31
ASCENÇÃO DOS YOUTUBERS: LINGUAGEM E FORMATO DOS NOVOS PRODUTORES DE VÍDEO DA WEB Michelle Paulino Brito 1 Leyberson Lelis Chaves Pedrosa 2 RESUMO O presente artigo busca compreender como os creators (criadores e consumidores de conteúdo na web) definem, produzem e distribuem conteúdos audiovisuais na web. Atualmente, a autenticidade dos mesmos é responsável, em parte, por convencer o público a confiar no conteúdo produzido e tomar para si determinadas opiniões. Dessa forma, este trabalho analisa os três vídeos mais visualizados de Julia Tolezano, do canal “JoutJout, prazer,” e Iberê Tenório, do canal “Manual do Mundo”. Ambos jornalistas e brasileiros, os dois youtubers atuam em diferentes segmentos temáticos. Como recorte da análise, o artigo descreve e compara elementos da linguagem dos vídeos selecionados tais como roteirização, produção, edição e interação. Palavras-chave: Youtuber, Vloguer, Vídeo, Creators 1 Aluna do curso de pós-graduação em Jornalismo digital e produção multimídia do Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB) e Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e E-mail:[email protected]. 2 Professor orientador, doutorando em Mídia e Tecnologia pela UNESP (SP) e coordenador do curso de pós-graduação em Jornalismo Digital e Produção Multimídia do Centro de Educação Superior de Brasília IESB (DF). E-mail: [email protected].

ASCENÇÃO DOS YOUTUBERS: LINGUAGEM E FORMATO …jordigital.iesb.br/wp-content/uploads/tccs/jdpm12015/BRITO... · O site YouPix, referência brasileira no debate sobre cibercultura,

Embed Size (px)

Citation preview

ASCENÇÃO DOS YOUTUBERS: LINGUAGEM E FORMATO DOS NOVOS PRODUTORES DE VÍDEO DA WEB

Michelle Paulino Brito1 Leyberson Lelis Chaves Pedrosa2

RESUMO

O presente artigo busca compreender como os creators (criadores e consumidores de

conteúdo na web) definem, produzem e distribuem conteúdos audiovisuais na web.

Atualmente, a autenticidade dos mesmos é responsável, em parte, por convencer o

público a confiar no conteúdo produzido e tomar para si determinadas opiniões. Dessa

forma, este trabalho analisa os três vídeos mais visualizados de Julia Tolezano, do

canal “JoutJout, prazer,” e Iberê Tenório, do canal “Manual do Mundo”. Ambos

jornalistas e brasileiros, os dois youtubers atuam em diferentes segmentos temáticos.

Como recorte da análise, o artigo descreve e compara elementos da linguagem dos

vídeos selecionados tais como roteirização, produção, edição e interação.

Palavras-chave: Youtuber, Vloguer, Vídeo, Creators

1Aluna do curso de pós-graduação em Jornalismo digital e produção multimídia do Instituto de Ensino

Superior de Brasília (IESB) e Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Católica de

Brasília (UCB) e E-mail:[email protected].

2 Professor orientador, doutorando em Mídia e Tecnologia pela UNESP (SP) e coordenador do curso

de pós-graduação em Jornalismo Digital e Produção Multimídia do Centro de Educação Superior de

Brasília IESB (DF). E-mail: [email protected].

1. Introdução

A internet vem transformando a nossa maneira de acessar, produzir, transmitir e

consumir conteúdo audiovisual. Plataformas como o YouTube receberam mais

usuários mundialmente na última década e, por consequência, produtores de vídeo

que alimentam o site ganharam mais visibilidade na internet.

O grande aumento nas atividades do site vem proporcionando ao usuário uma

experiência como creator3, ou seja, criador e consumidor de conteúdo na web. Desta

forma, o usuário consegue consumir e produzir de uma maneira única e diferente de

outros meios; nela é possível criar, compartilhar e interagir com espectadores e ainda

receber um feedback (retorno) a respeito do produto audiovisual criado.

Adotado espontaneamente pelos próprios usuários, o termo “criador”, seja ele,

youtubers, instagramers, snapchaters ou blogueiros são, na verdade todos os

criadores digitais que estão construindo este novo mundo.

O site YouPix, referência brasileira no debate sobre cibercultura, publicou um

vídeo em dezembro de 2015 intitulado The Creators Shift4, que explica a definição de

creator “estamos quebrando conceitos da comunicação e da cultura. Fazendo ruir

paradigmas que já não fazem o menor sentido. E esta revolução está na mão dos

creators.” (GRANJA, SALOMÃO, 2015)

O termo foi consolidado e disseminado em 2015 pelo site YouTube. O Youtube

Creators5 foi criado pela plataforma no intuito de auxiliar os produtores de vídeo,

direcionando e orientando a melhor maneira de ganhar visualizações e produzir

conteúdo de qualidade. Chamada de Centro de Criação, a página auxilia o creator a

aperfeiçoar e divulgar o conteúdo que produz.

Esta nova forma de fazer comunicação, amparada por grandes empresas, nos

permite acessar e compartilhar ideias de diversos temas (saúde, beleza, aventura,

tecnologia etc), além de disseminar informação em qualquer momento e de qualquer

dispositivo que disponha de internet.

3 Creator: termo utilizado para definir os produtores, criadores e consumidores de conteúdo na web. 4Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=havPIp1j3hA

5Disponível em: https://www.youtube.com/yt/creators/pt-BR/index.html?noapp=1

A partir desta perspectiva, percebe-se uma mudança na maneira de informar,

produzir notícias para a sociedade e até mesmo no modo de se fazer e consumir

publicidade. Pretendemos, portanto, por meio deste artigo entender como tem sido

esta transformação da linguagem e do formato dos vídeos que consumimos na web.

Além disso, compreender de que maneira a ascensão dos youtubers vem

transformando o fazer e consumir vídeos. No presente artigo, analisamos dois canais

distintos: “JoutJout, prazer” e “Manual do Mundo”, com o intuito de compara-los e

descobrir em quais características de sucesso são comuns a ambos.

2. Fundamentação teórica

Comunicação e sociedade

Segundo Jenkins (2009), "a convergência não ocorre por meio de aparelhos,

por mais sofisticados que venham a ser”. Ou seja, a convergência ocorre dentro dos

cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros.

