Ass. Moral. Elisangela_garcia

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FUNDAO DE ENSINO EURPIDES SOARES DA ROCHA CENTRO UNIVERSITRIO EURPIDES DE MARLIA - UNIVEM CURSO DE DIREITO

ELISANGELA GARCIA

ASSDIO MORAL NA JUSTIA DO TRABALHO

MARLIA 2007

ELISANGELA GARCIA

O ASSDIO MORAL NA JUSTIA DO TRABALHO

Monografia apresentada ao Curso de Direito do UNIVEM, da Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, Mantenedora do Centro Universitrio Eurpides de Marlia UNIVEM, como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Marco Antonio de Macedo Maral

MARLIA 2007

GARCIA, Elisangela. O assdio moral na justia do trabalho/ Elisangela Garcia; orientador: Marco Antonio de Macedo Maral. Marlia, SP: [s.n.], 2007. 62f. Monografia (Bacharel em Direito) Centro Universitrio Eurpides de Marlia Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha. 1. Assdio Moral. 2. Terror Psicolgico. 3. Dignidade Humana. CDD: 341.65

Dedico este trabalho em primeiro lugar a meus pais, Luiz e Iracema que por meio de seu amor e unio me trouxeram a vida e souberam me educar, tornando-me a pessoa que sou hoje. Dedico aos meus irmos Eliane e Carlos Alfredo que foram bem pacientes comigo durante estes cinco anos. Dedico ainda a meu futuro esposo Fabio Henrique que me presenteia a cada dia com o seu sorriso e que me auxiliou na execuo deste trabalho. Em fim, a vocs pessoas to especiais na minha vida. Compartilho esta vitoria com cada um de vocs.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeo a Deus pelo dom da vida. Agradeo aos meus Amigos: Evelyn Cristina B. Rodrigues, Gisele Marini Dias, Enas Hamilton Silva filho, Jose Benedito Pereira Nunes, Mariella Yoshie, Thaiz Rocha, Jos Vitorino de Melo e Fbio Henrique Codonho, que tornaram o tempo da faculdade menos rduo, por meio de suas companhias e palavras amigas. A todos vocs que a partir de agora tem um novo caminho pela frente, desejo lhes muitas felicidades e sucessos. Em fim, agradeo ao meu orientador prof. Marco Maral, que foi um amigo e conselheiro, o meu muito obrigado.

"Se eu pudesse deixar algum presente a voc, deixaria aceso o sentimento de amor vida dos seres humanos. A conscincia de aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos, como sinais para que no mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para voc, se pudesse, o respeito quilo que indispensvel: alem do po, o trabalho e a ao. E, quando tudo mais faltasse, para voc eu deixaria, se pudesse, um segredo. O de buscar no interior de si mesmo a resposta para encontrar a sada." Mahatma Ghandi

GARCIA, Elisangela. Assdio moral na justia do trabalho. 2007. 62f. Monografia (Bacharelado em Direito) Centro Universitrio Eurpides de Marlia, Fundao de Ensino Eurpides Soares da Rocha, Marlia, 2007.

RESUMO

O presente trabalho aborda o assdio moral na justia do trabalho, bem como os seus aspectos no contrato de trabalho e efeitos causados a vitima do assdio. Abordaremos que o assdio moral pode ter varias espcies, bem como a relao estabelecida entre os sujeitos de assdio. Trataremos das conseqncias causadas pelo assdio moral, dentre elas podendo levar at a morte do funcionrio que submetido a doses dirias de humilhao. O terror psicolgico ao qual submetido o funcionrio acaba fazendo com que o mesmo pea demisso do trabalho, sendo lhe dado o direito resciso indireta para que no perca seus direitos trabalhista. Verificaremos que por se tratar de um assunto novo nos bancos jurdicos ainda no possui legislao especifica, para tanto trataremos dos princpios norteadores do direito do trabalho bem como a Constituio Federal que a partir de 1988 passou a resguardar a dignidade humana .

Palavras-chave: Assdio Moral. Terror Psicolgico. Dignidade Humana.

SUMRIOINTRODUO...................................................................................................................9 1. ASSDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO ...............................................11 1.1 Conceito.........................................................................................................................11 1.2 Caracterizao e condutas do assdio moral .................................................................13 1.3 Sujeitos do assdio moral ..............................................................................................16 1.4 Relaes estabelecidas...................................................................................................17 1.5 Espcies de assedio moral .............................................................................................19 1.5.1 Por motivos religiosos ................................................................................................20 1.5.2 Por ser representante sindical .....................................................................................21 1.5.3 Por revista pessoal ......................................................................................................22 1.5.4 Por atos de improbidade .............................................................................................22 1.5.5 Em funo de doena..................................................................................................23 1.5.6 Por orientao sexual..................................................................................................24 1.5.7 Por maus tratos ...........................................................................................................24 1.5.8 Por racismo .................................................................................................................24 2. CONSEQNCIA DO ASSDIO MORAL ..................................................................26 2.1 Conseqncias para o empregador ................................................................................28 2.1.1 Justa causa do empregador, resciso indireta .............................................................28 2.2 Conseqncias para o empregado assediado .................................................................30 2.3 Conseqncias para o empregado assediante ................................................................31 3. ASSDIO MORAL NO DIREITO BRASILEIRO ........................................................33 3.1 Fundamentos Constitucionais........................................................................................34 3.1.1 Dignidade da pessoa humana .....................................................................................35 3.1.2 Ambiente de trabalho sadio ........................................................................................38 3.1.3 Dano moral .................................................................................................................40 4. ASSDIO MORAL NA CONSOLIDAO DAS LEIS DO TRABALHO .................42 4.1 Princpios fundamentais do direito do trabalho.............................................................44 4.1.1 Natureza do contrato de trabalho................................................................................45 4.1.2 Princpio da razoabilidade ..........................................................................................45 4.1.3 Princpio da boa f...................................................................................................46 4.1.4 Princpio da realidade .................................................................................................46 4.1.5 Princpio da proteo ..................................................................................................46 5. PROJETOS EM TRAMITAO ...................................................................................48 CONCLUSO.....................................................................................................................50 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................52 ANEXOS .............................................................................................................................54

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INTRODUO

A presente monografia visa esclarecer o que o assdio moral, assim como a violncia moral e seus aspectos no contrato de trabalho. Visa ainda, demonstrar por meio de fundamentos jurdicos que os assediados tm o direito tutela jurisdicional do Estado. Pois, ainda que o assdio moral seja um assunto novo na justia do trabalho, pode-se dizer at que seja um dos problemas mais srios enfrentados pela sociedade atual, porm, no constitui nenhum fenmeno recente, sendo este to antigo quanto o prprio trabalho. Demonstraremos que o assdio moral tem sua origem devido incansvel corrida cada vez mais desenfreada pelo sucesso e o lucro a qualquer custo, sendo os trabalhadores submetidos a competies agressivas e at opresso atravs da ameaa e do medo sem qualquer preocupao com a valorizao do trabalho em equipe. Destacaremos que nos ltimos anos o assunto tem sido objeto de grande preocupao social, principalmente na medicina do trabalho, devido s conseqncias malficas por ele causadas. Na maioria das vezes se destaca em relao de desigualdade e subordinao, principalmente aqueles obrigados a cumprir metas, sendo muitas vezes assediados de maneira desumana para tal cumprimento, colocando-os muitas vezes a doses de humilhaes dirias. Veremos que o assdio moral pode ter como sujeito o empregador ou um chefe, encarregado ou um colega de servio. Abordaremos sobre o sofrimento das vtimas que passam pelo terror psicolgico do assdio moral, e ainda os inmeros malefcios que no correspondem somente limitao da sade, mas tambm as condies fsicas e mentais. Vamos analisar neste trabalho, que o assdio moral manifesta-se de vrias maneiras como, isolamentos, indiferenas, agresses verbais, humilhaes at que o assediado se afaste

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do trabalho. Tentaremos enquadrar o assdio moral no nosso ordenamento jurdico, a fim de garantir proteo jurdica aos direitos violados na relao de emprego em conseqncia do assdio moral, visto que nossa legislao no dispe sobre o assunto, deixando as vitimas de assdio moral a merc de uma proteo, conforme dispe a nossa Constituio. A nossa CLT no trata especificamente sobre o instituto assdio moral, porm, em seus artigos 482, alnea k e 483 alnea e, trata de qualquer ato lesivo a honra e a boa fama do empregado, podendo o empregado pleitear a resciso indireta ao empregador, considerando assim, rescindido o contrato de trabalho e a devida indenizao. No temos a inteno de esgotar o assunto, mesmo porque por se tratar de um assunto novo a todo instante surgem novas teorias, definies e entendimentos. Mas temos como objetivo demonstrar por intermdio dos fundamentos jurdicos razes para prestao da tutela jurdica do Estado aos assediados, bem como um entendimento do instituto, viabilizando medidas de preveno e medidas para punir a sua pratica. A cima de tudo, o presente trabalho prima pela valorizao do trabalho humano, sendo de fundamental importncia para propiciar uma realizao pessoal do ser humano, lembrada pela nossa Constituio Federal, como dignidade da pessoa humana, conforme artigo 1, inciso III.

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1. ASSDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

O Assdio moral tem sua origem devido a incansvel corrida cada vez mais desenfreada pelo sucesso e o lucro, sendo os trabalhadores submetidos a competies agressivas e at opresso atravs da ameaa e do medo. Cada vez mais se observa no mercado de trabalho ocorrncia do assdio moral, isto porque, o prprio contexto atual se da de maneira organizada e globalizada, contribuindo para um conflito de valores entre o homem e o fato gerador da economia. As relaes de trabalho atualmente esto permeadas por uma constante insegurana, gerando condies de desvalorizao do trabalho humano. Para tanto se toma como exemplo a insegurana jurdica, com a flexibilizao da legislao trabalhista; a insegurana no emprego, pela falta de estabilidade em virtude da situao econmica do pas; a insegurana no mercado de trabalho, diante dos altos ndices de desemprego (FERREIRA, 2004, p.14). Devido esses fatores contribuintes, tais inseguranas acabam gerando conseqncias debilitantes de sade fsica e mental dos empregados, algumas delas irreversveis, isto claro sem falar nas condies desumanas e debilitantes de trabalho a que submetido, passando por uma verdadeira tortura psicolgica, levando as vtimas a situaes desesperadoras, sendo violada descabidamente a dignidade humana.

