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As transformações das áreas de influência migratória dos pólos econômicos brasileiros nos períodos 1980-1991 e 1991-2000 * Ricardo Alexandrino Garcia ** Mauro Borges Lemos *** José Alberto Magno de Carvalho **** O artigo analisa as transformações das áreas de influência migratória dos pólos econômicos brasileiros ao longo das três últimas décadas. Com base na hierarquia urbana desses pólos, é proposto um modelo de identificação das suas áreas de influência migratória. A partir das configurações territoriais, obtidas mediante o mapeamento dos resultados para os anos de 1980, 1991 e 2000, tecem-se interessantes considerações a respeito da dinâmica dos fluxos migratórios microrregionais dos pólos econômicos brasileiros. Palavras-chave: Migração interna. Regionalização econômica. Modelo gravitacional. O presente estudo analisa as trans- formações das áreas de influência migratória dos pólos econômicos brasileiros, bem como oferece insumos migratórios para o aprimoramento dos critérios econômicos de regionalização. Para tanto, foram caracte- rizadas as áreas de influência migratória dos pólos econômicos nacionais em três momentos: 1980, 1991 e 2000. Os movimen- tos migratórios ocorridos durante os qüin- qüênios 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000 foram empregados como índices de influên- cia migratória entre os pólos e as demais áreas geográficas. * Este artigo baseia-se na tese de doutorado de Ricardo Alexandrino Garcia (2002), intitulada A migração como variável endógena: uma proposta de regionalização baseada em pólos econômicos e suas áreas de influência. ** Doutor em Demografia, pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). *** Doutor em Economia, professor e pesquisador do Cedeplar/UFMG. **** Doutor em Demografia, professor e pesquisador do Cedeplar/UFMG. 1 Na definição de seu marco teórico, Lemos et al. (2000) basearam-se, principalmente, nos trabalhos de Von Thünen (1966), Alfred Weber (1969), Walter Christaller (1966) e August Lösch (1969). Sendo a regionalização o aspecto operacional do conceito de região, ou seja, o procedimento pelo qual a configuração regional é determinada, sua execução, por conseguinte, encontra-se intimamente ligada ao conceito de região adotado – que, nesse caso, corresponde ao de centro urbano polarizador de uma área de influência. No plano teórico, a regionalização fundamenta-se no reconhecimento de que a distribuição desigual da população urbana no espaço advém tanto da eficiência econômica decorrente das economias externas de escala localizadas, que são provenientes da aglomeração de atividades industriais especializadas, criando economias de especialização, quanto da concentração da oferta de serviços produzidos no meio urbano, que gera economias de urbanização (Lemos, Diniz e Guerra, 1999). Os conceitos de pólo econômico e hierarquia urbana há muito vêm sendo debatidos pela literatura especializada. O trabalho de Lemos et al. (2000) é um exemplo do quanto os estudos nessa área podem e devem contribuir para uma nova agenda do planejamento regional brasi- leiro. Nesse estudo, o território nacional é recortado em macro, meso e microrregiões economicamente distintas. Para tanto, foram estabelecidas uma hierarquia dos centros econômicos brasileiros 1 – tendo como critério o peso do setor terciário no total de suas economias – e interações da massa R. bras. Est. Pop., Campinas, v. 21, n. 2, p. 259-281, jul./dez. 2004 RBEP_vol21_n2.pmd 18/4/2005, 15:58 259

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As transformações das áreas de influênciamigratória dos pólos econômicos brasileiros nos

períodos 1980-1991 e 1991-2000*

Ricardo Alexandrino Garcia**Mauro Borges Lemos***

José Alberto Magno de Carvalho****

O artigo analisa as transformações das áreas de influência migratória dospólos econômicos brasileiros ao longo das três últimas décadas. Com base nahierarquia urbana desses pólos, é proposto um modelo de identificação dassuas áreas de influência migratória. A partir das configurações territoriais, obtidasmediante o mapeamento dos resultados para os anos de 1980, 1991 e 2000,tecem-se interessantes considerações a respeito da dinâmica dos fluxosmigratórios microrregionais dos pólos econômicos brasileiros.

Palavras-chave: Migração interna. Regionalização econômica. Modelogravitacional.

O presente estudo analisa as trans-formações das áreas de influência migratóriados pólos econômicos brasileiros, bemcomo oferece insumos migratórios para oaprimoramento dos critérios econômicos deregionalização. Para tanto, foram caracte-rizadas as áreas de influência migratóriados pólos econômicos nacionais em trêsmomentos: 1980, 1991 e 2000. Os movimen-tos migratórios ocorridos durante os qüin-qüênios 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000foram empregados como índices de influên-cia migratória entre os pólos e as demaisáreas geográficas.

* Este artigo baseia-se na tese de doutorado de Ricardo Alexandrino Garcia (2002), intitulada A migração como variável endógena:uma proposta de regionalização baseada em pólos econômicos e suas áreas de influência.** Doutor em Demografia, pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG).*** Doutor em Economia, professor e pesquisador do Cedeplar/UFMG.**** Doutor em Demografia, professor e pesquisador do Cedeplar/UFMG.1 Na definição de seu marco teórico, Lemos et al. (2000) basearam-se, principalmente, nos trabalhos de Von Thünen (1966), AlfredWeber (1969), Walter Christaller (1966) e August Lösch (1969). Sendo a regionalização o aspecto operacional do conceito de região,ou seja, o procedimento pelo qual a configuração regional é determinada, sua execução, por conseguinte, encontra-se intimamenteligada ao conceito de região adotado – que, nesse caso, corresponde ao de centro urbano polarizador de uma área de influência. Noplano teórico, a regionalização fundamenta-se no reconhecimento de que a distribuição desigual da população urbana no espaçoadvém tanto da eficiência econômica decorrente das economias externas de escala localizadas, que são provenientes da aglomeraçãode atividades industriais especializadas, criando economias de especialização, quanto da concentração da oferta de serviços produzidosno meio urbano, que gera economias de urbanização (Lemos, Diniz e Guerra, 1999).

