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#141 EDIÇÃO OÁSIS 8,8 BILHÕES DE “TERRAS” Planetas habitáveis na nossa galáxia A FORÇA DO PENSAMENTO O homem é espelho dos seus próprios pensamentos POR QUE OS NEGÓCIOS PODEM SER ÚTEIS PARA RESOLVER PROBLEMAS SOCIAIS ATÉ O GOOGLE STREET VIEW VIROU ARMA DE COMBATE CONTRA AS ESPÉCIES INVASORAS IMIGRANTES CLANDESTINOS

Até o GooGlE StrEEt combAtE contrA AS ViEw Virou ArmA · PDF filechatina, caramujo africano 7/40. 1 Um macaquinho terrível Como pode um macaquinho tão simpático ser um temível

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#141

Edição Oásis 8,8 BILHÕES

DE “TERRAS” Planetas habitáveis

na nossa galáxia

A FORÇA DO PENSAMENTO

o homem é espelho dos seus próprios pensamentos

POR QUE OS NEGÓCIOS

PODEM SER ÚTEIS PARA RESOLVER

PROBLEMAS SOCIAIS

Até o GooGlE StrEEt ViEw Virou ArmA dE

combAtE contrA AS ESPéciES inVASorAS

IMIGRANTES CLANDESTINOS

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por

Editor

PEllEgriniLuis

G ostam de manga? Eu, particularmente, adoro. Considero a manga uma obra-prima do Criador. no Brasil, hoje, essa fruta está em toda a parte, de norte a sul, de leste a oeste. Há

dezenas de tipos diferentes de mangas, para nosso deleite, dos passa-rinhos, insetos, e dos bichos vegetarianos que passeiam à sombra das enormes mangueiras esperando que alguma, bem madura, caia perto deles.

Mas a manga não é nossa. Veio da Índia, trazida pelos portugueses ainda nos primórdios da colônia, e desde que chegou faz o maior sucesso. Em compensação, o Brasil mandou para a Índia o caju, muito apreciado por lá. Em goa, ex-colônia portuguesa em solo indiano, uma aguardente extraída do caju, chamada feni, virou a bebida nacio-nal. a cachacinha deles.

Manga e caju são exemplos de sucesso na trasladação de espécies vivas de um continente a outro. Mas as coisas nem sempre são assim.

Há milHares de espécies invasoras, animais e vegetais, que migraram para territórios às vezes

muito distantes dos seus lugares de origem, onde se instalaram e Hoje prosperam, muitas vezes em

detrimento da fauna e flora nativas daquele lugar

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OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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Pelo contrário, parece que muitas vezes a mudança não dá certo. as espécies trasladadas, animais ou vegetais, ou não se adaptam bem, perdendo as suas características, ou se tornam agressivas e depreda-doras, causando graves prejuízos aos biossistemas para onde foram levadas.

nossa matéria de capa trata desse tema. Colônias di guaxinins, origi-nários da américa do norte, adaptaram-se perfeitamente bem às mar-gens do rio adda, perto da cidade de Milão; na irlanda e na inglaterra o esquilo cinzento americano está pondo em sério risco a sobrevivên-cia do esquilo vermelho europeu; o ratão-do-banhado, grande roedor brasileiro introduzido na itália na década de 1920 como animal forne-cedor de pele para vestuário, hoje está espalhado e fazendo estragos em toda a planície Padana, no norte da itália. São apenas algumas den-tre as milhares de espécies invasoras, animais e vegetais que migraram para territórios às vezes muito distantes dos seus lugares de origem, onde se instalaram e hoje prosperam muitas vezes em detrimento da fauna e flora nativas daquele lugar. Só no Brasil, a lista de invasores tem centenas de nomes, do pardal ao búfalo indiano, do capim braquiária ao sisal.

Mais uma prova de que o homem deve ter o maior cuidado ao inter-ferir nos processos da natureza. Mamma natura sabe muito bem o que faz, e dificilmente erra em suas escolhas. o mesmo não se pode dizer do ser humano, que se sente onipotente e capaz de fazer tudo que lhe der na cabeça. Confira.

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EIMIGRANTES CLANDESTINOSAté o Google Street View virou arma de combate contra as espécies invasoras

guaxinim norte-americano

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olônias di guaxinins, originários da América do Norte, adaptaram-se perfeitamente bem às margens do rio Adda, perto da cidade de Milão; na Irlanda e na Inglaterra o esquilo cin-zento americano está pondo em sério risco a sobrevivência do esquilo ver-melho europeu; o ratão-do-banhado, grande roedor brasileiro introduzido na Itália na década de 1920 como

animal fornecedor de pele para vestuário, hoje está espalhado e fazendo estragos em toda a

planície Padana, no norte da Itália. São ape-nas algumas dentre as milhares de espécies invasoras, animais e vegetais que migraram para territórios às vezes muito distantes dos seus lugares de origem, onde se instalaram e hoje prosperam muitas vezes em detrimento da fauna e flora nativas daquele lugar. Só no Brasil, a lista de invasores tem centenas de nomes.

A invasão de espécies não nativas ou estran-geiras, muitas delas levadas a outros países e continentes pela mão do homem, é hoje um problema muito difuso em todo o mundo. Algumas dessas espécies se inseriram sem maiores problemas nos seus novos habitats, este é o caso dos pardais trazidos ao Brasil pelos portugueses, dos búfalos indianos ou do sisal. Mas em muitos casos as espécies inva-soras tornaram-se uma séria ameaça para os ecossistemas chegando a provocar a extinção das espécies locais. Um exemplo, em nosso país, é o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, e também o da abelha africana, agressiva e perigosa. Outro exemplo, espalha-do já por diversos países e continentes, é o da Thaumetopoea pityocampa mais conhecida como processionária ou lagarta do pinheiro, um inseto originário da Europa mediterrânea, altamente destrutivo, cujas larvas se nutrem de folhas e têm uma grande preferência pelas coníferas. Elas constituem hoje uma das

Ccada vez em maior número, espécies invasoras animais e vegetais migram para outros territórios perturbando seus ecossistemas. uma equipe de pesquisadores utiliza o google street view para explorar os novos territórios onde se instalam esses imigrantes ilegais

Por: equiPe oásis

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maiores ameaças à sobrevivência das florestas de pinhei-ros, sobretudo no sul da Europa.

