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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 6º Encontro Nacional ABRI - Perspectivas sobre o poder em um mundo em redefinição 25 a 28 de julho de 2017 Pontifícia Universidade Católica de Minas Geras (PUC/MG) Área Temática 7: Teoria das Relações Internacionais NOTAS SOBRE A TEMÁTICA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NAS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS: REALISMO, LIBERALISMO E CONSTRUTIVISMO Kimberly Alves Digolin Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP) Bolsista Capes

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

6º Encontro Nacional ABRI - Perspectivas sobre o poder em um mundo em

redefinição

25 a 28 de julho de 2017

Pontifícia Universidade Católica de Minas Geras (PUC/MG)

Área Temática 7: Teoria das Relações Internacionais

NOTAS SOBRE A TEMÁTICA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NAS TEORIAS DE

RELAÇÕES INTERNACIONAIS: REALISMO, LIBERALISMO E CONSTRUTIVISMO

Kimberly Alves Digolin

Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais

San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP)

Bolsista Capes

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As teorias de Relações Internacionais não devem ser caracterizadas enquanto portadoras de

verdades definitivas, sendo, apenas, instrumentos para a compreensão de realidades e

situações. Elas resultam de construções e abstrações, as quais, necessariamente, descartam

alguns aspectos e priorizam outros. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo

principal abordar o modo como a temática da cooperação é retratada nas teorias de Relações

Internacionais, com especial enfoque no Realismo, no Liberalismo e no Construtivismo.

Permeando esse debate, buscou-se inserir um breve histórico sobre a cooperação em Defesa

entre Argentina, Brasil e Chile, com o objetivo de tensionar os debates teóricos ao integrar o

passado de tensões entre os países do ABC e a maior aproximação vivenciada a partir da

década de 1980. A escolha dessas três teorias em específico decorre da tentativa de traçar

contrapontos à temática da cooperação internacional utilizando-se de duas teorias inseridas

na ótica da racionalidade, quais sejam: o Realismo Estrutural, mais enfocado na estrutura

anárquica, na distribuição de poder e na noção de autoajuda; e o Liberalismo, mais ligado aos

indivíduos e instituições, ao direito internacional e à interdependência. Ao mesmo tempo,

buscou-se agregar uma teoria que, para além do material, levasse em consideração o papel

das ideias e dos atores – o Construtivismo –, expandindo essa centralidade nas unidades

estatais e abordando também a construção social da realidade.

Palavras-chave: Cooperação internacional; Realismo; Liberalismo; Construtivismo; ABC.

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Introdução

As teorias de Relações Internacionais (RI) não devem ser caracterizadas enquanto

portadoras de verdades definitivas, sendo, apenas, instrumentos para a compreensão de

realidades e situações. Elas resultam de construções e abstrações, as quais,

necessariamente, descartam alguns aspectos e priorizam outros. Dessa forma, é

imprescindível considerar o processo histórico que lhes oferece materialidade. Por exemplo,

por mais que pretendesse uma visão de maior longo prazo, o esforço de Edward Carr na obra

“Vinte anos de crise” decorre de uma tentativa de explicar a formatação das relações

internacionais às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Segundo Cox, o conhecimento prático é sempre parcial e fragmentado em sua origem,

uma vez que seu “ponto de partida é algum tipo de subdivisão inicial da realidade, usualmente

ditada por convenções” (COX, 1986, p. 204). Para o autor, ainda que esses cortes

convencionados da realidade possam ser convenientes, essas subdivisões do conhecimento

social dificilmente correspondem ao modo com que os assuntos são organizados em épocas

e locais distintos. Dessa forma, Cox destaca que as teorias sempre servem a determinados

propósitos, pois derivam de uma determinada posição no tempo e no espaço social e político.

Embora o autor afirme que as teorias mais sofisticadas não são apenas a expressão

de uma perspectiva, é importante levar em consideração a influência desses pontos de

partida, uma vez que “o mundo é compreendido a partir de um ponto de vista definido em

termos de nação ou classe social, dominação ou subordinação, ascensão ou declínio de

poder” (COX, 1986, p. 207). Guzzini (2013) também ressalta o contexto de debates internos

das Relações Internacionais, principalmente com o fim da Guerra Fria, apontando que a

descolonização fez surgir o desconforto de uma sociedade internacional feita pelas e para as

potências ocidentais. Embora anárquico, o sistema internacional segue sob o manto de regras

que são elaboradas e reproduzidas por influência das práticas humanas e,

consequentemente, dos interesses daqueles que detêm poder de nomeação.

