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As tramas e métodos vis dos exilados contra a Causa do Brasil:
João Soares Lisboa visto por Antônio Manuel Correia da Câmara,
cônsul do Brasil em Buenos Aires (1822-1823)
Autora: Paula Botafogo Caricchio Ferreira, doutoranda em História pela
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo
Resumo: Esta análise trata do exílio de João Soares Lisboa do império do Brasil em Buenos Aires, no decurso de 1822 até 1823. Desde 1818, negociante de grosso trato na Corte, é reconhecido pelas publicações do Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) que protagonizaram o processo de autonomização do Brasil. Em 1822, depois de acusado por abuso da liberdade de imprensa e absolvido por júri, foi réu junto de outros liberais acusados da organização e execução de um conluio republicano que colocaria fim no governo de Bonifácio. Em outubro de 1822, Soares Lisboa foi convidado a deixar o país e intimado a encerrar a publicação de seu jornal. Ele e Joaquim Gonçalves Ledo foram acolhidos em Buenos Aires na casa do negociante José Rodrigues Braga, onde também residia o cônsul brasileiro, Antônio Manuel Correia da Câmara. O objetivo desta reflexão é a partir da correspondência enviada pelo cônsul para o ministro Bonifácio explorar as sociabilidades, práticas políticas e tramas que envolviam João Soares Lisboa durante seu exílio.
Abstract: This analysis deals with the exile of João Soares Lisboa of Brazilian Empire in Buenos Aires between 1822 and 1823. Since 1818 he was a large tracts dealer in court. He is recognized by his publications of Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) that staged the independence process of Brazil. In 1822, after being charged with abuse of press freedom and acquitted by the jury, was accused among other liberals of organizing and executing a Republican conspiracy that would end Bonifácio’s government. In October 1822, Soares Lisboa was asked to leave the country and ordered to terminate the publication of his paper. He and Joaquim Gonçalves Ledo were welcomed in Buenos Aires in the home of the dealer José Rodrigues Braga, where also lived the Brazilian consul, Antônio Manuel Correia da Câmara. The purpose of this reflection is an analysis of the correspondence sent by the consul to Minister Bonifácio, exploring the sociabilities, political practices and plots involving João Soares Lisboa during his exile.
2
Em 1800, vindo do Porto e com cerca de 14 anos, o português João Soares
Lisboa chegou ao Brasil1. Era comerciante de Porto Alegre, dono de uma estância em
Triunfo e foi um dos abastecedores de víveres às tropas portuguesas no conflito
Cisplatino (1810-1812) (Requerimento encaminhado ao Ministério do Império...,
1818-1821; Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, 1995, p. 4992;
Caderno de informadores da vila de Porto Alegre..., 1814). Matriculado como
negociante de grosso trato na Corte desde 1818 (Requerimento encaminhado ao
Ministério do Império..., 1818-1821; Matrícula de negociantes..., 1817-1818)
publicou a partir de abril de 1822, o periódico Correio do Rio de Janeiro cujas edições
fizeram parte do processo de autonomização do Brasil e protagonizaram os processos
judiciais movidos pelo governo da Corte contra seu redator. Primeiro, em julho de
1822, foi citado ao libelle civil, acusado de crime de injúria atroz por Berquó e Gordilho,
criados do príncipe regente D. Pedro I (Correio do Rio de Janeiro 2014 n. 62, 27 jun.
1822, p. 253). No mês seguinte, foi o primeiro redator do período da monarquia
constitucional a ser denunciado por abuso da liberdade de imprensa (Cf. LEITE, 2000;
NEVES, 2003, p. 344–354; LUSTOSA, 2000, p. 174–181). Neste caso, foram alvo da
acusação suas publicações do Correio em que criticava o príncipe regente por sua
determinação, em junho do mesmo ano, de eleições indiretas para a escolha dos
deputados à Assembleia Legislativa do Brasil. Nos dois casos foi considerado
inocente, no último foi absolvido por júri popular (Cf. LEITE, 2000; NEVES, 2003, p.
344–354; LUSTOSA, 2000, p. 174–181).
Em outubro do mesmo ano (1822), seu nome novamente figurava na lista dos
réus, desta vez acompanhado de uma série de outros liberais como Joaquim
Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e Januário da Cunha Barbosa. O Correio
teria sido peça-chave na organização e execução de um conluio republicano que
colocaria fim no governo de Bonifácio de Andrada. Esta devassa ficou conhecida
como bonifácia e veio à luz publicamente sob o nome de Processo dos Cidadãos,
durante o ano de 1824 (SCHIAVINATTO e FERREIRA, 2014). Na ocasião do
inquérito, em outubro de 1822, João Soares Lisboa foi convidado a deixar o país e
1 O cálculo da idade de João Soares Lisboa foi realizado a partir das seguintes informações: ele diz, em 1822, estar aclimatado no Brasil há 22 anos (Correio do Rio de Janeiro, n. 27, 10 mai. 1822, p. 108.); na sua qualificação à Câmara de Porto Alegre, em 1814, mencionava-se que ele tinha cerca de 30 anos (Caderno de informadores..., 1814) e no seu depoimento na bonifácia, em 1823, registrava-se que era natural do Porto e tinha 37 anos (Processo dos Cidadãos..., 1824, p. 57.). 2 Agradeço a Helen Osório por gentilmente indicar a referência deste documento.
3
intimado a encerrar a publicação de seu jornal, quando se exilou em Buenos Aires de
novembro de 1822 até fevereiro de 1823.
É sobre este período da trajetória de João Soares Lisboa que esta reflexão se
debruça. Apesar de se perceber uma mudança substancial no tratamento e na
compreensão da figura, da atuação política e dos escritos de Soares Lisboa, a
exemplo das análises de Cecília Helena de S. Oliveira (1999), Isabel Lustosa (2000),
Renato Lopes Leite (2000) e Lúcia Bastos Pereira das Neves (2003), em geral, a
historiografia centra-se no período quando Soares Lisboa foi redator do Correio do Rio
de Janeiro (1822-1823). Pelas ideias contidas nas publicações deste periódico e os
processos judiciais pelos quais foi réu, ele é apresentado enquanto um exemplo de
redator radical da província fluminense, vinculado a personagens como Joaquim
Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e o cônego Januário da Cunha Barbosa no
processo de autonomização do Brasil.