Street View à caça de lagartas

Esses insetos se reproduzem em grandes ninhos brancos, com a forma de sacos, visíveis a grande distância. No mo-mento, graças a essa característica, dois pesquisadores franceses do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas, tentaram usar o programa Street View, do Google, para identificar as zonas infestadas por esse perigoso parasita.

A investigação deu bons resultados: após fazerem alguns testes, esses cien-tistas controlaram uma zona de mais de 10 mil quilômetros quadrados onde, sabidamente, a processionária tinha se estabelecido. Os resultados foram sur-preendentes: os agrônomos, com efeito, puderam constatar que os levantamen-tos efetuados através do Street View eram 96% mais precisos do que aqueles feitos diretamente no campo. Significa que através do monitor se controla me-lhor do que caminhando a esmo pelas estradas e sendeiros. Em algumas zonas o mapeamento efetuado pelo Google era menos detalhado, e neles a precisão dos levantamentos baixou de 46%. Um re-sultado de qualquer modo notável, so-bretudo quando confrontado com a eco-nomia de custos que foi possível obter.

Para o mapeamento de outros espécies não tão evidentes quanto a processionária, o programa Street View poderia não se mostrar tão eficaz, mas os cientistas franceses estão otimistas e pretendem recorrer regularmente a essa ferra-menta no futuro.

Os exemplos de animais que, ao serem transferidos de uma região a outra colocam em crise a biodiversidade do novo território onde se instalam, destruindo a vegetação ou expulsando outras espécies, são muito numerosos. Nesta galeria mostramos alguns desses casos.

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gafanhotos africanos chegam a invadir as Pradarias da euroPa e da américa central e do norte

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Bufalos indianos na ilha de marajó

sisal Bufo marinus da austrália

chatina, caramujo africano

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1 Um macaquinho terrível

Como pode um macaquinho tão simpático ser um temível invasor? Este primata originário do sudeste asiático e introdu-zido na Ilha Mauritius em 1600, tornou-se o dono das florestas locais. Veloz e ágil, saltando de um galho a outro, ele sim-plesmente acaba com os ovos dos pássaros endêmicos, roubas as frutas dos outros animais e, como se fossem enxames de formigas saúva, juntam-se em grandes bandos para invadir e arrasar plantações agrícolas.

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2 Serpente viajante

A serpente arbórea marrom é uma grande viajante. Astuciosa, destemida, ela se esconde nos porões de aviões e navios, inserindo-se entre as bagagens e as caixas de mercadorias, se mimetiza e espera a hora de aterrissar ou aportar. Foi assim que ela chegou, nos anos 1940, a Guam, a maior ilha da Micronésia, no Pacífico. Escapando a todos os controles, esse reptil subiu em aviões militares e desembarcou no novo território. Originária da Austrália, da Indonésia e da Nova Guiné, essa serpente desde então dizimou espécies inteiras de pássaros e pequenos vertebrados terrestres. Não satisfeita após ter colo-nizado Guam, ela usou dos mesmos expedientes para chegar, depois, ao Havaí, aos Estados Unidos e inclusive à Espanha. Zoólogos europeus estudam agora meios para evitar que ela invada outras regiões do continente. Foto: © Gordon Rodda, USGS Fort Collins Science Center

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3 Petisco venenoso

Foi uma péssima ideia levá-lo à Austrália para proteger as plantações de cana de açúcar dos insetos nocivos. O plano inicial era que o Bufo marinus, sapo brasileiro, gordo, voraz e com tamanho de até 15 centímetros se alimentasse dos insetos des-truidores de plantações. Mas o Bufo não gostou do sabor dos gafanhotos e lagartas australianas. Voltou seus interesses para outros alimentos e tornou-se ele mesmo uma presa para outros animais nativos. O problema é que esse sapo é tão veneno-so que serpentes, lagartos e mamíferos que o comem morrem envenenados. Quem os levou para a Austrália devia pensar antes no que estava fazendo. Deve haver uma razão para que algumas tribos da Amazônia, floresta onde o Bufo tem origem, usem o veneno contido nas suas glândulas para tornar letais as pontas das suas flechas.

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4 Um inimigo no sofá

Não, não se trata de um equívoco. O gato é realmente um invasor, um dos piores. Predador por definição, caseiro por esco-lha (nossa), ele é o felino mais conhecido e numeroso do mundo. Foi domesticado há mais de 9 mil anos, e faz parte da lista dos animais invasores mais nocivos. Cosmopolita, o gato só não existia na Austrália e nas ilhas oceânicas vizinhas. Foi o homem quem o levou para lá, como bichinho de companhia, ou arma para controlar a presença de ratos nos navios. Quase onívoro, comedor de lagartos, serpentes, pequenos mamíferos e pássaros de todos os tipos, estima-se que apenas na pacífi-ca ilha de Herekopare, paraíso do birdwatching, o gato tenha levado à extinção 6 espécies de pássaros. A um gato abando-nado ou fugido de casa bastam poucas semanas para que retorne à vida selvagem.

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5 Melhor um casaco de peles artificial

Nada de capotes, estolas e jaquetas feitas com a pele do ratão-do-banhado. Levados para a Itália, casais desses animais muito espertos fugiram e se instalaram nas margens de rios do país. Sem inimigos naturais na terra italiana, esses roedores aquáticos de patas espalmadas escavam profundas galerias nos barrancos dos rios, devoram as raízes de arbustos que ser-vem para manter estáveis as terras ribeirinhas e simplesmente destroem os equipamentos de irrigação.

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6 Ele fala, mas também perturba

Da África do Sul à Nova Zelândia, das ilhas Fiji à Europa, os mainás hoje estão em toda a parte. Pássaro de penugem ne-gra, com uma pequena mancha branca na cabeça e barbelas amarelas, o mainá comum é originário da Índia e foi levado a vários países para reduzir a população de insetos nas zonas agrícolas. Esse pássaro é sabidamente muito guloso. Só que, fora do seu país natal, sua preferência gastronômica deixou de ser os insetos e passou a ser os frutos. No resto do mundo os mainás se alimentam de pêssegos, abricós, peras, morangos e tudo o mais que contenha boa quantidade de açúcares, arrui-nando plantações inteiras em vez de as defender. Além disso, como bom invasor, o mainá quer espaço para colonizar e para tanto destrói os ninhos e os ovos dos outros pássaros, reduzindo drasticamente o seu número. De resto, é um pássaro ba-rulhento: canta, grasna, assovia, emite silvos durante toda a noite, perturbando o sono dos humanos. Quando prisioneiros, muitos exemplares conseguem reproduzir a voz humana emitindo palavras como se fossem papagaios.