1.1

Conceito

Trata-se de um tema novo nos bancos jurdicos, em especial no Brasil, fato esse devido carncia de material jurdico-cientfico acerca do tema. Dessa forma, para chegar a um conceito jurdico os autores que escrevem sobre o tema usam como ponto de partida as pesquisas desenvolvidas no campo da Psicologia e da Sociologia.

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O assdio moral no encontrado somente no ambiente de trabalho, mas pode ser identificado em outros lugares onde haja concentrao de pessoas como: clubes, escola, famlia, visto que se manifesta nas relaes interpessoais, dessa forma dificulta a sua conceituao por variar de local para local. Entende-se por assedio moral, tortura psicolgica, manipulao perversa, ou mobbing, termo este que provm do verbo ingls mob, que significa assediar, atacar, agredir, segundo Guedes, juza do trabalho da Bahia o primeiro a utilizar tal termo foi o etiologista Heinz Lorens, ao definir o comportamento de certos animais que, circundando ameaadoramente outro membro do grupo, provocam a sua fuga por medo de um ataque. Guedes (2003, p. 03), define assdio moral da seguinte forma:Mobbing, assdio moral ou terror psicolgico uma perseguio continuada, cruel, humilhante e desencadeada, normalmente por um sujeito perverso, destinado a afastar a vitima do trabalho com graves danos para sua sade fsica e mental. Esse fenmeno no recente, pois existe desde que a humanidade comeou a se organizar em sociedade; a novidade esta nos estudos mdicos e jurdicos. A partir da dcada de oitenta que foram publicados os resultados das investigaes cientificas relacionando o mobbing a doenas no trabalho, cabendo a primazia desses estudos ao mdico psiquiatra alemo, radicado na Sucia, Heinz Leymann, que denominou o fenmeno de psicoterror. O terror psicolgico no se confunde com o excesso, nem a reduo de trabalho, a ordem de transferncia, a mudana de local de trabalho, a exigncia do cumprimento de metas e horrios rgidos, a falta de segurana e obrigao de trabalhar em situao de risco, pouco confortvel ou ergonomicamente desaconselhvel. O mobbing no agresso isolada, a descompostura estpida, o xingamento ou a humilhao ocasional, fruto do estresse ou do destempero emocional momentneo, seguido de arrependimento e pedido de desculpa. Cada uma dessas atitudes pode ser empregada pelo agressor para assediar moralmente uma pessoa, mas o que caracteriza o terror psicolgico a freqncia e repetio das humilhaes dentro de certo lapso de tempo.

Podemos extrair desse conceito que somente se caracteriza assdio moral o fato das agresses se prolongarem no tempo, porm ningum pode ser submetido a nenhum tipo de tratamento desumano ou degradante. assegurado pela Constituio Federal o direito a indenizao por dano moral, ainda que humilhadas uma nica vez. Conforme Oliveira (1998, p. 24-32):

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Assdio moral uma manipulao perversa, terrorismo, psicolgico, caracterizando-se por uma conduta abusiva, de natureza psicolgica, que atenta contra a dignidade psquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expe ao trabalhador a situaes humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensas personalidade, dignidade ou a integridade psquica, e que tenha por efeito excluir a posio do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de trabalho e no exerccio de suas funes.

Podemos entender ento que toda conduta abusiva, manifestada em ambiente de trabalho, sejam por comportamento, palavras, gestos, escritos, que possam trazer dano personalidade, dignidade, ou integridade fsica ou psquica de uma pessoa, colocando em risco seu emprego ou a paz deste, neste caso estamos falando de assdio moral. O assdio moral no visto sob a tica de atos discriminatrios, mas veremos a seguir que dele chega bem prximo. Para Hirigoyen (2001, p. 37):O assdio moral comea frequentemente pela recusa de uma diferena, ela se manifesta por um comportamento no limite da discriminao propostas sexistas para desencorajar uma mulher a aceitar uma funo tipicamente masculina, brincadeiras grosseiras a respeito de um homossexual...Provavelmente da discriminao chegou ao assdio moral, mais sutil e menos identificvel, a fim de no correr o risco de receber uma sano.

A finalidade do assdio moral a destruio das redes de comunicao, destruir sua reputao, perturbar o exerccio de seu trabalho expondo-a sem motivo legtimo, a situaes de desigualdades de forma propositada, chegando excluso da vitima do ambiente de trabalho.

1.2

Caracterizao e condutas do assdio moral

Segundo Silva (2007, p. 85):O assdio moral caracteriza-se por uma conduta abusiva, que pode partir do prprio empregador, que, valendo-se de seu poder hierrquico, humilha ou

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constrange seus empregados, como, tambm pode partir dos demais empregados, que por motivos de competio no trabalho ou mesmo por pura discriminao, sujeitam o colega a situaes vexatrias e tortura psicolgicas, comprometendo a sade fsica e mental do individuo.

A prtica do assdio moral externada por meio de crticas em pblico, ameaa, exigncias de tarefas degradantes ou impossveis de ser alcanadas podemos utilizar como exemplo o plano de metas, utilizado por algumas empresas, o rigor excessivo na cobrana de tarefas, exposio ao ridculo, divulgao de doenas e de questes pessoais de forma pblica e direta, ironias, indiferena, induo ou sugesto a pedido de demisso. Para que seja configurado o crime de assdio moral necessria reiterao da conduta ofensiva, ou seja, que esta se prolongue no tempo, no podendo se confundir com outros conflitos espordicos, e ainda deve ter como objetivo a excluso da vitima da empresa. Porm, valido lembrar que a jurisprudncia no fala em perodo mnimo para caracterizao do assdio moral, basta que fique provado o dano psquico vtima. sabido que existem empresas que impem meta para seus funcionrios, e para faz-los cumprir utilizam-se de mtodos assediantes, ou seja, impem condies para o seu no cumprimento, como por exemplo: sua demisso, transferncia de um local para trabalhar em outro, no concesso de frias, diminuio do salrio, assim, acabam por restringir um direito que do trabalhador. Com este pensamento a empresa pretende fazer uma seleo de funcionrios, utilizando o prprio funcionrio, fazendo com que ele se sinta coagido e saia da empresa, pois os mesmos sero culpados pelo no cumprimento das metas. E com isso deixa de pagar as verbas rescisrias que seriam devidas ao funcionrio. A respeito deste assunto Alkimim (2005, p 62.), diz o seguinte:A valorizao do trabalho em equipe assume um valor secundrio, j que a premiao pelo desempenho s para alguns trabalhadores, ou seja, os que atingem as metas estabelecidas, esquecendo-se que o grupo tambm o responsvel pelos resultados da empresa.

O departamento de Recursos Humanos que deveria zelar pelo bom desempenho dos

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funcionrios o primeiro a contrariar essa norma, simplesmente fazendo reunies com todos os funcionrios expondo-os a vexame; colocando em pblico, quem o responsvel pelo no cumprimento da metas. Outras vezes faz aquela publicao do tipo funcionrio do ms, logicamente tem aqueles que so destaque e com certeza so apontados. Entretanto, nossa sociedade s esta acostumada a tratar daquilo que pode ser visto, o que no acontece com os efeitos do assdio moral, pois os fenmenos no so concretos, sendo reservados esfera ntima da vtima, no produzindo efeitos de existncia palpvel. Embora no seja um fenmeno visvel, demonstra efeitos graves, pois pode levar a vtima at ao suicdio. Sobre o assunto Hirigoyen (2001, p. 82-83), trata dos dois fenmenos que ajudam a detectar o assdio moral:A agresso no caso, clara: um superior hierrquico que esmaga seus subordinados com seu poder. A pretexto de manter o bom andamento da empresa, tudo se justifica horrios prolongados, que no se pode sequer negociar, sobrecarga de trabalho dito urgente, exigncias descabidas.

Com tal explanao feita pela pesquisadora fica fcil identificar a primeira caracterstica do assdio moral: o abuso de poder, porm nem sempre identificado como demasiado pelos seus subordinados que esto acostumados a obedecer a ordens e no conhecem a legislao, no sabem diferenciar at onde vai o poder do empregador sobre seus funcionrios. A segunda caracterstica destacada da seguinte forma:O assdio nasce como algo inofensivo e propaga-se insidiosamente. Em um primeiro momento as pessoas envolvidas no querem mostrar-se ofendidas e levam na brincadeira, desavenas e maus tratos. Em seguida, esses ataques vo se multiplicando e a vitima seguidamente acuada, posta em situao de inferioridade, submetidas a manobras hostis e degradantes durante um perodo maior.(HIRIGOYEN, 2001, p. 66).

Tal fenmeno consiste na manipulao perversa, de forma traioeira, por meio da quietude, de forma a perturbar o empregado, que obrigado a suportar tudo silenciosamente,

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para que no piore sua situao. Porm, vale salientar que o abuso de poder, primeira caracterstica do assdio moral, pode ser enquadrado em uma das hipteses do artigo 483 da CLT, ou seja, possvel a resciso indireta do contrato de trabalho pelo empregado, conforme veremos mais detalhadamente no prximo captulo desse trabalho. Quanto s conseqncias causadas ao assediado, verificaremos no capitulo prprio, visto que merecem um tratamento especial.

1.3

Sujeitos do assdio moral

Para que possamos identificar a responsabilidade dos sujeitos envolvidos na pratica do assdio moral, de extrema importncia a identificao dos sujeitos da relao. Como estamos falando em direito do trabalho recorremos a CLT que em seus artigos 2 e 3 define a figura de empregador e empregado, sujeitos da relao trabalhista. No podemos nos esquecer, porm, dos equiparados a empregador, que possui caracterstica de empregador sendo superior hierrquico, muitas vezes sendo contratado para o cargo. De tal forma identificamos como sujeito dessa relao o empregado, empregador ou superior hierrquico, a princpio no se pode definir qual a posio de cada um, se vtima ou agente agressor, pois depende do caso concreto para que seja estabelecida tal relao. Conforme comentrio feito por Ferreira (2004, p. 5), sobre a pesquisa de Hirigoyen, embora seja mais comum encontrar casos onde o empregado assediado pelo empregador, essa no a regra, pois existem casos onde o assdio moral promovido entre colegas, ou ainda quando os empregados se juntam contra um superior hierrquico, sendo este um caso mais difcil de ser encontrado.

