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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES CURSO DE DIREITO CÍCERO ROBERTO BEZERRA DE LIMA ASPECTOS CRÍTICOS DO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DO CEARÁ FORTALEZA 2013

ASPECTOS CRÍTICOS DO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO … CRITICOS... · do sistema prisional brasileiro, investigando aspectos negativos na administração da massa carcerária no Estado

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES

CURSO DE DIREITO

CÍCERO ROBERTO BEZERRA DE LIMA

ASPECTOS CRÍTICOS DO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DO CEARÁ

FORTALEZA 2013

CÍCERO ROBERTO BEZERRA DE LIMA

ASPECTOS CRÍTICOS DO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DO CEARÁ

Monografia submetida à aprovação

da Coordenação do Curso de Direito

do Centro de Ensino Superior do

Ceará, como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em

Direito, sob a orientação de

conteúdo do Professor Nilton

Alencar de Oliveira Filho. .

FORTALEZA

2013

DEDICATÓRIA

“Dedico essa nova conquista aos meus amigos do

período acadêmico, aos Eméritos Professores

que me ajudaram a trilhar essa nova fase de

minha vida, e aos amigos de trabalho que sempre

me ajudaram na falta de tempo, emprestando-me

um pouco do que dispunham, para me dedicar

aos estudos.”

AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao Autor, Construtor e Artífice de todo o Universo, a Ele

seja dada toda a glória e os louvores para todo o sempre. Obrigado, Senhor, por

me capacitar e propiciar esse momento indescritível de minha vida.

À minha querida mãe Edilce, que teve garra para suprir as ausências

de meus falecidos pai e irmão, por todas as dificuldades que enfrentou e nunca

recuou visando nos dar o melhor... “Mamãe, você realmente se anulou para nos

agraciar com uma belíssima educação e formação do nosso caráter. Obrigado por

ter-nos dado a vida”.

Às minhas irmãs Simone e Suênia, que sempre acreditaram em mim e

me deram o braço amigo nas horas das dificuldades.

A todos os meus familiares, pelo carinho, respeito e admiração. Que o

Senhor em graças abençoe a todos.

Aos amigos que conquistei durante o período acadêmico, foi uma

honra tê-los por perto na construção do saber. Nossa intenção agora é a busca da

construção de um país menos desigual. Onde quer que estejamos, demos as

mãos para que se construa uma sociedade mais fraterna.

Ao meu orientador, Professor Nilton Alencar, pela atenção dedicada e

por ter acreditado na construção deste trabalho.

Aos meus amigos da gloriosa Polícia Militar do Ceará, da qual pertenço

às fileiras, por ter-lhes furtado tempo, local de trabalho e compreensão para fazer

uso do mínimo tempo disponível para conseguir a conclusão desse curso.

Em especial, à minha querida esposa, pela compreensão ao longo

desses cinco anos, em ter demonstrado companheirismo, amor e paciência por

conta dos compromissos acadêmicos e muito trabalho dispendido. A você,

aplausos de pé, por sempre interceder por mim ao Pai Criador para me guardar

de todas as investidas adversas e por ter me mostrado o caminho do verdadeiro

amor, dando-me o mais lindo, meigo e gracioso presente: a nossa filha Ámabille

Luíza. Papai a ama intensamente.

“Não importa o que você queira alcançar,

Qual troféu quer conquistar,

Que atleta você é.

Use o amor, a força e a fé.

Vai buscar teu Sonho

Vai buscar teu Sonho

Deus contigo é.

Já são tantas madrugadas sem dormir,

Já pensou em desistir,

Tanto esforço que já fez,

Vale a pena prosseguir.

Vai buscar teu Sonho

Vai buscar teu Sonho

Vou torcer daqui.

Deus não fez super heróis

Neste mundo de mortais

Mas Deus te fez capaz

Você é capaz

Acredite, amigo, vai...

Se você quiser vencer, tem que competir.

Se quiser acontecer, tem que prosseguir.

Busque a Deus em oração, portas vão se abrir.

Levante-se desse chão, você vai conseguir.

Quer vencer, quer chegar

Vou torcer, pra ver você brilhar ♪"

(Daniel & Samuel)

RESUMO

O presente trabalho investiga a ressocialização do preso provisório e

definitivo no Estado do Ceará. Para o intento, faz-se uma análise do atual sistema

carcerário brasileiro e da sua necessidade de cada vez mais abrigar presos,

sejam criminosos primários ou reincidentes, o que demonstra que há falha na

execução das diretrizes previstas na Carta Magna pátria e na legislação especial

criada para tratar do assunto, a Lei 7.210, Lei das Execuções Penais (LEP).

Sendo assim, pode-se dizer com propriedade que o tema em análise é de

extremo interesse para a sociedade, em vista do caos pelo qual passa a

segurança pública no cenário nacional, por falta da efetividade da legislação

direcionada à matéria. Talvez por desinteresse público ou mesmo por outras

prioridades desse, é que o sistema prisional está abarrotado de apenados e

daqueles que esperam julgamento. Vários são os fatores que evidenciam a

gritante necessidade de se aplicarem políticas públicas emergenciais com o

intuito de dirimir a questão em comento. Nesse sentido, a presente análise traz

em foco a inefetividade dessa citada legislação por não concretizar os direitos e

deveres do preso. Assim, o objetivo principal deste trabalho é investigar a

efetividade ou infetividade da Lei de Execuções Penais no Estado do Ceará. A

metodologia utilizada para que se buscasse a resposta foi o método dedutivo, vez

que a premissa necessita de intensa investigação a fim de explicar o fenômeno

estudado e ratificar todo o apanhado.

Palavras- Chave: Ressocialização. Sistema carcerário. Inefetividade da Lei.

ABSTRACT

This paper investigates the rehabilitation of the prisoner and provisional difinitivo in

Ceará. For this purpose an analysis is made of the current Brazilian prison system

and its need to increasingly accommodate prisoners, criminals are this primary or

reeincidentes, which shows that there is a failure ana implementing the guidelines

laid down in the Charter homeland and created special legislation to address the

issue, the law of Penal Execution law 7210 (LEP). Thus, one can say that the

subject property in question is of interest to society, in view of the chaos that goes

to public safety on the national scene and lack of effectiveness of the legislation

directed the matter. Perhaps public disinterest or even other priorities of this is that

the prison system is overflowing with convicts and those awaiting trial. There are

several factors that highlight the glaring need to apply emergency public policies in

order to settle the matter under discussion. In this sense the present analysis

brings into focus the ineffectiveness of this legislation cited for not realizing the

rights and duties of the prisoner. Thus, the main objective of this work is to

investigate the effectiveness and infectivity of Penal Execution Law in the State of

Ceará. The methodology used to seek the answer that was the deductive method,

since the premise requires intensive investigation in order to explain the

phenomenon studied and ratify all caught.

Key Words: resocialization. Prison system. Ineffectiveness of the law.

LISTA DE TABELAS

01. Presos no Estado do Ceará - julho de 2008 ..............................................67

02. Presos no Estado do Ceará - julho de 2009 ..............................................67

03. Presos no Estado do Ceará - julho de 2010 ..............................................67

04. Presos no Estado do Ceará - julho de 2011 ..............................................67

05. Presos no Estado do Ceará - junho de 2012 ........................................... 67

06. Presos no Estado do Ceará - junho de 2013 ........................................... 68

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF Constituição Federal LEP Lei das Execuções Penais CPPL Casa de Privação Provisória de Liberdade CP Código Penal CPP Código de Processo Penal CNPCP Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

SEJUS-CE Secretaria de Justiça do Ceará DOU Diário Oficial da União CISPE Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

1. O DIREITO DE PUNIR .......................................................................................... 16

1.1 Das penas e suas origens ............................................................................... 17

1.1.2 Fases da vingança privada, vingança divina e vingança pública ................... 18

1.2. Das prisões ............................................................................................... 19

1.2.3 Da implantação do sistema de prisão ...................................................... 21

1.2.4 Dos modelos criados ............................................................................... 22

1.2.5 Espécies de pena e teoria adotada no Brasil ........................................... 23

1.2.6 Teorias absolutas ..................................................................................... 24

1.2.7 Teorias relativas ....................................................................................... 24

1.2.8 Teorias mistas .......................................................................................... 25

2. AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DOS PRESOS ......................................... 26

2.1 Do rol de garantias insertas na Constituição Federal ........................................ 28

2.2 Da Lei de Execuções Penais ............................................................................ 30

3. DOS DIREITOS DOS PRESOS ............................................................................ 32

3.1 Princípios e garantias constitucionais ............................................................... 34

3.2 Do exequente ................................................................................................... 36

3.3 Do executado .................................................................................................... 37

3.4 Pressupostos e objetivos da execução penal .................................................. 38

3.5 Execução dos presos provisórios .................................................................... 40

3.6 Da classificação do apenado ........................................................................... 42

3.7 Do exame criminológico ................................................................................... 41

3.8 Da classificação e da individualização da pena ............................................... 43

4. DA ASSISTÊNCIA AO PRESO ............................................................................. 44

4.1 Das modalidades de assistência previstas na LEP .......................................... 45

4.2 Da assistência material ..................................................................................... 45

4.3 Da assistência à saúde .................................................................................... 46

4.4 Da assistência jurídica ..................................................................................... 48

4.5 Da assistência educacional ............................................................................. 48

4.6 Da assistência social ........................................................................................ 49

4.7 Da assistência religiosa ................................................................................... 50

4.8 Da assistência ao egresso ............................................................................... 51

5 DO TRABALHO DO PRESO .................................................................................. 53

5.1 Generalidades ................................................................................................. 54

5.2 Do trabalho interno .......................................................................................... 54

5.3 Do trabalho externo .......................................................................................... 55

6 PESQUISA ............................................................................................................ 57

6.1 Entrevista concedida pelo Sr. Elenildo Braga - Diretor Adjunto da Casa de

Privação Provisória de Liberdade – CPPL II ........................................................... 58

6.2 Entrevista a uma empresária do ramo de serviços terceirizados ..................... 62

6.3 Entrevista a um ex- detento do sistema carcerário cearense .......................... 62

7 A REALIDADE CARCERÁRIA NO ESTADO DO CEARÁ ..................................... 63

7.1 Dos estabelecimentos penais existentes ......................................................... 64

7.2 Massa carcerária e sua evolução em quantitativos no período de 2008 à

2013 ........................................................................................................................ 66

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 69

8.1 Das possíveis soluções para o problema ........................................................ 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 72

ANEXOS ................................................................................................................... 73

13

INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem por escopo analisar a deficiência

do sistema prisional brasileiro, investigando aspectos negativos na administração

da massa carcerária no Estado do Ceará, frente à previsão existente na Lei de

Execução Penal (LEP), demonstrando que a sua aplicabilidade não funciona de

forma satisfatória e não contribui para a reinserção plena dos presos egressos na

sociedade cearense, fato causado, dentre muitos fatores, pela falta de

profissionalização da massa carcerária somada à falta de incentivos fiscais à

iniciativa privada.

Esse é o grande desafio proposto pelo presente trabalho: fazer uma

investigação sobre determinados conceitos dos aspectos gerenciais do Estado

garantista, analisando seus arcabouços jurídicos e sistematizando sua

aplicabilidade no ordenamento jurídico pátrio.

Embora de um modo comum se pense que o encarceramento seja o

meio eficaz de se promover a justiça e dar uma resposta aos anseios da

sociedade no que toca à segurança pública, na ideia de viver em democracia

encarcerar não é a regra, mas sim excepcionalidade.

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece como

Direito Fundamental do indivíduo a liberdade de locomoção em todo o território

nacional (Art. 5º, XV), assegurando-lhe o direito de ir, vir e permanecer.

Portanto, a regra é a liberdade, a exceção é a sua privação nos termos

da Lei. Criado o Direito (liberdade de locomoção), o legislador constituinte

concede a garantia: o habeas corpus. Por isso temos direitos e garantias.

Para se justificar o intróito, faz-se necessário trazermos o conceito de

prisão no magistério, de JULIO FABBRINI MIRABETE :

14

“a prisão em seu sentido jurídico é a privação da liberdade de locomoção, ou seja, o direito de ir e vir, por motivo ilícito ou por ordem legal”

Já Fernando da Costa Tourinho Filho traz uma acepção mais simplória,

ao definir prisão “como privação mais ou menos intensa da liberdade de ir e vir”.

Para que haja a privação dessa liberdade, como a própria Constituição

esclarece, a Lei estabelece os casos em que será possível. Do contrário, haverá

gritante ilegalidade no ato de constrição.

