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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA AMBIENTAL
GEOVANI MERCHIORATTO FERRAZ
ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS DE ÁREAS
COSTEIRAS COM POTENCIALIDADE
AQÜÍCOLA NO MUNICÍPIO DE NITERÓI - RJ.
NITERÓI 2006
ii
GEOVANI MERCHIORATTO FERRAZ
ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS DE ÁREAS COSTEIRAS COM POTENCIALIDADE AQÜÍCOLA NO MUNICÍPIO DE
NITERÓI - RJ. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Análise de Processos Socioambientais.
Orientador: Prof. Dr. CELIO MAURO VIANA
NITERÓI 2006
F 381 Ferraz, Geovani Merchioratto. Aspectos socioambientais de áreas costeiras com poten- cialidade aquícola no município de Niterói – RJ / Geovani Merchioratto Ferraz. – Niterói : s.n. , 2006. 103 f.. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade Federal Fluminense, 2006. 1. Mitilicultura – Niterói (RJ). 2. Mitilicultura - Aspecto social. 2.Mitilicultura - Aspecto ambiental. 3.Saúde pública. 4.Ambiente costeiro. I. Título. CDD 639.42098153
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha amada esposa Carla Valéria, por sua força, ajuda, compreensão e incentivo, estando sempre ao meu lado, em todos os momentos. Obrigado por tudo!
v
AGRADECIMENTOS A Deus por te me dado a oportunidade de continuar os meus estudos acadêmicos. Aos meus pais pelo exemplo de vida e apoio em todos os momentos da minha vida. Ao Prof. e Orientador Celio Mauro Viana, pelo exemplo de conduta profissional, desde da época da graduação e principalmente pela confiança, paciência, amizade e colaboração. À CAPES por ter financiado durante um ano a minha bolsa de mestrado. A todos aos meus amigos e professores do PGCA que direta ou indiretamente contribuíram nesta minha busca na “construção do saber”. Á ALMARJ e à Colônia de Pescadores Z-7 Itaipu/Maricá, por ter me permitido viabilizar o trabalho de campo e, ao mesmo tempo, de aprender um pouco com a vasta sabedoria de vida de cada associado por mim entrevistado. Ao fundamental apoio do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática da UFF, através da Profa. Núbia Karla de Oliveira Almeida, que viabilizou o tratamento estatístico. Aos amigos e familiares que colaboraram e torceram durante a realização deste trabalho.
vi
“O indivíduo deve, antes de engajar-se no estudo de qualquer tema, perguntar-se quais são suas aplicações e que fruto e resultado derivam dele. Se for um ramo de conhecimento útil, isto é, se a sociedade obterá dele importantes benefícios, então ele certamente deve persegui-lo de todo seu coração”. (O segredo da Civilização Divina por `Abdul´l - Bahá)
vii
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
x
RESUMO
xii
ABSTRACT
xiii
1
INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
2
OBJETIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
3
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
3.1 AQÜICULTURA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 3.1.1 Aqüicultura Costeira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 3.1.2 Legislação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3.1.3 Mitilicultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 3.1.4 Biologia e ecologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.1.5 Indicador biológico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 MITILICULTURA E SAÚDE PÚBLICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.2.1 Legislação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.2.2 Saúde, Ambiente Aqüícola e Vigilância Sanitária. . . . . . . . . . . . . . . 27 3.2.3 Mitilicultura e Agravos à Saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4
MATERIAIS E MÉTODOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
37
4.1 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DAS RESPOSTAS DOS QUESTIONÁRIOS 38
5 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO SANITÁRIA DAS ÁREAS DE ESTUDO. .
39
5.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DE INFLUÊNCIA NAS ÁREAS DE ESTUDO. . . . . . . . . 39 5.2 MUNICÍPIO DE NITERÓI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5.2.1 Ambiente costeiro de Itaipu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 5.2.2 Ambiente costeiro de Jurujuba. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
6
RESULTADOS E DISCUSSÕES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
48
6.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 6.2 PERFIL HIGIÊNICO-SANITÁRIO DO AMBIENTE RESIDENCIAL. . . . . . . . . . . 54 6.3 USO E QUALIDADE DO AMBIENTE COSTEIRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 6.4 PERCEPÇÃO DA MITILICULTURA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 6.5 PERCEPÇÃO DAS DOENÇAS PROVENIENTES DE ALIMENTOS MARINHOS E DA
ÁGUA DO MAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
7
CONCLUSÕES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
81
8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
84
9
ANEXOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
93
viii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 1 Evolução da aqüicultura no Brasil, Chile e Equador. f. 6
Fig. 2 Balanço do nitrogênio de origem orgânica em um cultivo de mexilhões. f. 9
Fig. 3 Detalhe das cordas de cultivo de mexilhão. f. 15
Fig. 4 Sistema de cultivo long-line ou espinhel. f. 16
Fig. 5 Sistema de cultivo suspenso fixo. f. 16
Fig. 6 Perna perna aspecto geral. f. 18
Fig. 7 Perna perna aspecto interno. f. 19
Fig. 8 Perna perna fêmeas e machos. f. 19
Quadro 1 Padrões microbiológicos utilizados como referência para a classificação das áreas de produção de moluscos no Brasil e padrões para a venda por atacado, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. f. 26
Fig. 9 Impactos em ambientes costeiros. f. 30
Quadro 2 Principais doenças associadas ao consumo de mexilhões com importantes implicações para a saúde pública, pelos riscos de morbidade e mortalidade. f. 34
Fig. 10 Mapa demonstrativo das sete macrorregiões ambientais do Rio de Janeiro. f. 40
Fig. 11 Mapa demonstrativo da Macrorregião Ambiental Guanabara e Lagoas Metropolitanas (MRA- 1). f. 40
Fig. 12 Canal de São Francisco (Enseada de Jurujuba, Niterói – RJ). f. 41
Fig. 13 Canal de Itaipu (Enseada de Itaipu, Niterói – RJ). f. 41
Quadro 3 Principais rios afluentes das bacias hidrográficas Lagunas de Piratininga / Itaipu e Baía de Guanabara de grande influência nas áreas de estudo. f. 42
Quadro 4 Classificação do município de Niterói em relação ao índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) e sub-índices e o índice de Gini, para o ano 2000. f. 43
Fig. 14 Demonstrativo da área de estudo – enseada de Itaipu. f. 44
Fig. 15 Demonstrativo da área de estudo – enseada de Jurujuba. f. 46
Fig. 16 Residentes nos bairros de estudo. f. 49
Fig. 17 Tradição familiar (avós pescadores). f. 50.
Fig. 18 Principal ocupação. f. 52
Fig. 19 Periodicidade do rendimento. f. 53
Quadro 5 Quadro demonstrativo aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠n.s.). f. 54
Fig. 20 Cobertura das residências. f. 55
Fig. 21 Sistema residencial de esgotamento sanitário (A); Adequação do sistema de esgotamento sanitário (B). f. 57
Quadro 6 Perfil das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) de Jurujuba e Itaipu / Concessionária Águas de Niterói. f. 57
Quadro 7 Quadro demonstrativo aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠n.s.). f. 60
Fig. 22 Percepção da qualidade ambiental das enseadas. Percepção quanto a sujidade e limpeza do mar da região (A); Parâmetros do entrevistado para avaliar a limpeza do mar (B). f. 61
Fig. 23 Percepção dos problemas existentes no mar da região para o cultivo marinho. f. 61
Fig. 24 Percepção das atividades existentes no mar da região que podem ser prejudiciais ao cultivo marinho. f. 62
ix
Fig. 25 Atividades extra ocupacionais no mar ou praia da região. f. 63
Quadro 8 Usos efetivos dos recursos costeiros e suas conseqüências ambientais e sociais negativas, pelos atores estudados em Florianópolis (SC). f. 63
Fig. 26 Embarcações na enseada de Itaipu. f. 64
Fig. 27 Conhecimento sobre a Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), caráter restritivo no acesso aos costões naturais (APP) - extração de marisco. f. 65
Fig. 28 Opinião sobre a Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), caráter restritivo ao acesso aos costões naturais (APP) - extração de marisco. f. 66
Fig. 29 Motivo da opinião sobre o caráter restritivo da Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), ao acesso nos costões naturais para extração de marisco. f. 66
Fig. 30 Outorga de áreas para implantação de parques aqüícolas. f. 67
Fig. 31 Destino final das valvas dos mexilhões. f. 69
Quadro 9 Quadro demonstrativo aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠n.s.). f. 70
Fig. 32 Experiência na maricultura. Trabalhou com algum tipo de cultivo marinho (A); Exerce atividade relacionada ao cultivo marinho (B). f. 72
Fig. 33 Origem do capital de investimento. f. 73
Fig. 34 Ocupação que gera maior renda familiar (A); Cultivo que gera maior renda familiar (B). f. 74
Fig. 35 Sistema de cultivo espinhel em Jurujuba. f. 75
Fig. 36 Rede mexilhoneira em Jurujuba. f. 76
Fig. 37 Beneficiamento do mexilhão em Jurujuba. f. 76
Quadro 10 Quadro demonstrativo aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠n.s.). f. 76
Fig. 38 Consideram melhor a qualidade do marisco cultivado em relação ao catado. f. 77
Quadro 11 Quadro demonstrativo aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠n.s.). f. 80
x
LISTA DE ABREVIATURAS ALMARJ: Associação Livre dos Pescadores de Jurujuba
ANA: Agência Nacional de Águas
ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APPCC/HACCP: Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
APPs: Áreas de Preservação Permanente
CCRSM: Código de Conduta Responsável e Sustentável para Malacocultura Brasileira
CDC: Center of Disease Control
CNCMB: Comitê Nacional de Controle Higiênico Sanitário de Moluscos Bivalves
CNIO: Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos
CNUDM: Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente
ETE: Estação de Tratamento de Esgoto
FDA: Food and Drug Administration
FEEMA: Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente
GESAMP: Group of Experts on the Scientific Aspects of Marine Enviromental Protection
H2S: gás sulfídrico
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IDH-M: índice de desenvolvimento humano municipal
INMETRO: Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial
MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MMA: Ministério do Meio Ambiente
MRA: Macrorregião Ambiental
MS: Ministério da Saúde
NMP: número mais provável
NRC: National Research Council
OMS: Organização Mundial da Saúde
OPAS: Organização Pan Americana da Saúde
PLDM’s: Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura
PNDM: Programa Nacional de Desenvolvimento da Maricultura em Águas da União
PNGC II: Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II
PNMA: Política Nacional do Meio Ambiente
PNRH: Política Nacional de Recursos Hídricos
xi
RNA: ácido ribonucléico
SEAP/PR: Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República
SECITEC: Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia
SISNAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNGRH: Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SUDEPE: Superintendência de desenvolvimento da pesca.
ZEE: Zona Econômica Exclusiva
xii
RESUMO Grande parte do litoral brasileiro possui vocação para malacocultura por sua localização geográfica, clima e água de qualidade. Este trabalho objetivou avaliar aspectos sanitários e sociais dos ambientes costeiros com potencialidade para mitilicultura, no município de Niterói - RJ. Analisou-se e comparou-se a percepção dos atores sociais das comunidades pesqueira e mexilhoneira das enseadas de Itaipu e de Jurujuba, em relação a doenças provenientes de alimentos marinhos e da água do mar e ainda a percepção da mitilicultura. Esses ambientes costeiros são áreas de grandes atrativos para tal cultura onde, tanto a engorda como a produção de sementes de mexilhão, tem elevado potencial. O levantamento bibliográfico abordou aspectos da aqüicultura, da mitilicultura e da saúde pública. Apesar da importância que a pesca possui para a segurança alimentar, subsiste o sério problema do esgotamento dos estoques pesqueiros no mundo. Com o declínio da atividade pesqueira brasileira e a insustentabilidade econômica e ambiental do extrativismo artesanal de marisco, a mitilicultura vem adquirindo grande importância como alternativa de renda e emprego para comunidades pesqueiras de baixa renda. No entanto, pode gerar significativos conflitos sociais e impactos ambientais nas zonas costeiras, assim como sofrer efeitos antrópicos originados localmente e a montante das bacias hidrográficas, comprometendo as regiões estuarinas de potencial para mitilicultura. Na maioria dos casos são problemas sanitários gerados através do despejo de esgotos e resíduos industriais e residenciais diretamente ao ambiente aquático, sem prévio tratamento. Os moluscos bivalves, por serem excelentes filtradores da água, são utilizados como indicadores biológicos desses efeitos antrópicos uma vez que concentram contaminantes do ecossistema marinho. Nesse sentido, o consumo da carne do mexilhão fora dos padrões sanitários regulamentados pode veicular inúmeros patógenos ao homem, tornando-se um risco para a saúde pública. No que tange os aspectos sanitários da mitilicultura, destacam-se importantes normativas do Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente. A metodologia utilizada foi o estudo descritivo e correlacional dos fatos e fenômenos das áreas pesquisadas, vista a complexidade dos aspectos estudados. Em Itaipu foram aplicados 25 questionários no universo de 200 pescadores devidamente cadastrados na Colônia de Pescadores Z–7 Itaipu/Maricá que costumam desembarcar e comercializar a pesca na enseada de Itaipu. Na enseada de Jurujuba, através da Associação Livre de Maricultores de Jurujuba, foram realizadas entrevistas com 27 associados, representando um universo de 80 maricultores devidamente cadastrados nessa associação. Sob este enfoque, foram utilizados o levantamento de dados secundários, formulação e aplicação de questionários fechados aos atores sociais. Os resultados dos questionários após tratamento estatístico (qui-quadrado) e a caracterização das áreas de estudo por dados secundários revelaram o perfil desses atores, quanto aos aspectos socioeconômico, sanitário, ambiental e percepção da mitilicultura. O fomento e o ordenamento da mitilicultura nessas áreas de estudo, pelo Poder Público, deveriam incorporar preceitos de bioética, na busca da sustentabilidade socioambiental das comunidades pesqueiras de Itaipu e Jurujuba.
xiii
ABSTRACT A great part of Brazilian coast has potential for shellfish growing due to its geographical localization, climate and water quality. This work aims to evaluate sanitary and social aspects of coastal environments with mussel culture potential, in the city of Niterói – RJ. The Itaipu and Jurujuba inlet mussel culture and fishing communities social actors perception have been analyzed and compared, in relation to diseases originated from seafood and water and yet in relation to the mussel culture. These coastal environments are huge attractive areas to the mussel growing where both the growing and production of mussel seed have a high potential. The bibliographical research has approached aquiculture, mussel growing and public health aspects. Despite the importance fishing has to the planet’s food security, the serious world fishing storage run-out supply still exists. With the Brazilian fishing activity’s decline and the economical and environmental unsustainable shellfish craft extractives, the mussel culture has been gaining much importance as an alternative of job and income for reduced purchase power fishing communities. However, the mussel culture can generate significative social conflicts and environmental impacts in coastal zones, as well as suffer human locally and hydrographic-bay–course effects, threatening marine environment regions with mussel culture potential. Most of the cases are sanitary problems caused by wastewater, industrial and residential wastes eviction, directly in the aquatic environment, with no previous proper treatment. The shellfish, as they are excellent water filterers, are used as biological indicators of that human effect, as they concentrate marine ecosystem contaminator. For that reason the mussel flesh consumption out of the sanitary regulamented standards may bring a countless amount of pathogens to the human being, ending up becoming a risk to public health. In what it concern mussel culture sanitary aspects, important norms of Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente are brought out. The used methodology was descriptive and correlational survey of facts and the phenomenon of researched areas, due to the complexity of the surveyed aspects. In Itaipu, 25 questionnaires were applied to a universe of 200 fishermen properly registered in the Z-7 Itaipu/Maricá fishermen colony, which are used to disembark and trade the fishing at Itaipu inlet. In the Jurujuba inlet, through the Associação Livre de Maricultores de Jurujuba, some interviews were made with 27 of its associates, representing a universe of 80 properly registered fishermen. Under this focus, secondary date survey, formulation and submit of closed questionnaires to the social actors were used. The questionnaires results, after statistical treatment (qui-square), and the characterization of the survey areas by secondary data have revealed those actors profile in relation with the social-economical, sanitary, environmental aspects and the perception of mussel culture. The feeding and ordering of mussel culture in those survey areas, by Public Empowerment, should incorporate bioethics principles in the search for social–environmental sustainability of the fishing communities of Itaipu and Jurujuba.
1
1 INTRODUÇÃO
Com o declínio dos estoques pesqueiros e a insustentabilidade econômica e ambiental
do extrativismo artesanal de marisco, a aqüicultura vem adquirindo, no Brasil, posição de
destaque como alternativa de renda e emprego para comunidades pesqueiras de baixa renda.
Grande parte do litoral brasileiro possui vocação para mitilicultura por sua localização
geográfica, clima e água de qualidade. Faz-se necessário questionar e avaliar os aspectos
sanitários, ambientais e sociais, em ambientes costeiros com potencialidade para a
mitilicultura, de forma a buscar uma referência higiênico-sanitária do produto.
Este trabalho tem como objetivo geral avaliar aspectos sanitários e sociais, em
ambientes costeiros de potencialidade para mitilicultura, no município de Niterói - RJ.
Objetiva-se, especificamente, a análise comparativa da percepção dos atores sociais das
comunidades pesqueira e mexilhoneira das enseadas de Itaipu e de Jurujuba, em relação a
doenças provenientes de alimentos marinhos e da água do mar e ainda a percepção da
mitilicultura. Esses ambientes costeiros são áreas de grande potencial para a mitilicultura
onde, tanto a engorda como a produção de sementes de mexilhão, tem elevado potencial.
Destacar-se-ão possíveis impactos socioambientais resultantes da prática da
mitilicultura. O estudo do mexilhão é de extrema importância para a Saúde Pública por ser
este um filtrador por excelência, estando implícito o potencial risco á saúde humana no
consumo da carne desses bivalves. De igual importância são os impactos sociais de modos de
apropriação dos recursos costeiros que servem de suporte à mitilicultura nesses ambientes. Foi
ressaltado o impacto ambiental gerado pela mitilicultura de caráter intensivo, através da
deposição de matéria orgânica no fundo dos ambientes aqüícolas. Este estudo alerta para os
efeitos antrópicos originados localmente e a montante das bacias hidrográficas,
comprometendo as regiões estuarinas de potencial para mitilicultura. Na maioria dos casos,
2 são problemas sanitários gerados através do despejo de esgotos e de resíduos industriais e
residenciais diretamente ao ambiente aquático, sem prévio tratamento. Neste sentido, a gestão
integrada de ambientes aqüícolas de potencial para mitilicultura deve nortear o gerenciamento
desses empreendimentos.
Na Fundamentação Teórica, abordar-se-á no capítulo inicial o tema aqüicultura,
atividade comercial recente quando comparada a outros agronegócios tradicionais que foi
impulsionada no Brasil a partir dos anos 70, com aperfeiçoamentos de técnicas de reprodução
e produção de algumas espécies de peixes tropicais. Em seguida dar-se-á destaque a
aqüicultura costeira ressaltando a maricultura brasileira como uma atividade promissora no
cultivo de peixes marinhos (piscicultura), moluscos bivalves (malacocultura), camarões
(carcinicultura) e algas (algicultura) e que, apesar do enorme potencial de crescimento, as
áreas de vocação aqüícola marinha no Brasil, ainda são sub-exploradas. Serão descritas as
principais orientações legais que tratam do tema ambiente e mitilicultura, ao nível federal,
estadual (Rio de Janeiro) e municipal (Niterói). Destacar-se-ão os sistemas de cultivos
aplicado na mitilicultura, termo que se refere ao cultivo de moluscos bivalves da família
Mytilidae, principalmente dos gêneros Mytilus, Perna e Mytela, sendo a espécie Perna perna
a mais comumente cultivada no território brasileiro. Estes mitilídeos são popularmente
conhecidos, em grande parte do país, como mexilhões e sururus. Em seguida abordar-se-á a
biologia e ecologia desses mitilídeos, destacando a morfologia e fisiologia da espécie Perna
perna e ressaltando a característica de bioindicador, como uma importante ferramenta para
avaliar e monitorar as mudanças ocorridas no ambiente aquático, geralmente causadas por
ações antropogênicas.
No terceiro capítulo dar-se-á destaque à inter-relação mitilicultura e Saúde Pública.
Inicialmente serão descritas as principais referências legais do Ministério da Saúde (MS),
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Ministério do Meio
Ambiente (MMA) no que diz respeito à qualidade higiênico-sanitária da água de cultivo e do
consumo de moluscos bivalves. Em seguida serão relacionados os aspectos da saúde,
ambiente e vigilância sanitária nas baías e enseadas comumente contaminadas por descarga de
águas residuais urbanas, de grande risco à Saúde Pública. O risco à saúde humana está
essencialmente relacionado à ingestão e ao contato de patógenos biológicos, toxinas e agentes
químicos, que estão presentes tanto em efluentes na forma in natura como semi-tratados.
Esses efluentes apresentam grande potencial de contaminação da água marinha, areia, peixes,
moluscos bivalves e crustáceos, que compõem o ecossistema costeiro. Será dada especial
3 ênfase aos agravos à Saúde relacionados, principalmente ao consumo de mexilhões,
desprovidos de adequados cuidados sanitários.
No quarto capítulo apresentar-se-á a metodologia utilizada como estudo descritivo e
correlacional dos fatos e fenômenos das áreas pesquisadas, vista a complexidade dos aspectos
estudados. Em Itaipu foram aplicados questionários a uma amostra dos pescadores
devidamente cadastrados na Colônia de Pescadores Z-7 Itaipu/Maricá e que costumam
desembarcar e comercializar a pesca na enseada de Itaipu. Na enseada de Jurujuba, foram
realizadas entrevistas com associados, devidamente cadastrados na ALMARJ (Associação
Livre de Maricultores de Jurujuba). Sob este enfoque, foram utilizados o levantamento de
dados secundários, formulação e aplicação de questionários fechados aos atores sociais e
tratamento estatístico dos resultados com o teste qui-quadrado.
Destacar-se-á no quinto capítulo a posição geográfica das áreas de estudo, em relação
à bacia hidrográfica pertencente e a caracterização sócio sanitária do município de Niterói e
dos bairros de Itaipu e Jurujuba.
No capítulo 6 serão apresentados os resultados e discussões, onde se abordou como
questão de saúde pública, os aspectos sanitários e sociais observados nos ambientes costeiros
de potencialidade para a mitilicultura, nas enseadas de Itaipu e Jurujuba. Os resultados foram
embasados na percepção dos atores entrevistados e apresentados de acordo com os seguintes
temas: socioeconômico; condições higiênico-sanitárias do meio ambiente residencial; uso e
qualidade do ambiente costeiro; mitilicultura; doenças provenientes de alimentos marinhos e
da água do mar.
Finalmente, no capítulo 7, serão apresentadas as conclusões.
4
2 OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL Avaliar aspectos sanitários e sociais dos ambientes costeiros com potencialidade para
mitilicultura, no município de Niterói – RJ.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Analisar, comparativamente, a percepção dos atores sociais das comunidades
pesqueira e mexilhoneira das enseadas de Itaipu e de Jurujuba, em relação a:
• doenças provenientes de alimentos marinhos e da água do mar;
• mitilicultura.
5
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 AQÜICULTURA
O Decreto no 4895 de novembro de 2003, em seu artigo 2o, se refere a aqüicultura
como o cultivo ou a criação de organismos cujo ciclo de vida, em condições naturais, ocorre
total ou parcialmente em meio aquático (BRASIL, 2003b).
Apesar da importância que a pesca possui para a segurança alimentar, subsiste o sério
problema do esgotamento do estoque pesqueiro mundial. A crise global do setor pesqueiro
tem afetado profundamente a qualidade de vida dos povos ligados aos ambientes aquáticos
(marinhos e continentais), especificamente dos pescadores artesanais. Entretanto, a
aqüicultura, graças a sua notável capacidade de produzir organismos aquáticos em cativeiro,
pode ser considerada uma alternativa viável para o setor pesqueiro. Além de sua capacidade
de gerar empregos diretos e indiretos para comunidades de pescadores artesanais, ela produz
alimentos de alto teor protéico e tem gerado divisas para os países que a praticam através do
incremento das exportações (FAO1 2002 apud SEAP/PR 2004).
