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Universidade Federal da Bahia Instituto de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO E DA SAÚDE BUCAL DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS Salvador 2016

ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA … Elizabeth.pdf · do trabalho, dividiu comigo a sua amizade. Ao Prof. Dr. Antônio Fernando Pereira Falcão, meu coorientador, que, com a sua generosidade,

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  • Universidade Federal da Bahia Instituto de Cincias da Sade

    Programa de Ps-Graduao

    em Processos Interativos dos rgos e Sistemas

    ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO

    ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA

    ESTOMATOGNTICO E DA SADE BUCAL DE

    INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS

    E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS

    TPICOS

    Salvador

    2016

  • ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO

    ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA

    ESTOMATOGNTICO E DA SADE BUCAL DE

    INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS

    E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS

    TPICOS

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Processos

    Interativos dos rgos e Sistemas, Instituto de Cincias da

    Sade, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a

    obteno do ttulo de doutor em Processos Interativos dos

    rgos e Sistemas.

    Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo

    Coorientador: Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco

    Salvador

    2016

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Processamento Tcnico, Biblioteca Universitria de Sade Sistema de Bibliotecas da UFBA

    ___________________________________________________________________________

    C331 Carvalho, Elizabeth Maria Costa de. Aspectos relevantes do sistema estomatogntico e da sade bucal de indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de

    antipsicticos tpicos/ Elizabeth Maria Costa de Carvalho. - Salvador, 2016.156 f.: il.

    Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo. Coorientador: Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco.

    Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Cincias da Sade, Programa de Ps-graduao em Processos Interativos dos rgos e Sistemas,

    2016.

    1. Sade bucal. 2. Assistncia odontolgica para pessoas com deficincias -Qualidade de vida. 3. Transtornos mentais. 4. Odontologia em sade pblica. 5. Servios de sade mental. 6.

    Pessoas com deficincia mental - Higiene bucal. 7. Pessoas com deficincia mental - Transtornos da Articulao Temporomandibular. I. Arajo, Roberto Paulo Correia de. II. Falco, Antnio Fernando

    Pereira. III. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Cincias da Sade. IV. Ttulo. CDU: 616.31-083

    ___________________________________________________________________________

  • ELIZABETH MARIA COSTA DE CARVALHO

    ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA ESTOMATOGNTICO E DA

    SADE BUCAL DE INDIVDUOS PORTADORES DE TRANSTORNOS

    MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM USO DE ANTIPSICTICOS

    TPICOS

    Aprovada em ________________________

    Aprovada em 20 de setembro de 2016

    Comisso Examinadora

    Roberto Paulo Correia de Arajo (Orientador)___________________________

    Livre Docente e Doutor em Odontologia

    Professor Titular de Bioqumica Oral do Instituto de Cincias da Sade-UFBA

    Eduardo Pond de Sena_______________________________________________________ Doutorado pelo Curso de Ps-graduao em Medicina e Sade da Faculdade de Medicina da Bahia -

    Universidade Federal da Bahia

    Professor Associado do Departamento de Biorregulao do Instituto de Cincias da Sade-

    UFBA

    Urbino da Rocha Tunes_______________________________________________________

    Doutor em Imunologia

    Professor Titular de Periodontia na FBDC

    Antnio Wilson Sallum_____________________________________________

    Doutor em Odontologia

    Professor da FOP-Unicamp-SP

    Alfredo Carlos Rodrigues Feitosa_____________________________________________

    Doutor em Microbiologia-USP-SP

    Professor da disciplina de Periodontia da UFES

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Processos Interativos dos rgos e

    Sistemas, Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da Bahia, como requisito para

    obteno do ttulo de Doutor em Processos Interativos dos rgos e Sistemas.

  • Aos meus pais, Ccero Newton (in memoriam) e Antonia,

    que incutiram em mim o respeito por todos os seres humanos,

    particularmente aqueles com necessidades especiais,

    pelos seus exemplos de vida e dedicao

    profisso que escolhemos cirurgio-dentista.

    A Isaac, meu querido companheiro.

    Aos pacientes com transtornos mentais

    assistidos no Hospital Psiquitrico Juliano Moreira,

    que, dentro dos seus delrios, fantasias ou realidade,

    cooperaram para que eu pudesse realizar seus exames bucais.

    Aos pacientes cadastrados na Faculdade de Odontologia da UFBA,

    que permitiram a realizao dos seus exames bucais,

    fundamentais para a elaborao desta pesquisa.

  • AGRADECIMENTOS

    Embora, por exigncia institucional, esta tese traga a minha assinatura, ela o resultado de um trabalho

    coletivo, para cuja realizao contriburam muitas pessoas de diferentes maneiras e em diferentes

    oportunidades, com ajuda, estmulo, crtica ou sugesto. Ao registrar seus nomes, mais que agradecer,

    quero lhes fazer justia.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo, exemplo no qual me espelhei para

    alcanar este objetivo, que, alm das horas do seu precioso tempo que me dispensou durante a orientao

    do trabalho, dividiu comigo a sua amizade.

    Ao Prof. Dr. Antnio Fernando Pereira Falco, meu coorientador, que, com a sua generosidade, na

    ausncia do meu pai biolgico, o tem substitudo, para minha felicidade.

    Meu agradecimento especial aos Professores Luciana Bastos, Luciana Koser e Antnio Fernando Pereira

    Falco pelas brilhantes avaliaes e valiosas sugestes tese, na condio de examinadores,

    participantes do Exame de Qualificao ao lado dos Professores Urbino da Rocha Tunes e Roberto Paulo

    Correia de Arajo.

    Ao Prof. Dr. Ronaldo Jacobina, que me proporcionou conhecer a histria da psiquiatria na Bahia e do

    Hospital Juliano Moreira desde sua fundao em 1874.

    Ao amigo Prof. Dr. Urbino da Rocha Tunes, por todos os momentos em que sua palavra de fora e

    perseverana me ajudou a prosseguir em minha caminhada na vida acadmica.

    Aos colegas das disciplinas de Periodontia e de Odontologia para Pacientes Especiais da Faculdade de

    Odontologia da UFBA, que se empenharam em me oferecer condies para o desenvolvimento desta

    pesquisa.

    Profa. Dra. Maria das Graas Alonso, por dividir comigo a oportunidade de acolhermos os

    participantes do grupo controle dos nossos estudos na Faculdade de Odontologia da UFBA.

    Ao Diretor do Hospital Psiquitrico Juliano Moreira, poca, Dr. Andr Furtado, por ter concordado

    em autorizar a realizao desta pesquisa no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia & Sade

    Mental dessa instituio voltada para a assistncia psiquitrica.

    amiga e colega Olga de Jesus da Conceio dos Anjos, que, no Hospital Psiquitrico Juliano Moreira,

    supervisionou a parte logstica para que este estudo pudesse acontecer, particularmente no acolhimento

    e na educao para a sade bucal de todos os pacientes psiquitricos envolvidos.

    colega e amiga Profa. Dra. Andria Cristina Leal Figueiredo, pela execuo da anlise estatstica e

    infinita pacincia, alm do aconselhamento.

    Ao Prof. Dr. Carlos Maurcio Cardeal Mendes, pela preciosa ajuda na elaborao deste trabalho,

    particularmente na avaliao da concordncia intraexaminador.

    A minha querida sobrinha Lvia Cristina Bandeira de Carvalho, por partilhar comigo os bons momentos

    e seu profundo conhecimento na rea das disfunes temporomandibulares.

    s estagirias do Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental vinculado ao Hospital

    Psiquitrico Juliano Moreira, Caroline Luquine e Larissa Souza, pela cuidadosa anotao dos dados

    coletados, fundamentais para alcanarmos os resultados obtidos, particularmente a Las Spnola, pela

    digitao dos dados, e a Isis Henriques, pelo cuidado e empenho na reviso das planilhas com os dados

    coletados.

    Aos colegas e amigos do Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental vinculado ao

    Hospital Psiquitrico Juliano Moreira: Virgnia Linhares, Marlucy Calazans, Jos Carlos Berbert da

    Silva, Vera Castro, Jandira Moraes da Paixo, Vera Lucia dos Santos Nascimento e Maria do Carmo

    Barbosa, de cuja ajuda dependeu o desenvolvimento deste trabalho.

  • Dra. Lvia Ribeiro, por ter colaborado na elaborao e correo do resumo e do abstract desta tese.

    A Vera Rollemberg e a Keite Birne de Lira, pela cuidadosa reviso do texto.

    Ao colega e amigo Dr. Felipe Ribeiro, pela enorme ajuda na aquisio dos artigos cientficos.

    Devo ainda agradecimentos aos alicerces da minha formao profissional desde a graduao at a ps-

    graduao.

    Ao meu eterno mestre, Prof. Dr. Adhemar de Oliveira e Silva (in memoriam), que me fez conhecer a

    Periodontia e saber que todo conhecimento adquirido s vale a pena se pudermos us-lo para fazer o

    bem.

    Profa. Dra. Mary Camardelli, mentora dos meus primeiros passos na Periodontia, que, com a sua

    retido e firmeza de carter, forjou em mim a vontade de sempre seguir o seu exemplo.

    querida amiga Profa. Dra. Lucia Petitinga de Moraes Sarmento, que tem o dom de associar cincia e

    bondade.

    Ao querido e inesquecvel Prof. Dr. Moyses Moreinos (in memoriam), coordenador do Curso de

    Especializao em Periodontia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em 1979, que me

    incutiu o gosto pela pesquisa cientfica e pela carreira acadmica.

    Por fim, agradeo aos componentes do meu rol de bem-querer, particularmente minha querida irm

    Maria Cristina, em cuja companhia toda jornada fica mais agradvel, todo fardo mais leve.

    s queridas Isabela Teixeira, Susana Soares e Eullia Oliveira, minhas filhas espirituais, pela boa

    energia que sempre irradiam, pelo carinho e ternura com que me tratam, alm da colaborao na

    elaborao desta pesquisa.

    s minhas secretrias Fabiana Oliveira, Clia Nascimento e Olga Silva, que permitiram que a elaborao

    deste estudo convivesse em harmonia com a rotina da casa e do consultrio.

  • AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS

    Universidade Federal da Bahia, por ter propiciado ao seu corpo docente a oportunidade de obter o

    ttulo de doutor, por meio do Doutoramento Especial.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Processos Interativos dos rgos e Sistemas, Instituto de Cincias

    da Sade, Universidade Federal da Bahia, por ter me acolhido nesta fase to decisiva da minha carreira

    acadmica.

  • Obstculos so aquelas coisas tenebrosas que vemos

    quando desviamos os olhos dos nossos objetivos.

    Henry Ford

  • CARVALHO, Elizabeth Maria Costa de. Aspectos relevantes do sistema estomatogntico e da sade bucal de indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de antipsicticos

    tpicos.156 f.il. 2016. Tese (Doutorado) - Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da

    Bahia, Salvador, 2016.

    RESUMO Introduo: Os transtornos mentais e comportamentais so uma srie de distrbios neuropsiquitricos

    que se caracterizam por alteraes psicolgicas ou comportamentais associadas com um

    comprometimento funcional, podendo ocorrer em, alguns pacientes, alteraes do pensamento,

    alucinaes, delrios e alteraes no contato com a realidade. Objetivo: Diagnosticar e descrever as

    alteraes no sistema estomatogntico de pacientes psiquitricos usurios de antipsicticos tpicos

    (ApTs), assistidos no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental, vinculado ao

    Hospital Psiquitrico Juliano Moreira-SESAB, situado na cidade do Salvador-Bahia, em comparao

    com indivduos fsico e mentalmente sadios. Metodologia: Estudo de corte transversal com uma

    amostra de convenincia constituda por 120 voluntrios, sendo 40 pacientes psiquitricos usurios de

    ApTs e 80 indivduos com sade mental. A coleta dos dados foi processada em duas etapas. A primeira

    consistiu na aplicao de um questionrio desenvolvido especialmente para a pesquisa, que contemplou

    dados sociodemogrficos, informaes sobre a sade geral e oral, alteraes orofaciais de movimento,

    alteraes no paladar e presena de disfunes temporomandibulares (DTMs). A segunda, executada

    por um nico examinador, compreendeu a avaliao odontolgica dos participantes com base no ndice

    de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D), ndice de placa visvel (IP), sangramento gengival

    sondagem (SS), avaliao das estruturas moles da cavidade oral e na determinao do risco periodontal

    individual. Os dados coletados foram analisados por estatstica descritiva e submetidos ao teste Mann-

    Whitney, teste Qui-quadrado de Pearson e ao teste exato de Fischer. Resultados: A anlise quantitativa

    revelou que os ndices CPO-D dos grupos teste e controle foram elevados, e no houve diferena

    estatisticamente significante entre os dois grupos. A alta prevalncia da periodontite crnica severa

    localizada, tanto no grupo teste (62,5%) como no grupo controle (58,7%) acha-se associada aos elevados

    escores do IP, como reflexo da precariedade da higiene oral, frequente em pacientes com

    comprometimento intelectual e motor. O alto risco periodontal foi detectado em 31,6% da amostra, fato

    diretamente relacionado quantidade de dentes perdidos e com elevados valores registrados de SS na

    maioria dos participantes, independente de sua condio de sade mental. A DTM, em seus diferentes

    graus de severidade, fez-se presente em 80% dos participantes, independente do comprometimento da

    sade mental. A anlise qualitativa demonstrou que as alteraes orofaciais de movimento s foram

    registradas entre os pacientes usurios de antipsicticos tpicos, denotando o papel deletrio desses

    psicofrmacos sobre a qualidade de vida. Concluso: Os resultados deste estudo, apesar dos seus

    limites, apontam para as alteraes no sistema estomatogntico decorrentes do uso dirio de ApTs,

    particularmente as gustativas, as alteraes orofaciais de movimento, a DTM e ao grande nmero de

    dentes perdidos. Isto justifica a indicao da necessidade do monitoramento da condio de sade oral

    dos portadores de transtornos mentais e comportamentais, independente do modelo assistencial

    psiquitrico ao qual estejam submetidos. Na perspectiva da promoo, restaurao e manuteno de sua

    sade oral, esta conscientizao possibilitar o mnimo de emancipao individual, de modo a lhes

    assegurar melhor qualidade de vida e o resgate da cidadania.

    Palavras-chave: Sade bucal; Patologia mental; Epidemiologia.

  • CARVALHO, Elizabeth Maria Costa. Relevant aspects of the stomatognathic system and oral

    health of individuals with mental and behavioural disorders due to use of typical antipsychotics.

    156 f.il. 2016.These (Doctoral) - Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da Bahia,

    Salvador, 2016.

    ABSTRACT Introduction: Mental and behavioral disorders are a number of neuropsychiatric disorders characterized

    by psychological or behavioral changes associated with functional impairment, which may occur in

    some patients, changes in thinking, hallucinations, delusions and changes with reality. Objective: Diagnose and describe changes in stomatognathic system of psychiatric patients typical antipsychotic

    users (ApTs), assisted at the Center Docent Assistance of Dentistry and Mental Health, associated to the

    Psychiatric Hospital Juliano Moreira-SESAB, located in city of Salvador, Bahia, compared to

    individuals physically and mentally healthy. Methods: Cross-sectional study with a convenience sample of 120 volunteers, 40 members of psychiatric patients using ApTs and 80 individuals mentally healthy.

    Data collection was processed in two stages. The first was the application of a questionnaire developed

    especially for the research, which included demographic data, information of general and oral health,

    orofacial changes in motion, changes in taste and presence of temporomandibular disorders (TMD). The second, performed by a single examiner, was the dental evaluation of the participants based on decayed,

    missing and filled teeth index (DMFT), visible plaque index (PI), gingival bleeding on probing (BOP),

    evaluation of soft tissue structures of the oral cavity and individual periodontal risk. The data collected and analyzed by descriptive statistics were submitted to Mann-Whitney test, the chi-square Pearson test

    and Fisher exact test. Results: Quantitative analysis showed that the DMFT indices of the test and control groups were high; however, there was no statistically significant difference between the two

    groups. The high prevalence of severe chronic periodontitis located in both test group (62.5%) and in control group (58.7%) is found associated with the high IP scores, reflecting the precarious oral hygiene,

    frequent in patients with intellectual and motor damage. The high periodontal risk was detected in 31.6% of the sample, directly related to the amount of missing teeth and the high values recorded for SS in

    most participants, regardless of their mental health condition. The DTM in its different degrees of severity was present in 80% of participants, regardless of mental health impairment. Qualitative analysis showed that the changes of orofacial movement were only recorded among patients using typical

    antipsychotics, demonstrating the deleterious role of these psychiatric drugs on their quality of life. Conclusion: The results of this study, despite its limitations, show changes in stomatognathic system

    arising from the daily use of ApTs, particularly the taste, motion orofacial changes, the DTM and the

    large number of missing teeth, justify the indication of monitor the oral health status of people with

    mental and behavioral disorders, independent of psychiatric care model to which they are submitted. From the perspective of promotion, restoration and maintenance of oral health, this awareness will

    enable a minimum of individual emancipation, in order to assure better quality of life and recovery of

    citizenship.

    Keywords: Oral health, mental pathology, epidemiology.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1

    Quadro 2

    Quadro 3

    Quadro 4

    Quadro 5

    Quadro 6

    Quadro 7

    Quadro 8

    Quadro 9

    Quadro 10

    Quadro 11

    Quadro 12

    Figura 1

    Quadro 13

    Quadro 14

    Quadro 15

    Codificao e classificao dos transtornos mentais

    e comportamentais na CID-10 ..................................................................

    Codificao e classificao das esquizofrenias na CID-10 ......................

    Codificao e classificao, no DSM-IV e na CID-10,

    de doenas mentais cuja teraputica medicamentosa

    requer o uso de antipsicticos ..................................................................

    Codificao e classificao de transtornos mentais na CID-10 ...............

    Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais

    e formas farmacuticas ............................................................................

    Transtornos de movimento induzidos por antipsicticos,

    suas manifestaes e opes de manejo ...................................................

    Paladar normal, alteraes gustativas e suas causas .................................

    Avaliao motora dos nervos faciais ........................................................

    Condio dos tecidos moles bucais ..........................................................

    Cdigos e critrios :diagnstico carie dentria..........................................

    Causas de perda dentria ..........................................................................

    Paladar normal e alteraes do paladar ....................................................

    Polgono de risco para avaliao do risco periodontal .............................

    Risco periodontal e critrios de avaliao ................................................

    Transtornos mentais e comportamentais dos pacientes

    do grupo teste ............................................................................................

    Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais e usurios

    por gnero .................................................................................................

    13

    15

    17

    18

    24

    29

    34

    55

    56

    57

    58

    59

    64

    65

    68

    71

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1

    Tabela 2

    Tabela 3

    Tabela 4

    Tabela 5

    Tabela 6

    Tabela 7

    Tabela 8

    Tabela 9

    Tabela 10

    Tabela 11

    Tabela 12

    Tabela 13

    Tabela 14

    Tabela 15

    Grau de concordncia intraexaminador mediante aplicao

    do teste de correlao intraclasse, Salvador-BA, 2015 ..........................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo

    as variveis sociodemogrficas, Salvador-BA, 2015 .............................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo

    as alteraes do paladar, Salvador-BA, 2015 .........................................

    Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes do paladar,

    Salvador-BA, 2015 ..................................................................................

    Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao

    entre variveis sociodemogrficas e as alteraes do paladar,

    Salvador-BA, 2015 ..................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo

    as alteraes orofaciais de movimento, Salvador-BA, 2015 ...................

    Distribuio dos pacientes do grupo teste segundo

    as alteraes orofaciais de movimento, Salvador-BA, 2015 ...................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes orofaciais

    de movimento, Salvador-BA, 2015.........................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo os graus de

    severidade da disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 .........

    Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e os graus de severidade

    da disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 ...........................

    Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e os graus de severidade da

    disfuno temporomandibular, Salvador-BA, 2015 ...............................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo as alteraes

    nos tecidos moles bucais, Salvador-BA, 2015 .......................................

    Distribuio na amostra das leses diagnosticadas

    nos tecidos moles bucais, Salvador-BA, 2015 .......................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as alteraes nos tecidos

    moles bucais, Salvador-BA, 2015 ..........................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo

    os escores do ndice CPO-D, Salvador-BA, 2015 ..................................

    61

    69

    72

    74

    75

    76

    77

    80

    82

    84

    85

    86

    87

    88

    89

  • Tabela 16

    Tabela 17

    Tabela 18

    Tabela 19

    Tabela 20

    Tabela 21

    Tabela 22

    Tabela 23

    Tabela 24

    Tabela 25

    Tabela 26

    Tabela 27

    Tabela 28

    Mdias e desvios padro dos dentes permanentes cariados,

    perdidos, obturados e valor do CPO-D dos grupos teste e controle,

    Salvador-BA, 2015 ..................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e o ndice CPO-D,

    Salvador-BA, 2015 ..................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo as causas

    de perda dentria, Salvador-BA, 2015 ....................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as causas de perda dentria,

    Salvador-BA, 2015 .................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo os escores

    do ndice de sangramento gengival sondagem, Salvador-BA, 2015 ...

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e os escores do ndice de

    sangramento gengival sondagem, Salvador-BA, 2015 ........................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo os escores

    do ndice de placa, Salvador-BA, 2015 ..................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e os escores do ndice de placa,

    Salvador-BA, 2015 .................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo

    as doenas periodontais, Salvador-BA, 2015 .........................................

    Valores absolutos e relativos do grupo teste segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as doenas periodontais,

    Salvador-BA, 2015 .................................................................................

    Valores absolutos e relativos do grupo controle segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as doenas periodontais,

    Salvador-BA, 2015 .................................................................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo as categorias

    do risco periodontal, Salvador-BA, 2015 ...............................................

    Valores absolutos e relativos da amostra segundo a associao

    entre as variveis sociodemogrficas e as categorias do risco

    periodontal, Salvador-BA, 2015 .............................................................

    90

    92

    93

    95

    98

    99

    101

    102

    105

    107

    108

    111

    112

    |

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AAP

    ABP

    ADA

    AIDS

    AP

    ApA

    ApT

    ATM

    AVAIs

    AVIs

    BL/AGE

    BOP

    CAP

    CAP-FOUFBA

    CAPS

    CAST

    CFO

    CFT-HPJM

    CID-10

    CPO-D

    DSM-IV

    DT

    DTM

    EUA

    FBDC

    FOUBA

    HPJM

    IAF

    IBGE

    ICDAS

    ICNTP

    IPC

    Academia Americana de Periodontia

    Associao Brasileira de Psiquiatria

    American Dental Association

    Sndrome da imunodeficincia adquirida

    Antipsictico

    Antipsictico atpico

    Antipsictico tpico

    Articulao temporomandibular

    Anos de vida ajustados para incapacidade

    Anos de vida com incapacidade

    Perda ssea alveolar em relao idade

    Porcentagem de stios com sangramento sondagem

    Central de Atendimento ao Paciente

    Central de Atendimento ao Paciente da Faculdade

    de Odontologia da Universidade Federal da Bahia

    Centro de Ateno Psicossocial

    Caries assessment spectrum and treatment

    Conselho Federal de Odontologia

    Comisso de Farmcia e Teraputica do Hospital Psiquitrico Juliano

    Moreira

    Classificao estatstica internacional de doenas e problemas

    relrelacionados sade

    ndice dos dentes cariados, perdidos e obturados

    Diagnostic and statistical manual of mental disorders

    Discinesia tardia

    Disfuno temporomandibular

    Estados Unidos da Amrica

    Fundao Baiana para o Desenvolvimento da Cincia

    Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia

    Hospital Psiquitrico Juliano Moreira

    ndice anamnsico de Fonseca

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    International caries detection and assessment system

    ndice comunitrio de necessidades de tratamento periodontal

    ndice periodontal comunitrio

  • IP

    JCE

    MDE-IV

    MG

    MS

    NAPS

    OMS

    ONU

    PCLG

    PCMG

    PCML

    PCSG

    PCSL

    PD

    PMA

    QI

    RDC/TMD

    SAME-HPJM

    SB

    SEP

    SESAB

    SNM

    SPSS

    SS

    TCLE

    TPS

    UFBA

    WHO

    ndice de placa visvel

    Juno cemento-esmalte

    Manual de diagnstico e estatstica dos distrbios mentais

    Margem gengival

    Ministrio da Sade

    Ncleo de Assistncia Psicossocial

    Organizao Mundial da Sade

    Organizao das Naes Unidas

    Periodontite crnica leve generalizada

    Periodontite crnica moderada generalizada

    Periodontite crnica moderada localizada

    Periodontite crnica severa generalizada

    Periodontite crnica severa localizada

    Bolsas periodontais residuais

    ndice papilar, marginal e aderido

    Quociente de inteligncia

    Research diagnostic criteria for temporomandibular disorders

    Servio Ambulatorial Mdico Estatstico do Hospital Psiquitrico

    Juliano Moreira

    Sade Brasil

    Sndromes extrapiramidais

    Secretaria da Sade do Estado da Bahia

    Sndrome neurolptica maligna

    Statistical Package for Social Science

    ndice de sangramento gengival sondagem

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    Terapia periodontal de suporte

    Universidade Federal da Bahia

    World Health Organization

  • SUMRIO

    1

    2

    3

    4

    5

    5.1

    5.2

    5.3

    5.3.1

    5.3.2

    5.3.2.1

    5.3.2.2

    5.3.2.3

    5.3.2.4

    5.3.2.5

    5.3.2.6

    6

    6.1

    6.2

    6.3

    6.4

    6.4.1

    6.4.2

    6.4.3

    6.4.3.1

    6.4.3.2

    6.4.3.3

    6.4.3.4

    6.4.3.4.1

    6.4.3.4.2

    6.4.3.4.3

    INTRODUO ...................................................................................................

    JUSTIFICATIVAS ..............................................................................................

    HIPTESE ...........................................................................................................

    OBJETIVOS ........................................................................................................

    REVISO DE LITERATURA ............................................................................

    TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS ...................................

    PSICOFRMACOS ..............................................................................................

    DOENA MENTAL E SADE BUCAL .............................................................

    Odontologia psicossomtica ................................................................................

    Repercusso dos transtornos mentais e comportamentais

    no sistema estomatogntico ................................................................................

    Desordens gustativas .............................................................................................

    Alteraes orofaciais de movimento .....................................................................

    Disfuno temporomandibular (DTM) .................................................................

    Cries e perdas dentrias em pacientes psiquitricos ..........................................

    Diagnstico periodontal em portadores de transtornos mentais

    e comportamentais ................................................................................................

    Risco periodontal em pacientes psiquitricos usurios de

    antipsicticos tpicos .............................................................................................

    METODOLOGIA ...............................................................................................

    ASPECTOS TICOS ...........................................................................................

    DELINEAMENTO EXPERIMENTAL DA PESQUISA .....................................

    GRUPOS DE ESTUDO-AMOSTRA............................................................ ........

    COLETA DE DADOS: PROTOCOLO ................................................................

    Instrumento para coleta de dados demogrficos ..............................................

    Instrumento para coleta de dados psiquitricos ...............................................

    Instrumento para coleta de dados estomatognticos.........................................

    Anamnese ...............................................................................................................

    Articulao temporomandibular (ATM) ................................................................

    Alteraes orofaciais de movimento ......................................................................

    Exame clnico odontolgico ..................................................................................

    Exame dos tecidos moles bucais ...........................................................................

    Exame dos dentes ..................................................................................................

    Avaliao do paladar .............................................................................................

    1

    4

    7

    9

    11

    12

    22

    30

    30

    32

    33

    35

    36

    39

    41

    45

    48

    49

    50

    50

    52

    52

    52

    53

    53

    54

    55

    55

    56

    56

    59

  • 6.4.4

    6.4.4.1

    6.4.4.1.1

    6.4.4.1.2

    6.4.4.1.3

    6.4.4.1.4

    6.5

    7

    7.1

    7.2

    7.3

    7.4

    7.5

    7.5.1

    7.5.2

    7.5.3

    7.5.4

    7.5.5

    7.5.6

    7.5.7

    8

    Instrumento para coleta de dados sobre a condio periodontal .....................

    Exame do periodonto ..............................................................................................

    ndice de sangramento gengival sondagem (SS) .................................................

    ndice de placa visvel (IP) .....................................................................................

    Diagnstico periodontal ..........................................................................................

    Risco periodontal ....................................................................................................

    TRATAMENTO ESTATSTICO ..........................................................................

    RESULTADOS E DISCUSSO .........................................................................

    DESORDENS GUSTATIVAS ..............................................................................

    ALTERAOES OROFACIAIS DE MOVIMENTO .............................................

    DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR ..........................................................

    ALTERAES NOS TECIDOS MOLES BUCAIS .............................................

    VARIVEIS RELACIONADAS COM DENTES E TECIDOS PERIODONTAIS....

    ndice CPO-D ........................................................................................................

    Causas das perdas dentrias ................................................................................

    ndice de sangramento gengival sondagem (SS) .............................................

    ndice de placa visvel (IP) ...................................................................................

    Diagnstico periodontal .......................................................................................

    Risco periodontal ..................................................................................................

    Limitaes do estudo............................................................................................

    CONCLUSO .......................................................................................................

    REFERNCIAS ...................................................................................................

    APNDICES .........................................................................................................

    ANEXOS ...............................................................................................................

    PRODUO CIENTFICA...............................................................................