Ou seja, transforma não somente a maneira como nos comunicamos, mas também

uma forma mais ampla de como vivemos na sociedade.

De acordo com o autor, “convergência é uma palavra que consegue definir

transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de

quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS, 2009 p. 30).

E esta convergência atrai cada vez mais usuários. A produção de conteúdo é

abrangente e contempla diversos temas. São produtores em sua grande maioria

independentes e amadores, produzindo conteúdo livre para a web.

No caso deste artigo analisamos dois canais de youtubers com segmentos

diferentes, sendo eles: “Jout Jout, prazer”, com temas diversos, com o estilo conversa

livre e descontraído, e o “Manual do Mundo”, canal que ensina o público a fazer

experiências de ciências, com um formato similar a programas de televisão.

Os canais foram escolhidos pela grande repercussão e número de

visualizações, e por tratar-se de dois segmentos (amador e profissional) que

conseguiram atingir audiência equivalente a grandes programas de televisão.

Cada creator potencialmente consegue manter espaço específico onde seus

seguidores podem ser tanto amigos, como membros da família ou desconhecidos de

outros países.

Vídeos amadores no YouTube também são destinados a comunidades de nicho, os membros da família, ou simplesmente amigos. No entanto, uma das primeiras coisas a notar sobre o YouTube como um fenômeno cultural de massa é que ele alterou a relação do amador para as indústrias de televisão e filmes e expandiu os motivos comerciais para o cinema amador (STRANGELOVE, 2011, p. 23).

E não é de hoje que estes produtos audiovisuais atraem audiência, segundo

Jean Burgess e Joshua Green (2009). Anterior à criação do YouTube no ano de 2005,

o suporte de conversas por vídeo online via webcam já possuía adeptos com números

expressivos.

Ou seja, já em nossa experiência anterior ao YouTube no ciberespaço, assistir

a vida particular sempre despertou interesse do público com perfil diverso. O grande

número de usuários compartilhando suas rotinas, experiências pessoais, e até

mesmo transmitindo conhecimento tem aumentado significante.

Desde sua criação em 2005, o YouTube6 conta com um bilhão de usuários por

dia. Atualmente, os vlogs, junção de vídeo e blogs, é a evolução do diário pessoal

antes publicado apenas em formato de texto.

Hoje, com a experiência do vlog, é possível transmitir vídeos com recursos

como trilha sonora, imagens e edição com efeitos especiais. Com base nisso,

podemos observar uma mudança na forma de nos comunicar.

Os meios de comunicação virtual vêm nos proporcionando, desde a década de

90, a capacidade de criar consumir conteúdo por meio das novas tecnologias de

comunicação.

A internet tornou-se um grande reality show. Onde muitos consomem histórias reais e estórias inventadas de muitos outros. Um grande mercado onde são comercializados novos caminhos, fórmulas de sucesso e estilo de vida. Um grande menu, onde é possível escolher

6Pesquisa disponível no site YouTube na sessão Estatísticas. Disponível em: https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html

a opção desejada e compartilhar itens adicionais. (DORNELLES, 2015, p. 8).

A partir disso, pretende-se analisar o quão relevante tornou-se as publicações

feitas por estes novos creators do ciberespaço, tendo em vista que o interesse por

novos formatos em audiovisual vem ganhando cada vez mais adeptos.

Através de ferramentas do próprio site de compartilhamento de vídeos

(YouTube), é possível analisar o número de visualizações, comentários, interação,

quais foram os vídeos e temas mais vistos além de receber avaliação do conteúdo

por meio de (curtidas) positivas ou negativa.

Por meio da análise de dois canais de youtubers brasileiros, “Jout Jout, Prazer”

e “Manual do Mundo”, é feito um panorama de como estes novos produtores de

conteúdo vem ganhando visibilidade e audiência. Além disso, buscamos mapear o

processo de produção deste conteúdo, destacando, assim, as principais

características relacionadas ao tema dos vídeos, linguagem, cenário e recursos

audiovisuais envolvidos.

3. Desenvolvimento

Crescimento e relevância do YouTube

Podemos perceber que estes novos produtores de conteúdo, conhecidos como

youtubers, ganharam espaço e audiência dos espectadores de mídias tradicionais.

Isso se deve não apenas por produzir conteúdo diversificado, mas, também, por este

conteúdo ser de fácil acesso, levando em conta flexibilidade de horário e linguagem

informal. Ou seja, entre outros fatores, o principal deles é a facilidade ao acesso

devido ao crescente desenvolvimento das Tecnologias da Informação (Tic’s).

De acordo com estatística divulgada pelo desenvolvedor do YouTube7, Amy

Singer, gerente de estratégias do YouTube8, o Brasil é o segundo país que mais

7 Pesquisa disponível no site YouTube na sessão Estatísticas.

https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html 8 Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/youtube-afirma-que-brasileirossao-

maiores-consumidores-de-videos-no-portal

acessa e publica vídeos. São cem horas de vídeo por minuto apenas no Brasil. A

empresa ainda informa que este número vem crescendo, pois houve um aumento

significativo do número de empresas privadas que hospedam seus vídeos no site.

A soma do desenvolvimento das tecnologias da informação no Brasil, com a

criação de plataformas como o YouTube, proporcionou um grande número de

usuários que também são criadores de conteúdo, os chamados creators. A partir de

diversos temas ou sem nenhum tema específico, os vídeos vêm ganhando audiência

invejada por grandes emissoras de televisão.

Álvaro Barros, diretor no YouTube Brasil, afirma que “conteúdo relevante é

conteúdo que gera audiência. Hoje a audiência busca autenticidade. A autenticidade

gera empatia, que gera influência”.

Jenkins (2009) classifica o YouTube como o marco zero desta transformação,

destacando que a plataforma "é a ruptura nas operações das mídias de massa

comerciais, causada pelo surgimento de novas formas de cultura participativa”. A

comunicação proporcionada pela internet permite, além de flexibilidade de horários,

a interação e o compartilhamento da vida privada.

E esta empatia, o saber do outro tende a nos provocar curiosidade tornando o

conteúdo interessante.

