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As vendas dos vinhos da Ribeira Minho às ‘fábricas de aguardente’ da Companhia Geral do Alto Douro ( 1779-1786)* Antero Leite 1.Introdução Em 1756 é instituída, por Alvará do Marquês de Pombal a Companhia Geral do Alto Douro. Entre os vários privilégios que lhe foram sucessivamente concedidos salienta-se o do exclusivo da produção e venda das aguardentes nas três Províncias do Norte de Portugal, Minho, Trás-os Montes e Beira estabelecido pelo alvará de 16.12.1760 o qual no seu preâmbulo dispunha que ‘as Agoas ardentes se fabricassem de boa Lei e puras’ 1 . A Companhia ficava, então, com a possibilidade de controlar a qualidade e o preço da aguardente a adicionar ao vinho do Douro 2 para o que iria adquirir aos lavradores o que de melhor se produzia nas vinhas de enforcado e de cepa. Para a Ribeira Minho foi nomeado, como Intendente da Companhia, o comissáro Balthazar Coutinho que se instalou em Monção. Competia-lhe a administração das fábricas de aguardente que se situavam em Cambeses (Quinta de Sende), Troviscoso, S. João de Longos Vales, Tangil, Valadares (Hospital e S. Martinho) e Melgaço (Prado). *Publicado no Boletim Cultural, n.º 5 (2006) da Câmara Municipal de Melgaço 1 Sousa, Fernando de- A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756-1960 ), in ‘O Arquivo da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro’, Ed. em CD-Rom da Real Companhia Velha, Porto 2003. 2 Deve-se aos negociantes ingleses as primeiras experiências da adição de aguardente aos vinhos do Douro que ‘pecavam pela sua aspereza e adstringência, ao casarem com a aguardente adicionada perdiam a sua acidez excessiva, amaciavam-se no paladar e os seus aromas eram consideravelmente realçados’. Por outro lado, a aguardente iria contribuir para os ‘preservar nas longas travessias marítimas’.( in Real Companhia Velha-250 Anos de História’ – As origens’ , site na Internet.

As Vendas Dos Vinhos Da Ribeira Minho Às Fábricas de Aguardente

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A criação da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro forçou os agricultores da Ribeira Minho a destilar em aguardente para incorporar no Vinho do Porto o vinho que produziam, enfraquecendo a economia regional.

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As vendas dos vinhos da Ribeira Minho às ‘fábricas de aguardente’ da Companhia Geral do Alto Douro ( 1779-1786)* Antero Leite

1.Introdução Em 1756 é instituída, por Alvará do Marquês de Pombal a Companhia Geral do Alto Douro. Entre os vários privilégios que lhe foram sucessivamente concedidos salienta-se o do exclusivo da produção e venda das aguardentes nas três Províncias do Norte de Portugal, Minho, Trás-os Montes e Beira estabelecido pelo alvará de 16.12.1760 o qual no seu preâmbulo dispunha que ‘as Agoas ardentes se fabricassem de boa Lei e puras’1.

A Companhia ficava, então, com a possibilidade de controlar a qualidade e o preço da aguardente a adicionar ao vinho do Douro2 para o que iria adquirir aos lavradores o que de melhor se produzia nas vinhas de enforcado e de cepa. Para a Ribeira Minho foi nomeado, como Intendente da Companhia, o comissáro Balthazar Coutinho que se instalou em Monção. Competia-lhe a administração das fábricas de aguardente que se situavam em Cambeses (Quinta de Sende), Troviscoso, S. João de Longos Vales, Tangil, Valadares (Hospital e S. Martinho) e Melgaço (Prado).

*Publicado no Boletim Cultural, n.º 5 (2006) da Câmara Municipal de Melgaço 1 Sousa, Fernando de- A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756-1960 ), in ‘O Arquivo da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro’, Ed. em CD-Rom da Real Companhia Velha, Porto 2003. 2 Deve-se aos negociantes ingleses as primeiras experiências da adição de aguardente aos vinhos do Douro que ‘pecavam pela sua aspereza e adstringência, ao casarem com a aguardente adicionada perdiam a sua acidez excessiva, amaciavam-se no paladar e os seus aromas eram consideravelmente realçados’. Por outro lado, a aguardente iria contribuir para os ‘preservar nas longas travessias marítimas’.( in Real Companhia Velha-250 Anos de História’ – As origens’ , site na Internet.

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Fig. 1 Nota: ‘Gonçalo Pereira Caldas, do Conselho de Sua Majestade, foi Tenente Geral dos Reais Exércitos e, a partir de 1803, foi Governador das Armas da Província do Minho’3

Fig. 2 -Alambique antigo pertencente à colecção etnográfica do Arq. Luís de Magalhães Fernandes Pinto- Casa e Quinta da Calçada, Melgaço4

3 Ernesto Português- ‘S. Salvador de Cambeses. Memória e identidade de um povo’. Ed. C. M. Monção/Junta de Freguesia de Cambeses, Monção, 2002, pág. 174 a 178. 4 N.º 366 do Inventário publicado em ‘Uma colecção etnográfica. Raízes do Alto Minho, Luís de Magalhães Fernandes Pinto, Boletim Cultural n.º 3, 2004, Ed. Câmara Municipal de Melgaço.

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Os vinhos comprados pelo comissário eram transportados em carretos para a destilação nas diversas ‘fábricas’ segundo método que a Companhia havia adoptado após a aprendizagem em França de um seu mestre destilador5. A destilação fazia-se em alambiques com capacidades oscilando entre 11 e 45 almudes6. Por vezes utilizavam-se alambiques volantes alugados7 (ver Fig.s n.º 1 e 2). Os tipos de aguardente produzida eram: prova redonda ( 80% )e prova de escada (20%).8 O vasilhame, em madeira de carvalho, era obra de tanoeiros da região mas também se recebiam pipas vindas, por mar, do Porto.

O vinho destilado era conduzido em pipas para os armazéns da Companhia

em Monção e daqui seguia, acompanhado de guias, para o ‘carregadouro’ de Lapela de onde era conduzido em grandes barcas pelo rio Minho até Caminha (ver Fig.s n.ºs 3 a 5 e Mapa 1). Na Alfandega as pipas de aguardente eram vistoriadas, oneradas com ‘direitos de saída’ e depois carregadas em iates e lanchas com destino aos armazéns da Companhia em Vila Nova de Gaia.

Neste nosso trabalho procuramos sobretudo salientar o processo de venda dos

vinhos e particularmente os preços praticados tendo em conta as diferentes proveniências. Concluiremos por uma tentativa de abordagem, ainda que sucinta, aos efeitos da política da Companhia no desenvolvimento da Ribeira Minho.

2. As vendas dos vinhos nos anos de grandes colheitas O período de 1772 a 1780 caracterizou-se por uma produção abundante de vinhos na Ribeira Minho. Em consequência os preços baixaram o que motivou a intervenção da Câmara ‘fixando um preço mínimo de venda e a proibição dos vendeiros comprar vinho novo antes do S. Martinho’9. A penalizar a situação dos lavradores foi proibida, pelo Alvará de 7 de Agosto de 1776, a exportação de vinhos para as terras do Reino por qualquer barra. Surge então a alternativa de venda à Companhia. O ano de 1780 foi de ‘grande aguardentação’10.

Consultámos no Arquivo da Real Companhia Velha o ‘Livro das Receitas e Despesas das fábricas de Monção’11 relativo a 1779-1781 onde se encontram registadas as declarações de vendas (Ver Fig.s n.ºs 6, 7 e 8). Com base nelas elaborámos quadros sistematizando o nome do vendedor, morada e actividade exercida, quantidade de vinho vendida12, preço unitário e importância total (Ver em Anexo os Quadros n.ºs 1, 2, 3). Desagregamos os dados recolhidos pelas fábricas dos termos de Monção (Valadares e Hospital) e Melgaço (Prado).