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1.4 Relaes estabelecidas

Encontramos o assdio moral em varias relaes, como: descendente ou assimtrica, horizontal ou simtrica e por ltimo na direo ascendente. A partir de agora faremos uma breve explanao sobre cada relao que pode ser estabelecida no assdio moral. A relao descendente ou simtrica trata-se da relao de assdio mais comum nos dias de hoje, aquele onde os subordinados so assediados pelos seus superiores hierrquicos, uma vez que este usa do seu poder de comando em excesso, e seus subordinados acreditam que tm que fazer tudo que lhe ordenado, simplesmente por medo de serem demitidos. Segundo Alkimim (2005, p. 65):O assdio moral cometido por superior hierrquico, em regra tem por objetivo eliminar do ambiente de trabalho o empregado que por alguma caracterstica represente uma ameaa ao superior, no que tange ao seu cargo ou desempenho do mesmo, tambm o empregado que no se adapta, por qualquer fator, organizao produtiva, ou que esteja doente ou debilitado.

Nessa relao s conseqncias so bem piores, pois as vtimas assediadas tm mais dificuldades em pedir ajuda ou achar uma soluo para resolver o caso, devido buscar o isolamento de forma que sua sade tende a ficar lesada, pois o estresse e a ansiedade passam a tomar conta. A forma horizontal ou simtrica nada mais que a relao de assdio desenvolvida entre os colegas de trabalho. Acontece quando dois funcionrios do mesmo nvel de hierarquia disputam obteno do mesmo cargo, a situao pode ser agravada se os grupos no conseguem conviver com as diferenas, como por exemplo, mulher em grupo de homens, homens em grupo de mulheres, homossexualidade, diferena racial, religiosa, motivos polticos e at mesmo a preferncia do chefe pela vtima, que nesse caso ser movida pela inveja.

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Guedes (2003, p. 37), traz um dado muito importante sobre as diferenas, devido o aspecto cultural no Brasil:[...] no caso brasileiro, a ausncia de polticas pblicas capazes de gerar um desenvolvimento calcado em justia social, nas regies do Norte e do Nordeste, obriga a populao migrar para o Sul, em busca de emprego, o que torna freqentes os casos de humilhaes e assdio moral por conta do racismo e da xenofobia. Reflexos disso colhemos, no fato de que, em So Paulo, entre os assalariados, quase todo nordestino designado de baiano, ainda que tenha nascido em Pernambuco. Certos instrumentos de trabalho so igualmente conhecidos com a alcunha de baiano, e qualquer lapso ou gafe no ambiente de trabalho designada como baianada.

A caracterstica facilmente notada nesse tipo de assdio a agresso entre colegas de mesmo nvel hierrquico, porm, pode ocorrer de a empresa ter conhecimento das agresses e se manter omissa, podem-se falar nesse caso em uma forma mista de assdio. Neste caso a empresa deve agir buscando a justia, isto , punindo os funcionrios responsveis pelo assdio, para que no desencadeie um processo de assdio moral em toda a empresa. Ao perceber que a empresa esta agindo de maneira corretiva sobre o assunto o funcionrio evitar o assdio para que no seja penalizado ou at mesmo ser objeto se uma dispensa por justa causa pela empresa. Tomando este tipo de procedimento seria uma forma da empresa coagir o funcionrio no praticar o assdio moral no ambiente de trabalho. O nosso Cdigo Civil trata da responsabilidade civil do empregador por seus empregados no art. 932. so tambm responsveis pela reparao civil: [...]; III- O empregador ou concomitante, por seus empregados, serviais e propostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele [...] Dessa forma, sempre que se tratar de ato praticado por empregados, serviais e prepostos do empregador, quando ocorrido no ambiente de trabalho, ou por ocasio dele,ser aplicado o artigo 932, inciso III do Cdigo Civil. (SILVA, 2007, p. 86). A ultima relao verificada, na forma ascendente, ou seja, quando um superior

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hierrquico assediado por um ou mais de seus subordinados. Nesta forma o assdio moral mais difcil de acontecer. Normalmente ocorre quando um recm formado contratado para comandar um grupo onde h vrias pessoas qualificadas para aquele cargo, e no o foi simplesmente por no existir na empresa uma poltica de carreira. Ou pode ocorrer quando algum da prpria empresa promovido sem a consulta dos demais e sem que haja processo de seleo. Essa prtica desencadeia o assdio moral, pois este superior j entra neste trabalho com um descrdito quanto a sua capacidade profissional. Afirma Alkimim (2005, p. 65):[...] por insegurana ou inexperincia, o superior hierrquico no consiga manter domnio sobre o(s) trabalhador(es), sendo pressionado ou tendo suas ordens desrespeitadas ou deturpadas, implicando o fortalecimento do(s) assediador(es) para se livrar do superior hierrquico indesejado.

Embora no seja muito comum, no deixa de ser um fato extremamente repugnante, pois a unio do grupo assediador busca a boicotagem do superior hierrquico indesejado, fazendo com que o mesmo pea sua demisso por se encontrar em descrdito na empresa, ou que seja demitido j que a produo de uma empresa depende unicamente da unio de seus funcionrios, para seu bom andamento. De acordo com o que verificamos at agora, podemos determinar que existem vrias espcies de assdio moral, ou seja, que este se manifesta em diferentes condies. o que veremos no prximo tpico de forma detalhada.

1.5 Espcies de assedio moral

Existem varias razes que tornam uma pessoa vtima de assdio moral, todas elas, claro, frutos da indiferena do ser humano. A sociedade estabelece padres, e normalmente as

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pessoas suscetveis de assedio moral so aquelas que fogem os padres estabelecidos, ou seja, que possuem diferenas. Hirigoyen (apud Aguiar, 2003), define os seguintes tipos discriminatrios: assdio moral por motivos raciais ou religiosos; assdio em funo de deficincia fsica ou doena; assdio em funo de orientaes sexuais; assdio discriminatrio de representantes de funcionrios e representantes sindicais. Aguiar, em sua dissertao de mestrado, ao fazer uma analise na obra de Hirigoyen, classificou nos seguintes tipos discriminatrios que tipificam o assdio moral por motivos religiosos, opo sexual, por racismo, em funo da doena, representao sindical, atos de revista diria de pessoal, atos de improbidade, furtos e roubos, e assdio moral por maustratos. Conforme a analise feita por Aguiar (2003), onde cita somente as espcies corriqueiras encontradas na doutrina e verificadas na pratica, que daremos continuidade ao nosso trabalho, analisaremos cada uma das espcies, para uma melhor compreenso do assunto.

1.5.1 Por motivos religiosos

A Constituio Federal em seu art. 5 inciso VIII, reza que ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa. Portanto quem age como tal est ferindo um direito Constitucional do ser humano. Os tribunais j tm recebido e julgado a cerca da matria, como podemos ver, um pedido de indenizao por dano moral pela imposio, por parte do empregador da cidade de Salvador, de uso de vestimentas tpicas, alusivas a festas populares e de cunho religioso cristo como o So Joo e Natal, onde a empregada demonstra insatisfao ao se caracterizar

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como tal durante a execuo das suas atividades, pela violao dos seus princpios religiosos como Testemunha de Jeov, cuja recusa levou aplicao de penalidade disciplinar, com a suspenso temporria dos seus direitos trabalhistas e do seu exerccio de trabalhar, e, em seguida, a resciso contratual (TRT - 5 Regio, 2 Turma, Acrdo n. 24.154/01, Julgado: 16 ago. 2001, RO n. 01.05.99.2862-50, Relator: Juiz Cludio Brando, D. O. 29 set. 2001). Ao recusar-se a utilizar o traje de festa junina ou natalina, exigida pela empresa, a funcionria tornou-se alvo, pois colocou em dvida o poder hierrquico de seu chefe e no permitiu que este tivesse o domnio sobre a sua intimidade religiosa, assegurada pela Constituio Federal, conforme vimos anteriormente. Este somente um exemplo concreto dos muitos que ocorrem, pois, o fato da operaria estar sob um contrato de trabalho remunerado, no d ao ser superior hierrquico o direito ao seu constrangimento religioso.

1.5.2 Por ser representante sindical

Ao assumir alguma funo sindical o empregado passa gozar de plena estabilidade na empresa onde trabalha, devido estabilidade adquirida o funcionrio somente poder ser demitido por falta grave, ou seja, justa causa, conforme CF art. 8, VIII. Em virtude da estabilidade adquirida pelo representante sindical, o empregador por no poder demitir o funcionrio sindicalista, passa a submet-lo a um tratamento degradante, com o objetivo de que o funcionrio pea demisso. Nesse caso, o empregado pode procurar os seus direitos, movendo uma ao de assdio moral por ser representante sindical, contra a empresa, pois foi vitima de uma fraude que objetivava sua demisso.

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1.5.3 Por revista pessoal

Assdio moral por revista pessoal, nada mais que o ato constrangedor e ofensivo a moral, cujos funcionrios so submetidos no local de trabalho. A revista muito usual em fbrica de confeces de peas intimas, ou pequenos objetos, visando proteo do patrimnio contra a prtica de furto. Porm, Constituio Federal no ser artigo 5 inciso x, garante a inviabilidade na intimidade, assegurando-lhe indenizao por dano material e moral decorrente da violao. Embora o empregado, na maioria dos casos sinta-se acuado tende a ficar calado, pois a necessidade pelo emprego no lhe da ao direito. E com isso, a pratica ilegal no sofre nenhuma sano, sendo que o ato de revista no passa de um abuso do mais forte contra o mais fraco. Dessa forma, a revista pessoal pode ser um passo ao assdio moral, pois coloca seus funcionrios em condies constrangedoras, sendo assegurado ao empregado uma indenizao por assdio moral por revista pessoal. Com relao fiscalizao da empresa ou proteo do patrimnio existem outras formas que no agridem o empregado e que no viola sua intimidade, como por exemplo, um sistema de cmera.

1.5.4 Por atos de improbidade

A pratica de ato lesivo ao patrimnio do empregador cometido por empregado motivo de dispensa por justa causa e em conseqncia disso, reduo dos direitos trabalhistas para quem praticou o ato. Muitas vezes, por se encontrar sem motivos para demitir um funcionrio por justa

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causa, o empregador pensando nos gastos para demiti-lo, utiliza-se de tal ato para criar um motivo para sua demisso, como ocorre no caso de acusao do funcionrio por prtica de furto e roubo. Diante do acorrido, at que realmente os fatos venham ser apurados, chegando concluso de que realmente o empregado no praticou o ato, o terror psicolgico causado a vtima, na maioria das vezes idnea e de reputao ilibada, j fez com que a mesma tivesse sado da empresa, pois com tudo isso fica difcil trabalhar nesse ambiente. Cabe nesse caso assdio moral devido o impacto e constrangimento moral causado a vtima.

