoagricola, os dos seeulos x v n e x v m ja mostravam uma qualidade diferen-teoBasicamente dirigidos para a atividade de organizacao de materias-primaspara 0 desenvolvimento industrial e urbane, estes cercamentos concentra-ram-se na prodw;,:aoda laoSeu exame rnostra-nos como existiram elementossemelhantes aos primeiros tipos, prindpalrnente no que diz respeito a suad inarn ica ( Iglesi as, 1996).

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    OS cercamentos do seculo xvm podem ser considerados como sfntesesde rodas as transformacoes que levaram a consolidacao do capitalismo. naInglaterra. Em primeiro Jugar, porque sua especializacao exigiu uma articu-lac;:aofundamental com 0mercado. Como se concentraram na atividade deoducao da Iii a realizacao da renda dependeu dos mercados, de novas tee-pr"3" '"3" de novos ti dnologias de beneficiamento do produto e do emprego e novos tlP.os _eove-

    lhas. 0 crescimento dessa atividade impos novas formas de organizacao nasindtistrias urbanas, representando 0 fim do sistema classico das corporacoes,aumentando a oferta de empregos urbanos e atraindo a populacao rural paraa nova expressao da riqueza - as cidades. . .

    Mas 0movimento de crescimento urbano e de sua econorrua fOJdevedorinda dos cercamentos do seculo xvm em outro aspecto. Examinando os seus:feitos, nora-se que a opcao pelos rebanhos de ovelhas prod~iu. urn g:_andeimpacto sabre a populacao rural. 0 seu principal. aspecto f01 a liberac;~o demao-de-obra, que acabou por gerar duas formas diferentes de desenvolvlme~-to. A primeira situou-se no proprio campo e foi responsavel pelo ~esenvolvl-mento das formas domesticas de artesanato, Fosse0 artesanato disperse ouconcentrado em determinadas areas. lsto porque, diferente das areas de produ-fYiioagricola, as especializadas em ovelhas nao precisavam do rnesmo rnimerode trabalhadores clestas, liberando assim mao-de-obra (Falcon, 1986).

    A segunda concentrou-se na inrer-relacao do campo com a cidade e,numprimeiro memento, tarnbem vinculou-se a Iiberacao de mdo-de-obra, ,qu~,nas cidades, se incorporou tanto a s novas indiistrias quanta ao comerciointemacional. ;Houve, alern disso, uma outra dimensao dos cercamentos do seculoXVIII, tao importante quanto as anteriores, que dizia respeito ao proc~ss.o deespecializacdo e divisao do trabalho. As areas cercadas fo:am uma especie delaboratorio para a organizacao do trabalho manufatureiro e _para 0 desen-volvimento de tecnicas de racionalizacao cia producao eficazes para 0aumento das rendas. 0 resultado, em geral, dessas transformacoes no cam-po foi a expansao tecnica da producao rural, sua especializacao e, por fim, 0crescimento das manufaturas rurais.

    Essas alteracoes s6 podiam ganhar consistencia e adquirir a forma de urnprocesso porque a continuidade de seu desenvolvimento articulou-se ~ireta-mente com a atividade econornica que incentivou essas transformacoes: 0cornercio intern a e externo. Foram os resultados positives das atividadesmercantis inglesas, principalmente a partir do seculo XVII com as compa-

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    o S E CU LO XXnhias de comercio, que serviram de sustentacao para essas mudancas, pois,por serem urn setor de ponta, aceleraram 0 crescimento da producao internae produziram urn tal volume de capitals que possibil itou investimentos nocampo e na cidade, na forma decompras diretas de terras , de organizacao deindiistrias, mas, principalmente, da estruturacao do setor bancario.

    A presenca desses capitais fez com que as inovacoes tecnicas se proces-sassem rnais rapidarnente atraves dos emprestimos gerenciados pelos bancos.A afirrnacao do sistema bancario potencializou a circulacao e garantiu 0aumento da velocidade de circulacao, gerando lucros ineessantes e promo-vendo a base que possibilitou a revolucao industrial (Iglesias, 1996).

    Os impactos sociais foram evidentes, entretanto manteve-se a marcaconstante do perfodo que vai do seculo XVI ao seculo XVIII, a riqueza e apobreza corriam juntas.

    Essas novas formas de desenvolvimento, embora pouco a pouco eliminas-sem as diferencas entre campo e cidade, mantiveram a presenca da perspecti-va tradicionalista bern como as diferencas sociais e espaciais, A nao-elimina-c;:aodos interesses agrarios desse processo fortaleceu 0 desenvolvimento deuma nova aristocracia de proprietaries, alern do crescimento e do enobreci-rnenro de setores agrarios vinculados a gentry, nobreza proprietaria de terras.

    Urn dos segrnentos sociais atuantes nessas mudancas, os comerciantes ehomens de negocios, que ja no seculo XVII haviam contribuido para 0 cres-cimento mercantil ingles, transformaram-se nos empresarios empreendedo-res da nova economia industrial. E born que se reafirme que 0 envolvimentocorn a economia, embora definisse urn circulo de interesses privados, jamaisafastou da vida publica esses homens que, como acumuladores e produtores,constituirarn-se em exemplos para a sociedade. Eles atuaram politicamente,controlando os empregos e as atividades marginais do pequeno comercio,

    Outros segmentos- populares tambem foram tocados pelas novas ideias.Os arrendatarios Iivres, os pequenos proprietaries e os trabalhadores ruraisem geral, muitos deles antigos proprietaries excluidos pelo processo de cer-camentos, ernbora mantivessem a sua sobrevivencia, sofreram as pressoes danova racionalidade economics e, a curto prazo, funcionaram como instru-mentos importantes do aumento do lucro do capital na rnedida em que des-possuidos ingressararn naquilo que Marx denominou exercito industr ia l dereserva (Marx, 1976).

    A complexidade social nao foi esvaziada pelo programa de desenvolvi-menta; ao contra rio, 0 paradoxo da revolucao industrial foi ter produzido a

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    AS RVOLUC ;OES BURGUESAS

    contradi9ao entre 0 capital e 0 trabalho e uma nova classe social- 0 prole-tar iado urbano e rural. Acentuaram-se as diferencas sociais , que ficarammais explici tas pela transparencia dos mercados, indicando uma relacaodireta entre 0 ganho e as formas de vida, Ao ficarem patentes as diferencas eao tomarem consciencia da mecanica do sistema, os motins e as rebel ioes seproduziram por conta de lutas por terras, por controle de atividades urbanase, principalmente, por falta de alimento,

    Esses motins, entretanto, nao possuiam uma ideologia de unidade e res-pondiam a situacoes conjunturais imediatas, sem representar a producao deurn outro modelo de sociedade (Rude, 1982).

    As transformacoes industria is deram uma dinamica nova a sociedadeinglesa, por urn lado, consolidando as ideias de representacao politica e, paroutro, construindo uma referenda para as ideias de soberania popular edireitos civis.

