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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ATA Nº 45 DE 14 DE NOVEMBRO DE 2018
Data da aprovação: 21 de novembro de 2018
Data da publicação no D.O.U.: 29 de novembro de 2018
Acórdãos apreciados por relação: 2631 a 2650
Acórdãos apreciados de forma unitária: 2604 a 2630
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ATA 45, DE 14 DE NOVEMBRO DE 2018
(Sessão Ordinária do Plenário)
Presidência: Ministro Raimundo Carreiro
Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva
Secretário das Sessões: AUFC Marcio André Santos de Albuquerque
Subsecretária do Plenário: AUFC Daniela Duarte do Nascimento
Às 14 horas e 35 minutos, a Presidência declarou aberta a sessão ordinária do Plenário, com a
presença dos Ministros Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler, Augusto Nardes, Aroldo
Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo, dos Ministros-Substitutos Marcos
Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho (convocado para substituir o Ministro Bruno Dantas) e
Weder de Oliveira, bem como da Representante do Ministério Público, Procuradora-Geral do
Ministério Público junto ao TCU Cristina Machado da Costa e Silva.
Ausentes, em missão oficial, o Ministro Bruno Dantas e, em férias, o Ministro-Substituto
Augusto Sherman Cavalcanti.
HOMOLOGAÇÃO DE ATA
O Tribunal Pleno homologou a Ata 44, referente à sessão ordinária realizada em 7 de novembro
de 2018 (Regimento Interno, artigo 101).
PUBLICAÇÃO DA ATA NA INTERNET
Os anexos desta ata, de acordo com a Resolução 184/2005, estão publicados na página do
Tribunal de Contas da União na internet (www.tcu.gov.br).
SORTEIO ELETRÔNICO DE RELATOR DE PROCESSOS
De acordo com o parágrafo único do artigo 28 do Regimento Interno e nos termos da Portaria da
Presidência 304/2018, entre os dias 8 e 14 de novembro, foi realizado sorteio eletrônico dos seguintes
processos:
Processo: 040.246/2018-3
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Resolução - TCU nº 280/2016, artigos 8º a 11, 42 e 43
Tipo do sorteio: Sorteio de Relator de Processos de Obras
Relator sorteado: Ministro-substituto MARCOS BEMQUERER
Processo: 040.244/2018-0
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Resolução - TCU nº 280/2016, artigos 8º a 11, 42 e 43
Tipo do sorteio: Sorteio de Relator de Processos de Obras
Relator sorteado: Ministro BRUNO DANTAS
Processo: 010.361/2013-8
Interessado: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Motivo do sorteio: Recurso de Reconsideração
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o colegiado que proferiu a deliberação
recorrida, excluído o autor da respectiva deliberação. Inciso I do art. 154 do RITCU. Arts. 21 e
22 da Resolução-TCU nº 175/2005
Relator sorteado: Ministro Augusto Nardes
Processo: 023.183/2018-7
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Matéria administrativa ou Projeto de Ato Normativo
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o Plenário, excluídos, em caso de
projeto de ato normativo, o autor da proposição e o relator do projeto nas comissões. Arts. 72 a
74; 76; inciso III do art. 154 do RITCU. Art. 19 da Resolução-TCU 175/2005. Art. 28, § 2º,da
Resolução-TCU 249/2012.
Relator sorteado: Ministro Aroldo Cedraz
Processo: 024.631/2016-7
Interessado: LIBRA TERMINAIS S.A/LIBRA TERMINAIS S.A., EDSON EDINHO COELHO
ARAUJO, Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil
Motivo do sorteio: Pedido de Reexame
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o colegiado que proferiu a deliberação
recorrida, excluído o autor da respectiva deliberação. Inciso I do art. 154 do RITCU. Arts. 21 e
22 da Resolução-TCU nº 175/2005
Relator sorteado: Ministro José Múcio Monteiro
Processo: 031.057/2015-2
Interessado: Ministério do Desenvolvimento Social
Motivo do sorteio: Recurso de Reconsideração
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o colegiado que proferiu a deliberação
recorrida, excluído o autor da respectiva deliberação. Inciso I do art. 154 do RITCU. Arts. 21 e
22 da Resolução-TCU nº 175/2005
Relator sorteado: Ministro Aroldo Cedraz
Processo: 031.057/2015-2
Interessado: Ministério do Desenvolvimento Social
Motivo do sorteio: Recurso de Reconsideração
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o colegiado que proferiu a deliberação
recorrida, excluído o autor da respectiva deliberação. Inciso I do art. 154 do RITCU. Arts. 21 e
22 da Resolução-TCU nº 175/2005
Relator sorteado: Ministro José Múcio Monteiro
Processo: 031.599/2015-0
Interessado: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Prefeitura Municipal de
Juazeirinho - PB
Motivo do sorteio: Impedimento ou suspeição do relator atribuído por LUJ
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros e ministros-substitutos que compõem o Plenário. Art.
39, VIII; parágrafo único do art. 151 do RITCU. Art. 11 da Resolução-TCU 175/2005.
Relator sorteado: Ministro-Substituto André de Carvalho
Processo: 033.854/2018-1
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Matéria administrativa ou Projeto de Ato Normativo
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o Plenário, excluídos, em caso de
projeto de ato normativo, o autor da proposição e o relator do projeto nas comissões. Arts. 72 a
74; 76; inciso III do art. 154 do RITCU. Art. 19 da Resolução-TCU 175/2005. Art. 28, § 2º,da
Resolução-TCU 249/2012.
Relator sorteado: Ministro Benjamin Zymler
Processo: 034.572/2018-0
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Conflito de competência
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros e ministros-substitutos envolvidos no conflito de
competência. Art. 34 da Resolução-TCU 175/2005.
Relator sorteado: Ministro-Substituto André de Carvalho
Processo: 037.723/2018-9
Interessado: Não há
Motivo do sorteio: Matéria administrativa ou Projeto de Ato Normativo
Tipo do sorteio: Sorteio entre os ministros que compõem o Plenário, excluídos, em caso de
projeto de ato normativo, o autor da proposição e o relator do projeto nas comissões. Arts. 72 a
74; 76; inciso III do art. 154 do RITCU. Art. 19 da Resolução-TCU 175/2005. Art. 28, § 2º,da
Resolução-TCU 249/2012.
Relator sorteado: Ministro Augusto Nardes
Recurso: 012.778/2007-1/R001
Recorrente: DENISE ELZA FELIPPELLI MARTINS
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: VITAL DO RÊGO
Recurso: 030.526/2008-0/R001
Recorrente: LINDARINDA RODRIGUES DA SILVA
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 007.181/2012-4/R002
Recorrente: PRESCON PROJETOS ESTRUTURAIS E CONSTRUCOES LTDA
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Recurso: 014.174/2012-0/R001
Recorrente: Maria Cristina Ponchon da Silva
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 014.174/2012-0/R002
Recorrente: CONSORCIO OAS / CAMARGO CORREA / GALVAO
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Recurso: 028.605/2012-8/R002
Recorrente: Raimundo Jose Almeida de Araujo
Motivo do sorteio: Recurso de revisão
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 013.025/2013-9/R001
Recorrente: VERA LUCIA TENÓRIO CORREIA DA SILVA
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 013.721/2013-5/R001
Recorrente: VANDETE MONTEIRO DOS SANTOS
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: WALTON ALENCAR RODRIGUES
Recurso: 018.546/2014-5/R002
Recorrente: Mário Ramos Ribeiro
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: WALTON ALENCAR RODRIGUES
Recurso: 018.546/2014-5/R003
Recorrente: EMILIA MARIA SILVA RIBEIRO CURI
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: WALTON ALENCAR RODRIGUES
Recurso: 020.055/2014-5/R001
Recorrente: M DE JESUS L SILVA ME
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: WALTON ALENCAR RODRIGUES
Recurso: 031.860/2014-1/R001
Recorrente: André Ferreira dos Santos/ Cléu de Aquino Ferreira/ Demaicon Schmidt Peter/
UNIAO DAS ASSOCIACOES COMUNITARIAS DO INT DE CANGUCU
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 004.098/2015-3/R001
Recorrente: ELISABETE BALBINOT
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 004.098/2015-3/R002
Recorrente: Mickey Yuji Katsuragawa
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 004.098/2015-3/R003
Recorrente: AMERICO RAIMUNDO POCAI MENDES
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 004.098/2015-3/R004
Recorrente: Célio Renato da Silveira
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 005.985/2015-3/R001
Recorrente: ROGERIO CAMPOS
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AUGUSTO NARDES
Recurso: 007.860/2015-3/R002
Recorrente: Claudia Gomes de Melo/ PREMIUM AVANÇA BRASIL
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Recurso: 011.164/2015-8/R001
Recorrente: PAULO ROBERTO DIAS MORALES
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 011.164/2015-8/R002
Recorrente: Fundação Ricardo Franco
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 014.426/2015-3/R002
Recorrente: VIA PÚBLICA - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO
PÚBLICA E ORGANIZAÇÕES DE INTERESSE PÚBLICO
PEDRO PAULO MARTONE BRANCO
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: AUGUSTO NARDES
Recurso: 019.676/2015-8/R001
Recorrente: ROBERTO VOLPE
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: VITAL DO RÊGO
Recurso: 010.482/2016-4/R002
Recorrente: ECO101 CONCESSIONARIA DE RODOVIAS S/A
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Recurso: 010.482/2016-4/R003
Recorrente: Agência Nacional de Transportes Terrestres
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Recurso: 013.230/2016-6/R001
Recorrente: MARIA HELENA MARTINS SALDANHA
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 017.368/2016-2/R001
Recorrente: Banco do Brasil S.A.
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: ANA ARRAES
Recurso: 018.801/2016-1/R002
Recorrente: Raimundo Soares do Nascimento
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: BRUNO DANTAS
Recurso: 004.351/2017-7/R002
Recorrente: Ines Maria Correa de Arruda
Motivo do sorteio: Recurso de reconsideração
Relator sorteado: WALTON ALENCAR RODRIGUES
Recurso: 010.657/2017-7/R001
Recorrente: LEVINO LAZZAROTTO SILVESTRE
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 025.343/2017-3/R001
Recorrente: IRACI DA SILVA PAIVA
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: AROLDO CEDRAZ
Recurso: 026.071/2017-7/R001
Recorrente: JÚLIO MARCELO DE OLIVEIRA - Procurador
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: AUGUSTO NARDES
Recurso: 005.189/2018-7/R001
Recorrente: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
Motivo do sorteio: Pedido de reexame
Relator sorteado: VITAL DO RÊGO
COMUNICAÇÕES:
Da Presidência (v. inteiro teor no Anexo I desta Ata):
Proposta de ação de controle nos órgãos do Governo Federal dos setores de saúde, meio
ambiente e agricultura responsáveis pelo controle e fiscalização de agrotóxicos no Brasil, com
determinação à Segecex que autue processo ainda no ano corrente, com início dos trabalhos em 2019,
bem como sejam reunidas, no referido trabalho, as ações que tenham correlação com o assunto já
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
existentes no Tribunal, de forma que a auditoria venha a se constituir em um FISC Agrotóxico, de
natureza propositiva. Aprovada.
Expedição do Aviso nº 1406-GP/TCU ao Presidente do Presidente do Supremo Tribunal Federal,
Ministro Dias Toffoli, com a relação das ações judiciais consideradas de especial relevância para o
Tribunal em trâmite no Supremo. O inteiro teor do aviso consta do Anexo I desta Ata.
Registro de que, em atendimento ao Acordo de Cooperação Técnica entre o TCU e o Conselho
de Controle de Atividades Financeiras (COAF), do Ministério da Fazenda, celebrado em 29 de
outubro, foi designada, por meio da Portaria-TCU nº 321/2018, de 8/11/2018, a Secretaria de Relações
Institucionais de Controle no Combate à Fraude e Corrupção (Seccor) como a unidade do TCU
responsável por manejar e administrar o intercâmbio de informações junto ao COAF, bem como foi
expedido o Aviso nº 1385-GP/TCU, informando ao COAF a lista das autoridades a serem credenciadas
no Sistema SEI-C. A referida portaria e o aviso constam do Anexo I desta Ata.
Destaque, entre as fiscalizações iniciadas recentemente, para a auditoria de conformidade nas
aquisições e contratações promovidas pelas Organizações Militares no Estado de Minas Gerais, sob a
relatoria do Ministro Substituto Marcos Bemquerer, objeto do TC-036.894/2018-4, destinada a avaliar
a sistemática e os controles internos existentes.
Realização, no dia 12 de novembro, no Auditório Ministro Pereira Lira, do “Seminário Deu
Certo! Boas Práticas replicáveis em organizações públicas buscando eficiência”, destinado a
disseminar as boas e exemplares práticas de gestão.
Lançamento da nova ferramenta de TI, a solução tecnológica “e-TCU Gerencial”, concebida
para auxiliar diretores e secretários das unidades da Secretaria-Geral de Controle Externo na gestão
processual.
Participação, no dia 13 de novembro, no Senado Federal, do lançamento da coleção “30 anos da
Constituição: evolução, desafios e perspectivas para o futuro”, elaborada pelo Senado Federal em
parceria com a Câmara dos Deputados, oportunidade em que foi apresentada e distribuída a publicação
“O Tribunal de Contas da União e os 30 Anos da Constituição Federal de 1988”.
Do Ministro Benjamin Zymler (v. inteiro teor no Anexo I desta Ata):
Registro de que foi sorteado, no dia 9 de novembro último, relator do TC-033.854/2018-1,
referente projeto de resolução do novo Regimento Interno do Tribunal. Abertura de prazo de noventa
dias para recebimento de emendas dos Ministros ou sugestões dos Ministros-Substitutos e da
Procuradora-Geral. Aprovada.
Do Ministro Aroldo Cedraz (v. inteiro teor no Anexo I desta Ata):
Abertura de prazo de quinze dias para a apresentação de emendas e sugestões ao projeto de
decisão normativa anual que versa sobre as unidades prestadoras de contas cujos responsáveis terão as
contas de 2018 julgadas pelo Tribunal, conforme previsto no art. 4º da Instrução Normativa - TCU
63/2010, tratado no TC-034.481/2018-4. O Presidente Raimundo Carreiro usou da palavra para sugerir
a adoção do prazo de oito dias, no que foi atendido pelo relator. Aprovada.
Do Ministro José Múcio Monteiro (v. inteiro teor no Anexo I desta Ata):
Registro dos 50 anos de existência do Tribunal de Contas de Pernambuco, completados em 15 de
outubro do ano corrente.
Participação no dia 13 de novembro, no Instituto Serzedello Corrêa, de workshop destinado a
discutir o novo modelo de gestão das unidades integrantes da Secretaria do Tribunal, que vem sendo
elaborado pela equipe de transição. O evento contou com a participação de dirigentes das unidades de
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Brasília e dos estados da Federação, que conceberam medidas mitigadoras para os riscos apontados.
Agradecimento aos participantes e à Presidência. O Presidente Raimundo Carreiro usou da palavra
para parabenizar e agradecer.
Do Ministro Vital do Rêgo (v. inteiro teor no Anexo I desta Ata):
Registro da expedição de despacho, na condição de relator das contas do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES no biênio 2017-2018, contendo orientação à
SecexEstatais para que promova detalhado acompanhamento do impacto das possíveis mudanças
veiculadas na imprensa na atuação do BNDES, por meio da autuação de processo específico, de forma
a subsidiar a análise das contas da estatal referentes ao presente exercício. Proposta de homologação
pelo Plenário e solicitação de expedição de aviso pela Presidência do Tribunal. Aprovada.
Do Ministro-Substituto André Luís de Carvalho:
Registro de felicitações pelo transcurso do aniversário do AUFC José Moacir Cardoso da Costa.
PROCESSOS APRECIADOS POR RELAÇÃO
O Tribunal Pleno aprovou, por relação, os acórdãos de nºs 2631 a 2650.
PROCESSOS EXCLUÍDOS DE PAUTA
Foram excluídos de pauta, nos termos do artigo 142 do Regimento Interno, os seguintes
processos:
TC-000.168/2016-5, cujo relator é o Ministro Benjamin Zymler;
TC-033.061/2010-6, cujo relator é o Ministro Augusto Nardes, a pedido do revisor (art. 119),
Ministro-Substituto André Luís de Carvalho;
TC-018.198/2015-5 e TC-018.335/2018-7, cujo relator é o Ministro Augusto Nardes;
TC-011.987/2005-0 e TC-029.350/2017-4, cujo relator é o Ministro José Múcio Monteiro;
TC-015.077/2017-9 e TC-017.255/2017-1, cuja relatora é a Ministra Ana Arraes;
TC-014.957/2018-3, cujo relator é o Ministro Vital do Rêgo;
TC-026.468/2011-5, cujo relator é o Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti, a pedido
do revisor (art. 119), Ministro Benjamin Zymler; e
TC-006.582/2009-4, TC-030.126/2018-5 e TC-033.980/2018-7, cujo relator é o Ministro-
Substituto André Luís de Carvalho.
SUSTENTAÇÕES ORAIS
Na apreciação do processo TC-033.048/2008-4, que trata de tomada de contas especial acerca de
possíveis operações irregulares de venda de contratos futuros de dólar pelo Banco Central do Brasil
(Bacen) ao Banco Marka S.A., cujo relator é o Ministro Benjamin Zymler, o Dr. Marcel Mascarenhas
dos Santos produziu sustentação oral em nome de Cláudio Ness Mauch, Demósthenes Madureira de
Pinho Neto e Francisco Lafaiete de Pádua. Acórdão 2605.
Na apreciação do processo TC-032.908/2017-2, que trata de representação de unidade técnica do
TCU formulada em virtude da recusa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira - INEP em fornecer, de forma integral, dados para realização de auditoria operacional,
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
cujo relator é o Ministro Walton Alencar Rodrigues, o Sr. Fábio Pereira Bravin produziu sustentação
oral em nome do INEP. Acórdão 2609.
Na apreciação do processo TC-025.493/2013-2, que trata de recursos de reconsideração
interpostos contra deliberação que julgou irregulares as contas dos recorrentes, condenou-os em débito
e aplicou-lhes multa em razão de irregularidades na prestação de contas de convênio que teve por
objeto a promoção de seminários para sensibilização de policiais rodoviários federais no
enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes nos segmentos turísticos que utilizam as
rodovias federais, cujo relator é o Ministro Vital do Rêgo, o Dr. Rudi Meira Cassel produziu
sustentação oral em nome da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais. Acórdão 2610.
Na apreciação do processo TC-037.346/2018-0, que trata de representação, com pedido de
cautelar, autuada para apurar suposta irregularidade em ato praticado pelo Secretário-Geral da
Procuradoria-Geral da República, cujo relator é o Ministro Vital do Rêgo, o Dr. Moacir Guimarães
Morais Filho produziu sustentação oral em seu próprio nome. Acórdão 2611.
PROSSEGUIMENTO DE VOTAÇÃO
Nos termos do § 3º do art. 119 do Regimento Interno, deu-se prosseguimento à votação do
processo TC-008.584/2016-8, que trata de auditoria com o objetivo de avaliar as desvinculações de
recursos do superávit financeiro do ano de 2014, por meio da Medida Provisória 704/2015, bem como
a possível utilização desses valores para pagar passivos junto a bancos estatais e ao FGTS, cujo relator
é o Ministro José Múcio Monteiro e revisores, o Ministro Aroldo Cedraz e o Ministro-Substituto
Weder de Oliveira. Acórdão 2615.
REABERTURAS DE DISCUSSÃO
Nos termos do art. 112, § 5º, do Regimento Interno, foi reaberta a discussão do processo TC-
033.048/2008-4 (Ata nº 15-R/2011), que trata de tomada de contas especial acerca de possíveis
operações irregulares de venda de contratos futuros de dólar pelo Banco Central do Brasil (Bacen) ao
Banco Marka S.A., cujo relator é o Ministro Benjamin Zymler, e revisor o Ministro Walton Alencar
Rodrigues. Acórdão 2605.
Nos termos do art. 112, § 5º, do Regimento Interno, foi reaberta a discussão do processo TC-
023.736/2014-3 (Ata nº 37/2017), que trata de pedido de reexame interposto pela Centrais Elétricas
Brasileiras S/A contra deliberação que proferiu determinação em processo de auditoria operacional
realizada na Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), cujo objetivo foi avaliar a gestão de
obras da estatal, cujo relator é o Ministro José Múcio Monteiro, e revisor o Ministro Vital do Rêgo.
Acórdão 2616.
PROCESSOS APRECIADOS DE FORMA UNITÁRIA
Por meio de apreciação unitária, o Plenário examinou os processos listados a seguir e aprovou os
seguintes acórdãos:
MINISTRA ANA ARRAES
TC-010.348/2018-2 – Acórdão 2604
Os Ministros Benjamin Zymler, Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, o Ministro-Substituto André
Luís de Carvalho, o Ministro Vital do Rêgo e o Ministro-Substituto Weder de Oliveira usaram da palavra
para discutir a matéria.
O Presidente Raimundo Carreiro (art. 107 do RITCU) manifestou-se oralmente e por escrito.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
O Ministro José Múcio Monteiro apresentou declaração de voto.
MINISTRO BENJAMIN ZYMLER
TC-033.048/2008-4 – Acórdão 2605
TC-012.352/2018-7 – Acórdão 2608
Os Ministros Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, Vital do Rêgo e os Ministros-Substitutos André
Luís de Carvalho e Weder de Oliveira usaram da palavra para discutir a matéria.
O Presidente Raimundo Carreiro (art. 107 do RITCU) manifestou-se oralmente e por escrito.
MINISTRO AUGUSTO NARDES
TC-015.610/2018-7 – Acórdão 2606 – REFERENDO DE CAUTELAR
TC-034.255/2018-4 – Acórdão 2607 – REFERENDO DE CAUTELAR
MINISTRO WALTON ALENCAR RODRIGUES
TC-032.908/2017-2 – Acórdão 2609
MINISTRO VITAL DO RÊGO
TC-025.493/2013-2 – Acórdão 2610
O Ministro Walton Alencar Rodrigues usou da palavra para discutir a matéria.
TC-037.346/2018-0 – Acórdão 2611
TC-002.538/2014-8 – Acórdão 2612
TC-021.149/2018-6 – Acórdão 2613
MINISTRA ANA ARRAES
TC-019.346/2017-4 – Acórdão 2614
O Presidente Raimundo Carreiro concedeu preferência à apreciação do processo por solicitação
do interessado, Sr. Petrônio Augusto, pela condição de idoso acima de sessenta e cinco anos.
Após a apreciação, o Ministro-Substituto André Luís de Carvalho indagou se caberia a
preferência, tendo em vista que o representante é pessoa jurídica, e sugeriu que a Secretaria das
Sessões analise o tema. Em seguida o Ministro Benjamin Zymler também argumentou que não há
previsão de concessão do referido benefício.
O Presidente esclareceu que a preferência atendeu ao disposto no Estatuto do Idoso (Lei nº
10.741/2003) e que foi previamente submetida ao Plenário.
MINISTRO JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
TC-008.584/2016-8 – Acórdão 2615
Na apreciação do processo, o Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa foi convocado para
substituir o Ministro Walton Alencar Rodrigues, em função do quórum mínimo exigido.
12
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
TC-023.736/2014-3 – Acórdão 2616
MINISTRO BENJAMIN ZYMLER
TC-006.614/2013-2 – Acórdão 2617
TC-011.014/2014-8 – Acórdão 2618
TC-011.577/2018-5 – Acórdão 2619
MINISTRO AROLDO CEDRAZ
TC-024.230/2018-9 – Acórdão 2620
TC-026.069/2008-4 – Acórdão 2621
TC-032.152/2017-5 – Acórdão 2622
TC-035.129/2011-5 – Acórdão 2623
MINISTRO JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
TC-027.045/2018-8 – Acórdão 2624
MINISTRA ANA ARRAES
TC-006.399/2012-6 – Acórdão 2625
TC-032.725/2017-5 – Acórdão 2626
MINISTRO-SUBSTITUTO MARCOS BEMQUERER COSTA
TC-021.107/2018-1 – Acórdão 2627
TC-039.049/2018-3 – Acórdão 2628
MINISTRO-SUBSTITUTO ANDRÉ LUÍS DE CARVALHO
TC-007.460/2017-1 – Acórdão 2629
MINISTRO-SUBSTITUTO WEDER DE OLIVEIRA
TC-012.191/2018-3 – Acórdão 2630
ACÓRDÃOS PROFERIDOS
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Os acórdãos de nºs 2631 a 2650, apreciados por relação, estão transcritos a seguir. Da mesma
forma, seguem transcritos os acórdãos de nºs 2604 a 2630, apreciados de forma unitária, que constam
também do Anexo II desta Ata, juntamente com os relatórios e votos em que se fundamentaram.
RELAÇÃO Nº 33/2018 – Plenário
Relator – Ministro WALTON ALENCAR RODRIGUES
ACÓRDÃO Nº 2631/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão extraordinária de caráter
reservado do Plenário, ACORDAM, por unanimidade, com fundamento no art. 113, § 1º, da Lei
8.666/1993, c/c os arts. 53 e 55 da Lei 8.443/92, arts. 143, 234 a 236, e 250, inciso II, do Regimento
Interno, e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU 259/2014, quanto ao processo a seguir relacionado,
em conhecer da denúncia, considera-la prejudicada em função da perda de objeto, indeferir o pedido
de medida cautelar, dar ciência à unidade jurisdicionada sobre as impropriedades e falhas,
identificadas, dando-se ciência ao denunciante, e arquivar o processo, de acordo com o parecer emitido
nos autos:
1. Processo TC-036.725/2018-8 (DENÚNCIA)
1.1. Responsável: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992)
1.2. Interessado: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992)
1.3. Órgão/Entidade: Fundação Universidade Federal de Sergipe
1.4. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
1.5. Representante do Ministério Público: não atuou
1.6. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
1.7. Representação legal: não há.
1.8. dar ciência à Universidade Federal de Sergipe, com fundamento no art. 7º da Resolução –
TCU 265/2014, sobre as seguintes impropriedades/falhas, identificadas no Pregão 85/2018, para que
sejam adotadas medidas internas com vistas à prevenção de ocorrência de outras semelhantes:
1.8.1. a vedação à participação de empresas em recuperação judicial, com plano de recuperação
homologado judicialmente contraria a jurisprudência do Tribunal de Contas da União (Acórdão
5.686/2017 – 1ª Câmara), bem como entendimento da Advocacia Geral da União (Parecer n.
4/2015/CPLC/DEPCONSU/PGF/AGU);
1.8.2. o Decreto Federal 79.094/77 referenciado no item 11.7.3 do edital normativo do Pregão
85/2018 foi revogado pelo Decreto 8.077/2013, razão pela qual deve ser esta norma utilizada na
eventualidade de um novo processo licitatório que venha a ser empreendido com o mesmo objeto para
amparar a exigência dos alvarás mencionados no aludido item 11.7.3 do edital da licitação;
1.8.3. é ilegal a exigência de quitação de anuidades junto ao Conselho da Categoria Profissional
para fins de habilitação (11.7.4 e 11.7.5 do edital do Pregão 85/2018), pois o art. 30, inciso I, da Lei
8.666/1993 exige apenas o registro na entidade;
1.8.4. exigências específicas quanto à habilitação, tais como apresentação de Manual de Boas
Práticas de Fabricação (cláusula 11.7.7 do edital da licitação) e comprovação de higienização de caixa
d'água e de execução de dedetização e desratização nos últimos 06 meses (cláusula 11.7.8 do edital da
licitação), devem encontrar expressa previsão em norma própria, ante o que estabelece o inc. IV do art.
30 da Lei 8.666/1993, devendo ser excluídas aquelas que não encontrarem amparo normativo;
1.8.5. ainda que a alínea ‘a’ do item 10.6, anexo VII-A, diretrizes gerais para elaboração do ato
convocatório, da instrução normativa 5/2017 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
permita que seja feita a exigência de instalação de escritório local da empresa que seja declarada
vencedora de uma licitação no prazo de até 60 dias contados a partir da vigência do contrato, a
14
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
cláusula 11.7.9 do edital do Pregão 85/2018 deveria ter indicado com precisão qual seria o Município
de instalação do escritório da de representação; e,
1.8.6. deveriam ter sido considerados os termos da Lei 13.726/2018 (art. 3º) na formulação das
cláusulas 10.5 e 11.7.10 do edital do Pregão 85/2018, já que a mencionada não mais exige
reconhecimento de firma ou autenticações por cartórios em documentos a serem apresentados pelos
licitantes.
ACÓRDÃO Nº 2632/2018 - TCU - Plenário
3. Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ACORDAM,
por unanimidade, com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 43, inciso I, da Lei 8.443/92, c/c os arts.
143, 237, parágrafo único, e 250 do Regimento Interno, quanto ao processo a seguir relacionado, em
conhecer da representação, considerá-la improcedente e determinar o arquivamento, dando ciência ao
representante, de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
1. Processo TC-004.196/2018-0 (REPRESENTAÇÃO)
1.1. Órgão/Entidade: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense
1.2. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (SEFIP).
1.5. Representação legal: Flavio Luis Barbosa Nunes e outros, representando Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
RELAÇÃO Nº 35/2018 – Plenário
Relator – Ministro BENJAMIN ZYMLER
ACÓRDÃO Nº 2633/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento no art. 143, inciso V, alínea "d", do Regimento Interno/TCU, c/c o
Enunciado nº 145 da Súmula de Jurisprudência predominante no Tribunal de Contas da União, de
acordo com os pareceres emitidos nos autos:
1. Processo TC-013.501/2008-8 (TOMADA DE CONTAS ESPECIAL)
1.1. Apensos: 010.171/2008-7 (TOMADA DE CONTAS ESPECIAL)
1.2. Responsáveis: Deusiclea Barboza de Castro (280.020.671-34); Faleta e Bomfim Industria e
Comercio de Aço e Serviços Ltda. (40.602.468/0001-70); Israel Beserra de Farias (132.513.174-15);
Itazil Fonseca Benicio dos Santos (400.974.477-49); Jose Eduardo Athayde de Almeida (094.147.705-
34); Lauro Sergio de Figueiredo (115.178.321-87); Mestra Ltda. (03.457.778/0001-12); Milton de
Santana Faleta (117.812.385-53); Moreira Trindade Engenharia e Construções Ltda. - Me
(01.907.258/0001-39); Oscar Cabral de Melo (083.235.264-00); Paulo José Borba da Trindade
(080.171.315-34); Paulo Ramiro Perez Toscano (076.068.501-00); Pedro Thadeu Miranda de Argollo
Pereira (130.377.905-63); Rui Melo de Carvalho (370.198.997-49); Tl Construtora Ltda
(00.058.984/0001-61); Uma - Universidade Livre da Mata Atlantica (02.715.397/0001-23)
1.3. Órgão/Entidade: Ministério do Meio Ambiente, dos Rec. Hídricos e da Amazônia Legal –
Sec. de Rec. Hídricos (excluída); Ministério do Meio Ambiente (vinculador)
1.4. Relator: Ministro Benjamin Zymler
1.4.1. Ministro que alegou impedimento na sessão: Aroldo Cedraz.
15
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1.5. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
1.6. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado da Bahia (SECEX-BA).
1.7. Representação legal: Bruno Degrazia Mohn (18161/OAB-DF), representando Jose Eduardo
Athayde de Almeida; Iuri Mattos de Carvalho (16741/OAB-BA), representando Moreira Trindade
Engenharia e Construções Ltda. - Me, Paulo José Borba da Trindade, Mestra Ltda. e Pedro Thadeu
Miranda de Argollo Pereira; Manoel de Santana Neto (13.708/OAB-DF), representando Itazil Fonseca
Benicio dos Santos; Alexandre Melo Soares (24518/OAB-DF), representando Paulo Ramiro Perez
Toscano.
1.8. Determinações/Recomendações/Orientações:
1.8.1. em retificar, por inexatidão material, o Acórdão 1723/2016/2016 - Plenário, prolatado na
sessão de 6/7/2016, Ata nº 26/2016:
1.8.1.1. relativamente ao subitem 3.2, onde se lê “Israel Bezerra de Farias”, leia-se “Israel
Beserra de Farias” e excluir os termos “Engenharia e Construções Ltda. (CNPJ: 01.907.258/0001-
39)”;
1.8.1.2. relativamente ao subitem 9.7.6, onde se lê “5000,00”, leia-se “5.000,00”;
1.8.1.3. relativamente ao 9.17.4, onde se lê “no que diz respeito aos subitens 9.10, 9.10.1 e
9.10.2.”, leia-se “no que diz respeito aos subitens 9.12, 9.12.1 e 9.12.2 ”;
1.8.2. em retificar, por inexatidão material, o Acórdão 1861/2018 – Plenário, prolatado na
sessão de 15/8/2018, Ata nº 31/2018:
1.8.2.1. relativamente ao item 8, dar a seguinte redação ao subitem 8.5.: “Maria de Lourdes
Nunes (4.872/OAB-DF), representando Deusicléa Barboza de Castro”;
1.8.2.2. relativamente ao subitem 3.2., excluir do rol de responsáveis o Sr. Dalvino Troccoli
França, a Sra. Isabela Barreto de Mendonça Fontes e a empresa Origem Consultoria & Participação
Ltda..
ACÓRDÃO Nº 2634/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, em sintonia com as manifestações da unidade técnica, em:
a) determinar ao Ministério das Cidades, com fundamento nos arts. 197 do Regimento Interno do
TCU e 4º, § 4º, da IN TCU 71/2012, com redação dada pela IN TCU 76/2016, que instaure a
competente Tomada de Contas Especial em razão de débito decorrente da má qualidade das obras de
pavimentação asfáltica executadas no âmbito do contrato celebrado pela Prefeitura de Porto Belo (SC)
e pela empresa Terraplanagem Azza Ltda., com recursos provenientes do Contrato de Repasse
765.814, encaminhando-a a esta Corte de Contas em até 180 dias após sua instauração, conforme
disposto no art. 11 da IN TCU 71/2012; e
b) apensar os presentes autos ao TC 017.202/2015-9.
1. Processo TC 018.176/2018-6 (MONITORAMENTO)
1.1. Órgãos/Entidades: Caixa Econômica Federal; Entidades/órgãos do Governo do Estado de
Santa Catarina; Ministério das Cidades (vinculador); Prefeitura Municipal de Bombinhas (SC) e
Prefeitura Municipal de Porto Belo (SC).
1.2. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Santa Catarina (SECEX-
SC).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
16
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ACÓRDÃO Nº 2635/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento nos arts. 143, inciso V, alínea "a", 169, incisos I e V, e 243, do
Regimento Interno do TCU e em sintonia com a manifestação da unidade técnica, em:
a) considerar cumpridos os subitens 1.7.1.1., 1.7.1.2. e 1.7.3. do Acórdão 406/2017 - Plenário;
b) considerar em cumprimento o subitem 1.7.2. do Acórdão 406/2017 – Plenário;
c) determinar à Secex-RJ que monitore o cumprimento do item 1.7.2. do Acórdão 406/2017 -
Plenário, que está em fase de implementação; e
d) apensar o presente processo ao TC 022.290/2016-8.
1. Processo TC 031.714/2017-0 (MONITORAMENTO)
1.1. Órgão/Entidade: Superintendência do Patrimônio da União No Estado do Rio de Janeiro.
1.2. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro (SECEX-RJ).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2636/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ACORDAM,
por unanimidade, com fundamento no art. 143, inciso V, alínea “e”, do Regimento Interno do TCU,
em autorizar, em caráter excepcional, a dilação em 90 dias do prazo para que o Tribunal Regional
Federal da 3ª Região atenda aos itens 9.6.2.2 e 9.7 do Acórdão 2.732/2017-TCU-Plenário, de acordo
com os pareceres emitidos nos autos:
1. Processo TC-001.961/2017-9 (RELATÓRIO DE AUDITORIA)
1.1. Apensos: 026.402/2018-1 (SOLICITAÇÃO); 012.115/2018-5 (SOLICITAÇÃO)
1.2. Órgão/Entidade: Banco do Brasil S.a.; Caixa Econômica Federal; Conselho da Justiça
Federal; Tribunal Regional Federal da 1ª Região; Tribunal Regional Federal da 2ª Região; Tribunal
Regional Federal da 3ª Região; Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Tribunal Regional Federal da
5ª Região
1.3. Relator: Ministro Benjamin Zymler
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Administração do Estado
(SecexAdmin).
1.6. Representação legal: Adam Luiz Alves Barra (19786/OAB-DF) e outros, representando
Caixa Econômica Federal.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2637/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento no art. 1º, inciso II, da Lei 8.443/92 c/c os arts. 143, inciso III, 169,
inciso V, e 243 do Regimento Interno, de acordo com os pareceres emitidos nos autos, em:
1. Processo TC-010.638/2016-4 (RELATÓRIO DE AUDITORIA)
1.1. Apensos: 018.146/2017-1 (SOLICITAÇÃO)
17
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1.2. Responsáveis: Blal Yassine Dalloul (257.925.121-91); Eduardo Monteiro de Rezende
(583.796.811-34); Fabricio Bittencourt da Cruz (006.749.439-02); Marcelo Daniel Pagotti
(115.195.638-41); Romulo de Sousa Mesquita (443.493.351-53)
1.3. Órgão/Entidade: Câmara dos Deputados; Conselho Nacional de Justiça; Conselho Nacional
do Ministério Público (vinculador); Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Senado
Federal; Tribunal de Contas da União
1.4. Relator: Ministro Benjamin Zymler
1.5. Representante do Ministério Público: não atuou
1.6. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (SEFTI).
1.7. Representação legal: Rodrigo Fontenelle de Araújo Miranda, representando Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
1.8. Determinações/Recomendações/Orientações:
1.8.1. autorizar o monitoramento dos subitens 9.1.2.1, 9.2.9.4 e 9.2.12 do Acórdão 1.469/2017-
Plenário no âmbito das etapas da fiscalização autorizada pelo Min. José Múcio Monteiro no TC
018.235/2018-2;
1.8.2. arquivar os presentes autos.
RELAÇÃO Nº 39/2018 – Plenário
Relator – Ministro AUGUSTO NARDES
ACÓRDÃO Nº 2638/2018 - TCU - Plenário
VISTOS, relatados e relacionados estes autos de monitoramento quanto ao cumprimento dos
comandos constantes dos subitens 9.1 e 9.3 do Acórdão 715/2012-TCU-Plenário, no âmbito do TC
008.771/2011-1, referente a auditoria para avaliar os procedimentos associados à concessão de
benefícios previdenciários de origem rural e a arrecadação de contribuições substitutas que financiam a
previdência rural, por meio do qual este Tribunal expediu determinações e recomendações ao Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS);
Considerando que, por intermédio dos subitens 9.1 e 9.3 do Acórdão 715/2012-TCU-Plenário, o
Tribunal deliberou por expedir os seguintes comandos ao INSS:
“9.1. determinar, com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c art. 250, inciso II, do
Regimento Interno do TCU, ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, que, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias:
9.1.1. revise os 2.348 benefícios constantes do arquivo ‘segurados especiais com CNPJ ativo na
DIB.doc’ tendo em vista que foi constatado que os respectivos segurados constam como proprietários
ou responsáveis por pessoas jurídicas ativas na data de início do benefício, informando a este
Tribunal o resultado dessa análise, no prazo ora estipulado, cessando os benefícios em que forem
encontradas irregularidades e promovendo a restituição aos cofres da Previdência dos valores pagos
indevidamente, respeitado os prévios contraditório e ampla defesa dos beneficiários, em atenção ao
disposto no art. 11, § 9º; art. 11, § 10º, inciso I, alínea ‘b’; art. 11, inciso V, alínea ‘f’; art. 39,
parágrafo único; art. 39, inciso I; art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei 8.213/1991;
9.1.2. implemente alterações em seus sistemas de concessão e nos seus bancos de dados de
forma a permitir ao concessor verificar se os requerentes de benefícios rurais são ou foram
proprietários ou responsáveis por pessoas jurídicas inscritas no CNPJ;
9.1.3. revise os 1.368 benefícios constantes no arquivo ‘segurados especiais com benefício
incompatível.doc’, tendo em vista que foi constatado que os respectivos segurados já recebiam outro
benefício de valor superior ao salário mínimo na data de início do benefício, informando a este
Tribunal, no prazo ora estipulado, o resultado dessa análise, cessando os benefícios nos quais forem
encontradas irregularidades e promovendo a restituição aos cofres da Previdência dos valores pagos
18
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
indevidamente, respeitado os prévios contraditório e ampla defesa dos beneficiários, em atenção ao
disposto no art. 11, § 9º, inciso I; art. 39, inciso I e parágrafo único; e art. 48 §§ 1º e 2º, da Lei
8.213/1991;
9.1.4. revise os 1.274 benefícios constantes no arquivo ‘segurados especiais em atividade na
DIB.doc’, tendo em vista a constatação que os respectivos segurados apresentam vínculos urbanos na
data de início do benefício, informando a este Tribunal, no prazo ora estipulado, o resultado dessa
análise, cessando os benefícios nos quais forem encontradas irregularidades e promovendo a
restituição aos cofres da Previdência dos valores pagos indevidamente, respeitados os prévios
contraditório e a ampla defesa dos beneficiários, em atenção ao disposto no art. 11, § 9º c/c § 10,
inciso I, alínea ‘b’, art. 39, inciso I e parágrafo único; art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei 8.213/1991;
9.1.5. revise, em conjunto com a Procuradoria Federal Especializada, os benefícios concedidos
por ‘despacho 04’ e relacionados nos arquivos ‘segurados especiais em atividade na DIB.doc’,
‘segurados especiais com benefício incompatível.doc’ e ‘segurados especiais com CNPJ ativo na
DIB.doc’, em atenção ao disposto no art. 11, §§ 9º e 10º, inciso I, alínea ‘b’, da Lei 8.213/1991,
utilizando todos os expedientes e oportunidades processuais cabíveis, respeitado os prévios
contraditório e a ampla defesa dos beneficiários, objetivando a reforma dos atos judiciais expedidos
em desconformidade com a ordem judicial;
...
9.3. recomendar, com fulcro no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c art. 250, inciso III, do
Regimento Interno do TCU:
9.3.1. ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que promova, periodicamente, o
cruzamento das informações dos segurados especiais com as bases de dados do CNPJ, de informações
trabalhistas e da própria maciça, em especial quanto ao campo CPF, para mitigar as situações de
concessão de benefícios com indícios de irregularidade;
9.3.2. à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) que realize estudo definindo estratégias
para ampliar a arrecadação previdenciária sobre a produção rural de pessoas físicas;
9.3.3. conjuntamente ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e à Secretaria da Receita
Federal do Brasil (RFB) para que criem mecanismos, por meio de seus sistemas, relacionando a
contribuição que os segurados especiais efetuam ao comercializar sua produção (diretamente ou por
sub-rogação) ao cadastro desses segurados, vinculando a inscrição efetivada no SE-Cnis à matrícula
CEI, de maneira a atender ao disposto no art. 17, § 6º, da Lei 8.213/1991, c/c o art. 30, §§ 8º e 9º, da
Lei 8.212/1991”;
Considerando que o acórdão retro recebeu dois monitoramentos, o primeiro (TC 009.953/2012-
4, Acórdão 5/2014-Plenário), determinando: (i) ao INSS e à RFB, que apresentassem plano de ação
para cumprimento do Acórdão 715/2012-Plenário; (ii) à Procuradoria Federal Especializada (PFE)
junto ao INSS, que atuasse em conjunto com a autarquia nos casos de revisão de benefícios concedidos
judicialmente; e (iii) à Secex Previdência, que realizasse novo monitoramento dos subitens 9.1 e 9.3 do
Acórdão 715/2012-Plenário;
Considerando que o segundo monitoramento (TC 034.654/2014-3, Acórdão 405/2017-Plenário)
deliberou por: (i) considerou em cumprimento, mas com prazo expirado, as determinações constantes
dos subitens 9.1.1 a 9.1.5 do Acórdão 715/2012-Plenário; (ii) considerou em implementação as
recomendações dos subitens 9.3.1 a 9.3.3 do mesmo acórdão; e (iii) determinou à Secex Previdência, a
realização de novo monitoramento após o término de 2017;
Considerando que o Acórdão 715/2012-Plenário data de 28/3/2012, fixou prazo de 180 dias para
a revisão dos benefícios e o INSS informou em seu Plano de Ação, quando do primeiro
monitoramento, que a conclusão dos trabalhos se daria em 31/12/2014;
Considerando que já se passaram 6,5 anos do Acórdão 715/2012-Plenário e ainda restam
benefícios a serem revisados;
19
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Considerando a conclusão da Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da
Assistência Social (SecexPrevi) (item 26 da instrução de peça 21) quanto ao acórdão ora monitorado
de considerar: (i) cumprida a determinação 9.1.2 e implementada a recomendação 9.3.1 (itens 14 a 19
da instrução); (ii) em cumprimento, com prazo expirado, as determinações 9.1.1, 9.1.3, 9.1.4 e 9.1.5
(itens 8 a 13 da instrução); e (iii) em implementação, as recomendações 9.3.2 e 9.3.3 (itens 20 a 25 da
instrução);
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, quanto ao processo a seguir relacionado,
ACORDAM, por unanimidade, com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 43, inciso I, da Lei
8.443/1992, 143, inciso III, 169, inciso I, 243 e 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU, e de
conformidade com a proposta da unidade técnica nos autos (peças 2 a 4), em: considerar cumprida a
determinação 9.1.2 e implementada a recomendação 9.3.1 do Acórdão 715/2012-Plenário; considerar
em cumprimento, mas com prazo expirado, as determinações dos subitens 9.1.1, 9.1.3, 9.1.4 e 9.1.5 do
Acórdão 715/2012-Plenário; considerar em implementação as recomendações contidas nos subitens
9.3.2 e 9.3.3 do Acórdão 715/2012-Plenário; sem prejuízo das providências descritas no subitem 1.6
desta deliberação
1. Processo TC-011.742/2018-6 (MONITORAMENTO)
1.1. Órgão/Entidade: Instituto Nacional do Seguro Social
1.2. Relator: Ministro Augusto Nardes
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da
Assistência Social (SecexPrevi).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações:
1.6.1. determinar ao INSS que, no prazo de quinze dias, encaminhe Plano de Ação para
cumprimento das determinações 9.1.1, 9.1.3, 9.1.4 e 9.1.5 e implementação da recomendação 9.3.3 do
Acórdão 715/2012-Plenário, objetivando prazo exíguo e contendo ações a serem adotadas,
responsáveis por essas, CPF dos responsáveis e prazos para cumprimento ou implementação, sendo
acompanhado da lista de todos os benefícios referenciados no Acórdão 715/2012-Plenário, com
identificação individual e indicação da situação (revisado, não revisado, ativo, cessado, suspenso,
dentre outras);
1.6.2. determinar à SecexPrevidência que realize novo monitoramento a partir do 2º semestre de
2019;
1.6.3. apensar este processo ao TC 008.771/2011-1;
1.6.4. encaminhar cópia desta deliberação e da instrução de peça 2 ao Instituto Nacional do
Seguro Social, à Secretaria da Receita Federal do Brasil e à Procuradoria Federal Especializada (PFE)
junto ao INSS.
RELAÇÃO Nº 36/2018 – Plenário
Relator – Ministro AROLDO CEDRAZ
ACÓRDÃO Nº 2639/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento no art. 27 da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 218 do Regimento Interno/TCU, em dar quitação ao Sr. Marco Túlio Pinto Bernardo, ante o recolhimento integral da multa que lhe foi imputada por meio do Acórdão nº 1.729/2014 – TCU – Plenário, Sessão Ordinária de 2/7/2014, Ata nº 24/2014, seja dada ciência desta deliberação ao responsável e, posteriormente, retorne os autos à Secex-SP para continuidade do acompanhamento do recolhimento das demais condenações e eventual autuação de processos de cobrança executiva, conforme o caso, de acordo com os pareceres emitidos nos autos:
20
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1. Processo TC-015.391/2012-4 (REPRESENTAÇÃO)
1.1. Responsáveis: Alexandre Matuzalem Sparns (175.733.748-28); Luis Adriano Alves Pinto
(171.573.798-99); Marco Aurelio Beck (151.384.738-40); Marco Tulio Pinto Bernardo (272.218.848-
11); Marcos Antonini (016.212.318-36); Maurício Sponton Rasi (120.261.718-23); Terra Azul
Alimentação Coletiva e Serviços Ltda (96.355.946/0001-40); Verdurama Comércio Atacadista de
Alimentos Ltda (00.567.949/0001-78)
1.2. Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de Porto Ferreira - SP
1.3. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
1.4. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de São Paulo (SECEX-SP).
1.6. Representação legal: Alexandre Melo Soares (51.040/OAB-RS) e outros, representando
Maurício Sponton Rasi; Heloísa Dias Pinto Lopes da Silva, representando Marco Tulio Pinto
Bernardo; Fulvio Temple de Moraes (264088/OAB-SP) e outros, representando Alexandre Matuzalem
Sparns.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2640/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento nos artigos 143, inciso V, 169, V, do Regimento Interno/TCU; art. 10
da Lei 12.527/2011 c/c os arts. 59, inciso V, e § 1º, art. 6º, inciso II, e art. 11 da Resolução TCU
249/2012, em:
a) conhecer da presente Solicitação;
b) deferir o pedido de cópia integral do TC 015.052/2017-6 apresentado pela empresa Megawork
Consultoria e Sistemas Ltda.;
c) indeferir, mais uma vez, o pedido de ingresso da empresa Megawork Consultoria e Sistemas
Ltda. como parte interessada no TC 015.052/2017-6, com fundamento no art. 146, § 2º, do RI/TCU;
d) apensar os presentes autos ao TC 015.052/2017-6, com fundamento no art. 61, parágrafo
único, da Resolução-TCU 259/2014.
1. Processo TC-034.427/2018-0 (SOLICITAÇÃO)
1.1. Órgão/Entidade: Centrais Elétricas Brasileiras S.a.
1.2. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (SEFTI).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2641/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento nos artigos 143, inciso V, do Regimento Interno/TCU; 62, e 65, inciso
III, da Resolução TCU 259/2014, em:
a) conhecer da presente Solicitação;
b) indeferir o pedido de acesso ao TC 022.781/2018-8, formulado pela Casa Civil da Presidência
da República;
c) comunicar à solicitante, por intermédio da ouvidoria, o indeferimento do seu pleito de acesso
ao TC 022.781/2018-8, tendo em vista que a requerente não detém prerrogativa legal que a habilite
21
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
como legitimada para solicitar informações ou cópias de processos em andamento no Tribunal, nos
termos do art. 62 da Resolução-TCU 259/2014; bem como informe que, nos processos de controle
externo, para atendimento dos pedidos de informações formulados com fundamento na Lei de Acesso
à Informação, em regra geral, é necessário que já tenha sido expedido o ato decisório respectivo, a
saber, acórdão ou despacho de Relator, o que ainda não ocorreu;
d) fornecer vista eletrônica do processo de representação TC-036.914/2018-5 à Casa Civil da
Presidência da República;
e) informar à solicitante, por intermédio da ouvidoria, a respeito da possibilidade de interposição
de recursos da presente decisão e das formalidades para o exercício de tal faculdade processual,
conforme preceitua o § 1º do art. 27 da Resolução-TCU 249/2012.
f) dar ciência desta deliberação à solicitante e arquivar os presentes autos.
1. Processo TC-036.844/2018-7 (SOLICITAÇÃO)
1.1. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
1.2. Interessada: Casa Civil da Presidência da República
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Infraestrutura Hídrica, de Comunicações e de Mineração
(SeinfraCOM).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2642/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento nos artigos 143, inciso V, do Regimento Interno/TCU; 62, e 65, inciso
III, da Resolução TCU 259/2014, em:
a) conhecer da presente Solicitação;
b) indeferir o pedido de acesso ao TC 013.515/2013-6, com base no disposto no art. 4º § 1º, da
Resolução-TCU 249/2012, tendo em vista que o referido processo ainda não foi apreciado por esta
Corte, concedendo-lhe, no entanto, cópia do Acórdão nº 2.859/2013 – TCU – Plenário; do Despacho
constante à peça 232 do TC 013.515/2013-6, que suspendeu os subitens 9.2 e 9.3 daquele Acórdão, até
decisão quanto ao mérito do Pedido de Reexame; e do Acórdão nº 617/2018 – TCU – Plenário, que
conheceu do Pedido de Reexame e, no mérito, negou-lhe provimento;
c) comunicar ao solicitante, por intermédio da ouvidoria, o indeferimento do seu pleito de acesso
ao TC 013.515/2013-6, informando que nos processos de controle externo, para atendimento dos
pedidos de informações formulados com fundamento na Lei de Acesso à Informação, em regra geral, é
necessário que já tenha sido expedido o ato decisório respectivo, a saber, acórdão ou despacho de
Relator, o que ainda não ocorreu;
d) informar ao solicitante, por intermédio da ouvidoria, a respeito da possibilidade de
interposição de recursos da decisão que vier a ser proferida e das formalidades para o exercício de tal
faculdade processual, conforme preceitua o § 1º do art. 27 da Resolução-TCU 249/2012.
e) apensar a presente solicitação ao TC 013.515/2013-6, com fundamento no parágrafo único do
art. 61 da Resolução TCU 259/2014.
f) arquivar os presentes autos.
1. Processo TC-036.867/2018-7 (SOLICITAÇÃO)
1.1. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
1.2. Interessada: Ana Luíza Carvalho da Rocha (352.879.180-20)
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
22
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
1.5. Representação legal: Camila Rocha Morais (938.175.410-15)
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2643/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, ACORDAM, por
unanimidade, com fundamento nos artigos 143, inciso V, 169, V, do Regimento Interno/TCU; 62, e
65, inciso III, da Resolução TCU 259/2014, em:
a) conhecer da presente Solicitação;
b) encaminhar ao solicitante cópia integral, em mídia digital, do TC-002.779/2018-8;
c) alertar ao solicitante acerca da existência de documentos e informações sigilosas dentre as
peças processuais que serão enviadas, cujo sigilo deve ser por eles mantido, nos termos do art. 25, §§
1º e 2º, e 32, inciso IV, da Lei 12.527/2011 (LAI) c/c o art. 17, §§ 1º e 2º da Resolução-TCU
294/2018;
d) arquivar os presentes autos.
1. Processo TC-037.170/2018-0 (SOLICITAÇÃO)
1.1. Interessado: Gustavo Magno Goskes Briggs de Albuquerque, Procurador da República no
Estado do Rio de Janeiro;
1.2. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Administração Indireta no Rio de
Janeiro (SecexEstat).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
RELAÇÃO Nº 41/2018 – Plenário
Relator – Ministro JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
ACÓRDÃO Nº 2644/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, quanto ao
processo abaixo relacionado, com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 143,
inciso III; e 237 do Regimento Interno/TCU, ACORDAM em conhecer da representação, para no
mérito considerá-la parcialmente procedente, e considerar prejudicado o pedido de concessão de
medida cautelar, adotando as seguintes providências, conforme os pareceres emitidos nos autos, bem
como cientificar o representante e o TST, com o envio de cópia da respectiva instrução:
1. Processo TC-034.434/2018-6 (REPRESENTAÇÃO)
1.1. Representante: Prime Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. – EPP (CNPJ
05.340.639/0001-30)
1.2. Unidade: Tribunal Superior do Trabalho
1.3. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
1.6. Advogado constituído nos autos: Renato Lopes (OAB/SP 406.595-B)
23
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1.7. Recomendar ao TST, com fundamento no art. 250, inciso III, do Regimento Interno/TCU,
que em relação à contratação de serviços relativos a fornecimento de combustíveis, objeto do Pregão
87/2018, avalie a conveniência e oportunidade de:
1.7.1. considerando a informação de que o objeto poderá ser executado diretamente por rede de
postos de combustíveis ou por intermediação de empresa gerenciadora de cartões destinados ao
abastecimento, avalie a possibilidade de, no primeiro caso (contratação de postos de combustíveis),
dispensar o uso do cartão eletrônico e utilizar outro meio de controle, a exemplo de voucher emitido
pelo próprio órgão, medida que favoreceria a competitividade;
1.7.2. adotar como valor base para a incidência do desconto ofertado pelos licitantes o preço
médio mensal do combustível na região, publicado pela Agência Nacional de Petróleo – ANP;
1.8. Determinar ao TST que informe ao TCU, no prazo de 15 (quinze) dias, as medidas adotadas
para dar cumprimento às recomendações constantes do item anterior;
1.9. Dar ciência ao Tribunal Superior do Trabalho – TST, com fundamento no art. 7º da
Resolução – TCU 265/2014, sobre as impropriedades identificadas no Pregão Eletrônico 87/2018, para
que sejam adotadas medidas internas com vistas à prevenção de ocorrência de outras semelhantes,
relativamente aos subitens 4.7.1 e 8.6.2 do edital, em desacordo com o art. 3º-A da Instrução
Normativa nº 3 SLTI/MPOG que estabelece prazo mínimo de duas horas, a partir da solicitação do
pregoeiro, para o envio de documentos de habilitação complementares, que, segundo o art. 25, §2º, do
Decreto 5.450/2005, são aqueles não contemplados pelo Sicaf,;
1.10. Arquivar os presentes autos, com fundamento no art. 250, II, c/c art. 169, III, do
Regimento Interno/TCU, sem prejuízo de que a Selog monitore esta deliberação.
ACÓRDÃO Nº 2645/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, quanto ao
processo a seguir relacionado, com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei nº 8.443/1992 c/c os arts.
143, inciso III; e 237 do Regimento Interno/TCU, ACORDAM em conhecer da representação, mas
considerá-la prejudicada, por perda de objeto, arquivando-a, dando ciência à representante e à
Gerência de Filial Logística no Rio de Janeiro (Gilog/RJ) - Caixa Econômica Federal, com o envio de
cópia da respectiva instrução, conforme os pareceres emitidos nos autos:
1. Processo TC-034.574/2018-2 (REPRESENTAÇÃO) 1.1 Representante: Viaseg Monitoria 24 HS Ltda. (CNPJ 03.454.724/0001-01) 1.2. Unidade: Caixa Econômica Federal
1.3. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro. 1.6. Representação legal: Roberto Luz de Barros Barreto (OAB/DF 10.463) 1.7. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2646/2018 - TCU - Plenário
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, quanto ao
processo abaixo relacionado, com fundamento no art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993 e no art. 43, inciso
I, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 143, inciso III, 235, 237, inciso VII e parágrafo único, e 276 do
Regimento Interno do TCU, ACORDAM em indeferir o pedido de cautelar, considerar parcialmente
procedente a representação e adotar as medidas a seguir descritas, conforme os pareceres emitidos nos
autos:
24
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1. Processo TC-034.607/2018-8 (REPRESENTAÇÃO)
1.1. Representante: DFTI Comércio e Serviços de Informática Ltda. (09.650.283/0001-91)
1.2. Unidade: Conselho da Justiça Federal
1.3. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (SEFTI).
1.6. Representação legal: Renata Arnaut Araújo Lepsch (OAB/DF 18.641) e outros
1.7. Dar ciência ao Conselho da Justiça Federal, para que sejam adotadas medidas internas com
vistas à prevenção da ocorrência de outras irregularidades semelhantes, de que a ausência em edital de
justificativa específica, lastreada em estudo técnico referente ao objeto licitado, para a permissão da
adesão de órgãos não participantes (caronas) a Atas de Registro de Preços contraria o Decreto
7.892/2013 e o disposto no Acórdão 311/2018-TCU-Plenário;
1.8. Comunicar esta deliberação à representante e ao Conselho da Justiça Federal;
1.9. Arquivar os presentes autos, nos termos do art. 237, parágrafo único, c/c o art. 250, inciso I,
do Regimento Interno/TCU.
RELAÇÃO Nº 40/2018 – Plenário
Relatora – Ministra ANA ARRAES
ACÓRDÃO Nº 2647/2018 - TCU - Plenário
Cuidam os autos de monitoramento instaurado para verificar o cumprimento das determinações expedidas pelo Acórdão 566/2018 – Plenário para que a Delegacia Federal da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) informasse as providências adotadas para corrigir falhas identificadas na execução do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), no estado de Minas Gerais.
Considerando que a unidade técnica, em sua análise, considerou que o plano de ação apresentado pela Subsecretaria de Reordenamento Agrário cumpre parcialmente a determinação do subitem 1.8 mas não atende à deliberação do subitem 1.9 do acórdão 566/2018 – Plenário;
os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ACORDAM, por unanimidade, de acordo com os pareceres emitidos nos autos e com fundamento no art. 250, inciso II, do Regimento Interno, em fazer as determinações sugeridas e em encaminhar cópia desta deliberação, bem como da instrução à peça 24, à Subsecretaria de Reordenamento Agrário da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.
1. Processo TC-023.693/2018-5 (MONITORAMENTO)
1.1. Classe de Assunto: V.
1.2. Unidade: Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário
1.3. Relatora: ministra Ana Arraes.
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Minas Gerais (Secex-MG).
1.6. Representação legal: não há.
1.7. Determinar à Subsecretaria de Reordenamento Agrário da Secretaria Especial de Agricultura
Familiar e do Desenvolvimento Agrário que, em até 60 (sessenta) dias contados da ciência desta
deliberação:
1.7.1. complemente o plano de ação encaminhado ao TCU, contemplando ações concretas a fim
de identificar e propor solução para as deficiências graves de infraestrutura básica nos loteamentos
financiados pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário nas Fazendas Jardim e Jardim/Calçado, no
25
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
município de João Pinheiro/MG, em atendimento à deliberação constante do subitem 1.8.3 do Acórdão
566/2018 - Plenário;
1.7.2. apresente informações sobre a definição da agenda de fiscalização das propostas já
aprovadas do Programa Nacional de Crédito Fundiário, prevista no plano de ação para ser criada até
30/10/2018, em cumprimento à determinação contida no subitem 1.8.2 do Acórdão 566/2018 -
Plenário;
1.7.3. informe sobre o andamento das medidas a serem tomadas para dar cumprimento às
determinações contidas nos subitens 1.8.1, 1.8.4 e 1.8.5 do Acórdão 566/2018 - Plenário, tendo em
vista os prazos para implementação dessas medidas indicados no Plano de Ação apresentado ao TCU;
1.7.4. manifeste-se sobre a regularidade dos valores envolvidos na aquisição das propriedades
que deram origem aos assentamentos localizados nos Grupamentos Jardim (Incra 4.040.632.655.513),
Jardim Calçado (Incra 4.272.330.273.598) e Recanto Verde (Incra 9.501.902.139.348), todos no
município de João Pinheiro/MG, assim como esclareça se a extensão das propriedades suportava a
quantidade de famílias assentadas, tendo em vista que o Laudo de Vistoria e Avaliação 18/2008,
elaborado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em setembro/2008,
concluiu que a Fazenda Jardim/Rodrigues possuía uma estimativa de assentamento de 42 famílias, com
lotes médios de 40,54 ha, e estava avaliada em R$ 2.107.164,76, enquanto que o Relatório de Vistoria
Social 36/2014, elaborado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de
Minas Gerais em novembro/2014, concluiu que a mesma propriedade possuía capacidade para o
assentamento de 103 famílias, com lotes médios de 15,95 ha, e avaliou o imóvel no valor de R$
8.182.477,24.
RELAÇÃO Nº 25/2018 – Plenário
Relator – Ministro-Substituto WEDER DE OLIVEIRA
ACÓRDÃO Nº 2648/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com fundamento nos arts. 1º, XXV, 264 e 265 do RI/TCU, na forma do art. 143, V, 'a', do RI/TCU, e de acordo com o parecer da unidade técnica emitido nos autos, ACORDAM, por unanimidade, em não conhecer da presente consulta por ausência de legitimidade do interessado, encerrar o processo e arquivar os autos, dando-se ciência desta decisão ao pleiteante.
1. Processo TC-031.703/2018-6 (CONSULTA)
1.1. Consulente: Município de Feira de Santana/BA.
1.2. Entidade: Município de Feira de Santana/BA.
1.2. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
1.3. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.4. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
1.5. Representação legal: não há.
1.6. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2649/2018 - TCU - Plenário
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, considerando o
parecer emitido nos autos pela unidade técnica, no sentido de que seja feita a correção, mediante
apostilamento, com fundamento no art. 143, V, 'd', do RI/TCU c/c a Súmula TCU 145, ante a
constatação de inexatidão material, ACORDAM, por unanimidade, em retificar o acórdão 1037/2015-
26
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
TCU-Plenário, de modo que onde se lê, no subitem 3.2, "Responsável: Roberto Cavalcanti Tavares
(734.440.574-15)", leia-se "Responsável: Roberto Cavalcanti Tavares (712.214.414-34)”, mantendo-se
inalterados os demais termos do acórdão ora retificado.
1. Processo TC-033.513/2012-0 (RELATÓRIO DE AUDITORIA)
1.1. Responsável: Roberto Cavalcanti Tavares (712.214.414-34).
1.2. Interessados: Congresso Nacional; Consorcio Siena Emcosa Scave (18.107.604/0001-05).
1.3. Entidade: Companhia Pernambucana de Saneamento; Ministério da Integração Nacional.
1.4. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
1.5. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.6. Unidade Técnica: Secretaria de Infraestrutura Hídrica, de Comunicações e de Mineração
(SeinfraCOM).
1.7. Representação legal: Rodrigo Soares de Azevedo (OAB/PE 18030), representando
Consorcio Siena Emcosa Scave.
1.8. Determinações/Recomendações/Orientações: não há.
ACÓRDÃO Nº 2650/2018 - TCU - Plenário
Considerando as irregularidades reportadas no relatório final da comissão de intervenção e sindicância nomeada pelo Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil para interceder no Conselho Regional do Estado de São Paulo (peça 74) e no relatório de práticas contábeis referentes aos períodos de 2009 a agosto de 2016, da MB auditores independentes (peça 75);
Considerando que, para várias das irregularidades reportadas, é pertinente a realização de medidas saneadoras para esclarecer a ocorrência de dano ou a necessidade de realização de audiência do(s) responsável(is), a exemplo daquelas referentes a contratações sem licitação e sem contrato de prestação de serviços/aquisição, à ausência de comprovação da realização dos serviços, à contratação de empresas de parentes dos diretores (itens 4.3 a 4.19 do relatório da auditoria independente), a atrasos nos pagamentos do condomínio (item 4.21) e à contratação de pessoal sem seleção pública (item 4.22);
Considerando que, com base no relatório de auditoria independente, já é possível constatar que algumas irregularidades resultaram em débito, a exemplo de: empréstimos realizados pelo antigo presidente (R$ 180.000,00 - item 4.1), contratação de empresa para confecção de livros de autoria do ex-presidente da OMB-CRSP (R$ 645.074,00 - item 4.6), contratação de oficina mecânica para manutenção em veículo não pertencente à frota de carro da OMB-CRSP (R$ 1.961,60 – item 4.15) e pagamentos em espécie, sem evidencias de aprovação, motivo da despesa, contrato, cotação/licitação de preços (valor total de R$ 599.325,57 - item 4.20);
Considerando, ademais, as informações constantes do relatório de auditoria independente relativas à ausência de controle internos adequados e de sistema informatizado para os procedimentos operacionais (item 6.1), bem como de problemas de controle de caixa (item 6.2);
Considerando que a unidade instrutiva verificou a ocorrência de dano nas irregularidades apontadas e propôs a instauração de tomada de contas especial pelo Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil, com o objetivo de identificar os responsáveis, quantificar o dano e ressarcir o erário em relação às irregularidades apontadas no relatório da auditoria independente quando da intervenção na OMB-SP;
27
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Considerando, entretanto, que o Sr. Ricardo Bueno, então presidente da OMB-CRSP e responsável por várias irregularidades apontadas, fez parte da diretoria do Conselho Federal no exercício de 2016, conforme documento de peça 69;
Considerando, também, as disputas existentes dentro do próprio sistema entre o conselho federal e seus regionais que podem comprometer a imparcialidade da apuração;
Os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com fundamento no art. 47 da Lei 8.443/1992 c/c art. 252 do RI/TCU, e na forma do art. 143, V, 'g', do RI/TCU, ACORDAM, por unanimidade, em converter a presente representação em tomada de contas especial, nos termos do art. 41 da Resolução TCU 259/2014, por meio de autuação de processo específico, e considerar cumprida a determinação constante do item 1.7.1 do acórdão 6326/2018-TCU-1ª Câmara, dando-se ciência desta decisão ao representante, fazendo-se as determinações seguintes.
1. Processo TC-031.886/2016-7 (REPRESENTAÇÃO)
1.1. Representação: Gerson Ferreira Tajes (148.377.198-99).
1.2. Entidade: Conselho Federal da Ordem dos Músicos do Brasil; Conselho Regional da Ordem
dos Músicos do Brasil-SP.
1.3. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
1.4. Representante do Ministério Público: não atuou.
1.5. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da
Assistência Social (SecexPrevi).
1.6. Representação legal: Giovanni Charles Paraizo (OAB/MG 105.420), representando
Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil-SP e Conselho Federal da Ordem dos Músicos do
Brasil; Vitor Miranda Tauffer Padilha e outros, representando Gerson Ferreira Tajes.
1.7. Determinações/Recomendações/Orientações:
1.7.1. determinar a SecexPrevi que, valendo-se das diligências ou oitivas necessárias:
1.7.1.1. realize a citação do Sr. Ricardo Bueno, e de outros responsáveis que entender
necessário, para que apresentem alegações de defesa quanto às irregularidades reportadas no relatório
de auditoria independente (peça 75) para as quais já resta evidenciado o dano ao erário, encaminhando,
previamente, ao relator, a proposta de citação;
1.7.1.2. em relação as demais irregularidades reportadas no supracitado relatório (peça 75),
encaminhe ao relator, se for o caso, a proposta de realização de audiências;
1.7.1.3. em consonância com o art. 198, parágrafo único, do RI/TCU c/c o art. 41, § 2º, da
Resolução TCU 259/2014, cientifique o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Músicos do
Brasil, na condição de órgão supervisor, a respeito da conversão dos presentes autos em tomada de
contas especial.
ACÓRDÃO Nº 2604/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 010.348/2018-2
2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria.
3. Interessado: Tribunal de Contas da União.
4. Unidades: Casa Civil da Presidência da República, Agência Nacional de Aviação Civil,
Agência Nacional de Mineração, Banco do Brasil S/A, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e
Corrupção - Seccor.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
8. Representação legal: Adriano Augusto de Souza (CPF 839.219.904-91) e Rodrigo Duarte
Dourado (CPF 695.827.421-00).
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida esta auditoria operacional, coordenada pela Secretaria de Relações
Institucionais de Controle no Combate à Fraude e Corrupção - Seccor, em conjunto com outras
unidades deste Tribunal, para avaliar se os controles de prevenção e detecção relacionados a fraude e a
corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com seus poderes econômico
e de regulação.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com
fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 250, incisos II e III, do Regimento Interno,
e ante as razões expostas pela relatora, em:
9.1. encaminhar cópia desta deliberação ao Comitê de Riscos, Governança e Desburocratização
da Presidência da República em face das competências a ele instituídas por meio da Portaria PR/GSI
65/2018 e ao coordenador da equipe de transição instituída pelo Presidente da República eleito, a que
se refere a Lei 10.609/2002, alertando-os para os potenciais riscos identificados a seguir, a partir do
presente trabalho de fiscalização:
9.1.1. trinta e oito unidades com alto poder econômico possuem fragilidades nos controles nas
classificações “alta” e “muito alta” de exposição ao risco de fraude e corrupção, unidades essas que
controlam orçamento de mais de R$ 216 bilhões, conforme descrito no capítulo C do relatório;
9.1.2. oitenta por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos
30% maiores), pertencentes ao Orçamento-Geral da União - OGU, estão em níveis iniciais de
estabelecimento de gestão de riscos e controles internos, conforme descrito no capítulo E.1 do
relatório;
9.1.3. oitenta e seis por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato
dos 30% maiores) declararam que não passaram do estágio inicial de implantação de controles
específicos para detecção de combate a fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do
relatório;
9.1.4. sessenta e nove por cento dos órgãos pesquisados com alto poder econômico (extrato dos
30% maiores), à exclusão das estatais, indicaram que se encontram com seus programas de integridade
em estágio inexpressivo de implantação, conforme descrito no capítulo F.1 do relatório;
9.1.5. das cento e duas instituições com maiores poderes econômico e de regulação, 70%
declararam que não estão implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética, conforme
descrito no capítulo E.1 do relatório;
9.1.6. as auditorias internas das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato
dos 30% maiores) não possuem ações sistemáticas, consolidadas e institucionalizadas voltadas à
análise de riscos de fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
9.1.7. as estatais de maior poder econômico (extrato dos 30% maiores) não apresentaram
modelos institucionalizados amplos e consistentes de dados abertos, transparência e accountability,
conforme descrito no capítulo H.1 do relatório;
9.1.8. ausência de critérios mínimos e objetivos para indicação de dirigentes nas instituições
federais, com elevado risco potencial de exposição a casos de fraude e corrupção, conforme descrito
no capítulo D do relatório;
9.1.9. no período entre agosto/2017 e julho/2018, foram verificadas 554 potenciais restrições em
ocupantes de cargos ou funções comissionadas, que, embora exijam avaliação individual para
conclusão definitiva acerca da irregularidade da situação, são riscos potenciais elevados porque há
indicativos de servidores que ocupam cargos nas mesmas instituições que aplicaram as penas
cadastradas e ainda de um ocupante de cargo DAS-4 com duas expulsões cadastradas no Cadastro de
29
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Expulsões da Administração Federal - Ceaf, oriundas de instituições diferentes, conforme descrito no
capítulo D do relatório.
9.2. recomendar à Presidência da República que avalie a conveniência e a oportunidade de
estender a pesquisa realizada pela Casa Civil, por meio do Sistema Integrado de Nomeações e
Consultas - SINC, para toda a Administração Direta e Indireta do Poder Executivo, especialmente às
pessoas indicadas para a alta Administração dos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal e
também para cargos de natureza especial, em observância à integridade institucional e à proteção do
interesse público;
9.3. recomendar à Casa Civil da Presidência da República que avalie a conveniência e a
oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
9.3.1. inclusão, além do critério de capacidade técnica, de critérios de integridade no normativo
demandado pelo art. 5º da Lei 13.346/2016, a exemplo daqueles contidos no art. 17 da Lei
13.303/2016;
9.3.2. realização de consulta à Comissão de Ética da Presidência da República - CEP sobre a
existência de sanções éticas para os indicados aos cargos sujeitos às análises do SINC, conforme
previsto no art. 22 do Decreto 6.029/2007, bem como às bases de dados do Tribunal de Contas da
União, especialmente para verificação dos casos da sanção de inabilitação para o exercício de cargo
em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública, prevista no art. 60 da Lei
8.443/1992;
9.3.3. manutenção do cadastro de punições éticas a cargo da Secretaria-Executiva da CEP em
plataforma tecnológica capaz de garantir a disponibilidade, a autenticidade e a integridade dessa
informação, conforme estabelecido no art. 6º, inciso II, da Lei 12.527/2011;
9.3.4. observada em cada caso a necessidade de resguardar informações de caráter pessoal,
adoção de medidas que confiram transparência ao cadastro de punições éticas, com divulgação de
informações de interesse público em relação a cada instituição, independentemente de solicitações, em
observância ao controle social da Administração Pública, conforme ínsito no art. 3º, incisos II e V, da
Lei 12.527/2011;
9.3.5. notificação à CEP da nomeação dos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013, de
modo a viabilizar a fiscalização da entrega das informações contidas no inciso I do art. 9º da mesma
lei, sem prejuízo das obrigações previstas na Lei 8.730/1993;
9.3.6. elaboração de normativo específico para que as estatais encaminhem notificação à CEP
acerca de suas nomeações nos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013.
9.4. determinar às instituições a seguir relacionadas que apresentem planos de ação para sanear
os problemas apontados, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, especificando, no mínimo, as ações a
serem adotadas, os responsáveis pelas ações e os prazos para implementação:
9.4.1. à Agência Nacional de Mineração - ANM:
9.4.1.1. inexistência de termo de compromisso de acatamento e observância das regras
estabelecidas no código de ética e conduta por parte do corpo funcional da organização, a ser assinado
por ocasião da posse no cargo ou investidura em função pública, conforme estabelecido no art. 15 do
Decreto 6.029/2007;
9.4.1.2. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética,
conforme previsto no art. 6º, inciso XI, do Regimento Interno da Comissão de Ética Setorial do então
Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM;
9.4.1.3. não estabelecimento de unidade de gestão da integridade, conforme determinado no art.
4º da Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018;
9.4.1.4. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada à ANM, conforme disposto no
art. 3º da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016.
9.4.2. à Agência Nacional de Aviação Civil - Anac:
30
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.4.2.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de gestão da ética, a serem
definidas no programa de integridade da instituição, conforme previsto no art. 7º, alínea “d”, do
Decreto 6.029/2007 e no art. 1º, inciso XXIV, da Resolução-Anac 431 de 6/6/2017;
9.4.2.2. não desenvolvimento do programa de integridade da Anac, conforme disposto no
Decreto 9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Anac 1.592/2018,
de 22/5/2018.
9.4.3. ao Banco do Brasil:
9.4.3.1. ausência de divulgação das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta
Administração, em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na
Resolução-CEP 11/2017 da Comissão de Ética Pública.
9.4.4. ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama:
9.4.4.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética,
conforme previsto no art. 7º, alínea “d”, do Decreto 6.029/2007;
9.4.4.2. não desenvolvimento do programa de integridade do Ibama, conforme disposto no
Decreto 9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Ibama 661, de
13/3/2018;
9.4.4.3. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada ao Ibama, conforme disposto
no art. 3 da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016.
9.4.5. ao Ministério da Saúde:
9.4.5.1. não realização das ações de acompanhamento, monitoramento e de gestão da ética,
previstas no art. 3º do Regimento Interno da Comissão de Ética do Ministério da Saúde;
9.4.5.2. inexistência do programa de integridade do ministério, estipulado no Decreto 9.203, de
22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-MS, 1.822, de 20/7/2017;
9.4.5.3. não implantação da gestão corporativa de riscos do ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016, e na Portaria-MS 1.822, de 20/7/2017.
9.4.6. ao Ministério do Trabalho:
9.4.6.1. não divulgação plena das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta
Administração, em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na
Resolução-CEP 11/2017 da Comissão de Ética Pública;
9.4.6.2. não implantação da gestão corporativa de riscos do ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016.
9.5. recomendar às instituições a seguir relacionadas que avaliem a conveniência e a
oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
9.5.1. à Agência Nacional de Mineração - ANM:
9.5.1.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.1.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização do corpo funcional quanto às condutas esperadas, expressas no código de ética;
9.5.1.3. estabelecimento de controles e mecanismos que assegurem a qualidade das informações
organizacionais prestadas, com definição de critérios, diretrizes e limites para abertura de dados e
acesso à informação;
9.5.1.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas;
9.5.1.5. revisão do regulamento da Auditoria Interna, de forma a atribuir competência à área para
avaliar a eficácia e contribuir para a melhoria dos processos de controle relativos ao risco de fraude e
corrupção;
9.5.1.6. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes
naturezas: avaliação, implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização, além de
trabalhos cujos objetos sejam a governança organizacional, a avaliação dos controles internos dos
31
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
elementos críticos para alcance dos objetivos organizacionais, a gestão da ética e da integridade e a
avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
9.5.1.7. estabelecer mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da Súmula
Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.5.2. à Agência Nacional de Aviação Civil - Anac:
9.5.2.1. estabelecer mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da Súmula
Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União;
9.5.2.2. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.2.3. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como a promoção incidental, de forma ampla e sistemática, da detecção
de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas
(data mining, data matching e data analytics), com base em prévia das circunstâncias possíveis de
fraude e corrupção nas atividades desenvolvidas em todas as áreas da agência.
9.5.3. Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama:
9.5.3.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.3.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização do corpo funcional quanto às condutas esperadas, expressas no código de ética;
9.5.3.3. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas;
9.5.3.4. elaboração de regulamento da Auditoria Interna, contemplando as boas práticas da área e
observando os normativos pertinentes emitidos pela CGU;
9.5.3.5. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes
naturezas: avaliação, implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização, além de
trabalhos cujos objetos sejam a governança organizacional, a avaliação dos controles internos dos
elementos críticos para alcance dos objetivos organizacionais, a gestão da ética e da integridade e a
avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
9.5.3.6. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União;
9.5.3.7. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como promover, incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a
detecção de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas
tecnológicas (data mining, data matching e data analytics).
9.5.4. ao Ministério da Saúde:
9.5.4.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.4.2. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas,
além da satisfação do cidadão que utiliza a Ouvidoria ou o Sistema de Informação ao Cidadão;
9.5.4.3. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como promova, incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a
detecção de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas
tecnológicas (data mining, data matching e data analytics), de acordo com o seu levantamento de
risco;
9.5.4.4. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.5.5. ao Ministério do Trabalho:
32
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.5.5.1. fortalecimento institucional da Comissão de Ética por meio da formalização do seu
regimento interno, contemplando a normatização de ações de acompanhamento, monitoramento e de
gestão da ética;
9.5.5.2. revisão do código de ética próprio, a partir de mapeamento de riscos éticos a que o
ministério está sujeito;
9.5.5.3. envolvimento de sua Comissão de Ética no desenvolvimento do Programa de Integridade
do Ministério, instituído pela Portaria 328/2018, tendo em vista que tal programa tem, entre seus
objetivos, promover a prevenção, a detecção e a correção da prática de desvios éticos, matéria
pertinente à citada comissão;
9.5.5.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas,
além da satisfação do cidadão que acessa o Portal do ministério na internet;
9.5.5.5. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.6. dar ciência à Comissão de Ética Pública - CEP da ocorrência de indícios de publicação
insuficiente de agendas de autoridades do Ministério do Trabalho e do Banco do Brasil, verificados na
presente auditoria, para providências cabíveis, nos termos do artigo 8º da Lei 12.813/2013;
9.7. dar ciência à Presidência da República, à Casa Civil e ao Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União das seguintes boas práticas verificadas pela auditoria, para que avaliem
a conveniência e a oportunidade de disseminá-las entre os órgãos do Poder Executivo Federal:
9.7.1. promoção de ética adotada na Anac, caracterizada pela realização de curso na modalidade
a distância, para promover conduta ética e conscientizar seus servidores sobre o tema e ainda sobre as
condutas por eles esperadas;
9.7.2. implantação do processo de Autoavaliação de Controles - AAC por parte da Auditoria
Interna da Anac;
9.7.3. estabelecimento de trilha ética obrigatória para ascensão profissional no âmbito do Banco
do Brasil;
9.7.4. coleta de comprometimento formal de acatamento do código de ética e observância dos
normativos pertinentes, com periodicidade anual, e sempre quando ocorrer alteração nos respectivos
normativos, no âmbito do Banco do Brasil; e,
9.7.5. boa prática na atuação da Auditoria Interna adotada no Banco do Brasil, por meio da
avaliação das causas de ocorrências de irregularidades de modo a melhorar o gerenciamento de riscos
e controles da instituição.
9.8. determinar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que, no âmbito da fiscalização
“Avaliação dos requisitos de qualificação para exercício de cargos e funções de livre provimento”
(Proposta Planejar 1141), inclua a avaliação das funcionalidades do sistema SINC - Sistema Integrado
de Nomeações e Consultas;
9.9. determinar à Secretaria-Geral de Controle Externo que:
9.9.1. considere o quadro de risco ínsito nos capítulos C e E1 do relatório que conduziu a este
acórdão, como subsídio à definição das futuras auditorias;
9.9.2. em conjunto com a Secretaria de Soluções de Tecnologia da Informação - STI,
disponibilize esta deliberação, bem como a íntegra do relatório da unidade técnica e o mapa de
exposição da Administração Pública Federal a fraude e a corrupção, na página do Tribunal na internet,
com acesso público, de forma a permitir que cada órgão avalie o estágio em que se encontra nos
diversos aspectos de maturidade de controles, de forma a implementar ações de melhorias;
9.9.3. realize atualização periódica do mapa de exposição da Administração Pública Federal a
fraude e a corrupção veiculado na página do TCU na internet, com divulgação, ainda, das boas práticas
adotadas pelas unidades jurisdicionadas que impactaram a evolução dos parâmetros que sustentam o
mapa;
33
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.9.4. avalie a possibilidade de ampliar essa iniciativa no âmbito do Poder Executivo e, com as
adaptações metodológicas pertinentes, aos demais poderes da República.
9.10. dar ciência desta deliberação e do relatório da unidade técnica:
9.10.1. ao Ministério Público Federal, ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da
União, ao Ministério da Justiça e à Enccla - Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem
de Dinheiro;
9.10.2. ao Conselho Nacional de Justiça, ao Conselho Nacional do Ministério Público e ao
Presidente do Senado Federal, ao Presidente da Câmara dos Deputados, para ciência e eventual
utilização das informações aqui apresentadas como subsídio ao aprimoramento de seus sistemas e
procedimentos de promoção ética e controle e prevenção de fraude e corrupção;
9.11. determinar à Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e
Corrupção que monitore a implementação das determinações e recomendações deste acórdão;
9.12. recomendar ao coordenador da equipe de transição instituída pelo Presidente da República
eleito, a que se refere a Lei 10.609/2002, que avalie a conveniência e oportunidade de adotar, de forma
imediata, no que couber e for operacionalmente viável, os procedimentos e critérios apresentados no
presente acórdão para a nomeação de agentes públicos para cargos de livre provimento, dispostos no
item 9.3 desta deliberação, especialmente em seus subitens 9.3.1 e 9.3.2 (“9.3.1. inclusão, além do
critério de capacidade técnica, de critérios de integridade no normativo demandado pelo art. 5º da Lei
13.346/2016, a exemplo daqueles contidos no art. 17 da Lei 13.303/2016; 9.3.2. realização de consulta
à Comissão de Ética da Presidência da República - CEP sobre a existência de sanções éticas para os
indicados aos cargos sujeitos às análises do SINC, conforme previsto no art. 22 do Decreto
6.029/2007;”);
9.13. determinar à Secretaria de Auditoria Interna (Seaud) que, com o auxílio da Secretaria-Geral
de Controle Externo (Segecex), realize auditoria interna neste Tribunal com escopo semelhante ao
adotado na ação de controle ora apreciada, com destaque para os seguintes objetivos:
9.13.1. avaliar os controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção efetivamente
aplicados neste Tribunal;
9.13.2. identificar fragilidades e boas práticas nos controles mencionados;
9.13.3. propor melhorias eventualmente necessárias, de forma a eliminar ou reduzir tais
fragilidades e, ao mesmo tempo, disseminar as boas práticas constatadas.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2604-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, Ana Arraes (Relatora) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO 2605/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 033.048/2008-4
2. Grupo II – Classe IV – Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Cláudio Ness Mauch (CPF 060.895.180-34); Demósthenes Madureira de Pinho
Neto (CPF 847.078.877-91); Francisco de Pádua Lopes (CPF 110.015.857-04); Salvatore Alberto
Cacciola (CPF 031.239.107-25); Antônio Sérgio do Carmo Dupin (CPF 505.181277-53); Cinthia
Costa e Souza (CPF 541.230.897-04); Gustavo Wanderley Dias de Freitas (CPF 398.406.464-00);
Gilberto Gilberti (CPF 541.230.897-04); Carlos Eduardo Tavares de Andrade (CPF 023.250.207-20);
34
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Paolo Enrico Maria Zaghen (CPF 112.551.538-49); Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil
Ltda. (CNPJ 02.358.370/0001-20)
4. Unidade: Banco Central do Brasil – Bacen.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
7. Unidade Técnica: 2ª Secretaria de Controle Externo – Secex-2.
8. Advogados constituídos nos autos:
8.1. Antonio Newton Soares de Matos (OAB/DF 22.998) e Arthur Lima Guedes (OAB
18.073/DF), representando Cláudio Ness Mauch e Demósthenes Madureira de Pinho Neto;
8.2. José Augusto Rangel de Alckmin (OAB/DF 7.118), José Eduardo Rangel de Alckmin
(OAB/DF 2.977) e André Quinderé Castelo Branco Domingos Mourão (OAB/DF 54.143),
representando Salvatore Alberto Cacciola;
8.3. Ariadna Bohomoletz Gaal (OAB/RJ 36.591) e Maria Joanez Muniz de Sousa (OAB/DF
12.918), representando Gilberto Gilberti;
8.4. Arthur Brant de Carvalho (OAB/SP 196.755) e J. A. Lima Gonçalves (OAB/SP 66510),
representando Gustavo Wanderley Dias de Freitas;
8.5. Cinthia Costa e Souza (OAB/RJ 60.402), representando Cinthia Costa e Souza;
8.6. Tathiane Vieira Viggiano Fernandes (OAB/DF 27.154), representando Antônio Sérgio do
Carmo Dupin.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial acerca de possíveis
operações irregulares de venda de contratos futuros de dólar pelo Banco Central do Brasil,
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. acatar as razões de justificativa apresentadas pelos srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade,
Francisco de Pádua Lopes, Paolo Enrico Maria Azghen, Cláudio Ness Mauch e Demósthenes
Madureira Pinho Neto;
9.2. julgar regulares com ressalva as contas do Cláudio Ness Mauch, Demósthenes Madureira de
Pinho Neto, Francisco de Pádua Lopes, Antônio Sérgio do Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza,
Gustavo Wanderley Dias de Freitas, Gilberto Gilberti e do Fundo Marka Nikko Asset Management
Sociedade Civil Ltda., dando-lhes quitação, nos termos dos arts. 1°, inciso I; 16, inciso II; 18 e 23,
inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.3. julgar irregulares as contas do sr. Salvatore Alberto Cacciola, condenando-o ao pagamento
das quantias abaixo relacionadas, com a incidência dos devidos encargos legais, calculados a partir das
datas correspondentes até o efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor, nos termos dos arts.
1°, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, 19 e 23, inciso III, da Lei 8.443/1992:
4. VALOR ORIGINAL
(R$)
5. DATA DA OCORRÊNCIA
6. 162.886.000,00 7. 1/2/1999
8. 2.112.948,74 9. 1/2/1999
9.4. fixar o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da data da notificação, para que os responsáveis
de que trata o subitem anterior comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das referidas quantias
aos cofres do Banco Central do Brasil, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da Lei 8.443/1992
c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU (RI/TCU);
35
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.5. aplicar ao sr. Salvatore Alberto Cacciola a pena de multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/1992, no valor de R$ 54.000.000,00 (cinquenta e quatro milhões de reais);
9.6. fixar o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da data da notificação, para que o responsável de
que trata o subitem anterior comprove, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, e 269 do
RI/TCU), o recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas, quando
pagas após seu vencimento, monetariamente desde a data de prolação deste acórdão até a do efetivo
recolhimento, na forma da legislação em vigor;
9.7. autorizar a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, nos termos do
art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.8. autorizar, desde já, caso requerido, o parcelamento das dívidas em até 36 (trinta e seis)
parcelas mensais e consecutivas, alertando aos responsáveis que a falta de pagamento de qualquer
parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 26 da Lei
8.443/1992, c/c o art. 217 do Regimento Interno/TCU;
9.9. solicitar, com base no art. 61 da Lei 8.443/1992, à Advocacia-Geral da União que, por
intermédio do Ministério Público junto ao TCU, adote as medidas necessárias ao arresto dos bens do
responsável indicado acima, caso não haja, dentro do prazo estabelecido, a comprovação do
recolhimento das dívidas, devendo este Tribunal ser ouvido quanto à liberação dos bens arrestados e à
sua restituição;
9.10. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e à Procuradoria da República no Distrito
Federal, nos termos do art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2605-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Revisor),
Benjamin Zymler (Relator), Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2606/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 015.610/2018-7.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria (com proposta de medida cautelar)
3. Interessado/Responsáveis:
3.1: Interessado: Tribunal de Contas da União.
3.2. Responsáveis: Adeilson Loureiro Cavalcante (469.974.314- 53); Alacoque Lorenzini
Erdmann (180.529.320-68); Antônio Carlos Figueiredo Nardi (061.827.348-41); Eleonora Milano
Falcao Vieira (455.137.240-49); Erves Ducati (219.293.199-91); Gilberto Vieira Angelo
(179.758.409-04); Luiz Carlos Cancellier de Olivo (417.667.419-91); Rogerio Cid Bastos
(401.425.409-78); Ubaldo César Balthazar (169.288.149-34).
4. Entidades: Ministério da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação
de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Controle Externo no Estado de Santa Catarina (Secex/SC) e
Secretaria de Controle Externo da Saúde (Secex/Saúde).
8. Representação legal: não há
36
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade com o objetivo de
verificar a legalidade e legitimidade na descentralização de recursos orçamentários do Ministério da
Saúde (MS), por meio do Termo de Execução Descentralizada (TED) 24/2017, para a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator e com fundamento no art. 276, § 1º, do Regimento Interno do TCU,
em:
9.1. referendar a medida cautelar adotada em 13/11/2018, por meio do despacho à peça 90 destes
autos, transcrito no relatório que precede este acórdão, bem como as medidas acessórias constantes do
mencionado despacho;
9.2. encaminhar cópia desta deliberação, bem como das peças 62, 82 e 86 ao Ministério da
Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão
Universitária (Fapeu).
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2606-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2607/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 034.255/2018-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Ministério da Saúde (vinculador).
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
8. Representação legal: Paulo Henrique Figueredo de Araujo (OAB/DF 46.369) e outros,
representando Diasorin Ltda.
9. Acórdão:
VISTO, relatado e discutido este processo de representação, com pedido de concessão de
medida cautelar, contra possíveis irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico 71/2018, promovido
pelo Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde com vistas ao registro de preços
para aquisição de reagentes para diagnósticos clínicos de Dengue, Zika e Chikungunya, com comodato
de equipamentos,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação, uma vez preenchidos os requisitos de admissibilidade previstos
no art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno do TCU
(RITCU), e no art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
9.2. referendar, com fundamento no art. 276 do Regimento Interno, a medida cautelar concedida
por meio do despacho inserto à peça 53; e
9.3. retornar o feito à unidade técnica para as providências cabíveis.
37
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2607-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2608/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 012.352/2018-7.
1.1. Apenso: 005.762/2018-9
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Acompanhamento
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Congresso Nacional (vinculador) ().
4. Órgãos/Entidades: Agência Nacional de Águas; Agência Nacional de Telecomunicações;
Banco Central do Brasil; Banco do Brasil S.A.; Banco do Nordeste do Brasil S.A.; Caixa Econômica
Federal; Câmara dos Deputados (vinculador); Casa Civil da Presidência da República; Conselho
Nacional de Justiça (vinculador); Conselho Nacional do Ministério Público (vinculador);
Departamento de Serviço de Inclusão Digital - MC; Departamento Penitenciário Nacional;
Embrapa/sct; Entidades/órgãos do Governo do Distrito Federal; Entidades/órgãos do Governo do
Estado de Mato Grosso; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Rondônia; Entidades/órgãos do
Governo do Estado de Roraima; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Santa Catarina;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Acre; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amapá;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amazonas; Entidades/órgãos do Governo do Estado do
Espírito Santo; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Pará; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Paraná; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Gabinete de Segurança Institucional; Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (vinculador);
Ministério da Cultura; Ministério da Defesa (vinculador); Ministério da Fazenda (vinculador);
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Ministério da Integração Nacional (vinculador);
Ministério da Justiça; Ministério da Pesca e Aquicultura (vinculador); Ministério da Saúde
(vinculador); Ministério das Relações Exteriores (vinculador); Ministério de Minas e Energia
(vinculador); Ministério do Desenvolvimento Social; Ministério do Meio Ambiente (vinculador);
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Ministério do Trabalho; Ministério dos
Direitos Humanos; Prefeitura Municipal de João Pessoa - PB; Secretaria da Receita Federal do Brasil;
Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria de Educação Básica; Secretaria de Governo da Presidência
da República; Secretaria de Política de Informática; Secretaria de Telecomunicações - MC; Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário; Secretaria Executiva do Ministério da
Integração Nacional; Secretaria Executiva do Ministério das Cidades; Senado Federal (vinculador);
Telecomunicações Brasileiras S.A.; Tribunal de Contas da União (vinculador).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Macroavaliação Governamental (SEMAG).
8. Representação legal:
8.1. Daniel Andrade Fonseca e outros, representando Agência Nacional de Telecomunicações.
9. Acórdão:
38
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
VISTO, relatado e discutido este Relatório de Políticas e Programas de Governo (RePP),
destinado a dar cumprimento ao art. 124 da Lei 13.707/2018 (Lei de Diretrizes Orçamentárias para
2019),
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo relator, e com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 43, inciso I, da Lei
8.443/1992 c/c os arts. 239, inciso II, e 250, inciso III, do Regimento Interno, em:
9.1. encaminhar à Comissão Mista do Congresso Nacional a que se refere o § 1º do art. 166 da
Constituição Federal, o quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e ações governamentais objetos de auditorias operacionais realizadas, para
subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual;
9.2. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, no exercício das competências
atribuídas pelo art. 3º da Medida Provisória 782/2017, em especial aquelas relacionadas a
coordenação, integração, monitoramento e avaliação das ações governamentais, e ao Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, no exercício das competências atribuídas pelo art. 2º do
Decreto 9.035/2017, em especial aquelas relacionadas à formulação do planejamento estratégico
nacional e à elaboração de subsídios para formulação de políticas públicas de longo prazo voltadas ao
desenvolvimento nacional, em articulação com o Ministério da Fazenda, em atenção ao princípio da
eficiência insculpido no art. 37 da Constituição e aos art. 4º e 5º do Decreto 9.203/2017, que
contemplem, na implementação do plano de ação em curso, os seguintes aspectos:
9.2.1. a positivação de plano nacional integrado de longo prazo, a que faz menção o disposto no
§1º do art. 174 da CF, em continuidade às ações de proposição e debate institucional atualmente em
curso no âmbito de elaboração da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(ENDES) e do Projeto de Lei 9.163, de 23 de novembro de 2017 (item 33 do relatório);
9.2.2. integração e articulação do plano nacional integrado de longo prazo que vier a ser
formalizado com os demais instrumentos de planejamento nacional, setorial e regional, em especial o
Plano Plurianual (itens 26 e 78 do relatório);
9.2.3. definição de cronograma de ações para orientação, capacitação e estímulo aos órgãos da
administração pública com vista a disseminar a aplicação do Guia de Análise Ex Ante do Governo
Federal nos processos de criação, aperfeiçoamento e expansão de políticas públicas, em atendimento
às diretrizes estabelecidas no art. 4º, inc. VII e VIII do Decreto 9.203/2017 (itens 206, 217, 219 e 239
do relatório);
9.2.4. definição de cronograma de ações com vistas a institucionalizar e qualificar os
mecanismos e práticas de gestão de riscos, controles internos, coordenação e articulação,
monitoramento e avaliação no âmbito dos órgãos da administração pública, em atendimento às
diretrizes estabelecidas no art. 4º, inc. III e VI do Decreto 9.203/2017 (itens 247, 257 e 264 do
relatório);
9.3. dar ciência ao Congresso Nacional da necessidade de aprimoramento do arcabouço legal dos
processos de alocação e execução orçamentária, com vistas a:
9.3.1. considerar as avaliações do desempenho e dos resultados governamentais nos processos
decisórios, para destinação de recursos e adoção de medidas de aperfeiçoamento dos programas e
políticas públicas em curso;
9.3.2. instituir mecanismos que permitam cobrar das instituições responsáveis por gerir recursos
públicos a aplicação de boas práticas de governança e gestão aplicáveis às políticas públicas (itens 208
e 217 do relatório);
9.4. encaminhar este relatório aos Ministérios responsáveis pelas políticas contempladas neste
trabalho: Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério de Minas e
Energia, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Ministério do Trabalho, Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Ministério da Cultura, Ministério dos Direitos
39
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Humanos, Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e Ministério da Segurança Pública,
com vistas a dar ciência das lacunas e falhas apontadas nos processos de institucionalização,
formulação, gestão de riscos, controles internos, coordenação, monitoramento e avaliação das políticas
pelas quais são responsáveis (itens 206, 217, 219, 239, 247, 257 e 264 do relatório).
9.5. recomendar à Secretaria-Geral de Controle Externo que:
9.5.1. considere, no processo de acompanhamento da elaboração do Plano Plurianual 2020-2023,
incumbido à Secretaria de Macroavaliação Governamental, os aspectos abordados no item 9.3.2 do
Acórdão 2127/2017-Plenário;
9.5.2. busque incluir, em seu planejamento, fiscalizações que contemplem, para políticas
públicas de alta materialidade, relevância e risco, questões estruturais para a ação governamental, que
avaliem, especialmente:
9.5.2.1.o uso de evidências nos processos decisórios das políticas públicas, incluindo aqueles
relativos à sua própria criação;
9.5.2.2. a maturidade da governança e da gestão das políticas públicas auditadas;
9.5.2.3.os resultados alcançados em função dos recursos públicos empregados;
9.5.3. verifique, com o apoio da Coordenação-Geral de Controle Externo de Resultados de
Políticas Programas Públicos e da Secretaria de Métodos e Suporte ao Controle Externo, a
possibilidade de estabelecer parâmetros objetivos para classificar os achados de auditoria nos
processos de fiscalização de políticas públicas e programas de governo, bem assim de estabelecer um
núcleo comum de quesitos a serem examinados nessa modalidade de fiscalização, de modo a
possibilitar a correta consolidação dos resultados e a elaboração do quadro-resumo a que se referem as
últimas leis de diretrizes orçamentárias, a exemplo da Lei 13.707/2018;
9.5.4. adote medidas necessárias para o desenvolvimento de sistema para apoiar a fiscalização de
políticas públicas, programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais, observadas as
prioridades definidas pelo Comitê de Gestão de Tecnologia da Informação no Plano Diretor de
Tecnologia;
9.5.5. examine a conveniência e oportunidade de adotar as medidas sugeridas nos subitens de
“ii” a “v”, “vii” e “viii” do item 1 da proposta de encaminhamento do Coordenador-Geral de Controle
Externo de Resultado de Políticas e Programas Públicos;
9.6. recomendar à Secretaria-Geral da Presidência que verifique, em conjunto com a Secretaria-
Geral de Controle Externo, a conveniência e oportunidade de adotar as medidas sugeridas nas alíneas
“a” e “b” do item 2 da proposta de encaminhamento do Coordenador-Geral de Controle Externo de
Resultado de Políticas e Programas Públicos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2608-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler (Relator), Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e
Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2609/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 032.908/2017-2.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Representação
3. Interessados/Responsáveis: não há.
40
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Órgão/Entidade: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência
Social (SecexPrevi).
8. Representação legal : não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação da Secretaria de Controle Externo
da Previdência, do Trabalho e da Assistência Social em razão da recusa do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em fornecer informações solicitadas pelo
TCU para realização de auditoria,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso V, do Regimento Interno deste Tribunal e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU
259/2014, para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. rejeitar as razões de justificativa apresentadas por Maria Inês Fini, Presidente do Inep;
9.3. determinar à unidade instrutiva que promova nova diligência ao Inep, para, no prazo
regimental, fornecer as informações a seguir descritas, tal como originalmente requisitado por meio do
ofício de diligência 284/2017-TCU/SecexPrevidência:
9.3.1. microdados identificados do Censo da Educação Básica dos anos de 2013 a 2016; e
9.3.2. microdados identificados do Enem dos anos de 2013 a 2016;
9.4. informar ao Inep que o não atendimento da diligência, no prazo e forma indicados no
parágrafo anterior, pode ensejar a aplicação de multa e o afastamento temporário do responsável, nos
termos dos arts. 58 e 44, caput, da Lei 8.443/1992, respectivamente.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2609-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Relator),
Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2610/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 025.493/2013-2.
1.1. Apenso: 004.453/2017-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Recursos de reconsideração (Tomada de Contas Especial).
3. Recorrentes: Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (03.658.044/0001-00);
Gilson Dias da Silva (102.307.935-68).
4. Órgão: Ministério do Turismo.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro José Múcio Monteiro.
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur).
8. Representação legal: Emanuel Santos de Lima (OAB/DF 15.693); Marcos Joel dos Santos
(OAB/DF 21.203); e Rudi Meira Cassel (OAB/DF 22.256).
41
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recursos de reconsideração interpostos pelo Sr.
Gilson Dias da Silva e pela Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais contra o
Acórdão 106/2018-Plenário;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer dos recursos de reconsideração, com fundamento nos arts. 32, inciso I, e 33, da Lei
8.443/1992, para, no mérito, negar-lhes provimento;
9.2. dar ciência da presente deliberação aos recorrentes, bem como ao Ministério Público Federal
para conhecimento e adoção das medidas que entender cabíveis.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2610-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2611/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 037.346/2018-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessado: Moacir Guimarães Morais Filho.
4. Órgão: Ministério Público Federal.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: Katiuscia Pereira de Alvim (OAB/DF 42.511) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de representação formulada pelo
Subprocurador-Geral da República, Sr. Moacir Guimarães Morais Filho, em face de suposta
irregularidade no ato do Secretário-Geral da Procuradoria-Geral da República (PGR) que determinou a
adoção das providências cabíveis com vistas ao cumprimento da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, que
concedeu aposentadoria voluntária ao representante;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. não conhecer da presente representação, por não atender aos requisitos de admissibilidade
previstos no art. 235 do Regimento Interno do TCU c/c o art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
e
9.2. arquivar os presentes autos, dando ciência desta deliberação ao represente, nos termos do art.
235 do RI/TCU c/c o art. 105 da Resolução TCU 259/2014.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2611-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
42
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2612/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 002.538/2014-8.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria.
3. Responsáveis: Fernando Fortes Melro Filho (CPF 787.303.504-25), Francisco de Assis Dias
Xavier (CPF 207.968.384-53) e Roger da Silva Pêgas (CPF 410.106.550-00).
4. Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil
(SeinfraRodoviaAviação).
8. Representação legal:
8.1. Paulo Aristóteles Amador de Sousa, representando Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes.
8.2. Gustavo Felipe Costa e Silva (OAB/MG 105.657), representando Roger da Silva Pêgas.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de auditoria realizada no Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que teve por escopo avaliar o Edital RDC Presencial
696/2013-00, destinado à contratação integrada de empresa para elaboração dos projetos básico e
executivo e execução das obras de implantação e pavimentação da Rodovia BR-316/AL, no trecho
entre a Divisa PE/AL (km 0,00) e a entrada da BR-423/AL – Carié (km 49,00);
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, em:
9.1. acolher parcialmente as razões de justificativa dos Srs. Fernando Fortes Melro Filho
(787.303.504-25), Francisco de Assis Dias Xavier (207.968.384-53) e Roger da Silva Pêgas
(410.106.550-00);
9.2. dar ciência ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes das seguintes
irregularidades:
9.2.1. ausência de processo administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de
engenharia do Edital RDC presencial 696/2013-00, contendo os respectivos documentos, fato que
infringiu os princípios da publicidade (transparência), economicidade e eficiência estabelecidos nos
arts. 37 e 70 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, c/c o art. 3º da
Lei 12.462/2011 (Lei do RDC);
9.2.2. ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do trâmite de orçamentos
e outros documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC, em atendimento
ao art. 6º da Lei 12.462/2011;
9.2.3. inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no Edital RDC
presencial 696/2013-00, por meio do documento denominado Atos Preparatórios, datado de
24/10/2013, o qual avalia apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, o que
afronta o estabelecido no art. 20, § 1º, da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC), bem como entendimento
firmado pela Corte por meio do precedente contido nos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário;
9.2.4. publicação do Edital de Licitação RDC presencial 696/2013-00 no Diário Oficial da
União, em 27/12/2013, sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de
43
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
referência final por meio do qual se pretende julgar a aceitabilidade das propostas ofertadas pelos
licitantes, infringindo regra ínsita no § 3º do art. 6º da Lei 12.462/2011, c/c o art. 4º do
Decreto 7.581/2011;
9.2.5. as justificativas técnicas e econômicas utilizadas no âmbito do RDC Presencial 696/2013-
00-Dnit para atendimento ao caput do art. 9º da Lei 12.462/2011 são insuficientes, genéricas e não
tratam das particularidades do empreendimento;
9.3. com fundamento nos arts. 5º, §§ 1º e 4º, e 9º, inciso III, da Resolução-TCU 254/2013,
reclassificar para público o grau de confidencialidade das peças 10, 11, 16, 24, 32, 33, 34, 41, 50, 65 e
69 deste processo;
9.4. arquivar os presentes autos com fundamento no inciso V do art. 169 do Regimento Interno
do TCU.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2612-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2613/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 021.149/2018-6.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul (Secex-
RS).
8. Representação legal: Jussandra Rigo (OAB/RS 33.53) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação, com pedido de medida cautelar, a
respeito de possíveis irregularidades no Pregão Eletrônico 091/2018, realizado pela Trensurb, que tem
por objeto a contratação de empresa para prestação de serviço de bilhetagem eletrônica no sistema
integrado metropolitano de Porto Alegre/RS;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso VII, do Regimento Interno deste Tribunal, c/c o art. 87, § 2º, da
Lei 13.303/2016, e no art. 103, § 1º, da Resolução TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la
procedente;
9.2. com fundamento no artigo 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c o art. 45 da
Lei 8.443/1992, fixar prazo de 15 (quinze) dias para que a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre
S.A, adote as providências necessárias com vistas à anulação do edital do Pregão Eletrônico 091/2018,
como decorrência da exigência restritiva ao caráter competitivo do certame contida no item 5.6.1 do
edital, uma vez que não se enquadra no rol exaustivo e taxativo de documentos definidos no art. 30 da
44
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Lei 8.666/1993, da ausência de demonstração da relevância do item data center e da utilização de
modalidade de licitação não condizente com a baixa especificação do objeto;
9.3. dar ciência à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A de que foram identificadas
impropriedades e falhas na memória de cálculo, decorrente da falta de informações e detalhamentos,
que embasou o valor referencial do item Data Center, nos termos expostos no item (i.b) da instrução
da unidade técnica (peça 63), o que afronta o art. 7º, §2º, incisos I e II da Lei 8.666/1993;
9.4. dar ciência desta deliberação ao representante e à Empresa de Trens Urbanos de Porto
Alegre S.A; e
9.5. arquivar o presente processo.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2613-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2614/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 019.346/2017-4
2. Grupo II – Classe VII – Representação.
3. Representante: Consórcio Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ 26.742.502/0001-81) e B2IT
Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. (CNPJ 08.666.365/0001-61).
3.1. Interessada: Padtec S/A (CNPJ 03.549.807/0001-76).
4. Unidade: Telecomunicações Brasileiras S.A. - Telebras.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas - Selog.
8. Representação legal: Bruno Correa Burini (OAB/DF 42.841) e outros representando a Padtec
S/A; Caricio Rodrigues de Souza (OAB/DF 45.101) e outros representando a Telecomunicações
Brasileiras S.A. e Rodrigo Monteiro Augusto (OAB/DF 12.693) e outros representando a Seteh
Engenharia Ltda. e a B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda.
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida esta representação do consórcio composto pelas empresas Seteh
Engenharia Ltda. e B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. acerca de possíveis irregularidades
no Pregão Eletrônico 19/2017, realizado pela Telecomunicações Brasileiras S/A - Telebras para
contratação de empresa ou consórcio de empresas especializadas para execução de serviços de
operação e manutenção da planta da rede nacional de telecomunicações.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pela relatora, com fundamento nos artigos 71, inciso IX, da Constituição Federal,
237, inciso VII e parágrafo único, do Regimento Interno deste Tribunal, 113, §1º, da Lei 8.666/1993,
87, § 2º, da Lei 13.303/2016, 103, §1º, da Resolução-TCU 259/2014 e 2º, 3º, 7º e 8º, inciso I, da
Resolução-TCU 265/2014, em:
9.1. conhecer da representação para, no mérito, julgá-la parcialmente procedente;
9.2. indeferir o pedido de medida cautelar ante a ausência dos pressupostos necessários para sua
adoção;
45
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3. determinar à Telebras que:
9.3.1. exija da Padtec S/A, no prazo de até 30 (trinta) dias, documentação válida que comprove
dispor a empresa de todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação para
continuar executando os serviços contratados por meio do Pregão Eletrônico 19/2017, nos termos do
que dispõe o inciso XIII do artigo 55 da Lei 8.666/1993, tendo em vista a declaração de nulidade pelo
CREA/SP da Certidão de Acervo Técnico (CAT 2620130001528), sob pena de se manter o contrato
decorrente apenas pelo prazo necessário à conclusão de novo processo licitatório ou à conclusão dos
atos necessários para a contratação do remanescente dos serviços, nos termos do art. 24, inciso XI, da
Lei 8.666/93, informando ao TCU em 15 (quinze) dias as medidas adotadas e os resultados;
9.3.2. apresente as conclusões decorrentes do Processo 243/2017, instaurado para apuração das
denúncias formuladas pela Seteh Engenharia Ltda., assim que encerradas as apurações;
9.4. dar ciência à Telebras de que no Pregão Eletrônico 19/2017:
9.4.1. o uso de expressões vagas, sem parâmetros quantitativos no item 20.2.2 do Termo de
Referência (“serviços compatíveis em características e quantidades com o objeto deste Termo de
Referência” – parágrafos 83/87, peça 61), constituiu infringência ao princípio do julgamento objetivo,
previsto no art. 5º do Decreto 5.450/2005 e no art. 3º da Lei 8.666/1993, bem como à jurisprudência do
TCU (v.g. item 1.6.1, TC-021.857/2012-1, Acórdão 271/2013-Plenário);
9.4.2. o planejamento do certame deveria ter se iniciado antes, já que foi necessária uma
contratação emergencial para suceder à anterior – que deve ser admitida apenas em condições de
exceção;
9.4.3 o preço de referência deveria ter sido divulgado no edital, pois obrigatório em licitações na
modalidade pregão, quando tal valor for utilizado como critério de aceitabilidade das propostas, nos
termos do art. 40, X, da Lei 8.666/1993.
9.5. determinar à Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas que:
9.5.1. promova as audiências de Maximiliano Salvadori Martinhão (CPF 158.543.988-69) e
Hélio Marcos Machado Graciosa (CPF 239.045.427-53), conselheiros de Administração da Telebras e
ex-dirigentes do Grupo CPqD - Padtec, para, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentarem razões de
justificativa em face de potencial afronta ao inciso III do artigo 9º da Lei 8.666/1993 na realização do
Pregão Eletrônico 19/2017;
9.5.2. autue processo apartado para realização das audiências indicadas no subitem 9.5.1 acima,
em conformidade com o art. 24 da Resolução TCU 175/2005;
9.5.3. proceda ao monitoramento do cumprimento das medidas indicadas no subitem 9.3 desta
deliberação e avalie o deslinde das ações abertas no âmbito do Confea/CREA e do Poder Judiciário,
inclusive para fins de apuração de responsabilidade e eventual aplicação de sanção, caso venham a ser
confirmadas a inidoneidade da certidão apresentada pela empresa Padtec S/A no Pregão Eletrônico
19/2017 e a prática de conduta faltosa relacionada à sua aceitação.
9.6. encaminhar cópia do presente processo à Comissão de Ética Pública - CEP para
conhecimento e para que averigue a pertinência de instauração de processo administrativo disciplinar
no sentido de apurar a existência de potencial infração ética inserida em sua alçada de competência;
9.7. encaminhar cópia do presente processo ao Ministério Público Federal para adoção das
providências que julgar cabíveis ante a possibilidade da ocorrência de ilícitos penais;
9.8. dar ciência desta deliberação à Telebras e aos ora representantes.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2614-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes (Relatora) e Vital do Rêgo.
46
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2615/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC-008.584/2016-8
2. Grupo I, Classe V – Auditoria
3. Interessado: Tribunal de Contas da União
4. Unidades: Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e Secretaria de
Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnica: SecexFazenda
8. Advogado constituído nos autos: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria realizada no Ministério da Fazenda e no
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, relativa às desvinculações de recursos do
superávit financeiro do ano de 2014, por meio da Medida Provisória 704/2015, bem como à possível
utilização desses valores para pagar passivos junto a bancos estatais e ao Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS).
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, diante
das razões expostas pelo Relator, em sobrestar o presente processo, até o julgamento da consulta de
que trata o TC-008.530/2018-1.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2615-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz (1º
Revisor), José Múcio Monteiro (Relator) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro que não participou da votação: Benjamin Zymler.
13.3. Ministros-Substitutos convocados: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e
Weder de Oliveira (2º Revisor).
ACÓRDÃO Nº 2616/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 023.736/2014-3
2. Grupo II – Classe de Assunto: I – Pedido de Reexame (em Auditoria)
3. Recorrente: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobras (CNPJ 00.001.180/0002-07)
4. Unidades: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) e Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (Chesf)
5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Vital do Rêgo
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur); Secretaria de Fiscalização de
Infraestrutura de Energia Elétrica (SeinfraElétrica)
8. Advogados constituídos nos autos: Camila Batista Rodrigues Costa (OAB/DF 46475),
representando a Chesf; André de Avellar Torres (OAB/RJ 130.947) e outros, representando a
47
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Eletrobras
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que, nesta fase processual, tratam de pedido de
reexame opostos pelas Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras) em face do Acórdão 600/2016 –
Plenário, que tratou de auditoria realizada na Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) com
o objetivo de avaliar a gestão de obras de geração e de transmissão de energia elétrica pela estatal.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
com fundamento no art. 48 da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 250, inciso III, e 286 do Regimento Interno e
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer do pedido de reexame e, no mérito, dar-lhe provimento parcial, para:
9.1.1. alterar o item 9.2.1. do Acórdão 600/2016 – Plenário, que passa a ter a seguinte redação:
“9.2.1. inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas a serem adotados por empresas do
Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusula específica que estabeleça, independentemente do
percentual de participação societária do parceiro público, a obrigatoriedade de que contratos,
acordos, arranjos ou compromissos com qualquer parte relacionada a acionista privado sejam
firmados em termos e condições de mercado, com demonstração da vantagem financeira em se adotar
tal medida”; e
9.1.2. inserir novo item 9.3 no Acórdão 600/2016 – Plenário com as seguinte redação,
renumerando os itens subsequentes: “9.3. recomendar às Centrais Elétricas Brasileiras S/A
(Eletrobras), com fulcro no art. 250, inciso III, do Regimento Interno, e em alinhamento ao princípio
da transparência e moralidade administrativa e às melhores práticas de governança aplicáveis ao
setor público, que inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas e de estatuto social a serem
adotados por empresas do Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusulas específicas que
estabeleçam, independentemente do percentual de participação societária do parceiro público, pelo
menos: i) previsão de acesso irrestrito dos órgãos de fiscalização e controle a dados financeiros e
comerciais da SPE; e ii) prerrogativa de veto, por parte do acionista estatal, à celebração de qualquer
contrato, acordo, arranjo ou compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista
privado”;
9.2. alertar as Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras) de que a conversão de
determinação em recomendação efetuada por meio do item 9.1.2 supra não afasta a obrigação de a
companhia implementar as providências recomendadas pelo Tribunal, exceto em casos concretos
excepcionais e desde que prévia e fundamentadamente justificado pela instância decisória competente;
9.3. cientificar a recorrente.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2616-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz,
José Múcio Monteiro (Relator) e Vital do Rêgo (Revisor).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministro-Substituto presente: Marcos Bemquerer Costa.
ACÓRDÃO Nº 2617/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 006.614/2013-2
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Embargos de Declaração (em Pedido de Reexame)
3. Recorrentes: Maria Jailene Franco de Carvalho (008.308.414-23) e Arko Construções Ltda.
48
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
(10.715.077/0001-00)
4. Órgão: Prefeitura Municipal de Natal/RN
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade técnica: Secretaria de Recursos (Serur)
8. Advogados constituídos nos autos: Cortez Meira de Medeiros (OAB/RN 3.640), Afonso
Adolfo de Medeiros Fernandes (OAB/RN 3.937) e outros
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de embargos de declaração opostos ao Acórdão
1.600/2017-Plenário,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. nos termos dos arts. 32, inciso II, e 34 da Lei 8.443/1992, conhecer dos presentes recursos;
9.2. quanto ao mérito, negar-lhes provimento, mantendo inalterados os termos do acórdão
recorrido; e
9.3. dar ciência aos recorrentes e à Prefeitura Municipal de Natal/RN acerca do teor desta
deliberação.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2617-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2618/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 011.014/2014-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Congresso Nacional (vinculador) ()
3.2. Responsável: Ademar Arthur Chioro dos Reis (738.678.377-91).
4. Órgão: Ministério da Saúde (vinculador).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana (SeinfraUrb).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade com objetivo de avaliar
os projetos padronizados do Ministério da Saúde (MS) para obras de construção de Unidades Básicas
de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), assim como sua utilização para
contratação das unidades por meio de Sistema de Registro de Preços,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
49
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.1. dar ciência ao Ministério da Saúde sobre as seguintes impropriedades identificadas na
documentação relativa à contratação RDC Presencial SRP n. 01/2014, por meio de Sistema de Registro
de Preços, das obras de construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS):
9.1.1. o parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade
de maior divisão regional e/ou temporal, contraria o disposto no art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011
c/c a Súmula TCU 247;
9.1.2. a não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, em licitações
no âmbito do RDC, contraria o disposto no art. 92 do Decreto 7.581/2011;
9.1.3. a adoção do sistema de registro de preços, sem dispor de projetos de referência
padronizados em nível básico ou executivo, afronta o comando do art. 89, parágrafo único, inciso II,
do Decreto 7.581/2011;
9.1.4. a não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da
licitação está em desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011;
9.1.5. a ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção
do regime de contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, vai de encontro ao
disposto nos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011; e
9.1.6. a não separação, para fins de registro de preço para execução de cada porte de obra, de
itens que podem ser remunerados por preço global dos itens que, por serem variáveis em função do
local de implantação das obras, devem ser pagos por preços unitários, afronta o art. 89 do Decreto
7.581/2011.
9.2. Recomendar ao Ministério da Saúde que avalie os riscos inerentes à replicação de projetos
padronizados sem que sejam consideradas as particularidades de cada caso concreto, bem como adote
mecanismos com vistas a prevenir as falhas que vem sendo observadas nos casos em que tal
mecanismo é adotado;
9.3. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso V, do Regimento Interno
do TCU.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2618-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2619/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 011.577/2018-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Representação
3. Representante: Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (Procurador Rodrigo
Medeiros de Lima).
4. Órgão: Ministério do Trabalho.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência
Social (SecexPrevi).
8. Representação legal: não há
50
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação envolvendo a operacionalização do
Programa de Alimentação do Trabalhador,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com
fulcro no art. 237, inciso VII e parágrafo único, do Regimento Interno, e diante das razões expostas
pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. determinar ao Ministério do Trabalho que, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992, c/c o art.
71, inciso IX, da Constituição Federal, promova, no prazo de 15 (quinze) dias contado a partir da
ciência desta deliberação, a anulação da Portaria MTb 1.287/2017;
9.3. dar ciência desta deliberação ao Ministério do Trabalho e ao representante;
9.4. autorizar o oportuno arquivamento dos autos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2619-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2620/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 024.230/2018-9.
2. Grupo: I - Classe de Assunto: VII – Representação (com pedido de medida cautelar).
3. Interessadas: Link Card Administradora de Benefícios Eireli (CNPJ 12.039.966/0001-11);
Prime Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. (CNPJ: 05.340.639/0001-30).
4. Unidade jurisdicionada: Companhia Energética do Piauí - Cepisa (CNPJ: 06.840.748/0001-
89).
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Piauí (Secex-PI).
8. Advogados constituídos nos autos: Décio Flávio Gonçalves Torres Freire (12.170/OAB-AL);
Amélia Lúcia Brandão Araújo (OAB/PI 6.527); Danilo Sá Urtiga Nogueira (OAB/PI 4.961); e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Representação formulada por licitantes, com
pedido de concessão de medida cautelar suspensiva do certame, noticiando possíveis irregularidades
no edital do Pregão Eletrônico 17/2018-Serviços/Cepisa, tendo como objeto a contratação de empresa
para a prestação de serviços de gerenciamento informatizado de abastecimento, por meio do uso da
tecnologia de cartões chipados, paralelamente com o credenciamento de posto de combustíveis.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da Representação, por adimplir os requisitos de admissibilidade estabelecidos no
art. 113, § 1º, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 235 e 237, do Regimento Interno do TCU, para, no mérito,
considerá-la prejudicada, por perda de objeto;
9.2. indeferir o pedido de concessão de medida cautelar para a suspensão do pregão;
51
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3. determinar o arquivamento do presente processo, nos termos do art. 169, inciso III, do
Regimento Interno/TCU;
9.4. dar ciência da presente deliberação à representante e à Companhia Energética do Piauí.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2620-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2621/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 026.069/2008-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Embargos de Declaração (Relatório de Acompanhamento).
3. Recorrente: Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União.
4. Órgão/Entidade: Secretaria do Tesouro Nacional.
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
5.1. Relator da deliberação embargada: Ministro Raimundo Carreiro.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades técnicas: Secretaria de Recursos e Secretaria de Macroavaliação Governamental.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos do Relatório de Acompanhamento nos quais
foram interpostos Embargos de Declaração em face do Acórdão 158/2012 – Plenário;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer dos Embargos de Declaração, com fundamento no art. 34 da Lei 8.443/1992, c/c
art. 287 do Regimento Interno desta Corte de Contas, para, no mérito, acolhê-los parcialmente;
9.2. esclarecer ao embargante que, na contabilidade do setor público brasileiro, não obstante a
atestada legalidade do modelo atual com o uso do regime de competência, devem ser mantidos os
procedimentos usuais de reconhecimento e registro da receita e da despesa orçamentárias, de tal forma
que a apropriação patrimonial não modifique os procedimentos legais estabelecidos para o registro das
receitas e das despesas orçamentárias, bem como que a contabilização pelo regime de competência,
também, não pode implicar necessariamente modificação dos critérios estabelecidos no âmbito de cada
ente da Federação para elaboração das estatísticas fiscais e apuração dos resultados fiscais de que trata
a Lei Complementar 101/2000; ou constituir mecanismo de viabilização de execução de despesa
pública para a qual não tenha havido a devida fixação orçamentária;
9.3. dar ciência da presente deliberação ao embargante, ao Ministro da Fazenda, ao Ministro do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, à Secretaria do Tesouro Nacional, à Secretaria de
Orçamento Federal, à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso
Nacional, à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, à Comissão de Finanças e
Tributação da Câmara dos Deputados, à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara
dos Deputados, aos Tribunais de Contas Estaduais, aos Tribunais de Contas dos Municípios e ao
Conselho Federal de Contabilidade, ressaltando-se que o Relatório e o Voto que a acompanham podem
ser consultados no endereço www.tcu.gov.br/acordaos.
52
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2621-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2622/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 032.152/2017-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: II - Solicitação do Congresso Nacional.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Câmara dos Deputados.
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica
(SeinfraElétrica).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Solicitação do Congresso Nacional, por meio da
qual o Exmo. Sr. Deputado Federal Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados, encaminha a
Solicitação de Informação ao TCU (SIT) 34/2017, de autoria do Deputado Federal Eduardo da Fonte,
que requer esclarecimentos sobre o valor pago a mais pelos consumidores brasileiros nas tarifas de
energia, com a implementação da bandeira vermelha pela Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel);
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário,
diante das razões expostas pelo relator, em:
9.1. em complemento às informações já prestadas nos termos do Acórdão 619/2018-TCU-
Plenário, informar ao Exmo. Sr. Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados, que:
9.1.1. a quantia paga pelos consumidores brasileiros em decorrência da adoção da bandeira
tarifária vermelha, desde janeiro de 2015 até maio de 2018, foi de R$ 21.661.818.925,63, montante
este que, no entanto, não representa um custo extra na tarifa de energia elétrica, caracterizando, na
verdade, uma antecipação de valores que inevitavelmente viriam a ser cobrados do consumidor,
acrescidos de encargos financeiros, em evento tarifário subsequente (reajuste ou revisão);
9.1.2. pode-se afirmar que o acionamento das bandeiras vermelhas pela Aneel desde a aplicação
efetiva do sistema de bandeiras tarifárias respeitou as normas disponíveis, tendo sido observado,
primordialmente, o estabelecido nos Procedimentos de Regulação Tarifária (Proret) e nas respectivas
Resoluções Homologatórias;
9.1.3. o acionamento da bandeira vermelha pela Aneel vem se dando de acordo com as normas
vigentes a cada tempo e possui embasamento fático, tendo em vista que as informações repassadas
pelas demais entidades envolvidas no processo decisório, Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), representam as situações
efetivamente ocorridas no setor elétrico;
9.1.4. não se vislumbra desrespeito aos direitos dos consumidores e às regras dos contratos de
concessão com a aplicação dessa política pública, devendo-se, contudo, atentar para o cumprimento do
53
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Decreto 8.401/2015, em especial seu art. 2º, que estabelece período mínimo para alteração dos valores
adicionais das bandeiras tarifárias;
9.2. encaminhar ao solicitante, em complemento às informações acima descritas, cópia integral
do presente processo, de maneira a garantir o repasse de todas as informações necessárias à melhor
compreensão da matéria e ao atendimento da presente Solicitação do Congresso Nacional;
9.3. dar ciência deste Acórdão ao órgão solicitante e ao Deputado Federal Eduardo da Fonte;
9.4. com fundamento no art. 169, inciso V, do Regimento Interno do TCU, combinado com os
arts. 14, inciso IV, e 17, inciso I, da Resolução-TCU 215, de 20/8/2008, considerar a presente
solicitação integralmente atendida, arquivando-se os autos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2622-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2623/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 035.129/2011-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I Recurso de revisão (Tomada de Contas Especial)
3. Interessados/Responsáveis/Recorrentes:
3.1. Responsáveis: Altemir Antônio Tortelli (402.036.700-00); Federação dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar da Região Sul (05.684.806/0001-60)
3.2. Recorrente: Ministério Público junto ao TCU – MP/TCU, Subprocurador-Geral.
4. Órgão/Entidade: Ministério do Desenvolvimento Agrário (extinta).
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
6. Representante do Ministério Público: Subprocurador-Geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur); Secretaria de Controle Externo da
Agricultura e do Meio Ambiente (SecexAmb).
8. Representação legal: Geferson Luís Chetsco (45333/OAB-PR) e outros, representando
Altemir Antônio Tortelli, Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul, Celso
Ricardo Ludwig.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revisão interposto pelo Ministério
Público junto ao TCU, por meio do Subprocurador-Geral Paulo Soares Bugarin contra o Acórdão
5.694/2013-TCU-2ª Câmara, que julgou regulares com ressalva as contas dos responsáveis Altemir
Antônio Tortelli (CPF 402.036.700-00) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da
Região Sul – Fetraf-Sul (CNPJ 05.684.806/0001-60).
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer do recurso de revisão interposto pelo Ministério Público junto ao TCU contra o
Acórdão 5.694/2013-TCU-2ª Câmara, com fundamento no art. 35, inciso III, da Lei 8.443/1992, e art.
288, inciso III, do Regimento Interno do TCU para no mérito, dar-lhe provimento parcial;
54
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.2. tornar insubsistente o Acórdão 5.694/2013-TCU-2ª Câmara, no que diz respeito à
regularidade com ressalva das contas do Sr. Altemir Antonio Tortelli e da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul;
9.3. rejeitar parcialmente as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Altemir Antônio Tortelli
(CPF: 402.036.700-00) e pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul –
Fetraf-Sul (CNPJ: 05.684.806/0001-60);
9.4. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "c", 19 e 23, inciso III da Lei
8.443/1992, julgar irregulares as contas do Sr. Altemir Antonio Tortelli (CPF: 402.036.700-00) e da
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul (CNPJ:
05.684.806/0001-60) e condená-los para que recolham, solidariamente, ao recolhimento do débito
original de R$ 26.900,00 (vinte e seis mil e novecentos reais), com a fixação do prazo de 15 (quinze)
dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”,
do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada
monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir de 13/7/2004, até a data do
recolhimento, abatendo-se na oportunidade a quantia eventualmente ressarcida, na forma prevista na
legislação em vigor, em decorrência de irregularidades na execução do Convênio MDA 19/2004,
conforme discriminado abaixo:
Ocorrência: não comprovação da boa e regular aplicação dos recursos federais geridos no
período de 8 a 30/7/2014, recebidos por força do Convênio MDA 019/2004 (Siafi 506136), celebrado
entre o MDA e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), que
teve por objeto “apoiar a realização do I Encontro Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar, no período de 12 a 16 de julho de 2004, em Brasília (DF)”.
9.5. aplicar ao Sr. Altemir Antonio Tortelli (CPF: 402.036.700-00) e à Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul (CNPJ: 05.684.806/0001-60),
individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) com a fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para comprovarem,
perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas
aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data deste Acórdão até a do
efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.6. autorizar, desde logo, caso requerido, o parcelamento da dívida em até 36 (trinta e seis)
parcelas mensais sucessivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do Regimento
Interno do TCU, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para
comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da
parcela anterior, para comprovarem os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada
valor mensal, atualizado monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação
em vigor;
9.7. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas, caso não atendidas as notificações;
9.8. encaminhar cópia desta deliberação ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República no
Distrito Federal, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443/1992 c/c o § 7º do art. 209 do Regimento
Interno do TCU, para adoção das medidas que entender cabíveis;
9.9. dar ciência desta deliberação ao Sr. Altemir Antonio Tortelli, à Federação dos Trabalhadores
na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf-Sul e aos demais interessados.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2623-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
55
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2624/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC-027.045/2018-8
2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria
3. Interessado: Tribunal de Contas da União
4. Unidades: Ministério do Trabalho, Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da
Educação, Secretarias Municipais de Educação (SEMED) de São Luís/MA e Imperatriz/MA,
Secretaria Estadual de Educação do Maranhão (SEDUC), Secretaria Estadual do Trabalho e da
Economia Solidária do Maranhão (SETRES), Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico
de Imperatriz (SEDEC), Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social de São Luís (SEMCAS)
e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Imperatriz (SEDES)
5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnica: Secex/MA
8. Advogados constituídos nos autos: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria operacional que teve por objetivo a
avaliação de políticas públicas de inclusão social e produtiva do Governo Federal no Estado do
Maranhão, particularmente no tocante às contribuições do Sistema Nacional de Emprego (Sine) para a
inclusão de pessoas no mercado de trabalho e das condicionalidades de educação do Programa Bolsa
Família para a manutenção de alunos em sala de aula.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as
razões expostas pelo Relator, com fundamento nos arts. 36 e 37 da Resolução TCU 259/2014 c/c o art.
169, inciso V, do Regimento Interno, em considerar cumpridos os objetivos da auditoria e encerrar o
presente processo com o seu apensamento definitivo ao TC 017.192/2018-8.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2624-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro (Relator) e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2625/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 006.399/2012-6
2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Congresso Nacional, Consórcio Fidens-Mendes Júnior (atual Consórcio FDS-
Mendes Júnior - CNPJ 10.862.715/0001-07), Direção Consultoria e Engenharia Ltda. (CNPJ
32.963.001/0001-28) e JDS - Engenharia e Consultoria Ltda. (CNPJ 40.376.139/0001-59).
56
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
3.2. Responsáveis: Félix Júnior Alves da Silva (CPF 825.914.233-34), Nilson Celso Machado
(CPF 181.879.276-15), Pedro Katusyoshi Nakayama (CPF 315.654.847-20), Plínio José Gomes (CPF
873.210.508-82) e Salatiel Leonardo Rasia da Silva (CPF 917.477.674-68).
4. Unidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil -
SeinfraRodoviaAviação.
8. Representação legal: Alexandre Aroeira Salles (OAB/MG 28.108) e outros representando o
Consórcio Fidens-Mendes Júnior; Frederico Peçanha Couto (CPF 325.376.706-04) representando a
Direção Consultoria e Engenharia Ltda.; e Felipe Furtado Morais (OAB/RJ 142.387) representando a
JDS - Engenharia e Consultoria Ltda.
9. Acórdão:
VISTO, relatado e discutido o processo relativo a auditoria realizada, no âmbito do Fiscobras
2012, com o objetivo de fiscalizar as obras de construção da BR-429/RO, no segmento compreendido
entre as cidades de Presidente Médici e Costa Marques (km 78,96 ao km 382,29).
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pela relatora e com fundamento nos artigos 1º, inciso I, 10, § 1º, 11, 12, incisos I e
II, e 47 da Lei 8.443/1992 c/c os artigos 157, 198, parágrafo único, 202, incisos I e II e § 1º, e 252 do
Regimento Interno e no artigo 41 da Resolução TCU 259/2014, em:
9.1. determinar a autuação de processo apartado de tomada de contas especial, a partir da
extração de cópia de peças destes autos, para adoção das providências necessárias ao ressarcimento de
prejuízos causados ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - Dnit na execução do
Contrato TT-673/2010, firmado com o então Consórcio Fidens-Mendes Júnior;
9.2. determinar à Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil -
SeinfraRodoviaAviação que, no processo a ser autuado:
9.2.1. realize as medidas saneadoras pertinentes a fim de identificar todos os responsáveis pelos
indícios de irregularidades quanto aos serviços de camada drenante no âmbito do Contrato
TT-673/2010 (BR-429/RO - Lote 3), consistentes em medição a maior do volume de 87.264,64m³ e
em desacordo com projeto, com evidências de superfaturamento no montante de R$ 10.161.094,27
(data-base: novembro/2007);
9.2.2. posteriormente proceda à citação dos responsáveis para que, no prazo de 15 (quinze) dias,
apresentem alegações de defesa e/ou recolham aos cofres do Dnit as quantias devidas, encaminhando-
lhes cópia do inteiro teor desta deliberação e da instrução a ser proferida, como subsídio para as
defesas.
9.3. considerar que as manifestações apresentadas em atendimento às oitivas e diligências
realizadas nestes autos permitem afastar a aplicação de penalidades aos gestores ouvidos em audiência
quanto aos achados da fiscalização constantes dos subitens 3.2, 3.3 e 3.4 do relatório de auditoria; e
9.4. dar ciência deste acórdão ao ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, ao Dnit e aos
responsáveis indicados no subitem 3.2 acima.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2625-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes (Relatora).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
57
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2626/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 032.725/2017-5
2. Grupo I – Classe VII – Representação.
3. Representante/Responsável/Interessada:
3.1. Representante: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul - Secex/RS.
3.2. Responsável: Associação Portuguesa de Beneficência (CNPJ 92.740.539/0001-03).
3.3. Interessada: Associação Beneficente São Miguel - ABSM (CNPJ 10.485.331/0001-12).
4. Unidade: Ministério da Saúde.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul - Secex/RS.
8. Representação legal: Augusto Veit Júnior (CPF 008.498.630-15) representando a Associação
Portuguesa de Beneficência; Jorge Ricardo Fischer Pigatto (CPF 959.371.530-49) representando a
ABSM; Eunice Ferreira Nequete (OAB/RS 13.656) e outros representando o prefeito e o secretário
municipal de Saúde de Porto Alegre/RS.
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida a representação da Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio
Grande do Sul apresentada no curso do acompanhamento objeto do TC 012.914/2017-7 em face de
indícios de prejuízos ao erário verificados na execução do Convênio Siconv 842.653, firmado entre o
Ministério da Saúde e a Associação Portuguesa de Beneficência/RS.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pela relatora e com fundamento nos artigos 235, 237, inciso VI e parágrafo único,
243 e 250, inciso II, do Regimento Interno, em:
9.1. conhecer desta representação e considerá-la parcialmente procedente;
9.2. confirmar as cautelares adotadas no processo a fim de:
9.2.1. manter a suspensão dos atos relativos à execução física e financeira do Convênio Siconv
842.653, firmado entre o Ministério da Saúde e a Associação Portuguesa de Beneficência/RS, quanto
aos recursos ainda não comprometidos na realização de despesas;
9.2.2. impedir a realização de medidas pela Associação Portuguesa de Beneficência/RS ou por
entidade que tenha assumido a gestão do Complexo Hospitalar Beneficência Portuguesa no sentido de
alienar ou locar (ou de qualquer forma dispor) os bens já adquiridos com recursos do Convênio Siconv
842.653.
9.3. deliberar que as medidas cautelares terão vigência até que haja a assinatura de novo contrato
que possibilite a prestação de serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS pelo Complexo
Hospitalar Beneficência Portuguesa ou a extinção do convênio, com a implementação das ações a
seguir indicadas;
9.4. determinar à Diretoria Executiva do Fundo Nacional de Saúde que:
9.4.1. acompanhe concomitantemente as providências que estão sendo tomadas pela Associação
Beneficente São Miguel com o fim de realizar nova contratação que possibilite ao Complexo
Hospitalar Beneficência Portuguesa prestar serviços no âmbito do SUS; e
9.4.2. caso constate a inviabilidade de ser efetuada essa contratação, adote as medidas
necessárias com o objetivo de promover a extinção do convênio e, em consequência, proceda à
devolução dos recursos remanescentes na conta do ajuste e à reversão patrimonial dos bens adquiridos,
nos termos das disposições das cláusulas décima sexta, inciso I, décima sétima, subcláusula segunda, e
décima nona do instrumento firmado;
58
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.4.3. caso constate, a qualquer momento, a existência de riscos de deterioração ou perda dos
bens adquiridos, avalie a conveniência e a oportunidade de destiná-los de imediato à entidade
prestadora de serviços ao SUS que deles necessite.
9.4.4. encaminhe a este Tribunal, a cada 90 (noventa) dias, informações sobre os resultados das
providências adotadas para cumprir esta deliberação.
9.5. determinar à Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul que autue
processo de monitoramento a fim de avaliar o cumprimento das medidas contidas neste acórdão, ao
qual deverão ser juntadas as informações mencionadas no subitem 9.4.4 acima; e
9.6. encaminhar cópia desta deliberação à Associação Portuguesa de Beneficência/RS, à
Associação Beneficente São Miguel, à Diretoria Executiva do Fundo Nacional de Saúde, à Secretaria
Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul e ao município de Porto Alegre/RS.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2626-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes (Relatora).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2627/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 021.107/2018-1.
2. Grupo: II; Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Entidade: Município de Cabedelo/PB.
4. Interessada: Secretaria de Controle Externo no Estado da Paraíba – Secex/PB.
5. Relator: Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado da Paraíba/PB.
8. Representação legal: Carlos Frederico Nóbrega Farias (OAB/PB 7.119); Rodrigo Nóbrega
Farias (OAB/PB 10.220); Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior (OAB/PB 11.591); Afrânio Neves de
Melo Neto (OAB/PB 23.667); Felipe Augusto Forte de Negreiros Deodato (OAB 8.596); e outros
indicados na peça 77.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Representação formulada pela Secretaria de
Controle Externo no Estado da Paraíba – Secex/PB, à vista de possíveis irregularidades na execução de
três Contratos de Repasse firmados com a Prefeitura Municipal de Cabedelo/PB, todos pactuados para
a implementação de obras de pavimentação e drenagem no bairro de Intermares, no Município de
Cabedelo/PB, na Região Metropolitana de João Pessoa/PB.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente Representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos
nos arts. 235 e 237, inciso VI, do Regimento Interno deste Tribunal, e no art. 103, § 1º, da Resolução
TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;
9.2 acolher as razões de justificativa apresentadas pelo Srs. Vitor Hugo Peixoto Castelliano e
Wellington Viana França, assim como pela Sra. Érika Moreno de Gusmão;
59
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3 dar ciência à Prefeitura Municipal de Cabedelo/PB, com fundamento no art. 7º da Resolução
TCU 265/2014, de que a situação emergencial prevista no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/1993,
indutora da dispensa de licitação, pela sua extrema excepcionalidade, exige robusta comprovação no
processo administrativo relativo à dispensa, devendo estar presentes, como condições necessárias, a
elaboração de laudos técnicos especializados que justifiquem a situação emergencial ou de calamidade
pública, a demonstração de que o prazo necessário à realização de nova licitação pode inviabilizar a
conclusão das obras dentro do cronograma físico-financeiro considerado adequado para o atendimento
do interesse público;
9.4 remeter cópia deste Acórdão à Superintendência da Polícia Federal no Estado da Paraíba.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2627-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa (Relator) e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2628/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC-039.049/2018-3.
2. Grupo: I – Classe de Assunto: VII – Solicitação.
3. Interessado: Centro de Controle Interno da Aeronáutica.
4. Órgão: Comando da Aeronáutica.
5. Relator: Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa.
6. Representante do Ministério Público: não atuou. 7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Defesa Nacional e da Segurança Pública –
SecexDefesa.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Solicitação feita pelo Centro de Controle Interno
da Aeronáutica, visando à prorrogação de prazo, em mais sessenta dias, para encaminhamento a este
Tribunal de Tomada de Contas Especial – TCE instaurada pelo Comando-Geral do Pessoal da
Aeronáutica, por meio da Portaria COMGEP 537/SCI, de 23/4/2018, cujo objeto consiste em apurar
dano ao erário em contratos firmados com a empresa True Auditoria, Consultoria e Serviços.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as
razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente Solicitação, nos termos do art. 11, § 2º, da IN/TCU 71/2012;
9.2. autorizar, com fundamento no art. 11, § 3º, da Instrução Normativa/TCU 71/2012, que o
Centro de Controle Interno da Aeronáutica encaminhe ao Tribunal, no prazo de 60 (sessenta) dias
contado a partir da ciência desta deliberação, o processo de Tomada de Contas Especial deflagrado
pela Portaria COMGEP 537/SCI, de 23/4/2018;
9.3. arquivar estes autos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2628-45/18-P.
60
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa (Relator) e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2629/2018 – TCU – PLENÁRIO
1. Processo nº TC 007.460/2017-1.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Auditoria.
3. Interessado: Congresso Nacional.
4. Órgãos/Entidades: Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – Infraero e Ministério
dos Transportes, Portos e Aviação Civil – MTPA.
5. Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil
(SeinfraRodoviaAviação).
8. Representação legal:
8.1. Márcia Uchôa de Oliveira da Rocha e outros, representando a Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria sobre a Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) para verificar a regularidade das obras de construção do novo
sistema de pistas, do pátio de aeronaves, do terminal de passageiros, da central de utilidades, dos
sistemas viários, do estacionamento e da macrodrenagem interna, além das obras complementares, no
aeroporto Eurico de Aguiar Salles em Vitória – ES;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. acolher as justificativas ora oferecidas pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária em relação à ausência da matriz de risco para o empreendimento inerente ao Contrato nº 0005-EG/2015/0023 e ao RDC Eletrônico nº 007/DFLC/SBVT/2014;
9.2. determinar que a unidade técnica adote as seguintes medidas: 9.2.1. promova o acompanhamento do aludido contrato, com os eventuais termos aditivos,
nos termos do art. 242 do RITCU, devendo atentar para a contínua necessidade de verificar a regularidade e a economicidade de todo o empreendimento inerente ao Contrato nº 0005-EG/2015/0023 e ao RDC Eletrônico nº 007/DFLC/SBVT/2014, com a eventual diferença de quantitativos, entre outros elementos relevantes, sem prejuízo de atentar, ainda, para a eventual subsistência de irregularidades, a exemplo, entre outras, das falhas originalmente detectadas no RDC Eletrônico nº 007/DFLC/SBVT/2014 (Peça 9) a partir do relatório de auditoria já apreciado pelo Acórdão 2.088/2017-Plenário, em face, entre outros, dos seguintes achados: (i) estudo de viabilidade técnico-econômico-financeira deficiente (Achado 3.1); (ii) quantitativos inadequados na planilha orçamentária (Achado 3.2); (iii) processo licitatório irregular em decorrência da participação do autor dos projetos ou outros trabalhos técnicos preliminares no certame licitatório (Achado 3.3); (iv) adoção de regime inadequado ou antieconômico para a execução contratual (Achado 3.4); e (v) fragilidade ou deficiência na fase preparatória de licitação para o RDC (Achado 3.5);
61
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.2.2. envie a cópia deste Acórdão, acompanhado do Relatório e do Voto que o fundamenta, à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), para ciência e eventuais providências; e
9.2.3. arquive o presente processo.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2629-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho (Relator).
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
ACÓRDÃO Nº 2630/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 012.191/2018-3.
2. Grupo I – Classe VII – Assunto: Representação.
3. Interessados/Representante:
3.1. Interessados: Ministério da Defesa (MD), Estado de Rondônia.
3.2. Representante: Mamoré Máquinas Agrícolas Ltda. (19.614.838/0001-01).
4. Órgãos: Secretaria de Agricultura do Estado de Rondônia (Seagri/RO), Superintendência
Estadual de Licitações do Governo do Estado de Rondônia (Supel/RO), Departamento do Programa
Calha Norte (DPCN).
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo em Rondônia (Secex-RO).
8. Representação legal:
8.1. Daniel Penha de Oliveira (87318/OAB-MG) e outros, representando Casa da Lavoura
Máquinas e Implementos Agrícolas Ltda. (peças 66 e 70).
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação noticiando pretensas irregularidades
relacionadas aos pregões eletrônicos 109/2017, 110/2017, 111/2017, 112/2017 e 113/2017, conduzidos
pela Superintendência Estadual de Licitações do Governo do Estado de Rondônia (Supel/RO), os quais
têm por objeto a aquisição de equipamentos agrícolas (item 1 trator de pneus, item 2 carreta agrícola e
item 3 grade aradora hidráulica).
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo relator em:
9.1. conhecer da representação, nos termos do art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, c/c o art. 237,
VII, do RI/TCU, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;
9.2. tornar sem efeito a medida cautelar concedida por meio de despacho proferido em 27/8/2018
(peça 53), referendado por meio do acórdão 2155/20108-TCU-Plenário (peça 63);
9.3. dar ciência ao Departamento do Programa Calha Norte do Ministério da Defesa sobre a
seguinte impropriedade: celebração de ajustes em valores superiores ao limite financeiro estabelecido
no item 4.3 da Portaria Normativa 3.353/2013/MD, identificada nos termos de compromissos 010,
011, 012, 013 e 014/DPCN/2016;
9.4. encaminhar cópia desta deliberação à representante, à Secretaria de Estado da Agricultura no
Estado de Rondônia, à Superintendência Estadual de Licitações do Governo do Estado de Rondônia,
62
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ao Departamento do Programa Calha Norte e à Casa da Lavoura Máquinas e Implementos Agrícolas
Ltda.;
9.5. encerrar o processo e arquivar os autos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2630-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira (Relator).
ENCERRAMENTO
A Presidência lembrou a realização de sessão extraordinária de caráter reservado no próximo dia
21 de novembro, logo após o encerramento da sessão ordinária, e, às 18 horas e 11 minutos, encerrou a
sessão, da qual foi lavrada esta ata, a ser aprovada pelo Presidente e homologada pelo Plenário.
DANIELA DUARTE DO NASCIMENTO
Subsecretária do Plenário
Aprovada em 21 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
ANEXO I DA ATA 45, DE 14 DE NOVEMBRO DE 2018
(Sessão Ordinária do Plenário)
COMUNICAÇÕES
Comunicações proferidas pela Presidência.
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Com base no art. 28, incisos I, do Regimento Interno desta Casa, submeto a apreciação deste
Plenário proposta de ação de controle nos órgãos do Governo Federal dos setores da saúde, meio
ambiente e agricultura responsáveis pelo controle e fiscalização de agrotóxicos no Brasil, tendo em
vista os fatos que passo a expor:
Os agrotóxicos são um importante insumo no atual modelo da agricultura brasileira. O Brasil é
um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. O mercado de agrotóxicos no Brasil gira em
torno de dez bilhões de dólares por ano. Não obstante, se por um lado esses insumos ajudam a
controlar insetos, doenças e ervas daninhas que prejudicam a lavoura, por outro, são substâncias
63
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
potencialmente perigosas, muitas delas de difícil eliminação do solo, das águas e do nosso próprio
organismo.
Esses produtos englobam uma vasta gama de substâncias químicas, além de algumas de origem
biológica. Alguns agrotóxicos podem apresentar riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Por esse
motivo, a legislação impõe diversos mecanismos de controle e de regulação estatal, a fim de que esses
riscos sejam eliminados ou minimizados a um grau aceitável.
O referencial legal mais importante é a Lei 7.802/1989, regulamentada pelo Decreto 4.074/2002,
que dispõe sobre o processo de registro, controle, monitoramento e fiscalização de um produto
agrotóxico. Apesar da existência de um robusto arcabouço legal para os agrotóxicos, o Governo
Federal necessita aprimorar a sua atuação no controle e no monitoramento da cadeia produtiva desses
produtos, garantindo maior sustentabilidade da produção de alimentos no país.
Auditoria recente realizada pela SecexAgroAmbiental e pela SecexSaúde (Acórdão 709/2018 –
Plenário, sob a relatoria do Ministro Augusto Nardes - TC 029.427/2017-7) analisou a governança das
desonerações tributárias concedidas a agrotóxicos no Brasil. Esta fiscalização estava inserida no
âmbito de uma auditoria internacional na Olacefs, cujo objetivo foi avaliar a presença de estruturas de
governança no Governo Federal para implementar a Agenda 2030 e a meta 2.4 (garantir sistemas
sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas robustas) dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Entre os principais achados de auditoria, verificou-se uma ausência de acompanhamento e de
avaliação de desonerações tributárias federais relativas à importação, à produção e à comercialização
de agrotóxicos, bem como a concessão de desonerações tributárias a agrotóxicos sem distinção de
alíquotas quanto ao nível de toxicidade à saúde humana e ao potencial de periculosidade ambiental.
Além disso, em fiscalizações anteriores o TCU identificou falhas no sistema de governança no
que diz respeito à temática de agrotóxicos. Nesse sentido, embora o Governo Federal disponha de
alguns dados sobre o mercado de agrotóxicos, há diversas falhas relativas à ausência de cruzamento
dos dados existentes, à falta de integração das bases de dados, à desagregação dos dados disponíveis e
à ausência de incorporação de metadados relevantes aos sistemas de informação existentes.
Por exemplo, as instituições responsáveis pelo registro de agrotóxicos no Brasil (MAPA, Ibama
e Anvisa) ainda não utilizam um sistema integrado de informações. O Sistema de Informações sobre
Agrotóxicos (SIA), previsto no art. 94 do Decreto 4.074/2002, ainda não foi implementado,
dificultando a obtenção de informações precisas sobre os produtos registrados. O TCU, em
monitoramento de auditoria sobre o processo de registro de agrotóxicos, determinou, novamente, a
conclusão desse sistema (Acórdão 2.253/2017-Plenário - TC 010.084/2017-7, e Acórdão 2.303/2013-
Plenário - TC 011.726/2013-0, ambos relatados pelo Ministro Walton Alencar Rodrigues).
Diante do exposto, proponho a este Plenário ação de controle para avaliar a atuação dos órgãos
do Governo Federal dos setores da saúde, meio ambiente e agricultura, responsáveis pelo controle e
fiscalização de agrotóxicos no Brasil, determinando à Segecex que autue processo a partir desta
Comunicação, ainda este ano, com início dos trabalhos em 2019.
Ademais, sejam reunidas nesse trabalho todas as ações que tenham correlação com o assunto já
existentes no Tribunal, de forma que a auditoria venha a se constituir em um FISC Agrotóxico, de
natureza propositiva.
Ressalto, por fim, que cabe à Segecex apresentar no prazo de 15 dias, nos termos da Portaria-
TCU 548/2017, a devida manifestação quanto aos reflexos desse trabalho no Plano Diretor daquela
Unidade.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
64
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Na Sessão do último dia 31, comuniquei a este Colegiado que, na manhã daquele dia, ocorreu,
no Gabinete da Presidência, um café da manhã com a presença do Presidente do Supremo Tribunal
Federal, Ministro Dias Toffoli, no intuito de um maior relacionamento interinstitucional entre a
Suprema Corte e o TCU.
A propósito, ao final da aludida reunião, em que foram discutidos diversos assuntos comuns às
duas Instituições, o Presidente Toffoli solicitou lista dos processos considerados mais sensíveis e
relevantes de interesse do TCU em tramitação no STF.
Assim, em atenção à mencionada solicitação, expedi o Aviso nº 1406-GP/TCU, de 13/11/2018,
para encaminhar ao Presidente do STF a relação das ações judiciais consideradas de especial
relevância para este Tribunal e que estão em trâmite naquele Órgão.
Registro, por oportuno, que o inteiro teor do aludido Aviso e da respectiva lista (separada, por
assunto, em 9 grupos), encontra-se disponibilizado no Sistema Sagas, juntamente com o texto desta
Comunicação.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
Aviso nº 1406 - GP/TCU
Brasília, 13 de novembro de 2018.
Senhor Presidente,
Envio, em anexo, a relação de ações judiciais consideradas de especial relevância para este
Tribunal de Contas e que estão em tramitação no Supremo Tribunal Federal, a fim de que essa
Presidência possa lhes dispensar o tratamento que entender recomendável, à luz dos princípios
constitucionais e das regras processuais incidentes em casos da espécie.
Esclareço que, na citada lista, as demandas consideradas expressivas foram agrupadas nos
seguintes assuntos:
- Competência do TCU para aplicar a sanção de declaração de inidoneidad e prevista em sua Lei
Orgânica para empresas que celebraram acordos de leniência;
- Competência do TCU para afastar, no caso concreto, a incidência de norma que entenda
inconstitucional (Súmula 347 - STF) - Discussão travada em vários MS sobre pagamento de bônus
de eficiência;
- Competência do TCU para afastar, no caso concreto, a incidência de norma que entenda
inconstitucional (Súmula 347 - STF) - Discussão travada em vários MS sobre Procedimento
Licitatório da Petrobras (Decreto 2745/98);
A Sua Excelência o Senhor
Ministro JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI
Presidente do Supremo Tribunal Federal Brasília – DF
65
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
(Fl. 2 do Aviso nº 1406-GP/TCU, de 13/11/2018)
- Competência do TCU para prolatar medida cautelar de indisponibilidade de bens contra particulares
e/ou para renovar a cautelar de indisponibilidade de bens após o vencimento do prazo de um ano;
- Competência do TCU para promover a desconsideração de personalidade jurídica;
- Competência do TCU para prolatar medida cautelar de Retenção e (ou) glosa de créditos de
empresas contratadas;
- Incidência ou não de prazo decadencial para o TCU apreciar atos de aposentadoria, reforma e
pensão;
- Prescrição e (ou) decadência de débito e (ou) multa decorrentes de decisão do TCU;
- Responsabilidade de parecerista jurídico apurada pelo TCU.
Respeitosamente,
(Assinado eletronicamente)
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
Competência do TCU para aplicar a sanção de declaração de inidoneidade prevista em sua Lei
Orgânica em relação a empresas que celebraram acordos de leniência
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 35.435 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar deferida parcialmente. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Vista a parte
agravada para apresentar contrarrazões.
Competência do TCU para afastar, no caso concreto, a incidência de norma que entenda
inconstitucional (Súmula 347 - STF). Discussão travada em vários MS sobre pagamento de
bônus de eficiência
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 35.494 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Ultimo andamento: Concluso ao Relator.
MS 35.824 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Certidão de retificação de
autuação.
MS 35.812 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Vista à PGR.
MS 35.500 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Juntada do mandado.
MS 35.490 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida em. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Juntada do
mandado.
MS 35.410 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida em. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Juntada do
mandado.
66
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
MS 35.836 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto agravo regimental.
Último andamento: Conclusos ao relator.
MS 35.498 Alexandre de
Moraes
1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Juntada do mandado de
intimação.
Competência do TCU para afastar, no caso concreto, a incidência de norma que entenda
inconstitucional (Súmula 347 - STF). Discussão travada em vários MS sobre Procedimento
Licitatório da Petrobras (Decreto 2745/98)
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
RE 441.280 Cármen Lúcia 2ª Turma Adiado o julgamento em 19/10/2016, por pedido
do TCU. Último andamento: Substituição do
relator, art. 38 do RISTF em 13/09/2018.
MS 27.232 Luiz Fux 1ª Turma Liminar deferida. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 28.252 Luiz Fux 1ª Turma Liminar deferida em. Último andamento: conclusos
ao Relator.
MS 27.344 Luiz Fux 1ª Turma Liminar deferida. Último andamento: juntada de
mandado de intimação.
MS 27.337 Luiz Fux 1ª Turma Liminar deferida. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 28.745 Rosa Weber 1ª Turma Liminar deferida. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 26.808 Rosa Weber 1ª Turma Liminar deferida. Último andamento: conclusos ao
relator.
MS 28.744 Rosa Weber 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 27.796 Alexandre de
Moraes
2ª Turma Mandado de segurança julgado prejudicado e
liminar revogada. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Publicação
MS 28.626 Cármen Lúcia 2ª Turma Liminar deferida. Sobrestado aguardando o
julgamento do RE 441.280. Último andamento:
Substituição do Relator.
MS 29.468 Cármen Lúcia 2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Sobrestado aguardando o julgamento do RE
441.280. Último andamento: Substituição do
Relator.
MS 31.235 Cármen Lúcia 2ª Turma Liminar deferida. Sobrestado aguardando o
julgamento do RE 441.280. Último andamento:
Substituição do Relator.
MS 28.897 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Sobrestado aguardando o julgamento do RE
441.280. Último andamento: conclusos ao Relator
MS 29.326 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Sobrestado para aguardar o julgamento do RE
441.280/RS. Último andamento: conclusos ao
Relator.
67
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
MS 27.743 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Sobrestado para aguardar o julgamento do RE
441.280/RS. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 27.837 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Sobrestado para aguardar o julgamento do RE
441.280/RS. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 26.783 Marco Aurélio 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 31.439 Marco Aurélio 1ª Turma Liminar indeferida. Último andamento: conclusos
ao relator.
MS 25.888 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar deferida. Último andamento: conclusos ao
Relator.
MS 29.123 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 26.410 Edson Fachin 2ª Turma Liminar deferida. Sobrestado aguardando
julgamento do MS 25.888. Último andamento:
publicação no DJE (conversão do processo em
eletrônico).
MS 25.986 Celso de Mello 2ª Turma Liminar deferida. Autos sobrestados, aguardando o
julgamento do RE 441.280. Último andamento:
Publicação no DJE.
Competência do TCU para prolatar medida cautelar de indisponibilidade de bens contra
particulares e/ou para renovar a cautelar de indisponibilidade de bens após o vencimento do
prazo de um ano
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 34.421 Marco Aurélio Plenário Liminar deferida. Decisão: A turma afetou ao
Plenário o julgamento de mérito. Último
andamento: AGU intimada eletronicamente.
MS 34.392 Marco Aurélio Plenário Liminar deferida. Decisão: A turma afetou ao
Plenário o julgamento de mérito. Último
andamento: AGU intimada eletronicamente.
MS 34.357 Marco Aurélio Plenário Liminar deferida. Decisão: A turma afetou ao
Plenário o julgamento de mérito. Último
andamento: AGU intimada eletronicamente.
MS 34.410 Marco Aurélio Plenário Liminar deferida. Decisão: A turma afetou ao
Plenário o julgamento de mérito. Último
andamento: AGU intimada eletronicamente.
MS 34.421 Marco Aurélio Plenário Liminar deferida. Decisão: A turma afetou ao
Plenário o julgamento de mérito. Último
andamento: AGU intimada eletronicamente.
MS 35.801 Celso de Mello 2ª Turma Mandado de Segurança Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Vista à PGR para
fins de intimação.
68
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
MS 35.532 Edson Fachin 2ª Turma Liminar deferida parcialmente. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Vista à PGR para
fins de intimação.
MS 34.793 Edson Fachin 2ª Turma Liminar deferida parcialmente. Último andamento:
concluso ao Relator.
MS 34.292 Edson Fachin 2ª Turma Discutida a renovação da medida cautelar. Liminar
indeferida. Interposto Agravo Regimental. Último
andamento: conclusos ao Relator.
MS 35.042 Edson Fachin 2ª Turma Discutida a renovação da medida cautelar. Liminar
indeferida. Interposto Agravo Regimental. Último
andamento: Conclusos ao Relator;
MS 35.694 Edson Fachin 2ª Turma Discutida a renovação da medida cautelar. Liminar
deferida em parte. Interposto Agravo Regimental.
Último Andamento: Conclusos ao Relator.
MS 35.158 Edson Fachin 2ª Turma Deferida parcialmente a liminar. Último
andamento: Conclusos ao Relator.
MS 35.031 Edson Fachin 2ª Turma Discutida a renovação da medida cautelar. Liminar
indeferida. Último Andamento: Conclusos ao
Relator.
MS 34.291 Edson Fachin 2ª Turma Discutida a renovação da medida cautelar. Liminar
indeferida. Última tramitação: Conclusos ao
Relator.
MS 35.416 Edson Fachin 2ª Turma Liminar indeferida em. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Conclusos ao
Relator.
MS 34.754 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao relator.
MS 34.757 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 34.758 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 34.738 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Agravo Regimental. Último
andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.762 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.755 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
MS 34.870 Roberto Barroso 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 35.404 Rosa Weber 1ª Turma Liminar indeferida. Último andamento: Conclusos
ao Relator.
MS 34.446 Rosa Weber 1ª Turma Liminar deferida em parte. Interposto Agravo
Regimental. Último andamento: Juntada de AR.
MS 35.529 Rosa Weber 1ª Turma Liminar indeferida. Último andamento: Vista à
PGR.
MS 35.623 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar indeferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
69
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
MS 35.555 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar indeferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.233 Gilmar Mendes 2ª Turma Discute a renovação da medida cautelar. Liminar
indeferida. Concedida a segurança. Interposto
Agravo Regimental pelo TCU. Agravo do TCU
não conhecido. Agravo da União não provido.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.545 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Vista à PGR.
Competência do TCU para promover a desconsideração de personalidade jurídica
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 35.920 Marco Aurélio 1ª Turma Discute a cautelar de indisponibilidade de bens
também. Liminar deferida. Último andamento:
AGU intimada.
MS 35.506 Marco Aurélio Plenário Discute a cautelar de indisponibilidade de bens
também. Liminar deferida. Interposto Agravo
Regimental. Decisão: a turma afetou o julgamento
de mérito ao Plenário. Último andamento: AGU
intimada eletronicamente.
MS 32.994 Celso de Mello 2ª Turma Liminar deferida. Interposto agravo regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
Competência do TCU para prolatar medida cautelar de Retenção e(ou) glosa de créditos de
empresas contratadas
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 35.004 Edson Fachin 2ª Turma Negado seguimento Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: conclusos ao Relator.
Incidência ou não de prazo decadencial para o TCU apreciar atos de aposentadoria, reforma e
pensão
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
RE 636.553 Gilmar Mendes Plenário Reconhecida a existência de repercussão geral.
Deferido o ingresso do TCU como amicus curiae.
Último andamento. Conclusos ao Relator.
Prescrição e (ou) decadência de débito e (ou) multa decorrentes de decisão do TCU
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
RE 636.886 Alexandre de
Moraes
Plenário Prescrição do débito. Repercussão geral declarada
existente. Deferido o pedido do TCU de ingresso
como amicus curiae. Último andamento: Incluído
em pauta.
MS 35.536 Rosa Weber 1ª Turma Prescrição da multa. Liminar indeferida. Último
andamento: Vista à PGR.
70
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
MS 35.725 Luiz Fux 1ª Turma Prescrição do débito. Liminar deferida. Interposto
Agravo Regimental. Último andamento: vista à
PGR;
MS 35.393 Celso de Mello 2ª Turma Prescrição do débito. Liminar deferida em
19/12/2017. Interposto Agravo Regimental. Último
andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.256 Roberto Barroso 1ª Turma Prescrição do débito e da multa. Liminar deferida.
Interposto Agravo Regimental. Último andamento:
conclusos ao Relator.
MS 35.530 Roberto Barroso 1ª Turma Prescrição do débito e da multa. Liminar deferida
parcialmente. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 34.705 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Prescrição do débito. Deferida a liminar. Interposto
AR da União. Último andamento: Conclusos ao
Relator.
MS 36.054 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Prescrição do débito TCU intimado para se
manifestar em 26/10/18. Último andamento:
Intimado eletronicamente – AGU.
MS 35.512 Ricardo
Lewandowski
2ª Turma Prescrição da multa. Concedida a segurança.
Interposto Agravo Regimental. Último andamento:
Conclusos ao Relator;
MS 35.294 Marco Aurélio 1ª Turma Prescrição do débito. Liminar deferida. Interposto
Agravo Regimental pela União. Último
andamento: Conclusos ao Relator.
Responsabilidade de parecerista jurídico apurada pelo TCU
Ação Relator Órgão
julgador
Observações e situação processual
MS 34.416 Edson Fachin 2ª Turma Liminar deferida em parte. Último andamento:
conclusos ao Relator.
MS 33.947 Edson Fachin 2ª Turma Liminar deferida. Último andamento: Em
28/9/2017, conclusos ao Relator.
MS 30.892 Luiz Fux 1ª Turma Concedida a segurança. Agravo Regimental
interposto. Reconsideração da decisão agravada,
tornando-a sem efeito, para regularizar o feito.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 35.196 Luiz Fux 1ª Turma Liminar deferida. TCU interpôs Agravo
Regimental. Em 19/2/18: interposto agravo
regimental pela AGU, impugnando a atuação direta
da Conjur. Concessão da ordem. Último
andamento: Conclusos ao Relator.
MS 31.815 Rosa Weber 1ª Turma Liminar deferida. Interposto Agravo Regimental.
Último andamento: Conclusos ao Relator.
MS 35.165 Gilmar Mendes 2ª Turma Liminar indeferida. Último andamento: Conclusos
ao Relator.
71
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Conforme comuniquei a este Plenário na Sessão do último dia 31, o Tribunal de Contas da
União, em 29/10/2018, firmou Acordo de Cooperação Técnica com o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (COAF), com o objetivo de regular, por um lado, o acesso pelo COAF, sem
qualquer ônus, a dados e informações do Laboratório de Informações de Controle (LabContas) e, por
outro lado, acesso do TCU ao Sistema Eletrônico de Informações (SEI-C), do COAF.
Informei também que, diante das obrigações estabelecidas para a efetivação do aludido Acordo,
foi autuado o processo TC 039.205/2018-5, tendo sido sorteado o Ministro Augusto Nardes relator dos
autos, com a finalidade de aprovar normativo do TCU para regulamentar a execução dessa parceria no
âmbito desta Corte de Contas.
A propósito, na Sessão de 31/10/2018, ao acolher a proposta do relator, este Colegiado, por meio
do Acórdão nº 2495/2018, aprovou a Resolução-TCU nº 301/2018 que, entre outros dispositivos,
estabeleceu, em seu art. 3º, algumas incumbências à Presidência desta Casa.
Dessa forma, comunico que, em atendimento ao disposto no inciso II do referido artigo,
designei, por meio da Portaria-TCU nº 321, de 8/11/2018, a Secretaria de Relações Institucionais de
Controle no Combate à Fraude e Corrupção (Seccor) como a unidade do TCU responsável por manejar
e administrar o intercâmbio de informações junto ao COAF; e que, em cumprimento ao contido nos
incisos I e III do mesmo dispositivo, expedi o Aviso nº 1385-GP/TCU, de 12/11/2018, informando ao
COAF a lista das autoridades a serem credenciadas no Sistema SEI-C, as quais estão aptas a solicitar
ou autorizar o intercâmbio de informações objeto da citada Resolução, bem como a lista de servidores
da unidade no TCU responsáveis por administrar o intercâmbio de informações no SEI-C.
Registro, por oportuno, que a portaria e o aviso ora mencionados foram disponibilizados, no
Sistema Sagas, juntamente com o texto desta comunicação.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
72
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
73
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
74
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
75
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Entre as fiscalizações iniciadas recentemente, destaco a Auditoria de Conformidade nas
aquisições e contratações promovidas pelas Organizações Militares no Estado de Minas Gerais, sob a
relatoria do Ministro Substituto Marcos Bemquerer (TC 036.894/2018-4), destinada a avaliar a
sistemática e os controles internos existentes.
Ressalto que o aludido acompanhamento decorre, principalmente, da materialidade dos recursos
envolvidos - cerca de duzentos milhões de reais - e da relevância dos serviços prestados por aquelas
instituições. Além disso, análises realizadas a partir de sistema eletrônico de inteligência do TCU
resultaram em alertas de possíveis irregularidades.
Por fim, pontuo que o Tribunal pretende alcançar as diversas unidades militares sediadas no
Estado de Minas Gerais, promovendo o aprimoramento da eficiência na gestão dos recursos.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Registro a realização, no último dia 12, no Auditório Ministro Pereira Lira, do “Seminário Deu
Certo! Boas Práticas replicáveis em organizações públicas buscando eficiência”, destinado a
disseminar as boas e exemplares práticas de gestão.
Entre os participantes do evento, destaco a presença da Diretora do BNDES Par, Eliane Lustosa,
do Secretário-Geral de Controle Externo, Cláudio Souza Castello Branco, e do Secretário-Geral de
Administração, Carlos Roberto Caixeta.
No meu pronunciamento, ressaltei, entre outros pontos, as diversas iniciativas desenvolvidas
pelo TCU na busca de atuar como indutor de boas práticas na Administração Pública, não apenas no
controle externo, mas, especialmente, nos respectivos atos de gestão. Como exemplo, consignei a
honra de sermos um dos primeiros órgãos públicos a dar publicidade a todas as notas fiscais da gestão.
O inteiro teor da fala que fiz naquela oportunidade consta da ata desta Sessão, juntamente com o
texto desta Comunicação.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
Seminário “Deu Certo! Boas Práticas replicáveis em organizações públicas buscando eficiência”
Data/horário: 12 de novembro de 2018, às 14 horas
Local: Auditório Pereira Lira, Edifício-Sede do TCU
Senhoras e Senhores,
Boa tarde!
Ao dar as boas-vindas a todos os presentes, registro minha satisfação em fazer a abertura deste
seminário, cujo título já nos remete à sensação de vitória: “Deu Certo” – uma expressão que não só
representa o desejo de todos nós que trabalhamos com afinco e dedicação para a melhoria da gestão
76
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
pública, mas que retrata, especialmente, o anseio do cidadão, o qual tem sempre a esperança de que os
serviços prestados pelo Governo sejam mais eficientes e eficazes.
Não é de hoje que nós, da Administração Pública, lutamos para entregar os bons resultados que a
sociedade espera, principalmente nestes tempos de serviços digitais e de transformação contínua, em
que cada vez mais aumentam o grau e a intensidade das justas cobranças que recebemos.
Evidentemente, precisamos reconhecer que nossas organizações ainda apresentam dificuldades
de estratégia e de foco. Para mudar esse cenário, faz-se necessário que todo servidor público deixe de
lado o histórico de ser autocentrado e tenha em mente que sua missão é servir, com excelência, o
cidadão. Vale frisar que todas as atividades corporativas devem convergir para o bem da sociedade.
É inegável que o nível de profissionalização dos organismos públicas está progredindo. Para
mim, o próprio TCU é um exemplo dessa evolução. Nos últimos dois anos, que tenho tido a honra de
presidir esta Casa, testemunhei – como nunca – tanto os inúmeros desafios vencidos pela Instituição
como a inabalável vontade de evoluirmos e de contribuirmos para o bom desempenho da
Administração Pública em prol da sociedade.
Com tal propósito é que abro este evento promovido pelo TCU e que traz características bem
peculiares. O objetivo, hoje, não é tratar de ações de controle, de critérios de avaliação ou da mais
nova jurisprudência. A finalidade deste Encontro é disseminar as boas e exemplares práticas de gestão;
é aprender com gestores que, apesar de condições desfavoráveis eventualmente enfrentadas, têm
conseguido transformar a dura realidade à sua volta.
Reconheço que nem toda renovação alcança a plenitude desejada, o que é natural, uma vez que
as transformações permanentes são gradativas. Por exemplo, a mudança na melhoria da transparência
– que parece simples de ser realizado, mas não é – necessita passar pelo desafio da tecnologia, é
verdade, mas o maior obstáculo está na cultura, ou seja, na cabeça das pessoas.
Outro entrave, é a enorme tentação de colocar a culpa por eventuais falhas nas condições de
trabalho, no ambiente de controle e na falta de capacitação. Qualquer gestor experiente já passou por
todas essas travas, provavelmente diversas vezes. Ainda assim, pode-se afirmar que estamos
progredindo cada dia mais.
Importa destacar que o TCU tem buscado atuar como indutor de boas práticas na Administração
Pública, não apenas no controle externo, mas também pelos bons exemplos emanados pelos
respectivos atos de gestão.
Com muita honra, consigno a felicidade de sermos um dos primeiros órgãos públicos a dar
publicidade a todas as notas fiscais da gestão, o que permite a qualquer um acessá-las e fazer a
respectiva avaliação, se quiser. Para uma melhor percepção da importância da aplicação da
transparência, o Secretário de Gestão de Soluções de TI para a Administração deste Tribunal, Ricardo
Dantas Stumpf, vai expor um pouco sobre a funcionalidade dessa iniciativa.
Além dessa explanação, teremos também muitos gestores aqui com resultados sólidos para
mostrar. Infelizmente, não é possível trazer todas as realizações inspiradoras para um evento como
esse. Por isso, selecionamos algumas práticas passíveis de serem replicáveis e que, tomara, desafiem
um pouco nossa forma de pensar a Administração.
O Brasil clama por profissionais públicos comprometidos com os princípios constitucionais da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e que lutam para que cada organização
apresente, no lugar de justificativas, resultados cada vez mais proporcionais às cobranças da sociedade.
Certamente, o participante deste seminário está aqui por procurar desempenhar um serviço
público de qualidade, mais eficiente, transparente e eficaz.
Dessa forma, para finalizar minhas breves palavras, desejo a todos um bom trabalho, na
expectativa de que as boas práticas e os conhecimentos aqui compartilhados possam ser bem
aproveitados e aplicados, de forma que possamos afirmar, como o próprio título do evento cita: Deu
Certo!
Muito obrigado!
77
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Com o propósito de atender ao desafio de fazer mais e melhor com menos recursos, comunico a
Vossas Excelências nova ferramenta de TI para esta Corte de Contas. Trata-se da solução tecnológica
– e-TCU Gerencial – concebida, especificamente, para auxiliar diretores e secretários das unidades da
Secretaria-Geral de Controle Externo em sua gestão processual.
A solução permite ao gestor identificar e atuar nos principais riscos associados ao gerenciamento
das demandas sob sua responsabilidade. No referido sistema, as informações são organizadas por fase,
prazos e medidas saneadoras dos autos, de forma a favorecer uma atuação mais célere e tempestiva de
acordo com a característica e o estado de cada processo.
Além disso, o aplicativo também conta com a funcionalidade de pesquisa textual nos moldes dos
buscadores mais consagrados da internet. É possível, por exemplo, a pesquisa de determinada
expressão nas peças de todos os processos abertos não sigilosos do TCU.
Ressalto que, embora o foco da ferramenta tenha sido no âmbito das unidades técnicas de
controle externo, futuramente, será possível avanços para as demais unidades do Tribunal.
Por fim, registro que o e-TCU Gerencial é resultado de trabalho em conjunto da Secretaria de
Tecnologia da Informação e da Secretaria-Geral Adjunta de Controle Externo.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Registro que, ontem, tive a satisfação de participar, na Biblioteca Acadêmica Luiz Viana Filho,
no Senado Federal, do lançamento da coleção “30 anos da Constituição: evolução, desafios e
perspectivas para o futuro”, elaborada pelo Senado Federal em parceria com Câmara dos Deputados.
Na ocasião, associando-me às comemorações desse acontecimento, apresentei e distribui a
publicação editada pelo TCU “O Tribunal de Contas da União e os 30 Anos da Constituição Federal de
1988”, na qual procurou-se analisar e registrar as transformações processadas na Corte de Contas em
razão do advento da nova ordem constitucional.
Vale consignar que, além de mim, estiveram presentes no referido evento as seguintes
personalidades:
- Diretora-Geral do Senado Federal, Ilana Trombka;
- Consultor-Geral do Senado, Danilo Augusto Barboza de Aguiar;
- Representante do Chefe da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, Aurélio
Guimarães Cruvinel e Palos;
78
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
- Chefe da Consultoria de Orçamento, Fiscalização e Controle do Senado, Claudia Castro Silva
Borges;
- Chefe da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, Ricardo Volpi; e
- Presidente do Superior Tribunal Militar, José Coêlho Ferreira.
Na minha fala, ressaltei a imensa satisfação em ter participado da Sessão Solene realizada no
Plenário da Câmara do Deputados, no dia 6 deste mês, em comemoração às três décadas da
Constituição; destaquei a relevância da presença do ex-Presidente José Sarney como figura
profundamente ligada à história constitucional de nosso País; discorri sobre os bons resultados
advindos da nova Carta Magna – como as oito eleições diretas para Presidente da República e a
retomada da plenitude dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário –; e, por último, fiz uma breve
explanação sobre a publicação “O Tribunal de Contas da União e os 30 Anos da Constituição Federal
de 1988”.
Informo que a íntegra do meu pronunciamento consta da ata desta Sessão, juntamente com o
texto desta Comunicação.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
Senhoras e Senhores,
No último dia 5 de outubro, a Constituição Federal do Brasil completou 30 anos de
promulgação. Os três Poderes da República e a sociedade civil têm comemorado com justas
homenagens a passagem dessa data tão significativa, como ora fazemos neste evento.
Foi com imensa satisfação que participei de Sessão Solene do Congresso Nacional realizada no
Plenário da Câmara dos Deputados, no dia 6 deste mês. Estavam presentes à mesa do evento:
- Presidente do Congresso Nacional e do Senado Federal, Senador Eunício Oliveira;
- Presidente da República, Michel Temer;
- Ex-Presidente da República José Sarney;
- Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli;
- Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal Rodrigo Maia;
- Presidente eleito da República, Jair Messias Bolsonaro;
- Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge.
Destaco a presença do ex-Presidente da República José Sarney, figura profundamente ligada à
história constitucional de nosso País uma vez que:
- Propôs a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, por intermédio da Mensagem 330,
de 28 de junho de 1985, e que resultou na Emenda Constitucional 26, de 27 de novembro de 1985;
- Esteve presente na promulgação da Constituição, quando prestou a ela juramento;
- Cumpriu-a e fez cumpri-la, sendo o primeiro Presidente da República a exercer mandato sob a
sua égide; e
- Participou das comemorações alusivas aos seus 30 anos.
Cabe ressaltar que a Assembleia Constituinte foi instalada em 1º de fevereiro de 1987 e vigeu
por 20 meses, ou seja, 1 ano, 8 meses e 4 dias, até a promulgação da Constituição em 5 de outubro de
1988.
Desde então, a nova Carta Política do País produziu diversos frutos que nos permitem proferir
algumas conclusões.
O País se transformou.
79
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Realizamos oito eleições diretas para Presidente da República.
Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário retomaram a sua plenitude institucional dentro da
nova ordem constitucional.
O Estado Democrático de Direito se restabeleceu.
A história constitucional do Brasil amadureceu.
O professor José Afonso da Silva afirmou que nenhuma Constituição foi tão estudada e
difundida, graças aos jovens constitucionalistas que vêm se formando sob a sua égide, fazendo-a
conhecida nas escolas de Direito de nosso País.
Críticas ao texto constitucional têm dividido as opiniões dos especialistas nesses 30 anos. Muito
se discutiu, e ainda se discute, sobre a forma da Carta, excessivamente analítica, para alguns. A
propósito desse dilema, escreveu o constitucionalista alemão Konrad Hesse em sua obra “A força
normativa da Constituição”, que “quanto mais o conteúdo de uma Constituição lograr corresponder à
natureza singular do presente, tanto mais seguro há de ser o desenvolvimento da força normativa”.
E aduziu que é preciso que a Carta leve em conta “os elementos sociais, políticos e econômicos
dominantes, mas também que, principalmente, incorpore o estado espiritual de seu tempo”.
Eis um dos grandes méritos da Constituição de 1988. Atenta ao estado de espírito vigente à
época da sua feitura, que ansiava pela redemocratização, restou marcada na Carta a maior inserção do
cidadão e a valorização da cidadania e da soberania popular, inclusive na vigilância e na fiscalização
dos atos de gestão da coisa pública.
Nesse processo evolutivo, as Instituições se renovaram, aperfeiçoaram-se, entre elas o Tribunal
de Contas da União, graças ao alargamento excepcional de suas competências e formas de avaliação de
desempenho da Administração Pública.
Mais ainda, a Constituição de 1988 incorporou um novo enfoque nas ações de controle externo,
com a possibilidade de auditorias operacionais e de acompanhamento de políticas públicas e
programas de governo. Isso decorre da inserção no caput do art. 70 da fiscalização de natureza
operacional, o que submete à competência fiscalizadora do TCU a concepção e a execução dos
projetos e atividades custeados com recursos federais1
A nova realidade constitucional exigiu do Tribunal elevado esforço e dinamismo dos diversos
ministros que ocuparam a Presidência da Corte desde a sua promulgação. Era preciso preparar a
Instituição para o cumprimento da missão afeta ao aprimoramento da Administração Pública em
benefício da sociedade.
Associando-se às comemorações, o TCU editou a publicação intitulada “O Tribunal de Contas
da União e os 30 Anos da Constituição Federal de 1988”, a qual tenho a satisfação de apresentar e
distribuir a Vossas Excelências nesta solenidade.
Nesta obra, procuramos analisar, e registrar, as transformações processadas na Corte de Contas
em razão do advento da nova ordem constitucional.
Corte de Contas de tradição mais que centenária, gestada ainda no Império, em 1840, nas ideias
do Senador e então Ministro da Fazenda Manuel Alves Branco, consolidadas em projeto de lei em
1845, mas que só veio a nascer em berço republicano, ao transformar-se em norma no ano de 1890, na
forma do Decreto 966-A, de ideal democrático.
Foram dezessete presidentes que conduziram a Casa desde a data da promulgação da nova
Constituição. Dezessete maneiras de pensar. Dezessete universos, diríamos sem risco de exagerar.
Multiplicidade de gestões que, no entanto, não impediu que houvesse unidade. Unidade de orientação
institucional e administrativa. Unidade de propósito. Unidade de pensamento, sempre em direção ao
futuro, como se pode depreender dos documentos colacionados na obra.
1 Constituição da República: um projeto de nação – Homenagem aos 30 anos
Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Federal, 2018,
Página 395 – Trinta Anos de Consolidação Democrática – Raimundo Carreiro Silva
80
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Em reverência à memória dessa trajetória de 30 anos, e em homenagem a esses ilustres
presidentes que foram responsáveis por assegurar unidade e perenidade ao Tribunal, fizemos esse
marco para a posteridade, consignando – gestão a gestão – as ações que testemunham a evolução da
Corte de Contas sob a égide da atual Carta Política.
A propósito de cada uma delas, vai incluído um breve perfil que narra, sucintamente, a trajetória
e as principais realizações promovidas pelo Presidente, notadamente em relação às novas
competências advindas da Constituição de 1988. Acompanham esse perfil cópias dos discursos de
posse e de despedida da Presidência da Corte de Contas, nos quais se pode escutar, na própria voz do
realizador, em interpretação autêntica, as intenções acerca do que pretendia realizar e do que lhe foi
possível alcançar no período em que esteve conduzindo os destinos da Casa.
Por certo que os limites reduzidos de um único volume não são suficientes para registrar com
justiça todas as realizações levadas a efeito por cada uma dessas dezessete gestões. Cada uma de per si
mereceu relatórios trimestrais e anuais de suas atividades e de seus feitos, todos devidamente
encaminhados ao Congresso Nacional, nos termos da Constituição, documentos que hoje são parte
integrante da história da Corte de Contas.
Por fim, no posfácio foram inseridos fatos que nos evoca à memória toda a história do Tribunal,
desde a sua instalação em 1893, passando pelo período conhecido como Estado Novo e chegando aos
dias atuais, nos fazendo rememorar momentos em que o respaldo constitucional foi fundamental para a
permanência da instituição há 128 anos na história da República do Brasil.
O que se obtém com a obra que ora lhes apresento é um mosaico humano – um quadro vivo – no
qual, ainda que esboçados sinteticamente, vislumbram-se os traços e o estilo de cada Presidente,
capazes de dar testemunho sobre a maneira como cada um desses homens públicos soube, a serviço de
seu País e da sociedade, extrair da nova Constituição promulgada em 1988 os meios e as ferramentas
para dar a sua pessoal contribuição para o soerguimento desse grande edifício de proteção dos
recursos públicos federais.
Faço votos para que a leitura desta obra permita-lhes assimilar ainda mais conhecimento sobre o
Tribunal de Contas da União, cuja missão, atribuída pela Constituição, tem se revelado ao longo da
história de grande importância para a sociedade brasileira.
Muito obrigado!
Comunicação proferida pelo Ministro Benjamin Zymler.
COMUNICAÇÃO
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Comunico a Vossas Excelências que, no dia 9 de novembro último, fui sorteado relator do TC
033.854/2018-1, que trata de processo administrativo instaurado no âmbito da Comissão de
Regimento, versando sobre projeto de resolução que cria um novo Regimento Interno para este
Tribunal.
A proposta resultou de trabalho realizado pela Comissão de Regimento a partir de diretrizes
fixadas pelo Plenário desta Casa, tendo como objetivo principal a adequação das regras processuais
aplicáveis ao processo de controle externo às inovações trazidas pelo novo Código de Processo Civil
instituído pela Lei 13.105/2015, que, expressamente, determinou a aplicação das normas nele contidas,
de forma supletiva e subsidiária, ao processo administrativo.
81
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Nas palavras do Presidente da Comissão de Regimento deste Tribunal:
“A proposta concluída neste ano (...) é organizada em cinco livros: o primeiro, destinado a
dispor sobre a natureza, competência, jurisdição e organização do Tribunal; o segundo, a disciplinar
sobre as atividades de controle externo; o terceiro, a regular o processo no Tribunal; o quarto, a
cuidar da atuação dos órgãos colegiados; e o último, a apresentar as disposições finais.
O projeto ora apresentado reorganiza o Regimento existente, incorpora-lhe novos dispositivos e
o aproxima do texto consagrado no Código de Processo Civil de 2015, de viés democrático e aderente
ao modelo constitucional do processo.
Sob esse jaez, o projeto apresenta as normas que fundamentam o processo de controle externo e
expõe, de forma clara e objetiva, os direitos, deveres e responsabilidades das partes. Além de prever a
responsabilidade por dano processual, reconhece a figura do amicus curiae e institucionaliza a
realização de audiências e consultas públicas.
Consagra a distribuição de processos por sorteio, mas mantém a vinculação de lista de unidades
jurisdicionadas previamente sorteadas ao relator, mormente nos casos em que seja indispensável
garantir visão sistêmica sobre determinados órgãos e entidades jurisdicionados.
A norma regimental proposta dispõe, com clareza, sobre a conexão e a compensação entre
processos, assim como a distribuição por dependência. Também estabelece rito para a solução de
eventuais conflitos – positivos ou negativos – de competência.
Houve especial cuidado para disciplinar e diferenciar os diversos atos de comunicação
processual (citação, audiência, intimação, diligência e notificação), além de dispor sobre a
desconsideração direta e inversa da personalidade jurídica, em consonância com as regras aplicáveis
ao processo civil.