5 O destilador Manoel Francisco Medina. 6 Livro das fabricas que a Comp.ª tem nas Provincias da Beira, Minho e Trás os Montes; e dos lambiques q. nellas se achão; e igualmente na Estremadura, e varios que se achão em varios Commissarios do Ramo em sima do Douro.1804’-Cota 7.2.011-Lv. 1/1. 7 Idem, ibidem. 8 A.R.C.V.-Fábricas de Monção e Valladares. Cota 6.2.042.3 Lv. 226/761. 9 Capela, Virato-Os vinhos de Monção. Problemas de produção e comércio ao tempo das Memórias Paroquiais de 1758, in ‘Monção nas Memórias Paroquiais de 1758’ Ed. Casa Museu de Monção/ Universidade do Minho, 2003. 10 Idem, ibidem 11 A.R.C.V.-Cota 6.2.042.03 Lv. 145/761. 12 A unidade referida nos contratos de venda era a pipa ou o cabaço. Não se descrimina o tipo de vinho (maduro ou verde). Em outros documentos aparece a designação ‘Vinho do Ramo’.

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4

Fig. 3

Fig. 4

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5

MAPA 1 LEGENDA Fábricas de aguardente: 1- Cambeses; 2. Longos Vales; 3-Troviscoso; 4-Tangil; 5-Valadares; 6-S. Martinho; 7-Prado Circulação da aguardente: Por carretos: De 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 para A; De A para B; Pelo Rio Minho: De B a C Por mar: De C a D

Fig. 5

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Da sua análise concluímos:

1) O maior número de vendas (44) verificou-se para a fábrica de Monção, com um valor total de 1.349$075;

2) O preço médio por pipa foi mais elevado no caso das vendas para a fábrica de Melgaço (Prado)- 3$180 (ver Gráfico n.º 1)- o mesmo sucedendo quanto ao preço por cabaço- $079;

3) Em termos relativos e comparativamente à média dos preços das vendas para as três fábricas (2$968, a pipa e $071, o cabaço), o preço pago aos vendedores cujo vinho foi destilado em Prado foi superior em 7, 1% (por pipa) e 11,3% (por cabaço) (Ver quadros 1 a 3 em Apêndice e gráfico seguinte); Gráfico n.º 1 Ano 1780

PREÇOS MÉDIOS DAS VENDAS (POR PIPA)

3.180

2.968

2.857 2.866

2.6002.7002.8002.9003.0003.1003.2003.300

Vendas à fábricade Monção

Vendas à fábricado Hospital(Valadares)

Vendas à fábricade Prado(Melgaço)

Vendas às 3fábricas

RE

IS

Fonte: Quadros n.ºs 1 a 3

4) A desagregação das vendas em quantidade por freguesia pode ser analisada pelo gráfico seguinte: Gráfico n.º 2

VENDAS DE VINHO POR FREGUESIA (1779-1780)

0

20

40

60

80

100

120

BE

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CA

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S. J

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Fonte: Quadro n.º 6

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7

Fig. 6-Venda de João M.el Roiz Palhares, de Prado (Megaço)

Fig. 7-Venda de Bernardo Lopes, de Outeiro Alto (Melgaço)

Fig. 8- Venda de Domingos Lopes, de S.Paio (Melgaço)

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3. As vendas nos anos de fracas colheitas

A falta de vinho e/ou a sua inferior qualidade ou degradação ao ficar toldado

justifica o menor número de vendas à Companhia em certos anos. Os compreendidos entre 1782 e 1790 revelaram-se desastrosos para a viticultura da Ribeira Minho.

Recorreu-se aos ‘vinhos vindos de fora’, prática que exigia a adopção de determinadas medidas por parte das autarquias para a defesa da qualidade e preço do ‘vinho do termo’: ‘Proibição de misturas, manifesto do vinho trazido de ‘Tráz da Portela’ pelos carreteiros, condicionamento do livre abastecimento e fornecimento do mercado exterior de vinho ao determinar os sítios e as pessoas a quem os vendeiros do concelho poderiam ir buscar vinhos’ e autorização dos almotacés a ‘tabelarem o vinho’13.

A partir dos dados obtidos pela consulta do Arquivo da Real Companhia Velha e que constam dos Quadros 1 a 3, concluímos quanto às vendas efectuados durante o período 1785 a 1786 o seguinte:

1) Os termos de Monção e Valadares continuaram a ser os mais relevantes em quantidade de vinho vendido à Companhia para destilação;

2) Os vinhos de Melgaço foram vendidos para a fábrica de Prado a um preço médio ligeiramente superior, mantendo assim a situação de maior valorização verificada em 1780;

3) A média dos preços praticados nas vendas para as fábricas de Monção+ Valadares e Melgaço atingiu 4$242. No gráfico seguinte pode-se ver a posição relativa dos termos em matéria de preços médios:

Gráfico n.º 3 1780

PREÇOS MÉDIOS (por pipa)

4.216

4.268

4.242

4.1904.2004.2104.2204.2304.2404.2504.2604.2704.280

Ven

das

à fá

bric

a de

Mon

ção+

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das

à fá

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Pra

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Ven

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às 3

fábr

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Fonte : Quadros 1 a 3

13Capela, Viriato- Ob. cit., pág. 68 a 72.

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4. Vendedores e intermediários Em 1780, do total das vendas de vinho cerca de 69 % foram efectuadas por rendeiros das rendas,- intermediários que compravam as pipas aos lavradores e depois as vendiam ao Comissário Balthazar Coutinho (Ver Fig. 10). Cremos que o preço pago aos produtores seria mais baixo do que o da Companhia para haver lucro para o rendeiro das rendas. Este venderia bem o vinho pois evitava ao Comissário o ter de efectuar o contacto pessoal com os lavradores. Dos rendeiros com maior volume de vendas em 1780 destacam-se o de Barbeita, Ceivães e Badim- António Alves (125,5 pipas); de Cambezes- Francisco Roiz Gondim (96 pipas e 17 cabaços); de Longos Vales- Jozé Lopes da Cunha Velho ( 77 pipas e 4 cabaços); de Prado- Diogo Luiz Glz. Chaves (32 pipas); da vila de Melgaço-Manuel da Rocha (25 pipas e 7 cabaços); de Chaviães-Bernardo Lopes (18 pipas). Em 1785 e 1786 salientam-se os casos do rendeiro da freguesia de S. Martinho de Alvaredo-António Bernardes (42 pipas, nos dois anos); o do rendeiro de Barbeita-António José Afonso (35 pipas em 1786) e ainda o do rendeiro da freguesia de Chaviães-Bernardo Lopes (38 pipas, em 1786). O preço médio pago em 1780 a estes rendeiros foi de 3$120, superior em 5,2% ao praticado no conjunto das vendas daquele ano. Contudo, em 1785 e 1786 os rendeiros não foram beneficiados pois o preço a que venderam o vinho foi inferior em 2,2% ao do preço médio do total das vendas. Mas foi o rendeiro António Bernardes que melhor vendeu o vinho- a 4$500 a pipa, ou seja a mais 6,1% do que o preço médio pago aos restantes rendeiros. Gráfico n.º 4

REPARTIÇÃO DAS VENDAS À COMPANHIA

1780

69%

31%

RENDEIROS

OUTROSVENDEDORES

Fonte: Quadros n.ºs 1 a 3 5. O projecto da ‘Sociedade Pública’ Em 7 de Outubro de 1784, ‘os principaes Homens Bons e os Commerciantes da Villa de Viana Província do Minho’ dirigiram uma petição à Rainha D. Maria I.

Nela começam por referir a ‘deplorável decadência em que se acha a agricultura das vinhas’ a qual consideravam ser ‘uma das sólidas colunas, de que dependem a Conservação da maior parte dos habitantes d’aquela Província’14.