Assim, a Carta Maior, ao garantir como direito que somente haja prisão

em flagrante delito, ou por ordem escrita e fundamentada do Juiz competente,

garante também que ninguém será levado a ela se a Lei admitir liberdade

provisória com ou sem fiança. (Art. 5º, LXI e LXVI da CF).

In verbis:

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por

ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária

competente, salvo nos casos de transgressão militar ou

crime propriamente militar, definidos em Lei.

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido,

quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem

fiança;

Para desenvolver este trabalho, os métodos utilizados foram a

pesquisa doutrinária, a pesquisa em livros, em periódicos, sobre as garantias

constitucionais do preso previstas na Constituição da República Federativa do

Brasil e na Lei de Execuções Penais editada com o número Lei nº 7.210, de 11 de

julho de 1984, e pesquisa in loco à Casa de Privação Provisória de Liberdade –

(CPPL II).

15

Serão também mencionados estudos estatísticos pesquisados no site

da Secretaria de Justiça do Estado do Ceará – (SEJUS), corroborando com

entrevistas a um ex-detento do sistema prisional, um diretor de estabelecimento

penitenciário e uma empresária do ramo de terceirização de serviços de porteiro e

zeladoria.

Desse modo, esta monografia é composta de oito capítulos. O primeiro

capítulo discorre sobre o Jus Puniendi estatal; o segundo e terceiro capítulos

falam sobre as garantias constitucionais do preso; o quarto capítulo traz à baila as

modalidades de assistência ao preso previstas na LEP; o quinto capítulo relata as

modalidades de trabalho do preso; o sexto capítulo apresenta a pesquisa

realizada no estabelecimento penal e as entrevistas com o diretor adjunto da

CPPL II, com uma empresária e um ex-detento; o sétimo capítulo traz a realidade

em números da massa carcerária no Estado do Ceará e, por fim, o oitavo

capítulo, com as considerações finais sobre o tema proposto.

16

1 O DIREITO DE PUNIR (JUS PUNIENDI)

Jus Puniendi é o direito exercido pelos órgãos da persecução penal

diante da ocorrência de uma infração penal, visando manter a paz social, no

sentido de preservar a ordem e a convivência na sociedade como um todo. O

fundamento do poder punitivo é a supremacia geral, comando que o Estado

exerce sobre todas as pessoas e bens do território nacional. O poder punitivo

estatal, norteado pelo processo penal, é regido pelo Direito Penal. (MESSA, Ana

Flávia. Prisão e liberdade. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2009, p. 26).

Na lição do Mestre Frederico Marques:

O Estado, no processo, torna efetiva, por meio dos poderes jurisdicionais

de que estão investidos os órgãos judiciários, a ordem do direito, pena com que

assegura a aplicação de suas regras e seus preceitos. (elementos. São Paulo,

Boorseller, vol 1, 1997, p. 68).

O Estado, sendo o titular do Jus Puniendi, tem na realidade o poder, o

dever de punir. Em épocas passadas, uma série de instituições foram suas

titulares, mas na atualidade o Jus Puniendi é intransferível, indelegável e não

suscetível de ser compartilhado por uma pluralidade de titulares. O Jus Puniendi

pode ser definido como direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no

preceito secundário da norma penal incriminadora contra quem praticou a ação ou

omissão descrita no preceito primário, causando dano ou lesão jurídica. Pode ser

chamado também de Direito poder-dever de punir do Estado, já que não é só uma

faculdade que o Estado tem de punir, mas também uma obrigação.

1.1 Das penas e suas origens

O conceito de pena, conforme define FERREIRA, é

17

“A punição imposta ao contraventor ou delinqüente, em processo judicial

de instrução contraditória, em decorrência de crime ou contravenção que

tenha cometido com o fim de exemplá-lo e evitar a prática de novas

infrações” (FERREIRA, 1989, p.1070).

As penas começaram a ser aplicadas ainda nos primórdios, nas

origens da humanidade, mais precisamente no período da vingança privada,

quando ainda não existia um organismo de princípios gerais que evidenciasse a

necessidade de cumprimento das normas.

Podem se distinguir diversas fases de evolução da vingança penal,

como a vingança privada, a vingança divina e a vingança pública, fases que não

se sucedem umas às outras, mas convivem umas com as outras.

1.1.2 Fases da vingança privada, vingança divina e vingança pública

Nessa fase, quando se cometia um crime, logo ocorria a reação da

vítima, dos seus parentes ou mesmo do grupo social a que pertencia, que não se

contentava em atingir somente o ofensor, mas todo o seu grupo. Não havia a

ideia de proporcionalizar o mal cometido.

Tratava-se de uma forma natural e instintiva de reagir aos ataques do

inimigo, não se consolidando como instituição jurídica, mas como mero fato

sociológico transitório.

Assim, foram criadas duas grandes e importantes regulamentações, a

Lei de Talião e a de Composição, consistindo em aplicar no delinquente ou

ofensor o mal que ele causou ao ofendido, na mesma proporção. (CANTO, 2000,

p. 8).

18

Através da Lei de Composição, o ofensor comprava sua liberdade com

dinheiro, gado, armas etc. Adotada, também, pelo Código de Hamurabi (Babilônia

2.300 a.C.) e de Manu (Índia 2.300a.C.), foi largamente aceita pelo Direito

Germânico, sendo a origem remota das indenizações cíveis e das multas penais.

(OLIVEIRA, 2001p. 21).

No tocante à vingança divina, é uma fase caracterizada pelos desejos

de pacificação e justiça proporcionados pela vontade das divindades, por meio da

grande influência que as religiões antigas tinham na vida dos povos antigos.

A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que,

como mandatários dos deuses, encarregavam-se da justiça. Aplicavam- se penas

cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usada como meio de intimidação.

(CANTO, 2000, p. 12).

Já a vingança pública é marcada pela fase iluminista, pela influência de

diversos pensadores e pelo desenvolvimento do poder político. A pena perde o

seu caráter sacro para ganhar a forma de uma sanção imposta por uma

autoridade pública, que representava os interesses da coletividade, passando a

sua aplicabilidade e imposição da figura do sacerdote ou do ofendido, como

outrora, para um ente soberano, na figura de um rei ou príncipe. Aqueles

exerciam sua autoridade em nome de Deus e cometiam diversas arbitrariedades.

(COSTA, 1999, p. 05).

As penas cruéis eram bastante aplicadas, como a mutilação do

condenado e o confisco de seus bens, até extrapolar alguns limites, atingindo os

familiares daquele tido como culpado. Tempo de desespero, noite de trevas para

a humanidade, Idade Média do Direito Penal... Vai raiar o sol do Humanismo.

(LINS e SILVA, 2001. P.13).

19

1.2 Das prisões

Sobre as prisões, salutar faz-se mencionar que nas eras medievais as

masmorras eram os acomodatários dos acusados que aguardavam as execuções

de suas penas, funcionando como fim e não como meio de proporcionar a

vingança estatal pelo mal retribuído.

A prisão é tema mais moderno, entendida apenas a partir do século

XVIII, como elemento chave de importantes mudanças acontecidas no sistema

penal ao longo da história.

Com o surgimento do capitalismo, constitui-se a pena por excelência,

em meio ao estado de pobreza que se alastrou e afetou diversos países. O

Estado, responsável já nesta época por regular o convívio social por meio de

normas para tornar possível a perpetuação humana, estabeleceu normas para

regular a convivência entre as pessoas e as relações dessas com o próprio

Estado.

Na hipótese de lesar ou por em perigo o direito alheio, o Estado, cuja

finalidade é a consecução do bem comum, investiu-se, como já aludido, do direito

de punir, instituindo sanções penais contra o infrator.

Na conceituação de NESTOR TÁVORA e ROSMAR RODRIGUES

ALENCAR (2010 p. 515):

A prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, é o

encarceramento. Pode advir de decisão condenatória transitada em

julgado, que é a chamada prisão pena, regulada pelo Código Penal, com

o respectivo sistema de cumprimento, que é verdadeira prisão

satisfativa, em resposta estatal ao delito ocorrido, tendo por título a

decisão judicial definitiva.

20

Apesar das menções do gênesis bíblico às prisões, os primeiros

“depósitos de presos” surgiram apenas no séc. XVII a. C. Eles serviam para a

custódia dos escravos que pertenciam aos homens livres egípcios. Porém,

apenas no séc. VI a C. é que as prisões passaram a ser utilizadas

ostensivamente.

Isso ocorria quando os lavradores eram requisitados para construir as

obras públicas e cultivar as terras do faraó, proprietário de toda a terra do Egito e

toda a riqueza, que repousava no trabalho dos lavradores. Quem não

conseguisse pagar os impostos ao faraó, em troca de construção de obras de

irrigação e armazenamento de cereais, tornava-se escravo.

Assim como no Egito, na Grécia, na Pérsia e na Babilônia, o ato de

encarcerar tinha como finalidade conter, manter sob custódia e tortura os que

cometiam faltas ou praticavam, o que para a antiga civilização, fosse considerado

delito ou crime. (MISCIASCI, revista ZAP).

1.2.3 Da implantação do sistema de prisão

Observando-se as palavras de Michel FOUCAULT (FOUCAULT, 1996

p. 208), quando analisa o papel das prisões, pode-se notar que elas possuem um

sentido que equaliza seus efeitos, uma vez que:.

Como não seria a prisão, a pena por excelência, numa sociedade em

que a liberdade é um bem que pertence a todos da mesma maneira e ao

qual cada um está ligado por um sentimento universal e constante. Sua

perda tem, portanto, o mesmo preço para todos.

Conforme concebido por tal autor, a prisão afasta o dilema das classes,

comum nas interpretações marxistas de sociedade. Além disso, a liberdade é um

elemento tão relevante, que todo indivíduo a possui, independentemente de

qualquer outra condição. Assim sendo, para Foucault, ela é uma condição

21

comum, que deve ser a única determinante das punições dos indivíduos que

cometem infrações e geram danos a outrem.

1.2.4 Dos modelos criados

O objetivo do cárcere era a segregação, e não a ressocialização, já que

os condenados eram vítimas das mais cruéis barbáries, tendo seus membros

amputados e sendo condenados ao trabalho escravo ou mesmo a perder a vida.

O sistema Filadélfia desponta como o primeiro modelo criado em

meados de 1790. A metodologia utilizada era o isolamento e a leitura diária da

Bíblia Sagrada, para que despertasse a reflexão pelos maus atos praticados,

estimulando o arrependimento. Segundo Carvalho Filho (2002, p.25), “o protótipo

do sistema” foi instituído em Walnut, na Filadélfia.

Em meados de 1820, em Nova Iorque, adota-se, em contraposição ao

sistema filadelfiano, um novo parâmetro ao trato dos encarcerados. É o sistema

AUBURNIANO, em que os encarcerados podiam viver em comunidade durante o

dia e voltavam ao isolamento durante o período noturno.

Esse trabalho diurno era desenvolvido no mais absoluto silêncio,

contrariando as intenções do sistema filadelfiano em que vigorava a intenção do

preso fazer reflexão sobre os erros cometidos, enquanto que o auburniano

buscava essa transformação através do silêncio, do trabalho e do isolamento.

Ambos os sistemas iniciais eram falhos, pois não contribuíram para a

conscientização humana de participar da construção de uma sociedade justa,

fraterna e pluralista, como preconizam os mais variados mandamentos

internacionais.

Foi a partir da crítica emergida pelos modelos fracassados que o

Coronel Manoel Montesinos Y Molina inovou, quando em 1834, foi nomeado

diretor de um presídio em San Augustin, em Valência. Sua inovação trazia a ideia

22

de que a dignidade do preso seria respeitada, não havendo mais a exploração

pelo trabalho, passando esse a ser remunerado pelo dispêndio laboral. Esse

modelo ficou conhecido como MONTESINOS e nele o Código Penal Brasileiro

reconheceu o instituto do Livramento Condicional¹.

Em 1846, foi criado, na Europa, o sistema considerado mais adequado,

o chamado sistema PROGRESSIVO, que distribuía o cumprimento da pena em

etapas distintas e alcançadas por mérito do sentenciado.

O isolamento era o primeiro passo, seguido de trabalho pesado. Com

seu comportamento e o seu trabalho, ia adquirindo uma espécie de crédito ou

vales, que possibilitavam o ingresso no terceiro momento, sendo beneficiado com

uma liberdade relativa. Já a conquista para a quarta fase dependeria da não

revogação dessa última, podendo chegar ao benefício da liberdade definitiva.

