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Rafael Lima Marques ASPECTOS POLÊMICOS TRIBUTAÇÃO DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS Seminário Contabilidade do Setor Cooperativo - 18/8/2017

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Rafael Lima Marques

ASPECTOS POLÊMICOS

TRIBUTAÇÃO DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS

Seminário Contabilidade do Setor Cooperativo - 18/8/2017

1º Destaque: PIS e COFINS 

STF e as Cooperativas de Trabalho ou Serviços

No STF começa aqui a definição dos paradigmas...

RE nº 595.838/SP (2014)-STF julga inconstitucional o art. 22, IV, da Lei nº 8.212/91, com a

redação dada pela Lei nº 9.876/99. - “o pagamento feito pela empresa à cooperativa, em face de serviço

prestado por cooperado a ela, não pressuporia a remuneração direta da empresa ao contribuinte individual, porquanto a cooperativa reveste-se de personalidade jurídica própria, com o que a titularidade dos recursos seriam da própria cooperativa”.

Em face daquela decisão, anunciava-se o que viria pela frente...

No final de 2014, RREE nºs 598.085/RJ, relator o Ministro Luiz Fux e 599.362, relator o Ministro Dias Toffoli, decidiu-se que os valores faturados do mercado seriam tributados na Cooperativa.

Ficou assentado, com trânsito em julgado do RE 599.362, que:

"A receita auferida pelas cooperativas de trabalho decorrentes dos atos (negócios jurídicos) firmados com terceiros se insere na materialidade da contribuição ao PIS/PASEP”

No RE 598.085

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TRIBUTÁRIO. ATO COOPERATIVO. COOPERATIVA DE TRABALHO. SOCIEDADE COOPERATIVA PRESTADORA DE SERVIÇOS MÉDICOS. POSTO REALIZAR COM TERCEIROS NÃO ASSOCIADOS (NÃO COOPERADOS) VENDA DE MERCADORIAS E DE SERVIÇOS SUJEITA-SE À INCIDÊNCIA DA COFINS, PORQUANTO AUFERIR RECEITA BRUTA OU FATURAMENTO ATRAVÉS DESTES ATOS OU NEGÓCIOS JURÍDICOS. CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE “ATO NÃO COOPERATIVO” POR EXCLUSÃO, NO SENTIDO DE QUE SÃO TODOS OS ATOS OU NEGÓCIOS PRATICADOS COM TERCEIROS NÃO ASSOCIADOS (COOPERADOS), EX VI, PESSOAS FÍSICAS OU JURÍDICAS TOMADORAS DE SERVIÇO. POSSIBILIDADE DE REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO FISCAL (ISENÇÃO DA COFINS) PREVISTO NO INCISO I, DO ART. 6°, DA LC Nº 70/91, PELA MP Nº 1.858-6 E REEDIÇÕES SEGUINTES, CONSOLIDADA NA ATUAL MP Nº 2.158-35.

(...)

11. Ex positis, dou provimento ao recurso extraordinário para declarar a incidência da COFINS sobre os atos (negócios jurídicos) praticados pela recorrida com terceiros tomadores de serviço, resguardadas as exclusões e deduções legalmente previstas. Ressalvo, ainda, a manutenção do acórdão recorrido naquilo que declarou inconstitucional o § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, no que ampliou o conceito de receita bruta.

STF Conceitos pendentes de decisão no Supremo...  RE 672.215/CE, relator o Ministro Luís Roberto Barroso, ainda analisará

o conceito constitucional de ato cooperativo, de cooperativa e de cooperado.

 Direcionamento começa a ser definido:

- Min. Barroso adiantou, em processo envolvendo cooperativa de crédito, que os atos internos não são sujeitos à tributação.

Decisão de junho de 2017: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO 547.880: (...) Quanto ao mérito, a pretensão recursal também não merece prosperar. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 598.085-RS, de relatoria do Ministro Luiz Fux, decidiu pela não incidência da COFINS em atos cooperativos. Naquela assentada, restou consignado que a referida contribuição incide apenas sobre os atos não cooperativos praticados, e não sobre a receita bruta total das cooperativas.”