Para privilegiar a transparência e a celeridade processual, prevê a criação do diário eletrônico
do TCU, que concentrará as publicações de natureza processual, e estabelece a realização de sessões
virtuais do Plenário e das câmaras, seguindo modelo instituído nos tribunais judiciários.
Durante os trabalhos de revisão do Regimento Interno, foram acolhidas demandas da Ordem
dos Advogados do Brasil, em especial no que se refere à contagem dos prazos processuais em dias
úteis e à suspensão desses mesmos prazos no período de recesso do Tribunal, que passa a coincidir
com o período de suspensão dos prazos do processo civil: entre 20 de dezembro e 20 de janeiro.
Da mesma forma, foram ponderadas as considerações formuladas sobre questão de ordem
apresentada pelo E. Ministro Vital do Rêgo em 1º/11/2016 (peças 27 e 28 do TC 016.305/2012-4) e as
conclusões decorrentes do grupo de trabalho instituído para promover estudo sobre o exercício do
contraditório e da ampla defesa em processos de controle externo, como determinado pelo Acórdão
3.188/2014-TCU-Plenário (peças 3 e 19 do TC 016.305/2012-4).”
Acrescento que a Comissão de Regimento, composta pelos Ministros Walton Alencar Rodrigues,
Presidente, José Múcio Monteiro, Relator, e Bruno Dantas, manifestou-se favoravelmente ao projeto.
Assim, nos termos do art. 75 do RITCU, submeto a este Colegiado proposta de abertura de prazo
de 90 (noventa) dias para recebimento de emendas dos Ministros ou sugestões dos Ministros-
Substitutos e da Procuradora-Geral junto a este Tribunal.
Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2019.
BENJAMIN ZYMLER
Ministro
Comunicação proferida pelo Ministro Aroldo Cedraz.
COMUNICAÇÃO DO MINISTRO AROLDO CEDRAZ
82
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Comunico que fui sorteado para relatar o TC 034.481/2018-4, que trata do Anteprojeto de
Decisão Normativa anual que disciplina sobre as unidades prestadoras de contas cujos responsáveis
terão as contas de 2018 julgadas pelo Tribunal, conforme previsão no art. 4º da IR-TCU 63/2010.
Assim sendo e em conformidade com o disposto no art. 75, § 1º, do Regimento Interno desta
Corte, submeto à elevada apreciação deste Plenário proposta de abertura de prazo de 8 (oito) dias para
apresentação de emendas pelos Srs. Ministros e sugestões pelos Srs. Ministros-Substitutos e pela Sra.
Procuradora-Geral do Ministério Público junto ao TCU.
Para melhor conhecimento da matéria e em atendimento ao princípio da racionalidade
administrativa, solicito que a Secretaria das Sessões torne disponível cópia do mencionado Anteprojeto
aos Gabinetes de Vossas Excelências, considerando-se cumprido, nesta etapa, o art. 4º, § 2º, da
Resolução-TCU 234/2010, com a ciência, aos relatores, do resultado da seleção preliminar efetuada
pelas unidades técnicas.
Sala das Sessões, 14 de novembro de 2018.
AROLDO CEDRAZ
Ministro
DECISÃO NORMATIVA-TCU Nº xxx, de x de xxxxxxx de 2018
Dispõe sobre a relação das unidades prestadoras de contas cujos responsáveis terão as contas de
2018 julgadas pelo Tribunal e especifica a forma, os prazos e os conteúdos para a elaboração das peças
de responsabilidade dos órgãos de controle interno e das instâncias supervisoras que comporão os
processos de contas, nos termos do art. 4º da Instrução Normativa TCU 63, de 1º de setembro de 2010.
O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, no uso de suas atribuições constitucionais, legais e
regimentais.
Considerando o poder regulamentar que lhe confere o art. 3º da Lei 8.443, de 16 de julho de
1992, para expedir normativos sobre matéria de suas atribuições e sobre a organização dos processos
que lhe devam ser submetidos, obrigando ao seu cumprimento.
Considerando o comando do art. 4º da Instrução Normativa TCU 63, de 1º de setembro de 2010
(IN TCU 63/2010).
Considerando ainda os estudos desenvolvidos no âmbito do TC 022.858/2018-0 resolve:
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES E ABRANGÊNCIA
Art. 1º A relação das unidades prestadoras de contas cujos responsáveis terão as contas de 2018
julgadas pelo Tribunal, a forma, o prazo de apresentação e os conteúdos das peças de responsabilidade
dos órgãos de controle interno e das instâncias supervisoras que comporão os processos de contas
observarão o disposto nesta decisão normativa.
Art. 2º Os responsáveis pelas unidades relacionadas no Anexo I terão as contas do exercício de
2018 julgadas pelo Tribunal, com base na competência prevista no inciso II do art. 71 da Constituição
Federal e de acordo com as disposições do art. 16 da Lei 8.443/1992 e desta decisão normativa.
§ 1º Os responsáveis pelas unidades prestadoras de contas não relacionadas no Anexo I poderão
ter as contas do exercício de 2018 julgadas por determinação do Tribunal ou do ministro relator,
ocasião em que serão fixados os prazos para a apresentação e os conteúdos das peças de que trata o art.
3º.
83
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
§ 2º Os gestores devem ser arrolados nas contas conforme os critérios que constam do art. 10 da
IN TCU 63/2010 e do art. 6º da DN TCU 170/2018.
DA APRESENTAÇÃO E ADMISSIBILIDADE DAS PEÇAS
Art. 3º Os órgãos de controle interno e as autoridades supervisoras de que trata o art. 1º devem
apresentar as informações ou peças relacionadas nos incisos a seguir, observando as disposições desta
decisão normativa, as orientações inseridas no Sistema de Prestação de Contas (Sistema e-Contas) e as
disposições do art. 13 da IN TCU 63/2010:
I - relatório de auditoria, certificado de auditoria e parecer do dirigente do órgão de controle
interno, a ser apresentado pelo órgão de controle interno;
II - pronunciamento do ministro supervisor ou de autoridade equivalente, a ser apresentado pela
autoridade responsável por supervisionar a gestão da unidade prestadora de contas.
§ 1º O relatório de auditoria é o documento que apresenta informações e conclusões da auditoria
realizada nas contas pelo órgão de controle interno, abrangendo métodos, evidências e fundamentação
para as constatações apontadas, de forma suficiente para subsidiar o julgamento das contas.
§ 2º O certificado de auditoria é o documento que formaliza a opinião quanto à regularidade da
gestão. A opinião deve estar fundamentada em evidências suficientes e adequadas descritas no
relatório de auditoria.
§ 3º As peças de que trata o caput devem ser apresentadas exclusivamente por intermédio do
Sistema e-Contas.
§ 4º Os responsáveis pela elaboração das peças devem observar as orientações contidas no
Sistema e-Contas.
§ 5º A unidade técnica do TCU à qual se vincula cada unidade prestadora de contas orientará, até
1/2/2019, sobre as providências necessárias à habilitação dos usuários para uso do Sistema e-Contas.
Art. 4º As peças de que trata o art. 3º que estiverem em desacordo com as formas, os conteúdos e
as orientações da IN TCU 63/2010, desta decisão normativa e do Sistema e-Contas poderão ser
devolvidas pela unidade técnica à unidade responsável pela sua apresentação ao Tribunal para
realização dos ajustes necessários, com fixação de novo prazo para a reapresentação da peça corrigida.
Parágrafo único. A não correção das falhas no prazo fixado de acordo com o caput sujeitará os
responsáveis à multa prevista no art. 58 da Lei 8.443/1992.
Art. 5º O órgão de controle interno poderá, nas mesmas condições do caput do artigo anterior,
solicitar à unidade prestadora de contas a substituição da peça incorreta.
Parágrafo único. O órgão de controle interno deve avaliar a pertinência de considerar as
desconformidades de que trata este artigo na opinião a ser expressa no certificado de auditoria.
Art. 6º As peças e informações de que trata a DN TCU 170/2018, bem como as previstas no art.
3º desta decisão normativa, somente poderão ser substituídas no Sistema e-Contas com a homologação
do procedimento pela respectiva unidade técnica e até a autuação do processo de contas, prevista no
art. 22 desta decisão normativa.
DOS PRAZOS DE APRESENTAÇÃO DAS PEÇAS
Art. 7º O órgão de controle interno deve apresentar as peças de sua responsabilidade até a data
limite fixada no Anexo I, cabendo às autoridades supervisoras o prazo sucessivo de quinze dias.
§ 1º A solicitação de prorrogação de prazo para apresentação das peças deve ser encaminhada
pelo órgão de controle interno ou pela autoridade supervisora à unidade técnica do Tribunal
responsável pela respectiva unidade prestadora da conta para análise, observados os termos do art. 7º
da Instrução Normativa TCU 63/2010.
§ 2º Como medida de racionalização e economia processual, fica a unidade técnica autorizada a
conceder, com base nas justificativas apresentadas e após exame de admissibilidade, prorrogação de
até 30 dias nos prazos, bem como proceder os ajustes no Sistema e-Contas.
84
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
§3º Na situação prevista no parágrafo anterior, ficam dispensadas a solicitação pelas autoridades
previstas no art. 7º da IN TCU 63/2010 e a autuação de processo, sendo suficientes a comunicação
escrita entre o dirigente do órgão de controle interno e a respectiva unidade técnica do Tribunal, bem
como o registro da nova data nos sistemas de suporte pertinentes.
§ 4º Os pedidos de prorrogação de prazo superior a 30 dias serão submetidos ao relator e tratados
nos termos do art. 12 da Resolução TCU 234/2010.
Art. 8º A prorrogação do prazo do órgão de controle interno posterga automaticamente o início
do prazo para emissão do pronunciamento pela autoridade supervisora.
Art. 9º A prorrogação de prazo para entrega das peças de responsabilidade da unidade prestadora
de contas posterga automaticamente e no mesmo montante a data limite prevista no Anexo I desta
decisão normativa para o envio das peças de responsabilidade do órgão de controle interno e da
autoridade supervisora.
Parágrafo único. Os novos prazos, de que trata o art. 4º, concedidos à unidade prestadora de
contas para substituição de conteúdo inconsistente poderão, a critério da unidade técnica do Tribunal,
ser acrescidos aos prazos do órgão de controle interno e da autoridade supervisora das respectivas
contas.
Art. 10. O órgão de controle interno deve verificar se o rol de responsáveis elaborado pela
unidade prestadora de contas está em conformidade com os dispositivos da IN TCU 63/2010, da DN
TCU 170/2018 bem como com as orientações do Sistema e-Contas.
Parágrafo único. O órgão de controle interno poderá propor, no seu relatório de auditoria, ajustes
no rol de responsáveis para melhor adequação ao disposto no art. 6º da DN TCU 170/2018, ou em
razão de relevância da atuação na gestão da unidade prestadora de contas ou ainda em razão da
constatação de solidariedade na prática de atos de gestão irregular e com impacto relevante na gestão.
DA AUDITORIA NAS CONTAS
Art. 11. A auditoria anual nas contas é o conjunto de todos os trabalhos de auditoria
desenvolvidos pela função de auditoria interna dos órgãos e entidades que compõem o Sistema de
Controle Interno do Poderes da União e pelo TCU, ou ainda em colaboração ou cooperação entre estes
e as auditorias independentes, de acordo com seus planos anuais de auditoria e de controle externo.
Art. 12. A auditoria anual nas contas tem por objetivo fomentar a boa governança pública,
aumentar a transparência, provocar melhorias na prestação de contas dos órgãos e entidades federais,
induzir a gestão pública para resultados e fornecer opinião sobre como as contas devem ser julgadas
pelo Tribunal.
Parágrafo único. As conclusões da auditoria devem ter como base a análise:
I - da legalidade, legitimidade e economicidade dos atos de gestão;
II - da confiabilidade e efetividade dos controles internos relacionados à consecução dos
objetivos institucionais e à elaboração das demonstrações contábeis e de relatórios financeiros;
III - do desempenho da gestão;
IV- da exatidão das demonstrações contábeis.
Art. 13. No planejamento da auditoria nas contas, o órgão de controle interno deve considerar o
contexto e as particularidades da gestão da unidade auditada, tendo ainda como referência para a
definição do escopo:
I - o exercício a que se referem as contas auditadas.
II - os conteúdos exigidos nos relatórios de gestão das unidades prestadoras de contas, conforme
Anexo II da DN TCU 170/2018 e Sistema e-Contas;
III - os conteúdos indicados no Anexo II desta decisão normativa;
IV - os trabalhos de acompanhamento da gestão realizados com base nas competências
estabelecidas nos incisos I, II e III do art. 74 da Constituição Federal;
85
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
V - as definições acordadas com as unidades técnicas do Tribunal, conforme §§ 2º e 3º deste
artigo.
§ 1º O órgão de controle interno deve utilizar-se de abordagem baseada em risco para definição
do escopo da auditoria e da natureza e extensão dos procedimentos a serem aplicados.
§ 2º As unidades técnicas do Tribunal podem, em comum acordo com os respectivos órgãos de
controle interno e em razão da necessidade de acompanhamento de aspecto específico e relevante da
gestão da unidade auditada, propor ajustes no escopo da auditoria nas contas.
§ 3º O acordo celebrado entre a unidade técnica e o órgão de controle interno de que trata o
parágrafo anterior configurará peça do processo de contas da unidade auditada.
Art. 14. O órgão de controle interno deve buscar a adoção de padrões internacionais na condução
da auditoria nas contas, especialmente aqueles relacionados a trabalhos de asseguração, de forma a
garantir a credibilidade e aumentar a segurança dos usuários em relação aos resultados da auditoria.
Parágrafo único. O órgão de controle interno deve, sempre que necessário para a robustez da
opinião sobre a gestão da unidade auditada, utilizar amostragem para representar adequadamente o
universo sobre o qual a opinião será emitida.
Art. 15. O relatório de auditoria deve:
I - orientar-se, no mínimo, pelos requisitos de clareza, convicção, concisão, completude,
exatidão, relevância, tempestividade e objetividade;
II - conter elementos suficientes para a compreensão do objetivo, do escopo e das limitações do
escopo da auditoria; e
III - detalhar a metodologia utilizada para a avaliação da gestão da unidade auditada e, quando
for o caso, para a escolha de amostras.
IV – conter informações e evidências suficientes e adequadas para a avaliação de
responsabilização em relação a distorções, irregularidades ou ressalvas relevantes, inclusive quanto a
aspectos de governança de competência da alta administração.
Parágrafo único. As unidades de auditoria interna ou equivalentes integrantes da estrutura de
unidades prestadoras de contas dos Poderes Legislativo e Judiciário, assim como do Conselho
Nacional do Ministério Público, do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União; e
as Secretarias de Controle Interno dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa, bem como os
Órgãos de Controle Interno dos Comandos Militares, integrantes do Poder Executivo, em razão de
desempenharem nas contas o papel de órgão de controle interno disposto no art. 74 da Constituição
Federal, devem incluir também no relatório de auditoria as informações consideradas relevantes sobre
sua atuação, funcionamento e relacionamento com a alta administração da unidade prestadora das
contas.
Art. 16. O órgão de controle interno deve considerar, para emissão de opinião, a gestão integral
da unidade prestadora de contas ainda que se utilize de amostras, de forma a considerar as principais
ações empreendidas.
Art. 17. A opinião do órgão de controle interno deverá considerar a significância ou relevância
das eventuais irregularidades, distorções, impropriedades ou constatações apuradas, inclusive quanto
ao seu impacto sobre as informações acerca do desempenho e do alcance dos objetivos da unidade
prestadora de contas.
§ 1º Para efeito do disposto no caput, consideram-se as seguintes definições:
a) irregularidade: ato comissivo ou omissivo, que caracterize ilegalidade, ilegitimidade,
antieconomicidade ou qualquer infração a norma constitucional ou infraconstitucional de natureza
contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial, bem como aos princípios da
Administração Pública;
b) impropriedade: falha de natureza formal que não caracterize inobservância de princípios e
normas constitucionais e legais que regem a Administração Pública Federal na execução dos
orçamentos da União e nas demais operações realizadas com recursos públicos federais;
86
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
c) distorção: diferença entre a informação contábil declarada e a informação contábil requerida,
considerando a estrutura de relatório financeiro aplicável, no que concerne ao valor, à classificação, à
apresentação ou à divulgação de um item das demonstrações financeiras;
§ 2º A opinião emitida pelo órgão de controle interno nas conclusões do relatório de auditoria e
no certificado devem estar suportadas por evidência suficiente e adequada, de acordo os seguintes
conceitos:
I - suficiência da evidência é a medida da sua quantidade. A quantidade necessária da evidência
de auditoria é afetada pelos riscos avaliados e pela qualidade da evidência;
II - adequação da evidência de auditoria é a medida da sua qualidade, isto é, a sua relevância e
confiabilidade para suportar as conclusões em que se fundamenta a opinião de auditoria.
§ 3º Caso não tenha obtido evidência suficiente e adequada em decorrência de restrição de
acesso a informações ou omissão do auditado, o órgão de controle interno pode se abster de emitir
opinião no certificado de auditoria, desde que faça constar do relatório de auditoria todas as iniciativas
adotadas para a tentativa de emissão de opinião sobre a gestão dos responsáveis.
§ 4º Para a emissão de opinião pela irregularidade das contas, o órgão de controle interno deve
avaliar a representatividade da irregularidade verificada com base no corte de materialidade
estabelecido no planejamento e nos seus efeitos na gestão integral da unidade auditada.
§ 5º Considera-se materialidade o aspecto utilizado para determinar a importância relativa de
uma irregularidade na execução dos orçamentos e nas demais operações realizadas com recursos
públicos federais ou de uma distorção contábil, podendo ser:
a. qualitativa, baseado na sua natureza; ou,
b. quantitativa, considerando sua magnitude, obtida por meio de critérios econômicos, de análises
estatísticas ou da aplicação de uma porcentagem sobre um referencial das demonstrações
financeiras ou do relatório sobre a execução do orçamento.
Art. 18. Os atos de gestão praticados por responsáveis arroláveis conforme o art. 10 da IN TCU
63/2010 e o art. 6º da DN TCU 170/2018 com ocorrência que indique a ressalva ou irregularidade das
contas devem ser caracterizados com base nos elementos constantes do Anexo III desta norma e na
forma definida no Sistema e-Contas.
Art. 19. Caso seja identificada irregularidade cometida por responsável não arrolável no processo
de contas com base no disposto no art. 10 da IN TCU 63/2010 e no art. 6º da DN TCU 170 /2018, ou
relativa a fato ocorrido fora do período de abrangência das contas em análise, esgotadas as
possibilidades de apuração e responsabilização no âmbito administrativo interno, o órgão de controle
interno deve:
I - representar ao Tribunal de Contas da União nos termos do § 1º do art. 74 da Constituição
Federal, c/c o art. 51 da Lei 8.443/1992 e com o inciso II do art. 237 do Regimento Interno do Tribunal
de Contas da União;
II - informar em capítulo específico do relatório de auditoria, sempre que as irregularidades
puderem repercutir no julgamento da gestão dos responsáveis arrolados, síntese das irregularidades
cometidas, avaliando os possíveis reflexos no julgamento da gestão dos responsáveis arrolados e
indicando as providências adotadas para saná-las.
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 20. Para fins de constituição do processo de contas anuais pelo Tribunal, será considerado o
relatório de gestão enviado nos termos da DN TCU 170/2018, ficando as unidades prestadoras de
contas relacionadas no Anexo I desta decisão normativa dispensadas do seu reenvio no momento da
entrega das peças de que trata o caput deste artigo.
§ 1º O órgão de controle interno deve avaliar as informações prestadas no relatório de gestão
pelos dirigentes de cada unidade prestadora de contas, no mínimo, quanto à completude e à veracidade.
87
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
§ 2º Os relatórios de gestão das unidades relacionadas no Anexo I desta decisão normativa serão
publicados no Portal do Tribunal na Internet após a conclusão dos trabalhos do respectivo órgão de
controle interno.
Art. 21. As unidades prestadoras de contas relacionadas no Anexo I desta decisão normativa que
tenham suprimido do relatório de gestão informações sujeitas a sigilo com base no art. 8º da DN TCU
170/2018 devem manter tais informações sob sua guarda e franquear o acesso ao Tribunal e ao órgão
de controle interno respectivo, quando solicitado.
Art. 22. O dirigente máximo de unidade prestadora de contas relacionada no Anexo I desta
decisão normativa deve garantir amplo acesso do respectivo órgão de controle interno às informações
sobre a gestão necessárias à realização da auditoria nas contas de 2018, conforme estabelecido no
inciso II do art. 50 da Lei 8.443/1992.
Art. 23. Os processos de contas anuais das unidades relacionadas no Anexo I desta decisão
normativa serão autuados pelas unidades técnicas no sistema de processo eletrônico do Tribunal em até
quinze dias após a conclusão dos trabalhos da autoridade supervisora das contas no e-Contas.
Art. 24. Os órgãos de controle interno e as unidades de auditoria interna podem encaminhar, até
25/2/2019, sugestões para a elaboração das peças e dos conteúdos de que tratará a decisão normativa
prevista no art. 4º da IN TCU 63/2010, relativa ao exercício de 2019.
Art. 25. Esta decisão normativa entra em vigor na data de sua publicação.
88
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ANEXO I À DECISÃO NORMATIVA-TCU Nº xxx, DE 2018
UNIDADES PRESTADORAS DE CONTAS CUJOS
RESPONSÁVEIS TERÃO AS CONTAS DE 2018 JULGADAS
DATA
LIMITE
PARA A
ATUAÇ
ÃO DO
OCI
PODER LEGISLATIVO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Câmara dos Deputados (CD) 31/7/2019
Tribunal de Contas da União (TCU) 31/8/2019
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Superior Tribunal de Justiça (STJ) 31/7/2019
Supremo Tribunal Federal (STF) 31/7/2019
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) 31/7/2019
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF 1ª Região) 31/7/2019
Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF 5ª Região) 31/7/2019
JUSTIÇA DO TRABALHO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região/SP (TRT/SP) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região/MG (TRT/MG) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região/PE (TRT/PE) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região/PA e AP (TRT/PA e AP) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região/AM e RR (TRT/AM e RR) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região/PB (TRT/PB) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região/AC e RO (TRT/AC e RO) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região - Campinas/SP (TRT/Campinas) 31/7/2019
Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região/GO (TRT 18ª Região/GO) 31/7/2019
JUSTIÇA ELEITORAL
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE/MG) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE/RO) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE/RR) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE/AC) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE/MA) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul (TRE/MS) 31/8/2019
89
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso (TRE/MT) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE/PA) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE/PR) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE/RN) 31/8/2019
Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE/RS) 31/8/2019
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 31/8/2019
JUSTIÇA MILITAR
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Superior Tribunal Militar (STM) 31/7/2019
FUNÇÃO ESSENCIAL À JUSTIÇA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) 31/7/2019
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) 31/7/2019
Ministério Público Federal (MPF) 31/7/2019
Ministério Público Militar (MPM) 31/7/2019
PODER EXECUTIVO
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Gabinete de Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro (GIFRJ) 31/7/2019
Secretaria de Governo da Presidência da República 31/7/2019
Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) 31/7/2019
Empresa Pública
Empresa Brasil de Comunicação S.A. (EBC) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Empresa Pública
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) 30/9/2019
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
90
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Agência Espacial Brasileira (AEB) 31/7/2019
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) 31/7/2019
Empresa Pública
Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada S.A. (Ceitec) 30/9/2019
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) 30/9/2019
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) 30/9/2019
Fundo
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) 31/7/2019
Organização Social
Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) 30/9/2019
Sociedade de Economia Mista
Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB) 30/9/2019
Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA CULTURA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Cultura (MinC) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) 31/7/2019
Fundação
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) 31/7/2019
Fundação Nacional de Saúde (Funasa) 31/7/2019
MINISTÉRIO DA DEFESA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Defesa (MD) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA DEFESA/COMANDO DA AERONÁUTICA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Comando da Aeronáutica (ComAer) 30/9/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Caixa de Financiamento Imobiliário da Aeronáutica (CFIAe) 31/8/2019
MINISTÉRIO DA DEFESA/COMANDO DA MARINHA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Comando da Marinha (CMar) 30/9/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Empresa Pública
Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA DEFESA/COMANDO DO EXÉRCITO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
91
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Órgão Público
Comando do Exército (CEx) 31/8/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Empresa Pública
Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Educação (MEC) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet/MG) 31/7/2019
Colégio Pedro II (CPII) 31/7/2019
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
(IFSULDEMINAS) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
(IFRS) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro
(IFTM) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) 31/7/2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IFGoiano) 31/7/2019
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) 31/7/2019
Universidade Federal de Goiás (UFG) 31/7/2019
Universidade Federal do Cariri (UFCA) 31/7/2019
Universidade Federal da Bahia (UFBA) 31/7/2019
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) 31/7/2019
Universidade Federal de Alfenas (Unifal) 31/7/2019
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 31/7/2019
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 31/7/2019
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) 31/7/2019
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) 31/7/2019
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 31/7/2019
Universidade Federal Fluminense (UFF) 31/7/2019
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) 31/7/2019
Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) 31/7/2019
92
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) 31/7/2019
Empresa Pública
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) 30/9/2019
Fundação
Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) 31/7/2019
Fundação Universidade do Amazonas (UFAM) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal de Uberlândia (UFU) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal de Viçosa (UFV) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do ABC (UFABC) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do Maranhão (UFMA) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do Piauí (UFPI) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do Tocantins (UFT) 31/7/2019
Fundação Universidade Federal do Acre (UFAC) 31/7/2019
MINISTÉRIO DA FAZENDA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Fazenda (MF) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 31/7/2019
Superintendência de Seguros Privados (Susep) 31/7/2019
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) 31/7/2019
Empresa Pública
Caixa Econômica Federal (CEF) 30/9/2019
CAIXA Participações S.A. (CaixaPar) 30/9/2019
Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) 30/9/2019
Fundo
Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) 31/7/2019
Fundo de Garantia para a Construção Naval 30/9/2019
Sociedade de Economia Mista
Banco da Amazônia S.A. (Basa) 30/9/2019
Banco do Brasil S.A. (BB) 30/9/2019
Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA INDÚSTRICA, COMÉRCIO E SERVIÇOS
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) 31/7/2019
93
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) 31/7/2019
Serviço Social Autônomo
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (Sebrae/BA) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba (Sebrae/PB) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae/MG) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Roraima (Sebrae/RR) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae/SC) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (Sebrae/AM) 30/9/2019
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Goiás (Sebrae/GO) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL
ADMINITRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Integração Nacional (MI) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Empresa Pública
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf) 30/9/2019
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Justiça (MJ) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) 31/7/2019
MINISTÉRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Segurança Pública (MSP) 31/7/2019
MINISTÉRIO DA SAÚDE
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Hospital Federal da Lagoa (HFL) 31/7/2019
Hospital Federal Ipanema (HFI) 31/7/2019
Hospital Federal do Andaraí (HFA) 31/7/2019
Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) 31/7/2019
Ministério da Saúde (MS) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 31/7/2019
Empresa Pública
Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras) 30/9/2019
Fundação
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) 31/7/2019
Sociedade de Economia Mista
94
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Hospital Nossa Senhora da Conceição S.A. 30/9/2019
MINISTÉRIO DA TRANSPARÊNCIA, FISCALIZAÇÃO E CONTROLADORIA-
GERAL DA UNIÃO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União
(CGU) 31/7/2019
MINISTÉRIO DAS CIDADES
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério das Cidades (MiCi) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Sociedade de Economia Mista
Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. (Trensurb) 30/9/2019
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério das Relações Exteriores (MRE) 31/7/2019
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério de Minas e Energia (MME) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) 31/7/2019
Empresa Pública
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) 30/9/2019
Sociedade de Economia Mista
Amazonas Distribuidora de Energia S.A. 30/9/2019
Amazonas Geração e Transmissão de Energia S.A. (Amazonas GT) 30/9/2019
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) 30/9/2019
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte) 30/9/2019
Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) 30/9/2019
Eletrobrás Distribuição Rondônia (Ceron) 30/9/2019
Furnas Centrais Elétricas S.A. (Furnas) 30/9/2019
Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) 30/9/2019
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
ADMINSTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Desenvolvimento Social (MDSA) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) 31/7/2019
Serviço Social Autônomo
95
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Administração Regional do SESC no Estado de Alagoas (Sesc/AL) 30/9/2019
Administração Regional do SESC no Estado de Minas Gerais (Sesc/MG) 30/9/2019
Administração Regional do SESC no Estado de Roraima (Sesc/RR) 30/9/2019
Administração Regional do SESC no Estado de São Paulo (Sesc/SP) 30/9/2019
Administração Regional do SESC no Estado do Amapá (Sesc/AP) 30/9/2019
Administração Regional do SESC no Estado do Piauí (Sesc/PI) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado de Roraima (SESI/RR) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado do Ceará (SESI/CE) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado do Amapá (Sesi/AP) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado do Espírito Santo (Sesi/ES) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado do Mato Grosso do Sul (Sesi/MS) 30/9/2019
Departamento Regional do Sesi no Estado do Rio de Janeiro (Sesi/RJ) 30/9/2019
Serviço Social do Comércio - Administração Nacional (SESC) 30/9/2019
MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério dos Direitos Humanos (MDH) 31/7/2019
MINISTÉRIO DO ESPORTE
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Esporte (ME) 31/7/2019
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Meio Ambiente (MMA) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) 31/7/2019
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Empresa Pública
Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias S.A. (ABGF) 30/9/2019
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) 30/9/2019
Fundação
Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder
Executivo (Funpresp-EXE) 31/7/2019
MINISTÉRIO DO TRABALHO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Trabalho (MT) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
96
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fundo
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) 30/11/201
9
Serviço Social Autônomo
Administração Regional do Senac no Distrito Federal (Senac/DF) 30/9/2019
Administração Regional do Senac no Estado de Pernambuco (Senac/PE) 30/9/2019
Administração Regional do Senac no Estado de Rondônia (Senac/RO) 30/9/2019
Administração Regional do Senac no Estado de Sergipe (Senac/SE) 30/9/2019
Administração Regional do Senac no Estado do Amazonas (Senac/AM) 30/9/2019
Administração Regional do Senac no Estado do Rio Grande do Norte
(Senac/RN) 30/9/2019
Administração Regional do Senar no Estado de Alagoas (Senar/AL) 30/9/2019
Administração Regional do Senar no Estado de Mato Grosso (Senar/MT) 30/9/2019
Administração Regional do Senar no Estado do Espírito Santo (Senar/ES) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Distrito Federal (Senai/DF) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado de Tocantins (Senai/TO) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado do Acre (Senai/AC) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado do Ceará (Senai/CE) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado do Mato Grosso do Sul (Senai/MS) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado do Piauí (Senai/PI) 30/9/2019
Departamento Regional do Senai no Estado do Rio de Janeiro (Senai/RJ) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - Unidade Nacional
(Sescoop/UN) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Distrito Federal
(Sescoop/DF) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado da Bahia
(Sescoop/BA) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo
(Sescoop/SP) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Acre
(Sescoop/AC) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Mato
Grosso do Sul (Sescoop/MS) 30/9/2019
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Rio
Grande do Sul (Sescoop/RS) 30/9/2019
MINISTÉRIO DO TURISMO
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério do Turismo (MTur) 31/7/2019
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, PORTOS E AVIAÇÃO CIVIL
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (MTPA) 31/7/2019
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Autarquia
97
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) 31/7/2019
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) 31/7/2019
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) 31/7/2019
Empresa Pública
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) 30/9/2019
VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. (Valec) 30/9/2019
Sociedade de Economia Mista
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) 30/9/2019
Companhia Docas do Maranhão (Codomar) 30/9/2019
ÓRGÃOS DE OUTROS ENTES FEDERATIVOS
DISTRITO FEDERAL
ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Órgão Público
Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) 31/7/2019
Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) 31/7/2019
CONSELHO DE PROFISSÕES
ENTE PARAESTATAL
Autarquia
CONSELHOS DO PROFISSIONAL DE ADMINISTRAÇÃO
Conselho Regional de Administração do Estado da Bahia (CRA/BA) 30/9/2019
CONSELHOS DO PROFISSIONAL DE ARQUITETURA E URBANISMO
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Rondônia (CAU/RO) 30/9/2019
CONSELHOS DO PROFISSIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de Roraima
(Crea/RR) 30/9/2019
CONSELHOS DO PROFISSIONAL DE ODONTOLOGIA
Conselho Federal de Odontologia (CFO) 30/9/2019
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ANEXO II À DECISÃO NORMATIVA-TCU Nº XX, DE X DE OUTUBRO DE 2018
CONTEÚDOS DE REFERÊNCIA PARA A DEFINIÇÃO DO ESCOPO DA AUDITORIA
NAS CONTAS DAS UNIDADES PRESTADORAS DE CONTAS RELACIONADAS NO ANEXO I
ITE
M
AVALIAÇÕES PASSÍVEIS DE SEREM CONTEMPLADAS NO
RELATÓRIO DE AUDITORIA
1.
Avaliação, considerando a natureza jurídica e o negócio da unidade prestadora da
conta (UPC), da conformidade das peças exigidas nos incisos I, II e III do art. 13
da IN TCU 63/2010 com as normas e orientações que regem a elaboração de tais
peças.
2.
Avaliação dos resultados quantitativos e qualitativos da gestão, em especial quanto
à eficácia e eficiência no cumprimento dos objetivos estabelecidos no PPA como
de responsabilidade da UPC auditada, dos objetivos estabelecidos no plano
estratégico, da execução física e financeira das ações da LOA vinculadas a
programas temáticos, identificando as causas de insucessos no desempenho da
gestão.
3.
Avaliação dos indicadores instituídos pela UPC para aferir o desempenho da sua
gestão, pelo menos, quanto à:
a) capacidade de representar, com a maior proximidade possível, a situação
que a UPC pretende medir e de refletir os resultados das intervenções
efetuadas na gestão;
b) capacidade de proporcionar medição da situação pretendida ao longo do
tempo, por intermédio de séries históricas;
c) confiabilidade das fontes dos dados utilizados para o cálculo do indicador,
avaliando, principalmente, se a metodologia escolhida para a coleta,
processamento e divulgação é transparente e replicável por outros agentes,
internos ou externos à UPC;
d) facilidade de obtenção dos dados, elaboração do indicador e de
compreensão dos resultados pelos usuários da informação;
e) razoabilidade dos custos de obtenção do indicador em relação aos benefícios
da medição para a melhoria da gestão da unidade.
4.
Avaliação da gestão de pessoas contemplando, em especial:
a) adequabilidade da força de trabalho da unidade frente às suas atribuições;
b) observância da legislação sobre admissão, remuneração, cessão e requisição
de pessoal, bem como, se for o caso, sobre concessão de aposentadorias,
reformas e pensões;
c) consistência dos controles internos administrativos relacionados à gestão de
pessoas;
d) tempestividade e qualidade dos registros pertinentes no sistema contábil e
nos sistemas corporativos obrigatórios;
e) qualidade do controle da UPC para identificar e tratar as acumulações
ilegais de cargos;
f) ações e iniciativas da UPC para a substituição de terceirizados irregulares,
inclusive estágio e qualidade de execução do plano de substituição ajustado
com o Ministério do Planejamento.
99
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5.
Avaliação da gestão das transferências concedidas mediante convênio, contrato de
repasse, termo de parceria, termo de cooperação, termo de compromisso ou outros
acordos, ajustes ou instrumentos congêneres, devendo abordar:
a) a atuação da UPC para:
i. garantir que, na fase de concessão, os instrumentos reúnam
requisitos afins com os objetivos da ação governamental;
ii. fiscalizar a execução do objeto da avença, inclusive quanto à
utilização de verificações físicas e presenciais;
iii. analisar a prestação de contas dos convenentes ou contratados.
b) a suficiência das estruturas de pessoal e tecnológica para a gestão das
transferências;
c) a qualidade e suficiência dos controles internos administrativos instituídos
pela UPC relacionados à gestão das transferências
6.
Avaliação da gestão de compras e contratações, especialmente no que diz respeito
à:
a) regularidade dos processos licitatórios e das contratações e aquisições
feitas por inexigibilidade e dispensa de licitação;
b) utilização de critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens e
na contratação de serviços e obras;
c) qualidade dos controles internos administrativos relacionados à atividade
de compras e contratações.
7.
Avaliação de passivos assumidos pela UPC sem prévia previsão orçamentária de
créditos ou de recursos, no mínimo, quanto à correção do cálculo do valor
provisionado; às causas da assunção desses passivos; à capacidade de gerência dos
responsáveis pela UPC sobre tais causas; aos esforços da UPC para minimizar ou
evitar a ocorrência de passivos nessas condições.
8. Avaliação objetiva sobre a gestão de tecnologia da informação (TI) da UPC.
9.
Avaliação da gestão do patrimônio imobiliário de responsabilidade da UPC, no
mínimo, quanto à correção dos registros contábeis; à estrutura tecnológica e de
pessoal para administrar o patrimônio e à qualidade dos controles internos
administrativos instituídos para a referida gestão.
10.
Avaliação da gestão da UPC sobre as renúncias de receitas praticadas,
especialmente sobre:
a) estrutura de controles internos administrativos instituída pela UPC para o
gerenciamento das renúncias e verificação dos reflexos esperados nas
políticas públicas;
b) avaliação da estrutura da UPC para tratamento das prestações de contas de
renúncias de receitas.
100
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
11.
Avaliação da qualidade e suficiência dos controles internos administrativos
instituídos pela UPC com vistas a garantir que seus objetivos estratégicos sejam
atingidos, considerando os seguintes elementos do sistema de controles internos da
unidade:
a) Ambiente de controle;
b) Avaliação de risco;
c) Atividades de controle;
d) Informação e Comunicação;
e) Monitoramento.
12. Avaliação da confiabilidade e efetividade dos controles internos relacionados à
elaboração das demonstrações contábeis e de relatórios financeiros.
13.
Avaliação, quanto à abrangência, suficiência e resultados, das medidas adotadas
pela unidade auditada relacionadas ao Acórdão 1212/2014 – TCU – Plenário, que
trata dos reflexos da desoneração da folha de pagamento nos contratos com a
Administração Pública Federal.
14.
Avaliação da política de acessibilidade da unidade auditada, especialmente em
relação às medidas adotadas para cumprimento das exigências da Lei 10.098/2000,
do Decreto 5.296/2004 e das normas técnicas da ABNT aplicáveis.
15. Avaliação da observância, pela unidade prestadora da conta, da ordem cronológica
dos pagamentos estabelecida pelo art. 5º da Lei 8.666/1993.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ANEXO III À DECISÃO NORMATIVA-TCU Nº xxx, DE XDE OUTRUBRO DE 2018
ELEMENTOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DE AGENTES
SOBRE FALHAS OU IRREGULARIDADES
I. ACHADO: resultado da comparação entre a situação constatada pelo auditor e o critério
estabelecido ou desejável para a situação e caracterizada como falha ou irregularidade com
gravidade suficiente para proposição de julgamento das contas com ressalva ou pela
irregularidade, nos termos dos incisos II e III do art. 16 da Lei 8.443/1992 e conforme as
definições a seguir:
a) FALHA: impropriedade ou falta de natureza formal que não tenha causado dano ao Erário, mas
indique a necessidade de medidas corretivas;
b) IRREGULARIDADE: prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à
norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou
patrimonial. Se for observada a ocorrência de DANO OU PREJUÍZO, o órgão de controle interno
deve informar os valores originais correspondentes e a data da ocorrência.
II. CRITÉRIO: Leis, normas, regulamentos, planos, jurisprudência, entendimento doutrinário
consolidado, referenciais aceitos ou tecnicamente validados, padrões que caracterizam como a
atuação do responsável e a gestão deveriam ser.
III. CONDUTA: ação ou omissão, culposa (por negligência, imprudência ou imperícia) ou dolosa
(se o responsável teve a intenção de produzir o resultado ou ter assumido o risco de produzi-lo)
praticada pelo responsável.
IV. NEXO DE CAUSALIDADE (vínculo entre a conduta e o resultado ilícito): evidências de
que a conduta do responsável contribuiu significativamente para o resultado ilícito, ou seja, de que
foi uma das causas do resultado.
V. CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE DO AGENTE: considerações
sobre a reprovabilidade da conduta nos casos em que seja caracterizada a responsabilidade
irregularidade de responsável arrolado. Têm por objetivo auxiliar o controle externo fazer análise
sobre a culpabilidade do agente, considerando eventuais fatos e informações atenuantes ou
agravantes da conduta.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em x de outubro de 2018.
RAIMUNDO CARREIRO
Presidente
Comunicações proferidas proferida pelo José Múcio Monteiro.
COMUNICAÇÃO DO MINISTRO JOSÉ MÚCIO
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
Senhora Procuradora-Geral,
Tenho satisfação em registrar aqui os 50 anos de existência do TCE de Pernambuco,
completados em 15 de outubro. Criado por lei em dezembro de 1967, o TCE entrou em efetivo
funcionamento em outubro do ano seguinte, sendo esse o marco inicial de sua história. Com a
trajetória iluminada por uma atuação segura, o Tribunal se firmou como instrumento de cidadania a
serviço da melhoria da gestão pública e da vida dos pernambucanos; e seu jubileu de ouro apenas
traduz a constância e perenidade conquistadas pela instituição.
102
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Parabéns ao Tribunal de Contas de Pernambuco, aos seus conselheiros e a todos que ajudaram a
construir essa história.
Sala das Sessões, 14 de novembro de 2018.
JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Ministro
COMUNICAÇÃO
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
Senhor Procurador-Geral,
Trago ao conhecimento de Vossas Excelências que na tarde de ontem compareci a workshop
realizado no Instituto Serzedello Corrêa, destinado a discutir o novo modelo de gestão das unidades
integrantes da Secretaria do Tribunal, que vem sendo elaborado pela equipe de transição.
O evento contou com a participação de dirigentes das unidades de Brasília e dos estados da
Federação, que, juntos, conceberam medidas mitigadoras para os riscos apontados.
A riqueza das discussões e a pluralidade das ideias apresentadas reforçaram minha convicção da
viabilidade de superação dos obstáculos suscitados, com a construção de soluções inovadoras,
possibilitadas pela força intelectual e o indiscutível preparo de nosso corpo técnico.
Nesse sentido, as lideranças que ontem estiveram presentes ao evento demonstraram serem
dotadas de indiscutível espírito público, colocando o interesse institucional acima de suas posições
pessoais e se predispondo a colaborar na construção de um modelo sólido e sustentável.
Externo minha admiração e apreço a cada um dos que compareceram no dia de ontem, incluindo
os que se encarregaram das tarefas relacionadas à realização e sucesso do encontro.
Registro, também, minha gratidão ao Presidente desta Corte, Ministro Raimundo Carreiro, pela
abertura que nos tem propiciado, contribuindo para que exista grande fluidez e apoio neste momento
de transição.
TCU, Sala das Sessões, em 14 de novembro de 2018.
(Assinado Eletronicamente)
JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Relator
Comunicação proferida pelo Ministro Vital do Rêgo.
COMUNICAÇÃO
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
Senhor Procurador-Geral,
Tenho acompanhado com atenção as últimas notícias veiculadas na grande imprensa acerca de
possíveis ações a serem empreendidas pelo Governo Federal que podem interferir na capacidade de
103
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, na condição de
banco estatal responsável por fomentar o desenvolvimento nacional.
O jornal Folha de São Paulo, por exemplo, noticiou, no dia de ontem, que a escolha do futuro
presidente daquela instituição financeira seria uma das formas de garantir que o BNDES cumpra o
acordo firmado com o governo de devolução ao Tesouro Nacional de R$ 25 bilhões por ano até 2040,
como forma de enfrentar os déficits fiscais observados nos últimos anos e projetados para os próximos
exercícios.
Ainda de acordo com a matéria, como resultado da redução do capital disponível para
empréstimos, o BNDES deverá mudar seu perfil de investimentos, voltando-se para financiamento de
projetos de logística, infraestrutura e inovação, além de se tornar um parceiro do PPI (Programa de
Parcerias em Investimentos) na preparação de modelagem de projetos e indicando alternativas de
financiamentos.
Diante desse quadro e como relator das contas do BNDES biênio 2017-2018, preocupa-me o fato
de o banco estatal ter a sua capacidade de financiamento comprometida, mesmo que para suportar os
novos desafios trazidos pela gestão que em breve se inicia, razão pela qual expedi orientação à
SecexEstatais que promovesse um detalhado acompanhamento do impacto dessas ações na atuação do
BNDES, por meio da autuação de processo específico, de forma a subsidiar a análise das contas da
estatal referentes ao presente exercício.
Dessa forma, submeto o assunto à homologação deste Plenário, para que, uma vez aprovado, a
Presidência desta Corte possa adotar as providências necessárias à expedição de Aviso ao BNDES
destinado a dar ciência dos termos desta comunicação e do acompanhamento a ser realizado pela
Secex Estatais.
Por fim, ressalto que caberá à Segecex apresentar no prazo de 15 dias, nos termos da Portaria-
TCU 548/2017, a devida manifestação quanto aos reflexos desse trabalho no Plano Diretor daquela
Unidade.
Sala das Sessões, em 14 de novembro de 2018.
Ministro VITAL DO REGO
ANEXO II DA ATA 45, DE 14 DE NOVEMBRO DE 2018
(Sessão Ordinária do Plenário)
ACÓRDÃOS PROFERIDOS DE FORMA UNITÁRIA
Relatórios e Votos emitidos pelo respectivo relator, bem como os Acórdãos de nºs 2604 a 2630,
aprovados pelo Plenário.
GRUPO I – CLASSE V – Plenário
TC 010.348/2018-2
Natureza: Relatório de Auditoria.
Unidades: Casa Civil da Presidência da República, Agência Nacional de Aviação Civil, Agência
Nacional de Mineração, Banco do Brasil S/A, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho.
Interessado: Tribunal de Contas da União.
Representação legal: Adriano Augusto de Souza (CPF 839.219.904-91) e Rodrigo Duarte
Dourado (CPF 695.827.421-00).
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
SUMÁRIO: AUDITORIA OPERACIONAL COORDENADA PELA SECCOR. AVALIAÇÃO
DOS CONTROLES DE PREVENÇÃO E DETECÇÃO RELACIONADOS À FRAUDE E À
CORRUPÇÃO DE 287 INSTITUIÇÕES FEDERAIS EM FACE DOS RESPECTIVOS PODERES
ECONÔMICO E DE REGULAÇÃO. MAPA DE EXPOSIÇÃO COM O STATUS DE CADA
UNIDADE. ELEVADA EXPOSIÇÃO AO RISCO DE FRAUDE E CORRUPÇÃO.
FRAGILIDADES NOS SISTEMAS DE INTEGRIDADE. ALTO ÍNDICE DE INSTITUIÇÕES
AINDA EM NÍVEIS INICIAIS DE GESTÃO DE RISCOS E CONTROLES INTERNOS.
AUSÊNCIA OU DEFICIÊNCIA DOS MODELOS DE DADOS ABERTOS, TRANSPARÊNCIA E
ACCOUNTABILITY. AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS MÍNIMOS E OBJETIVOS PARA INDICAÇÃO
DE DIRIGENTES NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS. PUBLICAÇÃO DO MAPA DE EXPOSIÇÃO.
DETERMINAÇÕES. RECOMENDAÇÕES. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Trata-se de auditoria operacional coordenada pela Secretaria de Relações Institucionais de
Controle no Combate à Fraude e Corrupção - Seccor, em conjunto com outras unidades deste Tribunal,
para avaliar se os controles de prevenção e detecção relacionados a fraude e a corrupção das
instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com seus poderes econômico e de
regulação, bem como propor melhorias nos controles associados, eliminando as suas causas sistêmicas
ou, ao menos, mitigando os seus efeitos.
2. Transcrevo o relatório elaborado pela equipe de auditoria, com o qual se manifestaram de
acordo os dirigentes da Seccor (peças 122/126): “A. Introdução
A.1 Antecedentes 1. A presente fiscalização foi autorizada mediante Despacho do Ministro-Substituto Marcos Bemquerer,
em substituição à Ministra Relatora Ana Arraes, nos termos da Portaria-TCU 86, de 22/3/2018, proferido no âmbito do TC 005.206/2018-9 (peça 4).
2. Em uma visão contextual da auditoria, o trabalho foi pensado em meio a seguinte quadro do país:
recessão, desemprego, desequilíbrio fiscal, qualidade deficiente dos serviços públicos e a percepção de alto grau de corrupção, a qual traz consigo a perda de confiança do cidadão no Estado. Reconhecendo a história recente
do Brasil, natural relacionar tais problemas, em maior ou menor grau, à mazela da corrupção. Tais males
fomentam o desperdício e a malversação dos dinheiros públicos, o que mina a eficiência do Estado; diminui o acesso a serviços básicos; distorce a alocação de recursos; desequilibra a saudável competição no mercado;
impõe entraves econômicos, políticos e sociais para o crescimento sustentável; e, o mais preocupante: corrói a
credibilidade nas instituições e estimula o desprezo do cidadão pela lei.
3. Por se tratar de um risco estrutural de praticamente todas as organizações, a avaliação dos riscos de corrupção, bem como os estudos para dotar as organizações de estruturas preventivas contra a sua ocorrência, é
tarefa relacionada fortemente com a missão institucional do TCU: aprimorar a Administração Pública em
benefício da sociedade. 4. O objetivo deste trabalho, portanto, exsurge deste desafio: avaliar se as estruturas de prevenção e
detecção de fraude e corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com os
respectivos poderes econômico e de regulação, de sorte propor melhorias nos controles associados, eliminando as suas causas sistêmicas; ou, ao menos, mitigando os seus efeitos. Dessa avaliação, pretende-se mapear os
riscos institucionais dos jurisdicionados – em visão prospectiva de futuros trabalhos – como ainda identificar o
amadurecimento das organizações para confrontar tal exposição a esses riscos; e aí sim, fomentar o
aprimoramento institucional a partir dessas fraquezas especificamente identificadas. 5. Em um detalhamento de como isso pode ser feito, de acordo com o Referencial de Combate a Fraude e
Corrupção do TCU (RCFC/TCU), o enfrentamento das instituições contra a corrupção deve ser empreendido
por meio de cinco mecanismos: prevenção, detecção, investigação, correção e monitoramento. A partir da existência ou não desses mecanismos, é possível avaliar o quanto as instituições públicas estão preparadas para
enfrentar fraude e corrupção.
105
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
6. Ao mesmo tempo, a robustez desses cinco mecanismos deve ser proporcional à exposição ao risco, sob
pena da implementação de controles excessivos, em caminho inverso ao da eficiência organizacional. Ou: é
tanto necessário reconhecer que existe uma diferença significativa entre os diversos riscos de fraude e corrupção
aos quais as instituições federais estão expostas; como é igualmente preciso identificar e medir que fatores de risco têm capacidade para incrementar ou minimizar a necessidade desses controles. No presente trabalho, como
será detalhado adiante, tais fatores de risco são: 1) a capacidade das instituições de ter acesso e utilizar os
recursos financeiros; e 2) a competência institucional para regular mercados. 7. Logo, a grande valia – e inovação – do presente trabalho será a medição do grau de exposição ao risco
das instituições federais analisadas à fraude e à corrupção, em vista do seu poder econômico e do seu poder
regulatório, em confronto com controles atualmente existentes, de sorte a sinalizar para o Poder Executivo quais
são as áreas mais expostas aos riscos de fraude e corrupção. O mapeamento oferecido também permite aperfeiçoar a alocação de recursos dos controles interno e externo, no direcionamento de esforços proporcionais
aos riscos então identificados.
A.2 Identificação do objeto de auditoria 8. O objeto da auditoria é a exposição da APF a riscos de fraude e corrupção, medida a partir dos
seguintes fatores: o poder de uso dos recursos financeiros disponíveis, definido como Poder Econômico; o poder
de regular atividades do mercado privado, definido como Poder de Regulação; e os mecanismos de controle preventivos e detectivos contra fraude e corrupção desenhados e implantados nas organizações.
A.3 Objetivos e escopo da auditoria
9. A presente auditoria operacional buscou avaliar se os controles de prevenção e detecção relacionados a
fraude e corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com seus poderes econômico e de regulação, bem como propor melhorias nos controles associados, eliminando as suas causas sistêmicas; ou,
ao menos, mitigando os seus efeitos.
10. Como objetivos específicos foram estabelecidos: a) medir o Poder Econômico e o Poder de Regulação de instituições públicas federais;
b) avaliar os controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção dessas instituições;
c) cotejar, por meio de mapas, os níveis dos controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção com
o Poder Econômico e o Poder de Regulação de cada instituição; d) identificar fragilidades e boas práticas nos controles mencionados em uma amostra de órgãos e
entidades (estudos de caso), bem como na Casa Civil da Presidência da República, tendo em vista alguns desses
controles estarem sob a responsabilidade desta pasta; e) propor melhorias de forma a eliminar ou reduzir tais fragilidades e, ao mesmo tempo, disseminar as
boas práticas constatadas.
11. Pela abrangência do tema, a auditoria poderia potencialmente alcançar toda a APF. Entretanto, para viabilizar o alcance de resultados em curto prazo, foi estabelecido que o escopo de trabalho ficaria restrito ao
Poder Executivo Federal, representado formalmente pela Casa Civil da Presidência da República como órgão
auditado.
12. Foram excluídos do Poder Executivo (objeto original) as entidades dos Serviços Sociais Autônomos, o Sistema S, e os conselhos profissionais, por atuarem em regime jurídico distinto dos demais. Dessa forma, foi
possível obter uma convergência maior das normas avaliadas neste trabalho.
13. Assim, concretamente, fazem parte do universo da auditoria 287 (duzentos e oitenta e sete) órgãos/entidades do Poder Executivo Federal. Para esse universo, foram calculados os respectivos valores do
Poder Econômico e do Poder de Regulação (calculado para 72 instituições), bem como seus índices
representativos da robustez dos controles contra fraude e corrupção (a partir do Índice Integrado de Governança e Gestão 2018 do TCU – IGG 2018 – conforme detalhado adiante).
14. O mapeamento da exposição a riscos de fraude e corrupção resulta, justamente, do cotejamento desses
fatores de riscos (Poder Econômico e Poder de Regulação) com os índices de robustez dos controles
mencionados. 15. Para uma amostra de seis unidades (estudos de caso) – e mais Casa Civil e Comissão de Ética Pública
da Presidência da República (CEP), as quais implementam alguns controles vinculados à designação de
dirigentes e a conflitos de interesse de pessoas da alta administração – foram avaliados in loco o desenho e a implantação de controles contra fraude e corrupção, tendo sido possível identificar tanto fragilidades, como boas
práticas na atuação das instituições.
106
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
16. A escolha dessa amostra levou em conta a natureza da unidade (administração direta, autarquia,
empresa estatal) e os índices obtidos no IGG 2017 (Acórdão 588/2018-TCU-Plenário de relatoria do Ministro
Bruno Dantas), conhecidos quando do planejamento desta auditoria, em prol da variedade de situações a serem
estudadas. 17. Assim, as seguintes instituições, além da Casa Civil e CEP, foram objeto de verificação do desenho e
implementação de controles contra fraude e corrupção, mediante análise de documentação e entrevistas:
Tabela 1 – Lista de instituições objeto de estudo de caso
Sigla Instituição
Anac Agência Nacional de Aviação Civil
ANM Agência Nacional de Mineração*
BB Banco do Brasil
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
MS Ministério da Saúde
MTb Ministério do Trabalho * antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) 18. Em síntese, como resultado do alcance dos objetivos da auditoria, foram produzidos:
a) mapa de risco demonstrando o grau de exposição das instituições a fraude e corrupção em relação ao
seu Poder Econômico;
b) mapa de risco demonstrando o grau de exposição das instituições a fraude e corrupção em relação ao seu Poder de Regulação;
c) fragilidades e boas práticas nos controles avaliados nos estudos de caso realizados;
d) metodologia de avaliação para monitoramento sistemático das instituições auditadas em relação a essas exposições, com eventual extensão àquelas dos poderes legislativo e judiciário.
A.4 Critérios
19. A base para a construção conceitual deste trabalho foi o estudo ‘Desvios Éticos – Risco Institucional’, publicado em 2002 pela Escola de Administração Fazendária (Esaf), em parceria com a Casa Civil e a Comissão
de Ética Pública (CEP). Esse estudo introdutório buscou medir o grau de exposição dos órgãos governamentais
ao risco do desvio ético, tendo como fatores de riscos o poder de compra do órgão (PC), seu poder de regulação
(PR) e a disponibilidade financeira do mercado privado regulado, definida como poder de barganha (PB). 20. Outra fonte foi a pesquisa de integridade feita nas organizações públicas pela Entidade de
Fiscalização Superior (EFS) da Hungria, realizada anualmente desde 2011. Tal trabalho se baseia no conceito de
que integridade ou comportamento ético é a base de um estado bem gerenciado, o que fortalece a governança e previne a corrupção. As edições anuais da mencionada pesquisa têm como objetivo identificar riscos que afetam
negativamente ações éticas e transparentes e examinar os controles desenhados para gerenciar esses riscos.
21. O documento RCFC/TCU foi usado como fonte de controles preventivos e detectivos para o combate à fraude e à corrupção, identificados no referencial como práticas inerentes aos mecanismos de prevenção e
detecção. Também foram considerados controles vinculados à mitigação de riscos atinentes à escolha de
dirigentes das organizações, aqui considerados como membros da alta administração e de conselhos/colegiados
superiores.
A.5 Metodologia
22. A definição conceitual da avaliação da exposição da APF a fraude e corrupção foi desenvolvida a
partir de pesquisa em artigos e trabalhos sobre o tema. Foram, então, escolhidos três parâmetros capazes de demonstrar essa exposição: Poder Econômico; Poder de Regulação; e controles preventivos e detectivos de
fraude e corrupção (incluindo controles aplicáveis à designação de dirigentes).
23. A gradação da exposição à fraude e corrupção pondera esses três fatores, sendo que o poder
econômico e o poder de regulação são elementos que elevam essa exposição, enquanto que a presença de controle preventivos e detectivos a reduz
24. Considerou-se como Poder Econômico o somatório de recursos que o órgão ou entidade pública
dispõe para promover contratações de bens e serviços, assim como a disponibilidade numerária para transferências voluntárias para estados, municípios e entidades privadas. O valor foi calculado a partir das
planilhas de dados orçamentários disponíveis no site da SOF (Secretaria de Orçamento Federal).
107
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
25. O Poder de Regulação foi medido com base nos mandatos legais das instituições que dispõem desse
poder, a saber: o poder de autorizar; o poder de normatizar; e o poder de fiscalizar. A avaliação desses mandatos
legais foi realizada pelas Secretarias de Controle Externo do TCU, sobre o conjunto das respectivas clientelas
(ou seja, das unidades que lhes são jurisdicionadas). 26. Os controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção avaliados neste trabalho tiveram origem
nas práticas descritas no RCFC/TCU. Para a coleta dos dados, foi utilizado o IGG 2018, cujo conjunto de
questões estava sendo concluído por ocasião do planejamento desta auditoria. 27. Para que o IGG 2018 contemplasse as questões necessárias, inicialmente partiu-se das práticas de
prevenção e detecção do RCFC/TCU; posteriormente foi realizada a correspondência com as questões já
existentes no IGG 2017. Nos casos em que não havia correspondência, foram incluídas novas questões no IGG
2018. Assim, foi definido um subconjunto de 22 questões do IGG 2018 (Apêndice B) como instrumento de coleta de dados sobre o modelo e implementação dos controles, segmentado nos seguintes tópicos:
a) Designação de Dirigentes.
b) Gestão de Riscos e Controles Internos; c) Gestão da Ética e Programa de Integridade;
d) Auditoria Interna;
e) Transparência e Accountability. 28. Na fase de execução, foram realizados os seis estudos de caso para avaliação do desenho e
implementação dos controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção, bem como obtidos documentos e
realizadas entrevistas na Casa Civil e na CEP. Tais estudos contaram com análises documentais e entrevistas
para evidenciação das respostas dadas ao mencionado subconjunto de questões do IGG 2018. 29. Realizou-se, também, painéis de referência, interno e externo, para validação da matriz de
planejamento e da metodologia de construção do mapa de exposição. Também foi realizado um painel interno
para discutir as possíveis propostas de encaminhamento dos achados constatados.
A.6 Organização do Relatório 30. Os próximos capítulos foram divididos em duas partes. A primeira trata da visão geral que
fundamenta a construção do mapa de exposição a fraude e corrupção das instituições do Poder Executivo. Nessa
parte também são apresentados os principais aspectos dos mapas obtidos. 31. A segunda parte traz, de maneira consolidada, os achados constatados nas seis unidades examinadas,
bem como na Casa Civil, segmentados nos seguintes tópicos:
a) Designação de Dirigentes. b) Gestão de Riscos e Controles Internos;
c) Gestão da Ética e Programa de Integridade;
d) Auditoria Interna; e) Transparência e Accountability.
32. Foram produzidos relatórios de achados preliminares para cada uma das instituições avaliadas, os
quais foram encaminhados às seis unidades visitadas e à Casa Civil, para que fossem apreciados e tecidos os
comentários julgados pertinentes. O resultado da análise desses comentários está contido nos relatórios finais de achados de cada uma das instituições, conforme descrito na Tabela 2. Um resumo sobre a análise desses
comentários pode ser encontrado também no Apêndice I.
Tabela 2 – Relatórios de achados preliminares e finais por instituição
Sigla Relatório de achados Preliminar (peça)
Relatório de achados final (peça)
Anac 38 113
ANM 21 114
BB 40 115
Ibama 30 116
MS 22 117
MTb 23 118
Casa Civil 54 119
108
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
33. Em seguida, são apresentadas as conclusões do presente trabalho e as propostas de encaminhamento
em capítulos específicos. Essas últimas baseadas nas fragilidades constatadas e boas práticas adotadas por essas
instituições.
B. Visão Geral 34. A presente auditoria buscou estimar em que medida os órgãos da APF se encontram expostos aos
riscos de fraude e corrupção, considerando os poderes econômico, de regulação e os mecanismos de controle
preventivo e detectivo implantados em cada organização. 35. Para efeito deste trabalho, foram avaliadas 287 instituições, todas do Poder Executivo Federal. A
escolha do objeto auditado é justificada pelos acontecimentos que permearam os últimos 10 anos de história do
país. Registros de órgãos públicos, como Departamento de Polícia Federal (DPF) e Ministério Público Federal
(MPF), mostram que no decorrer da última década ocorreram dezenas de escândalos de corrupção. São situações que, além de lesarem os cofres públicos, minaram a confiança da sociedade nas instituições do Estado.
Esses episódios evidenciaram a existência de fragilidades nos órgãos públicos, seja nas estruturas ou no
arcabouço legal ao qual estão submetidos. 36. São essas fendas no sistema que permitem, na maioria dos casos, a realização de práticas nocivas, que
envolvem o uso de patrimônio público – ou violação de um dever público – em favor da concretização de
interesses privados. Este trabalho, portanto, buscou justamente identificar essas fragilidades, mapeá-las e propor soluções que permitam melhorias nas instituições, no sentido de corrigir essas falhas e tornar os órgãos menos
vulneráveis à ocorrência de fraude e corrupção.
37. Os ganhos proporcionados pela auditoria estão diretamente relacionados à governança pública, à
recuperação da confiança nas instituições que integram a APF, e à consequente redução de perdas monetárias. Segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), publicadas no ano 2010, o
país perde, a cada ano, entre 1,38 a 2,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para a corrupção. Se toda essa
quantia fosse aplicada corretamente, seria possível melhorar consideravelmente o fornecimento de saúde, segurança e educação para toda a sociedade. Além das perdas internas, a corrupção também traz sérios prejuízos
à imagem do país, afastando investimentos e, consequentemente, oportunidades de crescimento econômico,
geração de emprego e renda.
38. Os parâmetros que norteiam a ocorrência dessas práticas nocivas podem ser divididos em duas categorias: aqueles que aumentam a exposição e aqueles que as mitigam. O clássico Triângulo da Fraude de
Donald Cressey estabelece que três condições estão presentes na ocorrência de casos de fraude: oportunidade,
racionalização e motivação. A Figura 1 apresenta uma adaptação desse triângulo para o contexto da Administração Pública.
Figura 1 – Condições da ocorrência de fraude e corrupção
Fonte: Adaptado do seminário de Integridade da EFS Hungria (Edição 2018).
39. A figura indica que os controles que mitigam a ocorrência das condições do triângulo podem ser do tipo hard (voltado para regras) ou do tipo soft (relacionado a valores na instituição). Dentro desse entendimento,
verifica-se que, para combater essas práticas nocivas, é preciso usar esses dois tipos de controle, que atuam nas
três condições explicitadas, de forma a proporcionar uma abordagem mais abrangente.
109
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
40. Para expor esse problema de maneira mais sistematizada, foi elaborado um mapa de exposição aos
riscos de fraude e corrupção, no qual estão ponderados fatores que aumentam, assim como os controles que
mitigam esses riscos. Os próximos capítulos trazem detalhes de cada um desses componentes, bem como
informações pormenorizadas sobre o mapa de exposição.
B.1 Poder Econômico
41. Um dos fatores de risco destacados no trabalho a aumentar a exposição das instituições a fraude e
corrupção é o Poder Econômico. O artigo sobre desvios éticos da CEP também traz um fator de risco monetário que aumenta a susceptibilidade a desvios, denominado Poder de Compra. Nesta oportunidade, esse conceito foi
ampliado para Poder Econômico de forma a englobar também as transferências voluntárias realizadas por
organizações públicas.
42. Para efeito desta auditoria, também foi adotada a premissa de que, quanto maior o Poder Econômico de uma organização, maior será sua exposição a fraude e corrupção. Isso decorre do pressuposto de que o risco
da ocorrência desse fenômeno em uma organização pública é estimulado pela quantidade de recursos
financeiros de que a organização dispõe para desembolsar de forma discricionária, por exemplo, na forma de contratações de bens e serviços ou de repasses para estados e municípios, se for o caso.
43. Dentro desse entendimento, foram selecionados, com base no Orçamento Geral da União (OGU) e no
Plano de Dispêndios Globais (PDG), este último referente às empresas estatais federais, os valores destinados aos órgãos e entidades do Poder Executivo. Para os integrantes do OGU, foram considerados os montantes
liquidados nos anos de 2015, 2016 e 2017 e projetada a liquidação do orçamento previsto para 2018 a partir da
média dos valores dos empenhos relativos (empenho dividido pelo orçamento total previsto) nos três anos
anteriores. Já para os integrantes do PDG, considerou-se os dados previstos no orçamento para 2018. 44. O detalhamento do cálculo do Poder Econômico das instituições estudadas neste trabalho (287
órgãos/entidades) consta no Apêndice C.
B.2 Poder de Regulação 45. Além dos recursos financeiros disponíveis para dispêndio das instituições é preciso considerar outro
fator que influencia a exposição a fraude e corrupção: o poder de criar regras ou fiscalizar determinado mercado
privado, denominado neste trabalho como Poder de Regulação.
46. No contexto desta auditoria, esse elemento deve ser entendido como o poder legítimo que as instituições públicas detêm em razão de suas atribuições e prerrogativas legais e que impacta a vida dos
cidadãos e as atividades de empresas e setores econômicos por elas regulados. Para tornar a aferição desse
conceito mais precisa, optou-se por considerar como Poder de Regulação as ações associadas à atividade fim do órgão, excluindo-se a regulamentação de compras, geralmente feita pela área meio das instituições, uma vez que
tais regulamentações estão já estão relacionadas ao Poder Econômico da instituição.
47. Vale destacar que Poder de Regulação é elemento subjetivo, provido de certas complexidades e especificidades. A metodologia utilizada neste trabalho buscou traduzir ao máximo essas complexidades, de
forma que a mensuração produzisse os resultados mais acurados e objetivos possíveis. Na montagem do método
de aferição, foram considerados trabalhos anteriores sobre o tema, inclusive os produzidos pelo Tribunal de
Contas da União (TCU), recomendações de especialistas e a experiência da Entidade Fiscalizadora Superior da Hungria, que realiza regularmente pesquisa para aferir a integridade dos órgãos públicos daquele país.
48. Com base nesses trabalhos, foram definidas atividades exercidas pelas instituições que compõem o
Poder de Regulação, tais como: realização de outorgas, emissão de licenças, interpretação de normas, entre outras. As secretarias do TCU avaliaram a relevância de cada uma dessas atividades de regulação, consideradas
as competências legais das organizações a elas jurisdicionadas.
49. Devido ao universo desta auditoria ser composto por órgãos diversos e heterogêneos, o tamanho do mercado afetado pela atuação de cada instituição auditada foi utilizado como elemento ponderador do Poder de
Regulação. Dessa forma, foi possível diferenciar instituições que possuam o mesmo mandato legal de regulação,
mas que atuam em mercados com valores distintos. O trabalho de referência da CEP sobre desvios éticos,
denominava esse fator como poder de barganha. 50. De forma análoga à premissa adotada para o Poder Econômico, assumiu-se que, quanto maior o Poder
de Regulação de uma organização, maior será sua susceptibilidade a fraude e corrupção, tendo em vista os
interesses econômicos vinculados aos mercados por ela regulados. Como nem todas as instituições estudadas neste trabalho possuem tais poderes, o Poder de Regulação foi calculado somente para 72 órgãos/entidades. O
detalhamento da metodologia de cálculo do Poder de Regulação, consta no Apêndice D e no Apêndice E.
110
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
B.3 Controles de Combate a Fraude e Corrupção 51. O principal critério utilizado para a definição de controles de combate a fraude e corrupção foi o
RCFC/TCU, já destacado anteriormente neste relatório. Foram escolhidos os mecanismos de prevenção e
detecção desse referencial, uma vez que representam a maioria das práticas destacadas nesse documento, bem como práticas já contempladas no levantamento do índice integrado de governança e gestão (IGG) calculado
anualmente pelo TCU.
52. De fato, governança pública está relacionada a práticas para o enfrentamento de tal fenômeno. O Referencial Básico de Governança do TCU mostra o Controle como um dos mecanismos de governança a serem
adotados nas instituições (Figura 2). Os componentes desse mecanismo também coincidem com práticas
preventivas e detectivas do RCFC/TCU: gestão de riscos e controle interno; auditoria interna; e transparência e
accountability.
Figura 2 – Mecanismos de Governança Pública
Fonte: Adaptado do Acórdão 588/2018-TCU-Plenário.
53. Integridade também figura como outro conceito intimamente relacionado com combate a fraude e corrupção nas instituições. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) enfatiza
a integridade como mecanismo de enfrentamento desses dois fenômenos, destacando 3 pilares:
Figura 3 – Pilares da integridade pública segundo a OCDE
Fonte: Recomendação do Conselho da OCDE sobre integridade pública (2017). 54. O Manual para implementação de Programas de Integridade da CGU (Ministérios da Transparência e
Controladoria-Geral da União) destaca, como camadas necessárias do Programa de Integridade: padrões de ética
e conduta; comunicação e treinamento; canais de denúncia; medidas de controle e disciplinares; e ações de remediação.
55. Dessa forma, é possível constatar que os temas Combate a Fraude e Corrupção, Governança e
Integridade possuem intersecção entre si, uma vez que que compartilham diversas práticas. Um exemplo da
conexão entre esses temas são as práticas relacionadas à Ética, as quais são amplamente divulgadas e incentivadas. Essa intersecção pode ser traduzida conforme a figura a seguir:
111
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Governança Combate
Fraude e
Corrupção
Integridade
Figura 4 – Práticas de Combate a Fraude e Corrupção, de Governança e de Integridade
Fonte: elaboração própria.
56. Diante dessa clara conexão entre os temas, e também da existência de metodologia específica para
calcular índices do IGG e a própria estrutura de coleta de dados, decidiu-se usar a pesquisa do IGG para o cálculo dos índices dos controles de fraude e corrupção. Para tanto, foi feita uma revisão das questões com o
objetivo de selecionar aquelas que mantinham relação com as práticas preventivas e detectivas do RCFC/TCU,
e selecionar novas questões necessárias. O Apêndice F traz mais detalhes sobre a metodologia de cálculo desse índice.
57. Dentre os diversos controles capazes de inibir as práticas de fraude e corrupção, optou-se por dividir a
adoção e a implementação das práticas específicas em cinco temas diferentes, que são: Designação de
Dirigentes; Gestão de Riscos e Controles Internos; Gestão da Ética e Programa de Integridade; Auditoria Interna; e Transparência e Accountability.
58. As cinco práticas acima mencionadas formam um conjunto de controles essenciais às instituições
públicas, uma vez que cobrem áreas primordiais como: conscientização sobre e monitoramento do código de ética, cumprimento de compromissos firmados quando da investidura em cargo público, mapeamento e
tratamento de riscos para a integridade, normas sobre canais de comunicação e qualidade da informação
prestada, além de diretrizes e critérios para a segregação de funções vinculadas a decisões críticas e
mapeamento de riscos. 59. No que diz respeito aos controles referentes à designação de dirigentes, foram considerados aqueles
relacionados a nepotismo, conflito de interesses e impedimentos legais, por se tratarem de situações que, quando
concretizadas, têm alto potencial para gerar prejuízos ao interesse público. No exame dessa questão, foi também contemplado um mapeamento anterior (TC 011.954/2015-9), realizado pela Secretaria de Fiscalização de
Pessoal do Tribunal de Contas da União (Sefip), o qual avaliou os riscos relacionados à investidura de dirigentes
em órgãos públicos.
B.4 Mapa de Exposição
60. O mapa de exposição ao risco de fraude e corrupção é de um dos principais produtos deste trabalho.
Por isso – e desde já – é de todo adequado reproduzi-lo anualmente, como forma de verificar se os órgãos estão
implementando (ou não) melhorias nos seus sistemas de controle e, consequentemente, reduzindo as oportunidades para a materialização de tais riscos.
61. A primeira consideração a ser feita sobre o mapa se refere a seu objetivo principal: a construção de
um cenário geral, no qual podem ser visualizadas as instituições públicas que estão mais expostas a riscos de fraude e corrupção. Dessa forma, a escolha dos parâmetros a serem analisados buscou identificar quais fatores
aumentam ou mitigam os riscos de ocorrência desses problemas. Assim, destaca-se que o exercício aqui
realizado não diz respeito a uma avaliação de risco clássica, já que esse tipo de análise requeria o estudo de caso concreto.
62. Ressalta-se, também, que o mapa não é ferramenta adequada para avaliar a ocorrência de casos de
fraude e corrupção. Ele registra apenas o quanto determinada instituição está exposta ao risco desses eventos.
Assim, ainda que uma instituição apareça no mapa em área indicativa de ‘alta exposição’, isso não significa que existam casos concretos desses fenômenos no órgão em questão.
63. Para a apresentação do mapa, escolheu-se o formato de mapa de calor, vastamente utilizado na
avaliação de riscos. O mapa clássico normalmente utiliza dois parâmetros: Probabilidade e Impacto. Neste mapa
112
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de exposição, os parâmetros foram adaptados para: um relacionado ao poder (econômico ou de regulação) e outro relacionado à fragilidade dos controles, conforme demonstrado na Figura 5.
Figura 5 – Exemplo de mapa de calor com quatro faixas
Fonte: elaboração própria.
64. Esta ferramenta, ao cruzar dados fornecidos pelos indicadores Poder Econômico – Poder de
Regulação – Fragilidades dos Controles, mostra o quanto uma dada instituição pública está exposta ao risco de fraude e corrupção. Para a leitura dos resultados, é preciso considerar que os poderes econômico e de
regulação estão relacionados aos valores que o órgão dispõe para desembolsar ou ao quanto ele pode influenciar
um mercado consumidor específico, proporcionando (ou reduzindo) ganhos a entes privados.
65. Vale salientar que, quanto menor o grau de robustez dos controles, maior será a fragilidade da instituição no enfrentamento da fraude e da corrupção. Diante disso, as escalas de exposição aos riscos foram
apresentadas da seguinte maneira: quanto maior o grau alcançado de robustez (aqui aferido pelo desenho e
implementação) de controles, menor será a fragilidade da instituição naquele aspecto. 66. O mapa está dividido em quatro áreas, identificadas pelas cores verde (baixa exposição), amarela
(média exposição), laranja (alta exposição) e vermelha (altíssima exposição). O posicionamento da instituição
no mapa permitirá várias inferências sobre o seu grau de exposição. Como, por exemplo, que ela tem alto Poder Econômico, mas possui e utiliza controles suficientes para minimizar os riscos de fraude e corrupção. Da
mesma forma, que ela tem o poder de fixar regras que podem, da noite para o dia, gerar diversos bilhões de reais
para um dado mercado e a escolha de seu dirigente máximo não contempla requisitos suficientes para garantir a
adequabilidade dessa escolha. O Apêndice G traz mais detalhes sobre a construção do mapa.
C. Mapas de exposição das instituições a fraude e corrupção
67. Os mapas de exposição a fraude e corrupção construídos no presente trabalho englobam 287
instituições do Poder Executivo Federal. Foram construídos três mapas distintos, de modo a auxiliar na sua análise e a melhorar a sua visibilidade, uma vez que muitas siglas das instituições se sobrepõem, dificultando a
leitura dos mapas. O uso de um mapa apenas para as estatais independentes, também teve a intenção de analisá-
las separadamente, principalmente pela diferença de sua atuação e da legislação aplicável. O Apêndice H traz os três mapas desenhados.
68. O primeiro ponto a se destacar na análise dos mapas é a diferença considerável na distribuição das
estatais em comparação com as demais instituições, conforme destacado na Figura 6.
Poder
Econô
mico/
Poder
de
Regul
ação
Fragilidades nos Controles
113
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Figura 6 – Comparação entre os mapas de exposição das Estatais e das demais Instituições do
Poder Executivo Federal
69. Percebe-se que os pontos, indicadores das instituições, se concentram mais sobre a faixa amarela
(exposição média) no gráfico das estatais. Já no do OGU, há uma maior concentração de instituições nas faixas laranja (exposição alta), com algumas na faixa vermelha (exposição muito alta). Isso demonstra uma tendência
de maior maturidade nos controles estabelecidos nas estatais, uma vez que tendem a acompanhar o aumento do
poder econômico.
70. Também se nota que não existe nenhuma estatal da faixa de maior exposição, e que ainda as que se encontram na faixa laranja, estão bem próximas da transição para a faixa amarela. O ponto de maior Poder
Econômico é a Petrobras (ponto destacado na Figura 6), que também possui o melhor nível de controle do
universo analisado. Entretanto, a estatal se encontra na faixa de exposição alta, devido ao seu alto orçamento de mais 460 bilhões de reais.
71. Na análise do mapa das instituições pertencentes ao OGU, com orçamento maior que um bilhão de
reais, chama a atenção as que possuem alta fragilidade de controles, conforme demonstrado na Figura 7.
Figura 7 – Mapa de exposição das Instituições a fraude e corrupção pelo seu Poder Econômico
(destaque das faixas de maior exposição)
114
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
72. Tais instituições encontram-se em situação de maior fragilidade, pois gerem muitos recursos, ao passo
que possuem baixos índices de controles para combater fraude e corrupção. São organizações que precisam
reforçar o seu quadro de controles de modo a se tornar menos vulneráveis a esse problema.
73. Já no mapa de exposição pelo Poder de Regulação, a atribuição de um valor no intervalo de 0-100 fez com que a distribuição das instituições se concentrasse mais nas faixas inferiores do Poder de Regulação,
conforme destacado na Figura 8. Muitas organizações tiveram a mesma pontuação, com duas notas máximas de
100, para o Banco Central e para a Anac, o que fez com que ambas ficassem na faixa de alta exposição.
Figura 8 – Distribuição das instituições no mapa de exposição do poder de regulação
74. O mapa revelou que da amostra analisada de 72 instituições, apenas dezenove apresentaram
pontuação maior que 50. Dentre as unidades com maior poder de regulação no total de 23, sete delas apresentaram fragilidades de controle alta ou muito alta, conforme demonstra a Figura 9.
Figura 9 – Mapa de exposição das Instituições a fraude e corrupção pelo seu Poder de Regulação
(destaque das faixas de maior exposição)
115
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
75. Assim como comentado para as instituições de grande poder econômico, essas instituições encontram-
se em maior fragilidade, uma vez que o nível de controles não acompanhou o alto poder de regulação do
mercado.
76. Também se observou que, três organizações apareceram nos destaques apresentados na Figura 7 e na Figura 9, indicando que estão com alta exposição ao risco, tanto pelo o seu Poder Econômico, tanto pelo seu
Poder de Regulação. São elas: Agência Nacional de Transpores Terrestres (ANTT), Ministério da Saúde (MS) e
Ministério do Trabalho (MTb). A Tabela 3 apresenta um resumo do número de instituições por faixa de exposição
Tabela 3 – Quantitativo de instituições por faixa de exposição
Exposição Poder Econômico
Estatais
Poder Econômico
Demais Instituições
Poder de Regulação
Baixa 12 13 12
Média 37 122 43
Alta 10 85 13
Muito alta 0 8 4
Total 59 228 72
D. Designação de dirigentes
D.1 Ausência de critérios objetivos para ocupação de cargos/funções comissionados aumenta a
exposição das instituições federais ao risco de fraude e corrupção 77. Constatou-se que ainda não foi regulamentado o art. 5º da Lei 13.346/2016, o qual determina que o
Poder Executivo Federal defina os critérios, perfil profissional, bem como procedimentos gerais para a ocupação
de cargos e funções comissionadas. Esse vácuo normativo repercute na nomeação de ocupantes de cargos e
funções comissionados sem que possuam, em regra, critérios específicos de provimento a serem observados, o que aumenta a exposição das instituições do Poder Executivo ao risco de fraude e corrupção.
78. A preocupação com a definição de critérios para ocupantes de cargos relevantes na Administração
Pública Federal foi externada, não só na Lei 13.346/2016, que dispôs sobre cargos e funções comissionados, como também na Lei 13.303/2016 (Lei das Estatais). Com efeito, o artigo 17 desse último diploma definiu
critérios específicos para a indicação dos membros do Conselho de Administração, como também para os
cargos de diretor, inclusive presidente, diretor-geral e diretor-presidente das empresas estatais.
79. O Referencial Básico de Governança do TCU também destaca a importância de que os membros da Alta Administração possuam capacidade adequada e que o processo de seleção seja executado de forma
transparente, pautado em critérios e competências previamente definidos.
80. Dentre os critérios importantes para combate a fraude e corrupção, destacam-se aqueles vinculados a integridade e ética na designação de dirigentes. O RCFC/TCU estabelece o comportamento ético e íntegro da
alta administração como apoio fundamental na aplicação de controles para prevenir e mitigar ameaças de fraude
e corrupção nas organizações. O tom do topo é elemento reconhecido como essencial, não só pelo engajamento da alta administração em ações de promoção da ética e integridade, mas também para a promoção da liderança
pelo exemplo.
81. Os maiores cargos da Administração Pública Federal, à exceção dos de ministro e secretário-
executivo, passam pelo crivo da Casa Civil da Presidência da República. Para escrutinar as indicações que estão sob sua incumbência, a Casa Civil implantou um sistema eletrônico denominado Sistema Integrado de
Nomeações e Consultas – SINC. Conforme esclarecido pela Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil
(peça 109, p. 3 e 4), estão sujeitos ao sistema os cargos constantes na tabela a seguir:
Tabela 4 – Lista de cargos e funções sujeitos a análise da Casa Civil
Cargos/Funções Legislação aplicável
Indicações para cargos em comissão e funções de confiança cuja competência de provimento seja do Presidente da República ou do Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República: - nível equivalente a 5 e 6 do Grupo Direção e Assessoramento Superiores - DAS; e - Chefe de Assessoria Parlamentar e de titular de órgão
Art. 2º do Decreto 8.821/2016
116
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Cargos/Funções Legislação aplicável
jurídico da Procuradoria-Geral Federal instalados junto às autarquias e às fundações públicas federais.
Cargos e funções de confiança DAS101 níveis 3 e 4 (nível chefia)
Art. 3º, § 2º do Decreto 8.821/2016
Administradores e Conselheiros Fiscais de empresa pública e de sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União
Art. 22, caput, inciso II, do Decreto 8.945/2016
Propostas de consulta realizadas por demanda de órgãos da Presidência da República
---
82. Preliminarmente, é preciso destacar o avanço no controle das indicações pelo uso de sistema eletrônico. Apenas no período de agosto de 2017 a julho de 2018, a Casa Civil informou ter realizado 5.352
consultas à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que resultaram em 1.481 restrições, e 2.383 consultas ao
Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), com 493 restrições verificadas (peça 109, p. 3 e 4).
83. De fato, foi informado que são consultadas diversas informações a respeito do indicado, conforme
descrito a seguir (peça 109, p. 3 e 4): No Sistema são consultados e registrados os dados pessoais (CPF, nome, data de nascimento,
nacionalidade, naturalidade, filiação, RG e e-mail) dos indicados, o cargo para o qual o indicado está sendo
cogitado, o vínculo com o Serviço Público, a experiência profissional, e a residência dos últimos 10 anos. Em
geral, os órgãos de consulta (ABIN e CGU) registram informações pessoais sobre responsabilidade por empresa ou entidade; registros judiciais; registros condenatórios do Tribunal de Contas da União; inquéritos policiais; e
registros administrativos, como denúncias, sindicâncias ou processos administrativos disciplinares. Importante
frisar que a pesquisa tem como intuito verificar se há alguma vedação legal para o provimento do cargo. 84. Porém, a falta de critérios previamente estabelecidos para a análise das indicações aos cargos aumenta
o risco dessa avaliação, uma vez que prejudica a sua uniformidade e coerência. Adicionalmente, a Casa Civil
esclareceu que as consultas realizadas pela Casa Civil não têm efeito vinculante, e são meros registros de fatos para serem aferidos pelas autoridades competentes (peça 57, p. 4).
85. Em pesquisa realizada nos cadastros disponíveis para consulta no TCU, foram analisados todos os
ocupantes de cargos e funções comissionadas no período de agosto/2017 a julho/2018 (mesmo período indicado
na resposta da Casa Civil). Essa pesquisa revelou que 501 CPF apresentaram 554 restrições, conforme detalhado na tabela a seguir:
Tabela 5 – Número de restrições apontadas em cadastro dos ocupantes de cargo ou função
comissionada no período de agosto/2017 a julho/2018 Cadastros/ Cargos DAS-3 DAS-4 DAS-5 DAS-6 Demais cargos/
funções Total Geral
Cadirreg (Cadastro de Responsáveis com Contas Julgadas Irregulares)
11 26 7 - 222 266
CEAF (Cadastro de Expulsões da Administração Federal)
2 5 2 1 21 31
CEIS (Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas)
- 3 - - 6 9
CNCIAI (Cadastro Nacional de Condenações Cíveis por Ato de Improbidade Administrativa e Inelegibilidade)
1 2 2 - 44 49
Sanção Indireta (cruzamento de dados - vínculos de Pessoas Físicas com Pessoas Jurídicas Sancionadas
10 16 7 3 163 199
Total Geral 24 52 18 4 456 554
Cruzamento de dados realizado em setembro/2018
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
86. Ressalta-se que os números apresentados nessa tabela não revelam por si só a existência de alguma
irregularidade nessas nomeações. O cadastro pode ter falsos positivos, algumas sanções podem ter sido
suspensas e/ou revertidas na justiça.
87. Contudo, chama a atenção a quantidade de expulsos da Administração Pública e condenados por improbidade administrativa que ocupam, ou ocuparam, cargos e funções de confiança no Poder Executivo,
muitas vezes na mesma instituição que aplicou a penalidade. Foi encontrado um caso específico, no qual um
ocupante de cargo DAS-4 teve duas expulsões cadastradas no CEAF oriundas de instituições diferentes. 88. Vale lembrar que esses números não englobam outros dados sobre os indicados aos cargos/funções
públicas avaliados em consulta a ABIN e a CGU, como a própria Casa Civil afirmou, como denúncias,
sindicâncias ou processos administrativos disciplinares, inquéritos policiais, entre outros.
89. Constatou-se também que a Casa Civil não consulta a CEP sobre o registro de punições éticas. Tal consulta está prevista no art. 22 do Decreto 6.029/2007:
A Comissão de Ética Pública manterá banco de dados de sanções aplicadas pelas Comissões de Ética de
que tratam os incisos II e III do art. 2o e de suas próprias sanções, para fins de consulta pelos órgãos ou entidades da administração pública federal, em casos de nomeação para cargo em comissão ou de alta relevância
pública.
90. Diante desse cenário, mostra-se mais do que razoável que sejam estabelecidos critérios mínimos de integridade e idoneidade para a ocupação desses cargos e funções na Administração Pública Federal. A esse
respeito, o Ministério do Planejamento já encaminhou, para análise da Casa Civil, a Exposição de Motivos EM
75/2018, na qual sugere critérios específicos para ocupação de cargos, entre competências técnicas e de
integridade. A análise dessa proposta ainda está em fase inicial, conforme informado em entrevista. 91. Em face da constatação e pela importância determinante do tema na governança pública e nas
estruturas preventivas contra a corrupção, mostra-se cabível propor que o TCU realize auditoria no sistema
SINC, de sorte a garantir a auditabilidade do sistema, bem como a devida responsabilização por cada passo executado do processo.
92. Cabe ressaltar que a indicação a cargos de natureza especial, como os de ministro e de secretário-
executivo, não passa obrigatoriamente pela análise do sistema SINC. Essa consulta é empreendida apenas
quando solicitada expressamente. No entanto, as boas práticas de integridade e comportamento ético, elencadas no RCFC/TCU e no Referencial de Governança, destacam a importância do comprometimento da Alta
Administração para com essas condutas. Dessa forma, mostra-se também pertinente recomendar que os maiores
cargos da Administração, como os de ministro e secretário-executivo, igualmente sejam objeto da mesma pesquisa realizada para cargos de menor hierarquia.
93. Além dos fatos já apresentados, foram constatadas fragilidades no registro das sanções éticas a cargo
da CEP, uma vez que tal registro é mantido em planilha do Programa Excel, e na forma de publicação das sanções éticas, hoje realizada apenas na condição de transparência passiva.
94. Contudo, o cadastro dessas informações em planilha Excel não garante algumas características
fundamentais de proteção da informação, como autenticidade e integridade (art. 6º, II da Lei 12.527/2011),
sendo definidas na mesma lei como: Art. 4º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
(...)
VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado indivíduo, equipamento ou sistema;
VIII - integridade: qualidade da informação não modificada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino;
95. Outra fragilidade encontrada diz respeito à forma de transparência dada a esse cadastro de punições éticas. Durante entrevista, a Secretaria-Executiva da CEP esclareceu que a transparência dada a essas
informações é conduzida na modalidade passiva. Assim, para ter acesso aos dados públicos desse cadastro, é
preciso que o interessado entre com um processo específico solicitando a informação desejada.
96. A CEP esclareceu que mantém no sítio eletrônico as punições aplicadas por ela mesma na forma de atas de suas reuniões (peça 58, p 1). Informou também a preocupação de divulgação na forma ativa das punições
impostas por outras comissões de ética, uma vez que podem gerar contestações na Justiça do Trabalho e
acarretar ações condenatórias para a União. 97. Porém, ainda que a informação esteja em atas publicadas na internet em sítio específico, acredita-se
que a publicidade dessas informações pode ser realizada em consultas mais diretas, de maneira a dar melhor
118
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
publicidade, buscando o desenvolvimento do controle social destacado no art. 3º, inciso V da Lei 12.527/2011. Ademais, a disponibilização de consulta pública facilitada a esse cadastro auxiliaria todos os órgãos da
Administração Pública, quando da avaliação de indicados para cargos efetivos e comissionados, bem como para
funções públicas. 98. Porém, como propriamente alertado pela CEP, nessa divulgação deverão ser avaliados os eventuais
riscos de danos ao erário no caso da divulgação dos nomes de servidores e empregados públicos que sofreram
sanções éticas por comissões locais. 99. Por fim, não houve achados específicos nas seis instituições auditadas para a designação de dirigentes,
uma vez que os controles dessa seleção para a alta administração não são realizados por elas. Entretanto, vale
destacar as boas práticas verificadas no BB e na Anac, que editaram normativos específicos sobre a nomeação
de cargos e funções da sua alçada. 100. O BB possui política específica de indicação e sucessão, cuja abrangência alcança não somente o
Banco, mas também suas empresas controladas, coligadas e participadas. As demais funções da instituição são
divulgadas por meio de sistema informatizado de recrutamento interno denominado sistema TAO, o qual permite a todos os funcionários a inscrição nas oportunidades de carreira do interesse deles. Já a Anac
estabeleceu critérios específicos para nomeação e exoneração de cargos comissionados, por meio da Instrução
Normativa-Anac 117, de 6/9/2017.
E. Gestão de Riscos e Controles Internos
E.1 Maioria das Instituições do Poder Executivo com maiores Poderes Econômico e de Regulação
declararam que não adotam sistematicamente gestão de riscos de modo a prevenir casos de fraude e
corrupção 101. O levantamento do IGG 2018 revelou que a maioria das instituições com alto Poder Econômico e de
Regulação ainda permanecem em níveis iniciais em relação à implantação de gestão de riscos e controles
internos. Os maiores níveis de controle foram verificados nas estatais, que, por sua própria natureza e pelo mercado ao qual estão inseridas, são mais demandadas a desenvolver esses controles. Entretanto, a situação é
inversa nas instituições pertencentes ao OGU, conforme demonstrado na figura a seguir.
119
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Figura 10 – Gráfico do estágio de implantação de Gestão de Riscos e Controles Internos dos 30%
maiores Poderes Econômico e de Regulação
102. O gráfico revela que 80% instituições de maior poder econômico pertencentes ao OGU ainda estão
em níveis iniciais de estabelecimento desses controles. Situação semelhante é observada nas instituições com
alto poder de regulação que apresentaram 51% das instituições nesse estágio.
103. Em relação a implantação de controles específicos de combate a fraude e corrupção, os níveis de implantação foram ainda mais baixos. Essa situação era de certa forma esperada, já que uma das condições
essenciais para implantação de controles dessa natureza é uma gestão de riscos avançada. O gráfico a seguir
demonstra o grau de implantação de controles detectivos nas instituições de maiores poderes econômico e de
regulação (30% maiores).
30%
4%
13%
45%
16%
26%
21%
67%
48%
3%
13% 13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Poder Econômico - Estatais Poder Econômico - OGU Poder de RegulaçãoAprimorado Intermediário
120
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Figura 11 - Gráfico do estágio de implantação de controles detectivos de fraude e corrupção dos
30% maiores Poderes Econômico e de Regulação
104. Percebe-se que 86% das instituições declararam que não passaram do estágio inicial na implantação
de controles específicos para detecção de combate a fraude e corrupção. A maior parte das instituições que
apresentaram controles mais avançados são as estatais, valor esperado já que possuem, em geral, gestão de risco
mais avançada. 105. É preciso reconhecer que implantação de rotinas com análise de dados para detecção de fraudes é
medida avançada e que no contexto de várias instituições essa medida pode não ser necessária. Entretanto, essa
decisão deve ser tomada a partir de uma análise de risco adequada, fato não comprovado pelos dados da maioria das instituições. Essa situação é mais precária ao se analisar o extrato de instituições com os maiores poderes
aqui analisados.
106. Dados semelhantes foram observados durante a análise das seis instituições auditadas. Constatou-se
que não há ainda uma gestão efetiva de riscos na ANM, no Ibama, no MS e no MTb. No caso do MS, já haviam sido aprovadas a política e as diretrizes de gestão de risco por meio de portaria interna, mas a estrutura prevista
ainda estava em fase inicial de implantação. No Ibama, apesar de ter sido criado o Comitê de Governança,
Riscos e Controles (CGRC), por meio da Portaria-Ibama 661/2018, ações básicas de uma efetiva gestão de riscos não haviam sido ainda implantadas (peças 114, 116, 117 e 119).
107. No Banco do Brasil, não foram constatados achados nesses temas (peça Achados BB). A Anac, por
sua vez, já contava com gestão de risco, mas foram observados alguns poucos achados que serão descritos a
seguir, em conjunto com aqueles observados nas demais unidades (peça 113). 108. Com exceção da Anac e do Banco do Brasil, foram constatadas as seguintes fragilidades nas demais
unidades visitadas (ANM, Ibama, MS e MTb):
a) as decisões críticas que demandam segregação de funções não estão identificadas; b) não estão definidos diretrizes e critérios para segregação de funções vinculadas a decisões críticas;
c) as diretrizes e limites para exposição a risco não estão definidos;
d) os critérios de avaliação de riscos institucionais e de fraude e corrupção não estão definidos; e) não há controles proativos de detecção de transações incomuns;
f) os processos considerados críticos para o alcance dos objetivos institucionais não estão identificados.
5%
9%
33%
53%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Controles Detectivos de fraude e corrupção
Aprimorado Intermediário Inicial Inexpressivo
121
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
109. Com exceção da ANM e do Banco do Brasil, foi verificado que as unidades visitadas não possuem
sistema para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude e corrupção (red flags), bem como não
promovem incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a detecção de atividades fraudulentas por meio de
técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas (data mining, data matching e data analytics). 110. Para ANM, Ibama, MS e MTb, constatou-se que:
a) Não são verificadas as vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do ingresso
de colaboradores e gestores da organização; b) Não há obrigatoriedade de os colaboradores e gestores da organização manifestarem e registrarem
situações de nepotismo e/ou que possam conduzir a conflito de interesses. 111. A Anac, por sua vez, não possui normas específicas para o tratamento de casos de conflito de
interesses, e não obriga colaboradores terceirizados a manifestarem e registrarem situações de nepotismo e/ou
que possam conduzir a conflito de interesses.
112. Por fim, nos ministérios do Trabalho e da Saúde não há rotina estabelecida para identificar e tratar eventuais casos de nepotismo envolvendo colaboradores e gestores da organização.
F. Gestão da Ética e Programa de Integridade
F.1 Pesquisa realizada entre as Instituições do Poder Executivo com maiores Poderes Econômico e
de Regulação revela que a Gestão da Ética e do Programa de Integridade nessas instituições ainda é
incipiente
113. A maioria das instituições de maior poder econômico e de regulação declararam que ainda não estão
implementadas medidas de monitoramento do programa de ética e que ainda não possuem um programa de integridade. Essas medidas são imprescindíveis para um gerenciamento da ética e integridade nas instituições.
De fato, das 102 instituições com maiores poderes econômico e de regulação, 70% declararam que não estão
implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética. Situação semelhante se encontra a implantação do
programa de integridade, conforme demonstra o gráfico da Figura 12. Nota-se novamente uma diferença expressiva entre as Estatais e as demais instituições do Poder Executivo no estágio de implantação.
Figura 12 – Gráfico do estágio de implantação do Programa de Integridade dos 30% maiores Poderes
Econômico e de Regulação
114. O programa de integridade é instrumento importante para estabelecer diretrizes, direcionar, gerenciar e monitorar ações de integridade na instituição. Além de ser internacionalmente reconhecido como medida
preventiva essencial no combate a fraude e corrupção. A obrigatoriedade da sua implantação é recente no
âmbito público, trazido pelo art. 19 Decreto 9.203/2017 que dispõe sobre a política de governança da
administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Entretanto, a CGU tem desenvolvido trabalho de conscientização sobre o tema a mais tempo, contando inclusive com oficinas facilitadoras para o seu
desenvolvimento.
61%
4% 4%
18%
7%
17%15%20%
13%
6%
69%65%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Poder Econômico - Estatais Poder Econômico - OGU Poder de RegulaçãoAprimorado Intermediário Inicial Inexpressivo
122
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
115. Por outro lado, é preciso reconhecer, que na análise do índice geral de controle de gestão da ética e
de integridade, o panorama é mais favorável, conforme demonstra a Figura 13.
Figura 13 – Gráfico do estágio de implantação de Gestão da Ética e Programa de Integridade dos
30% maiores Poderes Econômico e de Regulação
116. Entretanto, essa melhora nos números é altamente relacionada com a existência de códigos de ética,
tanto para servidores como para a alta administração. A maioria das organizações do OGU estabelece como
código de ética dos servidores aquele estabelecido pelo Decreto 1.171/1994 (Código de Ética Profissional do Servidor Público Federal). Entretanto, esse código apresenta mais princípios gerais, sem se adentrar em
particularização de condutas.
117. No caso de instituições com poderes relevantes (econômicos ou de regulação), em princípio, mostra-se adequado estabelecer código próprio de modo a complementar o estabelecido no referido Decreto. Nesse
caso, há maior esclarecimento ao respectivo corpo funcional, tanto dos limites aos quais estão submetidos, como
dos deveres éticos esperados deles. Acredita-se que, com o maior desenvolvimento dos programas de
integridade nas instituições, e consequente mapeamento de riscos de desvios éticos, as instituições possam decidir se a edição de um código de ético próprio é realmente necessária.
118. Panorama similar pode ser verificado nos seis estudos de caso analisados pela equipe de auditoria.
Quanto à gestão da ética, foram constatadas as seguintes boas práticas, por parte da Anac e do Banco do Brasil: a) A Anac realiza curso, na modalidade a distância, para promover a conduta ética do servidor,
conscientizando seu corpo funcional sobre o tema e ainda sobre as condutas esperadas deles;
b) O BB mantém ações específicas de promoção da ética na instituição, principalmente por meio de palestras e cursos sobre o tema, com destaque para a adoção de uma trilha de cursos sobre ética, como parte
obrigatória para ascensão profissional no Banco;
c) Ainda no BB, há coleta de comprometimento formal de acatamento e observância dos normativos
pertinentes, com periodicidade anual e sempre quando ocorre alteração nos respectivos normativos. 119. A ANM, a Anac, o Ibama e o Ministério da Saúde não possuem código de ética/conduta próprio, que
pudesse apresentar as condutas específicas exigidas dos seus servidores. Adotam o Código de Ética Profissional
do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal (Decreto 1.171/1994). 120. No conjunto das seis unidades estudadas, apenas o BB possui acompanhamento, monitoramento e
gestão da ética, medida indispensável para avaliar se as ações voltadas para a ética estão atingindo os objetivos
esperados.
121. Especificamente na ANM e no Ibama, foram constadas as seguintes fragilidades no tocante à gestão da ética:
55%
5%
26%
33%
47%
39%
12%
36%
30%
0%
11%
4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Poder Econômico - Estatais Poder Econômico - OGU Poder de RegulaçãoAprimorado Intermediário Inicial Inexpressivo
123
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
a) não há ações específicas de promoção da ética na instituição, seja pela divulgação, ou mesmo por
iniciativas de conscientização sobre o código de ética/conduta;
b) não se exige do corpo funcional termo de compromisso de acatamento e observância das regras
estabelecidas no código de ética/conduta por ocasião da posse no cargo ou investidura em função pública, em desconformidade com o estabelecido no art. 15 do Decreto 6.029/2007.
122. Em relação ao programa de integridade, com exceção do Banco do Brasil que já o possui e encontra-
se em pleno funcionamento, as demais unidades visitadas ainda estão elaborando o desenho ou iniciando a implementação do referido programa.
123. A ANM ainda não definiu unidade formalmente responsável pelo acompanhamento e gestão do
programa de integridade. A Anac havia instituído grupo de trabalho para estruturar esse programa, com prazo
final de envio para aprovação pela Diretoria Colegiada até novembro de 2018. O MS já havia iniciado a criação da estrutura organizacional prevista para o programa de integridade, mas o cronograma de implantação está
atrasado.
124. No MTb, o programa de integridade ainda estava em estágio inicial de desenho e estruturação, instituído em recente portaria interna, de maio de 2018. Por fim, o Ibama ainda não possuía programa de
integridade, tendo apenas instituído o Comitê de Governança, Riscos e Controles (CGRC), responsável pela
aprovação do futuro programa de integridade na instituição.
G. Auditoria Interna
G.1 Pesquisa revela que a Auditoria Interna das Instituições Federais do Poder Executivo com
alto Poder Econômico ou alto Poder de Regulação não conduzem ações específicas de atuação sobre riscos
de fraude e corrupção 125. A análise dos dados obtidos no levantamento revelou que a auditoria interna das instituições
praticamente não atua na avaliação de riscos de fraude e corrupção. Segundo modelo apresentado, tanto na
Instrução Normativa-CGU 3/2017, como também no RCFC/TCU, a Auditoria Interna deve atuar como terceira linha de defesa da gestão na estrutura de controles internos dos órgãos e entidades da Administração Pública. Há
de se ressaltar que não faz parte das competências clássicas da Auditoria Interna a investigação e avaliação de
casos de fraude e corrupção. Contudo, a sua atuação é relevante na medida em que avalia se os controles
internos instaurados são suficientes e adequados para combater a ocorrência desses desvios. 126. Ainda assim, os dados obtidos revelaram que a auditoria interna da ampla maioria das 102
instituições com maiores poderes econômico e de regulação possuem atuação incipiente na avaliação de riscos e
controles voltados a casos de fraude e corrupção. O gráfico a seguir demonstra os números obtidos na pesquisa.
Figura 14 – Gráfico do estágio de implantação de avaliações sobre risco de fraude e corrupção
realizado pela Auditoria Interna dos 30% maiores Poderes Econômico e de Regulação
124
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
127. Os gráficos demonstram como as Estatais novamente apresentam níveis mais aprimorados e
intermediários que as demais organizações. Chama a atenção o percentual de 65% de controle inexistente nas
instituições participantes do OGU.
128. A avaliação das seis instituições auditadas reflete as mesmas fragilidades apontadas nos dados acima. Em relação à auditoria interna do MS e do MTb, não foi possível avaliar o estatuto, planejamento e
atividades porque essa função é exercida neles pela Controladoria-Geral da União. De fato, as informações
prestadas pelos dois ministérios revelaram que eles não detêm informações sobre as atividades da CGU como sua auditoria interna, como Plano Anual de Auditoria Interna (PAINT) e Relatório Anual de Auditoria Interna
(RAINT).
129. Na Anac, foi verificada boa prática, introduzida em 2017, que consiste no processo de Autoavaliação
de Controles (AAC), implantado nas diversas áreas da agência, de forma a aumentar a presença da Auditoria Interna. A medida também ajuda a disseminar e fortalecer a cultura de gestão de riscos e controles na
instituição.
130. De forma similar, foi verificada no Banco do Brasil, como boa prática, a realização, desde 2016, de auditorias especiais e programadas, cujo objetivo é avaliar as causas de ocorrências de irregularidades de modo
a melhorar o gerenciamento de riscos e controles da instituição.
131. Na ANM, o Regulamento da Auditoria Interna não contém vedação para que os auditores internos participem em atividades que possam caracterizar cogestão, nem atribui à Auditoria Interna a competência para
avaliar a eficácia e contribuir para a melhoria dos processos de controle relacionados ao risco de fraude e
corrupção.
132. Os Planos Anuais de Auditoria Interna de 2017 e 2018 da ANM não contêm ações concretas de avaliação ou consultoria, visando à implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização,
nem trabalhos cujos objetos sejam: a governança organizacional, a avaliação dos controles internos dos
elementos críticos para o alcance dos objetivos organizacionais, a gestão da ética e da integridade, ou a avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção
133. Também, na referida agência, não houve trabalhos da Auditoria Interna, em 2016 e 2017, de
avaliação em áreas mais expostas a riscos, tais como: gestão de riscos da organização; controles internos da
gestão de processos finalísticos; riscos de tecnologia da informação; controles de mitigação do risco de fraude e corrupção; e gestão da ética e da integridade.
36%
9%
17%
36%
7%
17%
12%
18%
30%
15%
65%
35%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Poder Econômico - Estatais Poder Econômico - OGU Poder de RegulaçãoAprimorado Intermediário Inicial Inexpressivo
125
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
134. O Ibama, por seu turno, não possui estatuto para a Auditoria Interna, tendo suas competências
definidas apenas no regimento interno do instituto, o qual não apresenta algumas regulamentações consideradas
como boas práticas, a saber:
a) garantia de amplo acesso a documentos e informações pela auditoria interna; b) regras de reporte e monitoramento dos resultados dos trabalhos de auditoria;
c) reporte funcional da auditoria interna a mais alta instância interna de governança;
d) competência para avaliar a eficácia e contribuir para a melhoria dos processos de gestão de riscos; e) vedação de que os auditores internos participem em atividades que possam caracterizar cogestão.
135. Os Planos Anuais de Auditoria Interna de 2017 e 2018 do Ibama não contêm ações concretas de
melhoria na área fim da organização, bem como em processos de governança, gerenciamento de riscos e
controles finalísticos. 136. Também não houve, no instituto, trabalhos da Auditoria Interna, em 2016 e 2017, de avaliação em
áreas mais expostas a riscos, tais como: gestão de riscos da organização; controles internos da gestão de
processos finalísticos; riscos de tecnologia da informação; controles de mitigação do risco de fraude e corrupção; e gestão da ética e da integridade.
H. Transparência e Accountability
H.1 Pesquisa revela que ainda é preciso avançar na publicação de modelo de dados abertos nas
empresas estatais do Poder Executivo Federal de forma a aumentar a transparência 137. A maioria das estatais do Poder Executivo Federal ainda se encontram em grau inicial de
implantação de modelo de dados abertos, alinhado ao conceito de transparência ativa instituído pelo Decreto
7.724/2012, que regulamentou a Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei 12.527/2011). A compilação dos dados sobre transparência e accountability da pesquisa realizada indicam que as instituições obtiveram avanços
significativos no tema. Entretanto, o mesmo não foi observado nas estatais, conforme demonstra a Figura 15.
Figura 15 – Gráfico do estágio de implantação do modelo de dados abertos dos 30% maiores
Poderes Econômico e de Regulação
138. Os dados revelam que 72% das estatais, dentre aquelas com maior poder econômico avaliado, ainda
estão em estágios iniciais de implementação do modelo. Vale reconhecer que nem todos os dados de uma estatal
devem ser públicos, há muitos dados que podem prejudicar a sua atuação no mercado privado. Entretanto, o avanço na estruturação de um modelo de dados abertos irá demonstrar quais informações são passíveis de
publicação, sem que haja prejuízo na atuação da empresa.
15%
40%
50%
12%15%
9%
48%
18%
27%24%
27%
14%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Poder Econômico - Estatais Poder Econômico - OGU Poder de RegulaçãoAprimorado Intermediário Inicial Inexpressivo
126
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
139. Na avaliação realizada no Banco do Brasil, constatou-se achado relativo à ausência de publicação da
agenda da alta administração, em desconformidade com o art. 11 da Lei 12.813/2013 e a Resolução-CEP
11/2017. O Banco do Brasil argumentou que ainda não tinham sido identificados eventos na agenda de seus
administradores passíveis de divulgação. Entretanto, a equipe auditoria entende não ser razoável que todos os eventos de agenda dos membros da alta administração do Banco ‘possam ter impacto sobre a precificação de
ativos ou que tratem de tema resguardado por sigilo comercial’.
140. No mesmo tema, foram constatadas muitas lacunas nas agendas do Secretário-Executivo e dos titulares das secretarias do MTb, sugerindo não estar havendo a publicação adequada dessas informações pela
referida pasta.
141. Em relação às demais análises empreendidas sobre o tema, não foram apontados achados na Anac.
142. Na ANM, no Ibama, no MS e no MTB, não estavam definidos critérios, diretrizes e limites para relacionamento com todas as partes interessadas (internas e externas à organização), e não havia avaliação da
satisfação de todas as partes interessadas com as informações prestadas.
143. Especificamente na ANM, não havia controles e mecanismos de asseguração da qualidade das informações prestadas e não estavam definidos diretrizes, critérios e limites para abertura de dados e acesso à
informação.
I. Conclusão 144. O principal objetivo do presente trabalho foi elaborar uma metodologia para avaliar se os controles
de prevenção e detecção relacionados a fraude e corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão
compatíveis com seus Poderes Econômico e de Regulação. Para tanto, foi elaborado um mapa geral sobre a
exposição a fraude e corrupção de 287 instituições. 145. Também foram auditadas seis instituições, para avaliar in loco a implantação de controles para
mitigar a ocorrência desses fenômenos nocivos. Assim foi possível identificar boas práticas realizadas pelas
instituições públicas, e no caso de fragilidades, propor melhorias de forma a mitigar efeitos e eliminar ou reduzir a probabilidade de ocorrência de suas causas.
146. A análise do mapa elaborado revelou que, de maneira geral, as estatais possuem controles mais
proporcionais ao valor gerido por elas que as demais instituições do Poder Executivo analisadas. Essa
maturidade na avalição pode ser explicada, em primeira hipótese, pela maior aproximação dessas instituições do mercado privado, que acabam por impulsionar a adoção de melhores controles de forma a aumentar a sua
lucratividade. Adicionalmente, alguns dos controles implantados são oriundos de exigências legais específicas
para essas instituições. 147. O mapa demonstrou, ademais, que 38 unidades com alto poder econômico possuem fragilidades
nos controles alta e muito alta, o que gera uma alta exposição ao risco de fraude e corrupção. Essas
instituições juntas gerem um orçamento anual de mais de R$ 216 bilhões. 148. Quanto ao mapa do Poder de Regulação, foi observado que sete das instituições com maior poder
regulatório apresentaram fragilidades de controle alta e muito alta, o que as coloca em uma situação de alta
exposição a riscos de fraude e corrupção. Dentre essas, três delas também apresentaram alta exposição devido
ao seu Poder Econômico. 149. Sobre os critérios de controle a contrapor os riscos de fraude e corrupção advindos do poder
econômico e do poder de regulação, um merece particular destaque: a indicação de dirigentes. A auditoria
revelou que a ausência de critérios mínimos e objetivos para a indicação de dirigentes nas instituições
federais aumenta a sua exposição a casos de fraude e corrupção. A escolha de dirigentes comprometidos
com padrões de ética e integridade é medida indispensável para o sucesso de medidas de combate a fraude e
corrupção. 150. Reconhece-se que a Lei das Estatais avançou em controles na escolha dos seus administradores,
quando especificou critérios mínimos a serem observados na designação. Dentre esses requisitos estão
estabelecidos critérios objetivos de reputação ilibada e de ausência de conflito de interesses. Entretanto, o
mesmo não foi estabelecido para as demais instituições do Poder Executivo Federal. 151. A Casa Civil estabeleceu sistema específico para controlar a indicação de pessoas para cargos e
funções comissionadas sujeitas ao seu crivo, o que inegavelmente melhorou a tramitação desses pedidos.
Contudo, sem critérios objetivos para serem aferidos, a decisão pelas nomeações tende a não guardar uniformidade e coerência.
127
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
152. Cruzamento de dados realizado pela equipe revelou que no período entre agosto/2017 a julho/2018,
foram verificadas mais de 554 restrições em ocupantes de cargos ou funções comissionadas. Ainda que os
cadastros possam conter falsos positivos, chama atenção que muitas vezes os servidores ocupam cargos nas
mesmas instituições que aplicaram as penas cadastradas. A pesquisa revelou um caso concreto de um
ocupante de cargo DAS-4 que tem duas expulsões cadastradas no CEAF oriundas de instituições
diferentes.
153. Assim, mostra-se necessário e urgente que o Poder Executivo regulamente o art. 5º da Lei 13.346/2016, o qual determina que o Poder Executivo Federal defina os critérios, perfil profissional, bem
como procedimentos gerais para a ocupação de cargos e funções comissionadas.
154. Ainda sobre os controles a serem contrapostos à exposição ao risco de corrupção, a pesquisa também
revelou a baixa adoção de desenvolvimento da gestão de riscos nas instituições, de forma a prevenir casos de fraude e corrupção. Os dados do levantamento do IGG indicaram que cerca de 80% das instituições com alto
poder econômico e de regulação, pertencentes ao OGU, ainda estão em níveis iniciais de estabelecimento
desses controles. Sem uma gestão de riscos eficiente as instituições ficam mais vulneráveis a práticas danosas ao erário. A avaliação e risco é etapa essencial para uma boa administração dos controles internos das
organizações.
155. Outro problema apontado pela pesquisa é que a gestão da ética e do programa de integridade
ainda se encontram em fases iniciais. De fato, das 102 instituições com maiores poderes econômico e de
regulação, 70% declararam que não estão implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética.
Já o programa de integridade apresentou novamente situação polarizada ente as estatais e as demais instituições
do Poder Executivo com alto poder econômico. Dentre as estatais, cerca de 61% delas apresentaram
informações de que se encontram em estágio aprimorado na implantação do programa. Já para as demais
instituições pertencentes ao OGU, o total de 69% delas indicaram que se encontram em estágio inexpressivo
de implantação. 156. A análise conjunta desses três primeiros pontos – falta de requisitos mínimos para indicação de
dirigentes; implantação em estágio inicial da gestão de riscos; e deficiências na gestão da ética – indica
preocupante vulnerabilidade das instituições públicas à ocorrência de casos de fraude e corrupção.
157. Somado a isso, o levantamento revelou também que a auditoria interna das instituições executa
poucas ações voltadas a análise de riscos de fraude e corrupção. A atuação da auditoria interna é identificada
como a terceira linha de defesa no sistema de controles internos. No contexto analisado, isso ganha mais
importância uma vez que foram apontadas fragilidades de outros controles preventivos e detectivos. 158. Já nos controles que envolvem quesitos de transparência e de accountability, os dados revelaram que
as estatais de maior poder econômico pouco avançaram no estabelecimento de modelo de dados abertos.
Essa maior resistência na abertura dos dados das estatais é fortemente influenciada por elas estarem inseridas no mercado privado, alegando muitas vezes sigilo comercial. Contudo, o avanço na estruturação do modelo de
dados abertos irá demonstrar quais informações são passíveis de publicação, sem que haja prejuízo na atuação
da empresa, com o ganho no aumento da transparência.
159. Em face dos fatos apontados, e os potenciais riscos verificados nas análises empreendidas, mostra-se razoável encaminhar o presente relatório, acompanhado de voto e acórdão, para o Comitê de Riscos,
Governança e Desburocratização Presidência da República, em face do mandato a ele instituído por meio da
Portaria PR/GSI nº 65/2018. O artigo 2º desse normativo destaca que o comitê possui como competências, entre outras:
a) promover condutas com padrões de ética e integridade no setor público;
b) institucionalizar estruturas adequadas de governança, gestão de riscos e controles internos; c) liderar e supervisionar a institucionalização da gestão de riscos e dos controles internos;
d) estabelecer limites de exposição a riscos globais do órgão. 160. Esses apontamentos, em maior e menor grau, também foram objeto de constatação na análise das
seis instituições, objetos de estudo de caso no presente trabalho. Esses casos foram tratados em relatórios de achados individuais, constantes em peças no processo, conforme identificado na Tabela 2. Os achados no
presente relatório, apresentaram informações resumidas sobre essas ocorrências, das quais se originaram
também propostas de determinações e recomendações para as instituições auditadas, de forma a mitigar as falhas encontradas na presente auditoria.
128
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
J. Proposta de encaminhamento 161. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
161.1. Encaminhar cópia do presente relatório, acompanhado do voto e da decisão que vier a ser adotada,
ao Comitê de Riscos, Governança e Desburocratização Presidência da República, em face das competências a instituídas a ele instituídas por meio da Portaria PR/GSI nº 65/2018, alertando-a para os potenciais riscos
identificados a partir do presente trabalho:
161.1.1. 38 unidades com alto poder econômico possuem fragilidades nos controles alta e muito alta, o que gera uma alta exposição ao risco de fraude e corrupção, em um orçamento controlado de mais de 216
bilhões de reais, conforme descrito no capítulo C do relatório;
161.1.2. 80% das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos 30% maiores),
pertencentes ao OGU, ainda estão em níveis iniciais de estabelecimento de gestão de riscos e controles internos, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
161.1.3. 86% das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos 30% maiores),
declararam que não passaram do estágio inicial na implantação de controles específicos para detecção de combate a fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
161.1.4. 69% dos órgãos pesquisados com alto poder econômico (extrato dos 30% maiores), à exclusão
das estatais, indicaram que se encontram com seus programas de integridade em estágio inexpressivo de implantação, conforme descrito no capítulo F.1 do relatório;
161.1.5. das 102 instituições com maiores poderes econômico e de regulação, 70% declararam que não
estão implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética, conforme descrito no capítulo E.1 do
relatório; 161.1.6. as auditorias internas das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos 30%
maiores) executam ações ainda tímidas voltadas a análise de riscos de fraude e corrupção, conforme descrito no
capítulo E.1 do relatório; 161.1.7. as estatais de maior poder econômico (extrato dos 30% maiores) pouco avançaram no
estabelecimento de modelo de dados abertos, em baixa transparência e accountability, conforme descrito no
capítulo E.1 do relatório;
161.1.8. ausência de critérios mínimos e objetivos para a indicação de dirigentes nas instituições federais aumenta a sua exposição a casos de fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
161.1.9. no período entre agosto/2017 a julho/2018, foram verificadas 554 potenciais restrições em
ocupantes de cargos ou funções comissionadas que, embora possa conter os chamados ‘falsos positivos’, apresentam-se como potencializadoras de risco haja vista em alguns casos constatou-se que os servidores
ocupam cargos nas mesmas instituições que aplicaram as penas cadastradas; sendo que, em um dos casos, um
ocupante de cargo DAS-4 que tem duas expulsões cadastradas no CEAF oriundas de instituições diferentes, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
161.2. Determinar à Seccor que encaminhe cópia do presente relatório, acompanhado do voto e da
decisão que vier a ser adotada, às instituições públicas com maior exposição ao risco listadas nos mapas de
exposição constantes no capítulo C, de acordo com a capacidade da unidade técnica de posterior monitoramento, para que, de posse deste trabalho, aquelas jurisdicionadas encaminhem plano de ação e/ou se
manifestem sobre a aparente insuficiência de controles apresentados frente ao risco a quem estão expostos;
161.3. Determinar à Segecex que considere o quadro de risco ínsito nos capítulos C e E1 em respaldo do seu próximo plano de fiscalização, em apoio às demais condições de risco então empregadas para a definição
dos futuras auditorias;
161.4. recomendar, com fundamento no art. 250, III, do Regimento Interno do TCU, e em conformidade com o disposto no artigo 6º da Resolução-TCU 265/2014:
161.4.1. à Presidência da República, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os seguintes
procedimentos:
161.4.1.1. estender, em prol da integridade, a pesquisa realizada pela Casa Civil, por meio do sistema SINC, sobre pessoas indicadas para a alta administração dos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal,
também aos cargos de natureza especial;
161.4.2. à Casa Civil da Presidência da República, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
129
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
161.4.2.1. inclusão, no normativo demandado pelo art. 5º da Lei 13.346/2016, além de critérios de
capacidade técnica, critérios de integridade, a exemplo daqueles contidos no art. 17 da Lei 13.303/2016;
161.4.2.2. realização de consulta à CEP sobre a existência de sanções éticas para os indicados aos cargos
sujeitos às análises do SINC, conforme previsto no art. 22 do Decreto 6.029/2007; 161.4.2.3. manutenção do cadastro de punições éticas a cargo da Secretaria-Executiva da CEP em
plataforma tecnológica capaz de garantir a disponibilidade, autenticidade e integridade dessa informação,
conforme estabelecido no art. 6º, II da Lei 12.527/2011; 161.4.2.4. estabelecimento de transparência ativa ao cadastro de punições éticas, de modo a promover
divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações, em prol do
desenvolvimento do controle social da administração pública, conforme descrito no art. 3º, II e V da Lei
12.527/2011, devendo-se avaliar os eventuais riscos de danos ao erário no caso da divulgação dos nomes de servidores e empregados públicos que sofreram sanções éticas por comissões locais;
161.4.2.5. notificação à CEP da nomeação dos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013, de modo a
viabilizar a fiscalização da entrega das informações contidas no inciso I do art. 9º da mesma lei; 161.4.2.6. elaboração de normativo específico para que as estatais encaminhem notificação à CEP das
suas nomeações dos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013;
161.5. determinar, com fundamento no art. 250, III, do Regimento Interno do TCU, e em conformidade com o disposto nos artigos 2º e 4º da Resolução-TCU 265/2014:
161.5.1. à Agência Nacional de Mineração que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de
ação, especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os responsáveis pelas ações; III - os prazos
para implementação; para que sejam saneados os seguintes problemas: 161.5.1.1. inexistência de termo de compromisso de acatamento e observância das regras estabelecidas no
código de ética/conduta por parte do corpo funcional da organização, a ser assinado por ocasião da posse no
cargo ou investidura em função pública, conforme estabelecido no art. 15 do Decreto 6.029/2007; 161.5.1.2. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética, conforme
previsto no Art. 6º, XI, Regimento Interno da Comissão de Ética Setorial do DNPM;
161.5.1.3. não estabelecimento da unidade de gestão da integridade conforme determinado no art. 4º da
Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018; 161.5.1.4. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada à ANM, conforme disposto no art. 3
da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016;
161.5.2. à Agência Nacional de Aviação Civil que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de ação, especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os responsáveis pelas ações; III - os
prazos para implementação; para que sejam saneados os seguintes problemas:
161.5.2.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de gestão da ética, a serem definidas no programa de integridade da instituição, conforme previsto no art. 7º, alínea ‘d’, do Decreto
6.029/2007 e no art. 1º, inciso XXIV da Resolução-Anac 431 de 6/6/2017;
161.5.2.2. não desenvolvimento do programa de integridade da Anac, conforme disposto no Decreto
9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Anac 1.592/2018, de 22/5/2018; 161.5.3. ao Banco do Brasil que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de ação,
especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os responsáveis pelas ações; III - os prazos para
implementação; para que seja saneada a ausência de divulgação das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta administração, em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na
Resolução-CEP 11/2017 e na sua resposta à consulta tratada no processo 00191.000059/2018-35;
161.5.4. ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de ação, especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os
responsáveis pelas ações; III - os prazos para implementação; para que sejam saneados os seguintes problemas:
161.5.4.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética, conforme
previsto no art. 7º, alínea ‘d’, do Decreto 6.029/2007; 161.5.4.2. não desenvolvimento do programa de integridade do Ibama, conforme disposto no Decreto
9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Ibama 661, de 13/3/2018;
161.5.4.3. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada ao Ibama, conforme disposto no art. 3 da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016;
130
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
161.5.5. ao Ministério da Saúde que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de ação,
especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os responsáveis pelas ações; III - os prazos para
implementação; para que sejam saneados os seguintes problemas:
161.5.5.1. não realização das ações de acompanhamento, monitoramento e de gestão da ética, previstas no art. 3º do Regimento Interno da Comissão de Ética;
161.5.5.2. inexistência do programa de integridade do Ministério, estipulado no Decreto 9.203, de
22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-MS, 1.822, de 20/7/2017; 161.5.5.3. não implantação da gestão corporativa de riscos do Ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016, e na Portaria-MS 1.822, de 20/7/2017;
161.5.6. ao Ministério do Trabalho que apresente, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, plano de ação,
especificando, no mínimo: I - as ações a serem adotadas; II - os responsáveis pelas ações; III - os prazos para implementação; para que sejam saneados os seguintes problemas:
161.5.6.1. não divulgação plena das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta administração,
em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na Resolução-CEP 11/2017; 161.5.6.2. não implantação da gestão corporativa de riscos do Ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016;
161.6. recomendar, com fundamento no art. 250, III, do Regimento Interno do TCU, e em conformidade com o disposto no artigo 6º da Resolução-TCU 265/2014:
161.6.1. à Agência Nacional de Mineração, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os
seguintes procedimentos:
161.6.1.1. elaboração de código de ética/conduta próprio, em andamento, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas dos seus servidores;
161.6.1.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização quanto ao código de ética/conduta aplicável ao seu corpo funcional; 161.6.1.3. estabelecimento de controles e mecanismos de asseguração da qualidade das informações
prestadas, com definição de critérios, diretrizes e limites para abertura de dados e acesso a informação;
161.6.1.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com partes interessadas (internas
e externas à organização) e avaliação da satisfação das partes interessadas com as informações prestadas; 161.6.1.5. revisão do regulamento da Auditoria Interna, de forma a atribuir competência à área para
avaliar a eficácia e contribuir para a melhoria dos processos de controle relacionados ao risco de fraude e
corrupção; 161.6.1.6. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes naturezas:
avaliação ou consultoria visando a implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização;
trabalhos cujo objeto seja a governança organizacional; trabalhos de avaliação dos controles internos dos elementos críticos para o alcance dos objetivos organizacionais; trabalhos cujo objeto seja a gestão da ética e da
integridade; e avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
161.6.1.7. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de trabalhos de avaliação em áreas
mais expostas a riscos, a saber: gestão de riscos da organização; controles internos da gestão de processos finalísticos; riscos de tecnologia da informação; controles de mitigação do risco de fraude e corrupção; e gestão
da ética e da integridade;
161.6.1.8. estabelecimento da obrigatoriedade de os colaboradores e gestores da organização manifestarem e registrarem situações de nepotismo e que possam conduzir a conflito de interesse;
161.6.1.9. verificação das vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do ingresso
de colaboradores e gestores da organização; 161.6.2. à Agência Nacional de Aviação Civil, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os
seguintes procedimentos:
161.6.2.1. estabelecimento da obrigatoriedade de os colaboradores terceirizados da organização
manifestarem e registrarem eventuais situações de nepotismo. Recomendar também a verificação das vedações relacionadas a conflito de interesse, quando do ingresso de colaboradores e gestores na organização;
161.6.2.2. elaboração de código de ética/conduta próprio, em andamento, subsidiado por mapeamento de
riscos éticos que contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas dos seus servidores; 161.6.2.3. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude e
corrupção (red flags), bem como a promoção incidental, de forma ampla e sistemática, da detecção de
131
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas (data mining, data matching e data analytics), com base em prévio mapeamento/identificação das circunstâncias possíveis de
fraude e corrupção nas atividades desenvolvidas em todas as áreas da agência;
161.6.2.4. estabelecimento da obrigatoriedade de os colaboradores terceirizados da organização manifestarem e registrarem situações de nepotismo;
161.6.2.5. verificação das vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do ingresso
de colaboradores e gestores da organização; 161.6.3. ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que avalie a
conveniência e a oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
161.6.3.1. elaboração de código de ética/conduta próprio, em andamento, subsidiado por mapeamento de
riscos éticos que contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas dos seus servidores; 161.6.3.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização quanto ao código de ética/conduta aplicável ao seu corpo funcional;
161.6.3.3. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com partes interessadas (internas e externas à organização) e avaliação da satisfação das partes interessadas com as informações prestadas;
161.6.3.4. elaboração de regulamento da Auditoria Interna, contemplando as boas práticas de auditoria
interna e de acordo com os normativos pertinentes emitidos pela CGU; 161.6.3.5. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes naturezas:
avaliação ou consultoria visando a implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização;
trabalhos cujo objeto seja a governança organizacional; trabalhos de avaliação dos controles internos dos
elementos críticos para o alcance dos objetivos organizacionais; trabalhos cujo objeto seja a gestão da ética e da integridade; avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
161.6.3.6. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de trabalhos de avaliação em áreas
mais expostas a riscos, a saber: gestão de riscos da organização; controles internos da gestão de processos finalísticos; riscos de tecnologia da informação; controles de mitigação do risco de fraude e corrupção; gestão da
ética e da integridade;
161.6.3.7. estabelecimento da obrigatoriedade de os colaboradores e gestores da organização
manifestarem e registrarem situações de nepotismo e que possam conduzir a conflito de interesse; 161.6.3.8. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude e
corrupção (red flags), bem como promover incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a detecção de
atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas (data mining, data matching e data analytics);
161.6.3.9. verificação das vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do ingresso
de colaboradores e gestores da organização; 161.6.4. ao Ministério da Saúde, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os seguintes
procedimentos:
161.6.4.1. elaboração de código de ética/conduta próprio, em andamento, subsidiado por mapeamento de
riscos éticos que contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas dos seus servidores; 161.6.4.2. defina critérios, diretrizes e limites para relacionamento com todas as partes interessadas
(internas e externas à organização) e que avalie a satisfação das demais partes interessadas com as informações
prestadas, além da satisfação do cidadão que se manifesta na Ouvidoria ou no Sistema de Informação ao Cidadão;
161.6.4.3. implante sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude e corrupção
(red flags), bem como promova, incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a detecção de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas (data mining, data
matching e data analytics), de acordo com o seu levantamento de risco;
161.6.4.4. estabeleça rotina para identificar e tratar eventuais casos de nepotismo envolvendo
colaboradores e gestores da organização, bem como a obrigatoriedade de os colaboradores e gestores da organização manifestarem e registrarem situações de nepotismo e que possam conduzir a conflito de interesse.
Recomendar também a verificação das vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do
ingresso de colaboradores e gestores da organização; 161.6.5. ao Ministério do Trabalho, que avalie a conveniência e a oportunidade de adotar os seguintes
procedimentos:
132
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
161.6.5.1. fortalecimento institucional da Comissão de Ética por meio da formalização do seu regimento
interno, contemplando a normatização de ações de acompanhamento, monitoramento e de gestão da ética;
161.6.5.2. revisão do código de ética próprio, a partir de um mapeamento de riscos éticos a que o MTb
está sujeito; 161.6.5.3. envolvimento da Comissão de Ética do MTb no desenvolvimento do Programa de Integridade
do Ministério, instituído pela Portaria 328/2018, tendo em vista que tal programa tem, dentre seus objetivos,
promover a prevenção, a detecção e a correção da prática de desvios éticos, matéria pertinente à citada comissão;
161.6.5.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com todas as partes interessadas
(internas e externas à organização), e avaliação da satisfação das demais partes interessadas com as informações
prestadas, além da satisfação do cidadão que acessa o Portal do MTb na internet; 161.6.5.5. estabelecimento de rotina para identificar e tratar eventuais casos de nepotismo envolvendo
colaboradores e gestores da organização, bem como a obrigatoriedade de os colaboradores e gestores da
organização manifestarem e registrarem situações de nepotismo e que possam conduzir a conflito de interesse; 161.6.5.6. verificação das vedações relacionadas a nepotismo e conflito de interesse, quando do ingresso
de colaboradores e gestores da organização;
161.7. comunicar à CEP a ocorrência de indícios de publicação insuficiente de agendas de autoridades do MTb e do Banco do Brasil, verificadas na presente auditoria, para subsidiar o cumprimento do seu dever de
fiscalizar essa atividade, atribuído pelo artigo 8º da Lei 12.813/2013;
161.8. comunicar à Presidência da República, à Casa Civil, e ao Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União das seguintes boas práticas constatadas, para que avaliem a conveniência e a oportunidade de disseminá-la entre os órgãos/entidades do Poder Executivo Federal:
161.8.1. promoção de ética adotada na Anac, caracterizada pela realização de um curso na modalidade a
distância, para promover conduta ética, conscientizando seus servidores sobre o tema e ainda sobre as condutas esperadas por eles;
161.8.2. implantação do processo de Autoavaliação de Controles (AAC) por parte da Auditoria Interna da
Anac;
161.8.3. estabelecimento de trilha ética obrigatória para ascensão profissional no âmbito do Banco do Brasil;
161.8.4. coleta de comprometimento formal de acatamento do código de ética/conduta e observância dos
normativos pertinentes, com periodicidade anual e sempre quando ocorrer alteração nos respectivos normativos, no âmbito do Banco do Brasil;
161.8.5. boa prática na atuação da Auditoria Interna adotada no BB, por meio da avaliação das causas de
ocorrências de irregularidades de modo a melhorar o gerenciamento de riscos e controles da instituição, para que avalie a conveniência e oportunidade de disseminá-la entre os órgãos/entidades do Poder Executivo Federal;
161.9. determinar à Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e Corrupção
que monitore a implementação das determinações e recomendações deste acórdão;
161.10. determinar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que, no âmbito da fiscalização ‘Avaliação dos Requisitos de qualificação para exercício de cargos e funções de livre provimento’ (Proposta Planejar 1141),
avalie também as funcionalidades do sistema SINC, verificando no mínimo a auditabilidade do sistema, bem
como a devida responsabilização pessoal por cada passo do processo; 161.11. determinar à Secretaria Geral de Controle Externo que, em conjunto com a Secretaria de
Soluções de Tecnologia da Informação – STI, disponibilize Relatório, Voto e Acórdão, bem como o Relatório
da Unidade Técnica que integra os autos, e o mapa de exposição da Administração Pública Federal a fraude e corrupção, na página do Tribunal na Internet, com acesso público, de forma a permitir que cada órgão avalie o
estágio em que se encontra em cada um dos diversos aspectos de amadurecimento dos controles para contrapor
a exposição aos riscos indicados, de forma a viabilizar a indicação do que deve ser implementado para o
respectivo aprimoramento; 161.12. dar conhecimento do Acórdão que vier a ser prolatado, bem como do Voto e Relatório que o
fundamentam, inclusive do Relatório da Unidade Técnica que compõe o documento: ao Ministério Público
Federal, ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União, e à Enccla – Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, para ciência e ampla divulgação do presente trabalho.”
É o relatório.
133
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
VOTO
Esta auditoria operacional foi coordenada pela Secretaria de Relações Institucionais de Controle
no Combate à Fraude e Corrupção - Seccor e realizada em conjunto com outras unidades deste
Tribunal. Objetivou avaliar se os controles de prevenção e detecção relacionados a fraude e a
corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com seus poderes
econômicos e de regulação, bem como propor melhorias nos controles associados para eliminar causas
sistêmicas ou mitigar efeitos.
2. Referido trabalho tem caráter inovador e busca estimar em que medida órgãos da
Administração Pública Federal se encontram expostos aos riscos de fraude e corrupção. O referencial
metodológico utilizado, de destacada robustez, contribuirá para que se ponderem risco e controle e se
evidenciem fragilidades nas estruturas e arcabouço legal de instituições públicas que favoreçam a
fraude e a corrupção.
3. Como um dos principais produtos desta auditoria, foi elaborado mapa de exposição ao risco de
fraude e corrupção, no qual se visualizam intuições públicas, de relevante poder econômico e
regulatório, que estão mais expostas a riscos, dadas as fragilidades de seu controle.
4. Importante ressaltar que o mapa não indica a ocorrência de casos concretos. Ainda que uma
instituição apareça no mapa em área indicativa de “alta exposição”, isso não significa que foram
apurados casos deste tipo no órgão em questão.
5. O Tribunal, ao realizar este trabalho, sinaliza às unidades fiscalizadas para que sejam adotados
cuidados e fortalecidas as estratégias e controles que evitem situações reais de fraudes e corrupção no
trato com os recursos públicos federais.
6. De acordo com o Referencial de Combate à Fraude e Corrupção - RDCF, já estabelecido pelo
TCU, o enfrentamento das instituições contra a corrupção deve ser empreendido por meio de cinco
mecanismos: prevenção, detecção, investigação, correção e monitoramento.
7. Assim, este trabalho, de cunho preventivo, educativo e informacional para as instituições
públicas envolvidas na fiscalização, propõe-se a mitigar cenário crítico em nosso País. Vale citar a
pesquisa apresentada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, publicada no ano 2010,
que asseverou perder o Brasil, a cada ano, entre 1,38 a 2,3% do seu Produto Interno Bruto - PIB para a
corrupção.
8. Recessão, desemprego, desequilíbrio fiscal, baixa qualidade de serviços públicos e a
percepção de alto grau de corrupção contribuem para que o cidadão não tenha confiança nas
instituições do Estado Brasileiro.
9. A sociedade clama pela justa e correta aplicação de volumosos recursos financeiros federais,
os quais, se devidamente aplicados, proporcionariam ações de saúde, segurança e educação para todos.
10. Neste cenário, o Tribunal de Contas da União, ao realizar o presente trabalho, e em atenção à
sua missão de aprimorar a Administração Pública para beneficiar a sociedade, pretendeu promover
olhar crítico acerca da necessidade de ações estruturantes preventivas de fraude e de riscos à corrupção
nas organizações públicas auditadas.
II
11. O modelo conceitual adotado foi desenvolvido a partir de pesquisa em artigos e trabalhos
sobre o tema. Os parâmetros selecionados para demonstrar a exposição de instituições públicas a riscos
de fraude e corrupção se fundamentaram no poder econômico, poder de regulação e controles
preventivos e detectivos de fraude e corrupção.
12. Em linhas gerais, considerou-se como poder econômico o somatório de recursos que o órgão
ou a entidade pública dispõem para promover contratações de bens e serviços, assim como a
134
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
disponibilidade numerária para transferências voluntárias para estados, municípios e entidades
privadas. O valor foi calculado a partir de planilhas de dados orçamentários disponíveis no site da
Secretaria de Orçamento Federal - SOF.
13. O poder de regulação foi medido com base em mandatos legais de instituições que dele
dispõem, a saber: os poderes de autorizar, de normatizar e de fiscalizar. A avaliação desses mandatos
legais foi realizada pelas Secretarias de Controle Externo do TCU, sobre o conjunto das respectivas
clientelas.
14. Os controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção utilizados neste trabalho se
originaram das práticas descritas no RCFC/TCU. Para a coleta dos dados foi utilizado o Índice
Integrado de Governança e Gestão - IGG 2018, cujo conjunto de questões estava sendo concluído por
ocasião do planejamento desta auditoria.
15. Definiram-se 22 questões do IGG 2018 (apêndice B do relatório da unidade técnica, peça
125) como instrumento de coleta de dados sobre o modelo e a implementação dos controles,
segmentado nos seguintes tópicos: Designação de Dirigentes, Gestão de Riscos e Controles Internos,
Gestão da Ética e Programa de Integridade, Auditoria Interna e Transparência e Accountability.
16. Esses cinco tópicos mencionados abrangeram práticas que representam controles essenciais
às instituições públicas, pois cobrem áreas primordiais como conscientização e monitoramento do
código de ética, cumprimento de compromissos firmados quando da investidura em cargo público,
mapeamento e tratamento de riscos para a integridade, normas sobre canais de comunicação e
qualidade da informação prestada, além de diretrizes e critérios para segregação de funções vinculadas
a decisões críticas e mapeamento de riscos.
17. A auditoria contemplou amostra de 287 órgãos e entidades do Poder Executivo Federal, para
os quais foram calculados os respectivos valores dos poderes econômico e de regulação (calculados
para 72 instituições), bem como os índices representativos da robustez dos controles contra fraude e
corrupção, a partir do IGG 2018.
18. O mapeamento da exposição a riscos de fraude e corrupção é resultado do cotejamento
desses fatores de riscos (poder econômico e poder de regulação) com os índices de robustez dos
controles mencionados.
19. Ademais, fez-se estudo de caso em amostra de seis unidades – e mais a Casa Civil e
Comissão de Ética Pública da Presidência da República - CEP –, as quais implementam controles
vinculados à designação de dirigentes e a conflitos de interesse de pessoas da alta Administração.
Nessa amostra foram avaliados in loco o desenho e a implantação de controles contra fraude e
corrupção, com identificação de fragilidades, assim como de boas práticas na atuação das instituições.
20. Importante registrar que a escolha dessa amostra levou em conta a natureza da unidade
(administração direta, autarquia, empresa estatal) e os índices obtidos no IGG 2017 (Acórdão
588/2018-Plenário, de relatoria do ministro Bruno Dantas), conhecidos quando do planejamento da
auditoria, para propiciar variedade de situações a serem estudadas.
21. A partir dos referidos parâmetros elaborou-se mapa de exposição das instituições federais a
fraude e a corrupção, cujos resultados mais relevantes comentarei adiante.
22. O mapa de exposição está dividido em quatro áreas, identificadas pelas cores verde (baixa
exposição), amarela (média exposição), laranja (alta exposição) e vermelha (altíssima exposição). O
posicionamento de uma instituição no mapa permite várias inferências sobre o seu grau de exposição.
III
23. O mapeamento da exposição a riscos de fraude e corrupção demonstrou que 38 unidades com
alto poder econômico possuem fragilidades nos controles nas classificações “alta” e “muito alta”, o
que gera bastante exposição aos referidos riscos. Essas instituições juntas geriram orçamento anual de
mais de R$ 216 bilhões.
135
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
24. Oitenta por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos 30%
maiores), pertencentes ao Orçamento-Geral da União - OGU, ainda estão em níveis iniciais de
estabelecimento de gestão de riscos e controles internos.
25. Oitenta e seis por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato
dos 30% maiores) declararam que não passaram do estágio inicial de implantação de controles
específicos para detecção de combate a fraude e corrupção.
26. Sessenta e nove por cento dos órgãos pesquisados com alto poder econômico (extrato dos
30% maiores), à exclusão das estatais, indicaram que se encontravam com seus programas de
integridade em estágio inexpressivo de implantação.
27. Das 102 instituições com maiores poderes econômico e de regulação, 70% declararam que
não estão implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética.
28. Por sua vez, as auditorias internas das instituições com alto poder econômico e de regulação
(extrato dos 30% maiores) executaram ações ainda tímidas voltadas à análise de riscos de fraude e
corrupção.
29. É forçoso concluir, ainda, que as estatais de maior poder econômico (extrato dos 30%
maiores) pouco avançaram no estabelecimento de modelo de dados abertos, de transparência e
de accountability.
30. Outra constatação de grande relevo diz respeito à ausência de critérios mínimos e objetivos
para indicação de dirigentes nas instituições federais, o que aumenta a exposição daquelas a casos de
fraude e corrupção. Não há dúvidas de que assegurar comportamento ético e íntegro da alta
Administração é fundamental na aplicação de controles para prevenir e mitigar ameaças de fraude e
corrupção nas organizações. A promoção da liderança pelo exemplo e o engajamento da alta
Administração em ações de promoção da ética e integridade são requisitos essenciais para coibir
práticas que favoreçam a corrupção.
31. Neste sentido, necessário reconhecer que a Lei das Estatais avançou em controles na escolha
dos seus administradores ao especificar critérios mínimos a serem observados em sua designação.
Entre esses requisitos constam critérios objetivos de reputação ilibada e ausência de conflito de
interesses. Entretanto, no âmbito das demais instituições do Poder Executivo Federal, nada foi
estabelecido ainda.
32. Os maiores cargos da Administração Pública Federal, à exceção de ministro e secretário-
executivo, passam pelo crivo da Casa Civil da Presidência da República. Para escrutinar as indicações
que estão sob sua incumbência, aquele órgão implantou um sistema eletrônico denominado Sistema
Integrado de Nomeações e Consultas - SINC.
33. A auditoria apurou que, no período de agosto de 2017 e julho de 2018, a Casa Civil informou
ter realizado 5.352 consultas à Agência Brasileira de Inteligência, que resultaram em 1.481 restrições,
e 2.383 consultas ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União - CGU, com 493
restrições verificadas (peça 109, p. 3 e 4).
34. Este trabalho realizou, ainda, estudo de casos em seis instituições públicas (Agência
Nacional de Aviação Civil - Anac, Agência Nacional de Mineração - ANM, Banco do Brasil - BB,
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, Ministério da
Saúde - MS, Ministério do Trabalho - MTb e Casa Civil), onde se constataram fragilidades atinentes à
efetiva gestão de riscos, promoção da ética profissional, implantação de programa de integridade e não
condução pelas auditorias internas de ações específicas sobre riscos de fraude e corrupção, as quais
estão descritas ao longo do relatório da unidade técnica.
35. Outro elemento importante deste trabalho foi o destaque de boas práticas que mereceram
registro pela equipe de auditoria, para as quais deve ser dada publicidade, a saber:
- promoção de ética adotada na Anac, caracterizada pela realização de curso na modalidade a
distância, para promover conduta ética, conscientizar seus servidores sobre o tema e ainda divulgar as
condutas esperadas pelos profissionais;
136
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
- implantação do processo de Autoavaliação de Controles - AAC por parte da Auditoria Interna
da Anac;
- estabelecimento de trilha ética obrigatória para ascensão profissional no âmbito do Branco do
Brasil;
- coleta de comprometimento formal de acatamento do código de ética e observância dos
normativos pertinentes, com periodicidade anual e sempre quando ocorrer alteração nos respectivos
normativos, no âmbito do Banco do Brasil;
- avaliação das causas de ocorrências de irregularidades de modo a melhorar o gerenciamento de
riscos e controles da instituição realizada pela Auditoria Interna do Banco do Brasil.
IV
36. Em face dos riscos e fragilidades constatados ao longo dos trabalhos de fiscalização, as
propostas da unidade técnica, que contam com minha anuência, foram de comunicações sobre os riscos
ao Comitê de Riscos, Governança e Desburocratização da Presidência da República e à própria
Presidência da República, de modo a subsidiar a sua atuação. Em acréscimo à proposta da unidade
especializada, os riscos levantados pela auditoria devem ser comunicados também ao coordenador da
equipe de transição instituída pelo Presidente da República eleito, a que se refere a Lei 10.609/2002.
37. Também serão expedidas várias determinações e recomendações para as sete instituições
visitadas in loco, de forma a mitigar as fragilidades. A divulgação das boas práticas verificadas para
outras instituições públicas é mais um encaminhamento relevante.
38. Quanto ao estabelecimento de critérios mínimos de integridade e idoneidade para ocupação
de cargos e funções na Administração Pública Federal, importa registar que o Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão já encaminhou, para análise da Casa Civil, a Exposição de
Motivos 75/2018, na qual sugere critérios específicos para ocupação de cargos, entre competências
técnicas e de integridade. Assim, caberá a este Tribunal acompanhar em futuras fiscalizações a
implantação de referida estratégia.
39. Nesse ponto, com o mais alto respeito à independência para o exercício do poder
regulamentar pelo Executivo, não posso deixar de registrar o quão importante é adotar medidas para
delimitar de forma objetiva as competências técnicas e as qualidades éticas indispensáveis à assunção e
ao exercício de funções públicas.
40. Considerando, ainda, que o tema idoneidade para ocupação de cargos e funções na
Administração Pública Federal é fundamental entre possíveis ações preventivas contra a corrupção,
mostra-se razoável que o TCU realize auditoria no Sistema Integrado de Nomeações e Consultas para
conhecer suas funcionalidades, auditabilidade do sistema, entre outros aspectos.
41. Como medidas internas a este Tribunal, a partir deste mapeamento de exposição a riscos de
fraude e corrupção, é pertinente que o mapa respalde futuros planos de auditoria, seja atualizado
periodicamente e divulgado na página do TCU na internet, assim como as boas práticas adotadas pelas
unidades jurisdicionadas que impactaram a evolução dos parâmetros que sustentam o mapa.
42. Acrescento como proposta de encaminhamento determinação para que este Tribunal envide
esforços no sentido de ampliar as análises deste trabalho no âmbito do Poder Executivo e, ainda,
procedidas as adaptações metodológicas pertinentes, aos demais Poderes da República.
43. Permito-me registrar que combater a corrupção não é adotar soluções mágicas e distantes de
nosso dia a dia. Precisamos estabelecer mecanismos nas organizações públicas que fortaleçam as
estruturas de integridade e controle, evitem as ações deletérias e induzam atuação eficiente e ética.
Por fim, destaco a qualidade do trabalho realizado pela Secretaria de Relações Institucionais de
Controle no Combate à Fraude e Corrupção e pelas demais unidades técnicas envolvidas e voto por
que seja adotada a minuta de acórdão que submeto à apreciação deste Colegiado.
137
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
DECLARAÇÃO DE VOTO
Ao tempo em que cumprimento a Ministra Ana Arraes pelo trabalho apresentado – o que lhe é
habitual –, manifesto minha genuína satisfação com as oportunidades que hão de surgir com as
propostas apresentadas: diálogo; construção; direção; sinergia; empatia.
Em toda minha vida, sempre valorizei o diálogo na construção de soluções. E mesmo nessa
implacável tarefa de julgar, existe espaço para a consensualidade. O presente trabalho, acredito, é
prova disso.
Pelo que percebo da metodologia, não se trata de um mapeamento de riscos apontado
acusatoriamente à administração, mas de uma contribuição quase pedagógica, de se mostrarem
caminhos para o aperfeiçoamento institucional no enfrentamento da corrupção.
Sei também que não consiste, somente, num retrato “inocente” de uma realidade de riscos,
porque tem o poder de transparecer a qualquer cidadão – e me refiro ao cidadão fiscal! – as eventuais
“facilidades” institucionais a tornarem convidativa a corrupção.
Mas talvez seja justamente esse desnudamento de riscos a chave da porta para a consensualidade.
Essa clarificação de desafios viabiliza um norte para os resultados. Nesse norte, procuraremos andar
lado a lado também em parcerias preventivas – com o MPF, com a CGU, com a Polícia Federal; mas
não esqueçamos dos gestores. Existe a oportunidade de construirmos juntos instituições mais sólidas e
íntegras.
E assim, senhora Ministra, esse desafio não poderia estar em melhores mãos: sua integridade, sua
experiência e sua trilha profissional a credenciam para liderar esse caminho.
Absolutamente de acordo com suas propostas, dou-lhe os merecidos parabéns pelo trabalho,
assim como à equipe da Seccor, liderada pelo Auditor Rafael Jardim.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Redator
ACÓRDÃO Nº 2604/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 010.348/2018-2
2. Grupo I – Classe V – Relatório de Auditoria.
3. Interessado: Tribunal de Contas da União.
4. Unidades: Casa Civil da Presidência da República, Agência Nacional de Aviação Civil,
Agência Nacional de Mineração, Banco do Brasil S/A, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e
Corrupção - Seccor.
8. Representação legal: Adriano Augusto de Souza (CPF 839.219.904-91) e Rodrigo Duarte
Dourado (CPF 695.827.421-00).
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida esta auditoria operacional, coordenada pela Secretaria de Relações
Institucionais de Controle no Combate à Fraude e Corrupção - Seccor, em conjunto com outras
unidades deste Tribunal, para avaliar se os controles de prevenção e detecção relacionados a fraude e a
138
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
corrupção das instituições federais do Poder Executivo estão compatíveis com seus poderes econômico
e de regulação.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com
fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 250, incisos II e III, do Regimento Interno,
e ante as razões expostas pela relatora, em:
9.1. encaminhar cópia desta deliberação ao Comitê de Riscos, Governança e Desburocratização
da Presidência da República em face das competências a ele instituídas por meio da Portaria PR/GSI
65/2018 e ao coordenador da equipe de transição instituída pelo Presidente da República eleito, a que
se refere a Lei 10.609/2002, alertando-os para os potenciais riscos identificados a seguir, a partir do
presente trabalho de fiscalização:
9.1.1. trinta e oito unidades com alto poder econômico possuem fragilidades nos controles nas
classificações “alta” e “muito alta” de exposição ao risco de fraude e corrupção, unidades essas que
controlam orçamento de mais de R$ 216 bilhões, conforme descrito no capítulo C do relatório;
9.1.2. oitenta por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato dos
30% maiores), pertencentes ao Orçamento-Geral da União - OGU, estão em níveis iniciais de
estabelecimento de gestão de riscos e controles internos, conforme descrito no capítulo E.1 do
relatório;
9.1.3. oitenta e seis por cento das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato
dos 30% maiores) declararam que não passaram do estágio inicial de implantação de controles
específicos para detecção de combate a fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do
relatório;
9.1.4. sessenta e nove por cento dos órgãos pesquisados com alto poder econômico (extrato dos
30% maiores), à exclusão das estatais, indicaram que se encontram com seus programas de integridade
em estágio inexpressivo de implantação, conforme descrito no capítulo F.1 do relatório;
9.1.5. das cento e duas instituições com maiores poderes econômico e de regulação, 70%
declararam que não estão implementadas medidas de monitoramento da gestão da ética, conforme
descrito no capítulo E.1 do relatório;
9.1.6. as auditorias internas das instituições com alto poder econômico e de regulação (extrato
dos 30% maiores) não possuem ações sistemáticas, consolidadas e institucionalizadas voltadas à
análise de riscos de fraude e corrupção, conforme descrito no capítulo E.1 do relatório;
9.1.7. as estatais de maior poder econômico (extrato dos 30% maiores) não apresentaram
modelos institucionalizados amplos e consistentes de dados abertos, transparência e accountability,
conforme descrito no capítulo H.1 do relatório;
9.1.8. ausência de critérios mínimos e objetivos para indicação de dirigentes nas instituições
federais, com elevado risco potencial de exposição a casos de fraude e corrupção, conforme descrito
no capítulo D do relatório;
9.1.9. no período entre agosto/2017 e julho/2018, foram verificadas 554 potenciais restrições em
ocupantes de cargos ou funções comissionadas, que, embora exijam avaliação individual para
conclusão definitiva acerca da irregularidade da situação, são riscos potenciais elevados porque há
indicativos de servidores que ocupam cargos nas mesmas instituições que aplicaram as penas
cadastradas e ainda de um ocupante de cargo DAS-4 com duas expulsões cadastradas no Cadastro de
Expulsões da Administração Federal - Ceaf, oriundas de instituições diferentes, conforme descrito no
capítulo D do relatório.
9.2. recomendar à Presidência da República que avalie a conveniência e a oportunidade de
estender a pesquisa realizada pela Casa Civil, por meio do Sistema Integrado de Nomeações e
Consultas - SINC, para toda a Administração Direta e Indireta do Poder Executivo, especialmente às
pessoas indicadas para a alta Administração dos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal e
também para cargos de natureza especial, em observância à integridade institucional e à proteção do
interesse público;
139
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3. recomendar à Casa Civil da Presidência da República que avalie a conveniência e a
oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
9.3.1. inclusão, além do critério de capacidade técnica, de critérios de integridade no normativo
demandado pelo art. 5º da Lei 13.346/2016, a exemplo daqueles contidos no art. 17 da Lei
13.303/2016;
9.3.2. realização de consulta à Comissão de Ética da Presidência da República - CEP sobre a
existência de sanções éticas para os indicados aos cargos sujeitos às análises do SINC, conforme
previsto no art. 22 do Decreto 6.029/2007, bem como às bases de dados do Tribunal de Contas da
União, especialmente para verificação dos casos da sanção de inabilitação para o exercício de cargo
em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública, prevista no art. 60 da Lei
8.443/1992;
9.3.3. manutenção do cadastro de punições éticas a cargo da Secretaria-Executiva da CEP em
plataforma tecnológica capaz de garantir a disponibilidade, a autenticidade e a integridade dessa
informação, conforme estabelecido no art. 6º, inciso II, da Lei 12.527/2011;
9.3.4. observada em cada caso a necessidade de resguardar informações de caráter pessoal,
adoção de medidas que confiram transparência ao cadastro de punições éticas, com divulgação de
informações de interesse público em relação a cada instituição, independentemente de solicitações, em
observância ao controle social da Administração Pública, conforme ínsito no art. 3º, incisos II e V, da
Lei 12.527/2011;
9.3.5. notificação à CEP da nomeação dos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013, de
modo a viabilizar a fiscalização da entrega das informações contidas no inciso I do art. 9º da mesma
lei, sem prejuízo das obrigações previstas na Lei 8.730/1993;
9.3.6. elaboração de normativo específico para que as estatais encaminhem notificação à CEP
acerca de suas nomeações nos cargos elencados no art. 2º da Lei 12.813/2013.
9.4. determinar às instituições a seguir relacionadas que apresentem planos de ação para sanear
os problemas apontados, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, especificando, no mínimo, as ações a
serem adotadas, os responsáveis pelas ações e os prazos para implementação:
9.4.1. à Agência Nacional de Mineração - ANM:
9.4.1.1. inexistência de termo de compromisso de acatamento e observância das regras
estabelecidas no código de ética e conduta por parte do corpo funcional da organização, a ser assinado
por ocasião da posse no cargo ou investidura em função pública, conforme estabelecido no art. 15 do
Decreto 6.029/2007;
9.4.1.2. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética,
conforme previsto no art. 6º, inciso XI, do Regimento Interno da Comissão de Ética Setorial do então
Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM;
9.4.1.3. não estabelecimento de unidade de gestão da integridade, conforme determinado no art.
4º da Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018;
9.4.1.4. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada à ANM, conforme disposto no
art. 3º da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016.
9.4.2. à Agência Nacional de Aviação Civil - Anac:
9.4.2.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de gestão da ética, a serem
definidas no programa de integridade da instituição, conforme previsto no art. 7º, alínea “d”, do
Decreto 6.029/2007 e no art. 1º, inciso XXIV, da Resolução-Anac 431 de 6/6/2017;
9.4.2.2. não desenvolvimento do programa de integridade da Anac, conforme disposto no
Decreto 9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Anac 1.592/2018,
de 22/5/2018.
9.4.3. ao Banco do Brasil:
140
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.4.3.1. ausência de divulgação das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta
Administração, em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na
Resolução-CEP 11/2017 da Comissão de Ética Pública.
9.4.4. ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama:
9.4.4.1. inexistência de acompanhamento e monitoramento das ações de promoção da ética,
conforme previsto no art. 7º, alínea “d”, do Decreto 6.029/2007;
9.4.4.2. não desenvolvimento do programa de integridade do Ibama, conforme disposto no
Decreto 9.203, de 22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-Ibama 661, de
13/3/2018;
9.4.4.3. não implantação da gestão corporativa de riscos adequada ao Ibama, conforme disposto
no art. 3 da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU 1/2016.
9.4.5. ao Ministério da Saúde:
9.4.5.1. não realização das ações de acompanhamento, monitoramento e de gestão da ética,
previstas no art. 3º do Regimento Interno da Comissão de Ética do Ministério da Saúde;
9.4.5.2. inexistência do programa de integridade do ministério, estipulado no Decreto 9.203, de
22/11/2017, na Portaria-CGU 1.089, de 25/4/2018, e na Portaria-MS, 1.822, de 20/7/2017;
9.4.5.3. não implantação da gestão corporativa de riscos do ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016, e na Portaria-MS 1.822, de 20/7/2017.
9.4.6. ao Ministério do Trabalho:
9.4.6.1. não divulgação plena das agendas de compromissos públicos dos cargos da alta
Administração, em obediência ao art. 11 da Lei 12.813/2013 e conforme requisitos estipulados na
Resolução-CEP 11/2017 da Comissão de Ética Pública;
9.4.6.2. não implantação da gestão corporativa de riscos do ministério, preconizada na Instrução
Normativa Conjunta MP/CGU 01, de 10/5/2016.
9.5. recomendar às instituições a seguir relacionadas que avaliem a conveniência e a
oportunidade de adotar os seguintes procedimentos:
9.5.1. à Agência Nacional de Mineração - ANM:
9.5.1.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.1.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização do corpo funcional quanto às condutas esperadas, expressas no código de ética;
9.5.1.3. estabelecimento de controles e mecanismos que assegurem a qualidade das informações
organizacionais prestadas, com definição de critérios, diretrizes e limites para abertura de dados e
acesso à informação;
9.5.1.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas;
9.5.1.5. revisão do regulamento da Auditoria Interna, de forma a atribuir competência à área para
avaliar a eficácia e contribuir para a melhoria dos processos de controle relativos ao risco de fraude e
corrupção;
9.5.1.6. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes
naturezas: avaliação, implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização, além de
trabalhos cujos objetos sejam a governança organizacional, a avaliação dos controles internos dos
elementos críticos para alcance dos objetivos organizacionais, a gestão da ética e da integridade e a
avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
9.5.1.7. estabelecer mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da Súmula
Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.5.2. à Agência Nacional de Aviação Civil - Anac:
9.5.2.1. estabelecer mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da Súmula
Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União;
141
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.5.2.2. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.2.3. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como a promoção incidental, de forma ampla e sistemática, da detecção
de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas tecnológicas
(data mining, data matching e data analytics), com base em prévia das circunstâncias possíveis de
fraude e corrupção nas atividades desenvolvidas em todas as áreas da agência.
9.5.3. Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama:
9.5.3.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.3.2. elaboração e execução de plano de ações de promoção da ética, com divulgação e
conscientização do corpo funcional quanto às condutas esperadas, expressas no código de ética;
9.5.3.3. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas;
9.5.3.4. elaboração de regulamento da Auditoria Interna, contemplando as boas práticas da área e
observando os normativos pertinentes emitidos pela CGU;
9.5.3.5. inclusão, no planejamento anual de atividades de auditoria, de ações das seguintes
naturezas: avaliação, implantação ou melhoria do processo de gestão de riscos da organização, além de
trabalhos cujos objetos sejam a governança organizacional, a avaliação dos controles internos dos
elementos críticos para alcance dos objetivos organizacionais, a gestão da ética e da integridade e a
avaliação dos controles de mitigação do risco de fraude e corrupção;
9.5.3.6. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União;
9.5.3.7. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como promover, incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a
detecção de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas
tecnológicas (data mining, data matching e data analytics).
9.5.4. ao Ministério da Saúde:
9.5.4.1. elaboração de código de ética próprio, subsidiado por mapeamento de riscos éticos que
contemple, entre outros aspectos, condutas específicas a serem exigidas de seus servidores;
9.5.4.2. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas,
além da satisfação do cidadão que utiliza a Ouvidoria ou o Sistema de Informação ao Cidadão;
9.5.4.3. implantação de sistemas para gerar automaticamente indicadores de situações de fraude
e corrupção (red flags), bem como promova, incidentalmente, de forma ampla e sistemática, a
detecção de atividades fraudulentas por meio de técnicas de análise de dados e outras ferramentas
tecnológicas (data mining, data matching e data analytics), de acordo com o seu levantamento de
risco;
9.5.4.4. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.5.5. ao Ministério do Trabalho:
9.5.5.1. fortalecimento institucional da Comissão de Ética por meio da formalização do seu
regimento interno, contemplando a normatização de ações de acompanhamento, monitoramento e de
gestão da ética;
9.5.5.2. revisão do código de ética próprio, a partir de mapeamento de riscos éticos a que o
ministério está sujeito;
9.5.5.3. envolvimento de sua Comissão de Ética no desenvolvimento do Programa de Integridade
do Ministério, instituído pela Portaria 328/2018, tendo em vista que tal programa tem, entre seus
142
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
objetivos, promover a prevenção, a detecção e a correção da prática de desvios éticos, matéria
pertinente à citada comissão;
9.5.5.4. definição de critérios, diretrizes e limites para relacionamento com atores internos e
externos à organização e avaliação da satisfação deles com as informações organizacionais prestadas,
além da satisfação do cidadão que acessa o Portal do ministério na internet;
9.5.5.5. estabelecimento de mecanismos institucionais para apontar casos de descumprimento da
Súmula Vinculante 13 do STF, que veda nepotismo nos três poderes da União.
9.6. dar ciência à Comissão de Ética Pública - CEP da ocorrência de indícios de publicação
insuficiente de agendas de autoridades do Ministério do Trabalho e do Banco do Brasil, verificados na
presente auditoria, para providências cabíveis, nos termos do artigo 8º da Lei 12.813/2013;
9.7. dar ciência à Presidência da República, à Casa Civil e ao Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União das seguintes boas práticas verificadas pela auditoria, para que avaliem
a conveniência e a oportunidade de disseminá-las entre os órgãos do Poder Executivo Federal:
9.7.1. promoção de ética adotada na Anac, caracterizada pela realização de curso na modalidade
a distância, para promover conduta ética e conscientizar seus servidores sobre o tema e ainda sobre as
condutas por eles esperadas;
9.7.2. implantação do processo de Autoavaliação de Controles - AAC por parte da Auditoria
Interna da Anac;
9.7.3. estabelecimento de trilha ética obrigatória para ascensão profissional no âmbito do Banco
do Brasil;
9.7.4. coleta de comprometimento formal de acatamento do código de ética e observância dos
normativos pertinentes, com periodicidade anual, e sempre quando ocorrer alteração nos respectivos
normativos, no âmbito do Banco do Brasil; e,
9.7.5. boa prática na atuação da Auditoria Interna adotada no Banco do Brasil, por meio da
avaliação das causas de ocorrências de irregularidades de modo a melhorar o gerenciamento de riscos
e controles da instituição.
9.8. determinar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que, no âmbito da fiscalização
“Avaliação dos requisitos de qualificação para exercício de cargos e funções de livre provimento”
(Proposta Planejar 1141), inclua a avaliação das funcionalidades do sistema SINC - Sistema Integrado
de Nomeações e Consultas;
9.9. determinar à Secretaria-Geral de Controle Externo que:
9.9.1. considere o quadro de risco ínsito nos capítulos C e E1 do relatório que conduziu a este
acórdão, como subsídio à definição das futuras auditorias;
9.9.2. em conjunto com a Secretaria de Soluções de Tecnologia da Informação - STI,
disponibilize esta deliberação, bem como a íntegra do relatório da unidade técnica e o mapa de
exposição da Administração Pública Federal a fraude e a corrupção, na página do Tribunal na internet,
com acesso público, de forma a permitir que cada órgão avalie o estágio em que se encontra nos
diversos aspectos de maturidade de controles, de forma a implementar ações de melhorias;
9.9.3. realize atualização periódica do mapa de exposição da Administração Pública Federal a
fraude e a corrupção veiculado na página do TCU na internet, com divulgação, ainda, das boas práticas
adotadas pelas unidades jurisdicionadas que impactaram a evolução dos parâmetros que sustentam o
mapa;
9.9.4. avalie a possibilidade de ampliar essa iniciativa no âmbito do Poder Executivo e, com as
adaptações metodológicas pertinentes, aos demais poderes da República.
9.10. dar ciência desta deliberação e do relatório da unidade técnica:
9.10.1. ao Ministério Público Federal, ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da
União, ao Ministério da Justiça e à Enccla - Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem
de Dinheiro;
143
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.10.2. ao Conselho Nacional de Justiça, ao Conselho Nacional do Ministério Público e ao
Presidente do Senado Federal, ao Presidente da Câmara dos Deputados, para ciência e eventual
utilização das informações aqui apresentadas como subsídio ao aprimoramento de seus sistemas e
procedimentos de promoção ética e controle e prevenção de fraude e corrupção;
9.11. determinar à Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e
Corrupção que monitore a implementação das determinações e recomendações deste acórdão;
9.12. recomendar ao coordenador da equipe de transição instituída pelo Presidente da República
eleito, a que se refere a Lei 10.609/2002, que avalie a conveniência e oportunidade de adotar, de forma
imediata, no que couber e for operacionalmente viável, os procedimentos e critérios apresentados no
presente acórdão para a nomeação de agentes públicos para cargos de livre provimento, dispostos no
item 9.3 desta deliberação, especialmente em seus subitens 9.3.1 e 9.3.2 (“9.3.1. inclusão, além do
critério de capacidade técnica, de critérios de integridade no normativo demandado pelo art. 5º da Lei
13.346/2016, a exemplo daqueles contidos no art. 17 da Lei 13.303/2016; 9.3.2. realização de consulta
à Comissão de Ética da Presidência da República - CEP sobre a existência de sanções éticas para os
indicados aos cargos sujeitos às análises do SINC, conforme previsto no art. 22 do Decreto
6.029/2007;”);
9.13. determinar à Secretaria de Auditoria Interna (Seaud) que, com o auxílio da Secretaria-Geral
de Controle Externo (Segecex), realize auditoria interna neste Tribunal com escopo semelhante ao
adotado na ação de controle ora apreciada, com destaque para os seguintes objetivos:
9.13.1. avaliar os controles de prevenção e detecção de fraude e corrupção efetivamente
aplicados neste Tribunal;
9.13.2. identificar fragilidades e boas práticas nos controles mencionados;
9.13.3. propor melhorias eventualmente necessárias, de forma a eliminar ou reduzir tais
fragilidades e, ao mesmo tempo, disseminar as boas práticas constatadas.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2604-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, Ana Arraes (Relatora) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO II – CLASSE IV – Plenário
TC 033.048/2008-4
Natureza: Tomada de contas especial.
Unidade: Banco Central do Brasil – Bacen.
Responsáveis: Cláudio Ness Mauch (CPF 060.895.180-34); Demósthenes Madureira de Pinho
Neto (CPF 847.078.877-91); Francisco de Pádua Lopes (CPF 110.015.857-04); Salvatore Alberto
Cacciola (CPF 031.239.107-25); Antônio Sérgio do Carmo Dupin (CPF 505.181277-53); Cinthia Costa
e Souza (CPF 541.230.897-04); Gustavo Wanderley Dias de Freitas (CPF 398.406.464-00); Gilberto
Gilberti (CPF 541.230.897-04); Carlos Eduardo Tavares de Andrade (CPF 023.250.207-20); Paolo
Enrico Maria Zaghen (CPF 112.551.538-49); Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.
(CNPJ 02.358.370/0001-20)
144
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Advogados constituídos nos autos:
Antonio Newton Soares de Matos (OAB/DF 22.998) e Arthur Lima Guedes (OAB 18.073/DF),
representando Cláudio Mess Mauch e Demósthenes Madureira de Pinho Neto;
José Augusto Rangel de Alckmin (OAB/DF 7.118), José Eduardo Rangel de Alckmin (OAB/DF
2.977) e André Quinderé Castelo Branco Domingos Mourão (OAB/DF 54.143), representando
Salvatore Alberto Cacciola;
Ariadna Bohomoletz Gaal (OAB/RJ 36.591) e Maria Joanez Muniz de Sousa (OAB/DF 12.918),
representando Gilberto Gilberti;
Arthur Brant de Carvalho (OAB/SP 196.755) e J. A. Lima Gonçalves (OAB/SP 66510),
representando Gustavo Wanderley Dias de Freitas;
Cinthia Costa e Souza (OAB/RJ 60.402), representando Cinthia Costa e Souza;
Tathiane Vieira Viggiano Fernandes (OAB/DF 27.154), representando Antônio Sérgio do Carmo
Dupin.
SUMÁRIO: POSSÍVEIS OPERAÇÕES IRREGULARES DE VENDA DE CONTRATOS
FUTUROS PELO BACEN AO BANCO MARKA S/A. CITAÇÃO DE DIVERSOS
RESPONSÁVEIS. AFASTAMENTO DA RESPONSABILIDADE ATRIBUÍDA AOS GESTORES
DO BACEN E AOS EXECUTIVOS DO BANCO MARKA, EXCETO DE SEU CONTROLADOR.
CONTAS IRREGULARES DÉBITO. MULTA.
RELATÓRIO
Trata-se de tomada de contas especial instaurada em razão de supostos prejuízos causados ao
erário em decorrência de operações irregulares com contratos futuros de dólar, realizadas entre o
Banco Central do Brasil (Bacen) e o Banco Marka S.A. (12.650 contratos da primeira operação cm
14/0111999 e 3.700 contratos da segunda operação em 20101/1999).
2. A presente tomada de contas especial foi instaurada por força do Acórdão 2.906/2008 –
Plenário (peça 1, p. 2-3), o qual também determinou a instauração de processo apartado para a
apuração de operações financeiras praticadas pelo Banco Fonte Cindam (TC 033.263/2008-1,
apreciado mediante o Acórdão 1.915/2015-Plenário).
3. Em 13 de janeiro de 1999, por meio do Comunicado 6.560, o Banco Central - BCB instituiu o
regime cambial denominado “banda diagonal endógena”. Essa mudança acarretou na valorização
imediata do dólar em 9%. Essa brusca valorização travou o mercado futuro de dólar da BM&F, uma
vez que esses contratos futuros de câmbio, à época, somente poderiam oscilar 1% para cima ou para
baixo, em relação ao último fechamento. Era nesse mercado em que estava posicionado, na ponta
vendedora, o Banco Marka.
4. Apesar de ser uma instituição relativamente pequena no âmbito do Sistema Financeiro
Nacional, o Banco Marka estava excessivamente alavancado nesse mercado, na ordem de 20 vezes o
valor de seu patrimônio líquido, de forma que, com a valorização do dólar, em função da mudança do
regime cambial, o Banco Marka amargaria um grande prejuízo e já estava virtualmente insolvente.
5. Assim, a instituição solicitou, em 14/1/1999, auxílio ao Bacen, o qual realizou uma operação
atípica de venda de 12.650 contratos (valor nominal de R$ 1.612.875.000,00) com o Banco Marka e
com fundos por ele administrados. A taxa de câmbio negociada nessa operação foi bem vantajosa para
a instituição privada, pois, enquanto a cotação do dólar futuro apontava para R$ 1,34/US$ 1,00 no
mercado de opções da BM&F e no mercado futuro de real na Bolsa de Chicago, a negociação se deu a
uma taxa de R$ 1,2750/US$ 1,00.
6. Em regra, a operação foi considerada regular pelo Tribunal, pois foi considerada necessária
para evitar uma crise geral no sistema financeiro. Veja-se a respeito o seguinte trecho do voto condutor
do Acórdão 2.906/2008-Plenário:
145
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
“Tendo em vista as peculiaridades da conjuntura econômica naqueles dias instáveis, acatei em
parte os argumentos dos ex-Diretores Cláudio Mauch e Demósthenes Madureira e afastei o dano ao
erário nas situações em que o argumento de que a intervenção pontual do Bacen foi necessária para
afastar o risco de crise sistêmica (segundo a percepção dos agentes envolvidos) revela-se razoável.
Nesse ponto, entendo que não há como provar cabalmente o risco sistêmico — as análises
sempre terão um cunho de subjetividade. Mas, de toda sorte, creio que o volume de reservas cambiais
perdido nos últimos dias de vigência do sistema de mini-bandas, bem assim na curta vida do sistema
de banda larga; a grande desvalorização da moeda nacional que se seguiu à liberação cambial e o
início de corrida bancária verificado em 29.1.1999 apontam a razoabilidade da tese de risco
sistêmico.” (Grifos acrescidos).
7. Entretanto, ainda segundo esse voto condutor, não ficaram justificadas as operações que, em
última instância buscaram salvaguardar os patrimônios de fundos de investimentos, cuja insolvência
deveria ser arcada pelos próprios cotistas e não traria o risco de contaminar o sistema financeiro.
Assim, foram questionadas as seguintes operações:
a) assunção pelo Banco Central de 3.700 contratos dos fundos Marka-Nikko, com prejuízo
estimado de R$ 156.584.000,00 (ref. fev. 1999), tal qual a seguir exposto:
“Ora, os fundos possuem patrimônio próprio e são administrados por pessoa jurídica diversa
(empresa Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.). As perdas na BM&F devem ser
arcadas pelos cotistas. Não me parece razoável que o Banco Central intervenha no mercado para
proteger os cotistas, já que a insolvência de fundos não repercute no mercado como a insolvência de
instituição financeira.”
b) transferência ao Banco Marka de 2.300 contratos do fundo Stock Máxima, os quais foram
posteriormente assumidos pelo Banco Central, com prejuízo estimado de R$ 162.886.000,00 (ref. fev.
1999), em razão das seguintes observações:
“Não está demonstrado o risco que a insolvência de um fundo de investimento estrangeiro
representaria na BM&F ...o Banco Central deveria ter buscado a reversão da suspeitíssima operação
realizada entre o Banco Marka e o fundo de capital estrangeiro Stock Máxima, por meio do qual este
último transferiu para aquele 2.300 contratos de futuro à cotação de R$ 1,2376/USS ... e fixou a
cotação.do dólar para fins de resgate dos fundos de investimento Marka-Nikko, em R$ 1,34/US$. Se
tivesse utilizado a mesma cotação para absorver os contratos do Stock Máxima, praticamente teria
zerado o patrimônio desse fundo.”
8. Também foram impugnados os ganhos obtidos pelo Banho Marka em razão da venda pelo
Banco Central de 35 contratos que seriam utilizados para fazer frente as despesas de encerramento da
sociedade. Entretanto, do valor referente a esses contratos, R$ 2.112.948,74, sobraram nas reservas
bancárias da instituição e posteriormente foram sacados com destino incerto. Assim, considerando que
a auto-liquidação não deveria gerar enriquecimento do Banco, entendeu-se que esse valor deveria ser
levado a débito.
9. Foi então efetuada a citação solidária dos seguintes responsáveis:
a) pelo valor de R$ 162.886.000,00, em razão da venda, pelo Banco Central do Brasil, ocorrida
em 14.1.1999; de 2.300 contratos de futuro de câmbio ao Banco Marka S/A, sem que a necessidade
dessa operação tenha restado demonstrada:
a.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
a.2.) Administradores do Banco Marka S/A: srs. Salvatore Alberto Cacciola, Antônio Sérgio do
Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza, Gustavo Wanderley Dias de Freitas e Gilberto Gilberti;
b) pelo valor de R$ 2.478.700,00, em razão da venda de 35 contratos adicionais para fazer frente
às despesas de “auto-liquidação”, e que geraram enriquecimento ilícito do Banco Marka;
146
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
b.2.) Administradores do Banco Marka S/A: srs. Salvatore Alberto Cacciola, Antônio Sérgio do
Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza, Gustavo Wanderley Dias de Freitas e Gilberto Gilberti;
c) pelo valor de R$ 156.584.000,00, em razão em razão da venda, pelo Banco Central do Brasil,
ocorrida em 20.1.1999, de 3.700 contratos de futuro de câmbio aos fundos Nikko Asset Management
Sociedade Civil Ltda.:
c.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
c.2.) Sr. Salvatore Alberto Cacciola (administradores do Banco Marka S/A) e empresa Marka
Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.
10. Foi também questionada a aprovação do Voto 006/99, mediante o qual foi aprovada, com
base em elementos aparentemente inverídicos, a realização, pelo Banco Central do Brasil, de
“operações de venda de dólar futuro junto à BM&F, com o propósito de viabilizar a liquidação de
posições vendidas nesses mercados futuros de dólar norte-americano de instituições que evidenciam
tais dificuldades, permitindo com isso, seja assegurada a normalidade da economia pública.”
11. Em razão dessa ocorrência, foram instados a se manifestar os seguintes diretores do Banco
Central do Brasil: srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade, Cláudio Ness Mauch, Demósthenes
Madureira de Pinho Neto, Francisco de Pádua Lopes Lopes e Paolo Enrico Maria Zaghen.
12. Ao apreciar as defesas apresentadas, a unidade técnica assim se manifestou:
2. “A partir de agora, será analisado o mérito da citação efetuada por meio do Acórdão
2.906/2008 – Plenário. Cabe destacar que tal exame será realizado a partir de uma compilação das
instruções já feitas até então, com as adaptações necessárias.
3. Preliminarmente, há algumas considerações a serem feitas. Na tabela abaixo, há um
discriminativo das citações realizadas, bem como das defesas apresentadas. Item do Acórdão Responsável Citado Defesa
9.3.1 (Citação de R$ 162.886.000,00 e de R$ 2.478.700,00)
Cláudio Mess Mauch – ex-Diretor de Fiscalização do Bacen Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30
Demóthenes Madureira de Pinho Neto – ex-Diretor de Assuntos Internacionais do
Bacen
Francisco de Pádua Lopes – ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício do Bacen
Peça 25, p. 4-9
Salvatore Alberto Cacciola, administrador do Banco Marka Revel
Antônio Sérgio do Carmo Dupin, administrador do Banco Marka Peça 26, p. 24-48
Cinthia Costa e Souza, administradora do Banco Marka Peça 31, p. 18-37
Gustavo Wanderley Dias de Freitas, administrador do Banco Marka Peça 33, p. 22-34
Gilberto Gilberti, administrador do Banco Marka Peça 31 e 32, p. 44-50 e 1-19
9.3.2 (Citação de R$ 156.584.000,00)
Cláudio Mess Mauch Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30 Demóthenes Madureira de Pinho Neto
Francisco Pádua Lopes Peça 25, p. 4-9
Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda, na figura do seu representante legal, o Sr. Aparecido Nobuo Kikugava
Revel
Salvatore Alberto Cacciola Revel
9.6 (Audiência)
Cláudio Mess Mauch Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30 Demóthenes Madureira de Pinho Neto
Carlos Eduardo Tavares de Andrade
Peça 25, p. 12-19 Francisco Pádua Lopes
Paolo Enrico Maria Azghen
4. Conforme se verifica no quadro acima, o Sr. Salvatore Alberto Cacciola e a empresa Marka
Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda, na figura do seu representante legal, o Sr. Aparecido
Nobuo Kikugava, não apresentaram defesa. Dessa forma, nos termos do art. 12, § 3º da Lei 8.443, de
147
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
16 de julho de 1992, esses responsáveis serão considerados revéis, dando-se prosseguimento ao
processo.
5. Quanto ao Sr. Cacciola, é inequívoco que tomou conhecimento da citação, uma vez que foi
acostado aos autos (peça 33, p. 19) uma correspondência assinada pessoalmente por ele, solicitando
a prorrogação do prazo de defesa. Assim, o Tribunal, por meio de despacho (peça 33, p. 20),
concedeu um prazo adicional de 30 dias. Na peça 33, p. 19, consta uma cópia de AR assinada pelo
destinatário. Dessa forma, comprova-se que o Sr. Cacciola tomou conhecimento da autorização da
prorrogação de prazo.
6. No que diz respeito ao Sr. Aparecido Nobuo (peça 34, p. 5), houve a informação de que
mudou de endereço. Assim, após pesquisa na Rede Infoseg, descobriu-se o novo endereço desse
responsável. Dessa forma, encontra-se cópia do AR de recebimento da citação (peça 34, p. 14),
devidamente assinado. Portanto, houve a devida citação para esse responsável.
Defesa dos Srs. Antônio Sérgio do Carmo Dupin (Peça 26, p. 24-48), Gustavo Wanderley Dias
de Freitas (Peça 33, p. 22-34), Gilberto Gilbert (Peça 31 e 32, p. 44-50 e 1-19) e da Sra. Cinthia
Costa e Souza (Peça 31, p. 18-37) – Administradores do Banco Marka (item 9.3.1. Acórdão
2.906/2008)
7. Esses responsáveis foram citados por meio do item 9.3.1. Acórdão 2.906/2008 – Plenário. No
subitem 9.3.1.1., foi imputado o valor de R$ 162.886.000,00 em razão da assunção, pelo Banco
Central, de 2.300 contratos futuros de dólar originários do fundo Stock Máxima, com a cotação de R$
1,275. Já no subitem 9.3.1.2., houve a inculpação no valor de R$ 2.478.700,00, decorrentes dos
ganhos obtidos pelo Banco Marka, em razão da venda de 35 contratos adicionais para fazer frente às
despesas de auto-liquidação, sem amparo legal, e que, ao final, foram sacados, em sua maior parte,
das reservas bancárias da instituição.
8. Cabe destacar nesses itens do referido Acórdão, também, foram responsabilizados os gestores
do Banco Central e o Sr. Salvatore Cacciola.
9. No entanto, neste tópico, somente serão analisadas as defesas Srs. Antônio Sérgio do Carmo
Dupin (Peça 26, p. 24-48), Gustavo Wanderley Dias de Freitas (Peça 33, p. 22-34), Gilberto Gilbert
(Peça 31 e 32, p. 44-50 e 1-19) e da Sra. Cinthia Costa e Souza (Peça 31, p. 18-37), administradores
do Banco Marka, em função da imputação do mesmo fato para esses responsáveis, pela semelhança
das alegações e pela conclusão uniforme a que se chegou para todos esses agentes.
10. No que tange ao exame das defesas dos demais responsáveis citados nos dispositivos do
mencionado Acórdão, será efetuado mais adiante em itens específicos.
11. A partir de agora, serão apresentados resumos das alegações dos responsáveis e,
posteriormente, serão realizadas suas respectivas análises.
Alegação
12. Os agentes alegaram que houve flagrante ilegalidade/inconstitucionalidade nesta TCE, por
entenderem que na Representação que a originou não houve sequer a ciência de sua instauração.
Entendem que a oportunização de ampla defesa na TCE não supre a ausência de oportunidade de
defesa na Representação (pela óbvia razão de que a defesa acatada na Representação impediria a
abertura de TCE).
Análise
13. Não procede essa argumentação. No Tribunal, o processo de Representação é utilizado para
apurar eventual irregularidade. Para formação de juízo, a Corte de Contas pode fazer diligências aos
responsáveis para obter mais informações e, se entender que há irregularidades, determinará a
audiência do responsável, conforme art. 250, inciso II do Regimento Interno do TCU (RITCU), para:
“(...) apresentar razões de justificativa, quando verificada a ocorrência de irregularidades
decorrentes de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico, bem como infração a norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária ou patrimonial.”.
148
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
14. No entanto, conforme art. 252 do RITCU, “Se configurada a ocorrência de desfalque, desvio
de bens ou outra irregularidade de que resulte dano ao erário, o Tribunal ordenará, desde logo, a
conversão do processo em tomada de contas especial (...)”. Nesse momento, depois de levantar que
houve irregularidade com dano ao erário, é que o Tribunal, primeiro, converte a representação em
TCE e, depois, por meio da citação, estabelece o contraditório e a ampla defesa para os responsáveis.
15. Ademais, no caso concreto, na fase inicial da Representação, antes da conversão em TCE,
não se sabia ainda, com precisão, quem eram os possíveis responsáveis. Somente, no Acórdão
2906/2008 – Plenário, após ampla análise do Ministro-Relator, considerando propostas divergentes
do MPU junto ao Tribunal e da unidade técnica, acerca de quem seria responsabilizado, é que se
determinaram os responsáveis que seriam citados nesta TCE. Assim, por questão de lógica, somente
nessa etapa é que deveriam ter sido chamados os responsáveis, como de fato ocorreu.
16. Nesse sentido, cabe trazer excerto do voto do Ministro-Relator, contido no Acórdão
735/2015 – TCU – Plenário: 6. O art. 279 do RITCU é claro ao estabelecer que não cabe recurso de decisão que converter processo
em tomada de contas especial ou determinar sua instauração. Isso não significa prejuízo ao contraditório. 7. Afinal, esse tipo de deliberação não conclui sobre existência ou dimensão de danos ou sobre a autoria
de qualquer ato irregular. O que se aprecia nesse momento é a oportunidade de se chamar o terceiro,
aparentemente envolvido nas questões que se encontram em apreciação, para sobre elas possa se manifestar. Em termos processuais, é exatamente a conversão do processo em tomada de contas especial que dará ao
agravante a oportunidade do contraditório, convidando-o a apresentar suas razões sobre os fatos para que este
Tribunal, aí sim, possa se manifestar de forma definitiva sobre o dano ao erário e eventual responsabilização.
8. Não é diferente em qualquer outro tipo de processo, mesmo se consideradas as peculiaridades de cada um. É a citação que inicia a fase de defesa por parte do réu, no processo civil; ou do denunciado, no
penal. Em nenhuma dessas situações, ocorre juízo de mérito sobre a culpabilidade do responsável. A citação
representa o início da relação jurídica processual, que se faz pelo chamamento formal da parte ao processo. 9. Com efeito, a pretensão do agravante, caso reconhecida, representaria uma nova fase processual afeta
a um contraditório prévio, o que não tem guarida na lei orgânica ou no RITCU. Não há, neste momento
processual a certeza do valor do débito ou da responsabilidade dos chamados pela citação. A tomada de contas
especial é instaurada quando presentes indícios de existência do prejuízo ao erário ou da participação de terceiros no dano, e não quando presente a certeza de sua existência.
10. Nesse sentido, o texto do art. 8º da Lei 8.443/92 esclarece que o objetivo desse tipo de processo é a
"apuração dos fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do dano". Portanto, não haveria sentido em se supor que a condição de sua instauração seja a conclusão da apuração dos fatos, e a identificação certa
dos responsáveis ou a quantificação definitiva do dano. Se essa premissa fosse verdadeira, restaria sem sentido
a abertura de TCE e o seu devido contraditório. 11. Por esse motivo, no âmbito do processo neste Tribunal, a citação refere-se à possibilidade de o
citado concordar com a acusação e efetuar o recolhimento do dano inicialmente imputado ou, então, discordar
e apresentar suas alegações de defesa.
