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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rua da Alfândega nº 8, sala 3T, Centro, Rio de Janeiro/RJ 1 EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA ........ VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO. A COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, CNPJ nº 30.449.862/0001-67, especialmente constituída para defesa dos interesses e direitos dos consumidores, estabelecida na Rua da Alfândega, n.º 8, térreo, sala 3, Centro, Rio de Janeiro - RJ, CEP.: 20.070-000, por intermédio de sua procuradora in fine assinado (doc. 01), vem perante V. Exa., com fulcro na CRFB/1988 c/c a Lei n.° 8.078/90, respeitosamente propor a presente: AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA pelo rito ordinário, em face de NEP INCORPORAÇÕES S.A. - SPE 4 – ITABORAÍ, doravante denominada NEP, inscrita no CNPJ sob o n.° 10.837.889/0001-10, com sede na Rodovia Washington Luiz nº 14.355, Jardim Primavera, Duque de Caxias CEP: 25.240-005 e estabelecida na Avenida Borges de Medeiros, n.º 633, salas 606 a 608 parte, Leblon, Rio de Janeiro -RJ, CEP: 22.430-041, PATRIMÓVEL CONSULTORIA IMOBILIÁRIA S.A, doravante

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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA ........ VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL

DO RIO DE JANEIRO.

A COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO, órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de

Janeiro, CNPJ nº 30.449.862/0001-67, especialmente constituída para defesa dos interesses e

direitos dos consumidores, estabelecida na Rua da Alfândega, n.º 8, térreo, sala 3, Centro, Rio

de Janeiro - RJ, CEP.: 20.070-000, por intermédio de sua procuradora in fine assinado (doc.

01), vem perante V. Exa., com fulcro na CRFB/1988 c/c a Lei n.° 8.078/90, respeitosamente

propor a presente:

AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO

COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

pelo rito ordinário, em face de NEP INCORPORAÇÕES S.A. - SPE 4 – ITABORAÍ, doravante

denominada NEP, inscrita no CNPJ sob o n.° 10.837.889/0001-10, com sede na Rodovia

Washington Luiz nº 14.355, Jardim Primavera, Duque de Caxias CEP: 25.240-005 e

estabelecida na Avenida Borges de Medeiros, n.º 633, salas 606 a 608 parte, Leblon, Rio de

Janeiro -RJ, CEP: 22.430-041, PATRIMÓVEL CONSULTORIA IMOBILIÁRIA S.A, doravante

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denominada PATRIMÓVEL, inscrita no CNPJ sob o nº 42.128.512/0001-88, com sede à

Avenida das Américas nº 4.201, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro – RJ, BRASCORP

PARTICIPAÇÕES S.A., doravante denominada BRASCORP, inscrita no CNPJ sob o nº

09.278.579.0001/23 e estabelecida na ST SHIS QI 16 conjunto 02 , nº 11, casa 11 escritório

parte C, CEP: 71.640-220 e a ATLANTICA HOTELS INTERNACIONAL, doravante denominada

ATLANTICA, inscrita no CNPJ sob o nº 02.223.966/0001-13 e estabelecida na Alameda Rio

Negro, 13º andar, Ed. Padauri, Alphaville, Barueri, São Paulo, pelas razões de fato e de direito

que passa a expor:

I - DA LEGITIMIDADE DA PARTE AUTORA

A questão preliminar referente à legitimidade da autora para propor Ação Coletiva em benefício

dos consumidores já foi solucionada pelo E. Superior Tribunal de Justiça, veja-se:

PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SISTEMA DE BILHETAGEM ELETRÔNICA DE ÔNIBUS REALIZADA PELA FETRANSPORTE - RIOCARD. ARTS. 81 E 82 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LEGITIMAÇÃO ATIVA DA COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS QUE REGEM A AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 1. Cinge-se a controvérsia à legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para propor Ação Civil Pública visando a obrigar os associados da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro - Fetranspor a informar o saldo do Riocard (sistema de bilhetagem eletrônica de ônibus) sobre cada débito realizado no respectivo cartão. 2. O CDC conferiu legitimação para ajuizamento de demandas coletivas, inclusive para a tutela de interesses individuais homogêneos, às "entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados a defesa dos interesses e direitos" do consumidor (art.82, III).

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3. As normas que regem a Ação Civil Pública - símbolo maior do modelo democrático, coletivo, eficiente e eficaz do acesso à Justiça, na sua concepção pós-moderna - convidam à ampliação judicial, jamais à restrição, do rol de sujeitos legitimados para a sua propositura. O Juiz, na dúvida, decidirá em favor do acesso à Justiça, pois a negação da legitimação para agir demanda vocalização inequívoca do legislador. 4.A recorrente - Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro - é entidade ou órgão técnico vinculado ao Poder Legislativo Estadual com competência, expressa e específica, para atuar na tutela do consumidor, integrando o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 5. A previsão normativa para ajuizar demandas coletivas na hipótese dos autos foi inserida, em fevereiro de 2006, no art. 26, § 49, "d", do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, reforma (diga-se, de passagem, desnecessária) realizada rigorosamente para expressar tal possibilidade. 6. Na apreciação da legitimação para a proposição de ações coletivas, não se deve entender restritivamente a expressão "Administração Pública", referida no art. 82, III, do CDC. Para o intérprete da lei, como o STJ, importa apenas indagar se o órgão em questão exerce, com base em autorização legal, função administrativa e, por meio dela, a defesa do consumidor, de modo análogo ou semelhante ao Procon. 7. Recurso Especial provido para reconhecer a legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para a propositura de demanda coletiva visando à defesa do consumidor (grifou-se) (REsp 1075392/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 04/05/2011)

Não resta dúvida, desta forma, acerca da legitimidade ativa da autora.

II - DOS FATOS

Em 14 de dezembro de 2010, a NEP, com a intermediação da PATRIMÓVEL, da BRASCORP e

da ATLANTICA, colocou à venda no mercado o empreendimento SUPREME ITABORAI

BUSINESS & HOTELS, localizado na Rua Ozório da Costa (esquina com BR 101), lote 2,

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Itaboraí, RJ, empreendimento esse composto de 198 unidades hoteleiras, vinculadas à bandeira

CONFORT, com a promessa de serem administrados pela administradora do citado

empreendimento, ATLANTICA HOTELS INTERNATIONAL, conforme Acordo Comercial para

Administração de Empreendimento Apart-Hoteleiro (doc. 02).

Foi divulgada uma ampla campanha publicitária entorno desse empreendimento, composta por

ilustrações artísticas em folders (doc. 03), dizeres, informações pessoais, etc. Desta campanha

publicitária nasceu, naqueles que adquiriram as unidades imobiliárias, a expectativa de que o

empreendimento SUPREME ITABORAÍ seria um excelente negócio, posto que contava com a

qualidade e garantia das rés NEP e BRASCORP e que junto a elas estava uma das mais

tradicionais administradoras hoteleiras do mundo, a ATLANTICA HOTELS INTERNACIONAL.

Conforme seu site1, a ATLANTICA HOTELS administra, no Brasil, mais de 80 hotéis com mais

de 13.000 apartamentos, em 43 cidades o que agregaria seus serviços de alta qualidade ao

empreendimento.

Ainda de acordo com seu site, a ATLANTICA se denomina “a maior administradora hoteleira

multimarcas independente da América do Sul de capital fechado”, se garantindo como referência

de bons negócios para os investidores hoteleiros, com valores sólidos e estratégia diferenciada,

o que têm garantido à empresa um crescimento contínuo e seguro.

“Com uma estrutura completa para a administração hoteleira, a Atlantica Hotels administra mais

de 80 hotéis do Brasil, somando mais de 13.000 quartos. Atualmente, a empresa conta com

mais de 4.000 colaboradores, treinados e pautados, profissionalmente, pela atuação da

empresa no segmento da hospitalidade. A Atlantica Hotels oferece a seus parceiros amplo e

atualizado modelo de gestão hoteleira.”

Atualmente são 10 bandeiras divididas em quatro segmentos:

- Budget: Go Inn

1 http://atlanticahotels.com.br/nossos-hoteis/hoteis-abertos

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- Econômico: Sleep Inn

- Midclass: Comfort

- Superior: Comfort Suites - Quality - Park Suites - Park Inn by Radisson

- Luxo: Clarion - Four Points by Sheraton - Radisson

A venda dos referidos imóveis só foi possível com a intermediação e atuação da ré

PATRIMÓVEL – Consultoria de Imóveis ltda, conhecida corretora no mercado imobiliário que,

em parceira da NEP, da BRASCORP e da ATLANTICA no negócio imobiliário, prestou

assessoria aos consumidores que realizaram a aquisição dos referidos imóveis, conforme

contrato e recibos de pagamento de corretagem e das parcelas acordadas, em anexo (doc. 04).