1.5.5 Em funo de doena

O maior alvo do assdio moral em funo de doena aquele funcionrio que sofre de alguma doena de difcil tratamento, ou que precise afastar do servio por algum tempo para efetuar tratamento. A maior razo, para querer a excluso o funcionrio do quadro o preconceito e a discriminao, para tanto na maioria das vezes a pessoa retirada da funo que exercia h anos com o pretexto de querer poup-la, quando na verdade o que se pretende criar um ambiente hostil, para que a vtima se sinta intil e venha pedir demisso. Na maioria das vezes o fato passa imperceptvel pelos olhos da vtima, pois imagina que sua baixa estima seja em funo da doena, no percebendo, no entanto que uma vitima de assdio moral em funo da doena.

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1.5.6 Por orientao sexual

A opo sexual do indivduo nada tem a ver com sua competncia laboral, porm, no so todos que respeitam e entendem dessa forma, colocando em situaes humilhantes e desagradveis indivduos que possuem sua sexualidade fora do padro. Quando um empregador pensa dessa forma e descobre que possui um funcionrio com sexualidade diferenciada dos demais, sabe que se demitir o funcionrio por esse motivo, ser taxado como preconceituoso, ento procura o meio mais fcil que fazer com que o empregado pea sua demisso, livrando-se do mal entendido. Sendo assim, passa a destinar tarefas inteis a vtima como forma de vexao at que a mesma humilhada pea demisso.

1.5.7 Por maus tratos

A espcie de assdio moral por maus tratos, caracteriza-se por motivos que no se encaixam em nenhuma das espcies anteriores. Trata-se simplesmente do ato de submeter o funcionrio ao terror psicolgico com humilhao e constrangimento, sem qualquer motivo ou relevncia, simplesmente pelo fato de ser perverso.

1.5.8 Por racismo

A Constituio Federal em sua alterao de 1988 tomou como crime o racismo, com o intuito de diminuir a desigualdade racial em nosso pas, a partir de ento a pessoa que fosse vtima de racismo estaria acobertada legalmente. Porm, ainda que tenham se passado alguns anos a conscincia do brasileiro pouco mudou, e ainda se traz a lembrana de que negro foi escravo um dia, o que torna o mercado de

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trabalho hoje muito difcil para o cidado de cor negra. Cada vez mais tem crescido as transgresses a dignidade de trabalhadores negro no mercado de trabalho, caracterizando o assdio moral por racismo no ambiente de trabalho a inteno do agressor na maioria das vezes intimidar a vitima, demonstrando claramente atitudes de racismo, diminuindo o funcionrio, utilizando termos como neguinha macaquinha, configurando abuso de autoridade. J existem vrios julgados na justia do trabalho que configuram o fenmeno de assdio moral por racismo, isso mostra que ainda que no exista nenhuma lei sobre o assunto a justia no se mantm de olhos fechados.

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2. CONSEQUNCIA DO ASSDIO MORAL

A maior importncia de se ter idia da conseqncia do assdio moral que se possa realmente denominar a leso causada ao assediado, a fim de que numa eventual reclamao trabalhista possa ser devidamente indenizado pelos prejuzos que foram lhe causados. Quando falamos em conseqncias do assdio moral a primeira que vem em nossas mentes quanto a sua sade fsica, porm as conseqncias vo muito mais alm, e acabam por afetar outras reas como a vida social e econmica da pessoa e ainda afeta a produtividade da empresa e a sociedade de maneira geral. Os danos sade do empregador so os mais variados possveis, e aparecem de acordo com o assdio aplicado e de acordo com o perfil do assediado. Cecchin (2006, p. 148), discorre sobre os danos a sade fsica e mental da vitima de assdio moral:H um sistmico e constante abalo fsico e mental da vitima humilhada. Nesta investida o assediador capaz das mais inusitadas atitudes perversas. Deteriora propositadamente as condies de trabalho, isola a vitima recusando-se se comunicar com ela, desqualifica-a para atingir a dignidade de sua alma. No satisfeito, pode partir para as violncias verbais, fsicas e at sexual. Como conseqncia dessa barbrie, os sintomas e alteraes fsico-biolgicas so constantes podendo levar a vitima a bito.

Ainda Cecchin (2006, p. 148), relata sobre alguns efeitos causados pelo assdio moral:Dificuldades emocionais: irritao constante, falta de confiana em si, cansao exagerado, diminuio da capacidade de enfrentar o estresse, pensamentos repetitivos. Alterao do sono: dificuldades para dormir, pesadelos, interrupes freqentes do sono, insnia. Alterao da capacidade de concentrar-se e memorizar (amnsia pscgena, diminuio da capacidade de recordar os acontecimentos). Anulao dos pensamentos ou sentimentos que relembrem a tortura psicolgica como forma de se proteger e resistir.

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Anulao de atividades ou situaes que possam recordar a tortura psicolgica. Diminuio da capacidade de fazer novas amizades. Morte social: reduo do afeto, sentimento de isolamento ou indiferena com respeito ao sofrimento alheio. Tristeza profunda. Interesse claramente diminudo em manter atividades consideradas importantes anteriormente. Sensao negativa do futuro. Vivencia depressiva. Mudana de personalidade, passando a praticar a violncia moral. Sentimentos de culpa, pensamento suicida, tentativa de suicdio. Aumento de peso ou emagrecimento exagerado. Distrbios digestivos, hipertenso arterial, tremores, palpitaes. Aumento do consumo de bebidas alcolicas e outras drogas. Diminuio da libido. Agravamento de doenas pr-existentes, como dores de cabea. Estresse na maioria dos casos.

Segundo Hirigoyen (2002, p. 159), o assdio moral na maioria das vezes leva sada da vitima do emprego, num estado de sade muito debilitado, ficando sem condies fsicas e mentais para se realocar no mercado de trabalho. Sua pesquisa mostra os seguintes nmeros: em 36% dos casos a vitima desligada da empresa; 20% destes a demisso vm em decorrncia de falhas no trabalho; 9% a demisso negociada; 7% a pessoa quem pede demisso; e 1% trata-se de pr-aposentadoria. Conseqncia essa, visto que a pessoa poder no mais ter condies de voltar a trabalhar, e o terror aumenta por ser este o nico meio do sustento de sua famlia, tornando muitas vezes a doena mais grave. As conseqncias no se limitam vida do empregado, a empresa tambm acaba sentindo os reflexos. No to difcil deduzir que um empregado que pressionado, assediado e mantm seu psicolgico abalado vai diminuir sua produtividade, diminuindo conjuntamente a da empresa onde trabalha e muitas vezes desmotivando os demais companheiros de trabalhado que presenciam a situao (FERREIRA, 2004, p. 92). Conforme estudo desenvolvido nos Estados Unidos, empregadores tomaram conscincia de que os transtornos mentais advindos de ms condies de trabalho significavam elevao de custo. Obviamente que nesse caso a empresa sofre muito, pois deixa de ganhar em nmeros e ainda deve aumentar os custos com novas contrataes na

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substituio de pessoal. Percebeu-se com isso, a relao existente entre sade mental e produtividade. Com relao conseqncia econmica que assola a sociedade de maneira geral, se fazem referncia aos benefcios previdencirios temporrios ou muitas vezes permanentes, que sobrecarregam a Previdncia Social e ainda o aumento dos custos na rea da sade. Torna-se o problema de todos, visto que crescente o gasto com esse tipo de problema, problema esse que poderia ser evitado, se fosse usado bom senso. Contudo, podemos dividir ento as conseqncias em: conseqncias para o empregador; conseqncias para o empregado assediado; e, por fim, conseqncia para o empregado assediante.

2.1 Conseqncias para o empregador

2.1.1 Justa causa do empregador resciso indireta

A resciso indireta ou dispensa indireta, uma forma de cessao do contrato de trabalho. Ocorre quando o empregador comete ato grave contra o empregado, que devido a essa falta, pode pedir a resciso do contrato. O artigo 483 da Consolidao das Leis do Trabalho relaciona essas faltas graves que do origem resciso indireta:Art. 483. O empregado poder considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenizao quando: a) forem exigidos servios superiores s suas foras, defesos por lei, contrrios aos bons costumes, ou alheios ao contrato [...]

Entende-se como sendo a exigncia de trabalhos fsicos ou intelectuais inapropriados idade, sade ou habilidades que o empregado no possui, como dispe o art. 390 e 5 do

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art. 490 da CLT. Ao tratar-se do rigor excessivo na alnea b, o legislador se refere como sendo atos de perseguio e intolerncia ao empregado, atravs de represses, medidas disciplinares sem causa ou desproporcionais ao ato cometido. O Mal Considervel tratado na alnea c, a exposio do empregado a riscos a sade, sua vida e integridade fsica, em virtude da falta de cumprimento das normas de higiene e segurana do trabalho. A alnea d se refere ao descumprimento das clusulas do contrato de trabalho, bem como de todas as Normas Legais; Constituio Federal, C.L.T., Normas Coletivas de Trabalho. Na alnea e expe o legislador: praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua famlia, ato lesivo da honra e boa fama. O ato lesivo da honra e boa fama so atos de acusaes de calnia, injria ou difamao contra o empregado ou entes familiares. O empregado poder considerar rescindido o contrato, ainda, conforme a alnea f o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legtima defesa, prpria ou de outrem; As ofensas fsicas tratadas neste so atos de agresso fsica contra o empregado, pelo empregador, superior hierrquico ou mesmo outrem a mando do empregador ou superior hierrquico. Por ultimo a alnea g que trata da reduo do trabalho, dispe o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por pea ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importncia dos salrios. Nesse caso trata-se do ato de deixar propositadamente o empregado na ociosidade, quando percebe por comisses ou tarefa, ou mesmo afastado do trabalho com percepo de salrios, afetando sensivelmente sua dignidade humana e deixando-o frustrado por receber sem trabalhar.