Sobre os anos de 1822 e 1823, a historiografia tratou da experiência de exílio
vivida em Buenos Aires por João Soares Lisboa essencialmente recorrendo às
informações provenientes da imprensa fluminense e da devassa da bonifácia
publicada no Processo dos Cidadãos (1824). A partir destas fontes, Isabel Lustosa
explora a versão disseminada na imprensa que retratava Soares Lisboa como
coadjuvante das tramas de Ledo e também apresenta a análise de Carlos Rizzini
sobre as cartas do cônsul brasileiro, Antônio Manuel Correia da Câmara, que foram
enviadas para o ministro José Bonifácio de Andrada (LUSTOSA, 2000, p. 258; 265–
271). Dessa maneira, a autora dá repercussão historiográfica para a imagem sobre a
inépcia do cônsul e o seu exagero na caracterização de carbonários para João Soares
Lisboa, Joaquim Gonçalves Ledo e José Rodrigues Braga (LUSTOSA, 2000, p. 266–
268). Em sua análise, Rizzini relativiza a veracidade das informações dadas por
Câmara à Bonifácio diante do seu esforço em valorizar suas estratégias e serviço
como cônsul o que, para ele, resultou em uma narrativa dramática e exagerada em
sua correspondência. O cônsul era descrito pelo autor como um lunático, suas
acusações à Ledo eram fruto de sua loucura e seus serviços como cônsul
ridicularizados (RIZZINI, 1988, p. 382–383).
Pela análise do inquérito da bonifácia, Isabel Lustosa e Cecília Helena de Salles
Oliveira apontam que Soares Lisboa teria organizado no exílio uma revolta que
envolvia militares portugueses em Montevidéu contra D. Pedro I. Identificam que foi
isto que justificou sua condenação nesta mesma devassa (LUSTOSA, 2000, p. 265–
4
266; OLIVEIRA, 1999, p. 284–285; 299; 383, nota 381). Por fim, Lúcia Pereira das
Neves e Renato Lopes Leite centram-se na repercussão do exílio em Buenos Aires
para a construção de uma imagem sobre Soares Lisboa que foi divulgada na imprensa
e na bonifácia no ano de 1823 e que o retratavam enquanto um radical, demagogo,
jacobino e republicano contra a Causa do Brasil (NEVES, 2003, p. 404; LEITE, 2000,
p. 27; 293; 297).
No Processo dos Cidadãos (1824), parte do inquérito da bonifácia publicado
com uma apresentação e uma série de comentários que inocentavam publicamente
os réus – com exceção de Soares Lisboa, único condenado - o exílio demarcou a
memória e a trajetória de diversos atores do período, entre eles Soares Lisboa e o
então cônsul Antônio Manoel Correia da Câmara. Em semelhança à memória sobre a
trajetória de João Soares Lisboa construída nos testemunhos da bonifácia e pela
imprensa dos anos de 1822, 1823 e 1824, Câmara foi retratado tal como um radical
pela publicação do Processo dos Cidadãos, o que foi perpetuado na historiografia, por
exemplo, por Carlos Rizzini (1988). Contudo, em sentido oposto ao do redator do
Correio, o cônsul era mencionado enquanto um ultra corcunda que fantasiava seus
méritos e adulava os poderosos para lograr um lugar no poder. Esta caracterização
desmentiu as acusações de Câmara sobre as tramas de Joaquim Gonçalves Ledo no
exílio, o que foi ratificado pelos testemunhos de outros homens que o inocentavam e
contribuíram para sua absolvição na bonifácia. Por sua vez, foi o testemunho de
Câmara e as cartas por ele trazidas do exílio que forneceram as provas para a
condenação do único réu desta devassa, justamente, Soares Lisboa (Processo dos
cidadãos..., 1824).
Na trajetória destes homens, o exílio integrava a memória histórica dos exilados
como um elemento que as qualificava, por vezes, de radical, em outras, como exemplo
de atuação política moderada constitucional. A casa do negociante português José
Rodrigues Braga, local de acolhimento dos exilados portugueses em Buenos Aires,
constituía-se em lócus de debate político partilhado em reuniões e jantares
(Correspondência do cônsul Antônio Manuel Correia da Câmara, 1822-1823).
Neste espaço, possuíam maior liberdade de expressão para criticarem o governo,
ainda que não fossem isentos de retaliação. Mantinham contato com novos olhares
sobre o outro: leituras e vivências que permitiam, em seu conjunto, imaginar e projetar
cenários políticos inovadores. Assim, o objetivo desta reflexão é revisitar a
correspondência enviada pelo cônsul brasileiro em Buenos Aires, Antônio Manuel
5
Correia da Câmara, para José Bonifácio de Andrada, de modo a investigar as
sociabilidades e práticas politizadas vividas no exílio por Soares Lisboa, entendendo
o exílio também como um mecanismo da política liberal, além de uma punição real.
O Exílio Liberal
Em tempos liberais colocava-se em dúvida a constitucionalidade dos
indivíduos, perseguindo os corcundas, realistas e pés de chumbo, e em outro oposto,
os republicanos, anarquistas e revolucionários. Juridicamente, o significado do exílio
no século XIX desvinculava-se do de degredado. Durante o Antigo Regime, o desterro
era uma das principais punições aos criminosos (Cf. SCHULTZ, 2008, p. 78). Na
ordem liberal, o exilado não era mais considerado um homem cumprindo pena ou em
fuga, o que facilitava seu acolhimento em outro país e a continuação livre de sua
atuação política. A ressignificação da tradição de desterro, valorizando e
universalizando as representações em torno de suas experiências tornou-se uma
prática comum aos liberais. Os exilados pensavam-se enquanto integrantes da nação
mesmo fora dos limites de seu território, compreendiam as suas fronteiras definidas
por uma invocação moral e política que não se restringia à geografia propriamente
dita (Cf. SCHULTZ, 2008, p. 127). Ao mesmo tempo, para esses liberais, o exílio podia
ser uma moeda de troca para ocupar um lugar no poder instituído ou, ainda no exílio,
por exemplo, por proventos trocados por publicações com críticas mais amenas ao
governo ou se oferecendo na qualidade de opositor aos redatores mais rebeldes (caso
do redator do Investigador Português em Londres). Além disso, particularmente, no
caso dos jornalistas, o exílio era uma possibilidade de continuar sua oposição ao
governo em segurança. Inclusive, era preferível em certos momentos de maior tensão
política ou no caso de risco de prisão em seu local de origem, demonstrando no exílio
capacidade de ação, comunicação e organização.