Para Querejazu (2016), o processo de teorização pode ser comparado com um

processo mercantil, onde a troca intelectual entre vendedores e compradores também está

relacionada às relações de poder, que limitam e autorizam o que é ou deveria ser considerado

uma ideia – ou, no caso, uma teoria de RI. Nesse sentido, a autora defende a necessidade de

um giro ontológico para se adquirir uma compreensão mais ampla sobre o mundo e suas

manifestações políticas. Em mesma medida, Acharya e Buzan (2010) apontam que as teorias

não correspondem à distribuição global dos seus objetos de análise, uma vez que os ideais

de paz democrática e ordem institucionalizada – assim como a própria ideia de relações

normais e resultados calculáveis –, por exemplo, advêm de um padrão ocidental que não

reflete as demais localidades.

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É o que Santos (2002) defende quando afirma que para combater o desperdício da

experiência social não basta propor um outro tipo de ciência social, mas sim propor um modelo

diferente de racionalidade. Nesse sentido, o autor propõe um modelo de “razão cosmopolita” ,

uma vez que,

em primeiro lugar, a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla

e variada do que o que a tradição científica ou filosófica ocidental conhece e considera importante. Em segundo lugar, esta riqueza social está a ser desperdiçada. É deste desperdício que se nutrem as ideias que proclamam

que não há alternativa, que a história chegou ao fim, e outras semelhantes (SANTOS, 2002, p.238).

Para Boaventura, essa razão cosmopolita ocorreria por meio de duas fases. Primeiro,

pela “dilatação do presente”, que representaria a coexistência de totalidades e a percepção

de que toda totalidade é feita de heterogeneidade – e que as partes que a compõem têm uma

vida própria fora dela, ou seja, que o Sul existe sem estar condicionado ao Norte. A segunda

fase seria a “contração do futuro”, que significa substituir o vazio do futuro segundo o tempo

linear por um futuro de possibilidades plurais e concretas. O autor denomina isso “sociologia

das emergências”, afirmando que representa a troca do binômio “tudo” e “nada” presente na

modernidade ocidental pelo binômio “não” – que aponta a falta de algo e a expressão da

vontade de superar essa ausência – e “ainda não” – que exprime aquilo que existe apenas

como tendência.

Por fim, vale destacar o papel da tradução para Boaventura, ou seja, o procedimento

que permite captar as experiências existentes para além da relação hegemônica e criar

inteligibilidade recíproca entre as experiências do mundo, sem atribuir a nenhum conjunto de

experiências um caráter totalitário ou homogêneo. Acharya e Buzan também destacam isso

quando afirmam que “se as diferenças culturais são tão fortes, isso faz com que as

características compartilhadas no nível sistêmico sejam muito frágeis para apoiar teorias

sistêmicas” (ACHARYA; BUZAN, 2010, p.15). Além de um trabalho intelectual, a tradução é

também política e emocional, uma vez que pressupõe o inconformismo perante o caráter

incompleto ou deficiente de um dado conhecimento ou de uma dada prática. Ela se assenta

sobre o pressuposto do universalismo negativo, ou seja, a teoria geral da impossibilidade de

uma teoria geral.

A temática da cooperação no Realismo, Liberalismo e Construtivismo

Ao afirmar que as relações interestatais se desenvolvem à sombra da guerra, Aron

(2003) aponta que as relações internacionais podem ser representadas pelas figuras do

diplomata – cooperação – e do soldado –competição –, simbolizando as duas gramáticas da

política, opostas e ao mesmo tempo complementares. A principal contribuição de Aron está

contida na sua busca por regularidades para a eclosão de guerras ou para a manutenção da

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paz. Nesse aspecto, o espaço, os números e os recursos definem as causas ou meios

materiais da política, ao passo que os objetivos perseguidos pela política exterior de um

Estado seriam o poder, a glória e a ideia (ARON, 2003, p. 128).