17. Dessa forma, não há ilegalidade/inconstitucionalidade no âmbito desta TCE, pois a ampla a
defesa e o contraditório foram estabelecidos na fase processual adequada, conforme previsto na
legislação competente.
Alegação
18. Os responsáveis alegaram que, qualquer que seja o ângulo de análise, já se operou a
prescrição, relativa à venda de contratos futuros pelo Bacen. Foram citados dispositivos do Decreto
20.910/32, da Lei 9.873/99 e do novo Código Civil. Também, foram citados alguns julgados do
judiciário.
Análise
19. Não procede a argumentação de que houve prescrição das operações dessa TCE. Com
relação ao dano ao erário, adota-se a teoria da imprescritibilidade. Para esclarecer esse assunto,
dada a complexidade do tema, vamos nos valer dos argumentos contidos no Acórdão 1962/2006 –
Plenário, que discute, detalhadamente, essa matéria:
149
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Quanto à alegação de prescrição, mostra-se incabível, em face da imprescritibilidade das ações de
ressarcimento ao erário, consoante estabelece o artigo 37, § 5º, da Carta Magna. Sobre o tema, impende trazer
à baila a tese defendida pelo insigne Ministro Marcos Bemquerer Costa, apresentada na Sessão de 27.1.2005
da 2ª Câmara, mediante voto revisor, no âmbito do TC 005.378/2000-2, registrando-se que, pela relevância da matéria, foi o aludido processo encaminhado para a apreciação do Plenário, com espeque no artigo 16, inciso
IV, c/c o artigo 17, § 1º, do Regimento Interno/TCU, estando ainda pendente de julgamento: ‘Não obstante essa
discussão, entendo que o TCU não deve aplicar o Código Civil subsidiariamente, com a finalidade de definir qual o prazo de prescrição a ser adotado nesta Corte de Contas, uma vez que as ações de ressarcimento ao
patrimônio público são imprescritíveis, ex vi do art. 37, § 5º, da Constituição Federal, in verbis:‘Art. 37. A
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:(...) A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento’.
Ressalto, por oportuno, que essa já foi a tendência do entendimento deste Tribunal, consoante se infere, por exemplo, do parecer do Ministério Público emitido no TC 674.018/1985-0 (Acórdão 124/1994, Ata 50/1994-
Plenário). Vê-se, da leitura atenta do parágrafo 5º do art. 37, que foram estabelecidos dois gêneros de ações à
disposição do poder público: - a 1ª parte do parágrafo - ‘prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário’ - que estabelece as ações relativas às punições ao
agente que cause dano ao erário; - a 2ª parte do parágrafo - ‘ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento’ - que estabelece serem imprescritíveis as ações tendentes a determinar o ressarcimento dos
danos causados pelos agentes a que alude o subitem anterior. Nesse sentido preleciona José Afonso da Silva (in ‘Curso de Direito de Constitucional Positivo’, ed. Malheiros, 22ª edição, 2003, página 653):‘Se a
Administração não toma providência à sua apuração e à responsabilização do agente, a sua inércia gera a
perda do seu ius persequendi. É o princípio do art. 37, § 5º, [da CF] que dispõe: (...). Vê-se, porém, que há uma ressalva ao princípio. Nem tudo prescreverá. Apenas a apuração e a punição do ilícito, não, porém, o direito
da Administração ao ressarcimento, à indenização, do prejuízo causado ao erário. É uma ressalva
constitucional e, pois, inafastável, mas, por certo, destoante dos princípios jurídicos, que não socorrem quem
fica inerte (dormientibus non sucurrit ius). Deu-se assim à Administração inerte o prêmio da imprescritibilidade na hipótese considerada’. Da mesma forma opina Celso Antonio Bandeira de Mello (in
‘Curso de Direito Administrativo’, ed. Malheiros, 12ª edição, 2000. página 124):‘(...) por força do art. 37, § 5º,
da Constituição Federal, são imprescritíveis as ações de ressarcimento por ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízo ao erário.’. E ainda, Uadi Lamêgo Bulos (in ‘Constituição
Federal Anotada’, ed. Saraiva, 4ª edição, 2002, página 615):‘Esse dispositivo prevê duas situações distintas:
uma relativa à sanção pelo ato ilícito, outra relacionada à reparação do prejuízo. No primeiro aspecto, fica a lei ordinária encarregada de fixar os prazos prescricionais; no segundo, garantiu-se a imprescritibilidade das
ações - medida considerada imprópria, mas que veio consagrada na Constituição de 1988’. Também o Superior
Tribunal de Justiça entende que as ações de ressarcimento ao patrimônio público são imprescritíveis, por força
do aludido art. 37, § 5º, da Constituição Federal, consoante se observa de recentes julgados, exempli gratia: - RESP 403.153/SP - Relator Ministro José Delgado (1ª Turma, Diário da Justiça de 20.10.2003, página 181):
Ementa: ‘(...) É imprescritível Ação Civil Pública visando à recomposição do Patrimônio Público (art. 37, § 5ª,
CF/1988)’; e 15.2 - RESP 328.391/DF - Relator Ministro Paulo Medina (2ª Turma, Diário da Justiça de 2/12/2002, página 198):Ementa: ‘(...) Demais disso, conforme a mais autorizada doutrina, por força do
disposto no § 5º do art. 37 da constituição Federal, a ação regressiva é imprescritível’. Ante o que expus,
concluo que as medidas desta Corte de Contas tendentes a promover o ressarcimento ao patrimônio público
são imprescritíveis, ex vi do art. 37, § 5º, da Constituição Federal, não havendo de se cogitar de aplicação
subsidiária do novo Código Civil.’. (...)
Conforme jurisprudência desta Casa, não se aplica a seus processos a prescrição qüinqüenal prevista
no Decreto 20.910/1932, que tem como objeto as dívidas passivas da União, nem a prevista na Lei 9.873/1999, tendo em vista que esta Lei regula a ação punitiva movida pela Administração Pública Federal e que a
atividade judicante desta Corte não tem como fundamento o exercício do poder de polícia, mas sim o exercício
do controle externo, de previsão constitucional (Acórdão 71/2000-Plenário, Acórdão 248/2000-Plenário e Acórdão 61/2003-Plenário). (grifo nosso)
Alegação
150
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
20. O Sr. Antônio Sérgio alegou que não participou dessa transação com o Bacen, apesar de ser
membro da Diretoria do Banco Marka. O mesmo ocorreu com o Sr. Gustavo Wanderley. Esse
defendente era Diretor Administrativo, à época. Assim, asseverou que as decisões sobre operações
financeiras estavam fora da sua alçada de suas competências. No que se refere ao Sr. Gilberto
Gilbert, que era Diretor Estatutário do Banco Marka, também afirmou que não participou dessa
negociação e nem tinha como atribuição realizar tais atos.
21. A Sra. Cinthia alega que pertencia ao quadro jurídico do Banco Marka. Assim, de acordo
com essa citada, atuava exclusivamente como advogada dessa instituição financeira, prestando
consultoria, assessoria e assistência jurídica. Em 13/1/1999, data da realização da operação, a
responsável proclamou que não participou da decisão dessa transação, nem como assistente jurídica.
Somente no dia seguinte, em 14/1/1999, depois que já havia sido definida a operação no dia anterior
entre o Sr. Cacciola e a Diretoria do Bacen, é que essa defendente foi convocada pelo Diretor-
Presidente, Salvatore Alberto Cacciola, para se dirigir ao Bacen com a finalidade de prestar
assessoria jurídica relacionada às tratativas com essa Autarquia, conforme evidenciado em sua
defesa.
22. Informaram que, de acordo com os depoimentos prestados no Relatório de Comissão de
Sindicância do Bacen, designada pela Portaria 9.090/99, infere-se que, em Brasília, no dia
13/01/1999, se encontrava apenas o Sr. Cacciola, não havendo participação de nenhum citado nesta
TCE. Esse responsável (Sr. Cacciola) depôs da seguinte forma: que, em avião fretado pelo Banco Marka, vieram para Brasília apenas o declarante e os Srs. Rubem
Novaes e Luiz Bragança; que durante a viagem vieram discutindo alternativas para a situação aflitiva em que se encontrava o Banco Marka”. Em depoimento, a Sra. Tereza Cristina Grossi Togni (Bacen) afirmou: “que o
Sr. Cacciola comunicou que naquele mesmo dia {13.01.99} havia efetuado uma operação direta com Banco
Stock Máxima, referente a 2.300 contratos de dólar futuro, a fim de honrar compromissos assumidos na Bolsa de Chicago.
23. Trouxeram informações de que o Ministro-Relator, no Acórdão 2.906/2008 – Plenário,
entendeu que: “(...) além das negociações engendradas pelo Sr. Salvatore Cacciola e pela Sra. Cinthia Costa e Souza
com o Bacen, há também indícios de gestão temerária e fraude contra a pessoa jurídica, que assumiu, em
condições desvantajosas, 2.300 contratos do fundo Stock Máxima, cujo único cotista era o Innovation Fund. Por sua vez, o único cotista desse fundo era o Marka Bank, de propriedade dos sócios-administradores do
Banco Marka. Por conseguinte, a administração da empresa Holon Empreendimentos e Participações S/A –
composta pelos diretores Salvatore Alberto Cacciola (...), Antônio Sérgio do Carmo Dupin (...), Cinthia Costa e Souza (...), Gustavo Wanderley Dias de Reitas (...) e Gilberto Gilberti (...)-, controladora do Banco Marka,
impôs prejuízo à instituição financeira para salvaguardar o patrimônio pessoal dos sócios/administradores.
Por isso, acolho a proposta da unidade técnica de citar os administradores mencionados, que contribuíram para dilapidar o patrimônio da pessoa jurídica Banco Marka S/A.” Além disso, também afirmou que: “a
inclusão de 2.300 contratos para cobrir os contratos transferidos pelo fundo Stock Maxima não deve ser
acolhida, em razão de indícios de má-fé na conduta dos administradores do Banco Marka, que, para preservar
o patrimônio do Marka Bank, do qual eram sócios, comprometeram ainda mais a situação do Banco Marka.”
24. Os defendentes afirmaram ainda que, pelas funções que exerciam, não tiveram participação
direta na realização dessa transação com o Bacen. Além disso, com relação às participações na
empresa Holon Empreendimentos, eram apenas minoritárias, com ações preferenciais, sem direito a
voto. O controle absoluto da Holon era exercido pelo Sr. Cacciola, por intermédio da Sacre
Empreendimentos e Participações Ltda, na qual detinha 99,705% das cotas emitidas. Esta (Sacre),
por sua vez, detinha mais de 80% dos direitos de voto da Holon. Assim, ainda segundo os
responsáveis, fica evidente que os defendentes não tinham qualquer influência, direta ou indireta, na
condução dos negócios do Banco Marka.
25. Alegaram que esse fato é amplamente reconhecido pelo próprio Sr. Alberto Salvatore
Cacciola que afirmou, reiteradas vezes, que: “(...) eu queiro deixar bem registrado que eu sou o
151
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
fundador do Marka, o presidente do Marka, o controlador do Marka e 100% responsável por tudo o
que o Marka fez de certo e eventualmente de errado nesses 28 anos de existência” (peça 4, p. 26).
26. Nesse contexto, entendem que não há nos autos nenhum indício ou prova de prática de
qualquer ato dos defendentes que evidenciem a participação na decisão de assunção, pelo Bacen, de
2.300 contratos futuros do dólar originários do fundo Stock Máxima, ou na venda de 35 contratos
adicionais para fazer frente às despesas de auto liquidação.
27. Afirmaram ainda que, é cediço que a responsabilidade administrativa deve respeitar os
princípios que regem a responsabilidade subjetiva, devendo, assim, ser especificada a culpa própria e
individual de cada sujeito, exigindo-se a fundamentação específica da responsabilidade pessoal dos
atingidos pelas sanções. Assim, concluíram que o Acórdão não logrou atribuir aos defendentes a
individualização de suas culpas.
28. Ademais alegaram que a responsabilidade em função de ser sócio/administrador da empresa
Holon, controladora do Banco Marka, é argumento frágil e inaceitável para caracterizar a
responsabilidade subjetiva dos defendentes. Primeiro, não há evidência de que a empresa Holon ou
seus administradores, tenham atuado nessa transação com o Bacen. Pelo contrário, todos os trâmites
foram conduzidos pelo próprio Sr. Cacciola, efetivo controlador das ações ordinárias dessa empresa.
Segundo, os defendentes tinham uma participação minoritária, com ações preferenciais sem direito a
voto, portanto, sem poder de ingerência.
29. Além disso, afirmaram que foi instaurado pelo Banco Central um Processo Administrativo
(PA), Pt. 0001037621/BC (peça 33, p. 6-17) contra os administradores do Banco Marka.
Responderam esse processo os Srs. Salvatore Alberto Cacciola, Antônio Sérgio do Carmo Dupim,
Gustavo Wanderley Dias de Freitas, Gilberto Gilberti, Carlo Alberto Gradim e a Sra. Cinthia Costa e
Souza. Esse PA tinha o seguinte objeto de apuração: “assunção deliberada de prejuízos do Stock
Máxima Fundo de Renda Fixa Capital Estrangeiro [FUNDO STOCK], em 13.01.1999, mediante
venda de 2.300 contratos de dólar futuro vencíveis em 01.02.1999, pela cotação de R$ 1,23764/dólar
futuro.”.
30. Esclareceram que, por decisão do Presidente do Bacen à época, Armínio Fraga Neto, foi
aplicada a penalidade de inabilitação do Controlador Salvatore Cacciola e arquivado o processo com
relação aos demais responsáveis, porquanto não ficaram demonstradas as suas responsabilidades na
operação objeto do processo.
31. Informaram que, no que diz respeito à justificativa para aplicação da penalidade ao
Controlador, assim se manifestou o Presidente do Bacen: “No tocante à imputação dos indiciados,
está demonstrada a responsabilidade da instituição do Sr. Salvatore Alberto Cacciola, dono e detentor
de maior poder decisório na instituição, na operação que beneficiou o Fundo Stock (...)”.
32. Com relação aos demais indiciados, houve a seguinte argumentação: Contudo, no caso, como já consignado, está devidamente comprovada a autoria do ilícito pelo Sr.
Salvatore Alberto Cacciola, razão pela qual os demais indiciados somente poderiam responder por omissão. Nesse sentido, verifica-se que o Sr. Antonio Sergio do Carmo Dupim, conforme alega, tomou conhecimento da
operação pelo próprio Sr. Salvatore Alberto Cacciola, ao final da tarde de 13.1.1999, e que a Sra. Cinthia
Costa e Souza, segundo o Sr. Carlos Alberto Gradim, teria viajado com o Sr. Salvatore Alberto Cacciola para Brasília, em 13.1.1999. Em Ambos os casos, o simples fato de que tinha tido ciência da operação realizada
naquele dia é insuficiente para demonstrar que poderiam ter evitado os acontecimentos e nada fizeram. Da
mesma forma, em relação aos demais intimados, não há elementos suficientes nos autos que evidenciem que poderiam ter evitado a prática da irregularidade específica objeto deste Processo. (...) Posto isto, (...)
DECIDO: ARQUIVAR o processo com relação aos Srs. Antonio Sergio do Carmo Dupim, Gilberto Giberti,
Carlos Alberto Ribeiro Gradim, Gustavo Wanderley Dias de Freitas, e Cinthia Costa e Souza, porquanto não
ficou demonstrada sua responsabilidade na operação objeto do presente processo, recorrendo de ofício ao CRSFN.
33. Alegaram que a jurisprudência é também nesse sentido. No HC69.240/MS, Rel. Ministro
Félix Fischer, quinta Turma do STJ, julgado em 14/6/2007, DJ 10/9/2007, p. 261, consta que;
152
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
ART. 168-A DO CÓDIGO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. OCORRÊNCIA. PACIENTE DENUNCIADO
PELO SIMPLES FATO DE FIGURAR, À ÉPOCA DOS FATOS DESCRITOS, COMO SÓCIO GERENTE DA
SOCIEDADE EMPRESÁRIA APONTADA NA PROEMIAL. DENÚNCIA GENÉRICA. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DA AMPLA DEFESA, DO CONTRADITÓRIO E DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. I - A despeito de não se exigir a
descrição pormenorizada da conduta do agente no crimes societários, isso não significa que o Parquet possa deixar de estabelecer qualquer vínculo entre o denunciado e o fato a ele imputado. II - O simples fato de o
paciente ser, à época dos fatos, sócio da sociedade empresária não autoriza a persecutio criminis in iudicio por
crimes praticados em sua gestão se não restar comprovado, ainda que com elementos a serem aprofundados no
decorrer da instrução criminal, o mínimo vínculo entre as imputações e a sua atuação na qualidade se sócio (Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso). III - A denúncia que não descreve de modo adequado e
suficiente a conduta de cada um dos denunciados, sem que com isso se exija a descrição de minúcias, viola os
princípios do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), da ampla defesa, do contraditório (CF, art. 5º, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) (STF: HC 89.105-5, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes,
DJU de 06/11/2006). IV - A denúncia genérica acaba por inverter o ônus da prova, pois a inobservância por
parte do órgão acusador do ônus da descrição mínima da conduta imputada na exordial, com a demonstração da potencial participação do denunciado nos fatos narrados, em última análise implica na incumbência do
denunciado em demonstrar a sua não participação nos fatos (STJ: HC 34.364/MG, 6ª Turma, Rel. Min.
Hamilton Carvalhido, DJU de 11/09/2006). Habeas corpus concedido.
34. Portanto, reafirmam que não é cabível a responsabilização desses defendentes.
Análise
35. Procede a argumentação das defesas. O simples fato de serem executivos do Banco Marka e
terem participação acionária na empresa Holon Empreendimentos e Participações S.A. não indica,
necessariamente, a responsabilização dessas pessoas. Além do Sr. Cacciola, a única pessoa que
realmente participou das negociações com o Bacen foi Sra. Cinthia. No entanto, conforme suas
alegações, as quais consideram-se razoáveis, essa participação foi no sentido de prestar assessoria
jurídica, e não de decidir se seria realizada ou não a transação com o Bacen. Quanto aos demais
citados, sequer participaram dessa decisão.
36. No que se refere à participação acionária desses responsáveis, trata-se de uma participação
minoritária em ações preferenciais, que não têm direito a voto. Assim, não possuíam ingerência na
administração do negócio. O Sr. Cacciola era quem detinha o controle acionário dessa empresa e,
consequentemente, o poder decisório.
37. Assim, o único responsável pela transação com o Bacen foi o controlador do Banco Marka,
Sr. Salvatore Alberto Cacciola, uma vez que foi ele quem negociou diretamente com a Autoridade
Monetária e detinha o poder decisório para realizar tal ato. Os demais responsáveis que tomaram
conhecimento da operação sequer poderiam responder por omissão, pois não há como supor que
poderiam ter evitado os acontecimentos e nada fizeram. Essa também foi a conclusão do Banco
Central no Processo Administrativo, Pt. nº 00010337621/BC (peça 33, p. 6-17).
38. Ademais, deve-se considerar a questão da desconsideração da personalidade jurídica. O art.
50 do novo Código Civil preceitua que: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidas aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”.
39. Além disso, vale destacar os excertos de julgamentos evidenciados nos parágrafos seguintes. RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (‘disregard
doctrine’). HIPÓTESES. 1. A desconsideração da personalidade jurídica da empresa devedora, imputando-se
ao grupo controlador a responsabilidade pela dívida, pressupõe – ainda que em juízo de superficialidade – a indicação comprovada de atos fraudulentos, a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade.” (STJ. Resp
744.107. Quarta Turma. Rel. Min. Fernando Gonçalves. DJe 12/08/2008)
153
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Essa teoria constitui medida de exceção, e não a regra. (...) A aplicação da teoria sempre ocorrerá no
caso concreto, eis que seu objetivo é o fortalecimento da personalidade jurídica e não a sua destruição. Essa
aplicação pontual mantém como regra a autonomia do patrimônio e como exceção a desconsideração da pessoa jurídica. Se fosse o contrário, teríamos a negação do propósito da existência da pessoa jurídica, pela
indesejável falta de segurança para a realização de investimentos, decorrente da sólida possibilidade de
envolvimento de seu patrimônio particular. A barreira imposta pelo instituto da pessoa jurídica, se transposta nas situações previstas pela teoria, visa também à proteção da empresa da ação de seus sócios, bem como à
proteção dos demais sócios e de terceiros. Ainda que a doutrina e a jurisprudência pátria não tenham dado
delineamento mais preciso à teoria da despersonalização, sabe-se, hodiernamente, que sua aplicação deve
ocorrer a partir do cumprimento de severas condições, sob pena de tornar a pessoa jurídica uma ficção com propósito meramente burocrático. Assim sendo, não se deve olvidar que a fraude à lei ou abuso do direito são
as condições para aplicação da teoria (...) Entre os cuidados a serem tomados para a aplicação da teoria,
temos que a desconsideração não serve para negar a pessoa jurídica, mas sim para atingir o patrimônio de outra pessoa, pontualmente, em relação a fatos consubstanciados na utilização da sociedade comercial como
meio para se ver livre do ônus que lhe caberia. (...)Uma recente e importantíssima consagração do princípio
veio com o art. 50 do Código Civil de 2002 (...) a referida teoria pode ter lugar em situações em que, em conseqüência de atos de má-fé praticados pelos sócios de uma pessoa jurídica, em nome desta, mas em proveito
pessoal daqueles, a sociedade se vê impossibilitada de adimplir suas obrigações com suas próprias forças
patrimoniais." (Acórdão 143/2006 – Plenário, Ministro- Relator Ubiratan Aguiar).
40. Assim, com base na jurisprudência, a aplicação da desconsideração é a exceção. Dessa
forma, a desconsideração da personalidade jurídica só pode ser aplicada em situações específicas,
como, por exemplo, na prática de atos de gestão irregulares. Ocorre que o único executivo do Banco
Marka que comprovadamente praticou tais atos foi o Sr. Cacciola, tanto que foi o único condenado
com trânsito em julgado pelo crime de gestão fraudulenta. Ademais, administrativamente, no âmbito
do Banco Central, acerca da transferência de 2.300 contratos futuros do Fundo Stock Máxima para o
Banco Marka, somente o Sr. Cacciola foi condenado.
41. Dessa forma, data máxima vênia, não se pode concordar com o argumento do Tribunal de
que pode desconsiderar a personalidade jurídica do Banco Marka para responsabilizar os seus
diretores, à exceção do Sr. Cacciola, uma vez que, conforme já se evidenciou, eles não participaram
da decisão da absorção pelo Banco Marka desses 2.300 contratos futuros vendidos em dólar advindo
do Fundo Stock Máxima, nem da negociação da operação de salvamento pelo Banco Central.
42. Portanto, devem ser acatadas as alegações de defesa dos Srs. Antônio Sérgio do Carmo
Dupin, Gustavo Wanderley Dias de Freitas, Gilberto Gilbert e da Sra. Cinthia Costa e Souza, por não
terem participado, no campo decisório, da operação de venda de contratos futuros pelo Banco
Central, seja na negociação com a Autoridade Monetária, seja na decisão de absorção pelo Banco
Marka desses contratos oriundos do Fundo Stock Maxima. Assim, não há nexo causal entre uma
omissão ou ação desses executivos com essa transação feita com a Autoridade Monetária.
Defesa do Sr. Francisco Lafaiete de Pádua Lopes (Peça 25, p. 4-9), e dos Srs. Cláudio Ness
Muach e Demósthenes Madureira de Pinho Neto (Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30) – Gestores do
Banco Central (item 9.3.1. Acórdão 2.906/2008)
43. Esses responsáveis foram citados por meio do item 9.3.1. Acórdão 2.906/2008 – Plenário.
No subitem 9.3.1.1., foi imputado o valor de R$ 162.886.000,00 em razão da assunção, pelo Banco
Central, de 2.300 contratos futuros de dólar originários do fundo Stock Máxima, com a cotação de R$
1,275. Já no subitem 9.3.1.2., houve a inculpação no valor de R$ 2.478.700,00, decorrentes dos
ganhos obtidos pelo Banco Marka, em razão da venda de 35 contratos adicionais para fazer frente às
despesas de auto-liquidação, sem amparo legal, e que, ao final, foram sacados, em sua maior parte,
das reservas bancárias da instituição.
44. No entanto, neste tópico, somente serão analisadas as defesas Sr. Francisco Lafaiete de
Pádua Lopes (Peça 25, p. 4-9), e dos Srs. Cláudio Ness Muach e Demósthenes Madureira de Pinho
154
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Neto (Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30), gestores do Banco Central do Brasil, em função da imputação do
mesmo fato para esses responsáveis, pela semelhança das alegações e pela conclusão uniforme a que
se chegou para todos esses agentes.
45. No que tange ao exame da situação do Sr. Salvatore Cacciola, que, processualmente, foi
citado no mencionado Acórdão, será efetuado mais adiante em item específico.
Alegação
46. Alegaram que, preliminarmente, o Tribunal não é competente para examinar atos do Bacen
em assuntos de política monetária e cambial. Nesses assuntos, os atos da Autoridade Monetária são
de natureza discricionária, cujo mérito detém a competência exclusiva para decidir.
47. Assim, entendem que os atos praticados pelo Banco Central, com base no art. 11, inciso III,
da Lei 4.595/1964, são imbuídos dessa natureza discricionária, vez que a lei não determinou como
deveria a Autoridade Monetária agir.
48. Aduzem que não se trata, pois, de atos de gestão administrativa da Autarquia que possam
ser submetidos à apreciação do Tribunal. A lei não atribuiu ao TCU qualquer poder para apreciar ou
mesmo rever as decisões da autoridade monetária. Dessa forma, afirmam que o processo deve ser
arquivado por falta de competência do Tribunal para apreciar a matéria.
Análise
49. De fato, não há como o Tribunal penetrar no campo da oportunidade e conveniência que
caracterizam os atos discricionários praticados pelos agentes políticos responsáveis pela execução da
política monetária e cambial.
50. No entanto, essa condição não é absoluta. Em determinadas situações, é possível que o
Tribunal aprecie atos de natureza discricionária. Vejamos os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles,
Direito Administrativo Brasileiro, 26ª ed., p. 112: “Mesmo quanto aos elementos discricionários do
ato há limitações, impostas pelos princípios gerais de Direito e pelas regras da boa administração,
que, em última análise, são preceitos de moralidade administrativa”.
51. A jurisprudência do TCU também é nesse sentido. O Acórdão 192/2002 – Plenário
explicitou que: (...) vale ressaltar que a discricionariedade do administrador não pode ser considerada isoladamente,
visto que os atos administrativos dessa natureza demandam, sem sombra de dúvida, a comprovação do zelo pela coisa pública (...), devendo evitar o administrador, dentro dos limites de sua competência, contribuir para
a ocorrência de qualquer espécie de prejuízo ao Erário. O ato discricionário está tão sujeito aos textos legais
como qualquer outro.’ (Decisão nº 250/95 TCU - Plenário; Voto do Ministro Relator; os grifos são meus). (...)Vale destacar aqui apenas o poder discricionário. Aquele ‘que o Direito concede à Administração de modo
explícito ou implícito, para a prática de atos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência,
oportunidade e conteúdo. À luz desse conceito veremos que o poder discricionário não se confunde com poder
arbitrário. Discricionariedade e arbitrariedade são atitudes inteiramente diversas. Discricionariedade é liberdade de ação administrativa, dentro dos limites permitidos em lei; arbitrariedade é ação contrária ou
excedente da lei’ (Rev. Forense, nº 177, pág. 42 - Heli Lopes Meireles). No mesmo sentido é o pensamento de
Maria Sylvia Zanella Di Pietro (Direito Administrativo, Ed. Atlas S/A, pág. 161); ao afirmar que a discricionariedade ‘implica liberdade de atuação nos limites traçados pela lei; se a Administração ultrapassa
esses limites, a sua decisão passa a ser arbitrária, ou seja, contrária à lei.’ Como se vê, o poder discricionário
jamais pode ser invocado como justificativa para o descumprimento de disposições legais. Compete ao Tribunal, dentro de sua competência constitucional e legal, fiscalizar a boa e fiel aplicação dos recursos
públicos e tomar as medidas cabíveis, quer de forma preventiva, concomitante ou ‘a posteriori’ (Decisão nº
545/92 TCU - Plenário; Voto do Ministro Relator).
52. Portanto, quando se detecta irregularidades nos atos de natureza discricionária, é admitida
a apreciação da matéria pelo TCU. Nesse caso em comento, conforme apurou o Tribunal, os atos
discricionários praticados geraram perdas sem que a necessidade da operação realizada tenha sido
demonstrada.
155
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
53. Ademais, a atuação do Tribunal foi no sentido de colher provas, verificar os motivos e,
finalmente, converter os autos em TCE. Assim, não houve uma análise da conveniência e
oportunidade do mérito administrativo, mas sim a averiguação da conformidade do ato administrativo
praticado frente ao ordenamento jurídico. Nesse sentido, assevera Hely Lopes Meirelles, Op.cit., p.
194: A ilegitimidade, como toda fraude à lei, vem quase sempre dissimulada sob as vestes da legalidade. Em
tais casos, é preciso que a Administração ou o Judiciário desça ao exame dos motivos, disseque os fatos e vasculhe as provas que deram origem à prática do ato inquinado de nulidade. Não vai nessa atitude qualquer
exame do mérito administrativo, porque não se aprecia a conveniência, a oportunidade ou a justiça do ato
impugnado, mas unicamente sua conformação, formal e ideológica, com a lei em sentido amplo, isto é, com
todos os preceitos normativos que condicionam a atividade pública.
54. Portanto, a preliminar suscitada referente à incompetência do Tribunal para apreciar atos
de natureza discricionária não procede.
Alegação
55. Os defendentes afirmaram que se discute a questão se o país corria ou não o risco de uma
crise sistêmica. No 2º semestre de 1998, com a crise da Rússia, ocorreu uma profunda instabilidade.
Só em setembro daquele ano, as Reservas atingiram US$ 20 bilhões (30% do estoque antes do início
da crise), sendo exigido apoio financeiro do FMI, que foi feito na quantia de US$ 41,5 bilhões.
56. Entretanto, consideram que, no final de 1998, o Congresso havia rejeitado medidas cruciais
para implantação do ajuste fiscal acordado com FMI. Para agravar a situação, o Governo de Minas
Gerais decretou moratória interna. Somente nos dias 11, 12 e 13 de janeiro de 1999, o país perdeu
mais de US$ 6 bilhões em reservas.
57. Com base em entendimento de diversos economistas, afirmaram que a causa primária da
crise brasileira de 1999 seria a deterioração dos fundamentos econômicos, em particular a
apreciação cambial, déficits em transações correntes e o aumento da dívida pública em nível bastante
elevado. Já o fator desencadeador desse estresse econômico seria a crise da Rússia, que exacerbou a
desconfiança dos agentes econômicos em relação aos mercados emergentes.
58. Portanto, afirmam que não há dúvidas sobre a gravidade do momento vivido naquele
período. A crise atual do subprime é bastante ilustrativa para se entender uma crise sistêmica. Foi
ressaltado o seguinte trecho do parecer de Armínio Fraga Neto, ex-Presidente do Banco Central do
Brasil: Num clima geral de pânico, o risco de corridas bancárias aumenta enormemente, o que ameaça o
sistema de pagamentos, ou seja, ameaça a circulação do dinheiro na economia. Em geral, nestas
circunstâncias, as autoridades procuram injetar liquidez no sistema e deixar claro que garantem o bom funcionamento do sistema. Trata-se de clássica função de emprestador de última instância, receita consagrada
e institucionalizada em toda parte. (...). [Com relação à crise atual], se optou por um caminho de falência de
uma instituição financeira relevante em momento de crise, como no banco de investimentos Lehman Brothers, as consequências foram terríveis, pois se pôs em cheque a confiança em todo o sistema financeiro.
59. Descreveram o nervosismo no mercado cambial brasileiro entre os dias 13 a 18 de janeiro
de 1999, com uma da transcrição de parte do Relatório do Acórdão 2.906/2008 – Plenário (peça 1, p.
48-50).
60. Novamente citam Armínio Fraga: No auge da crise de 1999, o papel da BM&F, como mecanismo de seguro para aqueles que tinham medo
de uma depreciação do Real era crucial. Não fosse este mecanismo, seria de se esperar que muitos participantes do mercado fossem buscar se proteger através da compra direta de moeda estrangeira no
mercado pronto de câmbio. Como as reservas vinham em queda desde o terceiro trimestre de 1998, seria
razoável se conjeturar que sem mercado futuro de dólares a corrida sobre as reservas cambais teria sido muito
mais rápida. (...) minha leitura é que a decisão do governo ao atuar no mercado câmbio, e também ao defender a higidez da BM&F quando do pânico maior que se instalou em janeiro de 1999, foi de, numa primeira etapa,
ganhar tempo para tomar providências e responder ao desafio da crise que parecia cada vez mais provável
156
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
(inclusive o ajuste fiscal) e, na fase que acabou se mostrando final, evitar um pânico maior que fatalmente ocorreria se a credibilidade da BM&F tivesse ameaçada.
61. Assim, entendem que fica claro que, diante do nervosismo do mercado, era necessária a
adoção de medidas urgentes para preservação das reservas internacionais. Registraram que, oito
anos após, o Bacen, em atendimento à diligência requerida pelo Acórdão 2.682/2007, reafirmou que
toda a ação realizada pela Autarquia teve como principal objetivo evitar possível crise sistêmica que
poderia ser desencadeada pela inadimplência de instituições na BM&F, bem como preservar os níveis
das reservas internacionais.
62. Alegam que, segundo o parecerista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, a omissão do Bacen
exporia o país a um risco de colapso do principal mecanismo de proteção de curto prazo oferecido
pela BM&F, que seria o mercado futuro de dólar.
63. Um fator a considerar é que as análises devem considerar o momento então vivido, com
base nos dados e informações do momento. Dessa forma, entendem que soa no mínimo desarrazoável
pretender-se, como fez a instrução do processo, que utilizou dados só disponíveis muito depois dos
fatos. Nesse contexto, a autoridade monetária precisava agir com base nas informações de que
dispunha na época.
64. Extraem do parecer de José Luiz Bulhões Pedreira o seguinte trecho: A única prova irrefutável da existência de um risco – ou perigo – de crise sistêmica é a ocorrência efetiva
da crise, pois a existência de risco de que algo venha a ocorrer precede, por definição, à ocorrência e baseia-
se, necessariamente, em juízos de probabilidade. (...) E ninguém de bom senso sustentaria a tese de que as autoridades monetárias do país somente poderiam legitimamente adotar providências para evitar uma crise
depois que ela tivesse se iniciado. Porque nessa hipótese todas as providências tomadas seriam apenas para
reduzir os efeitos da crise, e não para evitá-la, e esses efeitos ainda que reduzidos, são insuportáveis. (...) Todo
homem prudente concordará que – no interesse geral – é preferível que a autoridade monetária superestime o risco e adote providências para evitar o sinistro do que o subestime, contribuindo assim para que a crise
ocorra.
65. Informam que, em entrevista, relativamente recente, ao Jornal Valor Econômico, o então
Presidente do Bacen, Henrique Meirelles, assim se manifestou: O BC vive aquela síndrome típica de bancos centrais: temos que agir preventivamente para evitar que
um problema ocorra. Na medida em que o BC age, o problema não ocorre. Mas sempre existira a crítica de que
não precisava tomar a medida preventiva por que o problema não ocorreu. A história sempre pode ser
reescrita da maneira que quiser.
Análise
66. O TCU já havia entendido ser razoável a tese de risco sistêmico com relação ao Banco
Marka, conforme se verifica no Acórdão 2906/2008 – Plenário, Sem adentrar detalhes da operação, a tese de risco sistêmico não é absurda. Ou, ao menos, no absurdo
que o Banco Central receasse que, naquele momento de mudança de política cambial e acentuada perda de reservas, a decretação de inadimplência na BM&F, seguida da liquidação extrajudicial do Marka e a
liquidação compulsória de 11.300 contratos, no valor notional de mais de US$ 1,1 bilhão, pudesse gerar uma
grave crise de confiança no mercado financeiro.
67. No entanto, o que o Tribunal está questionando, com relação ao Banco Marka, é a operação
de 2.300 contratos transferidos pelo Fundo Stock Máxima para essa instituição financeira, que
apresentou fortes indícios de má-fé. Nesse caso, não há ligação com a questão do risco sistêmico.
68. Com relação ao outro questionamento, qual seja, a venda pelo Bacen de contratos futuros de
dólar ao fundo Marka Nikko, o Tribunal entendeu que a transação foi feita a um preço menor que o
praticado no mercado e que não havia necessidade da realização da operação.
69. Essas duas situações serão melhor analisadas mais adiante.
Alegação
157
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
70. Conforme já evidenciado, os responsáveis foram citados por meio do item 9.3.1. Acórdão
2.906/2008 – Plenário. No subitem 9.3.1.1., foi imputado o valor de R$ 162.886.000,00 em razão da
assunção, pelo Banco Central, de 2.300 contratos futuros de dólar originários do fundo Stock
Máxima, com a cotação de R$ 1,275. Já no subitem 9.3.1.2., houve a inculpação no valor de R$
2.478.700,00, decorrentes dos ganhos obtidos pelo Banco Marka, em razão da venda de 35 contratos
adicionais para fazer frente às despesas de auto-liquidação, sem amparo legal, e que, ao final, foram
sacados, em sua maior parte, das reservas bancárias da instituição.
71. Com relação à primeira questão (subitem 9.3.1.1. do Acórdão 2.906/2008 – Plenário), de
acordo com os responsáveis, é fundamental notar que tal operação entre duas instituições financeiras
privadas, não exigia nenhuma autorização ou permissão específica, e ocorreu no dia 13/01/1999,
antes do início, no dia 14 janeiro, dos entendimentos do Banco Central com o Sr. Salvatore Cacciola
para o desenho da operação de venda de dólares futuro ao Banco Marka. Ou seja, alega que, no dia
14, a transação com dólares futuros envolvendo o Banco Marka e o Fundo Stock Máxima já era um
fato consumado – fato que, de forma alguma, recebeu autorização ou aquiescência do Bacen.
72. Asseveram que, a posteriori e informalmente, o banqueiro justificou a operação para
funcionários do Departamento de Fiscalização do Bacen, afirmando que se destinava a honrar
passivos no exterior. No entanto, tal explicação não pode servir como um pedido de autorização ou
aquiescência, no entendimento dos defendentes.
73. Assim, afirmam que o Bacen, por meio do Voto BCB 006/99, decidiu, em 14/01/1999,
realizar a operação de venda de dólares futuros ao Banco Marka, adotando o princípio de usar na
operação a cotação que zerasse o patrimônio líquido do Banco, princípio esse que era uma
decorrência da necessidade de evitar seu inadimplemento na BM&F – necessidade, aliás, que o
Acórdão citado considerou legítima. No momento em que a decisão foi tomada, o Banco Marka já
tinha absorvido, por meio de uma operação no dia anterior com o Fundo Stock Máxima, um adicional
de 2.300 contratos de venda de dólar futuro, elevando sua posição vendida total para 12.650
contratos. Aduzem, também, que essa operação entre partes privadas, realizada dentro das normas
vigentes e sem qualquer vício de ilegalidade, era um fato consumado no dia 14 de janeiro, consoante
já relatado, não havendo qualquer instrumento legal que permitisse sua reversão ou anulação.
74. Desse modo, no dia 14 de janeiro, alegam que havia apenas duas hipóteses: a) realizar a
venda de dólares futuros ao Banco Marka, considerando sua posição total na BM&F de 12.650
contratos, a um preço calculado a partir do princípio da zeragem do seu patrimônio líquido,
impedindo, dessa forma, o inadimplemento do banco na BM&F; ou b) excluir da operação de venda
de dólares futuros ao Banco Marka os 2.300 contratos agregados, na véspera, pela operação com o
Fundo Stock Máxima. Mas, dessa forma, de acordo com os responsáveis, seria certo o
inadimplemento do banco na BM&F, pois ficaria com patrimônio líquido negativo. Outrossim,
afirmam que o mesmo resultado seria produzido se o Banco Central recalculasse o preço do dólar
futuro utilizado na operação, de modo a excluir aqueles 2.300 contratos do passivo do banco, ao
definir o seu patrimônio líquido.
75. Partindo, portanto, do princípio de que o Banco Central tinha que intervir para evitar o
inadimplemento do Banco Marka na BM&F, princípio este que o Acórdão considerou legítimo, não
havia alternativa que não fosse a de aceitar como fato consumado a operação realizada na véspera
entre o Banco Marka e o Fundo Stock Máxima, conforme entendimento dos defendentes. Assim
concluíram, nessa linha de raciocínio, que o Banco Central não poderia ter tomado qualquer curso de
ação diferente da que tomou.
Análise
76. Inicialmente, o Ministro-Relator, para justificar a citação dos responsáveis no Acórdão
2.906/2008 – Plenário, assim, se manifestou: (...) a inclusão na operação de 2.300 contratos para cobrir os contratos transferidos pelo Fundo Stock
Máxima não deve ser acolhida, em razão dos indícios de má-fé na conduta dos administradores do Banco
158
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Marka, que, para preservar o patrimônio do Marka Bank, do qual eram sócios, comprometeram ainda mais a situação do Banco Marka. Ademais, não fica evidenciado que a insolvência de um fundo de investimentos
estrangeiro comprometeria a credibilidade da BM&F ou do sistema financeiro. (...) Há, portanto, fortes
indícios de má-fé da diretoria do Banco Marka nesse episódio, pois, ao mesmo tempo em que o banco assumiu os contratos do fundo de capital estrangeiro pela cotação irreal de R$ 1,2376/US$, ficou a cotação do dólar,
para fins de resgate dos fundos de investimento Marka-Nikko, em R$ 1,34/US$. Se tivesse utilizado a mesma
cotação para absorver os contratos do Stock Máxima, praticamente teria zerado o patrimônio desse fundo. Assim sendo, deveria o Banco Central anular a venda dos 2.300 contratos de futuro de câmbio do Marka para
o Stock Máxima ou negociar em separado esses contratos.
77. Assim, embora existam fortes indícios de má-fé na transferência desses 2.300 contratos do
Fundo Stock Máxima para o Banco Marka, ao que tudo indica, essa transação de transferência
ocorreu um dia antes desse Banco solicitar socorro ao Bacen. Isso se depreende do seguinte excerto
do Acórdão 2.906/2008 – Plenário: Os controladores do Banco Marka, no momento em que perceberam que a instituição não suportaria as
perdas avistadas, atuaram com nítida má-fé ao aumentar suas posições vendidas em 2.300 contratos futuros de dólar em operação direta, fora do pregão, e levada a registro na BM&F ao longo do dia 13/1/1999, com o
valor de R$ 1,2376460 para o dólar futuro (...) Após a realização da operação (dessa transferência em
comento) os controladores do Banco Marka procuraram o Banco Central informando que seu banco iria torna-se inadimplente junto à BM&F, deixando de honrar um posição na qual controlava US$ 1,13 bilhão(...).
78. Assim, em 14/01/1999, data da operação de socorro feita pelo Bacen, esses 2.300 contratos
já estavam incorporados ao patrimônio do Banco Marka. Ocorre que o Banco Central estava em
situação delicada. Se não tivesse vendido contratos futuros na totalidade da posição do Banco Marka,
incluindo os 2.300 contratos transferidos do Fundo Stock Máxima, não teria zerado o patrimônio
negativo desse Banco. Consequentemente, teria ocorrido a insolvência dessa Instituição Financeira e,
possivelmente, a indesejada crise sistêmica.
79. Nesse cenário, conforme se evidenciou, o Tribunal entendeu que o Bacen deveria ter
negociado em separado ou ter anulado essa transferência do fundo Stock Máxima. Entretanto, como
esses contratos já estavam incorporados ao patrimônio do Banco Marka, não havia a possibilidade de
o Bacen negociar em separado. Além disso, não há dispositivo legal que autorize expressamente o
Banco Central a anular contratos futuros negociados por instituições financeiras em ambiente de
bolsa, mesmo que esses negócios tenham fortes indícios de ilegalidade. Dessa forma, a anulação
dessa transação somente poderia ter sido feita pelo Judiciário. Assim, caso o Bacen, mesmo se tivesse
legitimidade ad causam para tanto, fosse acionar a justiça, até que fosse feito algum pronunciamento,
mesmo que em sede de cautelar, agravaria ainda mais a situação do Banco Marka, pois, com a crise
cambial vigente à época, com o dólar se valorizando, esse Banco poderia ser declarado inadimplente
junto à BM&F e, em consequência, se tornaria insolvente. Nessa situação, provavelmente, o Bacen
seria obrigando a liquidar essa instituição financeira. Dessa forma, haveria a possibilidade da
deflagração da temida crise sistêmica.
80. Portanto, procedem as alegações da defesa. Nessas condições, para evitar a ocorrência da
crise sistêmica, o Banco Central foi obrigado a cobrir toda a posição do Banco Marka, incluindo os
2.300 contratos transferidos do Fundo Stock Máxima. Assim, como o Tribunal entendeu ser razoável a
tese de risco sistêmico no caso do Banco Marka, não há como responsabilizar os gestores do Banco
Central por terem vendido a esse Banco esses 2.300 contratos. Dessa forma, não cabe a imputação do
débito de R$ 162.866.000,00, previsto no 9.3.1.1 do Acórdão 2906/2008 – Plenário para esses
administradores públicos.
81. Entretanto, as defesas não analisaram especificamente o item 9.3.1.2. do Acórdão
2906/2008 – Plenário. Esse item se refere à citação de R$ 2.478.700,00, decorrente dos ganhos
obtidos pelo Banco Marka, em razão da venda de 35 contratos adicionais para fazer frente às
despesas de auto-liquidação. O Tribunal, acerca desse item, fundamentou da seguinte forma:
159
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Finalizando o exame das operações para cobrir as posições próprias do Marka, observo que, dos 12.650
contratos vendidos pelo Banco Central, 35 seriam utilizados para fazer frente às despesas de encerramento da
sociedade. Esses contratos foram levados até seu vencimento e resultaram em ganho para o Banco Marka de
R$ 2.478.700,00 ([1,9832-1,275]*35*100.000). Apesar de parte ter sido utilizada para fazer frente à deficiência dos ativos parar cobrir os passivos, tivesse sido decretada a liquidação extrajudicial da entidade, o
patrimônio pessoal dos administradores teria respondido por essas despesas residuais. E, por serem residuais,
não seria suscetíveis de abalar a estabilidade do mercado financeiro. Consta que sobraram R$ 2.112.948,74 nas reservas bancárias do Marka, que foram posteriormente sacados e cujo destino é ignorado. Esse valor é
próximo do ganho obtido pela instituição no mercado de futuros com os 35 contratos adicionais. Portanto,
considerando que a auto-liquidação não poderia gerar enriquecimento do Banco, deve ser levado a débito todo
o ganho oriundo dos 35 contratos adicionais vendidos.
82. A justificativa apresentada para esses 35 contratos vendidos seria para (peça 2, p. 14): “(...)
fornecer novos recursos ao Banco Marka a fim de permitir uma reserva contra eventual imprecisão
dos cálculos e para assegurar valor residual de Patrimônio Líquido para fazer frente às despesas de
liquidação, como rescisões de contratos trabalhistas e impostos (...)”.
83. Embora o Tribunal tenha entendido que essa justificativa seja uma afronta aos princípios da
razoabilidade e da moralidade, data máxima vênia, entendemos de forma diversa. Foi evidenciado, ao
longo do processo, que o país estava passando por uma grave crise de natureza cambial. Nesse
cenário, caso uma instituição financeira quebrasse, poderia ser deflagrada uma crise sistêmica.
Assim, como o Banco Marka já estava virtualmente quebrado na data do socorro, o Bacen, por uma
questão de prudência, optou por vender esses 35 contratos excedentes. Vale relembrar que o Banco
Central, pela necessidade do momento, analisou a situação financeira dessa instituição, praticamente,
em apenas um dia. Dessa forma, com esse prazo exíguo, havia uma possibilidade real de ocorrer
erros e de, posteriormente, aparecerem passivos ocultos, que só seriam detectados com uma análise
econômico-patrimonial-financeira mais detalhada.
84. Dessa forma, foi razoável essa venda de 35 contratos futuros. Caso surgisse um passivo
oculto posteriormente, como crédito trabalhista relevante, ou se comprovasse que o cálculo efetuado
pelo Bacen para zerar o patrimônio do Banco Marka estivesse equivocado, dada a exiguidade de
tempo para realizar tal tarefa, essa instituição financeira poderia não ter como honrar seus
compromissos. Nessa conjuntura, o Bacen poderia ser obrigado a decretar a insolvência do Banco,
acarretando a sua eventual liquidação. Consequentemente, haveria a possibilidade de ser deflagrada
a indesejada crise sistêmica. Dessa modo, o socorro do Bacen teria sido em vão.
85. Assim, também, com relação ao item 9.3.1.2. do Acórdão 2906/2008 – Plenário, não há
como responsabilizar os gestores do Banco Central.
86. No entanto, tal entendimento não pode ser aplicado para o Sr. Cacciola, conforme será
analisado mais adiante.
Alegação dos Srs. Cláudio Mess Mauch e Demóthenes Madureira de Pinho Neto (ambas as
defesas apresentadas nas Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30) e Francisco Pádua Lopes (Peça 25, p. 4-9) –
Gestores do Banco Central (item 9.3.2. do Acórdão 2.906/2008 – Plenário)
87. Ainda no que tange às alegações de defesa dos gestores do Banco Central, a partir de agora,
serão demonstradas as suas considerações acerca do item 9.3.2. do Acórdão 2.906/2008 – Plenário,
que determinou a citação desses responsáveis, no valor de R$ 156.584.000,00, decorrente do
pagamento de ajustes financeiros na BM&F em razão da venda, pelo Bacen, ocorrida em 20/1/1999,
de 3.700 contratos futuros de câmbio ao fundo Marka Nikko Asset Management, sem que a
necessidade dessa operação tenha restado demonstrada.
88. Segundo os defendentes, o Bacen vendeu 3700 contratos aos fundos Marka-Nikko, em 19 de
janeiro de 1999, ao preço de 1,56. A operação direta foi decidida e autorizada pela Autoridade
Monetária na tarde daquele dia, tendo sua liquidação financeira ocorrido no dia seguinte. Nesse dia
19, a cotação na BM&F era de 1,50019, enquanto a cotação no mercado à vista era de 1,5580 (não
1,5735, como afirmou o Tribunal, de acordo com os citados). Assim, afirmam que as duas taxas se
160
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
situavam abaixo do preço utilizado na operação com fundos Marka-Nikko. Na Bolsa de Chicago, a
cotação era 1,538, no dia 19, e 1,557, no dia 20. Dessa forma, de acordo com os gestores, qualquer
dessas taxas estava abaixo da cotação da operação com o Bacen. Desse modo, concluem que a taxa
pactuada foi acima tanto do mercado à vista, como dos mercados futuros da BM&F e de Chicago.
89. Nesse diapasão, segundo os responsáveis, o interesse inusitado dos administradores dos
fundos ocorreu porque os investidores japoneses, que eram seus principais aplicadores de recursos,
estavam ansiosos (ou desesperados) para zerar rapidamente sua posição no Brasil, em virtude do
grande desconforto com as perdas já contabilizadas, e não desejavam realizar de forma gradual na
BM&F, como aconselharia a boa gestão financeira. Preferiam fazer rapidamente mesmo que com
prejuízo, de acordo com os gestores da Autoridade Monetária.
90. Cabe ressaltar que, ainda de acordo com os gestores citados, não havia baixa liquidez no
mercado futuro da BM&F, no dia 19 de janeiro, pois houve um volume de US$ 2,8 bilhões nesse
mercado. Além disso, alegam que o fato de o mercado futuro ter alcançado razoável liquidez com uma
cotação para o dólar futuro a 1,50019, inferior à cotação do mercado à vista de 1,5580, mostra que a
expectativa do mercado era de que a cotação do dólar poderia se estabilizar ou mesmo cair até final
do mês, quando seriam liquidados os contratos de dólar futuro.
91. Assim, ainda com base na defesa apresentada, o Bacen fez essa operação com esse fundo
para que não houvesse uma pressão excessiva nas cotações do dólar, na liquidação da sua posição
vendida, no âmbito do novo regime de flutuação do câmbio. Além disso, aduzem que havia o risco de
o Banco Marka ser instado a honrar passivos de alguns de seus fundos que viessem a ter patrimônio
líquido negativo. Ademais, afirmam que havia a delicada questão da possibilidade de eventual quebra
de um investidor estrangeiro em momento muito delicado, de início de implantação de um regime de
flutuação cambial.
92. De acordo com a defesa, um grande prejuízo de algum fundo Marka-Nikko fatalmente traria
ao mercado a suspeita de que o Banco Marka tinha tido problemas em honrar a sua posição vendida
na Bolsa, gerando receio de que poderia haver outros bancos em igual dificuldade, ou que entrariam
em dificuldade iminente, se a cotação do dólar continuasse a subir. No seu entendimento, isso geraria
insegurança no mercado quanto à solidez de todas as posições de hedge, o que tenderia a fazer subir
a cotação do dólar. Informam que o Bacen tinha interesse em manter em sigilo qualquer informação
sobre dificuldades na BM&F, tanto do Banco Marka, como dos seus fundos, para evitar qualquer
sensação de insegurança no mercado.
93. Com o novo regime cambial de taxas flutuantes, o objetivo do Bacen, conforme entendimento
dos responsáveis, era que a flutuação tivesse a menor intensidade e se desenvolvesse da forma mais
lenta possível. Além disso, tinha o fator financeiro para o Banco Central, como estava vendido em
contratos futuros de dólar, quanto menos se valorizasse o dólar, menos desembolsos teria o Bacen, até
o vencimento desses contratos. Assim, afirmam que a atuação teve como objetivo minimizar
turbulências no mercado, como as que poderiam ser produzidas por uma atuação nervosa de zeragem
de posição dos administradores japoneses dos fundos Marka-Nikko ou como a disseminação de
notícias sobre as dificuldades desses fundos e do Banco Marka no mercado.
94. Tendo em vista a essência do voto BCB 006/99, asseveram que a diretoria do Bacen
considerou que a operação com os fundos Marka-Nikko seria um legítimo exercício de sua
competência discricionária, com vistas a garantir a estabilidade do sistema financeiro nacional e seu
regular funcionamento. Ademais, ainda de acordo com os gestores, considerando que era um
momento de especial risco para economia brasileira, essa transação ainda gerou ganhos ao Bacen,
uma vez que foi realizada a uma cotação superior aos preços praticados no mercado futuro da BM&F
e no mercado à vista de dólar.
95. Há ainda um outro aspecto a ser tratado, o caso da compensação dos gastos com os
contratos vendidos em dólar com os recursos das reservas internacionais. Foi dado um exemplo
hipotético (peça 28, p. 14), com duas situações. Na primeira foram vendidos dólar no mercado à vista.
161
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Na segunda foram vendidos contratos futuros. O resultado seria o mesmo. Explicam que, com relação
à venda do contrato futuro, ocorreria um desencaixe de valores que seria equivalente à valorização do
dólar mantido nas reservas, com a vantagem de preservação das reservas internacionais.
96. Nesse sentido, trazem o entendimento de Luiz Gonzaga de Mello Belluzo, afirmando, em
parecer, que: O Banco Central optou por dar cobertura no mercado futuro, vendendo o equivalente em dólares no
futuro e assumindo obrigações em reais, sem impacto nas reservas em divisas. Na verdade, o impacto da desvalorização cambial se deu na composição do balanço do Banco Central; houve aumento do passivo (venda
de dólares no mercado futuro) que foi compensado pelo impacto do câmbio no ativo (valorização das reservas
que de outra forma seriam perdidas).
97. Conforme alegado, ao aceitar essa tese esposada pela instrução de que o Bacen atua
somente com o intuito de lucrar, por coerência, dever-se-iam considerar ilegais e prejudiciais as
decisões do Comitê do Política Monetária (Copom), toda vez que fosse aumentada a taxa de juros da
Selic, pois a cada aumento, a União é obrigada a pagar mais juros.
98. De acordo com o parecer de Marco Aurélio Teixeira, destacado pela defesa: Para o Banco Central é mais conveniente vender futuros, com cumprimento dos contratos em reais, do
que ir esgotando suas, na época já combalidas reservas internacionais. O resultado das operações é o mesmo, com a vantagem de não fragilizar sua posição em moeda internacional. Acontece que o Banco Central não era
o único vendido no mercado futuro. Instituições que acreditavam que o Banco Central conseguiria controlar o
câmbio – com já tinha feito outras vezes – também estavam vendidas.
99. Vale destacar o parecer dos Professores Doutores Nelson Carvalho e Alexsandro Broedel
Lopes, titulares do Departamento de Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP),
trazido pela defesa: também o aspecto positivo de dar liquidez às instituições financeiras que estavam vendidas em contratos
futuros de dólares junto à Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Essas instituições demandavam, primordialmente, liquidez para saída de suas posições futuras e não moeda no mercado à vista. Ao vender
referidos contratos futuros, o Banco Central do Brasil se comprometeu a pagar toda a variação positiva do
dólar frente ao Real - ‘zerando as posições’, no jargão do mercado. À primeira vista, e numa análise
superficial, leiga e apressada, pode-se afirmar que esse compromisso, de pagar a variação positiva do dólar frente ao Real, implica em perda (...). essa presumível e efetivamente inexistente perda, no entanto, é completa,
total e absolutamente compensada pela manutenção da moeda estrangeira em espécie (que se valorizaram) nas
reservas internacionais da autoridade monetária. Assim, o Banco Central estava protegido –‘hedgeado’, no jargão do mercado financeiro – ao realizar a operações de venda de contratos futuros, uma vez que detinha a
moeda estrangeira. O mesmo mercado financeiro que utiliza os termos específicos supra referidos também
denomina esse tipo de venda de contratos futuros, em que vendedor detém a posse e propriedade do ‘ativo-base’ (no caso, os dólares em espécie) como venda ‘coberta’; essa terminologia serve para contrastar com a
situação inexistente no Banco Central no caso sob estudo, que seria a venda de contratos futuros sem posse e
propriedade do ativo-base (os dólares) ou venda ‘descoberta’ ou ’a descoberto’, hipótese na qual seria cabível
admitir eventual existência de prejuízo contábil ao Banco Central do Brasil - que não foi o que ocorreu. Quem havia vendido contratos futuros de dólar a descoberto eram as instituições financeiras operadoras do
mercado, que ‘zerariam’ suas posições, em condições normais, comprando contratos futuros de dólar nas datas
das liquidações dos contratos em que estavam vendidas. Não era o caso do Banco Central do Brasil. Dessa forma, entendemos que a referida operação não gerou prejuízo que devessem ser contabilmente reconhecidos
pelo Banco Central do Brasil.
100. Assim, concluem que não houve prejuízos a serem reconhecidos na contabilidade do Bacen,
e os bancos assistidos não receberam nada indevidamente da Autoridade Monetária.
Análise
101. O exame será efetuado com base em dois enfoques: inicialmente, será examinada a questão
da compensação das perdas nos ajustes diários das vendas de contratos futuros de dólar com o ganho
obtido com os dólares mantidos nas reservas; posteriormente, será avaliada a precificação dos
contratos futuros de dólar vendidos pelo Bacen.
162
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
102. De fato, o Banco Central, conforme parecer de Nelson Carvalho e Alexsandro Broedel
Lopes, titulares da FEA-USP, fez uma operação de venda coberta de contratos futuros de dólar, uma
vez que, no dia 14/01/1999, estava vendido em US$ 10,55 bilhões (105.450 contratos futuros), peça 2,
p. 47, e, nessa mesma data, tinha em reservas, aproximadamente, US$ 36 bilhões, peça 20, p. 5.
Assim, se constata que todas as vendas de contratos futuros da Autarquia estavam totalmente
cobertas, pois o valor das reservas era superior ao valor da posição vendida no mercado futuro. Cabe
ressaltar que, nessa posição vendida de contrato futuro, estavam incluídas as vendas aos bancos
Marka e FonteCindam e aos seus fundos ligados. Dessa forma, verifica-se que as perdas no mercado
futuro foram compensadas pelo ganho da valorização do dólar à vista mantido nas reservas.
103. Assim, pode-se dizer que as quantias de R$ 162.886.000,00, R$ 2.478.700,00 e de
R$ 156.584.000,00, referentes aos pagamentos dos ajustes diários na BM&F feito pelo Bacen
referentes às operações fechadas com o Banco Marka e com o o Fundo Marka-Nikko, foram, de fato,
compensadas pela valorização dos recursos mantidos nas reservas internacionais.
104. Neste ponto, cabe abrir um parêntese: em que pese a mencionada compensação com as
reservas internacionais, não há que se falar em ausência de prejuízo para a Autoridade Monetária no
que se refere à operação feita com o Banco Marka. Ora, o Sr. Salvatore Alberto Cacciola, ao realizar
operações no mercado futuro com alavancagem de cerca de vinte vezes o patrimônio da instituição
financeira, atuou de forma imprudente e temerária, tanto é assim, que foi condenado pelo crime de
gestão fraudulenta/temerária, já com o transito em julgado, conforme analisado nos parágrafos 22 e
34 da peça 86. Além disso, ao transferir esses 2.300 contratos do Fundo Stock Máxima para o Banco
Marka em uma cotação mais vantajosa para o fundo, complicou ainda mais a situação do Banco
Marka, que já estava virtualmente insolvente. Como o principal cotista desse fundo era uma empresa
controlada pelo Sr. Cacciola, evidencia-se má-fé nessa operação.
105. Nessa senda, em que pese essa compensação dos recursos das reservas internacionais com
as perdas dos ajustes diários decorrente da soma dos ajustes diários do mercado futuro, não há que se
falar de ausência de prejuízo para a Autoridade Monetária, vez que a venda de mais 2.300 contratos,
além da posição original de 9.000 contratos detida pelo Banco Marka, só ocorreu em virtude de ato
ilegal, caracterizado como gestão temerária, praticado pelo Sr. Cacciola. Dessa forma, esse
particular deve ser condenado ao débito imputado pelo Acórdão 2.906/2008 – Plenário, afinal, se não
tivesse feito tal transação ilegal, o Banco Central não teria que cobrir os prejuízos advindos desse ato
de gestão fraudulenta praticado pelo Sr. Cacciola. No que se refere aos gestores do Bacen, conforme
já demonstrado, agiram com o intuito de evitar a liquidação do Banco Marka, com o receio de ser
deflagrada a indesejada crise sistêmica, não cabendo, portanto, responsabilizá-los.
106. Uma vez esclarecida a questão da compensação, será examinada, a partir de agora, a
precificação da operação de venda de contratos futuros ao Fundo Marka-Nikko.
107. Embora a defesa tenha alegado que a operação foi registrada no dia 19/1/1999, com a
liquidação no dia 20, não procede tal argumentação, pois a operação foi realizada de fato no dia
20/01/1999. Conforme apurou Tribunal, no Acórdão 2906/2008 (peça 2, p. 14): A liquidação da posição vendida importaria a compra de 3700 contratos futuros referenciados ao dólar
para fevereiro de 1999, o que foi executado, em 20/1/1999, à cotação de R$ 1,56 por dólar futuro, sendo
registrado com data retroativa a 19/1/1999. No dia 20/1/1999, data do registro da operação, a cotação do fechamento do contrato equivalente em Chicago era de R$ 1,579, com valor médio de R$ 1,569, e no Brasil de
R$ 1,566.
108. A fiscalização do Banco Central, por meio do Relatório de Fiscalização (peça 15, p. 25),
afirmou que: “No dia 20.01.99 o gestor dos fundos comprou 3.700 contratos de dólar futuro a 1,56
R$/US$ (...).”. Dessa forma, fica comprovado que a transação foi realizada no dia 20/01/1999, não no
dia 19/01/1999.
163
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Mercado Data do
Pregão
CONTR.
NEGOC. VOL.
PREÇO
ABERT.
PREÇO
MÍN. PREÇO MÁX.
PREÇO
MÉD. ÚLT. PREÇO
Futuro de dólar
(fev/09)
20/01/1999
16.640 2.602.936.750 1.550,00 1.550,00 1.579,00 1.564,27 1.577,00
Opções de dólar
(FE01) 945 31.006.500 1.564,00 1.557,00 1.570,00 1.568,11 1.570,00
Fonte: site da BM&F, com adaptações (peça 153). 109. Feita essa consideração inicial, será analisada a questão do preço fixado pelo Bacen. A
operação foi fechada a 1,56 no mercado futuro. No mercado à vista, a PTAX fechou a 1,5735. Assim,
a cotação do mercado à vista foi maior que a do mercado futuro. Ocorre que, normalmente, a cotação
do mercado futuro é maior que o preço do mercado à vista. Considerando o CDI do dia 20 até o dia
29/1/1999, de 0,07978%, pela teoria financeira, o mercado futuro deveria está cotado pelo menos a
1,59 (1,5735*1,007978). No entanto, não foi o que ocorreu no presente caso. Ao analisar a tabela
acima, constata-se que o preço máximo atingido no mercado futuro foi o de 1,579, que sequer chegou
ao preço teórico de 1,59. Tal situação, no jargão financeiro, caracteriza um mercado invertido, que
ocorre nas raras situações em que o preço à vista é superior ao preço praticado no mercado futuro.
110. Assim, uma possível explicação para esse fato poderia ser o limite de oscilação diário
desse contrato futuro imposto pela Bolsa. Ao analisar a tabela constante na peça 3, p. 40, desta TCE,
verifica-se que, para o pregão do dia 20/01/1999, existia um limite de oscilação de 8% com relação
ao preço do ajuste diário do dia anterior. Consultando o site da BM&F, o preço do ajuste do dia
19/01/1999 correspondia a 1.500,19. Dessa forma, com base no limite de oscilação permitido pela
Bolsa, a cotação do mercado futuro, nesse dia 20/01/1999, poderia chegar até 1.620,205
(1.500,19*1,08). Portanto, analisando novamente a tabela acima, o mercado futuro, no dia 20, não
atingiu o seu limite de oscilação diário, pois a cotação máxima atingida foi 1.579,00. Nesse contexto,
considerando que nesse dia houve um volume de negociação razoável (US$ 2,6 bilhões), não há um
motivo claro para que o mercado, ao longo do pregão, sequer atingisse o preço teórico de 1,59. Uma
justificativa plausível para essa situação seria a apresentada pelo Sr. Francisco Lopes, ao afirmar que
poderia ser uma expectativa do mercado, indicando que a cotação do dólar poderia se estabilizar ou
mesmo cair até fim do mês, quando seriam liquidados os contratos de dólar futuro. Essa, de acordo
com a teoria financeira, é uma das justificativas para que, excepcionalmente, o preço à vista do ativo
seja superior à cotação do mercado futuro, pois a regra é o preço futuro ser maior que o à vista.
Ademais, ainda cabe destacar que, nesse caso, o preço de fechamento do mercado futuro (1.577,00)
foi ligeiramente inferior ao preço de fechamento do mercado à vista (1,5735).
111. Agora, vamos analisar se a cotação fixada pelo Bacen para a venda de 3.700 contratos
futuros para o fundo Marka-Nikko estava fora ou dentro dos parâmetros de mercado. Inicialmente,
cabe ressaltar que se optou por considerar o preço médio praticado no mercado como o principal
parâmetro para verificar se operação com o Bacen ocorreu ou não ao preço de mercado, uma vez que
a liquidação de uma posição de 3.700 contratos (R$ 577.200.000,00), como era a do Fundo Marka-
Nikko, normalmente, não consegue ser feita em único preço e negócio no mercado. Assim, a
liquidação de uma posição desse tamanho, normalmente, é feita ao longo do pregão, em vários
negócios e com preços diversos. Nesse contexto, deve ser ainda considerada a questão da volatilidade
desse mercado. Para se ter uma noção da oscilação desse mercado, do preço mínimo para o preço
máximo, esse mercado nesse dia oscilou 1,87%. Assim, conclui-se que o preço médio é o melhor
parâmetro para aferir se o preço da operação feita pelo Bacen correspondia ao preço de mercado.
112. Dessa forma, ao analisar a tabela acima, constata-se que o mercado oscilou entre as
cotações de 1.550,00 a 1.579,00, respectivamente, a mínima e a máxima desse dia. Como o preço de
venda pelo Bacen foi a 1,56, estava dentro dessa faixa de negociação do mercado (entre a mínima e a
máxima). Esse é apenas um parâmetro secundário para enquadrar essa operação a mercado. Além
disso, esse preço estava em linha com o preço médio praticado no mercado nesse dia, que foi de
1.564,27, conforme se verifica na tabela acima. Assim, o preço de 1,56, além de estar dentro da faixa
164
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de negociação desse mercado, foi, praticamente, (e principalmente) equivalente ao preço médio
praticado naquele dia.
113. Ao analisar o mercado de opções de dólar na tabela acima, observa-se que as cotações de
abertura, preço mínimo, máximo e de encerramento são muito próximos dos respectivos preços de
abertura, mínimo, máximo e de encerramento do mercado de futuro de dólar. Assim, do ponto de vista
da variação cambial, para esse caso específico, tanto faz operar um contrato futuro ou opções, pois
terão cotações muito parecidas. Dessa forma, considerando esse mercado de opções, verifica-se
também que o preço de 1,56, cotação fixada pelo Bacen na venda de contratos futuros para o fundo
Marka-Nikko, estava dentro do preço praticado no mercado, uma vez que estava em linha com o preço
médio praticado nesse dia, de 1,568, segundo dados da tabela acima. Se for considerar a Bolsa de
Chicago, também estava consonância com preço médio dessa Bolsa, que foi 1,569, conforme indicado
no Acórdão 2906/2008 (peça 2, p. 14), acima destacado.
114. Vale refrisar que, no mercado de opções, não há limite de oscilação. Dessa forma, as
cotações desse mercado poderiam estar acima da PTAX desse dia (1,5735), mas, a exemplo do
mercado futuro, tal fato não ocorreu.
115. Dessa forma, pode-se considerar que a venda desses contratos pelo Bacen estava dentro do
preço praticado no mercado daquele dia, seja pela cotação média do mercado futuro da BM&F ou de
Chicago, seja pelo preço médio do mercado de opções da BM&F.
116. Nessas condições, como no patrimônio líquido do Bacen os dispêndios efetuados com os
contratos futuros vendidos foram compensados com os recursos mantidos nas reservas internacionais,
e como a operação foi feita a preço de mercado, data máxima vênia do entendimento do TCU, não há
que se falar em prejuízo a ser ressarcido para os cofres do tesouro, especificamente para essa venda
de 3.700 contratos futuros de dólar ao Fundo Marka-Nikko.
117. Entretanto, ainda persiste a irregularidade de o Banco ter vendido contratos futuros para
uma empresa que não é uma instituição financeira. O art. 12 da Lei 4.595/64 assim dispõe: “O Banco
Central da República do Brasil operará exclusivamente com instituições financeiras públicas e
privadas (...).” O Parecer DEJUR-160/97, fl. 1033, vol. 5 do TC 033.263/2008-1, ao analisar a
legalidade das operações do Bacen com derivativos cambiais, quanto a esse aspecto, também foi nesse
sentido e concluiu que: “a operação com parceiros que não instituições financeiras esbarra na
redação do art. 12 da Lei 4.595/1964 e, portanto, a alternativa é restringir o universo de parceiros às
instituições financeiras autorizadas a operar em câmbio.”.
118. Desse modo, essa venda de contratos no mercado futuro para o fundo Marka-Nikko foi
ilegal, uma vez que fundo de investimento não é equiparado à instituição financeira. Esse
entendimento é do próprio Banco Central. No expediente Cota DENOR/CODIS-99/114 – Pt.
9900950326, fls. 751-752, vol. 3 do TC 033.263/2008-1, afirmou-se o seguinte: A propósito, em conformidade com Parecer DEJUR-126, de 21 de maio de 1996, os fundos de
investimento não possuem personalidade jurídica e, consequentemente, não são titulares de direitos e obrigações, atributos da referida personalidade. [O parecer segue dizendo] ‘(…) em realidade, na gestão dos
recursos desses fundos, quem se encontra, nos polos ativo e passivo das relações jurídicas decorrentes dessa
atividade, é a instituição administradora, a quem é atribuída não só amplos poderes de administração, como também a responsabilidade civil e criminal (esta, na pessoa dos administradores) por tais atos.’ As afirmativas
acima mencionadas são baseadas, principalmente, no inciso II, do art. 49, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de
1965, e no art. 1º do Regulamento anexo à Circular nº 2.616, de 18 de setembro de 1995 (...). Assim,
entendemos correto responder que os fundos de investimento não são equiparados a instituições financeiras,
(...). (grifo nosso)
119. Dessa forma, não resta dúvida acerca da ilegalidade dessa operação.
120. No entanto, o Sr. Francisco Lopes afirmou que se não houvesse a operação com o Bacen, a
atuação nervosa dos investidores japoneses (ansiosos para zerar a posição dos fundos Marka-Nikko)
certamente pressionaria para cima as cotações do dólar nos mercados à vista e futuro. Para o Bacen,
naquele momento em que estava administrando a fase inicial do regime de livre flutuação cambial,
165
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
interessava reduzir ao mínimo a intensidade do movimento de desvalorização cambial. Assim, ainda
de acordo com esse responsável, minimizar turbulência no mercado, como as que poderiam ser
produzidas por uma atuação nervosa de zeragem de posição dos administradores japoneses dos
fundos Marka-Nikko ou pela disseminação de notícias sobre as dificuldades desses fundos e do Banco
Marka na BM&F, atendia ao objetivo de minimizar perturbações na fase inicial da flutuação cambial,
de modo a obter a menor volatilidade cambial possível.
121. Assim, devem ser sopesados, em juízo de proporcionalidade, os dois dispositivos legais que,
no caso concreto, estão em conflito. Primeiro, temos o art. 12 da Lei 4.595/1964, proibindo o Bacen
operar com empresas que não sejam instituições financeiras. Em contrapartida, temos o art. 11, inciso
III, dessa Lei, determinando que o Banco Central atue no sentido do funcionamento regular do
mercado cambial e da estabilidade relativa das taxas de câmbio. Considerando o que foi dito no
parágrafo precedente, especificamente para essa situação, era mais importante para a Autoridade
Monetária manter uma relativa estabilidade cambial, uma vez que o país estava passando por uma
crise e tinha acabado de alterar o seu regime cambial.
122. Portanto, a justificativa apresentada é razoável. Embora o Bacen tenha feito uma operação
com um fundo de investimento, que é vedado por Lei, tal operação visou a um objetivo maior que é a
estabilidade relativa da taxa câmbio, no âmbito do então recém-criado regime de taxas flutuantes.
Não era interessante para o Bacen, nem para a economia, que o dólar subisse de forma desordenada
no período inicial desse regime. Além disso, essa atuação contribuiu para a ocorrência de
turbulências maiores no mercado, em função da eventual divulgação de dificuldades de fundos ligados
ao Banco Marka. Ademais, deve-se relembrar que essas operações ocorreram dentro do preço
praticado no mercado, no momento da transação, e que houve a compensação das perdas no mercado
futuro com o estoque das reservas mantidas pelo Banco Central.
123. Assim, a atuação da Autoridade Monetária, na venda desses contratos ao Fundo Marka-
Nikko, visou ao atingimento de um objetivo mais relevante naquele momento, concernente à execução
da política cambial então vigente, no sentido de evitar-se movimentos desordenados, dada a
criticidade do momento, mesmo em detrimento da proibição de transacionar diretamente com
qualquer fundo de investimento.
124. Portanto, especificamente, para essa operação com o fundo Marka-Nikko, devem ser
acatadas, parcialmente, as alegações defesa dos responsáveis citados, afastando o debito imputado.
125. Todavia, persiste a ilegalidade de o Banco Central ter transacionado com um fundo de
investimento. Logo, considerando o afastamento do débito ora proposto, será perquirida a
possibilidade de aplicação de multa pelo Tribunal aos gestores do Banco Central.
126. Inicialmente, cabe destacar que tal irregularidade foi apontada pela então 2ª Secex, ao
analisar as defesas dos responsáveis citados. Ao compulsar os fundamentos do Voto do Acórdão
2.906/2008 – Plenário, não foi identificada a utilização de tal argumento. Destarte, não foi
oportunizado aos defendentes a possibilidade de se manifestarem acerca da proibição de o Banco
Central operar com fundos de investimento. Assim, como a irregularidade praticada ocorreu em
janeiro de 1999, não há que se falar em aplicação de multa, uma vez que se configurou prescrição da
pretensão punitiva pelo Tribunal.
127. Dessa forma, como não foi instaurado o contraditório e ampla defesa acerca dessa
irregularidade apontada e como a uma matéria é estranha a esta TCE, tendo o condão de acarretar a
irregularidade das contas dos gestores do Banco Central, haverá uma proposta para que tal questão
seja tratada no processo de prestação de contas do Bacen do exercício de 1999 (TC 010.871/2000-0),
que se encontra sobrestado.
128. Por fim, em que pese a revelia do Sr. Salvatore Cacciola e do fundo Marka-Nikko acerca
da citação do item 9.3.2 do Acórdão 2.906/2008 – Plenário, em razão dos argumentos acima
indicados, também deve ser afastado o débito imputado para esses dois responsáveis.
166
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Defesa dos Srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade, Francisco de Pádua Lopes e Paolo
Enrico Maria Azghen (Peça 25, p. 12-19) e dos Srs. Cláudio Ness Mauch e Demósthenes Madureira
Pinho Neto (Peças 27-28, p. 36-50 e 1-30)
129. Os referidos defendentes foram chamados para apresentar razões de justificativas em razão
de a aprovação do Voto 006/99 ser fundamentado em elementos aparentemente inverídicos, nos
termos do item 9.6. do Acórdão 2906/2008 – Plenário.
130. Em função da imputação do mesmo fato para esses responsáveis, pela semelhança das
alegações e pela conclusão uniforme a que se chegou para todos esses agentes, as defesas desses
responsáveis serão analisadas conjuntamente.
Alegação
131. Alegam que tal Voto não foi aprovado com base em elementos inverídicos ou
aparentemente inverídicos.
132. Com efeito, afirmam que, pelo que se deduz do relato do que teria ocorrido nos dias 12 a
18 de janeiro de 1999, os dias 13 a 15 foram de extrema tensão para equipe econômica e também
para o mercado financeiro, como não poderia deixar de ser. Em todos aqueles dias, ainda de acordo
com a defesa, a atenção da Diretoria do Bacen estava inteiramente focada para o comportamento do
mercado, em particular para a situação das instituições que, em razão da mudança do regime
cambial, havia acusado a impossibilidade de honrar suas posições junto à BM&F. Dessa forma, no
dia 14/01/1999, asseveram que a Diretoria do Bacen, de posse das informações oriundas da BM&F,
decidiu autorizar o Depin a realizar operações de venda dólar futuro junto à Bolsa, com o propósito
de viabilizar a liquidação de posições vendidas nos mercados futuro de dólar de instituições que
evidenciassem dificuldades de reversão de suas posições.
133. Em reforço dessa posição, a defesa destacou o trecho do depoimento da senhora Chefe do
Departamento de Fiscalização, Tereza Grossi: que mais tarde, mas ainda no mesmo dia 13.01.99, reportou ao Diretor Mauch o relato preliminar da
fiscalização do Rio de Janeiro e ficou acertado que, no dia seguinte, viria alguém da BM&F ao Banco Central
para explicar o que ocorreria naquela Bolsa no caso de inadimplência de algum participante; que, no dia
seguinte, 14.01.99, veio a Brasília para reunir-se com a declarante o Sr. Aguiar e o Sr. Antônio Carlos Mendes Barbosa, da BM&F, (...), que, dada a exiguidade de tempo, não havia como analisar os riscos para os clientes
dessas outras instituições responsáveis pelas obrigações. Que no mesmo dia 14.01.99 reportou ao Diretor
Mauch a situação contábil do Banco Marka, com base no balanço de 31.12.98, adotando-se uma posição mais conservadora, já que eventuais ajustes para baixo, no ativo, ou para cima, no passivo, poderiam significar
operações mais onerosa para o Banco Central.(...)
134. Com relação à formalização do Voto só ter ocorrido no dia seguinte, 15/1/99, há algumas
considerações a serem feitas. De acordo com a defesa, a decisão foi tomada na reunião da diretoria
Colegiada do dia 14/01/1999, que estava continuamente reunida naquele dia. Assim, afirmam que a
decisão colegiada antecedeu à formalização do Voto.
135. Nesse cenário, ainda de acordo com os responsáveis, tanto a decisão da Diretoria
Colegiada, como a respectiva minuta de voto datam, efetivamente, do dia 14/1/1999. No dia seguinte,
15/1/1999, alegam que apenas foram feitos ajustes naquele documento por parte da Procuradoria-
Geral, o que, à evidência, não impõe que devesse figurar dele esta última data. Evidenciam ainda que
se tal viesse a ocorrer, aí sim, passaria o voto a conter um dado inverídico.
136. Por oportuno, a defesa discorreu sobre a análise do ponto que se refere à participação ou
não do Subprocurador-Geral Francisco José de Siqueira na elaboração do referido Voto. Apontou, a
propósito, a necessidade de distinguir participação, de participação formal. No seu depoimento à
Polícia Federal, ele declara a sua participação na elaboração do voto, mas nega sua participação
formal na elaboração desse voto, por ocasião do exame de seus termos pela Procuradoria-Geral. A
Procuradora incumbida do exame dos termos da minuta de voto a ela submetida, por sua vez, não diz
ter havido participação formal do depoente, ou do Dr. Loiola. Diz apenas que, ‘além do auxílio de
Ricardo, teve a participação do Dr. Loiola e do Dr. Siqueira na elaboração desse documento.”
167
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
137. O TCU afirmou que o grande equívoco do voto, como redigido, foi a sua fundamentação,
pois a carta que faz menção tal voto, simplesmente não existia quando da decisão tomada pela
Diretoria Colegiada, que, supõe-se, ocorreu na manhã do dia 14/01/1999, segundo os defendentes.
138. Alegam que não há razão de ser, para essa ilação. De acordo com a defesa, a
fundamentação do Voto consta da parte inicial do item 3 do Voto; “Presente esse quadro e ante a
necessidade da manutenção da política cambial e da estabilidade do sistema financeiro nacional
(...)”.
139. Assim, indagam o seguinte: A que quadro se referia o voto?. Em resposta afirmam que se
refere ao quadro exposto pela BM&F e confirmado pela fiscalização do Banco Central.
140. Alegaram que, se a Diretoria tomou uma decisão baseada em uma situação vivenciada e
confirmada pela BM&F, é natural que o Voto a ela se referisse. Sustentam que, de fato, no momento
da decisão tal correspondência não existia ainda, mas ficou ali decidido que a BM&F deveria
elaborar e apresentar ao Bacen documento certificando os fatos, sendo provável que tenha sido
mesmo a chefe do Departamento de Fiscalização a pessoa encarregada de, no dia 14/1/99, solicitar à
Bolsa a elaboração desse documento. Nada mais natural, portanto, que o voto a ele se referisse, ainda
de acordo com os gestores.
141. Dessa forma, afirmam que não houve nenhuma tentativa ou intenção de transferir a
responsabilidade de sua decisão para a BM&F. A avaliação do quadro de risco sistêmico, então
desenhada, bem como a decisão de não liquidar o Banco Marka e de autorizar o Depin a realizar
operações de venda de dólar junto à Bolsa, assegurando, com isso, a normalidade da economia, bem
como, de resguardar os interesses dos depositantes, investidores e credores, segundo a defesa, foi da
Diretoria do Bacen. Aliás, ainda de acordo com responsáveis, seria impróprio querer transferir a
responsabilidade desse ato para a BM&F, se a Lei a impõe ao Banco Central. O Senhor Ministro-
Relator reconhece essa situação ao enfatizar que “a avaliação do quadro tinha que ser do Banco
central, como de fato, foi.”
142. Assim, concluem que a referência no Voto 006/99 à correspondência da BM&F, que
manifesta preocupação em relação a uma possível crise sistêmica, caso não fossem adotados
mecanismos que possibilitassem às instituições financeiras em dificuldade de reversão de suas
posições naquela Bolsa, não tinha como objeto demonstrar uma formalização que não existia, e,
menos ainda, dividir com a BM&F a responsabilidade pelo ato praticado.
Análise
143. Procede a argumentação apresentada pela defesa. Inicialmente, serão transcritos a seguir
os termos desse Voto 006/99, (peça 3, p. 11-12): Senhores Diretores:
Como é do conhecimento de V.Sas., este Banco Central por meio do Comunicado n.º 6.560. de 13 de janeiro de 1999, alterou a ‘faixa de flutuação’ (bandas) nos mercados interbancários de câmbio- segmentos de
taxas livres e de taxas flutuantes.
2. Em consequência dessa modificação recebemos da Bolsa de Mercadoria e Futuros – BM&F, nesta data, correspondência informando a respeito de sua preocupação em relação a uma crise sistêmica que pode
vir a atingir o mercado como um todo, caso não haja a adoção de mecanismos que possibilitem às instituições
financeiras a reversão de suas posições, o que sinaliza dificuldade que essas podem vir a ter em honrar seus compromissos perante terceiros; tendo em vista o nível alcançado nos cotações do dólar norte-americano em
relação ao Real, bem como a rigidez que esse mercado passou a apresentar.
3. Presente esse quadro e ante a necessidade da manutenção da política cambial e da estabilidade do
sistema financeiro nacional, propomos a esse colegiado, como medida preventiva a realização, pelo Departamento de Operações das Reservas Internacionais- DEPIN, de operações de venda dólar futuro junto à
BM&F, com o propósito de viabilizar a liquidação de posições vendidas nesses mercados futuros de dólar
norte-americano de instituições que evidenciam tais dificuldades, permitindo com isso, seja assegurada a normalidade da economia pública e resguardos os interesses dos depositantes, investidores e demais credores.
168
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Em caso de aprovação da presente proposta, fica, desde já autorizado o DEPIN a realizar as
operações de que se trata.
É o que levamos ao conhecimento e à consideração de V. Sas., com o nosso voto favorável.“
144. A proposição do TCU aponta que o grande equívoco do voto foi a sua fundamentação, pois
não havia porque tentar transferir a responsabilidade da sua decisão para BM&F. Ademais, apenas
quando da formalização do Voto 006/1999, em 15/01/1999, foi mencionada a existência de carta
supostamente encaminhada pela BM&F, conforme afirmou o Ministro-Relator.
145. De fato, tal carta da BM&F, mencionada no Voto BCB 006/99, ainda não existia em
14/1/1999, data da edição desse decisum. No entanto, esse fato não macula a sua fundamentação, uma
vez que já existiam tratativas entre os responsáveis da Bolsa e a Diretoria do Bacen, antes da
formalização do Voto em análise. Além disso, conforme afirmou a defesa, nessas tratativas, ficou
decidido que a BM&F deveria elaborar e apresentar ao Bacen um documento certificando a
possibilidade de risco sistêmico. Ou seja, infere-se que a Diretoria do Bacen queria um documento
formal da Bolsa para subsidiar a fundamentação da sua decisão. Entretanto, por um motivo
desconhecido, tal documento foi emitido tardiamente, após a edição do Voto.
146. Além disso, cabe mencionar que não era razoável o Banco Central aguardar a elaboração
dessa correspondência da BM&F (que já estava combinada) para edição do Voto BCB 006/99, pois
quanto mais tempo demorasse para o Bacen socorrer o Banco Marka, mais se agravaria a situação
financeira desse Banco, em função da valorização crescente do dólar.
147. Ademais, toda a operação de socorro ocorreu em apenas dois dias. No dia 13/01/1999, o
Sr. Cacciola solicitou auxílio ao Bacen, e, já no dia seguinte, dada a gravidade da situação, o Bacen
decidiu prestar socorro a essa instituição. Assim, em ambiente cheio de incertezas, tendo a
possibilidade de ocorrência de risco sistêmico e com prazo extremante exíguo, não há como exigir que
o Banco Central emitisse um ato normativo com uma redação perfeita, pois, na essência, a menção à
correspondência da BM&F, já havia sido solicitada à Bolsa nas tratativas ocorridas no dia
14/1/1999.
148. Outra questão a ser tratada refere-se à tentativa de transferir a sua decisão para a BM&F.
Na realidade, não se vislumbra essa possibilidade. A competência legal para efetuar tal ato é
exclusiva do Bacen, e assim foi feito por meio do Voto BCB 006/99. Pela análise desse Voto, a
Autoridade Monetária apenas fez menção a informações obtidas pela Bolsa, ou seja, essa foi apenas
uma das fontes de informações utilizadas pelo Bacen para justificar a operação de socorro. É factível
afirmar que o Banco Central também utilizou outras fontes, como, por exemplo, relatórios econômicos
internos e externos. Além disso, o Bacen, como a maioria dos participantes do mercado, sabia que a
conjuntura econômica da época era bem desfavorável, havia uma crise cambial, e, se nesse momento
bem crítico, caso algum banco quebrasse, tal crise poderia se transformar em uma crise bancária e,
consequentemente, afetar todo o sistema financeiro nacional.
149. Dessa forma, entende-se que deve ser acatada as razões de justificativas apresentadas
pelos Srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade, Francisco de Pádua Lopes, Paolo Enrico Maria
Azghen, Cláudio Ness Mauch e Demósthenes Madureira Pinho Neto, pelo fato de o Voto 006/99 não
ter sido elaborado com base em elementos inverídicos ou aparentemente inverídicos.
Análise das questões relacionadas ao Sr. Salvatore Alberto Cacciola (revel)
150. Conforme se demonstrou anteriormente, o Sr. Cacciola é revel nesta TCE. No entanto, nos
termos do art. 12, § 3º da Lei 8.443/92, será dado prosseguimento ao feito.
151. Inicialmente, cabe destacar que, conforme foi analisado alhures, o Sr. Cacciola não pode
ser responsabilizado pela operação de venda de 3.700 contratos futuros de dólar do Bacen para o
Fundo Marka-Nikko, uma vez que tal transação foi feita ao preço de mercado e teve como objetivo
maior a estabilidade relativa da taxa de câmbio, podendo, dessa forma, ser afastado eventual débito.
169
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
152. No entanto, o mesmo não ocorre com relação à citação acerca da venda de 2.300 contratos
assumidos pelo Banco Marka do Fundo Stock Máxima e da venda de 35 contratos adicionais para
fazer frente às despesas de autoliquidação.
153. Cabe ressaltar que, conforme verificou-se anteriormente, o Sr. Cacciola foi o único
responsável direto por essas operações feitas com o Bacen. Assim, ainda de acordo com o que foi
analisado, é perfeitamente possível a aplicar a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica,
e responsabilizar diretamente essa pessoa física. Dessa forma, com base nesse cenário, serão
analisados os aspectos a seguir.
154. O Ministro-Relator, para justificar a citação, assim, se manifestou (peça 2, p. 13): Os controladores do Banco Marka, no momento em que perceberam que a instituição não suportaria as
perdas avistadas, atuaram com nítida má-fé ao aumentar suas posições vendidas em 2.300 contratos futuros de dólar em operação direta, fora do pregão, e levada a registro na BM&F ao longo do dia 13/1/1999, com o
valor de R$ 1,2376460 para o dólar futuro (...) Após a realização da operação, os controladores do Banco
Marka procuraram o Banco Central informando que seu banco iria tornar-se inadimplente junto à BM&F,
deixando de honrar um posição na qual controlava US$ 1,13 bilhão(...).”.[Além disso, (peça 3, p. 25-28)] (...) a inclusão na operação de 2.300 contratos para cobrir os contratos transferidos pelo Fundo Stock Máxima não
deve ser acolhida, em razão dos indícios de má-fé na conduta dos administradores do Banco Marka, que, para
preservar o patrimônio do Marka Bank, do qual eram sócios, comprometeram ainda mais a situação do Banco Marka. Ademais, não fica evidenciado que a insolvência de um fundo de investimentos estrangeiro
comprometeria a credibilidade da BM&F ou do sistema financeiro. (...) Há portanto, fortes indícios de má-fé
da diretoria do Banco Marka nesse episódio, pois, ao mesmo tempo em que o banco assumiu os contratos do fundo de capital estrangeiro pela cotação irreal de R$ 1,2376/US$, ficou a cotação do dólar, para fins de
regate dos fundos de investimento Marka-Nikko, em R$ 1,34/US$. Se tivesse utilizado a mesma cotação para
absorver os contratos do Stock Máxima, praticamente teria zerado o patrimônio desse fundo.”. (...) além das
negociações engendradas pelo Sr. Salvatore Cacciola e pela Sra. Cinthia Costa e Souza com o Bacen, há também índicos de gestão temerária e fraude contra a pessoa jurídica, que assumiu, em condições
desvantajosas, 2.300 contratos do fundo Stock Máxima, cujo único cotista era o Innovation Fund. Por sua vez,
o único cotista desse fundo era o Marka Bank, de propriedade dos sócios-administradores do Banco Marka. Por conseguinte, a administração da empresa Holon Empreendimentos e Participações S/A – composta pelos
diretores Salvatore Alberto Cacciola (...) -, controladora do Banco Marka, impôs prejuízo à instituição
financeira para salvaguardar o patrimônio pessoal dos sócios/administradores. Por isso, acolho a proposta da unidade técnica de citar os administradores mencionados, que contribuíram para dilapidar o patrimônio da
pessoa jurídica Banco Marka S/A.
155. Dessa forma, está comprovado que o Sr. Cacciola agiu de má-fé, pois transferiu os 2.300
contratos para o Banco Marka, complicando ainda mais a situação dessa instituição. Além disso, essa
transferência foi feita a um preço bem vantajoso para o Fundo Stock Máxima, pois, enquanto o
resgate foi feito com a taxa de 1,34, a taxa da transferência para o Marka foi a 1,2376. Assim, com
base nessas taxas pactuadas bem benéficas, tal transação gerou um enriquecimento ilícito para o Sr.
Cacciola uma vez que, ele já sabia que, muito provavelmente, o Bacen iria socorrer o Banco Marka.
156. Ademais, cabe destacar que essa transação foi um fator adicional que contribuiu para a
condenação do Sr. Cacciola, fazendo coisa julgada material, pelo crime de gestão fraudulenta.
157. Além dessa transação, o Tribunal (peça 3, p. 25) argumentou o seguinte: Finalizando o exame das operações para cobrir as posições próprias do Marka, observo que, dos 12.650
contratos vendidos pelo Banco Central, 35 seriam utilizados para fazer frente às despesas de encerramento da
sociedade. Esses contratos foram levados até seu vencimento e resultaram em ganho para o Banco Marka de R$ 2.478.700,00 ([1,9832-1,275]*35*100.000). (...) Consta que sobraram R$ 2.112.948,74 nas reservas
bancárias do Marka, que foram posteriormente sacados e cujo destino é ignorado. Esse valor é próximo do
ganho obtido pela instituição no mercado de futuros com os 35 contratos adicionais. Portanto, considerando
que a auto-liquidação não poderia gerar enriquecimento do Banco, deve ser levado a débito todo o ganho oriundo dos 35 contratos adicionais vendidos.
170
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
158. Assim, embora, não caiba a responsabilização dos gestores do Banco Central para esses 35
contratos vendidos, conforme foi analisado anteriormente, o mesmo não se aplica ao Sr. Cacciola,
pois, de acordo com o parágrafo anterior, houve um enriquecimento ilícito para esse responsável.
Da indisponibilidade de bens
159. Questão que surge é a oportunidade de o Tribunal declarar a indisponibilidade dos bens do
Sr. Salvatore Alberto Cacciola. Inicialmente, devem ser demonstrado os dois requisitos para o
deferimento desta medida cautelar. Em primeiro lugar, a referida transação financeira ocorreu em
janeiro de 1999. Logo, tem mais de dezenove anos. Esse largo lapso temporal já dificulta
consideravelmente, em caso de condenação, o ressarcimento ao erário. Demonstra-se, dessa forma, o
perigo de dano. No que tange à probabilidade do direito, evidenciou-se no item precedente que o Sr.
Cacciola agravou a situação do Banco Marka, ao transferir contratos futuros de dólar do fundo de
investimento Marka-Nikko para o mencionado Banco, em condições desvantajosas para a instituição
financeira, já sabendo que ocorreria o socorro da Autoridade Monetária, majorando sobremaneira o
dano ao erário.
160. Assim, uma vez demonstrados os dois requisitos dessa medida cautelar, com vistas a
aumentar a probabilidade de ressarcimento ao erário, em eventual condenação pelo Tribunal, torna-
se conveniente a decretação da indisponibilidade dos bens pelo Tribunal.
161. Outrossim, há mais um aspecto a ser tratado acerca da decretação de indisponibilidade.
Como é cediço, o Sr. Cacciola, após o socorro do Banco Central, enviou recursos ao exterior.
Ademais, antes de ser condenado, fugiu para Itália, por ter essa nacionalidade. Assim, é muito
provável que boa parte do seu patrimônio esteja localizado no exterior.
162. Dessa forma, cabe discutir se o § 2º do art. 44 da Lei nº 8.443/92, ao atribuir a
competência para TCU decretar indisponibilidade de bens, permite que seja aplicada para bens
localizados no exterior. Esse dispositivo legal não faz qualquer menção acerca da localização do bem,
seja no país ou no exterior. Assim, nessa situação, para compreender o alcance dessa norma, deve-se
aplicar a hermenêutica jurídica. Cabe, então, aplicar o seguinte brocardo: ubi lex non distinguit nec
nos distinguere debemus, ou seja, quando a lei não faz distinção, o intérprete não deve fazê-la. Para
entender melhor a questão, LAURENT (apud SERPA LOPES, Curso de direito civil, Rio : Freitas
Bastos, 1998, v.I, p.135) ensina que: Não deve o intérprete criar, na interpretação, distinções que não figuram na lei. Essa regra adverte para
a aplicação geral, sem exceções, da regra cujo sentido é geral, e para a qual o legislador não previu exceções. Distinguir, nesse tema, quer dizer excepcionar, tratar de forma dessemelhante, tratar como exceção. E a regra
indica que não se presumem exceções
163. Observa-se que, com base nessa regra de hermenêutica, não deve o interprete criar
exceções, se a lei não o fizer. Assim, como a Lei Orgânica do TCU não limitou a decretação de
indisponibilidade de bens apenas para os localizados no país, deve-se interpretar que esse dispositivo
permite que o Tribunal possa impor essa medida restritiva também para os bens localizados no
exterior. Além disso, o espírito da Lei, ao estabelecer essa prerrogativa ao TCU, é garantir que, caso
ocorra futura imputação de débito de quem está sujeito à jurisdição do Tribunal, seja permitido o
ressarcimento ao erário, mesmo que os bens estejam localizados no exterior, já que o principal
objetivo é a recomposição dos cofres públicos. Desse modo, para o Sr. Cacciola, haverá proposta de
indisponibilidade de seus bens que estejam localizados no país e no exterior.
164. Para fins de esclarecimento, é cediço que o Brasil firmou acordos internacionais com
diversos país para troca de informações e implementação de execução de procedimentos da esfera
cível e penal entre si. Assim, a autoridade brasileira competente para operacionalizar o bloqueio de
bens no exterior é o Ministério da Justiça, que o exerce por meio do Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), nos
termos do Decreto nº 6.061/2007.
CONCLUSÃO
171
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
165. Com relação à análise de mérito da citação efetuada por meio do Acórdão 2.906/2008 –
Plenário, evidenciou-se que devem ser acolhidas as alegações de defesa dos Srs. Antônio Sérgio do
Carmo Dupin, GustavoWanderley Dias de Freitas, Gilberto Gilbert e da Sra. Cinthia Costa e Souza,
todos executivos do Banco Marka, por não terem participado, no campo decisório, da operação de
venda de contratos futuros pelo Banco Central, nem pela decisão de absorção de 2.300 contratos
futuros do Banco Marka pelo Fundo Stock Maxima. Assim, não há nexo causal entre uma omissão ou
ação desses executivos dessa transação com a Autoridade Monetária. Ademais, esse nexo só foi
estabelecido com o Sr. Salvatore Alberto Cacciola. (itens 30-65)
166. Também devem ser acatadas as alegações de defesa dos Sr. Francisco Lafaiete de Pádua
Lopes, Cláudio Ness Muach e Demósthenes Madureira de Pinho Neto, gestores do Banco Central,
referentes a todos os itens da citação do Acórdão 2906/2008 – Plenário. Com relação à transferência
de 2.300 contratos do Fundo Stock Máxima ao Banco Marka, o Bacen não tinha outra alternativa e
foi obrigado a cobrir esses contratos, sob pena de deflagração da crise sistêmica, pois não tinha
competência legal para anular essa transferência. (itens 66-109)
167. Quanto aos 35 contratos vendidos para a autoliquidação, dado o prazo exíguo para análise
da situação patrimonial do Banco Marka, item 9.3.1.2. do Acórdão 2906/2008 – Plenário foi razoável
tal transação, ante a possibilidade da existência de passivos não identificados. (itens 104-109)
168. Por fim, com relação à venda de 3.700 contratos futuros ao Fundo Marka-Nikko, item
9.3.2. do Acórdão 2906/2008 – Plenário, embora o Bacen tenha feito uma operação com um fundo de
investimento, que é vedado por lei, tal operação visou a um objetivo maior que é a estabilidade
relativa da taxa câmbio, que também estava previsto em lei. Ademais, as operações realizadas com
esse Fundo ocorreram ao preço praticado no mercado e houve a compensação das perdas no
mercado futuro com a valorização dos recursos mantidos nas reservas internacionais. Assim, nesse
contexto, deve ser afastada a responsabilidade desse Fundo, bem como do Sr. Salvatore Alberto
Cacciola, embora sejam revéis. (itens 110-151)
169. Ademais, como não foi instaurado o contraditório e ampla defesa acerca dessa vedação de
operar com fundos de investimento e como a uma matéria é estranha a esta TCE, tendo o condão de
acarretar a irregularidade das contas dos gestores do Banco Central, haverá uma proposta para que
tal questão seja tratada no processo de prestação de contas do Bacen do exercício de 1999 (TC
010.871/2000-0), que se encontra sobrestado. (itens 147-150)
170. Outrossim, devem ser acatadas as razões de justificativas apresentadas pelos Srs. Carlos
Eduardo Tavares de Andrade, Francisco de Pádua Lopes, Paolo Enrico Maria Azghen, Cláudio Ness
Mauch e Demósthenes Madureira Pinho Neto, pelo fato de o Voto 006/99 não ter sido elaborado com
base em elementos inverídicos ou aparentemente inverídicos, nos termos do item 9.6. do Acórdão
2906/2008 – Plenário. Em ambiente cheio de incertezas, tendo a possibilidade de ocorrência de risco
sistêmico e com prazo extremante exíguo, não há como exigir que o Banco Central emitisse um ato
normativo com uma redação perfeita, já que na essência, a menção à correspondência da BM&F, já
havia sido solicitada à Bolsa nas tratativas ocorridas no dia 14/01/1999. Além disso, no que se refere
à tentativa de transferir a sua decisão para a BM&F, não se vislumbra essa possibilidade, uma vez
que a competência legal para efetuar tal ato é exclusiva do Bacen, que feito por meio do Voto BCB
006/99. (itens 121-172)
171. No que diz respeito ao Sr. Salvatore Alberto Cacciola, além de ser revel, verifica-se em
relação à transferência de 2.300 contratos do Fundo Stock Máxima para o Banco Marka, vislumbrou-
se a nítida má-fé desse responsável, pois, essa operação complicou ainda mais a situação do Banco
Marka, que já estava virtualmente insolvente. Além disso, esse fundo tinha como cotista único uma
empresa controlada pelo Sr. Cacciola. Assim, como essa transação ocorreu com taxas vantajosas
para esse fundo, houve um enriquecimento sem causa para esse responsável. Ademais, ao alavancar o
Banco Marka em quase vinte vezes o seu patrimônio líquido, agiu com imprudência, violando o dever
legal de diligência que todo administrador é obrigado a seguir, permitindo assim a sua
172
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
responsabilização pessoal. Outrossim, por meio dessa conduta, acabou sendo condenado pelo crime
de gestão fraudulenta, fato que também justifica a desconsideração da personalidade jurídica do
Banco Marka para responsabilização direta desse responsável. (itens 42-65 e 173-181)
172. Diante desse quadro tendo em vista que não constam dos autos elementos que permitam
reconhecer a boa-fé do responsável, sugere-se que as contas do Sr. Salvatore Alberto Cacciola sejam
julgadas irregulares, nos termos do art. 202, § 6º, do RI/TCU, com a imputação do débito atualizado
monetariamente e acrescido de juros de mora, nos termos do art. 202, §1º do RI/TCU, bem como
ocorra a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
173. Um outro fator examinado nesta TCE diz respeito à decretação da indisponibilidade dos
bens do Sr. Cacciola. Em função do prazo já decorrido da transação efetuada, para tentar garantir o
ressarcimento, em caso de condenação, haverá proposta para a decretação dessa medida restritiva.
Ademais, por ser bastante provável que seus bens estejam no exterior, a proposta abrangerá também
o patrimônio localizado fora do país. (itens 181-186)
BENEFÍCIOS DAS AÇÕES DE CONTROLE EXTERNO
174. Entre os benefícios do exame desta tomada de contas especial pode-se mencionar a
expectativa de controle, o débito de R$ 165.364.700,00 e as eventuais multas a serem aplicadas pelo
Tribunal. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
175. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo ao Tribunal:
a) decretar, com base no art. 44, § 2º, da Lei 8.443/92, a indisponibilidade dos bens dos Sr.
Salvatore Alberto Cacciola (CPF 031.239.107-25), abrangendo o patrimônio localizado tanto no país
como no exterior;
b) determinar à Secex-Fazenda que, quando da retirada do sobrestamento do processo de
prestação de contas do Bacen do exercício de 1999 (TC 010.871/2000-0), realize audiência dos Srs.
Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de Fiscalização do Banco Central do Brasil, CPF 060.895.180-34),
Demósthenes Madureira de Pinho. Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do
Brasil, CPF 847.078.877-91) e 'Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-
Presidente em exercício do Banco Central do Brasil, CPF 110,015.857-04), para que apresentem as
alegações de defesa acerca da realização da venda, ocorrida em 20.1.1999, de 3.700 contratos de
futuro de câmbio aos fundos Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda., à cotação de R$
1,56/US$, considerando que o art. 12 da Lei 4.595/1964 somente permite ao Banco Central do Brasil
transacionar com instituições financeiras;
c) com relação ao item 9.3.1. do Acordão nº 2906/2008 – TCU, com fundamento nos arts. 1º,
inciso I, 16, inciso III, alíneas “c” e “d”, e § 2º da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da
mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, incisos III e IV, e §5º, 210 e 214, inciso III, do Regimento
Interno, que sejam julgadas irregulares as contas do Sr. Salvatore Alberto Cacciola (CPF
031.239.107-25, na condição de administrador do Banco Marka S.A.), condenando-o ao pagamento
das quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da notificação,
para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o
recolhimento das dívidas aos cofres do Banco Central do Brasil, atualizadas monetariamente e
acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas, até a data dos
recolhimentos, na forma prevista na legislação em vigor, abatendo-se, na oportunidade, os valores já
ressarcidos.
VALOR ORIGINAL
(Real)
DATA DA
OCORRÊNCIA
162.886.000,00 1/2/1999
2.478.700,00 1/2/1999
Valor atualizado até 14/3/2018: R$ 534.161.456,97
173
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
d) julgar regulares, dando-se quitação plena, as contas dos Srs. Cláudio Ness Mauch (ex-
Diretor de Fiscalização do Banco Central do Brasil, CPF 060.895.180-34), Demósthenes Madureira
de Pinho. Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, CPF 847.078.877-
91), Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício do
Banco Central do Brasil, CPF 110,015.857-04), Antônio Sérgio do Carmo Dupim (CPF 505.181.277-
53), Gustavo Wanderley Dias de Freitas (CPF 398.406.464-00), Gilberto Giberti (CPF 634.948.847-
49), Sra. Cinthia Costa e Souza (CPF 541.230.897-04), todos executivos do Banco Marka, a empresa
Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda. (CNPJ 02.358.370/0001-20), Carlos Eduardo
Tavares de Andrade (CPF 023.250.207-20) e Paolo Enrico Maria Zaghen (CPF 112.551.538-49),
ambos como gestores do Bacen, nos termos dos artigos 1º, inciso I, 16, inciso I, 17, e 23, inciso I, da
Lei nº 8.443/92;
e) aplicar ao Sr. Salvatore Alberto Cacciola (CPF 031.239.107-25) a multa prevista no art. 57
da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do Regimento Interno, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a
contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do
Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Banco Central do Brasil, atualizadas
monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido até a dos efetivos recolhimentos, se
forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
f) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas, caso não atendida a notificação;
g) manter a chancela de sigilo, nos termos do art. 9º da Resolução/TCU nº 191/2006.”
13. O Ministério Público junto ao TCU assim se manifestou:
2. “Mediante parecer na peça 91, analisei a proposta da Secex Fazenda constante da peça 86.
Na referida instrução, a unidade técnica, considerando os fundamentos utilizados no processo penal
para a condenação dos gestores do Bacen, sugeriu a ampliação do escopo das citações já realizadas.
Foi proposta a citação dos Srs. Cláudio Ness Mauch, Demósthenes Madureira de Pinho Neto e
Francisco Lafaiete de Pádua Lopes solidariamente ao Sr. Salvatore Alberto Cacciola, pelo dano
decorrente da venda, pelo Bacen, de contratos de futuro de câmbio ao Banco Marka S/A, sem adoção
de medidas para recompor o erário, com alteração do valor do débito a ser imputado, que na nova
citação deveria abranger os 12.650 contratos vendidos, e não apenas 2.335, como constou das
citações iniciais determinadas pelo Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário (peça 1, p. 2-3).
3. Na oportunidade, anuí à proposta da Secex Fazenda por entender que os gestores do Bacen
descuidaram de exigir garantias para a venda dos contratos, de modo a evitar não só que o prejuízo
se materializasse, mas também que o dono do Banco Marka enriquecesse às custas da operação (peça
91).
4. Vossa Excelência, no entanto, por meio do despacho de peça 110, divergiu do
encaminhamento proposto por julgar “não haver nos autos elementos mínimos de que essas garantias
poderiam ser ofertadas ou que os administradores do Banco Marka estariam dispostos a fornecê-las”,
não estando demonstrado que as autoridades monetárias deveriam ter agido de modo diverso (p. 4).
Ponderou ainda que:
‘24. Ora, se era para comprometer o patrimônio pessoal, supõe-se que a liquidação ou não da
operação para os administradores privados seria indiferente e somente a autoridade monetária
sofreria as consequências da não celebração do negócio. Assim, não é razoável supor que esses
agentes privados concordassem em dispor de seus bens, tal como ocorreria na liquidação
extrajudicial que o Banco Central tentava evitar naquele momento.
(...)
30. Os pareceres precedentes apontam, ainda, como justificativa para ampliar o escopo das
citações já realizadas a constatação de que houve enriquecimento sem causa do Sr. Salvatore
Cacciola que não teve seu patrimônio pessoal afetado e ainda auferiu benefícios com a operação
estimados em US$ 13.000.000,00.
174
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
31. Ora, a citação determinada por esta Corte insta o responsável a apresentar defesa ou
recolher débitos referentes a mais de R$ 300.000.000,00. Ou seja, é de se supor que os contratos até
então impugnados se refiram a esses benefícios indevidos a que se referem os pareceres
precedentes. Tampouco, em razão da magnitude dos valores questionados, pode-se considerar que o
responsável não terá seu patrimônio pessoal afetado. Assim, também por esse motivo, não vislumbro
razões para se alterar o débito até agora apontado. (peça 110, p. 4-5)’ (destacamos)
5. Referido despacho considerou, também, não estarem presentes os requisitos para a
comunicação entre as instâncias penal e administrativa, em face da ausência de sentença transitada
em julgado negando a existência do fato ou a autoria do ilícito. Diante disso, restituiu os autos à
unidade instrutiva para manifestação conclusiva quanto ao mérito dos fatos objeto de citação (peça
110, p. 6).
6. Nessa assentada, examina-se, portanto, a proposta de mérito formulada pela Secex Fazenda
(peças 175-177) quanto às citações e audiências realizadas em obediência aos itens 9.3 e 9.6 Acórdão
2.906/2008-TCU-Plenário (peças 1, p. 2-3; 23, p. 35-50; 24, p. 1-36). Destaque-se que o Sr. Salvatore
Alberto Cacciola e a empresa Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda., embora
regularmente citados (peças 23, p. 41-42; 24, p. 1-2 e 56; 33, p. 19; e 34, p. 14) não apresentaram
defesa.
...
7. Manifesto-me parcialmente de acordo com a proposta formulada pela unidade técnica pelos
motivos que passo a expor.
8. De início, cumpre esclarecer, quanto à eventual comunicação entre as instâncias penal e
administrativa, que o quadro analisado por Vossa Excelência à peça 110 permanece inalterado, já
que o recurso especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ) (REsp 1385522) continua pendente de
apreciação. Além disso, pelo princípio da independência das instâncias, considero que a decisão do
Tribunal Regional Federal – 1ª Região (TRF-1), juntada pelos gestores do Bacen à peça 139, não
vincula o juízo a ser firmado por esta Corte.
...
9. Entendo que as preliminares arguidas pelos responsáveis, como supostas ilegalidades nesta
TCE em razão de prejuízo à ampla defesa e prescrição, bem assim de falta de competência do TCU
para examinar atos do Bacen em assuntos de política monetária e cambial foram adequadamente
afastadas pela unidade técnica (peça 175, p. 6-9 e 13-15), dispensando considerações adicionais.
10. Quanto ao mérito das citações, a meu ver devem ser avaliados dois pontos principais: (a)
em primeiro lugar, se as defesas e demais documentos juntados aos autos permitem afastar os débitos;
(b) em segundo lugar, caso não afastados os débitos, a quem deve ser imputada a responsabilidade
por eles.
11. Analisarei separadamente os débitos descritos nos itens 9.3.1 e 9.3.2 do Acórdão
2.906/2008-TCU-Plenário, uma vez que as conclusões da unidade técnica foram diferentes quanto a
eles (manter o primeiro e afastar o segundo).
12. Relativamente aos 2.300 contratos de futuro de dólar originários do fundo Stock Máxima
de capital estrangeiro e aos 35 contratos adicionais para fazer frente às despesas de "auto-
liquidação" (item 9.3.1 do Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário), a Secex Fazenda entende que as
quantias referentes aos ajustes diários na BM&F feitos pelo Bacen foram compensadas pela
valorização dos recursos mantidos nas reservas internacionais. Não obstante, considerou que a
referida compensação não se confundia com a ausência de prejuízo para a Autoridade Monetária,
conforme se depreende do excerto a seguir:
128. Nessa senda, em que pese essa compensação dos recursos das reservas internacionais com
as perdas dos ajustes diários decorrente da soma dos ajustes diários do mercado futuro, não há que se
falar de ausência de prejuízo para a Autoridade Monetária, vez que a venda de mais 2.300 contratos,
além da posição original de 9.000 contratos detida pelo Banco Marka, só ocorreu em virtude de ato
175
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ilegal, caracterizado como gestão temerária, praticado pelo Sr. Cacciola. (peça 175, p. 22-23)
(destacamos)
13. Concordo com a unidade técnica que o débito em exame não pode ser afastado. Sem
embargo, a meu ver, não deve ser acatada a tese de que os valores dos ajustes diários foram
compensados pela valorização das reservas internacionais. Destaco, nesse sentido, excerto do voto
condutor do Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário, da lavra de Vossa Excelência:
Assim sendo, não é possível afirmar categoricamente que não há perdas para o Banco Central
quando ocorre elevação da taxa de câmbio e este se encontra na posição vendida. Não é correto
concluir que a valorização das reservas não gastas corresponde às perdas no mercado de futuros, já
que, neste, os agentes econômicos podem e geralmente atuam alavancados. Significa que, se o Banco
Central não participasse ativamente desse mecanismo de proteção, os agentes, de uma forma geral,
não teriam condições de demandar dólares norte-americanos no mesmo volume que demandam na
BM&F. (peça 2, p. 46) (destacamos)
14. Da mesma forma entendeu a Procuradora Cristina Machado da Costa e Silva, ao atuar no
processo relativo às transações do Bacen com o Banco Fonte Cindam S.A. (TC 033.263/2008-1, peça
56). Embora haja diferenças entre os casos do Banco Marka e do Banco Fonte Cindam, entendo que
vários dos argumentos utilizados pela procuradora são aplicáveis ao processo em exame. Por esse
motivo e pela clareza de seus fundamentos, permito-me transcrever excertos de seu parecer, in verbis:
6. Nesse caso, tanto em relação à improcedência do laudo pericial quanto à da novel peça de
defesa, reproduzimos a seguir as razões que embasaram nosso parecer anterior a respeito da
impropriedade do raciocínio de ausência de prejuízo, no contexto da atuação do Bacen externamente
ao ambiente de utilização de instrumentos regulatórios das atividades financeira e cambial do
mercado em geral (peça 32, p. 19/20):
‘12. (...) não partilhamos desse entendimento [de que as perdas do Banco Central no mercado
futuro, relativamente às operações feitas com o Banco Fonte Cindam, teriam sido compensadas pelo
ganho da valorização do dólar à vista nas reservas internacionais] por dois motivos básicos.
Primeiramente, o raciocínio somente se aplicaria a operações ‘normais’ do Banco Central no
mercado futuro, em que a atribuição de autoridade monetária referenda a utilização de instrumentos
de regulação das atividades financeira e cambial do mercado em geral, não havendo de se
confrontarem ganhos e perdas nas operações para o fim de apurar responsabilidade dos gestores. Por
isso, para esse cenário da ação regulatória exercida pelo Bacen, seria válido se falar que os ganhos e
as perdas são considerados na composição do balanço contábil no lado passivo e no ativo.
(...)
14. Também sob uma ótica mais técnica, o então dirigente da 2.ª Secex na fase anterior à
citação já havia discordado da ideia de comparar gastos em reais com a manutenção de reservas
cambiais, nos seguintes termos (fl. 69 do vol. princ.):
(...)
‘7.8. De tudo apresentado, uma das mais inconsistentes argumentações apresentadas pelos
responsáveis foi a de que, na realidade, as operações não trouxeram prejuízo ao BACEN, visto que os
ajustes diários enfrentados pela abertura das posições vendidas em contratos futuros foram
contrabalançadas pela valorização das reservas cambiais que deixaram de ser vendidas.
7.9. Tal raciocínio busca relacionar dois resultados que não guardam relação entre si. No
caso, a desvalorização da moeda (...) promoveu uma valorização estritamente contábil, visto ter
propiciado um aumento nominal das reservas em Reais, mas um valor real [ou efetivo] imodificado
em termos de moeda forte. O que se verificou, nesse caso, é que em termos contábeis ocorreu ganho,
mas não em termos econômicos.
7.10. Quanto às perdas, verificamos que surgiram em razão da criação de posições que não
existiam até então e resultaram na transferência de recursos financeiros às contas das contrapartes,
consistindo de perdas reais, ou seja, econômicas. (TC 033.263/2008-1, peça 56) (destacamos)
176
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
15. O posicionamento defendido pelo Parquet foi acolhido por esta Corte, conforme se
depreende do voto condutor do Acórdão 1.915/2015-TCU-Plenário:
61. O raciocínio atinente a uma possível compensação das perdas com a venda dos contratos
pelo Bacen na BM&F com os ganhos auferidos com a permanência dos dólares no caixa do Bacen,
está correto apenas para operações regulares, desde que o valor das reservas esteja sempre acima
dos valores dos contratos negociados na Bolsa.
16. Diante do exposto, entendo que não merece prosperar a tese de compensação, motivo pelo
qual considero que remanescem os débitos elencados no item 9.3.1 do Acórdão 2.906/2008-TCU-
Plenário.
17. No que se refere à responsabilização, manifesto minha concordância com a análise da
unidade instrutiva no sentido de que o débito deve ser imputado exclusivamente ao Sr. Salvatore
Alberto Cacciola.
18. Ficou demonstrado, no processo judicial 990046981-0 e nos processos administrativos
instaurados pelo Bacen, que o Sr. Cacciola foi o responsável pela operação de venda de 2.300
contratos de dólar futuro para o Fundo Stock, realizada em 13/1/1999, véspera das transações com a
Autoridade Monetária questionadas neste processo. Essa operação agravou ainda mais a situação do
Banco Marka S.A, beneficiando o Fundo Stock e, indiretamente, o próprio Sr. Cacciola, único cotista
do Innovation Fund (peça 33, p. 15-17).
19. Também ficou caracterizada a gestão fraudulenta por parte do Sr. Salvatore Alberto
Cacciola, que foi reconhecida no âmbito do processo judicial 990046981-0 (peça 44, p. 199) e pelo
Bacen (peça 127, p. 11-12). O responsável agiu de forma temerária nas operações realizadas pelo
Banco Marka na BM&F, tendo em vista o elevado grau de alavancagem com que operava, sem adotar
qualquer estratégia que permitisse a proteção do patrimônio da entidade. Esse quadro é agravado
ainda pelo fato de o Sr. Cacciola ter enviado recursos para contas no exterior sem comprovar a
legitimidade da remessa (peça 44, p. 80). Foi justamente a gestão temerária do Sr. Salvatore Alberto
Cacciola que levou à necessidade das operações.
20. Quanto aos demais administradores do Banco Marka, entendo, como fez o Bacen e a
unidade técnica (peças 33, p. 17; e 175, p. 13, respectivamente), que não há elementos que
demonstrem que eles tenham participado ou que pudessem evitar a operação realizada pelo Banco
Marka com o Fundo Stock, o que enseja o afastamento de suas responsabilidades.
21. Reputo pertinente também o posicionamento da Secex Fazenda relativamente aos gestores
do Bacen. Reconhecida a plausibilidade de interpretações sobre a existência de risco sistêmico e
considerando que o Banco Marka estava tecnicamente falido em 14/1/99 (peça 3, p. 10), não havia
alternativa, a não ser a realização da operação de socorro a uma cotação capaz de “zerar” o
patrimônio da entidade (peça 43, p. 319). Como mencionado pela unidade instrutiva, no dia da
operação a negociação com o Fundo Stock era um fato consumado, não havendo mecanismos que
permitissem ao Bacen anular a transação sem riscos de comprometer o objetivo principal de evitar
uma crise de confiança no mercado (peça 175, p. 17).
22. Considero razoável, ainda, o afastamento da responsabilidade dos gestores do Bacen
relativamente aos 35 contratos excedentes. Tendo em vista a urgência em realizar as operações, julgo
plausível a justificativa de que este excedente se deva ao estabelecimento de uma margem contra
eventual imprecisão dos cálculos (peça 175, p. 19).
23. Quanto ao débito elencado no item 9.3.2 do Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário (3.700
contratos de futuro de câmbio aos fundos Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.), a Secex
Fazenda propõe seu afastamento pelos seguintes motivos:
a) por considerar legítima a tese de compensação das perdas no mercado futuro com o ganho
da valorização do dólar à vista, mantido nas reservas (peça 175, p. 22);
177
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b) por considerar que a venda se deu por preço compatível com o preço médio praticado
naquele dia (20/1/1999) no mercado futuro da BM&F e de Chicago, bem como no mercado de opções
da BM&F (peça 175, p. 24);
c) por entender que a operação questionada “visou a um objetivo maior que é a estabilidade
relativa da taxa de câmbio” (peça 175, p. 25-26).
24. Não obstante a proposta de afastamento de débito, a unidade instrutiva considera que
“persiste a ilegalidade de o Banco Central ter transacionado com um fundo de investimento” e que
esta deve ser tratada no processo de prestação de contas da entidade do exercício de 1999 (TC
010.871/2000-0), que se encontra sobrestado. Segundo a Secex Fazenda, como os defendentes não
foram instados a se manifestar sobre a essa ocorrência no âmbito desta TCE, estaria configurada a
prescrição da pretensão punitiva, afastando a aplicação de multa (peça 175, p. 26).
25. Avaliando mais detidamente o débito elencado no item 9.3.2 do Acórdão 2.906/2008-TCU-
Plenário, sobretudo à luz do Acórdão 1.915/2015-TCU-Plenário (processo relativo ao Banco Fonte
Cindam), dissinto, com as devidas vênias, das conclusões da unidade técnica por entender não estar
devidamente caracterizada a hipótese de risco de “crise sistêmica” neste caso.
26. Relativamente à tese de compensação das perdas, já justifiquei minha divergência com
relação à posição da Secex Fazenda, conforme consignado nos parágrafos 15-18.
27. Quanto aos demais pontos que sustentam a proposta de afastamento do débito, convém
relembrar que os motivos que levaram à citação do item 9.3.2 não dizem respeito apenas a uma
eventual inadequação do preço negociado, mas à própria justificativa e necessidade da operação.
Primeiro, por não se tratar de uma instituição financeira, mas de fundos de investimento cujas perdas
eventuais deveriam ser arcadas pelos cotistas. Segundo, por considerar que a insolvência dos fundos
não teria, em princípio, o condão de abalar o mercado. No voto condutor do Acórdão 2.906/2008-
TCU-Plenário, está consignado que a inadimplência dos fundos teria gerado prejuízos da ordem de
R$ 9,7 milhões (peça 3, p. 26), o que enfraquece os argumentos da defesa de que a operação objetivou
evitar “pressão excessiva nas cotações do dólar” (peça 175, p. 20, item 114).
28. Quanto à necessidade da realização da operação no dia 20/1/99, destaque-se que, dos
fundos do Marka-Nikko, apenas o Derivativos Plus FIF se tornaria inadimplente em 20/1/1999, “pois
não poderia suportar cotação superior a R$ 1,565363/US$” (peça 3, p. 26). Esse fato também reduz a
importância do argumento da defesa de que havia o risco de o Banco Marka fosse instado a honrar
passivos de seus fundos que viessem a ter patrimônio líquido negativo (peça 175, p. 20, item 114).
29. Ademais, a própria unidade técnica admite que o mercado futuro no dia 20/1/1999 teve um
volume de negociação razoável (US$ 2,6 bilhões), além de estarem funcionando o mercado de opções
e a Bolsa de Chicago (peça 175, p. 23, itens 133-136), não ficando claro o que impossibilitaria que os
fundos em questão revertessem suas posições no próprio mercado. A meu ver, o caso em exame se
assemelha em grande medida às operações realizadas com fundos do Banco Fonte Cindam,
analisadas nos autos do TC 033.263/2008-1. Essas operações, segundo o voto condutor do Acórdão
1.915/2015-TCU-Plenário, foram consideradas carentes de justificativa, dentre outros motivos pelas
evidências de que havia condições de reversão de posições sem intervenção do Bacen. Por essa razão,
o débito foi mantido naquele processo, sendo imputado solidariamente aos gestores do Bacen e ao
Fonte Cindam e seus administradores.
30. Em resumo, os pontos mencionados enfraquecem a tese de que uma atuação “nervosa” dos
administradores dos fundos fosse suficiente para gerar grave turbulência no mercado. Assim, entendo
que não há elementos suficientes para que se conclua que as operações realizadas com os fundos de
investimento Marka Nikko eram imprescindíveis para evitar uma crise sistêmica.
31. Não estando caracterizada a imprescindibilidade da operação, considero que não há como
afastar a responsabilidade dos gestores do Bacen, tampouco de seus beneficiários, a empresa Marka
Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda. e o Sr. Sr. Salvatore Alberto Cacciola, que devem ser
considerados solidariamente responsáveis pelo débito.
178
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
32. No que se refere à audiência do item 9.6 do Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário, anuo à
proposta da unidade técnica de acatar as alegações de defesa.
33. Relativamente à irregularidade atinente à realização de operações com fundos de
investimento, entendo ser dispensável a realização da audiência sugerida pela unidade técnica no
item “b” de sua proposta de encaminhamento (peça 175, p. 26 e 33), tendo em vista a proposta ora
formulada de irregularidade também quanto ao item 9.3.2 do Acórdão 2.906/2008-TCU-Plenário.
Caso Vossa Excelência tenha entendimento diverso, no entanto, diferentemente do proposto pela
Secex Fazenda, considero que a audiência deve ser realizada no âmbito desta TCE.
34. Da mesma forma, a meu ver não cabe a decretação de indisponibilidade de bens sugerida
pela unidade técnica. Isso porque, de acordo com o art. 44, §2º, da Lei 8.443/1992, a
indisponibilidade de bens pode ser decretada no início ou no curso da apuração, mas não no momento
do julgamento das contas, quando a medida cabível é a solicitação de arresto de bens. Nessa linha é a
jurisprudência desta Corte (Acórdãos 335/2014, 3.189/2014 e 2.429/2016-TCU-Plenário).
35. Quanto ao arresto de bens, permito-me transcrever excerto do voto condutor do Acórdão
2.429/2016-TCU-Plenário:
17. Em síntese, esclareceu a AGU, com fundamento na doutrina e na jurisprudência, que, na
concessão da cautelar nas ações de arresto: i) a simples probabilidade da existência da obrigação é
suficiente para caracterizar o requisito do fumus boni iuris; ii) e a comprovação do periculum in mora
prescinde de “comprovação de dilapidação do patrimônio para deferimento da medida”. Para essa
finalidade, é suficiente que haja a possibilidade do desfazimento patrimonial.
18. Após fazer outras considerações, concluiu-se naquela oportunidade que a presunção de
periculum in mora “está calcada nas seguintes premissas: (i) há grande probabilidade de o autor da
demanda ter razão; (ii) o bem tutelado possui grande relevância social, e a gravidade dos fatos e o
montante do prejuízo gerado ao Erário são suficientes para configurar o perigo de dano; (iii) há uma
presunção em favor da sociedade”.
36. A meu ver, estão presentes neste caso as premissas anteriormente elencadas, motivo pelo
qual proponho que a medida de indisponibilidade de bens sugerida seja substituída pelo arresto de
bens.
37. Destaco ainda que, estando os autos em meu gabinete, foi protocolado pelo Sr. Salvatore
Alberto Cacciola o documento que consta da peça 181, por meio do qual ele alega não ter sido
regularmente citado e solicita a renovação de sua citação, com abertura de novo prazo para sua
defesa. Sobre o pleito, manifesto, desde já, minha posição pelo seu indeferimento. Ao contrário do
alegado, é inequívoco que o responsável teve ciência de sua citação por esta Corte, o que é
evidenciado pelo pedido de prorrogação de prazo que apresentou em 14/7/2009 (peças 33, p. 19; 23,
p. 41-42), pedido este que foi deferido, conforme se observa dos documentos que constam da peça 33,
p. 20-21.
38. Diante do exposto, este membro do Ministério Público de Contas propõe:
a) com fundamento nos arts. 1º, inciso I; 12, §3º, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, e § 2º; 19: 23,
inciso III, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 1º, inciso I; 209, incisos II e III, e §5º; 210 e 214, inciso III,
do Regimento Interno, que sejam julgadas irregulares as contas do Sr. Salvatore Alberto Cacciola
(CPF 031.239.107-25, na condição de administrador do Banco Marka S.A.), condenando-o ao
pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal, o recolhimento das dívidas aos cofres do Banco
Central do Brasil, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir
das datas discriminadas, até a data dos recolhimentos, na forma prevista na legislação em vigor,
abatendo-se, na oportunidade, os valores já ressarcidos. VALOR ORIGINAL (Real) DATA DA OCORRÊNCIA
162.886.000,00 1/2/1999
2.478.700,00 1/2/1999
179
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b) com fundamento nos arts. 1º, inciso I; 12, §3º, 16, inciso III, alíneas “b” e “c”, e § 2º; 19: 23,
inciso III; 28, inciso II da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 1º, inciso I; 209, incisos II e III, e §5º; 210 e 214,
inciso III, do Regimento Interno, que sejam julgadas irregulares as contas dos Srs. Cláudio Ness
Mauch (ex-Diretor de Fiscalização do Banco Central do Brasil, CPF 060.895.180-34), Demósthenes
Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, CPF
847.078.877-91), Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em
exercício do Banco Central do Brasil, CPF 110,015.857-04), Salvatore Alberto Cacciola (CPF
031.239.107-25, na condição de administrador do Banco Marka S.A.) e da empresa Marka Nikko
Asset Management Sociedade Civil Ltda. (CNPJ 02.358.370/0001-20), condenando-os solidariamente
ao pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar da
notificação, para comprovar, perante o Tribunal, o recolhimento das dívidas aos cofres do Banco
Central do Brasil, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir
das datas discriminadas, até a data dos recolhimentos, na forma prevista na legislação em vigor,
abatendo-se, na oportunidade, os valores já ressarcidos: VALOR ORIGINAL (Real) DATA DA OCORRÊNCIA
156.584.000,00 1/2/1999
c) com fundamento nos artigos 1º, inciso I; 16, inciso I; 17; e 23, inciso I, da Lei nº 8.443/92,
que sejam julgadas regulares as contas dos Srs. Antônio Sérgio do Carmo Dupim (CPF 505.181.277-
53), Gustavo Wanderley Dias de Freitas (CPF 398.406.464-00), Gilberto Giberti (CPF 634.948.847-
49), Sra. Cinthia Costa e Souza (CPF 541.230.897-04), todos executivos do Banco Marka, Carlos
Eduardo Tavares de Andrade (CPF 023.250.207-20) e Paolo Enrico Maria Zaghen (CPF
112.551.538-49), ambos como gestores do Bacen, dando-lhe quitação plena;
d) aplicar aos Srs. Salvatore Alberto Cacciola (CPF 031.239.107-25), Cláudio Ness Mauch
(CPF 060.895.180-34), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (CPF 847.078.877-91), Francisco de
Pádua Lopes (CPF 110,015.857-04) e à empresa Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil
Ltda. (CNPJ 02.358.370/0001-20) a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 267 do
Regimento Interno, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para comprovar,
perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas
aos cofres do Banco Central do Brasil, atualizadas monetariamente desde a data do acórdão que vier
a ser proferido até a dos efetivos recolhimentos, se forem pagas após o vencimento, na forma da
legislação em vigor;
e) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas, caso não atendida a notificação;
f) com fundamento no art. 61da Lei 8.443/1992, solicitar à Advocacia-Geral da União e ao
Banco Central do Brasil a adoção das medidas necessárias ao arresto dos bens dos responsáveis
julgados em débito indicados nos itens “a” e “b”;
g) manter a chancela de sigilo, nos termos do art. 9º da Resolução/TCU nº 191/2006.”
É o relatório.
VOTO
De início, registro que passei a presidir este processo como consequencia de sorteio promovido
pela Secretaria das Sessões em 27/5/2014, o qual decorreu da declaração de impedimento da então
Relatora, eminente Ministra Ana Arraes (peças 64 e 65).
2. Trata-se de tomada de contas especial instaurada em razão de supostos prejuízos causados ao
erário em decorrência de operações irregulares com contratos futuros de dólar, realizadas entre o
Banco Central do Brasil (Bacen) e o Banco Marka S.A. (12.650 contratos da primeira operação em
14/01/1999 e 3.700 contratos da segunda operação em 19/1/1999).
II – Breve histórico
180
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
3. A presente tomada de contas especial foi instaurada por força do Acórdão 2.906/2008 –
Plenário (peça 1, p. 2-3), o qual também determinou a instauração de processo apartado para a
apuração de operações financeiras praticadas pelo Banco FonteCindam (TC 033.263/2008-1, apreciado
mediante o Acórdão 1.915/2015-Plenário).
4. Nos exercícios subsequentes à implantação do Plano Real, foi instituído o regime de faixas de
flutuação do câmbio, mediante o qual o Banco Central admitia flutuação do câmbio dentro de limites
estipulados – regime de minibandas –, sendo que, ao serem atingidos determinados limites, cabia ao
Bacen intervir. Em outras palavras, haveria compra de dólares sempre que chegasse ao piso de
referência e venda caso o valor do dólar atingisse o teto da referência.
5. Em virtude de fortes turbulências no mercado externo e da consequente redução das reservas
internacionais, em 13 de janeiro de 1999, por meio do Comunicado 6.560, o Banco Central instituiu o
regime cambial denominado “banda diagonal endógena”, o qual possibilitava uma variação mais
expressiva do sistema de bandas – regime de bandas largas. Essa mudança acarretou na valorização
imediata do dólar em 9%. Essa brusca valorização travou o mercado futuro de dólar da Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BM&F), uma vez que esses contratos futuros de câmbio, à época, somente
poderiam oscilar 1% para cima ou para baixo, em relação ao último fechamento. Era nesse mercado
em que estava posicionado, na ponta vendedora, o Banco Marka.
6. Apesar de ser uma instituição relativamente pequena no âmbito do Sistema Financeiro
Nacional, o Banco Marka estava excessivamente alavancado nesse mercado, na ordem de 19 vezes o
valor de seu patrimônio líquido, de forma que, com a valorização do dólar, em função da mudança do
regime cambial, o banco amargaria um grande prejuízo e já estava virtualmente insolvente.
7. Assim, a instituição solicitou, em 14/1/1999, auxílio ao Bacen, o qual realizou uma operação
atípica de venda de 12.650 contratos (valor nominal de R$ 1.612.875.000,00). A taxa fixada nos
contratos foi aquela considerada necessária para a completa liquidação dos passivos e a realização da
operação foi condicionada ao cancelamento da autorização do Banco Marka para funcionamento como
instituição financeira.
8. Com a continuidade da diminuição das reservas internacionais, o Banco Central, em
18/1/1999, renunciou ao regime de taxas administradas de câmbio e passou a adotar o regime de
câmbio flutuante, o qual provocou nova elevação no mercado à vista. Em 19/1/1999, o Banco Marka
informa que os fundos de investimento por ele administrados estavam próximos a ficar com o passivo
descoberto, o que acarretaria a insolvência do banco privado. Assim, o Bacen efetuou a venda de 3.700
contratos de dólar futuro à taxa de R$ 1,56 por dólar aos fundos do Banco Marka de forma a viabilizar
a continuidade do processo de saída ordenada da instituição do mercado financeiro.
9. A legalidade dessas operações foi inicialmente questionada nos seguintes termos (voto
condutor do Acórdão 2.682/2007-Plenário):
“o Banco Central atuou de forma pessoal, o que, em princípio, não é aceitável, especialmente
quando as condições ofertadas jamais seriam encontradas no mercado. Então, sob esse prisma, as
ações da autoridade monetária, especialmente no caso do Banco Marka, em que o Banco Central
assumiu a posição de vendido por cotação muito inferior à praticada no mercado à vista, podem ser
consideradas ilegais.” (Grifos acrescidos).
III – Risco de crise sistêmica
10. Entretanto, depois de refletida análise das circunstâncias em que ocorreram as operações,
elas foram, em geral, consideradas regulares pelo Tribunal, pois teriam sido necessárias para evitar
uma crise geral no sistema financeiro. Veja-se a respeito o seguinte trecho do voto condutor do
Acórdão 2.906/2008-Plenário:
“pode-se alegar que a venda de contratos, além de preservar as instituições financeiras, teve
por objetivo maior evitar a eclosão de uma crise cambial, decorrente da possibilidade de rompimento
dos contratos na BM&F, principal instrumento de hedge da economia, o que teria como consequência
provável a tão propalada crise sistêmica. ...
181
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Na mesma linha do douto parquet, entendo que a situação pela qual passava a economia
brasileira à época dos acontecimentos era extremamente grave. A tentativa do Banco Central de
apenas elevar a faixa de flutuação do câmbio não foi bem recebida pelo mercado e a ausência de
atuação da Autarquia na BM&F, após mais de dois anos de forte presença, inclusive na crise da Ásia
e da Rússia, contribuiu para pressionar a demanda no mercado à vista, com a redução das reservas
internacionais de mais de US$ 7 bilhões, em apenas dois dias.
Então, parece-me razoável que os dirigentes do Banco Central quisessem evitar a inadimplência
na BM&F de uma instituição financeira, cujos efeitos não poderiam ser totalmente previstos.
Nesse ponto, verifico que, até 14.1.1999, era quase certa a inadimplência futura do Banco
Marka, salvo na hipótese de a taxa de câmbio recuar substancialmente. Essa hipótese, contudo, era
absolutamente improvável, dada a crescente demanda por dólar, a súbita ausência do Bacen no
mercado de futuros e a percepção do mercado de que a taxa de câmbio até então vigente estava
defasada e somente se mantinha em razão da atuação do Banco Central. “ (Grifos acrescidos).
11. No bojo do voto condutor do Acórdão 1.915/2015-Plenário, esta Corte também reconheceu a
grave crise financeira que, no início de 1999, assolava o Brasil:
“Com relação à possibilidade de crise sistêmica em razão de eventual falência do Banco
FonteCindam, não se questiona a necessidade de o Bacen praticar política cambial com o objetivo de
regular o mercado e em defesa das reservas cambiais do país. Por isso mesmo, concordo com os
pareceres das autoridades da área econômica apresentados pelos responsáveis ao defenderem a
atuação do Bacen no mercado, especialmente naquele momento em que as reservas do país caiam
vertiginosamente.
Como já dito, em janeiro e fevereiro de 1999, no auge da crise cambial, o Bacen atuou
fortemente na BM&F e teve perdas da ordem de R$ 7,6 bilhões. Esse fato, contudo, não motivou
questionamentos por parte desta Corte de Contas. Diante do cenário descrito nos autos, a atuação do
Bacen foi importante para estancar uma possível crise sistêmica. Sem dúvida a autoridade monetária
deve atuar de forma preventiva, e não esperar a crise ocorrer para adotar providências corretivas.”
(Grifos acrescidos).
12. O Banco Central, em razão de provocação deste Tribunal (subitem 9.2. do Acórdão
2.682/2007-Plenário), também se manifestou nesse sentido (peça 19, p. 34, do TC 033.263/2008-1):
“(...) o Banco Central permanece firme na posição até então defendida, ou seja, que a situação
vivenciada pelo mercado financeiro naqueles dias rumorosos de janeiro de 1999 era de efetivo risco
sistêmico. Concorria para isso, não apenas a situação de inadimplência apresentada pelos Bancos
Marka e Fonte Cindam, mas toda uma conjuntura econômica, que ao menor sinal de fragilidade
demonstrado pelas autoridades então de plantão no Governo Federal e no Banco Central, poderia
deflagrar a tão nefasta crise sistêmica, com consequências imprevisíveis naquele momento.
Esse sinal bem poderia ser o Banco Central se negar a honrar as posições do Banco Marka ou
do Banco Fonte Cindam perante a BM&F, deixando que eles se tornassem inadimplentes e, em
consequência, viessem a ser liquidados. Por isso, o momento exigia cautela e bom senso. E, foi com
esses cuidados e espírito público que o Banco Central, por ato de sua Diretoria Colegiada, de comum
acordo com o Governo Federal, decidiu pela venda de contratos de câmbio futuro aos citados bancos,
de modo a zerar seus patrimônios, no pressuposto de que essas operações afastariam o risco de crise
(...).”
13. Ao apreciar, em apelação, ações de improbidade administrativa interpostas em face do
socorro aos Bancos Marka e FonteCidam, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em 21/6/2017,
assim se manifestou em decisão ainda não transitada em julgado (Apelação Civil 1999.34.00.012074-
3/DF – rel. Desembargador Federal Ney Bello – peça 139):
“A operação do BACEN com o Banco Marka se justifica em todos os pareceres e manifestações
do Banco Central e de outros bancos, a partir de uma crise sistêmica e da necessidade de fazer o
socorro para que o sistema como um todo não "viesse a quebrar'. ...
182
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Não se deve perder de vista que o BACEN estava diante de um quadro de não permitir que os
bancos Marka e o FonteCindam falissem. Decisões foram tomadas pelo setor técnico da autarquia,
justificadas na real impossibilidade de segurança absoluta do sistema econômico e financeiro à
época. Demais disso, as decisões administrativas apoiaram-se no risco da sensibilidade do sistema a
situações específicas - como a falência de dois bancos que não estivessem em capacidade de honrar
seus compromissos futuros, de zerar suas posições - permitindo venda de moedas estrangeiras.
De tudo quanto já exposto e, sobretudo, pela pesquisa facilmente disponível, em razão da
produção farta, resta cristalino que, no mínimo no mínimo, é razoável compreender que o País vivia
uma época instável com possibilidade de crise sistêmica. Havia uma crise de confiança1 e é
absolutamente razoável o argumento do risco sistêmico para justificar a atuação do Estado na forma
como se deu.”
IV – Operações de câmbio impugnadas
14. Entretanto, preliminarmente, segundo o voto condutor do Acórdão 2.906/2008 – Plenário,
não ficaram justificadas as operações que, em última instância buscaram salvaguardar os patrimônios
de fundos de investimentos, cuja insolvência deveria ser arcada pelos próprios cotistas e não traria o
risco de contaminar o sistema financeiro. Assim, foram questionadas as seguintes operações:
a) assunção, em 19/1/1999, pelo Banco Central, de 3.700 contratos dos fundos Marka-Nikko,
com prejuízo estimado de R$ 156.584.000,00 (ref. fev. 1999), tal qual a seguir exposto:
“Ora, os fundos possuem patrimônio próprio e são administrados por pessoa jurídica diversa
(empresa Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.). As perdas na BM&F devem ser
arcadas pelos cotistas. Não me parece razoável que o Banco Central intervenha no mercado para
proteger os cotistas, já que a insolvência de fundos não repercute no mercado como a insolvência de
instituição financeira.”
b) transferência ao Banco Marka de 2.300 contratos do fundo Stock Máxima, os quais foram
posteriormente, em 14/1/1999, assumidos pelo Banco Central, com prejuízo estimado de R$
162.886.000,00 (ref. fev. 1999) em razão da seguinte constatação acerca da taxa de câmbio utilizada:
“Enquanto, naquela data, a cotação do dólar futuro apontava para R$ 1,34/US$ 1,00 nos
mercados de opções na BM&F e mercado futuro de real Bolsa de Chicago, a negociação se deu a
uma taxa de R$ 1,2750/US$ 1,00 para o Banco Marka. (Grifos acrescidos).
15. Também foram impugnados os ganhos obtidos pelo Banco Marka em razão da venda pelo
Banco Central de 35 contratos que seriam utilizados para fazer frente as despesas de encerramento da
sociedade. Do valor referente a esses contratos, R$ 2.112.948,74 sobraram nas reservas bancárias da
instituição e posteriormente foram sacados com destino incerto. Assim, considerando que a auto-
liquidação não deveria gerar enriquecimento do banco, entendeu-se que esse valor deveria ser levado a
débito.
16. Foi então efetuada a citação solidária dos seguintes responsáveis:
a) pelo valor de R$ 162.886.000,00, em razão da venda, pelo Banco Central do Brasil, ocorrida
em 14/1/1999, de 2.300 contratos de futuro de câmbio ao Banco Marka S/A, sem que a necessidade
dessa operação tenha restado demonstrada:
a.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
a.2.) Administradores do Banco Marka S/A: srs. Salvatore Alberto Cacciola, Antônio Sérgio do
Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza, Gustavo Wanderley Dias de Freitas e Gilberto Gilberti;
b) pelo valor de R$ 2.478.700,00, em razão da venda de 35 contratos adicionais para fazer frente
às despesas de “auto-liquidação”, e que geraram enriquecimento ilícito do Banco Marka;
b.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
183
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b.2.) Administrador do Banco Marka S/A: srs. Salvatore Alberto Cacciola, Antônio Sérgio do
Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza, Gustavo Wanderley Dias de Freitas e Gilberto Gilberti;
c) pelo valor de R$ 156.584.000,00, em razão da venda, pelo Banco Central do Brasil, ocorrida
em 20/1/1999, de 3.700 contratos de futuro de câmbio aos fundos Nikko Asset Management Sociedade
Civil Ltda.:
c.1) Dirigentes do Banco Central do Brasil: srs. Cláudio Ness Mauch (ex-Diretor de
Fiscalização), Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-Diretor de Assuntos Internacionais) e
Francisco de Pádua Lopes (ex-Diretor de Política Monetária e ex-Presidente em exercício);
c.2.) Sr. Salvatore Alberto Cacciola (administrador do Banco Marka S/A) e empresa Marka
Nikko Asset Management Sociedade Civil Ltda.
17. Foi também questionada a aprovação do Voto 006/1999 pela Diretoria do Banco Central,
mediante o qual foram aprovadas as operações antes mencionadas, pois a fundamentação da decisão
teria ocorrido com base em elementos aparentemente inverídicos.
18. Por esse fato, foram instados a se manifestar em audiência os seguintes dirigentes do Banco
Central: srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade, Francisco de Pádua Lopes, Paolo Enrico Maria
Azghen, Cláudio Ness Mauch e Demósthenes Madureira Pinho Neto.
V – Aprovação das operações pelo Banco Central
19. Trato, de início, dos fatos objeto de audiência, qual sejam, as falhas que afetariam a
formalização do Voto 006/1999 pela Diretoria do Banco Central do Brasil.
20. Transcrevo, a seguir, os termos desse voto:
“Senhores Diretores:
Como é do conhecimento de V.Sas., este Banco Central por meio do Comunicado n.º 6.560 de 13
de janeiro de 1999, alterou a ‘faixa de flutuação’ (bandas) nos mercados interbancários de câmbio-
segmentos de taxas livres e de taxas flutuantes.
2. Em consequência dessa modificação recebemos da Bolsa de Mercadoria e Futuros – BM&F,
nesta data, correspondência informando a respeito de sua preocupação em relação a uma crise
sistêmica que pode vir a atingir o mercado como um todo, caso não haja a adoção de mecanismos que
possibilitem às instituições financeiras a reversão de suas posições, o que sinaliza dificuldade que
essas podem vir a ter em honrar seus compromissos perante terceiros; tendo em vista o nível
alcançado nos cotações do dólar norte-americano em relação ao Real, bem como a rigidez que esse
mercado passou a apresentar.
3. Presente esse quadro e ante a necessidade da manutenção da política cambial e da
estabilidade do sistema financeiro nacional, propomos a esse colegiado, como medida preventiva a
realização, pelo Departamento de Operações das Reservas Internacionais- DEPIN, de operações de
venda dólar futuro junto à BM&F, com o propósito de viabilizar a liquidação de posições vendidas
nesses mercados futuros de dólar norte-americano de instituições que evidenciam tais dificuldades,
permitindo com isso, seja assegurada a normalidade da economia pública e resguardos os interesses
dos depositantes, investidores e demais credores.
4. Em caso de aprovação da presente proposta, fica, desde já autorizado o DEPIN a realizar as
operações de que se trata.
É o que levamos ao conhecimento e à consideração de V. Sas., com o nosso voto favorável.”
(Grifos acrescidos). 21. Os responsáveis foram instados a se manifestar em razão dos seguintes aspectos:
– houve a tentativa de transferir a reponsabilidade pela decisão de intervir no câmbio para a
BM&F; e
– a correspondência da BM&F mencionada no voto não existia quando de sua elaboração.
22. Sobre a primeira ocorrência, observo que a menção à BM&F contida no voto apenas registra
a posição da bolsa de mercadorias, não permitindo a conclusão de que o Bacen pautaria suas ações por
análises de terceiros e não as de seu corpo técnico.
184
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
23. Nesse sentido, acolho as seguintes conclusões da unidade técnica, que contou com o respaldo
do Ministério Público junto ao TCU:
“A competência legal para efetuar tal ato é exclusiva do Bacen, e assim foi feito por meio do
Voto BCB 006/99. Pela análise desse Voto, a Autoridade Monetária apenas fez menção a informações
obtidas pela Bolsa, ou seja, essa foi apenas uma das fontes de informações utilizadas pelo Bacen para
justificar a operação de socorro. É factível afirmar que o Banco Central também utilizou outras
fontes, como, por exemplo, relatórios econômicos internos e externos. Além disso, o Bacen, como a
maioria dos participantes do mercado, sabia que a conjuntura econômica da época era bem
desfavorável, havia uma crise cambial, e, se nesse momento bem crítico, caso algum banco quebrasse,
tal crise poderia se transformar em uma crise bancária e, consequentemente, afetar todo o sistema
financeiro nacional.” (Grifos acrescidos).
24. Quanto a segunda ocorrência, de fato, a mencionada carta da BM&F, mencionada no Voto
BCB 006/99, ainda não existia em 14/1/1999, data da edição dessa decisão. No entanto, consoante
depoimentos constantes dos autos, já existiam tratativas entre os responsáveis da Bolsa e a Diretoria do
Bacen, antes da formalização do voto em análise, sendo acordado que a BM&F formalizaria em
documento as suas preocupações com a situação das instituições vendidas no mercado.
25. É certo que tal documento somente foi emitido tardiamente, após a edição do voto.
Entretanto, consoante exposto nos pareceres precedentes: “não era razoável o Banco Central aguardar
a elaboração dessa correspondência da BM&F (que já estava combinada) para edição do Voto BCB
006/99, pois quanto mais tempo demorasse para o Bacen socorrer o Banco Marka, mais se agravaria
a situação financeira desse Banco, em função da valorização crescente do dólar”.
26. Assim, diante das circunstâncias em ocorreu a decisão – no dia 13/1/1999, o Sr. Cacciola
solicitou auxílio ao Bacen, e, já no dia seguinte, dada a gravidade da situação, o Banco Central decidiu
prestar socorro a essa instituição – e tendo a possibilidade de ocorrência de risco sistêmico, vislumbro
que a falha na fundamentação do voto não possui gravidade suficiente para justificar a aplicação de
sanção.
VI – Fundo Stock Máxima incorporado ao Banco Marka
27. Passo a tratar do débito de R$ 162.886.000,00, o qual decorreria da venda, pelo Banco
Central do Brasil, ocorrida em 14/1/1999, de 2.300 contratos de futuro de câmbio ao Banco Marka
S/A, sem que a necessidade dessa operação tenha sido demonstrada.
28. Rememoro que, no dia 13/1/1999, o Banco Marka detinha 9.000 contratos futuros de câmbio,
numa exposição de US$ 900 milhões. Com a subida do câmbio, nessa data, de R$ 1,2114/US$ para R$
1,3193/US$, o Banco Marka estava, no dia 13/1/1999, com prejuízos a realizar de R$ 84,5 milhões,
valor muito superior a seu patrimônio líquido de R$ 58 milhões.
29. Piorando essa situação, o Bando Marka assumiu mais 2.300 contratos do fundo Stock
Máxima à taxa de R$ 1,2376, o que, na prática transferiu para o Banco as perdas que esse fundo teria
no mercado de câmbio. Assim, à cotação do dia 13/1/1999, o prejuízo do Banco Marka passou para R$
103 milhões.
30 O socorro do Banco Central referente à primeira parte da operação – venda de nove mil
contratos – foi, como visto, considerado legítimo para evitar a propagação de uma crise no sistema. O
que se questiona, pois, é a legitimidade da assunção pelo Banco Marka dos contratos do fundo Stock
Máxima, a qual provocou o desembolso pela autoridade monetária da quantia de R$ 162.886.000,00,
referente à diferença entre a taxa de câmbio futuro praticada no dia do socorro – R$ 1,2750/US$ – e
aquela do dia do vencimento dos contratos futuros – R$ 1,9832/US$.
31. Consoante exposto nos pareceres precedentes, sob a ótica dos dirigentes do Banco Central, a
assunção dos contratos do fundo pelo Banco Marka não poderia impedir ou condicionar a operação de
socorro. Isso porque, no momento em que se decidiu pela operação, no dizer da unidade técnica, “esses
contratos já estavam incorporados ao patrimônio do Banco Marka e não havia a possibilidade de o
Bacen negociar em separado. Além disso, não havia dispositivo legal que autorize expressamente o
185
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Banco Central a anular contratos futuros negociados por instituições financeiras em ambiente de
bolsa, mesmo que esses negócios tenham fortes indícios de ilegalidade.” (Grifos acrescidos).
32. Em outros termos, caso se excluísse esses contratos da operação de socorro, o Banco Marka
ficaria insolvente e ocorreria a possibilidade da deflagração da temida crise sistêmica. Ou seja, de nada
adiantaria os esforços praticados em relação ao restante dos contratos do Marka seriam inúteis e
resultariam em possível relevante desperdício de recursos públicos.
33. Na verdade, o que se verifica é que o então Presidente do Banco Marka ~– sr. Salvatore
Alberto Cacciola – incorporou os contratos dos fundos ao patrimônio do banco, blindando-se de
eventuais prejuízos resultantes da variação cambial e criando uma situação de fato para a qual o Banco
Central não teria outra alternativa senão atuar da maneira como atuou.
34. Veja-se que, se não fosse essa manobra do então Presidente do Banco Marka, o Banco
Central, à época, não socorreria o fundo, consoante se depreende das seguintes considerações da
autoridade monetária (peça 15, p. 10, do TC 003.910/1999-7):
“Com relação ao fundos de investimentos administrados pela instituição [Banco Marka], os
quais estavam vendidos a descoberto nos mercados futuros de dólar, verificou-se que os mesmos
suportavam sem quaisquer problemas patrimoniais ou financeiros os ajustes que seriam exigidos,
tendo como premissa a manutenção da banda cambial então vigente, razão pela qual nenhuma
motivação para o Banco Central viabilizar o encerramento das suas posições naquele momento.”
(Grifos acrescidos).
35. A conduta do sr. Cacciola ganha contornos de maior reprovabilidade quando se verifica que
ele detinha interesse pessoal na operação, a qual, em última instância, serviu para preservar o seu
patrimônio individual. Isso porque o fundo Stock Máxima tinha como único cotista o Innovation Fund,
cujo único cotista, por sua vez, era o Marka Bank, majoritariamente de propriedade do sr. Cacciola.
36. Assim, como o sr. Salvatore Alberto Cacciola optou por permanecer silente e estando
demonstrada a má fé na sua conduta, bem como o nexo de causalidade entre essa conduta e os
prejuízos suportados pelo Banco Central, entendo que o débito em questão deve ser a ele imputado.
37. Em relação aos demais gestores do Banco Marka, acompanho os pareceres precedentes no
sentido de que não restou demonstrado que tenham participado da decisão de absorção pelo Banco
Marka dos 2.300 contratos futuros do Fundo Stock Máxima, nem da negociação da operação de
salvamento pelo Banco Central.
VII – Despesas de auto-liquidação
38. Analiso agora a impugnação no valor de R$ 2.478.700,00, em razão da venda de 35 contratos
de câmbio futuro adicionais para fazer frente às despesas de “auto-liquidação”, e que geraram
enriquecimento ilícito do Banco Marka.
39. Como pressuposto para o socorro ao Banco Marka, foi estabelecida uma cotação de câmbio
que zerasse o patrimônio líquido, ou seja, que evitasse o seu inadimplemento junto à BM&F,
permitisse o encerramento de suas atividades e também não propiciasse qualquer lucro para a
instituição financeira.
40. Nesse entendimento, foram vendidos os 35 mencionados contratos de câmbio para “permitir
uma reserva contra eventual imprecisão dos cálculos e para assegurar valor residual de Patrimônio
Líquido para fazer frente às despesas de liquidação, como rescisões de contratos trabalhistas e
impostos”.
41. A operação de venda desses contratos, em si, parece justificada, tal qual exposto pela unidade
técnica:
“foi razoável essa venda de 35 contratos futuros. Caso surgisse um passivo oculto
posteriormente, como crédito trabalhista relevante, ou se comprovasse que o cálculo efetuado pelo
Bacen para zerar o patrimônio do Banco Marka estivesse equivocado, dada a exiguidade de tempo
para realizar tal tarefa, essa instituição financeira poderia não ter como honrar seus compromissos.
Nessa conjuntura, o Bacen poderia ser obrigado a decretar a insolvência do Banco, acarretando a
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
sua eventual liquidação. Consequentemente, haveria a possibilidade de ser deflagrada a indesejada
crise sistêmica. Dessa modo, o socorro do Bacen teria sido em vão.” (Grifos acrescidos).
42. Entretanto, depois das mencionadas operações, sobraram R$ 2.112.948,74 nas reservas
bancárias do Marka, que foram posteriormente sacados e cujo destino é ignorado. Ou seja, ao final, a
instituição teve esse acréscimo patrimonial de forma indevida.
43. Em sendo assim, na linha dos pareceres precedentes entendo que o sr. Salvatore Alberto
Cacciola – controlador do Banco Marka e responsável pela transação com o Bacen – deve responder
por esses valores.
44. Neste ponto, divirjo da unidade técnica apenas quanto ao valor do débito, pois creio que este
deve ser apurado considerando o benefício indevido auferido pelo controlador e não o valor total dos
contratos, cuja operação, em princípio, pode ser considerada legítima. Em outras palavras, pode-se
supor que a diferença entre os valores dos contratos – R$ 2.478.700,00 – e aqueles que sobraram na
instituição – R$ 2.112.948,74 – tenha sido utilizada em sua finalidade original, qual seja, suportar as
despesas de liquidação.
VIII – Fundos Marka-Nikko
45. Trato agora da venda pelo Banco Central, logo depois da implantação do regime de câmbio
flutuante em 19/1/1999, de 3.700 contratos aos fundos Marka-Nikko.
46. A respeito, a unidade técnica acolheu as seguintes justificativas dos responsáveis para a
realização da operação:
“se não houvesse a operação com o Bacen, a atuação nervosa dos investidores japoneses
(ansiosos para zerar a posição dos fundos Marka-Nikko) certamente pressionaria para cima as
cotações do dólar nos mercados à vista e futuro. Para o Bacen, naquele momento em que estava
administrando a fase inicial do regime de livre flutuação cambial, interessava reduzir ao mínimo a
intensidade do movimento de desvalorização cambial.”
47. O Ministério Público junto ao TCU, por sua vez, argumenta que a insolvência dos fundos não
teria, em princípio, o condão de abalar o mercado, pois sua inadimplência, pois teria gerado prejuízos
na BM&F da ordem de R$ 9,7 milhões (consoante exposto no voto condutor do Acórdão 2.906/2008-
Plenário).
48. Acerca dessa divergência, cabe reconhecer que os fundos estavam vendidos com 3.700
contratos de câmbio futuro, ou seja, significativos US$ 370.000.000,00. Considerando a informação de
que esses investidores estrangeiros estavam ansiosos por sair do mercado, turbulento, à época, pode-se
considerar razoável a hipótese de que caso eles tivessem ido para o mercado para, de forma imediata,
zerar posições da ordem de US$ 370 milhões haveria pressão indesejada sobre o câmbio em momento
extremamente delicado. Assim, a operação realizada pelo Banco Central estaria justificada para
minimizar as turbulências da implantação inicial de um novo regime cambial.
49. A respeito, são consideráveis as seguintes ponderações da unidade técnica:
“tal operação visou a um objetivo maior que é a estabilidade relativa da taxa câmbio, no
âmbito do então recém-criado regime de taxas flutuantes. Não era interessante para o Bacen, nem
para a economia, que o dólar subisse de forma desordenada no período inicial desse regime.
a atuação da Autoridade Monetária, na venda desses contratos ao Fundo Marka-Nikko, visou
ao atingimento de um objetivo mais relevante naquele momento, concernente à execução da política
cambial então vigente, no sentido de evitar-se movimentos desordenados, dada a criticidade do
momento, mesmo em detrimento da proibição de transacionar diretamente com qualquer fundo de
investimento.” (Grifos acrescidos).”
50. Sob o aspecto jurídico, a atuação do Banco Central pode ser considerada amparada no inciso
III do art. 11 da Lei 4.595/1964:
“Art. 11. Compete ainda ao Banco Central da República do Brasil:
......................................................................................................................................................
187
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
III - Atuar no sentido do funcionamento regular do mercado cambial da estabilidade relativa
das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos, podendo para esse fim comprar e
vender ouro e moeda estrangeira, bem como realizar operações de crédito no exterior e operar os
mercados de câmbio financeiro e comercial;
51. É certo que, a unidade técnica entende que, ao negociar com um fundo de investimento, o
Banco Central teria violado o art. 12 da Lei 4.595/1964, o qual dispõe que “o Banco Central da
República do Brasil operará exclusivamente com instituições financeiras públicas e privadas, vedadas
operações bancárias de qualquer natureza com outras pessoas de direito público ou privado, salvo as
expressamente autorizadas por lei.” (Grifos acrescidos). Assim, foi proposta a realização de audiência
dos gestores públicos acerca dessa ocorrência.
52. A respeito, registro que a proposta de audiência é incabível ante a ocorrência da prescrição
da pretensão punitiva, pois esses fatos inquinados ocorreram no exercício de 1999. Ademais, cabe
observar que o Bacen atuava no mercado de futuro de câmbio, incluindo negociações com fundos de
investimentos, desde 1997, sendo que essa atuação contribuiu para que o País enfrentasse as chamadas
crises asiática e russa, respectivamente em 1997 e 1998.
53. De qualquer forma, como a matéria não foi submetida ao crivo do contraditório e porque,
ante aos riscos envolvidos, não a considero suficiente para afastar a necessidade da intervenção do
Banco Central, abstenho-me de fazer maiores comentários a respeito. Nesse aspecto, são ponderáveis
as seguintes conclusões da unidade técnica:
“devem ser sopesados, em juízo de proporcionalidade, os dois dispositivos legais que, no caso
concreto, estão em conflito. Primeiro, temos o art. 12 da Lei 4.595/1964, proibindo o Bacen operar
com empresas que não sejam instituições financeiras. Em contrapartida, temos o art. 11, inciso III,
dessa Lei, determinando que o Banco Central atue no sentido do funcionamento regular do mercado
cambial e da estabilidade relativa das taxas de câmbio. Considerando o que foi dito no parágrafo
precedente, especificamente para essa situação, era mais importante para a Autoridade Monetária
manter uma relativa estabilidade cambial, uma vez que o país estava passando por uma crise e tinha
acabado de alterar o seu regime cambial.
Portanto, a justificativa apresentada é razoável. Embora o Bacen tenha feito uma operação
com um fundo de investimento, que é vedado por Lei, tal operação visou a um objetivo maior que é a
estabilidade relativa da taxa câmbio, no âmbito do então recém-criado regime de taxas flutuantes.”
(Grifos acrescidos).
54. Do exposto, o que se vislumbra é que a autoridade monetária agiu dentro de uma esfera de
discricionariedade técnica em uma situação na qual decisões precisavam ser tomadas com rapidez.
Nesse contexto da crise de 1999, não vislumbro ser possível chegar-se a uma conclusão acerca do
acerto ou erro da decisão, pois creio ser inviável determinar de forma peremptória o que teria
acontecido caso a autoridade monetária tivesse agido de forma diversa. Aplicável, pois, os seguintes
dispositivos da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro:
“Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e
as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo
ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto,
limitado ou condicionado a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração
cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou
atenuantes e os antecedentes do agente.” (Grifos acrescidos).
55. Nesses casos, creio importante saber se havia plausibilidade na decisão adotada e, nesse
ponto, considerando o até exposto, creio que, no mínimo, deve ser concedida aos gestores públicos o
benefício da dúvida, de forma a considerar que as suas ações foram dotadas de razoabilidade, até
188
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
porque, como será visto a seguir, não se vislumbra que a operação tenha gerado prejuízo aos cofres
públicos.
56. A operação foi fechada em 20/1/1999 a R$1,56 por dólar no mercado futuro com vencimento
em 1/2/1999. Nesse dia (20/1/1999), o mercado futuro de câmbio para 29/1/1999 oscilou de R$ 1,550
a 1,579 por dólar, sendo o preço médio praticado de R$ 1,564. Ou seja, o preço de R$ 1,56 por dólar,
além de estar dentro da faixa de negociação desse mercado, foi, praticamente, equivalente ao preço
médio daquele dia.
57. Cabe registrar, também, que nesse dia, houve um volume razoável de negociações (cerca de
dois bilhões de dólares), de forma que não se pode afirmar que o valor médio praticado tenha sido
artificialmente induzido por alguma grande operação não representativa do mercado. Até porque, a
Bolsa de Chicago também estava em consonância com preço médio praticado na contratação em
questão.
58. Na verdade, é plausível a alegação dos dirigentes do Banco Central de que os investidores
japoneses, ante as incertezas do momento, não desejavam realizar a saída do mercado de forma
gradual, como ocorreria na BM&F, hipótese em que o volume a ser transacionado demandaria a
realização de diversas operações. Assim, estariam explicadas as razões que levaram a que o Banco
Central fechasse o negócio com o Fundo Nikko em uma operação única.
59. De qualquer forma, é bastante razoável supor que, caso não tivesse ocorrido a operação
direta com o Banco Central, o fundo, para zerar suas posições, iria ao mercado da BM&F para realizar
contratações de câmbio futuro em cotação média similar ou idêntica àquela praticada com o Banco
Central. Ora, nessas operações na BM&F, quem majoritariamente ofertava moeda futura era o próprio
Banco Central, o que indica que a operação efetuada diretamente com o fundo não teria impactado os
resultados da autarquia.
60. Em outras palavras a venda pelo Bacen de dólar futuro à cotação praticada ocorreria de
qualquer forma, quer mediante a operação ora questionada, quer mediante outros negócios na BM&F.
Nessa segunda hipótese, os 3.700 contratos aqui tratados seriam apenas uma pequena parcela de outros
aproximados 16.000 contratos negociados naquele dia e pelo mesmo valor médio. Para esses últimos
contratos, cabe destacar não houve qualquer questionamento acerca da atuação do Bacen e assim teria
ocorrido em relação aos 3.700 do Fundo Nikko caso tivessem sido negociados normalmente na
BM&F.
61. A peculiariedade da venda ao Fundo Nikko decorreu, pois, apenas da metodologia utilizada
para sua realização e não dos valores praticados, de forma que são pertinentes as seguintes
constatações da unidade técnica:
“Nessas condições, como no patrimônio líquido do Bacen os dispêndios efetuados com os
contratos futuros vendidos foram compensados com os recursos mantidos nas reservas internacionais,
e como a operação foi feita a preço de mercado, ... não há que se falar em prejuízo a ser ressarcido
para os cofres do tesouro, especificamente para essa venda de 3.700 contratos futuros de dólar ao
Fundo Marka-Nikko.”
IX
62. Feitas essas considerações, entendo que as contas do sr. Salvatore Alberto Cacciola devem
ser julgadas irregulares com a condenação em débito pelos valores considerados não elididos.
Ademais, ante o grau de reprovabilidade de sua conduta, entendo pertinente a aplicação da multa do
art. 57 da Lei 8.443/1992 no valor de R$ 54.000.000,00 (cerca de 10% do valor atualizado do débito).
63. Entendo adequada também a providência sugerida pelo Ministério Público junto ao TCU
para que seja solicitado à Advocacia-Geral da União as medidas necessárias ao arresto de bens desse
responsável.
64. Em relação ao demais responsáveis instados a se manifestar, entendo que suas contas devem
ser jugadas regulares com ressalva.
189
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
65. Cabe, ainda registrar que, nos termos da análise do Ministério Público junto ao TCU, não
procede o argumento do sr. Cacciola de que não foi regulamente citado. Isso porque é inequívoco que
o responsável teve ciência teve ciência de sua citação por esta Corte, o que é evidenciado pelo pedido
de prorrogação de prazo que apresentou em 14/7/2009 (peças 33, p. 19; 23, p. 41-42).
66. Outrossim, tal qual decidido em relação ao processo referente às operações do Banco Central
com o Banco FonteCindam (Acórdão 1.915/2015-Plenário), não vislumbro razões para a manutenção
do sigilo dos presentes autos, pois as mesmas questões aqui tratadas tramitam no Poder Judiciário de
forma pública.
Ante o exposto, acolhendo na essência o parecer da unidade técnica, voto no sentido de que o
Tribunal adote o acórdão que ora submeto à apreciação deste colegiado.
ACÓRDÃO 2605/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 033.048/2008-4
2. Grupo II – Classe IV – Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Cláudio Ness Mauch (CPF 060.895.180-34); Demósthenes Madureira de Pinho
Neto (CPF 847.078.877-91); Francisco de Pádua Lopes (CPF 110.015.857-04); Salvatore Alberto
Cacciola (CPF 031.239.107-25); Antônio Sérgio do Carmo Dupin (CPF 505.181277-53); Cinthia
Costa e Souza (CPF 541.230.897-04); Gustavo Wanderley Dias de Freitas (CPF 398.406.464-00);
Gilberto Gilberti (CPF 541.230.897-04); Carlos Eduardo Tavares de Andrade (CPF 023.250.207-20);
Paolo Enrico Maria Zaghen (CPF 112.551.538-49); Marka Nikko Asset Management Sociedade Civil
Ltda. (CNPJ 02.358.370/0001-20)
4. Unidade: Banco Central do Brasil – Bacen.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
7. Unidade Técnica: 2ª Secretaria de Controle Externo – Secex-2.
8. Advogados constituídos nos autos:
8.1. Antonio Newton Soares de Matos (OAB/DF 22.998) e Arthur Lima Guedes (OAB
18.073/DF), representando Cláudio Ness Mauch e Demósthenes Madureira de Pinho Neto;
8.2. José Augusto Rangel de Alckmin (OAB/DF 7.118), José Eduardo Rangel de Alckmin
(OAB/DF 2.977) e André Quinderé Castelo Branco Domingos Mourão (OAB/DF 54.143),
representando Salvatore Alberto Cacciola;
8.3. Ariadna Bohomoletz Gaal (OAB/RJ 36.591) e Maria Joanez Muniz de Sousa (OAB/DF
12.918), representando Gilberto Gilberti;
8.4. Arthur Brant de Carvalho (OAB/SP 196.755) e J. A. Lima Gonçalves (OAB/SP 66510),
representando Gustavo Wanderley Dias de Freitas;
8.5. Cinthia Costa e Souza (OAB/RJ 60.402), representando Cinthia Costa e Souza;
8.6. Tathiane Vieira Viggiano Fernandes (OAB/DF 27.154), representando Antônio Sérgio do
Carmo Dupin.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial acerca de possíveis
operações irregulares de venda de contratos futuros de dólar pelo Banco Central do Brasil,
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo relator, em:
9.1. acatar as razões de justificativa apresentadas pelos srs. Carlos Eduardo Tavares de Andrade,
Francisco de Pádua Lopes, Paolo Enrico Maria Azghen, Cláudio Ness Mauch e Demósthenes
Madureira Pinho Neto;
190
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.2. julgar regulares com ressalva as contas do Cláudio Ness Mauch, Demósthenes Madureira de
Pinho Neto, Francisco de Pádua Lopes, Antônio Sérgio do Carmo Dupin, Cinthia Costa e Souza,
Gustavo Wanderley Dias de Freitas, Gilberto Gilberti e do Fundo Marka Nikko Asset Management
Sociedade Civil Ltda., dando-lhes quitação, nos termos dos arts. 1°, inciso I; 16, inciso II; 18 e 23,
inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.3. julgar irregulares as contas do sr. Salvatore Alberto Cacciola, condenando-o ao pagamento
das quantias abaixo relacionadas, com a incidência dos devidos encargos legais, calculados a partir das
datas correspondentes até o efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor, nos termos dos arts.
1°, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, 19 e 23, inciso III, da Lei 8.443/1992: VALOR ORIGINAL (R$) DATA DA OCORRÊNCIA
162.886.000,00 1/2/1999
2.112.948,74 1/2/1999
9.4. fixar o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da data da notificação, para que os responsáveis
de que trata o subitem anterior comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento das referidas quantias
aos cofres do Banco Central do Brasil, nos termos do art. 23, inciso III, alínea “a”, da Lei 8.443/1992
c/c o art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno do TCU (RI/TCU);
9.5. aplicar ao sr. Salvatore Alberto Cacciola a pena de multa prevista no art. 57 da Lei
8.443/1992, no valor de R$ 54.000.000,00 (cinquenta e quatro milhões de reais);
9.6. fixar o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da data da notificação, para que o responsável de
que trata o subitem anterior comprove, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, e 269 do
RI/TCU), o recolhimento das referidas quantias aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas, quando
pagas após seu vencimento, monetariamente desde a data de prolação deste acórdão até a do efetivo
recolhimento, na forma da legislação em vigor;
9.7. autorizar a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, nos termos do
art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992;
9.8. autorizar, desde já, caso requerido, o parcelamento das dívidas em até 36 (trinta e seis)
parcelas mensais e consecutivas, alertando aos responsáveis que a falta de pagamento de qualquer
parcela importará no vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 26 da Lei
8.443/1992, c/c o art. 217 do Regimento Interno/TCU;
9.9. solicitar, com base no art. 61 da Lei 8.443/1992, à Advocacia-Geral da União que, por
intermédio do Ministério Público junto ao TCU, adote as medidas necessárias ao arresto dos bens do
responsável indicado acima, caso não haja, dentro do prazo estabelecido, a comprovação do
recolhimento das dívidas, devendo este Tribunal ser ouvido quanto à liberação dos bens arrestados e à
sua restituição;
9.10. dar ciência deste acórdão aos responsáveis e à Procuradoria da República no Distrito
Federal, nos termos do art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2605-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Revisor),
Benjamin Zymler (Relator), Augusto Nardes, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
191
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
GRUPO I – CLASSE V – Plenário
TC 015.610/2018-7
Natureza: Relatório de Auditoria (com proposta de medida cautelar).
Entidades: Ministério da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação de
Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
Representação legal: não há.
Responsáveis: Adeilson Loureiro Cavalcante (469.974.314- 53); Alacoque Lorenzini Erdmann
(180.529.320-68); Antônio Carlos Figueiredo Nardi (061.827.348-41); Eleonora Milano Falcao Vieira
(455.137.240-49); Erves Ducati (219.293.199-91); Gilberto Vieira Angelo (179.758.409-04); Luiz
Carlos Cancellier de Olivo (417.667.419-91); Rogerio Cid Bastos (401.425.409-78); Ubaldo César
Balthazar (169.288.149-34).
SUMÁRIO: AUDITORIA DE CONFORMIDADE. DESCENTRALIZAÇÃO DE RECURSOS
DO MINISTÉRIO DA SAÚDE POR MEIO DE TERMO DE EXECUÇÃO DESCENTRALIZADA
(TED) PARA A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC).
IRREGULARIDADE NA UTIIZAÇÃO DOS RECURSOS. CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS
SEM CONCURSO PÚBLICO. PAGAMENTO POR SERVIÇOS INEXISTENTES. AUSÊNCIA DE
FISCALIZAÇÃO POR PARTE DA UFSC. EXISTÊNCIA DO FUMUS BONI IURIS E DO
PERICULUM IN MORA. AUSÊNCIA DO PERICULUM IN MORA REVERSO. CONCESSÃO
DE MEDIDA CAUTELAR. OITIVA. AUDIÊNCIA. REFERENDO DO PLENÁRIO.
RELATÓRIO
Adoto como relatório o despacho que fundamentou a concessão da medida cautelar ora em
apreciação (peça 65):
“Trata-se de auditoria de conformidade com o objetivo de verificar a legalidade e legitimidade
na descentralização de recursos orçamentários do Ministério da Saúde (MS), por meio do Termo de
Execução Descentralizada (TED) 24/2017, para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
2. O valor total previsto de transferências do ministério para a UFSC pode chegar ao montante
de R$ 52.436.363,00.
3. No âmbito da fiscalização do processo de descentralização, a Secretaria de Controle Externo
no Estado de Santa Catarina (Secex/SC) identificou os seguintes indícios de irregularidades: a) contratação de empregados a serem alocados em funções administrativas nos Núcleos Estaduais do
Ministério da Saúde (NEMS) e no Departamento de Articulação Interfederativa, vinculado à Secretaria Executiva do MS, sem o necessário concurso público;
b) assinatura de contrato entre a UFSC e a sua fundação de apoio com orçamento insuficientemente
detalhado e com pagamento por serviços inexistentes; c) falta de zelo na gestão dos recursos públicos postos à disposição da coordenação do projeto; e
d) ausência de fiscalização, por parte da UFSC, do contrato firmado com sua fundação de apoio.
4. A unidade técnica identificou que, por intermédio do mecanismo da descentralização de
recursos sob análise, tem ocorrido a transferência de recursos do Ministério da Saúde para a UFSC e,
posteriormente, para a Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu), com vistas
à contração de pessoal para aquele órgão ministerial.
5. Dessa forma, há indícios de que está sendo descumprido o art. 37, inciso II da Constituição
Federal, que prevê a realização de concurso público para a investidura em cargo público.
6. Em adição, a Secex/SC verificou que os termos de ajuste celebrados entre o MS e a UFSC e
entre essa universidade e a Fapeu não contêm os detalhamentos adequados dos projetos, de maneira a
192
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
não estarem perfeitamente caracterizados os serviços a serem prestados em decorrência desses termos
de ajustes.
7. Tem-se também indícios de irregularidades com relação à falta de zelo com os recursos
públicos repassados. Na análise da Secex/SC, foram identificadas a aquisição de passagens aéreas e a
utilização de diárias em preços acima do mercado, bem como o pagamento de bolsas de estudos sem
critérios objetivos.
8. Segundo o relatório de auditoria daquela unidade (peça 62), estão presentes os requisitos
para a concessão da medida acautelatória – fumus boni iuris e periculum in mora – e que não está
presente o periculum in mora ao reverso.
9. A Secex/SC também propõe ouvir em audiência diversos gestores do Ministério da Saúde .
10. Tendo em vista que o programa sob análise é de âmbito nacional, entendi que, para um
exame mais aprofundado da matéria, seria necessário o encaminhamento destes autos à unidade
técnica especializada na área da saúde neste Tribunal (Secex/Saúde), conforme despacho à 85.
11. A unidade especializada, em posicionamento uniforme concordou com o posicionamento da
Secex/SC (peças 86 a 88).
12. Feito breve resumo do processo, passo a decidir.
13. Posiciono-me parcialmente de acordo com o encaminhamento uníssono das duas unidades
técnicas, conforme considerações a seguir.
14. Primeiramente, consinto com o dirigente da Secex/Sáude (peça 88) no sentido de: A análise da peça 53 permite concluir que os serviços prestados pelos contratados possuem natureza
administrativa contínua e são típicos de servidores de carreira, sem vinculação à entrega de algum produto específico, como estudo, plano ou ferramenta para uso do SUS, pelo menos em análise sumária.
Tais fatos tornam obrigatória a realização de concurso público, mesmo que para provimento de vagas
por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, conforme prevê o art. 37, IX, da Carta Magna. (Grifo nosso)
15. Destaco também que o Ministério da Saúde não pode realizar essas contratações para
atividades de rotina daquela pasta ministerial. Somente pode realizá-las para atividades vinculadas à
operacionalização do projeto ora tratado. Essas correções, inclusive, devem ser aplicadas para as
futuras contratações, caso aquela pasta decida pela continuidade da contratação.
16. Além disso, os gestores daquele ministério devem analisar a viabilidade jurídica de realizar
tais contratações como vagas temporárias, em conformidade com a Lei 8.745/1993 e com o art. 37,
inciso IX, da Constituição Federal, ressaltando a necessidade de realização de concurso público para
a seleção dessas vagas.
17. Dessa forma, consinto com a adoção da medida cautelar prevista no art. 276 do RI/TCU a
fim de determinar a imediata suspensão do andamento do Termo de Execução Descentralizada
24/2017 e da execução do Contrato 138/2017, nos termos propostos no relatório de auditoria
elaborado pela Secex/SC (peça 62), retirando o termo “sem oitiva prévia” do subitem I da Proposta
de Encaminhamento, uma vez que foram realizadas oitivas prévias dos entes interessados no processo
sob análise, conforme despacho por mim proferido à peça 65:
18. Anuo integralmente também com o subitem II da proposta da unidade técnica no sentido de
realizar oitiva da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, da Universidade Federal de Santa
Catarina e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária com vistas ao atendimento
dos princípios do contraditório e ampla defesa.
19. No que concerne à proposta de ouvir em audiência diversos gestores do Ministério de Saúde
(subitem III da Proposta de Encaminhamento), concordo em realizar a audiência do Sr. Erves Ducati,
Coordenador-Geral do Projeto 97/2017, desde 21/7/2017, em razão da “falta de zelo na aplicação
dos recursos públicos recebidos para custear o projeto” e da Sra. Eleonora Milano Falcão Vieira,
fiscal do Contrato 138/2017, em razão da omissão na fiscalização e acompanhamento da execução
193
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
das despesas do Contrato 138/2017, celebrado entre a UFSC e a Fapeu nos termos propostos pela
unidade técnica.
20. Quanto aos demais responsáveis, entendo que suas audiências não são cabíveis nessa fase
processual, uma vez que, apesar dos indícios de irregularidades apontados nestes autos, a
organização do ajuste sob análise decorreu de determinação deste Tribunal, constante do subitem
9.1.4 do Acórdão 2.888/2015-Plenário (retificado pelo Acórdão 61/2016), abaixo transcrita: 9.1. deteminar ao Ministério da Saúde, com base no art. 250, inciso III, do Regimento Interno do TCU,
que em 120 dias apresente um plano de ação, com cronograma de execução, a fim de:
(...)
9.1.4 adotar medidas para aperfeiçoar a orientação aos municípios e estados sobre o processo de regionalização, assim como para organizar o apoio técnico e financeiro à regionalização e à implementação do
COAP, de modo que esse apoio seja estável e contínuo;
21. Ante o exposto, DECIDO:
“I - com fundamento no art. 45 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 276 do Regimento Interno do TCU,
adotar medida cautelar, sem oitiva prévia, tendo em vista a existência dos elementos necessários para
sua adoção, a fim de que o Ministério da Saúde e a Universidade Federal de Santa Catarina
suspendam o andamento do Termo de Execução Descentralizada 24/2017 e abstenham-se de praticar
qualquer ato com vistas à execução do Contrato 138/2017, firmado entre a UFSC e a Fundação de
Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária, excetuando-se apenas os compromissos assumidos
referentes a contratos de trabalho já firmados com amparo na CLT, até que o Tribunal delibere sobre
o mérito da matéria ora em apreço (achado III.1);
II - com fulcro no art. 276, § 3º, do Regimento Interno do TCU, realizar a oitiva da Secretaria
Executiva do Ministério da Saúde, da Universidade Federal de Santa Catarina e da Fundação de
Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária, para que, no prazo de quinze dias úteis, se pronunciem,
referente ao TED 24/2017, em relação aos pressupostos da medida cautelar deferida e, também,
quanto aos seguintes pontos, sem prejuízo de que apresentem demais informações que julgarem
necessárias:
a) apresentem justificativa para a previsão de contratação de pessoal celetista para atuar no MS
no montante estimado de R$ 34,6 milhões, considerando o disposto no inciso II do art. 37 da CRFB/88
e o §2º do art. 1º do Decreto 2.271/1997;
b) apresentem justificativa para a realização de projeto de extensão com ausência de objetivos
claros, de metas quantitativas e de orçamento adequadamente detalhado que demonstre precisamente
o objeto a ser desenvolvido, considerando os princípios da legalidade, eficiência, economicidade e
moralidade e o disposto nos art. 2º e 3º, inciso II, da Resolução Normativa 88/2016/CUn; e
c) manifestem-se a respeito de eventual perigo da demora reverso com a adoção da cautelar
(achado III.1);
III - ouvir em audiência, com fundamento no art. 43, inciso II, c/c art. 250, inciso IV, do
Regimento Interno do TCU, os responsáveis abaixo qualificados para que, no prazo de quinze dias,
apresentem razões de justificava para as ocorrências a seguir descritas:
a) Sr. Erves Ducati, CPF 219.293.199-91, Coordenador-Geral do Projeto 97/2017, desde
21/7/2017:
a.1) Irregularidade: falta de zelo na aplicação dos recursos públicos recebidos para custear o
projeto, o que afronta os princípios constitucionais da eficiência, da moralidade e da economicidade,
em especial o seguinte:
a.1.1) aquisição frequente de passagens aéreas com pouca antecedência à data das viagens,
demonstrando falta de planejamento das atividades e onerando a execução do contrato;
a.1.2) aluguel de sala comercial na Rua Lauro Linhares, 2123, Bairro Trindade,
Florianópolis/SC, para auxiliar a coordenação do projeto, sem a adequada justificativa frente aos
valores já pagos no contrato à Fapeu e à UFSC para utilização de suas instalações;
194
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
a.1.3) pagamento de bolsas sem critérios claros, sem especificação das atividades e dos
produtos que se espera de cada bolsista alocado ao Projeto;
a.1.4) pagamentos de bolsas a pessoas de áreas estranhas ao objeto do contrato, como por
exemplo aquelas pagas ao Chefe de Gabinete do Reitor, Sr. Áureo Mafra de Moraes (R$ 3,500,00 em
8/6/2018 e 3/7/2018) e ao Diretor do Gabinete da Reitoria, Sr. Alvaro Guilhermo Rojas Lezana, (R$
3.500,00, pagos em 18/4/2018, 2/5/2018, 4/6/2018 e 10/7/2018);
a.1.5) pagamento de quatro parcelas de R$ 6.500,00, a título de bolsa, na mesma data
(18/4/2018), ao Secretário de Planejamento e Orçamento da UFSC, Sr. Vladimir Arthur Fey (achado
III.4);
Conduta: ter agido com falta de zelo na aplicação dos recursos públicos recebidos para custear
o projeto, por meio da execução do Contrato 138/2017;
Nexo de causalidade: na qualidade de coordenador geral do projeto é o responsável por
autorizar os pagamentos de todas as despesas do Contrato 138/2017;
Culpabilidade: o responsável, na qualidade de coordenador geral do projeto, deveria ter
conhecimento da legislação que norteia a execução das despesas. Logo, não é possível afirmar que
houve boa fé na conduta dele, porquanto autoriza pagamentos no âmbito do Contrato 138/2017
afrontando os princípios constitucionais da eficiência, da moralidade e da economicidade. Ademais,
pela função ocupada, é razoável afirmar que tem consciência da ilicitude dos atos praticados, sendo-
lhe exigível conduta diversa, ou seja, deveria agir dentro dos limites constitucionais e legais impostos.
Assim, a conduta do responsável é culpável, ou seja, reprovável, razão pela qual ele deve ser ouvido
em audiência a fim de avaliar se deve ser apenado com a aplicação de multa;
b) Sra. Eleonora Milano Falcão Vieira, CPF 455.137.240-49, fiscal do Contrato 138/2017,
nomeada pela Portaria 138/CCF/2017, de 22/8/2017:
b.1) Irregularidade: omissão na fiscalização e acompanhamento da execução das despesas do
Contrato 138/2017, celebrado entre a UFSC e a Fapeu, em descumprimento ao preconizado no art.