STJ

Tribunal mudou de posição por mais de uma vez... Arrecadação e repasse a cooperados já foi considerada ato cooperativo, deixou de ser, voltou a ser e deixou novamente de ser. Fixada a tese:

Recurso Especial nº 1.141.667/RS, pelo rito do art. 543-C, do CPC 1973 (atual art. 1.036, caput, CPC 2015), Relator o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, fixa a seguinte tese:

“não incide a contribuição destinada ao PIS/COFINS sobre os atos cooperativos típicos realizados pelas cooperativas.”

Em resumo, conclui-se que:

a) o STF definiu, até então, que os valores provenientes do mercado, tipificam o faturamento e

b) o STJ, sem ferir a orientação do STF, entendeu que os atos internos, entre cooperados e cooperativa, ou entre cooperativas associadas, não tipificam o faturamento.

c) STF em 2017 valida essa interpretação do STJ.

2º Destaque: Possível reflexo no IRPJ e CSLL   CARF - Conselho Administrativo de Recursos Fiscais antes mesmo da

decisão do STF já vinha sinalizando nesta linha, na esteira dos precedentes anteriores do STJ, que se confirmam pelos atuais:

“ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ. COOPERATIVAS. OPERAÇÕES REALIZADAS COM TERCEIROS.

... as situações que constituam operações realizadas com terceiros não associados, sejam os terceiros na qualidade de contratantes de planos de saúde (pacientes), ou sejam na qualidade de credenciados pela Cooperativa para prestarem serviços aos cooperados (laboratórios, hospitais e clínicas), deve haver a tributação do IRPJ e CSLL normalmente sobre tais atos negociais. (...)”

O voto elucida que:

“Como se vê (vide o item 3 do último julgado transcrito), o entendimento do STJ sobre a natureza tributável dos atos praticados pelas cooperativas operadoras de planos de saúde, "tipo UNIMED" é no sentido de que deve haver incidência tributária sobre as relações jurídicas estabelecidas entre estas e terceiros, sejam na qualidade de contratantes de planos de saúde (pacientes), sejam na qualidade de credenciados para prestarem serviços aos cooperados (laboratórios, hospitais e clínicas). Portanto, segundo esse entendimento, a totalidade dos ingressos obtidos dos contratantes (pacientes) pode ser tributada, como de fato o foi.”

(Processo 10380.724723/201357, acórdão 1401001.606 - 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, 03 de maio de 2016, recorrente Unimed de Fortaleza)

Também nesta linha encontramos a seguinte decisão:

“ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ

Ano-calendário: 2008

COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS. RECEITA DA VENDA DE PLANOS DE SÁUDE. ATO NÃO COOPERATIVO.

Não são considerados atos cooperados aqueles praticados pela cooperativa de serviços médicos que, atuando como operadora de plano de saúde, aufere precipuamente receitas decorrentes de operações com terceiros voltadas à comercialização de produtos e serviços.

(...)CSLL. DECORRÊNCIA.

Versando sobre as mesmas ocorrências fáticas, aplica-se ao lançamento reflexo alusivo à CSLL o que restar decidido no lançamento do IRPJ.”

(Processo nº 16682.721218/201332, acórdão 1402-002.089 - IRPJ e CSLL – Ato Cooperado, recorrente a Unimed Rio. Julgado pela 4ª Câmara, 2ª Turma Ordinária, na sessão de 18 de janeiro de 2016).”

Critério de Rateio... (?!)

Sobre o critério de rateio, embora deduzido o raciocínio em autuação de contribuições do PIS e da COFINS, uma vez mais o CARF sinalizou ser indiferente quando se tratar de valores decorrentes da comercialização de planos de saúde:

“Especificamente em relação à tributação das receitas auferidas pelas cooperativas pela Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, depois de longa discussão sobre a matéria, no âmbito da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento dos RREE 598.085/RJ e 599.362/RJ, (...)

 3) Da apuração da base de cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins.