Desde a metade da década de 50, a produção aqüícola está concentrada,
principalmente, nos países em desenvolvimento os quais, em 2000, alcançaram a taxa de
32,2% da produção mundial de pescado. A produção aqüícola mundial tem alcançado taxas de
crescimento, superiores a 10% ao ano, enquanto a produção de animais terrestres, 3% e a
pesca de captura 1,5%. É esperado que esse crescimento continue a ser observado, podendo
atingir 47 milhões de toneladas em 2010 (FAO1 2002 apud SEAP/PR 2004). No entanto, na
1 SEAP/PR - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República, 2004. Programa Nacional de Desenvolvimento da Maricultura em Águas da União. Brasília, SEAP/PR: 38 p. Disponível em:< http://www.presidencia.gov.br/seap/>, Acesso em: 05 março 2005.
6 América Latina, o Chile, Brasil e Equador vêm apresentando indicadores de evolução no setor
aqüícola e, juntos, esses países produziram 910.000 toneladas em 2001 (Figura 1).
Fonte: FAO (2002)
Figura 01 - Evolução da aqüicultura no Brasil, Chile e Equador
Conforme a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República
(SEAP/PR), o Brasil dispõe de 8,5 mil Km de costa, 3,5 milhões Km2 de Zona Econômica
Exclusiva – ZEE, 12 % de reserva de água doce disponível do planeta e mais de 2 milhões de
hectares de terras alagadas, reservatórios e estuários propícios à aqüicultura. Segundo a
mesma instituição, o Brasil tem vocação natural para a aqüicultura. Indicadores como a
produção total da aqüicultura brasileira, no ano de 2002, que apresentou 235,6 mil toneladas,
contribuindo com 2,6% do total da produção de pescado, ratificam a tendência de crescimento
da atividade aqüícola brasileira (SEAP/PR, 2004b).
No Brasil, a aqüicultura é uma atividade comercial recente quando comparada a outros
agronegócios tradicionais tais como a avicultura, a suinocultura, bovinocultura e a
fruticultura. A atividade foi impulsionada a partir dos anos 70, com aperfeiçoamentos de
técnicas de reprodução e produção de algumas espécies de peixes tropicais. Essa cultura é
caracterizada pela produção de organismos aquáticos em condição controlada e exige dos
criadores o domínio de técnicas de manejo, como o controle da qualidade da água de cultivo,
arraçoamento adequado, controle de custos e rotinas de produção eficientes.
De acordo com a FAO1 (2002 apud SEAP/PR 2004), a aqüicultura assume um papel
de grande importância para a segurança alimentar da humanidade. No entanto, Landesman
Milhares de toneladas
0 100 200 300 400 500 600 700
1980 1984 1988 1992 1996 2000
Chile Brasil Equador
7 (1994), aponta vários problemas socioambientais que estão relacionados principalmente à
aqüicultura de larga escala, como resultado das práticas predatórias de manejo nos parques
aqüícolas. A lógica dessas práticas é similar àquelas que foram fomentadas na pesca e na
agricultura modernas, pela conhecida “Revolução Verde”, que promoveu uma série de efeitos
socioambientais deletérios (GEORGE, 1978). Segundo Kestemont (1995), essa impressão é
compartilhada por um volume expressivo de estudos de avaliação de impactos da atividade,
não só sobre o meio ambiente, mas também sobre as comunidades humanas envolvidas direta
e indiretamente.
3.1.1 Aqüicultura Costeira
Apesar do enorme potencial de crescimento, segundo Borghetti (2000), as áreas de
vocação aqüícola marinha no Brasil, ainda são sub-exploradas. O autor descreveu a
maricultura brasileira como uma atividade promissora no cultivo de peixes marinhos
(piscicultura), moluscos bivalves (malacocultura), camarões (carcinicultura) e algas
(algicultura).
As inovações tecnológicas, grandes investimentos e exploração de recursos naturais
renováveis, são aspectos comuns na aqüicultura moderna, especificamente na maricultura.
Essas inovações foram a causa dos impactos gerados pela sobrecarga dos recursos aquáticos
costeiros do Chile, em ambientes onde são cultivados salmão, moluscos e macroalgas
(KESTEMONT, 1995). No Brasil a extinta Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
(SUDEPE) implantou, nas décadas de 1970 e 1980, políticas de linhas de crédito voltadas
para o financiamento de projetos aqüícolas de grande porte, a exemplo das grandes fazendas
de camarão marinho do Nordeste. Esses projetos foram implantados em desacordo com
programas coerentes de gerenciamento ecológico e socialmente sustentável dos recursos
existentes. No entanto, atualmente, ainda persistem intensos conflitos gerados entre os
programas de proteção ambiental e as atividades econômicas tais como pesca, aqüicultura,
crescimento urbano e movimentação portuária (VIEIRA, 1991).
Conforme o “Group of Experts on the Scientific Aspects of Marine Enviromental
Protection” - GESAMP (2001), a conservação dos recursos naturais é a base do conceito de
Desenvolvimento Sustentável aplicado a aqüicultura marinha, deixando com isto a dimensão
social relegada a segundo plano. Essa visão reducionista dos cultivos aquáticos como sendo
8 unidades isoladas do meio ambiente circundante e dos recursos naturais ali existentes, tem
sido a principal responsável pelos impactos ambientais e conflitos sociais.
De acordo com a Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos (CNIO), a
aqüicultura gera significativos conflitos sociais nas zonas costeiras. Entre os impactos mais
importantes dessa categoria, podemos destacar os conflitos originados na disputa pelo acesso
e uso dos recursos, tanto entre os atores que se encontram envolvidos nas atividades de
cultivo como entre aqueles dedicados a outras atividades econômicas (CNIO, 1998).
Landesman (1994), destaca os seguintes impactos sociais relacionados com o
desenvolvimento da maricultura:
• Competição pelo espaço;
• Pesca tradicional;
• Navegação;
• Ancoradouro e marinas para a prática de navegação recreacional;
• Competição entre diferentes formas de aqüicultura;
• Competição entre aqüicultura e outras indústrias;
• Lazer, recreação e turismo;
• Impacto visual e perda do aspecto natural da paisagem;
• Restrição do acesso às áreas costeiras, afetando certas atividades como esportes
aquáticos e colheita de moluscos para propósitos não comerciais;
• Diminuição do grau de amenidade do ambiente aquático na pesca esportiva;
• Diminuição do valor monetário dos imóveis localizados perto dos cultivos.
O “National Research Council” dos Estados Unidos (NRC) admite que, no caso
específico da malacocultura, os impactos ambientais gerados são relativamente inócuos,
exceto em áreas onde o cultivo é praticado de forma intensiva, e destaca quatro tipos de
impactos: distúrbios das comunidades naturais de fitoplâncton, deterioração da qualidade da
água devido à acumulação de dejetos, contaminação genética dos estoques selvagens e
introdução de espécies que competem com as já existentes ou que transmitem doenças aos
estoques naturais (NRC, 1992).
Na mitilicultura, o principal impacto ambiental é a deposição de matéria orgânica no
fundo das áreas de cultivo (Figura 2). No cultivo de 100 toneladas de mexilhão, a taxa de
sedimentação de partículas é três vezes superior que em condições naturais, provocando
mudanças na fauna bentônica local. Esse evento ocorre principalmente devido ao esgotamento
9 do oxigênio do fundo e ao aparecimento de gás sulfídrico (H2S), o qual é indicador de
ambientes altamente poluídos por matéria orgânica (FOLKE e KAUTSKY, 1989).
Fonte: Folke e Kautsky, 1989.
Figura 2. Balanço do nitrogênio de origem orgânica em um cultivo de mexilhões.
A aqüicultura costeira gera alimentos, empregos e benefícios econômicos
significativos para as economias nacionais e populações costeiras mundiais. No entanto, a
maricultura quando mal gerenciada pode causar graves impactos, não apenas socioambientais,
como visto anteriormente, mas também de saúde publica. Essa atividade aqüícola é
caracterizada por uma complexa interação entre ecossistemas e os usuários comuns desses
recursos. Devido a esse fato faz-se necessário uma abordagem mais integrada para o
desenvolvimento costeiro (GESAMP, 2001).
3.1.2 Legislação
O primeiro e mais importante princípio do Direito Ambiental, expresso pela
Constituição Federal 1988, artigo 225, dispõe que: “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a
presente e as futuras gerações” (BRASIL, 1988a).
A Agenda 21 (1996), reafirma que os seres humanos devem constituir o centro das
preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável, tendo o direito a uma vida
saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente.
10
O Brasil através da Lei Federal no 6.938, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1981),
estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que constitui o Sistema Nacional
do Meio Ambiente (SISNAMA) com a função de assessorar o Presidente da República na
formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os
recursos ambientais. A PNMA visa compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com
a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, estabelecendo
critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas de uso e manejo de recursos
ambientais (BRASIL, 1981).
Ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), cabe assessorar, estudar e
propor ao Governo, normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. A PNMA esclarece que o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), possui a
finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente (BRASIL, 1981).
Antunes (2001), com base no artigo 225 § 4o da Constituição Federal (1988), explica
que a zona costeira brasileira deve ser um espaço territorial submetido a regime especial de
proteção ambiental, quando constata que os ecossistemas costeiros sofrem sistemática e
expressiva pressão antrópica, derivado principalmente da significativa concentração de
assentamentos urbanos ao longo do litoral brasileiro.
A Lei no 7661, de 16 de maio de 1988, institui o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro II (PNGC II). A presente revisão, aprovada pela Resolução no005, de 03 de
dezembro de 1997, prevê o ordenamento da ocupação dos espaços litorâneos, através de
mecanismos de gestão ambiental integrada (BRASIL, 1988b).
A área de abrangência do PNGC II abriga um mosaico de ecossistema, de transição de
ambientes terrestres e marinhos de domínio da união, uma vez que define:
• Zona Costeira - espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus
recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre;
• Faixa marítima - aquela que estende-se mar afora distando 12 milhas marítimas (22,2
Km) das linhas de base estabelecidas de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar (CNUDM), compreendendo a totalidade do Mar Territorial;
• Faixa terrestre - aquela que é referenciada no continente, formada pelos municípios que
sofrem influência direta dos fenômenos que ocorrem na Zona Costeira, tais como: municípios
defrontantes com mar; não defrontantes localizados nas regiões metropolitanas litorâneas,
11 próximo ao litoral até 50Km da linha de costa e estuarinos lagunares mesmo não defrontando
com o mar.
A CNUDM (1982), consagrou também a noção inovadora de “zona econômica
exclusiva” (ZEE), que confere aos Estados costeiros o direito de exploração, aproveitamento,
gestão e conservação de todos os recursos das águas e dos fundos marinhos como os peixes, o
petróleo e o gás, até um limite de 200 milhas marítimas, medidas a partir do seu litoral.
A Lei 9.433, de 8 de Janeiro de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), criando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH). Esta
lei, em seu artigo 1o destaca que a água é um bem de domínio público e que a gestão dos
recursos hídricos deve ser descentralizada e conta com a participação do Poder Público, dos
usuários e das comunidades. Em seu artigo 3o prevê a articulação da gestão de recursos
hídricos com uso do solo e ainda a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos
sistemas estuarinos e zonas costeiras (BRASIL, 1997a).
O Decreto no 4895, de 25 de novembro de 2003, determina que os espaços físicos em
corpos d’água da União poderão ter seus usos autorizados para fins da prática de aqüicultura,
observando-se critérios de ordenamento, localização e preferência, com vistas ao
desenvolvimento sustentável; ao aumento da produção brasileira de pescados; à inclusão
social; à segurança alimentar. Prevê ainda o direcionamento da outorga de áreas aqüícolas da
União para pessoas físicas e jurídicas que se enquadrem na categoria de aqüicultor, na forma
prevista na legislação e estipula como bens da união para fins da prática da aqüicultura
(BRASIL, 2003b):
• águas interiores, mar territorial e zona econômica exclusiva, a plataforma continental e os
álveos das águas públicas da União;
• lagos, rios e quaisquer correntes de águas em terrenos de domínio da União, ou que
banhem mais de uma Unidade da Federação, sirvam de limites com outros países, ou se
estendam a território estrangeiro ou dele provenham;
• depósitos decorrentes de obras da União, açudes, reservatórios e canais.
O decreto referido acima, no seu artigo 2o § I e II, explica entre outros que:
• área aqüícola é o espaço físico contínuo em meio aquático, delimitado, destinado a projetos
de aqüicultura, individuais ou coletivos;
12 • parque aqüícola é o espaço físico contínuo em meio aquático, delimitado, que compreende
um conjunto de áreas aqüícolas afins, em cujos espaços físicos intermediários podem ser
desenvolvidas outras atividades compatíveis com a prática da aqüicultura.
De acordo com o Decreto no 4895/03, a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da
Presidência da República (SEAP) passa a ficar responsável pela localização dos parques
aqüícolas e áreas de preferência, com prévia anuência do Ministério do Meio Ambiente
(MMA), da Autoridade Marítima, da ANA (Agência Nacional de Águas), do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, no âmbito de suas respectivas competências (BRASIL,
2003b).
Nesse sentido, a SEAP criou o Programa Nacional de Desenvolvimento da
Maricultura em Águas da União (PNDM), que pretende fomentar a rápida expansão, nas
próximas décadas, da malacocultura, algicultura, piscicultura e da carcinicultura. Esse
programa considera os maricultores como legítimos usuários dos 8.500 km de ecossistemas
litorâneos e marítimos da costa brasileira e prevê o planejamento em escala municipal do
desenvolvimento da maricultura, através de Planos Locais de Desenvolvimento da
Maricultura -PLDM’s- (SEAP/PR, 2004b).
A SEAP passou a ficar obrigada a solicitar reserva de disponibilidade hídrica à ANA
para cessão de espaços físicos em corpos de água da União, que analisará o pleito e emitirá a
respectiva outorga preventiva e após exigências legais esta passará a ser outorga de direito. A
SEAP fica autorizada então, a deferir concessão de espaços físicos da união para a
implantação de parques e áreas aqüícolas, priorizando populações tradicionais e a inclusão
social. O Decreto supracitado ainda prevê que o cultivo de moluscos bivalves nas áreas
aqüícolas autorizadas, deve observar a legislação de controle sanitário vigente (BRASIL,
2003b).
A União, buscando dar melhor ordenamento ao fomento da Maricultura, propõe uma
versão preliminar do Código de Conduta Responsável e Sustentável para Malacocultura
Brasileira – CCRSM - (SEAP/PR 2004a). Esse código pretende servir como diretriz para
empreendimentos aqüícolas em ambiente costeiro, orientando sua implantação e
gerenciamento, em sintonia com os preceitos da conservação do ambiente e das boas práticas
de cultivo de moluscos. O CCRSM tem como base, padrões normativos federativos e
estaduais. Esse código, no que se refere às Legislações Pertinentes à Instalação e
Posicionamento das Fazendas de moluscos, destaca as Leis já citadas, tais como Lei nº 6.938,
13 de 31.08.81 (PNMA); Lei 7.661, de 16/05/88 (PNGC II) e a Lei no 4.895, de 25 de novembro
de 2003 (SEAP/PR, 2004a).
A Portaria IBAMA no 09 de 20 de março de 2003 considera que a retirada de sementes
de mexilhão dos costões naturais, para atender às demandas da mitilicultura, promove a
depredação dos seus bancos naturais, comprometendo a biodiversidade desses ecossistemas
costeiros (BRASIL, 2003a). Neste sentido, o IBAMA proíbe a extração de mexilhão nos
costões naturais, sob qualquer método, da espécie Perna perna, no litoral do Estado do Rio de
Janeiro, no período de 01 de setembro a 30 de novembro e de 01 de janeiro a 28 de fevereiro
de cada ano. Já em seu artigo 2o determina que a retirada de sementes de mexilhão nos
costões naturais será autorizada apenas aos aqüicultores devidamente licenciados, desde que
obedecidos os critérios previstos nos itens I e II desta Portaria, que determina a quantidade
máxima e a forma de extração permitida (anexo 1, pág. 94).
A Constituição Estadual do Rio de Janeiro, de 05 de outubro de 1988, no seu capítulo
VIII – Do Meio Ambiente - prevê programas de estimulo à piscicultura e maricultura. O seu
Art. 268 determina que são Áreas de Preservação Permanente (APPs): os manguezais, lagos,
lagoas e lagunas, áreas estuarinas; as praias, vegetação de restingas quando fixadoras de
dunas, as dunas, costões rochosos, cavidades naturais subterrâneas (cavernas) e a Baía da
Guanabara. Esta Constituição, ainda no seu art. 269, considera áreas de relevante interesse
ecológico, cuja utilização dependerá de prévia autorização dos órgãos competentes, a zona
costeira; a Baía da Guanabara e a Baía de Sepetiba (RIO DE JANEIRO, 1988).
O regime de proteção das APPs é bastante rígido tendo como regra a intocabilidade. A
Resolução CONAMA 302, de 20/03/2002, estabeleceu que a APP possui a “função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o
fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações
humanas” (BRASIL, 2002).
O Plano Diretor do município de Niterói, Lei no 1157/92 tem como meta o
desenvolvimento e a estruturação urbana de cinco sub-regiões de planejamento das praias da
Baía de Guanabara, sendo o bairro de Jurujuba, uma sub-região. O Plano Diretor prevê, nessa
sub-região, dar apoio às atividades características do local e restringir aquelas geradoras de
conflitos. No seu capítulo da proteção do Meio Ambiente, no art. 16, prevê proteção do
ambiente costeiro e controle ambiental de fontes efetivas ou potencialmente poluidoras,
inclusive medidas que permitam o retorno da balneabilidade das praias da Região (NITERÓI,
1992).
14 3.1.3 Mitilicultura
O termo Mitilicultura se refere ao cultivo de moluscos bivalves da família Mytilidae,
principalmente dos gêneros Mytilus, Perna e Mytela, sendo a espécie Perna perna a mais
comumente cultivada no território brasileiro. Mitilídeos são popularmente conhecidos, em
grande parte do território brasileiro, como mexilhões ou sururus (OSTINI e GELLI, 1994).
Nos países em desenvolvimento, a mitilicultura tem sido vista como uma atividade de
grande potencial para elevar a produtividade de áreas costeiras, promover o aumento da
produção de alimentos e de desenvolvimento sócio-econômico de determinadas regiões,
diminuir a pressão extrativista sobre os recursos explorados e de incorporar os pescadores em
uma atividade planificada. Conforme a FAO (1992), à prática da mitilicultura sustentável
devem anteceder avaliações criteriosas do ambiente costeiro quanto aos aspectos ambientais,
sanitários e socioeconômicos, tais como:
• Estoque local da espécie selecionada para cultivo: indicador das condições ecológicas ao
desenvolvimento da mitilicultura;
• Corrente da água: o tipo de corrente irá influenciar diretamente na disponibilidade e fluxo
contínuos de alimentos e oxigênio para o bivalve, e ainda, o tempo de permanência dos
excessos metabólicos no fundo do mar;
• Profundidade da água: a profundidade ótima dependerá da exigência da espécie cultivada
e do método de cultura a ser aplicada;
• Exposição ao vento: as áreas de escolha devem ser aquelas abrigadas de ventos fortes.
Esses possuem influências deletérias nos cultivos como destruição de viveiros, queda do
ganho de peso do bivalve e aumento do custo de produção;
• Poluição: a área de escolha deve ser livre de impactos antrópicos que coloquem em risco a
qualidade sanitária do marisco produzido para consumo humano. Os parques aqüícolas
devem estar preferencialmente livres de patógenos microbianos, como o indicador
Escherichia coli, assim como de metais pesados e hidrocarbonetos;
• Salinidade: variável escala de tolerância de espécie para espécie;
• pH e temperatura: áreas que apresentam grande variação desses fatores são indesejáveis;
• Turbidez: o gênero Mytilus não tolera concentrações elevadas de lama e de silte;
• Área: disponibilidade suficiente para suportar o crescimento sustentável das fazendas
marinhas;
15 • Acessibilidade e disponibilidade de mão-de-obra: critérios essenciais na seleção das áreas
de cultivo reduzem custos operacionais e evitam importação de mão-de-obra.
Em regiões costeiras que apresentam estoques naturais de mexilhão, as formas jovens
ficam a deriva na maré à espera de um local para se fixar e começar seu crescimento. Assim,
os bancos naturais desses bivalves são formados em costões rochosos das praias ou em
qualquer substrato de superfície dura. Segundo Magalhães e Ferreira (1997), a obtenção das
formas jovens para a mitilicultura, pode ser feita por métodos como raspagem dos bancos
naturais, coletores artificiais ou balsas coletoras (estrutura colocadas na água para a fixação
natural das larvas) e reprodução em laboratório, sendo que o método de raspagem coloca em
risco a capacidade de suporte dos bancos naturais. Por este motivo, deve ser implantado o
plano de manejo, com base na velocidade de recuperação dos bancos, durante o período de
um ano.
No Brasil, em geral, as sementes são “emalhadas”, nas cordas mexilhoneiras quando
atingem o tamanho de 1,5 a 3,0 cm, sendo que em média a cada 2,0 m de corda são semeadas
3,0 Kg de sementes (Figura 3). O sistema de cultivo para águas profundas comumente
utilizado, são estruturas flutuantes, chamadas espinheis ou long–line (Figura 4). Já em locais
relativamente rasos, são utilizados o sistema fixo de varas de bambu (Figura 5) (FERREIRA,
1997).
Fonte: Ferreira (1997)
Figura 3: Detalhe das cordas de cultivo de mexilhão.
16
Fonte: Ferreira (1997)
Figura 4: Sistema de cultivo long-line ou espinhel.
Fonte: Ferreira (1997)
Figura 5: Sistema de cultivo suspenso fixo. O processo de montagem desta corda utiliza tubo PVC, que auxilia a colocação das
sementes no interior da rede interna e possui a função de manter as sementes agrupadas e
distribuídas pelo tubo. Por ser a rede interna um frágil tecido de algodão, esta se rompe em
torno de 15 dias, conforme acomodação e crescimento dos mexilhões. Por fim, a fixação dos
bivalves ocorre no cabo central ou alma, que promove juntamente com a rede externa a
sustentação e estabilidade da corda mexilhoneira, até a fase de colheita (OSTINI e GELLI,
1994). Os mesmos autores consideram a mitilicultura uma das atividades mais produtivas da
aqüicultura sendo a mais próspera em diversas regiões do mundo. No Brasil, a mitilicultura
passa a ser atrativa comercialmente devido a aspectos biológicos e à facilidade de manejo,
pelo baixo custo das instalações e, sobretudo, por não ser necessária a compra de terras, já que
os cultivos são realizados no próprio mar. O sistema de cultivo familiar é viável
economicamente com investimento e custos operacionais bastante baixos, dando retorno a
partir de R$1,00 por quilo, mesmo nas piores condições de manejo.
17
O início do cultivo em escala comercial no Brasil ocorreu no ano de 1989, com a
produção de 120 toneladas e, atualmente, alcança a marca em torno de 30 toneladas de carne
ha/ano, sendo considerado o principal produtor de mexilhões da América do Sul. O fato do
mexilhão ocupar um nível trófico baixo (consumidor primário), garante que o seu cultivo seja
uma das atividades mais produtivas que se conhece, alcançando a maior cifra obtida com
modalidades de criação não sujeita a alimentação artificial (FAGUNDES et al., 1997,
PANORAMA DA AQÜICULTURA, 2001).
No Brasil, a produção de bivalves está centrada nos estados do Rio de Janeiro, São
Paulo e Santa Catarina, devido principalmente às características ambientais propícias ao seu
desenvolvimento, os quais necessitam de águas de temperaturas amenas e ricas em nutrientes
(OSTINI e GELLI, 1994). No entanto, os mesmos autores consideram que o fomento da
mitilicultura nas cidades costeiras brasileiras, poderá ajudar a conter o empobrecimento das
comunidades artesanais que, devido ao declínio do estoque pesqueiro, ficaram com poucas
alternativas de renda para permanecerem em suas colônias.
3.1.4 Biologia e ecologia
Mexilhões são animais marinhos do grupo dos moluscos. Na língua portuguesa, o
termo mexilhão denomina as espécies de moluscos bivalves da família Mytilidae, sendo os
gêneros mais comuns o Perna, Mytilus e Mytella. Conforme SEBRAE 2002, a espécie de
maior interesse econômico no Estado do Rio de Janeiro é o Perna perna. Considerado o
maior mitilídeo brasileiro apresenta, conforme EPAGRI (1994), a seguinte classificação
taxonômica:
Filo Mollusca
Classe Bivalvia Linnaeus, 1758.