11, § 1º, do Decreto 7.423/2010, no art. 67 da Lei 8.666/1993 e na cláusula terceira do contrato
(achado III.5);
Conduta: deixar de realizar a fiscalização e o acompanhamento da execução do Contrato
138/2017, firmado entre a UFSC e a Fapeu, para a qual foi designada pela cláusula 11ª, 'a', do
referido instrumento, como também por meio da Portaria 138/CCF/2017, da Pró-Reitoria de
Administração da UFSC;
Nexo de causalidade: ao não realizar a fiscalização e o acompanhamento do Contrato
138/2017, descumpriu o preconizado nos arts. 11, §1º, e 12, §1º, incisos I, II e IV, do Decreto
7.423/2010, no art. 67 da Lei 8.666/1993 e na cláusula décima primeira do contrato, e possibilitou a
ocorrência de irregularidades na execução da referida avença;
Culpabilidade: Considerando que foi formalmente designada pela Portaria 138/CCF/2017 para
fiscalizar e acompanhar o Contrato 138/2014, é razoável afirmar que era possível à responsável ter
consciência da ilicitude da omissão na realização das atividades de fiscal do contrato, sendo-lhe, pois,
exigível conduta diversa, ou seja, deveria efetivamente fiscalizar e acompanhar a execução do
referido ajuste, em vez de omitir-se no cumprimento de tais obrigações;
IV – determinar, com fundamento no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 250, inciso II,
do Regimento Interno do TCU, à Universidade Federal de Santa Catarina que:
a) notifique a Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e informe ao
TCU, no prazo de quinze dias, para que, ante a cobrança indevida de serviços não prestados,
afrontando o art. 63, § 2º, inciso II, da Lei 4.320/1964, devolva imediatamente aos cofres da
Universidade a quantia de R$ 77.353,43, devidamente corrigida desde 13/9/2017 até a efetiva data do
recolhimento (achado III.3);
b) no prazo de noventa dias, discipline em norma própria a forma como será realizada a
fiscalização da execução das despesas em projetos de pesquisa e extensão que envolvam recursos
195
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
públicos, de forma a dar cumprimento ao art. 11, § 1º, do Decreto 7.423/2010 e promover mudanças
em suas orientações internas para que a atribuição do fiscal de contrato de acompanhar a execução
das despesas seja efetiva, periódica e registrada em relatórios claros, objetivos, concisos e que
demonstrem inequivocamente se a execução segue os ditames legais, se apresenta a melhor escolha
para o interesse público e se está de acordo com as finalidades do programa financiador dos projetos
(achado III.5);
V - dar ciência à Universidade Federal de Santa Catarina, com fundamento no art. 7º da
Resolução TCU 265/2014, sobre a celebração de contratos com objetos genéricos e sem detalhamento
do orçamento, que podem comprometer a boa e regular utilização de recursos públicos, o que afronta
os princípios da publicidade e da eficiência insculpidos no art. 37 da Constituição Federal e os
dispositivos da Lei 8.958/1994, art. 1º, § 1º, e da Lei 8.666/1993, art. 6º, inciso IX, e art. 7°, § 2º,
inciso II, com vistas à adoção de providências internas que previnam outras ocorrências semelhantes
(achado III.2);
VI - autorizar esta unidade técnica a autuar processo apartado, tipo representação, para que
seja avaliada a legalidade e legitimidade da execução dos contratos 161/2015 (Projeto 56/2015) e
322/2017 (Projeto 17/2018), firmados, respectivamente, em 19/11/2015 e 12/4/2018 entre a Fundação
de Estudos e Pesquisas Sócio-Econômicos (Fepese) e a Universidade Federal de Santa Catarina
(achado III.1).”
É o relatório.
VOTO
Em exame relatório de auditoria de conformidade com o objetivo de verificar a legalidade e
legitimidade na descentralização de recursos orçamentários do Ministério da Saúde (MS), por meio do
Termo de Execução Descentralizada (TED) 24/2017, para a Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
2. Em síntese, a Secretaria de Controle Externo no Estado de Santa Catarina (Secex/SC) aponta
que, na auditoria realizada, identificou algumas irregularidades relacionadas com o ajuste realizado
entre o Ministério da Saúde e a UFSC, que contratou diretamente a Fundação de Amparo à Pesquisa e
Extensão Universitária (Fapeu), com vistas à contração de pessoal para aquele órgão ministerial. Tais
irregularidades foram confirmadas pela Secretaria de Controle Externo da Saúde (Secex/Saúde).
3. Em síntese, as irregularidades apontadas são as seguintes: a) contratação de empregados a serem alocados em funções administrativas nos Núcleos Estaduais do
Ministério da Saúde (NEMS) e no Departamento de Articulação Interfederativa, vinculado à Secretaria Executiva do MS, sem o necessário concurso público;
b) assinatura de contrato entre a UFSC e a sua fundação de apoio com orçamento insuficientemente
detalhado e com pagamento por serviços inexistentes; c) falta de zelo na gestão dos recursos públicos postos à disposição da coordenação do projeto; e
d) ausência de fiscalização, por parte da UFSC, do contrato firmado com sua fundação de apoio.
4. Em conformidade com a análise da unidade técnica, as impropriedades ora identificadas
afrontam o art. 37, inciso II da Constituição Federal, que prevê a realização de concurso público para a
investidura em cargo público.
5. Os fundamentos para a adoção da medida cautelar encontram-se devidamente indicados no
despacho que proferi em 13 de novembro de 2018, transcrito no relatório precedente, por intermédio
do qual acolhi parcialmente a proposta elaborada pela Secex/SC (peça 62) e ratificada pela
Secex/Saúde (peças 86 a 88) de deferir a medida cautelar no sentido de determinar a imediata
suspensão do andamento do Termo de Execução Descentralizada 24/2017 e da execução do Contrato
138/2017, nos termos propostos no relatório de auditoria (peça 62).
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
6. Como sabido, nos termos do art. 276 do Regimento Interno o Plenário ou o relator, em caso de
urgência, de fundado receio de grave lesão ao erário, ao interesse público, ou de risco de ineficácia de
decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, com ou sem
prévia oitiva da parte, determinando, entre outras providências, a suspensão do ato ou do procedimento
impugnado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da questão suscitada, nos termos do art. 45 da Lei
8.443/1992.
7. Todavia, o despacho do relator que adota a cautelar deve ser submetido ao Plenário para
referendo, nos termos do art. 276, § 1º, do RI/TCU, razão pela qual o trago, nesta oportunidade, à
deliberação deste Colegiado.
Nesse contexto, ante as razões de decidir apresentadas no relatório precedente e com
fundamento no art. 276, § 1º, do Regimento Interno/TCU, manifesto-me por que seja adotada a decisão
que ora submeto à apreciação deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2606/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 015.610/2018-7.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria (com proposta de medida cautelar)
3. Interessado/Responsáveis:
3.1: Interessado: Tribunal de Contas da União.
3.2. Responsáveis: Adeilson Loureiro Cavalcante (469.974.314- 53); Alacoque Lorenzini
Erdmann (180.529.320-68); Antônio Carlos Figueiredo Nardi (061.827.348-41); Eleonora Milano
Falcao Vieira (455.137.240-49); Erves Ducati (219.293.199-91); Gilberto Vieira Angelo
(179.758.409-04); Luiz Carlos Cancellier de Olivo (417.667.419-91); Rogerio Cid Bastos
(401.425.409-78); Ubaldo César Balthazar (169.288.149-34).
4. Entidades: Ministério da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação
de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Controle Externo no Estado de Santa Catarina (Secex/SC) e
Secretaria de Controle Externo da Saúde (Secex/Saúde).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade com o objetivo de
verificar a legalidade e legitimidade na descentralização de recursos orçamentários do Ministério da
Saúde (MS), por meio do Termo de Execução Descentralizada (TED) 24/2017, para a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator e com fundamento no art. 276, § 1º, do Regimento Interno do TCU,
em:
9.1. referendar a medida cautelar adotada em 13/11/2018, por meio do despacho à peça 90 destes
autos, transcrito no relatório que precede este acórdão, bem como as medidas acessórias constantes do
mencionado despacho;
9.2. encaminhar cópia desta deliberação, bem como das peças 62, 82 e 86 ao Ministério da
Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão
Universitária (Fapeu).
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2606-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 034.255/2018-4
Natureza(s): Representação.
Órgão/Entidade: Ministério da Saúde (vinculador).
Representação legal: Paulo Henrique Figueredo de Araujo (OAB/DF 46.369) e outros,
representando Diasorin Ltda. e Diasorin Ltda.
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. MINISTÉRIO DA SAÚDE. PREGÃO ELETRÔNICO.
REGISTRO DE PREÇOS PARA AQUISIÇÃO DE REAGENTES PARA DIAGNÓSTICOS
CLÍNICOS DE DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA. INDÍCIOS DE FALHAS GRAVES NA
CONDUÇÃO DO CERTAME. INDEFINIÇÃO DO VALOR DE REFERÊNCIA DO ORÇAMENTO
ESTIMATIVO. ALTERAÇÃO DESSE MESMO VALOR NO CURSO DO CERTAME.
CONTRADIÇÕES ENTRE JUSTIFICATIVAS TÉCNICAS NO ÂMBITO DO ÓRGÃO
LICITANTE. AUSÊNCIA DE ESTUDOS TÉCNICOS A INDICAR COM PRECISÃO A
INVIABILIDADE DO PARCELAMENTO. MEDIDA CAUTELAR. DECISÃO PROVISÓRIA.
SUSPENSÃO DA EFICÁCIA DOS ATOS DA LICITAÇÃO. DETERMINAÇÃO. REFERENDO.
RELATÓRIO
Trata-se de representação, com pedido de concessão de medida cautelar, contra possíveis
irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico 71/2018, promovido pelo Departamento de Logística
em Saúde do Ministério da Saúde com vistas ao registro de preços para aquisição de reagentes para
diagnósticos clínicos de Dengue, Zika e Chikungunya, com comodato de equipamentos.
2. Transcrevo, a seguir, parcialmente, a última instrução aprovada no âmbito da Secretaria de
Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog), após a fase a realização de oitiva do Ministério da
Saúde (peça 50; despachos da diretora e do secretário insertos às peças 51 e 52, respectivamente): (...)
3. Em resposta a questionamentos adicionais realizados por esta Unidade Técnica acerca da existência de
atas de registros de preços e/ou contratos vigentes para a aquisição dos reagentes previstos no objeto do PE 71/2018 (peça 44), o Ministério da Saúde encaminhou cópia do contrato 191/2017, decorrente da Dispensa de
Licitação 568/2017, firmado com a Fundação Baiana de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico,
Fornecimento e Distribuição de Medicamento (Bahiafarma) e com vigência até 20/12/2018.
4. O referido instrumento prevê o fornecimento de três itens (peça 44, p. 7): 1 - Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo, qualitativo anti Chikungunya vírus IGM
imunocromatografia (CATMAT 437626) – 3.500.000 testes;
2 – Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo, qualitativo anti Dengue vírus IgM e IGM, imunocromatografia (CATMAT 353742) – 3.000.000 testes; e
3 – Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo, qualitativo anti Zika vírus IgM e IGM,
imunocromatografia (CATMAT 435823) – 1.541.325 testes.
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5. Em consulta a boletim da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), verifica-se que o método de
imunocromatografia configura testes para diagnóstico rápido, semelhantes a testes com fita para detecção de
gravidez, dispensando equipamentos para visualizar a reação. Já o método Elisa refere-se a procedimento mais
demorado, complexo e oneroso que o primeiro (peça 46). Portanto, os itens especificados no contrato 191/2017 referem-se a objeto distinto daquele previsto no PE 71/2018, tendo em vista que se tratam de testes a serem
realizados mediante a metodologia de imunocromatografia, e não de enzimaimunoensaio (Elisa), conforme
prevê o edital. 6. Nesse sentido, será proposta diligência para que o órgão informe os motivos que o levaram à
contratação de reagentes do método Elisa, considerando que, ao que tudo indica, a imunocromatografia
constituiria solução de diagnóstico mais célere e de menor custo, esclarecendo, ainda, se há necessidade de se
adquirir os dois tipos de reagentes (imunocromatografia e Elisa), dado algum tipo de complementariedade existente entre ambos os métodos.
7. Além disso, em pesquisa à internet (peça 47), foram verificados indícios de superfaturamento nos
fornecimentos dos reagentes pela Bahiafarma, no caso do contrato 191/2017, fato que, apesar de não integrar o escopo dessa análise, será objeto de apuração em representação apartada.
8. Segundo relatório de estoque de medicamentos encaminhado pelo MS (peça 44, p. 17), restariam, em
30/10/2018, 31.952 kits com 20 testes cada, de reagentes para chikungunya IGM (item 1 do contrato 191/2017), totalizando 639.040 testes, e 15.083 kits com 20 testes cada, de reagentes para dengue IGM e IgM (item 2 do
contrato 191/2017), totalizando 301.660 unidades. Não foi informada a existência de estoques de reagentes do
tipo imunocromatografia para zika.
9. Apesar de questionado por esta Unidade Técnica (peça 44, p. 2), o Ministério da Saúde não enviou dados relativos a possível estoque ou contratos ainda vigentes para o fornecimento dos itens previstos no do PE
71/2018, ou seja, reagentes do método Elisa, não sendo possível concluir se o órgão está atualmente coberto por
alguma avença para esse tipo de objeto. 10. Mesmo diante da incerteza sobre a real disponibilidade de reagentes do método Elisa para as citadas
doenças, considerando os valores praticados em contratos anteriores do órgão, decorrentes dos pregões
eletrônicos 36/2016, 65/2016 e 8/2017 (peça 48) e traduzidos na tabela abaixo, verifica-se que é factível a
realização de eventual contratação emergencial dos reagentes (sem comodato de equipamentos), caso necessária, em valor global possivelmente inferior ao da proposta da Euroimmun Brasil para o PE 71/2018, até
que este Tribunal decida quanto ao mérito das questões aventadas neste processo, cujo teor conduz à
necessidade de adoção de medida cautelar, conforme será demonstrado adiante nesta instrução: Tabela 1
Item
Descrição
CATMAT
Dados contratações anteriores
Proposta da Euroimmun Brasil PE 71/2018 (R$)
Preço contratado (R$)
Contrato
Contratado
Marca
1
Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, quantitativo de anti dengue vírus
IGM Elisa, Teste 336500
6,79
156/2016 PMH Produtos Médicos Hospitalares Ltda.
Virion
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6,87 2
Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, qualitativo antígeno NS1 de
dengue vírus Elisa, Teste 360150
6,57
157/2016 Alere S.A.
Panbio
14,66
3 Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, quantitativo de anti zika vírus IgM
Elisa, Teste
436739 57,40
46/2017
Euroimmun Brasil Importação e Distribuição Ltda. Euroimmun AG
54,97
4
Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, quantitativo de anti zika vírus IGM Elisa, Teste
436740
30,00 62/2017
Siemens
Novagnost
55,95 5
Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, quantitativo de anti chikungunya
vírus IgM Elisa, Teste 436329
16,50
35/2017 Vital Produtos Hospitalares Ltda.
Euroimmun AG
18,91
6 Reagente para diagnóstico clínico, conjunto completo para automação, quantitativo de anti chikungunya
vírus IGM Elisa, Teste
435681 13,09
16/2017
Euroimmun Brasil Importação e Distribuição Ltda. Euroimmun AG
19,03
(...)
Item a: realização de pesquisa de mercado após a fase de lances, descumprindo o
Decreto 5.450/2005, art. 25, caput e § 5º e utilização de novos preços de referência sem republicação do
edital, a par do art. 20 do referido decreto;
Item b: ausência de divulgação dos preços de referência no edital da licitação, em oposição à
jurisprudência do TCU, que considera ser obrigatória em editais de licitação, na modalidade pregão,
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
quando for utilizado como critério de aceitabilidade das propostas (Acórdão 10.051/2015-TCU-2ª
Câmara, Relator: Ministro-Substituto André de Carvalho);
Contextualização:
11. Até a conclusão da instrução inicial por esta Unidade Técnica (peça 15), havia informação prestada pelo pregoeiro de que o certame seria declarado fracassado, já que as propostas obtidas na fase de lances não
eram condizentes com o valor estimado pelo Ministério e que os licitantes não se mostraram interessados em
negociar os preços. O pedido de medida cautelar foi então considerado prejudicado, tendo sido proposta oitiva do órgão e diligências, a fim de verificar as questões controversas da contratação pretendida, já que, conforme
mensagens da sessão pública, o pregoeiro havia informado que os preços estimados seriam reavaliados, para a
publicação de novo edital (peça 37, p. 5).
12. Após o envio dos autos ao gabinete do Relator, esta Unidade Técnica verificou que, na sessão de 28/9/2018, o pregoeiro informou sobre decisão do Diretor do Departamento de Logística em Saúde (DLOG),
que determinou a realização de nova estimativa dos preços e reaproveitamento da licitação. A justificativa
alegada foi a urgência na contratação e a não publicação do valor estimado no edital (em consonância com o disposto no Acórdão-TCU 2.150/2015-Plenário - Relator Ministro Bruno Dantas), o que, em tese, não afetaria a
formulação das propostas dos licitantes (peça 37, p. 4-5). Destaca-se que os novos preços orçados se igualaram
à última cotação fornecida pela Euroimmun Brasil na fase preparatória do pregão, conforme será abordado mais adiante nesta instrução.
13. A referida empresa, classificada em primeiro lugar no certame, foi então convocada para apresentar
sua documentação de habilitação, tendo sido considerada habilitada em 5/10/2018, com abertura de prazo para o
registro de intenção de recursos. Destaca-se que não há, ainda, no sistema, resultado da análise dos eventuais recursos interpostos pelas demais licitantes.
14. Diante disso, considerando a necessidade de revisão dos pressupostos quanto à medida cautelar
pleiteada, foi emitido pronunciamento desta Subunidade, com proposta de realização de oitiva prévia e acréscimos de novos questionamentos em relação à instrução inicial (peça 22), tendo sido acatada integralmente
pelo Relator (peça 24).
Manifestação do órgão/entidade:
a) a não divulgação dos preços das licitações realizadas pelo Dlog está calcada nos entendimentos firmados nos Acórdãos-TCU 2.080/2012 e 2.150/2015, ambos do Plenário (peça 35, p. 1);
b) considerando que o preço estimado não era elemento essencial à formulação das propostas, dada a sua
não divulgação no edital, não houve descumprimento dos arts. 20, 25, caput e § 5º, do Decreto 5.450/2005 (peça 35, p. 1);
c) como o preço de referência não interferia na formulação das propostas, não houve necessidade de
modificação do edital, e, portanto, não houve descumprimento do art. 20, do Decreto 5.450/2005 (peça 35, p. 1); d) o pregoeiro exauriu a lista de classificação, negociando com todos os licitantes participantes, os quais
informaram não ser possível alcançar o valor de referência, não havendo, portanto, descumprimento ao art. 25,
caput e § 5º, do Decreto 5.450/2005 (peça 35, p. 1);
e) diante dessa impossibilidade, a autoridade competente determinou a revisão do valor de referência, motivo pelo qual o pregoeiro retornou ao licitante melhor classificado e reiniciou as negociações (peça 35, p. 1).
Análise:
15. O item 10 do edital, que tratou dos critérios de aceitabilidade da proposta vencedora, estabeleceu o seguinte:
10.1 Encerrada a etapa de lances e depois de concluída a negociação e verificação de possível empate, o
Pregoeiro examinará a proposta classificada em primeiro lugar quanto às especificações do produto e compatibilidade do preço em relação ao valor estimado para a contratação.
10.1.1 O critério de julgamento será MENOR PREÇO GLOBAL.
10.2 Será desclassificada a proposta final que:
10.2.1 Contenha vícios ou ilegalidades; 10.2.2 Não apresente as especificações técnicas exigidas neste Edital ou Termo de Referência;
10.2.3 Apresentar preços que sejam manifestamente inexequíveis;
10.3 Consideram-se preços manifestamente inexequíveis aqueles que, comprovadamente, forem insuficientes para a cobertura dos custos decorrentes da contratação pretendida.
201
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
10.3.1 Não se considera inexequível a proposta quando se referir a bens e instalações de propriedade do
próprio licitante, para os quais ele renuncie à parcela ou à totalidade da remuneração.
16. Verifica-se que, de fato, o edital não estabeleceu o preço de referência da Administração como critério
de aceitabilidade das propostas dos licitantes, prevendo a desclassificação apenas pelos motivos descritos nos subitens 10.2.1, 10.2.2 e 10.2.3, os quais tratam de: vícios ou ilegalidades, incompatibilidade de especificações
técnicas com aquelas exigidas no termo de referência ou apresentação de preços manifestamente inexequíveis.
Ou seja, no caso concreto, não haveria obrigatoriedade de divulgação do preço de referência no edital. 17. Além disso, em casos específicos, como o da aquisição de medicamento e materiais hospitalares, este
Tribunal tem defendido a não publicação do orçamento estimado nos editais de licitações realizadas por meio de
pregão, considerando que essa prática, nesses casos, tem se revelado positiva para a Administração, com
redução dos preços nas contratações (Acórdãos-TCU 2.080/2012-Plenário, Relator Ministro José Jorge; e 2.150/2015-Plenário, Relator Ministro Bruno Dantas). Considera-se, então, elidido o questionamento do item
“b” da oitiva prévia.
18. No entanto, em que pese o preço de referência não ter sido divulgado e nenhuma licitante ter aceitado negociar os preços para reduzi-los ao valor estimado pelo órgão, esta Unidade Técnica entende que a decisão
pela mera “revisão” do orçamento base durante o certame, a fim de ajustá-lo ao valor da proposta com menor
preço global (da Euroimmun Brasil), caracteriza, no mínimo, falha no planejamento da contratação. 19. Verifica-se que a metodologia utilizada para a obtenção do preço de referência inicial do certame
passou por várias alterações, conforme sequência dos fatos transcrita a seguir.
20. Inicialmente, o Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (DEVIT) do órgão realizou
consulta no âmbito do Data Warehouse do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (DW/Siasg), considerando itens com a mesma especificação no Catálogo de Materiais do Siasg (CATMAT) daqueles
previstos na licitação. Contudo, não foi possível confirmar se os valores contemplavam os custos do comodato
do equipamento, motivo pelo qual os preços foram desconsiderados (peça 29, p. 1). 21. Em seguida, foram consultadas as empresas Euroimmun Brasil e Licimaster Distribuidora de
Medicamentos e Produtos Médico-Hospitalares Eireli, obtendo-se o valor médio global de R$ 96.411.504,00
(peça 29, p. 2). Destaca-se que a Licimaster, em cujo orçamento havia cotação para todos os itens (peça 29, p.
5), é provável distribuidora dos produtos da marca Euroimmun Brasil, conforme se verifica na descrição do fabricante dos seus itens ofertados na licitação (peça 20).
22. Posteriormente, a Divisão de Análise de Mercado para Compra de Insumos Estratégicos para Saúde
(DIMEC) do órgão realizou pesquisa complementar. Foram consultadas outras nove empresas com registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da própria Euroimmun Brasil, sendo que, de antemão,
o órgão já conhecia o fato de que somente esta última seria capaz de fornecer orçamentos para todos os itens da
contratação, de forma global (peça 29, p. 14). As empresas Diasorin, Virion-Medivax e Euroimmun Brasil apresentaram suas propostas, conforme tabela compilada no Despacho 67/2018/DIMEC/CGIES/DLOG/MS, de
2/5/2018, que encaminha os resultados à área técnica demandante (peça 29, p. 124).
23. A Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) pronunciou-se no sentido de que
somente o produto oferecido pela Euroimmun Brasil atenderia a todas as especificações solicitadas no termo de referência, já que as demais empresas não teriam ofertado preços para todos os itens. Também informou que a
empresa Diasorin, além de não ter apresentado oferta para os itens 2 e 3, não teria incorporado o valor do
comodato dos equipamentos nos preços estimados para os demais itens. Por fim, reforçou a necessidade de adjudicação por grupo/lote único (peça 29, p. 125).
24. Após o recebimento do último orçamento, da empresa Alere S/A (apenas para os itens 1 e 2), a
DIMEC alertou a área demandante para que avaliasse a continuidade do pregão nos moldes apresentados, considerando que somente uma empresa seria capaz de cumprir o objeto com a adjudicação global, a
Euroimmun Brasil. Também apontou que haveria, pelo menos, quatro empresas capazes de fornecer os itens em
separado – Virion-Medivax, Diasorin, Euroimmun Brasil e Alere S/A (peça 29, p. 136-138).
25. Em resposta, a CGLAB teceu diversas considerações sobre a motivação da contratação, dentre elas (peça 29, p. 139-140):
a) necessidade de implementação de novas tecnologias e a agilidade na logística;
b) princípios de padronização do procedimento de diagnóstico laboratorial em todo o país; c) possibilidade de obtenção de resultados errôneos ao se utilizar insumos de fornecedores distintos dos
validados para uso nos equipamentos;
202
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
d) necessidade imprescindível de que todos os seis reagentes sejam compatíveis nos equipamentos; e e) possibilidade de que não haja cobertura de manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos, pelo
uso de reagentes de outro fornecedor ou outra empresa sem relação comercial.
26. No entanto, mesmo diante do cenário apontando para um único fornecedor, a unidade demandante reforçou a viabilidade da realização do pregão, considerando que se trata “de um mercado desconhecido que é
preciso ser explorado”. Além disso, concluiu (peça 29, p. 140):
5. Depreende-se das informações disponíveis pela pesquisa de preços desta Coordenação Geral de Insumos Estratégicos para Saúde- CGIES que o mercado nacional tem condições de se organizar visando
atender à demanda da rede de laboratórios, uma vez que os insumos solicitados são de comum acesso e
comercialização entre as empresas e seus parceiros, ressaltando apenas a necessidade de que esses
reagentes sejam validados por uma única plataforma de leitura/equipamento. 6. Corroborando o entendimento dessa Secretaria de Vigilância em Saúde vale destacar o entendimento
do Ministério do Planejamento, "o pregão é a modalidade de licitação pública mais bem-sucedida até hoje
implementada, é mais rápida e reduz custos na média de cerca 15%, podendo chegar a 30% de economia nas das compras governamentais", extraído de seu sítio eletrônico. Desta forma, mantém-se o posicionamento da
Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública- CGLAB. (Grifo nosso).
27. Diante disso, foi realizada nova cotação com distribuidores, quais sejam, Netmed Instrumentos Científicos Eireli, Vital Produtos Hospitalares Ltda. e Licimaster, além da própria Euroimmun Brasil. A
Netmed apresentou os menores valores para os itens 1 a 5, conforme se verifica na Nota Técnica 118/2018-
DIMEC/CGIES/DLOG/SE/MS, de 13/6/2018 (peça 30, p. 378). A unidade sugeriu, então, que fosse adotado o
menor preço global proposto (R$ 79.956.450,56), no caso o da Netmed (peça 30, p. 379-380). 28. Contudo, na Nota Técnica 121/2018-DIMEC/CGIES/DLOG/SE/MS, de 13/6/2018 (peça 30, p. 383-
384), a DIMEC alterou seu entendimento exarado no documento anterior e sugeriu que a planilha fosse
composta pelos menores preços obtidos para cada item, em todas as cotações até então realizadas, com vistas a evitar jogos de planilha e obter o menor preço para a Administração Pública. Reforçou, ainda, a possibilidade de
que a adjudicação ocorresse por item, e não global.
29. Assim, os valores dos itens 3 e 4 foram alterados para aqueles constantes da cotação com a empresa
Virion/Medivax, mesmo considerando que a referida empresa não seria capaz de atender a uma licitação em lote, já que forneceria apenas os itens 1, 2, 3 e 4 (peça 30, p. 383). O valor estimado passou a ser de
R$ 42.439.959,36 (peça 30, p. 384). Os novos preços foram ratificados pelo DLOG, no entanto, foi mantida a
adjudicação global (peça 30, p. 388-389). 30. Cumpre esclarecer também que, paralelamente aos trâmites da elaboração e publicação do edital do
pregão eletrônico, foi aberto processo de inexigibilidade de licitação visando ao mesmo objeto do PE 71/2018,
conforme sugestão exposta no Despacho 232/2018/CGIES/DLOG/SE/MS, de 29/5/2018 (peça 31), tendo em vista o entendimento de que a Euroimmun Brasil deteria exclusividade de mercado para a solução que engloba o
comodato em conjunto com o fornecimento de todos os reagentes.
31. Nesse sentido, foi realizada, em 17/8/2018, reunião entre os técnicos do Ministério da Saúde e a
Euroimmun Brasil para a negociação dos preços dos reagentes químicos a serem adquiridos por inexigibilidade (peça 34, p. 11). Naquela oportunidade, foi informado à empresa sobre a existência no mercado de preços
inferiores ao ofertado pela Euroimmun Brasil, principalmente em relação aos itens 3 e 4. A empresa afirmou
que tal discrepância devia-se a uma “diferença entre a matriz de amostra de seus produtos (itens 3 e 4) e o disponibilizado no mercado, logo, a comparação de preço entre os insumos se mostraria inapropriada”. Por fim,
a Euroimmun Brasil, após negociações, concordou em reduzir alguns de seus valores, mas ainda os mantendo
próximos ao seu primeiro orçamento. 32. No entanto, conforme análise que será realizada quanto aos itens “c”, “d”, e “f” do ofício de oitiva
prévia, a pretensão de se contratar o objeto por inexigibilidade de licitação foi desconsiderada, tendo em vista o
parecer negativo da Consultoria Jurídica do órgão (Conjur).
33. Diante do possível fracasso da licitação realizada (PE 71/2018), declarado pelo pregoeiro em 26/9/2018, a CGIES/DLOG/SE/MS exarou despacho, em 27/9/2018, em que resgatou as considerações do
Despacho SN/2018-CGLAB/DEVIT/SVS/MS, no sentido de que somente a Euroimmun Brasil deteria a
tecnologia de extração de amostra por papel filtro, concluindo que os novos preços unitários a serem utilizados como referência para continuidade do certame deveriam ser aqueles cotados pela referida empresa (peça 34, p.
203
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5-6). Foram, então, considerados os últimos valores cotados pela Euroimmun Brasil, quando das negociações para a tentativa de contratação por inexigibilidade.
34. O novo valor global estimado para a contratação foi de R$ 91.760.138,56, considerando os
quantitativos previstos no edital (peça 38). Destaca-se a majoração de preços estimados dos itens 3 e 4, referentes, respectivamente, ao reagente antígeno NS1 de dengue e ao reagente anti zika, vírus IgM, os quais
passaram de R$ 14,92 e R$ 20,02 para R$ 54,97 e R$ 56,00, respectivamente.
35. Diante do histórico apresentado, verifica-se que houve divergências no entendimento das próprias unidades internas do Ministério quanto à forma de adjudicação do objeto, e, consequentemente, quanto aos
critérios para a elaboração do orçamento de referência, o que levou à discrepância nos valores globais
estimados, variando de R$ 42.439.959,36 a R$ 96.411.504,00.
36. Essa discrepância reflete, possivelmente, a existência de falhas no planejamento da contratação, cujo objeto (aquisição de reagentes com comodato de equipamentos) constitui inovação frente às aquisições
anteriores do órgão. Verifica-se, em todo o processo, que, apesar das diversas manifestações da unidade técnica
apontando para a existência de um único fornecedor possível para o objeto na forma pretendida (fornecimento de todos os itens com comodato de equipamento, nas especificações determinadas), a possibilidade de
inexigibilidade de licitação não foi devidamente fundamentada, o que conduziu à adjudicação global como
alternativa para a realização de licitação e obtenção do mesmo resultado. 37. Destaca-se ainda que a própria unidade técnica demandante não possuía total certeza da existência ou
não de outros potenciais fornecedores/distribuidores do produto, já que admitiu ser um “mercado desconhecido”
(peça 29, p. 140) e que o pregão seria um meio para verificar o seu comportamento.
38. Essa indefinição, portanto, teve reflexos no orçamento estimado, que ora se baseou em cotações isoladas para cada item, ora considerou somente a proposta da empresa Euroimmun Brasil, conforme última
ação adotada no curso do certame. Não houve, no entanto, definição clara que permitisse avaliar se os produtos
oferecidos pela Euroimmun Brasil seriam exclusivos pelas suas características técnicas, se ela seria, de fato, a única empresa capaz de fornecer todos os itens integralmente, ou mesmo se os reagentes não poderiam ser
utilizados em equipamentos de fabricantes distintos, o que conduziria à adjudicação global.
39. Verifica-se também que, no último conjunto de orçamentos coletados, três empresas além da
Euroimmun Brasil (Netmed, Vital e Licimaster) apresentaram cotações para todos os seis itens, o que não foi
considerado na reavaliação da estimativa de preços feita pelo órgão no curso da licitação, tendo em vista
ainda que os preços cotados com a Netmed para os itens 2, 3, 4 e 5 (peça 30, p. 378) se mostraram abaixo
daqueles da proposta da Euroimmun Brasil na licitação. 40. Por fim, o art. 9º da Lei 5.450/2005 estabelece o seguinte, para a fase preparatória do pregão:
Art. 9º Na fase preparatória do pregão, na forma eletrônica, será observado o seguinte:
I - elaboração de termo de referência pelo órgão requisitante, com indicação do objeto de forma precisa, suficiente e clara, vedadas especificações que, por excessivas, irrelevantes ou desnecessárias, limitem ou
frustrem a competição ou sua realização;
(..)
III -apresentação de justificativa da necessidade da contratação; (...)
§ 1º A autoridade competente motivará os atos especificados nos incisos II e III, indicando os
elementos técnicos fundamentais que o apoiam, bem como quanto aos elementos contidos no orçamento estimativo e no cronograma físico-financeiro de desembolso, se for o caso, elaborados pela administração.
§ 2º O termo de referência é o documento que deverá conter elementos capazes de propiciar
avaliação do custo pela administração diante de orçamento detalhado, definição dos métodos, estratégia de suprimento, valor estimado em planilhas de acordo com o preço de mercado, cronograma físico-
financeiro, se for o caso, critério de aceitação do objeto, deveres do contratado e do contratante, procedimentos
de fiscalização e gerenciamento do contrato, prazo de execução e sanções, de forma clara, concisa e objetiva.
41. Nesse sentido, a alteração do orçamento estimativo a fim de “salvar” o certame, ao que tudo indica, pode ter caracterizado afronta ao disposto no art. 9º do Decreto 5.450/2005, considerando que o pregão foi
iniciado sem que houvesse definição precisa e consensual acerca da viabilidade de competição e do valor de
referência, em especial as observações constantes dos parágrafos 1º e 2º do referido artigo, que tratam da necessidade de definição de orçamento estimativo detalhado, bem como da adequada motivação para os
204
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
elementos nele contidos, a exemplo da adjudicação global do objeto, em detrimento daquela por itens. A análise acima embasa a proposta de suspensão cautelar do certame, e a realização de oitiva do órgão nesse sentido.
Item c: possível restrição à competitividade do certame, em razão da adoção do critério de
adjudicação por menor preço global, reunindo, em um mesmo grupo, todos os itens a serem adquiridos.
A restrição deve ser afastada por meio da demonstração de que há outras empresas, em quantidade
razoável, aptas a atender à exigência;
Item d: ausência, no processo licitatório, de estudos técnicos que demonstrem a inviabilidade
técnica e econômica do parcelamento do objeto;
Item e: ausência de justificativas para a alteração da metodologia de aquisição até então utilizada,
em que os mesmos itens foram adjudicados individualmente (pregões eletrônicos 36/2016, 65/2016 e
8/2017);
Item f: ausência de justificativas para a conjunção, em um mesmo item, de reagentes e
equipamentos, o que pode restringir a competividade da licitação A restrição deve ser afastada por meio
da demonstração de que há outras empresas, em quantidade razoável, aptas a atender à exigência; Contextualização:
42. Considerando que as questões levantadas nos itens “c” a “f” do ofício de oitiva tratam, em suma, da
alteração do modelo de contratação anteriormente praticado pelo órgão para o objeto (baseada na adjudicação, item a item, de reagentes, sem comodato de equipamentos, e substituída no PE 71/2018 pela adjudicação global,
com comodato de equipamentos) e suas possíveis implicações, esta Unidade Técnica realizará a análise conjunta
dos argumentos apresentados pelo Ministério.
Manifestação do órgão/entidade: a) a metodologia Elisa pode ser realizada de forma manual ou automatizada, sendo esta última feita por
meio de equipamentos, reduzindo o tempo e a probabilidade de erro e aumentando a sensibilidade do teste (peça
40, p. 1); b) a mesma rede de laboratórios atende a outras necessidades da vigilância em saúde, que compartilham a
mesma área física, impondo a necessária otimização do espaço em sua capacidade máxima de processamento
dos equipamentos (peça 40, p. 2);
c) faz-se necessário manter ambiente de elevada padronização nos laboratórios, primando sempre pela garantia da execução dos processos altamente repetitivos, controlados, reprodutíveis e confiáveis (peça 40, p. 2);
d) mudanças na disposição espacial do ambiente dos laboratórios poderão acarretar demora excessiva na
obtenção de resultados, fluxo interno confuso, má distribuição espacial, acúmulo de pessoas, perda de tempo de uma unidade a outra, acidentes de trabalho, etc. (peça 40, p. 2);
e) a limitação da estrutura técnica física dos laboratórios foi considerada na estratégia de implementação
de novas metodologias laboratoriais, a fim de otimizar a disposição espacial do ambiente de trabalho (peça 40, p. 2);
f) o fornecimento de equipamentos em comodato por uma única empresa é a solução mais adequada para
atingir o objetivo em questão, notadamente os princípios da padronização, de acordo com as diretrizes das
políticas de qualidade da Anvisa e ABNT, em consonância ainda com outros processos para aquisição de insumos da CGLAB para todos os reagentes que possuem as mesmas características (peça 40, p. 2);
g) no outro sistema, ainda há o custo com a aquisição, transporte e armazenamento das ponteiras, que são
descartáveis, sendo dezesseis em cada bateria de exames; no sistema acoplado, as ponteiras possuem sistema de retrolavagem e não são descartáveis (peça 40, p. 2);
h) em face dessas considerações, e tendo em vista a urgência na instalação dos serviços, a adoção do
critério de adjudicação por preço global mostra-se a mais adequada, sendo que o TCU já se manifestou favoravelmente ao tema no Acórdão 2.796/2013-Plenário, Relator Ministro José Jorge (peça 40, p. 2);
i) é imprescindível atingir os padrões de qualidade nas reações laboratoriais, reduzindo o número de
resultados falso-positivo/falso-negativo e a necessidade de reprocessamento de amostras e vieses analíticos
(peça 40, p. 2); j) a adjudicação por item poderia prejudicar a qualidade das atividades de diagnósticos laboratoriais (peça
40, p. 2);
k) a literatura científica concorda que produtos defeituosos ou não validados dentro dos parâmetros estabelecidos, ou seja, fora da variação máxima para análise laboratorial, podem ser traduzidos por resultados
fora das especificações (peça 40, p. 2);
205
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
l) a liberação de laudo errôneo compromete o diagnóstico clínico do paciente e, consequentemente, pode
acarretar o aumento de consultas médicas e de testes laboratoriais e de imagem, elevando ainda mais o custo dos
serviços de saúde (peça 40, p. 2);
m) no caso de equipamentos adquiridos de forma separada (sistema não acoplado), o tempo adicional para executar uma bateria de exames chega a ser de duas horas, com processamento de apenas quatro placas,
sendo que, no novo modelo (sistema acoplado), há possibilidade de se processar seis placas (peça 40, p. 3);
n) ao final de um dia, são realizadas 24 análises em oito horas no sistema acoplado, enquanto que no não acoplado são analisadas apenas dezesseis placas em dezesseis horas. Será gerada, portanto, economia de tempo
em até oito horas por dia (peça 40, p. 3); e
o) o mercado possui várias marcas e produtos que poderiam atender ao objeto do pregão, pois não há
obrigatoriedade de que os insumos tenham a mesma marca, mas sim que possam rodar no mesmo equipamento (peça 40, p. 3).
Análise:
43. Depreende-se dos argumentos apresentados pelo órgão que o objetivo da aquisição em grupo, e não por itens, pauta-se, em suma, nos seguintes aspectos: otimização do espaço físico dos laboratórios; padronização
dos reagentes e equipamentos utilizados nesses laboratórios; e redução do número de erros nos diagnósticos e
do tempo de realização dos exames. 44. Conforme se verifica no sítio http://www.euroimmun.com.br/sprinterxl/, o equipamento Sprinter XL,
da Euroimmun AG, apontado pelo representante como sendo a referência constante do edital do PE 71/2018,
possui as dimensões de 112cm x 85cm x 55cm (largura x profundidade x altura), e peso de aproximadamente
150kg (peça 49). De fato, a acomodação de mais de um item com equipamento desse porte pode vir a comprometer a estrutura física dos laboratórios atualmente existentes. As alegações apresentadas pelo órgão
acerca dessa dificuldade foram expostas sem, contudo, que fossem apresentados dados específicos sobre a
situação física dos laboratórios atualmente existentes. 45. Percebe-se, também, que os argumentos do Ministério, apesar de apontarem para a necessidade de
padronização dos testes, não se mostram suficientes para justificar a inviabilidade de parcelar o objeto da
licitação. Não foram encaminhados estudos ou mesmo dados estatísticos que indicassem a ocorrência reiterada e
significativa de erros nos diagnósticos, provocados pelo fornecimento de cada reagente por empresas distintas, conforme modelo adotado nas contratações anteriores.
46. Também não foram apresentados argumentos que demonstrassem a existência de outras empresas
capazes de fornecer todos os itens do PE 71/2018, a fim de justificar a opção pela adjudicação global. Nem mesmo foram mencionadas as empresas Netmed, Vital e Licimaster, que forneceram orçamentos para todos os
itens, na fase preparatória do pregão.
47. Destaca-se que, durante a fase interna do pregão, a Consultoria Jurídica do órgão (Conjur) emitiu a Nota 1085/2018/CONJUR-MS/CGU/AGU, de 4/7/2018, por meio da qual recomendou à unidade demandante a
reavaliação do critério de julgamento pelo menor preço global, considerando o disposto no art. 23, § 1º, da Lei
8.666/1993 e a jurisprudência do TCU, ou que, alternativamente, robustecesse as justificativas para a adoção
desse critério, esclarecendo, de forma inequívoca e documentada, as razões técnicas e econômicas para não se realizar a adjudicação por item (peça 33, p. 7-19).
48. A área técnica do órgão emitiu, então, o Parecer Técnico 3/2018-DEVIT/SVS/MS, por meio do qual
apresentou justificativas para a iniciativa de se implantar o uso de amostras biológicas impregnadas em papel-filtro. Os argumentos expostos mostram-se bastante semelhantes àqueles apontadas em resposta aos itens “a” e
“b” do ofício de oitiva prévia (peça 32, p. 1-4). No referido parecer, foi informado ainda que:
a) o princípio da padronização se dá pela utilização dos reagentes nos equipamentos de uma única plataforma (peça 32, p. 2);
b) os parâmetros de validade, de precisão, de sensibilidade e especificidade são característicos de
cada fabricante;
c) em alguns casos há diferença entre as unidades de medida utilizadas por diferentes
desenvolvedores de ensaios in vitro, dificultando a padronização e permitindo a ocorrência de erro na
divulgação dos resultados (peça 32, p. 3);
d) é recomendada a utilização em paralelo dos testes IgM e IGM, o que se chama de sensibilidade combinada, reforçando a necessidade de que os testes sejam comparáveis e tenham características técnicas e
operacionais semelhantes (peça 32, p. 3); e
206
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
e) é inviável adquirir equipamentos de diferentes fornecedores para o mesmo tipo de análise, sem colocar
em risco as normas de gestão da qualidade e biossegurança (peça 32, p. 3).
49. Portanto, as justificativas para a adjudicação global, com o reforço da necessidade de padronização
dos insumos expostas no parecer da unidade técnica do órgão parece se contradizer com a resposta ao item “f” do ofício, em que o Ministério informa sobre a não obrigatoriedade de que os insumos tenham a mesma
marca, mas sim que possam rodar em um mesmo equipamento (peça 40, p. 3). Isso demonstra que o tema
ainda demanda maiores estudos e esclarecimentos pelo órgão, a fim de ser definida e adequadamente motivada a melhor forma de contratação.
50. Esta Unidade Técnica entende que a modernização das tecnologias é um processo natural em todo
ramo de atividade e válido para o alcance de melhores resultados, por meio da otimização dos recursos
(insumos, equipamentos e tempo) e consequente redução dos custos para a sua realização. Em uma avaliação superficial sobre o tema, considera-se que a promoção dessa modernização no âmbito dos exames para a
detecção de doenças relevantes como a dengue, a zika e a chikungunya pode vir a gerar ganhos expressivos no
tratamento dos pacientes infectados. 51. No entanto, esse processo deve estar calcado em estudos sólidos e técnicos, que demonstrem os
ganhos efetivos com a substituição da tecnologia, bem como identifiquem os potenciais fornecedores de
mercado. No caso de existência de um único fornecedor capaz de atender a todas as exigências necessárias para essa modernização, os estudos devem demonstrar, ainda, que os ganhos a serem obtidos em termos de precisão
dos exames, rapidez em sua realização e otimização dos insumos se sobrepõem a um possível acréscimo de
preço na contratação e à vinculação das aquisições a uma única empresa.
52. Diante do exposto, considera-se que os argumentos apresentados pelo Ministério não foram suficientes para justificar o critério de adjudicação por menor preço global, considerando que não foi
demonstrada a existência de outras empresas aptas a atender à exigência. Também não foram encaminhados
estudos técnicos que justificassem, de forma clara e objetiva, a inviabilidade do parcelamento, separando-se, por exemplo, a aquisição de reagentes do comodato dos equipamentos, condicionando as suas especificações para
que tenham compatibilidade entre si.
53. Este item embasa a proposta de suspensão cautelar do certame, com a realização de oitiva do
Ministério para que se pronuncie acerca de possível afronta ao princípio da competitividade, previsto no art. 5º, do Decreto 5.450/2005, bem como ao disposto no art. 23, § 1º, da Lei 8.666/1993, considerando que os serviços
e as compras efetuadas pela Administração deverão ser divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem
técnica e economicamente viáveis.
Item g: ausência de justificativas para as especificações requeridas para o item 6.21.1 do edital,
referente à cessão de equipamentos automatizados para a realização das amostras;
Item h: possibilidade de direcionamento da contratação para a empresa Euroimmun, uma vez que:
i) existem elementos que apontam que seria a única a reunir condições de fornecer, conjuntamente, todos
os itens do grupo licitado (o que seria reforçado pela tentativa do próprio órgão de adquirir o objeto por
meio de inexigibilidade de licitação); ii) o item 6.21.1 possuiria características quase idênticas às
constantes do portfólio do equipamento “Sprinter XL”, por ela fabricado; e iii) seria a única empresa que
poderia atender ao requisito de sensibilidade e especificidade mínima dos itens 1 e 2 do objeto;
Item i: ausência de justificativas para a definição de sensibilidade e especificidade mínima >= 98%
para os itens 1 e 2 do objeto, quando o índice dos demais itens é de >=90%; Contextualização:
54. Novamente, os itens serão analisados de forma conjunta, considerando a relação entre as questões
neles apontadas, que se referem à possibilidade de direcionamento das condições e especificações do edital à empresa Euroimmun Brasil.
Manifestação do órgão/entidade:
a) diante do surto de arboviroses de 2016, observou-se a necessidade de implementação de novas
tecnologias, por meio da incorporação de equipamentos e da aquisição de insumos mais sensíveis e específicos, a fim de se obter qualidade e celeridade dos resultados, resultando nas especificações incorporadas pelo item
6.21.1 do edital (peça 40, p. 3);
b) a elaboração do edital considerou o resultado de visitas técnicas, reuniões e questionamentos realizados durante a fase de pesquisas de preço, o que foi devidamente compartilhado com todas as empresas envolvidas,
que assim ficaram cientes das necessidades da CGLAB (peça 40, p. 3);
207
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
c) a opção pela aquisição por licitação, na modalidade pregão, decorreu do conhecimento de que o
mercado brasileiro estaria apto a fornecer os insumos da forma solicitada no edital, ou seja, em grupo (peça 40,
p. 3);
d) como já esperado, houve a participação de quatro empresas que ofertaram lances, sagrando-se vencedora a Euroimmun Brasil, por ter apresentado o menor preço global (peça 40, p. 3); e
e) quanto à definição de sensibilidade e especificidade mínima, importa esclarecer que as diretrizes da
ABNT e Anvisa exigem que cada laboratório realize validação interna para cada fabricante e lote, sendo que a validação independente se torna inviável para uma rede composta por 27 laboratórios centrais. É importante
manter a maior padronização possível (peça 40, p. 3).
Análise:
55. No que tange à sensibilidade e especificidade mínima, exigidas para os itens 1 (testes de dengue IGM) e 2 (testes de dengue NS1), verifica-se que, diferentemente do que afirmou o representante, essas exigências não
foram de >=98% no edital, e sim de >=97%, conforme itens 1.3.1 e 1.3.2 do termo de referência (peça 2, p. 33-
34). 56. Além disso, o nível de sensibilidade e especificidade mínimo >=98% foi exigido, para esses mesmos
reagentes, na descrição dos itens 7 e 8 do edital do PE 36/2016 (peça 3, p. 37-38). Em decorrência do pregão,
foram celebrados contratos referentes a esses itens com as empresas PMH e Alere, respectivamente, conforme se verifica na Tabela 1 desta instrução, tendo sido, inclusive, ofertado produto de fabricante distinto daquele da
Euroimmun Brasil. Considera-se, portanto, esclarecida a questão.
57. Quanto às especificações contidas no item 6.21.1 do edital do PE 71/2018 que, aliadas aos demais
elementos constantes desta representação, apontam para possível favorecimento da Euroimmun Brasil, o órgão informou apenas que as demais empresas consultadas na fase de pesquisa de preços foram cientificadas das
necessidades da área técnica demandante, e que o mercado brasileiro estaria apto a fornecer os insumos da
forma solicitada no edital. 58. No entanto, conforme explanado no decurso desta instrução, as próprias unidades internas do órgão
apresentaram divergências quanto a esse entendimento, tendo sido aventada, inclusive, a possibilidade de
contratação da empresa Euroimmun Brasil por inexigibilidade de licitação.
59. Destaca-se, ainda, que, durante a fase de pesquisa de preços, várias empresas declinaram de apresentar propostas, por não possuírem condições de fornecer todos os itens do certame, sendo que apenas as
empresas Netmed, Vital e Licimaster ofereceram cotações para a integralidade do objeto, além da própria
Euroimmun Brasil. 60. Contudo, no PE 71/2018 (que contou com a participação das empresas Euroimmun Brasil, Netmed,
Licimaster e Biostock – peça 20), a Netmed, que havia cotado os menores valores na fase preparatória do
pregão, apresentou preços superiores àqueles da Euroimmun Brasil para os itens (sem indicar o fabricante dos seus produtos) e também não participou da fase de lances, assim como a Licimaster, cujo produto se refere ao
fabricante Euroimmun Brasil. Já a Biostock apresentou o mesmo valor unitário para todos os itens, de
R$ 500,00, e também não ofereceu lances. A combinação desses fatos demonstra possível intenção de apenas
simular a competitividade na licitação. 61. Vale esclarecer que, conforme informado na Nota 1452/2018/CONJUR-MS/CGU/AGU da Conjur,
emitida quando da tentativa de aquisição por inexigibilidade, entendeu-se que, até aquele momento, não haveria
viabilidade jurídica de se proceder à aquisição por inexigibilidade, considerando que a Euroimmun Brasil não
seria fornecedora exclusiva dos reagentes (considerados individualmente) para diagnósticos clínicos, mas
tão somente distribuidora exclusiva no Brasil da Euroimmun Medizinische Labordiagnostika AG (peça
33, p. 31). 62. No entanto, no Despacho SN/2018-CGLAB/DEVIT/SVS/MS, de 21/8/2018, a CGLAB informou
sobre a especificidade da tecnologia de fabricação dos testes da Euroimmun AG (fabricante), que a
caracterizaria como fornecedor exclusivo do produto almejado (peça 34, p. 8):
3. Ainda, devido ao princípio de utilização do antígeno vírus-específico NS1, presente apenas na
tecnologia de fabricação dos testes de Zika (IgM e IgM) deste fabricante, permite que as reações cruzadas
sejam praticamente excluídas. Destarte, infecções por Zika vírus (ZIKV) podem ser diferenciadas de infecções
por outros vírus, como Dengue e Chikungunya, que causam sintomas semelhantes e são endêmicas nas mesmas regiões. Dessa forma, o teste é uma ferramenta sensível e altamente específica para o sorodiagnóstico de
infecções por ZIKV, eliminando reações cruzadas com anticorpos de outras flaviviroses, além de possuir
208
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
capacidade de discriminar os indivíduos doentes dos não doentes, evitar os resultados não confiáveis ou falso-positivos, precisão – capacidade de reproduzir o mesmo resultado ou ter resultado semelhante quando repetido.
4. Portanto, somente a empresa Euroimmun Brasil Importação e Distribuição LTDA, tem condições
de comercialização de reagentes diagnósticos para Zika IgM e IgM no Brasil e apresentação registrada na
ANVISA com tecnologia de extração de amostra por papel filtro, com proteína não-estruturais
recombinantes (NS1), sensibilidade e especificidade conforme solicitados nesta aquisição. (Grifo nosso)
63. Portanto, ao que tudo indica, o diferencial da Euroimmun Brasil (fabricante) estaria na tecnologia de fabricação dos testes de Zika (IGM e IgM), com utilização do antígeno vírus-específico NS1, sendo que
somente a Euroimmun Brasil estaria autorizada a comercializá-lo. Entretanto, não se verifica, nas especificações
constantes dos itens 1.3.3 e 1.3.4 do termo de referência do PE 71/2018, menção a esse tipo de exigência.
64. Assim, o possível direcionamento do certame à Euroimmun Brasil estaria na inclusão, no edital, de especificação praticamente idêntica à do equipamento Sprinter XL da referida empresa, constante do item
6.21.1 do termo de referência, o que deverá ser objeto de oitiva do órgão, tendo em vista a possibilidade de
restrição indevida à competição, com possível direcionamento do certame, em afronta ao previsto no art. 9º, I, do Decreto 5.450/2005.
65. A possível simulação de competitividade pelas empresas Euroimmun Brasil, Netmed, Licimaster e
Biostock, tendo em vista que as três últimas não ofereceram lances, em possível favorecimento à primeira, constitui mais um indício de que o objeto, da forma descrita no edital do PE 71/2018, estaria direcionado à
empresa Euroimmun Brasil. Nesse sentido, recomenda-se que, em instrução de mérito desta Unidade Técnica,
proponha-se que essa situação, possivelmente enquadrada no art. 7º, da Lei 10.520/2002, seja levada ao
conhecimento do Ministério da Saúde, para apurações internas. 66. Diante de todo o exposto, esta Unidade Técnica propõe deferir o pedido de medida cautelar
pleiteado uma vez presentes os pressupostos do perigo da demora e da plausibilidade jurídica, essenciais para
sua concessão, e por restar descaracterizado o perigo da demora reverso. Será proposta a realização de diligência e oitiva, na forma prevista nesta instrução.
(...)
Análise: 67. A proposta de adoção de medida cautelar para a suspensão do PE 71/2018 ocasionará impactos no
Ministério da Saúde, já que o órgão deverá buscar outras formas de suprir a demanda pelos reagentes para testes
de vírus de dengue, zika e chikungunya, seja pela utilização dos estoques ainda disponíveis, seja pela
contratação emergencial do fornecimento. 68. Ressalta-se, no entanto, que, conforme valores praticados nas contratações anteriores para os testes do
tipo Elisa, decorrentes dos pregões eletrônicos 36/2016, 65/2016 e 8/2017, e cujas vigências já estão expiradas,
há possibilidade de os preços obtidos em uma possível contratação emergencial figurarem abaixo daqueles constantes da proposta da empresa Euroimmun Brasil, primeira colocada até então no PE 71/2018.
69. Nesse sentido, não se observam prejuízos ao órgão com a adoção medida proposta, nem a
possibilidade de que a suspensão do certame possa prejudicar o atendimento às demandas da sociedade, até que
o TCU decida a respeito da continuidade da contratação.
G. PEDIDO DE INGRESSO AOS AUTOS
Há pedido do representante de ingresso aos autos? Sim
Análise: 70. Quanto à possibilidade de ingresso da autora como parte interessada no presente processo, seu pedido
(peça 18) deve ser indeferido, pois não demonstrou sua razão legítima para intervir nos autos, nem a possibilidade de lesão a direito subjetivo próprio, à luz do art. 146 do Regimento Interno/TCU c/c o art. 2º, § 2º,
da Resolução-TCU 36/1995, com redação dada pelo art. 1º da Resolução-TCU 213/2008.
(...)
I. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO 71. Em virtude do exposto, propõe-se:
71.1. conhecer da representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade constantes no art. 113, § 1º,
da Lei 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno/TCU, e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU 259/2014;
209
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
71.2. deferir o pedido de medida cautelar, uma vez presentes os pressupostos essenciais para sua
concessão, e por restar descaracterizado o perigo da demora reverso;
71.3. realizar a oitiva do Ministério da Saúde, com amparo no art. 276, §3º, do Regimento Interno/TCU,
para que, no prazo de quinze dias, se pronuncie quanto aos fundamentos da cautelar concedida, em especial em relação aos seguintes pontos do pregão eletrônico 71/2018:
a) alteração do orçamento estimativo após a fase de lances, a fim de “salvar” o certame, o que pode
caracterizar afronta ao disposto no art. 9º do Decreto 5.450/2005, considerando que o pregão foi iniciado sem que houvesse definição precisa acerca da viabilidade de competição e do valor de referência, em especial as
observações constantes dos parágrafos 1º e 2º do referido artigo, que tratam da necessidade de definição de
orçamento estimativo detalhado, bem como da motivação para os elementos nele contidos;
b) ausência de estudos técnicos que justifiquem, de forma clara e objetiva, a inviabilidade do parcelamento (separando-se, por exemplo, a aquisição de reagentes do comodato dos equipamentos,
condicionando as suas especificações para que tenham compatibilidade entre si), e consequente opção pela
adjudicação por menor preço global, em possível afronta ao princípio da competitividade, previsto no art. 5º, do Decreto 5.450/2005, bem como ao disposto no art. 23, § 1º, da Lei 8.666/1993, considerando que os serviços e
as compras efetuadas pela Administração deverão ser divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem
técnica e economicamente viáveis; c) possível favorecimento da empresa Euroimmun Brasil Medicina Diagnóstica Ltda., em função da
inclusão de especificação praticamente idêntica à do equipamento Sprinter XL distribuído exclusivamente por
ela (item 6.21.1 do termo de referência), em afronta ao disposto art. 9º, I, do Decreto 5.450/2005, situação
corroborada pelos indícios de simulação à competição ao longo do certame e pela modificação do valor estimado ao longo da licitação, para a última cotação de preços da Euroimmun Brasil na fase preparatória do
pregão, desconsiderando-se os demais orçamentos coletados naquela oportunidade, em especial o da Netmed
Instrumentos Científicos Eireli; d) demais informações que julgar necessárias; e
e) designação formal de interlocutor que conheça da matéria para dirimir eventuais dúvidas, informando
nome, função/cargo, e-mail e telefone de contato.
71.4. diligenciar o Ministério da Saúde, com fundamento nos artigos 157 e 187 do Regimento Interno/TCU, para que, no prazo de quinze dias:
a) informe os motivos que o levaram à contratação de reagentes do método Elisa, considerando que, ao
que tudo indica, a imunocromatografia constituiria solução de diagnóstico mais célere e de menor custo, esclarecendo, ainda, se há necessidade de se adquirir os dois tipos de reagentes (imunocromatografia e Elisa),
dado algum tipo de complementaridade existente entre ambos os métodos; e
b) demais informações que julgar necessárias. 71.5. indeferir o pedido do representante de ser considerado como parte interessada, mas lhe autorizando,
caso requeira, vista e cópia às peças não sigilosas dos presentes autos após a prolação da deliberação de mérito
dos presentes autos;
71.6. encaminhar cópia da presente instrução ao Ministério da Saúde de forma a subsidiar sua manifestação;
71.7. informar ao representante a decisão que vier a ser adotada.
3. Acolhendo, na íntegra, o posicionamento da unidade especializada, decidi, no dia 13/11/2018,
conceder a tutela de urgência na forma como requerida, consoante as razões que integram o meu
despacho acostado à peça 53, em seguida transcritas: Trata-se de representação, com pedido de concessão de medida cautelar, contra possíveis irregularidades
verificadas no Pregão Eletrônico 71/2018, promovido pelo Departamento de Logística em Saúde do Ministério
da Saúde com vistas ao registro de preços para aquisição de reagentes para diagnósticos clínicos de Dengue, Zika e Chikungunya, com comodato de equipamentos.
2. Colhidas as manifestações do Ministério da Saúde após oitiva realizada pela Selog, propõe essa
unidade técnica a concessão de medida cautelar com a finalidade de suspender os atos referentes à licitação em questão, considerando o provável cenário de deficiência de planejamento, indefinição do valor de referência do
orçamento estimativo, alteração desse mesmo valor no curso do certame, contradições entre justificativas
técnicas no âmbito do órgão licitante, ausência de estudos técnicos a indicar com precisão a inviabilidade do parcelamento e possível favorecimento à sociedade empresária Euroimmun Brasil Medicina Diagnóstica Ltda.
210
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
3. Os fundamentos fáticos e jurídicos que sustentam a proposição integram a instrução acostada à peça
50, os quais adoto como razões de decidir para conceder a tutela de urgência de natureza cautelar, na forma
requerida pela unidade técnica, até ulterior pronunciamento de mérito por parte deste Tribunal.
4. Observo que o novo valor global estimado para a contratação foi de R$ 91.760.138,56, quando, à primeira vista, sob a ótica da economicidade, poderia ter se situado em patamar inferior acaso o objeto não
tivesse sido licitado em lote único. É o que denotam as pesquisas de preços insertas ao procedimento licitatório,
mencionadas na instrução da Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog). 5. Presentes, portanto, a fumaça do bom direito, consubstanciada por atos aparentemente ofensivos a
disposições do Decreto 5.450/2005 e aos princípios da motivação e da eficiência; e o perigo na demora, tendo
em vista que a sessão pública para análise das amostras, segundo informação colhida pela unidade instrutiva,
teria ocorrido entre 6 e 9/11/2018, após o que a qualquer momento poderiam ser validados os atos preparatórios à assinatura do contrato.
6. Como bem evidencia a Selog, não está caracterizado o perigo na demora reverso.
7. Ainda que o órgão não disponha de estoque de reagentes cujos testes se utilizam do método de enzimaimunoensaio (Elisa), objeto deste certame – haja vista que, questionado sobre esse ponto em fase
preliminar nos autos, respondeu sobre estoques disponíveis apenas de reagentes sob o método de
imunocromatografia –, há possibilidade de adquirir produtos faltantes em caráter emergencial, tendo como referência preços de contratações anteriores, consoante sugerido por aquela unidade especializada.
8. Ante o exposto, decido:
8.1. conhecer da representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade constantes no art. 113, § 1º, da
Lei 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno do TCU (RITCU), e no art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
8.2. determinar ao Ministério da Saúde, cautelarmente, com fundamento no art. 276, caput, do RITCU,
que suspensa a eficácia do Pregão Eletrônico 71/2018, abstendo-se de praticar quaisquer atos no intuito de dar-lhe continuidade, até que este Tribunal delibere sobre o mérito da matéria; e
8.3. autorizar as demais medidas indicadas pela Selog (itens 71.3 a 71.7 – peça 50, p. 17-18).
É o relatório.
VOTO
O processo trata de representação, com pedido de concessão de medida cautelar, contra
possíveis irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico 71/2018, promovido pelo Departamento de
Logística em Saúde do Ministério da Saúde com vistas ao registro de preços para aquisição de
reagentes para diagnósticos clínicos de Dengue, Zika e Chikungunya, com comodato de equipamentos.
2. Segundo consta do relatório que antecede este voto – no qual os fatos estão historiados e há
transcrição completa do teor de meu despacho decisório, assinado no dia 13/11/2018 –, acolhendo
integralmente a proposta formulada pela Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas
(Selog), decidi: (...)
8.1. conhecer da representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade constantes no art. 113, § 1º, da
Lei 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno do TCU (RITCU), e no art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
8.2. determinar ao Ministério da Saúde, cautelarmente, com fundamento no art. 276, caput, do RITCU,
que suspensa a eficácia do Pregão Eletrônico 71/2018, abstendo-se de praticar quaisquer atos no intuito de dar-lhe continuidade, até que este Tribunal delibere sobre o mérito da matéria; e
8.3. autorizar as demais medidas indicadas pela Selog (itens 71.3 a 71.7 – peça 50, p. 17-18).
3. Em atenção ao disposto no art. 276, § 1º, do Regimento Interno, trago a matéria à
consideração deste egrégio Tribunal.
Ante o exposto, VOTO por que seja aprovada a minuta de acórdão que submeto à consideração
deste colegiado.
211
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ACÓRDÃO Nº 2607/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 034.255/2018-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Ministério da Saúde (vinculador).
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog).
8. Representação legal: Paulo Henrique Figueredo de Araujo (OAB/DF 46.369) e outros,
representando Diasorin Ltda.
9. Acórdão:
VISTO, relatado e discutido este processo de representação, com pedido de concessão de
medida cautelar, contra possíveis irregularidades verificadas no Pregão Eletrônico 71/2018, promovido
pelo Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde com vistas ao registro de preços
para aquisição de reagentes para diagnósticos clínicos de Dengue, Zika e Chikungunya, com comodato
de equipamentos,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação, uma vez preenchidos os requisitos de admissibilidade previstos
no art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, c/c os arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno do TCU
(RITCU), e no art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
9.2. referendar, com fundamento no art. 276 do Regimento Interno, a medida cautelar concedida
por meio do despacho inserto à peça 53; e
9.3. retornar o feito à unidade técnica para as providências cabíveis.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2607-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes (Relator), Aroldo Cedraz, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 012.352/2018-7 [Apenso: TC 005.762/2018-9]
Natureza(s): Acompanhamento
Órgãos/Entidades: Agência Nacional de Águas; Agência Nacional de Telecomunicações; Banco
Central do Brasil; Banco do Brasil S.A..; Banco do Nordeste do Brasil S.A..; Caixa Econômica
Federal; Câmara dos Deputados (vinculador); Casa Civil da Presidência da República; Conselho
Nacional de Justiça (vinculador); Conselho Nacional do Ministério Público (vinculador);
Departamento de Serviço de Inclusão Digital - MC; Departamento Penitenciário Nacional;
212
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Embrapa/sct; Entidades/órgãos do Governo do Distrito Federal; Entidades/órgãos do Governo do
Estado de Mato Grosso; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Rondônia; Entidades/órgãos do
Governo do Estado de Roraima; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Santa Catarina;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Acre; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amapá;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amazonas; Entidades/órgãos do Governo do Estado do
Espírito Santo; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Pará; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Paraná; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Gabinete de Segurança Institucional; Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (vinculador);
Ministério da Cultura; Ministério da Defesa (vinculador); Ministério da Fazenda (vinculador);
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Ministério da Integração Nacional (vinculador);
Ministério da Justiça; Ministério da Pesca e Aquicultura (vinculador); Ministério da Saúde
(vinculador); Ministério das Relações Exteriores (vinculador); Ministério de Minas e Energia
(vinculador); Ministério do Desenvolvimento Social; Ministério do Meio Ambiente (vinculador);
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Ministério do Trabalho; Ministério dos
Direitos Humanos; Prefeitura Municipal de João Pessoa - PB; Secretaria da Receita Federal do Brasil;
Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria de Educação Básica; Secretaria de Governo da Presidência
da República; Secretaria de Política de Informática; Secretaria de Telecomunicações - MC; Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário; Secretaria Executiva do Ministério da
Integração Nacional; Secretaria Executiva do Ministério das Cidades; Senado Federal (vinculador);
Telecomunicações Brasileiras S.A..; Tribunal de Contas da União (vinculador)
Interessado: Congresso Nacional (vinculador) ()
Representação legal: Daniel Andrade Fonseca e outros, representando Agência Nacional de
Telecomunicações.
SUMÁRIO: LEI 13.707/2018, ART. 124. RELATÓRIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
ELABORADO COM OBJETIVO DE SUBSIDIAR O CONGRESSO NACIONAL NA
ELABORAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA. ACÓRDÃO 2127/2017-PLENÁRIO.
MONITORAMENTO. ADOÇÃO DE DIVERSAS MEDIDAS, POR PARTE DO PODER
EXECUTIVO, PARA ATENDER ÀS RECOMENDAÇÕES. OPORTUNIDADE DE MELHORIAS.
RECOMENDAÇÕES AOS ÓRGÃOS MENCIONADOS E A UNIDADES DESTE TRIBUNAL.
RELATÓRIO
O presente trabalho tem por objetivo atender ao disposto no art. 124 da Lei de Diretrizes
Orçamentárias de 2019 (Lei 13.707/2018):
“Art. 124. O Tribunal de Contas da União enviará à Comissão Mista a que se refere o § 1º do
art. 166 da Constituição, no prazo de até trinta dias após o encaminhamento da proposta
orçamentária de 2019, quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e das ações governamentais objeto de auditorias operacionais realizadas
para subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária de 2019.”
2. Para maior clareza, transcrevo a versão final do relatório de acompanhamento de polít icas
públicas e programas de governo, elaborado em conjunto pela Coordenação-Geral de Controle Externo
de Resultados de Políticas e Programas Públicos (Coger) e Secretaria de Macroavaliação
Governamental (Semag):
“I. INTRODUÇÃO
213
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1. Trata-se do Relatório de Políticas e Programas de Governo (RePP), destinado a dar
cumprimento ao disposto no art. 124 da Lei 13.707/2018 (Lei de Diretrizes Orçamentárias do
exercício de 2019 - LDO/2019), que confere ao Tribunal de Contas da União (TCU) a
responsabilidade por enviar à Comissão Mista do Congresso Nacional, com fundamento no art. 166, §
1º, da Constituição Federal, um quadro resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance
de metas e objetivos dos programas e ações governamentais objeto de auditorias operacionais
realizadas, para subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual para o exercício de
2019.
2. O presente relatório busca oferecer subsídios para o processo legislativo de alocação
orçamentária e seus desdobramentos. O primeiro capítulo do Relatório de Políticas e Programas
Públicos (RePP) trata de monitoramento do plano de ação e das determinações exaradas no
Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Substituto Marcos Bemquerer Costa, que
tratou do Relatório de Políticas e Programas de Governo – exercício 2017. Mencione-se que o
relatório de monitoramento no qual embasa-se o referido capítulo foi instruído por meio do
TC 005.762/2018-9. Tal capítulo trata de déficits governamentais de governança e de gestão,
estruturais e de alto risco, que impactam negativamente o planejamento e a execução orçamentária e
que, se corrigidos, podem contribuir para o alcance dos resultados almejados pela atuação
governamental em benefício da sociedade.
3. O segundo capítulo, por sua vez, busca realizar uma análise consolidada do conjunto de
informações sobre políticas, programas e ações de governo que foram objeto de fiscalizações
realizadas pelo TCU nos últimos anos, sendo sua maioria ocorrida em 2017 e 2018. A análise
consolidada dos resultados das fiscalizações realizadas busca construir um panorama que reflita os
riscos, irregularidades e deficiências mais recorrentes nas políticas públicas, que impactam, de forma
repetitiva, seus resultados, e identificar os fatores institucionais e as boas práticas necessárias para
promover a melhoria da eficiência e efetividade das políticas de forma geral.
4. A iniciativa do TCU ressalta a relevância da temática da qualidade do gasto público e a
necessidade de fornecer evidências sobre a implementação de programas e seus resultados para o
escrutínio do Congresso Nacional, favorecendo o debate que promova melhor alocação de recursos e
melhores entregas aos cidadãos.
5. À Secretaria de Macroavaliação Governamental (Semag) coube a tarefa de realizar o
monitoramento do Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, que tratou do Relatório de Políticas e
Programas de Governo – exercício 2017, cujo conteúdo foi adaptado para compor o Capítulo 2. A
Coordenação-Geral de Resultados de Políticas e Programas Públicos, por sua vez, foi responsável
por coordenar as ações de preparação, elaboração e supervisão dos trabalhos que integraram o
Capítulo 3 do presente relatório, assim como realizar a análise consolidada que substancia o referido
capítulo.
II. PILARES DA ATUAÇÃO ESTATAL ESSENCIAIS AO ALCANCE DE RESULTADOS
II.1. Introdução
7. O Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, Min.Relator Marcos Bemquerer, foi prolatado para
fins de cumprimento ao disposto no art. 123 da Lei 13.473/2017 (Lei de Diretrizes Orçamentárias do
exercício de 2018 - LDO/2018) c/c art. 166, § 1º, da Constituição Federal, que confere ao Tribunal de
Contas da União (TCU) a responsabilidade por enviar à Comissão Mista do Congresso Nacional um
quadro resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e objetivos dos
programas e ações governamentais objeto de auditorias operacionais realizadas, com vistas a
subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual para o exercício de 2018.
8. Para tanto, o aludido acórdão identificou fatores institucionais que necessitam de
aperfeiçoamento para o alcance de melhores políticas, ações e programas públicos federais e, por
fim, determinou à Secretaria-Geral de Controle Externo que avaliasse a conveniência de realizar
214
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
monitoramento sistêmico dos acórdãos citados no relatório, por meio de ações de controle integradas
e coordenadas pela Coordenação-Geral de Controle Externo de Resultados de Políticas e Programas
Públicos (Coger).
9. Em decorrência, abriu-se processo específico (TC 005.762/2018-9), para verificar o
atendimento das deliberações constantes do Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, abaixo transcritas:
9.2. fixar prazo de 60 (sessenta) dias para que a Casa Civil da Presidência da República, o
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e o Ministério da Fazenda, com o apoio dos
demais ministérios, se manifestem acerca das ações já empreendidas para melhorias no arcabouço de
planejamento e orçamento e na capacidade de articulação, monitoramento e avaliação da coerência
do conjunto de programas e ações governamentais, de forma a sanar as ocorrências apontadas no
presente relatório;
9.3. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, com fundamento no princípio da
eficiência (art. 37 da Constituição Federal) e no art. 3º da Medida Provisória 782/2017, que lhe
atribuiu competências relacionadas ao exercício da coordenação e integração, avaliação e
monitoramento das ações do Governo, que, em articulação com o Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão e com o Ministério da Fazenda, com apoio dos demais ministérios
pertinentes, desenvolva, no prazo de 90 (noventa) dias, plano de ação para sanar falhas e
inconsistências identificadas neste relatório, em harmonia com as medidas já empreendidas, a serem
informadas conforme o subitem 9.2 deste acórdão e que contemplem os aspectos apontados a seguir,
de modo a aprimorar a eficiência e a efetividade de ações, políticas públicas, planos e programas de
governo:
9.3.1. edição de proposta legislativa para estabelecimento de “diretrizes e bases do
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado”, em conformidade com o artigo 174, § 1º, da
Constituição Federal, considerando a relevância da definição de plano de desenvolvimento nacional
de longo prazo e sua integração ao sistema de planejamento e orçamento federal previsto no art. 165
da Constituição Federal;
9.3.2. aprimoramento do modelo do Plano Plurianual (PPA) para:
9.3.2.1. que o plano constitua instrumento efetivo de planejamento de médio prazo do Governo
Federal, que oriente a distribuição de recursos em seu período de vigência, viabilize o
acompanhamento e atendimento das metas estabelecidas e induza sustentabilidade fiscal,
transparência e efetividade dos programas, em conformidade com o artigo 165, § 7º, da Constituição
Federal;
9.3.2.2. que o plano favoreça a gestão, a transparência e o controle, ao contemplar aspectos
como: a) explicitação de indicadores de efetividade para monitoramento da dimensão estratégica; b)
seleção de indicadores para os programas, com descrições específicas e parâmetros de validade e
qualidade; c) indicação dos valores esperados dos indicadores ao final do quadriênio; d) indicação de
metas específicas a serem realizadas anualmente; e) indicação dos valores detalhados por ano e por
objetivos, com disponibilização à sociedade das memórias de cálculo para sua definição; f) indicação
de como será a integração dos objetivos e programas com a dimensão estratégica do PPA e com o
plano de longo prazo que vier a ser implantado.
9.3.3. aprimoramento da governança orçamentária para: a) induzir a Administração Pública
Federal à definição e utilização de indicadores de efetividade para seus programas e ações; b)
sistematizar o monitoramento e a avaliação do desempenho de programas e políticas públicas; e c)
valorizar o princípio da eficiência, ao relacionar alocações orçamentárias ao desempenho dos
programas e resultados alcançados;
9.3.4. regulamentação de diretrizes para fortalecimento, avaliação e aprimoramento contínuo
da governança das organizações públicas que contemple: a) institucionalização de processos
contínuos de planejamento e gestão estratégica que consignem e revisem sistematicamente objetivos,
metas, indicadores e linhas de ação de médio e longo prazo, em coerência com os planos
215
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
governamentais mais abrangentes, de natureza setorial, regional ou geral; b) aprimoramento de
atividades-chave de governança, como gestão de riscos e processos de monitoramento e avaliação; c)
avaliação periódica do nível de maturidade das organizações responsáveis por políticas, programas
ou ações de governo; e d) utilização das informações advindas de avaliações na elaboração do
projeto de lei orçamentária anual, para minimizar o risco de malversação dos recursos públicos e de
não alcance dos resultados esperados;
9.3.5. edição de referencial orientativo ou proposta normativa no sentido de que a instituição de
políticas públicas para atuação governamental se fundamente em: a) análises de viabilidade, custo-
oportunidade e sustentabilidade; b) avaliação da coerência, das inter-relações e das
interdependências entre a nova política proposta e as existentes; c) coerência com os demais
instrumentos de planejamento governamental existentes; d) preenchimento de requisitos mínimos,
como definição de responsáveis, prazos de vigência, fontes de financiamento, metas e instrumentos de
acompanhamento, fiscalização e aferição de resultados;
9.3.6. definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a
coordenação: a) entre programas e ações que integram o PPA; b) de planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal e com planos, políticas e programas já existentes; c) de novas
leis e emendas com os objetivos das políticas, programas e ações governamentais já existentes; d)
entre políticas públicas que dependam de integração setorial e federativa, melhorando a eficiência do
gasto governamental;
9.3.7. atualização da normatização do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal,
de forma a aproximá-lo, no que couber, das normas e padrões internacionais afetos ao tema;
9.3.8. elaboração e manutenção de Sistema de Indicadores-Chave Nacionais, indicadores estes
refletidos nas diretrizes estratégicas do PPA, que informe, periodicamente, posição e evolução do
nível do desenvolvimento nacional, permitindo comparabilidade com outros países.
10. Devido ao sentindo de continuidade desse trabalho, de análise anual da implementação e
dos resultados gerados em políticas públicas e programas de governo, foi proposto o apensamento do
monitoramento específico a estes autos, de forma a assegurar a consistência das análises e possíveis
encaminhamentos, em moldes semelhantes ao que tem sido realizado no âmbito de outros processos
sistemáticos de controle, como o acompanhamento dos relatórios de gestão fiscal (RGF) e a
apreciação das contas prestadas pelo Presidente da República. Dessa forma, a análise do
atendimento das deliberações é reproduzida a seguir, em que serão também elaboradas as conclusões
e novas propostas de deliberações pelo TCU.
II.2. Análise do Atendimento das Deliberações
11. Para a verificação do atendimento das deliberações constantes do referido Acórdão,
entendeu-se ser mais profícua à compreensão do relatório a organização da análise por meio dos
mesmos pilares nos quais estruturou-se o Relatório de Políticas e Programas de Governo – 2017
(RePP 2017), uma vez que ambas as deliberações constantes dos itens 9.2 e 9.3 relacionam-se, em
essência, à necessidade de aprimoramentos na capacidade de planejamento, orçamentação,
coordenação e coerência, gestão de riscos e monitoramento do governo.
12. No que tange ao cumprimento do item 9.2 do Acórdão 2127/2017-TCU-Plenário, relativo a
ações já empreendidas pelo Centro de Governo voltadas a melhorias no arcabouço de planejamento
e orçamento e na capacidade de articulação, monitoramento e avaliação da coerência do conjunto
de programas e ações governamentais, a Casa Civil destaca três ações estruturantes entre as várias
ações cotidianas de articulação, monitoramento e avaliação da coerência do conjunto de programas e
ações governamentais:
a) A edição do Projeto de Lei e do Decreto de Governança Pública;
b) A instituição da Junta de Execução Orçamentária – JEO;
c) A criação do Conselho Nacional para a Desburocratização – Brasil Eficiente.
13. Além de ressaltar essas iniciativas, a Casa Civil apresentou outras medidas do centro de
216
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
governo que se coadunam com o objetivo pretendido, de aprimoramento nos pilares da atuação
estatal, as quais são sintetizadas e analisadas a seguir.
II.2.1. Estratégia Nacional
II.2.1.1. Estratégia de Desenvolvimento Econômico e Social
14. No Relatório do Políticas e Programas de Governo – 2017 (Repp 2017) foram identificadas
falhas no arcabouço do planejamento estratégico nacional que comprometem de forma significativa o
resultado de políticas e programas públicos para o cidadão, quais sejam: a ausência de planejamento
nacional de longo prazo; a ausência de planos estratégicos institucionais dos órgãos da
Administração Pública Federal; e a falta de padronização dos planos nacionais.
15. As análises atinentes a esse pilar geraram as recomendações apresentadas a seguir:
9.3.1. edição de proposta legislativa para estabelecimento de “diretrizes e bases do
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado”, em conformidade com o artigo 174, § 1º, da
Constituição Federal, considerando a relevância da definição de plano de desenvolvimento nacional
de longo prazo e sua integração ao sistema de planejamento e orçamento federal previsto no art. 165
da Constituição Federal;
9.3.2. aprimoramento do modelo do Plano Plurianual (PPA) para:
9.3.2.1. que o plano constitua instrumento efetivo de planejamento de médio prazo do Governo
Federal, que oriente a distribuição de recursos em seu período de vigência, viabilize o
acompanhamento e atendimento das metas estabelecidas e induza sustentabilidade fiscal,
transparência e efetividade dos programas, em conformidade com o artigo 165, § 7º, da Constituição
Federal;
9.3.2.2. que o plano favoreça a gestão, a transparência e o controle, ao contemplar aspectos
como: a) explicitação de indicadores de efetividade para monitoramento da dimensão estratégica; b)
seleção de indicadores para os programas, com descrições específicas e parâmetros de validade e
qualidade; c) indicação dos valores esperados dos indicadores ao final do quadriênio; d) indicação de
metas específicas a serem realizadas anualmente; e) indicação dos valores detalhados por ano e por
objetivos, com disponibilização à sociedade das memórias de cálculo para sua definição; f) indicação
de como será a integração dos objetivos e programas com a dimensão estratégica do PPA e com o
plano de longo prazo que vier a ser implantado.
[...]
9.3.6. definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a
coordenação: a) entre programas e ações que integram o PPA; b) de planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal e com planos, políticas e programas já existentes; c) de novas
leis e emendas com os objetivos das políticas, programas e ações governamentais já existentes; d)
entre políticas públicas que dependam de integração setorial e federativa, melhorando a eficiência do
gasto governamental;
[...]
16. No tocante à iniciativa adotada em resposta ao cumprimento da recomendação constante do
item 9.3.1 do referido acórdão, a Casa Civil informa que o Presidente da República assinou os
marcos jurídicos fundamentais da Política de Governança Pública no país, quais sejam, o Projeto de
Lei 9613 e o Decreto 9203, ambos de 23 de novembro de 2017. Afirma que tais iniciativas integram
projeto para a construção de um país eficiente e consistem em mudança de paradigma para a
administração pública, que atualmente não conta com uma estrutura central para orientar e promover
a implementação de boas práticas de governança nas instituições. Informa ainda que o projeto se
iniciou a partir de trabalhos do TCU afetos ao tema, de modo que, com o apoio do Tribunal e com o
referencial de boas práticas de governança, o Governo Federal desenvolveu os contornos e os
instrumentos para sua viabilização.
17. Assim, explica que o projeto prevê duas etapas: a) primeiro, as mudanças alcançarão
apenas a administração pública federal (órgãos e entidades integrantes da administração direta,
217
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
autárquica e fundacional do Poder Executivo Federal), conforme previsto no Decreto 9203/2017; b) a
segunda etapa consiste no Projeto de Lei 9163/2017, de modo que, no que couber e na ausência de
norma própria sobre a matéria, o anteprojeto de lei prevê que a Política de Governança Pública seja
aplicada aos Poderes da União, bem como ao Ministério Público da União, à Defensoria Pública da
União e ao Tribunal de Contas da União, e também ao Distrito Federal, estados e municípios.
18. Acrescenta que as políticas de desburocratização e de governança digital desenvolvidas pelo
Governo Federal são exemplos de práticas orientadas para o cidadão e, com a reforma, elas passarão
a fazer parte de uma ação estruturada e coesa para promoção desse objetivo. Tais medidas visam
garantir e facilitar que essas e outras políticas sejam implementadas, evitando fragmentações (silos) e
sobreposições e permitindo que se desenvolva uma abordagem integrada de governo.
19. Portanto, explicita ser fundamental para o país que haja uma política de governança focada
em fazer com que as instituições públicas direcionem suas ações para o cidadão com vistas a
recuperar a confiança da sociedade no poder público e a fortalecer a credibilidade e a legitimidade
desses órgãos perante a população. Segundo a Casa Civil, o primeiro passo da reforma da
governança pública é a criação de um quadro normativo que oriente a governança das instituições,
estabelecendo regras que devem balizar a atuação pública.
20. Esclarece que, para isso, tanto o decreto publicado quanto o projeto de lei encaminhado ao
Congresso Nacional sintetizam em princípios e diretrizes as boas práticas de governança
recomendadas por organizações internacionais, pelo Tribunal de Contas da União e por acadêmicos
da área. De acordo com os referidos normativos, os princípios que orientarão a governança pública
são: i) capacidade de resposta; ii) integridade; iii) confiabilidade; iv) melhoria regulatória;
v) prestação de contas e responsabilidade; e vi) transparência.
21. Com esses princípios e diretrizes, pretende-se criar elementos de conexão entre os princípios
constitucionais que orientam a atividade administrativa e a atuação do agente público. A Casa Civil
afirma que, por um lado, os agentes públicos ganham preceitos mais didáticos para que sua atuação
seja orientada em prol do cidadão e, por outro, os princípios constitucionais ganham instrumentos
para garantir sua observância e novos elementos para expandir a interpretação de seus conteúdos.
22. Para que a governança ocorra de forma satisfatória, em consonância com os princípios e
diretrizes, os normativos sugerem a adoção de mecanismos para o seu exercício, como liderança,
estratégia e controle, bem como a instituição de instâncias e práticas de governança – em
consonância com os princípios e diretrizes estabelecidos tanto no decreto como no de projeto de lei
(PL 9613/2017).
23. Afirma que a Constituição estabeleceu, ainda que de forma assistemática, um conjunto de
regras relativo ao planejamento nacional e que esse quadro normativo, quase trinta anos depois da
promulgação da Carta Maior, ainda tem pontos que carecem de regulamentação, de modo que essas
lacunas influenciam na efetividade de instrumentos importantes, como o próprio PPA.
24. Explicita que o Projeto de Lei pretende corrigir esses problemas, dotando o País de
ferramentas integradas de planejamento e, com isso, movendo o Sistema de Planejamento e de
Orçamento Federal para outro patamar. Nesse sentido, esclarece que o planejamento do
desenvolvimento nacional equilibrado representa uma das mais importantes inovações da proposta e
uma contribuição normativa para garantir a coerência e a coordenação das políticas governamentais.
Além disso, supre o mandamento contido no §1º do art. 174 da Constituição Federal, que prevê que
“a lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o
qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento”.
25. Esclarece que o PL apresenta três conjuntos de instrumentos principais: (i) a estratégia
nacional de desenvolvimento econômico e social; (ii) os planos nacionais, setoriais e regionais; e
(iii) o Plano Plurianual da União. De acordo com o referido projeto de lei, a estratégia nacional de
desenvolvimento econômico e sustentável terá duração de doze anos e orientará a elaboração dos
planos plurianuais, demonstrando o compromisso do país com o planejamento, a estabilidade e a
218
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
previsibilidade das políticas de estado.
26. Informa que, com isso, busca-se incorporar diretamente ao ciclo orçamentário-financeiro da
União um conjunto de diretrizes e regras de governança que buscam garantir mais estabilidade e
transparência ao processo de construção e implementação de planos e programas de governo. A nova
estratégia também define requisitos e elementos mínimos para os planos nacionais, setoriais e
regionais, mantendo a coerência e facilitando a integração entre esses planos.
27. Explica que a promulgação do decreto viabiliza a aplicação imediata dos princípios e
diretrizes de governança no âmbito da administração pública federal, o que possibilitará a
incorporação das boas práticas de governança pelo novo Comitê Interministerial de Governança
(CIG), colegiado composto pelos Ministros da Casa Civil, Planejamento, Fazenda e CGU. Caberá
ainda, aos órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, no
prazo de noventa dias, instituir comitê interno, a fim de garantir que as boas práticas se desenvolvam
e sejam apropriadas pela instituição de forma contínua e progressiva.
28. Acrescenta que a atuação do CIG permitirá que propostas inovadoras, recomendações de
organizações internacionais – como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) – e iniciativas bem-sucedidas de órgãos setoriais sejam transformadas em regras e manuais,
que servirão de orientação para toda a administração pública federal. Explicita que o primeiro
manual será voltado à avaliação de políticas públicas, instrumento essencial para a efetiva aplicação
de recursos públicos e, portanto, arranjo institucional essencial para garantir a internalização e a
disseminação das boas práticas de governança e, com isso, assegurar que o cidadão esteja sempre no
centro das decisões governamentais.
29. Por fim, informa que o projeto também estabelece a instituição de mecanismos de controle,
uma vez que a garantia da excelência da prestação de serviços públicos está diretamente relacionada
a uma apropriada gestão de riscos; assim, o projeto dispõe que a alta administração das organizações
deve estabelecer, manter, monitorar e aprimorar sistema de gestão de riscos e controles internos, com
definição dos princípios a serem observados e previsão do papel a ser exercido pelas auditorias
internas, de modo que sua atuação possa adicionar valor e melhorar as operações das organizações.
II.2.1.2. Análise:
30. Verificou-se que os órgãos integrantes do centro de governo da União articularam-se de
modo a adotar medidas para o cumprimento da recomendação constante do item 9.3.1 do acórdão,
destacando-se: a) a edição do Decreto 9203/2017; b) a elaboração do Projeto de Lei 9613/2017, c) o
lançamento da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Endes); e d) a
instituição do Comitê Interministerial de Governança.
31. Vale destacar as medidas apresentadas coadunam com, dentre outras, as boas práticas
internacionais de governança compiladas nos referenciais elaborados por esta Casa, em especial, as
referentes à competência do centro de governo para desenvolver, manter e monitorar arranjos
institucionais voltados à estratégia de desenvolvimento de longo prazo do país, ao aprimoramento da
coordenação entre os entes da federação, ao aprimoramento da gestão de riscos e, por fim, à
capacidade de monitoramento e avaliação.
32. Depreende-se, desse modo, que, apesar de as iniciativas apresentadas pelas unidades
jurisdicionadas integrantes do centro de governo nacional relacionarem-se mais diretamente à
competência de pensar estrategicamente o país, os benefícios são dotados de potencial de transpor as
fronteiras da referida atividade-chave, beneficiando os demais pilares entendidos como estruturantes
para a atuação e capacidade de entrega estatal, tais como a capacidade de coordenação e coerência,
a gestão de riscos e supervisão do resultado do conjunto das ações governamentais.
33. Vale destacar que a institucionalização do plano de longo prazo do país depende da
aprovação do Projeto de Lei 9613/2017. Contudo, ainda que as regras afetas e as relações com os
demais instrumentos do arcabouço de planejamento e orçamento nacional estejam pendentes de serem
positivadas, o Ministério do Planejamento Desenvolvimento e Gestão (MP) agiu no sentido de
219
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
elaborar e disponibilizar para consulta à sociedade documento que materializa a visão do governo
para o desenvolvimento de longo do prazo do país, visando suprir vácuo de longa data e dar
concretude ao disposto no artigo 174, § 1º, da Constituição.
II.2.1.3. Conclusão:
34. Em implementação.
II.2.2. Aprimoramentos no Planejamento Nacional de Médio Prazo
35. Constam organizadas sob os itens 9.3.2 e 9.3.8 do referido acórdão as recomendações
voltadas à adoção de medidas para o aprimoramento do planejamento de médio prazo nacional.
36. Sobre a recomendação constante do item 9.3.2.1, a Secretaria de Planejamento e Assuntos
Econômicos (Seplan) informa que vem trabalhando em conjunto com a Secretaria de Orçamento
Federal (SOF), para melhorar a integração entre planejamento e orçamento, de modo que, ao longo
do PPA 2016-2019 adotou inovações voltadas a prover maior transparência às ações do governo e
fazer com que cumpra seu papel de plano de médio prazo para a Administração Pública Federal.
37. Nesse sentido, a Seplan relaciona as seguintes medidas: ações de aproximação com os
órgãos setoriais (reuniões mais frequentes e aplicação de questionários de feedback); inserção de
campo para monitoramento de todas as iniciativas no Sistema Integrado de Planejamento e
Orçamento do Governo Federal (SIOP); elaboração de template padrão para o Relatório de
Avaliação, melhoria de relatórios do SIOP; realização de reuniões distintas para coordenadores dos
órgãos e para novos preenchedores; revisão do Guia de Monitoramento; elaboração do Sumário
Executivo do Relatório de Avaliação; criação do relatório de avaliação visão setorial e ferramentas
que visam ampliar a transparência do PPA para a sociedade e servir como instrumento orientador
para os órgãos (PPA Cidadão e Painel do Planejamento).
38. Em relação à recomendação constante no item 9.3.2.2, que agrega um conjunto de medidas
voltadas a favorecer a gestão, a transparência e o controle, explicita iniciativas detalhadas nos
parágrafos a seguir.
39. Sobre o item “a’, afeto à necessidade de explicitação de indicadores de efetividade para
monitoramento da dimensão estratégica e também relacionado às recomendações dispostas no
Acórdão TCU-Plenário 782/2016-Min. José Múcio, a Seplan informa que será atendida durante a
elaboração do PPA 2020-2023. Explica que será escolhido um conjunto de indicadores estratégicos,
ou seja, um rol de indicadores com papel representativo para acompanhamento da dimensão
estratégica que possam ser relacionados à visão de futuro, aos eixos estratégicos ou mesmo a algumas
diretrizes estratégicas. Acrescenta que tais indicadores serão selecionados pelos órgãos responsáveis
e terão destaque em relação aos demais, de modo que deverão constituir um número reduzido, a fim
de facilitar a interpretação e comunicação.
40. Em relação ao item “b”, afeto à seleção de indicadores para os programas, com descrições
específicas e parâmetros de validade e qualidade, a Seplan informa as iniciativas de implementação
das fichas de indicadores do PPA e a atualização do Guia Metodológico de Indicadores do Plano
Plurianual, ambas contempladas em etapa do plano de ação. Acrescenta, sobre a implementação das
fichas de indicadores para o PPA, que todas já se encontram preenchidas no SIOP e, a partir desse
preenchimento, a Seplan estaria apta a elaborar relatórios de modo que as informações constantes
das referidas fichas possam ser extraídas do sistema e disponibilizadas. O referido processo estaria
concluso até maio do presente exercício e disponível no sítio eletrônico do MP.
41. Informa ainda a realização de Acordo de Cooperação Técnica (ACT) específico para a
atualização do Guia de Indicadores, recentemente firmado entre Seplan e Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), cuja vigência teve marco inicial em 17 de abril de 2018. Desse modo, a
partir da celebração do ACT, uma primeira versão atualizada do Guia, já produzida pela Seplan, foi
então submetida à apreciação do Ipea para discussão das necessidades de aperfeiçoamento e
sugestões de melhoria. Acrescenta que, neste momento, a Seplan analisa a devolutiva do Ipea, tendo
em vista incorporar as melhorias propostas. Finalmente, a ficha de análise da adequabilidade dos
220
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
indicadores, que também faz parte do plano de ação e tem término previsto em dezembro de 2018,
também está em discussão. A parte conceitual da análise de adequabilidade deverá compor o novo
Guia Metodológico.
42. Por fim, o referido plano de ação, informa a iniciativa para elaboração de ficha de análise
quanto à adequabilidade dos indicadores atuais do PPA em relação aos seus Programas Temáticos a
ser implementada até dezembro de 2018.
43. Sobre o item “c”, que versa sobre a ausência de indicação dos valores esperados dos
indicadores ao final do quadriênio, a Seplan afirma que a definição de índices finais para os
indicadores de programas temáticos não se adequa à metodologia atual do Plano Plurianual, uma vez
que são usualmente impactados por variáveis que não estão sob a total governança do Governo
Federal.
44. Explica que, enquanto o indicador do programa temático tem como finalidade mensurar a
evolução de determinado aspecto da intervenção proposta pela política pública, a meta é um atributo
mais próximo à atuação direta dos órgãos setoriais de modo que, neste PPA, o foco principal do
monitoramento é em relação à execução das metas, que possuem previsão de valores esperados ao
final do quadriênio. Complementa que cada indicador incluído no plano atual pode ensejar uma
metodologia específica para sua projeção, considerando as especificidades dos diversos setores de
políticas públicas.
45. Conclui informando que, uma vez que a definição de indicadores estratégicos não foi
realizada quando da elaboração do PPA 2016-2019, e, como não houve até o momento um processo
de revisão amplo do PPA, avaliou-se que a iniciativa seria melhor atendida na elaboração do próximo
plano, quando será possível selecionar um rol de indicadores diretamente relacionados à visão de
futuro, aos eixos estratégicos ou ás diretrizes estratégicas.
46. Em relação ao item “d” da referida recomendação, afeto à necessidade de indicação de
metas específicas a serem realizadas anualmente, a Seplan entende que a recomendação em questão
já vem sendo atendida parcialmente: no Relatório Anual de Avaliação do PPA 2016-2019 (ano-base
2016), encaminhado ao Congresso Nacional em maio de 2016, informa a realização de análise da
situação de cada Programa, informando as medidas corretivas a serem adotadas quando houvesse
indicativo de que metas estabelecidas não seriam atingidas até o término do Plano.
47. Informa que essa análise também será realizada nos próximos Relatórios Anuais de
Avaliação, permitindo um acompanhamento tempestivo da situação de cada meta do plano, além da
indicação de medidas corretivas quando houver indicativo de que metas estabelecidas não serão
atingidas, de forma a propiciar a correção de rumos e o monitoramento concomitante pela sociedade.
Quanto à previsão de valores anuais de referência para as metas, a Seplan avaliará a possibilidade
da sua inclusão no plano quando da discussão sobre parâmetros metodológicos do PPA 2020-2023.
48. Sobre o item “e”, indicação dos valores detalhados por ano e por objetivos, com
disponibilização à sociedade das memórias de cálculo para sua definição, informa que já foi
publicado no sítio do MP2 relatório contendo o detalhamento dos valores globais por objetivo. Como
a lei que institui o PPA 2016-2019 não especifica os valores no nível dos Objetivos, os valores
apresentados no relatório foram baseados na previsão que embasou o projeto de lei. A lei do PPA
também não especifica os valores globais por ano, o que inviabilizou este detalhamento.
49. No que tange o item “f”, o qual aponta a necessidade de indicação de como será a
integração dos objetivos e programas com a dimensão estratégica do PPA e com o plano de longo
prazo que vier a ser implantado, explica que o alinhamento entre planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal é uma busca evolutiva da Seplan e do Ministério do
Planejamento no âmbito do Plano Plurianual, e foi uma preocupação na elaboração do PPA 2016-
2019 e em seu monitoramento. Nessa linha, conforme disposto no PL de governança, esclarece que: a)
2 http://www.planejamento.gov.br/assuntos/planeja/plano-plurianual/relatorio_objetivos.pdf
221
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
a partir do próximo plano será buscada uma maior aderência entre os objetivos de PPA e os planos
nacionais e regionais de longo prazo e b) já foram iniciadas discussões internas sobre propostas de
aprimoramentos do modelo do PPA 2020-2023, visando um maior alinhamento entre esses planos,
além da busca para que as diretrizes estratégicas do PPA reflitam as prioridades dos planos de longo
prazo do Governo Federal.
50. Sobre a recomendação constante no item 9.3.8 – que versa sobre a elaboração e
manutenção de Sistema de Indicadores-Chave Nacionais, refletidos nas diretrizes estratégicas do
PPA, que informe, periodicamente, a posição e a evolução do nível do desenvolvimento nacional,
permitindo comparabilidade com outros países – a unidade jurisdicionada informa que a estratégia
nacional estabelecerá índices-chave que mensurem a situação nacional e permitam a comparação
internacional, de forma a subsidiar a avaliação da observância das diretrizes e orientações de longo
prazo para a atuação do conjunto dos órgãos orçamentários. Esclarece que esses indicadores serão
observados quando da definição das diretrizes estratégicas do PPA 2020-2023.
II.2.2.1. Análise:
51. Os acórdãos TCU 948/2016-Min. José Múcio, 1.320/2017-Min. Bruno Dantas e 782/2016-
TCU-Min. José Múcio, todos do Plenário, nos quais se assenta a análise quanto ao comprometimento
do papel de planejamento de médio prazo do PPA, apresentam considerações quanto a oportunidades
de aprimoramento em diferentes quesitos (representatividade dos indicadores, ausência de metas,
detalhamento de valores globais, transparência, dentre outros) para reestabelecimento ou
aprimoramento da finalidade e hierarquia imputada ao PPA no arcabouço do planejamento
governamental nacional estabelecido pela CF/88.
52. Com base nas informações apresentadas, verifica-se que a unidade jurisdicionada tem
adotado medidas para o atendimento das deliberações constantes no item 9.3.2, também voltadas ao
aprimoramento do planejamento de médio prazo do país, mas correlacionadas à qualidade e
representatividade dos indicadores utilizados. Em relação as medidas adotadas em resposta ao item
9.3.2.1, verifica-se que se relacionam em maior medida a aprimoramentos voltados a atividades de
acompanhamento e monitoramento do PPA, dotadas de potencial para aprimorar o cumprimento de
papel de médio prazo do planejamento governamental, mas pouco versam em relação à
sustentabilidade fiscal, transparência e efetividade dos programas.
53. Interessante notar, contudo, que a unidade jurisdicionada correlacione a sustentabilidade
fiscal mais diretamente ao orçamento anual do que ao planejamento de médio prazo nacional,
considerando que o PPA também integra o arcabouço orçamentário nacional sendo, de fato, o
instrumento dotado de maior temporalidade dentre os demais arranjos existentes (LDO, LOA).
54. Na verdade, a recomendação constante do acórdão em análise baseia-se na distância entre
o marco legal nacional e uma estrutura orçamentária de médio prazo. A anualidade do orçamento,
sem que haja contraposição de arranjos dotados de maior temporalidade, tende a induzir a
Administração Pública e o próprio Congresso Nacional a adotar uma visão de curto prazo, mera e
demasiadamente contábil e orçamentária, para o tratamento de problemas particularmente
complexos e transversais que afetam a sociedade brasileira.
55. O PPA tem se demonstrado inadequado ou insuficiente como um instrumento indutor da
alocação do gasto público no médio prazo, possuindo um protagonismo aquém do pretendido para
gerir a plurianualidade que integra sua própria definição.
56. Não obstante, ao longo da resposta da unidade jurisdicionada identificam-se medidas que,
em certa medida, suprem as referidas orientações, em especial, as que se relacionam ao pilar afeto à
orçamentação, a ser analisado em tópico próprio.
57. No que concerne a alegação, relacionada ao item 9.3.2.2, de ausência de governança sobre
todas as variáveis afetas aos indicadores de efetividade como justificativa para que não constem dos
instrumentos de planejamento estatal, são necessárias algumas considerações.
58. De fato, assiste razão ao gestor quando afirma não possuir controle sobre todas as
222
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
variáveis afetas aos indicadores de efetividade. Os problemas atacados pelo governo federal são
usualmente complexos, transversais, interconectados, multicausais, envolvem uma gama considerável
de atores e informações contraditórias. Assim, a título exemplificativo, a pobreza encontra-se
relacionada com educação, a nutrição com a pobreza, a economia e a saúde com a capacidade da
força de trabalho, dentre outras diversas interconexões.
59. Devido a escala e transversalidade desses problemas, conhecimentos de diferentes
especialidades – economia, estatística, tecnologia da informação, medicina e política, dentre outros –
podem ser requeridos para a mudança efetiva, o que exige forte colaboração interdisciplinar e
perseverança da administração pública.
60. Desse modo, em decorrência da natureza de tais problemas, alguns pontos merecem
destaque. Primeiramente, são exatamente esses mesmos problemas que diariamente afligem a
sociedade, incorrendo em alto impacto econômico e social, e, para os quais, dela são arrecadados
vultosos recursos para sua efetiva mitigação e b) quanto mais transversal o problema, maior a
necessidade de atuação conjunta do Estado, e, por conseguinte, maior a responsabilidade do Centro
de Governo e da alta administração em prover coordenação e coerência ao conjunto de governo.
61. Desse modo, ao se identificar e delimitar os principais fatores que afetam o conjunto de
problemas entendidos como prioritários, o Centro de Governo e a alta administração habilitam-se
para melhor definir prioridades e atuar, de modo mais evidenciado, naqueles que mais
frequentemente encontram-se dando causa a outros, sinalizando maior necessidade de atenção do
Estado. Como resultado, pode decidir por fazer uso de uma política ou, ainda, de determinado
conjunto de políticas públicas para atuarem de modo coerente para mitigá-lo.
62. Contudo, tais ações mitigadoras – as políticas públicas setoriais – devem demonstrar ao
país serem capazes para, em conjunto, ou mesmo isoladamente, identificar e manter os
indicadores/índices que melhor representam o problema em níveis considerados aceitáveis. Tal
demonstração resta comprometida quando o governo não demonstra capacidade de identificar,
mapear e monitorar de maneira adequada o problema atacado. 63. Na verdade, os prejuízos à governança e gestão da administração pública são diversos. Ao
se abster de tornar transparente e monitorável a finalidade a ser alcançada pelo conjunto de recursos
humanos, materiais, logísticos e tecnológicos geridos pelo governo e custeados pelo cidadão, restam
comprometidos, nos centros de governo federal, estaduais e municipais, assim como aos próprios
gestores da política pública: a) o desenvolvimento de uma visão de Estado, mais voltada ao médio e
longo prazo, b) a capacidade de coordenação e de mobilização da máquina pública na direção
pretendida, c) a identificação, gestão e monitoramento dos riscos que possam comprometer o alcance
dos objetivos, d) o monitoramento da evolução e/ou involução dos indicadores voltados a evidenciar a
necessidade de se manter/rever as intervenções implementadas, e) a adoção de mudanças corretivas e
tempestivas, minimizando eventuais prejuízos à administração, f) a identificação de interdependências
entre distintas políticas públicas de modo a induzir uma atuação sinérgica, coerente e custo-efetiva do
Estado, dentre outros pontos.
64. Identificar e mapear essa multicausalidade e transversalidade e identificar o terreno comum
necessário para a tomada de decisões políticas situam-se dentre os principais desafios do centro de
governo e da alta administração e, ao mesmo tempo, constitui-se como uma das principais falhas
encontradas nos instrumentos de planejamento nacionais. Portanto, para a atuar de modo adequado e
suficientemente embasado no enfrentamento de tais problemas, as instituições públicas devem buscar
fazer uso de um conjunto de indicadores, preferencialmente organizados por meio de índices, que
busque representá-lo com a completude devida e proporcione uma visão igualmente transversal,
integrada e sistêmica aos tomadores de decisão da alta administração.
65. Ao passo que os instrumentos de planejamento governamental brasileiros carecem
fortemente desses instrumentos, diversos think-thanks já desenvolveram expertise correlata, dispondo
inclusive de dados históricos e instrumentos próprios de mensuração. Um exemplo consiste no Índice
223
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de Competitividade Global - ICG, desenvolvido e calculado pelo Fórum Econômico Mundial desde
2005. O ICG combina 114 indicadores voltados a capturar fatores que afetam a produtividade e
prosperidade a longo prazo dos países.
66. Observa-se que, apesar de constar como competência do Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços - MDIC, “formular, executar e avaliar políticas públicas para a promoção da
competitividade, do comércio exterior, do investimento e da inovação nas empresas e do bem-estar do
consumidor” a análise do Planejamento Estratégico do MDIC 2016-20193 aponta para o
acompanhamento de um conjunto de indicadores afeto à competitividade excessivamente setorial e
restrito – além de desvinculado das eventuais causas do problema ou mesmo da efetividade da política
de estímulo à competitividade nacional – conforme entendido, a título exemplificativo, pelo Fórum
Econômico Mundial.
67. Ademais, ao passo que o ICG consolida visão e dados estatísticos de organizações
internacionalmente reconhecidas (Fundo Monetário Internacional-FMI, Banco Mundial, Nações
Unidas e Organização Mundial de Saúde, dentre outros) o documento apresentado pelo ministério é
falho em motivar a escolha dos indicadores adotados para representar e monitorar o desafio de
proporcionar ao país as condições necessárias à maior competitividade.
68. O conjunto de indicadores utilizado pela instituição deve permitir a identificação das demais
políticas públicas que necessitam atuar em conjunto para que o país desfrute das condições
necessárias à maior participação no comércio exterior. A ausência ou incompletude dos indicadores
nos instrumentos de planejamento governamental para representar e monitorar os problemas
enfrentados pode dar causa à atuação infundada, incoerente e ineficiente do Estado ou mesmo
impedir que se vislumbre as relações de causa e efeito pretendidas pelo governo.
69. Assim, desenhar, avaliar e monitorar a política pública sem levar em consideração o
mapeamento, o entendimento, devidamente baseado em estudos e evidências, e a devida representação
do problema enfrentado, pode implicar em risco significativo de desperdício de recursos públicos e
dar causa a atuações incoerentes, descoordenadas e, por consequência, inefetivas do Estado.
70. Apesar do disposto acima, verifica-se significativa evolução da unidade jurisdicionada na
adoção de indicadores voltados a representar a evolução de problemas de natureza transversal, uma
vez que na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social foram estabelecidos índices
voltados a monitorar a evolução dos eixos estabelecidos no referido plano (econômico, institucional,
infraestrutura, ambiental e social), quais sejam:
Indicador 1 – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH);
Indicador 2 – Variação real do PIB per capita;
Indicador 3 – Variação real da produtividade;
Indicador 4 – Corrente de comércio exterior da economia brasileira;
Indicador 5 – Índice de competitividade global (ICG);
Indicador 6 – Grau de facilidade de se fazer negócios;
Indicador 7 – Participação das obras de infraestrutura no PIB;
Indicador 8 – Índice de Desempenho Logístico (LPI);
Indicador 9 – Porcentagem de domicílios com condição satisfatória de bem-estar;
Indicador 10 – Intensidade de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) (CO2e kg per $ PIB
PPP);
3 O objetivo estratégico “Estimular a Competitividade das Empresas Brasileiras no País e no Exterior” é representado
pelos indicadores “Número de empresas diretamente beneficiadas por iniciativas voltadas para inovação, produtividade e
eficiência energética”, “Média de variação da produtividade das empresas atendidas pelos programas voltados para esse
fim” e “Percentual das Iniciativas implementadas”.
http://www.mdic.gov.br/images/REPOSITORIO/institucional/Gest%C3%A3o_Estrat%C3%A9gica/Planejamento_Estrat%
C3%A9gico_Brochura.pdf
224
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Indicador 11 – Participação de fontes de energia renovável na matriz energética;
Indicador 12 – Taxa de homicídio (por 100 mil habitantes);
Indicador 13 – Taxa de mortalidade na infância (menores de 5 anos);
Indicador 14 – Esperança de vida ao nascer;
Indicador 15 – Porcentagem de adolescentes com 16 anos que concluíram o ensino
fundamental;
Indicador 16 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb);
Indicador 17 – Índice de Gini;
Indicador 18 – Proporção da população abaixo da linha de pobreza;
71. Contudo, a própria unidade jurisdicionada informa que a atual metodologia do PPA não
contempla a utilização de indicadores de efetividade para programas temáticos, mas consideram sua
adoção na próxima edição do referido plano, razão pela qual a recomendação deve ser objeto de
acompanhamento.
72. No que tange a recomendação constante no item 9.3.8 – afeta à elaboração e manutenção de
Sistema de Indicadores-Chave Nacionais, indicadores estes refletidos nas diretrizes estratégicas do
PPA, que informe, periodicamente, posição e evolução do nível do desenvolvimento nacional,
permitindo comparabilidade com outros países – constitui um passo evolutivo importante na
utilização de índices, apresentados acima, que contemplem e tornem mais clara a transversalidade e
complexidade típicos da natureza dos problemas atacados pelo Centro de Governo, de modo que
entende-se a referida determinação como cumprida.
II.2.2.2. Conclusão:
73. Em implementação.
II.2.3. Uniformidade e Padronização dos Planos Nacionais Setoriais
74. Conforme disposto no Acórdão 811/2017-TCU-Plenário-Min. José Múcio, utilizado como
base para análise do RePP 2017, a falta de uniformidade e padronização dos planos nacionais e falta
de integração desses com os demais instrumentos de planejamento governamental comprometem a
atuação coerente e coordenada do Estado, resultando na recomendação abaixo transcrita:
9.3.6. definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a
coordenação: a) entre programas e ações que integram o PPA; b) de planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal e com planos, políticas e programas já existentes; c) de novas
leis e emendas com os objetivos das políticas, programas e ações governamentais já existentes; d)
entre políticas públicas que dependam de integração setorial e federativa, melhorando a eficiência do
gasto governamental;
75. A unidade jurisdicionada reafirma o disposto no tópico afeto à Estratégia Nacional da
presente instrução, ao informar que o Projeto de Lei 9613/2017 também objetiva tratar dessa questão,
ao dotar o país de ferramentas integradas de planejamento e ao positivar o planejamento do
desenvolvimento nacional equilibrado como meio de garantir a coerência e a coordenação das
políticas governamentais.
76. Além disso, visa cumprir o mandamento contido no §1º do art. 174 da Constituição Federal,
que prevê que “a lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento” e prover três conjuntos de instrumentos principais: a estratégia nacional de
desenvolvimento econômico e social; os planos nacionais, setoriais e regionais; e o Plano Plurianual
da União.
77. Afirma que a estrutura acima permite a adequada orientação estratégica de longo prazo do
governo, sendo desnecessária, assim, a construção de um plano nacional de desenvolvimento de longo
prazo. Entende que planos nacionais setoriais são mais adequados para se detalhar o
desenvolvimento das políticas, com suas respectivas metas de longo prazo e que a estratégia nacional
225
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de desenvolvimento econômico e social funcionará como o grande definidor das diretrizes e bases
para o desenvolvimento nacional equilibrado, cabendo aos planos nacionais setoriais a
responsabilidade de, a partir dessas diretrizes, traçar metas e estratégias de intervenção setorial de
longo prazo.
78. Reafirma que o referido PL também define requisitos e elementos mínimos para os planos
nacionais, setoriais e regionais, mantendo a coerência e facilitando a integração entre esses planos e
induzindo a atuação sinérgica e transversal das políticas e programas públicos. De fato, os art. 12
apresenta esclarecimentos úteis a administração pública federal:
Art. 12. Os planos nacionais, setoriais e regionais, instrumentos de comunicação à sociedade
das ações governamentais, terão duração mínima de quatro anos e serão elaborados em consonância
com a estratégia nacional de desenvolvimento econômico e social, com o plano plurianual e com as
diretrizes das políticas nacionais afins.
§ 1 À política nacional cabe definir as diretrizes, os princípios, os atores e os instrumentos e
orientar a atuação dos agentes públicos no atendimento às demandas da sociedade, cuja
operacionalização será detalhada a partir de planos nacionais, setoriais e regionais com escopo e
prazo definidos.
§ 2 A política nacional será aprovada, segundo o conteúdo e alcance da proposta, por lei ou
decreto.
79. Especificamente às determinações à que faz menção o Acórdão 811/2017 TCU-Plenário,
sobre a padronização de políticas e planos nacionais, informa que o art. 13 apresenta algumas
definições principais e os requisitos mínimos para a elaboração dos planos nacionais, setoriais e
regionais, tais como:
Art. 13. Os planos nacionais, setoriais e regionais terão o seguinte conteúdo mínimo:
I - o diagnóstico do setor, que aponte as principais causas das deficiências detectadas e as
oportunidades e os desafios identificados;
II - os objetivos estratégicos do setor, de modo compatível com outros planos governamentais
correlatos;
III - a vigência do plano;
IV - as metas necessárias ao atendimento dos objetivos, com a indicação daquelas consideradas
prioritárias;
V - as estratégias de implementação necessárias para alcançar os objetivos e as metas;
VI - a identificação dos recursos necessários, dos responsáveis pela implementação, dos riscos e
suas respostas, das possíveis fontes de financiamento e do embasamento para a definição da
estratégia selecionada;
VII - a análise de consistência com outros planos nacionais, setoriais e regionais e as suas
relações com os instrumentos de planejamento do plano plurianual, com a lei de diretrizes
orçamentárias e com a lei orçamentária anual;
VIII - as ações para situações de emergência ou de contingência; e
IX - os mecanismos e os procedimentos para o monitoramento e a avaliação sistemática da
eficiência, da eficácia, da efetividade e da economicidade das ações programadas.
80. Por fim, ressalta que o PPA continuará sendo o elo entre a estratégia nacional, os planos
nacionais, setoriais e regionais com visão de longo prazo existentes no país e com as leis
orçamentárias que representam um planejamento anual, ou seja, de curto prazo.
81. Outra iniciativa informada consiste na implementação da revitalização da biblioteca digital,
que tem como escopo consolidar documentos como os PPAs federais e estaduais e os planos setoriais
existentes, organizando-os em um único lócus e permitindo, assim, uma visão geral do planejamento
governamental, disponível em http://bibspi.planejamento.gov.br/.
II.2.3.1 Análise:
82. Depreende-se do exposto acima a adoção de medidas que cooperam para a construção de
226
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
sinergias, coordenação e coerência entre as atuações setoriais e/ou regionais com o desenvolvimento
equilibrado e sustentável do país. Vale destacar o papel vislumbrado pela unidade jurisdicionada
para: a) a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social como instrumento de
convergência para os demais instrumentos de planejamento, b) o regramento proposto pelo Projeto de
Lei 9613/2017 e, por fim, c) a revitalização da biblioteca digital, voltada a consolidar os PPAs
federais e estaduais e os planos setoriais existentes, organizando-os em um único lócus.
83. Mencione-se a colocação da unidade jurisdicionada no sentido de que os “planos nacionais
setoriais são mais adequados para se detalhar o desenvolvimento das políticas, com suas respectivas
metas de longo prazo e que a estratégia nacional de desenvolvimento econômico e social funcionará
como o grande definidor das diretrizes e bases para o desenvolvimento nacional equilibrado, cabendo
aos planos nacionais setoriais a responsabilidade de, a partir dessas diretrizes, traçar metas e
estratégias de intervenção setorial de longo prazo”.
84. O argumento da unidade jurisdicionada também coaduna e colabora com o disposto no item
9.1.1.1 do Acórdão 1233/2012-TCU-Plenário-Min. Aroldo Cedraz, abaixo transcrito, em especial,
quando a organização é responsável por gerir planos nacionais setoriais. O referido acórdão foi
utilizado como base para a constatação de que a ausência generalizada de planos estratégicos
institucionais de longo prazo dos órgãos da Administração Pública Federal fragiliza as estruturas de
governança setoriais e compromete a efetividade e sustentabilidade das políticas públicas, constante
no item II.1.3 do Relatório de Políticas e Programas - 2017.
9.1.1.1. elaboração, com participação de representantes dos diversos setores da organização, de
um documento que materialize o plano estratégico institucional de longo prazo, contemplando, pelo
menos, objetivos, indicadores e metas para a organização;
85. Verifica-se que o referido projeto de lei foi apensado ao PL 4083/2015 – destinado a
aprimorar a governança, a gestão de riscos e os controles internos das empresas públicas e das
sociedades de economia mista controladas pela União – que, por sua vez, foi apensado ao
PL 622/2011, voltado a instituir o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias. Em consulta ao sítio eletrônico da Câmara dos Deputados, verifica-se
que no dia 18/5/2018 ocorreu a última tramitação do referido PL, na qual atribui-se a relatoria ao
Dep. Ronaldo Nogueira.
86. Em decorrência do acima exposto e em face do risco de que a agenda afeta ao
aprimoramento dos arcabouço estratégico do país – tais como a necessidade de positivação da
Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, da uniformização dos planos nacionais,
setoriais e regionais e a diferenciação dentre essas e as políticas públicas, e a necessidade de
arranjos que mitiguem o risco da predominância da visão usualmente imediatista e setorial que
caracterizam os mandatos políticos – dilua-se em discussões afetas à instituição do estatuto jurídico
da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, objeto do PL 622/2011,
ou mesmo de que não seja aprovado, entende-se pertinente o acompanhamento do cumprimento da
referida recomendação.
II.2.3.2. Conclusão:
87. Em implementação.
II.2.4. Coordenação e Coerência
II.2.4.1. Baixa Capacidade do Estado em Planejar e Coordenar as Diversas Políticas Públicas
88. Conforme disposto no Referencial para Avaliação de Governança do Centro de Governo
(TCU, 2016) a articulação política constitui a competência do centro de governo de articular-se com
as diversas partes interessadas (do Executivo, do Legislativo, partidos políticos, entes federativos,
setor privado, organismos não governamentais, sociedade civil) com vistas a garantir que os atores
envolvidos nas ações governamentais trabalhem em busca da consecução de políticas coerentes e
contínuas, evitando fragmentação, redundância ou sobreposição. Já a coordenação de políticas
públicas é função relacionada com a facilitação da coerência das políticas e programas
227
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
governamentais e a coordenação produtiva entre partes interessadas envolvidas no processo de
política pública.
89. Em relação a essa função-chave, o Relatório de Políticas e Programas de Governo - 2017
fundamentou-se em trabalhos do TCU – em específico, os acórdãos TCU-Plenário 1968/2017-Min
Augusto Nardes, 727/2016-Min. André de Carvalho, 1942/2015-Walton Alencar, 1827/2017-José
Múcio, 1935/2016-Min. Weder de Oliveira e 1655/2017-Min. Aroldo Cedraz, 1995/2016-Min. Augusto
Nardes e 41/2015-Min. Bruno Dantas – que identificaram que a falta de atuação integrada de
governo, assim como a baixa coordenação das políticas públicas, decorrentes de ausências ou falhas
nos arranjos institucionais necessários para promover a atuação coerente do conjunto de governo,
conduz o país a riscos de desperdícios vultosos e baixa efetividade da atuação estatal. Conforme
dispõe o referido relatório. Nesse sentido, a importância da existência de tais arranjos é reconhecida
pela Constituição Federal ao estabelecer, no parágrafo único do art. 23 que, para as competências
comuns da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão ser estabelecidas leis
complementares para fixar normas para a cooperação entre os entes da federação, tendo em vista o
equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
90. Em consequência, o Acórdão 2127/2017-TCU-Plenário exarou as recomendações abaixo
transcritas:
9.3.5. edição de referencial orientativo ou proposta normativa no sentido de que a instituição de
políticas públicas para atuação governamental se fundamente em: a) análises de viabilidade, custo-
oportunidade e sustentabilidade; b) avaliação da coerência, das inter-relações e das
interdependências entre a nova política proposta e as existentes; c) coerência com os demais
instrumentos de planejamento governamental existentes; d) preenchimento de requisitos mínimos,
como definição de responsáveis, prazos de vigência, fontes de financiamento, metas e instrumentos de
acompanhamento, fiscalização e aferição de resultados;
9.3.6. definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a
coordenação: a) entre programas e ações que integram o PPA; b) de planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal e com planos, políticas e programas já existentes; c) de novas
leis e emendas com os objetivos das políticas, programas e ações governamentais já existentes; d)
entre políticas públicas que dependam de integração setorial e federativa, melhorando a eficiência do
gasto governamental;
91. Em relação a recomendação constante no item 9.3.5, a unidade jurisdicionada explica que,
com a publicação do Decreto 9203/2017, uma das ações a serem lançadas é a publicação de guias
com medidas, mecanismos e práticas organizacionais que contribuam para a implementação dos
princípios e diretrizes da governança pública pelo Comitê Interministerial de Governança.
92. Informa que o primeiro manual será voltado à avaliação de políticas públicas, instrumento
essencial para a efetiva aplicação de recursos públicos. A publicação é resultado de uma construção
coletiva da Casa Civil, dos Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, da Fazenda, da
Controladoria-Geral da União e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
93. Esclarece que os instrumentos abordados no guia são aplicáveis em todos os órgãos, fundos,
autarquias e fundações do governo federal. O Ipea e as escolas de governo, a Escola Nacional de
Administração Pública (Enap) e a Escola de Administração Fazendária (Esaf), em parceria com os
ministérios centrais, desenvolverão estudos, capacitações e formações técnicas para construir a
expertise dos órgãos, fundos, autarquias e fundações do governo federal acerca da avaliação de
políticas públicas.
94. A Casa Civil da Presidência da República informa ainda que o Conselho Nacional para a
Desburocratização - Brasil Eficiente foi criado pelo Decreto não numerado de 7/3/2017. O colegiado
tem como competências:
assessorar o Presidente da República na formulação de políticas voltadas ao desenvolvimento
sustentável, para promover a simplificação administrativa, a modernização da gestão pública e a
228
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
melhoria da prestação de serviços públicos às empresas, aos cidadãos e à sociedade civil;
sugerir ao Presidente da República o estabelecimento de prioridades e metas para a adoção de
medidas de simplificação de procedimentos na administração pública federal, a modernização da
gestão pública e a melhoria da prestação de serviços públicos, a partir das propostas de
desburocratização elaboradas pelos Ministérios;
recomendar ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão a adoção de prioridades
e metas na atualização e na elaboração de futuras versões da Estratégia de Governança Digital -
EGD, no que se refere às políticas, às prioridades e às metas relativas à simplificação administrativa,
à modernização da gestão pública e à melhoria da prestação de serviços públicos.
95. De forma a executar seus trabalhos, esclarece que o Conselho Nacional para a
Desburocratização conta com um Comitê Executivo, com as seguintes competências:
1. analisar propostas de políticas, voltadas ao desenvolvimento sustentável, para promover a
simplificação administrativa, a modernização da gestão pública e a melhoria da prestação de serviços
públicos às empresas, aos cidadãos e à sociedade civil organizada, as quais serão submetidas ao
Comitê Nacional de Desburocratização;
2. analisar as prioridades e as metas para adoção de medidas de simplificação de
procedimentos na administração pública federal, modernização da gestão pública e melhoria da
prestação de serviços públicos, a partir das propostas de desburocratização elaboradas pelos
Ministérios;
3. coordenar e orientar a elaboração das propostas de desburocratização pelos Ministérios,
para a convergência de esforços e a complementaridade de investimentos;
4. coordenar e acompanhar a implementação das propostas de políticas, das prioridades e das
metas estabelecidas para a simplificação de procedimentos na administração pública, modernização
da gestão pública e melhoria da prestação de serviços públicos;
5. estimular os órgãos e as entidades do Poder Executivo federal no processo de revisão de
procedimentos, fluxos e atos normativos que interfiram na qualidade e na agilidade dos serviços
públicos prestados direta ou indiretamente aos cidadãos, às empresas e à sociedade civil organizada;
e
6. sugerir ao Conselho Nacional para a Desburocratização - Brasil Eficiente propostas de
recomendações ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão para a atualização e a
elaboração de futuras versões da Estratégia de Governança Digital - EGD de que trata o Decreto
8638, de 15 de janeiro de 2016.
96. Entre as ações já adotadas com atuação direta do Brasil Eficiente, são destacados itens
como criação do Portal Único do Comércio, que reduz a burocracia via mar ou rodovias; o eSocial
Empresas, que oferece, em uma única declaração, todas as informações sobre relações trabalhistas,
como FGTS, Caged e Rais; e o Agro +, que elimina entraves, permitindo ganho de eficiência de R$ 1
bilhão ao ano para os setores público e privado.
97. Além disso, de forma resumida, foram identificadas propostas de governo voltadas à
simplificação administrativa, a modernização da gestão pública e a melhoria da prestação de serviços
públicos, no âmbito dos trabalhos do Comitê Executivo do Conselho Nacional para a
Desburocratização.
98. Detalha, no plano de ação, a construção do Guia de Orientação à Análise Ex-Ante,
concluído em fevereiro/2018 e as ações de Capacitação técnica, envolvendo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, a Escola de Administração Fazendária e a Escola Nacional de Administração
Pública, a serem concluídas até dezembro/2018.
99. Sobre as recomendações constantes nas alíneas “a” e “b” do item 9.3.6, explicita que o
alinhamento entre os programas que compõem o PPA e o orçamento é uma busca evolutiva da Seplan
e do Ministério do Planejamento no âmbito do Plano Plurianual e foi uma preocupação na
elaboração do PPA 2016-2019 e em seu monitoramento. Nessa linha evolutiva, informa que já foram
229
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
iniciadas discussões internas sobre proposta de aprimoramentos do modelo do PPA 2020-2023 para
que seja buscado um melhor alinhamento do Planejamento e do Orçamento.
100. Por sua vez, sobre a recomendação constante na alínea “c” do mesmo item, informa que se
trata de atividade rotineira da Seplan emitir notas técnicas sobre novas leis e emendas propostas
tanto pelo Executivo quanto pelo parlamento, sendo que o alinhamento dessas propostas com políticas
e programas já existentes, em especial o PPA, já estaria incluída no escopo de análise.
101. Por fim, em relação a alínea “d”, argumenta que integração setorial e federativa sempre
foi uma busca evolutiva da Seplan e do Ministério do Planejamento no âmbito do Plano Plurianual e
foi uma preocupação na elaboração do PPA 2016-2019 e em seu monitoramento. Em relação à
questão federativa, destaca as reuniões ocorridas no âmbito do Conselho dos Secretários Estaduais de
Planejamento (Conseplan) para a elaboração do PPA 2016-2019. Com relação à integração setorial,
conforme Nota Técnica 21272/2017-MP de 13/11/2017 que respondeu ao item 9.2 deste acórdão, a
partir dos Programas Temáticos, são reveladas as transversalidades e multissetorialidades próprias
das políticas públicas, contribuindo para a compreensão das suas estratégias de implementação e
arranjos de gestão entre órgãos.
102. Desta forma, ressalta que a elaboração do PPA 2016-2019 integra os diversos órgãos do
governo para organizar e articular as ações e políticas públicas em um instrumento único e coerente
de gestão. Nessa linha evolutiva, já foram iniciadas discussões internas sobre proposta de
aprimoramentos do modelo do PPA 2020-2023 para que seja buscado uma melhor integração
federativa e setorial.
Análise:
103. A unidade jurisdicionada aponta um conjunto de medidas úteis para o aprimoramento e/ou
regular funcionamento da coordenação e coerência estatal, tais como a) as reuniões ocorridas no
âmbito do Conselho dos Secretários Estaduais de Planejamento (Conseplan) e b) a possibilidade de a
atual metodologia do PPA permitir diferentes órgãos compartilharem a responsabilidade pelo alcance
de um mesmo objetivo, c) a criação do Conselho Nacional para a Desburocratização - Brasil Eficiente
e d) a elaboração de notas técnicas sobre novas leis e emendas propostas tanto pelo Executivo quanto
pelo parlamento, considerando-se o alinhamento dessas propostas com políticas e programas já
existentes, em especial o PPA.
104. Vale destacar, dentre as medidas supracitadas, a criação do Conselho Nacional para a
Desburocratização, como iniciativa dotada de potencial para minimizar custos, sobreposições,
fragmentação e duplicidades na atuação estatal e otimizar a prestação de serviços públicos à
sociedade por meio da integração de bases da dados e processos de trabalho.
105. Ademais, mencione-se a publicação do referencial orientativo “Avaliação de Políticas
Públicas – Guia Prático de Avaliação Ex-Ante”4, resultado de trabalho conjunto entre a Casa Civil, o
Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), o Ministério da Fazenda (MF),
o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e o Ipea, dentre outras instituições, o qual
corresponde ao produto a que faz menção a resposta da unidade jurisdicionada quanto ao
cumprimento do item 9.3.5.
106. Contudo, a resposta apresentada e os instrumentos de planejamento ainda carecem de
evidências que demonstrem os esforços para mitigar as incoerências contidas nas demandas, projetos
e/ou políticas setoriais, a qual estão usualmente expostos o Centro de Governo de um país, em linha
com boas práticas adotadas para o aprimoramento da atividade-chave “Coordenação e Coerência”,
típica dos centros de governos nacionais. Assim, a título exemplificativo, a mera composição de
conselhos intersetoriais – ainda que potencialmente profícuas à atuação coordenada e coerente do
Estado – sem que sejam instrumentalizados com processos de trabalho voltados a induzi-los ao
4 Disponível em http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/auditoria-e-fiscalizacao/arquivos/guia-analise-Ex-
Ante.pdf
230
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
alcance de objetivos comuns podem, inadvertidamente, aprofundar diferenças políticas e provocar
cisões ao invés de sinergias entre diferentes setores.
107. Para o tratamento de problemas interconectados e impactados por grande número de
variáveis, torna-se premente que o centro de governo mapeie e demonstre – com base em estudos,
boas práticas e amplo leque de evidências – os principais conflitos existentes entre os objetivos das
políticas setoriais de modo que possa mitigar, ou mesmo enxergar, eventuais riscos que comprometam
o alcance de objetivos comuns, não setoriais, tais como competitividade, desenvolvimento econômico
e social, dentre outros.
108. Nesse sentido, apesar de demonstrar os principais Objetivos, Metas, Iniciativas e
Programas Temáticos da administração federal, o PPA é falho em demonstrar como o centro de
governo enxerga esses conflitos intersetoriais, ou mesmo, como são mitigados para dotar a atuação
governamental da sustentabilidade positivada no §1º do art. 174 da Constituição Federal.
Conclusão:
109. Em implementação.
II.2.5. Orçamento
110. Conforme disposto no RePP 2017, o TCU desenvolveu, em 2014, em parceria com a
OCDE, relatório sobre governança pública em que destaca que “a governança orçamentária forte –
incluindo Gestão Financeira Pública – é essencial para garantir que os recursos sejam alocados de
forma eficiente, efetiva e com probidade para alcançar os objetivos públicos”. O trabalho ressalta
que:
a consolidação fiscal contínua e trade-offs orçamentários intensificaram o foco nas ferramentas,
nos mecanismos e nos processos orçamentários que podem ser usados para apoiar governos e
administrações públicas nesse complexo empreendimento. De modo mais geral, o papel mais amplo
da Gestão Financeira Pública (GFP) e da elaboração do orçamento está sendo reavaliado para
destacar os elos e as interligações necessárias com outras áreas de governança pública - incluindo o
planejamento de médio prazo do governo, orçamento relacionado a desempenho, total transparência e
acessibilidade no tocante a informações orçamentárias, identificação e gestão de riscos fiscais, e
maior garantia de qualidade ao longo das diferentes fases e funções do ciclo orçamentário.
111. Os apontamentos do julgado denotam, em relação ao arcabouço orçamentário do país, a)
baixa prevenção e deficiente gestão de riscos no processo orçamentário, dotadas de potencial para
afetar todo o conjunto de políticas públicas e comprometer a sustentabilidade fiscal e o alcance dos
resultados pretendidos pelo governo, b) superestimacão da receita, em prejuízo à credibilidade, ao
planejamento e à qualidade do orçamento, c) frustração das receitas e o aumento das despesas,
prejudicando-se a confiança dos agentes econômicos e do consumidor brasileiro, dificultando a
retomada do desenvolvimento sustentável, d) a incrementalidade do Orçamento Federal, em afronta
às boas práticas internacionais de gestão orçamentária e comprometendo-se a accountability e a
transparência, bem como a orientação para resultados.
112. Em resposta, as unidades jurisdicionadas informam a adoção de um conjunto de medidas
voltadas ao aprimoramento da governança orçamentária do país, apresentadas a seguir.
II.2.5.1. Promulgação do Decreto 9.046/2017
113. Por meio da Nota Informativa 9.649/2017-MP, a Secretaria de Orçamento Federal informa
a participação no processo de elaboração do Decreto 9046, de 5 de maio de 2017, que dispõe sobre
as condições para a contratação plurianual de obras, bens e serviços, no âmbito do Poder Executivo
Federal.
114. Informa, por meio deste normativo, que os órgãos, fundos e entidades do Poder Executivo
Federal integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União estão obrigados a
registrar no Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais - Siasg os compromissos
financeiros plurianuais decorrentes de contratos referentes às despesas primárias classificadas como
"Outras Despesas Correntes", "Investimentos" ou "Inversões Financeiras", para fins de
231
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
monitoramento dos contratos plurianuais firmados pela Administração.
115. Assim, conclui que a finalidade da proposta é a de estabelecer um planejamento de médio
prazo dos contratos do governo, considerando não apenas o que foi contratado no ano, mas os
contratos a serem executados no médio prazo, instituindo instrumentos de controle que avaliem as
consequências para os próximos exercícios, colaborando para o atingimento dos objetivos
preconizados na Emenda Constitucional 95/2016, que estabelece teto para as despesas da União.
II.2.5.2. Portaria Interministerial 46/2017
116. A SOF informa a participação no processo de elaboração da Portaria Interministerial 46,
de 17/3/2017, que dispõe sobre a execução das programações incluídas ou acrescidas por Emendas
de Bancada Estadual. Explica que por meio do art. 2°, IV, do referido normativo, foi possível
condicionar a liberação de recursos de Emendas de Bancada Estadual de execução obrigatória à
comprovação de que os recursos alocados são suficientes para conclusão do empreendimento ou de
etapa útil com funcionalidade que permita o imediato usufruto dos benefícios pela sociedade.
II.2.5.3. Gestão de Riscos do Processo de Alterações Orçamentárias
117. O MP informa que a Política de Gestão de Integridade, Riscos e Controles Internos da
Gestão do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão foi publicada na
Portaria 426/2016. Além disso, foi desenvolvida metodologia e publicado manual, em 31/1/2017, com
a finalidade de orientar cada unidade do Ministério sobre a identificação, a avaliação e a adoção de
respostas aos eventos de riscos, a partir do Método de Priorização de Processos.
118. O Memorando Circular 003/2017-MP, de 3/1/2017, determinou a
identificação/mapeamento, para cada Secretaria do MP, de um processo relevante (Projeto Piloto),
até o final do primeiro semestre de 2017.
119. O macroprocesso priorizado e concluído pela Secretaria de Orçamento Federal foi o de
alterações orçamentárias, sendo previsto que até 2018 poderão ser concluídos os macroprocessos de
elaboração da lei orçamentária anual e das estimativas de receitas e despesas.
II.2.5.4. Antecipação do Cronograma para Elaboração da Proposta Orçamentária de 2018 120. Informa, ainda, o aprimoramento do processo de elaboração da proposta orçamentária
anual de 2018 - PLOA/2018, por meio da divulgação de referenciais monetários preliminares aos
órgãos superiores da Administração Pública Federal, com vistas a assegurar um melhor
planejamento orçamentário que assegure a continuidade de políticas públicas priorizadas, a
sustentabilidade fiscal e o alcance dos resultados pretendidos pelo governo.
121. Por meio da antecipação do cronograma de atividades para elaboração do PLOA-2018
relata que é possível auxiliar os órgãos superiores a antecipar e estabelecer suas prioridades para a
proposta orçamentária de 2018.
II.2.5.5. Monitoramento das Recomendações do TCU no Âmbito das Prestações de Contas do
Presidente da República
122. Afirma ter realizado o acompanhamento e atendimento das recomendações do TCU no
âmbito das Prestações de Contas da Presidência da República, a fim de assegurar a conformidade dos
atos praticados pela Secretaria com as determinações da Corte de Contas.
II.2.5.6. Revisão Geral das Despesas Obrigatórias
123. Informa a deflagração de processo de revisão geral da classificação dos orçamentos fiscal
e da seguridade social quanto ao identificador de resultado primário de despesas tipicamente
discricionárias classificadas como despesas obrigatórias (RP 1) – PLDO 2019.
II.2.5.7. Contenção do Crescimento do Estoque de Restos a Pagar
124. Relata a elaboração, em conjunto com a Secretaria do Tesouro Nacional, de estudo para a
adoção de medidas que visem conter o crescimento do estoque de Restos a Pagar, cujo plano de ação
deste processo encontra-se ainda em execução.
II.2.5.8. Criação da Junta de Execução Orçamentária – JEO
125. Conforme informado pela Casa Civil, a Junta de Execução Orçamentária – JEO foi
232
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
formalmente instituída pelo Decreto 9.169/2017 como órgão colegiado de assessoramento do
Presidente da República na condução da política fiscal, cabendo ao colegiado o acompanhamento da
programação financeira, o monitoramento do cumprimento das metas fiscais e a avaliação sobre a
sustentabilidade intertemporal do endividamento público.
126. Nesse sentido, a CC destaca que o Tribunal de Contas da União (TCU), por meio do
Acórdão 803/2017-TCU-Plenário, Min. Bruno Dantas, defendeu a necessidade de formalização da
referida Junta, com o estabelecimento, no mínimo, dos membros que a integrarão, das suas
competências e atribuições e das regras de decisão. A unidade jurisdicionada aponta como vantagens
da instituição da JEO como instância estratégica e de supervisão da política fiscal no país:
a) proporcionar melhor coordenação da gestão orçamentária e sua conexão mais clara com a
estratégia fiscal de médio prazo, b) a sustentabilidade das finanças públicas e c) a condução ao
aprimoramento do marco fiscal brasileiro em termos de credibilidade, melhoria das projeções
macroeconômicas e fiscais, transparência, accountability e boa governança.
127. Nesse contexto, a JEO foi instituída com a finalidade de assessorar o Presidente da
República acerca dos assuntos relacionados à programação financeira e ao cronograma de execução
mensal de desembolso do Poder Executivo Federal, ao estabelecimento das metas anuais previstas na
Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF) e à proposta de
orçamento anual, bem como sobre demais temas pertinentes à condução da política fiscal e ao
equilíbrio financeiro-orçamentário.
128. Para a consecução desses objetivos, informa que a JEO tem como integrantes: o Ministro
de Estado da Fazenda, que a coordenará; o Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência
da República; e o Ministro de Estado do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. A Secretaria-
Executiva da JEO, por sua vez, será exercida pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e
Gestão.
II.2.5.9. Atendimento às diligências da Semag no âmbito dos TCs 014.981/2017-3 e
010.410/2017-1
129. Aprimoramento dos mecanismos e metodologias do processo de estimação de receitas e
despesas primárias impactantes, contingenciamento de despesas e cumprimento de metas de resultado
primário, no tocante às disposições da LOA 2017, LDO 2017 e LRF, referentes às avaliações
bimestrais de 2017, em atendimento às diligências da SEMAG/TCU.
130. Desse modo, especificamente sobre os processos afetos à orçamentação, o
Acórdão 2127/2017-TCU-Plenário teceu a seguinte recomendação, constante no item 9.3.3, abaixo
transcrito.
9.3. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, com fundamento no princípio da
eficiência (art. 37 da Constituição Federal) e no art. 3º da Medida Provisória 782/2017, que lhe
atribuiu competências relacionadas ao exercício da coordenação e integração, avaliação e
monitoramento das ações do Governo, que, em articulação com o Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão e com o Ministério da Fazenda [...]
9.3.3. aprimoramento da governança orçamentária para: a) induzir a Administração Pública
Federal à definição e utilização de indicadores de efetividade para seus programas e ações; b)
sistematizar o monitoramento e a avaliação do desempenho de programas e políticas públicas; e c)
valorizar o princípio da eficiência, ao relacionar alocações orçamentárias ao desempenho dos
programas e resultados alcançados;
131. Em relação ao item “a” do item 9.3.3, relacionado à indução para a definição e utilização
de indicadores a unidade jurisdicionada informa, conforme Nota Técnica 21272/2017-MP de
13/11/2017 que respondeu ao item 9.2 deste acórdão, que vem trabalhando ao longo de 2017 em um
Plano de Trabalho com as seguintes etapas:
• inclusão de ficha de indicadores reunindo os necessários atributos para a sua caracterização –
os atributos da ficha já foram inseridos no SIOP e as informações sobre os indicadores já estão sendo
233
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
preenchidas pelos Órgãos;
• atualização do guia metodológico dos indicadores do PPA – atualização pela Seplan até
primeiro trimestre de 2018, sendo que esta atualização contará com o apoio técnico do Ipea na sua
finalização;
• implantação de ficha de análise quanto à adequabilidade dos indicadores atuais do PPA em
relação aos seus Programas Temáticos.
132. Em relação ao item “b”, afeto ao monitoramento e a avaliação do desempenho da atuação
governamental e à vinculação das alocações orçamentárias ao desempenho dos programas e
resultados alcançados, a SOF explica que está implementando um processo de avaliação de políticas
públicas com vistas a subsidiar a elaboração dos projetos de lei orçamentária anual (PLOAs), de
modo que, para os programas e ações que forem avaliados pela SOF em cada ciclo orçamentário, um
dos aspectos a serem observados deverá ser a sua relevância para a política pública e para sociedade
como um todo, abrangendo impacto e efetividade.
133. Informa ter criado, em 2016, a Coordenação-Geral de Avaliação de Políticas Públicas
(CGAPP), vinculada à Secretaria -Adjunta de Avaliação e Relações Institucionais (SEARI), unidades
essas que coordenam a implantação do processo de avaliação na SOF em parceria com os
departamentos de programas.
134. Desse modo, afirma que, para subsidiar a elaboração do PLOA 2019 e dos anos
subsequentes, a SOF selecionou doze programas de governo (incluindo ações, políticas públicas,
planos orçamentários etc.) para serem avaliados por seu corpo técnico no ciclo de avaliações
2017/2018, sendo 2 deles como projeto-piloto do processo de avaliação. Informa que dos outros dez
programas, oito já foram avaliados e dois a SOF entendeu que os prazos para a entrega deveriam ser
estendidos.
135. Esclarece que o conteúdo dessas avaliações privilegia pesquisas, estudos e recomendações
que já foram realizadas por órgãos que atuam no ambiente técnico ou aqueles oriundos da academia,
além de manter contato mais estreito com o gestor da política no órgão setorial. A SOF informa,
ainda, estar elaborando um formato de edição com os principais achados de cada avaliação.
Entretanto, esclarece que as avaliações realizadas pela SOF no ciclo 2017/2018 têm o objetivo
imediato de capacitar o corpo técnico da Secretaria para as discussões sobre políticas públicas com
os órgãos setoriais visando a melhor alocação de recursos no PLOA 2019, tendo como foco
privilegiar as políticas mais efetivas e eficientes.
136. Ademais, esclarece que estão ocorrendo capacitações internas do seu corpo técnico para a
utilização de ferramentas que auxiliam na análise de dados, assim como palestras e workshops com
relação ao tema. Isto posto, com as avaliações, busca-se incrementar o aprendizado institucional, e, a
partir daí, elevar o patamar de discussão sobre as políticas públicas, para assim buscar a melhoria da
alocação.
137. Pondera, contudo, que não se deve esperar que os resultados das avaliações sejam
automaticamente incorporados à risca no PLOA 2019, haja vista que outras variáveis também
influenciam a alocação de recursos, como restrições legais (despesas obrigatórias e vinculações de
receita) e o posicionamento dos órgãos setoriais, os quais, ao serem responsáveis pela implementação
das respectivas políticas públicas, são pressionados por variadas demandas da sociedade civil no
âmbito de suas áreas de atuação.
138. A Seplan também desenvolve anualmente avaliação de um rol de políticas públicas no
âmbito do Comitê de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas Federais (CMAP) com o
intuito de buscar o aperfeiçoamento das políticas públicas, desde o desenho, até a implementação das
mesmas. Nesse sentido, entende-se que, desde já, as políticas avaliadas têm sofrido melhorias, bem
como os insumos obtidos também serão levados em consideração no próximo ciclo do PPA (PPA
2020-2023).
234
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Análise:
139. A análise das informações prestadas pelos órgãos integrantes do Centro de Governo
Nacional demonstra a adoção de medidas que coadunam com o aprimoramento do arcabouço
normativo orçamentário do país, em linha com o disposto na recomendação constante no item 9.3.3
do Acórdão 2127/2017-TCU-Plenário.
140. Vale destacar o papel cumprido pelos acórdãos nos avanços no processo de orçamentação
do país (Acórdãos TCU-Plenário 927/2015-Min. Augusto Nardes, 3682/2013-Min. Aroldo Cedraz,
1712/2017-Min. Vital do Rego, 1598/2017-Min. Aroldo Cedraz, 2.526/2015-Min. José Múcio,
2.031/2014-Min. Augusto Sherman e 1.729/2016-Min. Benjamin Zymler e 948/2016-Min. José Múcio)
e nos quais baseou-se o RePP 2017 para realizar a avaliação do arcabouço orçamentário do país. A
criação da Junta de Execução Orçamentária e os demais aprimoramentos conduzidos pela SOF em
relação à projeção e confiabilidade dos parâmetros macroeconômicos para a elaboração do
orçamento, conforme afirmado pela própria unidade jurisdicionada, tem demonstrado serem efetivos
para mitigar o risco de comprometimento da sustentabilidade fiscal do país em decorrência de
eventual superestimação das receitas e/ou frustração das receitas.
141. No que tange à mitigação da incrementalidade que tende a caracterizar o orçamento pátrio
– impropriedade que tende a favorecer a malversação dos recursos públicos, o não alcance dos
resultados esperados e a perpetuação da alocação orçamentária em programas inefetivos e/ou
ineficazes, conforme demonstrado Acórdão 948/2016–TCU–Plenário – foram identificados avanços
significativos, tais como a) a implementação de processo de avaliação de políticas públicas com vistas
a subsidiar a elaboração dos projetos de lei orçamentária anual (PLOAs) e b) a criação da
Coordenação-Geral de Avaliação de Políticas Públicas (CGAPP), vinculada à Secretaria -Adjunta de
Avaliação e Relações Institucionais (SEARI).
142. Contudo, em razão da maior complexidade dessa questão e das medidas apresentadas
ainda se encontrarem em estágio embrionário e serem de natureza unicamente administrativa –
podendo não se sustentar face à alternância de mandatos presidenciais e à ausência de positivação de
regramento que correlacione e, em certa medida, condicione a alocação orçamentária ao desempenho
das intervenções públicas – entende-se salutar acompanhar a efetiva implementação dessas medidas
no PPA 2019-2023 e na LOA 2019, assim como, eventuais propostas legislativas com vistas à
mitigação da incrementalidade orçamentária.
143. Nesse contexto de insegurança quanto à efetiva positivação das melhorias propostas, vale
retomar a argumentação trazida na análise dos aprimoramentos realizados no PPA, na qual
apresenta-se a necessidade de o governo adotar arranjos institucionais voltados a induzir um caráter
mais plurianual à orçamentação e ao planejamento governamental. No tópico afeto aos
“Aprimoramentos no planejamento de médio prazo” é analisado o cumprimento da recomendação
para que o plano se constitua instrumento efetivo de planejamento de médio prazo do Governo
Federal (item 9.3.2.1 do Acórdão 2127/2017). No presente tópico, a unidade jurisdicionada aponta
como medidas que visam melhor gerir a plurianualidade orçamentária a:
1. instituição da JEO, como instância estratégica e de supervisão da política fiscal no país de
modo a: a) proporcionar melhor coordenação da gestão orçamentária e sua conexão mais clara com
a estratégia fiscal de médio prazo, b) a sustentabilidade das finanças públicas e c) a condução ao
aprimoramento do marco fiscal brasileiro em termos de credibilidade, melhoria das projeções
macroeconômicas e fiscais, transparência, accountability e boa governança;
2. a promulgação do Decreto 9046/2017, que dispõe sobre as condições para a contratação
plurianual de obras, bens e serviços, no âmbito do Poder Executivo Federal. A unidade explica que a
finalidade da proposta é a de estabelecer um planejamento de médio prazo dos contratos do governo,
considerando não apenas o que foi contratado no ano, mas os contratos a serem executados no médio
prazo, instituindo instrumentos de controle que avaliem as consequências para os próximos
exercícios, colaborando para o atingimento dos objetivos preconizados na Emenda Constitucional 95,
235
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de 15 de dezembro de 2016.
144. Apesar de bem-vindas e demonstrarem avanços na direção almejada, entende-se que a
questão merece ser objeto de monitoramento por esta Corte. Na mesma linha, merecem destaque as
ponderações trazidas no relatório “Relatório de Assistência Técnica - Apoio à Implementação do
Novo Regime Fiscal por meio de Reformas na Gestão Financeira Pública”5, produzido pelo Fundo
Monetário Internacional, sobre a necessidade de o governo aproximar o arcabouço orçamentário
nacional das estruturas orçamentárias de médio prazo.
145. O referido relatório, em linha com as análises e ponderações trazidas no Relatório de
Políticas e Programas de Governo, forneceu recomendações de curto e médio prazo e um Plano de
Ação ao governo sugerindo mudanças institucionais e processuais para operacionalizar o Novo
Regime Fiscal e centrou-se em três áreas inter-relacionadas: 1) melhorar a flexibilidade no
orçamento; 2) fortalecimento da gestão fiscal e orçamentária de médio prazo através da
implementação de estruturas orçamentárias de médio prazo; e 3) mudanças processuais para
implementar, relatar e monitorar o novo regime fiscal.
Conclusão:
146. Em implementação.
II.2.6. Aprimoramento Contínuo da Governança nas Organizações
147. De acordo com o disposto no RePP 2017, constataram-se falhas significativas em
atividades-chave integrantes dos pilares de atuação do governo federal, dentre os quais a ausência de
planejamento de longo prazo, impropriedades no planejamento de médio prazo, no processo de
orçamentação e nos processos voltados a propiciar a coordenação e coerência, já objeto de análise
nos tópicos acima. Adicionalmente, no referido relatório também foram identificadas falhas nas
atividades de gestão de riscos, monitoramento e supervisão, apresentadas brevemente a seguir.
148. Afirma-se no referido relatório que um dos mecanismos de governança descritos no
Referencial para Avaliação da Governança do Centro de Governo (TCU, 2016) é a supervisão.
Segundo o documento, a supervisão é o papel do Centro de Governo de garantir que as políticas
priorizem os compromissos contidos no plano de governo para garantir o bom desempenho e
assegurar a alta qualidade dos serviços públicos. Isso se obtém por meio de monitoramento, medição
de desempenho por meio de indicadores, comunicação com partes interessadas e respostas acerca dos
resultados alcançados. Assim, explicita que o monitoramento e avaliação consistem em verificar o
desempenho das ações do governo, possibilitando ajustes na intervenção estatal, de forma a utilizar
dos meios mais adequados para garantir os resultados esperados.
149. Desse modo, com base nos acórdãos (Acórdão TCU–Plenário 782/2016-Min. José Múcio e
1209/2014-Min. José Jorge, 1968/2017-Min. Augusto Nardes) conclui-se que “embora o
monitoramento e a avaliação sejam processos de extrema relevância para o alcance de metas e
objetivos do governo, as fiscalizações realizadas pelo TCU identificaram ausência de indicadores de
desempenho e baixa capacidade dos órgãos federais para avaliar e monitorar seus resultados”.
150. Por sua vez, em relação a atividades de gestão de riscos, de maneira similar, identificou-se
cenário preocupante. Intrinsicamente relacionada e dotada de caráter estruturante para o alcance dos
objetivos estratégicos positivados nos instrumentos de planejamento governamental, a implantação de
uma gestão de riscos efetiva encontra respaldo no dever de todo agente público de agir com zelo na
administração e de, ao mitigar os riscos que comprometam o alcance dos objetivos, prover o retorno
esperado aos recursos dos cidadãos.
151. Contudo, com fulcro nos Acórdão 1.273/2015–TCU–Plenário-Min. Augusto Nardes e
2467/2013–TCU–Plenário-Min. Ana Arraes, verificou-se cenário preocupante no que tange à
capacidade de os órgãos da administração Púbica conduzirem de modo adequado tal atividade.
5 Documento produzido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada como parte de consultas regulares previstas
no Convênio Constitutivo do FMI, descreve as descobertas preliminares ao final da missão oficial da equipe.
236
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Verificou-se que 70% de todas as organizações da Administração Pública estariam no estágio de
capacidade inicial de gestão de riscos, definida como “Estabelecer estrutura de gestão de riscos” e,
considerando apenas a Administração Pública Federal, 80% das organizações estariam no estágio
inicial. Dentre todas as práticas sugeridas no questionário de governança pública, aplicado no
referido trabalho, a prática de gestão de riscos apresentou o menor nível de aderência por parte dos
respondentes, com a maioria das organizações classificadas no estágio inicial, e em torno de apenas
10% no estágio de capacidade aprimorada.
152. Por sua vez, no trabalho julgado pelo Acórdão 2467/2013–TCU–Plenário-Min. Ana
Arraes, voltado a avaliar a maturidade da gestão de riscos, especificamente da administração pública
indireta, evidenciou-se que dois terços das organizações participantes da pesquisa estão nos níveis
básico e intermediário e que apenas 9% da amostra atingiu o estágio avançado. Tais dados indicam
haver bastante espaço para que a gestão de riscos possa ser estruturada e fortalecida nas referidas
organizações, com potenciais ganhos para a sociedade em termos de maior garantia de que os
resultados da ação pública sejam, de fato, alcançados.
153. Desse modo, considerando-se o potencial de comprometimento da capacidade de entrega
do governo em face ao conjunto de fragilidades apontadas em atividades estruturantes da
administração pública federal, foi proferida a recomendação abaixo transcrita.
9.3.4. regulamentação de diretrizes para fortalecimento, avaliação e aprimoramento contínuo
da governança das organizações públicas que contemple: a) institucionalização de processos
contínuos de planejamento e gestão estratégica que consignem e revisem sistematicamente objetivos,
metas, indicadores e linhas de ação de médio e longo prazo, em coerência com os planos
governamentais mais abrangentes, de natureza setorial, regional ou geral; b) aprimoramento de
atividades-chave de governança, como gestão de riscos e processos de monitoramento e avaliação; c)
avaliação periódica do nível de maturidade das organizações responsáveis por políticas, programas
ou ações de governo; e d) utilização das informações advindas de avaliações na elaboração do
projeto de lei orçamentária anual, para minimizar o risco de malversação dos recursos públicos e de
não alcance dos resultados esperados;
154. Em resposta, especificamente em relação às deficiências apontadas no monitoramento e
avaliação, o MP afirma que uma das iniciativas que vem sendo implementada nesse sentido é a
criação de câmaras temáticas, que terão como missão a governança compartilhada, proporcionando
um espaço de convergência e proposição de políticas públicas, ações e instrumentos para
implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de forma a acompanhar e monitorar o
desenvolvimento dos objetivos.
155. Além disso, como forma de melhorar o processo de Monitoramento e Avaliação
governamental, afirma que está sendo implementado o Monitoramento Participativo Tempestivo do
PPA 2016-2019, que visa a promover o controle social e aproximar ainda mais a sociedade civil da
elaboração e implementação de políticas públicas constantes no PPA.
156. Acrescenta a já descrita elaboração e encaminhamento, no dia 22 de novembro de 2017, ao
Congresso Nacional, do Projeto de Lei 9163/2017, que estabelece os marcos jurídicos fundamentais
da Política de Governança Pública no país. Afirma que, com o apoio do Tribunal e com o referencial
de boas práticas de organizações internacionais, o Governo Federal desenvolveu os contornos e os
instrumentos para sua viabilização. Especificamente em relação às diretrizes para fortalecimento,
avaliação e aprimoramento contínuo da governança das organizações públicas, o art. 4º do referido
projeto de lei prevê, entre outros itens:
direcionar ações para a busca de resultados para a sociedade, encontrando soluções
tempestivas e inovadoras para lidar com a limitação de recursos e com as mudanças de prioridades;
monitorar o desempenho e avaliar a concepção, a implementação e os resultados das políticas
e das ações prioritárias para assegurar que as diretrizes estratégicas sejam observadas;
articular instituições e coordenar processos para melhorar a integração entre os diferentes
237
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
níveis e esferas do setor público, com vistas a gerar, preservar e entregar valor público;
fazer incorporar padrões elevados de conduta pela alta administração para orientar o
comportamento dos agentes públicos, em consonância com as funções e as atribuições de seus órgãos
e de suas entidades;
implementar controles internos fundamentados na gestão de risco, que privilegiará ações
estratégicas de prevenção antes de processos sancionadores;
manter processo decisório orientado pelas evidências, pela conformidade legal, pela
qualidade regulatória, pela desburocratização e pelo apoio à participação da sociedade;
definir formalmente as funções, as competências e as responsabilidades das estruturas e dos
arranjos institucionais.
157. Reafirma, ainda, o papel do novo Comitê Interministerial de Governança (CIG) –
colegiado composto pelos Ministros da Casa Civil, Planejamento, Fazenda e CGU – para a
incorporação de boas práticas de governança pela Administração Pública Federal.
Análise:
158. Depreende-se do disposto acima que o Centro de Governo adotou um conjunto de medidas
voltadas para o aprimoramento da governança pública na administração pública federal e, de fato,
regulamentou diretrizes para fortalecimento, avaliação e aprimoramento contínuo da governança das
organizações públicas. Ademais, verifica-se que o MP entende como mais apropriadas para o
estímulo ao aprimoramento das atividades-chave de governança, conforme apontado no plano de
ação, as medidas a seguir: a) manutenção do papel orientador dos referenciais de governança
elaborados pelo TCU, b) a alocação de esforços para a aprovação do Projeto de Lei 9163/2017 e c) a
institucionalização do Comitê Interministerial de Governança.
159. No que tange a alínea “a” do parágrafo acima, de fato, esta Casa tem conduzido trabalhos
voltados a orientar atividades-chave integrantes de distintos níveis da administração pública. Vale
destacar o papel exercido pelos referencias de governança de organizações públicas, políticas
públicas e centro de governo, dentre outros, nos quais embasou-se a iniciativa para a elaboração do
referido projeto de lei e cujas boas práticas inspiram as diretrizes que fundamentam a atuação do
CIG.
160. Ademais, com base nos referidos trabalhos, tornou-se possível o diagnóstico e a construção
de entendimento transversal sobre o nível de maturidade de atividades entendidas como relevantes
para a capacidade de entrega do Estado e o aprimoramento dos produtos e serviços públicos, tais
como, dentre outros, os julgados pelo: i) Acórdão 1273/2015–TCU–Plenário-Min. Augusto Nardes –
que teve como objetivo avaliar a maturidade da governança pública na administração pública federal
e ii) Acórdão 2467/2013–TCU–Plenário-Min. Ana Arraes – que apontou para a existência de
deficiências sistêmicas na capacidade de gestão dos órgãos da administração indireta, afetas a gestão
de riscos.
161. Tais trabalhos, também utilizados para a elaboração do RePP 2017, caracterizam-se por
prover um olhar transversal sobre a administração pública federal – por vezes, incluindo-se entes
estaduais e municipais – constituindo insumo relevante ao Centro de Governo para a identificação de
riscos de má-versação de recursos públicos decorrentes de má governança e gestão e da necessidade
de capacitação em áreas que denotem baixa capacidade administrativa e comprometam a capacidade
de entrega do Estado. Trabalhos dessa natureza permitem a construção de uma visão estratégica
sobre o funcionamento da máquina pública, a detecção antecipada de fragilidades no modus
operandis estatal e a adoção de medidas mitigadoras.
162. Tal entendimento encontra respaldo na recomendação da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, a qual, por meio do documento Partners for Good Governance –
Mapping the role of Supreme Audit Institutions, de 2014, afirma que
Ao adotar uma abordagem integrada de conjunto de governo, as EFS poderiam fornecer aos
Centros de Governo uma visão panorâmica sobre a eficácia dos mecanismos de governança e sobre o
238
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
desempenho das políticas, para que os Centros possam melhor usar informações objetivas e confiáveis
para informar seus orçamentos, o planejamento das políticas públicas e os respectivos processos de
implementação e avaliação.
163. O contexto instável das iniciativas do próprio governo dotadas de potencial de prover tal
visão reforça a tempestividade da referida recomendação. O Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização (Gespública), programa de governo projetado para “apoiar o desenvolvimento e a
implantação de soluções que permitam um contínuo aperfeiçoamento dos sistemas de gestão das
organizações públicas e de seus impactos junto aos cidadãos” e que disponibilizava um conjunto de
modelos voltados para a identificação e implementação de ciclos contínuos de avaliação de seus
sistemas de gestão foi recentemente revogado, a partir da publicação do Decreto 9094/17.
164. Assim, com a revogação do referido programa, atualmente não há paralelo na
administração pública de iniciativas dotadas de objetivo similar e que proporcionem entendimento
com amplitude e profundidade suficientes sobre o funcionamento do conjunto de governo, de modo
que se entende relevante e oportuna a manutenção e aperfeiçoamento de tais iniciativas por esta
Casa.
165. Contudo, vale acrescentar – como fator de instabilidade ao contexto supracitado, mas
passível de aperfeiçoamentos – o caráter ad hoc e a ausência de institucionalização das iniciativas do
Tribunal dotadas da abrangência necessária para prover tal visão ao Centro de Governo, tais como
os diagnósticos proporcionados pelo Índice Integrado de Governança e Gestão (IGG) e pelos índices
de voltados a capturar, de modo mais aprofundado, o estado atual de governança e gestão em
determinadas políticas e ou setores, tais como, o iGov-Segurança, iGov-Saúde e iGov-Pessoas, dentre
outros.
166. A despeito de tal cenário, entende-se haver sinergias entre a recomendação proferida pela
OCDE às entidades fiscalizadoras superiores e a competência desta Corte de Contas para “julgar as
contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos” – prevista
nos arts. 33, § 2 e 71, II, da Constituição Federal – que, caso devidamente aproveitadas, proveriam
maior segurança, periodicidade, economia de recursos e simplificação de processos às iniciativas
desta EFS capazes de prover, nos termos utilizados pela própria OCDE, birds-eye views à
administração pública.
167. Integram as contas dos responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos, a que faz
menção os arts. da CF acima transcritos, o denominado Relatório de Gestão, conforme positivado na
Instrução Normativa 72/2013. De acordo com a referida norma, o documento destina-se a consolidar
“documentos, informações e demonstrativos de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional ou patrimonial, organizado para permitir a visão sistêmica do desempenho e da
conformidade da gestão dos responsáveis por uma ou mais unidades jurisdicionadas durante um
exercício financeiro”.
168. Por sua vez, a Portaria-TCU 65/2018, que dispõe sobre as orientações para a elaboração
do relatório de gestão, aponta no Anexo I, a existência de seção destinada a consolidar informações
sobre “Governança, Gestão de Riscos e Controles Internos” assim como “Áreas especiais da gestão”,
sendo, essa última, destinada a apresentar informações sobre a gestão de pessoas, gestão da
tecnologia da informação, dentre outras.
169. Em face à previsão normativa acima apresentada e a existência de sistema digitalizado
para prestação de contas (E-Contas), a coleta de informações por meio do relatório de gestão
possibilitaria a construção de um olhar transversal, sistemático e devidamente evidenciado, sobre a
capacidade e maturidade dos órgãos da administração pública federal em conduzir atividades
entendidas como imprescindíveis ou relevantes para o aprimoramento da capacidade de entrega do
estado. Ademais, pouparia recursos tanto da própria Segecex quanto da unidade jurisdicionada, os
quais veem-se impelidos a coletar e apresentar, respectivamente, informações de natureza similar em
momentos distintos do exercício. A adoção de tal medida coaduna com a necessidade de simplificação
239
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de processos, tema defendido e regulamentado pelo Decreto 9094/17, que veio a revogar o programa
Gespública.
170. No que tange as alíneas “b” e “c” do parágrafo 155, afetas aos esforços para elaboração
do Projeto de Lei 9163/2017 e a instituição do Comitê Interministerial de Governança, vale o disposto
nos parágrafos 32, 84 e 85 do presente relatório, nos quais destaca-se que a institucionalização de
diversos mecanismos depende da aprovação e posterior promulgação do Projeto de Lei 9613/2017, o
qual, por sua vez, encontra-se em risco de ter seus arranjos e aprimoramentos diluídos em
decorrência de anexação a projetos de leis de natureza distinta e essencialmente direcionados às
empresas públicas.
171. Em decorrência do acima exposto e em face do risco de que a agenda afeta ao
aprimoramento dos arcabouço estratégico do país – tais como a necessidade de positivação da
Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, da uniformização dos planos nacionais,
setoriais e regionais e a diferenciação dentre essas e as políticas públicas, e a necessidade de
arranjos que mitiguem o risco da predominância da visão usualmente imediatista e setorial que
caracterizam os mandatos políticos – dilua-se em discussões afetas à instituição do estatuto jurídico
da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, objeto do PL 622/2011,
ou mesmo de que não seja aprovado, entende-se pertinente o acompanhamento do cumprimento da
referida recomendação
Conclusão:
172. Em implementação.
II.3. Benefícios das Deliberações
173. As unidades jurisdicionadas integrantes do Centro de Governo apresentaram diversas
medidas que, apesar de não estarem distinguidas temporalmente em relação ao plano de ação
apresentado, demonstram avanços no arcabouço de planejamento e orçamento – assim como na
capacidade de articulação, monitoramento e avaliação da coerência do conjunto de programas e
ações governamentais – que não se iniciaram unicamente após a publicação do referido Acórdão.
174. Ademais, o plano de ação proposto discorre em pormenores sobre as medidas adotadas
para cada um dos itens propostos nos subitens 9.3.1 a 9.3.8 do Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, de
modo a aprimorar o arcabouço estratégico e orçamentário do país. Dentre as medidas adotadas
destaque-se:
3. a edição do Projeto de Lei 9613/2017 e a promulgação do Decreto 9203/2017, contendo as
diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado;
4. o lançamento da Estratégica Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, como
instrumento consolidador da visão de longo prazo do Centro de Governo;
5. iniciativa para adoção do sistema de indicadores chave nacionais refletidos nas diretrizes
estratégicas do PPA;
6. edição do guia de “Avaliação de Políticas Públicas – Guia de Avalição Ex-Ante”, pelas
unidades integrantes do Centro de Governo;
7. implementação de processo de avaliação de políticas públicas com vistas a subsidiar a
elaboração dos projetos de lei orçamentária anual.
175. Conclui-se que a União vem implementando medidas para o efetivo cumprimento das
recomendações, demonstrando iniciativa em adotar aprimoramentos em todos os pilares de atuação
estatal analisados – planejamento estratégico, orçamentação, coordenação e coerência,
aprimoramento contínuo (gestão de riscos e monitoramento e avaliação).
176. Contudo, verifica-se que o cumprimento da recomendação relativa ao plano de ação (9.3),
em razão de seu caráter estruturante, será gradual uma vez que depende da evolução do nível de
maturidade de atividades-chave que integram o Centro de Governo. Ademais, verifica-se que, em face
da ainda não positivação e institucionalização de alguns aprimoramentos – tal como a aprovação do
PL 9.613/2017 – e da proximidade da alternância de mandatos presidenciais – situação dotada de
240
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
potencial para retrocessos na adoção e evolução de novos arranjos institucionais – torna-se salutar
acompanhar a evolução da implementação do plano de ação a que faz menção o item 9.3.3 do
acórdão em tela.
III. ANÁLISE CONSOLIDADA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS AUDITADAS
177. O presente capítulo busca realizar uma análise consolidada do conjunto de informações
sobre políticas, programas e ações de governo que foram objeto de fiscalizações realizadas pelo TCU
em 2017 e 2018.
178. A abordagem consolidada dos resultados das fiscalizações é muito relevante para
diagnosticar e prevenir a perpetuação de déficits sistêmicos que vem comprometendo de forma
significativa os resultados da ação governamental. Referida abordagem trata de construir um
panorama geral que retrate os riscos, as irregularidades e as deficiências relevantes e recorrentes nas
políticas públicas, que afetam, de forma repetitiva, o alcance de seus objetivos.
179. Além disso, cuida-se de identificar boas práticas e fatores institucionais que podem ser
utilizados e/ ou implantados para promover a melhoria da eficiência e da efetividade das políticas
públicas no pais, de forma duradoura e consistente.
180. A partir desse panorama de riscos recorrentes e causalidades sistêmicas, pretende-se
apontar para onde devemos – gestores públicos e órgãos de controle – direcionar nossos esforços, de
forma ágil, estratégica e efetiva, no sentido de promover as mudanças necessárias ao aprimoramento
das políticas públicas e à geração de valor público.
III.1. Fiscalizações Selecionadas
181. Para compor esse capítulo, foram selecionados os seguintes trabalhos, com base em sua
relevância, materialidade e risco, bem como pela pertinência com as matérias de maior interesse do
Congresso Nacional, com base em escuta realizada às duas Casas Legislativas sobre as áreas de
maior significância:
Acompanhamento do Portal Único de Comércio Exterior, da relatoria do Ministro Augusto
Sherman, realizado pela Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento (SecexDesenvolvimento)
– Acordão 623/2018-TCU-Plenário;
Acompanhamento do Plano Nacional de Educação, com foco nas ações relacionadas ao
acesso à educação infantil (Meta 1 doPNE), da relatoria da Ministra Ana Arraes, realizado pela
Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação) – Acórdão
2775/2017-TCU-Plenário;
Fiscalização de Orientação Centralizada na gestão dos recursos transferidos por meio do
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), da relatoria do Ministro Augusto Sherman,
coordenada pela Secretaria de Controle Externo do Espírito Santo (Secex-ES) – Acórdão 141/2017-
TCU-Plenário;
Auditoria na Política de Fronteiras, da relatoria do Ministro Augusto Nardes, realizada pela
Secretaria de Controle Externo do Mato Grosso do Sul (Secex-MS) – Acórdão 2252/2015-TCU-
Plenário;
Auditoria nos programas de Inclusão Produtiva, da relatoria do Ministro Benjamin Zymler,
realizada pela Secretaria de Controle Externo da Previdência, Assistência Social e Trabalho
(SecexPrevi) – Acórdão 188/2018-TCU-Plenário;
Auditoria no Plano Viver Sem Limite, da relatoria do Ministro Walton Alencar, realizada pela
Secretaria de Controle Externo da Previdência, Assistência Social e Trabalho (SecexPrevi) – Acórdão
2140/2017-TCU-Plenário;
Avaliação do uso de tecnologias digitais como parte da estratégia de modernização
governamental (Governo Digital), da relatoria do Ministro Benjamin Zymler, realizada pela
Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (Sefti) – Acórdão 1469/2017-TCU-Plenário;
241
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Monitoramento da Lei de Informática, da relatoria do Ministro-Substituto André Luis de
Carvalho, realizada pela Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (Sefti) – Acórdão
729/2018-TCU-Plenário;
Auditoria no Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional, da relatoria da Ministra Ana
Arraes, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Defesa Nacional e da Segurança Pública
(SecexDefesa) – Acórdão 2643/2017-TCU-Plenário;
Auditoria no Programa Cidades Digitais (PCD), da relatoria do Ministro Bruno Dantas,
realizada pela realizado pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Hídrica, de Comunicação e
de Mineração (SeinfraCOM) – Acórdão 1898/2017-TCU-Plenário;
Fiscalização de Orientação Centralizada sobre a qualidade das moradias do Programa Minha
Casa Minha Vida, da relatoria do Ministro-Substituto Weder Oliveira, coordenada pela Secretaria de
Fiscalização de Infraestrutura Urbana (SeinfraUrbana) – Acórdão 979/2017-TCU-Plenário;
Auditoria no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), da
relatoria do Ministro-Substituto André Luis de Carvalho, realizada pela Secretaria de Controle
Externo do Meio-Ambiente (SecexAmbiental) – Acórdão 2191/2018-TCU-Plenário;
Auditoria Política de Banda Larga em Regiões Remotas, da relatoria da Ministra Ana Arraes,
realizada pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Hídrica, de Comunicação e de Mineração
(SeinfraCOM) – Acórdão 2053/2018-TCU-Plenário;
Auditoria no Programa de Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, da
relatoria do Ministro Vital do Rêgo, realizada pela Secretaria de Controle Externo do Mato Grosso
(Secex-MT) – TC 016.327/2017-9;
Auditoria nos Projetos Financiados pelo Lei Rouanet, da relatoria do Ministro-Substituto
Marcos Bemquerer, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do
Desporto (SecexEducação) – TC 034.623/2016-7;
Auditoria no planejamento de investimentos em infraestrutura hídrica, da relatoria do
Ministro Augusto Nardes, realizada pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Hídrica, de
Comunicação e de Mineração (SeinfraCOM) – TC 030.005/2017-5;
Auditoria nas medidas de erradicação do aedes aegypti, de relatoria do Ministro Bruno
Dantas, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Saúde (SecexSaúde) – TC 023.421/2016-9;
Auditoria no fundo setorial Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), da relatoria do
Ministro Aroldo Cedraz, realizada pela Secretaria de Fiscalização da Infraestrutura Elétrica
(SeinfraElétrica) – TC 032.981/2017-1.
III.2. Modelo de Quadro-Resumo
182. Para cada um dos programas auditados, foi gerado quadro-resumo, que consta do anexo I,
contendo as seguintes informações:
a) Descrição da política auditada, incluindo o problema que a política pretende
enfrentar/solucionar, sua abrangência, público-alvo, principais objetivos, órgão responsável e
previsão legal.
183. Esse primeiro item da análise busca trazer uma visão sobre qual a realidade que a política
fiscalizada pretende alterar, ou seja, qual o problema coletivo a ser mitigado pela política.
184. Além disso, busca-se nessa parte inicial da análise, identificar se a política está
formalmente prevista, com princípios e macro estratégias de ação, que garantam maior legitimidade,
segurança jurídica e direcionamento à resolução do problema que se almeja enfrentar.
b) Resultados da política, abordando os seguintes aspectos: indicadores, metas, coerência
desses elementos com os objetivos da política e alcance de metas nos últimos anos.
185. Embora almeja-se nessa parte da análise trazer aspectos sobre o impacto das políticas
públicas fiscalizadas para a sociedade, as instituições públicas, tanto do Poder Executivo, quanto do
sistema de controle, ainda carecem de sistemas e processos que permitam a devida avaliação de
242
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
resultados das políticas públicas existentes. Desse modo, a análise apresentada nesse item da ficha,
limita-se em alguns casos, a avaliar a existência de indicadores e metas de desempenho da política, a
sua coerência com os objetivos da política, o seu acompanhamento e divulgação, bem como a
evolução do alcance das metas existentes.
c) Vinculação e coerência da política com o Plano Plurianual (PPA)
186. Essa etapa da análise busca verificar se os programas e políticas fiscalizados pelo Tribunal
têm sido elaborados em consonância com o PPA, conforme preconizado no artigo 165, § 4º da
Constituição Federal de 1988.
d) Inserção da política na Lei de Orçamento Anual (LOA)
187. Considerando que o orçamento é o instrumento que garante, legitima e dá transparência
aos recursos financeiros aplicados nas diversas políticas públicas, é indispensável que as políticas e
os programas de governo estejam claramente explicitados no orçamento, de maneira que a
Administração Pública, os órgãos de controle e a sociedade possam acompanhar, de forma acessível e
transparente, o custo histórico e atual de cada política pública.
188. Nesse sentido, essa etapa da análise busca: a) identificar as ações orçamentárias
destinadas à implementação de cada política pública; b) verificar a coerência das despesas realizadas
com o previsto no PPA, como também com os objetivos e as metas a serem alcançadas; c) a
capacidade de execução da política, ao comparar as dotações dos valores efetivamente pagos.
e) A política sob a ótica da governança
Governança em políticas públicas se refere aos arranjos institucionais que condicionam a forma
pela qual as políticas são formuladas, implementadas e avaliadas, em benefício da sociedade (TCU,
Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas, 2014, p.32).
189. Os arranjos institucionais estão relacionados principalmente a estruturas, processos,
mecanismos, princípios, regras e normas que influenciam a política pública e, consequentemente, os
seus resultados.
190. Desse modo, esse item busca avaliar, utilizando como base para análise o Referencial do
TCU supracitado, três componentes de governança nas políticas públicas fiscalizadas: i)
Institucionalização; ii) Planos e Objetivos e; iii) Monitoramento e avaliação
191. Sobre o componente institucionalização, a análise busca responder a seguinte pergunta:
Em que medida a política foi institucionalizada formal e adequadamente por meio de instrumento
normativo?
192. No intuito de avaliar o quesito “Planos”, buscou-se responder as seguintes questões: i) de
que forma a lógica de intervenção da política pública está alinhada com seus componentes e
resultados esperados?; e ii) em que medida o planejamento da política pública orienta a sua
operacionalização?
193. Para avaliar o quesito “Objetivos”, buscou-se responder a seguinte pergunta: como os
responsáveis pela política pública definem e declaram as diretrizes, objetivos, metas, priorização,
responsáveis, prazos e a orientação estratégica a que a política está alinhada?
194. Por fim, para o componente Monitoramento e Avaliação, a análise é direcionada a
responder a seguinte questão: em que medida o sistema de monitoramento e avaliação da política está
adequadamente estruturado para produzir informações com vistas a retroalimentar os processos
decisórios de forma a favorecer o aprendizado e o aperfeiçoamento das ações para o alcance de
resultados?
f) Análise geral da política
195. Essa parte do quadro-resumo busca trazer a síntese dos achados encontrados nas
auditorias realizadas e suas principais causas.
g) Principais deliberações
196. Esse item busca trazer as principais deliberações exaradas nos Acórdãos referentes aos
trabalhos contemplados para a composição deste Relatório, as quais serão objeto de monitoramento
243
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
futuro.
h) Temas de Especial Relevância
197. Considerando que o Congresso Nacional é ator de extrema relevância não somente no
processo de alocação de recursos públicos, como também no aprimoramento dos planos, programas e
políticas públicas do País, busca-se nesse item abordar questões e ações de competência do
Congresso necessárias para a melhoria dos resultados das ações governamentais, tais como:
Alterações e/ou criações de leis capazes de eliminar falhas e/ ou mitigar riscos apontados nas
auditorias;
Aperfeiçoamento dos instrumentos de planejamento e orçamento;
Restrições e/ ou incentivos para promoção do desempenho da atuação governamental.
i) Trabalhos do TCU relacionados
198. Por último, o quadro-resumo traz uma relação das ações de controle realizadas nos
últimos 4 anos correlatas à cada política pública que foi objeto de fiscalização contemplada no
presente Relatório.
III.3. Análise Consolidada
199. Conforme descrito anteriormente, a análise consolidada se propõe a construir um
panorama da realidade das políticas públicas fiscalizadas, descrevendo os riscos, irregularidades e
deficiências mais recorrentes no conjunto de políticas que foram objeto de auditorias realizadas pelo
TCU (ver anexo II).
III.3.1 Achado 1 – A ausência de diagnóstico adequado dos problemas que as políticas
públicas pretendem enfrentar tem comprometido a concepção, formulação e processo de tomada de
decisão das políticas.
200. O diagnóstico do problema que se pretende enfrentar por meio da criação, reformulação
ou aperfeiçoamento de uma política pública é elemento fundamental para a adequada orientação dos
rumos que a política deve seguir para lograr alcançar a solução para o problema identificado.
201. O recente documento desenvolvido pelo Governo Federal, denominado Guia Prático de
Análise Ex Ante aponta que a identificação clara sobre o problema que enseja a proposta, associado a
uma população ou a um grupo em particular garante que a política pública tenha uma concepção
sólida e que a análise entre esse problema e as ações e os resultados propostos possa ser desenvolvida
de forma consistente. “A problematização que enseja a ação governamental precisa ser bem-feita
para que a solução proposta seja adequada e a melhor opção possível”.
202. Apesar da importância crucial dessa etapa de diagnóstico do problema para que se defina
o real alcance colimado pela intervenção da ação pública, as recentes fiscalizações realizadas no pelo
TCU apontaram sistematicamente a ausência de conhecimento aprofundado e de definição clara
sobre o problema que a política almeja solucionar. Essa lacuna provocou decisões pouco ou nada
baseadas em evidências, contribuindo para a ausência de foco e de priorização das ações
governamentais e da destinação de recursos públicos. Decisões que se mostraram, não raro,
dissociadas do atendimento real às demandas sociais e econômicas mais prioritárias para o país.
203. A análise consolidada demonstrou que 87% de 15 políticas apresentaram falhas no
processo de seleção dos beneficiários e na destinação da política, 62% de 13 políticas não foram
precedidas de um adequado levantamento de demanda ou diagnóstico do problema e 46% de 13
políticas desconhecem o problema que pretende solucionar.
204. Somente à guisa de exemplificação, cita-se a Política de Investimentos em Infraestrutura
Hídrica (anexo I), cujos valores orçamentários alcançaram R$ 6.685.493.310 entre 2012 e 2015, em
que os processos de seleção e de priorização de investimentos federais não são fundamentados em
critérios objetivos, com base nas principais carências hídricas nacionais, gerando alto grau de
subjetividade na seleção das obras e baixa capacidade de solucionar o problema da escassez hídrica.
205. No caso da Política de Desenvolvimento Urbano (anexo I), cujos gastos nos últimos cinco
anos alcançaram R$ 5.096.909.616,00, verificou-se que a seleção dos objetos dos contratos de
244
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
repasse para pavimentação urbana não está baseado em evidências ou procedimento racional,
podendo levar inclusive à aplicação de recursos públicos em localidades já pavimentadas, sem
atender as localidades em que a ação seria mais urgente e necessária.
206. Também ocorre tal fato em relação ao Plano Nacional de Educação, onde verificou-se que
o planejamento da oferta da educação infantil pelos municípios resta prejudicado pela não realização
do levantamento de demanda de forma adequada e pela ausência de metas de expansão da rede
pública de educação infantil.
207. No caso da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), constatou-se o custeio indevido
dos subsídios “Rural”, “Irrigação e Aquicultura” e “Água, Esgoto e Saneamento” com base em
recursos financeiros dos consumidores de energia elétrica, considerando que tais subsídios dizem
respeito a atividades econômicas ou a problemas sociais que não guardam correlação com o setor
elétrico, que deveria ser o foco da CDE. Esses subsídios cruzados podem onerar de forma
significativa os preços da energia do país – principal insumo para o desenvolvimento econômico –
aumentando o Custo Brasil.
208. A ausência de norma clara e objetiva que exija dos formuladores de políticas públicas a
necessidade de realizar etapas essenciais para a criação, reformulação e expansão das políticas
públicas provoca a realização de um processo com alta subjetividade e, consequentemente, com alta
probabilidade de não alcançar dos resultados almejados, ou fazê-lo de forma muito mais onerosa e
dispendiosa que o necessário.
209. Ademais, a edição de normativo que exija tal prática deve vir acompanhada de
instrumentos que orientem a atuação governamental – a exemplo do Guia de Análise Ex-Ante
supracitado – e de um plano que preveja a disseminação, capacitação e aplicação desses instrumentos
no curto e médio prazo. Nesse sentido, compete ao Centro de Governo avaliar e realizar as medidas
necessárias para a capacitação da Administração Pública e para a devida aplicação da análise ex-
ante por parte dos órgãos responsáveis pela condução das diversas políticas públicas.
210. Além disso, faz-se necessário levar a consideração do Congresso Nacional a necessidade
de edição de ato normativo que mitigue o risco de perpetuação de políticas e programas que sejam
implantadas sem diagnóstico prévio, a exemplo do Projeto de Lei do Senado nº 488, de 2017,
apresentado com o intuito de estabelecer normas e diretrizes para encaminhamento de proposições
legislativas que instituam políticas públicas, propiciando melhor responsabilidade gerencial na
Administração Pública.
III.3.2. Achado 2 – A ausência reiterada de institucionalização das políticas públicas tem
prejudicado a atuação conjunta das partes interessadas e comprometido a legitimidade e a
qualidade da tomada de decisão governamental.
211. A institucionalização de qualquer intervenção governamental é parte inerente da estratégia
de implementação de qualquer política pública, consistindo-se em requisito de extrema importância
tanto para garantir a legitimidade da política, como para reforçar o comprometimento e
responsabilização dos atores envolvidos e a sustentação segura das fontes de recursos a serem
alocados.
212. O Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas do TCU estabelece a
institucionalização como um dos oito componentes de governança de políticas públicas e declara que
a institucionalização está relacionada ao estabelecimento de normas, padrões e procedimentos que
definam claramente as arenas decisórias, a divisão de competências e as atribuições dos atores
envolvidos.
213. Em que pese a importância da institucionalização para a implementação das políticas
públicas, a análise agregada deste relatório demonstra que esse componente não está presente em
diversas políticas, afetando diretamente a sua implementação, uma vez que ficam prejudicados
aspectos relacionados a definição e cumprimento de papéis e responsabilidades, divisão de riscos,
processos decisórios e capacidade organizacional.
245
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
214. A análise realizada demonstrou que, das dezessete políticas que tiveram o componente
“Institucionalização” avaliado, 41% apresentaram nível de maturidade avançado, estando a maioria
em nível intermediário, conforme demonstrado na figura 1. Figura 1 – Nível de maturidade do componente “Institucionalização” nas políticas públicas analisadas
Fonte: Elaboração própria
215. Como exemplo, citam-se as políticas de desenvolvimento da zona fronteiriça (anexo I), que
se caracterizam pela presença de projetos desarticulados e fragmentados, sem um planejamento ou
orientação programática, resultando na dispersão dos recursos públicos, sem ter impactos
significativos na geração de emprego e renda, melhoria nas condições de segurança e defesa
nacional. Como consequência, presencia-se a recorrência incólume de crimes transnacionais, a
existência de conflitos fundiários, a injustiça social e a degradação do meio ambiente.
216. No caso da gestão do Sistema Prisional, cujas despesas foram da ordem de R$
2.060.572.154,00 nos últimos 2 anos (ver anexo I), verificou-se que entre as 19 unidades da federação
avaliadas, apenas o estado de Rondônia instituiu e formalizou uma política pública para o sistema
prisional, direcionada para a atuação conjunta e integrada dos órgãos da execução penal.
217. Novamente em relação aos investimentos hídricos, a inexistência da Política de
Infraestrutura Hídrica deixa claro que os órgãos governamentais responsáveis têm enfrentado o
problema da distribuição desigual dos recursos hídricos e das crises de escassez de água no Brasil
sem planejamento sistêmico, integrado e estruturado, contribuindo para a continuidade dos efeitos da
seca que assola várias regiões do país.
218. Conforme se observa, boa parte das políticas está com baixo nível de institucionalização, e
de fato, somente pouco mais da metade das políticas analisadas está de alguma forma regulamentada,
sendo a maioria, em normativos legítimos, com definição de competências, atribuições,
responsabilidades, direitos e deveres das principais partes interessadas envolvidas na política,
conforme indicado na figura 2. Além disso, no que tange ao processo decisório, cerca de metade das
políticas analisadas não possuem seus processos de decisão formalmente institucionalizados e em
grande parte delas, as decisões normalmente não são tomadas por meio de colegiado, comprometendo
a qualidade e a legitimidade das decisões relacionadas às políticas públicas. Figura 2 – Avaliação de aspectos relativos à institucionalização das políticas públicas analisadas
246
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
219. Entende-se que a lacuna legislativa que defina e exija o atendimento a pré-requisitos
mínimos para criação, reformulação e aperfeiçoamento de políticas públicas contribui para sua baixa
governança. Sem embargo, a ausência de determinação legislativa não justifica a não aplicação de
boas práticas que busquem garantir o alcance dos resultados necessários para a sociedade.