    As influencias de Adam Smith, Robert Malrhus, Jeremy Bentham e DavidRicardo, associadas a etica protestante e ao aumento de mercado, esrabelece-ram uma sociedade que apoiava a introducao do Iivre-comercio e a consolida-c ; : 3 : 0 da Inglaterra como oficina do mundo. 0 aumento dos lucros, 0 crescimen-to industrial e comerciai , bern como a acumulacao de capita is , prepararam aeclosao da Revolucao Industrial.

    Em Iinhas gerais, assist iu-se, no final do seculo XVIII, a passagem damanufatura para a fabrica moderna, onde a producao das mercadorias erafeita em serie, A producao domicil iar deu Ingar ao trabalho organizado e es-pecializado. 0 agente desse processo, 0 ernpresario, dono dos capitais, atuoucomo agente produtivo e organizador da racionalidade na producao, Essaracionalidade, escorada, num prirneiro memento, na observacao da vidahumana nas fabrlcas, caminhou em direcao a urn process a de complexidadecom 0 advento da maquina, que exigiu urn novo padrao de organizacaoindustrial e novas relacoes de trabalho (Falcon, 1986).

    Dessa forma, mais importante que as maquinas em si mesmas foi a intra-du

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    o HCULO XXdiferenciando os trabalhadores. Alem disso, verificou-se a legitimidade darazao burguesa pela aproxirnacao entre a valorizacao do trabalho e 0 desen-volvimento da ciencia, produzindo uma aparente atmosfera de felicidade oude progresso futuro, escondendo suas vinculacoes com as necessidades pro-prias de urn novo tipo de economia e procurando apresentar-se de maneira ase contrastar com a vida em cidades como Manchester, tao bern observadapor F. Engels em seu livre sobre as condicoes de vida do proletar iado Ingles(Engels, 1973).3.1. A reuolucao industrial inglesa e 0 processo de desenvolvimentoA Revolucao Industria l, no cenario ingles , resultou da a~ao conjunta da tra-di~ao renovada ao longo dos seculos XVI e XVll , da ampliacao da a~ao mer-cantil inglesa, dos cercamentos, do crescimento das cidades e das industrias,mas tambem dos esforcos de urn gropo de economistas e empresarios que seocupararn, com constancia, em pensar os mecanismos de otimizacao dos ele-mentos anteriormente descritos. Assirn, a Revolucao Industrial nao foi ape-nas uma mudanca na paisagem, mas a afirmacao de uma nova ciencia apli-cada a producao (Dobb, 1978).

    A segunda metade do seculo xvm (1750) e freqiientemente indicadacomo aquela que marcou 0 inicio da Revolucao Industrial. Seria mais pruden-te considera-la apenas como urn marco simb6lico de urn processo que foi Ion-go e lento em sua maruracao, Melhor seria associa-la as transformacoes oeor-r idas a part ir de 1769, com 0 aperfeicoarnento da maquina a vapor par JamesWatt, que assegura 0 impulso necessaria aO crescimento da industrializacaopor tornar rnais eficaz 0 processo de utilizacao de forca au energia e consoli-dar as industrias dos setores de tecelagem, ceramica, rnineracao e metalurgia.Podemos estabelecer, em termos de Inglaterra, a importancia das tecnicasde desenvolvimento da maquina a vapor, que propiciou 0 aumento da pro-ducao dos setores texteis e cia industria pesada (mineracao e metalurgia).

    Entretanto, para nos, talvez as ferrovias sejam 0 setor que sintetiza agrandiosidade dessas transformacoes. Nao so porque incorporou diretamen-te todo aperfeicoamenro tecnico, mas porque tambem teve como funcaoessencialligar areas de producao a areas de materias-primas, aumentando avelocidade de incorporacao destas as indiistrias e promovendo 0 aurnento daoferta de produtos. Mas ha urn outro aspecto tao importante quanta esseprirneiro: as ferrovias integrararn os mercados, aumentando-os quantitativa-

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    AS REVOlUt;OES BURGUESAS

    mente. Esse proeesso tarnbern nao se esgotou a1:0desenvolvimento das fer-rovias exigiu uma reorganizacao das industrias e impos 0 surgimento de esta-belecimentos industriais especializados na construcao de locornotivas e tri-lhos, assirn como provocou impactos sabre as areas de formacao de mao-de-obra, principalmente na engenhatia.Foi esse 0 caminho nacional da Inglaterra. 0 Estado Ingles se fortaleceunao apenas internamente, como representacao dos interesses dos empress-r ios, mas sobretudo externamente, atraves de uma polit ica de obstaculos aodesenvolvimento industrial em outras areas, pois so assim seria possivelmanter a taxa de desenvolvimento inglesa, Esse processo de dependenciaficou canhecido como divisao internacional do trabalho e fez com que aInglaterra fosse a potencia europeia hegemonies no mundo ate 0 fim do secu-1 0 XIX (Rodrigues, 1974).

    4. A via francesa: a modernizacao pela revolucao4.1. As bases de forma~o do Estado francesConsiderado tambem como modelo classico no processo de implantacao davida burguesa, a Franca, se comparada com a Inglaterra, teve uma historiamarcada pelos confli tos e pela violencia , A radicalidade desses confli tosresultou do modo como se processaram os mecanisrnos de constituicao dasociedade de corte na Franca e da sua tradicao feudal, ao mesmo tempo aris-tocratica e guerreira,Para termos urn ponto de corneco talvez seja interessante dizer que aFranca foi a primeira unidade terri tor ial a sofrer urn processo de identidadepoli tica , e isso decorreu da permanencia das insr ituicoes do antigo Estadocarolingio. Mas, se por urn lade essa tradicao serviu de base para esse van-guardismo, s6 cornparado ao Estado da Sici lia, par outro, pe1a forma de suaconstituicao, mostrou como 0 poder real teve que aceitar a autonornia dossenhores proprietaries de terra, projetando uma dificil relacao entre a podercentral eo pader local (Anderson, 1983).Durante os i il timos seculos da Idade Media, a situacfio apresentava ten-dencias a transforrnacoes. 0 movirnento das eruzadas e as mobilizacoes con-tra as heresias transforrnaram a nobreza francesa na defensora do patrirno-nio catolico do Ocidente.

