140
0 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO Susana Gabriela Mendes dos Santos MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA 2005

ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

0

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS

EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO

Susana Gabriela Mendes dos Santos

MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS

NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA

2005

Page 2: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

1

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

O LATIM DAS INSCRIÇÕES ROMANAS EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS

ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO

Dissertação orientada pelo

Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida

Susana Gabriela Mendes dos Santos

MESTRADO EM ESTUDOS CLÁSSICOS

NA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA LATINA

2005

Page 3: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

2

Ao Prof. Doutor António Rodrigues de Almeida, pela cadeira de Linguística

Latina, e à Prof. Doutora Esperança Cardeira, pela cadeira de História da Língua

Portuguesa, no último ano da licenciatura em Línguas e Literaturas Clássicas;

Ao Prof. Doutor Amílcar Guerra, por me ajudar a abrir a porta do

conhecimento da epigrafia romana em Portugal;

Ao orientador deste trabalho, mais uma vez o nome do Prof. Doutor

António Rodrigues de Almeida, pelos seus ensinamentos e pelo seu empenho;

Aos meus pais, amigos e colegas, que acompanharam a concretização

deste trabalho;

A todos eles,

o meu profundo e sincero agradecimento.

Page 4: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

3

Resumo

O latim das inscrições romanas no território português não foi até à data

alvo de um estudo individualizado. A única obra na qual o assunto foi tratado

analisa o latim de toda a Península Ibérica e foi publicada há pouco mais de cem

anos, estando desactualizada.

As inscrições romanas do território português estão publicadas em

diferentes obras. O Corpus Inscriptionum Latinarum continua a ser uma referência

fundamental, mas, ao longo do século XX, foram publicados novos estudos, que

actualizam leituras ou divulgam novas epígrafes. Desta forma, para caracterizar o

latim das inscrições romanas no território português, é necessário constituir um

corpus que inevitavelmente terá de incluir epígrafes provenientes de diversas

publicações.

A análise do latim das inscrições compreende aspectos fonéticos,

morfológicos, sintácticos e lexicais. São seleccionados apenas aspectos

relevantes para o estudo do texto epigráfico. O tratamento de cada um dos

aspectos está dividido numa componente teórica, na qual se faz um balanço das

conclusões da literatura científica, e numa componente prática, na qual se relatam

os dados das inscrições do território português.

O latim das inscrições do território português pode ser caracterizado como

conservador, predominando nele o respeito pela correcção da língua. Para esta

caracterização conservadora, contribui a presença de arcaísmos nas desinências

nominais e verbais, alguns no século II. Por outro lado, não deixa de manifestar, à

semelhança do latim de outras regiões, nomeadamente de Pompeios, algumas

particularidades inovadoras, como a monotongação do ditongo ae ou a oscilação

na grafia das vogais. Além destes aspectos, são ainda perceptíveis ténues

diferenças internas, visto que há fenómenos documentados apenas em algumas

regiões.

Page 5: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

4

Abstract

The Latin in the Roman inscriptions in Portuguese territory hasn’t been

object of an individualized study until the present time. The only work in which the

subject was dealt with analyses the Latin of the whole Iberian Peninsula and was

published about one hundred years ago, thus being out of date.

The Roman inscriptions in Portuguese territory are published in different

works. Corpus Inscriptionum Latinarum is still a main reference, but new studies

were published throughout the twentieth century which update readings and

divulge new epigraphs. In order to characterise the Latin of the Roman inscriptions

in Portuguese territory, it is necessary to constitute a corpus which inevitably will

include epigraphs from several published works.

The analysis of the Latin in the inscriptions includes phonetic,

morphological, syntactical and lexical aspects. Only the aspects which are relevant

for the study of the epigraphic text are selected. In dealing with each aspect, there

will be a division in a theoretical and a practical component. The first concerns a

balance of the conclusions presented in the scientific literature, while the second

concerns the presentation of the data found in the inscriptions in Portuguese

territory.

The Latin of the inscriptions mentioned above can be classified as

conservative and the conformity to correctness in the language is predominant.

The presence of archaisms in the nominal and verbal endings, some in the second

century, contributes for that classification. On the other hand, like the Latin in other

regions, namely Pompeii, it also shows some innovating particularities, such as

the monophthongization of the diphthong ae or the oscillation in the graphic

representation of vowels. In addition to these aspects, slight internal differences

are still perceptible, since there are phenomena which are documented only in

some regions.

Page 6: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

5

Palavras chave:

língua latina

epigrafia romana

território português

Portugal

análise de inscrições

Key words:

Latin language

Roman epigraphy

Portuguese territory

Portugal

inscriptions analysis

Page 7: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

6

Índice geral

Introdução 8

Capítulo I – Constituição do corpus 11 1. Delimitação de área e de época 12 2. Bibliografia existente 13 2.1. Critérios da selecção da bibliografia 13 2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das

inscrições

14 3. Constituição do corpus 15 3.1. O Sul de Portugal 16 3.2. O Centro de Portugal 17 3.3. O Norte de Portugal 22 3.4. Os miliários 24 4. Bibliografia não considerada 24 5. Organização das epígrafes para análise 25 Capítulo II – Fonética 27 1. Vogais 28 1.1. A vogal a 28 1.2. As vogais e e i 29 1.3. As vogais o e u 32 1.4. As vogais i e u 34 2. Ditongos 36 2.1. O ditongo ae 36 2.2. O ditongo au 39 2.3. O ditongo oe 41 3. Consoantes 44 3.1. A consoante b e a semivogal u 44 3.2. A consoante c e a consoante g 46 3.3. A consoante m em posição final 50 3.4. A consoante s em posição final 52 3.5. As consoantes duplas 54 3.6. Os grupos consonânticos 58 3.6.1. O grupo cs 58 3.6.2. O grupo ct 59 3.6.3. O grupo nct 60 3.6.4. O grupo ns 60 3.6.5. Os grupos ps, pt e rs 62 3.6.6. Os prefixos 63

Page 8: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

7

Capítulo III – Morfologia 67 1. Nomes 68 1.1. A declinação 68 1.1.1. O género 68 1.1.2. Os temas 69 1.2. As declinações estrangeiras 73 2. Pronomes 75 3. Numerais 77 4. Verbos 78 Capítulo IV – Sintaxe 81 1. Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos 90 6. Coordenação e subordinação 91 Capítulo V – Léxico 93 1. Derivação 94 1.1. Os prefixos 94 1.2. Os sufixos 96 1.2.1. Os sufixos nominais 96 1.2.2. Os sufixos verbais 100 2. Composição 101 2.1. A composição propriamente dita 101 2.2. A justaposição 103 3. Renovação lexical 104 4. Empréstimos 107 5. Mudanças de sentido 109 Conclusão 111 Bibliografia 113 Índice remissivo de formas documentadas nas inscrições romanas do território português

125

Anexos

Page 9: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

8

Introdução

Desde a primeira publicação da obra de Carnoy, Le latin d’Espagne d’après

les inscriptions, passaram cerca de cem anos. O Corpus Inscriptionum Latinarum

é anterior a este trabalho. Desde a publicação das duas obras, foram feitos

progressos na área do estudo da língua latina e da epigrafia.

Em relação a esta última, em Portugal, destacamos a descoberta de novos

achados, durante o século XX, alguns resultantes de novos trabalhos de

escavações, como é o caso de Conimbriga. Ao trabalho da descoberta,

associou-se o do estudo e da divulgação, mais acentuado nestes últimos vinte

anos, com a publicação de várias obras, nas quais são feitas releituras de

inscrições e edição de novas. Em alguns casos, foram divulgados monumentos

que já se julgavam perdidos, tendo sido o seu texto alvo de nova leitura, depois

de estes terem sido descobertos. Este trabalho de divulgação e releitura já foi

feito para a região sul do país, para algumas zonas da região centro e para parte

da região norte. A ele, acresce o início de uma publicação em série (Ficheiro

Epigráfico) que divulga os monumentos epigráficos encontrados.

Quanto ao estudo da língua latina, várias obras foram publicadas nos

últimos cem anos, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado acerca

da mesma. Ao nível da análise da língua latina em epígrafes, o trabalho de

Väänänen sobre as inscrições de Pompeios continua a ser um marco

incontornável.

O nosso trabalho integra-se neste panorama científico. O principal objectivo

deste estudo é caracterizar o latim das inscrições romanas em território

português, considerando que a obra de Carnoy é demasiado ampla, por

considerar toda a Península Ibérica, além de se encontrar desactualizada, visto

que, durante o século XX, foram encontradas novas inscrições e outras foram

alvo de novas leituras, como referimos.

Page 10: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

9

Esta análise do latim das inscrições do território português, permite

determinar, em relação àquilo que era a norma, se existe manutenção ou não de

correcção na língua latina, nesta zona específica; permite determinar se a

epigrafia do território português tem semelhanças com a epigrafia de outros

locais; permite determinar se existe diferenciação do território, já que a zona

correspondente a Portugal pertencia a diferentes províncias e a diferentes

conuentus; e, por último, permite determinar eventuais influências, quer

indígenas, quer gregas.

Para se proceder à análise, torna-se necessário de elaborar um corpus, já

que as inscrições romanas do território português estão dispersas por diferentes

obras. O corpus será dividido em três partes de forma a facilitar o tratamento e

apresentação dos dados, tal como a determinação de conclusões. Estas

correspondem a três grande regiões de Portugal: região sul, a sul do Tejo; região

centro, entre os rios Tejo e Douro; e região norte, a norte do rio Douro.

O trabalho está dividido em capítulos distintos consoante a matéria

apresentada. O primeiro é dedicado à constituição do corpus e aos critérios

utilizados. Nele, são justificadas opções, sobretudo ao nível da bibliografia

(selecção e apresentação), assim como é descrita a constituição do corpus e a

organização dos dados para análise. Os seguintes são dedicados à análise do

latim das inscrições. Esta análise está dividida em quatro secções: fonética,

morfologia, sintaxe e léxico. Em cada uma destas secções, são apresentados

pontos relativos à língua latina. Na apresentação de cada um deles, é feito um

balanço do que a literatura científica tem estabelecido e, seguidamente, são

apresentados os dados documentados nas inscrições romanas do território

português.

Devemos, desde já, salientar que não são abordados todos os pontos

relativos à fonética, à morfologia, à sintaxe e ao léxico da língua latina, só os mais

relevantes para a análise do texto epigráfico. Quanto à apresentação dos dados

documentados nas inscrições, a apresentação dos resultados é feita de duas

formas: quando o número de exemplos é muito grande, é feita uma descrição

Page 11: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

10

mais abreviada, salientando-se a distribuição de formas pelo território e os

exemplos mais antigos, para cada uma das zonas (sul, centro e norte); quando o

número de exemplos é mais reduzido, a sua descrição é mais pormenorizada,

fazendo-se referência às inscrições e a datas para todos os casos. A descrição

mais abreviada, no entanto, não omite dados relevantes para o ponto que está a

ser analisado.

Salientamos, ainda, que certas particularidades relacionadas com a grafia

de nomes indígenas, sobretudo, de divindades, não foram consideradas na

apresentação dos resultados. Tal deve-se ao facto de, pela sua especificidade, o

seu estudo não se integrar plenamente no âmbito do nosso trabalho, havendo

bibliografia especializada sobre o assunto.

Em relação à análise das epígrafes, resta-nos acentuar que foram

preteridas palavras que se encontravam reconstituídas, isto é, considerámos para

exemplo formas que não oferecessem dúvidas de leitura. Quando a reconstituição

não afectava directamente o aspecto que estava a ser analisado, considerámos

algumas delas.

Page 12: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

11

Capítulo I

Constituição do corpus

Page 13: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

12

1. Delimitação de área e de época

O corpus sujeito a análise é constituído por inscrições romanas

pertencentes ao actual território português.

Temos notícia de que, na sequência das Guerras Púnicas, os Romanos

chegaram à Península Ibérica em 218 a.C. (Alarcão, 1983, p. 26). Desde logo,

começaram a espalhar-se e a apoderar-se da região, por questões defensivas. O

território que corresponde a Portugal Continental começou a ser ocupado pelo

Algarve e pelo Alentejo em 202 a.C.. A conquista da totalidade do território

demorou anos, sobretudo devido à resistência dos povos autóctones, e só foi

concluída na época de Augusto. A Península Ibérica ficou conhecida como

Hispania e foi dividida administrativamente várias vezes: primeiro, em duas

províncias, depois, em três e, finalmente, entre 284 e 288, em cinco (Alarcão,

1983, p. 27, 49 e 61). Para além da divisão em províncias, o poder romano

procedeu a divisões territoriais mais pequenas: os conuentus. Deste modo, uma

província estava dividida em vários conuentus (Alarcão, 1983, p. 55), para uma

correcta e mais eficiente governação do território.

À maior parte do território português correspondiam três conuentus: o

conuentus Pacensis, o conuentus Scallabitanus e o conuentus Bracaraugustanus

(Alarcão, 1983, p. 55-56). Acontece que a definição da área a que correspondiam

estas divisões administrativas ainda hoje é discutida e os limites das fronteiras

dos conuentus ainda levantam dúvidas. Neste trabalho, vamos deixar de lado a

definição das áreas administrativas romanas. O que se irá considerar é a

totalidade do actual território de Portugal Continental, sem exaustivas

preocupações em relação aos limites dos conuentus romanos.

As inscrições a considerar para o corpus correspondem ao período que vai

desde o início da romanização até à queda do Império Romano do Ocidente, já

que o objectivo principal do trabalho é caracterizar o latim do território português.

Page 14: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

13

As inscrições de carácter cristão, paleocristãs, por apresentarem características

diferentes, não são consideradas.

2. Bibliografia existente

2.1. Critérios da selecção da bibliografia

Para se proceder ao levantamento das inscrições, houve necessidade de

recorrer a diferentes estudos epigráficos. A referência mais importante nesta área

científica é o Corpus Inscriptionum Latinarum, levantamento generalizado das

inscrições latinas, levado a cabo no século XIX. Acontece que esta obra está

desactualizada1 tendo em conta as descobertas epigráficas que ocorreram

durante o século XX, sobretudo na área portuguesa. Por este motivo, recorremos

a outras obras que, para muitas zonas, fazem uma actualização dos dados

daquela recolha. Muitas destas obras foram publicadas nos últimos anos e

correspondem a estudos epigráficos de âmbito local e regional2 (teses, catálogos

de museus, publicações municipais).

O critério utilizado na escolha destas obras foi o da autoridade. Quando

determinada zona não apresentava um estudo cientificamente seguro, utilizámos

o critério da actualidade. Desta forma, escolhemos as recolhas mais fidedignas,

ou, na sua falta, as mais recentes. Convém salientar que existem áreas que

apresentam lacunas: umas por terem sido pouco estudadas, outras por

apresentarem estudos desactualizados ou duvidosos.

1 O CIL, na área que corresponde à Península Ibérica, está a ser alvo de uma actualização. Os dados já publicados estão disponíveis, em linha, no sítio da especialidade com a seguinte morada: http://www2.uah.es/imagines_cilii/. 2 Keay, num artigo publicado no Journal of Roman Studies (2003, p. 146-211), divulga as últimas descobertas arqueológicas ocorridas na Península Ibérica e, na introdução do artigo, refere os principais títulos relativos à epigrafia do território espanhol e do território português. Este ponto da situação no âmbito das publicações epigráficas é relevante e digno de interesse. No mesmo número do Journal of Roman Studies, R. Gordon e J. Reynolds (2003, p. 212-294) mencionam as principais publicações epigráficas, a nível internacional, fazendo referência a sítios da especialidade, nos quais se pode fazer pesquisa, já que estes contêm bases de dados. Podem, ainda, ser consultados os artigos anteriores a estes, visto que, tanto num caso, como no outro, há regularidade na publicação.

Page 15: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

14

Para além das recolhas, recorremos a duas publicações em série actuais,

de forma a serem colmatadas eventuais falhas para determinadas zonas: o

Ficheiro Epigráfico, suplemento da revista Conimbriga, e “Para um repertório das

inscrições romanas do território português”, de M. M. Alves Dias, publicado na

revista Euphrosyne de 1988 a 1999. Como o Ficheiro Epigráfico continua ainda a

ser publicado, definimos o ano de 2000 como último de consulta para o

levantamento.

2.2. Apresentação da bibliografia e sistema de referência das inscrições

Antes de passarmos à descrição da constituição do corpus, convém

esclarecer alguns aspectos práticos relativos à apresentação da bibliografia.

Nas obras de carácter epigráfico é comum a utilização de abreviaturas para

designar grandes recolhas. O Corpus Inscriptionum Latinarum é um exemplo

disso e a ele corresponde a abreviatura CIL. Este sistema facilita a referência a

determinada inscrição. Por exemplo, CIL 236 remete para a inscrição 236. A

indicação de volume surge suprimida, já que recorremos, exclusivamente, ao

volume II. Para as outras recolhas é, também, utilizada uma abreviatura. De modo

a facilitarmos a leitura, quando apresentamos a obra pela primeira vez,

apresentamos, entre parêntesis3, a sua abreviatura: A ciuitas de Viseu (CV).

Desta forma, quando nos referirmos a uma determinada inscrição da recolha

basta referir CV seguido do número da inscrição: CV 98.

Visto que as inscrições do território português estão dispersas por várias

publicações, decidimos alterar também o modelo de elaboração da bibliografia

final. Em vez de apresentarmos uma listagem de todos os títulos, decidimos

agrupar separadamente as obras de carácter epigráfico que forneceram dados

para a constituição do corpus. Desta forma, é mais fácil e mais rápido identificar

3 Constituem uma excepção as abreviaturas do catálogo do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas. Estas não aparecem entre parêntesis (v. 1.3.2.).

Page 16: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

15

em que publicações estão as inscrições. Esta bibliografia do corpus é

acompanhada de uma lista das abreviaturas usadas.

Quando nos referimos a determinada inscrição, apenas utilizamos a

referência a uma obra, ou seja, não são usadas duas ou mais referências para

designar a mesma inscrição. Mesmo que a inscrição tenha sido publicada em

diferentes obras, só será designada através de uma referência de uma dessas

obras, normalmente a mais recente. Quando uma inscrição tem a referência de

que foi recolhida do Corpus Inscriptionum Latinarum (CIL) ou do Ficheiro

Epigráfico (FE) ou de “Para um repertório das inscrições romanas do território

português” (RIRP), tal indica que a inscrição só aparece publicada nessas obras.

Quando tem a referência de uma das outras recolhas, pode ter sido publicada em

várias. Para anular as repetições, elaborámos tábuas de correspondência que

podem ser consultadas nos anexos. A referência da direita será sempre a usada

para citar a inscrição.

3. Constituição do corpus

Apresentamos, agora, para cada região do país os estudos escolhidos, a

sua representatividade no mundo da epigrafia, as razões que nos levaram a

excluir algumas inscrições e o porquê de preferirmos algumas recolhas. A

informação é apresentada segundo a ordem do CIL, isto é, de sul para norte e de

forma tripartida. Na verdade, aquando da constituição do corpus dividimos as

inscrições em três grandes grupos, de forma a facilitar a sua análise e o

tratamento dos dados.

Page 17: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

16

3.1. O Sul de Portugal

Para o Sul de Portugal, região localizada a sul do rio Tejo, foi considerado,

sobretudo, um dos principais levantamentos epigráficos existentes para o território

português: Inscrições Romanas do conuentus Pacensis (IRCP). O trabalho da

autoria de J. d’Encarnação (1984) consiste no estudo das epígrafes romanas da

região a sul do rio Tejo, excluindo a margem esquerda do Guadiana, por esta se

inserir noutro conuentus, conuentus Hispalensis, e até noutra província romana, a

Bética.

Resolvemos seguir as indicações de IRCP, incluindo aquelas que fornece

em relação ao CIL, já que o CIL em relação a esta área do país foi todo revisto e

muitas informações foram actualizadas por J. d’Encarnação. Desta forma,

excluímos, como também é indicado na obra, por apresentarem uma

autenticidade duvidosa ou por não parecerem de época romana as inscrições:

CIL 10 (Encarnação, 1984, p. 39), CIL 11 (id., p. 40), CIL 57a (id., p. 294), CIL 69

(a, b) (id., p. 295), CIL 84c (id., p. 436), CIL 85c (id., p. 295), CIL 114 (id., p. 442),

CIL 115 (id., p. 443), CIL 122 (= 5189) (id., p. 443), CIL 152 (id., p. 631), CIL 153

(id., p. 632), CIL 4629 (id., p. 296), CIL 4634 (id., p. 719) e CIL 5171 (id., p. 817).

Excluída apenas por pertencer à categoria de instrumentum que J. d’Encarnação

não considera neste trabalho (id., p. 294), e não tendo nós motivo para a excluir,

resolvemos considerar no corpus a inscrição CIL 54.

Tendo sido o CIL revisto, houve inscrições pertencentes a outras zonas

que foram correctamente localizadas. Também seguimos estas indicações. As

inscrições CIL 63 (= 5225) (Encarnação, 1984, p. 294), CIL 103 (id., p. 252) e

CIL 157 (id., p. 632) pertencem à zona de Lisboa. De facto, elas já estão

presentes na recolha que temos para a cidade: Epigrafia de Olisipo (EO) da

autoria de A. Vieira da Silva (1944). A inscrição CIL 63 (= 5225) aparece com o

número 43, a CIL 103 com o número 92 e a CIL 157 corresponde a CIL 236 e

surge, em EO, com o número 50. A inscrição CIL 73 ainda teve número no

IRCP (349), mas antes da conclusão do trabalho descobriu-se que era de Vila

Page 18: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

17

Nova de Ourém (Encarnação, 1984, p. 425). A inscrição CIL 79 corresponde a

CIL 346 e é originária de Collippo, actual S. Sebastião do Freixo, perto da Batalha

(id., p. 295). A inscrição CIL 93 pertence ao concelho de Moura (id., p. 295) de

que trataremos a seguir. As inscrições CIL 4642 e CIL 4643 pertencem ao

concelho de Belmonte, distrito de Castelo Branco (id., p. 719).

Visto que a obra IRCP data de 1984, considerámos, como actualização,

inscrições publicadas posteriormente em FE e em RIRP. Para as inscrições que

foram publicadas em FE e em IRCP, deve consultar-se a Tábua de

correspondência 1, em anexo.

Para a margem esquerda do Guadiana, foram consideradas várias obras.

Como não há uma recolha que englobe todas as inscrições desta zona e como

ainda não foi publicada a actualização do CIL para o conuentus Hispalensis,

considerámos as inscrições que foram divulgadas em diferentes publicações de

modo a constituirmos um corpus bem definido para esta zona. Desta forma, do

CIL foram consideradas as inscrições: 93, 963, 968, 969, 970 e 971. De FE as

inscrições: 84, 118 e 119. De RIRP as inscrições: 1, 83, 176, 177, 191, 284, 285,

286, 287 e 288. Foi ainda utilizada a obra Arqueologia do Concelho de Serpa

(ACS) que conta com a colaboração de J. Alarcão e J. d’Encarnação (Lopes,

Carvalho e Gomes, 1997). Desta recolha, não considerámos a inscrição 41, por

ser cristã. Para anular as repetições e ajudar a clarificar a constituição desta parte

do corpus, encontra-se em anexo a Tábua 14.

3.2. O Centro de Portugal

Em relação ao Centro de Portugal, região entre o rio Tejo e o rio Douro, a

constituição do corpus revelou-se mais complicada, devido ao elevado número de

estudos existentes para esta área do território. Devemos salientar que alguns

destes estudos se encontram desactualizados e necessitam de revisão urgente. 4 Na tábua, a recolha ACS surge com interrupções na numeração. Os números que faltam correspondem a monumentos anepígrafos.

Page 19: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

18

Para o concelho de Cascais, seguimos a obra de J. d’Encarnação (2001)

Roteiro epigráfico romano de Cascais (RERC). Nesta obra, Encarnação

apresenta, como sendo do concelho de Cascais, algumas epígrafes que A. Vieira

da Silva (1944) ou não conseguira localizar com total certeza ou não localizara

correctamente. Em anexo, duas tábuas fazem a correspondência entre as

epígrafes coincidentes nas duas obras e entre as epígrafes publicadas em RERC

e em FE (v. Tábua de correspondência 2 e 3).

Em relação a Lisboa, seguimos a já mencionada obra de A. Vieira da Silva

(1944): Epigrafia de Olisipo. Esta obra, bastante desactualizada, deve ser

utilizada com precaução, já que inclui algumas inscrições de autenticidade

duvidosa e outras que, como mais tarde se confirmou, não pertencem à cidade de

Lisboa ou, até mesmo, a Portugal (Silva, 1944, p. 274-275). Por estes dois

motivos, houve algumas inscrições que rejeitámos. Por serem possivelmente

falsas, excluímos as inscrições 13, 29, 104 e 128. Por serem oriundas de Itália, as

inscrições 126 e 144. Por ser de proveniência incerta, a inscrição 141. Por se

referirem apenas a pessoas de Lisboa e serem de outros locais, as inscrições

144A a 144D.

Existem inscrições que, depois da publicação da obra, foram referidas em

outros estudos. A inscrição 120 surge em IRCP com o número 105, pertencendo

à região sul. Algumas inscrições surgem em RERC (v. Tábua de

correspondência 2). A inscrição 119 corresponde a CIL 325, integrando-se na

zona de Santarém.

Apesar de não se ter a certeza absoluta se serão de Lisboa, considerámos

as inscrições 133, 134, 136 a 140. Convém lembrar que na recolha olissiponense

surgem três inscrições que Hübner considerara serem da região sul, tal como

lembrámos na abordagem de IRCP (v. 3.1.). Estas surgem em EO com os

números 43, 50 e 92.

Page 20: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

19

O Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas tem o seu catálogo feito

por M. Cardozo5, em três artigos com diferentes datas (1956, 1958, 1961). Estes

três artigos estão reunidos no segundo volume da colectânea de trabalhos deste

autor: Obras de Mário Cardozo (1999)6. A catalogação foi feita em três fases

porque ocorreu na época de organização do museu, ao qual iam chegando

constantemente novas peças. No primeiro artigo, Cardozo (1956) adopta a

numeração da peça no museu, em caracteres romanos, não havendo uma

sequência no número das epígrafes. No segundo e terceiro artigos, Cardozo

(1958; 1961) adopta uma numeração sequencial, em caracteres árabes, à medida

que vai apresentado as inscrições. Por terem sido publicados em datas diferentes

e para não haver confusão com as numerações, apresentamos três abreviaturas

diferentes para os artigos: Odr. 1, para o primeiro; Odr. 2, para o segundo; e

Odr. 3, para o terceiro. Considerámos todas as inscrições presentes nos artigos.

Aquando do levantamento das inscrições de Odrinhas, pareceu-nos existir

uma correspondência não assinalada no artigo entre duas inscrições: CIL 297 e

Odr. 2 13. Deixamos aqui a informação.

O Museu Municipal de Torres Vedras também tem as suas inscrições

publicadas. O estudo foi feito por V. Mantas (1982) e publicado na revista

Conimbriga: “Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras” (IRTV).

As treze inscrições divulgadas pelo artigo foram consideradas para o corpus7.

Resultado das escavações efectuadas em Conimbriga, o segundo volume

da obra Fouilles de Conimbriga (FC) trata da epigrafia desta antiga localidade

romana. Passamos a explicar quais as inscrições consideradas para o corpus,

quais as excluídas e que correspondências existem.

Até à inscrição número 105, excluímos as inscrições 7 e 24, por serem de

Mérida, a inscrição 28, por ser de Ávila, e as inscrições 83 e 84, por serem

possivelmente cristãs e de data avançada (século V ou século VI). A inscrição 25, 5 As inscrições de Odrinhas foram também tratadas por J. Fontes. Uma das edições do seu estudo conta com o contributo de F. de Almeida (1979). A obra, no entanto, não inclui o texto latino, somente a tradução. 6 O primeiro artigo foi publicado pela Câmara Municipal de Sintra. O segundo e o terceiro foram publicados na Revista de Guimarães. 7 V. Mantas publicou mais três inscrições de Torres Vedras na revista Conimbriga, em 1985. Estas serão consideradas para o corpus, mas são recolhidas de RIRP.

Page 21: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

20

apesar de ser apresentada por Hübner como duvidosa (CIL 41*), é considerada

para o nosso corpus, já que a explicação a confirmar a sua autenticidade está

bastante bem fundamentada (Etienne [et al.], 1976, p. 51-52). A inscrição que

surge no apêndice I, apesar de ser de Mortágua, distrito de Viseu, também foi

considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 47-48). A inscrição 29 surge na obra de

F. de Almeida (1956), Egitânia (Egit.), com o número 143 e no trabalho de

A. P. Ramos Ferreira (2004),8 Epigrafia funerária romana da Beira Interior

(EFRBI), com o número 111.

As inscrições 106 a 111 foram excluídas por serem cristãs. A inscrição 112

foi considerada (Etienne [et al.], 1976, p. 76)9. As inscrições gravadas em peças

de cerâmica ou de vidro (113 a 305) foram excluídas, à excepção do grupo 294 a

304. A exclusão deve-se ao facto de as epígrafes serem gravadas no local de

produção dos artigos, fora de Portugal (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975; Alarcão

[et al.], 1976). O grupo que foi considerado para o corpus corresponde a produtos

originários das oficinas de Conimbriga ou de localidades da região (Alarcão,

1975).

Em relação ao grupo 306 a 443, o grupo dos grafitos, sobretudo em

cerâmica, há um aspecto que de tem de se ter em conta: se o grafito é feito antes

ou depois da cozedura. Se é feito antes da cozedura, é feito no local de produção

do artigo. Se é feito depois, é feito no local de uso e tal marca, algumas vezes,

indica o proprietário de uma determinada peça (Etienne [et al.], 1976, p. 218).

Deste grupo (306 a 443), excluímos as inscrições 322, 352, 353, 354, 355,

356 por serem grafitos feitos antes da cozedura em objectos não produzidos em

território português. Excluímos, também, as inscrições 343 e 429, por serem de

época suevo-visigótica.

Para a zona de Viseu, recorremos ao trabalho de J. L. Inês Vaz (1997)10

A ciuitas de Viseu (CV). Desta recolha, excluímos a inscrição 10, por ser uma

8 O trabalho de A. P. Ramos Ferreira corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação. 9 Esta inscrição aparece fora de ordem, surgindo entre as inscrições FC 48 e FC 49. 10 O trabalho de J. L. Inês Vaz corresponde à sua tese de doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra, em 1993.

Page 22: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

21

inscrição em língua lusitana, a inscrição de Lamas de Moledo (Vaz, 1997,

p. 188-192). Vaz (1997) recorre a muitas inscrições já publicadas no FE. Para

uma correspondência entre as duas obras, deve consultar-se a Tábua de

correspondência 4, em anexo. A inscrição FE 79 corresponde a CV 53 e a

EFRBI 218. A inscrição CV 75 corresponde a EFRBI 125.

Relativamente à zona de Castelo Branco, foram consideradas duas obras,

tratadas em simultâneo: Egitânia (Almeida, 1956) e Epigrafia funerária romana da

Beira Interior (Ferreira, 2004). A última abarca também o distrito da Guarda.

Como a obra de A. P. Ramos Ferreira é mais actual e corresponde a um estudo

que oferece segurança, preferimos segui-la nas inscrições que F. de Almeida

tinha já tratado. Para se perceber quais são as inscrições publicadas nas duas

obras, apresentamos, em anexo, a Tábua de correspondência 5. Ferreira (2004)

também divulga inscrições publicadas no FE. Para verificar as coincidentes, deve

consultar-se a Tábua de correspondência 6. Como já foi referido, a inscrição

FC 29 corresponde a Egit. 143 e a EFRBI 111, a inscrição FE 79 a CV 53 e a

EFRBI 218 e a inscrição CV 75 a EFRBI 125. A inscrição CIL 455 corresponde a

FE 101 e a EFRBI 229.

No seu trabalho, F. de Almeida (1956) tinha incluído inscrições que Hübner

considerara de natureza duvidosa11, por razões de autenticidade. Ferreira (2004)

acaba por incluir também algumas destas na sua obra. Não as considerámos para

o corpus. Deste modo, excluímos as inscrições: Egit. 3, Egit. 5, Egit. 6,

Egit. 33 (= EFRBI 68), Egit. 74 (= EFRBI 172) e Egit. 102 (= EFRBI 51). De igual

forma, por não se enquadrarem na época que pretendemos estudar, excluímos a

inscrição visigoda (Egit. 178) e as inscrições portuguesas (Egit. 179, Egit. 180).