Os conceitos de pólo econômico ehierarquia urbana há muito vêm sendodebatidos pela literatura especializada. Otrabalho de Lemos et al. (2000) é umexemplo do quanto os estudos nessa áreapodem e devem contribuir para uma novaagenda do planejamento regional brasi-leiro. Nesse estudo, o território nacional érecortado em macro, meso e microrregiõeseconomicamente distintas. Para tanto, foramestabelecidas uma hierarquia dos centroseconômicos brasileiros1 – tendo comocritério o peso do setor terciário no total desuas economias – e interações da massa

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de rendimentos de cada centro econômicocom a dos demais, calculadas a partir deum modelo gravitacional2.

Lemos et al. definiram macrorregiãocomo a parcela contígua do territóriopolarizada por uma microrregião de grandeconcentração urbana, com característicasde metrópole (macropolo). Por sua vez,cada macrorregião foi dividida emmesorregiões, segundo a capacidadesecundária de polarização exercida porgrandes ou médias cidades (mesopolo),considerando-se a força de atração dasmicrorregiões pelos mesopolos. Cadamesorregião foi então subdividida emmicrorregiões3, tomando-se as microrre-giões geográficas do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), estabe-lecidas em 1991, como unidades básicas.Foram considerados macro e mesopoloseconômicos aquelas microrregiões quepossuíam uma elevada concentraçãourbana e econômica, capazes de polarizaroutras microrregiões.

Para a definição desses recortes, ocálculo básico consistiu em estimar,hierarquicamente, a força de atração decada microrregião pelos macropolos emesopolos, na razão direta de sua massade rendimentos totais e na razão inversado quadrado de suas distâncias. Os dadossobre a massa de rendimentos totais decada microrregião foram obtidos a partir dosmicrodados do Censo Demográfico de 1991e as distâncias entre as microrregiões foramcalculadas tendo como base a malha digital

2 Segundo os autores, o modelo gravitacional proposto por Isard (1975) “permite a definição de um esboço da área de interaçãode um pólo, próximo à idéia de área de mercado, levando em conta o poder de atração determinado positivamente pela intensidadedas trocas econômicas e negativamente pela distância geográfica, refletida economicamente no custo de transporte por unidadedo produto transportado” (Lemos et al., 2000, p. 8).3 No interior de cada macropolo econômico há, portanto, pelo menos um aglomerado urbano com característica de metrópoleou de grande cidade, bem como existe no interior de cada mesopolo um aglomerado urbano de proporções de uma cidade média.4 A rigor, de acordo com a classificação do IBGE, em 1991 o Brasil era composto de 558 microrregiões, mas os autores suprimirama microrregião de Fernando de Noronha, procedimento que também será aqui adotado.5 Os 11 pólos econômicos brasileiros classificados como macropolos foram: Belém, Belo Horizonte, Brasília-Goiânia, Curitiba,Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.6 Os 73 pólos econômicos brasileiros classificados como mesopolos foram: Altamira, Aracaju, Araçatuba, Araguaína, Arapiraca,Barreiras, Bauru, Blumenau, Boa Vista, Campina Grande, Campinas, Campo Grande, Campos dos Goytacazes, Cariri, Caruaru,Caxias, Caxias do Sul, Chapecó, Cuiabá, Divinópolis, Dourados, Florianópolis, Goiânia, Governador Valadares, Guarapuava, Iguatu,Ilhéus, Imperatriz, Ipatinga, Itajubá, Itapetininga, Ji-Paraná, João Pessoa, Joinville, Juazeiro, Juiz de Fora, Lages, Londrina, Macapá,Maceió, Marabá, Marília, Maringá, Montes Claros, Mossoró, Natal, Passo Fundo, Pelotas, Porto Velho, Presidente Prudente, RibeirãoPreto, Rio Branco, Rondonópolis, Santa Luzia, Santa Maria, Santarém, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Luís,Sobral, Sorocaba, Sudoeste de Goiás, Teófilo Otoni, Teresina, Teixeira de Freitas, Cascavel, Criciúma, Uberlândia, Uruguaiana,Varginha, Vitória e Vitória da Conquista.

de 1991 dos municípios brasileiros, ambosfornecidos pelo IBGE.

Na identificação das áreas deinfluência dos pólos econômicos foramobedecidos os critérios de hierarquiaeconômica propostos pelos autores: numprimeiro momento, cada pólo econômico(macro e mesopolos) atraiu para si umconjunto de microrregiões, que deu origemà sua mesorregião de influência; numsegundo momento, cada macropolo atraiuum conjunto de mesopolos e, com eles, suasrespectivas mesorregiões, dando origem àmacrorregião de influência do macropolo.

Uma vez efetuados os procedimentosnecessários para a análise das 557microrregiões definidas pelo IBGE4, Lemoset al. (2000) identificaram 84 microrregiõesatuando como pólos econômicos em 1991.Desses 84 pólos, 11 possuíam, então, umagrande capacidade de polarização sobreas demais microrregiões e foram classi-ficados como os macropolos econômicosbrasileiros5; os 73 pólos restantes, apesarde influenciados pelos macropolos,polarizavam, por sua vez, um conjuntoespecífico de microrregiões e foramclassificados como os mesopoloseconômicos brasileiros6.

As 557 microrregiões geográficascompunham, portanto, um total de 84regiões de influência econômica, chamadasmesorregiões, aí incluídos aquelesconjuntos de microrregiões mais fortementepolarizados pelos 11 macropolos. Os 11macropolos polarizam, também, todos os

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7 Na impossibilidade de obtenção de dados sobre trocas de mercadorias entre as microrregiões geográficas brasileiras, Lemos etal. (2000) empregaram a massa de rendimentos do trabalho dos centros urbanos como proxy dessas trocas. Uma possibilidadede integração entre a polarização econômica e a populacional dar-se-ia pela substituição da variável rendimento pela variáveltrocas migratórias. Por outro lado, a variável migratória, por si só, é capaz de indicar o nível de influência – se não econômica, pelomenos populacional – entre duas regiões geográficas. Nesse sentido, os trabalhos de Garcia (2002) e de Brito, Garcia e Carvalho(2002) já demonstraram o forte potencial dos movimentos migratórios para delimitar as áreas geográficas de origem e destino dosmigrantes metropolitanos de curto prazo, isto é, cujo período de referência é menor do que cinco anos.

demais 73 mesopolos e, conseqüente-mente, suas mesorregiões. O conjunto dasmesorregiões polarizadas por um ma-cropolo configurou sua macrorregião deinfluência econômica.