Com base no entendimento anteriormente exposto, fica demonstrado que não tem amparo legal a forma de apuração da base de cálculo das referidas contribuições, realizada pela recorrente, mediante a segregação das receitas (tributáveis ou não) com base nos percentuais de rateio calculados com base nos custos com atos cooperativos principais (custo com médicos e prestadores), atos cooperativos auxiliares (custo com laboratórios, diagnose e terapia, dentre outros) e atos não cooperativos (custo com demais atos), com a inclusão na base de cálculo das referidas contribuições somente da parcela das receitas proporcionais aos custos/despesas com os atos auxiliares e os atos não cooperativos.

Outra do CARF...

O fato de os pagamentos realizados pela cooperativa configurarem ou não um ato cooperativo é indiferente para a apuração da Cofins, pois se trata de uma contribuição que incide sobre o faturamento ou receita bruta, ou seja, que se refere ao ingresso de recursos na entidade e não à saída de recursos. (...)Acórdão nº 3403001.986,de 20/03/2013, relator Conselheiro Ivan Alegretti – 3ª TO/4ª Câmara/3ª Seção do CARF).

Não se quer dizer que a segregação dos atos na contabilidade não deva mais ser feita. Antes pelo contrário, tendo em vista que os chamados atos cooperativos internos continuam a salvo da tributação e a discussão ainda prossegue, conforme RE a ser relatado pelo Min. Barroso (conceito dos atos).

Mas há sinais claros apontando para a definição da classificação destes atos...

3º Destaque:

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) - Juros sobre Capital Próprio

Fundamentadas na Lei nº 9.249/95, art. 9º, §2º, consolidado no art. 668 do Decreto nº 3.000/99 - RIR, as cooperativas se obrigavam a reterem e recolherem o equivalente a 15% dos juros creditados em conta de capital social dos associados, a título de IRRF:

“Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.

(...)

§ 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário.”

A base de cálculo e o limite legal adotado pelas cooperativas tem respaldo no art. 24, §3º, da Lei nº 5.764/71:

“Art. 24. O capital social será subdividido em quotas- partes, cujo valor unitário não poderá ser superior ao maior salário mínimo vigente no País.

(...)

§ 3° É vedado às cooperativas distribuírem qualquer espécie de benefício às quotas-partes do capital ou estabelecer outras vantagens ou

privilégios, financeiros ou não, em favor de quaisquer associados ou terceiros excetuando-se os juros até o máximo de 12% (doze por cento) ao ano que incidirão sobre a parte integralizada.”

O aumento do capital através do pagamento de juros constitui fato gerador do imposto renda de acordo com o seguinte dispositivo do Decreto nº 3.000/99:

“Art. 639.  Estão sujeitos à incidência do imposto na fonte, calculado na forma do art. 620, quaisquer outros rendimentos pagos por pessoa jurídica a pessoa física, para os quais não haja incidência específica e não estejam incluídos entre aqueles tributados exclusivamente na fonte (Lei nº 7.713, de 1988, arts. 3º, § 4º, e 7º, inciso II).”

 

O art. 620 mencionado é a tabela progressiva.

Respondendo Consulta formulada por cooperativa de crédito, a RFB externou o entendimento nos moldes acima, por meio da Coordenação do Sistema de Tributação (COSIT), afastando, de vez, a aplicação do art. 9º, § 2º, Lei nº 9.249/95, nos casos de pagamentos de juros por cooperativas.

 

Solução de Consulta nº 349, de 17/12/2014:

“ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA RETIDO NA FONTE - IRRF COOPERATIVA DE CRÉDITO. ASSOCIADOS. PESSOA FÍSICA. REMUNERAÇÃO ANUAL DO CAPITAL SOCIAL. IMPOSTO SOBRE A RENDA. INCIDÊNCIA. RETENÇÃO NA FONTE.

A remuneração anual dos associados, pessoas físicas, de sociedade cooperativa de crédito, na proporção do capital integralizado por cada associado, e limitada ao valor da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), constitui fato jurídico tributário sobre o qual incide o imposto sobre a renda, a ser retido na fonte por ocasião de seu pagamento, mediante aplicação da tabela progressiva, e a ser considerado redução do apurado na Declaração de Ajuste Anual (DAA) da pessoa física beneficiária.