A obra de Almeida inclui uma secção com inscrições de fora de

Idanha-a-Velha (1956, p. 255-273). Destas, só considerámos as que

correspondem a território português12 e que se integram na época a estudar: I,

11 J. M. Garcia (1991, p. 568) também analisa a autenticidade de três inscrições: Egit. 3, Egit. 5 e Egit. 6. Acaba por considerá-las falsas. 12 A numeração destas inscrições vai em números romanos para evitar confusões, como o próprio Almeida frisa (Almeida, 1956, p. 255).

Page 23: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

22

VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XVI. Para a correspondência entre estas e EFRBI,

consultar a tábua já referida, nos anexos.

Para a região centro, foram ainda utilizadas três obras de carácter geral:

CIL, FE e RIRP. Destas, seleccionámos as inscrições que não surgem em

nenhuma das recolhas apresentadas. Como já tinha sido referido na análise de

IRCP, integrámos na região centro a inscrição CIL 73. Relembramos que CIL 79

corresponde a CIL 346 e que os miliários CIL 4642 e CIL 4643 pertencem a

Belmonte, Castelo Branco (v. 3.1.).

3.3. O Norte de Portugal

Em relação ao Norte de Portugal, o levantamento foi mais complicado do

que para o Centro. Na verdade, poucos estudos existem para esta região e um

dos existentes levanta problemas.

Para a zona de Braga, recorremos a um artigo de Tranoy e Le Roux

(1989-1990) publicado em Cadernos de Arqueologia, “As necrópoles de Bracara

Augusta, B. Les inscriptions funéraires” (NBA), e ao estudo de J. M. Garcia (1991)

Religiões Antigas de Portugal (RAP). Com o primeiro pretendemos recolher as

inscrições funerárias, com a segundo as inscrições votivas desta área, já que não

existe uma recolha que as considere em conjunto ou com outro tipo de inscrições.

Em anexo, apresentamos uma lista das inscrições, consideradas para o corpus,

retiradas da obra de J. M. Garcia (1991), já que esta é de âmbito nacional

(v. Quadro 1).

Relativamente à zona de Chaves, recorremos à obra de A. Rodríguez

(1997) Aquae Flaviae (AF). Esta recolha inclui a zona de Chaves, grande parte do

distrito de Vila Real, parte do distrito de Bragança e, ainda, parte da actual Galiza.

A primeira tarefa foi excluir as inscrições localizadas em território espanhol. A

segunda foi confrontar a recolha com a obra de A. Redentor (2002) Epigrafia

Page 24: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

23

romana da região de Bragança (ERRB)13. Sendo o trabalho de Redentor mais

recente e mais fiável, preferimos segui-lo nas inscrições que Rodríguez também

trata. Desta forma, o número de inscrições levantadas somente a partir da obra de

Rodríguez ficou relativamente reduzido.

Existe em AF uma inscrição anteriormente publicada em FE. Esta inscrição

surge com o número 125 e corresponde a FE 179.

Importa referir que o trabalho de A. Rodríguez (1997) apresenta problemas.

Em primeiro lugar, graficamente não segue as normas da maior parte das

recolhas epigráficas. Em segundo lugar, as informações apresentadas nem

sempre são fidedignas. Na verdade, é frequente encontrarem-se nesta obra erros

gráficos, correspondência entre inscrições não feita, duplicação de inscrições por

uso de duas fontes distintas, informações pouco seguras em relação aos

achados, enfim, um sem número de falhas que torna a consulta da obra pouco

segura. Importa referir, também, que a obra foi utilizada com o máximo cuidado

possível, tendo nós corrigido erros gráficos, feito correspondências e anulado

duplicações, sempre que tínhamos dados seguros, fornecidos por outras obras,

como o CIL.

O trabalho de Redentor (2002), como o próprio nome indica (Epigrafia

romana da região de Bragança), trata da epigrafia bragançana e actualiza os

trabalhos efectuados pelo Abade de Baçal. A obra, entre uma série de

informações relevantes de carácter epigráfico, apresenta várias tábuas de

correspondência entre o estudo e outras recolhas (Redentor, 2002, p. 281-289).

Considerámos para o corpus todas as inscrições incluídas na obra.

À semelhança do que fizemos em relação à região centro, CIL, FE e RIRP

forneceram inscrições não presentes nas recolhas mencionadas acima. Seguindo

uma indicação de Garcia (1991, p. 566), não considerámos a inscrição CIL 2418,

originária da Aquitânia.

A zona de Miranda do Douro também foi incluída no nosso levantamento.

As inscrições consideradas foram fornecidas, sobretudo, pelo CIL. Relativamente 13 Este estudo de Redentor corresponde à sua tese de mestrado apresentada em 2000 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi elaborada sob a orientação do Doutor José d’Encarnação.

Page 25: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

24

a esta zona, foram incluídas no corpus as inscrições CIL 5657 a CIL 5661 e

AF 215. Apesar de não estudar a zona de Miranda, Rodríguez (1997) acaba por

incluir esta inscrição na sua recolha.

3.4. Os miliários

Os miliários também foram incluídos no corpus. Os que aparecem em

recolhas ficaram com a referência da recolha. Os outros ficaram com a referência

do CIL. Importa salientar que, nas vias que ligavam a actual Braga à actual

Astorga, só foram considerados os miliários que correspondem a território

português. Neste aspecto, a recolha de Rodríguez (1997) forneceu algumas

informações.

4. Bibliografia não considerada

Houve algumas partes do CIL que não considerámos para a constituição

do corpus, assim como algumas obras. Estas surgem citadas na bibliografia geral,

pois foram consultadas e podem fornecer informações a quem queira aprofundar

o assunto. De seguida, indicamos esta bibliografia não considerada e as razões

pelas quais a excluímos.

Em relação ao CIL, não considerámos inscrições de proveniência incerta, à

excepção de uma que Encarnação (1984) inclui no seu trabalho, IRCP 328. Tal

indica que também não considerámos as inscrições de lugares incertos da

Gallaecia, apesar de Rodríguez (1997) as localizar na recolha feita para a zona de

Chaves. A secção do CIL intitulada Instrumentum domesticum, por não fornecer

indicações completas acerca do local de fabrico das peças, também não foi

Page 26: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

25

incluída. As inscrições de autenticidade duvidosa ou que levantavam problemas,

assinaladas por Hübner com *, também não foram consideradas14.

Algumas recolhas de âmbito local não foram consideradas para a

constituição do corpus devido ao já elevado número de obras a partir das quais

procederíamos ao levantamento de inscrições. Além disso, a utilização destas

recolhas não iria fornecer muitos dados novos.

As publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica também não

foram consideradas. Temos consciência da importância das duas no panorama

da divulgação de textos epigráficos. No entanto, à medida que consultávamos as

recolhas utilizadas e estas publicações, percebemos que havia um elevado

número de repetições, isto é, muitas inscrições presentes nas recolhas já tinham

sido ou eram, mais tarde, divulgadas nestas publicações, sobretudo no Année

Epigraphique. Importa referir que, relativamente, aos últimos anos as inscrições

inéditas divulgadas nestas duas publicações foram, também, divulgadas no FE ou

em RIRP.

Tal como as publicações Année Epigraphique e Hispania Epigraphica, a

obra de Vives Inscripciones latinas de la Espãna Romana (1971-1972) não foi

utilizada. À semelhança das obras mencionadas, temos consciência da

importância desta no panorama epigráfico. No entanto, a obra não iria fornecer

muitos mais dados novos, em relação aos que já tinham sido recolhidos.

5. Organização das epígrafes para análise

A epigrafia tem como principal objectivo estudar inscrições. Em relação às

inscrições romanas, existe uma forma já bem definida de as apresentar. Para

além da descrição das condições em que foi encontrada a epígrafe, é descrito o

14 Algumas inscrições pertencentes a esta secção do CIL foram incluídas em recolhas. Na análise das recolhas, em 3., indicamos quais as inscrições que considerámos.

Page 27: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

26

suporte desta, feita a leitura ou a reconstituição da leitura, caso o material se

encontre danificado, e elaborado um pequeno comentário acerca dos nomes que

possam aparecer no texto. No final, costuma datar-se a inscrição.

O corpus para análise corresponde a um levantamento das inscrições

latinas em território português. Das recolhas epigráficas, foi considerado,

sobretudo, o texto epigráfico, a existência de várias leituras feitas por diferentes

autores, quando a inscrição é pouco clara, a datação e a localização. O estudo

onomástico, normalmente, foi consultado.

As inscrições foram todas inseridas em computador. Cada uma apresenta:

um número, uma referência ou referências que remetem para a obra ou obras em

que a inscrição foi publicada, a possível datação, o local onde foi encontrada e o

texto epigráfico. Para ajudar no processo de as inserir no computador, recorremos

a sítios da especialidade indicados na bibliografia. O texto da inscrição e os outros

dados foram retirados das obras epigráficas que mencionamos ou, por vezes,

retirados dos sítios e conferidos. Não houve informação, no entanto, que não

fosse confrontada com as obras epigráficas.

Page 28: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

27

Capítulo II

Fonética

Page 29: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

28

1. Vogais

O sistema vocálico latino sofreu transformações na evolução do latim para

as línguas românicas. As transformações mais profundas foram a perda de

quantidade e a alteração de timbre. Na análise que faz da evolução do sistema

vocálico latino15, Bartonek (1996, p. 117-124) conclui que a noção de quantidade

já não existiria no século V. Quanto à alteração de timbre, Väänänen (1981, p. 30)

também apresenta um esquema ilustrativo das alterações.

1.1. A vogal a

A vogal a foi das que sofreu menos transformações na passagem do latim

para as línguas românicas. A vogal mantém, regra geral, o seu timbre inalterado.

Há, no entanto, uma tendência que deve ser registada: a flutuação entre a e e, em

posição átona e antes da consoante r. Um exemplo é a oscilação entre Caesar e

Caeser. Esta tendência está documentada na epigrafia da Península Ibérica e de

Pompeios (Carnoy, 1906, p. 17-18; Väänänen, 1966, p. 19). A epigrafia de

Pompeios16 permite datar estas oscilações, pelo menos, da segunda metade do

século I. O Appendix Probi17 também as documenta, com o exemplo: cithara non

citera (Väänänen, 1981, p. 200). Os exemplos seguintes também atestam a

confusão: carcer non carcar, camera non cammara, passer non passar, anser non

ansar, nouerca non nouarca (Väänänen, 1981, p. 201-202). A palavra pássaro,

em português, confirma a opção pela versão passar e a generalização da

tendência de oscilação.

15 Segundo o mesmo autor (ibid.), na evolução do sistema vocálico, entre o século I a.C. e o século IV, há uma tendência verificável para aumentar o número de vogais longas e para baixar o de vogais breves, ao contrário do equilíbrio verificado anteriormente entre umas e outras. 16 Exceptuando alguns exemplos mais antigos, a epigrafia de Pompeios data da segunda metade do século I, sobretudo dos últimos anos que antecederam a erupção do Vesúvio em 79. 17 Flobert analisa diversos factores, de modo a precisar a data do Appendix Probi, que situa em meados do século V (1987, p. 315 e 318).

Page 30: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

29

A epigrafia do território português confirma a manutenção da vogal a.

Vários são os exemplos que registam esta manutenção: AERARIAS,

APPARVERIT, CAPITVLARIVM, DIANAE, DIARIAS, FERRAMENTA, MARITA,

PIETATIS, TRACTARE.

A oscilação entre a vogal a e a vogal e, em posição átona e antes da

consoante r, está atestada apenas uma vez, num exemplo com reconstituição da

vogal final: CAESER[I] (ERRB 128). A forma encontra-se num miliário que data do

ano 133 ou 134.

Mesmo em palavras que poderiam documentar, inversamente, a flutuação

entre a vogal a e a vogal e, a grafia que surge é a correcta: CRATERA

(IRCP 339). A inscrição a que pertence a forma não está datada.

1.2. As vogais e e i

Das quatro vogais, ĕ, ē, ĭ e ī, a vogal ĭ é a que vai ter a alteração de timbre

mais marcada, em posição tónica, aproximando-se da articulação de ē, na

passagem do latim para as línguas românicas. Esta alteração de timbre acabará

por originar oscilações na grafia entre as duas vogais. Mariné (1952, p. 21) refere

que a alteração de timbre de ĭ era comum no século III. Carnoy documenta a

confusão gráfica entre e e i, em posição tónica, na Península Ibérica e regista

exemplos já do século I18 (1906, p. 21). A epigrafia de Pompeios (Väänänen,

1966, p. 21) também apresenta exemplos desta data.

Para além do contexto de ĭ em sílaba tónica, há outras situações de escrita

de e por i. A epigrafia documenta largamente estas situações de oscilação.

Carnoy delimita vários contextos de oscilação na epigrafia da Península Ibérica.

Destes contextos, salientamos a escrita de e por i em posição pretónica, com

exemplos do século III (Carnoy, 1906, p. 22), em posição postónica, com

exemplos do século II (id., p. 23) e em posição de hiato, com um exemplo de 18 Em relação a estas duas vogais, o trabalho de Carnoy (1906) é bastante exaustivo e o número de exemplos apresentados é superior ao número de exemplos da epigrafia de Pompeios.

Page 31: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

30

finais do século I (id., p. 39). Väänänen (1966, p. 21 e 23) apresenta exemplos

mais antigos, também em diferentes contextos, embora em menor número.

Inversamente, a epigrafia também documenta a escrita de i por e. Carnoy

apresenta-a em vários contextos na epigrafia da Península Ibérica. Destes,

destacamos a escrita de i por e em posição tónica, em átona inicial livre, em

posição postónica e em posição de hiato (Carnoy, 1906, p. 32-33 e 36-38). Em

todos os casos o número de exemplos é menor do que para a escrita de e por i.

Väänänen (1966, p. 19-20) também apresenta alguns exemplos.

Carnoy apresenta ainda exemplos para a troca entre e e i em posição de

sílaba final. Para este contexto específico, são apresentados, para além de

outros, exemplos de formas verbais. As datações apresentadas correspondem ao

século II e, sobretudo, ao século III (Carnoy, 1906, p.18-19). Mais uma vez, o

número de casos de escrita de e por i é superior ao de i por e (id., p. 18-20). A

epigrafia de Pompeios apresenta exemplos já do século I, para estes casos

(Väänänen, 1966, p. 21-22).

O Appendix Probi documenta, com um grande número de exemplos, a

confusão entre as vogais e e i, em diferentes contextos. Alguns dos exemplos

são: delirus non delerus, effiminatus non imfimenatus, dimidius non demidius,

sirena non serena, senatus non sinatus, festuca non fistuca, fames non famis e

aedes non aedis (Väänänen, 1981, p. 201-202).

Na evolução do latim para o português, como já foi referido, em posição

tónica, a vogal ĕ mantém o timbre, a vogal ē também, a vogal ĭ altera o timbre,

aproximando-se do da vogal ē, e a vogal ī mantém também o seu timbre.

Exemplo desta evolução é a passagem de petram a pedra, de acetum a azedo,

de pirum a pêro e de tristem a triste.

Nas inscrições do território português, observa-se uma tendência inversa

quanto à distribuição da vogal e e da vogal i. Nestas inscrições, há mais exemplos

de escrita de i por e do que de e por i.

Quanto a exemplos da grafia e em vez de i, temos, de sul para norte: HEC

(IRCP 109), RELEGIONE (IRCP 522), CARESSIME (RIRP 54), AVEAE

Page 32: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

31

(ERFBI 16), DOMENO (RAP 50). Destes, só há indicações cronológicas para os

da zona sul e da zona centro. O mais antigo, a sul, data de finais do século II

(IRCP 109). O mais antigo, na zona centro, da segunda metade do século I

(EFRBI 16). A norte há ainda outro exemplo, sem data e com uma particularidade

gráfica, sendo os ii equivalentes a um e19: LARIIBVS (RAP 382). Para além da

vogal i, a semivogal i também surge representada com um e num exemplo,

igualmente sem data, que apresenta a mesma particularidade gráfica do anterior:

EVENTVTII (IRCP 230).

A escrita de e está, ainda, patente em nomes próprios que apresentam a

grafia i num maior número de exemplos: MARCEA (EFRBI 16), ENTARAMICO

(EFRBI 55), APONEVS (CV 8), LECENIO e LECENIANO (CV 92), BOVTEAE

(CIL 2380). Destes, destacamos o facto de dois serem nomes de imperadores

romanos, de inícios do século IV: LECENIO, LECENIANO. Em outras inscrições,

pode observar-se a grafia correcta destes nomes. Além destes, ainda surge o

nome de outro, em miliários do ano 283 ou 284: NVMEREANO (CV 87 e CV 95).

Quanto a este nome não há registos de grafia com i, já que, à excepção deste

exemplo, surge sob a forma de abreviatura.

Em relação à grafia de i em vez de e, temos, de sul para norte: MISOLIO

(IRCP 16), CALCIAMENTORVM e CALCIAMENTA (IRCP 142.4.), CONIACTIA

(IRCP 298), VTERI (IRCP 602), MAESOLIVM (EO 35), MILIS (Egit. XIII),

PRINCIPS (CIL 4816), MIIS (AF 611). Só há indicações cronológicas para os

exemplos da zona sul e da zona norte. Os mais antigos, a sul, datam de finais do

século I ou de inícios do século II e encontram-se na mesma inscrição

(IRCP 142). O mais antigo, a norte, data do ano 238 (CIL 4816), embora haja

dúvidas quanto a esta indicação.

Em alguns nomes próprios que apresentam, normalmente, a grafia e, surge

a escrita de i: AVINTINA (IRCP 41), HIRINIANA (IRCP 46), IRINAEI (IRCP 289),

NIVIVS (AF 146), RIBVRRA (ERRB 81), MISSIO (CIL 4812 e 6219). Em outros, é

visível a oscilação entre as duas vogais, estando registadas formas duplas: 19 Redentor (2002, p. 210) realça o carácter cursivo dos ii e desvaloriza a hipótese de se poder considerar uma particularidade de linguagem.

Page 33: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

32

Cilea/Cilia, Coelea/Coelia. Existe, ainda, a grafia CELEA (RAP 62). A inscrição em

que se encontra o exemplo não está datada. O nome de uma divindade também

aparece alterado com a grafia INDOVELLICO (IRCP 507, 513, 520). Não existem

indicações cronológicas para qualquer uma destas inscrições.

1.3. As vogais o e u

À semelhança do que acontece com as vogais e e i, das quatro vogais ŏ, ō,

ŭ, ū, é a vogal ŭ que, em posição tónica, tem uma alteração de timbre mais

marcada na passagem do latim para as línguas românicas, aproximando-se da

articulação de ō. Também à semelhança do que acontece com e e i, esta

alteração de timbre vai originar confusões entre a grafia de o e de u. Mariné

(1952, p. 26) refere que a oscilação está atestada em grafias do século IV e que

es exemplos de escrita de o por u são mais numerosos do que os exemplos da

escrita de u por o. Situação semelhante verificava-se com a oscilação entre e e i.

A vogal mais baixa é a que surge escrita mais vezes.

Para a Península Ibérica, Carnoy delimita outros contextos de troca entre o

e u. Destes destacamos a oscilação entre o e u em posição final (Carnoy, 1906,

p. 49-50). Mariné recorda a generalização desta tendência por todo o Império e

refere que esta ocorreu mais tardiamente do que a oscilação entre e e i na

mesma posição, apontando o século II (1952, p. 25). Carnoy apresenta exemplos

já do século I na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 49).

A epigrafia de Pompeios documenta também a confusão entre as vogais o

e u, em diferentes contextos (Väänänen, 1966, p. 27-30). Para além dos

exemplos da segunda metade do século I, Väänänen apresenta alguns do

século I a.C. (1966, p. 29-30).

Tal como acontece com as vogais e e i, o Appendix Probi apresenta um

grande número de exemplos da confusão entre o e u, em vários contextos:

columna non colomna, turma non torma, coluber non colober, formica non

Page 34: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

33

furmica, sobrius non suber e formosus non formunsus (Väänänen, 1981,

p. 200-202).

Exemplo da evolução do latim para o português das vogais ŏ, ō, ŭ e ū, em

posição tónica, é a passagem de mortem a morte, de amorem a amor, de lutum a

lodo e de nudum a nu, respectivamente.

Destacamos ainda a tendência para escrever o grupo uu como uo20, nos

casos nominativo singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-. Esta

tendência pretendia eliminar ambiguidades, por exemplo, entre o grupo uu e a

vogal ū que se grafava uu21. A grafia está documentada na Península Ibérica por

Carnoy, com os exemplos mais antigos a datarem do século I (1906, p. 52-53).

Para além desta tendência, o grupo uu surge, por vezes, abreviado: serus

em vez de seruus. Este tipo de grafias surge atestado no século I pelas inscrições

de Pompeios (Väänänen, 1966, p. 50). O Appendix Probi também documenta a

grafia abreviada: auus non aus, flauus non flaus, riuus non rius (Väänänen, 1981,

p. 200-202). Väänänen (1966, p. 49-50; 1981, p. 51) refere que o fenómeno está

relacionado com uma tendência do latim, que se verificava desde a época

arcaica, de simplificar este tipo de grupo22 e sublinha que na evolução para as

línguas românicas, em alguns casos, o u acabou por ser reposto. Um exemplo,

em português, é a evolução de seruum para servo.

Nas inscrições do território português, quanto à distribuição da vogal o e da

vogal u, dá-se uma tendência inversa à habitual, como acontece na distribuição

das vogais e e i: há mais exemplos da escrita de u por o do que de o por u.

Em relação à grafia de o em vez de u, temos três exemplos: MISOLIO

(IRCP 16), VOCTO (CV 19), FILIO (FE 241). O primeiro data da segunda metade

do século II; o segundo do século II ou século III; o terceiro de finais do século II.

20 Faria (1970, p. 121-122) refere que a grafia uo é a grafia usual até ao período dos Flávios. 21 A duplicação das vogais é uma das formas de representar a quantidade longa. Faria (1970, p. 117-118) indica que é um costume introduzido por Ácio e apresenta, como primeiro exemplo epigráfico, uma inscrição de 132 a.C.. Niedermann (1997, p. 7) situa a duplicação das vogais nos séculos II e I a.C. e menciona que esta é a imitação de uma prática usada pelos Oscos. 22 Na época arcaica, as palavras que apresentavam a semivogal u e a outra consoante recuada, o o, sofreram também uma redução: deiuos evoluiu para deus.

Page 35: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

34

Quanto à escrita de u em vez de o, temos, de sul para norte: VOTV

(IRCP 58), RENSPONSV (IRCP 484), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266),

MVNIMENTVS (CIL 266), MVNIMENTV (EFRBI 107), AVGVSTV (RIRP 18),

AFINATV (RIRP 59). Os mais antigos são os registados em EFRBI 107 e

RIRP 18: segunda metade do século I e ano 23 a.C., respectivamente. O primeiro

data de finais do século II e o terceiro, em IRCP, assim como o último (RIRP 59),

do século III. Para os outros, não existe indicação.

No que se refere à grafia do grupo uu como uo, nos casos nominativo

singular e acusativo singular dos nomes de tema em -o-, temos, como exemplos,

de sul para norte: CLAVOM (IRCP 142.4.), SERVOS (IRCP 143.10., 143.13. e

143.17.), SVOS (EFRBI 230) e FLAVOS (CIL 2502). O mais antigo é o primeiro: é

de finais do século I ou de inícios do século II. O segundo é do período entre o

ano 117 e o ano 138 e o terceiro de finais do século II. Para o último, não há

indicação cronológica.

A redução do grupo uu a u também está atestada. Temos, de sul para

norte: EVENTVTII (IRCP 230), IVAT (IRCP 270), PERPETVM (EO 41),

IVENTVTIS (AF 410, 411 e 414; CIL 4756 e 4757). O mais antigo é o terceiro:

data de inícios do século I. Na categoria dos nomes próprios, existe a variante

FLAVS a par de FLAVVS. O exemplo mais antigo data do século I (IRCP 445).

Esta forma do nome é, sobretudo, frequente a norte. Inversamente, temos a grafia

uu em vez de u: POSVVIT (FE 238), CONVENTVVS (RAP 454). Só existe

indicação cronológica do segundo exemplo: século II.

1.4. As vogais i e u

A vogal i, antes de uma consoante bilabial e em posição postónica,

apresenta a tendência para ser grafada u. Exemplo disto é a oscilação entre

optimus e optumus. Esta tendência é relativamente comum e existe um grande

número de exemplos epigráficos que a documentam. Carnoy apresenta uma série

Page 36: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

35

de exemplos na epigrafia da Península Ibérica, datando os mais antigos do

século I (1906, p. 66). A epigrafia de Pompeios também documenta esta data

(Väänänen, 1966, p. 26).

Mariné afirma que esta tendência para as duas vogais mais altas oscilarem

antes de bilabial é visível nos textos epigráficos desde o século II a.C. (1952,

p. 33). O mesmo autor afirma que se pode concluir ter sido, primeiramente, u a

grafia mais comum. A partir de dada altura, a grafia i terá começado a difundir-se

e a surgir mais vezes. Esta ideia é confirmada por Faria (1970, p. 186). Numa

época mais arcaica da língua, antes de bilabial a vogal que existia era um u. O

que terá acontecido foi a passagem desta vogal a i, como atesta uma citação de

Quintiliano. Kent (1959, p. XXII) refere que a grafia i passa a ser a norma na

época de César23. Estes dados apontam, assim, para a ideia de que a tendência

para escrever u antes de bilabial é mais antiga e a tendência para usar o i é mais

inovadora e explicam a oscilação entre as duas vogais.

Nas inscrições do território português, a oscilação gráfica entre u e i está

documentada. Comparativamente, é maior o número de exemplos em que se

optou pela grafia i antes de bilabial. No entanto, há uma série de palavras que

apresenta a grafia u: MAXVMA, MAXVMVS, com as variantes MAXSVMA e

MAXSVMVS, MAXVMINA, MAXVMINVS, OPTVMA, OPTVMVS, PIISSVMA.

Algumas destas surgem declinadas em diferentes casos. Como se pode observar

pelos exemplos, a escrita de u está predominantemente documentada apenas

antes de uma bilabial: m.

A grafia u surge em inscrições das três zonas do país. Para a zona sul, os

exemplos mais antigos são de inícios do Império e do ano 5 ou 4 a.C.: MAXVMVS

(IRCP 267) e MAXVMO (IRCP 184), respectivamente. Quanto à zona centro, dos

exemplos datados, os mais antigos são de inícios do século I: OPTVMO e

MAXVMO (FE 266). Em relação à zona norte, é reduzido o número de exemplos

datados. O mais antigo é da segunda metade do século II ou do século III:

MAXVMO (ERRB 5). No que respeita à zona sul, aquela que apresenta o maior 23 Kent já confirmara esta ideia em outra obra (1945, p. 47), na qual refere que, na época de Júlio César, se nota uma preferência, nas inscrições oficiais, pela grafia i.

Page 37: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

36

número de exemplos com data, as restantes formas são, sobretudo, do século I e

do século II. O mesmo acontece em relação aos exemplos datados da zona

centro.

É vulgar na mesma inscrição mais do que uma forma com a grafia u:

IRCP 594, FC 67, FE 266, RAP 341, AF 414. Tal deve-se ao facto de as palavras

que apresentam contexto para a grafia de u surgirem, muitas vezes, em conjunto:

OPTIMVS MAXIMVS.

Existe, ainda, outro exemplo que documenta a oscilação gráfica entre u e i,

mas esta não se dá em posição postónica: LVBEN[S] (EO 144E). A inscrição em

que se encontra não está datada.

Inversamente, a grafia da palavra monumentum também apresenta uma

oscilação gráfica. Existem seis formas que apresentam a grafia i24 em vez de u,

registando estas simultaneamente alterações na escrita da primeira vogal

(v. 1.3.). Temos, por ordem alfabética: MONIMENTVM (EFRBI 88; EFRBI 230),

MVNIMENTV (EFRBI 107), MVNIMENTVM (IRCP 468; CIL 266), MVNIMENTVS

(CIL 266). O exemplo mais antigo é da primeira metade do século I (EFRBI 88).

2. Ditongos

2.1. O ditongo ae

O ditongo ae corresponde à evolução de ai. Em indo-europeu existia o

ditongo ai, que se mantém em latim na época arcaica (Faria, 1970, p. 171). A

partir do século III a.C., esta grafia altera-se para ae25. Vários exemplos da

epigrafia documentam a forma arcaica do ditongo26 e os gramáticos latinos

confirmam, igualmente, a pronúncia. Mais tarde, numa atitude de

24 Não estamos a incluir nestes a forma abreviada que surge em IRCP 566. 25 Faria e Niedermann tomam posições diferentes em relação a esta data: o primeiro (1970, p. 171) indica o século II a.C. como o século da transformação; o segundo (1997, p. 59) o século III a.C.. 26 Um dos exemplos epigráficos encontra-se no Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C.. Niedermann, no entanto, defende que a grafia ai, nesta inscrição, já não corresponderia à realidade fonética (1997, p. 60).

Page 38: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

37

conservadorismo linguístico e de gosto pelas formas arcaicas, a forma ai é

recuperada por alguns escritores e o imperador Cláudio exige que o seu título

seja escrito Caisar.

A forma ae está atestada pelos gramáticos, com o registo da pronúncia.

Paralelamente, há notícias de que, em algumas regiões rurais, o ditongo começa

a ser pronunciado de forma diferente: e. Esta tendência tende a difundir-se,

sobretudo nas classes mais populares (Faria, 1970, p. 172), e, rapidamente, o

ditongo é pronunciado, cada vez mais, como se se tratasse de uma vogal só27.

Niedermann aponta o início do século II a.C. como data da transformação e

comprova-a com exemplos das peças de Plauto28 (1997, p. 59). Exemplos da

evolução de ae para e também estão presentes nas inscrições de Pompeios

(Väänänen, 1966, p. 23-24), sendo os mais antigos do século I a.C.. Kent (1959,

p. XIX) refere que há exemplos da monotongação em inscrições rurais bastante

antigas e refere que esta tendência se generaliza, sobretudo, depois de finais do

século I. Carnoy (1906, p. 71-72) apresenta, para a Península Ibérica, exemplos,

sobretudo, do século II.

O e resultante da monotongação de ae é diferente dos outros e latinos:

trata-se de um ē aberto, ao contrário do ē primitivo, que era fechado, e do ĕ

primitivo, que era aberto. A grafia ae mantém-se, por vezes, para distinguir este

som diferente, mas as formas em que ae é substituído por e, à medida que o

tempo passa, começam a ser cada vez mais comuns.

A grafia ae vai servir ainda para registar as palavras importadas. Nas

palavras em que o som ē aberto se verifica, os latinos optam por grafá-lo com ae

(ex.: scaena, raeda). Em relação aos empréstimos gregos, a grafia ae é utilizada

para representar este som desde a época arcaica. Biville (1987, p. 13) apresenta

um exemplo de Névio. O mesmo autor (1987, p. 17) refere que a grafia ae está

atestada para empréstimos gregos desde o início do século II a.C., em inscrições.

27 A monotongação do ditongo ae tem paralelo no úmbrico, já que ai indo-europeu evoluiu, nessa língua, para e. 28 Plauto era natural da Úmbria.

Page 39: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

38

Com a perda de noção de quantidade das vogais, há notícias de que as

pessoas começaram a confundir o ē aberto com o ĕ e o ē. Uma prova disso é o

esforço dos gramáticos na distinção entre aequus e equus (Niedermann, 1997,

p. 61). Outra prova é a substituição, em epigrafia, de ĕ e de ē por ae, já no

século I (Carnoy, 1906, p. 71-72; Väänänen, 1966, p. 24-25).

A redução de ae a e está patente na evolução do latim para as línguas

românicas (Väänänen, 1981, p. 38). Um dos exemplos é a passagem de caelum a

céu, em português.

Nas inscrições do território português, temos exemplos da grafia arcaica do

ditongo ae. Três exemplos encontram-se na mesma inscrição, de Lamego, sem

data: IVLIAI, MARCELLAI e SCAIVIVS (CIL 5251). Exemplo datado é o de uma

inscrição da zona sul, do século III29: QVAI (IRCP 430). A manutenção da forma

arcaica do ditongo está, também, presente nas formas duplas de nomes:

Ammaia/Ammaea, Caino/Caeno, Maila/Maela, Mailo/Maelo. Estes estão

registados na zona sul e centro. A grafia ai está, ainda, presente em nomes de

divindades de carácter indígena que surgem apenas uma vez no corpus:

OILIENAICO, PAISICAICOEO, SAISABRO, TIAVRANCEAICO. Apontamos uma

forma curiosa, já que apresenta o ditongo num contexto em que não era

esperado: MAIRITO (AF 247).