Apareceu a internet a máquina de inovação que, entre tantas outras coisas, também publica. Muito, tudo e de todo mundo. Nem todo mundo, claro, tem alguma coisa relevante a dizer para todo o resto do mundo, no sentido da indústria jornalística. [...] mas todo mundo tem alguma coisa a dizer para algum público, nem que seja sua família e amigos. (MEIRA, 2011)

O espaço do outro, antes inacessível, hoje torna-se público. Não é necessário

passar por uma triagem, agendar um horário ou podar palavras. É possível emitir sua

opinião imediata a respeito do conteúdo assistido, interagir com o emissor do

conteúdo e os demais espectadores. Com as opções ´gostei´ ou ´não gostei´

disponibilizadas pela plataforma, é possível ser mais direto ainda no momento de

apuração da opinião do internauta.

Burgues e Green (2009) afirmam que, “independente do gosto do usuário da

rede, o YouTube já faz parte do cenário da mídia e deve ser levado em consideração

no contexto da cultura popular contemporânea”.

Embora não seja o único site de compartilhamento de vídeos na internet, a rápida ascensão do YouTube sua ampla variedade de conteúdo e sua projeção pública no Ocidente entre os falantes da língua inglesa o tornam útil para a compreensão das relações ainda em evolução entre as novas tecnologias de mídia, as indústrias criativas e as políticas da cultura popular (BURGESS; GREEN, 2009, p.13)

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM), divulgada em 20159, cerca de

48% dos brasileiros usam internet. E o tempo de acesso já supera o da televisão, são

cinco horas conectados na rede mundial de computadores. Os sites mais acessados

são, Facebook, com 83%, seguido de Whatsapp, 58% e Youtube, com 17%. Entre os

entrevistados pela pesquisa, cerca de 67% buscavam notícias justamente nas

plataformas citadas.

De acordo com a pesquisa feita pela Interactive Advertisign (IAB)10, cerca de

50% dos brasileiros costumam entrar nestas plataformas por dispositivos móveis

conectados ao wi-fi, ou seja, 22% assistem menos TV por preferir consumir conteúdo

através do YouTube.

Imagem 01: Consumo semanal de mídia no BrasilGráfico

Fonte: Divulgação – Pesquisa IAB Hábitos de Consumos de Mídia - IAB

9 Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-

qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf

10 Disponível em: http://iabbrasil.net/guias-e-pesquisas/mercado/brasil-conectado---habitos-de-

consumo-de-midia-2014

De acordo com o site YouTube, os dados mais recentes revelam que até o mês

de fevereiro de 2015 a plataforma contava com mais de um bilhão de usuários, sendo

quase um terço dos usuários da internet. A cada ano, o número de exibições de

vídeos tem crescido pelo menos 50%, isso durante três anos consecutivos. Além

disso, o número de creators, vem crescendo e profissionalizando a atividade de criar

e publicar vídeos na internet.

Dornelles (2015), explica que, “em geral, é preciso levar e conta que, a

exposição por meio de compartilhamento de vídeos no ciberespaço, destaca o caráter

autobiográfico”. Completando, ele destaca que “a superexposição do ‘eu’, onde o

produtor é criador, narrador e também protagonista, é uma oportunidade de cada

indivíduo produzir, dirigir e atuar em seu próprio filme” (DORNELLES, p. 9, 2015).

4. Apresentação e análise dos dados

Sociedade conectada O desenvolvimento de hardwares e softwares possibilita a interação dos

indivíduos por meio do envio de mensagens instantâneas para um grande número de

pessoas além da troca de arquivos multimídia (fotos, vídeos, textos) que permitem ao

usuário uma experiência de comunicação ampla.

De acordo com Castells (2000), a internet é “um instrumento de comunicação

que permite a flexibilidade e temporalidade da mobilização, mantendo, porém, ao

mesmo tempo, um caráter de coordenação e uma capacidade de enfoque dessa

mobilização”.

Castells (2000) ainda afirma que estamos vivendo a chamada “era da

globalização e mundialização”, onde “a troca de informações acontece em uma

velocidade instantânea em razão da internet. A consequência é a pluralização das

ideias, a troca de convicções políticas e crenças religiosas no ambiente virtual em

tempo real” (BRITO, 2014 p. 12).

Sem dúvida, essa tecnologia é mais que uma tecnologia. É um meio de comunicação, de interação e de organização social. Faz pouco tempo, quando a Internet ainda era uma novidade, as pessoas consideravam que embora interessante era no fundo minoritária, algo para uma elite de internautas, de digerati, como se diz internacionalmente. (CASTELLS, 2000, p. 6)

Vimos que a comunicação por meio de vídeo vem tomando conta da grande

mídia. A convergência entre elas tem se tornado, embora um desafio, necessária para

a conexão entre diversos pontos propostos por esta nova era da comunicação.

Um deles é este imediatismo que vivemos, a produção de conteúdo para

televisão ainda é lenta - comparada a rapidez da internet - para suportar esta

demanda solicitada pela internet. Para suportá-la, é natural que surjam novos meios

de transmitir e comunicar de uma maneira mais rápida e eficiente, sem prejudicar o

receptor da mensagem.

Em 2005, o YouTube ainda caminhava a passos lentos. Haviam poucos vídeos

publicados e ainda não havia acesso expressivo como vemos atualmente. “O lado

bom do YouTube é o conteúdo maluco, esquisito e maravilhoso gerado por seus

usuários” (BURGESS E GREEN, 2009, p.37). A interação e compartilhamento atraem

usuários e permitem abrir espaço para novas formas de fazer comunicação.

Imagem 02: Sites reprodutores de vídeo

Fonte: comScore – Empresa americana de pesquisa de dados

Jenkins (2009) explica que o YouTube se tornou uma plataforma de fácil acesso e

utilização entre seus usuários. No entanto, ele não foi o precursor, pois já existiam

outras plataformas antes que suportavam este tipo de conteúdo como, por exemplo,

o Joshua Burgues e Green (2009) tratam esta nova plataforma (YouTube), referindo-

se a uma plataforma onde a cultura participativa é o principal negócio.

Os autores ainda explicam que, embora as pessoas ainda não estejam

familiarizadas com o formato de videoblog, o mesmo só tem a acrescentar em nossas

discussões sociais, pois desta maneira ganhamos um espaço aberto a diversos

temas.

muitos videobloggers afirmam que é precisamente o ato de colocar esses momentos íntimos na internet, ao alcance de todos, que cria o espaço para expor e discutir assuntos delicados e assim atingir uma maior consciência de si mesmo e dos outros. (BURGUES E GREEN, 2009)

Burgess e Green (2009) ainda explicam que, embora alguns usuários ainda

critiquem o formato de vlog, por tratar-se de um diário pessoal onde o youtuber filma

eventos pessoais e expõem seus desejos, defeitos e ambições, é justamente esta

característica que provoca uma discussão necessária e saudável.

