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SUSTENTABILIDADE DO TRABALHO X EFICIÊNCIA ENFATIZANDO Jessica Barbosa dos Santos (UNICSUL) [email protected] Em face da crescente expansão do capitalismo e de novas descobertas com relação à sustentabilidade, surge a necessidade da busca por meios de relacionar ambos os fatos, preservando suas relativas importâncias, de modo a apontar um novo caminho ao planejamento estratégico que abranja produção, sustentabilidade e trabalho. Tal busca visa obter, através de uma esquematização, um modelo que possibilite a integração entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais - sendo que, este último, à luz da ergonomia e psicodinâmica do trabalho e da discussão sobre eficiência no trabalho. Este estudo propõe ao planejamento estratégico explorar uma estratégia cabível a ele, assumindo a condição de se desapropriar das visões de estrutura organizacional até então comumente utilizadas nas organizações (horizontal ou vertical); para adotar o modelo de visão transversal à estrutura organizacional (tornando-se então atrativa e pertinente à organização como um todo, e não apenas a determinado segmento desta). O assumir dessa visão transversal, que é mais contemporânea e atualizada, trará condições propicias à observância e exploração da relação existente entre o trabalhador e o trabalho que este executa, levando em conta as implicações que um gerará ao outro, e também, os impactos que essa relação trará para a produção num todo; compreenda-se: à economia envolvida, ao meio ambiente circunvizinho e ao ser social, cidadão, que é o protagonista neste quadro. O objetivo então é a busca pela eficiência através da utilização do planejamento estratégico, e este, focando na psicodinâmica do trabalho como estratégia principal. Palavras-chave: eficiência, planejamento estratégico, sustentabilidade, psicodinâmica do trabalho, visão transversal. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

Associação Brasileira de Engenharia de Produção - …abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_216_277_27994.pdf · 2016. 8. 11. · Em face da crescente expansão do capitalismo e de novas

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SUSTENTABILIDADE DO TRABALHO X

EFICIÊNCIA ENFATIZANDO

Jessica Barbosa dos Santos (UNICSUL)

[email protected]

Em face da crescente expansão do capitalismo e de novas descobertas com

relação à sustentabilidade, surge a necessidade da busca por meios de

relacionar ambos os fatos, preservando suas relativas importâncias, de modo

a apontar um novo caminho ao planejamento estratégico que abranja

produção, sustentabilidade e trabalho.

Tal busca visa obter, através de uma esquematização, um modelo que

possibilite a integração entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais -

sendo que, este último, à luz da ergonomia e psicodinâmica do trabalho e da

discussão sobre eficiência no trabalho.

Este estudo propõe ao planejamento estratégico explorar uma estratégia

cabível a ele, assumindo a condição de se desapropriar das visões de

estrutura organizacional até então comumente utilizadas nas organizações

(horizontal ou vertical); para adotar o modelo de visão transversal à

estrutura organizacional (tornando-se então atrativa e pertinente à

organização como um todo, e não apenas a determinado segmento desta).

O assumir dessa visão transversal, que é mais contemporânea e atualizada,

trará condições propicias à observância e exploração da relação existente

entre o trabalhador e o trabalho que este executa, levando em conta as

implicações que um gerará ao outro, e também, os impactos que essa

relação trará para a produção num todo; compreenda-se: à economia

envolvida, ao meio ambiente circunvizinho e ao ser social, cidadão, que é o

protagonista neste quadro.

O objetivo então é a busca pela eficiência através da utilização do

planejamento estratégico, e este, focando na psicodinâmica do trabalho

como estratégia principal.

Palavras-chave: eficiência, planejamento estratégico, sustentabilidade,

psicodinâmica do trabalho, visão transversal.

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1. Introdução

1.1 Contextualização do tema da pesquisa

O Planejamento Estratégico nas empresas contemporâneas tem sido uma importante

ferramenta na busca pela eficiência, para aumentar assim sua competitividade no mercado, se

contrapondo ao constante decréscimo dos “savings” e o aumento dos prejuízos. Nos dias

atuais, tornou-se praticamente impensável enxergar empresas emergentes no mercado

capitalista não fazerem uso de um Planejamento Estratégico propício às suas características e

necessidades.