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    o HCULO xx~~umindo a fun~ao de defensora da fe, a sociedade francesa passou a

    beneficiar do alargamento do poder do papado e a projetar seus ' ..it..'.....,,_para fora do seu terri t6rio. As lutas entre 0papado e 0 imperio pelo ... .J'Lll.l,UIda :ur?pa, e em ~special da Italia, fez com que a Franca se tornasse apotencia em condicoes de incumbir-se da defesa da e cat6lica e fossepelo 'papado,. como a,grande Estado catolico da Europa. Essa posi~ao s6perdida no fim do secula XIv, devida a poIit iza~iio da Igreja e a sentre as membros da cupula romana, que redundaram no c is ma d e AUI

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    "I

    cismo receberam 0 apoio da Espanha, que nesse momenta estava sob a auto-ridade de Felipe II, denominado defensor do papado e com urn projeto de'fj;rornar-se 0 imperador do mundo. 0 outro lado era formado pelos huguen07fi~!,'tes, protestantes de inspiracao calvinista, que controlavam 0 comercio e os.: i! lf, 'bancos (Goubert, 1971).)~;t

    Para observarmos como essa divisao espelhou as disputas pela Coroa;~i0\basta lembrar que os dais grupos tiverarn como lideres os pretendentes a : W : ~ tCoroa da Franca: os cat61icos chefiados pela familia Guise e os protestantes!l~; , "pela familia Bourbon.'ii

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    o HCULO xxAforca de Henrique N fic ou ta mb em asso cia da a Sully, seu primeim,

    ministro. Homem extrernamente cornperente e cuidadoso, possufa urn .de conhecimento da situacao da Pranca e realizou urn projeto de rerormsjque ajudou a consolidar a a ut or id ad e r ea l e a p a ci fi ca ca o.o cerne do projeto de Sullydecorria da sua aval iacao da fum;aodo rei. Dado que 0 rei apresentava-se como representante da ordem, atencao desta decorria de um processo dife renc iado de acoes econ6micast iveram como base a possibi liclade de integracao do campo a cidadeintermediacao do Estado. 0 Estado foi 0 lugar para onde convergiramdiferencas e de onde elas voltaram marcadas pelo selo real .

    Com isso, Sully construiu uma forma de manter a crescimento dado rei sobre a sociedade, criando as bases de urnprocesso racional de centra-l izacao, Suas reformas projetaram urn grande conjunto de medidas comintui to de atender as despesas reais e fomentar a r iqueza da sociedade.

    Assim, a abertura de mercados internos e externos, bern como os .t ivos agricolas, adquir iu a funcao de organizadoras da unidade, pois convi-nha a to dos, independentemente dos interesses especificos. AMm disso,valorizacao das terras transformava-as em lugarde investimento de riquezasurbanas, diminuindo a distancia entre cidade e campo e intensif icandosuas relacoes para, ao fim, estabelecer uma unidade cultural.

    Como 0 Estado passou a assumir urn papel de destaque, foi preciso reor-ganizar os mecanismos economicos para agilizar a autonomia do rei e facili -tar 0 desenvolvimento dos mercados. Paris cresceu nao apenas como capital.da Franca e sede do poder , mas como centro art iculador da poli tica de Sully,;;a que transformou a cidade em Iugar de circulacao e prestigio, aumentandoa populacao e a demanda por services, abrindo novas oportunidades e fazen-do crescer os setores urban os, desde os comerciantes ate os trabalhadoresassalariados.

    A estrategia de Sully reconhecia as dif iculdades, em conseqiiencia dasdiferencas no territorio frances, de realizar uma unificacao economica se naoocorresse primeiro a legitimidade da autoridade central. Esse modelo no fimdo seculo XVI, ainda dependia de a~6es que reconheciarn a irnportancia dosricos protestantes , fazendo com que outros setores se sentissem excluidosdesse processo (Anderson, 1983 l.

    As possibilidades de so[uc;ao 56 se verificaram no reinado de Luis XIII(161061643) com a atuacao do cardeal de Richelieu. Em termos gerais, apolitica do primeiro-ministro deu continuidade ao reforco do poder central,

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    A S R E V O lU ~ O E S B U R G U E S A S

    rnas realizou esse objetivo atraves de urna inversao da polirica de Sully.Talvez uma imagem possa tornar compreensfvel a comparacao. Para Sully, aFran~a vinha a Paris; para Richelieu, Paris vai a Franca,

    Essa inversao alterou substancialmente a ac;aodo Estado e pode ser reco-nhecida como aquela que conduziu a concretizacao da centralizacao,Entretanto, uma certa continuidade pode ser verificada no reconhecimentode que a poli tica real deveria atender de forma difereneiada as dernandas dasociedade francesa.

    As reformas de Sully, por urn lado, haviam encaminhado urn resultadomais posi tivo para as esferas urbanas, notadamente reconheeidas como sen-do de influencia protestante, de modo que foi criado urn desequilfbrio politi-co que deveria ser compensado. Par outro lado, Paris havia sido transforrna-da 0I1ma cidade sitiada par pressoes de variados graus. As reformas anterio-res tambem nao haviarn diminuido a polit izacao da sociedade francesa, 0que inviabilizou grande parte dos projetos de Sully (Anderson, 1983).

    Diante desse quadro tornou-se necessaria uma dernonstracao de forcaque antecederia as reformas. Essa demonstracao tinha como objetivo definirque 0 poder maior na Franca era 0 rei como representacao corporal de todosos franceses, que 0 soberano se encontrava aeima deles e era 0 iinico capazde enxergar mais longe e vislumbrar as medidas que deveriam ser tomadaspara manter a soberania da Franca e de sua sociedade.

    Elaboraram-se, assim, os principios norteadores do Estado absolute,associando 0 corpo do rei ao corpo social e revelando a morada do rei comoa Franca em ponto menor, onde eram jogados as destinos maiores do estado(Anderson, 1983).

    A demonstracao de forca ficou por conta da perseguicao dos huguenotese ocupou a atencdo do primeiro-ministro ate 1629, quando foi promulgadaa Graca de Alais , rest ituindo a liberdade aos protestantes. Na verdade, essetipo de acao teve urn duplo objetivo. Em primeiro lugar, eIa atendeu ademanda da maior parte da populacao francesa e acenou posit ivamente parao papado, reconhecendo como correta a politica da Igreja catolica noConcflio de Trento. 0 efeito de demonstracao abriu espaco para os francesesretomarem a sua posicao de defensores da fe, num momenta de crise naPeninsula Iberica, transformando a Franca novamente em potencia hegemo-nica (Goubert, 1971).

    Fixada essa primeira base, a segunda dizia respeito a reorganizacaointerna do Estado. Havia que se considerar dois aspectos. Urn, ligado ao

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    modo mais eficaz de tamar Paris presente na Franca, 0 outro, a separacao,em Paris, da excelencia do poder com a reforco da sociedade de corte, meca-nismo atraves do qual criava-se urn conjunto de nobres potencialmente legi-timadores da autoridade do rei e avidos por ajudarem nos negocios do Esta- ,do, seja atraves de cargos administrativos, seja atraves de doacoes de suasriquezas, isolando a Igreja, que perdia parte de suas tendas.

    Entretanto, 0clero tam bernfazia parte dessa sociedade de corte e, por isso,o alto clero frances, oriundo em sua grande maioria da nobreza proprietaria deterras, participou intensamente como conselheiro dos neg6cios do reino.

    Os custos dessa reforma foram muito altos e dependiam de urn novo sis-tema para a obtencao de rendas reais que s6 poderiam ser obridas atraves deacoes fiscais, Entretanto, esses expedientes 56 seriam aplicados depois queestivessem consolidadas as bases de controle do Estado sabre a sociedade epara isso era fundamental que cada palma de terra na Franca viesse a serconhecido (Rude, 1982).