Nesse sentido é possível identificar, a grosso modo, alguns elementos que
produzem certa unidade às experiências dos exilados portugueses no decorrer do final
do século XVIII e início do XIX. Primeiramente, a participação fundamental dos
comerciantes para a manutenção destes homens no exílio, com o incentivo,
financiamento e circulação das suas produções tipográficas e editoriais (SANTOS,
1980, p. 443; TENGARRINHA, 2013, p. 189–201). Este fato tornava, muitas vezes, os
jornais e obras dos exilados a expressão pública de seus anseios. Em segundo lugar:
o exílio como trânsito cultural. Tinha-se maior liberdade de expressão, de crítica ao
6
poder, na qualidade de foco de oposição ao governo (TENGARRINHA, 2013, p. 186;
195; VARGUES, 1997, p. 114–115). O que não significa que estavam livres de
retaliação, contudo, possuíam um maior espaço de manobra. Além disso, esse
trânsito trazia novos olhares sobre o “outro”: leituras e vivências que permitiam em
seu conjunto alimentar visões com possibilidades políticas inovadoras. Terceiro: na
memória sobre a trajetória destes homens e marcadamente na de João Soares
Lisboa, o exílio foi lido muitas vezes como um marco de radicalização, de maior
politização de linguagens e de práticas. Tornava-se parte integrante da memória
histórica ao funcionar enquanto elemento que qualificava a produção textual e
engajamento político destes homens em vários sentidos: para defini-los, por vezes,
de radicais, em outras, de moderados constitucionais.
No Rio de Janeiro, durante o final do ano de 1823, alguns dos réus da bonifácia
se refugiaram na Europa. Do forte de Santa Cruz onde estavam presos, Luiz Pereira
da Nóbrega, José Clemente Pereira e o padre Januário da Cunha Barbosa
embarcaram no navio Cécile para a França (MELLO, 1916, p. 144–145). João Soares
Lisboa se dirigiu para onde já mantinha redes de amizades: a região sul do império do
Brasil, com a intenção de passar aos domínios hispano-americanos. Lá encontrava
outros negociantes que poderiam acolhê-lo, sendo comum darem proteção aos
liberais exilados (MATTOSO, 1993, p. 05-79). Outro indício que reforça essa hipótese
é a procuração do alferes Francisco Teles de Sousa, negociante de Entre Rios, na
Argentina, recebida por Soares Lisboa meses antes de se retirar do Rio de Janeiro,
em outubro de 1822, e que lhe dava poderes para comercializar em seu nome
(Procuração..., 02 out. 1822)3.
Em 1822, a Secretaria de Estado dos Negócios denunciava ao Intendente Geral
da Polícia do Paço a rota de fuga dos exilados. O destino portenho e o de Montevidéu
eram compartilhados entre estes homens que embarcavam para o Rio da Prata. De
lá passavam para Buenos Aires e Montevidéu “[...] procurando clandestina e
simuladamente meter-se a bordo de alguma embarcação [...]” nacional ou estrangeira
que estivesse fora da barra, “além dos registros”, saindo, por exemplo, de um “ilhote
da costa”. De acordo com a denúncia, deste modo era mais fácil “iludir a vigilância”
aos passaportes e outros registros e finalmente “evadir” do império do Brasil. No
mesmo ofício, exigia-se uma “vigorosa busca” aos paquetes e canoas saídos do Rio
3 Agradeço a Gabriel Santos Berute por gentilmente ceder a referência e informações contidas neste documento.
7
da Prata com destino a Buenos Aires e Montevidéu para descobrir e aprisionar “algum
oculto indivíduo que tenha saído furtivamente”, “criminosos” e “facínoras”, dentre eles,
especialmente, Joaquim Gonçalves Ledo. Neste ofício, advertia-se que não se devia
“desprezar diferentes comunicações” que tinham sido dirigidas à D. Pedro, nas quais
se indicava a “[...] casa do D. Lucas Obes [na Cisplatina] como o verdadeiro lugar
onde [ele] se acha refugiado [...] e sendo presumível que assim der, será por ventura
o [seu] plano [...] passar-se para Buenos Aires ou Montevidéu” (Ofício da Secretaria
de Estado dos Negócios ao Intendente Geral da Polícia do Paço. Paço, 1822)4.
Nos últimos dias de outubro e, especialmente, no início de novembro de 1822,
depois da abertura da devassa por conluio republicano, muitos liberais embrenharam-
se neste circuito. João Soares Lisboa e, depois, Joaquim Gonçalves Ledo foram dois
deles. Ambos foram hospedados na província de Buenos Aires, recebidos na casa de
José Rodrigues Braga. Comerciante português na região, em 1820, era uma
referência estratégica sobre o comércio e a manutenção dos domínios portugueses.
Por exemplo, cada vez mais embarcações organizadas por particulares saiam de
Buenos Aires em direção a Montevidéu com diversos soldados portugueses
desertores para lutarem pelos interesses de Artigas e Braga era um dos informantes
sobre esses movimentos (Ofício do capitão tenente da real armada portuguesa,
José Pereira Pinto, a José Rodrigues Braga sobre as operações da corveta
corsária Heroina. Montevidéu, 13 abr. 1820).
O Serviço Diplomático de Câmara
Desde 1819, José Rodrigues Braga abrigava o agente comercial e político na
região do Prata, o conselheiro Antônio Manuel Correia da Câmara. Nascido no Rio
Pardo foi enviado por seu pai, ainda quando criança, para estudar em Portugal. Era
filho de Patrício José Correia da Câmara, primeiro visconde de Pelotas. Formou-se no
Colégio dos Nobres, em Lisboa. Em 1807, durante a primeira invasão francesa das
tropas chefiadas pelo general Junot ao reino lusitano, foi forçado a alistar-se no
exército francês. Depois de ter sido libertado e finalizado seus estudos, viajou pela
Europa e até a Índia onde encontrou seu pai que servia como ajudante de ordens do
governador da colônia (GUIMARÃES, 1938; ALEGRE, 1981, p. 90-91; CAMARGO,
1877, p. 505-506). No ano de 1816, depois de proclamada a república das Províncias
4 Não foi possível estabelecer o dia e mês pela dificuldade de leitura diante da qualidade do manuscrito.
8
Unidas do Rio da Prata, a Coroa portuguesa nomeou-o agente comercial e político na
região (GUIMARÃES, 1938).