Segundo Foucalt (1985, p. 204 apud Walters, 2003), em sua obra Vigiar e

Punir, “a ordem que deve reinar nas cadeias pode contribuir fortemente para

regenerar os condenados, os vícios da educação, o contágio dos maus exemplos,

a ociosidade” [...].

1.2.5 Espécies de penas e teoria adotada pelo Brasil

O Código Penal Brasileiro, com a redação dada pela Lei nº 7209 de

11/07/1984, adota, em seu Artigo 32, as espécies de penas que podem ser

aplicadas aos sentenciados pelo cometimento de crimes ou contravenções

penais.

Art. 32 - As penas são:

I - privativas de liberdade

II - restritivas de direitos

III - de multa

________________________________________

¹ OLIVEIRA. Odete M. Prisão: um paradoxo social. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2003, p..58

23

Apresentam-se, classicamente, tentando explicar a finalidade da pena

e, por via de consequência do Direito Penal, as seguintes teorias:

Teoria absoluta: pune-se porque pecou (retributiva).

Teoria utilitária ou relativa: pune-se para que não peque (preventiva).

Teoria mista: pune-se porque pecou e para que não peque (retributiva e

preventiva).

1.2.6 Teorias absolutas Teorias absolutas ou retribucionistas são aquelas de caráter retributivo, ou

seja, a finalidade da pena é a expiação do delito, portanto caracterizadas pela

retribuição e reparação. Essa teoria foi concebida sob a influência dos povos

orientais e da teologia cristã, que por sua vez foram a base do Direito Penal. Tem

um caráter predominante de castigo.

A expiação é um imperativo categórico, segundo Kant, apud PIMENTEL P.

179, devendo ser imposta para atender a uma exigência ética, sendo reparação

de ordem moral que serve somente à justiça. Para Hegel, o castigo não era

reparação de ordem ética, mas de natureza jurídica: “o crime é a negação do

direito e a pena é a negação jurídica do crime, restabelecendo o equilíbrio

desfeito pela prática da infração penal”.

1.2.7 Teorias relativas

As teorias relativas ou utilitaristas, segundo Manoel Pedro Pimentel

(1983, p. 178), apontam como finalidade fundamental da pena seu sentido

utilitário e preventivo, em que “a pena deve ser aplicada por ser útil e necessária à

segurança da sociedade e à defesa social”. O delito já não é mais fundamento da

pena, mas seu pressuposto. “Não se castiga porque pecou, mas para que não

peque”.

24

A imposição da pena torna-se eficaz, devendo ser levada em conta

pelos seus efeitos prováveis e seus efeitos políticos e sociais utilitários. As teorias

relativas podem classificar-se em dois grupos: preventivas e reparadoras.

As teorias preventivas mostram o cunho preventivo da pena, para

evitar delitos futuros, enquanto as reparadoras pretendem, como fim da pena,

corrigir consequências danosas do ato perpetrado.

As teorias preventivas, por sua vez, podem agir como uma prevenção

geral ou especial. A prevenção é geral quando a sanção configura o modo de

evitar as violações futuras, agindo sobre toda a coletividade. A pena tem por

finalidade impedir, através da intimidação, a prática de delitos.

A prevenção especial atua sobre o criminoso pela intimidação de sua

personalidade. A pena tem uma única referência: intimidar o delinquente que

cometeu um crime. A execução da pena é entendida como meio adequado para

evitar a reincidência dessa pessoa, além de ser um instrumento de sua

ressocialização.

1.2.8 Teorias mistas

A teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, em seu Artigo 59, é

chamada de Teoria Mista ou Unificadora da Pena. Justifica-se essa teoria pela

necessidade de conjugar os verbos reprovar e prevenir o crime. Assim sendo,

houve a unificação das teorias absoluta e relativa, pois essas se pautam,

respectivamente, pelos critérios da retribuição e da prevenção do mal cometido

(punitur quia peccatum est et ne peccetur).

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;

25

IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

Segundo José M. Rico, citado por Maria Odete de Oliveira, (id.

ibid.p.65):

Todas essas teorias tem correspondência com a evolução geral da pena.

Ao período primitivo da vingança privada, embasado na repressão e na

composição, sucede o período humanitário que, por sua vez, sucede

àqueles cujas bases são a expiação, a emenda ou a correção do

culpado e, finalmente, o período contemporâneo ou cientifico, que segue

insistindo no poder intimidante da pena, levando, porém, cada vez mais

em consideração a ressocialização do delinquente.

As teorias mistas ou unificadoras, predominantes na atualidade, tentam

agrupar em um conceito único a ideia de retribuição jurídica da pena, com os fins

de prevenção geral e de prevenção especial. Essa corrente tenta recolher os

aspectos mais destacados das teorias absolutas e relativas e superar as

deficiências individuais de cada teoria.

Assim, a pena estaria representando uma retribuição do injusto

realizado mediante compensação da culpabilidade, da prevenção especial

positiva, através da recuperação do autor, além da prevenção especial negativa,

como segurança social pela neutralização do delinquente, e também a prevenção

geral negativa, mediante a intimidação de criminosos em potencial e, finalmente,

a prevenção geral positiva, como reforço da confiança na ordem jurídica.

26

2 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PRESO NO BRASIL

Norteada pela Declaração dos Direitos Humanos, de 1948, na qual o

Brasil passou a ser signatário em meados de 1949, com o intuito de construir uma

sociedade fraterna, pluralista e comprometida com a solução pacíficas das

controvérsias, entra em vigor a Constituição Federal, em 05 de outubro de 1988,

nascendo assim o Estado Democrático de Direito, trazendo junto com ele as

garantias constitucionais, aflorando grandes normas e mudanças no ordenamento

jurídico processual penal.

Princípios constitucionais são cláusulas pétreas. Dada a importância

que elas tem, não devem ser abolidas. Já os princípios infraconstitucionais devem

adaptar-se à ordem maior. Isso porque a Constituição garante a proteção do

cidadão ante o arbítrio do Estado, protegendo sua liberdade através da égide da

ampla defesa, do contraditório (Art. 5º, LV, CF), devido processo legal (Art.

5º, LIV, CF), sistema acusatório, juiz natural (Art. 5º, XXXVII CF), publicidade,

(Art. 5º, LX, CF), dentre tantos outros previstos no Artigo 5º da Constituição

Federal.

Segundo Pacelli (2009, 147).

No extenso rol de direitos e garantias enumerados no Art. 5º da

Constituição da República, há normas que instituem direitos subjetivos

no plano material, (...) e outras que estabelecem garantias instrumentais

de proteção àqueles direitos, como é o caso de inúmeros dispositivos de

natureza processual ou procedimental que podem ser reunidos na

cláusula do devido processo legal, cujo conteúdo é destinado à genérica

proteção dos bens e da liberdade, dado que ninguém será privado de

sua liberdade e de seus bens sem o devido processo legal (Art. 5°, LIV)..

O direito processual penal deve obedecer aos princípios

constitucionais, em especial à dignidade da pessoa humana, previstos no Artigo

1º, III da CF. Para isso, devem ser aplicados os princípios do Artigo 5º. Também é

garantido ao preso o respeito à sua integridade física e moral (Art. 5º, XLIX da

CF). A pena deverá ser cumprida em estabelecimento qualificado pela natureza

27

do crime, da idade e do sexo (Art. 5º, XLVIII da CF) e, às detentas, é assegurado

ter condições para permanecer com seus filhos no período de amamentação (Art.

5º, L da CF) mas, como é sabido por todos, muitas dessas garantias e princípios

não são cumpridos.

O Ministério Público é o órgão estatal designado pela Constituição para

zelar pela efetividade dos direitos assegurados na Constituição, promovendo as

medidas necessárias à sua garantia, bem como a ação penal pública ( artigo 129

da CF), destinada a obter em juízo a pretensão punitiva. Não obstante, há a

possibilidade de a ação ser intentada pela vítima ou parentes no caso do

Ministério Público não o fazer em prazo legal (Art. 5º, LIX da CF).

Ainda em relação ao Artigo 5° da Constituição, em seu inciso III, é

garantido que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou

degradante, mas, muitas vezes, quando um indivíduo é preso, não lhe

assegurado, ainda em seu inciso XLIX, o respeito à integridade física e moral.

As garantias do preso e do presidiário residem no estado de direito

democrático e, logicamente, em todo o aparelho normativo do Estado. Todavia, é

na Constituição Federal que as garantais individuais estão contempladas,

enunciativamente, daí desdobrando-se para a legislação ordinária.

Podemos enumerar esses direitos previstos no Art. 5º da Carta Maior

de forma sistêmica, como se segue.

2.1 Do rol de garantias insertas na Constituição Federal

Com a entrada em vigor da Constituição Federal, em 05 de outubro de

1988, nasce o Estado Democrático de Direito, trazendo consigo as garantias

constitucionais. Nesse ínterim, surgem novas normas e mudanças no

ordenamento processual penal; inauguram-se alguns princípios fundamentais

28

com a finalidade de proteção da dignidade da pessoa humana, em especial, a do

individuo que é acusado de cometer um crime.

Os direitos e garantias fundamentais constitucionais são assegurados ao

homem devendo sempre ser considerados na interpretação dos dispositivos do

Código Processual Penal, a fim de resguardar o devido processo legal e a

segurança jurídica.

Inciso I, o princípio da isonomia entre homens e mulheres;

Inciso II, o princípio de legalidade;

Inciso III, a terminante proibição da tortura e dos maus-tratos (tratamento

desumano ou degradante);

Inciso VII, a garantia da assistência religiosa;

Inciso X, a preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da

imagem, assegurada indenização, nos casos de violação;

Inciso XLII, a garantia de que não será discriminado por preconceito racial;

Inciso XLV, a garantia de que a pena não passará da pessoa do

condenado;

Inciso XLVI, a certeza de que a lei regulará a individualização da pena;

Inciso XLVIII, a garantia de que “a pena será cumprida em

estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o

sexo do apenado”;

Inciso XLIX, a garantia do “respeito à integridade física e moral”;

Inciso L, a garantia de que “às presidiárias serão asseguradas condições

para que possam permanecer com seus filhos durante o período de

amamentação”;

Inciso LXIII, a garantia de que “o preso será informado de seus direitos,

entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a

assistência da família e de advogados”;

Inciso LXIV, a garantia de que “o preso tem direito à identificação dos

responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial”;

Inciso LXVI, a garantia de que “a prisão ilegal será imediatamente relaxada

pela autoridade judiciária”;

29

Inciso LXXXV, a garantia de que “o Estado indenizará o condenado por

erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na

sentença”.

2.2 Da Lei de Execuções Penais

A Execução Penal é a fase em que o Estado, visando tornar efetivo o

Jus Puniendi, coloca em movimento, por meio de seu “poder de império”, a

persecução penal, visando satisfazer de forma concreta a sua pretensão punitiva

por meio da imposição de uma pena ao violador das regras de boa convivência

social. Nesse sentido, manifesta-se Capez: (2007, p. 17).

Pena é a sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cujas finalidades são aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade.

No dia 11 de julho de 1984, foi sancionada a Lei n. 7.210, Lei de

Execução Penal (LEP), que objetiva impulsionar o Estado a dar ao indivíduo que

cometeu crimes ou contravenções, a reintegração social pelos diversos

instrumentos constituídos no corpo dessa legislação, que é considerada uma das

melhores legislações do mundo, no que toca às garantias e deveres dos

apenados.

A tão esperada legislação trazia em sua forma uma natureza mista de

Direito Administrativo, Constitucional, Penal e Processo Penal. Todavia, essa

caracterização não se coaduna com a realidade, pois sua aplicação em muito se

torna inefetiva por inúmeras razões, como, destaca-se, a falta de políticas

públicas para proporcionar a ressocialização pela educação e pelo trabalho dentro

das penitenciárias.

30

É sobre ela que a partir de agora nos orientaremos para as possíveis

saídas ou soluções evidentes ao problema da superlotação carcerária, a

reincidência criminal e o baixo índice de inclusão de presos egressos na

sociedade.

Há muito se discute no país uma forma de desafogar o sistema

penitenciário. Seu desvio de finalidade traz à baila o descrédito da finalidade da

pena adotada no Brasil. Nesse diapasão, a sociedade contemporânea encontra-

se refém do acentuado avanço da violência e da falta de políticas públicas que

possam dar resultado à diminuição dessa população.