Cumpre-nos ressaltar que, por hora, anexamos a documentação somente de um dos

consumidores, Sr. Jackson Dominguez de Figueiredo, adquirente da unidade 115 do

Empreendimento Supreme Itaboraí Business Hotels, que representa dezenas de outros, apenas

para que a inicial não fique demasiadamente volumosa.

“NATUREZA DO IMÓVEL (conforme cláusula 02 do contrato, doc. 04): MISTO COM UNIDADES

COMERCIAIS E DO TIPO APARTHOTEL - APARTAMENTOS PARA LOCAÇÃO NO SISTEMA

POOL IMOBILIÁRIO E HOTELEIRO, RESTAURANTE, SALAS PARA REUNIÕES E EVENTOS,

LOJA DE CONVENIÊNCIA, ACADEMIA DE GINÁSTICA E VAGAS PARA ESTACIONAMENTO

DE VEÍCULOS.”

Assim, diversos consumidores foram atraídos pela oferta das rés que pareceu a eles um

excelente negócio, não apenas em razão do momento de valorização imobiliária e da situação

específica do local (amplamente divulgado pelas rés, conforme os folders doc. 03), mas por

contar especialmente com a assessoria e garantia da ré PATRIMÓVEL e pelo chamariz da rede

hoteleira ATLANTICA HOTELS INTERNACIONAL.

A parceria entre as rés NEP e ATLANTICA foi previamente firmada entre as mesmas, conforme

cópia do Acordo Comercial para Administração do Empreendimento Apart-Hoteleiro e seus

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Anexos (doc. 02). A parceria entre a ré ATLANTICA e os consumidores adquirentes foi firmada

através do Contrato de Constituição de Sociedade em Conta de Participação, no qual a citada ré

é a “administradora” e o consumidor adquirente “proprietário” (doc. 05).

Importante ressaltar ainda que, vários contratos foram assinados nas dependências da ré

PATRIMÓVEL, localizada na Avenida das Américas nº 4201, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro,

posto que a mesma, como dito, prestava a assessoria técnica imobiliária aos consumidores,

conforme pode ser constatado através dos recibos de pagamento emitidos pela mesma (doc.

04).

Desta forma, acreditando na oferta das rés e baseados na expectativa de promessa de um

excelente investimento, diversos consumidores assinaram os contratos de promessa de compra

e venda das unidades imobiliárias, conforme cópia anexada do contrato de aquisição do

consumidor Jackson Dominguez de Figueiredo, da unidade 115 do hotel COMFORT e vêm

efetivando os pagamentos desde então, na forma convencionada em contrato (doc. 04).

Cumpre salientar que, em que pese a real situação da obra do empreendimento, a autora tomou

conhecimento de que muitos consumidores efetuaram todos os pagamentos devidos, dando

total quitação à dívida, estando evidente ainda que o preço estará completamente pago muito

tempo antes da entrega do imóvel, bem como outros não conseguiram continuar seus

pagamentos e encontram-se inadimplentes.

Ocorre que, em que pese constar na Cláusula 04, item 4.1 do contrato (doc. 04), a previsão

para conclusão da obra do empreendimento para o mês de novembro de 2013, com

tolerância de 180 (cento e oitenta) dias e a ontenção da carta de “habite-se”, a mesma

NÃO FOI CONCLUÍDA até a presente data.

Preocupados com o transcorrer do tempo, os consumidores começaram a perceber que as

obras estavam quase paralizadas, a ponto de em setembro de 2014 (10 meses após a data

prevista para a entrega do empreendimento) existir no local o “esqueleto” de um prédio com

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obra visivelmente parada, como pode ser constatado através das fotos tiradas no local, em

junho e setembro de 2014 (doc. 06).

Percebendo o lento andamento das obras, os consumidores começaram a entrar em contato

com as rés, sem sucesso. Alguns consumidores conseguiram entrar em contato com o Sr. Ciro

Fidalgo, representante da BRASCORP, responsável pelo desenvolvimento e execução do

empreendimento, mas lamentavelmente, a citada ré prestava informações confusas e diversas.

Posteriormente, as rés sequer passavam informações aos consumidores adquirentes sobre o

andamento e término das obras, o que gerou angústia e grande preocupação aos mesmos.

Ressalta-se que, segundo relato dos consumidores, os mesmos, no intuito de obterem

informações sobre o andamento das obras, nunca, jamais, conseguiram contato com a Diretoria

da empresa NEP, principalmente com o Sr. Fernando Trabach Gomes Filho, diretor presidente

da mesma, pessoa responsável pela assinatura do contrato de compra e venda. Outrossim,

sequer conseguiram registrar seus Contratos de Promessa de compra e venda das unidades

imobiliárias que adquiriram, vez que o cartório exige o reconhecimento de firma por

autenticidade da promitente vendedora, no caso, seu diretor Sr. Fernando Trabach Gomes Filho

e o mesmo não é localizado.

Importante frisar a necessidade de informação clara, não apenas no momento da celebração do

contrato, mas igualmente quanto à sua evolução, eis que não há outra forma de se atender ao

princípio da boa fé, da lealdade entre os contratantes. Assim, se faz legítimo o direito dos

consumidores adquirentes das unidades tomarem conhecimento do andamento da obra,

principalmente quando o prazo para finalização da mesma expirou e o empreendimento não foi

entregue, após tanto tempo da assinatura dos contratos.

Em suma, diante desses fatos, dezenas de consumidores procuraram a Comissão de Defesa do

Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e efetuaram reclamações

referentes às irregularidades aqui apontadas no empreendimento em questão, as quais

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juntamos apenas alguma amostra para que a inicial não fique demasiadamente extensa (doc.

.......).

Desta feita, em razão da inércia das rés em entregar o empreendimento no prazo acordado

NOVEMBRO DE 2013, mesmo sob a dilação do prazo de 180 dias, bem como em não prestar

esclarecimentos precisos sobre o andamento da obra, a cada consumidor adquirente, como

preceitua nossa legislação, apesar das rés terem recebidos os respectivos pagamentos dos

consumidores adquirentes, a autora foi obrigada a, na qualidade de órgão de defesa dos direitos

e interesses dos consumidores, ajuizar a presente demanda para que sejam impostas às rés

obrigações de cumprir aquilo que foi prometido na publicidade em torno do empreendimento; a

informar o andamento das obras; a entregar o empreendimento nos moldes que foi ofertado; à

suspensão da exigibilidade dos pagamentos; a indenizar os danos morais causados aos

adquirentes de unidades autônomas; bem como a restituir os valores pagos pelos adquirentes

das unidades autônomas caso estes optem por rescindir os contratos que importaram em

aquisição da propriedade destas unidades.

III - DO DIREITO

A relação existente entre as rés e os adquirentes de unidades autônomas do empreendimento

SUPREME ITABORAÍ é de consumo, tendo em vista o disposto nos artigos 2º e 3º, CDC. Por

isso, aplicáveis as normas do CDC.

a) Do cumprimento da oferta e da rescisão motivada do contrato

Dispõe o artigo 30, CDC, que “toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,

veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços

oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que vier a ser celebrado”.

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Do material publicitário colocado à disposição dos interessados em adquirir as unidades

autônomas do empreendimento SUPREME ITABORAÍ, conforme observado anteriormente, por

ilustrações (“perspectiva computadorizada fotorealista dos edifícios”), dizeres, folders, (doc. 03)

bem como dos contratos (doc. 02), percebe-se claramente que as rés ofertaram um

empreendimento que NÃO FOI ENTREGUE NO PRAZO ACORDADO e está longe de o ser.

Note-se porém, que o que se questiona na presente é o descumprimento da oferta de “entrega”

do empreendimento em questão, bem como a falta de informações sobre o andamento das

obras, que é direito dos consumidores adquirentes.

Neste sentido, prescreve o artigo 35, CDC, que “se o fornecedor de produtos ou serviços

recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá,

alternativamente e à sua livre escolha: I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos

termos da oferta, apresentação ou publicidade; II – aceitar outro produto ou prestação de

serviço equivalente; III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia

eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos”.

Desta forma, em razão do inexorável descumprimento da oferta sobre o empreendimento

SUPREME ITABORAÍ as rés deverão ser obrigadas a dar andamento às obras e entregar as

unidades, adequadamente, conforme a ilustração e os dizeres contidos no material publicitário,

bem como nos moldes do contrato firmado entre as partes e, até que sejam entregues as

unidades, deverão informar a cada consumidor adquirente o estado real, o andamento da obra,

em prazo razoável a ser fixado por V.Exa.; a suspender a obrigatoriedade dos pagamentos

daqueles que ainda não deram quitação; bem como a restituir todos os valores pagos pelos

adquirentes de unidades autônomas que pretendam exercer o direito de rescindir o contrato que

culminou na transmissão de propriedade.