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Estabelece o pargrafo 1 do artigo 483 da CLT que: empregado poder suspender a prestao dos servios ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigaes legais, incompatvel com a continuao do servio. O pargrafo 3 do referido artigo, elenca as hipteses das alneas d e g expe que:Art. 483. [...] 3. Nas hipteses das letras d e g, poder o empregado pleitear a resciso do seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizaes , permanecendo ou no no servio ate final deciso do processo. d) no cumprir o empregador as obrigaes do contrato; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por pea ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importncia dos salrios.

Para o reconhecimento da Justa Causa do Empregador e a conseqente resciso indireta do contrato de trabalho, o empregado deve ajuizar Reclamao Trabalhista perante a Justia do Trabalho, podendo ou no se manter trabalhando, porm se sair do emprego, deve comunicar o motivo ao empregador, caso contrrio poder caracterizar abandono de emprego.

2.2 Conseqncias para o empregado assediado

As palavras e gestos que so dirigidos ao assediado com intuito de humilh-lo, fazem com que seja invadido tanto a sua vida ntima como profissional, destacamos abaixo as principais conseqncias do assdio moral: a) Prejuzos a sade fsica e psquica gera grande tenso psicolgica, isolamento da vitima que passa a se sentir culpada, a sentir dvida sobre suas origens, sentir angstia, medo, palpitaes, insnia, extremo cansao, ansiedade, irritabilidade, dores de cabea e autovigilncia acentuada. Desarmoniza as emoes e provoca danos sade fsica e mental somadas ao estresse.

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b) Prejuzos no convvio familiar e social o assdio gera um ambiente tenso, muitas vezes para tentar esquecer as humilhaes que vem sofrendo e por se sentir inferior a todos, assediado se isola da famlia procurando refgio no lcool e outras drogas, com isso interrompendo vrios casamentos, dessa forma a famlia tambm sofre os reflexos do assdio. c) Baixa auto-estima pessoal e profissional como o assediador busca atingir principalmente a auto-estima do assediado, este fica com ela em baixa, ficando inseguro quanto a sua competncia, e provavelmente ter problemas com uma realocao no mercado de trabalho, caso saia da empresa. d) Aumento ou queda da produtividade como j abordado anteriormente um funcionrio insatisfeito em seu ambiente de trabalho, ter uma produtividade baixa. Porm, existe a possibilidade de ocorrer o contrrio, devido o medo da demisso o assediado comea a fazer uma carga de trabalho excessiva, levando-o a um desgaste fsico, cansao e depresso. Diante das conseqncias narradas, difcil perceber logo de incio uma pessoa que esteja sendo assediada pelas suas mudanas de comportamento, pois este se trata de um processo que vai se intensificando de acordo com a evoluo do prprio processo de assdio moral empregado.

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Conseqncias para o empregado assediante

O assediante poder ser dispensado por justa causa se preencher os requisitos tipificados no artigo 482 da CLT e suas alneas b, j e k. Dispe o artigo 482 da CLT: constituem justa causa para resciso do contrato de trabalho pelo empregador: b) incontinncia de conduta ou mau procedimento [...]]. Podemos caracterizar como mau procedimento, ato que praticado pelo funcionrio que tornando impossvel a sua convivncia com os demais colegas de trabalho, como por

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exemplo, usar palavras ofensivas, brincadeiras desagradveis e humilhantes. Quanto incontinncia da conduta, aquele comportamento contrrio moral e vida sexual, como por exemplo, atos de desvios de conduta sexual, abusivos no meio de trabalho.Art. 482. [...] j) ato lesivo a honra ou da boa fama praticado no servio contra qualquer pessoa, ou ofensas fsicas, nas mesmas condies, salvo em caso de legitima defesa, prpria ou de outrem; k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas fsicas praticadas contra o empregador e superiores hierrquicos, salvo em caso de legitima defesa, prpria ou de outrem;

Neste caso, refere-se ao assdio moral ascendente e horizontal, podendo ser praticado ato lesivo honra e boa fama tanto pelo superior hierrquico ou pelo empregado. Segundo Martins (2006, p. 365):Os atos mencionados quanto honra e boa fama do empregador ou superior hierrquico, ou de qualquer pessoa, originam calunia, injuria e difamao, podendo ser praticados por palavras e gestos. Importante salientar que a legitima defesa excluir a justa causa.

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3. ASSDIO MORAL NO DIREITO BRASILEIRO

Na seara jurdica, cada vez mais aumentam as discusses sobre o assunto assdio moral, assim como em todo o mundo, no Brasil tambm se intensifica este fenmeno, o que torna crescente as opinies e artigos a cerca do tema. Passou a ser dado mais importncia, e demonstrado uma maior conscientizao, de que o assdio que permeia a relao de trabalho no s viola a sade do trabalhador, mas sua sade, dignidade como pessoa e uma srie de outros direitos, acabando com sua auto-estima e qualidade de vida. Conforme Ferreira (2004, p. 87-88), o fato da desvalorizao do trabalho humano, vai de encontro ao estabelecido na ordem jurdica vigente, tanto interna como externamente. Visto que a importncia do trabalho na vida do homem e a necessidade que ele seja desenvolvido em condies dignas foram devidamente reconhecidas pela Declarao Universal dos Direitos Humanos, no inciso I do art. 23 que estabelece: todo homem tem direito ao trabalho e a livre escolha de emprego, a condies justas e favorveis de trabalho e a proteo contra o desemprego. Sobre este artigo da Declarao Universal dos Direitos Humanos, Nogueira (2001, p. 20-21), comenta a aplicabilidade do principio da dignidade da pessoa humana no direito do trabalho:Referido artigo indicam quais seriam, em sntese, as caractersticas do direito do trabalho com relao pessoa humana. O trabalho deve buscar garantir ao homem o acesso dignidade humana, buscando garantir-lhe, ainda, a possibilidade de existncia de outros de outros meios de proteo social. [...] atravs do trabalho que o homem deixa de possuir apenas uma dimenso biolgica para adquirir uma dimenso social, engajando-se na sociedade. [...] O trabalho a condio superao dos determinismos e atravs dele pode ser alcanada a liberdade.

Como podemos ver, o assdio moral envolve matria constitucional, uma vez que viola princpios e garantias estabelecidos na Carta Magna, envolvem direitos e liberdades

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adquiridos pelos trabalhadores, presentes tanto na CLT como em diversas outras leis que tratam do assunto. Envolve, ainda, a jurisprudncia brasileira, uma vez que no possui lei especfica que discipline o assunto. Sobre essa tica analisaremos os fundamentos Constitucionais, verificando como violado o princpio a dignidade da pessoa humana e seu direito a um ambiente sadio para trabalho.

3.1 Fundamentos constitucionais

Podemos dizer que a garantia Constitucional que se tem hoje sobre o assdio moral, teve sua origem com a nova Constituio Federal aprovada em 1988, cuja garantia indenizao por danos morais, extraordinariamente, foi includa no artigo 5, inciso X, dispondo o seguinte: so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao. A Carta Magna vigente, em seu artigo 1 explicita os fundamentos Constitucionais adotados pelo Estado Brasileiro Democrtico, tais como: dignidade da pessoa humana; e os valores sociais do trabalho. Ainda em seu artigo 170 estabelece que: a ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social [...]. Veremos a seguir de maneira mais explicita os comentrios anteriormente mencionados, destinando de forma mais especifica ao assunto assdio moral que nosso principal foco.

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3.1.1 Dignidade da pessoa humana

A Constituio, em seu primeiro artigo, deixa clara a proteo da dignidade da pessoa humana, como princpio fundamental, sendo que chamado de direitos e garantias fundamentais, tais como a vida, liberdade, igualdade, intimidade, privacidade, trabalho, sade, educao, propriedade, meio ambiente protegido, etc, e o que vemos em se tratando de assdio moral o total desrespeito a esta norma Constitucional.Art. 1. A republica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: [...] III a dignidade da pessoa humana.

Tal princpio, a dignidade da pessoa humana, infelizmente o mais atingido pelo assdio moral no trabalho. Costa (1995, p. 16-21), define dignidade:A palavra dignidade provm do latim dignitas, dignitatis e significa entre outras coisas, a qualidade moral que infunde respeito, a conscincia do prprio valor. Ao falar-se em dignidade da pessoa humana quer-se significar a excelncia que esta se possui em razo da sua prpria natureza. Se for digna qualquer pessoa humana, tambm o o trabalhador, por ser uma pessoa humana. a dignidade da pessoa humana do trabalhador que faz prevalecer os seus direitos estigmatizando toda manobra tendente a desrespeitar ou corromper de qualquer forma que seja esse instrumento valioso, feito a imagem de Deus.

Em outras palavras, podemos ver dignidade como o fato de todo ser humano ser respeitado como pessoa e de no ser importunado na sua existncia, o simples fato de ter seus valores pessoais e de torn-los importante a sua medida. Ou ainda, dignidade algo subjetivo, onde ao passo que algum pode se sentir desmoralizado por ato, uma outra pessoa pode receber de uma outra forma, no vendo como algo que fere a sua dignidade. Devido isso pode se dar leso tanto por gesto, como por palavra, atitude, comportamento, etc.

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Maranho, Sussekind e Vianna (1995, p. 47), abordam que:Dar trabalho e possibilitar ao empregado a execuo normal do contrato, proporcionando-lhe meios adequados para isso. E acima de tudo respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade absoluta de pessoa humana.