    59

    59

    62

    62

    62

    63

    65

    67

    71

    75

    81

    85

    88

    89

    93

    96

    100

    103

    110

    113

    114

    116

    126

    133

    137

  • 1

    1 INTRODUO

  • 2

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) estima que, nos pases em desenvolvimento,

    a prevalncia de deficincias temporrias ou definitivas atinja 10% da populao. Assim, no

    Brasil, com uma populao de 200 milhes de pessoas em 2009, pode-se prever que cerca de

    20 milhes sejam portadoras de alguma deficincia, distribudas, provavelmente, entre

    deficincia mental (50%), fsica (20%), auditiva (15%), mltipla (10%) e visual (5%) (BRASIL,

    2009).

    Os portadores de transtornos mentais e comportamentais apresentam disfunes

    cerebrais que, a depender do grau de comprometimento intelectual, requerem ou no internao

    hospitalar, conforme diagnstico do corpo clnico psiquitrico que os assista (OMS, 1996). Os

    indivduos em sofrimento psquico tm sido historicamente excludos do acesso aos cuidados

    bsicos de sade bucal, e esta realidade mundial. O ltimo levantamento epidemiolgico que

    analisou a sade bucal dos brasileiros data de 2010 e, na categorizao da amostra, foram

    includos pacientes com necessidades especiais representados, porm, apenas pelos idosos, no

    tendo sido abordada a questo da sade bucal da parcela da populao com transtornos mentais

    e comportamentais (BRASIL, 2011).

    Os distrbios psiquitricos so um problema de sade pblica que cresce diariamente

    em todos os pases. A sade bucal dos que sofrem desses distrbios geralmente mais

    comprometida do que a da populao em geral, principalmente pela precariedade da higiene

    oral associada ao alheamento da realidade e aos efeitos colaterais dos psicofrmacos utilizados

    no seu tratamento, que afetam o desempenho psicomotor, o fluxo salivar e os tecidos moles

    bucais. Portanto, o risco de apresentar alteraes orofaciais muito elevado, justificando-se,

    assim, a criao de programas preventivos/educativos de sade bucal para pacientes em

    sofrimento psquico, implementados por todos os membros da equipe multiprofissional

    envolvida na assistncia sua sade mental, destacando-se o papel fundamental do cirurgio-

    dentista (JAMELLI et al., 2010).

    No contexto da Odontologia, esses indivduos correspondem a uma parcela de pacientes

    considerados com necessidades especiais, porque, em vista do seu desvio do padro de

    normalidade, necessitam de ateno particular e abordagens especficas, por um perodo de sua

    vida ou indefinidamente (ELIAS, 1995). Apesar de j existirem diversos estudos sobre a sade

    bucal de portadores de transtornos neuropsiquitricos, que apontaram ser esses pacientes de alto

    risco para as doenas bucais mais prevalentes na populao em geral, quais sejam, a crie e a

    doena periodontal, ainda no foi estabelecido se as doenas mentais e os psicofrmacos

    aplicados no seu tratamento podem ser considerados fatores de risco para o desenvolvimento

    de alteraes no sistema estomatogntico, considerando-se cada um dos seus componentes

  • 3

    separadamente: ossos, arcadas dentrias, msculos, tecidos moles (lbios, lngua, bochechas,

    mucosa bucal), articulao temporomandibular, estruturas periodontais e sistema vascular e

    nervoso, como pretendeu a presente pesquisa.

    Desse modo, o objetivo geral deste estudo diagnosticar e descrever as alteraes no

    sistema estomatogntico de pacientes psiquitricos, usurios de antipsictico tpico (ApT),

    representados pelos antagonistas do receptor de dopamina D2 dos grupamentos farmacolgicos das

    fenotiazinas e das butirofenonas, independentemente do modelo assistencial psiquitrico ao qual

    estejam submetidos, assistidos no Ncleo Docente Assistencial de Odontologia e Sade Mental,

    vinculado ao Hospital Psiquitrico Juliano Moreira-SESAB, situado na cidade do Salvador-Bahia,

    em comparao com indivduos fsica e mentalmente sadios.

    A partir dos resultados obtidos, objetiva-se tambm contribuir para o delineamento de

    diretrizes eficazes para a ateno sade bucal dessa populao, que so temas ainda a serem

    pesquisados, particularmente porque, teoricamente, esses estudos epidemiolgicos podem ser

    utilizados como instrumentos organizadores da ateno.

  • 4

    2 JUSTIFICATIVA

  • 5

    A escolha do tema foi motivada por dois aspectos. Em primeiro lugar, os portadores de

    transtornos mentais e comportamentais tem sido apontados, historicamente, como incapazes de

    se autocuidar, em vista do alheamento da realidade que determinadas patologias psiquitricas

    impem. A seleo de alguns fatores levou ao desenvolvimento desta pesquisa de campo em

    busca do referencial para o direcionamento de um estudo que fosse compatvel com a nossa

    realidade, embasado no exerccio profissional frente da coordenao no Ncleo Docente

    Assistencial de Odontologia e Sade Mental Dra. Antonia Costa de Carvalho, vinculado ao

    Hospital Psiquitrico Juliano Moreira, uma das unidades da Secretaria da Sade do Estado da

    Bahia, em Salvador, Bahia, lidando diuturnamente com os usurios dessa Instituio voltada

    para a assistncia integral sade mental. O outro aspecto considerado foi a inquietao gerada

    pela escassez de estudos realizados no Brasil tendo pacientes psiquitricos como amostra, uma

    vez que pesquisas realizadas mundialmente, com pacientes internados e assistidos em

    ambulatrio/servios substitutivos, tm considerado que a doena mental e os psicofrmacos

    aplicados no seu tratamento podem ser um fator coadjuvante do comprometimento da sade

    bucal, categorizando esses indivduos como de alto risco para a crie e a doena periodontal.

    Diante do exposto, seguem-se as justificativas para a realizao deste estudo:

    1) As doenas mentais, em algumas situaes, so incapacitantes, e o uso dirio de

    psicofrmacos compromete a motricidade, inviabilizando a realizao da higiene bucal

    adequada. A ateno sade bucal de indivduos em sofrimento psquico ainda limitada,

    assim como o acesso aos servios odontolgicos, inexistindo programas preventivo-educativos

    direcionados para essa populao com necessidades especiais.

    2) A literatura cientfica no somente registra a alta prevalncia da crie e das doenas

    periodontais entre os pacientes psiquitricos, mas tambm a prevalncia da disfuno

    temporomandibular na populao em geral (em torno de 5% a 12%). Entretanto, so escassas

    as informaes sobre a sua prevalncia nos pacientes psiquitricos usurios de antipsicticos

    tpicos ou de primeira gerao, que apresentam efeitos colaterais deletrios para a regio

    orofacial. (GURBUZ, ALATAS e KURT,2009)

    A ateno dispensada sade garante a qualidade de vida dos indivduos, a partir da

    implantao de programas de promoo de sade de carter educativo e curativo. Dessa forma,

    este estudo, propondo-se a discutir dados que resultem em referenciais relativos sade bucal,

    visa incluso da doena mental como fator/indicador de risco para as doenas bucais. H

    convergncia na literatura cientfica sobre a importncia da realizao de outros estudos de

    modo a fundamentar os princpios de anlise das alteraes no sistema estomatogntico que

    podem estar associadas aos transtornos mentais e comportamentais instalados e aos efeitos

  • 6

    colaterais dos psicofrmacos em uso e seus efeitos extrapiramidais, que dificultam

    o desempenho do cirurgio-dentista na realizao dos procedimentos odontolgicos requeridos.

    A partir das concluses a serem obtidas com estudos dessa natureza, certamente poder-

    se- apontar, em futuro prximo, a importncia da incluso do cirurgio-dentista na equipe

    multiprofissional envolvida na ateno sade mental, em busca da avaliao criteriosa, no

    s dos componentes da cavidade bucal, como tambm dos ossos, msculos, nervos, vasos e

    articulaes que compem o sistema estomatogntico, na perspectiva da reabilitao e

    manuteno da sade bucal desses pacientes.

  • 7

    3 HIPTESE

  • 8

    Indivduos portadores de transtornos mentais e comportamentais em uso de

    antipsicticos representados pelos antagonistas do receptor de dopamina D2 dos grupamentos

    farmacolgicos das fenotiazinas e das butirofenonas, independentemente do modelo

    assistencial psiquitrico ao qual estejam submetidos, apresentam alteraes nos componentes

    do sistema estomatogntico, trazendo consequncias para a qualidade de sua sade bucal, em

    comparao com os indivduos fsica e mentalmente sadios.

  • 9

    4 OBJETIVOS

  • 10

    4.1 OBJETIVO GERAL

    Diagnosticar e descrever as possveis alteraes presentes no sistema estomatogntico

    de pacientes psiquitricos, em uso de antipsicticos tpicos, em comparao com indivduos

    fsica e mentalmente sadios.

    4.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Traar o perfil sociodemogrfico dos participantes do estudo com base no gnero, faixa

    etria, grupo tnico, grau de escolaridade e renda mensal individual.

    Avaliar o impacto do uso dirio dos antipsicticos tpicos no suprimento nervoso

    orofacial, com nfase no nervo facial e nos aspectos quimiossensorial (alteraes

    gustativas) e motor e funcional (alteraes orofacias de movimento).

    Relacionar a severidade da disfuno temporomandibular com o uso dirio dos

    antipsicticos tpicos.

    Determinar, na amostra de pacientes psiquitricos em estudo, a ocorrncia de possveis

    alteraes presentes nos tecidos moles da cavidade bucal.

    Determinar os ndices epidemiolgicos de dentes cariados, perdidos e obturados

    (CPO-D), de placa visvel (IP) e de sangramento gengival sondagem (SS) e relacion-

    los com as repercusses decorrentes do uso de antipsicticos tpicos.

    Diagnosticar, a partir da anlise da severidade e da extenso, a ocorrncia de doena

    periodontal nos portadores de transtornos mentais e comportamentais usurios de

    antipsicticos tpicos.

    Quantificar o risco periodontal dos participantes em uso de psicofrmacos com base na

    metodologia do polgono de risco.

