Astronomia - Aula 01 - 627 - Contemplando o céu

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  • 8/8/2019 Astronomia - Aula 01 - 627 - Contemplando o cu

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    Auta Stella de Medeiros Germano

    Joel Cmara de Carvalho Filho

    AstronomiaD I S C I P L I N A

    Contemplando o cu

    Autores

    aula

    01

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    Adaptao para Mdulo Matemtico

    Andr Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

    Thasa Maria Simplcio Lemos

    Imagens Utilizadas

    Banco de Imagens Sedis - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

    Carvalho Filho, Joel Cmara de.Astronomia: Interdisciplinar / Joel Cmara de Carvalho Filho, Auta Stella de Medeiros Germano. Natal,

    RN: EDUFRN, 2007.

    300 p. : il.

    1. Astronomia. 2. Sistema Solar. 3. Fenmenos astronmicos. 4. Astrofsica. 5. Cosmologia.I. Germano, Auta Stella de Medeiros.

    ISBN

    CDD 520

    RN/UF/BCZM 2007/54 CDU 52

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    Aula 01 Astronomia 1

    Apresentao

    Nesta disciplina, iniciaremos um estudo sobre um dos campos mais instigantes doconhecimento humano, a Astronomia. Um dos principais atrativos no contato comesse campo de conhecimento a possibilidade de ampliar as perspectivas de tempo

    e espao com as quais costumamos pensar sobre nossa prpria existncia. Nesse sentido,um objetivo central no ensino da Astronomia, particularmente nos contextos de formao deprofessores e de cidados, favorecer a conscincia de nossa condio planetria, bem comooferecer instrumentos para analisarmos as possibilidades de nossa histria comum, nessagrande nave que a Terra. Esperamos, assim, que as temticas e abordagens estudadasna disciplina alcancem esse objetivo junto a voc.

    Nas aulas 1 a 7, estudaremos fenmenos do nosso ambiente, tais como o ciclo

    claro-escuro, mars e alternncias climticas anuais, verificando sua relao com ciclosastronmicos. Devido natureza desses contedos, propomos sua abordagem atravs deobservaes do cu a olho nu e da anlise de modelos para os fatos observados.

    As aulas 8 a 10 abordam a mudana radical na viso de mundo ocorrida no sculo XVI,envolvendo a Astronomia e a compreenso do lugar do Homem no cosmos: a Terra deixoude ser considerada o centro do Universo para ser vista como um planeta comum ao redordo Sol; ao mesmo tempo, o cu deixou de ser visto como imutvel. Voc ver que essarevoluo astronmica exigiu tambm uma revoluo conceitual na Fsica.

    As aulas 11 a 15 abordam desde modelos sobre a Fsica dos astros, particularmente do

    Sol, at modelos sobre a origem e evoluo do Universo. Esses conhecimentos resultam daintroduo do telescpio na Astronomia, e do desenvolvimento cada vez mais abrangente daFsica, particularmente com o estudo das radiaes eletromagnticas. Abordaremos essescontedos atravs da aplicao de leis fsicas na descrio dos astros e de comparaesentre suas previses e medidas observacionais.

    Nesta aula, partiremos de onde tudo comeou, ou seja, do contato com o cu. A proposta que voc desenvolva uma observao noturna a olho nu e, a partir da discusso dosseus registros, possa compreender melhor a natureza dos procedimentos e das motivaessociais que deram incio Astronomia.

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    Aula 01 Astronomia2

    Astronomia: fascnio e praticidade

    A Astronomia considerada um dos campos mais antigos do conhecimento humano. difcil identificar uma cultura que no tenha se encantado e se ocupado em observarcuidadosamente o cu.

    Quanto mais longe viajamos no passado, mais fascnio imaginamos que tenha causado aescurido do cu noturno, com sua multido de estrelas; ou a Lua, com sua face mutante e cclica,

    por vezes imensa, por vezes um trao plido, sendo esquecida luz do dia. Difcil imaginar umapoca em que no sentssemos admirao pelo nascer e pr do Sol, ou deixssemos de apontaruns aos outros esse astro que trazia e levava consigo a viso clara das coisas que nos rodeiam.Que estranhezas devem ter sentido nossos ancestrais, frente a uma chuva de estrelas cadentesou visita inesperada de flamejantes cometas? Certamente, o fascnio que os astros exercem athoje foi um dos motores para uma produo de conhecimento sobre os fenmenos celestes.

    Ainda assim, chega a surpreender o cuidado e a regularidade com que os antigosregistraram tais fenmenos. Reconhecemos a a influncia no apenas de uma admirao efascnio, mas tambm da necessidade de agir sobre o ambiente, aliada percepo de que

    as mudanas neste ocorriam muitas vezes em sincronia com eventos astronmicos.

    Objetivos

    Perceber o cu como um cenrio regular de eventos.

    Reconhecer a observao do cu a olho nu como importanteforma de obter conhecimentos sobre os astros.

    Interpretar observaes locais do cu, numa perspectivaque adota a Terra como uma esfera rodeada pelo espao.

    Identificar motivaes sociais para o desenvolvimento

    inicial da Astronomia nas sociedades antigas.

    Diferenciar Astronomia de Astrologia.

    1

    2

    3

    4

    5

    sincronia

    Dois eventos

    sincronizados possuem

    etapas que ocorrem ao

    mesmo tempo, ou que

    se relacionam sempre de

    uma mesma forma. Por

    exemplo, ocorre sincronia

    entre o alvorescer do dia

    e a abertura das folhas de

    algumas plantas.