Os procedimentos metodológicos aquiutilizados para a identificação das áreas deinfluência migratória dos pólos econômicosbrasileiros diferem consideravelmente dosempregados por Lemos et al. (2000)7. Valecomentar, portanto, alguns pontos quepermearão a análise daqui por diante.

Os mesopolos são, como já mencio-nado, microrregiões potencialmentecapazes de influenciar as microrregiões quenão foram consideradas pólos econômicos.Os macropolos, como o próprio nomeindica, são microrregiões que influenciamtanto os mesopolos quanto as demaismicrorregiões. Ao conjunto de microrre-giões influenciadas por um pólo deu-se onome de área de influência direta do mesoou macropolo. Como os macropolosinfluenciam também os mesopolos, elesacabam influenciando, hierarquicamente,as microrregiões que compõem a área deinfluência direta desses mesopolos. Aoconjunto das áreas de influência direta dosmesopolos influenciados por um macro-polo, mais a própria área de influência diretadeste, deu-se o nome de grande área deinfluência do macropolo.

Evitou-se adotar os termos macrorre-gião e mesorregião porque eles subenten-dem contigüidade geográfica das áreas deinfluência. Ao se trabalhar com variáveis defluxo, como se verá a seguir, nem semprefoi possível obter essa condição.

Com relação às microrregiões classi-ficadas como pólos econômicos brasileiros,adotou-se a mesma hierarquia urbanaproposta por Lemos et al. (2000). O conjuntototal dos pólos econômicos brasileirosé formado, para efeito deste artigo, dos

mesmos 11 macropolos e 73 mesopo-los do referido artigo e as demais mi-crorregiões foram consideradas microsnão-pólos.

Considerações metodológicas: critérioe modelo

Como já mencionado, o modelogravitacional empregado por Lemos et al.(2000) pressupõe, em seu numerador, umavariável de fluxo econômico. Devidoà ausência de indicadores de trocaseconômicas entre microrregiões, os autoresoptaram por trabalhar com uma variávelde estoque (rendimento da ocupaçãoprincipal).

Os microdados dos Censos Demo-gráficos de 1980, 1991 e 2000, entretanto,fornecem boas estatísticas de movimentosmigratórios intermunicipais, e podem seragregados de modo a indicar os mo-vimentos populacionais ocorridos entre asmicrorregiões brasileiras em períodosdeterminados. Esses dados permitem,ainda, que esses movimentos possam serponderados e/ou controlados segundodiversas informações socioeconômicas –tais como idade, renda, escolaridade etc. –dos indivíduos recenseados.

Entre 1986 e 1991, as estimativas dosmovimentos populacionais basearam-se noquesito de data fixa do Censo Demográficode 1991, ou seja, referente ao local deresidência do entrevistado exatamentecinco anos atrás, isto é, em 1o de setembrode 1986. Foram considerados imigrantesde uma determinada unidade geográficatodos aqueles que residiam fora dela em1o de setembro de 1986 e nela residiam em1o de setembro de 1991. Simetricamente,seus emigrantes são aqueles que nelaresidiam em 1o de setembro de 1986 eresidiam em outra unidade geográfica em

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1o de setembro de 1991. Trata-se deimigrantes e emigrantes cujo início doperíodo de referência de seus movimentosmigratórios é fixo. Isso faz com que adiferença entre imigrantes e emigrantescorresponda ao verdadeiro conceito desaldo migratório (Carvalho e Rigotti, 1998)e a soma deles, ao volume mais precisodas trocas migratórias entre duaslocalidades, durante o mesmo período dereferência. Esse procedimento foi tambémempregado nas estimativas dos movi-mentos populacionais ocorridos entre 1995e 2000, ou seja, estes foram estimados combase no quesito de data fixa do Censo deDemográfico de 2000.

Os dados do Censo de 1980 nãopermitem estimar o número de imigrantes eemigrantes de data fixa e, conseqüen-temente, o volume dessas trocas. Entretanto,os microdados desse Censo permitemestimar o número de imigrantes e emi-grantes de última etapa – que leva emconsideração a localidade de residênciaanterior do migrante com menos de cincoanos de residência na localidade atual. Taisestimativas constituem-se em uma boaaproximação da migração de data fixa(Rigotti, 1999)8.

A mensuração direta dos movimentosmigratórios acarreta alguns inconvenientesquando estes são estimados a partir doscensos demográficos. Os censos captamapenas informações sobre a localidade deorigem dos migrantes residentes no país.Com isso, o volume total do fluxo migratórionão pode ser mesurado, uma vez que nãopodem ser contabilizados os movimentosdos migrantes que faleceram, re-emigraramou emigraram para fora do país durante operíodo de referência.

Cabe ressaltar ainda que, tendo emvista a homogeneidade de tratamento das

informações censitárias, adotou-se comopadrão a configuração microrregional de2000, que é igual à de 1991. Os microdadosdo Censo de 1980 foram trabalhados demodo a reproduzir as mesmas microrregiõesde 2000, o que exigiu a compatibilizaçãoda malha digital das microrregiõesbrasileiras de 2000 segundo os municípiosexistentes em 19809.

O índice de interação entre duasmicrorregiões

Para identificar as áreas de influênciamigratória dos pólos econômicos brasileiros,poder-se-ia empregar um modelo gravi-tacional composto de variáveis estritamentedemográficas, tal como o representado pelaEquação 1.

8 Todos os migrantes de data fixa são também migrantes de última etapa do qüinqüênio. No entanto, alguns destes migrantes nãosão de data fixa em relação à área de estudo, como (a) os imigrantes de última etapa que no início do qüinqüênio residiam nalocalidade de residência atual (migrantes retornados plenos) e (b) os emigrantes de última etapa cuja localidade de residência noinício do qüinqüênio (data fixa) era diferente daquela de residência imediatamente anterior (Carvalho e Garcia, 2002).9 Em 1980, os municípios brasileiros conformavam apenas 548 das 558 microrregiões de 2000. Isso se deveu ao desmembramentode municípios que, ao se emanciparem, formaram nove novas microrregiões durante a década de 1980. Todas as nove microrregiõesdesmembradas, entretanto, estavam integralmente inseridas em apenas uma das 548 microrregiões existentes em 1980.

onde Igij representa o índice de interaçãogravitacional entre a região i a região j; Pi eP j representam as populações dessasregiões; dij é a distância entre elas e βij é ocoeficiente de atrito de dij.Dessa maneira, o índice de interaçãoentre um pólo econômico e as demaismicrorregiões geográficas seria dadopela razão direta do volume de suaspopulações e pela razão inversa da dis-tância entre eles, elevada a um coeficientede atrito β, tal como o proposto por Isard(1975, p. 48-50).

