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“Aspectos Legais da Comunicação em Língua Brasileira de Sinais como instrumento de atendimento clínico e educacional”

Aspectos Legais da Comunicação em Língua Brasileira de Sinais como instrumento de atendimento clínico e educacional

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Material da palestra proferida pelo professor Edmarcius Carvalho Novaes, no I Congresso Virtual de Psicologia Saúde e Educação do Rio de Janeiro, promovido pela Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro e Instituto de Psicologia CRESCER, em 22 de maio de 2011

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“Aspectos Legais da Comunicação em Língua Brasileira de Sinais como

instrumento de atendimento clínico e

educacional”

OBJETIVO:

Valorizar a utilização da Libras – LínguaBrasileira de Sinais – como instrumento decomunicação no atendimento clínico eeducacional.

MÉTODO:

Identificação do amparo legal que garante oatendimento clínico e educacional em Libraspara usuários surdos, através de pesquisa, naperspectiva jurídica.

Um Olhar Terminológico:

• Portador de necessidades especiais;

• Portador de deficiência física

• Pessoa com deficiência;

• Deficiência x eficiência: confusão;

• Surdo – mudo;

• Deficiente auditivo;

• Deficiente visual;

• Surdo – cego;

PESSOAS SURDAS – UM OLHAR HISTÓRICO:

Cada período foi construído com valores, atitudes, concepções,visões, metáforas, imagens, conotações predominantes nocontexto social, político e cultural, no qual a pessoa com ou semdeficiência encontra-se inserida.

a) IDADE ANTIGA – 3.500 a.C à 476 d.C:

Etapa do Extermínio. Na Roma e Grécia Antiga, a pessoa comdeficiência era exterminada ou abandonada, não representandoproblema de natureza ética ou moral. Visava a disciplina militar,não admitindo-se indivíduos com poucas habilidades. O idealera“mens sana in corpore sano”, ou seja, a sabedoria dominaria ocorpo e lhe traria toda a beleza de que precisasse para homensguerreiros.

b) IDADE MÉDIA – 476 d.C à 1.453 d.C:

Etapa Filantrópica: o Cristianismo se deu com a constituição efortalecimento da Igreja Católica e o surgimento do Clero. Pelosideais cristãos pessoas doentes, defeituosas ou mentalmenteafetadas não podiam mais ser exterminadas. A educação erareligiosa com formação para guerras e artes. As pessoas comdeficiência deixam ser consideradas coisas para serem filhos deDeus, sendo abrigadas em asilos, conventos e igrejas.

c) IDADE MODERNA – 1.453 d.C à 1.789 d.C:

Etapa Científica: Ações de tratamentos médicos eramdesenvolvidas para pessoas com deficiência. Serviam de tese dedesenvolvimento para ações de ensino para pessoas comdeficiência.

d) IDADE CONTEMPORÂNEA – 1.789 d.C aos dias de hoje:

Noção de normal e normalidade no século XVIII eXIX. Evolui da compreensão de ser uma pessoalimitada mas com potencialidade, capaz, parapessoas com possibilidades de aprendizagem.Desenvolveram-se alternativas para os alunosque, em função de suas necessidadeseducacionais não conseguem se desenvolver nosistema regular de ensino.

Filosofias clínicas e educacionais

em relação a surdez:

a) Oralismo: Defende o aprendizado apenas da línguaoral. A língua oral é analisada como instrumentode integração social e de aprendizado global e dacomunicação. Visa-se recuperar a pessoa surda,denominada „deficiente auditivo‟

b) Bilingüismo: Defende o aprendizado da língua orale da língua de sinais, reconhecendo o surdo na suadiferença e especificidade. Tem o papel de suportedo desenvolvimento cognitivo.

Integração/ Inclusão x Individualização:

A legislação brasileira vem trabalhando a inclusão dessas pessoas emescolares regulares, com a justificativa na necessidade da socializaçãocom o diferente. Nesse contexto, o papel da escola é de socializar,defrontar num mesmo território uma gama de diferenças, na perspectivade trocas de experiências, e não essencialmente o processo deaprendizagem comum que a pessoa, no caso, surda, tem direito.

A crítica é que esse processo de inclusão de pessoas com deficiência éfeita de maneira uniforme, não levando em consideração asespecificidades de cada grupo. Há a rejeição do reconhecimento de umadiferença lingüística e de formação em razão da língua, de umaidentidade própria, específica da comunidade surda. A criança surda,quando colocada num território de escola regular, não conseguevivenciar de verdade a real interação, nem pode tomar decisões, pois elaé vista como exceção por seus colegas ouvintes.

Integração/ Inclusão x Individualização:

Já a individualização, pelo contrário, entende que o processoeducacional que reconhece a diferenciação lingüística da pessoa surdaem detrimento de todos os demais componentes do segmento comdeficiência, que fazem uso da língua pátria, desenvolve-se naperspectiva de um processo educacional específico, que visa àaprendizagem e o fortalecimento da aquisição da Língua Brasileira deSinais como a primeira língua, e da Língua Portuguesa como segundalíngua.

Isso justificaria a existência ou permanência das instituições escolaresespecíficas ou classes exclusivas para pessoas surdas. Para defensoresdesta linha, é muito claro que a realização da socialização tambémocorre, uma vez que, neste território, o professor deixa de ser quemmanda, e, portanto, há democracia. Há também a participação, porincorporar os pais dos alunos. É cooperativa, por ser um trabalho detodos, e também comunitária, por ser a comunidade dos surdos. Éprincipalmente ativa, porque, ao tomarem decisões, fazem e aprendem,produzindo.