Dispositivos Legais: Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional (CTN), art. 43; Lei nº 7.713, de 22 de março de 1988, art. 3º, Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, art. 7º; e Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 - Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR/99), arts. 620 e 639.”

Consulta vincula o consulente e a todas as entidades que se amoldam no caso em questão, na forma do art. 9º da Instrução Normativa da RFB nº 1.396, de 2013:“Art. 9º A Solução de Consulta Cosit e a Solução de

Divergência, a partir da data de sua publicação, têm efeito vinculante no âmbito da RFB, respaldam o sujeito passivo que as aplicar, independentemente de ser o consulente, desde que se enquadre na hipótese por elas abrangida, sem prejuízo de que a autoridade fiscal, em procedimento de fiscalização, verifique seu efetivo enquadramento.”

O reconhecimento da Coordenação-Geral do Sistema de Tributação vincula todos os contribuintes e a própria Receita Federal acerca do entendimento manifestado na Solução de Consulta publicada, quando a situação jurídica nela tratada seja coincidente.

4º Destaque:  Sobras Capitalizadas  

Sistema Unimed aprovou a seguinte orientação:

“Quando as sobras forem capitalizadas não haverá incidência do imposto de renda na fonte, conforme Decreto 3000/1999 – Art. 620, §1º cc art. 24 §4º da Lei nº 5.764/1971. O imposto de que trata este artigo será calculado sobre os rendimentos efetivamente recebidos em cada mês, observado o disposto no parágrafo único do art. 38 (Lei nº 9.250, de 1995, art. 3º, parágrafo único). As sobras capitalizadas devem ter os valores registrados distintamente dos valores que compõem a cota-cooperado integralizada. Quando ocorrer a saída do cooperado, no ato da devolução, o valor referente às Sobras Capitalizadas é passível de tributação, uma vez que o fato gerador do IR é a aquisição da disponibilidade jurídica ou econômica de renda (art. 43, do CTN – Lei nº 5.172 de 25/10/1966)”

Manifesta confusão quanto à interpretação da “disponibilidade econômica ou jurídica de renda” de que fala o art. 43 do CTN, com disponibilidade financeira.

 Diz o art. 43 do CTN:

“Art. 43. O imposto, de competência da união, sobre a renda e proventos de qualquer natureza, tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:

  I – de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho e da combinação de ambos;

II – de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.

§1º A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção.”

  §2º Na hipótese de receita ou rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará a disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo.”

A hipótese de incidência do imposto, tal como prevista no CTN, é o acréscimo patrimonial decorrente da aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda.

Disponibilidade econômica ou jurídica

Disponibilidade financeira.

A disponibilidade econômica é o acréscimo patrimonial de renda ou provento não protegido pelo direito. Embora componha o fato gerador da obrigação tributária, o fato que gera esta aquisição não é amparado pelo Direito.

 

Exatamente o contrário é a disponibilidade jurídica, porquanto neste último caso o direito ampara esta aquisição da renda ou provento, assegurando ao adquirente a devida proteção jurídica.

No Código Tributário Nacional Comentado, coordenado por Vladmir Passos de Freitas, Zuudi Sakakihara explica:

“A aquisição da disponibilidade econômica de renda ou de proventos caracteriza-se tão-logo sejam estes incorporados ao patrimônio. Para que haja a disponibilidade econômica, basta que o patrimônio resulte economicamente acrescido por um direito, ou por um elemento material, identificável como renda ou como proventos de qualquer natureza. Não importa que o direito ainda não seja exigível (um título de crédito ainda não vencido), ou que o crédito seja de difícil e duvidosa liquidação (contas a receber). O que importa é que possam ser economicamente avaliados e, efetivamente, acresçam o patrimônio.”

“A disponibilidade jurídica, por seu turno, pressupõe que o adquirente tenha a titularidade jurídica da renda ou dos proventos que acresçam o seu patrimônio. Isto quer dizer que a renda ou os proventos devam provir de fonte lícita, pois só assim poderão merecer a tutela jurídica, e conferir justo título ao adquirente. A aquisição da disponibilidade jurídica tem como consequencia a aquisição também da disposnibilidade econômica, pois a renda ou os proventos, juridicamente adquiridos, acrescem necessariamente o patrimônio.”