A manutenção do ditongo ae, na grafia, é predominante: FILIAE, MARITAE,

MAXIMAE, MERENTISSIMAE, PIAE, PIENTISSIMAE, PIISSIMAE, PIISSVMAE,

SANCTAE. Há, no entanto, formas que documentam a sua monotongação:

AEMERITE, CARESSIME, CARISSIME, DEE, DESIDERATISSIME, FILIE,

KARISSIME, LEDERE, MARITE, MERENTISSIME, PATRIE, PIENTISSIME,

PIISSIME, QVE, SANCTE, SVE, TRIBVNICIE. Estas formas são mais frequentes

a sul do Tejo, mas também surgem em inscrições do Centro e do Norte de

Portugal. O exemplos datados mais antigos são: MARITE, para a zona sul, da

segunda metade do século I (IRCP 585); CARESSIME, para a zona centro, de

finais do século II ou da primeira metade do século III (RIRP 54) e CARISSIME,

29 A mesma inscrição apresenta uma forma que documenta a monotongação do ditongo ae: SVE.

Page 40: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

39

para a zona norte, da segunda metade do século I ou da primeira do século II

(NBA 2.6.). É frequente mais do que uma forma monotongada na mesma

inscrição: IRCP 114, IRCP 181, IRCP 566, FE 102a, NBA 5.1.. Nos nomes

próprios, também há registo da monotongação de ae. Esta é mais comum na

zona centro e norte: AVITE (FC 36), CELI (CV 39), CECILIVS (NBA 5.1.).

No registo de empréstimos gregos, a grafia ae está atestada numa

inscrição, do ano 57: PROSCAENIVM (EO 70).

Inversamente, a epigrafia documenta a escrita de ae por e. Temos, de sul

para norte: AEMERITE (IRCP 114), do século III; NAERVAE (CV 94), do ano 213

ou 214; e DAEAE (RAP 570), sem data.

2.2. O ditongo au

O ditongo au provém do indo-europeu au. A forma indo-europeia

mantém-se em latim, mas em algumas línguas itálicas evolui para um o fechado30

(Faria, 1970, p. 172). Esta característica regional afecta a pronunciação do

ditongo em latim e há notícias de que em alguns casos au é pronunciado como

o31. Um dos exemplos é a forma auriculas pronunciada, por vezes, como oriculas

(Väänänen, 1981, p. 39). Esta tendência é datada por Väänänen (1966, p. 31),

recorrendo a um estudo de Jeanneret sobre inscrições de Roma, do século I a.C..

A epigrafia de Pompeios também documenta a grafia o e situa-a na segunda

metade do século I (Väänänen, 1966, p. 31). Carnoy (1906, p. 85) apresenta um

exemplo do final do século II. A redução de au a o acaba por estar presente na

evolução do latim para as línguas românicas. No Appendix Probi, temos a

referência auris non oricla (Väänänen, 1981, p. 201) e, em português, a evolução

de auriculam para orelha.

30 Faria (1970, p. 172) refere o úmbrico, o prenestino e o falisco como as línguas em que au se reduz a o. 31 Väänänen (1966, p. 30-31) define dois contextos para a monotongação em latim: palavras que designam objectos do campo e nomes em diminutivo.

Page 41: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

40

Ao mesmo tempo que a redução de au a o surge em algumas formas

latinas, há uma preocupação conservadora de travar esta tendência. Devido a

esta preocupação, surgem hiperurbanismos, ou seja, palavras restauradas pela

classe culta de Roma. Nas palavras que se pronunciavam com o, recupera-se a

pronúncia au. Tentava-se, desta forma, combater na cidade a tendência rural de

monotongação (Faria, 1970, p. 172-173; Niedermann, 1997, p. 66). Um caso

exagerado destes é a pronúncia e a escrita de scauria em vez de scōria

(Niedermann, 1997, p. 66). A palavra corresponde à adaptação do vocábulo grego

(Carnoy, 1906, p. 86).

Apesar de esta característica regional para a redução de au em o, o

ditongo au está bem patente em latim e a sua pronúncia atestada. A transcrição

de palavras latinas em grego também confirma a pronúncia de au como um

ditongo (Faria, 1970, p. 75).

Na passagem para as línguas românicas, au foi o ditongo latino que mais

se conservou, havendo exemplos da manutenção de au em várias línguas

(Väänänen, 1981, p. 39). Em português, evoluiu, regra geral, para ou. Exemplifica

esta situação a passagem de audire a ouvir, de aurum a ouro e de taurum a touro.

Convém salientar que, em alguns casos, este ditongo ou, resultante da evolução

de au, em português, oscila com oi: oiro, toiro.

Nas línguas românicas, regista-se ainda a evolução de au para a. Tal

situação ocorre quando o ditongo, em posição inicial, corresponde a uma sílaba

átona e a sílaba seguinte é tónica e contém um u (Faria, 1970, p. 173; Väänänen,

1981, p. 39). Exemplo do processo é a palavra Agosto, em português. A

dissimilação neste contexto verifica-se, primeiramente, em latim, já que um

gramático do século II aconselhava a forma auscultare em vez de ascultare

(Niedermann, 1997, p. 67). A epigrafia também documenta este processo,

havendo exemplos de Pompeios da segunda metade do século I (Väänänen,

1966, p. 32) e da Península Ibérica do século II (Carnoy, 1906, p. 87).

Page 42: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

41

A epigrafia do território português confirma a manutenção do ditongo au:

AVGMENTVM, AVGVSTANVS, AVGVSTVS, AVRAVIT, AVT, CAVSA,

CLAVDIVS, FAVSTVS, TAVRVM.

Quanto à redução do ditongo au a o, não há registos a documentar esta

tendência no território português. No entanto, está atestada a tendência inversa

para grafar o ditongo em contexto onde seria esperado o. Temos, na mesma

inscrição, de finais do século I ou inícios do século II, três exemplos:

SCAVRARIORVM, SCAVREIS, SCAVRIAE (IRCP 142.7.). Os vocábulos

pertencem à mesma família de palavras. Os dois últimos correspondem a duas

formas da palavra scauria. O primeiro corresponde a uma palavra derivada desta.

A palavra scauria deveria ser grafada, como se refere acima, com o.

Em relação à redução de au a a, temos um exemplo, do ano 275, registado

no Centro de Portugal: CLADIO (FE 102a). Apesar de o exemplo não

corresponder ao contexto em que se dá a redução, fica registada a forma pela

sua singularidade.

Um exemplo curioso e fora do comum é a grafia do ditongo au como ae:

MAESOLIVM (EO 35). Este exemplo, sem data, pode ser associado a um outro,

da segunda metade do século II: MISOLIO (IRCP 16). A grafia i pode ser

entendida, neste caso, como uma redução do ditongo ae. O ditongo ae terá sido

entendido como monotongado em e e este e foi confundido, pelas alterações de

timbre existentes, com um i.

2.3. O ditongo oe

O ditongo oe corresponde à evolução de oi. O ditongo oi do indo-europeu

mantém-se em latim arcaico, como está atestado em várias inscrições latinas. Os

gramáticos também confirmam a existência do ditongo na forma oi (Faria, 1970,

p. 175).

Page 43: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

42

Niedermann (1997, p. 61) defende que o ditongo passa a oe na mesma

época em que ai passa a ae32. Depois desta mudança, o mesmo autor afirma que

o ditongo, nuns casos, mantém a grafia, noutros, o que corresponde à maior parte

das situações, evolui para ū (Niedermann, 1997, p. 61). Esta última evolução terá

ocorrido a partir do início do século II a.C.. Niedermann (1997, p. 62) confirma

esta data, recorrendo à grafia do Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C., e a

formas das últimas peças de Plauto.

Com a evolução do ditongo oe para ū, poucas foram as palavras de origem

latina que o conservaram. Faria (1970, p. 176) refere que oe se mantém apenas

em palavras pertencentes à linguagem técnica de certas áreas.

A grafia oe era utilizada, também, para registar palavras importadas do

grego: comoedia, tragoedia. Nos empréstimos gregos, esta grafia foi usada

durante bastante tempo. Há exemplos de Plauto a Plínio (Biville, 1987, p. 19), ou

seja, do século III a.C. ao século I. Oe registava, desta forma, o ditongo grego .

Faria (1970, p. 75) refere que este processo é um sinal de que oe, nos casos em

que era grafado, era pronunciado como um ditongo.

À semelhança do que acontece com o ditongo ae, o ditongo acaba por

monotongar. Deixa de ser pronunciado como oe e começa a ser pronunciado

como se fosse uma vogal apenas: ē fechado, à semelhança do ē primitivo. Antes

da monotongação em e, Niedermann (1997, p. 63) aponta uma fase intermédia de

monotongação em o, apenas na pronúncia, não afectando a grafia, e data-a de

inícios do século II a.C.. Väänänen (1966, p. 25; 1981, p. 38) refere que o

processo é posterior à monotongação de ae em e e apresenta exemplos nas

inscrições de Pompeios, ou seja, da segunda metade do século I. Na epigrafia da

Península Ibérica, Carnoy (1906, p. 84) apresenta, como exemplo mais antigo,

uma forma também da segunda metade do século I. Depois de os ditongos ae e

oe terem monotongado em e e depois de o e resultante da monotongação de ae

se ter começado a confundir com os outros, começou também a haver oscilação

na grafia de ae e oe. Quando se devia escrever ae, escrevia-se oe e, quando se

32 Niedermann (1997, p. 59) aponta o século III a.C. como a data do fenómeno (v. nota 25).

Page 44: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

43

devia escrever oe, escrevia-se ae. Biville (1987, p. 19) ilustra esta confusão com a

grafia de empréstimos gregos, numa época mais tardia.

A monotongação de oe em e está patente na evolução do latim para as

línguas românicas. Poenam, por exemplo, em português, passa a pena.

Nas inscrições do território português, os registos da grafia oi restringem-se

a nomes próprios ou de divindades indígenas. A grafia é muito mais frequente a

sul do que no centro ou a norte. De nomes próprios, existem os exemplos, todos

registados a sul: COILICVS, COIMIA, EVNOIDE, LETOIDES, TROILVS33. De

divindades indígenas, o exemplo não datado: OILIENAICO (CV 18). Os exemplos

mais antigos são de inícios do Império: COILICVS (IRCP 139), COIMIA

(IRCP 131). Um exemplo curioso é a grafia oi onde se esperaria ai, embora este

caso seja diferente, já que i corresponde à semivogal: TROIANI (CV 103),

TROIANVS (CV 101). As duas datam do período entre o dia 10 de Dezembro de

120 e o dia 9 de Dezembro de 121.

A manutenção do ditongo oe, na grafia, está registada, sobretudo em

nomes próprios: AMOENA, AMOENVS, BLOENA. Os dois primeiros estão

registados, sobretudo, na zona centro, embora haja alguns registos a sul. O

terceiro surge, apenas, na zona norte. O ditongo oe está, ainda, atestado em

formas verbais do verbo coepi, como COEPERIT (IRCP 143.4.) e COEPTVM

(IRCP 142.1. e 142.7.), e no vocábulo POENAS (IRCP 647). No registo de

empréstimos gregos, a grafia oe está atestada no exemplo POETA

(IRCP 482d-e), sem data. Um exemplo curioso é o da forma AMOENE, do

século II (EFRBI 67). Esta apresenta a monotongação do ditongo ae e a

manutenção de oe.

A monotongação do ditongo oe está reduzidamente documentada. Temos

dois exemplos na região norte: AMENA (CIL 5570), BLIINA34 (ERRB 31). Só há

indicação cronológica para o segundo: século II ou século III.

33 Salientamos o cariz grego de LETOIDES (IRCP 431) e de EVNOIDE (IRCP 572), com o ditongo oi a grafar o correspondente grego. Só o primeiro exemplo está datado: segunda metade do século II (v. Cap. III, 1.2.). 34 Sobre o valor dos ii, remetemos para o ponto 1.2. deste capítulo.

Page 45: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

44

Poder-se-ia considerar as seguintes formas como um resultado da

oscilação gráfica entre os ditongos ae e oe: COELEA, COELIA, COELIVS. No

entanto, a etimologia celta destes nomes (Albertos, 1966, p. 91) e a existência de

formas como Coilia (Abascal, 1994, p. 115) parecem afastar a hipótese.

Salientamos que estas formas surgem, sobretudo, em inscrições da zona centro e

que o exemplo mais antigo é a forma COELEA, registada uma vez no século I

(EFRBI 43) e duas na segunda metade do século I (EFRBI 65; EFRBI 104).

Também está registado o derivado COELIANVS (CIL 259), numa inscrição sem

data (v. Cap. V, 1.2.1.).

3. Consoantes

3.1. A consoante b e a semivogal u

No século I, a consoante b, entre vogais, deixa de se articular como era

costume e passa a ter o som de uma fricativa bilabial sonora: [] (Niedermann,

1997, p. 87). Na mesma época, a semivogal u, entre vogais, passa a

pronunciar-se também como uma fricativa bilabial sonora, desfazendo o hiato

entre as vogais. Esta alteração de pronúncia da consoante e da semivogal vai

originar uma confusão entre as duas, documentada ao nível da grafia. A

consoante b passa a ser escrita em palavras que era normal grafar com u e o

contrário também acontece. A epigrafia documenta esta confusão já no século I

(Niedermann, 1997, p. 88). Da mesma forma, a confusão também se dá quando b

ou u estão em posição inicial e a palavra anterior termina em vogal. Outras vezes,

a terminação da palavra anterior é irrelevante, registando-se a oscilação entre b e

u, em início de palavra, independentemente desse contexto. Para o primeiro

destes casos, Niedermann (1997, p. 88) apresenta exemplos epigráficos.

Väänänen (1966, p. 50-51) e Carnoy (1906, p. 128-133) apresentam exemplos

Page 46: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

45

epigráficos para diferentes contextos35. O Appendix Probi também documenta as

confusões gráficas entre a consoante b e a semivogal u em diferentes contextos:

baculus non uaclus, uapulo non baplo, plebes non pleuis, tabes non tauis,

tolerabilis non tolerauilis (Väänänen, 1981, p. 200-203).

Na evolução do latim para as línguas românicas, à excepção de algumas

zonas, esta transformação da pronúncia da consoante e da semivogal vai mais

longe ainda, tendo a fricativa bilabial sonora passado a []36, em ambos os casos.

Deste modo, a grafia v passou a representar a semivogal latina u e a consoante b.

Um dos exemplos é a evolução de iuuenem para jovem e de probare para provar,

em português. Em posição inicial, houve a tendência para conservar a grafia b:

bibere evoluiu, em português, para beber e bonum para bom.

À semelhança dos contextos já citados, a consoante b e a semivogal u

também sofreram alteração na pronúncia depois de l e de r, mas, neste contexto,

a tendência foi para grafar as palavras com b. Algumas formas das línguas

românicas documentam esta tendência excepcional de prevalência de b

(Väänänen, 1981, p. 51; Niedermann, 1997, p. 110-111). O Appendix Probi já

recomendava alueus non albeus (Väänänen, 1981, p. 201).

Nas inscrições do território português, vários são os exemplos que

documentam a manutenção da grafia da consoante b e da semivogal u, entre

vogais. Para documentar o primeiro contexto, temos exemplos como: AMABILI,

CONLIBERTO, DEBENT, HABERE, INCOMPARABILIS, INPVBERES, LIBENS.

Para documentar o segundo, temos: AVIA, AVVNCVLO, CIVITAS, CVRAVIT,

DIVVS, EVENTVM, IVVENTVTIS.

A grafia da consoante b em vez da semivogal u está atestada. Os

exemplos existentes restringem-se a um nome de uma divindade e a um nome

próprio. Em relação ao primeiro caso, temos ENOBOLICO (IRCP 519) por

35 Os exemplos de Väänänen são das inscrições de Pompeios, ou seja, da segunda metade do século I. Carnoy apresenta exemplos do século III. Kent (1945, p. 61) situa só no século III a confusão entre a consoante b e a semivogal u. Este autor refere que ambas se foram transformando e só no século III se pronunciavam da mesma maneira, o que levou os gramáticos a sentirem necessidade de corrigir e de esclarecer os falantes. 36 Väänänen, apoiado em Lausberg, indica a data do século II para esta transformação (1981, p. 50).

Page 47: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

46

ENDOVELLICO numa inscrição sem data. Quanto ao segundo, temos três formas

do mesmo nome: LOBESA (IRCP 459), LOBESSA (FC 62) e LOBESSAE (FC 56).

Os exemplos datam do século I, do século II e de finais do século II,

respectivamente. Na epigrafia romana de Portugal, existem nomes próprios como

Louesius e Louesia. Os exemplos com b parecem ser, desta forma, variantes

destes nomes. Palomar (1957, p. 77-78) e Albertos (1966, p. 136-137) confirmam

esta ligação. Um outro possível exemplo é a grafia, numa abreviatura, de b em

contexto de u: B(otum) A(nimo) L(ibens) S(oluit) (IRCP 374). Pelo contexto, a

grafia esperada seria u, como abreviatura de uotum. Não há indicação

cronológica para a inscrição.

A grafia da semivogal u pela consoante b está atestada numa inscrição em

muito mau estado. Nesta, surge a forma NOVI[LI]SSIMVS, com a reconstituição

de uma sílaba interior, por NOBILISSIMVS. A inscrição data do período entre o

ano 293 e o ano 305 (AF 422).

Em relação à tendência para grafar b em detrimento de u depois da

consoante l ou da consoante r, não há exemplos a registar nas inscrições do

território português.

3.2. A consoante c e a consoante g

Primitivamente, o som [k] chegou a ser grafado de três maneiras: com c,

quando seguido de i ou e (ex.: citra, censor): com k, quando seguido de a ou

consoante (ex.: kaput, sakros); e com q, quando seguido de o ou u (ex.: qomes,

qura) (Niedermann, 1997, p. 9).

Este sistema de representação gráfica simplificou-se e o som [k] passou a

grafar-se, geralmente, com c, excepto quando era seguido de [u] e vogal. Nestes

casos, a grafia usada era q: aqua. Além do som [k], a grafia c representava o som

[g], ou seja, a mesma grafia representava as consoantes oclusivas palatais surda

e sonora.

Page 48: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

47

No século III a.C., esta situação alterou-se. Ao C acrescentou-se um traço

e criou-se a grafia G. Desta forma, a consoante oclusiva palatal surda continuou

com a grafia C e a consoante palatal sonora começou a grafar-se com G. Esta

inovação é atribuída a Espúrio Carvílio Ruga cerca do ano 293 a.C., mas também

há quem defenda que o seu autor foi Ápio Cláudio (Kent, 1945, p. 36-37; Faria,

1970, p. 58). Um vestígio que ficou da época em que os dois sons tinham uma

grafia comum foi a manutenção das abreviaturas C. e Cn. para Gaius e Gnaeus.

Apesar de o som [k] e de o som [g] começarem a ter uma grafia própria,

muitas pessoas ainda grafavam, de forma errada, o som [g] com c. A epigrafia

documenta estas incorrecções e também uma confusão generalizada entre a

grafia das duas consoantes (Carnoy, 1906, 153-154; Väänänen, 1966, p. 53).

Depois da época de grafia comum, algumas pessoas fariam confusão e grafavam

o c com g e o g com c. Além de situar este fenómeno na segunda metade do

século I, a epigrafia de Pompeios mostra ainda a tendência para, nos

empréstimos gregos, se usar g em vez de c. Biville (1987, p. 25) refere que este é

um processo comum durante alguns séculos. O autor afirma que se trata de uma

sonorização ocasional, delimita o seu contexto37 e apresenta exemplos desde

Plauto até ao século IV. O Appendix Probi documenta a confusão entre as grafias

c e g, incluindo os casos dos empréstimos gregos: calatus non galatus, digitus

non dicitus, plasta non blasta (Väänänen, 1981, p. 201-202).

Na evolução do latim para as línguas românicas, a consoante c, em

posição intervocálica, tem tendência a sonorizar, à semelhança do que acontece

com as outras consoantes oclusivas surdas38. O século V é apontado como a data

da sonorização (Dottin, 1918, p. 47; Väänänen, 1981, p. 57). Um exemplo é a

passagem de securum a seguro, em português.

Nas inscrições do território português, temos grafias semelhantes às

antigas grafias que representavam o som [k], como a grafia k que, na zona norte,

surge em KARISSIME (CIL 5559), numa inscrição sem data. Em outras duas

37 A sonorização ocorreria quando o som [k] entrava em contacto com as vogais a, o ou u ou com as consoantes l, r, m ou n (Biville, 1987, p. 25). 38 É uma excepção a este contexto a consoante c seguida de e ou i.

Page 49: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

48

inscrições, temos a letra k como abreviatura de palavras em que se esperaria a

grafia c: K(apita) (IRCP 142.2.), K(urauit) (CV 60). Só existe indicação cronológica

para o primeiro: finais do século I ou inícios do século II. Importa salientar que, no

caso do segundo exemplo, a grafia é inesperada, já que k só era usado antes da

vogal a ou antes de consoante. A grafia k surge, ainda, na abreviatura K(alendas).

Com a grafia q, temos exemplos fora do comum, já que q surge antes de i: QIS

(AF 611), SALQIV (RIRP 13), TRANQILLI e TRANQILLO (EFRBI 14). A indicação

cronológica mais antiga corresponde aos últimos: primeira metade do século I.

À excepção dos casos apresentados, a grafia do som [k] mantém-se dentro

dos parâmetros normativos: c, para a maioria dos contextos; q, antes de [u] e

vogal. Exemplos são: ARTIFICES, BARCARVM, CONCORDIAE, DELICIVM,

FACVNDVS; AQVAE, QVIRINA. Paralelamente, a grafia de g surge de forma

clara: COGITATA, DELIGANDA, FRIGIDVS, LEGEM, SINGVLA. É de salientar a

grafia QVIVS em vez de CVIVS. Esta oscilação gráfica entre q e c no genitivo

singular do pronome relativo está atestada na zona centro: IRTV 7 (v. Cap. III, 2.).

O exemplo data da primeira metade do século I. Uma hipótese que poderá

justificar a oscilação, neste caso particular, é a interpretação do i como uma vogal

e não como uma semivogal.

Apesar de os sons [k] e [g] apresentarem grafias próprias, estão

documentadas oscilações na sua representação. Uma das oscilações é visível

nas abreviaturas. Além de surgirem as formas C. e CN., surgem G. e GN. como

abreviaturas de Gaius e Gnaeus.

Em relação a G., a grafia surge como abreviatura de Gaius nos três casos:

nominativo, genitivo a dativo. O mesmo acontece com C.. No entanto, os

exemplos com C. são em maior número, em qualquer um dos três casos, ou seja,

C. é a grafia preferencial e G. surge num menor número de inscrições. A grafia G.

está atestada em todo o território português de um modo, em geral, uniforme,

existindo exemplos em número semelhante para cada uma das zonas. A sul, os

exemplos mais antigos datam de inícios do Império (IRCP 267) e de inícios do

século I (IRCP 425 e 428). Na zona centro, os mais antigos datam de inícios do

Page 50: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

49

século I (FE 222) e da primeira metade do mesmo século (RERC 13) e, a norte,

do ano 80 (CIL 4803) e de inícios do século II (FE 196). Por vezes, surge mais do

que uma forma na mesma inscrição: IRCP 664; RERC 13 e 21; CIL 4756, 4757 e

6228. Também acontece, na mesma inscrição, estarem documentadas as duas

abreviaturas C. e G.: IRCP 151. Existe, ainda, um caso em que o nome surge

grafado com g, sem abreviatura: GAIVS (CIL 4816). Há dúvidas na datação da

inscrição. No entanto, é apontado o ano de 238.

Quanto a GN., os dois únicos exemplos surgem na mesma inscrição:

IRCP 580. A abreviatura é usada em dois contextos diferentes: no caso

nominativo e no caso genitivo. A inscrição data do século I. Tal como acontece

com C. e G., há mais exemplos de CN. do que GN..

Outra situação de oscilação entre a grafia c e a grafia g está documentada

nos nomes próprios, estando registadas formas duplas: PAGVSICV /

PAGVSIGAE, TANCINVS / TANGINVS, TONCETA / TONGETA, TONCIVS /

TONGIVS, VALCIA / VALGIAE. Os exemplos estão atestados, sobretudo, na zona

centro. Em relação à oscilação entre -brig- e -bric-, na designação de localidades,

não temos um exemplo directo. A oscilação é visível apenas comparando a

designação da localidade com a designação dos habitantes: CONIMBRICA

(FC 71), da segunda metade do século II, e CONIMBRICAE (FC 6 e 10), da

primeira metade do século I e de finais do século I ou de inícios do século II,

respectivamente; CONIMBRIGENSIS (EFRBI 111), do século I.

Um último caso que documenta a oscilação entre a grafia c e a grafia g é a

forma GOGNATIO por COGNATIO. A forma encontra-se numa inscrição, não

datada, da zona norte: AF 215.

Inversamente, temos exemplos de palavras grafadas com um c em

contexto onde se esperaria um g: COCNATAE (IRCP 404), ICAEDITANORVM

(Egit. 8), CONIVCI (NBA 2.6.). Só há indicação cronológica para o primeiro e para

o último exemplo. O primeiro é de cerca do ano 50 e o último do período entre o

ano 150 e o ano 250.

Page 51: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

50

3.3. A consoante m em posição final

Os gramáticos e os oradores latinos atestam a pronúncia de m em posição

final de palavra (Faria, 1970, p. 95-97; Niedermann, 1997, p. 101-102).

Distinguem, também, o som resultante da articulação de m em posição final do

som resultante da articulação de m em início e em meio de palavra (Faria, 1970,

p. 95; Niedermann, 1997, p. 101), o que confirma a pronúncia diferente de m

consoante a posição.

Segundo as descrições feitas, a consoante era pronunciada de forma

bastante débil em posição final, causando o som até alguma estranheza. Esta

articulação débil é referida quando a palavra seguinte começa por vogal. Neste

contexto, m deveria deixar, sobretudo, uma marca de nasalidade na vogal

anterior. As descrições feitas insistem nesta ideia, referindo que m quase

corresponde a um sinal que existe para impedir as duas vogais de contrair39

(Faria, 1970, p. 96; Niedermann, 1997, p. 101). Os gramáticos latinos também

apontam pistas para esta ser a pronúncia quando a palavra seguinte começava

por consoante, mas em relação a este contexto ainda subsistem dúvidas quanto à

articulação da consoante40.

Na epigrafia, confirma-se a debilidade de m em posição final. Já no

século III a.C., a consoante aparece omitida no epitáfio de Lúcio Cornélio Cipião,

independentemente de ser antes de palavra iniciada por vogal ou por consoante

(Niedermann, 1997, p. 102-103). Esta tendência para a omissão de m mantém-se

pelos séculos seguintes, sobretudo em inscrições de carácter popular41. Na

39 A métrica também confirma esta teoria, já que m em posição final seguido de palavra iniciada por vogal é elidido. 40 A métrica aponta, neste caso, um caminho diferente, pois a sílaba final, quando a palavra terminava em m e era seguida de uma palavra iniciada por consoante, era considerada longa. Niedermann (1997, p. 104) indica que, independentemente do contexto, m em posição final, no período pré-literário romano já era sentido apenas como um traço de nasalidade da vogal anterior. 41 Niedermann (1997, p. 103) confirma esta ideia, referindo que nas inscrições oficiais começa a fazer -se a reposição da consoante. O autor exemplifica com o texto do Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C.. Väänänen (1966, p. 71) refere que a reposição de m em posição final de palavra é um cuidado do falar urbano e situa-a na época clássica. Kent (1959, p. XXI), por seu turno, situa a reposição de m cerca do ano de 130 a.C..

Page 52: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

51

epigrafia do século I (Väänänen, 1966, p. 72-75; Flobert, 1992, p. 107), esta

tendência está atestada, por vezes em diferentes contextos, como é o caso da

epigrafia de Pompeios. Carnoy (1906, p. 205-209) também a documenta

amplamente na Península Ibérica, apresentando exemplos ainda da época da

República42.

Na passagem do latim para as línguas românicas, a tendência para a

queda de m em posição final mantém-se. O Appendix Probi (Väänänen,

1981, p. 202-203) apresenta exemplos desta situação: triclinium non triclinu,

numquam non numqua, pridem non pride, olim non oli, idem non ide. A tendência

em algumas línguas românicas, como o português, foi para a queda de m no final

de polissílabos. Em alguns monossílabos, a consoante manteve-se (Väänänen,

1981, p. 67; Niedermann, 1997, p. 104). Como exemplo da queda na evolução

para português, temos a queda de m final no caso acusativo, caso etimológico do

português: caelum > céu; oriculam > orelha; poenam > pena. Como exemplo da

manutenção, temos a passagem de cum a com.

A epigrafia do território português confirma a manutenção da consoante m

em posição final. Numerosos exemplos documentam a manutenção. Destes,

destacamos alguns, como: ADMINISTRATAM, AMPLISSIMVM, ANNORVM,

CAPIENTEM, ETIAM, HONOREM, PONTEM, SIGNVM.

Apesar da manutenção estar indubitavelmente atestada, há exemplos de

omissão de m em posição final de palavra. Temos, por ordem alfabética,

exemplos como: ANNORV, ANORV, ARA, DEV, MENSE, MISOLIO, QVA,

SACRV, SVORV, VIA, VOCTO, VOTV. Pelos exemplos apresentados, pode

perceber-se que a consoante é omitida, tanto nas desinências de acusativo

singular, como nas desinências de genitivo plural. A omissão ocorre em diferentes

contextos: antes de vogal, antes de consoante ou no final de uma linha ou de uma

inscrição.

42 Ao analisar os materiais de Bu Njem, Adams (1994, p. 106) demonstra que m em posição final, no caso acusativo, é mais frequentemente omitido depois de a do que depois de u ou e, ou seja, a consoante surge omitida mais vezes no acusativo singular da primeira declinação, em comparação com a segunda e a terceira.

Page 53: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

52

As ocorrências existentes estão repartidas de modo uniforme pelas três

zonas do país. Na zona sul, o exemplo mais antigo data do século I: STATVA

(IRCP 92). Na zona centro, data da segunda metade do século I: MVNIMENTV

(ERFBI 107). Na norte, diferentes exemplos encontram-se na inscrição mais

antiga: AGNV, BOVE, VACCA (RAP 469). A inscrição tem a data precisa de 9 de

Abril de 147. Existe, ainda, uma outra, a norte, do século II, com o exemplo

SACRV: AF 5.

3.4. A consoante s em posição final

Na época arcaica, a consoante s em posição final aparece frequentemente

omitida nas inscrições (Faria, 1970, p. 109; Niedermann, 1997, p. 96). A omissão

ocorria quando a consoante era precedida de uma vogal breve e a palavra

seguinte começava por consoante. Faria (1970, p. 109) restringe praticamente

este processo à terminação -os, antes de esta evoluir para -us. Tal tendência para

a omissão neste contexto é confirmada pela métrica de peças de Plauto e de

Terêncio (Faria, 1970, p. 229; Niedermann, 1997, p. 96). Em outros contextos, a

omissão não se dava43. Segundo Faria (1970, p. 107), a omissão de s estava

relacionada com uma articulação débil da consoante em contexto de final de

palavra.

No século II a.C., há uma mudança: a consoante deixa de ser omitida44.

Este esforço para a reposição da consoante está atestado pela epigrafia e pela

métrica de alguns autores latinos45 (Niedermann, 1997, p. 97).

Cícero atesta a omissão de s, definindo claramente o contexto, na época

arcaica, e a sua reposição (Faria, 1970, p. 107-108; Niedermann, 1997, p. 96). O

orador latino refere que a tendência para a omissão, na sua época, era 43Faria (1970, p. 109) e Niedermann (1997, p. 97) referem que a omissão não ocorria quando a consoante s em posição final era precedida de uma vogal longa ou seguida de uma palavra iniciada por vogal. 44 Kent (1959, p. XXI) precisa que cerca do ano 130 a.C. esta mudança começa a estar patente nas inscrições. 45 Niedermann (1997, p. 97) aponta uma data anterior, referindo o Senatusconsulto das Bacanais de 186 a.C..

Page 54: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

53

considerada rústica. Esta informação confirma a teoria de que a reposição da

consoante terá sido um cuidado do falar urbano.

A epigrafia de Pompeios documenta, no século I, a reposição de s no

contexto em que se omitia na época arcaica (Väänänen, 1966, p. 77-81). Carnoy

(1906, p. 187), embora apresente vários exemplos da omissão de s, em posição

final de palavra, na epigrafia da Península Ibérica, insiste na ideia de que se trata

de uma abreviatura gráfica e não de uma característica com valor fonético.

Analisando os materiais de Bu Njem, Adams (1994, p. 106-107) explicita que as

consoantes finais -m e -s apresentam tratamentos diferentes. Enquanto é

frequente omitir -m, a consoante -s, por contraste, é notavelmente mantida. O

autor não regista um único caso de omissão de -s46 e refere que o tratamento

diferenciado destas duas consoantes finais é típico em muitos textos47.