Isso ocorre pois, para que uma empresa se mantenha em atividade, é necessário que seu

potencial competitivo no mercado em que está inserida seja significativo e esteja em constante

crescimento - ou pelo menos, que seja constate - o que só é possível com o alcance e

aprimoramento de sua eficiência, justificando então a necessidade de implementação de um

planejamento estratégico.

O Planejamento estratégico será uma forma de definir a metodologia a ser utilizada na

empresa em busca da otimização entre esta e os fatores que a cercam - sejam esses internos ou

externos – inovadora e diferenciadamente.

Contudo, apesar de todos os fatores positivos que englobam os conceitos de planejamento

estratégico propiciando um ambiente favorável à sua implementação na busca por medidas

eficazes de superação a “ameaças” do mercado e aproveitamento das oportunidades

encontradas no mesmo, há ainda alguns fatores pouco discutidos que carecem de uma atenção

especial, e são esses os pontos focados nesta abordagem, apresentando um caminho possível

no vasto universo do conhecimento a expandir-se.

Sabendo que está em voga nos mais diferentes meios de atuação do ser humano a questão da

sustentabilidade, consequente de sua importância moral e ambiental claramente definida, faz-

se notório que as organizações voltadas para produção de bens e serviços tem incorporado

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frequentemente esta questão em seus planos de negócios e gestão de processos, objetivando o

aumento de competitividade no mercado em função de sua responsabilidade social.

Não obstante aos resultados positivos que tal postura acarreta, tem-se também a oportunidade

de explorar um enfoque até então pouco visado: a implicação e os impactos vivenciados pelos

trabalhadores ao desempenharem suas atividades em organizações produtivas consideradas

sustentáveis ou “responsáveis”, ambientalmente falando.

A degradação da relação entre empregados e empregadores tem implicado numa explosão de

ofertas de profissionais no mercado de trabalho, o que diminui a cada instante, a importância

que o empregado atribui ao fruto de seu trabalho; ou seja, o valor que o próprio executor

implica ao trabalho por ele executado. Há uma constante precarização nas relações de

trabalho.

É necessário que se enxergue a subjetividade como real e impulsionadora de todas as ações do

existir, não obstante o trabalhar. Sendo assim, o trabalhador terá total responsabilidade pelo

trabalho por ele executado, abrangendo à sua visão subjetiva daquilo que faz a capacidade e

vontade que possui de fazê-lo. A produtividade que as empresas tanto almejam está

diretamente ligada à subjetividade existente entre o trabalhador e o trabalho que este executa.

O desmerecimento desta importante relação entre o homem e seu trabalho, engessa

substancialmente o aumento da produtividade, distanciando as empresas cada vez mais da tão

sonhada eficiência. A competitividade, que é diretamente proporcional à eficiência, passa a

estar cada vez mais longe do alcance das empresas que não dão a merecida importância a tal

condição.

E o nome dado a esse novo campo de estudo, que estuda a construção da saúde pelo trabalho

foi psicodinâmica do trabalho; estudo esse que se escancarou uma nova visão, até então

recatada enquanto abordada pela sustentabilidade, mas que ganha força e espaço após os

estudos do professor francês Christopher Dejours.

1.2 – Metodologia de pesquisa

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Em função dos temas abordados no estudo proposto, demanda-se o uso de uma metodologia

que explore as interações relativas ao tema em questão. Fato este, que direciona a pesquisa a

um caráter exploratório, caracterizado pela obtenção de resultados através do aprofundamento

do contato com a realidade (TRIVIÑOS, 1987). Atrelando também a uma abordagem de

natureza qualitativa, que almeja o entendimento de um fenômeno social considerando suas

complexidades (RICHARDSON, 1999); o que vem a justificar também o caráter exploratório

da pesquisa, se ponderado que técnicas quantitativas de coletas de dados não são

costumeiramente aplicadas neste tipo de abordagem (GIL, 1989).