Ainda, o autor afirma que a política internacional compreende um choque constante

de vontades, uma vez que é constituída de relações entre Estados soberanos que pretendem

determinar livremente sua conduta. Esse movimento acaba gerando o que Aron denomina

“paradoxo da política internacional”, ou seja, o fato de que a constante procura por segurança

em prol do equilíbrio das forças cria ou mantém a inquietação geral e as suspeitas recíprocas,

gerando um constante estado de insegurança. Para Aron,

a continuidade das relações internacionais ocorre através da alternância

entre a paz e a guerra [relacionada com a mudança constante de Carr], através da complementaridade da diplomacia e da estratégia, dos meios

violentos e não violentos que os Estados utilizam para alcançar seus objetivos ou defender seus interesses (ARON, 2003, p.49).

Buscando compreender como é possível, em um mundo onde persistem interesses

divergentes, obter alguma forma de cooperação e impedir o estado permanente de guerra,

Bull (2002) destaca a existência de três tradições filosóficas que, ao longo da história, têm

fundamentado análises a respeito desse fenômeno– hobbesiana, kantiana e grociana1. A

tradição hobbesiana considera a política internacional como um estado de guerra e descreve

as relações internacionais enquanto um cenário de competição em que cada Estado se coloca

contra todos os demais. Já a tradição kantiana, ou universalista, assume que a essência da

política internacional não está assentada nos conflitos entre os Estados, mas sim nos vínculos

sociais transnacionais entre os indivíduos.

Por fim, Bull destaca que a tradição grociana seria um caminho do meio entre a

perspectiva realista e a universalista, ou seja, “a política internacional nem expressa um

completo conflito de interesses entre os Estados nem uma absoluta identidade de interesses”

(BULL, 2002, p.35). Para essa tradição, não é a guerra que melhor representaria a atividade

internacional, mas sim o comércio – ou seja, o intercâmbio econômico e social entre os

Estados, que é limitado pelas regras e instituições da sociedade que o formam. Vale ressaltar,

entretanto, a observação feita pelo autor de que essa limitação não pretende uma

“comunidade universal dos homens”, mas sim a aceitação das exigências necessárias para

coexistir e cooperar em uma sociedade de Estados.

Mais alinhada à tradição hobbesiana2, o Realismo Estrutural tem como principais

proposições a relevância da estrutura anárquica do sistema internacional, a centralidade do

1 Apesar de compreendermos as fragilidades que essa divisão apresenta – somadas às diversidades

existentes dentro das próprias correntes teóricas –, julgou-se didático apresentá-la para iniciar as breves discussões e contrapontos entre as teorias aqui expostas.

2 É interessante notar que, para Waltz (1959; 2000), a guerra não é simplesmente um produto

irrevogável da natureza humana, mas sim uma ação política.

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Estado-nação enquanto principal ator nas relações internacionais e a busca por sobrevivência

nesse ambiente de imprevisibilidade. Ao buscar compreender quais as principais causas da

guerra, Waltz (1959) atribui um caráter condicionante a estrutura e aponta a existência de três

aspectos fundamentais para a compreensão desse fenômeno: a natureza humana belicosa;

a organização interna dos Estados, tendo em vista que a existência de um inimigo externo

pode unir grupos internos que antes eram opostos; e a configuração anárquica do sistema

internacional, onde a busca por segurança torna inevitável a ocorrência de um conflito, uma

vez que “os Estados não gozam de nenhuma garantia quanto à sua segurança, a não ser que

se empenhem em proporcioná-la a si mesmos” (WALTZ, 1959, p.247).

Nesse escopo, a busca pela sobrevivência do Estado está relacionada à busca por

equilíbrio de poder – tanto poder defensivo, enquanto instrumento para garantir a segurança,

quanto poder ofensivo, enquanto capacidade de produzir um efeito pretendido. Sendo assim,

sob essa perspectiva, a cooperação entre Estados ocorreria de maneira pontual e sem a

capacidade de apagar a rivalidade anterior. A formação de coalizões estaria embasada na

percepção de que o estabelecimento de laços cooperativos em uma dada circunstância seria

mais vantajoso para os interesses dos Estados envolvidos. Findada essa conjuntura de

vantagem, finda-se também a coalizão e retoma-se a tônica de desconfiança anterior.

