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1 As tramas e métodos vis dos exilados contra a Causa do Brasil: João Soares Lisboa visto por Antônio Manuel Correia da Câmara, cônsul do Brasil em Buenos Aires (1822-1823) Autora: Paula Botafogo Caricchio Ferreira, doutoranda em História pela Universidade Estadual de Campinas, São Paulo Resumo: Esta análise trata do exílio de João Soares Lisboa do império do Brasil em Buenos Aires, no decurso de 1822 até 1823. Desde 1818, negociante de grosso trato na Corte, é reconhecido pelas publicações do Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) que protagonizaram o processo de autonomização do Brasil. Em 1822, depois de acusado por abuso da liberdade de imprensa e absolvido por júri, foi réu junto de outros liberais acusados da organização e execução de um conluio republicano que colocaria fim no governo de Bonifácio. Em outubro de 1822, Soares Lisboa foi convidado a deixar o país e intimado a encerrar a publicação de seu jornal. Ele e Joaquim Gonçalves Ledo foram acolhidos em Buenos Aires na casa do negociante José Rodrigues Braga, onde também residia o cônsul brasileiro, Antônio Manuel Correia da Câmara. O objetivo desta reflexão é a partir da correspondência enviada pelo cônsul para o ministro Bonifácio explorar as sociabilidades, práticas políticas e tramas que envolviam João Soares Lisboa durante seu exílio. Abstract: This analysis deals with the exile of João Soares Lisboa of Brazilian Empire in Buenos Aires between 1822 and 1823. Since 1818 he was a large tracts dealer in court. He is recognized by his publications of Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) that staged the independence process of Brazil. In 1822, after being charged with abuse of press freedom and acquitted by the jury, was accused among other liberals of organizing and executing a Republican conspiracy that would end Bonifácio’s government. In October 1822, Soares Lisboa was asked to leave the country and ordered to terminate the publication of his paper. He and Joaquim Gonçalves Ledo were welcomed in Buenos Aires in the home of the dealer José Rodrigues Braga, where also lived the Brazilian consul, Antônio Manuel Correia da Câmara. The purpose of this reflection is an analysis of the correspondence sent by the consul to Minister Bonifácio, exploring the sociabilities, political practices and plots involving João Soares Lisboa during his exile.

As tramas e métodos vis dos exilados contra a Causa do Brasil · que estivesse fora da barra, “além dos registros”, saindo, por exemplo, de um “ilhote da costa”. De acordo

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As tramas e métodos vis dos exilados contra a Causa do Brasil:

João Soares Lisboa visto por Antônio Manuel Correia da Câmara,

cônsul do Brasil em Buenos Aires (1822-1823)

Autora: Paula Botafogo Caricchio Ferreira, doutoranda em História pela

Universidade Estadual de Campinas, São Paulo

Resumo: Esta análise trata do exílio de João Soares Lisboa do império do Brasil em Buenos Aires, no decurso de 1822 até 1823. Desde 1818, negociante de grosso trato na Corte, é reconhecido pelas publicações do Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) que protagonizaram o processo de autonomização do Brasil. Em 1822, depois de acusado por abuso da liberdade de imprensa e absolvido por júri, foi réu junto de outros liberais acusados da organização e execução de um conluio republicano que colocaria fim no governo de Bonifácio. Em outubro de 1822, Soares Lisboa foi convidado a deixar o país e intimado a encerrar a publicação de seu jornal. Ele e Joaquim Gonçalves Ledo foram acolhidos em Buenos Aires na casa do negociante José Rodrigues Braga, onde também residia o cônsul brasileiro, Antônio Manuel Correia da Câmara. O objetivo desta reflexão é a partir da correspondência enviada pelo cônsul para o ministro Bonifácio explorar as sociabilidades, práticas políticas e tramas que envolviam João Soares Lisboa durante seu exílio.

Abstract: This analysis deals with the exile of João Soares Lisboa of Brazilian Empire in Buenos Aires between 1822 and 1823. Since 1818 he was a large tracts dealer in court. He is recognized by his publications of Correio do Rio de Janeiro (1822-1823) that staged the independence process of Brazil. In 1822, after being charged with abuse of press freedom and acquitted by the jury, was accused among other liberals of organizing and executing a Republican conspiracy that would end Bonifácio’s government. In October 1822, Soares Lisboa was asked to leave the country and ordered to terminate the publication of his paper. He and Joaquim Gonçalves Ledo were welcomed in Buenos Aires in the home of the dealer José Rodrigues Braga, where also lived the Brazilian consul, Antônio Manuel Correia da Câmara. The purpose of this reflection is an analysis of the correspondence sent by the consul to Minister Bonifácio, exploring the sociabilities, political practices and plots involving João Soares Lisboa during his exile.

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Em 1800, vindo do Porto e com cerca de 14 anos, o português João Soares

Lisboa chegou ao Brasil1. Era comerciante de Porto Alegre, dono de uma estância em

Triunfo e foi um dos abastecedores de víveres às tropas portuguesas no conflito

Cisplatino (1810-1812) (Requerimento encaminhado ao Ministério do Império...,

1818-1821; Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, 1995, p. 4992;

Caderno de informadores da vila de Porto Alegre..., 1814). Matriculado como

negociante de grosso trato na Corte desde 1818 (Requerimento encaminhado ao

Ministério do Império..., 1818-1821; Matrícula de negociantes..., 1817-1818)

publicou a partir de abril de 1822, o periódico Correio do Rio de Janeiro cujas edições

fizeram parte do processo de autonomização do Brasil e protagonizaram os processos

judiciais movidos pelo governo da Corte contra seu redator. Primeiro, em julho de

1822, foi citado ao libelle civil, acusado de crime de injúria atroz por Berquó e Gordilho,

criados do príncipe regente D. Pedro I (Correio do Rio de Janeiro 2014 n. 62, 27 jun.

1822, p. 253). No mês seguinte, foi o primeiro redator do período da monarquia

constitucional a ser denunciado por abuso da liberdade de imprensa (Cf. LEITE, 2000;

NEVES, 2003, p. 344–354; LUSTOSA, 2000, p. 174–181). Neste caso, foram alvo da

acusação suas publicações do Correio em que criticava o príncipe regente por sua

determinação, em junho do mesmo ano, de eleições indiretas para a escolha dos

deputados à Assembleia Legislativa do Brasil. Nos dois casos foi considerado

inocente, no último foi absolvido por júri popular (Cf. LEITE, 2000; NEVES, 2003, p.

344–354; LUSTOSA, 2000, p. 174–181).