    A introducao dos censos urbanos e rurais teve como objetivo asseguraresse conhecimento, facilitando a aplicacao de polfticas fiscais diferenciadas,Dessa maneira a burocracia real foi sobrepondo-se aos poderes Iocais semtirar deles, nesse momenta, qualquer forma simb6lica de poder, No entanto,os funcionarios reais forarn sendo reconhecidos, principalmente pelos setoresexplorados, como interlocutores entre e1es e a rei, desmobilizando destarnaneira a autoridade local e concretizando-se com a formacao dos tribunalsreais, que podiam reivindicar au avocar para si 0 julgamento de determina-dos processos quando estes eram do interesse do rei ou diziam respeito aosfuncionarios reais (Tocqueville, 1'984).

    Essa a~ao de conhecimento e de intervencao sustentou-se, para alcancarseus objerivos, na reforma administrativa de Richelieu, que se concentrou nacriacao das intendencias, entre as quais destacaram-se a das Financas, a dajustica e ada Policia. EIas tinharn por fun~ao 0 estabelecimento da ordem ea irnposicao da lei, alern do fornecimento de informacoes sobre 0 que sepas-sava na sociedade,

    Elas representaram a consolidacao do poder real sobre 0 poder local,fosse quando atuavam, nas areas locais, representando os interesses do rei eda Franca, fosse quando atribuiarn a determinadas a~oes da sociedade 0 sen-tido de oposicao a vontade do rei. Tambern funcionaram como redutores dopoder do clero, quando patrocinaram projetos de reformas nas areas locaispara atender as demandas dos novas segmentos sociais em detrimento dossetores do clero.

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    AS REVOLU< ;OES BURGUESAS

    A atuacao dessas intendencias, no campo e nas cidades, supunha asubordina~ao absoluta da sodedade ao Estado e provocou 0surgimento deJ11ovimentos sociais de oposicao que as associaram a centralizacao real.Entretanto, a ac;:aoreal imediata desmontou esses movimentos. Em facede1es,sempre que ocorriam, a a~ao real apresentava-se como de salvacao dasociedade, culpando os burocratas pelos excessos (Rude, 1982).

    Por outro lado, no exercicio de sua autoridade, as intendencias ocupa-ram as espac;:osdas areas locais atraves da cooptacao das familias Iocais maisilustres e as transformaram numa rede de inforrnacoes, 0 que favoreceu arapidez da Intervencao no caso de sedicao.

    A distdncia entre 0 rei e a sociedade alargou-se e, com isto, fortaleceu-sea autoridade real, por semanter fora das tensoes que diziam respeito ao coti-diana da vida e nao as causas nobres que pesavam sabre as ombros do rei,que tinha de cuidar dos destinos da Franca,

    A parcimonia, a tranquilidade e a justica eram atributos que garantiamao rei a soberania. No casa de Henrique ill, no entanto, as questoes erammais complexas. Casado com Ana d'Austria, de uma familia dedaradamen-.re inimigada Franca, e protestante, 0 rei se distanciou realmente da socieda-de que governava. 0 seu prirneiro-ministro, pelo uso que fez de sua compe-tencia politica, acabou par assumir nao apenas as funcoes de gerente doEstado, mas de sombra do rei .

    Quem ja se debrucou sobre as paginas de as t r es mosquete i ro s e acom-panhou suas aventuras nas series televisivas pode compreender melhor aimagem que Richelieu construiu de si mesmo. A filmografia, acompanhandoAlexandre Dumas, transformou 0 primeiro-ministro num demente, deixan-do de lade 0 reconhecimento de seu calculo polit ico e de sua contribuicaopara 0 desenvolvimento do absolutismo na Franca, As relacoes de Richelieucom a rainha indicavam a inirnizade corn a Casa d'Austria. Atraves das criti-cas, veiculadas por seus hornens, 0 primeiro-ministro tentou consolidar umaunidade nacional, uItrapassando a unidade terri torial e politizando a socie-dade francesa em torno do seu destino soberano.

    A ideia da Franca ter uma rainha estrangeira foi 0 veiculo pelo qualRichelieu encontrou espaco para assegurar 0 seu poder. Entretanto, a constru-

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    vida nobr e, p as sf ve l de ser exportado junto com as rendas e os bordadosouro, asespadas e as capas, de forma a favorecer as indiistrias francesas.

    Era necessaria que as reformas funcionassem como alga 'U~JUlJUU';;Ucolocando a F ranca no topo da historia da Europa, e 0 que se desenfoi uma polftica organizada de desenvolvimento do comercio, da marinhada coloniza

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    o HCULO XXteo A consciencia politica dos proprietaries e dos trabalhadores rurais impli-cou uma alteracao das relacoes sociais.o desenvolvimento da politica frances a incrementou, no interior, novasprofiss5es, l igadas nao so ao processo de centralizacao administrativa mastambem aos novos empreendimentos produtivos na agricultura, na industria'ou na rnineracao.Ao lado da antiga nobreza de terra, surgiam novos proprietaries, maisinteressados em transformar suas terras em empreendimentos produtivos e'que precisavam de mais espaco e de novas relacoes de trabalho, abalando as .formas tradicionais de trabalho e injetando capital no mundo rural. A rnone- .tarizacao do mundo rural implicou urn processo de avanco dos interessesburgueses sobre as antigas propriedades nobres, reabilitando-as e tornando-as produtivas.

    Entretanto, esse movimento, assirn como na Inglaterra, provocou a exclu-sao de grandes massas de trabalhadores rurais e arrendatarios ou parceiros das ...'terras da antiga nobreza, gerando revoltas e rebeli5es. Esse avanco das novasformas de propriedade alargou 0 espa~o agricolae pressionou tanto as traba-lhadores como os nobres que haviam mantido a sua moradia no campo, aque-les que nao foram para Paris e que viam nesse movimento os dedos do poderreal como forma de consolidar 0 seu dominio sabre a Franca (Rude, 1982).

    Por isso mesmo, foram muito comuns rebelioes da chamada nobreza pro-vinciana contra as regulamentacoes reais, estabelecendo aliancas circunstan-dais entre trabalhadores rurais e nobres de terras. 0 aumento da pressao cen-tralizadora transformou essas aliancas em a

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    o S~CUlO XXFoi essa politizacao, associada as pressoes centralizadoras, que ~U.UUUZ;llU,""':'@

    a Franca a crise dos anos 40 do seculo x v n . Para que fique mais clara ajuntura, voces devem ter em mente que 0 cardeal produziu boa parte dossultados de seu program a decentralizacao atacando a rainha Ana d'~III"TT'"' 'principalmente no tocante a politica de unidade do territorio frances emobilizacdo em torno de objetivos nacionais.o que se verificou foi que tudo aquilo que havia sido apregoadoRichelie .u como negativo - ter uma rainha estrangeira - , acabou por senar reahdade. Com a morte de Luis XIII e a menoridade do delfirn, assumiutrona da Franca, como regente, a grande inirniga do cardeal: Ana d'Austr ia. , ,

    Mesmo que esse aspect a nao fosse fundamental na vida polfrica da Fran-::ca, a situacao descri ta par nos ja nortearia uma sucessao complicada. A lutapelo poder na Franca ganhou ao longo do reinado de Lufs XIII, fruto dosresul tados da centralizacao, novas condicoes, Os ganhos de ser rei na Fran-ca provocaram a ambicao de codas aqueles que, de alguma maneira, se acha-yam com 0 direito de requerer a legitimidade de sua presence como rei.