Ressalta-se que, segundo informado pelos consumidores, grande parte deles já quitou seus

pagamentos e, ante a atual situação do empreendimento, constatou serem ilusórias as raras

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informações recebidas quanto ao estado da obra, restando evidente a falta de expectativa e

insegurança que os consumidores estão submetidos.

b) Do princípio da informação e responsabilidade das rés

É importante frisar a necessidade de informação clara, não apenas no momento da celebração

do contrato, mas igualmente quanto à sua evolução, eis que não há outra forma de se atender

ao princípio da boa fé, da lealdade entre os contratantes.

Não por outra razão o Código de Defesa do Consumidor prevê ainda em seu artigo 6º, III:

“São direitos básicos do consumidor:

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e

serviços, com especificação correta de quantidade, características,

composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre

os riscos que apresentem;”

Assim, conforme disposto no Código de Defesa do Consumidor em seus artigos 6º, II, III, IV, e

art. 14, parágrafo 1º, II do CDC o mesmo deva integrar ao que dita o art. 43, I, da Lei 4591/64.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

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I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa

Cabe ainda ressaltar que o artigo 66 do CDC capitula inclusive como crime consumerista o ato

do prestador de serviços que omite, ou falseia informação relevante sobre o contrato

formalizado, e de igual forma prevê o art. 43, II da Lei 4591/64.

Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa

Art. 43. Quando o incorporador contratar a entrega da unidade a prazo e preços certos, determinados ou determináveis, mesmo quando pessoa física, ser-lhe-ão impostas as seguintes normas: I - informar obrigatòriamente aos adquirentes, por escrito, no mínimo de seis em seis meses, o estado da obra; II - responder civilmente pela execução da incorporação, devendo indenizar os adquirentes ou compromissários, dos prejuízos que a estes advierem do fato de não se concluir a edificação ou de se retardar injustificadamente a conclusão das obras, cabendo-lhe ação regressiva contra o construtor, se for o caso e se a este couber a culpa

Em conseqüência, a fim de se inteirar melhor dos fatos, tendo em vista a dificuldade de contato

com as rés NEP, BRASCORP, PATRIMÓVEL, bem como com a ATLANTICA HOTELS

INTERNACIONAL que até a presente data não informaram o estado da obra aos consumidores,

os mesmos começaram a visitar o local onde deveria estar construído o empreendimento e

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constataram uma obra inicial, praticamente paralisada, conforme fotos anexadas à presente

(doc. 06).

Corroborando com a paralisação da obra, somaram-se as inúmeras notícias de descumprimento

pelas rés, ou de outros empreendimentos construídas pelas rés, também através do site

Reclame Aqui, revelando sua real situação de comprometimento econômico-financeira de sorte

a dar continuidade no tempo e na forma avençados, deixando em alerta quanto ao temerário

prosseguimento dos pagamentos, e conseqüente entrega, face ao evidenciado descumprimento

do acordado.

As obras a seguir, de empreendimentos similares, na realidade a maioria delas, estão

extremamente atrasadas, a saber:

Supreme Caxias – abertura prevista para janeiro de 2013, ainda não foi aberta;

Supreme Dutra – abertura prevista para junho de 2013, ainda não foi aberta;

Supreme Itaguaí – abertura prevista para janeiro de 2014, ainda longe de terminar;

Supreme Campos – abertura prevista para março de 2015, ainda longe de terminar;

Supreme Resende – 15 meses após o lançamento, ainda não foi sequer iniciada;

Cabe ressaltar não haver justificativa plausível para a não execução da obra, ou para a não

informação aos consumidores do andamento da mesma. Por negligência, descaso, ou mesmo

erro, à luz da responsabilidade traduzida no art. 14, parágrafo primeiro, II, do CDC c/c art. 32, g

da Lei 4591/64.

c) da ausência de memorial de incorporação arquivado

Foi constatado pelos consumidores ainda, não haver Registro Imobiliário da Escritura, bem

como do Memorial de Incorporação, ou seja, a dita incorporação, não fora efetivada nos exatos

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ditames da norma, art. 32, g da Lei 4591/64, que impõe de forma indispensável o arquivamento

prévio à venda, do memorial de incorporação o que, por conseguinte não se verificou.

“Art. 32. O incorporador somente poderá negociar sobre unidades

autônomas após ter arquivado, no cartório competente de Registro de

Imóveis, os seguintes documentos:

g) memorial descritivo das especificações da obra projetada, segundo

modelo a que se refere o inciso IV, do art. 53, desta Lei;”

Em vista do contexto acima, a ausência de memorial devidamente arquivado na matrícula dos

imóveis prometidos à venda, como impõe a lei, é notório que o direito dos consumidores

adquirentes não se mostra preservado mediante terceiros, observado ainda que são particulares

os instrumentos promissivos.

d) Da reparação de danos, lucros cessantes e do princípio da boa-fé

Não se pode impor que o consumidor adquirente que efetuou o pagamento de grande parte do

preço acordado, mediante todas as evidências tenha que aguardar, perpetuar no desembolso,

quando de antemão é inexorável o inadimplemento das rés.

O artigo 35, III, CDC, prevê que o descumprimento de obrigação decorrente de oferta é causa

justificável para o consumidor requerer a rescisão de contrato celebrado em razão da oferta,

caso assim opte, com direito à restituição da quantia eventualmente antecipada e a perdas e

danos. Desta forma, a rescisão do contrato sem ônus para o consumidor, acompanhada da

restituição da quantia eventualmente antecipada, não obsta à reparação dos danos que o

consumidor tenha sofrido em razão do descumprimento de obrigações oriundas de ofertas.

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Para os casos de danos em geral, dispõe o artigo 6°, VI, do CDC, que é direito básico do

consumidor “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivos e difusos”.

Trata-se de responsabilidade civil objetiva, por força do disposto nos artigos 12 e 14 do CDC,

logo os fornecedores de serviços respondem, independentemente de culpa, pelos danos

causados na prestação dos seus serviços ou no fornecimento de seus produtos.

“Pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder por eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos, independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança, bem como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas ofertas. A responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar, distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos produtos e serviços que oferece no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos”. (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 422)

De acordo com as regras da responsabilidade civil objetiva prevista no Código de Defesa do

Consumidor, cabe ao ofendido, para fazer jus à reparação requerida, demonstrar a presença de

três pressupostos para responsabilizar o fornecedor: defeito do produto ou serviço, dano e o

nexo de causalidade entre o primeiro e o segundo.

“A responsabilidade por danos decorre da propagação do vício de qualidade, alcançando o consumidor e inclusive terceiros, vítimas do evento, e supõe a ocorrência de três pressupostos: a) defeito do produto; b) eventus damni, e

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c) relação de causalidade entre o defeito e o evento danoso”. (DENARI, Zelmo. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 177)

Do defeito

As rés prometeram construir o empreendimento SUPREME ITABORAÍ. Em razão disso,

dezenas de consumidores celebraram contratos com a ré NEP, com a participação das rés

BRASCORP, PATRIMÓVEL e ATLANTICA para adquirirem unidades e usufruírem de todos os

atrativos do empreendimento.

Todavia, conforme já exaustivamente abordado, a obrigação não está sendo cumprida, posto

que o prazo para entrega do empreendimento expirou, as obras estão paralisadas e,

principalmente, os consumidores não possuem nenhum tipo de informação sobre o andamento

das mesmas. Os documentos em anexo comprovam essa afirmativa.

Tratando-se de responsabilidade civil envolvendo um contrato, como o celebrado entre os

adquirentes e as rés, o descumprimento (de obrigações contratuais) configura o defeito.

“Não basta, todavia, a existência de um contrato válido para que tenha lugar a responsabilidade contratual. Será, ainda, necessária a inexecução do contrato, no todo ou em parte, a ocorrência do ilícito contratual, que se materializa através do inadimplemento ou mora...” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2002, pp. 227/228)

Do dano

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Segundo Paulo Jorge Scartezzini Guimarães “dano é toda diminuição no patrimônio de uma

pessoa, entendendo-se o termo ‘patrimônio’ em seu sentido lato, abrangendo tanto os bens

materiais como os imateriais”. (Vício do produto e do serviço por qualidade, quantidade e

insegurança: cumprimento imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004, p. 314)

Acrescenta o mencionado autor que quando ocorre o cumprimento imperfeito de uma obrigação,

ou obrigações, “podem surgir três tipos de dano: O primeiro, concernente às despesas

contratuais; o segundo, chamado de dano circa rem, ligado aos prejuízos causados na coisa ou

diretamente relacionados ao cumprimento imperfeito; por último, os danos causados na pessoa

ou em outros bens do credor, de terceiros ou ligados indiretamente ao vício, chamados de dano

extra rem”. (Ob. Cit. p. 314)

No caso concreto, dois “tipos” de danos os consumidores adquirentes do empreendimento

SUPREME ITABORAÍ sofreram: danos morais e materiais.