Fundamentavam a situação pela evolução dos preços ocorrida nos vinte anos anteriores: ‘o maior preço a que tem chegado os vinhos de melhor lote é ao de cinco mil reis a pipa, e ao de dezasseis tostões até meia moeda os inferiores que só servem 14 Inserida em Um documento histórico. Tentativa setecentista para a organização do mercado dos vinhos verdes. Prefácio de Amândio Galhano. Ed. Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Série ‘Estudos, Notas e Relatórios’ n.º 9, 1981 Porto.

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para queimar, e por isso sem outra saída, que uma pequena porção para a Companhia do Alto Douro’15.

Propunham, então, a criação de uma Sociedade Pública d’Agricultura e Comércio da Provincia do Minho com âmbito geográfico no território compreendido entre os rios Cávado e Minho e tendo como objectivo principal ‘o mais vigilante e particular cuidado na boa agricultura das vinhas’. O capital de ‘trezentos mil cruzados’ seria constituído por acções de 200 mil reis cada uma, podendo ser também em vinho ‘reputado conforme a sua qualidade pelo preço estabelecido de 8 mil reis (o Supremo), 6 mil reis (o Médio) e 3 mil e quinhentos reis (o Inferior)’16.

Aos Lavradores obrigava-se a pagar a ‘doze mil reis por pipa de vinho que eles fabricarem conforme as insinuações (instruções) da mesma Sociedade’. Propunha-se ainda a ‘conferenciar com as câmaras das vilas de Viana, Caminha, Cerveira e Valença o preço do vinho bom’ e estipulava que ’ só a Sociedade o poderia vender aquartilhado nas ditas Vilas e uma légua em redor, sob pena de perdimento de todos os vinhos que se acharem à venda, e de condenação do vendedor pelo valor dos mesmos vinhos e em seis meses de cadeia, pena esta dobrada e triplicada em caso de reincidência. Porém caso as ditas Câmaras, ou algumas delas se não ajustem com a Sociedade, ficará então livre a toda e qualquer pessoa a venda do dito vinho aquartilhado no respectivo distrito’17.

Solicitavam ainda para a Sociedade ‘os mesmos privilégios, mercês e isenções, que por qualquer Lei ou Alvará se tenham concedido ou hajam de conceder à Companhia Geral do Alto Douro’18.

A Rainha remeteu a petição à Junta da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro a fim de emitir um parecer.

Em 23 de Dezembro de 1785, a Junta envia a sua opinião a D. Maria I concluindo que ‘nenhumas vantagens terão os Lavradores da Província do Minho com a criação da projectada Sociedade’19. Os argumentos em que os membros da Junta basearam a sua conclusão podem agrupar-se nas seguintes categorias:

a) Preços praticados pela Companhia: Remetendo para um quadro em anexo ao parecer, a Junta sustentava que o preço médio pago aos ‘Lavradores do Minho’ pelo vinho para destilar em aguardente se situou em 5$112 reis, a pipa, no período entre 1780 e 1784. (ver Quadro n.º 8). Ora do citado quadro depreende-se que este preço só teria sido aplicado nas vendas dos vinhos posteriores a 1781 (período de escassez). Em 1780 e 1781 (período de grandes colheitas), o preço médio que a Companhia revelou ter sido pago pelos vinhos de Monção (incluindo Melgaço) situou-se em 3$174. No ano de 1784 ( incluído em período fracas colheitas), o preço médio atingiu 5$995 reis. Coloca-se a questão de saber que quantidades de vinho foram vendidas aos preços médios de 3$174 e 5$995. Para o ano de 1780 e considerando os dados obtidos pela pesquisa que efectuámos no Arquivo da Companhia calculámos a seguinte média ponderada: 15 Idem, ibidem. 16 Idem, ibidem. 17 Idem, ibidem 18 Idem, ibidem. 19 Idem, ibidem

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11

Fig. 9 Nota: Luiz Caetano de Souza Gama era capitão-mor e morgado da Casa da Serra, em Prado (Melgaço)20

Fig. 10-Venda do rendeiro da freguesia de Prado

Fig. 11-Assinaturas de membros da Junta da Companhia Geral do Alto Douro, estando entre eles alguns dos que rubricaram o parecer de 23 de Dezembro de 1785 que inviabilizou o projecto da ‘Sociedade Pública’.

20 Vaz, P.e Júlio-Mário, Ed. do Autor, 1996, pág. 141

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N.º de pipas vendidas

% % acum.

Preço/pipa (1) X (4)

(1) (2) (3) (4) (5)

6 0,7 0,7 3$600 21$600 14 1,8 1,5 3$400 47$600 2 0,3 2,8 3$240 6$480

140 17,9 20,7 3$200 448$000 8,5 1,0 21.7 3$150 26$775 85,5 11,0 32,7 3$140 268$470 96 12,3 45,0 3$110 298$560 144 18,5 63,5 3$100 446$400 85 10,9 74,4 3$000 255$000 53 6,8 81,2 2$900 153$700 74 9,5 90,7 2$800 207$200 2 0,3 91,0 2$690 5$380

35 4,5 95,5 2$600 91$000 2 0,3 95,8 2$500 5$000

14 1,8 97.6 2$400 33$600 19 2,4 100,0 2$100 39$900

Média ponderada

3$018

Do quadro anterior verifica-se que, no ano de 1780, o preço médio de 3$174

indicado pela Companhia poder-se ia situar em 20,7% do total das vendas. Para os 79,3% restantes o preço foi inferior. Calculou-se em 3$018 reis a média ponderada dos preços efectivamente pagos pela Companhia. Para os anos de 1785-1786, encontrámos o seguinte valor para a média ponderada dos preços:

N.º de pipas vendidas

%

% acum.

Preço/pipa (1) X (4)

(1) (2) (3) (4) (5) 12 1,8 1,8 5$200 62$400 68 10,0 11,8 5$100 346$800 89 13,1 24,9 5$000 445$000 38 5,6 30,5 4$800 182$400 8 1,2 31,7 4$700 37$600 9 1,3 33,0 4$500 40$500

17 2,5 35,5 4$450 75$650 1 0,1 35,6 4$100 4$100

259 38,2 73,8 4$000 1.036$000 142 20,9 94,7 3$600 511$200 10 1,5 96,2 3$400 34$000 24 3,5 99,7 3$206 76$994 1 0,1 99,8 3$000 3$000

Média ponderada

4$211

O preço de 5$995 reis citado pela Companhia como tendo sido o pago em

1784 por cada pipa de vinho de Monção e Melgaço não se aplicou efectivamente a qualquer uma das vendas realizada entre 1785 e 1786, anos de grande escassez e de redução nas quantidades vendidas. Relevante é também a comparação destes preços com os tabelados pelas Autarquias na região da Ribeira Minho para o vinho verde.

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Das posturas e regulamentos municipais de Setecentos podem obter-se dados sobre os preços fixados para a venda dos vinhos21.

Assim, nos períodos de muita abundância de vinho e para o caso do termo de Monção, o preço do vinho verde taxado pela Câmara oscilou entre 5 e 7,5 reis o quartilho, ou seja, em termos médios 6, 25 reis22. Uma pipa valeria 7$50023 reis se fosse vendida ao preço tabelado.

Quando as colheitas foram fracas, o vinho subiu de preço: entre 15 e 17, 5 reis por quartilho, ou em média 16, 25 reis. A pipa deveria ser vendida a 19$500 reis.

Conclui-se assim que quer em períodos de muita abundância de vinho, quer quando ele era escasso, o preço pago pela Companhia foi muito inferior ao tabelado pela Câmara.

Ao negociar os preços da compra dos vinhos, o Comissário e Intendente Balthazar Coutinho procurou, de certo, aplicar uma outra prerrogativa da Companhia: - o‘direito de primazia ou preempção escolhendo os de melhor qualidade, privilégio que não era de direito mas exercido de facto’24. O parecer da Junta dá-lhe outra interpretação: ‘A nossa Companhia tem preços certos para comprar e vender os Vinhos do Ramo, ou o anno seja abundante, ou estéril; e para este fim se fizerão os mais exactos cálculos’25.