Na passagem para as línguas românicas, s em posição final é tratado de

duas maneiras: a Leste, acaba por ser eliminado; a Oeste, é mantido (Väänänen,

1981, p. 68; Niedermann, 1997, p. 97). Niedermann aponta, como factores para a

manutenção, a influência da escola e a tendência da pronunciação indígena

(1997, p. 97). Em português, há inúmeros exemplos de s em posição final, como a

formação do plural dos nomes ou certas palavras como menos e mais.

Nas inscrições do território português, a manutenção da consoante s em

posição final está atestada. Temos exemplos como: AERARIAS, AETATIS,

ANNIS, ASINOS, AVGVSTALES, CARIORES, CIVIBVS, CIVITAS, CONSERVVS,

FACVNDVS, FILIVS, PIVS.

A par da manutenção da consoante, surgem alguns exemplos da sua

omissão em final de palavra. A sul, temos: PEREGRINV (IRCP 105), CHRESIMV

(IRCP 435). O mais antigo é o primeiro: data da segunda metade do século II.

Ambos ocorrem em final de linha. A linha seguinte começa por consoante,

também nos dois casos. No centro, temos, de sul para norte: VETIARV

(CIL 5231), FILIV (FC 357b), APANONI (EFRBI 34), FILIO (FE 241). O exemplo 46 Adams (1994, p. 107) apresenta um universo de 363 casos de s em posição final. 47 Uma das excepções, já sugerida por Adams (1994, p. 107), é a de Graufesenque. Nos grafitos desta localidade, as duas consoantes m e s, em posição final, apresentam um tratamento semelhante, estando, por vezes, omitidas (Flobert, 1992, p. 107-108).

Page 55: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

54

mais antigo é o terceiro: inícios do século I. O primeiro e o terceiro ocorrem em

final de linha, sendo a linha seguinte iniciada, no primeiro caso, por vogal e, no

segundo, por consoante. O segundo e o quarto são seguidos de consoante. A

norte, temos o mesmo exemplo em duas inscrições: ANNI (ERRB 19 e 58). As

duas têm a mesma data: segunda metade do século II ou século III. O primeiro

exemplo ocorre em final de linha. Os dois são seguidos de algarismos que

indicam idade. Existe, ainda, outro, a norte, sem data: CORINTHV (AF 77a). A

forma ocorre em final de linha, sendo seguida, na linha seguinte, de consoante.

3.5. As consoantes duplas

Durante algum tempo, não era costume grafar as consoantes duplas,

havendo documentação epigráfica que o comprova (Faria, 1970, p. 117). Só nos

inícios do século II a.C. há notícias de alteração desse costume. O primeiro

exemplo existente de grafia das consoantes duplas é o Decreto de Paulo Emílio,

em 189 a.C.48 (Faria, 1970, p. 117; Niedermann, 1997, p. 112). A tendência para

grafar as consoantes duplas é atribuído a Énio por Festo. No entanto, o costume

para grafar as consoantes duplas parece ter demorado a generalizar-se, como

comprova Niedermann, ao analisar uma inscrição de 117 a.C. (1997, p. 112).

Alguns autores defendem diferentes modos de articulação em relação às

consoantes duplas (Mariné, 1952, p. 42). Niedermann (1997, p. 112) e Väänänen

(1966, p. 58) referem uma tensão particularmente enérgica na articulação destas

consoantes. O ouvinte conseguiria distingui-las das simples, já que teria a

sensação de estar a ouvir um som duplo, com dois tempos de articulação. As

consoantes duplas seriam, assim, pronunciadas com uma só articulação forte e

prolongada (Niedermann, 1997, p. 112).

Na evolução do latim para as línguas românicas, houve a tendência geral

para as consoantes duplas se simplificarem e se tornarem simples. O italiano 48 Kent (1959, p. XXIII) dá um exemplo anterior a este numa inscrição em que se pretendia transliterar uma palavra grega. A inscrição data de 211 a.C..

Page 56: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

55

constitui uma excepção nesta tendência, já que mantém as consoantes duplas.

Como as consoantes simples oclusivas surdas em posição intervocálica tiveram

tendência para sonorizar, Väänänen (1981, p. 58) refere que as consoantes

duplas só se simplificaram depois de as oclusivas surdas terem sonorizado, o que

terá evitado ambiguidades. O mesmo autor refere que as consoantes duplas

líquidas, rr e ll, resistiram mais tempo do que as outras, sobretudo na zona

ocidental da Europa, e exemplifica esta ideia, em português, com a palavra terra.

A consoante ll terá resistido melhor em castelhano. A tendência para a

simplificação das consoantes simples está documentada na epigrafia do século I

(Väänänen, 1966, p. 59-60; Flobert, 1992, p. 107) e é visível, por exemplo, na

evolução de flammam para chama, em português. O Appendix Probi documenta a

confusão entre consoantes simples e duplas: capsesis non capsessis, suppellex

non superlex, caligo non calligo, garrulus non garulus (Väänänen, 1981,

p. 201-202).

Antes de se ter dado esta simplificação das consoantes duplas, em latim, já

se tinha dado a simplificação de algumas consoantes. A consoante dupla ss, no

início do Império, simplifica-se depois de vogal longa ou de ditongo. A inscrição

conhecida como Laudatio Turiae documenta, ainda no final do século I a.C., a

antiga tendência, antes da simplificação49. Na inscrição pode observar-se as

formas caussam (I, 18) e caussa (II, 32). A consoante dupla ll também se

simplifica, depois de ditongo ou depois de uma vogal longa, se ll for seguida de i.

A palavra paulum, em latim, confirma o primeiro contexto. Para além destes dois

casos, também se simplificam as consoantes duplas que são seguidas de uma

sílaba acentuada longa. A palavra canalis formada a partir de canna exemplifica

este caso.

Inversamente, em latim, também se dá o caso inverso: a tendência para

tornar dupla uma consoante que era simples. Este fenómeno é designado por

geminação expressiva (Väänänen, 1981, p. 59) e ocorre, sobretudo, em palavras

utilizadas com valor afectivo. Väänänen refere que tal ocorria com palavras que

49 O epitáfio foi gravado entre o ano 8 a.C. e o ano 2 a.C. (Introduction, p. LIV).

Page 57: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

56

traduziam interpelação ou nomes, com adjectivos que indicavam deformidades e

defeitos e com termos infantis e exemplifica com Iuppiter, Varro, flaccus, lippus,

atta e mamma (1981, p. 59-60). O mesmo autor refere que a tendência para

tornar dupla uma consoante simples, por vezes, originava duas versões da

mesma palavra: uma com consoante simples, a outra com consoante dupla. O

Appendix Probi também chama a atenção para esta tendência ao apresentar a

forma draco non dracco (Väänänen, 1981, p. 201).

Na epigrafia do território português, a escrita de duas consoantes é a

norma seguida, na maior parte das situações, quando se pretende grafar uma

consoante dupla. Vários são os exemplos que confirmam esta tendência: ACCAE,

ANNIS, ANNOS, APOLLINI, CARISSIMAE, CIPPVM, ENDOVELLICO,

FERRAMENTA, METALLIS, MISSIONE, MITTENT, NVMMOS, OFFICINA,

OFFICIS, SVMMAE, TELLVS, TERRA, VACCA.

Em algumas situações, no entanto, verifica-se a escrita de uma consoante

dupla como se fosse uma simples. Temos exemplos da redução gráfica das

consoantes cc, ll, mm, nn, pp, rr, ss.

De cc, existe o exemplo FLACVS, registado a norte e sem data (AF 223).

De ll, diferentes exemplos, ocorrendo alguns mais do que uma vez, e todos

registados a sul: ENDOVELICO, ENDOVOLICO, ENOBOLICO, GALIO, NOVELA,

TESSELAM, TITVLI. Das três ocorrências datadas, uma suscita dúvidas:

NOVELA (IRCP 611), talvez do século II. As outras duas datam do século I:

GALIO (IRCP 446) e ENDOVOLICO (IRCP 517). No centro, existe mais um

exemplo, do período entre o ano 98 e o ano 117: FELAT (FC 357b). De mm,

apenas existem dois exemplos da redução da consoante, ocorrendo os dois na

mesma inscrição, do século III: MVMIA e MVMIVS (IRCP 333).

A consoante nn é aquela que apresenta uma maior número de casos de

simplificação. Os exemplos são mais numerosos a sul do Tejo. Nesta zona,

temos: ANIS, ANO, ANONIVS, ANORVM, ANORVN, ANORV, HIRINIANA,

PERENIA. Os exemplos mais antigos datam do século I e da segunda metade do

século I: ANORVM (IRCP 628 e 646) e ANONIVS (IRCP 578), respectivamente.

Page 58: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

57

Na zona centro, existe apenas um exemplo, com a data do século III:

HERENIANVS (CV 44b). A norte, a mesma forma surge repetida duas vezes:

ANORVM (AF 294; ERRB 33). Só existe indicação cronológica para a segunda

ocorrência: século II ou século III.

Em relação às restantes consoantes duplas, de pp apenas há dois

exemplos de redução: EPOLITA (IRCP 301), HYPOLITVS (IRCP 643). Só o

primeiro está datado: segunda metade do século II. De rr, também há dois: TERA

(IRCP 399) e REBVRO (Odr. 1 III). Só existe indicação de data para o primeiro:

inícios do século III. De ss, há três exemplos: CASIANA e CASIANAE (EO 69) e

MESALA (ERRB 68). Só o último é datado: século I ou século II.

Inversamente, está registada a grafia de consoantes duplas em vez de

consoantes simples. Tal acontece com as consoantes c, d, l, p, r, s, t.

A consoante c está grafada com cc, de sul para norte, nos seguintes

exemplos: ORICCLO (IRCP 259), PRECCIA e PRECCIVS (IRCP 595a), LVCCIVS

(Odr. 3 8). O primeiro exemplo data do século III; o segundo de finais do século II

ou inícios do século III. Para os restantes não existe indicação cronológica. A

consoante d surge grafada duplamente no nome próprio HADDRIANVS (CV 103)

e na abreviatura da expressão DIS MANIBVS SACRVM: DD (IRCP 358). O

primeiro exemplo, o único datado, é do período entre o dia 10 de Dezembro de

120 e o dia 9 de Dezembro de 121. A consoante l surge como ll, de sul para norte,

em: IVLLIA (IRCP 502), VALLERIA (FE 194), SALLVIA (CIL 5220) e FILLI

(EFRBI 227). Datados são apenas o segundo e o quarto exemplos: finais do

século III e século I, respectivamente. De p grafado pp, apenas existe um

exemplo, sem data: CVPPIDINI (RAP 470). Para a consoante r, também só existe

uma forma, igualmente sem data: PRETORRIO (AF 451). A consoante s aparece

duplicada na mesma abreviatura em que surge DD: SS (IRCP 358). Para t

grafado como tt, temos dois exemplos: CVRAVITT (IRCP 585) e CATTIA (CV 29).

O primeiro data da segunda metade do século I; o segundo do século II.

Page 59: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

58

3.6. Os grupos consonânticos

3.6.1. O grupo cs

O grupo cs era grafado, normalmente, através de uma só consoante: x. No

entanto, desde o Senatusconsulto das Bacanais que parece ser corrente na

epigrafia latina grafar o som de maneira diferente, através das consoantes xs

(Väänänen, 1966, p. 64). Desta forma, pretendia-se notar melhor a consoante

dupla. Kent (1959, p. XXIII) refere que a grafia xs começa a ser cada vez mais

comum a partir da época de Augusto. Na epigrafia de Pompeios, esta tendência

gráfica inovadora está atestada num grande número de formas (Väänänen, 1966,

p. 64).

Carnoy refere que o grupo cs evolui de maneira diferente na passagem do

latim para as línguas românicas, apoiando-se em exemplos epigráficos (1906,

p. 161). Na Itália, terá perdido o elemento palatal, visto que no século V abundam

os exemplos em que o grupo era grafado com ss. Väänänen também documenta

esta tendência para o italiano e para o francês (1981, p. 65). Na Península

Ibérica, o grupo terá mantido o elemento palatal, que terá semivocalizado. Um

exemplo desta evolução é a passagem de laxare a leixar, em português medieval.

Esta forma terá evoluído depois para deixar.

Na epigrafia do território português, a manutenção da grafia x para o grupo

cs está atestada: ALEXANDER, IVXTA, MAXIMA, MAXIMVS, SEXTA, VXOR. No

entanto, diferentes exemplos documentam a grafia xs para registar o grupo: EXS,

MAXSIMIANVS, MAXSIMINVS, MAXSVMA, MAXSVMVS, VIXSIT, VXSOR. Os

exemplos estão registados de modo uniforme pelas regiões sul, centro e norte. A

sul, os exemplos datados mais antigos são: MAXSVMA (IRCP 592, 594 e 597),

MAXSVMI (IRCP 594), VXSOR (IRCP 92 e 592), do século I. Na zona centro,

são: EXS (CV 12), MAXSVMA (IRTV 7), VXSORI (EFRBI 236), da primeira

metade do século I, e VXSORI (EFRBI 61), do século I. A norte, o exemplo mais

Page 60: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

59

antigo data do ano 3 ou 2 a.C.: MAXSIMI (RAP 477). Por vezes, surge mais do

que um exemplo na mesma inscrição: IRCP 451, 592 e 594; RAP 338.

Paralelamente, surgem outras formas de grafar o grupo cs. Numa inscrição

da zona sul, temos SESTIAE (IRCP 114). A inscrição data do século III. Ainda a

sul, temos VISSIT (IRCP 346) e, também, VCXORIS (IRCP 569). A primeira forma

data de finais do século III. Para a segunda, não existe indicação cronológica. Na

região centro, temos, numa inscrição sem data, VCSORI (CIL 349).

3.6.2. O grupo ct

O grupo ct apresenta, em latim, tendência para se reduzir a t. Esta

tendência está documentada pela epigrafia (Väänänen, 1966, p. 63-64), na

segunda metade do século I, e pelo Appendix Probi: auctor non autor e auctoritas

non autoritas (Väänänen, 1981, p. 202). Carnoy refere que esta tendência é

bastante antiga (1906, p. 159). Na evolução do latim para as línguas românicas, o

grupo tem, no entanto, um tratamento diferente: enquanto que no italiano evolui

para tt, no português e nas outras línguas da Península Ibérica o c semivocaliza.

A passagem de octo a oito e de noctem a noite, em português, ilustra a

semivocalização.

Nas inscrições do território português, está documentada a manutenção do

grupo ct: ACTOR, ACTVM, CONDVCTA, CONDVCTOR, INVICTO, NOCTIS,

OCTAVA, VICTOR.

A redução do grupo a t não está registada, mas existe uma forma que

documenta a grafia ct em vez de t: VOCTO (CV 19). O exemplo encontra-se

numa inscrição que data do século I ou do século II. Existe, ainda, outro exemplo

que pode ser interpretado da mesma maneira: ACTRIVM (CIL 4824). No entanto,

o contexto da inscrição, sem data, não é esclarecedor, para se perceber se se

trata de uma forma inversa.

Page 61: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

60

3.6.3. O grupo nct

O grupo nct, em latim, reduz-se a nt. Uma confirmação dessa tendência é a

grafia nt comum na epigrafia de diversas regiões (Väänänen, 1981, p. 62).

Exemplo concreto é a grafia santus em vez de sanctus. Väänänen aponta como

tardios os dados epigráficos (1981, p. 62) e Carnoy, na Península Ibérica, regista

apenas um exemplo anterior ao século IV (1906, p. 166). No entanto, este último

autor nota que, numa inscrição do início do século I, surge uma grafia ao

contrário, com nct em vez de nt. Na evolução para as línguas românicas este

grupo teve tratamentos diferentes. O português, o castelhano e o italiano

confirmam a redução do grupo a nt, não apresentando vestígios da consoante

palatal. Exemplos, em português, são as palavras santo e defunto. Em francês, a

consoante palatal terá deixado vestígios, levando à presença de um i antes do

grupo: saint.

Nas inscrições do território português, a manutenção do grupo nct está

documentada: CVNCTA, DEFVNCTO, SANCTAE, SANCTISSIMO, SANCTO.

Quanto à redução do grupo em nt, não há formas a assinalar. Também, não há

formas com a grafia nct por nt.

3.6.4. O grupo ns

O grupo ns apresenta tendência para se reduzir. Na época arcaica, já há

notícias em relação a essa tendência. No século III a.C., num dos epitáfios dos

Cipiões, as palavras em que devia estar ns aparecem grafadas apenas com s:

cosol, cesor (Väänänen, 1966, p. 68; Väänänen, 1981, p. 64).

Na época arcaica, o n já correspondia a um débil som nasal quando se

pronunciava o grupo (Mariné, 1952, p. 44). Com o passar do tempo, a consoante

nasal acaba por perder a força e deixa de se articular, fazendo-se o alongamento

da vogal anterior. Esta tendência para a redução do grupo está atestada por

vários gramáticos e autores latinos (Väänänen, 1981, p. 64).

Page 62: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

61

Numa tentativa de correcção etimológica, ainda se fez um esforço para a

reposição da consoante n, sobretudo na grafia. Tal tentativa relaciona-se, desde o

seu início, com a influência de uma classe mais culta. A reposição de n, na grafia

e na pronúncia, acaba por não se generalizar, correspondendo apenas a um

estrato da população. Os outros continuam a articular o grupo já sem a presença

do elemento nasal.

A tendência para a redução de ns está documentada na epigrafia do

século I (Carnoy, 1906, p. 171; Väänänen, 1966, p. 68-69; Flobert, 1992, p. 107) e

na evolução do latim para as línguas românicas. O Appendix Probi apresenta as

formas ansa non asa e tensa non tesa (Väänänen, 1981, p. 201-202).

Inversamente, apresenta, também, as formas Hercules non Herculens, formosus

non formunsus e occasio non accansio (Väänänen, 1981, 200-202). Na evolução

para o português, temos, por exemplo, a passagem de mensam a mesa, de

pensare a pesar e de sponsum a esposo.

Na epigrafia do território português, está registada a grafia ns:

AMMAIENSIS, AQVIFLAVIENSES, BALSENSIS, CENSORI, CONSVL, LIBENS,

MENSIBVS, OLISIPONENSIS.

A par da manutenção do grupo, está igualmente registada a sua redução,

sem o elemento nasal: CALANTICESI, COLLIPPONESIVM, COSTANTINO,

LAQVINIESI, LIBES, ROMVLESIS, SERMACELESIS. Apesar de a diferença não

ser muita, há mais exemplos nas regiões centro e norte do que a sul. Quanto a

datas, o exemplo mais antigo, a sul, é do século I: IMPESAM (IRCP 187). Na

zona centro, é do mesmo século: LANCIESI (EFRBI 37). A norte, o exemplo mais

antigo data do período entre o ano 80 e o ano 150: PVDES (NBA 2.9.).

Inversamente, estão registadas duas formas que apresentam a grafia ns

em vez de s: RENSPONSV (IRCP 484), INSIDI (AF 87). A primeira não está

datada. A segunda está numa inscrição que é posterior ao ano 150. Podemos,

ainda, destacar que a par da abreviatura CONS surge COS, para a palavra

consul. A segunda é aquela que surge mais vezes, mesmo na abreviatura da

derivada proconsul.

Page 63: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

62

3.6.5. Os grupos ps, pt e rs

Os grupos ps e pt apresentam uma tendência para a assimilação, o

primeiro para ss e o segundo para tt. A epigrafia documenta a assimilação do

primeiro, na segunda metade do século I (Väänänen, 1966, p. 65-66). A evolução

do latim para as línguas românicas atesta a assimilação dos dois. Ipse evolui, em

português, para esse e septem para sete, tendo, neste último caso, ocorrido uma

simplificação do grupo tt.

O grupo rs também apresenta uma tendência para a assimilação. Numa

fase primitiva, a assimilação terá transformado o grupo em rr. Esta ter-se-á dado

num estádio muito antigo da língua, numa época que Väänänen designa de

pré-histórica (1981, p. 62). Um exemplo deste tipo de assimilação é a formação

do infinitivo do verbo fero. Ao radical fer ter-se-á juntado se e a forma evoluiu para

ferre. Numa época bem posterior, o grupo terá sofrido outra tendência de

assimilação, que Väänänen classifica de popular (ibid.). Esta segunda tendência

de assimilação leva o grupo a grafar-se com ss. Carnoy refere que esta tendência

se terá operado em latim vulgar antigo e apresenta exemplos do século II na

epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 160). Por vezes, o grupo é grafado

apenas com s.

Na evolução do latim para as línguas românicas, confirma-se a evolução de

rs para ss. O Appendix Probi faz referência a persica non pessica50 (Väänänen,

1981, p. 202) e persicum evoluiu, no português, para pêssego.

Em relação ao grupo ps, na epigrafia do território português, está

documentada a grafia do grupo: CONLAPSOS, IPSE, IPSO, SCRIPSI. Quanto à

sua tendência para a assimilação não há registos a assinalar, exceptuando o caso

de um exemplo fragmentado do ano 238, no qual se pode perceber a assimilação

do grupo em s: ONL[A]SOS por CONLAPSOS (AF 414). Existe uma forma que

documenta uma transformação do grupo, mas uma transformação de outro tipo: 50 Väänänen refere a existência de formas, em diferentes línguas românicas, provenientes das duas variantes (1981, p. 62).

Page 64: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

63

TERSPICORE (IRCP 263). A forma está por TERPSICHORE. O que ocorre no

exemplo é a deslocação da consoante s (metátese), formando esta um grupo

com r. A inscrição em que se encontra data de finais do século II ou de inícios do

século III.

Em relação ao grupo pt, na epigrafia do território português, está registada

a manutenção da grafia pt: APTO, COEPTVM, EMPTOR, NEPTI, OPTIMAE,

OPTIMVS, SEPTIMI, SCRIPTVM. Quanto à sua tendência para a assimilação em

tt, não há casos a assinalar. Temos, apenas, a registar uma forma com a

transformação de p na sua correspondente sonora b: SCRIBTVM (IRCP 143.3.).

O exemplo data do período entre o ano 117 e o ano 138.

Em relação ao grupo rs, a sua grafia está igualmente atestada, nas

inscrições do território português: ADVERSVS, PERSAE, VNIVERSVM, VRSA.

Quanto à tendência do grupo para assimilar, não há formas registadas.

3.6.6. Os prefixos

Na língua latina, são numerosas as palavras derivadas através de

prefixação. Devido a este processo de formação de palavras, muitas vezes o

prefixo entra em contacto com uma consoante. Um exemplo disto é a junção do

prefixo ad com o verbo fero. Quando o prefixo termina em consoante e a palavra

a que se vai juntar inicia por consoante, como é o caso do exemplo, há a

tendência para a assimilação, que consiste no nivelamento dos traços

articulatórios das duas consoantes, caso estas sejam diferentes. Desta forma,

torna-se mais fácil a articulação dos segmentos. A assimilação pode ser total ou

parcial. No caso do exemplo apresentado, a assimilação que se dá é total: affero.

A assimilação pode, ainda, ser progressiva, quando a primeira consoante modifica

a segunda, ou regressiva, quando é a segunda a modificar a primeira. O processo

de assimilação acontece, sobretudo, quando as consoantes se encontram entre

vogais.

Page 65: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

64

Quando se opera a formação de palavras com os prefixos ad e con e a

palavra seguinte começa por consoante, a tendência preferencial do latim é a

ocorrência da assimilação total (Väänänen, 1981, p. 61). No entanto, é comum a

existência de formas não assimiladas: adficio. Estas seriam preconizadas e

defendidas pelos gramáticos. Väänänen, analisando vários materiais, chega à

conclusão de que as formas assimiladas seriam mais comuns nas inscrições e as

formas não assimiladas nos manuscritos (1981, p. 61). A junção de ad com os

verbos mitto e moueo, normalmente, não dava origem a assimilação, para não

haver confusão, oralmente, com amitto a amoueo. Carnoy (1906, p. 165)

documenta na epigrafia formas assimiladas e refere que estas eram preferenciais

a formas não assimiladas (ex.: astans em vez de adstans).

Considerando os prefixos que terminam em consoante, nas inscrições do

território português, há diferentes situações a assinalar. Em relação ao prefixo ab,

não existem exemplos a documentar a assimilação. Os existentes não

apresentam alterações fonéticas: ABNEPOTI.

Quanto ao prefixo ad, está registada, igualmente, a prefixação sem

alterações fonéticas: ADDICTA, ADDIXERIT, ADIVTOREM, ADIVTAM,

ADMINISTRATAM. Mesmo antes de n ou s, o prefixo mantém-se sem alterações:

ADNEPOTI, ADSIGNATA, ADSIGNATOS. A assimilação está registada antes

de c, ACCEPERIT, ACCIPITO, e antes de t, ATTINGERE. Existem duas formas

não assimiladas, num contexto em que se esperaria o fenómeno. Uma

encontra-se na zona sul, a outra na zona centro: ADLECTO (IRCP 151),

ADLECTVS (Odr. 1 XIII). Só há indicação cronológica para a segunda: século II.

Existe, ainda, outra forma que documenta a assimilação incompleta do prefixo.

Neste caso, trata-se de uma assimilação regressiva incompleta, já que o d passa

a t, adquirindo a característica de consoante surda à semelhança de f: ATFINIS

(EO 125). A inscrição em que se encontra o exemplo não tem indicação

cronológica.

O prefixo con está documentado, por vezes com alterações. Está registada

a forma com, antes de bilabial: COMMISSA, COMMODA, COMMVNES,

Page 66: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

65

COMPETRI. A forma con, em outros contextos: CONCESSERVNT,

CONCORDIAE, CONDICIONE, CONDVCTA, CONDVCTOR, CONFERAT,

CONIVGI, CONSERVANDA, CONSERVVS, CONSOBRINI, CONTVBERNALES,

CONVICTVS. A forma co antes de gn: COGNATO, COGNOVERO. As formas

assimiladas, antes de l: COLLEGIVM, COLLIGITO. Existem, no entanto, formas

não assimiladas, em contexto de assimilação. De sul para norte, temos:

CONLATO (IRCP 187 e 241), CONLIBERTO (AF 245), CONLAPSOS (ERRB 131;

CIL 4756). A primeira ocorrência do primeiro exemplo data do século I. O terceiro

exemplo, na primeira ocorrência, tem a data do período entre o ano 235 e o ano

238 e, na segunda ocorrência, tem a data de 238. Para as restantes, não existem

indicações cronológicas. Há, ainda, três formas que, pelas particularidades

apresentadas, são dignas de registo. A primeira é COIVGI (NBA 3.2.).

Assinalamos, neste caso, a ausência de n. A forma data do século II. A segunda é

COMFISCATO (IRCP 143.10.). Destacamos a consoante m, num contexto em

que se esperaria n. O exemplo encontra-se numa inscrição que data do período

entre o ano 117 e o ano 138. A terceira é CONIACTIA (IRCP 298). Neste caso,

destacamos a vogal i, em vez da consoante l, e a não assimilação do n final do

prefixo. A forma data do século II.

No que respeita ao prefixo in, temos a forma im antes de bilabial:

IMMORTALES, IMMVNES, IMPENSA, IMPERATO. A forma in surge em outros

contextos: INCOLA, INCOMPARABILIS, INDOMITAS, INDVLGENTISSIMO,

INFERET, INIMICVS, INSTAT, INSTRVENDVM, INTITVLO, INVENTAS,

INVICTO, INVOLAVERIT. A forma i aparece antes de gn: IGNOTVS. Tal como

acontece com os prefixos ad e con, há registo de formas não assimiladas, em

contexto de assimilação. Temos para este caso apenas um exemplo: INLATA

(IRCP 239). A forma data da primeira metade do século I. Paralelamente, há

formas que apresentam n, em contexto de m, ou seja, antes de bilabial:

INMOLANTVR, INPENSA, INPVBERES. Os exemplos ocorrem a norte e,

sobretudo, a sul, nas Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. A norte, não há

Page 67: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

66

exemplos datados. A sul, os mais antigos encontram-se na inscrição IRCP 142 e

datam de finais do século I ou inícios do século II: INPENSA, INPVBERES.

Em relação ao prefixo ob, temos exemplos da prefixação sem ocorrência

de assimilação: OBIT, OBSEQVENTISSIMAE, OBSERVABVNTVR. Temos,

igualmente, exemplos de assimilação: OCCASVM, OCCVPABIT, OCCVPANDI.

Existe, ainda, uma forma que apresenta a assimilação incompleta regressiva da

consoante do prefixo, já que b se transforma na correspondente surda, por

influência de s: OPSEQVENTISSIMO (FC 71). A forma data da segunda metade

do século II.

O prefixo per só está documentado em formas em que não ocorre

assimilação: PERACTA, PERCIPIENT, PERDVXERIT, PERMISERIT,

PERMITTITO, PERSOLVERIT, PERTINEBIT, PERTINETO. Mesmo antes de l,

prevalece a não assimilação: PERLEGISTI.

Quanto ao prefixo sub, está registado em formas não assimiladas, nos

seguintes contextos: SVBDVCET, SVBICITO, SVBIECERIT. Em situação de

assimilação, o prefixo está documentado antes de c: SVCCESSIS. Surge, ainda,

na forma sus, antes de t: SVSTVLISSE. Em vez de sus, já que esta forma do

prefixo também surge antes de c, temos documentadas as seguintes formas:

SVCCEPTO e SVCCEPTVM (IRCP 514). A inscrição em que se encontram não

tem indicação cronológica.

Page 68: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

67

Capítulo III

Morfologia

Page 69: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

68

1. Nomes

1.1. A declinação

1.1.1. O género

O latim apresentava três géneros: masculino, feminino e neutro. Desde

cedo, o neutro apresenta a tendência para desaparecer e para se confundir com o

feminino e, sobretudo, com o masculino (Ernout, 1953, p. 2). Esta confusão está

documentada com a existência de algumas formas duplas: forma feminina e

forma neutra da mesma palavra ou forma masculina e forma neutra ( id., p. 2-3).

As formas duplas demonstram a hesitação do povo latino entre os géneros e

comprovam a ideia de declínio do neutro. Em relação às formas duplas femininas

e neutras, Väänänen (1981, p. 102) apresenta exemplos de Énio e de Plauto.

Quanto às formas duplas masculinas e neutras, Ernout (1953, p. 2) apresenta

como exemplos mais antigos os de Plauto e de Catão51.

A confusão do neutro com o masculino e com o feminino e o declínio deste

género estão, também, documentados em epigrafia. Exemplos da época de

Augusto e do século I estão patentes nas inscrições da Península Ibérica (Carnoy,

1906, p. 226) e da segunda metade do século I nas inscrições de Pompeios

(Väänänen, 1966, p. 82).

Na evolução do latim para as línguas românicas, o género neutro

desapareceu, tendo grande parte das palavras neutras sido absorvidas pelo

género masculino. A evolução de algumas em diferentes línguas românicas

comprova a existência de duplas formas já em latim52 (Väänänen, 1981, p. 102).

51 Para este caso, são abundantes os exemplos em Petrónio (Väänänen, 1981, p. 102). 52 Väänänen (1981, p. 102) apresenta o exemplo de persicum. Esta palavra tinha a variante persica, já registada no Appendix Probi. Numas línguas românicas, o fruto designa-se com um vocábulo que evoluiu a partir da forma correcta. Noutras, com um vocábulo que evoluiu a partir da variante.

Page 70: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

69

Nas inscrições do território português, existem dois exemplos de palavras

neutras que são tratadas como se fossem masculinas. Os dois encontram-se

zona centro.

O primeiro exemplo é: MVNIMENTVS (CIL 266). O nome vem

acompanhado de HIC, o que reforça a ideia de a palavra ser tratada como se

fosse masculina. Um aspecto curioso é, na mesma inscrição, surgir a forma

MVNIMENTVM. Não há indicação cronológica para a inscrição. O segundo é

semelhante: HIC FATVS (CV 44b). Também, neste caso, uma palavra neutra é

tratada como se fosse masculina e é precedida de HIC. A inscrição onde se

encontra o exemplo data do século III.

Na zona sul, está registada uma forma que pode documentar a confusão

entre o neutro e feminino: FATE (IRCP 430). Pelo contexto da inscrição,

percebe-se nitidamente que a palavra desempenha a função de sujeito: QVAI

FATE CONCESSERVNT VIVERE. A desinência -e pode ser explicada pelo

tratamento da palavra neutra como feminina pertencente à primeira declinação. A

vogal -e resultaria da monotongação da desinência -ae. A inscrição data do

século III.