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7 Trepadeira de rapina

Um flagelo nos Estados Unidos: o kudzu, planta trepadeira, infesta recobre, sufoca e aprisiona tudo que a circunda. Ela chegou ao Estados Unidos vinda do Extremo Oriente, por ocasião de uma feira botânica realizada no final do século 19. De-pois disso, tornou-se a dona de bosques, margens de rios, beiras de estradas, jardins, impedindo a fotossíntese das plantas nas quais se enrola. Com uma raiz que alcança profundidades superiores a 3 metros, sua velocidade de crescimento é incrí-vel: mais de 25 centímetros por dia durante a primavera. Nos países de origem as pessoas comem suas folhas, usam seus ramos secos para a confecção de cestos e, com os estratos de suas raízes a farmacologia produz cosméticos e poções vasodi-latadoras. Já chegou à Itália e a alguns pontos do sul da Europa. Foto: Jil M. Swearingen, USDI National Park Service

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8 Sua sede é insaciável

Quando a vemos, não é mais que uma arvorezinha aparentemente insignificante. Mas, na verdade, é um dos vegetais que mais consomem água no mundo. O tamarix, que infesta os territórios ao longo dos rios do sul dos Estados Unidos e do Mé-xico, pode absorver muitos litros de água diariamente, deixando a seco as plantas vizinhas, enxugando áreas pantanosas e destruindo pequenas minas de água. Além disso, de suas glândulas localizadas nos ramos e das folhas, esse arbusto de ori-gem asiática e da Europa meridional secreta sais minerais extraídos do terreno, criando desse modo incrustações minerais e calcárias no solo que inibem o crescimento de toda a flora. Foto: Steve Dewey, Utah State University

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9 Marisco invasores

Esse molusco gruda no casco das embarcações, está presente na água de balastro dos navios, no meio dos carregamentos de peixes e frutos do mar, e também entre as plumas de pássaros marinhos e nas roupas de mergulhadores. Todos os meios são bons para que o marisco zebrado se faça transportar. Trata-se de um marisco pouco apetitoso, originário do Mar Cás-pio e do Mar Negro. Capaz de viver tanto em águas salobras quanto em águas doces, esse invertebrado adora fixar-se sobre pontes, instalações hidráulicas e estações de tratamento da água. Num único metro quadrado de uma estação de tratamen-to norte-americana foram encontrados cerca de 70 mil exemplares, todos amontoados uns sobre os outros. Foto: Randy Westbrooks, U.S. Geological Survey

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10 Guerras submersas

O rutilo é um peixe natural das águas frias da Europa Central. Agressivo, comilão voraz de outros peixes, ele nunca teria conseguido transpor a barreira dos Alpes sem a ajuda de alguma mão humana. Alguém fez isso, lançando-o nas águas dos grandes lagos do norte da Itália, como o Lago Maggiore e o Lago de Como. Desses lagos, passou para outros menores e acabou chegando também ao Pó, o maior rio do país, e a outros cursos d´água menores. Encontrando boas temperaturas e fartura de alimento, o rutilo, que se reproduz com facilidade e rapidez, não esperou muito para dizimar inteiras espécies lo-cais. Por causa do seu escasso valor comercial, esse peixe, que chega a superar os 45 centímetros de comprimento continua a se dar bem nas águas italianas.

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11 Uma vespa que virou praga

No início, ela invade as cidades, construindo ninhos sob os tetos, nas reentrâncias dos muros e provocando, com suas pica-das dolorosas, problemas e incômodos ao homem. Depois, a vespa comum, originária da África, se dirige aos campos, flo-restas e bosques, onde compete com os pássaros e com outros insetos pelos recursos açucarados. Formando enxames, voa sobre as plantações e come as frutas. Engorda e vai procurar comida nas latas de lixo e até nos restos de piqueniques. Hoje, essa vespa já chegou à Ásia e à Europa, ao norte da África e à América do Norte. Chegou também, escondida em navios e aviões, à Austrália, à Tasmânia, à Nova Zelândia e à América do Sul. O pior é que ela não produz sequer uma gota de mel.

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IA8,8 BILHÕES DE “TERRAS”Planetas habitáveis na nossa galáxia

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Via Láctea é constelada de astros de massa análoga à do Sol. Uma de cada 5 dessas es-trelas poderia possuir um pla-neta similar à Terra em órbita ao seu redor na assim chama-da “zona habitável”. Ou seja, a uma certa distância capaz de consentir a presença de água no estado líquido na superfí-

cie do planeta.

Na nossa galáxia, portanto, poderiam existir bilhões de outros planetas adequados e capazes de suportar formas de vida. É o que afirma uma importante pesquisa publicada há poucos dias na revista Proceedings of the National Acade-my of Sciences (http://www.pnas.org/con-tent/early/2013/10/31/1319909110)

O segredo está no “quantum” de ener-gia

O grupo de pesquisadores, que pertence À Universidade da Califórnia, em Berkeley, par-tiu de uma pergunta que muitos fazem quan-do observam o céu estrelado. Quantas são as estrelas que possuem, ao redor de si, um pla-neta que recebe a mesma quantidade de ener-gia (sob forma de calor) recebida pela Terra?

Dentre as muitas centenas de exoplanetas descobertos até agora, a maior parte são gi-gantes gasosos. Os pequenos planetas ro-chosos similares à Terra são mais difíceis de individuar – mas alguns já o foram, como demonstra a descoberta recente do planeta Kepler 78b, um verdadeiro “clone” da Terra.O astrônomo Erik Petigura, principal autor do estudo, partiu dos dados recolhidos pelo te-lescópio Kepler, da Nasa, antes que a ruptura das rodas de reação o inutilizasse.

Esse telescópio, apelidado de “caçador de exo-planetas”, observou as 150 mil estrelas no seu próprio campo visual para individuar as leves oscilações de luminosidade indicativas do trânsito de um planeta em frente a seu sol.