(Editora Revista dos Tribunais: 2005. p. 159).

Ricardo Mariz de Oliveria, em Fundamentos do Imposto de Renda, ensina:

“É preciso notar desde logo que o Código não colocou as duas palavras econômica e jurídica como termos sinônimos e substituíveis um pelo outro, nem mencionou como complementares, até porque não aludiu à disponibilidade econômica e jurídica, mas sim à disponibilidade economica ou jurídica, isto é, como disponibilidades alternativas, de maneira a que uma ou outra possa gerar a incidência do imposto de renda.”

(Quartier Latin:2008. p. 289)

Este entendimento é o preconizado pela RFBSolução de Divergência nº 2 de 2008, da Coordenação-Geral de Tributação:

COORDENAÇÃO-GERAL DE TRIBUTAÇÃO

SOLUÇÃO DE DIVERGÊNCIA Nº 2, DE 24 DE JANEIRO DE 2008:

ASSUNTO: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF

EMENTA: Sobras líquidas apuradas por cooperativas de trabalho.

Sujeitam-se à tributação na fonte como antecipação do imposto devido na Declaração de Ajuste Anual as sobras apuradas por cooperativas de trabalho e colocadas à disposição dos cooperados, inclusive por meio da capitalização. 

DISPOSITIVOS LEGAIS: Constituição Federal de 1988, art. 153, inciso III; Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional (CTN), arts. 43, incisos I e II, e 114; Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, art. 7º, inciso II; Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999, art. 628. 

ADALTO LACERDA DA SILVA

Coordenador-Geral

Antes, ainda, cooperativa médica consultou e recebeu a seguinte resposta:

“Assunto: Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF

Ementa: As sobras líquidas apuradas por cooperativa de trabalho e destinadas à capitalização em nome de cada cooperado, proporcionalmente ao trabalho realizado no período, estão sujeitas à incidência do imposto de renda na fonte por ocasião da sua capitalização.”

(Solução de Consulta SRRF/10ª RF/DISIT nº 110, de 13 de julho de 2005)

As sobras pertencem aos sócios (art. 4º, VII da LSC, combinado com art. 44, II, mesma norma):

 

Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:

(...)

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral;

 

Art. 44. A Assembleia Geral Ordinária, que se realizará anualmente nos 3 (três) primeiros meses após o término do exercício social, deliberará sobre os seguintes assuntos que deverão constar da ordem do dia:

(...)

II - destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas decorrentes da insuficiência das contribuições para cobertura das despesas da sociedade, deduzindo-se, no primeiro caso as parcelas para os Fundos Obrigatórios;

Para que haja a capitalização destas sobras, imprescindével que haja distribuição, passando para a esfera de direito e propriedade do sócio, que terá sua cota parte acrescida, gerando o acréscimo patrimonial que reclama a incidência do imposto de renda retido na fonte, conforme art. 7º da Lei nº 7.713/88:Art. 7º Ficam sujeito à incidência do imposto de renda na fonte, calculado de acordo

com o disposto no art. 25 desta Lei:

 

I - os rendimentos do trabalho assalariado, pagos ou creditados por pessoas físicas ou jurídicas;

II - os demais rendimentos percebidos por pessoas físicas, que não estejam sujeitos à tributação exclusiva na fonte, pagos ou creditados por pessoas jurídicas.

§ 1º O imposto a que se refere este artigo será retido por ocasião de cada pagamento ou crédito e, se houver mais de um pagamento ou crédito, pela mesma fonte pagadora, aplicar-se-á a alíquota correspondente à soma dos rendimentos pagos ou creditados à pessoa física no mês, a qualquer título.

O Regulamento do Imposto de Renda (RIR) dispõe:

Art. 628. Estão sujeitos à incidência do imposto na fonte, calculado na forma do art. 620, os rendimentos do trabalho não assalariado, pagos por pessoas jurídicas, inclusive cooperativas e pessoas jurídicas de direito público, a pessoas físicas (Lei nº 7.713, de 1998, art. 7º, inciso III).

  Art. 620 = tabela progressiva.