    Assim, e faci l perceber em que circunstancias Ana d'Austria assumiu aregencia. Alem disso, havia a necessidade de equilibrar interesses no interior' .de Paris e na propria corte . Por isso, a escolha do primeiro-ministro recaiusobre Mazarino, que nao so era 0 responsavel pela educacao do futuro LuisX!", c.omo tambem havia sido introduzido nos negocios da politica parRichel ieu, Isso concretamente indicava que, em linhas gerais , a polit ica decentralizacao se manteria e seria reforcada a nocao da soberania real.o acaso fezcom que 0 prirneiro-ministro escolhldo fosse de ascendencia .; ..italiana, 0 que, associado a uma rainha estrangeira, suscitou a atencaodaqueles que aproveitavam a crise da sucessao para tentar mudar a poli tica .da Franc;:a.'A crise de sucessao era 0 sinal para que os varies t ipos de descontenta-mentos adquirissem a sua forma de a

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    o S~C UlO XXimportante foi a eliminacao da barrelra que separava 0 rei dos seus suditos.desta. maneira eliminou-se a dualidade das duas Francas e recuperou-se ~autoridade real, colocando-a acima dos estamentos e ordens. Anunciou-seurn novo tempo, 0 tempo do progresso da Franca, dos investimentos na novaciencta do seculo XVll, dos grandes projetos de inovacdes urbanas e ruraisc~rn a cria~a? de sociedades agricolas e finalmente com 0 incentivo para ~leitura e el iminacao do analfabet ismo como forma de propidar a igualdadeentre as siiditos,o palacio do rei transformou-se na morada de todos os franceses. Amonumentalidade arquitetonica de Versalhes era a da Franca e 0 novo reiteria por rnissao regenerar a Europa. 0 palacio abria-se na procissao realpara 0 olhar admirado e emocionado dos seus siidi tos. Mas a construcao deVersalhes foi alem da fundacao na Franca de uma nova Roma aonde todosos caminhos levavam - imagem definitiva da centralizacao absolutista[Argan, 1993).

    A .construIJao de Versalhes foi fruto da racionalidade politica que se .anunciou na Franca com LUISXIV. 0 objet ivo daconstrucdo foi 0 de alteraros mecanismos de pressao sobre as decisoes reais, recompor 0 quadro de.relacoes entre 0 rei e os estamentos. E isso se explica quando associamosVersalhes ao que ocorreu quando da ascensao ao poder do rei-sol.

    A primeira atitude de Luis XIV foi eliminar a figura do primeiro-minis-tro. Lembremo-nos de que a figura do primeiro-ministro fazia pane da cuI-tura polltica da centralizacao, uma vez que se anunciava como um lugaronde todas as demandas sociais ser iam avaliadas e levadas ao rei, tornandoo rei 0grande arbi tro. 0 primelro-minisrro era um fil tro que ao mesmo tem-po dava ao rei espaco e tempo para decidir, anulando qualquer pressao ouencobrindo atitudes apressadas, dando aos conselheiros espaco para avalia-!Jaodas decisoes reais (Doyle, 1991).A supressao da figura do primeiro-ministro elirninou essa barreira eabriu caminho para as pressoes sobre 0rei. A construcao de Versalhes atuoucom~ ~a nova ba:_reirapara a atuacao polltica do rei, ao mesmo tempo quepermmu a superacao das relacoes de reciprocidade como a cone de Paris.Transferindo-se .para Versalhes, 0 rei renovou a corte e reestruturou as rela-~5es entre 0 rei e os demais estamentos da Franca, impondo atraves da dis-tancia entre Paris e Versalhes uma nova imagem do rei (Anderson, 1983).. AMm disso, a eliminacao do primeiro-ministro fez com que as projetosImplementados pelo poder real est ivessem diretamente associados ao rei.

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    AS REVOlU~OES BURGUESASNada na Franca a partir desse momenta deixava de levar a marca do rei,consolidando sua soberania e realizando a centralizacao absolutista,

    Entretanto, essa marca, no caso do reinado de LUISXIV, nao foi umadernonstracao de obediencia acomodada, pela tradicao, ao rei. Sehouve algu-rna coisa que configurou a atuacao de Luis XIV, foi a sua aruacao pessoal emtermos de poli tica . 0 sucesso do absolut ismo de Luis XIV estava diretamen-te l igado as formas de presenca fis ica do rei , a sua atencao como criador dasAcademias, a sua part icipacao nas reunioes, ao mecenato do Estado na for-ma de pens5es para projetos que pudessem desenvolver a Franca, nao se des-cuidando da politica econornica, agora transformada na questao rnais sensi-vel da Franca, pois dela dependia a afirrnacao da soberania do rei.A politica economica agora tinha sua definicao ancorada na contabilida-de geral do reino da Franca; nada mais se improvisava. Sob a direcao deColbert, a politica mercantilista ganhou novo impulso. Primeiramente, comuma revisao geral cia politica aduaneira, principalmente com relacao aHolanda, com a intencao de equil ibrar a balanca comercial e gerar recursosque pudessem implementar as companhias de comercio, basicas para 0 pro-cesso de. expansao em direcao a America, especialmente para estabelecer 0controle do ac;ucar e sustentar a politica de colonizacao nas areas do Canadae da Louisiana.

    Para tornar eficazes essas diretrizes tiveram que avancar os custos deguerras resultantes da poli tica deexpansao e colonizacao com a Holanda e aInglaterra e da hegemonia europeia da Franca com os Habsburgos.

    A sustentacao dessas diretrizes dependia de uma reforma administrativaque permitisse 0 aumento cia velocidade de relacionamento do Estado com asociedade. Assim, estabeleceu-se a poli tica dos conselhos, enfatizando emespecial 0 Conselho de Estado, orgao definidor dos projetos de controle poli-tico. Ao Conselho das Finances, chefiado por Colbert, foi conferido 0 papelde controlador do reino e de incrementador das mudancas economicas, comaten

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    pliando suas rendas, e mantinha uma polftica de alargamento da fronteira .agricola, patrocinando 0 avanco burgues para 0campo e propiciando confli-tos entre os varies interesses rurais . Desde logo, isso mostrou que se ndo seaprofundasse 0 dominio real no sentido da identidade da Franca, YUJlLdJ~-"C-"a uma situacao anterior.Os custos de manutencao da corte de Versalhes exigiram uma politica fis-cal que dificultou as acs:5eseconomicas da Franca no cenario intemacional. Osprecos dos produtos franceses eram mais elevados do que os dos ingleses, difi-cultando a sua insercao nos mercados. Isso acarretou urn peso maior sabre asociedade frances a e seus setores de ponta, que acabaram pagando os custos.