Em outubro do mesmo ano (1822), seu nome novamente figurava na lista dos

réus, desta vez acompanhado de uma série de outros liberais como Joaquim

Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e Januário da Cunha Barbosa. O Correio

teria sido peça-chave na organização e execução de um conluio republicano que

colocaria fim no governo de Bonifácio de Andrada. Esta devassa ficou conhecida

como bonifácia e veio à luz publicamente sob o nome de Processo dos Cidadãos,

durante o ano de 1824 (SCHIAVINATTO e FERREIRA, 2014). Na ocasião do

inquérito, em outubro de 1822, João Soares Lisboa foi convidado a deixar o país e

1 O cálculo da idade de João Soares Lisboa foi realizado a partir das seguintes informações: ele diz, em 1822, estar aclimatado no Brasil há 22 anos (Correio do Rio de Janeiro, n. 27, 10 mai. 1822, p. 108.); na sua qualificação à Câmara de Porto Alegre, em 1814, mencionava-se que ele tinha cerca de 30 anos (Caderno de informadores..., 1814) e no seu depoimento na bonifácia, em 1823, registrava-se que era natural do Porto e tinha 37 anos (Processo dos Cidadãos..., 1824, p. 57.). 2 Agradeço a Helen Osório por gentilmente indicar a referência deste documento.

3

intimado a encerrar a publicação de seu jornal, quando se exilou em Buenos Aires de

novembro de 1822 até fevereiro de 1823.

É sobre este período da trajetória de João Soares Lisboa que esta reflexão se

debruça. Apesar de se perceber uma mudança substancial no tratamento e na

compreensão da figura, da atuação política e dos escritos de Soares Lisboa, a

exemplo das análises de Cecília Helena de S. Oliveira (1999), Isabel Lustosa (2000),

Renato Lopes Leite (2000) e Lúcia Bastos Pereira das Neves (2003), em geral, a

historiografia centra-se no período quando Soares Lisboa foi redator do Correio do Rio

de Janeiro (1822-1823). Pelas ideias contidas nas publicações deste periódico e os

processos judiciais pelos quais foi réu, ele é apresentado enquanto um exemplo de

redator radical da província fluminense, vinculado a personagens como Joaquim

Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira e o cônego Januário da Cunha Barbosa no

processo de autonomização do Brasil.

Sobre os anos de 1822 e 1823, a historiografia tratou da experiência de exílio

vivida em Buenos Aires por João Soares Lisboa essencialmente recorrendo às

informações provenientes da imprensa fluminense e da devassa da bonifácia

publicada no Processo dos Cidadãos (1824). A partir destas fontes, Isabel Lustosa

explora a versão disseminada na imprensa que retratava Soares Lisboa como

coadjuvante das tramas de Ledo e também apresenta a análise de Carlos Rizzini

sobre as cartas do cônsul brasileiro, Antônio Manuel Correia da Câmara, que foram

enviadas para o ministro José Bonifácio de Andrada (LUSTOSA, 2000, p. 258; 265–

271). Dessa maneira, a autora dá repercussão historiográfica para a imagem sobre a

inépcia do cônsul e o seu exagero na caracterização de carbonários para João Soares

Lisboa, Joaquim Gonçalves Ledo e José Rodrigues Braga (LUSTOSA, 2000, p. 266–

268). Em sua análise, Rizzini relativiza a veracidade das informações dadas por

Câmara à Bonifácio diante do seu esforço em valorizar suas estratégias e serviço

como cônsul o que, para ele, resultou em uma narrativa dramática e exagerada em

sua correspondência. O cônsul era descrito pelo autor como um lunático, suas

acusações à Ledo eram fruto de sua loucura e seus serviços como cônsul

ridicularizados (RIZZINI, 1988, p. 382–383).

Pela análise do inquérito da bonifácia, Isabel Lustosa e Cecília Helena de Salles

Oliveira apontam que Soares Lisboa teria organizado no exílio uma revolta que

envolvia militares portugueses em Montevidéu contra D. Pedro I. Identificam que foi

isto que justificou sua condenação nesta mesma devassa (LUSTOSA, 2000, p. 265–

4

266; OLIVEIRA, 1999, p. 284–285; 299; 383, nota 381). Por fim, Lúcia Pereira das

Neves e Renato Lopes Leite centram-se na repercussão do exílio em Buenos Aires

para a construção de uma imagem sobre Soares Lisboa que foi divulgada na imprensa

e na bonifácia no ano de 1823 e que o retratavam enquanto um radical, demagogo,

jacobino e republicano contra a Causa do Brasil (NEVES, 2003, p. 404; LEITE, 2000,

p. 27; 293; 297).

No Processo dos Cidadãos (1824), parte do inquérito da bonifácia publicado

com uma apresentação e uma série de comentários que inocentavam publicamente

os réus – com exceção de Soares Lisboa, único condenado - o exílio demarcou a

memória e a trajetória de diversos atores do período, entre eles Soares Lisboa e o

então cônsul Antônio Manoel Correia da Câmara. Em semelhança à memória sobre a

trajetória de João Soares Lisboa construída nos testemunhos da bonifácia e pela

imprensa dos anos de 1822, 1823 e 1824, Câmara foi retratado tal como um radical

pela publicação do Processo dos Cidadãos, o que foi perpetuado na historiografia, por

exemplo, por Carlos Rizzini (1988). Contudo, em sentido oposto ao do redator do

Correio, o cônsul era mencionado enquanto um ultra corcunda que fantasiava seus

méritos e adulava os poderosos para lograr um lugar no poder. Esta caracterização

desmentiu as acusações de Câmara sobre as tramas de Joaquim Gonçalves Ledo no

exílio, o que foi ratificado pelos testemunhos de outros homens que o inocentavam e

contribuíram para sua absolvição na bonifácia. Por sua vez, foi o testemunho de

Câmara e as cartas por ele trazidas do exílio que forneceram as provas para a

condenação do único réu desta devassa, justamente, Soares Lisboa (Processo dos

cidadãos..., 1824).

Na trajetória destes homens, o exílio integrava a memória histórica dos exilados

como um elemento que as qualificava, por vezes, de radical, em outras, como exemplo

de atuação política moderada constitucional. A casa do negociante português José

Rodrigues Braga, local de acolhimento dos exilados portugueses em Buenos Aires,

constituía-se em lócus de debate político partilhado em reuniões e jantares

(Correspondência do cônsul Antônio Manuel Correia da Câmara, 1822-1823).

Neste espaço, possuíam maior liberdade de expressão para criticarem o governo,

ainda que não fossem isentos de retaliação. Mantinham contato com novos olhares

sobre o outro: leituras e vivências que permitiam, em seu conjunto, imaginar e projetar

cenários políticos inovadores. Assim, o objetivo desta reflexão é revisitar a

correspondência enviada pelo cônsul brasileiro em Buenos Aires, Antônio Manuel

5

Correia da Câmara, para José Bonifácio de Andrada, de modo a investigar as

sociabilidades e práticas politizadas vividas no exílio por Soares Lisboa, entendendo

o exílio também como um mecanismo da política liberal, além de uma punição real.