Inúmeros são os fatores que evidenciam um falido sistema prisional,

entre eles a ausência do Estado em ofertar as garantias mínimas previstas na

Constituição, como educação, moradia, saúde e a oferta de empregos, ainda

quando o apenado está no aguardo dos direitos mais básicos garantidos no texto

constitucional.

Ressalta-se, ainda, a época em que as pessoas só conheceram o

Estado de sirenes ligadas em seu momento repressor e aprisionador, pois onde

aquele não conseguiu chegar, a sociedade marginalizou-se e não se trabalhou a

prevenção ao crime, mas a punição pelo seu cometimento. Não se importando

com o meio em que aparecesse a mazela social, mas com a utilização do método

mais agressivo usado pelo Estado, que é a privação da liberdade pelo

encarceramento.

A comprovação de que a pena privativa de liberdade não se revelou

como remédio eficaz para ressocializar o homem preso comprova-se pelo elevado

índice de reincidência dos criminosos oriundos do sistema carcerário. Embora não

haja números oficiais, calcula-se que, no Brasil, em média 70% dos ex-detentos

que retornam à sociedade voltam a delinquir e, conseqüentemente, acabam

retornando à prisão.

Pode se evidenciar que esse contexto é um reflexo direto das

condições às quais o preso no Brasil é submetido durante o período de

encarceramento, somadas aos anseios da rejeição advinda da sociedade e pela

31

inefetividade da legislação especial que trata a matéria, como se colocou nos

comentários iniciais.

Menciona-se ainda o estigma que aprisiona o detento, uma vez que a

sociedade não o verá mais como um partícipe na construção e no

desenvolvimento da coletividade, em virtude da marca da sentença aplicada pelo

Estado que acompanhará o apenado durante o tempo em que cumprir sua pena e

mesmo depois que sair do estabelecimento prisional, tornando-o refém desse

modelo de preconceito embutido no pensamento das pessoas.

A falta de amparo ao preso egresso é um dos principais motivos que

ensejam seu retorno para além das muralhas, pois quando as portas do presídio

se abrem, as portas do mercado de trabalho se fecham, até mesmo pela falta de

oportunidade de se educar e se profissionalizar como preleciona a legislação

especial que trata da matéria. Ser um ex-apenado na sociedade brasileira é uma

prisão eterna, com uma sentença aplicada de forma definitiva.

32

3 DOS DIREITOS DOS PRESOS

Os direitos do preso estão nitidamente elencados tanto no Código

Penal (Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940), como na Lei de

Execução Penal (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984).

No Código Penal, podemos rastrear esses direitos em várias

passagens da Parte Geral desse estatuto, quais sejam:

a) o direito à individualização da pena, através do exame de classificação para

cumprimento da pena privativa da liberdade no regime fechado (art. 33, c/c o Art.

34);

b) o direito ao regime semi-aberto, se a pena de prisão é superior a quatro anos e

não excede a oito anos (art. 33, §2º, letra b);

c) o direito ao regime aberto, se a pena de prisão for “igual ou inferior a quatro

anos” (art. 33, §2º, letra c);

d)a previsão de que “as mulheres cumpram pena em estabelecimento próprio”(art.

37);

e) a previsão de que “o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda

da liberdade” (art. 38);

f) a previsão de que “o trabalho do preso será sempre remunerado, com direito à

Previdência Social” (art. 39);

g) a certeza de que o doente mental “deve ser recolhido a hospital de custódia e

tratamento psiquiátrico” (art. 41);

h) a previsão da detração penal (art. 42);

33

i) a substituição da pena de prisão por penas restritivas de direitos (art. 44);

j) a substituição da pena de prisão por multa (art. 60, §2º);

k) o direito ao livramento condicional (art. 83);

l) a previsão de que o relativamente imputável pode ter a pena de prisão, que lhe

foi imposta pelo órgão da jurisdição, substituído pela internação ou pelo

tratamento ambulatorial (art. 98);

m) e a previsão de que “o internado será recolhido a estabelecimento dotado de

características hospitalares e será submetido a tratamento” (art. 99).

Já na Lei de Execução Penal, a matéria se acha disciplinada nos

Artigos 40 usque 43, com a seguinte enunciação:

a) direito à integridade física e moral do preso provisório ou presidiário;

b) direito à alimentação;

c) direito ao vestuário;

d) direito à remuneração pelo trabalho;

e) direito à previdência social;

f) direito à instituição de um pecúlio;

g) direito ao descanso e à recreação, equilibradamente ao trabalho;

34

h) direito ao “exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e

desportivas anteriores (ao seu encarceramento), desde que compatíveis com a

execução da pena;

i) direito à assistência material, à saúde, a assistências jurídica, educacional,

social e religiosa;

j) direito à “proteção contra qualquer forma de sensacionalismo”;

k) direito à “entrevista pessoal e reservada com o advogado”;

l) direito à “visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias

determinados”;

m) direito ao “chamamento nominal”;

n) direito à “igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências de

individualização da pena”;

o) direito à “audiência especial com o diretor do estabelecimento”;

p) direito à “representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito”;

q) direito a “contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita,

da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os

bons costumes”;

r) direito de “contratar médico de confiança pessoal”.

3.1 Princípios e garantias constitucionais

Na lição de PAULO LÚCIO NOGUEIRA (comentários a LEP, p.7):

35

Estabelecida a aplicabilidade das regras previstas no Código de

Processo Penal, é indispensável a existência de um processo como

instrumento viabilizador da própria execução, onde devem ser

observados os princípios e as garantias constitucionais, a saber:

legalidade, jurisdicionalidade, devido processo legal, verdade real,

imparcialidade do juiz, igualdade das partes, persuasão racional ou livre

convencimento, contraditório e ampla defesa, iniciativa das partes,

publicidade, oficialidade e duplo grau de jurisdição, entre outros.

Em particular, deve-se observar o princípio da humanização da pena,

pelo qual se deve entender que o condenado é sujeito de direitos e deveres que

devem ser respeitados, sem que haja excesso de regalias, o que tornaria a

punição desprovida da sua finalidade.

De fundamental relevância, ainda o princípio da personalidade,

também denominado princípio da instranscedência, segundo o qual a pena não

pode ir além da pessoa do autor da infração (Art. 5º XLV, da CF).

XLV – Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens serem, nos termos da Lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

O Art. 8º do Pacto de San José da Costa Rica – Convenção Americana

de Direitos Humanos (22-11-1969), ratificada pelo Brasil em 25 de setembro de

1969, é expresso no sentido de que:

Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

36

3.2 Do exequente

Não obstante a possibilidade de verificação no processo de

conhecimento do fenômeno denominado substituição processual, no caso das

ações penais privadas, em que o ofendido ou seu representante legal, em sendo

o caso, atuam em juízo em nome próprio para fazer valer um direito subjetivo do

Estado, que é o “direito de punir”, o monopólio da administração da justiça é

estatal.

Assim, no caso das ações penais privadas, o legitimado tem o direito

de dispor da relação jurídico-penal, enquanto não se verificar o trânsito em

julgado da sentença penal condenatória, a teor do disposto no Art. 106 § 2º, do

Código Penal. Depois, já em sede de execução penal, não há atuação do

particular na condição de titular do direito de fazer cumprir o comando emergente

da sentença, pois somente o Estado é que pode tornar efetiva a sanção penal,

ainda que decorrente de condenação imposta em ação penal privada, inexistindo

outro titular do direito de fazer cumprir, executar o título que se formou com o

trânsito em julgado da sentença penal condenatória, ou absolutória imprópria.

Decorrendo de sentença ou decisão criminal de ação penal pública,

condicionada ou incondicionada, ou mesmo de ação penal privada, em qualquer

de suas modalidades, a execução será sempre de natureza pública.

Exequente será sempre o Estado, procedendo o juiz ex officio, após a

formação do título, determinando a expedição da guia para o cumprimento da

pena ou da medida de segurança, nos termos em que está expresso nos Arts.

105 e 171 da Lei de Execução Penal, in literis:

Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimento para a execução. Art. 171. Transitada em julgado a sentença que aplicar medida de segurança, será ordenada a expedição de guia para a execução.

37

3.3 Do executado

Dispõe o Art. 5º, XLV da Constituição Federal que “nenhuma pena

passará da pessoa do condenado”, observado o princípio da personalidade ou

instranscedência, segundo o qual o processo e a pena, bem como a medida de

segurança, não podem ir além do autor do fato; executado será sempre aquele

em desfavor de quem se proferiu sentença condenatória ou de absolvição

imprópria.

Executado poderá ser tanto o preso definitivo quanto o provisório, em

se tratando de pena privativa de liberdade; o internado ou o submetido a

tratamento ambulatorial, nas hipóteses de medida de segurança. Também poderá

ser executado o autor do fato que deixar de cumprir transação penal levada a

efeito e homologada em juízo.

3.4 Pressupostos e objetivos da execução penal

Adotado o sistema vicariante pelo legislador penal, e considerando que

a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão

criminal, conforme anuncia o Art. 1º da Lei de Execução Penal, constitui

pressuposto da execução a existência de sentença criminal que tenha aplicado

pena, privativa de liberdade ou não, ou medida de segurança, consistente em

tratamento ambulatorial ou internação em hospital de custódia para tratamento

psiquiátrico.

Segundo entende MARCÃO (2009, p. 01), o objetivo da execução é

fazer cumprir o comando emergente da sentença penal condenatória ou

absolutória imprópria, estando sujeitas à execução também as decisões que

homologam transação penal em sede de Juizado Especial Criminal.

38

A Execução Penal deve objetivar a integração social do condenado ou

do internado, já que adota a teoria mista ou eclética, segundo a qual a natureza

retributiva da pena não busca apenas a prevenção, mas também a humanização.

Objetiva-se, por meio da execução, punir e humanizar.

Conforme leciona ADA PELEGRINI GRINOVER (1987, p. 7),

Na verdade, não se nega que a execução penal é atividade complexa, que se desenvolve, entrosadamente, nos planos jurisdicionais e administrativos. Nem se desconhece que dessa atividade participam dois poderes estaduais, o judiciário e o executivo, por intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais e dos estabelecimentos penais.

Segundo PAULO LÚCIO NOGUEIRA: (1996, p. 5/6),

A execução penal é de natureza mista, complexa e eclética, no sentido de que certas normas da execução pertencem ao direito processual, como a solução de incidentes, enquanto outras que regulam a execução propriamente dita pertencem ao direito administrativo.

Por fim, proclama JULIO FABBRINI MIRABETE (2008, p.8)

Afirma-se na exposição de motivos do projeto que se transformou na Lei de Execução Penal: Vencida a crença histórica de que o direito regulador da execução é de índole predominantemente administrativa, deve-se conhecer, em nome de sua própria autonomia, a impossibilidade de sua inteira submissão aos domínios do Direito Penal e do Direito Processual Penal.

Conclui-se, portanto, que a execução penal é de natureza jurisdicional,

não obstante a intensa atividade administrativa que desenvolve.

O título em que se funda a execução decorre da atividade jurisdicional

no processo de conhecimento e, como qualquer outra execução forçada, a

decorrente de sentença penal condenatória ou absolutória imprópria só poderá

ser feita pelo Poder Judiciário, o mesmo se verifica em relação à execução de

decisão homologatória de transação penal. De tal conclusão segue que, também

na execução penal, devem ser observados, entre outros, os princípios do

contraditório, da ampla defesa, da legalidade e do due process of law.

39

Embora não se possa negar tratar-se de atividade complexa, não é

pelo fato de não prescindir de certo rol de atividades administrativas que sua

natureza se transmuda. Hoje prevalece a atividade jurisdicional, não só na

solução dos incidentes da execução.

3.5 Da execução dos presos provisórios

Presos provisórios são aqueles recolhidos a estabelecimento prisional,

em razão da prisão em flagrante prevista no Art. 301 do CPP, prisão preventiva,

Arts. 311 a 316 do CPP, Art. 59 da Lei nº 11.343, de 23/08/2006, Nova Lei de

Drogas, ou prisão temporária, Lei nº 7.960, de 21/12/1989.

Não obstante a literalidade da redação que se verifica na primeira parte

do parágrafo único do art. 2º da Lei de Execução, a questão da execução

provisória da sentença criminal sempre despertou controvérsias na doutrina e na

jurisprudência.

Prevalece, entretanto, a posição no sentido de que é possível a

execução provisória, inclusive com a progressão de regime prisional, quando há

recurso exclusivo da defesa, sendo desnecessário o trânsito em julgado da

decisão para ambas as partes, já que, na hipótese, a sentença não poderá ser

reformada para piorar a situação do réu.