Ordem Mytiloida Férursac, 1822.
Família Mytilidae Rafinesque, 1815.
Gênero Perna Retzius, 1788.
Espécie Perna perna Linnaeus, 1758 .
Os bivalves Perna perna possuem tamanhos médios de 5 a 8 cm de comprimento e 3
cm de espessura, podendo atingir 14 cm de comprimento (Figura 6). Essa espécie apresenta
corpo mole, não segmentado, protegido por duas conchas calcárias de igual tamanho, unidas
medianamente por uma estrutura denominada de ligamento. São sésseis, embora possam se
18 locomover com auxílio dos pés e dos bissos, que são estruturas filamentosas produzidas por
glândulas, situadas próximas aos pés (KLAPPENBACH, 1964).
Fonte: Kosawa, 2003
Figura 6: Perna perna aspecto geral. Segundo Cordeiro (2000), a respiração e a alimentação dos mexilhões são realizadas
por duas brânquias, uma interna e outra externa. As partículas de alimento retidas nos
filamentos branquiais são conduzidas através de batimentos ciliares até os palpos labiais e
posteriormente à boca. Este potente sistema digestivo, dotado com brânquias e numerosos
cílios vibráteis, retém plânctons e partículas em suspensão na água onde habitam. Essa
característica fisiológica torna os bivalves excelente filtradores de água, podendo a espécie P.
perna filtrar cerca de 0,5 a 4,0 litros/hora de água, dependendo do seu tamanho e das
condições ambientais. Por serem filtradores por excelência os moluscos bivalves podem
acumular na massa visceral, lúmen do intestino e hepatopâncreas, uma expressiva variedade
de agentes biológicos e abióticos (DURÁN et al., 1990; MAGALHÃES e FERREIRA, 1997).
Os bivalves apresentam, também, um conjunto de 5 músculos: 1 adutor; 2 retratores (o
do pé e do bisso), 1 paleal e 1 anal. O músculo adutor é responsável pelo movimento de
abertura e fechamento de suas valvas (Figura 7), quando está relaxado as valvas encontram-se
abertas. A espécie P. perna se caracteriza pela posição anterior do músculo retrator do pé e
pela ausência total do músculo adutor anterior (GALVÃO, 1977).
19
Fonte: Kosawa, 2003
Figura 7: Perna perna aspecto interno (1 inserção muscular; 2 pé; 3 brânquias; 4 gônodas).
Nos mexilhões, os sexos são separados e raramente ocorre hermafroditismo. Não há
dimorfismo sexual externo, embora no animal adulto as glândulas masculinas sejam
esbranquiçadas, e as gônadas femininas apresentem uma tonalidade mais laranja–
avermelhado (Figura 8). Na reprodução desses animais, os indivíduos lançam seus gametas na
água, ocorrendo a fecundação e assim a formação do ovo, de onde eclodirá uma larva. As
larvas ficam à deriva nas correntes marinhas e marés, e passado algumas semanas começam a
produzir uma pequena concha. Nessa fase ocorre a primeira fixação em algum substrato,
sendo que quando atingem cerca de meio centímetro ocorre a fixação secundária, sendo essa
definitiva (MARQUES, 1988).
Fonte: Kosawa, 2003
Figura 8: Perna perna fêmeas e machos
20
Segundo Fernandes (1981), a espécie Perna perna, por estar adaptada melhor nos
trópicos e sub-trópicos, sua reprodução tende a ocorrer durante todo o ano, porém de modo
geral, os períodos de fixação das larvas ocorrem no inverno e no verão, com pequenas
variações de um ano para o outro. A maturidade sexual é observada, quando esses indivíduos
atingem aproximadamente dois a três centímetros de comprimento, sendo as desovas
estimuladas pelas condições da temperatura, luminosidade, salinidade e alimentação.
Segundo Zuim e Mendes (1980), os mexilhões não sobrevivem em salinidade menores
do que 19% e maiores do que 49%, sendo sua faixa ótima entre 34 a 36%, portanto
considerados eurohalinos. São classificados como euritérmicos, estando aptos a viver na
temperatura ótima entre 21o a 28oC. Quanto ao habitat, desenvolvem-se melhor em áreas de
circulação de água constante e em águas relativamente agitadas, considerando a necessidade
de renovação da água para suprir novo aporte de alimento, e que o oxigênio dissolvido é fator
limitante para o desenvolvimento do animal. Quando se encontram fora da água, fecham as
conchas, reduzem o metabolismo, podendo, nessa situação de stress, sobreviver de 12 a 20
horas em temperatura ambiente (MAGALHÃES e FERREIRA, 1997; ZUIM, 1977).
Os mexilhões podem ser encontrados agrupados sobre a superfície de costões rochosos
ou substratos artificiais, tais como estruturas de concreto, cascos de embarcações desativadas.
Fixam-se a esses substratos por meio dos bissos, compostos por fibras de alta resistência. São
encontradas uma rica fauna e flora, junto aos bancos de mexilhões, caracterizando interações
ecológicas de competição, por espaço, alimento e predação, entre os mexilhões e outros
organismos (FERNANDES, 1981). Conforme Cordeiro (2000), os principais predadores do
mexilhão são os crustáceos (siris e caranguejos), alguns peixes, polvos, gastrópodos e estrelas
do mar. Organismos competidores tais como as cracas, anêmonas e algas calcárias, não se
alimentam de mexilhões. Nesse caso, os competidores disputam espaço com mexilhões,
diminuindo a capacidade de filtragem e interferindo no seu crescimento.
3.1.5 Indicador biológico
O estudo da diversidade da fauna e flora dos ecossistemas aquáticos, pela biologia e
diversas outras áreas do conhecimento humano, formaram uma base científica para o
estabelecimento do que se entende atualmente por qualidade ambiental. Sem uma
compreensão dos fenômenos naturais desses ambientes, não seria possível o desenvolvimento
de atitudes conservacionistas e/ou preservacionistas no caso de degradação ambiental
21 (PHILIPPI Jr., 2005). Conforme sugere a Agenda 21 (1996), no seu capítulo 18, a proteção da
qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos, deve ser feita a partir da aplicação de
critérios integrados para o desenvolvimento, o manejo e o uso dos recursos.
Segundo Matthews et al., (1982), o uso do biomonitoramento é uma importante
ferramenta para avaliar e monitorar as mudanças ocorridas no ambiente aquático, geralmente
causadas por ações antropogênicas. Isto se deve a um processo natural denominado
bioacumulação, que é a transmissão de compostos, que não são metabolizados ou excretados
pelos organismos, para o nível superior da cadeia trófica.
De acordo com Lamparelli (1987), indicadores biológicos são organismos que podem
ser utilizados para quantificar o nível biologicamente disponível de contaminantes em
ecossistemas aquáticos. O autor ainda reforça que o uso desses indicadores no monitoramento
da poluição aquática tem como premissa básica o fato de terem a capacidade de refletir os
níveis de contaminação no ambiente.
O indicador biológico “ideal”, conforme Rosemberg e Resh (1993), deve possuir as
seguintes características:
• ser taxonomicamente bem definido e facilmente reconhecível por não especialistas;
• apresentar distribuição geográfica ampla;
• ser abundante e de fácil coleta;
• ter baixa variabilidade genética e ecológica;
• preferencialmente ter tamanho grande;
• apresentar baixa mobilidade e longo ciclo de vida;
• dispor de características ecológicas bem conhecidas;
• ter possibilidade de uso em estudos de laboratório.
Conforme Rosemberg e Resh (1993), os principais métodos envolvidos no
monitoramento biológico avaliam a riqueza de espécies, índices de diversidade; abundância
de organismos resistentes; perda de espécies sensíveis; medidas de produtividade primária e
secundária; sensibilidade a concentrações de substâncias tóxicas, entre outros. Os mesmos
autores destacam os macroinvertebrados bentônicos, peixes e comunidade perifítica como de
escolha para serem utilizados como bioindicadores de impactos ambientais em ecossistemas
aquáticos, principalmente em bacias hidrográficas.
De acordo com Magalhães e Ferreira (1997) e Godoi et al., (2003), os moluscos
bivalves, são reconhecidamente amostradores biológicos de escolha, por sua eficiente ação
filtradora em ambiente marinho. Bactérias e metais pesados podem ser encontrados nos
22 tecidos dos bivalves, em taxas de acúmulo de 100 a 1000 vezes superiores à quantidade
presente na água circundante.
Os bivalves possuem habilidade limitada para metabolizar e eliminar tais agentes, por
apresentarem processo de digestão restrito a uma concentração limite do alimento disponível.
Em tal circunstância, a porção não digerida fica acumulada nos tecidos e quando a
disponibilidade de alimento for pequena ou nula a filtração é interrompida. O fato de serem
organismos filtradores por excelência alerta para o potencial risco ambiental, relacionado à
biotransferência desses compostos aos outros elos da cadeia alimentar, podendo alcançar o
homem (OSTINI e GELLI, 1994).
O programa global denominado “Mussel Watch Program” (EPA, 1980) sugere a
utilização da Mytilus sp. para determinar e monitorar o nível de contaminantes ao longo do
tempo. Posteriormente, Furley (1993) descreveu o mexilhão Perna perna como monitor
biológico, por ser um animal séssil, de fácil coleta, de vasta distribuição geográfica e biologia
conhecida, e por serem capazes de responder rapidamente a variação da concentração de
poluentes no meio. Portanto, os mexilhões são utilizados como sentinelas da qualidade do
ecossistema marinho.
23 3.2 MITILICULTURA E SAÚDE PÚBLICA
3.2.1 Legislação
A União através do Decreto no 5564/2005 instituiu o Comitê Nacional de Controle
Higiênico Sanitário de Moluscos Bivalves (CNCMB) com a finalidade de cuidar da qualidade
higiênico-sanitária dos bivalves, visando proteção à Saúde e a criação de mecanismos seguros
para o comércio nacional e internacional. No seu art.3o prevê a implementação do Programa
Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, o qual contemplará todas as
etapas da cadeia produtiva (BRASIL, 2005b).
Segundo a SEAP/PR (2004b), o Chile e a Nova Zelândia, possuem um Memorando de
Entendimento com o FDA (Food and Drug Administration) para exportar moluscos bivalves
para os Estados Unidos. Esse Memorando está fundamentado no levantamento preliminar de
pontos de descarga de poluentes e contaminantes na orla, e no monitoramento da qualidade da
água, permitindo a classificação das áreas de cultivo. Essas áreas são classificadas de acordo
com o risco de contaminação dos moluscos, conforme as seguintes categorias.
• Áreas de cultivo e extração permitidos (Livres de Contaminação);
• Áreas de cultivo e extração permitidas condicionadas a um plano de manejo
(Contaminação moderada esporádica em condições meteorológicas adversas);
• Áreas cultivo ou extração para a depuração (Contaminação moderada freqüente);
• Áreas cultivo ou extração para a depuração, condicionadas a um plano de manejo
(Contaminação elevada esporádica em condições meteorológicas adversas);
• Áreas cultivo ou extrações proibidas (Contaminação elevada freqüente).
Conforme esclarece Kosawa (2003), existem padrões nacionais e internacionais que
definem as características microbiológicas da água de ambientes costeiros, utilizada para
aqüicultura e lazer. No Brasil, o Ministério da Saúde, o Ministério da Agricultura e o
Ministério do Meio Ambiente, através do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
determinam a qualidade da água e/ou qualidade do pescado.
O CONAMA, através da Resolução no 357 de 17/03/2005, dispõe sobre a classificação
e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de água e estabelece as condições e
padrões de lançamento de efluentes, bem como no seu art. 50, revoga a CONAMA no 20 de
18/06/86 (BRASIL, 2005a).
A resolução em questão considera que a saúde, o bem estar humano e o equilíbrio
24 ecológico aquático, não devem ser afetados pela deterioração da qualidade das águas. Para tal,
a mesma, no seu Capítulo II, determina a classificação dos corpos de águas doces, salobras e
salinas, segundo seus usos preponderantes, no total de treze classes. Em aditivo, no seu
Capítulo III, estipula as condições e padrões de qualidades das águas, estabelecendo limites
individuais e específicos de substâncias em cada classe de uso. Já no seu Capítulo IV, essa lei
deixa claro no art. 24 que, lançamentos em corpos de água de efluentes de qualquer natureza
só serão permitidos depois de devido tratamento e que estejam de conformidade com as
orientações vigentes que trata essa Resolução e outras normas aplicáveis.
No caso específico do cultivo de moluscos bivalves destinados ao consumo humano, a
Resolução CONAMA no 375/2005, em se tratando de classe 1 das águas salinas e salobras,
prevê que as águas para tal uso devem obedecer a média geométrica da densidade de
coliformes termotolerantes, no mínimo de 15 amostras coletadas no mesmo local, não
devendo exceder 43/100mL, e o percentual de 90 % não poderá ultrapassar 88 coliformes
termotolerantes por 100mL. Esses índices deverão ser mantidos em monitoramento anual com
um mínimo de 5 amostras.
A Resolução CONAMA no 274/2000, que trata dos padrões e condições de
balneabilidade das águas para contato primário, orienta no seu art. 2o, §2 a utilização do
indicador enterococos somente para as águas marinhas. No seu Art. 7o, preconiza que os
métodos de amostragem e análise das águas devem ser aqueles especificados nas normas
aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial -
INMETRO ou, na ausência dessas, no Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater-APHA-AWWA-WPCF (BRASIL, 2000).
Essa Portaria no art. 2o § 1 e 4 determina os parâmetros para águas consideradas
próprias e impróprias, respectivamente, no aspecto de balneabilidade:
• Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das
cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver no máximo 250 coliformes fecais
(termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25 enterococos por l00mL;
• Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma
das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver no máximo 500 coliformes
fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50 enterococos por 100 mL;
• Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma
das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver no máximo 1000 coliformes
fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mL.
25
No caso de águas impróprias, o art 2o, § 4 da mesma Portaria, considera os seguintes
parâmetros:
• não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias;
• valor obtido na última amostragem superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou
2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100mL;
• incidência elevada ou anormal na Região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica,
indicada pelas autoridades sanitárias ;
• presença de resíduos ou despejos sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos,
graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a
recreação;
• pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais;
• floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem riscos à
saúde humana;
• outros fatores que contra-indiquem, temporária ou permanentemente, o exercício da
recreação de contato primário.
O Ministério da Saúde, através da Resolução ANVISA–RDC no 12 de Janeiro de 2001
(anexo 2, pág. 96), define entre outros, os critérios e padrões microbiológicos para consumo
humano da carne de molusco bivalve, indispensáveis para a avaliação das Boas Práticas de
Produção de Alimentos e Prestação de Serviços, da aplicação do Sistema de Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC/HACCP). Essa resolução utiliza como padrão
microbiológico as análises de Estafilococos coagulase positiva/g, Salmonella sp/25g e
Coliformes a 45oC/g. Preconiza, ainda, que os moluscos in natura, resfriados ou congelados
devem estar livres de Salmonella sp em 25 g e ainda limita em 103 NMP a contagem de
Estafilococos coagulase positiva/g pescado. Essa resolução revogou a Portaria SVS/MS no
451 Art. 4º, de 19 de setembro de 1997, que previa o limite para Coliformes fecais em
moluscos in natura consumidos crus de no máximo 100 coliformes fecais por grama do
produto. A atual legislação libera o consumo de bivalves in natura somente se não
consumidos crus (BRASIL 2001).
De acordo com Lira et al., (2000), o Ministério da Agricultura, através da divisão de
Pescado, órgão que aprova e registra os estabelecimentos de processamento ou manipulação
do pescado no país, tem utilizado como referência para as áreas de criação, extração e
estocagem dos moluscos bivalves, os limites microbiológicos de qualidade de água proposta
26 em normas higiênico-sanitárias internacionais como o Codex Alimentarius (Quadro 1, a
seguir).
Quadro 1 – Padrões microbiológicos utilizados como referência para a classificação das áreas de produção de moluscos no Brasil e padrões para a venda por atacado, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
CATEGORIA PADRÃO ÁREAS DE CRIAÇÃO, EXTRAÇÃO OU ESTOCAGEM PROIBIDAS
NMP de bactérias coliformes totais acima de 700/100mL de água
ÁREAS DE CRIAÇÃO, EXTRAÇÃO OU ESTOCAGEM COM UTILIZAÇÃO CONDICIONADA AO TRATAMENTO DOS MOLUSCOS ATRAVÉS DA DEPURAÇÃO
NMP de bactérias coliformes totais entre 70 e 700/100mL de água
ÁREAS DE CRIAÇÃO, EXTRAÇÃO OU ESTOCAGEM PERMITIDAS
NMP de bactérias coliformes totais inferior a 70/100mL de água
PADRÃO PARA VENDA POR ATACADO
NMP de bactérias coliformes inferior a 230/100g de produto; contagem total de microrganismos viáveis a 350C inferior a 5x105 UFC/g.
Fonte (LIRA et al., 2000) A Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente (FEEMA), com base na
Portaria CONAMA no 274/2000, avalia as condições de balneabilidade das águas para contato
primário (FEEMA, 2005). Essa Fundação aplica o Método dos Tubos Múltiplos de
Fermentação, com utilização do Meio de Cultura A1, que permite a obtenção de resultados
em 24 horas. A utilização dessa metodologia vem sendo incluída nas últimas edições do
“Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”. Ao mesmo tempo, a
FEEMA iniciou a utilização do indicador enterococos, método que apresenta melhor
correlação entre risco à saúde e banho de mar em praias poluídas.
Dentro das linhas de avaliação das condições de banho das praias estabelecidas pela
FEEMA, vem sendo utilizada a avaliação de tendência de longo prazo, a partir da aplicação
de metodologias para análises de séries temporais, no caso, o método não paramétrico Mann-
Kendall, que apresenta uma tendência qualitativa dos dados de colimetria, definida com
aumento, queda e inalterado, o que implica não somente avaliar as condições em que se
encontram as praias, como também acompanhar o seu comportamento quando da realização
de intervenções. Para as avaliações anuais, de modo geral, a FEEMA realiza a Qualificação
Anual das Praias, visando traduzir os dados de qualidade das águas para o público.
27
Na qualificação foram desenvolvidas as categorias:
• ÓTIMA - Máximo de 250 coliformes fecais (Termotolerantes) em 80% ou mais do tempo;
• BOA - Máximo de 1000 coliformes fecais (Termotolerantes) em 80% ou mais do tempo,
exceto as ótimas;
• Regular - Máximo de 1000 coliformes fecais (Termotolerantes) em 70% ou mais do
tempo, e menos de 80% do tempo;
• MÁ - Máximo de 1000 coliformes fecais (Termotolerantes) em 50% ou mais do tempo, e
menos de 70% do tempo;
• PÉSSIMA - praias que não se enquadram nas categorias anteriores (FEEMA, 2005).
3.2.2 Saúde, Ambiente Aqüícola e Vigilância Sanitária
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “O estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. O termo Saúde Pública
é definido, ainda pela mesma Instituição, como “A ciência e a arte de promover, proteger, e
recuperar a saúde, por meio de medidas de alcance coletivo e de motivação da população”
(WHO, 1986).
A Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) considera que ambiente e saúde são
interdependentes e inseparáveis e que, “Território Vivo” é todo lugar que há relação do
homem com a natureza, sejam estas familiares, de trabalho, lazer e educação. A medicina
preventiva aplicada à saúde pública, considera como potencial risco à saúde das populações,
os impactos gerados pelas mudanças no meio ambiente sobre a saúde, particularmente nas
áreas de produção de energia, de alimentos e de bens de consumo (OPAS, 2005).
Segundo WHO (1986), a carta de Ottawa define o termo promoção da saúde como “o
processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. O conceito de
promoção da saúde é considerado abrangente e interdisciplinar, podendo integrar o processo
do desenvolvimento sustentável que é baseado na equidade, economia e meio ambiente.
De acordo com Philippi Jr.2 (2005, apud Philippi Jr. e Malheiros, 2005), as ações de
saúde pública compreendem a medicina preventiva e social e as atividades de saneamento do
2 PHILIPPI JR, Arlindo. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005. 842 p. p.3 – 31
28 meio, além de considerar os sistemas sociocultural, ambiental e econômico, na busca de
soluções para agravos da saúde e da qualidade de vida da população.
A criação de ambientes saudáveis está diretamente relacionada à melhoria da
qualidade de vida e da saúde. Conforme Philippi Jr. (2005), deve ser reconhecido como
ambiente saudável a complexidade das sociedades, suas diferenças e peculiaridades. As
medidas de promoção à saúde, através da educação para saúde, devem focar a proteção
ambiental, conservação de recursos naturais e impactos que promovam alterações ambientais
de efeito sobre a saúde.
As modificações ambientais resultante do processo antrópico de ocupação dos espaços
urbanos e de urbanização, aumentam o risco de exposição à doenças e atuam negativamente
na qualidade de vida da população. Segundo Philippi Jr. (2005), os municípios, cidades e
comunidades saudáveis, com base nos princípios da ação intersetorial e na participação social,
devem motivar e fortalecer atividades de promoção à saúde como a mais alta prioridade
dentro de uma agenda política local.
Uma cidade saudável, na definição da OMS, "... é aquela que coloca em prática de
modo contínuo a melhoria de seu meio ambiente físico e social, utilizando todos os recursos
de sua comunidade". Portanto, considera-se uma cidade ou município saudável aquele em que
os seus dirigentes municipais enfatizam a saúde de seus cidadãos, dentro de uma ótica
ampliada de qualidade de vida (OPAS, 2005).
Conforme Philippi Jr. (2005), constituem grave problema para a saúde pública a falta
de abastecimento da água potável e a coleta segura de esgoto. Os dejetos humanos, aliados
aos rejeitos e ao lixo orgânico e inorgânico, são focos de diversas doenças infecciosas e
parasitárias, bacterianas e virais, podendo ainda representar risco de contaminação humana
por materiais tóxicos e radioativos. O acúmulo desses dejetos sem o devido tratamento, ainda
pode promover a contaminação do solo e, conseqüentemente, a poluição de águas superficiais
e subterrâneas, causando também a obstrução dos sistemas de drenagem e provocando
inundações com enormes riscos para a saúde humana e também animal.
O mar, associado ao continente, sempre representaram fontes de alimentos para a
humanidade, através da agropecuária e pesca. Águas poluídas certamente colocam em risco a
qualidade do alimento consumido, assim como a balneabilidade desses ecossistemas. A
degradação do ambiente aquático costeiro pode determinar impactos negativos à saúde, esses,
na sua maioria, relacionados a deficiência na coleta e destino final dos resíduos líquidos e
sólidos gerados por atividades antrópicas (NATAL et al., 2005).
A dinâmica de ocupação do território brasileiro no período colonial ocorreu no sentido
29 litoral continente que, segundo GEO BRASIL (2002), condicionou o montante atual
equivalente a mais de 70 milhões de habitantes na zona costeira gerando um impacto diário de
mais de 3000 toneladas de poluentes líquidos.
Expressiva parte de toda a contaminação de ambientes costeiros está relacionada com
atividades antrópica como urbanização, agricultura, turismo, desenvolvimento industrial,
despejo de esgoto não tratado, dejetos industriais e falta de infra-estrutura costeira (SHUVAL,
2003). Tundisi (2005) complementa que a magnitude dessas interações é variável, de acordo
com a maior ou menor extensão das bacias hidrográficas coletoras de sedimentos e de
resíduos poluentes. Nesse sentido, fenômenos de eutrofização dos recursos hídricos costeiros
têm gerado grandes impactos ecológicos, econômicos, sociais e na saúde pública (Figura 9, a
seguir).
30
Adaptado de Tundisi (2005).
Figura 9: Impactos em ambientes costeiros.
Segundo Shuval (2003), há um crescimento mundial anual de doenças infecciosas
humanas relacionadas com a balneabilidade e consumo de alimentos de águas costeiras
poluídas, estimando na ordem dos 50 milhões de casos de patologias respiratórias e 120
milhões de gastrenterites. Os recursos hídricos poluídos por descargas de resíduos humanos e
animais, transportam grande variedade de patógenos, entre eles bactérias, vírus e protozoários.