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    Aula 01 Astronomia 3

    Muitas pessoas identificam a Astronomia apenas com as belssimas imagens coloridasproduzidas em observaes dos astros com telescpios. Contudo, j nas civilizaesocidentais mais antigas identificamos a Astronomia sendo desenvolvida inteiramente porobservaes a olho nu.

    O cu a olho nu:uma viso noturna

    Para compreender a natureza desses conhecimentos, propomos a voc um primeiroexerccio de intimidade com o cu, a ser realizado na atividade 1.

    Atividade 1

    Nesta atividade, voc vai contemplar o cu noturno, fazendo uma observaosistematizada. Identifique um lugar escuro e seguro da sua cidade, semconstrues prximas que limitem a viso do horizonte, onde possa desenvolver

    uma observao do cu. Leve uma caderneta e uma caneta para anotaes e,se possvel, providencie tambm um colchonete, uma esteira ou uma coberta,para se deitar sobre ela no cho.

    Chegando ao seu observatrio, deite-se de costas sobre o cho epasse cerca de 10 minutos em silncio, contemplando o cu. Registreas sensaes e percepes que essa observao lhe provocou.

    Fique de p e identifique o caminho descrito pela linha do horizonte.Esta a linha imaginria delimitada pelo encontro do cho com o cu,

    quando olhamos para longe, at perder as coisas da vista. Como lheparece ser a forma da Terra? Registre com desenhos e observaes asua percepo do horizonte e da forma da Terra nesse instante.

    Em seguida, voltando a observar o cu, no necessariamente deitado,responda: se tivesse que voltar amanh a esse lugar, mesma hora, quepartes do cu voc reconheceria, ou seja, que conjuntos de estrelas eoutros astros voc acha que seria possvel identificar novamente? Faadesenhos desses conjuntos, anotando o horrio de sua observao.

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    Vamos, agora, refletir sobre suas observaes.

    O contato com o cu

    Se voc realizou a primeira etapa da atividade anterior com tranqilidade e concentrao,possivelmente compreende um pouco do que sentem muitos astrnomos e astrnomasquando se renem em observatrios para desenvolverem suas observaes.

    Observe o depoimento, a seguir, de algum ntimo do espao.

    Qual o seu espao?

    O BARULHO DA CIDADE FICOU PARA TRS. No momento, s a calma da

    fazenda, o vento suave, o cheiro de mato e o ritmo dos grilos. Noite estrelada.Lua cheia. Deitado sobre o teto do carro, observo a imensido cintilante do cu.Logo ali, quase ao alcance das mos. Penso no que tudo isso significa. Quemsomos ns? O que fazemos por aqui? O que realmente representamos comoparte desse Universo? Afinal, o que todo esse espao que nos envolve?

    A mente viaja. Velocidade, movimento. Nada est absolutamente parado. Lembro donascer e do pr do Sol. Imagino a dinmica do nosso planeta. Rotao, translao,vertigem. Como somos pequenos nessa escala! Estranho perceber que o nossomundo, onde normalmente vivemos toda a nossa vida, representa apenas 1%

    dessa grande esfera. Mais ou menos como viver na casca de um ovo. Voc jparou um minuto para pensar sobre isso? Embarcados nessa espaonave Terra,viajando juntos pelo espao a mais de 100.000Km/h, todos ns somos, de certaforma, astronautas. [...]

    (Trecho de depoimento de Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro avisitar o espao extraterrestre).

    Fonte:Medeiros (2006)

    Todo o texto de Marcos Pontes, do qual apresentamos apenas uma parte (MEDEIROS,2006), ilustra como nossos conhecimentos cientficos, e em particular a Astronomia, podeme devem integrar nossa forma de ver o mundo, nossa sensibilidade ao interagir com ele.

    Nesta disciplina, voc certamente atribuir novos significados a esse texto, da mesmaforma que novas aproximaes com o cu possibilitaro aprimorar sua sensibilidade epercepo do espao em que nos encontramos. Por enquanto, so muitos os questionamentos:o que seria essa grande esfera e por que considerar o nosso mundo como 1% dela? Como possvel dizer que estamos a essa tremenda velocidade se no percebemos? E o que

    imaginarmos sobre esses pontos cintilantes?

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    A observao do horizonte e apercepo da forma da Terra

    Uma dessas questes relaciona-se com a observao do cu e da linha do horizonte,na atividade 1. muito comum que essa observao gere as seguintes idias: a Terra como um disco achatado, com as estrelas todas a uma mesma distncia de ns,

    sobre uma casca esfrica no cu.

    Figura 1 - Percepo do cu e da forma da Terra, muito freqente ao se observar o cu em local aberto.

    Ainda que voc possa ter outros conceitos sobre a forma da Terra, a percepo do planetacomo um disco achatado, numa observao como esta, permite entender por que muitospovos, de fato, atriburam Terra a forma de disco. Segundo Neves (1999), poemas gregosdatados de 900 a.C. apresentam essa representao da Terra, circundada ainda por um enormerio de nome oceano. Idia semelhante era defendida pelo filsofo grego Tales (640-562 a.C.),que via a Terra como um cilindro achatado, deriva sobre o oceano; Anaximandro (611-545a.C.), que a considerava uma coluna em equilbrio no centro do mundo; e ainda Anaxmenes(585-528 a.C.), que acreditava numa Terra chata, mas suspensa no ar (NEVES, 1999).