220. Nesse contexto, citam-se como boas práticas de institucionalização, a serem implementadas
em todas as políticas: i) institucionalização formal da política pública por meio de norma legal (lei,
decreto, resolução, etc.) apropriada, emitida por órgão dotado de legitimidade e competência para
fazê-lo, e na qual normatize-se a atuação dos diversos órgãos, instituições e esferas de governo
envolvidos; ii) definição clara e formal das competências das principais partes interessadas
envolvidas na política pública (matriz de responsabilidades), de forma que seja possível a
identificação dos objetivos, papéis, responsabilidades, recursos e obrigações de todos os envolvidos,
incluindo-se abordagem para tratar resolução de conflitos, identificar e dividir riscos e oportunidades
e estabelecer formas de revisão, avaliação e monitoramento; iii) institucionalização formal dos
processos decisórios referentes à política pública; iv) existência de marco regulatório que não
prejudique o desempenho da política pública pelo excesso de formalismo e de detalhamento.
221. Assim, propõe-se recomendar ao Poder Executivo que atue com vistas a orientar e
capacitar os órgãos da administração pública no sentido de promover a adoção de boas práticas e
reduzir a existência de lacunas na institucionalização das políticas públicas existentes.
III.3.3. Achado 3 – A formulação inadequada das políticas públicas tem dificultado
sistematicamente sua boa e regular implementação, comprometendo o alcance dos objetivos e dos
resultados esperados.
222. A adequada formulação é crucial para o sucesso da política pública, uma vez que é nessa
fase em que se definem os objetivos, público-alvo, meios e instrumentos de implementação, atores
envolvidos, arranjos institucionais necessários, metas e resultados esperados. A ausência de tais
elementos pode tornar a política carente de direcionamento e foco de atuação, minando suas chances
de criar efeitos sobre as realidades econômicas ou sociais a que almeja transformar.
247
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
223. Impende destacar que a importância de um plano estruturado para a política pública é
reforçada no bojo do projeto de lei complementar (PLS 488/2017), aprovado pelo Senado Federal e
encaminhado para a Câmara dos Deputados sob o número 441/18, que obriga o envio pelo Poder
Executivo de avaliação fundamentada sobre o impacto da aprovação de lei que cria uma nova política
pública, o que inclui o atendimento a um conjunto de pré-requisitos essenciais para criação de novas
políticas públicas, a fim de garantir a eficácia, a eficiência, a economicidade e a efetividade das ações
públicas.
224. Nesse mesmo diapasão, o Guia Prático de Análise Ex-Ante, já citado anteriormente neste
documento, aborda um conjunto de elementos essenciais para a (boa) formulação de políticas
públicas e reconhece a importância de que a política seja bem desenhada para cumprir objetivos
claros, estabelecer meios factíveis, definindo os beneficiários e construindo metas realisticamente
alcançáveis. Além disso, reforça a necessidade de que a política seja desenhada de forma realista,
considerando uma grande variedade de fatores, nem sempre sob controle total do setor público.
225. Nessa mesma linha, o Referencial do TCU define “Planos e Objetivos” como um dos
componentes de governança de políticas públicas e aponta um conjunto de boas práticas a serem
aplicadas no seu processo de formulação, tendo como exemplos, formulação baseada em evidencias,
com aproveitamento da experiência de outros países; consulta a todos os envolvidos; explicitação do
estágio de referência inicial, que servirá de base para avaliação do resultado da intervenção, entre
outras.
226. Apesar da importância da devida formulação das políticas públicas para a promoção de
resultados efetivos, em decorrência de hiato legislativo e ausência de obrigação e de cultura
institucional para que a formulação de políticas sigam ritos mínimos de formulação adequadas, as
auditorias apontaram diversas deficiências nessa fase do ciclo das políticas analisadas, tais como, o
descasamento entre responsabilidades e capacidades, falhas na mensuração dos recursos financeiros
e humanos necessários para gerir e controlar as políticas, falhas na seleção dos beneficiários e,
principalmente, falhas na construção de instrumentos que permitam o devido monitoramento e
avaliação dos resultados das políticas.
227. Como exemplo, cita-se a Política de Desenvolvimento Urbano, que apontou como um de
seus principais problemas o descasamento entre o grau de responsabilidade do município com a sua
estrutura e capacidade técnica e administrativa, resultando na baixa implementação da ação de
pavimentação, percebida por meio da baixa capacidade de execução orçamentária, equivalente a
0,2% do valor previsto entre 2012 e 2017 (ver anexo I).
228. Em relação ao Plano Nacional de Educação (PNE), embora haja estratégia como objetivo
de promover a redução das desigualdades na educação, boa parte dos municípios pesquisados não
adota critérios para priorizar o atendimento a crianças mais pobres no acesso às creches públicas.
Dos municípios que responderam ao questionário enviado pela equipe de auditoria, 47% não
possuíam critérios nesse sentido (qual o número de municípios e crianças – proxi). Além disso,
embora o PNE tenha elencado 17 estratégias para consecução da Meta 1, não há definição clara e
formal das atribuições dos principais atores interessados, de forma que seja possível identificar os
objetivos, os papéis, as responsabilidades e as obrigações de todos os envolvidos. A ausência de
responsabilidades claramente definidas prejudica a execução de determinadas estratégias, pelo fato
de que os entes federados não reconhecem suas incumbências na operacionalização das ações.
229. No caso da Lei Rouanet, identificou-se que a maioria dos problemas apresentados na
política, tais como fraude, superfaturamento, projetos duplicados, entre outros, decorrem da
incapacidade operacional do órgão de verificar e fiscalizar adequadamente a aplicação dos recursos,
o que poderia ter sido evitado na formulação da política, fase em que se verificam e se definem os
recursos humanos necessários à devida implementação e ao adequado monitoramento da política.
230. Problemas de formulação também estão presentes no caso da Política de Fronteiras, onde
se observou que a inexistência de avaliações formais, sistemáticas e periódicas sobre o desempenho
248
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
integrado dos órgãos governamentais na área de fronteira decorre da ausência de um referencial
estratégico da política formulado de maneira compartilhada, com a definição de objetivos, metas e
indicadores. A desarticulação dos diversos atores, que deveriam interagir de forma mais sinérgica e
coordenada nas políticas de fronteiras, tem promovido o permanente e reiterado índices de
contrabandos, descaminhos e desvios com prejuízos ao desenvolvimento e a produtividade do produto
nacional.
231. No Programa Nacional de Alimentação Escolar Quantitativo de nutricionistas incompatível
com o número de alunos existentes nas escolas estaduais, cardápios em desacordo com as exigências
legais, condições de higiene e conservação da cozinha inadequadas ao preparo e fornecimento da
alimentação. Essa discrepância pode implicar a nutrição inadequada das crianças, prejudicando seu
nível de aprendizado.
232. Da mesma forma ocorre na Lei de Informática, cuja inexistência de indicadores finalísticos
industriais para avaliar o retorno de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
incentivados pela política dificulta o acompanhamento de resultados que poderiam ser utilizados
como subsídio para avaliação e revisões da política de informática.
233. A análise consolidada demonstrou que, das dezesseis políticas que tiveram o componente
“Planos” avaliado, somente 19% apresentaram nível avançado de maturidade, estando a maior parte
das políticas em nível intermediário, conforme demonstrado na figura 3. Figura 3 – Nível de maturidade do componente “Planos” nas políticas públicas analisadas
Fonte: Elaboração própria.
234. Na análise pormenorizada sobre a lógica de intervenção das políticas públicas e do seu
alinhamento com seus componentes e resultados esperados, verificou-se que mais da metade das
políticas analisadas apresentam público-alvo definido, com produtos e efeitos esperados associados a
esse público, como também possuem identificação dos principais mecanismos necessários para a
realização das políticas. Entretanto, grande parte das políticas não possui consistência interna na sua
lógica de intervenção, considerando o encadeamento entre recursos, ações, produtos e efeitos. Além
disso, os elementos relacionados a resultados, que permitem avaliar a efetividade da política, se
mostraram em estágio bastante inicial de maturidade, conforme indicado na figura 4. Figura 4 – Avaliação de aspectos relativos à lógica de intervenção das políticas públicas
249
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fonte: Elaboração própria.
235. A análise detalhada sobre os aspectos de planejamento que orientam a operacionalização
das políticas públicas apontou que mais da metade das políticas analisadas possui um processo de
implementação da política bem definido, com planos elaborados com a participação das partes
interessadas e dos responsáveis pela execução da política e considerando as formas de
interdependência entre os diversos atores. Contudo, todos os demais elementos foram negligenciados
na formulação das políticas, sendo os aspectos relacionados a teste piloto, cronograma atualizado,
alternativas de contingência, conhecimento das atribuições pelas partes interessadas, e previsão de
mecanismos para acompanhamento e controle das políticas extremamente críticos, conforme se
observa na figura 5. Esses fatores são explicativos claros e incontestáveis do baixo grau de resultados
alcançados pelas diversas políticas analisadas, promovendo baixa eficiência e efetividade dos
recursos públicos. Figura 5 – Avaliação de aspectos relativos ao planejamento das políticas públicas analisadas.
250
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fonte: Elaboração própria.
236. Em relação ao componente “Objetivos”, a consolidação das informações apontou que das
a questão é bastante preocupante, uma vez que apenas 13% das dezesseis políticas que tiveram esse
componente avaliado, apresentaram nível avançado de maturidade, estando a maioria em nível
inicial, conforme se observa na figura 6. Figura 6 - Nível de maturidade do componente “Objetivos” nas políticas públicas analisadas
Fonte: Elaboração própria
237. A análise mais detalhada verificou que embora boa parte das políticas sejam orientadas
251
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
por diretrizes estratégicas de governo, a grande maioria não possui visão estratégia de longo prazo.
Além disso, os aspectos relacionados a definição de objetivos e de metas e análise de coerência entre
esses elementos se mostraram ainda em estágio inicial de maturidade, conforme se observa na figura
a seguir. Figura 7 – Avaliação de aspectos relativos aos objetivos das políticas públicas analisadas – Parte 1
Fonte: Elaboração própria
238. Ao avaliar os aspectos relacionados a participação na definição dos objetivos, análise de
precedência entre os eles, bem como definição de prazos, responsáveis e competências, percebeu-se
que a definição os objetivos das políticas públicas analisadas ainda é um processo bastante incipiente,
que ainda carece de muito aprimoramento, conforme indicado na figura 8. Figura 8 – Avaliação de aspectos relativos aos objetivos das políticas públicas analisadas – Parte 2
252
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fonte: Elaboração própria.
239. Entende-se que a lacuna legislativa que defina e exija o atendimento a pré-requisitos
mínimos necessários à adequada formulação de políticas públicas contribui para a existência de
políticas mal desenhadas. Não obstante, a ausência de positivação legislativa não exime as
instituições responsáveis pelas políticas e pela aplicação de recursos públicos da devida aplicação de
boas práticas que busquem garantir as entregas demandadas pela sociedade.
240. Nesse contexto, citam-se como boas práticas para formulação de políticas públicas: i)
definição dos resultados das políticas, tendo uma visão de longo prazo; ii) consulta a todos os
envolvidos na implantação durante o processo de planejamento, incluindo-se a definição consensual
dos objetivos; iii) explicitação do estágio de referência inicial (“marco zero”) que servirá de subsídio
para a avaliação do resultado da intervenção pública; iv) realização de testes acerca da forma de
implantação de uma política pública antes da sua efetiva implantação; v) identificação e definição de
marcos e prazos da implantação de planos em passos administráveis; vi) estabelecimento, de comum
acordo, de objetivos coerentes e alinhados entre todas as organizações envolvidas na implementação
da estratégia; vii) identificação e provisão de recursos humanos, físicos, financeiros e de tecnologia
da informação necessários para o início e o desenvolvimento da política pública.
241. Desse modo, considerando a análise ex-ante ferramenta essencial para mitigar falhas de
formulação das políticas públicas e suas respectivas consequências, é fundamental que os órgãos do
Poder Executivo identifiquem as falhas de formulação das principais políticas pelas quais são
responsáveis e apliquem esse modelo de análise, adotando minimamente, as práticas supracitadas.
253
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
III.3.4. Achado 4 – Deficiências na gestão de riscos e na implementação de controles internos
nas políticas públicas tem permitido a concessão e a manutenção de beneficiários inapropriados.
242. A gestão de riscos eficaz e a implementação de controles internos efetivos é condição
necessária para garantir que os objetivos estabelecidos na formulação da política sejam de fato
alcançados, garantindo a entrega e a qualidade dos serviços ofertados ao público-alvo ao qual a
política se destina.
243. O recente Decreto 9.203/2017, que dispõe sobre a política de governança da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional, em seu artigo 4º, inciso VI, define como diretriz da
governança pública, “implementar controles internos fundamentados na gestão de risco, que
privilegiará ações estratégicas de prevenção antes de processos sancionadores”.
244. Além disso, a Instrução Normativa MP/CGU 01, de 2016, em seu artigo 1º determina que
“os órgãos e entidades do Poder Executivo federal deverão adotar medidas para a sistematização de
práticas relacionadas à gestão de riscos, aos controles internos, e à governança”.
245. Embora haja previsão legal para a implementação de gestão de riscos e de controles
internos, a análise consolidada demonstrou que o seu cumprimento ainda é incipiente. Todas as
políticas abordadas neste relatório que tiveram esse aspecto auditado, apresentaram deficiências
nesse componente de governança. Como consequência, verificaram-se concessão e manutenção
indevidas de beneficiários, implicando gastos desnecessários e desvirtuamento dos objetivos e da
solução almejados pela política. Além disso, 91% de 11 políticas analisadas apresentaram falhas na
qualidade ou descontinuidade dos serviços prestados por meio das políticas.
246. No caso da Lei Rouanet, foram encontrados pagamentos de despesas sem a comprovação
da efetiva prestação dos serviços e da economicidade das contratações realizadas, execução de
despesas vedadas pela legislação em vigor na execução de projetos culturais e inexistência de
critérios objetivos para validação dos valores apontados pelos proponentes como custos de captação
de recursos dos projetos incentivados.
247. No Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), encontrou-se que a emissão da
Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) é baseada em informações declaradas pelo então agricultor
familiar, sem qualquer análise de consistência (validação) por parte do órgão responsável dos dados
declarados. Além disso, não há regulamentação quanto a suspeição e qualificação mínima dos
agentes emissores de DAP.
248. Em relação à Lei de Informática, apontou-se a manutenção do benefício fiscal a empresas
inadimplentes em relação ao parcelamento de débitos anteriores, em desconformidade com a norma
estabelecida.
249. A existência de norma que preveja a gestão de riscos e controles e internos é um passo
importante para garantir a sua implementação. Além disso, ela deve vir acompanhada por planos de
institucionalização, orientados pelo Centro de Governo e implementados pelas demais instituições
governamentais.
III.3.5. Achado 5 – Deficiências de coordenação entre setores e/ ou entre esferas de governo e
ausência de articulação entre os atores envolvidos tem prejudicado a entrega de soluções integradas
para os problemas enfrentados pela sociedade.
250. A coordenação é componente essencial para garantir que os diversos sistemas
institucionais e gerenciais que formulam e implementam as políticas públicas trabalhem juntos. A
integração deve ocorrer entre setores, entre políticas e entre esferas de governo.
251. Nesse sentido, o Decreto 9.203/2017, define como diretriz da governança pública,
“articular instituições e coordenar processos para melhorar a integração entre os diferentes níveis e
esferas do setor público, com vistas a gerar, preservar e entregar valor público”.
252. O Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas do TCU também
aponta que “as políticas públicas devem ser integradas, tanto interna quanto externamente, de forma
que as ações e os objetivos específicos das intervenções empreendidas pelas diversas partes
254
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
interessadas sejam alinhados para se reforçar mutuamente. Espera-se a institucionalização e reforço
dos mecanismos de coordenação, de forma a criar condições para a atuação conjunta e sinérgica,
evitando assim superposições ou esforços mutuamente contraproducentes. Deve-se garantir a
construção de relações institucionais e articulação entre as esferas de governo, em todas as fases do
ciclo das políticas públicas”.
253. Embora a coordenação seja essencial para garantir o sucesso dos resultados das ações
governamentais e tenha previsão legal, a aplicação deste componente de governança ainda é bastante
incipiente, o que prejudica a coerência entre ações e cooperação entre instituições, resultando, muitas
vezes em ações esparsas e desconectadas, incapazes de resolver os desafios nacionais e atender às
necessidades da população.
254. Como exemplo, cita-se o Programa Minha Casa Minha Vida, em que a ausência de
coordenação e integração resultou na construção de residências (90% das 19 mil moradias
vistoriadas) em regiões carentes de serviços públicos básicos, tais como escolas, creches, postos de
saúde, transporte público, comércio local, segurança pública, entre outros.
255. No caso na Política de Banda Larga, percebe-se que um dos obstáculos à inclusão digital é
a existência de políticas públicas desconexas entre diferentes poderes e níveis federativos gerando
redundância na prestação dos serviços digitais, falta de isonomia e desperdício dos recursos públicos.
Há muitos municípios que possuem telecentros instalados pela União e também pelo Município,
enquanto outros, não possuem nem um nem outro.
256. Em relação ao Sistema Prisional, embora ele dependa da integração de diversas
instituições públicas, verificou-se que somente 44% das unidades federativas fiscalizadas instituíram e
formalizaram fórum de articulação, tendo como participantes, em geral, o Poder Judiciário, a
Defensoria Pública, o Ministério Público, a autoridade policial e o diretor do estabelecimento
prisional, entre outros.
257. A existência de decreto que preveja a coordenação e a articulação como essenciais para a
boa governança é de extrema importância. Entretanto, a sua aplicação é bastante complexa e exige
das diversas instituições uma forma de pensar e de agir mais sinérgica, colaborativa e integrada.
258. O Guia Prático de Análise Ex Ante recomenda como forma de minimizar os problemas
futuros, o envolvimento dos atores desde a fase inicial das ações, incluindo a construção conjunta da
estratégia ou plano de implementação da política pública. Além disso, é importante que a política
preveja a existência de uma instância legítima e formalizada de coordenação, responsável por alinhar
as ações dos diversos atores, e defina formalmente os meios de articulação necessários entre os
diversos atores.
259. Nesse sentido, faz-se necessário que o Poder Executivo atue no sentido de institucionalizar
mecanismos e práticas de coordenação e de articulação das diversas políticas públicas, em
atendimento ao disposto no art. 4º, inciso IV do Decreto 9.203/2017.
III.3.6. Achado 6 – Deficiências no processo de monitoramento e avaliação tem dificultado o
acompanhamento dos resultados das políticas públicas e prejudicado a transparência da atuação
governamental.
260. O processo de monitoramento e avaliação de políticas públicas é responsável por gerar
informação necessária sobre o desempenho de políticas, permitindo realizar ajustes ao longo de sua
execução, bem como dar transparência à sociedade sobre os resultados obtidos com a aplicação dos
recursos públicos alocados.
Por monitoramento entende-se o exame contínuo dos processos, produtos, resultados e impactos
das ações realizadas. Trata-se de informação mais simples e imediata sobre a operação e os efeitos da
política. A avaliação envolve julgamento, atribuição de valor e mensuração da política, no sentido de
melhorar seus processos de tomada de decisão e ajustar as linhas de intervenção. Trata-se de
informação mais aprofundada e detalhada sobre o funcionamento e os efeitos da política (Guia de
Análise Ex Ante, 2018).
255
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
261. O Decreto 9.203/2017, já citado anteriormente, em seu artigo 4º, inciso III, define como
diretriz da governança pública, “monitorar o desempenho e avaliar a concepção, a implementação e
os resultados das políticas e das ações prioritárias para assegurar que as diretrizes estratégicas sejam
observadas”.
262. Além disso, a Lei 12.527/2011, em seu artigo 6º, inciso VII, atribui aos órgãos e entidades
do poder público, observadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, a responsabilidade
de assegurar a informação relativa à implementação, acompanhamento e resultados dos programas,
projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos.
263. Embora o monitoramento e a avaliação sejam indispensáveis para fortalecer o ciclo das
políticas públicas e melhorar a efetividade das ações, a análise consolidada das políticas fiscalizadas
demonstra que parte significativa das políticas apresenta diversas deficiências nesse processo,
impedindo o seu devido aprimoramento e comprometendo as relações de accountability. Conforme
representado na figura 9, somente 13% das políticas que tiveram esse componente avaliado,
apresentaram nível de maturidade avançado. A maioria está em nível inicial, o que exemplifica a
incapacidade do Estado de examinar, mensurar e corrigir os rumos das políticas públicas
implementadas. Figura 9 – Nível de maturidade do componente “Monitoramento e Avaliação”
nas políticas públicas analisadas
Fonte: Elaboração própria.
264. Ao buscar analisar em que medida o sistema de monitoramento e avaliação da política está
adequadamente estruturado para produzir informações com vistas a retroalimentar os processos
decisórios, percebeu-se que origem das falhas encontradas neste componente de governança decorre
principalmente do fato de que o processo de monitoramento e avaliação e todos os seus respectivos
elementos, como procedimentos, sistemas, indicadores-chave, responsáveis, etc., não são
contemplados na fase de planejamento das políticas, conforme indicado no figura 10, tornando
praticamente impossível a sua execução. Como consequência, todos os aspectos relacionados a
produção de informações, comunicação de resultados e retroalimentação das políticas públicas ficam
comprometidos, conforme aponta a figura 11. Figura 10 – Avaliação de aspectos relativos ao componente “Monitoramento e Avaliação” das
políticas públicas analisadas – Parte 1
256
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fonte: Elaboração própria.
Figura 11 – Avaliação de aspectos relativos ao componente “Monitoramento e Avaliação” das políticas
públicas analisadas – Parte 2
Fonte: Elaboração própria.
265. A existência de norma que exija o monitoramento e a avaliação dos resultados das políticas
públicas é condição essencial para a sua implementação. Além disso, são necessárias ações do Poder
Executivo destinadas a institucionalizar mecanismos e práticas, no sentido de atender ao disposto no
257
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
art.4º, inciso III do Decreto 9.203.
IV. CONCLUSÃO
266. O presente trabalho, denominado de Relatório de Políticas e Programas de Governo
(RePP), foi desenvolvido em cumprimento ao disposto no art. 123 da Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) 2019, que confere ao Tribunal de Contas da União (TCU) a responsabilidade por enviar à
Comissão Mista do Congresso Nacional um quadro resumo relativo à qualidade da implementação e
ao alcance de metas e objetivos dos programas e ações governamentais objeto de auditorias
operacionais realizadas, para subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual.
267. O Capítulo I abordou o monitoramento das deliberações exaradas no âmbito do Relatório
de Políticas e Programas de Governo 2017 (Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário), que determinaram à
União a adoção de um conjunto de medidas voltadas a aprimorar o arcabouço de governança do país,
abordando aspectos de planejamento estratégico, orçamentação, gestão de riscos e coordenação e
coerência na formulação e implementação das políticas públicas por ela conduzidas.
268. O Capítulo II por sua vez, apresentou de forma inédita uma análise consolidada dos
resultados das fiscalizações realizadas em 18 políticas públicas distintas avaliadas pelo TCU nos de
2018 e 2018, de forma a construir um panorama que refletisse as falhas mais recorrentes nas políticas
públicas analisadas, que comprometem os resultados das ações governamentais.
269. A análise realizada permitiu demonstrar que as deficiências de gestão e governança de
políticas públicas não ocorrem pontualmente, mas sim de forma sistêmica, recorrente e em todas as
etapas do ciclo de políticas, conforme representado na figura do anexo V. Depreende-se, portanto,
que a baixa capacidade de entrega do Estado brasileiro não decorre somente de imprevistos e de
fatores externos e incontroláveis, mas sim da ausência de fatores institucionais e de aplicação de boas
práticas essenciais para a criação de valor público.
270. Nesse contexto, entende-se ser essencial a reformulação do modelo atual de condução,
criação e de expansão de políticas públicas no País, que considere, pelo menos, as seguintes
premissas:
O principal plano estratégico do governo federal deve orientar as demais políticas públicas de
âmbito nacional, de forma que a vinculação entre planos de longo prazo e políticas públicas evidencie
claramente o propósito estratégico de cada política pública e a transversalidade, coerência e sinergia
entre elas, considerando eventuais fragmentações, duplicações e sobreposições ou lacunas;
A obtenção de resultados para a nação depende de um modelo de governança e de liderança
institucional capaz de engajar as diversas instituições públicas em uma agenda comum, que considere
a transversalidade dos problemas e de suas respectivas soluções e faça com que as organizações
públicas trabalhem em conjunto e de forma coordenada;
Os processos decisórios relativos a qualquer política pública, inclusive os relacionados à sua
criação, devem estar alicerçados por evidências capazes de certificar que as melhores alternativas
foram analisadas e que decisões críveis e viáveis estão sendo tomadas;
A mensuração sistemática da efetividade e da eficiência da política deve ser condição
essencial para justificar a sua existência. A ausência de avaliação de impacto e a permanência
indevida de uma política gera distorções e ineficiências econômicas sistêmicas;
O aperfeiçoamento da atuação estatal requer constante monitoramento e avaliação dos
resultados obtidos com cada intervenção pública, mitigando-se o risco de perpetuação de
intervenções que não tenham o efeito esperado, bem como de interrupções de políticas ou programas
que possam prejudicar o desenvolvimento sustentável;
As políticas públicas de caráter descentralizado, por sua natureza, requerem maior
coordenação e maior esforço de articulação e controle por parte da União em todas as suas fases,
incluindo a execução na ponta, sendo a transferência de recursos para execução da política a etapa
menos desafiadora e pouco efetiva para aferir se há obtenção de resultados;
258
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
A simples destinação de recursos para políticas meritórias não significa necessariamente que
os resultados serão alcançados e a perpetuação de determinadas políticas públicas destoa da lógica
econômica e do senso-comum, em que se espera que o resultado a ser alcançado se reduza ao longo
do tempo, à medida que atinja metas e objetivos parciais da política pública, até chegar à sua
completa extinção, quando cumprido na íntegra o objetivo da política;
Deve estar claro para a sociedade o custo corrente e acumulado de cada política pública,
assim como os seus benefícios, de forma a justificar a manutenção das políticas em andamento.
271. Considerando ainda o agravamento do contexto de limitação dos gastos públicos, em
decorrência endividamento estatal excessivo, trazido pelo Novo Regime Fiscal e de baixa qualidade
do gasto e da produtividade do País, considera-se que a mesma lógica de reformulação do modus
operandi precisa ser aplicada ao modelo de alocação dos recursos públicos, a qual deve considerar:
A necessidade de um sistema orçamentário que permita rever periodicamente os resultados
dos seus gastos e, a partir destes, priorizar ações governamentais que, de fato, demonstrem a sua
efetividade;
A análise ex-ante da política – necessariamente para novas políticas e, se possível, para
aquelas em andamento – como condição essencial para alocação de recursos públicos, de forma a
evitar ações escolhidas por demandas pontuais e injustificáveis, sem análise mais ampla do cenário
nacional e sem o devido planejamento;
A priorização de políticas claramente vinculadas ao planejamento e aos objetivos estratégicos
do Estado;
A transferência de recursos públicos para execução de políticas públicas vinculada à
capacidade técnica, gerencial e administrativa do ente federativo recebedor dos recursos.
272. Algumas iniciativas já estão sendo tomadas pelo Governo, conforme verificado no
monitoramento do Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário, abordado no Capítulo I deste relatório. Com
relação aos itens 9.2 e 9.3 do referido acórdão, verificou-se que a União vem adotando medidas para
o efetivo cumprimento das recomendações, demonstrando iniciativa em adotar aprimoramentos em
todos os pilares de atuação estatal analisados – planejamento estratégico, orçamentação,
coordenação e coerência, gestão de riscos e monitoramento e avaliação. Contudo, verifica-se que o
cumprimento da recomendação relativa ao plano de ação (9.3), em razão de seu caráter estruturante,
será gradual uma vez que depende da evolução do nível de maturidade de atividades-chave que
integram o Centro de Governo. Ademais, verifica-se que, em face da ainda não positivação e
institucionalização de alguns aprimoramentos e da proximidade da alternância de mandatos
presidenciais – situação dotada de potencial para retrocessos na adoção e evolução de novos arranjos
institucionais – torna-se fundamental acompanhar a evolução da implementação do plano de ação a
que faz menção o item 9.3.3 do acórdão em tela.
273. Cabe ressaltar que a existência de lacuna legislativa que determine a utilização de práticas
e procedimentos essenciais para a boa gestão e boa governança de políticas públicas e para a devida
alocação orçamentária não desobriga os responsáveis de atuarem de forma correta e responsiva,
buscando aplicar as melhores práticas existentes, com vistas a garantir o atendimento das demandas
sociais e cumprir com os preceitos constitucionais de moralidade, eficiência e economicidade.
274. Por último, destaca-se a importância do Congresso Nacional nesse processo de revisão de
políticas públicas e de alocação orçamentária. De acordo com os artigos 49 e 166 da Constituição
Federal, compete ao Congresso Nacional: i) apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de
governo; ii) examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e setoriais
previstos na Constituição e; iii) exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária.
275. Embora algumas auditorias tenham apontado a edição de lei que institucionalizasse e
definisse parâmetros e bases essenciais para o devido funcionamento da política, entende-se que o
papel do Congresso Nacional no aperfeiçoamento das políticas e do processo orçamentário supera
259
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
significativamente a competência de legislar. Cabe ao Parlamento, na condição de chancelador das
despesas públicas e de titular do controle externo, o exame criterioso dos planos, políticas e
programas de governo e o acompanhamento da qualidade do gasto público.
276. Nesse sentido, este relatório se presta não somente a atender pontualmente ao artigo da
LDO, mas também apoiar de forma mais ampla o Congresso Nacional no completo cumprimento das
suas competências constitucionais.
V. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
277. Com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c arts. 239,
inciso II, e 250, inciso II, do Regimento Interno, propõe-se:
I. Encaminhar à Comissão Mista do Congresso Nacional a que se refere o § 1º do art. 166 da
Constituição Federal, nos termos do art. 123 da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2019,
quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e objetivos dos
programas e ações governamentais objetos de auditorias operacionais realizadas, para subsidiar a
discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual;
II. Recomendar à Casa Civil da Presidência da República, no exercício das competências
atribuídas pelo art. 3º da MP 782/2017, em especial aquelas relacionadas a coordenação, integração,
monitoramento e avaliação das ações governamentais, e ao Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão, no exercício das competências atribuídas pelo art. 2º do Decreto
9.035/2017, em especial aquelas relacionadas à formulação do planejamento estratégico nacional e à
elaboração de subsídios para formulação de políticas públicas de longo prazo voltadas ao
desenvolvimento nacional, em articulação com o Ministério da Fazenda, em atenção ao princípio da
eficiência insculpido no art. 37 da Constituição e aos art. 4º e 5º do Decreto 9.203/2017, que
contemplem, na implementação do plano de ação em curso, os seguintes aspectos:
a) Positivação de plano nacional integrado de longo prazo, a que faz menção o disposto no art.
174, §1º da CF, em continuidade às ações de proposição e debate institucional atualmente em curso
no âmbito de elaboração da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (ENDES) e
do Projeto de Lei 9163, de 23 de novembro de 2017 (item 33 deste relatório);
b) Integração e articulação do plano nacional integrado de longo prazo que vier a ser
formalizado com os demais instrumentos de planejamento nacional, setorial e regional, em especial o
Plano Plurianual (itens 26 e 78 deste relatório);
c) Definição de cronograma de ações para orientação, capacitação e estímulo aos órgãos da
administração pública visando disseminar a aplicação do Guia de Análise Ex Ante do Governo
Federal nos processos de criação, aperfeiçoamento e expansão de políticas públicas, em atendimento
às diretrizes estabelecidas no art. 4º, inc. VII e VIII do Decreto 9.203/2017 (itens 206, 217, 219 e 239
deste relatório);
d) Definição de cronograma de ações visando institucionalizar e qualificar os mecanismos e
práticas de gestão de riscos, controles internos, coordenação e articulação, monitoramento e
avaliação no âmbito dos órgãos da administração pública, em atendimento às diretrizes estabelecidas
no art. 4º, inc. III e VI do Decreto 9.203/2017 (itens 247, 257 e 264 deste relatório);
III - Dar ciência ao Congresso Nacional da necessidade de aprimoramento do arcabouço legal
dos processos de alocação e execução orçamentária, com vistas a: i) considerar as avaliações do
desempenho e dos resultados governamentais nos processos decisórios, para destinação de recursos e
adoção de medidas de aperfeiçoamento dos programas e políticas públicas em curso; ii) instituir
mecanismos sistemáticos para demandar, das instituições responsáveis por gerir recursos públicos, a
aplicação de boas práticas de governança e gestão aplicáveis às políticas públicas (itens 208 e 217);
IV- Encaminhar este relatório aos Ministérios responsáveis pelas políticas contempladas neste
trabalho: Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério de Minas
e Energia, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
260
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério do Trabalho, Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovação e Comunicações, Ministério da Cultura, Ministério dos Direitos Humanos,
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Ministério da Segurança Pública, com vistas a
dar ciência das lacunas e falhas apontadas nos processos de institucionalização, formulação, gestão
de riscos, controles internos, coordenação, monitoramento e avaliação das políticas pelas quais são
responsáveis (itens 206, 217, 219, 239, 247, 257 e 264 deste relatório).
V - Orientar à Secretaria-Geral de Controle Externo que:
a) Considere, no processo de acompanhamento da elaboração do Plano Plurianual 2020-2023,
incumbido à Secretaria de Macroavaliação Governamental, os aspectos abordados no item 9.1.4
(9.3.2) do Acórdão 2.127/2017-TCU-Plenário;
b) Considere a importância de incluir em seu planejamento fiscalizações que contemplem, para
políticas públicas de alta materialidade, relevância e risco, questões estruturais para a ação
governamental, em especial que avaliem: i) o uso de evidências nos processos decisórios das políticas
públicas, incluindo aqueles relativos à sua própria criação; ii) a maturidade da governança e da
gestão das políticas públicas auditadas; iii) os resultados alcançados em função dos recursos públicos
empregados.”
O titular da Coger, a par de endossar a proposta de encaminhamento, teceu as considerações
adicionais:
“1. Manifesto-me favoravelmente à proposta de encaminhamento elaborada pela equipe de
auditoria e corroborada pelo titular da Semag, com acréscimos de alguns itens pelas razões que
busco expor a seguir.
2. Inicialmente impende destacar que o presente trabalho possui dois objetivos: O primeiro de
identificar ações governamentais conduzidas pelo Poder Executivo Federal, que visem à superação
das falhas do arcabouço institucional objeto de análise do primeiro Relatório de Política e Programa
elaborado em 2017, notadamente déficits sistêmicos relativos às áreas de planejamento, orçamento,
governança e coordenação da Administração Pública Federal. O segundo objetivo deste relatório
trata de consolidar evidências de trabalhos desta Corte conduzidos em 2017 e 2018 inerentes aos
resultados, à conformidade e ao desempenho de políticas públicas setoriais e regionais. Nesse
desiderato, o Relatório de Políticas e Programas de Governo (RePP 2018) revela que: o Centro de
Governo tem levado à efeito um conjunto de ações estruturantes, ainda que incipientes, para o
aperfeiçoamento da Administração Pública Federal no que tange às suas atribuições de garantir os
resultados, a eficiência, a coerência e a coordenação das ações públicas em benefício da sociedade.
Contudo, a análise consolidada apresentada neste relatório revela de forma inequívoca e grave que
persistem déficits institucionais crônicos e de alto risco, de forma recorrente, generalizada e
sistêmica nos diversos órgãos, entidades, políticas, programas e ações governamentais, afetando de
forma significativa a qualidade do gasto público federal e perenizando a baixa eficácia e efetividade
dos bens e serviços públicos ofertados pelo Estado ao cidadão. 3. Com vistas a sanar as falhas estruturantes de governança e gestão do Estado brasileiro, a
equipe de auditoria reforça a necessidade de continuidade do acompanhamento realizado pelo TCU
das ações estruturantes destacadas neste Relatório, que estão sendo engendradas pelo Centro de
Governo para melhoria de seu funcionamento e também destaca a equipe a premente necessidade da
reformulação do modelo atual de criação, condução e expansão de políticas públicas, bem como a
reformulação do modelo de alocação de recursos públicos no País tendo em vista a sua baixa
eficácia e efetividade no que diz respeito a qualidade do gasto público. O achado de auditoria mais
relevador dessa necessidade de mudança na atuação governamental se refere à constatação de que as
deficiências de gestão e governança de políticas públicas não ocorrem pontualmente, mas sim de
forma sistêmica, recorrente e em todas as etapas do ciclo dessas políticas, o que demonstra que a
261
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
baixa capacidade de entrega do Estado brasileiro principalmente da ausência de fatores institucionais
e de práticas essenciais para a criação de valor público.
Enquadramento Constitucional e Legal do Relatório de Políticas e Programas de Governo
4. Por se tratar da agregação de novo produto ao já vasto portfólio de atividades de controle
externo exercido pelo TCU, cabe assegurar-se seu enquadramento legal, salientando, desde logo, que
se por um lado, não se trata de processo de trabalho necessariamente inovador, pois de quanto ao
fato o TCU já há muito tem consolidado diversos produtos de suas fiscalizações, a exemplo do que
ocorre com as Contas de Governo da República, ou mesmo dos mais diversos Relatórios Sistêmicos
Setoriais e Regionais e o próprio Fiscobras, Contudo, por outro lado, é sim um produto de alto
impacto inovador, notadamente na forma de relacionamento com o Congresso Nacional e o Centro
de Governo do Poder Executivo, no que se refere à integração da fiscalização exercida pelo TCU nas
dimensões de conformidade, operacional e orçamentária das políticas e programas governamentais e
se tornando um subsídio singular e sistêmico ofertado às Casas Legislativas, para que possam exercer
plenamente, com o apoio do TCU, suas fundamentais competências inerentes ao processo
orçamentário e de fiscalização da administração pública.
5. Assim, para assegurar a eficácia do controle e instruir o julgamento das contas, o Tribunal
efetua a fiscalização dos atos de que resulte receita ou despesa, praticados pelos responsáveis sujeitos
à sua jurisdição (art. 41, caput, da Lei 8.443/1992). O Relatório de Políticas e Programas de Governo
2018 é produto resultante da fiscalização efetuada pelo TCU em razão de suas atribuições
constitucionais, servindo como valioso instrumento de análise e comunicação da qualidade da
implementação e o alcance de metas e objetivos dos programas e ações governamental objeto de
fiscalizações realizadas.
6. Ao ser encaminhado à Comissão Mista de que trata o art. 166, § 1º, da Constituição Federal
para subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária de 2019 pelo Poder Legislativo (art. 124
da Lei 13.707/2018 - LDO 2019), o relatório “RePP 2018” é resultado do trabalho de controle
externo preventivo exercido pelo Congresso Nacional com o apoio do TCU, que objetiva melhorar os
resultados das ações governamentais e promover melhor alocação de recursos públicos, em benefício
da sociedade.
7. Trata-se, portanto, de produto ainda em construção e consolidação, que almeja-se ser de
periodicidade anual, resultado de fiscalização que integra a visão de conformidade, operacional e
orçamentária realizada pelo TCU em decorrência de suas atribuições constitucionais e legais, que
deve subsidiar a discussão e a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) pelo Poder Legislativo,
bem como auxiliar o controle externo exercido por meio da Fiscalização exercida pelo Congresso
Nacional sobre os atos e atividades da administração pública.
Diretrizes do TCU e institucionalização do Relatório de Políticas e Programas Públicos
8. Importante destacar que o Relatório de Políticas e Programas Públicos 2018, além de seu
estreito vínculo com as competências legais do TCU e de seu Planejamento Estratégico, encontra-se
aderente às diretrizes de foco e priorização de controle, exaradas pela atual Presidência do TCU, que
determinou à Segecex a priorização de ações de controle que, entre outras, induzam o aumento da
eficiência e a melhoria dos resultados das políticas e organizações públicas, em especial nas ações de
maior impacto no bem-estar dos cidadãos. Para planejar, coordenar e supervisionar o conjunto de
ações prioritárias relativas a políticas e programas governamentais, foi criada a Coordenação Geral
de Controle Externo de Resultado de Políticas e Programas Públicos (Coger), unidade que compõe o
Núcleo Estratégico de Controle Externo (NEC) da Segecex.
9. A Coger tem como principal objetivo aperfeiçoar a capacidade de fiscalização de políticas e
programas de governo para, com foco no cidadão, aumentar a transparência, a conformidade, a
eficácia, a eficiência e a efetividade das políticas e programas que promovam o alcance de seus
resultados, e contribuir para a solução de problemas nacionais, garantindo melhores entregas à
sociedade. Para alcançar esses objetivos, Coger buscou no biênio 2017-2018 atuar em fatores
262
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
institucionais, processos de trabalho e produtos capazes de solucionar problemas crônicos e de alto
risco que afetam os resultados de sua atuação e também a efetividade das políticas e programas
públicos, a saber:
priorização e incentivo de ações de controle de maior relevância, de alto risco e com maior
potencial de mudança;
diagnóstico sistêmico e consolidado sobre o funcionamento do centro de governo e da atuação
setorial com impacto nas políticas públicas;
desenvolvimento da capacidade organizacional para auditar políticas públicas (pessoal e TI);
construção de parcerias necessárias ao alcance dos resultados;
construção de planejamento integrado e institucional sobre políticas e programas;
construção de estratégias de comunicação e monitoramento para mudanças efetivas; e
construção de produto a ser encaminhado ao Congresso o Relatório de Políticas e Programas
de Governo, que tem o papel de comunicar não somente ao Congresso, mas também ao Poder
Executivo e à sociedade os resultados das fiscalizações do TCU na área de políticas e programas de
governo.
10. Para trazer efetividade ao produto, a Coger, juntamente com a Aspar, tem buscado uma
maior aproximação com os consultores e membros da Câmara e do Senado. Nesse sentido, foram
firmados pela atual Presidência do TCU acordos de cooperação entre o TCU e as duas Casas
Legislativas, que reforçam a parceria e compartilhamento das iniciativas realizadas por essas
instituições. Assim, proponho que seja acrescida recomendação à Segecex, para que, de preferência
no âmbito dos Acordos de Cooperação entre o TCU e as duas Casas Legislativas, realize com apoio
da Segepres: i) ações para aperfeiçoamento e sustentabilidade do Relatório de Políticas e
Programas; ii) acompanhamento da evolução e do desempenho da atuação do Poder Executivo; e
iii) ações para contribuição ao aprimoramento do arcabouço legal relacionado à gestão e
governança de políticas públicas e à governança orçamentária. ESCOPO E FOCO DO RePP
11. O RePP tem o propósito de atender a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que solicita
ao TCU o envio de quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e ações governamentais objetos de auditorias realizadas. O que se espera é
entregar um produto capaz de apoiar o Congresso Nacional nas decisões de alocação de recursos
orçamentários e no acompanhamento de políticas, programas e ações de governo.
12. No sentido de alcançar seu propósito, o RePP 2018 busca: a) expor as ações
governamentais que estão sendo implementadas para promover a melhoria do arcabouço institucional
de planejamento, orçamento e políticas públicas, com base em monitoramento realizado pela
Secretaria de Macroavaliação Governamental (TC 005.762/2018-9); b) apresentar análise
consolidada do conjunto de informações sobre políticas, programas e ações de governo que foram
objeto de fiscalizações realizadas pelo TCU nos últimos 3 anos e construir um panorama geral que
retrate os riscos, as irregularidades e as deficiências relevantes e recorrentes nas políticas públicas,
que afetam, de forma repetitiva, o alcance de seus objetivos.
13. Desse modo, o relatório traz uma análise ampla e consolidada dos problemas a serem
superados pelo Estado brasileiro no sentido de garantir efetividade na atuação governamental e
melhores entregas aos cidadãos.
14. O relatório está composto por monitoramento que aborda questões estruturantes para o
país, como estratégia, planejamento, orçamento, coordenação, de competência do Centro de Governo.
Além disso, ele traz análise individualizada e agregada das questões que impactam políticas e
programas e governo, os quais foram objeto de auditorias realizadas pelo TCU nos últimos anos
sobre os variados temas governamentais.
263
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
15. Ressalta-se que a iniciativa, prontamente acolhida pelo gabinete do Exmo. Sr. Ministro
Benjamin Zymler, ressalta a relevância da temática da qualidade do gasto público e a necessidade de
fornecer evidências sobre a implementação de programas e seus resultados para o escrutínio do
Congresso Nacional, favorecendo o debate que promova melhor alocação de recursos e melhores
entregas à sociedade.
16. Além disso, ao trazer um conjunto consolidado de trabalhos do TCU, o Relatório oferece
uma análise mais ampla do contexto que se quer tratar, demonstrando que a resolução transversal dos
problemas poderia, de fato, contribuir para a solução de problemas persistentes e crônicos no país.
17. Importante dizer que o trabalho contou com a participação de diversas unidades do TCU:
Semag, SeinfraCOM, Sefti, SecexPrevi, SecexDesenvolvimento, SecexEducação, SecexSaúde,
SecexDefesa, SecexAmbiental, Secex-ES, Secex-MT, Secex-MS, SeinfraElétrica, SeinfraUrbana, Aspar
e Secom, às quais esta Coordenação-geral rende agradecimentos, em especial à Semag e à equipe de
assessoria da Coger, e parabeniza pelo excelente auxílio na elaboração do relatório, cujo potencial de
transformação considera-se bastante significativo, podendo inclusive complementar as análises do
Relatório e Parecer Prévio das Contas de Governo. Ademais, considerando que a construção do
RePP exige a participação sinérgica e coordenada de diversas unidades do TCU, propõe-se que seja
orientado à Segecex que, no processo de regulamentação do presente produto, considere a
necessidade de criação de unidade organizacional pertinente para planejamento, operacionalização
e coordenação dos trabalhos.
SUSTENTABILIDADE DO PRODUTO
18. À realidade de baixa capacidade institucional apresentada no relatório, se junta o cenário
de retração econômica, insustentabilidade fiscal e, consequente limitação de despesas,
consubstanciada pelo Novo Regime Fiscal, que torna ainda mais premente a necessidade de uma
análise crítica e comparativa entre os programas e ações governamentais. Ao destinar recursos
públicos limitados, é essencial que o governo priorize as ações que tem gerado resultados, ou que
minimamente, apresentem condições de gerá-los. Desse modo, vê-se no RePP um produto capaz de
trazer análises de grande relevância não somente para o aprimoramento dos programas e ações
públicas, como também para de fato promover a melhoria da alocação orçamentária e dos arranjos
institucionais que permitem a adequação do gasto público.
19. Embora o TCU venha ao longo dos anos priorizando a realização de fiscalizações em
políticas, programas e ações governamentais de forma individualizada, o quadro resumo previsto na
LDO demanda, entretanto, a construção de um produto que sistematiza e consolida conclusões de uma
cesta de trabalhos realizados em determinado período de tempo.
20. Para entrega do RePP no exercício de 2018, foram selecionadas fiscalizações realizadas
pelo TCU entre 2017 e 2018 com foco em políticas, programas e ações governamentais. Desse modo,
no sentido de aperfeiçoar o relatório para torná-lo mais efetivo, o planejamento e a elaboração das
próximas versões do RePP devem contemplar minimamente: (a) processo sistematizado de
priorização dos programas/ações a serem fiscalizados; (b) integração entre as fiscalizações,
permitindo abordar questões transversais, relacionadas à resolução de problemas crônicos e de alto
risco; e (c) padronização: das análises realizadas, possibilitando a conclusão consolidada sobre
aspectos em comum dos programas e ações auditadas; do período de avaliação dos programas e
ações de governo como também do período de ocorrência das auditorias; e da granularidade dos
objetos de controle selecionados.
21. Conforme bem indicado no próprio relatório, este é um produto que demanda
aprimoramento contínuo, decorrente da evolução da disponibilidade de dados e informações, uso
intensivo de TI e da capacidade de planejamento, avaliação e análise do próprio TCU, da
Administração Pública Federal e do Congresso Nacional, no que concerne ao ciclo de formulação,
implementação, monitoramento e avaliação de políticas e programas e sua integração com o ciclo
orçamentário-financeiro.
264
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
22. No âmbito do TCU, considera-se de extrema importância a necessidade de construção de
estratégia institucional que garanta sustentabilidade das ações que tem sido planejadas e realizadas,
de modo a permitir a evolução projetada para as versões futuras do RePP.
23. Desse modo, a Coger, como desdobramento da diretriz da Segecex relacionada à melhoria
dos resultados das políticas, programas e organizações públicas, prevê a necessidade de realização
de um conjunto de ações no sentido de: a) melhor conhecimento o ambiente de controle e seus riscos
b) aprimorar a governança das políticas e programas governamentais c) melhorar os resultados das
políticas e programas, bem como fomentar a administração pública transparente; e d) coibir a má
gestão em políticas e programas governamentais.
24. Assim, considerando as entregas pretendidas no contexto das diretrizes da atual gestão,
fazem-se necessárias as seguintes ações a serem conduzidas sob coordenação da Segecex:
25. Com relação ao melhor conhecimento o ambiente de controle, indicadores e seus riscos:
I. Produção de conhecimento sobre os desafios nacionais associados a cada função de governo;
II. Seleção e monitoramento de cesta de indicadores estratégicos, preferencialmente vinculados
a Estratégia Nacional de Longo Prazo (Endes)
III. Identificação e avaliação de objetos e riscos críticos;
IV. Identificação e promoção de boas práticas nacionais e internacionais;
26. Com relação à promoção da melhoria da governança de políticas e programas públicos:
I. Avaliação sistemática da capacidade de governança e gestão de órgãos e entidades
responsáveis pela condução de políticas públicas;
II. Avaliação das estruturas de governança e gestão de políticas públicas de maior
materialidade, relevância e risco;
III. Avaliação das estruturas de governança orçamentária;
IV. Avaliação da atuação do centro de governo;
V. Avaliação da capacidade de governança e gestão dos objetivos de desenvolvimento
sustentável;
27. Com relação à promoção da melhoria dos resultados das políticas e programas, bem como
fomentar a administração pública transparente:
VI. Realização de ações de controle com vistas a avaliar a formulação (desenho) de políticas e
programas públicos,:
VII. Avaliar a disponibilidade e da qualidade de indicadores e metas, desempenho físico e
financeiro de políticas e programas públicos,
VIII. Analisar a fragmentação, a sobreposição e a duplicidade de políticas e programas
públicos;
28. Com relação a coibir a má gestão em políticas e programas governamentais
IX. Identificar, analisar e avaliar riscos e controles internos em políticas e programas públicos;
X. Investigar riscos de fraude, corrupção e/ou desvio de recursos em políticas e programas
públicos.
29. No que se refere ao RePP, a estratégia prevê que o relatório de 2019 conterá, pelo menos, a
análise sobre a formulação dos programas e ações, análise de indicadores e metas e avaliação de
desempenho físico-financeiro das ações e programas de governo selecionados. Além disso, o relatório
deverá conter o resultado do monitoramento das fiscalizações que foram apontadas no capítulo 2 do
relatório, como estruturantes e essenciais para o resultado das políticas e programas com um todo.
30. Para o Relatório de 2020 em diante, pretende-se, a partir de levantamento de riscos a ser
realizado em 2019, identificar os principais aspectos dos programas e ações de governo que merecem
maior atenção do controle. Assim, o relatório de 2020 poderá conter análises específicas em
programas e ações sistematicamente selecionadas, permitindo uma concepção mais orgânica do
conjunto de objetos de controle e sua melhor consolidação. Nesse caso, as auditorias deverão abordar
265
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
aspectos de governança, gestão, fraude e corrupção, entre outros, a depender do que vier a ser
apontado como aspecto crítico no levantamento de riscos previsto.
31. De modo a apoiar as unidades no aprimoramento de suas ações de controle, é importante
promover o desenvolvimento institucional. Para tanto o TCU e, em especial, a Segecex, devem tomar
um conjunto de medidas que visam garantir a continuidade, a sustentabilidade e o aprimoramento
contínuo do controle externo de políticas públicas, programas e ações de governo, entre as quais:
I. instituir unidade organizacional responsável pela coordenação de ações de controle e pela
análise e consolidação de dados afetos a políticas públicas, programas e ações de governo;
II. instituir mecanismos que facilitem a articulação e o planejamento de ações de controle
coordenadas;
III. desenvolver modelos de fiscalização aplicáveis a políticas públicas, programas de governo,
ações orçamentárias e indicadores nacionais;
IV. revisar os processos internos de trabalho e complementar o portfólio de métodos e técnicas
de fiscalização, de sorte a incorporar orientações específicas para a fiscalização de políticas públicas,
programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais;
V. orientar, por meio de resolução, portarias e instruções normativas, a sistemática de
provimento de informações e de fiscalização de políticas públicas, programas de governo, ações
orçamentárias e indicadores nacionais;
VI. desenvolver solução corporativa integrada ao e-TCU, para apoiar a fiscalização de políticas
públicas, programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais;
VII. desenvolver competências necessárias à fiscalização de políticas e programas públicos, por
meio da realização de seminários, cursos de curta duração e pós-graduação lato e stricto sensu;
VIII. promover a cooperação e a integração com organizações parceiras nacionais e
internacionais.
32. Por fim, cabe ressaltar que a abordagem integrada de conformidade, operacional e
orçamentária para políticas e programas públicos é tema de extrema relevância para o TCU, para o
Congresso e para o País. Serve para analisar se as ações governamentais possuem condições de
realizar as entregas pretendidas e solucionar os problemas existentes. Nesse contexto, a diretriz de
resultados de políticas e programas revela-se bastante estratégica para as transformações que o
Tribunal quer alcançar e deve, portanto, ter o seu desdobramento institucionalizado, para que possa
exercer de forma eficiente suas competências e ao mesmo tempo exercer maior aproximação e apoio
ao Congresso Nacional.
ENCAMINHAMENTO
32. Ante o exposto, manifesto-me de acordo com o encaminhamento da Semag no relatório,
peça 55, e, considerando o potencial transformador do relatório e a necessidade de lhe dar
continuidade e sustentabilidade, propõe-se, de forma adicional que:
1. Seja solicitado à Segecex que, no prazo de 90 dias, dê conhecimento ao Plenário do conjunto
de ações a serem implementadas, institucionalizadas e coordenadas pelo TCU com o objetivo de
prover sustentabilidade e progresso do Relatório de Políticas e Programas Governamentais, bem
como das ações previstas na estratégia para aprimoramento da atuação do TCU voltada para
políticas, programas e ações governamentais, entre as quais busquem:
i. instituir unidade organizacional responsável pela coordenação de ações de controle e pela
análise e consolidação de dados afetos a políticas públicas, programas e ações de governo;
ii. Instituir mecanismos que facilitem a articulação e o planejamento de ações de controle
coordenadas;
iii. desenvolver modelos de fiscalização aplicáveis a políticas públicas, programas de governo,
ações orçamentárias e indicadores nacionais;
266
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
iv. revisar os processos internos de trabalho e complementar o portfólio de métodos e técnicas
de fiscalização, de sorte a incorporar orientações específicas para a fiscalização de políticas públicas,
programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais;
v. orientar, por meio de resolução, portarias e instruções normativas, a sistemática de
provimento de informações e de fiscalização de políticas públicas, programas de governo, ações
orçamentárias e indicadores nacionais;
vi. desenvolver solução corporativa integrada ao e-TCU, para apoiar a fiscalização de políticas
públicas, programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais;
vii. desenvolver competências necessárias à fiscalização de políticas e programas públicos, por
meio da realização de seminários, cursos de curta duração e pós-graduação lato e stricto sensu; e
viii. promover a cooperação e a integração com organizações parceiras nacionais e
internacionais.
2. Solicitar a Presidência deste Tribunal que, por intermédio da Segecex:
a. com apoio da Segepres, dê continuidade aos Planos de Trabalho desenvolvidos no âmbito dos
acordos de cooperação com as Casas Legislativas, com o objetivo de alavancar ações integradas de
aperfeiçoamento, comunicação e sustentabilidade do Relatório de Políticas e Programas, promovendo
a participação do Poder Executivo, notadamente as unidades integrantes do Centro de Governo;
b. com apoio da Segepres e das Coordenações-gerais, seja confeccionado quadro resumido de
periodicidade anual e apresentado ao Plenário do TCU, preferencialmente em formato de audiência
pública com os órgãos que compõem o Centro de Governo, o andamento das ações estruturantes para
sanar as falhas basilares de gestão e governança da Administração Pública Federal tratadas neste
relatório.”
É o relatório.
VOTO
Trata-se de relatório de consolidação das avaliações de políticas públicas e programas de
governo realizadas por este Tribunal por meio de fiscalização.
2. O presente trabalho tem por objetivo atender ao disposto no art. 124 da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) de 2019 (Lei 13.707/2018):
“Art. 124. O Tribunal de Contas da União enviará à Comissão Mista a que se refere o § 1º do
art. 166 da Constituição, no prazo de até trinta dias após o encaminhamento da proposta
orçamentária de 2019, quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e das ações governamentais objeto de auditorias operacionais realizadas
para subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária de 2019.”
3. A preocupação do legislador em orientar a alocação orçamentária de acordo com os resultados
dos programas de governo vem desde a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO 2004 - Lei
10.707/2003), quando estabeleceu que:
“Art. 20. Além de observar as demais diretrizes estabelecidas nesta Lei, a alocação dos recursos
na lei orçamentária e em seus créditos adicionais, bem como a respectiva execução, serão feitas de
forma a propiciar o controle dos custos das ações e a avaliação dos resultados dos programas de
governo.
§ 1º O Tribunal de Contas da União, em seu parecer prévio acerca das contas de que trata o art.
95 desta Lei, classificará os resultados dos programas em satisfatórios ou insatisfatórios,
considerando os objetivos e as metas e prioridades estabelecidas para o exercício, bem como os
recursos orçamentários consignados nos orçamentos, com as alterações promovidas por créditos
adicionais e decretos de limitação de empenho.
267
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
(...)” (grifos não existentes no original).
4. De fato, quando do exame das Contas do exercício de 2004, das quais fui relator, houve um
grande esforço por parte do Tribunal, com a valiosa contribuição da Semag, para desenvolver
metodologia de classificação dos programas de governo em “satisfatórios” e “insatisfatórios”. Para
tanto, foi realizada fiscalização para verificar os atributos do projeto de lei do Plano Plurianual
2004/2007. O resultado dessa fiscalização revelou um quadro extremamente preocupante, pois foram
apontadas “diversas impropriedades nos programas constantes do projeto de lei do PPA 2004/2007,
tais como definição genérica de objetivos dos programas, utilização de indicadores inadequados e
metas físicas incompatíveis com os objetivos dos programas. No universo de 322 programas
governamentais finalísticos e de serviços ao Estado, observou-se a existência de 40 programas sem
indicadores de resultados e 148 produtos sem atributos de indicadores”.
5. A classificação dos programas centrou-se em dois aspectos: planejamento governamental,
medido em razão do grau de execução orçamentária (sendo satisfatórios os com execução superior a
75%); e execução física (sendo satisfatórios os de execução superior a 60%) e de economia de recursos
(sendo satisfatórios os que tivessem execução física igual ou superior a 60%, juntamente com uma
execução orçamentária inferior a 75%). Apenas 55 dos 118 programas avaliados (ou 47% da amostra)
foram considerados satisfatórios.
6. A exigência prevista no art. 20 da LDO de 2004 não mais se repetiu. Contudo, a partir da LDO
de 2007 (Lei 11.439/2006), este Tribunal foi incumbido de encaminhar um quadro-resumo “relativo à
qualidade da implementação e ao alcance de metas e objetivos dos programas e ações
governamentais objeto de auditorias operacionais realizadas, para subsidiar a discussão do Projeto
de Lei Orçamentária Anual”, o que veio a ocorrer, pela primeira vez, no ano de 2017, com o Acórdão
2127/2017-Plenário, da relatoria do Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, cujo
monitoramento foi feito pela equipe técnica no relatório precedente, cujas conclusões acolho
integralmente.
7. Na prática, esse “quadro-resumo” é um resumo dos trabalhos de fiscalização de políticas
públicas utilizados na consolidação.
Monitoramento do Acórdão 2127/2017-Plenário
8. Além de consolidar os achados de auditoria, o presente relatório também promoveu o
monitoramento do Acórdão 2127/2017-Plenário, exarado nos seguintes termos:
“9.2. fixar prazo de 60 (sessenta) dias para que a Casa Civil da Presidência da República, o
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e o Ministério da Fazenda, com o apoio dos
demais ministérios, se manifestem acerca das ações já empreendidas para melhorias no arcabouço de
planejamento e orçamento e na capacidade de articulação, monitoramento e avaliação da coerência
do conjunto de programas e ações governamentais, de forma a sanar as ocorrências apontadas no
presente relatório;
9.3. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, com fundamento no princípio da
eficiência (art. 37 da Constituição Federal) e no art. 3º da Medida Provisória 782/2017, que lhe
atribuiu competências relacionadas ao exercício da coordenação e integração, avaliação e
monitoramento das ações do Governo, que, em articulação com o Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão e com o Ministério da Fazenda, com apoio dos demais ministérios
pertinentes, desenvolva, no prazo de 90 (noventa) dias, plano de ação para sanar falhas e
inconsistências identificadas neste relatório, em harmonia com as medidas já empreendidas, a serem
informadas conforme o subitem 9.2 deste acórdão e que contemplem os aspectos apontados a seguir,
de modo a aprimorar a eficiência e a efetividade de ações, políticas públicas, planos e programas de
governo:
9.3.1. edição de proposta legislativa para estabelecimento de “diretrizes e bases do
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado”, em conformidade com o artigo 174, § 1º, da
268
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Constituição Federal, considerando a relevância da definição de plano de desenvolvimento nacional
de longo prazo e sua integração ao sistema de planejamento e orçamento federal previsto no art. 165
da Constituição Federal;
9.3.2. aprimoramento do modelo do Plano Plurianual (PPA) para:
9.3.2.1. que o plano constitua instrumento efetivo de planejamento de médio prazo do Governo
Federal, que oriente a distribuição de recursos em seu período de vigência, viabilize o
acompanhamento e atendimento das metas estabelecidas e induza sustentabilidade fiscal,
transparência e efetividade dos programas, em conformidade com o artigo 165, § 7º, da Constituição
Federal;
9.3.2.2. que o plano favoreça a gestão, a transparência e o controle, ao contemplar aspectos
como: a) explicitação de indicadores de efetividade para monitoramento da dimensão estratégica; b)
seleção de indicadores para os programas, com descrições específicas e parâmetros de validade e
qualidade; c) indicação dos valores esperados dos indicadores ao final do quadriênio; d) indicação de
metas específicas a serem realizadas anualmente; e) indicação dos valores detalhados por ano e por
objetivos, com disponibilização à sociedade das memórias de cálculo para sua definição; f) indicação
de como será a integração dos objetivos e programas com a dimensão estratégica do PPA e com o
plano de longo prazo que vier a ser implantado.
9.3.3. aprimoramento da governança orçamentária para: a) induzir a Administração Pública
Federal à definição e utilização de indicadores de efetividade para seus programas e ações; b)
sistematizar o monitoramento e a avaliação do desempenho de programas e políticas públicas; e c)
valorizar o princípio da eficiência, ao relacionar alocações orçamentárias ao desempenho dos
programas e resultados alcançados;
9.3.4. regulamentação de diretrizes para fortalecimento, avaliação e aprimoramento contínuo
da governança das organizações públicas que contemple: a) institucionalização de processos
contínuos de planejamento e gestão estratégica que consignem e revisem sistematicamente objetivos,
metas, indicadores e linhas de ação de médio e longo prazo, em coerência com os planos
governamentais mais abrangentes, de natureza setorial, regional ou geral; b) aprimoramento de
atividades-chave de governança, como gestão de riscos e processos de monitoramento e avaliação; c)
avaliação periódica do nível de maturidade das organizações responsáveis por políticas, programas
ou ações de governo; e d) utilização das informações advindas de avaliações na elaboração do
projeto de lei orçamentária anual, para minimizar o risco de malversação dos recursos públicos e de
não alcance dos resultados esperados;
9.3.5. edição de referencial orientativo ou proposta normativa no sentido de que a instituição de
políticas públicas para atuação governamental se fundamente em: a) análises de viabilidade, custo-
oportunidade e sustentabilidade; b) avaliação da coerência, das inter-relações e das
interdependências entre a nova política proposta e as existentes; c) coerência com os demais
instrumentos de planejamento governamental existentes; d) preenchimento de requisitos mínimos,
como definição de responsáveis, prazos de vigência, fontes de financiamento, metas e instrumentos de
acompanhamento, fiscalização e aferição de resultados;
9.3.6. definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a
coordenação: a) entre programas e ações que integram o PPA; b) de planos e políticas nacionais,
regionais e setoriais com o PPA federal e com planos, políticas e programas já existentes; c) de novas
leis e emendas com os objetivos das políticas, programas e ações governamentais já existentes; d)
entre políticas públicas que dependam de integração setorial e federativa, melhorando a eficiência do
gasto governamental;
9.3.7. atualização da normatização do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal,
de forma a aproximá-lo, no que couber, das normas e padrões internacionais afetos ao tema;
269
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3.8. elaboração e manutenção de Sistema de Indicadores-Chave Nacionais, indicadores estes
refletidos nas diretrizes estratégicas do PPA, que informe, periodicamente, posição e evolução do
nível do desenvolvimento nacional, permitindo comparabilidade com outros países.”
9. Em relação ao subitem 9.2 do Acórdão 2127/2017-Plenário, a Casa Civil destacou três ações
estruturantes adotadas: edição do Projeto de Lei 9613/2017 e do decreto de governança pública
(Decreto 9203/2017, dirigido ao Poder Executivo); instituição da Junta de Execução Orçamentária
(JEO) e criação do Conselho Nacional para a Desburocratização (Brasil Eficiente).
10. Tendo em vista a interligação entre os subitens 9.2. e 9.3, que se relacionam à necessidade de
aprimoramento na capacidade de planejamento, orçamentação, coordenação e coerência, gestão de
riscos e monitoramento, o relatório dividiu o acompanhamento nos seguintes tópicos:
1) estratégia nacional, subdividida em estratégia de desenvolvimento econômico e social
(subitens 9.3.1, 9.3.2.1, 9.3.2.2 e 9.3.6 do Acórdão 2127/2017-Plenário); planejamento de médio prazo
(subitens 9.3.2.1, 9.3.2.2 e 9.3.8); uniformização e padronização dos planos nacionais setoriais
(subitem 9.3.6);
2) coordenação e coerência (subitens 9.3.5 e 9.3.6 do Acórdão 2127/2017-Plenário);
3) orçamento (subitem 9.3.3);
4) aprimoramento contínuo da governança nas organizações (subitem 9.3.4).
11. No geral, o relatório considerou que as recomendações exaradas encontram-se em fase de
implementação.
12. Dentre as medidas adotadas pelo governo federal, vale mencionar o encaminhamento do
Projeto de Lei (PL) 9163/2017, que além de prever normas de governança para toda a administração
pública federal, tem por objetivo cumprir o § 1º do art. 174 da Constituição Federal, de seguinte teor:
“Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na
forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o
setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento.”
13. Nessa seara, o art. 7º do projeto de lei estabelece que o planejamento do desenvolvimento
nacional equilibrado seja composto pela estratégia nacional de desenvolvimento econômico e social
(estabelecida para um período de doze anos); pelos planos nacionais, setoriais e regionais e pelo plano
plurianual da União.
14. O relatório de acompanhamento considerou que os órgãos federais estão se articulando para
dar cumprimento à recomendação constante do subitem 9.3.1.
15. O relatório anotou que a Secretaria de Planejamento e Assuntos Econômicos (Seplan) vem
adotando medidas para o aprimoramento do planejamento de médio prazo do País, mas apenas aquelas
ligadas à qualidade e representatividade dos indicadores utilizados.
16. No tocante ao subitem 9.3.2.1, apesar de entender que estão sendo adotadas medidas com
vistas a aprimorar as atividades de acompanhamento e monitoramento do PPA, o relatório apontou que
pouco se está fazendo para assegurar a sustentabilidade fiscal no médio e longo prazos (haja vista que
a matéria é tratada apenas no orçamento anual), transparência e efetividade dos programas.
17. Reconheceu a equipe técnica, todavia, a complexidade dos problemas, cuja solução requer
atuação integrada dos órgãos do governo.
18. O subitem 9.3.2.2 abrange seis aspectos: 1) explicitação de indicadores de efetividade; 2)
seleção de indicadores para os programas, com descrições específicas e parâmetros de validade e
qualidade; 3) indicação dos valores esperados dos indicadores ao final do quadriênio; 4) indicação de
metas específicas a serem realizadas anualmente; 5) indicação dos valores detalhados por ano e por
objetivos, com disponibilização à sociedade das memórias de cálculo para sua definição; 6) indicação
270
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de como será a integração dos objetivos e programas com a dimensão estratégica do PPA e com o
plano de longo prazo que vier a ser implantado.
19. A Seplan informou que a explicitação dos indicadores de efetividade (item 1, também objeto
do Acórdão 782/2016-Plenário, rel. Min. José Múcio) ocorrerá por ocasião da elaboração do PPA
2020-2023. Os órgãos responsáveis escolherão um número reduzido, mas representativo, de
indicadores para acompanhamento da dimensão estratégica dos programas.
20. Quanto ao item 2, estariam sendo implementadas fichas de indicadores do PPA (já
preenchidas no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento – Siop), com previsão de conclusão
para dezembro deste ano, além de ser realizada atualização do Guia Metodológico de Indicadores do
Plano Plurianual, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
21. No que concerne ao item 3, a Seplan alegou que a definição de índices finais não se
adequaria à metodologia atual do PPA, uma vez que são impactados por variáveis fora do controle do
governo federal. Assim, o foco principal do monitoramento é a execução da meta.
22. Quanto ao item 4 (indicação de metas específicas a serem realizadas anualmente), já estaria
sendo atendido parcialmente, segundo a Seplan, no Relatório Anual de Avaliação do PPA 2016-2019,
o que continuará ocorrendo nas futuras avaliações anuais.
23. O item 5 (indicação dos valores detalhados por ano e por objetivos) teria sido parcialmente
atendido por meio de relatório publicado no sítio do Ministério do Planejamento, com detalhamento
dos valores globais por objetivo, com base na previsão que embasou o projeto de lei do PPA, uma vez
que a lei que instituiu o PPA não especificou valores globais por ano.
24. A Seplan asseverou que o alinhamento entre os planos e políticas nacionais, regionais e
setoriais com o PPA federal (item 6) é uma busca evolutiva da Seplan e do Ministério do Planejamento
no âmbito do PPA. Essa integração foi uma preocupação quando da elaboração do PPA 2016-2019 e
no seu monitoramento. No próximo PPA, será buscada uma maior aderência entre seus objetivos e os
planos nacionais e regionais de longo prazo. Para tanto, foram iniciadas discussões internas sobre
propostas de aprimoramentos do modelo do PPA 2020-2023.
25. A equipe técnica considerou que o subitem 9.3.2.2 está em implementação e asseverou que
várias medidas vêm sendo adotadas pela unidade jurisdicionada.
26. Reconheceu que o gestor não possui controle sobre todas as variáveis que afetam os
indicadores de efetividade. Contudo, a equipe ressaltou que os problemas atacados pelo governo
federal são usualmente “complexos, transversais, interconectados, multicausais, envolvem uma gama
considerável de atores e informações contraditórias”. E seria exatamente por causa dessa
complexidade que a sociedade necessita da atuação conjunta do Estado, motivo pelo qual paga
elevados tributos.
27. A recomendação constante do subitem 9.3.3 do Acórdão 2127/2017-Plenário foi considerada
em implementação pela equipe técnica, que examinou as informações prestadas pelo governo no
âmbito do tema “Orçamento” (tem 2.3 do relatório). A recomendação, dirigida à Casa Civil, em
articulação com os Ministérios do Planejamento e da Fazenda, foi no sentido de serem contempladas
em plano de ação: a) medidas para induzir a administração pública federal a definir e utilizar
indicadores de efetividade em seus programas e ações; b) a adoção de sistemática de monitoramento e
de avaliação dos programas e políticas públicas; c) medidas para relacionar alocações orçamentárias ao
desempenho dos programas e resultados alcançados, de modo a assegurar o princípio da eficiência.
28. As medidas adotadas em relação à alínea “a” seriam: i) a inclusão de ficha de indicadores no
Siop e o preenchimento (em execução pelos órgãos envolvidos) das informações sobre os indicadores;
ii) atualização do guia metodológico dos indicadores do PPA; iii) implantação de ficha de análise
quanto à adequabilidade dos indicadores atuais do PPA.
29. Em relação às alíneas “b” e “c”, a Secretaria de Orçamento Federal esclareceu que está
implementando um processo de avaliação de políticas públicas. Desse modo, para subsidiar a
elaboração do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) 2019 e dos anos subsequentes, foram selecionados
271
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
doze programas de governo para serem avaliados por seu corpo técnico no ciclo de avaliações
2017/2018, dois deles como projeto-piloto. Dos dez programas restantes, oito já foram avaliados e
outros dois tiveram seu prazo de avaliação estendido. Destacou o órgão central de orçamento que o
objetivo imediato dessas avaliações é a capacitação de seu corpo técnico, com vistas a, futuramente,
elevar o patamar de discussão sobre as políticas públicas para, consequentemente, buscar a melhoria da
alocação dos recursos.
30. Contudo, a SOF ponderou que não se deve esperar que os resultados das avaliações sejam
automaticamente incorporados no PLOA 2019, em razão de outras variáveis que afetam a alocação dos
recursos, a saber, a existência de despesas obrigatórias e de vinculação de receitas e o posicionamento
dos órgãos setoriais responsáveis, que são muitas vezes pressionados por várias demandas da
sociedade civil.
31. O exame do cumprimento da recomendação do subitem 9.3.4 foi realizado no tópico 2.4 do
relatório “Aprimoramento contínuo da governança nas organizações”.
32. Dentre as medidas adotadas pelo governo, foram citadas a criação de câmaras temáticas, que
serão um espaço de convergência e de proposição de políticas públicas, ações e instrumentos para
implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em tese, essas câmaras possibilitarão
o acompanhamento e monitoramento desses objetivos.
33. Outras medidas citadas são: a implementação do Monitoramento Participativo e Tempestivo
do PPA 2016-2019 e o encaminhamento do PL 9163/2017 (que cuida de governança e regulamenta o §
1º do art. 174 da Constituição Federal).
34. Também se encontra em fase de cumprimento o subitem 9.3.5. Deve-se destacar a publicação
do Decreto 9203/2017 e a elaboração (ainda não concluída) de guias com medidas, mecanismos e
práticas organizacionais com objetivo de contribuir para a implementação dos princípios e diretrizes da
governança pública pelo Comitê Interministerial de Governança.
35. Dentre esses, vale destacar o referencial “Avaliação de Políticas Públicas – Guia Prático de
Avaliação Ex-Ante”, elaborado em conjunto pela Casa Civil, Controladoria-Geral da União (CGU) e
Ministério da Fazenda.
36. Além disso, foi criado pelo Decreto não numerado de 7 de março de 2017, o Conselho
Nacional para a Desburocratização – Brasil Eficiente, que possui, dentre outras, as seguintes
competências: assessorar o Presidente da República na formulação de políticas ligadas ao
desenvolvimento sustentável, racionalização e modernização da administração pública e melhoria dos
serviços públicos.
37. No tocante à recomendação constante do subitem 9.3.6 do Acórdão 2127/2017-Plenário
(definição de arranjos institucionais com o propósito de aprimorar a coerência e a coordenação entre
programas e ações integrantes do PPA, dentre outros) o relatório de acompanhamento considera que
está em fase de implementação, em razão do encaminhamento do PL 9163/2017, apensado ao PL
4083/2015, que, por sua vez, foi apensado ao PL 622/2011.
Análise consolidada das políticas públicas auditadas
38. Nesta oportunidade, consolidam-se os resultados de 18 fiscalizações, 14 das quais já haviam
sido apreciadas pelo Plenário deste Tribunal quando da elaboração do relatório preliminar. De
mencionar, contudo, que o Tribunal proferiu recentemente deliberação em dois outros processos (TC
016.327/2017-9, que examinou o Programa de Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano,
e TC 034.623/2016-7, que tratou da Lei Rouanet, da relatoria do Ministro Vital do Rêgo e do Ministro-
Substituto Marcos Bemquerer Costa, respectivamente).
39. O quadro seguinte relaciona os trabalhos de fiscalização de políticas públicas que foram
objeto da presente consolidação:
272
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fiscalização Acórdão
Acompanhamento do Portal Único de Comércio Exterior, da relatoria do
Ministro-Substituto Augusto Sherman, realizado pela Secretaria de Controle
Externo do Desenvolvimento (SecexDesenvolvimento)
Acordão 623/2018- Plenário
Acompanhamento do Plano Nacional de Educação, com foco nas ações relacionadas ao acesso à educação infantil (Meta 1 do PNE), da relatoria da
Ministra Ana Arraes, realizado pela Secretaria de Controle Externo da
Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação)
Acórdão 2775/2017 -Plenário
Fiscalização de Orientação Centralizada na gestão dos recursos transferidos
por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), da relatoria
do Ministro-Substituto Augusto Sherman, coordenada pela Secretaria de
Controle Externo do Espírito Santo (Secex-ES)
Acórdão 141/2017-Plenário
Auditoria na Política de Fronteiras, da relatoria do Ministro Augusto Nardes,
realizada pela Secretaria de Controle Externo do Mato Grosso do Sul (Secex-
MS)
Acórdão 2252/2015-Plenário
Auditoria nos programas de Inclusão Produtiva, da relatoria do Ministro Benjamin Zymler, realizada pela Secretaria de Controle Externo da
Previdência, Assistência Social e Trabalho (SecexPrevi)
Acórdão 188/2018-Plenário
Auditoria no Plano Viver Sem Limite, da relatoria do Ministro Walton Alencar, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Previdência,
Assistência Social e Trabalho (SecexPrevi)
Acórdão 2140/2017-Plenário
Avaliação do uso de tecnologias digitais como parte da estratégia de
modernização governamental (Governo Digital), da relatoria do Ministro Benjamin Zymler, realizada pela Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da
Informação (Sefti)
Acórdão 1469/2017-Plenário
Monitoramento da Lei de Informática, da relatoria do Ministro-Substituto
André Luís de Carvalho, realizada pela Secretaria de Fiscalização de Tecnologia da Informação (Sefti)
Acórdão 729/2018-Plenário
Auditoria no Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional, da relatoria da
Ministra Ana Arraes, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Defesa Nacional e da Segurança Pública (SecexDefesa)
Acórdão 2643/2017-Plenário
Auditoria no Programa Cidades Digitais (PCD), da relatoria do Ministro Bruno
Dantas, realizada pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Hídrica, de
Comunicação e de Mineração (SeinfraCOM) –
Acórdão 1898/2017-Plenário
Fiscalização de Orientação Centralizada sobre a qualidade das moradias do
programa Minha Casa, Minha Vida, da relatoria do Ministro-Substituto Weder
Oliveira, coordenada pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana
(SeinfraUrbana)
Acórdão 979/2017-Plenário
Auditoria no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf), da relatoria do Ministro-Substituto André Luis de Carvalho, realizada
pela Secretaria de Controle Externo do Meio-Ambiente (SecexAmbiental)
Acórdão 2191/2018-Plenário
Auditoria da Política de Banda Larga em Regiões Remotas, da relatoria da Ministra Ana Arraes, realizada pela Secretaria de Fiscalização de
Infraestrutura Hídrica, de Comunicação e de Mineração (SeinfraCOM)
Acórdão 2053/2018-Plenário
Auditoria no Programa de Apoio à Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, da relatoria do Ministro Vital do Rêgo, realizada pela Secretaria de
Controle Externo do Mato Grosso (Secex-MT)
Acórdão 2359/2018-Plenário
Auditoria nos Projetos Financiados pelo Lei Rouanet, da relatoria do Ministro-
Substituto Marcos Bemquerer, realizada pela Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação)
Acórdão 2513/2018-Plenário
Auditoria no planejamento de investimentos em infraestrutura hídrica, da
relatoria do Ministro Augusto Nardes, realizada pela Secretaria de Fiscalização
-
273
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de Infraestrutura Hídrica, de Comunicação e de Mineração (SeinfraCOM) – TC 030.005/2017-5;
Auditoria nas medidas de erradicação do aedes aegypti, de relatoria do
Ministro Bruno Dantas, realizada pela Secretaria de Controle Externo da
Saúde (SecexSaúde) – TC 023.421/2016-9
-
Auditoria no fundo setorial Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), da
relatoria do Ministro Aroldo Cedraz, realizada pela Secretaria de Fiscalização
da Infraestrutura Elétrica (SeinfraElétrica) – TC 032.981/2017-1
-
40. Para cada um dos programas auditados, foi gerado um resumo (Anexo I do relatório – vide
peça 55, fls. 66 a 272) - com as seguintes informações:
a) descrição da política auditada, incluindo o problema que a política pretende
enfrentar/solucionar, sua abrangência, público-alvo, principais objetivos, órgão responsável e previsão
legal;
b) resultados da política, abordando os seguintes aspectos: indicadores, metas, coerência desses
elementos com os objetivos da política e alcance de metas nos últimos anos.
c) vinculação e coerência da política com o Plano Plurianual;
d) inserção da política na Lei de Orçamento Anual;
e) a política sob a ótica da governança;
f) análise geral da política;
g) principais deliberações;
h) temas de especial relevância.
41.Em síntese, a análise consolidada apontou os seguintes achados, comuns às auditorias:
Achado 1 - Ausência de diagnóstico adequado dos problemas que as políticas públicas
pretendem enfrentar tem comprometido a adequada concepção, formulação e processo de
tomada de decisão das políticas.
42. O correto diagnóstico dos problemas a serem enfrentados constitui elemento essencial para a
correta formulação da política pública, de modo a assegurar sua efetividade.
43. O Guia Prático de Análise Ex Ante, desenvolvido pelo governo federal, também parte desse
entendimento.
44. Contudo, foram identificadas as seguintes deficiências nas políticas auditadas:
a) treze de quinze políticas públicas apresentaram “falhas” no processo de seleção de
beneficiários;
b) oito de treze políticas não foram precedidas de um “adequado” levantamento de demanda ou
diagnóstico do problema;
c) seis de treze políticas desconhecem o problema que pretendem solucionar.
45. Cite-se, por exemplo, a Política de Desenvolvimento Urbano, na qual a seleção dos objetos
dos contratos de repasse para pavimentação urbana não está baseada em evidência sobre a necessidade
das localidades beneficiárias.
46. Já na Conta de Desenvolvimento Energético, a equipe de fiscalização apontou que os
subsídios cruzados (“Rural”, “Irrigação e Aquicultura” e “Água, Esgoto e Saneamento”) efetuados
com os valores pagos pelos consumidores de energia elétrica não guardam relação direta com o setor
elétrico, que deveria ser o foco do CDE. Esses subsídios cruzados podem impactar o preço da energia
elétrica, um dos principais insumos para o desenvolvimento econômico do País.
Achado 2 – A ausência reiterada de institucionalização das políticas públicas tem
prejudicado a atuação conjunta das partes interessadas e comprometido a legitimidade e a
qualidade da tomada de decisão governamental.
47. A institucionalização da política pública constitui requisito de fundamental importância para
garantir sua legitimidade para assegurar o comprometimento dos atores envolvidos e as fontes de
274
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
recursos necessárias.
48. Está relacionada ao estabelecimento de normas, padrões e procedimentos com objetivo de
definir as arenas decisórias, a divisão de competências e as atribuições dos atores envolvidos.
49. Para avaliar o grau de institucionalização, foram formuladas oito questões: “há normativo
instituindo formalmente a política pública?”; “a política pública está regulamentada?”; “o processo
decisório está formalmente institucionalizado?”; “o colegiado está formalmente instituído?”; “as
decisões referentes à política são tomadas por algum tipo de colegiado?”; “é possível identificar
atribuições, responsabilidades, direitos e deveres das principais partes interessadas envolvidas?”; “as
competências das principais partes envolvidas estão formalmente definidas?” e “o normativo que
instituiu a política possui legitimidade para normatizar a atuação dos diversos órgãos, instituições e
esferas de governo envolvidos?”.
50. A importância da institucionalização é reconhecida no Referencial para Avaliação de
Governança de Políticas Públicas do TCU, segundo o qual a institucionalização constituiu um dos oito
componentes de governança pública.
51. De acordo com o relatório de consolidação, diversas políticas públicas são afetadas pela
ausência de institucionalização, o que prejudica os aspectos relacionados à definição e cumprimento de
papéis e responsabilidades, divisão de riscos, processos decisórios e capacidade organizacional.
52. De acordo com a análise, apenas 41% (sete) das dezessete políticas que tiveram o
componente institucionalização avaliado apresentaram nível de maturidade elevado; 47% (oito)
apresentaram nível intermediário e 12% (duas), nível inicial.
53. A política de desenvolvimento da zona fronteiriça foi apontada como exemplo de política
com projetos desarticulados e fragmentados, sem planejamento ou orientação programática. Como
resultado, há dispersão de recursos públicos, sem impactos significativos na segurança e defesa
nacional e na geração de emprego e renda.
54. Já na política de gestão do sistema prisional (despesas de cerca de R$ 2 bilhões em dois
anos), verificou-se que apenas uma dentre as dezenove unidades da federação avaliadas instituiu e
formalizou uma política pública, a saber, o estado de Rondônia.
Achado 3 - Formulação inadequada de políticas públicas tem dificultado sistematicamente
sua boa e regular implementação, o que compromete o alcance dos objetivos e dos resultados
esperados
55. O sucesso da política pública está intimamente ligado à sua formulação, que deve contemplar
a definição dos objetivos, público-alvo, meios e instrumentos de implementação, atores envolvidos,
arranjos institucionais necessários, metas e resultados esperados.
56. O relatório precedente mencionou que o projeto de lei complementar 441/2018, já aprovado
no Senado e atualmente na Câmara dos Deputados prevê que o Poder Executivo envie uma avaliação
fundamentada do impacto da aprovação de lei que cria uma nova política pública.
57. Ademais, citou que o Guia Prático de Análise Ex Ante e Referencial do TCU também se
associam a boa formulação das políticas públicas ao seu sucesso.
58. A despeito disso, auditorias apontaram diversas deficiências nessa fase do ciclo das políticas
analisadas, como o descasamento entre responsabilidades e capacidades, falhas na mensuração dos
recursos financeiros e humanos necessários para gerir e controlar as políticas, falhas na seleção dos
beneficiários e, principalmente, falhas na construção de instrumentos que permitam o devido
monitoramento e avaliação dos resultados das políticas.
59. Exemplo disso é a Política de Desenvolvimento Urbano, que possui como um de seus
principais problemas o descasamento entre o grau de responsabilidade do município e sua estrutura
técnica e administrativa. Disso, resultaria a baixa implementação da ação de pavimentação, percebida
por meio da baixa capacidade de execução orçamentária, equivalente a 0,2% do valor previsto entre
2012 e 2017.
60. O Plano Nacional de Educação (PNE) também é citado como exemplo de formulação
275
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
inadequada de política pública. Verificou-se que parte significativa dos municípios entrevistados não
dava prioridade às crianças mais pobres no acesso às creches públicas. Verificou-se que não havia
definição clara e formal das atribuições dos principais atores envolvidos, dentre outros problemas.
61. Já no caso da Lei Rouanet, atribuíram-se os problemas de fraude, superfaturamento e
projetos duplicados à incapacidade operacional do órgão de fiscalizar adequadamente os recursos, o
que poderia ser evitado quando da formulação da política, que deveria contemplar a definição dos
recursos humanos necessários ao seu adequado monitoramento.
62. No geral, a consolidação revelou, quanto à maturidade do componente “planos”, que apenas
17% (3) das dezesseis políticas nas quais esse quesito foi avaliado, apresentaram nível elevado; 50%
(8) apresentaram nível intermediário e 31% (5), nível inicial.
63. O ponto melhor avaliado nesse componente refere-se à existência de definição de público-
alvo: ocorrência verificada em mais de 50% da amostra de dezesseis políticas. De outro lado, grande
parte das políticas não possui, segundo o relatório consolidado, “consistência interna na sua lógica de
intervenção, considerando o encadeamento entre recursos, ações, produtos e efeitos. Além disso, os
elementos relacionados a resultados, que permitem avaliar a efetividade da política, se mostraram em
estágio bastante inicial de maturidade”.
64. No tocante ao planejamento, observou-se que mais da metade das políticas possui planos
elaborados com a participação dos interessados e dos responsáveis pela execução. Todavia, a
formulação das políticas desconsidera todos os demais elementos (teste piloto, cronograma atualizado,
alternativas de contingência, conhecimento das atribuições pelas partes interessadas e previsão de
mecanismos para acompanhamento e controle das políticas), segundo apontado nas fiscalizações.
65. Preocupante a conclusão a que chegou o relatório no tocante ao componente “objetivos”:
apenas 13% das dezesseis políticas nas quais esse item foi avaliado apresentaram nível avançado de
maturidade, ao passo que 50% encontram-se no nível inicial. Essa conclusão decorre da verificação de
que essas políticas, de uma forma geral, não são formuladas com uma visão estratégica de longo prazo;
não há coerência entre os objetivos (considerada cada política individualmente) e as metas não são
exequíveis no horizonte temporal proposto, dentre outros problemas.
Achado 4 – Deficiências na gestão de riscos e na implementação de controles internos nas
políticas públicas tem permitido a concessão e manutenção de beneficiários inapropriados.
66. A análise consolidada revelou que a implementação da gestão de risco nos controles internos,
prevista no inciso VI do art. 4º do Decreto 9.203/2017 ainda é incipiente. Todas as nove políticas nas
quais esse item foi examinado teriam apresentado “deficiências”.
Achado 5 – Deficiências de coordenação entre setores ou esferas de governo e ausência de
articulação entre os atores envolvidos, com prejuízo à entrega de soluções
67. Os diversos órgãos e entidades que formulam e implementam políticas públicas nas diversas
esferas de governo devem trabalhar coordenadamente, de forma a somar esforços e evitar a adoção de
medidas incompatíveis entre si.
68. A coordenação é uma das diretrizes previstas no art. 4º do Decreto 9.203/2017 e é tratada
também no Referencial para Avaliação de Governança de Políticas Públicas do TCU.
69. Apesar da importância da coordenação, a consolidação concluiu que esse componente da
governança ainda é bastante incipiente, o que compromete a coerência das ações.
70. Nessa linha, é citado o programa “Minha Casa, Minha vida”, no qual a ausência de
coordenação teria resultado na construção de residências (90% das 19 mil moradias vistoriadas) em
regiões carentes de serviços públicos básicos, como escolas, creches, postos de saúde, transporte
público, segurança pública, e sem comércio próximo.
71. Já na “Política Nacional de Banda Larga”, verificou-se ações desconexas dos diferentes
poderes e níveis federativos, o que ocasionou redundância na prestação de serviços digitais em
determinadas localidades, com o consequente desperdício de recursos públicos, ao passo que outras
áreas deixaram de ser servidas.
276
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
72. De fato, assiste razão à equipe técnica quando defende que o Poder Executivo deve atuar no
sentido de institucionalizar os mecanismos e as práticas de coordenação e articulação das diversas
políticas públicas, de modo a dar concretude ao inciso IV do Decreto 9.203 quando da formulação,
implantação e monitoramento das respectivas políticas públicas.
Achado 6 - Deficiências no processo de monitoramento e avaliação tem impedido o
acompanhamento e a melhoria dos resultados das políticas públicas e prejudicado a
transparência da atuação governamental.
73. O processo de monitoramento tem por objetivo avaliar as políticas de modo a permitir a
correção de problemas e das falhas das políticas. Além disso, é instrumento de transparência e controle
social.
74. A importância da fase de monitoramento foi reconhecida pelo Decreto 9.203/2017 , que o
alçou à condição de diretriz de governança pública.
75. Deve-se ressaltar que a Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), previu, no inciso VII
do art. 6º:
“Art. 6o Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e procedimentos
específicos aplicáveis, assegurar a:
(...)
VII - informação relativa:
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos programas, projetos e ações dos órgãos
e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos;
b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas realizadas pelos
órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de contas relativas a exercícios
anteriores.” 76. A despeito disso, o trabalho de consolidação revelou que existem deficiências no
monitoramento de parte significativa das políticas públicas: apenas duas de dezesseis políticas nas
quais o quesito “monitoramento e avaliação” foi examinado possuem nível de maturidade elevado.
Oito dessas políticas possuem nível de maturidade inicial.
77. Registre-se, por exemplo, que, em apenas 25% dos casos estudados, ou seja, em quatro
políticas, foram estabelecidos sistemas de monitoramento e de avaliação da política pública. Somente
em duas políticas existem procedimentos definidos para a realização de monitoramento e avalição,
bem assim definição dos fluxos de comunicação, de modo a assegurar que as informações possam
retroalimentar o sistema da política pública e contribuir para sua melhoria.
Da proposta de encaminhamento
78. Em conclusão, além do encaminhamento dos resumos dos programas auditados e a da
expedição de orientações à Segecex, a equipe técnica propôs que fosse exarada recomendação à Casa
Civil da Presidência da República e ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, em
conjunto com o Ministério da Fazenda, para contemplarem, na implementação do plano de ação em
curso (objeto da recomendação constante do subitem 9.3 do Acórdão 2127/2017-Plenário), as
seguintes necessidades:
a) de positivação de plano nacional integrado de longo prazo (§1º do art. 174 da CF),
b) de integração e articulação do plano nacional integrado de longo prazo que vier a ser
formalizado com os demais instrumentos de planejamento nacional, setorial e regional, em especial o
Plano Plurianual;
c) de definição de cronograma de ações para orientação, capacitação e estímulo aos órgãos da
administração pública com vistas a disseminar a aplicação do Guia de Análise Ex Ante do Governo
Federal nos processos de criação, aperfeiçoamento e expansão de políticas públicas;
d) de definição de cronograma de ações com vista a institucionalizar e qualificar os mecanismos
e práticas de gestão de riscos, controles internos, coordenação e articulação, monitoramento e
avaliação no âmbito dos órgãos da administração pública;
277
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
79. A equipe propôs, ainda, que fosse dada ciência ao Congresso Nacional da necessidade de
aprimoramento do arcabouço legal dos processos de alocação e execução orçamentária, com vistas a
considerar as avaliações do desempenho e os resultados dos programas nos processos de alocação de
recursos, bem assim de instituir mecanismos para instar as instituições responsáveis a adotar boas
práticas de governança.
80. As recomendações sugeridas pela equipe têm por objetivo assegurar a efetividade do que o
plano de ação criado em atendimento ao Acórdão 2127/2017-Plenário, da relatoria do eminente
Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa, motivo pelo qual as acolho integralmente.
81. Já as orientações à Segecex visam aprimorar os trabalhos atualmente executados pelo TCU
(no exame do PPA e nas auditorias de programa), e também as acolho.
Proposta do Coordenador-Geral de Controle Externo de Resultados de Políticas e
Programas Públicos
82. O titular da Coger, em seu parecer de peça 56, reconheceu que existe um grande esforço do
Centro de Governo para melhorar o resultado das políticas públicas. Para tanto, tem sido levado a cabo
um conjunto de ações estruturantes, ainda que incipientes, com objetivo garantir a eficiência, a
coerência e a coordenação das ações públicas.
83. Nada obstante, entendeu o Coordenador-Geral que as deficiências de gestão e governança
das políticas públicas não ocorre de forma pontual, mas, sim, de forma sistemática e em todas as etapas
do ciclo dessas políticas.
84. Na visão do titular da Conger, este trabalho de consolidação, executado em cumprimento aos
ditames da LDO 2019, tem por objetivo melhorar os resultados das ações governamentais e promover
melhor alocação de recursos públicos, uma vez que pode ser utilizado para subsidiar o exame da
proposta orçamentária.
85. Destacou que o Relatório de Políticas e Programas de Governo (RePP) está estreitamente
vinculado às competências legais do TCU, ao seu planejamento estratégico e às diretrizes da
Presidência, que determinou à Secretaria-Geral de Controle Externo (Segecex) que desse prioridade às
ações de controle capazes de induzir o aumento da eficiência e a melhoria dos resultados das políticas
e organizações públicas.
86. Ponderou que a Conger tem buscado, juntamente com a Assessoria Parlamentar (Aspar),
maior aproximação com os membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e com as
respectivas consultorias, por meio de acordos de cooperação entre o TCU e as duas Casas.
87. Nesse desiderato, propôs fosse expedida recomendação à Segecex para que, realize, com
apoio da Secretaria-Geral da Presidência e preferencialmente no âmbito dos acordos de cooperação
entre o TCU e as casas do Congresso Nacional: i) ações para o aperfeiçoamento e sustentabilidade do
Relatório de Políticas e Programas de Governo; ii) acompanhamento da evolução e do desempenho da
atuação do Poder Executivo; iii) ações para o aprimoramento do arcabouço legal relacionada à gestão e
governança de políticas públicas e governança orçamentária.
88. Entendo que essa proposta tem por objetivo dar maior consistência ao RePP e moldá-lo às
necessidades do Congresso Nacional, o que permitirá sua utilização para auxiliar o exame da proposta
orçamentária e a alocação dos escassos recursos públicos.
89. Todavia, como envolve múltiplos agentes, que não tiveram oportunidade de se manifestar
nestes autos, entendo que deva ser recomendado à Secretaria-Geral da Presidência, em conjunto com a
Segecex, que avaliem, juntas, a conveniência e oportunidade de adotar as medidas sugeridas nas
alíneas “a” (dar continuidade aos planos de trabalho desenvolvidos no âmbito dos acordos de
cooperação com as Casas do Congresso Nacional) e “b” (elaboração de quadro resumido de
periodicidade anual a ser apresentado por meio de audiência pública) do item 2 da proposta de
encaminhamento do Coordenador-Geral.
278
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
90. Deixo de acolher a proposta de orientar a Segecex para, “no processo de regulamentação do
presente produto, considere a necessidade de criação de unidade organizacional pertinente para
planejamento, operacionalização e coordenação dos trabalhos” (parágrafo 17 do despacho e subitem
“i” do item 1).
91. Em primeiro lugar, por entender que a Coger possui as condições técnicas necessárias para
coordenar as diversas unidades do tribunal e assegurar que as fiscalizações das quais serão extraídos os
dados que compõem o RePP tragam os insumos necessários para esse trabalho, haja vista a excelente
qualidade do trabalho executado pela Especialista Sênior Roberta Mallabi Coscarelli em conjunto com
o AUFC da Semag.
92. Em segundo lugar, por entender que as mudanças na estrutura administrativa do TCU devem
ser avaliadas pelo gestor maior, a saber, o Presidente.
93. Em terceiro lugar, porque, a partir do advento da EC 95/2016, este Tribunal vem enfrentado
mais e mais limitações para o provimento de cargos efetivos, de forma que a escassez de recursos
humanos tende a se elevar. Desse modo, a proposta do diligente Coordenador-Geral pode, em
princípio, não se coadunar com os esforços atuais de racionalização administrativa.
94. Nada obstante, poderá a Segecex, por iniciativa própria, examinar a viabilidade da proposta
formulada, ainda que não seja endossada por este relator nesta oportunidade, pelos motivos já
expostos.
95. No tocante ao modelo a ser adotado para elaboração do RePP, entendo prematuro estabelecer
que o relatório deve conter, necessariamente, o monitoramento das deliberações do RePP do exercício
precedente. Observo que, a despeito da inegável importância do monitoramento, o TCU deve envidar
esforços para encaminhar o RePP no prazo estabelecido na LDO (trinta dias após o encaminhamento
da proposta orçamentária), o que não está ocorrendo neste exercício e pode vir a não ocorrer nos
próximos exercícios caso se adote modelo assaz abrangente de relatório.
96. Ademais, a inclusão de trabalho tão importante no relatório pode desviar o foco das atenções,
que deveria estar voltado para o resultado da consolidação das avaliações das políticas públicas
examinadas.
97. Nada obsta que o monitoramento seja feito em outro processo – inclusive nos autos do
processo monitorado – e que o resultado seja considerado no RePP do ano seguinte.
98. Assim sendo, num exame perfunctório, entendo que o monitoramento deste RePP e dos
subsequentes deve observar as diretrizes da Portaria Segecex 27/2009.
99. Contudo, até que se regulamente a matéria de forma diversa, poderá o monitoramento das
deliberações de um RePP ser executado no RePP do exercício seguinte se houver anuência dos
relatores envolvidos, como ocorreu no presente caso.
100. A despeito desse meu posicionamento, nada impede que a Segecex examine a matéria de
forma mais aprofundada e, se for o caso, venha a propor uma regulamentação na forma sugerida pelo
zeloso Coordenador-Geral.
101. No tocante ao encaminhamento contido nos subitens “ii” a “v” e “vii” e “viii” do item 1 da
proposta do Coordenador-Geral, entendo suficiente recomendar à Segecex que examine a conveniência
e oportunidade de adoção das medidas ali sugeridas. Isso porque não existem elementos nos autos que
me permitam concluir, por exemplo, pela necessidade de desenvolver novos modelos de fiscalização
aplicáveis às políticas públicas (subitem iii) e de realizar treinamento de servidores (subitem “vii”).
102. De outro lado, acolho com ajustes a proposta contida no subitem “vi” do item 1 da proposta
de encaminhamento do Coordenador-Geral. De fato, o desenvolvimento de sistema proposto terá o
condão não apenas de ajudar na elaboração do RePP como também nas próprias fiscalizações de
políticas públicas. Todavia, caberá ao Comitê Gestor de Tecnologia da Informação (CGTI), previsto na
Resolução 284/2016, definir as prioridades a serem observadas pela Secretaria de Tecnologia da
Informação, juntamente com a Segecex.
279
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Considerações finais
103. O presente trabalho representa um grande esforço da Coger e da Semag de sistematizar os
achados das avaliações de programa realizadas pelo Tribunal e cumprir a determinação contida na
LDO de 2019 de apresentar um resumo sobre a qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e das ações governamentais objeto de auditorias operacionais realizadas para
subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária de 2019. Além disso, fez-se, nesta oportunidade,
o monitoramento do Acórdão 2127/2017-Plenário.
104. O RePP é um produto relativamente novo e com potencial de impactar a alocação de
recursos públicos, na medida em que são fornecidos subsídios importantes para o Congresso Nacional
para a apreciação da proposta orçamentária. Ademais, por ser um trabalho de consolidação, é capaz de
revelar se as falhas observadas em determinadas políticas são localizadas ou sistemáticas.
105. De acordo com as conclusões a que chegou a equipe técnica, muitas das falhas são
sistemáticas, ainda que as responsabilidades possam ser atribuídas a diversos atores.
106. Contudo, justamente por ser um produto novo, há espaço para melhoria por parte das
unidades técnicas envolvidas. Cite-se, por exemplo, a deficiência no estabelecimento de parâmetros
para quantificar ou melhor qualificar os diagnósticos das políticas públicas, como ocorre com os
seguintes achados: “falhas de coordenação e integração multissetorial”, “falhas no processo de
seleção dos beneficiários e destinação da política pública” “falhas na qualidade ou descontinuidade
do serviço prestado”.
107. Nesse sentido, proponho que seja recomendado à Segecex que, com o apoio da Secretaria
de Métodos e Suporte ao Controle Externo e da Coger, verifique a possibilidade de estabelecer
parâmetros objetivos para os achados de auditoria nas fiscalizações de políticas públicas e programas
de governo, de modo a permitir a correta consolidação dos resultados desses trabalhos e a elaboração
do quadro-resumo a que se referem as últimas LDO (no caso concreto, art. 124 da Lei 13.707/2018).
108. Ademais, é importante que as fiscalizações tenham um núcleo comum dos quesitos a serem
avaliados. Verifico, por exemplo, que o quesito “gestão de risco” foi avaliado em apenas 9 das 18
políticas auditadas, ao passo que o quesito “descasamento entre o grau de responsabilidade do
município com a sua estrutura técnica e administrativa para a gestão da política” foi avaliado em 5
dos 18 programas. Neste caso, contudo, é possível que diversos programas não contemplem tal
quesito, caso seja executado exclusivamente pelo governo federal.
109. De toda sorte, é necessário que a Segecex esteja sempre atenta à necessidade de
uniformização dos procedimentos de auditoria e do constante aperfeiçoamento dos métodos de
trabalho para assegurar a qualidade do RePP, dada a crescente importância das fiscalizações de
políticas públicas no processo de alocação orçamentária.
110. Por fim, gostaria de louvar o esforço da equipe técnica, composta pela Especialista Sênior
Roberta Mallab Coscarelli, da Coger, e Rodrigo Araújo Vieira, da Semag, bem assim a condução dos
trabalhos pelos titulares das respectivas unidades.
Feitas essas considerações, VOTO por que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este
colegiado.
DECLARAÇÃO DE VOTO
Primeiramente, gostaria de parabenizar o Ministro Benjamin Zymler pela condução do trabalho e
as equipes técnicas envolvidas na produção da segunda edição do Relatório de Políticas e Programas
de Governo.
280
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Acredito ser este um produto de alto impacto inovador, notadamente na forma de relacionamento
com o Congresso Nacional e com o Centro de Governo do Poder Executivo.
Ao trazer uma análise ampla e consolidada dos problemas a serem superados pelo Estado
brasileiro, esse relatório serve como subsídio singular e sistêmico ofertado às Casas Legislativas, para
que possam exercer plenamente, com o apoio do TCU, suas fundamentais competências inerentes ao
processo orçamentário e de controle da administração pública.
Destaco que, à realidade de baixa capacidade institucional apresentada no relatório, se junta o
cenário de retração econômica, insustentabilidade fiscal e, consequente limitação de despesas. Ao
destinar recursos públicos limitados, é essencial que o governo priorize as ações que tem gerado
resultados, ou que minimamente, apresentem condições de gerá-los. Desse modo, vê-se no Relatório
um produto capaz de trazer análises de grande relevância não somente para o aprimoramento dos
programas e ações públicas, como também para de fato promover a melhoria da alocação orçamentária
e dos arranjos institucionais que permitem a adequação do gasto público.
Na minha visão, são produtos como este que permitem ao Tribunal manter um diálogo mais
positivo e construtivo com os atores governamentais que buscam acertar e construir um País melhor.
Assim, novamente parabenizo o Ministro Benjamin Zymler, assim como as equipes da Semag e da
Coger, lideradas pelos Auditores Leonardo Albernaz e Marcelo Barros Gomes, e reforço a necessidade
de darmos continuidade a esse trabalho, oferecendo à Secretaria Geral de Controle Externo as
condições necessárias ao seu aperfeiçoamento.
Diante do exposto, com satisfação, acompanho o Relator.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
JOSÉ MÚCIO MONTEIRO
Redator
ACÓRDÃO Nº 2608/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 012.352/2018-7.
1.1. Apenso: 005.762/2018-9
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Acompanhamento
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Congresso Nacional (vinculador) ().
4. Órgãos/Entidades: Agência Nacional de Águas; Agência Nacional de Telecomunicações;
Banco Central do Brasil; Banco do Brasil S.A.; Banco do Nordeste do Brasil S.A.; Caixa Econômica
Federal; Câmara dos Deputados (vinculador); Casa Civil da Presidência da República; Conselho
Nacional de Justiça (vinculador); Conselho Nacional do Ministério Público (vinculador);
Departamento de Serviço de Inclusão Digital - MC; Departamento Penitenciário Nacional;
Embrapa/sct; Entidades/órgãos do Governo do Distrito Federal; Entidades/órgãos do Governo do
Estado de Mato Grosso; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Rondônia; Entidades/órgãos do
Governo do Estado de Roraima; Entidades/órgãos do Governo do Estado de Santa Catarina;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Acre; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amapá;
Entidades/órgãos do Governo do Estado do Amazonas; Entidades/órgãos do Governo do Estado do
Espírito Santo; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Pará; Entidades/órgãos do Governo do Estado do Paraná; Entidades/órgãos do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Gabinete de Segurança Institucional; Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (vinculador);
Ministério da Cultura; Ministério da Defesa (vinculador); Ministério da Fazenda (vinculador);
281
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Ministério da Integração Nacional (vinculador);
Ministério da Justiça; Ministério da Pesca e Aquicultura (vinculador); Ministério da Saúde
(vinculador); Ministério das Relações Exteriores (vinculador); Ministério de Minas e Energia
(vinculador); Ministério do Desenvolvimento Social; Ministério do Meio Ambiente (vinculador);
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; Ministério do Trabalho; Ministério dos
Direitos Humanos; Prefeitura Municipal de João Pessoa - PB; Secretaria da Receita Federal do Brasil;
Secretaria de Direitos Humanos; Secretaria de Educação Básica; Secretaria de Governo da Presidência
da República; Secretaria de Política de Informática; Secretaria de Telecomunicações - MC; Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário; Secretaria Executiva do Ministério da
Integração Nacional; Secretaria Executiva do Ministério das Cidades; Senado Federal (vinculador);
Telecomunicações Brasileiras S.A.; Tribunal de Contas da União (vinculador).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Macroavaliação Governamental (SEMAG).
8. Representação legal:
8.1. Daniel Andrade Fonseca e outros, representando Agência Nacional de Telecomunicações.
9. Acórdão:
VISTO, relatado e discutido este Relatório de Políticas e Programas de Governo (RePP),
destinado a dar cumprimento ao art. 124 da Lei 13.707/2018 (Lei de Diretrizes Orçamentárias para
2019),
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo relator, e com fundamento nos arts. 1º, inciso II, e 43, inciso I, da Lei
8.443/1992 c/c os arts. 239, inciso II, e 250, inciso III, do Regimento Interno, em:
9.1. encaminhar à Comissão Mista do Congresso Nacional a que se refere o § 1º do art. 166 da
Constituição Federal, o quadro-resumo relativo à qualidade da implementação e ao alcance de metas e
objetivos dos programas e ações governamentais objetos de auditorias operacionais realizadas, para
subsidiar a discussão do Projeto de Lei Orçamentária Anual;
9.2. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, no exercício das competências
atribuídas pelo art. 3º da Medida Provisória 782/2017, em especial aquelas relacionadas a
coordenação, integração, monitoramento e avaliação das ações governamentais, e ao Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, no exercício das competências atribuídas pelo art. 2º do
Decreto 9.035/2017, em especial aquelas relacionadas à formulação do planejamento estratégico
nacional e à elaboração de subsídios para formulação de políticas públicas de longo prazo voltadas ao
desenvolvimento nacional, em articulação com o Ministério da Fazenda, em atenção ao princípio da
eficiência insculpido no art. 37 da Constituição e aos art. 4º e 5º do Decreto 9.203/2017, que
contemplem, na implementação do plano de ação em curso, os seguintes aspectos:
9.2.1. a positivação de plano nacional integrado de longo prazo, a que faz menção o disposto no
§1º do art. 174 da CF, em continuidade às ações de proposição e debate institucional atualmente em
curso no âmbito de elaboração da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(ENDES) e do Projeto de Lei 9.163, de 23 de novembro de 2017 (item 33 do relatório);
9.2.2. integração e articulação do plano nacional integrado de longo prazo que vier a ser
formalizado com os demais instrumentos de planejamento nacional, setorial e regional, em especial o
Plano Plurianual (itens 26 e 78 do relatório);
9.2.3. definição de cronograma de ações para orientação, capacitação e estímulo aos órgãos da
administração pública com vista a disseminar a aplicação do Guia de Análise Ex Ante do Governo
Federal nos processos de criação, aperfeiçoamento e expansão de políticas públicas, em atendimento
às diretrizes estabelecidas no art. 4º, inc. VII e VIII do Decreto 9.203/2017 (itens 206, 217, 219 e 239
do relatório);
282
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.2.4. definição de cronograma de ações com vistas a institucionalizar e qualificar os
mecanismos e práticas de gestão de riscos, controles internos, coordenação e articulação,
monitoramento e avaliação no âmbito dos órgãos da administração pública, em atendimento às
diretrizes estabelecidas no art. 4º, inc. III e VI do Decreto 9.203/2017 (itens 247, 257 e 264 do
relatório);
9.3. dar ciência ao Congresso Nacional da necessidade de aprimoramento do arcabouço legal dos
processos de alocação e execução orçamentária, com vistas a:
9.3.1. considerar as avaliações do desempenho e dos resultados governamentais nos processos
decisórios, para destinação de recursos e adoção de medidas de aperfeiçoamento dos programas e
políticas públicas em curso;
9.3.2. instituir mecanismos que permitam cobrar das instituições responsáveis por gerir recursos
públicos a aplicação de boas práticas de governança e gestão aplicáveis às políticas públicas (itens 208
e 217 do relatório);
9.4. encaminhar este relatório aos Ministérios responsáveis pelas políticas contempladas neste
trabalho: Ministério das Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério de Minas e
Energia, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Ministério do Trabalho, Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Ministério da Cultura, Ministério dos Direitos
Humanos, Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e Ministério da Segurança Pública,
com vistas a dar ciência das lacunas e falhas apontadas nos processos de institucionalização,
formulação, gestão de riscos, controles internos, coordenação, monitoramento e avaliação das políticas
pelas quais são responsáveis (itens 206, 217, 219, 239, 247, 257 e 264 do relatório).
9.5. recomendar à Secretaria-Geral de Controle Externo que:
9.5.1. considere, no processo de acompanhamento da elaboração do Plano Plurianual 2020-2023,
incumbido à Secretaria de Macroavaliação Governamental, os aspectos abordados no item 9.3.2 do
Acórdão 2127/2017-Plenário;
9.5.2. busque incluir, em seu planejamento, fiscalizações que contemplem, para políticas
públicas de alta materialidade, relevância e risco, questões estruturais para a ação governamental, que
avaliem, especialmente:
9.5.2.1.o uso de evidências nos processos decisórios das políticas públicas, incluindo aqueles
relativos à sua própria criação;
9.5.2.2. a maturidade da governança e da gestão das políticas públicas auditadas;
9.5.2.3.os resultados alcançados em função dos recursos públicos empregados;
9.5.3. verifique, com o apoio da Coordenação-Geral de Controle Externo de Resultados de
Políticas Programas Públicos e da Secretaria de Métodos e Suporte ao Controle Externo, a
possibilidade de estabelecer parâmetros objetivos para classificar os achados de auditoria nos
processos de fiscalização de políticas públicas e programas de governo, bem assim de estabelecer um
núcleo comum de quesitos a serem examinados nessa modalidade de fiscalização, de modo a
possibilitar a correta consolidação dos resultados e a elaboração do quadro-resumo a que se referem as
últimas leis de diretrizes orçamentárias, a exemplo da Lei 13.707/2018;
9.5.4. adote medidas necessárias para o desenvolvimento de sistema para apoiar a fiscalização de
políticas públicas, programas de governo, ações orçamentárias e indicadores nacionais, observadas as
prioridades definidas pelo Comitê de Gestão de Tecnologia da Informação no Plano Diretor de
Tecnologia;
9.5.5. examine a conveniência e oportunidade de adotar as medidas sugeridas nos subitens de
“ii” a “v”, “vii” e “viii” do item 1 da proposta de encaminhamento do Coordenador-Geral de Controle
Externo de Resultado de Políticas e Programas Públicos;
9.6. recomendar à Secretaria-Geral da Presidência que verifique, em conjunto com a Secretaria-
Geral de Controle Externo, a conveniência e oportunidade de adotar as medidas sugeridas nas alíneas
283
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
“a” e “b” do item 2 da proposta de encaminhamento do Coordenador-Geral de Controle Externo de
Resultado de Políticas e Programas Públicos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2608-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler (Relator), Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e
Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 032.908/2017-2
Natureza: Representação
Órgão/Entidade: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
Representação legal: não há
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. NEGATIVA DO INEP EM FORNECER INFORMAÇÕES
SOLICITADAS PELO TCU PARA REALIZAÇÃO DE AUDITORIA. PROCEDÊNCIA. REJEIÇÃO
DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA APRESENTADAS. NOVA AUDIÊNCIA. ADVERTÊNCIAS.
RELATÓRIO
Adoto, como Relatório, a instrução do Auditor (peça 15), que contou com a anuência do corpo
diretivo da unidade técnica (peças 16 e 17):
“INTRODUÇÃO
1. Trata-se de representação desta Unidade Técnica em razão da negativa por parte do Inep de
fornecimento de informações solicitadas pelo TCU para realização de auditoria de cunho
operacional.
2. A representação preenche os requisitos de admissibilidade previstos nos artigos 235 e 237,
inciso VI do Regimento Interno do Tribunal.
HISTÓRICO
Motivação para a Solicitação dos Dados
3. No âmbito do processo de levantamento para realização de fiscalização de natureza
operacional intitulado “Levantamento dos Riscos de Eficiência, Eficácia e Efetividade dos Programas
de Inclusão Produtiva” (TC 016.292/2017-0), foi realizada análise do impacto do programa Bolsa
Família em relação ao acesso ao mercado formal de trabalho pelos jovens integrantes das famílias
beneficiárias, com idade em torno de 18 anos. O estudo, que utilizou técnicas econométricas
avançadas de avaliação de impacto, foi realizado a partir dos dados do Cadastro Único, Folha de
Pagamentos do Bolsa Família e RAIS, bases de dados disponíveis no TCU. Os resultados do estudo
permitiram concluir, com segurança, que existe um efeito do programa sobre os jovens, de tal forma
284
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
que, em média, os jovens que permanecem mais tempo no programa, tendem a ter menor acesso ao
mercado formal de trabalho que os jovens que deixam o programa mais cedo.
4. Para complementação da análise dos efeitos do programa Bolsa Família iniciada no processo
de levantamento TC 016.292/2017-0, com continuidade prevista para ocorrer no processo intitulado
“FOC sobre a prestação de serviços que promovam a inclusão social, em especial a diretriz de
inclusão produtiva da população mais vulnerável e pobre do país” (TC 027.831/2017-5), fez-se
necessária a obtenção das bases de dados identificadas do Enem e do Censo da Educação Básica,
ambas disponíveis no INEP – Instituto Anísio Teixeira. Tais bases de dados devem ser obtidas e
internalizadas no TCU, para viabilizar os cruzamentos de dados necessários à aplicação das técnicas
econométricas de avaliação de impacto.
5. Cumpre destacar que, apesar dos dados de identificação dos jovens (CPF, Nome, Nome da
Mãe) serem necessários para a etapa prévia de cruzamento com outras bases de dados, a exemplo do
próprio Cadastro Único, todas as análises econométricas previstas, acontecem de forma agregada,
não sendo possível a identificação individual dos jovens, quando da divulgação dos resultados.
Ações realizadas para obtenção dos dados
6. Ainda durante a fase de planejamento do TC 016.292/2017-0, foi expedido o ofício de
diligência 0284/2017-TCU/SecexPrevidência, de 24/4/2017 (peça 6) solicitando do INEP as seguintes
informações:
a) microdados identificados do Censo da Educação Básica dos anos de 2013 a 2016; e
b) microdados identificados do Enem dos anos de 2013 a 2016.
7. O INEP respondeu à diligência por meio do Ofício nº 382/2017/GAB-INEP (peça 2), negando
o fornecimento dos dados ao TCU, alegando que o acesso aos dados deveria ocorrer exclusivamente
conforme sua portaria interna número 465, de 31 de maio de 2017 (peça 4).
8. O cruzamento de dados com as bases internalizadas no TCU é etapa imprescindível para a
análise de impacto pretendida. Considerando que a forma de acesso proposta pelo INEP que prevê
exclusivamente o acesso em suas dependências, inviabiliza aquele cruzamento, foi realizada nova
solicitação, desta feita por meio do ofício de requisição 4-211/2017-TCU/SecexPrevidência (peça 5),
ainda no âmbito do TC 016.292/2017-0.
9. O Inep respondeu à segunda solicitação por meio do Ofício nº 479/2017/GAB-INEP (peça 3),
negando mais uma vez o fornecimento das informações solicitadas, utilizando a mesma justificativa
apresentada anteriormente.
10. Por entender que a negativa de fornecimento das informações contraria os dispositivos
previstos no Art. 71, incisos II e IV da Constituição Federal e a Lei 8.443/1992 art. 87, inciso III
(conforme instrução inicial à peça 7), a Secexprevi formulou a presente representação, propondo que
o Tribunal promovesse audiência da Sr. Maria Inês Fini, Presidente do Inep, para que apresentasse
razões de justificativa quanto à negativa de prestação de informações solicitadas
11. A proposta de audiência formulada pela Secexprevi foi acatada pelo Relator, Ministro
Walton Alencar Rodrigues por meio do despacho à peça 10, e a Presidente do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP foi instada a apresentar razões de
justificativa para a negativa de fornecimento das informações solicitadas por meio do ofício
0085/2018-TCU/SecexPrevidência, de 25/1/2018 (peça 11).
12. O exame técnico a seguir trata da análise das razões de justificativa apresentadas pelo
INEP, por meio do ofício 88/2018/GAB-INEP (peça 13).
EXAME TÉCNICO
Justificativa 2.: Acesso nas dependências do INEP
285
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13. A presidente do INEP inicia sua argumentação informando que as bases de dados
solicitadas se encontram à disposição do TCU, mas, exclusivamente, por meio de acesso realizado nas
instalações do próprio INEP.
14. Conforme já mencionado no parágrafo 8, o acesso nas dependências do INEP, na forma
proposta, inviabiliza o cruzamento de dados com as bases internalizadas no TCU, etapa
imprescindível para a análise de impacto pretendida, de forma que não atende às necessidades do
TCU.
Justificativa 3. a): Lei 12.527 (Lei de Acesso a Informação - LAI)
15. Na sequência, o INEP argumenta que, de acordo com o Art. 31, §s 1o e 3o, e respectivos
incisos da Lei 12.527 (Lei de Acesso a Informação - LAI), a coleta de dados pessoais para a
realização de estatísticas - como é o caso dos censos educacionais e da pesquisa de perfil
socioeconômico associada ao ENEM - seria possível sem o consentimento do indivíduo, desde que a
divulgação dos resultados não permitam a identificação das pessoas a que se referem as estatísticas.
16. Entretanto, a própria Lei 12.527, em seu art. 31º, § 1o, inciso I, assegura o acesso às
informações pessoais a agentes públicos legalmente autorizados, conforme transcrição a seguir:
Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com
respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias
individuais.
§ 1 As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada,
honra e imagem:
I - terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo
de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à
pessoa a que elas se referirem; (grifo nosso)
17. Considerando que, conforme a Lei 8.443/1992 art. 87, inciso III, o servidor do TCU tem a
prerrogativa de requerer, nos termos do Regimento Interno, aos responsáveis pelos órgãos e
entidades objeto de inspeções, auditorias e diligências, as informações e documentos necessários para
instrução de processos e relatórios, o art. 31, § 1o, inciso I da Lei 12.527 confere ao auditor do TCU
a possibilidade de acesso às informações pessoais, mesmo que restritas. Assim sendo, a justificativa 3.
a) do INEP não merece acolhida.
Justificativa 3. b): restrição de acesso supostamente prevista nos editais do Enem
18. No item 3.b) o INEP argumenta que os editais que tratam da aplicação do ENEM
supostamente pontificariam que informações pessoais, educacionais, socioeconômicas e os resultados
individuais somente poderiam ser divulgados mediante a autorização expressa do participante
19. Entretanto, os próprios Editais do Enem asseguram a utilização dos dados pessoais no
âmbito de programas governamentais, como pode ser depreendido do trecho do Edital do Concurso
de 2017, extraído do Diário Oficial da União no 69, de 10 de abril de 2017, seção 3:
16. DA UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS PARA ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR
(...)
16.3 A inscrição do PARTICIPANTE no Enem 2017 caracterizará o seu formal consentimento
para a disponibilização das suas notas e informações, incluindo as do questionário socioeconômico,
no âmbito de programa governamental e em processo seletivo de ingresso à Educação Superior.
20. Considerando que o próprio Edital do Concurso prevê expressamente que as informações
pessoais serão usadas no âmbito de programas governamentais e que o TCU é responsável pelo
controle externo da atuação governamental no âmbito da União, resta evidente que o Tribunal deve
ter acesso às referidas informações para avaliação dos programas, sob pena de, em caso de negativa
de acesso, dificultar, restringir ou mesmo impedir sua atuação sobre os programas afetos à
informação.
286
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
21. O Bolsa Família, programa que o TCU pretende avaliar com as informações solicitadas,
possui estreita relação com as políticas educacionais. O acesso à educação é uma das mais
importantes condicionalidades do programa. A negativa de acesso às informações da educação
inviabiliza o controle e a realização de qualquer trabalho de avaliação de impacto por meio de
técnicas econométricas.
22. Assim sendo, considerando que o item 16.3 do Edital ENEM 2017 assegura o uso da
informação pessoal no âmbito de programas governamentais, a justificativa 3. b) não procede.
Justificativa 3.c): sigilo previsto em resolução de assembleia da ONU
23. Nesse item, o INEP argumenta que a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas no
68/261, de 29 de janeiro de 2014, (peça 14), estabelece que os dados individuais coletados pelos
órgãos de estatística para elaboração de estatísticas devem ser estritamente confidenciais e utilizados
exclusivamente para fins estatísticos.
24. Essa argumentação do INEP é baseada no princípio 6 da dita resolução, o qual
transcrevemos, para facilitar o entendimento:
Principle 6. Individual data collected by statistical agencies for statistical compilation, whether
they refer to natural or legal persons, are to be strictly confidential and used exclusively for statistical
purposes. (grifo nosso)
25. Cumpre observar que o princípio 6 acima refere-se a dados individuais coletados para
compilação estatística. Como já discutido, os dados do Enem também servem para outros fins, como
por exemplo, para subsidiar programas governamentais além de servir para acesso à educação
superior.
26. A despeito disso, é importante observar que o sigilo previsto no princípio visa, além de
preservar a intimidade dos participantes, assegurar a qualidade das pesquisas, pois a divulgação ou
uso indevido das informações poderia impactar negativamente a confiança dos entrevistados, o que é,
sem dúvidas, uma preocupação legítima.
27. Entretanto, entende-se que o fornecimento das informações ao TCU não representa quebra
de sigilo, visto que, conforme o art. 86 da Lei 8.443/1992, o servidor do TCU é obrigado a guardar
sigilo sobre dados e informações obtidos em decorrência do exercício de suas funções.
28. Adicionalmente, o uso que se pretende dar aos dados, ou seja, realização de análise de
impacto por métodos econométricos, pressupõe a geração de saídas agregadas, que não possibilitam
a identificação individual, compatíveis, portanto, com os fins estatísticos permitidos no princípio
defendido pela ONU.
29. Assim sendo, a solicitação do TCU não fere o Princípio 6 da Resolução da Assembleia Geral
das Nações Unidas no 68/261, não devendo ser acatada a argumentação 3. c): do INEP.
Justificativa 3.d): sigilo previsto no Decreto 6.425/ 2008 para o Censo da Educação
30. No item 3. d), o INEP informa que o Decreto 6.425/2008 assegura o sigilo dos dados
pessoais presentes no censo da educação de modo a evitar que o compartilhamento e uso de dados
pessoais para outras finalidades que não a realização de estatísticas comprometa a confiança dos
parceiros da pesquisa e a sua disposição em fornecer informações extensas e fidedignas.
31. De fato, o referido decreto assegura o sigilo e a proteção de dados pessoais apurados no
censo da educação, vedando a sua utilização para fins estranhos aos previstos na legislação
educacional aplicável.
32. Entretanto, como já extensivamente discutido, o fornecimento dos dados para o TCU não
configura quebra de sigilo, mas apenas a transferência desse sigilo para o TCU, com respaldo na Lei
8.443/1992 que é hierarquicamente superior à uma norma gerada por decreto.
33. Adicionalmente, o uso que se pretende dar aos dados no presente trabalho, ou seja,
realização de análise de impacto por métodos econométricos, pressupõe a geração de saídas
287
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
agregadas, que não possibilitam a identificação individual, não havendo, portanto, risco de quebra de
confiança dos parceiros envolvidos nas pesquisas.
34. Assim sendo, a justificativa apresentada no item 3. d) não deve ser acolhida.
Justificativa 3.e): sigilo das informações coletadas no âmbito do Plano Nacional de Estatística
35. Segundo a argumentação do INEP, a Lei no 5.534/1968 já estabelecera que as informações
prestadas para a execução do Plano Nacional de Estatística teriam caráter sigiloso e seriam usadas
exclusivamente para fins estatísticos, não podendo ser objeto de certidão, nem, em hipótese alguma,
servir de prova em processo administrativo, fiscal ou judicial.
36. Entretanto, aquela lei diz respeito às informações solicitadas pela Fundação IBGE para
execução do Plano Nacional de Estatística e não se aplica diretamente ao Censo da Educação
realizado pelo INEP.
37. A despeito disso, como já extensivamente discutido, o fornecimento dos dados para o TCU
não configura quebra de sigilo, mas simplesmente transferência de sigilo.
38. Assim sendo, o argumento 3.e) não procede.
Justificativas 4 e 5.: importância do sigilo para as pesquisas
39. Nos itens 4 e 5, o INEP continua sua argumentação, reforçando que suas pesquisas têm
como objetivo o cálculo de estatísticas de natureza agregada e não se prestam para certificar a
condição de indivíduos frente às organizações.
40. Sobre esses aspectos levantados pelo INEP, é importante reforçar que essa unidade técnica
entende que essa argumentação se aplica ao censo da educação. Quanto aos dados obtidos no
contexto do Enem, entretanto, existe previsão explícita de utilização dos mesmos frente a instituições
de ensino superior e no âmbito de programas governamentais, não se aplicando a argumentação.
41. Adicionalmente, em ambos os casos, o fornecimento dos dados para o Tribunal não significa
quebra de sigilo, dadas as obrigações legais do Auditor. É importante destacar que o TCU já possui
internalizadas diversas bases de dados que contém informações pessoais restritas como CPF e
CNPJ(Receita Federal), CADUNICO (Ministério do Desenvolvimento Social), RAIS e Seguro
Desemprego(Ministério do Trabalho), todas com o devido controle de confidencialidade.
43. No caso específico do TC 027.831/2017-5, o objetivo dessa unidade é realizar análise de
impacto por meio de técnicas econométricas agregadas. Ou seja, o foco é a análise de resultados
médios sobre grupos, e não sobre indivíduos. Entretanto, como etapa preliminar ao trabalho, faz-se
necessário o prévio cruzamento com o CADUNICO e a folha de pagamentos do Bolsa Família para a
classificação dos registros entre participantes e não participantes do programa e complementação dos
dados socioeconômicos. Uma vez verificada a participação no programa e complementados os dados
socioeconômicos a identificação individual das pessoas é descartada não sendo apresentada nos
resultados.
Justificativas 6 e 7: respeito ao sigilo de dados pessoais pelo INEP e criação do Serviço de
Acesso a Dados Protegidos (SEDAP)
44. Nos itens 6 e 7, o INEP destaca as boas práticas referentes à proteção dos dados individuais
que vem adotando, especialmente a criação do Serviço de Acesso a Dados Protegidos (SEDAP), tanto
para pesquisadores acadêmicos quanto pesquisadores institucionais, e cita que o próprio TCU, por
meio do acordão 3002-48/2016 Plenário, de relatoria da Ministra Ana Arraes, classificou como tendo
um bom nível de maturidade o processo de produção de estatísticas educacionais pelo INEP,
incluindo as políticas de proteção à informação individual.
45. Entretanto, o INEP não pode conceder ao TCU o mesmo tratamento restritivo que aplica aos
pesquisadores acadêmicos ou institucionais, visto que o Tribunal possui prerrogativas legais
diferenciadas para que ele possa exercer plenamente a atividade de controle externo. Ao mesmo
288
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
tempo em que o Auditor do TCU tem a prerrogativa de requerer informações junto aos
jurisdicionados, ele tem o dever legal de preservar o grau de confidencialidade das informações
obtidas.
46. Assim sendo, o fato do INEP estar realizando um bom trabalho relativo à proteção dos
dados individuais obtidos por meio de suas pesquisas e concursos, não descarta a obrigação de
fornecer as informações solicitadas pelo TCU para que ele possa exercer a sua missão constitucional,
de forma que a negativa de fornecimento de dados não pode ser aceita.
CONCLUSÃO
47. Considerando que: (a) conforme o Art. 71, incisos II e IV da Constituição Federal, compete
ao TCU realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão
técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal; (b)
conforme a Lei 8.443/1992 art. 87, inciso III, o servidor do TCU tem a prerrogativa de requerer, nos
termos do Regimento Interno, aos responsáveis pelos órgãos e entidades objeto de inspeções,
auditorias e diligências, as informações e documentos necessários para instrução de processos e
relatórios de cujo exame esteja expressamente encarregado por sua chefia imediata; (c) conforme a
Lei 8.443/1992, art. 86, o servidor do TCU é obrigado a guardar sigilo sobre dados e informações
obtidos em decorrência do exercício de suas funções e pertinentes aos assuntos sob sua fiscalização,
utilizando-os, exclusivamente, para a elaboração de pareceres e relatórios destinados à chefia
imediata; (d) a Lei 12.527, em seu art. 31º, § 1o, inciso I, assegura o acesso às informações pessoais a
agentes públicos legalmente autorizados; (e) existe, no edital do ENEM 2017, previsão expressa de
uso das informações colhidas por ocasião do concurso para fins de programas governamentais e que
o TCU utiliza tais informações para realizar o controle externo desses programas; (f) o TCU já possui
diversas bases de dados internalizadas e possui mecanismos de preservação do sigilo das informações
pessoais nelas contidas; (g) o foco do trabalho “FOC sobre a prestação de serviços que promovam a
inclusão social, em especial a diretriz de inclusão produtiva da população mais vulnerável e pobre do
país” (TC 027.831/2017-5) é a obtenção de resultados médios sobre grupos, e não sobre indivíduos; e
(h) a forma de acesso sugerida pelo INEP, a partir de suas dependências não atende à necessidade do
Tribunal, entende-se que a argumentação apresentada pelo INEP não constitui justificativa aceitável
para a negativa do fornecimento das informações solicitadas.
48. Nesses termos, conclui-se pela rejeição das razões de justificativa apresentadas pela Sra.
Maria Inês Fini, Presidente do INEP.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
49. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
I. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso VI, do Regimento Interno deste Tribunal e no art. 103, § 1º, da Resolução -
TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la procedente;
II. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pela Sra. Maria Inês Fini, Presidente do
INEP;
III. determinar ao INEP que, no prazo de 5 dias uteis, conforme solicitação original constante
no ofício de diligência 0284/2017-TCU/SecexPrevidência, de 24/4/2017 (peça 6), forneça os seguintes
dados:
a) microdados identificados do Censo da Educação Básica dos anos de 2013 a 2016; e
b) microdados identificados do Enem dos anos de 2013 a 2016.
IV. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso III, do Regimento Interno
do Tribunal.”
289
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
VOTO
Conheço a presente representação da equipe de fiscalização da Secretaria de Controle Externo da
Previdência, do Trabalho e da Assistência Social em razão da recusa do Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em fornecer informações solicitadas pelo TCU para
realização de auditoria, por preencher os requisitos atinentes à espécie.
Com vistas a realizar análises sobre os efeitos do programa Bolsa Família, iniciadas no processo
de levantamento TC 016.292/2017-0, com continuidade prevista para ocorrer no processo intitulado
“FOC sobre a prestação de serviços que promovam a inclusão social, em especial a diretriz de inclusão
produtiva da população mais vulnerável e pobre do país” (TC 027.831/2017-5), por meio do ofício de
diligência 0284/2017-TCU/SecexPrevidência, de 24/4/2017 (peça 6), aquela unidade técnica solicitou
as seguintes bases de dados ao Inep:
a) microdados identificados do Censo da Educação Básica dos anos de 2013 a 2016; e
b) microdados identificados do Enem dos anos de 2013 a 2016.
O INEP respondeu à diligência por meio do Ofício nº 382/2017/GAB-INEP (peça 2), negando o
fornecimento dos dados ao TCU, alegando que o acesso aos dados deveria ocorrer exclusivamente
conforme sua Portaria 465, de 31 de maio de 2017 (peça 4).
A forma de acesso a informações proposta pelo Inep, exclusivamente em suas dependências,
inviabiliza o cruzamento de dados com as bases internalizadas no TCU, etapa imprescindível para a
análise pretendida.
Sendo assim, foi realizada nova solicitação, por meio do ofício de requisição 4-211/2017-
TCU/SecexPrevidência (peça 5). Por meio do Ofício nº 479/2017/GAB-INEP (peça 3), o Inep negou
mais uma vez o fornecimento das informações solicitadas, utilizando a mesma justificativa apresentada
anteriormente.
Por meio de despacho à peça 10, autorizei a audiência de Maria Inês Fini, Presidente do Inep,
para que apresentasse razões de justificativa quanto à negativa de prestação das informações
solicitadas pela SecexPrevidência.
À peça 11, o Inep argumenta que, de acordo com o art. 31, §s 1o e 3o, e respectivos incisos da Lei
12.527 (Lei de Acesso a Informação - LAI), a coleta de dados pessoais para a realização de estatísticas
– como é o caso dos censos educacionais e da pesquisa de perfil socioeconômico associada ao Enem –
seria possível sem o consentimento do indivíduo, desde que a divulgação dos resultados não permita a
identificação das pessoas a que se referem as estatísticas.
Tal argumento não merece ser acolhido, pois a Lei 12.527, em seu art. 31º, § 1o, inciso I,
assegura o acesso às informações pessoais, mesmo que restritas, a agentes públicos legalmente
autorizados. Este é o caso, pois conforme o art. 87, inciso III da Lei 8.443/1992, o servidor do TCU
tem a prerrogativa de requerer, nos termos do Regimento Interno, aos responsáveis pelos órgãos e
entidades objeto de inspeções, auditorias e diligências, as informações e documentos necessários para
instrução de processos e relatórios.
Também não deve prosperar o argumento do Inep de que os editais que tratam da aplicação do
Enem explicitariam que informações pessoais, educacionais, socioeconômicas, bem como os
resultados individuais, somente poderiam ser divulgados mediante a autorização expressa do
participante.
Como demonstra o trecho do Edital do Concurso de 2017, extraído do Diário Oficial da União
no 69, de 10 de abril de 2017, seção 3, transcrito a seguir, é assegurada a utilização dos dados pessoais
no âmbito de programas governamentais:
“16. DA UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS PARA ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR
(...)
290
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
16.3 A inscrição do PARTICIPANTE no Enem 2017 caracterizará o seu formal consentimento
para a disponibilização das suas notas e informações, incluindo as do questionário socioeconômico,
no âmbito de programa governamental e em processo seletivo de ingresso à Educação Superior.”
Como o TCU é responsável pelo controle externo da atuação governamental no âmbito da União,
é evidente que deve ter acesso a informações que julgar necessárias para avaliação dos programas sob
sua jurisdição.
No caso em questão, o Bolsa Família, programa que o TCU pretende avaliar com as informações
solicitadas, possui estreita relação com as políticas educacionais. O acesso à educação é uma de suas
mais importantes condicionalidades. A negativa de acesso às informações em questão inviabiliza o
controle e a realização de qualquer trabalho de avaliação de impacto por meio de técnicas
econométricas.
Também não procede o argumento do Inep de que a negativa de acesso aos dados seria
justificada pela Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas no 68/261, de 29 de janeiro de
2014, (peça 14). A posição do Inep baseia-se no fato de que princípio 6 daquela Resolução estabelece
que dados individuais coletados pelos órgãos de estatística, para elaboração de estatísticas, devem ser
estritamente confidenciais e utilizados exclusivamente para fins estatísticos:
‘Principle 6. Individual data collected by statistical agencies for statistical compilation, whether
they refer to natural or legal persons, are to be strictly confidential and used exclusively for statistical
purposes.”
Cumpre observar que o princípio 6 acima refere-se a dados individuais coletados para
compilação estatística. Como já discutido, os dados do Enem, cuja principal função é o acesso à
educação superior, também servem para subsidiar programas governamentais, entre outros fins.
Além disso, o sigilo previsto naquele princípio visa, além de preservar a intimidade dos
participantes, assegurar a qualidade das pesquisas, pois a divulgação ou uso indevido das informações
poderia impactar negativamente a confiança dos entrevistados. Esta é, sem dúvidas, uma preocupação
legítima.
Entretanto, o fornecimento das informações ao TCU não representa quebra de sigilo. Conforme o
art. 86 da Lei 8.443/1992, o servidor do TCU é obrigado a guardar sigilo sobre dados e informações
obtidos em decorrência do exercício de suas funções.
Ademais, a realização de análise de impacto por métodos econométricos, pressupõe a geração de
saídas agregadas, que não possibilitam a identificação individual, compatíveis, portanto, com os fins
estatísticos permitidos no princípio defendido pela ONU, bem como com o previsto pela LAI.
Esta última observação deve ser aplicada também para analisar os itens 4 e 5 das justificativas do
Inep, em que aquele Instituto reforça que suas pesquisas têm como objetivo o cálculo de estatísticas de
natureza agregada e não se prestam para certificar a condição de indivíduos frente às organizações.
O Inep informa ainda que o Decreto 6.425/2008 assegura o sigilo dos dados pessoais presentes
no censo da educação, com vistas a evitar que o compartilhamento e uso de dados pessoais para outras
finalidades, que não a realização de estatísticas, comprometa a confiança dos parceiros da pesquisa e a
sua disposição em fornecer informações extensas e fidedignas.
De fato, o Decreto assegura o sigilo e a proteção de dados pessoais apurados no censo da
educação, vedando a sua utilização para fins estranhos aos previstos na legislação educacional
aplicável. Entretanto, como já esclarecido anteriormente, o fornecimento dos dados para o TCU não
configura quebra de sigilo, mas apenas a transferência desse sigilo para o TCU, com respaldo na Lei
8.443/1992, que é hierarquicamente superior à uma norma gerada por decreto.
O Inep defende que a Lei no 5.534/1968 já estabelecera que as informações prestadas para a
execução do Plano Nacional de Estatística teriam caráter sigiloso e seriam usadas exclusivamente para
fins estatísticos, não podendo ser objeto de certidão, nem, em hipótese alguma, servir de prova em
processo administrativo, fiscal ou judicial.
291
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Contudo, aquela lei diz respeito às informações solicitadas pela Fundação IBGE para execução
do Plano Nacional de Estatística e não se aplica diretamente ao Censo da Educação realizado pelo
Inep. Novamente, como já demonstrado, o fornecimento dos dados para o TCU não configura quebra
de sigilo, mas simplesmente transferência de sigilo.
Finalmente, nos itens 6 e 7 de suas justificativas, o Inep destaca as boas práticas referentes à
proteção dos dados individuais que vem adotando, especialmente a criação do Serviço de Acesso a
Dados Protegidos (Sedap), tanto para pesquisadores acadêmicos quanto pesquisadores institucionais.
Cita que o próprio TCU, por meio do acordão 3002-48/2016 Plenário, de relatoria da Ministra
Ana Arraes, classificou como tendo um bom nível de maturidade o processo de produção de
estatísticas educacionais pelo INEP, incluindo as políticas de proteção à informação individual.
O fato do Inep realizar um bom trabalho no que toca à proteção dos dados individuais obtidos
por meio de suas pesquisas e concursos, não descarta a obrigação de fornecer as informações
solicitadas pelo TCU para que ele possa exercer a sua missão constitucional.
A partir das análises já apresentadas neste Voto, resta claro que o Inep não pode aplicar ao TCU
o mesmo tratamento restritivo dado aos pesquisadores acadêmicos ou a outras instituições, visto que o
Tribunal possui prerrogativas legais diferenciadas para que possa exercer plenamente a atividade de
controle externo.
Ressalto mais uma vez que, ao mesmo tempo em que o auditor do TCU tem a prerrogativa de
requerer informações junto aos jurisdicionados, tem o dever legal de preservar o grau de
confidencialidade das informações obtidas.
Diante de todos os elementos apresentados, concluo que a negativa de fornecimento de dados
não pode ser aceita, para considerar procedente a presente representação e determinar a realização de
nova diligência ao Inep para que forneça as informações já solicitadas pela SecexPrevidência,
informando-lhe o não atendimento da diligência, no prazo e forma indicados no parágrafo anterior,
pode ensejar a aplicação de multa e o afastamento temporário do responsável, nos termos dos arts. 58 e
44, caput, da Lei 8.443/1992, respectivamente.
Deixo de aplicar sanção à gestora por entender que a conduta da gestora não se revestiu de má-
fé, podendo a recusa ser atribuída a zelo excessivo na preservação das informações custodiadas pela
instituição.
Feitas essas considerações, voto por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
apreciação deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2609/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 032.908/2017-2.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Representação
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência
Social (SecexPrevi).
8. Representação legal : não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação da Secretaria de Controle Externo
da Previdência, do Trabalho e da Assistência Social em razão da recusa do Instituto Nacional de
292
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em fornecer informações solicitadas pelo
TCU para realização de auditoria,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso V, do Regimento Interno deste Tribunal e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU
259/2014, para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. rejeitar as razões de justificativa apresentadas por Maria Inês Fini, Presidente do Inep;
9.3. determinar à unidade instrutiva que promova nova diligência ao Inep, para, no prazo
regimental, fornecer as informações a seguir descritas, tal como originalmente requisitado por meio do
ofício de diligência 284/2017-TCU/SecexPrevidência:
9.3.1. microdados identificados do Censo da Educação Básica dos anos de 2013 a 2016; e
9.3.2. microdados identificados do Enem dos anos de 2013 a 2016;
9.4. informar ao Inep que o não atendimento da diligência, no prazo e forma indicados no
parágrafo anterior, pode ensejar a aplicação de multa e o afastamento temporário do responsável, nos
termos dos arts. 58 e 44, caput, da Lei 8.443/1992, respectivamente.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2609-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Relator),
Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE I – Plenário
TC 025.493/2013-2 [Apenso: TC 004.453/2017-4].
Natureza: Recursos de reconsideração (Tomada de Contas Especial).
Órgão: Ministério do Turismo (vinculador).
Recorrentes: Gilson Dias da Silva (102.307.935-68), e Federação Nacional dos Policiais
Rodoviários Federais/DF – FenaPRF (03.658.044/0001-00).
Representação legal: Emanuel Santos de Lima, OAB/DF 15.693; Marcos Joel dos Santos,
OAB/DF 21.203; e Rudi Meira Cassel, OAB/DF 22.256.
SUMÁRIO: RECURSOS DE RECONSIDERAÇÃO EM TOMADA DE CONTAS
ESPECIAL. CONHECIMENTO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMA DA
DECISÃO RECORRIDA. NEGATIVA DE PROVIMENTO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Com os ajustes de forma pertinentes, reproduz-se a seguir, a título de relatório, a instrução de
mérito produzida no âmbito da Secretaria de Recursos do Tribunal, peça 239, que contou com o aval
do corpo dirigente da unidade, peças 240 e 241, e também com o de acordo do Ministério Público
junto ao TCU, peça 242: INTRODUÇÃO
293
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
1. Trata-se de recursos de reconsideração interpostos por Gilson Dias da Silva (peça 210) e Federação
Nacional dos Policiais Rodoviários Federais/DF - FENAPRF (peça 196), contra o Acórdão 106/2018-TCU-
Plenário (peça 172), da relatoria do Ministro José Múcio. A deliberação recorrida apresenta o seguinte teor
(destacando-se os itens impugnados): ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante as razões
expostas pelo Relator e com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 12, § 3º, 16, §§ 2° e 3°, 19, 23, inciso III, 28,
inciso II, 57 e 60 da Lei 8.443/1992, c/c os arts. 214, inciso III, alíneas “a” e “b”, e 270, § 2°, do Regimento Interno, em:
9.1. acolher as alegações de defesa apresentadas pelas empresas Casablanca Turismo Passagens e
Excursões Ltda. – ME e XBrasil Comunicação em Causas Públicas Ltda. e excluí-las da relação processual;
9.2. julgar irregulares as contas da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais – FENAPRF e de Gilson Dias da Silva, com fulcro no art. 16, inciso III, alíneas “a” e “c”, da Lei 8.443/1992;
9.3. julgar irregulares as contas do Instituto Brasil 100 e de Paulo Eduardo Vieira, com fundamento no
art. 16, inciso III, alínea “c”, da Lei 8.443/1992; 9.4. condenar a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais – FENAPRF, Gilson Dias da
Silva, o Instituto Brasil 100 e Paulo Eduardo Vieira, solidariamente, ao recolhimento ao Tesouro Nacional de
R$ 405.265,00 (quatrocentos e cinco mil, duzentos e sessenta e cinco reais), atualizados monetariamente e acrescidos de juros de mora de 11/5/2010 até a data do pagamento;
9.5. aplicar à Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais – FENAPRF, a Gilson Dias da
Silva, ao Instituto Brasil 100 e a Paulo Eduardo Vieira multas individuais de R$ 96.000,00 (noventa e seis mil
reais), a serem recolhidas ao Tesouro Nacional, com atualização monetária, calculada da data deste acórdão até a data do pagamento, se este for efetuado após o vencimento do prazo abaixo estipulado;
9.6. fixar prazo de quinze dias, a contar da notificação, para comprovação, perante o Tribunal, do
recolhimento das dívidas acima imputadas; 9.7. autorizar a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações;
9.8. considerar graves as infrações cometidas por Gilson Dias da Silva e Paulo Eduardo Vieira;
9.9. declarar Gilson Dias da Silva e Paulo Eduardo Vieira inabilitados para o exercício de cargo em
comissão ou função de confiança, no âmbito da Administração Pública Federal, pelo prazo de cinco anos; 9.10. determinar ao Ministério do Turismo que, no prazo de 10 (dez) dias, a contar da ciência, atualize os
dados do Convênio 727278/2009 no Siconv, em especial o registro de sua situação, em observância ao controle
previsto no art. 9°, inciso VI, alínea ‘b’, da Portaria Interministerial MP/MF/CGU 424/2016; 9.11. dar ciência desta deliberação:
9.11.1. aos responsáveis;
9.11.2. ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e ao Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União, para a adoção das providências cabíveis em relação à inabilitação decretada pelo
item 9.9 deste acórdão;
9.11.3. ao Ministério do Turismo;
9.11.4. à Procuradoria da República no Distrito Federal.
HISTÓRICO
2. A tomada de contas especial (TCE) sob comento foi instaurada em desfavor da Federação Nacional dos
Policiais Rodoviários Federais/DF – FENAPRF e de Gilson Dias da Silva, na condição de Presidente da referida Federação, em razão da omissão no dever de prestar contas quanto aos recursos repassados à FENAPRF por
força do Convênio 1.837/2009 – SICONV 727278/2009 e SIAFI 659466 (peça 3, p. 1- 37), cujo objeto era a
promoção de seminários para sensibilização de policiais rodoviários federais no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes nos segmentos turísticos que utilizam as rodovias federais.
2.1. O ajuste, celebrado em 29/12/2009 e vigente até 06/05/2011 (com prazo para prestação de contas até
06/06/2011), previu a aplicação de R$ 833.900,00, sendo R$ 779.900,00 de repasses federais e R$ 54.000,00 de
contrapartida da convenente (R$ 48.600,00 em recursos financeiros e R$ 5.400,00 em bens e serviços) (peça 3, p. 11, 27-31, 39 e 105-107). Os recursos federais foram creditados na conta específica do convênio em
10/05/2010 e a contrapartida financeira, em 05/05/2010 (peça 3, p. 103, 183 e 199). Em 04/08/2011, foi
restituída ao Tesouro Nacional a quantia de R$ 10.007,60 (peça 3, p. 131, 135, 169). 2.2. Promovidas as citações iniciais (peças 8 a 11), os documentos apresentados pelos responsáveis
evidenciaram que a FENAPRF repassou R$ 822.625,00 – o que equivale a 99,3% dos recursos financeiros
294
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
disponibilizados para execução do objeto – às seguintes entidades: OngTour, atualmente denominada Instituto Brasil 100, no valor de R$ 405.265,00; Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda., no valor de R$
262.000,00; e XBrasil Comunicação em Causas Públicas Ltda., no valor de R$ 155.360,00 (peça 23, pp. 58-72).
2.3. Foram efetuadas, então, novas citações, incluindo-se essas empresas como solidárias pelos respectivos valores recebidos (peça 50 a 54).
2.4. A Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico (SecexDesenvolvimento) e o
Ministério Público junto ao TCU (MP/TCU) consideraram comprovados os serviços contratados junto às empresas Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda. e XBrasil Comunicação em Causas Públicas Ltda.
Mais uma vez, foram renovadas as citações de Gilson Dias da Silva e do Instituto Brasil 100, desta feita
solidariamente com Paulo Eduardo Vieira, ex-presidente daquele Instituto. O Instituto Brasil 100 e seu ex-
presidente permaneceram revéis (peça 136 a 139). O valor destinado à empresa Ongtour, beneficiária de R$ 405.265,00 não foi comprovado.
2.5. A SecexDesenvolvimento (peça 158) e o MP/TCU (161) se manifestaram pela irregularidade das
contas da FENAPRF, de Gilson Dias da Silva, do Instituto Brasil 100 e de Paulo Eduardo Vieira, com a imputação, a eles, de débito solidário e a aplicação de multas individuais. Ainda, propuseram a declaração de
inabilitação de Paulo Eduardo Vieira para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, no âmbito
da Administração Pública, nos termos do art. 60 da Lei 8.443/1992, e a exclusão das empresas Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda. e XBrasil Comunicação em Causas Públicas Ltda. do polo passivo desta
tomada de contas especial.
2.6. O ministro-relator endossou os pareceres da unidade técnica e do MP/TCU, aplicando ainda multa
individual aos recorrentes e aos responsáveis revéis e declaração de inabilitação a Gilson Dias da Silva, resultando no acórdão recorrido.
2.7. A FENAPRF interpôs recurso de reconsideração (peça 196) solicitando a exclusão de sua
responsabilidade, o julgamento pela regularidade de suas contas ou, caso haja alguma ressalva ou reprovação das contas, que seja atribuída responsabilidade exclusiva ao gestor Gilson Dias da Silva e ao gestor da empresa
responsável pela não apresentação dos documentos comprobatórios para a prestação de contas, que seja afasta a
aplicação da multa individualizada de R$ 96.000,00, ou que seja reduzido o seu valor, e que seja ainda
determinada a indisponibilidade de bens de Gilson Dias da Silva, Paulo Eduardo Vieira e Instituto Brasil 100. 2.8. O ex-gestor Gilson Dias da Silva interpôs recurso de reconsideração (peça 210) requerendo que seja
considerado isento de responsabilidade pelo débito. Caso não sejam acolhidas as considerações acerca das
despesas, requer que seja deduzida do valor originário a despesa de R$ 81.725,00, que foi acatada e comprovada, que suas contas sejam julgadas regulares, que seja revertida a multa que lhe foi aplicada ou, caso
assim não entenda a Corte de Contas, que seja reduzido seu valor. Passa-se à análise dos presentes recursos.
ADMISSIBILIDADE 3. Reiteram-se os exames preliminares de admissibilidade contidos nas peças 212 e 213, ratificados pelo
Ministro-Relator Vital do Rêgo na peça 216, que concluiu pelo conhecimento dos recursos, suspendendo-se os
efeitos dos itens 9.2, 9.4, 9.5, 9.6, 9.7, 9.8 e 9.9 do Acórdão 106/2018-TCU-Plenário, em relação ao recorrente
Gilson Dias da Silva, e suspendendo-se os efeitos dos itens 9.2, 9.4, 9.5, 9.6, 9.7 do referido acórdão em relação à Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais/DF, estendendo-o a todos os responsáveis condenados
em solidariedade com os ora recorrentes, eis que preenchidos os requisitos processuais aplicáveis à espécie.
MÉRITO
4. Delimitação
4.1. Constitui objeto do recurso as seguintes questões:
a) se não cabe a responsabilidade solidária por parte da FENAPRF (peça 196, p. 4-8 e 11); b) se não cabe a multa aplicada à FENAPRF (peça 196, p. 8-10);
c) se o julgamento pela irregularidade das contas do recorrente Gilson Dias da Silva deve ser
reconsiderado (peça 210, p. 3-6);
d) se podem ser consideradas como comprovadas as despesas que somam R$ 81.725,00, tendo como consequência a redução do débito imputado (peça 210, p. 7-15);
e) se cabe a redução da multa imposta aos recorrentes (peça 210, p. 15-16; peça 196, p. 11-12);
f) se cabe reconsiderar a decisão que julgou ter o recorrente Gilson Dias da Silva cometido grave infração (peça 196, p. 17-18);
295
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
g) se a sanção de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e função de confiança no âmbito da
Administração Pública Federal deve ser excluída para o recorrente Gilson Dias da Silva (peça 210, p. 18-21);
h) se é possível comprovar a boa-fé do recorrente Gilson Dias da Silva (peça 210, p. 6);
i) se há necessidade de determinação de indisponibilidade de bens de Gilson Dias da Silva, Paulo Eduardo Vieira e Instituto Brasil 100 (peça 196, p. 10-11).
5. Se não cabe a responsabilidade solidária por parte da FENAPRF (peça 196, p. 4-8 e 11).
5.1. A FENAPRF afirma que houve equívoco do acórdão recorrido ao considerá-la responsável solidária junto com seu ex-dirigente, Gilson Dias da Silva, a OngTur e seu presidente, Sr. Paulo Eduardo Vieira, com
base nos seguintes argumentos:
a) embora o item 1 do Ofício de citação 785/2016/SecexDesenvolvimento dirigido à FENAPRF (peça
136) decorra de abstenção de apresentação de comprovantes de execução de despesas comprobatórias das ações constantes no Plano de Aplicação aprovado pelo Convênio 727278/2009, a recorrente, após inúmeros esforços
da atual direção, já juntou aos autos toda a documentação de que dispunha, não havendo que se falar em
abstenção; b) a SecexDesen, em seu parecer sobre o caso, propôs que fossem julgadas regulares com quitação plena
as contas da FENAPRF, reconhecendo a isenção de responsabilidade da FENAPRF, e propôs a irregularidade
das contas do ex-presidente, Gilson Dias da Silva, por sua omissão injustificada no dever de prestar contas pelos recursos recebidos;
c) não houve transição entre a antiga diretoria da FENAPRF, na pessoa do então presidente Gilson Dias
da Silva, para a atual gestão, devendo a responsabilidade pela omissão na prestação de contas ser atribuída ao
antigo presidente; d) tendo em vista que a apresentação posterior de documentos afastou o débito e a responsabilização
pessoal do atual administrador da FENAPRF pela omissão no dever de prestar contas, deve-se julgar regulares
as contas da entidade sindical, em exata conformidade com a conclusão da SecexDesen; e) à FENAPRF não cabe a responsabilidade pela falta da prestação de contas dos recursos oriundos do
convênio sob comento, nem pelo débito;
f) essa responsabilidade cabe ao então presidente, Gilson Dias da Silva e à OngTur pois, mesmo não
sendo parte do convênio, é terceira prestadora de serviço, sendo responsável pela aplicação dos recursos na pessoa do seu presidente, Paulo Eduardo Vieira, e tendo o dever de apresentar os elementos necessários à
prestação de contas;
g) resta caracterizado o interesse da FENAPRF em resolver o problema pois, diante da ausência de informações em relação ao referido convênio:
gf.1) ingressou com representação em face de Gilson Dias da Silva no Ministério Público Federal, a fim
de apurar sua responsabilidade pessoal em relação à ausência de prestação de contas, uma vez que era o gestor dos recursos à época dos gastos;
gf.2) instaurou ação de improbidade contra o ex-gestor, a qual não foi recebida pelo Poder Judiciário;
h) apenas o Sr. Gilson Dias da Silva, a OngTur e o Sr. Paulo Vieira devem ser responsabilizados pelo
dano ao erário, considerando que: h.1) O Sr. Paulo Eduardo Vieira falava tanto em nome da FENAPRF como da OngTour;
h.2) Ele era assessor parlamentar contratado pela então gestão da FENAPRF através da própria OngTour,
atuando junto ao parlamento em nome da FENAPRF; h.3) mesmo como assessor parlamentar da FENAPRF, sua própria empresa foi destinatária dos recursos
para execução do convênio em questão;
h.4) há confusão entre as pessoas de Paulo Eduardo Vieira e a OngTour, já que este, como assessor parlamentar da FENAPRF à época da gestão do Sr. Gilson Dias, abriu empresa quase que exclusivamente para
prestar assessoria à entidade e para receber e executar os recursos do citado convênio;
h.5) o Sr. Gilson Dias da Silva, sem qualquer justificativa, entregou a quase totalidade dos recursos
recebidos do convênio em questão (60%) para que a OngTur, empresa que era prestadora de serviço de assessoria parlamentar da própria FENAPRF, administrasse e executasse o plano de trabalho, e apenas 40% para
as duas outras empresas, evidenciando sua gestão temerária, ilegal e despropositada;
i) a FENAPRF não possui integralizado em seu patrimônio qualquer valor referente ao convênio, nem material relacionado, tendo sido comprovado o repasse, pelo ex-gestor Gilson Dias da Silva, da integralidade
dos valores para as empresas já mencionadas;
296
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
j) a FENAPRF foi apenas ponte utilizada pelo ex-gestor Gilson Dias da Silva para fazer chegar às
empresas contratadas os recursos oriundos do convênio sob comento, especialmente a OngTur;
Análise
5.2. Não assiste razão à recorrente, considerando que, conforme a Súmula 286, a pessoa jurídica de direito privado destinatária de transferência voluntárias de recursos federais responde solidariamente com seus
administradores pelos danos causados ao erário na aplicação desses recursos.
5.3. Tendo sido signatária do Convênio 727278/2009 com o MTur, a FENAPRF assumiu a responsabilidade legal pela sua correta e regular aplicação, bem como pela prestação de contas, o que não
ocorreu, ensejando sua responsabilidade solidária pelo débito decorrente da falta de comprovação de parte das
despesas, juntamente com o representante da FENAPRF à época, o Sr. Gilson Dias da Silva, e com quem mais
concorreu para esse débito, no caso a OngTur e seu representante, Sr. Paulo Vieira, os quais também estão sendo responsabilizados pelo débito remanescente.
5.4. O fato de a FENAPRF ter tomado providências junto ao MPF e ao Poder Judiciário em relação à
prestação de contas do Convênio 727278/2009 não elide sua responsabilidade solidária, estando apenas exercendo seu direito de buscar reparação nas instâncias para tanto competentes.
5.5. Também é improcedente o argumento de que não houve abstenção pois, embora a FENAPRF tenha
apresentado documentos relativos à documentação comprobatória, a prestação de contas intempestiva não supre a falta grave correspondente à omissão no dever de prestar contas, que é causa relevante e suficiente para
motivar a irregularidade das contas (Lei 8.443/1992, art. 16, inciso III, “a”).
5.6. O dever de demonstrar o destino do dinheiro público deriva diretamente do princípio republicano e
pressupõe não só a idoneidade das demonstrações como a tempestividade de sua apresentação. Não o fazendo na época própria, o gestor incorre em irregularidade que não poderá ser sanada incorrendo em omissão
irreparável (Acórdãos 4838/2017-Segunda Câmara, relatado pelo Ministro Marcos Bemquerer, 4887/2015-
TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Benjamin Zymler 6.221/2013-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Raimundo Carreiro, 863/2012-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Walton Alencar, 1792/2009-TCU-
Plenário, relatado pelo Ministro Augusto Sherman).
5.7. Ainda que elidido o débito, o que não ocorreu no presente caso como quis afirmar o recorrente ao
falar em afastamento do débito, permanece a omissão que acarreta o julgamento pela irregularidade das contas com aplicação de multa. Dessa forma não há que se falar em regularidade das contas como propôs inicialmente
a unidade técnica, mesmo porque o TCU pode concluir, como o fez, fundamentalmente, de forma diversa.
5.8. Assim, como entidade convenente, não pode a FENAPRF fugir de sua responsabilidade pela regular e boa aplicação dos recursos públicos recebidos. A entidade, também, não comprova que o seu gestor anterior
tenha assumido o cargo de forma ilegítima, o que torna os seus atos plausíveis e adequados, realizados em nome
da entidade que representava.
6. Se não cabe a multa aplicada à FENAPRF (peça 196, p. 8-10).
6.1. A FENAPRF defende o afastamento da multa, considerando que não existe sua responsabilidade
solidária pelo débito imputado.
Análise 6.2. Não assiste razão à recorrente, uma vez constatada sua responsabilidade solidária pelo débito
remanescente e pela omissão no dever de prestar contas, conforme evidenciado no item 5 do presente recurso, o
que acarreta, além do julgamento pela irregularidade das contas, a imputação de multa (Acórdão 1687/2018-TCU-Plenário, 6309/2018-TCU-2ª Câmara, ambos da relatoria da Ministra Ana Arraes, 6747/2018-TCU-1ª
Câmara, relatoria do Ministro Weder de Oliveira, 6743/2018-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Augusto
Sherman).
7. Se o julgamento pela irregularidade das contas do recorrente Gilson Dias da Silva deve ser
reconsiderado (peça 210, p. 3-6).
7.1. O recorrente Gilson Dias da Silva entende que o julgamento pela irregularidade de suas contas deve
ser reconsiderado, com base nos seguintes argumentos: a) o período de sua gestão como presidente da FENAPRF “foi marcado por inúmeros e inadiáveis
compromissos com a entidade e com categoria por ela representada que dificultaram sobremaneira a realização
da prestação de contas da entidade”, a saber: a.1) a data prevista para a prestação de contas do convenio em questão veio a coincidir com o período de
eleição da nova diretoria da FENAPRF;
297
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
a.2) o recorrente Gilson Dias da Silva esteve envolvido nos trabalhos preliminares para realização do
congresso nacional da categoria e no processo de acompanhamento e fiscalização dos atos relativos à entrega da
nova sede da FENAPRF;
a.3) o processo de transição para a nova diretoria, que ocorreu no mês de julho/2011, viria a tomar posse em agosto daquele ano e passou a se inteirar dos assuntos da gestão, dentre eles o compromisso de apresentar a
prestação de contas final do convênio sob comento. A esse respeito, há nos autos ata de reunião demonstrando
este compromisso assumido; b) conforme já enfatizado nos autos, antes do encerramento do mandato do recorrente, foi obtida do seu
sucessor a garantia de que apresentaria a prestação de contas e, além disso, se comprometeria em manter sob sua
guarda toda a documentação alusiva à execução do Convênio 727278/2009, pela prazo de 10 anos;
c) após seu afastamento da presidência da entidade e diante do compromisso assumido pelo seu sucessor, julgou que efetivamente as contas seriam prestadas por Pedro da Silva Cavalcanti, que tomou posse juntamente
com sua diretoria em 10 de agosto de 2011;
d) somente constatou que o compromisso não fora cumprido com o recebimento do Ofício 418/2013/CGCU/GM/MTur, de 15/3/2013;
e) mesmo com toda dificuldade imposta pela FENAPRF, a partir daí o recorrente passou a levantar a
documentação necessária à comprovação física do objeto do convênio, tendo conseguido comprovar a realização dos seminários em 10 capitais;
f) o mesmo não ocorreu em relação à prestação de contas financeira, tendo em vista que a FENAPRF não
lhe franqueou o acesso aos documentos comprobatórios necessários;
g) a prestação de contas parcial foi apresentada pelo recorrente Gilson Dias da Silva por meio do Sistema Siconv, o que comprova que houve prestação de contas, ainda que parcial.
Análise
7.2. Não merecem prosperar os argumentos do recorrente, considerando que o gestor que celebra convênio ou instrumento congênere e se omite no dever de prestar contas incide no descumprimento de
obrigação pessoal e indelegável que não se pode afastar de todo aquele que utiliza e gerencia recursos públicos,
conforme disposto no art. 70, parágrafo único, da CF/1988 e do art. 93, do Decreto-Lei 200/1967 (Acórdãos
3771/2017-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Marcos Bemquerer, 1616/2015-TCU- 1ª Câmara, relatoria do Ministro Augusto Sherman, 6235/2013-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro André de Carvalho, 4460/2011-
TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Raimundo Carreiro, 21569/2007-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro
Guilherme Palmeira, 6636/2009-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro José Múcio). 7.3. Nesse diapasão, o responsável não pode eximir-se de prestar contas alegando outros compromissos
relacionados a sua gestão ou dificuldades na obtenção dos documentos como elencou o recorrente, quando não
utilizou as oportunidades que teve para comprovar a aplicação dos recursos. A omissão no dever de prestar contas configura ofensa não só às regras gerais, mas também aos princípios basilares da Administração Pública,
dando ensejo, conforme ampla jurisprudência desta Corte de Contas, ao julgamento pela irregularidade das
contas do responsável, com aplicação de multa e imputação de débito, se houver (Acórdãos 196/2016-TCU-
Plenário, relatoria do Ministro Benjamin Zymler, 4994/2011-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Augusto Nardes, 8662/2013-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro José Múcio).
7.4. Também não procede o argumento do recorrente de transferir a responsabilidade pela prestação de
contas ao seu sucessor, tendo em vista que o prazo para adimplir a obrigação da prestação de contas do Convenio 727278/2009 ocorreu dentro de seu mandato, como evidenciado pela unidade técnica (peça 158, p. 9):
43. Tampouco deve prosperar a defesa do responsável de que deveria ser eximido da responsabilidade de
prestar contas do Convênio 727278/2009 com base em alegação de que teria sido acordado com o presidente que lhe sucedeu na FENAPRF que este apresentaria a prestação. A gestão do Sr. Gilson Dias da Silva como
presidente da FENAPRF abrangeu todo o período de execução do objeto conveniado e do prazo máximo para a
apresentação da prestação de contas. Logo, cabia ao Sr. Gilson a responsabilidade pela prestação de contas e, ao
não tomar providências para cumprir a obrigação assumida com a firmatura do Convênio 727278/2009, o responsável extrapolou seus deveres estatutários em prejuízo à entidade que presidia.
7.5. A esse respeito, por analogia, identifica-se ampla jurisprudência do TCU de se aplicar o
entendimento consignado na Súmula 230 apenas quando o prazo para apresentação de contas tenha se encerrado na gestão do sucessor, o que não ocorreu no presente caso (Acórdão 7104/2014-TCU-2ª Câmara, relatoria do
Ministro Marcos Bemquerer, 331/2010-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro José Jorge, 2344/2008-TCU-2ª
298
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Câmara, relatoria do Ministro Raimundo Carreiro, 4397/2009-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Augusto Nardes, 5299/2010-1ª Câmara e 688/2011-TCU-1ª Câmara, ambos da relatoria do Ministro Valmir Campelo).
7.6. Igualmente improcedente o argumento de que houve prestação de contas, ainda que parcial, porque a
apresentação de contas parcial não supre a omissão na entrega da prestação de contas final. Essa sim, possibilitaria, ainda na fase interna, sua análise técnica e financeira com base no efetivo cumprimento total do
objeto, o que não se verificando, justifica o julgamento pela irregularidade das contas.
8. Se podem ser consideradas como comprovadas as despesas que somam R$ 81.725,00, tendo como
consequência a redução do débito imputado (peça 210, p. 7-15).
8.1. O recorrente Gilson Dias da Silva defende que as despesas que somam o valor de R$ 81.725,00
foram comprovadas e devem ser deduzidas do valor do débito, com base nos seguintes argumentos:
a) o valor do débito originário deve ser revisto, considerando que o voto do ministro relator (peça 173, p. 1, item 6) acolheu os pareceres do MP/TCU, o qual, por sua vez, não demonstrou absoluta certeza de que os
valores que estariam sem a devida comprovação corresponderiam aos exatos R$ 405.225,00.
b) o parecer do MP/TCU de 17/4/2017 (peça 161) afirma que o valor de R$ 405.225,00 estaria sem comprovação pelo fato de que, tão logo verificou o aporte de recursos na conta específica do convênio, a
Ongtour emitiu recibo genérico da referida importância, desacompanhado dos devidos comprovantes de
realização das despesas; c) de acordo com o parecer do MP/TCU de 26/7/2016 (peça 114), o concedente já havia detectado o
aparente não detalhamento dos comprovantes da prestação de serviços que deixava descoberta a importância de
R$ 405.265,00;
d) não há prova cabal acerca da assertiva do MP/TCU à peça 114 que concluiu que as despesas com hospedagem e alimentação da equipe técnica integraram os comprovantes de despesas realizadas pela empresa
Casablanca Turismo Ltda., pois:
d.1) com relação a essas despesas de hospedagem e alimentação da equipe técnica, o referido parecer, ainda que o concedente já tenha apontado o montante de R$ 72.500,00 como despesas pagas em duplicidade,
usa a expressão “potencial pagamento em duplicidade”, incorrendo em incerteza na constatação;
d.2) no item 16 do parecer do MP/TCU à peça 114, está consignado que foi a carência de informações, e
não a falta de recibo comprobatório da realização dos serviços, que levou à constatação de que tais serviços não tenham sido regularmente prestados;
e) no parecer do MPTCU à peça 114, também é questionado o valor de R$ 125.000,00 alusivo a despesas
administrativas previsto no plano de trabalho. O concedente, embora questione que essas despesas devam ser comprovadas, constatou que estão de acordo com o percentual estabelecido no art. 39 da Portaria
Interministerial MP/MF/CGU 127/2008 (15% de R$ 833.900,00);
f) no mesmo parecer à peça 114, a procuradora entendeu como passível de acatamento as despesas alusivas à reprodução das apostilas e à gravação e produção de vídeos dos seminários, correspondentes,
respectivamente, às importâncias de R$ R$ 32.500,00 e R$ 35.000,00, totalizando R$ 67.500,00. No entanto,
mesmo admitindo que as despesas foram realizadas pelas evidências das peças 88, p. 1-47 e das peças 103-113,
não acatou por considerar frágil o nexo de causalidade. Defende que não há que se falar em nexo de causalidade e sim em efetiva comprovação física, como de fato ocorreu como foi admitido pelo concedente, em face das
evidências das peças citadas;
g) não é concebível ainda o não acolhimento das despesas pela elaboração das apostilas, no valor de R$ 14.225,00, a uma porque não há comprovação que não tenham sido efetivamente realizadas, a duas porque,
mesmo havendo dois convênios com objetos semelhantes, cada um obedeceu a realidade do momento e as
características da região, razão pela qual deve ser acolhida essa despesa; h) O fato de o recibo genérico emitido pela Ongtour não conferir a necessária clareza das despesas
realizadas não implica a não realização dos serviços, pois caso assim fosse, não teria a entidade convenente
operacionalizado o projeto e realizado com êxito os seminários, o que foi reconhecido pelo órgão concedente.
Dessa forma, requer que os valores alusivos à reprodução das apostilas e à gravação e produção de vídeos dos seminários, correspondentes, respectivamente às importâncias de R$ R$ 32.500,00 e R$ 35.000,00, totalizando
R$ 67.500,00, bem como as despesas pela elaboração das apostilas, no valor de R$ 14.225,00, devem ser
deduzidas do valor do débito originário, que, assim passaria a ser de R$ 323.540,00. Análise
299
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
8.2. Os argumentos da recorrente não merecem prosperar, uma vez que não foram apresentados
documentos capazes de comprovar os gastos relativos ao valor de R$ 405.265,00, nem de demonstrar que
eventuais despesas realizadas foram aplicadas no Convênio 727278/2009.
8.3. Retomando o plano de trabalho aprovado (peça 3, p. 75-79), reproduzido pelo MP/TCU, em seu primeiro parecer à peça 114, p. 2) e pela Unidade técnica, peça 128, p. 3, tem-se as ações propostas no âmbito
do convênio, que somam R$ 833.900,00, sendo R$ 828.500,00 em recursos financeiros e R$ 5.400,00 em bens e
serviços da entidade convenente: Ação Recursos federais Recursos da convenente
Gerente de projeto R$ 62.400,00
Técnico de informática R$ 44.000,00
Instrutor R$ 11.000,00
Equipe técnica - hospedagem
- alimentação
- transporte aéreo
R$ 16.800,00
R$ 4.800,00
R$ 29.400,00
Apostilas
- elaboração
- reprodução (1200 unidades)
R$ 14.225,00
R$ 32.500,00
Cartazes R$ 5.875,00
Locação de auditórios R$ 6.500,00
Locação de ônibus para transporte de
participantes do interior à capital
R$ 15.000,00
Despesas administrativas R$ 76.400,00 R$ 48.600,00
Logística operacional R$ 600,00 Bens e serviços, em valor
estimado de R$ 5.400,00
Gravação e produção de DVD com
os seminários
R$ 35.000,00
Reprodução gráfica do Relatório
Técnico Final
R$ 8.040,00
Subtotal em recursos financeiros R$ 411.140,00
Subtotal em bens e serviços R$ 5.400,00
Hospedagem e alimentação dos
participantes (Casablanca Turismo)
R$ 262.000,00
Execução de filme (XBrasil) R$ 155.360,00
Total em recursos financeiros R$ 828.500,00
Total em bens e serviços R$ 5.400,00
Valor total do convênio R$ 833.900,00
8.4. Registre-se que, diante da falta de informações nos autos suficientes para demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos em virtude da não apresentação de prestação de contas referentes aos R$ 405.265,00, não
é o TCU quem tem que apresentar “prova cabal” ou comprovação acerca da origem dos gastos, como alegou o
recorrente em relação às despesas de R$ 51.000,00 (hospedagem e alimentação da equipe técnica) ou R$ 72.500,00 que teriam sido pagos em duplicidade, mas sim o gestor, pois é dele o ônus da prova (Acórdãos
443/2018-TCU-Plenário, relatoria do Ministro José Múcio, 901/2018-TCU-Plenário, relatoria do Ministro
Benjamin Zymler, 437/2018-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Augusto Nardes, e 5742/2016-TCU-1ª
Câmara, relatoria do Ministro Bruno Dantas). 8.5. Nesse particular, é evidente que os valores discriminados como despesa da equipe técnica
(R$ 51.000,00 para hospedagem, alimentação e transporte aéreo) são inferiores ao montante das despesas
discriminadas pela Casablanca Turismo às peças 58, p. 1, 19, 26, 28, 35, 39, 43, 46, 58, 59, 66, 68, 78, 82, 86, 91, 97, 104, 105, 111, uma vez que, de acordo com o Plano de Trabalho, a Casablanca Turismo ficou
responsável pela hospedagem e alimentação dos participantes, as quais, de fato, são bem maiores (R$
262.000,00), pois correspondem a aproximadamente 1.300 participantes, cerca de 130 por estado da federação (peça 3, p. 67). Entretanto, os documentos apresentados pela referida empresa evidenciaram o pagamento de
despesas de hospedagem, alimentação e, inclusive, locação de auditório (R$ 6.500,00) e locação de ônibus
(15.000,00), sendo que estes dois últimos itens não estavam previstos no plano de trabalho como incluídos nas
despesas de R$ 262.000,00 assumidas pela Casablanca Turismo.
300
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
8.6. A Portaria Interministerial 127/2008, em seu art. 54, que regulamentava a aplicação dos recursos
transferidos por meio de contrato de repasse à época, determinava expressamente que seria exigida a
compatibilidade entre a execução do objeto, o que foi estabelecido no plano de trabalho, e os desembolsos e
pagamentos, conforme os cronogramas apresentados, e o cumprimento das metas do plano de trabalho nas condições estabelecidas.
8.7. Nesse sentido, é imprescindível que os responsáveis evidenciem, por meio de documentos idôneos,
que o objeto do Convênio 727278/2009 foi efetivamente executado com os valores recebidos. Tal evidenciação só se dá mediante inequívoca comprovação da existência de nexo de causalidade entre a fonte de receita e os
gastos para consecução do objeto do ajuste.
8.8. Para isso, é imperioso que, com os documentos apresentados com vistas a comprovar o bom emprego
dos valores públicos, seja possível constatar que eles foram efetivamente utilizados no objeto pactuado, de acordo com os normativos legais e regulamentares vigentes (Acórdãos 6.09/2017-TCU-1ª Câmara, relatoria do
Ministro Benjamin Zymler, 5.742/2016-TCU-1ª Câmara e 3.101/2016-TCU-1ª Câmara, ambos da relatoria do
Ministro Bruno Dantas, 3.223/2017-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Marcos Bemquerer, e 2.435/2015-Plenário, relatoria da Ministra Ana Arraes).
8.9. Dessa forma, não procede a argumentação de que o débito deva ser revisto com fundamento na falta
de certeza dos valores sem comprovação, considerando que essa premissa somente confirma o débito imputado (considerando-se o ônus da prova do gestor dos recursos).
8.10. Também é improcedente o argumento relativo ao valor de R$ 125.000,00 alusivo às despesas
administrativas porque, embora respeitado o percentual estabelecido no art. 39 da Portaria Interministerial
MP/MF/CGU 127/2008, esse valor não é destinado à empresa contratada, no caso a OngTur, como indevidamente consta do plano de trabalho, mas à convenente. Mesmo assim, no caso concreto, não se justifica,
tendo em vista que a convenente terceirizou toda a execução para as três empresas contratadas, inexistindo para
ela, portanto, gastos administrativos. Além disso, essa despesa somente seria acatada, frise-se, como despesa da convenente, caso fossem devidamente comprovadas, o que também não ocorreu.
8.11. Por fim, não assiste razão ao recorrente ao requerer que as despesas de elaboração (R$ 14.225,00) e
reprodução de apostilas (R$ 32.500,00), bem como a gravação e produção de DVD com os seminários (R$ 35.000,00), sejam acatadas, uma vez que, como já enfatizado nos itens 8.7 e 8.8 do presente recurso, não há
elementos suficientes para comprovar que eventuais valores advindos dos recursos do convênio foram
utilizados, efetivamente, no pagamento desses itens. 8.12. Para isso, o recorrente teria que trazer aos autos, além do recibo da empresa OngTur devidamente
discriminado, outros documentos como notas fiscais emitidas pelos fornecedores, comprovantes de pagamento
(transferência bancária ou cheque nominal), tudo para afastar qualquer dúvida quanto à existência do nexo de
causalidade. Todavia, isto não ocorreu. 8.13. Em consequência disso, não há como estabelecer o nexo de causalidade entre eventual valor pago à
OngTur, decorrente do convênio e o efetivo recebimento por parte dos fornecedores, o que impede o acatamento
das despesas mencionadas.
9. Se cabe a redução da multa imposta aos recorrentes (peça 210, p. 15-16; peça 196, p. 11-12).
9.1. Defende-se nos recursos que as multas imputadas aos recorrentes devem ser reduzidas, tendo por
base os seguintes argumentos: a) segundo o recorrente Gilson Dias da Silva, a multa de R$ 96.000,00 atingiu percentual bem elevado,
superando 10% do montante da condenação atualizada monetariamente, conforme valor descrito à peça 191, p.
3, de R$ 819.845,81;
b) o recorrente Gilson Dias da Silva não mediu esforços para buscar comprovar as despesas realizadas, mesmo não estando mais à frente da entidade convenente;
c) a multa não deve ter o condão de desestabilizar financeiramente a pessoa contra a qual ela foi imposta,
devendo corresponder à capacidade de ser suportada; d) o valor de R$ 96.000,00 da multa individualizada não se mostra razoável ou proporcional, em afronta
aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, considerando:
d.1) doutrina de Roberto Barroso e Celso Antônio Bandeira de Mello transcritas à peça 196, p. 9;
d.2) que, mesmo levando-se em conta a responsabilidade solidária das pessoas físicas e jurídicas envolvidas, tal valor transcende a razoabilidade tratada na causa, afinal as partes também foram condenadas à
devolução ao erário do valor de R$ 405.265,00;
301
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
d.3) que somando todos os valores tratados no acórdão, chega-se ao montante de R$ 693.265,00, sem as
devidas atualizações, o que se mostra totalmente desarrazoável;
d.4) que tanto o art. 57 da Lei 8.443/97 quanto o art. 267 do RI/TCU facultam a aplicação de multa
quando o responsável for julgado em débito, não há expressa determinação da aplicação da multa, não sendo necessária tal penalidade na oportunidade, frente aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Análise
9.2. Os argumentos dos recorrentes quanto à suposta inobservância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, quanto ao valor da multa, não se aplicam ao presente caso concreto, a saber:
a) o valor da multa em discussão, R$ 96.000,00, não extrapola o limite insculpido no art. 267, do
RI/TCU, qual seja, o valor do débito atualizado. Inclusive, representa menos de 25% do valor original do débito
(sem a devida atualização): R$ 405.265,00; b) o juízo de proporcionalidade, na fixação do quantum da multa aplicada por este Tribunal, é
discricionário, e atende as circunstâncias da irregularidade cometida, do grau de reprovabilidade das condutas
praticadas e de eventuais atenuantes (Acórdão 2662/2015-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Vital do Rêgo, e 3544/2014-TCU-2ª Câmara, relatoria da Ministra Ana Arraes);
c) na condenação de responsável por débito, é possível deixar de aplicar multa proporcional ao dano, mas
com fundamento em circunstâncias atenuantes, como a pouca materialidade do débito residual em relação ao total regularmente aplicado, o que não ocorreu no presente caso (Acórdãos 1989/2016-TCU-Plenário, relatoria
do Ministro Augusto Sherman, e 3469/2018-TCU-2ª Câmara, relatoria do Ministro Vital do Rêgo);
c) as penas de multa aplicadas por este Tribunal com base no art. 57 da Lei 8443/1992 têm natureza
sancionatória, exigindo apenas a verificação da ocorrência de culpa e não se verifica que houve desvirtuamento dessas finalidades no presente caso concreto (6201/2016-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Benjamin
Zymler, e 1427/2015-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Augusto Nardes);
d) da reanálise dos elementos contidos nos autos que levaram à citação dos recorrentes em cotejo com as alegações de defesas apresentadas pelos responsáveis, ora recorrentes, reiteram-se as mesmas fundamentações
da unidade técnica, do MP/TCU e do voto condutor, a seguir sintetizadas, não havendo que se falar em
desarrazoabilidade:
d.1) omissão no dever de prestar contas; e d.2) dano ao erário no valor de R$ 405.265,00 decorrente da não comprovação das despesas realizadas;
e) Conforme jurisprudência desta Corte de Contas (Acórdãos 939/2017-TCU, 1484/2016-TCU e
1166/2016-TCU, todos do Plenário e da relatoria do Ministro Bruno Dantas, 2053/2016-TCU-Plenário, relatoria do Ministro José Múcio, e 2385/2014-TCU-Plenário, relatoria do Ministro Benjamin Zymler), a dosimetria do
valor da multa é pautada pelo nível de gravidade dos ilícitos, pela materialidade destes e pelo grau de
culpabilidade da conduta do agente, analisada dentro de seu contexto, não guardando relação com a capacidade financeira do responsável.
9.3. Assim, permanecem incólumes os fundamentos pelos quais foi aplicada a multa prevista no art. 57 da
Lei 8443/1992 aos recorrentes, não se verificando quaisquer fatores atenuantes aptos a sopesar seu valor.
10. Se cabe reconsiderar a decisão que julgou ter o recorrente Gilson Dias da Silva cometido grave
infração (peça 196, p. 17-18).
10.1. O recurso solicita que seja reconsiderada a decisão que deliberou ter o recorrente cometido grave
infração, com base nos seguintes argumentos: a) não deve ser imposto ao recorrente falha pela má-utilização ou mesmo desvio desses recursos pelo fato
de haver contratado o terceiro Paulo Eduardo Vieira para a execução do projeto, pois assim o fez na expectativa
de que ele realizaria um bom trabalho; b) a falta de experiência levou o recorrente a acreditar que a gestão do convênio em questão poderia ser
partilhada com a OngTur, pois, seu presidente à época, Paulo Vieira, afirmava-lhe quanto a essa possibilidade,
mas não imaginava que viesse a sofrer graves consequências em face dessa falta de experiência;
c) mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pela falta de experiência, conseguiu comprovar a correta aplicação dos recursos oriundos do Convênio 727278/2009, demonstrando, por meio de farta documentação que
o objeto do referido convênio foi realizado;
d) a TCE foi instaurada pela omissão no dever de prestar contas, em nenhum momento lhe foi atribuída outra conduta como as descritas nas outras três alíneas do inciso III, do art. 16, da Lei 8443/1992, que não a
omissão no dever de prestar contas.
302
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Análise 10.2. Os argumentos dos recorrentes não merecem prosperar pois, como representante legal da FENAPRF
à época, conforme o art. 37 do Estatuto da entidade (peça 23, p. 47), e signatário do Convênio 727278/2009, ao
recorrente Gilson Dias da Silva cabia a responsabilidade pela aplicação dos recursos federais transferidos àquela entidade por força do disposto artigos 70 e 71 da CF/1988. Com efeito, é a pessoa natural quem determina a
destinação a ser dada à verba pública da União recebida. Por essa razão, a obrigação de comprovar a boa e
regular aplicação dos recursos federais recai sobre o dirigente da entidade convenente destinatária, em solidariedade com a entidade, na forma da Súmula 286 do TCU.
10.3. Nesse contexto, cabe repisar, diversamente do alegado pelo recorrente, que sua responsabilidade
não é decorrente da contratação de terceiros, mas da omissão no dever de prestar contas, impondo-se a
obrigação de devolução dos valores não comprovados. Essa é a razão de o Tribunal ter considerado a conduta como grave infração. Ressalta-se ainda que a comprovação da execução física do convênio não elide nem a
omissão, nem o débito.
10.4. Essa conduta, por si só, configura ato que caracteriza grave infração à norma legal, punível com a imposição de multa, podendo a apresentação de documentação posterior, apenas desconstituir o débito, o que
também não foi feito no presente caso.
10.5. Além disso, o recorrente Gilson Dias da Silva não pode se escusar com base em eventual inexperiência na gestão de convênios para afastar sua responsabilidade pelo dano causado. Ressalte-se que a
qualificação técnica e capacidade operacional do convenente para a gestão do convênio é condição essencial do
instrumento e, ao firmar o Convênio 727278/2009, o Sr. Gilson Dias da Silva, como presidente da FENAPRF,
entidade convenente, aquiesceu ter competência para cumprir o objeto conveniado. Essa alegação, ainda que acolhida, não justifica a ocorrência das irregularidades verificadas na execução de convênio, nem afasta a
responsabilidade decorrente de sua condição.
10.6. Equivoca-se ainda o recorrente ao afirmar que em nenhum momento lhe foi atribuída outra conduta a não ser a omissão no dever de prestar contas, pois conforme o item 9.2 do acórdão recorrido, além da alínea
“a” do inciso III, do art. 16, da Lei 8443/1992, que corresponde à omissão no dever de prestar contas, lhe foi
atribuída a alínea “c”, referente a dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico.