O Exílio Liberal

Em tempos liberais colocava-se em dúvida a constitucionalidade dos

indivíduos, perseguindo os corcundas, realistas e pés de chumbo, e em outro oposto,

os republicanos, anarquistas e revolucionários. Juridicamente, o significado do exílio

no século XIX desvinculava-se do de degredado. Durante o Antigo Regime, o desterro

era uma das principais punições aos criminosos (Cf. SCHULTZ, 2008, p. 78). Na

ordem liberal, o exilado não era mais considerado um homem cumprindo pena ou em

fuga, o que facilitava seu acolhimento em outro país e a continuação livre de sua

atuação política. A ressignificação da tradição de desterro, valorizando e

universalizando as representações em torno de suas experiências tornou-se uma

prática comum aos liberais. Os exilados pensavam-se enquanto integrantes da nação

mesmo fora dos limites de seu território, compreendiam as suas fronteiras definidas

por uma invocação moral e política que não se restringia à geografia propriamente

dita (Cf. SCHULTZ, 2008, p. 127). Ao mesmo tempo, para esses liberais, o exílio podia

ser uma moeda de troca para ocupar um lugar no poder instituído ou, ainda no exílio,

por exemplo, por proventos trocados por publicações com críticas mais amenas ao

governo ou se oferecendo na qualidade de opositor aos redatores mais rebeldes (caso

do redator do Investigador Português em Londres). Além disso, particularmente, no

caso dos jornalistas, o exílio era uma possibilidade de continuar sua oposição ao

governo em segurança. Inclusive, era preferível em certos momentos de maior tensão

política ou no caso de risco de prisão em seu local de origem, demonstrando no exílio

capacidade de ação, comunicação e organização.

Nesse sentido é possível identificar, a grosso modo, alguns elementos que

produzem certa unidade às experiências dos exilados portugueses no decorrer do final

do século XVIII e início do XIX. Primeiramente, a participação fundamental dos

comerciantes para a manutenção destes homens no exílio, com o incentivo,

financiamento e circulação das suas produções tipográficas e editoriais (SANTOS,

1980, p. 443; TENGARRINHA, 2013, p. 189–201). Este fato tornava, muitas vezes, os

jornais e obras dos exilados a expressão pública de seus anseios. Em segundo lugar:

o exílio como trânsito cultural. Tinha-se maior liberdade de expressão, de crítica ao

6

poder, na qualidade de foco de oposição ao governo (TENGARRINHA, 2013, p. 186;

195; VARGUES, 1997, p. 114–115). O que não significa que estavam livres de

retaliação, contudo, possuíam um maior espaço de manobra. Além disso, esse

trânsito trazia novos olhares sobre o “outro”: leituras e vivências que permitiam em

seu conjunto alimentar visões com possibilidades políticas inovadoras. Terceiro: na

memória sobre a trajetória destes homens e marcadamente na de João Soares

Lisboa, o exílio foi lido muitas vezes como um marco de radicalização, de maior

politização de linguagens e de práticas. Tornava-se parte integrante da memória

histórica ao funcionar enquanto elemento que qualificava a produção textual e

engajamento político destes homens em vários sentidos: para defini-los, por vezes,

de radicais, em outras, de moderados constitucionais.

No Rio de Janeiro, durante o final do ano de 1823, alguns dos réus da bonifácia

se refugiaram na Europa. Do forte de Santa Cruz onde estavam presos, Luiz Pereira

da Nóbrega, José Clemente Pereira e o padre Januário da Cunha Barbosa

embarcaram no navio Cécile para a França (MELLO, 1916, p. 144–145). João Soares

Lisboa se dirigiu para onde já mantinha redes de amizades: a região sul do império do

Brasil, com a intenção de passar aos domínios hispano-americanos. Lá encontrava

outros negociantes que poderiam acolhê-lo, sendo comum darem proteção aos

liberais exilados (MATTOSO, 1993, p. 05-79). Outro indício que reforça essa hipótese

é a procuração do alferes Francisco Teles de Sousa, negociante de Entre Rios, na

Argentina, recebida por Soares Lisboa meses antes de se retirar do Rio de Janeiro,

em outubro de 1822, e que lhe dava poderes para comercializar em seu nome

(Procuração..., 02 out. 1822)3.

Em 1822, a Secretaria de Estado dos Negócios denunciava ao Intendente Geral

da Polícia do Paço a rota de fuga dos exilados. O destino portenho e o de Montevidéu

eram compartilhados entre estes homens que embarcavam para o Rio da Prata. De

lá passavam para Buenos Aires e Montevidéu “[...] procurando clandestina e

simuladamente meter-se a bordo de alguma embarcação [...]” nacional ou estrangeira

que estivesse fora da barra, “além dos registros”, saindo, por exemplo, de um “ilhote

da costa”. De acordo com a denúncia, deste modo era mais fácil “iludir a vigilância”

aos passaportes e outros registros e finalmente “evadir” do império do Brasil. No

mesmo ofício, exigia-se uma “vigorosa busca” aos paquetes e canoas saídos do Rio

3 Agradeço a Gabriel Santos Berute por gentilmente ceder a referência e informações contidas neste documento.

7

da Prata com destino a Buenos Aires e Montevidéu para descobrir e aprisionar “algum

oculto indivíduo que tenha saído furtivamente”, “criminosos” e “facínoras”, dentre eles,

especialmente, Joaquim Gonçalves Ledo. Neste ofício, advertia-se que não se devia

“desprezar diferentes comunicações” que tinham sido dirigidas à D. Pedro, nas quais

se indicava a “[...] casa do D. Lucas Obes [na Cisplatina] como o verdadeiro lugar

onde [ele] se acha refugiado [...] e sendo presumível que assim der, será por ventura

o [seu] plano [...] passar-se para Buenos Aires ou Montevidéu” (Ofício da Secretaria

de Estado dos Negócios ao Intendente Geral da Polícia do Paço. Paço, 1822)4.

Nos últimos dias de outubro e, especialmente, no início de novembro de 1822,

depois da abertura da devassa por conluio republicano, muitos liberais embrenharam-

se neste circuito. João Soares Lisboa e, depois, Joaquim Gonçalves Ledo foram dois

deles. Ambos foram hospedados na província de Buenos Aires, recebidos na casa de

José Rodrigues Braga. Comerciante português na região, em 1820, era uma

referência estratégica sobre o comércio e a manutenção dos domínios portugueses.

Por exemplo, cada vez mais embarcações organizadas por particulares saiam de

Buenos Aires em direção a Montevidéu com diversos soldados portugueses

desertores para lutarem pelos interesses de Artigas e Braga era um dos informantes

sobre esses movimentos (Ofício do capitão tenente da real armada portuguesa,

José Pereira Pinto, a José Rodrigues Braga sobre as operações da corveta

corsária Heroina. Montevidéu, 13 abr. 1820).