Razão tinham, portanto, os lavradores em se recusarem a vender vinhos à Companhia. Aconteceu isso em 1784 e 1785 como refere o parecer da Junta:

‘No anno de 1784, mandou esta Junta offerecer aos Lavradores das Ribeiras do Lima e do Minho, a 9$600 reis, por cada pipa de Vinho, feito ao antigo uzo do paiz; e a 12$000 reis, pelo feito ao modo de Bordéus, mas os Lavradores o não quizeram vender, ainda sendo copiozíssima a colheita de Vinhos em toda a província do Minho.

Finalmente neste prezente anno quiz esta Junta comprar algum Vinho da novidade passada, igualmente abundante para exportar para a Russia, como havia feito aos antecedentes, a 9$000 reis pipa, porem os Lavradores lho não quizerão vender e só fizerão como nos annos anteriores, aos mais ínfimos (de menor qualidade), para se queimarem nas Fábricas da nossa Companhia’26.

b) A despesa da cultura dos vinhos verdes Um outro argumento invocado no parecer da Junta foi o de que:

‘A Agricultura dos Vinhos da mesma Província do Minho, na maior parte, nada tem de dispendioza. Toda a despeza da cultura do Vinho verde, que constitue a maior parte, he tão insignificante, que só se reduz à vindima; porque a mesma poda unica cultura que se lhe faz, se paga com a lenha, que se tira das videiras; as quaes são encostadas a árvores, e estas com as vides plantadas nas extremidades dos campos; ordinariamente abundantes d’agoas’.

Para a Junta ficava assim justificado o ‘menor preço que tem os mesmos vinhos.’.

Argumento infundamentado este. A Junta considerava que os vinhos de cepa apenas existiam em Monção e

Melgaço e em algumas partes da Ribeira Lima. Nas outras terras predominava a cultura da ‘vinha de enforcado’

21 Calculado segundo os preços constantes no quadro ‘A regulamentação do mercado de vinhos do concelho de Monção’, pág.s 68 a 72 do citado estudo de Viriato Capela. 22 Idem, ibidem 23 Considerando uma pipa de 25 almudes e cada almude com 48 quartilhos. 24 Sousa, Fernando - Ob. cit. 25 Parecer da Junta inserido em Um documento histórico. Tentativa setecentista para a organização do mercado dos vinhos verdes. Prefácio de Amândio Galhano. Ed. Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Série ‘Estudos, Notas e Relatórios’ n.º 9, 1981 Porto. 26 Idem, ibidem

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Ora, as despesas eram mais elevadas no caso da cultura em vinhas de cepa (ou vinha baixa) pois exigia muito trabalho quando havia necessidade de despedregar os campos a que se acrescentava a mão de obra para construir os esteios em granito, o travejamento em madeira da vinha, colocação de arames condutores , etc...

O custo de produção era substancialmente diferente para cada um dos métodos. Segundo Furtado Coelho para se produzir uma pipa de vinho seria necessário despender entre 2.500 reis (na vinha baixa) e 800 reis (na vinha de enforcado)27. c) O exclusivo das vendas da aguardente

A Junta, no seu parecer, invocou o privilégio que havia sido concedido à

Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro pelo qual ficou a pertencer-lhe ‘o exclusivo das vendas das Agoas ardentes na Província do Minho’ cujo preço era onerado com ‘Reaes Direitos e Impostos’28.

Entre as imposições fiscais avultava o ‘Subsídio Literário’ criado pelo Alvará de 10 de Novembro de 1772 para fazer face aos encargos com a instrução pública. Consistia no pagamento de quatro reis em cada canada de aguardente. A sua arrecadação competia à Junta da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro29.

Imposto rendoso este de que a Junta não abdicava ao afirmar que ‘Esta Arrecadação bastaria para ligar a nossa Companhia a fazer todos os esforços que lhe forem possíveis para não perder a honra de servir a sua Magestade na Arrecadação da sua Real Fazenda, de que tem dado exactíssima, e annual conta, com conhecidas vantagens da mesma Real Fazenda.

De facto, estas ‘vantagens’ traduziam-se no elevado quantitativo que revertia para os cofres do Estado não só proveniente do ‘Subsídio Literário’ como de outros imposto, sisas e imposições. Assim, em 1825 ‘de acordo com os balanços da receita e despesa do Tesouro Público, atingiram 114.032$679 reis, mais no ano seguinte, tal receita atingiu os 536.432$193 reis, a maior receita do Tesouro Público a seguir às receitas das alfândegas, décima e contribuição de defesa, e contrato de tabaco’30.

O exclusivo das vendas de aguardente foi ainda justificado no parecer da Junta como sendo indispensável para a Companhia poder ‘beneficiar os Vinhos Legaes d’Embarque’ que se exportavam do Porto. Se não usufruísse deste privilégio, teria de ‘conduzir os cascos até Viana; correr o risco às Agoas ardentes, até aos seus Armazens; pagar os direitos de sahida em Viana, e da entrada neste porto; pagar todas as despezas dos transportes e perder os desfalcos, e prejuizos que tivesse31.

d) A qualidade dos vinhos No projecto da ‘Sociedade Publica d’Agricultura e Comercio da Provincia do Minho’, de 7 de Outubro de 1784, estabelecia-se que se ‘mandará provar, qualificar, e comprar no mez de Outubro ate onze de Novembro de cada anno os vinhos, que lhe forem precizos para queirmar, revender, e transportar, pagando-os conforme a sua qualidade: o Supremo a oito mil reis, o Médio a seis mil reis, e o Infimo que só serve para Agoa ardente a tres mil e quinhentos32.

Se até ao fim de Março, os Lavradores não conseguissem vender os seus vinhos a Sociedade ficaria ‘obrigada a tomar-lhe todos pelos dittos preços, fazendo

27 Coelho, Eusébio C. P. Furtado- Estatística do Distrito de Viana do Castelo, Lisboa, 1861 28 Parecer da Junta citado 29 in ‘Dicionário da História de Portugal’, coord. Joel Serrão, vol, VI- entrada ‘Subsídio Literário’. Ed. Livraria Figueirinhas, Porto 1981. 30 Sousa, Fernando de (Ob. cit.) 31 Parecer da Junta citado 32 Idem

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Fig. 12-Custo de instalação de uma fábrica de aguardente com alambique volante

Fig. 13-Capacidades dos alambiques

Fig. 14 –Guia de entrega

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os Lavradores constar na Meza della os vinhos com que ao dito tempo se achão, e conservando-se na mesma qualidade, e estado das suas qualificações 33.

A Junta, no seu parecer, considerava ‘moralmente impossível se possa fazer huma ideia da qualidade dos Vinhos para se lhe arbitrarem os preços, porque em muitos anos se anda na Província do Minho vindimando ainda nos últimos dias de Outubro e primeiros de Novembro; e para se fazer juizo da qualidade do Vinho he necessario que passe o tempo precizo para elle se cozer e depurar 34.

E perguntava: ‘Ora se até 11 de Novembro, em que não estão cozidos os Vinhos, elles hão de ser provados, qualificados e comprados os que convier à Sociedade, como pode ser acharem-se os mesmos vinhos em Março, no mesmo estado das suas qualificações e na mesma qualidade?.

Para a Junta, o prejuizo dos vinhos perdendo qualidade até Março recairia sobre os Lavradores e concluindo. ‘A Sociedade sempre comprará os melhores vinhos, e deixará os inferiores sujeitos a damneficarem-se, por serem quaze todos creados em arvores altas, e sítios humidos, e por consequência de pouca duração’35.

Em contrapartida, as compras pela Companhia deveriam ser feitas até o fim de Janeiro, como se encontrava estipulado no Alvará de 10 de Abril de 1773.