As baías e enseadas em zonas costeiras são comumente contaminadas por descarga de
águas residuais urbanas, de grande risco à Saúde Pública. Esse risco está essencialmente
relacionado à ingestão e ao contato de patógenos biológicos, toxinas e agentes químicos
Resíduos urbanos, industriais e agrícolas
Esgoto in natura
Nutrientes (N:P)
Eutrofização
Matéria orgânica (DBO)
Bactérias / crescimento exagerado de plantas aquáticas asfixia da
ictiofauna
Algas cianofíceas e microrganismos
Agravos à saúde e degradação do sistema
aquático estuarino
Larva insetos e parasitos / bloqueia navegação
Redução oxigênio
31 presentes tanto em efluentes na forma in natura como semi tratados. Esses efluentes
apresentam grande potencial de contaminação da água marinha, areia, peixes, moluscos
bivalves e crustáceos, que compõem o ecossistema costeiro. Normalmente, a origem dos
pontos de poluição com potencial de impacto nas regiões estaurinas, são observadas tanto
localmente como também a montante das bacias hidrográficas (NATAL et al., 2005).
Adicionalmente, constitui um problema de ampla repercussão para a saúde pública, os
riscos de acidentes ambientais com o vazamento de óleo, que ocorrem com relativa freqüência
nas refinarias, portos comerciais, estaleiros e postos de combustíveis. No ano de 2000, um
vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo diretamente na Baía de Guanabara, atingiu o
ecossistema marinho e causou morte de muitos animais aquáticos, destruindo os manguezais e
poluindo as praias litorâneas. Além de prejudicar o balneário e o turismo, desastres ambientais
como esse, têm causado danos econômicos aos trabalhadores que subsistem da pesca,
trazendo problemas para a saúde ambiental e qualidade de vida da população (PEREIRA,
2003).
A mesma autora alerta que o mar poluído em ambientes costeiros representa grande
potencial de risco a saúde, principalmente no que se refere à balneabilidade e consumo de
organismos de águas com qualidade higiênico-sanitária duvidosa. É fundamental o controle
da qualidade sanitária dos ambientes aqüícola utilizados para maricultura, através de análises
físico-químicas e microbiológicas dos produtos para consumo humano originados desses
ambientes, assim como a água marinha.
Segundo Cattaneo (1990), é de grande importância para a saúde pública a qualidade
higiênico-sanitária dos moluscos bivalves cultivados e/ou extraídos do habitat natural e
posteriormente comercializados e consumidos in natura, inclusive em restaurantes
especializados em culinária oriental. O cultivo e/ou extração de moluscos é uma prática de
comércio realizada na maior parte das vezes por determinadas populações que habitam
regiões próximas ao mar e que dele retiram seu meio de subsistência.
O extrativismo e o processamento dos moluscos bivalves marinhos são geralmente
realizados por pescadores e marisqueiros que não possuem conhecimento e consciência sobre
os problemas sanitários. Muitas vezes, os métodos utilizados são rudimentares do ponto de
vista sanitário e os mexilhões são expostos à intempéries, sem a preocupação com a higiene e
risco à saúde. A fim de evitar danos à saúde pública, os órgãos competentes deveriam repassar
a esses atores sociais regras básicas e simples quanto à manipulação de mexilhões, tais como:
transportá-los rapidamente, mantê-los limpos e refrigerados e cozinhá-los em temperatura
32 adequada. Além dessas regras é necessário evitar a extração ou o cultivo em áreas com risco
de contaminação (CATTANEO, 1990).
Conforme Pereira (2003), ações adequadas nas diferentes etapas dos processos de
extração, processamento produtivo, comercialização e consumo dos moluscos bivalves,
baseados no sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC - (Portaria
1428/1993 - BRASIL, 1993), constituem medidas de prevenção e controle higiênico-sanitário
em produtos destinado ao consumo humano, com reflexos importantes na melhoria da
qualidade de vida e saúde da população. Dessa maneira, seria fundamental realizar esforços
para assegurar a definitiva implementação desse sistema na indústria de pescado e moluscos
no País.
As técnicas de depuração natural ou artificial da carne dos moluscos, através da
ozonização, cloração ou irradiação com luz ultravioleta, ou ainda o banho de imersão em
ácido lático, objetivam purificar o produto antes da venda ao consumidor, eliminando a
maioria dos microrganismos. Porém, é importante destacar que esses procedimentos são
ineficazes em casos de contaminação por metais pesados e também por certos vírus, como o
da hepatite viral e enterovírus. Por essa razão, os processos de depuração têm sido bastante
questionados por microbiologistas, uma vez que nem sempre são eficientes quando os
mexilhões são provenientes de águas muito poluídas, como é o caso da Baía de Guanabara
(PEREIRA, 2003).
Pereira (2003) chama atenção do fato de que no Brasil, as autoridades competentes
ainda não deram, nem no plano legal, nem no que diz respeito à promoção da saúde, a devida
importância aos novos patógenos que estão sendo veiculados através dos alimentos, elevando
os riscos de infecção humana.
A mesma autora defende a formação, nas comunidades, de equipes multidisciplinares
de saúde como parte de um plano efetivo de combate aos surtos de gastrenterites veiculadas
por alimentos, constituindo uma das mudanças mais importantes e necessárias na sociedade.
Tais estratégias elevariam a consciência sanitária, permitindo transformar o panorama da
saúde pública e melhorar a qualidade de vida da população.
33 3.2.3 Mitilicultura e Agravos à Saúde
Segundo Ahmed e Anderson (1994), há carência de dados reais que expressem
seguramente, quais doenças são transmitidas por alimentos do mar. Esse fato, justifica o autor,
pode ser devido a ineficientes processos de rastreamento em surtos epidêmicos, que
correlacionem de forma precisa, patógenos aos agravos.
Nos Estados Unidos, os pescados e derivados estão altamente implicados na lista dos
surtos de doenças originadas de alimentos. Destes surtos, 80% são originados do consumo de
pescado e moluscos bivalves com implicação de biotoxinas, histamina, vírus, bactérias
patogênicas e parasitas. Do total no período de 1988 a 1992, 35% tiveram a implicação das
bactérias Clostridium botulinum, Escherichia coli, Salmonella, Staphylococcus, Vibrio sp. e
Bacillus cereus, a partir do consumo de bivalves e 12 % através de peixe (AHMED e
ANDERSON, 1994).
No mundo contemporâneo, estudos diversos mostram que surtos de doenças
relacionadas ao consumo de pescados, bivalves e derivados variam de acordo com os hábitos
alimentares da população e com o clima local, aumentando a casuística no verão, quando a
temperatura das águas é mais elevada. Indivíduos imunodeprimidos, idosos, crianças e
gestantes são grupos populacionais extremamente vulneráveis, nos quais em geral os quadros
clínicos manifestam de forma mais grave, recorrente e persistente (LIRA et al., 2001).
O hábito de consumir pescado in natura está diretamente relacionado à alta incidência
de surtos alimentares como é o caso do Japão. Nesse país, os Víbrios sp estão diretamente
implicados em agravos relacionados ao consumo de bivalves in natura, sendo o V.
parahaemolyticus responsável por uma elevação de 20%, nos casos documentados de
infecção alimentar, tendo o molusco como vetores (PEREIRA, 2003).
No Brasil, conforme LIRA et al. (2001), as principais espécies de cultivo de moluscos
são as ostras, comumente consumidas in natura com algumas gotas de limão, e os mexilhões,
consumidos após levemente cozidos. Como visto anteriormente, o mexilhão é considerado um
filtrador por excelência, essa característica é importante, pois seu consumo, sem o adequado e
prévio tratamento térmico, pode veicular uma série de patógenos ao homem, tornando-se um
risco para a saúde pública (Quadro 2, a seguir).
34
Quadro 2: Principais doenças associadas ao consumo de mexilhões com importantes implicações para a saúde pública, pelos riscos de morbidade e mortalidade:
PATOLOGIA PRINCIPAIS AGENTES CLÍNICA Origem bacteriana Salmonelose Salmonela enteritidis Distúrbios gástricos e entéricos Cólera Vibrio cholerae Distúrbio gástricos e entéricos Febre tifóide e paratifóide
Salmonella typhy e S. paratyphi Hipertemia e septicemias
Gastrenterites e infecções extra intestinais
Vibrio parahaemolyticus; V. vulnificus; Aeromonas hydrophila; V. alginolyticus
Distúrbios gástricos e entéricos, cefaléia, hipertemia e septicemias
Disenteria bacilar Shigella sp. Distúrbios gástricos e entéricosDiarréia infantil; Conjuntivites; otites e sinusites
Proteus sp. Distúrbio gástricos e entérico, hipertemia e sintoma órgão específico
Enterite Escherichia coli Melena ou diarréia aquosa, dor abdominal e hipertemia
Origem viral Hepatite A Hepatovírus tipo RNA
(picornaviridae) Sintomatologia de infecções inespecíficas, dor abdominal, hepatomegalia, prurido cutâneo e icterícia
Origem parasitária Giardiase Giardia lamni ( protozoário ) Distúrbios digestivos e
intestinais Origem tóxica Intoxicação por metais pesados
Mercúrio (Hg); Chumbo (Pb); Níquel (Ni) e Cádmio (Cd)
Distúrbios Neurológicos
Intoxicação amnésica por marisco
Ácido domóico (produzido por fitoplânctons)
Distúrbios gástricos e entéricos, neurológicos (alucinações, perda de memória e coma)
Intoxicação paralítica por marisco
Saxitoxina (produzido por dinoflagelados)
Distúrbios gástricos e entéricos paralisia facial, respiratória e óbito
Veneno diarréico dos moluscos
Plânctons marinhos (toxinas de dinoflagelados)
Distúrbios gástricos e entéricos, ataxia e parestesias
Alergias Não específicas (ingestão e contato com mexilhão)
Distúrbios gástricos e entéricos, respiratórios e cutâneos.
Fonte: Adaptado de MMWR, 1996; Cordeiro, 2000; Pereira, 2003; Jeffrey et al., 2004.
35
O mundo muda rapidamente e, na medida em que as relações humanas com o
ambiente evoluem, a interdependência global aumenta e equilíbrios previamente estáveis são
rompidos. Uma das conseqüências dessas mudanças globais é que doenças infecciosas, que já
foram consideradas mitigadas e outras desconhecidas, passam a ser preponderante, tanto em
países desenvolvidos quanto em desenvolvimento (MAYER, 2000).
A ecologia da doença é uma poderosa abordagem para o entendimento de novas
doenças. Um princípio importante da ecologia da doença é que, sociedade e os ambientes
físicos e biológicos deveriam estar em equilíbrio dinâmico. Um ecossistema equilibrado
mantém estável o habitat natural dos patógenos, vetores e hospedeiros naturais. Quando esse
equilíbrio é alterado, o agente infeccioso transcende o seu meio natural e incorpora a
sociedade humana, emergindo a doença. Porém, doença infecciosa emergente e re-emergente
é tanto matéria de mudança social, ecológica e geográfica quanto fenômeno de pequena escala
celular ou microbiológica. Realmente, o significado da causa da doença muda quando
considerado o contexto social e ecológico (SILVA, 1997).
O conceito de doenças emergentes e re-emergentes, criado pelo “Center of Disease
Control” (CDC) dos Estados Unidos da América, designa que as doenças emergentes são
aquelas causadas pela introdução ou descoberta de novos microrganismos, ou ainda pelo
aumento da incidência ou prevalência de doenças causadas por microrganismos conhecidos.
Por outro lado, doenças re-emergentes caracterizam-se pela ressurgência ou reincidência de
doenças cujos patógenos são conhecidos, mas que, devido a modificações sócio-ambientais,
ressurgem com significativa expressão epidemiológica (MAYER, 2000).
Segundo Pereira (2003), várias pesquisas têm demonstrado que o habitat natural dos
microrganismos das famílias Vibrionaceae e Aeromonadaceae é o ambiente aquático
dulcícola e marinho. A presença desses microrganismos no ecossistema estuarinos não possui
correlação direta com a presença de indicadores de contaminação fecal (Escherichia coli).
Dessa maneira, águas consideradas próprias para maricultura e balneário, conforme os
parâmetros de coliformes fecais, não estão totalmente livres da possibilidade de conter as
bactérias das referidas famílias. Há, ainda, o agravante de que algumas espécies dessas
famílias são consideradas patógenos emergentes e podem ser veiculados aos seres humanos,
através da ingestão de água contaminada e/ou moluscos bivalves marinhos consumidos sem
prévio aquecimento.
A mesma autora demonstra que espécies das famílias Vibrionaceae e
Aeromonadaceae são largamente disseminadas nos pontos de coleta de mexilhões da Baía de
Guanabara explorados pela ALMARJ (Associação Livre dos Pescadores de Jurujuba). Isso
36 revela um quadro altamente preocupante para a saúde pública, pois embora esses patógenos
possam estar presentes na natureza em águas não poluídas, a diminuição de oxigênio causada
pela poluição marinha cria condições bastante favoráveis para a rápida proliferação desses
agentes patogênicos.
37
4 MATERIAIS E MÉTODOS
O método de escolha foi o estudo descritivo e correlacional dos fatos e fenômenos das
áreas pesquisadas. Esta técnica pode proporcionar amplitude na descrição, explicação e
compreensão da realidade encontrada (TRIVIÑOS, 1987), vista a complexidade dos aspectos
estudados. Sob este enfoque, foram utilizados levantamento de dados secundários e
formulação e aplicação de questionários fechados, aos atores sociais.
Para definir o tamanho da amostra na aplicação dos questionários, optou-se pelo
método da amostragem representativa (FAO3, 1982 APUD Marino, 2005), no qual, o número
de pessoas entrevistadas representa um percentual do universo estudado (anexo 4, pág 98).
Conforme orienta Marino (2005), a seleção dos entrevistados embasou-se na tipicidade social
e acessibilidade das pessoas, de forma não probabilística. O universo de entrevistados foi
caracterizado por atores sociais das comunidades pesqueiras tradicionais, de estatuto
estabelecido pelo IBAMA ou com representatividade jurídica em associações, cooperativa de
pescadores e/ou maricultores, localizadas no município de estudo.
Segundo SEBRAE 2002, o litoral do município de Niterói apresenta grandes atrativos
para a mitilicultura onde, tanto a engorda como a produção de sementes de mexilhão, têm
elevado potencial. As áreas de estudo eleitas as enseadas de Itaipu e de Jurujuba, abrigam
tradições pesqueira e mexilhoneira. Em Itaipu foram aplicados questionários com os
pescadores devidamente cadastrados na Colônia de Pescadores Z-7 Itaipu/Maricá, que
costumam desembarcar e comercializar a pesca na enseada de Itaipu. O presidente da Colônia
de Pescadores de Itaipu, Sr. Aurivaldo, conhecido como Barbudo, informou que este grupo de
pescadores perfaz um universo de 200 pessoas e forneceu um total de 25 nomes a serem
entrevistados. Na enseada de Jurujuba, através da ALMARJ (Associação Livre de
Maricultores de Jurujuba) e do seu presidente Sr. Misael, foram realizadas entrevistas com 27 3 Marino Eduardo. Manual de Avaliação de Projetos Sociais: Uma ferramenta para a aprendizagem e desenvolvimento de sua organização. São Paulo: Pedagogia Social. Instituto Ayrton Senna, 2005. 177 p. Cap. 4. p. 89.
38 associados da ALMARJ, representando um universo de 80 maricultores devidamente
cadastrados na associação. Foram aplicados questionários qualitativos (anexo 6, pág. 99)
junto ao público alvo do estudo, no mês de abril do ano de 2005 em Jurujuba e ao longo do
mês de maio e junho de 2005 em Itaipu. Os questionários foram numerados e arquivados para
eventual consulta.
4.1 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DAS RESPOSTAS DOS QUESTIONÁRIOS
Os dados obtidos foram processados no programa “BioEstat” com o apoio do
Departamento de Estatística do Instituto de Matemática da Universidade Federal Fluminense.
Para fins de análise estatística e confecção dos gráficos, foram aplicados teste χ2 (qui-
quadrado), fixado o nível de significância em 5% (α = 0,05). No caso entende-se que há
diferença estatística proporcionais entre os grupos estudados, quando p-valor < α e que não há
diferença significativa proporcionais no caso p-valor > α.
39
5 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO SANITÁRIA DAS ÁREAS DE ESTUDO
5.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DE INFLUÊNCIA NAS ÁREAS DE ESTUDO
Para posicionar geograficamente as áreas de estudo, enseadas de Itaipu e Jurujuba, em
relação à bacia hidrográfica pertencente, foram utilizadas as unidades básicas de planejamento
e intervenção de gestão ambiental do Estado do Rio de Janeiro, que apresenta a divisão em
sete Macrorregiões Ambientais (Figura 10). Dentre essas destaca-se a Macrorregião
Ambiental Guanabara e Lagoas Metropolitanas, denominada MRA - 1 (Figura 11) que
contempla sete bacias hidrográfica. No caso as áreas de estudo estão sobre a influência de
duas destas, a bacia hidrográfica Baía de Guanabara e a bacia hidrográfica Lagunas de
Piratininga e Itaipu que abrigam as enseadas de Jurujuba e Itaipu, respectivamente
(SEMADS, 2001).
40
Fonte: SEMADS, (2001). Figura 10 – Mapa demonstrativo das sete macrorregiões ambientais do Rio de Janeiro.
Fonte: SEMADS 2001
Figura 11 - Mapa demonstrativo da Macrorregião Ambiental Guanabara e Lagoas Metropolitanas (MRA- 1).
41
Destaca-se na bacia hidrográfica da Baía de Guanabara, a unidade hidrográfica do
Canal de São Francisco (Figura 12) de grande influência na enseada de Jurujuba (Quadro 3),
por compreender os rios constituintes do canal de São Francisco e valas que fluem para as
enseadas de Charitas e Jurujuba (SEMADS, 2001).
Figura 12 – Canal de São Francisco (Enseada de Jurujuba, Niterói – RJ). A enseada de Itaipu, que está inserida na bacia hidrográfica das Lagunas de Piratininga
e Itaipu, sofre influência direta das águas que descem das encostas e escoam pela planície,
atingindo, inicialmente, as lagoas e em seguida o mar, através de um canal artificial que liga a
Lagoa de Itaipu com a enseada de Itaipu (Figura 13). No caso a Lagoa de Piratininga escoa
suas águas em direção a Lagoa de Itaipu, por intermédio do Canal do Camboatá. De acordo
com a Concessionária Águas de Niterói, a unidade hidrográfica João Mendes (Quadro 3) que
deságua na lagoa de Itaipu, atualmente apresenta grande potencial poluidor (SEMADS, 2001,
RIGHETTO, 2005).
Figura 13 – Canal de Itaipu (Enseada de Itaipu, Niterói – RJ).
42 Quadro 3: Principais rios afluentes das bacias hidrográficas Lagunas de Piratininga / Itaipu e Baía de Guanabara de grande influencia nas áreas de estudo.
Bacia Hidrográfica Unidade Hidrográfica Enseada de Impacto
Lagunas Piratininga/Itaipu Rio João Mendes Itaipu
Baía da Guanabara Canal de São Francisco Jurujuba
Fonte: Adaptado de SEMADS (2001)
5.2 MUNICÍPIO DE NITERÓI
O significado da palavra Niterói "água que se esconde", já nos primórdios exaltava a
paisagem de belos ambientes estuarinos e costeiros desta cidade. Apreciada pela Família Real
Portuguesa, Niterói tornou-se o local preferido para os "ócios reais”. A partir da fusão dos
antigos Estado do Rio de Janeiro e da Guanabara, ocorrida em 1975, Niterói perde o "status"
de capital estadual. Esse fato levou a um esvaziamento populacional e financeiro, que só não
alcançou proporções maiores devido ao crescimento da indústria de construção civil,
incrementada com a conclusão da Ponte Rio-Niterói. Os trechos privilegiados da periferia do
município passaram a ser de interesse de parcelas da classe média encantada pelas praias
oceânicas e áreas verdes, signatárias de um novo estilo de vida. Tal fato levou a implantação
de loteamentos de alto luxo, o que ocasionou remanejamento espacial de várias comunidades
de baixa renda, desde muito fixadas nessas localidades (PMN, 2005).
Localizada na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, atualmente o
município de Niterói apresenta um elevado índice de desenvolvimento humano (Quadro 4) e
possui uma população de 459.451 habitantes compreendida em uma área total de 131,8
quilômetros quadrados (CIDE, 2003). Esse contingente populacional representa,
aproximadamente, 3,19% da população do Estado do Rio de Janeiro. Conforme dados da
SECITEC (2001), a taxa de crescimento demográfico de Niterói vem caindo, de acordo com
os registros notificados na década de 1970 (2,05%), permanecendo em declínio até década de
1990 (0,58%). De acordo com a mesma secretaria (anexo 3, pág. 97), 78,34% dos domicílios
são servidos por água encanada, 73,04% dos domicílios possuem seus efluentes sanitários
canalizados para rede geral coletora de esgoto ou pluvial, porém 2,82% esgotam seus
efluentes diretamente em rios, lagos e mar e que 96,92% dos domicílios têm o lixo coletado
por empresa contratada pela prefeitura.
43
Segundo a SECITEC (2001), as policlínicas comunitárias do município de Niterói
constituem-se nos pólos articuladores das ações desenvolvidas pela rede básica de saúde,
exercendo autoridade sanitária em sua área de abrangência geográfica. O programa médico
de família de Niterói é baseado no modelo cubano de atenção básica de saúde (PASTRANA,
2000). Esse programa consiste na implantação de módulos em áreas de alto risco em saúde,
segundo indicadores epidemiológicos, sociais, ambientais e econômicos.
A expansão urbana do município tem se realizado em direção à região oceânica e
Pendotiba, estimulada principalmente pela implantação de infra-estrutura básica e melhoria do
sistema viário. Os bairros do município encontram-se distribuídos em cinco regiões de
planejamento (praias da baía, oceânica, Pendotiba, norte e leste), segundo o plano diretor de
Niterói (NITERÓI, 1993). Essas regiões foram divididas em função da homogeneidade em
relação à paisagem, do uso de edificações e do parcelamento do solo, bem como dos aspectos
sócio-econômicos e físicos.
Quadro 4: Classificação do município de Niterói em relação ao índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M)4 ) e seus sub-índices e o índice de Gini5, para o ano de 2000.
IDH-M 0,89
IDH- M – Renda 0,89
IDH - M – Longevidade 0,81
IDH – M – Educação 0,96
Renda Per Capita R$809,18
Índice de Gini 0,59
Fonte: IPEA e CEF, 2004
5.2.1 Ambiente costeiro de Itaipu
Na década de 70, a praia de Itaipu foi dividida por um canal artificial, dando origem a
duas pequenas praias: Itaipu e Camboinhas. A enseada de Itaipu (Figura 14) é limitada a leste
pela Ponta de Itaipu (Morro da Andorinha), onde se forma a enseada, a oeste estendendo-se de 4 O IDH-M é a média aritmética do IDHM-Longevidade, IDHM-Educação, IDHM-Renda daquele município, podendo assumir valores entre 0 e 1. O IDHM–Renda é o resultado da agregação da renda aparente de todos os residentes, o IDHM-Longevidade é a expectativa de vida ao nascer e o IDHM-Educação pondera o índice de alfabetização de pessoas acima de 15 anos de idade. 5 O Índice de Gini mede o grau de concentração de renda, cujo valor varia de zero (perfeita igualdade) até um (a desigualdade máxima).
44 forma semicircular até a Ponta da Galheta (Pedra do Canto da Ponte). Descendo o Morro da
Andorinha em direção ao mar, em continuação a essa formação rochosa vêem-se 3 ilhas: Ilha
da Menina, Ilha da Mãe e Ilha do Pai. Em oposição ao mar, para o interior, situa-se a Lagoa
de Itaipu, que se liga a Lagoa de Piratininga, através do Canal de Camboatá (KOSAWA,
2003).
Fonte: SECITEC, 2001
Figura 14: Demonstrativo da área de estudo – enseada de Itaipu.