Embora também esteja alinhado à corrente Realista e em consonância com a

característica condicionante da estrutura anárquica do sistema internacional, John

Mearsheimer (2001) se afasta das proposições de Waltz ao propor uma vertente mais

“ofensiva”, com maior enfoque no acúmulo de poder e no alcance da hegemonia do que na

manutenção do status quo. Ao defender que a segurança é a ausência de ameaças,

Mearsheimer aponta que ela só é possível quando um Estado alcança esse status de

hegemonia3. Sob essa perspectiva, a ideia de coalizões se manifesta segundo a lógica de que

o aumento de poder de um Estado faria com que os demais precisassem se aliar para

equilibrar a balança de poder, no que o autor ilustra como sendo uma “curva de segurança”

(MEARSHEIMER, 2001).

Já a corrente Liberal – mais alinhada ao que Bull intitula tradição kantiana – atribui

maior enfoque às condições para a cooperação em ambientes de interesses divergentes e,

por vezes, antagônicos. Cabe destacar o caráter idealista do Liberalismo no período entre

guerras, no qual, ao contrário do que se observa na corrente realista, a natureza humana era

compreendida como algo mais próximo das noções apresentadas por Locke (1994) do que

por Hobbes (1997)4. No entanto, é importante não assumir que esse idealismo é uma

3 Vale destacar que o autor considera os conflitos entre grandes potências. 4 O modelo hipotético hobbesiano aponta que o estado de natureza humano é marcado pela

autopreservação e constante sensação de insegurança. Já o estado de natureza lockeano é caracterizado pela relativa paz, concórdia e harmonia. Cabe destacar que o estado de natureza para

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prerrogativa de todas as vertentes da teoria Liberal, uma vez que esta também parte da ideia

de racionalidade da ação política e do entendimento da cooperação enquanto instrumento

para o alcance de determinados interesses.

Kant (1989) apontava como essencial uma forma de governo em que o povo pudesse

controlar as decisões do soberano, a fim de impossibilitar as guerras enquanto decisão

arbitrária. A noção de “Pacifismo democrático” que o autor aborda não estaria atrelada à

eliminação do Estado, mas à sua transformação, de maneira que o poder do governante fosse

controlado pelos governados. Para o autor, no momento em que todos os Estados fossem

democraticamente governados, um conflito não poderia chegar ao ápice do combate armado.

Dessa forma, se alcançaria a “Sociedade Universal dos Estados”. Concebido como evolutivo

e decorrente da própria natureza das coisas, esse processo não culminaria na abolição do

império da força, mas sim na sua ampliação agora contida pelo controle popular até abarcar

não apenas as relações internas dos Estados, mas também sua política externa.

Buscando ampliar o debate, Keohane (2002) aborda o modo como as instituições

internacionais operam em um contexto de interdependência, ou seja, em um contexto no qual

a noção de “poder” está relacionada à dependência mútua e assimétrica. Diferente de autores

realistas que priorizam o papel condicionante da estrutura e a centralidade do Estado

enquanto ator internacional, Keohane (2002) ressalta a contribuição das instituições para a

cooperação entre os Estados e considera que elas desempenham um papel amenizador no

que se refere às relações interestatais no sistema anárquico internacional. Enquanto

Mearsheimer (2001) aponta que as normas internacionais se constituem como um reflexo das

relações de busca de poder, Keohane (2002) sugere que as instituições – reguladas pela ideia

de dependência mútua – auxiliam o processo cooperativo.

Entre os conceitos abarcados pelo autor, destacam-se as noções de “globalismo”,

concernente a “um estado mundial que envolve interdependência de redes em distâncias

multicontinentais, ligadas por meio de fluxos de capital e pertences, informações e ideias,

pessoas e força” (KEOHANE; NYE, 2001, p. 229 apud KEOHANE, 2002, p. 273); assim como

de “violência informal”, referente à violência perpetrada por atores não estatais com o objetivo

de causar grandes danos com poucos recursos materiais. Segundo o autor, os ataques ao

World Trade Center em 2001 representaram a globalização dessa violência informal, assim

como a violência formal controlada pelo Estado se tornou globalizada ao longo da década de

1950. Nesse sentido, o autor aponta que os fundamentos da política externa se alteraram

profundamente com a globalização da violência informal, realizada por redes de atores não-

estatais.

Locke, ao contrário de Hobbes, é uma situação real pela qual os homens necessariamente passaram ou ainda passam.