Consequentemente, optou-se por utilização de um estudo de caso, método considerado um

tipo de análise qualitativa (GOODE, 1969), atrelado a YIN (1989, p. 23) que afirma que "o

estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro

de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é

claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas".

2. Fundamentação teórica

2.1 Conceitos relacionados ao Planejamento Estratégico

O processo de planejamento estratégico é definido como uma análise racional das

oportunidades oferecidas pelo meio, dos pontos fortes e fracos da empresa e da escolha de um

modo de compatibilização (estratégia) entre os dois extremos. Compatibilização, esta, que

deveria satisfazer do melhor modo possível aos objetivos da empresa (ANSOFF et al., 1981).

Na concepção de Valadares (2002), o planejamento estratégico é considerado uma ferramenta

moderna de gestão empresarial que, baseando-se em conceitos e atitudes, em que a empresa

acredita, torna o ato de planejar uma forma inteligente de escolher uma sequencia de ações

futuras para a empresa, na procura de seus objetivos maiores.

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Tais considerações nos permitem concluir que o famigerado planejamento estratégico busca

incessantemente, meios e formas de alcançar a eficiência nos processos produtivos, visto que

notoriamente se percebe que este é o objetivo principal das empresas.

Em particular, as organizações voltadas para produção de bens e serviços estão

paulatinamente incorporando a sustentabilidade em seus planos de negócios e gestão de

processo (PERALTA ET AL., 2008)

2.2 Conceitos relacionados à Sustentabilidade

No âmbito das organizações de processos produtivos e de serviços, a lógica da

sustentabilidade está sendo incorporada através de diversas ações, norteadas principalmente

pelo tripé da sustentabilidade (Triple Bottom Line): pessoas (people), lucro (profit) e planeta

(planet). Nele é estabelecido que três dimensões devem estar presentes na estratégia da

organização direcionada para a sustentabilidade: social, econômico e ambiental

(ELKINGTON, 1994).

O Tripé, supracitado, causa efetivas melhorias quando equiparado nas mesmas proporções; ao

contrário do que habitualmente vê-se, que é a aplicação de propostas de melhoria em apenas

uma dessas dimensões, o que projeta um efeito ilusório e ineficiente de conquista do objetivo

principal.

Relativo às ações empresarias, genericamente falando, cabe à citação da responsabilidade

social empresarial (NIJHOF et al., 2008; LORENZO et al., 2008; FEDAPO, 2005),

responsabilidade socioambiental (SANTANA, 2008), trabalho decente (GHAI, 2008), entre

outros. Todas as abordagens mencionadas destacam que a responsabilidade da empresa deve

envolver proteção ambiental, projetos filantrópicos e educacionais, planejamento da

comunidade, equidade na oportunidade de emprego, serviços sociais em geral

(LONGENECKER, 1981). Nesse sentido uma organização deve ter responsabilidade quanto

aos impactos gerados por suas ações sobre a sociedade (DRUCKER, 1997). Dessa forma,

segundo Rodrigues et al. (2008), poderíamos destacar que, em particular, “responsabilidade

social é um conceito que envolve as condições de bem estar ligadas às dimensões das

atividades produtivas e ao bem estar da sociedade”.

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2.3 Conceitos relacionados à Psicodinâmica do Trabalho

O ponto de vista da ergonomia da atividade esta baseado naquilo que os trabalhadores fazem,

como cada sujeito usa de si para realizar aquilo que foi previsto nas tarefas e, ao mesmo

tempo, também aquilo que não foi previsto, para se obter os resultados de produção almejados

(BRUNORO, 2011).

Essa dita ergonomia, tem como objetivo fundamental, cooperar para que se forneçam as mais

adaptadas, ou adaptáveis, condições para que o sujeito consiga desenvolver bem a sua

atividade. Portanto, as suas ações estarão voltadas para propiciar cenários onde os

trabalhadores possam atingir objetivos diversos como alcançar ou até ultrapassar metas de

produtividade e qualidade, desenvolver a sua saúde e se desenvolver profissionalmente

(NETO, 2011).