Língua x Linguagem:

• Numa ordem meramente lingüística, compreende-sepor “linguagem”, um “sistema (elementos ordenados e relacionadosentre si) que visa comunicação, a partir de elementos básicos/signos(significante/conceito e significado/forma). Assim, teríamos a linguagemfalada, visual, corporal, a língua, etc” (NOVAES, 2008).

• Neste sentido, linguagem pode ser entendida como “um sistema decomunicação natural ou artifical, humana ou não”. (QUADROS, 2006).

• Já a “língua” se dá a partir de palavras/unidades básicas (itens lexicais),consideradas como signos verbais. Trata-se de “um sistema lingüísticode infinitas frases de forma altamente criativa”.

MITOS SOBRE A LIBRAS:

• A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta,

incapaz de expressar conceitos abstratos.

• Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as comunidades

de surdos.

• Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, fazendo com

que essas sejam subordinadas e inferiores às línguas orais.

MITOS SOBRE A LIBRAS:

• A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo

restrito, sendo estética, expressiva e lingüisticamente inferior ao sistema de

comunicação oral.

• As línguas de sinais teriam sido derivadas da comunicação gestual espontânea

dos ouvintes.

• As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, seriam processadas

no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo

processamento da informação espacial, enquanto que o esquerdo, pelo da informação

lingüística.

LIBRAS: Um novo jeito de ver o mundo

LIBRAS: Um novo jeito de ver o mundo

RESULTADOS:

a) Lei n° 8.080/90 – Consolida o SUS;

b) Decreto n° 3.298/99 – Política Nacionalpara a Integração da Pessoa com Deficiência;

c) Portaria do MS n° 2.073/GM – PolíticaNacional de Atenção à Saúde Auditiva;

d) Lei n° 10.436/2002 – Reconhece Libras;

e) Decreto n° 5.256/2005 – Regulamenta ouso da Libras

Lei n° 8.080/90 – Consolida o SUS:

Princípios do SUS:

a) Universalidade – é a compreensão de que todas as pessoas tem direito ao atendimento;

b) Equidade – defende que todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades

c) Integralidade – todas as ações devem ser combinadas e voltadas ao mesmo tempo para os mios curativos quanto para os preventivos.

Decreto n° 3.298/99 – Política Nacional para aIntegração da Pessoa com Deficiência:

Promoção de ações preventivas. Paradeficientes auditivos é concedida ajudatécnica de próteses auditivas (aparelhosauditivos e implantes cocleares).

Art. 21 determina orientação psicológicadurante todas as fases do processo dereabilitação auditiva.

Portaria do MS n° 2.073/GM – Política Nacional deAtenção à Saúde Auditiva:

Prevê atendimento integral, com ações que englobama atenção básica (trabalhos de promoção da saúde,prevenção e identificação precoce do problemaauditivo), de média e de alta complexidade (triagemde bebês, diagnósticos, tratamento clínico ereabilitação com o fornecimento de aparelho auditivoe terapia fonoaudiológica).

Regulamentação:a) 587, de 7 de outubro de 2004;b) 589, de 8 de outubro de 2004.

Lei n° 10.436/2002 – Reconhece Libras:

Art. 3° - As instituições públicas e empresasconcessionárias de serviços públicos deassistências à saúde devem garantiratendimento e tratamento adequado aosportadores de deficiência auditiva, de acordocom as normas legais em vigor.

Decreto n° 5.256/2005 – Regulamenta o uso daLibras:

Capítulo VII – Garantia do Direito à Saúde dasPessoas Surdas: uma visão bilíngüe.

Art. 25, inciso III: Obrigatoriedade da informaçãode “orientações à família, sobre as implicações dasurdez e sobre a importância para a criança comperda auditiva ter, desde seu nascimento, acessoà Libras e à Língua Portuguesa.

Decreto n° 5.256/2005 – Regulamenta o uso da Libras:

O atendimento deve ser feito por profissionais capacitadospara o uso da Libras ou para uso da tradução einterpretação (Art. 25, IX)

Medida de atenção integral: apoio à capacitação eformação de profissionais da rede de serviços do SUS parao uso da Libras e sua tradução e interpretação (Art. 25, X)

Art. 1°, parágrafo primeiro, garante o mesmo atendimentointegral para os alunos surdos ou com deficiência auditivanão usuários da Libras.

CONCLUSÃO:

A falta de comunicação em Libras noatendimento clínico e educacional não sedeve, na realidade, a ausência de previsãolegal.

O que falta é a execução pelos profissionaisdo que já está posto no Direito.

IMPLICAÇÕES CLÍNICAS E EDUCACIONAIS:

É de suma importância que os profissionaisdesses segmentos assumam uma posturamais firme com vistas ao cumprimento dalegislação, adquirindo como instrumento deatuação o uso da Língua Brasileira de Sinais.

EDMARCIUS CARVALHO:

É Bacharel em Direito. Pós-graduando em Direito Público; MBA emAdministração Pública e Gestão de Cidades; Educação Especial eInclusiva com ênfase em Libras; e em Docência para o Ensino Superior.

É gerente da CAAD – Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoacom Deficiência – Secretaria Municipal de Assistência Social eparticipante do CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social) e doCMPD (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência) de GovernadorValadares.

Autor do livro: “SURDOS: Educação, Direito e Cidadania” (WAK Editora,2010).

[email protected]

www.edmarciuscarvalho.blogspot.com