Em maio de 1822, depois da morte do cônsul português em Buenos Aires,
Figueiredo, os negociantes da praça do Rio de Janeiro apresentaram a indicação do
nome de Câmara com a finalidade de suprir “[...] a urgente necessidade de prover-se
imediatamente aquele lugar a bem do comércio [...]”, conforme os “interesses dos
súditos Portugueses” e para que ele mandasse “[...] oportunamente as informações e
notícias de que muito importa [...] ter conhecimento [...]” (Correspondência do
cônsul ... Rio de Janeiro, 25 mai. 1822). Assim, o ministro José Bonifácio atendeu o
pedido e nomeou Antônio Manuel Correia da Câmara para essa função.
O cônsul Câmara foi enviado para Buenos Aires com instruções diplomáticas
que tratavam da geopolítica do império brasileiro no extremo sul. Uma das suas
principais obrigações era negociar territórios e acordos estratégicos utilizando-se da
sua aliança com as tropas aliadas, chefiadas pelo Barão de Laguna, e com a Junta de
Representantes das Províncias Unidas, desde 1821, governada pelo primeiro ministro
Bernardino Rivadavia. Para isso, tinha de se embrenhar nas disputas políticas,
territoriais, institucionais e editoriais da região que estavam em plena efervescência.
O plano estratégico de José Bonifácio era conciliar os interesses na formação do que
ele chamava de uma “Confederação ou Tratado ofensivo e defensivo” entre Buenos
Aires, Paraguai, Entre Rios, Montevidéu e o Brasil (Instruções para Sr. Antonio
Manoel Correa da Câmara na Comissão em que parte desta Corte de Agente
junto ao Governo de Buenos Aires e mais Portos adjacentes. Rio de Janeiro, 31
mai. 1822).
A estratégia traçada por Bonifácio em maio de 1822 tinha duas frentes de
negociações que deveriam ser conciliadas pelo cônsul brasileiro. Uma delas era com
o governo do Paraguai, cujo objetivo era criar uma nova aliança para consolidar junto
com Montevidéu um cordão estratégico que daria aos brasileiros o controle da entrada
e saída de víveres, pessoas e letras de câmbio para as demais regiões hispano-
americanas coloniais, as independentes e para as futuras nações autônomas. A
expectativa era garantir a aliança com o Paraguai e o domínio do Brasil de Entre Rios.
A outra frente era a negociação direta com o governo de Buenos Aires que seria
pressionado pelos sucessos das alianças do Brasil com Paraguai, Entre Rios e
Montevidéu (Instruções para Sr. Antonio Manoel Correa da Câmara ... Rio de
Janeiro, 31 mai. 1822).
9
Outra recomendação de Bonifácio à Câmara era o envio constante de
correspondências com a finalidade de informá-lo sobre as transações diplomáticas
realizadas. Foi o que Câmara fez, mandava sacos de seda repletos de jornais,
panfletos, ofícios e cartas que eram carregados pelo “cadete Buys”, Cristiano
Frederico Buys, sobrinho do Barão de Laguna e seu homem de confiança nesta tarefa.
Ele carregava os papéis de Câmara de Buenos Aires para a Colônia e de lá para o
Rio de Janeiro. O desempenho desta tarefa lhe rendeu o pedido do cônsul à Bonifácio
para a elevação de seu posto de cadete à patente de oficial (Correspondência do
cônsul ... Buenos Aires, 13-14 nov. 1822). Na Corte fluminense, Câmara contava com
seu correspondente, o negociante Manuel Joaquim Ribeiro (Correspondência do
cônsul ... Montevidéu, 18 jul. 1822).
Em sua correspondência para Bonifácio, Câmara dava conta das suas ações
como se estivesse escrevendo um diário, sem economizar em expressões subjetivas.
Documentava sua atuação enquanto cônsul, com a particularidade de constituir-se em
uma correspondência que deveria ser mantida em segredo, porque concebia o serviço
diplomático como uma espécie de jogo que se desenvolvia pelo sigilo. Construía com
suas descrições um cenário de gestação de uma trama revolucionária que se iniciava
quando ele ainda era agente comercial no Rio da Prata e se estendia à época em que
se tornou cônsul em Buenos Aires. Na sua correspondência, a descrição de
personagens como Rivadavia, Artigas, Barão de Laguna ratificava seus
posicionamentos em relação às novas fidelidades políticas. O intuito de Câmara era
demonstrar sua adesão à independência do Brasil e destacar a sua importância na
consolidação desta Causa. Para isso, o cônsul narrava as ações de outros
personagens, dentre eles, João Soares Lisboa.
Denunciava uma série de expedientes dos liberais exilados, expondo suas
sociabilidades, convivências e os integrantes dessas vivências. Além disso, Câmara
preocupava-se em dar força a sua narrativa por meio do envio nos “sacos de seda”
de jornais, acordos, panfletos, decretos e outros impressos que, para ele,
exemplificavam sua narrativa. Esses impressos sinalizam a proliferação das práticas
editorias e tipográficas na região, com uma imensa circulação de publicações no sul
da América. Esta forma de narrar repetiu-se em 1823, quando Câmara foi ao Rio de
Janeiro, escreveu à Bonifácio e testemunhou na devassa da bonifácia.
Assim, na correspondência de Câmara o elogio a determinados personagens
projetava, como efeito da sua adulação, a atribuição à sua própria figura das mesmas
10
qualidades. Quando o fazia também se colocava no nicho que defendia a ordem
constitucional, com adesão à figura de D. Pedro I e à de Bonifácio. Neste sentido, a
composição da imagem de seus aliados e inimigos também era um exercício de
autoimagem. Revela seus anseios, sentidos e expectativas na construção de
personalidades (SCHIAVINATTO, 1999, p. 36–37). Nas correspondências esta
operação era mais uma dentre os mecanismos para a promoção de uma auto
representação. Sendo uma produção discursiva subjetiva por definição, o remetente
compartilhava com seu destinatário um repertório de qualidades e defeitos definidos
de antemão. Dessa maneira, pode-se dizer que Câmara manifestava em suas cartas
ansiedades de pertencer ou não a determinados filões da cultura política liberal.