Pode-se supor, contudo, que com talmétodo duas microrregiões, x e y, possamobter iguais índices de interação com um

EQUAÇÃO 1Índice de interação entre duas microrregiões noespaço: modelo demográfico

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pólo j, apesar de serem diferentes asdistâncias entre eles.

Esse fato se deve a diferenças noscoeficientes de atritos que atuam sobre asdistâncias entre as áreas em questão. Seuma microrregião mais distante de um póloeconômico estabelece a mesma interaçãocom esse pólo que outra menos distante,isso ocorre porque o coeficiente de atritoda distância entre o pólo e a microrregiãomais afastada é menor do que aqueleobservado entre o pólo e a microrregiãomais próxima.

Em suma, o índice de interação atuacomo proxy de fluxos – de pessoas, mer-cadorias etc. – entre os pólos econômicose as demais microrregiões. Mas, uma vezque se dispõe de dados efetivos de fluxosentre essas localidades, eles já in-corporam os efeitos diferenciados doscoeficientes de atrito das distâncias entreas diversas áreas.

Quando se utilizam dados de fluxo nocálculo dos índices de interação entreduas localidades, o efeito da variáveldistância é relativizado, pois a próprianatureza desses dados já enseja umagama enorme de fatores facilitadores oudificultadores dos intercâmbios entre elas.Fatores esses que são representados, deforma sintética, pelos chamados coe-ficientes de atrito.

Isto posto, o índice de interação entreos pólos econômicos e as demais mi-crorregiões, segundo um modelo estri-tamente migratório, foi calculado a partirde seus movimentos migratórios, conformea Equação 2.

EQUAÇÃO 2Índice de interação entre duas microrregiões noespaço: modelo migratório

A identificação das áreas de influênciamigratória dos pólos econômicos

Para a identificação das áreas deinfluência migratória das microrregiõesreconhecidas como pólos econômicos bra-sileiros foi adotado o seguinte procedimento.Primeiramente, ratearam-se as demaismicrorregiões pelos mesmos 84 pólos eco-nômicos, em função dos seus índices deinteração econômica. Definiu-se como áreade influência migratória de um pólo econô-mico as microrregiões que com ele apresen-tavam os maiores índices de interação,comparativamente aos mantidos com outrospólos econômicos. Feito isso, utilizou-se omesmo critério para distribuir os 73 póloseconômicos secundários, os chamadosmesopolos, pelos 11 pólos principais, os cha-mados macropolos. Dessa forma, as áreasde influência dos mesopolos puderam seragregadas convenientemente, em funçãodos macropolos que os subordinavam, emgrandes áreas de influência dos macropolos.

Cabe ressaltar, ainda, mais dois pontos.Primeiro: esse modelo, baseado em trocasmigratórias, exatamente por relativizar osefeitos da variável distância, não é capaz deatender, por si só, a um dos principais critériospara a regionalização do espaço geográfico:a contigüidade geográfica. Segundo: emborao método seja muito eficiente para a identifi-cação das áreas de influência dos pólos eco-nômicos, como se verá mais adiante, essesachados, bem como as implicações derivadasde sua análise, limitam-se ao período dereferência no qual essas trocas se efetivaram.A evolução das áreas de influência migra-tória dos pólos econômicos brasileiros

A partir das informações do CensoDemográfico de 1980 referentes à migraçãode última etapa no qüinqüênio 1975-1980,e mediante os critérios utilizados para adefinição das áreas de influência migratóriados pólos econômicos brasileiros, foramidentificados os mesopolos influenciadospor cada macropolo. A relação resultante éapresentada no Quadro 1.

onde Igij representa o índice de interaçãoentre a região i e a região j e VTM ijrepresenta o volume total de migrantes entreas regiões i e j, observados no final doperíodo de referência.

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QUADRO 1Relação dos mesopolos de influência migratória dos macropolos brasileiros: 1975-1980

Fonte: Elaboração própria.

A relação dos macropolos e seusrespectivos mesopolos de influênciamigratória que sofreram alterações entre1980 e 1991 é mostrada no Quadro 2.Chama a atenção o fato de que, do total de73 áreas de influência polarizáveis, omacropolo de São Paulo, em 1991,continuou influenciando o mesmo númerode pólos econômicos que em 1980, ou seja,30 mesopolos e suas respectivas áreas deinfluência. Porém, o número de microrregiõescuja influência migratória se impôs caiu de199, em 1980, para 194 em 1991. Embora

sua grande área de influência tenha sealterado ligeiramente em 1991, e o númerode seus mesopolos tenha permanecido omesmo daquele de 1980, o macropolo deSão Paulo perdeu para o macropolo deSalvador a área de influência de Aracaju e,para o macropolo de Manaus, a área deinfluência de Ji-Paraná. A compensação veiocom a incorporação da área de influênciade Iguatu, que em 1980 pertencia aomacropolo de Fortaleza, e da área deinfluência de Teresina, que era, então, áreade influência do macropolo de Brasília.

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QUADRO 2Relação dos mesopolos das áreas de influência mutantes entre 1980 e 1991

Fonte: Elaboração própria.

Entre 1991 e 2000, apenas doismacropolos tiveram o número de seusmesopolos de influência diminuído, talcomo mostra o Quadro 3. O macropolo deSão Paulo foi o grande doador demesopolos para outros macropolos,doando um total de três mesopolos. Omacropolo de Belém é o outro que tambémcedeu, segundo o modelo, um mesopolono período em questão. Com isso, o númerode mesopolos influenciados por São Paulocaiu de 30, em 1991, para 27 em 2000.A configuração espacial das grandesáreas de influência dos macropoloseconômicos: 1980, 1991 e 2000

Das 548 microrregiões existentes em1980, o macropolo de São Paulo polarizava,direta ou indiretamente, 30 mesopolosregionais e, por conseguinte, suas respecti-vas microrregiões de influência. Chama aatenção, no Mapa 110, que dessas 30 áreasde influência, apenas 11 (36%) de seusmesopolos localizavam-se no interior do10 O tamanho dos elementos que indicam a sede dos macropolos está relacionado com o seu potencial de influência. Daí seremmaiores os de São Paulo e do Rio de Janeiro, relativamente aos demais.