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É interessante notar que a análise de Keohane busca considerar tanto aspectos

objetivos quanto subjetivos5, uma vez que o autor aponta a racionalidade da ação humana,

mas também sua vinculação inerente às identidades dos atores. O autor aponta uma relação

de co-constituição entre ambas, ou seja, as instituições não apenas são criadas pela ação

humana, mas também estruturam essa ação6. Keohane aponta que a ação é motivada

principalmente pelo auto interesse, destacando que as teorias tradicionais acabaram

desconsiderando a questão da motivação e ignorando o impacto da religião e do ódio humano,

ainda que estes aspectos sempre tenham sido presentes nas relações internacionais

(KEOHANE, 2002, p.272).

A interdependência gera discórdia quando é assimétrica. No entanto, para a visão

liberal-institucionalista de Keohane, a noção de poder está relacionada a essa assimetria, uma

vez que o ator detém mais poder quanto menos dependente ele for. Torna-se um ciclo

incessante e desse continuum decorre o papel fundamental das instituições enquanto

amenizadoras das relações interestatais. Nesse ponto, é interessante notar a análise que

Keohane traz sobre interdependência e ação humana, destacando o auto interesse estatal de

buscar mais autonomia, mas também o papel das ideias e identidades nessa ação humana –

que não é enfocada no Realismo. Em uma tentativa de apontar fragilidades de ambas as

correntes, Nye afirma que

os liberais têm que compreender que o desenvolvimento de uma nova ordem

mundial, para lá do sistema de Vestifália, é uma questão de décadas e de séculos; e os realistas têm de reconhecer que as tradicionais definições do poder e da estrutura, em termos puramente militares, não tomam em consideração as mudanças que estão a ocorrer num mundo de comunicações globais e de crescentes relações transnacionais (NYE, 2002, p. 280).

Por fim, para a teoria Construtivista, a política internacional é socialmente construída

e abarca a concepção que os atores possuem dos outros e de si mesmos. Wendt (1992)

argumenta que a ação dos atores está baseada em significados comuns e que são esses

significados coletivos que constituem a estrutura, a qual, por sua vez, organiza as ações. Essa

visão holística de que as identidades e os interesses dos atores são construídos pelas ideias

compartilhadas embasa a compreensão de identidade como algo que decorre da dimensão

ideacional, e não apenas material, estando sempre em processo e podendo ser afetada pelas

práticas conjuntas dos atores (WENDT, 2014).

Destarte, é importante notar que os construtivistas não negam a possibilidade de se

encontrar causalidades, este apenas não é o foco. Nesse sentido, a teoria rompe com a

perspectiva comtiana que busca regularidades explicativas e busca analisar a singularidade

5 Não são todos os autores da corrente liberal que apresentam essa preocupação de modo tão explícito,

o que mais uma vez demonstra a diversidade existente dentro das próprias correntes teóricas. 6 Ponto este que se aproxima da teoria Construtivista.

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de uma dada ação ou situação de maneira contextualizada. Vale destacar também a

subdivisão que alguns autores apontam na corrente construtivista: sendo a primeira mais

estadocêntrica e intitulada Construtivismo Convencional; ao passo que a segunda se afasta

de uma epistemologia mais positivista e suscita maiores debates acerca da relação entre

conhecimento e poder, sendo intitulada Construtivismo Crítico.

Guzzini (2013) destaca a importância de se avaliar a postura do construtivismo no que

se refere ao nível da observação, da ação e também a relação entre ambos, sendo a análise

do poder tema central para compreender a relação reflexiva entre esses dois níveis. Segundo

o autor, do ponto de vista epistemológico, o Construtivismo aborda a construção social dos

significados, ao passo que, do ponto de vista ontológico, a teoria trata da construção da

realidade social. Nesse sentido, o autor destaca que é fundamental considerar que toda ação

é dotada de significado – aqui compreendido enquanto identidades e interesses – e que essa

ação é um fenômeno intersubjetivo, sendo necessário considerar o contexto social no qual

esses significados se constituem, bem como o relacionamento entre o contexto e os próprios

atores. Ao apresentar os três eixos centrais do construtivismo – observação, ação e

relacionamento entre ambas –, o autor aponta que “o construtivismo implica primeiro uma

posição de dupla hermenêutica no nível de observação e, segundo, uma teoria intersubjetiva

da ação” (GUZZINI, 2013, p.381).