Assim sendo, o empregador deve dar trabalho ao empregado e a devida proteo, como obrigaes relevantes dentro dos limites do contrato. De acordo com Nascimento (2006, p. 75-76), o dano moral tem como uma das principais causas que levam a leso do direito dignidade da pessoa o assdio moral. A agresso moral basta por si s para causar um dano a algum, como por exemplo, o ato lesivo honra e boa fama, praticados pelo empregador a um de seus subordinados, no sendo caracterizado em caso de legitima defesa. Nascimento (2006, p. 76), afirma que so princpios gerais do direito, aplicveis no direito do trabalho, os princpios constitucionais fundamentais da Constituio Federal de l988. A dignidade da pessoa humana est ligada diretamente ao trabalho do homem, visto que este deve se sentir til em seu local de trabalho, isto o que vem contrariar o assdio moral, pois o seu agressor a todo tempo mostra que este empregado um incompetente para cumprir as tarefas que lhe so designadas. O direito do trabalho serve como amparo, instrumento de melhoria e condio social do trabalhador buscando sempre o respeito dignidade deste, como aos princpios fundamentais. Hirigoyen (apud Nascimento, 2006, p. 76-77), relata o caso retratado em um filme que tem por nome Assdio Sexual de Barry Levinson, o qual narra a historia passada em uma fabrica dos Estados Unidos onde, por ocasio de uma fuso com outra empresa, provocou uma disputa interna de poder entre dois empregados que queriam promoo para o principal cargo, sendo um homem e uma mulher. Ela, que j fora sua amante, quis destruir seu

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competidor que tinha uma vida familiar feliz e se serve do sexo como arma, faz lhe proposta que ele rejeita e se vinga.Neste Filme, veremos a luta pelo poder que caracteriza uma agresso por um perverso narcisista, e tambm a necessidade de tentar apropriar-se da felicidade do outro, ou, se isso no possvel, de destru-la. Para isso, utiliza-se de suas falhas, e se as que ele tem no forem suficientes, criam-se outras. Quer o ponto de partida seja um conflito de pessoas, quer nasa de m organizao da empresa, cabe a esta encontrar uma soluo, pois se h um assdio, porque ela assim o permite. H sempre um momento do processo em que a empresa pode intervir e buscar solues (HIRIGOYEM

apud NASCIMENTO, 2006, p. 77). Nesse caso especfico, o assdio moral provm de um assdio sexual, se que podemos assim dizer, pois a sua principal arma era o sexo, para desmoralizao e infelicidade do rival, cuja inteno era manter o outro sem condies para alcanar a vaga, fazendo com que ele se sentisse incompetente para a vaga ou at mesmo que chegasse a pedir demisso do emprego, devido presso que vinha sentindo. Com o comentrio acima tecido por Hirigoyem, remete-nos ao incio do II captulo, onde comentamos que interessa empresa o controle, para que esse tipo de transtorno no venha acontecer, pois visvel a diminuio dos ganhos de uma empresa, uma vez que todos os demais empregados de certa forma so afetados pela concorrncia criada dentro da empresa, muitas vezes dividindo-a em grupos e diminuindo a produo. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT), da 17 Regio - Vitria-ES julga o primeiro caso em que se reconhece a indenizao por dano moral, sendo reconhecida violao dignidade da pessoa humana, diz a ementa:ASSDIO MORAL CONTRATO DE INAO INDENIZAO POR DANO MORAL A tortura psicolgica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forar sua demisso ou apressar sua dispensa atravs de mtodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inteis, sonegar-lhe informaes e fingir que no o v, resulta em assdio moral, cujo efeito o direito a indenizao por dano moral, porque ultrapassa o mbito profissional, eis que minam a sade fsica e mental da vitima e coroe a sua auto-estima. no caso dos autos, o assdio foi alm, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inao, quebrando o carter sinalagmtico do contrato de trabalho, e por conseqncia, descumprindo a sua principal obrigao que a de fornecer trabalho, fonte

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de dignidade do empregado. (TRT-17 Regio RO 1315.2000.00.17.00.1 Ac. 2276/2001 Rel. Juza Snia das Dores Dionzio 20/08/02, na Revista LTr 66-10/1237).

Contudo, podemos verificar, que j no se encontram impunes tais atitudes, dando mais garantia ao trabalhador e impossibilitando que atos to desumanos possam permear nossa sociedade. Com vrias atitudes como a que acabamos de ver no julgado acima, pode ter certeza que a justia est sendo feita, e a dignidade da pessoa humana est se valendo, pois, mais que um trabalhador, estamos falando de respeito ao ser humano, s isto que se busca, valorizao e respeito dignidade do ser humano.

3.1.2 Ambiente de trabalho sadio

Devido ao aumento, cada vez maior dos ndices de assdio moral na justia do trabalho, tem-se preocupado com as condies de trabalho que so oferecidas ao trabalhador, de modo que o empregador deve se preocupar em fornecer aos seus um ambiente sadio, com condies fsicas e psicolgicas propicias ao desenvolvimento de suas funes laborais. Para que o trabalhador labore em local apropriado e devidamente dentro das condies mnimas observadas pela empresa, necessria uma legislao que tutele a sade do empregado, tanto a integridade fsica como a sade mental. Podemos dizer que o responsvel pela tutela a medicina do trabalho que desenvolve estudos para proteger a sade do trabalhador. Diz a Constituio Federal de 1988:Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: [...] XXII reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana.

A medicina do trabalho, dessa forma a compreenso das formas de proteo

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sade do trabalhador, indicando medidas preventivas de sade, higiene e segurana, enquanto no seu ambiente de trabalho. Afirma ainda Carrion (2001, p. 158-159):A segurana e higiene do trabalho so fatores vitais na preveno de acidentes e na defesa da sade do empregado, evitando o sofrimento humano e o desperdcio econmico lesivo as empresas e ao prprio Pas. Pratica falta o empregado que no obedece s normas de segurana e higiene do trabalho, inclusive quanto ao uso de equipamentos. A lei quer que as instrues sejam expedidas pelo empregador, que hajam sido veiculadas por ele aos seus empregados: no basta assim a simples vigncia. O ato faltoso do empregado poder ou no constituir justa causa para resciso do vinculo laboral, de acordo com a gravidade das circunstancias, de sua reiterao, etc., como acontece com as demais faltas propiciando em certas hipteses simples advertncia ou suspenso (v art. 482/2).

Nascimento (2006, p. 79), conceitua segurana do trabalho como um conjunto de medidas que versam sobre condies especficas de instalao do estabelecimento e de suas mquinas, visando garantia do trabalhador contra natural exposio aos riscos inerentes a pratica da atividade profissional. sabido que as ms condies do ambiente de trabalho so as responsveis pelas condies fsicas e mentais do trabalhador. Sendo a fadiga uma conseqncia das ms condies de trabalho.Quando se verifica o esgotamento das energias, seja pelo excesso de trabalho, pela monotonia do trabalho ou pelo trabalho executado em condies penosas, aparece o fenmeno que se denomina fadiga e que o esfalfamento fsico resultante de uma atividade continuada, manifestada pela desobedincia dos msculos s excitaes nervosas e por uma sensao desagradvel e indefinida. A fadiga provoca fenmenos semelhantes ao da paralisia [...] Pizzuti comprova essa queda de poder funcional dos rgos a ponto que criar uma verdadeira paralisia muscular (FERREIRA apud MARANHO;SUSSEKIND;VIANNA, 1995, p. 97).

Os efeitos descritos acima so provocados pela repetio de atos, ou o fato de prolongar aes no tempo, comprometendo a capacidade laboral do trabalhador por toda vida, composies estas do assdio moral. Com isso podemos verificar que a Consolidao das Leis do Trabalho traz de modo expresso a exigncia de um ambiente de trabalho sadio.

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Podemos dizer que um funcionrio permanece 1/3 de seu tempo trabalhando, para tanto as condies impostas devem ser no mnimo sadias, para que o trabalho se torne algo agradvel e prazeroso ao funcionrio, ainda, com isso sua condio social de vida se tornar bem melhor.

3.1.3 Dano moral

No mbito jurdico, podemos conceituar dano moral como uma leso a um direito inerente personalidade, que foi suportada por uma pessoa, que pode ser fsica ou jurdica em razo de uma ao ou omisso de outrem. A leso ou violao pode ser tanto dor fsica como a dor sentimental, bem como o dano pode ser tanto natureza moral, material ou a imagem. Dano moral, podemos dizer que so aqueles que abalam a honra, boa fama, dignidade das pessoas. Devido sua subjetividade, para que resta comprovao da presena ou no do dano efetivo, devem ser apuradas as condies em que ocorreram e as conseqncias que sobrevieram do fato causador. A fixao de indenizao nesse caso tem sentido nico de reparar a dor, sofrimento ou exposio indevida, qual a vtima foi exposta, para que isso desestimule o ofensor a voltar a praticar o ato ilcito. No se trata de pagar a moral de ningum, mesmo porque, essa imensurvel. Podemos citar como exemplo: agresses verbais. Danos imagem so aqueles que por meio de exposies indevidas, denigrem a imagem de pessoa fsica ou jurdica. Para sua caracterizao necessrios a exposio no autorizada de imagem, fotos, palavras e escritos, de maneira que isso possa abalar a honra e a respeitabilidade das pessoas envolvidas. Pode ser comprovado por meio de provas materiais ou testemunhas que

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efetivamente presenciaram o fato. Para reparao do dano imagem no existe um quantum indenizatrio, pois este varia em decorrncia dos danos efetivos causados imagem, conforme o caso concreto, considerando os prejuzos e os abalos psicolgicos. Quanto aos danos materiais, estes atingem diretamente o patrimnio das pessoas fsicas ou jurdicas. Podem ocorrer por uma ao ou omisso de tal forma que isso venha interferir diretamente nos lucros, ou que venha dar prejuzo direto. Para a reparao do dano deve existir um nexo causal entre a conduta, ao ou omisso, e o efetivo prejuzo causado. Devido a sua natureza material, a reparao do dano deve ser precisa de tal forma que ocorra a recomposio da situao patrimonial anterior ao dano. Importante salientar que em todas as naturezas de dano, devemos levar em considerao o princpio da razoabilidade, pois todas as indenizaes que forem pleiteadas em juzo devem suprir os abalos decorrentes e inibir o ofensor, de forma que se a indenizao for irrisria ao patrimnio econmico do ofensor, no surtir o efeito que se espera no mbito jurdico.