    J a idia de uma forma esfrica para nosso planeta foi proposta inicialmente por Parmnides,com base na narrativa de viajantes, os quais perceberam que algumas estrelas deixavam de servisveis quando se viajava mais para o Norte. Pitgoras (580-500 a.C.) defendeu essa mesmaidia acrescentando outras observaes registradas pela cultura vigente, como a forma com queum barco desaparecia da vista ao se afastar da costa: via-se primeiro sumir sua base e, por fim,suas partes mais altas, indicando que ele navegava sobre uma superfcie curva.

    Perceba que, embora hoje sejamos bastante bombardeados com a informao deque a Terra esfrica (e achatada nos plos), comum encontrarmos pessoas, inclusive

    professores de Cincias, que ainda no construram uma representao dessa esfericidade.

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    Atividade 2

    As pesquisas sobre o ensino envolvendo concepes alternativas acerca dos fenmenosastronmicos evidenciam dificuldades com essa representao. Uma pergunta muito usada paraevidenciar e discutir a concepo das pessoas sobre a forma da Terra explorada na atividade 2.

    Imagine que voc est em uma nave e que se afaste mais e mais da Terra, semperder a viso do planeta como um todo.

    a) Faa um desenho representando a Terra. Em seguida, desenhe trs pessoas:uma no Plo Norte, uma no Plo Sul e uma no Equador. Suponha que cadauma dessas pessoas joga uma pedra para o alto. Desenhe a trajetria decada uma das pedras.

    b) Resuma as dificuldades que encontrou ao desenhar seu esquema.

    Caso no tenha encontrado dificuldade, proponha essa questopara uma pessoa da vizinhana com mais de 10 anos de idade eanalise as respostas dela.

    Uma das dificuldades comuns nesse tipo de atividade que, para uma representaoesfrica da Terra, necessrio dar novos significados idia de embaixo e em cima.

    A idia de uma Terra plana sugere que h uma nica direo (e sentido) para a qualpodemos usar as palavras em cima e embaixo. Ao contrrio, o pensar a Terra comosendo redonda impe novidades: atirar uma pedra para cima agora significa atir-la paralonge do centro da Terra; enquanto para baixo significa para perto do centro.

    Figura 2 - Pessoas em diferentes lugares da Terra atirando uma pedra para cima.

    Concepesalternativas

    so concepes que

    diferem das concepes

    correntes da Cincia

    sobre um dado fenmeno.

    Usualmente, so muito

    resistentes a mudanas.

    A idia de que a Terra

    como um disco achatado

    um exemplo de concepo

    que, atualmente,

    alternativa.

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    Dessa forma, quaisquer das pessoas descritas na Figura 2 esto atirando uma pedrapara cima. Note, inclusive, que aps alguns instantes as trs pedras iro atingir o solo.

    Por outro lado, algum pode se perguntar: mas como conciliar a percepo que temosdo disco delimitado pela linha do horizonte com a idia de uma Terra esfrica? Voc imaginaalguma soluo?

    A resposta a essa questo est num fator importante: a dimenso da Terra. Devido Terra ser to imensamente maior do que ns, num desenho em que ela possua 10cm de raio,no conseguiremos visualizar sequer a maior elevao do planeta, o Monte Everest (menosde 10km de altura). Toda a troposfera (13km de espessura) ter a dimenso de uma linha deaproximadamente 1mm, ou seja, a prpria linha de desenho da Terra. Imagine o que significaa altura de um ser humano frente s dimenses do planeta!

    Nosso campo de viso acaba delimitando apenas um pequeno disco da superfciegigantesca do planeta (Figura 3). Talvez uma boa estratgia para nos visualizarmos de fora

    da Terra seja compar-la com uma laranja: devemos lembrar que no habitamos o interiordessa laranja (o ncleo e o manto), mas a sua casca (litosfera), da qual enxergamos umapequena regio circular.

    Figura 3 - Ao olharmos o cu num local aberto, a Terra nos parece ser um disco e no uma esfera.

    A Figura 3 pode ser usada ainda para explicitar que, devido esfericidade da Terra,observadores em diferentes lugares da Terra visualizam partes diferentes do cu. Como exerccio,identifique na Figura as estrelas que no so visveis para o observador, no momento ilustrado.

    Note que, se a Terra fosse um disco chato, as estrelas vistas por um observador

    seriam vistas de qualquer outro lugar sobre o disco.

    Terra esfrica

    Pensar a Terra esfrica pensar que ela est solta

    no espao sem se apoiar

    sobre nada, a no ser

    sobre si mesma. Na aula

    9 (Galileu e a nova Fsica),

    voc conhecer como

    diferentes modelos de

    mundo lidaram com essa

    possibilidade.

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    EsferaCeleste

    O

    Padres de estrelas

    Retomemos agora seus registros da atividade 1 sobre as estrelas.

    Voc deve ter percebido que a melhor estratgia para reconhecer estrelas memoriz-las juntamente com a vizinhana delas. Nesse processo, comum imaginarmos desenhosno cu, associando conjuntos de estrelas a padres que nos so familiares, a imagens como:sinos, tercinhos, chapus etc.

    A um conjunto de estrelas que, vistas de onde estamos, nos sugerem uma associaoa algum padro conhecido, chamamos de constelao.