Os antigos habitantes dessa área, os quais tinham a pesca como principal atividade,
foram expulsos pelos portugueses ainda no período colonial. A partir de então, teve início a
exploração da terra, através da doação de sesmarias. No entanto, além de ter presenciado o
desenvolvimento da atividade agrícola, manteve sua tradição pesqueira. A partir dos anos 70,
como em toda a Região Oceânica, Itaipu foi palco de um intenso movimento migratório
proveniente de alguns bairros de Niterói, de outros municípios do Estado e da cidade do Rio
de Janeiro. Inicialmente, predominaram as moradias de veraneio e, aos poucos, a região de
Itaipu foi assumindo um perfil mais residencial, sendo um dos bairros de maior crescimento
populacional do município (PMN, 2005).
O bairro de Itaipu foi formado por uma população de estratificação social
diversificada, refletindo a realidade brasileira. Apesar desta diversidade social, predomina
uma população de classe média que se estabeleceu em praticamente todas as áreas do bairro.
Quanto à população de baixa renda, existem dois grupos bem distintos que se estabeleceram
em períodos e por motivos diferentes. Um destes grupos é composto pelos pescadores da
localidade conhecida como Canto de Itaipu, de ocupação muito antiga. Suas atividades
45 tiveram origem na herança cultural deixada pelos indígenas do local. Hoje, porém, esse grupo
enfrenta inúmeros problemas sociais. O incremento populacional ocorrido a partir da década
de 70 e o afluxo de turistas trouxeram uma série de transformações no modo de vida da
comunidade de pescadores, o que resultou em sua descaracterização (PMN, 2005).
Segundo o presidente da Colônia de Pescadores Z-7 Itaipu/Maricá, dentre as modestas
instalações encontradas no Canto de Itaipu, apenas 10 casas são de pescadores locais e dentre
os 21 bares especializados em frutos do mar existentes, apenas 04 ainda pertencem a
pescadores locais. O mesmo destaca que ocorreu uma mudança radical de mentalidade na
comunidade, influenciando jovens a não seguirem o ofício de seus pais e que recentemente,
em algumas áreas da orla já pode ser observado um incipiente processo de favelização.
Segundo a PMN (2005), os diversos condomínios residenciais horizontais e verticais que
proliferam atualmente em áreas de proteção ambiental, regiões de atrativos para classe média
alta, tem gerado alguns conflitos entre as construtoras, os grupos ambientalistas e o poder
público.
Conforme dados IBGE / 2000 (anexo 3, pág. 97), o bairro de Itaipu apresenta o total
de 17.330 habitantes. A taxa de crescimento demográfico vem caindo, de acordo com os
registros notificados na década de 1980 (10,39%), declinando na década de 1990 (5,04%). O
Censo informa ainda que 2,84% dos domicílios são servidos por água encanada, 4,79% dos
domicílios possuem seus efluentes sanitários canalizados para rede geral coletora de esgoto ou
pluvial, porém 1,13% esgotam seus efluentes diretamente em rios, lagos e mar e que 99,32%
dos domicílios têm o lixo coletado por empresa contratada pela prefeitura.
De acordo com a Concessionária Águas de Niterói a ETE (Estação de Tratamento de
Esgoto) de Itaipu está em operação desde 15/01/04. Projetada para oferecer tratamento
terciário de esgoto com capacidade máxima de suporte para 35.000 habitantes, capta os
efluentes pelo sistema de separador absoluto dos bairros de Itacoatiara, Itaipu e Engenho do
Mato. A estação possui aproximadamente 80% da rede coletora conectada na sua área de
abrangência. A ETE – Itaipu, ainda segundo a empresa Águas de Niterói, está construída em
uma área suficiente para duplicação da Estação atendendo, portanto, à população atual bem
como ao crescimento do bairro (RIGHETTO, 2005).
46 5.2.2 Ambiente costeiro de Jurujuba
Jurujuba significa, em língua nativa, "papagaio amarelo”, situado a Leste da entrada da
Baía de Guanabara, o bairro de Jurujuba é uma península cercada pelas águas oceânicas e da
própria baía, limitando-se por terra com o bairro Charitas, próximo ao cruzamento entre
Avenida Carlos Ermelindo Marins e o caminho para o Forte Imbuí; e com Piratininga, pela
linha de cumeada do Morro do Ourives. Na área há o predomínio de morros, variando suas
altitudes de 39m (Morro do Lazareto) a 263m (Morro do Macaco). Essas elevações se
estendem até a orla, muitas vezes sob a forma de escarpas rochosas que terminam
abruptamente no mar, entremeadas de pequenas enseadas e praias. Em algumas partes ainda
existe expressiva cobertura vegetal. A malha viária do bairro é constituída por uma única via
de acesso, a Avenida Carlos Ermelindo Marins, que começa no bairro vizinho de Charitas e
segue pela orla marítima de Jurujuba, indo até a praia que leva o mesmo nome. A enseada de
Jurujuba (Foto satélite – Jurujuba) abrange a Praia da Várzea, Praia do Canal e a Praia de
Jurujuba (PMN, 2005).
Fonte: SECITEC, 2001
Figura 15: Demonstrativo da área de estudo – enseada de Jurujuba. A atual estrutura urbana do bairro de Jurujuba é caracterizada por considerável
ocupação de encostas, inclusive pela escassez de áreas planas. Nas partes baixas localizam-se
as moradias mais antigas, cuja população ainda desenvolve atividades ligadas à pesca. Em
outras áreas, parentes e descendentes próximos dos pescadores se instalaram. Alguns desses,
fiéis à tradição, mantiveram-se pescadores; outros buscaram seus sustentos em atividades
47 diversas. O declínio das atividades pesqueiras, provocado pela redução da quantidade e
qualidade de peixes na Baía de Guanabara e pela falta de incentivos governamentais, tem
reflexos não só nos aspectos socioeconômicos, mas também culturais, uma vez que se verifica
um distanciamento cada vez maior entre a pesca e o cotidiano da população local. No entanto
atualmente Jurujuba abriga a ALMARJ que faz parte da colônia de pesca Z8 (PMN, 2005).
A infra-estrutura pública de saúde do bairro é representada por um módulo do
programa Médico de Família e uma unidade municipal de saúde. Na área educacional,
encontra-se em funcionamento uma Creche Comunitária e um Colégio Estadual que atende da
pré-escola ao 2o grau, oferecendo também ensino supletivo. O bairro apresenta alguns
problemas ambientais devido à ocupação de suas encostas e à precariedade do seu
esgotamento sanitário (PMN, 2005).
De acordo com SECITEC (2001), o bairro de Jurujuba apresenta uma população de
2.960 habitantes, não possuindo indicativo de mudança dessa tendência devido à grande
proporção de ocupação do seu território por área militar, além das dificuldades de acesso e da
falta de áreas planas. Este fato confirma-se com a queda da taxa média de crescimento
demográfico apresentado na década de 1990 (-1,87 %) em relação a 1980 (-0,54 %). O Censo
do IBGE de 2000 informa ainda que 94% dos domicílios são servidos por água encanada,
68,59% dos domicílios possuem seus efluentes sanitários canalizados para rede geral coletora
de esgoto ou pluvial. Porém, 12,12% esgotam seus efluentes diretamente em rios, lagos e mar
e que 96,24% dos domicílios têm o lixo coletado por empresa contratada pela prefeitura
(anexo 3, pág. 97).
Conforme a Concessionária Águas de Niterói, a ETE - Jurujuba passou a operar em
27/09/2005, oferecendo tratamento terciário e captação de efluentes pelo sistema separador
absoluto. A estação possui a capacidade de suporte para atender a demanda máxima de 10.000
habitantes e atualmente possui aproximadamente 90% da rede coletora conectada na sua área
de abrangência. A ETE – Jurujuba, ainda segundo a empresa Águas de Niterói, está em
condição de atender 100% da população, estando preparada para o crescimento populacional e
adesões (RIGHETTO, 2005).
48
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme Pontes e Schramm (2004), estudos de base epidemiológica vêm sendo
empreendidos com objetivo de melhor compreender as relações entre saúde e saneamento, de
forma que seja possível a mensuração dos impactos na saúde, tanto para a identificação de
condições inadequadas de saneamento, quanto para a avaliação das ações de saneamento
necessárias para alcançar situações de salubridade ambiental. Este enfoque é justificado por
Shuval (2003), quando constata que aproximadamente 3 milhões das notificações anuais de
morbidade, mundialmente, estão associados à poluição por efluentes em ambientes costeiros,
provocando perdas econômicas de mais de 12 bilhões de dólares por ano.
Neste sentido foram avaliados, como questão de saúde pública, os aspectos sanitários e
sociais observados nos ambientes costeiros de potencialidade para a mitilicultura, nas
enseadas de Itaipu e Jurujuba. Os resultados foram embasados na percepção dos atores
entrevistados e apresentados de acordo com os seguintes temas: socioeconômico; condições
higiênico-sanitárias do meio ambiente residencial; uso e qualidade do ambiente costeiro;
maricultura; doenças provenientes de alimentos marinhos e da água do mar.
Os resultados que apresentaram diferença significativa (p-n < 0,05) entre os grupos
entrevistados foram plotados em gráficos, enquanto os que não apresentaram diferença
significativa (p-n >0,05), foram organizados em quadros (no 5, pag. 54; no 7, pág 60; no 9,
pág. 70; no 10, pág. 76; no 11, pág. 80), sendo estes posicionados ao final da discussão do
respectivo tema.
6.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO
Os resultados obtidos demonstram que 85,2% dos entrevistados em Jurujuba ainda
permanecem na comunidade de origem, a mesma tendência foi relatada por Vinatea (2000),
no estudo das comunidades de maricultores da Baía de Florianópolis. No entanto, 52% dos
49 entrevistados em Itaipu não residem no bairro, utilizando a enseada de Itaipu somente para
comercializar o pescado e confraternizar com os amigos (Figura 16). De acordo com Kosawa
(2003), corroborado pelo relato do atual presidente da Colônia de Pescadores Z-7
Itaipu/Maricá (Sr. Aurivaldo), os pescadores artesanais de Itaipu, devido à crescente escassez
de peixe, originada pelas condições ambientais e a sobrepesca, venderam suas casas,
mudaram-se para bairros distantes e possuem outra atividade paralela à pesca.
Figura 16: Residentes nos bairros de estudo.
p – valor = 0,01 < α = 0,05. A maricultura pode ser uma atividade de fixação dos pescadores próximo da enseada
de Itaipu, apesar da concordância com Diegues (1983), quando descreve que pescadores são,
na essência, caçadores e maricultores são produtores. A absorção deste novo paradigma pelo
pescador não envolve somente técnica e aspectos econômicos, mas mudanças do modo de
viver, com todas as suas implicações sociais e culturais.
Foi observado que existe uma predominância, nos dois grupos estudados, do sexo
masculino, com idade acima de 31 anos e escolaridade média até o 1o grau e; há tendência, de
cada família ter até 3 filhos. No entanto, Vinatea (2000), relata que a maioria dos pescadores
catarinenses dedicados ao cultivo de mexilhões tem idades entre 20 e 50 anos, são casados e
não completaram o primeiro grau. O nível de escolaridade diagnosticado é um dado de
grande relevância para os órgãos gestores e tomadores de decisões, responsáveis pelo fomento
da maricultura. Segundo Carvalho (2001), o grau de associativismo e ação coletiva, será
diferenciado conforme o capital cultural e econômico do ator social. A escolaridade poderá
contribuir para o aprendizado sistemático das técnicas de cultivo por estes atores, resultando
em maior adaptação e domínio de técnicas, otimizando resultados. Portanto, é fundamental
5248
85,2
14,8
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Residentes Não residentes
Por
cent
agem
(%)
Itaipu Jurujuba
50 que os gestores considerem programas direcionados de educação continuada para adultos
nestas comunidades.
No que se refere ao gênero, apesar de Jurujuba, apresentar reduzido número de
mulheres associadas à ALMARJ, foi possível destacar-se a inclusão da mão-de-obra feminina
(esposas dos associados), no processo produtivo da maricultura, principalmente, através da
participação no trabalho de beneficiamento do mexilhão e confecção de redes. Vinatea
(2000), explica que em Santa Catarina o fato das mulheres dos maricultores trabalharem nas
fazendas marinhas, junto aos maridos, representa uma mudança na relação de gênero existente
nesse grupo humano no que diz respeito à divisão do trabalho. No entanto, apesar do reduzido
número de mulheres entrevistadas, como resultado do presente trabalho, na enseada de Itaipu
sugere, de acordo com Kant de Lima e Pereira (1997), que a pesca artesanal é função
essencialmente masculina. Esta constatação pode contribuir à confirmação de um interessante
efeito provocativo da maricultura (nova tecnologia) ao universo simbólico do grupo de Itaipu.
De acordo com Kant de Lima e Pereira (1997) e Vinatea (2000), a pesca (método artesanal
clássico) é vista tradicionalmente como uma atividade exclusivamente masculina (ou mesmo
machista) pelos pescadores tradicionais.
Com o objetivo de avaliar a tradição familiar na pesca, foi possível observar que em
Itaipu, essa prática passa de avós para os filhos e netos (76% dos avós eram pescadores). No
caso de Jurujuba isso não se confirmou: apenas 22,2% dos entrevistados declararam que seus
avós eram pescadores (Figura 17). Este resultado respalda o depoimento do presidente da
ALMARJ no qual informou que os maricultores, na sua maioria, são de origem rural,
provenientes do nordeste brasileiro, fato este que pode estar correlacionado com a excelente
adaptação cultural na “lida” com fazendas marinhas.
76
2422,2
77,8
01020
30405060
708090
Sim Não
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 17: Tradição familiar (avós pescadores). p – valor = 0 < α = 0,05
51
No entanto, em ambas as regiões pesquisadas, a maioria dos entrevistados informou
que seus pais foram ou ainda são pescadores. Nestes dois grupos, foi visto que há uma
dependência total dos recursos marinhos para a renda familiar. Tanto no grupo de Itaipu
quanto de Jurujuba, há uma tendência de até 2 membros das respectivas famílias se ocuparem
com o trabalho no mar. Os filhos são os maiores colaboradores quando comparados com os
irmãos e cônjuge. Entretanto, este fato isolado, não pode ser interpretado como um indicador
de que jovens seguirão necessariamente o ofício de seus pais. Tal precaução deve-se ao fato
do presente estudo ter sido desprovido de tal objetivo.
A prática da pesca artesanal, para ambos os grupos estudados, ainda é de fundamental
importância à renda familiar. Vinatea (2000) confirma essa tendência no caso dos
maricultores de Florianópolis, quando afirma que a mão-de-obra é essencialmente familiar e
60% associam a atividade de pesca com a de cultivo. Os maricultores (também pescadores),
que trabalham de cinco a sete dias por semana, tendem a trabalhar, no máximo, até seis horas
no cultivo, enquanto os que trabalham no máximo três vezes por semana, como maricultores
que possuem outras atividades além da pesca, chegam a trabalhar doze horas em um dia,
tentando compensar os dias em que não entraram no mar.
De acordo com a metodologia proposta neste estudo, 100% dos entrevistados de
Jurujuba e Itaipu estavam devidamente cadastrados nas suas respectivas associações de
maricultores e pescadores. No entanto, quando questionados sobre sua principal ocupação
(Figura 18), no grupo de Itaipu, 80% dos entrevistados consideram-se pescadores, 20%
marisqueiros e pescadores e nenhum dos entrevistados se considera maricultor. Este resultado,
corroborado por Kosawa (2003), sugere a forte cultura pesqueira do grupo estudado na
enseada de Itaipu; e leva a crer tratar-se de conflituosa, a possível transição da atividade de
pescador para mitilicultor. No caso de Jurujuba, 55,6% se consideram marisqueiros e
pescadores; 40,7% maricultores e apenas 3,7% pescadores. Estes dados convergem com os de
Machado (2002), que constatou aproximadamente 50% dos seus entrevistados, em
Florianópolis, alegando viver exclusivamente da maricultura.
É importante considerar que o grupo estudado em Jurujuba não possui uma tradição
pesqueira tão forte como o de Itaipu e, tradicionalmente, produzem mexilhão com apoio da
sólida estrutura da ALMARJ e, ainda assim, somente 40,7% se consideram maricultores.
Estes dados sugerem que a maricultura é uma atividade atraente para a possível fixação de
pescadores em suas regiões, porém não pode ser encarado como uma panacéia na resolução
dos conflitos socioeconômicos dos pescadores artesanais.
52
20
80
55,6
3,7
40,7
0
20
40
60
80
100
marisqueiro epescador
pescador maricultor
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba Figura 18: Principal ocupação.
p – valor = 0 < α = 0,05
Quanto à renda mensal, tanto no grupo de Itaipu quanto no de Jurujuba, esta aumenta
no verão (dez., jan. e fev.) e diminui no inverno (jun., jul. e ago.). Este fato, segundo a
maioria dos entrevistados, se deve às melhores condições de maré e clima no verão, que
proporcionam maior quantidade de mexilhão e melhores condições para a pesca artesanal e
coleta de mariscos nos costões naturais. Esta justificativa pode alertar para um conflito entre
instrumentos legais de proteção dos bancos naturais e o período que, a princípio, ocorre maior
acesso aos mesmos. Esta consideração se justifica pelo fato que, o período de defeso dos
bancos naturais de mexilhão, previsto na portaria do IBAMA (anexo 1, pág. 94) contempla,
entre outros, os meses de janeiro e fevereiro e que estes meses, como visto, representam os
dois melhores períodos de coleta de mexilhão nos costões naturais (BRASIL, 2003a). Neste
sentido, tal instrumento normativo Federal pode não estar sendo eficaz na proteção dos
bancos naturais, assim como a Constituição Estadual do Rio de Janeiro de 1988, que
determina como áreas de preservação permanente (APP) os costões rochosos, legitimando o
seu caráter de intocabilidade (anexo 5, pág. 98).
A periodicidade de renda familiar no grupo de Itaipu foi de 88% de ganho semanal,
4% quinzenal e 8% mensal (Figura 19). Porém, em Jurujuba, 37% tem ganho semanal e
quinzenal e 25,9% mensal. Esta diferença pode ser explicada por ser o grupo de Itaipu
composto, essencialmente, por pescadores e, de acordo com o observado por Diegues (1983),
a renda do pescador artesanal tende a ser de diária a semanal. Conforme dados do censo 2000
do IBGE (anexo 3, pág. 97), ambos os grupos estudados estão na faixa dos 11,7% dos
habitantes de Niterói que possuem rendimento médio mensal de 1 a 2 salários mínimos.
53
88
48
37 37
25,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
semanal quinzenal mensal
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba Figura 19: Periodicidade do rendimento.
p – valor = 0 < α = 0,05
Vinatea (2000) demonstrou que em duas comunidades na região da Grande
Florianópolis (SC), onde a maricultura marca presença há vários anos, a renda média mensal
(5 salários mínimos) dos produtores de mexilhões e ostras tende a ser mais do que o dobro
daquela aferida pelos pescadores artesanais (2 salários mínimos). Esta realidade não foi
diagnosticada neste estudo, pois a maioria dos entrevistados, tanto dos pescadores de Itaipu e
os maricultores associados a ALMARJ, responderam que possuem uma renda mensal entre
R$301,00 a R$500,00 reais. Nesse contexto, Machado (2002) constatou que apenas 20% dos
produtores de mexilhões instalados no Município de Governador Celso Ramos (SC)
obtiveram entre 5 e 10 salários mínimos; enquanto os demais, se mantiveram entre 1 e 4
salários mínimos. Fazendo uma reflexão entre os dados acima e considerando o valor
referência do salário mínimo atual de R$300,00, os grupos de Itaipu e Jurujuba,
comparativamente aproximam-se dos rendimentos mensais da maioria dos maricultores da
cidade de Governador Celso Ramos, apesar da maior tradição maricultora do Estado de Santa
Catarina.
54
Quadro 5: Quadro demonstrativo de aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠ n.s.)
Idade* 31 anos Gênero Predominância masculino Escolaridade* Até 1o grau No de filhos* Até 3 filhos Pais pescadores Exercem ou exerceram Membros da família que trabalham com o mar
Até 2 membros
Maiores colaboradores no trabalho no mar Filhos (em relação a cônjuge e irmãos) Importância da pesca artesanal para renda familiar
Total ou complemento
Período de maior/menor renda proveniente do mar
>> verão (dez., jan. e fev.) / << inverno (jun., jul. e ago)
Rendimento * mensal proveniente do mar De 1 a 2 salário mínimo (sm = R$300,00) Associativismo Sim * média
6.2 PERFIL HIGIÊNICO-SANITÁRIO DO AMBIENTE RESIDENCIAL
Embasado na metodologia do CIDE 2003, que utiliza o tema habitação, buscou-se
demonstrar aspectos qualitativos e quantitativos das condições físicas das moradias e acesso
aos serviços urbanos, com objetivo de avaliar a demanda social por investimentos em infra-
estrutura sanitária básica das regiões estudadas.
A maioria dos entrevistados de ambas as regiões consideraram suas moradias de boa
qualidade, sendo 100% das residências construídas de alvenaria. Quando perguntados sobre o
tipo de cobertura das mesmas, em Jurujuba 88,9% responderam laje e em Itaipu 76% telhas
(Figura 20). De acordo com Herculano (2000), amenidades habitacionais como estas são
consideradas recursos efetivos para qualidade de vida. No entanto, embasado em Ribeiro
(2004), o fato destas residências não serem construídas de zinco e madeira reutilizada, como
nos primórdios das “vilas”, não garante a existência de condições de salubridade, próprias
para uma vida digna.
O fato de 100% dos entrevistados considerarem suas residências de boa qualidade
pode estar relacionado com a “felicidade” destes atores, apreciada, empiricamente, pelo
entrevistador no convívio em trabalho de campo. Vale ressaltar que a história de vida da
maioria dos entrevistados, principalmente em Jurujuba, remete-nos à reflexão que suas
moradias representam uma conquista no padrão de vida.
55
76
24
11,1
88,9
010
2030
405060
7080
90100
telha laje
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 20 – Cobertura das residências. p – valor = 0 < α = 0,05
Segundo Vinatea (2000), a maioria das famílias maricultoras de Florianópolis não
criam animais; a mesma tendência foi notificada nos grupos de Itaipu e Jurujuba. Este dado é
importante, do ponto de vista higiênico-sanitário, por mitigar o risco epidemiológico
intrínseco na convivência de animais e manipuladores de alimento. No caso, há de se ressaltar
que os grupos estudados manipulam pescados e bivalves, destinados ao consumo humano.
Nas duas regiões estudadas, 100% das residências possuem energia elétrica e
abastecimento de água canalizada, não sendo notificado o suprimento a partir de água de
poço. A maioria dos entrevistados em Itaipu (92,0%) e Jurujuba (81,5%) respondeu que não
ocorre falta de água. Este resultado e o da SECITEC (2001), que demonstra a percentagem de
78,34% de domicílios servidos por água encanada no município de Niterói (anexo 3, pág. 97),
sugerem quadro favorável à Saúde Pública. Barcellos (1998), explica que nas últimas décadas
ocorreu no Brasil incremento nos serviços de abastecimento de água em regiões
metropolitanas. O mesmo autor chama a atenção que a água servida à população da cidade do
Rio de Janeiro está relacionada à sua quantidade e que a presença de coliformes e baixas
concentrações de cloro livre, podem exprimir problemas de abastecimento. No entanto, vários
problemas ainda são encontrados no que tange à avaliação de aspectos qualitativos e
quantitativos do abastecimento de água coletivo.
Corroborado por Philippi Jr. (2005), é fácil concordar com o Barcellos (1998) no
tocante à qualidade da água de uma rede de distribuidora ser fortemente relacionada ao seu
regime de distribuição, características de projeto e operação do sistema de abastecimento.
Variações de pressão interna da canalização podem facilitar vazamentos, infiltrações e
provocar contaminação. Neste sentido, apesar do acesso a água pelos grupos estudados, deve
56 ser considerada a adequação às condições de potabilidade estabelecidas pela Portaria 518/04
do Ministério da Saúde, que revogou a Portaria 1469/00 (BRASIL, 2004).
Há uma preocupação evidente quanto à higienização dos reservatórios de água (caixa
de água, cisternas e outros), sendo que esta ocorre mais de uma vez por ano na maioria das
residências; tanto de Jurujuba (92,6%) como de Itaipu (84%). Esta prática pode ser resultado
das campanhas de controle do Dengue nos últimos anos, refletindo um trabalho de
conscientização realizado pelas equipes de saúde dos respectivos Distritos Sanitários do
município.