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4. ASSDIO MORAL NA CONSOLIDAO DAS LEIS DO TRABALHO

O Assdio Moral uma realidade que assola muitos trabalhadores brasileiros, ainda mais por conter um grande nmero de desemprego no Brasil, o que no justifica o assdio moral, porm aumenta o seu ndice, visto que as vtimas do assdio no denunciam seus assediadores, pois tm medo de perder seu emprego e no conseguir outro. Contudo, de suma importncia uma legislao especfica sobre o assunto, porm a sua ausncia no impede que os tribunais do trabalho reconheam a gravidade do tema e com os meios que a legislao vigente oferece julgar a cerca do assunto e tentar coibi-lo. Com isso no se quer buscar uma legislao que venha a oferecer uma indenizao condizente com o caso, mesmo porque a indenizao por dano moral j reconhecida, mas o que se busca so outras maneiras de proteger o trabalhador assediado das afrontas a que exposto, ainda em vigncia do contrato de trabalho. Segundo Ferreira (2004, p. 106), ao buscar a tutela jurdica do assdio moral de forma indenizatria o trabalhador teria duas opes, sendo o pedido de demisso, diante da insuportvel situao que se desencadeia no ambiente de trabalho com o processo do assdio moral, ou ento, arcar com o aumento das prticas abusivas, arriscando a sua sade por temer o desemprego. Se ainda estiver em vigor o contrato de trabalho, ainda que no possua legislao vigente sobre o assunto, na Consolidao das Leis do Trabalho que vamos procurar a sada, pois j existe uma soluo jurdica para a questo. Estamos falando de resciso indireta do contrato de trabalho, ou dispensa indireta. Comenta Menezes (2002, p. 140):No Brasil, o assdio, alm da nulidade da despedida e da reintegrao no emprego (art. 4, I, da Lei 9029/95), pode dar nascimento pretenso de

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resoluo do contrato do empregado por descumprimento de deveres legais e contratuais (art. 483, a e b, da CLT).

No art. 483 da CLT, esto elencadas todas as hipteses em que o empregado pode pedir a extino do contrato de trabalho por descumprimento das obrigaes por parte do empregador. Hipteses que tratamos anteriormente quando falamos das conseqncias do assdio moral para o empregador. Simi (apud Ferreira, 2004, p. 104), lembra que:Os atos faltosos do empregador surgem da violao de trs direitos fundamentais do empregado: o direito ao respeito a sua pessoa fsica e moral, compreendendo nesta ultima o decoro e o prestigio; tutela das condies essenciais do contrato; e finalmente, observncia pelo empregador das obrigaes que constituem a contraprestao da prestao do trabalho.

Conforme j sabemos o assdio moral viola principalmente o respeito pessoa fsica do empregado, conforme Ferreira (2004, p. 104), as demais condutas para ser envolvida dependero da conduta abusiva que for utilizada pelo assediador. Desse modo, o processo de assdio moral, no qual o superior hierrquico constrange o seu empregado, expondo-o ao ridculo e a vexame ao eleger o mesmo como empregado tartaruga, afrontando a sua dignidade, d ao empregado assediado moralmente a prerrogativa de pleitear a resciso indireta do contrato de trabalho. Interessante salientarmos que acerca do assunto tramita na Cmara dos Deputados o Projeto de Lei Federal n.5970/01, que tem como finalidade alterar o art. 483 da CLT, inserindo mais uma alnea, o que vem a tratar sobre a coao do assdio moral. Site: www.assediomoral.org; link: legislao federal. O projeto prev a seguinte redao para a alnea:Art. 483: (...) h) Praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele, coao moral, atravs de atos ou expresses que tenham por objetivo ou efeito atingir sua dignidade e/ou criar condies de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade que lhe conferem suas funes.

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O projeto prev ainda a insero do artigo 484-A, o qual se aprovado ter a seguinte redao:Art. 484-A: Se a resciso do contrato de trabalho foi motivada pela prtica de coao moral do empregador ou de seus prepostos contra o trabalhador, o juiz aumentar, pelo dobro, a indenizao devida em caso de culpa exclusiva do empregador.

Com isso podemos perceber que s est sendo dada ateno ao assdio descendente, perdendo-se a chance de prestar uma tutela jurdica realmente eficaz, pela redao. Conforme vimos, o projeto prev as mesmas hipteses em que j se entende caber a resciso indireta, em outras palavras, est repetindo o art. 483, no se fala nas formas de assdio ascendente ou misto, restando um vago no projeto em tramitao. Alm desse projeto existem outros em trmite, at mesmo Leis, as quais no julgamos interessante citar no momento.

4.1 Princpios fundamentais do direito do trabalho

Como j vimos anteriormente, no existe nenhuma lei especfica que trata do assdio moral em questo, porm vimos tambm que a falta de tal legislao no impede que os magistrados venham a sentenciar sobre o assunto. Sobretudo para entendermos com base em que os magistrados esto sentenciando, devemos fazer um breve relato sobre os princpios gerais do direito. Os princpios gerais de direito apresentam-se, inicialmente, com a funo de importante fonte subsidiaria do Direito. A respeito comenta Glockner (2004, p. 32):A Lei de Introduo ao Cdigo Civil (Decreto-Lei n. 4.657, de 04.09.1942), que no art. 4, determina ao juiz, em havendo omisso na lei, decidir o caso conforme a analogia, os costumes e esses princpios. O segundo acha-se esculpido no art. 8 da Consolidao das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de 01.05.943, dispondo que, na ausncia de disposies

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legais ou contratuais, as autoridades administrativas e judicirias se socorram para decidir, tambm, dos princpios e normas gerais do direito.

4.1.1 Natureza do contrato de trabalho

Canto (s/d), traz de forma resumida as caractersticas do contrato de trabalho:O contrato de trabalho bilateral pois origina direitos e obrigaes recprocas com uma correlao de direito e deveres entre as partes. bilateral genrico, pois desde a formao as partes constituem obrigaes. consensual, pois se considera perfeito e acabado com a manifestao de vontade, no sendo real, pois a obrigao de direo do patro depende da obrigao de fazer do empregado. E h um contrato realidade sui generis, pois os direitos e obrigaes na sua maioria nascem do fato condio de ter incio prestao de trabalho. oneroso, pois as partes obrigatoriamente buscam vantagens recprocas. comutativo pois h uma equivalncia de prestao; a comutatividade passa ser entendida de modo global e no prestao por prestao (Deveali). No solene, pois independe de forma ou formalidade. de trato sucessivo e no de durao instantnea. Seus efeitos prolongam-se no tempo determinado na continuidade de certas obrigaes e a periodicidade de certas prestaes (salrio) prolongando-se seus efeitos no tempo, ao contrrio do contrato de execuo instantnea, nos quais a eficcia coincide com o momento da celebrao. Pela continuidade obrigacional derivada no trato sucessivo, se sujeita o empregado a um estado de poder explicativo de subordinao hierrquica. Tambm em decorrncia da periodicidade de efeitos, o contrato de trabalho dinmico, pois os direitos e obrigaes originrias, no tempo, podem se modificar, em decorrncia de aplicao de princpios imperativos da lei ou de eficcia sobre o contrato de normas mais benficas derivados das diversas fontes de direito profissional que atuam no curso da relao, modificando a sua fisionomia original.

4.1.2 Princpio da razoabilidade ou proporcionalidade

O princpio da razoabilidade visa coibir a arbitrariedade exercida pelo empregador, buscando assim a proporcionalidade entre o superior hierrquico e o submisso empregado. A partir desse princpio podemos chegar seguinte concluso: qualquer indenizao que venha ser pleiteada deve ser razovel para que a parte possa realmente repensar o ato que cometeu, pois se o valor for nfimo sequer ser dada ateno, mas com a indenizao sequer visa prtica do ato, nesse caso do assdio. E ainda que tal indenizao no venha reparar o dano causado a vtima, deve ser proporcional ao mau a ela causado.

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4.1.3 Princpio da boa f

Significa que ambas as partes devem cumprir as obrigaes de acordo com o contrato, sempre de forma leal, tica e honesta. Sendo que o empregado deve cumprir seu papel na empresa, bem como estipula o contrato de trabalho, empenhando-se em suas tarefas para ter direito sua contraprestao que o salrio. Em contrapartida o empregador deve fazer a sua parte, ou seja, zelar pela sade e segurana de seus funcionrios dentro do ambiente de trabalho, alm de trat-lo com respeito e dignidade.

4.1.4 Princpio da realidade

O Princpio da realidade vem para defender a realidade dos fatos, diferente das demais matrias onde o que no est nos autos no est no mundo, no Direito do Trabalho o que se busca realmente a aferio da realidade dos fatos, pois esta bem mais importante que qualquer documento. Tal princpio d uma garantia muito importante para o trabalhador, pois muitas vezes o que contratado com o empregado nem sempre executado, tornando-se algo bem diferente do combinado anteriormente.

4.1.5 Princpio da proteo

Devido desigualdade visvel entre empregado e empregador, surgiu este princpio, como forma de compensar a superioridade econmica do empregador, pois este possui o poder de dirigir sua empresa, enquanto que o empregado se mantm temeroso de uma possvel dispensa.

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De acordo com este princpio a interpretao deve ser in dbio pro operrio, ou seja, deve se aplicar o sentido da regra mais favorvel ao trabalhador. Com relao aplicao, deve ser aplicada a condio mais benfica ao trabalhador. Sendo assim, as vantagens j conquistadas, contratadas anteriormente, e que forem mais benficas ao trabalhador no podem ser alteradas para pior, mas sim devem ser preservadas ao longo do contrato, respeitando-se sempre o direito adquirido.

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5. PROJETOS EM TRAMITAO

O assdio moral, como j citamos anteriormente, no se trata de um acontecimento recente, porm, somente a partir de agora comeou a ter notoriedade, devido a um trabalho de vrios estudiosos. No Brasil existem diversos projetos em tramitao no Congresso Nacional, que tm como objetivo regularizar o assdio moral ou coao moral, de acordo com alguns legisladores. Entre tantos projetos destacam-se os que alteram o Cdigo Penal e um que tem como proposta a alterao na CLT (ANEXO C). No Brasil, veio da cidade de Iracempolis-SP a primeira lei municipal a explicitar o termo. Vrias outras cidades j legislaram ou tm projetos de leis sobre o tema destacando-se: Americana-SP, Campinas-SP, Cascavel-PR, Guarulhos-SP, Jaboticabal-SP, Natal-RN, So Paulo-SP, Sidorlndia-MS, Amparo-SP, Cruzeiro-SP, Curitiba-PR, Guararema-SP,

Guaratinguet-SP, Porto Alegre-RS, Reserva de Iguau-SP, Ribeiro Pires-SP, So Jos dos Campos-SP, Vitria - ES. Vale ressaltar entres tantas leis municipais e estaduais j promulgadas, todas tm sua aplicao aos rgos, reparties ou entidades da administrao centralizada, autarquias, fundaes, empresas publicas ou sociedades de economia mista, do Poder Executivo, Legislativo ou Judicirio. A vtima que tem seu contrato de trabalho regido pela CLT ou mesmo aquele que no tem carteira assinada, ter que buscar amparo Constituio, no artigo 5, V e X, lhe assegura o respeito dignidade humana, cidadania, imagem e ao patrimnio do obreiro, com indenizao por danos morais (assdio sexual, assdio moral e dano pessoal), pois at o presente momento no temos nenhuma legislao que trata especificamente do assunto.