O Serviço Diplomático de Câmara

Desde 1819, José Rodrigues Braga abrigava o agente comercial e político na

região do Prata, o conselheiro Antônio Manuel Correia da Câmara. Nascido no Rio

Pardo foi enviado por seu pai, ainda quando criança, para estudar em Portugal. Era

filho de Patrício José Correia da Câmara, primeiro visconde de Pelotas. Formou-se no

Colégio dos Nobres, em Lisboa. Em 1807, durante a primeira invasão francesa das

tropas chefiadas pelo general Junot ao reino lusitano, foi forçado a alistar-se no

exército francês. Depois de ter sido libertado e finalizado seus estudos, viajou pela

Europa e até a Índia onde encontrou seu pai que servia como ajudante de ordens do

governador da colônia (GUIMARÃES, 1938; ALEGRE, 1981, p. 90-91; CAMARGO,

1877, p. 505-506). No ano de 1816, depois de proclamada a república das Províncias

4 Não foi possível estabelecer o dia e mês pela dificuldade de leitura diante da qualidade do manuscrito.

8

Unidas do Rio da Prata, a Coroa portuguesa nomeou-o agente comercial e político na

região (GUIMARÃES, 1938).

Em maio de 1822, depois da morte do cônsul português em Buenos Aires,

Figueiredo, os negociantes da praça do Rio de Janeiro apresentaram a indicação do

nome de Câmara com a finalidade de suprir “[...] a urgente necessidade de prover-se

imediatamente aquele lugar a bem do comércio [...]”, conforme os “interesses dos

súditos Portugueses” e para que ele mandasse “[...] oportunamente as informações e

notícias de que muito importa [...] ter conhecimento [...]” (Correspondência do

cônsul ... Rio de Janeiro, 25 mai. 1822). Assim, o ministro José Bonifácio atendeu o

pedido e nomeou Antônio Manuel Correia da Câmara para essa função.

O cônsul Câmara foi enviado para Buenos Aires com instruções diplomáticas

que tratavam da geopolítica do império brasileiro no extremo sul. Uma das suas

principais obrigações era negociar territórios e acordos estratégicos utilizando-se da

sua aliança com as tropas aliadas, chefiadas pelo Barão de Laguna, e com a Junta de

Representantes das Províncias Unidas, desde 1821, governada pelo primeiro ministro

Bernardino Rivadavia. Para isso, tinha de se embrenhar nas disputas políticas,

territoriais, institucionais e editoriais da região que estavam em plena efervescência.

O plano estratégico de José Bonifácio era conciliar os interesses na formação do que

ele chamava de uma “Confederação ou Tratado ofensivo e defensivo” entre Buenos

Aires, Paraguai, Entre Rios, Montevidéu e o Brasil (Instruções para Sr. Antonio

Manoel Correa da Câmara na Comissão em que parte desta Corte de Agente

junto ao Governo de Buenos Aires e mais Portos adjacentes. Rio de Janeiro, 31

mai. 1822).

A estratégia traçada por Bonifácio em maio de 1822 tinha duas frentes de

negociações que deveriam ser conciliadas pelo cônsul brasileiro. Uma delas era com

o governo do Paraguai, cujo objetivo era criar uma nova aliança para consolidar junto

com Montevidéu um cordão estratégico que daria aos brasileiros o controle da entrada

e saída de víveres, pessoas e letras de câmbio para as demais regiões hispano-

americanas coloniais, as independentes e para as futuras nações autônomas. A

expectativa era garantir a aliança com o Paraguai e o domínio do Brasil de Entre Rios.

A outra frente era a negociação direta com o governo de Buenos Aires que seria

pressionado pelos sucessos das alianças do Brasil com Paraguai, Entre Rios e

Montevidéu (Instruções para Sr. Antonio Manoel Correa da Câmara ... Rio de

Janeiro, 31 mai. 1822).

9

Outra recomendação de Bonifácio à Câmara era o envio constante de

correspondências com a finalidade de informá-lo sobre as transações diplomáticas

realizadas. Foi o que Câmara fez, mandava sacos de seda repletos de jornais,

panfletos, ofícios e cartas que eram carregados pelo “cadete Buys”, Cristiano

Frederico Buys, sobrinho do Barão de Laguna e seu homem de confiança nesta tarefa.

Ele carregava os papéis de Câmara de Buenos Aires para a Colônia e de lá para o

Rio de Janeiro. O desempenho desta tarefa lhe rendeu o pedido do cônsul à Bonifácio

para a elevação de seu posto de cadete à patente de oficial (Correspondência do

cônsul ... Buenos Aires, 13-14 nov. 1822). Na Corte fluminense, Câmara contava com

seu correspondente, o negociante Manuel Joaquim Ribeiro (Correspondência do

cônsul ... Montevidéu, 18 jul. 1822).

Em sua correspondência para Bonifácio, Câmara dava conta das suas ações

como se estivesse escrevendo um diário, sem economizar em expressões subjetivas.

Documentava sua atuação enquanto cônsul, com a particularidade de constituir-se em

uma correspondência que deveria ser mantida em segredo, porque concebia o serviço

diplomático como uma espécie de jogo que se desenvolvia pelo sigilo. Construía com

suas descrições um cenário de gestação de uma trama revolucionária que se iniciava

quando ele ainda era agente comercial no Rio da Prata e se estendia à época em que

se tornou cônsul em Buenos Aires. Na sua correspondência, a descrição de

personagens como Rivadavia, Artigas, Barão de Laguna ratificava seus

posicionamentos em relação às novas fidelidades políticas. O intuito de Câmara era

demonstrar sua adesão à independência do Brasil e destacar a sua importância na

consolidação desta Causa. Para isso, o cônsul narrava as ações de outros

personagens, dentre eles, João Soares Lisboa.

Denunciava uma série de expedientes dos liberais exilados, expondo suas

sociabilidades, convivências e os integrantes dessas vivências. Além disso, Câmara

preocupava-se em dar força a sua narrativa por meio do envio nos “sacos de seda”

de jornais, acordos, panfletos, decretos e outros impressos que, para ele,

exemplificavam sua narrativa. Esses impressos sinalizam a proliferação das práticas

editorias e tipográficas na região, com uma imensa circulação de publicações no sul

da América. Esta forma de narrar repetiu-se em 1823, quando Câmara foi ao Rio de

Janeiro, escreveu à Bonifácio e testemunhou na devassa da bonifácia.

Assim, na correspondência de Câmara o elogio a determinados personagens

projetava, como efeito da sua adulação, a atribuição à sua própria figura das mesmas

10

qualidades. Quando o fazia também se colocava no nicho que defendia a ordem

constitucional, com adesão à figura de D. Pedro I e à de Bonifácio. Neste sentido, a

composição da imagem de seus aliados e inimigos também era um exercício de

autoimagem. Revela seus anseios, sentidos e expectativas na construção de

personalidades (SCHIAVINATTO, 1999, p. 36–37). Nas correspondências esta

operação era mais uma dentre os mecanismos para a promoção de uma auto

representação. Sendo uma produção discursiva subjetiva por definição, o remetente

compartilhava com seu destinatário um repertório de qualidades e defeitos definidos

de antemão. Dessa maneira, pode-se dizer que Câmara manifestava em suas cartas

ansiedades de pertencer ou não a determinados filões da cultura política liberal.