Surgem, provenientes da focalização nos estudo do ser com o seu sentir ao trabalhar,

conceitos pertinentes à denominada Psicopatologia do Trabalho, que viria a servir de alicerces

para o descobrimento da Psicodinâmica do Trabalho; vertente esta que propiciou a inclusão

do sofrimento e do prazer como conceitos que permitem entender a relação dialética dos

sujeitos com o seu trabalhar (DEJOURS, 2004a).

O ponto de vista ancorado na subjetividade, até pouco tempo não era tratado pela ergonomia

(BRUNORO, 2011).

Em ergonomia, as questões norteadoras de sua abordagem são: o que fazem, como fazem,

quais dificuldades encontram e como as superam e o quê fazer para melhorar. A ação em

psicodinâmica do trabalho tem como ponto de partida a questão de como os trabalhadores

vivem o seu trabalho e o que significa para eles (DEJOURS, 2004b).

Visando evidenciar alguns aspectos da relação entre o trabalho e a sustentabilidade possíveis

de discussão à luz da ergonomia e da psicodinâmica do trabalho, torna-se indispensável à

observância dos atributos de cada uma dessas abordagens. A distinção entre os pontos de

vista com relação à interação entre o trabalhador e seu trabalho é perceptível, contudo, ambas

convergem para o mesmo ponto: ações que promovam a saúde e desenvolvimento

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profissional dos trabalhadores; o que afetará diretamente o resultado produtivo de suas

respectivas empresas ao absorverem que o trabalhador, subjetivamente, é diretamente ligado

aos resultados à medida que este é responsável por produzir os bens e serviços a serem

comercializados.

3. Origem da pesquisa

Atualmente tem-se um mercado globalizado e expansivo, emaranhado nos conceitos

capitalistas desenfreados, onde a palavra que determina a existência de uma entidade

produtora de bens e consumos, e sua permanência neste, é o lucro.

Daí surge uma serie de estudos sobre como conquistar o tão famigerado lucro nas empresas. E

como resposta a esses, deu-se que é necessário para as empresas se desenvolverem com

eficiência e se manterem eficientes durante todo o seu período de atuação no mercado, e isto

incorrerá na existência de um potencial competitivo capaz de manter a movimentação

produtiva da mesma.

Busca-se deste então apontar formas e caminhos que indiquem “como fazer” ou “o que fazer”

para o alcance dos objetivos organizacionais.

O Planejamento Estratégico surgiu como resposta a muitos desses estudos, pois se incumbia

de traçar meios que possibilitassem a interação entre a empresa e o ambiente no qual ela está

inserida (tanto interno como externo), meios esses que trouxessem uma melhoria, uma

otimização, uma inovação no quadro até então proeminente.

Com vista nisto, as empresas passaram a adotar esse tipo de estratégia – o planejamento

estratégico – como forma de ordenar os meios pelos quais se torna possível alcançar a

eficiência.

O que se desconsidera na maioria das vezes é que é completamente inexequível a

implementação de um planejamento estratégico em máquinas e equipamentos

especificamente. Só é factível esse proceder quanto há a presença humana operando as

estratégias determinadas.

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Figura 1. Escopo da Pesquisa

4. Estudo de caso

Tomando por base os parâmetros até então abordados, aplicaram-se de forma experimental

numa empresa visando experimentar as teorias e avaliá-las como válidas ou não.

Para tal estudo, versou-se uma empresa química, especificamente atuante no ramo de

fragrâncias, localizada em Itaquaquecetuba/SP com abrangência comercial em todo o

território nacional, uma indústria de alta tecnologia, especializada no desenvolvimento e

criação de fragrâncias para diversos segmentos industriais-principalmente para a área de

domissanitários.