Farão jus à indenização por danos materiais consistente na restituição do valor pago para

remunerar o capital disponibilizado para aquisição da unidade autônoma aqueles que desejarem

rescindir o contrato. Bem como farão jus à indenização por danos materiais consistente na

desvalorização da unidade autônoma aqueles que não pretendem rescindir o contrato que

culminou na transmissão da propriedade da unidade autônoma.

Com relação aos danos morais vale, antes de demonstrar em que consistem, discorrer sobre a

indenizibilidade destes quando originam do descumprimento de contrato e da prova de sua

ocorrência.

Discute-se na doutrina pátria e na jurisprudência dos Tribunais que o inadimplemento de um

contrato não é capaz de causar danos morais indenizáveis, por se tratar de risco esperado pelas

partes, que podem, para se resguardarem, prever penalidades para estas hipóteses.

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Porém, reconhece-se pacificamente que existem situações em que o inadimplemento contratual

ultrapassa o chamado “aborrecimento natural”, comum nestes casos, e interferem intensamente

no psicológico do prejudicado, causando-lhe danos morais indenizáveis.

“Outra conclusão que se tira desse novo enfoque constitucional é a de que mero inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não configuram, por si sós, dano moral, porque não agridem a dignidade da pessoa humana. Os aborrecimentos deles decorrentes ficam subsumidos pelo dano material, salvo se os efeitos do inadimplemento contratual, por sua natureza ou gravidade, exorbitarem o aborrecimento normalmente decorrente de uma perda patrimonial e também repercutirem na esfera da dignidade da vítima”. (CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 89) “De forma geral dizem alguns doutrinadores e julgadores, sem maior aprofundamento do tema, que o descumprimento de um contrato, normalmente, não acarreta dano moral, pos todo negócio jurídico traz em si um risco e, assim, é inerente a qualquer transação a possibilidade de aborrecimento. Nestes termos, não se poderia falar em dano moral em decorrência de mero cumprimento imperfeito. (...) O argumento trazido, data máxima vênia, não nos convence, visto que o fato de existir um risco não exclui – ocorrendo o fato danoso – o direito a posterior indenização. Todo ato ou atividade traz em si um perigo, e nunca se defendeu que, ao assumi-lo, estar-se-ia abrindo mão de eventual ressarcimento. Basta supor as relações de vizinhança ou mesmo o ato de dirigir um veículo; há neles um risco de ofensa e algo acontecendo, por exemplo, se formos humilhados pelo vizinho ou vítimas de um acidente de trânsito, teremos, teoricamente, direito à indenização por dano moral. Não temos dúvida em sustentar que o efetivo transtorno e o aborrecimento geram um abalo em nossa tranqüilidade, em nossa tranqüilidade, em nossa paz, afetando assim o chamado bem-estar psíquico. Por esse motivo defendemos que tais situações caracterizam um dano”. (GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios do produto e do serviço por qualidade, quantidade e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004, pp. 322/323) “No direito brasileiro, não obstante a ausência de disposição legal explicita, a doutrina é uniforme no sentido da admissibilidade de reparação do dano moral tanto originário de obrigação contratual

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quanto decorrente de culpa aquiliana, uma vez assente a indenizibilidade do dano moral, não há fazer-se distinção entre dano moral derivado de fato ilícito relativo; o direito à indenização pode projetar-se por áreas mais diversas das sociais, abrangendo pessoas envolvidas ou não por um liame jurídico de natureza contratual: assim, tanto pode haver dano moral nas relações entre devedor e credor quanto entre caluniador e o caluniado, que nenhuma relação jurídica se acha, individualmente, com o ofensor. Na realidade, conforme assinala Viney, toda forma de responsabilidade, qualquer que seja a causa ou a natureza, induz, a cargo do responsável, o desgosto, os sofrimentos e frustrações provocados pelo seu autor: sob esse aspecto, impõe-se constatar que a distinção, se ainda posta em confronto, entre responsabilidade contratual e responsabilidade delitual, não tem hoje senão uma importância mínima; a obrigação de reparar danos extrapatrimoniais, tende, quase toda, a assumir o domínio contratual, com a mesma importância que em matéria delitual”. (CAHALI, Yussef Said. Dano moral. São Paulo: RT, 1998, pp. 462/463)

A prova das aflições, angústias e desequilíbrios experimentados pela vítima, que interferiram no

seu bem estar, é de difícil produção, uma vez que tais sentimentos normalmente se manifestam

apenas no “interior” dos indivíduos.

Atentas a este fato a doutrina e a jurisprudência sedimentaram o entendimento de que o dano

moral é um desdobramento da própria conduta ofensiva, ou seja, basta, em regra, a

comprovação da ocorrência de fato danoso, suficientemente capaz de causar sofrimento ao

homem médio, para estar provada a ofensa moral.

“Nesse ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral a guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da experiência comum” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 92)

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DANO MORAL. INCÊNDIO. RESIDÊNCIA. AQUECEDOR ELÉTRICO. Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais devido a incêndio causado pelo mau funcionamento de aquecedor na residência do autor. Na liquidação da sentença por artigos, o juiz rejeitou os danos materiais em razão de ter considerado insuficiente a prova de quais objetos foram consumidos pelo fogo, mas condenou a empresa à indenização por dano moral (equivalente a 1.324 salários mínimos da época). Isso posto, o Min. Relator observou que a indenização por dano moral, como se sabe, não necessita de prova, mas resulta da situação sofrida, do vexame, do transtorno e do constrangimento a que fica exposta a pessoa. Entretanto, considerou exorbitante a indenização dentro dos critérios usualmente utilizados pela Turma e os reduziu a 300 salários mínimos. Com esses esclarecimentos, a Turma deu provimento ao recurso da empresa. Precedentes citados: REsp 719.354–RS, DJ 29/8/2005; REsp 556.031-RS, e REsp 291.384-RJ, DJ 17/9/2001 (STJ, REsp 687.839-SP, Rel. Min. Barros Monteiro, julgado em 20/10/2005). (Grifei)

No caso em questão não ocorreu um mero inadimplemento contratual, nem aborrecimentos

comuns do dia a dia, foi muito além.

Não se pode negar que a frustração da expectativa de investir num imóvel, pertencente a um

grande empreendimento anunciado, em conformidade com o que fora ofertado, configura

aborrecimentos e transtornos não comuns do dia a dia, ou seja, configura danos morais que

devem ser indenizados.

Processo : 0053642-23.2013.8.19.0002 Juiz(a) Juiz(a) LUCIA MOTHE GLIOCHE - Julgamento: 23/07/2014

QUARTA TURMA RECURSAL RECURSO nº: 0053642-23.2013.8.19.0002 RECORRENTE: Margareth Guizan da Silva Oliveira RECORRIDO: Gafisa Spe 50 Empreendimentos Imobiliários VOTO Trata-se de recurso especial interposto contra a sentença que condenou a parte ré e ora recorrida ao pagamento de indenização por dano moral e a restituir em dobro valor indevidamente cobrado, quando houve atraso na entrega de apartamento comprado em

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empreendimento imobiliário. Com a devida vencia, a sentença merece reparo, apenas no que se refere ao arbitramento do valor de indenização pelo dano moral sofrido. A sentença proferida reconheceu a existência do dano moral. Entretanto, considerando o tempo decorrido entre 2009 (data ajustada no contrato para a entrega do apartamento) e 2011 (data em que efetivamente houve a entrega do bem) e a situação de gravidez vivida pela parte autora sob o desamparo do imóvel não entregue, considero ser mais proporcional e razoável fixar o valor da indenização pelo dano moral vivido em dez mil reais. Isto posto, voto pelo conhecimento do recurso e provimento do mesmo para majorar o valor do dano moral para dez mil reais. Sem custas e honorários. Rio de Janeiro, 15 de jul. de 14 LUCIA MOTHÉ GLIOCHE Juíza de Direito

COMPRA E VENDA DE VEÍCULO – VEÍCULO COM DEFEITOS – DANO MORAL. Processo Civil. Ação ordinária. Aquisição de veículo zero quilometro. Impossibilidade de seu uso regular devido aos inúmeros defeitos que impediam seu normal funcionamento obrigando o seu proprietário a comparecer à oficina da ré por diversas vezes. A utilização do automóvel zero quilometro por um período não retira do adquirente o direito de substituição do veículo imprestável para o fim a que se destinava, por ocasião da compra, principalmente se a oficina autorizada não soluciona os problemas mecânicos surgidos no início e durante todo o processo de garantia concedido pela fábrica. Dano moral. Ocorrência.