A totalidade dos grupos entrevistados não faz nenhum tipo de tratamento de água por
considerar a água da distribuidora adequadamente tratada; possuem, somente, o hábito de
filtrar e armazenar em refrigeração a água para beber. Para Hoffmann (1995), é indicada a
cloração como tratamento da água sempre que exista dúvida com relação à sua qualidade
microbiológica. Para Philippi Jr. (1995), o processo de filtração e refrigeração da água para
consumo não garante a produção de água inócua à saúde. Deve ser ressaltada a importância,
para a Saúde Pública, da manutenção e limpeza dos filtros, por ser este capaz de reter
parcialmente a matéria orgânica presente na água o que, em certas condições, favorece o
desenvolvimento bacteriano, podendo assim comprometer a potabilidade da água que se
pretende filtrar.
Segundo Shuval (2003), os gestores municipais de ambientes costeiros de
potencialidade para maricultura, devem considerar o risco à saúde pública de doenças
talassogênicas, principalmente por serem os bivalves marinhos filtradores por excelência.
Tundisi (2005) reforça essa consideração, afirmando que municípios costeiros carentes de
saneamento apresentam altas taxas de mortalidade por gastrenterite.
Machado (2002) considera que a baía de Florianópolis (SC) sofre significativo
impacto de emissão de esgoto doméstico in natura. Quanto aos ambientes de Itaipu e
Jurujuba, as respostas revelaram que o sistema de esgotamento sanitário das residências do
grupo estudado em Itaipu é composto por 36% de rede geral coletora (RGC), 16% por rede
não convencional (valas, rede pluvial, rios, lagos, solo e mar) e 48% por fossa séptica (FS).
No caso de Jurujuba, nenhuma residência estava conectada à rede geral coletora, 88,9%
direcionava o esgoto bruto para a rede não convencional (RNC) e 11,1% possuíam fossa
séptica (Figura 21A). Quanto a este aspecto, ainda foi detectado que, do grupo de Itaipu, 72%
das residências estavam equipadas com caixa de gordura (CG) e em Jurujuba apenas 7,4 %.
57
36
16
48
88,9
11,1
0
20
40
60
80
100
RGC RNC FS
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
4456
3,7
96,3
0
20
40
60
80
100
120
adequado inadequado
Por
cent
agem
(%)
Itaipu Jurujuba
p – valor = 0 < α = 0,05 p – valor = 0,001 < α = 0,05 Figura 21: Sistema de esgotamento sanitário residencial (A); Adequação do sistema de esgotamento sanitário (B )
No entanto, quanto à percepção da adequação do sistema de esgotamento sanitário,
44% dos entrevistados de Itaipu consideram adequados e 56% inadequados; já no grupo de
Jurujuba, apenas 3,7% consideram adequados e 96,3% inadequados (Figura 21B). Nota-se a
coerência da percepção de inadequação pelos entrevistados de Jurujuba com a expressiva
percentagem de Rede Não Convencional. Da mesma maneira, em Itaipu, foi possível observar
a relação do julgamento de adequação pelos entrevistados e a maior presença de Rede
Convencional de esgotamento sanitário (RGC, FS e CG).
Contraditoriamente à percepção demonstrada anteriormente, dados fornecidos pela
Concessionária da Águas de Niterói (Quadro 5) revelaram uma expressiva percentagem
(90%) de rede geral coletora de esgoto conectada no bairro de Jurujuba. Há de se refletir que
os dados da entrevista realizada em Jurujuba se referem à realidade encontrada no mês de
abril do ano de 2005, e a ETE de Jurujuba, conforme informado pela Concessionária, passou a
funcionar a partir de setembro do ano de 2005 (RIGHETTO, 2005).
Quadro 6: Perfil das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) de Jurujuba e Itaipu (Concessionária Águas de Niterói).
ETE Inauguração Tratamento Sistema de
Captação Capacidade de Suporte
RGC conectada
Jurujuba 27/09/05 Terciário Separador Absoluto
10.000 hab 90%
Itaipu 15/01/04 Terciário Separador Absoluto
35.000 hab 80%
Fonte: RIGHETTO, 2005
A B
58
Assim, faz-se necessário, no caso de Jurujuba, reavaliar a percepção destes atores do
atual sistema de esgotamento sanitário. No caso de Itaipu, não se pode considerar que os
dados obtidos nas entrevistas expressem o perfil sanitário naquele ambiente costeiro, pois
como já demonstrado, 48% dos entrevistados não residem no bairro. Há de se considerar, no
entanto, a presença do poder municipal de Niterói, através da Concessionária Águas de
Niterói, na busca de melhores condições sanitárias em ambas as regiões de potencialidade
para mitilicultura.
É possível observar que a estratégia de privatização dos serviços de distribuição de
água potável e tratamento de esgoto, como no caso do município de Niterói, a princípio,
poderá atender as obrigações sanitárias do Estado para com a população. No entanto, Philippi
Jr. (2005), demonstra que nos países onde existem coleta e tratamento de esgoto, pouco se
conhece da eficiência do sistema e grau de contaminação. O mesmo autor afirma que esse
processo pode se agravar com a privatização que vem ocorrendo na América do Sul, na
medida em que o poder concedente não tiver capacidade de fiscalização adequada.
Segundo Philippi Jr. (2005), o sistema de tratamento terciário de águas residuárias,
promove com eficiência a remoção de compostos tóxicos, não biodegradáveis e,
principalmente, nutrientes como fósforo e nitrogênio, fundamentais no processo de
eutrofização de ambientes costeiros. Destaca o autor, que a captação por separador absoluto é
formada por dois sistemas de canalização, um recebedor das águas residuais e outro das águas
pluviais, sendo que o primeiro representa maior risco de agravo à Saúde em relação às águas
de chuva. No entanto, o sistema de drenagem pluvial direciona o efluente diretamente para as
unidades hidrográficas e ambientes costeiros, sem ser previamente direcionado para a ETE,
como no caso da drenagem de águas residuárias.
Conforme Machado et al., (2000), em regiões costeiras de grande densidade
demográfica, os episódios de chuva, principalmente os de grande volume em curto período,
lavam os sistemas de drenagem carreando sólidos e orgânicos, impactando as enseadas. Nesse
sentido, os parâmetros microbiológicos e químicos do ambiente marinho podem ser alterados
e interferirem, por um período, na balneabilidade e na qualidade sanitária dos mariscos.
Daqueles que possuem fossa séptica, tanto em Jurujuba quanto em Itaipu, a maioria
realiza higienização e 100% dos entrevistados nos dois grupos responderam que o destino
final do lixo residencial é a coleta pública. No caso da percepção da pavimentação dos bairros
de moradia ambos os grupos, na sua maioria, consideraram insuficiente.
Philippi Jr. (2005) destaca que o sistema fossa séptica utiliza um tanque de
sedimentação dimensionado para remoção de sólidos sedimentáveis. O material retido
59 permanece no fundo do tanque, em condições anaeróbicas e estabiliza-se após alguns meses.
A limpeza desse tanque deve ocorrer uma vez por ano, alertando para deixar um resíduo de
lodo para acelerar o processo de digestão microbiana anaeróbica. Esse sistema é convencional
em locais desprovidos de rede geral coletora de esgoto. No entanto, Pessoa e Jordão (1982)
alertam que o efluente líquido (escuma) e o sólido (lodo) do tanque séptico oferecem risco à
Saúde, porém em comparação com o esgoto in natura, são caracterizados por oferecerem
melhores condições de segurança sanitária.
Neste sentido, Imhoff (1996) alerta para o fato de que, em locais onde se adotam o
sistema de tanque séptico, é de fundamental importância o apoio do poder público relativo a
orientação de limpeza do tanque e destino sanitário final do lodo. Philippi Jr. (2005) orienta
que a escuma, poderá ser enviada para vala de infiltração e sumidouro e; de forma a melhorar
a eficiência da remoção da carga orgânica desse sistema (redução da DBO de 70 a 90%), um
filtro anaeróbico deve ser acoplado após o tanque séptico e a caixa de gordura, anteriormente.
No caso da coleta dos resíduos sólidos, os resultados das entrevistas demonstraram
eficiência sanitária nas áreas estudadas e este resultado é compatível com o observado no
município de Niterói, onde 96,92% do lixo domiciliar é coletado (anexo 3, pág. 97). Philippi
Jr. (1995) explica que os resíduos sólidos manejados inadequadamente oferecem alimento e
abrigo para muitos vetores de doenças. Além disso, a decomposição dos resíduos e a
formação de lixiviados podem levar à contaminação do solo, de águas subterrâneas e coleção
de águas como unidades hidrográficas e ambientes estuarinos. Essa contaminação
normalmente apresenta substâncias orgânicas, microrganismos patogênicos e inúmeros
contaminantes químicos que colocam em risco a Saúde.
60
Quadro 7: Quadro demonstrativo de aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠ n.s.) Percepção da qualidade da moradia boa Amenidades habitacionais paredes: alvenaria Presença de Animais de estimação não Energia Elétrica sim Abastecimento de água encanada por rede coletiva (RC)
sim
Ocorrência sistemática de Falta de água pela RC
não
Utilização da água de poço não Periodicidade da higienização dos reservatórios de água
mais de 1 vez/ano (caixa de água/cisterna)
Tratamento da água para consumo filtração, armazenamento e refrigeração Realização de higienização da fossa séptica
sim
Destino final do lixo residencial coleta pública Percepção da pavimentação nos bairros insuficiente
6.3 USO E QUALIDADE DO AMBIENTE COSTEIRO
Segundo Kandel et al., (2003), a interação com o meio ambiente que nos cerca
ocorre através de uma série de sentidos (visão, audição, paladar e olfato), além dos sentidos
especiais (forma, harmonia, equilíbrio, espaço e lugar). A percepção da degradação ambiental,
leva em consideração que qualquer paisagem é composta não apenas pelo que se percebe
através dos sentidos, mas por experiência, aprendizado, imaginação e memória do indivíduo.
Nesse sentido, foi perguntado aos entrevistados as suas opiniões sobre a qualidade
ambiental da enseada na qual atuam. Em Itaipu 52% consideraram o mar da região limpo e
48% sujo, já em Jurujuba, 96,3% opinaram que o mar da região é sujo e apenas 3,7%
consideraram o mar limpo (Figura 22A). No entanto, foi observada uma tendência em ambos
os grupos de considerarem as praias das respectivas enseadas sujas (Quadro 9).
61
52 48
3,7
96,3
0
20
40
60
80
100
120
limpo sujo
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
80
812
44,4
14,8
40,7
0
20
40
60
80
100
cor odor ausência delixo
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba p - valor = 0 < α = 0,05 p - valor = 0,024 < α = 0,05
Figura 22: Percepção da qualidade ambiental das enseadas. Percepção quanto a sujidade e limpeza do mar da região (A) e Avaliação da limpeza do mar pelo entrevistado (B).
Entre os parâmetros empregados pelos entrevistados, em Itaipu, para avaliarem a
limpeza do mar, 80% utilizaram a cor da água, 12% a ausência de lixo e 8% o odor. Em
Jurujuba 44,4% utilizaram a cor, 40,7% ausência de lixo e 14,8% o odor (Figura 22B). Vale a
pena ressaltar que ambos os grupos entrevistados perceberam a sujidade do mar utilizando, na
sua maioria, os parâmetros da cor da água e a presença de lixo no mar. Nesse sentido, a
percepção ambiental da praia/mar revelou-se principalmente visual e subjetiva. No entanto o
grupo de Jurujuba percebeu a degradação ambiental muito mais presente do que o de Itaipu.
88
123,7
96,3
0102030405060708090
100
mar coleta pública
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 23: Percepção dos problemas existentes no mar da região, para o cultivo marinho.
p - valor = 0,046 < α = 0,05
Tanto os entrevistados de Itaipu (76%) como os de Jurujuba (96,3%) identificaram a
poluição como o maior problema existente no mar da região para o cultivo marinho (Figura
23). O turismo é considerado como principal problema para uma parcela menor dos
entrevistados; tanto de Itaipu (24%), quanto de Jurujuba (3,7%).
A B
62
A percepção de poluição no mar de Itaipu procede, segundo Kosawa (2003); que
concluiu na ocasião de seu estudo, ser “imprópria” a qualidade da água para extração e cultivo
de bivalves na maioria das estações de coleta localizados na enseada de Itaipu. No caso da
enseada de Jurujuba, segundo Pereira (2003), é real o risco sanitário e ambiental das águas da
Baía da Guanabara em relação ao cultivo e consumo de mariscos. No seu trabalho, a referida
autora isolou da carne de mexilhões oriundos de diversos pontos da Baía de Guanabara,
alguns dos quais com elevadíssimos índices de poluição, microrganismos potencialmente
patogênicos para os seres humanos. Essas pesquisas indicam que os órgãos competentes
deveriam monitorar a qualidade da água e o do marisco desses ambientes marinhos com
potencialidade para a mitilicultura.
84
16
51,9 48,1
0
20
40
60
80
100
trânsito deembarcações
indústria de petróleo
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba Figura 24: Percepção das atividades existentes no mar da região que podem ser prejudiciais ao cultivo marinho.
p - valor = 0,014 < α = 0,05
Os grandes agentes prejudiciais ao cultivo marinho no bairro de Itaipu foram: trânsito
de embarcações (84%) e a indústria de petróleo (16%) presente na Baía de Guanabara. Em
Jurujuba, 51,9% consideraram prejudicial ao cultivo marinho o trânsito de embarcações na
enseada e 48,1% a presença da indústria do petróleo na Baía da Guanabara. Jurujuba
apresentou percentuais próximos na percepção dos impactos, tanto da indústria como das
embarcações. No entanto, Itaipu considera de maior impacto as embarcações (Figura 24).
A maioria dos entrevistados de Jurujuba (96,3%) e de Itaipu (80%) utiliza o mar e a
praia da região para atividades extra ocupacionais, sendo que o lazer representa 90% em
Itaipu e 61,5% em Jurujuba (Figura 25).
63
90
10
61,5
38,5
0102030405060708090
100
lazer cata de mariscoe pesca
comércio
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 25: Atividades extra ocupacionais no mar ou praia da região.
p - valor = 0 < α = 0,05
De acordo com Vinatea (2000), a atividade de ordenamento da mitilicultura é
considerada de vital importância para evitar os possíveis conflitos que possam vir a surgir em
decorrência da implantação de parque aqüícola (Quadro 8). Ressalta que no ordenamento de
áreas de potencial para maricultura devem ser observados os seguintes critérios: zonas
abrigadas de ventos e correntes marítimas fortes, profundidade maior ou igual a 1,5 metro,
afastamento de locais de tráfego de embarcações, ancoradouros, áreas tradicionais de pesca e
praias utilizadas para lazer, esporte e turismo.
Quadro 8: Usos efetivos dos recursos costeiros e suas conseqüências ambientais e sociais negativas, pelos atores estudados em Florianópolis (SC).
ATORES USO EFETIVO
DOS RECUSOS CONSEQÜÊNCIA AMBIENTAL
NEGATIVA CONSEQÜÊNCIA SOCIAL NEGATIVA
Maricultores
Cultivo
Sobrecarga dos fundos litorâneos por biodeposição de sedimentos
Colapso da maricultura e da pesca a longo prazo.
Pescadores
Pesca
Impacto nos estoques pesqueiros devido ao excessivo esforço de pesca e à prática de técnicas de captura predatórias.
Colapso irreversível da pesca artesanal e desaparecimento de comunidades pesqueiras com a conseqüente perda do seu patrimônio sociocultural.
Moradores
Lazer
Degradação da qualidade da água das baías pelo despejo de esgotos domésticos sem tratamento; expansão urbana desordenada; especulação imobiliária.
Diminuição da balneabilidade e risco à saúde pública pela contaminação da água, dos moluscos e do pescado com coliformes fecais; impacto na pesca e na maricultura pela retração do mercado consumidor.
Fonte: Vinatea (2000)
64
Desse modo é conveniente lembrar aos tomadores de decisão, que tanto a enseada de
Itaipu como de Jurujuba apresentam elementos geradores de conflitos para o ordenamento da
mitilicultura. Assim sugere o resultado das entrevistas e a observação em trabalho de campo
efetuadas no presente estudo. No caso, foram destacados os seguintes possíveis geradores de
conflitos: tráfego de embarcações, ancoradouros, áreas tradicionais de pesca, proximidade de
pólo industrial e enseadas utilizadas para lazer, esporte e turismo. Assim fundamentado, é
possível suspeitar-se que os principais conflitos sejam as embarcações turísticas e de pesca na
enseada de Itaipu (Figura 26) e a indústria de petróleo e embarcações na enseada de Jurujuba.
Figura 26: Embarcações na enseada de Itaipu.
Como pode ser avaliado, até o momento, os grupos entrevistados consideram a
poluição por emissão de esgoto in natura e a presença da indústria do petróleo na Baía da
Guanabara agravos ambientais relevantes nas áreas estudadas. Há de se estranhar que a
poluição gerada na Baía de Guanabara seja percebida no grupo estudado em Itaipu, apesar
desta não estar inserida na baía como é o caso da enseada de Jurujuba. Os pescadores fizeram
relatos ao entrevistador, que é comum vir do fundo da enseada, na rede de pesca, materiais
como pneus, porta de geladeira, lataria de veículo, lama preta e outras sujidades que julgam
ser provenientes da Baía da Guanabara. Esta percepção foi compartilhada pelo Presidente da
Associação de Pescadores de Itaipu, que informou: “é comum a prática do ‘bota fora’ do
material de dragagem da Baía de Guanabara, próxima a Ilha do Pai, ao invés de 12 milhas do
farol da Ilha Rasa”. A partir destas informações, fica perceptível a necessidade de
65 investigações sobre a origem dos citados materiais encontrados pelos pescadores na enseada
de Itaipu.
20
80
48,1 51,9
01020
30405060
708090
Conhece Não conhece
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 27: Conhecimento sobre a Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), caráter restritivo no acesso aos costões naturais (APP) - extração de marisco.
p - valor = 0,033 < α = 0,05
O presente estudo procurou dar destaque à percepção do maricultor sobre a relação
meio ambiente e o cultivo em si. No que se refere ao conhecimento da Constituição Estadual
do Rio de Janeiro de 1988; e seu caráter restritivo no acesso aos bancos naturais (APPs) para
extração de sementes (anexo 5, pág. 98). Foi observado que 48,1% dos entrevistados de
Jurujuba declararam ter conhecimento, enquanto em Itaipu apenas 20% (Figura 27).
D`Avignon (2001), relata que uma das principais dificuldades da mitilicultura no Estado do
Rio de Janeiro, é a obtenção de sementes, por ser o litoral retilíneo e com grande energia de
marés as sementes não apresentam um indicie favorável de fixação natural. A dificuldade
agrava-se em razão dos costões rochosos serem considerados como área de preservação
permanente pela Constituição Estadual. No entanto o SEBRAE (2002) classifica a Baía de
Guanabara como exportadora de sementes por apresentar grande quantidade de mariscos
aderidos nos costões rochosos. Nesse sentido, Jurujuba encontra-se em região privilegiada à
obtenção de sementes.
66
80
2022,2
77,8
0
20
40
60
80
100
aceitável inaceitável
Por
cent
agem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 28: Opinião sobre a Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), caráter restritivo no acesso aos costões naturais (APP) - extração de marisco
p - valor = 0 < α = 0,05.
No entanto, 80% dos entrevistados em Itaipu consideraram aceitável a Constituição
Estadual e, em Jurujuba, apenas 22,2% (Figura 28). Com base em Vinatea (2000), esta
significativa diferença de julgamento em relação à proibição da coleta de marisco nos bancos
naturais, expressa as diferentes formas de apropriação dos recursos costeiros por esses grupos
de atores sociais. Estes dados apontam para uma cultura essencialmente pesqueira em Itaipu,
caracterizada pela pesca artesanal de subsistência e em Jurujuba, a predominância de uma
cultura marisqueira comercial, no grupo estudado.
20 20
6069,2
26,9
3,80
20
40
60
80
100
sobrevivência defeso queda pescacostões
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba Figura 29: Motivo da opinião sobre o caráter restritivo da Constituição Estadual do Rio de Janeiro (1988), ao acesso aos costões naturais para extração de marisco.
p - valor = 0 < α = 0,05
O resultado das entrevistas, em ambos os grupos, a respeito da motivação das opiniões
sobre a restrição à catação de marisco nos bancos naturais (Figura 29), reforça as diferentes
formas de apropriação dos mesmos, como sugerido anteriormente. Estes dados revelam que a
67 cata de mariscos nos costões naturais se caracteriza, para 69,2% dos entrevistados de Jurujuba
e somente por 20% dos entrevistados de Itaipu, como fonte de renda. Na opinião de 26,9%
dos entrevistados de Jurujuba a restrição é justificável, desde que aplicada como defeso na
coleta de sementes; a mesma opinião foi compartilhada por somente 20% dos entrevistados de
Itaipu. No entanto, 60% dos entrevistados de Itaipu e somente 3,8% de Jurujuba consideraram
a proibição justificável, devido ao impacto que o extrativismo de marisco provoca nos
ecossistemas dos costões, levando à queda do potencial pesqueiro próximo aos bancos
naturais.
A Portaria do IBAMA no 9/2003 (anexo 1, pág. 94) não proíbe a coleta de sementes
nos bancos naturais, mas regulamenta tal prática aos maricultores desde que respeitando-se o
período de defeso. Os maricultores de Jurujuba consideram essa Portaria inviável no que se
refere às exigências quanto à quantidade máxima e a forma de extração permitida. No entanto,
é possível que, para haver maior assimilação dessa regulamentação por parte desses
maricultores, seja necessário o ordenamento e outorga e conseqüente licenciamento ambiental
no Estado do Rio de Janeiro da maricultura, conforme determina o Decreto da União no 4895
de 2003, citado no cap. 3.1.2. Vale destacar a necessidade de que os órgãos competentes
tratem do conflito normativo restritivo do acesso aos costões rochosos (Constituição Estadual
do Rio de Janeiro/88) e liberem o acesso aos mesmos em período de defeso (Portaria do
IBAMA no 9/03), como visto anteriormente neste estudo. É conveniente ressaltar que o
presidente da ALMARJ considera insatisfatória a quantidade de sementes capturadas pelos
coletores artificiais.
4456
3,7
96,3
0
20
40
60
80
100
120
Contra A favor
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 30: Outorga de áreas para implantação de parques aqüícolas.
p - valor = 0,001 < α = 0,05
68
No que se refere à outorga de áreas para implantação de parques aqüícolas, 56% em
Itaipu responderam favoravelmente e em Jurujuba 96,3% (Figura 30), sendo que aqueles
favoráveis à outorga, tanto em Jurujuba quanto em Itaipu, justificaram a opinião considerando
a importância desta para o complemento de renda e para o ordenamento dos parques nas
enseadas. Os dados acima revelam o grupo de Itaipu tendendo a ter uma reserva quanto ao
ordenamento da maricultura, comparado com o grupo de Jurujuba. A resistência à idéia da
outorga de parques aqüícola por parte do grupo de Itaipu pode ser explicada pelo fato destes
atores serem essencialmente pescadores artesanais extrativistas, que usam a enseada para
pesca e aportar seus barcos para comercializar o pescado na praia. Neste sentido, consideram
a possibilidade de conflito entre as fazendas marinhas e as atividades por eles praticadas na
enseada. Ressalta-se que o presidente da Colônia de Pescadores e outros entrevistados
relataram o receio de que a outorga venha ser um mecanismo de legitimação de apropriação
da enseada e da lagoa de Itaipu por parte de empresários e outros atores e não pelos
pescadores que dependem da pesca para sua sobrevivência. É perceptível, dentre diversos dos
entrevistados, o sentimento de risco da apropriação do ambiente costeiro de Itaipu pelo
“capital”.
Com base nas afirmações de Leroy e colaboradores (2002), é possível entender-se que
transformar as camadas populares em sujeitos políticos de seu ambiente material, econômico
e cultural é um desafio na construção de uma sustentabilidade democrática no Brasil. Neste
sentido, são perfeitamente admissíveis a priorização das populações tradicionais e a inclusão
social, por parte dos tomadores de decisão e atores envolvidos, no processo de ordenamento e
outorga de ambientes costeiros com potencial para maricultura, conforme devidamente
orientado pela Lei Federal 4895/03.