Contudo, analisando as datas dos documentos do Arquivo da Real Companhia Velha e para o caso de 178636 verificámos que as vendas dos vinhos da Ribeira Minho se realizaram entre Agosto e Outubro. Ora, neste período ainda não haveria vinho novo mas antes seria proveniente da colheita do ano anterior. Estaria todo em boas ‘qualificações e qualidades’ para se lhes poder aplicar um preço justo? Ou, pelo contrário, já estaria considerado pelos compradores como não tendo qualidade sendo os lavradores compelidos a aceitar o preço que a Companhia entendesse pagar? Acresce que, na iminência de uma próxima colheita, os lavradores não tendo capacidade de armazenamento ver-se-iam obrigados a vendê-los à Companhia.

6) O benefício da destilação Lendo os documentos inseridos nos livros da Contadoria da Companhia podemos fazer uma aproximação ao valor da produção da destilação dos vinhos da Ribeira Minho. Em 1785, Balthazar Coutinho enviou, para os armazéns do Porto, 34 pipas de aguardente, sendo 2 de ‘prova redonda’ e 2 de ‘prova de escada’, uma das quais (com 21 almudes) foi vendida a António Alves da Silva por 106$000 reis (ver fig. n.º 14). Na destilação das 34 pipas despendeu-se 1:870$730, sem se desagregar os custos por cada um dos tipos de aguardente produzida (ver Fig. n.º 18). Já em 1786 eles foram desagregados: Produziram-se 9 pipas de ‘prova de escada’ e 59 pipas de ‘prova redonda’ tendo-se dispendido 3:193$683 reis em que estava incluído o ‘Subsídio Literário’ ,mas que Balthazar Coutinho não pagou. À margem do documento descriminaram-se os custos por pipa para cada uma dos tipos de aguardente: 64$531reis (prova de escada) e 47$000 reis (prova redonda) (Ver Fig. n.º 19). Nestes valores foi incluído o ‘Subsídio Militar’, outra das imposições que taxavam a venda dos vinhos. Calculando o preço médio (ponderado) para a pipa de aguardente produzida nos dois tipos, encontra-se o valor de 49$320. Comparando este preço da pipa de vinho destilado com o pago em 1786 na venda do vinho em ramo (às três fábricas da Ribeira Minho) verifica-se que a pipa de aguardente (em prova de escada e em prova redonda) valia quase doze mais. Isto quanto ao preço de produção.

33 Idem 34 Idem 35 Idem 36 1786 foi o único ano em que encontrámos as vendas datadas com o dia e mês.

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Se considerássemos a venda da pipa de aguardente (prova de escada) a António Alves da Silva, o seu preço de 106$000 reis era em 64,3% superior ao do custo da produção em 1786, o que traduz bem o benefício recebido pela Companhia com a destilação dos vinhos da Ribeira Minho . Ao ser adicionado aguardente ao vinho do Douro beneficiava-o na sua qualidade mas também contribuía para a rentabilidade do negócio da Companhia. Cada pipa de vinho do Douro era lotada com 2 canadas de aguardente37 (ver Fig. 20), ou seja uma pipa de aguardente vinda da Ribeira Minho dava para lotar 126 pipas de vinho exportadas pela barra do Douro 38. As 102 pipas de aguardente remetidas por Balthazar Coutinho entre 1785 e 1786 permitiram lotar 12.852 pipas de ‘Vinho de Embarque’ num valor total aproximado de 462:672$000 reis39. 7) Os efeitos da acção da Companhia

Os anos subsequentes ao parecer da Junta da Companhia e até finais do

séc. XVIII caracterizaram-se por referência à falta de vinhos nas deliberações camarárias procurando evitar a actividade dos mixordeiros, tabelando o preço do proveniente de fora do concelho e impondo a obrigatoriedade do seu manifesto40.

A situação de escassez verificou-se em 1787, 1790, 1791, 1795, 179641 com reflexos na exportação. Para esta evolução recessiva da produção e vendas contribuiu o abandono de muitas vinhas em resultado da acção da política comercial da Companhia via compressão dos preços e a exclusividade das compras para o fabrico de aguardente. O facto já havia sido exposto na petição enviada a D. Maria I em 1784 para a criação da Sociedade d’Agricultura e Comércio da Província do Minh: ‘He claro, que estes limitados preços, nem ao menos podem chegar para a despeza da agricultura, e o que d’aqui resulta he: que os mízeros Lavradores, vendo que sobre perderem o seu trabalho se arruinão cada vez mais, largão a proveitosa agricultura, deixão que as vinhas se cubram de mato’42.

Verifica-se então uma alteração estrutural. Vinhedos deram lugar a milheirais sendo o alargamento da área cultivada em ‘milhão’ também devido ao abandono da produção de outros cereais. As ‘Memórias Paroquiais’ de 1758 referem o trigo e o centeio entre as produções das freguesias ribeirinhas de Alvaredo, Chaviães, Paderne, Penso, Remoães, S. Paio e em Melgaço (Santa Maria da Vila) cultivava-se também cevada, embora pouca43.

‘Nos finais do séc, XVIII a produção de milho representava cerca de 80% do volume cerealífero da comarca de Viana, o trigo quedava-se pelos 6% e o centeio não passava de 14%’44. Pelas barras do Minho e Lima exportavam-se os excedentes que sobravam do consumo. Os destinos principais eram o Porto e Lisboa.

Esta especialização na cultura do milho e perda da importância relativa do vinho tornou a economia agrária da Ribeira Minho extremamente dependente da evolução do preço daquele cereal caracterizada por flutuações acentuadas com

37 A.R.C.V.-‘Lotações de aguardente’. Cota 205, 225. 38 Considerando 1 pipa de aguardente de 21 almudes ou sejam 252 canadas (1 almude equivalendo a 12 canadas). 39 Considerando o preço de 36$000 reis por cada pipa exportada do Porto vigente em 1780 referido por Rebelo da Costa, in Descrição topographica e histórica da cidade do Porto, 1787 (citado por Vitorino M. Godinho em Prix et Monnaies au Portugal, Ed. Lib. Armand Colin. Paris, 1955, Quadro n.º 49 a pág. 254) 40 Ver o quadro a pág.s 68 a 72 do citado estudo de Viriato Capela 41 Idem 42 in Um documento histórico. Tentativa setecentista para a organização do mercado dos vinhos verdes. Prefácio de Amândio Galhano. Ed. Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Série ‘Estudos, Notas e Relatórios’ n.º 9, 1981 Porto. 43 in ‘As freguesias do concelho de Melgaço nas Memórias Paroquiais de 1758’, Ed. C. M. de Melgaço, 2005 44 Referido nos ‘Mappas’ de A. Xavier Homem e citado em ‘Liberalismo e Transformação Social’ de Rui Graça Feijó, Ed. Fragmentos, Lisboa, 1992, pág. 159.

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subidas e descidas alternadas que se verificaram ao longo de quase todo o Séc. XIX45. dando lugar a períodos de açambarcamento e de especulação.

No parecer da Junta da Companhia defendia-se a não diversificação das culturas ao referir que a produção dos ‘campos circuitados d’árvores aos quais se encosta a vide é geralmente milho’ e assim se encontravam ‘desde tempos imemoriais’ pelo que qualquer alteração do seu uso provocaria uma ‘revolução dos Povos da província do Minho’46.

Contudo em vez da ‘revolução’ assistiu-se a uma estagnação no desenvolvimento das comunidades ribeirinhas em resultado da quase perda da cultura do vinho pois o pouco que excedia ao consumo continuaria a ser destilado e enviado para o Porto.

Só em 1834, com o triunfo do Liberalismo e a extinção dos privilégios da Companhia ficou ‘restituída aos lavradores do Alto e Baixo Douro, como ao de qualquer outra parte destes reinos, a livre disposição de suas vinhas e vinhos’47.