  • 11

    5 REVISO DE LITERATURA

  • 12

    5.1 TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS

    Todo ser humano est sujeito a apresentar algum tipo de distrbio psicopatolgico no

    decorrer de sua vida e poder ou no precisar de ajuda profissional, poder ou no buscar por

    essa ajuda e poder ou no curar a ruptura. Cada ser humano constri dentro de si uma

    organizao mental estvel, capaz de fazer adaptaes frequentes com o mundo exterior, e a

    realizao dessas tarefas requer um contnuo funcionamento de mecanismos reguladores e

    adaptativos. O desenvolvimento adequado desses mecanismos conduz o indivduo a

    desenvolver uma personalidade dentro dos padres de normalidade. Quando ocorre uma ruptura

    ou um desequilbrio desses mecanismos, podem aparecer os distrbios de personalidade,

    classicamente denominados de transtornos mentais e comportamentais. O principal objetivo do

    tratamento desses distrbios psicopatolgicos a restaurao dos mecanismos de adaptao

    prpria a cada indivduo/pessoa/ser humano (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR.,

    2006).

    No tocante aos distrbios mentais, os critrios utilizados para conduzir ao diagnstico

    esto estabelecidos, sendo disponibilizados dois sistemas de classificao que constam do

    Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4th ed. (DSM-IV), ou, em portugus,

    Manual de diagnstico e estatstica dos distrbios mentais (MDE-IV) e da Classificao

    estatstica internacional de doenas e problemas relacionados sade (CID-10), em dcima

    reviso pela Organizao Mundial da Sade (OMS, 1996), esta ltima adotada no Brasil. A

    CID-10, em seu volume 1, captulo V, trata especialmente dos distrbios mentais e

    comportamentais, identificados pelas codificaes que variam de F00 a F99; as doenas mentais

    e comportamentais esto agrupadas em ordem numrica crescente, conforme explicitado no

    Quadro 1.

  • 13

    Codificao Classificao

    F00-F09 Transtornos mentais orgnicos, inclusive os sintomticos

    F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substncias psicoativas

    F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e delirantes

    F30-F39 Transtornos do humor (afetivos)

    F40-F48 Transtornos neurticos, somatoformes e os relacionados com o estresse

    F50-F59 Sndromes comportamentais associadas a distrbios fisiolgicos e a fatores fsicos

    F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto

    F70-F79 Retardo mental

    F80-F89 Transtorno do desenvolvimento psicolgico

    F90-F98 Transtorno do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente

    na infncia ou na adolescncia

    F99 Transtorno mental no especificado

    Quadro 1 - Codificao e classificao dos transtornos mentais e comportamentais na CID-10 Fonte: OMS (1996, p.303).

    Considerando-se que os componentes do grupo experimental do presente estudo so

    pacientes com transtornos psicticos que utilizam antipsicticos de primeira gerao, casos

    clnicos classificados na CID-10 como F10 a F19 e F20 a F29, pretende-se focar o referencial

    terico nessas alteraes mentais.

    As patologias codificadas como F10 a F19 renem os transtornos mentais e

    comportamentais em consequncia do uso de substncias psicoativas. Esse agrupamento

    compreende numerosos transtornos que diferem entre si pela gravidade varivel e pela

    sintomatologia diversa, mas que tm em comum o fato de serem atribudos ao uso de uma ou

    de vrias substncias psicoativas, prescritas ou no por um mdico (OMS, 1996). Essas

    patologias renem esquizofrenia, transtornos esquizotpicos e transtornos delirantes que se

    [...] apresentam, em geral, por distores fundamentais e caractersticas do

    pensamento e da percepo e por afetos inapropriados ou embotados.

    Usualmente mantm-se clara a conscincia e a capacidade intelectual, embora

    certos dficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenmenos

    psicopatolgicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a

    divulgao do pensamento, a percepo delirante, ideias delirantes de

    controle, de influncia ou de passividade, vozes alucinatrias que comentam

    ou discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e

    sintomas negativos (OMS, 1996, p.16-17).

    Os sintomas negativos da esquizofrenia listados por Arajo e Sena

    (2011, p.225) so: afeto embotado, retraimento emocional, relacionamento empobrecido,

    passividade, dificuldade de pensamento abstrato, falta de espontaneidade, pensamento

  • 14

    estereotipado, alogia (restries na fluncia e na produo do pensamento e no discurso),

    ateno prejudicada, anetonia (falta do prazer de viver). E os sintomas positivos: delrios,

    alucinaes, discurso desorganizado, comportamento desorganizado, comportamento

    catatnico, agitao.

    Os transtornos esquizofrnicos afetam, aproximadamente, 1% da populao mundial

    (com variao de 0,6% a 3%, dependendo dos critrios diagnsticos utilizados), no havendo

    evidncia de diferena entre os sexos. Em estudo realizado em trs capitais brasileiras, Braslia,

    So Paulo e Porto Alegre, em 1991, foram comprovadas prevalncias de 0,3% a 2,4% da

    populao para psicose em geral (ALMEIDA-FILHO et al., 1997). Em relao carga global das

    doenas, esses transtornos so responsveis por 1,1% dos anos de vida ajustados para

    incapacidade (AVAIs) e por 2,8% dos anos de vida com incapacidade (AVIs), segundo a

    Organizao Mundial da Sade (1996).

    O termo psicose considerado de difcil definio e, ao longo da histria da

    Psiquiatria, j foram registradas vrias tentativas de caracterizao dessa doena mental. A

    American Psychiatric Association (DSM-IV) conceitua a psicose como uma perda dos limites

    do ego ou um amplo prejuzo no teste de realidade (1994, p.65). Por convenincia, o adjetivo

    psictico ainda utilizado na dcima reviso da Classificao estatstica internacional de

    doenas e problemas relacionados sade. Psiquiatria e neurologia (CID-10) como um termo

    descritivo, entretanto,

    [...] o seu uso no envolve pressupostos acerca dos mecanismos

    psicodinmicos, porm indica simplesmente a presena de alucinaes,

    delrios ou de um nmero limitado de anormalidades de comportamento, tais

    como: excitao e hiperatividade grosseiras, retardo psicomotor marcante e

    comportamento catatnico (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR.,

    2006, p.17).

    Tanto o DSM-IV como a CID-10 classificam os transtornos psicticos a partir de

    sintomas embasados no prejuzo funcional e na durao do quadro. Os sintomas dos transtornos

    psicticos caracterizam-se em geral pela presena de delrios crenas falsas baseadas em

    inferncias distorcidas da realidade, as quais no so compartilhadas pelo seu ambiente

    sociocultural. As ideias de perseguio, de controle ou de referncia so exemplos comuns de

    delrio. As alucinaes, por sua vez, so percepes sensoriais na ausncia de um estmulo

    externo. As alucinaes auditivas constituem a modalidade mais frequente entre os quadros

    psicticos. Nota-se a desorganizao psquica do paciente por meio das dificuldades no

    desempenho das atividades da vida diria, atitudes inadequadas ao contexto (despir-se em

    pblico, por exemplo) e, s vezes, agitao psicomotora (JAMELLI et al., 2010).

  • 15

    Os sintomas psicticos constituem, os aspectos definidores dos quadros psicticos

    nucleares. Nem sempre, porm, a presena de sintomas psicticos suficiente para indicar o

    diagnstico de um quadro de natureza psictica. Tm sido observados progressos mediante a

    compreenso da ao dos psicofrmacos, particularmente dos antipsicticos, sobre vrios

    sistemas de neurotransmisso observadamente comprometidos nos quadros clnicos de

    esquizofrenia considerada o prottipo das psicoses , que apresenta uma sintomatologia

    constituda por delrios, alucinaes, comportamento desorganizado e alteraes do

    pensamento (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).

    Dada a importncia da esquizofrenia (CID-10: F20) no contexto dos estudos sobre as

    doenas mentais, apresenta-se, no Quadro 2, o detalhamento da subclassificao dessa

    psicopatologia.

    CID-10 - F20 Esquizofrenia

    F20.0 Esquizofrenia paranoide

    F20.1 Esquizofrenia hebefrnica

    F20.2 Esquizofrenia catatnica

    F20.3 Esquizofrenia indiferenciada

    F20.4 Depresso ps-esquizofrnica

    F20.5 Esquizofrenia residual

    F20.6 Esquizofrenia simples

    F20.8 Outras esquizofrenias

    F20.9 Esquizofrenia no especificada

    Quadro 2 - Codificao e classificao das esquizofrenias na CID-10

    Fonte: OMS (1996, p.17-20).

    As psicoses englobam a esquizofrenia e sndromes com ela relacionadas. As situaes

    agudas correspondem s crises psicticas e tm mltiplas causas. A doena crnica caracteriza-

    se pela recorrncia de surtos (em 75% dos indivduos acometidos) em intervalos com variao

    de perodos de tempo. O tratamento realizado com prescrio de psicofrmacos, antipsicticos

    que no se diferenciam muito em suas farmacodinmicas, mas diferem em seus efeitos adversos

    (BRASIL, 2010).

    A esquizofrenia uma doena neuropsiquitrica complexa, heterognea, debilitante,

    que atinge 1% da populao mundial e est associada influncia mtua de fatores genticos e

  • 16

    ambientais. concebida como um transtorno mental grave, que pode acometer tanto homens

    quanto mulheres, cuja sintomatologia se manifesta, prevalentemente, por volta da adolescncia

    ou no princpio da idade adulta, entre 15 e 25 anos nos homens e entre 25 e 35 anos nas

    mulheres, em decorrncia do funcionamento anormal de determinados neurotransmissores,

    dentre os quais se destaca a dopamina. A taxa de prevalncia da esquizofrenia entre homens e

    mulheres indistinguvel, e no existe predileo por raa/etnia. A taxa de mortalidade oito

    vezes maior do que a da populao em geral. Nos Estados Unidos, por exemplo, a esquizofrenia

    a causa de 25% de ocupao dos leitos hospitalares. Alm disso, uma doena que tende a

    impor altos custos sociedade, prejudicando a vida no s dos seus portadores como a dos seus

    familiares, implicando desemprego, suicdios, baixa produtividade laboral e gastos expressivos

    com o tratamento e as hospitalizaes (ARAJO; SENA, 2011).