Meio ambiente e sustentabilidade é, antes de tudo, um espaço de luta política e social
pela emancipação, pela superação do estado de exploração, invisibilidade e marginalização
em que vive a maior parte da sociedade (LEROY et al., 2002).
A maricultura pode ser agente (segundo VINATEA, 2001) de aumento dos estoques
pesqueiros pelo incremento da biodiversidade ao redor das estruturas de cultivo, diminuição
do esforço de pesca sobre os estoques naturais e preservação da qualidade da água costeira.
Neste caso fica explícito o potencial de revitalização da pesca artesanal, através da
mitilicultura.
No caso dos maricultores de Jurujuba, os resultados encontrados estão concordantes às
afirmações de D`Avignon (2001). A ALMARJ busca diminuir o estado de desigualdade
69 socioambiental dos atores associados, buscando representatividade perante a sociedade. Dessa
forma a organização política-econômica orientada por uma ética que visa resolver conflitos
socioambientais que afetam sua área de atuação, busca legitimar as suas fazendas marinhas
através da outorga. Para os maricultores a associação é fundamental à viabilidade econômica
de sua produção, que se dá no interior da Baía da Guanabara.
88
123,7
96,3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
mar coletada
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 31: Destino final das valvas dos mexilhões. p - valor = 0 < α = 0,05
Dentre os entrevistados de Itaipu, 88% responderam que as conchas dos mariscos
catadas são descartadas no mar e, em Jurujuba, 96,3% responderam que as conchas dos
mariscos processados pela ALMARJ são destinadas para caçambas e coletadas pela empresa
responsável (Figura 31). Estes dados expressam o grau de conscientização ambiental dos
maricultores da ALMARJ em relação ao dos pescadores de Itaipu, que praticam descarte
irregular das conchas do ponto de vista ambiental, ou são testemunhos desta prática comum
por parte dos marisqueiros e pescadores extrativistas. Esta impressão é compartilhada por
Pereira (2003) que relata que os maricultores da ALMARJ estão atentos quanto aos
problemas ambientais e de saúde gerados pelo processo de assoreamento da enseada de
Jurujuba, resultante do acúmulo das valvas dos mexilhões.
Além de considerar o impacto ambiental gerado pelo descarte das conchas, segundo
Viana (1982), os marisqueiros extrativistas praticam rudimentar processamento local de
manipulação do produto a beira mar, descascando, lavando e cozinhando os mexilhões com a
água do mar, sem qualquer controle sanitário.
Outro aspecto do impacto ambiental do extrativismo é a estratégia exploratória em
“nuvem de gafanhoto” que segundo (KOSAWA, 2003) é caracterizada pela extração artesanal
em grande escala dos mariscos de forma predatória. No caso, esta estratégia passa a ser
predatória devido aos catadores rasparem costões naturais para coletar o molusco adulto e
70 predarem a semente e outras formas de vida, comprometendo assim a capacidade de suporte
das espécies.
Segundo o SEBRAE (2002), no Estado do Rio de Janeiro o extrativismo artesanal de
marisco passou a ser fonte de renda e alimento para a população carente e de pescadores
artesanais que tem na sua maioria, baixo grau de instrução e renda. No entanto, a coleta
extrativista depende das condições de maré, podendo ocasionalmente comprometer a renda
diária familiar. Corroborado pelo posicionamento de autores como Vinatea (2000) e Kosawa
(2003), é possível admitir-se que a inclusão desses atores sociais na atividade de maricultura
seja de fundamental importância sócioambiental.
Quadro 9: Quadro demonstrativo de aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠ n.s.)
Qualidade da areia das praias Sujas Utilização do mar/praia Atividades extra ocupacional
6.4 PERCEPÇÃO DA MITILICULTURA
Diegues (1983) classifica as atividades pesqueiras organizadas ao longo do litoral
brasileiro como pesca de subsistência, pequena produção mercantil e pesca empresarial
capitalista. O mesmo autor destaca que a pesca de subsistência do pescador artesanal é
caracterizada pelo elemento, grupo doméstico (familiar) que constitui a base das unidades de
produção. Nesse sentido, entende-se que o grupo de pescadores estudados em Itaipu esteja
enquadrado na pesca de subsistência. No entanto, a FAO6 (2002, apud SEAP/PR 2005), relata
que a crise global do setor pesqueiro tem afetado profundamente a qualidade de vida dos
povos do mar, especificamente a dos pescadores artesanais, sendo essa crise uma
oportunidade para a absorção da maricultura por esses atores sociais.
D`Avignon (2001) alerta para o fato que estratégias do governo federal, nas últimas
três décadas, de apoio e infraestrutura à atividade pesqueira brasileira, apresentaram discursos
oficiais em prol do pescador artesanal e do pequeno produtor marinho, porém a pesca
empresarial capitalista obteve prioridade de financiamento. O mesmo autor considera que
6 SEAP/PR - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República, 2004. Programa Nacional de Desenvolvimento da Maricultura em Águas da União. Brasília, SEAP/PR: 38 p. Disponível em:< http://www.presidencia.gov.br/seap/>, Acesso em: 05 março 2005.
71 atividades cuja operacionalização foi absorvida por entidades de classe dos produtores, como
as associações e cooperativas de pescadores e maricultores, apresentaram situação de sucesso,
apesar do elevado grau de dificuldade, quando se avalia o alcance dos objetivos,
exemplificando atualmente a ALMARJ.
De acordo com relato do presidente da ALMARJ, esta associação foi criada em janeiro
de 1992, na busca de dar credibilidade sanitária à comercialização dos mariscos. Os primeiros
associados (maior parte proveniente do Estado de Alagoas), no início da década de 1990,
buscavam melhores condições de vida e trabalho. Esses homens e mulheres de origem rural
tiveram que se adaptar ao trabalho no mar e encontraram, inicialmente, no extrativismo
artesanal de marisco uma fonte de sobrevivência. No entanto, com base em D`Avignon
(2001), na medida em que as atividades de “fazendas marinhas” forem sendo concretizadas na
base da cadeia produtiva da ALMARJ, esses atores terão projeção na indústria de alimentos e
pesqueira como maricultores.
Este estudo buscou a percepção da atividade maricultora pelos dois grupos estudados.
O grupo de entrevistados de Itaipu tendeu a considerar boa a ocupação de pescador; já o
grupo de Jurujuba classificou como regular, sendo que nenhum dos dois grupos considerou
ruim. Este resultado sugere que a transição da cultura pesqueira para aqüícola no grupo de
Itaipu é uma realidade remota, ainda que pescadores estejam começando a desejar mudar seu
modo de vida. No caso do grupo de Jurujuba, o resultado referente pode expressar que
culturalmente a atividade de pesca artesanal ainda é presente.
Há uma inclinação, em ambos os grupos, de classificar como boa, a ocupação
extrativista de marisco e sementes nos costões naturais. Este dado reflete a importância da
atividade, tanto para o grupo de Jurujuba quanto para o de Itaipu. No entanto, como lembra
KOSAWA (2003), ao contrário do grupo de Jurujuba, a coleta de marisco representa para os
pescadores de Itaipu, apenas uma alternativa para sobrevivência nas situações de maior
dificuldade financeira.
72
100
011,1
88,9
0
20
40
60
80
100
120
Não Sim
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
p - valor = 0,004 < α = 0,05 p - valor = 0,000 < α = 0,05 Figura 32: Experiência na maricultura. Trabalhou com algum tipo de cultivo marinho (A); Exerce atividade relacionada ao cultivo marinho (B).
Segundo Britto (1999), o caráter estratégico das respostas que os diferentes grupos
sociais articulam diante de processos que implicam mudança de seus padrões culturais pode
apontar numa direção contrária, ou seja, de rejeição a uma determinada inovação, sem que
isto signifique, contudo, um simples apego à tradição. O mesmo autor destaca que a ocupação
de pescador não é uma condição imposta pela natureza, mas uma forma alternativa possível e
desejável de viver socialmente.
Na tentativa de se avaliar a tradição da maricultura, foi perguntado aos entrevistados
se ele ou alguém da família já havia trabalhado anteriormente com algum tipo de cultivo. Em
Jurujuba, 50% declararam experiência prévia e destes, 100% responderam somente em
mitilicultura. Ao contrário, em Itaipu 100% responderam não ter tido experiência em qualquer
cultivo marinho (Figura 32A). Estes dados reforçam a percepção de uma tradição pesqueira
mais fortemente presente no grupo de Itaipu do que de Jurujuba. Na busca de perceber se há
influência da maricultura na presente geração de pescadores de Itaipu, 100% dos entrevistados
responderam que não exercem esta atividade. Já em Jurujuba, 88,9% declararam estarem
trabalhando atualmente com cultivo e os outros 11,1%, apesar de serem associados à
ALMARJ, exercem cargo administrativo (Figura 32B).
Dentre os entrevistados que exercem atividades relacionadas à maricultura 100%
trabalham apenas com a mitilicultura; e em associação direta com a ALMARJ. Este resultado
demonstra que a cultura aqüícola do grupo de Jurujuba está fortemente ligada à presença da
ALMARJ e, em concordância com SEBRAE (2002), confirma a vocação produtiva da
enseada de Jurujuba para mitilicultura. O trabalho de campo deste estudo apontou para o fato
A B
73 de alguns maricultores relatarem a melhora na produção dos cultivos localizados nesta
enseada, a partir do tráfego Rio – Niterói, do catamarã da Estação Charitas. Talvez esta
percepção mereça melhor investigação científica visto que, segundo Magalhães e Ferreira
(1997), águas relativamente agitadas de ambientes costeiros são excelentes para suprir a
demanda dos bivalves em novo aporte de alimentos e oxigênio dissolvido.
Visando avaliar a percepção empresarial em relação à maricultura, tanto no grupo de
Itaipu quanto de Jurujuba, os resultados revelaram o fator empreendedorismo bem marcante
em ambas as localidades. No caso, a maioria dos entrevistados considerou a possibilidade de
adquirir área de cultivo próprio. Talvez tal perfil seja fundamental na inserção futura destes
atores, na cadeia produtiva aqüícola marinha, quando devidamente ordenada, no estado do
Rio de Janeiro. No caso específico de Jurujuba, os dados sugerem uma experiência satisfatória
em cultivo, enquanto associados da ALMARJ.
60
40
22,7
77,3
0102030405060708090
recursos próprios financiamentogoverno
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 33: Origem do capital de investimento. p - valor = 0,022 < α = 0,05
Quando investigada a opinião da fonte do capital de investimento, em Itaipu 60%
pretendem utilizar recurso próprio; já em Jurujuba, apenas 22,7%. No caso, 77,3% dos
entrevistados em Jurujuba preferem financiamento do governo e em Itaipu apenas 40%
(Figura 33). D`Avignon (2001), alerta que os incentivos fiscais e financiamentos
governamentais são importantes na fase inicial do cultivo, mas o essencial relaciona-se à
autonomia e sustentabilidade de longo prazo, de uma atividade com características de mão-de-
obra intensiva e dependente de organização em cooperativas e/ou associações. O apoio ao
ordenamento, possibilitará tanto geração de tecnologia, juntamente com o fortalecimento da
infra-estrutura e ampliação de mercado.
Para O`Donnel (1999), as políticas públicas de subsídios ou outra forma de incentivo,
devem ser direcionadas para processos produtivos, sócio e ambientalmente corretos, que
74 apresentem geração de empregos, reduzida demanda de recursos naturais e que não ofereça
risco ambiental e à Saúde. Folke e Kautsky (1989), relatam que o principal impacto da
mitilicultura é a deposição de matéria orgânica nas áreas de cultivo. No entanto Magalhães e
Ferreira (1997), afirmam que os danos causados no ambiente pela maricultura dependem de
vários fatores, em especial a capacidade do ambiente em diluir e estabilizar os dejetos
oriundos dos cultivos, ou seja, o tamanho máximo estável da população de organismos
cultivados, determinado pelas variáveis, quantidade de recursos disponíveis e demanda
mínima individual. Neste sentido, acredita-se de fundamental importância o CCRSM (Código
de Conduta Responsável e Sustentável para a Malacocultura Brasileira - SEAP/PR 2004a), o
qual, quando na sua versão final, será importante diretriz para orientação, implantação e
gerenciamento de malacoculturas sócio e ambientalmente sustentáveis.
16
80
4
59,3
7,4
33,3
0102030405060708090
cultivomarinho
pesca cata mariscoe semente
nos costões
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
40
60
100
00
102030405060708090
100
mitilicultura outros cultivos
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba
Figura 34: Ocupação que gera maior renda familiar (A). Cultivo marinho que gera maior renda familiar (B).
p - valor = 0 < α = 0,05 p - valor = 0 < α = 0,05
Buscando avaliar a percepção dos entrevistados sobre qual das ocupações
(maricultura, pesca ou o extrativismo de marisco e sementes) possibilitaria maior renda
familiar, obteve-se como resultado a partir de Jurujuba: 59,3% acreditam ser a maricultura,
33,3% o extrativismo e apenas 7,4% a pesca. No caso dos entrevistados em Itaipu, 80%
afirmaram ser a pesca, 16% a maricultura e 4% o extrativismo (Figura 34A). Vale destacar a
atenção à dificuldade de resposta do grupo de Itaipu, devido ao fato destes pescadores não
terem conhecimento prático do mercado aqüícola, ficando implícito que a maricultura não faz
parte da realidade do grupo. Entretanto, com os entrevistados de Jurujuba, as respostas foram
mais conscientes, expressando conhecimento de mercado nos três quesitos supra citados.
A B
75
Quando perguntados sobre o potencial da maricultura para gerar renda, a totalidade
dos entrevistados em Jurujuba acredita ser a mitilicultura; e em Itaipu, 60% consideram outros
cultivos (ostras, vieiras, algas e camarão) sendo que somente 40% sugerem a mitilicultura
(Figura 34B). Apesar de ter sido sugerida outras culturas com relação à perspectiva de renda,
observou-se que em ambos os grupos (Itaipu, 80% e Jurujuba, 96,3%), há uma tendência em
aceitar que seria a mitilicultura a cultura de melhor adaptação às duas regiões. Esta percepção,
apesar de ser corroborada por SEBRAE (2002) do ponto de vista comercial, leva a acreditar
ser necessário realizar diagnóstico científico da vocação aqüícola desses ambientes com vista
ao ordenamento da maricultura.
Conforme atesta Sandrini (2005), atualmente o Estado de Santa Catarina destaca-se
como o maior produtor nacional de mexilhões cultivados e que, apoiado principalmente na
ostreicultura, tem resultado em uma produção expressiva nos últimos anos. O mesmo autor
acrescenta que, o valor médio de mercado da ostra (R$ 5,50/dz) praticado em Santa Catarina é
mais alto do que do marisco (R$2,00/Kg). Comparativamente a ALMARJ, segundo o seu
presidente, o valor atual de venda do marisco praticado situa-se na faixa de R$3,50 a R$5,00
por Kg. De acordo com o Sr. Misael, as atuais fazendas marinhas da ALMARJ são compostas
por espinhéis de 50 metros (Figura 35) com capacidade para 100 redes (Figura 36) que
produzem, em média, 800 Kg de carne de mexilhão, beneficiados (Figura 37) na própria
ALMARJ. O custo inicial do espinhel está na faixa de R$1.000,00, sendo que os associados o
recebe sem custo e ficam responsáveis pela manutenção do mesmo até a venda da colheita,
que é vinculada a Associação. A ALMARJ, compra a colheita do associado (R$2,50 a
R$3,50) e compartilha o rendimento anual com os associados.
Figura 35: Sistema de cultivo em espinhel, em Jurujuba.
76
Figura 36: Rede mexilhoneira em Jurujuba.
Figura 37: Beneficiamento do mexilhão em Jurujuba.
Quadro 10: Quadro demonstrativo de aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠ n.s.)
Avaliação da ocupação de pescador boa a regular Avaliação da ocupação extrativista de marisco
boa
Visão de empreendimento cultivo próprio Cultura de melhor adaptação mitilicultura
77 6.5 PERCEPÇÃO DAS DOENÇAS PROVENIENTES DE ALIMENTOS MARINHOS E DA ÁGUA DO MAR
Sob o aspecto da Saúde Pública, deve ser estimulado o hábito de consumo do molusco
bivalve pela população, por ser uma fonte de alimento com excelentes propriedades
nutricionais, de alta digestibilidade e menor teor de ácidos graxos não-saturados, comparada
com a carne bovina, suína e de aves. No entanto, a importância dos frutos do mar como
veículo de toxinfecções está condicionada a fatores como a dieta da população consumidora e
o modo tradicional de preparo do alimento (AHMED e ANDERSON, 1994).
De acordo com Kosawa (2003), o termo marisco é revestido de forte simbolismo,
tendo em vista que tanto a coleta como o consumo do mexilhão, na forma de mariscada, são
práticas costumeiras associadas ao lazer e aos momentos de confraternização. De acordo com
Sandrini (2005), em relação ao estado de Santa Catarina, 45% da população consomem
moluscos poucas vezes o ano e o hábito do consumo modifica conforme renda familiar: de 2 a
5 salários (41%) e acima de 20 salários (4%). Já no caso de Itaipu e Jurujuba, foi observado
que 100% dos entrevistados possuem o hábito de consumir frutos do mar, sendo que a maioria
das famílias costuma fazer mariscada algumas vezes ao mês. No entanto, utilizar o marisco
como fonte rotineira de alimento parece simbolizar uma condição limite à subsistência, para
ambos os grupos estudados.
Saber a procedência do marisco consumido é uma preocupação nas duas localidades,
sendo que os maiores riscos são os mariscos provenientes de áreas com água poluída e, em
segundo lugar, aqueles provenientes de cascos de navios e outras estruturas de ferro. De
acordo com Shuval (2002), o consumo de bivalves marinhos é responsável por inúmeras
epidemias de agravos à Saúde Pública ocasionados, principalmente, quando os moluscos são
ingeridos crus e/ou o comprometimento da qualidade sanitária do ambiente aquático de
origem. A Resolução ANVISA no 12/2001 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), tratando
desta situação, não recomenda o consumo cru de molusco marinho. Neste sentido, o hábito
alimentar do consumo de ostra crua (Crassostrea brasiliana), a princípio, representa maior
risco a Saúde em relação ao hábito de consumo após cocção do mexilhão (Perna perna),
como é o caso da mariscada.
Quando perguntados sobre os parâmetros usados para avaliar a qualidade do peixe,
tanto os grupos de Jurujuba quanto de Itaipu responderam que a aparência é a mais usada,
seguida do odor e local onde foi pescado. No caso da avaliação do mexilhão, em ambos os
grupos as respostas indicaram o uso destes três parâmetros para a avaliação do marisco
78 consumido. De acordo com orientação do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1997b), devem
ser avaliadas no mexilhão as seguintes características sensoriais: valvas fechadas e com
retenção de água incolor; cheiro agradável e pronunciado e carne úmida de colorações
amareladas. Essa orientação pode fundamentar, apesar de empiricamente, que os recursos
sensoriais utilizados pelos entrevistados para avaliar a qualidade do mexilhão convergem com
os parâmetros científicos.
O grupo de Jurujuba considerou, com 70,4% das respostas, que a qualidade do marisco
proveniente de cultivo é melhor do que aqueles de origem extrativista, e apenas 29,6%
consideraram o contrário. No caso de Itaipu, 48% consideraram o marisco cultivado de
melhor qualidade e apenas 24% consideraram o marisco catado de qualidade superior, sendo
que 28% não souberam responder. Este resultado talvez possa indicar que tanto o grupo de
maricultor como o grupo de pescador percebam a ligação, que a princípio deveria existir,
entre atestado de excelência sanitária e moluscos bivalves provenientes de parque aqüícola.
24
48
2829,6
70,4
00
20
40
60
80
100
não sim não sabe
Porc
enta
gem
(%)
Itaipu Jurujuba Figura 38: Consideram melhor a qualidade do marisco cultivado em relação ao catado.
p - valor = 0,03 < α = 0,05
Considerando, como já referenciado neste estudo, que diversos pontos de coleta de
mexilhões na Baía de Guanabara e na enseada de Itaipu ainda estão sujeitos a contaminantes
microbiológicos e químicos, Pereira (2003), propõe medidas paliativas como a adoção de
tecnologias de depuração de moluscos para mitigar a problemática das áreas de potencial
aqüícola atingidas pelo esgotamento doméstico e industrial. O processo de depuração ou
transposição consiste na colocação dos moluscos bivalves em tanques com circulação de
água marinha de boa qualidade. Para manter as condições sanitárias da água do tanque de
depuração, recorre-se a vários métodos como luz ultravioleta, cloro, iodóforos e ozônio. A
contaminação não microbiana (toxinas/biotoxinas, metais pesados, petróleo,
79 hidrocarbonetos, radionuclídeos, pesticidas) é depurada tão lentamente que não se justifica
sob o ponto de vista comercial e, no caso de contaminação nos bivalves por vírus e víbrios, a
eficiência de depuração é limitada (WOOD, 1979).
No entanto, segundo Pereira (2003), moluscos bivalves podem estar naturalmente
contaminados com bactérias da família Vibrionaceae de potencial risco à Saúde, apesar de
serem provenientes de águas marinhas não poluídas. Isto revela um quadro altamente
preocupante para a saúde pública pois, embora esses patógenos possam estar presentes na
natureza em águas não poluídas, a diminuição de oxigênio causada pela poluição marinha
cria condições bastante favoráveis para a sua rápida proliferação.
O recém instituído Comitê Nacional de Controle Higiênico Sanitário de Moluscos
Bivalves (CNCMB) terá a função de implementar o Programa Nacional de Controle
Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves, o qual contemplará todas as etapas da cadeia
produtiva (BRASIL, 2005b). Esse programa, entre outros, abordará aspectos de levantamento
preventivo nos ambientes aqüícolas de pontos críticos de poluição ambiental, monitoramento
microbiológico da água de cultivo, condições de cultivo, beneficiamento e comercialização da
carne do marisco.
O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), conhecido
internacionalmente por “Hazard Analysis and Critical Control Points” (HACCP), é baseado
em uma série de etapas inter-relacionadas, inerentes à produção/processamento industrial dos
alimentos. Essas etapas incluem todas as operações que ocorrem a partir da produção até o
consumo, fundamentando-se na identificação dos perigos potenciais à segurança do alimento,
bem como nas medidas para o controle das condições que geram os perigos (SENAI/DN,
1999). É perceptível, como de fundamental importância, assegurar a definitiva
implementação desse sistema na indústria beneficiadora de moluscos no País.
De acordo com Pereira (2003), a ALMARJ está se adequando às exigências da
Portaria 1428/93 do Ministério da Saúde, que dispõe sobre a implementação do sistema
APPCC em todas as indústrias de alimentos no País (BRASIL, 1993). Ações adequadas nas
diferentes etapas dos processos de extração, processamento produtivo, comercialização e
consumo baseadas nesse sistema, aprimoram consideravelmente a indústria de alimentos, com
reflexos importantes na melhoria da qualidade de vida e saúde da população.
Quando perguntados se a água e alimentos provenientes do mar poluído possuem
potencial para provocar doenças, ambos os grupos tenderam a considerar o real risco a saúde.
Consideraram, complementarmente, em ambas as localidades, que as patologias de maior
80 incidência seriam de origem gastrentéricas, seguidas por outras doenças como conjuntivite,
otite e dermatites. Pereira (2003) e Shuval (2002), explicam que a presença de
microrganismos em alimentos marinhos representa um importante veículo de transmissão de
gastrenterites e infecções extra-intestinais, em especial para indivíduos mais suscetíveis como
crianças, gestantes, idosos e pacientes imunodeprimidos.
Procurando fazer uma correlação entre as estruturas de saúde disponíveis nos bairros
de Jurujuba e Itaipu e sua utilização pelos entrevistados, foram considerados o sistema de
agente de saúde/posto de saúde, hospital público e hospital particular. No caso de doenças
simples, para ambos os grupos estudados, o equipamento de apoio comunitário mais utilizado
é o posto de saúde e o sistema de médico de família; para doenças graves, a maioria das
respostas indicou de igual forma o uso do posto de saúde e o médico de família, seguido do
hospital público e, nas situações de emergências, a estrutura de saúde mais procurada é o
hospital público.