No que diz respeito aos danos morais, a hipótese trazida não é de mero aborrecimento. Sem dúvida que estamos diante de um rosário de esperanças do comprador do carro, estas seguidas de desapontamento e de um intenso sentimento de frustração, ao que acresce a necessidade de se impor uma medida de caráter retributivo, para que fatos dessa natureza não se tornem corriqueiros, repetitivos e acima de tudo, impunes, dando sustentação à conhecida lei de tirar-se vantagem de tudo e com isso, lesando-se a boa-fé que deve reger todos os contratos, notadamente agora, quando passou a viger o Novo Código Civil Brasileiro que coloca em destaque tal princípio. Assim, a sentença se afigura.

Apelação 1: Não conhecida.

Apelação 2: Desprovida

Precedente Citado: TJRJ AI 2004.002.07075, Rel. Des. Fonseca Passos, julgado em 06/07/2004 (TJRJ, Ap.Civ. 2004.001.36138, 18ª CamCiv, Rel. Des. Jorge Luiz Habib)

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Do nexo de causalidade

Segundo Paulo Jorge Scartezzini Guimarães “refere-se o terceiro elemento [o nexo causal] à

relação de causalidade entre o cumprimento imperfeito e o dano. Assim, o cumprimento

imperfeito deve ser a causa, a gênesis, a origem, enquanto o dano, a sua conseqüência”.

(Vícios do produto e do serviço por qualidade, quantidade e insegurança: cumprimento

imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004, p. 338)

No caso em tela, inegável que os danos anteriormente descritos estão intimamente ligados ao

descumprimento das obrigações assumidas pelas rés por força da publicidade em torno do

empreendimento.

Tampouco se pode olvidar que negociar unidades sem que o adquirente possa registrá-la,

conforme impõe a norma denota por si só uma infração grave e séria por expressa prescrição

legal do art. 32, g, da Lei 4591/64.

Há que se repetir que o descumprimento quanto à entrega de imóveis tem sido a tônica das rés,

posto que das notícias depuradas de outros empreendimentos do mesmo grupo NEP e

BRASCORP, em outras localidades, encontram-se com idênticos problemas, sendo certo que

cabe a incorporadora assumir em sua inteireza a atividade fim a que se destina.

Desta feita, em vista toda documentação colecionada, as informações, a confissão, as normas

incidentes notoriamente desatendidas, há de ser reconhecida como inequívocas as provas e

concretude dos danos provocados pelas rés, não cabendo à autora aguardar como acima

exposto, que sejam estes agravados, ou quiçá resultem como irreparáveis.

Assim, se faz inquestionável a necessidade de tutela da boa-fé (art. 421 CC) e da função social

(art. 422 CC) que há de imperar nos contratos.

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Dos lucros cessantes

Outrossim, no que se refere aos lucros cessantes, é pacificado que o atraso na entrega do

imóvel gera lucros cessantes aos adquirentes, porque estes se referem ao valor que o

comprador deixou de auferir por estar impossibilitado de usufruir do imóvel, principalmente

nesse caso, em que a maioria dos imóveis foram adquiridos como investimento, posto que

deveriam ser apart-hotéis administrados por uma rede hoteleira, a ré ATLANTICA.

Processo: 0009499-41.2012.8.19.0209 - EMBARGOS INFRINGENTES

1ª Ementa

DES. ELTON LEME - Julgamento: 06/08/2014 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL

EMBARGOS INFRINGENTES. INDENIZATÓRIA. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL. LUCROS CESSANTES. RETROAÇÃO À DATA DO "HABITE-SE". DESCABIMENTO. VALOR INTEGRAL DE ALUGUEL. PREÇO DE MERCADO. PARÂMETRO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Entendimento jurisprudencial assente no Superior Tribunal de Justiça no sentido de que são evidenciados lucros cessantes a partir do atraso na entrega de imóvel por culpa do promitente vendedor, cabendo ao vendedor, para se eximir do dever de indenizar, fazer prova de que a mora contratual não lhe é imputável, o que não ocorreu. 2. O atraso na entrega do imóvel gera lucros cessantes ao adquirente, porque estes se referem ao valor que o comprador deixou de auferir por estar impossibilitado de usufruir do imóvel, não prosperando a alegação de que houve cessão de direitos, já que esta foi posterior ao inadimplemento contratual da promitente vendedora. 3. Tratando-se de lucros cessantes que se prolongam no tempo, o parâmetro mais justo para a fixação de indenização a tal título é a utilização de valores equivalentes aos alugueis que poderiam ter sido auferidos caso o imóvel tivesse sido entregue na data avençada, segundo valores de mercado, como reconhecido no acórdão recorrido. 4. Juros de mora a contar da citação, por envolver relação contratual, como estabelecido. 5. Desprovimento dos embargos infringentes.

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D) DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA - “CADEIA DE FORNECIMENTO”

Conforme entendimento doutrinário acerca da cadeia de fornecimento reza a lição de CLAUDIA

LIMA MARQUES:

“A cadeia de fornecimento é um fenômeno econômico de organização do modo de produção e distribuição, do modo de fornecimento de serviços complexos, envolvendo grande número de atores que unem esforços e atividades para uma finalidade comum, qual seja a de poder oferecer no mercado produtos e serviços para os consumidores. O consumidor muitas vezes não visualiza a presença de vários fornecedores, diretos e indiretos, na sua relação de consumo, não tem sequer consciência — no caso dos serviços, principalmente — de que mantém relação contratual com todos ou de que, em matéria de produtos, pode exigir informação e garantia diretamente daquele fabricante ou produtor com o qual não mantém contrato. A nova teoria contratual, porém, permite esta visão de conjunto de esforço econômico de ‘fornecimento’ e valoriza, responsabilizando solidariamente, a participação destes vários atores dedicados a organizar e realizar o fornecimento de produtos e serviços. (...).”2

A atividade das rés PATRIMÓVEL, BRASCORP e ATLANTICA, prestando-se a figurarem cada

uma como um dos elos da cadeia de fornecimento, juntamente com a ré NEP, exercendo cada

qual uma participação do todo, seja na qualidade de organizadora da atividade, na qualidade de

desenvolvedora, na qualidade de vendedora ou na de administradora, representam então típica

intermediação comercial que as colocam juridicamente na condição de partícipe do fornecimento

de consumo, sempre que o comprador for um consumidor, qual definido no art. 2° do CDC.

Lembre-se, neste passo, que a ré PATRIMÓVEL não se limita, como acima visto, à divulgação

de propagandas de vendas de imóveis, já que efetivamente co-participa do negócio, seja por

regular a participação dos adquirentes, seja por organizar e lhes disponibilizar a venda, seja

2 MARQUES, Claudia Lima. Contratos, ob. cit. p. 402/403.

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especialmente por cobrar comissão sobre o valor do negócio (doc. 04). Em que pese a relação

jurídica de consumo entre as rés e o consumidor não se descaracterizar pela circunstância de

não haver pagamento deste diretamente àquele, no entanto há.

É que, na sistemática do CDC, a relação de consumo não requer a onerosidade stricto sensu,

mas apenas a existência de remuneração ao serviço prestado pelo fornecedor, ainda que modo

indireto.

Na lição de CLAUDIA LIMA MARQUES, dispensa-se a obrigação de pagamento (uma das muitas

formas diretas de remuneração), para se contentar a lei com a existência de qualquer sorte de

remuneração, direta ou indireta:

“Quanto a este aspecto, vale destacar mais uma vez que o CDC não se utiliza da distinção clássica entre contratos onerosos de prestação de serviços e contratos ‘gratuitos’. O que pode inexistir no sistema do CDC é a ‘obrigação de pagamento’ (veja expressão literal do art. 39, inc. III e parágrafo único, do CDC). Pagamento é apenas uma das formas (diretas) de remuneração. Frise-se, assim, que a expressão utilizada pelo art. 3° do CDC, para incluir todos os serviços de consumo, é ‘mediante remuneração’. O que significaria esta troca entre a tradicional classificação dos negócios como ‘onerosos’ e gratuitos por remunerados e não-remunerados? Parece-me que a opção pelo termo ‘remunerado’ significa uma importante abertura para incluir os serviços de consumo remunerados indiretamente, isto é, quando não é o consumidor individual que paga, mas a coletividade (facilidade diluída no preço de todos), ou quando ele paga indiretamente o ‘benefício gratuito’ que está recebendo. O termo ‘remuneração’ permite incluir todos aqueles contratos em que for possível identificar no sinalagma escondido (contraprestação escondida) uma remuneração indireta do serviço de consumo” 3

3 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 5ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 394.