Preocupado com a promoção de sua auto representação como defensor do
Imperador, do governo do Brasil e da ordem constitucional, ou, incapaz de enxergar
nuances, Câmara reproduzia a equiparação entre o ser pró-português, republicano,
jacobino, anarquista e oposto a D. Pedro I em oposição à defesa da monarquia e da
Causa do Brasil. Entretanto, ao olhar mais detidamente para a trajetória destes
homens citados por Câmara – exilados e seus aliados - e buscando extrapolar
categorias binárias de julgamento criadas por seus conterrâneos, apreende-se que
eles pertenciam a filões da cultura política liberal que não se resumiam ou
diferenciavam pela defesa de monarquia ou república. Distinguiam-se mais por outros
elementos que diziam respeito ao modo de funcionamento da monarquia
constitucional, por exemplo, as suas formas de participação política, divisão e
atribuições dos Poderes, definições de soberania e de pacto. Além disso, estes
homens desestruturavam topos que fixavam determinadas formas de governo em
noções de participação política mais ou menos “moderadas” (Cf. FERREIRA, 2014).
As Tramas e Métodos Vis dos Exilados
Em novembro de 1822, Câmara comunicava Bonifácio sobre sua hospedagem
na casa de José Rodrigues Braga. Lá padecia de “grave enfermidade” e não tinha os
meios “suficientes e indispensáveis” para se tratar. Também o perturbava a presença
de outros homens na mesma casa. Reclamava que eles impossibilitavam o
cumprimento de seus deveres de cônsul (Correspondência do cônsul ... Buenos
Aires, 01 nov. 1822). Nesta e em outras cartas, a casa de Braga era descrita como
um centro de encontro de brasileiros e portugueses que residiam ou estavam de
passagem por Buenos Aires. Às vezes em ceias ou conversas noturnas, debatiam os
11
últimos acontecimentos políticos e opinavam sobre as formas de governo que
conheciam, discutiam a geopolítica da América e estratégias comerciais. Fortaleciam
e restauravam vínculos entre exilados e seus correspondentes no Brasil, construíam
uma experiência comum por meio da informação, assentada em uma identidade que
no momento não era possível pelo pertencimento ao território e, por esta razão, era
investida em ligações morais e políticas entre eles5. Era esta troca que constrangia
Câmara, o relato das situações de seu incômodo delineiam os modos de viver político
destes homens, as ideias que trocavam e os seus nomes. Ele identificava os homens
que constituíam estas redes de compartilhamentos que aos seus olhos organizavam
uma trama contra o império do Brasil e a pessoa de D. Pedro I.
Novembro foi um mês decisivo nos relatos do cônsul. As visitas que o
incomodavam tornavam-se cada vez mais frequentes, todavia, o que mais o
atormentava foi a chegada dos exilados, João Soares Lisboa e Joaquim Gonçalves
Ledo. Ficava ainda mais desesperado quando em novembro e dezembro de 1822 eles
foram hospedados na casa de José Rodrigues Braga, o que trouxe inúmeros
inconvenientes ao seu cotidiano e às suas obrigações como cônsul. O primeiro a
chegar, em 14 de novembro de 1822, foi João Soares Lisboa. Imediatamente, Câmara
reportava a Bonifácio o fato:
Hoje chegou a esta Cidade o Anti-Brasileiro Lisboa vindo dessa Corte: apresentou-me, recebi-o afavelmente e de pé, não passou de dois minutos o tempo que o tive diante de mim: agora [sic] [que] está jantando na sala vizinha com Braga de quem é antigo Amigo, por mim, deixei de ir à mesa alegando ao meu Patrão ou Dono da Casa as Justas razões que tenho para não consentir que frequente tal homem a Residência onde esse seja hospedado. (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 nov. 1822)
Em dois de dezembro de 1822, era a vez da recepção de Gonçalves Ledo que
para o cônsul foi trazido graças à “[...] amizade que tem com Lisboa [...]”. Segundo o
relato de Câmara, Soares Lisboa apresentou-se a ele e declarou que fugiu do “[...] Rio
de Janeiro onde o acusaram sem fundamento de ter querido tramar contra o Império
[...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 02 dez. 1822). O cônsul sem
demora também alertava o Barão de Laguna, dando a notícia da chegada de
Gonçalves Ledo e Soares Lisboa:
[...] É do meu dever participar a V. E. que se acham nesta Capital fugido do Rio de Janeiro o ex deputado e Procurador Ledo, com um certo Lisboa [na margem: Lisboa, redator do Correio do Rio de Janeiro] a quem o novo
5 Esta percepção da construção de uma experiência comum por meio da troca de informações entre cartas, jornais e folhetos de e para Portugal é delineada por Kirsten Schultz em relação aos “exilados” em (SCHULTZ, 2008, p. 119–120)
12
Governo se viu na precisão de deportar. Ambos estes indivíduos, declarados inimigos da Monarquia Constitucional e decididos sectários do Republicanismo, que queriam estabelecer no Brasil sobre as ruínas do Trono Imperial, vivem acolhidos. (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 08 dez. 1822)
O cônsul queixava-se da necessidade de se retirar quase todos os dias da
mesa do jantar e cear em seu quarto ou fechado em seu “pequeno Gabinete”. Era a
maneira encontrada por ele para evitar a convivência com Gonçalves Ledo e o “[...]
Carbonário Autor do Correio [que] não [saia] [da] Casa [...]” (Correspondência do
cônsul ... Buenos Aires, 26 nov. 1822). Logo começaram seus pedidos de licença
para viajar para a Corte com o fim de comunicar pessoalmente as tramas que os
carbonários, jacobinos, Ledo, Soares Lisboa e Braga arquitetavam com o fim de lançar
uma “[...] furiosa guerra de Brigas e de Intrigas ao Brasil [...]” (Correspondência do
cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Para isso, insistia que se encontrava enfermo,
sem dinheiro e meios para se tratar e pedia aumento de seu rendimento com o
propósito de pagar a Braga os empréstimos que com ele havia contraído.