A sociedade e os creators

Cada canal no YouTube normalmente é segmentado por temas específicos.

Neles, é possível fazer assinaturas para receber o conteúdo postado agrupando os

seguidores por interesse. Este agrupamento reforça a ideia que os youtubers podem

sim ser considerados líderes de opinião. Por meio dos comentários, é possível discutir

a respeito dos assuntos postados, concordar, discordar e argumentar com o criador

do conteúdo.

Pesquisa realizada pelo site Meio em Mensagem, em 2015, com jovens entre

14 e 17 anos, dos estados Sul e Sudeste, revela que mais da metade das celebridades

admiradas por esses jovens são youtubers. São levados em consideração nesta

pesquisa alguns critérios como simpatia, engajamento e opinião.

Imagem 03: Youtubers influenciadores

Fonte: Divulgação/Meio e Mensagem

O questionário foi realizado em formato de ranking onde o jovem via uma lista

de pessoas famosas e classificava as que mais admira. A pesquisa também pedia

que os jovens ressaltassem as características mais interessantes nas celebridades.

Como resultado autenticidade ficou com 15%, originalidade, 13%, senso de humor,

13% e inteligência, 12%.

Castells (2004), afirma que as configurações de sociedade em rede, com

grande poder de produção e emissão de informação na sociedade amplia o debate

dos papéis dos meios de comunicação de massa "aumentando as discussões de tom

apocalíptico sobre o fim dos meios de comunicação de massa, entre outras coisas”.

No entanto, Castells (2004) explica que a convergência surge justamente com a

existência das mídias tradicionais e novas tecnologias, gerando assim uma

atualização na forma de comunicar.

McLuhan (1989), ao explicar a transformação da sociedade causada pela

televisão, aprofunda justamente nesta ideia de mudança da sociedade por meio de

uma nova tecnologia que surge na sociedade. Assim como Castells (2004), ele cita a

“atualização na forma de comunicar”. MacLuhan explica que cada meio ou tecnologia

cria um novo ambiente de serviço. “Assim o carro motorizado criou super

autoestradas, subúrbios, postos de gasolina, etc. É esse ambiente de serviço e

desserviço que eu chamo de meio”.

MacLuhan ainda explica que “é este meio que invade e remodela cada aspecto

da vida social e psíquica dos usuários da tecnologia, independente do uso que se dá

para o carro, o rádio ou a televisão”. Ambos autores explicam a transformação da

sociedade em diversos âmbitos conforme a necessidade criada por uma nova

tecnologia. Assim como acontece com os creators, surgiram da necessidade de se

ter produtores de conteúdo alternativo, com linguagem e formatos originais,

desconstruindo o padrão de criação para o audiovisual já existente.

5. Discussão

Youtubers e o audiovisual

O formato do vídeo, takes (tomadas), enquadramentos, cortes e a relação do

produtor com o consumidor são levados em consideração em uma análise de como

os vídeos produzidos por youtubers estão conquistando os consumidores de

audiovisual. Em uma pesquisa realizada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Opinião

Pública e Estatística (IBOPE), cerca de 96% dos jovens brasileiros são internautas.

Deste número, 90% usa a internet para acessar conteúdos de entretenimento

por meio de redes sociais ou assistindo vídeos do YouTube. Jenkins (2009) explica

como este conteúdo tem ganhado mais produtores e consumidores por concentrar em

uma plataforma todo o conteúdo produzido.

Ter um site compartilhado significa que essas produções obtêm uma

visibilidade muito maior do que teriam se fossem distribuídas por

portais separados e isolados. Significa também a exposição recíproca

das atividades, o rápido aprendizado a partir de novas ideias e novos

projetos e, muitas vezes, a colaboração de maneiras imprevisíveis,

entre as comunidades. (JENKINS, 2009, p. 348)

O YouTube também abriga vídeos profissionais produzidos por grandes

empresas que contam com produção, roteiro e técnicas de audiovisual. Mas o

conteúdo aqui analisado é aquele que produzido por iniciativas independentes, sem

muita estrutura, equipamento, roteiro ou técnicas clássicas de filmagem e se

desenvolveram até atingir certo profissionalismo. Assim, analisamos como estes

produtores foram capazes de conquistar números invejáveis com recursos simples.

E alguns destes números estão no site do YouTube11. De acordo com o site,

atualmente o YouTube atinge mais adultos entre 18 e 34 e 18 a 49, do que qualquer

outra rede a cabo dos Estados Unidos. São mais de 88 países e 76 idiomas diferentes.

Além disso o YouTube ajuda os criadores de conteúdos com programas,

oficinas estratégicas administradoras em países como Estados Unidos, Tóquio,

11 Disponível em: https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html

Londres e Brasil. De acordo com o site, “desde março de 2015, os criadores de

conteúdo que filmaram nos YouTube Spaces produziram mais de 10.000 vídeos,

gerando 1 bilhão de visualizações e mais de 70 milhões de horas de exibição”.

Creators e linguagem

Carreira (2015) explica que os creators são capazes de satisfazer

necessidades simples de entretenimento e informação. A liberdade dos temas e

formatos conquistam diversos gostos. “Os youtubers são livres, portanto, para

experimentação. Mesmo com o crescimento da profissionalização entre os produtores

com maior número de visualizações, uma parte considerável procura manter, de forma

estratégica, a aparência de conteúdo audiovisual caseiro” (CARREIRA, 2015, p. 8).

A autora ainda explica que este tipo de formato gera “uma sensação de

proximidade entre o produtor” por mostrar cenários internos de casa e quartos, além

de utilizar linguagem informal.

"Longe de se deixar escravizar por uma norma, por uma "linguagem" no sentido restritivo do termo, cada obra, na verdade, reinventa a maneira de se apropriar de uma tecnologia enunciadora como o vídeo. Neste sentido, as "possibilidades" dessa tecnologia estão em permanente mutação e crescem na mesma proporção de seu repertório de obras". (MACHADO, 1993, p. 17).