Utilizando um software criado para essa fi

Aquantos outros planetas fora do sistema solar são habitáveis? segundo o mais recente estudo, seriam cerca de 8,8 bilhões, apenas na nossa galáxia, a via láctea

Por: equiPe oásis

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nalidade, Petigura lançou mão dos dados recolhidos pelo Kepler para formular a hipótese da probabilidade de se en-contrar planetas similares à Terra na nossa inteira galáxia.

40 bilhões de estrelas similares ao Sol

Segundo as estimativas de Petigura, na nossa galáxia, a Via Láctea, existiriam cerca de 40 bilhões de estrelas similares ao Sol. Nos seus hipotéticos sistemas planetários existi-riam cerca de 8,8 bilhões de planetas similares à Terra e posicionados na zona habitável. Estimativas ainda mais generosas – sempre no trabalho de Petigura – chegam a

estimar 50 bilhões de “Sóis” e 10 bilhões de “Terras”.O grupo de pesquisa monitorou particularmente as varia-ções de luminosidade de 42 mil estrelas similares ao Sol, individuando 603 planetas que orbitam ao redor de algu-mas delas. Entre esses, 10 se localizam na assim chamada “zona habitável” e têm dimensões similares, ou no máxi-mo em dobro, em relação à Terra.

“Esses planetas já seriam muito interessantes por si mes-mos, mas são ainda mais interessantes para se entender a prevalência de planetas com características análogas no interior da Via Láctea”, explica Petigura.

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Pode acontecer, com efeito, que flutuações de luminosi-dade da estrela sejam não causadas pelo trânsito de um planeta (chamadas na gíria técnica de “ruído”) confundam os astrofísicos tornando impossível a individuação de um planeta real; um outro problema é que apenas um de cada 100 entre os planetas observados pelo telescópio Kepler orbita ao redor da própria estrela com uma orientação que o telescópio consegue individuar como “trânsito”.

O software elaborado por Petigura resolve ambos os pro-blemas. “Fazendo essas duas correções” continua o astrô-

nomo “concluímos que 22%, quase uma dentre cada 5 estre-las similares ao Sol hospeda um planeta análogo à Terra na zona habitável.

O próximo passo será procurar exoplanetas “terrestres” nos sis-temas das estrelas mais vizinhas a nós: o menos distante, segun-do os cientistas, poderia se en-contrar a apenas 12 anos de nós. A sua estrela, nesse caso, poderia inclusive ser visível a olho nu.Vídeo de estrelas e zonas habitá-veisAs análises dos astrônomos da Universidade de Berkeley e da Universidade do Havaí mostram que entre as estrelas similares ao Sol, 1 dentre cada 5 possui um planeta similar à Terra e situado

na zona habitável.

Vídeo: “Galáxia contem bilhões de planetas po-tencialmente habitáveis”. Animação da UC Berke-ley/UH Manoa/Illumina Studios, publicado em 4/11/2013

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LA FORÇA DO PENSAMENTOO homem é espelho dos seus próprios pensamentos

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as décadas de 1960 e 1970, a parapsicologia irrompeu nos meios acadêmicos dos Estados Unidos, da Europa e da ex--União Soviética. De lá ela se

espalhou como uma onda por todo o mundo. O Brasil não ficou imune a esse vagalhão. Aconte-ceram aqui alguns dos maiores e mais importan-tes encontros e congressos dessa nova ciência.

A parapsicologia chegou como um tsunami de renovação. Muitos cientistas foram seduzidos pela nova disciplina e passaram a investigar, cada um dentro da sua especialidade, a realida-

de dos assim chamados fenômenos paranor-mais. Experiências feitas em laboratório com pessoas dotadas de capacidades extrassenso-riais levaram, entre outras descobertas, à con-firmação de uma hipótese fascinante: a de que o pensamento humano é uma força capaz de influenciar e transformar não apenas a nossa psique mas também a própria matéria de que somos feitos. Centenas de casos extraordiná-rios foram verificados nesse sentido.

Nina Kulagina e Ted Serios

Em Moscou, a russa Nina Kulagina causou estupor ao demonstrar, diante de câmeras de cinema e de televisão, ser capaz de mover para lá e para cá bolas de pingue-pongue, caixas de fósforos e outros pequenos objetos colocados dentro de redomas de vidro, usando exclusi-vamente a força do seu pensamento. Ela sim-plesmente se concentrava, olhava fixo para os objetos e com um comando mental fazia com que eles se movessem.

Nos Estados Unidos, as proezas do norte-ame-ricano Ted Serios deixaram atônitos os inves-tigadores: ele conseguia gravar em películas fotográficas Polaroid imagens produzidas na sua mente. Cúpulas de igrejas, a Torre Eiffel, ônibus em movimento, a rainha Elizabeth, o Taj Mahal, o Vaticano, o Pentágono, paisagens

No pensamento humano é uma força capaz de influenciar e transformar não apenas a nossa psique, mas também a própria matéria de que somos feitos

Por: luis Pellegrini

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e pessoas desconhecidas, e centenas de outras imagens pen-sadas por Serios foram parar na superfície dos filmes. Eles lá estão, até hoje, guardados nos arquivos da Universidade da Califórnia e de alguns institutos especializados, sem que nenhuma explicação convencional de como o fenômeno acontece ainda tenha sido formulada.

Entidades importantes da pesquisa científica norte-ameri-cana e a própria empresa Polaroid financiaram programas para investigar as capacidades de Serios sob condições de laboratório. Tudo o que se conseguiu foi provar que o fenô-

meno não constituía um truque. Era bem real. Serios segu-rava diante dos olhos uma câmera Polaroid; concentrava-se durante alguns segundos para formar com clareza na mente a imagem solicitada; ao sentir que ela estava bem nítida, procurava “projetá-la” para dentro da câmera, ao mesmo tempo em que apertava o disparador. Revelada a chapa, lá estava a figura que Serios criara. Detalhe curioso e talvez

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a russa nina Kulagina, nas décadas de 60 e 70, era caPaz de mover e levantar Pequenos oBjetos com a força do seu Pensamento

o norte-americano ted serios era caPaz de imPrimir imagens numa câmera Polaroid. ele criava a imagem na sua mente e, de algum modo ainda misterioso, conseguia transferi-la Para a Película da câmera. emBora imPerfeitas, as figuras são Perfeitamente reconhecíveis

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significativo: Serios tomava umas boas doses de uísque puro antes de trabalhar. Sem a bebida, as imagens eram menos nítidas.