    A preocupacao maior localizava-se na politica industrial, especialmentenos produtos de luxo. No fim do seculo xvn, nao s6 outros estados come-c;aram a oferecer produtos com essa destinacao, como 0 rnercado das corteseuropeias diminuia. Boa parte das dificuldades tam bern derivou dos desviosde grandes quantidades desses produtos para a consumo da corte, tornandoos precos altos e dificultando tanto a circulacao quanta a acumulacao, mes-mo com a apoio do Estado.

    i ' J : "!:,:, 4.2. A crise do Antigo Regime e a Reuolucao FrancesaComo vimos, na Franca do Antigo Regime as preceitos legais estabeleciam adiferenca entre tres ordens ou estados: 0 clero, no topo da hierarquia; anobreza, logo abaixo; e 0 terceiro Estado, onde se juntavam, segundo a lei ,todos aqueles que nao estavam socialmente compreendidos entre os doispri-meiros estados.Numericamente, era a terceiro Estado que se apresentava como mais "::'numeroso; dos 23 rnilhoes de habitantes, cerca de 100 mil eram sacerdotes e400 mil pertenciarn a nobreza (Rude, 1982).o clero, alern da posicao de honra, era tambern 0 estamento mais privi-legiado. Atradiliao de urn corpo coeso que se traduzia por uma assembleiaperi6dica dava-lhe forca politica, alern de autonomia adrninistrativa, 0 quetomava 0 clero urn corpo administrative no inter ior da administracao fran-cesa (Lefebvre, 1979).Economicamente diferente da nobreza, 0 clero nao dependia do Estado,pois possuia uma rede de arrecadacao dos dizimos e dos impostos sobre aspropriedades eclesiasticas. 0clero agia como urn nobre superior e concorriacom a nobreza, inclusive, no que diz respeito ao sistema financeiro, frequen-

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    AS REVOlU< ;OES BURG Uf:SAS

    temente emprestando dinheiro ao rei, aos nobres e aos burgueses, Outroaspecto importante para 0 alargamento do poder do clero foi a decisao,depois da revogacao do Edito de Nantes par Lui 'sXIV, de que todos as fran-ceses deveriam professar a fe cat6lica e, para serem considerados franceses,receber todos os sacramentos, sob pena de seus filhos njio serem considera-dos legitimos e nao poderem receber as herancas (Lefebvre, 1979).

    Tudo issa, associada ao monop6lio do ensino, da assis tencia de sai ide,do controle dos hospita is e dos locais de assis tencia aos pobres, alern da acaode censura, transformou 0 clero em segmento profissional.

    No entanto, essa aparente unidade, embora se mantivesse no campo es-piritual por forca das circunstancias, no plano social era fragil, Apre-sentando uma grande variedade de formas de insercao, em funcao de suaposicao na Igreja , a clero apresentava uma divisao: 0 alto clero, formadapelo clero nobre, e 0 baixo clero, pelos plebeus, Essa distincao, no interior doclero, t ransformou-se na base das disc6rdias e das demincias de corrupcaodo alto clero.

    A nobreza gozava tambern de privilegios, tanto no que se referia aosimpostos quanta com relacao ao privilegio de poder usar espada. Diferentedo clero, nao formou urn corpo unido em funcao da variedade de interesses edo processo de associacao a sociedade de corte. No fim do seculo XVII, esta-va perdendo a sua prerrogativa de nascimento. Entretanto, os privi legios danobreza acabaram funcioriando como uma faca de dois gumes, pois, em com-pensacao, eles estavam proibidos de exercer qualquer profissao au oficio, res-tringindo sua atuacao a grande prapriedade de terras (Anderson, 1983).

    Com Colbert, a nobreza se abriu para novas atividades, nao por contadas pressoes da nobreza de sangue, mas pela forca de urn novo tipo de nobre-za, aquela que tinha 0 seu titulo comprado e que ja exercia atividades profis-sionais. No reinado de LUIS XIV, os nobres puderam se envolver com 0cornercio, principalmente 0 maritirno.

    Ao lado da nobreza de espada, surgiu urn novo tipo de nobreza, aquelaque dependia da bondade do rei au do valor pago peIo t itulo. 0 usa da vena-lidade como mecanismo politico de centralizacao fez com que 0 rei utilizasseos t itulos de nobreza para recornpensar servidores reais, aumentando 0mimero de nobres e colocando-os em paralelo com os nobres de sangue. Emoposicao a velha nobreza de espada, os novas nobres eram descendentes defarnilias ricas burguesas e tinham sobeja competencia para administrar suasriquezas e rendas. A principal atividade da nobreza foi na area juridica - a

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    o S E C U L O X Xnobreza de toga -, expandindo determinadas normas e formas de vida b u r i . : ' guesa e minando a velha etiqueta aristocratica.,' .

    Diante do avanco desse novo tipo de nobres e do isolarnento da nobr~~:&:tradicional na corte, depois da morte de LUISXIV, a nobreza de sangue tenter "reagir, buscando aliancas com setores de oposicao ao Antigo Regime e, ao memo tempo, elaborando urn movimento deretorno a suas propriedades rurai

    A reacao, entretanto, foi limitada. Em primeiro lugar, porque as modific-;oessofridas pela estrutura fundi aria na o permitiram que a volta aos camp "se efetuasse sem conflitos com os burgueses e os camponeses e, em segundrporque a nobreza provinciana, ciosa de suas posicoes, descartou as alian~as>~i?,

    Perdida com 0 avarice burgues, a nobreza de sangue entrou em decadell~~~1:',cia, nao sem antes utilizar a sua derradeira anna: 0 conhecimento das maze~;;F,las e abusos reais, com 0 intuito de chamar a atencao do rei e recuperar-s~~~:>invertendo 0 caminho inicial.'

    Mas a aristocracia sofreu outro golpe, Com a morte de Luis XIv, depolit;:,de urn longo reinado, no qual as praticas da corte adquiriram novos compo~'nentes , Fel ipe de Orleans, agora regente da Franca, anunciou uma guinadaj 'em direcao a urn processo de alargamento dos interesses dos burgueses e dos:nobres que nao participavam da corte esvaziando a sua importancia. ,,: ','

    Ao lado desses aspectos, ainda possuiu importancia a luta pela sucessao ,:do rei, principalmente porque, antes de morrer, Luis XIV reconheceu, comolegftimos, todos os seus filhos bastardos, abrindo caminho para disputas:entre os nobres.o enfraquecimento do poder real e a decadencia da sociedade de corte '.anunciaram urn novo tempo. A fal ta de al ternativas para os setores dcml- .nantes do Antigo Regime e 0 desespero diante da perda de poder f izeram osconflitos ultrapassar 0 espaco do poder e avancar sobre as cidades, especial-mente Paris. Ascidades transformaram-se no palco dos conflitos entre velhose novas interesses, levando de roldao todos aqueles que, de formas distintas,viviam a expectativa da rnudanca (Anderson, 1983).

    No entanta, as formas de oposicao se renovaram. Ja nao eram as armasque desempenhavam papel importante , os duelos estavam em franca deca-dencia. Com a ampliacao da influencia burguesa no sistema juridico, 0 espa-co privilegiado para 0 desenvolvimento dos confrontos passou a ser 0 tribu-nal au a reparticao administrativa (Lefebvre, 1979).