Segundo a SECITEC (2001) os postos de saúde comunitários constituem-se em pólos
articuladores das ações à Saúde no bairro de Itaipu e Jurujuba. O módulo médico de família
atua registrando casos de doenças compulsórias ou não. Essa informação apresenta grande
relevância epidemiológica em áreas de potencial para maricultura, devido ao fato de muitas
doenças talassogênicas, conforme explicou Shuval (2002), não serem de notificação
compulsória ou apresentarem alto índice de subnotificação, mascarando o quadro
epidemiológico real.
Quadro 11: Quadro demonstrativo de aspectos comuns aos grupos de Itaipu e Jurujuba (≠ n.s.)
Hábito de consumir frutos do mar mariscada – algumas vezes / mês Marisco como fonte de alimento de subsistência
condição de déficit orçamentário
Fatores limitantes da utilização do marisco para consumo próprio
procedência: áreas poluídas ou substratos não naturais (cascos de navios)
Parâmetros sensoriais p/ avaliar a qualidade do marisco
aparência – odor – local que foi catado
Risco: consumo de frutos do mar / marisco real Patologias de maior ligação com consumo de frutos do mar
origem gastroentéricas (sintomas vômito/diarréia)
Estrutura médica mais utilizado no caso de doenças simples
posto de saúde; médico de família
Estrutura médica mais utilizado no caso de doenças graves
posto de saúde, médico de família e hospital público
Estrutura médica mais utilizada no caso de emergência
hospital público
81
7 CONCLUSÕES
Foi possível demonstrar uma evidente tradição mexilhoneira, mais fortemente presente
no grupo de Jurujuba do que de Itaipu. Adicionalmente, cabe destacar que a absorção da
prática da mitilicultura pelos pescadores de Itaipu, tende a ser conflituosa por não envolver
somente aspectos técnicos e econômicos, mas mudanças de estilo de vida, com todas as suas
implicações sociais e culturais.
Os grupos estudados percebem a existência do real risco à saúde de doenças
provenientes de alimentos marinhos e da água do mar. Esta percepção está diretamente
relacionada, não tanto ao grau de escolaridade, mas principalmente à prática de
associativismo observado em ambos os grupos.
Ficou ressaltado o risco implícito no consumo da carne dos moluscos bivalves, quando
desprovidos de excelência sanitária, no que se refere à origem da área de coleta e/ou criação e
ao processo de manipulação e beneficiamento. Neste sentido, deve ser considerada a
implantação efetiva do Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos
Bivalves, proposto pela SEAP/PR na busca de mitigar pontos críticos de risco à saúde na
cadeia produtiva do mexilhão, e elevar a consciência sanitária dos atores envolvidos.
Não obstante a mitilicultura ser uma oportunidade para os pescadores artesanais,
perante a crise no estoque pesqueiro, a sua prática em larga escala, para ambos os grupos
estudados, representa impactos socioambientais significativos. Assim sendo, os tomadores de
decisão podem levar em consideração os conflitos apontados neste estudo, gerados a partir
das diferentes formas de uso das enseadas de Jurujuba e Itaipu. O processo de ordenamento e
outorga desses ambientes costeiros deve buscar priorizar as populações tradicionais e a
inclusão social, utilizando o Código de Conduta Responsável e Sustentável para a
Malacocultura Brasileira, na diretriz para orientação, implantação e gerenciamento de
mitiliculturas sócio e ambientalmente sustentáveis.
82
A poluição por esgoto in natura e a presença da indústria do petróleo na Baía da
Guanabara são impactos relevantes nas áreas estudadas. No entanto, deve-se atentar para o
fato que a origem dos pontos de poluição com potencial de impacto nestas áreas, são tanto
localmente como também a montante das bacias hidrográficas. Ou seja, apesar da política do
Município de Niterói de buscar garantir melhor condição sanitária em ambas as regiões
estudadas, através da terceirização de serviços privados de distribuição de água potável e
tratamento de esgoto, estas regiões estão sob forte influência de impactos gerados por outros
municípios.
Cabe ressaltar que há a necessidade urgente de criação de instrumentos legais e
institucionais que assegurem finalmente a efetivação da despoluição da Baía de Guanabara,
através do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). Esse programa cria
condições favoráveis do ponto de vista sanitário na busca de condições ambientais, sociais e
institucionais adequadas para o ordenamento de parques aqüícolas nas enseadas de Jurujuba e
Itaipu, objetos deste estudo.
Chamaram a atenção, neste estudo, os aspectos de impacto à saúde e a importância de
políticas públicas que promovam eficientes processos de rastreamento em surtos epidêmicos e
estruturas sanitárias adequadas, em áreas de potencial crescimento do hábito de consumo de
moluscos bivalves. Do ponto de vista de segurança sanitária a existência do sistema médico
de família, observado em ambas as áreas de estudo, é de suma importância devido ao fato
dessa estrutura possibilitar o registro de casos de doenças tanto de notificação compulsórias
ou não.
A presença do poder público municipal de Niterói, foi marcante através da
implementação de Estações de Tratamento de Esgoto e rede coletiva de distribuição de água,
na busca de melhores condições sanitárias em ambas as regiões de potencialidade para
mitilicultura.
Tornou-se perceptível que a ALMARJ busca legitimar a sua atual produção de
mariscos na enseada de Jurujuba, através da obtenção da outorga; no entanto o grupo de
pescadores de Itaipu tende a ter uma resistência à liberação, por parte dos órgãos competentes,
de implantação de parques aquícolas na enseada de Itaipu. Esta oposição à idéia da outorga
por parte dos associados da Colônia de Pescadores Z-7 Itaipu/Maricá, deve-se ao fato deste
grupo estar menos inserido e politicamente desorganizado, no que se refere à prática aquícola,
em comparação ao grupo de Jurujuba.
Espera-se que as questões de acesso aos recursos hídricos, nos ambientes costeiros de
potencialidade para maricultura, no município de Niterói, sejam tratadas pelas autoridades
83 competentes e tomadores de decisão sob a ótica de bioética da proteção. Portanto, o Estado
deve assumir um papel protetor no que se refere ao disciplinamento do uso e ocupação destes
ambientes costeiros com vista à preservação de condições de salubridade e equidade social.
O perfil e os anseios dos atores sociais, representados por ambos os grupos
contemplados neste estudo, deve ser considerado quando se tratar de tomada de decisões das
questões relativas ao ordenamento e outorga para prática da mitilicultura nas enseadas de
Itaipu e Jurujuba.
Através do fomento da mitilicultura, há uma possibilidade real de inclusão social e de
possível fixação dos atores estudados em suas regiões; porém esta possibilidade não pode ser
encarada como uma panacéia na resolução dos conflitos socioeconômicos.
84
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93
9 ANEXOS
94 Anexo 1 - IBAMA No 09 de 20 de março de 2003, trata da retirada de sementes de mexilhão dos costões naturais. IBAMA - PORTARIA Nº 009 /03-N, de 20 de MARÇO de 2003, considerando que, entre outros, a retirada de sementes de mexilhão dos costões naturais para atender às demandas de cultivo, têm promovido depredação aos bancos naturais destes moluscos, comprometendo, inclusive, a biodiversidade destes ecossistemas. Resolve: Art 1º - Proibir, anualmente, a extração de mexilhão nos costões naturais, sob qualquer método, da espécie Perna-perna (marisco), no litoral dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no período de 01 de setembro a 30 de novembro e de 01 de janeiro a 28 de fevereiro de cada ano. Art 2º - A retirada de sementes de mexilhão nos costões naturais será autorizada, pelo órgão competente, apenas aos aqüicultores devidamente licenciados desde que obedecidos os seguintes critérios: I - Quanto à quantidade máxima permitida, por aqüicultor: a) Será limitada a uma (01) autorização anual, por aqüicultor, em função das dimensões de cada cultivo e em local pré-determinado pela Licença Ambiental; b) Para a primeira extração, será autorizada a retirada de, no máximo, 70% da quantidade de sementes de mexilhão prevista no projeto aprovado, e os demais 30% deverão ser obtidos artificialmente; c) Para a segunda extração, a retirada das sementes de mexilhão será de até 60% da quantidade de sementes prevista no projeto originalmente aprovado, e os demais 40% deverão ser captados artificialmente; d) Para as extrações subseqüentes, será autorizada a retirada de até 40% da quantidade de sementes de mexilhão prevista no projeto aprovado, e os demais 60% deverão ser captados artificialmente. II - Quanto à forma de extração permitida: a) As sementes deverão ser retiradas somente acima da linha de baixa-mar, em faixas verticais alternadas de até 50,0cm (cinqüenta centímetros) de largura, ou seja, ao retirar-se uma faixa do banco natural, outra de igual tamanho deverá ser preservada; b) somente está autorizado o emprego de espátulas ou raspadeiras com até 15cm (quinze centímetros) de largura como utensílio utilizado para extração nos costões naturais. § 1o - Fica proibida a utilização de qualquer outro tipo de instrumento de extração que possa comprometer os substratos biológicos dos bancos ou costões naturais, essenciais para a fixação de novas coortes de sementes de mexilhão; § 2o - Define-se por baixa-mar o nível de água mais baixo atingido pelas marés de sizígia (luas novas e cheias); § 3o - Define-se como sementes de mexilhão, os indivíduos jovens com tamanho inferior a 4,0 cm (quatro centímetros) de comprimento total, medida tomada no seu maior eixo; § 4o - As quantidades de sementes de mexilhão por aqüicultor serão definidas à razão de, no máximo, 1,5Kg de sementes por metro linear de corda de produção; § 5o - Para empreendimentos acima de 02 ha (dois hectares), os percentuais de extração de sementes de mexilhão, nos costões naturais, deverão ser avaliados pelo órgão licenciador competente. Art. 3° – Fica proibida a comercialização das sementes de mexilhão intra e interestadual provenientes de bancos naturais. Art. 4° – Fica proibida a extração de sementes de mexilhão nas áreas das Unidades de Conservação de Uso Restrito.
95 Art. 5º - Fica proibida a comercialização, para consumo humano, de exemplares cujo comprimento total seja inferior a 5,0 cm (cinco centímetros) de comprimento total. Parágrafo Único – Admite-se uma tolerância máxima de 10%, em peso, do total do produto comercializado abaixo do tamanho mínimo definido no “caput” deste artigo. Art. 6° – Em caráter emergencial e em função das peculiaridades locais de natureza ambiental, fica delegada competência aos Gerentes Executivos do IBAMA, para baixarem Portarias normativas complementares, visando a implementação de medidas aditivas de ordenamento a esta Portaria, com vistas à correta gestão do recurso. Art. 7° – Aos infratores da presente Portaria serão aplicadas as penalidades previstas no Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999. Art.8° – A reincidência pelo cumprimento das condicionantes estabelecidas na presente Portaria acarretará em solicitação de cancelamento da Cessão do Uso de Águas Públicas junto ao órgão competente. Art.9° – Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. Art.10° - Ficam revogadas as Portarias IBAMA nos 808/90, 1.747/96 e 003/2002. Nilvo Luiz Alves da Silva Presidente Substituto D.O.U. de 21/03/2003
96 Anexo 2 - ANVISA - Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001: Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Define os critérios e padrões microbiológicos para consumo humano da carne de molusco bivalve
GRUPO DE ALIMENTOS
MICRORGANISMO TOLERÂNCIA PARA AMOSTRA
INDICATIVA
TOLERÂNCIA PARA AMOSTRA REPRESENTATIVA
n c M M PESCADOS E PRODUTOS DE PESCA a) moluscos bivalves "in natura", resfriados ou congelados, não consumido cru;
Estaf. coagulase .positiva/g
103 5 2 5x102 103
Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - b) moluscos bivalves e similares cozidos, temperados e não, industrializados resfriados ou congelados
Coliformes a 45ºC/g 5x10 5 2 10 5x10
Estaf.coag.positiva/g 103 5 2 102 103 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - c) moluscos secos e ou salgados; semi conserva de moluscos mantidas sob refrigeração (marinados, anchovados ou temperados)
Coliformes a 45oC/g 102 5 3 10 102
Estaf.coag.positiva/g 5x102 5 2 102 5x102 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus - d) moluscos refrigerados ou congelados;
Coliformes a 45oC/g 102 5 2 10 102
Estaf.coag.positiva/g 5x102 5 2 102 5x102 Salmonella sp/25g Aus 5 0 Aus -
97 Anexo 3 - Dados Censitários IBGE – 2000 do município de Niterói e dos bairros de Jurujuba e Itaipu
Dados censitários IBGE de 2000
Niterói Jurujuba Itaipu
População / habitantes
459.451 2.960 17.330
Taxa média de crescimento demográfico anual
Década 1970 (2,05 %) Década 1980 (0,86 %) Década 1990 (0,58 %)
Década 1970 (- 1,38 %) Década 1980 (-0,54 %) Década 1990 (-1,87%)
Década 1970 (4,78 %) Década 1980 (10,39 %) Década 1990 (5,04%)
População / gênero
M (213.984 / 46,7%) F (245.467 / 53,43%)
M (1.448 / 48,98%) F (1512 / 51,08%)
M (8.531 / 49,23%) F (8.799 / 50,77%)
Rendimento médio mensal (salário mínimo) / habitante
Até ½ sal. ½ a 1 sal 1 a 2 sal 2 a 3 sal 3 a 5 sal
433 (0,30%) 12.259 (8,52%) 16.903 (11,74%) 12.110 (8,41%) 17.969 (12,49%) (Universo: 143.924)
6 (0,71%) 139 (16,35%) 188 (22,12%) 132 (15,53%) 136 (16%) (Universo: 850)
11 (2,5 %) 203 (1,66%) 297 (1,76%) 284 (2,35%) 443 (2,47%) (Universo: 4.862)
Domicílio / abastecimento / água
Rede geral c/ canalização
112.747 (78,34%) Universo: 143.924
799 (94%) (Universo: 850)
138 (2,84%) (Universo:4862)
Domicílio / esgotamento sanitário
Rede geral de esgota// ou pluvial
105.129 (73,04%) (Universo: 143.924)
583 (68,59%) (Universo: 850)
Absoluto: (233) (4,79%) (Universo: 4862)
Esgotamento: rio, lago e mar
4055 (2,82%) (Universo: 143.924)
103 (12,12%) (Universo: 850)
55 (1,13%) (Universo: 4862)
Domicílio / destino lixo
Coletado 139.496 (96,92%) (Universo: 143.924)
818 (96,24%) (Universo: 850)
4829 (99,32%) (Universo: 4862)
Fonte: SECITEC, 2001; CIDE, 2003
98 Anexo 4: Tamanho da Amostra – número de pessoas e o respectivo percentual que caracteriza uma amostra representativa.
No total do grupo No sugerido para a amostra Porcentagem 100 15 15 200 20 10 500 50 10
1000 50 5 Fonte: FAO (1982)
Anexo 5: Constituição Estadual do Rio de Janeiro (05/10/1988) e seu caráter restritivo no acesso aos bancos naturais para extração de sementes - Capítulo VIII – Do Meio Ambiente. Determina entre outros: Art. 268 - São áreas de preservação permanente: I - os manguezais, lagos, lagoas e lagunas e as áreas estuarinas; II - as praias, vegetação de restingas quando fixadoras de dunas, as dunas, costões rochosos e as cavidades naturais subterrâneas-cavernas; III - as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais; IV - as áreas que abriguem exemplares ameaçados de extinção, raros, vulneráveis ou menos conhecidos, na fauna e flora, bem como aquelas que sirvam como local de pouso, alimentação ou reprodução; V - as áreas de interesse arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural; VI - aquelas assim declaradas por lei; VII - a Baía de Guanabara.
99 Anexo 6: Questionários
QUESTIONÁRIO 1: AVALIAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONOMICO DO ENTREVISTADO 1) Sexo do entrevistado: ( 1 ) M ( 2 ) F 2) Idade: ( 1 ) < 30 anos ( 2 ) > 31 anos 3) Qual o último ano de escola que cursou?
( 1 ) Assina o nome ( 2 ) 1o grau ( 3 ) 2o grau 4) Tem filhos? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Quantos? ( 1 ) até 3 filhos ( 2 ) ≥ 4 filhos 5) Você e sua família moram na colônia? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Há quanto tempo? ( 1 ) até 20 anos ( 2 ) de 21 a 40 anos ( 3 ) mais de 41 anos 6) Seus avós eram ou são pescadores? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 7) Seus pais eram ou são pescadores? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 8) Quantos membros da sua família trabalham no mar?
( 1 ) 0 ( 2 ) até 2 membros ( 3 ) acima de 3 membros 9) Qual a importância do trabalho no mar no ganho da renda familiar:
( 1 ) total ( 2 ) complemento da renda 10) Qual a sua ocupação?
( 1 ) marisqueiro e pescador ( 2 ) pescador ( 3 ) maricultor 11) ANULADA 12) No caso de marisqueiro, pescador ou maricultor. Você é associado ou cooperado?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim
13) Alguém de sua família o ajuda em sua atividade? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Quem? ( 1 ) irmãos ( 2 ) esposa (o) ( 3 ) filhos
14) O seu ganho é? ( 1 ) Semanal ( 2 ) Quinzenal ( 3 ) Mensal 15) Qual é a sua renda mensal?
( 1 ) < R$300,00 ( 2 ) R$301,00 a R$500,00 ( 3 ) R$501,00 a R$1000,00 16) A sua renda: Verão (dez, jan, fev): aumenta ( 1 ) diminui ( 2 )
Inverno (jun, jul, ago): aumenta ( 1 ) diminui ( 2 )
17) Por que: aumenta – ( 1 ) mar e clima propício ( 2 ) > quantidade mexilhão / coleta facilitada diminui - ( 1 ) mar e clima não propício ( 2 ) < quantidade mexilhão, coleta dificultada
100
Questionário 2: Avaliação das condições higiênico–sanitárias do meio ambiente residencial das colônias de pescadores
1) Na sua opinião a qualidade de sua moradia é: ( 1 ) boa ( 2 ) ruim
2) As paredes são construídas com: ( 1 ) alvenaria ( 2 ) outros
3) ANULADA
4) ANULADA
5) O telhado é de: ( 1 ) telhas ( 2 ) laje
6) Há animais? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 7) Possui energia elétrica? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 8) O abastecimento de água é de poço: ( 1 ) sim ( 2 ) não 9) Abastecimento de rede pública? ( 1 ) encanada ( 2 ) busca em torneira pública
10) Falta água? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 11) É feita limpeza dos reservatórios de água? ( 1 ) Não ( 2 ) sim 12) Com que freqüência? ( 1 ) mais de 1 vez por ano ( 2 ) 1 vez por ano ( 3 ) não faz 13) A água é tratada? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Como? ( 1 ) desinfecção com cloro ( 2 ) tratamento pela distribuidora de água 14) A água para beber vem: ( 1 ) torneira ( 2 ) filtrada ( 3 ) fervida
Esta é armazenada: ( 1 ) não ( 2 ) sim 15) Qual o tipo de esgotamento sanitário?
( 1 ) rede coletiva (separador absoluto) ( 2 ) rede não convencional (RNC valas, rede pluvial, rios, lagos, solo, mar) ( 3 ) fossa séptica
16) Possui caixa de gordura? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 17) O sistema de esgotamento sanitário é: ( 1 ) adequado ( 2 ) inadequado
18) É realizada a limpeza no tanque séptico? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 19) O destino do lixo: ( 1 ) coletado ( 2 ) outros (enterrado, queimado, jogado)
20) As ruas da colônia de pescadores são devidamente pavimentadas: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não
101
Questionário 3: Percepção do uso e da Qualidade Ambiental do ambiente costeiro para lazer, trabalho e cultivo marinho pelo entrevistado 1) Na sua opinião o mar da região é: ( 1 ) limpo ( 2 ) sujo 2) Na sua opinião, as praias da região são: ( 1 ) limpas ( 2 ) sujas 3) Como você sabe que o mar está:
LIMPO: ( 1 ) pela cor ( 2 ) pelo cheiro ( 3 ) pelo lixo SUJO: ( 1 ) pela cor ( 2 ) pelo cheiro ( 3 ) pelo lixo
4) Quais são os maiores problemas existentes no mar da região para o cultivo marinho?
( 1 ) poluição ( 2 ) turismo 5) Que tipo de atividades existe no mar da região que prejudica o cultivo marinho?
( 1 ) trânsito de embarcações ( 2 ) exploração de petróleo / refinaria 6) Você tem conhecimento da legislação que proíbe a cata de marisco e sementes nos costões naturais?
( 1 ) Não ( 2 )Sim Você a considera: ( 1 ) aceitável ( 2 ) inaceitável Por quê? ( 1 ) sobrevivência ( 2 ) somente com defeso ( 3 ) diminuição da pesca nos costões 7) Considera que o governo deva conceder áreas para implantação de viveiros e tanques de rede para cultivos marinhos?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim Por quê? ( 1 ) complemento de renda ( 2 ) ordenamento do cultivo
8) Utiliza o mar e/ou a praia para alguma atividade que não seja como maricultor? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Quais? ( 1 ) lazer ( 2 ) cata de marisco e pesca ( 3 ) comércio 9) As conchas dos moluscos são jogadas:
( 1 ) mar ( 2 ) coletados
102
Questionário 4: Percepção da maricultura pelo entrevistado
1) Na sua opinião, viver da pesca é:
( 1 ) bom ( 2 ) regular ( 3 ) ruim
2) Na sua opinião, pegar marisco e sementes nos costões naturais é:
( 1 ) bom ( 2 ) regular ( 3 ) ruim
3) Você ou alguém de sua família trabalha com algum tipo de cultivo marinho?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Qual? ( 1 ) marisco ( 2 ) outros (algas, camarão, sementes, ostras e vieira)
Como? ( 1 ) cultivo próprio ( 2 ) associação ( 3 ) trabalha para um proprietário de cultivo
4) Você ou alguém de sua família já trabalhou com algum tipo de cultivo marinho?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Qual? ( 1 ) marisco ( 2 ) outros (ostras, vieira, sementes, camarão e algas)
5) Você estaria disposto a iniciar seu próprio cultivo marinho? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Caso Sim: ( 1 ) dinheiro próprio ( 2 ) financiamento do governo
6) Qual atividade que possibilita maior renda familiar?
( 1 ) cultivo marinho ( 2 ) pesca ( 3 ) cata de mariscos e sementes nos costões
6.1) No caso de cultivo marinho, qual representa maior renda? ( 1 ) marisco ( 2 ) outros (ostras, vieira, sementes, camarão e algas)
7) Que tipo de cultivo marinho seria melhor para esta região?
( 1 ) marisco ( 2 ) outros (ostras, vieira, sementes, camarão e algas)
8) Você participa da associação de maricultores? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não
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QUESTIONÁRIO 5: PERCEPÇÃO DAS DOENÇAS PROVENIENTES DE ALIMENTOS MARINHOS E DA ÁGUA DO MAR PELO ENTREVISTADO.
1) Você e sua família comem algum alimento do mar da região? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 2) Você e sua família costumam comer mariscada? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Com que freqüência?
( 1 ) algumas vezes na semana ( 2 ) algumas vezes no mês ( 3 ) algumas vezes no ano
Você se preocupa em saber de onde o marisco foi catado?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim
Por quê? ( 1 ) provenientes de cascos de navios e estruturas de ferro
( 2 )provenientes de área com água poluída
3) Como você avalia a qualidade do pescado?
3.1) Peixe, ostra e vieira e/ou camarão: ( 1 ) aparência ( 2 ) cheiro ( 3 ) onde foi pescado
3.2) Marisco: ( 1 ) aparência ( 2 ) cheiro ( 3 ) onde foi catado
4) Na sua opinião, a qualidade do marisco cultivado é melhor do que aqueles catados em costões?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim
6) Na sua opinião, a água e alimentos que vêm do mar sujo, podem provocar alguma doença?
( 1 ) Não ( 2 ) Sim Quais? ( 1 ) doenças gastro-entéricas (diarréia, vômito) ( 2 ) outras doenças (cutâneas, dor de ouvido e conjuntivite)
7) O que você faz quando alguém na sua casa fica doente? Doença simples: ( 1 ) agente / posto de saúde ( 2 ) hospital público ( 3 ) hospital particular Doença grave: ( 1 ) agente / posto de saúde ( 2 ) hospital público ( 3 ) hospital particular Emergência: ( 1 ) agente / posto de saúde ( 2 ) hospital público ( 3 ) hospital particular