Câmara creditava a vários motivos o republicanismo de Ledo, Soares Lisboa e
seus aliados. Primeiro, em razão da devassa pela qual estavam sendo processados
no Rio de Janeiro, também por suas amizades no extremo sul do império do Brasil e
na região de Buenos Aires e Montevidéu. Por fim, por suas opiniões que ouvia nos
encontros na casa de Braga ou nas cartas recebidas por eles do Brasil e que eram
lidas em voz alta em suas reuniões. Ele utilizava o termo republicano para designá-
los de jacobinos, adeptos da maçonaria e membros do que chamava de Club Militar
de Montevidéu. Segundo as suas informações, os membros deste Club eram
defensores dos ideais para ele jacobinos e aliavam-se às Cortes portuguesas e
espanholas na pretensão de retomarem seus domínios na América. Dizia que um dos
membros desta seita ou cabala era o imoral Artigas, o qual liderava a “facção europeia
em Buenos Aires”. Eles se aproveitavam da apatia do governo do Brasil e
demonstravam um “febricitante desejo das inovações constitucionais”, para isso
contavam com os “numerosos Agentes dos clubs carbonários de Portugal, Espanha,
Itália, França e Inglaterra derramados por todo o Brasil, como pelas províncias do
Prata” e mantinham contatos estreitos em Buenos Aires e no Rio Grande
(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 12 nov. 1822).
Para Câmara, todos eram agentes contra o império do Brasil e tramavam contra
D. Pedro I. Uma de suas armas, segundo ele, era criar uma opinião contrária ao
imperador e o governo do Brasil, para isso espalhavam “[...] toda a sorte de más novas
13
em desdouro [sic] da nossa Causa [...]” e disseminavam a notícia de que “[...] um
partido vitorioso cumpriu depor todo o Nosso Ministério, e o Rio de Janeiro se declarou
República depois que o Imperador foi aclamado [...]” (Correspondência do cônsul ...
Buenos Aires, 16 nov. 1822). Em suas cartas, Câmara identificava os contatos de
Ledo e Soares Lisboa no Rio de Janeiro, Rio Grande e Montevidéu. Em 1823 este
nomes integraram o que ele intitulou de relação nominal dos súditos do Império do
Brasil residentes em Buenos Aires que ali se declararam inimigos do atual sistema do
Governo Imperial (Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 07 mai. 1823).
Neste ano, assim que Câmara chegou no Rio de Janeiro, entregou em mãos para
Bonifácio esta lista. Nesta mesma oportunidade, o cônsul testemunhou na bonifácia
(Processo dos Cidadãos..., 1824, p. 52-54).
Nesta lista constavam 19 nomes. Compunham um nicho de liberais formado
por aqueles que atuavam no comércio, no exercício da burocracia do império do Brasil
e na imprensa6. Eram agentes de comércio, desde negociantes de grosso trato,
boticários até um caixeiro e um piloto. Outros eram também autoridades do governo
que, como Gonçalves Ledo foi procurador e era deputado à Assembleia Legislativa
do Brasil, ou Antônio Bernardes Machado, membro do governo provisório do Rio
Grande. Nesta lista constavam também alguns antigos redatores, por exemplo:
Gonçalves Ledo foi redator do Reverbero Constitucional Fluminense, João Soares
Lisboa do Correio do Rio de Janeiro e João Batista de Queiroz do Compilador
Constitucional Político e Literário Brasiliense.
Além disso, fora da casa de Rodrigues Braga, Câmara afligia-se com a
circulação em Buenos Aires de diferentes folhas sobre os últimos acontecimentos no
Brasil. De acordo com o seu relato, Bernardino Rivadavia em conferência com ele
dizia que o Brasil queria “para si Montevidéu” e afirmava isto ancorado no “Reverbero
que ele tinha sobre a Mesa” e em “outros papéis”. O cônsul afirmava que se lia em
Montevidéu o Sentinela da Bahia, o Semanário Cívico, gazetas do Chile como o
Mercúrio, notícias de Lima, dentre outros impressos. Em 01 de novembro de 1822,
junto com muitos números destes jornais, Câmara enviava para Bonifácio o nº 03 do
6 Joaquim Gonçalves Ledo, João Soares Lisboa, José Rodrigues Braga, Manuel C. Francisco Canedo, José Rodrigues Monteiro, Miguel Lopes Chavez, José Fernandes Pinto, Manuel José da Silva, Antônio Bernardes Machado, José Fortes Gonçalves, José Francisco de Amorim, Manuel de Azevedo Ramos, “o autor do Compilador do Rio de Janeiro”, Manuel José, Manuel Dias da S. Guimarães, Maquez, “(caixeiro da Casa Britain)”, José da S. Ramos, Ignácio Piloto, Bernardo José da Beça Brandão (Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 07 mai. 1823)
14
Correio Extraordinário do Rio de Janeiro de 21 de setembro de 1822 que, segundo o
cônsul, foi reimpresso em Montevidéu, com a adição de “[...] notas que foi obrigado a
pôr lhe o Editor [...]” a pedido do Club militar que o mandou reimprimir
(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 01 nov. 1822)7. Esta denúncia ligava
Soares Lisboa em Buenos Aires às principais forças que, para o cônsul, tramavam
contra a Causa do Brasil.
Os debates políticos extrapolavam os espaços privados e se disseminavam no
público. Segundo o relato de Câmara, Braga, Ledo e Soares Lisboa pregavam “[...]
pelas ruas e armazéns desta Cidade [de Buenos Aires] as maiores imposturas contra
o Brasil e o seu governo [...]”. Mandaram imprimir e espalhar libelos contra o cônsul e
D. Pedro I. Um deles ficou “famoso” e iniciava com “D. Ramon, primeiro sem segundo”
(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 27 dez. 1822; Cf. Processo dos
Cidadãos... 1824, p. 53). Estes dizeres do libelo foram logo associados pelo cônsul
aos do Correio de outubro de 1822: “Eis o Pedro 1º sem 2º!!” que justamente foram
decisivos para a ordem de encerramento do jornal e de exílio ao redator. Criou-se em
torno destas palavras uma espécie de lema que se tornou rapidamente relacionado à
defesa de uma república no Brasil. As palavras publicadas por João Soares Lisboa no
Correio (n. 157 19 out. 1822, p. 697) tornaram-se na época um bordão associado à
ele e seus aliados, o que dava veracidade para a denúncia de Câmara da publicação
do libelo em Buenos Aires pelos exilados. Além disso, o mesmo foi posteriormente
repetido pela literatura histórica para sintetizar o “republicanismo” ou a radicalidade
de Soares Lisboa (Cf. RIZZINI, 1988, p. 398; LEITE, 2000, p. 247–294; SOUSA, 1988,
p. 69–70 t. II).