Já se decidiu que a Lei de Execução Penal é clara, no sentido de

determinar sua aplicação, no que couber ao preso provisório (Art. 2º, parágrafo

único, da LEP). O trânsito em julgado da sentença, tal como referido no Art. 105

da LEP, não pode ser interpretado como coisa julgada.

A execução provisória reclama sempre a existência de sentença penal

condenatória ou de absolvição imprópria sem trânsito em julgado definitivo.

40

Assim, não havendo recurso do Ministério Público ou do querelante,

restando somente o da defesa, a execução pode ser realizada em caráter

provisório

Consoante o Art. 61 das Regras Mínimas para o Tratamento do Preso

no Brasil, Resolução nº 14 do Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária (CNPCP), de 11 de novembro de 1994 (DOU de 2-12-1994), ao

preso provisório será assegurado regime especial em que se observará:

I - separação dos presos condenados; II - cela individual, preferencialmente; III - opção por alimentar-se às suas expensas; IV - utilização de pertences pessoais; V - uso de sua própria roupa ou, quando for o caso, de uniforme diferenciado daquele utilizado por preso condenado; VI - oferecimento de oportunidade de trabalho; VII - visita e atendimento do seu médico ou dentista....

O Art. 84, caput, da Lei de Execução Penal, estabelece que o preso

provisório fique separado do condenado por sentença transitada em julgado.

O título I da citada Lei traz em seu bojo o objeto e a aplicação da Lei de

Execução Penal que, segundo o Artigo 1º, trata:

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de

sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica

integração social do condenado e do internado.

O mencionado Artigo traz em seu entendimento que, depois de

prolatada a sentença ou deferida a execução provisória da pena, dar-se-á início à

execução penal com os ditames da Lei 7210/84.

A determinação prevista em seu Artigo 4º diz que o Estado deverá

recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da

medida de segurança. Mas, na prática, não é assim que se vê a atuação e a

cooperação da comunidade que, acrescenta-se, permanece ainda longe dessa

interação prevista na Lei.

41

Há de se investigar um meio ou forma de o Estado dar publicidade

de modo mais amplo a essa necessidade de interação, visto que muitos

apenados, quando muito, gozam apenas da companhia de seus familiares.

Ressalta-se que esse momento é muito importante na reconstrução dos valores e

do resgate da dignidade para superarar o preconceito social que, mais tarde, terá

de ser enfrentado frente à ausência de políticas de inclusão.

3.6 Da classificação do apenado

Em seu Artigo 5º, a dita Lei traz a previsão da classificação do

condenado, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a

individualização da lei penal. Segundo a norma do Artigo seguinte, essa

classificação será feita por comissão técnica que elaborará o programa

individualizado da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou ao

preso provisório.

3.7 Do exame criminológico

O exame criminológico é realizado para o resguardo da defesa social e

busca aferir o estado de temibilidade do delinquente.

Segundo Renato Marcão (2011, p. 13), no início do cumprimento da

pena privativa de liberdade em regime semi-aberto, o exame criminológico é

meramente facultativo, podendo ou não o juiz da execução penal determinar a

sua realização.

O celebrado e imorredouro Mestre HELENO CLAUDIO FRAGOSO,

(1986, pág. 309):

42

Ensina que no início do cumprimento da pena em regime fechado, o preso deve ser submetido obrigatoriamente a exame criminológico. Trata-se de exame biopsicossocial, que tem sido largamente debatido no campo da criminologia, como exigência de melhor conhecimento da personalidade do delinqüente, para escolher a pena que lhe deve ser aplicada ou para orientar a execução da pena imposta.

Com vista a uma correta individualização da pena (Art. 5º, XLVI, da

CF), o condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime

fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos

necessários a uma adequada classificação (Art. 8º da LEP), in verbis:

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em

regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção

dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à

individualização da execução.

Revela-se obrigatório o exame criminológico apenas aos condenados a

cumprimento de pena no regime fechado. Estando no regime semi-aberto, não é

obrigatório o exame, cabendo ao juiz da execução penal determiná-lo, se

entender necessário, por se tratar de mera faculdade. Embora não obrigatório, na

prática a prudência recomenda que se avalie detidamente, caso a caso, a

pertinência ou não da realização do exame.

3.8 Da classificação e da individualização da pena

Não se pode afirmar, como corriqueiramente se tem feito ao interpretar

a Lei 10.792/2003, quanto ao desuso do exame criminológico, Contudo, é certo

que, mesmo após o advento do novo Diploma Legal, a teor do disposto no Art. 5º

da Lei de Execução Penal, que permaneceu intocada, “os condenados serão

classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a

individualização da execução penal.

43

4. DA ASSISTÊNCIA AO PRESO

Conforme a regra insculpida no Art. 10 da LEP,

A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo Único: A assistência estende-se ao egresso.

Preso, evidentemente, é aquele que se encontra recolhido em

estabelecimento prisional, cautelarmente ou em razão de sentença ou pena

condenatória com trânsito em julgado. A Lei não restringe a assistência apenas e

tão somente aos condenados definitivamente.

De outro vértice, internado é o que se encontra submetido à medida de

segurança consistente em internação em hospital de custódia e tratamento

psiquiátrico, em razão de decisão judicial. Ainda que recolhido em

estabelecimento prisional, aguardando vaga para a transferência ao hospital de

custódia e tratamento psiquiátrico, por razões óbvias, também tem assegurados

os mesmos direitos.

Aliás, seria o extremo do absurdo suprimir direitos assistenciais

daquele que, em razão da inércia e do descaso do Estado, que não disponibiliza

hospitais e vagas suficientes para o atendimento da demanda, já sofre os efeitos

decorrentes de tal omissão, com o inegável desvio na execução de sua conta.

Seria puni-lo duas vezes.

Na atual conjuntura, entende o autor que a medida de segurança não

deixa de ser uma forma de punição. (MARCÃO, Renato, Curso de Execução

Penal, 7ª edição, 2010).

Considera-se egresso, nos termos do Art. 26 da Lei de Execução

Penal:

I – o liberado definitivo, pelo prazo de um ano a contar da saída do estabelecimento; II – o liberado condicional, durante o período de prova.

44

Como ensina RENATO MARCÃO, (p. 41, 2010)

O objetivo da assistência, como está expresso, é prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. A assistência aos condenados e aos internados é exigência básica para conceber a pena e a medida de segurança como processo de diálogo entre os destinatários da comunidade.

A assistência ao egresso consiste em orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação em estabelecimento adequado, por dois meses, prorrogável uma única vez mediante comprovação idônea de esforço na obtenção de emprego.

Na dicção do item 41 da Exposição de Motivos da Lei de Execução

Penal, tornou-se necessário esclarecer em que consiste cada uma das espécies

de assistência em obediência aos princípios e regras internacionais sobre os

direitos da pessoa presa, especialmente as que defluem das regras mínimas da

ONU – Organização das Nações Unidas.

4.1 Das modalidades de assistência previstas na LEP

Assim, a assistência a ser prestada, conforme elenca o Art. 11 da Lei

de Execução Penal, será:

I – material, II – saúde, III – jurídica, IV – educacional, V – social, VI – religiosa.

4.2 – Da assistência material

A assistência material ao preso e ao internado consistirá no

fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas, isso é o que

entende o Artigo 12 da LEP.

Dispõe ainda o Artigo 13 da citada Lei, que

o estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos na suas necessidades pessoais, além de locais destinados à

45

venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.

JÚLIO FABRINI MIRABETE ensinou que a regra do Art.13 justifica-se

em razão da “natural dificuldade de aquisição pelos presos e internados de

objetos materiais, de consumo ou de uso pessoal” (Júlio F. Mirabete, Execução

Penal, p. 65).

Como é cediço, no particular o Estado só cumpre o que não pode

evitar. Proporciona a alimentação ao preso e ao internado, nem sempre

adequada. Os demais direitos assegurados que envolvem a assistência material,

como regra, não são respeitados.

4.3 Da assistência à saúde

Nos precisos termos do Art. 14, caput e § 2º, da Lei de Execução

Penal, a assistência à saúde do preso e do internado, de caráter preventivo e

curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência

médica necessária, essa será prestada em outro local, mediante autorização da

direção.

A realidade nos mostra, entretanto, que os estabelecimentos penais

não dispõem de equipamentos e pessoal apropriados para os atendimentos

médico, farmacêutico e odontológico. De tal sorte, resta aplicar o § 2º precipitado.

Ocorre, entretanto, que também a rede pública, que deveria prestar tais

serviços, é carente e não dispõe de condições adequadas para dar atendimento

de qualidade, mesmo à camada ordeira da população, que também necessita de

tal assistência estatal. O Estado não conseguiu efetivar tais direitos, não os

assegura de fato ainda hoje.

46

Desrespeita-se, impunemente, a Constituição Federal; a Lei de

Execuções Penais; Regras Mínimas da ONU para o Tratamento de Reclusos,

adotadas em 31 de agosto de 1955, pelo Primeiro Congresso das Nações Unidas

para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes; Regras Mínimas

para o Tratamento do Preso no Brasil – Resolução n. 14 do Conselho Nacional de

Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), de 11 de novembro de 1994 (DOU de

2-12-1994); Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as pessoas Sujeitas

a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão – Resolução 43/173 da Assembleia

Geral das Nações Unidas – 76ª Sessão Plenária, de 9 de dezembro de 1988;

Princípios Básicos Relativos ao Tratamento de Reclusos, ditados pela Assembleia

Geral da Organização das Nações Unidas, visando à humanização da justiça

penal e à proteção dos direitos do homem; Princípios de Ética Médica aplicáveis à

função do pessoal de saúde, especialmente aos médicos, na proteção de

prisioneiros ou detidos contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,

desumanos ou degradantes; Resolução n. 37/194 da Assembleia Geral das

Nações Unidas, 18 de dezembro de 1982 etc.

Diante de tal quadro, os tribunais tem decidido que, demonstrada “a

necessidade de tratamento e acompanhamento médico do preso, face à doença

que o acomete, e carecendo os hospitais do órgão de unidade de tratamento

intensivo, autoriza-se a prisão domiciliar”. “O preso tem direito à assistência

médica adequada, podendo permanecer em sua residência pelo tempo que se

fizer necessário ao completo restabelecimento de sua saúde”, nos termos do Art.

14 § 2º, da Lei 7.210/84.

JURISPRUDÊNCIAS SOBRE O ASSUNTO EM COMENTO:

(STJ. 6ª T. real. Min. Anselmo Santiago. DJU. 8-4-1996. p. 10490) e (3ª Região. HC 95.03.062424/0 – SP, 5ª T... Rel. Juíza Ramza Tartuce. j. em 25-9-1995, DOU, 21-11-1995. RT. 723/682, cf. Renato Marcão. Lei de Execução Penal anotada e interpretada; p . 50).

Em acórdão de que foi relator o eminente Des. Egydio de Carvalho, o

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo concedeu licença especial domiciliar

para tratamento médico, justificando:

47

Diante da pública e notória total falência das instituições prisionais em

nosso país, não podem as autoridades responsáveis pelo

acompanhamento das execuções penais deixarem de tomar certas

atitudes humanitárias em prol dos sentenciados, sob pena de permitirem

verdadeiras violações aos mais elementares direitos do ser humano.

(TJSP. Agravo n. 234.175-3, 2ª Ccrim. j. em 15-9-1997. v.u).

4.4 Da assistência jurídica

A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem

recursos financeiros para constituir advogados. Pobres na acepção jurídica do

termo, assim considerados aqueles que não reúnem condições de custear a

contratação de advogado sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

O Art. 41, IX da Lei de Execução Penal dispõe que constitui direito do

preso a entrevista pessoal e reservada com o advogado. Tal previsão também se

encontra no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. Na dicção do Art. 16 da

Lei, as Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos

estabelecimentos penais.

A assistência jurídica, muitas vezes não observada, é de fundamental

importância para os destinos da execução da pena. Aliás, sua ausência no

processo de execução acarreta flagrante violação do princípio da ampla defesa,

que também deve ser observado em sede de execução.

4.5 Da assistência educacional

A assistência educacional compreende a instrução escolar e a

formação profissional do preso e do internado, sendo obrigatório o Ensino de

Primeiro Grau. (grifo nosso).

48

O ensino profissional, conforme dispõe o Art. 19 da Lei de Execução

Penal, será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento.

De acordo com as possibilidades, cada estabelecimento prisional deve

conter uma biblioteca, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.