E este retorno é notado por meio da análise de vídeos dos canais Jout Jout,

prazer, da youtuber Julia Botelho e do canal Manual do Mundo, do youtuber Iberê

Tenório. O estudo é feito com base em comentários, números de visualizações,

respostas dos youtubers e relevância dos temas abordados nos três vídeos

analisados.

Os vídeos foram analisados baseados na linguagem, formato de gravação,

temas e números disponibilizados pelo YouTube.

No terreno dos modernos meios audiovisuais, "linguagens" não são nunca

fenômenos naturais, como são ou parecem ser (mas isso também é um

assunto muito controverso) as línguas chamadas "naturais", de extração

verbal. Tudo, no universo das formas audiovisuais, pode ser descrito em

termos de fenômeno cultural, ou seja, como decorrência de um certo

estágio de desenvolvimento das técnicas e dos meios de expressão, das

pressões de natureza socioeconômica e também das demandas

imaginárias, subjetivas, ou, se preferirem, estéticas de uma época ou

lugar (MACHADO, 1993, p. 9).

Levamos em consideração a forma de abordagem do youtuber e repercussão

em outras mídias. É feito também uma apuração do formato e técnicas e linguagens

utilizadas nas gravações comparando com programas televisivos, afim de perceber a

diferença entre ambos. A respeito da linguagem, Machado (1993), explica que no

audiovisual, as “linguagens” nunca são fenômenos naturais.

6. Análise dos youtubers: novos formatos e linguagens

Reinvenção de velhos formatos

Com o intuito de entender a grande repercussão, visualização, debates e

compartilhamentos dos creators estudados, é feita a descrição detalhada e análise

dos três vídeos com mais visualizações disponibilizadas pela ferramenta “envios mais

famosos” do YouTube. Observando as categorias: Linguagem e produção, audiência

e repercussão do vídeo, podemos extrair elementos que levaram estes vídeos a

números de visualizações tão significativos.

Em entrevista intitulada Protagonismo na internet, ao canal Marília Gabi

Gabriela, da jornalista Marília Gabriela, perguntada sobre de onde surgiu as

influências para criar o seu canal, e de onde foi extraído o modelo de formato, Julia

explica que sua influência vem do canal Daily Grace da americana Grace Helbig. “É

espontâneo, natural não parece ter roteiros, gostaria de fazer algo semelhante. Os

vídeos que eu conhecia eram mais engessados, roteirizados. Prefiro uma linha de

pensamento mais solta e assuntos aleatórios”, explica.

E são formatos “daily-vlog”, que significa diário, originaram os vlogs. São vídeos

sem edições complexas ou muita produção, onde o youtuber apenas liga a câmera e

fala o que pensa ou os acontecimentos do dia.

Já Iberê Tenório, formado em jornalismo, explicou em entrevista ao canal

“Canal de um Cara só”, que sempre gostou de fazer vídeos. Ele explica que seu

processo de produção de vídeos é semelhante ao jornalismo. “Faço a busca de pauta,

planejo roteiro, cenário e enquadramentos. 90% é comunicação e 10% ciência”,

explica. De acordo com Iberê a apresentação é baseada em formatos televisivos.

O site Inteligemcia12 fez em janeiro de 2016 algumas comparações de

programas da Rede Globo, maior emissora de televisão aberta no Brasil, com canais

do YouTube a fim de esclarecer que os canais que consumimos na web são baseados

em programas e formatos já existente. Assistimos apenas uma maneira aperfeiçoada

de vídeo.

Dentro de uma projeção de um ano, optou-se escolher vídeos os quais

tivessem forte influência do creator em seus seguidores por meio de comentários e

associações externas como participações do creator em programas de televisão ou

em contratos para publicidade. Foram selecionados três vídeos de cada youtuber para

realização desta análise. Utilizando a ferramenta do YouTube em “envios mais

famosos”.

7. Descrição e categorização dos vídeos

Canal: Jout Jout, Prazer

A youtuber brasileira Julia Botelho, Jout Jout, Prazer, mantém um canal de 952.406

inscritos13 . Aos 25 anos, Julia mora em Niterói, Rio de Janeiro, e é formada em

jornalismo. De acordo com a jornalista, seus vídeos não possuem roteiro prévio. Ela

apenas expressa suas opiniões em vídeos com cortes simples e poucas edições. A

maneira natural como se porta em seus vídeos e como ela fala a respeito de vários

temas é um dos fatores característicos do formato daily vlog.

Neles, a jornalista expressa sua opinião ou provoca seus seguidores a refletir

a respeito do assunto. Burgess e Green explicam que, "enquanto o conteúdo buscado

no YouTube vem de uma variedade de fontes, a plataforma conta com seu próprio

12Disponível em: http://www.inteligemcia.com.br/youtube-x-globo/

13Número de inscritos até a data: 12/07/2016

sistema interno de celebridades que se toma como base e reflete valores que não

correspondem, necessária e harmoniosamente aos valores da mídia dominante".

Vídeo 1: Não tira o batom

JoutJout, Prazer – publicado em: 25 fevereiro de 2015

Imagem 04: Vídeo – Não tira o batom (2015)

Fonte: Jout Jout, prazer

O vídeo em questão tem grande apelo e consolidou a youtuber pelo grande

número de compartilhamentos, visualizações e debates em palestras e programas de

auditório. Nele, Julia fala sobre relacionamentos abusivos citando alguns exemplos

vividos por ela e enviados por seus seguidores. Julia expõe a sua opinião sobre o que

considera ser relacionamento abusivo, dando dicas de como identificar e sair de

situações semelhantes.

1. Linguagem e produção:

De maneira informal e descontraída, a jornalista provoca quem a assiste a

refletir sobre o tema. No início do vídeo ela expõe o tema e, apesar de delicado,

completa: “vamos tentar falar disso com bom-humor?” O vídeo foi gravado em uma

sala, aparentemente simples, e com poucos elementos de composição de cenário.

Podemos observar poucos cortes, a divisão é feita em tópicos e quadros com

transições simples.

Alguns recursos sonoros foram utilizados como trilha de fundo e efeitos sonoro

são aplicados nas transições. A linguagem de Julia e o formato dos vídeos analisados

lembram uma conversa descontraída entre amigos, nos vídeos analisados podemos

observar que o formato daily vlog, foge das propostas de programas de televisão com

roteiros, tema definido e divisão extada de quadros.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

Foram 2.053.223 visualizações14, 95.661 curtidas e 3.195 comentários. O

vídeo foi gravado em um momento de grande debate dos temas relacionamento

abusivo e empoderamento feminino. Embora o tema traga grande peso, a linguagem

simples e informal de Julia torna o vídeo mais leve e fluido.