    Note que dissemos: vistas de onde estamos, pois esses padres, de fato, no sebaseiam nas posies reais das estrelas. Como exemplo, veja na Figura 4 uma situaoem que as estrelas k e , mais afastadas entre si do que o par e , so vistas por umobservador como se estivessem bem mais prximas entre si, influenciando os padres queele ir identificar no cu.

    Constelao

    Diferentemente da

    idia de constelao, o

    conceito que caracteriza

    um conjunto de estrelas

    fisicamente prximas

    umas das outras com

    um movimento coletivo

    comum em relao a

    outros corpos o de

    aglomerado estelar.

    Figura 4 - Estrelas projetadas numa casca esfrica imaginria, no cu de um observador O. Para este, as estrelas

    ke parecero to prximas entre si quanto o par e.

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    Aps esse esclarecimento, retome as constelaes observadas na atividade 1 everifique se elas parecem com as indicadas nas cartas celestes das figuras 5 e 6, no decorrerda aula. Estas mostram constelaes vistas do hemisfrio Sul, em diferentes pocas doano. Observe-as e note que o Oeste est representado direita e o Leste esquerda dacarta celeste. O usurio da carta dever gir-la para fazer coincidirem os pontos cardeais da

    figura com os pontos cardeais do horizonte dele. Dessa forma, a carta deve ficar acima dacabea do usurio, com as constelaes voltadas para baixo. Assim, ao olhar para a carta,ver uma reproduo do cu. No nosso caso, por enquanto, desejamos utiliz-la apenas parareconhecer as constelaes.

    provvel que algumas de suas constelaes coincidam com aquelas apresentadasnas Figuras 5 e 6, ou com partes delas. As estrelas de Ursa Maior,por exemplo,no Nordestebrasileiro so usualmente associadas a um barco ou a uma panela. J as trs estrelas queficam bem no centro da constelao de Orion so conhecidas pelo nome de Trs Marias.

    Quando tiver oportunidade, identifique qual das cartas celestes (Figuras 5 e 6)lhe permite reconhecer mais padres, nas referidas pocas do ano, e utilize-apara reconhecer novas constelaes.

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    Figura 5 - Cu visvel no dia 10/10/07 s 19h16min, para um local de latitude -7 13 50 e longitude -35 52 52(coordenadas geogrficas de Campinha Grande-PB).

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    Figura 6 - Cu visvel no dia 10/04/2008 s 19h, para um local de latitude -7 13 50 e longitude -35 52 52(coordenadas geogrficas de Campinha Grande-PB).

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    Note que, na percepo dos grupos indgenas, a constelao de Escorpio apenas umapequena parte do padro que identificam no cu, a Ema; isso ilustra uma tendncia recorrentenesses grupos: a de utilizar regies bem maiores no cu, ao identificarem constelaes.

    Da mesma forma que se percebem variaes na forma com que diferentes culturas produzemsuas constelaes, semelhanas inesperadas tambm tm sido encontradas, sugerindo queculturas hoje distantes podem ter tido pontos de contato em suas histrias. o caso do

    sistema astronmico dos extintos Tupinamb do Maranho, [...] muitosemelhante ao utilizado, atualmente, pelos Guarani do Sul do Brasil,

    embora separados pelas lnguas (Tupi e Guarani), pelo espao (mais de

    Figura 7 - Padres identificados pelos gregos antigos,uma regio do cu.

    Figura 8 - Padres identificados por vrios grupos indgenas, namesma regio do cu.

    As semelhanas e diferenas entre as constelaes que voc identificou e aquelasapresentadas nas cartas, adotadas pelos gregos h aproximadamente dois mil anos, apontamaspectos interessantes. Mostram, por exemplo, que caracterstico da mente humana buscarpadres, relacionar as coisas que v com aquelas que j conhece. Alm disso, vemos que asexperincias culturais influenciam a forma como as pessoas enxergam um mesmo conjunto

    de pontos no cu. Os mesopotmios, de quem os gregos adotaram parte das constelaes,relacionavam esse pontos a animais (leo, escorpio) e personagens mticos da cultura deles.Assim, alm do cu noturno que visualizamos, no ser o mesmo que aqueles povos viam, hajavista que a experincia cultural deles os levaram a padres distintos dos que projetamos hoje.

    Para visualizar as diferenas de padres entre as culturas, compare, por exemplo, aconstelao da Ema, identificada em vrias tribos indgenas do nosso pas, com a interpretaodo mesmo pedao de cu pelos gregos (Figuras 7 e 8). Nesse exerccio, aproveite a leiturado estudioso Germano Afonso sobre pequenos detalhes da constelao indgena (AFONSO,2007), afim de entender essas comparaes:

    [...] As estrelas Centauri (Rigel Kentaurus) e Centauri esto dentro do pescoo da Ema.Elas representam dois ovos que a Ema acabou de engolir. [...] A constelao Scorpius,excluindo suas garras e as estrelas que esto acima de Antares, representa uma Cobra (Mboi,em Guarani) para os ndios brasileiros, sendo Antares a sua cabea. De fato, muito mais fcilimaginar uma cobra que um escorpio nessa regio do cu. [...] (AFONSO, 2007, p. 2).

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    2.500 km, em linha reta) e pelo tempo (quase 400 anos). [...] algumasdas constelaes dos ndios brasileiros, utilizadas no cotidiano, soas mesmas de outros ndios da Amrica do Sul e dos aborginesaustralianos (AFONSO, 2007, p. 1).

    Essas observaes tm contribudo para o desenvolvimento da Etnoastronomia, cujosestudos fornecem subsdios, entre outras coisas, para a anlise das datas e dos lugares emque eventos astronmicos foram descritos.