Preocupado com a promoção de sua auto representação como defensor do

Imperador, do governo do Brasil e da ordem constitucional, ou, incapaz de enxergar

nuances, Câmara reproduzia a equiparação entre o ser pró-português, republicano,

jacobino, anarquista e oposto a D. Pedro I em oposição à defesa da monarquia e da

Causa do Brasil. Entretanto, ao olhar mais detidamente para a trajetória destes

homens citados por Câmara – exilados e seus aliados - e buscando extrapolar

categorias binárias de julgamento criadas por seus conterrâneos, apreende-se que

eles pertenciam a filões da cultura política liberal que não se resumiam ou

diferenciavam pela defesa de monarquia ou república. Distinguiam-se mais por outros

elementos que diziam respeito ao modo de funcionamento da monarquia

constitucional, por exemplo, as suas formas de participação política, divisão e

atribuições dos Poderes, definições de soberania e de pacto. Além disso, estes

homens desestruturavam topos que fixavam determinadas formas de governo em

noções de participação política mais ou menos “moderadas” (Cf. FERREIRA, 2014).

As Tramas e Métodos Vis dos Exilados

Em novembro de 1822, Câmara comunicava Bonifácio sobre sua hospedagem

na casa de José Rodrigues Braga. Lá padecia de “grave enfermidade” e não tinha os

meios “suficientes e indispensáveis” para se tratar. Também o perturbava a presença

de outros homens na mesma casa. Reclamava que eles impossibilitavam o

cumprimento de seus deveres de cônsul (Correspondência do cônsul ... Buenos

Aires, 01 nov. 1822). Nesta e em outras cartas, a casa de Braga era descrita como

um centro de encontro de brasileiros e portugueses que residiam ou estavam de

passagem por Buenos Aires. Às vezes em ceias ou conversas noturnas, debatiam os

11

últimos acontecimentos políticos e opinavam sobre as formas de governo que

conheciam, discutiam a geopolítica da América e estratégias comerciais. Fortaleciam

e restauravam vínculos entre exilados e seus correspondentes no Brasil, construíam

uma experiência comum por meio da informação, assentada em uma identidade que

no momento não era possível pelo pertencimento ao território e, por esta razão, era

investida em ligações morais e políticas entre eles5. Era esta troca que constrangia

Câmara, o relato das situações de seu incômodo delineiam os modos de viver político

destes homens, as ideias que trocavam e os seus nomes. Ele identificava os homens

que constituíam estas redes de compartilhamentos que aos seus olhos organizavam

uma trama contra o império do Brasil e a pessoa de D. Pedro I.

Novembro foi um mês decisivo nos relatos do cônsul. As visitas que o

incomodavam tornavam-se cada vez mais frequentes, todavia, o que mais o

atormentava foi a chegada dos exilados, João Soares Lisboa e Joaquim Gonçalves

Ledo. Ficava ainda mais desesperado quando em novembro e dezembro de 1822 eles

foram hospedados na casa de José Rodrigues Braga, o que trouxe inúmeros

inconvenientes ao seu cotidiano e às suas obrigações como cônsul. O primeiro a

chegar, em 14 de novembro de 1822, foi João Soares Lisboa. Imediatamente, Câmara

reportava a Bonifácio o fato:

Hoje chegou a esta Cidade o Anti-Brasileiro Lisboa vindo dessa Corte: apresentou-me, recebi-o afavelmente e de pé, não passou de dois minutos o tempo que o tive diante de mim: agora [sic] [que] está jantando na sala vizinha com Braga de quem é antigo Amigo, por mim, deixei de ir à mesa alegando ao meu Patrão ou Dono da Casa as Justas razões que tenho para não consentir que frequente tal homem a Residência onde esse seja hospedado. (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 nov. 1822)

Em dois de dezembro de 1822, era a vez da recepção de Gonçalves Ledo que

para o cônsul foi trazido graças à “[...] amizade que tem com Lisboa [...]”. Segundo o

relato de Câmara, Soares Lisboa apresentou-se a ele e declarou que fugiu do “[...] Rio

de Janeiro onde o acusaram sem fundamento de ter querido tramar contra o Império

[...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 02 dez. 1822). O cônsul sem

demora também alertava o Barão de Laguna, dando a notícia da chegada de

Gonçalves Ledo e Soares Lisboa:

[...] É do meu dever participar a V. E. que se acham nesta Capital fugido do Rio de Janeiro o ex deputado e Procurador Ledo, com um certo Lisboa [na margem: Lisboa, redator do Correio do Rio de Janeiro] a quem o novo

5 Esta percepção da construção de uma experiência comum por meio da troca de informações entre cartas, jornais e folhetos de e para Portugal é delineada por Kirsten Schultz em relação aos “exilados” em (SCHULTZ, 2008, p. 119–120)

12

Governo se viu na precisão de deportar. Ambos estes indivíduos, declarados inimigos da Monarquia Constitucional e decididos sectários do Republicanismo, que queriam estabelecer no Brasil sobre as ruínas do Trono Imperial, vivem acolhidos. (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 08 dez. 1822)

O cônsul queixava-se da necessidade de se retirar quase todos os dias da

mesa do jantar e cear em seu quarto ou fechado em seu “pequeno Gabinete”. Era a

maneira encontrada por ele para evitar a convivência com Gonçalves Ledo e o “[...]

Carbonário Autor do Correio [que] não [saia] [da] Casa [...]” (Correspondência do

cônsul ... Buenos Aires, 26 nov. 1822). Logo começaram seus pedidos de licença

para viajar para a Corte com o fim de comunicar pessoalmente as tramas que os

carbonários, jacobinos, Ledo, Soares Lisboa e Braga arquitetavam com o fim de lançar

uma “[...] furiosa guerra de Brigas e de Intrigas ao Brasil [...]” (Correspondência do

cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Para isso, insistia que se encontrava enfermo,

sem dinheiro e meios para se tratar e pedia aumento de seu rendimento com o

propósito de pagar a Braga os empréstimos que com ele havia contraído.

Câmara creditava a vários motivos o republicanismo de Ledo, Soares Lisboa e

seus aliados. Primeiro, em razão da devassa pela qual estavam sendo processados

no Rio de Janeiro, também por suas amizades no extremo sul do império do Brasil e

na região de Buenos Aires e Montevidéu. Por fim, por suas opiniões que ouvia nos

encontros na casa de Braga ou nas cartas recebidas por eles do Brasil e que eram

lidas em voz alta em suas reuniões. Ele utilizava o termo republicano para designá-

los de jacobinos, adeptos da maçonaria e membros do que chamava de Club Militar

de Montevidéu. Segundo as suas informações, os membros deste Club eram

defensores dos ideais para ele jacobinos e aliavam-se às Cortes portuguesas e

espanholas na pretensão de retomarem seus domínios na América. Dizia que um dos

membros desta seita ou cabala era o imoral Artigas, o qual liderava a “facção europeia

em Buenos Aires”. Eles se aproveitavam da apatia do governo do Brasil e

demonstravam um “febricitante desejo das inovações constitucionais”, para isso

contavam com os “numerosos Agentes dos clubs carbonários de Portugal, Espanha,

Itália, França e Inglaterra derramados por todo o Brasil, como pelas províncias do

Prata” e mantinham contatos estreitos em Buenos Aires e no Rio Grande

(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 12 nov. 1822).