  As sobras indiscutivelmente são tributadas pelo IRRF...

STJ

(...)3. O critério material da hipótese de incidência (...) é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza (art. 43, do CTN). 4. Como já mencionado em outra ocasião por esta Corte, "não se deve confundir disponibilidade econômica com disponibilidade financeira. Enquanto esta última (disponibilidade financeira) se refere à imediata 'utilidade' da renda, a segunda (disponibilidade econômica) está atrelada ao simples acréscimo patrimonial, independentemente da existência de recursos financeiros" (...) 5. Na forma do art. 9º, §2º, da Lei n. 9.249/95, a disponibilidade do valor dos JCP pelas investidoras surge no momento em que são pagos ou creditados. O creditamento, que é feito através da individualização dos valores para cada investidor (mesmo sem efetivo pagamento), como disponibilidade jurídica e econômica que é, é o pressuposto lógico da posterior destinação para incorporação ao capital social (capitalização atual) ou da manutenção em conta de reserva destinada a futuro aumento de capital (capitalização futura). Não por outro motivo que essas destinações pressupõem que a pessoa jurídica investida assuma o imposto de renda retido na fonte - IRRF devido pelas investidoras beneficiárias (a título de antecipação do devido na declaração) como consequência dessa mesma disponibilidade, consoante o art. 9º, §9º, da Lei n. 9.249/95. 6. Sendo assim, havendo disponibilidade econômica/jurídica, o valor, ainda que destinado a capitalização futura da investida, pode ser objeto de tributação...

(REsp 1412701/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe 14/12/2015)

5º Destaque: Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)   Base de Cálculo e critério espacial, recentemente alterados pela LC nº

157/17:

Base de cálculo:

Decidir o que é o preço do serviço. Não excluir do preço qualquer valor. Esta é a questão.

Operadora de planos cobra dos contratantes valor para administrar os planos.

Também cobra, do sócio, valores para o sustento da sociedade (art. 80, LSC).

Critério de definição pela exclusão dos valores repassados leva com que se tributem valores societários, mormente quando se utilizam do critério de rateio.

Atenção para isto!

5º Destaque: Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)   Critério espacial:

Terceira hipótese: domicílio do tomador dos serviços dos planos de saúde....

“Art. 3º da LC 116/2003: O serviço considera-se prestado, e o imposto, devido, no local do estabelecimento prestador ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio do prestador, exceto nas hipóteses previstas nos incisos I a XXV, quando o imposto será devido no local:

(...)

XXIII - do domicílio do tomador dos serviços dos subitens 4.22, 4.23 e 5.09;   

Decorrência disto:

a) necessidade de lei municipal

b) obediência ao princípio da anterioridade

c) problemas operacionais

d) sistema de gestão não consegue gerar as informações necessárias para o recolhimento do tributo no domicílio do tomador dos serviços.

e) emissão de NFS-e nos municípios do contratante

f) eficácia das novas disposições

6º Destaque: Contribuição Previdenciária

 Cooperados e Cargos Estatutários ou NomeadosCooperados:a) sobras? IN 971, art. 215. Cuidar para a definição do valor de produção: Se não houver definição, RFB entende devida pelo valor total distribuído.• “Art. 215. As bases de cálculo previstas nos arts. 213 e 214, observados os limites

mínimo e máximo do salário-de-contribuição, definidos nos §§ 1º e 2º do art. 54, correspondem:

•  II - aos valores totais pagos, distribuídos ou creditados aos cooperados, ainda que a título de sobras ou de antecipação de sobras, exceto quando, comprovadamente, esse rendimento seja decorrente de ganhos da cooperativa resultantes de aplicação financeira, comercialização de produção própria ou outro resultado cuja origem não seja a receita gerada pelo trabalho do cooperado;

• Justiça defende que é o preço de venda do serviço pelo cooperado (Resp 260.282/RS)

6º Destaque: Contribuição Previdenciária

 Cargos Estatutários ou Nomeados ausência de Lei expressa, qualificando prestadores de serviços (pessoas naturais) em

caráter habitual às empresas como segurados obrigatórios da Previdência (art. 12, Lei nº 8.212/91

  A norma sujeita apenas cooperados em cargos de Direção em cooperativa como segurados

obrigatórios (art. 12, V, f, Lei nº 8.212/91).