Ao final de anos de trabalho, a equipe de cientistas que in-vestigou o paranormal fez uma declaração importante: “O fenômeno das psicopictografias de Serios e as pesquisas mais modernas da física sugerem a existência de uma inter-ferência entre o campo das partículas materiais e o campo psiplasma, ou seja, o psiquismo humano.” Traduzindo para

uma linguagem mais simples, significava que a energia do pensamento e da psique parece ter a capacidade de agir so-bre a matéria, alterando as suas propriedades.

Esoterismo e física atômica

Ao mesmo tempo, pesquisadores da física atômica faziam uma descoberta fundamental: alguns fenômenos no âmbito das partículas subatômicas aconteciam de um certo modo quando alguém estivesse a observá-los, e de um outro modo quando não havia ninguém olhando. Concluiu-se, portanto, que o simples olhar humano, lançado com atenção sobre alguma coisa, parece ser capaz de alterar a estrutura suba-tômica da matéria.

Todas essas descobertas e experiências revolucionaram tudo o que se sabia sobre as interações entre mente huma-na, energia e matéria, e isso foi apresentado nos meios da ciência como grande novidade.

Mas se aqueles cientistas tivessem folheado qualquer trata-do básico sério de ciências ocultas, ou de magia, saberiam que, desde sempre, a força do pensamento, bem como a força da vontade, da atenção e do olhar humanos não são entendidas como coisas abstratas e subjetivas. Bem ao contrário, são consideradas forças materiais objeti-vas, vivas e atuantes, capazes de influenciar a nós mesmos e as coisas da natureza e do mundo. A física moderna parece prestes a confirmar isso. Como verdadeiros magos con-temporâneos que usam fórmulas matemáticas em lugar de diagramas cabalísticos, há inclusive cientistas que chegam a afirmar que, no futuro, serão inventados aparelhos capazes de detectar, pesar e medir o fluxo energético dos pensamen-tos humanos.

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helena Petrovna BlavatsKy, fundadora

do movimento teosófico, foi

imPortante Precursora dos estudos dos

fenômenos Paranormais e

da força do Pensamento

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A ideia do pensamento como energia objetiva já existia no cerne de sistemas religiosos antigos, como os do Antigo Egito, da Grécia, China e Índia. Mais recentemente, na segunda metade do século 19, época de uma grande Renas-cença ocultista, foi o movimento teosó-fico, desencadeado pela russa Helena Petrovna Blavatsky, que passou a de-fender essa ideia.

A teoria das formas-pensamento

A teosofia, que tem como principais fontes de inspiração as filosofias eso-téricas do budismo e do hinduísmo, desenvolveu a teoria das “formas-pen-samento”, geradas e alimentadas pela energia dos pensamentos, emoções e sentimentos das pessoas. Essas formas, uma vez criadas, passariam a existir como verdadeiras entidades energéticas “inteligentes”. Elas se fixariam na estrutura da aura - o corpo de energia sutil da pessoa - e, como a imagem fotográfica firmemen-te impressa na superfície do filme, passariam a fazer parte daquela estrutura. Mesmo depois de cessado o pensamen-to que lhe deu origem, a forma-pensamento permaneceria como uma entidade viva. E, como toda entidade viva, ela exigiria alimento para não morrer. Para tanto, tende a fazer com que a pessoa que a criou repita mais e mais os mesmos pensamentos que lhe servem de nutrição.

Segundo essa interessante teoria, as formas-pensamento atuam e interagem no campo de energia sutil das pessoas, podendo provocar nele grandes alterações. Charles Leadbe-ater, escritor teosofista, escreveu que “quando eles (os pen-samentos) são dirigidos para outras pessoas, as formas em verdade se movem pelo espaço em direção a essa pessoa, introduzem-se na sua aura e com ela se fundem em muitos casos. Quando, porém, os pensamentos e os sentimentos se concentram na própria pessoa que os emite - o que, receio, deve acontecer com a maioria das pessoas -, as formas fi-cam agrupadas em torno de quem lhes deu origem.”

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A teoria considera que todo ser pensante constrói para si mesmo uma espécie de concha de formas-pensamento: uma verdadeira vestimenta feita de energia mental; assim, todos os pensamentos e sentimentos que emitimos reagem cons-tantemente sobre nós mesmos.

Nós os geramos, nós os tiramos de dentro de nós e, eles situam-se agora exteriormente e são capazes de reagir sobre nós e de nos influenciar, sem que tenhamos consciência de sua proximidade e de seu poder. Pairando à nossa volta, as forças que nós mesmos irradiamos nos parecem vir todas de

fora. Mas o pensamento de hoje pode ser, e em geral é, ape-nas um reflexo do nosso próprio pensamento da véspera ou da semana anterior. Os pensamentos, portanto, são coisas, são como objetos, capazes de influir sobre outras coisas. Capazes, principalmente, de influir sobre quem os emite. E por isso, como dizem os ocultistas, como pensa o homem, assim ele é.

Charles Leadbeater

Para Chales Leadbeater, como para todos os pensadores teosofistas, adeptos da teoria das formas-pensamento, os pensamentos têm existência objetiva e se mantêm vivos por muito tempo após serem emitidos.

Como sempre acontece, grandes descobertas da ciência rapidamente caem no domínio do grande público e passam a fazer parte do nosso dia a dia. O uso da força da mente, o controle do poder do pensamento é tema central de milha-res de livros publicados nas últimas décadas. Toda livraria dispõe hoje de uma seção de “mentalismo”, nome genéri-co que designa esse gênero de literatura. Trata-se, em sua maioria, de livros cujo conteúdo mistura teorias e técnicas originárias de muitas áreas, como a medicina psicossomá-tica, as psicologias práticas, a parapsicologia, as religiões ocidentais e orientais e uma boa dose do chamado conheci-mento oculto ou esotérico.

Embora a qualidade da maioria dessas obras possa ser dis-cutida, o fato inegável é que todas elas se assentam numa mesma crença. A ideia de que o pensamento é uma força poderosa capaz de influir sobre nossas vidas, alterando ra-dicalmente os seus rumos. Ele é, depois do amor, a maior

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Bons pensamentos e atos jamais produzirão maus resultados. É fácil entender essa lei no mundo natural, mas poucos são os que a entendem no plano mental e moral e, portanto, não cooperam com ela. Nas ciências ocultas e nas grandes religiões, bem como na moderna psicologia, o sofri-mento é quase sempre o efeito do pensamento errado em algum sentido.