    A reacao ao central ism a real organizou-se a partir das cortes - tr ibunaisque com 0 tempo haviam adquirido funcao poli tica -, pois qualquer edito

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    AS REVOLUC ;OES BURGUESAS

    real tinha de ser registrado por elas e os seus membros podiam apresentarobjecoes, reduzindo, por vezes, a eficacia da s medidas reais, notadamenteaqueIas que se relacionavarn aos impostos.

    N do se deve, evidentemente, avaliar essas cortes como limitadoras, poiso soberano podia convocar as cortes para registrar suas resolucoes, sem quehouvesse tempo para interpor objecoes; af inal, a Franca continuava sob atutela do poder real absoluto,

    Por ourro lade, essas r en so e s n ao permitiram que seconcretizasse a uni-ficacao nacional, Diante do enfraquecimento do poder centralizado, surgi-ram novas formas de organizacao dos poderes locais, fazendo com que sedesenvolvessem os dualismos de decisoes e as diferencas no entendimento dosignificado do poder central. Essas formas de representacao dos podereslocals assumiram, com 0 tempo e 0 aprofundamento dos con fl it o s, e x p re s sa opolit ica, na forma de novos projeros para a sociedade francesa, desde aque-lesque levaram em conta as d imensoes e s tamen ta is , ate os que apresentarama incorporacao das ideias da l iberda de e da igualdade, passando por fora dasociedade de ordens.

    A crise do poder cenrralizado tinha sua origem nas pressoes internas, quedesorganizaram as formas de controle fiscal e inviabilizaram a autonorniaeconornica do poder real , bern como nas pressoes externas. Quanto a estas ,verificaram-se de dois modos diferentes . No primeiro modo, derivaram daperda da hegemonia francesa nos mercados das cortes europeias , em decor-rencia dos avances Industrials ingleses e do desenvolvimento dos valores bur-gueses que supunham uma nova racionalidade economics. No segundomodo, peIo crescente processo de aproximacao com a America inglesa, nadefesa dos objetivos coloniais franceses, que acabaram por determinar aGuerra dos Sete Anos, na qual a Franca foi derrotada (Goubert, 1971).

    Na busca desesperada par uma saida, Necker - ministro das Financesde LUISXVI, e de origem burguesa - viabil izou a sobrevivencia da econo-mia atraves de emprestimos que, alem de desequilibrar as contas nacionais,aumentando 0 deficit real e as dfvidas do Estado, foram utilizados ndo paraa retomada da producao, mas para enfrentar as situacoes imediatas de guer-ra e de miseria, /o esbanjamento, a evasao fiscal, 0 descontrole administrativo e a deca-dencia da soberania real impediram 'que novas intervencoes fiscais tivessemresultados posi tivos: como aumentar impostos, se cada vez mais ficava evi-denre 0 luxo da realeza?

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    A crise foi de tal ordem que as estamentos nao tiveram condicoes de semobilizar para assumir as redeas do Estado, pois ainda nao havia um ele-menta cornum que pudesse juntar interesses tao diversos. A convocacao dosEstados Gerais feita por LUIsXVI demonstrou a fraqueza do soberano e foio acontecimento politico capaz de unificar a sociedade frances a contra apolitica real (Lefebvre, 1979).

    Quando algumas alternativas eram apresentadas, orientavam-se por pre-gacoes moralistas ou voltavam-se para a recuperacao de privilegios, 0 queaumentava os entraves a uma solucao conjunta. Foi no interior dessa conjun-tura que comecaram a surgir proposicoes de modernizacao da maquina esta-tal oriundas dos setores mais avancados da nobreza e que consti tuiram 0ramo liberal desta, acenando para 0 terceiro Estado como iinica safda para aprogresso da Franca.

    A realidade do avanco da oposicao ao Antigo Regime traduziu-se nodesenvolvimento da burguesia. Constituida por diferentes setores da ativida-de econornica e financeira, seus integrantes possufam origens sociais varia-das, 0 que auxiliou no sentido de evitar radicalizacoes com relacao aosnobres liberals. A ocupacao de cargos. pi ibl icos, desde a epoca de L U I S XIv,fez com que oscomportamentos burgueses penetrassem na corte e passassema se incorporar as polfticas reais, principalmente no campo da economia edas finances (Soboul, 1965).

    Atuando no cornercio e na industria, os interesses burgueses tomararn,pelas bordas, 0 Estado frances, transformando-o em seu refem. Mesmo quea polftica real tendesse a salvar a nobreza de corte, ela ndo so esbarraria naoposicao burguesa mas tambern na irnpossibi lidade da realeza, pelos corn-promissos financeiros, se ver livre dela.

    Os preceitos burgueses evoluirarn para reacoes que colocaram em xequetoda a estrutura do Antigo Regime. Pela propaganda filosofica e pelas atitu-des economicas, esses valores alcancararn a qualificacao de uma nova visdodo mundo, impondo atraves das Luzes novas concepcoes sobre 0 homem esuas relacoes com a politica.o aprofundamento da crise, no reinado de Luis XVI , tornou a revolucaoiminente. 0 descontentamento geral da sociedade francesa isolou 0 rei e asociedade de corte e avancou em suas crit icas aos procedimentos do AntigoRegime. Reacoes espontaneas surgiram em toda a Franca e a al ternat iva realfoi, depois de cern anos, voltar a convocar os Estados Gerais da Franca(Rude, 1982).

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    No periodo que antecedeu a convocacao dos Estados Gerais, a burguesiaampliou sua insercao na sociedade francesa. Detentores da riqueza, os bur-gueses estavam em todos os lugares. Exerciam f un co es p ub li ca s e controla-yam as atividades econornicas, 0 que fazia com que fossem privilegiados emtermos do conhecimento da si tuacao geral da Franca e passassem a divuIgaresses conhecimentos. 0 desenvolvimento da imprensa francesa constituiu abase sobre a qual esse conhecimento produziu impacto e unificou as visoescom relacao aos abusos da sociedade de corte (Darnton, 1996).4.3. A Revolu~ao Francesa e a B ra n ca c a pi ta li s taConvocados os Estados Gerais, e reunidos em assernbleia, foram eles que,atraves de seus representantes, e depois de negarem os aumentos solicitadospelo rei, se declararam em Assembleia Constituinte e patrocinaram a discus-sao do novo Estado frances. A reuniao dos Estados Gerais juntou todos osdescontentamentos e permitiu identificar os graus diferenres de interesses.

    Na avaliacao de George Lefebvre (1979), as origens da revolucao deriva-ram de quatro formas diferenciadas de oposicao ao Antigo Regime e queteriam dado origem a quatro revolucoes ou a quatro modos dist intos de enca-minhar 0 processo de rransformacao. Uma revolucao aristocratica, que rei-vindicava a descentralizacio alem da autonornia local e que no seculo x v mestava longe de representar valores feudais. Uma revolucao burguesa, quetinha como projeto a eliminacao dos entraves a producao e que propunha apropriedade privada, mas que continha variantes mais radicais, adeptas darepublica francesa. Uma revolucao camponesa, que almejava a conquista daterra pelos camponeses e a eliminacao de todas as forrnas de exploracao anti-gas. Uma revolucao popular , const iruida pela juncac de setores radicais daburguesia com os pobres urbanos que, alern da melhoria das condicoes devida e do trabalho, nao conseguiam exprimir claramente 0 seu projeto.