    Considerando a relevncia desses estudos, vemos que h pelo menos dois sistemas deconstelaes que voc deve procurar aprender: aquele utilizado pelos astrnomos no intercmbiode conhecimentos sobre o cu (Figuras 5 e 6) e o transmitido em sua prpria cultura.

    Outros eventosastronmicos noturnos

    Voc deve ter notado em sua observao noturna que as estrelas se apresentam empadres estveisnocu e que este est em aparente movimento.

    Desde a hora em que voc chegou at ir embora, o conjunto de suas constelaesmudou de posio em relao ao horizonte, realizando um lento movimento coletivo,desenhando fraes de crculos semelhantes trajetria diurna do Sol. Esse movimento

    coletivo repetido diariamente.

    Se repetirmos a observao que voc realizou, num mesmo horrio da noite, pormeses seguidos, constataremos um terceiro evento de natureza astronmica: o fato dasconstelaes visveis acima do nosso horizonte mudarem ao longo do ano.

    A passagem de algumas estrelas errantes, de brilho intenso, atravs do cenrioestvel das constelaes foi outro tipo de fenmeno que os antigos observaram durantemeses, anos, sculos. Foi assim que identificaram Mercrio, Vnus, Marte, Jpiter e Saturno,todos a olho nu. Planetas, cujo significado astros errantes, era como denominavam essasestrelas que no mantinham um mesmo lugar no mapa das constelaes. Hoje sabemos

    que os planetas diferem das estrelas, por no emitirem luz prpria.

    O cu a olho nu: uma viso diurna

    At agora, utilizamos os resultados da atividade 1 para explorar possveis observaessobre o cu noturno a olho nu. Agora, vamos realizar uma observao diurna do cu,

    observando especificamente o comportamento do Sol.

    Etnoastronomia

    Ramo da Astronomia que

    estuda o conhecimento

    e a relao estabelecida

    com o cu, em culturas de

    diferentes lugares e pocas.

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    Atividade 3

    2

    1

    O movimento do Sol eoutros eventos diurnos

    Certamente, todos j tivemos a oportunidade de acompanhar um nascer do Sol everificar a noite se desfazer lentamente, enquanto estrelas que se encontram acima do nossohorizonte tornam-se invisveis aos nossos olhos.

    Voc j parou para pensar por que o Sol a nica estrela que vemos durante o dia? Afinal,durante a manh, da mesma forma que noite, temos uma mirade de estrelas espalhadasno firmamento! A questo que, pelo fato de estar muito mais prximo de ns que qualqueroutra estrela, a intensidade de luz que chega do Sol at ns bem maior. To maior quemesmo a atmosfera, ao espalh-la, ofusca a luz de estrelas e astros mais distantes.

    Alm do Sol, h um conjunto de astros e fenmenos celestes que podem ser vistos luz do dia. Nesse sentido, podemos citar a Lua, em certos perodos do ms; o planeta Vnus,tambm conhecido como estrela DAlva (at as primeiras horas do amanhecer, quandovisvel); e eventos menos freqentes, como as chuvas de meteoros e cometas.

    Observao Como sabemos, o aparecimento do Sol no horizonte a causa do dia claro, eseu desaparecimento na direo oposta, a causa da noite. No h relao estrita entre a Lua ea noite. As idias de que a Lua causa a noite ou de que ela s aparece noite so incorretas.

    Vemos a partir dessa listagem ainda incompleta que para uma primeira sistematizao

    sobre o cu diurno, a regularidade que mais interessa o comportamento do Sol. A relao doSol com a alternncia entre dia e noite ser nosso ponto de partida, embora devamos chamar aateno para o fato de encontrarmos, na histria das civilizaes, e na viso de algumas pessoas,idias que no identificam o movimento do Sol como a causa do dia e da noite. Exemplos dessasvises, que no so coerentes com o que se compreende hoje na Cincia, so, por exemplo, a deque a Lua ou, alternativamente, a presena de nuvens ocultando o Sol, seria a causa da noite.

    De frente sua casa, identifique o lado em que o Sol nasce. Anoteinformaes sobre essa localizao do nascente, de tal modo que sealgum chegar pela primeira vez em casa, noite, possa utiliz-laspara descobrir esse local.

    Novamente, de frente sua casa, pea para uma pessoa ler sua descrioe apontar o lugar que voc indicou. Se necessrio, ajuste sua descrio.

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    4

    3

    Leste

    Sul

    Oeste

    Norte

    Sabemos que, aps o nascente, o Sol continua se elevando numa trajetria aparentemente

    circular, de tal modo que, aps atingir uma determinada altura, desce pelo lado oposto docu, at sumir do nosso horizonte de viso.

    O fato do Sol nascer sempre de um mesmo lado propiciou um mecanismo dereferncia espacial, atravs das direes Norte, Sul, Leste e Oeste. As direes do Leste e doOeste associam-se aos lados em que o Sol nasce e se pe, respectivamente. Voc lembra aforma comumente usada para identificar essas direes, provavelmente vista nas aulas deCincias e Geografia?

    Apontando o brao direito para o Leste, do lado em que o Sol nasce, se voc direciona

    o brao esquerdo para o lado oposto, estar identificando o Oeste. sua frente, tem o Nortee, s costas, o Sul (Figura 9).

    Pergunte a essa pessoa se o Sol nasce sempre nesse lugar e pea paraela justificar a resposta. Em seguida, anote a resposta identificandoque elementos foram usados para justificar o sim ou o no.