Não há segredos para o pen-samento

Por outro lado, imaginamos que o pensamento pode ser mantido em segredo, mas não pode. Para Allen, bem como para os demais especialistas no assunto, ele se

cristaliza rapidamente em hábitos, e os hábitos se concre-tizam em circunstâncias. Pensamentos de medo, dúvida e indecisão, por exemplo, cristalizam-se em hábitos fracos e irresolutos, os quais se concretizam em circunstâncias de fracassos, indigência e servil dependência. Pensamentos de ódio, crítica negativa e condenação cristalizam-se em hábi-tos de acusação e violência, os quais se concretizam em cir-cunstâncias de injúria e perseguição. Mas pensamentos de coragem, autoconfiança e decisão firme cristalizam-se em hábitos enérgicos, os quais se concretizam em circunstân-cias de êxito, abundância e liberdade. Pensamentos de

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de todas as forças mágicas.

“Pensamento e ação são os carcereiros do destino”, diz o es-critor norte-americano James Allen, “se forem vis, aprisio-nam; são também os anjos da liberdade - se forem nobres, libertam”.

Psicofoto oBtida Por ted serios com cãmera Polaroid

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amor e de altruísmo cristalizam-se em hábitos de disposição espontânea para perdoar, os quais se concretizam em circunstâncias de segura e duradoura prosperidade e contentamento - a ver-dadeira riqueza.

O corpo é escravo da mente, diz, por seu lado, a medicina psicossomática em coro com a sabedoria esotérica. Doença e saúde têm suas raízes no pensamen-to. Pensamentos doentios se expres-sarão através de um corpo doentio. Pensamentos de medo fazem adoecer e podem até matar.

As pessoas que vivem sob o medo da doença, como os hipocondríacos, são as que mais adoe-cem. A angústia e a tensão levam todo o corpo a entrar num rápido processo de abatimento e o deixa aberto às en-fermidades. Pensamentos impuros e negativos - de ódio, ressentimento, inveja, desconfiança, cinismo, revolta e não aceitação da realidade - não tardarão a destruir o sistema nervoso. O corpo é um instrumento plástico, delicado e sen-sível, que responde prontamente aos pensamentos que o impressionam.

Ecologia mental

Baseados em todas essas descobertas, toda uma nova gera-ção de pensadores dedica-se agora ao desenvolvimento de uma nova ciência, batizada de “ecologia mental”. De modo análogo à ecologia terrestre - parte da biologia que estuda as

relações entre os seres vivos e o meio ambiente onde vi-vem, bem como as suas recíprocas influências -, a ecologia mental estuda as relações entre os pensamentos e os seres humanos e o modo como os primeiros influenciam os se-gundos.

Uma das primeiras constatações importantes da ecologia mental fala da necessidade urgente de se proporcionar às crianças, a partir dos primeiros anos escolares, uma educa-ção da mente. Ensiná-las a pensar corretamente e a discer-nir entre pensamentos negativos, escuros e destrutivos, que devem ser evitados, e pensamentos positivos, luminosos e criativos, que devem ser estimulados.

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POR QUE OS NEGÓCIOS PODEM SER ÚTEIS PARA RESOLVER PROBLEMAS SOCIAIS

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or que nos voltamos para or-ganizações sem fins lucrativos, ONGs e governos para solucio-nar os maiores problemas da sociedade? O estrategista de negócios Michael Porter admi-

te que, como professor de administração, é suspeito para discutir o assunto, mas deseja que escutemos seus argumentos sobre deixar empresas tentarem resolver problemas enormes como mudanças cli-máticas e acesso à água. Por quê? Porque quando empresas solucionam um proble-ma, elas têm lucro - o que permite que a solução cresça.

Pquando empresas solucionam um problema, elas têm lucro - o que permite que a solução cresça

vídeo: ted – ideas Worth sPreadingtradução: gustavo rocha. revisão: marina murarolli

Michael E. Porter escreveu vários livros sobre as modernas estratégias competi-tivas aplicadas aos negócios. Sua mais importante preocupação no momento diz respeito à interação entre a socieda-de e os interesses corporativos.

A revista Fortune define Michael Porter “o mais fabuloso e influente professor de negócios existente”. Seus livros são lidos em todo o mundo, especialmente pelos alunos de cursos ligados ao mundo dos negócios. Ele também se dedica ao

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estudo de soluções para os problemas das áreas de saúde social, a competitividade nos Estados Unidos, o desen-volvimento nas áreas rurais. A questão fundamental que o preocupa na atualidade diz respeito à atual desconexão que se percebe existir entre as corporações e a socieda-de. Porter argumenta que as empresas devem começar a conduzir um processo de renovada interação entre a so-ciedade e os interesses das corporações.

Michael Porter é professor na Harvard Business School, onde dirige o Instituto de Estratégia e Competitividade. É fundador de numerosas entidades não lucrativas desti-nadas a trabalhar na área dos problemas sociais.

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Vídeo da palestra de Michael Porter no TED

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Tradução integral da conferência de Michael Porter

Acho que todos nós sabemos que atualmente o mundo está cheio de problemas. temos escutado isso hoje e ontem e to-dos os dias durante décadas. Problemas sérios, problemas grandes, problemas urgentes. Desnutrição, falta de acesso à água, mudança climática, desmatamento, falta de habili-dades, insegurança, falta de alimentos, atenção à saúde in-suficiente, poluição. Existem problemas atrás de problemas e acho que o que realmente separa essa época de qualquer época da qual consigo me lembrar em minha breve estada na Terra é a consciência desses problemas. Todos estamos bem cientes.

Por que estamos tendo tanto trabalho para lidar com es-ses problemas? Essa é a pergunta com a qual tenho lutado, oriunda de minha perspectiva bem diferente. Não sou um profissional da área social. Sou um cara que trabalha com negócios, que ajuda negócios a ganharem dinheiro. Deus me livre! Então, por que estamos passando por tantos proble-mas com esses problemas sociais, e, realmente, existe algum papel para os negócios e, se houver, qual é esse papel? Acho que para abordar essa pergunta temos que dar um passo atrás e pensar sobre como temos entendido e ponderado tanto os problemas como as soluções para esses grandes de-safios sociais que enfrentamos.