Seguiu-se um período de retoma da actividade vitícola no Alto Minho. As médias quinquenais da produção do vinho no distrito de Viana cresceram de 13,5% entre 1835-1839 e 1840-184448. O aumento da área das vinhas não se processou de igual modo por todo o Alto Minho. ‘Os maiores progressos verificam-se, de facto, nos concelhos onde a cultura vitícola se apresentava mais atrasada como era o caso do Soajo, Paredes de Coura, Valadares, Valença, Fiães, Cerveira, Nogueira, mas também Monção e Arcos-onde a cultura se achava ainda muito mal distribuída-quase todos eles concelhos de forte altimetria e no litoral de Viana, Caminha e Esposende. Por outro lado é nos concelhos centrais de altitudes médias ou planos, longe da influência marítima ou dos rigores dos invernos do interior, onde a cultura tinha já grande expressão que os crescimentos são mais limitados49.

Crescimento sem preocupações de qualidade e balizada por uma tendência para a diminuição dos preços que se verificou também para os cereais e demais produções agrárias. Esta deflação ‘atinge níveis excepcionais em 1844/45 e 1845/46 e acarretou um aumento significativo nos custos reais quer na esfera da produção quer na da circulação com efeitos desfavoráveis na situação económica dos médios e grandes proprietários exploradores directos da terra e dos comerciantes de cereais e vinhos’50.

Em Melgaço e segundo as Actas das Vereações da Câmara de 1844, o preço tabelado de um almude do vinho manteve-se em 600 reis desde 25 de Junho até 24 de Setembro, altura em que desceu para 200 reis, preço que vigorou até 31 de Dezembro. Outros bens conheceram a mesma evolução justificando reacções como o dos marchantes queixando-se à Cãmara que ‘atento o actual preço do gado, dereitos a que está sugeito, e mais despesas, lhe não é possível continuarem dando a carne por tal preço’51.

Ao Governador Civil do Distrito expunha-se em 29 de Março de 1845: ‘não padece dúvida que infelizmente os produtos agrícolas deste concelho, como são o trigo, o centeio, milho groço e vinho se acham em um tal abatimento e num preço tam baixo como á muitos anos não tiveram, exceptuando-se na infeliz época do Governo da Uzurpação em que se achavam os portos bloqueados, e isto mesmo somente quanto a milho groço que é o produto agrícola de que se fazia grande

45 Ver o gráfico inserido a pág. 171 no estudo de Rui Graça Feijó citado anteriormente. 46 in parecer da Junta citado 47 in ‘Decreto de 30 de Maio de 1834’ da autoria de Bento Pereira do Carmo e José da Silva Carvalho, promulgado por D. Pedro IV. 48 Dados recolhidos no quadro inserido no estudo ‘Liberalismo e Transformação Social’ de Rui Graça Feijó. Ed. Fragmentos, Lisboa, 1992, pág.s 178 49 Capela, Viriato-Ob. cit. pág. 26 50 Justino, David-Conjuntura económica e Maria da Fonte’, in ‘Bracara Augusta’, vol. XXXV, 1981, pág. 487. 51 Marques, José-Vereações da Câmara de Melgaço.1844, in ‘Boletim Cultural’ n.º 1 (2002), Ed. Câmara Municipal de Melgaço, pág. 267 a 334.

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exportação pelo porto desta Vila aonde acudia não só o deste concelho mas também o dos superiores da margem esquerda do Rio Minho e limítrofes e daqui em embarcações de cabotagem passava aos mais portos do Reino, e principalmente aos do Porto, Aveiro, S. Martinho, Ericeira e Lisboa, como também em algumas ocasiões ao da ilha da Madeira’52.

Aludiam como causas à ‘falta de exportação, principalmente do artigo milho para os ditos portos, aonde se tem importado muito milho das ilhas, o que tem causado um barateio inconsiderável pela abundância do mesmo género ali importado fazendo assim paralizar a exportação do dito género desta parte da província do Minho’... e ...’fazendo assim desaparecer o numerário do mercado’53.

Sem exportação, o milho groço achava-se ‘acumulado em poder dos proprietários, lavradores e comerciantes’, os quais, necessitavam ‘de meios para suprir as suas necessidades domésticas e pagamento de contribuições e mais impostos, tanto públicos, como municipais’ 54.

Concluíam: ‘que se os cereais pela sua extracção (exportação) subissem de preço, bem depressa também os mais produtos agrícolas a teriam maior, pois que pela escassez de numerário e de serviços braçais o povo vive em grande penúria e muitas coisas deixa de gastar, que aliás gastaria se os cereais tivessem extracção, afluiam numerários a esta parte da Provìncia e então se empregariam os braços da classe jornaleira nos serviços próprios’55.

A ‘Patuleia’ ou Revolta da Maria da Fonte em 1846 tem, em grande parte, a sua explicação nesta conjuntura,

52 Exposição da Vereação de Caminha, in A Revolução do Minho de 1846-Viriato Capela,Ed. Governo Civil de Braga, 1997, pág. 30-32. 53 Idem, ibidem, pág. 31. 54 Idem, ibidem, pág. 31. 55 Idem, ibidem, pág. 32

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Fig.s 15, 16, 17-Alambique

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Fig. 18- Contas da gerência de Balthazar Coutinho (1785)

Fig. 19-Tipos de aguardente produzida e respectivos custos de produção

Fig. 20- Para lotar 452 pipas de vinho do Douro, a Companhia consumiu 3 pipas, 12 almudes e 4 canadas de aguardente

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ANEXO Quadro n.º 1 Vinhos comprados para a fábrica de aguardente de Monção

Ano de 1780

N.º Nome Actividade Morada: Lugar/Freguesia

Pipas Cabaços Preço/ pipa

Preço/ cabaço

Valor total

1 Francisco Roiz Gondim

Rendeiro Cambezes 96 17 3$110 299$860

2 António Alves Rendeiro de Barbeita

Crasto /Bela 85 e 1/2 3$140 268$470

3 Antonio Gonçalves ---- Agrelo/Mazedo 50 $075 3$750 4 Jozé de Lemos ---- Monção 2 3$000 6$000 5 João Pinto ---- Monção 2 2$500 5$000 6 D. Laura Ludovina

de Sá Troviscoso 1 2$800 2$800

7 Jacinto Esteves Pedra/Troviscoso 83 e ½ $060 5$010 8 Rev. P.e José .... (?) Eclesiástico Mazedo 6 3$000 18$000 9 Manuel Per.ª do

Castro Monção 2 3$240 6$480

10 António Franco Barbeita 42 $060 2$520 11 João Fernandes Cotoval (?)/S.João de

Longos Vales 41 $075 3$075

12 João Luis Gomes Casal/S. Joaõ de Longos Vales

91 $075 6$825

13 Francisco Soares Monção 5 6 3$000 15$450 14 António Roiz Agrelo/Mazedo 50 $075 3$750 15 Sebastião Afonso Milagres/Cambezes 3 3 3$000 9$200 16 João Afonso Milagres /Cambezes 3 3 3$000 9$200 17 João António Taias 3 2$800 8$400 18 Manuel Jozé

Afonso Milagres/Cambezes 1 27 3$000 5$025

19 Jozé Manuel Ozório Coutinho

Cortes/Mazedo 4 22 3$100 14$105

20 Rev.º P.e João Felgueiras

Eclesiástico Mazedo 2 4 3$000 6$300

21 D. Jacinta de Lira Berdial/Lapela 2 4 2$690 5$545 22 Maria Roiz Samarão/S. João de

Longos Vales 27 $060 1$620

(continua)

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Quadro n.º 1 Vinhos comprados para a fábrica de aguardente de Monção