QUADRO 3Relação dos mesopolos das áreas de influência mutantes entre 1991 e 2000

Fonte: Elaboração própria.

Estado de São Paulo; 9 (30%) situavam-seno Nordeste (Aracaju, Arapiraca, Caruaru,Ilhéus, Juazeiro, Juazeiro do Norte, Maceió,Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista) eos demais formavam uma grande área quese estendia desde o litoral do Estado deSão Paulo, passando pelo norte do Estadodo Paraná (Londrina e Maringá), por quasetodo o Estado do Mato Grosso do Sul(Dourados e Campo Grande) e parte dosestados do Mato Grosso (Rondonópolis eCuiabá) e de Rondônia (Ji-Paraná); já oEstado de Minas Gerais contribuía com trêsáreas de influência (Varginha, Pouso Alegree Uberlândia).

Por outro lado, o macropolo do Rio deJaneiro influenciava, direta ou indire-tamente, 75 outras microrregiões, dispostasem nove áreas de influência. Em relaçãoaos mesopolos dessas áreas de influência,apenas três (33%) localizavam-se no interiordo próprio Estado do Rio de Janeiro (Rio deJaneiro, Volta Redonda e Campos dosGoytacazes); quatro (44%) localizavam-seno Nordeste (Campina Grande, João Pessoa,

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Natal e São Luiz), um (11%), em Minas Gerais(Juiz de Fora) e outro no Espírito Santo(Vitória).

O macropolo de Brasília, por sua vez,influenciava 63 microrregiões, dispostas, talcomo o macropolo do Rio de Janeiro, emnove áreas de influência (Mapa 1). Dos novemesopolos, três (33%) localizavam-se noEstado do Maranhão (São Luiz, Caxias eImperatriz); um (11%) no Piauí (Teresina);um (11%) no atual Estado do Tocantins(Araguaína) e outro no Estado da Bahia(Barreiras). No interior do Estado de Goiássituavam-se as demais sedes das áreas deinfluência que compunham a grande áreade influência do macropolo (Brasília,Goiânia e sudoeste de Goiás).

Em relação ao macropolo de Curitiba,o Mapa 1 indica que ele influenciava, diretaou indiretamente, 44 microrregiões, dispos-tas em sete áreas de influência, cujosmesopolos estavam todos situados ou nointerior do Estado do Paraná (Cascavel,Curitiba e Guarapuava), ou no interior doEstado de Santa Catarina (Blumenau,Florianópolis, Joinville e Lages). Chama aatenção, ainda, as microrregiões influen-ciadas pelo macropolo de Curitiba, situadasno norte do Estado do Mato Grosso e nosudeste do Estado de Rondônia. Essasmicrorregiões, tal como será ilustrado noMapa 4, pertenciam à área de influênciamigratória do mesopolo de Cascavel.

No que tange ao macropolo de PortoAlegre, verifica-se algo semelhante aoobservado com respeito ao macropolo deCuritiba. Dos mesopolos das oito áreas quecompunham a grande área de influênciade Curitiba, dois situavam-se no interior doEstado de Santa Catarina (Chapecó e Tuba-rão) e os restantes, no interior do próprioEstado do Rio Grande do Sul (Caxias doSul, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre,Santa Maria e Uruguaiana). A grande áreade influência desse macropolo eracomposta por um total de 42 microrregiões.

A grande área de influência migratóriada macrorregião de Belo Horizonte limitava-se às áreas de influência localizadas emseu entorno (Belo Horizonte, Divinopólis,Governador Valadares, Ipatinga, MontesClaros, Teófilo Otoni), agregando um total

de 36 microrregiões (Mapa 1). É interes-sante notar que a grande área influenciadapor Belo Horizonte localizava-se no meiodo corredor que ligava o macropolo de SãoPaulo às suas áreas de influência situadasao longo do Nordeste brasileiro.

A analise do Mapa 1 revela, ainda, queo macropolo de Fortaleza influenciava umaárea composta por 30 microrregiões,dispostas em quatro áreas de influênciacujos mesopolos localizavam-se no entornodo macropolo (Fortaleza, Igatu e Sobral) eao norte do Estado do Rio Grande do Norte(Mossoró).

A grande área de influência migratóriado macropolo de Manaus era composta por24 microrregiões (Mapa 1), dispostas emcinco áreas de influência cujos mesopolosestavam situados em quatro estadosdiferentes: Amazonas (Manaus), Roraima(Boa Vista), Rondônia (Porto Velho), Pará(Santarém) e Acre (Rio Branco).

O macropolo de Belém apresentavauma grande área de influência compostapor 19 microrregiões, dispostas em quatroáreas, sendo que três de seus mesopolossituavam-se no Estado do Pará (Altamira,Belém e Marabá) e um no Estado do Amapá(Macapá), como pode ser observado noMapa 1.

Por fim, os macropolos de Salvador edo Recife influenciavam apenas a sua áreade influência direta. Não subordinavam,portanto, nenhum outro mesopolo.

Em 1991, das 73 áreas de influênciapolarizáveis, o macropolo de São Paulocontinuou influenciando o mesmo númerode pólos econômicos que em 1980, ou seja,30 mesopolos e suas respectivas áreas deinfluência. Porém, o número de microrre-giões cuja influência migratória se impôscaiu de 199, em 1980, para 194 em 1991.Embora sua grande área de influência tenhase alterado ligeiramente em 1991 e o núme-ro de seus mesopolos tenha permanecidoo mesmo daquele de 1980, o macropoloperdeu para o macropolo de Salvador aárea de influência de Aracaju e, para omacropolo de Manaus, a área de influênciade Ji-Paraná; a compensação veio com aincorporação da área de influência de Iguatu,que em 1980 pertencia ao macropolo de

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Fortaleza, e da área de influência de Tere-sina, que em 1980 era área de influênciado macropolo de Brasília, tal como podeser observado no Mapa 2.

Em relação à grande área de influênciamigratória de Brasília, verifica-se que em1991 o macropolo perdeu as áreas de in-fluência de Santa Luzia para o macropolo

MAPA 1Brasil: 1980. Grandes áreas de influência migratória dos macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1975-1980*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos macropolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1980 (microdados).