Agora, acho que muitos encaram os negócios como o proble-ma, ou pelo menos um dos problemas em muitos dos desa-fios sociais que enfrentamos. Sabe, pensem na indústria de fast food, na indústria farmacêutica, na indústria financeira. Sabe, esse é um momento difícil em termos de respeito pelos negócios. Os negócios não são vistos como a solução.São en-carados, pela maioria das pessoas, como o problema. E isso é correto em muitos casos. Existem diversos maus agentes

por aí que fizeram a coisa errada, que de fato pioraram o problema. Assim, talvez essa perspectiva se justifi-que.De que maneira tendemos a enxergar as soluções para esses problemas sociais, essas muitas preocupações que enfrentamos na sociedade? Bem, tínhamos a ten-dência de enxergar as soluções em termos de ONGs, em termos de governo, em termos de filantropia. De fato, o fenômeno organizacional característico desta época é o tremendo aumento de ONGs e organizações sociais. Essa é uma forma organizacional nova e singu-lar que vimos crescer. Uma enorme inovação, uma enorme energia, um enor-me talento está sendo mobilizado atualmente através dessa estrutura para tentar lidar com todos esses de-safios. E muitos de nós aqui estamos profundamente envolvidos com isso.

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Tradução integral da conferência de Michael Porter

Sou professor de negócios, mas na verdade fundei, acho, quatro organizações sem fins lucrativos. Sempre que me interessei e tomei conhecimento de um problema social, que foi o que fiz, formei uma organização sem fins lucrativos. Foi a maneira que idealizamos para lidar com essas ques-tões. Até mesmo um professor de negócios pensava sobre isso dessa maneira.

Mas acho que, neste momento, temos feito isso há um bom tempo. Temos conhecimento desses problemas há décadas. Possuímos décadas de experiência com nossas ONGs e com nossas entidades governamentais e existe uma realidade estranha. A realidade estranha é que não estamos progre-dindo suficientemente rápido. Não estamos vencendo.Esses problemas ainda parecem muito assustadores e insolúveis, e quaisquer soluções que encontrarmos são soluções peque-nas. Estamos fazendo progresso incremental.

Qual é o problema fundamental que temos ao lidar com es-ses problemas sociais? Se eliminarmos toda a complexidade, temos o problema da escala. Não conseguimos avançar em larga escala. Conseguimos progredir. Conseguimos mostrar benefícios. Conseguimos mostrar resultados.

Conseguimos fazer melhor as coisas. Estamos ajudando. Es-tamos melhorando. Estamos fazendo o bem. Não consegui-mos avançar em larga escala. Não conseguimos produzir um impacto em larga escala nesses problemas. Por que isso é assim? Porque não temos os recursos. E isso está realmente claro agora. E está mais claro agora do que foi durante décadas. Simplesmente não existe dinheiro su-ficiente para lidar com qualquer um desses problemas em

escala usando o modelo atual. Não existe receita tri-butária suficiente, não existem doações filantrópicas suficientes para lidar com esses problemas da maneira como estamos lidando agora. Temos que confrontar essa realidade. E a escassez de recursos para lidar com esses problemas só está aumentando, certamente no mundo avançado de hoje, com todos os problemas fis-cais que enfrentamos.

Então, se for fundamentalmente um problema de re-cursos, onde estão os recursos na sociedade? Como esses recursos são realmente criados, os recursos que vamos precisar para poder lidar com todos esses de-safios da sociedade? Bem ali, acho que a resposta está bem clara: Estão nos negócios. Toda riqueza é, na verdade, criada por negócios.Negócios criam riqueza quando atendem a necessidades e têm lucro. É assim que toda riqueza é criada. É responder a necessidades e ter lucro, o que leva a impostos, e isso leva a renda, e isso leva a doa-ções de caridade. É daí que se originam todos os recur-sos.Somente os negócios conseguem realmente criar recursos.

Outras instituições conseguem utilizá-los para faze-rem um trabalho importante, mas somente os negócios conseguem criá-los. E os negócios os criam quando conseguem responder a uma necessidade e ter lucro. Os recursos são majoritariamente gerados por negó-cios. A pergunta então é, como podemos aproveitar isso? Como aproveitamos isso? Os negócios geram aqueles recursos quando obtêm lucro. Esse lucro é aquela pequena diferença entre o preço e o custo ne

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Tradução integral da conferência de Michael Porter

cessário para produzir qualquer solução que os negócios te-nham criado para qualquer problema que estejam tentando solucionar.

Mas esse lucro é a mágica. Por quê? Porque esse lucro per-mite que qualquer solução que tenhamos criado aumente em escala infinita. Porque se conseguirmos produzir lucro, conseguimos multiplicar por 10, 100, um milhão, 100 mi-lhões, um bilhão. A solução se torna autossustentável. É isso que os negócios fazem quando produzem lucro.

Agora o que tudo isso tem a ver com problemas sociais? Bem, uma linha de pensamento é, vamos pegar esse lucro e realocar para os problemas sociais. Os negócios deveriam oferecer mais. Os negócios deveriam ser mais responsáveis. E essa é a trajetória que temos seguido nos negócios. Mas repetindo, essa trajetória que estamos seguindo não está nos levando aonde precisamos ir.

Agora, comecei como professor de estratégia, e ainda sou professor de estratégia. Tenho orgulho disso. Mas também, ao longo dos anos, trabalhei cada vez mais com questões sociais. Trabalhei com atenção à saúde, meio ambiente, de-senvolvimento econômico, redução da pobreza, e, na medida em que trabalhava mais e mais no campo social,comecei a enxergar algo que teve um profundo impacto sobre mim e sobre minha vida toda, de certa maneira.

Historicamente, o senso comum sobre economia e a vi-são popular dos negócios tem sido que, de fato, existe um desequilíbrio entre desempenho social e desempenho econômico.O senso comum tem sido que os negócios, na verdade, produzem lucro causando um problema social.