Dentre os princípios fundamentais do construtivismo, destaca-se: a crítica ao

empirismo e ao positivismo – centro do Construtivismo Epistemológico; a intersubjetividade

metodológica desenvolvida a partir da crítica às abordagens racionalistas – inserida no

Construtivismo Sociológico; e o debate em torno do conceito de poder, o qual representa um

elo reflexivo entre observação e ação. Dessa forma, é interessante destacar o movimento

dialético presente na teoria construtivista, compreendendo a racionalidade sempre de modo

relativo ao interesse do agente, bem como a característica intersubjetiva das relações de

poder.

Para a teoria Construtivista, as relações ocorrem sob o signo de três principais tônicas:

da inimizade; da rivalidade; e da amizade. No que se refere à temática da cooperação, o

Construtivismo compreende que as interações entre atores podem gradualmente alterar

antigas tensões – uma vez que a política internacional é socialmente construída pelos

agentes. Em última instância, a recorrência de relações cooperativas pode fazer com que

esses atores internalizem uma nova identidade sobre si mesmos e sobre “o outro”. Wendt

intitula esse processo de “socialização”, dinâmica pela qual identidade e interesses são

formados e que, em parte, resulta de um processo de aprendizado para conformar seu

comportamento com as expectativas da sociedade.

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Cooperação em Defesa entre os países do ABC

O caso da cooperação em Defesa entre Argentina, Brasil e Chile (ABC) é interessante

para tensionar essas correntes teóricas, uma vez que os países possuem amplo histórico de

tensões e conflitos envolvendo disputas territoriais e predomínio regional, especialmente

quando levamos em consideração os binômios Argentina-Brasil e Argentina-Chile. De acordo

com Candeas (2010), a rivalidade entre os dois primeiros países remonta à percepção

historicamente negativa que a Argentina apresentava em relação ao Brasil durante o processo

de consolidação do seu próprio território, intensificada pelo receio de uma sobreposição

regional. Essa tensão, que também encontrava respaldo na política externa brasileira

(SARAIVA, 2012), remetia às relações concorrentes das respectivas metrópoles e continuou

presente mesmo após os processos de independência dos países, culminando na Guerra da

Cisplatina.

Embora se verifique um período de maior cooperação entre as décadas de 1850 e

1860 – inclusive com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação7, em 1856

– a rivalidade entre Argentina e Brasil continuou presente nas relações bilaterais ao longo de

todo o século XIX. A primeira fase da república brasileira (1889-1902), por exemplo, foi

marcada por uma clara disputa pela hegemonia sub-regional entre os países. Bueno (1997)

afirma que o país vizinho era considerado um “inimigo provável” pela chancelaria brasileira e

aponta que o Brasil buscava manter uma aproximação cordial com o Chile por compreender

que este seria um “parceiro estratégico” em um eventual conflito. Nesse sentido, o autor

ressalta que a paz na região repousava justamente no equilíbrio resultante da interação

desses três Estados.

Essa também foi uma fase marcada por desconfianças no campo de equipamentos

bélicos, principalmente pelo receio mútuo de um conflito que envolvesse questões fronteiriças.

Tal fato fez com que o Brasil, embora não descartasse a retórica da amizade, tenha se

recusado a participar da Conferência sobre Desarmamento de 1899, em Haia, tendo em vista

as possíveis desvantagens de um compromisso em tal aspecto. Entretanto, cabe ressaltar

que a partir do Tratado de Limites, firmado em 1898, essa noção de desconfiança deixou de

remeter a uma disputa territorial e passou a embasar-se mais na competição militar e em

termos geopolíticos (CANDEAS, 2010).

Argentina e Chile também apresentam um robusto histórico de tensões e rivalidades,

especialmente pelo fato de possuírem uma das maiores fronteiras compartilhadas e contínuas

do mundo. Embora tenham se aliado contra o domínio espanhol e cultivado relação amistosa

7 O Tratado visava “firmar em bases sólidas e duradouras as relações de paz e amizade que subsistem

entre as duas nações, e promover os interesses comuns do seu comércio e navegação”. Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/1856/b_49/>. Acesso em: 10 mar.

2017.

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após as respectivas independências – exemplificada pelo Tratado de Amizade, Aliança,

Comércio e Navegação assinado em 1826, bem como pelo Convênio de Paz, Amizade e

Inteligência de 1830 –, ambos colecionam uma gama de conflitos territoriais, mesmo após a

assinatura do Tratado de Limites em 1878.