  Membros de Conselho de Administração, Fiscal, e demais cooperados que exerçam

atividades de forma habitual, não se enquadrariam nesta condição.

  Além desta circunstância de caráter eminentemente legal, há que se mencionar o fator

societário, onde esses prestadores de serviços são donos da Cooperativa, revestindo o serviço como uma função societária.

Cargo de Direção difere de cargo de Conselheiro de Administração ou Fiscal, mormente quando houver destaque estatutário e segregação de funções. CARF concordava:

“c) Dos membros do Conselho de Administração

Os membros do Conselho de Administração, não eleitos para o cargo de direção na cooperativa, não são segurados obrigatórios do RGPS - Regime Geral de Previdência Social, posto que não se enquadram na categoria de contribuintes individuais descritos no inciso V, do art. 12 da Lei nº 8.212/91 e porque a atividade desempenhada não tem o caráter eventual exigido pela alínea ‘g’ do referido inciso V. Excluo deste lançamento os valores relativos ao Conselho de Administração.”

(processo administrativo: 12269000216/2007-98, decisão de 30/7/2010.)

 

No entanto, a Receita Federal entende o contrário, apregoando a incidência nos casos acima referidos (INRFB 971/09, art. 55, §5º, redação de fevereiro de 2014, conforme IN 1.453).

 

O Superior Tribunal de Justiça começou a decidir, sem o aprofundamento necessário, ser devida a contribuição:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ENTIDADES COOPERATIVAS. MEMBROS DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO FISCAL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.

INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 12, V, "f", E 22 DA LEI 8.212/1991. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.

(...)4. Sobre a remuneração paga aos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal, inclusive de entidades cooperativas, incide contribuição previdenciária. Precedente do STJ: AgRg no REsp 1.117.023/RS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 19.8.2010.

5. Com efeito, tal categoria de pessoa física que recebe remuneração pelos serviços prestados à cooperativa ou sociedade anônima inclui-se no conceito de contribuinte individual (art. 12, V, "f", da Lei 8.212/1991), cuja interpretação não pode ser feita apenas literalmente, sob pena de ofensa ao princípio da solidariedade da Seguridade Social.

6. Agravo Regimental não provido.

(AgRg no AREsp 566.132/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 09/12/2014)

Superior

7º Destaque: PRT E PERT

 

PRT

Medida Provisória nº 766/2017, instituía o Programa de Regularização Tributária junto à SRFB e à PGFN

Vigência encerrada em 1º de junho de 2017 Abrangia débitos de natureza tributária e não tributária, vencidos

até 30 de novembro de 2016. Abrangia débitos em discussão administrativa e judicial indicados

para compor o PRT e a totalidade dos débitos exigíveis em nome do sujeito passivo, na condição de contribuinte ou responsável.

Sobreveio o PERT...

PERT Medida Provisória nº 783/2017, que instituiu o Programa Especial de

Regularização Tributária junto à SRFB e à PGFN. A adesão ao PERT implica dever de pagar regularmente as parcelas

dos débitos consolidados no PERT e os débitos vencidos após 30 de abril de 2017, inscritos ou não em Dívida Ativa da União.

Questão que se coloca: débitos não inclusos entrarão de forma automática?

8º Destaque: Responsabilidade do Contador 

Na Legislação:

a) Código Civil – artigo 186 e artigo 1.177;

b) Código Penal - Falsificação de documentos (art. 297 e 298 CP);

Apropriação indébita; Falso testemunho ou perícia – artigo 342;

c) Crimes contra ordem tributária – artigo 1 º da Lei Nº 8.137/90;

d) Lei de Falências – artigo 168;

e) Imposto de Renda – artigo 39 do Decreto-Lei nº 5.844/1943;

f) Lei do ICMS (LC nº 87/96- Lei Kandir) - artigo 5º

+ Responsabilidades perante o Conselho: artigo 10 do Decreto-Lei nº 9.295/46.