Importam-se os conceitos primordiais da empresa para a escolha da mesma como objeto de

estudo, e sabendo que a mesma dotava-se de transparência e ética no plano comercial, aliados

a produtos que têm como ponto primordial a qualidade controlada e mantida sempre dentro de

rigorosos padrões de excelência, bem como, uma equipe comercial competente, ágil e focada

nos interesses dos clientes em termos de serviço e pontualidade, que paralelamente à equipe

produtiva, almejam o aumento produtivo constante e eficiente.

Não obstante à alta qualidade industrial e ao atendimento individual superlativo, a ampla

gama de produtos oferecidos pela empresa permite a abrangência de clientes de vários, com

diferentes demandas e necessidades específicas, pontuando como um dos diferenciais

tecnológicos a versatilidade dos produtos.

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Para manter-se atuante e competitiva no mercado, a empresa opta pela implementação de um

planejamento estratégico, assumindo uma postura inovadora e optando por aplicar em sua

produção – enxuta e compacta – os conceitos de sustentabilidade do trabalho atrelados à

psicodinâmica.

Foram então pesquisados os principais pontos críticos de insatisfação dos funcionários com

relação às atividades desempenhadas, utilizando, assim como no QFD, os parâmetros de 1 a 5

para avaliação, e como resultado, obtiveram-se os seguintes valores:

Tabela 1. Pesquisa de Campo: Satisfação dos trabalhadores.

Motivos de insatisfação Grau de insatisfação

Ambiente de Trabalho – Layout 5

Atividades desempenhadas 4

Ergonomia aplicada 4

Remunerações 3

Reconhecimento 2

Ferramentas de Trabalho 1

A partir dos resultados obtidos, decidiu-se iniciar a implementação do planejamento

estratégico por dois vieses compulsoriamente ligados ao tratamento das obliquidades mais

notórias para os colaboradores, e que diretamente, influenciavam na produção:

Organização do Estoque;

Remanejamento de pessoal.

Entenda-se a concomitante relação entre os resultados obtidos e as medidas corretivas

propostas seguindo os parâmetros que:

Num ambiente de trabalho com layout pouco definido, confuso e desorganizado, o

trabalhador encontrará maiores dificuldades nas execuções de suas atividades a desempenhar,

o que lhe acarretará um cansaço excessivo, lead-time de execução das atividades dilatado e

insatisfação constante. Não obstante, conceitos ergonômicos tendem a ser facilmente

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esquecidos e desprezados no desempenhar das atividades, em vista que, em alguns casos, isso

obrigatoriamente ocorrerá, ou não será possível executar o requerido.

Já o que diz respeito às atividades executadas, notasse que, ao desempenhar uma atividade

desconfortável e abusiva (ergonomicamente conceituando), num tempo desproporcional ao

tempo real para a execução, o trabalhador encontra desmotivação e sente-se desvalorizado

incisivamente.

Em detrimento de tais questões, o planejamento proposto, visando sempre observar as

melhorias obtidas após a observância e consideração do sentir do trabalhador em relação às

atividades por ele efetuadas, sugere algumas mudanças no sistema produtivo da empresa.

Organização do Estoque fez-se necessária ao considerar que o mesmo não condizia com as

reais necessidades ergonômicas do trabalhador, tão pouco, propiciava a correta execução das

atividades executadas pelo mesmo, pois para iniciar qualquer atividade, era necessário à busca

pelos componentes da BOM e a desorganização encontrada gerava atrasos nessa atividade,

bem como, erros constantes e inescrupulosos ao olhar do cliente.

Parâmetros do Lean Manufacturing foram considerados para a correta organização desse

importante setor produtivo, gerando a eliminação de muitos desperdícios anteriormente

existentes, bem como a melhoria contínua nesse processo.

O Remanejamento de pessoal é consequente à organização do estoque, que vem a reduzir o

lead-time do processo inicial de separação da BOM para preparação do produto, o que

acarretará numa sobra de tempo ao operador.

Sabendo que há outras atividades a serem executadas no processo produtivo total da empresa,

o tempo “livre” gerado a ser operador servirá para empenho em outras atividades que estejam

saturadas, provocando os gargalos do processo.