    Essa aval ia c ao r ef o rc a 0 clima de insatisfacao da Franca que atingiu osdiferentes segmentos sociais e que tomou forma na reuniao dos EstadosGerais. A primeira etapa da revolucao, identif icada par Ernest Labroussecomo era das constituidies, teve como objet ivo reformar a Antigo Regime,dernonstrando as limites de sua acao revolucionaria, Acabou com 0 feudalis-mo e elirninou os privi legios da nobreza e do clero (Falcon, 1986).

    Os debates nos Estados Gerais mostraram que 0 grande inimigo dasociedade francesa, nesse momenta, reunida e una, era 0 rei e iniciou-se urn

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    o HCULO XXmovimento de radicalizacao politica que transformou os Estados Gerais eniAssernbleia Nacional Constituinte.

    Com a nova ac;ao dos burgueses foram eliminados os obstaculos a livreconcorrencia e a livre circulacao das mercadorias. As bases corporativas d aantiga economia forarn solapadas e foi efetivada a secularizacao dos bens daIgreja, arraves da Constituicao Civil do clero, cujos membros dar em diantepassaram a ser considerados como funciondrios do Estado.o impacto dessas reformas nao agitaram apenas os setores de oposicloa revolucao, Os segmentos que haviam apoiado a revolucao olharam commaus olhos 0 crescimento da lideranca burguesa, principalmente a pequenaburguesia e os trabalhadores urban os, Mesmo a ampliacao dos direitos deigualdade a todos os franceses, com a consequente eliminacao de qualquert ipo de privi legios, nao reduziu a insat isfacao dos setores mais a esquerda,que queriam reformas sociais (Rude, 1982).

    Alem disso, 0modelo politico, na forma de uma monarquia constitucio-nal de carater censitario, reproduziu essa dominacao burguesa e, se superoua hierarquia do Antigo Regime, estabeleceu outra que dividia a sociedadefrancesa emcidadaos ativos e passivos, pois 56 aqueles que possufam rique-zas podiam participar das eleicces ou serem eleitos.

    A eliminacao da censura e a inrroducao da livre expressao fez com queas insatisfacoes penetrassem no amago da sociedade frances a, despertandoconflitos escondidos pela boa. nova da revolucao ou anunciando novos.o Estado e sua maquina administrat iva tambem foram objeto de aten-" a D . Os principios de racionalidade do Iluminismo foram Introduzidos,garantindo eficiencia e expressando 0 avanco da burguesia, em termos doindividualismo e da propriedade privada,

    Nesse periodo, de 1789 a 1791, ocorreram simultaneamente as revolu-~oesaristocratica e burguesa, tendo se iniciado a revolucao popular. Duranteesse periodo, as projetos aristocraticos foram derrotados e avancaram as rei-vindicacoes burguesas e populares . A grande derrota da aristocracia verifi -cou-se com a perda da direcao na conducao das reformas; as pressoes sociaispela demora da irnplantacao das reformas justificaram a rnudanca na direcao(Falcon, 1986).

    Mas nao foi apenas uma derrota da arisrocracia. Alem dos nobres dacone e da realeza, tambem foram derrotados setores al iados da burguesia .Os pequenos cornerciantes e industria is viram-se, da noite para 0 dia, diantede alteracoes nas relacoes econornicas e nao foram capazes de acompanhar 0

    A S R I:VO LU C ;:O E S BU R G U E S A S

    ritmo dos aconteclmentos, acabaram par perder 0controle da producao e dacirculacao e foram substituidos pelos novos empreendimentos burgueses,onde ja se viam industriais e grandes comerciantes associados aos grandesbanqueiros.

    Tambem foram viroriosos, nessa etapa, os membros da chamada nobre-za liberal, responsaveis pela implantacao da monarquia constitucional, que,junto com a burguesia, reinventararn 0Estado, transformando-o ern campode a~ao da polftica de acumulacao de riquezas.

    Os avances e os conflitos deles decorrentes, durante esse primeiro perfo-do, ultrapassararn os muros das cidades, tomaram os campos e nestes atingi-ram os setores que tradicionalmente os ocupavam: a nobreza de terra, as bur-gueses proprietaries agricolas, camponeses e pequenos proprietaries. 0 mun-do rural, de certa maneira, recebeu com rnaior impacto as reformas burguesas.Seja no aspecto juridico, com 0 avanco da propriedade privada e do s maususos dos cartorios, atraves do registro de propriedades que nao pertenciamaqueles que as registraram, seja no aspecto economico, reveIado pela concor-rencia entre os empreendimentos industriais urbanos e 0 artesanato rural.o medo do mundo rural passou a fazer parte do universo politico dosburgueses, que perceberam nele 0grande opositor assuas reformas, uma vezque 0 controle da producao agricola estava fora do dominic burgues, Foramexatamente as crises de carestia, que i a eram observadas no Antigo Regime eque associaram Maria Antonieta a celebre frase: se nao ba. p ao, de -l h es brio-ches, os grandes obstaculos ao prosseguirnento das reformas burguesas. Aoposicao emperrava 0 debate e a lentidao nas decisoes afetou 0 governo danova Franca,

    A Constituicdo de 1791 e a transforrnacao da Assembleia Constiruinteem Legislativa indicaram que a burguesia, embora dividida nos seus interes-ses particulates, ganhou espaco e acentuou a sua direcao, dando origem aosconflitos e as disputas entre os varies projetos que emergiram da oposicao aodomlnio da burguesia, originando a segunda etapa da revolucao, identifica-da por E. Labrousse como e ra da s an te c ipacoe s (Falcon, 1986).

    A partir de 1792, teve inicio a radicalizacao das criticas, que anunciou 0avanco dos movimentos populares, urbanos e rurais, alem do crescimento daac;ao polftica dos jacoblnos, que se encarregaram de anunciar 0 novo tempo,assumindo a direcao politica da nova etapa da revolucao,

    A nova etapa trouxe consigo problemas. Se ate 1791 boa parte da reale-za e da alta nobreza ainda mantinha a ideia de voltar a ter uma posicao de

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    destaque na vida frances ,m mo com a revolucao, a reacao jacobina aca- 'bou com essas expectativas e provocou a contra-revolucao. A nobreza fofi ,buscar nas cortes europeias, tambern receosas de que essas situacoes de radi~", ',calizacao se verificassem em,seus territories, auxilio para eliminar a revolu-v~ao, clando origem, num momenro delicado da vida francesa, a uma guerra,: ;;da Europa dos Antigos Regimes contra. a Nova Franca (Soboul, 1965). ':0

    A mobilizacao para a guerra Ioi custosa, mas, por outro lado, encheu de>:"brios os revolucionarios que decidiram destruir completa e definitivamente a:';reacao aristocratica, A manipulacfo da guerra e dos seus negocios trouxe a 'burguesia de novo a cena. Qualificados para administrar a guerra, os bur-:-: ,'gueses comecaram a reocupar espa~08 e a ilustra-los com 0 lema da unifica-.

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