Na jurisprudência:APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. SERVIÇOS CONTÁBEIS. FALHA NA PRESTAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL CONFIGURADA, APENAS NÃO NA EXTENSÃO PRETENDIDA NA INICIAL. A responsabilidade civil do contador é subjetiva, quer quando age como profissional liberal (art. 14, §4º, do CDC), quer quando atuando como preposto, caso em que se regula pelo disposto no parágrafo único do art. 1.177 do Código Civil. A solução da presente demanda exige, portanto, a identificação de agir negligente, imprudente ou imperito por parte do réu no exercício das suas atribuições enquanto contador da empresa autora. Era dever do réu, na qualidade de contador, estar atento às normas contábeis e financeiras, a fim de enquadrar a autora, sua cliente, na sistemática correta de recolhimento de tributos anualmente. (...) não há dúvida de que competia ao réu, porque era o contador da autora, praticar todos os atos contábeis necessários ao cumprimento da norma em questão e da decisão administrativa. O profissional é quem detém a expertise do negócio, da atividade exercida, de forma que quanto maior a especialização, maior a sua responsabilidade. Incumbe, pois, ao profissional alertar o cliente acerca dos riscos de discutir administrativamente as determinações da Receita Federal, bem assim expor as consequências da adoção de um ou outro procedimento (...) (Apelação Cível Nº 70068002930, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em 27/04/2016)

Culpa do contador?

(...) O que é fato é que como administradores da sociedade empresária tinham a obrigação de informar ao fisco todas as operações concernentes ao recolhimento do ICMS, sendo irrelevante determinar qual operação foi omitida por um ou outro sócio, também não afastando a responsabilidade penal a alegação de que a omissão, se praticada, ocorreu por ato de terceiro, no caso, o contador da empresa. (...) (TJ-RJ - APL: 03424346920138190001 RJ 0342434-69.2013.8.19.0001, Relator: DES. MARCUS HENRIQUE PINTO BASILIO, Data de Julgamento: 22/09/2015, PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação:24/09/2015 13:19)

Meio de defesa é imputação de culpa ao contador...

Solução

- Deixar de pagar tributo definitivamente constituído no CARF só com depósito integral na Justiça e antes da propositura da execução fiscal, para se evitar a persecução penal... (decorrente de representação fiscal para fins penais)

Jurisprudência:PENAL E PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - DELITO DO ART. 337-A DO CÓDIGO PENAL - DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL PARA DISCUSSÃO JUDICIAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO CRÉDITO EXIGIDO - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E DA PRETENSÃO PUNITIVA - CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, ART. 151, II - APLICABILIDADE - AUSÊNCIA DE DOLO - FALTA DE JUSTA CAUSA PARA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL - TRANCAMENTO DETERMINADO - ORDEM CONCEDIDA.

(...)2 - O depósito do montante integral do crédito constitui causa de suspensão de sua exigibilidade, assim como o parcelamento, o que conduz, na hipótese dos autos, ao trancamento da ação penal.

3 - Suspensa a exigibilidade do crédito tributário por meio de depósito que inclusive supera o montante cobrado pela Fazenda Pública, com razão a Impetrante ao pretender o trancamento da ação penal, pois, em caso de decisão favorável à empresa, ser-lhe-á devolvida a quantia depositada à ordem do Juízo; caso seja vencida, certamente, haverá conversão em renda a favor da União. (...)(HC 0072567-10.2013.4.01.0000 / BA, Rel. JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA (CONV.), TERCEIRA TURMA, e-DJF1 p.1257 de 28/02/2014)

Garantia de bens não suspende a ação penal decorrente da representação...

• Ementa RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E DE FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. IMPROCEDÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO.

• 5. A garantia do crédito tributário na execução fiscal - procedimento necessário para que o executado possa oferecer embargos - não possui, consoante o Código Tributário Nacional, natureza de pagamento voluntário ou de parcelamento da exação e, portanto, não fulmina a justa causa para a persecução penal, pois não configura hipótese taxativa de extinção da punibilidade ou de suspensão do processo penal.

(RHC 65.221/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/06/2016, DJe 27/06/2016)

DÚVIDAS?

 

OBRIGADO!

 

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