Entretanto, apesar de as relações entre o ABC terem sido fortemente baseadas em

percepções de concorrência e rivalidade (WENDT, 2014; CANDEAS, 2010) – com intervalos

de aproximação –, os países alçaram maior convergência a partir da década de 1980 e,

principalmente, de 1990, o que pode ser exemplificado pela assinatura da Declaração de

Iguaçu em 1985, e pelo Acordo de Complementação Econômica entre Argentina e Chile em

1991. Ainda, vale destacar a Ata para a Integração e o Tratado de Integração, Cooperação e

Desenvolvimento, assinados por Argentina e Brasil, em 1986 e 1988, respectivamente, que

forneceram bases para a criação de um mecanismo permanente de consultas e maior

harmonização das políticas externas. De acordo com Bernal-Meza (2002), foi nesse período

que o Brasil passou a construir uma parceria estratégica com a Argentina, a qual serviu de

plataforma para a redefinição das relações no plano regional.

No campo da Defesa e da Segurança Internacional, essa convergência entre Argentina

e Brasil teve início com a realização de exercícios militares conjuntos pelas duas marinhas, já

no final dos anos 1970, mas foi na década de 1990 que a cooperação na área entre o ABC

realmente se desenvolveu. Exemplo disso é a institucionalização do Mecanismo de Consulta

sobre Defesa e Segurança Argentino-Brasileiro8, o Mecanismo de consulta “2+2” entre os

ministros das Relações Exteriores e da Defesa de Argentina e Chile, bem como o Comitê

Permanente de Segurança (COMPERSEG)9 estabelecido em 1995. Também vale destacar a

declaração conjunta dos presidentes de Argentina e Chile, em 1997, na qual os mandatários

destacam o entendimento que prevalece entre ambos os países em matéria de Defesa e

Segurança Internacional e sua contribuição para o fortalecimento de um continente unido pela

cooperação.

Ademais, com a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) ao final de

2008, no marco estabelecido pela Unasul, os Estados em questão alcançaram um patamar

de entendimento sem precedentes. O CDS apresenta grande relevância para as relações

entre Argentina, Brasil e Chile, pois demonstra a mudança de percepção de Forças Armadas

que se desenvolveram e consolidaram com a hipótese de conflitos e guerras mútuas, tratando-

se da primeira instituição especializada na área da Defesa a reunir os países da região com

8 Fórum que reúne anualmente os ministros das Relações Exteriores e da Defesa de ambos os países,

assinado em 1997. 9 O COMPERSEG tem como objetivo o estabelecimento de uma agenda de trabalho cooperativa entre

Argentina e Chile na área de Defesa e Segurança.

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o objetivo de gerenciar crises regionais e promover intercâmbios de informação e

experiências.

Dentre os avanços cooperativos entre os três países na área específica de operações

de paz é possível citar a normatização de uma doutrina militar integrada entre Argentina e

Brasil, especificada no documento “Normas de Elaboração de Publicações de Doutrina

Combinada para o Emprego Militar das Forças Armadas da Argentina e do Brasil” de 2012 –

que cria um esboço para a definição de princípios pelos quais ambas as forças militares

deverão ser organizadas, instruídas e equipadas nos casos em que houver emprego

combinado –, bem como o Acordo entre Brasil e Chile sobre cooperação em matéria de

Defesa firmado em 2007, que engloba intercâmbio de conhecimento, experiências e

capacitação na área de Operações de Paz.

Também é importante destacar a força militar conjunta para missões de paz da ONU,

criada em 2005 entre Argentina e Chile, denominada Força de Paz “Cruz Del Sur”. Trata-se

da primeira iniciativa binacional de integração militar formada por países latino-americanos no

âmbito das Nações Unidas e é um grande exemplo da cooperação que as forças conjuntas

para atuação em operações de paz podem gerar, principalmente quando levamos em

consideração que menos de trinta anos antes Argentina e Chile quase chegaram a um conflito

direto pela questão do Canal de Beagle10. Vale ressaltar que, em 2012, oficiais brasileiros do

Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas participaram como observadores de um exercício

da brigada “Cruz Del Sur” e, em 2014, o então Ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim,

manifestou para seus homólogos argentino e chileno o interesse do Brasil em fazer parte da

Força de Paz.