1.1.2. Os temas

Os nomes latinos dividiam-se em cinco declinações diferentes, consoante

os seus temas. As diferentes desinências são o resultado de uma evolução, que

está documentada, ainda, nas inscrições arcaicas. Kent (1959, p. XXIV-XXV)

apresenta exemplos de formas que reflectem a evolução.

Na época clássica, é vulgar surgirem, por vezes, estas desinências

arcaicas: na obra de alguns escritores, na declinação de certos vocábulos ou em

inscrições. Para o primeiro caso, temos o exemplo de Vergílio que usa a forma -ai

como desinência de nominativo plural da primeira declinação. Para o segundo

caso, temos a palavra paterfamilias que apresenta um antigo genitivo singular

(Kent, 1959, p. XXIV) . Para o terceiro caso, temos algumas formas nas inscrições

Page 71: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

70

da Península Ibérica. Recorrendo a inscrições da época da República, do século I

e do século II, Carnoy apresenta uma série de arcaísmos (1906, p. 215-222).

Nas inscrições, para além dos arcaísmos, surgem, por vezes, formas

anómalas, isto é, vocábulos que apresentam desinências fora do comum,

apresentando, por vezes, desinências de outros temas53. Algumas destas

anomalias foram registadas por Carnoy (1906, p. 228-233) para a Península

Ibérica, com exemplos do século I e do século II, e por Väänänen (1966, p. 83-85)

para Pompeios, com exemplos do século I a.C. e do século I.

Na evolução do latim para as línguas românicas, há a tendência para

aumentar a confusão entre vocábulos e temas: as palavras de tema em -e- da

quinta declinação passam a temas em -a- da primeira; as de tema em -u- da

quarta passam a temas em -o- da segunda e algumas de tema em consoante

passam a seguir a primeira ou a segunda declinação (Väänänen, 1981,

p. 106-108). Gaeng (1977), recorrendo a inscrições, sobretudo, dos séculos IV a

VII, comprova esta tendência e apresenta uma sistematização das desinências

em três declinações. Carnoy documenta esta situação na epigrafia, mostrando

confusão na declinação de alguns vocábulos (1906, p. 222-226).

A par da redução do sistema de declinações, dá-se também a tendência

para o desuso de certos casos (Väänänen, 1981, p. 110-117). O acusativo acaba

por ser aquele que se conservou melhor, deixando vestígios em diferentes línguas

românicas. Dos outros casos, apenas subsistem alguns resquícios ( id., p. 110).

Em português, o acusativo é o caso etimológico, a partir do qual se formou o

singular e o plural dos nomes comuns.

Nas inscrições do território português, existem formas que apresentam

arcaísmos. Um dos exemplos é: SCAVREIS (IRCP 142.7.). A forma esperada

seria SCAVRIIS e parece haver, apenas, uma troca de i por e. No entanto,

podemos considerar -eis como a grafia arcaica da desinência -is e o i que integra

53 Esta situação pode ter como origem a influência da flexão de outros temas ou de outros vocábulos (Väänänen, 1981, p. 107).

Page 72: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

71

o radical estar suprimido54. O exemplo data de finais do século I ou de inícios do

século II. Outra forma que apresenta a mesma grafia é: QVIETEI (EFRBI 93).

Apesar de se tratar de um particípio com valor de adjectivo, seria de esperar uma

desinência semelhante à do nominativo plural dos nomes da segunda declinação:

QVIETI55. A forma concorda com o nome CINERES, na mencionada inscrição. O

exemplo data do século II56.

Ao nível dos arcaísmos, temos ainda documentada a desinência -ai para o

dativo singular dos nomes da primeira declinação: IVLIAI MARCELLAI (CIL 5251).

A inscrição onde se encontram os exemplos não está datada.

Pode ser considerada uma atitude de conservadorismo a existência de

formas de nominativo singular e acusativo singular que apresentam a grafia o em

vez de u, mesmo que seja para evitar ambiguidades, como no caso do grupo uu.

Temos, de sul para norte: CLAVOM (IRCP 142.4.), SERVOS (IRCP 143.10.,

143.13. e 143.17.), SVOS (EFRBI 230) e FLAVOS (CIL 2502). À excepção do

último, para o qual não existe indicação cronológica, os exemplos datam do

século I e II (v. Cap. II, 1.3.).

Algumas formas documentam particularidades em relação à flexão de

certos nomes, como deus. Quanto à declinação deste vocábulo temos registadas

formas como DEVM por DEORVM (EO 25 e 26; AF 88) e DIBVS (EO 119;

CIL 5255). O primeiro exemplo apenas tem datadas as duas primeiras

ocorrências, no ano 108, embora no segundo caso haja dúvidas. Para o segundo,

não existem indicações cronológicas. O correspondente feminino dea apresenta a

forma DEABVS (FC 3; AF 86 e 163) para a distinção com o masculino.

Quanto à flexão temos, ainda, formas que apresentam desinências

anómalas. Por ordem alfabética, temos: ANORVN (FE 66), de finais do século I

ou inícios do século II; CONVENTVVS (RAP 454), do século II; NOMEM 54 Ernout (1953, p. 22-23) refere que a desinência -is do ablativo plural dos nomes da primeira declinação, numa fase anterior, considerada intermédia em termos de evolução, se grafou -eis. 55 Ernout (1953, p. 31) refere que a grafia -ei como desinência de nominativo plural dos nomes da segunda declinação corresponde à evolução de -oi e durou até ao começo do século II a.C.. É comum encontrar a grafia ainda em inscrições da época da República, visto que ela se manteve durante bastante tempo, devido à influência dos gramáticos. 56 Existe ainda outro exemplo de um arcaísmo num adjectivo, mas não ao nível das desinências: DEIVI (ERRB 128). A forma encontra-se repetida duas vezes na referida inscrição e data do ano 133 ou 134.

Page 73: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

72

(CV 44b), do século III; e PERPETVM (EO 41), de inícios do século I.

Registamos, também, a forma PATERI (EFRBI 74). Esta, apesar de não

apresentar anomalias ao nível das desinências, documenta uma alteração ao

nível do radical. O exemplo data do século II.

Em relação à confusão entre temas e declinações, vários são os exemplos

que demonstram nomes declinados como se pertencentes a outras declinações,

tendo para alguns destes casos contribuído também alterações de timbre das

vogais (v. Cap. II, 1.3.). De sul para norte, temos: (EX) VOTV pelo ablativo

singular VOTO (IRCP 58), de finais do século II; (EX) RENSPONSV pelo ablativo

singular RESPONSO57 (IRCP 484), sem data; AFINATV58 pelo dativo singular

AFINATO (RIRP 59), de cerca do ano 250; e AVGVSTV pelo dativo singular

AVGVSTO (RIRP 18), do ano 23 a.C..

Além destes, temos quatro nomes da segunda declinação no genitivo

singular com desinências da terceira. Os exemplos encontram-se nas zonas

centro e norte. Por ordem alfabética, temos: ACILIS por ACILI (CV 36), do

século II; AVITIS por AVITI (RAP 383), sem data; BOVTIS por BOVTI59 (CV 58),

do século I; e VIRIATIS por VIRIATI (CV 54; AF 236), datando as duas

ocorrências do século II, embora haja dúvidas no caso da primeira.

Existem, ainda, um exemplo que, pela sua curiosidade, deve ser tratado de

forma individualizada: MARINE (IRCP 145), da segunda metade do século II. A

desinência -e surge em vez de -a, para o nominativo singular. Esta situação é

invulgar. O que poderá ter ocorrido foi uma confusão entre a declinação latina e a

declinação de palavras gregas integradas na primeira declinação, que

apresentam como desinência de nominativo -e.

Para o desuso do sistema de casos, para a confusão entre alguns deles,

como o acusativo e o ablativo, e para a confusão entre declinações, contribuiu a

incorrecta flexão dos nomes. Um exemplo disto é a omissão de -m e de -s: ANNI, 57 Para a grafia ns em vez de s, consultar Cap. II, 3.6.4.. 58 Abascal (1994, p. 261) apenas documenta esta forma do nome na Península Ibérica. 59 A grafia de genitivo singular que surge nas inscrições do território português para o nome próprio Boutius é BOVTI, com a contracção dos -ii. A propósito da contracção dos -ii, Redentor (2002, p. 210) refere ser uma particularidade generalizada, um hábito que está presente na epigrafia da zona noroeste da Península Ibérica.

Page 74: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

73

ARA, DEV, MENSE, MVNIMENTV, PEREGRINV, VIA, VOTV (v. Cap. II, 3.3.

e 3.4.). À omissão de -m e de -s, por vezes, acresce a alteração de timbre, o que

faz aumentar a confusão: MISOLIO (IRCP 16), VOCTO (CV 19), FILIO (FE 241)

(v. Cap. II, 1.3., 3.3. e 3.4.).

1.2. As declinações estrangeiras

Algumas palavras de origem grega mantêm marcas da sua declinação

original em alguns casos. Em relação a estes vocábulos que apresentam

desinências de carácter grego e de carácter latino, Ernout diz tratar-se de uma

declinação mista, metade latina, metade grega, por vezes artificial, usada,

sobretudo, com os nomes próprios (1953, p. 23-24). O mesmo autor refere que foi

Ácio, no século II a.C., que introduziu a tendência de transcrever os nomes

gregos na sua declinação original. O mesmo costume manteve-se nos poetas do

final da República e do tempo de Augusto. Como era difícil transcrever em latim a

declinação grega, estes nomes acabaram por seguir, em alguns casos, as

desinências gregas e, noutros, as latinas. Os nomes deste tipo integram-se na

primeira, segunda e terceira declinações (Ernout, 1953, p. 23-24, 34-35 e 61-63).

Na epigrafia latina há exemplos destes nomes. Väänänen apresenta

alguns, da segunda metade do século I, na epigrafia de Pompeios (1966, p. 83).

Carnoy apresenta exemplos na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 236-238).

Além destes exemplos, Carnoy apresenta outros, nomeadamente de palavras que

apresentam vestígios da declinação osca (id., p. 235-236) e da declinação céltica

(id., p. 239-240).

Na epigrafia do território português, são várias as palavras de cariz grego

que apresentam marcas da sua flexão original. Temos diferentes grupos, tendo

em conta o seu nominativo: nomes femininos terminados em -e, nomes

masculinos terminados em -es, em -us e um reduzido número de nomes

femininos terminados em -is e masculinos terminados em -os. Temos ainda outro

Page 75: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

74

grupo que apresenta particularidades ao nível das desinências: o dos nomes

masculinos terminados em -on.

Os nomes femininos terminados em -e são os mais numerosos, em

comparação com os outros grupos. Temos como exemplos60: ACTE, AGATE,

ANCHIALE, CALETYCHE, CALLIOPE, CHRESTE, DAPHINE, HELENE, MVSICE,

SYCECALE, TERSPICORE, THYMELE, TYCHE. Os exemplos são mais

frequentes na zona sul, sendo mais raros no centro e mais ainda a norte. A sul,

os exemplos mais antigos são: NICE (IRCP 270) e HEGESISTRATE (IRCP 448).

Ambos datam de finais do século I ou de inícios do século II. No centro, são

GAMICE (RERC 9) e NYMPHE (EFRBI 30). O primeiro data de cerca do ano 50;

o segundo da segunda metade do século I. Dos poucos exemplos registados a

norte, nenhum é datado: SELENE (AF 177), SINETHE (AF 245), CABVRENE

(AF 605).

Os nomes masculinos cujo nominativo termina em -es também apresentam

um número considerável de exemplos, embora não sejam tantos como os nomes

femininos acima referidos. A sua distribuição é semelhante: mais a sul, menos no

centro e menos ainda a norte. Temos como exemplos: ASCLEPIADES, HERMES,

LETOIDES, ORESTES, PHILOGENES, PILIDES e PYLADES. Os exemplos

datados mais antigos são: EVPREPES (IRCP 93), para a zona sul, de meados do

século II, e EVTYCHES (EFRBI 81), para a zona centro, de finais do século I ou

inícios do século II. Na zona norte não existem exemplos datados.

Quanto a nomes masculinos terminados em -us, temos, de sul para norte:

PARTHENOPAEVS (IRCP 571), THESEVS (FE 167), MVSAEVS (CIL 368) e

NEREVS (CIL 5559). Não existe indicação cronológica para as inscrições em que

se encontram.

Dos nomes terminados em -is e em -os, existem poucos exemplos. Temos,

por ordem alfabética: CHRYSEROS (Egit. 8), CHRYSIS (CIL 374, FC 112),

CRYSEROS (IRCP 419), CRYSIS (IRCP 262), ELPIS (EO 71), HELPIS (FE 66).

60 Em relação aos exemplos há um aspecto que deve ser salientado: alguns deles encontram -se em dativo singular com a terminação -e. Esta tanto pode ser a desinência grega, como a desinência latina com a monotongação de -ae.

Page 76: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

75

O exemplo mais antigo a sul é CRYSIS (IRCP 262), do século II, e na zona centro

é CHRYSIS (FC 112), do período entre o ano 12 e o ano 68.

Relativamente aos nomes masculinos terminados em -on, temos uma

ressalva a fazer: nem sempre a desinência de nominativo -on é a correcta. Alguns

destes nomes parecem ter sofrido adaptações. Em vez de apresentarem -o no

nominativo singular, como seria esperado, dá-se a inserção de n, e os nomes

apresentam -on no nominativo singular. Os exemplos estão maioritariamente a

sul. Temos, de sul para norte: THEMISON (IRCP 10), PRISCION (IRCP 86),

EVREMON (IRCP 114), PAEZON (IRCP 151), AGATHON (IRCP 249), MOLON

(IRCP 250), PHILON (IRCP 333a), CHARITON (IRCP 347), ELICON (IRCP 394),

TRYPHON (IRCP 450) e LANGON (EFRBI 29). O exemplo mais antigo a sul é

MOLON, de inícios do século II, e o exemplo registado na região centro data do

século I.

2. Pronomes

O sistema de pronomes latinos divide-se, segundo Ernout, em dois grupos:

por um lado, os pronomes demonstrativos hic, iste, ille, assim como is, o pronome

relativo qui e o interrogativo-indefinido quis; pelo outro, os pronomes pessoais

(1953, p. 79).

Na evolução do latim para as línguas românicas, alguns destes pronomes

sofreram uma mudança de sentido e certas alterações fonéticas.

Morfologicamente, também sofreram transformações. Os pronomes ille e iste

começaram a ser reforçados com a partícula ecce, anteposta. Väänänen (1981,

p. 123) documenta esta tendência já em Plauto. Este tipo de reforço acabou por

originar formas como aquele, em português. Outra transformação foi a de ille, a

partir do qual se formou, nas línguas românicas, o artigo definido e o pronome

pessoal ele. Outra, ainda, foi o reforço, em final de palavra, dos pronomes hic, iste

Page 77: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

76

e ille com -i ou -ce. Este -ce surge por vezes abreviado: -c (Ernout, 1953, p. 80).

Väänänen apresenta exemplos deste reforço na segunda metade do século I

(1966, p. 86).

Destacamos, também, a evolução do pronome pessoal ego na sua forma

de dativo, mihi. Esta forma apresenta uma redução, sendo grafada mi. Carnoy

regista-a na epigrafia da Península Ibérica (1906, p. 246).

Nas inscrições do território português, os pronomes demonstrativos e o

relativo estão documentados, embora não sejam muito frequentes. O pronome hic

não surge muitas vezes e não apresenta muitas formas documentadas: HAC,

HIC, HOC, HORVM, HVIVS, HVNC. Salientamos o facto de os poucos exemplos

de HIC ocorrerem com nomes neutros interpretados como masculinos (v. 1.1.1.).

De ille, registamos a forma ILLIVS. Is apresenta variedade de formas, embora

algumas não sejam muito frequentes: EA, EAE, EAS, EIVS, EO, EORVM, EOS,

EVM, ID, IS. Grande parte das ocorrências encontra-se nas Tábuas de Aljustrel:

IRCP 142 e 143. O pronome relativo apresenta, de igual modo, diversidade de

formas e está registado frequentemente nessas mesmas inscrições: QVA, QVAE,

QVAM, QVAS, QVI, QVIBVS, QVO, QVOD, QVORVM.

Os pronomes pessoais encontram-se documentados através de algumas

formas: EGO, ME, MIHI; TV, TE, TIBI; SE, SIBI; VOBIS. Algumas destas, como

TIBI e VOBIS, estão relacionadas com as fórmulas epigráficas de carácter

funerário.

Quanto ao reforço dos pronomes, quer com a partícula ecce, anteposta,

quer com -i, com -ce ou -c, pospostos, não há registo de exemplos.

Estão documentadas formas diferentes do comum, com grafias

inesperadas, em alguns pronomes. De hic, temos o exemplo, sem data, HAC por

HANC (CV 31). Além da confusão a nível morfológico, a forma contribui para a

confusão entre casos. Noutra inscrição, encontramos um exemplo, com duas

ocorrências, do pronome sem o h inicial: AC (AF 611). A inscrição em que se

encontra o exemplo é do século IV, embora a datação levante dúvidas. Do

pronome relativo, existem vários exemplos de formas anómalas. Temos, de sul

Page 78: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

77

para norte: QVAM por QVA (IRCP 259), do século III; QVE por QVAE (IRCP 314),

de finais do século II ou inícios do século III, resultante da monotongação do

ditongo; QVOT por QVOD (IRCP 571), sem data; QVIVS por CVIVS (IRTV 7), da

primeira metade do século I (v. Cap. II, 3.2.). Está ainda registado o arcaísmo

QVAI por QVAE (IRCP 430). No entanto, a forma está por CVI (v. Cap. II, 2.1. e

Cap. IV, 1.1.). O exemplo data do século III. Dos pronomes pessoais, temos os

seguintes exemplos: MI por MIHI (IRCP 270), de finais do século I ou inícios do

século II, e MIGI por MIHI (AF 611), do século IV, embora a datação levante

dúvidas.

3. Numerais

O sistema de numerais latinos era um sistema bastante coeso. Tal

característica pressupõe que cada uma das formas estava exposta às influências

analógicas das outras (Mariné, 1952, p. 56). Segundo o mesmo autor, esta

característica explica as transformações morfológicas ocorridas nos numerais que

aproximavam setuagesima e octogesima das outras designações ordinais de

dezenas, terminadas em -agesimus, através das formas septagesima e

octagesima.

Outra transformação registada nos numerais, também explicada pelo

processo de analogia, é a substituição de formas subtractivas por formas aditivas:

decem et octo por duodeuiginti (Väänänen, 1981, p. 119).

O numeral unus, -a, -um, que deu origem em português ao artigo

indefinido, apresenta, também, transformações na sua flexão. Nos casos genitivo

singular e dativo singular tende a seguir a flexão dos adjectivos terminados

em -us, -a, -um, normalizando as formas mais irregulares (Väänänen, 1981,

p. 119).

Page 79: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

78

Na epigrafia do território português, a noção de número surge, sobretudo,

sob a forma de algarismos. Este dado pressupõe que não haja um registo

alargado de numerais. No entanto, temos alguns exemplos que representam os

diferentes tipos: VNO, VNVM, QVINQVE, SEX, DECEM; PRIMVS, SECVNDAM;

SINGVLA, BINI; BIS. Parte considerável destes exemplos ocorre nas Tábuas de

Aljustrel: IRCP 142 e 143.

Como se pode perceber pelos exemplos apresentados, há o respeito pela

correcção das formas. A confirmar este dado, acresce o facto de não estarem

registadas transformações ou alterações morfológicas nas formas de numerais

documentadas.

4. Verbos

Uma das principais transformações no sistema verbal, na evolução do latim

para as línguas românicas, foi a substituição das desinências passivas dos verbos

depoentes por desinências activas, ou seja, o tratamento dos verbos depoentes

como verbos activos. Este processo levou ao desuso das desinências passivas

nos depoentes, com exemplos já em Plauto (Ernout, 1953, p. 115; Väänänen,

1981, p.128). Por outro lado, a voz passiva também sofre alterações: as formas

sintéticas são preteridas e, em vez destas, surgem formas compostas (Väänänen,

1981, p. 129-130). Na epigrafia, há exemplos dos depoentes com desinências

activas, no século I, em Pompeios (1966, p. 87) e na Península Ibérica (Carnoy,

1906, p. 252).

Além desta transformação, houve outras (Väänänen, 1981, p. 129-145).

Das documentadas em epigrafia, destacamos a grafia dos tempos do perfectum.

Estes tempos, sobretudo o pretérito perfeito do indicativo activo, apresentam

tendência para a contracção, surgindo formas como amasti ou amarunt

(Väänänen, 1981, p. 142). Mariné (1952, p. 59-60), apoiado em outros autores,

Page 80: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

79

afirma que estas formas contraídas são as que prevalecem na evolução do latim

para as línguas românicas61. Na Península Ibérica, Carnoy atesta a tendência,

apresentando diferentes grafias de pretérito perfeito do indicativo activo, terceira

pessoa do singular, do verbo pono62 (1906, p. 252-253).

Outra transformação é a confusão entre temas e conjugações. Carnoy

documenta uma forma de particípio passado que apresenta uma vogal temática

diferente da esperada (1906, p. 249-250). Väänänen (1981, p. 87-88) regista uma

forma que denuncia uma tendência arcaica, já documentada em Plauto, de

eliminar os verbos de tema em -ĭ- a favor dos de tema em -ī-, ou seja, uma

tendência para integrar os primeiros na conjugação dos segundos. Em português,

o sistema de conjugações latino acabou por se simplificar. De quatro

conjugações, em latim, passou-se, em português, a três.

Nas inscrições do território português, temos documentados, ainda,

arcaísmos nas desinências verbais: TVLEI (EFRBI 93). A forma corresponde à

primeira pessoa do singular do pretérito perfeito activo e, segundo Ernout (1953,

p. 213), é comum encontrar a desinência -ei em inscrições da época arcaica,

porque nessa época existia confusão, ao nível da grafia, entre ī e ei. A inscrição

onde se encontra o exemplo data do século II. Existe outra forma que apresenta,

igualmente, a grafia arcaica ei, embora não ao nível das desinências: FEICIT

(EFRBI 230). Neste caso, ter-se-á dado uma confusão ao nível da grafia e terá

sido grafado ei por erro de contexto63. A inscrição data de finais do século II.

Outra forma verbal de cariz arcaico é FAXINT (IRCP 647). Esta encontra-se numa

inscrição com uma data bastante precisa: 11 de Maio de 37.

A maioria das formas verbais apresenta correcção ao nível morfológico.

Um dado que confirma esta ideia é a grafia de tempos, como o futuro imperfeito

61 Väänänen (1981, p. 142) apresenta uma síntese das desinências de pretérito perfeito do indicativo activo que terão evoluído nas línguas românicas. 62 Algumas destas grafias estão relacionadas com a tendência para a contracção, outras com a própria morfologia do verbo. 63 Niedermann (1997, p. 58) refere que o ditongo ei passou a ī, na primeira metade do século II a.C.. No entanto, terá havido uma fase intermédia, por volta dos primeiros anos do século II a.C., em que ei se terá escrito ē. Esta fase intermédia deu, nesta época, por erro, origem a grafias inversas, já que em contextos de ē surge a grafia ei.

Page 81: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

80

do indicativo e o imperativo futuro, ambos documentados nas Tábuas de Aljustrel

(IRCP 142 e 143), e de formas irregulares também de imperativo, como DIC.

Apesar da correcção, há particularidades a assinalar. Estão documentadas

formas sincopadas, dos tempos do perfectum. Temos, de sul para norte:

EMERINT (IRCP 143.8.), VITIASSE, LABEFACTASSE e DECAPITASSE64

(IRCP 143.13.), CVRARVNT (EFRBI 113 e AF 414). Os quatro primeiros

exemplos datam do período entre o ano 117 e o ano 138. A primeira ocorrência

do último data da segunda metade do século I ou de inícios do século II; a

segunda data do ano 238.

Há outras formas, ainda, que se destacam pela sua singularidade. Numa

inscrição de Conimbriga, temos TACIM por TACEAM (FC 357b). O exemplo data

do período entre o ano 98 e o ano 117. Temos algumas formas que apresentam a

queda de -t. FECI (IRCP 513), SI (ACS 27), RETVLI (AF 126), REFECI (AF 404).

O segundo exemplo data do século III; o último do ano 135. Para os outros não

existe indicação cronológica. Inversamente, temos uma forma com a duplicação

da consoante: CVRAVITT (IRCP 585). Esta data da segunda metade do século I

(v. Cap. II, 3.5.). Do mesmo verbo, temos duas formas que apresentam

tratamentos diferentes da mesma vogal. No primeiro exemplo, registado a sul, a

vogal surge duplicada: POSVVIT (FE 238). No segundo, registado na zona centro,

surge omitida: POSIT (EFRBI 23). Não existe indicação cronológica para os

exemplos. Está, ainda, registada uma forma de um derivado de eo, que, pela

supressão de um dos i do pretérito perfeito, neutraliza a distinção entre terceira

pessoa do singular do presente do indicativo e terceira pessoa do singular do

pretérito perfeito: OBIT (CIL 5238). A inscrição em que se encontra o exemplo

data do século I.

64 A propósito desta forma consultar Cap. V, 1.1..

Page 82: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

81

Capítulo IV

Sintaxe

Page 83: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

82

1. Casos

1.1. Os casos

O latim tinha seis casos: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e

ablativo. O instrumental e o locativo apenas deixaram alguns vestígios na língua

latina. O primeiro fundiu-se com o ablativo. O segundo está patente em algumas

indicações de lugar como domi ou belli (Ernout e Thomas, 1984, p. 7-8).

Na evolução do latim para as línguas românicas, o sistema de casos latino

sofreu profundas transformações (Väänänen, 1981, p. 110-117). O resultado

destas transformações foi a abolição deste sistema nas diferentes línguas

românicas. As palavras começaram, na frase, a ter um lugar fixo que marcava a

sua função sintáctica e deixaram de se declinar. Antes, contudo, deste resultado

final, as transformações ocorreram de forma gradual. Além das desinências

comuns que muitas palavras apresentavam e que poderiam suscitar dúvidas

quanto à identificação de alguns casos, mudanças de ordem fonética vieram

dificultar, ainda mais, a distinção, como a queda da consoante m em posição final,

no acusativo singular, causando confusão entre acusativo e ablativo, e a alteração

de timbre das vogais, originando ambiguidades, por exemplo, na terceira

declinação. Estas e outras transformações levaram a que se começasse a

confundir os casos. A consequência deste processo é a tendência para a redução

do número de casos. Esta transformação gradual culmina na redução dos seis

existentes a apenas dois: o caso sujeito e o caso regime (Ernout e Thomas, 1984,

p. 9). A acompanhar a transformação, as palavras começaram a ter um lugar mais

fixo na frase, já visível na época tardia. Nas línguas românicas a noção destes

dois casos acaba por desaparecer.

Os textos epigráficos documentam o processo de decadência do sistema

latino de casos, exemplificando algumas das ambiguidades ou dos usos indevidos

de determinado caso, antes do seu final. Na epigrafia da Península Ibérica,

Carnoy (1906, p. 270-271) documenta, por exemplo, o uso de dativo em vez de

Page 84: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

83

acusativo e o complemento de fruor em acusativo em vez de ablativo. Väänänen

(1966, p. 115-119) apresenta um maior número de exemplos, registando

situações como nominativo em vez de vocativo, uso excessivo de acusativo em

detrimento de outros casos ou escrita de ablativo em vez de locativo.

Nas inscrições do território português, está documentado o uso de alguns

casos em vez de outros. Começamos pelo nominativo. O nominativo está

registado uma vez por vocativo e duas por dativo. Temos nominativo por vocativo

numa inscrição da região centro: DVATIVS (FC 357b). O exemplo data do período

entre o ano 98 o e ano 117. Nominativo por dativo está documentado a sul e a

norte. A sul, temos o exemplo: MARIA EVPREPIA QVAI FATE CONCESSERVNT

VIVERE (IRCP 430). A forma do pronome relativo parece ser arcaica e estar por

QVAE. No entanto, sintacticamente o que estaria correcto era CVI (v. Cap. II, 2.1.

e Cap. III, 2.). A inscrição data do século III. A norte, temos o exemplo:

PRONIIPOS (ERRB 129). O nominativo encontra-se num miliário cujo texto

principal está em dativo. A inscrição data do ano 213 ou 214. Está registado,

também, o uso de acusativo por nominativo: FILIAS MATRI PIISSIME

POSVERVNT (IRCP 331). A inscrição data do século III. O genitivo surge por

ablativo em POTESTATIS (IRCP 665 e 666), numa fórmula epigráfica habitual:

TRIBVNICIA POTESTATE. As duas ocorrências datam do mesmo ano: 275.

Semelhante a este exemplo é TRIBVNICIE POTESTATIS (FE 102a), também do

mesmo ano. A situação será a mesma: genitivo por ablativo, aqui com

monotongação do ditongo ae em TRIBVNICIE. Dativo por nominativo surge num

texto de um miliário, do ano 218: PRINCIPI (CIL 4834). Por último, temos o registo

de ablativo em vez de dativo: PONTIFICE (CIL 4801) e FELICE (ERRB 130). O

ablativo surge em de miliários que apresentam o texto principal em dativo. Os

exemplos datam de 214, o primeiro, e 213 ou 214, o segundo.

Além da confusão no uso dos casos, temos as já registadas alterações de

ordem fonética, como a omissão de -m e de -s ou a mudança de timbre de

algumas vogais (v. Cap. II, 1.3., 3.3., 3.4.). Estas, além de originarem a incorrecta

flexão das palavras (v. Cap. III, 1.1.2.), levam a que a distinção entre os diferentes

Page 85: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

84

casos e até mesmo entre as diferentes declinações se torne cada vez mais difícil.

Temos, como exemplo destas situações: DVATIVS APINIVS F(ilius) BANDI

TATIBIIAICVI VOCTO TOLIT I(ussu) (CV 19); TERTVLA ARCI(i) F(ilia) ET

PRISCVS MAXILLONIS F(ilius) TVOVTAE TONGI F(iliae) MATRI MVNIMENTV

STATVERVNT H(ic) S(ita) E(st) (EFRBI 107); D(iis) M(anibus) S(acrum)

VAL(eriae) AMOENAE A(nnorum) LXX FILIO F(ecit) (FE 241); IMP(eratori)

CAESAR(i) DIVI F(ilio) AVGVSTV CO(n)S(uli) XI IMP(eratori) VIII (RIRP 18);

AFINATV F(ilio) A(nnorum) XX S(it) T(ibi) T(erra) L(evis) M(ater) F(aciendum)

C(uravit) (RIRP 59).

1.2. As preposições e os casos

A circunstância de tempo e de lugar é expressa, em latim,

preferencialmente, através do caso acusativo ou do caso ablativo, regidos,

algumas vezes, por preposições (Ernout e Thomas, 1984, p. 106-107). Com as

alterações fonéticas registadas e com a confusão generalizada no uso dos casos,

começaram a surgir formas diferentes do habitual para registar estas

circunstâncias: as preposições que costumavam reger acusativo começaram a

aparecer com ablativo; ou o contrário; quando uma preposição regia acusativo e

ablativo e expressava circunstâncias diferentes com cada um dos casos, pode ser

encontrada com o caso incorrecto65.

Esta situação é paralela à ruína do sistema casual e acabará por culminar

na perda da noção do valor dos casos. As preposições passarão, nas línguas

românicas, a definir a circunstância e o sentido circunstancial que o caso

encerrava perder-se-á, assim como o próprio.

A confusão entre preposições e regência de casos está registada. Na

epigrafia de Pompeios, Väänänen (1966, p. 120-121) documenta, com exemplos 65 Um exemplo concreto é a preposição in. Com acusativo, expressa o movimento. Com ablativo, a localização. É comum encontrar a preposição com ablativo a expressar o movimento. Väänänen (1966, p. 121), apoiado noutros autores, refere que, nestes casos, a queda da consoante m em posição final, no acusativo singular, ajuda a criar a confusão entre os dois casos.

Page 86: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

85

dos séculos I a.C. e I, situações como as preposições a, cum, pro e sine com

acusativo ou a preposição in com ablativo a expressar a ideia de direcção. O

autor refere que, salvo erro, os exemplos mais antigos que se conhecem serão os

de a e de cum com acusativo. Carnoy (1906, p. 269-270) também apresenta

alguns casos de desvio no uso das preposições na epigrafia da Península Ibérica.