Com sua grande repercussão na web o vídeo foi compartilhado e reproduzido

em fóruns, debates, programas de televisão e palestras. Em fevereiro de 2015 a

youtuber foi convidada para escrever uma coluna na revista Cosmopolitan, e em julho

de 2015 apresentou uma palestra do TEDx15 em Brasília, pelo projeto Parque das

Nações Woman.

14 Os dados dos vídeos foram coletados dia 03/07/2016 e podem variar conforme interação dos

usuários

15 Disponível em: https://www.ted.com/tedx/events/15266

Vídeo 2: Tutorial de como identificar uma família

JoutJout, Prazer publicado em: 4 de junho de 2015

Imagem 05: Vídeo – Como identificar uma família (2015)

Fonte: Jout Jout, prazer

1. Linguagem e produção:

O vídeo foi gravado em formato de tutorial. Com uma dose de sarcasmo o

vídeo, embora curto, é direto e a linguagem da youtuber se assemelha com uma

conversa entre amigos. Percebe-se que não há produção de cenários ou trilha sonora.

No vídeo em questão, Julia fala sobre a composição das famílias. Com muita

ironia, ela questiona como ainda não sabemos identificar famílias e discute sobre a

dificuldade da sociedade em aceitar famílias compostas por membros do mesmo

sexo.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

São 534.803 visualizações, 32.280 gostei, 280 não gostei e 695 comentários.

Nos comentários podemos perceber diálogos entre pessoas que concordam ou

discordam completamente a respeito da opinião da youtuber gerando grande debate

a respeito do tema. No entanto é possível observar que há pouca ou quase nenhuma

interação entre o creator e seus seguidores. Novamente podemos observar que o

vídeo gerou grande debate por conter um tema polêmico. Ganhando espaço nas

redes sociais e jornais.

Vídeo 3: Pensando, Pensei

JoutJout, Prazer publicado em: 24 de setembro de 2015

Imagem 06: Vídeo – Pensando pensei (2015)

Fonte: Jout Jout, prazer

1. Linguagem e produção:

O tema em questão trata de sexismo16 no valor cobrado para shows e festas

no Brasil. Novamente podemos perceber a utilização de linguagem informal e

palavrões.

Neste vídeo, Julia questiona o porquê de algumas casas noturnas cobrarem

um valor inferior para mulheres, destacando o valor desigual do salário entre homens

e mulheres. O cenário passa a ser outro cômodo da própria cada da jornalista.

Podemos observar que, embora não pareça proposital, os cenários rotineiros (sala,

16Atitude de discriminação fundamentada no sexo.

quarto, cozinha), passam a marcar uma identidade da youtuber criando um cenário

próprio dando personalidade e característica aos vídeos do seu canal.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

O vídeo conta com 423.719 visualizações, 28.788 gostei e 153 não gostei, e

2.284 comentários. Cada vídeo foi selecionado com base no apelo do tema o número

de acessos e comentários. É possível observar que o grande número de acessos se

deve justamente em vídeos cujo tema está em grande debate na mídia. Ou seja,

transpõem um assunto discutido em mídias tradicionais para uma plataforma com

maior.

Canal: Manual do Mundo – Iberê Tenório

O Canal Manual do Mundo foi criado pelo jornalista Iberê Tenório em 2008.

Atualmente conta com 6.353.562 inscritos 17. Hoje, o canal tornou-se uma empresa

produtora de vídeos especializada em produção de experimentos criativos.

Atualmente, o Manual do Mundo é o principal how-to-do, com experiências, mágicas

e receitas, do Youtube brasileiro e presta serviços para grandes empresas,

publicidade para o governo, palestras e postagens publi-editorial18.

Em seu site, Iberê Tenório explica que “faz vídeos educativos de treinamento e

para a internet, e produz objetos educacionais digitais para editoras de livros

pedagógicos. Além disso, oferece palestras sobre inovação na educação e bom uso

de recursos digitais nas escolas”. O canal, que hoje é uma grande empresa, segue a

linha de canais de “faça-você-mesmo”.

Conforme o número de acessos foi crescendo, visualizações aumentando, o

youtuber ganhou visibilidade e pode conquistar espaço em outras mídias como a

17 Os números de inscritos, comentários, compartilhamentos foram atualizados no dia 31/07/2016

18Postagem no canal vinculadas a marcas

televisão. As gravações são feitas com equipamentos profissionais, a linguagem,

enquadramentos, cortes e formato é muito semelhante a um programa de televisão.

Diferente do canal da Jout Jout, o Manual do Mundo conta com um

planejamento, com roteiro e montagem de cenário. É possível observar que no início

do canal o jornalista fazia gravações em cenários simples, os vídeos não contavam

com grandes edições.

Em entrevista ao canal “8 Minutos”, o jornalista conta que em 2008, para atingir

um número maior de visualizações os seus vídeos eram feitos sem voz. “No início não

tinha fala, a ideia era que pessoas de outros países conseguissem visualizar, entender

e acompanhar o canal”.

Vídeo 01: Como congelar a água em um segundo

Manual do Mundo - publicado em: 18 de janeiro de 2011

Imagem 07: Vídeo – Como congelar a água em um minuto (2011)

Fonte: Manual do Mundo

1. Linguagem e produção:

Para realizar esta análise, escolhemos três dos vídeos mais acessados no

canal Manual do Mundo. O primeiro deles conta com 12.494.903 visualizações e

13.006 comentários, foi postado em 18 de janeiro de 2011. O vídeo foi regravado em

2013, afim de melhorar a imagem e detalhar o procedimento.

No vídeo o jornalista explica que a gravação anterior, embora tenha feito muito

sucesso, não havia qualidade e técnicas de gravação adequadas para o ano de 2016.

Esta regravação revela a preocupação do youtuber com a qualidade além de destacar

as novas técnicas de visual que foram aprendidas e aperfeiçoadas nestes dois anos

de canal.