Existe ainda um projeto conjunto entre o ABC para o financiamento de instrutores nos

Centros Conjuntos de Treinamento para Operações de Paz, onde o Brasil apoia a estadia de

um Oficial do Exército Brasileiro como instrutor no CECOPAC e o Chile custeia um Oficial

chileno como instrutor no CCOPAB, acordo que se repete no caso de Argentina e Chile, e

Argentina e Brasil. Por fim, destaca-se a Associação Latino-americana de Centros de

Treinamento para Operações de Paz (ALCOPAZ), uma iniciativa argentina que objetiva

promover a padronização de uma doutrina na região para a atuação em operações de paz,

bem como o estabelecimento de uma perspectiva regional e o compartilhamento de

experiências.

10 O único antecedente de uma força de paz conjunta na ONU entre antigos inimigos é o de Alemanha

e França.

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Considerações Finais

Para além da importância se atribui à análise do processo de tomada de decisão na

política externa, vale destacar aqui também a importância de combinar “uma teoria social do

conhecimento com uma teoria intersubjetivista da ação” (GUZZINI, 2013, p. 377). O Realismo

Estrutural, por exemplo, compreende esse processo como sendo mais determinado do que

determinante, ou seja, atribui um grande peso à estrutura e ao seu caráter anárquico,

compreendendo os Estados como atores homogêneos e o sistema enquanto possuidor de um

impacto enclausurante no modo como as unidades se comportam. Dessa forma, nota-se que

a teoria Realista é reticente quanto às mudanças de percepção que podem decorrer de

exercícios cooperativos, isso porque encontra centralidade na estrutura internacional, ou seja,

na distribuição das capacidades entre as unidades estatais que formam o sistema político

internacional.

Ao marginalizar o poder de ação do agente, o Realismo perde do seu radar a

potencialidade que o contato frequente e a troca de informações decorrentes de exercícios

conjuntos podem apresentar. Por isso a corrente entende que as cooperações são fenômenos

pontuais, por essência. Os realistas possuem uma concepção muito enraizada na ideia de

“interesses nacionais” e, por consequência, acabam girando em torno de uma teoria

estadocêntrica que reduz a política internacional em termos de relações de força entre

unidades maciças e homogêneas.

Embora esse elemento não deva ser desprezado, sendo, de fato, importante na

análise das relações internacionais, é necessário criticar as características de unicidade e

“determinância” que lhe são atribuídas no Realismo e que acabam deixando de lado a

complexidade dos demais fatores que caracterizam a estrutura. Mesmo o Liberalismo

Institucional de Keohane, ainda que dilua um pouco essa exclusividade estadocêntrica nas

relações internacionais, possui também lacunas que dificultam a análise de esforços

cooperativos, uma vez que as instituições refletem as relações de poder do seu momento

inicial e possuem uma tendência a conservar essa situação, ou seja, possuem também uma

relação estrutural em conformidade com o seu momento fundante.

Reconhecendo o valor de cada uma das teorias supra expostas para a análise e

compreensão de determinados objetos, no caso específico da cooperação em Defesa entre

Argentina, Brasil e Chile considera-se necessário levar em conta não apenas que as

identidades constituem interesses e ações, mas também que essas identidades precisam ser

atualizadas. De acordo com Pouliot (2010), a paz entre Estados repousa na diplomacia auto

evidente – quando diplomatas de ambos os lados de uma relação interestatal possuem o

mesmo entendimento sobre a estrutura e os termos da relação –, a qual possibilita a resolução

não-violenta de conflitos. No entanto, no caso de existirem divergências quanto às posições

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e disposições, o desenvolvimento de uma ordem pacífica pode ser minado por conflitos de

poder simbólico mais ou menos intensos sobre os próprios termos de interação.

Nesse sentido – na medida em que a existência de Forças de Paz Conjuntas, de

Centros de Treinamento Combinados e de diversos acordos firmados em matéria de defesa

tornam recorrente o treinamento conjunto e a troca de experiências entre Forças Armadas –,

é possível concluir que o maior esforço cooperativo que os países do ABC vêm estabelecendo

pode significar uma mudança de identidade, em que as características de rivalidade e

concorrência, apesar de não superadas em sua totalidade, oferecem espaço para uma

percepção comum de maior aproximação e cooperação.

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