Para Câmara, todos eram agentes contra o império do Brasil e tramavam contra

D. Pedro I. Uma de suas armas, segundo ele, era criar uma opinião contrária ao

imperador e o governo do Brasil, para isso espalhavam “[...] toda a sorte de más novas

13

em desdouro [sic] da nossa Causa [...]” e disseminavam a notícia de que “[...] um

partido vitorioso cumpriu depor todo o Nosso Ministério, e o Rio de Janeiro se declarou

República depois que o Imperador foi aclamado [...]” (Correspondência do cônsul ...

Buenos Aires, 16 nov. 1822). Em suas cartas, Câmara identificava os contatos de

Ledo e Soares Lisboa no Rio de Janeiro, Rio Grande e Montevidéu. Em 1823 este

nomes integraram o que ele intitulou de relação nominal dos súditos do Império do

Brasil residentes em Buenos Aires que ali se declararam inimigos do atual sistema do

Governo Imperial (Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 07 mai. 1823).

Neste ano, assim que Câmara chegou no Rio de Janeiro, entregou em mãos para

Bonifácio esta lista. Nesta mesma oportunidade, o cônsul testemunhou na bonifácia

(Processo dos Cidadãos..., 1824, p. 52-54).

Nesta lista constavam 19 nomes. Compunham um nicho de liberais formado

por aqueles que atuavam no comércio, no exercício da burocracia do império do Brasil

e na imprensa6. Eram agentes de comércio, desde negociantes de grosso trato,

boticários até um caixeiro e um piloto. Outros eram também autoridades do governo

que, como Gonçalves Ledo foi procurador e era deputado à Assembleia Legislativa

do Brasil, ou Antônio Bernardes Machado, membro do governo provisório do Rio

Grande. Nesta lista constavam também alguns antigos redatores, por exemplo:

Gonçalves Ledo foi redator do Reverbero Constitucional Fluminense, João Soares

Lisboa do Correio do Rio de Janeiro e João Batista de Queiroz do Compilador

Constitucional Político e Literário Brasiliense.

Além disso, fora da casa de Rodrigues Braga, Câmara afligia-se com a

circulação em Buenos Aires de diferentes folhas sobre os últimos acontecimentos no

Brasil. De acordo com o seu relato, Bernardino Rivadavia em conferência com ele

dizia que o Brasil queria “para si Montevidéu” e afirmava isto ancorado no “Reverbero

que ele tinha sobre a Mesa” e em “outros papéis”. O cônsul afirmava que se lia em

Montevidéu o Sentinela da Bahia, o Semanário Cívico, gazetas do Chile como o

Mercúrio, notícias de Lima, dentre outros impressos. Em 01 de novembro de 1822,

junto com muitos números destes jornais, Câmara enviava para Bonifácio o nº 03 do

6 Joaquim Gonçalves Ledo, João Soares Lisboa, José Rodrigues Braga, Manuel C. Francisco Canedo, José Rodrigues Monteiro, Miguel Lopes Chavez, José Fernandes Pinto, Manuel José da Silva, Antônio Bernardes Machado, José Fortes Gonçalves, José Francisco de Amorim, Manuel de Azevedo Ramos, “o autor do Compilador do Rio de Janeiro”, Manuel José, Manuel Dias da S. Guimarães, Maquez, “(caixeiro da Casa Britain)”, José da S. Ramos, Ignácio Piloto, Bernardo José da Beça Brandão (Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 07 mai. 1823)

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Correio Extraordinário do Rio de Janeiro de 21 de setembro de 1822 que, segundo o

cônsul, foi reimpresso em Montevidéu, com a adição de “[...] notas que foi obrigado a

pôr lhe o Editor [...]” a pedido do Club militar que o mandou reimprimir

(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 01 nov. 1822)7. Esta denúncia ligava

Soares Lisboa em Buenos Aires às principais forças que, para o cônsul, tramavam

contra a Causa do Brasil.

Os debates políticos extrapolavam os espaços privados e se disseminavam no

público. Segundo o relato de Câmara, Braga, Ledo e Soares Lisboa pregavam “[...]

pelas ruas e armazéns desta Cidade [de Buenos Aires] as maiores imposturas contra

o Brasil e o seu governo [...]”. Mandaram imprimir e espalhar libelos contra o cônsul e

D. Pedro I. Um deles ficou “famoso” e iniciava com “D. Ramon, primeiro sem segundo”

(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 27 dez. 1822; Cf. Processo dos

Cidadãos... 1824, p. 53). Estes dizeres do libelo foram logo associados pelo cônsul

aos do Correio de outubro de 1822: “Eis o Pedro 1º sem 2º!!” que justamente foram

decisivos para a ordem de encerramento do jornal e de exílio ao redator. Criou-se em

torno destas palavras uma espécie de lema que se tornou rapidamente relacionado à

defesa de uma república no Brasil. As palavras publicadas por João Soares Lisboa no

Correio (n. 157 19 out. 1822, p. 697) tornaram-se na época um bordão associado à

ele e seus aliados, o que dava veracidade para a denúncia de Câmara da publicação

do libelo em Buenos Aires pelos exilados. Além disso, o mesmo foi posteriormente

repetido pela literatura histórica para sintetizar o “republicanismo” ou a radicalidade

de Soares Lisboa (Cf. RIZZINI, 1988, p. 398; LEITE, 2000, p. 247–294; SOUSA, 1988,

p. 69–70 t. II).

De acordo com o relato de Câmara, estes impressos eram distribuídos junto de

cartas, dinheiro e víveres pelo circuito mercantil que ligava Buenos Aires e o extremo

sul do Império do Brasil, sendo este um dos sustentáculos dos membros do partido

republicano, o que lhes garantia sobrevivência e comunicação para organizarem suas

tramas. Para isso, os exilados contavam com aliados espalhados pelo império do

Brasil, especialmente encontrados no trânsito Rio Grande e Rio de Janeiro. O cônsul

surpreendia-se com o alcance de suas alianças. Diante disto, a sua estratégia para

minar os planos do grupo dos exilados era isolá-los, impedir suas reuniões na casa

de Braga, suas comunicações por via marítima com outras províncias do Brasil,

7Na documentação são poucos os anexos mantidos, dentre eles, não há a reimpressão do Correio.