O Art. 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece

que:

Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

Em conformidade com o item 77 das Regras Mínimas da ONU para o

Tratamento de Reclusos, adotadas em 31 de agosto de 1995, pelo Primeiro

Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos

Delinquentes:

Devem ser tomadas medidas no sentido de melhorar a educação de todos os reclusos que daí tirem proveito, incluindo instrução religiosa nos países em que tal for possível. A educação de analfabetos e jovens reclusos será obrigatória, prestando-lhe a administração especial atenção. Tanto quanto for possível, a educação dos reclusos deve estar integrada no sistema educacional do país, para que depois da sua libertação possam continuar, sem dificuldades, a sua educação.

A assistência educacional tem por escopo proporcionar ao executado

melhores condições de readaptação social, preparando-o para o retorno à vida

em liberdade de maneira mais ajustada, conhecendo ou aprimorando certos

valores de interesse comum. É inegável, ainda, sua influência positiva na

manutenção da disciplina do estabelecimento prisional.

4.6 Da assistência social

Quanto a esse tipo de assistência, LAGE escreve (LAGE, 1995):

49

Essa ressocialização, depois de longo afastamento e habituado a uma vida sem responsabilidade própria, traz ao indivíduo dificuldades psicológicas e materiais que impedem a sua rápida sintonização no meio social. Eis porque o motivo de se promover, sempre que possível, por etapas lentas, a sua aproximação com a liberdade definitiva.

A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e

prepará-los para o retorno à liberdade.

No campo penitenciário, Renato Marcão, (2010, p. 24), ao citar Armida

Bergamini Miotto, diz que “a assistência social tens fins paliativo, curativo,

preventivo e construtivo. Ensina a jurista que o fim paliativo visa “aliviar os

sofrimentos provindos de situação de delinquente, condenado, preso (status de

condenado)”. O fim curativo busca “propiciar aos presos condições para viverem

equilibradamente (em todos os planos da pessoa: biológico, psicológico, social e

espiritual), na situação de presos (com o status de condenado), a fim de que

recuperem a liberdade, não tornem a delinquir, mas vivam normalmente”.

O fim preventivo procura “obviar problemas e condições sociais que

constituam estímulos para a delinquência, ou obstáculo para a reinserção dos

liberados condicionalmente e dos egressos, no convívio familiar, comunitário e

social”

Assim, a explorada função da assistência social visa proteger e orientar

o preso e o internado, ajustando-os ao convívio no estabelecimento penal em que

se encontram, e preparando-os para o retorno à vida livre, mediante orientação e

contato com os diversos setores da complexa atividade humana.

4.7 Da assistência religiosa

Segundo Jason Albergaria (1999, p. 162 – 164)

É reconhecido que a religião é um dos fatores mais decisivos na ressocialização do recluso. Dizia Pio XII que o crime e a culpa não chegam a destruir no fundo humano do condenado o selo impresso pelo criador.` É este selo que ilumina a via de reabilitação. O capelão Peiró afirmava que a missão da instituição penitenciária é despertar o senso de responsabilidade do recluso, abrir-lhe as portas dos sentimentos

50

nobres, nos quais Deus mantém acesa a chama da fé e da bondade capaz de produzir o milagre da redenção do homem.

Para ALEXANDRE DE MORAES e GIANPAOLO POGGIO

SMANIO(2000, p. 88):

O Art. 24 da LEP prevê a liberdade de culto, permitindo a participação de todos os presos. O § 2º do Art. 24 da LEP prevê a impossibilidade de obrigar-se o sentenciado a participar de atividades religiosas, com base na própria liberdade religiosa prevista na Constituição Federal, no Art. 5º, inciso VI.

4.8 Da assistência ao egresso

Considera-se egresso o liberado definitivo, pelo prazo de um ano, a

contar da saída do estabelecimento penal, e o liberado condicionalmente, durante

o período de prova. Dispõe o Art. 25 da Lei de Execução Penal que a assistência

ao egresso consiste na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade.

Como já dito, o trabalho dignifica o homem, e cabe ao serviço de

assistência social colaborar com o egresso na obtenção de trabalho, buscando

assim provê-lo de recursos que o habilitem a suportar a sua própria existência e a

daqueles que dele dependem.

Ajustado ao trabalho, sua força produtiva irá não só contribuir para o

avanço social, mas, principalmente, irá afastá-lo do ócio, companheiro inseparável

das ideias e comportamentos marginais.

São conhecidas as dificuldades que encontram os estigmatizados com

a tatuagem indelével impressa pela sentença penal, no início ou mesmo na

retomada de uma vida socialmente adequada e produtiva.

A parcela ordeira da população, podendo escolher, na maioria das

vezes não faz a opção de contratar ou amparar um ex-condenado, seja qual for o

51

delito cometido, até porque reconhece a falência do sistema carcerário na espada

da recuperação, mas desconhece sua parcela de responsabilidade na

contribuição para a reincidência.

Não se pretende que cada cidadão sacrifique sua tranquilidade com a

contratação ou amparo de determinada pessoa, quando poderia contratar ou

amparar outra. Apenas não se deve esquecer esse dado importante.

Na precisa doutrina de HENNY GOULART (1975. p 25):

A reeducação ou tratamento do condenado não esgota seu objetivo no momento em que esse deixa a prisão, pelo cumprimento da pena ou por haver obtido um dos benefícios legais. Sua ação precisa ser complementada com a assistência material e espiritual efetivamente prestada tanto ao condenado em vias de liberação, o pré-liberto, como ao egresso, estendendo-se essa assistência, tanto quanto possível, até a família dos mesmos.

52

5 DO TRABALHO DO PRESO

5.1 Generalidades

Como disse ALFREDO ISSA ASSALY, “o trabalho presidiário,

consagrado em todas as legislações hodiernas, constitui uma das pedras

fundamentais dos sistemas penitenciários vigentes e um dos elementos básicos

da política criminal”. (Alfredo Issa Ássaly, o trabalho penitenciário, p. 15).

O trabalho do sentenciado tem dupla finalidade: educativa e produtiva.

As disposições da LEP colocam o trabalho penitenciário sob a proteção de um

regime jurídico. Antes da Lei, nas penitenciárias onde o trabalho prisional era

obrigatório, o preso não recebia remuneração, e seu trabalho não era tutelado

contra riscos nem amparado por seguro social.

Atendendo às disposições contidas nas Regras Mínimas da ONU para

o Tratamento de Reclusos, a remuneração obrigatória do trabalho prisional foi

introduzida na Lei n. 6.416/77, que estabeleceu também a sua forma de

aplicação.

Consoante o item 51 da Exposição de Motivos da Lei de Execução

Penal, a Lei de Execução Penal mantém o texto, ficando assim reproduzido o

elenco das exigências pertinentes ao emprego da remuneração obtida pelo preso:

na indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados

judicialmente e não reparados por outros meios; na assistência à própria família,

segundo a lei civil; em despesas pessoais; e na constituição de pecúlio, em

caderneta de poupança, que lhe será entregue à saída do estabelecimento penal.

Acrescentou-se a essas obrigações a previsão de ressarcimento do

Estado quanto às despesas de manutenção do condenado, em proporção a ser

fixada. As tarefas executadas como prestação de serviços à comunidade não

serão remuneradas.

53

Para o condenado à pena de prisão simples, o trabalho é facultativo.

Se a pena aplicada não excede a quinze dias, conforme estabelece o § 2º do Art.

6º do Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções

Penais).

Estranhamente, o condenado por crime político não está obrigado a

trabalhar, nos precisos termos do Art. 200 da Lei de Execução Penal.

5.2 Do trabalho interno

Respeitadas as aptidões, a idade, a habilitação, a condição pessoal

(doentes ou portadores de deficiência), a capacidade e as necessidades futuras,

todo condenado definitivo está obrigado ao trabalho, o que não se confunde com

pena de trabalho forçado e, de consequência, não contraria a norma

constitucional estabelecida no Art. 5º, XLVII, c.

Para o preso provisório, o trabalho é facultativo e só poderá ser

executado no interior do estabelecimento.

Diante da possibilidade de execução provisória da sentença

condenatória que não transitou em julgado para a defesa (Art. 2º da LEP; súmula

716 STF), é recomendável que o preso provisório se submeta ao trabalho,

exercendo a faculdade legal (Art. 31, Parágrafo Único, da LEP) e a possibilidade

de remição (Art. 126 da LEP). Já se decidiu, entretanto, que ao preso provisório

não se faz possível a remição dos dias trabalhados durante o período de custódia

provisória.

A jornada normal de trabalho não será inferior a seis, nem superior a

oito horas, com descanso aos domingos e feriados, podendo ser atribuído horário

especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação e

manutenção do estabelecimento penal (Art. 33 da LEP), e também aos que

desempenham atividades de “faxina”, na administração, em enfermarias etc.

54

A Lei de Execução Penal limita o artesanato sem expressão

econômica, permitindo-o apenas nos presídios existentes em região de turismo.

O disposto no Art. 32 § 1º da LEP, dirige aos responsáveis pela

administração do sistema penitenciário que deverão limitar, tanto quanto possível,

o exercício de atividade laborativa artesanal pelos presos, de tal forma que não

são proibidas, mas limitadas as atividades dessa natureza.

Se realizado o trabalho artesanal, ainda que não se trate de região de

turismo, evidentemente não se poderá negar o direito de remição de pena, desde

que atendidos os requisitos legais.

5.3 O trabalho externo

Nos precisos termos do Art. 36 da Lei de Execução Penal, “o trabalho

externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviços

ou obras públicas realizadas por órgãos da administração direta ou indireta, ou

entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da

disciplina”. A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento

expresso do preso (§ 3º).

A autorização para o trabalho externo não se insere no rol das

atividades jurisdicionais, não estando incluída no Art. 66 da Lei de Execução

Penal. Cabe ao diretor do estabelecimento prisional autorizar, ou não, o trabalho

externo, conforme está previsto no Art. 37, caput, da Lei de Execução Penal.

O trabalho externo submete-se à satisfação de dois requisitos básicos.

Um subjetivo, qual seja a disciplina e responsabilidade, que a nosso ver devem

ser apuradas em exame criminológico; e outro, objetivo, consistente na

obrigatoriedade de que tenha o preso cumprido o mínimo de um sexto de sua

pena.

55

Consoante a Súmula 40 do Superior Tribunal de Justiça, “para a

obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo, considera-se o

tempo de cumprimento da pena no regime fechado”.

Em outras palavras, ingressando no regime semi-aberto por

progressão, na avaliação do requisito objetivo indispensável para a concessão do

benefício, computa-se o tempo de pena cumprido no regime fechado.

Concedido o benefício, se o preso praticar fato definido como crime ou

for punido com falta grave, ou ainda, se faltar com o dever de disciplina e

responsabilidade, será revogada a autorização de trabalho externo.

56

6 PESQUISA

A pesquisa a seguir apresenta a visita realizada no dia 05/05/2013 ao

estabelecimento prisional Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL II),

localizada na BR-116 km 27, no município de Itaitinga. O Diretor Adjunto da

instituição, o Agente Penitenciário Elenildo Braga, colaborou ditosamente com a

entrevista, com duração de 45 minutos, ressaltando as deficiências da realidade

carcerária, concluindo com a demonstração visual da estrutura carcerária daquele

estabelecimento prisional. Apresentou, na sua experiência de 15 anos de efetivo

empenho, algumas possíveis soluções para a diminuição da reincidência criminal

no Estado do Ceará.

6.1 Entrevista concedida pelo Sr. Elenildo Braga - Diretor Adjunto da Casa

de Privação Provisória de Liberdade - CPPL II.

A visita à Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL II) trouxe

um melhor esclarecimento acerca do funcionamento de um estabelecimento

prisional de segurança média. Isso porque a Casa foi construída para abrigar

somente presos provisórios (entenda-se como os que aguardam a formulação do

título judicial da condenação criminal), mas, em função da realidade carcerária

que enfrenta o sistema prisional cearense, já perdeu a sua finalidade desviando

os objetivos da execução penal por conta da instituição abrigar, além dos presos

provisórios, os definitivos, e os que se encontram em regime semi-aberto e

aberto.

Essa deficiência em acolher somente os presos provisórios dá-se pela

falta da Colônia Agrícola de Amanari, que está desativada pela Secretaria de

Justiça Estadual, mas foi criada para abrigar os presos que progridem de regime,

e por falta da Casa do Albergado, instituição que deveria abrigar os presos do

regime aberto, mas que também está desativada, e hoje funciona apenas como

escritório na sede da administração da Secretaria de Justiça.