Ano de 1780

(continuação) N.º Nome Actividade Morada: Lugar/Freguesia

Pipas Cabaços Preço/

pipa Preço/

cabaço Valor total

23 Maria Martins Reguengo/S. João de Longos Vales

46 $060 2$520

24 Caetano Jozé de Abreu

Lapela 4 2$600 10$400

25 Jozé Alves Troviscoso 2 2 2$600 5$330 26 Bernardo Jozé

Cabral Rendeiro de Pias Pias 24 18 2$800 $070 68$460

27 Simon Martinz Bouça/S. João de Longos Vales

2 2 2$400 4$920

28 Ignacio de Magalhães

Reguengo/S. João de Longos Vales

53 $060 3$180

29 João Alves Valverde/S. João de Longos Vales

30 $060 1$800

30 João Domingues Carcavelos/S. João de Longos Vales

2 2 2$400 4$920

31 Jozé Lopes Rendeiro de Moreira Cerdal/Valença 29 2$600 75$400 32 Jozé Roiz Monção 2 2 3$000 6$150 33 Manoel Carvalho Poldras/S. João de Longos

Vales 5 1 2$800 $070 14$070

34 Manoel Domingues

Barbeita 1 3$000 3$000

35 Joze Lopes da Cunha Velho

Rendeiro de Longos Vales

Longos Vales 77 4 3$100 239$000

36 Francisco Luiz Roiz Barbeita 93 $075 37 António Jozé de

Brito Rendeiro da freg. de ...(?) deste termo

9 18 2$800 26$460

38 Jozé Vaz de Carvalho

Rendeiro de Bela Bela 19 10 2$100 49$400

39 Irmão João dos Santos

Donato do Con-vento de S. Paio do Monte de V. N. Cerveira

Vila Nova de Cerveira 2 3$000 6$000

40 Francisco Luiz Barbeita 1 3$200 3$200 41 João Afonso Milagres/Cambezes 2 3 2$400 4$980 42 Antonio Roiz Eirados/Mazedo 8 3$000 24$000 43 Antonio Luiz

Coutinho Rendeiro de Troporiz e Lapela

Troporiz e Lapela 25 3$100 77$500

44 Braz Jozé Pedra/Troviscoso 4 3$000 12$000 . TOTAL

. MÉDIA SIMPLES 435 e 1/2 754 e 1/2

2$857

$067 1.349$075

Fonte: A.R.C.V. Cota 6.2.042.03-Lv. 145/761

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Quadro n.º 2 Vinhos comprados para as fábricas de aguardente de Prado, do termo de Melgaço

Ano de 1780

N.º Nome Actividade Morada: Lugar/Freguesia Pipas Cabaços Preço/

pipa Preço/

cabaço Valor total

1 Diogo Luiz Glz. Chaves Rendeiro da freguesia de Prado

Breia/Prado 32 3$200 102$400

2 Juliana Vaz Breia/Prado 2 3$200 6$400 3 Cazimiro António Breia/Prado 6 2 3$200 19$440 4 Manoel da Rocha Rendeiro da vila de

Melgaço 25 7 3$200 80$560

5 Antonio Vaz Serdedo/Prado 4 30 3$200 15$200 6 João Antonio L. Bouços/Prado 4 3$200 12$800 7 Manoel de Freitas Suribas/Roussas 3 33 3$200 12$240 8 Francisco Glz. da Roza Santo Amaro/Prado 3 3$200 9$600 9 Agostinho Pereira de

Castro Roussas 10 3$200 32$000

10 Francisco Esteves Bouços/Prado 3 3 2$900 8$917 11 Roza Marques de

Galbão Vila/Melgaço 1 3$200 3$200

12 Antonio Pereira Chaviães 2 37 3$200 9$360 13 João Luiz de Castro Remoães 8 10 3$200 26$400 14 Bernardo Lopes Rendeiro da

freguesia de Chaviães

Outeiral/Vila 18 3$200 57$600

15 Luiz Caetano de Souza Gama

Capitão-Mor Quinta da Serra/Prado 9 32 3$200 31$360

16 Domingos Gomes Prado 2 3$200 6$400 17 Antonio Esteves Santo Amaro/Prado 1 3 3$200 3$440 18 P.e Francisco António

da Cunha Eclesiástico Prado 9 3$200 28$800

19 Pedro Gomes Santo Amaro/Prado 16 $080 1$280 20 Maria Gomes 1 9 2$900 3$070 21 João Manoel Roiz Prado 22 $065 1$430 22 Antonio Gomes de

Araújo Rendeiro da Renda do Castelo

Vila/Melgaço 14 23 3$000 43$725

23 Rafael Lopes Prado 5 $080 $400 24 Mathias da Silva

Gajardo Vila/Melgaço 6 9 3$600 22$410

25 Jozé Luiz Santo Amaro/Prado 39 $090 4$410 26 Pedro Alves Remoães 5 $080 $400

. TOTAL . MÉDIA SIMPLES

163 285 3$180

$079

543$242

Fonte: A.R.C.V. Cota 6.2.042.03-Lv. 145/761

Page 25: As Vendas Dos Vinhos Da Ribeira Minho Às Fábricas de Aguardente

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Quadro n.º 3 Vinhos comprados para a fábrica de aguardente do Hospital, do termo de Valadares Ano de 1780 N.º Nome Actividade Morada: Lugar/Freguesia Pipas Cabaços Preço/

pipa. Preço/

cabaço Valor total

1 Jozé Pargas Paço Velho 2 2$400 4$800 2 Jozé Roiz Paço Velho 1 2$400 2$400 3 Manoel Pereira de

Queiroz Valinha 3 3$200 9$600

4 Domingos Pereira Cachada 5 3$000 15$000 5 Padre Francisco Vila de Valadares 2 2$400 4$800 6 Manoel Glz. Coba 5 34 $060 14$070 7 Bento Alves de

Azevedo Rendeiro da freguesia de S. Paio de Segude

Segude 19 37 3$100 $0775 61$768

8 P.e Gonçalo P.a de Caldas

Encomendado da freguesia de Ceivães

Ceivães 70 $060 $420

9 Jozé Carvalho S. João de Sá 62 e ½ $075 4$687 10 Manoel Pereira Outeiral 44 $070 2$640 11 João Alves Mato/ S. João de Sá 11 22 3$100 35$805 12 Caetano da Costa Cima de Vila 2 2$400 4$800 13 Manoel Dias

Monteiro Rendeiro da freguesia de Messegães

Gávea 15 2$800 42$000

14 António Alves Rendeiro das freguesias de Ceivães e Badim

Crasto/Bela 40 2$900 116$000

15 Jozé Alves do Bosque

Valadares 7 3$000 21$000

16 Caetano Alves Santo Antão 1 2$400 2$400 17 Pedro de Araújo

Soares Capitão Pereira/Ceivães 33 $060 1$980

18 Manoel de Passos S. João de Sá 8 , 3 e ½ 3$000 24$240 19 Manoel Rodrigues

Vilarinho Santa Eulália de Valadares 12 3$000 36$000

20 Alexandre Alves Gomes

Capitão Valinha 84 $060 5$040

21 Manoel Alves Pereiro 8 3$100 24$800 22 Jozé Soares Valinha 9 2$900 26$100 23 Manoel Pereira

Lopes Abade de Santa Eulália

Santa Eulália de Valadares 14 16 3$400 48$960

24 Pedro António de Passos

Portela 8 e ½ 3$150 26$775

25 Bernardo Jozé da Silva

Rendeiro da freguesia de Penso

Penso 17 5 e ½ 2$800 48$000

26 Manoel Fernandes Senra 20 $080 1$600 .TOTAL

. MÉDIA SIMPLES 189,5 431,5

2$866

$068

585$685

Fonte: A.R.C.V. Cota 6.2.042.03-Lv. 145/761

Page 26: As Vendas Dos Vinhos Da Ribeira Minho Às Fábricas de Aguardente

26

Quadro n.º 4 Vinhos comprados para as fábricas de aguardente dos termos de Monção e Valadares

Anos de 1785 e 1786

Ano/N.