    A maioria dos esquizofrnicos reside fora do ambiente hospitalar e, geralmente, tem

    acompanhamento teraputico nos servios substitutivos: os centros de ateno psicossocial

    (CAPS), os day hospitals (os hospitais dia) e os ambulatrios dos hospitais psiquitricos.

    Raramente, esses indivduos so estimulados para o cuidado da sade geral, e alteraes

    cardiovasculares e respiratrias podem lev-los morte prematura.

    A ateno sade bucal dos esquizofrnicos institucionalizados tem sido o mote de

    diversos estudos em vrias partes do mundo, tais como: Itlia (ANGELILO et al., 1995);

    Dinamarca (HEDE, 1995); Espanha (VELASCO-ORTEGA; BULLON, 1999); Brasil

    (CARVALHO; ARAJO; CORREA, 2001); Inglaterra (MIRZA et al., 2001); Frana

    (BERTAUD-GOUNOT et al., 2013); Venezuela (MORALES-CHVEZ; RUEDA-

    DELGADO; PEA-OROZCO, 2014). No entanto, a avaliao da condio bucal de

    esquizofrnicos que tm acompanhamento teraputico nos servios substitutivos e moram com

    suas famlias ou em residncias teraputicas tem sido objeto de poucas investigaes,

    destacando-se a realizada por Stiefel, Rolla e Truelove (1984).

    A causa da esquizofrenia frequentemente referida como desconhecida, e o manejo

    teraputico psicofarmacolgico ainda oferece ao limitada sobre aspectos expressivos da

    doena, particularmente quando afetam a estrutura e a funcionalidade de vrias regies corticais

    e subcorticais, tendendo a apresentar respostas refratrias ou caractersticas de evoluo

    desfavorvel (KISELY et al., 2011).

    Na caracterizao da fisiopatologia da esquizofrenia, as crescentes evidncias

    funcionais e estruturais, dentre as quais se destacam o envolvimento de agentes

    comprometedores da formao e da disposio sinptica, as indicaes de vulnerabilidade ao

    estresse induzido e as repercusses de desequilbrio de carter imunolgico esto

  • 17

    fundamentadas nos princpios da psiconeuroimunologia. A concepo clnica da esquizofrenia,

    tradicionalmente atrelada observao de disfunes neuronais e ao comprometida de

    neurotransmissores, tende a supor, tambm, o desempenho anormal de clulas da glia e a

    contnua implicao de citocinas e glicocorticoides em mecanismos de desregulao

    homeosttica (MOREIRA, 2003).

    Considerando-se os objetivos do presente trabalho, h que se destacar as categorias

    reunidas no Quadro 3, no qual esto listadas as codificaes das doenas mentais que requerem,

    na abordagem teraputica medicamentosa, o uso de antipsicticos tpicos ou de primeira

    gerao e sua classificao de acordo com o Diagnostic and statistical manual of mental

    disorders (DSM-IV) em sua quarta edio e com a dcima reviso da Classificao estatstica

    internacional de doenas e problemas relacionados sade, Psiquiatria e neurologia - CID-

    10 (WANG; MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).

    DSM-IV CID-10

    295. xx Esquizofrenia F20 Esquizofrenia

    295.40 Transtorno esquizofreniforme F21 Transtorno esquizotpico

    295.70 Transtorno esquizoafetivo F22 Transtornos delirantes persistentes

    297.1 Transtorno delirante F23 Transtornos psicticos agudos e

    transitrios

    298.8 Transtorno psictico breve F24 Transtorno delirante induzido

    297.3 Transtorno psictico

    compartilhado

    F25 Transtornos esquizoafetivos

    293.xx Transtorno psictico devido a

    uma condio mdica geral

    F28 Outros transtornos psicticos no

    orgnicos

    298.9 Transtorno psictico sem

    outra especificao

    F29 Psicose no orgnica no especificada

    292.11

    292.12

    Transtorno psictico induzido

    por substncia desconhecida

    com delrios

    Transtorno psictico induzido

    por substncia desconhecida

    com alucinaes

    F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais

    devido ao uso de substncias psicoativas

    Quadro 3 - Codificao e classificao, no DSM-IV e na CID-10, de doenas mentais

    cuja teraputica medicamentosa requer o uso de antipsicticos Fonte: Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006, p.19).

  • 18

    Dada a complexidade das subdivises da classificao dos distrbios mentais que sero

    objeto deste estudo, que priorizou avaliar pacientes em cuja teraputica medicamentosa

    estivessem prescritos antipsicticos tpicos, cabe ressalt-las, reunindo-se, no Quadro 4, os

    Transtornos delirantes persistentes (F 22), os Transtornos psicticos agudos e transitrios (F

    23) e os Transtornos esquizoafetivos (F 25), conforme a mencionada Classificao estatstica

    internacional de doenas e problemas relacionados sade. Psiquiatria e neurologia (OMS,

    1996).

    CID-10 F22 Transtornos delirantes persistentes

    F22.0 Transtorno delirante

    F22.8 Outros transtornos delirantes persistentes

    F22.9 Transtorno delirante persistente no especificado

    CID-10 F23 Transtornos psicticos agudos e transitrios

    F23.0 Transtorno psictico agudo polimorfo, sem sintomas esquizofrnicos

    F23.1 Transtorno psictico agudo polimorfo, com sintomas esquizofrnicos

    F23.2 Transtorno psictico agudo de tipo esquizofrnico (schizophrenia-like)

    F23.3 Outros transtornos psicticos agudos, essencialmente delirantes

    F23.8 Outros transtornos psicticos agudos e transitrios

    F23.9 Transtorno psictico agudo e transitrio no especificado

    CID-10 F25 Transtornos esquizoafetivos

    F25.0 Transtorno esquizoafetivo do tipo manaco

    F25.1 Transtorno esquizoafetivo do tipo depressivo

    F25.2 Transtorno esquizoafetivo do tipo misto

    F25.8 Outros transtornos esquizoafetivos

    F25.9 Transtorno esquizoafetivo no especificado

    Quadro 4 - Codificao e classificao de transtornos mentais na CID-10 Fonte: OMS (1996, p.21-25).

    A doena mental transtorno esquizotpico, identificada como F21 na CID-10 um

    transtorno caracterizado por um comportamento excntrico e por anomalias do pensamento e

    do afeto que se assemelham quelas da esquizofrenia, mas no h em nenhum momento da

    evoluo qualquer anomalia esquizofrnica manifesta ou caracterstica (OMS, 1996,

    p.20-21).

  • 19

    De acordo com Tesini (1981), os deficientes mentais representam uma parcela

    substancial da populao nos Estados Unidos. Estima-se que 1% a 3% da populao americana

    apresente algum tipo de deficincia mental, sendo diretamente dependentes do apoio dos pais,

    dos responsveis ou de instituies criadas para sua assistncia. Os fatores etiolgicos natais ou

    perinatais so os maiores responsveis por deficincias mentais, geralmente episdios de

    hemorragia cerebral, traumas durante o parto, hipxia, prematuridade ao nascer, baixo peso do

    recm-nascido e parto cesariano, atribudos, possivelmente, descompresso sbita com a

    abertura do tero (ELIAS, 1995). As causas ps-natais so responsveis por 10% a 20% dos

    casos de deficincia mental, podendo ser traumatismo craniano, hemorragias cerebrais,

    hidrocefalia, infeces (encefalite e meningite) e fenilcetonria. Entre as formas de deficincia

    mental mais prevalentes, destacam-se a paralisia cerebral e as sndromes de origem gentica,

    sendo de todas a mais investigada a sndrome de Down ou trissomia do 21 (FOURNIOL

    FILHO, 1981).

    Os servios de sade mental no Brasil so limitados e de difcil acesso, principalmente

    quando o paciente precisa recorrer ao sistema pblico de sade. o que revelou uma pesquisa

    realizada de maro a junho de 2006 pela Associao Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria

    com o Instituto Datafolha. O estudo ouviu 207 mdicos psiquiatras e 2.267 pessoas sobre a sua

    percepo em relao ao atendimento de pacientes com transtornos mentais no pas. Entre os

    mdicos entrevistados, 84% afirmaram que os servios da sua regio so limitados e no

    atendem s necessidades da populao; apenas 16% consideraram satisfatrio o acesso ao

    atendimento. Nove por cento da populao pesquisada revelaram j ter passado por algum tipo

    de transtorno mental e, dessa parcela, 72% procuraram atendimento no sistema pblico de

    sade; 23%, no sistema privado e 5% valeram-se dos planos e/ou seguros de sade (WANG;

    MINATOGAWA; TAVARES JR., 2006).

    No Estado da Bahia, as instituies para abrigar doentes mentais surgiram em 1874,

    com a criao do Asilo So Joo de Deus, no Solar da Boa Vista, na cidade do Salvador,

    embrio do futuro Hospital Psiquitrico Juliano Moreira. Do seu corpo clnico fazia parte o

    cirurgio-dentista e, entre os procedimentos realizados, preponderavam as exodontias,

    realizadas, quela poca, com e sem anestesia (JACOBINA, 1982).

    Numa perspectiva histrica, as instituies para internao de pacientes com deficincia

    mental foram criadas em 1850, sobretudo com o objetivo de trein-los para sua maior integrao

    sociedade. Uma boa parte do tempo dentro dessas instituies era dedicado ao treinamento,

    visando capacitao para o desenvolvimento das atividades da vida diria, ou seja, a sua

    autonomia. Entretanto, esse modelo assistencial dispensado pelas instituies levou esses

  • 20

    pacientes ao isolamento e perda da cidadania. Tal paradigma comeou a mudar a partir de

    1980, quando se passou a dar uma maior nfase ao papel social desses indivduos, vistos como

    seres humanos produtivos e capazes de encontrar prazer no seu desempenho.