57

Reduzida a termo a entrevista, tem-se o que segue:

Que há exatos quinze anos, o Senhor Elenildo Braga pertence ao

efetivo de Agentes Penitenciários do Estado do Ceará, trabalhando há sete

meses naquela instituição de privação (CPPL II), que foi inaugurada no dia

01/06/2009.

O estabelecimento possui capacidade para 956 detentos, excedendo a

ínfima quantia em 74 reclusos, totalizando 1.030 encarcerados até a data da

visita. Objetiva a unidade receber apenas presos provisórios, mas restou

impossibilitada a tentativa, passando a receber presos definitivos do regime semi-

aberto e aberto de direito, mas não de fato.

A estrutura prisional foi copiada do sistema Norte Americano, mas

segundo enfatizou o Diretor, é inviável para a realidade existente, em vista que é

bastante próxima a comunidades urbanas. A recomendação dos projetistas é que

deveria ter sido construída na distância mínima de 100 quilômetros para dificultar

as tentativas de fuga, pela dificuldade de sobrevivência em regiões inóspitas.

Relatou haver histórico de tentativa de fuga, mas sem êxito, e que o

prédio, embora seja recém inaugurado, já se encontra deteriorado, passando

momentaneamente por reformas.

No tocante ao exame criminológico, respondeu que embora a

legislação traga a previsão de ser realizado na entrada e na saída do detento, não

se faz aos que chegam ao ambiente, somente ao que estão de saída, por ser

condição específica do alvará de soltura. Disse que essa dificuldade advém da

precária situação do sistema prisional de dispor somente de uma Profissional

Psiquiatra para atender à massa de mais de 18.000 mil encarcerados. Afirmou

que esses profissionais são mal remunerados e por isso não se interessam em

compor os quadros do Estado.

Para espanto, na ocasião disse que a atual Secretária de Justiça,

Mariana Lobo, comentou-lhe que a massa carcerária no Brasil cresce 5% ao ano

e no Estado do Ceará esse crescimento é de 9%.

58

Em tom de desabafo, ressaltou que as prisões cearenses, na sua

grande maioria, não passam de depósitos humanos que abrigam a escória social

e que há pouco interesse do Estado em querer solucionar o problema, por falta de

projetos de reintegração social dentro das unidades prisionais.

“... As pessoas ainda não perceberam que o detento se animaliza cada

vez mais e um dia retornará ao convívio social. A própria sociedade que o rejeita

se tornará sua vítima”... diz.

Segundo conta, a tuberculose é uma doença erradicada das cidades,

mas que dentro dos presídios apresenta alto índice devido à estrutura do

ambiente ser fechada. A assistência médica até existe, mas não como determina

a Lei que prevê atendimento médico 24 horas. Surgindo a necessidade e não

havendo médicos, a escolta do estabelecimento conduz o apenado até a unidade

emergencial mais próxima mediante autorização do diretor, que nessa hora pode

decidir sobre a saída do apenado.

No que toca à separação de presos provisórios dos presos definitivos,

diz ainda não existir, mas que é prioridade política do Estado, em vista de que

naquele estabelecimento penal prioriza-se a reintegração social do apenado por

meio do trabalho, pois a unidade dispõe de uma serigrafia e uma fábrica de bolas

de futebol.

No quesito educação, a LEP diz que o Ensino Primário é obrigatório na

unidade prisional, porém essa realidade é utópica em vista de não haver condição

de obrigar o preso a estudar, pois no mais das vezes lhes falta estímulo e o

rendimento não seria suficiente. Não existe laboratório de informática, projeta-se

para o futuro.

Já a assistência jurídica diz ser boa por conta da contratação de 02

advogados “ad hoc” para desempenhar a função de Defensores Públicos, e a

unidade também conta com 02 Defensores Públicos de formação. Já a

assistência psicossocial é desenvolvida pelo Governo Federal por meio do PCAD.

59

Quanto ao índice de criminalidade dentro dos presídios, o Estado ainda

não conseguiu acabar ou mesmo diminuir, pois o ócio dentro do estabelecimento

colabora para essa prática delitiva, em que os detentos gerenciam seus malfeitos

externos com o uso de tecnologias disponíveis como aparelhos celulares e

tablets.

A possível solução seria a implantação de bloqueadores de celular,

como já existe na unidade prisional de Pacatuba.

No quesito seleção de presos para o trabalho, é realizado por

observância dos detentos que fazem parte do projeto religioso Renascer e

aqueles que demonstram mudança de comportamento são aproveitados, sendo

indicados para o trabalho.

O preso ganha remuneração referente a ¾ do salário mínimo atual e a

verba é repassada para os familiares, pois no ambiente carcerário não pode haver

a circulação de moeda. Ainda deficiente é o espaço físico oferecido para a

iniciativa privada instalar seus moldes de produção, pois, se diversas empresas

se interessassem em aproveitar a mão de obra carcerária, não se teria estrutura

física suficiente para a instalação dos maquinários, pois compromete a

capacidade populacional do ambiente no que toca aos espaços físicos destinados

aos custodiados.

A droga continua fazendo parte da realidade nos presídios, mas o

Diretor Adjunto discorda do jargão entre os apenados de que “se faltar drogas, a

cadeia explode”.

Deveria ser um ambiente longe desse mal que só traz problemas e

continua por afirmar que falta a presença do braço forte do Estado para usar de

sua coercibilidade e coibir essa prática delituosa. Dificilmente o voluntariado,

exceto o religioso, procura as unidades para colaborar e incentivar na

ressocialização do apenado

A assistência material não é plena, faltando muitas vezes o material de

higiene dos presos. Já a alimentação é de boa qualidade e é fornecida por uma

empresa terceirizada.

60

O Diretor, conhecedor dessa realidade, já fez até monografia voltada

para a área carcerária, chamada de “A INFLUÊNCIA DA PENA DE PRISÃO NA

VIDA DO APENADO”.

Para a sua monografia, pesquisou sociologicamente sobre essa forma

negativa entre os apenados e o delinquente eventual (aquele considerado

cidadão, mas que delinquiu em um momento funesto), que passam a viver em

uma outra comunidade, totalmente diferente daquela em que estavam habituados.

Diz que muitas pessoas passaram a usar droga dentro das prisões, que por vez

não desempenham seu papel de punir ressocialzando, pelo contrário, estimulam a

grande massa a continuar praticando crimes. É UM ESTADO PARALELO, UMA

SOCIEDADE ALTERNATIVA - conclui.

Falando do preso egresso, no Estado do Ceará isso não existe,

porque não se tem como acompanhar o preso liberado pelo espaço de 01 ano,

como determina o mandamento inserto na LEP, o que é causado pela falta de

adequada estrutura, e sem falar dos presos que moram no interior do Estado, que

muitas vezes não dispõem de recursos financeiros para retornarem a sua

parentela, quando a tem. A sociedade não quer o egresso. Ignora-o.

Não sendo tão negativista, o acompanhamento é mínimo; existe um

protocolo para acompanhar a saída do preso e é feita pela CISPE. Esse

acompanhamento é satisfatório no momento, por conta da COPA DE 2014. Se

assim não fosse, o egresso estaria trabalhando ainda na parte externa da unidade

prisional.

No que toca à reincidência no Brasil, estudos realizados por Renato

Marcão demonstram que o grau é de 80%, pelos mais diversos motivos, entre

esses o de não ter sido ressocializado e dentro da cadeia não lhe foram

garantidos os direitos previstos na LEP.

61

6.2 Entrevista a uma empresaria do ramo de serviços terceirizados

Jovem empresária do ramo de atividades terceirizadas, a Sra.

Jaqueline Ribeiro, respondeu ser determinante no momento da contratação, que o

candidato tenha bons antecedentes, mesmo que a mão de obra seja qualificada.

Explica que o fato de terceirizar esse modelo de atividade laboral, tem como

requisito principal essa exigência, pois se alguma das empresas para as quais

presta serviços descobrir que o trabalhador terceirizado já teve passado criminal,

desfaz o contrato com a empresa tomadora do serviço.

Disse não sentir-se atraída e não ter conhecimento de incentivos fiscais

na contratação de presos egressos e conclui, informando que não teve

experiência com pessoas advindas do sistema carcerário.

6.3 Entrevista a um ex-detento do sistema carcerário cearense

A.C.R., é assim que prefere ser tratado na entrevista, em vista do

preconceito que o persegue há anos, tem formação primária e ficou preso por

cerca de dois anos pelo crime de roubo. Disse que ter respondido a esse tipo de

crime traz a ele uma pecha.

Respondeu que sempre que procurava emprego e afirmava ser oriundo

do sistema prisional era cortado da seleção. Para tanto, as empresas que o

admitiram só o fizeram porque não cuidaram de investigar seus antecedentes.

O problema só foi resolvido, diz, depois de ter conseguido juntar

dinheiro para então comprar uma motocicleta e trabalhar de moto taxista, com o

que consegue obter renda superior ao que recebia quando estava trabalhando de

carteira assinada.

... Só consegui dizer não ao crime com o apoio dado pela família e pelo compromisso do casamento e de ter que manter os filhos menores, somados a minha força de vontade. (A.C.R, 34 anos).

62

7 A REALIDADE CARCERÁRIA NO ESTADO DO CEARÁ

Em apenas dois anos, a massa carcerária do Estado do Ceará cresceu

na ordem de 35,3 por cento. Dados da Secretaria da Justiça e da Cidadania do

Estado do Ceará (SEJUS) revelam que, em 2009, havia um total de 12.872

presos no Ceará. Em 2010, esse número saltou para 15.201. No ano passado,

entre janeiro e novembro (conforme levantamentos da Pasta), a massa carcerária

chegou a 17.428².

Desde 2009, várias unidades do Sistema Penal cearense entraram em

processo de desativação determinado pela Justiça. Entre elas, está o velho

Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), situado no km 27 da BR-116, no Município

de Aquiraz. Ao longo de sua história, o IPPS foi palco de muitas fugas e mortes,

além de grandes rebeliões. Algumas ficaram marcadas na história do Ceará,

como a ocorrida em março de 1994, quando o Arcebispo de Fortaleza, Dom

Aloísio Lorscheider, foi sequestrado juntamente com outros reféns. O IPPS agora

passa por gradual desativação. Também foi desativada a Colônia Agrícola do

Amanari.

O último relatório de efetivos de presos nas unidades penais do Ceará,

elaborado pela SEJUS e divulgado no site da Pasta, revela que, dos 17.428

presos do Sistema Penal cearense, 10.107 estão recolhidos nas principais

unidades do sistema, como o Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), com 581

detentos; no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II e nas Casas de

Custódia, cerca de 4.983, além de outros 573 na Penitenciária Industrial Regional

de Sobral (PIRS), 533; na Penitenciária Industrial Regional do Cariri (PIRC), 533

internos; e, ainda, o Presídio Feminino, com 489 detentas.

_________________________________ ² consultada realizada no sítio jornal do diário do nordeste, em 08 de julho de 2013 às 19:43 hs. http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1099719

63

7.1 Dos estabelecimentos prisionais existentes

IPF - Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa

Penitenciária para presas em regime fechado, o Instituto Penal Feminino

Desembargadora Auri Moura Costa foi inaugurado a 22 de agosto de 1974.

IPPOO 1 - Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira 1 (desativado)

Presídio para presos indiciados, localizado no município de Fortaleza, o Instituto

Presídio Professor Olavo Oliveira I foi inaugurado a 25 de maio de 1978. Unidade

fora desativada em 2012.

IPPOO 2 - Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira 2

Presídio para detentos indiciados, localizado no município de Itaitinga, o IPPOO II

foi inaugurado a 19 de setembro de 2002.

IPPS - Instituto Penal Paulo Sarasate

Penitenciária localizada no município de Aquiraz, na Br 116, Km 27, o Instituto

Penal Paulo Sarasate foi inaugurado a 18 de agosto de 1970, na gestão do então

Presidente da República, o Gel Garrastazu Médici. Nas décadas de 80 e 90, o

IPPS teve sua capacidade triplicada. Essa unidade está em processo de

desativação, não recebendo mais nenhum interno.

Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo - Pacatuba – PFHVA

Penitenciária de segurança média, localizada no município de Pacatuba,

inaugurada no dia 29 de novembro de 2011, com capacidade para 500

condenados em regime fechado.

HGSPPOL - Hospital Geral e Sanatório Penal Professor Otávio Lobo

O Hospital Geral e Sanatório Penal Professor Otávio Lobo foi inaugurado a 12 de

setembro de 1968.