10.7. Registre-se que a falta de prestação de contas dos recursos confiados ao responsável gera presunção, juris tantum, de que houve dano ao erário. Nesse sentido, o TCU se expressou ao prolatar o Acórdão
196/2016 – Plenário, da relatoria do Ministro Benjamim Zymler, nos termos do seguinte enunciado:
A omissão no dever de prestar contas configura ofensa não só às regras legais, mas também aos princípios basilares da Administração Pública, já que, nesse caso, o gestor deixa de demonstrar o efetivo emprego dos
recursos postos sob a sua responsabilidade, dando ensejo, inclusive, ao surgimento de presunção legal de
integral dano ao erário, pela não aplicação dos valores, mediante desvio dos recursos da União
11. Se a sanção de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e função de confiança no
âmbito da Administração Pública Federal deve ser excluída para o recorrente Gilson Dias da Silva (peça
210, p. 18-21).
11.1. O recorrente afirma que a sanção de inabilitação para o exercício de cargo em comissão e função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal por 5 anos deve ser excluída, com base nos seguintes
argumentos:
a) a suposta omissão no dever de prestar contas não deve render ao recorrente sanções dessa natureza que somente se aplicam em casos extremos, tais com prática de atos de gestão ilegal, dano ao erário ou desfalque ou
desvio de dinheiros, bens ou valores públicos;
b) o voto condutor acolheu os pareceres do MP/TCU e da Secex/Desen, que fizeram menção à inabilitação para o exercício de cargo em comissão e função de confiança apenas para o Sr. Paulo Eduardo
Vieira, e não para o recorrente;
c) o Sr. Paulo Vieira recebeu essa sanção devido a sua conduta de manter-se inerte quanto ao dever de
apresentar os comprovantes de despesas e pelo histórico de práticas irregulares em outros convênios com o MTur, a exemplo dos listados à peça 210, p. 19, que somente foram descobertas pelo recorrente após os
trabalhos do TCU naquele ministério;
d) o perfil do recorrente nem de longe se aproxima da conduta do Sr. Paulo Vieira; e) caso o recorrente tivesse ciência da prática de irregularidades cometidas pelo Sr. Paulo Vieira, não
teria aceito contratá-lo para executar o projeto.
303
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Análise 11.2. Os argumentos do recorrente não merecem prosperar. Com efeito, a sanção de inabilitação para o
exercício de cargo em comissão e função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal é reservada
no geral para irregularidades de maior gravidade em que se constata algum componente volitivo na conduta do responsável que indiquem interesses escusos ou locupletação pessoal à custa do erário (Acórdãos 8794/2017-
TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Vital do Rêgo, 2746/2012-TCU-Plenário e 6111/2012-TCU-2ª Câmara,
ambos da relatoria do Ministro Raimundo Carreiro, 881/2007-TCU-1ª Câmara, relatoria do Ministro Marcos Vilaça).
11.3. Essa penalidade está contida na Lei 8.443/1992, art. 60:
Art. 60. Sem prejuízo das sanções previstas na seção anterior e das penalidades administrativas, aplicáveis
pelas autoridades competentes, por irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas da União, sempre que este, por maioria absoluta de seus membros, considerar grave a infração cometida, o responsável
ficará inabilitado, por um período que variará de cinco a oito anos, para o exercício de cargo em comissão ou
função de confiança no âmbito da Administração Pública. 11.4. Ocorre que, embora o MP/TCU e a Secex-Desen tenham se limitado a propor a sanção em questão
apenas para Paulo Eduardo Vieira, o voto condutor do acórdão recorrido é claro ao relatar, com base nas
informações trazidas pela instrução processual, de forma inconteste, o quadro fático que justifica a aplicação da penalidade em questão também ao Sr. Gilson Dias da Silva, por ter, na condição de então presidente da
FENAPRF, propiciado que ocorressem as irregularidades constatadas:
13. Existem, ainda, outras circunstâncias que conduzem à conclusão de que os pagamentos efetuados em
prol da Ongtour tiveram o único intuito de viabilizar o desvio dos recursos públicos. O convênio celebrado entre o MTur e a FENAPRF foi possibilitado pela destinação de recursos provenientes de emendas parlamentares
para a realização de “Publicidade de Utilidade Pública – Federação Nacional de Policiais Rodoviários
Federais” (peça 2, p. 100). Ocorre que, à época, a FENAPRF havia contratado, para a prestação de serviços de assessoria parlamentar, Paulo Eduardo Vieira, que é o presidente da Ongtour (peça 23, pp. 105-112). O referido
contrato possuía como objeto a “prestação de serviços de consultoria e planejamento estratégico, visando à
formação e estruturação de uma efetiva base de apoio no congresso Nacional, especialmente em relação às
matérias consideradas prioritárias pelo Contratante (...)”. Os serviços englobavam, textualmente, entre outras, as seguintes atividades: “d) assistir ao Contratante na identificação avaliação de problemas e oportunidades de
atuação a bem dos seus interesses, além de preparação – com a sua participação, assistência e aprovação – de
subsídios, informações e documentos indispensáveis à defesa de seus pleitos específicos”; “e) elaborar minutas de pareceres e votos em separado, além de emendas e outros instrumentos legislativos para subsidiar
parlamentares que venham a estar envolvidos, direta ou indiretamente, com o exame dos projetos em questão”
e “f) levantamento sistemático dos principais aliados e adversários das causas a serem defendidas (projetos, discursos, emendas, votos, ações, declarações, etc.), objetivando aferir tendências e, consequentemente, efetuar
um mapeamento do Congresso Nacional em relação às mesmas”. (grifo nosso).
14. Ou seja, Paulo Eduardo Vieira trabalhava, como contratado da FENAPRF, para conseguir a
aprovação de emendas parlamentares em favor da entidade, que, posteriormente, revertiam parcialmente à sua empresa (Ongtour), sob a forma de pagamentos por uma suposta execução de serviços não comprovados.
15. A ingerência era tamanha que, se utilizando de email da própria FENAPRF, Paulo Eduardo Vieira
determinava a outros setores daquela federação a realização de pagamentos em favor da Ongtour (peça 23, p. 8). 16. A inexistência de documentos comprobatórios dos serviços supostamente realizados pela Ongtour,
aliada aos contornos da obtenção dos recursos e da prestação dos serviços que a ela seriam atribuídos, já
delineados neste voto, impossibilitam que se ateste a regularidade do pagamento de R$ 405.265,00 em seu favor.
(...)
18. Da mesma forma, considerando a informação constante dos autos de que Paulo Eduardo Vieira já foi
ocupante de função na Câmara dos Deputados, é pertinente a proposta de que seja considerada grave a infração por ele cometida para que se declare sua inabilitação, pelo período de cinco anos, para o exercício de cargo em
comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública. O mesmo tratamento deve ser
conferido a Gilson Dias da Silva, que, na condição de então presidente da FENAPRF, propiciou que ocorressem as irregularidades constatadas. (grifos nossos)
304
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
11.5. Por fim, não procede a alegação do recorrente de que, se soubesse da prática de irregularidades
cometidas pela entidade contratada, não a teria contratado para executar o projeto, pois, de acordo com o
Convênio 701775/2008 (objeto semelhante ao do Convênio 727278/2009: promoção de 8 seminários de
sensibilização de policiais rodoviários federais no enfrentamento à exploração de crianças e adolescentes nos segmentos turísticos que utilizam as rodovias federais), assinado em 29/12/2008, portanto, exatamente um ano
antes do convênio sob comento, o recorrente contratou entidade vinculada à OngTur para a execução do projeto,
como evidencia trecho da instrução processual à peça 128, p.7: 35. Outro ponto importante destaca-se na análise da documentação do Convênio 701775/2008. A
exemplo do que ocorreu com o Convênio 727278/2009, no Convênio 701775/2008 foi contratada uma empresa
para a “organização, planejamento, coordenação e execução do projeto” (peça 127, item não digitalizável VL 2,
p. 67): a Quaero Suporte ao Ensino e à Pesquisa de Instituições Acadêmicas (CNPJ 10.562.464/0001-45), representada pela Sra. Tutilla de Brito Aragão.
36. No Convênio 727278/2009, a entidade contratada para tal fim foi a Ongtour. Um ponto em comum
liga a empresa Quaero à Ongtour. Nos orçamentos apresentados pela FENAPRF ao MTur no âmbito do Convênio 701775/2008 consta proposta da Quaero datada de 16/10/2009 (peça 127, item não digitalizável VL 2,
p. 30). Essa proposta não está assinada por sua representante legal, mas pelo Sr. Samir Dib. Já no Convênio
727278/2009, constata-se que o Sr. Samir Dib era Diretor Administrativo e Financeiro do Instituto Brasil 100 – Ongtour (peça 23, p. 143).
37. Além desse fato, ressalta-se que em ambos os convênios foram contratados terceiros pela FENAPRF
para a execução total do Convênio (organização, planejamento, coordenação e execução do projeto): a Quaero e
a Ongtour. Portanto, fica evidente que a FENAPRF solicitou recursos por meio de ambos os convênios para que terceiros contratados os executassem e até mesmo os gerenciassem plenamente, o que indica sua participação
como convenente foi de mera repassadora de recursos para a Quaero e para a Ongtour. Com efeito, a atividade
econômica da FENAPRF, conforme registro dos bancos de dados da Administração Federal, está relacionada a atividades de associações de defesa de direitos de seus associados, nada tendo a ver, portanto, com a promoção
de seminários. 11.6. Importa registrar que o Convênio 701775/2008 se encontra inadimplente no Sistema Siconv
(https://www.convenios.gov.br/siconv/ConsultarProposta/ResultadoDaConsultaDeConvenioSelecionarConvenio.do?idConvenio=2897&destino).
11.7. O MP/TCU, em seu parecer à peça 161, também alude aos indícios de vinculação entre ambas
empresas contratadas no âmbito dos dois convênios celebrados entre o MTur e a FENAPRF, evidenciando que o recorrente não era primário nessas contratações:
6. Em sede de diligência ao MTur, obteve-se cópia dos documentos atinentes ao Convênio n.º
701775/2008 (peça 127), que não possibilitaram avaliar eventual coincidência entre os serviços prestados no âmbito dos dois convênios. Registra-se que a entidade convenente se encontra em situação de inadimplência
perante o órgão concedente, não havendo notícia acerca de eventual instauração de tomada de contas especial
em relação a esse ajuste.
7. Cumpre destacar, contudo, que se observou no âmbito do referido convênio prática similar à observada no Convênio n.º 727278/2009 aqui examinado: a FENAPRF contratou a empresa Quaero Suporte ao Ensino e à
Pesquisa de Instituições Acadêmicas para a “organização, planejamento, coordenação e execução do projeto”,
ao valor de R$ 463.000,00, havendo indícios de ligação entre essa empresa e a OngTour, consoante exposto nos parágrafos 35 a 37 da instrução à peça 128.
11.8. Assim, o conjunto probatório existente não permite a exclusão da sanção de inabilitação para o
exercício de cargo em comissão e função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal para o recorrente Gilson Dias da Silva, que foi devidamente fundamentada nos termos das normas pertinentes.
12. Se é possível comprovar a boa-fé do recorrente Gilson Dias da Silva (Peça 210, p. 6).
12.1. O recorrente Gilson Dias da Silva afirma que agiu com boa-fé, considerando a apresentação dos
documentos comprobatórios pois, caso não tivesse o recorrente o interesse na comprovação da utilização dos recursos, quedar-se-ia inerte ante a não apresentação desses documentos.
Análise
12.2. Quanto à alegação de boa-fé, o exame feito pelo Tribunal obedece ao disposto no art. 12 da Lei 8.443/1992 e nos parágrafos 2º e 3º do artigo 202 do Regimento Interno e se presta verificar a possibilidade de
fixação de novo e improrrogável prazo para que o responsável recolha a importância devida.
305
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
12.3. Tal pressuposto não tem o condão de afastar a ocorrência do dano, mas de conceder uma nova
chance para o pagamento, antes do julgamento das contas, ou ainda, em sede de recurso de reconsideração,
conforme o Acórdão 11.231/2015-TCU-2ª Câmara, relatado pelo Ministro Augusto Nardes, ensejar a
desconstituição do acórdão recorrido para que lhe seja concedido novo e improrrogável prazo para o recolhimento do débito, conforme art. 12, §§ 1º e 2º, da Lei 8.443/1992, desde que não haja outras
irregularidades constatadas.
12.4. No presente caso, há mais de uma irregularidade. Além disso, a boa-fé não pode ser presumida ou acatada a partir de mera alegação, devendo ser demonstrada e comprovada a partir dos elementos que integram
os autos, o que também não ocorreu neste caso.
12.5. Diante desses elementos, não é possível aferir a boa-fé do responsável, o que inviabiliza a
desconstituição do acórdão recorrido para que lhe seja concedido novo prazo para o recolhimento do débito.
13. Se há necessidade de determinação de indisponibilidade de bens de Gilson Dias da Silva, Paulo
Eduardo Vieira e Instituto Brasil 100 (peça 196, p. 10-11).
13.1. A FENAPRF, a fim de possibilitar a devolução dos valores determinados pelo acórdão, como medida assecuratória, defende a necessidade de determinação de indisponibilidade de bens de Gilson Dias da
Silva, Paulo Eduardo Vieira e Instituto Brasil 100, considerando ainda que, tanto o art. 44 da Lei 8.443/92
quanto o art. 273 do RI/TCU preveem a possibilidade de o TCU decretar a indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o ressarcimento dos danos em apuração.
Análise
13.2. Não assiste razão à recorrente. Como é sabido, a indisponibilidade de bens é uma medida cautelar
cujo objetivo é resguardar o resultado prático de uma ação, restringindo o exercício pelo devedor de seu poder de alienar ou onerar os bens assim declarados. O devedor não fica privado do domínio de seus bens, apenas
deixa de exercer alguns dos poderes plenos do direito real de propriedade.
13.3. Desse modo, como toda medida de tal natureza, a decretação de indisponibilidade de bens deve estar assentada em dois pressupostos, o periculum in mora e o fumus boni iuris. Nos processos perante o TCU,
em regra, tem-se exigido ainda que a conduta perpetrada tenha um alto grau de reprovabilidade, caso contrário,
estar-se-ia permitindo a aplicação do instituto para todas as situações em que fossem instauradas tomadas de
contas especiais, as quais possuem por pressuposto a existência de dano em decorrência de uma conduta ilícita por parte dos responsáveis (Acórdão 874/2018-TCU-Plenário, relatoria do Ministro Bruno Dantas).
13.4. Por ser uma medida que afeta severamente a esfera de direitos dos responsáveis, deve ser adotada
em caráter excepcional e nos estritos limites previstos em lei. Nesse contexto, assim estabelece o § 2.° do art. 44 da Lei 8.443/1992 (LOTCU) :
Art. 44. No início ou no curso de qualquer apuração, o Tribunal, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, determinará, cautelarmente, o afastamento temporário do responsável, se existirem indícios suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de
auditoria ou inspeção, causar novos danos ao Erário ou inviabilizar o seu ressarcimento.
(...)
§ 2° Nas mesmas circunstâncias do caput deste artigo e do parágrafo anterior, poderá o Tribunal, sem prejuízo das medidas previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei, decretar, por prazo não superior a um ano, a
indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o ressarcimento
dos danos em apuração. 13.5. Após diversas interpretações sobretudo no STF a respeito da competência do TCU para decretar a
indisponibilidade de bens sobre terceiros privados, principalmente no tocante à inserção ou não destes em sua
jurisdição (MS 23.550, 29599, 24.739), chegou-se à conclusão de que, para efeito do disposto no parágrafo único do art. 70 e no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, estão inseridos na jurisdição do TCU, em
paralelo com os administradores e demais agentes – pessoas físicas e jurídicas – ordinariamente responsáveis
por dinheiros, bens e valores públicos da administração federal, também aqueles – pessoas físicas ou jurídicas –
que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao Erário. 13.6. Na jurisprudência majoritária desta Corte, fica evidenciado que o requisito essencial a atrair a
jurisdição ou a competência do Tribunal não é propriamente a pessoa do agente, mas o gerenciamento de
recursos públicos federais ou o cometimento de irregularidade de que resulte dano ao Erário. Por evidente, decorre da segunda vertente que a ação irregular praticada por terceiros particulares ou privados há de estar
inserida no desenvolvimento de uma atividade pública de um órgão estatal ou com esta ser conexa (em geral,
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
por meio de contratos públicos ou mesmo exercendo múnus público, como convenente), pois, afinal, tais disposições constitucionais se referem à fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial da União
(MS 34.446/DF a respeito do Acórdão 2.428/2016-TCU-Plenário, relatoria do Ministro Benjamin Zymler).
13.7. A doutrina também apoia esse direcionamento: No exercício de sua função constitucional, e ainda com lastro na Lei 8.443/1992, que o regula, pode o
Tribunal de Contas usar seu poder geral de cautela e decretar a indisponibilidade de bens em processo de
tomada de contas especial, desde que seja devidamente fundamentada a decisão. O objetivo é neutralizar, de forma imediata, situações de lesividade ao Erário ou de gravame ao interesse público, as quais poderiam ser
irreversíveis sem a promoção da medida de urgência.’ (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016. p. 1.072) .
13.8. Dessa forma, do escopo geral do art. 44 da Lei 8.443/1992, fica demonstrado que, inserido na seção de fiscalização de atos e contratos, o aspecto preponderante de suas disposições está em disciplinar a atuação do
TCU no tocante a adotar medida cautelar, no início ou no curso de qualquer apuração, para os casos de indícios
de retardo ou dificuldade para a realização de auditoria ou inspeção ou de cometimento de novos danos ao erário ou inviabilidade do seu ressarcimento.
13.9. Importante considerar ainda que a natureza de qualquer medida cautelar conjuga um exame não
exauriente dos fatos e visa assegurar o útil resultado do processo para a apuração do prejuízo ao erário, sob pena de restar inócua a própria prerrogativa reconhecida, no caso, ao Tribunal.
13.10. Feita essa breve abordagem acerca da competência do Tribunal para decretação de
indisponibilidade de bens, sobretudo de pessoas físicas e jurídicas sem vínculo direto com a Administração
Pública, passa-se ao exame da petição da recorrente. 13.11. Em especial quanto ao requisito do perigo da demora, não há elementos nos autos para tomá-lo
como presumido, tendo em vista que inexistem evidências indicativas de riscos significativos de desfazimentos
de bens ou de qualquer outra ação tendente a inviabilizar o ressarcimento ao erário, como demonstra necessário a jurisprudência desta Corte de Contas (Acórdãos TCU-224/2015, relatoria do Ministro José Jorge 2428/2016 e
2109/2016, da relatoria do Ministro Benjamin Zymler, todos do Plenário).
13.12. Assim, não se encontram presentes pressupostos necessário à determinação no sentido de
indisponibilidade de bens dos responsáveis Gilson Dias da Silva e Paulo Eduardo Vieira. Registre-se, ainda, que após a apreciação dos recursos e o consequente trânsito em julgado, o processo passará à fase de execução, em
que a AGU, autoridade competente, poderá adotar as medidas que entender pertinentes para cumprimento do
acórdão.
CONCLUSÃO
14. Das análises anteriores, conclui-se que:
a) como entidade convenente, não pode a FENAPRF fugir de sua responsabilidade pela regular e boa aplicação dos recursos públicos recebidos;
b) uma vez constatada sua responsabilidade solidária pelo débito remanescente e pela omissão no dever
de prestar contas, conforme evidenciado no item 5 do presente recurso, ficam fundamentados, além do o
julgamento pela irregularidade das contas, a imputação de multa à FENAPRF; c) não existem elementos suficientes para modificar o julgamento pela irregularidade das contas do
recorrente Gilson Dias da Silva;
d) não havendo como estabelecer o nexo de causalidade entre eventual valor pago à OngTur, decorrente do convênio, e o efetivo recebimento por parte dos fornecedores, fica impossibilitado o acatamento das despesas
que somam R$ 81.725, 00, portanto, permanece inalterado o valor do débito imputado;
e) permanecem incólumes os fundamentos pelos quais foi aplicada a multa prevista no art. 57 da Lei 8443/1992 aos recorrentes, não se verificando quaisquer fatores atenuantes aptos a sopesar seu valor;
f) o conjunto probatório existente não permite a exclusão da sanção de inabilitação para o exercício de
cargo em comissão e função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal para o recorrente Gilson
Dias da Silva; g) não foi possível comprovar a boa-fé do recorrente Gilson Dias da Silva;
h) não se encontram presentes no processo em curso os pressupostos necessários à determinação pelo
TCU no sentido de indisponibilidade de bens dos responsáveis Gilson Dias da Silva e Paulo Eduardo Vieira. 14.1. Com base nessas conclusões, propõe-se o não provimento dos recursos, uma vez que os argumentos
ofertados pelos recorrentes não tiveram o condão de elidir as irregularidades inquinadas e nada adicionam aos
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
arrazoados já rejeitados pelo Tribunal, perdurando válidas as razões de decidir consubstanciadas no acórdão atacado.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
15. Ante o exposto, com fundamento nos artigos 32, inciso I; e 33, da Lei 8.443/1992, submetem-se os autos à consideração superior, com posterior encaminhamento ao Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas da União e ao Gabinete do Relator, propondo:
a) conhecer dos recursos interpostos por Gilson Dias da Silva e Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais/DF - FENAPRF, para, no mérito, negar-lhes provimento;
b) comunicar a deliberação que vier a ser proferida por esta Corte aos recorrentes, ao Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, ao Ministério da Transparência e à Controladoria-Geral da União,
para a adoção das providências cabíveis em relação à inabilitação decretada pelo item 9.9 deste acórdão, ao Ministério do Turismo, à Procuradoria da República no Distrito Federal e demais interessados.
É o relatório.
VOTO
Em apreciação, recursos de reconsideração interpostos pelo Sr. Gilson Dias da Silva, peça 210, e
pela Federação Nacionais dos Policiais Federais (FenaPRF), peça 196, contra o Acórdão 106/2018-
Plenário, decisão por meio da qual o Tribunal, entre outros, julgou irregulares as contas especiais dos
recorrentes e de outros dois responsáveis, condenou-os em débito solidário e aplicou-lhes multa, em
razão da omissão no dever de prestar contas quanto aos recursos repassados à entidade por força do
Convênio 1.837/2009 (Siconv 727278/2009 e Siafi 659466).
2. Referido ajuste foi celebrado junto ao Ministério do Turismo (MTur) em 29/12/2009, com
vigência até 6/5/2011, e teve por objeto a promoção de seminários para sensibilização de policiais
rodoviários federais no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes nos segmentos
turísticos que utilizam as rodovias federais, para o que foram previstos R$ 833.900,00, dos quais
R$ 779.900,00 sob responsabilidade da concedente e R$ 54.000,00 a título de contrapartida da
FenaPRF.
3. Promovidas as citações iniciais no âmbito deste Tribunal, a FenaPRF e o Sr. Gilson Dias da
Silva, ex-presidente da entidade à época dos fatos, apresentaram documentos diversos, os quais
revelaram que os recursos conveniados foram destinados ao pagamento das empresas Ongtour
(atualmente denominada Instituto Brasil 100), Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda. e
XBrasil Comunicação em Causas Públicas Ltda. Foram efetuadas, então, novas citações, incluindo-se
essas empresas como solidárias pelos respectivos valores recebidos.
4. A Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico (SecexDesenvolvimento) e
o Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) consideraram comprovados os serviços contratados
junto às empresas Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda. e XBrasil Comunicação em
Causas Públicas Ltda. Ato contínuo, mais uma vez foram renovadas as citações de Gilson Dias da
Silva e do Instituto Brasil 100, dessa feita solidariamente com Paulo Eduardo Vieira, ex-presidente
daquele Instituto. O Instituto Brasil 100 e seu ex-presidente permaneceram revéis.
5. Em manifestação de mérito, a SecexDesenvolvimento e o MPTCU se posicionam pela
irregularidade das contas da FenaPRF, de Gilson Dias da Silva, do Instituto Brasil 100 e de Paulo
Eduardo Vieira, com a imputação de débito solidário no valor histórico de R$ 405.265,00 e a aplicação
de multas individuais. Ainda, propôs-se a declaração de inabilitação do Sr. Paulo Eduardo Vieira para
o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública e a
exclusão das empresas Casablanca Turismo Passagens e Excursões Ltda. e XBrasil Comunicação em
Causas Públicas Ltda. do polo passivo da TCE.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
6. O relator a quo, Ministro José Múcio, endossou os pareceres da SecexDesenvolvimento e do
MP/TCU, acrescendo à proposta de encaminhamento da unidade técnica a inabilitação do Sr. Gilson
Dias da Silva, resultando no Acórdão 106/2018-TCU-Plenário, ora recorrido.
7. Ao analisar as razões apelativas apresentadas pela FenaPRF e pelo seu presidente à época dos
fatos, Sr. Gilson Dias da Silva, a Secretaria de Recursos (Serur) concluiu, em pareceres de mesmo
sentido (peças 239-241), que não sobrevieram quaisquer elementos suficientes à modificação da
decisão combatida, ainda que parcial, posição com a qual se manifestou integralmente de acordo o
Ministério Público de Contas, consoante o parecer acostado à peça 242.
8. Feita esta introdução, reitero os termos do despacho proferido à peça 216, mediante o qual os
recursos de reconsideração foram conhecidos, porquanto presentes os requisitos previstos nos artigos
32, inciso I, e 33 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 285 do Regimento Interno do TCU.
9. Com relação ao mérito, acolho as análises empreendidas pela unidade técnica, as quais
contaram com o aval do Parquet especializado, como minhas razões de decidir, uma vez que de fato
não se vislumbram nos argumentos apresentados pelos recorrentes quaisquer fundamentos para
alteração da decisão recorrida.
10. A firme jurisprudência desta Corte sumarizada na Súmula 286 não permite que se acolha a
tese da FenaPRF segundo a qual não caberia a responsabilidade solidária da entidade (pessoa jurídica)
juntamente com o seu ex-presidente. Com efeito, o paradigma no Tribunal é que a pessoa jurídica de
direito privado destinatária de transferência voluntárias com vistas à consecução de uma finalidade
pública responde solidariamente com seus administradores pelos danos causados na aplicação dos
recursos.
11. No caso em tela, a FenaPRF assumiu a responsabilidade legal pela correta e regular aplicação
de recursos públicos ao figurar como signatária do Convênio 727278/2009 com o MTur, bem como
pela prestação de contas, o que não ocorreu, ensejando condenação solidária ao ressarcimento do
débito decorrente da falta de comprovação de parte das despesas, juntamente com o representante da
entidade à época, o Sr. Gilson Dias da Silva, e com quem mais concorreu para o dano, no caso a
Ongtour (e seu representante, Sr. Paulo Eduardo Vieira).
12. Conforme anotou a Serur, o fato de a FenaPRF ter tomado providências junto ao Ministério
Público Federal e ao Poder Judiciário, em relação à prestação de contas do convênio, não elide sua
responsabilidade solidária, estando apenas exercendo seu direito de buscar reparação nas instâncias
para tanto competentes.
13. No caso em apreço, mesmo que eventualmente restasse elidido o débito apurado nos autos, o
que não ocorreu, a grave desconformidade consubstanciada na omissão inicial de prestar contas dos
recursos geridos continuaria a obstar o julgamento pela sua regularidade.
14. Pelos mesmos argumentos, não cabe afastar a multa proporcional ao débito aplicada à
FenaPRF, com fundamento no art. 57 da Lei 8.443/1992, uma vez que restou plenamente caracterizada
a responsabilidade solidária da entidade.
15. Com relação ao recurso apresentado pelo Sr. Gilson Dias da Silva, igualmente não merecem
prosperar os argumentos do recorrente, uma vez que o gestor que celebra convênio ou instrumento
congênere e se omite no dever de prestar contas incide no descumprimento de obrigação pessoal que
não se pode afastar de todo aquele que utiliza e gerencia recursos públicos, conforme disposto no art.
70, parágrafo único, da Constituição Federal e do art. 93, do Decreto-Lei 200/1967, e também
consoante ampla jurisprudência do TCU.
16. Nesse sentido, não merecem guarida as escusas lançadas na tentativa de justificar a omissão,
em especial aquelas relacionadas à agenda assoberbada do responsável. Foi extremamente imprudente
o ex-presidente da entidade ao avaliar que a prestação de contas seria efetivada pelo seu sucessor, o Sr.
Pedro da Silva Cavalcanti, conforme relatou, tendo em vista que o prazo para cumprimento de tal
obrigação ocorreu dentro do seu mandato.
309
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
17. As alegações de que parte das despesas inquinadas pelo Tribunal deve ser revista, uma vez
que restaria comprovada a sua execução, carecem de elementos comprobatórios que as sustentem.
Considerando-se que o ônus da prova da correta e regular aplicação dos recursos públicos é do gestor,
não procede a argumentação de que o débito deva ser revisto com fundamento na falta de certeza dos
valores sem comprovação.
18. Rememore-se, nesse ponto, que não há qualquer comprovação de que a Ongtour (atualmente
Instituto Brasil 100) tenha executado as ações previstas, porquanto houve apenas uma quitação,
emitida pela empresa, no valor total recebido, referente ao “pagamento de prestação de serviços
constantes do Convênio Mtur 727278/2009, conforme Plano de Trabalho aprovado”. Tal recibo não
discrimina os itens supostamente executados, encontra-se sem data e não se faz acompanhar de outros
documentos comprobatórios, como notas fiscais emitidas pelos fornecedores, comprovantes de
pagamento (transferência bancária ou cheque nominal), o que compromete qualquer tentativa de
estabelecimento de nexo causal entre os recursos repassados.
19. De igual sorte, não há fundamento nas teses recursais que questionam os valores das multas
aplicadas à FenaPRF, ao Sr. Gilson Dias da Silva e ao Sr. Paulo Eduardo Vieira, no valor individual de
R$ 96.000,00, tendo em vista que se encontram dentro do limite previsto no art. 57 da Lei 8.443/1992,
segundo o qual a sanção pecuniária pode atingir até 100% do valor atualizado do dano. No caso em
tela, o valor histórico do prejuízo a ser ressarcido foi de R$ 405.265,00, portanto bastante aquém do
legalmente tolerado.
20. Acompanho a análise da Serur segundo a qual não cabe reformar a decisão que considerou
grave a infração cometida pelo recorrente Gilson Dias da Silva, com a consequente inabilitação para
exercício de cargo em comissão e função de confiança na Administração Pública Federal.
21. Como representante legal da FenaPRF à época dos fatos e signatário do
Convênio 727278/2009, ao recorrente Gilson Dias da Silva cabia a responsabilidade pela aplicação dos
recursos federais transferidos àquela entidade por força do disposto artigos 70 e 71 da CF/1988, e por
conseguinte, era dele a obrigação de comprovar a boa e regular aplicação dos valores. Nesse contexto,
cabe repisar, diversamente do alegado pelo recorrente, que sua responsabilidade não é decorrente da
contratação de terceiros, mas da omissão no dever de prestar contas, impondo-se a obrigação de
devolução dos valores não comprovados.
22. Ressalte-se ainda que a omissão na prestação de contas não foi o único fator a fundamentar a
sanção de inabilitação, conforme o seguinte trecho do voto condutor do acórdão ora recorrido: 13. Existem, ainda, outras circunstâncias que conduzem à conclusão de que os pagamentos efetuados em
prol da Ongtour tiveram o único intuito de viabilizar o desvio dos recursos públicos. O convênio celebrado entre o MTur e a FENAPRF foi possibilitado pela destinação de recursos provenientes de emendas parlamentares
para a realização de “Publicidade de Utilidade Pública – Federação Nacional de Policiais Rodoviários
Federais” (peça 2, p. 100). Ocorre que, à época, a FENAPRF havia contratado, para a prestação de serviços de assessoria parlamentar, Paulo Eduardo Vieira, que é o presidente da Ongtour (peça 23, pp. 105-112). O referido
contrato possuía como objeto a “prestação de serviços de consultoria e planejamento estratégico, visando à
formação e estruturação de uma efetiva base de apoio no congresso Nacional, especialmente em relação às
matérias consideradas prioritárias pelo Contratante (...)”. Os serviços englobavam, textualmente, entre outras, as seguintes atividades: “d) assistir ao Contratante na identificação avaliação de problemas e oportunidades de
atuação a bem dos seus interesses, além de preparação – com a sua participação, assistência e aprovação – de
subsídios, informações e documentos indispensáveis à defesa de seus pleitos específicos”; “e) elaborar minutas de pareceres e votos em separado, além de emendas e outros instrumentos legislativos para subsidiar
parlamentares que venham a estar envolvidos, direta ou indiretamente, com o exame dos projetos em questão”
e “f) levantamento sistemático dos principais aliados e adversários das causas a serem defendidas (projetos, discursos, emendas, votos, ações, declarações, etc.), objetivando aferir tendências e, consequentemente, efetuar
um mapeamento do Congresso Nacional em relação às mesmas”.
310
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
14. Ou seja, Paulo Eduardo Vieira trabalhava, como contratado da FENAPRF, para conseguir a
aprovação de emendas parlamentares em favor da entidade, que, posteriormente, revertiam parcialmente à sua
empresa (Ongtour), sob a forma de pagamentos por uma suposta execução de serviços não comprovados.
15. A ingerência era tamanha que, se utilizando de email da própria FENAPRF, Paulo Eduardo Vieira determinava a outros setores daquela federação a realização de pagamentos em favor da Ongtour (peça 23, p. 8).
16. A inexistência de documentos comprobatórios dos serviços supostamente realizados pela Ongtour,
aliada aos contornos da obtenção dos recursos e da prestação dos serviços que a ela seriam atribuídos, já delineados neste voto, impossibilitam que se ateste a regularidade do pagamento de R$ 405.265,00 em seu
favor.
(...)
18. Da mesma forma, considerando a informação constante dos autos de que Paulo Eduardo Vieira já foi ocupante de função na Câmara dos Deputados, é pertinente a proposta de que seja considerada grave a infração
por ele cometida para que se declare sua inabilitação, pelo período de cinco anos, para o exercício de cargo em
comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública. O mesmo tratamento deve ser
conferido a Gilson Dias da Silva, que, na condição de então presidente da FENAPRF, propiciou que
ocorressem as irregularidades constatadas. Grifos no original.
23. Some-se ainda aos graves fatos apontados acima a recorrência na contratação de entidades
para execução de objeto de convênios, como foi o caso do ajuste 701775/2008, assinado junto à
Quaero Suporte ao Ensino e à pesquisa de Instituições Acadêmicas em 29/12/2008, um ano antes do
Convênio 727278, assinado junto à Ongtour, de que trata a presente TCE, com escopo semelhante, e
ainda com indicação de ligação entre as duas empresas, conforme apontou a unidade técnica
(peça 128, p. 7): 37. Além desse fato, ressalta-se que em ambos os convênios foram contratados terceiros pela FENAPRF
para a execução total do Convênio (organização, planejamento, coordenação e execução do projeto): a Quaero e
a Ongtour. Portanto, fica evidente que a FENAPRF solicitou recursos por meio de ambos os convênios para que
terceiros contratados os executassem e até mesmo os gerenciassem plenamente, o que indica sua participação
como convenente foi de mera repassadora de recursos para a Quaero e para a Ongtour. (...) 24. A FenaPRF, em seu recurso, afirma a necessidade de determinação de indisponibilidade de
bens do seu ex-presidente, Sr. Gilson Dias da Silva, da Ongtour-Instituto Brasil 100 e de seu
representante, Sr. Paulo Eduardo Vieira.
25. Associo-me às análises elencadas pela Serur sobre o descabimento de tal medida nesta fase
processual, em especial pela ausência pressupostos necessários para sua adoção, uma vez que não se
têm nos autos indicativos de riscos de desfazimento de bens ou outras ações tendentes a inviabilizar o
ressarcimento ao erário. Frise-se ainda que, finda a fase recursal, com o consequente trânsito em
julgado, o processo seguirá para a fase de execução em que a Advocacia-Geral da União poderá adotar
as medidas de sua competência para cumprimento da decisão desta Corte de Contas.
Com essas considerações, anuindo aos pareceres prévios, VOTO para que o Tribunal aprove a
proposta de deliberação que coloco ao exame deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2610/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 025.493/2013-2.
1.1. Apenso: 004.453/2017-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Recursos de reconsideração (Tomada de Contas Especial).
3. Recorrentes: Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (03.658.044/0001-00);
Gilson Dias da Silva (102.307.935-68).
4. Órgão: Ministério do Turismo.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro José Múcio Monteiro.
311
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
6. Representante do Ministério Público: Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva.
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur).
8. Representação legal: Emanuel Santos de Lima (OAB/DF 15.693); Marcos Joel dos Santos
(OAB/DF 21.203); e Rudi Meira Cassel (OAB/DF 22.256).
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de recursos de reconsideração interpostos pelo Sr.
Gilson Dias da Silva e pela Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais contra o
Acórdão 106/2018-Plenário;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer dos recursos de reconsideração, com fundamento nos arts. 32, inciso I, e 33, da Lei
8.443/1992, para, no mérito, negar-lhes provimento;
9.2. dar ciência da presente deliberação aos recorrentes, bem como ao Ministério Público Federal
para conhecimento e adoção das medidas que entender cabíveis.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2610-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 037.346/2018-0.
Natureza: Representação.
Órgão: Ministério Público Federal.
Representação legal: Katiuscia Pereira de Alvim (OAB/DF 42.511) e outros.
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA CONCEDIDA NO
CARGO DE SUBPROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. PEDIDO DE RETRATAÇÃO
DO REPRESENTANTE PARA VOLTAR A ATIVIDADE NEGADO PELO GESTOR
RESPONSÁVEL DENTRO DO JUÍZO DE CONVENIÊNCIA E OPORTUNIDADE. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DE INTERESSE PÚBLICO. NÃO CONHECIMENTO.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, com os devidos ajustes de forma, a instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Fiscalização de Pessoal (peça 17), com a qual, se manifestou de acordo, o corpo
gerencial daquela unidade técnica especializada (peças 18 e 19), a seguir transcrita: INTRODUÇÃO
1. Cuidam os autos de representação, com pedido de cautelar, formulada pelo Subprocurador-Geral da República, Sr. Moacir Guimarães Morais Filho, em face de suposta irregularidade no ato do Secretário-Geral da
Procuradoria-Geral da República (PGR) que determinou a adoção das providências cabíveis com vista ao
312
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
cumprimento da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, que concedeu aposentadoria voluntária ao representante (peça 1).
HISTÓRICO
2. Por meio da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, foi concedida aposentadoria voluntária, com proventos integrais, ao Sr. Moacir Guimarães Morais Filho, ora representante, no cargo de Subprocurador-Geral da
República na carreira do Ministério Público Federal. Além disso, foi declarado vago o mencionado cargo (peça
1, p. 2). 3. Ocorre que, após 21 dias da data da publicação da referida Portaria, o representante, ante a redução de
sua remuneração – perda do auxílio-moradia, auxílio-alimentação e abono de permanência, entre outros
benefícios –, requereu ao Procurador-Geral da República em exercício, Dr. Humberto Jacques de Medeiros,
retratação do pedido de aposentadoria voluntária (peça 1, p. 3). 4. Diante da demora em ter seu pleito analisado na seara administrativa, o representante ajuizou ação
ordinária perante a Justiça Federal do Distrito Federal com pedido de tutela de urgência para que fosse
determinado o seu retorno à atividade, o qual fora indeferido pela 16ª Vara Federal no âmbito da Ação Ordinária n. 1014069-10.2018.4.01.3400 (peça 11, p. 39-41).
5. Em sede de agravo, autuado sob o n. 1020577-84.2018.4.01.0000, o representante obteve a tutela de
urgência requerida, tendo sido autorizado o seu retorno à atividade (peça 11, p. 70-71). Em cumprimento, a i. Procuradora-Geral da República editou a Portaria PGR 698, de 7/8/2018 (peça 12, p. 30).
6. Todavia, nos termos do despacho do Secretário-Geral da PGR (peça 8), observa-se que, ante o
restabelecimento do provimento judicial de primeira instância (peça 16), os efeitos da Portaria PGR 974, que
concedeu aposentadoria voluntária ao representante, foram restaurados, tanto que a questão foi submetida à Secretaria de Gestão de Pessoas para adoção das providências decorrentes do mencionado ato.
7. É justamente contra essa decisão – exarada no despacho do referido Secretário-Geral da PGR – que o
representante se insurge, requerendo, dentre outras medidas, a sustação, em sede de cautelar, da mencionada decisão, de forma a determinar à unidade jurisdicionada o retorno do representante à atividade (peça 1, p. 13-
14).
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
8. Inicialmente, impende salientar que, por força do art. 21 da Resolução TCU 259/2014, esta unidade técnica está dando tratamento prioritário à representação por ter sido formulado pedido de adoção de medida
cautelar, muito embora o exame de seus pressupostos (fumus boni iuris e periculum in mora) somente deva ser
realizado quando presentes os requisitos de admissibilidade do feito. 9. Como se sabe, são requisitos de admissibilidade das representações, consoante disposto no art. 235 do
Regimento Interno do TCU, tratar-se de matéria de competência do Tribunal, referir-se a administrador ou
responsável sujeito à sua jurisdição, ser redigida em linguagem clara e objetiva, conter o nome legível do denunciante, sua qualificação e endereço, e estar acompanhada de indício concernente à irregularidade ou
ilegalidade denunciada. Outro requisito de admissibilidade a ser verificado é a existência de interesse público
no trato da suposta ilegalidade apontada, o qual está expresso no § 1º do art. 103 da Resolução TCU
259/2014. 10. Quanto ao requisito atinente ao indício de irregularidade ou ilegalidade, não se observa no ato do
Secretário-Geral da PGR ora questionado (peça 8) qualquer vício que enseje atuação desta Corte de Contas, na
medida em que a autoridade administrativa apenas adotou as devidas providências, à luz da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, com vista a dar concretude ao ato de aposentação do representante.
11. Saliente-se que a aludida aposentadoria decorreu de um pedido voluntário do representante, sendo
concedida e passando a vigorar a partir da publicação da Portaria PGR 974/2018. Desse modo, ainda que o ato de concessão de aposentadoria seja considerado complexo, que só se aperfeiçoa com a apreciação e o registro
pelo TCU, não se pode olvidar de que produz todos os efeitos jurídicos que lhe são próprios com a publicação
do referido ato administrativo.
12. Nesse cenário, o simples fato de o interessado ter requerido a retratação do seu pedido de aposentadoria não lhe garante direito algum. Por conseguinte, quando a decisão judicial que autorizou seu
retorno ao cargo de Subprocurador-Geral da República foi revogada (peça 16), a Administração tinha o dever de
modificar a situação jurídica do servidor de ativo para inativo, nos termos da Portaria PGR 974/2018, a menos que fosse interesse da própria Administração promover o seu retorno à atividade, o que não parece ser o caso.
313
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13. Portanto, as informações trazidas aos autos não podem ser consideradas indícios de irregularidades,
conforme previsto no caput do art. 235 do Regimento Interno do TCU, mas mero inconformismo do
representante com a possibilidade da Administração, no uso de seu poder discricionário e com base no interesse
público, não lhe conceder o retorno à atividade. Com efeito, resta evidente, no caso sob exame, a ausência de interesse público no prosseguimento do feito, pois se trata tão somente de satisfação de interesses pessoais.
14. Com isso, resta demonstrado, de forma inequívoca, a ausência de interesse público no processamento
do feito, tendo sido tal atributo erigido à condição de requisito de admissibilidade das representações pelo art. 103, § 1º, da Resolução TCU 259/2014, segundo o qual “o exame de admissibilidade abordará a competência do
Tribunal sobre o assunto, a legitimidade do autor, a suficiência dos indícios e a existência de interesse público
no trato da suposta ilegalidade apontada”.
15. A propósito, depreende-se que a presente representação somente foi apresentada ao Tribunal porque o interessado não obteve provimento jurisdicional que lhe fosse favorável, o que reforça a inexistência de
irregularidade ou ilegalidade na conduta da Administração, assim como o evidente propósito de satisfação de
interesses pessoais. 16. Não é demasiado repisar que esta Corte de Contas não pode conhecer de requerimento que lhe seja
diretamente dirigido para obtenção de benefício ou vantagens de caráter pessoal, a teor do que dispões o art. 263
do Regimento Interno, o que, por si só, já representa óbice ao prosseguimento do feito. 17. Além disso, considera-se que eventual prosseguimento desta representação, na forma pretendida pelo
interessado, teria o efeito de transformar o TCU em instância recursal de órgãos e entidades da Administração
Pública Federal, o que, não se admite no âmbito da atuação fiscalizadora do controle externo, notadamente
quando estão em discussão direitos individuais da parte, os quais já se encontram judicializados. 18. Dessa forma, o não conhecimento da presente representação, em face da ausência dos requisitos de
admissibilidade aqui tratados, implica no próprio indeferimento do pedido de adoção medida cautelar.
CONCLUSÃO 19. Como demonstrado, a ausência de interesse público a que alude o § 1º do art. 103 da Resolução TCU
259/2014 e de indícios da irregularidade no ato questionado autorizam o Tribunal ou o relator a não conhecer da
presente representação, nos termos do art. 235 do Regimento Interno c/c art. 103, § 1º, da Resolução TCU
259/2014.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
20. Ante o exposto, opina-se pelo encaminhamento dos presentes autos ao Gabinete do Relator, Exmo.
Ministro Vital do Rêgo, com as seguintes propostas: a) não conhecer da presente representação, por não atender os requisitos de admissibilidade previstos no
art. 235 do Regimento Interno do TCU c/c art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
b) determinar liminarmente o arquivamento dos autos, devendo-se dar ciência desta deliberação ao represente, nos termos do art. 235 do RI/TCU c/c art. 105 da Resolução TCU 259/2014;
À consideração superior.
Eis o Relatório.
VOTO
Os presentes autos tratam de representação formulada pelo Subprocurador-Geral da República,
Sr. Moacir Guimarães Morais Filho, em face de suposta irregularidade no ato do Secretário-Geral da
Procuradoria-Geral da República (PGR) que determinou a adoção das providências cabíveis com vista
ao cumprimento da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, que concedeu aposentadoria voluntária ao
representante.
2. Em síntese, narra o representante que, por meio da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, foi
concedida a ele aposentadoria voluntária, com proventos integrais, no cargo de Subprocurador-Geral
da República na carreira do Ministério Público Federal. Além disso, foi declarado vago o mencionado
cargo.
3. No entanto, após 21 dias da data da publicação da referida Portaria, o representante, ante a
redução de sua remuneração – perda do auxílio-moradia, auxílio-alimentação e abono de permanência,
314
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
entre outros benefícios –, requereu ao Procurador-Geral da República em exercício, Dr. Humberto
Jacques de Medeiros, retratação do pedido de aposentadoria voluntária.
4. Diante da demora em ter seu pleito analisado na seara administrativa, o interessado ajuizou
ação ordinária perante a Justiça Federal do Distrito Federal com pedido de tutela de urgência para que
fosse determinado o seu retorno à atividade, o qual fora indeferido pela 16ª Vara Federal (Ação
Ordinária 1014069-10.2018.4.01.3400). Em sede de agravo interposto no TRF da 1ª Região, o
representante obteve a tutela de urgência requerida, tendo sido autorizado, em caráter precário, o seu
retorno à atividade. Em cumprimento a decisão judicial, a Procuradoria-Geral da República editou a
Portaria PGR 698, de 7/8/2018.
5. Todavia, tendo em vista que o TRF da 1ª Região reconsiderou a decisão liminar concedida,
revogando-a, o Secretário-Geral da PGR restabeleceu os efeitos da Portaria PGR 974, que concedeu
aposentadoria voluntária ao representante, permanecendo o representante na situação de inativo.
6. É contra essa decisão, que restabeleceu os efeitos da portaria que aposentou o representante
que ele se insurge, requerendo, dentre outras medidas, a sustação, em sede de cautelar, da mencionada
decisão, de forma a determinar à unidade jurisdicionada o retorno do representante à atividade.
7. A unidade técnica ao analisar os fatos narrados entendeu, em síntese, que não se observa no
ato do Secretário-Geral da PGR ora questionado qualquer vício que enseje atuação desta Corte de
Contas, na medida em que a autoridade administrativa apenas adotou as devidas providências, à luz da
Portaria PGR 974, de 12/6/2018, com vista a dar concretude ao ato de aposentação do representante. A
Sefip sustenta que resta evidente, no caso sob exame, a ausência de interesse público no
prosseguimento do feito, já que se trata tão somente de satisfação de interesses pessoais.
-II-
8. Manifesto minha concordância integral com a proposta formulada pela Sefip, razão pela qual
adoto, como minhas razões decidir, o parecer precedente por seus próprios fundamentos, valendo-me,
para tanto, da técnica de motivação per relationem, sem prejuízo de tecer os breves comentários a
seguir.
9. Não há reparos a fazer na análise empreendida pela unidade técnica no que diz respeito a
ausência de interesse público no prosseguimento do feito. Consoante análise da Sefip, não vejo, na
atuação do Secretário-Geral da PGR, qualquer ato irregular no processo que culminou na
aposentadoria do representante.
10. Das informações carreadas aos autos, observo que gestor atuou dentro dos limites legais,
quando concedeu a aposentadoria requerida pelo representante e quando fez cumprir a decisão judicial
que cassou revogou a liminar que havia sido deferida pelo TRF da 1ª Região.
11. Nesse contexto, observo que o caso trazido a apreciação deste colegiado carece de interesse
público porquanto discute, a rigor, o inconformismo do representante de não ver seu pleito, para voltar
a atividade, atendido.
12. Ausente o interesse público previsto no art. 103, § 1º, da Resolução TCU 259/2014, a
representação em epígrafe deixa de atender um dos principais requisitos de admissibilidade, razão pela
qual, não deve ser conhecida.
Ante o exposto, VOTO para que seja adotada a minuta de acórdão que ora trago ao exame deste
Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2611/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 037.346/2018-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessado: Moacir Guimarães Morais Filho.
4. Órgão: Ministério Público Federal.
315
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: Katiuscia Pereira de Alvim (OAB/DF 42.511) e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de representação formulada pelo
Subprocurador-Geral da República, Sr. Moacir Guimarães Morais Filho, em face de suposta
irregularidade no ato do Secretário-Geral da Procuradoria-Geral da República (PGR) que determinou a
adoção das providências cabíveis com vistas ao cumprimento da Portaria PGR 974, de 12/6/2018, que
concedeu aposentadoria voluntária ao representante;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. não conhecer da presente representação, por não atender aos requisitos de admissibilidade
previstos no art. 235 do Regimento Interno do TCU c/c o art. 103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
e
9.2. arquivar os presentes autos, dando ciência desta deliberação ao represente, nos termos do art.
235 do RI/TCU c/c o art. 105 da Resolução TCU 259/2014.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2611-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO II – CLASSE V – Plenário
TC 002.538/2014-8.
Natureza: Relatório de Auditoria.
Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Responsáveis: Fernando Fortes Melro Filho (CPF 787.303.504-25), Francisco de Assis Dias
Xavier (CPF 207.968.384-53) e Roger da Silva Pêgas (CPF 410.106.550-00).
Representação legal: Paulo Aristóteles Amador de Sousa, representando Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes; Gustavo Felipe Costa e Silva (OAB/MG 105.657), representando
Roger da Silva Pêgas.
SUMÁRIO: AUDITORIA. LICITAÇÃO DA OBRA DE IMPLANTAÇÃO E
PAVIMENTAÇÃO DA RODOVIA BR-316/AL. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES.
AUDIÊNCIAS E OITIVA. ARGUMENTOS ACOLHIDOS PARCIALMENTE. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
316
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Transcrevo a seguir, com os ajustes de forma pertinentes, a instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação – SeinfraRodoviaAviação (peça
87), com a qual se manifestaram de acordo os dirigentes da unidade técnica (peças 88 e 89). Trata-se de Auditoria na licitação das obras de implantação e pavimentação da BR-316/AL entre os
quilômetros 0,00 e 49,00, realizada em cumprimento ao Acórdão 3.143/2013-TCU-Plenário (Min. Valmir Campelo) e integrante do Fiscobras 2014.
2. A fiscalização teve o objetivo de fiscalizar as obras da BR-316/AL – Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL
(Carié).
HISTÓRICO 3. No período de 3/2/2014 a 26/3/2014 foi realizada a Fiscalização 53/2014 com o objetivo de fiscalizar
as obras da BR-316/AL – Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié).
4. O objeto da fiscalização foi o Edital RDC Presencial 696/2013-00, destinado à contratação integrada de empresa com vistas a prestação de serviços técnicos especializados de engenharia para a elaboração dos projetos
básico e executivo e execução das obras de implantação e pavimentação da Rodovia BR-316/AL no segmento
compreendido entre os quilômetros 0,00 e 49,00. O orçamento estimado pela Administração, sigiloso à época da fiscalização conforme o art. 6º da Lei 12.462/2012, totalizou R$ 59.113.227,25 (set/2013 – peça 34, p. 16).
5. O Relatório de Fiscalização (peça 48) apresentou sete achados de auditoria:
a) Anteprojeto de engenharia deficiente e/ou desatualizado (IG-C, item 3.1) – ausência de elementos
mínimos necessários para o anteprojeto estabelecidos em normativo interno do Dnit; e desatualização pelo uso de estudo de tráfego realizado doze anos antes. A desatualização dos estudos já havia resultado na revogação de
licitação para a mesma obra em 2012 (TC 007.873/2012-3);
b) Ausência de processo administrativo para elaboração e aprovação do anteprojeto de engenharia (OI, item 3.2) – a elaboração do anteprojeto não foi registrada em processo administrativo destinado a esse fim;
inexiste portaria de aprovação do anteprojeto, exigida por norma interna da Autarquia;
c) Ausência de regulamentação do trâmite e do controle de documentos sigilosos (OI, item 3.3); d) Critério de julgamento da proposta técnica baseada apenas em experiência profissional da licitante e de
sua equipe técnica (OI, item 3.4) – não houve critério de valoração da metodologia ou técnica construtiva a ser
empregada que, por se tratar de RDC-CI, pode ser distinta da proposta pela Administração;
e) Metodologia utilizada para definição do orçamento e preço de referência deficiente e/ou inadequada (IG-C, item 3.5) – Nota Técnica Justificativa do Orçamento referencial elaborada após a publicação do edital,
para atender à solicitação do TCU; preços paramétricos baseados em apenas duas obras (aumentadas
posteriormente para quatro), as quais não guardam relação com a obra licitada; estimativa realizada de maneira simplista e sem a observância do normativo interno do Dnit;
f) Motivação deficiente e/ou viciada do ato de escolha do regime da contratação integrada do RDC (IG-C,
item 3.6) – adoção do Regime de Contratação Integrada sem a demonstração dos requisitos exigidos na lei; e
g) Publicação de edital de licitação sem prévia definição do orçamento e preço de referência (OI, item 3.7) – quando o edital foi publicado, ainda não estava concluída a análise de risco e não estava definido o valor
referente a essa parcela.
6. Diante desses indícios de irregularidade, foi proposto (peça 48, p. 48-51): Propõe-se, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c art. 250, inciso IV, do Regimento
Interno do TCU, a realização de audiência do Sr. Fernando Fortes Melro Filho, CPF 787.303.504-25,
Superintendente Regional do Dnit no Estado de Alagoas, para que, no prazo de quinze dias, apresente razões de justificativa pelos seguintes indícios de irregularidades relativos ao Edital de Licitação RDC presencial no
696/2013-00:
a) anteprojeto de Engenharia deficiente e desatualizado, em afronta ao estabelecido no art. 9º, § 2º, inciso
I, alínea ‘a’, da Lei 12.462/2012 c/c art. 74, inciso I e § 3º, ambos do Decreto 7.581/2011, na medida em que ele não contempla os elementos mínimos necessários estabelecidos nos itens 4.1, 5.1.1, 5.1.3, 5.1.4, 5.1.5 e 5.1.6 do
Anexo à Portaria DNIT n. 657 de 12/7/2013, bem como utiliza Estudo de Tráfego obsoleto, realizado há mais de
doze anos, o que exige a realização de nova pesquisa de campo pelo licitante e mantém incerto um parâmetro técnico essencial ao dimensionamento da solução de pavimento; (3.1)
b) ausência de portaria de aprovação do Anteprojeto de Engenharia (anexo III do edital), em afronta ao
que estabelece o item 3.1 do Anexo à Portaria DNIT n. 657 de 12/7/2013; (3.1)
317
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
c) utilizar, por intermédio da Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 10/2/2014, metodologia
deficiente e inadequada para definir o orçamento e preço de referência da obra rodoviária objeto do certame
infringindo o com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2012 c/c art. 75 do Decreto
7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria Dnit n. 657, de 12/7/2013, bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que:
c.1) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços;
c.2) utiliza apenas duas obras para servir de referência de preço, sendo que uma delas foi executada
majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto
Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado;
c.3) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
c.4) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas como paradigma;
c.5) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das duas obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas duas obras); (3.5)
d) escolher, por intermédio do item I, do documento Atos Preparatórios, de 24/10/2013, o regime da
contratação integrada do Regime Diferenciado de Contratações para o certame, sem apresentar as necessárias
justificativas técnica e econômica, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, incisos I, II e III c/c art. 20, § 1º, incisos I e II, todos da Lei 12.462/2011, bem como contrariando entendimento firmado por meio
dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e 9.2 do
Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário. (3.6) Responsável: Francisco de Assis Dias Xavier
Audiência de Responsável:
Propõe-se, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c art. 250, inciso IV, do Regimento
Interno do TCU, a realização de audiência do Sr. Francisco de Assis Dias Xavier, CPF 207.968.384-53, Superintendente Regional substituto do Dnit no Estado de Alagoas, para que, no prazo de quinze dias, apresente
razão de justificativa pelo indício de irregularidade consubstanciado na utilização, por intermédio da Nota
Técnica Justificativa do Orçamento, de 24/2/2014, metodologia deficiente e inadequada para definir o orçamento e o preço de referência da obra rodoviária objeto do Edital de Licitação RDC presencial no
696/2013-00, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2012 c/c art. 75
do Decreto 7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria Dnit n. 657, de 12/7/2013, bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que:
a) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se
pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços; b) utiliza apenas quatro obras para servir de referência de preço, sendo que três delas foram executadas
majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto
Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado;
c) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
d) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas como paradigma;
e) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das quatro obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da
inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas quatro obras). (3.5) Responsável: Roger da Silva Pêgas
Audiência de Responsável:
Propõe-se, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, a realização de audiência do Roger da Silva Pêgas, CPF 410.106.550-00, Diretor de
Infraestrutura Rodoviária do Dnit, para que, no prazo de quinze dias, apresente razões de justificativa pelo
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
indício de irregularidade, relativo ao Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00, consubstanciado na apresentação, em 16/12/2013, por intermédio do item IV do expediente encaminhado à Coordenação-Geral de
Cadastro e Licitações/DIREX, de esclarecimentos relativos aos apontamentos efetuados pela Procuradoria
Federal Especializada da autarquia acerca da ausência de justificativas técnica e econômica para a escolha do regime da contratação integrada para o certame, os quais não se subsomem aos requisitos legais, fato que
contribuiu para a continuidade do certame não obstante mantido o vício na motivação do ato administrativo,
infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, incisos I, II e III c/c art. 20, § 1º, incisos I e II, todos da Lei 12.462/2011, bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.1,
9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e 9.2 do
Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário. (3.6)
Oitiva: Propõe-se realizar, com fundamento no art. 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, a oitiva do
Dnit, na pessoa de seu Diretor-Geral, Jorge Ernesto Pinto Fraxe, CPF 108.617.424-00, para que apresente
manifestação no prazo de quinze dias acerca dos seguintes indícios de irregularidades: a) ausência de processo administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de engenharia,
contendo, necessariamente, o registro, por meio da juntada de documentos, do expediente de designação dos
membros responsáveis pela elaboração do anteprojeto de engenharia, dos estudos, ensaios, relatórios, pareceres, laudos e visitas técnicas eventualmente realizados, bem como da manifestação da autoridade competente pela
sua aceitação/aprovação, nos termos do item 3.1 do Anexo da Portaria Dnit n. 657, de 12 de julho de 2013, fato
que infringiu os princípios da publicidade (transparência), economicidade e eficiência estabelecidos nos artigos
37 e 70 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 c/c o art. 3º da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC); (3.2)
b) ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do tramite de orçamentos e outros
documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC, em atendimento ao art. 6º da Lei 12.462/2011; (3.3)
c) inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no Edital RDC presencial
696/2013-00, por meio do documento denominado Atos Preparatórios, datado de 24/10/2013, o qual avalia
apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, caracterizando-se na prática como mero requisito de habilitação, o que afronta o estabelecido no art. 20 § 1º, da Lei 12.642/2011 (Lei do RDC), bem
como entendimento firmado pela Corte por meio do precedente contido nos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário; (3.4) d) publicação do Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00 no Diário Oficial da União, em
27/12/2013, sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de referência final por
meio do qual se pretende julgar a aceitabilidade das propostas ofertadas pelos licitantes, infringindo regra ínsita no § 3º do art. 6º da Lei 12.462/2011 c/c art. 4º do Decreto nº 7.581/2011. (3.7)
7. Ato contínuo, diante da existência de delegação de competência pelo então Relator, exmo. Ministro
José Jorge, o Secretário da extinta SecobRodovias emitiu despacho autorizando a realização das audiências e
oitivas propostas. Tais medidas foram tomadas por meio dos documentos a seguir listados: Quadro 1 – Documentos relativos às oitivas e audiências
Medida Responsável CPF Ofício de audiência Ciência
do ofício Resposta
Audiência Fernando Fortes Melro Filho
787.303.504-25 Ofício 420/2014-TCU/SecobRodovia (peça 52)
Peça 59 Peça 62
Audiência Francisco de Assis
Dias Xavier 207.968.384-53
Ofício 421/2014-TCU/Secob
Rodovia (peça 53) Peça 58 Peça 61
Audiência Roger da Silva Pêgas
410.106.550-00 Ofício 422/2014-TCU/SecobRodovia (peça 55)
Peça 60 Peça 73
Oitiva Dnit Ofício 424/2014-TCU/Secob
Rodovia (peça 54) Peça 56 Peça 75*
* a resposta foi inicialmente acostada à peça 63, mas, em decorrência de falha na digitalização do documento, que consta incompleto naquela peça, o ofício foi juntado novamente ao processo, dessa vez
completo, à peça 75.
Relatoria do processo
319
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
8. Ao longo do andamento deste processo, a relatoria foi alterada do exmo. Ministro José Jorge para o
exmo. Ministro Vital do Rego em face da posse do novo relator no cargo de Ministro do TCU na vaga deixada
pelo relator original.
Exame Técnico 9. A presente instrução se destina a analisar a resposta à oitiva do Dnit e as razões de justificativa dos
responsáveis
A. Oitiva do Dnit 10. Realizou-se a oitiva do Dnit por meio do Ofício 424/2014-TCU/SecobRodovia (peça 54), cuja ciência
data de 14/7/2014 (peça 56), cuja resposta foi apresentada por meio do Ofício 1.093/2014/AUDINT/DNIT
acostado à peça 75.
11. A oitiva foi feita nos seguintes termos: Conforme delegação de competência conferida pelo Relator, e ante a análise realizada no processo de
Relatório de Auditoria nas obras da BR-316/AL- Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié), foi determinada a
oitiva do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-Dnit, na pessoa de seu Diretor Geral, para que, no prazo de até 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente comunicação, com fundamento no
art. 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, se pronuncie quanto às ocorrências descritas a seguir:
a) ausência de processo administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de engenharia, contendo, necessariamente, o registro, por meio da juntada de documentos, do expediente de designação dos
membros responsáveis pela elaboração do anteprojeto de engenharia, dos estudos, ensaios, relatórios, pareceres,
laudos e visitas técnicas eventualmente realizados, bem como da manifestação da autoridade competente pela
sua aceitação/aprovação, nos termos do item 3.1 do Anexo da Portaria Dnit nº 657, de 12 de julho de 2013, fato que infringiu os princípios da publicidade (transparência), economicidade e eficiência estabelecidos nos artigos
37 e 70 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 c/c o art. 3º da Lei 12.462/2011 (Lei do
RDC); (3.2 do Relatório de Fiscalização, anexo por cópia) b) ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do tramite de orçamentos e outros
documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC, em atendimento ao art. 6º da
Lei 12.462/2011; (3.3 do Relatório de Fiscalização, anexo por cópia)
c) inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no Edital RDC presencial 696/2013-00, por meio do documento denominado Atos Preparatórios, datado de 24/10/2013, o qual avalia
apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, caracterizando-se na prática como mero
requisito de habilitação, o que afronta o estabelecido no art. 20 § 1º, da Lei 12.642/2011 (Lei do RDC), bem como entendimento firmado pela Corte por meio do precedente contido nos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário; (3.4 do Relatório de Fiscalização, anexo por cópia)
d) publicação do Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00 no Diário Oficial da União, em 27/12/2013, sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de referência final por
meio do qual se pretende julgar a aceitabilidade das propostas ofertadas pelos licitantes, infringindo regra ínsita
no § 3º do art. 6º da Lei 12.462/2011 c/c art. 4º do Decreto nº 7.581/2011. (3.7 do Relatório de Fiscalização,
anexo por cópia) A.1. Manifestação do Dnit (peça 75)
12. Em sua manifestação o Dnit não respondeu ao questionamento referente ao item ‘a’ da oitiva e, em
relação ao item ‘b’, a Coordenação-Geral de Cadastros e Licitações (CGCL) afirmou não ser de sua competência a regulamentação do trâmite de documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada
do RDC. Não há a manifestação do setor que seria o responsável por tomar essa providência.
13. Quanto ao item ‘c’, a Coordenação de Obras e Construção manifestou-se por meio do Memorando 1.598/2014/CGCONT/DIR (p. 4-7), que contou com a anuência da Coordenação-Geral de Construção
Rodoviária (CGCR, p. 3) e da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária (DIR, p. 2).
14. O Dnit recorda que, por ocasião do certame, o critério de julgamento por técnica e preço era
obrigatório para o regime de Contratação Integrada, exigência que foi revogada pela Medida Provisória 630, de 24/12/2013. Esclarece que a utilização desse critério decorreu unicamente da exigência legal, e não de opção da
Coordenação. Acrescenta que, desde aquela época, o Dnit informa às instâncias superiores sobre a necessidade
de retirar essa obrigatoriedade da Lei, o que teria resultado na MP 630/2013. Apesar disso, enquanto vigente a obrigatoriedade, o Dnit buscou atender à exigência da Lei para que a aplicação do critério de julgamento técnica
e preço fosse viável, objetivo e não restringisse a concorrência (p. 4-5).
320
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
15. Para ilustrar a dificuldade de se utilizar esse critério de julgamento, apresenta-se um caso hipotético
de uma ponte para a qual são possíveis diversas metodologias construtivas. Essa possibilidade resultaria na
necessidade de diversos orçamentos de referência e no risco de superfaturamento ou insucesso da licitação a
depender da relação entre a metodologia utilizada no orçamento de referência e a metodologia apresentada pelas licitantes. Surgiria também dificuldade em relação aos quesitos de habilitação, pois, para cada solução possível
os serviços relevantes seriam distintos.
16. Diante dessa dificuldade, procurou-se minorar a pontuação técnica ao mínimo permitido, de 30%, de modo a privilegiar as propostas de menor preço. Além disso, esse critério de julgamento não se trata de mero
requisito de habilitação já que os requisitos de habilitação estão limitados a 50% do quantitativo total necessário
à execução dos serviços relevantes e o critério de julgamento técnico diz respeito a quanto as licitantes
extrapolam o critério de habilitação, limitado a 100% do quantitativo, demonstrando maior capacidade técnica com um consequente menor risco de inexecução (p. 5-7).
17. Ressalta, por fim, que a publicação do Edital é precedida por análise jurídica por parte da
Procuradoria Federal Especializada, que avalia os aspectos legais envolvidos no certame. 18. A manifestação da Autarquia em relação ao item ‘d’ foi feita no Memorando 982/CGCL/DIREX
(p. 16-21). Nele a CGCL informa que a prática das Comissões de Licitação do Dnit-Sede era de abrir o envelope
lacrado vindo da Diretoria Gestora com indicação de haver nele o orçamento sigiloso apenas na véspera da abertura da sessão de licitação. Na fase interna é verificado se o processo contém o orçamento em envelope
lacrado, em atendimento à alínea b do inciso II do art. 4º do Decreto 7.581/2011. Desse modo, a Coordenação
entende que não publicou o edital sem a prévia definição do orçamento, pois o processo continha um CD com o
orçamento sigiloso indicando o preço de referência (p. 16). A.2. Análise
19. O Dnit não se manifestou sobre a inexistência de processo administrativo para a elaboração e
aprovação do anteprojeto de engenharia utilizado no Edital 696/2013-00, seja para apresentar eventual processo existente, mas não apresentado anteriormente à fiscalização, seja para defender ser desnecessária a existência do
referido processo. Por essa razão, o entendimento apresentado no Relatório de Fiscalização 53/2014 resta
mantido, de modo que se propõe dar ciência ao Dnit da irregularidade consistente na ausência de processo
administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de engenharia do Edital 696/2013-00. Ainda que o edital tenha sido revogado, essa ciência visa a alertar o Dnit para que não se repita a irregularidade em
futuras licitações.
20. Em relação à ausência de regulamentação do trâmite e do controle de documentos sigilosos, a manifestação encaminhada visou somente eximir de culpa a Coordenação-Geral consultada. Quanto à existência
da irregularidade, no entanto, não houve manifestação da Autarquia.
21. A fim de verificar se o Dnit editou essa regulamentação após a realização da Fiscalização 53/2014, foi realizada consulta por telefone à Assessoria de Controle Externo da Diretoria-Geral do Dnit no dia 5/9/2017. Foi
informado que o Dnit não possui tal regulamentação, mas que também não tem mais adotado orçamento sigiloso
em suas licitações já há algum tempo.
22. Isso posto, e considerando que a anulação do Edital afastou qualquer possibilidade de afetação decorrente de eventual acesso indevido aos documentos sigilosos da licitação, convém dar ciência ao Dnit da
inexistência da regulamentação ora discutida para que, caso a Autarquia utilize o orçamento sigiloso previsto na
Lei 12.462/2011, tome medidas para controlar e registrar o acesso a ele e aos demais documentos relacionados à sua elaboração.
23. Do mesmo modo, a manifestação em relação à publicação do edital sem a prévia definição do
orçamento e do preço de referência final foi no sentido de afastar a responsabilidade da Coordenação-Geral de Cadastros e Licitações, responsável pela publicação do edital, pois ela somente receberia os envelopes lacrados
com indicação de conter o orçamento de referência. Não foi apresentada manifestação do setor responsável pela
elaboração do documento inserido no envelope ou qualquer outra que pudesse afastar a existência da
irregularidade. 24. Por isso, se propõe dar ciência ao Dnit da irregularidade consistente na publicação do Edital
696/2013-00 sem a prévia definição do orçamento e do preço de referência final. Ainda que o edital tenha sido
revogado, essa ciência visa a alertar o Dnit para que não se repita a irregularidade em futuras licitações. 25. Quanto ao indício de critério inadequado de julgamento da proposta técnica, as dificuldades descritas
em relação a situações em que é possível a utilização de diferentes metodologias diz respeito à elaboração do
321
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
orçamento de referência e aos critérios de habilitação técnica. O ponto questionado no achado de auditoria foi o critério de julgamento da proposta técnica.
26. O fato de não ser do gosto do gestor a utilização do critério de técnica e preço não afasta a
obrigatoriedade então prevista na lei. Assim como não afasta a necessidade de fazê-lo segundo as disposições legais.
27. A Lei 12.462/2011 determinou que deve ser estabelecido critérios objetivos para avaliação e
julgamento das propostas quando for permitida a apresentação de projetos com metodologias diferenciadas de execução (art. 8º, § 3º), critérios esses que devem pontuar as vantagens e qualidades que eventualmente forem
oferecidas para cada produto ou solução (art. 20, inciso II). Ou seja, a pontuação deve se referir às qualidades e
vantagens das metodologias apresentadas na proposta, não à capacidade técnica da contratada. Esse é o
entendimento consignado no item 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário (min. Valmir Campelo). 28. O Dnit tem razão ao afirmar que o critério de julgamento da proposta técnica do Edital 696/2013-00
se difere do critério de habilitação técnica. Mais do que a diferença de valor entre elas, no entanto, estão sua
própria natureza. Enquanto uma habilita ou desabilita as licitantes, a outra determina vantagem competitiva às mais experientes.
29. É certo, no entanto, que o critério de julgamento por técnica e preço não visa a dar vantagem
competitiva às empresas mais experientes. Também não visa a reduzir o risco de inexecução da obra, como argumentado pelo Dnit – para isso há os critérios de habilitação técnica e econômica e mesmo a possibilidade de
aplicação de sanções, como a proibição de contratar, a empresas que não cumpram seus compromissos. O
critério de julgamento técnico das propostas visa a proporcionar vantagem às propostas com mais qualidades e
vantagens. 30. Pode-se argumentar, em tese, que empresas com mais experiência – aqui medida pelo tempo de
atuação e quantidade de projetos e obras realizados – tenham mais capacidade de oferecer melhor proposta
técnica. Esse argumento, no entanto, não merece ser acolhido. Primeiro porque desconsidera outras origens de propostas diferenciadas como inovação e espírito empreendedor. Segundo porque a licitação não deve avaliar a
tese ou o potencial de uma boa proposta técnica, mas a própria proposta concreta. Se as empresas mais
experientes tiverem, de fato, mais capacidade de apresentar uma proposta mais vantajosa, isso deve se refletir na
proposta em si. 31. Por fim, a mera existência de avaliação jurídica prévia à publicação do Edital não é capaz de afastar a
irregularidade, especialmente porque ela tem o condão de avaliar os aspectos jurídicos, não os técnicos,
conforme registrado nos parágrafos 76 a 78 do próprio Parecer 01116/2013/CONSULTORIA/PFE/DNIT (peça 15, p. 6).
32. Por essa razão, propõe-se dar ciência ao Dnit de que o critério de julgamento da proposta técnica
estabelecido no Edital RDC presencial 696/2013-00 é inadequado, pois avalia apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, em afronta ao art. 20, § 1º, da Lei 12.642/2011 e aos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e
9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário.
B. Audiência do senhor Fernando Fortes Melro Filho
33. O sr. Fernando Fortes Melro Filho foi instado a apresentar suas razões de justificativa por meio do Ofício 420/2014-TCU/SecobRodovia (peça 52), cuja ciência data de 18/7/2014 (peça 59), e apresentou sua
resposta por meio do documento acostado à peça 62.
34. Sua audiência decorre de atos realizados quando exercia o cargo de Superintendente Regional do Dnit no Estado da Alagoas. Foi feita nos seguintes termos:
Conforme delegação de competência conferida pelo Relator, e ante a análise realizada no processo de
Relatório de Auditoria nas obras da BR-316/AL - Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié), foi determinada a audiência de Vossa Senhoria, na qualidade de Superintendente Regional do Dnit no estado de Alagoas, para
que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente comunicação, com fundamento no
art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, apresente razões de
justificativa pelos seguintes indícios de irregularidades relativos ao Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00:
a) anteprojeto de engenharia deficiente e desatualizado, em afronta ao estabelecido no art. 9º, § 2º, inciso
I, alínea ‘a’, da Lei 12.462/2012 c/c art. 74, inciso I e § 3º, ambos do Decreto 7.581/2011, na medida em que ele não contempla os elementos mínimos necessários estabelecidos nos itens 4.1, 5.1.1, 5.1.3, 5.1.4, 5.1.5 e 5.1.6 do
Anexo à Portaria DNIT n. 657 de 12/7/2013, bem como utiliza Estudo de Tráfego obsoleto, realizado há mais de
322
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
doze anos, o que exige a realização de nova pesquisa de campo pelo licitante e mantém incerto um parâmetro técnico essencial ao dimensionamento da solução de pavimento; (3.1 do Relatório de Fiscalização, anexo por
cópia )
b) ausência de portaria de aprovação do Anteprojeto de Engenharia (anexo III do edital), em afronta ao que estabelece o item 3.1 do Anexo à Portaria DNIT n. 657 de 12/7/2013; (3.1 do Relatório de Fiscalização,
anexo por cópia)
c) utilizar, por intermédio da Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 10/2/2014, metodologia deficiente e inadequada para definir o orçamento e preço de referência da obra rodoviária objeto do certame
infringindo o com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2012 c/c art. 75 do Decreto
7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria Dnit n. 657, de 12/7/2013, bem como contrariando
entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que: (3.5 do Relatório de Fiscalização anexo por cópia)
c.1) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se
pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços; c.2) utiliza apenas duas obras para servir de referência de preço, sendo que uma delas foi executada
majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto
Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado;
c.3) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
c.4) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas como
paradigma; c.5) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das duas obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da
inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas duas obras); d) escolher, por intermédio do item I, do documento Atos Preparatórios, de 24/10/2013, o regime da
contratação integrada do Regime Diferenciado de Contratações para o certame, sem apresentar as necessárias
justificativas técnica e econômica, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, incisos I, II e III c/c
art. 20, § 1º, incisos I e II, todos da Lei 12.462/2011, bem como contrariando entendimento firmado por meio dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e 9.2 do
Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário. (3.6 do Relatório de Fiscalização anexo por cópia)
B.1. Razões de justificativa do senhor Fernando Fortes Melro Filho (peça 62) 35. O responsável alega que a equipe se equivocou ao utilizar como referência para elaboração do
Relatório a Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013, a qual já não possuía eficácia legal em face da sua revogação pela
Portaria-Dnit 71, de 16/1/2014, motivada pela Instrução de Serviço/DG 17, de 4/12/2013, a qual estabelece as diretrizes para a elaboração, apresentação, análise e aceitação de Anteprojetos de Engenharia e a elaboração do
Termo de Referência para licitação das obras no âmbito do RDC - no regime de Contratação Integrada em
empreendimentos do Dnit (p. 2).
36. Afirma que o Dnit possui todas as informações referentes aos estudos de movimentação de terra, empréstimos para terraplenagem, estudos de ocorrência de materiais para pavimentação, estudos de locais de
bota-fora e DMT, provenientes do projeto executivo aprovado pela portaria 042/2013, da SR/AL, que serviu de
base para a elaboração do Anteprojeto. Informa, ainda, que, como resultado de visita técnica realizada em 10/12/2013 por engenheiros da Superintendência e da Sede, foi elaborado um relatório que confirmou a
compatibilidade dos parâmetros técnicos utilizados com a realidade de campo (p. 3).
37. Quanto ao estudo de tráfego, afirma que o número N foi calculado com base em estudo de 2002, considerando o ano zero em 2011 e o ano dez em 2020 e um crescimento anual, oriundo de projeto de
restauração de outro trecho da BR-316/AL, de 3% a.a., o que resultou em NUSACE=7,6x105. Se tivesse sido
considerado o ano zero como 2014 e o ano dez como 2023, o resultado seria NUSACE=9,4x105, o que resultaria na
mesma solução de pavimentação. 38. Por essa razão, o responsável entende descabida a afirmação de que o estudo de tráfego estava
desatualizado, pois tais afirmativas careceriam de dados técnicos confiáveis (p. 3-4).
39. Também não concorda com a afirmação de que a eventual incerteza do volume de tráfego tenha causado restrição à competitividade das empresas, haja vista os itens do edital que preveem a visita ao local por
parte das empresas licitantes ou o preenchimento de declaração de que conhecem as condições do local. De
323
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
acordo com o responsável, a visita ao local da obra permitiria constatar a consistência do estudo de tráfego (p. 4-5).
40. Quanto à ausência de portaria de aprovação do Anteprojeto, reforça que a Portaria 657/2013
mencionada foi revogada e na Instrução de Serviço/DG 17/2013 superveniente são definidas as condições e procedimentos para a análise e aceitação de anteprojetos contratados, o que não seria o caso em tela, pois o
anteprojeto utilizado foi baseado no contido no Projeto Executivo anterior (p. 5).
41. Em relação à metodologia utilizada para determinação do preço de referência para a licitação, informa que a Nota Técnica Justificativa do Orçamento foi elaborada tendo em vista os elementos técnicos disponíveis e
de acordo com três metodologias propostas: i) atualização do orçamento do projeto existente; ii) orçamento
global tomando como referência o Custo Médio Gerencial; e iii) parametrização a partir de obras similares.
42. Informa que não havia elementos mínimos para subsidiar a elaboração de orçamento por meio de quantitativos e preços unitários, ressaltando que o orçamento constante do projeto original apresentava
inconformidades identificadas em apontamentos pretéritos do TCU.
43. Afirma que o fato de alguns empreendimentos que foram considerados não possuírem a mesma solução para o revestimento do pavimento, não necessariamente o desqualifica como similar, visto que boa parte
dos parâmetros considerados para caracterizar empreendimento corno similar foram atendidos, a saber:
topografia, trafego, custo/global por km. 44. Acrescenta que a Nota Técnica Justificativa do Orçamento [de 24/2/2014], em seu item 4, páginas 8 a
15, apresenta um resumo dos contratos das obras que foram adotadas como similares. Ademais, como a
atualização do orçamento do projeto executivo, apresentado no item 1 na Nota Técnica, apresentou valores
semelhantes aos encontrados pela parametrização, entendeu-se não haver necessidade da adoção de um número maior de obras com características similares.
45. Argumenta que a discretização do cálculo por família/disciplinas teria se mostrado mais adequada do
que a obtenção do valor global por km de rodovia, uma vez que as particularidades que cada família de disciplina apresentou teriam sido avaliadas.
46. A referida discrepância entre os valores por família teria sido atenuada com a adoção de quatro obras
ao invés de duas, conforme apresentado na Nota Técnica Justificativa do Orçamento [de 24/2/2014]. Contudo,
ainda teriam sido observados alguns valores que destoavam de maneira acentuada da média, mas para famílias de serviços com baixa representatividade no custo global do empreendimento.
47. Afirma que o número de obras consideradas teria sido quatro, e não duas. Além disso, teriam sido
utilizadas duas outras metodologias para balizar o valor encontrado (p. 5-6). 48. A respeito da escolha pelo regime de Contratação Integrada, alega que a condição constante do inciso
II do art. 9º da Lei 12.462/2011 foi atendida, o que se se observa pelo item 4.1.1.1.3 do Edital que define que
poderá ser aceita solução de engenharia não contemplada no Anteprojeto. 49. Alega que as justificativas técnica e econômica não deixaram de ser apresentadas, mas foram
consideradas insuficientes. Acrescenta que não encontrou nexo no Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário (min.
José Múcio) com o objeto da licitação (p. 6-7).
50. Declara que nada foi feito sem boa-fé. Para tanto, informa que a SR/AL solicitou à administração central do Dnit que suspendesse a licitação até a manifestação conclusiva do TCU sobre os indícios apontados
na fiscalização. Acrescenta que se tratava de um regime de licitação relativamente novo, o que, inclusive,
resultou no cancelamento pela Diretoria-Geral do Dnit diante de outros vícios insanáveis (p. 7-8). 51. Conclui refugando com veemência a citação de que não foi caracterizada a boa-fé do Superintendente
Regional do Dnit/AL por não ter emitido Portaria de Aprovação de Anteprojeto, o que, no seu entendimento não
se fazia necessária, tendo em vista que as soluções que deram origem ao Anteprojeto foram extraídas do Projeto Executivo e estão em plena aderência com as necessidades observadas na visita técnica (p. 8).
B.2. Análise
52. Para entender melhor os argumentos e as análises relativas à audiência do senhor Fernando Fortes
Melro Filho, convém apresentar uma linha do tempo dos fatos tratados e das normas envolvidas na questão. Quadro 2 - Linha do tempo dos fatos e normas relativos à audiência do senhor Fernando Fortes Melro
Filho
Fato Data Descrição Referência
[A] 12/7/2013 Portaria 657/2013 peça 77
324
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
[B] 22/10/2013
Abertura do processo administrativo
50600.078897/2013-19 para tratar da licitação
posteriormente numerada como 696/2013-00
peça 13, p. 1-2
[C] 24/10/2013
Encaminhamento, pelo senhor Fernando Fortes Melro
Filho, da “solicitação de existência de recursos
orçamentários e declaração exigida na Lei de Responsabilidade Fiscal”, informando que o orçamento da
obra era sigiloso
peça 13, p. 8
[D] 24/10/2013 Encaminhamento, pelo senhor Fernando Fortes Melro
Filho, dos “atos preparatórios” e respectivos anexos
peça 13, p. 11-63, e
peça 14, p. 1-38
[E] 6/11/2013 Recebimento dos autos pela Coordenação Geral de
Cadastro e Licitações (CGCL) peça 14, p. 39
[F] 7/11/2013 Encaminhamento dos autos à Procuradoria Federal Especializada (PFE)
peça 14, p. 40-42
[G] 4/12/2013 Instrução de Serviço/DG 17/2013 peça 78
[H] 6/12/2013 Parecer da PFE
peça 14,
p. 46-54, e
peça 15, p. 1-10
[I] 10/12/2013 Recebimento do parecer da PFE pela CGCL peça 15, p. 10
[J] 17/12/2013 Recebimento do parecer da PFE pela Diretoria de Infraestrutura Rodoviária (DIR)
peça 15, p. 13-14
[K] 16/12/2013* Esclarecimentos da DIR sobre os apontamentos do parecer da PFE
peça 15, p. 16-18
* apresenta-se esse documento fora da ordem cronológica porque, apesar de ele ser datado
anteriormente ao dia do recebimento do parecer da PFE, ele só pode ter sido elaborado após a DIR tomar conhecimento do parecer.
53. Primeiramente, importa reafirmar a correção da utilização da Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013, como
critério na fiscalização (peça 77).
54. A partir da linha do tempo apresentada acima, verifica-se que as ações do então Superintendente Regional do Dnit no Estado do Alagoas foram tomadas até o dia 24/10/2013 (Fato [D]). Não se pode imaginar,
por ser inadmissível, que o procedimento para a instauração da licitação tenha se iniciado antes da conclusão do
Anteprojeto de Engenharia. Corrobora esse entendimento o fato de haver referências ao Anteprojeto e a alguns de seus elementos no documento encaminhado pelo SR/AL:
PEÇA 13, P. 39:
De uma maneira geral, as condições operacionais mínimas, tal como previsto no Anteprojeto de Engenharia, deverão ser garantidas.
(...)
A elaboração do Projeto Geométrico contempla as seguintes situações:
• O projeto geométrico apresentado no Anteprojeto de Engenharia deverá ser integralmente seguido, tanto horizontal com verticalmente, a menos de eventuais interferências ou pequenas adequações que se apresentem
necessárias e/ou convenientes durante a elaboração do Projeto Básico e do Projeto Executivo.
• Projeto geométrico das interseções: mesma consideração acima exposta. As seções transversais tipos deverão ser apresentadas no projeto Volume 2 - Projeto de Execução.
Deverão ser utilizadas, no mínimo, seções transversais tipo que garantam o mesmo número de faixas e larguras
indicadas nas seções transversais tipo do Anteprojeto de Engenharia ou superior.
PEÇA 13, P. 40
No volume 02 do Anteprojeto estão especificadas as interseções previstas, e entendidas como o mínimo
necessário.
PEÇA 13, P. 42
325
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
A análise do perfil geotécnico do traçado, obtido através das sondagens contidas no Anteprojeto e
daquelas que se mostrarem necessárias para elaboração do Projeto Básico e Executivo, tornará possível definir a
classificação do material de 1ª, de 2ª ou de 3ª categoria, bem como suas possíveis utilizações.
PEÇA 13, P. 44 O Projeto de Drenagem apresentado no Anteprojeto de Engenharia anexo deverá ser utilizado como
referência, no que se refere' ao dimensionamento das vazões e respectivos dimensionamentos das estruturas
principais e auxiliares para atendimento às mesmas.
PEÇA 13, P. 47
De acordo com o Anteprojeto de Engenharia as alternativas de pavimentação nesta contratação, as quais
deverão ser obrigatoriamente seguidas serão:
• Pavimento flexível em TSD, ou solução superior; • O período de projeto a ser utilizado no dimensionamento do pavimento flexível deverá ser de 10 anos.
Deve ser considerado o número N para 10 anos previstos no estudo de tráfego, de 7,6x105. Se eventualmente o
estudo de tráfego a ser elaborado pela Contratada apresentar um N superior a esta referência do Anteprojeto de Engenharia, o dimensionamento do pavimento será calculado utilizando-se esse novo número N como base.
(grifo nosso)
55. Ou seja, resta evidente que o desenvolvimento do Anteprojeto de Engenharia foi realizado antes da edição da Instrução de Serviço/DG 17/2013 e, portanto, sob a vigência da Portaria-Dnit 657/2013, que é, por
isso, o critério correto a ser adotado.
56. No que diz respeito às deficiências do anteprojeto, apontadas no item 3.1 do Relatório de Fiscalização
(peça 48, p. 10-12), embora o Dnit possa possuir as informações referentes aos estudos de movimentação de terra, empréstimos para terraplenagem, estudos de ocorrência de materiais para pavimentação, estudos de locais
de bota-fora e DMT, o fato é que essas informações não constam do documento que acompanhou o edital
(peça 85), a despeito das exigências da Portaria-Dnit 657/2013. 57. A ausência dessas informações no Anteprojeto não é irregularidade meramente formal e burocrática.
Elas são de grande valia para as licitantes elaborarem suas propostas com maior nível de segurança. Sua
ausência pode refletir em desinteresse de licitantes não dispostas a assumir uma contratação com tanto risco e/ou
no aumento do valor das propostas para compensar o maior nível de risco. 58. Além disso, as informações já estavam disponíveis, decorrentes de projeto anterior, de modo que não
demandava grande investimento de recursos financeiros ou humanos para serem utilizadas. A persistência de
sua validade, inclusive, já havia sido verificada por meio da visita técnica mencionada pelo Superintendente. Bastava, portanto, sua inclusão no Anteprojeto em atendimento às disposições da Portaria-Dnit 657/2013.
59. Portanto, o fato de o Dnit possuir as informações mencionadas não elide a irregularidade, pois as
informações disponíveis não foram apresentadas no Anteprojeto disponibilizado na licitação (peça 85). 60. No que diz respeito ao indício de desatualização do estudo de tráfego com impacto no cálculo do
número N, decorrente da utilização de estudo de 2002 em projeto de 2013 com tráfego projetado para 2023,
cabe acolher as razões de justificativa do responsável. Embora o ideal para projetos seja a utilização de estudos
o mais atuais possível, o item 8.2 do Manual de Estudos de Tráfego do Dnit, Publicação IPR – 723, de 2006, admite um período de análise para projetos de até vinte anos, considerando a vida útil de quinze anos mais o
tempo necessário para a realização do Estudo de Viabilidade.
61. Ou seja, se para projetos admite-se até vinte anos de intervalo entre a realização dos levantamentos e o fim da vida útil de projeto, os 21 anos verificados no caso em tela, considerando se tratar de um Anteprojeto,
não são inaceitáveis.
62. Em relação à ausência da portaria de aprovação do anteprojeto, as razões de justificativa não merecem ser acolhidas. Elas se fundamentam na insubsistência da Portaria-Dnit 657/2013 como critério de auditoria, o
que, conforme já demonstrado, não é verdadeira. O normativo sob cuja vigência o Anteprojeto foi elaborado
exigia a edição da portaria de aprovação (peça 77, p. 2), o que não foi feito.
3 Definições e Considerações 3.1 Anteprojeto de Engenharia
(...)
Os Anteprojetos depois de elaborados ou aceitos, quando doados ou contratados, pelas coordenações setoriais serão encaminhados por despacho à CGDESP para apreciação e posterior providências quanto à
emissão de portaria de aprovação do Diretor de Planejamento e Pesquisa. No caso de delegação de competência
326
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
para Superintendência Regional, o Chefe de Engenharia encaminhará o Anteprojeto para apreciação e emissão de portaria de aprovação do Superintendente. (grifo nosso)
63. Quanto à metodologia utilizada para determinação do preço de referência, convém registrar que,
embora o senhor Fernando Fortes tenha sido instado a se manifestar pela autoria da Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 10/2/2014 (peça 32), suas razões de justificativa apresentadas remetem à Nota Técnica de
autoria do SR/AL Substituto e encaminhada em 24/2/2014 (peças 33 e 34). Os termos do
Ofício 420/2014-TCU/SecobRodovia (peça 52) são bem claros sobre o objeto da audiência: Conforme delegação de competência conferida pelo Relator, e ante a análise realizada no processo de
Relatório de Auditoria nas obras da BR-316/AL - Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié), foi determinada a
audiência de Vossa Senhoria, na qualidade de Superintendente Regional do Dnit no estado de Alagoas, para
que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente comunicação, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, apresente razões de
justificativa pelos seguintes indícios de irregularidades relativos ao Edital de Licitação RDC presencial no
696/2013-00: (...)
c) utilizar, por intermédio da Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 10/2/2014, metodologia
deficiente e inadequada para definir o orçamento e preço de referência da obra rodoviária objeto do certame infringindo o com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2012 c/c art. 75 do Decreto
7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria Dnit n. 657, de 12/7/2013, bem como contrariando
entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que: (3.5 do Relatório de Fiscalização anexo por cópia) 64. Ademais, a alegação da inexistência de elementos mínimos para subsidiar a elaboração de orçamento
por meio de quantitativos e preços unitários não justifica a utilização de uma metodologia deficiente e
inadequada. Diante dessa ausência, se buscasse corrigir as inconformidades do projeto utilizado como base para o Anteprojeto ou se adotasse outra metodologia adequada.
65. Isso posto, os argumentos de que ela se basearia em quatro obras ao invés de duas ou que foi
elaborada a partir de três metodologias não possui respaldo no conteúdo da própria Nota Técnica (peça 32).
66. Para justificar a adoção dos empreendimentos indicados na Nota Técnica de 10/2/2014, argumenta que eles foram considerados similares à obra em tela a partir dos parâmetros topografia, tráfego e custo global
por km, de modo que estariam qualificados a serem considerados apesar de não possuírem a mesma solução
para o revestimento do pavimento. 67. Novamente, seus argumentos não merecem ser acatados. Primeiro porque não se demonstrou que os
parâmetros listados pelo respondente guardam semelhança nas obras consideradas e/ou com a obras da
BR-316/AL. O momento ideal para se demonstrar essa semelhança seria na própria Nota Técnica, justificando a escolha daqueles empreendimentos, o que não ocorreu. Tampouco foi feito no momento da apresentação das
razões de justificativa em resposta à audiência. Segundo porque os elementos existentes demonstram bastante
divergência entre os parâmetros, conforme registrado na peça 10 - Análise da nota técnica justificativa do
orçamento, de 10/2/2014. 68. Nem mesmo os preços globais por km, mencionados pelo respondente, têm semelhança: o Contrato
14 00708/2010 totaliza R$ 1.462.207,80/km, o dobro do Contrato 13 00023/2008, que corresponde a
R$ 775.380,16/km, considerando os preços atualizados para setembro/2013, obtidos da Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 10/2/2014 (peça 32, p. 12).
69. Também as alegadas semelhanças de topografia não foram corroboradas por nenhum elemento, seja
na própria Nota Técnica, seja nas razões de justificativa. 70. Ou seja, não há razões para se denominar as obras utilizadas na Nota Técnica como “similares”.
71. O argumento de que a atualização do orçamento do projeto executivo teria apresentado valores
semelhantes aos encontrados pela parametrização, resultando no entendimento de não haver necessidade da
adoção de um número maior de obras também não tem respaldo na Nota Técnica contestada, já que essa informação somente surgiu em documento posterior e sem o devido detalhamento.
72. Defende-se, ainda, que a discretização do cálculo por família/disciplina teria permitido avaliar as
particularidades que cada família de disciplina apresentou. Trata-se, no entanto, de uma afirmativa sem nenhum fundamento fático. Os cálculos foram feitos de maneira semelhante em todas elas: custo total de cada família no
contrato dividido pela extensão do contrato e corrigido para a mesma data-base. A única particularidade
327
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
decorrente da separação em famílias foi o uso de índices de correção referentes aos tipos de serviços envolvidos em cada uma. Não existiu nenhuma análise que avaliasse eventuais diferenças em relação à obra em questão e
resultasse em correção das distorções. Cita-se, como exemplo, a pavimentação, que apresenta soluções bastante
diferentes entre as duas obras adotadas e com a obra da BR-316/AL, mas que teve essa diferença totalmente desconsiderada (peça 32, p. 18). Essa família, inclusive, corresponde a 38,73% do valor total estimado para o
contrato (peça 32, p. 41), o que afasta a alegação de que valores destoantes somente foram observados em
famílias de serviços com baixa representatividade no custo global do empreendimento. 73. Enfim, os argumentos trazidos para defender o teor da Nota Técnica Justificativa do Orçamento de
10/2/2014 não merecem acolhimento por não guardarem correspondência com o próprio teor do documento, por
não serem corroborados por elementos comprobatórios ou por serem refutados a partir de outros elementos. Não
houve apresentação de argumentos com vistas a justificar as discrepâncias indicadas na peça 10 - Análise da nota técnica justificativa do orçamento, de 10/2/2014.
74. Em relação às justificativas para a adoção da Contratação Integrada, convém fazer uma consideração
preliminar em relação ao texto do art. 9º da Lei 12.462/2011, em face do apresentado pelo sr. Roger da Silva Pêgas em resposta à sua audiência.
75. Os incisos I, II e III desse artigo foram acrescentados ao texto da Lei pela Medida Provisória 630, de
24/12/2013, publicada no DOU de 26/12/2013 e retificada no DOU de 27/12/2013. A abertura do processo de licitação, por outro lado, data de 23/10/2013 (peça 13, p. 1), e os Atos Preparatórios, os quais fundamentam o
item d da audiência do senhor Fernando Fortes Melro Filho, são de 24/10/2013 (peça 13, p. 11-29). Portanto, a
escolha do regime de Contratação Integrada ocorreu anteriormente à publicação da MP.
76. Por esse motivo, a adoção dos incisos I, II e III do art. 9º da Lei 12.462/2011 como critério para o apontamento da irregularidade é inadequada.
77. Isso, no entanto, não afasta a aplicação dos demais dispositivos legais, os quais vigiam à época, nem
dos Acórdãos, que foram prolatados anteriormente à Medida Provisória e, portanto, fundamentados nas mesmas regras legais vigentes à época da decisão do gestor.
78. Como a irregularidade apontada consiste na ausência das justificativas técnica e econômica, exigência
presente na redação original do próprio art. 9º e nos itens dos Acórdãos mencionados, a insubsistência daqueles
incisos não afeta a existência da irregularidade. Também não há afetação do princípio da ampla defesa, já que a audiência e o Relatório de Fiscalização indicam todos os demais critérios que sustentam a irregularidade.
79. Apresentadas essas considerações preliminares, prossegue-se com a análise das razões de justificativa.
O responsável afirma que foi atendido o inciso II do art. 9º da Lei 12.462/2011, já que o item 4.1.1.1.3 do Edital 696/2013-00 apresenta a possibilidade de apresentação de solução de engenharia não contemplada no
Anteprojeto.
80. Além da insubsistência do inciso, não no sentido de não se acatar o argumento do responsável, mas no de afastar essa exigência, há que se observar que a escolha do regime de Contratação Integrada tem como
exigência obrigatória a justificativa técnico-econômica sobre a vantagem de sua utilização em detrimento de
outros regimes preferenciais, de acordo com o caput do art. 9º da Lei 12.462/2011 e com o
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário (min. Valmir Campelo): 9.1.1.2. tendo em vista que uma obra licitada com base no anteprojeto já carrega em si a possibilidade de
a contratada desenvolver metodologia e/ou tecnologia própria para a feitura do objeto, no caso de a motivação
para a utilização da contratação integrada estiver baseada nessa viabilidade de emprego de diferenças metodológicas, nos moldes do art. 20, § 1º, inciso II, da Lei 12.462/2011, justifique, em termos técnico-
econômicos, a vantagem de sua utilização, em detrimento de outros regimes preferenciais preconizados no
art. 8º, § 1º c/c art. 9º, § 3º da Lei 12.462/2011; 81. A respeito dessa justificativa técnico-econômica, o responsável defende que foram apresentadas, mas
apenas consideradas insuficientes.
82. No entanto, não há como se admitir a motivação apresentada nos atos preparatórios da licitação
(peça 13, p. 12) como justificativa técnico-econômica. A motivação se resume a afirmações de caráter genérico, sem indicação de sua relação com o caso concreto. Uma justificativa técnico-econômica necessariamente
contempla uma avaliação das vantagens técnicas e econômicas da aplicação daquela solução no caso concreto
em confrontação com outras opções possíveis, quais sejam, os outros regimes preferenciais preconizados no art. 8º, § 1º c/c art. 9º, § 3º da Lei 12.462/2011. O item 9.1.4 do Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário (min.
Valmir Campelo) e os parágrafos 77 e 78 de seu Voto condutor tratam especificamente desse assunto.
328
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
83. Enfim, não há como se alegar que houve justificativa técnico-econômica se sequer houve uma
demonstração da aplicação das premissas listadas nos atos preparatórios (peça 13, p. 12) sobre o caso concreto e
a comparação das vantagens e desvantagens, em termos técnicos e econômicos, de se utilizar um ou outro
regime, novamente em relação ao caso concreto. 84. Não se está exigindo que o documento dos atos preparatórios da licitação apresente toda a avaliação
realizada. Para fins de elaboração dos atos preparatórios, para não o deixar desnecessariamente extenso, as
justificativas poderiam ser apresentadas de modo simplificado, na forma das conclusões decorrentes da análise técnico-econômica realizada em documento distinto. Mas esse não foi o caso da licitação em análise.
85. Por fim, quanto à falta de nexo do Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário com o objeto da licitação,
verifica-se que se tratou de um erro de referência, originado da proposta do Relatório de Fiscalização (peça 48,
p. 49) e reproduzida no texto do Ofício 420/2014-TCU/SecobRodovia (peça 52, p. 2). O Relatório de Fiscalização 53/2014, ao tratar do achado 3.6 - Motivação deficiente e/ou viciada do ato de escolha do regime
da contratação integrada do RDC (peça 48, p. 34-43), cita e transcreve o teor do
Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário e o lista entre os Critérios de Auditoria. 86. Frise-se, no entanto, que o Relatório de Fiscalização foi encaminhado ao responsável junto com o
ofício de audiência para subsidiar sua manifestação, conforme se verifica no parágrafo 4 do expediente
(peça 52). 87. Ademais, resta claro que o responsável não só recebeu o Relatório, mas o leu e tomou ciência de seu
conteúdo. Afirma-se isso em decorrência do teor das razões de justificativa, que fazem referência ao conteúdo
do relatório. Por exemplo, ao se manifestar sobre as deficiências do Anteprojeto, menciona a não apresentação
de estudos de movimentação de terra, empréstimos para terraplenagem, estudos de ocorrência de materiais para pavimentação, estudos de locais de bota-fora e DMT (peça 62, p. 3). Essa lista não aparece em outro lugar senão
no item 3.1.2 do Relatório de Fiscalização (peça 48, p. 10).
88. Portanto, a escolha de se abrigar na ausência de nexo entre o Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário e o objeto da licitação, ao invés de se manifestar sobre a relação entre o Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário e a
irregularidade apontada, não pode, de modo algum, sustentar posterior alegação de cerceamento de defesa em
face do erro no ofício de audiência, visto que o responsável demonstrou ter pleno conhecimento do teor do
Relatório de Fiscalização que o permitiria sanar o equívoco. 89. Não se afasta, portanto, a irregularidade consubstanciada na falta de justificativas técnica e econômica
para a escolha do regime de Contratação Integrada para o certame.
C. Audiência do senhor Francisco de Assis Dias Xavier 90. O sr. Francisco de Assis Dias Xavier foi instado a apresentar suas razões de justificativa por meio do
Ofício 421/2014-TCU/SecobRodovia (peça 53), cuja ciência data de 8/7/2014 (peça 58), e apresentou sua
resposta por meio do documento acostado à peça 61. 91. Sua audiência decorre de atos realizados quando exercia o cargo de Superintendente Regional
substituto do Dnit no Estado de Alagoas. Foi feita nos seguintes termos:
Conforme delegação de competência conferida pelo Relator, e ante a análise realizada no processo de
Relatório de Auditoria nas obras da BR-316/AL - Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié), foi determinada a audiência de Vossa Senhoria, na qualidade de Superintendente Regional substituto do Dnit no estado de
Alagoas, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente comunicação, com
fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c art. 250, inciso IV, do Regimento Interno do TCU, apresente razões de justificativa pelo indício de irregularidade consubstanciado na utilização, por intermédio da
Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 24/2/2014, de metodologia deficiente e inadequada para definir o
orçamento e o preço de referência da obra rodoviária objeto do Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00, infringindo, com essa conduta, o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2012 c/c art. 75
do Decreto 7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria Dnit n. 657, de 12/7/2013, bem como
contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que: (3.5 do Relatório de Fiscalização anexo por cópia) a) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se
pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços;
b) utiliza apenas quatro obras para servir de referência de preço, sendo que três delas foram executadas majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado;
c) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
d) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas como paradigma;
e) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das quatro obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas quatro obras).
C.1. Razões de justificativa do senhor Francisco de Assis Dias Xavier (peça 61)
92. Em relação à metodologia utilizada para determinação do preço de referência para a licitação, afirma
que a Nota Técnica Justificativa do Orçamento foi elaborada tendo em vista os elementos técnicos disponíveis e de acordo com três metodologias propostas: i) atualização do orçamento do projeto existente; ii) orçamento
global tomando como referência o Custo Médio Gerencial; e iii) parametrização a partir de obras similares
(p. 2). 93. Informa que o anteprojeto não possuía elementos mínimos para subsidiar a elaboração de orçamento
por meio de quantitativos e preços unitários, ressaltando que o orçamento constante do projeto original
apresentava inconformidades identificadas em apontamentos pretéritos do TCU (p. 2). 94. Afirma que o fato de alguns empreendimentos que foram considerados não possuírem a mesma
solução para o revestimento do pavimento, não necessariamente o desqualifica como similar, visto que boa parte
dos parâmetros considerados para caracterizar empreendimento como similar foram atendidos, a saber:
topografia, trafego, custo/global por km. 95. Acrescenta que a Nota Técnica Justificativa do Orçamento, em seu item 4, páginas 8 a 15, apresenta
um resumo dos contratos das obras que foram adotadas como similares. Ademais, como a atualização do
orçamento do projeto executivo, apresentado no item 1 na Nota Técnica, apresentou valores semelhantes aos encontrados pela parametrização, entendeu-se não haver necessidade da adoção de um número maior de obras
com características similares.
96. Argumenta que a discretização do cálculo por família/disciplinas teria se mostrado mais adequada do
que a obtenção do valor global por km de rodovia, uma vez que as particularidades que cada família de disciplina apresentou teriam sido avaliadas.
97. A referida discrepância entre os valores por família teria sido atenuada com a adoção de quatro obras
ao invés de duas, conforme apresentado na Nota Técnica Justificativa do Orçamento. Contudo, ainda teriam sido observados alguns valores que destoavam de maneira acentuada da média, mas para famílias de serviços
com baixa representatividade no custo global do empreendimento (p. 2-3).
98. Conclui informando que o certame foi anulado por decisão da Administração Central do Dnit (p. 4). C.2. Análise
99. Inicialmente, convém atentar para o fato de que a Nota Técnica tratada na audiência do responsável
data de 24/2/2014, dois meses após a publicação do Edital 696/2013-00, e é a segunda versão apresentada pela
Superintendência Regional do Dnit no Estado do Alagoas para atender as requisições da Fiscalização. 100. Apesar de ser o documento que consta no processo 50600.093616/2013-58 (peça 86, arquivo “02 -
Envelope Nota Técnica”), autuado em 28/11/2013 para tratar da análise de risco da obra, verifica-se que ele foi
juntado ao processo apenas em 26/3/2014 (peça 86, arquivo “01 - processo 50600.093616-2013-58”, p. 40, e peça 86, arquivo “02 - Envelope Nota Técnica”, p. 55), datado de 14/3/2014. Verifica-se, também, que, antes da
abertura do processo, em 19/11/2013, foi encaminhado pela SR/AL um envelope lacrado contendo o orçamento
e a Nota Técnica originais (peça 86, arquivo “01 - processo 50600.093616-2013-58”, p. 4), o qual não consta mais do processo e, por isso, não é possível saber qual era seu conteúdo.
101. Ou seja, é importante ter em mente que a Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 24/2/2014,
sobre a qual o responsável foi ouvido em audiência, não foi o documento que fundamentou o orçamento
originalmente, mas foi elaborado posteriormente para atender os questionamentos da Auditoria. 102. Tem razão o responsável ao afirmar que a Nota Técnica de 24/2/2014 apresenta as três metodologias
por ele mencionadas, fato já abordado no Relatório de Fiscalização (peça 48, p. 29-30). Na oportunidade, o
próprio Dnit explicou que a estimativa realizada com base na atualização do projeto executivo havia sido descartada por se basear em procedimentos simplificados e que a utilização do Custo Médio Gerencial também
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foi afastada por ter destoado muito das demais, de modo que se utilizou a metodologia baseada nos custos de outras obras.
103. Ou seja, embora se tenha tentado estimar o valor por meio de outros dois procedimentos, eles foram
considerados inadequados pelo próprio Dnit e o efetivamente adotado foi aquele no qual a fiscalização indicou as deficiências ora indicadas.
104. Para justificar a adoção dos empreendimentos indicados na Nota Técnica, o responsável argumenta
que eles foram considerados similares à obra em tela a partir dos parâmetros topografia, tráfego e custo global por km, de modo que estariam qualificados a serem considerados apesar de não possuírem a mesma solução
para o revestimento do pavimento.
105. Esses argumentos não merecem ser acatados. Primeiro porque não se demonstrou que os parâmetros
listados pelo respondente guardam semelhança nas obras consideradas e/ou com a obras da BR-316/AL. O momento ideal para se demonstrar essa semelhança seria na própria Nota Técnica, justificando a escolha
daqueles empreendimentos, o que não ocorreu. Tampouco foi feito no momento da apresentação das razões de
justificativa em resposta à audiência. Segundo porque os elementos existentes demonstram bastante divergência entre os parâmetros, conforme registrado na peça 11 - Análise da nota técnica justificativa do orçamento, de
24/2/2014.
106. Nem mesmo os preços globais por km, mencionado pelo respondente, têm semelhança: o Contrato 13 00023/2008 totaliza R$ 775.380,16/km, a metade dos Contratos 14 00708/2010 (R$ 1.462.207,80/km) e
11 00148/2009 (R$ 1.400.853,30/km) e um terço do Contrato 05 00883/2009 (R$ 2.115.587,44/km),
considerando os preços atualizados para setembro/2013, obtidos da Nota Técnica Justificativa do Orçamento de
24/2/2014 (peça 33, p. 32) 107. Também as alegadas semelhanças de topografia não foram corroboradas por nenhum elemento, seja
na própria Nota Técnica, seja nas razões de justificativa.
108. Ou seja, não há razões para se denominar as obras utilizadas na Nota Técnica como “similares”. 109. O argumento de que a atualização do orçamento do projeto executivo teria apresentado valores
semelhantes aos encontrados pela parametrização, resultando no entendimento de não haver necessidade da
adoção de um número maior de obras não sustenta as deficiências existentes na metodologia utilizada, em
especial porque o próprio Dnit já havia descartado o resultado da atualização do orçamento do projeto executivo tal como foi feito.
110. Defende-se, ainda, que a discretização do cálculo por família/disciplina teria permitido avaliar as
particularidades que cada família de disciplina apresentou. Trata-se, no entanto, de uma afirmativa sem nenhum fundamento fático. Os cálculos foram feitos de maneira semelhante em todas elas: custo total de cada família no
contrato dividido pela extensão do contrato e corrigido para a mesma data-base. A única particularidade
decorrente da separação em famílias foi o uso de índices de correção referentes aos tipos de serviços envolvidos em cada uma. Não existiu nenhuma análise que avaliasse eventuais diferenças em relação à obra em questão e
resultasse em correção das distorções. Cita-se, como exemplo, a pavimentação, que apresenta soluções bastante
diferentes entre as duas obras adotadas e com a obra da BR-316/AL, mas que teve essa diferença totalmente
desconsiderada (peça 33, p. 38). Essa família, inclusive, corresponde a 35,73% do valor total estimado para o contrato (peça 33, p. 8), o que afasta a alegação de que valores destoantes somente foram observados em
famílias de serviços com baixa representatividade no custo global do empreendimento.
111. Enfim, os argumentos trazidos para defender o teor da Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014 não merecem acolhimento por não guardarem correspondência com o próprio teor do documento, por
não serem corroborados por elementos comprobatórios ou por serem refutados a partir de outros elementos. Não
houve apresentação de argumentos com vistas a justificar as discrepâncias indicadas na peça 11 - Análise da nota técnica justificativa do orçamento, de 24/2/2014.
D. Audiência do senhor Roger da Silva Pêgas
112. O sr. Roger da Silva Pêgas foi instado a apresentar suas razões de justificativa por meio do
Ofício 422/2014-TCU/SecobRodovia (peça 55), cuja ciência data de 30/7/2014 (peça 60), e apresentou sua resposta por meio do documento acostado à peça 73.
113. Sua audiência decorre de atos realizados quando exercia o cargo de Diretor de Infraestrutura
Rodoviária do Dnit. Foi feita nos seguintes termos: Conforme delegação de competência conferida pelo Relator, e ante a análise realizada no processo de
Relatório de Auditoria nas obras da BR-316/AL - Divisa PE/AL – Entr. BR-423/AL (Carié), foi determinada a
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audiência de Vossa Senhoria, na qualidade de Diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-Dnit, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da
presente comunicação, com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992,c/c art. 250, inciso IV, do
Regimento Interno do TCU, apresente razões de justificativa pelo indício de irregularidade observado no Edital de Licitação RDC presencial no 696/2013-00, e que consiste:
a) Na apresentação, em 16/12/2013 – por intermédio do item IV do expediente encaminhado à
Coordenação-Geral de Cadastro e Licitações/DIREX – de esclarecimentos relativos aos apontamentos efetuados pela Procuradoria Federal Especializada da autarquia acerca da ausência de justificativas técnica e econômica
para a escolha do regime da contratação integrada para o certame, os quais não se subsomem aos requisitos
legais; esclarecimento este que contribuiu para a continuidade do certame, não obstante mantido o vício na
motivação do ato administrativo, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, incisos I, II e III c/c art. 20, § 1º, incisos I e II, todos da Lei 12.462/2011, bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de
Contas por meio dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e
9.2 do Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário. (3.6 do Relatório de Fiscalização anexo por cópia). D.1. Razões de justificativa do senhor Roger da Silva Pêgas (peça 73)
114. O responsável inicia sua manifestação destacando a importância socioeconômica do
empreendimento (p. 2). Segue apresentando um histórico do processo de contratação das obras, iniciando com a aprovação do projeto, em 2010, passando pela tentativa de licitação anterior por meio do Edital 583/2010-00,
em 2011-2012, sua inclusão no PAC, a definição pela nova licitação na modalidade Contratação Integrada e a
publicação do Edital 696/2013-00, em 2013, e a anulação do certame, em 2014. Ressalta que a anulação do
edital afastou qualquer possibilidade de dano ao Erário (p. 2-3). 115. A partir daí, passa a destacar os dispositivos da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC), em especial aqueles
a seguir transcritos.
Art. 8º Na execução indireta de obras e serviços de engenharia, são admitidos os seguintes regimes: I - empreitada por preço unitário;
II - empreitada por preço global;
III - contratação por tarefa;
IV - empreitada integral; ou V - contratação integrada.
§ 1º Nas licitações e contratações de obras e serviços de engenharia serão adotados, preferencialmente, os
regimes discriminados nos incisos II, IV e V do caput deste artigo. § 2º No caso de inviabilidade da aplicação do disposto no § 1o deste artigo, poderá ser adotado outro
regime previsto no caput deste artigo, hipótese em que serão inseridos nos autos do procedimento os motivos
que justificaram a exceção. (...)
Art. 9º Nas licitações de obras e serviços de engenharia, no âmbito do RDC, poderá ser utilizada a
contratação integrada, desde que técnica e economicamente justificada e cujo objeto envolva, pelo menos, uma
das seguintes condições: (Redação dada pela Lei nº 12.980, de 2014) I - inovação tecnológica ou técnica; (Incluído pela Lei nº 12.980, de 2014)
II - possibilidade de execução com diferentes metodologias; ou (Incluído pela Lei nº 12.980, de 2014)
III - possibilidade de execução com tecnologias de domínio restrito no mercado. (Incluído pela Lei nº 12.980, de 2014)
§ 1º A contratação integrada compreende a elaboração e o desenvolvimento dos projetos básico e
executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização de testes, a pré-operação e todas as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto.
§ 2º No caso de contratação integrada:
(...)
II - o valor estimado da contratação será calculado com base nos valores praticados pelo mercado, nos valores pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou na avaliação do custo global da obra,
aferida mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica. (Redação dada pela Lei nº
12.980, de 2014) III - será adotado o critério de julgamento de técnica e preço. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº
12.980, de 2014)
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
§ 3º Caso seja permitida no anteprojeto de engenharia a apresentação de projetos com metodologias
diferenciadas de execução, o instrumento convocatório estabelecerá critérios objetivos para avaliação e
julgamento das propostas.
(...) Art. 20. No julgamento pela melhor combinação de técnica e preço, deverão ser avaliadas e ponderadas as
propostas técnicas e de preço apresentadas pelos licitantes, mediante a utilização de parâmetros objetivos
obrigatoriamente inseridos no instrumento convocatório. § 1º O critério de julgamento a que se refere o caput deste artigo será utilizado quando a avaliação e a
ponderação da qualidade técnica das propostas que superarem os requisitos mínimos estabelecidos no
instrumento convocatório forem relevantes aos fins pretendidos pela administração pública, e destinar-se-á
exclusivamente a objetos: I - de natureza predominantemente intelectual e de inovação tecnológica ou técnica; ou
II - que possam ser executados com diferentes metodologias ou tecnologias de domínio restrito no
mercado, pontuando-se as vantagens e qualidades que eventualmente forem oferecidas para cada produto ou solução. (grifos na manifestação do responsável)
116. Daí conclui o responsável:
Uma perfunctória leitura das conclusões acima aludidas, que tratam do regime de contratação integrada, no âmbito da citada Lei 12.462/2011, revela aparentemente algumas antinomias entre elas, o que está a exigir
uma interpretação mais aprofundada, vez que a interpretação meramente gramatical impediria a utilização
preferencial daquele regime, o que evidentemente não se coaduna com a melhor hermenêutica.
117. A antinomia estaria no fato de que a submissão do regime de Contratação Integrada às hipóteses do art. 20, § 1º, incisos I e II poderia restringir sua aplicação à excepcionalidade, o que afrontaria o § 1º do art. 8º
(p. 5-6).
118. Haveria outra contradição entre o inciso II do art. 20 e o § 3º do art. 9º, a partir da qual considera forçoso admitir que o conceito de “metodologias diferenciadas de execução” é distinto do de metodologias ou
tecnologias de domínio restrito no mercado.
119. Diante desses conflitos, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) teria formulado
consulta à Advocacia-Geral da União (AGU) por meio do Aviso 190/MP, de 4/10/2012, solicitando manifestação e entendimentos a respeito da abrangência da contratação integrada, prevista nos arts. 8º e 9º da
Lei Federal 12.462/2011, sobretudo quanto à adoção do regime de contratação integrada estar restrita as
hipóteses previstas nos incisos I e II do § 1º do art. 20 ou, não o sendo, quanto a qual o âmbito de abrangência delimitado pela Lei para adoção deste regime (p. 6-7).
120. Ao tratar do Parecer AGU/RA-03/2012 (peça 76), por meio do qual foi respondido a consulta do
MPOG, o responsável traça considerações preliminares relativas ao contexto em que foi introduzido o RDC, em meio à necessidade de obras para os eventos esportivos de 2013 a 2016. Entende, pela leitura do art. 1º, que a
legislação propiciou, aos gestores, a oportunidade de atendimento dos princípios basilares da Administração
Pública, dentre os quais se destacam os da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
segurança jurídica, interesse público e eficiência, na consecução de obras públicas com agilidade necessária (p. 7-8).
121. Insistindo na existência de pontos controversos na legislação, invoca ensinamento de Carlos
Maximiliano, segundo o qual qualquer interpretação que leve a inaplicabilidade de um instituto não pode ser considerada a melhor interpretação.
122. Assim, afirma que o legislador teria determinado que, nas licitações para contratação de obras e
serviços de engenharia, o regime de contratação integrada, juntamente com os de empreitada por preço global e empreitada integral, fosse preferencial, o que implicaria que a interpretação a ser dada aos dispositivos que
tratam da modalidade de contratação integrada deve permitir que tal forma de contratação seja realmente
utilizada de forma ordinária e não de forma excepcional.
123. Desse modo, caso a hipótese do art. 20, inciso I, fosse utilizada como critério para utilização do regime de contratação integrada de obras e serviços de engenharia, esta restaria inviabilizada pois obras/serviços
de engenharia com potencial de inovação tecnológica ou técnica são raras. É o mesmo entendimento registrado
no Parecer da AGU. Ou seja, a via determinada pelo art. 20 não seria viável para a contratação integrada. Restaria, portanto, a justificativa técnica e econômica exigida no caput do art. 9º como única condicionante (sine
qua non) para que o gestor delibere pela opção de contratação integrada (p. 8-10).
333
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
124. Então, defende o responsável que, numa relação direta entre o fato apurado e os entendimentos
legais e doutrinários sobre a matéria, nota-se que houve por parte do gestor o devido cumprimento da condição
de justificar técnica e economicamente a escolha do modelo de licitação, conforme consta no processo
administrativo 50600.078897/2013-19 (peça 15, p. 16-17). Acrescenta que eventualmente possa ter ocorrido imprecisão nos termos da justificativa apresentada para o certame, mas não teria havido, em nenhum momento,
intenção do gestor em omitir ou burlar a regra legalmente estabelecida (p. 10-11).
125. No que diz respeito ao apontado descumprimento dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, alega que a justificativa técnica e econômica das vantagens decorrentes da
utilização da Contratação Integrada foi devidamente feita pela DIR/DNIT no processo administrativo
50600.078897/2013-19 (peça 15, p. 16-17), bem como, todas as definições sobre a matriz de risco. Reforça,
ainda, que eventualmente possa ter ocorrido uma imprecisão na forma de explanar tais justificativas, o que não poderia resultar em imputar à administração uma possível omissão, negligência ou infringência ao que se
estabelece na legislação e nas determinações deste Tribunal (p. 11-13).
126. Em relação à justificativa técnica apresentada no processo administrativo 50600.078897/2013-19 (peça 15, p. 16-17), o responsável inicia defendendo que a exigência dessa justificativa pretende que se
demonstre que construir pela opção escolhida é a forma mais econômica para a Administração, garantindo a
observância dos princípios da economicidade e da eficiência. 127. Chama a atenção para o entendimento de que, por definição, as obras do PAC são consideradas
fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico do país, razão pela qual o leque de empreendimentos
elegíveis para se utilizar do RDC foi ampliado [pela Lei 12.688/2012] (p. 13-15).
128. Defendendo que o fator tempo em obra públicas, principalmente as do PAC, é de grande relevância, apresenta a contratação e aprovação do projeto de engenharia como atividade que representa um gargalo para
qualquer obra rodoviária do Dnit e a Contratação Integrada como solução para tal gargalo. Em razão da
possibilidade concreta de compressão do cronograma e a redução das hipóteses de revisão de projeto o Dnit tem optado preferencialmente por este tipo de contratação. Citando publicação sobre o RDC, afirma que a redução
média estimada no tempo de contratação é de 32% (p. 15-16).
129. Apresenta uma perspectiva mundial do uso do Design-Build, nome internacional para contratações
semelhantes à Contratação Integrada, indicando estudos que apontam a redução dos prazos em comparação à contratação convencional.
130. Defende que, para se justificar economicamente o regime de contratação a ser utilizado, deve-se
considerar o custo de oportunidade. Nesse caso, seriam os benefícios decorrentes de um menor prazo para a população diretamente afetada pela obra. Para essa obra em particular o responsável cita a melhoria das
condições de trafegabilidade, aumento da velocidade de tráfego e das condições de segurança para veículos e
pedestres (p. 16-19). 131. Contesta a defesa do uso da empreitada por preço unitário proposta no Relatório de Fiscalização,
citando livro que apresenta vantagens da empreitada por preço global e relação à por preço unitário,
acrescentado que o Dnit estaria percebendo os ganhos de prazo na prática. Reforça, ainda que a empreitada por
preço unitário é tratada como exceção no RDC. 132. Em relação à imprecisão inerente de quantitativos argumentada no Relatório de Fiscalização para
propor a empreitada por preço unitário, o responsável descreve características do projeto que tornaria tal
imprecisão baixa. 133. Ressalta que o desafio da obra é logístico, em especial devido à falta de água e de distribuidores de
produtos asfálticos na região. Essa realidade seria outro ponto a reforçar a escolha pela Contratação Integrada,
pois haveria a transferência destes riscos e incertezas ao contratado, que iria modelar a melhor combinação de soluções técnicas e logísticas para a obra, cabendo ao Dnit fiscalizar a qualidade do produto a receber.
134. Os efeitos dessas dificuldades na empreitada convencional seriam o atraso no cronograma de
aprovação dos projetos de engenharia e a aprovação dos projetos muitas vezes com problemas, gerando aditivos
de valor e prazo. Nesse sentido, o RDC e a contratação integrada propiciariam ao gestor uma opção para que seja reduzido o tempo para o início da execução da obra, e até para sua conclusão (p. 19-21).
135. Apresenta trechos doutrinários a respeito das vantagens de se compartilhar riscos por meio da
Contratação Integrada, transferindo para a contratada aqueles relativos à elaboração do projeto e execução da obra, acrescentando que se trata de modelagem semelhante à empregada em concessões (p. 21-23).
334
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
136. Pondera que a justificativa técnica e econômica apresentada pela DIR consta explicitamente no
processo, mas teria sido considerada insuficiente pela Unidade Técnica do TCU. Acrescenta que o requisito é
falha formal, sem efeito prático, visto que não implicaria em alteração da decisão tomada pela Administração
em face do exposto. Reforça seu posicionamento afirmando que a licitação foi anulada e que a instrução de um novo processo indicaria da mesma forma o regime de Contratação Integrada (p. 23). [Em 5/3/2015 foi lançado o
Edital 52/2015-00 no regime de Contratação Integrada].
137. Apresenta dados disponíveis ao gestor, quando da tomada da decisão, em relação aos prazos para contratação, desenvolvimento e aprovação de projetos, além dos atrasos de obra decorrentes de revisões de
projeto em fase de obra. Desse modo, a opção pelo regime de Contratação Integrada traria uma economia de 42
meses (3 anos e 6 meses).
138. Apresenta, ainda, gráfico com os resultados das licitações, das quais 128 de 157 (81,5%) haviam sido homologadas entre 2012 e 2014.
139. Desse modo, afirma que a adoção da Contratação Integrada é estratégia do Dnit, com a chancela do
Ministério dos Transportes e do Ministério do Planejamento, que teria resultado na melhor execução da história do Dnit no ano de 2014 (p. 23-25).
140. Diante disso, afirma que sua atuação diante da situação analisada foi concebida de acordo com a
estratégia administrativa adotada pelo Dnit, obedecendo-se fielmente a rotina administrativa para contratação de obras e serviços de engenharia.
141. Além das análises técnicas, argumenta que houve parecer da Procuradoria Federal Especializada
favorável à adoção da Contratação Integrada naquela licitação. A Diretoria Colegiada do Dnit também se
manifestou favoravelmente ao uso daquele regime. Também não há nenhum elemento que caracterize má-fé em sua atuação. Por fim, não houve dano ao erário decorrente da sua atuação. Diante de toda essa situação, não
haveria que se falar em culpa do ex-gestor (p. 26-27).
142. Seu pedido, portanto, é que sejam acolhidas suas justificativas, diante das ausências de culpa, má-fé e prejuízo ao erário.
D.2. Análise
143. A defesa da preferência pela Contratação Integrada com base no Parecer AGU/RA-03/2012 não se
sustenta porque a utilização da interpretação utilizada no parecer já havia sido afastada, à época da escolha do regime para a licitação 696/2013-00, pelo próprio Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário. As determinações
contidas nos itens 9.1.1 e 9.1.1.2 da decisão se basearam exatamente na análise daquele parecer, registrada nos
parágrafos 44 a 89 do Relatório e nos parágrafos 8 a 28 do Voto. Especificamente em relação às justificativas técnica e econômica, se encontram nos parágrafos 68 a 83 do Relatório e nos parágrafos 23 a 28 do Voto.
144. Ademais, o Acórdão, que decorreu de processo licitatório da Infraero, foi encaminhado também para
outros órgãos federais a fim de esclarecê-los tendo em vista o Parecer AGU/RA-03/2012. 65. Convém, finalmente, encaminhar cópia desta decisão, acompanhado do relatório e do voto que a
fundamentam, não somente à Infraero e ao Ministério do Esporte, como também ao Ministério do Planejamento,
ao Dnit e à Advocacia Geral da União, em razão do teor do Parecer-AGU/RA nº 03/2012. (Voto do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário) (...)
9.2. encaminhar cópia desta Acórdão, acompanhado do relatório e do voto que o fundamentaram:
(...) 9.2.4. ao Dnit; (Acórdão 1.510/201-TCU-Plenário)
145. O Dnit foi notificado do Acórdão por meio do Ofício 0221/2013-TCU/SecobEdif (peça 83), recebido
em 5/8/2013 (peça 84). Ou seja, não é admissível como argumento um parecer cuja interpretação foi afastada, decisão que já era de ciência do Dnit antes da escolha do regime licitatório.
146. O responsável considera cumprida a condição de justificar técnica e economicamente a escolha do
modelo de licitação. No processo da licitação, para atender as justificativas técnicas e econômicas exigidas na
Lei do RDC e requeridas no parecer da PFE/Dnit, foi apresentado o seguinte texto (peça 15, p. 16-17): IV - letra ‘g’ - Apresentar justificativa técnica e econômica para a utilização do regime de contratação
integrada - Esclarecemos que:
• A adoção de Contratação Integrada pelo DNIT, neste momento, é aplicável às obras que não possuem Projetos, mas que possuem cronograma executivo defasado, em relação à sua inserção no Programa de
Aceleração do Crescimento - PAC;
335
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
• A atribuição ao particular para a elaboração de Projetos permite que a iniciativa privada apresente
soluções técnicas equivalentes ou superiores àquelas que o DNIT já identificou. Contudo, essas soluções
melhoradas podem representar um custo inferior ao que o DNIT previa, tendo em vista a expertise das empresas
projetistas e construtoras e as condicionantes regionais que somente as mesmas dominam; • Em termos econômicos, entendemos que a vantajosidade se dará pela celeridade da contratação, e pela
integração projeto + execução da obra, tal qual se faz na iniciativa privada.
147. Essas afirmações são teses, hipóteses. Podem até resultar em justificativa para a adoção do regime de Contratação Integrada, desde que demonstradas no caso concreto em confronto com as outras opções de
contratação possíveis, quais sejam, os outros regimes preferencias preconizados no art. 8º, § 1º c/c art. 9º, § 3º
da Lei 12.462/2011. O item 9.1.4 do Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário e os parágrafos 77 e 78 de seu Voto
condutor tratam especificamente desse assunto. 148. Por exemplo: avaliar o atraso do cronograma e seu impacto em termos econômicos; analisar se o tipo
e a complexidade do projeto comportam outras soluções e se elas podem resultar em vantagem da
Administração; se a possível redução de custos proveniente de outras soluções representaria redução do preço pago ou simplesmente acréscimo da margem da contratada; quantificação das vantagens do adiantamento do
cronograma frente ao acréscimo dos custos decorrentes da transferência de riscos ao particular.
149. Nos esclarecimentos da DIR às exigências da PFE/Dnit (peça 15, p. 16-18) ou em outro documento do processo administrativo da licitação ou apresentado à fiscalização não há nada que indique que essas
hipóteses foram aplicadas no caso concreto, de modo que as justificativas se resumem a afirmações genéricas,
não podendo ser consideradas como justificativa técnico-econômica.
150. Em sua resposta à audiência (peça 73, p. 13-23), o responsável busca apresentar novas justificativas para a adoção da Contratação Integrada, baseadas, principalmente, na possibilidade de compressão do
cronograma com o afastamento do gargalo de contratação e aprovação do projeto básico, visto que “o fator
tempo em obras públicas, principalmente as do PAC, é notoriamente de grande relevância, afinal o custo varia em função do tempo”.
151. De fato, foram apresentados diversos argumentos para defender a redução do tempo de contratação,
bem como indicações de como esse ganho de prazo poderia se converter em ganhos econômicos. No entanto,
nem nesse momento foram indicados, de fato, a ordem de grandeza desses ganhos e se eles compensariam as perdas, por exemplo, com o aumento de custos decorrente da transferência de risco.
152. Também a possibilidade de a contratada apresentar soluções distintas tem seus ganhos potenciais
minimizados, diante das características da obra, descritas pelo responsável como “tecnicamente simples, com greide colado, baixo VMD, baixo risco hidrológico e geotécnico”.
153. Quer dizer, a avaliação não se trata simplesmente de indicar os prós do regime, mas uma avaliação
do equilíbrio entre prós e contras das possibilidades disponíveis, sempre aplicados ao caso concreto, sendo que a escolha do regime recai sobre aquele que apresenta a melhor relação entre as possibilidades disponíveis, como
consequência dessa ponderação. Do contrário se estará fazendo simplesmente uma defesa de um regime já
previamente escolhido independentemente de ser o mais vantajoso.
154. A própria doutrina apresentada, como é natural de toda doutrina que trata de vantagens de uma ou outra opção, trata de questões em tese, de possibilidades, que devem ser verificadas a cada caso concreto.
155. Defende o responsável que sua atuação foi concebida de acordo com a estratégia administrativa
adotada pelo Dnit. 156. Primeiramente, cumpre observar que era ele mesmo, como Diretor de Infraestrutura Rodoviária, o
responsável por administrar e gerenciar a execução de programas e projetos de construção, operação,
manutenção e restauração da infraestrutura rodoviária (inciso I do art. 80 do Regimento Interno do Dnit de 2007).
157. Segundo, se a estratégia tiver sido traçada na Diretoria Colegiada, única esfera superior – considera-
se essa possibilidade apenas como tese, já que o responsável não o disse nem trouxe os normativos, registros das
atas da Diretoria Colegiada, memorandos, e-mails ou outras comunicações internas em que essa orientação está registrada –, convém lembrar que o Diretor de Infraestrutura Rodoviária fazia parte do colegiado (art. 126,
inciso XI, do RI-Dnit/2007).
158. Não se descarta ainda que a estratégia, se oriunda da Diretoria Colegiada, pudesse ter sido decidida somente verbalmente nas reuniões. De qualquer maneira, seria extravagante imaginar que a orientação fosse
para se utilizar a Contratação Integrada em todas as licitações, independentemente de ser técnica e
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
economicamente viável, à revelia da disposição legal. Mais razoável crer que seria no sentido de se avaliar técnica e economicamente a possibilidade do uso da Contratação Integrada em todas as licitações a fim de optar
por esse regime sempre que possível.
159. Quanto à suposta existência de parecer da Procuradoria Federal Especializada favorável à adoção da Contratação Integrada, o que se verifica é o oposto: o Parecer 01116/2013/CONSULTORIA/PFE/DNIT
(peça 14, p. 46-54, e peça 15, p. 1-7) afirma:
63. Conforme se verifica no art. 9° da Lei n.° 12.462/2011, bem como no art. 73 do Decreto n.° 7.581/2011, ‘poderá ser utilizada a contratação integrada, desde que técnica e economicamente justificada.’
64. Não se trata de justificar a contratação, tampouco justificar a opção pelo RDC, mas sim a necessidade
de se justificar, técnica e economicamente, a utilização do regime de contratação integrada.
65. Tal situação exige que a Administração indique qual a viabilidade de se atribuir ao particular a elaboração dos projetos básico e executivo, justificando-se, por exemplo, ‘porque mais econômica,
seja por possibilitar agregar maior qualidade técnica à futura contratação’. (in O regime diferenciado de
contratações públicas. Coord. Marçal Justen Filho e Cesar A. Guimarães Pereira. Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2012, p. 152).
66. Dessa forma, mister que a Administração apresente essa justificativa, pois não a vislumbramos nos
autos. (...)
75. Diante do exposto, SMJ, uma vez atendidas as recomendações e sugestões emitidas no presente
Parecer, conclui-se que nada obsta o prosseguimento da contratação, tendo em vista a observância e adequação
com os dispositivos da legislação pertinente à matéria. Com efeito, a Administração deve adotar as seguintes providências:
(...)
g) apresentar justificativa técnica e econômica para utilização do regime de contratação integrada (parágrafo 66). (grifo nosso)
160. Essa, aliás, foi a razão pela qual o responsável elaborou o documento que trouxe a justificativa
questionada. Verifica-se, além disso, que os próprios parágrafos 64 e 65 do Parecer da PFE explicam em que
consiste a justificativa técnica e econômica. 161. Quanto à inexistência de dano ao erário, tal fato não afasta a reprovabilidade do ato, mas somente a
imputação de débito, o que sequer foi considerado em relação à irregularidade.
E. Avaliação das responsabilidades 162. Das análises das audiências realizadas nos parágrafos anteriores, resultou o acatamento das razões de
justificativa do sr. Fernando Fortes Melro Filho em relação à desatualização do Estudo de Tráfego (parte do
item a do Ofício 420/2014-TCU/SecobRodovia). 163. Quanto às demais irregularidades subsistentes, remanesce a mesma avaliação de responsabilidade já
registrada no Relatório de Fiscalização (peça 48), que será transcrita na forma de uma Matriz de
Responsabilização apresentada no Apêndice I ao final desta instrução.
164. A seguir, apresenta-se apenas duas informações relevantes a respeito da responsabilização dos senhores Fernando Fortes Melro Filho e Francisco de Assis Dias Xavier.
165. Em relação ao senhor Fernando Fortes Melro Filho, indica-se como fator agravante à irregularidade
referente às deficiências do anteprojeto sua reincidência em relação à negligência com projetos de obras rodoviárias do Dnit.
166. A Fiscalização 31/2011, tratada no TC 000.868/2011-6, de relatoria do min. Aroldo Cedraz, teve por
objeto o Edital 0427/2010-20, para contratação de empresa responsável pela execução de obras de manutenção rodoviária (conservação/recuperação) na BR-101/AL, km 0,0 a km 248,4.
167. Na oportunidade, verificou-se que o Plano Anual de Trabalho e Orçamento (PATO), nome dado ao
projeto de conservação rodoviária, desatendia as orientações do Manual de Conservação Rodoviária. Não havia
memória de cálculo elaborada na fase de projeto que justificasse os valores adotados. 168. Por meio do Acórdão 2.369/2015-TCU-Plenário (min. Raimundo Carreiro), o sr. Fernando Fortes
Melro Filho foi apenado com a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 20.000,00.
Restam recursos pendentes de julgamento, com proposta da Unidade Técnica para negar-lhes provimento.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
169. Quanto ao senhor Francisco de Assis Dias Xavier, indica-se como agravante o fato de ter alterado os
documentos referentes ao orçamento da obra após o questionamento da Auditoria para adequá-los às
justificativas apresentadas na Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014.
170. Tal fato se demonstra pelo seguinte conjunto de indícios: a) a licitação foi lançada com base em um orçamento definido a partir dos Custos Médios Gerenciais, na
data-base de novembro de 2012:
a.1) a informação acerca da data-base consta nos Atos Preparatórios, de 24/10/2013 (peça 13, p. 12, 14), e é corroborada no item II do expediente da DIR que apresenta os esclarecimentos solicitados pela PFE/Dnit
(peça 15, p. 16). Confere, também, com a data-base mencionada originalmente no Edital 696/2013-00 (peça 23,
p. 44 e 45); e
a.2) a informação acerca do método de estimação do preço consta do item II do expediente da DIR que apresenta os esclarecimentos solicitados pela PFE/Dnit (peça 15, p. 16).
b) a data-base da obra foi alterada após a apresentação das justificativas à Fiscalização:
b.1) a 2ª Errata do Edital 696/2013-00 (peça 26) foi publicada em 17/3/2014, alterando a data-base do orçamento (p. 1-2) e acrescentando o quadro com os percentuais das etapas sobre o preço global apresentado na
Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014 ao Anexo II – Critérios de pagamento e cronograma
físico-financeiro. c) o envelope com o orçamento elaborado originalmente foi substituído no respectivo processo:
c.1) o orçamento elaborado originalmente foi encaminhado à DIR em 19/11/2013 pelo então SR/AL, sr.
Fernando Fortes Melro Filho (peça 86, arquivo “01 - processo 50600.093616-2013-58”, p. 4);
c.2) em 26/3/2014 o envelope foi substituído por um que continha a Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014 (peça 86, arquivo “02 - Envelope Nota Técnica”, e arquivo “01 - processo
50600.093616-2013-58”, p. 40).
CONCLUSÃO 171. A Fiscalização 53/2014, realizada no período de 3/2/2014 a 26/3/2014 sobre o Edital RDC
Presencial 696/2013-00, destinado à contratação integrada de empresa com vistas a prestação de serviços
técnicos especializados de engenharia para a elaboração dos projetos básico e executivo e execução das obras de
implantação e pavimentação da Rodovia BR-316/AL no segmento compreendido entre os quilômetros 0,00 e 49,00, resultou em sete achados de auditoria (peça 48).
172. Diante desses indícios, e atendendo a despacho do Secretário, foram realizadas a oitiva do Dnit
(peça 54, resposta às peças 63 e 75) e a audiência dos senhores Fernando Fortes Melro Filho, então Superintendente Regional do Dnit no Estado de Alagoas (peça 52, resposta à peça 62), Francisco de Assis Dias
Xavier, então Superintendente Regional substituto (peça 53, resposta à peça 61), e Roger da Silva Pêgas, então
Diretor de Infraestrutura do Dnit (peça 55, resposta à peça 73). 173. A oitiva do Dnit consistiu em quatro pontos: ausência de processo administrativo específico para o
desenvolvimento do anteprojeto de engenharia; ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do
controle do tramite de orçamentos e outros documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada
do RDC; inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no edital; e publicação do edital sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de referência.
174. A Autarquia não apresentou manifestação sobre o primeiro ponto. Quanto ao segundo, não se
manifestou em relação ao indício de irregularidade, se limitando a buscar afastar a competência de um determinado setor sem informar qual seria a área responsável pela regulamentação e sem apresentar a
manifestação dessa unidade. Em contato telefônico o Dnit informou que não possui tal regulamentação, mas que
também não tem mais adotado orçamento sigiloso em suas licitações já há algum tempo (parágrafos 19 a 22). 175. A manifestação em relação ao terceiro ponto também buscou afastar a competência de um setor sem
apresentar a manifestação da unidade responsável ou qualquer outra capaz de afastar a existência da
irregularidade (parágrafos 23 a 24).
176. Por fim, os argumentos apresentados em relação ao critério de julgamento da proposta técnica não devem ser acolhidos. Embora se tenha demonstrado sua diferença em relação aos critérios de habilitação, não se
demonstrou que ele pontua as vantagens e qualidades que eventualmente forem oferecidas para cada produto ou
solução, conforme art. 20, inciso II, da Lei 12.462/2011 (parágrafos 25 a 32). 177. Persistiram, portanto, todas as irregularidades objeto da oitiva. Considerando que o Edital
696/2013-00 foi anulado, o que não afasta a ocorrência das irregularidades, mas apenas a possibilidade de se
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
propor atuação sobre aquele procedimento licitatório, convém dar ciência à Autarquia das irregularidades verificadas para evitar sua repetição em certames futuros.
178. Particularmente em relação à ausência de processo administrativo para o desenvolvimento do
anteprojeto, a ciência não fará referência à Portaria-Dnit 657/2013 porque, conforme tratado ao longo dessa instrução, esse normativo já foi revogado.
179. A audiência do sr. Fernando Fortes se baseou nos achados relacionados a: deficiência e
desatualização do anteprojeto; ausência de portaria de aprovação do anteprojeto; utilização de metodologia deficiente e inadequada para definir o orçamento de referência da obra; e escolha do regime de Contratação
Integrada sem apresentar as necessárias justificativas técnica e econômica.
180. As razões de justificativa apresentadas em relação à deficiência do anteprojeto e à ausência de
portaria de aprovação se basearam em suposta ineficácia da Portaria-Dnit 657/2013, usada como critério de auditoria, por ela ter sido revogada à época dos fatos. No entanto, a revogação ocorreu somente após a
conclusão dos atos relativos ao anteprojeto, de modo que a Portaria é, de fato, o critério a ser adotado
(parágrafos 52 a 55 e 62). 181. Também se argumentou que os elementos ausentes no anteprojeto existiam e eram de conhecimento
do Dnit, o que não afasta a irregularidade, visto que não adianta o Dnit ter os elementos de projeto se eles não
forem incorporados ao anteprojeto e disponibilizados aos licitantes (parágrafos 56 a 59). 182. O indício de desatualização do anteprojeto, especificamente em relação aos estudos de tráfego, foi
afastado, especialmente em face das disposições do Manual de Estudos de Tráfego do Dnit, que permite, para
projetos, até 20 anos entre a realização dos levantamentos e o fim da vida útil do projeto, considerando vida útil
de 15 anos. Como aqui se trata de anteprojeto, o intervalo de 21 anos não é inaceitável (parágrafos 60 a 61). 183. No tocante à inadequação e deficiência da metodologia utilizada para a estimação do orçamento, o
ex-gestor se manifestou em relação à Nota Técnica de 24/2/2014, elaborada pelo seu substituto, embora os
termos da audiência e o Relatório de Fiscalização tenham sido bastante claros de que a conduta questionada se referia à Nota Técnica de 10/2/2014, elaborada por ele (parágrafos 63 a 65). No entanto, dada a semelhança
entre os dois documentos, suas alegações, na maioria, se aplicam também à Nota Técnica de 10/2/2014.
184. Defendeu-se que as duas obras consideradas para as estimativas são semelhantes à obra licitada em
alguns pontos, muito embora não tenha sido apresentado nenhum elemento dos projetos que suportasse tal afirmação. Os argumentos foram afastados diante das características que foram passíveis de levantamento e que
já haviam sido apontadas na fiscalização (parágrafos 66 a 70).
185. Foi defendido que a metodologia possuía um grau de refinamento tal que permitiu avaliar as particularidades de cada família de disciplinas que compunha os orçamentos e que distorções mais significativas
somente se verificaram em famílias pouco relevantes. Isso também foi afastado, já que na Nota Técnica não se
fez nenhum tratamento sobre particularidades das disciplinas, o que está explicitamente escrito no próprio documento, e distorções se verificaram em famílias relevantes, a exemplo da pavimentação, que correspondeu a
38,73% do orçamento global (parágrafos 71 a 73).
186. Em relação à escolha da Contratação Integrada, afastou-se a aplicação dos incisos I, II e III do art. 9º
da Lei 12.46.2/2011 porque eles somente foram incluídos no texto por Medida Provisória posterior ao ato administrativo. Isso, no entanto, não prejudicou o apontamento da irregularidade (parágrafos 74 a 78).
187. O responsável defendeu que as justificativas técnica e econômica não estavam ausentes, mas foram
apresentadas e consideradas insuficientes, o que não merece acatamento, já que a motivação apresentada pelo responsável nos atos preparatórios da licitação não guarda nenhuma característica de justificativa técnica ou
econômica (parágrafos 79 a 84).
188. Por fim, o responsável afirmou que não encontrou relação entre o Acórdão 1.917/2013-TCU-Plenário (min. José Múcio), mencionado no ofício de audiência, com o objeto da
licitação. De fato, verificou-se que houve erro na menção à decisão no ofício, já que o corpo do Relatório de
Fiscalização cita e transcreve o Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário (min. Valmir Campelo). No entanto, avalia-
se que o artifício do responsável de apegar-se a este erro formal não pode ser entendido como cerceamento de defesa, já que seu saneamento pelo era possível com a leitura do Relatório de Fiscalização, que foi em anexo ao
ofício e que era de conhecimento do responsável, dado o teor de sua manifestação em relação a outros pontos
(parágrafos 85 a 89). 189. Desse modo, à exceção da desatualização do anteprojeto, persistiram todas as irregularidades pelas
quais o sr. Fernando Fortes Melro Filho foi chamado em audiência. Em relação à sua culpabilidade, se mantém
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
a avaliação realizada na fiscalização, acrescentando, como fator agravante, a reincidência do responsável em irregularidades relativas à negligência com projetos de obras rodoviárias, com base no TC 000.868/2011-6 (min.
Aroldo Cedraz), em cujo âmbito ele foi apenado com a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992
(Acórdão 2.369/2015-TCU-Plenário, min. Raimundo Carreiro) (parágrafos 165 a 168). 190. Por essas razões, propõe-se a aplicação de multa ao responsável, com fundamento no art. 58, inciso
II, da Lei 8.443/1992.
191. O sr. Francisco de Assis foi ouvido pela utilização de metodologia deficiente e inadequada para definir o orçamento de referência da obra. Importa mencionar que a Nota Técnica de sua autoria, datada de
24/2/2014 não foi o documento que fundamentou o orçamento originalmente, mas foi elaborado posteriormente
para atender os questionamentos da Auditoria (parágrafos 99 a 101).
192. Seus argumentos buscaram comprovar que as quatro obras consideradas para as estimativas são semelhantes à obra licitada em alguns pontos, mas não foram apresentados elementos que suportassem tal
afirmação. Os argumentos foram afastados diante das características que foram passíveis de levantamento e que
já haviam sido apontadas na fiscalização (parágrafos 104 a 108). 193. Também os argumentos de que a metodologia permitiu avaliar as particularidades de cada família de
disciplinas que compunha os orçamentos e que distorções mais significativas somente se verificaram em
famílias pouco relevantes não foram acatados, já que a Nota Técnica não fez nenhum tratamento sobre particularidades das disciplinas e distorções se verificaram em famílias relevantes (parágrafos 109 a 111).
194. Persistiu, portanto, a irregularidade. A avaliação de culpabilidade realizada na fiscalização também
segue válida, acrescentando, como agravante, o fato de o responsável ter alterado os documentos referentes ao
orçamento da obra após o questionamento da Auditoria para adequá-los às justificativas apresentadas na Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014 (parágrafos 169 a 170).
195. Por essas razões, propõe-se a aplicação de multa ao responsável, com fundamento no art. 58, inciso
II, da Lei 8.443/1992. 196. A audiência do sr. Roger Pêgas decorreu da escolha do regime de Contratação Integrada sem que
fossem apresentadas as necessárias justificativas técnica e econômica.
197. O responsável buscou fundamentar a preferência dada à Contratação Integrada, inicialmente, no
Parecer AGU/RA-03/2012, elaborado em atendimento a consulta do Ministério do Planejamento a respeito dos critérios necessários para se adotar esse regime. Mas esse critério deve ser de pronto afastado, visto que a
interpretação presente no parecer já havia sido afastada pelo Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário (min. Valmir
Campelo), do qual o Dnit foi cientificado (parágrafos 143 a 145). 198. O ex-gestor considerou cumprida a apresentação das justificativas técnicas com sua manifestação
dentro do processo licitatório. Esse argumento também não merece ser acolhido, já que a motivação apresentada
não guarda as características necessárias de justificativa técnica ou econômica, pois se resumiu a argumentos sem a demonstração de sua validade no caso concreto, tampouco trata sobre a melhor relação entre vantagens e
desvantagens da Contratação Integrada, no caso concreto, sobre os outros regimes preferenciais possíveis
(parágrafos 146 a 149).
199. O responsável trouxe, ainda, novas justificativas para a adoção da Contratação Integrada, baseadas, principalmente, na possibilidade de compressão do cronograma com o afastamento do gargalo de contratação e
aprovação do projeto básico. No entanto, nem nesse momento foram indicados, de fato, a ordem de grandeza
desses ganhos e se eles compensariam as perdas, por exemplo, com o aumento de custos decorrente da transferência de risco. Se a argumentação se resume a indicar os prós do regime – qualquer que seja ele –, sem
uma avaliação do equilíbrio entre prós e contras das possibilidades disponíveis, sempre aplicados ao caso
concreto, para que a escolha do regime recaia sobre aquele que apresenta a melhor relação entre as possibilidades disponíveis, como consequência dessa ponderação, se estará fazendo simplesmente uma defesa
de um regime já previamente escolhido independentemente de ser o mais vantajoso (parágrafos 150 a 154).
200. Argumenta, ainda, que sua atuação foi concebida de acordo com a estratégia administrativa adotada
pelo Dnit. Primeiramente, cumpre observar que ele mesmo, como Diretor de Infraestrutura Rodoviária, era o responsável por administrar e gerenciar o programa de construção rodoviária. Ainda que tal orientação tivesse
partido da Diretoria Colegiada, hipótese que carece de comprovação em normativos ou registros, ele era
participante desse colegiado. Além disso, ainda que a estratégia administrativa fosse de utilizar ao máximo a Contratação Integrada, isso jamais poderia ser feito à revelia da lei, ou seja, o regime poderia ser utilizado
sempre que fossem atendidas as condições legais (parágrafos 155 a 158).
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
201. Por fim, o argumento de que havia parecer da Procuradoria Federal Especializada favorável à adoção
da Contratação Integrada naquela licitação não é verídico. O Parecer 01116/2013/CONSULTORIA/PFE/DNIT,
ao contrário, indica a ausência da justificativa exigida pela lei. Essa, inclusive, foi a razão para o responsável
elaborar sua justificativa, ora contestada (parágrafos 159 a 160). 202. Por essas razões, propõe-se a aplicação de multa ao responsável, com fundamento no art. 58, inciso
II, da Lei 8.443/1992.
203. Por fim, verifica-se a existência de peças classificadas como sigilosas no processo. As de número 10, 11, 16, 24, 32, 33, 34, 41 e 50 possuem essa classificação porque tratam do orçamento do Edital 696/2013-00,
que era sigiloso. No entanto, o edital já foi anulado e a nova licitação para a contratação das obras, Edital
52/2015-00, já foi concluída, de modo que não subsistem as razões para classificar as peças como sigilosas,
tendo em vista o art. 5º, § 4º, da Resolução-TCU 254/2013. Já as peças 65 e 69, que tratam de comunicação sobre autorização de prorrogação de prazo, não se enquadram nas características descritas na Resolução.
204. Por essa razão, propõe-se alterar a classificação dessas peças para públicas, conforme art. 5º, § 1º, da
Resolução-TCU 254/2013 e inciso III do art. 9º da mesma Resolução.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
205. Diante do exposto, submetem-se os autos à consideração superior propondo:
a) acolher parcialmente as razões de justificativa do sr. Fernando Fortes Melro Filho (CPF 787.303.504-25) para, com fundamento nos art. 45, inciso III, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 250, § 2º, do
Regimento Interno do TCU, aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II c/c o art. 268, inciso II, do
Regimento Interno do TCU pelas seguintes irregularidades relativas ao Edital 696/2013-00, praticadas na
condição de Superintendente Regional do Dnit no Estado de Alagoas: a.1) anteprojeto de Engenharia deficiente, em afronta ao estabelecido no art. 9º, § 2º, inciso I, alínea ‘a’,
da Lei 12.462/2011 c/c art. 74, inciso I e § 3º, ambos do Decreto 7.581/2011, na medida em que ele não
contempla os elementos mínimos necessários estabelecidos nos itens 4.1, 5.1.1, 5.1.3, 5.1.4, 5.1.5 e 5.1.6 do Anexo à Portaria-Dnit 657 de 12/7/2013, tendo como agravante a reincidência do responsável em
irregularidades relativas à negligência com projetos de obras rodoviárias, conforme
Acórdão 2.369/2015-TCU-Plenário;
a.2) ausência de portaria de aprovação do Anteprojeto de Engenharia (anexo III do edital), em afronta ao que estabelecia o item 3.1 do Anexo à Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013;
a.3) utilizar, por intermédio da Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 10/2/2014, metodologia
deficiente e inadequada para definir o orçamento e preço de referência da obra rodoviária objeto do certame, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da Lei 12.462/2011 c/c art. 75 do Decreto
7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013, bem como contrariando
entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que:
a.3.1) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se
pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços;
a.3.2) utiliza apenas duas obras para servir de referência de preço, sendo que uma delas foi executada majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto
Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos
onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado; a.3.3) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
a.3.4) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas
como paradigma; e a.3.5) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das duas obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da
inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas duas obras).
a.4) escolher, por intermédio do item I, do documento Atos Preparatórios, de 24/10/2013, o regime da contratação integrada do Regime Diferenciado de Contratações para o certame, sem apresentar as necessárias
justificativas técnica e econômica, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º c/c o art. 20, § 1º, incisos I
e II, ambos da Lei 12.462/2011, bem como contrariando entendimento firmado por meio dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e 9.2 do
Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário.
341
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b) rejeitar as razões de justificativa do sr. Francisco de Assis Dias Xavier (CPF 207.968.384-53) para,
com fundamento nos art. 45, inciso III, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 250, § 2º, do Regimento Interno do TCU,
aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II c/c o art. 268, inciso II, do Regimento Interno do TCU pela
seguinte irregularidade relativa ao Edital 696/2013-00, praticada na condição de Superintendente Regional do Dnit no Estado de Alagoas substituto, tendo, como agravante da conduta, o fato de ele ter alterado os
documentos referentes ao orçamento da obra após o questionamento da Auditoria para adequá-los às
justificativas apresentadas na Nota Técnica Justificativa do Orçamento de 24/2/2014: b.1) utilização, por intermédio da Nota Técnica Justificativa do Orçamento, de 24/2/2014, metodologia
deficiente e inadequada para definir o orçamento e o preço de referência da obra rodoviária objeto do Edital de
Licitação RDC presencial no 696/2013-00, infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da
Lei 12.462/2012 c/c art. 75 do Decreto 7.581/2011 e nos itens 3.1 e 5 do Anexo à Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013, bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.5 e 9.1.6
do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário, na medida em que:
b.2) não guarda relação de similaridade entre os parâmetros do anteprojeto da rodovia cujo preço se pretende estimar e os parâmetros de projeto das rodovias selecionadas para compor a referência de preços;
b.3) utiliza apenas quatro obras para servir de referência de preço, sendo que três delas foram executadas
majoritariamente com uma solução de revestimento de pavimento mais onerosa, qual seja, CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), em vez de TSD (Tratamento Superficial Duplo), que é uma solução menos
onerosa e indicada pelos estudos de tráfego existentes no anteprojeto ora licitado;
b.4) adota o cálculo simplista do preço de cada família de serviços por quilômetro de rodovia;
b.5) resulta em elevada discrepância entre os preços por quilômetro das famílias de serviços usadas como paradigma; e
b.6) adota a média aritmética simples dos preços por quilômetro das famílias de serviços das quatro obras
escolhidas como paradigma, sem possibilidade de exclusão dos valores discrepantes, em decorrência da inexpressiva quantidade e obras que compuseram a amostra (apenas quatro obras).
c) rejeitar as razões de justificativa do sr. Roger da Silva Pêgas (CPF 410.106.550-00) para, com
fundamento nos art. 45, inciso III, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 250, § 2º, do Regimento Interno do TCU,
aplicar-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II c/c o art. 268, inciso II, do Regimento Interno do TCU pela seguinte irregularidade relativa ao Edital 696/2013-00, praticada na condição de Diretor de Infraestrutura
Rodoviária:
c.1) apresentação, em 16/12/2013, por intermédio do item IV do expediente encaminhado à Coordenação-Geral de Cadastro e Licitações/DIREX, de esclarecimentos relativos aos apontamentos efetuados pela
Procuradoria Federal Especializada da autarquia acerca da ausência de justificativas técnica e econômica para a
escolha do regime da contratação integrada para o certame, os quais não se subsomem aos requisitos legais, fato que contribuiu para a continuidade do certame não obstante mantido o vício na motivação do ato administrativo,
infringindo com essa conduta o disposto no art. 9º c/c o art. 20, § 1º, incisos I e II, todos da Lei 12.462/2011,
bem como contrariando entendimento firmado pela Corte de Contas por meio dos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário e dos itens 9.1.3, 9.1.4 e 9.2 do Acórdão 1.977/2013-TCU-Plenário d) dar ciência ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes das seguintes irregularidades:
d.1) ausência de processo administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de engenharia
do Edital RDC presencial 696/2013-00, contendo os respectivos documentos, fato que infringiu os princípios da publicidade (transparência), economicidade e eficiência estabelecidos nos arts. 37 e 70 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 c/c o art. 3º da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC);
d.2) ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do tramite de orçamentos e outros documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC, em atendimento ao art. 6º da
Lei 12.462/2011;
d.3) inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no Edital RDC presencial
696/2013-00, por meio do documento denominado Atos Preparatórios, datado de 24/10/2013, o qual avalia apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, o que afronta o estabelecido no art. 20,
§ 1º, da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC), bem como entendimento firmado pela Corte por meio do precedente
contido nos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário; e d.4) publicação do Edital de Licitação RDC presencial 696/2013-00 no Diário Oficial da União, em
27/12/2013, sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de referência final por
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
meio do qual se pretende julgar a aceitabilidade das propostas ofertadas pelos licitantes, infringindo regra ínsita no § 3º do art. 6º da Lei 12.462/2011 c/c art. 4º do Decreto 7.581/2011.
e) com fundamento nos arts. 5º, §§ 1º e 4º, e 9º, inciso III, da Resolução-TCU 254/2013, reclassificar para
público o grau de confidencialidade das peças 10, 11, 16, 24, 32, 33, 34, 41, 50, 65 e 69 deste processo.
É o relatório.
VOTO
Cuidam os autos de auditoria realizada no Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit) que teve por escopo avaliar o Edital RDC Presencial 696/2013-00, destinado à
contratação integrada de empresa para elaboração dos projetos básico e executivo e execução das obras
de implantação e pavimentação da Rodovia BR-316/AL, no trecho entre a Divisa PE/AL (km 0,00) e a
entrada da BR-423/AL – Carié (km 49,00).
2. O relatório de fiscalização apresentou sete achados de auditoria, a seguir listados:
2.1 Anteprojeto de engenharia deficiente e/ou desatualizado (IG-C);
2.2 Ausência de processo administrativo para elaboração e aprovação do anteprojeto de
engenharia (OI);
2.3 Ausência de regulamentação do trâmite e do controle de documentos sigilosos (OI);
2.4 Critério de julgamento da proposta técnica baseada apenas em experiência profissional da
licitante e de sua equipe técnica (OI);
2.5 Metodologia utilizada para definição do orçamento e preço de referência deficiente e/ou
inadequada (IG-C);
2.6 Motivação deficiente e/ou viciada do ato de escolha do regime da contratação integrada do
RDC (IG-C); e
2.7 Publicação de edital de licitação sem prévia definição do orçamento e preço de referência
(OI).
3. Em junho de 2014, com base na delegação de competência do então relator do feito, emérito
Ministro José Jorge, a Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Rodovia e Aviação
(SeinfraRodoviaAviação) realizou audiências e oitiva para os achados acima elencados.
4. O Sr. Fernando Fortes Melro Filho, na condição de superintendente regional do Dnit no
Estado de Alagoas, foi ouvido em audiência por conta dos achados dos subitens 2.1, 2.2, 2.5 e 2.6.
5. O Sr. Francisco de Assis Dias Xavier, na qualidade de superintendente regional substituto do
Dnit no Estado de Alagoas, foi chamado em sede de audiência pelo achado do subitem 2.5.
6. O Sr. Roger da Silva Pêgas, Diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit à época dos fatos, foi
ouvido em audiência pelo achado 2.6.
7. Por último, foi realizada a oitiva do Dnit que consistiu em quatro pontos: ausência de processo
administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de engenharia (subitem 2.2); ausência
de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do trâmite de orçamentos e outros documentos
sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC (subitem 2.3); inadequado critério de
julgamento da proposta técnica estabelecido no edital (subitem 2.4); e publicação do edital sem a
prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de referência (subitem 2.7).
8. Os autos foram encaminhados ao meu gabinete com proposta de mérito da
SeinfraRodoviaAviação no sentido de rejeitar as razões de justificativas dos responsáveis, aplicar-lhes
a multa do art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, e de dar ciência ao Dnit acerca das demais
irregularidades, visto que o certame foi anulado, com o intuito de que elas não se repetissem
novamente.
II – Exame das Audiências
II.1 - Anteprojeto de engenharia deficiente ou desatualizado
343
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. Para este achado da auditoria foi chamado em audiência apenas o Sr. Fernando Fortes Melro
Filho, superintendente regional do Dnit em Alagoas à época dos fatos.
10. Esse achado se fundamentou na ausência de elementos mínimos necessários para o
anteprojeto estabelecidos em normativo interno do Dnit (Portaria-Dnit 657, de 12/7/2013) e na
desatualização do estudo de tráfego utilizado, o qual havia sido realizado doze anos antes do certame.
11. A SeinfraRodoviaAviação acatou suas razões de justificativa em relação à desatualização do
estudo de tráfego (§§ 60 e 61 da peça 87, p. 13), exame com o qual estou de acordo.
12. Em relação ao primeiro ponto, a unidade técnica considerou que a superveniência de novo
normativo (Instrução de Serviço/DG 17/2013, de 4/12/2013), editado quando a licitação ainda estava
em sua fase interna e que diminuiu as exigências para elaboração de anteprojeto, não afastariam as
deficiências do anteprojeto de engenharia apontadas pela equipe de auditoria, que utilizou como
critério a Portaria-Dnit 657/2013, que se encontrava vigente quando foi aberto o procedimento
licitatório.
13. A unidade especializada pontuou também o fato de o Dnit possuir as informações
consideradas deficientes (estudos de movimentação de terra, empréstimos para terraplenagem, estudos
de ocorrência de materiais para pavimentação, estudos de locais de bota-fora e DMT), provenientes do
projeto executivo, que subsidiou licitação anterior, e que serviu de base para a elaboração do
anteprojeto utilizado no novo certame, não elidiria este achado, visto que tais informações não foram
apresentadas no anteprojeto disponibilizado aos licitantes.
II.2 – Ausência de portaria de aprovação do Anteprojeto de Engenharia
14. Para este achado de auditoria foi chamado em audiência apenas o Sr. Fernando Fortes Melro
Filho, superintendente regional do Dnit em Alagoas à época dos fatos.
15. Consoante relatório de auditoria, a ausência da portaria de aprovação infringia o item 3.1 do
Anexo à Portaria-Dnit 657/2013, norma posteriormente revogada pela Instrução de
Serviço/DG 17/2013, que dispensou a exigência de portaria com finalidade de aprovação do
anteprojeto.
16. A análise da unidade técnica refutou o argumento apresentado pelo responsável acerca da
superveniência de novo normativo, ao reafirmar a validade da Portaria 657/2013 quando a
SR/DNIT/AL deu início ao procedimento licitatório.
17. Em relação aos dois primeiros indícios de irregularidades tratados acima, entendo que as
razões de justificativas do responsável, no caso concreto, devem ser acolhidas parcialmente, uma vez
que norma posterior, editada ainda na fase interna da licitação, dispensou as condutas imputadas como
irregulares pela equipe de fiscalização, bem como em razão do fato de a licitação ter sido suspensa e
posteriormente revogada, quando os jurisdicionados tiveram ciência dos achados levantados pelos
auditores, o que, em parte, demonstrou a boa vontade deles em corrigir os apontamentos da
fiscalização.
18. Em razão de a norma utilizada como critério ter sido revogada, julgo desnecessário
cientificar o Dnit acerca dessas impropriedades.
II.3 - Metodologia utilizada para definição do orçamento e preço de referência deficiente e/ou
inadequada
19. Neste achado foram ouvidos em audiência o Sr. Fernando Fortes Melro Filho e o Sr.
Francisco de Assis Dias Xavier, superintendentes titular e substituto, respectivamente, da
Superintendência Regional do Dnit em Alagoas.
20. O primeiro foi incluído no rol de responsáveis por ter sido o autor da Nota Técnica
Justificativa do Orçamento, elaborada em 10/2/2014, e o segundo por ter sido o autor da Nota Técnica
Justificativa do Orçamento, elaborada em 24/2/2014, que revisou a anterior, ambas editadas
posteriormente à publicação do edital, ocorrida em 27/12/2013, e da qual constaram metodologias
consideradas deficientes e inadequadas pelos auditores frente ao disposto no art. 9º, § 2º, inciso II, da
Lei 12.462/2012, além do entendimento firmado pelo Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário.
344
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
21. A unidade técnica entendeu que as referidas notas técnicas seriam deficientes em razão da
utilização de apenas duas obras rodoviárias como paradigma, sendo que esses empreendimentos
apresentaram elevada dispersão nos custos médios por quilômetro de cada família de serviço, além de
apresentarem solução de pavimentação distinta da obra a ser licitada.
22. Os responsáveis informaram que o Dnit utilizou três metodologias para definição do
orçamento e do preço de referência da obra em exame, a saber:
i) o valor inicial da obra teria sido estimado com base no “Projeto Executivo” existente,
considerando os apontamentos realizados pelo TCU por meio de auditoria realizada na mesma obra no
ano de 2012, ocasião em que a licitação também foi anulada;
ii) posteriormente, realizou outra estimativa, com base no “Custo Médio Gerencial” publicado
pela autarquia, que resultou em um valor referencial 60% superior ao estimado pela primeira
metodologia, razão pela qual a autarquia buscou uma terceira metodologia; e
iii) por fim, utilizou a metodologia denominada “parametrização do orçamento referencial por
meio de obras similares”, ocasião em que escolheu quatro empreendimentos (BR-426/PB, BR-110/RN,
BR-235/BA e BR-158/MT), com semelhanças entre às características de topografia, tipo de pavimento
e região onde o empreendimento é realizado. Tal metodologia teria resultado em um orçamento
paradigma 1% superior ao estimado com base no projeto executivo existente.
23. Com base nesses estudos, o Dnit optou por utilizar a terceira metodologia, pois, em sua
visão, a estimativa realizada com base no “Projeto Executivo” era baseada em procedimentos
simplificados.
24. A unidade técnica refutou as razões de justificativa dos responsáveis, sob o fundamento de
que as Notas Técnicas Justificativas do Orçamento elaboradas por cada um deles em datas específicas
não teriam demonstrado a semelhança entre as obras utilizadas para comparação com a obra que se
pretendia licitar, o que caracterizaria a deficiência na metodologia por eles utilizadas para a definição
do orçamento.
25. Adoto encaminhamento diverso do sugerido pela unidade técnica, neste ponto, de modo a
acolher parcialmente as razões de justificativas dos responsáveis.
26. O inciso II do § 2º do art. 9º da Lei 12.462 dispõe que, na contratação integrada, “o valor
estimado da contratação será calculado com base nos valores praticados pelo mercado, nos valores
pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou na avaliação do custo global da
obra, aferida mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica”.
27. Observo que os gestores se valeram de três metodologias distintas para estimarem o valor da
contratação integrada, sendo que descartaram a que apresentou o maior valor. Além disso, o orçamento
paramétrico obtido a partir de quatro obras distintas teria resultado em valor apenas 1% superior ao
orçamento obtido a partir da atualização do projeto executivo licitado anteriormente considerando os
apontamentos de auditoria anterior.
28. Além disso, considero o fato de a unidade técnica não ter apontado a ocorrência de
sobrepreço no orçamento oriundo do projeto executivo ou no orçamento parametrizado.
29. Por fim, sopeso o fato de os jurisdicionados terem suspendido a licitação durante o curso da
auditoria, o que evidencia a intenção de corrigirem os eventuais desvios apontados pela fiscalização.
II.4 - Motivação deficiente e/ou viciada do ato de escolha do regime da contratação integrada do
RDC
30. Para esse achado foram ouvidos o Sr. Fernando Fortes Melro Filho e o Sr. Roger da Silva
Pêgas, Diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit à época dos fatos.
31. A unidade técnica pontuou, no relatório de auditoria, que o certame possuiria vício na
motivação do ato relativo à escolha do regime da contratação integrada, em afronta ao que determina o
art. 9º da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC), visto a ausência de justificativa técnica e econômica para a
adoção do referido regime, bem como pela ausência de evidenciação expressa de pelo menos uma das
condições elencadas nos incisos I a III do citado artigo.
345
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
32. O Sr. Fernando esclareceu que a condição constante no inciso II do art. 9º da Lei do RDC
teria sido atendida com base no item 4.1.1.1.3 do Edital que definia a possibilidade de ser aceita
solução de engenharia não contemplada no anteprojeto. Alegou também que as justificativas técnicas e
econômicas exigidas no caput do art. 9º da Lei 12.462/2011 não deixaram de ser apresentadas, mas
foram consideradas insuficientes. Concluiu que nada foi feito sem boa-fé, uma vez que a SR/AL
solicitou à administração central do Dnit que suspendesse a licitação até a manifestação conclusiva do
TCU sobre os indícios apontados na fiscalização, e que, por se tratar de um regime novo, acabou por
resultar no cancelamento do certame pela Diretoria-Geral do Dnit.
33. As razões de justificativas do Sr. Roger da Silva Pêgas foram um pouco mais extensas. Além
dos argumentos utilizados pelo Sr. Fernando mencionados no parágrafo anterior, o Sr. Roger alegou
que: i) o RDC tinha sido pensado para atender obras mais céleres e posteriormente sido estendida para
outras obras constantes do PAC; ii) a contratação de projetos básico em licitação distinta das obras era
um gargalo temporal para o Dnit, não só pelo prazo para condução de dois certames, como também
para revisões dos projetos e aditivos; iii) estudos internacionais apontavam para a redução dos
cronogramas de empreendimentos do tipo desing-buid; iv) dados disponíveis ao gestor na época da
tomada de decisão apontavam que a opção pelo regime de Contratação Integrada traria uma economia
de 42 meses, cerca de três anos e meio.
34. Além dos argumentos anteriores, em memorias apresentados em meu gabinete, os
responsáveis trouxeram o fato de que, em situação semelhante, na licitação conduzida pelo Dnit em
2014 para o Pedral do Lourenço (RDC 108/2014), o TCU identificou a mesma falha ainda durante a
licitação, o Dnit anulou o certame ainda no curso da auditoria, este Tribunal, por meio do Acórdão
2.153/2015-TCU-Plenário, entendeu que as justificativas eram genéricas, entretanto, ponderou
suficiente apenas cientificar a autarquia acerca dessa impropriedade, sem responsabilização de
gestores.
35. Após detida análise, a SeinfraRodoviaAviação rejeitou as razões de justificativas dos
responsáveis e propôs a aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992.
36. Considerou, em sua avaliação, que as justificativas para a adoção do regime da contratação
integrada seriam teses, hipóteses, e que deveriam ser demonstradas no caso concreto em confronto
com as outras opções de contratação possíveis.
37. Observo que o caso em tela tem contornos idênticos à fiscalização conduzida por este
Tribunal no âmbito do TC 006.570/2014-3, que tinha por objeto fiscalizar o Edital RDC 108/2014
(Pedral do Lourenço).
38. Ambas as fiscalizações foram iniciadas logo após a publicação dos avisos de licitação, entre
fevereiro e março de 2014. O Dnit decidiu anular as duas licitações em maio de 2014, com a
publicação das anulações em junho de 2014. O Acórdão 2.153/2015-TCU-Plenário, que cuidou do
Pedral do Lourenço, foi prolatado em agosto de 2015 com a decisão de cientificar o Dnit acerca do não
atendimento ao caput do art. 9º da Lei 12.462/2011, em razão das justificativas técnicas e econômicas
serem genéricas e insuficientes.
39. Entendo que o caso que ora está sendo julgado, pelo Princípio da Isonomia e pela
proximidade dos eventos atinentes a cada uma das licitações, deve ter o mesmo desfecho conferido à
licitação do Pedral do Loureço.
40. Compartilho do entendimento da unidade técnica de que as justificativas técnicas e
econômicas apresentadas pelos gestores quando optaram pelo regime da contratação integrada se
mostraram genéricas.
41. Entretanto, não pode ser desconsiderado que, em 2013, a Lei do RDC tinha apenas dois anos
de vigência, logo, não havia quase nenhum contrato administrativo celebrado sob sua égide concluído,
de forma que se pudesse aferir, com casos concretos, a real vantajosidade de se utilizar a contratação
integrada em detrimento das outras opções previstas na referida Lei.
346
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
42. É logicamente aceitável o argumento de que contratos do tipo desing-build promovem a
redução dos prazos de conclusão de obras quando comparados a contratações convencionais, uma vez
que o próprio contratado para execução do empreendimento irá elaborar o projeto, o que,
consequentemente, mitigaria futuros pleitos para aditivos, que consomem tempo entre a revisão do
projeto e a aprovação dos aditivos.
43. Porém, entendo que só poderemos verificar na prática as vantagens e desvantagens da
utilização de cada regime de contratação quando tivermos uma amostra considerável de obras
concluídas sobre o regime de contratação integrada.
44. A esse respeito, o ilustre Ministro Benjamin Zymler discorreu em voto revisor ao Acórdão
1.388/2016-TCU-Plenário que as vantagens e desvantagens do novo regime de contratação, embora
possam ser esperadas ou intuídas, nem sempre são diretamente traduzíveis em números ou valores
monetários. Somente um estudo comparativo, envolvendo contratações sob os diversos regimes de
execução de obras públicas, permitiria análise das vantagens econômicas de cada qual.
45. Nessa mesma linha e com o intuito de uniformizar o entendimento do Tribunal, votou o
Ministro Walton Alencar Rodrigues, ao relatar o Acórdão 2.725/2016-TCU-Plenário.
46. Do até aqui narrado, julgo que, no caso em exame, em razão de a licitação ter sido conduzida
em 2013, nos primórdios da implantação do RDC, além de os gestores, ao tomarem ciência dos
apontamentos da equipe de auditoria, terem suspendido a licitação e posteriormente a revogado, as
razões de justificativas devem ser parcialmente acolhidas.
47. Com relação ao exame das oitivas sobre as impropriedades mencionadas no § 7º deste Voto,
acompanho a proposta de encaminhamento da unidade técnica no sentido de cientificar o Dnit sobre
suas ocorrências, tendo em consideração que a licitação foi anulada.
Ante o exposto, acolhendo em parte o encaminhamento alvitrado pela unidade técnica, VOTO
para que seja acolhida a minuta de acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2612/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 002.538/2014-8.
2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria.
3. Responsáveis: Fernando Fortes Melro Filho (CPF 787.303.504-25), Francisco de Assis Dias
Xavier (CPF 207.968.384-53) e Roger da Silva Pêgas (CPF 410.106.550-00).
4. Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil
(SeinfraRodoviaAviação).
8. Representação legal:
8.1. Paulo Aristóteles Amador de Sousa, representando Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes.
8.2. Gustavo Felipe Costa e Silva (OAB/MG 105.657), representando Roger da Silva Pêgas.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de auditoria realizada no Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que teve por escopo avaliar o Edital RDC Presencial
696/2013-00, destinado à contratação integrada de empresa para elaboração dos projetos básico e
executivo e execução das obras de implantação e pavimentação da Rodovia BR-316/AL, no trecho
entre a Divisa PE/AL (km 0,00) e a entrada da BR-423/AL – Carié (km 49,00);
347
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, em:
9.1. acolher parcialmente as razões de justificativa dos Srs. Fernando Fortes Melro Filho
(787.303.504-25), Francisco de Assis Dias Xavier (207.968.384-53) e Roger da Silva Pêgas
(410.106.550-00);
9.2. dar ciência ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes das seguintes
irregularidades:
9.2.1. ausência de processo administrativo específico para o desenvolvimento do anteprojeto de
engenharia do Edital RDC presencial 696/2013-00, contendo os respectivos documentos, fato que
infringiu os princípios da publicidade (transparência), economicidade e eficiência estabelecidos nos
arts. 37 e 70 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, c/c o art. 3º da
Lei 12.462/2011 (Lei do RDC);
9.2.2. ausência de regulamentação, no âmbito da autarquia, do controle do trâmite de orçamentos
e outros documentos sigilosos relativos ao regime de contratação integrada do RDC, em atendimento
ao art. 6º da Lei 12.462/2011;
9.2.3. inadequado critério de julgamento da proposta técnica estabelecido no Edital RDC
presencial 696/2013-00, por meio do documento denominado Atos Preparatórios, datado de
24/10/2013, o qual avalia apenas a experiência profissional da licitante e de sua equipe técnica, o que
afronta o estabelecido no art. 20, § 1º, da Lei 12.462/2011 (Lei do RDC), bem como entendimento
firmado pela Corte por meio do precedente contido nos itens 9.1.1, 9.1.1.2 e 9.1.7 do
Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário;
9.2.4. publicação do Edital de Licitação RDC presencial 696/2013-00 no Diário Oficial da
União, em 27/12/2013, sem a prévia definição, na fase interna da licitação, do orçamento e do preço de
referência final por meio do qual se pretende julgar a aceitabilidade das propostas ofertadas pelos
licitantes, infringindo regra ínsita no § 3º do art. 6º da Lei 12.462/2011, c/c o art. 4º do
Decreto 7.581/2011;
9.2.5. as justificativas técnicas e econômicas utilizadas no âmbito do RDC Presencial 696/2013-
00-Dnit para atendimento ao caput do art. 9º da Lei 12.462/2011 são insuficientes, genéricas e não
tratam das particularidades do empreendimento;
9.3. com fundamento nos arts. 5º, §§ 1º e 4º, e 9º, inciso III, da Resolução-TCU 254/2013,
reclassificar para público o grau de confidencialidade das peças 10, 11, 16, 24, 32, 33, 34, 41, 50, 65 e
69 deste processo;
9.4. arquivar os presentes autos com fundamento no inciso V do art. 169 do Regimento Interno
do TCU.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2612-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 021.149/2018-6.
Natureza: Representação.
348
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Entidade: Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.
Representação legal: Jussandra Rigo (OAB/RS 33.53) e outros.
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. PREGÃO. PROCESSO DE BILHETAGEM
ELETRÔNICA DE SISTEMA INTEGRADO METROPOLITANO DE PORTO ALEGRE/RS.
RESTRIÇÃO AO CARATER COMPETITIVO. CAUTELAR. OITIVAS. MANIFESTAÇÃO
INAPTA PARA AFASTAR AS IRREGULARIDADES. CONHECIMENTO. FIXAÇÃO DE
PRAZO PARA ANULAÇÃO DO CERTAME. CIÊNCIA. ARQUIVAMENTO.
RELATÓRIO
Adoto como relatório o pronunciamento da subunidade (peça 63), referendado pelo titular da
Secretaria de Controle Externo do TCU no Rio Grande do Sul (Secex/RS), peça 64, a seguir transcrita
com os ajustes de forma pertinentes: 1. Trata-se de representação de licitante, com pedido de medida cautelar, a respeito de alegadas
irregularidades que teriam ocorrido no EDITAL DE PREGÃO ELETRÔNICO Nº 091/2018, promovido pela
Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A, cujo objeto é a “Contratação de empresa especializada para
prestação de serviço de implementação, fornecimento de equipamentos na modalidade de locação, customização, operações financeiras, atendimento ao usuário, publicidade, migração de dados, suporte,
treinamento, manutenção, objetivando atender às necessidades da TRENSURB para modernização e atualização
do processo de bilhetagem eletrônica que constitui o sistema integrado metropolitano (SIM)”.
HISTÓRICO
2. O valor estimado da contratação é de R$ 24.431.575,60 (peça 1, p. 150). A sessão pública aconteceu
em 15/06/2018, em que a representante apresentou o menor preço, com proposta no valor de R$ 18.288.888,00 (peça 4).
3. Em pronunciamento da subunidade (peça 7), diante da falta de elementos para juízo acerca da
concessão de medida cautelar foram propostas a oitiva da Empresa e a realização de diligência.
4. A oitiva foi exarada em função dos indícios de irregularidades indicados nos itens 4, 11, 12, 13, 14 e 15, em especial sobre “restrição ao caráter competitivo do certame como decorrência exigência contida no item
5.6.1 do edital do PREGÃO ELETRÔNICO Nº 091/2018, uma vez que (i) não se enquadra no rol exaustivo e
taxativo de documentos definidos no Art. 30, da Lei Federal nº 8.666/93 (peça 1, p. 4); (ii) não supre a finalidade legal da exigência de documentos desta natureza (peça 1, p. 10); (iii) não representa parte do objeto
de maior relevância e valor significativo do Edital (peça 1, p. 15); (iv) trata de obrigação incompatível com o
objeto ora licitado (peça 1, p. 23)” (peça 7, p. 5).
5. Foi também proposta diligência à empresa para que encaminhasse cópia integral do processo licitatório, contendo os estudos e análises de viabilidade econômica e demais documentos referentes à
contratação.
6. A realização das medidas propostas no pronunciamento foi autorizada pelo relator, Min. VITAL DO RÊGO, em despacho de 26/6/2018 (peça 9).
7. A empresa representante protocolou em 4/7/2018 requerimento de desistência da representação e
consequente arquivamento do feito (peça 14). Todavia, em 18/7/2018 protocolou pedido de inclusão como interessada e concessão de vista e cópia integral do processo (peça 20).
8. Posteriormente, acatando proposta de instrução à peça 21 acerca da concessão de medida cautelar e da
determinação para realização de inspeção, e contando ainda com os acréscimos dos itens 9.4 a 9.6, foi exarado o
Acórdão 1696-TCU-Plenário com o seguinte encaminhamento (peça 26): VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação, com pedido de medida cautelar, a respeito
de possíveis irregularidades no Pregão Eletrônico 91/2018, realizado pela Trensurb, que tem por objeto a
contratação de empresa para prestação de serviço de bilhetagem eletrônica no sistema integrado metropolitano de Porto Alegre/RS;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, diante das
razões expostas pelo Relator, em:
349
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.1. conhecer da presente representação, uma vez satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso VII, do Regimento Interno deste Tribunal, c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1996, e no art.
103, § 1º, da Resolução-TCU 259/2014;
9.2. determinar, cautelarmente, nos termos do art. 276, caput, do Regimento Interno/TCU, à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. – Trensurb que suspenda a tramitação do Pregão Eletrônico 091/2018 até
manifestação conclusiva do Tribunal sobre a matéria;
9.3. realizar inspeção, com fundamento no art. 240 do RITCU, na Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. – Trensurb, para que sejam coletadas informações a respeito do referido procedimento licitatório,
necessárias e suficientes para a formulação de proposta de mérito na presente representação;
9.4. indeferir o pedido de ingresso da empresa Autopass S.A. (07.140.538/0001-40) como interessada no
presente processo, nos termos do § 2º do art. 146 do Regimento Interno, sem prejuízo de autorizar desde já o fornecimento de vista e cópia dos autos, ressalvadas as informações que venham a ser classificadas como de
caráter sigiloso;
9.5. realizar a oitiva, com fundamento no art. 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, da Trensurb para que se manifeste, se assim desejar, sobre os indícios de irregularidades atinentes à restrição ao caráter
competitivo da licitação e que tais elementos sejam considerados quando da formulação da proposta de mérito;
9.6. determinar à Secex/RS que, no âmbito da inspeção: 9.6.1. apure eventual supressão de informações em atendimento do Ofício 785/2018- TCU/Secex-RS, que
tenha causado embaraço à atuação desta Corte no desfecho desta representação, e, se for o caso, promova
audiência dos responsáveis, com fundamento no art. 58, inciso IV, da Lei 8.443/1992;
9.6.2. verifique se o objeto licitado se enquadra no conceito de serviço comum que justificou a escolha da modalidade pregão eletrônico, bem como se o prazo ofertado pela Trensurb para a apresentação das propostas
de preços foi compatível com a complexidade do objeto;
9.6.3. inclua procedimento para verificar se a exigência contida no item 5.6.1. do edital causou prejuízo ao número de participantes do pregão eletrônico;
9.6.4. apure se a parcela relativa ao data center apresenta relevância e valor significativo frente ao objeto
licitado;
9.6.5 verifique se a Trensurb adequou seus procedimentos licitatórios aos regramentos criados pela Lei 13.303, de 30 de junho de 2016, consoante o art. 91 da citada norma;
9.7. dar ciência desta deliberação à representante e à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. –
Trensurb. 9. A inspeção foi realizada entre os dias 1/8/2018 e 17/8/2018 e a oitiva foi encaminhada por meio do
Ofício 0904/2018-TCU-Secex-RS (peça 33).
EXAME TÉCNICO 10. A presente instrução tem como objetivo analisar no mérito as questões que ensejaram a adoção da
medida cautelar efetuada. Para tanto será analisada a possível restrição ao caráter competitivo do certame,
consubstanciado na cláusula 5.6.1 do edital em curso, de modo a verificar se essa exigência de fato prejudicou a
possiblidade de um maior número de interessados participarem, e se ela também se justifica dentro do critério de relevância na contratação.
11. Ainda nesse contexto, será objeto de análise se a escolha de Pregão Eletrônico, assim como se o prazo
ofertado pela Trensurb para a apresentação de propostas de preços foi compatível com a complexidade do objeto.
12. Além disso, será verificado se houve a supressão de informações em atendimento ao Ofício 785/2018-
TCU-SECEX-RS e se a Trensurb adequou seus procedimentos licitatórios aos regramentos criados pela Lei 13.303, de 30 de junho de 2016, consoante o art. 91 da citada norma.
13. Desse modo, a presenta instrução será estruturada da seguinte forma:
13.1. Restrição ao caráter competitivo do certame (i);
13.1.1. Exigência contida no item 5.6.1. do edital(i.a); 13.1.2. Parcela relativa ao data center apresenta relevância e valor significativo frente ao objeto licitado
(i.b);
13.1.3. Objeto se enquadra no conceito de serviço comum que justificou a escolha da modalidade pregão eletrônico, bem como se o prazo ofertado pela Trensurb para a apresentação das propostas de preços foi
compatível com a complexidade do objeto (i.c);
350
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
13.2. Supressão de informações em atendimento ao ofício 785/2018-TCU-SECEX-RS (ii); 13.3. Trensurb adequou seus procedimentos licitatórios aos regramentos criados pela Lei 13.303, de 30 de
junho de 2016 (iii).