Na epigrafia do território português, está documentado o uso de

preposições com casos diferentes do habitual. Cum surge com acusativo, uma

vez, na expressão do complemento circunstancial de companhia: CVM QVAM

VIXIT COMMVNES ANNOS (IRCP 259). A inscrição data do século III. Ex surge,

também uma vez com acusativo numa inscrição sem data: EX RESPONSVM

(IRCP 513). Pro surge com acusativo em diferentes exemplos. Com a palavra

salus, surge duas vezes, a primeira com reconstituição da última letra da

preposição: PR[O] SALVTEM (IRCP 516); PRO SALVTEM (EO 81). Não há

indicação cronológica para os exemplos. Com a palavra uotum, surge uma vez,

num exemplo, sem data, que apresenta uma das vogais da palavra reposta: PRO

V<O>TVM (IRCP 523). Pro surge, ainda, duas vezes com nomes de pessoas:

PRO IVL(iam) MARCELLAM (IRCP 504); PRO VERNACLAM (IRCP 515). Só o

segundo exemplo está datado: século I.

2. Concordância

A concordância está relacionada com a relação de dependência entre

diferentes elementos de uma frase que constituam um grupo. Neste, a forma de

um comanda a dos outros, estabelecendo-se, assim, uma relação de hierarquia e

de dependência (Ernout e Thomas, 1984, p. 125). A concordância pode

estabelecer-se ao nível do caso, do género, do número ou da pessoa. Ela pode

ser estabelecida entre o sujeito e o verbo, entre um nome e o predicativo, entre

um nome e o atributo, entre um nome e o aposto e entre o pronome relativo e o

Page 87: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

86

seu antecedente. Existe, ainda, outro tipo de concordância: a concordância ad

sensum (id., p. 138-142). Esta implica uma concordância que respeita, sobretudo,

o sentido das palavras e não a sua forma.

A concordância, em latim, nem sempre foi respeitada. Este desrespeito é

visível, sobretudo, nos textos epigráficos. Carnoy (1906, p. 268) e Väänänen

(1966, p. 114) apresentam alguns exemplos de falta de concordância na epigrafia

da Península Ibérica e de Pompeios, respectivamente.

Nas inscrições do território português, existem alguns exemplos de falta de

concordância. Temos, de sul para norte: SERVOS [...] CAESVS (IRCP 143.13.

e 143.17.), do período entre os anos 117 e 138, pela grafia -os em SERVOS;

SODALICIV [...] FECERVNT (IRCP 339), sem data, pela falta de concordância

entre sujeito, com omissão de -m, e verbo; QVINTILLA [...] DELICATAE

(EFRBI 94), do século II; LIBERTVS SVOS (EFRBI 230), de finais do século II,

também pela grafia -os; e FILIAE PIENTISSIMA (NBA 2.12.), de finais do século II

ou inícios do século III. Em miliários da zona norte, cujo texto principal está em

dativo, encontramos supostamente a concordar: PONTIFICE (CIL 4801),

PRONIIPOS (ERRB 129), FELICE (ERRB 130). O primeiro exemplo data do ano

214; os dois últimos de 213 ou 214. Noutro miliário, também da zona norte, surge

o dativo supostamente a concordar com grande parte do texto que está em

nominativo: PRINCIPI (CIL 4834). O exemplo data do ano 238.

A falta de concordância está documenta igualmente em abreviaturas: H(ic)

S(ita) S(unt) S(it) T(ibi) T(erra) L(euis) (IRCP 87). A expressão aplica-se apenas a

uma pessoa. A inscrição data da segunda metade do século II.

Registamos, por outro lado, duas tentativas, semelhantes, de

concordância. As duas ocorrem no mesmo contexto: escrita de HIC a concordar

com palavra neutra tratada como masculina (v. Cap. III, 1.1.1.). Temos: HIC

MVNIMENTVS (CIL 266) e HIC FATVS (CV 44b). Só existe indicação cronológica

para o segundo exemplo: século III.

Page 88: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

87

3. Pronomes

Os pronomes, em latim, sofreram transformações a diferentes níveis. Em

relação à sintaxe, destacamos uma transformação ocorrida nos possessivos.

A ideia de posse era expressa pelos pronomes possessivos. Acontece que

na terceira pessoa do singular, o possessivo só é utilizado em situações

particulares e bem definidas (Ernout e Thomas, 1984, p. 179-180). Na maior parte

das situações, é o pronome is na sua forma de genitivo singular, eius, que

expressa a posse66. Na evolução do latim para as línguas românicas esta

situação altera-se. O uso do pronome possessivo, na terceira pessoa do singular,

generaliza-se e cai em desuso a construção com eius. Acaba por ser a

construção com o possessivo que passa para as línguas românicas (id., p. 186).

Há, ainda, outras alterações documentadas em epigrafia e relacionadas

com a alteração de sentido de alguns pronomes. Väänänen regista exemplos, na

segunda metade do século I, do uso fora do comum de alguns pronomes (1966,

p. 122-123). Nestes exemplos, alguns pronomes são substituídos por outros que

não correspondem com os outros elementos da frase, denunciando alterações de

sentido, como é o caso de hic e ille que surgem a substituir is.

Nas inscrições do território português, o sistema de possessivos está

claramente definido. Devido à natureza do texto epigráfico, funerário e votivo na

sua maior parte, a posse, na terceira pessoa do singular, é expressa, sobretudo,

através do pronome possessivo, já que nestas inscrições a ideia reflexa de posse

é maioritária. Além disto, o pronome possessivo surge no formulário epigráfico,

em expressões como DE SVO FACIENDVM CVRAVIT e SVA IMPENSA. O

genitivo de is está documentado, mas com um menor número de ocorrências. Dos

poucos exemplos, muitos encontram-se no texto de uma das Tábuas de Aljustrel:

IRCP 142.

66 Em vez de is pode ser usado um pronome demonstrativo.

Page 89: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

88

Em relação aos outros pronomes e a alterações documentadas, temos

alguns exemplos. Na zona sul, encontramos dois exemplos do pronome relativo a

denunciar mudanças. No primeiro, o relativo apresenta monotongação do

ditongo ae, o que não torna o seu caso claro e causa problemas na identificação

da forma e da sua relação com o antecedente: MODESTIN[A]E QVE [V]IX(it)

ANN(is) (IRCP 314). A inscrição data de finais do século II ou inícios do século III.

No segundo, o relativo apresenta uma forma aparentemente arcaica de

nominativo, QVAI por QVAE, mas o nominativo está por dativo, CVI (v. Cap. II,

2.1. e Cap. III, 2.). A inscrição apresenta ainda uma forma anómala de nominativo

plural de fatum, FATE por FATA (v. Cap. III, 1.1.1.). O texto data do século III:

MARIA EVPREPIA QVAI FATE CONCESSERVNT VIVERE ANIS XXXXV

(IRCP 430). Por este exemplo, mais claramente do que pelo primeiro, podemos

perceber uma alteração no pronome relativo: a tentativa de uniformização da sua

flexão, no sentido de uma forma representar mais do que um caso. É esta a ideia

que a forma inusitada para dativo indicia.

Numa inscrição da zona centro, temos um exemplo relativo ao pronome

hic. Nessa inscrição encontramos hic, no genitivo plural, utilizado de forma

inesperada: LARES LVBANC(os) DOVILONICOR(um) HORVM ALBVI(us)

CAMAL(i) F(ilius) SACR(um) (FC 11). A inscrição data do início do século I.

4. Numerais

Os numerais dividiam-se em quatro categorias: cardinais, ordinais,

distributivos e advérbios numerais (Ernout e Thomas, 1984, p. 175-178). Na

evolução do latim para as línguas românicas, estes sofrem transformações, como

a alteração do caso em que estes deviam surgir, nas expressões de datas ou de

idade. Mariné (1952, p. 105-109) alerta para o facto de não se respeitarem as

construções clássicas na expressão de uma data ou de uma idade na epigrafia.

Page 90: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

89

Para a data, o autor refere que são usadas, sobretudo, as construções die e

acusativo ou die precedido de uma preposição (in, de ou sub). Quanto à idade, o

autor salienta, em vez da construção natus e acusativo, os genitivos de qualidade

e diz serem raras as construções de uiuo com acusativo ou com ablativo.

Na epigrafia do território português, há um maior número de expressões

que indicam a idade do que expressões de datas. Tal situação deve-se ao

carácter da epigrafia, maioritariamente funerária.

Em relação a datas, temos dois tipos de ideias: a ideia de data,

propriamente dita, e a ideia concreta de um determinado tempo. A maioria dos

exemplos encontra-se nas Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. Aí está

documentada a manutenção das construções clássicas na expressão de ideias

como: tempo em que, tempo desde que ou tempo até que. Como está

documentada, sobretudo, a manutenção de construções, não há registo de

exemplos de die e acusativo ou die precedido de uma preposição (in, de ou sub).

Quanto à idade, não estão documentados exemplos de natus e acusativo.

A maioria das construções para expressar a idade corresponde ao genitivo de

qualidade dependente do nome da pessoa. Esta construção está registada,

uniformemente, nas zonas sul, centro e norte. Por vezes, surge abreviada, como

é usual no registo epigráfico. Encontramos, também, embora em número muito

mais reduzido, a construção de uiuo, através da forma VIXIT, pelo carácter dos

textos funerários, com acusativo e com ablativo. A construção com ablativo surge

mais vezes do que a com acusativo. Este tipo de construções está registado

maioritariamente a sul. Temos dois exemplos de incorrecção nestas expressões,

com uso de ablativo e de acusativo simultaneamente. O primeiro encontra-se

numa inscrição muito danificada e data de finais do século II ou de inícios do

século III (IRCP 83). O segundo apresenta anomalias na grafia do verbo

(v. Cap. II, 3.6.1.) e data de finais do século III: VISSIT ANNIS XIII DIES XV

(IRCP 346).

Page 91: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

90

5. Verbos

Os verbos apresentam três categorias essenciais: a voz, o modo e o

tempo. A voz precisa a posição do sujeito em relação à acção. O modo e o tempo

representam as particularidades da acção (Ernout e Thomas, 1984, p. 215).

Quando se aplica a uma determinada acção que ocorreu num determinado

tempo e de uma determinada forma, uma forma verbal deve fazer as

correspondências correctas em relação ao modo e ao tempo, respeitando a

concordância em pessoa e número com o sujeito. Acontece que nem sempre

acontece desta forma. Em epigrafia, Väänänen apresenta exemplos de desvios,

como o presente do conjuntivo em vez de futuro ou o presente do indicativo em

vez de imperativo (1966, p. 123-124). Mariné (1952, p. 109-121) apresenta,

também, desvios, sobretudo em relação ao número e à pessoa e sistematiza o

uso dos tempos verbais em inscrições. Estes desvios estariam relacionados com

particularidades de certas inscrições ou com uma certa confusão na selecção de

tempo e modo. Tal como aconteceu com os casos, as ideias que determinado

tempo ou modo verbal expressavam deixaram de ser claras e esta confusão deu

origem a uso incorrecto das formas.

Nas inscrições do território português, o uso dos verbos não é muito

diversificado, ou seja, devido ao carácter das inscrições, muitas vezes

obedecendo a um formulário, os verbos utilizados são quase sempre os mesmos,

nos mesmos contextos, e, muitas vezes, surgem abreviados. No entanto, há

algumas excepções. Nestes casos, o que se regista é a manutenção do uso

correcto das categorias verbais. Um dos exemplos mais significativos é o das

Tábuas de Aljustrel: IRCP 142 e 143. Nestas duas inscrições, é possível

encontrar verbos em diferentes contextos, o que na prática corresponde a

diversidade de tempos e modos, como o futuro imperfeito do indicativo, o perfeito

do conjuntivo, o imperativo futuro ou o infinitivo presente.

Page 92: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

91

Apesar da correcção verificada, há uma particularidade que destacamos.

Numa inscrição da região sul, feita num mosaico, existe uma fórmula de

imperativo, com a ideia de ordem negativa: TESSELAM LEDERE NOLI

(IRCP 602). Destacamos este exemplo por a fórmula de ordem negativa utilizada

ser a mais cerimoniosa, o que não deixa de ser curioso tendo em conta que foi

feita num mosaico. Não existe indicação cronológica para a inscrição.

6. Coordenação e subordinação

Quando uma oração forma um período complexo, agregando-se a outra ou

a mais, distinguem-se dois tipos de uniões: a coordenação e a subordinação.

Consoante a conjunção que une as orações e outras características, temos

diferentes tipos de orações coordenadas e subordinadas. Se as coordenadas,

pelo seu carácter independente, são menos complexas, as subordinadas

obedecem a uma série de regras, já que diferentes conjunções seleccionam ou o

indicativo ou o conjuntivo.

Pelo seu carácter complexo, a subordinação adequa-se mais a uma

linguagem elaborada, como a literária. No entanto, ela surge noutros registos. Na

epigrafia, há exemplos de subordinação (Mariné, 1952, p. 122-124; Väänänen,

1966, p. 126-127). Nestes casos, as construções nem sempre estão expressas de

forma correcta, sendo visível a confusão entre diferentes conjunções. Para

Väänänen, casos destes podem denunciar uma sintaxe menos rígida e própria da

linguagem oral (1981, p. 158-159), já que o sistema de subordinação apresentou

uma tendência para a simplificação na evolução do latim para as línguas

românicas.

Na epigrafia do território português, à semelhança do que acontece com o

uso dos verbos, pelo carácter das inscrições, não existem muitos exemplos de

frases complexas. Predominam as frases simples, muitas vezes reduzidas a

Page 93: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

92

fórmulas com abreviaturas, como é usual nas epígrafes funerárias, nas votivas e

nos miliários. No entanto, há registo de subordinação, mais do que de

coordenação. A subordinação está presente nas Tábuas de Aljustrel (IRCP 142

e 143), pela especificidade do seu conteúdo, e em outras inscrições que

apresentam textos diferentes do habitual, divergindo da estilizada linguagem

epigráfica, por particularidades relacionadas, por exemplo com a posição social

de um defunto ou com as circunstâncias que levaram à existência de determinada

epígrafe (IRCP 98 e 647; RAP 38).

Na subordinação documentada, registamos o correcto uso de construções.

Temos exemplos de orações subordinadas relativas e de orações circunstanciais

condicionais, temporais, finais e consecutivas. Também está documentado o uso

de uolo com infinitivo.

Destacamos duas construções frásicas pela sua singularidade. Estas estão

documentadas em inscrições funerárias. A primeira é DIC ROGO QVI TRANSIS e

acompanha SIT TIBI TERRA LEVIS (FC 36 e 46; CIL 5241). A primeira ocorrência

data de finais do século II ou do século III; a segunda de finais do século II. Para a

terceira não existe indicação cronológica. São todas do mesmo local: Conimbriga.

A segunda construção também é fora do comum, tendo em conta as outras

epígrafes: TV QVI LEGIS AVE QVI PERLEGISTI VALE (EFRBI 58). Esta surge

com a variante: TV QVI LEGIS AVE PERLEGISTI VALE (EFRBI 126). Ambas

aparecem no final de inscrições funerárias, depois de H(ic) S(itus) E(st) S(it) T(ibi)

T(erra) L(evis), a primeira, e de H(ic) S(itus) ES[T], a segunda. Ambas datam do

século I: a primeira da segunda metade; a segunda da primeira metade.

Page 94: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

93

Capítulo V

Léxico

Page 95: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

94

1. Derivação

A derivação é um dos processos de enriquecimento lexical de uma língua,

quer através da prefixação, quer através da sufixação, ou, ainda, da combinação

das duas. A uma determinada palavra primitiva junta-se um prefixo ou um sufixo

ou, ainda, ambos para expressar um novo sentido.

1.1. Os prefixos

A prefixação, em latim, é um processo usual para os verbos e para os

nomes comuns. O uso de prefixos tinha como objectivo alargar o campo

semântico de uma determinada palavra, conferindo-lhe sentidos que esta não

apresentava. Este processo é bastante vulgar nos verbos. Por exemplo, os verbos

ineo e redeo são verbos derivados de eo. Os falantes, no dia a dia, deram

preferência a estas formas verbais derivadas, muitas vezes pelas particularidades

de sentido que estas apresentavam, mais adequadas a certas situações próprias

do quotidiano. Isto leva a que as formas derivadas dos verbos, por exemplo,

comecem a substituir as formas simples, começando o prefixo a ser apenas um

reforço da ideia do verbo simples: comedere, conducere. Alguns verbos derivados

deixam mesmo de ser sentidos como tal: cogere, separare. Com estas

transformações, os prefixos deixam de ter os seus sentidos primitivos e sente-se

a necessidade de os acumular: compromittere. Väänänen (1981, p. 95) regista

esta forma no Senatusconsulto das Bacanais, de 186 a.C., e apresenta também

um exemplo de Plauto. Nas inscrições de Pompeios, na segunda metade do

século I, surgem exemplos de formas pouco usuais ou com novos sentidos de

verbos derivados através da prefixação (Väänänen, 1966, p. 107). Numa fase

mais tardia, há registo de que os verbos derivados através da acumulação de

Page 96: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

95

prefixos são cada vez mais comuns, apresentando Väänänen alguns exemplos

(1981, p. 95).

Nas inscrições do território português, temos registo de palavras derivadas

por prefixação, podendo estas sofrer o processo de assimilação, quando os

prefixos terminam em consoante (v. Cap. II, 3.6.6.). Estão documentadas, nas

inscrições, palavras derivadas de diferentes prefixos: ABNEPOTI, ADDIXERIT,

ADMINISTRATAM, COMMISSA, CONCORDIAE, DEDICANTE, DESIGNATO,

DILIGENTER, DILIGENTISSIMO, EXCEPTA, EXPERTEM, IMPENSA, INIMICVS,

NEGOTIANTVR, OBSEQVENTISSIMAE, OBSERVABVNTVR, PERACTA,

PERTINEBIT, PRAECEPTO, PRAESTARE, PROFERENTVR, PROMISIT,

RECEPTVS, REDDERE, SVBDVCET, SVBIECERIT. Muitas destas encontram-se

nas Tábuas de Aljustrel (IRCP 142 e 143), pela natureza do texto, já que as ideias

têm de ser expressas de forma clara e precisa.

Estão documentadas, ainda, algumas formas que se destacam pela sua

singularidade, quer por serem palavras derivadas fora do comum, quer por serem

aplicadas num contexto em que a palavra simples teria o mesmo sentido. Temos,

de sul para norte: INFERET (IRCP 142.7.), de finais do século I ou inícios do

século II; DECAPITASSE (IRCP 143.13.), do período entre o ano 117 e

o ano 138; PERVIXS(it) (FE 119), com abreviatura na última sílaba, de finais do

século II; e INTITVLO (FC 71), da segunda metade do século II. Destacamos,

ainda a forma PERLEGISTI (EFRBI 58 e 126), pela sua oposição com LEGIS, na

mesma inscrição. As duas ocorrências datam do mesmo século: século I. A

primeira da segunda metade; a segunda da primeira.

Quanto a acumulação de prefixos, não há muitos exemplos registados e os

existentes não se tornam redundantes, em termos de sentido. INCOMPARABILIS

(NBA 5.5.) é um desses exemplos.

Page 97: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

96

1.2. Os sufixos

Em relação aos sufixos, há dois grupos que importa distinguir: os sufixos

nominais e os sufixos verbais. Como o próprio nome indica, os sufixos nominais

são os sufixos que se juntam a um nome e os sufixos verbais são aqueles que se

juntam a um verbo.

1.2.1. Os sufixos nominais

Quanto aos sufixos nominais, a sua diversidade é bastante grande em

latim. Um grande número destes sufixos está atestado na epigrafia, sobretudo nas

inscrições de Pompeios. Ao contrário, por exemplo da epigrafia da Península

Ibérica, Väänänen (1966, p. 89-103) apresenta um grande número de exemplos

devido à diversidade do vocabulário. Como refere Mariné (1952, p. 74), a

escassez de sufixos nominais nas inscrições da Península Ibérica deve-se ao

carácter estereotipado das mesmas, correspondendo, muitas vezes, o texto a

fórmulas constantemente repetidas.

Dos vários sufixos nominais latinos, destacamos -anus, -arius, -ensis,

-osus, -tor e -trix e, ainda, os sufixos que entram na formação dos diminutivos e

os dos nomes em -o e em -onis.

O sufixo -anus, assim como -inus e -unus, serve para designar os

habitantes de um determinado lugar: Romanus. Além de se juntar a nomes de

cidades, este sufixo também se junta a nomes de pessoas: Octauianus e

Caesarianus. Em latim, existia, ainda, um reduzido número de palavras que

apresentava este sufixo e que expressava, também, a origem: urbanus,

montanus, primanus, ueteranus (Väänänen, 1966, p. 97).

O sufixo -arius serve para formar adjectivos, normalmente a partir do nome

de objectos (ex.: asinus moliarius), e para formar nomes que designam uma

determinada ocupação ou profissão. Na epigrafia da segunda metade do século I,

há um maior número de exemplos do sufixo para o segundo tipo de palavras

Page 98: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

97

(Väänänen, 1966, p. 92-94). O Appendix Probi documenta a preferência deste

sufixo em relação a outro de valor equivalente: primipilaris non primipilarius

(Väänänen, 1981, p. 201). O uso do sufixo para designar ocupações acaba,

também, por estar presente na evolução do latim para as línguas românicas. Em

português, evoluiu para -eiro e encontra-se em palavras como oleiro, moleiro ou

ferreiro.

O sufixo -ensis, também com a grafia -iensis, entra na formação de

palavras que designam os habitantes de um local. À semelhança de -anus indica

a origem. Em português, temos a presença deste sufixo, depois de este ter

evoluído, para designar os habitantes de algumas cidades ou vilas: bracarense e

pacense.

O sufixo -osus expressa a ideia de abundância de uma característica ou de

uma substância. Juntava-se a nomes para formar adjectivos: aquosus, formosus,

otiosus, pretiosus. Väänänen (1981, p. 88) refere que é bastante comum. No

Appendix Probi, temos documentada a preferência por este sufixo: rabidus non

rabiosus (Väänänen, 1981, p. 203).

Os sufixos -tor e -trix têm o mesmo valor: servem para formar palavras que

designam um agente, à semelhança de -arius. Os dois sufixos eram

correntemente utilizados, mas começam a ser preteridos em detrimento de -arius

e do particípio presente, numa época mais tardia. Väänänen refere que os sufixos

-tor e -trix acabam por se restringir a palavras do domínio do comércio e das

ocupações públicas (1966, p. 89).

Na formação dos diminutivos eram utilizados, sobretudo, dois sufixos. O

primeiro, mais comum, tinha a forma -ulo, para o masculino, e -ula, para o

feminino. Quando a palavra primitiva pertencia à terceira, quarta ou quinta

declinação, o sufixo era precedido de um c: -culo, -cula (Väänänen, 1966, p. 100).

Exemplos deste são as formas casula, filiolus, aedicula e articulus. O segundo

sufixo, menos comum, utilizava-se para temas em -l-, em -n- e em -r-. Este sufixo

tinha as formas -ello, -ella e -illo, -illa. Exemplos são as formas porcellus (tema

em -l-), corolla (tema em -n-) e agellus (tema em -r-). Estas formas de diminutivo

Page 99: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

98

estavam relacionadas com estes três temas, sendo fruto de uma evolução

particular e restrita. No entanto, as pessoas começaram a generalizar o seu uso e

começaram a aplicá-las nos casos em que se devia usar -ulo e -ula (Väänänen,

1966, p. 100). Desta forma, estes últimos começaram a perder o sentido de

diminutivos, sendo substituídos, em muitos casos, por -ello, -ella ou -illo, -illa. Esta

situação levou ao aparecimento de formas duplas de diminutivos, a mesma

palavra com os dois sufixos diferentes, e de confusões, como está registado no

Appendix Probi: catulus non catellus (Väänänen, 1981, p. 201).

O sufixo -o, -onis, com a variante -io, -ionis, entrava na formação de nomes

que tinham, como correspondentes, adjectivos terminados em -us, -a, -um:

manducus, manduco, strabus, strabo (Väänänen, 1981, p. 88). Na formação de

cognomina derivados de nomes comuns (ex.: Strabo, Naso), o sufixo salienta uma

determinada característica, mas também pode ser utilizado para designar

ocupações e profissões (ex.: caupo, mulio). Tanto num caso, como no outro, o

sufixo tem um sentido pejorativo e depreciativo que acaba por passar para as

línguas românicas. Nas línguas românicas, o sufixo acaba, também, por encerrar

a ideia de aumentativo (Väänänen, 1966, p. 96).

Nas inscrições do território português, está documentado o uso do

sufixo -anus. A designar origem, o sufixo reduz-se ao exemplo: ROMANVS. Como

parte integrante de nomes próprios, é mais comum: AELIANVS, ARRIANVS,

AVGVSTANVS, CASSIANVS, CLAVDIANVS, COELIANVS, FABIANVS,

FLORIANVS, IVLIANVS, LABERIANVS, LVCIANVS, MARIANVS,

MODESTIANVS, TERENTIANVS. Surge mesmo em nomes de cariz grego:

DIONYSIANVS. Alguns vocábulos que apresentam o sufixo designam

simultaneamente o nome e a origem do indivíduo: AFRICANVS, HISPANVS,

IGAEDITANVS. Em relação a outras palavras que também documentavam a

origem, estas apenas surgem como parte integrante do nome do indivíduo:

MONTANVS, VETERANVS, VRBANVS. Existe um nome registado na zona sul de

Portugal que poderá ser integrado neste grupo, já que pode ser interpretado como

Page 100: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

99

um derivado de Lucceius: LVCCEIIANVS67 (IRCP 266). A inscrição em que se

encontra data de finais do século II ou inícios do século III.

O sufixo -inus, ao contrário de -unus, também se encontra documentado,

se bem que com um menor número de exemplos: ANTONINVS, FLACCINVS,

FLAVINVS, FLORINVS, MAXIMINVS, MODESTINVS, REBVRRINVS, RVFINVS,

SCAEVINVS.

O sufixo -arius surge em adjectivos, formados a partir de nomes comuns,

como AERARIAS, ARGENTARIAS e DIARIAS, e em nomes que designam

profissões: SCAVRARIORVM, TESTARIORVM. Por vezes, o nome da profissão

passava a integrar o nome da pessoa: LAPIDARIVS.

O sufixo -ensis está largamente documentado em formas que designam a

origem: AQVIFLAVIENSES, ARCOBRIGENSIS, ARITIENSE, BALSENSIS,

CLVNIENSI, COLLIPPONENSIVM, CONIMBRIGENSIS, EBORENSIS,

ITALICENSI, LANCIENSES, OLISIPONENSIS, PACENSIS, VIPASCENSIS,

VTICENSIS.

O sufixo -osus não está registado, à excepção de um epíteto de uma

divindade: L(ari) COVTIOSO.

O sufixo -tor, designando o agente, está documentado em diversos

exemplos, alguns dos quais correspondem a nomes de ocupações: ACTOR,

CIRCITORIBVS, CONDVCTOR, CVLTORES, CVRATOR, DEBITOR, EMPTOR,

IMPERATOR, PROCVRATOR, VENDITOR. A designar a ocupação e o nome da

pessoa surge uma vez: MERCATOR. O sufixo -trix também está documentado,

mas com um muito menor número de exemplos: NVTRICI, SERVATRICI.

Os sufixos que entram na formação dos diminutivos estão ambos

documentados. De -ulo e -ula, apenas temos exemplos do sufixo precedido

de c, -culo, -cula: AVVNCVLO, VERSVCVLOS. O sufixo está também

documentado em nomes próprios: FELICVLAE, PRIMVLAE. De -ello, -ella, temos

como exemplos: FLAGELLIS, TESSELAM, com redução da consoante dupla ll, e

TESSELLAS. De -illo, -illa, só temos exemplos em nomes próprios, como 67 Abascal (1994, p. 403) a propósito da forma Lucceiianus refere ser igual a Lucceianus. O mesmo autor (1994, p. 174) regista os nomes Lucceia e Lucceius.

Page 101: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

100

CANDIDILLA, CLARILLA, FLACCILLAE, FVSCILLA, LVPERCILLA, VICTORILLA.

Pelos exemplos, pode comprovar-se a generalização deste sufixo e o seu uso

com palavras sem ser as de temas em -l-, em -n- e em -r-.

O sufixo -o, -onis está documentado em palavras que marcam uma

determinada característica da pessoa e a designam: CAPITONIS, FRONTONIS,

NIGELLIONIS, SILONIS.

1.2.2. Os sufixos verbais

Os sufixos verbais surgem, na epigrafia, em menor número do que os

sufixos nominais, como é o caso das inscrições de Pompeios, com um número de

exemplos significativamente inferior em comparação com os sufixos nominais

(Väänänen, 1966, p. 103-104). Observando os exemplos apresentados, também

podemos constatar que a diversidade de sufixos verbais não é muita.

Numa outra obra, Väänänen (1981, p. 90-91) apresenta alguns dos sufixos

verbais do latim. Destes, destacamos os sufixos: -are e -ire, -icare e -illare. Os

sufixos -are, também com a forma -iare, e -ire juntavam-se a nomes comuns ou a

adjectivos de forma a criar verbos: laus, laudare; breuis, breuiare. Encontram-se

atestados na epigrafia do século I (Väänänen, 1966, p. 103). O sufixo -icare tem

um sentido frequentativo: claudicare. Em alguns casos, os verbos derivados que

apresentavam este sufixo substituíram o verbo primitivo no qual tinham tido

origem: claudicare substitui claudere (Väänänen, 1981, p. 91). O sufixo -illare

também tem um sentido frequentativo, mas confere a ideia de pouca importância

da acção, aproximando-se da de diminutivo: murmurillare.

Na epigrafia do território português, o sufixo verbal -are está documentado

em verbos derivados de nomes e de adjectivos. Temos atestado o verbo aurare,

derivado de aurum, num exemplo, de finais do século I ou de inícios do século II:

AVRAVIT (EFRBI 116). O verbo curare, derivado de cura, está amplamente

documentado em todo o território, muitas vezes de forma abreviada, por fazer

parte do formulário epigráfico. Temos exemplos de formas como CVRAVERIT,

Page 102: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

101

CVRAVERVNT e CVRAVIT. O verbo donare, derivado de donum, apresenta

diferentes exemplos, registados nas regiões sul e centro: DONARE, DONAVIT. O

verbo legare, derivado de lex, está documentado uma vez: LEGAVIT (IRCP 144).

A inscrição em que se encontra data do século II. O verbo renouare é derivado

por prefixação do verbo nouare. Este, por sua vez, é derivado do adjectivo

nouus, -a, -um. Temos dois exemplos de renouare: RENOVATE (EO 22), do

ano 336, e RENOVARVNT (CIL 2420), sem data. O verbo sacrare, derivado do

adjectivo sacer, -cra, -crum, aparece documentado através da forma SACRAVIT,

por vezes abreviada, registada, sobretudo, a norte. O verbo uocare, derivado de

uox, surge registado através de um exemplo de finais do século I a.C. ou de

inícios do século I: VOCATVR (CV 78). Quanto aos outros sufixos, não há

exemplos a apresentar.

2. Composição

A composição é o processo de formação de palavras através do qual se

juntam, normalmente, dois vocábulos. Se as palavras se juntam formando uma

unidade coesa, temos a composição propriamente dita. Se, pelo contrário, as

palavras formam uma unidade semântica, mas mantêm a sua unidade, seguindo,

por vezes, cada uma a sua declinação, temos a composição por justaposição

(Faria, 1958, p. 283). Tanto num caso, como no outro, o processo é mais

frequente nos nomes comuns.

2.1. A composição propriamente dita

A composição propriamente dita não é muito frequente em latim. O

processo é comentado por autores latinos como Quintiliano e Cícero, mostrando

Page 103: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

102

estes desagrado em relação a algumas palavras compostas (Väänänen, 1981,

p. 92). No entanto, na linguagem do quotidiano e na poesia, o processo vai

originando algumas palavras.

Desde a época arcaica que há exemplos de palavras compostas em latim,

como suouetaurilia e stultiloquus e até nomes de algumas localidades (Väänänen,

1981, p. 92). Os poetas latinos e os autores que recorrem a linguagens técnicas

utilizam igualmente este processo de formação de palavras, à semelhança do

grego, para criarem termos novos. Na linguagem do quotidiano, também são

formados alguns compostos. Plínio, o Antigo, relata que as pessoas, na sua

época, começam a dizer sanguisuga em vez de hirudo68. A epigrafia de Pompeios

apresenta exemplos para a segunda metade do século I (Väänänen, 1966, p. 105-

106). O Appendix Probi documenta, ainda, alguns destes compostos de carácter

popular: aquae ductus non aquiductus, terrae motus non terrimotium (Väänänen,

1981, p. 202 e 202).

Como se pode observar pelos exemplos, os falantes começam a criar

compostos, preferindo-os a palavras simples, como é o caso do exemplo dado por

Plínio, ou consideram duas palavras que surgem juntas uma palavra composta,

como no caso dos exemplos do Appendix Probi. Esta tendência popular para a

criação e para a valorização de palavras compostas mantém-se na passagem do

latim para as línguas românicas. Voltando ao exemplo de Plínio, foi a forma

sanguessuga que passou para português.

