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trouxeram esperança de um futuro para toda a família Sob o sol forte cresceu Erasmo Sabino da Silva, 58 anos, agricultor. Desde criança, ajudava seu pai na lavoura e na criação de animais. A seca, a falta de dinheiro, e a dificuldade, sempre estiveram presentes em seu cotidiano. “Minha infância foi só trabalhar. Eu comecei a tanger boi com quatro anos de idade e a rabiscar arado com seis. Era tão pequeno que quando ia dar a volta nos bois, eu caia de lado, aí meu pai me levantava e continuava o trabalho”, lembra seu Erasmo. Já adulto seu Erasmo conheceu a dona Rosa Maria da Silva, com a qual veio a se casar. Com o passar do tempo, quase não havia mudança. Pelo contrário, as dificuldades pareciam se multiplicar. Após o casamento, Erasmo teve nove filhos, quatro mulheres e cinco homens, dos quais três nasceram com nanismo. Além disso, sua esposa, Rosa, foi diagnosticada com problemas cardíacos, o que agravou ainda mais a situação. Os jovens, Cícero, Fernando e José, que nasceram com a síndrome, também tinham uma saúde muito frágil. Com uma família grande, e necessitada de cuidados especiais, a vida de Erasmo não era fácil. “Todo mundo trabalhava na roça. Todo mundo saía pra buscar água na cabeça. Minha esposa mesmo doente ia buscar água, pra lavar roupa, cozinhar e beber. Meus filhos nasceram com a saúde muito fraca, com tudo se quebravam, mesmo assim, pela necessidade, eles sempre me ajudaram. Tudo era muito difícil”, disse emocionado. Em 2011, as coisas começaram a mudar. Através de um padre de Manari, Erasmo abriu os olhos para as tecnologias de convivência com o Semiárido – foi-lhe apresentado o Biodigestor. Essa tecnologia sustentável é de simples aplicação: dentro do aparelho, são jogados fezes de animais e restos de alimentos. Os detritos entram em decomposição pela ação de bactérias, que geram gás metano utilizado como combustível em fogões de cozinha. O que sobrar As tecnologias de convivência com o Semiárido Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 nº 2059 Junho/2014 Manari

As tecnologias de convivência com o Semiárido trouxeram esperança de um futuro para toda a família

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Com uma família grande e três filhos com nanismo, o agricultor Erasmo Sabino da Silva, de 58 anos, teve sua história marcada pelo sofrimento decorrente da falta de chuva. Com a conquista das tecnologias de convivência com o Semiárido, Erasmo abriu os olhos para uma nova perspectiva, uma nova esperança para ele e toda a família.

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trouxeram esperança de um futuro para toda a família

Sob o sol forte cresceu Erasmo Sabino da Silva, 58 anos, agricultor. Desde criança, ajudava seu pai na lavoura e na criação de animais. A seca, a falta de dinheiro, e a dificuldade, sempre estiveram presentes em seu cotidiano. “Minha infância foi só trabalhar. Eu comecei a tanger boi com quatro anos de idade e a rabiscar arado com seis. Era tão pequeno que quando ia dar a volta nos bois, eu caia de lado, aí meu pai me levantava e continuava o trabalho”, lembra seu Erasmo.

Já adulto seu Erasmo conheceu a dona Rosa Maria da Silva, com a qual veio a se casar. Com o passar do tempo, quase não havia mudança. Pelo contrário, as dificuldades pareciam se multiplicar. Após o casamento, Erasmo teve nove filhos, quatro mulheres e cinco homens, dos quais três nasceram com nanismo. Além disso, sua esposa, Rosa, foi diagnosticada com problemas cardíacos, o que agravou ainda mais a situação. Os jovens, Cícero, Fernando e José, que nasceram com a síndrome, também tinham uma saúde muito frágil.

Com uma família grande, e necessitada de cuidados especiais, a vida de Erasmo não era fácil. “Todo mundo trabalhava na roça. Todo mundo saía pra buscar água na cabeça. Minha esposa mesmo doente ia buscar água, pra lavar roupa, cozinhar e beber. Meus filhos nasceram com a saúde muito fraca, com tudo se quebravam, mesmo assim, pela necessidade, eles sempre me ajudaram. Tudo era muito difícil”, disse emocionado. Em 2011, as coisas começaram a mudar. Através de um padre de Manari, Erasmo abriu os olhos para as tecnologias de convivência com o Semiárido – foi-lhe apresentado o Biodigestor.

Essa tecnologia sustentável é de simples aplicação: dentro do aparelho, são jogados fezes de animais e restos de alimentos. Os detritos entram em decomposição pela ação de bactérias, que geram gás metano utilizado como combustível em fogões de cozinha. O que sobrar

As tecnologias de convivência com o Semiárido

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 nº 2059

Junho/2014

Manari

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

serve de fertilizante. “Há uns três anos, um padre, aqui de Manari, me deu a ideia de fazer um Biodigestor. Eu visitei um amigo que já tinha e resolvi fazer um no meu quintal. Ele ainda passou um ano parado por conta da seca, mas quando veio a chuva eu comecei a usá-lo. No começo pensei que não ia conseguir fazer o biodigestor funcionar, porque ele precisava de cinco mil quilos de esterco por mês pra produzir o gás, mas ai falei com o padre e ele conseguiu uma caminhonete para trazer o material, sempre que precisasse. Agora não falta

gás aqui em casa”, falou Erasmo. Mesmo economizando dinheiro no gás, um problema ainda era persistente: a falta de água. Bem, isso foi resolvido quando, em 2012, Erasmo recebeu a visita de uma equipe de técnicos e soube da possibilidade de ter uma cisterna de 16 mil litros, construída pela Articulação no Semiárido (ASA), através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), onde é armazenada água para consumo humano em épocas de estiagem. Erasmo não hesitou. Sem perder tempo procurou realizar o cadastro na ASA e participar de toda a capacitação exigida para se ter o aporte.

No mesmo ano, em 2012, Erasmo teve a oportunidade de salvar a produção de milho, feijão e criação de alguns animais, como porcos e cabras, que mantém em sua propriedade, mas que antes eram consumidas pela seca. Ele recebeu uma Cisterna Calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), construída através da ASA, com apoio do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). Após a construção das cisternas o agricultor renovou as esperanças. “Quando não tinha as cisternas, pra buscar água agente acordava de três da manhã, meia hora de caminhada pra ir e meia pra voltar, e as vezes ainda voltava com o tambor seco. Com a cisterna mudou de mais. Agora agente tem mais qualidade de vida. Não precisa mais acordar de madrugada pra pegar água pros bicho nem pra lavoura. A água agora eu tenho em casa”, disse Erasmo.

Hoje, a Cisterna Calçadão abastece tanto a casa de Erasmo como a casa do filho Fernando, que casou, tem uma filha e mora ao lado. As tecnologias de convivência com o Semiárido têm possibilitado que famílias, como a de seu Erasmo, tenham a oportunidade de florescer em ambientes inóspitos, cheios de dificuldades. Agora, seu Erasmo pode sonhar com um futuro melhor. “Eu penso em aprender mais técnicas de cultivo e produção, para aumentar a lavoura e minha criação de animais, mas isso é lá pra frente”, afirmou com entusiasmo, seu Erasmo.

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