    As evidncias sugeridas lhe parecem convincentes para a conclusoa que a pessoa consultada chegou? Quais as suas consideraes aesse respeito?

    Figura 9 -Procedimento para localizar os pontos cardeais

    FONTE:Acessoem:12maio2007.

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    Trajetrias diurnas do Sol

    19h

    5h

    7h

    9h

    12h

    15h

    15h

    17h

    18h

    Oeste

    Norte Sul

    Leste

    dia mais longo

    que a noite

    dia mais curtoque a noite

    dia igual a noite

    17h

    6h7h

    9h8h

    10h

    12h

    12h

    14h

    16h

    Na verdade, comum escutarmos das pessoas, ou lermos em livros de Cincias, a

    informao de que o Sol nasce sempre num mesmo lugar. Mas, se conversarmos, com

    pessoas que tm a experincia cotidiana de colocar roupa para secar ao Sol, por exemplo,

    elas diro que em horrios bem semelhantes, em meses diferentes, o Sol ocupa posies

    distintas. Assim, devido mudana de posio do Sol em relao ao muro, ao longo do ano,

    determinada parte do quintal, meio dia, pode receber luz ou ter sombra.

    De fato, o Sol no nasce sempre no mesmo lugar, e o movimento circular que realiza

    ao longo do dia no se d sempre sobre um mesmo crculo.

    Figura 10 - Trajetrias diurnas do Sol, em trs dias do ano.

    FONTE:.

    Acessoem:

    11maio2007.

    Na Figura 10, cada semicrculo corresponde trajetria diurna do Sol num perodo

    especfico do ano para um mesmo observador. A figura ilustra que a posio do nascer doSol no exatamente a mesma ao longo do ano, ela varia continuamente num intervalo de

    pontos cujo centro o verdadeiro ponto cardeal Leste.

    Note que, como conseqncia desse nascimento do Sol em diferentes posies, os dias

    tm durao diferente ao longo do ano: o Dia correspondente ao crculo superior aquele

    em que o Sol se mantm por mais tempo (das 5h s 19h) acima do horizonte, enquanto no

    Dia representado pelo crculo inferior da figura, o perodo de Sol visvel o mais curto do

    ano (das 7h s 17h). Assim, o Sol no nasce no mesmo lugar todos os Dias, e os dias no

    possuem a mesma durao. O perodo em que ele volta a nascer no mesmo lugar, e os dias

    a repetirem uma mesma seqncia de durao o que denominamos de ano solar.

    Dias

    Dia (com D maisculo) o perodo em que a

    Terra realiza uma rotaocompleta em torno de si;

    dia (com d minsculo) operodo do Dia em que oSol se encontra acima do

    horizonte.

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    A prtica da Astronomia nassociedades antigas

    Com os exerccios e discusses anteriores, ser bem mais fcil para voc compreendera natureza das observaes e saberes que deram incio Astronomia.

    importante chamar a ateno para o fato de que, como alguns autores (NEVES,1986; VERDET, 1991) apontam, difcil precisar o incio de uma observao consciente esistemtica do cu pelo Homem e, por essa razo, sendo a Astronomia um conhecimento toantigo, no h consenso sobre os seus primrdios.

    Ainda assim, costuma-se assumir que, por ter adquirido uma vida sedentria, oser humano, por volta de 10.000 a.C. (conforme voc estudou na aula 5 Formao dasociedade , da disciplina Educao e Realidade), havia acumulado, necessariamente,conhecimentos astronmicos sistemticos. Porm, pesquisadores tm defendido que ascavernas de Lascaux, na Frana, apresentam registro das estrela das Pliades. Se aceitaessa interpretao, essa carta pr-histrica de 17.000 a.C. seria o indcio mais antigode um conhecimento astronmico.

    Em perodos mais recentes, cerca de 3.000 anos a.C., encontramos evidncias daprtica astronmica em monumentos que impressionam pela grandiosidade, e cuja disposioindica que se tratava de observatrios. Pedras e outros tipos de marcos, nesses monumentos,mostram que os povos antigos acompanhavam as diferentes posies dos astros ao longodo ano: o nascer e o pr do Sol, da Lua e, por vezes, de planetas. Pela grandiosidade e pelosarranjos dessas construes, sugerindo altares em posies diferenciadas, imagina-se quealm de observatrios esses monumentos consistiam em espcies de templos.

    Figura 11 - Monumento de Stonehenge, na Inglaterra

    FONTE:.

    Acessoem:12maio2007.

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    Entre essas evidncias, destaca-se o monumento de Stonehenge, na Inglaterra. Construdo

    em diferentes perodos, de 3.000 a.C. a 1.000 a.C., at hoje, milhares de pessoas o visitam por

    ocasio do nascer do Sol no Solstcio de Vero, para celebrarem o dia em que se inicia o Vero.

    Se nos detivermos sobre os registros textuais, nas civilizaes da Mesopotmia

    (3.500 a.C.) e do Egito (3.100 a.C.) que encontraremos as evidncias mais antigas de umconhecimento astronmico sistematizado.