De acordo com o relato de Câmara, estes impressos eram distribuídos junto de
cartas, dinheiro e víveres pelo circuito mercantil que ligava Buenos Aires e o extremo
sul do Império do Brasil, sendo este um dos sustentáculos dos membros do partido
republicano, o que lhes garantia sobrevivência e comunicação para organizarem suas
tramas. Para isso, os exilados contavam com aliados espalhados pelo império do
Brasil, especialmente encontrados no trânsito Rio Grande e Rio de Janeiro. O cônsul
surpreendia-se com o alcance de suas alianças. Diante disto, a sua estratégia para
minar os planos do grupo dos exilados era isolá-los, impedir suas reuniões na casa
de Braga, suas comunicações por via marítima com outras províncias do Brasil,
7Na documentação são poucos os anexos mantidos, dentre eles, não há a reimpressão do Correio.
15
Montevidéu e Entre Rios e fomentar uma opinião contra seus escritos. Comunicava a
Bonifácio que Ledo, Soares Lisboa e Braga sustentavam “[...] uma ativa
correspondência com o Rio de Janeiro, Salto, Montevidéu e V. do Rio Grande de S.
Pedro [...]”, distribuídas “[...] por via dos novos barcos de guerra que [transitavam] de
uma para a outra parte [...]”, por meio dos quais recebiam notícias e dinheiro
(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Pedia ao ministro a
proibição “[...] aos comandantes a fim militares como mercantis [...]” de carregarem
qualquer correspondência. Também comunicou o governador da Colônia do envio
pelas embarcações de cartas criminosas trocadas com a Banda Oriental e
recomendava vigilância ao governo do Rio Grande (Correspondência do cônsul ...
Buenos Aires, 02 dez. 1822). À Rivadavia, solicitou a expulsão de Ledo e Soares
Lisboa de Buenos Aires (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 27 dez.
1822).
Insistia em cartas enviadas ao presidente do governo provisório do Rio Grande
de São Pedro do Sul e à Bonifácio na ativa cooperação com os carbonários do Rio de
Janeiro de um membro do governo desta província, “conhecido pelo nome de Chico
da Botica” (Correspondência do cônsul ... Povoação do norte do Rio Grande de São
Pedro do Sul, 03 mar. 1823). Neste caso, referia-se a Francisco Xavier Ferreira (Cf.
PICCOLO, 2005, p. 609). Relatava que havia escutado da boca de Ledo em uma
conferência noturna em Buenos Aires que o tal Chico seria responsável por “[...]
incendiar a Província do Rio Grande e separá-la da obediência do Imperador, ao
passo, que se fosse desenvolvendo na Província Cisplatina o espírito de revolta que
acabaria por expelir daquele território as Forças Imperiais. [...]” (Correspondência do
cônsul ... Povoação do norte do Rio Grande de São Pedro do Sul, 03 mar. 1823).
Além disso, em 1823, denunciava que o negociante da província do Rio Grande, José
Rodrigues Ribas, amigo de Soares Lisboa, reunia-se em rodas de “carbonários no
Adro de S. Bento” no Rio de Janeiro para dizer que D. Pedro I não teria veto absoluto
e que no Brasil, como em Portugal, seria um “rei tão nulo como D. João VI”
(Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 23 abr. 1823).
Em se tratando da aliança com os estrangeiros, de acordo com o cônsul
Câmara, Ledo, Soares Lisboa e Braga eram vistos em Buenos Aires frequentemente
na “[...] companhia [sic] de Alvear, a quem o Cabildo de Montevidéu designou futuro
Capitão General da mesma Província [...]”, “[...] inimigo e chefe da facção da banda
oriental em Montevidéu [...]” e “amigo íntimo de Braga” (Correspondência do cônsul
16
... Buenos Aires, 09 dez. 1822; Processo dos Cidadãos... 1824, p. 53;
Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Para ele, podiam
desgraçar com suas armações a “América do Sul, e muito principalmente [as]
Províncias da Prata” que estavam por isso sob perigo manifesto. Ao lado do club
militar de Montevidéu, dizia que estes estrangeiros trabalhavam “com ciência de
Causa a favor dos Godos Europeus” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires,
14 dez. 1822).
De acordo com Câmara, os três carbonários Ledo, Soares Lisboa e Braga
atrapalhavam suas ações diplomáticas usando dos meios mais vis, monstruosos e
vergonhosos, como a violação da sua correspondência para Bonifácio, o barão de
Laguna e o próprio ministro Rivadavia. Forjavam cartas em nome de seus “inimigos
para comprometê-los” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 08 nov. 1822;
02 dez. 1822; Rio de Janeiro, 16 abr. 1823). Relatava que em uma ocasião fizeram
em nome do ministro Rivadavia uma carta e remeteram para o governo de
Montevidéu, nesta falsamente “[prometiam] socorro e assistência aos revolucionários”
de lá (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 02 dez. 1822). Adiantavam-se
nas suas conversações com o ministro de Buenos Aires, desacreditando os seus
acordos e submetiam o governo portenho “[...] ao jogo ignominioso dos Clubs
Jacobinos [...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822).
Além disso, Câmara acusava Ledo de ter recrutado “[...] os Soldados europeus
que ali [em Buenos Aires] [se] [achavam] licenciados para enviá-los ao Chefe
revolucionário de Montevidéu [D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo]” que na época
era o comandante da Divisão dos Voluntários Reais que lutava a favor das forças
portuguesas contra as tropas brasileiras, chefiadas pelo barão de Laguna (Processo
dos Cidadãos... 1824, p. 54). Testemunhava que Ledo negociava na Praça de
Buenos Aires as “[...] Letras que o Governo Cisplatino lhe oferecia com enormes
vantagens para acudir às urgências daquele Estado [...]” e que impedia “[...] que
passassem de Buenos Aires para a Banda Oriental certa quantidade de chumbo, de
pólvora e de outras provisões necessárias ao serviço [...]” dos soldados do Brasil
(Processo dos Cidadãos... 1824, p. 54).