15

Montevidéu e Entre Rios e fomentar uma opinião contra seus escritos. Comunicava a

Bonifácio que Ledo, Soares Lisboa e Braga sustentavam “[...] uma ativa

correspondência com o Rio de Janeiro, Salto, Montevidéu e V. do Rio Grande de S.

Pedro [...]”, distribuídas “[...] por via dos novos barcos de guerra que [transitavam] de

uma para a outra parte [...]”, por meio dos quais recebiam notícias e dinheiro

(Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Pedia ao ministro a

proibição “[...] aos comandantes a fim militares como mercantis [...]” de carregarem

qualquer correspondência. Também comunicou o governador da Colônia do envio

pelas embarcações de cartas criminosas trocadas com a Banda Oriental e

recomendava vigilância ao governo do Rio Grande (Correspondência do cônsul ...

Buenos Aires, 02 dez. 1822). À Rivadavia, solicitou a expulsão de Ledo e Soares

Lisboa de Buenos Aires (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 27 dez.

1822).

Insistia em cartas enviadas ao presidente do governo provisório do Rio Grande

de São Pedro do Sul e à Bonifácio na ativa cooperação com os carbonários do Rio de

Janeiro de um membro do governo desta província, “conhecido pelo nome de Chico

da Botica” (Correspondência do cônsul ... Povoação do norte do Rio Grande de São

Pedro do Sul, 03 mar. 1823). Neste caso, referia-se a Francisco Xavier Ferreira (Cf.

PICCOLO, 2005, p. 609). Relatava que havia escutado da boca de Ledo em uma

conferência noturna em Buenos Aires que o tal Chico seria responsável por “[...]

incendiar a Província do Rio Grande e separá-la da obediência do Imperador, ao

passo, que se fosse desenvolvendo na Província Cisplatina o espírito de revolta que

acabaria por expelir daquele território as Forças Imperiais. [...]” (Correspondência do

cônsul ... Povoação do norte do Rio Grande de São Pedro do Sul, 03 mar. 1823).

Além disso, em 1823, denunciava que o negociante da província do Rio Grande, José

Rodrigues Ribas, amigo de Soares Lisboa, reunia-se em rodas de “carbonários no

Adro de S. Bento” no Rio de Janeiro para dizer que D. Pedro I não teria veto absoluto

e que no Brasil, como em Portugal, seria um “rei tão nulo como D. João VI”

(Correspondência do cônsul ... Rio de Janeiro, 23 abr. 1823).

Em se tratando da aliança com os estrangeiros, de acordo com o cônsul

Câmara, Ledo, Soares Lisboa e Braga eram vistos em Buenos Aires frequentemente

na “[...] companhia [sic] de Alvear, a quem o Cabildo de Montevidéu designou futuro

Capitão General da mesma Província [...]”, “[...] inimigo e chefe da facção da banda

oriental em Montevidéu [...]” e “amigo íntimo de Braga” (Correspondência do cônsul

16

... Buenos Aires, 09 dez. 1822; Processo dos Cidadãos... 1824, p. 53;

Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Para ele, podiam

desgraçar com suas armações a “América do Sul, e muito principalmente [as]

Províncias da Prata” que estavam por isso sob perigo manifesto. Ao lado do club

militar de Montevidéu, dizia que estes estrangeiros trabalhavam “com ciência de

Causa a favor dos Godos Europeus” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires,

14 dez. 1822).

De acordo com Câmara, os três carbonários Ledo, Soares Lisboa e Braga

atrapalhavam suas ações diplomáticas usando dos meios mais vis, monstruosos e

vergonhosos, como a violação da sua correspondência para Bonifácio, o barão de

Laguna e o próprio ministro Rivadavia. Forjavam cartas em nome de seus “inimigos

para comprometê-los” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 08 nov. 1822;

02 dez. 1822; Rio de Janeiro, 16 abr. 1823). Relatava que em uma ocasião fizeram

em nome do ministro Rivadavia uma carta e remeteram para o governo de

Montevidéu, nesta falsamente “[prometiam] socorro e assistência aos revolucionários”

de lá (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 02 dez. 1822). Adiantavam-se

nas suas conversações com o ministro de Buenos Aires, desacreditando os seus

acordos e submetiam o governo portenho “[...] ao jogo ignominioso dos Clubs

Jacobinos [...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822).

Além disso, Câmara acusava Ledo de ter recrutado “[...] os Soldados europeus

que ali [em Buenos Aires] [se] [achavam] licenciados para enviá-los ao Chefe

revolucionário de Montevidéu [D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo]” que na época

era o comandante da Divisão dos Voluntários Reais que lutava a favor das forças

portuguesas contra as tropas brasileiras, chefiadas pelo barão de Laguna (Processo

dos Cidadãos... 1824, p. 54). Testemunhava que Ledo negociava na Praça de

Buenos Aires as “[...] Letras que o Governo Cisplatino lhe oferecia com enormes

vantagens para acudir às urgências daquele Estado [...]” e que impedia “[...] que

passassem de Buenos Aires para a Banda Oriental certa quantidade de chumbo, de

pólvora e de outras provisões necessárias ao serviço [...]” dos soldados do Brasil

(Processo dos Cidadãos... 1824, p. 54).

Câmara também acusava os exilados de se envolverem com mulatos do Rio

de Janeiro. Denunciava que entre os “[...] Apaixonados de Ledo [tinham] um grande

Partido [...]” e acreditava que com “alguma habilidade e segredo” seria “fácil descobrir

os Planos traçados de acordo com esta classe de gente” (Correspondência do

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cônsul ... Buenos Aires, 14 dez. 1822). Advertia Bonifácio sobre o envolvimento de

Ledo também com militares de origem negra no sul da América, no caso, com o

tenente da artilharia cívica Thomas Gomes. De acordo com o cônsul, ele havia

passado de Buenos Aires à Colônia com o intuito de sublevar os negros da Banda

Oriental, o que era preocupante “[...] mesmo com os poucos negros que pode ter a

Província de Montevidéu [...]” (Correspondência do cônsul ... Buenos Aires, 11 jan.

1822).

Independente da veracidade destas informações, os conflitos pela

independência no sul do império do Brasil e região da cisplatina, em detrimento das

forças armadas, tinham a particularidade de privilegiarem as forças milicianas, tropas

auxiliares e outras ligadas ao poder dos comandantes locais, constituídas por grande

número de pardos (MIRANDA, 2006, p. 161). Soares Lisboa quando comerciante de

Porto Alegre acompanhava as vivências das tropas auxiliares (Requerimento

encaminhado ao Ministério do Império ... 1818-1821). Em 1822, defendia as

milícias nas publicações do Correio como a forma ideal de organização para a defesa

da nação, inclusive, enquanto um meio de fortalecer os laços de identidade dos

milicianos com a pátria, sendo um exercício de cidadania (Cf. Correio do Rio de

Janeiro n. 34, 20 mai. 1822, p. 139-140). Nesse sentido, pode-se dizer que o

conhecimento das práticas milicianas e das vivências de fronteira que compunham a

trajetória de Soares Lisboa, somada à denúncia de Câmara, sinalizam para o exercício

politizado destas práticas também no exílio.