Nas inscrições do território português, não existem muitos exemplos de

palavras compostas. Temos, de sul para norte: MANCIPIA (IRCP 142.2.), de

finais do século I ou inícios do século II, forma de mancipium, palavra derivada de

manceps, que, por sua vez, é um composto de manus e capio; CALFACERE

(IRCP 142.3.) e ARTIFICES (IRCP 142.5.), da mesma data; AQVILIFER (CIL 266)

sem data; e SIGNIFER (Egit. XIV; AF 223), com a variante SIGINIFERO (AF 215),

sem indicação cronológica em qualquer uma das ocorrências.

68 Naturalis Historia, 8, 29.

Page 104: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

103

Está documentada uma palavra que apresenta um tipo de composição

curioso: VBERTVMBIS (IRCP 142.7.). A palavra, com a função de adjectivo,

parece ser resultante de dois compostos: um de origem latina, uber; outro de

origem grega, tumba. A inscrição data de finais do século I ou inícios do século II.

Além destes exemplos, estão registados nomes próprios resultantes do

processo de composição. Temos, por ordem alfabética: AENOBARBO (Egit. 1),

do ano 16 a.C., e ALTECINIRIS (CIL 265), sem data.

Existe, ainda, um grupo de nomes próprios de cariz grego, que resulta

igualmente deste processo de formação de palavras. Temos, por ordem

alfabética: CALEMERA (IRCP 42), da segunda metade do século II; CALETYCHE

(IRCP 299 e 309), ambas do século II; CALIMERVS (FC 100), do século IV;

EVTYCHES (IRCP 80; EFRBI 81), datando a primeira ocorrência de finais do

século II e a segunda de finais do século I ou de inícios do século II; e

POLYCARPVS (AF 72), sem data.

2.2. A justaposição

Devido à natureza do processo, algumas palavras compostas por

justaposição surgem separadas na grafia, percebendo-se, deste modo, o carácter

independente de cada um dos vocábulos que as formam. É o caso, por exemplo,

de duo uiri, de pater familias e de res publica, que em algumas inscrições mais

antigas surgem registadas de forma separada (Väänänen, 1981, p. 93).

A tendência para justapor palavras que, normalmente, são utilizadas em

conjunto, formando uma unidade semântica, vai alargar-se aos nomes próprios e,

com o cristianismo, são vários os que surgem, tendo como formação este

processo (ex.: Deodatus). De época tardia são, ainda, os compostos de carácter

popular como maledicere.

A justaposição engloba, também, grupos de palavras de natureza diferente,

nomes comuns e preposições, que, em conjunto, designavam, sobretudo,

Page 105: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

104

profissões: seruus a pedibus, a manu seruus ou, simplesmente, a ueste.

Exemplos destes encontram-se na obra de Cícero e na de escritores do século I

(Väänänen, 1981, p. 94). Também no século I, na segunda metade, as inscrições

de Pompeios documentam compostos deste tipo: aqua in manus, ex sanguine

(Väänänen, 1966, p. 106).

Algumas palavras invariáveis mostram, também, a tendência para a

justaposição. Esta justaposição ocorre, sobretudo, com os advérbios, que surgem

acumulados, reforçando o sentido. Já em Lucílio surge um destes exemplos:

demagis. Na sua obra, Cícero fornece mais alguns: derepente, desubito

(Väänänen, 1981, p. 95). As inscrições de Pompeios, na segunda metade do

século I, também documentam o fenómeno (Väänänen, 1966, p. 108).

Na passagem do latim para as línguas românicas, manteve-se a tendência

para a justaposição, sobretudo, de vocábulos de índole popular. Por exemplo, a

justaposição de palavras invariáveis deu origem a vários advérbios. De inter

evoluiu para dentro, em português, e depost para depois.

Na epigrafia do território português, não há muitos registos de palavras

compostas por justaposição. Temos, apenas, o caso da designação de duas

cidades importantes. A sua designação surge em formas separadas graficamente:

AQVIS FLAVIS, BRACARA AVG(usta). A dos seus habitantes em formas já não

separadas: AQVIFLAVIENSES, BRACARAVGVSTANI.

3. Renovação lexical

Durante a história da língua latina, foram surgindo novos vocábulos de

carácter popular. Estes começaram a ser utilizados, frequentemente, e

começaram a substituir outros69. É o caso de vadere que suplanta ire em algumas

69 Ernout (1954, p. 185-192) analisa esta questão, apresentado mais exemplos. Na mesma obra, o autor relaciona a substituição de alguns verbos irregulares por outros com uma tentativa de normalização e de eliminação de formas anómalas (id., p. 151-162).

Page 106: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

105

formas. É também o caso de edere substituído por comedere e manducare. E,

ainda, de sapere, que surge em vez de scire, já nas Cartas de Cícero (Väänänen,

1981, p. 76).

Esta tendência não se restringe só aos verbos. Os nomes comuns e os

adjectivos são também suplantados por vocábulos de sentido equivalente. Equus

é substituído por caballus, os por bucca, caput por testa. Grandis surge por

magnus, infirmus por aeger e formosus por pulcher.

O fenómeno de substituição, como se pode observar pelos exemplos, dá a

preferência a vocábulos mais extensos. Este ponto pode ser confirmado por uma

tendência semelhante, documentada no Appendix Probi, que consiste na

substituição de nomes comuns no grau normal pelo correspondente diminutivo:

auris non oricla, fax non facla, mergus non mergulus (Väänänen, 1981,

p. 201-202).

Na epigrafia, a substituição de algumas palavras por outras novas está

documentada na epigrafia da Península Ibérica e na de Pompeios, com exemplos

do século I para ambos os casos (Carnoy, 1906, p. 259-260; Väänänen, 1966,

p. 108-110). Os vocábulos que suplantaram outros, em muitas situações,

acabaram por passar para as línguas românicas: boca tem como étimo buccam e

orelha auriculam.

Nas inscrições do território português, temos exemplos de novos vocábulos

que começaram a suplantar outros já existentes. Em relação a nomes comuns,

temos dois exemplos: BARCARVM (IRCP 73), do século III, com barca em vez de

nauis; e CABALLOS numa clara relação com o feminino EQVAS (IRCP 142.2.),

de finais do século I ou inícios do século II, com caballus em vez de equus. O

vocábulo VACCA, com omissão de -m (RAP 469), também está documentado

para fazer a distinção entre o feminino e o masculino. A inscrição em que se

encontra tem uma data bastante precisa: 9 de Abril de 147.

No âmbito dos adjectivos, registamos o uso de sanctus, -a, -um com deus

ou dea, numa fórmula que não era a mais habitual, em inscrições votivas,

maioritariamente a sul, em formas como DEAE SANCTAE e DEO SANCTO. Por

Page 107: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

106

vezes, estas expressões eram seguidas do nome da divindade. Noutros casos,

surgem isoladas.

Quanto a verbos, temos alguns que suplantam outros ou expressões

equivalentes. O verbo debere surge a marcar a ideia de obrigação nas duas

Tábuas de Aljustrel (IRCP 142 e 143), em detrimento da construção tradicional da

perifrástica passiva. O verbo donare surge em alguns exemplos, sendo preterido

o uso de dare ou suplantando outras construções: DONARE (IRCP 142.2.) e

DONAVIT (IRCP 339; EO 31; EFRBI 206; Egit. 1). O exemplo mais antigo é o

último: ano 16 a.C.. O verbo statuere, através da forma STATVERVNT e

STATVIT, está registado, em inscrições funerárias em contexto de ponere ou da

expressão faciendum curauit. Estes exemplos registam-se, maioritariamente, em

inscrições da zona centro. Está documentado, ainda, um caso em que a

expressão hic situs est surge alterada: STATVS HI(c) EST (EFRBI 7). O exemplo

data da primeira metade do século I. Também está registada outra alteração, mas

esta mais anómala: HIC STITVS EST (EFRBI 216). A inscrição em que se

encontra o exemplo data do século I. O verbo tractare está documentado num

contexto em que o sentido poderia ser representado por outro, visto que

representa a ideia de negociar: TRACTARE (IRCP 142.4.). A inscrição em que se

encontra o exemplo data de finais do século I ou inícios do século II.

Destacamos, ainda, uma palavra extremamente comum em toda a

epigrafia funerária, que, apesar de estar a suplantar outra, acabou por ser

suplantada na evolução do latim para o português. Esta palavra é MARITA.

Derivada de maritus, ela surge em algumas epígrafes, sobretudo da zona sul, em

vez de uxor. O exemplo mais antigo data da segunda metade do século I

(IRCP 585). Os outros, no caso dos que estão datados, são dos séculos II e III.

Em grande parte dos exemplos, quando a palavra está em dativo, surge a forma

monotongada: MARITE (v. Cap. II, 2.1.)

Em relação a diminutivos, estão documentados exemplos que estão em

vez do nome no grau normal. Temos, por ordem alfabética: FLAGELLIS

(IRCP 143.10., 143.13. e 143.17), do período entre os anos 117 e 138;

Page 108: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

107

TESSELAM (IRCP 602), sem data, e a forma de plural TESSELLAS (IRCP 35), do

século III; e VERSVCVLOS (FC 71), da segunda metade do século II (v. 1.2.1.).

4. Empréstimos

O latim recebeu a contribuição de várias línguas, através de empréstimos

lexicais. Com estes novos vocábulos, pretendia-se designar, sobretudo, novas

realidades: a designação de uma técnica dominada por outro povo ou a

designação de algo desconhecido para os Romanos, por exemplo. As palavras

importadas poderiam, também, designar realidades já conhecidas, mas

adoptava-se a palavra estrangeira, por razões de prestígio.

O latim recebeu empréstimos do etrusco e, sobretudo, do grego, mas os

povos celtas e os povos germânicos também foram responsáveis por alguns70. De

origem etrusca são palavras com um certo valor depreciativo, como, por exemplo,

scurra e uerna (Ernout, 1954, p. 91).

O grego foi a língua que deu uma maior contribuição ao latim, através de

diferentes tipos de empréstimos71. Sob a forma de empréstimo directo, temos

palavras como camera, machina ou scaena. O vocabulário de algumas áreas,

nomeadamente técnicas, é de origem grega. A influência grega fez-se sentir em

duas fases: a primeira, numa época mais antiga, no designado período

pré-literário (Ernout, 1954, p. 57-72); a segunda, numa fase posterior, a partir do

século III a.C. (id., p. 72-84). Um dos elementos que distingue estas duas fases é

o facto de as palavras pertencentes à primeira terem sofrido uma maior

70 Além destes, Ernout demonstra que parte dos empréstimos relacionados com os nomes de vegetais, de legumes, de flores e de frutos, com o vocabulário marítimo e com a designação de elementos da fauna tem origem mediterrânica (1954, p. 17-57). 71 Dentro do grupo dos empréstimos gregos, pode distinguir-se dois tipos: o empréstimo directo, que implica a adopção de uma nova palavra com o sentido que esta tem na língua estrangeira (Ernout, 1954, p. 57-86), e o empréstimo semântico, que consiste na atribuição de um novo sentido, estrangeiro, a uma palavra já existente no vocabulário (id., p. 86-91).

Page 109: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

108

transformação fonética. A influência grega veio, de novo, a verificar-se, depois do

período clássico, impulsionada, sobretudo, pelo cristianismo (id., p. 84-86).

As línguas célticas também emprestaram algumas palavras ao latim.

Carpentum e sagum são vocábulos importados na época de Lívio Andronico e de

Énio. Plínio, o Antigo, regista alauda e betulla e, numa fase mais tardia, camisia e

leuca são adoptadas (Väänänen, 1981, p. 83). Os povos germânicos contribuíram

para o latim com palavras como brutis, burgus ou ganta, surgindo esta última na

obra de Plínio, o Antigo.

Na epigrafia da Gália, surgem documentados empréstimos gregos,

empréstimos de origem celta e empréstimos de origem germânica (Pirson, 1901,

p. 229-237). Para a Península Ibérica, Carnoy apresenta um reduzido número de

empréstimos gregos e de empréstimos, como o próprio designa, de origem

bárbara (1906, p. 255-257). Nas inscrições de Pompeios, na segunda metade do

século I, devido à localização da cidade, estão, sobretudo, documentados

empréstimos gregos, nomeadamente termos técnicos (Väänänen, 1966,

p. 110-111).

Na evolução do latim muitos destes empréstimos passaram para as línguas

românicas. Camisiam, empréstimo celta, em português, evoluiu para camisa.

Nas inscrições do território português, os empréstimos registados são de

origem grega. No entanto, apesar de estar registado um número razoável de

nomes próprios que segue a declinação original (v. Cap. III, 1.2.) e de outros que

apresentam elementos gregos (v. 2.1.), o número de empréstimos registado não é

muito elevado. Temos, por ordem alfabética: BASI (IRCP 121; EFRBI 116), do

século II, possivelmente do ano 173, e de finais do século I ou inícios do século II,

respectivamente; HYPOCAVSTIS (IRCP 142.3.), de finais do século I ou inícios

do século II; POETA (IRCP 482d-e), sem data; PROSCAENIVM e

ORCHESTRAM (EO 70), do ano 57; e SCAVRARIORVM, SCAVREIS e

SCAVRIAE (IRCP 142.7.) (v. Cap. II, 2.2.), com a mesma data que

HYPOCAVSTIS.

Page 110: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

109

5. Mudanças de sentido

Algumas palavras, em latim, sofreram mudança de sentido. O processo de

mudança ocorreu de duas formas: ou a palavra sofreu uma restrição de sentido e

a sua utilização começou a ser particularizada, ou, contrariamente, sofreu um

alargamento de sentido, utilizando-se de forma generalizada para designar

diferentes realidades. Em relação à primeira situação, temos, como exemplo, o

verbo collocare, que deixa de significar colocar para significar deitar, já na obra de

Cícero, e os nomes comuns cognatus e cognata, que passam a designar o irmão

da mulher e a irmã do marido em vez de parente próximo (Väänänen, 1981,

p. 96). Quanto ao segundo caso, apresentamos, como exemplo, o verbo laxare,

que de afrouxar passou a significar deixar, e o nome comum poena, que, além de

designar punição (ex.: pena a ser cumprida), passou a designar sentimento de

compaixão (ex.: ter pena de alguém).

Em relação à generalização de sentido, Mariné (1952, p. 76-77) refere as

alterações de significado que os pronomes sofreram, sobretudo os

demonstrativos, ilustrando com exemplos. O autor salienta que os

demonstrativos, nos exemplos apresentados, parecem comportar-se como

artigos. Na evolução do latim para as línguas românicas, o sistema de

demonstrativos sofreu algumas alterações: uma delas é o significado de ipse. O

pronome deixou de significar o próprio para passar a significar esse. O pronome

iste, que assegurara este sentido, passa a designar este, enquanto que hic cai em

desuso72. Quanto ao numeral unus, -a, -um, o sentido também se altera. De

numeral a palavra passa a ter um valor de artigo indefinido. Väänänen (1981,

p. 119) regista esta alteração já em Plauto.

Na epigrafia, as alterações de significado estão atestadas, tanto na

Península Ibérica, como em Pompeios, com exemplos do século I (Carnoy, 1906,

p. 265-266; Väänänen, 1966, p. 112-113). As alterações de sentido acabaram por

72 Väänänen (1981, p. 121) apresenta um esquema ilustrativo das mudanças de sentido dos pronomes.

Page 111: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

110

passar para as línguas românicas. Exemplos são os sentidos de cunhado, de

cunhada, do verbo deixar e de pena.

Nas inscrições do território português, não temos registadas muitas

alterações de sentido. As que temos estão registadas a sul. O primeiro exemplo

apresenta a alteração de sentido de um numeral: L(ucii) ANNII P(ublii) F(ilii) BINI

ANNORVM LXXXV H(ic) S(iti) S(unt) (IRCP 91). A inscrição data da segunda

metade do século II. O segundo exemplo apresenta a alteração de sentido de um

adjectivo: CVM QVAM VIXIT COMMVNES ANNOS (IRCP 259). Neste caso,

COMMVNES encerra a ideia de anos em comum. A inscrição data do século III.

Quanto ao terceiro exemplo é um pouco diferente, já que se trata de uma

expressão pouco comum nas epígrafes portuguesas e altera o uso habitual de

plus: PLVS MINVS. Surge no seguinte contexto: SEX(tus) N(umisius) EROS

VIX(it) AN(nis) PLVS MINVS LV (IRCP 23). Este exemplo encontra-se numa

inscrição do século II. A expressão surge, abreviada, em mais duas inscrições do

século II: IRCP 134 e FC 63.

Page 112: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

111

Conclusão

Considerando os dados que foram apresentados, importa sistematizar

algumas ideias, de modo a traçar uma caracterização do latim das inscrições

romanas do território português, atendendo às hipóteses que foram estabelecidas

no início do estudo.

Quanto à manutenção ou não da correcção na língua das epígrafes, os

dados apontam maioritariamente para o respeito das formas correctas,

documentado, por exemplo, na manutenção de alguns grupos consonânticos,

sem assimilação, no uso adequado dos tempos e modos verbais ou na

conservação das construções adequadas na subordinação. Este cumprimento

das regras da língua pode ser associado a uma atitude conservadora, confirmada

pela presença de arcaísmos nas desinências nominais e verbais, datando alguns

destes do século II.

Comparando a epigrafia do território português com a de outras regiões,

nomeadamente a de Pompeios, podemos observar, ao nível dos desvios, várias

semelhanças, como a oscilação na grafia das vogais, a monotongação do ditongo

ae, a confusão entre b e a semivogal u ou o uso de formas derivadas por

prefixação. Normalmente, os exemplos de desvios mais antigos registados em

território português são um pouco mais tardios do que os de Pompeios, datando

grande parte de finais do século I e do século II.

No que se refere à diferenciação geográfica do latim das inscrições,

verifica-se que, de facto, certas particularidades ocorrem predominantemente em

determinadas zonas do território: a monotongação de ae e a manutenção da

declinação original em nomes de origem grega estão documentadas sobretudo na

zona sul; o tratamento de nomes próprios da segunda declinação como se fossem

da terceira e a redução do grupo ns estão atestados nas zonas centro e norte; a

oscilação entre c e g nos nomes próprios ocorre, sobretudo, na zona centro. No

Page 113: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

112

entanto, parece-nos que o número de tais ocorrências não é suficiente para definir

com clareza variantes linguísticas distintas.

Relativamente a influências externas, é evidente a presença indígena nos

nomes próprios e de divindades, sobretudo na zona centro e também na norte. A

presença grega está fortemente documentada na zona sul, através de um grande

número de nomes próprios, mantendo parte destes a declinação original. No

entanto, estas presenças exteriores circunscrevem-se à designação de pessoas e

de divindades, não parecendo influenciar outros vocábulos. Um aspecto

interessante a aprofundar e que não tratámos por não se enquadrar no âmbito do

nosso trabalho seria o estudo da presença grega no território português,

tratando-se a onomástica e caracterizando-se essa população.

No que se refere à distribuição de alguns aspectos, salientamos, ainda,

dois que não aprofundámos, pela natureza do trabalho: a distribuição de nomes

próprios e a variação do tipo de texto epigráfico. Em relação aos nomes próprios,

a distribuição ajuda a perceber o tipo de habitantes que vivia no território

português. É nítida na zona centro a predominância de nomes de origem

indígena. O texto epigráfico varia de estilo consoante a região. Na zona sul, é

frequente encontrar textos mais extensos e com algum grau de elaboração. O

mesmo acontece na zona de Lisboa ou de S. Miguel de Odrinhas. No entanto,

noutras regiões da zona centro, sobretudo na região interior ou na zona de Viseu,

o texto epigráfico é mais curto e as dedicatórias, funerárias ou votivas, reduzidas

ao mínimo de caracteres. Para tal, pode contribuir a natureza do material ou a

literacia dos habitantes.

Em traços gerais, podemos concluir que o latim das inscrições romanas do

território português se caracteriza pela manutenção de construções e pelo

conservadorismo. No entanto, tal não implica que ele não partilhe características

e fenómenos comuns à epigrafia de outros locais e que não se integre no latim de

todo o Império, apesar de algumas particularidades internas.

Page 114: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

113

Bibliografia

Bibliografia do corpus com lista de abreviaturas

ACS = LOPES, M. C.; CARVALHO, P. C.; GOMES, S. M. (1997) – Arqueologia do

Concelho de Serpa. Serpa: Câmara Municipal de Serpa.

AF = RODRÍGUEZ COLMENERO, A. (1997) – Aquae Flauiae. Chaves: Câmara

Municipal de Chaves. Vol. 1: Fontes epigráficas da Gallaecia meridional

interior.

CIL = HÜBNER, E. (1869) – Inscriptiones Hispaniae Latinae. Berolini: Georgium

Reimerum (Corpus Inscriptionum Latinarum; 2).

HÜBNER, E. (1892) – Inscriptiones Hispaniae Latinae: Supplementum.

Berolini: Georgium Reimerum (Corpus Inscriptionum Latinarum; 2).

CV = VAZ, J. L. I. (1997) – A ciuitas de Viseu: espaço e sociedade. Coimbra:

Comissão de Coordenação da Região Centro (História Regional e

Local; 2).

EFRBI = FERREIRA, A. P. R. (2004) – Epigrafia funerária romana da Beira

Interior: inovação ou continuidade?. Lisboa: Instituto Português de

Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia; 34).

Egit. = ALMEIDA, F. de (1956) – Egitânia: história e arqueologia. Lisboa:

Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras.

EO = SILVA, A. V. da (1944) – Epigrafia de Olisipo: subsídios para a história de

Lisboa romana. Lisboa: Publicações Culturais da Câmara Municipal de

Lisboa.

Page 115: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

114

ERRB = REDENTOR, A. (2002) – Epigrafia romana da região de Bragança.

Lisboa: Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de

Arqueologia; 24).

FC = ETIENNE, R.; FABRE, G.; LÉVÊQUE, Pierre e Monique (1976) – Fouilles de

Conimbriga ; 2. Épigraphie et sculpture. Paris: De Boccard.

FE = ENCARNAÇÃO, J. d’; GÓMEZ-PANTOJA, J. L. (2003) – Ficheiro Epigráfico:

suplemento de Conimbriga; 1-66 [Cd-Rom]. Coimbra: Universidade de

Coimbra, Faculdade de Letras, Instituto de Arqueologia.

IRCP = ENCARNAÇÃO, J. d’, (1984) – Inscrições romanas do conuentus

Pacensis: subsídios para o estudo da romanização. Coimbra:

Faculdade de Letras, Instituto de Arqueologia (Tese de doutoramento

em Pré-história e Arqueologia, Universidade de Coimbra, 1984).

IRTV = MANTAS, V. G. (1982) – Inscrições romanas do Museu Municipal de

Torres Vedras. Conimbriga. Coimbra. 21, p. 5-99.

NBA = TRANOY, A.; LE ROUX, P. (1989-1990) – As necrópoles de Bracara

Augusta, B. Les inscriptions funéraires. Cadernos de Arqueologia.

Braga. 2.ª série. 6-7, p. 187-230.

Odr. 1 = CARDOZO, M. (1956) – Catálogo das inscrições lapidares do Museu

Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas. In NUNES, H. B., ed. (1999) –

Obras de Mário Cardozo; 2. Porto: Fundação Eng. António de Almeida,

p. 487-617.

Page 116: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

115

Odr. 2 = CARDOZO, M. (1958) – Novas inscrições romanas do Museu

Arqueológico de Odrinhas. In NUNES, H. B., ed. (1999) – Obras de

Mário Cardozo; 2. Porto: Fundação Eng. António de Almeida,

p. 619-639.

Odr. 3 = CARDOZO, M. (1961) – Novas inscrições lusitano-romanas do Museu de

São Miguel de Odrinhas. In NUNES, H. B., ed. (1999) – Obras de Mário

Cardozo; 2. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, p. 641-659.

RAP = GARCIA, J. M. (1991) – Religiões Antigas de Portugal. Lisboa: Imprensa

Nacional-Casa da Moeda.

RERC = ENCARNAÇÃO, J. d’ (2001) – Roteiro epigráfico romano de Cascais. 2.ª

ed. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, Pelouro da Cultura.

RIRP = DIAS, M. M. A. (1988) – Para um repertório das inscrições romanas do

território português. Euphrosyne. Lisboa. Nova série. 16, p. 413-425;

(1989), Euphrosyne, 17, p. 373-384; (1990), Euphrosyne, 18, p. 413-422;

(1991), Euphrosyne, 19, p. 463-476; (1992), Euphrosyne, 20, p. 467-472;

(1993), Euphrosyne, 21, p. 467-470; (1994), Euphrosyne, 22, p. 441-448;

(1995), Euphrosyne, 23, p. 475-480; (1997), Euphrosyne, 25, p. 453-462;

(1998), Euphrosyne, 26, p. 465-469; (1999), Euphrosyne, 27, p. 429-437.

Page 117: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

116

Bibliografia geral

ABASCAL PALAZÓN, J. M. (1994) – Los nombres personales en las inscripciones

latinas de Hispania. Murcia: Universidad de Murcia; [Madrid]: Universidad

Complutense de Madrid.

ADAMS, J. N. (1994) – Latin and Punic in Contact? The Case of the Bu Njem

Ostraca. The Journal of Roman Studies. Society for the Promotion of

Roman Studies. 84, p. 87-112.

ADAMS, J. N. (1995) – The Language of the Vindolanda Writing Tablets: An Iterim

Report. The Journal of Roman Studies. Society for the Promotion of Roman

Studies. 85, p. 86-134.

ALARCÃO, J. de (1975) – Fouilles de Conimbriga; 5. La céramique commune

locale et régionale. Paris: De Boccard.

ALARCÃO, J. de (1983) – Portugal Romano. 3.ª ed. Lisboa: Verbo (Historia

Mundi; 33).

ALARCÃO, J. de; DELGADO, M.; MAYET, F.; ALARCÃO, A. M. de; PONTE, S. da

(1976) – Fouilles de Conimbriga; 6. Céramiques diverses et verres. Paris:

De Boccard.

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1964) – Nuevos antropónimos hispánicos. Emerita.

Madrid. 32:2, p. 209-252.

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1965) – Nuevos antropónimos hispánicos

(continuación). Emerita. Madrid. 33:1, p. 109-143.

Page 118: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

117

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1966) – La onomástica personal primitiva de

Hispania: Tarraconense y Betica. Salamanca: Consejo Superior de

Investigaciones Científicas.

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1972a) – Nuevos antropónimos hispánicos (2.ª serie).

Emerita. Madrid. 40:1, p. 1-29.

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1972b) – Nuevos antropónimos hispánicos. Emerita.

Madrid. 40:2, p. 287-318.

ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1977) – Correcciones a los trabajos sobre

onomástica personal indígena de M. Palomar Lapesa y M.ª Lourdes

Albertos Firmat. Emerita. Madrid. 45:1, p. 33-54.

ALFÖLDY, G. (1997) – Epigraphische Datenbank Heidelberg [em linha].

Heidelberg: Heidelberger Akademie der Wissenschaften, actualizado

semestralmente. [Consultado a 28 Outubro 2003]. Disponível na WWW:

<URL:http://www.uni-heidelberg.de/institute/sonst/adw/edh/index.html>.

ALVAR, M; BADÍA, A; BALBÍN, R. de; LINDLEY CINTRA, L. F., dir.

(1960) - Enciclopedia Lingüística Hispánica. Madrid: Consejo Superior de

Investigaciones Científicas. Vol. 1: Antecedentes, onomástica.

ALVAR, M; BADÍA, A; BALBÍN, R. de; LINDLEY CINTRA, L. F., dir.

(1962) - Enciclopedia Lingüística Hispánica. Madrid: Consejo Superior de

Investigaciones Científicas. Vol. 1, supl.: Temas y problemas de la

fragmentación fonética peninsular.

ANACLETO, R. (1981) – Bobadela epigráfica. Coimbra: Epartur.

Page 119: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

118

BARTONEK, A. (1996) – Das lateinische Vokalsystem. In BAMMERBERGER, A.;

HEBERLEIN, F., eds. – Proceedings of the Eighth International Colloquium

on Latin Linguistics. Heidelberg: Carl Winter, p. 117-124.

BIVILLE, F. (1987) – Graphie et prononciation des mots grecs en latin. Paris:

Sociéte pour l’Information Grammaticale; Louvain: Éditions Peeters.

BRANDÃO, D. P. (1972) – Epigrafia romana coliponense. Conimbriga. Coimbra.

11, p. 41-192.

CARDOZO, M. (1956) – Catálogo das inscrições lapidares do Museu

Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas. Sintra: Câmara Municipal de

Sintra.

CARDOZO, M. (1958) – Novas inscrições romanas do Museu Arqueológico de

Odrinhas. Revista de Guimarães. Guimarães. 68:3-4, p. 355-376.

CARDOZO, M. (1961) – Novas inscrições lusitano-romanas do Museu de São

Miguel de Odrinhas. Revista de Guimarães. Guimarães. 71:3-4, p. 265-286.

CARDOZO, M. (1985) – Catálogo do Museu de Arqueologia da Sociedade Martins

Sarmento: secção de epigrafia latina e escultura latina. 3.ª ed. Guimarães:

Sociedade Martins Sarmento.

CARNOY, A. J. (1906) – Le latin d’Espagne d’après les inscriptions. 2ème éd.

Bruxelles: Misch & Thron.

CENTRO CIL II – Imagines-CIL II2 [em linha]. Alcalá de Henares: Universidad de

Alcalá. Disponível na WWW: <URL: http://www2.uah.es/imagines_cilii/>.

Page 120: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

119

CLAUSS, M. (1996) – Epigraphik-Datenbank [em linha]. Frankfurt: Johann

Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt, actualizado a 14 Abril 2003.

[Consultado a 7 Outubro 2003]. Disponível na WWW: <URL:http://www-

db.ku-eichstaett.de:8080/pls/epigr/epigraphik>.

CURADO, F. P. (1979) – Epigrafia das Beiras. Conimbriga. Coimbra. 18,

p. 139-148.

DELGADO, M.; MAYET, F.; ALARCÃO, A. M. de (1975) – Fouilles de

Conimbriga; 4. Les sigilées. Paris: De Boccard.

DOTTIN, G. (1918) – La langue gauloise: grammaire, textes et glossaire. Paris:

Klincksieck.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1975) – Divindades indígenas sob o domínio romano em

Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1986) – Indigenismo e romanização na Lusitânia. Biblos.

Coimbra. 62, p. 451-464.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1990) – Epigrafia romana de Moura. In ALARCÃO, J. de;

ENCARNAÇÃO, J. d’; GAMITO, T. J., eds. – Moura na Época Romana.

Moura: Câmara Municipal de Moura (Cadernos do Museu Municipal de

Moura; 1), p. 41-59.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1991) – Da invenção de inscrições romanas pelo

humanista André de Resende. Biblos. Coimbra. 67, p. 193-221.

Page 121: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

120

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1993-1994) – Monumentos epigráficos romanos do Museu

Municipal Dr. Santos Rocha (Figueira da Foz). Conimbriga. Coimbra.

32-33, p. 295-302.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1995) – Apostilas epigráficas-2. Biblos. Coimbra. 71,

p. 403-416.

ENCARNAÇÃO, J. d’ (1997) – Introdução ao estudo da epigrafia latina. 3.ª ed.

Coimbra: Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Instituto de

Arqueologia (Cadernos de Arqueologia e Arte; 1).

ENCARNAÇÃO, J. d’ (2002) – Varia de archaeologia. Humanitas. Coimbra. 54,

p. 421-424.

ERNOUT, A. (1953) – Morphologie historique du latin. 3ème éd. Paris: Klincksieck.

ERNOUT, A. (1954) – Aspects du vocabulaire latin. Paris: Klincksieck.

ERNOUT, A.; MEILLET, A. (1967) – Dictionnaire étymologique de la langue latine.

4ème éd. Paris: Klincksieck.

ERNOUT, A.; THOMAS, F. (1984) – Syntaxe latine. 2ème éd. Paris: Klincksieck.

FARIA, E. (1958) – Gramática superior da língua latina. Rio de Janeiro: Livraria

Acadêmica.

FARIA, E. (1970) – Fonética histórica do latim. Rio de Janeiro: Livraria

Acadêmica.

Page 122: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

121

FLOBERT, P. (1987) – La date de l’Appendix Probi. In Filologia e forme letterarie:

studi offerti a Francesco Della Corte. Urbino: Università degli Studi di

Urbino. Vol. 4: Letteratura Latina dai Flavi al Basso Impero, p. 299-320.