    A Astronomia dos mesopotmios

    Para os povos que habitaram a Mesopotmia (atual Iraque e terras prximas), asdifceis condies do ambiente em que viviam tiveram influncia significativa na produode conhecimentos astronmicos:

    eram obrigados a enfrentar variaes climticas, ventos cortantes, chuvastorrenciais e enchentes devastadoras, que escapavam a seu controle. [...]o rei e seus conselheiros permaneciam atentos a pressgios passveis deinterpretao, de tal modo que as calamidades pudessem ser previstas e,se possvel, evitadas. Pensava-se que havia nos eventos humanos umacontrapartida para cada fenmeno celeste [...]. (WHITROW, 1988, p. 43-45).

    Nessa civilizao, o desenvolvimento da Astronomia vincula-se tentativa de

    compreender supostos pressgios, sinais que os astros revelariam. Por isso se diz que a

    Astronomia nasce ligada Astrologia.

    De modo geral, a Astrologia supe que h uma relao entre padres formados pelasposies dos astros e os acontecimentos na vida das pessoas. Em seu incio, os padres

    formados pelas posies dos astros foram utilizados para a leitura de grandes acontecimentos,

    que atingiriam a sociedade como um todo: as previses abrangeriam a corte real, e no

    pessoas comuns da sociedade. Segundo Whitrow (1993), somente por volta de 410 a.C..na

    Babilnia, com os Caldeus, que se encontram registros de uma Astrologia horoscpica,

    a qual toma a posio dos astros no nascimento da pessoa para deduzir aspectos do seu

    destino individual.

    Com pressupostos e crenas de que os astros oferecem sinais sobre os acontecimentos

    terrenos, a Astrologia criou uma demanda pelo conhecimento detalhado do movimento dos

    astros; no somente sobre o movimento do Sol, o que a prtica da agricultura tambm

    solicitava, mas tambm o dos planetas e da Lua. Esse contexto ajudou os babilnios (os

    mesopotmios que mais contriburam com a Astronomia) a tornarem-se um dos primeiros

    povos a registrar os cinco planetas visveis a olho nu: Mercrio, Vnus, Marte, Jpiter e

    Saturno (MILLONI, 2003).

    Os astrnomos babilnios catalogaram cuidadosamente hora, brilho e cor das estrelas

    e planetas, ao despontarem no horizonte; reuniram, com particular detalhamento, dados

    sobre o aparecimento e desaparecimento do planeta Vnus. Outro conhecimento tambm

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    Aula 01 Astronomia 19

    Atividade 4

    associado Astrologia foi a identificao do Zodaco, um crculo de constelaeslocalizadas por trs do Sol, enquanto este se move ao longo do ano. Herdamos dessespovos os nomes que damos a algumas dessas constelaes: Leo, Touro, Escorpio,Gmeos, Capricrnio e Sagitrio.

    Alm das demandas sociais colocadas pela prtica da Astrologia, deve-se reconhecernesses povos a influncia da necessidade de medir a passagem do tempo, e ainda de organizaras atividades sociais em funo de ciclos naturais, ou seja, atravs de calendrios.

    A Astronomia egpcia

    No caso dos egpcios, sua motivao em relao Astronomia centrava-se na construode um calendrio que organizasse as atividades agrcolas, intimamente relacionadas com ascheias do Rio Nilo. Em funo das cheias, foi adotado um calendrio que dividia o ano em trs

    estaes: tempo de inundao, da semeadura e da colheita. Percebeu-se uma sincronia entreo ciclo das estaes e o intervalo entre dois nascimentos da estrela Srius ao alvorecer, eutilizou-se esse evento para contabilizar o perodo do ano solar em 365 dias. Posteriormente,atravs de observaes indiretas do Sol, com o uso do gnomon, chegarama um valor aindamais prximo do atual, acrescentando 1 dia a cada quatro anos, em sua contagem do ano.Os egpcios no desenvolveram estudos sobre o movimento dos planetas, mas deixaramuma contribuio importante, a diviso (at certo ponto arbitrria) do dia em 24 horas.

    No Egito, a exemplo de Stonehenge, encontramos monumentos gigantescos comarquitetura cuidadosamente estruturada em funo de pontos astronmicos, como o caso

    das pirmides construdas em Giz. A maior delas (de Quops) possui cerca de 147m e foiconstruda por volta de 2550 a.C., sendo que, do ponto de vista da Astronomia, o que chama aateno o alinhamento dos lados dessas pirmides com as direes Norte-Sul e Leste-Oeste.Especulaes sobre o alinhamento de corredores dentro da pirmide com certas estrelassugerem que ela pode ter sido utilizada como observatrio.

    Que prticas sociais motivaram o desenvolvimento inicial da Astronomia, naMesopotmia e no Egito? Sistematize a relao entre essas prticas e o tipo deconhecimento astronmico que cada uma dessas civilizaes produziu.

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    Aula 01 Astronomia20

    Astrologia e Astronomia

    Astronomia e Astrologia so a mesma coisa? Que diferenas voc estabelece entre elas?

    No incio de nossa aula, identificamos a Astronomia como um ramo da cincia queestuda os astros. Podemos dizer que a Astrologia uma aplicao que algumas pessoas

    (astrlogos e adeptos) fazem de conhecimentos sobre a posio dos astros para prever

    eventos significativos na vida de outras pessoas. Essa aplicao pressupe que o padro

    constitudo pela posio dos astros, num determinado momento, se constitui numa marca

    ou sinal sobre a vida dos indivduos.

    No entendimento de algumas correntes, a relao pressuposta pela Astrologia entre os

    astros e a vida das pessoas uma relao que se daria no campo simblico e no fsico.