O exemplo clássico é a poluição. Se as empresas po-luem, produzem mais dinheiro do que se tentas-sem reduzir aquela poluição. Reduzir a poluição é caro,portanto, as empresas não querem fazê-lo. É lu-crativo ter um ambiente de trabalho inseguro. É muito caro ter um ambiente de trabalho seguro, portanto as empresas ganham mais dinheiro se não tiverem um ambiente seguro. Essa tem sido a ideia convencional.Muitas empresas se enquadravam nessa ideia. Resistiam a melhorias ambientais.

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Tradução integral da conferência de Michael Porter

Resistiam a melhorias nos locais de trabalho. Essa linha de pensamento levou, eu acho, a muito do comportamento que criticamos nos negócios, que eu mesmo critico nos negócios.

Mas quanto mais me aprofundava em todas essas questões, uma após a outra, e, de fato, quanto mais tentava resolvê-las eu mesmo, pessoalmente, em alguns casos, através de or-ganizações sem fins lucrativos em que participava, mais eu descobria que, de fato, a realidade era o contrário. Os negó-cios não lucram ao causarem problemas sociais,realmente, de nenhuma maneira. Essa é uma visão muito simplista. Quanto mais nos aprofundamos nessas questões, mais co-meçamos a compreender que, na verdade, os negócios lu-cram com a solução de problemas sociais. É daí que vem o verdadeiro lucro.Vejamos a poluição. Aprendemos hoje que realmente redu-zir a poluição e as emissões está gerando lucro. Economiza dinheiro. Torna a empresa mais produtiva e eficiente. Não desperdiça recursos. Ter um ambiente de trabalho mais se-guro, e evitar acidentes, na verdade torna a empresa mais lucrativa porque é um sinal de bons processos. Os acidentes são caros e dispendiosos. Questão por questão por questão, começamos a aprender que, de fato, não existe nenhum de-sequilíbrio entre progresso social e eficiência econômica em qualquer sentido fundamental. Outra questão é a saúde. Isto é, o que descobrimos é, na verdade, que a saúde dos funcio-nários é algo que as empresas devem preservar, porque essa saúde permite que os funcionários sejam mais produtivos e venham trabalhar e não faltem. O trabalho mais profundo, o novo trabalho, o novo pensamento sobre a relação entre ne-gócios e problemas sociais está de fato mostrando que exis-te uma sinergia fundamental, profunda, particularmente se

você não estiver pensando em muito curto prazo. Em muito curto prazo, às vezes você pode se enganar ao pensar que existem metas fundamentalmente opostas, mas em longo prazo, no fim, estamos aprendendo em campo após campo, que simplesmente isso não é ver-dadeiro.

Então, como aproveitar o poder dos negócios para re-solver os problemas fundamentais que enfrentamos? Imagine se pudéssemos fazer isso, porque se pudés-semos fazê-lo,avançaríamos em escala. Poderíamos aproveitar esta enorme fonte de recursos e essa capaci-dade organizacional.

E adivinhem? Isso está acontecendo agora, finalmente, em parte graças a pessoas como vocês que levantaram essas questões ano após ano e década após década. Vemos organizações como a Dow Chemical liderando a revolução contra as gorduras trans e gorduras sa-turadas com produtos novos e inovadores. Esse é um exemplo da Jain Irrigation. Essa é uma empresa que levou a irrigação por gotejamento a milhares e mi-lhões de fazendeiros, reduzindo substancialmente o uso de água. Vemos empresas como a Fibria, empresa brasileira de silvicultura, que descobriu como evitar a derrubada de florestas antigas e, usando eucalipto, conseguir produzir muito mais polpa por hectare e fa-bricar muito mais papel do que seria possível cortando aquelas velhas árvores. Você você vê empresas como a Cisco, que está treinando, até agora, quatro milhões de pessoas em competências para TI para sim, de fato, se-rem responsáveis, mas ajudarem a expandir a oportu-nidade de disseminar a tecnologia de TI e fazer crescer

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Tradução integral da conferência de Michael Porter

negócios como um todo. Existe hoje em dia uma oportunida-de fundamental para os negócios impactarem e resolverem estes problemas sociais, e esta oportunidade é a maior opor-tunidade de negócios que vemos em negócios.

E a pergunta é como podemos adaptar o pensamento de ne-gócios a essa ideia de valor compartilhado? Isso é o que eu chamo de valor compartilhado: resolver uma questão social com um modelo de negócios. Isso é valor compartilhado. Va-lor compartilhado é capitalismo, mas é um tipo mais elevado de capitalismo. É capitalismo como deveria ser,responder a necessidades importantes, não competir incrementalmente por diferenças triviais em atributos de produtos e cotas de mercado. Valor compartilhado é quando conseguimos criar valor social e valor econômico simultaneamente. É encon-trar aquelas oportunidades que levarão à maior possibilida-de que temos de realmente resolver esses problemas sociais porque podemos avançar. Podemos abordar o valor compar-tilhado em múltiplos níveis. É real. Está acontecendo.

Mas para que essa solução funcione, temos que mudar a maneira como os negócios veem a si mesmos, e felizmente isso está a caminho. As empresas ficaram presas na ideia convencional de que não deveriam se preocupar com proble-mas sociais, de que isso era algo meio que secundário, que alguém mais estava fazendo. Agora estamos vendo empresas abraçarem essa ideia. Porém, também temos que reconhe-cer que as empresas não vão fazer isso com tanta efetividade quanto se tivermos ONGs e o governo trabalhando em par-ceria com as empresas. As novas ONGs que estão realmen-te mexendo os ponteiros são aquelas que fundaram estas parcerias, que descobriram essas maneiras de colaborar. Os governos que estão progredindo mais são os governos que

descobriram maneiras de permitir que haja valor com-partilhado nos negócios, ao invés de encararem o go-verno como o único jogador que deve dar as cartas. E o governo tem muitas maneiras de impactar a vontade e a habilidade das empresas para competirem dessa ma-neira.

Acho que, se conseguirmos que os negócios se enxer-guem diferentemente, e se conseguirmos que outros enxerguem os negócios diferentemente, podemos mu-dar o mundo. Eu sei disso. Estou vendo isso. Estou sentindo isso. Os jovens, acho eu, meus estudantes da Harvard Business School, estão conseguindo isso. Se derrubarmos esse tipo de divisão, esse desconforto, essa tensão, essa sensação de que não estamos colabo-rando fundamentalmente aqui ao manejar esses pro-blemas sociais, podemos derrubar isso e finalmente, acho, podemos ter soluções. Obrigado.

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