    As diferentes modalidades de ateno psiquitrica podem ter repercusses na sade

    bucal, de acordo com ODonnell e Cohn (1984). A influncia da modalidade de tratamento

    institudo para deficientes mentais na etiologia da doena periodontal, particularmente entre os

    pacientes com retardo mental, foi avaliada por Brown e Shodel (1976) e por Tesini (1981), que

    embasaram suas anlises em vrios estudos com alguns pontos em comum, em que foram

    observados pacientes com retardo mental, hospitalizados ou no. O mtodo utilizado para o

    diagnstico da doena periodontal foi o ndice periodontal preconizado por Russell, e a varivel

    idade direcionou as correlaes. Em pacientes com retardo mental internados, os escores do

    ndice periodontal de Russell foram mais altos do que os detectados em pacientes no

    hospitalizados, e o fator idade no influenciou diretamente nos escores do ndice periodontal

    determinado. A hospitalizao foi reconhecida como um fator que alterou negativamente o

    status periodontal dos pacientes, tendo em vista a maior severidade da doena periodontal neles

    diagnosticada.

    Com base em vrios estudos experimentais em que foram avaliadas a prevalncia de

    crie e de doena periodontal em pacientes especiais, Brown e Schodel (1976) salientaram que

    a higiene bucal no era eficiente entre os pacientes com retardo ou deficincia mental,

    constatando-se alta prevalncia de crie e de doena periodontal, gengivite de carter

    inflamatrio, sendo menos frequente a gengivite hipertrfica. O papel desempenhado pela

    internao contribua para afetar a progresso das doenas bucais, visto que quanto mais grave

    o grau de comprometimento intelectual do indivduo, maior a precariedade de sua higiene bucal.

    O fator dieta, controlado durante a hospitalizao, motivou apenas uma reduo na incidncia

    de cries. Tais constataes levaram esses autores a indicar que a higiene oral desses pacientes

    internados deveria ser supervisionada e adaptada sua realidade, j que os mtodos preventivos

    usuais no surtiam efeito para pacientes com tais caractersticas.

    As doenas bucais (crie e doena periodontal) atingem doentes mentais internados ou

    no. Essas patologias podem ser detectadas em todas as fases da vida do indivduo, ou seja, da

    infncia idade adulta, principalmente entre os portadores de retardo mental. Tesini (1981) faz

    referncia a diversos trabalhos elaborados nos Estados Unidos, na dcada de 1960, com

    pacientes internos e ambulatoriais, nos quais se refere que 74% das crianas com retardo mental

    (QI 55) hospitalizadas tinham gengivite crnica. Ao revisar 18 desses artigos, o autor

    constatou que, em quase todos, os ndices periodontais obtidos pelos pesquisadores

  • 21

    apresentavam escores mais altos entre os pacientes internados, particularmente os escores de

    ndices de placa e de clculo. A faixa etria dos pacientes observados variou de 2 a 75 anos de

    idade, e os ndices periodontais aplicados nesses estudos foram o ndice periodontal de Russell,

    o ndice de higiene oral e o ndice papilar, marginal e aderido (PMA) de Schour e Massler,

    tendo-se determinado uma correlao positiva entre o ndice periodontal de Russell e o ndice

    de higiene oral.

    Inmeros fatores interferem, de modo interativo, no comprometimento da sade bucal

    dos pacientes com doena mental hospitalizados, tais como o tempo de internao, o uso dirio

    de medicamentos psicoativos, a dieta e a mudana no comportamento, influenciando sua

    susceptibilidade a doenas bucais, entre as quais, a periodontal, que se configura como um dos

    mais srios problemas que os afetam. Alm da higiene oral inadequada, que leva ao acmulo

    de fatores irritativos locais, favorecendo o desencadeamento da doena periodontal, a

    respirao bucal, o controle muscular ineficaz, dietas lquidas, o bruxismo, a contaminao

    orofecal e o uso de drogas anticonvulsivantes alteram a microbiota do fluido do sulco gengival

    dos pacientes internados, resultando num aumento percentual de Porphyromonas gingivalis,

    bactria do complexo microbiano periodontopatognico. O quadro descrito culmina com a

    progresso da doena periodontal, caracterizada pela destruio do periodonto de suporte, e

    com a perda dental, agravadas, seguramente, pela inexistncia de programas preventivos de

    sade bucal destinados aos pacientes hospitalizados.

    Para a avaliao da higiene bucal em pacientes com doena mental, ODonnell e Cohn

    (1984) utilizaram o ndice de higiene oral, tendo constatado no somente que o escore foi mais

    elevado entre os pacientes internados, mas tambm a existncia de uma relao inversa entre

    os graus de retardo mental e os nveis de higiene oral, ou seja, quanto menor o quociente de

    inteligncia (QI) maior o escore do ndice de higiene oral. H que se registrar que os fatores

    ambientais foram devidamente controlados nesse trabalho, sendo, portanto, o grau de retardo

    mental o responsvel pela interferncia no escore daquele ndice. Alm disso, os autores

    observaram que os pacientes apresentavam condies mais compatveis com a sade bucal

    quando usufruam da assistncia familiar e sugeriram a implantao, nas instituies, de

    programas educacionais para sade bucal que contemplassem no apenas os cuidados

    preventivos dos pacientes hospitalizados, como tambm daqueles tratados no regime

    ambulatorial, com o envolvimento de toda a equipe multiprofissional, que, alm de ser

    capacitada, deveria tambm orientar os familiares desses pacientes quanto aos cuidados

    caseiros com a higiene bucal e a vigilncia na ateno s consultas peridicas visando ao

    monitoramento.

  • 22

    De acordo com Pires (2000), o modelo psiquitrico atual tende desospitalizao da

    maioria dos indivduos levemente retardados e daqueles com retardo moderado, que conseguem

    adaptar-se e socializar-se, o que lhes permite uma adequada qualidade de vida. Numa

    perspectiva interdisciplinar, os profissionais se empenham cada vez mais em promover a sade

    desse segmento de pacientes, visando a otimizar a sua integrao sociedade e a facilitar o seu

    cotidiano. instituio caberia viabilizar o aprendizado e contribuir para o resgate da

    cidadania, o que s seria possvel com a desospitalizao dos deficientes mentais. A equipe

    multiprofissional envolvida com o tratamento entende que a famlia deve se responsabilizar

    pelo paciente, assumindo no apenas a administrao das medicaes prescritas, como tambm

    o cuidado com a higiene do seu familiar (BAHIA, 2009).

    No Estado da Bahia, a Secretaria da Sade, por meio da Comisso Tcnica de Reforma

    Psiquitrica, est gerenciando o Programa de Sade Mental, que visa a consolidar a mudana

    no paradigma da ateno sade mental, com a perspectiva de assegurar um servio mais

    humanizado, capaz de resgatar a cidadania do paciente acometido de transtornos mentais e

    comportamentais e integr-lo sociedade. Uma multiplicidade de servios substitutivos em

    sade mental surgiu a partir dos anos 1980, tais como o Centro de Ateno Psicossocial

    (CAPS), o Ncleo de Assistncia Psicossocial (NAPS), lares abrigados, hospitais dia, que

    devero substituir os espaos caticos resultantes da inadequao do modelo manicomial

    (BAHIA, 2009).

    5.2 PSICOFRMACOS

    Segundo Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006), o tratamento das alteraes mentais

    classificados na CID-10 como F10 a F19 e F20 a F29 (Quadro 1), envolve, geralmente, a

    prescrio de psicofrmacos e abordagens psicossociais. Nesses casos, a teraputica

    medicamentosa representada pelo uso de antipsicticos tpicos (ApTs) ou de primeira gerao

    e atpicos (ApAs) ou de segunda gerao, que atuam sobre o sistema nervoso central, tambm

    conhecidos como neurolpticos ou tranquilizantes maiores, que, embora no se diferenciem

    muito em sua atividade antipsictica, diferem em seus efeitos adversos. Segundo esses autores,

    esses medicamentos so muito eficazes em casos clnicos com sintomas de delrios,

    alucinaes, comportamento desorganizado e alteraes do pensamento. Os antipsicticos so

    os psicofrmacos indicados para o tratamento das psicoses e exercem sua ao nos receptores

  • 23

    de dopamina D1, D2, D3, D4 e D5, sendo os receptores D2 ativados pelas fenotiazinas e

    butirofenonas.

    Os receptores de serotonina 5HT2A so outra rea de atuao dos antipsicticos. Uma

    droga antipsictica pode ter sua ao suplementada por um segundo agente de diferente grupo

    farmacolgico, se o seu efeito no tratamento no obtiver sucesso. Dentre os agentes

    suplementares destacam-se o ltio, a carbamazepina (nome comercial Tegretol) e os

    benzodiazepnicos (Mc CREADIE et al., 2004.)

    Os APs so usualmente classificados em dois grandes grupos: (i) APs de primeira

    gerao, tpicos ou convencionais, representados por antagonistas da dopamina (D2);

    inicialmente, foram utilizados os derivados das fenotiazinas (como a clorpromazina) e,

    posteriormente, nos anos 1950, foram introduzidos os derivados das butirofenonas (como o

    haloperidol); (ii) APs de segunda gerao, atpicos ou de nova gerao. O termo atpico

    descreve alguns APs dotados de caractersticas especificas tais como efeitos extrapiramidais

    mnimos, pouca sedao ou rpida dissociao de receptores D2; postula-se que essas

    propriedades decorram do bloqueio de receptores serotoninrgicos e dopaminrgicos

    (FRIEDLANDER; MARDER, 2002).

    Na seleo da terapia para o tratamento das psicoses e dos transtornos mentais e

    comportamentais causados pelo uso de substncias psicoativas, devem-se cotejar os riscos e os

    benefcios da opo teraputica continuada, quando os antipsicticos atpicos forem a

    medicao de primeira escolha, considerando-se seu custo mais elevado do que os

    convencionais (WANNMACHER, 2004).