Utilizando uma linguagem simples e coloquial, Iberê divide a explicação do

vídeo em quadros com cortes e transições simples. Sua regravação é refeita com

novos ângulos e uma gravação em melhor qualidade. A qualidade de vídeo (agora em

HD), a sequência de filmagem, clareza na explicação, cortes e trilha sonora são umas

das características que foram aperfeiçoadas nos vídeos.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

Neste vídeo, Iberê Tenório ensina como fazer a água congelar em poucos

segundos. Assim como nos demais vídeos, ele explica como ocorre esse

procedimento cientificamente. O formato de vídeo utilizado por Iberê se assemelha a

vídeos como o extinto Telecurso 2000, da emissora Rede Globo. Onde o apresentador

explica didaticamente como é feito todo o processo da experiência, além de ensinar

como a ciência interfere em seu experimento.

Segundo o jornalista, em entrevista ao canal “Programa de um Cara só”, este

formato é proposital e já lhe rendeu a venda de seu conteúdo. O youtuber explicou

que alguns de seus vídeos são vendidos para editoras de livros didáticos, que por sua

vez utilizam os vídeos para ensinar ciências, física e química aos seus alunos.

Vídeo 02: Ovo na garrafa (experiência de Física fácil)

Manual do Mundo - publicado em: 10 de janeiro de 2012

Figura 6 - Ovo na garrafa

Imagem 08: Vídeo – Ovo na Garrafa (2012)

Fonte: Manual do Mundo

1. Linguagem e produção:

O vídeo publicado em janeiro de 2012 conta com 7.584.135 visualizações,

5.511 comentários. Nele, o youtuber mostra novamente como produzir um

experimento simples que trata-se de sugar um ovo com uma garrafa pet. Ao final do

vídeo, ele explica cientificamente como conseguiu fazer este procedimento. O cenário

do vídeo é a sua cozinha, com alguns elementos para a produção do experimento.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

Novamente o formato do vídeo é baseado em programas de televisão onde o

apresentador ensina em quadros experiências ao telespectador. Entre eles o Art

Attack, do canal Disney Junior BR, podemos comparar como programa a linguagem

didática e espontânea, além da divisão de quadros.

Podemos observar como repercussão do vídeo em formato de resposta de

outros youtubers. Boa parte deles são de crianças que conseguiram fazer o

experimento ou professores explicando cientificamente como funciona esta

experiência.

Vídeo 03: Amoeba magnética

Manual do Mundo – publicado em: 13 de junho de 2013

Figura 7 – Amoeba Magnética

Imagem 09: Vídeo – Amoeba magnética (2013)

Fonte: Manual do Mundo

1. Linguagem e produção:

No vídeo o jornalista ensina como fazer uma massinha magnética. O formato

segue o padrão dos vídeos do Manual do Mundo, a sequência de imagens é dividida

em etapas e o vídeo é gravado com roteiro em quadros. Já podemos observar uma

linguagem mais rebuscada e típica de programas televisivos.

Com a mesma linha didática o jornalista apresenta uma produção mais

profissional. Ao fundo, podemos perceber um cenário com ferramentas e elementos

que compõem a cena caracterizando os vídeos e formando uma identidade visual para

o canal.

2. Audiência e repercussão do vídeo:

O terceiro vídeo mais acessado foi publicado em junho de 2013 e conta com

6.923.595 visualizações, 6.635 comentários. Em entrevista ao canal “8 minutos” Iberê

Tenório explica que cada tema é escolhido e planejado para que não haja repetições.

“Buscamos produzir um conteúdo profissional para que ele seja replicado sem cansar

os seguidores”.

E este conteúdo produzido pelo jornalista tem gerado grande repercussão,

além de um bom retorno financeiro. O reflexo desta produção profissional de conteúdo

didático está em; propagandas, vídeos de incentivo ao estudo, comerciais para o

Governo e venda de seu material audiovisual para editoras. Tornando-se a empresa

Manual do Mundo; produtora de conteúdo educativo e de entretenimento.

Dois formatos distintos de sucesso

Com o intuito de entender o sucesso dos dois formatos aqui estudados, criamos

uma tabela para comparar os canais. Para entender como dois creators com temas e

formatos diferentes conseguiram atingir números expressivos na web, tentamos

entrevistar ambos.

No entanto a assessoria de imprensa da Julia Tolezano respondeu que não

concede entrevistas para acadêmicos, devido ao grande número de pedidos. Já o

jornalista Iberê Tenório não respondeu ao nosso contato até o fechamento do artigo.

Por meio de entrevistas recentes é possível observar algumas características para

compará-los:

Tabela 1 - Comparação dos formatos

JOUT JOUT, prazer Manual do Mundo

LINGUAGEM

Linguagem descontraída, gírias e

palavrões. Opiniões ditas com

firmeza e convicção

Linguagem semelhante a alguns

programas como: Telecurso 2000

(Globo) e Art Attcka (Disney).

Didático, com muito embasamento

científico e linguagem

relativamente descontraída.

INTERAÇÃO

Conseguimos observar que a

youtuber interage pouco com

seus seguidores. Tanto no canal

quanto nas redes sociais. Em

entrevista a jornalista explica que

prefere não debater por meio dos

Em entrevista ao Youtube

Academy19 Iberê Tenório revela

que após postar qualquer vídeo ele

gasta cerca de duas horas

19 Canal Youtube Academy: https://www.youtube.com/channel/UCxpP-CIol4wMrQPWcWf0ZjQ

comentários, principalmente em

vídeos com assuntos polêmicos.

respondendo os comentários dos

no canal e nas redes sociais.

PRODUÇÃO

Em entrevista ao canal “Cansei

de ser gato” a youtuber explica

que nunca se preocupou com a

produção ou cenários do vídeo.

Seu intuito sempre foi “parecer

ser descontraído”, e isso virou um

formato, criando a personalidade

do seu canal.

Ainda no Youtube Academy, o

jornalista explica que planejou e

criou um cenário para o Manual do

Mundo. Para “dar cara” ao canal

ele sempre cria um cenário para

cada tema, além de ter um cenário

fixo para os vídeos mais comuns

produzidos pelo canal.

ROTEIROS

E PAUTAS

Julia revela em várias entrevistas

que não produz roteiro e não

seleciona pautas. Ela explica em

recente entrevista ao canal A

Máquina “Apenas sento e gravo”.

Iberê explicou ao Youtube

Academy que mantêm uma rotina

de planejamento para o canal.

Planejo pauta, roteiro e

equipamentos para cada vídeo”.