Deve-se também considerar que, alguns trabalhadores desempenhavam melhor outras funções

do processo em comparado a suas atividades requeridas, em face disso, esses foram

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readaptados, proporcionando-lhes a oportunidade de aplicar seu potencial total nas suas

atividades.

5. Análise dos resultados

Dentre os fatores considerados para avaliação do sugerido estudo, buscou-se velar pela correta

aplicação dos conceitos da psicodinâmica, sabendo que esta visa cria uma espécie de

movimento transformador a partir da criação de espaços de deliberação, onde as pessoas

possam discutir as questões do trabalho, colocar seus diferentes pontos de vista e definir

regras de trabalho. Proposta esta inspirada naquilo que Hannah Arendt (ARENDT, 1987)

propôs como um “espaço público” e que foi redefinido por Dejours (2004a), onde, por meio

da fala dos atores, se possa construir um ponto de vista compartilhado a partir de como vivem

o trabalho (NETO, 2011).

Partindo da aplicação das considerações propostas, tornou-se clara e efetiva a melhoria obtida

no processo produtivo no que diz respeito à sua produtividade, bem como, ao grau de

satisfação dos funcionários envolvidos.

O aumento produtivo gerado possibilitou alterações no esquema de remuneração vigente,

nivelando os salários a partir do maior (visto que todos desempenhavam funções

equiparadas), aumentando ainda mais o comprometimento do trabalhador com suas

atividades, e gerando neste um sentimento satisfatório de reconhecimento, o que é

considerado uma proposição fundamental da psicodinâmica da cooperação (LANCMAN,

SZNELWAR, 2011).

6. Conclusão

Conclui-se a partir de todo o histórico abordado que, a psicodinâmica do trabalho pode sim

ser usada como uma das ferramentas pertinentes ao planejamento estratégico por gerar

resultados notoriamente eficientes na busca pelo crescimento produtivo e competitivo de

determinada empresa.

Tais resultados são factíveis a valorização devido a seus resultados quase que imediatos, o que

favorecer a escolha por esse tipo de abordagem; contudo, não se deve desmerecer a real

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dificuldade na aplicação deste, visto que, toda ação que envolve o comprometimento de

outros, requer de seu precursor a capacidade de convencimento da necessidade e benefícios

atrelados à abordagem em questão, a obstinação em face aos desafios proeminentes, bem

como, a versatilidade para adaptações às condições reais existente em cada projeto

singularmente.

Observa-se que, sendo a psicodinâmica do trabalho uma nova vertente de estudo, é

imprescindível o avanço relativo a tais pesquisas, bem como a valorização dos estudos

relativos à, pois a abordagem em questão é promissora ao ponto de gerar fenômenos não

apenas lucrativos, mas também, sustentáveis e responsáveis no âmbito social.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. A Condição Humana. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária. 1987.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo, Cortez/Oboré. 1987.

DEJOURS C. L´évaluation du travail à l´épreuve du réel. Critiques des fondements de l´evaluation. Paris:

INRA. 2003.

LANCMAN, S., SZNELWAR, L.I. Christopher Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho.

Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

NETO, J.A. Sustentabilidade e Produção: Teoria e prática para uma gestão sustentável. São Paulo: Editora

Atlas S.A – 2011.

PERALTA, J.E., VELAZQUEZ, L., MUNGUIA, N. Perceptions of core elements for sustainability

management systems (SMS). Management Decision. Vol. 46 No. 7, 2008. pp. 1027-1038. 2008.

RICHARDSON, R.J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas. 1999.

TRIVIÑOS, A. N. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: A Pesquisa Qualitativa em Educação. São

Paulo: Atlas, 1987.

YIN, R. Case study research: design and methods. Beverly Hills: Sage Publications, 1987.

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BRUNORO, C.M., SZNELWAR, L.I.. A concepção de um trabalho sustentável para o trabalhador.

Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_TN_STO_134_852_16808.pdf> . Acesso em

12 mai. 2015.