    A Astronomia estuda os astros em si mesmos, ou seja, a posio relativa que ocupam,seus movimentos, sua constituio, os fenmenos que neles ocorrem, e sua evoluo de

    modo geral, independentemente das influncias que eles exeram sobre a Terra.

    No mbito da Astronomia, tambm estudamos influncias que os astros exercem sobre

    acontecimentos na Terra, mas aqui cabe uma segunda distino: essa influncia analisada com

    base no conhecimento cientfico atual sobre as possibilidades de interaes materiais. A radiao

    solar, por exemplo, tem influncia sobre o clima de diferentes lugares, da mesma forma que a posio

    da Lua tem influncia sobre os oceanos, gerando o fenmeno das mars atravs de interaes

    gravitacionais entre o astro e o nosso planeta. Assim, a influncia estudada pela Astronomia

    admitida desde que tenha base em interaes fsicas reconhecidas por outros experimentos.

    As interaes fsicas conhecidas atualmente no oferecem base terica para o principal

    pressuposto ou crena da Astrologia: de que os astros influenciam a vida dos indivduos.

    As intensidades das interaes conhecidas hoje (gravitacionais e eletromagnticas) entre

    astros e pessoas tm um valor muito menor do que a intensidade das interaes entre essas

    mesmas pessoas e os objetos que as rodeiam.

    Dessa forma, para algumas correntes, a Astrologia somente se justifica enquanto

    mtodo interpretativo que estabelece relaes simblicas, e no interaes fsicas, entre

    os astros e as caractersticas ou acontecimentos na vida das pessoas. Essas correntes noafirmam, por exemplo, que uma determinada constelao causa certos acontecimentos na

    vida das pessoas. O aparecimento dessa constelao, para essas correntes, visto como um

    sinal, ou seja, significa que acontecimentos de certo tipo devero acontecer.

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    Atividade 5

    Resumo

    Pode-se dizer que outra caracterstica que diferencia a Astronomia da Astrologia o fatoda Astronomia rever a si mesma, enquanto assimila novos conhecimentos. Pela abrangnciados seus objetos de estudo, ela articula-se hoje com os mais diversos saberes desenvolvidosnas Cincias Naturais e Matemticas, transformando-se e transformando essas reas,

    continuamente, nesse processo. Voc perceber isso, na continuidade da disciplina.

    Para concluir a aula, antes de desenvolver a Auto-avaliao, procure sistematizar seuaprendizado terico, identificando palavras-chave e desenvolvendo pequenos esquemasque resumam a idia central de cada tpico da aula. Voc poder retomar alguns dessesesquemas quando estivermos aprofundando esses contedos nas prximas aulas.

    Retome suas consideraes sobre as diferenas entre Astrologia e Astronomia.

    Com base nas reflexes levantadas, que informaes voc acrescentaria ao seutexto inicial?

    Nesta aula, voc realizou uma observao prolongada do cu noturno a olho nu. Fezregistros sobre sua percepo do cu e da forma da Terra e identificou constelaesque poderiam servir como referncia para acompanhar eventos astronmicos emoutros momentos. Viu que observaes dessa natureza permitem acompanhar ocomportamento de constelaes durante a noite, e do Sol, durante o dia, bem comoobservar variaes nesses comportamentos ao longo do ano. Ao final, conheceu asmotivaes sociais que levaram sistematizao de conhecimentos astronmicos

    pelos mesopotmios e egpcios, no nascimento da Astronomia. Durante a aula, vocidentificou concepes alternativas envolvendo conceitos astronmicos, tais como aforma da Terra, a causa do dia e da noite, e a relao entre Astronomia e Astrologia.

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    Auto-avaliao

    Retorne sua nave imaginada na atividade 2 para um novo exerccio deafastamento da Terra. Desenhe esquematicamente como voc visualizaria trsgarrafas sobre o solo, estando uma delas no Plo Norte, outra no Plo Sul e aterceira no Equador. Considere, nesse esquema, que cada uma dessas garrafascontm uma pequena quantidade de lquido.

    Um aluno do Ensino Mdio est com a seguinte dvida: Como possvel queum rio, como o So Francisco, possa subir, contra a gravidade, do Sul para oNorte?. Que concepes alternativas do aluno esto presentes nessa dvida?

    A Lua ou a ocultao do Sol por nuvens so concepes alternativas sobre acausa da noite. Identifique argumentos contrrios a essas idias.

    Defina as seguintes unidades de tempo, a partir de eventos astronmicos,conforme voc aprendeu at o momento:

    a) dia (com d minsculo)

    b) ano

    Identifique as prticas sociais que motivaram o desenvolvimento inicial da

    Astronomia entre os mesopotmios e os egpcios.

    Aprofundamentos1. Na disciplina Cincias da Natureza e Realidade, voc identificou stios arqueolgicos

    na sua proximidade. H registros de figuras nesses stios? Elas incluem fenmenos ouobjetos astronmicos? Compare a data dessas imagens ou dos stios com a idade dascivilizaes da Mesopotmia e do Egito.

    2. Converse com pessoas da sua comunidade que tm um conhecimento mais detalhadosobre os astros do que comumente se possui. Que motivaes levaram essas pessoasa buscarem tais conhecimentos? So semelhantes s dos povos antigos, as quaisdiscutimos nesta aula? Analise o porqu.

    3. Anote questes que lhe intrigaram no desenvolvimento da aula e procure discuti-lascom outras pessoas, na continuidade da disciplina. Lembre-se de que nossa pgina, no

    ambiente virtual, um timo lugar para tais discusses!

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