Com a abertura da Assembleia Legislativa do Brasil em 1823, o barão de

Mereschal, agente diplomático da Aústria no Brasil de 1821 a 1831, afirmava em sua

correspondência deste ano que Gonçalves Ledo “[...] reaparece[ria] [na Corte] sem

nenhuma dúvida [...]” (MELLO, 1916, p. 134. Tradução livre.). Sinalizava com acerto

que Ledo teria assegurada a sua liberdade e, depois do exílio, recolocaria-se em

posição central de poder, agindo como um dos principais deputados, ao lado de D.

Pedro I e sua órbita de aliados. Antes disso, a reunião dos deputados do Brasil motivou

o retorno de João Soares Lisboa em 17 de fevereiro de 1823 ao Rio de Janeiro.

Contudo, tão logo chegou foi encarcerado por ordem do ministério até que se

encerrasse a devassa da qual era réu (VARNHAGEN, 2010, p. 137-230). Republicou

da prisão de maio até novembro de 1823 o Correio do Rio de Janeiro quando se

aproximou dos discursos e linguagens de frei Caneca e Cipriano Barata, criando elos

18

de termos, linguagens e definições políticas com estes homens e sendo o principal

disseminador na imprensa de suas publicações transcritas no Correio.

Em novembro de 1823, João Soares Lisboa foi o único condenado por conluio

republicano com a pena de dez anos de prisão e o pagamento de cem mil réis das

custas do processo, porém recorreu ao imperador D. Pedro I que converteu sua

sentença ao emolumento de cinquenta mil réis e em oito anos de exílio do Brasil

(Correio do Rio de Janeiro n. 10, 12 ago. 1823, p. 39-40). Nesse sentido, o exilio era

peça fundamental para o processamento da política: a consolidação da ordem

constitucional com a Assembleia Legislativa do Brasil, seguida de seu fechamento por

D. Pedro I em novembro de 1823, a absolvição dos réus da devassa por conluio

republicano e a convergência desses liberais em torno da defesa da Carta outorgada

em 1824, inclusive, integrados com papéis privilegiados na política do império.

Assim, no final de 1823, enquanto Joaquim Gonçalves Ledo, José Clemente

Pereira e o cônego Januário da Cunha Barbosa tornavam-se figuras de poder no

império, Soares Lisboa embarcou em um navio inglês com destino ao exílio na Europa.

Todavia, infringiu a determinação do imperador D. Pedro I e, em março de 1824,

aportou em Recife (RIZZINI, 1988, p. 398–399). Lá foi hospedado na casa de Manuel

de Carvalho Pais de Andrade (Desengano aos Brasileiros n. 01, 19 jun. 1824, p. 02)

que na época se designava presidente da província de Pernambuco à revelia da

ordem do governo imperial que havia restituído Francisco Paes Barreto à presidência

(“O Nordeste.com – Enciclopédia Nordeste - Manoel de Carvalho Paes de Andrade”,

2015). Na província de Pernambuco, Soares Lisboa integrou a Confederação do

Equador (MELLO, 2004; BERNARDES, 2006; FONSECA, 2004) e publicou o

periódico Desengano aos Brasileiros (VARNHAGEN, 2010, p. 137-286). Segundo a

versão escrita por frei Caneca em seu diário, em 1824, Soares Lisboa foi vítima

heroica e mortal de um tiro das tropas imperiais, alvejado durante a retirada dos

matutos para o Ceará, na localidade de Couro D’Anta (LUSTOSA, 2000, p. 414;

FONSECA, 2004, p. 192–193).

Portanto, nesta breve reflexão se fez o esforço de repensar as vivências,

sociabilidades e práticas politizadas no exílio de João Soares Lisboa em Buenos Aires

a partir da correspondência do cônsul do Brasil em Buenos Aires, Antônio Manuel

Correia da Câmara. Dessa maneira, pode-se relacioná-las a questões sobre o exílio

como mecanismo da política liberal e elemento integrante da memória histórica sobre

a trajetória dos exilados e do cônsul. Considera-se este esforço analítico essencial

19

para sinalizar horizontes e hipóteses sobre a condenação de João Soares Lisboa e a

absolvição dos outros réus na bonifácia, os significados das publicações do Correio

escrito da prisão (1823) e da aproximação de seu redator a Cipriano Barata, frei

Caneca e Paes Andrade. Destaca-se que o exílio teve papel fundamental no inquérito

da bonifácia e foi também resinificado no Processo dos Cidadãos (1824) e para sua

análise a reflexão aqui desenvolvida tem papel primordial.

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Ofício do capitão tenente da real armada portuguesa, José Pereira Pinto, a José Rodrigues Braga sobre as operações da corveta corsária Heroina. Montevidéu, 13 abr. 1820. Arquivo Histórico Ultramarino, CU-065, rolo 02, doc. 128.

Processo dos cidadãos, Domingos Alves Branco Muniz Barreto, João da Rocha Pinto, Luiz Manoel Alves Azevedo, Tomás José Tinoco D’Almeida, José Joaquim Gouveia, Joaquim Valério Tavares, João Soares Lisboa, Pedro José da Costa Barros, João Fernandes Lopes, Joaquim Gonçalves Ledo, Luiz Pereira da Nóbrega de Souza Coutinho, José Clemente Pereira, padre Januário da Cunha Barbosa, padre Antônio João Lessa. Rio de Janeiro: Tipografia de Silva Porto e Companhia, 1824. Biblioteca Nacional. Divisão de Obras Raras: Microfilme: OR 00346 [8].

Procuração do Alferes Francisco Teles de Sousa a João Soares Lisboa. 02 out. 1822. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. 1o Tabelionato de Porto Alegre. Transmissões e Notas. 02 out. 1822, Códice 1815, Livro 44, p. 45.

Requerimento encaminhado ao Ministério do Império, solicitando mercê do habito da Ordem de Cristo em remuneração dos serviços prestados pelo coronel de cavalaria Manuel Jerônimo Cardoso nas campanhas de Portugal e Capitanias do Sul do Brasil. (1808-1820). Biblioteca Nacional. Seção de Manuscritos. Coleção Documentos Biográficos: C - 523,001 Nº 001.

Requerimento encaminhado ao Ministério do Império, solicitando nomeação para Secretário do Governo da Capitania do Rio Grande do Sul e solicitando criação e sua nomeação para o cargo de despachante marítimo da Cidade da Bahia. (1820-1821). Biblioteca Nacional. Seção de Manuscritos. Coleção Documentos Biográficos: C - 523,001 Nº 002.

Requerimento encaminhado ao Ministério do Império, solicitando ser nomeado despachante da Bahia e solicitando ser determinada a tabela de emolumentos que deve adotar. (1821). Biblioteca Nacional. Seção de Manuscritos. Coleção Documentos Biográficos: C - 523,001 Nº 003.