IPGSG - Instituto Psiquiátrico Governador Stênio Gomes

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Localizado ao lado do Hospital Geral e Sanatório Penal Professor Otávio Lobo, o

Instituto Psiquiátrico Governador Stênio Gomes foi inaugurado a 12 de setembro

de 1968.

PIRC - Penitenciária Industrial Regional do Cariri

Penitenciária para detentos em regime fechado, localizada no Município de

Juazeiro do Norte, A PIRC foi inaugurada a 17/11/2000.

PIRS - Penitenciária Industrial Regional de Sobral

Penitenciária para presos em regime fechado, localizada no município de Sobral,

a PIRS (Penitenciária Industrial Regional de Sobral) foi inaugurada em março de

2002.

CPPL de Caucaia - Casa de Privação Provisória de Liberdade

Desembargador Francisco Adalberto de Oliveira Barros Leal

Localizada na BR 020, Km 03 - entrada do aterro sanitário - Caucaia. Unidade

voltada para preso provisório, que será transformada em Centro de Triagem.

CPPL 1 - Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Luciano Andrade

Lima

Localizada na BR 116, Km 17 - Itaitinga. Unidade voltada para o preso provisório.

CPPL 2 - Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo

Pinto

Unidade voltada para preso provisório. Inaugurada no dia 1º de Julho de 2009. A

unidade tem capacidade para 952 detentos.

CPPL 3 - Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto

Unidade voltada para preso provisório. Inaugurada no dia 24 de Agosto de 2010,

pelo governador do Estado do Ceará, Cid Gomes, e pelo Secretário da Justiça e

Cidadania, Marcos Cals. Possui capacidade para 952 detentos.

CPPL IV - Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Penitenciário

Elias Alves da Silva

65

Unidade voltada para preso provisório. Inaugurada no dia 20 de Agosto de 2013,

pela Secretária da Justiça e Cidadania, Mariana Lobo. Possui capacidade para

936 detentos.

Colônia Agrícola do Cariri

Colônia Agrícola do Cariri Padre José Arnaldo Esmeraldo de Melo. Colônia para

presos em regime semi-aberto, localizada no município de Santana do Cariri. Sua

inauguração data dos anos 70.

Colônia Agropastoril do Amanari (desativada)

Localizada no Município de Maranguape, desde a sua criação, a Colônia do

Amanari esteve sob a gestão da Secretaria de Segurança Pública.

Com a promulgação da Constituição de 1988, não foi mais possível manter

aquela Colônia nos moldes em que funcionava.

Casa do Albergado Localizada no município de Pacatuba e inaugurada na década dos anos 90, na

gestão do então Governador do Estado Ciro Ferreira Gomes, sendo Secretário da

Justiça o Dr. Antônio Leite Tavares, aquela casa, que deveria abrigar reclusos em

regime semi-aberto e aberto, está desativada e em sua substituição funciona

apenas um escritório na sede da Secretaria da Justiça e Cidadania.

7.2 Massa carcerária e sua evolução em quantitativos, no período de 2008 a

2013 no Estado do Ceará

Em pesquisa realizada no sítio da Secretaria de Justiça (SEJUS),

publica-se o relatório semanal vinculado ao mês de levantamento do efetivo de

presos existente nas unidades penais do Estado do Ceará³.

________________________________________ ³ - pesquisa realizada na data de 05 de julho de 2013 as 14:56:12 no sítio: http://www.sejus.ce.gov.br/index.php/gestao-penintenciaria/39/70

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Visualizando o aumento da massa carcerária no período de 2008 até o ano

de 2013.

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - julho de 2008

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 5.618 1.633 7.251

CADEIAS PÚBLICAS 3.827 1.676 5.503

Nº de Presos da SEJUS 9.445 3.309 12.754

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - julho de 2009

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 6.555 1.864 8.419

CADEIAS PÚBLICAS 3.728 1.943 5.671

Nº de Presos da SEJUS 10.283 3.807 14.090

Unidades Policias - interior 181 92 273

TOTAL GERAL 14.636

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - julho de 2010

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 7.110 2.206 9.316

CADEIAS PÚBLICAS 3.848 1.849 5.697

Nº de Presos da SEJUS 10.958 4.055 15.013

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - julho de 2011

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 7.393 2.595 9.988

CADEIAS PÚBLICAS 4.191 1.623 5.814

Nº de Presos da SEJUS 11.584 4.218 15.802

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - junho de 2012

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 7.749 3.272 11.021

CADEIAS PÚBLICAS 4.652 1.984 6.636

Nº de Presos da SEJUS 13.945 4.941 17.657

67

PRESOS NO ESTADO DO CEARÁ - junho de 2013

FECHADO S.A e ABERTO TOTAL

UNIDADES PRINCIPAIS 8.959 3.198 12.157

CADEIAS PÚBLICAS 4.986 1.743 6.729

Nº de Presos da SEJUS 13.945 4.941 18.886

GRÁFICO REPRESENTANDO O CRESCIMENTO DA MASSA CARCERÁRIA NO CEARÁ

0 5.000 10.000 15.000 20.000

JULHO DE 2008

JULHO DE 2019

JULHO DE 2010

JULHO DE 2011

JUNHO DE 2012

JUNHO DE 2013

Série1

68

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo o apanhado teve como objetivo demonstrar a deficiência do

sistema prisional cearense no tocante à superlotação que afeta as unidades

prisionais. Os questionamentos advindos dessa investigação não tiveram a

intenção de simplesmente apontar as falhas, mas criar uma discussão em torno

do assunto com o fito de colaborar de uma forma que proporcione o despertar da

sociedade cearense para a verdadeira realidade do sistema prisional atual.

Sabe-se que o interesse não deveria ser apenas político, pois é uma

necessidade que nasce da própria sociedade que exclui o preso, ao invés de

reintegrá-lo à convivência social. Essa sentença eterna fica tatuada na sua

imagem como pessoa, não podendo fazer uso da sua dignidade que foi

preservada pela sentença condenatória, por ser sujeito de direitos e ter as

garantias constitucionais preservadas, mesmo que não respeitadas.

8.1 Das possíveis soluções para o problema

É fato e percebe-se o desvio de finalidade das instituições

penitenciárias no Brasil. Sua função, além da punição pelo mal praticado, deveria

ser o de ressocializar para tornar o apenado preparado para o convívio social.

Mas, por via de conseqüência, esse objetivo principal não é alcançado em meio a

muitos fatores já trazidos no introito deste trabalho.

Conforme CARVALHO (2001, p. 223), o Brasil administra um dos dez

maiores sistemas carcerários do mundo. Esse autor registra que:

Juntamente com o Brasil, apenas dez países do mundo possuem mais

de cem mil presos. São eles: Estados Unidos, China, Rússia, Índia, Irã,

México, Ruanda, África do Sul, Tailândia e Ucrânia. Os três primeiros

(Estados Unidos, China, Rússia) são os únicos que encarceram mais de

um milhão de pessoas.

69

Durante todo o apanhado, procurou-se demonstrar que o sistema

carcerário brasileiro já passou por grandes mudanças tendentes a conservar o

espírito humanístico na aplicação das penas.

Dito isso, sabe-se que a legislação especial, que trata da matéria,

preocupa-se com a ressocialização do preso, mesmo não atingindo esse objetivo

de forma plena, pois não são respeitados vários direitos elencados ao

ressocializando que, na maioria das vezes, só conheceu o Estado na forma

repressora, e não o Estado garantista do pacto contratual.

Logo se conclui que é difícil ressocializar quem ainda não foi

socializado, e que por vez habita em ambientes onde grande parte das

legislações não são respeitadas, mas visa o harmônico convívio daqueles que

querem fazer uso da oportunidade que lhes é dada para se recuperar.

Outro fator que merece destaque é a falta de estrutura e de maiores

incentivos fiscais tendentes a atrair a massa empresarial para dentro dos

estabelecimentos penais, mesmo porque a estrutura desses não suporta a visão e

a necessidade de mercado de uma era capitalista em que se deve produzir em

grandes escalas.

Sabe-se que o preconceito da sociedade ainda é muito forte. O

apenado vive estigmatizado por uma sentença eterna, e se sente fragilizado por

não ter mais o respeito das pesso’as que sabem que outrora ele se marginalizou.

Outro fator preponderante é a figura de um referencial familiar, como

dito na entrevista do Diretor Adjunto. Para cada dez alvarás judiciais concedidos,

em média sete não apresentam o nome do pai do apenado, mostrando que a

família, que é a base da sociedade, também sofre com a falta de compromisso

dos genitores que deixam de reconhecer a paternidade de seus filhos,

proporcionando, a grande maioria, um futuro incerto causado pelo abandono

material, intelectual e emocional. Restando ao Estado contar os dias para ter que

fazer parte de mais um problema social: dissolução familiar.

70

Por concluir, o trabalho tem na vida dos indivíduos um papel

fundamental de dignificar; é a firmeza do modo como sobrevive o partícipe da

construção de uma sociedade idealista, mais justa, pluralista e fraterna.

É por meio dele que as cadeias produtivas se organizam e se

multiplicam. Cumpre salientar que grande parte dos encarcerados só vê o

trabalho como instituto aproveitado para o cálculo de remição ou por ser uma

forma de remuneração para prover a sustentabilidade própria ou de terceiros.

Contudo, o enfoque desse problema não se encontra somente na aplicabilidade

da Lei, mas também na cooperação da comunidade em receber, sem

preconceitos, o preso egresso e na formação deste no momento que lhe é

possibilitada a atividade laboral.

Diante dos aludidos comentários, ficou fácil observar que a Lei de

Execuções Penais, além de moderna, traz boas intenções, sendo considerada

uma das mais avançadas do mundo no que toca a preservar a dignidade da

pessoa humana na vida do apenado, contudo não executa os comandos

normativos de forma plena. A exemplificar essa premissa, tem-se que a previsão

de haver diferentes tipos de estabelecimentos penais encontra-se obstada pela

superlotação, que é a mola mestra para impedir a efetividade das políticas de

ressocialização previstas na legislação. A falta de acesso à saúde, o ócio, a

impunidade que impera nas cadeias e a falta de assistência jurídica acabam por

estimular o apenado a se aperfeiçoar na vida do crime.

Há de ser destaca ainda o aumento assustador da massa carcerária

nos intervalos dos anos 2008 à 2013 conforme demonstrado pela Secretaria de

justiça do Estado do Ceará. Tal fato elenca diversos fatores que corroboram para

esse aumento, entre eles a falta de oportunidade de profissionalização nas

penitenciárias.

Os valores éticos e morais precisam de modo urgente de restauração,

pois a sociedade acostumou-se a viver em meio às banalidades que a mídia

propaga e que invadem dia a dia as nossas residências, tomando o tempo das

famílias e desconstruindo os valores que eram defendidos pelas antigas

gerações.

71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Código Penal anotado. 8 ed. São Paulo: Saraiva,1998.

Lei 7.210 de 11 de julho de 1984

CAPEZ, Fernando, Execução Penal simplificado,14ª ed – São Paulo,

Saraiva,2011.

MARCÃO, Renato, Curso de execução penal, São Paulo, Saraiva,2011

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões. 14. ed.

Petrópolis: Vozes, 1996, p. 208.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Natureza jurídica da execução penal. São Paulo:

Max Limonad 1987

MESSA, Ana Flavia. Prisão e liberdade. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2009, p. 26.

PESQUISA NA INTERNET

http://estudosdedireitoprocessualpenal.blogspot.com.br/2008/07/conceito-e-

objeto-do-direito-processual.html, (consulta realizada em 02/07/2013 as 14:45 hs)

http://jus.com.br/revista/texto/932/evolucao-historica-do-direito-penal, (consulta

realizada em 01/07/2013 as 15:40 hs)

http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/16994-16995-1-PB.htm,

(consulta realizada em 29/06/2013 as 14:00 hs)

http://www.nplyriana.adv.br/link_geral.php?item=geral30&titulo=Origem+e+Evolu

%E7%E3o+das+Pris%F5e, (consulta realizada em 30/06/2013 as 16:00 hs)

http://www.fragoso.com.br/eng/arq_pdf/artigoshomenagem/arquivo3.pdf, (consulta

realizada em 04/07/2013 as 20:00 hs)

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ANEXOS

01 – DECLARAÇÃO DE COMPARECIMENTO NA UNIDADE PRISIONAL CPPL II

02 – ENTREVISTA A UMA EMPRESÁRIA DE SERVIÇOS TERCEIRIZADOS