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MAPA 2Brasil: 1991. Grandes áreas de influência migratória dos macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1986-1991*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos macropolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991 (microdados).

de Belém e, como já mencionado, a áreade influência de Teresina para o macropolode São Paulo (Mapa 2).

Já as grandes áreas de influência dosmacropolos de Curitiba e Porto Alegre, notocante aos seus mesopolos de influência,

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permaneceram praticamente inalteradas noperíodo 1980-1991, a não ser por dois as-pectos: o primeiro foi a transferência da área

de influência de Florianópolis da grande áreade influência de Curitiba para a grande áreade influência de Porto Alegre. A segunda foi

MAPA 3Brasil: 2000. Grandes áreas de influência migratória dos macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1995-2000*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos macropolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000 (microdados).

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a perda, por parte do macropolo de Curitiba,das microrregiões situadas ao norte doEstado do Mato Grosso e à sudeste doEstado de Rondônia para o macropolo deSão Paulo.

Percebe-se, no Mapa 2, que os macro-polos de Manaus e Belém incorporaramnesse período, respectivamente, as áreasde Ji-Paraná, proveniente da grande áreade influência de São Paulo, e Santa Luzia,proveniente da grande área de influênciade Brasília. O macropolo de Salvador, queem 1980 não influenciava nenhum meso-polo econômico, incorporou, no qüinqüênio1986-1991, a área de influência de Aracaju,que antes pertencia à grande área deinfluência de São Paulo.

Por outro lado, o macropolo de Fortale-za perdeu, em 1991, a área de influênciamigratória de Iguatu para a grande área domacropolo de São Paulo (Mapa 2). Osmacropolos de Belo Horizonte, Rio de Ja-neiro e Recife permaneceram praticamenteinalterados em relação aos seus res-pectivos mesopolos e, conseqüentemente,à configuração geográfica de suas grandesáreas de influência migratória.

Grosso modo, uma grande consistênciapôde ser observada em relação às grandesáreas de influência dos 11 macropolos eco-nômicos brasileiros, em função das trocasmigratórias verificadas nos qüinqüênios1975-1980 e 1986-1991. O número total deáreas influenciadas pelo macropolo de SãoPaulo, entretanto, caiu ainda mais, tal comose pode observar no Mapa 3. Este macropoloinfluenciava um total de 194 microrregiõesem 1991 (Mapa 2). Em 2000, esse númerocai para 182 microrregiões, ou seja, umadiminuição de apenas 6,2%.

Nítida é a queda na influência migratóriade longa distância do macropolo de SãoPaulo, uma vez que este perde três mesopo-los, com suas respectivas áreas de influência,para outros macropolos que se encontravammais próximos dos mesopolos cedidos.Mesmo ocorrendo modificações visíveis noscontornos geográficos das áreas de influên-cia dos macropolos brasileiros, a análise doMapa 3 revela que não houve alteração desuas posições relativas em função do núme-ro de microrregiões por eles influenciados.

A configuração espacial das áreas deinfluência direta dos pólos econômicos:1980, 1991 e 2000

O macropolo que mais influenciava, deforma direta, em função de seus volumesmigratórios entre 1975 e 1980, era omacropolo de São Paulo (15% das 548microrregiões), seguido pelo macropolo deBelo Horizonte (5%), de Porto Alegre (4%),do Rio de Janeiro (4%) e de Fortaleza (4%),como está ilustrado no Mapa 4. Observa-setambém uma diferença significativa entreos pólos econômicos no que tange àcapacidade de influência além de seuentorno geográfico contíguo imediato. Emrelação aos macropolos, os únicos capazesde estabelecer uma influência migratória noterritório nacional são os de São Paulo, Riode Janeiro e Brasília, principalmente sobreas microrregiões nordestinas. Belo Hori-zonte e Belém, por sua vez, restringem suainfluência não contígua aos seus entornosregionais, enquanto os demais macropolosrestringem suas influências às microrregiõesde seus entornos contíguos. Em relação aosmesopolos, possuem capacidades de po-larização migratória muito diferenciadas.Apenas seis influenciam dez ou mais mi-crorregiões, dentre os quais quatro são capi-tais estaduais e os dois outros, Cascavel eMarabá, são, respectivamente, áreas dinâ-micas de expansão da fronteira agrícola emineral dos anos 70-80.

Também houve uma grande consistên-cia em relação às áreas de influência diretados 11 macropolos econômicos brasileiros,em função das trocas migratórias verifi-cadas nos qüinqüênios 1975-1980 e 1986-1991, e o mesmo pode ser dito em relaçãoàs áreas de influência de seus mesopolos,tal como ilustram os Mapas 4 e 5. Exceçãoseja feita ao mesopolo de Cascavel, que,segundo os dados do Censo Demográficode 1991, perde suas áreas de influênciasituadas ao norte do Estado do Mato Grossopara o mesopolo de Cuiabá, e as situadasà sudeste do Estado de Rondônia para omesopolo de Porto Velho.

Embora tenha ganhado, entre 1991 e2000, apenas três microrregiões, chama aatenção o crescimento da área de influência

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MAPA 4Brasil: 1980. Áreas de influência migratória dos mesos e macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1975-1980*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos mesopolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1980 (microdados).

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MAPA 5Brasil: 1991. Áreas de influência migratória dos mesos e macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1986-1991*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos mesopolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991 (microdados).

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MAPA 6Brasil: 2000. Áreas de influência migratória dos mesos e macropolos, segundo os movimentos migratóriosmicrorregionais, 1995-2000*

* Os números entre parênteses correspondem ao número de microrregiões polarizadas pelos mesopolos.Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000 (microdados).

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direta do mesopolo de Goiânia (Mapa 6).Os macropolos do Rio de Janeiro, SãoPaulo, Curitiba e Belo Horizonte tambémtiveram suas áreas de influência diretaampliadas, o primeiro em quatro e os trêsúltimos em três microrregiões cada um. Osdemais mesopolos permaneceram pratica-mente constantes.