Câmara também acusava os exilados de se envolverem com mulatos do Rio
de Janeiro. Denunciava que entre os “[...] Apaixonados de Ledo [tinham] um grande
Partido [...]” e acreditava que com “alguma habilidade e segredo” seria “fácil descobrir
os Planos traçados de acordo com esta classe de gente” (Correspondência do
17
cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Advertia Bonifácio sobre o envolvimento de
Ledo também com militares de origem negra no sul da América, no caso, com o
tenente da artilharia cívica Thomas Gomes. De acordo com o cônsul, ele havia
passado de Buenos Aires à Colônia com o intuito de sublevar os negros da Banda
Oriental, o que era preocupante “[...] mesmo com os poucos negros que pode ter a
Província de Montevidéu [...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 11 jan.
1822).
Independente da veracidade destas informações, os conflitos pela
independência no sul do império do Brasil e região da cisplatina, em detrimento das
forças armadas, tinham a particularidade de privilegiarem as forças milicianas, tropas
auxiliares e outras ligadas ao poder dos comandantes locais, constituídas por grande
número de pardos (MIRANDA, 2006, p. 161). Soares Lisboa quando comerciante de
Porto Alegre acompanhava as vivências das tropas auxiliares (Requerimento
encaminhado ao Ministério do Império ... 1818-1821). Em 1822, defendia as
milícias nas publicações do Correio como a forma ideal de organização para a defesa
da nação, inclusive, enquanto um meio de fortalecer os laços de identidade dos
milicianos com a pátria, sendo um exercício de cidadania (Cf. Correio do Rio de
Janeiro n. 34, 20 mai. 1822, p. 139-140). Nesse sentido, pode-se dizer que o
conhecimento das práticas milicianas e das vivências de fronteira que compunham a
trajetória de Soares Lisboa, somada à denúncia de Câmara, sinalizam para o exercício
politizado destas práticas também no exílio.
Com a abertura da Assembleia Legislativa do Brasil em 1823, o barão de
Mereschal, agente diplomático da Aústria no Brasil de 1821 a 1831, afirmava em sua
correspondência deste ano que Gonçalves Ledo “[...] reaparece[ria] [na Corte] sem
nenhuma dúvida [...]” (MELLO, 1916, p. 134. Tradução livre.). Sinalizava com acerto
que Ledo teria assegurada a sua liberdade e, depois do exílio, recolocaria-se em
posição central de poder, agindo como um dos principais deputados, ao lado de D.
Pedro I e sua órbita de aliados. Antes disso, a reunião dos deputados do Brasil motivou
o retorno de João Soares Lisboa em 17 de fevereiro de 1823 ao Rio de Janeiro.
Contudo, tão logo chegou foi encarcerado por ordem do ministério até que se
encerrasse a devassa da qual era réu (VARNHAGEN, 2010, p. 137-230). Republicou
da prisão de maio até novembro de 1823 o Correio do Rio de Janeiro quando se
aproximou dos discursos e linguagens de frei Caneca e Cipriano Barata, criando elos
18
de termos, linguagens e definições políticas com estes homens e sendo o principal
disseminador na imprensa de suas publicações transcritas no Correio.
Em novembro de 1823, João Soares Lisboa foi o único condenado por conluio
republicano com a pena de dez anos de prisão e o pagamento de cem mil réis das
custas do processo, porém recorreu ao imperador D. Pedro I que converteu sua
sentença ao emolumento de cinquenta mil réis e em oito anos de exílio do Brasil
(Correio do Rio de Janeiro n. 10, 12 ago. 1823, p. 39-40). Nesse sentido, o exilio era
peça fundamental para o processamento da política: a consolidação da ordem
constitucional com a Assembleia Legislativa do Brasil, seguida de seu fechamento por
D. Pedro I em novembro de 1823, a absolvição dos réus da devassa por conluio
republicano e a convergência desses liberais em torno da defesa da Carta outorgada
em 1824, inclusive, integrados com papéis privilegiados na política do império.
Assim, no final de 1823, enquanto Joaquim Gonçalves Ledo, José Clemente
Pereira e o cônego Januário da Cunha Barbosa tornavam-se figuras de poder no
império, Soares Lisboa embarcou em um navio inglês com destino ao exílio na Europa.
Todavia, infringiu a determinação do imperador D. Pedro I e, em março de 1824,
aportou em Recife (RIZZINI, 1988, p. 398–399). Lá foi hospedado na casa de Manuel
de Carvalho Pais de Andrade (Desengano aos Brasileiros n. 01, 19 jun. 1824, p. 02)
que na época se designava presidente da província de Pernambuco à revelia da
ordem do governo imperial que havia restituído Francisco Paes Barreto à presidência
(“O Nordeste.com – Enciclopédia Nordeste - Manoel de Carvalho Paes de Andrade”,
2015). Na província de Pernambuco, Soares Lisboa integrou a Confederação do
Equador (MELLO, 2004; BERNARDES, 2006; FONSECA, 2004) e publicou o
periódico Desengano aos Brasileiros (VARNHAGEN, 2010, p. 137-286). Segundo a
versão escrita por frei Caneca em seu diário, em 1824, Soares Lisboa foi vítima
heroica e mortal de um tiro das tropas imperiais, alvejado durante a retirada dos
matutos para o Ceará, na localidade de Couro D’Anta (LUSTOSA, 2000, p. 414;
FONSECA, 2004, p. 192–193).
Portanto, nesta breve reflexão se fez o esforço de repensar as vivências,
sociabilidades e práticas politizadas no exílio de João Soares Lisboa em Buenos Aires
a partir da correspondência do cônsul do Brasil em Buenos Aires, Antônio Manuel
Correia da Câmara. Dessa maneira, pode-se relacioná-las a questões sobre o exílio
como mecanismo da política liberal e elemento integrante da memória histórica sobre
a trajetória dos exilados e do cônsul. Considera-se este esforço analítico essencial
19
para sinalizar horizontes e hipóteses sobre a condenação de João Soares Lisboa e a
absolvição dos outros réus na bonifácia, os significados das publicações do Correio
escrito da prisão (1823) e da aproximação de seu redator a Cipriano Barata, frei
Caneca e Paes Andrade. Destaca-se que o exílio teve papel fundamental no inquérito
da bonifácia e foi também resinificado no Processo dos Cidadãos (1824) e para sua
análise a reflexão aqui desenvolvida tem papel primordial.
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