Tabela 01: Comparação dos formatos

Da WEB para a TV

Os dois canais analisados ganharam grande repercussão saindo da web para a

televisão. O Cartoon Network criou em 2014 uma série de 26 episódios baseados no

canal Manual do Mundo. A série chamada Experimentos Extraordinários misturava

ciência e humor e contava com Iberê Tenório como protagonista. Já em outubro de

2016 a emissora PlayTV estreia o programa Manual do Mundo TV com Iberê Tenório

como protagonista.

A jornalista Julia do canal Jout Jout, já participou de alguns programas como

Programa do Jô e foi palestrante no TEDx. Em entrevista a Folha de São Paulo20, a

20 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/231146-na-tv-as-coisas-passam-na-

internet-te-buscam.shtml

youtuber contou que foi convidada para ter um programa de televisão, porém,

recusou: "Tô nesse momento de internet, de falar o que quero, do jeito que quero e

com a produção que eu quiser, seja de pijama ou sem sutiã. Não quero ninguém

falando o que tenho que falar”.

De acordo com a youtuber a produção na internet é “fácil e rápida”

"Na TV você tem que conhecer alguém que te ache muito maravilhosa. TV é

complicado, a internet é mais ‘underground’. As pessoas vão lá porque elas querem,

e na televisão as coisas estão passando. Na internet, as pessoas te buscam”.

8. Considerações finais

Estamos vivendo uma das maiores revoluções cultural, criativa, midiáticas e

comportamental da humanidade. O poder da audiência hoje não está mais ligado em

qual mídia tem mais recursos financeiros. Ou seja, qualquer pessoa que dispõe de

internet e uma câmera pode ter voz e está voz pode ser alcançada por milhares de

pessoas. É nítida a transformação na maneira que consumimos informação bem como

os vídeos na última década.

Após a ascensão da internet, as configurações de uma sociedade em rede,

com grande poder de produção e emissão de informação, na sociedade ampliam o

debate dos papéis do consumidor da mídia (Castells, 2004). A jornalista Julia

Tolezano, analisada neste artigo tem como principal característica vídeos a emissão

de sua opinião a respeito de diversos temas. Seu crescimento foi notório no ano de

2015. Percebe-se a criação de novos quadros, melhora na dicção, cenários e parceria

com anunciantes.

Já o youtuber Iberê Tenório, consolidou-se como o principal canal de how-to do

do Brasil. Seu trabalho vem se profissionalizando desde 2008. E embora seu formato

pareça com programas de televisão, não deixa de ser atual e dinâmico para estar na

internet. O jornalista sempre inova, publicando experiências novas e isso atrai a

atenção e o interesse de seus seguidores e anunciantes.

O universo online dos creators tem tomado forma de acordo com a vivência e

experiências entre produtores e consumidores, ou a fusão entre eles os creators. Por

meio da análise dos vídeos conseguimos perceber uma maior interação e visualização

destes conteúdos produzidos por creators. E, embora com formatos distintos, ou

casos analisados no presente artigo conseguiram manter-se entre os influenciadores,

erando debate, repercussão e influência e renda fixa com os vídeos produzidos.

O meio online gera influência nos produtos que consumimos e nos debates

antes unilaterais das mídias de massa. Este é, de fato um universo rico no campo da

comunicação pois envolve modelos de negócios, relações sociais, e desenvolvimento

da sociedade como um todo.

É possível perceber o quanto o crescimento do universo dos youtubers,

juntamente com novos formatos e linguagens nos proporcionam novas possibilidades

consumir de conteúdo e interagir com eles. Hoje, podemos assistir diversos temas,

opinar, aprender e ainda responder no mesmo formato que assistimos, ou seja: em

vídeo.

Podemos observar que os creators analisados, ganharam ao longo de um ano

notoriedade e audiência invejável por grandes emissoras. Após as análises feitas

neste artigo é possível afirmar que esta grande ascensão ocorreu devido a linguagem

informal, interação com os seguidores, frequência de postagens e comprometimento.

E esta linguagem não precisa ser necessariamente roteirizada ou amparada de

uma grande produção. Trata-se de uma conversa de igual para igual, da boa utilização

da linguagem informal. Ou seja, a empatia transmitida por vídeo gera a aproximação

entre emissor e receptor além de ampliar e dar palavra a todos.

9. Referências

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.

IBOPE esquisa realizada em 2015.IBOPE. Disponível em:

<http://www.ibopeinteligencia.com/>. Acesso em: 11 de julho de 2016-07-11.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo. Paz e Terra, 2005.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Editora Aleph, 2009.

GREEN, Joshua; BURGESS, Jean. YOUTUBE e a revolução digital. São Paulo: LAEPH,

2009.

MEIRA, Sílvio. A nova indústria cultural. Disponível em:<http://smeira.blog.terra.com.br>.

Acesso em: 02 de abril de 2016-05-02.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Ação

Política. Brasil: Paz e Terra, 2005.

DORNELLES, Juliano Paz Suzana. O fenômeno vlog no youtube: análise de conteúdo de

vlogguers brasileiros de sucesso. Dissertação – Faculdade de comunicação social,

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2015.

CARREIRA, Krishma. Youtuber e conteúdo audiovisual propagável.

Simpósio internacional de tecnologia e narrativas digitais. Encontro de grupos e redes de

pesquisa em comunicação e tecnologia. Minas Gerais, 2015.

SECOM divulga Pesquisa Brasileira de Mídia 2015. SeCom Gov. Disponível em:

<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa>. Acesso em: 02 de abril de 2016-05-02.

JOUTJOUT, PRAZER. Não tira o batom vermelho, Pensando, Pensei,

Como identificar uma família. Disponível em:

<https://www.youtube.com/channel/UCbE7YGLZ-VY0oCgIsCSJ5Sg> Acesso em: 02 de abril

de 2016-05-02.

CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura.

In: A Sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000.

Estatísticas. Youtube Estatísticas. Disponível em:

<https://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html> Acesso em: 02 de abril de 2016-05-

02.

Consumo semanal de mídia. IAB - Interactive Advertising Bureau. Disponível em:

<http://iabbrasil.net/index> Acesso em: 02 de abril de 2016-05-02.

CARREIRA, 2015. http://www.labcomdata.com.br/wp-

content/uploads/2015/12/CarreiraKCPaperVersa%CC%83oFinal.pdf