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Quando constatada a existência de uma cadeia de fornecedores nas ações que envolvam

discussões com relação a danos advindos de relações de consumo, o STJ, tem se posicionado

no sentido de ampliar essa responsabilidade para que todos os partícipes da cadeia produtiva

passem a responder pelos danos provocados (ainda que por apenas um de seus integrantes) de

forma solidária (Recurso Especial nº. 1.216.424-MT, 3ª Turma, Relatora Ministra Nancy

Andrighi, julgado em 09.08.2011), a seguir:

EMENTA. CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. MÉDICO PARTICULAR. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. 1. Os hospitais não respondem objetivamente pela prestação de serviços defeituosos realizados por profissionais que nele atuam sem vínculo de emprego ou subordinação. Precedentes. 2. Embora o art. 14, § 4º, do CDC afaste a responsabilidade objetiva dos médicos, não se exclui, uma vez comprovada a culpa desse profissional e configurada uma cadeia de fornecimento do serviço, a solidariedade do hospital imposta pelo caput do art. 14 do CDC. 3. A cadeia de fornecimento de serviços se caracteriza por reunir inúmeros contratos numa relação de interdependência, como na hipótese dos autos, em que concorreram, para a realização adequada do serviço, o hospital, fornecendo centro cirúrgico, equipe técnica, medicamentos, hotelaria; e o médico, realizando o procedimento técnico principal, ambos auferindo lucros com o procedimento. (...) RECURSO ESPECIAL Nº 1.216.424 - MT (2010/0182549-7)

A ementa abaixo transcrita representa dezenas de outras decisões análogas, deixando mais do

que claro que o Egrégio Tribunal de Justiça já pacificou a sua inteligência no sentido de que há

responsabilidade solidária em questões semelhantes ao objeto da presente contenda:

Processo: APL 00041445020108260007 SP 0004144-50.2010.8.26.0007 Relator(a): Rebello Pinho

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Julgamento: 02/12/2013 Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado Publicação: 06/12/2013

“A ré instituição financeira administradora de conta-corrente e de cartão de crédito, Banco Bradesco S/A, e a ré vendedora, Dia Brasil Sociedade Ltda., por integrarem a cadeia de fornecimento do financiamento para compras em lojas dela ré vendedora, objeto da ação, respondem solidariamente, pelos danos por defeitos desses serviços. OPERAÇÕES INDEVIDAS - Reconhecida a existência de lançamento indevido na conta-corrente do autor, por culpa dos réus, uma vez que as compras realizadas pelo consumidor em estabelecimento da vendedora ré haviam sido pagas via cartão de crédito. RESPONSABILIDADE CIVIL - Comprovado o ato ilícito dos réus, consistente no débito indevido de valor na conta-corrente do autor, referente à dívida quitada, e não caracterizada nenhuma excludente de responsabilidade, de rigor o reconhecimento da responsabilidade e a condenação solidária dos réus na obrigação de indenizar o autor pelos danos decorrentes do ilícito em questão, visto que eles integram a cadeia de fornecimento do financiamento para compras em loja da ré vendedora. DANO MORAL - A retirada de valores da conta corrente de correntista através de operações e saques indevidos, por defeito de serviço, constitui, por si só, fato ensejador de dano moral - Indenização por danos morais fixada na quantia de R$13.560,00, com incidência de correção monetária a partir da data deste julgamento. DANO MATERIAL - Mantida a r. sentença na parte em que determinou a devolução, a título de indenização por danos materiais, da quantia de R$43,60, de forma simples, não em dobro, valor este correspondente ao montante debitado indevidamente na conta-corrente do autor, com incidência de correção monetária a partir da data em que efetuados os pagamentos. Recurso provido, em parte.”

Processo: 71004399465 RS Relator(a): Lucas Maltez Kachny Julgamento: 18/02/2014 Órgão Julgador: Primeira Turma Recursal Cível Publicação: Diário da Justiça do dia 20/02/2014 Ementa RECURSO INOMINADO. COMPRA DE CASA PRÉ-FABRICADA. LEGITIMIDADE PASSIVA DAS RÉS QUE PARTICIPARAM DA CADEIA DE FORNECIMENTO. CASA QUE NÃO FOI CONSTRUÍDA. DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO PELAS REQUERIDAS. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS FUNDAMENTOS.

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“As requeridas são legitimadas passivas para a demanda porque participaram da cadeia de fornecimento do produto. A autora adquiriu uma casa pré-fabricada da ré Madeira das Casas, que deveria construir o imóvel, sendo que a negociação foi intermediada pela ré Representações Maia, ao passo que a ré D Pisos - Pisos e Revestimentos Ltda. forneceu materiais para construção. O documento da fl. 09 demonstra que a ré D Pisos recebeu o crédito de R$ 9.100,00 proveniente do financiamento tomado pela autora junto à CEF. Ou seja, a autora pagou o valor contratado para as rés cumprirem o contrato, entregando a casa pronta, sendo que isso não ocorreu. Correta, pois, a sentença ao rescindir o contrato e condenar as rés solidariamente a restituir o valor à autora. RECURSOS DESPROVIDOS. (Recurso Cível Nº 71004399465, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Lucas Maltez Kachny, Julgado em 18/02/2014”

IV- DO CABIMENTO E NECESSIDADE DE TUTELA ESPECÍFICA DA OBRIGAÇÃO EM

CARÁTER LIMINAR

a) Da antecipação da tutela liminarmente

Oportuno repetir que não é justo se impor que o consumidor adquirente que efetuou o

pagamento de grande parte do preço acordado, mediante todas as evidências tenha que

aguardar, perpetuar no desembolso, quando de antemão é inexorável o inadimplemento das

rés.

Inicialmente, impende frisar que a concessão de antecipação dos efeitos da tutela antes da

oitiva da parte processual ré não ofende qualquer norma ou princípio constitucional, valendo

transcrever a doutrina de Nelson Nery Júnior4, no sentido de inexistência de violação ao

princípio do contraditório nestes casos, in verbis:

4 In ‘Princípios do Processo Civil na Constituição Federal’. Coleção de Estudos de Processo ENRICO TULLIO LIEBMAN – volume 21. Editora Revista dos Tribunais, 5.ª edição, 1999, página 141

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“Há, contudo, limitação imanente à bilateralidade da audiência no processo civil, quando a natureza e a finalidade do provimento jurisdicional almejado ensejarem a necessidade de concessão de medida liminar, inaudita altera pars, como é o caso da antecipação de tutela de mérito (CPC, art. 273), do provimento cautelar ou das liminares em ação possessória, mandado de segurança, ação popular, ação coletiva (art. 81, parágrafo único do CDC) e ação civil pública. Isto não quer significar, entretanto, violação do princípio constitucional, porquanto a parte terá oportunidade de ser ouvida, intervindo posteriormente no processo, inclusive com direito a recurso contra a medida liminar concedida sem sua participação. Aliás, a própria provisoriedade dessas medidas indica a possibilidade de sua modificação posterior, por interferência da manifestação da parte contrária, por exemplo.”

Conforme os arts. 21 da Lei 7.347/1985 – Lei de Ação Civil Pública e os artigos 83, 84 e 90 da

Lei n. 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 21 - Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor.” “Art. 83 - Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.” “Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1º - A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2º - A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (artigo 287 do Código de Processo Civil). § 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz

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conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. § 4º - O Juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5º - Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o Juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.” (Grifos nossos). “Art. 90 - Aplicam-se às ações previstas neste Título as normas do Código de Processo Civil e da Lei nº 7.347, de 24 de junho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.”

É, portanto, plenamente viável o requerimento, no bojo de ação civil pública, de tutela

antecipada liminar, nos moldes previstos nos parágrafos 3º. e 4º. do art. 84 do Código de

Processo Civil. Dentro da nova classificação das tutelas de urgência proposta por Luiz

Guilherme Marinoni, o retrocitado art. 84 do Código de Defesa do Consumidor alberga as três

modalidades de tutela inibitória do ilícito, a saber: a) a que visa impedir a prática do ilícito; b) a

que visa impedir a repetição do ilícito já praticado; c) a que visa impedir a continuação do ilícito

continuamente praticado (esta a tutela inibitória que ora almejamos).

Salta aos olhos, outrossim, que a tutela deve ser antecipada porque há fundado receio de dano

irreparável. Com efeito, a continuação do ilícito já perdura impunemente, de maneira que já

houve uma quantidade incomensurável de prejuízos pecuniários, danos físicos e psicológicos

que não se pode mais recompor caso a caso.

Realmente, a duração patológica que infelizmente as limitações estruturais do Poder Judiciário

impõem aos processos pode acabar arrastando a presente demanda e perpetuando a

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impunidade e o desprezo das rés pelo direito em tela, configurando-se pois o justificado receio

de ineficácia do provimento final através da ausência da prestação de tutela efetiva e

tempestiva, que tantas vezes finda por retirar da lei sua eficácia.