    Conforme esclarecimentos da Comisso de Farmcia e Teraputica do Hospital

    Psiquitrico Juliano Moreira (CFT-HPJM), os medicamentos, de modo geral, so padronizados,

    segundo a Portaria MS 3916-30/10/98, como medicamentos essenciais, medicamentos

    excepcionais e reserva tcnica. Os antipsicticos tpicos ou de primeira gerao esto includos

    na categoria de medicamentos essenciais, considerados bsicos e indispensveis para atender a

    maioria dos problemas de sade mental da populao. Os antipsicticos atpicos ou de segunda

    gerao so categorizados como medicamentos excepcionais, geralmente de custo elevado,

    utilizados em doenas raras, cuja dispensao atende a casos especficos. Os medicamentos

    includos na categoria reserva tcnica so prescritos em casos especiais, analisados pela

    Comisso de Farmcia e Teraputica e pela Diretoria Clnica da instituio.

    No Quadro 5, esto agrupados os antipsicticos tpicos ou de primeira gerao dos

    grupamentos farmacolgicos das fenotiazinas e das butirofenonas, considerando-se seus grupos

  • 24

    especficos, nomes comerciais e apresentao farmacutica, conforme o Formulrio

    teraputico nacional 2010 (BRASIL, 2010).

    Grupo Fenotiazinas Nome comercial Forma farmacutica

    Cloridrato de clorpromazina Amplictil

    Longactil

    Comprimido 25 mg, 100 mg

    Soluo oral gotas 40 mg/mL

    Soluo injetvel 5 mg/mL-amp 5 ml

    Maleato de levomepromazina Neozine Comprimido 100 mg

    Enantato de flufenazina Flufenan Depot

    Anatensol Depot

    Soluo injetvel 25 mg/mL-amp 1 ml

    Cloridrato de flufenazina

    Flufenan

    Diserim

    Comprimido 5 mg

    Soluo injetvel 25 mg/mL-amp 1 ml

    Cloridrato de tioridazina Melleril Drgea 10, 25, 50, 100 mg

    Comprimido liberao prolongada 200 mg

    Soluo oral 3% (30mg/mL)

    Cloridrato de trifluoperazina Stelazine Comprimido 5 mg

    Propericiazina Neuleptil Comprimido 10 mg

    Soluo oral 4% (30mg/mL)

    Grupo Butirofenonas Nome comercial Forma farmacutica

    Haloperidol Haldol Comprimido 1 mg, 5 mg

    Soluo oral 2 mg/mL

    Soluo injetvel 5 mg/mL-amp 1 ml

    Haloperidol decanoato Haldol Depot Soluo injetvel 50 mg/mL-amp 1 ml

    (forma injetvel de depsito)

    Difenilbutilpiperidinas

    Penfluridol

    Pimozida

    Semap

    Orap

    Comprimido 20 mg

    Comprimido 1mg, 4 mg

    Outros: Sulpirida

    Dogmatil

    Equilid

    Comprimido 200 mg

    Soluo oral gotas 30 mL

    Comprimido 200 mg

    Cpsula 50 mg

    Quadro 5 - Fenotiazinas e butirofenonas, nomes comerciais e formas farmacuticas Fontes: Wang, Minatogawa e Tavares Jr. (2006); Brasil (2010).

    O representante mais estudado dos psicofrmacos aplicados no tratamento das psicoses

    a clorpromazina (cloridrato de clorpromazina), do grupamento farmacolgico das

    fenotiazinas, nome comercial Amplictil, mas a eficcia dos congneres semelhante, sem prova

    de superioridade clnica relevante para nenhum deles. A clorpromazina tem indicaes em

    surtos psicticos e na agitao psicomotora, graas aos seus efeitos sedativos (LEUCHT et al.,

    2010). Uma reviso de dez estudos realizada por Almerie e outros (2010) demonstrou que

    pacientes controlados que receberam clorpromazina na fase aguda devem dar continuidade ao

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    tratamento, uma vez que a incidncia de recadas menor do que nos pacientes que

    suspenderam o tratamento. A clorpromazina permanece como um dos medicamentos mais

    prescritos para o tratamento da esquizofrenia, tendo efeitos adversos moderados. Uma reviso

    sistemtica (n=794 artigos) concluiu que essa substncia responsvel por efeitos como

    hipotenso, ao passo que o haloperidol, do grupo das butirofenonas, ocasiona distrbios de

    movimento (LEUCHT, 2010).

    No grupo das fenotiazinas destaca-se o maleato de levomepromazina, nome comercial

    Neozine, apresentado para uso oral na forma de comprimido. Alm da ao antipsictica, esse

    psicofrmaco tambm ansioltico, sedativo e antilgico. Sua ao farmacodinmica, como

    antipsictico, o bloqueio dos receptores D2 ps-sinpticos da dopamina. Entre os efeitos

    colaterais destacam-se hipotenso, efeito extrapiramidal fraco ou mdio e efeito anticolinrgico

    mdio ou forte, mas, como as outras fenotiazinas, suprime o reflexo da tosse e aumenta a

    concentrao de prolactina, o que inviabiliza seu uso em gestantes e em mulheres na fase de

    amamentao. Entre as reaes adversas que podem ocorrer com o uso desse psicofrmaco,

    mas sem incidncia definida, esto listadas: alterao de peso corporal, alteraes

    hematolgicas, boca seca, leses na mucosa bucal, e sndrome neurolptica maligna. Wang,

    Minatogawa e Tavares Jr. (2006) sugerem o acompanhamento odontolgico, o uso de

    medicamentos/alimentos que possam aliviar a secura da boca, alertam para o cuidado na

    realizao de procedimentos invasivos, atentando para a seleo dos anestsicos locais e para

    as medicaes prescritas no ps-operatrio.

    O cloridrato de tioridazina, nome comercial Melleril um dos antipsicticos tpicos do

    grupo das fenotiazinas, psicofrmaco de uso oral apresentado na forma de drgea, soluo e

    comprimido de liberao prolongada. Indicado para psicose, demncia (em idosos),

    dependncia alcolica e distrbios de comportamento (em crianas). Tem fraco efeito colateral

    extrapiramidal, mas tem efeitos anticolinrgicos de moderados a fortes, sendo tambm

    hipotensor e sedativo. Outros efeitos colaterais so a supresso do reflexo da tosse, o aumento

    na concentrao da prolactina e o cardiotxico; em alguns pacientes, h ganho de peso. O uso

    do Melleril na gravidez no seguro, e sua administrao requer cuidados na fase de

    amamentao. As reaes mais comuns durante o uso desse psicofrmaco, mas sem incidncia

    definida, so dermatolgicas, gastrointestinais e boca seca, recomendando-se a necessidade de

    um controle mecnico eficaz da placa bacteriana e visitas peridicas ao dentista (BRASIL,

    2010).

    No grupo das butirofenonas, destaca-se o haloperidol, nome comercial Haldol, que tem

    demonstrado eficcia na reduo de recadas, aumentando o denominado turnover de dopamina

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    no crebro. Embora possa ser prescrito em surtos agudos, tem sido preferencialmente

    empregado no tratamento de manuteno, quando se mostra eficaz, mesmo apresentando efeitos

    adversos extrapiramidais (WANNMACHER, 2004). Sua forma de decanoato permite

    administrao a intervalos maiores e, sendo injetvel, suprime a necessidade da cooperao de

    pacientes que no aceitam o tratamento. Reviso sistemtica de um ensaio clnico randomizado

    realizada por Quraishi, David e Brasil (2010) no identificou diferena de eficcia entre o

    decanoato de haloperidol e o haloperidol oral ao fim de quatro meses. Cerca de um tero dos

    pacientes com esquizofrenia resistente ao tratamento com antipsicticos convencionais,

    especialmente aqueles com sintomas negativos embotamento afetivo, dificuldade de

    julgamento, depresso e falta de estmulo. A preparao de depsito de haloperidol para uso

    intramuscular pode ser empregada na manuteno de pacientes cuja adeso ao tratamento via

    oral no possvel. A reduo brusca deve ser evitada; a retirada deve ser gradual e requer

    acompanhamento para evitar recada (YALTIRIK; KOCAELLI; YARGIG, 2004). O uso do

    haloperidol est associado distonia aguda, acatisia e ao pseudoparkinsonismo sintomas

    extrapiramidais assim como sedao, hipotenso e a efeitos anticolinrgicos. Alm disso,

    foram relatadas alteraes hematolgicas, tais como agranulocitose e leucopenia, e efeitos

    cardiotxicos (BRASIL, 2010).

    Os antipsicticos convencionais incluem as fenotiazinas, como a clorpromazina, quando

    h necessidade de sedao, e as butirofenonas, como o haloperidol, prescritas no tratamento da

    fase aguda, quando predominam os sintomas produtivos, e na fase de manuteno. Como esses

    psicofrmacos induzem efeitos adversos, novos frmacos os antipsicticos atpicos foram

    introduzidos, tais como a risperidona, com a inteno de aliviar os sintomas e melhorar a

    qualidade de vida dos usurios, com o mnimo de efeitos adversos (WANNMACHER, 2004).

    Uma meta-anlise de 52 ensaios clnicos randomizados, com um total de 12.649

    pacientes esquizofrnicos comparou os antipsicticos convencionais a antipsicticos

    atpicos, incluindo a risperidona, demonstrando a eficcia e a segurana similares entre eles

    (GEDDES et al., 2000). Assim, segundo Wannmacher (2004), o tratamento das psicoses,

    particularmente da esquizofrenia, pode ser realizado preferencialmente com o emprego de

    antipsicticos tradicionais, reservando-se os atpicos para situaes especiais, em que haja

    sintomas negativos ou de refratariedade ou intolerncia ao tratamento convencional,

    justificando-se, assim, seu enquadramento na padronizao regulamentada pela Portaria MS

    3916-30/10/98 como medicamentos excepcionais. Os antipsicticos atpicos (risperidona,

    clozapina, quetiapina, ziprasidona e olanzapina) so geralmente prescritos nos casos de

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    esquizofrenia refratria, conforme o Protocolo Clnico e Diretrizes Teraputicas anexo

    Portaria MS/SAS n 846, de 31 de outubro de 2002 (BRASIL, 2002).

    A risperidona um dos antipsicticos atpicos e, no tratamento da esquizofrenia, sua

    prescrio est condicionada a situaes em que haja resistncia ao tratamento com os

    antipsicticos tpicos. Esse frmaco apresenta menos efeitos sedativos e extr