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Quanto Consolidao das leis do Trabalho, existe um Projeto para acrescentar a alnea g no artigo 483, que trata da resciso indireta e acrescentar o artigo 484 (ANEXO B). Esses artigos visam coibir os atos dos agressores contra os assediados, sendo que estes atos podem resultar num pedido de demisso e em alguns casos, chegar at ao suicdio, pois esto cansados de serem humilhados e serem perseguidos sistematicamente. H um projeto de lei na esfera penal, que tem como objetivo tipificar criminalmente a conduta de quem pratica o assdio moral no ambiente de trabalho. Trata-se do projeto de lei federal n. 4.742/01 de autoria do deputado Marcos de Jesus do PL/PE (ANEXO C). A implantao desse artigo no Cdigo Penal, faria com que a prtica fosse reduzida, uma vez que ao praticar o assdio moral o assediante poderia responder penalmente, chegando a ir para a priso, caso fosse condenado. Este artigo seria uma forma de coibir a prtica deste ato.

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CONCLUSO

Ao findar o assunto do assdio moral, podemos chegar concluso de que o assdio moral uma forma contnua de humilhao que feita por superior hierrquico ou qualquer pessoa relacionada ao seu ambiente de trabalho, com o fim especfico de afastar a vtima do local de trabalho. Sendo que dessa forma as empresas se livram dos trabalhadores indesejados sem arcar com a despesa gerada pela demisso sem justa causa, como as verbas trabalhistas. O processo do assdio moral inicia-se ao ferir a dignidade do trabalhador, por meio de humilhaes, ridicularizaes, isolamento e outros, tornando o ambiente de trabalho o pior possvel. Para tanto necessrio que estas se prolonguem no tempo para que possam ser caracterizadas como assdio. Na maioria dos casos de assdio o funcionrio no faz nada para mudar a situao, pois comum o leve engano de que o empregador tem nas mos o poder diretivo, tendo o funcionrio o dever de submisso em qualquer caso, para que no caracterize insubordinao. Porm, nos casos de assdio moral, ultrapassa esse poder, revelando um verdadeiro abuso, o que confere nesse caso o direito de pleitear judicialmente a devida reparao. Embora nossa legislao no trate de maneira especfica sobre o assdio moral, este uma violao ao contrato de trabalho, tanto na forma ativa como omissiva, pois ao se estabelecer em uma empresa, mesmo que no seja pelo empregador porque esta empresa permite, ou no trata o assunto com represlias. Pois, cabe empresa zelar pelo ambiente de trabalho, proporcionando aos seus funcionrios um ambiente sadio. O assunto tem uma enorme seriedade, pois embora sejam subjetivas, suas conseqncias so as mais variadas possveis, no atingindo somente a sade fsica do assediado, mas sua sade mental tambm, desencadeando diversos tipos de doena, causando-

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lhe perturbaes que podem at lev-lo a morte. Assim, para que reste comprovado o fenmeno, basta a conduta do empregador caracterizando o assdio moral, independente dos danos causados ao trabalhador, se fsicos ou psicolgicos, devendo ser reconhecido ou comprovado, para que o empregado possa pedir a resciso indireta ou pleitear uma justa indenizao devida condio degradante a que foi submetido, tendo violada sua dignidade. Ainda que nossa legislao brasileira seja carente de uma legislao especfica sobre o assdio moral, a jurisprudncia tem suprido tais lacunas com aplicao de regras e princpios constitucionais. Interessante lembrarmos que o assdio moral pode se manifestar em vrias posies, sendo o assdio ascendente, o descendente, e o horizontal. No assdio descendente o agente assediador o superior hierrquico. O assdio moral ascendente trata-se do contrrio, onde o agente assediador um ou mais subordinados contra um superior hierrquico. No campo intermedirio encontra-se o assdio moral horizontal, onde o fenmeno se destaca em uma mesma posio, ou seja, entre subordinados sem hierarquia. Podemos considerar ainda o assdio misto, que quando um funcionrio assediado tanto pelo superior hierrquico quanto pelos colegas de trabalho. Um aspecto de grande relevncia que citamos em nosso trabalho a legislao que foi constituda em diversos municpios com intuito de coibir a prtica em alguns rgos pblicos, sendo vlida somente para os rgos pblicos, deixando os trabalhadores da iniciativa privada sem qualquer proteo acerca do assunto, contando a penas com a Constituio Federal e a utilizao dos princpios a serem amoldados ao assunto. O fato que existe a preocupao, porm poucos so aqueles colocam a dignidade da pessoa humana acima de outros assuntos tratados com mais prioridade no nosso ordenamento jurdico. Deixando os humildes trabalhadores sem proteo.

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REFRNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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ANEXO A: Assdio moral: como a vitima deve proceder

O que a vtima deve fazer? Resistir: anotar com detalhes todas as humilhaes sofridas (dia, ms, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, contedo da conversa e o que mais voc achar necessrio). Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que j sofreram humilhaes do agressor. Organizar. O apoio fundamental dentro e fora da empresa. Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante sindical. Exigir por escrito, explicaes do ato agressor e permanecer com cpia da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se possvel mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo. Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: mdicos ou advogados do sindicato assim como: Ministrio Pblico, Justia do Trabalho, Comisso de Direitos Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resoluo do Conselho Federal de Medicina n.1488/98 sobre sade do trabalhador). Recorrer ao Centro de Referencia em Sade dos Trabalhadores e contar a humilhao sofrida ao mdico, assistente social ou psiclogo. Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade so fundamentais para recuperao da auto-estima, dignidade, identidade e cidadania. http://www.assediomoral.org/site/assedio/AMestrategias.php

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ANEXO B: Projeto de lei federal n 5.970/2001

Altera dispositivos do Decreto-Lei n 5.452, de 1 de maio de 1943 - Consolidao das Leis do Trabalho (CLT). O Congresso Nacional decreta: Artigo 1 - O art. 483 do Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943 - Consolidao das Leis do Trabalho, passa a vigorar acrescido da alnea "g", com a seguinte redao: Art. 483 ....... g) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele, coao moral, atravs de atos ou expresses que tenham por objetivo ou efeito atingir sua dignidade e/ou criar condies de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade que lhe conferem suas funes." Artigo 2 - O 3 do art. 483 do Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943 - Consolidao das Leis do Trabalho, passa a vigorar com a seguinte redao: " 3 Nas hipteses das letras d, g e h, poder o empregado pleitear a resciso de seu contrato e o pagamento das respectivas indenizaes, permanecendo ou no no servio at final deciso do processo. (NR)" Artigo 3 - Acrescente-se o art. 484-A ao Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943 Consolidao das Leis do Trabalho, com a seguinte redao: "Art. 484 - A Se a resciso do contrato de trabalho foi motivada pela prtica de coao moral do empregador ou de seus prepostos contra o trabalhador, o juiz aumentar, pelo dobro, a indenizao devida em caso de culpa exclusiva do empregador." Artigo 4 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

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ANEXO C: Projeto de lei federal n 4742/2001

Introduz artigo 146-A, no Cdigo Penal Brasileiro - Decreto-lei n 2848, de 7 de dezembro de 1940 - , dispondo sobre o crime de assdio moral no trabalho. O Congresso Nacional decreta: Artigo 1 - Art. 1 O Cdigo Penal Brasileiro - Decreto-lei n 2848, de 7 de dezembro de 1940 - passa a vigorar acrescido de um artigo 146 A, com a seguinte redao: Assdio Moral no Trabalho Art. 146 A. Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a autoestima, a segurana ou a imagem do servidor pblico ou empregado em razo de vnculo hierrquico funcional ou laboral. Pena: Deteno de 3 (trs) meses a um ano e multa. Artigo 2 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicao. Sala das sesses, em 23 de maio de 2001. Marcos de Jesus Deputado federal - PL - PE

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ANEXO D: Lei n 11.409 de 04 de novembro de 2002

Veda o assdio moral no mbito da administrao pblica municipal direta, indireta, nas autarquias e fundaes pblicas A Cmara Municipal aprovou e eu, Prefeita do Municpio de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei: Artigo 1 - Fica vedado o assdio moral no mbito da administrao pblica direta, indireta, nas autarquias e fundaes pblicas, que submeta servidor a procedimentos que impliquem em violao de sua dignidade ou, por qualquer forma que o sujeite a condies de trabalho humilhante ou degradante. Artigo 2 - Considera-se assdio moral para os fins de que trata a presente lei toda ao, gesto, determinao ou palavra, praticada de forma constante por agente, servidor, empregado, ou qualquer pessoa que, abusando da autoridade que lhe confere suas funes, tenha por objetivo ou efeito atingir a auto-estima ou a autodeterminao do servidor. 1. Considera para efeito do caput deste artigo: I - determinar o cumprimento de atribuies estranhas ou de atividades incompatveis com o cargo que ocupa, ou em condies e prazos inexeqveis; II - designar para o exerccio de funes triviais o exercente de funes tcnicas, especializadas, ou aquelas para as quais, de qualquer forma, exijam treinamento e conhecimentos especficos; III - apropriar-se do crdito de idias, propostas, projetos ou de qualquer trabalho de outrem; 2. Considera-se tambm assdio moral as aes, gestos e palavras que impliquem: I - em desprezo, ignorncia ou humilhao ao servidor que o isolem de contatos com seus superiores hierrquicos e com outros servidores, sujeitando-o a receber informaes, atribuies, tarefas e outras atividades somente atravs de terceiros; II - na divulgao de rumores e comentrios maliciosos, bem como na prtica de crticas reiteradas ou na subestimao de esforos, que atinjam a dignidade do servidor; III - na exposio do servidor a efeitos fsicos ou mentais adversos, em prejuzo de seu desenvolvimento pessoal e profissional; IV - em restrio ao exerccio do direito de livre opinio e manifestao das idias. Artigo 3 - O assdio moral praticado pelo agente, servidor, empregado ou qualquer pessoa que exera funo de autoridade nos termos desta lei, infrao grave e sujeitar o infrator s seguintes penalidades: I - advertncia; II - suspenso; III - demisso. 1 - Na aplicao das penalidades sero considerados os danos que dela provierem para o servidor e para o servio prestado ao usurio pelos rgos da administrao direta, indi