º Nome Morada Actividade Pipas Cabaços Preço

unitário Valor total

1785 1 António Bernardes S, Martinho/Valadares Rendeiro da freguesia de

S. M. de Alvaredo 16 5$000 80$000

2 Bento Alves de Azevedo Sta. Eulália/Valadares 16 5$000 80$000 3 João António Branco de

Puga Badim 21 31 5$000 108$865

4 Jerónimo Rodrigues Barbeita 24 5$000 120$000 5 Manuel S.

S. Miguel/Messegães 22 5$100 112$200

6 Jozé Alves do Bosque Valadares 1 7 4$100 4$700 7 Pedro de Passos Portela 3 4$800 14$400 8 Manoel Pereira de Queiroz Valinha 8 5$000 40$000 9 António Affonso Ceivães 35 4$800 168$000

10 Manoel Saldanha S. Tiago/ Pias 46 5$100 234$600 11 António Rodrigues M. Eirados/Mazedo 12 5$200 62$400 12 António Rodrigues Cruzeiro/Mazedo 4 5$000 20$000

1786 1 António Alves Crasto/Bela 48 15 3$600 174$150 2 Manuel Jozé Pereira Arcos Rendeiro da comenda da

vila de Monção 15 3$600 54$000

3 Manoel Pereira Coelho de Brito

S. Martinho de Lafões Alferes 59 11 4$000 237$100

3 António A. Torres Bela 10 7 3$400 34$595 4 Francisco Jozé Crespo Vacariça/Lanhelas Rendeiro da freguesia de

Moreira 24 3$206 76$960

5 João Afonso da Cruz Eirado/Mazedo 64 3$600 230$400 6 António Jozé Afonso S, Paio/Valadares Rendeiro da freguesia de

Barbeita 35 3$600 126$000

7 Bento Manoel Machado Quinta da Amiosa/ 16 4$000 64$000 8 João Alves Mato/S. João de Sá 9 4$000 36$000 9 João António Branco de

Puga Badim 24 4$000 96$000

10 António Bernardes S. Martinho/Valadares Rendeiro da freguesia de S. M. de Alvaredo

26 4$000 104$00

11 Manoel F. Lopez Abade da freg. de Sta. Eulália

24 4$000 96$000

12 Maria Pereira Valinha/Ceivães 10 4$000 40$000 13 Jerónimo Rodrigues Souto/Barbeita 6 4$000 24$000 14 Manoel P. S. João de Sá/Valadares 4 4$000 16$000 15 Manoel Pereira do Lago Valinha/Ceivães 8 4$000 32$000 16 Pedro de Passos Portela 9 4$000 36$000 17 Pedro da Cruz Ventuzelo/’extra muros desta

praça’) 3 3$600 10$800

18 Francisco Pinto Bar-bosa Monção ‘Governador desta praça’

1 20 3$000 4$500

TOTAL MÉDIA SIMPLES

603 91 4$216

2.537$670

Fonte: A.R.C.V. Cota 6.2.042.03- Lv. 226/761 Quadro n.º 5 Vinhos comprados para as fábricas de aguardente de Prado, do termo de Melgaço

: Anos de 1785 e 1786

Ano/N.º

Nome Morada: Lugar/Freguesia

Actividade Pipas Cabaços Preço /pipa

Valor total

1785

1 João Domingues Carvalho S. Paio /Prado 17 6 4$450 76$310 2 Bernardo Lopes Outeiral/Melgaço 8 21 4$700 40$065 3 João Manuel Roiz Palhares Prado 7 3 4$500 31$885 4 Diogo Luiz Glz. Chaves Prado 2 28 4$500 12$130

1786

1 Manoel Affonso Rouças Rendeiro da freguesia de Rouças/Melgaço

9 4$000 36$000

2 João Manoel Roiz Palhares Prado 9 4$000 36$000 3 Bernardo Lopes Outeiro Alto/Vila Rendeiro da freguesia de

Chaviães/Melg.º 38 4$000 152$000

4 João Domingues Carvalho S. Paio 8 4$000 32$000

TOTAL MÉDIA SIMPLES

98 58 4$268

416$390

Fonte: A.R.C.V. Cota Cota 6.2.042.03-Lv. 226/761

Page 27: As Vendas Dos Vinhos Da Ribeira Minho Às Fábricas de Aguardente

27

Quadro n.º 6 (1780)

Freguesia Quantidade (pipas)

% no Total

Termo de Monção (435,5) 55,3 Bela 104 13,2 Cambezes 105 13,3 S. João de Longos Vales 86 11, Pias 24 3, Mazedo 16 2, Troporiz e Lapela 31 4,0 Troviscoso 7 0,9 Outras (5) 62,5 7,9 Termo de Valadares (189,5) 24,0 Santa Eulália 26 3,3 Ceivães e Badim 40 5,1 Segude 19 2,4 Sá 19 2,4 Penso 17 2,2 Messegães 15 1,9 Outras (13) 53.5 6,8 Termo de Melgaço (163) 20,7 Prado 75 9,5 Vila 64 8,1 Roussas 13 1,6 Remoães 8 1,0 Chaviães 2 0,2 Outra 1 0,1 TOTAL 788 100,0

Fonte: Quadros 1 a 3

Quadro n,º7 1780

Actividade

N.º de pipas

Preço/pipa Total

Rendeiro de Cambezes 96 3$110 298$560 Rendeiro de Barbeita 85,5 3$140 268$470 Rendeiro de Pias 24 2$800 67$200 Rendeiro de Moreira 29 2$600 75$400 Rendeiro de Longos Vales 77 3$100 238$700 Rendeiro de ? 9 2$800 25$200 Rendeiro de Bela 19 2$100 39$900 Rendeiro de Troporiz e Lapela 25 3$100 77$500 Rendeiro de Prado 32 3$200 102$400 Rendeiro da Vila de Melgaço 25 3$200 80$000 Rendeiro de Chaviães 18 3$200 57$600 Rendeiro da renda do Castelo 14 3$000 42$000 Rendeiro de S. Paio de Segude 19 3$100 58$900 Rendeiro de Messegães 15 2$800 42$000 Rendeiro de Ceivães e Badim 40 2$900 116$000 Rendeiro de Penso 17 2$800 47$600 TOTAL 544,5 1.637$430 PREÇO MÉDIO 3$007

Fonte: Quadro 1 a 3

Quadro N.º 8

‘Relação dos preços a que sahirão os Vinhos, que mandou comprar a Companhia Geral do Alto Douro pelos seus Commissários na Província do Minho para destilar em Agoas ardentes nos cinco annos de 1780 até 1784’.

1780 Manuel Ant.º Tx.rª de Torres Amares 3$377 “ Balthazar Coutinho Monção 3$011 “ João Luiz d’Araújo Per.ª Arcos 3$240 “ Francisco Per.ª d’Araújo Lima Ponte de Lima 3$360

1781 Manuel Ant.º Tx.rª de Torres Amares 3$720 “ Balthazar Coutinho Monção 3$338 “ João Luiz d’Araújo Per.ª Arcos 3$890 “ Francisco Per.ª d’Araújo Lima Ponte de Lima 3$850

1782 Manuel Ant.º Tx.rª de Torres Amares 7$737 “ Balthazar Coutinho Monção 8$286 “ João Luiz d’Araújo Per.ª Arcos 7$408 “ Francisco Per.ª d’Araújo Lima Ponte de Lima 7$330

1783 João da Cunha Alvares Arcos 5$542 1784 Manuel Ant.º Tx.rª de Torres Amares 5$816

“ Balthazar Coutinho Monção 5$995 “ João da Cunha Alvares Arcos 4$758 “ António d’Araújo d’Azevedo Ponte de Lima 6$067 Sahe cada pipa de vinho para os

Lavradores...................... a 5$113 rs.

Quadro inserido no anexo do parecer de 23 de Dezembro de 1785 da Junta da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e publicado em ‘Um Documento Histórico. Tentativa setecentista para a organização do mercado dos vinhos verdes’. C.V.R.V.V., Porto 1981