Outrossim, a tutela antecipada ora requerida mostra-se verossímil, uma vez que é de

conhecimento público que o empreendimento não foi entregue no prazo acordado e as obras

pouco avançaram, encontrando-se praticamente paralisadas, bem como não há nenhuma

informação prestada pelas rés sobre o andamento das mesmas. Outrossim, a verossimilhança

das alegações autorais se verifica por meio dos documentos que instruem a inicial, os quais

comprovam o pagamento das parcelas efetuadas pelos consumidores em cumprimento ao

contratado com as rés. Portanto, inegável que os consumidores se encontram com suas

expectativas frustradas visto que a obra prevista não foi entregue, encontrando-se, ainda, em

estado inicial e os mesmo não têm nenhuma informação sobre o real andamento das obras. Já

o perigo na demora encontra-se no fato de haver risco aos consumidores adquirentes no

aguardo da entrega definitiva da prestação jurisdicional, podendo estes experimentar prejuízos

irreparáveis ou de difícil reparação, caso não consigam reaver o dinheiro que desembolsaram,

inclusive para empregá-lo na aquisição de outro imóvel. Frisa-se, que o negócio jurídico firmado

entre as partes foi realizado em dezembro de 2010, ou seja, há 04 anos e 07 (sete) meses, o

prazo para entrega expirou (previsão de entrega para novembro de 2013) e, repita-se, a obra

permanece parada, com a aparência de total abandono, não havendo sequer qualquer

informação por parte das rés acerca das inúmeras reclamações existentes, conforme se

depreende dos documentos

V - DO PEDIDO LIMINAR

Ante o exposto e, considerando o confesso reconhecimento de que o imóvel não foi entregue no

prazo acordado, em vista a natureza da obrigação de resultado em tela, observado ser

imperioso ao credor mitigar danos, em vista das informações que não correspondem ao estágio

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da obra, a ausência de memorial arquivado, a dificuldade de localizar interlocutores, a

insegurança perpetrada pela situação idêntica de descumprimento em outros empreendimentos

que envolvem as rés e, em conformidade com o princípio da boa-fé, a COMISSÃO DE DEFESA

DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

requer LIMINARMENTE E SEM A OITIVA DAS PARTES CONTRÁRIAS que seja determinado

initio litis às rés:

1) a suspensão da exigibilidade dos pagamentos dos consumidores que desejarem

rescindir o contrato firmado, para a qual inclusive de imediato oferecem como caução o

direito aquisitivo decorrente das unidades em foco, que seja vedada a realização de

qualquer aponte advindo dos instrumentos promissivos, alvo da resolução em foco, bem

como que a rés se abstenham de negativar o nome dos consumidores nos cadastros

restritivos de crédito, sob pena de multa cominatória a ser devidamente arbitrada por V.

Exa.

2) a suspensão da exigibilidade dos pagamentos dos consumidores que não desejarem

rescindir o contrato firmado, que seja vedada a realização de qualquer aponte advindo

dos instrumentos promissivos, alvo da resolução em foco, bem como que a rés se

abstenham de negativar o nome dos consumidores nos cadastros restritivos de crédito,

sob pena de multa cominatória a ser devidamente arbitrada por V. Exa.

3) a condenação das rés no sentido de prestar informações exatas e detalhadas sobre o

andamento das obras do empreendimento SUPREME ITABORAÍ, compreendendo o

cronograma de prazo de cada etapa e sua finalização sob pena de incidência da multa

diária a ser fixada por V. Exa, no prazo máximo de 10 dias.

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Inequívoco ainda que, cumpre aos consumidores não agravar ainda mais seus próprios

prejuízos, o qual em contrapartida, a medida, caso deferida, não será capaz de causar danos

irreversíveis às rés, pelo contrário, pois restará evidenciada e constatado o cumprimento do

contratado entre as partes, qual seja a informação do andamento das obras e sua finalização, e,

via de conseqüência, a adequação do fornecimento de bens e serviços à legislação vigente,

sem qualquer custo adicional.

Apenas para corroborar o pedido formulado, algumas decisões proferidas em demanda cujo

pedido e causa de pedir são semelhantes ao aqui manifestado, a saber:

“Processo nº: 0075712-03.2014.8.19.0001

Tipo do Movimento: Decisão

Descrição: Trata-se ação ordinária em cuja inicial a parte autora

informa que pactuou contrato particular de promessa de compra e

venda relativo à aquisição de bens imóveis na planta, os quais seriam

entregues em setembro de 2014, e que já arcou com o pagamento de

75% (setenta e cinco por cento) do preço dos imóveis. Entretanto,

argumenta a autora, em síntese, que foi informado pelo réu que o

empreendimento só seria entregue em julho de 2015, prazo superior,

inclusive, a dilação de 180 dias prevista no contrato e, ainda, que há

elevado atraso das obras. Diante disso, pretende a rescisão do

contrato e, em sede de antecipação de tutela, a suspensão da

exigibilidade do pagamento das parcelas restantes, bem como que o

demandado se abstenha de negativar seu nome nos cadastros

restritivos de crédito. Relatado o necessário, decido. A falta de

observância pela demandada quanto ao prazo contratual de 36

meses para a entrega do empreendimento imobiliário, adquirido ainda

na planta, objeto de contrato de promessa de compra e venda, revela

que houve inadimplemento contratual, de forma unilateral. Assim, não

é de estranhar que a parte autora pretenda rescindir a avença, ante a

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morosidade da construtora em finalizar a obra, não sendo infundado o

seu receio de ver adimplido integralmente o preço sem a entrega do

bem. Por isso, entendo que estão presentes os pressupostos que

autorizam o deferimento do pedido em sede de antecipação de tutela,

pois o inadimplemento da ré, no caso concreto, autoriza a interrupção

do pagamento das prestações pelo promitente comprador, tendo em

vista que sua pretensão final é a rescisão do contrato. Ademais, o

aguardo na solução definitiva da demanda ultrapassará, em muito, a

data da última prestação a vencer. Além disso, não vislumbro

qualquer prejuízo à parte demandada, na medida que o autor oferece

como caução o direito aquisitivo das unidades contratadas. Diante do

exposto, determino a intimação da demandada quanto à presente

decisão, que suspende a exigibilidade do pagamento das

prestações relativas aos bens descritos no contrato de compra e

venda, bem como para que se abstenha de incluir em qualquer

cadastro restritivo de crédito o nome da parte autora, sob pena

de multa a ser arbitrado pelo Juízo. Certificado o correto recolhimento

das custas, expeçam-se os atos de intimação e citação, na forma da

lei.” (grifo nosso)

“Processo nº: 0075622-92.2014.8.19.0001

Tipo do Movimento:Despacho

Descrição: Concedo a tutela antecipada requerida, ponderando

sobre o pedido de reconsideração formulado, em face da

verossimilhança dos fatos narrados, e a possibilidade de

agravamento dos danos da Autora, a serem eventualmente apurados,

como promissória compradora das unidades imobiliárias referidas na

Inicial, isto com fulcro no artigo 273 do CPC. Neste passo, suspendo

a exigibilidade das prestações faltantes relativas ao preço de venda

ajustado entre as partes, vedado ao Réu a inscrição do nome da

Autora em cadastros restritivos de crédito, até o encerramento do

feito. Cite-se.” (grifo nosso)

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Outrossim, anexamos parte da liminar concedida em processo semelhante ao presente, onde as

rés também não entregaram a obra no prazo previsto, tampouco informam aos adquirentes

sobre seu estado. Ação movida por essa Comissão que teve liminar deferida, a saber:

Processo No 0271384-46.2014.8.19.0001

3ª Vara Empresarial:

“Trata-se de ação civil consumerista, com pedido de antecipação de

tutela, c/c indenização por danos morais e materiais, proposta pela

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LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO em face de NEP

INCORPORAÇÕES SPE 8 - RESENDE LTDA (NEP), PATRIMÓVEL

CONSULTÓRIA IMOBILIÁRIA S/A (PATRIMÓVEL) e BRASCORP

PARTICIPAÇÕES S/A (BRASCORP). Alega o autor que as

demandadas após grande exposição no Centro de Convenções do

Lajedo com o objetivo de promoverem o lançamento imobiliário da

Rede Accor, chamado SUPREME RESENDE, colocaram à venda em

10/10/2012 o empreendimento SUPREME RESENDE HOTELS 7

BUSINESS. (...) Informa que, apesar da previsão de conclusão das

obras para abril de 2015, verificou-se com o passar do tempo, que as

obras não iniciavam, sem certo que, em março de 2014, existia

apenas no local alguns containers, inexistindo indícios de obras. (...).