Restrição ao caráter competitivo do certame (i)
Exigência contida no item 5.6.1 do Edital (i.a)
14. Em síntese, o represente questiona a exigência de qualificação técnica contida no item 5.6.1 do edital
do pregão (peça 1, p. 24): 5.6.1. Para o hardware apresentado no data center será exigida a apresentação de DECLARACÃO do
fabricante atestando que a licitante está autorizada a comercializar os seus equipamentos e capacitada a prestar o
suporte técnico necessário. Em caso de consórcios, a declaração poderá ser emitida em nome da empresa
participante responsável por esta (s) parcela (s). 15. Para melhor entender a questão a seguir apresenta-se quadro com resumo dos itens constantes no
edital, sintetizados na “memória de cálculo” dos valores de referência do Projeto do Novo Sistema de
Bilhetagem: Memória de Cálculo (peça 53, p. 1):
. 16. Conforme constou em instrução anterior, os indícios que ensejaram a adoção de cautelar foram assim
expostos (peça 21, p. 3-5): Paralelamente às respostas encaminhadas pelo Diretor Presidente da Trensurb, que constituem as peças
15 e 16, foi protocolado em 17/7/2018 o documento que constitui a peça 19, firmado pelo Diretor de Operações
da empresa, com cópia para o Diretor de Administração e Finanças, que deixa clara a discordância dessas duas diretorias com os termos das respostas encaminhadas pelo Diretor Presidente. Nesse documento, é inclusive
aventada a possibilidade de que o CD anexo à comunicação CE PRES-0080/2018, encaminhado em resposta à
diligência, não contenha a íntegra do processo licitatório, fato que, caso confirmado, se revestiria de extrema
gravidade. Veja-se, por oportuno, o Anexo I à presente instrução, que contém cópia do organograma da Trensurb.
(...)
351
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
A divergência entre os componentes da Diretoria Executiva, com questionamentos não apenas a respeito
do possível caráter restritivo de algumas exigências editalícias (parágrafos 14 a 16 e 24 a 25, acima), mas
também a respeito da pertinência da modalidade de licitação adotada pela empresa (parágrafos 19 a 24) e da
própria economicidade da contratação (parágrafo 17), caracterizam o instituto do fumus boni iuris e devem ser analisados com maior profundidade por esta unidade técnica, em vista da real possibilidade de ter havido
distorções no Pregão Eletrônico 091/2018, realizado pela Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. –
Trensurb. 17. No citado Despacho da DIROP (Diretoria Operacional), foram mencionados o maior detalhamento do
projeto em relação ao item datacenter do que à bilhetagem propriamente dita, o prazo demasiadamente curto de
10 dias para elaboração do Projeto Básico (peça 21, p. 3), e os valores previstos que seriam maiores do que os
valores atualmente praticados. 18. Já a DIRAF (Diretoria de Administração e Finanças) teria questionado a utilização do Pregão
Eletrônico (peça 21, p. 4), os critérios de habilitação inadequados frente ao rol de documentos listados no art. 30
da Lei 8666/1993. Ainda, teria apontado “pedidos de esclarecimentos e impugnações apresentadas por algumas empresas na fase externa da licitação, informando que a exigência de documentos diversos daqueles arrolados
no art. 30 da Lei de Licitações, considerada restritiva, foi questionada por três empresas, Tacon, Sonda e
Autopass, sendo esta a autora da representação. A mesma exigência já foi alvo de dúvida na fase interna por parte de setores da empresa, conforme anteriormente mencionado” (peça 21, p.4).
19. Ou seja, são questionamentos semelhantes aos feitos pela representante no processo.
20. Dentro desse contexto, num primeiro momento mostra-se fundamental a análise sobre o que de fato
está sendo licitado, de modo que se possa verificar a adequação das exigências estabelecidas no edital. Para melhor compreensão do objeto licitado, encontra-se à peça 52 apresentação do novo sistema de bilhetagem
apresentado pela Trensurb.
21. Nesse sentido, faz-se uso de documento enviado de forma complementar após a oitiva inicial (peça 36, p. 1), em que a empresa informa sobre a elaboração deste edital por grupo de trabalho ao longo de 18 meses,
com base em erros e acertos dos 4 sistemas já utilizados ao longo dos seus 33 anos de operação comercial.
Sendo, que o mais crítico foi o último firmado com a Associação dos Transportadores de Passageiros de
Porto Alegre - ATP – contrato 01.190.034/2014 - processo adm. 1584/2014, que obteve vários apontamentos pela auditoria interna, onde podemos destacar, a impossibilidade de gestão, controle e auditoria por parte da
Trensurb e dos usuários que utilizam o trem e suas integrações, custo elevado frente ao serviço prestado e o
mais crítico é que toda a gestão de nossa receita operacional está sendo gerenciada por terceiros, pois foi um sistema projetado para ônibus e ajustado para o sistema trem.
22. Para esse objetivo foi desenvolvido um projeto específico em três fases.
22.1. A primeira fase se dará pela implementação do novo passe unitário, cartão de passe antecipado (ao portador ou identificado), cartão de idoso, vale transporte, cartão para permissionário e cartão funcional. Etapa
mais urgente segundo a empresa.
22.2. Na segunda fase serão implementadas as vendas pela internet.
22.3. Na terceira fase serão habilitadas as formas de aquisição de créditos antecipados através de aplicativo próprio para smartphone.
23. Segundo a empresa, a modalidade prevista teria sido a prestação de serviço visando evitar a
obsolescência tecnológica dos equipamentos e contornar a falta de recursos para investimento. 24. Após explicitar sobre o fato de que 58% dos usuários do Trensurb utilizam exclusivamente o trem, e
que 42% utilizam o cartão unitário, conforme quadro abaixo, trouxe considerações sobre as tecnologias
disponíveis e já utilizadas no mercado e pela Trensurb (peça 36, p. 2).
352
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Em outras operadoras de sistema metroferroviário, como São Paulo, Belo Horizonte, Recife, o percentual
de passe unitário varia entre 10 e 15% e utilizam o bilhete com tarja magnética confeccionado em papel
moeda (tecnologia Edmonson). Essa tecnologia, apesar de ser utilizada em muitos metrôs na Europa, aqui no
Brasil torna-se cara devido ao fato de na America do Sul apenas uma fábrica na Argentina produz, o que torna alto custo, na ordem de R$ 0,10 a unidade, associado a isso, a demora na entrega das remessas. Em 2012, a
Trensurb aboliu o uso da tecnologia Edmoson, substituindo pelo cartão em PVC com chip embarcado
(tecnologia Maifire) retornável. Essa opção gerou um problema ainda maior. O custo de um cartão Maifire
unitário é R$ 4,20, sendo que temos uma perda mensal em torno de 5.000 cartões, o que gera um
desperdício médio de R$ 20.000,00/mês, sem falar no número elevado de falhas mensais nos validadores que
recebem essa mídia, além do excessivo número de horas/homem necessárias para controle, distribuição e remanejamento desses cartões nas 23 estações. (grifos nossos)
25. Nesse sentido explicitou que o custo mensal para o uso da tarja Edmonson seria de R$ 240.000,00 por
mês, com base na utilização diária de 80.000 passes unitários, e que a tecnologia Maifire retornável tem custos
indiretos da ordem de R$ 187.000,00 por mês, conforme quadro abaixo (peça 36, p. 3), sem contar o custo de extravio e danificação:
Quadro 1: custos indiretos Maifire.
353
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
26. Em seguida é explicitado que o novo modelo de bilhetagem prevê o uso da tecnologia QR-Code, e
que seu uso em sistemas de bilhetagem é inédito no país, seja no modal ferroviário, seja no modal rodoviário.
Essa tecnologia seria muito utilizada em eventos, onde milhares de pessoas acessam o local em um pequeno
espaço de tempo. 27. A diferença básica entre as tecnologias Edmonson, Maifire e QRCode é que “as duas primeiras
trabalham off-line, sendo que a primeira sequer necessita de computador para sua comercialização e a segunda
apenas um computador comum com aplicativo que faz a recarga do cartão unitário e ao final do turno ou fechamento do caixa, comunica com o servidor central para transmissão das informações”.
28. Tanto no sistema Edmonson, quanto no Maifire, a segurança estaria na própria mídia, e seria difícil
falsificar um bilhete Edmonson, ou clonar um cartão Maifire.
29. Já, no caso do QRCode, explicou o seu funcionamento e a importância do data-center para tanto: Na tecnologia QR code, a segurança está no servidor que está dentro de um Data Center, e as transações
de venda de passes e acesso é feita em "Tempo Real". Essas transações ocorrem em milésimos de segundo,
enquanto as transações on-line podem ocorrer em até frações de horas. No caso da Trensurb, a segurança que temos numa transação com QR code, onde, por exemplo, um usuário que compra um passe na estação Mercado
e envia uma cópia por aplicativo de mensagens para outro usuário na Estação Novo Hamburgo, 43 Km distante,
e somente um deles terá acesso é garantida pelo Data Center. Quando é feita uma venda com QR code o ticket impresso é uma chave, que foi gerada no servidor, quando o usuário acessa o bloqueio (catraca) com essa chave
o servidor é consultado se a chave é verdadeira, se é, libera o acesso. Depois de utilizado, esse QR code não é
aceito novamente em nenhum dos 143 bloqueios (catracas) de entrada nas 23 estações. Tudo isso porque as
transações são feitas em Tempo Real e processadas no Data Center. 30. Além disso, explicitou que foram feitos dois testes com o sistema QRCode, que o custo do bilhete
unitário seria de menos de um centavo de real (ver modelo à peça 52, p. 22), uma vez que se trata de uma
impressão simples em papel com o respectivo QRCode.
Análise restrição (i.a)
31. Nesse contexto, verifica-se, de fato, que se trata de um projeto inédito, pois a tecnologia QRCode
ainda não fora implementada em sistema de bilhetagem nos modais ferroviários e rodoviário.
32. Para implementá-lo e geri-lo de forma a mitigar riscos, observa-se que o data-center tem um papel relevante dentro do sistema como um todo.
33. Todavia, a questão posta quanto à restrição se dá em relação, num primeiro momento, no que se refere
à exigência contida no item 5.6.1 do edital. Ou seja, se a exigência de declaração do fabricante atestando que a licitante está autorizada a comercializar os seus equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico necessário
inviabilizou a possível participação das empresas.
34. Nesse escopo, cabe registrar que os serviços licitados perpassam por especialidades distintas, tal como mencionado na própria manifestação da empresa (peça 36, p. 5):
Considerando que as empresas de bilhetagem e controle de acesso minoritariamente são também
empresas integradoras de Data Center, permitimos a formação de consórcios, conforme item 5.5 do anexo 01
do edital, a fim de afastar qualquer possibilidade de restrição na participação do certame. Portanto, a surpresa, que a representante AutoPass declara em relação a exigência de qualificação técnica da atividade de Data Center
é totalmente descabida, demonstrado amplamente nos conceitos e relatos anteriores, que o Data Center é uma
atividade vital para o sistema e bilhetagem proposto pela Trensurb. (grifo nosso) 35. O ineditismo do projeto em tela faz com que as empresas tradicionais de bilhetagem não consigam
satisfazer os dois requisitos inerentes ao objeto licitado, pois usualmente empresas integradoras de data-center
são terceirizadas, que têm a sua atuação restrita a este tipo de fornecimento específico de TI. 36. A solução adotada pela Trensurb para solucionar este dilema foi permitir a atuação em Consórcio,
possivelmente entre uma empresa com expertise em bilhetagem associando-se a outra com expertise em
integração de data-center.
37. Quando questionada por meio de ofício de requisição sobre o “porquê de se exigir comprovação de qualificação técnica relacionada exclusivamente aos equipamentos do item "data center", uma vez que não se
exigiu qualificação técnica para serviços também críticos para o fornecimento a ser contratado, tais como
"bloqueio" e "POS", fato que poderia ensejar, por exemplo, a contratação de empresa que nunca tenha executado ou gerido sistemas de bilhetagem” (peça 44, p. 4), a Trensurb expôs o seguinte sobre em que
momento é exigido expertise das licitantes aos bloqueios e POS´s:
354
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Em relação aos bloqueios e POS's estamos falando de sistemas e de eletrônica, que são específicos de
cada empresa de bilhetagem ou de controle de acesso no caso da tecnologia QRCode, que deverão ser
parametrizados de acordo com as características e necessidades da TRENSURB. Para tanto, a exigência foi
além da qualificação técnica. No item 5.6.3 do anexo 01 do Edital 091/2018 é exigida a Homologação da
Solução. A licitante arrematante deverá demonstrar na pratica que a solução proposta atende as necessidades da
TRENSURB, principalmente no que diz respeito a interoperabilidade com as tecnologias em uso TACOM e
PRODATA. Dessa forma a arrematante ou a sua consorciada que não possuir experiência em bilhetagem não terá homologada a sua solução e será desclassificada. Esta exigência eliminará praticamente o risco de contratar
uma empresa que não tenha experiência em bilhetagem.
38. Sob esse mesmo raciocínio, bastaria a Trensurb exigir que a licitante, por exemplo, quando fosse
homologar seu projeto, ou ainda na apresentação da proposta, indicasse um fornecedor devidamente qualificado e habilitado para prover a devida manutenção e fornecer os equipamentos a serem fornecidos para o datacenter.
39. A obrigação de que empresas de bilhetagem se consorciem com empresas integradoras para poderem
participar do certame pode gerar diversos entraves a possiblidade real dessa união acontecer. 40. Sob o ponto de vista de uma empresa integradora de datacenter não faz muito sentido se associar a
uma empresa de bilhetagem no presente caso.
41. Primeiro porque também responderá junto a Trensurb por uma parcela pequena do montante dos serviços (conforme será exposto na sequência), em contrato que escapa de sua atuação original. Segundo,
porque ao se comprometer com o consórcio em tela, ficaria impedida de fornecer o mesmo serviço a outras
licitantes.
42. A baixa apresentação de propostas no certame, assim como o alto número de questionamentos feitos demonstram, por si só, a dificuldade imposta por essa exigência de atuação em Consórcio.
43. Como se depreende dos atos do certame, apenas duas empresas efetivamente apresentaram propostas.
Uma delas foi a representante, a Autopass, que se sagrou vencedora, mas que, se for observada a exigência do edital em tela, será desclassificada na fase de análise da documentação da licitante, conforme consta no
Despacho SEMERC (peça 57);
Concluída a avaliação da proposta técnica da empresa AutoPass, seus ajustes e esclarecimentos, conforme
documentos SEI 0142492, 0142498, 0143244, 01444249, 0145086 Concluímos:
Servidor SUPER SERVER 1029P WTR, não atende aos itens: 4.1.7.9.5, 4.1.7.9.7, 4.1.7.12.1, 4.1.7.12.3
do Anexo 01 do Edital. Qualificação Técnica, a empresa AutoPass não apresentou declarações dos fabricantes Netapp,
PaloAlto, Dell e Extreme, atestando que a mesma está autorizada a comercializar os seus equipamentos e
capacitada a prestar o suporte técnico, conforme item 5.6.1 do Anexo 01 do Edital e os esclarecimentos alusivos a esse item, documentos SEI 0140670 e 0140671.
Diante do exposto, apontamos que a empresa AutoPass não atendeu integralmente as exigências técnicas
e qualitativas do Anexo 01 do Edital. (grifo nosso).
44. Tal dificuldade de se consorciar com outras empresas fica demonstrada na análise da documentação da Autopass (peça 58, p. 6-7):
Considerando ainda o esclarecimento – Documento SEI 0140961
2) Nota-se pela redação do item 5.6.1, que a empresa licitante, para habilitar-se neste certame, deverá apresentar atestado de capacidade técnica do fabricante, atestando que está autorizada a comercializar e prestar
os serviços de manutenção e suporte técnico para o data center.
Neste sentido, a licitante, empresa que pretende participar do certame, presta todos os serviços de tecnologia relacionados a bilhetagem eletrônica, não compreendendo os serviços de data center. Para garantir o
pleno atendimento das exigências do Edital, à licitante conta com parceiro especializado em servidores, data
center e suporte técnico, o qual é atestado pelo fabricante dos hardwares exigidos pelo Edital, ou seja, o
fabricante atesta nosso parceiro, que por sua vez é contratado pela licitante. Neste contexto, quando a licitante contrata o parceiro, é ele quem detém o atestado do fabricante
garantindo que, pelos próximos 60 (sessenta) meses, toda a operação seja plenamente atendida e todas as
exigências cumpridas, além de garantir para esta Companhia, em nome da licitante, de que todas as exigências do Data Center igualmente serão cumpridas pelo prazo previsto no Edital.
355
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Assim sendo, considerando que a licitante apresentará atestado tanto do fornecedor quanto do seu
parceiro que presta serviços de suporte garantindo 100% (cem por cento) da operação pelo prazo previsto no
edital, é correto afirmar que isso será suficiente para habilitar-se no processo licitatório na eventualidade de
sagrar-se vencedora? Resposta: Não, o parceiro, que presta o serviço de suporte, deve se consorciar com a licitante,
conforme item 5.5 do anexo 1 do edital (grifo nosso)
45. Em outras palavras, ainda que a solução de datacenter seja homologada, e que a empresa demonstre contratar serviços especializados para fazê-lo, ela será inabilitada.
46. Situação que não aconteceria caso uma integradora de data-center, que responde por pequena parcela
do montante total dos serviços, ainda que tenha a sua relevância, resolva subcontratar ou contratasse
posteriormente serviço técnico especializado em bilhetagem para homologar sua proposta. 47. Além disso, verifica-se que diversas empresas questionaram essa exigência, bem como o não
parcelamento do objeto, indicando que poderiam participar do certame caso ela não fosse exigida nos termos ora
identificados. 48. A jurisprudência do TCU já se manifestou quanto ao caráter restritivo do certame a exigência de
declaração do fabricante.
49. Acórdão 3783/2013-TCU-1ª Câmara: Voto:
[...]
Conforme jurisprudência desta Corte, a exigência de declaração do fabricante, carta de solidariedade, ou
credenciamento, como condição para habilitação de licitante em pregão eletrônico, carece de amparo legal, por extrapolar o que determina o art. 14 do Decreto nº 5.450/2005.
Essa exigência tem caráter restritivo e fere o princípio da isonomia entre os licitantes, porque deixa ao
arbítrio do fabricante a indicação de quais representantes podem ou não participar do certame. A matéria já foi discutida por este Tribunal em várias ocasiões: Decisão 486/2000 e Acórdãos 808/2003, 1670/2003, 1676/2005,
423/2007, 539/2007, 1729/2008, 2056/2008, do Plenário; 2404/2009, da 2ª Câmara, entre outros.
[...]
Existem outros meios para assegurar o cumprimento das obrigações pactuadas, tais como pontuação diferenciada em licitações do tipo técnica e preço, exigência de garantia para execução contratual, ou ainda
multa contratual.
Exigir declaração do fornecedor como requisito de habilitação somente pode ser tolerado, em casos excepcionais, quando se revelar imprescindível à execução do objeto, situação em que deverá ser tecnicamente
justificado de forma expressa e pública, por ser requisito restritivo à competitividade. Grifo nosso
50. Como se verifica pelo exposto anteriormente, a exigência da habilitação em apreço não é imprescindível à execução do objeto, uma vez que a empresa vencedora do certame para o fornecimento da
implantação do novo sistema de bilhetagem terá a possibilidade de subcontratar diversos fornecedores
especializados que atendam a esse requisito.
51. Nesse sentido, nada impede que a Trensurb exija da vencedora que os serviços e fornecimento de itens relacionados ao datacenter sejam feitos por empresas devidamente habilitadas e autorizadas para tal.
52. Na sequência, será abordado se o data-center possui valor significativo frente ao objeto licitado.
Parcela relativa ao data center apresenta relevância e valor significativo frente ao objeto licitado
(i.b)
53. Conforme exposto anteriormente o item data-center é apresentado como verba no orçamento de
referência, com o custo estimado em R$ 158.350,14, ou 38% dos valores totais. 54. Na peça 53, p. 2, consta a memória de cálculo do valor estimado para o datacenter, nos termos abaixo
transcritos:
O item 1.3, foi considerado em duas partes, uma referente a equipamentos e a outra de infraestrutura,
sendo que a infraestrutura foi considerada somente em 01 dos Data center, tendo em vista, que existe a possibilidade do segundo Data center ser implantado em local onde ja exista infraestrutura pronta, no caso a
PROCEMPA. Usando a referência do edital do TRF5 conforme link a seguir -
https://www.trf5.jus.br/downloads/userupload/e012a44ad4/1g.Edital%20Prego%20Eletrnico%20n%2059-2015%20-%20Data%20Center%20Vol.%20VII.pdf, o valor para implantação da infraestrutura para uma
área de 55,24m² é de R$ 6.953.125,40, considerando que área que será disponibilizada pela Trensurb tem 30m²
356
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
foi aplicado uma proporcionalidade, ficando o valor em R$ 3.776.136,17, considerando que nessa área já existe cerca de 40% dessa infraestrutura pronta, como exemplo porta corte fogo, sistema de incêndio e outros,
aplicamos essa redução de 40%, sendo que o valor ficou em R$ 2.265.681,70. Em relação aos equipamentos foi
utilizado os valores da proposta da ATP, Processo 1584/2014 - contrato 01.190.034/2014 - pagina 163, atualizado pela variação do IPCA de nov/2006 a jan/2018, que foi de 66,2%, ficando o valor de R$
1.081.932,17, como são 02 Data Center em relação a equipamentos, esse valor foi multiplicado por 2,
ficando R$ 2.163.864,23. Aplicando a função PGTO da planilha Excel, conforme link orientativo abaixo, para converter esses fornecimentos em locação, temos: taxa de juro mensal de 3%, numero de meses 60, VP=0, VF =
2.265.681,70+ 2.163.864,23, sendo que o valor mensal será de R$ 158.350,14.
http://www.ehow.com.br/calcular-taxas-aluguel-equipamentos-como_55729/
55. Num primeiro momento pode-se identificar que os valores do data-center se dividem entre infraestrutura, com preço de referência de R$ 2.265.681,70, e equipamentos, cujo valor seria de
R$ 2.163.864,23 (dois data-center).
56. Sem adentrar na validade da metodologia de cálculo realizada, observa-se que a parte referente a infraestrutura refere-se às instalações físicas da sala em que estarão localizados os equipamentos, que dizem
respeito basicamente a serviços de engenharia, tais como instalação de ar-condicionado, piso elevado e etc.
57. Com essa informação já se depreende que a parcela relativa ao datacenter, responsabilidade de fornecimento por parte de uma integradora, tal como exposto, não corresponde aos 38% retromencionados, mas
sim, a uma parcela inferior a menos de 20%.
58. No que tange à metodologia aplicada para o cálculo do valor do datacenter, dada as inconsistências e
falta de informações foram objeto de questionamento em ofício de requisição os seguintes tópicos: 1.1.1. Há levantamento/comparação sobre as exigências de infraestrutura que justifique a
proporcionalidade referida em relação à área de 30 m² da Trensurb e a área do data center do TRF 5, utilizada
com parâmetro? “o valor para implantação da infraestrutura para uma área de 55,24m² é de R$ 6.953.125,40, considerando que área que será disponibilizada pela Trensurb tem 30m² foi aplicado uma proporcionalidade”.
1.1.2. Por que ao se utilizar a referência do TRF 5 foi tomado como parâmetro o orçamento base e não o
valor do contrato feito com a empresa vencedora?
1.1.3. Como se chegou ao percentual de que no local definido pelo Trensurb para data center já existe 60% da infraestrutura necessária? “considerando que nessa área já existe cerca de 40% dessa infraestrutura
pronta”
1.1.4. Por que os equipamentos do data center não foram orçados/cotados com integradoras de data center, conforme os itens especificados no próprio termo de referência da Trensurb?
1.1.5. Por que os valores referentes à infraestrutura, que são inerentes, principalmente, a serviços de
engenharia, os quais são caracterizados como benfeitorias e não equipamentos, foram incluídos no cálculo do “fornecimento em locação”? “Aplicando a função PGTO da planilha Excel, conforme link orientativo abaixo,
para converter esses fornecimentos em locação, temos: taxa de juro mensal de 3%, número de meses 60, VP=0,
VF = 2.265.681,70+ 2.163.864,23, sendo que o valor mensal será de R$ 158.350,14”
1.1.6. Informe o porquê da definição da taxa de juros mensal em 3%. 59. As respostas a este ofício foram formalizadas no documento à peça 44.
60. Com relação ao item 1.1.1:
O data center é um ambiente projetado para abrigar servidores e sistemas de armazenamento e independente da aplicação segue normas internacionais (TIA 942) que define as características de um data
center. Os materiais e equipamentos do data center são dimensionados proporcionalmente a área disponível para
a sua alocação. Dessa forma, piso elevado, revestimento antichama, sistema de incêndio (gás inerte), ar condicionado de precisão, todos são calculados e dimensionados tendo como parâmetro a área onde serão
instalados. A área necessária para este projeto na TRENSURB é inferior a área necessária para o projeto do
TRF5 que foi utilizado como referência de valores.
61. Resposta ao item 1.1.3 Para atender aos padrões da norma TIA 942, deve ser executada basicamente a seguinte infraestrutura
para um data center:
i) Execução de construção de sala segura modular segura estanque, com realização de teste de estanqueidade;
357
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ii) Execução de serviços de instalação de equipamentos contra incêndio para Data Center, que contenha
sistemas de Detecção precoce de Incêndio e Extinção por Agente Limpo (gás inerte);
iii) Execução de serviços de instalação de Sistema de Climatização para Data Center, com sistema de
expansão direta com um mínimo de 10 TR's (Tonelada de Refrigeração); iv) Instalação de sistema de Automação para Data Center, com sensoriamento e monitoramento de
qualidade de energia, abertura de porta, presença, alagamento, temperatura, umidade, fumaça;
v) Instalação de sistema de cabeamento tipo UTP Cat 6A ou superior, para suporte a redes; vi) Instalação de sistema de cabeamento óptico composto de fibra óptica, para suporte a redes;
vii) Instalação de Sistema de Controle de Acesso Físico, composto por sistema de controle de acesso
biométrico;
viii) instalação de Sistema de Monitoramento (CFTV); ix) Instalação de sistema de geração de energia elétrica composto de gerador, quadros de distribuição de
eletricidade, cablagem e aterramento;
x) Instalação de rede de distribuição elétrica estabilizada, compreendendo nobreak, quadros de distribuição de eletricidade, cablagem e aterramento.
Considerando que todos esses dez itens, contemplando serviços e/ou equipamentos, são vitais para
atendimento aos padrões normativos e que qualitativamente são de igual relevância e, considerando ainda que a TRENSURB já possui quatro destes itens (itens i, v, vi e ix), ou seja, esses itens serão disponibilizados pela
TRENSURB à contratada estabeleceu-se a redução proporcional. Se já está disponível 40% dos itens, resta
apenas 60% a ser orçados e custeados pelas licitantes.
62. Primeiro registro que deve ser feito é de que a Trensurb não realizou um anteprojeto de engenharia para dimensionar a sala do data-center no qual fosse possível ao menos quantificar com razoável grau de
precisão os elementos a serem orçados.
63. O citado datacenter do TRF5 foi elaborado com o devido projeto de engenharia (ver edital e arquitetônico à peça 61, referente ao volume I dos sete elaborados para o projeto do TRF5), atendendo uma
demanda muito superior à da bilhetagem da Trensurb, pois contempla o armazenamento de todo o Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, que engloba os Estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Sergipe. 64. Não é difícil inferir que o datacenter da Trensurb poderia ser executado numa área substancialmente
inferior aos 30 m² disponíveis (ver imagens do espaço destinado ao datacenter no Anexo à Instrução), que,
dentro dessa lógica de proporcionalidade, caso a Trensurb definisse uma área em projeto de 15 m², só aí haveria uma redução no valor orçado para infraestrutura em mais de R$ 1 milhão.
65. Outro erro na metodologia adotada é a utilização de proporcionalidade com base em 10 itens previstos
para a infraestrutura do datacenter, como se cada item tivesse exatamente o mesmo valor. Cada um desses itens deve ser quantificado especificamente para a sua utilização prevista, e também não é de difícil inferência que
cada um possua valores dispares entre si em termos de proporcionalidade em relação ao total previsto.
66. No caso em apreço, cada licitante teria que fazer essa quantificação, ou até mesmo elaborar um
projeto, num curto espaço de tempo, para poder oferecer uma proposta com um mínimo grau de confiança. 67. Além disso, os custos de infraestrutura, que são basicamente relacionados a benfeitorias, foram
incluídos indevidamente como passíveis de “locação” como uma taxa de 3% ao mês: “Aplicando a função
PGTO da planilha Excel, conforme link orientativo abaixo, para converter esses fornecimentos em locação,
temos: taxa de juro mensal de 3%, número de meses 60, VP=0, VF = 2.265.681,70+ 2.163.864,23, sendo
que o valor mensal será de R$ 158.350,14” (peça 53, p. 2).
68. Com relação ao custo dos equipamentos do datacenter há outros erros de metodologia identificados. 69. Com relação ao item 1.1.4 constou (peça 44, p. 2-3):
1.1.4 Por que os equipamentos do data center não foram orçados/cotados com integradoras de data center,
conforme os itens especificados no próprio termo de referência da Trensurb?
Conforme se verifica na Memória de Cálculo (documento SE I 123433) no item 1.3 os equipamentos foram orçados tendo como base a proposta da ATP (empresa que presta atualmente o serviço), pág. 163 do
processo 1584/2014, cuja referência foi elaborada pela empresa APB/PRODATA, que é uma integradora de
data de center. Além disso, foi realizada cotação eletrônica via Banco do Brasil, onde várias empresas integradoras apresentaram cotação para o data-center, conforme se verifica nos documentos SEI 0126372,
0126380, 0126544 , 0126547 do processo administrativo licitatório.
358
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
70. Conforme se extrai dos citados documentos (peça 54), essas cotações foram referentes ao conjunto
dos serviços de bilhetagem, que inclui o item datacenter sem separar os equipamentos da infraestrutura, e sem o
quantitativo e preços por item.
71. Conforme mencionado (peça 53, p. 2) “Em relação aos equipamentos foi utilizado os valores da proposta da ATP, Processo 1584/2014 - contrato 01.190.034/2014 - pagina 163, atualizado pela variação do
IPCA de nov/2006 a jan/2018, que foi de 66,2%, ficando o valor de R$ 1.081.932,17, como são 02 Data Center
em relação a equipamentos, esse valor foi multiplicado por 2, ficando R$ 2.163.864,23. Aplicando a função PGTO da planilha Excel, conforme link orientativo abaixo, para converter esses fornecimentos em locação,
temos: taxa de juro mensal de 3%, número de meses 60, VP=0, VF = 2.265.681,70+ 2.163.864,23, sendo que o
valor mensal será de R$ 158.350,14”.
72. O valor de R$ 2.163.864,23 é o que foi efetivamente utilizado para compor o montante previstos para “equipamentos” dos dois datacenters. Esse valor foi definido sem se comparar a quantidade de itens e
equipamentos previstos na proposta da ATP, cuja data base remete a novembro de 2006, ou seja, mais de 11
anos. Isso por si só já não é uma metodologia adequada pois em questões de tecnologia os custos não necessariamente acompanham o IPCA devido tanto às inovações tecnológicas identificadas em curtos espaços
de tempo, quanto o possível barateamento de soluções tecnológicas.
73. Outra questão identificada foi quanto a definição do preço final para fins de referenciar o valor do orçamento base de R$ 407.192,93. Conforme se extrai do Despacho Semerc à peça 56 esse valor foi feito com
base na média entre a cotação da Empresa TechDec, R$ 473.335,00, valor obtido da memória de cálculo, R$
388.567,60, e valor atualmente pago a ATP, cujo sistema é totalmente diferente do atual, de R$ 359.676,18. A
empresa TechDec inclusive participou do certame ofertando o valor de R$ 335.000,00. 74. Ainda, consta nesse mesmo Despacho que as outras três cotações realizadas não atenderam os
requisitos mínimos e não foram utilizadas. Dentre essas, a da empresa Luejo (peça 54, p. 1-2) não foi utilizada
por estar substancialmente acima do mercado. Apesar disso, o custo unitário do item datacenter naquela cotação perfez o montante de R$ 32.400,00 (peça 54, p. 2), sendo que, assim se estima, mesmo se fossem duas unidades,
o valor seria de R$ 64.800,00, bem abaixo do estimado de R$ 158 mil (em valores mensais).
75. Em resumo, há indicativos de que os valores foram orçados de forma pouco consistente, com lacunas
de informação para subsidiar adequadamente os licitantes, sendo que, com base nos elementos analisados, embora o datacenter tenha a sua importância para o projeto, há o indicativo de que ele não reproduz de fato um
valor financeiro tão significativo que justifique ser ele o único elemento condicionante para a habilitação das
empresas, uma vez que não está devidamente demonstrado que a exigência em tela seja referente a um serviço que atinja o percentual de 20% do valor total. Ademais, trata-se de um serviço com diversos fornecedores que
podem ser contratados pela empresa que vier a vencer o certame, sem que exista a obrigação de que tais
empresas integradoras se consorciem com empresas de bilhetagem. Ou seja, nada impede que se exija do vencedor do certame que os fornecedores dos equipamentos do datacenter que vierem a ser contratados possuam
as citadas declarações, tal como no caso da empresa Autopass, que indicou o fornecedor com tais capacitações,
porém, exigir que empresas de bilhetagem se consorciem resta demonstrado como exigência demasiada.
Objeto se enquadra no conceito de serviço comum que justificou a escolha da modalidade pregão
eletrônico, bem como se o prazo ofertado pela Trensurb para a apresentação das propostas de preços foi
compatível com a complexidade do objeto (i.c)
76. Com relação ao tema, em resposta à ofício de requisição a empresa assim se manifestou (peça 44, p. 5):
1.4. Tendo em vista se tratar de um processo de contratação de serviço inédito, e de elevada exigência
técnica para fornecê-lo , tal como afirmado pela própria empresa em resposta à oitiva prévia, com características que perpassam por áreas tais como engenharia (obra de implantação da infraestrutura do data center), do
fornecimento de data center, e de serviços afeitos a bilhetagem, bloqueio e softwares para geri-los, informar o
porquê de se realizar pregão eletrônico, cuja previsão é exclusiva a serviços comuns;
O ineditismo do projeto proposto pela TRENSURB está no padrão de referência da mídia a ser utilizada e na forma de geração, acesso e controle dessa mídia que é em tempo real, necessitando elevada exigência técnica
no fornecimento do data center. Em paralelo estão os demais fornecimentos das Fases 2 e 3 que dependem dessa
infraestrutura e que compõe o objeto da licitação. Porém, tanto o data center, os equipamentos de bilhetagem e serviços, tem padrão de qualidade e desempenho definidos objetivamente, além de tratar-se de objeto
359
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
plenamente disponível no mercado. Desse modo, consoante previsão do art. 1 ° da Lei nº 10.520/02 c/c art. 2° do Dec. Fed. nº 5.450/05, por se tratar de serviço comum pode ser processado na modalidade.
77. Na sequência elencou outros órgãos que contrataram fornecimento de datacenter por meio de Pregão
Eletrônico, listando editais do Defensoria Pública da União, Tribunal de Justiça da Paraíba, Tribunal de Contas do Estado de Alagoas e do Tribunal de Contas da União - TCU.
78. Tal como mencionado no questionamento acima, o objeto licitado contempla uma série de serviços
distintos, que deverão ser incorporados em um único projeto a ser licitado. 79. Se o objeto da licitação fosse exclusivamente a contratação de equipamentos de armazenamento de
dados, teria razão a empresa quanto a se tratar de “serviços comuns”. Porém, pode-se observar, tal como
constou nas análises precedentes, que o objeto inclui serviços de engenharia civil, no caso da infraestrutura do
datacenter, no fornecimento/locação de equipamentos de datacenter, bloqueios, softwares e bilhetagem. Não se trata de apenas de um serviço, mas sim da definição de um sistema que interliga diversas áreas de expertise.
80. Ocorre ainda que nem um anteprojeto totalmente definido se apresenta no caso. A licitante terá que
desenvolver soluções de engenharia, de softwares, fornecer equipamentos, implementar sistemas e etc. Em outras palavras, o conjunto dos serviços e fornecimento dificilmente podem ser considerados comuns.
81. Nesse sentido, para que o pregão seja utilizado, ao menos um detalhamento maior do objeto com as
suas devidas cotações deveria ser utilizado 82. Conforme a Súmula 257 TCU, “O uso do pregão nas contratações de serviços comuns de engenharia
encontra amparo na Lei nº 10.520/2002”.
83. Nos termos do Acórdão 286/2007 – TCU – Plenário:
A Lei 10.520/2002 e o Decreto 5.450/2005 amparam a realização de pregão eletrônico para a contratação de serviços comuns de engenharia, ou seja, aqueles serviços cujos padrões de desempenho e qualidade possam
ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado.
84. Com se observa o Pregão pode ser utilizado desde que os padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital.
85. Nesse contexto, observa-se que os serviços assim definidos no presente edital dentro de um critério de
razoabilidade enquadram-se dentro desses critérios, com exceção de uma definição e quantificação mais clara
das obras e serviços de infraestrutura necessárias ao datacenter, com a devida orçamentação dos serviços e itens faltantes, que restaram menos detalhados nos termos já retro analisados.
Supressão de informações em atendimento ao ofício 785/2018-TCU-SECEX-RS (ii)
86. Em resposta à ofício de requisição à peça 44, p. 3-4, assim a Trensurb se manifestou: Sobre o porquê do não envio do CD contendo os Despachos DIROP e DIRAF, de 16/7/2018, uma vez
que a manifestação da Trensurb foi protocolada nesse mesmo dia na SECEX-RS?
Quando do recebimento do Ofício do TCU 0785/2018, na data de 09 de julho, foi proferido despacho no procedimento licitatório com o seguinte teor:
"Considerando os Ofícios 0784/2018 e 0785/2018- TCU/SECEX-RS, ambos de 28.6.2018, e o respectivo
protocolo na TRENSURB em 9.7.2018, determino a imediata suspensão do presente procedimento licitatório,
cabendo à GEJUR a coordenação do atendimento das requisições do TCU e a SEDEC e SEMERC na elaboração das informações ".
Naquela ocasião foi então realizada a cópia integral do expediente licitatório contendo todos os
documentos até então. Foi ainda aberto expediente específico para as informações e subsídios a serem enviados ao TCU, processo nº 000095.00001 172/2018-29 (cópia anexa). A manifestação da área técnica foi realizada
neste expediente.
Informa-se que quando foi verificado, posteriormente, foram acrescentados documentos após despacho citado acima, através das Correspondências Internas da Presidência nº 16 e 17/2018 foi solicitado o
desentranhamento das manifestações no processo SEI 1079/2017 a fim de que fossem juntados no processo
1172/2018-29, não sendo atendido pelas áreas respectivas.
Por fim, registra-se que os despachos DIROP e DIRAF não continham informações e subsídios para a resposta a este Tribunal e sim manifestavam discordância sobre a fase interna da licitação, que já se encontrava
superada pelas aprovações pela Diretoria Executiva do Projeto Básico do procedimento licitatório do Pregão
Eletrônico. 87. Conforme se verifica na manifestação supra, foi aberto expediente específico para atendimento à
oitiva determinada, por meio do processo de “solicitações externas” 1172/2018 (peça 51) de 10/7/2018.
360
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Também foi aberto o processo de atendimento a demandas externas 1175/2018 (peça 59), que tratou exclusivamente de prover a cópia na íntegra do processo em tela, para atendimento ao Ofício 785/2018-TCU-
SECEX-RS.
88. Abaixo serão elencados os atos praticados pelo Trensurb de acordo com a sua cronologia: Quadro 1: cronologia dos atos:
Num.
Doc
Unidade Trensurb Data de emissão Hora Peça
0146020 Presidência: Despacho suspende certame e demanda
à Gerência Jurídica que
proceda a resposta ao TCU
10/07/2018 12:02 Peça 19, p. 9, peça 50, p. 6
0146042 Despacho Gerur: solicita cópia do Processo à SUDEC
na íntegra até o dia
12/7/2018
10:07/2018 14:21 Peça 59, peça 60
0146717 DIRAF (Diretoria de
Administração e Finanças):
solicita relato SECOM
13/07/2018 16:05 Peça 19, p. 9.
Peça 50
0146767 SECOM (setor de compras): encaminha relato à
GESUP/DIRAF
14/7/2018 13:46 Peça 19, p. 10-20. Peça 50
0146824 DIROP (Diretoria de
Operações): Despacho
16/07/2018 11:40 Peça 19, p. 21-24.
Peça 50
0146852 DIRAF: Despacho 16/07/2018 12:29 Peça 19, p. 25-30.
Peça 50
0147205 Presidência correspondência ao TCU 082/2018:
Encaminha manifestação
oitiva
16/7/2018: protocolado
neste dia no
TCU
Sem horário Peça 51, p. 1, e peça 15
4 Presidência correspondência 080/2018: encaminha cópia
CD do processo
16/7/2018: protocolado
neste dia no
TCU
Sem horário Peça 16, peça 59
89. Conforme se depreende das datas acima, os Despacho da DIRAF e da DIROP encaminhados por meio da peça 19 foram assinados no mesmo dia em que o TCU recebeu a resposta à oitiva e à diligência da Trensurb
(peça 15 e 16). Cabe ressaltar que os dias 14/7 e 15/7/2018 caíram, respectivamente, no sábado e no domingo.
90. Desse modo, quando do envio da cópia do Processo ao TCU no dia 16/7/2018, resta comprometida a afirmação de que a Gerência Jurídica deixou de enviar propositadamente os Despacho das Diretorias DIRAF e
DIROP, uma vez que a resposta ao TCU deveria ter sido feita por meio do Processo 1172/2018 (peça 51) e
Processo 1175 (peça 59) para atendimento de “solicitações externas”, e que, o processo foi enviado na íntegra,
considerando-se a criação deste processo específico no dia 10/7/2018. De qualquer modo, as manifestações anteriores em que as Diretorias questionavam o formato do pregão em tela, por meio das ATAS identificadas à
peça 19, foram devidamente encaminhadas junto com a cópia do processo enviada.
91. Nesse contexto, deixa-se de propor audiência da Responsável pela Gerência Jurídica, Senhora Jussandra Rigo, responsável por encaminhar ao TCU a resposta à diligência, uma vez que ela providenciou a
cópia do processo ao TCU no prazo determinado pela Presidência (ver peça 61), anteriormente aos novos
Despachos enviados pela DIRAF e DIROP, não sendo possível inferir que tenha tido conhecimento deles preliminarmente ao envio efetivo da documentação ao TCU, nos termos solicitados.
Trensurb adequou seus procedimentos licitatórios aos regramentos criados pela Lei 13.303, de 30
de junho de 2016 (iii).
92. À peça 48 a Trensurb encaminha o seu Regulamento Interno de Licitações e Contratos da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre – Trensurb, aprovado em 18/6/2018, com vigência a partir de 1º de julho de
2018, conforme “RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO REC-0015/2018” à peça 47,
361
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
CONCLUSÃO 93. O documento constante da peça 1 deve ser conhecido como representação, por preencher os requisitos
previstos nos arts. 235 e 237 do RI/TCU.
94. Das análises efetuadas na presente instrução foi identificado o caráter restritivo da cláusula 5.6.1 do edital do PREGÃO ELETRÔNICO Nº 091/2018, na qual se exigiu que a licitante apresentasse, na fase de
habilitação, DECLARACÃO do fabricante atestando que a licitante está autorizada a comercializar os seus
equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico necessário, no que se refere ao item datacenter. 95. Além disso, foi constatado que o item datacenter, por si só, apesar de possuir relevância técnica, não
possui uma elevada relevância financeira, e que a clausula ora posta, no contexto em que se apresenta, restringe
a participação de uma gama maior de possíveis licitantes.
96. Em função disso, foi exarada proposta para que a Trensurb adote os procedimentos necessários para a anulação do presente edital.
97. Também foram identificados falhas e falta de informações na definição dos valores e na memória de
cálculo do item “datacenter”, as quais deverão ser corrigidas na republicação do presente edital, para que seja possível a utilização do pregão.
98. Por fim, identificou-se que a Trensurb possui o Regulamento Interno de Licitações e Contratos, com
vigência a partir de 1º de julho de 2018, de modo que foi possível identificar o atendimento ao art. 40 da Lei 13.303/2016.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
99. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
99.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237, inciso VII, do Regimento Interno deste Tribunal c/c o 87, § 2º, da Lei 13.303/2016, e no art. 103, §
1º, da Resolução - TCU 259/2014, para no mérito considera-la procedente;
99.2. com fundamento no artigo 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c artigo 45 da Lei 8.443, de 1992, fixar prazo de 15 (quinze) dias para que a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. adote as
providências necessárias com vistas à anulação do edital do PREGÃO ELETRÔNICO 091/2018, como
decorrência da exigência restritiva ao caráter competitivo do certame contida no item 5.6.1 do edital, uma vez
que não se enquadra no rol exaustivo e taxativo de documentos definidos no Art. 30, da Lei Federal nº 8.666/93, e contraria jurisprudência do TCU arroladas nos Acórdãos 482/2012-TCU-Plenário;
99.3. Dar ciência à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A quanto às seguintes impropriedades;
99.3.1. Foram identificadas impropriedades e falhas na memória de cálculo, decorrente da falta de informações e detalhamentos, que embasou o valor referencial do item datacenter, nos termos expostos no item
(i.b), o que afrontou art. 7º, §2º, I e II da Lei nº 8.666/1993;
99.4. dar ciência do acórdão que vier a ser proferido ao representante e à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A, destacando que o relatório e o voto que fundamentam a deliberação ora encaminhada podem
ser acessados por meio do endereço eletrônico www.tcu.gov.br/acordaos e que, caso tenham interesse, o
Tribunal pode encaminhar-lhes cópia desses documentos sem quaisquer custos para V. Sas.;
99.5. arquivar o presente processo.
É o relatório.
VOTO
Em exame, representação formulada pela empresa Autopass S.A em face do Pregão Eletrônico
091/2018, conduzido pela Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. (Trensurb), que tem por
objeto a “contratação de empresa especializada para prestação de serviço de implementação,
fornecimento de equipamentos na modalidade de locação, customização, operações financeiras,
atendimento ao usuário, publicidade, migração de dados, suporte, treinamento, manutenção,
objetivando atender às necessidades da Trensurb para modernização e atualização do processo de
bilhetagem eletrônica que constitui o sistema integrado metropolitano (SIM)”. O valor estimado para
a contratação foi de R$ 24.431.575,60.
362
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
2. A representação foi protocolada no TCU em 13/6/2018 pela empresa Autopass S.A. Em
15/6/2018 ocorreu a abertura das propostas, sendo que o menor preço, no valor de R$ 18.288.888,00,
foi ofertado pela própria representante. Em 4/7/2018, a Autopass S.A. requereu a desistência da
representação e o consequente arquivamento dos autos. Todavia, em 18/7/2018 protocolou pedido de
inclusão como interessada e concessão de vista e cópia.
3. Por meio do Acórdão 1.696/2018-TCU-Plenário, o Tribunal determinou liminarmente a
suspenção do referido certame por estarem presentes os pressupostos para a concessão da medida
acautelatória. A fumaça do bom direito se lastreou no indício de restrição ao caráter competitivo do
certame a partir da exigência de qualificação técnica não prevista no rol taxativo do art. 30 da
Lei 8.666/1993. O perigo da demora se consubstanciou na iminência da homologação do certame e
adjudicação do objeto.
4. Nesta etapa, os autos têm por finalidade verificar, no mérito, se o principal apontamento
trazido pela representante (se a exigência contida na cláusula 5.6.1 do edital do pregão, a seguir
transcrita) configurou restrição ao caráter competitivo do certame, bem como se a referida cláusula se
justificaria a partir da avaliação do critério de relevância do sistema de Data Center. 5.6.1. Para o hardware apresentado no Data Center será exigida a apresentação de DECLARACÃO do
fabricante atestando que a licitante está autorizada a comercializar os seus equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico necessário. Em caso de consórcios, a declaração poderá ser emitida em nome da empresa
participante responsável por esta (s) parcela (s).
5. Ainda consoante as determinações proferidas no acórdão citado alhures, será objeto de análise
se:
a) a complexidade do objeto permitiria a adoção da modalidade pregão eletrônico;
b) houve supressão de informações em atendimento a ofício desta Corte de Contas;
c) a Trensurb adequou seus procedimentos licitatórios aos regramentos criados pela Lei 13.303,
de 30 de junho de 2016, consoante o art. 91 da citada norma.
6. De início, a presente representação deve ser conhecida, uma vez preenchidos os requisitos
previstos nos arts. 235 e 237 do RI/TCU. Passo, nos tópicos seguintes, a analisar os principais indícios
de irregularidades que envolvem o Pregão Eletrônico 091/2018 da Trensurb.
II – Restrição ao caráter competitivo
7. O representante apontou que a cláusula 5.6.1 restringiria o caráter competitivo do certame em
razão de: i) não se enquadrar no rol exaustivo e taxativo de documentos previstos no art. 30 da
Lei 8.666/1993; ii) não suprir a finalidade legal da exigência de documentos desta natureza; iii) não
representar parte do objeto de maior relevância e valor significativo do edital; e iv) tratar de obrigação
incompatível com o objeto licitado.
8. Nesta assentada, a Trensurb defende a manutenção da referida cláusula que privilegia o Data
Center em função do novo tipo de sistema de bilhetagem, que prevê o uso da tecnologia de QR Code,
impresso em papel semelhante aos bilhetes de companhias aéreas nos aeroportos. O custo de um
bilhete impresso com essa tecnologia seria em torno de R$ 0,01.
9. A tecnologia atualmente utilizada pela Trensurb para bilhetes unitários, chamada Maifire, que
consiste na utilização de cartão em PVC com chip embarcado retornável [similar ao crachá de
visitantes desta Corte], custaria R$ 4,20 por cartão, sendo que haveria uma perda mensal em torno de
5.000 cartões, além dos custos indiretos mensais com pessoal necessário para controle, distribuição e
remanejamento desses cartões nas 23 estações, em torno de R$ 187.000,00.
10. Outra tecnologia existente no mercado para passes unitários, utilizada pelos sistemas
metroferroviários de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, seria o bilhete com tarja magnética
confeccionado em papel moeda (tecnologia Edmonson), ao custo de R$ 0,10 a unidade. Teria a
desvantagem de ter apenas um fabricante no Mercosul (na Argentina), com problema na regularidade
do seu fornecimento. A Trensurb utilizou essa tecnologia até 2012, quando a substituiu pela Maifire.
363
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Essa alternativa teria um custo mensal de R$ 240.000,00 por mês, considerando a utilização diária de
80.000 passes unitários.
11. Esses dois sistemas, diferentemente daquele que utiliza o QR Code, trabalham off-line e a
segurança estaria na própria mídia (bilhete ou cartão), o que dificultaria a falsificação de um bilhete
Edmonson, ou a clonagem de um cartão Maifire.
12. Por outro lado, a segurança do sistema de QR Code dependeria do seu Data Center, para
impedir que um bilhete único comprado em uma estação A, não seja, por exemplo, transmitido por
foto por aplicativo para um usuário na estação B, e utilizado por ambos. Transcrevo a seguir a
explicação trazida pela Trensurb acerca da segurança desse sistema de bilhetagem: Na tecnologia QR Code, a segurança está no servidor que está dentro de um Data Center, e as transações
de venda de passes e acesso é feita em “Tempo Real”. Essas transações ocorrem em milésimos de segundo, enquanto as transações on-line podem ocorrer em até frações de horas. No caso da Trensurb, a segurança que
temos numa transação com QR Code, onde, por exemplo, um usuário que compra um passe na estação Mercado
e envia uma cópia por aplicativo de mensagens para outro usuário na Estação Novo Hamburgo, 43 Km distante,
e somente um deles terá acesso é garantida pelo Data Center. Quando é feita uma venda com QR Code o ticket impresso é uma chave, que foi gerada no servidor, quando o usuário acessa o bloqueio (catraca) com essa chave
o servidor é consultado se a chave é verdadeira, se é, libera o acesso. Depois de utilizado, esse QR Code não é
aceito novamente em nenhum dos 143 bloqueios (catracas) de entrada nas 23 estações. Tudo isso porque as transações são feitas em Tempo Real e processadas no Data Center.
13. Em seu exame, a unidade técnica reconhece que se trata de um projeto inédito em sistemas
de bilhetagem nos modais ferroviários e rodoviários [ônibus], além de que sua implementação e
gerenciamento com baixo risco dependem primordialmente do Data Center.
14. Todavia, a unidade técnica esclarece que tais considerações não elidem a restrição à
competição do certame ocasionada pela exigência de declaração do fabricante atestando que a licitante
estaria autorizada a comercializar os seus equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico
necessário.
15. Tal exigência tem como efeito a atribuição de vantagem competitiva a empresas com
expertise em integração de Data Center em detrimento de empresas tradicionais de bilhetagem, o que
poderia resultar na contratação de empresa que nunca tenha executado ou gerido sistemas de
bilhetagem.
16. Como solução, a unidade técnica entende que bastaria que a Trensurb exigisse que a licitante,
quando fosse homologar seu projeto, ou ainda na apresentação da proposta, indicasse um fornecedor
devidamente qualificado e habilitado para prover a devida manutenção e fornecer os equipamentos
para o Data Center.
17. Como evidência da restrição à competitividade do certame, a unidade apontou a apresentação
de apenas duas propostas no certame. Além disso, foi registado um alto número de questionamentos
pelas empresas interessadas, o que demonstraria a dificuldade imposta por essa exigência de atuação
em consórcio. Três empresas, Tacon, Sonda e Autopass questionaram a exigência de atestado (peça
55), sendo que as duas primeiras não participaram da fase de lances, e a última é a representante.
Transcrevo a seguir a essência de um dos questionamentos: Questionamento da Tacom Projetos de Bilhetagem Inteligente Ltda. (Peça 55, p. 2)
Sobre a Qualificação técnica, observamos que o único item exigido é o 5.6.1 o qual se exige uma
apresentação de declaração do fabricante atestando que a licitante está autorizada a comercializar os seus
equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico necessário. Acreditamos que esta declaração não é nem necessária nem compatível com o objeto da licitação. Portanto, questionamos esta necessidade. Mesmo que o
Data center seja um dos sistemas críticos do projeto de bilhetagem. Isto não impede que seja feita a perfeita
instalação e funcionamento do Data Center pelo licitante. Caso contrário, melhor seria a divisão desta licitação em duas distintas, com objetos diferentes.
18. Registrou também a unidade técnica que a representante deverá ser desclassificada na fase de
análise da documentação de habilitação, apesar de ter apresentado a proposta de menor preço com
364
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
desconto de 25%, conforme consta em despacho da Trensurb colacionado aos autos (peça 57), cujo
trecho transcrevo a seguir: Qualificação Técnica, a empresa AutoPass não apresentou declarações dos fabricantes Netapp, PaloAlto,
Dell e Extreme, atestando que a mesma está autorizada a comercializar os seus equipamentos e capacitada a
prestar o suporte técnico, conforme item 5.6.1 do Anexo 01 do Edital e os esclarecimentos alusivos a esse item,
documentos SEI 0140670 e 0140671. Diante do exposto, apontamos que a empresa AutoPass não atendeu integralmente as exigências técnicas
e qualitativas do Anexo 01 do Edital. (grifo nosso).
19. Ou seja, na prática, pelo menos duas empresas que questionaram a referida cláusula do edital
perderam interesse em participar do certame após a Trensurb reafirmar a necessidade de as licitantes
obterem a declaração dos fabricantes. Além disso, das duas empresas que de fato participaram do
certame por meio de apresentação de propostas, uma está na iminência de ser desclassificada,
justamente em razão de descumprimento da cláusula 5.6.1 do edital. Logo, a contratação pode ser
efetivada com base em tão somente uma proposta de preço válida, formulada pela mesma empresa que
apresentou proposta de preço na fase interna da licitação para subsidiar a estimativa do valor do
orçamento-base da licitação.
20. Do exposto, os elementos existentes nos autos indicam que a cláusula 5.6.1 do Pregão
Eletrônico 091/2018 foi a principal causa da restrição ao caráter competitivo do certame, com afronta
aos princípios constitucionais da isonomia, da seleção da proposta mais vantajosa para a
Administração e dos princípios básicos da legalidade e da igualdade.
21. Ademais, outros julgados do TCU também já enfrentaram a matéria, conforme o
Acórdão 3.783/2013-TCU-1ª Câmara, cujo voto condutor deixou assente: Conforme jurisprudência desta Corte, a exigência de declaração do fabricante, carta de solidariedade, ou
credenciamento, como condição para habilitação de licitante em pregão eletrônico, carece de amparo legal, por
extrapolar o que determina o art. 14 do Decreto 5.450/2005.
Essa exigência tem caráter restritivo e fere o princípio da isonomia entre os licitantes, porque deixa ao arbítrio do fabricante a indicação de quais representantes podem ou não participar do certame. A matéria já foi
discutida por este Tribunal em várias ocasiões: Decisão 486/2000 e Acórdãos 808/2003, 1670/2003, 1676/2005,
423/2007, 539/2007, 1729/2008, 2056/2008, do Plenário; 2404/2009, da 2ª Câmara, entre outros.
22. A propósito, no mencionado voto, o relator da matéria pontua que “exigir declaração de
fornecedor como requisito de habilitação somente pode ser tolerado, em casos excepcionais, quando
se revelar imprescindível à execução do objeto, situação que deverá ser tecnicamente justificada de
forma expressa e pública, por ser requisito à competitividade (grifos nossos).
23. No entanto, tal excepcionalidade não foi demonstrada nos presentes autos, na medida em que
não se justificou a razão pela qual uma empresa contratada para prestar os serviços de bilhetagem
(atividade fim) não possa subcontratar os serviços de Data Center (atividade meio) com uma empresa
devidamente habilitada pelos inúmeros fornecedores de equipamentos necessários para sua montagem,
uma vez que esse serviço, como se verá no próximo tópico, não se enquadra no conceito de
materialmente relevante, e que, inclusive, será remunerado como na forma de locação, dando mais
liberdade à contratada para substituir os equipamentos quando considerar necessário.
III – Relevância do Data Center
24. Ante a exigência de qualificação técnica para o item Data Center, mediante o Acórdão
1.696/2018-TCU-Plenário, este colegiado determinou que a unidade técnica avaliasse a relevância
desse item em relação ao objeto da contratação.
25. Convém anotar, inicialmente, que o valor de referência desse contrato, R$ 24.431.575.60, foi
obtido a partir da multiplicação de 60 meses pelo valor mensal de R$ 407.192,93. Esse valor mensal
foi obtido a partir da média aritmética entre a cotação da empresa TechDec (R$ 473.335,00), o valor
obtido a partir da memória de cálculo (R$ 388.567,60) e o valor pago atualmente à empresa ATP, cujo
sistema é totalmente diferente do atual (R$ 359.676,18). A unidade técnica esclareceu ainda que a
365
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
empresa TechDec participou do certame com a oferta de R$ 335.000,00, enquanto a representante
Autopass ofertou o lance de R$ 304.814,80.
26. Com essas considerações, o valor mensal para o item Data Center foi estimado em
R$ 158.350,14, o que representaria 38% do valor mensal de referência estimado pela Trensurb
(R$ 407.192,93).
27. A Secex/RS apontou uma série de inconsistências na obtenção desse valor pela Trensurb, que
indicam que ele não reproduz, de fato, um valor financeiro tão significativo que justifique ser ele o
único elemento condicionante para a habilitação das empresas.
28. O referido valor mensal (R$ 158.350,14) foi obtido a partir de uma fórmula em planilha
eletrônica que converte o valor de fornecimento de determinado serviço em um valor equivalente à sua
locação mensal. Para tanto, estimou os valores de fornecimento desses serviços em R$ 2.265,681,70
referentes à infraestrutura da sala dos Data Centers (duas no total) e R$ 2.163.864,23 relativos a
equipamentos para dois Data Centers, o que totalizaria um investimento de R$ 4.429.545,93. Foi ainda
adotada taxa de remuneração mensal de 3%.
29. Passo a apresentar as inconsistências detectadas pela unidade técnica em relação ao custo
mensal do Data Center.
30. Primeiramente a Secex/RS pontuou que não deveria ser incluído o custo de infraestrutura, a
ser realizada por empresa de engenharia civil, na remuneração mensal a ser paga a título de Data
Center. Além disso, o valor de infraestrutura foi obtido a partir do orçamento elaborado pelo TRF da
5ª Região para um Data Center localizado em uma sala de 55,24m², ao custo de R$ 6.953.125,40.
Como a sala destinado ao Data Center da Trensurb possuiu 30m², foi utilizada uma proporção para a
obtenção do valor de R$ 3.776.136,17. Foi ainda aplicado um redutor de 40%, ao se considerar que a
sala da Trensurb já possuía 40 % da infraestrutura necessária.
31. Todavia, não foi justificado se o espaço de 30 m² era de fato necessário para o Data Center.
Além disso, a estimativa de que a Trensurb já dispunha de 40% da infraestrutura necessária se mostrou
bastante imprecisa, ao se considerar que ela já possuía quatro itens de infraestrutura de um total de dez
necessários segundo a norma TIA (Telecommunications Industry Association) 942, sem ponderar o
peso relativo de cada um desses itens em sua estimativa.
32. Pior cenário se verifica na estimativa do valor total de equipamentos dos Data Centers
(R$ 2.163.864,23), obtido a partir da atualização pelo IPCA de nov/2006 a jan/2018 (66,2%), 11 anos,
portanto, da proposta apresentada pela empresa ATP para o contrato vigente. Tal metodologia se
mostra completamente inadequada para obtenção de valores de referência para equipamentos de
tecnologia da informação, cujos custos não acompanham a evolução do IPCA devido, tanto às
inovações tecnológicas identificadas ao longo do tempo quanto ao possível barateamento de soluções
de tecnologia.
33. Por último, não foi justificada a taxa de 3% adotada para a remuneração mensal dos serviços
de Data Center.
34. Com todas essas considerações, concordo com a conclusão da unidade técnica de que os
valores mensais estimados para o item Data Center foram orçados de forma pouco consistente, que
impedem, inclusive, a correta orçamentação por parte das empresas participantes do certame. As
inconsistências na orçamentação também sugerem que serviços de infraestrutura, que seriam
realizados logo no início do contrato, seriam remunerados na forma de locação à taxa de 3% mensais.
Além disso, a orçamentação dos equipamentos de tecnologia de informação se mostrou bastante
imprecisa e com possível sobrepreço, considerando a aplicação de índice de inflação relativo a onze
anos em equipamentos que não necessariamente acompanham tais índices.
IV –Adoção de Pregão Eletrônico.
35. Alinho-me às considerações da Secex/RS ao concluir que o objeto em tela, dado o seu baixo
grau de detalhamento, não se enquadraria no conceito de serviço comum, apto a ensejar a utilização da
modalidade Pregão Eletrônico.
366
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
36. O objeto em questão perpassa as áreas de engenharia (para implantação de obra de
infraestrutura do Data Center, que inclui itens como gerador, sistema de ar condicionado, construção
de sala modular segura estanque, equipamentos contra incêndio com sistema de detecção precoce com
uso de agente limpo); fornecimento de Data Center; serviços afeitos a bilhetagem, bloqueio e
softwares para geri-los; em fases posteriores à implementação de venda pela internet e por último a
aquisição de créditos antecipados por aplicativo próprio para smartphone a ser desenvolvido.
37. Nesse aspecto, registro que houve impugnação da empresa CTIS, que posteriormente desistiu
de participar do certame, em que questionou justamente a falta de informações para uma precisa
orçamentação deste objeto (peça 55, p. 39): Ocorre que, as informações essenciais a um bom planejamento e a um orçamento exato e plausível
não estão presentes no edital, o que dificulta não somente a formação precisa de um orçamento de gastos pela Administração Pública como também a formação de preço pelas empresas que pretendem participar da licitação,
o que é inadmissível, diante dos princípios da economicidade e da vantajosidade aos quais o Poder Público tem
o dever de observância.
38. No caso em tela, vejo que a modalidade pregão poderia ter sido utilizada caso os projetos e
termos de referências estivessem devidamente detalhados e ainda fosse ofertado prazo adequado para o
estudo desses documentos pelos licitantes.
V – Considerações Finais
39. No mérito, restou confirmado o caráter restritivo da cláusula 5.6.1, em que foi exigida dos
licitantes apresentação de declaração de fabricante atestando que ela estaria autorizada a comercializar
os seus equipamentos e capacitada a prestar o suporte técnico necessário em relação ao Data Center.
Na prática, tal exigência culminou na participação de apenas duas licitantes, sendo que já foi
confirmado pela própria Trensurb que a primeira colocada não atende à exigência da referida cláusula.
40. Restou confirmado também que o Data Center, apesar de possuir relevância técnica para a
operacionalidade do sistema de bilhetagem, não possui relevância financeira, além de sua estimativa
de valores ser pouco consistente e com possível sobrepreço, ante a atualização de orçamento de 2006
até 2018 com base no IPCA acumulado desse período.
41. Dessa maneira, alinho-me à proposta ofertada pela Secex/RS, para que a Trensurb adote os
procedimentos necessários para a anulação do Pregão 091/2018.
42. Por fim, acompanho as demais análises da unidade técnica que considerou elidido o indício
de irregularidade atinente à supressão de informação em atendimento à diligência desta Corte e que
informa que a Trensurb já editou regulamento interno de licitações e contratos nos moldes da Lei das
Estatais (Lei 13.303/2016).
Ante o exposto, VOTO para que seja adotada a minuta de acórdão que ora trago à apreciação
desta Corte.
ACÓRDÃO Nº 2613/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 021.149/2018-6.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A.
5. Relator: Ministro Vital do Rêgo.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio Grande do Sul (Secex-
RS).
8. Representação legal: Jussandra Rigo (OAB/RS 33.53) e outros.
367
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação, com pedido de medida cautelar, a
respeito de possíveis irregularidades no Pregão Eletrônico 091/2018, realizado pela Trensurb, que tem
por objeto a contratação de empresa para prestação de serviço de bilhetagem eletrônica no sistema
integrado metropolitano de Porto Alegre/RS;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos
arts. 235 e 237, inciso VII, do Regimento Interno deste Tribunal, c/c o art. 87, § 2º, da
Lei 13.303/2016, e no art. 103, § 1º, da Resolução TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la
procedente;
9.2. com fundamento no artigo 71, inciso IX, da Constituição Federal, c/c o art. 45 da
Lei 8.443/1992, fixar prazo de 15 (quinze) dias para que a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre
S.A, adote as providências necessárias com vistas à anulação do edital do Pregão Eletrônico 091/2018,
como decorrência da exigência restritiva ao caráter competitivo do certame contida no item 5.6.1 do
edital, uma vez que não se enquadra no rol exaustivo e taxativo de documentos definidos no art. 30 da
Lei 8.666/1993, da ausência de demonstração da relevância do item data center e da utilização de
modalidade de licitação não condizente com a baixa especificação do objeto;
9.3. dar ciência à Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A de que foram identificadas
impropriedades e falhas na memória de cálculo, decorrente da falta de informações e detalhamentos,
que embasou o valor referencial do item Data Center, nos termos expostos no item (i.b) da instrução
da unidade técnica (peça 63), o que afronta o art. 7º, §2º, incisos I e II da Lei 8.666/1993;
9.4. dar ciência desta deliberação ao representante e à Empresa de Trens Urbanos de Porto
Alegre S.A; e
9.5. arquivar o presente processo.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2613-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes e Vital do Rêgo (Relator).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO II – CLASSE VII – Plenário
TC 019.346/2017-4
Natureza: Representação.
Representante: Consórcio Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ 26.742.502/0001-81) e B2IT Serviços
de Multimídia e Telecom Ltda. (CNPJ 08.666.365/0001-61).
Unidade: Telecomunicações Brasileiras S.A. - Telebras.
Interessada: Padtec S/A (CNPJ 03.549.807/0001-76).
Representação legal: Bruno Correa Burini (OAB/DF 42.841) e outros representando a Padtec
S/A; Caricio Rodrigues de Souza (OAB/DF 45.101) e outros representando a Telecomunicações
368
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Brasileiras S.A. e Rodrigo Monteiro Augusto (OAB/DF 12.693) e outros representando a Seteh
Engenharia Ltda. e a B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda.
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES EM PREGÃO
REALIZADO PELA TELEBRAS PARA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE OPERAÇÃO E
MANUTENÇÃO. OITIVAS. NOVOS DOCUMENTOS. CONHECIMENTO. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. INDEFERIMENTO DA CAUTELAR. AUDIÊNCIA. FORMAÇÃO DE APARTADO
PARA APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADES. DETERMINAÇÃO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, de início, a instrução elaborada na Secretaria de Controle Externo de
Aquisições Logísticas - Selog, que contou com a anuência dos dirigentes daquela unidade técnica
(peças 101/103): “INTRODUÇÃO
1. Trata-se de representação a respeito de possíveis irregularidades ocorridas na Telecomunicações
Brasileiras S. A. (Telebrás), relacionadas ao Pregão Eletrônico 19/2017, que teve por objeto a contratação de
empresa ou consórcio de empresas especializadas para execução de serviços de operação e manutenção, a serem realizados de forma contínua, na Planta da Rede Nacional de Telecomunicações, em todo o território nacional.
2. O valor estimado da contratação não foi divulgado pela Telebrás, pois, nos termos do disposto no item
30.1 do Termo de Referência, o ‘art. 3º da Lei 10.520, de 2002, que estabeleceu regras próprias para a modalidade de licitação, por meio de pregão, o valor estimado para o Contrato de Operação e Manutenção da
Rede Nacional de Telecomunicações não é divulgado, permitindo que os licitantes proponham seus preços
calculados com base nos seus custos reais, sem limitação a um valor previamente definido’. 3. A empresa Padtec S/A. (CNPJ/CPF: 03.549.807/0001-76) foi declarada vencedora, após a
desclassificação das licitantes DMG Eletrônica - Comércio de Equipamentos Eletrônicos - Eireli – EPP
(CNPJ/CPF: 09.184.270/0001-74) e do consórcio formado pelas empresas Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ:
26.742.502/0001-81) e B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. (CNPJ: 08.666.365/0001-61). 4. A licitante declarada vencedora, que já era a prestadora dos serviços na contratação anterior, realizada
em 2013, apresentou melhor lance no valor de R$ 137.200.000,01, que foi reduzido, após negociação, para R$
137.000.000,00, valor equivalente ao melhor lance oferecido pelo consórcio autor da presente Representação. 5. O contrato anterior com a Padtec S/A fora celebrado, em 14/3/2013, pelo valor de R$ 98.000.000,00
(peça 4, p. 18).
6. Inicialmente, na instrução de peça 20, foram promovidas medidas preambulares, consideradas
necessárias para esclarecimentos dos fatos, tais como oitiva prévia da Telebrás, solicitações de cópias de documentos e diligência junto ao CONFEA (peça 20, p. 13/16), o que contou com a concordância da relatora
por meio do despacho de peça 22.
7. Em seguida, na instrução de peça 61 foram apresentadas propostas de mérito no âmbito desta Selog, o que contou com a aprovação dos escalões dirigentes da unidade (peças 62/63). Entretanto, novos elementos de
defesa foram apresentados pela representante nestes autos. Diante disso, a relatora solicitou o pronunciamento
do Ministério Público junto ao TCU, que expediu sua opinião por meio da peça 68, manifestando sua concordância (peça 68, p. 3) com as proposições que haviam sido apresentadas pela Selog.
8. Por meio da peça 70, o CONFEA juntou aos autos pronunciamento quanto à validade da CAT
2620130001528, questão central nestes autos. Em face disso, a relatora determinou a restituição do processo
para novo exame na Selog (despacho de peça 71). Ato contínuo, a representante intentou novos elementos de defesa, desta feita por meio da peça 72.
9. Já na instrução anterior (peça 75), que contou com a anuência dos escalões dirigentes da Selog (peça
76/77), foram formuladas, entre outras, as seguintes propostas (peça 75, p. 6), à luz das informações carreadas ao processo pelos interessados:
a) indeferir o requerimento da medida cautelar formulado, ante a ausência dos pressupostos necessários para sua
concessão;
b) promover a oitiva da Telebrás, com fundamento no art. 237, parágrafo único, c/c art. 250, V, todos do Regimento
369
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Interno/TCU, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, manifeste-se sobre os efeitos da anulação da CAT 2620130001528, tendo em conta que este documento foi apresentado pela empresa vencedora do Pregão 19/2017, para o fim de habilitação
no certame e que, a depender do juízo feito pela Telebrás, é possível que seja necessária a anulação do procedimento
licitatório empreendido;
c) promover a oitiva da empresa Padtec S/A. (CNPJ/CPF: 03.549.807/0001-76), nos termos do art. 237, parágrafo
único, c/c art. 250, V, todos do Regimento Interno/TCU, para, no prazo de quinze dias, manifestar-se, caso queira, sobre os
fatos constantes no item ‘b’, supra;
d) alertar a Telebrás quanto à possibilidade de o TCU determinar a não prorrogação do contrato ou até mesmo a
anulação da habilitação da empresa Padtec S/A (CNPJ/CPF: 03.549.807/0001-76), caso não seja apresentada manifestação
ou esta não seja acolhida; 10. No despacho de peça 79, foi determinado que fosse promovida a oitiva da Telebrás. No mesmo passo,
deu-se a oportunidade de a empresa Padtec S/A também se pronunciar sobre os fatos. Ambas, então,
compareceram ao processo, para trazer argumentos que julgam pertinentes (Telebrás: peça 87/88. Empresa
Padtec: peças 88 e 92). Também sobreveio aos autos novos documentos juntados pela representante (peças 91 e 94).
11. Em suma, o presente processo discute a habilitação da vencedora e a inabilitação da representante, as
quais, na visão desta, teriam sido indevidas.
12. Na realidade, as empresas envolvidas neste processo travam verdadeira disputa pelo objeto da contratação, de elevado vulto, em um mercado que traz dificuldades de entrada a novos players. Assim, natural
que as empresas disputem palmo a palmo a contratação.
13. Contudo, reitere-se: a esta Corte não cabe o papel de mediar disputas privadas. O que lhe assiste é o dever de tutelar o interesse público. Portanto, questões que não digam respeito a este devem ser postas de lado.
14. Registre-se que as análises constantes desta instrução se referem à indagação promovida pela relatora
por meio do despacho de peça 79, não se adentrando o mérito de outros argumentos trazidos aos autos, uma vez
que não relacionados ao que se tem por intuito de deslindar, nessa etapa processual, tais como eventuais infrações a normas relacionadas ao desempenho de atividades profissionais por parte de responsáveis técnicos, a
serem eventualmente apuradas pelo Conselho Profissional competente.
EXAME DE ADMISSIBILIDADE 15. Já realizado, mediante instrução de peça 61. Reiteram-se os fundamentos ali expostos: a representação
preenche os requisitos de admissibilidade constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU, haja vista a
matéria ser de competência do Tribunal, referir-se a responsável sujeito a sua jurisdição, estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter nome legível, qualificação e endereço do representante, bem como encontrar-
se acompanhada do indício concernente à irregularidade ou ilegalidade.
16. Além disso, qualquer pessoa possui legitimidade para representar ao Tribunal, consoante disposto no
inciso VII do art. 237 do RI/TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993. 17. Ainda, conforme dispõe o art. 103, § 1º, in fine, da Resolução – TCU 259/2014, verifica-se a
existência do interesse público no trato das supostas irregularidades/ilegalidades, pois a inabilitação
alegadamente indevida de licitante para favorecer a outrem, em afronta aos princípios da isonomia e da legalidade, poderia, em tese, causar prejuízo ao interesse público e à própria Telebrás.
18. Dessa forma, a representação poderá ser apurada, para fins de comprovar a sua procedência, nos
termos do art. 234, § 2º, segunda parte, do Regimento Interno do TCU, aplicável às representações de acordo com o parágrafo único do art. 237 do mesmo RI/TCU.
EXAME TÉCNICO
PEÇA 86 – Argumentos trazidos pela Telebrás
19. A seguir, serão apresentados os principais argumentos apresentados pela Telebrás em sua resposta
sobre os efeitos da anulação da CAT 2620130001528 pela CREA/SP. Será feito o mesmo quanto aos demais
expedientes encaminhados a este Tribunal nesta etapa processual, em conformidade com o que foi indagado por
meio do despacho de peça 79. 20. Após receber Ofício nº 547/2018-UFR/DOP/SUPFIS do CREA/SP informando sobre a declaração de
nulidade da CAT 2620130001528, a Telebrás notificou a empresa Padtec para prestar esclarecimentos, bem
como solicitou ao CREA/SP maiores informações (p. 1), no que lhe foi comunicado que a empresa Padtec
entrou com mandado de segurança contra o Superintendente de Fiscalização do CREA/SP. 21. Com o deferimento parcial de liminar no âmbito do mencionado mandamus, a empresa Padtec teria
obtido acesso integral ao processo administrativo que culminou com a declaração de nulidade da CAT. Já o
370
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
CREA/SP até o momento de expedição da resposta ao TCU ainda não haveria respondido às indagações da Telebrás (p. 2).
22. A CAT 2620130001528, emitida em 19/02/2013 e apresentada pela empresa Padtec S/A para fins de
habilitação técnica no Pregão Eletrônico nº 019/2017, à época da contratação, contou com a validação do CREA-SP, dotado, portanto, de fé pública. No exercício do poder de cautela, a Telebrás conferiu a autenticidade
da CAT, em consulta realizada, em 12/07/2017 ao sítio do CREA-SP na Internet, o que denotaria, à época, a
boa-fé da empresa. 23. De acordo com a Telebrás, até o presente momento, os serviços prestados pela Padtec, em decorrência
do Contrato 074/2017/3500-TB, atendem satisfatoriamente os requisitos e as obrigações contratuais
estabelecidos, oferecendo serviços de boa qualidade, em conformidade com o que foi contratado. Observa que a
paralisação de tais atividades inviabilizaria a continuidade da prestação de serviços pela Telebrás a seus clientes, incluindo clientes de governo, daí porque a importância do presente contrato para a Companhia. A
descontinuidade imediata na execução dos serviços de operação e manutenção, objetos do Contrato nº 074/2017
/3500-TB, portanto, tem o potencial de acarretar sérios prejuízos aos negócios da Telebrás como também de todos os seus clientes, na maioria entidades governamentais.
24. Além disso, informa que a Telebrás vem buscando maiores detalhes sobre a invalidação da CAT e do
processo administrativo que se desenvolve no CREA/SP, que ainda não respondeu à Telebrás, tendo a empresa Padtec informado que apresentou recurso administrativo perante a aludida autarquia corporativa. Registra,
ainda, que o processo de contratação que culminou com a assinatura do Contrato 074/2017/3500-TB demorou
mais de 260 dias úteis para se efetivar e que, neste momento, em uma ponderação de valores e visando a evitar
maiores prejuízos à Telebrás, deve-se manter a contratação em vigor, sem prejuízo da revisão de seu entendimento, a qualquer tempo (p. 3-4).
25. Finaliza informando que, caso confirmada a apresentação de documento inválido durante o processo
licitatório ou conduta de má-fé de qualquer empresa ou de seus representantes durante o certame ou fora dele, a Telebrás adotará todas as providências cabíveis no sentido de apurar e punir os responsáveis, obedecido os
ditames legais.
Análise
26. As informações trazidas aos autos pela Telebrás confirmam o que já fora apontado na instrução anterior (peça 61): a suspensão da licitação ou do contrato, neste momento, causaria prejuízos ao interesse
público.
27. Com efeito, considerando-se o tempo que a Telebrás levou para efetivar a presente contratação (260 dias úteis), considerando-se a possibilidade de prejuízos aos negócios da Telebrás, considerando-se, ainda, que
há recursos em andamento no âmbito do CREA-SP, e considerando-se, finalmente, que a questão já foi
judicializada, não é a melhor saída a adoção de qualquer medida que possa vir a impedir a atual execução contratual. Contudo, há ponderações que devem ser feitas, desde logo.
28. A não propositura de medidas mais incisivas, por ora, não impede que esta Corte reveja sua posição
no futuro. Para isso, cabe o acompanhamento do que está sendo realizado pela Telebrás para a apuração das
responsabilidades quanto à CAT, que, alegadamente, seria idônea (ver item ‘c.2’, constante da proposta de encaminhamento desta instrução).
29. Ademais, mesmo uma eventual inabilitação da empresa Padtec não levaria ao retorno à habilitação da
representante nestes autos. Isso é materialmente impossível, como será mais uma vez exposto adiante. Argumentos trazidos pela empresa PADTEC (peça 88)
30. Como já se disse, serão analisados apenas os argumentos que dizem respeito ao fato que foi indagado
por meio do despacho de peça 79: efeitos da anulação da CAT 2620130001528. 31. De acordo com a empresa Padtec, ilegalmente, o CREA-SP teria acolhido o pleito da representante e
anulado a referida CAT, não observando o direito à defesa e ao contraditório, violando, ainda, o devido processo
legal e a instrumentalidade de formas, ínsita ao ato administrativo (p. 4).
32. O ato do CREA/SP seria objeto de questionamento judicial por meio do mandado de segurança 5006351-82.2018.4.03.6100, em trâmite perante a 12ª Vara Cível Federal de São Paulo da Seção Judiciária do
Estado de São Paulo. Em sua opinião, o Poder Judiciário seguramente invalidará o ato anulatório do CREA/SP,
restaurando-se a CAT indevidamente anulada para todos os fins de direito.
371
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
33. Em seguida, apresenta uma série de razões que, em seu modo de ver, farão com que a decisão do
CREA-SP seja anulada judicialmente, tais como: não intimação do profissional para apresentação de defesa
prévia (p. 5) e cancelamento da CAT sem a prévia oitiva do profissional prejudicado (p. 6).
34. Passa a discorrer sobre as razões que, em seu entendimento, não poderiam fundamentar o modo de proceder do CREA-SP.
35. Destaca que, ainda que houvesse algum fundamento a autorizar a anulação da CAT, a solução mais
adequada ao caso seria a sua convalidação (p. 12), já que a emissão da CAT em nome do profissional contaria com singelo erro material e não teria acarretado lesão ao interesse público ou a terceiro, pois está comprovado
que o engenheiro fazia - e faz - jus à sua emissão.
36. Mesmo que se entenda pela nulidade da CAT, a decisão do CREA-SP foi posterior à conclusão do
certame, sendo que os serviços vêm sendo prestados satisfatoriamente à Telebrás há dez meses. Decisão contrária prejudicaria a continuidade dos serviços públicos.
Análise
37. De início, como já dito, as ponderações aqui realizadas dirão respeito apenas ao fato que motivou a oitiva da Telebrás.
38. Quanto à afirmação de que o ato do CREA-SP será anulado, não cabe a este Tribunal antecipar
conclusões que cumprem a outro Poder. Vale, evidentemente, o respeito à independência das instâncias. 39. De toda forma, em consulta ao site do Poder Judiciário de São Paulo, verificou-se que foi deferida
parcialmente medida liminar suscitada no âmbito do writ manejado pela Padtec. Transcreve-se abaixo o
essencial para a compreensão do assunto:
Quanto à decisão administrativa da impetrada, verifico que determinou a nulidade da CAT por não atender ao disposto na Resolução nº 1025/2009 do CONFEA, inclusive por não ter os dados mínimos previstos
no Anexo IV daquela Resolução.
Ainda que a parte mencione que se tratam de meros erros materiais ocorridos à época da emissão da CAT anulada, verifico que há previsão expressa na Resolução nº 1025/2009 e nos seus Anexos acerca dos elementos
indispensáveis à integridade do documento, motivo pelo qual, em uma análise primeira, inexiste ilegalidade na
decisão administrativa.
Consigno, outrossim, que os atos administrativos praticados gozam de presunção de legitimidade juris tantum, de maneira que entendo indispensável a oitiva da parte contrária para a análise da questão, não se
configurando a probabilidade do direito alegado, em um primeiro momento.
Prosseguindo, em referência à alegação de violação ao devido processo legal, entendo que se trata de matéria eminentemente fática cuja análise depende da apresentação dos elementos comprobatórios mínimos,
notadamente cópia integral do procedimento administrativo atacado.
A Administração está sujeita à observância de alguns princípios constitucionais, dentre os quais se destaca o princípio da eficiência. Sendo assim, é certo que o que se espera do administrador é o cumprimento
dos prazos previstos na lei.
A ineficiência do serviço público não pode exigir um sacrifício desmesurado nos interesses dos
particulares, mormente quando previstos expressamente na Constituição Federal (inciso LXXVIII do artigo 5º e caput do artigo 37, ambos da Constituição Federal).
Não há como deixar de reconhecer as dificuldades estruturais enfrentadas pela Administração para
atender a contento às necessidades dos administrados. O mesmo ocorre com o Poder Judiciário, em relação aos seus jurisdicionados.
(...)
Verifico, neste particular, que o impetrante protocolou requerimento administrativo de solicitação de cópias ou vista de processo administrativo perante o CREA-SP em 08/11/2017 (doc. 5120100) e 22/02/2018
(doc. 5120100). Portanto, há mais de 30 (trinta) dias.
Há indícios suficientes, no momento, de que a autoridade não forneceu acesso à íntegra do processo, uma
vez que o prazo do impetrante para apresentação do recurso administrativo encontra-se suspenso, e que voltará a fluir ‘a contar da data de vista do processo A-174/2013 quando disponibilizado’ (doc. 5120100 – pág. 3).
Destaco, ainda, que não pode ser olvidado o princípio da acessibilidade aos elementos do expediente (...)
Este princípio encontra escopo nos artigos 5º, XXXIII, XXXIV, ‘b’, e LXXII, e 37 da Constituição Federal.
372
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Negar acesso dos autos obsta o direito do requerente de elaborar defesa técnica contra os atos que lhe
estão sendo imputados. Assim, faz-se indispensável que tenha integral acesso e direito de extração de cópias,
sob pena de malferir os princípios constitucionais aqui mencionados.
Igualmente evidenciado o periculum in mora, na medida em que o impetrante não pode ser impedido indefinidamente de acessar o processo administrativo que culminou na anulação de CAT em seu nome,
instrumento indispensável para a continuidade do exercício de suas atividades laborais.
Ante ao exposto, DEFIRO EM PARTE a liminar requerida para determinar à autoridade impetrada que conceda ao impetrante, no prazo de 5 (cinco) dias, acesso integral aos autos do processo administrativo nº A-
174/2013.
40. Portanto, vislumbra-se que a questão ainda não foi decidida no mérito na esfera judicial, o que, claro,
não impede esta Corte de atuar. De toda forma, por conta do que já se expôs quando da análise dos argumentos apresentados pela Telebrás, não atende aos interesses públicos a adoção, neste momento, de qualquer medida
mais contundente que impeça a execução do contrato em andamento.
41. Ressalte-se que a Lei de Licitações estabelece a obrigação de a contratada manter na execução contratual todos os requisitos de habilitação, como condição de continuidade da avença (inc. XIII do art. 55 da
Lei 8.666/1993). Sendo assim, caso reste demonstrado que a empresa Padtec tem capacidade técnica para
continuar executando o objeto, não deveria se estabelecer objeção a isso. Vale lembrar que a documentação apresentada pela empresa no pregão encontrava-se válida quando da análise realizada pela Telebrás no curso do
certame.
42. Também cabe destacar que a CAT apresentada pela empresa Padtec e que é ponto central de toda a
discussão havida nestes autos foi expedida há mais de cinco anos, tendo sido questionada apenas no curso da contratação examinada. Além disso, a empresa já executava serviços relacionados ao objeto, por meio de
contrato realizado junto a própria Telebrás (ver § 5º desta instrução), o que, a princípio, denotaria sua
capacidade técnica. 43. Contudo, a documentação relativa à capacidade técnica da empresa foi posta à prova. Como não
podem pairar dúvidas quanto à qualificação técnica de qualquer licitante que firme contratos com a
Administração, é necessário que a Telebrás exija que a empresa Padtec apresente documento válido que
comprove tal capacidade, sob pena de manter-se o contrato apenas pelo prazo necessário para a conclusão de novo processo licitatório, tendo em conta o que estabelece o inc. XIII do art. 55 da Lei 8.666/93. Assim, cabe
fixar prazo razoável, qual seja, trinta dias, para que a Telebrás ultime a análise da documentação comprobatória
e válida a ser apresentada pela empresa Padtec, de modo a ficar demonstrada a capacidade técnica exigida no item 20.2 do edital do Pregão Eletrônico 19/2017 para prestar os serviços contratados, fato que deve ser
monitorado por esta unidade técnica. Em seguida, deve a estatal comunicar a esta Corte as providências
adotadas, em razão das análises que proceder. Argumentos trazidos pelo consórcio Seteh e B2IT (peça 91)
44. Em documento nominado ‘memoriais’, a representante nestes autos declina os argumentos que
passam a ser abaixo apresentados.
45. A Telebrás teria agido de má-fé ao expedir atestado com conteúdo falso e omisso, no claro propósito de conferir a oportunidade para que o engenheiro da empresa Padtec S/A lograsse obter CAT junto ao CREASP
(p. 1).
46. O cenário enredado pela Telebrás, ao tecer considerações acerca da importância da contratação, teria por objetivo alarmar o TCU para os efeitos de uma abrupta paralisação dos serviços, o que ocasionaria sérios
prejuízos aos seus negócios e a de todos os seus clientes, na maioria entidades governamentais (p. 2). Isso não
estaria sendo cogitado pela representante. 47. No contexto, dada a expertise das empresas consorciadas, a transição contratual seria concluída em
sessenta dias, em prazo menor do que o previsto no Termo de Referência (noventa dias), sendo que o valor dos
serviços poderia ser reduzido em R$ 750 mil, com relação ao que fora ofertado no certame (p. 3). Para isso,
bastaria ao TCU determinar ao Ordenador de Despesas que, seguindo o manual disponibilizado pelo MPDG, realize, via sistema Compras Governamentais, o imediato cancelamento da homologação à empresa Padtec S/A,
voltando à fase de habilitação, para que, em seguida, habilite o Consórcio, já que comprovou, por dezenas de
Atestados e CATs, aptidão técnica suficiente para executar o objeto licitado, por ter prestado serviços de manutenção e de edificação em estações de TELECOM, de complexidade equivalente ou superior ao exigido no
certame.
373
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
48. As ARTs relativas às CATs apresentadas seriam todas falsas, por se referir a contrato de fornecimento
de equipamentos e não de prestação de serviços de engenharia de manutenção e operação de estações de
telecomunicação.
49. A má-fé do engenheiro da empresa seria incontornável, já que o profissional teria fornecido elementos falsos para o CREA-SP, entidade que mesmo tendo certificado o cumprimento parcial dos requisitos, expediu a
CAT em circunstâncias bastante nebulosas.
50. De acordo com a representante, o momento oportuno para as licitantes comprovarem sua qualificação seria no certame. Não haveria possibilidade para a empresa confabular junto a estatal a elaboração de um ‘novo
atestado’ na fase final desta representação, tanto mais porque não poderia retratar a execução de atividade
compatível com o objeto licitado (manutenção de estações de Telecom) em momento anterior ao certame, já
que, repisa, o profissional jamais registrou suas atividades a benefício lucrativo da empresa Padtec S/A e em detrimento financeiro do sistema CONFEA (p. 6).
Análise
51. As evidências juntadas aos autos não permitem conclusão quanto a atitudes de má-fé por parte dos gestores da Telebrás. Ainda que se possa cogitar de irregularidades no preenchimento do atestado emitido pela
Telebrás que deu origem à CAT utilizada pela empresa Padtec para sua qualificação técnica no certame, pelo
menos por ora, a conclusão de que houve má-fé não é possível. 52. Quanto aos meios processuais adotados pelo TCU para chegar a suas decisões, o que esta Corte
pondera, sempre, é o melhor modo de atendimento aos interesses públicos. Nesse contexto, cumpre destacar o
que estabelece a recém aprovada Lei 13.655/2018 (destaque nosso):
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências
jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses
gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso,
sejam anormais ou excessivos.
53. A despeito de toda a celeuma que envolveu a edição da norma, o fato é que ela vai no sentido de decisões tomadas por este Tribunal em questões que sejam relevantes para o país: há sempre o zelo de se tentar
evitar prejuízos ao interesse público. E a proposta do representante de se retornar o pregão realizado a fases
anteriores não, neste momento, é a que mais bem atende aos interesses públicos. 54. Primeiramente, esse suposto desconto de R$ 750 mil deveria ter sido apresentado pela representante
na licitação em sua proposta original ou quando da negociação antes da inabilitação da empresa no certame, não
sendo possível ser considerado neste momento. Caso se permitisse à licitante fazer isso agora, deveria ser dada a mesma oportunidade a outros participantes do processo, o que implicaria reabrir o certame.
55. Ademais, nada muda o fato de que a representante foi inabilitada na licitação, em razão de não ter
cumprido com as condições de qualificação técnica estabelecidas no edital, conforme análises procedidas pela
Telebrás e que inclusive já foram objeto de exame por esta Corte em oportunidade anterior (peça 61, p. 16/17, §§ 79/81), transcrito abaixo:
79. No que se refere aos atestados comprobatórios, considera-se que a Telebrás, por meio da equipe
responsável pelo certame, agiu de modo razoável. Com efeito, há diferença entre executar obras e promover manutenção, motivo da recusa de algumas CATs apresentadas pelo consórcio representante, e questão central na
condução do certame.
80. Ilustrativamente, na Nota Técnica 022/3600/2017, foram procedidas as seguintes análises por parte da Telebrás (peça 42, p. 96/97):
‘6.1. A diligência de que trata esta nota técnica, realizada no período vespertino do dia 25/05/2017 na
sede da empresa B2IT TELECOM, forneceu subsídios necessários e suficientes para concluir-se que a empresa
não atende a nenhum dos quesitos elencados no subitem 20.2.2 do Termo de Referência n° 006A12016/3600-v04, pois suas CAT não são compatíveis em características e quantidades com os serviços relacionados nas
letras a a h do item 20.2.2 do Termo de Referência do presente processo.
6.2. Da Nota Técnica 016/3600/2017 em seu subitem 4.1b, transcreve-se que: ‘A empresa SETEH ENGENHARIA LTDA apresentou atestado (s) ou declaração (ões) de Capacidade Técnica (A.C.T), expedido(s)
por pessoa(s) jurídica(s) de direito público ou privado, devidamente registrado(s) no CREA, em seu nome ou
374
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
em nome de profissionais do seu quadro técnico, devidamente registrados no CREA. Os atestados apresentados relacionam serviços executados que não são compatíveis em características com os serviços relacionados nas
letras ‘a’ a ‘h’ do item 20.2.2 do Termo de Referência do presente processo.’
6.3. Conclui-se que o consórcio formado pelas empresas SETEH ENGENHARIA LTDA. e B2IT TELECOM não reúne as qualificações técnicas suficientes demandadas pelo Termo de Referência n°
006A/2016/3600-v04.’
81. Assim, a inabilitação do Consórcio SETEH/B2IT do certame é aceitável, sem prejuízo do que se mencionou em parágrafo anterior, providência a cargo do CONFEA: caso a aludida autarquia corporativa
conclua que a documentação apresentada pela PADTEC é irregular, isso pode eventualmente influir na
continuidade da execução contratual. É preciso, portanto, determinar ao CONFEA que informe o resultado das
apurações à Telebrás, como já se disse anteriormente (parágrafo 79), para que esta adote medidas eventualmente necessárias.
56. Adite-se que mesmo com uma eventual inabilitação da atual contratada, isso não faria o certame
voltar à fase de análise dos documentos de habilitação da representante, afinal sua oportunidade de apresentar proposta e documentos já foi ultrapassada, sendo que a decisão tomada pelo pregoeiro quanto a isso já foi objeto
de análise por esta Selog (peças 20 e 61), tendo contado com a anuência do MPTCU, que não identificou
irregularidades na conduta do pregoeiro. Além disso, mesmo que se admitisse que a assertiva de que o Consórcio faria eventual transição contratual em 60 dias, isso não o socorre, neste momento, pois esse foi
inabilitado do certame.
57. Quanto à possível falsidade da CAT apresentada, deve-se aguardar o desenrolar do processo
administrativo no CREA/SP e CONFEA, tendo em vista o recurso apresentado contra a decisão que invalidou o referido documento e que está sendo acompanhado pela própria Telebrás. Por ora, essa é a melhor providência,
de modo a não se criar riscos de descontinuidade a negócios desenvolvidos pela Telebrás.
58. Reitere-se: esta Corte não resolve questões privadas, disputas comerciais ou outras questões que digam respeito aos interesses das empresas envolvidas. Para isso, há o Poder Judiciário ou outras instituições
administrativas. Ao TCU cumpre o resguardo do interesse e dos recursos públicos.
59. É bastante interessante o argumento lançado pela representante de que a qualificação técnica deveria
ser comprovada na licitação. E de fato, deve. Contudo, há uma questão ínsita ao caso concreto, que perpassa pela seguinte disposição, constante da Lei 8.666/1993:
Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:
(...) XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com
as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação.
60. Veja-se: na realidade, a empresa Padtec comprovou sua habilitação por meio de documentação válida, à época, mas que diante da nova situação apresentada, ainda que não definitiva, cabe, com base no art. 55, inciso
XIII solicitar à empresa que comprove dispor de todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na
licitação. As dúvidas levantadas devem ser supridas, pois não sendo isso feito põe em cheque sua condição de ser contratada.
61. De toda forma, a proposta de determinação constante do parágrafo 43 desta instrução é suficiente para
esclarecimento do fato, não sendo necessária outras providências adicionais. Novos argumentos trazidos pela empresa PADTEC (peça 92)
62. A CAT 2620130001528 foi emitida pelo CREA-SP em 2013, após ser instruída com o atestado
técnico concedido pela Telebrás, que certificou a responsabilidade técnica do Recorrente na execução de
serviços de operação e manutenção da rede óptica da empresa estatal (p. 1/2). 63. Passados cinco anos de sua emissão, o CREA-SP determinou a nulidade da referida CAT, após privar
o recorrente de acessar os autos, manifestar-se ou apresentar defesa, sob a alegação de que o atestado de
capacidade técnica, vinculado à certidão, não apresentava alguns dos requisitos exigidos pelo CONFEA (P. 3). 64. Contudo, as omissões apontadas corresponderiam a erros materiais constantes do atestado de
capacitação técnica, emitidos pela Telebrás, que não estaria sujeita às regras deste conselho de fiscalização. Ou
seja, não haveria nenhuma conduta do recorrente que pudesse ser imputada como irregular e/ou ilegal.
65. Os vícios apontados se mostraram plenamente sanáveis, já que antes mesmo da intimação da anulação da CAT, a Telebrás já haveria emitido novo atestado de capacitação técnica com a correção de todos os
‘equívocos’ levantados pelo CREA/SP (p. 3).
375
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
66. O profissional responsável pela CAT nunca foi intimado para apresentar defesa prévia e/ou qualquer
outra informação/prova antes da decisão que anulou a certidão, bem como não foi autorizado a acessar os autos
do processo administrativo, mesmo após solicitações nesse sentido. Tal situação violaria o art. 3º da Lei
9.784/1999, bem como o art. 38 da mesma norma. 67. Uma eventual intimação pelo CREA/SP, na opinião da empresa Padtec, teria sido suficiente para
evitar toda a celeuma, já que a recorrente teria apresentado novo atestado emitido pela Telebrás e sanado todas
as omissões apontadas (p. 5/6). 68. A decisão do CREA-SP deveria ser declarada nula e determinada a reabertura da instrução, para que
fosse assegurado ao recorrente seu direito ao contraditório e ampla defesa (p. 7). A anulação sumária, além de
representar excesso de formalismo, causaria prejuízo ao exercício profissional do recorrente, que pertence à
empresa que participa com frequência de procedimentos licitatórios, além de violar preceitos constitucionais. Considerando que a emissão da CAT pelo CREA/SP é ato vinculado e que foram preenchidos todos os
requisitos legais para sua obtenção (conf. Resolução 1.025/2009 do CONFEA), o recorrente gozaria de direito
subjetivo à obtenção da certidão, que deveria ser mantida pelo CREA/SP. 69. Ainda que houvesse alguma razão que justificasse a anulação da CAT, a solução mais adequada ao
caso seria a sua convalidação, pois o erro material em sua emissão não acarretou lesão ao interesse público ou a
terceiro, pois estaria comprovado que o recorrente fazia - e faz - jus à sua emissão (p. 8), tratando-se de defeito que já foi sanado com o novo atestado emitido pela Telebrás.
70. Sem a CAT em discussão, o recorrente ficaria impossibilitado de participar de licitações e projetos
que a exijam. A decisão colocaria em risco, ainda, as atividades pelas quais o recorrente é o atual responsável
técnico, incluindo-se aí contratos relevantes de prestação de serviços de telecomunicações cm todo o território nacional, e que emprega aproximadamente duzentos funcionários. A decisão estaria impedindo, também, o
recorrente de exercer as atividades que antes normalmente desempenhava. E essas consequências lesivas se
agravariam a cada dia, na medida em que tais restrições têm o potencial de prejudicar a carreira do recorrente, assim como a sua boa imagem no mercado (p. 10).
71. Finaliza alegando não haver prejuízo à concessão de efeito suspensivo à decisão da Telebrás, uma vez
que a própria empresa já teria emitido novo atestado comprovando que o recorrente preencheria todos os
requisitos necessários à emissão da CAT. Em face disso, o profissional apresenta pedido formulado ao CREA-SP para que dê provimento do recurso, com o reconhecimento da legalidade da CAT ou a determinação de sua
convalidação, com a apresentação do novo atestado emitido. Subsidiariamente, pede que se declare nula a
decisão que determinou a nulidade da CAT 2620130001528, a fim de garantir ao recorrente a oportunidade de defesa no processo relativo ao documento.
Análise
72. O profissional indicado como responsável técnico fez prova de que moveu recurso administrativo diante do CREA-SP (p. 12, p. 92). Ademais, a proposta de determinação formulada (parágrafo 43 e proposta de
encaminhamento) é suficiente para que se supram as dúvidas levantadas no curso deste processo.
73. Portanto, no atual momento não há necessidade de adoção de outra medida mais incisiva, já que isto
poderia causar prejuízos à execução do contrato, que é relevante para o bom funcionamento de diversas instituições públicas.
Novos argumentos trazidos pelo consórcio Seteh e B2IT (peça 94)
74. O Consórcio representante informa que já está providenciando a juntada imediata dos mesmos elementos documentais nos autos do Processo Administrativo 174-A, em curso no CREA/SP, para o fim de que
a autoridade incumbida de analisar eventual recurso tome conhecimento dos fatos graves e desabonadores
atribuíveis ao responsável técnico da empresa PADTEC. 75. O consórcio representante também informa ter ingressado no referido mandado de segurança na
qualidade de assistente litisconsorcial do CREA/SP (polo passivo e/ou amicus curiae; art. 138 CPC), pois tem
interesse na confirmação da decisão de anulação da referida CAT nº 2620130001528, a qual está sendo utilizada
ilicitamente em licitações públicas, com prejuízo de diversas empresas de engenharia sérias estabelecidas país afora, detentoras de atestados técnicos hígidos (p. 1).
76. Questiona o fato de que a própria Telebrás, em 2013, licitou e contratou a Padtec S/A, na ocasião uma
mera fornecedora de equipamentos, para execução de serviços de engenharia de manutenção e operação de sua planta nacional de Telecom em 25 estados da federação, e que, agora, em 2017, vem a suspeitar da capacidade
376
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
das empresas consorciadas, que há muito executam serviços de engenharia nas estações de TELECOM localizadas em todo o território nacional.
77. Na opinião da representante, as questões suscitadas ao longo do processo teriam por única finalidade
deixar claro que a verdadeira razão da inabilitação do Consórcio consiste no interesse da Telebrás em adjudicar o objeto licitado à Padtec S/A, empresa que já vem prestando os serviços na estatal, tendo sido habilitada no
certame a partir de atestado e CAT inválidos, o que evidencia o notório direcionamento do certame. Não haveria
a menor pertinência em aguardar a definição do recurso administrativo interposto no CREA-SP contra o ato que determinou o cancelamento da CAT emitido ao engenheiro da Padtec S/A, pois o que efetivamente importa à
solução desta Representação é o reconhecimento da aptidão técnica do Consórcio para executar.
78. O prejuízo para o sistema CONFEA superaria o montante de R$ 7.000.000,00, registrando-se, por
derradeiro, que outros setores da Telebrás só autorizam o pagamento mediante a apresentação da respectiva ART.
Análise
79. A iniciativa de juntar documentos ao mandado de segurança aventado certamente contribuirá para elucidação dos fatos na esfera judicial, mas é matéria que não influencia a tomada de decisão por esta Corte, que
atua de forma independente. De toda forma, como já se disse em reiteradas passagens, considerando que o
processo foi judicializado, considerando que o contrato vem sendo executado a contento pela empresa contratada, conforme a própria Telebrás informou, considerando, ainda, que nada impede que a Telebrás ou
mesmo este Tribunal venham a rever sua posição em consequência do desfecho da questão judicial, não há
medidas mais incisivas que devam ser adotadas por este Tribunal no presente momento.
80. Com relação à habilitação da empresa Padtec, chama atenção o argumento lançado pela representante: a empresa já era executora dos serviços em 2013. Sendo assim, ainda que pairem dúvidas sobre a habilitação
técnica realizada naquele momento, o fato é que no processo de contratação de 2017 a empresa já possuiria
capacidade comprovada de execução. Na presente etapa processual o que deve ser resolvida é a legalidade da CAT nº 2620130001528, o que não fará com que o processo ‘volte’ para a habilitação da representante. O pleito
é materialmente impossível. A representante já foi inabilitada. Neste momento, não caberia a este Tribunal
determinar o retorno à fase anterior para analisar novamente a documentação da representante. Por outro lado,
caso se decida pelo encerramento do contrato vigente, o aproveitamento do pregão ainda seria possível com base no art. 24, XI, da Lei 8.666/93, convocando-se as empresas que não tiveram propostas de preços e
documentos de habilitação analisados, em ordem de classificação no certame, para verificar se aceitam as
mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor. 81. O preço final contratado foi o mesmo apresentado pela representante. Exatamente o mesmo (cento e
trinta e sete milhões de reais). O possível desconto de setecentos e cinquenta mil reais deveria ter sido oferecido
pela representante na etapa competitiva do certame. Isso, per si, já afasta a alegação de prejuízos materiais aos interesses púbicos. Além do mais, a licitação, como se sabe, possui etapas, fases. Ainda que haja uma aparente
vantagem na diminuição do valor oferecido por conta do desconto apresentado (tão só agora), não se pode
deixar de lado o que estabelece a lei. A se permitir que a representante somente agora oferecesse outro valor,
ainda que vantajoso, deveria ser feito o mesmo para todos os demais participantes, o que implicaria reabertura do processo licitatório, o qual já se encontra precluso, pois até contrato firmado já existe. Enfim, esse argumento
de que a representante ofertaria um preço melhor para Administração, que surgiu apenas após a disputa havida
na licitação, em nada a socorre. 82. Também não cabe a este Tribunal o reconhecimento da capacidade técnica do consórcio representante
nestes autos, sendo que a condução do procedimento já foi examinada em outras etapas processuais, não
cabendo retornar a isso agora (ver § 51 desta instrução). 83. Por fim, eventuais prejuízos ligados à atividade arrecadatória do CREA-SP certamente serão aferidos
pela instituição, de início. Eventualmente, e não no âmbito deste processo, esta Corte poderá agir, se julgar
necessário.
Argumentos trazidos pela empresa PADTEC (peça 95/98) 84. Em peça nominada ‘impugnação aos memoriais ofertados por SETEH ENGENHARIA LTDA. e
B2rT SERVIÇOS DE MULTIMIDJA E TELECOM LTDA’ a empresa Padtec apresenta os argumentos abaixo,
resumidamente declinados. 85. Novamente, afirma serem verdadeiras as informações constantes da ART combatida (peça 95, p. 4).
377
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
86. Não existiria previsão jurídica que categorize como inexistente uma ART em que falta a assinatura da
contratante, já que esse vício seria sanável e se houvesse algo a ser retificado na ART, a situação
obrigatoriamente ensejaria notificação para correção, afinal seria uma simples assinatura (peça 95, p. 8).
87. Na emissão da certidão, no máximo poder-se-ia falar em irregularidades/omissões no atestado de capacidade técnica que a antecedeu, que jamais poderiam ser atribuídas a qualquer uma das partes, seja ao
engenheiro ou à empresa Padtec, por não ter competência sobre a emissão do título, ou à Telebrás, que não se
sujeita às normas do CREA-SP. Esse entendimento é corroborado pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região (peça 95, p. 11).
88. Em razão da linguagem empregada pelo consórcio representante, caberia ao TCU mandar riscar as
expressões caluniosas e injuriosas aqui apontadas (peça 95, p. 14/16).
89. Finaliza peticionando para que a representação seja desprovida, de maneira a reconhecer a higidez e a validade do certame e da contratação. Pede, também, que as expressões caluniosas e injuriosas utilizadas pelas
representantes sejam riscadas dos autos.
Argumentos trazidos pelo consórcio Seteh e B2IT (peça 99) 90. A representante requer a juntada de petição protocolada nos autos do mandado de segurança (Proc.
5006351-82.2018.4.03.6100), em curso perante o d. Juízo Federal da 12a. Vara Federal da Seção Judiciária de
São Paulo (p. 1) Análise
91. De pronto, rechaça-se a possibilidade de se transformar esta Corte em arena para disputas de
interesses privados, o que parece estar ocorrendo entre as duas instituições empresariais presentes neste
processo. De toda forma, esta unidade adstringe-se às análises técnicas necessárias ao deslinde deste feito. 92. Os argumentos apresentados pela empresa Padtec já foram colocados mediante as diversas peças
juntadas aos autos pela corporação. A legalidade da ART/CAT está sendo resolvida por meio de medidas
inclusive já propostas no encaminhamento deste processo (item c da proposta de encaminhamento, a seguir), pelo que não há o que se propor além do que já foi apresentado.
93. Quanto ao suposto excesso de linguagem por parte da representante, cabe registrar que não houve
qualquer interferência na análise de mérito por parte desta Selog. A disputa de mercado travada nestes autos
pode ter ocasionado, de parte a parte, diga-se, a elevação do tom, no que diz respeito aos argumentos empregados. Mas não se vislumbra necessidade de que sejam retiradas expressões que supostamente possam
prejudicar os envolvidos.
94. Por fim, ainda que pretenda contribuir com a apuração destes autos, a comunicação da representante de que juntou petição a processo judicial que também trata da matéria em nada contribui para a solução do
processo nesta Corte. Com efeito, não há influência de tal providência neste processo, por conta da
independência das instâncias. ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR
95. Em seus pedidos, a representante suscita a possibilidade de suspensão cautelar do certame (peça 1, p.
40-41). Além do mais, na peça 94 pede que seja concedida sua imediata habilitação na licitação empreendida,
por se entender plenamente aptas para a execução das atividades previstas no Pregão Eletrônico n. 19/2017-TB, o que também pode ser entendido como um pedido de cautelar.
96. Inicialmente, cumpre registrar que assiste o juízo cautelar aos Tribunais de Contas, como inclusive
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, com base na teoria dos poderes implícitos (nesse sentido, MS 24.510). De fato, não há sentido em o constituinte outorgar competências de controle às Cortes de Contas se não
atribuir, também, meios para tanto. Daí a possibilidade de adoção de medidas cautelares pelos Tribunais de
Contas, de forma a mitigar os riscos quanto a prejuízos futuros de difícil ou incerta reparação. 97. Há, sabidamente, dois requisitos fundamentais para adoção de uma medida cautelar: o fumus boni
iuris e a o periculum in mora. Pelo primeiro, há de se verificar a verossimilhança das alegações, isto é, se, em
primeiro exame, o direito pleiteado soa razoável. Pelo segundo, há de se verificar se a demora na decisão de
mérito causará prejuízo aos interesses tutelados, os quais, no caso da Administração, são públicos, e, portanto, indisponíveis. Na espécie, deve-se negar a cautelar pleiteada, uma vez que ausentes os requisitos necessários ao
pedido (periculum in mora e fumus bônus iuris).
98. Com efeito, o contrato decorrente do Pregão 19/2017 já foi firmado e se refere a objeto importante aos negócios da Telebrás. A descontinuidade imediata dos serviços poderia causar sérios transtornos não só à
estatal, mas a todos os que dependem de serviços relacionados à avença firmada. Constitui-se, então, periculum
378
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
in mora reverso, já que a concessão de qualquer cautelar, no presente momento, causaria prejuízos aos interesses públicos. Portanto, a cautelar pleiteada deve ser negada.
CONCLUSÕES
99. Ainda que pairem dúvidas sobre a habilitação da empresa Padtec, em face do que foi apontado com relação à CAT utilizada pela empresa no certame, o fato é que a documentação da empresa se encontrava válida
à época do certame e entendemos aplicável ao caso o previsto no art. 55, inciso XIII da Lei 8.666/93, devendo a
empresa demonstrar que dispõe de todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação, decorrente do Pregão Eletrônico 19/2017, nos termos analisados acima, sob pena de manter-se o contrato apenas
pelo prazo necessário para a realização de uma nova contratação, ou para a contratação do remanescente dos
serviços contratados, por meio do art. 24, inciso XI da Lei 8.666/93 .
100. Ressalte-se que em oportunidade anterior, esta Selog considerou correta a inabilitação da representante nestes autos (peça 61), contando com a anuência do MPTCU (peça 68). Ainda que objeto da
irresignação do Consórcio Seteh/B2IT, o fato é que a decisão foi adequadamente motivada pela Telebrás. A
propósito da necessidade de motivação das decisões administrativas, cabe colacionar os argumentos constantes do voto condutor do Acórdão 723/2018 – Plenário, com destaques não constantes do original (relator: Ministro
Benjamin Zymler):
31. (...) Em princípio caberia ao gestor efetuar o juízo acerca da solução que melhor atenda ao interesse público, para então decidir sobre sua forma de ação. Não pode o Tribunal substituir a Administração na
atividade de promover a gestão pública, de modo a dizer previamente qual é a melhor alternativa que o gestor
público deve adotar.
32. Com respaldo nas disposições constitucionais, o TCU pode exercer o controle do poder discricionário da Administração Pública, adentrando no exame da economicidade, eficácia, eficiência e efetividade do ato
administrativo, notadamente quando observadas omissões ou deficiências na motivação do ato ou a decisão
adotada pelo gestor se mostrar em descompasso com os princípios que regem a atuação estatal. Porém, tal controle necessita de uma certa dose de autocontenção.
101. Não se percebeu ilegalidades, antieconomicidade ou outras razões que levassem a este Tribunal a
agir, no que diz respeito à inabilitação da representante. Os interesses que assim a esta, exclusivamente
privados, não determinam a ação do TCU, ainda que se possa buscar resposta no Judiciário, evidentemente. 102. Por outro lado, em razão do inc. XIII do art. 55 da Lei 8.666/1993, cabe à empresa Padtec
demonstrar que, de fato, possui a qualificação técnica para manter a execução do contrato, sob pena de pôr em
risco a continuidade da avença. 103. Mesmo que se confirme a anulação da CAT 2620130001528, utilizada pela empresa Padtec para sua
qualificação técnica no Pregão Eletrônico 19/2017, isso não faria com que o processo retornasse ao momento de
inabilitação da representante. Para ela, a participação se encerrou no momento em que foi inabilitada. Não a socorre o argumento de que concederia um ‘desconto’ à Telebrás caso o processo fosse retornado a ela. Ora,
caso isso fosse oportunizado à representante, teria de o ser a todas as demais empresas participantes no certame,
pois, em caso contrário, restaria violado princípio da isonomia.
104. Tendo em conta o que estabelece a Lei 13.655/2018 (art. 21), como principal consequência prática de uma eventual decisão pela anulação da habilitação da empresa Padtec no certame seria a necessidade de uma
nova licitação ou mesmo a convocação do terceiro colocado, o que deveria ficar a critério da Administração.
Some-se a isso a necessidade de que, nos termos do inc. XIII do art. 55 da Lei 8.666/1993, a contratada mantenha durante toda a execução contratual as condições iniciais de habilitação. Sendo assim, entendemos
suficiente determinar à Telebrás que exija da empresa Padtec a apresentação de documentação válida
comprobatória da qualificação técnica da empresa para assumir os serviços contratados por meio do Pregão 19/2017, em conformidade com as exigências constantes do item 20.2 do edital do certame (peça 16, p.
108/109), sob pena de manutenção da aludida avença tão só pelo tempo necessário para a realização de um novo
processo licitatório, ou para conclusão dos atos necessários para a contratação do remanescente dos serviços,
nos termos do art. 24, inciso XI, da Lei 8.666/93. 105. Considerando-se, ainda, as análises realizadas por meio de outras instruções constantes nestes autos,
sobretudo a de peça 61, convém o encaminhamento das ciências abaixo propostas, de forma a contribuir para
futuras licitações que tenham objeto idêntico ou similar ao contratado mediante o Pregão 19/2017, e que se encontram em conformidade com as análises procedidas ao longo deste processo.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
379
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo: a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235
e 237, inciso VII, do Regimento Interno/TCU, c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993 e no art. 103, § 1º da
Resolução – TCU 259/2014, para, no mérito, julgá-la parcialmente procedente; b) indeferir o requerimento da medida cautelar formulado, ante a ausência dos pressupostos necessários
para sua concessão;
c) determinar, com fundamento no inc. II do art. 250 do Regimento Interno/TCU, às Telecomunicações Brasileiras S/A. (Telebrás) que:
c.1) no prazo de até 30 (trinta) dias, exija da Padtec S/A. (CNPJ/CPF: 03.549.807/0001-76)
documentação válida que comprove que a empresa dispõe de todas as condições de habilitação e qualificação
exigidas na licitação para continuar executando os serviços contratados por meio do Pregão 19/2017, nos termos do que dispõe o inc. XIII do art. 55 da Lei 8.666/1993, tendo em vista a declaração de nulidade pelo CREA/SP
da Certidão de Acervo Técnico (CAT - 2620130001528) apresentada pela empresa no certame, sob pena de
manter-se o contrato decorrente apenas pelo prazo necessário para a conclusão de novo processo licitatório ou para a conclusão dos atos necessários para a contratação do remanescente dos serviços, nos termos do art. 24,
inciso XI, da Lei 8.666/93 (parágrafos 41/43 e 93 desta instrução), informando ao TCU no mesmo prazo acima
as medidas adotadas e resultados; c.2) assim que encerradas as apurações, apresente as conclusões decorrentes do Processo 243/2017,
instaurado para apuração das denúncias formuladas pela Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ: 26.742.502/0001-81);
d) com base no art. 7º da Resolução 265/2014, do TCU, dar ciência à Telebrás de que no Pregão 19/2017
(peça 61, p. 24): d.1) o uso de expressões vagas, sem parâmetros quantitativos no item 20.2.2 do Termo de Referência
(‘serviços compatíveis em características e quantidades com o objeto deste Termo de Referência’ – parágrafos
83/87, peça 61) constituiu infringência ao princípio do julgamento objetivo, previsto no art. 5º do Decreto nº 5.450/2005 e no art. 3º da Lei nº 8.666/1993, bem como à jurisprudência do TCU (v.g. item 1.6.1, TC-
021.857/2012-1, Acórdão nº 271/2013-Plenário);
d.2) o planejamento deveria ter se iniciado antes, já que foi necessário suceder a contratação anterior por
meio de uma emergencial, que deve ser admitida apenas em condições de exceção (parágrafo 98, peça 61); d.3) o preço de referência deveria ter sido divulgado no edital, já que isso é obrigatório em licitações na
modalidade pregão, quando tal valor for utilizado como critério de aceitabilidade das propostas, nos termos do
art. 40, X, da Lei nº 8.666/1993 (parágrafo 101, peça 61) e) comunicar à Comissão de Ética Pública – CEP que avalie a conveniência e a oportunidade de apurar a
existência de potencial infração ética inserida em sua alçada de competência, tal como conflito de interesses,
ante o que estabelece o Decreto 6.029/2007, encaminhando, para tanto, cópia do que vier a ser decidido (especialmente parágrafos 93/95 da instrução de peça 61);
f) encaminhar cópia do presente processo ao Ministério Público Federal, para adoção das providências
que julgar cabíveis, ante a possibilidade da ocorrência de ilícitos penais, encaminhando, para tanto, cópia do que
vier a ser decidido e da peça 61 deste processo) (parágrafo 82, peça 61); g) comunicar à representante, consórcio Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ: 26.742.502/0001-81) e B2IT
Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. (CNPJ: 08.666.365/0001-61), e à Telecomunicações Brasileiras S/A.
(Telebrás), a deliberação que vier a ser adotada nestes autos, cabendo destacar que o inteiro teor da decisão poderá ser consultado no endereço www.tcu.gov.br/acordaos;
h) fixar o prazo de 15 (quinze) dias, contados do transcurso do prazo constante do item ‘c’ desta proposta
de encaminhamento, para que a Telebrás comunique ao TCU os resultados das apurações que promover; i) arquivar os presentes autos, nos termos do inciso V do art. 169 do Regimento Interno deste Tribunal,
sem prejuízo de que a Selog monitore o que vier a ser decidido.”
2. O Ministério Público junto ao TCU - MPTCU, provocado para se manifestar em razão da
relevância e complexidade da matéria, apresentou parecer nos seguintes termos (peça 105): “Em atenção à audiência com que nos distingue a Relatora (peça 104), analisa-se nesta oportunidade a
Representação, com pedido de medida cautelar, formulada pelo consórcio composto pelas empresas Seteh Engenharia Ltda. e B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda., a respeito de possíveis irregularidades
relacionadas ao Pregão Eletrônico 19/2017, conduzido pela Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras), que
teve por objeto a contratação de empresa ou consórcio de empresas especializadas para execução de serviços de
380
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
operação e manutenção, a serem realizados de forma contínua, na Planta da Rede Nacional de Telecomunicações, em todo o território nacional.
2. A empresa Padtec S/A., que já prestava os serviços objeto do pregão inquinado desde 2013 na
Telebras, foi declarada vencedora, após a desclassificação das licitantes DMG Eletrônica – Comércio de Equipamentos Eletrônicos-Eireli-EPP e do consórcio autor da presente representação. O lance da empresa
vencedora foi, inicialmente, de R$ 137.200.000,01, reduzido, após negociação, para R$ 137.000.000,00, valor
equivalente ao melhor lance oferecido pelo consórcio representante, desclassificado do certame por não reunir as qualificações técnicas suficientes demandadas pelo termo de referência.
3. Em apertada síntese, a representante alega que:
(i) foi desclassificada indevidamente do certame;
(ii) houve direcionamento da licitação para favorecer a Padtec S/A., uma vez que seria a única capaz de atender à exigência prevista no item ‘c’ do subitem 20.2.2 do termo de referência e que o Conselho de
Administração da Telebras estaria composto por dirigente e ex-dirigentes do Grupo CPqD – Padtec; e
(iii) os atestados apresentados pela referida empresa são inidôneos, razão por que deveria ser desclassificada do certame.
4. Já havíamos nos manifestado anteriormente (peça 68), oportunidade em que anuímos com o
encaminhamento proposto pela Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (Selog) – peças 61/63 – no sentido de, entre outras medidas:
(a) conhecer da representação, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;
(b) indeferir o pedido de concessão de medida cautelar;
(c) dar ciência à Telebras das impropriedades detectadas no edital; (d) comunicar à Comissão de Ética Pública (CEP) acerca da potencial infração ética relacionada à
existência de possível vínculo entre diretores da Telebras e a empresa Padtec S/A.;
(e) determinar ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) que informe à Telebras os resultados da apuração da denúncia formulada pela empresa Seteh Engenharia Ltda.; e
(f) determinar à Telebras que, após o recebimento das informações pelo Confea (referenciadas no
subitem precedente), analise as possíveis consequências na execução do contrato decorrente do pregão em
questão, informando ao TCU as providências adotadas. 5. Naquela ocasião, a proposta da Selog foi corolário das seguintes principais conclusões (nos tópicos a
seguir, todos os parágrafos referenciados constam da instrução técnica lançada à peça 61):
1) a ausência de diferença de preços entre a proposta da representante e da empresa Padtec S/A. não evidencia, ao menos em termos financeiros, interesse público que justifique a atuação dessa Corte de Contas, na
espécie (parágrafos 72 a 75);
2) a descontinuidade da contratação pode elevar os riscos de negócio da Telebras, o que traria danos a empresa e aos usuários de seus serviços (parágrafo 104);
3) é razoável a inabilitação do Consórcio SETEH/B2IT do certame, visto que, de fato, há diferença entre
executar serviços de instalação de infraestrutura e de promover manutenção em rede (parágrafos 79 a 81);
4) a empresa Padtec S/A é apta à execução dos serviços objeto da licitação em questão, uma vez que já os realizava, desde 2013, no âmbito da própria Telebras (parágrafo 76);
5) a questão relativa à suposta prática de ilegalidade na emissão da Certidão de Acervo Técnico (CAT)
2620130001528 pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (CREA-SP) restringe-se às atribuições do Confea (parágrafos 77 e 78);
6) não há impedimento para a fixação de quantitativos mínimos no edital, apenas a necessidade de que
haja expressa motivação quanto às razões que levaram à tal exigência, segundo a jurisprudência do TCU (parágrafos 86 a 91);
7) a ausência de quantitativos mínimos no edital do certame, a rigor, não comprometeu sua
competitividade, o que não justifica ‘determinação mais incisiva de anular a licitação, sobretudo tendo em
conta o ganho efetivo possível, levando em consideração as propostas apresentadas: consórcio SETEH/B2IT 137 milhões, empresa PADTEC 137,2 milhões’ (parágrafo 91);
8) as questões referentes aos possíveis vínculos entre dirigentes da Telebras e da empresa contratada
devem ser informadas à CEP, colegiado detentor da competência para apuração de infrações éticas na alta governança da Administração Pública Federal (parágrafos 93 a 95); e
381
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9) estão ausentes os pressupostos para concessão da medida cautelar requerida pelo representante
(parágrafos 105 a 107).
6. Após este Parquet exprimir o seu posicionamento (peça 68), novos elementos foram coligidos aos
autos pelo Confea (peça 70), contendo informações prestadas pelo CREA-SP, de que a CAT em questão ‘contém vícios de legalidade, por não obedecer ao disposto na Resolução 1.025 [do Confea]’ e que o processo
que culminou na emissão da indigitada CAT foi encaminhado ao presidente do CREA-SP, para fins de
determinação da apuração de responsabilidades (peça 70, p. 6). 7. Ato contínuo, por meio do despacho jungido à peça 71, a relatora restituiu os autos à Selog, para que
fosse apreciado o conteúdo do expediente encaminhado pelo Confea, bem assim avaliada a sua repercussão
sobre a proposta de encaminhamento vertida às peças 61-63.
8. A unidade especializada, então, examinou os novos elementos e, às peças 75-77, mais uma vez propôs o indeferimento da medida cautelar formulada pela representante, e, ainda, sugeriu fossem promovidas as
oitivas da Telebras e da empresa Padtec S/A. (para obter manifestação sobre os efeitos da anulação da CAT
2620130001528, utilizada pela empresa vencedora do Pregão 19/2017, para o fim de habilitação no certame), em razão da possibilidade desse fato resultar-lhes em decisão desfavorável, nos termos do inciso V do art. 250
do Regimento Interno (RI/TCU).
9. O Ministro-Substituto André Luís de Carvalho, atuando no processo por força da Portaria TCU 94/2018, aquiesceu com o encaminhamento propugnado pela Selog, conforme o despacho colacionado à peça
79.
10. Ultimadas as preliminares devidas, a unidade instrutiva então examinou as respostas às oitivas
realizadas nos autos, bem assim os argumentos e elementos trazidos pela representante – naquilo que diz respeito ao atendimento do despacho de peça 79 e que se insere no espectro de competências da Corte de
Contas, uma vez que eventuais infrações a normas relacionadas ao desempenho de atividades de profissões
regulamentadas devem ser apuradas pelo conselho profissional competente – e concluiu (peças 101-103), em adição ao que já havia inferido anteriormente (na instrução técnica lavrada à peça 61, cujas principais
conclusões foram enumeradas no parágrafo 5 deste parecer), em síntese, que (a seguir, todos os parágrafos
referenciados encontram-se na instrução técnica de peça 101):
1) as informações trazidas aos autos confirmam que a suspensão da licitação ou do contrato, neste momento, geraria prejuízos ao interesse público (periculum in mora reverso). Ademais, não se vislumbra a
presença dos requisitos para a concessão de medida cautelar (parágrafos 26 e 95 a 98);
2) quanto à CAT 2620130001528, a discussão acerca de sua validade ainda não resta exaurida, porquanto há pleito recursal em andamento no âmbito do CREA-SP e, ainda, essa mesma questão foi judicializada, não
sendo, pois, recomendada a adoção de qualquer medida que possa vir a impedir a atual execução contratual
(parágrafo 27); 3) a documentação apresentada pela empresa Padtec S/A. no Pregão Eletrônico 19/2017 encontrava-se
válida quando da análise realizada pela Telebras no curso do certame. Ademais, a CAT apresentada pela Padtec
S/A. foi expedida há mais de cinco anos, tendo sido questionada apenas no bojo da contratação ora examinada,
sendo que essa empresa já executava serviços relacionados ao objeto, por meio de contrato realizado junto à própria Telebras, o que, a princípio, denota a sua capacidade técnica (parágrafos 41 e 42);
4) ainda que pairem dúvidas sobre a habilitação técnica da Padtec S/A., no âmbito do Pregão Eletrônico
19/2017, o fato é que no processo de contratação de 2017 a referida empresa já possuía capacidade comprovada de execução, eis que já executava na própria Telebrás serviços relacionados ao mesmo objeto (parágrafos 80 e
99);
5) mesmo que a CAT 2620130001528 seja declarada inidônea, isso não fará com que o processo de contratação retroceda a fim de que a representante seja habilitada, haja vista que nenhum vício foi constatado
nos atos que culminaram na sua inabilitação no Pregão Eletrônico 19/2017, em razão do não cumprimento de
condições de qualificação técnica estabelecidas no edital, consoante já analisado na instrução técnica pretérita6
(parágrafos 80, 100 e 103); e 6) é devido o acompanhamento do que está sendo realizado pela Telebras em relação à CAT cuja validade
é questionada, pois a empresa Padtec S/A. deve demonstrar, à luz do inciso XIII do art. 55 da Lei 8.666/1993,
6 peça 61, p. 16-17, parágrafos 79 a 81.
382
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
que mantém as condições de habilitação e de qualificação técnica para a execução do contrato, sob pena de restar comprometida a continuidade da avença (parágrafo 28).
11. Arrimada nas premissas sintetizadas acima, a Selog, em pareceres concordantes
(peças 101-103), reitera os encaminhamentos consignados na instrução de peça 61 (resumidos no parágrafo 4 deste pronunciamento), com exceção das determinações para que o Confea informe à Telebras os resultados da
apuração da denúncia formulada pela empresa Seteh Engenharia Ltda. e para que aquela estatal, após o
recebimento das informações prestadas pelo aludido conselho profissional, analise os eventuais impactos da decisão do Confea na execução do contrato decorrente do Pregão Eletrônico 19/2017 e informe ao TCU acerca
das providências adotadas. Em vez dessas providências cogentes, a unidade instrutiva sugere determinar à
Telebras, com base no inciso II do art. 250 do RI/TCU, a adoção das seguintes medidas:
a) no prazo de trinta dias, exija da Padtec S/A. documentação válida que comprove que a empresa dispõe de todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação para continuar executando os serviços
contratados por meio do Pregão Eletrônico 9/2017, nos termos do que dispõe o inc. XIII do art. 55 da Lei
8.666/1993, tendo em vista a declaração de nulidade pelo CREA/SP da CAT 2620130001528 apresentada pela empresa no certame, sob pena de se manter o contrato decorrente apenas pelo prazo necessário para a conclusão
de novo processo licitatório ou para a conclusão dos atos necessários para a contratação do remanescente dos
serviços, nos termos do art. 24, inciso XI, da Lei 8.666/93 (parágrafos 41/43 e 93 desta instrução), informando ao TCU no mesmo prazo acima as medidas adotadas e resultados; e
b) assim que encerradas as apurações, apresente ao Tribunal as conclusões decorrentes do Processo
243/2017, instaurado para apuração das denúncias formuladas pela Seteh Engenharia Ltda.
12. Para que a Telebras encaminhe ao TCU as informações sobre as providências adotadas em atendimento às determinações alhures, a Selog propôs a fixação do prazo de quinze dias (item ‘h’ da proposta de
encaminhamento à peça 101, p. 15), a contar do exaurimento do interregno previsto no item ‘a’ supra (trinta
dias). 13. Aquiescemos com o encaminhamento ofertado pela unidade instrutora (peças 101-103), sem prejuízo
de tecer as seguintes ponderações.
14. Com efeito, em vista das informações já colacionadas aos autos pelo Confea (peça 70) e dos exames
empreendidos pela Selog no curso da instrução processual, o deslinde para o feito em apreço, de fato, não mais demanda que sejam expedidas as determinações anteriormente sugeridas, já descartadas pela unidade técnica
(itens ‘g’ e ‘h’ da proposta de encaminhamento pretérita, assentados à peça 61, p. 25).
15. Especificamente em relação à CAT apresentada pela empresa Padtec S/A. para fins de habilitação no certame inquinado, questão central tratada nestes autos, em linha de convergência com as ponderações aduzidas
pela unidade técnica, entendemos que não cumpre ao TCU antecipar decisões sobre assuntos com relação aos
quais não tem competência para decidir. Nesse sentido, observa-se que a decisão acerca da idoneidade, ou não, da aludida CAT 2620130001528 ainda se encontra pendente, haja vista o recurso administrativo interposto pelo
profissional junto ao CREA-SP e, ainda, a judicialização da controvérsia, mediante a impetração de writ em face
da decisão administrativa daquele CREA-SP que veio a determinar a nulidade da referida certidão (Processo
5006351-82.2018.4.03.6100). 16. Assim, mostra-se consentânea com a Lei 8.666/1993, notadamente com o inciso XIII do seu art. 55 –
que estabelece a obrigação de a contratada manter na execução contratual todos os requisitos de habilitação
como condição de continuidade da avença – a determinação alvitrada pela Selog, de que a Telebras exija da Padtec S/A. a apresentação de documentação comprobatória de que a empresa dispõe de todas as condições de
habilitação e qualificação exigidas na licitação (item 20.2 do edital) para continuar executando os serviços
contratados por meio do Pregão Eletrônico 9/2017. 17. Ressalte-se que, como bem observou a Selog, caso a Padtec S/A. não ostente mais os requisitos
necessários para a continuidade da execução contratual, e, por tal razão, a Telebras decida pela rescisão do
ajuste vigente, o aproveitamento do Pregão Eletrônico 9/2017 ainda se mostraria possível, a teor do art. 24, inc.
XI, da Lei de Licitações, convocando-se as empresas que não tiveram propostas de preços e documentos de habilitação analisados, em ordem de classificação no certame, para verificar se aceitam as mesmas condições
ofertadas pela licitante vencedora.
18. Registre-se, por fim, que, caso venha a ser confirmada a inidoneidade da certidão apresentada pela empresa Padtec S/A. no Pregão eletrônico 9/2017, a referida licitante poderá ter praticado fraude à licitação,
razão por que, em sede de monitoramento do presente feito, deverá a Selog adotar as medidas pertinentes, a
383
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
exemplo de promover a audiência da Padtec S/A., para fins de apuração da irregularidade e de eventual aplicação da sanção encartada no art. 46 da Lei 8.443/1992.
19. À vista dos elementos constantes dos autos, este representante do Ministério Público de Contas da
União ratifica os termos de seu pronunciamento pretérito (peça 68), ao tempo em que endossa a proposta de mérito alvitrada pela unidade instrutiva, às peças 101-103, com o acréscimo sugerido no parágrafo antecedente.”
É o relatório.
VOTO
Presentes os requisitos de admissibilidade dos arts. 235 e 237, inciso VII e parágrafo único, do
Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, conheço desta representação,
com pedido de medida cautelar, formulada pelo consórcio composto pelas empresas Seteh Engenharia
Ltda. e B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda., acerca de possíveis irregularidades no pregão
eletrônico 19/2017, realizado pela Telecomunicações Brasileiras S/A - Telebras para contratação de
empresa ou consórcio de empresas especializadas para execução de serviços de operação e
manutenção da planta da rede nacional de telecomunicações.
2. A licitante vencedora, empresa Padtec S/A, que já era a prestadora dos mesmos serviços, por
meio de contratação realizada em 2013, ofereceu lance de R$ 137.200.000,01, reduzido, após
negociação, para R$ 137.000.000,00. Tal valor equivale ao melhor lance oferecido pelo consórcio
autor desta representação, desclassificado do certame sob a alegação de que “não reunia as qualificações
técnicas suficientes demandadas pelo Termo de Referência”.
3. O termo de homologação da licitação foi registrado no Comprasnet no dia 28/6/2017, e o
correspondente Contrato 74/3500/2017, firmado com a Padtec S/A em 30/6/2017.
4. Em apertada síntese, a representante alega que: (i) foi desclassificada indevidamente do
certame; (ii) houve direcionamento da licitação para favorecer a Padtec S/A, uma vez que seria a única
capaz de atender à exigência prevista no item “c” do subitem 20.2.2 do Termo de Referência; (iii) que
o Conselho de Administração da Telebras estaria composto por dirigente e ex-dirigentes do Grupo
CPqD - Padtec; e (iv) os atestados apresentados pela referida empresa são inidôneos, razão por que
deveria ser desclassificada do certame.
5. Após análise das oitivas e diligências realizadas, a Selog concluiu (peça 61), em síntese que:
(i) é razoável a inabilitação da representante no certame, em razão de não ter cumprido com as
condições de qualificação técnica estabelecidas no edital; (ii) quanto ao suposto direcionamento, a
representante não apresentou documentos comprobatórios do argumento e que os licitantes estavam
obrigados a comprovar a execução de serviços compatíveis com apenas uma das oito atividades
definidas nas alíneas “a” a “h” do subitem 20.2.2 do Termo de Referência; (iii) não cabe ao TCU
determinar apurações de caráter disciplinar, cabendo recomendar à Comissão de Ética Pública - CEP
que avalie a conveniência e a oportunidade de promover as apurações sugeridas na instrução; e (iv) a
apuração de documentos supostamente inidôneos restringe-se às atribuições do Confea, devendo-se
aguardar o deslinde da apuração pelo conselho.
6. Diante das conclusões, a unidade instrutiva propôs (i) o conhecimento da representação, para
considerá-la parcialmente procedente; (ii) o indeferimento do pedido de concessão de medida cautelar;
(iii) ciência à Telebras das impropriedades detectadas no edital, a exemplo da ausência de quantitativos
mínimos; (iv) comunicação à CEP no sentido de avaliar a conveniência e a oportunidade de apurar a
existência de potencial infração ética inserida em sua alçada de competência, dada a existência de
possível vínculo entre diretores da Telebras e a empresa Padtec S/A; (v) determinação ao Confea no
sentido de informar, em trinta dias, à Telebras os resultados da apuração da denúncia formulada pela
empresa Seteh Engenharia Ltda.; (vi) determinação à Telebras no sentido de concluir em trinta dias,
384
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
após o recebimento das informações pelo Confea, as análises a respeito das possíveis consequências na
execução do contrato decorrente do pregão em questão.
7. Diante de memoriais acostados pela representante e à vista das relevantes questões de fato e de
direito inseridas nos autos, solicitei a manifestação do Ministério Público junto ao TCU - MPTCU, que
emitiu parecer em consonância com o encaminhamento proposto pela unidade técnica (peça 68).
8. No entanto, em decorrência de informações adicionais trazidas aos autos pelo consórcio
representante, pela Telebras, pela empresa Padtec S/A e pelo Confea, juntamente com as respostas às
novas oitivas realizadas, solicitei análise complementar, com a inclusão do exame de dois aspectos
centrais envolvidos na representação.
9. O posicionamento uniforme da unidade instrutiva, com anuência do MPTCU e que adoto
parcialmente como razões de decidir, foi no sentido de seja conhecer da representação, para, no mérito,
considerá-la parcialmente procedente, com expedição de ciências.
10. A seguir, destaco os motivos mais relevantes que me conduzem a essa conclusão.
II
11. O primeiro aspecto refere-se à habilitação da empresa vencedora diante da anulação da
Certidão de Acervo Técnico - CAT 2620130001528 pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia do Estado de São Paulo - CREA-SP, sendo que tal documento havia sido apresentado para
fins de habilitação no certame.
12. Após pronunciamento da Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas - Selog e
do MPTCU de que a questão relativa à suposta prática de ilegalidade na emissão da certidão restringe-
se às atribuições do Confea, o CREA-SP acostou aos autos novos elementos, com informações de que
o documento em questão “contém vícios de legalidade, por não obedecer ao disposto na Resolução 1.025 [do
Confea]” e de que o processo que culminou na emissão da indigitada CAT foi encaminhado ao
presidente do CREA-SP para fins de determinação da apuração de responsabilidades.
13. Após a realização de oitivas, bem como a análise de novos elementos trazidos aos autos, a
Selog, com anuência do Parquet, concluiu que, apesar de existirem vícios relacionados à emissão da
CAT 2620130001528 (peça 75), a discussão acerca da sua validade ainda não resta exaurida,
porquanto há pleito recursal em andamento no âmbito do CREA-SP e, ainda, essa mesma questão foi
judicializada (Mandado de Segurança 5006351-82.2018.4.03.6100, em trâmite perante a 12ª Vara
Cível Federal de São Paulo da Seção Judiciária do Estado de São Paulo), não sendo, pois,
recomendada a adoção de qualquer medida que possa vir a impedir a atual execução contratual.
14. Verifico que a CAT foi emitida em 19/02/2013 e que em 12/07/2017 a Telebras, para fins de
habilitação da empresa Padtec S/A no pregão, conferiu a sua autenticidade no sítio do CREA-SP na
internet. Porém, o cancelamento da certidão foi informado ao Confea pelo CREA-SP apenas em
20/02/2018 (peça 70). Assim, referida documentação encontrava-se válida à época do certame, apesar
de atualmente a sua validade estar sendo questionada tanto no âmbito administrativo do sistema
Confea/CREA, quanto no judicial.
15. Não obstante os esforços já empreendidos pela Telebras em buscar maiores detalhes sobre a
invalidação da CAT e a alegação de que, até o presente momento, os serviços prestados pela Padtec
S/A atendem satisfatoriamente aos requisitos e às obrigações contratuais estabelecidos, endosso o
entendimento da unidade técnica quanto à necessidade de a Telebras garantir que a empresa contratada
mantenha, durante toda a execução do contrato, a totalidade das condições de habilitação e
qualificação exigidas na licitação, nos termos do inciso XIII do art. 55 da Lei 8.666/93.
16. Também pondero, em concordância com o entendimento da unidade técnica, que a suspensão
da licitação ou do contrato, neste momento, causaria prejuízos ao interesse público, motivo pelo qual
não vislumbro a necessidade da concessão de medida cautelar, diante da existência do periculum in
mora reverso, sem prejuízo da necessidade de se acompanhar o deslinde da questão no campo do
Confea/CREA-SP e do Poder Judiciário.
385
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
17. Nesse cenário, em acréscimo, acolho a proposta do MPTCU para que, em sede de
monitoramento do presente feito, a unidade instrutiva avalie o deslinde das ações abertas no âmbito do
Confea/CREA e do Poder Judiciário, inclusive para fins de apuração de responsabilidade e eventual
aplicação de sanção, caso venham a ser confirmadas a inidoneidade da certidão apresentada pela
empresa Padtec S/A no Pregão Eletrônico 19/2017 e a prática de conduta faltosa relacionada à sua
aceitação.
III
18. Outro fato que chama a atenção na representação formulada diz respeito à alegação de que
houve direcionamento da licitação para favorecer a Padtec S/A, uma vez que o Conselho de
Administração da Telebras estaria composto por dirigente e ex-dirigentes da Fundação Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações - CPqD.
19. A Telebras, em sua manifestação à peça 37, informou ao Tribunal que as informações
obtidas em sede de diligência ao CPqD, anexadas à peça 41, p. 30 e 31, confirmam que Hélio Marcos
Machado Graciosa, então representante legal da fundação, e Maximiliano Salvadori Martinhão, então
presidente do Conselho Curador da fundação, ambos conselheiros de administração da Telebras, não
mantêm vínculo com o CPqD desde 8/6/2015 e 28/10/2016, respectivamente, datas estas anteriores à
de realização do pregão, cuja sessão pública se iniciou em 17/5/2017.
20. Ao analisar os elementos trazidos aos autos, a Selog, diante da constatação de que a apuração
está sendo procedida, inicialmente, no âmbito da própria Telebras (Processo n.º 243/2017, aberto para
apuração de fatos relativos às denúncias feitas pela Seteh Engenharia Ltda.), propôs que a Comissão de
Ética Pública - CEP, colegiado detentor da competência para apuração de infrações éticas na alta
governança da Administração Pública Federal, seja informada acerca dos fatos levantados nestes autos
quanto aos possíveis vínculos entre dirigentes da Telebras e empresa interessada em contratar com a
entidade.
21. A unidade técnica entendeu caber recomendar à CEP que avalie a conveniência e a
oportunidade de promover as apurações sugeridas nos autos, por considerar que o TCU não tem
competência para atuar no ponto em questão que permita expedir determinação. Para sustentar a
proposta, trouxe o exemplo do Acórdão 2.906/2009 - Plenário, de relatoria do ministro Raimundo
Carreiro, no qual o Tribunal firmou a tese de que esta Corte não é competente para determinar
diretamente a instauração ou para controlar resultados de sindicâncias ou de procedimentos
administrativos disciplinares, porquanto tais poderes não se subsomem às competências
constitucionais e legais de que é detentor.
22. Anuindo à proposta da unidade técnica, o MPTCU afirmou que, “considerando o prazo
razoável transcorrido entre a desvinculação de Hélio Marcos Machado Graciosa e Maximiliano Salvadori
Martinhão da Fundação CPqD e a realização do certame, não se vislumbra, a princípio, que a situação em questão se enquadre na hipótese de impedimento de participar da licitação prevista no artigo 9º, inciso III, da
Lei 8.666/1993”.
23. Com as devidas vênias às analises empreendidas no âmbito da Selog e da Procuradoria,
entendo que esse não é o melhor entendimento.
24. Conforme documentos juntados aos autos, a Fundação CPqD é detentora de 46% do capital
social da empresa Padtec S/A, dividindo o controle da empresa com Ideiasnet Fundo de Investimento
(34%) e BNDES Participações S/A (19%). Assim, a Fundação CPqD é sócia majoritária da empresa
Padtec S/A, podendo, inclusive, estar configurado o controle societário, nos termos do art. 116 da Lei
6.404/1976.
25. Na atuação do colegiado da Fundação CPqD estão presentes, entre outros dirigentes,
Maximiliano Salvadori Martinhão, membro atual e presidente do Conselho Curador até 28/10/2016, e
Hélio Marcos Machado Graciosa – que se desligou da Fundação em 08/06/2016, mas foi presidente de
28/07/1998 a 17/06/2015.
386
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
25. Posto isso, discordo do entendimento do Parquet, haja vista que os elementos nos autos
(peça 31, pg. 12) comprovam que Maximiliano Martinhão é, sim, membro atual do Conselho Curador
do CPqD, estando nessa condição durante a realização do certame; o que ocorreu em 28/10/2016 foi
apenas o desligamento de sua atuação como presidente de conselho.
26. Nesse feito, tanto Maximiliano Salvadori Martinhão quanto Hélio Marcos Machado Graciosa
são atualmente membros do Conselho de Administração da Telebras, tendo sido Maximiliano o
presidente do conselho da estatal de 29/04/2015 a 29/04/2016 e sendo o atual secretário de
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações - MCTIC.
27. Além disso, consta nos autos manifestação da Padtec S/A (peça 31 pg. 12) a qual informa
que “as indicações do Sr. Martinhão para ambos os Conselhos partem do MCTIC - Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovação e Comunicação. Deste modo, sua participação no Conselho de Administração da Telebras
não tem qualquer conexão com sua atuação no Conselho Curador do CPqD. São papeis distintos e
independentes entre si, que o Sr. Martinhão deve desempenhar por força de seu cargo no MCTIC”.
28. Entendo que a presente situação pode representar grave afronta ao disposto no inciso III do
artigo 9º da Lei 8.666/1993, que expressamente veda a participação na licitação, mesmo que
indiretamente, de servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação.
Referida lei prevê, ainda, sanções aos agentes públicos que praticarem atos em desacordo com os seus
preceitos (arts. 82 a 85 da Lei 8.666/1993).
29. Portanto, haja vista que o primeiro contrato celebrado pela Telebras com a empresa Padtec
S/A ocorreu em 2013, e o segundo, objeto desta representação, em 2017, existem consistentes indícios
de risco de participação de dirigente da entidade em ambas licitações.
30. Diante dos fatos, discordo do posicionamento da unidade técnica e do MPTCU quanto à
competência desta Corte na apuração do possível conflito de interesse na participação de dirigentes da
Telebras no certame, pois a apuração de infração ética não afasta a necessidade de apuração de
irregularidades na aplicação da Lei de Licitações, nos termos do § 1º do artigo 113 da Lei 8.666/1993,
competência atribuída ao Tribunal de Contas.
31. É pacífico na jurisprudência do TCU que o servidor efetivo ou investido em função, na
condição de agente público, está impedido de participar, direta ou indiretamente, da licitação ou do
fornecimento de bens necessários à instituição pública contratante (Acórdãos 3.006/2006 - 2ª Câmara,
294/2007, 1.620/2013 e 2.550/2013, todos de Plenário).
32. Posto isso, visto que foi promovida apenas a oitiva da Telebras e da empresa Padtec S/A
sobre o assunto, considero necessário determinar à Selog que constitua processo apartado para
promover as audiências dos responsáveis Maximiliano Salvadori Martinhão e Hélio Marcos Machado
Graciosa, conselheiros de administração da Telebras e ex-dirigentes do Grupo CPqD - Padtec, em face
de potencial afronta ao inciso III do artigo 9º da Lei 8.666/1993 na realização do pregão eletrônico
19/2017.
Diante do exposto, VOTO por que o Tribunal adote o acórdão que ora submeto à deliberação
deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2614/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 019.346/2017-4
2. Grupo II – Classe VII – Representação.
3. Representante: Consórcio Seteh Engenharia Ltda. (CNPJ 26.742.502/0001-81) e B2IT
Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. (CNPJ 08.666.365/0001-61).
3.1. Interessada: Padtec S/A (CNPJ 03.549.807/0001-76).
387
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Unidade: Telecomunicações Brasileiras S.A. - Telebras.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas - Selog.
8. Representação legal: Bruno Correa Burini (OAB/DF 42.841) e outros representando a Padtec
S/A; Caricio Rodrigues de Souza (OAB/DF 45.101) e outros representando a Telecomunicações
Brasileiras S.A. e Rodrigo Monteiro Augusto (OAB/DF 12.693) e outros representando a Seteh
Engenharia Ltda. e a B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda.
9. Acórdão:
VISTA, relatada e discutida esta representação do consórcio composto pelas empresas Seteh
Engenharia Ltda. e B2IT Serviços de Multimídia e Telecom Ltda. acerca de possíveis irregularidades
no Pregão Eletrônico 19/2017, realizado pela Telecomunicações Brasileiras S/A - Telebras para
contratação de empresa ou consórcio de empresas especializadas para execução de serviços de
operação e manutenção da planta da rede nacional de telecomunicações.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pela relatora, com fundamento nos artigos 71, inciso IX, da Constituição Federal,
237, inciso VII e parágrafo único, do Regimento Interno deste Tribunal, 113, §1º, da Lei 8.666/1993,
87, § 2º, da Lei 13.303/2016, 103, §1º, da Resolução-TCU 259/2014 e 2º, 3º, 7º e 8º, inciso I, da
Resolução-TCU 265/2014, em:
9.1. conhecer da representação para, no mérito, julgá-la parcialmente procedente;
9.2. indeferir o pedido de medida cautelar ante a ausência dos pressupostos necessários para sua
adoção;
9.3. determinar à Telebras que:
9.3.1. exija da Padtec S/A, no prazo de até 30 (trinta) dias, documentação válida que comprove
dispor a empresa de todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação para
continuar executando os serviços contratados por meio do Pregão Eletrônico 19/2017, nos termos do
que dispõe o inciso XIII do artigo 55 da Lei 8.666/1993, tendo em vista a declaração de nulidade pelo
CREA/SP da Certidão de Acervo Técnico (CAT 2620130001528), sob pena de se manter o contrato
decorrente apenas pelo prazo necessário à conclusão de novo processo licitatório ou à conclusão dos
atos necessários para a contratação do remanescente dos serviços, nos termos do art. 24, inciso XI, da
Lei 8.666/93, informando ao TCU em 15 (quinze) dias as medidas adotadas e os resultados;
9.3.2. apresente as conclusões decorrentes do Processo 243/2017, instaurado para apuração das
denúncias formuladas pela Seteh Engenharia Ltda., assim que encerradas as apurações;
9.4. dar ciência à Telebras de que no Pregão Eletrônico 19/2017:
9.4.1. o uso de expressões vagas, sem parâmetros quantitativos no item 20.2.2 do Termo de
Referência (“serviços compatíveis em características e quantidades com o objeto deste Termo de
Referência” – parágrafos 83/87, peça 61), constituiu infringência ao princípio do julgamento objetivo,
previsto no art. 5º do Decreto 5.450/2005 e no art. 3º da Lei 8.666/1993, bem como à jurisprudência do
TCU (v.g. item 1.6.1, TC-021.857/2012-1, Acórdão 271/2013-Plenário);
9.4.2. o planejamento do certame deveria ter se iniciado antes, já que foi necessária uma
contratação emergencial para suceder à anterior – que deve ser admitida apenas em condições de
exceção;
9.4.3 o preço de referência deveria ter sido divulgado no edital, pois obrigatório em licitações na
modalidade pregão, quando tal valor for utilizado como critério de aceitabilidade das propostas, nos
termos do art. 40, X, da Lei 8.666/1993.
9.5. determinar à Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas que:
9.5.1. promova as audiências de Maximiliano Salvadori Martinhão (CPF 158.543.988-69) e
Hélio Marcos Machado Graciosa (CPF 239.045.427-53), conselheiros de Administração da Telebras e
388
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ex-dirigentes do Grupo CPqD - Padtec, para, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentarem razões de
justificativa em face de potencial afronta ao inciso III do artigo 9º da Lei 8.666/1993 na realização do
Pregão Eletrônico 19/2017;
9.5.2. autue processo apartado para realização das audiências indicadas no subitem 9.5.1 acima,
em conformidade com o art. 24 da Resolução TCU 175/2005;
9.5.3. proceda ao monitoramento do cumprimento das medidas indicadas no subitem 9.3 desta
deliberação e avalie o deslinde das ações abertas no âmbito do Confea/CREA e do Poder Judiciário,
inclusive para fins de apuração de responsabilidade e eventual aplicação de sanção, caso venham a ser
confirmadas a inidoneidade da certidão apresentada pela empresa Padtec S/A no Pregão Eletrônico
19/2017 e a prática de conduta faltosa relacionada à sua aceitação.
9.6. encaminhar cópia do presente processo à Comissão de Ética Pública - CEP para
conhecimento e para que averigue a pertinência de instauração de processo administrativo disciplinar
no sentido de apurar a existência de potencial infração ética inserida em sua alçada de competência;
9.7. encaminhar cópia do presente processo ao Ministério Público Federal para adoção das
providências que julgar cabíveis ante a possibilidade da ocorrência de ilícitos penais;
9.8. dar ciência desta deliberação à Telebras e aos ora representantes.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2614-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro, Ana Arraes (Relatora) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE V – PLENÁRIO
TC-008.584/2016-8
Natureza: Auditoria
Interessado: Tribunal de Contas da União
Unidades: Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e Secretaria de Orçamento
Federal do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
SUMÁRIO: AUDITORIA. DESVINCULAÇÕES DE RECURSOS DO SUPERÁVIT
FINANCEIRO DO ANO DE 2014, POR MEIO DA MEDIDA PROVISÓRIA 704/2015.
MODIFICAÇÃO DE LEI ESPECÍFICA POR LEI DE NORMAS GERAIS. AUSÊNCIA DE
CONTROLES ADEQUADOS ACERCA DOS RECURSOS DESVINCULADOS.
DETERMINAÇÃO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Estes autos tratam de auditoria realizada no Ministério da Fazenda e no Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, relativa às desvinculações de recursos do superávit
financeiro do ano de 2014, por meio da Medida Provisória 704/2015, bem como à possível utilização
desses valores para pagar passivos (reconhecidos mediante o Acórdão 825/2015 – Plenário) junto ao
Banco do Brasil, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
389
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
2. Transcrevo, a seguir, a mais recente manifestação da SecexFazenda:
“I. Apresentação
1. Trata-se de Auditoria de Conformidade com o objetivo de verificar a regularidade das
desvinculações de recursos do superávit financeiro do ano de 2014, por meio da MP 704/2015, e sua
utilização para realizar pagamento de passivos junto ao Banco do Brasil (BB), Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),
reconhecidos pelo Acórdão 825/2015-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro José Múcio.
II. Introdução
II.1. Deliberação que originou o trabalho
2. Em cumprimento ao item 9.2 do Acórdão 2.820/2014-TCU-Plenário (relator Ministro José
Múcio), realizou-se auditoria no Ministério da Fazenda (MF) e no Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (MP) no período compreendido entre 1/4/2016 e 13/5/2016.
3. As motivações para o presente trabalho foram: a) divulgação de nota de esclarecimento no
site do MF (http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/fevereiro/nota-a-imprensa-sobre-o-pagamento-
dos-passivos-do-acordao-tcu-no-825-2015), a qual demonstrava que os pagamentos dos passivos
junto aos bancos públicos e ao FGTS foram realizados com recursos de desvinculação; b) necessidade
de se realizar análise sobre a regularidade orçamentária e financeira das desvinculações realizadas,
a fim de subsidiar a elaboração do Relatório e do Parecer Prévio sobre as Contas da Presidente da
República referentes ao exercício de 2015.
4. A tabela divulgada em nota de esclarecimento do Tesouro Nacional é apresentada a seguir:
Tabela 1 – Pagamentos de passivos conforme nota do site do MF
Origem Fonte Valor (em R$
milhões)
Recursos do
Exercício de 2015
0100 - RECURSOS ORDINÁRIOS 30.685
0118 - CONTRIBUIÇÕES SOBRE CONCURSOS DE
PROGNÓSTICO
76
0160 - RECURSOS DA OPERAÇÕES OFICIAIS DE
CRÉDITO
180
0184 - CONTRIBUIÇÕES S/REMUN.DEV.AO
TRABALHADOR-FGTS
1.200
0188 - REMUNERAÇÃO DAS DISPONIB. DO TESOURO
NACIONAL
11.561
OUTRAS FONTES 47
Recursos de
superávits financeiros
de exercícios
anteriores (MP
704/2015)
0318 - CONTRIBUIÇÕES SOBRE CONCURSOS DE
PROGNÓSTICOS - SUPERÁVIT DE EXERCÍCIOS
ANTERIORES
54
0344 - RECEITAS DE EMISSÃO DE TÍTULOS DO
TESOURO NACIONAL - SUPERÁVIT DE EXERCÍCIOS
ANTERIORES
21.018
0384 - CONTRIBUIÇÕES S/REMUN.DEV.AO
TRABALHADOR-FGTS - SUPERÁVIT DE EXERCÍCIOS
ANTERIORES
5.966
0388 - REMUNERAÇÃO DAS DISPONIB. DO TESOURO
NACIONAL - SUPERÁVIT DE EXERCÍCIOS
ANTERIORES
94
EMISSÃO DE TÍTULOS 1.506
TOTAL 72.387
390
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fonte: http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/fevereiro/nota-a-imprensa-sobre-o-pagamento-
dos-passivos-do-acordao-tcu-no-825-2015.
II.2. Visão geral do objeto
5. Ao final do exercício de 2015, o Poder Executivo Federal editou a Medida Provisória
704/2015, desvinculando todo o superávit financeiro apurado no Balanço Patrimonial de 2014 e
destinando-o à cobertura de despesas primárias obrigatórias no exercício de 2015. Nestes termos:
‘Art. 1º O superávit financeiro das fontes de recursos decorrentes de vinculação legal existentes
no Tesouro Nacional em 31 de dezembro de 2014 poderá ser destinado à cobertura de despesas
primárias obrigatórias no exercício de 2015.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às fontes de recursos decorrentes de
vinculação constitucional e de repartição de receitas a Estados e Municípios.’
6. De acordo com demonstrativo de superávit financeiro divulgado pela Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), o superávit financeiro de 2014 alcançou o montante de R$ 429,5 bilhões, sendo que
R$ 216,5 bilhões são recursos pertencentes a fontes vinculadas.
7. Dessa forma, a MP 704/2015, por não fazer referências a quais receitas seriam
desvinculadas, acabou por desvincular todos os recursos que haviam sido anteriormente vinculados
por normas infraconstitucionais, chegando ao valor de R$ 216,5 bilhões.
8. As normas sobre vinculação e desvinculação de recursos são estabelecidas tanto pela Lei
4.320/1964 quanto pela Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF).
9. A Lei 4.320/1964 estabelece no art. 73 que, quando for o caso de recursos vinculados a
fundos especiais, o superávit financeiro apurado ao final do exercício será transferido para o
exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo, salvo se existir determinação em contrário da lei de
criação do fundo. Nos seguintes termos:
Lei 4.320/1964:
‘Art. 73. Salvo determinação em contrário da lei que o instituiu, o saldo positivo do fundo
especial apurado em balanço será transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo.’
(grifei)
10. Sendo mais abrangente em relação ao tema, a LRF estabelece regra geral no sentido de que
os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para
atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o
ingresso (art. 8º, parágrafo único).
II.3. Objetivo e questões de auditoria
11. A presente auditoria teve por objetivo examinar a regularidade da desvinculação de receitas
por meio da MP 704/2015.
12. A partir do objetivo do trabalho e a fim de avaliar em que medida os recursos estão sendo
aplicados de acordo com a legislação pertinente, formularam-se as questões adiante indicadas:
a) Questão 1: Considerando que as vinculações de recursos são estabelecidas por normas
especiais, aprovadas e discutidas em cada caso, é juridicamente possível a utilização de uma Medida
Provisória, com normas gerais, para desvincular tais recursos?
b) Questão 2: A desvinculação de recursos estabelecida pela MP 704/2015 está de acordo com o
que estabelece o art. 73 da Lei 4.320/1964?
c) Questão 3: Foram utilizados recursos de desvinculação de recursos para o pagamento de
passivos junto ao Banco do Brasil (BB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)?
II.4. Metodologia utilizada
13. Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do Tribunal de
Contas da União (Portaria-TCU 280/2010, alterada pela Portaria-TCU 168/2011) e com observância
aos Padrões de Auditoria de Conformidade estabelecidos pelo TCU (Portaria-Segecex 26/2009).
391
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
14. Durante o período de planejamento, foram levantadas informações sobre os pagamentos
realizados aos bancos públicos e ao FGTS e sobre trabalhos realizados anteriormente por esta Corte
de Contas que tivessem relação com o tema desta auditoria, bem como obtidas informações sobre
legislação aplicável ao tema.
15. Ao longo da execução, foram analisadas a legislação pertinente bem como toda a
documentação recebida, e informações obtidas pela equipe de auditoria.
16. Frise-se, por oportuno, que as análises realizadas pela equipe de auditoria não foram
efetuadas em relação a todas as situações existentes de desvinculação de recursos e pagamentos de
passivos junto aos bancos público e ao FGTS. Significa dizer que os achados listados neste relatório
não são exaustivos.
17. Para a realização dos trabalhos foram utilizadas as seguintes técnicas de auditoria:
- análise documental;
- confronto de informações e documentos;
- comparação com a legislação, jurisprudência do TCU e doutrina;
II.5. Limitações inerentes à auditoria
18. Não foram encontradas limitações para a execução dos trabalhos.
II.6. Volume de recursos fiscalizados
19. O volume de recursos fiscalizados alcançou o montante de R$ 290,6 bilhões, sendo R$ 216,5
bilhões referentes às desvinculações de recursos e R$ 74,1 bilhões referentes aos pagamentos dos
passivos.
II.7. Benefícios estimados da fiscalização
20. Entre os benefícios estimados desta fiscalização, pode-se mencionar a indução de melhorias
na forma de atuação do governo federal sobre os recursos legalmente vinculados, principalmente
aqueles pertencentes a fundos especiais. Além disso, verifica-se também um aumento da expectativa
de controle sobre a utilização de tais recursos.
III. Achados de auditoria
III.1. Utilização de recursos vinculados em finalidades diversas, em desacordo com o parágrafo
único do art. 8º da Lei Complementar 101/2000
21. O Poder Executivo federal utilizou cerca de R$ 46,9 bilhões do superávit financeiro de
fontes vinculadas para pagar despesas diversas daquelas definidas legalmente, em flagrante afronta
ao art. 8º, parágrafo único, da Lei de Responsabilidade Fiscal.
22. A tabela a seguir detalha a origem e a destinação dos R$ 46,9 bilhões utilizados
irregularmente, deixando claro também que, ao contrário do que indicava a Nota Informativa do
Tesouro Nacional (Tabela 1), todos os recursos desvinculados foram aplicados em despesas
previdenciárias do regime geral de previdência, conforme a Portaria-SOF 138, de 29/12/2015:
Tabela 2 – Recursos desvinculados e utilizados em 2015
Fonte de Origem
Unidade Orçamentária
de Destino Valor (R$)
318 - Contribuições sobre
Concursos de Prognósticos
33904 - Fundo do Regime
Geral de Previdência
Social
222.430.000
332 - Juros de Mora da Receita
de Impostos e Contribuições
Administrados pela RFB/MF
33904 - Fundo do Regime
Geral de Previdência
Social
1.530.999.000
342 - Compensações
Financeiras pela Produção de
Petróleo, Gás Natural e Outros
Hidrocarbonetos Fluidos
33904 - Fundo do Regime
Geral de Previdência
Social
31.444.900.000
378 - Fundo de Fiscalização 33904 - Fundo do Regime 13.800.000.000
392
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
das Telecomunicações Geral de Previdência
Social
Fonte: Nota técnica 6/2016/CGMAC/Seafi/SOF/MP (peça 11).
23. Quanto ao tema, deve-se levar em consideração que as vinculações de receitas foram
estabelecidas por leis especiais, devendo, portanto, serem revogadas ou alteradas também por lei
especial. No entanto, o que se observou foi que as desvinculações foram autorizadas por norma geral
posterior: a MP 704/2015. Isso quer dizer que a edição de norma geral para desvincular superávit
financeiro de fontes de recursos com destinação estabelecida em lei específica revela impropriedade
legislativa que tem como consequência o surgimento de antinomia aparente de segundo grau entre as
normas, ou seja, existe conflito entre a norma especial anterior, que vinculou os recursos, e a norma
geral posterior, que autorizou a desvinculação.
24. Nesse caso, o conflito normativo é classificado como antinomia aparente de segundo grau. A
antinomia surge da presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade
competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto
(lacunas de colisão).
25. Existem três critérios clássicos para a solução de antinomias: o critério cronológico (norma
posterior prevalece sobre norma anterior), o critério hierárquico (norma superior prevalece sobre
norma inferior) e, por último, o critério da especialidade (norma especial prevalece sobre norma
geral). Assim, na hipótese de duas regras conflitantes, aplicando-se um desses três critérios, uma
delas terá a sua incidência afastada no caso concreto.
26. No presente caso, a antinomia é aparente, pois o conflito pode ser resolvido por meio dos
critérios clássicos antes apresentados e é de segundo grau, haja vista exigir dois critérios, o
cronológico e o da especialidade, para solução da antinomia.
27. Conforme leciona TARTUCE, Flávio (Manual de Direito Civil, Ed. 6, São Paulo/Saraiva,
2016, página 41):
‘Em um primeiro caso de antinomia de segundo grau aparente, quando se tem um conflito de
uma norma especial anterior e outra geral posterior, prevalecerá o critério da especialidade,
prevalecendo a primeira norma.’
28. Em resposta a questionamento, a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) informou, por
meio da Nota 00616/2016/PFF/Conjur-MP/CGU/AGU (peça 25, p. 17), que o tema é afeto à técnica
legislativa e que:
‘Nada impediria, por exemplo, que fosse discriminado no art. 1º da Medida Provisória nº
704/2015 todas as leis que vinculavam as fontes de recursos correspondentes, a fim de possibilitar a
respectiva desvinculação. Contudo, a não adoção desse critério pormenorizado, ainda que passível de
críticas, não autoriza a interpretação segundo a qual se cuidaria de norma geral, e, por conseguinte,
que não teria o condão de afastar a incidência das normas especiais.’
29. Além disso, explica que ‘a norma presente no art. 1º da Medida Provisória não se desenha
como norma geral, uma vez que ela não disciplina a matéria em sua integralidade, limitando-se
apenas a trazer uma exceção que, como dito, se restringiu ao exercício financeiro de 2015’.
30. Quanto aos argumentos apresentados pela SOF, inicialmente, cabe esclarecer que a escolha
entre a edição de norma geral ou especial, no presente caso, não era facultada ao Poder Executivo.
Foi o Poder Legislativo, quando do estabelecimento das vinculações, que fez a escolha de tratar tal
matéria por meio de normas especiais, discutidas e aprovadas em cada caso. Portanto, não poderia o
Poder Executivo, se valendo de competência legislativa excepcional (art. 62 da CF/88), subverter a
regra legislativa estabelecida pelo Poder Legislativo.
31. Quanto ao questionamento da SOF sobre a classificação da MP 704/2015 como norma
geral, é importante acentuar que a doutrina conceitua as leis gerais como normas de aplicação mais
genérica e ampla, que regulam o maior número de hipóteses enquadradas nos tipos legais.
393
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
32. Já as leis especiais regulam apenas determinado número de situações, sujeitando alguns
casos a um tratamento diferente e específico, como é o caso das vinculações de receitas que são
amplamente discutidas para, posteriormente, estabelecerem destinações de recursos para
concretização de objetivos específicos. Explicando melhor, as normas de vinculação de recursos são
concebidas levando em consideração as especificidades de cada caso, caracterizando-se por criar
regras especiais de acordo com o tipo de recurso.
33. Assim, considerando-se que a MP 704/2015 trata de matéria relativa a desvinculação de
receita, abarcando todos os recursos de superávit financeiro vinculados por normas
infraconstitucionais, não resta dúvida de que se trata de uma normal geral.
34. Além disso, na classificação de uma norma, não se pode confundir os aspectos da
temporarialidade e da especialidade das leis. Não há nada que impeça uma lei temporária de ser
classificada como geral ou especial. Na classificação, o que se deve levar em conta é a matéria
tratada pela norma e a extensão/detalhamento desse tratamento, sempre comparando-a com outra
norma existente no ordenamento jurídico.
35. Portanto, mesmo com a edição da Medida Provisória 704/2015, o governo federal não
poderia ter utilizado os recursos vinculados. Isso porque, com a sucessão de leis no tempo, surge o
conflito entre normas e, por serem normas especiais anteriores, as leis que estabelecem as vinculações
prevalecem sobre a norma geral posterior, no caso, a MP 704/2015.
36. Assim sendo, apesar de ambas as normas coexistirem, a medida provisória sobre
desvinculação de receitas não possui eficácia jurídica, o que impossibilita a utilização de tais
recursos para fins diversos daqueles definidos em leis específicas.
III.2. Utilização de recursos vinculados a fundos especiais, em desacordo com o artigo 73 da Lei
4.320/1964
37. Além disso, ficou constatado que foram utilizados recursos vinculados a fundos especiais,
sem a necessária autorização na lei de instituição do fundo, conforme dispõe o art. 73 da Lei
4.320/1964.
38. Segundo esclarecimentos apresentados pela SOF na Nota Técnica
5/2016/CGMAC/Seafi/SOF/MP (peça 8), a utilização de recursos financeiros desvinculados pela
MP 704/2015 ocorreu apenas para pagamento de benefícios previdenciários urbanos, nos termos da
Portaria-SOF 138/2015, no valor de R$ 46,9 bilhões, detalhados na tabela seguinte, por fonte de
recursos.
Tabela 3 – Demonstrativo da execução de fontes de recursos desvinculadas pela MP 704/2015
R$ milhares
Fonte Dotação Empenhado Liquidado Pago
318 - Contribuições sobre Concursos
de Prognósticos 222.430 222.430 222.430 222.430
332 - Juros de Mora da Receita de
Impostos e Contribuições
Administrados pela RFB/MF
1.530.999 1.530.999 1.530.999 1.530.999
342 - Compensações Financeiras pela
Produção de Petróleo, Gás Natural e
Outros Hidrocarbonetos Fluidos
31.444.900 31.444.900 31.444.900 31.444.900
378 - Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações 13.800.000 13.800.000 13.800.000 13.800.000
Total 46.998.329
Fonte: Nota Técnica 5/2016/CGMAC/SEAFI/SOF/MP (peça 8).
39. Sucede-se que o demonstrativo do superávit financeiro de fontes vinculadas de 2014,
publicado pela STN em fevereiro de 2015, revela que as fontes acima indicadas estavam vinculadas a
394
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
unidades orçamentárias específicas, de acordo com o que estabelece a legislação de cada fonte de
recursos:
395
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
18) CONTRIBUICOES SOBRE CONCURSOS DE PROGNOSTICOS 1.414.976
Recursos Sob Supervisão do Ministério do Esporte - Estados
4.800
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos - MJ
254
Fundo de Financ.ao Estudante do Ensino Sup./FIES - Min. da Educação
72.171
Fundo Nacional da Cultura - FNC
188.632
Fundo Nacional de Saúde
15.624
Fundo Nacional para a Criança e Adolescente - FNCA
269
Fundo Penitenciário Nacional - Funpen
780.677
Ministério da Previdência Social
222.430
Ministério dos Esportes
128.310
Transferência a Clubes Sociais
1.809
32) JUROS DE MORA DA RECEITA ADMINIST.PELA SRF/MF 1.757.685
Receita Federal do Brasil - Fundaf
226.686
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
1.530.999
42) COMPENS.FINANC.P/EXPL.DE PETR.OU GAS.NATURAL 37.496.024
Agência Nacional do Petróleo - ANP
18.697.071
Comando da Marinha
1.642.831
Recursos sob Supervisão do Ministério de Minas e Energia-
Estados/Municípios
409.037
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT
1.856.795
Fundo Nacional de Saúde
10.467
Fundo Social
1.623.772
Ministério da Educação
31.401
Ministério de Minas e Energia
7.430.613
Ministério do Meio Ambiente
5.766.907
Receita do Tesouro da União
27.130
78) FUNDO DE FISCALIZACAO DAS TELECOMUNICACOES 13.868.831
Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel
8.373.843
Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações - Fust
396
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
2.315.716
Fundo Nacional da Cultura - FNC
340.572
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT
103.136
Receita do Tesouro da União
2.820.768
Valec
-
85.204
Fonte:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/318594/CPU_RREOfev2015/86253a65-8660-
4fb1-ba37-98f3ee32a36b.
40. Pelo demonstrativo, observa-se que, entre as unidades orçamentárias que apresentaram
superávit financeiro de recursos vinculados em 2014, estão alguns fundos especiais que, por
possuírem características diferenciadas, devem obedecer às regras previstas na Lei 4.320/1964.
41. O art. 71 dessa lei conceitua fundo especial como o produto de receitas especificadas que
por lei se vinculam à realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a adoção de normas
peculiares de aplicação.
42. O Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização
(Fundaf), por exemplo, possui todas as características que o enquadram como fundo especial,
conforme se extrai dos arts. 6º e 8º do Decreto-Lei 1.437/1975 (Lei de criação do Fundaf).
43. Outro exemplo de fundo especial que teve recursos desvinculados é o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Conforme consta na Lei 11.540/2007, o FNDCT
possui receitas especificadas (art. 10) que estão vinculadas a determinados objetivos (art. 1º).
44. Perguntado sobre quais foram as Unidades Orçamentárias (UOs) afetadas pela
desvinculação, a SOF respondeu, por meio da Nota Técnica 6/2016/CGMAC/Seafi/SOF/MP (peça
11), que ‘a desvinculação dos recursos unifica os valores até então segregados em Órgãos/UOs em
um só valor global’, o que ‘torna impossível a apresentação de uma relação origem-destino dos
recursos por UO’.
45. Assim sendo, constata-se que a desvinculação foi realizada no nível de fonte de recursos,
atingindo todas as unidades orçamentárias que apresentaram superávit financeiro de fonte vinculada,
sem observar, no entanto, quais as unidades orçamentárias exigiam procedimentos legislativos
específicos para desvinculação, como é o caso dos fundos especiais.
46. Explicando melhor, foram desvinculados R$ 216,5 bilhões do superávit financeiro de 2014;
desse total desvinculado, R$ 46,9 bilhões foram empenhados, liquidados e pagos; por fim, do valor
efetivamente utilizado, cerca de R$ 7,3 bilhões pertenciam a fundos especiais.
47. Como, no momento da desvinculação, o controle é realizado apenas em nível de fonte de
recursos, não se pode atribuir o valor utilizado a uma unidade orçamentária específica, fazendo com
que todas as unidades orçamentárias que detenham recursos daquelas fontes sejam, de alguma forma,
atingidas pela desvinculação, o que inclui todos os fundos especiais demonstrados a seguir:
Tabela 5 – Fundos especiais que tiveram recursos desvinculados pela MP 704/2015
R$ milhares
Nome do Fundo Norma Instituidora Valor Desvinculado
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos - MJ Art. 1º, § 1º e 2º, da Lei 9.008/1995 254
Fundo de Financ.ao Estudante do Ensino Sup. - Fies Art. 1º e 2º, da Lei 10.260/2001 72.171
Fundo Nacional da Cultura - FNC Art. 4º e 5º, da Lei 8.313/1991 529.204
Fundo Nacional de Saúde - FNS Art. 1º e 2º, do Decreto 64.867/1969 26.091
Fundo Nacional para a Criança e Adolescente -
FNCA Art. 6º da Lei 8.242/1991 269
397
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Fundo Penitenciário Nacional - Funpen Art. 1º e 2º, da Lei Complementar 79/1994 780.677
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico Art. 1º e 2º da Lei 11.540/2007 1.959.931
Fundo Social Art. 47, 48 e 49 da Lei 12.351/2010 1.623.772
Fundo de Universalização dos Serviços de
Telecomunicações Art. 1º e 6º da Lei 9.998/2000 2.315.716
TOTAL 7.308.085
Fonte: elaboração própria.
Fonte: elaboração própria.
48. A utilização do superávit financeiro de fundo especial em despesas diversas das legalmente
definidas deve ser precedida de autorização específica na própria lei de criação do fundo, nos termos
do art. 73 da Lei Geral de Direito Financeiro (Lei 4.320/1964):
‘Art. 73. Salvo determinação em contrário da lei que o instituiu, o saldo positivo do fundo
especial apurado em balanço será transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo.’
(grifei)
49. Isto posto, a única forma possível de desvincular receitas de fundos especiais é a edição de
outra norma específica que altere a lei de criação de cada fundo. A lógica estatuída pela Lei
4.320/1964 é a de que a desvinculação, da mesma forma que a vinculação, deve ser discutida e
aprovada pelo legislativo, para cada caso específico, evitando, assim, a imprevisibilidade das receitas
e a insegurança jurídica da posse desses recursos.
50. Segundo a SOF (Nota 00616/2016/PFF/Conjur-MP/CGU/AGU, peça 25), o art. 73 da Lei
4.320/1964 ‘visa assegurar que eventual destinação diversa dos saldos positivos de fundos especiais
somente poderá ser estabelecida em lei – incluída aí a medida provisória, por força do art. 62 da
Constituição’.
51. Além disso, a SOF novamente alega que:
‘(...) o fato de a medida provisória não ter alterado as leis específicas dos fundos especiais foi
uma falha de técnica legislativa, que não tem o condão de atingir a sua validade e eficácia. Até
porque a alteração na destinação de recursos observou o dispositivo da Lei 4.320, porquanto foi
precedida de lei/medida provisória.’
52. Por fim, a SOF traz argumentos no sentido de que a exegese das leis, além da interpretação
literal, é também orientada pelos processos lógico e sistemático que, segundo a lição do Jurista
Carlos Maximiliano (Hermenêutica e Aplicação do Direito. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001. p.
101), ‘deve evitar a supersticiosa observância da lei que só olhando a letra dela, destrói a sua
intenção’.
53. Inicialmente, cabe esclarecer que o art. 73 da Lei 4.320/1964 é perfeitamente claro ao exigir
previsão na própria lei de criação do fundo especial para que seu superávit financeiro receba
destinação diferente daquela definida inicialmente. Nesses termos, não merecem prosperar os
argumentos da SOF no sentido de que qualquer lei, inclusive medida provisória, poderia fazer tal
desvinculação.
54. Da mesma forma, a escusa de que houve apenas falha de técnica legislativa não tem o
condão de retirar a irregularidade da desvinculação de recursos de fundos especiais, em patente
afronta ao art. 73 da Lei 4.320/1964.
55. Por conseguinte, levando em consideração o apelo da SOF em se realizar uma interpretação
que leve em consideração o espírito da norma, ou seja, a sua intenção, pode-se afirmar que esse tipo
de exigência da Lei 4.320/1964, além de levar em consideração o relevante papel que o legislativo
possui na discussão de matérias orçamentárias, se mostra plenamente adequado, já que cada fundo
possui características e necessidades próprias, exigindo discussões, caso a caso, para verificar até
que ponto a retirada desses recursos prejudicaria os objetivos do fundo.
398
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
56. Explicando melhor, considerando-se que, para realizar determinada vinculação de receita, a
matéria foi discutida pelo Poder Legislativo, aprovada e consubstanciada em lei especial, é razoável
conceber que, para modificar as decisões tomadas pelo legislativo, novas leis fossem aprovadas, em
cada caso, para que se procedesse à desvinculação e utilização de recursos anteriormente vinculados.
57. Na prática, a utilização de uma medida provisória genérica, editada no recesso legislativo
(dia 23/12/2015), se transformou em uma tentativa do Poder Executivo de convalidar atos
administrativos que, possivelmente, não se sustentariam no âmbito de um debate legislativo. Em
outras palavras, a edição da MP 704/2015, na prática, contornou o diálogo necessário do processo
legislativo orçamentário.
58. Isso é tão verdadeiro que a referida medida provisória foi rejeitada em apreciação
preliminar, na sessão extraordinária da Câmara dos Deputados de 4/5/2016. Segundo o teor da
Mensagem 9/2016, da Câmara dos Deputados, encaminhada à Presidente da República, o Plenário
daquela casa ‘rejeitou [...] o atendimento dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência e
de adequação financeira e orçamentária da Medida Provisória 704, de 23 de dezembro de 2015’.
59. Um exemplo de autorização específica para desvinculação de receita é o que ocorre com o
Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). Esse fundo teve a sua lei de criação (Lei
5.070/1966) alterada pela Lei 9.472/1997, para que constasse, naquela, a autorização de
transferência de parte de suas receitas para o Tesouro Nacional, ou seja, autorizou a desvinculação
de parte dos recursos destinado ao fundo.
Lei 5.070/1966
‘Art. 3° Além das transferências para o Tesouro Nacional e para o fundo de universalização das
telecomunicações, os recursos do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações - FISTEL serão
aplicados pela Agência Nacional de Telecomunicações exclusivamente:’ (grifei)
(...)
IV. Conclusão
60. A presente auditoria se propôs a verificar a regularidade das desvinculações de recursos
realizadas pela Medida Provisória 704/2015 e, para tanto, foram formuladas três questões de
auditoria a seguir detalhadas.
61. Um dos primeiros aspectos abordados foi a viabilidade jurídica de se desvincular recursos
por norma geral (MP 704/2015), já que as vinculações foram feitas por norma especial. Nesse ponto,
ficou constatado que, por ser uma norma geral posterior, a MP 704/2015 não tem o condão de se
sobrepor sobre as normas especiais anteriores que estabeleceram as vinculações.
62. Assim, a utilização dos recursos para custear despesas diversas das definidas legalmente,
apresenta-se como flagrante afronta ao art. 8º, parágrafo único, da LRF (Achado 3.1).
63. O segundo aspecto analisado foi sobre o atendimento do art. 73 da Lei 4.320/1964, o qual
exige autorização específica da lei instituidora de fundo especial para que o seu superávit financeiro
seja aplicado em despesas diversas.
64. Quanto a esse tópico, constatou-se que foram desvinculados cerca de R$ 7,3 bilhões de
recursos pertencentes a fundos especiais, sem que houvesse autorização específica da lei de criação
de cada fundo, contrariando o dispositivo do art. 73 da Lei 4.320/1964 (Achado 3.2).
65. Outro ponto evidenciado pelos trabalhos é que os controles da SOF e da STN sobre os
recursos desvinculados é deficiente. Isso fica claro na medida em que nem a SOF nem a STN
souberam informar quais unidades orçamentárias tiveram recursos desvinculados pela MP 704/2015.
66. Por último, foram realizadas análises com o intuito de verificar se os pagamentos de
passivos junto ao BB, ao BNDES e ao FGTS foram realizados com recursos desvinculados
irregularmente pela MP 704/2015 (item 3.1).
67. Como resultado das análises e através de informações prestadas pela SOF, apurou-se que
ao todo foram utilizados cerca de R$ 46,9 bilhões de recursos desvinculados. No entanto, todo o
montante foi utilizado para pagar despesas previdenciárias, o que comprova que não foram utilizados
399
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
recursos desvinculados irregularmente para pagamento de passivos junto a bancos públicos e ao
FGTS.
68. Importante frisar que tais achados fizeram parte do Relatório das Contas de Governo de
2015 (TC 008.389/2016-0, Acórdão 2.523/2016-TCU-Plenário, ministro relator José Múcio
Monteiro), quando na ocasião o Tribunal não considerou a irregularidade para fins de emissão da
opinião sobre as Contas da Presidente da República de 2015, passando a constar apenas como outros
achados e tendo como consequência a emissão de alerta com o seguinte teor:
‘Alertar o Poder Executivo Federal de que a utilização de recursos de fundos especiais em
finalidade diversa do objeto da vinculação contraria o estabelecido no art. 73 da Lei 4.320/1964 e no
parágrafo único do art. 8º da Lei Complementar 101/2000 (itens 3.3.5 e 7.7).’
69. Apesar de o TCU já ter emitido alerta sobre o tema, cabe dar ciência à Secretaria do
Tesouro Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal sobre a irregularidade em desvincular
recursos vinculados a fundos especiais, por meio de norma geral.
V. Proposta de encaminhamento
70. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
70.1. determinar à Secretaria do Tesouro Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal, com
fulcro no art. 43, inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU,
que, quando ocorrerem novas desvinculações de recursos, estabeleçam controles de forma que
aumente a transparência na realização de tais procedimentos e seja possível segregar os recursos
desvinculados por fonte de recursos e unidade orçamentária;
70.2. dar ciência à Secretaria do Tesouro Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal de que
a desvinculação de recursos por normal geral está em desacordo com o art. 73 da Lei 4.320/1964, o
qual exige, no caso de fundos especiais, a autorização específica na lei de criação de cada fundo para
que seus recursos sejam destinados em finalidade diversa daquela estabelecida inicialmente;
70.3. dar ciência à Secretaria do Tesouro Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal de que
a desvinculação de recursos por normal geral não alcança as vinculações estabelecidas por normas
especiais anteriores;
70.4. encaminhar cópia do relatório e acórdão que vierem a ser proferidos à Comissão Mista de
Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional, à Secretaria do Tesouro
Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal;
70.5. arquivar os presentes autos, com fulcro no art. 169, inciso V, do Regimento Interno do
TCU.”
É o relatório.
VOTO
Este processo cuida de auditoria realizada no Ministério da Fazenda e no Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, relativa às desvinculações de recursos do superávit
financeiro do ano de 2014, por meio da Medida Provisória 704/2015, bem como à possível utilização
desses valores para pagar passivos (reconhecidos mediante o Acórdão 825/2015 – Plenário) junto a
bancos estatais e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
2. Estas foram as questões centrais examinadas: a regularidade de estabelecer a mencionada
desvinculação mediante ato normativo que trata de regras gerais; a observância do art. 73 da Lei
4.320/1964; a qualidade dos controles da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e da Secretaria de
Orçamento Federal (SOF) quanto aos valores desvinculados; e verificar se ocorreu pagamento dos
mencionados passivos com recursos desvinculados mediante a MP 704/2015.
400
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
3. No tocante ao primeiro ponto, destaco que o art. 8º, parágrafo único, da Lei Complementar
101/2000 (Lei de responsabilidade Fiscal, LRF) dispõe que “os recursos legalmente vinculados a
finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda
que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso”.
4. Para os recursos em exame, como as vinculações haviam sido realizadas por meio de leis
específicas, as desvinculações deveriam ter ocorrido com a edição de leis (ou mesmo medidas
provisórias) também específicas. Essa conclusão decorre da prevalência do critério da especialidade
em detrimento do cronológico, em casos de conflito entre atos normativos de mesma hierarquia. Dito
de outra forma, lei que fixa regras gerais não é o meio legítimo para revogar norma de caráter
específico.
5. Como afirma a unidade técnica, a aludida MP 704/2015 tratou de normas gerais, pois seus
efeitos foram abrangentes e incidem em inúmeros casos com características diversas, ainda que se
tenha restringido a apenas um exercício financeiro. Diante disso, a rigor, não teria ocorrido alteração
válida nas vinculações estabelecidas anteriormente por intermédio das normas específicas e, portanto,
teria ocorrido afronta ao art. 8º, parágrafo único, da LRF.
6. Entretanto, essa conclusão não implica a irregularidade do procedimento em exame. Na minha
compreensão, ofenderia o princípio da razoabilidade e da racionalidade administrativa exigir que
fossem criadas diversas MPs – o que, na prática, representaria apenas a realização de formalidade mais
custosa – em vez de permitir a criação de apenas uma para realizar as desvinculações. Desse modo,
acredito que, no caso concreto, a exigência seria, em última análise, contrária ao interesse público.
7. Com relação aos fundos especiais, o art. 73 da Lei 4.320/1964 firmou o seguinte: “salvo
determinação em contrário da lei que o instituiu, o saldo positivo do fundo especial apurado em
balanço será transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo”. A despeito desse
dispositivo, verificou-se, para o ano de 2015, a desvinculação de quantias de fundos especiais da
ordem de R$ 7,3 bilhões, sem a devida permissão nas leis que criaram esses fundos.
8. Além do mais, ficou clara a ausência de controle adequado por parte da STN e da SOF acerca
dos valores desvinculados, como se depreende da declaração desses órgãos de que não tinham
conhecimento de quais unidades orçamentárias tiveram recursos desvinculados pela MP 704/2015.
9. Registro, por fim, que a unidade técnica também verificou que não foram realizados
pagamentos de passivos junto a bancos estatais ou ao FGTS. Constatou-se que os R$ 46,9 bilhões
desvinculados foram aplicados no pagamento de despesas previdenciárias.
10. Ante essas considerações, entendo ser adequada a determinação para que a STN e a SOF
criem mecanismos para que haja transparência quanto às despesas realizadas com recursos
desvinculados. Reputo igualmente apropriado dar ciência aos citados órgãos sobre as questões
discutidas neste processo.