Tais resultados revelam que, mesmohavendo certo aumento da competiçãosobre a influência migratória nos níveismacro e mesorregional, tal fato não é verifi-cado em escalas inferiores, pois são ospólos mais desenvolvidos economicamenteque apresentam o maior poder de influên-cia migratória sobre as demais microrre-giões, ao longo das três últimas décadas.Deslocamentos populacionais e póloseconômicos

Os resultados do modelo confirmamimportantes aspectos, já evidenciados pelaliteratura, da dinâmica populacional no terri-tório nacional (Brito, 1997). Especificamente,atestam que existe uma forte interação entreos deslocamentos populacionais e a confor-mação recente dos pólos econômicos.

Nas Tabelas 1 e 2 observa-se que opoder de interação migratório dos 11 ma-cropolos apresenta mudanças significativasao longo dos últimos 30 anos, entre asdécadas de 1970 e 1990. A primeira refere-se à perda do poder relativo de interaçãodo macropolo de São Paulo. Ao longo do

período, sua área de influência migratóriacai de 199 microrregiões, em 1980, para182 em 2000, refletindo a redução do vo-lume de seus migrantes qüinqüenais de1,98 milhões para 1,67 milhões, o queestabelece uma tendência decrescente darelação entre o volume total de migrantes(VTM) e a população residente do macropo-lo. O fator-chave para explicar esta tendênciadecrescente é a perda relativa do poder deatração de população imigrante pelo ma-cropolo paulista, presente a partir dos anos70 e que vai se manifestar de forma defini-tiva nos anos 90. Como mostra a Tabela 1,ocorre uma inflexão no saldo migratório noperíodo. Pela primeira vez ao longo doprocesso de expansão urbano-industrial dopaís o macropolo de São Paulo vai experi-mentar perda migratória, com um saldonegativo de mais de 500 mil pessoas.

No caso do macropolo do Rio de Janeiro,tal inflexão já ocorrera na década anterior,indicando que o movimento histórico deperda de seu poder de atração populacio-nal vai se refletir tanto na estabilidade, apartir da década de 1970, de sua áreageográfica de influência migratória, já muitoreduzida à época vis-à-vis São Paulo, comoem saldos migratórios negativos a partir dosanos 80.

Em contraste com o enfraquecimentorelativo do pólo econômico carioca, o pólode Belo Horizonte vai ampliar sua área deinfluência migratória, mesmo que restrita amicrorregiões do próprio Estado de Minas

TABELA 1Macropolos econômicos brasileiros: 1980, 1991 e 2000. Saldos e volume total de migrantes e seus percentuais emrelação à população residente – 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000

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Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000 (microdados).

Gerais. Tradicional reservatório de popu-lação excedente potencialmente migranteao longo do processo de industrializaçãode São Paulo, a economia mineira experi-menta um surto industrializante a partir dofinal dos anos 60, liderado pelo macropolode Belo Horizonte (Diniz, 1993). Desta forma,a capital mineira não apenas amplia, nestesúltimos 30 anos, a sua área de influênciamigratória sobre o território estadual,historicamente dividido com São Paulo, Riode Janeiro e as frentes de expansão dafronteira agrícola nacional, mas tambémintensifica sua capacidade de atraçãomigratória. Mesmo seguindo a tendêncianacional de arrefecimento do fluxo migra-tório durante as décadas de 1980 e 1990, opólo de Belo Horizonte ainda mantém, nesteperíodo, saldos positivos significativos, es-pecialmente na última década.

Em que pesem as características bemdistintas de seu processo histórico de ocu-

pação, o macropolo de Curitiba apresenta,no período 1970-2000, um padrão deinfluência migratória semelhante ao de BeloHorizonte. No entanto, seu maior dinamismomigratório está evidenciado tanto nasmaiores taxas do volume total de migrantese do saldo migratório líquido, como nacapacidade de estender sua influênciamigratória para além da fronteira estadual,mesmo que, principalmente, na forma deemigrantes egressos de grande contingentede pequenos agricultores e trabalhadoresagrícolas, atraídos pelo processo de ocu-pação agrícola da região Centro-Oeste. Omacropolo de Porto Alegre, por outro lado,perde claramente seu dinamismo na atraçãode migrantes a partir da década de 1980.

Como era de se esperar, o macropolode Brasília apresenta as maiores taxasde volume total de migrantes e saldo migra-tório líquido, mesmo que decrescentes aolongo destes 30 anos. Paradoxalmente, é o

TABELA 2Macropolos econômicos brasileiros: 1980, 1991 e 2000. Número de microrregiões de influência (direta e indireta)

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000 (microdados).

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macropolo que mais perde área de influên-cia migratória no período, especialmentepara os macropolos de Belém e BeloHorizonte, o que pode evidenciar os limitesde seu poder de atração migratória comocapital federal, restrito a uma economia deserviços como metrópole urbano-adminis-trativa nacional.

No que tange aos três macropolosnordestinos, observa-se que o macropolode Fortaleza apresenta maior dinamismomigratório durante todo o período, mas comperdas significativas de sua área geográficade influência migratória. Encontra-se entreos macropolos com as maiores taxas qüin-qüenais de volume total de migrantes esaldo migratório líquido, as quais, no en-tanto, experimentam reduções significativasno decorrer de todo o período, o que indicaque sua pequena escala urbano-industrialtem restringido sua capacidade de atraçãomigratória da população excedente do inte-rior do Estado do Ceará. O macropolo deSalvador apresenta características opostasao de Fortaleza, pois exibe, no período, pe-queno dinamismo migratório, garantindo,porém, a ampliação de sua área de influên-cia migratória. Até os anos 70, possuía, aolado de Recife, a menor área de influênciadentre os macropolos brasileiros. Nos anos80, sua área de influência salta de 8 para23 microrregiões, com um acréscimo de 15novas áreas sob sua órbita direta de influênciamigratória, o que reflete o surto industrializan-te da economia estadual, puxado pelomacropolo da capital baiana. No entanto, ohistórico excedente populacional da própriacapital e seu entorno imediato, o bolsão depobreza e subemprego de sua populaçãoeconomicamente ativa, possivelmente temreduzido seu poder de atração migratória,limitando o próprio escopo de ampliação desua área de influência, que fica estagnadona década de 1990. Por sua vez, o pouco di-namismo migratório do macropolo de Recifee sua restrita área de influência migratóriaevidenciam seu processo de estagnaçãourbano-industrial, como já conhecido naliteratura.