Decide-se. A medida pleiteada é uma forma de tutela jurisdicional

satisfativa, prestada com base em juízo de probabilidade e em

situações tais que não se possa esperar o tempo necessário à

formação do juízo de certeza exigido para a prolação de sentença no

processo cognitivo, sob pena de não se poder tutelar adequadamente

o direito material. Tal tutela, consistente em permitir a produção

antecipada dos efeitos da sentença de procedência do pedido do

autor, exige alguns requisitos para sua concessão, quais sejam, a

probabilidade de existência do direito alegado pelo demandante,

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assim entendido como o fumus boni iuris, e o estabelecimento de

uma situação capaz de gerar fundado receio de dano grave, assim

entendido como o periculum in mora, ou a ocorrência de abuso de

defesa, segundo inteligência do artigo 273, incisos I e II, do Código de

Processo Civil. Assim, somente quando configurados os requisitos

objetivamente elencados na lei processual, pode o magistrado

conceder a antecipação da tutela a fim de evitar o perecimento do

direito material, cuja proteção se busca, e a consequente inutilidade

do futuro provimento jurisdicional de mérito, sendo certo que, quando

não se estiver diante de periclitação iminente ao direto material, ou

ausente a plausibilidade da tese autoral, é de se indeferir a

antecipação total ou parcial dos efeitos da tutela. Em uma análise

perfunctória, vislumbro o fumus boni iuris e o periculum in mora

necessários a justificar a concessão da antecipação dos efeitos da

tutela. De fato, compulsando-se os autos verifica-se que as rés

incorrem em reiterados atrasos na entrega dos empreendimentos por

elas lançados. Portanto, se verifica que a ré infringe as disposições

contidas na Lei 8.078/90 e viola os princípios da informação, boa-fé,

lealdade, transparência e da vulnerabilidade, entre outros, que

norteiam as diretrizes básicas do CDC e devem existir na relação

consumerista. Com efeito, a referida conduta praticada pela ré, acaba

por causar prejuízos aos consumidores lesados, situação que

necessita ser, imediatamente, coibida. Isto posto, DEFERE-SE a

antecipação parcial dos efeitos da tutela pleiteada, para

determinar que as rés prestem informações exatas e detalhadas

sobre o andamento das obras do empreendimento SUPREME

RESENDE, compreendendo o cronograma de prazo de cada etapa e

sua finalização, no prazo máximo de dez dias, sob pena de incidência

de diária de R$10.000,00 (dez mil reais). Cite-se. P.I.” (grifo nosso)

Entretanto, para que a medida possa surtir os efeitos desejados (caso seja concedida), e assim

evitar mais danos aos consumidores, necessário se faz a fixação de multa, em valor suficiente

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para que as rés sintam-se desencorajadas a descumprir a ordem judicial, conforme previsto nos

artigos 461, § 1º, do CPC, e 84, § 4º, do CDC.

VI - DOS PEDIDOS

Pelo acima exposto, requer:

1. a citação das rés via mandado próprio para, querendo, contestar a presente;

2. a suspensão da exigibilidade dos pagamentos, dos consumidores que desejarem

rescindir o contrato firmado, para a qual inclusive de imediato oferece como caução o

direito aquisitivo decorrente das unidades em foco, que seja vedada a realização de

qualquer aponte advindo dos instrumentos promissivos, alvo da resolução em foco, bem

como que a rés se abstenham de negativar o nome dos consumidores nos cadastros

restritivos de crédito, sob pena de multa cominatória a ser devidamente arbitrada por V.

Exa.

3. a suspensão da exigibilidade dos pagamentos dos consumidores que não desejarem

rescindir o contrato firmado, que seja vedada a realização de qualquer aponte advindo

dos instrumentos promissivos, alvo da resolução em foco, bem como que a rés se

abstenham de negativar o nome dos consumidores nos cadastros restritivos de crédito,

sob pena de multa cominatória a ser devidamente arbitrada por V. Exa.

4. a condenação das rés NEP e ATLÂNTICA no sentido de prestar informações exatas e

detalhadas sobre o andamento das obras do empreendimento SUPREME ITABORAÍ,

compreendendo o cronograma de prazo de cada etapa e sua finalização sob pena de

incidência da multa diária a ser fixada por V. Exa, no prazo máximo de 10 dias.

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5. a condenação das rés na obrigação de finalizar, adequadamente, o empreendimento

denominado SUPREME ITABORAÍ, exatamente na forma como contratado e ofertado,

de acordo com a ilustração, os dizeres contidos no material publicitário, em prazo

razoável a ser fixado por V.Exa., sob pena de incidência da multa prevista no artigo 84,

§ 4º, CDC;

6. a condenação das rés no sentido de prestar informações exatas e detalhadas sobre o

andamento das obras do empreendimento SUPREME ITABORAÍ, compreendendo o

cronograma de prazo de cada etapa e sua finalização sob pena de incidência da multa

diária a ser fixada por V. Exa;

7. a confirmação da antecipação da tutela em relação ao pedido dos itens 2, 3 e 4;

8. a condenação das rés na obrigação de restituir todos os valores pagos pelos

adquirentes de unidades autônomas que pretendam exercer ou já tenham exercido, o

direito de rescindir o contrato que culminou na transmissão de propriedade de unidade

exclusiva do empreendimento SUPREME ITABORAÍ, em valor equivalente ao

despendido pelo consumidor para pagar o preço da aquisição da unidade exclusiva,

devidamente corrigido;

9. a condenação das rés na obrigação de indenizar aqueles que não pretendam exercer

ou não o direito de rescindir o contrato que culminou na transmissão de propriedade de

unidade exclusiva do empreendimento SUPREME ITABORAÍ, em valor equivalente à

desvalorização do imóvel;

10. que seja as rés condenadas a indenizar, da forma mais ampla e completa possível, os

danos materiais e morais causados aos consumidores individualmente considerados,

como estabelece o art. 6º, VI c/c art. 95 do CDC, em virtude da prática aqui tratada;

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11. que seja as rés condenadas a indenizar, da forma mais ampla e completa possível, os

lucros cessantes, que deverão ser apurados por ocasião de liquidação de sentença

pelos consumidores individualmente considerados;

12. seja as rés condenadas a pagar indenização a título de danos morais coletivos, em

favor de Fundo Especial de Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor -

FEPROCON, em consonância em cumprimento ao disposto no inciso II do art. 24 do

Decreto nº 861, de 09/07/93, que regulamentou a Lei nº 8078, de 11 de setembro de

1990, alterada pela Lei nº 8656, de 21 de maio de 1993;

13. a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) nos termos da fundamentação infra;

14. a publicação do edital previsto no artigo 94 da Lei n. 8.078/90;

15. a condenação das rés na obrigação de publicar, às suas custas, em dois jornais de

grande circulação desta Capital e do Município de Itaboraí, bem como em sítio virtual na

internet, em quatro dias intercalados, sem exclusão do domingo, em tamanho mínimo

de 20 cm x 20 cm, a parte dispositiva de eventual procedência, para que os

consumidores adquirentes dela tomem ciência, oportunizando, assim, a efetiva proteção

de direitos lesados;

16. a condenação das rés na obrigação de afixar na entrada do empreendimento

SUPREME ITABORAÍ, em local de grande visibilidade, um aviso em tamanho mínimo

de 40 cm x 30 cm contendo as obrigações procedentes na presente demanda para que

os consumidores adquirentes dela tomem ciência;

17. a intimação do Ministério Público;

18. a condenação das rés ao pagamento dos honorários sucumbenciais a ser fixado por V;

Exa. sob o valor total da causa;

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19. a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, em

face do previsto art. 87 da Lei nº 8.078/90.

VII - DAS PROVAS

Requer pela produção de todas as provas admissíveis em direito, nos termos do art. 332 do

Código de Processo Civil.

VIII - DO VALOR DA CAUSA

Dá-se a esta causa, por força do disposto no art. 258 do Código de Processo Civil, o valor de

R$2.000.000,00 (dois milhões de reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2014

SOLANGE MUNIZ BORGES MEIRELES OAB/RJ n. 114.498

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DOCUMENTOS EM ANEXO

DOC. 01 – REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL E CNPJ DAS RÉS

DOC. 02 – CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE UNIDADE IMOBILIÁRIA

DOC. 03 – MEMORIAL PUBLICITÁRIO DE DIVULGAÇÃO, FOLDERS

DOC. 04 – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSESSORIA TÉCNICO

IMOBILIÁRIA

DOC. 05 – ACORDO COMERCIAL PARA ADMINISTRAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

APART-HOTELEIRO

DOC. 06 – INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONTRATO DE SERVIÇOS DE

ADMINISTRAÇÃO CONDOMINIAL

DOC. 07 – CONTRATO DE CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADE EM CONTA DE

PARTICIPAÇÃO

DOC. 08 – CÓPIA DE COMPROVANTES DE PAGAMENTO DE UM DOS CONSUMIDORES

DOC. 09 – FOTOS TIRADAS EM MARÇO DE 2014 DA REAL SITUAÇÃO DO

EMPREENDIMENTO

DOC. 10 – RECLAMAÇÕES DE ALGUNS CONSUMIDORES NA CODECON

DOC. 11 – RESPOSTA DA RÉ PATRIMÓVEL E NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL FEITA

PELA PATRIMÓVEL DIRIGIDA À NEP