FLOBERT, P. (1992) – Les graffites de La Graufesenque: un témoignage sur le

gallo-latin sous Néron. In ILIESCU, M.; MARXGUT, W., eds. – Latin

vulgaire – latin tardif III: actes du IIIème Colloque International sur le Latin

Vulgaire et Tardif (Innsbruck, 2-5 septembre 1991). Tübingen: Niemeyer,

p. 103-114.

FONTES, J; ALMEIDA, F. de (1979) – Museu Arqueológico de S. Miguel de

Odrinhas. 4.ª ed. Sintra: Câmara Municipal de Sintra.

GAENG, P. A. (1977) – A Study of Nominal Inflection in Latin Inscriptions: A

Morpho-syntactic Analysis. Chapel Hill: University of North Carolina.

GARCIA, J. M. (1984) – Epigrafia lusitano-romana do Museu Tavares Proença

Júnior. Castelo Branco: Ministério da Cultura, Instituto Português do

Património Cultural, Museu de Tavares Proença Júnior.

GORDON, R.; REYNOLDS, J. (2003) – Roman Inscriptions 1995-2000. The

Journal of Roman Studies. Society for the Promotion of Roman Studies. 93,

p. 212-294.

GUERRA, A. (1998) – Nomes pré-romanos de povos e lugares do Ocidente

peninsular. Lisboa, [s.n.] (Tese de doutoramento em História Clássica,

Universidade de Lisboa, 1998).

GUERRA, A. (2003) – Anotações ao texto da tabella defixionis de Alcácer do Sal.

Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 6:2, p. 335-339.

Page 123: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

122

Hispania Epigraphica. Madrid: Servicio de Publicaciones, Universidad

Complutense de Madrid.

KEAY, S. (2003) – Recent Archaeological Work in Roman Iberia (1990-2002). The

Journal of Roman Studies. Society for the Promotion of Roman Studies. 93,

p. 146-211.

KENT, R. G. (1945) – The Sounds of Latin: A Descriptive and Historical

Phonology. Third edition. Maryland: Linguistic Society of America.

KENT, R. G. (1959) – Peculiarities of Older Latin. In WARMINGTON,

E. H. - Remains of Old Latin; 4. Archaic Inscriptions. Cambridge,

Massachusetts: Harvard University Press; London: William Heinemann,

p. XV-XXVII.

LAMBERT, P. (1994) – La langue gauloise: description linguistique, commentaire

d’inscriptions choisies. Paris: Errance.

L’Année Epigraphique. Paris: Presses Universitaires de France.

LAVDATIO TVRIAE (1950) – Éloge funébre d’une matrone romaine (Éloge dit de

Turia) / DURRY, M., ed. Paris: Les Belles Lettres.

MANTAS, V. G. (1982) – Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres

Vedras. Coimbra: Faculdade de Letras, Instituto de Arqueologia.

MANTAS, V. G. (1985a) – Três inscrições romanas do concelho de Torres

Vedras. Conimbriga. Coimbra. 24, p. 125-149.

Page 124: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

123

MANTAS, V. G. (1985b) – Recensão a José Manuel Garcia, Epigrafia

lusitano-romana do Museu Tavares Proença Júnior. Conimbriga. Coimbra.

24, p. 224-229.

MARINÉ BIGORRA, S. (1952) – Inscripciones hispanas en verso. Barcelona:

Escuela de Filología.

MAROUZEAU, J. (1969) – Lexique de la terminologie linguistique: français,

allemand, anglais, italien. 3ème éd. Paris: Paul Geuthner.

MEDINA, J., dir. (1998) – História de Portugal: dos tempos pré-históricos aos

nossos dias. Amadora: Ediclube. Vol. 2: O mundo luso-romano: a Idade do

Ferro e a ocupação romana.

MEILLET, A. (1933) – Esquisse d’une histoire de la langue latine. 3ème éd. Paris:

Hachette.

NETO, S. S. (1956) – Fontes do Latim Vulgar: o Appendix Probi. 3.ª ed. Rio de

Janeiro: Livraria Acadêmica.

NIEDERMANN, M. (1997) – Précis de phonétique historique du latin. 5ème éd.

Paris: Klincksieck.

PALOMAR LAPESA, M. (1957) – La onomástica personal pre-latina de la antigua

Lusitania: estudio lingüístico. Salamanca: Consejo Superior de

Investigaciones Científicas.

PIRSON, J. (1901) – La langue des inscriptions latines de la Gaulle. Bruxelles:

Société Belge de Librairie.

Page 125: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

124

REIS, M. de L. F. da S. (1997) – Cárquere: epigrafia latina. Porto: [s.n.] (Tese de

mestrado em Arqueologia, Universidade do Porto, 1997).

SOLIN, H.; SALOMIES, O. (1994) – Repertorium nominum gentilium et

cognominum Latinorum. Editio noua addendis corrigendisque augmentata.

Hildesheim, Zürich, New York: Olms-Weidmann.

VÄÄNÄNEN, V. (1966) – Le latin vulgaire des inscriptions pompéiennes. 3ème éd.

Berlin: Akademie-Verlag.

VÄÄNÄNEN, V. (1981) – Introduction au latin vulgaire. 3ème éd. Paris: Klincksieck.

VAZ, J. L. I. (1977) – Inscrições romanas do Museu do Fundão. Conimbriga.

Coimbra. 16, p. 5-32.

VAZ, J. L. I. (1978) – Inscrições romanas do Museu do Fundão. Conimbriga.

Coimbra. 17, p. 59-61.

VIVES, J. (1971-1972) – Inscripciones latinas de la Espãna Romana: antología de

de 6800 textos. Barcelona: Universidad de Barcelona, Consejo Superior de

Investigaciones Científicas.

Page 126: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

125

Índice remissivo de formas documentadas

nas inscrições romanas do território português

ABNEPOTI ............................... 64, 95 AC .................................................. 76 ACCAE........................................... 56 ACCEPERIT .................................. 64 ACCIPITO ...................................... 64 ACILIS............................................ 72 ACTE ............................................. 74 ACTOR .................................... 59, 99 ACTRIVM ....................................... 59 ACTVM .......................................... 59 ADDICTA ....................................... 64 ADDIXERIT .............................. 64, 95 ADIVTAM ....................................... 64 ADIVTOREM .................................. 64 ADLECTO ...................................... 64 ADLECTVS .................................... 64 ADMINISTRATAM ............. 51, 64, 95 ADNEPOTI..................................... 64 ADSIGNATA .................................. 64 ADSIGNATOS ............................... 64 ADVERSVS ................................... 63 AELIANVS ..................................... 98 AEMERITE............................... 38, 39 AENOBARBO .............................. 103 AERARIAS ......................... 29, 53, 99 AETATIS ........................................ 53 AFINATV ............................ 34, 72, 84 AFRICANVS .................................. 98 AGATE ........................................... 74 AGATHON ..................................... 75 AGNV ............................................. 52 ALEXANDER ................................. 58 ALTECINIRIS ............................... 103 AMABILI ......................................... 45 AMENA .......................................... 43 AMMAIENSIS ................................ 61 AMOENA ....................................... 43 AMOENE ....................................... 43 AMOENVS ..................................... 43

AMPLISSIMVM ..............................51 ANCHIALE .....................................74 ANIS ...............................................56 ANNI.........................................54, 72 ANNIS ......................................53, 56 ANNORV ........................................51 ANNORVM .....................................51 ANNOS ..........................................56 ANO ...............................................56 ANONIVS .......................................56 ANORV ....................................51, 56 ANORVM .................................56, 57 ANORVN ..................................56, 71 ANTONINVS ..................................99 APANONI .......................................53 APOLLINI .......................................56 APONEVS ......................................31 APPARVERIT ................................29 APTO .............................................63 AQVAE ...........................................48 AQVIFLAVIENSES...........61, 99, 104 AQVILIFER ..................................102 AQVIS FLAVIS .............................104 ARA ..........................................51, 73 ARCOBRIGENSIS .........................99 ARGENTARIAS..............................99 ARITIENSE ....................................99 ARRIANVS .....................................98 ARTIFICES ............................48, 102 ASCLEPIADES ..............................74 ASINOS..........................................53 ATFINIS .........................................64 ATTINGERE...................................64 AVEAE ...........................................30 AVGMENTVM ................................41 AVGVSTALES ...............................53 AVGVSTANVS .........................41, 98 AVGVSTV ..........................34, 72, 84 AVGVSTVS ....................................41

Page 127: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

126

AVIA ............................................... 45 AVINTINA ...................................... 31 AVITE............................................. 39 AVITIS............................................ 72 AVRAVIT................................ 41, 100 AVT ................................................ 41 AVVNCVLO ............................. 45, 99 BALSENSIS ............................. 61, 99 BARCARVM ........................... 48, 105 BASI ............................................. 108 BINI ........................................ 78, 110 BLIINA............................................ 43 BLOENA ........................................ 43 BOVE ............................................. 52 BOVTEAE ...................................... 31 BOVTIS .......................................... 72 BRACARA AVG(usta) .................. 104 BRACARAVGVSTANI.................. 104 C. ................................................... 48 CABALLOS .................................. 105 CABVRENE ................................... 74 CAESER[I] ..................................... 29 CALANTICESI ............................... 61 CALCIAMENTA ............................. 31 CALCIAMENTORVM ..................... 31 CALEMERA ................................. 103 CALETYCHE ......................... 74, 103 CALFACERE ............................... 102 CALIMERVS ................................ 103 CALLIOPE ..................................... 74 CANDIDILLA ................................ 100 CAPIENTEM .................................. 51 CAPITONIS.................................. 100 CAPITVLARIVM ............................. 29 CARESSIME ............................ 30, 38 CARIORES .................................... 53 CARISSIMAE ................................. 56 CARISSIME ................................... 38 CASIANA ....................................... 57 CASIANAE ..................................... 57 CASSIANVS .................................. 98 CATTIA .......................................... 57 CAVSA ........................................... 41 CECILIVS....................................... 39 CELEA ........................................... 32

CELI ...............................................39 CENSORI .......................................61 CHARITON ....................................75 CHRESIMV ....................................53 CHRESTE ......................................74 CHRYSEROS ................................74 CHRYSIS .................................74, 75 CIPPVM .........................................56 CIRCITORIBVS ..............................99 CIVIBVS .........................................53 CIVITAS ...................................45, 53 CLADIO ..........................................41 CLARILLA ....................................100 CLAVDIANVS ................................98 CLAVDIVS .....................................41 CLAVOM ..................................34, 71 CLVNIENSI ....................................99 CN. .................................................48 COCNATAE ...................................49 COELEA.........................................44 COELIA ..........................................44 COELIANVS .............................44, 98 COELIVS........................................44 COEPERIT .....................................43 COEPTVM ...............................43, 63 COGITATA .....................................48 COGNATO .....................................65 COGNOVERO ...............................65 COILICVS ......................................43 COIMIA ..........................................43 COIVGI...........................................65 COLLEGIVM ..................................65 COLLIGITO ....................................65 COLLIPPONENSIVM .....................99 COLLIPPONESIVM........................61 COMFISCATO ...............................65 COMMISSA..............................64, 95 COMMODA ....................................64 COMMVNES ..................................64 COMMVNES ANNOS ..................110 COMPETRI ....................................65 CONCESSERVNT .........................65 CONCORDIAE ...................48, 65, 95 CONDICIONE ................................65 CONDVCTA .............................59, 65

Page 128: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

127

CONDVCTOR .................... 59, 65, 99 CONFERAT ................................... 65 CONIACTIA ............................. 31, 65 CONIMBRICA ................................ 49 CONIMBRICAE .............................. 49 CONIMBRIGENSIS.................. 49, 99 CONIVCI ........................................ 49 CONIVGI ........................................ 65 CONLAPSOS ........................... 62, 65 CONLATO...................................... 65 CONLIBERTO .......................... 45, 65 CONS............................................. 61 CONSERVANDA ........................... 65 CONSERVVS .......................... 53, 65 CONSOBRINI ................................ 65 CONSVL ........................................ 61 CONTVBERNALES ....................... 65 CONVENTVVS ........................ 34, 71 CONVICTVS .................................. 65 CORINTHV .................................... 54 COS ............................................... 61 COSTANTINO ............................... 61 COVTIOSO .................................... 99 CRATERA ...................................... 29 CRYSEROS ................................... 74 CRYSIS.................................... 74, 75 CVLTORES.................................... 99 CVM QVAM ................................... 85 CVNCTA ........................................ 60 CVPPIDINI ..................................... 57 CVRARVNT ................................... 80 CVRATOR ..................................... 99 CVRAVERIT ................................ 100 CVRAVERVNT ............................ 101 CVRAVIT ............................... 45, 101 CVRAVITT ............................... 57, 80 DAEAE ........................................... 39 DAPHINE ....................................... 74 DD .................................................. 57 DEABVS ........................................ 71 DEAE SANCTAE ......................... 105 DEBENT ........................................ 45 DEBITOR ....................................... 99 DECAPITASSE ........................ 80, 95 DECEM .......................................... 78

DEDICANTE ..................................95 DEE ................................................38 DEFVNCTO ...................................60 DELICIVM ......................................48 DELIGANDA ..................................48 DEO SANCTO .............................105 DESIDERATISSIME.......................38 DESIGNATO ..................................95 DEV ..........................................51, 73 DEVM .............................................71 DIANAE ..........................................29 DIARIAS ...................................29, 99 DIBVS ............................................71 DIC .................................................80 DILIGENTER..................................95 DILIGENTISSIMO ..........................95 DIONYSIANVS ...............................98 DIVVS ............................................45 DOMENO .......................................31 DONARE ..............................101, 106 DONAVIT .............................101, 106 DVATIVS ........................................83 EA ..................................................76 EAE ................................................76 EAS ................................................76 EBORENSIS ..................................99 EGO ...............................................76 EIVS ...............................................76 ELICON ..........................................75 ELPIS .............................................74 EMERINT .......................................80 EMPTOR ..................................63, 99 ENDOVELICO ................................56 ENDOVELLICO ..............................56 ENDOVOLICO ...............................56 ENOBOLICO ............................45, 56 ENTARAMICO ...............................31 EO ..................................................76 EORVM ..........................................76 EOS................................................76 EPOLITA ........................................57 EQVAS .........................................105 ETIAM ............................................51 EVENTVM ......................................45 EVENTVTII...............................31, 34

Page 129: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

128

EVM ............................................... 76 EVNOIDE ....................................... 43 EVPREPES.................................... 74 EVREMON ..................................... 75 EVTYCHES ............................ 74, 103 EX RESPONSVM .......................... 85 EXCEPTA ...................................... 95 EXPERTEM ................................... 95 EXS ................................................ 58 FABIANVS ..................................... 98 FACVNDVS ............................. 48, 53 FATE ........................................ 69, 88 FATVS ........................................... 69 FAVSTVS....................................... 41 FAXINT .......................................... 79 FECI............................................... 80 FEICIT............................................ 79 FELAT ............................................ 56 FELICE .................................... 83, 86 FELICVLAE.................................... 99 FERRAMENTA ........................ 29, 56 FILIAE ............................................ 38 FILIAE PIENTISSIMA .................... 86 FILIAS ............................................ 83 FILIE .............................................. 38 FILIO ............................ 33, 53, 73, 84 FILIV .............................................. 53 FILIVS ............................................ 53 FILLI............................................... 57 FLACCILLAE ............................... 100 FLACCINVS ................................... 99 FLACVS ......................................... 56 FLAGELLIS ............................ 99, 106 FLAVINVS...................................... 99 FLAVOS ................................... 34, 71 FLAVS............................................ 34 FLAVVS ......................................... 34 FLORIANVS................................... 98 FLORINVS ..................................... 99 FRIGIDVS ...................................... 48 FRONTONIS ................................ 100 FVSCILLA .................................... 100 G. ................................................... 48 GAIVS ............................................ 49 GALIO ............................................ 56

GAMICE .........................................74 GN..................................................49 GOGNATIO ....................................49 HABERE ........................................45 HAC................................................76 HADDRIANVS ................................57 HEC................................................30 HEGESISTRATE............................74 HELENE .........................................74 HELPIS ..........................................74 HERENIANVS ................................57 HERMES ........................................74 HIC .................................................76 HIC FATVS ....................................86 HIC MVNIMENTVS ........................86 HIRINIANA ...............................31, 56 HISPANVS .....................................98 HOC ...............................................76 HONOREM ....................................51 HORVM ....................................76, 88 HVIVS ............................................76 HVNC .............................................76 HYPOCAVSTIS ............................108 HYPOLITVS ...................................57 ICAEDITANORVM .........................49 ID....................................................76 IGAEDITANVS ...............................98 IGNOTVS .......................................65 ILLIVS ............................................76 IMMORTALES ...............................65 IMMVNES ......................................65 IMPENSA .................................65, 95 IMPERATO ....................................65 IMPERATOR ..................................99 IMPESAM .......................................61 INCOLA ..........................................65 INCOMPARABILIS .............45, 65, 95 INDOMITAS ...................................65 INDOVELLICO ...............................32 INDVLGENTISSIMO ......................65 INFERET ..................................65, 95 INIMICVS .................................65, 95 INLATA...........................................65 INMOLANTVR................................65 INPENSA .................................65, 66

Page 130: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

129

INPVBERES ...................... 45, 65, 66 INSIDI ............................................ 61 INSTAT .......................................... 65 INSTRVENDVM ............................. 65 INTITVLO ................................. 65, 95 INVENTAS ..................................... 65 INVICTO .................................. 59, 65 INVOLAVERIT ............................... 65 IPSE ............................................... 62 IPSO .............................................. 62 IRINAEI .......................................... 31 IS ....................................................76 ITALICENSI ................................... 99 IVAT ............................................... 34 IVENTVTIS .................................... 34 IVLIAI ....................................... 38, 71 IVLIANVS ....................................... 98 IVLLIA ............................................ 57 IVVENTVTIS .................................. 45 IVXTA............................................. 58 KARISSIME ............................. 38, 47 LABEFACTASSE ........................... 80 LABERIANVS ................................ 98 LANCIENSES ................................ 99 LANCIESI....................................... 61 LANGON ........................................ 75 LAPIDARIVS .................................. 99 LAQVINIESI ................................... 61 LARIIBVS ....................................... 31 LECENIANO .................................. 31 LECENIO ....................................... 31 LEDERE......................................... 38 LEDERE NOLI ............................... 91 LEGAVIT ...................................... 101 LEGEM .......................................... 48 LETOIDES ............................... 43, 74 LIBENS .................................... 45, 61 LIBERTVS SVOS ........................... 86 LIBES ............................................. 61 LOBESA......................................... 46 LOBESSA ...................................... 46 LOBESSAE .................................... 46 LVBEN[S] ....................................... 36 LVCCEIIANVS ............................... 99 LVCCIVS........................................ 57

LVCIANVS .....................................98 LVPERCILLA ...............................100 MAESOLIVM ............................31, 41 MAIRITO ........................................38 MANCIPIA ....................................102 MARCEA ........................................31 MARCELLAI .............................38, 71 MARIANVS ....................................98 MARINE .........................................72 MARITA..................................29, 106 MARITAE .......................................38 MARITE..................................38, 106 MAXIMA .........................................58 MAXIMAE.......................................38 MAXIMINVS ...................................99 MAXIMVS.......................................58 MAXSIMI ........................................59 MAXSIMIANVS ..............................58 MAXSIMINVS .................................58 MAXSVMA ...............................35, 58 MAXSVMI.......................................58 MAXSVMVS .............................35, 58 MAXVMA........................................35 MAXVMINA ....................................35 MAXVMINVS ..................................35 MAXVMO .......................................35 MAXVMVS .....................................35 ME ..................................................76 MENSE ....................................51, 73 MENSIBVS .....................................61 MERCATOR...................................99 MERENTISSIMAE..........................38 MERENTISSIME ............................38 MESALA.........................................57 METALLIS ......................................56 MI ...................................................77 MIGI ...............................................77 MIHI................................................76 MIIS ................................................31 MILIS ..............................................31 MISOLIO ................ 31, 33, 41, 51, 73 MISSIO...........................................31 MISSIONE......................................56 MITTENT........................................56 MODESTIANVS .............................98

Page 131: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

130

MODESTINVS ............................... 99 MOLON .......................................... 75 MONIMENTVM .............................. 36 MONTANVS................................... 98 MVMIA ........................................... 56 MVMIVS ......................................... 56 MVNIMENTV ......... 34, 36, 52, 73, 84 MVNIMENTVM ........................ 34, 36 MVNIMENTVS ................... 34, 36, 69 MVSAEVS...................................... 74 MVSICE ......................................... 74 NAERVAE ...................................... 39 NEGOTIANTVR ............................. 95 NEPTI ............................................ 63 NEREVS ........................................ 74 NICE .............................................. 74 NIGELLIONIS .............................. 100 NIVIVS ........................................... 31 NOCTIS ......................................... 59 NOMEM ......................................... 71 NOVELA ........................................ 56 NOVI[LI]SSIMVS ............................ 46 NVMEREANO ................................ 31 NVMMOS ....................................... 56 NVTRICI......................................... 99 NYMPHE........................................ 74 OBIT......................................... 66, 80 OBSEQVENTISSIMAE ............ 66, 95 OBSERVABVNTVR ................. 66, 95 OCCASVM ..................................... 66 OCCVPABIT .................................. 66 OCCVPANDI.................................. 66 OCTAVA ........................................ 59 OFFICINA ...................................... 56 OFFICIS ......................................... 56 OILIENAICO ............................ 38, 43 OLISIPONENSIS ..................... 61, 99 ONL[A]SOS.................................... 62 OPSEQVENTISSIMO .................... 66 OPTIMAE ....................................... 63 OPTIMVS ....................................... 63 OPTVMA ........................................ 35 OPTVMO ....................................... 35 OPTVMVS ..................................... 35 ORCHESTRAM ........................... 108

ORESTES ......................................74 ORICCLO .......................................57 PACENSIS .....................................99 PAEZON ........................................75 PAGVSICV .....................................49 PAGVSIGAE ..................................49 PAISICAICOEO..............................38 PARTHENOPAEVS .......................74 PATERI ..........................................72 PATRIE ..........................................38 PERACTA ................................66, 95 PERCIPIENT ..................................66 PERDVXERIT ................................66 PEREGRINV ............................53, 73 PERENIA .......................................56 PERLEGISTI ............................66, 95 PERMISERIT .................................66 PERMITTITO .................................66 PERPETVM .............................34, 72 PERSAE.........................................63 PERSOLVERIT ..............................66 PERTINEBIT ............................66, 95 PERTINETO...................................66 PERVIXS(it) ...................................95 PHILOGENES ................................74 PHILON ..........................................75 PIAE ...............................................38 PIENTISSIMAE ..............................38 PIENTISSIME ................................38 PIETATIS .......................................29 PIISSIMAE .....................................38 PIISSIME........................................38 PIISSVMA ......................................35 PIISSVMAE ....................................38 PILIDES .........................................74 PIVS ...............................................53 PLVS MINVS ................................110 POENAS ........................................43 POETA ...................................43, 108 POLYCARPVS .............................103 PONTEM ........................................51 PONTIFICE ..............................83, 86 POSIT ............................................80 POSVVIT..................................34, 80 POTESTATIS .................................83

Page 132: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

131

PR[O] SALVTEM............................ 85 PRAECEPTO ................................. 95 PRAESTARE ................................. 95 PRECCIA ....................................... 57 PRECCIVS..................................... 57 PRETORRIO .................................. 57 PRIMVLAE ..................................... 99 PRIMVS ......................................... 78 PRINCIPI ................................. 83, 86 PRINCIPS ...................................... 31 PRISCION...................................... 75 PRO IVL(iam) MARCELLAM ......... 85 PRO SALVTEM ............................. 85 PRO V<O>TVM ............................. 85 PRO VERNACLAM ........................ 85 PROCVRATOR .............................. 99 PROFERENTVR ............................ 95 PROMISIT...................................... 95 PRONIIPOS ............................. 83, 86 PROSCAENIVM..................... 39, 108 PVDES ........................................... 61 PYLADES ...................................... 74 QIS ................................................. 48 QVA ......................................... 51, 76 QVAE ............................................. 76 QVAI ............................ 38, 77, 83, 88 QVAM ...................................... 76, 77 QVAS ............................................. 76 QVE ................................... 38, 77, 88 QVI................................................. 76 QVIBVS.......................................... 76 QVIETEI ......................................... 71 QVINQVE....................................... 78 QVINTILLA [...] DELICATAE .......... 86 QVIRINA ........................................ 48 QVIVS ...................................... 48, 77 QVO ............................................... 76 QVOD ............................................ 76 QVORVM ....................................... 76 QVOT ............................................. 77 REBVRO ........................................ 57 REBVRRINVS ................................ 99 RECEPTVS .................................... 95 REDDERE ..................................... 95 REFECI .......................................... 80

RELEGIONE ..................................30 RENOVARVNT ............................101 RENOVATE .................................101 RENSPONSV .....................34, 61, 72 RETVLI...........................................80 RIBVRRA .......................................31 ROMANVS .....................................98 ROMVLESIS ..................................61 RVFINVS........................................99 SACRAVIT ...................................101 SACRV .....................................51, 52 SAISABRO .....................................38 SALLVIA.........................................57 SALQIV ..........................................48 SANCTAE ................................38, 60 SANCTE.........................................38 SANCTISSIMO...............................60 SANCTO ........................................60 SCAEVINVS ...................................99 SCAIVIVS.......................................38 SCAVRARIORVM ............41, 99, 108 SCAVREIS .......................41, 70, 108 SCAVRIAE .............................41, 108 SCRIBTVM .....................................63 SCRIPSI .........................................62 SCRIPTVM .....................................63 SE ..................................................76 SECVNDAM ...................................78 SELENE .........................................74 SEPTIMI .........................................63 SERMACELESIS ...........................61 SERVATRICI..................................99 SERVOS ..................................34, 71 SERVOS [...] CAESVS ...................86 SESTIAE ........................................59 SEX ................................................78 SEXTA ...........................................58 SI ....................................................80 SIBI ................................................76 SIGINIFERO ................................102 SIGNIFER ....................................102 SIGNVM .........................................51 SILONIS .......................................100 SINETHE........................................74 SINGVLA..................................48, 78

Page 133: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

132

SODALICIV [...] FECERVNT.......... 86 SS .................................................. 57 STATVA ......................................... 52 STATVERVNT ............................. 106 STATVIT ...................................... 106 STATVS ....................................... 106 STITVS ........................................ 106 SVBDVCET.............................. 66, 95 SVBICITO ...................................... 66 SVBIECERIT............................ 66, 95 SVCCEPTO ................................... 66 SVCCEPTVM ................................. 66 SVCCESSIS .................................. 66 SVE ................................................ 38 SVMMAE ....................................... 56 SVORV .......................................... 51 SVOS ....................................... 34, 71 SVSTVLISSE ................................. 66 SYCECALE .................................... 74 TACIM ............................................ 80 TANCINVS ..................................... 49 TANGINVS..................................... 49 TAVRVM ........................................ 41 TE .................................................. 76 TELLVS.......................................... 56 TERA ............................................. 57 TERENTIANVS .............................. 98 TERRA ........................................... 56 TERSPICORE .......................... 63, 74 TESSELAM ...................... 56, 99, 107 TESSELLAS .......................... 99, 107 TESTARIORVM ............................. 99 THEMISON .................................... 75 THESEVS ...................................... 74 THYMELE ...................................... 74 TIAVRANCEAICO .......................... 38 TIBI ................................................ 76 TITVLI ............................................ 56 TONCETA ...................................... 49 TONCIVS ....................................... 49 TONGETA...................................... 49 TONGIVS ....................................... 49 TRACTARE............................ 29, 106 TRANQILLI .................................... 48

TRANQILLO ...................................48 TRIBVNICIE ...................................38 TRIBVNICIE POTESTATIS ............83 TROIANI.........................................43 TROIANVS .....................................43 TROILVS ........................................43 TRYPHON......................................75 TV...................................................76 TVLEI .............................................79 TYCHE ...........................................74 VACCA .............................52, 56, 105 VALCIA ..........................................49 VALGIAE ........................................49 VALLERIA ......................................57 VBERTVMBIS ..............................103 VCSORI .........................................59 VCXORIS .......................................59 VENDITOR.....................................99 VERSVCVLOS .......................99, 107 VETERANVS .................................98 VETIARV ........................................53 VIA ...........................................51, 73 VICTOR..........................................59 VICTORILLA ................................100 VIPASCENSIS ...............................99 VIRIATIS ........................................72 VISSIT ............................................59 VITIASSE .......................................80 VIXSIT ............................................58 VNIVERSVM ..................................63 VNO ...............................................78 VNVM .............................................78 VOBIS ............................................76 VOCATVR ....................................101 VOCTO .................. 33, 51, 59, 73, 84 VOTV ...........................34, 51, 72, 73 VRBANVS ......................................98 VRSA .............................................63 VTERI.............................................31 VTICENSIS ....................................99 VXOR .............................................58 VXSOR...........................................58 VXSORI..........................................58

Page 134: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

133

Anexos

Page 135: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

134

Anexos

Tábua de correspondência 1

FE IRCP

1 95

25 139

13 186

40 188

41 205

18 296

20 310

22 314

12 359

11 416

14 417

73 460

10.4 506

10.1 532

10.2 541

10.3 548

10.5 552

10.6 554

10.7 555

10.8 559

10.9 563

9 624

Tábua de correspondência 2

EO RERC

121 1

109 5

122 8

113 9

124 19

Tábua de correspondência 3

FE RERC

59 2

24 3

68 13

137 25

Tábua de correspondência 4

FE CV

69 2

90 3

157 11

158 12

159.1 13

159.2 14

138 20

Page 136: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

135

FE CV

139.1 22

139.2 23

140 25

54 26

71 29

74 33

55 34

135 37

56 45

52 47

142 52

79 53

160 57

53 61

141 62

129 112

143 116

Tábua de correspondência 5

Egit. EFRBI

XVI 33

28 36

27 37

29 38

31 39

32 40

36 41

Egit. EFRBI

37 42

35 43

38 44

39 45

40 46

44 47

45 48

76 49

81 50

139 52

140 53

47 54

51 55

49 56

52 57

57 58

61 59

62 60

63 61

64 62

67 63

68 64

71 65

98 66

100 67

126 69

145 70

78 71

Page 137: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

136

Egit. EFRBI

80 72

82 73

85 74

88 75

92 76

96 77

97 78

99 79

101 80

70 81

72 82

103 83

104 84

105 85

43 86

41 87

106 88

107 89

134 90

110 91

112 92

60 93

113 94

115 95

189 96

116 98

119 99

120 101

Egit. EFRBI

121 102

124 104

132 105

129 106

133 107

66 108

136 109

137 110

143 111

144 112

147 113

148 114

21 115

93 116

108 117

53 118

87 119

127 120

46 121

111 122

183 123

130 124

117 126

48 127

54 128

83 130

58 133

142 134

Page 138: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

137

Egit. EFRBI

26 135

188 136

55 137

177 138

86 139

125 143

128 144

138 145

69 147

75 148

73 150

22 151

131 152

95 153

91 154

118 155

34 156

185 157

30 158

65 160

90 161

89 162

163 164

123 165

114 167

42 168

190 169

59 171

Egit. EFRBI

50 174

79 176

135 177

165 178

77 179

146 180

171 182

164 183

169 184

109 187

84 188

122 189

184 190

175 192

187 193

181 194

182 195

174 196

94 199

172 200

167 202

186 203

56 236

Tábua de correspondência 6

FE EFRBI

60 5

Page 139: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

138

FE EFRBI

177 8

209 9

19 12

21 13

23 14

128 15

15 29

51 35

153 131

8 132

154 185

227 204

126 210

58 211

127 213

125 215

61 216

79 218

47 223

272 224

30 226

31 227

101 229

123.1 230

123.2 231

62 235

130 241

Page 140: ATÉ À QUEDA DO IMPÉRIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS O … · Casos 82 1.1. Os casos 82 1.2. As preposições e os casos 84 2. Concordância 85 3. Pronomes 87 4. Numerais 88 5. Verbos

139

Tábua 1

CIL FE RIRP ACS

93

963

970

118

119

176

177

191

284

285

286

288

1 1

2

4

6

7

8

9

11

12

13

17

18

19

969 20

CIL FE RIRP ACS

23

24

25

287 26

83 27

971 29

30

31

32

33

34

35

37

38

84 39

968 40

Quadro 1

Inscrições utilizadas a partir de

RAP

1, 6, 8, 9, 37-41, 44-46, 48, 50, 51,

61, 214-216, 265, 316-342, 382-385,

402, 409, 413-416, 454, 461, 468-

470, 477, 478, 483, 485, 497, 503,

509, 512, 549, 550, 559, 570-575,

599-607, 640-642