Finalmente, os macropolos do Norterevelam características bem distintas rela-tivas aos seus movimentos populacionais.

O macropolo de Manaus é o único que apre-senta crescimento absoluto de seu volumee saldo migratório, com as respectivas taxasestáveis, o que indica que, durante os trêssubperíodos analisados, os seus fluxosmigratórios acompanharam o ritmo de cres-cimento de sua população residente. Estedinamismo migratório resulta em signifi-cativa ampliação de sua área de influênciamigratória, com a incorporação de maisnove microrregiões pertencentes a estadosda região Norte. De forma oposta, o peque-no dinamismo migratório do macropolo deBelém resulta na estabilidade de sua áreainfluência, que, após uma pequena expan-são nos anos 80, volta, no período 1995-2000, para os níveis da década de 1970.

As Tabelas 3 e 4 apresentam os resul-tados consolidados das áreas de influênciamigratória e dos fluxos migratórios dos 50mesopolos brasileiros mais dinâmicos emtermos migratórios. A análise dos resultadosdeve ser feita com cautela, pois a relaçãoentre a evolução das áreas de influência edos fluxos migratórios nem sempre é diretae unidirecional. Uma primeira observaçãoé a de que, independente do nível absolutoe da intensidade dos fluxos migratórios, asáreas geográficas de influência migratóriados mesopolos que sediam capitais esta-duais, não classificadas como “macro-polos”, tendem a ser relativamente maioresdo que a dos mesopolos que não as sediam.Existem duas razões para este fenômeno.A primeira é o fato de estes últimos serem,em geral, contíguos aos macropolos, per-tencendo à rede urbana regional direta-mente polarizada pelo macropolo, o qualconstitui a centralidade urbana principal daregião. A segunda razão é a densidade darede urbana regional. Redes urbanas den-sas, como a do Estado de São Paulo, ten-dem a possuir um número significativo decidades de médio porte, que disputam umnúmero relativamente reduzido de microrre-giões. Certamente, a definição de áreas deinfluência baseada em municípios poderiaelucidar melhor a delimitação geográficados fluxos migratórios.

Uma segunda observação é que osmesopolos econômicos apresentam ummovimento populacional similar ao dos

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TABELA 3Mesopolos econômicos brasileiros selecionados: 1980, 1991 e 2000. Saldos e volume total de migrantes e seuspercentuais em relação à população residente – 1975-1980, 1986-1991 e 1995-2000

macropolos, ou seja, uma tendência de-crescente das taxas migratórias, tanto emrelação ao volume total de migrantes comoao saldo migratório, o que reduz a par-ticipação dos migrantes recentes no total

da população residente. Este processo dearrefecimento relativo dos fluxos migratóriosdos mesopolos corrobora, portanto, asanálises sobre a estabilização dos mo-vimentos populacionais interestaduais. No

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Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000 (microdados).

entanto, a riqueza do recorte micror-regional deve-se à possibilidade de captarcom mais precisão a dinâmica migratória,já que esta se relaciona com a evolu-ção da rede urbana nacional, verificáveldiretamente no nível macroespacial. A

conformação dos mesopolos econômicosé, talvez, a face mais reveladora dessesmovimentos populacionais, uma vez quereflete a emergência de novas localidadescom poder de atração e repulsão depopulação.

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TABELA 4Mesopolos econômicos brasileiros selecionados: 1980, 1991 e 2000. Número de microrregiões de influência (direta)

Considerações finaisNeste artigo foram identificadas as

áreas de influência migratória dos póloseconômicos brasileiros em três momentos

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000 (microdados).

específicos: 1980, 1991 e 2000. O modeloutilizado revelou que as mudanças ocor-ridas nas áreas de influência desses pólossão aparentemente sutis mas substantivasquando analisadas mais detidamente. Em

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geral, as maiores mudanças ocorreramentre 1991 e 2000, indicando, na maioriadas vezes, inversão da tendência observa-da nos períodos anteriores. O que sugereum novo direcionamento dos fluxos regio-nais de população e, conseqüentemente,de mão-de-obra, com maior destaque àampliação da área de influência de pólossub-regionais.

A caracterização das áreas de influênciamigratória desses pólos traduziu, ao longode três décadas, a dinâmica migratóriacorrente nos níveis macro e microrregional.O seu mapeamento possibilitou que asanálises fossem efetuadas com base navisualização espacial do conjunto das áreasde influência dos pólos econômicos brasi-leiros, obtido por meio do modelo proposto.Isso permitiu que se evidenciasse a evoluçãoda rede de microrregiões que compunham,durante as décadas de 70, 80 e 90, as áreasde influência dos pólos econômicos brasilei-ros, nos níveis macro e microrregionais.

Foi notável, também, a mudança naconfiguração geográfica das áreas de

influência dos pólos econômicos entre osdois qüinqüênios, não só no âmbito macro,mas também no âmbito microrregional. Ficaclaro que a mudança no padrão migratóriobrasileiro atingiu não somente os fluxos entregrandes regiões e entre as unidades daFederação, mas também os fluxos intermi-crorregionais, em todo território nacional, aolongo de pelo menos duas décadas.

Um outro fato digno de comentário,revelado a partir dos resultados deste estudoe que ilustra quão ilusórios são os limitesadministrativos das unidades federativasnacionais no que diz respeito às delimita-ções das áreas de influência econômica emigratória de seus centros econômicos, dizrespeito às possíveis contribuições que elepode vir a oferecer às pesquisas sobre asmigrações internas no Brasil, no sentido dechamar a atenção dos especialistas paraque foquem seus trabalhos em recortesgeográficos mais significativos que astradicionais unidades da Federação egrandes regiões, privilegiando escalasanalíticas microrregionais.

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AbstractTransformations in the areas of influence of Brazilian economic regions in 1980, 1991and 2000The present study analyzes transformations that occurred in the areas of migratory influence inmajor economic regions of Brazil over the last three decades. On the basis of the urbanhierarchy of the economic regions in Brazil, a model for identifying their areas of migratoryinfluence is suggested. Based on the country’s geographical configurations obtained from themapping of the results from 1980, 1991 and 2000, interesting considerations are brought upas to the dynamics of the migratory flows among the major economic regions in Brazil.Key words: Domestic migration. Economic regionalization. Gravitational model.

Recebido para publicação em 30/06/2004.Aceito para publicação em 11/01/2005.

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