11. Sem prejuízo do entendimento que manifestei ao longo deste voto, resolvi acolher, por
prudência, durante a sessão de julgamento, proposta do Ministro-Substituto Weder de Oliveira, no
sentido de se determinar o sobrestamento do presente processo até que seja respondida pelo Tribunal a
consulta referente ao TC-008.530/2018-1, por possível repercussão na matéria ora examinada.
Assim, voto por que o Tribunal adote o acórdão que ora submeto ao Plenário.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 24 de janeiro de 2018.
401
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
GRUPO I – CLASSE V – Plenário
TC 008.584/2016-8
Natureza: Auditoria.
Interessado: Tribunal de Contas da União.
Unidades: Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e Secretaria de Orçamento
Federal do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
SUMÁRIO: AUDITORIA. DESVINCULAÇÕES DE RECURSOS DO SUPERÁVIT
FINANCEIRO DO ANO DE 2014, POR MEIO DA MEDIDA PROVISÓRIA 704/2015.
MODIFICAÇÃO DE LEI ESPECÍFICA POR LEI DE NORMAS GERAIS. AUSÊNCIA DE
CONTROLES ADEQUADOS ACERCA DOS RECURSOS DESVINCULADOS.
DETERMINAÇÃO. CIÊNCIA.
VOTO REVISOR
Após o eminente Relator, Ministro José Múcio Monteiro, haver apresentado a minuta de seu
Acórdão, formulei, com fundamento no art. 119, do Regimento Interno, pedido de vista dos presentes
autos, em face de dúvidas quanto às razões que fundamentaram a proposta de mérito constante dos
autos.
2. De início, declaro que estou de acordo com a judiciosa análise realizada pela unidade técnica
especializada e acolhida parcialmente pelo Relator, com proposta uniforme de endereçamento de
determinação à Secretaria do Tesouro Nacional e à Secretaria de Orçamento Federal para que, em
resumo, quando ocorrerem novas desvinculações de recursos, estabeleçam controles para o aumento da
transparência e para segregar os recursos desvinculados por fonte e unidade orçamentária.
3. Também manifesto concordância quanto ao juízo formulado pela instância instrutiva, no
sentido de que a desvinculação de recursos em tela, promovida em sede da MP 704/2015, encontra-se
em desacordo com o art. 73 da Lei 4.320/1964, uma vez que exige-se autorização específica na lei de
criação de cada fundo para que seus recursos sejam destinados à finalidade diversa da estabelecida
inicialmente, regra que entendo de seguimento obrigatório e que não poderia ser flexibilizada por
Medida Provisória.
4. Para o presente caso, embora notório o grave quadro de deterioração fiscal, aliado às
dificuldades orçamentárias verificadas à época da edição da medida provisória, que teve por objetivo
desvincular todo o superávit financeiro apurado no Balanço Patrimonial de 2014 com vistas à
cobertura de despesas primárias obrigatórias no exercício de 2015, a justificar a edição do instrumento
legislativo, a referida MP 704/2015 apresentou, sem embargo, impropriedades no sentido de, ao não
fazer referência a quais específicas receitas seriam desvinculadas, ter liberado todos os recursos
anteriormente vinculados por normas infraconstitucionais, atingindo o montante de R$ 216,5 bilhões,
sem que lei específica versando sobre cada recurso orçamentário diferenciado assim autorizasse.
5. Com efeito, como bem esclarecido pela SecexFazenda, as regras sobre vinculação e
desvinculação de recursos estão estabelecidas tanto na Lei 4.320/1964 quanto na Lei de
Responsabilidade Fiscal, sendo de cumprimento obrigatório e sem margem para liberalidade no uso de
tais valores, exceto quanto, por exemplo, lei específica expressamente assim dispuser.
6. Muito embora tenha-se por cediço que não se pode conceber arcabouço jurídico capaz de
abranger todas as situações fáticas, em matéria de orçamento e uso dos recursos públicos, as normas
em debate não permitem margem interpretativa, quiçá sistemática ou de conformação teleológica, a
solucionar casos concretos, elastecendo-lhes o alcance, de modo a socorrer o administrador no uso de
recursos públicos fora das restritivas hipóteses para as quais o orçamento foi previamente definido,
inexistindo, no meu sentir, oportunidade para eventual análise das normas regentes na busca de
solução que se coadune com o que foi pretendido por ocasião da edição da Medida Provisória. É dizer,
402
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
os mencionados diplomas legais definem, em seu conteúdo dispositivo, de modo inequívoco, explícito
e restrito, como os recursos públicos podem ser manejados, estatuindo que:
Lei 4.320/1964:
Art. 73. Salvo determinação em contrário da lei que o instituiu, o saldo positivo do fundo
especial apurado em balanço será transferido para o exercício seguinte, a crédito do mesmo fundo.
Lei de Responsabilidade Fiscal:
Art. 8º (...)
Parágrafo único. Os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados
exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em
que ocorrer o ingresso.
7. Assim, resta clara a desconformidade normativa da desvinculação de receitas, na forma como
foi promovida à época, conflitando-se amiúde com deliberações desta Corte no sentido de se evitar o
desvio de finalidade na aplicação de recursos para cobrir outras despesas específicas e fora das
condições autorizativas estabelecidas previamente na legislação de regência (ex. gratia Acórdãos
2.127/2017 – Plenário e 953/2018-Plenário), inclusive tendo sido objeto de alerta ao Poder Executivo
Federal por ocasião da apreciação das Contas de Governo de 2015, quando esta Corte de Contas
deixou assente que a utilização de recursos de fundos especiais em finalidade diversa do objeto da
vinculação contraria o estabelecido no art. 73 da Lei 4.320/1964 e no parágrafo único do art. 8º da Lei
Complementar 101/2000.
8. Ademais, em face do que impõe a legislação federal e tendo em conta os princípios
orçamentários aplicáveis, peço vênias para deixar registradas algumas críticas sobre a sistemática
financeiro-orçamentária em vigor no Brasil, notadamente quando verificamos normas que não
transitaram previamente pelo Congresso Nacional, sob condição posterior de aprovação, no caso as
medidas provisórias, exercendo preponderância cada vez maior na execução das despesas públicas, ao
largo da função de planejamento que deveria obrigatoriamente reger o gasto governamental.
9. É notório que o caráter autorizativo das leis orçamentárias anuais trouxe benefícios ao País,
especialmente em épocas de inflação desenfreada, quando essas ferramentas, aliadas a diversos
mecanismos indutores de responsabilidade fiscal e de transparência impostos pela Lei Complementar
101/2000, permitiram um maior e efetivo controle sobre os gastos públicos e uma consequente
estabilização das finanças do País.
10. No entanto, considerando que o cenário inflacionário não faz mais presente, passaram a ficar
evidentes e, a meu ver, injustificáveis, as desvantagens desse modelo financeiro-orçamentário
centralizador e excessivamente autorizativo, no qual destaco a crescente interferência do Poder
Executivo sobre as atividades do Congresso Nacional e sobre o desenvolvimento de políticas,
programas e ações públicas relevantes, executado mediante caráter autorizativo e que carece, a meu
ver, de condição que deveria ser impositiva, garantindo-se, por consequência, a plena execução da
política pública que fora planejada.
11. Referido quadro de interferência sobre as atividades do Parlamento tem, por exemplo,
desvirtuado uma importante ferramenta de capilaridade orçamentária e de consequente
desenvolvimento local, qual seja, a emenda parlamentar. Sem esse instrumento, as particularidades de
cada município provavelmente não chegariam ao conhecimento do poder público federal, e seu
enfraquecimento, sua execução cada vez mais parcimoniosa e ao sabor da conjuntura política e
econômica, tem relegado a segundo plano o atendimento das necessidades de cada região do País.
12. Faço essas considerações no sentido de alertar para a importância inerente à vinculação e ao
efetivo uso dos recursos públicos nas finalidades predefinidas pelo legislador.
13. Nesse contexto, no que diz respeito ao desenvolvimento de políticas, programas e ações
públicas relevantes, a centralização dos recursos federais, somada ao caráter autorizativo das leis
orçamentárias anuais, tem dado causa à descontinuidade de importantes frentes de atuação do Estado, a
403
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
exemplo do que se tem observado relativamente a programas de desenvolvimento científico e
tecnológico.
14. Por considerar tema de extrema importância, menciono, ainda, a ausência de garantia de
destinação de recursos aos organismos instituídos pela Lei 9.433, de 8/1/1997 – conhecida como Lei
das Águas –, em especial aos comitês de bacia, aos quais compete, nos termos do art. 38, incisos I a
IV, do referido diploma “promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a
atuação das entidades intervenientes”, “arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos
relacionados aos recursos hídricos”, “aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia”, “acompanhar a
execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao
cumprimento de suas metas”.
15. Ainda em relação à Política Nacional de Recursos Hídricos, cito a ausência de apoio e de
incentivo ao desenvolvimento permanente de estudos técnico-ambientais aprofundados nessa área, de
modo a dar maior respaldo material às decisões a cargo das instâncias decisórias superiores, o que
permitiria maximizar o sucesso de projetos a serem implementados e minimizar o desperdício que,
infelizmente, vem sendo comum, conforme se verifica no Projeto de Integração do Rio São
Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
16. Há diversos outros casos de fontes de recursos que foram criadas com destinação específica e
que, no curso da execução, tiveram a sua destinação alterada, por atalhos em legislação provisória,
deixando de atender a necessidade para a qual foi planejada.
17. Reforço, portanto, a importância de se buscar atribuir maior executoriedade às despesas
predefinidas no orçamento, em especial às relacionadas às políticas, aos programas e às ações públicas
essenciais ao bom desenvolvimento nacional, excluindo-as, de algum modo, do poder discricionário de
contingenciamento e desvinculações, como verificamos rotineiramente no Governo Federal, sem
perder de vista obviamente a necessidade da plena observância dos critérios definidos com vistas à
preservação do equilíbrio fiscal do País.
Ante o exposto, manifesto concordância com o encaminhamento constante dos autos e
acompanho o Relator em sua minuta de acórdão.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
AROLDO CEDRAZ
Revisor
Voto Revisor
Na sessão extraordinária do Plenário do dia 24/1/2018, foi apresentada pelo eminente Ministro
José Múcio Monteiro minuta de acórdão em processo que trata de auditoria realizada no Ministério da
Fazenda e no Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, relativa às desvinculações de
recursos realizadas com base na Medida Provisória 704/2015.
2. Naquela oportunidade, foram formulados pedidos de vista pelo Ministro Aroldo Cedraz e por
mim. Tive como objetivo aprofundar o exame dos pressupostos adotados no relatório de fiscalização
das conclusões nele lançadas, notadamente no que se refere ao aprimoramento das questões de
auditoria a serem respondidas neste processo.
3. Ocorre que, estando o processo pautado para a presente sessão Plenária, tive conhecimento,
por meio da assessoria da Procuradora-Geral Cristina Machado da Costa e Silva, de que, no âmbito do
TC 008.530/2018-1, de relatoria do eminente Ministro Vital do Rego, está sendo respondida consulta
formulada pelo ex-ministro de Estado do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Henrique
de Oliveira, quanto à desvinculação de superavit financeiro apurado no Balanço Patrimonial da União.
404
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Trata-se, portanto, de matéria conexa à que se analisa no presente processo, razão pela qual
qualquer deliberação a ser aqui proferida se constituirá em antecipação da matéria tratada na consulta.
5. Em vista disso, deixo, neste momento, de apresentar voto revisor com o fito de contribuir com
o aprimoramento da discussão, e proponho que o presente processo seja sobrestado até que a referida
consulta seja apreciada pelo Plenário desta Corte de Contas e suas conclusões, de caráter normativo e
de prejulgamento de tese, possam ser aqui aproveitadas.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de novembro de 2018.
WEDER DE OLIVEIRA
Revisor
ACÓRDÃO Nº 2615/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC-008.584/2016-8
2. Grupo I, Classe V – Auditoria
3. Interessado: Tribunal de Contas da União
4. Unidades: Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e Secretaria de
Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnica: SecexFazenda
8. Advogado constituído nos autos: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria realizada no Ministério da Fazenda e no
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, relativa às desvinculações de recursos do
superávit financeiro do ano de 2014, por meio da Medida Provisória 704/2015, bem como à possível
utilização desses valores para pagar passivos junto a bancos estatais e ao Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS).
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, diante
das razões expostas pelo Relator, em sobrestar o presente processo, até o julgamento da consulta de
que trata o TC-008.530/2018-1.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2615-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz (1º
Revisor), José Múcio Monteiro (Relator) e Vital do Rêgo.
13.2. Ministro que não participou da votação: Benjamin Zymler.
13.3. Ministros-Substitutos convocados: Marcos Bemquerer Costa, André Luís de Carvalho e
Weder de Oliveira (2º Revisor).
GRUPO II – CLASSE I – Plenário
TC 023.736/2014-3
Natureza: Pedido de Reexame (Relatório de Auditoria)
405
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Recorrente: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras)
Unidades: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) e Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (Chesf)
SUMÁRIO: AUDITORIA OPERACIONAL. COMPANHIA HIDROELÉTRICA DO SÃO
FRANCISCO (CHESF). FALHAS E RISCOS NA GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS
COORPORATIVOS E INVESTIDOS EM SOCIEDADE COM ENTIDADES PRIVADAS.
DETERMINAÇÕES, RECOMENDAÇÕES E OUTRAS PROVIDÊNCIAS. PEDIDO DE
REEXAME. CONHECIMENTO. PROVIMENTO PARCIAL.
RELATÓRIO
Tratam os autos de auditoria operacional realizada na Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (Chesf) que teve por objetivo avaliar, em caráter sistêmico, a gestão de obras de geração e
transmissão da estatal. Ao apreciar a matéria, o Tribunal proferiu o Acórdão 600/2016 – Plenário, com
o seguinte teor:
“9.1. determinar à Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), com fulcro no art. 43,
inciso I, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso II do Regimento Interno/TCU, que:
9.1.1. faça constar de atas ou outros instrumentos congêneres a fundamentação empregada nas
sessões do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva da empresa para a decisão de
implementação de novos negócios de geração e transmissão, de modo a manter registro expresso da
motivação técnica e econômico-financeira das deliberações, em primazia ao princípio da
transparência e da motivação, sem prejuízo de conferir, se for o caso, tratamento sigiloso a
documentos sensíveis, nos termos da Lei 12.527/2011, devendo endereçar ao TCU, até 10 dias após a
próxima deliberação de entrada em novo empreendimento, cópia da documentação que ateste o
cumprimento desta medida;
9.1.2. apresente ao TCU, no prazo de 30 dias, plano de ação que preveja medidas para a
institucionalização e normatização de metodologia corporativa de análise de riscos, a ser usada como
ferramenta imprescindível de suporte à tomada de decisão para novos empreendimentos, delineando
no aludido plano, ao menos: (i) forma com que os estudos e análises de riscos serão registrados e
manejados pelas instâncias decisórias da empresa; (ii) possibilidade de adoção de ferramentas
consagradas de análises de riscos previstas na literatura especializada; e (iii) cronograma de
implementação das medidas, com as respectivas áreas responsáveis;
9.1.3. com base em seu direito de fiscalizar as sociedades das quais participa (art. 109, inciso
III, da Lei 6.404/1976), implemente as seguintes providências, reportando ao TCU, no prazo de 30
dias, as medidas implantadas: (i) elabore regulamentação interna sobre mecanismos de controle a
serem exercidos pela Chesf nas SPE em que sócios também atuam como fornecedores; e (ii) adote,
nos casos das SPE em que sócios atuam ou tenham atuado como fornecedores de bens e serviços,
medidas concretas de identificação e mitigação de riscos, incluindo, dentre outras, a promoção de
verificações e auditorias nos contratos firmados, suas condições, acréscimos e aditivos, além da
regularidade de sua execução físico-financeira;
9.1.4. remeta ao TCU, no prazo de 30 dias, cópia dos relatórios sobre as Sociedades de
Propósito Específico (SPE) elaborados pela Comissão de Auditoria Especial de SPE, nos termos do
item 3 da Portaria PR-28/2014-Chesf, de 3/10/2014, acompanhados das respectivas aprovações da
Diretoria Executiva da empresa;
9.1.5. adeque o quadro de funcionários envolvidos em atividades de gestão de obras da empresa
(Gestor de Empreendimento, Administrador de Contrato e Fiscal de Obras), de modo a compatibilizar
a quantidade de obras a serem gerenciadas por cada funcionário ante as atribuições previstas nos
normativos da Chesf, sem prejuízo de desenvolver critérios e metodologias para priorização das
atividades relacionadas, reportando ao TCU, no prazo de 30 dias, as ações implementadas.
406
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.2. determinar às Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras), com fulcro no art. 43, inciso
I, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso II do Regimento Interno/TCU, e em alinhamento ao
princípios da transparência e moralidade administrativa e às melhores práticas de governança
aplicáveis ao setor público, que, no prazo de 30 dias:
9.2.1. inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas a serem adotados por empresas do
Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusulas específicas que estabeleçam, independentemente
do percentual de participação societária do parceiro público, pelo menos: (i) previsão de acesso
irrestrito dos órgãos de fiscalização e controle a dados financeiros e comerciais da SPE; (ii)
obrigatoriedade de que contratos, acordos, arranjos ou compromissos com qualquer parte
relacionada a acionista privado sejam firmados em termos e condições de mercado, com
demonstração da vantagem financeira em se adotar tal medida; e (ii) prerrogativa de veto, por parte
do acionista estatal, à celebração de qualquer contrato, acordo, arranjo ou compromisso da SPE com
qualquer parte relacionada a acionista privado;
9.2.2. apresente ao TCU relatório detalhado sobre o andamento da implantação do Sistema de
Acompanhamento dos Empreendimentos de Geração (SAE) e do Sistema de Gestão de
Empreendimentos de Transmissão (SGE), que discrimine, para cada sistema, no mínimo: (i)
deliberações adotadas pelas instâncias superiores; (ii) ações de implementação já adotadas; e (iii)
ações a serem adotadas para implementação nas empresas subsidiárias.
9.3. realizar oitiva da Chesf e da Eletrobras, com base no inciso V, art. 250 do Regimento
Interno/TCU e com base nos princípios da ampla defesa e do contraditório previstos no inciso LV do
art. 5º da Constituição Federal, para que apresentem manifestação fundamentada em relação aos
seguintes pontos, que poderão culminar com ulterior decisão do TCU de medidas corretivas e/ou
punitivas:
a) motivos estratégicos que têm levado as empresas do Grupo Eletrobras a fomentar novas SPE,
mesmo cientes de que muitas sociedades têm passado por superveniente restruturação acionária;
b) possibilidade de inserção de cláusula de barreira, na forma de cláusula penal, nos acordos de
acionistas a serem firmados, que desestimule os parceiros privados a abandonar as SPE antes de
eliminados os riscos atrelados ao projeto;
c) motivos que conduziram, no caso concreto, à decisão de participação no projeto referente ao
Complexo Eólico Vamcruz, ciente de que a viabilidade econômico-financeira era prejudicada e aquém
da taxa mínima de atratividade orientada pela Eletrobras.
9.4. recomendar à Chesf, abalizado no art. 250, inciso III, do Regimento Interno/TCU, que:
9.4.1. reative o processo de implantação do escritório de projetos, conforme descrito no
Relatório de Administração 2013 da empresa, em alinhamento com as boas práticas preconizadas na
literatura especializada; e
9.4.2. utilize a forma de atuação da Coordenadoria de Regulação da empresa, que leva em
consideração metas para o alcance de resultados, como exemplo à estruturação de outros setores da
empresa responsáveis pela atuação junto aos órgãos licenciadores, de modo a tratar também outras
causas externas importantes de atrasos em obras.
9.5. dar ciência à Chesf de que foram identificadas deficiências nas atividades internas de
gestão de empreendimentos, administração de contratos e fiscalização de obras, nos termos dos
achados 3.11 e 3.12 do relatório precedente, em contradição com as melhores práticas corporativas
de governança no setor público.
9.6. determinar à Coordenação-Geral de Controle Externo da Área de Infraestrutura e da
Região Sudeste – Coinfra que inclua, no escopo da fiscalização prevista no subitem 9.5.2 do Acórdão
2.322/2015-TCU-Plenário, a averiguação de eventuais ilicitudes na pactuação das SPE da Chesf, com
especial enfoque naquelas compostas com parceiros privados que futuramente vieram a ser
fornecedores de bens e serviços da sociedade, consoante apontado no Achado 3.7 do Relatório de
Fiscalização que integra os autos.
407
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.7. determinar à Seinfra-Elétrica que monitore a implementação das medidas previstas na
presente decisão e, em autos apartados, analise as respostas às oitivas previstas no item 9.3 acima
mencionado.
9.8. encaminhar cópia deste Acórdão, acompanhado do Relatório e do Voto que o fundamentam,
ao Ministério de Minas e Energia e ao Departamento de Coordenação e Governança das Empresas
Estatais do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – Dest, a fim de subsidiar eventuais
ações e providências em suas respectivas esferas de atribuições e competências, bem como à Casa
Civil da Presidência da República, à Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados; à
Comissão de Serviços de Infraestrutura e à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e
Fiscalização e Controle do Senado Federal.
9.9. encaminhar cópia da peça 78 à Chesf, para subsidiar o atendimento de parte das
determinações e recomendações expedidas no âmbito deste processo, alertando à estatal que o
descumprimento imotivado aos itens de deliberação dispostos no presente acórdão pode ensejar a
aplicação da sanção prevista no art. 58, § 1º, da Lei 8.443/1992.”
2. Inconformada com os comandos do item 9.2.1. da referida decisão, as Centrais Elétricas
Brasileiras S.A. (Eletrobras) interpôs pedido de reexame (peça 123) cujos argumentos foram assim
sintetizados e analisados pela unidade instrutora (peças 142 a 144):
“5. Competência do Tribunal de Contas da União.
5.1. Argumenta a recorrente que a SPE não integra a Administração Pública Federal sequer em
sua concepção mais ampla, pois não integra a administração direta, indireta e não é subsidiária de
entidade integrante desse sistema, sendo, puramente, entidade privada e, portanto, imune à
fiscalização exercida pelos órgãos públicos de controle interno e externo.
5.2. Para tanto, junta aos presentes autos parecer da lavra do administrativista Marçal Justen
Filho do qual colhe os seguintes fundamentos para o acatamento de suas razões recursais:
a) preponderância do capital privado no âmbito das SPEs;
b) ausência de vinculação das SPEs à Administração Pública e não aplicação de normas e
princípios do direito público;
c) observação única e exclusiva das normas de direito privado;
d) despublicização do dinheiro público investido nas SPEs.
5.3. Afirma que a lição mais importante do referido parecer é a de que a constituição de uma
Sociedade de Propósito Específico se dá para se formar um empreendimento privado, e não para o
exercício de funções administrativas pelo sócio estatal, isto é, visando a implementação de políticas
públicas.
5.4. Assim, entende a recorrente que não se aplica no âmbito das SPEs a norma insculpida no
art. 70 da Constituição Federal, não havendo possibilidade de os órgãos de controle externo
realizaram sindicância da gestão e eventos societários ocorridos no âmbito dessas pessoas jurídicas.
5.5. Isso porque, reafirma a recorrente, os recursos públicos, uma vez investidos nessas
sociedades, passam pelo “filtro da despublicização” à medida que passa a pertencer ao Poder
Público não mais aqueles valores, mas os títulos representativos do capital social da entidade criada,
trazendo o seguinte trecho do referido parecer:
‘270. O sócio público se toma titular de uma participação societária. O patrimônio público é
integrado pela participação societária, não pelos bens que foram transferidos para a entidade privada
a título de integralização do preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. A situação é
similar àquela que ocorre nos casos em que a Administração pública adquire o domínio de um bem
privado. Ao pagar o preço de um bem privado, a Administração transfere para o patrimônio alheio
uma quantia em dinheiro. Esse dinheiro era público, mas deixa de sê-lo ao integrar o patrimônio do
particular. Aquele que vende um bem para a Administração Pública não está sujeito à prestação de
contas relativamente ao preço recebido. O mesmo se passa com a SPE que recebe valores do sócio
público como contrapartida da emissão de ações.’
408
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5.6. Dessa forma, questiona a recorrente o entendimento desta Corte de que o regime jurídico
da SPE transmuta-se em público quando há preponderância acionária do sócio público e quando há o
controle compartilhado ou de fato, ou mesmo influência dominante, conforme também decidido pelo
Tribunal ao prolatar o Acórdão 2322/2015-TCU-Plenário.
5.7. Argumenta que tal posicionamento, embora condizente com o art. 116 da Lei 6.404/1976, é
equivocado, pois parte da premissa de que a Administração Pública ao criar a SPE visa a ideia de
Estado-Empresário, ao passo que a verdadeira essência da referida criação é a ideia de Estado-
Fomentador, afastando a SPE das empresas estatais previstas no art. 173 da Constituição Federal.
5.8. Ao final, louvando a iniciativa desta Corte de resguardar o interesse público, afirma que
somente uma Emenda Constitucional daria competência a este Tribunal de fiscalizar as contas de
quaisquer sociedades em que figure como sócia a Administração Pública, concluindo que:
‘Com efeito, pretendesse a Corte de Contas se valer do controle indireto sobre o acionista
estatal, visando aquilatar o bom emprego do dinheiro público, e.g., mediante cotejo das
Demonstrações Financeiras Consolidadas, seria desnecessário o recurso à cláusula de acesso
irrestrito às informações financeiras e comerciais da SPE, eis que, nessa hipótese, doutrina e
jurisprudência, das mais altas cortes, são uníssonas em admitir plena legitimidade constitucional à
atuação do TCU, decorrente do regime de competência previsto no art. 70 e seguintes da CR/88.’
Análise
5.9. A questão, embora complexa, já foi enfrentada por esta Corte em diversas outras
oportunidades, como no já citado Acórdão 2322/2015-TCU-Plenário, em que figura como parte a
própria recorrente, Acórdão 1344/2015-TCU-Plenário, em que figura a Petróleo Brasileiro e no qual
também se concluiu pela competência desta Corte em fiscalizar SPE e, ainda, no Acórdão 1607/2016-
TCU-Plenário, processo mais amplo sobre o assunto ora tratado e no qual as partes são: Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Banco do Brasil S/A, Caixa Econômica Federal,
Centrais Elétricas Brasileiras S/A, Eletrobras Termonuclear S/A, Petróleo Brasileiro S/A, Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, Telecomunicações Brasileiras S/A, Valec Engenharia,
Construções e Ferrovias S/A, tendo esta Corte, pacificando a questão, assim decidido:
‘9.1. encaminhar cópia deste acórdão, acompanhado do relatório e voto que o fundamentam, à
Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização da Câmara dos Deputados para, a
seu juízo, subsidiar o eventual aperfeiçoamento do texto da próxima Lei de Diretrizes Orçamentárias,
de modo a prever mecanismos, em conjunto com o Tribunal de Contas da União, para dotar de maior
transparência e controle os recursos federais empregados em empresas cuja participação estatal seja
minoritária, com aportes que não compõem o Orçamento Geral da União a ser votado e controlado
pelo Congresso Nacional, em face do conceito de investimento previsto no art. 179, inciso III, da Lei
Societária, levando-se em conta, também, o grande risco gerado pela falta de transparência desses
dispêndios;
9.2. determinar à Coinfra que:
9.2.1. inclua no relatório consolidado do Fiscobras 2016, após a anuência deste relator em cada
caso concreto, fiscalizações em contratos de concessões na área de infraestrutura em processos em
andamento, tendentes a avaliar a legalidade, economicidade e efetividade dos controles realizados
pela União nas respectivas participações nas Sociedades de Propósito Específico (SPE);
9.2.2. inclua no rol de empreendimentos a serem auditados no âmbito do Fiscobras 2017, após
avaliar os critérios de risco, materialidade, oportunidade e relevância, ações de controle em contratos
celebrados com Sociedades de Propósito Específico (SPE) com o objetivo de examinar a legalidade e
a economicidade da contratação, bem como a legitimidade e efetividade dos controles realizados pela
União na aplicação dos recursos federais empregados;’
5.10. Dessa forma, as razões trazidas pela Eletrobras não devem prevalecer, haja vista,
ademais, que a constituição de SPE, ao contrário do que afirma, não afasta a competência desta
Corte de fiscalizar e zelar pelo interesse público.
409
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5.11. Ao contrário do que afirma a recorrente, os investimentos realizados pela Administração
Pública na SPE, apesar de tal entidade se submeter às normas de direito privado, não afastam a
competência do Tribunal de Contas da União, pois o bem adquirido com tal investimento, assim como
corretamente informa a recorrente, devem ser fiscalizados por este órgão de controle externo.
5.12. Ocorre que, ao contrário de uma aquisição comum, em que o dinheiro público passa pelo
‘filtro da despublicização’, as ações adquiridas por suas subsidiárias, como a Chesf no presente caso
concreto, não possuem um valor por si só, dependendo, para a manutenção dos investimentos
públicos, do andamento do empreendimento constituído com a participação de empresas privadas.
6. Das decisões adotadas pelos sócios privados.
6.1. Argumenta a recorrente que a decisão desta Corte de que a Eletrobras inclua nos acordos
de acionistas a previsão de acesso irrestrito dos órgãos de fiscalização e controle a dados financeiros
e comerciais da SPE não pode ser prevista no referido instrumento.
6.2. Para tanto a recorrente tece argumentos para delinear aspectos jurídicos relativos aos
acordos de acionistas, cuja regulamentação legal é encontrada no art. 118 da Lei 6.404/1976, para
afirmar que seus efeitos, em se tratando de acordos atípicos, ou seja, que não veiculam temas
delineados na Lei das Sociedades Anônimas, não se estendem à pessoa jurídica de forma obrigatória,
mas somente aos sócios que o subscreverem, afirmando, amparada nos posicionamentos de Celso
Agrícola Barbi e Nelson Ezirik, que:
‘A função da companhia, em tais instrumentos, esgota-se na aquiescência e respeita, em suas
deliberações sociais, aos termos consensados pelos acionistas, razão por que a práxis contratual
admite que integre o instrumento tão-somente na qualidade de interveniente-anuente.’
6.3. Traz a recorrente, ainda, o seguinte trecho da obra ‘Acordo de Acionistas: Uma
Homenagem a Celso Barbi Filho, SP, Saraiva, 2011, p. 92’:
‘As três espécies de acordos de acionistas, exaustivamente nominados no art. 118 da lei
societária, não excluem, com efeito, a validade e a eficácia entre as partes de outras avenças incluídas
no próprio acordo, que, não obstante, são inoponíveis à companhia’
6.4. Também se revela ilegal a determinação sob a ótica do direito de a sócia estatal fiscalizar a
companhia à luz do art. 109, inciso III, da Lei 6.404/1976, haja vista que a Lei traça os contornos sob
os quais tal poder de fiscalização por parte dos sócios se dará, novamente trazendo o posicionamento
de Nelson Ezirikl.
Análise
6.5. Esta Corte não determinou à Eletrobras que incluísse qualquer cláusula em acordo de
acionistas como informa a recorrente, mas em suas minutas.
6.6. Tais minutas, ao serem aceitas pelos parceiros privados, condição indispensável para que
integrem a Sociedade de Propósito Específico a ser constituída em parceria com a Administração
Pública, deverão integrar o contrato social da companhia e, desse modo, serão de observância
obrigatória por ela.
6.7. Desse modo, não assiste razão à recorrente, pois a determinação desta Corte não encontra
qualquer vedação legal, mas, ao contrário, visa dar efetividade ao comando constitucional contido no
art. 70 da Carta Magna.
7. Cláusula prevendo poder de veto por parte do sócio público.
7.1. Em relação à determinação de que conste da minuta de acordo de acionistas o poder de
veto, por parte do parceiro público, à celebração de qualquer contrato, acordo, arranjo ou
compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista privado, argumenta a recorrente
que, embora seja legalmente prevista tal possibilidade na Lei 6.404/1976, tal cláusula acabaria por
afugentar eventuais interessados na parceria.
7.2. Isso porque a Lei 6.404/1976 estabelece a vedação de participação do sócio
particularmente beneficiário da contratação na assembleia que decidirá o negócio jurídico, além de
não haver óbice a que o acordo de acionistas preveja tal possibilidade, mas ressalta a recorrente que
410
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
tal medida pode vir a causar abuso de direito por parte do sócio público, além de provocar
instabilidade jurídica por conta da assimetria injustificada entre os sócios em situações nas quais a
Eletrobras e/ou suas subsidiárias possuam minoria no capital social da SPE.
7.3. Alternativamente, caso não acatados os argumentos recursais, requer a recorrente que tal
medida só valha para futuras contratações, haja vista que os acordos já celebrados não podem ser
alterados pela vontade unilateral da Administração Pública.
Análise
7.4. Novamente os argumentos recursais não socorrem a recorrente. Conforme ela própria
afirma a determinação deste Tribunal não esbarra em qualquer norma legal e visa, sobretudo,
assegurar a boa gestão dos recursos públicos federais.
7.5. Quanto ao possível prejuízo à atratividade dos negócios envolvendo parceiros privados, a
norma legal, como reconhece a própria recorrente, vai ao encontro da determinação desta Corte, de
modo que, a previsão expressa de tal possibilidade, não altera a situação jurídica já existente e não
tem, dessa forma, o condão de afugentar possíveis interessadas.
7.6. No que diz respeito à retroatividade da determinação expedida pelo Tribunal, não há razões
para a recorrente se insurgir, haja vista que o comando recorrido prevê a inclusão da cláusula de
poder de veto na minuta dos contratos de acionistas, representando, evidentemente, que somente se
aplica a futuros negócios a serem praticados pela recorrente e/ou por suas subsidiárias.
(...)
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
9. Ante o exposto, submete-se à consideração superior a presente análise do pedido de reexame
interposto por Centrais Elétricas Brasileira contra o Acórdão 600/2016-TCU-Plenário, propondo-se,
com fundamento no art. 48, da Lei 8.443/1992:
a) conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento;
b) comunicar o teor da decisão que vier a ser proferida à recorrente e aos demais interessados.”
3. Encaminhados os autos instruídos ao meu Gabinete, solicitei a manifestação do Ministério
Público junto ao TCU (peça 145), cujo pronunciamento (peça 146) reproduzo parcialmente:
“19. Aquiesço ao posicionamento da unidade técnica no que diz respeito à competência do
Tribunal de Contas da União para fiscalizar as sociedades de propósito específico que contem com a
participação acionária de entidade vinculada à Administração Pública Federal, nomeadamente
empresas públicas e sociedades de economia mista. Acrescento que a competência do Tribunal deriva
não apenas do texto constitucional e da descrição contida em sua Lei Orgânica, mas de um conjunto
de fatores que auxiliam na consolidação de julgados exarados pela Corte de Contas.
20. Neste ponto, mostra-se especialmente importante examinar o desenvolvimento da
jurisprudência do Tribunal de Contas da União a respeito não apenas de sua competência para
auditar e apreciar atos vinculados às SPE, mas também no que respeita à necessidade dessa espécie
de fiscalização, sempre com a finalidade de se evitar prejuízos aos entes públicos envolvidos,
especialmente os que investem recursos nessa espécie de organização.
21. De início, lembro que, no Voto condutor do Acórdão 768/2011, o Plenário da Corte de
Contas já havia expressado preocupação com os riscos envolvidos nos investimentos realizados pela
Eletrobras nas sociedades de propósito específico, situação agravada por deficiências na fiscalização
dessas organizações, senão vejamos: ‘4. Já os novos investimentos no Brasil estão sujeitos a diversos riscos, tais como projeto da obra
deficiente, atraso no licenciamento ambiental e baixo retorno sobre o investimento. Outro risco associado a
esse evento é a má gestão dos recursos públicos aplicados por meio de Sociedade de Propósito Específico,
dadas as deficiências na fiscalização desses organismos.
5. Para os novos negócios no exterior, a equipe apontou como risco a possibilidade de perda de
investimentos mais vantajosos, a avaliação deficiente da viabilidade do investimento e o não cumprimento de
411
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
contratos e acordos internacionais, em razão da instabilidade política dos países onde estão situados os investimentos da Eletrobras.’ (destaque nosso)
22. Noutra oportunidade, Vossa Excelência, mediante Voto condutor do Acórdão 1.614/2011-
TCU-Plenário, prolatado nos autos do TC 032.090/2010-2, examinando relatório de levantamento de
auditoria realizado nas Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte), destacou que, entre
as matérias sensíveis e de grande influência nos resultados dessa sociedade, matérias essas que
deveriam compor o escopo de futura auditoria operacional, estavam ‘a seleção de parceiros para a
constituição de Sociedade de Propósito Específico (SPE): para avaliar as providências adotadas pela
Eletronorte no sentido de minimizar o risco de descumprimento de obrigações contratuais’ e,
igualmente, a ‘estrutura de governança das participações nas SPEs ainda incipiente’.
23. Ainda em 2011, ao apreciar embargos de declaração opostos pela Petróleo Brasileiro S.A.
(Petrobras), o Eminente Ministro Aroldo Cedraz, no Voto condutor do Acórdão 2.609/2011-TCU-
Plenário, assim enfrentou a questão da competência fiscalizatória da Corte de Contas sobre as SPE:
‘16. No que tange à jurisdição, este Tribunal ainda não se pronunciou sobre a abrangência
desta em relação às SPEs patrocinadas por estatais. A matéria é objeto de apreciação no âmbito do
TC 006.232/2008-2, já mencionado neste Voto. No entanto, cabe adiantar que a Súmula de
Jurisprudência 075, deste Tribunal, assim dispõe:
‘A competência conferida ao Tribunal de Contas da União pelo art. 7º da Lei 6.223, de 14/7/75,
não está condicionada à feição jurídica atribuída à entidade fiscalizada, nem à sua criação por lei ou
por ato presidencial; tampouco, se restringe à participação acionária direta ou primária da União e
entidades da sua administração indireta, compreendendo, ao invés, as chamadas subsidiárias de
segundo ou terceiro grau, mas sem obrigatoriedade de remessa das contas anuais quanto às entidades
em que houver participação apenas minoritária.’ (Fundamento Legal: Constituição, art. 70, §§ 1º e
4º; Decreto lei nº 199, de 25/2/67, arts. 31, II, 40, I, e 42; Lei nº 6.223, de 14/7/75, art. 7º)
17. Assim, a exegese desta Súmula é no sentido de que a fiscalização promovida pelo Tribunal
em entidades públicas de direito privado não se restringe à participação direta ou primária por parte
da União, alcançando as chamadas subsidiárias ou controladas de segundo, terceiro e demais graus.
A Súmula vai além, ao mencionar que também se sujeitam à jurisdição deste Tribunal as sociedades
constituídas ou em que haja aplicação de recursos da União. 18. Seguindo esse raciocínio, como as SPEs devem se revestir de uma das formas societárias
tipificadas no nosso ordenamento jurídico, objetivamente, pode-se concluir que as fiscalizações
financeira, orçamentária, contábil, operacional e patrimonial a cargo do TCU alcançam também
tais sociedades, nas quais direta, ou indiretamente, há recursos da União. O controle externo, desse
modo, não se restringe à tutela da maioria do capital com direito a voto (controle acionário direto ou
indireto) por parte da União ou, por conseguinte, da Estatal com participação na SPE.’ (destacamos)
24. Os votos que fundamentaram os referidos julgados expressavam posicionamentos favoráveis
à competência da Corte de Contas no que diz respeito não apenas à regularidade dos investimentos
feitos em sociedades de propósito específico, mas também à fiscalização direta desses organismos.
25. O Tribunal de Contas da União, mediante decisão plenária 300/2013, deliberou pela
efetivação de oitivas da SPE Eólica Mangue Seco 2, fato que sugeriu a formação de entendimento de
que sua jurisdição alcançava tal espécie de organismo. Nessa ocasião, o Eminente Ministro-Relator
Aroldo Cedraz assim se manifestou sobre a questão: ‘29. Depreendo caber razão ao Secretário quanto à desnecessidade de efetivar o alerta sugerido pelo
auditor. O Voto condutor do Acórdão 2.609/2011-TCU-Plenário, encaminhado às (sic) deixou delineado o
entendimento deste Tribunal a respeito do controle da estatal sobre a SPE que a constitui, e, neste caso
concreto, o nível de controle que a Petrobras exerce sobre as quatro SPEs objeto deste processo, bem como
firmou a jurisdição deste Tribunal sobre tais entidades. Assim, no meu entender, o conhecimento deste Acórdão já é uma orientação para a conduta futura dos gestores em relação à matéria.’ (destaque nosso)
412
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
26. O TCU, por intermédio do Acórdão 1.344/2015-TCU-Plenário, reafirmando sua
competência, efetivou diversas determinações à Petrobras, todas aplicáveis nos casos em que
existissem empreendimentos executados mediante sociedades de propósito específico. Nessa ocasião,
o Exmo. Ministro Bruno Dantas, por meio de Voto revisor, fez as seguintes observações: ‘8. De fato, conforme registrei no Acórdão 894/2015-TCU-Plenário, é possível verificar que nos últimos
tempos tem sido largamente difundida nas empresas estatais em geral uma estratégia no sentido de utilizar
empresas privadas (sendo pouco ou nada relevante se a parceria configura-se pela aquisição de participação
acionária em sociedades empresariais anteriormente constituídas ou pela constituição de novas sociedades, sejam de propósito específico ou não, com ou sem participação no capital) para alcançar parte dos seus
objetivos estratégicos ou, em termos de interesse público primário, parte das finalidades buscadas pelo Estado.
(...) 11. Portanto, não tenho dúvidas de que a preocupação que externei na Sessão do dia 22/4/2015 e agora
reforçada pelo Min. André Luís é comum a todos os Ministros desta Corte, uma vez que a transferência de
atividades destinadas a atender o interesse público para empresas privadas ‘com maior flexibilidade na
gestão’ efetivamente aparenta o propósito de tentar afastar o exercício constitucional pelo TCU do controle externo sobre a administração da coisa pública.
12. Não por outra razão é que, na sobredita Sessão, apresentei proposta, acolhida por este Plenário, no
sentido de determinar à Segecex que realize ação de fiscalização na modalidade levantamento acerca das situações nas quais entidades da Administração Pública Federal figurem como sócias minoritárias em
empresas privadas, estendendo-se a quaisquer empresas em que haja, direta ou indiretamente, recursos da
União e dando um tratamento ainda mais detalhado para os casos em que tais empresas figuram como contratadas pela própria Administração.’ (destaque nosso)
27. Entre as referidas preocupações, destaco a que diz respeito ao fato de que a transferência
de atividades destinadas ao interesse público para empresas privadas teria, inclusive, a finalidade de
afastar o exercício do controle externo. Não se pode afirmar que, in casu, a Eletrobras (ou suas
subsidiárias e controladas), por intermédio do investimento feito em sociedades de propósito
específico, tenha almejado, inclusive, afastar a fiscalização do órgão de controle externo; entretanto,
ao que parece, o questionamento apresentado no presente recurso tem esse viés.
28. O pleno da Corte de Contas voltou a se manifestar a respeito das sociedades de propósito
específico quando, por meio do Acórdão 2.322/2015, determinou à SecexEstatais que aprofundasse a
análise do ‘Manual de SPEs’ da Eletrobras e monitorasse a implementação de medidas constantes
desse Manual.
29. No Voto condutor do Acórdão 1.865/2016-TCU-Plenário, o Eminente Ministro Augusto
Nardes reafirmou expressamente entendimento no sentido de que o Tribunal de Contas da União é
competente para fiscalizar as SPE, senão vejamos:
‘38. De início, afasto a tese de que a competência fiscalizatória deste Tribunal sobre SPE
composta por participação estatal minoritária estaria limitada às etapas previstas na Instrução
Normativa-TCU 27/1998.
39. Em síntese, as concessionárias sustentam que as SPEs não estão sujeitas à fiscalização do
TCU, na medida em que os recursos da Infraero, uma vez integralizados em ações, passam a integrar
capital de sociedade privada, afeto exclusivamente às regras do direito civil e, em especial, do direito
societário...
40. Sem a intenção de me delongar de modo demasiado nesta questão, limito-me a trazer
argumentos centrais que reputo bastantes para afastar a pretensão em evidência.
41. Como bem pontuou a unidade técnica especializada, o controle exercido por este Tribunal
tem como foco a atuação das entidades estatais (em especial, Infraero e Anac) nessas sociedades e,
portanto, decorre de expresso mandamento constitucional. Estando em jogo o patrimônio estatal,
qualquer ato que importe na sua malversação, causado por agente público ou privado, atrairá a
competência do TCU. E não poderia ser diferente em se tratando de participações societárias,
mormente quando a entidade pública figurar na condição de acionista privada.
413
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
(...)
43. O fato de ter havido previsão expressa, nos protocolos de governança (item 4.3), no sentido
de garantir o acesso do TCU a toda documentação técnica inerente às transações entre partes
relacionadas é, nos casos fiscalizados, expressão natural do reconhecimento da atuação deste órgão
de controle em sociedades compostas por quase 50% de recursos públicos. Mesmo que não houvesse
tal autorização, o controle externo a cargo deste Tribunal – a se concentrar prioritariamente nas
entidades estatais – estará assegurado por força de suas competências constitucionais, cuja eficácia
não poderá estar comprometida em razão de condições estabelecidas entre os partícipes societários.
(...)
45. O raciocínio aqui é similar ao externado pelo Tribunal em situações análogas, a exemplo de
quando firmou o entendimento segundo o qual lhe compete fiscalizar fundos de pensão patrocinados
por entidades públicas.’ (destaques nossos)
30. Em outros julgados, explícita ou implicitamente, o TCU declarou sua competência para
fiscalizar as SPE ou examinar a regularidade dos investimentos ou inversões feitas nesse tipo de
sociedade (v.g. Acórdãos 894/2015, 2.200/2015, 2.532/2015, 1.220/2016, 2.063/2016, 2.497/2016 e
630/2017, todos do Plenário do Tribunal de Contas da União).
31. Da descrição do conteúdo de decisões sobre a matéria, depreende-se que a jurisprudência
da Corte de Contas é pacífica em afirmar sua competência para fiscalizar, auditar e examinar a
regularidade de atos e contratos firmados por sociedades de propósito específico, assim como a
legalidade, oportunidade e razoabilidade das inversões financeiras efetuadas por entidades públicas
nessa espécie de organismo e, finalmente, a eficácia dos controles exercidos por empresas públicas e
sociedades de economia mista sobre as empresas das quais participam minoritariamente. Mais que
isso, a jurisprudência aponta para a competência do Tribunal de fiscalizar as sociedades de
propósito específico.
32. Buscando consolidar os principais fundamentos insertos na jurisprudência – fundamentos
esses que contam com minha aquiescência –, verifico que a competência do Tribunal de Contas da
União, no que respeita a tal espécie de organização, decorre, igualmente, de variados fatores de
natureza jurídica e teleológica.
33. Antes de adentrar na questão jurídica, convém enfatizar que os trabalhos de fiscalização já
concluídos pelo Tribunal mostraram, com bastante frequência, o alto risco e questionáveis prazo e
percentual de retorno de determinadas inversões financeiras em SPE por parte de entidades
vinculadas à União. Essa realidade, por si só, já demonstraria a conveniência e a oportunidade de
novas ações fiscalizatórias por parte da Corte de Contas.
34. Sem embargo, a experiência obtida nesses procedimentos já realizados também mostra que
as entidades públicas que figuram como acionistas nas SPE não desenvolveram adequados
procedimentos de controle sobre seus investimentos e inversões financeiras, inclusive por conta de sua
posição de acionista minoritário. Nesse sentido, há indicativos que apontam que, em muitos casos, a
estrutura de governança sobre as participações minoritárias mostrava-se deficiente (v.g. 1.614/2011-
TCU-Plenário e 2.839/2016-TCU-Plenário). Noutros, a legalidade e economicidade dos atos e
contratos relacionados à participação na SPE foram questionados (v.g. 1.614/2011-TCU-Plenário e
768/2011-TCU-Plenário).
35. Outro aspecto que, amiúde, deriva dos achados de auditoria e de procedimentos de controle
afins, diz respeito à própria legitimidade de inversões em determinadas sociedades de propósito
específico, tendo em vista que não se coadunariam com os objetivos institucionais das entidades
públicas envolvidas e, em boa parte dos casos, não estariam consonantes com o interesse público
primário. Nesse ponto, menciono os investimentos em sociedades sediadas no exterior para execução
de empreendimentos fora do Brasil e que, em nada, poderão beneficiar a sociedade brasileira ou
auxiliar na solução de problemas do sistema elétrico pátrio.
414
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
36. Como visto, o Ilustre administrativista Marçal Justen Filho defende que o controle externo
deva ser exercido apenas pela empresa estatal, que, se for o caso, deve justificar o insucesso da gestão
perante o TCU (peça 123, p. 113). Tal argumento não deve ser aceito, eis que os resultados das ações
de controle executadas pelo Tribunal de Contas da União até o momento apontam para a ineficiência
do controle exercido pela Eletrobras. Na verdade, torna-se questionável chamar o monitoramento
exercido pela empresa estatal de ‘controle externo’, visto que, a rigor, estaria a fiscalizar uma gestão
da qual, direta ou indiretamente, participa.
37. Além de necessária e oportuna, segundo as circunstâncias identificadas nas ações de
fiscalização realizadas anteriormente, a atuação do Tribunal de Contas da União advém do
cumprimento de competências constitucional e legalmente estabelecidas.
38. Desse modo, ao analisar e julgar questões que envolvem as SPE, o TCU, acertadamente,
vem reafirmando que sua competência alcança as participações acionárias minoritárias, ou seja, que
sua jurisdição se estende a quaisquer empresas em que haja, direta ou indiretamente, recursos da
União, na forma de ações ou participações acionárias.
39. A prerrogativa do Tribunal de Contas da União para fiscalizar, de modo direto, as
sociedades de propósito específico decorre, por razões lógicas e práticas, da necessidade de exercer a
competência descrita no art. 70 da Constituição Federal e no art. 1º, caput, da Lei 8.443/1992. Isso
porque, uma vez impedido de auditar uma SPE, seria impossível para a Corte de Contas exercer, em
muitos casos, com um mínimo de qualidade e segurança, o mister a que lhe incumbe nossa Carta
Magna.
40. Em outras palavras, caso não pudesse auditar as SPE ou realizar o controle sobre os
correspondentes investimentos, não haveria como o TCU exercer com eficiência, presteza e qualidade
a ‘fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das
entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas’ (art. 70, caput, da Constituição Federal). Assim,
caso lhe fosse inacessível fiscalizar uma SPE onde haja participação acionária de empresa estatal, o
controle externo que lhe incumbe deixaria de ser exercido com a profundidade e segurança
necessárias.
41. Adequado registrar, neste ponto, excerto do relatório de auditoria que teve como escopo os
investimentos e contratos de execução da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, reproduzido no Relatório
que fundamentou o Acórdão 2.839/2016-TCU-Plenário: ‘462. Não obstante essa questão sobre a responsabilização, a roupagem de pessoa jurídica de direito
privado, conforme discutido no Achado III.3, foi utilizada pela própria Norte Energia, por diversas vezes,
como justificativa para a negativa de acesso a informações importantes para análise da adequação dos atos
da sociedade participada. Registre-se, por exemplo, a sonegação de diversos documentos que permitiriam
verificação mais precisa de preços unitários e quantitativos do projeto. Inclusive, esta Equipe de Auditoria obteve evidências da existência de documentos chave para análise, com grande impacto na análise de
quantitativos de escavação no canal de derivação, Seção III.3.6, que não foram entregues.’ (destacamos)
42. Por isso, diversamente do que defende o ilustre parecerista, por motivos de ordem legal e
prática, não há como se afastar a incidência do art. 70 de nossa Carta Magna e, por consequência, a
competência do Tribunal de Contas da União para fiscalizar o uso de recursos públicos na
constituição e no funcionamento da SPE, ainda que não se exija destes organismos a formal prestação
de contas anual.
43. Ademais, diante da mera possibilidade de que tal investimento ou inversão tenha resultado
ou esteja a causar perda ou prejuízo à entidade pública federal, face ao disposto no art. 71, inciso II,
in fine, de nossa Carta Magna, a competência do Tribunal de Contas da União estaria evidenciada,
diretamente ou por intermédio do controle exercido sobre as entidades públicas.
44. As pessoas físicas e jurídicas referidas no art. 71, inciso II, da Constituição – onde se
incluem aquelas responsáveis por bens e valores públicos e as que derem causa a dano ao erário –
415
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
podem vir a ser auditadas pelo TCU, inclusive quanto a aspectos de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nos termos do art. 71, inciso IV, da Constituição Federal.
45. Oportuno registrar que, conforme citação retro, entre as considerações tecidas pelo Exmo.
Ministro Augusto Nardes, no voto condutor do Acórdão 1.865/2016-TCU-Plenário, consta
entendimento no sentido de que, havendo riscos ao patrimônio público, qualquer ato que importe na
sua malversação, de autoria de agente público ou privado, atrairá a competência do TCU.
Evidentemente, a eficácia do controle externo, muitas vezes, está na atuação imediata, de modo que
seria de bom alvitre que a fiscalização do Tribunal fosse exercida diante da caracterização de riscos
ao erário, não havendo motivo justo e razoável para que aguardasse a consumação do dano ao
patrimônio de uma empresa estatal.
46. Considerando, ainda, que a sociedade de propósito específico do qual participe uma
empresa pública ou sociedade de economia mista é composta, necessariamente, por um ativo público,
há que se admitir que essa pessoa jurídica, assim como seus gestores, utiliza, guarda, gerencia e
administra dinheiros, bens e valores públicos, motivo pelo qual, ex vi do art. 70, parágrafo único, da
Constituição, pode vir a ser compelida a dar explicações e justificativas sobre suas atividades e
operações ao Tribunal de Contas da União, órgão que auxilia o Congresso Nacional no desempenho
do controle externo.
47. Nesse caso, ainda que não pertença formalmente à Administração Pública e, por isso, não
tenha que apresentar formalmente a prestação de contas anual, a SPE e, em última análise, seus
administradores, devem permitir acesso às informações requisitadas pelo órgão de controle externo.
48. Tal conceito encerra a noção de que o Tribunal detém jurisdição sobre esse tipo de
sociedade empresarial privada. Partindo dos pressupostos de que as ações de sociedades de propósito
específico adquiridas por uma estatal constituem bem que pertence àquela empresa pública ou
sociedade de economia mista e de que esse ativo é gerido pela pessoa jurídica constituída com aquele
capital e por seus administradores, há que se admitir que a jurisdição do TCU não se limita à estatal
que adquiriu as ações da SPE, estendendo-se à própria organização de propósito específico.
49. Por isso, entendo que a jurisdição do TCU, nos casos em que houver a participação
acionária de uma empresa estatal, deve alcançar a própria SPE, pessoa jurídica que, em razão da
composição do seu capital social, utiliza-se de bens e valores pertencentes a uma entidade pública.
Deve-se ponderar, inclusive, se sua jurisdição não deve se estender aos administradores da SPE, visto
que gerenciam ativos pertencentes a uma empresa pública ou sociedade de economia mista.
50. Sobre o assunto, destaco que o Plenário do TCU, por intermédio do Acórdão 2.839/2016,
examinando Relatório de Auditoria que tinha como escopo os investimentos e contratos de execução
da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, determinou a oitiva de diversas pessoas físicas e jurídicas,
incluindo sociedades de propósito específico e membros do conselho de administração da SPE Norte
Energia S/A. Embora tais pessoas físicas também detivessem cargos de direção em empresas estatais,
ao que parece, foram ouvidos na condição de membros do conselho de administração da referida
SPE, senão vejamos:
‘9.1. determinar a oitiva das companhias Norte Energia, Eletrobras, Eletronorte e Chesf para se
manifestarem, no prazo de 15 (quinze) dias, sobre os fatos descritos no achado III.2 do relatório de
auditoria, em especial sobre a posição de controlador de fato do Grupo Estatal sobre a sociedade de
propósito específico Norte Energia e consequente abuso da utilização da personalidade jurídica de
direito privado da SPE;
9.2. determinar a oitiva da Norte Energia, do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) e da
Eletrobras para que se manifestem, no prazo de 15 (quinze) dias, sobre os fatos apontados no achado
III.4 e III.5 do relatório de auditoria...
9.3. determinar a oitiva dos então membros do conselho de administração da Norte Energia
Valter Luiz Cardeal de Souza, Adhemar Palocci e José Ailton de Lima ...’ (destaques nossos)
416
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
51. Pelas razões retrocitadas, compreendo que o Tribunal de Contas da União detém
competência para fiscalizar não apenas os atos e contratos que resultaram em inversões nas
sociedades de propósito específico, mas também as próprias sociedades nas quais participe
acionariamente uma estatal vinculada à União. Nessa linha, como o investimento feito em ações nessa
espécie de sociedade continua a constituir ativo da empresa estatal e, portanto, patrimônio de um ente
público, cuja utilização é feita pela própria SPE e por seus administradores, resta solidamente
fundamentada a jurisdição da Corte de Contas.
52. O risco existente ao patrimônio de uma empresa estatal, que atrairia a jurisdição da Corte
de Contas em razão do interesse público a ser tutelado, constitui aspecto abordado com muita clareza
pelo Exmo. Ministro André Luís de Carvalho, no Voto condutor do prefalado Acórdão 1.344/2015-
TCU-Plenário, in verbis:
‘Neste tomo será demonstrado qual o efetivo alcance da jurisdição do TCU sobre os atos da
TGS, destacando-se que o exame parte da premissa de que a Estatal funciona como garantidora do
projeto, donde sobressai a existência de interesse público a ser tutelado, aspecto que atua como a vis
atractiva da jurisdição desta Corte de Contas, em harmonia com a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, consoante passo a expor.
(...)
E nesse ponto é importante registrar que a participação da Estatal, como garantidora, foi
condição exigida para a concessão do financiamento conferido à Transportadora Gasene S.A., de
modo que também essa manifestação de vontade, no sentido de onerar parte do patrimônio da
Petrobras em favor do projeto, confere à União e, destarte, ao TCU o dever de fiscalizar as atividades
correlatas ao desenvolvimento do aludido projeto.
Esse, aliás, é o entendimento geral já fixado neste Tribunal, quando da prolação do Acórdão
399/2004-Plenário, em que, citando a posição do ilustre Ministro do STF Carlos Velloso, o emérito
Ministro-Relator Lincoln Magalhães da Rocha fez registrar, em seu voto, que:
‘33. Para o também Ministro do STF Carlos Velloso está fora de dúvida que um dano causado
ao patrimônio de uma sociedade de economia mista atinge o capital público, além de atingir também
o capital privado (MS 23.627). E mais, a contribuição com recursos não precisa ser direta (ou
orçamentária), mas se dá também pela renúncia de receita (dividendos e lucros). Portanto, um
prejuízo causado pelos administradores redunda em prejuízo ao erário (patrimônio público). A vis
atractiva da competência desta Corte de Contas, em que pese inserir interesse privados minoritários,
dá-se pelo princípio da prevalência do interesse público.’ (grifou-se)
É, portanto, a prevalência do interesse público a vis atractiva da competência desta Corte de
Contas. E o destaque conferido pelo Ministro Carlos Velloso se amolda perfeitamente ao caso ora em
apreciação, de sorte que, mais uma vez, é a realidade dos fatos, e não apenas a terminologia jurídica,
o elemento a ser considerado para a definição das normas aplicáveis aos casos que contemplem a
constituição de SPE.
Demais disso, o exame da questão é definitivamente resolvido a partir da aplicação da Súmula
nº 75 do TCU..., que aduz:
(...)
Resta claro, então, que o controle externo financeiro a cargo do Tribunal alcança as SPE em
que haja, direta ou indiretamente, recursos da União, uma vez que a referida súmula preconiza que as
sociedades constituídas ou em que haja aplicação de recursos da União estão sujeitas à fiscalização
por parte do Tribunal.
Não é demais lembrar que nessas hipóteses, se os administradores da SPE causassem prejuízo
ao erário federal, eles estariam sujeitos à tomada de contas especial perante o TCU, o que reforça a
tese de que nos casos em que há recursos públicos federais envolvidos tanto os administradores
quanto as próprias SPE estão sob a jurisdição do TCU, seja no exercício da sua competência
417
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
fiscalizadora, seja no da judicante especial, por força do art. 71, II, da Constituição Federal...’
(destacamos)
53. Em que pese compreender que a jurisdição do TCU não está condicionada ao exercício, por
parte da empresa estatal, do poder de controle sobre a SPE, entendo oportuno tecer alguns
comentários adicionais sobre o assunto.
54. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao editar a Instrução CVM 408, de 18/8/2004,
emitiu nota explicativa na qual aponta que o fato de uma estatal não possuir maioria do capital
votante de uma SPE não significa, necessariamente, que não tenha real controle desse organismo. A
nota explicativa trouxe esclarecimentos acerca do controle sobre uma entidade de propósito
específico – EPE, que bem podem se amoldar ao tema do controle decisório de uma SPE, senão
vejamos: ‘No contexto de uma EPE, o controle pode surgir pela predeterminação das atividades da EPE
(operando em uma espécie de ‘piloto automático’) ou mesmo de outra forma. A Instrução CVM n. 247 requer várias circunstâncias que resultam em controle econômico, até mesmo em casos onde uma entidade possui
menos da metade da quantidade das ações representativas do poder de voto em outra entidade. De forma
semelhante, esse tipo de controle pode existir mesmo em casos onde uma entidade possui pequena ou nenhuma parcela da EPE. A aplicação do conceito de controle requer, em cada caso, julgamento no contexto de todos os
fatores pertinentes.’
55. Tais explicações se fizeram necessárias porque a Instrução CVM 408/2004, em seu art. 1º,
caput, passou a exigir que as demonstrações contábeis consolidadas das companhias abertas
incluíssem, além das sociedades controladas, as entidades de propósito específico, desde que a
essência de sua relação com a companhia aberta indicasse que as atividades dessas entidades são
controladas, direta ou indiretamente, individualmente ou em conjunto, pela companhia aberta.
56. Além do que, o art. 116 da Lei 6.404/1976 deixa muito claro que o acionista controlador não
é apenas aquele que detém a maioria dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de
eleger a maioria dos administradores, mas também aquele que ‘usa efetivamente seu poder para
dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.’
57. Os esclarecimentos acima servem, no mínimo, para questionar tese no sentido de que o
controle acionário de uma empresa seria o único critério de avaliação quanto ao suposto controle
econômico ou decisório e, por conseguinte, quanto à legitimidade do exercício do controle externo e
quanto à competência fiscalizatória do Tribunal de Contas da União. Não obstante, como disse antes,
penso que a jurisdição do Tribunal não decorre, exatamente, do fato de que controla a sociedade –
por ter a maioria das ações ordinárias -, mas sim do fato de que tais ações constituem patrimônio
público gerido pela própria sociedade de propósito específico e por seus administradores.
58. Outrossim, há situações em que a avaliação da possibilidade de que um ente estatal esteja a
exercer o poder de controle sobre uma SPE não se limite ao cálculo do percentual de ações ordinárias
pertencentes a cada uma das pessoas jurídicas que investiram no negócio. Cito, como exemplo, o
conteúdo da auditoria que teve como escopo os investimentos e contratos de execução da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, cujo relatório mostra que a Eletrobras, na verdade, detinha o poder de
controle da SPE fiscalizada. Para esclarecimentos, trago, a seguir, trecho do relatório dessa
auditoria, reproduzido no Relatório que fundamentou o Acórdão 2.839/2016-TCU-Plenário: ‘64. No âmbito da análise, constataram-se diversas evidências de que o grupo Eletrobras, além de ser o
acionista empreendedor do negócio, é o controlador de fato da Norte Energia: a) a Chesf foi responsável pela
estruturação do negócio, além de a Eletrobras e a Eletronorte serem os detentores dos estudos anteriores à implantação; b) ao grupo Estatal compete indiciar os administradores responsáveis pelas áreas de maior
relevância técnica e supervisão da maior parte dos recursos investidos na implementação do empreendimento
c) o grupo Eletrobras é responsável pela Engenharia do Proprietário, além de, à Eletronorte, atribuírem-se os
serviços de Operação e Manutenção; d) não se verificou participação relevante dos parceiros privados em nenhuma atividade fim da Norte Energia.
(...).
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467. Essas constatações corroboram o desvio de finalidade da participação minoritária do Estado, no
caso específico, e, consequentemente, a conclusão de que a Norte Energia está, de fato, estruturada como uma
sociedade de economia mista de fato. Posto isso, esta Equipe de Auditoria entende cabível a aplicação do
instituto de desconsideração de personalidade jurídica, prevista no art. 50 do Código Civil, submetendo total, ou parcialmente, os atos praticados pelas Norte Energia ao regime de direito público, submetido ao grupo
Eletrobras.’ 59. Não merece prosperar a tese da despublicização dos recursos aplicados na SPE, que foi
delineada pelo parecerista e defendida pelo recorrente, visto que a competência do TCU, derivada da
aplicação do art. 70 da Constituição, decorre não apenas do fato de que a origem dos recursos é
pública e federal, mas também da constatação de que as ações e participações nas SPE são bens
pertencentes a uma empresa pública ou sociedade de economia mista.
60. Logicamente, compete ao TCU fiscalizar a aplicação de recursos de origem pública, a
exemplo do que ocorre com os recursos descentralizados mediante convênios ou instrumentos
similares, mesmo quando a finalidade é a constituição de um bem que será incorporado ao patrimônio
de outro ente público ou de uma organização privada.
61. Por isso, claro está que, para efeito de incidência do controle externo, não importa o fato
das SPE não integrarem a Administração Pública Federal ou o de que sejam regidas por normas de
direito privado. Afinal, não se trata de exigir que as SPE obedeçam a todas as normas destinadas às
entidades públicas, mas sim da possibilidade de fiscalizar os recursos públicos nelas investidos.
62. Quanto ao argumento de que as SPE não são constituídas para o exercício de funções
administrativas e sim para formar um empreendimento privado, cabe ressaltar que, de qualquer
forma, estamos diante de uma situação em que a correta aplicação dos recursos públicos deve ser
objeto de análise por parte do TCU.
63. Nesse sentido, entendo dispensável aprofundamento no exame da procedência da tese que
busca demonstrar que, na constituição de uma SPE, estaria em ação o que o Ilustre parecerista chama
de estado-empresário, uma vez que, de qualquer modo, o Tribunal, nos termos do art. 70, caput e
parágrafo único, c/c art. 37, caput, da Constituição Federal, tem o dever de exercer vigilância sobre o
emprego dos recursos públicos, não apenas sob os aspectos da legalidade e da economicidade, mas
também sob o ponto de vista da moralidade, da impessoalidade, da razoabilidade, da conveniência e
da oportunidade.
64. No que diz respeito ao argumento de que as sociedades de propósito específico não
objetivam a implementação de políticas públicas, devo salientar que a própria argumentação
expendida pelo Professor Marçal Justen Filho, em certo momento, deixa transparecer que, no caso
das empresas vinculadas à Eletrobras, esse tipo de organização, em que pese a finalidade de lucro,
acaba por exercer atividade importante ou necessária ao desenvolvimento do setor elétrico. Neste
ponto, devemos examinar a legislação que regula tais inversões financeiras.
65. Em seu parecer, Marçal Justen Filho sugere que as SPE constituídas pela Eletrobras não se
sujeitariam às normas contidas na Lei 11.079/2004, mas sim ao que dispõe a Lei 11.651/2008, que
teria alterado o art. 15 da Lei 3.890-A/1961. Para tanto, sustenta que os dispositivos da Lei
11.079/2004 não se amoldam ao caso das SPE criadas pela Eletrobras e, ainda, que a Lei
11.651/2008 teria revogado a Lei 11.079/2004 ‘naquilo que ambas fossem entre si incompatíveis’
(peça 123, p. 91).
66. Pelas razões retrocitadas, tal argumentação não tem o condão de afastar a competência da
Corte de Contas. Não obstante, entendo oportuno tecer algumas observações sobre a argumentação
trazida pelo recorrente. Uma vez que estamos a tratar do assunto em tese, não cabe verificar com qual
fundamento legal foram autorizadas as participações da subsidiária da Eletrobras em sociedades de
propósito específico, ou seja, não se faz necessário examinar se, no caso concreto, as participações
estão fundamentadas na Lei 11.079/2004 ou na Lei 3.890-A/1961 ou no art. 981 do Código Civil.
419
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
67. Admitindo-se a prevalência da Lei 11.079/2004, que regulamenta as parcerias público-
privadas, deve-se considerar que as sociedades de propósito específico desempenhariam atividade
pública, mormente porque, nos termos do art. 2º dessa Lei, as parcerias público-privadas são
contratos administrativos de concessão. Afinal, por definição, mediante concessões públicas, a
Administração transfere ao particular a execução de um serviço público. Portanto, no que tange às
SPE criadas pela Eletrobras ou por suas subsidiárias ou controladas, na hipótese de incidência da Lei
das Parcerias Público-Privadas, pode-se suscitar argumento no sentido de que esses organismos
auxiliam na implementação de política pública vinculada à área de geração ou transmissão de
energia elétrica, fato que se contrapõe à tese da recorrente.
68. Não obstante, caso se admita que a criação das SPE pela Eletrobras obedeceu ao disposto
no art. 15, § 1º, da Lei 3.890-A, de 25 de abril de 1961, duas importantes observações merecem
destaque. A primeira refere-se ao fato de que, diversamente do informado no parecer anexo à peça
recursal, o referido dispositivo, atualmente, vigora com redação dada pela Lei 12.688/2012, in verbis:
‘§1º A Eletrobras, diretamente ou por meio de suas subsidiárias ou controladas, poder-se-á associar,
com ou sem aporte de recursos, para constituição de consórcios empresariais ou participação em sociedades,
com ou sem poder de controle, no Brasil ou no exterior, que se destinem direta ou indiretamente à exploração
da produção, transmissão ou distribuição de energia elétrica.’
69. A segunda observação diz respeito à própria finalidade institucional da SPE, que seria a de
explorar a produção, transmissão ou distribuição de energia elétrica sob o regime de concessão ou
autorização, no Brasil ou no exterior, algo que se coaduna com as políticas públicas voltadas para o
setor. Ressalvando o caso dos empreendimentos no exterior que não possam contribuir para suprir
necessidades de consumo de energia elétrica no Brasil, estaremos a tratar de um instrumento para o
desenvolvimento de políticas públicas, inclusive para as políticas orientadas para o segmento da
infraestrutura do setor elétrico nacional. Desse modo, no caso de incidência da Lei 3.890-A/1961, via
de regra, não procede justificativa tendente a desqualificar a importância das SPE como instrumento
para a implementação de políticas públicas.
70. Como visto, no que diz respeito à fiscalização das SPE e dos atos e contratos que resultaram
em sua criação, a jurisprudência do Tribunal de Contas da União é pacífica em afirmar sua
competência e jurisdição. Talvez, por isso, seja razoável sugerir a reformulação da Súmula 75 da
Jurisprudência da Corte de Contas ou a edição de nova súmula, de modo a deixar mais claro que a
competência do Tribunal se estende às participações minoritárias de entidades públicas federais em
empresas privadas, a exemplo das existentes nas sociedades de propósito específico.
71. Ainda sobre o assunto, convém destacar que, nos termos do art. 23 do Regimento Interno da
Corte de Contas, compete à Comissão de Jurisprudência ‘propor ao colegiado que seja compendiada
em súmula a jurisprudência do Tribunal, quando verificar que o Plenário e as câmaras não divergem
em suas decisões sobre determinada matéria’.
72. Em razão de todo o exposto, entendo que os argumentos do recorrente, no que respeita ao
controle externo sobre as sociedades de propósito específico, são insuficientes para elidir a
competência e afastar a jurisdição do Tribunal de Contas da União.
73. Ao descrever tese no sentido de que a previsão de acesso irrestrito dos órgãos de
fiscalização e controle a dados financeiros e comerciais não pode ser estabelecida nos acordos de
acionistas de SPE, a recorrente afirma que os efeitos dos acordos atípicos, ou seja, dos acordos que
não veiculam temas delineados na Lei das Sociedades Anônimas, não se estendem à pessoa jurídica de
modo obrigatório, mas apenas aos sócios que o subscreveram (peça 123, p. 11-14). Desse modo, a
companhia estaria vinculada tão somente aos acordos de acionistas típicos previstos no art. 188 da
Lei das Sociedades Anônimas, o que excluiria a obrigatoriedade de obediência, por exemplo, a
acordos de acionista que prevejam o acesso irrestrito a dados financeiros e comerciais por parte dos
órgãos de controle.
420
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
74. Sobre o assunto, a Secretaria de Recursos opina que o Tribunal não ordenou à Eletrobras
que incluísse cláusula dessa espécie no acordo de acionistas, mas sim que tais minutas, uma vez
aceitas pelos parceiros privados, passassem a integrar o contrato social da sociedade.
75. Examinando aos argumentos trazidos pelo recorrente, devo ressaltar, de início, que o art.
118 e não o art. 188 da Lei 6.404/1976 trata do acordo de acionistas. Assim como a unidade técnica,
entendo que o conteúdo do subitem 9.2.1 ao Acórdão 600/2016-TCU-Plenário sugere a negociação
entre os acionistas, ou seja, entre o parceiro estatal e os privados, visto que determina a inclusão nas
minutas dos acordos de acionistas.
76. A ordem destina-se à inclusão de determinadas disposições nas minutas padrão, não
havendo qualquer determinação no sentido de obrigar, coagir ou impor regras ao acionista privado.
Claro está que a expectativa é de que haja a aceitação dessa disposição por todos os acionistas,
mormente em função da jurisprudência que se solidifica no sentido da reafirmação da competência do
Tribunal de Contas da União.
77. A Eletrobras apresenta argumentos que buscam demonstrar ser dispensável a inclusão, nos
acordos de acionistas, da prerrogativa de veto, por parte do acionista estatal, à celebração de
contrato, acordo ou compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista privado. Alega
que o poder de veto a que alude o subitem 9.2.1, III, do Acórdão 600/2016 mostra-se desnecessário,
eis que o art. 115, § 1º, da Lei 6.404/1976, estabelece a impossibilidade do acionista, em conflito de
interesse, votar na Assembleia Geral que trata de assuntos para os quais esse acionista obteve
benefícios de ordem particular. Assim, o acionista em conflito de interesses não poderia votar em
favor de sua contratação, caso o tema fosse levado à Assembléia Geral.
78. A recorrente afirma, ainda, que a cláusula em questão (veto por parte do acionista estatal)
não se mostra adequada à tal finalidade, mormente porque a Lei das S.A. já disciplina as transações
entre as partes relacionadas, reclamando que se façam em bases comutativas. Na opinião da
Eletrobras, essa cláusula poderia ensejar ambiente de instabilidade jurídica e falta de atratividade
dos investidores privados, além de causar uma assimetria entre os sócios da SPE.
79. Por fim, a recorrente requer que, no caso de entendimento pela manutenção da referida
cláusula de veto, que tal determinação tenha efeito apenas para os acordos de acionistas ainda não
celebrados (peça 123, p. 18).
80. Acerca da questão da prerrogativa de veto por parte do acionista estatal, a Secretaria de
Recursos afirma que a Eletrobras reconhece que a determinação não esbarra em qualquer norma
legal e visa a assegurar a boa gestão dos recursos públicos. A previsão expressa de tal possibilidade
não causaria prejuízo à atratividade dos parceiros privados, sobretudo por conta de que tal
determinação vai ao encontro da norma legal, o que significa que não alteraria a situação jurídica
existente.
81. A unidade técnica entende que a determinação efetivada pelo TCU é aplicável somente a
negócios futuros, o que atende, parcialmente, às pretensões externadas pela recorrente.
82. Aquiesço ao posicionamento da unidade técnica, acrescentando que a determinação da
Corte de Contas destina-se à inclusão de cláusula na minuta padrão dos acordos de acionistas. Com
isso, almeja-se que a influência do acionista estatal seja suficiente para estabelecer regra que
contemple o referido veto, regra essa que atende a princípios de moralidade e economicidade.
83. Cabe ressaltar que estamos a tratar de determinação dirigida a ente não pertencente à
Administração Pública Federal, que, em princípio, não deve obediência a determinadas normas de
direito público. Exatamente por isso, as determinações em tela buscam incluir, nos acordos de
acionistas e, quiçá, nos contratos sociais, regras inspiradas em princípios consagrados em nossa
Carta Magna, ou seja, normas e garantias que visam à proteção do patrimônio público envolvido.
Nesse sentido, as determinações impugnadas, quais sejam as do subitem 9.2.1 da decisão plenária
600/2016 são legítimas e atendem ao interesse público.
421
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
84. Por todo o exposto, este membro do Ministério Público de Contas, em concordância com a
proposta da Secretaria de Recursos (peça 142, p. 8), manifesta-se pelo conhecimento e não
provimento do pedido de reexame interposto pelas Centrais Elétricas Brasileiras S/A – Eletrobras,
sem prejuízo da efetivação das comunicações pertinentes.
85. Em complemento, haja vista a homogeneidade da jurisprudência existente sobre o assunto,
sugere que seja avaliada, no âmbito da Comissão de Jurisprudência, nos termos do art. 23 do
RI/TCU, a pertinência de propor ao Plenário a edição de nova súmula ou a reformulação da Súmula
75 da Jurisprudência do Tribunal de Contas da União, de modo a deixar evidenciado que a
competência da Corte de Contas se estende às participações minoritárias das empresas estatais
federais em organizações privadas, a exemplo das existentes nas sociedades de propósito específico.”
É o relatório.
VOTO
Em análise pedido de reexame interposto pelas Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras) em
face de parte do item 9.2.1 do Acórdão 600/2016 – Plenário, que assim dispõe:
“9.2. determinar às Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras), com fulcro no art. 43, inciso
I, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso II do Regimento Interno/TCU, e em alinhamento ao
princípios da transparência e moralidade administrativa e às melhores práticas de governança
aplicáveis ao setor público, que, no prazo de 30 dias:
9.2.1. inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas a serem adotados por empresas do
Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusulas específicas que estabeleçam, independentemente
do percentual de participação societária do parceiro público, pelo menos: (i) previsão de acesso
irrestrito dos órgãos de fiscalização e controle a dados financeiros e comerciais da SPE; (ii) (...); e
(iii) prerrogativa de veto, por parte do acionista estatal, à celebração de qualquer contrato, acordo,
arranjo ou compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista privado;”
2. Preliminarmente, ratifico a admissibilidade do recurso exarada à peça 130. No mérito, pelas
razões que apresentarei adiante, voto por que este Tribunal delibere em linha dissonante às propostas
apresentadas pela unidade instrutora e pelo representante do Ministério Público junto ao TCU.
I
3. Trago à baila as razões que fundamentaram a prolação da decisão ora atacada. Conforme
registrado pela equipe de fiscalização deste Tribunal (peça 102), ao avaliar as atividades da
Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) associadas ao processo de gestão de suas
participações em Sociedades de Propósito Específico (SPE), constatou-se que suas práticas eram
insuficientes para garantir, com razoável segurança, o alcance dos resultados esperados pela estatal, em
razão:
a) da ausência de normativos que orientassem o acompanhamento do desempenho físico-
financeiro das SPEs na fase pré-operacional;
b) do limitado acompanhamento físico-financeiro daquelas sociedades;
c) da ausência de conselhos fiscais em 90% das SPEs da estatal e de manual de orientação sobre
a atuação dos respectivos conselheiros;
d) de fragilidades no manual de orientação dos conselheiros de administração de SPEs
representantes da Chesf;
e) da incompatibilidade entre a estrutura responsável pela gestão das participações naquelas
sociedades e as responsabilidades a ela atribuídas, considerando que aquela estrutura era composta
422
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
apenas por dois funcionários da estatal, sendo que um deles era também conselheiro de administração
em nove SPEs e suplente em outras quatro;
f) de limitações à transparência das informações relacionadas às SPEs; e
g) de contratação de partes relacionadas aos sócios das SPEs.
4. Quanto à transparência das informações, ao avaliar as minutas padronizadas de acordo de
acionistas elaboradas pela Chesf, a equipe de fiscalização identificou cláusula que garante aos sócios o
direito de solicitar e de obter qualquer informação a respeito dos negócios da sociedade (peça 61, p.
38). Não foi identificada, entretanto, cláusula que franqueasse esse direito aos órgãos de controle
interno e externo. Assim, por entender que “cláusula nesse sentido é boa prática de governança
implementada pelo parceiro público nas SPEs por ele estruturadas e estaria alinhada ao princípio da
transparência que se espera da Administração Pública”, a unidade técnica propôs recomendação à
Eletrobras na linha do exarado no item 9.2.1, subitem “i”, do acórdão recorrido.
5. Em outra frente da fiscalização, foi constatado risco de conflitos de interesse decorrentes da
contratação, pelas SPEs, de partes relacionadas aos seus acionistas. Nesse sentido, assim se manifestou
a equipe de fiscalização:
“162. Verifica-se, por exemplo, que podem surgir assimetrias de informações e até mesmo a
perseguição de objetivos divergentes. O acionista majoritário pode buscar maximizar o retorno do seu
investimento por meio de contratações mais caras de partes relacionadas. E ainda, após garantir a
contratação de partes relacionadas, o acionista pode deixar a SPE, visto que também não há
mecanismos que dificultem a saída. Ao contrário, como via de regra, o capital subscrito na SPE no
início da sua constituição é baixo, posto que o empreendimento encontra-se em fase inicial de
implantação, o parceiro privado encontra incentivo para deixar a sociedade caso já tenha alcançado
seu objetivo.”
6. No voto condutor do acórdão recorrido, o Relator a quo assim fez referência ao resultado de
fiscalização semelhante realizado em Furnas Centrais Elétricas S/A (Furnas) no âmbito do TC
021.932/2014-0 (Acórdão 2.322/2015 – Plenário):
“121. Adicionalmente, foram identificados casos de SPE em que sócios privados atuam como
fornecedores de bens e serviços da sociedade, em situação de expresso conflito de interesses. E, além
de não haver vedação ou regra diferenciada à constituição de SPE sob o conflito de interesses,
apontou-se inexistir também qualquer controle adicional, por parte da própria sociedade ou de
Furnas, para verificar a regularidade dos desembolsos em tais parcerias.”
7. Por essas razões, o Tribunal endereçou determinação à Eletrobras na forma prescrita no item
9.2.1, subitem “iii”, do acórdão recorrido.
8. Foi, portanto, nesse contexto de grande relevância e materialidade dos investimentos
realizados pela Chesf por meio de SPEs, correspondentes, em 2014, a mais de 45% do total empregado
pela companhia, contraposto à constatação da elevada fragilidade dos controles da estatal sobre esses
ativos, que o Tribunal proferiu o Acórdão 600/2016 – Plenário. A referida conjuntura, com reflexos na
holding Eletrobras, foi assim sintetizada pelo Relator a quo:
“44. Como se vê, no que atina à gestão de investimentos em SPE da Chesf, as muitas e
relevantes irregularidades esquadrinhadas na presente auditoria ilustram o mesmo panorama crítico
encontrado em Furnas, já debatido no átrio desse Plenário. Isso permite inferir que as vicissitudes
vividas pela Chesf aparentemente não são exclusividade desta, mas reverberam, infelizmente, o
precário modelo de gestão que vem sendo empregado nas estatais do Grupo Eletrobras.”
II
9. Da análise da deliberação ora recorrida, efetivada à luz da conjuntura descortinada pela
fiscalização e apresentada, sinteticamente, na seção anterior deste voto, concluo que o objetivo
almejado pelo Tribunal foi criar mecanismos de mitigação dos riscos identificados, quais foram: baixo
nível de controle da acionista e do Estado sob aquelas SPEs e conflito de interesses.
423
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
10. Nesse sentido, a inclusão, na minuta de acordo de acionistas, de cláusula que preveja o
acesso a dados financeiros e comerciais da SPE, não apenas pela Eletrobras, diretamente, mas também
por parte dos órgãos de fiscalização federais, bem como de dispositivo que fixe o direito de veto da
estatal em caso de contratações com partes relacionadas, visa positivar, expressamente, elemento de
controle adicional por parte do Estado. Assim, a determinação foi dirigida à Eletrobras, sociedade de
economia mista que integra a Administração Pública Federal, jurisdicionada, sem controvérsias, ao
Tribunal.
11. Em todo caso, considerando a natureza contratual do acordo de acionistas, didaticamente,
inclusive, abordado na peça recursal, se os parceiros privados da estatal voluntariamente manifestarem
sua vontade na celebração do instrumento, não haverá discussão sobre o direito de acesso pelo TCU às
informações requisitadas, independentemente da jurisdição ou não do Tribunal sobre a sociedade, o
que, a propósito, não foi objeto de análise nestes autos. Os argumentos recursais afetos à ausência de
competência do TCU sobre atos das SPEs atacam, portanto, elementos que não embasaram a
deliberação recorrida.
12. Destaco, ademais, que a obrigação de fazer disposta na decisão visou a produção de efeitos
sobre a minuta dos acordos de acionistas. Dessa forma, eventualmente, a depender, por exemplo, do
número de parceiros, do percentual de participação da estatal na sociedade, da relevância do objeto da
companhia, entre outros fatores, a Eletrobras pode, mediante fundamentada decisão, excepcionalmente
retirar esse dispositivo de determinado acordo.
13. A recorrente apresenta, no entanto, relevante argumento relacionado à potencial ineficácia
da deliberação ora atacada. Conforme alegado pela Eletrobras, eventual cláusula em acordo de
acionistas que estipule esse direito de acesso a informações por parte do TCU teria efeitos apenas
sobre os acionistas que pactuaram o negócio jurídico, mas não junto à própria SPE, por tratar-se de
acordo atípico, conforme classificação doutrinária.
14. Ademais, argumenta a estatal que os meios à disposição dos acionistas para fins de fiscalizar
as sociedades das quais participem estão restritos aos previstos na Lei 6.404/1976, considerando o
disposto em seu art. 109, inciso III. Dessa forma, no entendimento da recorrente, os próprios acionistas
não possuem o direito de acesso direto a informações da companhia, mas apenas por meio do
respectivo conselho fiscal, na forma prescrita no art. 163 da citada lei e regulamentada em normativo
da empresa.
15. A princípio, concordo com os argumentos teóricos da Eletrobras apresentados nos dois
últimos parágrafos. Inclusive, de pronto, considero relevante que sejam inseridas também nas minutas
de estatuto social das SPEs as cláusulas de que tratam este recurso. Entretanto, os presentes autos, bem
como o TC 021.932/2014-0, já referenciado neste voto, apresentam casos concretos em que a prática
adotada pela Chesf e por Furnas, bem como por SPEs das quais elas participam, diverge sobremaneira
da teoria em que se funda a tese recursal, senão vejamos:
a) constatação de que, em 90% das SPEs das quais a Chesf participa, não há conselhos fiscais, o
que eliminaria por completo a capacidade de fiscalização da estatal sobre aquelas sociedades;
b) a minuta de acordo de acionista da própria Eletrobras prevê o direito de a estatal ter acesso
direto a informações e documentos que foram por ela solicitados à SPE, o que estaria em conflito com
o entendimento da própria recorrente apresentado nestes autos;
c) a Chesf criou uma Comissão de Auditoria Especial para fiscalizar diretamente as sociedades
nas quais a companhia tem participação acionária, nos aspectos técnicos do empreendimento,
societários e econômico-financeiros, o que, no entendimento da própria recorrente, não teria amparo
legal; e
d) em casos como o da então participação acionária da Eletrobras na sociedade responsável pela
UHE de Tumarim, na Nicarágua, em apreciação por este Tribunal no âmbito do TC 024.273/2015-5,
os direitos de acesso a dados e informações da empresa diretamente por parte de seus acionistas são
dispostos no acordo de acionistas, inclusive em termos bastante amplos.
424
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
16. Esses casos, no entanto, demonstram apenas uma aparente contradição entre a prática
adotada pela Eletrobras e SPEs em que tenha participação acionária e os dispositivos da Lei
6.404/1976, como adiante explicarei.
17. É relevante, ademais, reproduzir o disposto no art. 1º, § 7º, da Lei 13.303/2016 (Lei das
Estatais):
“§ 7º Na participação em sociedade empresarial em que a empresa pública, a sociedade de
economia mista e suas subsidiárias não detenham o controle acionário, essas deverão adotar, no
dever de fiscalizar, práticas de governança e controle proporcionais à relevância, à materialidade e
aos riscos do negócio do qual são partícipes, considerando, para esse fim:
I - documentos e informações estratégicos do negócio e demais relatórios e informações
produzidos por força de acordo de acionistas e de Lei considerados essenciais para a defesa de seus
interesses na sociedade empresarial investida;
II - relatório de execução do orçamento e de realização de investimentos programados pela
sociedade, inclusive quanto ao alinhamento dos custos orçados e dos realizados com os custos de
mercado;
III - informe sobre execução da política de transações com partes relacionadas;
IV - análise das condições de alavancagem financeira da sociedade;
V - avaliação de inversões financeiras e de processos relevantes de alienação de bens móveis e
imóveis da sociedade;
VI - relatório de risco das contratações para execução de obras, fornecimento de bens e
prestação de serviços relevantes para os interesses da investidora;
VII - informe sobre execução de projetos relevantes para os interesses da investidora;
VIII - relatório de cumprimento, nos negócios da sociedade, de condicionantes socioambientais
estabelecidas pelos órgãos ambientais;
IX - avaliação das necessidades de novos aportes na sociedade e dos possíveis riscos de redução
da rentabilidade esperada do negócio;
X - qualquer outro relatório, documento ou informação produzido pela sociedade empresarial
investida considerado relevante para o cumprimento do comando constante do caput.”
18. Verifica-se, portanto, que a novel legislação prevê a obrigação de instituição, pela estatal, de
mecanismos de controle e governança adicionais aos previstos na Lei 6.404/1976, considerando, em
especial, a relevância, a materialidade e os riscos do negócio do qual é partícipe. Assim, o acórdão
recorrido está em consonância com esse normativo.
19. Para além do exercício de uma atividade de fomento, como quer parecer argumentar a
recorrente, os investimentos das empresas do grupo Eletrobras em sociedades de propósito específico
que atuam no setor elétrico nacional visam, eminentemente, o lucro. Chego a essa conclusão com base
nas diversas fiscalizações realizadas pelo Tribunal em que se verificou que os relatórios que subsidiam
os conselhos e as diretorias das estatais para fins de tomada de decisão (in ou out) avaliam
essencialmente as respectivas taxas internas de retorno. Não me recordo de nenhum caso em que a
Eletrobras, nos últimos seis anos, quando seus aportes em SPEs passaram a ser relevantes, tenha
deliberado por investir em alguma sociedade ou empreendimento com o objetivo explícito e direto de
fomentar a indústria e parceiros. Nas várias ações de controle executadas pelo TCU na estatal, não se
constatou qualquer indicador que seja utilizado pela companhia para avaliar esses aspectos, senão os
afetos ao retorno econômico-financeiro auferido com seus investimentos e inversões financeiras.
Igualmente, não se identificou qualquer critério de seleção de parceiro que tenha relação com eventual
objetivo de fomentar seu desenvolvimento, por exemplo.
20. Ademais, e em especial, levo em conta as características das sociedades das quais a
Eletrobras e suas subsidiárias participam: i) vultosos volumes de investimentos, com elevada
participação da estatal em seu capital social; ii) poucos acionistas, sendo que, com raras exceções, não
passam de três, sendo a estatal, em muitos casos, a única com know-how na atividade operacional da
425
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
companhia; iii) parceiros que, em muitos casos, possuem interesse apenas na fase pré-operacional do
empreendimento, quando, conforme constatado nestes autos, são, inclusive, contratados pela própria
SPE e, ao final da avença, vedem sua participação acionária; e iv) companhias com prazo determinado
para encerrarem suas atividades, com propósito específico e objeto único, de grande criticidade para
todo o sistema elétrico, cujo eventual atraso pode ocasionar consequências financeiras fatais para a
SPE e até para os próprios acionistas.
21. Sendo assim, considerando os predicados dessas sociedades, é imperioso o diligente
acompanhamento de suas atividades por parte da estatal acionista, por meio de mecanismos de
controle que não apenas os tradicionalmente prescritos na Lei 6.404/1976, com o objetivo de garantir o
resultado final desejado pela própria SPE. Por esse motivo, é consentâneo com aquela legislação, e
sobretudo com a Lei das Estatais, a previsão de cláusulas em acordos de acionistas e nos próprios
estatutos daquelas companhias em que se firma o direito de acesso direto pela Eletrobras e pelo TCU a
dados e informações da sociedade e, inclusive, o direito de veto em casos de contratações com partes
relacionadas.
22. No que diz respeito à previsão, em acordo de acionista ou até no estatuto da SPE, de acesso
direto de informações pelo TCU, concordo com a SeinfraElétrica, unidade instrutora a quo, de que
“cláusula nesse sentido é boa prática de governança implementada pelo parceiro público nas SPEs
por ele estruturadas e estaria alinhada ao princípio da transparência que se espera da Administração
Pública”. Por outro lado, devo reconhecer que a ausência de dispositivo nessa linha naqueles institutos
não infringe, per si, norma legal ou regulamentar, de modo que restaria ao Tribunal recomendar a
providência constante na deliberação atacada. Este foi, também, o entendimento daquela unidade
técnica.
23. Registro que a mera recomendação ou, até mesmo, a ausência da mencionada cláusula não
constitui qualquer elemento que afaste a jurisdição do TCU sobre SPEs das quais a recorrente tenha
participação acionária. Essa alçada, conforme abordado de forma minudente pelo representante do
MPTCU em seu parecer nestes autos, tem amparo diretamente na Constituição Federal. Destaco,
todavia, que a fixação desse entendimento por este Tribunal deve se dar no âmbito de cada caso a ser
apreciado, levando-se em conta cada arranjo societário e empresarial concretamente auditado, como
assim tem sido efetivado.
24. Em relação à determinação, ora atacada, para que conste da minuta do acordo de acionistas o
poder de veto, por parte do parceiro público, à celebração de qualquer contrato, acordo, arranjo ou
compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista privado, também entendo que este
Tribunal deva reformar a deliberação para recomendar essa providência. A ausência de dispositivo
nesse sentido não transgride norma legal ou regulamentar. Trata-se, na verdade, de opção do
administrador, de maneira que cabe ao TCU, levando-se em conta os riscos apurados na fiscalização
objeto destes autos, recomendar aquela medida.
25. Sobre o assunto, destaco minha concordância com a recorrente quanto à clara previsão legal
de mecanismo importante de mitigação de conflito de interesses, qual seja: proibição do acionista votar
nas deliberações da assembleia-geral relativas a matérias que possam beneficiá-lo de modo particular
ou em que tiver interesse conflitante com a da companhia (art. 115 da Lei 6.404/1976). Entretanto, é
forçoso lembrar casos que estão em apreciação no Tribunal em que se examina a fragilidade dos
mecanismos de governança tradicionais afetos a contratações com partes relacionadas em sociedades
em que a recorrente tem participação, como, por exemplo, na Norte Energia S.A., responsável pela
Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e nas Centrales Hidrelétricas de Nicarágua, que tinha como
objetivo a construção de UHE na Nicarágua. Dessa forma, deve a Eletrobras aperfeiçoar seus controles
diretos em casos de conflitos de interesse, sendo o direito a veto um instituto de grande eficácia,
considerando, inclusive, que muitas decisões sobre contratações são tomadas no âmbito dos
respectivos conselhos de administração ou da diretoria, ou seja, por administradores indicados pelos
acionistas diretamente interessados.
426
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Pelos motivos expostos, voto por que este Tribunal adote o acórdão que ora submeto ao
Plenário.
ACÓRDÃO Nº 2616/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 023.736/2014-3
2. Grupo II – Classe de Assunto: I – Pedido de Reexame (em Auditoria)
3. Recorrente: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobras (CNPJ 00.001.180/0002-07)
4. Unidades: Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) e Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (Chesf)
5. Relator: Ministro José Múcio Monteiro
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Vital do Rêgo
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
7. Unidades Técnicas: Secretaria de Recursos (Serur); Secretaria de Fiscalização de
Infraestrutura de Energia Elétrica (SeinfraElétrica)
8. Advogados constituídos nos autos: Camila Batista Rodrigues Costa (OAB/DF 46475),
representando a Chesf; André de Avellar Torres (OAB/RJ 130.947) e outros, representando a
Eletrobras
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que, nesta fase processual, tratam de pedido de
reexame opostos pelas Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras) em face do Acórdão 600/2016 –
Plenário, que tratou de auditoria realizada na Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) com
o objetivo de avaliar a gestão de obras de geração e de transmissão de energia elétrica pela estatal.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário,
com fundamento no art. 48 da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 250, inciso III, e 286 do Regimento Interno e
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer do pedido de reexame e, no mérito, dar-lhe provimento parcial, para:
9.1.1. alterar o item 9.2.1. do Acórdão 600/2016 – Plenário, que passa a ter a seguinte redação:
“9.2.1. inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas a serem adotados por empresas do
Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusula específica que estabeleça, independentemente do
percentual de participação societária do parceiro público, a obrigatoriedade de que contratos,
acordos, arranjos ou compromissos com qualquer parte relacionada a acionista privado sejam
firmados em termos e condições de mercado, com demonstração da vantagem financeira em se adotar
tal medida”; e
9.1.2. inserir novo item 9.3 no Acórdão 600/2016 – Plenário com as seguinte redação,
renumerando os itens subsequentes: “9.3. recomendar às Centrais Elétricas Brasileiras S/A
(Eletrobras), com fulcro no art. 250, inciso III, do Regimento Interno, e em alinhamento ao princípio
da transparência e moralidade administrativa e às melhores práticas de governança aplicáveis ao
setor público, que inclua, nas minutas padrão de acordos de acionistas e de estatuto social a serem
adotados por empresas do Sistema Eletrobras na constituição de SPE, cláusulas específicas que
estabeleçam, independentemente do percentual de participação societária do parceiro público, pelo
menos: i) previsão de acesso irrestrito dos órgãos de fiscalização e controle a dados financeiros e
comerciais da SPE; e ii) prerrogativa de veto, por parte do acionista estatal, à celebração de qualquer
contrato, acordo, arranjo ou compromisso da SPE com qualquer parte relacionada a acionista
privado”;
9.2. alertar as Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras) de que a conversão de
427
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
determinação em recomendação efetuada por meio do item 9.1.2 supra não afasta a obrigação de a
companhia implementar as providências recomendadas pelo Tribunal, exceto em casos concretos
excepcionais e desde que prévia e fundamentadamente justificado pela instância decisória competente;
9.3. cientificar a recorrente.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2616-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz,
José Múcio Monteiro (Relator) e Vital do Rêgo (Revisor).
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministro-Substituto presente: Marcos Bemquerer Costa.
GRUPO I – CLASSE I – Plenário
TC 006.614/2013-2
Natureza: Embargos de Declaração (em Pedido de Reexame)
Órgão: Prefeitura Municipal de Natal/RN
Recorrentes: Maria Jailene Franco de Carvalho (008.308.414-23) e Arko Construções Ltda.
(10.715.077/0001-00)
Advogados constituídos nos autos: Cortez Meira de Medeiros (OAB/RN 3.640), Afonso Adolfo
de Medeiros Fernandes (OAB/RN 3.937) e outros
SUMÁRIO: EMBARGOS DE DECLARÇÃO OPOSTOS CONTRA DECISÃO QUE NEGOU
PROVIMENTO A PEDIDO DE REEXAME EM PROCESSO DE RELATÓRIO DE AUDITORIA.
CONVÊNIOS RELATIVOS À ÁREA DE TURISMO. IRREGULARIDADES. MULTA À EX-
GESTORA E INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO
DE CONFIANÇA PELO PRAZO DE CINCO ANOS. DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE DA
EMPRESA POR CINCO ANOS. CONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE OBSCURIDADE, OMISSÃO
OU CONTRADIÇÃO. REJEIÇÃO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, com alguns ajustes de forma, a instrução lavrada no âmbito da Secretaria
de Recursos (Serur), acostada à peça 408:
“INTRODUÇÃO
Cuidam-se de embargos de declaração em pedido de reexame em relatório de auditoria
interportos por Maria Jailene Franco de Carvalho (peça 370) e Arko Construções Ltda. (peça 367),
insurgindo-se contra o Acórdão 1.600/2017-TCU-Plenário (peça 326), decisão que negou provimento
ao pedido de reexame contra o Acórdão 702/2016-TCU-Plenário (peça 139).
2. Eis o extrato da decisão recorrida (Acórdão 1600/2017-TCU-Plenário – peça 326): ‘9.1 conhecer dos presentes pedidos de reexame, nos termos dos arts. 285 e 286 do RITCU c/c o art. 48
da Lei 8.443/1992, para, no mérito, negar-lhes provimento; e
9.2. dar ciência do inteiro teor desta deliberação aos recorrentes, à Prefeitura Municipal de Natal/RN, à Secretaria Municipal de Serviços Urbanos de Natal/RN (Semsur/Natal), à Secretaria Municipal de Turismo e
428
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Desenvolvimento Econômico de Natal/RN (Seturde) e ao Ministério do Turismo, remetendo-lhes cópia do relatório e do voto que a fundamentaram.’
HISTÓRICO
3. Buscam os embargos sanar omissões e contradições apontadas pelos recorrentes, bem como
avaliar o reflexo das alegações aduzidas pelos embargantes em relação ao julgamento de mérito do
recurso.
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
4. Os embargos interpostos em 28/8/2017 (peças 366 e 368) são tempestivos, uma vez que
interpostos dentro do decêndio previsto no art. 34, § 6o, da Lei 8.443/92, observando-se que a
notificação se deu pelos Ofícios: a) 804/2017, de 7/8/2017 (peça 332); b) 805/2017, de 7/8/2017 (peça
332) e c) 808/2017, de 7/8/2017 (peça 336), assinado em 17/8/2017 (peças 355, 356 e 357).
EXAME DE MÉRITO
5. Fundamento da sanção em relação ao Convite 24.008/2010-Semsur: Relação de parentesco
entre sócio da empresa vencedora e Maria Jailene Franco de Carvalho, então Diretora do
Departamento de Operação e Manutenção da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos –
Semsur/Natal. Indícios de irregularidades societárias. Participação da servidora na elaboração do
projeto básico.
Alegações (peça 366, p. 3-4)
6. Alega Maria Jailene Franco de Carvalho que as sanções (multa de R$ 20.000,00 e penalidade
de inabilitação para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da
Administração Pública Federal, consoante o art. 60 da Lei 8.443/1992, pelo prazo de 5 (cinco) anos,
estaria fundamentada apenas na relação de parentesco (prima) entre a servidora da administração e
a sócia da empresa Arko Construções Ltda., sendo que a servidora Jailene Franco de Carvalho não
teria atuado na elaboração do Projeto Básico. Afirma que não teve participação no procedimento
licitatório, entendendo que a elaboração de planilha orçamentária não faria parte do procedimento de
licitação. Assevera que elaborou planilhas de outras licitações, no exercício da sua função pública.
7. Por sua vez, Arko Construções Ltda., representado pelo mesmo patrono, alega que ‘o fato da
Sra. MARIA JAILENE FRANCO DE CARVALHO ter assinado a planilha orçamentária (...) não se
amolda ao tipo descrito no art. 46 da Lei 8.443, de 1992’ (peça 366, p. 5), com o intuito de, por vias
indiretas, suprimir o subitem 9.7 do Acórdão 702/2016-TCU-Plenário (peça 139), que declarou ‘com
fundamento no art. 46 da Lei 8.443/1992, a empresa Arko Construções Ltda. (CNPJ 10.715.077/0001-
00) inidônea por 5 (cinco) anos para participar de licitações promovidas pela Administração Pública
Federal’.
Análise
8. A aplicação de sanção de inabilitação da gestora e da declaração de inidoneidade da Arko
Construções não se fundamentou exclusivamente na relação de parentesco entre a servidora-
embargante e a empresa, uma vez que a decisão afirmou expressamente que a responsável detinha
relação indireta com a empresa vencedora do certame (Convite 24.008/2010-Semsur), relação
evidenciada, além da relação de parentesco com a prima, detentora de parcela substancial do capital
social, pela transferência subsequente de percentual expressivo do capital social para a genitora da
servidora, bem como pela participação da servidora em atos privados da entidade empresarial: ‘22. Restou verificado que a sra. Maria Jailene Franco de Carvalho, diretora do Departamento de
Operações e Manutenção da Semsur/Natal, elaborou a planilha orçamentária que integrava o projeto básico
da obra. Por outro lado, a responsável mantinha relação indireta com a empresa vencedora do certame (Arko Construções Ltda.), segundo evidenciaram os elementos abaixo:
- a sócia majoritária da empresa, detentora de 95% das cotas, era a sra. Jalicéia Franco Moura (peça
19, p. 102), prima da ora recorrente; - as cotas sociais foram transferidas para Joana Darc Franco de Araújo, então detentora de 85,75%
(peça 19, p. 102), que vem a ser a genitora da recorrente; e
429
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
- o contrato de prestação de serviços firmado entre uma engenheira e a empresa Arko Construções Ltda.
(peça 19, p. 97-98) traz a recorrente como testemunha, denotando uma proximidade indevida com atos
privativos da empresa.’ (Voto Exmo. Rel. Min. Benjamin Zymler; peça 327)
9. No que concerne à elaboração do orçamento da obra e da relação com projeto básico e o
procedimento licitatório, restou analisado na instrução contida na peça 323, adotada como razão
suplementar de decisão: ‘34. Ademais, ainda que os elementos indicados tenham natureza circunstancial, a ilicitude
permaneceria por força do art. 9o, III, da Lei 8.666/93, conforme indicado no acórdão recorrido: ‘A participação de empresa cujo sócio tenha vínculo de parentesco com servidor da entidade licitante afronta, por
interpretação analógica, o disposto no art. 9º, inciso III, da Lei 8.666/1993’. Nessa hipótese, há uma presunção
de fraude em virtude da participação da empresa na licitação em análise, exclusivamente por força da relação de parentesco, afastando a alegação da empresa quanto a ausência de comprovação de fraude.
35. Assim, embora seja dispensável a comprovação de que a recorrente participou da confecção do
projeto básico (sendo passível de penalização apenas pela demonstração da relação de parentesco que advém
da intepretação do art. 9o, III da Lei de Licitações), o processo demonstra que a recorrente teve participação direta na elaboração do projeto básico, devendo se recordar a definição de projeto básico contido na Lei:
‘IX - Projeto Básico - conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado,
para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento
do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos
métodos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes elementos: (...)
f) orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e
fornecimentos propriamente avaliados;’
36. Assim, nos termos do art. 6o, IX, ‘f’ da Lei 8.666/93, a elaboração de orçamento detalhado da obra
com quantitativos e valores globais faz parte do projeto básico, sendo inválido o argumento da recorrente de que não houvera participado do projeto básico, pois, conforme se verifica nos autos (peça 18, p. 15-17), a
recorrente elaborou os orçamentos básicos da obra da praça ‘Pousada Brasília’. (Instrução. peça 323, p. 8)
10. Na sequência, a decisão afirmou textualmente que ‘a sra. Maria Jailene Franco de
Carvalho, diretora do Departamento de Operações e Manutenção da Semsur/Natal, elaborou a
planilha orçamentária que integrava o projeto básico da obra’ (item 22 do Voto), sendo que a
planilha orçamentária está colacionada nos autos (peça 18, p. 15-17; item 36 da instrução – peça
323) com a assinatura da embargante, no exercício da função de Diretora do Departamento de
Operação e Manutenção.
11. Ora, foi afirmado na decisão que o orçamento da obra faz parte do projeto básico (art. 6o,
IX, “f” da Lei 8.666/93) e, analisando o novo argumento, haveria uma elipse na decisão ao omitir a
constatação de que o projeto básico faz parte do procedimento licitatório de obras e serviços, o que é
expressamente previsto na Lei de Licitações: ‘Art. 7o As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços obedecerão ao disposto
neste artigo e, em particular, à seguinte sequência:
I - projeto básico;
II - projeto executivo; III - execução das obras e serviços.’
12. Ainda que não houvesse a expressão literal, na Lei de Licitações, da pertinência do projeto
básico no procedimento licitatório, seria uma consequência lógica dos princípios que regem o
procedimento, particularmente a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração, uma vez
que a seleção da melhor proposta pressupõe a precisa definição do objeto a ser contratado.
13. Para exemplificar a importância do orçamento básico e a necessidade de uma barreira
rigorosa de separação entre servidores da Administração e empresas licitantes, deve se notar que o
‘jogo de planilha’, conceito adotado na jurisprudência do Tribunal, parte da noção de que um
conhecimento especial dos licitantes sobre quantitativos indevidamente orçados pode guiar o
direcionamento do procedimento de licitação.
430
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
14. Observe-se, portanto, que a decisão possui 2 fundamentos agregados: a participação
indireta da servidora na empresa-licitante vencedora (participação societária simulada) e a
participação da servidora na elaboração do projeto básico (aquisição de conhecimentos privilegiados
pelo exercício do cargo público), sendo elementos indiciários cuja análise em conjunto permitiu que a
decisão concluísse pela existência da fraude licitatória prevista no art. 46 da Lei 8.443/92.
15. Assim, o argumento de que a servidora houvera elaborado planilhas orçamentárias de
outras licitações não pode prosperar, uma vez que inexiste informação nos autos de que a empresa-
embargante (Arko) houvesse vencido outras licitações para prestar serviços ou realizar obras. Nesse
sentido, a participação societária simulada é um elemento específico nessa condenação, inexistente na
outra licitação analisada pela Corte (Tomada de Preços 24.044/2010 – Construção da Praça Igreja
dos Mártires).
16. Por fim, no que se refere ao pleito de revisão da pena de inidoneidade pela incidência dos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, há de se apontar a jurisprudência da Corte sobre
o assunto, aplicável de maneira analógica: ‘Há certa discricionariedade na aplicação das multas por parte do TCU, como é fato comum às sanções
administrativas. O TCU deve buscar, valorando as circunstâncias fáticas e jurídicas em questão, a exata
dosimetria da sanção.’ (Acórdão 6.585/2009-2a Câmara – Rel. Min. André de Carvalho)
17. Em sendo o quantum da pena fixada uma atribuição exclusiva do órgão julgador, inserida
na discricionariedade do poder julgador, não cabe a esse órgão auxiliar tecer qualquer espécie de
comentário sobre a sanção aplicada.
18. Fundamento da sanção em relação ao procedimento de Tomada de Preço 24.044/2010:
natureza opinativa da manifestação da responsável
Alegações
19. Alega a recorrente que teria elaborado parecer opinativo no procedimento de Tomada de
Preços 24.044/2010, não tendo responsabilidade pela elaboração do edital ou pelo afastamento de
eventuais licitantes. Entende que as exigências não poderiam ser consideradas irregulares ou
desnecessárias, pois denotariam excesso de zelo e cuidado da responsável. Alega que a Caixa
Econômica Federal requereu a ART do Projeto Elétrico relativa aos projetos de iluminação,
paisagismo e projeto de engenharia.
Análise
20. Eis o fundamento do Acórdão para a condenação no ponto discutido: ‘17. Esse certame teve como objeto a realização da construção da praça ‘Igreja dos Mártires’ e de
melhorias na região do entorno. Do que ressai dos autos, as exigências reputadas como indevidas não
constavam inicialmente do instrumento convocatório (peça 11, p. 62) e foram introduzidas em momento posterior (peça 12, p. 3), por expressa solicitação da sra. Maria Jailene Franco de Carvalho (ex vi do
Memorando inserto à peça 11, p. 108).’ (Voto Exmo. Rel. Min. Benjamin Zymler; peça 327)
21. O memorando em tela é explicito no sentido de solicitar a inclusão ‘[no edital dos seguintes
requisitos: visita técnica realizada pela SEMSUR, Engenheiro Agrônomo com acervo de Paisagismo,
Engenheiro Eletricista com acervo de Iluminação Pública’ (Memorando 54/2010, peça 11, p. 108),
não se tratando de parecer opinativo, mas de interferência concreta e efetiva para a inclusão das
cláusulas restritivas.
22. A inclusão das cláusulas, diversamente do que alega a embargante, não denotou suposto
zelo na licitação, por se tratarem de restrições sem justificativa técnica, segundo afirmado na decisão: ‘18. Como é cediço, a legitimação de determinada restrição em processo licitatório exige a devida
justificativa técnica e/ou econômica, o que não ocorreu (vide Acórdãos 445/2014 e 517/2012, ambos do Plenário, dentre outros). Conforme bem destacou a Serur, o projeto básico da obra não continha especificações
detalhadas sobre as intervenções de paisagem ou de iluminação de forma a evidenciar que se tratavam de
parcelas de relevância e valor significativo que necessitavam de profissionais especializados. Ao contrário, a
indicação era de que se tratavam de itens de menor relevância no panorama da obra: a parte de eletricidade
431
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
compunha 9,53% dos valores a serem executados e a de paisagismo equivalia a 4,37%.’ (Voto Exmo. Rel.
Min. Benjamin Zymler; peça 327)
23. Por fim, o argumento novo sobre a exigência de anotação de responsabilidade técnica pela
Caixa Econômica Federal (peça 368, p. 8-12) não impacta a decisão, uma vez que as exigências
estariam fundamentas no edital apresentado ao órgão fiscalizador, não cabendo à Caixa avaliar a
ilegalidade no edital.
CONCLUSÕES
24. Ante o exposto, verifica-se que os embargos se mostram apenas como irresignação ao mérito
da decisão, não trazendo qualquer elemento adicional que não tenha sido apreciado no julgamento do
recurso de reconsideração, desafiando a rejeição aos embargos interpostos, conforme ementa do
Acórdão 10.919/2016-2a Câmara de Relatoria do Min. Marcos Bemquerer.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
25. Deste modo, submete-se à consideração superior a presente análise dos embargos de
declaração em recurso de reconsideração contra o Acórdão 1.600/2017-TCU-Plenário, propondo,
nos termos do art. 32 e 33 da Lei 8.443/92, rejeitá-los.”
2. O corpo diretivo da Serur aquiesceu à proposta acima (peças 409 e 410).
É o relatório.
VOTO
Considerando que o exame de admissibilidade cinge-se ao cabimento do recurso, sem indagar
sobre a existência, ou não, de omissão, contradição ou obscuridade, verifica-se que os argumentos
apresentados pelo embargante enquadram-se, em tese, no que dispõe o art. 34 da Lei 8.443/1992.
Logo, conheço dos embargos de declaração, uma vez que estão presentes os requisitos específicos de
admissibilidade previstos nos arts. 32 e 34 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 287 do RITCU.
2. O feito sob exame tratou, originalmente, de relatório de auditoria realizada pela Secretaria de
Controle Interno no Estado do Rio Grande do Norte (Secex/RN) em que se identificou irregularidades
na execução de convênios firmados entre o Ministério do Turismo (MTur) e o município de Natal/RN.
3. Das diversas impropriedades que motivaram a audiência dos responsáveis, ao final,
remanesceram as seguintes:
a) restrição à competitividade na Tomada de Preços 24.044/2010-Semsur em face da inclusão
indevida, no edital, na parte de critérios de qualificação técnica para habilitação, dos subitens 6.1.4.6 e
6.1.4.7 (exigência de engenheiro agrônomo com acervo em paisagismo e de engenheiro eletricista com
acervo em iluminação pública); e
b) participação indireta do autor do projeto básico na condução do Convite 24.008/2010-
Semsur.
4. A irregularidade descrita na letra “a” refere-se aos Contratos de Repasse 0264684-
38/2008/MTur/Caixa e 0267245-82/2008/MTur/Caixa – construção da “Praça dos Mártires” e do
entorno desta praça (Contrato 11/2010-Semsur). Já aquela mencionada na letra “b” diz respeito ao
Contrato de Repasse 0267246-96/2008/MTur/Caixa – contratação de serviços de reforma da “Praça
Pousada Brasília”, no bairro Capim Macio-Natal/RN (Contrato 10/2010-Semsur).
5. A primeira irregularidade foi atribuída à sra. Maria Jailene Franco de Carvalho, então diretora
do Departamento de Operação e Manutenção da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos
(Semsur/Natal), por ter solicitado a inclusão das cláusulas restritivas no edital, sem apresentar, à época,
qualquer estudo técnico que respaldasse a exigência.
6. Foram também responsabilizados o sr. João Alves de Carvalho Bastos, ex-secretário da
Semsur/Natal, e os srs. Moacir Mateus de Souza e Abrahão Lincoln Bezerra Dantas, assessores
jurídicos do órgão, que ratificaram a exigência indevida. Além destes, foi apenado o sr. Laélio Pereira
de Araújo, secretário adjunto de logística sustentável da Prefeitura Municipal de Natal, que homologou
a licitação.
432
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
7. Todos os gestores acima foram multados, nos termos do art. 58 da Lei 8.443/1992 conforme
tabela abaixo:
RESPONSÁVEL VALOR (R$)
Maria Jailene Franco de Carvalho, diretora do Departamento de
Operações e Manutenção da Semsur
20.000,00
Moacir Mateus de Souza, parecerista jurídico 5.000,00
João Alves de Carvalho Bastos, secretário da Semsur 5.000,00
Abrahão Lincoln Bezerra Dantas, parecerista jurídico 3.000,00
Laélio Pereira de Araújo, secretário adjunto de logística sustentável da
prefeitura
3.000,00
8. Acerca da segunda irregularidade, a deliberação original rejeitou as razões de justificativas
apresentadas pela sra. Maria Jailene Franco de Carvalho e pela empresa Arko Construções Ltda.
9. Observou-se que a primeira responsável participou da elaboração do projeto básico do Convite
24.008/2010 e possuía estreita ligação com a empresa vencedora do certame (era prima da sócia-
gerente e foi testemunha em contrato de prestação de serviços de uma engenheira da empresa).
Ademais, foi a sra. Maria Jailene Franco de Carvalho quem expediu, juntamente com o secretário
municipal, a ordem de serviço, analisou as solicitações de aditivos ao contrato, bem como apresentou
justificativas técnicas, dentre outras atribuições diretamente relacionadas à execução contratual.
10. A ex-gestora foi inabilitada para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança
no âmbito da administração pública federal, consoante o art. 60 da Lei 8.443/1992, pelo prazo de cinco
anos, e multada em R$ 20.000,00, com fulcro no art. 58 da Lei 8.443/1992.
11. Já a empresa foi declarada inidônea para participar de licitações promovidas pela
administração pública federal também pelo prazo de cinco anos.
12. Contra a decisão acima, o sr. Laélio Pereira de Araújo, a sra. Maria Jailene Franco de
Carvalho e a empresa Arko Construções Ltda. interpuseram pedidos de reexame, aos quais foi negado
provimento por intermédio do Acórdão 1.600/2017-Plenário.
13. É contra esta decisão que se insurgem, neste momento, os embargantes.
14. A sr. Maria Jailene Franco de Carvalho alega que: (i) as sanções de multa e de inabilitação
para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública
federal estariam fundamentadas apenas na sua relação de parentesco com a sócia da empresa Arko
Construções Ltda., sendo que jamais atuou na elaboração do projeto básico; (ii) não participou do
procedimento licitatório, pois a elaboração de planilha orçamentária não faz parte do certame; (iii)
também elaborou planilhas em outras licitações, exercendo sua função pública; (iv) elaborou parecer
opinativo na Tomada de Preços 24.044/2010, não tendo responsabilidade pela elaboração do edital ou
pelo afastamento de eventuais licitantes; (v) as exigências não poderiam ser consideradas irregulares
ou desnecessárias, pois denotaram excesso de zelo e cuidado; e (vi) a Caixa Econômica Federal
requereu a ART do projeto elétrico relativa à iluminação, paisagismo e engenharia.
15. A empresa Arko Construções Ltda., por sua vez, sustenta que o fato de a sra. Maria Jailene
Franco de Carvalho ter assinado a planilha orçamentária não se amolda ao tipo descrito no art. 46 da
Lei 8.443/1992, o que tornaria inválido o fundamento contido no acórdão embargado para a declaração
de inidoneidade (subitem 9.7).
16. Ao final, os embargantes requerem o provimento do recurso e a concessão de efeitos
modificativos para reformar o acórdão vergastado.
17. A unidade técnica manifestou-se no sentido de se conhecer dos recursos interpostos para, no
mérito, rejeitá-los.
18. Segundo asseverou a Serur, a aplicação da sanção de inabilitação e a declaração de
inidoneidade não se fundamentaram exclusivamente na relação de parentesco entre a servidora e a
empresa, pois a decisão afirmou expressamente que a responsável detinha relação indireta com a
433
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
vencedora do certame. Tal relação restou evidenciada não só pelo parentesco, mas pela transferência
de percentual expressivo do capital social para a genitora da sra. Maria Jailene Franco de Carvalho.
Ademais, observou-se ter havido a participação da responsável em atos privados da empresa.
19. Além disso, a unidade técnica reiterou o entendimento de que a elaboração de orçamento
detalhado da obra com quantitativos e valores globais faz parte da elaboração do projeto básico, sendo
improcedente o argumento da embargante de que não participou da confecção deste documento.
20. Quanto à declaração de inidoneidade da empresa Arko Construções Ltda., a Serur salienta
que o quantum da pena fixada é uma atribuição exclusiva do órgão julgador, inserida no âmbito de
sua discricionariedade.
21. Em relação à exigência indevida inserida no edital da Tomada de Preços 24.044/2010, a
unidade técnica também refuta a alegação da embargante sob o argumento de que “o memorando em
tela é explícito no sentido de solicitar a inclusão ‘no edital dos seguintes requisitos: visita técnica
realizada pela SEMSUR, Engenheiro Agrônomo com acervo de Paisagismo, Engenheiro Eletricista
com acervo de Iluminação Pública’ (peça 11, p. 108), não se tratando de parecer opinativo, mas de
interferência concreta e efetiva para a inclusão das cláusulas restritivas”.
22. De fato, não procedem as omissões e contradições suscitadas pelos embargantes, razão pela
qual incorporo às minhas razões de decidir a análise efetuada pela Serur, sem prejuízo das
considerações feitas a seguir.
23. Sobre a relação de parentesco ou afinidade familiar entre a empresa vencedora do Convite
24.008/2010-Semsur (objeto: obra de reforma da “Praça Pousada Brasília”) e a sra. Maria Jailene
Franco de Carvalho, então diretora do Departamento de Operação e Manutenção da Secretaria
Municipal de Serviços Urbanos, a deliberação embargada deixou assente que:
“(...) a responsável mantinha relação indireta com a empresa vencedora do certame (Arko
Construções Ltda.), segundo evidenciaram os elementos abaixo:
- a sócia majoritária da empresa, detentora de 95% das cotas, era a Sra. Jalicéia Franco
Moura (peça 19, p. 102), prima da ora recorrente;
- as cotas sociais foram transferidas para a Sra. Joana Darc Franco de Araújo, então detentora
de 85,75% (peça 19, p. 102), que vem a ser a genitora da recorrente; e
- o contrato de prestação de serviços firmado entre uma engenheira e a empresa Arko
Construções Ltda. (peça 19, p. 97-98) traz a recorrente como testemunha, denotando uma
proximidade indevida com atos privativos da empresa.”
24. A essa constatação somou-se o fato de a embargante ter elaborado a planilha orçamentária
que integrava o projeto básico do certame. Consoante deixa claro a Lei 8.666/1993, a elaboração do
projeto básico constitui uma das etapas da licitação (art. 7º). O orçamento detalhado da obra, por sua
vez, integra o projeto básico, que é definido como o “conjunto de elementos necessários e suficientes,
com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou
serviços objeto da licitação” (art. 6º).
25. Logo, não há omissão ou contradição a ser corrigida.
26. Ratifico o entendimento da Serur pela rejeição do argumento de que a servidora também
elaborou planilhas orçamentárias de outras obras realizadas pela prefeitura por ser uma atribuição
inerente à função que desempenhava.
27. Não há notícia, nos autos, de que a empresa Arko Construções Ltda. tenha vencido outras
licitações que contaram com a participação da embargante. Logo, a existência de relação de parentesco
é um elemento específico do procedimento licitatório ora examinado (Tomada de Preços 24.044/2010
– construção da “Praça Igreja dos Mártires”).
28. Sobre a inserção de cláusula editalícia restritiva da competitividade, constou do decisum
recorrido que:
“(...) 16. Os argumentos recursais apresentados em relação à inclusão de critérios restritivos
no edital da Tomada de Preços 24.044/2010 devem ser rejeitados.
434
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
17. Esse certame teve como objeto a realização da construção da praça ‘Igreja dos Mártires’ e
de melhorias na região do entorno. Do que ressai dos autos, as exigências reputadas como indevidas
não constavam inicialmente do instrumento convocatório (peça 11, p. 62) e foram introduzidas em
momento posterior (peça 12, p. 3), por expressa solicitação da Sra. Maria Jailene Franco de
Carvalho (ex vi do Memorando inserto à peça 11, p. 108).
18. Cumpre destacar que, nos termos da ata do certame, dentre as cinco empresas que
retiraram o edital (Solar Construção e Projeto Ltda., HSA Construções Ltda., Plantacon Comércio de
Plantações, Construções e Criação Ltda., Viga Construções Ltda. e Kizo Construção e Serviço Ltda.),
apenas duas participaram (Viga Construções Ltda. e Kizo Construção e Serviço Ltda.), sendo que a
segunda foi inabilitada justamente pela ausência do acervo técnico do engenheiro agrônomo e do
engenheiro eletricista e por ter apresentado garantia e certidão de regularidade para com a Fazenda
Federal vencidas (peça 12, p. 111). Observa-se, portanto, que o resultado do certame, com apenas
uma licitante habilitada, reforça o caráter restritivo da exigência técnica em comento.
19. Como é cediço, a legitimação de determinada restrição em processo licitatório exige a
devida justificativa técnica e/ou econômica, o que não ocorreu (vide Acórdãos 445/2014 e 517/2012,
ambos do Plenário, dentre outros). Conforme bem destacou a Serur, o projeto básico da obra não
continha especificações detalhadas sobre as intervenções de paisagem ou de iluminação de forma a
evidenciar que se tratavam de parcelas de relevância e valor significativo tais a ponto de necessitarem
de profissionais especializados. Ao contrário, a indicação era de que se tratavam de itens de menor
relevância no panorama da obra: a parte de eletricidade compunha 9,53% dos valores a serem
executados e a de paisagismo equivalia a 4,37%.
20. Outro aspecto que chamou a atenção e, inclusive, sugere possível direcionamento da
licitação, diz respeito ao fato de que a única habilitada (Viga Construções Ltda.) apresentou certidões
de acervo técnica dos profissionais Sebastião José Macedo da Silva (engenheiro agrônomo) e Antônio
Jaime Benevides Neto (engenheiro eletricista), profissionais envolvidos em contratações então
recentes do município (22/4/2010-26/4/2010 e 13/4/2010-20/4/2010 – peça 12, p. 66 e 68) e também
em período próximo à data de inserção da exigência no edital (5/4/2010 – peça 11, p. 108).”
29. Não procede a alegação de que o memorando assinado pela embargante teve conteúdo
meramente opinativo. Ao contrário, tratou-se interferência efetiva que culminou na inclusão das
cláusulas restritivas.
30. Os elementos acima, vistos em conjunto, abriram espaço para a presunção de fraude e de
favorecimento na condução dos procedimentos licitatórios examinados, nos termos contidos na decisão
embargada.
31. Destaco que os embargos de declaração têm por finalidade corrigir obscuridade, omissão ou
contradição em deliberações do Tribunal (art. 287 do RITCU). Seu objetivo não é o de proporcionar
novo julgamento da questão posta nos autos, mas, tão somente, o de esclarecer, interpretar ou
completar o pronunciamento anteriormente emitido, em benefício de sua compreensão ou inteireza.
32. Nesse sentido, reputo não haver contradição ou omissão a ser corrigida na decisão atacada.
33. Diante do exposto, acolho o parecer da Serur e voto para que o Tribunal adote o acórdão que
ora submeto à deliberação deste Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2617/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 006.614/2013-2
2. Grupo I – Classe de Assunto: I – Embargos de Declaração (em Pedido de Reexame)
3. Recorrentes: Maria Jailene Franco de Carvalho (008.308.414-23) e Arko Construções Ltda.
(10.715.077/0001-00)
435
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Órgão: Prefeitura Municipal de Natal/RN
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade técnica: Secretaria de Recursos (Serur)
8. Advogados constituídos nos autos: Cortez Meira de Medeiros (OAB/RN 3.640), Afonso
Adolfo de Medeiros Fernandes (OAB/RN 3.937) e outros
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de embargos de declaração opostos ao Acórdão
1.600/2017-Plenário,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. nos termos dos arts. 32, inciso II, e 34 da Lei 8.443/1992, conhecer dos presentes recursos;
9.2. quanto ao mérito, negar-lhes provimento, mantendo inalterados os termos do acórdão
recorrido; e
9.3. dar ciência aos recorrentes e à Prefeitura Municipal de Natal/RN acerca do teor desta
deliberação.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2617-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE V – Plenário
TC 011.014/2014-8
Natureza: Relatório de Auditoria
Órgão: Ministério da Saúde (vinculador)
Responsável: Ademar Arthur Chioro dos Reis (738.678.377-91)
Interessado: Congresso Nacional (vinculador)
Representação legal: não há
SUMÁRIO: AUDITORIA. PROJETOS PADRONIZADOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
PARA OBRAS DE CONSTRUÇÃO DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE E UNIDADES DE
PRONTO ATENDIMENTO. REGISTRO DE PREÇOS NACIONAL. PARCELAMENTO
INADEQUADO. DEFICIÊNCIA NA FASE PREPARATÓRIA DA LICITAÇÃO. SOBREPREÇO
DECORRENTE DE PREÇOS EXCESSIVOS FRENTE AO MERCADO. ANTEPROJETO DE
ENGENHARIA DEFICIENTE. OITIVA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. PRIMEIRO CERTAME
FRACASSADO. SEGUNDO CERTAME NÃO RESULTOU QUALQUER CONTRATAÇÃO.
CIÊNCIA AO ÓRGÃO MINISTERIAL DAS IRREGULARIDADES.
436
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
RELATÓRIO
Adoto como relatório a instrução elaborada por auditor da Secretaria de Fiscalização de
Infraestrutura Urbana (peça 52), que contou com a anuência dos dirigentes da mencionada unidade
técnica (peças 53 e 54):
“Cuidam os autos de auditoria de conformidade com objetivo de avaliar os projetos
padronizados do Ministério da Saúde (MS) para obras de construção de Unidades Básicas de Saúde
(UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), assim como sua utilização para contratação das
unidades por meio de Sistema de Registro de Preços.
HISTÓRICO
1. A fiscalização em comento foi realizada entre os meses de abril e junho de 2014. À época, o
Ministério havia recém-concluído a elaboração desses projetos padronizados e pretendia realizar
registro de preços nacional para a contratação integrada da construção desses estabelecimentos em
municípios das diversas regiões do país, valendo-se do Regime Diferenciado de Contratações
Públicas (RDC), previsto na Lei 12.262/2011.
2. Um primeiro certame fora realizado para a contratação de UBS: o RDC Presencial SRP n.
01/2014. A disputa, todavia, restou fracassada haja vista todos os preços propostos pelas licitantes
haverem sido superiores aos orçados pelo Ministério, resultando na desclassificação das interessadas
(peça 32, p. 8).
3. Ao final da auditoria, no Relatório de Fiscalização n. 260/2014 (peça 32) foram apontados
quatro achados, a saber:
i) parcelamento inadequado, gerando restrição à competitividade ou prejuízo à administração
por perda de economia de escala (achado 3.1);
ii) fragilidade ou deficiência na fase preparatória de licitação do RDC (achado 3.2);
iii) sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado (achado 3.3); e
iv) anteprojeto de engenharia deficiente e/ou desatualizado (achado 3.4).
4. Para todos eles, a equipe de auditoria propôs efetuar a oitiva do Ministério da Saúde e
contou com a concordância do Ministro-Relator em Despacho à peça 35. Com efeito, foi requerida
manifestação da pasta sobre as seguintes questões, conforme constou do Ofício 0590/2014-
TCU/SecobUrban - Oitiva (peça 36): a) parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade de maior
divisão regional e/ou temporal, em desacordo com o art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011 e com a Súmula TCU 247;
b) não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, contrariando o disposto no
art. 92 do Decreto 7.581/2011;
c) adoção do sistema de registro de preços sem dispor de projetos de referência padronizados em nível básico ou executivo, em afronta ao comando do art. 89, parágrafo único, inciso II, do Decreto 7.581/2011;
d) indícios de sobrepreços que podem chegar ao valor total de R$ 185.385.324,60, nos termos descritos
no achado 3.3 deste Relatório, encontrados em itens de serviço dos orçamentos estimativos elaborados pelo Ministério para a contratação das obras padronizadas de UBS e UPA, em ofensa aos arts. 3º, 4º, 6º e 8º,
parágrafo único, do Decreto 7.983/2013;
e) falhas pontuais identificadas nos projetos padronizados de arquitetura das UBS e UPA, conforme detalhado no achado 3.4 deste Relatório, em desacordo com a Lei 12.462/2011, art. 9º, § 2º, inciso I, o Decreto
7.581/2011, art. 74, § 3º, a norma ABNT 9050/2004 e a RDC 50, de 21/02/2002, da Anvisa;
f) não separação, para fins de registro de preço para execução de cada porte de obra, de itens que
podem ser remunerados por preço global dos itens que, por serem variáveis em função do local de implantação das obras, devem ser pagos por preços unitários, em afronta ao art. 89 do Decreto 7.581/2011;
g) não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da licitação, em
desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011; h) ausência de demonstração de que o possível ganho de escala advindo do quantitativo de obras e do
aproveitamento dos projetos entre as diversas unidades a serem construídas está sendo considerado nos
437
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
orçamentos paradigma para as licitações de UBS e UPAs, em desarmonia com o art. 3º da Lei 12.462/2011;
i) ausência de justificativa técnica completa da impossibilidade de se realizar o julgamento da licitação
pelo critério de técnica e preço, levando em consideração a necessidade de avaliar qualitativamente e
quantitativamente as diferenças entre as metodologias construtivas apresentadas; j) ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção do regime de
contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, como discutido neste Relatório,
conforme as disposições dos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011; k) possibilidade de se obter maior grau de certeza dos municípios quanto à intenção de se aderir à ata de
registro de preços, inserindo nos anexos do edital as informações pertinentes, possibilitando uma menor faixa
de variação das quantidades de obras previstas e reduzindo os riscos inerentes à contratação;
l) possibilidade de se estabelecer uma rotina mais intensa de fiscalização e acompanhamento das obras de unidades de saúde em apoio aos municípios, considerando o histórico de dificuldades técnicas e
operacionais desses entes da Federação;
m) possibilidade de se elaborar estudo técnico e econômico para definir os prazos de execução das obras das UBS e UPAs, considerando o porte e o quantitativo das unidades;
n) possibilidade de se elaborar cartilha ou manual com procedimentos e técnicas de fiscalização e
acompanhamento de obras de unidades de saúde, a fim de dar subsídios aos municípios, em especial os de menor porte, para que os objetivos do programa possam ser atingidos com maior efetividade e eficiência.
5. Após pedido de prorrogação de prazo (peças 40-43), o Ministério apresentou suas
considerações em atendimento à oitiva desta Corte. Tais respostas foram acostadas aos autos às
peças 44 e 46.
6. Dando seguimento ao feito, observou-se que, a par do fracasso da licitação auditada, a
equipe de auditoria propôs a oitiva da pasta tendo em vista haver a intenção, naquela época, de se
efetuarem novos certames nesse mesmo modelo.
7. Da análise empreendida em instrução à peça 47, concluiu-se por oportuno, antes de examinar
a resposta à referida oitiva, realizar diligência ao Ministério da Saúde para obter informações
atualizadas sobre a realização de novas licitações nos moldes do RDC Presencial SRP n. 01/2014,
assim como sobre o resultado desse certame.
8. Assim restou consignado em Ofício de Diligência (Ofício 0386/2017-TCU/SeinfraUrbana, de
5/9/2017) à peça 49: Conforme delegação de competência conferida pelo Relator para realização de diligência, e com vistas
ao saneamento do processo de Relatório de Auditoria, TC 011.014/2014-8, que trata de auditoria nos projetos
padronizados de UBS e UPAs, solicito ao Grupo Técnico de Gerenciamento de Projetos do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde que, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente
comunicação, com fundamento no art. 11 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 157 do Regimento Interno do TCU,
encaminhe a esta Secretaria informações atualizadas sobre: a) o resultado da licitação RDC Presencial SRP 01/2014, incluindo dados sobre eventuais empresas
vencedoras, atas firmadas e adesões ocorridas (acompanhadas de cópias dos documentos pertinentes);
b) eventuais outras licitações realizadas posteriormente ao RDC Presencial SRP 01/2014 e que tenham objeto similar: formação de ata de preços para execução de obras de UPAs ou UBS com base nos projetos
padronizados, incluindo dados sobre eventuais empresas vencedoras, atas firmadas e adesões ocorridas
(acompanhadas de cópias dos documentos pertinentes);
c) eventuais revisões ou novas versões dos projetos padronizados do Ministério da Saúde para obras de UPAs e UBS, produzidas após a realização do RDC Presencial SRP n. 01/2014, detalhando as modificações
ocorridas (acompanhadas de cópias dos documentos pertinentes).
9. A resposta à diligência mencionada foi apresentada pelo Ministério da Saúde em documento
juntado aos autos à peça 51.
10. A presente instrução processual tem por objetivo realizar o exame da documentação até aqui
apresentada, bem como propor encaminhamento adequado ao atual contexto processual.
EXAME TÉCNICO
438
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
11. Para a análise a ser empreendida na presente instrução, será estruturada, inicialmente, a
síntese das alegações apresentadas em resposta à oitiva realizada por meio do Ofício 0590/2014-
TCU/SecobUrban - Oitiva (peça 36) e, em sequência, da manifestação acostada aos autos em resposta
ao Ofício de Diligência (Ofício 0386/2017-TCU/SeinfraUrbana, de 5/9/2017; peça 49).
12. No exame, com base na documentação supracitada, serão verificados os desdobramentos e o
atual contexto fático da metodologia empregada pelo Ministério da Saúde para licitação/contratação
das UBS e UPAs, a fim de se propor encaminhamento oportuno e adequado às questões suscitadas na
auditoria inaugural deste processo, e elencadas na oitiva realizada (peça 36).
I. Resposta à oitiva apresentada pelo Ministério da Saúde (peça 44 e 46)
13. Em cumprimento à oitiva determinada por Despacho do Ministro-Relator à peça 35, o
Ministério da Saúde apresentou o Ofício n. 2.896 AECI/GM/MS (peça 44, p. 1), encaminhando, em
anexo, o Memorando n. 359/2014/GAB/SE/MS, de 14/11/2014 (peça 44, p. 2), acompanhado da Nota
Técnica Conjunta n. 07/2014 (peça 44, p. 3-13), com as informações prestadas pela Subsecretaria de
Assuntos Administrativos - SAA/SE/MS, pelo Gabinete da Secretaria-Executiva e pela Secretaria de
Atenção à Saúde - SAS/MS.
14. Na documentação apresentada, o MS aborda os achados de auditoria elencados no
Relatório de Fiscalização n. 260/2014 (peça 32), quais sejam: i) parcelamento inadequado, gerando
restrição à competitividade ou prejuízo à administração por perda de economia de escala (achado
3.1); ii) fragilidade ou deficiência na fase preparatória de licitação do RDC (achado 3.2); iii)
sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado (achado 3.3); e iv) anteprojeto de
engenharia deficiente e/ou desatualizado (achado 3.4).
15. Em conjunto, apresenta explicações para os pontos constantes do Ofício de Oitiva
0590/2014-TCU-SecobUrban (peça 36).
16. Acerca do achado 3.1, relativo a “parcelamento inadequado, gerando restrição à
competitividade ou prejuízo à Administração por perda de economia de escala”, constante do item
“a” da oitiva realizada, o manifestante reitera o entendimento de que a dimensão dos lotes (número
de obras previsto por lote) e a divisão regional proposta podem ter dificultado a participação de
maior número de empresas, prejudicando a competividade da licitação.
17. Entende, por sua vez, que a redução do número de obras por lote poderá estimar de forma
mais realista o número de obras que serão efetivamente executadas, reduzindo parcialmente as
incertezas associadas. Afirma, ademais, que esta reorganização dos lotes poderá também facilitar o
planejamento da execução das obras pelas possíveis empresas vencedoras do certame. Assim,
informou que os lotes previstos na ocasião estariam em revisão, segundo divisão regional e número
estimado de obras por lote.
18. Acrescenta que a incerteza do processo também poderia ser minorada em função da
manifestação dos municípios quanto ao interesse à adesão, além da informação da posse de
documentação de terreno compatível com a construção da UBS pretendida.
19. A intenção de adesão à ata de registro de preços para as obras de UBS teria sido levantada
por meio de pesquisa realizada com os municípios aderentes ao programa, no período de 27/11/2013
a 14/4/2014, na qual 1.165 municípios teriam afirmado seu interesse, por meio do site do Ministério
da Saúde. Essa teria sido a demanda total considerada, e que estaria sendo redistribuída nos lotes.
20. Além disso, todos os municípios aderentes ao Requalifica UBS teriam indicado e
apresentado declaração de documentação do terreno compatível com a construção da UBS
pretendida. Assim, não haveria, para este grupo considerado na estimativa de demanda, nenhuma
incerteza quanto ao local onde viriam a ser construídas as UBS.
21. Observou o manifestante, entretanto, que a redução do número de obras não poderá
inviabilizar a utilização de metodologias construtivas que garantam o volume e prazos pretendidos. A
escala das obras estimadas ajudaria, segundo alega, a compor o custo das obras, com possibilidade
439
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
de redução e economia e orientando a capacidade operacional das empresas participantes do
certame.
22. Em relação à ausência de demonstração de possível ganho de escala, apontamento do item
“h” da oitiva (peça 36), alega que a revisão do dimensionamento dos lotes, aliada à pesquisa de
intenção de adesão à ata, deverão reduzir as incertezas e os preços apresentados no primeiro
certame. Indica que a questão das incertezas quanto à adesão à ata de registro de preços (item “k”
da oitiva) foi tratada nos itens n. 10 e 11 do Parecer n. 3404/2014/COGEJUR/CONJUR-
MS/CGU/AGU/var (peça 44, p. 14-23), exarado pela Consultoria Jurídica: 10. No tocante à delimitação da demanda considerada para o procedimento licitatório, o relatório
afirma que “seria justificável que o Ministério da Saúde buscasse obter maior grau de certeza junto aos
municípios quanto à intenção de se aderir à ata de registro de preços, inserindo nos anexos do edital tal
informação, o que possibilitaria uma faixa menor de variação das quantidades previstas para cada lote; reduzindo os riscos inerentes à contratação”. Ademais, questionou-se a ausência de publicação de Intenção de
Registro de Preços (IRP), reputada obrigatória pela fiscalização, com esteio no art. 92 do Decreto 7.581/2011.
11. Nesse particular, cumpre salientar que a incerteza na contratação é um elemento inerente ao Sistema de Registro de Preços, em qualquer de suas nuanças. Mas essa incerteza é reduzida no caso presente, uma vez
que se trata de compra nacional cuja demanda foi definida a partir de consolidação de adesões dos Municípios
ao programa de governo que se busca executar. Ou seja, o caso revela situação em que a incerteza própria do
SRP é reduzida pela prévia ação estatal na adesão dos Municípios a programa do Governo Federal, o que viabiliza se chegar a uma demanda com adequado grau de segurança (peça 44, p. 16-17).
23. Ainda nesse item e no que se refere à não divulgação da intenção do registro de preços
previamente à licitação (item “b” da oitiva), aduz preceituar o inciso I, do art. 5º do Decreto
7.892/2013, que cabe ao órgão gerenciador registrar sua intenção de Registro de Preços no Portal de
Compras do Governo Federal. Não obstante, consoante o § 1° do art. 4º do mesmo Decreto, diz que a
divulgação da intenção de registro de preços poderá ser dispensada, de forma justificada pelo órgão
gerenciador.
24. Alega ser o caso deste processo, por tratar-se de obra singular de atendimento exclusivo ao
Ministério da Saúde, para construção de Unidades Básicas de Saúde nos Municípios que aderiram ao
Programa de Requalificação de UBS.
25. O manifestante acrescenta, a esse respeito, os pré-requisitos que norteiam as eventuais
adesões por parte dos municípios, considerando, sobretudo, que cada um dos entes federados e
interessados no objeto em questão deverão estar devidamente e antecipadamente habilitados, em
observância ao disposto na Portaria n. 340/GM/MS, de 4/3/2013, e, além disso, para a execução da
obra, apresentar toda documentação para análise e aprovação pelos técnicos do Ministério da Saúde.
26. Transcreve o disposto na referida Portaria, em especial, o que concerne à obtenção da
habilitação ao financiamento, que reflete a conseguinte adesão ao certame: PORTARIA N° 340, DE 4 DE MARÇO DE 2013
Art. 6° Para pleitear habilitação ao financiamento previsto no Componente Construção, o Município ou o Distrito Federal deverá cadastrar sua proposta perante o Ministério da Saúde por meio do sítio eletrônico
http://www.fns.saude.gov.br, incluindo-se as seguintes informações:
I - localização da UBS a ser construída, com endereço completo; II - coordenada geográfica do local da construção através de ferramenta disponibilizada no sistema de
cadastro da proposta;
III - certidão de registro emitida pelo cartório de registro de imóveis competente ou, alternativamente, por termo de doação de forma irretratável e irrevogável por, no mínimo, 20 (vinte) anos ao Município ou
Distrito Federal conforme documentação exigida em lei como hábil à prova de propriedade e ocupação regular
do imóvel ou, ainda, mediante declaração comprobatória da condição de terreno público;
IV - fotografia do terreno; V - Porte da UBS a ser construída (Porte I, II, III ou IV); e
VI - comunidades a serem beneficiadas e número de habitantes a serem assistidos nesta UBS.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
27. Diante disso, conclui que as adesões e consequentes contratações ficariam condicionadas ao
atendimento integral das exigências delimitadas por aquela Pasta, as quais demandariam
deliberações externas e dependeriam de providências que extrapolariam a gestão do Ministério da
Saúde, sendo de competência restrita dos entes federados.
28. Não obstante, depreende que, de forma peculiar, tal preceito teria sido cumprido quando da
adesão ao Programa de Requalificação das UBS, momento que tornaria possível o levantamento de
estimativa das quantidades de unidades a serem construídas, ou seja, a expectativa dos quantitativos
de UBS que efetivamente serão contratadas, entendimento esse também considerado pela Consultoria
Jurídica desse Ministério no Parecer já referenciado.
29. Aduz que, caso divulgada a “intenção de registro de preços”, tal medida não garantiria a
efetiva adesão/contratação por parte dos denominados “partícipes”, visto que poderiam ser
registradas intenções de contratações que não atendessem ao explicitado acima, logo, não refletiriam
as reais expectativas e legítimas pretensões de contratações.
30. Ademais, registra que os gestores locais não são integrantes do Sistema Integrado de
Administração de Serviços Gerais - SIASG, tampouco integrantes do sistema COMPRASNET,
questões essas que impossibilitariam as respectivas manifestações eletrônicas no referido sistema.
31. Acerca do achado 3.2, que versa sobre a “fragilidade ou deficiência na fase preparatória
de licitação do Regime Diferenciado de Contratação - RDC” (peça 32, p. 15-27), recorda que, no
exame da questão, afirma-se que as justificativas apresentadas pelo MS não teriam demonstrado as
vantagens técnicas e econômicas associadas à escolha da contratação integrada. Ainda, na análise
pretérita concluiu-se pela inadequação do julgamento das propostas apenas pelo critério de menor
valor, desconsiderando-se diferentes metodologias construtivas e sem garantia de menor preço do
item por lote. O texto final do Relatório teria questionado, ainda, a adoção do SRP/RDC vinculada
apenas a anteprojetos, sem a apresentação de projetos básicos ou executivos padronizados de
engenharia (item “c” da oitiva), a fiscalização da aplicação dos recursos federais transferidos e a
aprovação sanitária dos projetos.
32. A respeito da justificativa insuficiente para adoção do regime de contratação integrada
(item “j” da oitiva), contrariando as disposições dos arts. 90 da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto
7.581/2011, primeiramente o manifestante concorda que o número de obras a serem executadas ao
mesmo tempo deverá ser revisto, possibilitando a participação de maior número de empresas no
certame e favorecendo, portanto, a competividade.
33. Informou encontrar-se em avaliação, também, adoção de período mais amplo para a
execução da totalidade das obras, garantindo um número máximo de execuções simultâneas que
deverá ser factível com o planejamento logístico das empresas. Dessa forma, os locais de construção
das unidades estariam definidos quando da adesão dos municípios ao Programa Requalifica UBS, e
confirmados quando da manifestação de intenção de participação da ata.
34. Ressalta o MS que a contratação integrada promoveria o encurtamento de ritos, fazendo a
soma de diversos procedimentos que seriam necessários sob o ponto de vista da licitação nos moldes
usuais. Esse modo resumiria as fases (internas e externas) e, principalmente, eliminaria gastos,
expurgando a morosidade.
35. Acerca da adoção da contratação integrada, apresenta o posicionamento explicitado pela
Consultoria Jurídica junto ao Ministério da Saúde, constante nos itens 4 a 9 do já indicado Parecer n.
3404/2014/COGEJUR/CONJUR-MS/CGU/AGU/var (peça 44, p. 14-23), quando pontua que: (...) o próprio relatório do TCU admite que a contratação integrada é possível no âmbito do SRP, o que
decorre do próprio fato de se prever esse procedimento em qualquer modo de disputa do RDC, com qualquer critério de julgamento, afigurando-se então natural que se viabilize o SRP/RDC para a contratação integral
pelo critério do menor preço (o que se afigura juridicamente possível desde a revogação do inciso III do §2° do
art. 9° da Lei 12.462/2011). (Peça 44, p. 15-16).
441
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
36. Quanto à adoção de técnicas inovadoras e a crítica à manutenção das edificações, alega
observar-se que os municípios apresentam dificuldades para manter seus edifícios construídos com
metodologias tradicionais. Portanto, não seria possível inferir, ainda, que tal quadro poderá piorar. A
manutenção de edifícios que utilizaram metodologias diferenciadas seria facilitada com o aumento e a
diversificação de sua utilização e não, necessariamente, precisará demandar mão de obra
especializada.
37. Acerca da “ausência de justificativa técnica completa da impossibilidade de se realizar o
julgamento da licitação pelo critério de técnica e preço”, item “i” da oitiva e subitem do achado 3.2
apresentado à peça 32, p. 18-20, considera o órgão que o benefício da proposta vencedora por menor
preço está garantido nos parâmetros de qualidade definidos nos cadernos técnicos, elaborados a
partir dos projetos padronizados e inerentes a todas as metodologias construtivas que forem
apresentadas.
38. Argumenta que, após análise dos preços, inversão de fases prevista nesta modalidade de
licitação, a metodologia construtiva será analisada à luz desses requisitos, por meio de ensaios e
comprovações técnicas. A classificação final da proposta estaria sujeita à aprovação qualificada da
metodologia apresentada.
39. Aduz que essa forma de julgamento, que também justificaria a utilização desta modalidade
de licitação, favoreceria e facilitaria a análise dos processos construtivos disponíveis no mercado,
uma vez que, comprovada a vantagem econômica do material/componentes, estes passariam a ser
analisados qualitativamente, utilizando-se os requisitos técnicos previamente definidos. Os
parâmetros/requisitos técnicos integrantes do Edital garantiriam a qualidade pretendida e o
tratamento isonômico das propostas, independente da metodologia construtiva proposta, sendo
combinados com a proposta economicamente mais vantajosa. A proposta de menor preço que não
atender os requisitos técnicos mínimos será, portanto, desclassificada.
40. Ressalta que, no inciso II, art. 15 da Lei 12.462/2011 (RDC), está previsto o julgamento por
menor preço para contratação de serviços e obras. Informa ter sido revogado pela Lei 12.980/2014 o
inciso III do § 2°, art. 9°, da Lei 12.462/2011, que tratava da adoção de critério de julgamento por
técnica e preço para a contratação integrada.
41. Assim, entende a parte que o objeto em questão é o edifício da UBS, preservados os
parâmetros funcionais e estéticos dos projetos padronizados e garantidos todos os requisitos de
segurança, habitabilidade e sustentabilidade. Portanto, apresentados e garantidos todos os
parâmetros e requisitos solicitados, apesar de metodologias construtivas diferentes, ter-se-á um único
objeto, que será diferenciado somente pelo preço proposto. Argumenta que os parâmetros para
qualificar tecnicamente as propostas se mostram claros e mensuráveis, não havendo risco de que uma
proposta com menor preço e desqualificada tecnicamente seja vencedora do certame.
42. Sobre o ponto “julgamento de propostas pelo menor preço global, sem distinção entre os
portes das UBS” (Relatório de Fiscalização n. 260/2014; peça 32, p. 20-21), esclarece que adjudicar
por porte de UBS poderá tornar pouco atrativas as propostas para as UBS de maior porte (III e IV),
que têm uma estimativa de demanda muito menor e, portanto, menos atraentes aos interessados,
inviabilizando sua construção. Informa que serão calculados valores de referência para cada porte de
UBS e, assim, poderá ser avaliada a ocorrência de discrepância nos valores apresentados, sem
necessariamente excluir a possibilidade de manter os lotes atrativos ao mercado da construção civil.
43. Quanto ao apontamento acerca da “não separação, para fins de registro de preço para
execução de cada porte de obra, de itens que podem ser remunerados por preço global dos itens que,
por serem variáveis em função do local da implantação das obras, devem ser pagos por preços
unitários”, em resposta ao item “f” da oitiva, informou o MS, na ocasião, estar sendo analisada a
viabilidade administrativa de tal separação, considerando que:
a) São obras de baixa complexidade e estes poucos itens poderão ter pequeno impacto
financeiro no orçamento total das unidades;
442
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
b) A administração das quantidades aderidas unitariamente deverá ter controle administrativo
e técnico que deverá ser viabilizado pelo Ministério da Saúde; e
c) O custo de fechamentos externos e/ou paisagismo não está incluído na planilha.
44. Com relação à “não regionalização dos custos unitários e do orçamento de referência para
julgamento da licitação”, apontamento da letra “g” da oitiva, informou estarem em atualização as
planilhas orçamentárias considerando os estados de maior relevância nos lotes, de acordo com a
composição de preços SINAPI da Caixa Econômica Federal. Acrescenta que a regionalidade dos lotes
seria fundamental para garantir a racionalidade, logística e planejamento das obras, em adequação
às empresas participantes do certame. A organização dos lotes teria obedecido a necessidade de
favorecer, principalmente, transporte, deslocamentos e racionalização dos insumos necessários à
execução das obras.
45. Sobre a “fiscalização da aplicação dos recursos federais transferidos”, tópico também
abordado no achado 3.2 do Relatório de Fiscalização n. 260/2014 (peça 32, p. 21-24), somando-se ao
“acompanhamento das obras de unidades de saúde em apoio aos municípios, considerando o
histórico de dificuldades técnicas e operacionais desses entes da Federação”, conforme indicado no
item “l” da oitiva, o Ministério da Saúde informa que tem adotado rotina de visitas em amostragem
das obras de UBS e de UPA 24h (aquelas em execução ou concluídas). Ressalta, entretanto, que a
responsabilidade técnica das obras é atribuição dos contratantes (gestores locais), assim como as
medições e pagamentos às empresas contratadas.
46. Além disso, informa que gradativas melhorias têm sido implementadas no contexto do
Sistema de Monitoramento de Obras (SISMOB), de modo a permitir o melhor acompanhamento da
execução das obras pelos gestores federais.
47. Menciona, por oportuno, que a atuação pretendida pode ser enquadrada na sua competência
institucional como órgão de direção nacional do SUS, que inclui a prestação de cooperação técnica e
financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para aperfeiçoamento de sua atuação
institucional, conforme art. 16 da Lei 8.080/1990 (Lei Orgânica da Saúde). No caso, afirma que
pretende-se exatamente aliar a cooperação financeira, representada pelo repasse definido na Portaria
que trata do Programa Requalifica UBS, à cooperação técnica, representada pela utilização da
expertise da área de contratação do Ministério, no auxílio aos demais entes.
48. Sobre esse tema, a Consultoria Jurídica posiciona-se, no Parecer n.
3404/2014/COGEJUR/CONJUR-MS/CGU/AGU/var, nos itens 13 a 33, (peça 44, p. 4-10), em que
esclarece que: os recursos transferidos por meio de blocos de financiamento guardam a devida observância às
finalidades que lhes compete, qual seja, as que integram a Função Saúde. Quanto às subfunções (...) estas se
submetem a controle finalístico pelo Ministério da Saúde, ou seja, suas metas e diretrizes estipuladas no Plano de Saúde e na respectiva Programação Anual de Saúde são posteriormente monitoradas e avaliadas pelo
Relatório Anual de Gestão. Desta forma, a aplicação dos recursos transferidos por bloco de financiamento não
se vinculam ao quantitativo aplicado em cada ação ou serviço, mas, antes, se as finalidades estipuladas foram
alcançadas com a aplicação daqueles recursos.
49. Quanto à “aprovação sanitária dos projetos”, última questão apontada no achado 3.2 (peça
32, p. 24), argumenta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desenvolve suas
atividades em rede com as Vigilâncias Sanitárias (VISAs) locais. Aduz que a Anvisa não atua, por seu
turno, de forma centralizada para a análise das especificidades, principalmente no que diz respeito ao
projeto de implantação, as questões de localização da unidade e os códigos sanitários locais que
definem recuos e afastamentos, e, portanto, restaria estabelecida e regulamentada a descentralização
dessas atividades para as VISAs locais, fato que tornaria a aprovação sanitária dos projetos de
responsabilidades destas.
50. Acerca da questão abordada no achado 3.3 do Relatório de Fiscalização n. 260/2014 (peça
32, p. 27-43): “sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado”, e constante no item
443
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
“d” da oitiva, rememora o manifestante que na referida análise concluiu-se que os orçamentos
estimativos dos projetos-padrão para os três portes de UPA 24h apresentam sobrepreço, assim como
itens pontuais dos orçamentos das UBS.
51. Afirmou o MS que, para as UPAs 24h, o edital, minuta de contrato, bem como projetos,
planilhas orçamentárias, memoriais e cadernos técnicos estariam em construção. Ainda, na ocasião
estariam sendo elaborados ajustes nos projetos e planilhas para que pudessem compor o edital final.
52. A planilha orçamentária para custo estimado das UPAS está em revisão, considerando todos
os itens apontados neste relatório. Foi encaminhado ao TCU material preliminar em fase de
elaboração e, portanto, ainda com inconsistências que serão corrigidas e sequer estavam definidos os
municípios e locais onde as obras serão implantadas.
53. Para as UBS, a estimativa de preço utilizada no edital estaria sendo revisada e atualizada,
juntamente com outros itens. Informou, ainda, que os apontamentos do Relatório preliminar seriam
considerados na referida revisão, onde seriam incluídos os preços de projeto, sondagens e, também,
seria revisto o custo para as fundações.
54. Dessa forma, com relação à economia potencial que tais revisões poderiam proporcionar,
reafirmou o órgão que a estimativa de obras e a distribuição dos lotes estariam contempladas.
55. Por fim, o MS apresenta alegações sobre o último achado do Relatório de Fiscalização n.
260/2014 (achado 3.4; peça 32, p. 43-50), que trata do “Anteprojeto de engenharia deficiente e/ou
desatualizado”, contemplando as falhas identificadas nos anteprojetos das UBS e UPA 24h e a
inclusão, para fins de registro do preço global para execução de cada obra, de itens cujos preços são
afetados pelas condições do local de implantação das UBS (questionamentos presentes nos itens e/f da
oitiva).
56. Considerando as falhas identificadas nos projetos padronizados de arquitetura das UBS e
UPAS 24h, informa que a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 50/2002 da Anvisa estabelece
critérios para a elaboração de projetos para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, adotando a
seguinte definição: Áreas críticas são os ambientes onde existe risco aumentado de transmissão de infecção, onde se
realizam procedimentos de risco, com ou sem pacientes, ou onde se encontram pacientes imunodeprimidos.
Áreas semicríticas são todos os compartimentos, ocupados por pacientes com doenças infecciosas de
baixa transmissibilidade e doenças não infecciosas. (peça 44, p. 12).
57. Neste sentido, alega que a sala de curativos das UBS não se encontra na classificação de
ambiente crítico, não sendo necessária a adoção de barreiras físicas ou acabamentos diferenciados,
conforme consta na referida RDC, em especificações dos ambientes, na Parte II, item 3:
“Dimensionamento, quantificação e dimensionamento das instalações prediais dos ambientes”;
“Unidade funcional: 1 - Atendimento ambulatorial”.
58. Ainda, aduz que, conforme apontou o Relatório de Fiscalização, os cronogramas físicos
financeiros iniciais, elaborados a partir dos orçamentos estimados, estariam sendo adequados aos
prazos máximos previstos no Edital. Afirmou o MS que será incorporada à descrição a marca das
louças e metais utilizados na cotação, que garantirão o padrão esperado, acrescida da expressão “ou
similar”. Acrescentou que todas as observações relativas às portas de alumínio, piso cerâmico,
maçanetas e acessibilidade seriam consideradas e analisadas.
59. Reiterou, por fim, que edital, minuta de contrato e anexos para contratação das obras de
UPA estariam em fase de elaboração e todas as considerações sobre as fragilidades das minutas,
projetos, memoriais e planilhas das UPAs seriam analisadas.
II. Resposta à diligência apresentada pelo Ministério da Saúde (peça 51)
60. Em cumprimento à diligência lançada a efeito por meio do Ofício 0386/2017-
TCU/SeinfraUrbana, de 5/9/2017 (peça 49), o Ministério da Saúde apresentou o Ofício n. 1466-
SEI/2017/AECI/MS, integrado aos autos à peça 51, datado de 11/12/2017.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
61. Naquele expediente informa ter encaminhado anexo cópia da Nota Técnica n. 731-SEI/2017-
COGPAB/DAB/SAS/MS e da Nota Técnica n. 794-SEI/2017-COGPAB/DAB/SAS/MS, acompanhadas
de documentação correlacionada, com informações prestadas pelo Departamento de Atenção Básica,
da Secretaria de Atenção à Saúde, DAB/SAS/MS, conforme Despacho da Assessoria Jurídica -
ASJUR/SAS.
62. Primeiramente, segundo informação constante da Nota Técnica n. 731-SEI/2017-
COGPAB/DAB/SAS/MS (peça 51, p. 3), verificou-se que no RDC presencial SRP n. 01/2014, que tinha
como objeto a construção de Unidades Básicas de Saúde - UBS padronizadas, divididas em lotes
distribuídos por todo o país, obteve-se como resultado margem de preço superior ao estipulado em
portaria para construções daquele tipo, a serem financiadas pelo Ministério da Saúde, onde foi
verificada grande diferença entre o valor referência e o valor estipulado pelas empresas participantes
naquele processo. O certame restou, portanto, fracassado.
63. No citado Despacho da Secretaria de Atenção à Saúde – SAS/MS (peça 51, p. 12), consta a
síntese das informações prestadas nas referidas notas técnicas, nos seguintes termos: Após análise da Nota Técnica n° 731-SEI/2017 (1146239) de 01/11/2017, e Nota Técnica n° 794-
SEI/2017 (1344614), de 17/11/2017, tem-se que o DAB/SAS/MS informou, em síntese, que o processo de
licitação - RDC presencial SRP 01/2014 restou fracassado, advindo um novo processo, RDC 09/2015,
resultando como único vencedor habilitado a Construtora Ferraz & J.L.A Construções e Comércio, visando contratação integrada para construção de Unidade Básica de Saúde - UBS, dividida em 6 (seis) grupos
distribuídos para todo país. Esclarece que a referida empresa foi vencedora dos grupos 3 e 4, e no período de
vigência de ata, não houve execução para realização de obras por parte dos municípios participantes destes grupos. Assevera, ainda, que não houve modificação do projeto de Construção de Unidade Básica de Saúde -
UBS padronizada. Por fim, registra que não realizou nenhuma outra atualização para processo arquitetônico
após à RDC 09/2015, acostando os documentos de comprovação relativo a Ata de Registro de Preços n. 11/2016 (1344587). (Peça 51, p. 12; grifos nossos).
64. Portanto, conforme consta naquele expediente, não teria havido adesão à Ata de Registro de
Preços n. 11/2016 (peça 51, p. 7-11) durante o período de sua vigência, cujo término se deu em julho
de 2017.
III. Análise
65. Primeiramente, cumpre esclarecer que optou-se por diligenciar o Ministério da Saúde,
previamente à análise da documentação juntada em resposta à oitiva, haja vista o significativo
transcurso de tempo e as incertezas em torno da adoção sistemática, ou não, da metodologia de
contratação em análise nos presentes autos.
66. Conforme manifestação apresentada pelo Ministério da Saúde em dezembro/2017, como
resposta à diligência efetuada por meio do Ofício 0386/2017-TCU/SeinfraUrbana (peça 49), verifica-
se não ter ocorrido nenhuma adesão à ata de registro de preços decorrente do RDC n. 09/2015, que
sucedeu o certame anteriormente fracassado (RDC presencial SRP n. 01/2014).
67. Portanto, conclui-se não ter ocorrido contratação e posterior execução de obras de UBS e
UPAs por meio do sistema de registro de preços pretendido.
68. Com base no exame empreendido no achado 3.1: “parcelamento inadequado, gerando
restrição à competitividade ou prejuízo à Administração por perda de economia de escala”, propôs a
equipe realizar a oitiva do Ministério da Saúde para que se manifestasse acerca dos seguintes itens: a) parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade de maior
divisão regional e/ou temporal, em desacordo com o art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011 e com a Súmula TCU
247; b) não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, contrariando o disposto no
art. 92 do Decreto 7.581/2011;
(...) h) ausência de demonstração de que o possível ganho de escala advindo do quantitativo de obras e do
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
aproveitamento dos projetos entre as diversas unidades a serem construídas está sendo considerado nos orçamentos paradigma para as licitações de UBS e UPAs, em desarmonia com o art. 3º da Lei 12.462/2011;
(...)
k) possibilidade de se obter maior grau de certeza dos municípios quanto à intenção de se aderir à ata de registro de preços, inserindo nos anexos do edital as informações pertinentes, possibilitando uma menor faixa
de variação das quantidades de obras previstas e reduzindo os riscos inerentes à contratação;
69. Quanto ao parcelamento insuficiente da licitação, o MS mostrou concordância com o
apontamento de que a dimensão dos lotes e a divisão regional proposta poderiam representar
dificuldade à participação de maior número de empresas, prejudicando a competividade da licitação.
Diante disso, afirmou que, na ocasião da resposta, os lotes previstos estariam em revisão, segundo
divisão regional e número estimado de obras por lote.
70. Apesar de o processo licitatório ter ocorrido a cerca de quatro anos, como não consta dos
autos registro inequívoco acerca da intenção do órgão, ou não, em dar seguimento à metodologia de
licitação/contratação ora examinada, julga-se oportuno dar ciência ao MS de que o parcelamento
insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade de maior divisão regional
e/ou temporal, contraria o disposto no art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011, c/c a Súmula TCU 247.
71. Quanto à não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, em
virtude da alegação apresentada ser idêntica a já apresentada na ocasião da auditoria, cumpre trazer
à colação trecho do exame empreendido no campo 8.4 do Relatório de Fiscalização n. 260/2014 (peça
32, p. 25): Quanto à não divulgação da intenção de registro de preços, o Ministério afirmou que esta divulgação
poderia ser dispensada em caso de inviabilidade, desde que justificada. Nesse sentido, afirmou que esse seria o
caso, pois o registro de preços a ser feito atenderia somente ao MS e aos municípios que vierem a aderir à ata.
Quanto a isso, verifica-se que o Decreto n. 7.892/2013, utilizado como justificativa para a dispensa da divulgação, aplica-se somente ao sistema de registro de preços previsto na Lei n. 8.666/93. Essa relação pode
ser comprovada pela ementa do decreto em questão, bem como por vários trechos nele presentes. Destaque-se
aqui que o sistema de registro de preços que está sendo utilizado ocorre no âmbito do Regime Diferenciado de
Contratações, o qual é regido pela Lei n. 12.462/2011 e regulamentado pelo Decreto n. 7.581/2011. De acordo com este último decreto, em seu art. 92, a divulgação da intenção de registro de preços é obrigatória e não é
facultada a sua dispensa em nenhuma hipótese.
72. Pelos motivos já expostos, entende-se por oportuno dar ciência ao MS de que, em licitações
no âmbito do RDC, a não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação
contraria o disposto no art. 92 do Decreto 7.581/2011 (A licitação para registro de preços será
precedida de divulgação de intenção de registro de preços com a finalidade de permitir a participação
de outros órgãos ou entidades públicas).
73. Em relação à ausência de demonstração de possível ganho de escala, alegou o órgão que,
com a revisão do dimensionamento dos lotes, aliada à pesquisa de intenção de adesão à ata,
esperava-se reduzir as incertezas e os preços apresentados no certame inaugural.
74. Indicou, ademais, que as incertezas relativas à adesão à ata de registro de preços são
elementos inerentes ao próprio Sistema de Registro de Preços, em qualquer de suas vertentes. Não
obstante, a intenção de adesão teria sido levantada por meio de pesquisa realizada com os municípios
aderentes ao programa.
75. Especificamente sobre os dois pontos acima sintetizados, depreende-se que, na oitiva,
buscava-se direcionar o entendimento do órgão acerca da questão. Assim, associado ao fato da
possível inocorrência de seguimento da metodologia ora em exame, conclui-se por inoportuno a
apresentação de encaminhamento para o tema.
76. Já em relação ao exame empreendido no achado 3.2: “fragilidade ou deficiência na fase
preparatória de licitação do RDC”, propôs a equipe realizar a oitiva do Ministério da Saúde para que
se manifestasse acerca dos seguintes itens: c) adoção do sistema de registro de preços sem dispor de projetos de referência padronizados em nível
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
básico ou executivo, em afronta ao comando do art. 89, parágrafo único, inciso II, do Decreto 7.581/2011;
(...)
g) não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da licitação, em
desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011; (...)
i) ausência de justificativa técnica completa da impossibilidade de se realizar o julgamento da licitação
pelo critério de técnica e preço, levando em consideração a necessidade de avaliar qualitativamente e quantitativamente as diferenças entre as metodologias construtivas apresentadas;
j) ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção do regime de
contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, como discutido neste Relatório,
conforme as disposições dos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011;
77. O MS afirmou, na ocasião, que edital, minuta de contrato e anexos para contratação das
obras de UPA estariam em fase de elaboração e todas as considerações sobre as fragilidades das
minutas, projetos, memoriais e planilhas seriam analisadas.
78. Especificamente sobre a não regionalização dos custos unitários e do orçamento de
referência para julgamento da licitação, informou estarem em atualização as planilhas orçamentárias
considerando os estados de maior relevância nos lotes, de acordo com a composição de preços
SINAPI.
79. A respeito da justificativa insuficiente para adoção do regime de contratação integrada,
inicialmente o órgão mostrou concordância e a intenção de efetuar revisão acerca do número de
obras a serem executadas ao mesmo tempo, possibilitando a participação de maior número de
empresas no certame e favorecendo, portanto, a competividade.
80. Ressaltou, por sua vez, que a contratação integrada promoveria o encurtamento de ritos,
fazendo a soma de diversos procedimentos que seriam necessários sob o ponto de vista da licitação
nos moldes usuais. Esse modo resumiria as fases (internas e externas) e, principalmente, eliminaria
gastos, expurgando a morosidade.
81. Recordou, ademais, que a contratação integrada pelo critério do menor preço se afigura
juridicamente possível desde a revogação do inciso III do §2° do art. 9° da Lei 12.462/2011, alegação
essa que merece prosperar.
82. Do exposto, considerando a concordância do MS com parte dos apontamentos e a não elisão
de outros, e na mesma linha dos encaminhamentos já propostos anteriormente, entende-se por
oportuno dar ciência ao MS de que:
a) a adoção do sistema de registro de preços, sem dispor de projetos de referência padronizados
em nível básico ou executivo, afronta o comando do art. 89, parágrafo único, inciso II, do Decreto
7.581/2011;
b) a não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da
licitação está em desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011; e
c) a ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção do
regime de contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, vai de encontro ao
disposto nos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011.
83. Acerca da questão abordada no achado 3.3 do Relatório de Fiscalização n. 260/2014, que
tratou de “sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado”, novamente afirmou o MS
que o edital, minuta de contrato, bem como projetos, planilhas orçamentárias, memoriais e cadernos
técnicos estariam em construção. Ainda, na ocasião estariam sendo elaborados ajustes nos projetos e
planilhas para que pudessem compor o edital final.
84. Como verificou-se não ter ocorrido nenhuma adesão à ata de registro de preços decorrente
do RDC n. 09/2015, que sucedeu o certame anteriormente fracassado (RDC presencial SRP n.
01/2014), e, portanto, nenhuma contratação foi levada a efeito, entende-se que os indícios de
sobrepreço não resultaram em nenhum dano ao erário. Assim, dada a falta de perspectiva quanto à
447
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
realização de outros certames nesse modelo, reputa-se desnecessário propor encaminhamentos nesta
oportunidade.
85. Cumpre registrar que novos certames licitatórios e contratações, que por ventura
sobrevierem com base na metodologia e documentação revisada pelo MS para implementação de UBS
e UPAs, poderão ser objeto de novas fiscalizações do TCU.
86. Por fim, quanto às alegações sobre o achado 3.4, que trata do “Anteprojeto de engenharia
deficiente e/ou desatualizado”, contemplando as falhas identificadas nos anteprojetos das UBS e UPA
24h e a inclusão, para fins de registro do preço global para execução de cada obra, de itens cujos
preços são afetados pelas condições do local de implantação das UBS (questionamentos presentes nos
itens e/f da oitiva), o MS apresentou Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 50/2002 da Anvisa, que
estabelece critérios para a elaboração de projetos para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, a
fim de justificar parte dos apontamentos da equipe de auditoria.
87. Na mesma linha anterior, alegou que edital, minuta de contrato e anexos para contratação
das obras em fase de elaboração/revisão, e todas as considerações sobre as fragilidades das minutas,
projetos, memoriais e planilhas das UPAs seriam consideradas.
88. Conforme já abordado, deixa-se de propor encaminhamento sobre a questão por falta de
perspectiva quanto à realização de outros certames nesse modelo.
89. Não obstante, para eventuais futuras contratações, especificamente sobre a consideração,
para fins de registro do preço global, de itens cujos preços são afetados pelas condições do local de
implantação, cumpre dar ciência ao MS de que a não separação, para fins de registro de preço para
execução de cada porte de obra, de itens que podem ser remunerados por preço global dos itens que,
por serem variáveis em função do local de implantação das obras, devem ser pagos por preços
unitários, afronta o art. 89 do Decreto 7.581/2011.
CONCLUSÃO
90. A presente instrução teve por objetivo analisar as alegações apresentadas em resposta à
oitiva e diligência realizadas.
91. No exame técnico ora empreendido, com base na documentação juntada aos autos em
cumprimento às citadas oitiva e diligência, foram verificados os desdobramentos e o atual contexto
fático da metodologia empregada pelo Ministério da Saúde para licitação/contratação das UBS e
UPAs, a fim de se propor encaminhamento oportuno e adequado às questões suscitadas na auditoria
inaugural deste processo, e elencadas na referida oitiva à peça 36.
92. Tais questões estavam diretamente relacionas aos achados indicados no Relatório de
Fiscalização n. 260/2014 (peça 32), quais sejam: i) parcelamento inadequado, gerando restrição à
competitividade ou prejuízo à administração por perda de economia de escala (achado 3.1); ii)
fragilidade ou deficiência na fase preparatória de licitação do RDC (achado 3.2); iii) sobrepreço
decorrente de preços excessivos frente ao mercado (achado 3.3); e iv) anteprojeto de engenharia
deficiente e/ou desatualizado (achado 3.4).
93. Da análise, tendo em vista ter-se verificado a não ocorrência de adesão à ata de registro de
preços decorrente do RDC n. 09/2015, que sucedeu o certame anteriormente fracassado (RDC
presencial SRP n. 01/2014), e, portanto, nenhuma contratação tendo sido levada a efeito, entendeu-se
por superadas algumas questões relativas a sobrepreço e deficiências de projeto.
94. Ressalte-se que a instrução de peça 47 que propôs a realização da diligência ponderou que
caso não realizados novos procedimentos de registro de preços, significativa parte dos achados teria
sua gravidade e impacto mitigados.
95. Somou-se a esse entendimento as alegações de que edital, minuta de contrato e anexos para
contratação das obras estariam, naquele momento, em fase de elaboração/revisão, e todas as
considerações sobre as fragilidades das minutas, projetos, memoriais e planilhas das UPAs seriam
consideradas.
448
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
96. Não obstante, como não consta dos autos informações inequívocas acerca das intenções do
MS em dar seguimento, ou não, às licitações/contratações por meio da sistemática objeto destes autos,
julgou-se oportuno dar ciência ao órgão acerca das impropriedades identificadas na auditoria, nos
termos consolidados na proposta de encaminhamento a seguir.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO 97. Ante o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) Dar ciência ao Ministério da Saúde sobre as seguintes impropriedades identificadas na
documentação relativa a contratação RDC Presencial SRP n. 01/2014, por meio de Sistema de
Registro de Preços, das obras de construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS):
a.1) o parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade
de maior divisão regional e/ou temporal, contraria o disposto no art. 4º, inciso VI, da Lei
12.462/2011, c/c a Súmula TCU 247;
a.2) a não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, em licitações
no âmbito do RDC, contraria o disposto no art. 92 do Decreto 7.581/2011;
a.3) a adoção do sistema de registro de preços, sem dispor de projetos de referência
padronizados em nível básico ou executivo, afronta o comando do art. 89, parágrafo único, inciso II,
do Decreto 7.581/2011;
a.4) a não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da
licitação está em desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011;
a.5) a ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção
do regime de contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, vai de encontro
ao disposto nos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011; e
a.6) a não separação, para fins de registro de preço para execução de cada porte de obra, de
itens que podem ser remunerados por preço global dos itens que, por serem variáveis em função do
local de implantação das obras, devem ser pagos por preços unitários, afronta o art. 89 do Decreto
7.581/2011.
b) arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso V, do Regimento Interno
do TCU”.
É o relatório.
VOTO
I
Trata-se de auditoria de conformidade com objetivo de avaliar os projetos padronizados do
Ministério da Saúde (MS) para obras de construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades
de Pronto Atendimento (UPA), assim como sua utilização para contratação das unidades por meio de
Sistema de Registro de Preços.
2. As UBS são consideradas a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS),
sendo que o objetivo dessas instalações é atender grande parte da demanda (até 80% dos casos), sem
que haja a necessidade de encaminhamento para hospitais. Como apontado pela unidade técnica, esses
locais são projetados para prover atendimentos básicos nas seguintes áreas: pediatria, ginecologia,
clínica geral, enfermagem e odontologia.
3. As UPA, por sua vez, foram concebidas como unidades intermediárias entre as UBS,
responsáveis por atendimentos de menor complexidade, e os hospitais, destinados a procedimentos
mais intensivos, como é o caso das cirurgias e das internações. A concepção das UPA objetivou,
dentre outras coisas, diminuir a procura pelos prontos-socorros dos hospitais e, com isso, melhorar a
qualidade do serviço prestado ao cidadão.
449
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Em relação às UBS, o regulamento do Ministério da Saúde (Portaria MS-340, de 4/3/2013)
segrega as construções em quatro portes distintos, a depender do número de equipes de atenção básica
disponíveis. A depender do tamanho da unidade, o normativo estabelece o valor do repasse financeiro
do Governo Federal, que varia entre R$ 408 mil e R$ 773mil.
5. Na hipótese de o custo final de construção da UBS pretendida por determinado município for
superior ao valor repassado pelo Ministério da Saúde, tal diferença deve ser custeada pelo ente. Caso o
custo de construção seja inferior, a diferença poderá ser utilizada para o acréscimo quantitativo de
ações de construção dirigidas exclusivamente à UBS contemplada.
6. A construção e a ampliação das UPA são assuntos regulamentados em outro normativo
ministerial (Portaria MS-342, de 4/3/2013). Também houve a padronização das unidades, mas agora
em apenas três tipos. Para que haja o enquadramento, diferentemente das UBS, em que se levava em
consideração a quantidades de equipes de atenção básica, o critério passou a ser o tamanho
populacional da área abrangida pela unidade de atendimento (os repasses variam entre R$ 2,2 milhões
e R$ 4,0 milhões).
7. A fim de minimizar as dificuldades enfrentadas pelos municípios para a contratação de
projetos e obras, o Governo Federal elaborou projetos padronizados para cada tipo de construção e
pretendeu que a contratação ocorresse de forma centralizada. Ou seja, o Ministério da Saúde assumiu a
responsabilidade pelo repasse dos recursos, mediante transferência fundo a fundo, e pela realização do
procedimento licitatório. Por outro lado, os municípios assumiriam o encargo de celebrar o contrato,
de acompanhar e de fiscalizar os ajustes, bem como de manter as edificações construídas.
8. Assim, especificamente para o caso das UBS, foi publicado o RDC Presencial SRP nº
01/2014, sob o regime da contratação integrada. Ao todo, previu-se a construção de 5.318 unidades (já
considerando os quatro tamanhos de construção), divididas em nove lotes, cuja alocação baseou-se
fundamentalmente em critérios geográficos. A estimativa dessa quantidade de UBS a integrar a ata de
registro de preços se deu com base na adesão dos municípios ao Programa de Requalificação de UBS
no ano de 2013. O certame teve como critério o menor preço global de cada lote. O prazo para
elaboração do projeto executivo era de vinte dias, enquanto que o de conclusão das obras seria de cem
dias, a contar da ordem de início dos serviços.
9. De modo geral, o certame contou com baixa participação. Apenas sete empresas apresentaram
propostas comerciais, sendo que duas ofertaram para mais de um lote. Todos os valores ficaram
superiores àqueles orçados pelo Ministério da Saúde, razão pela qual houve a desclassificação de todos
os licitantes, resultando fracassado o registro de preços.
II
10. Ao examinar o instrumento convocatório e os projetos apresentados (neste caso envolvendo
não apenas as UBS mas também as UPA), a equipe de auditoria registrou quatro achados de auditoria,
pelas razões principais que passo a descrever:
10.1. restrição à competitividade em decorrência da grande quantidade de obras inseridas em
cada lote e das incertezas associadas ao modelo de contratação delineado pelo Ministério da Saúde;
10.2. deficiências na fase preparatória da licitação, quais sejam, ausência de divulgação prévia da
intenção de registro de preços, julgamento de propostas pelo menor preço global, sem valorar as
propostas por critérios técnicos e sem distinção entre os portes das UBS, justificativa inadequada para
adoção do regime de contratação integrada e adoção do sistema de registro de preços (SRP) para obras
apenas com anteprojetos;
10.3. sobrepreço decorrente de preços excessivos frente ao mercado; e
10.4. anteprojeto de engenharia deficiente, dada a presença tão somente de estudos
arquitetônicos e dada a inclusão, na planilha da licitação, de itens cujos preços são variáveis em função
do local de implantação das unidades de saúde.
11. A partir desses apontamentos, a SeinfraUrbana realizou oitiva e diligência do Ministério da
Saúde. Ao final, em pareceres uníssonos, a unidade técnica julgou suficiente expedir ciências à pasta
450
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ministerial acerca das seguintes impropriedades: i) parcelamento insuficiente da licitação; ii) ausência
de divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação; iii) adoção do sistema de
registro de preços sem dispor de projetos de referência padronizados em nível básico ou executivo; iv)
falta de regionalização dos custos unitários do orçamento de referência; v) ausência de justificativa
técnica e econômica para a adoção do regime de contratação integrada; e vi) não separação, para fins
de registro de preço para execução de cada porte de obra, de itens que podem ser remunerados por
preço global dos itens que, por serem variáveis em função do local de implantação das obras, devem
ser pagos por preços unitários.
12. Manifesto-me de acordo com os pareceres precedentes, cujos fundamentos incorporo como
razões de decidir, sem prejuízo das considerações que passo a fazer.
13. De fato, o tamanho dos lotes pode ter contribuído para o fracasso do certame. As unidades
básicas de saúde foram divididas em apenas nove grupos e cada um deles envolvia a construção de
quantidades que variavam entre 421 e 735 centros de saúde. O prazo de construção era exíguo (cem
dias), assim como a validade da ata (um ano), o que poderia ocasionar o receio das interessadas, que
deveriam alocar frentes simultâneas de serviço em diversas localidades distantes entre si.
14. Por sinal, para tentar entender as razões que ensejaram o fracasso do certame, o Ministério da
Saúde realizou audiência pública e grande parte das críticas recebidas diz respeito à amplitude dos
lotes e aos riscos associados. Tais fatores, somados a outros também identificados pela unidade
técnica, justificariam, a meu ver, a apresentação de propostas acima do valor orçado pela
administração.
15. Sendo assim, reputo pertinente a proposta de dar ciência ao órgão ministerial acerca do fato
de que o parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade de
maior divisão regional e/ou temporal, como é o caso dos autos, contraria o disposto no art. 4º, inciso
VI, da Lei 12.462/2011 c/c a Súmula TCU 247.
16. Outro fator que pode ter contribuído para o insucesso da licitação foi o fato de que a
estimativa de demanda se deu com base na adesão de municípios ao Programa de Requalificação de
UBS. Não houve a realização de intenção de registro de preços previamente à licitação, ou seja,
ausente a manifestação formal dos municípios, eles foram equiparados a órgãos participantes de
compra nacional, tal como definido no art. 88, VI, do Decreto 7.581/2011 (“órgão ou entidade da
administração pública que, em razão de participação em programa ou projeto federal, é contemplado
no registro de preços independentemente de manifestação formal”).
17. O Ministério da Saúde alegou basicamente que a divulgação da intenção de registro de
preços poderia ser dispensada de forma justificada pelo órgão gerenciador, nos termos do art. 4º, § 1°,
do Decreto 7.892/2013. Ocorre que a norma invocada aplica-se somente ao sistema de registro de
preços previsto na Lei 8.666/1993, havendo norma específica quando se optar pela utilização do
Regime Diferenciado de Contratações Públicas (Decreto 7.581/2011). Nessa última norma – a qual
deve ser aplicada no caso concreto em razão do princípio da especialidade –, foi prevista a
obrigatoriedade da divulgação da intenção de registro de preços. Logo, mostra-se correta a ciência
proposta pela unidade técnica.
18. Quanto à ausência de justificativa para a utilização do critério de julgamento do menor preço,
quando deveria ter sido utilizado técnica e preço, rememoro que houve a revogação do inciso III, § 2°,
do art. 9° da Lei 12.462/2011. Dessa forma, não há que se questionar o procedimento adotado pelo
órgão gerenciador.
19. Outro questionamento da unidade técnica diz respeito ao critério de julgamento ter-se
baseado no menor preço global de cada lote licitado. Isso porque cada lote continha diferentes
quantidades dos quatro tipos de UBS e a aquisição seria por item. Essa forma de julgamento e de
contratação expõe a administração a riscos desnecessários, pois a vencedora pode ofertar bons preços
para determinado tipo de unidade, mas, por outro lado, valores desvantajosos nos demais.
451
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
20. Esta situação tem ocorrido de forma reiterada na administração pública. No julgamento do
Acórdão 2.695/2013, este Plenário entendeu que a adoção, em registro de preços, de critério de
adjudicação pelo menor preço global por lote “é, em regra, incompatível com a aquisição futura por
itens, tendo em vista que alguns itens podem ser ofertados pelo vencedor do lote a preços superiores
aos propostos por outros competidores". Assim sendo, mantenho a ciência proposta pela unidade
técnica.
21. Para fundamentar a utilização da contratação integrada, o Ministério da Saúde informou, em
resposta à oitiva, que o regime escolhido promoveria o encurtamento de ritos, fazendo a soma de
diversos procedimentos que seriam necessários sob o ponto de vista da licitação nos moldes usuais, e
eliminaria gastos, expurgando a morosidade.
22. A despeito do que fora afirmado pelo órgão, a opção pelo regime de contratação integrada
exige justificativas sob os prismas econômico e técnico. Tal como decidido no Acórdão 1569/2017-
Plenário, a administração deve demonstrar em termos monetários que os gastos totais a serem
realizados com a implantação do empreendimento serão inferiores se comparados aos obtidos com os
demais regimes de execução. Também deve demonstrar que as características do objeto permitem que
ocorra real competição entre as contratadas para a concepção de metodologias/tecnologias distintas,
que levem a soluções capazes de serem aproveitadas vantajosamente pelo Poder Público. Como nada
disso foi feito, acolho a proposta de ciência feita pela unidade técnica.
23. A SeinfraUrbana também identificou que os projetos de referência utilizados no RDC
(regime de contratação integrada, frise-se) consistiriam, na verdade, apenas estudos arquitetônicos da
obra. Ou seja, por não abrangerem todos os elementos necessários de um projeto de engenharia em
nível básico (fundações, estrutura, instalações), devem ser considerados anteprojetos.
24. Entretanto, ocorre que, por expressa vedação regulamentar (art. 89, parágrafo único, inciso
II, alínea "b" do Decreto 7.581/2011), o SRP/RDC, no caso de obra, somente poderá ser utilizado
quando as obras tenham projeto de referência básico ou executivo. Dito de outro modo, não pode ser
feito registro de preços, ainda que por meio do RDC, utilizando-se tão somente anteprojeto de
engenharia. Correta, portanto, a proposta da unidade técnica de dar ciência ao órgão gerenciador da
ata.
25. Reconheço, porém, que o TCU já recomendou ao Ministério do Planejamento que avaliasse a
possibilidade de explicitar no regulamento atinente ao Registro de Preços do RDC a utilização da
contratação integrada, com anteprojeto padronizado, em adição ao projeto básico e executivo então
explicitado na norma (Acórdão 2600/2013-Plenário). A sugestão foi feita com pouco tempo de
implantação do RDC, mas não foi aceita pelo Executivo.
26. Nesse caso, entendo que o Tribunal não pode se imiscuir na regulamentação das leis, razão
pela qual se deve respeitar a posição do Ministério do Planejamento. Logo, mantenho a ciência
proposta pela unidade técnica.
27. Os auditores também identificaram sobrepreço principalmente na planilha orçamentária das
unidades de pronto atendimento. Verificou-se que os orçamentos das UPA não tiveram como
parâmetro os sistemas oficiais de custos (Sinapi e Sicro), tendo sido encontrada superestimativa na
maior parte dos itens analisados. A amostra atingiu percentuais em torno de 75% do total, com
pequenas oscilações a depender do tipo de unidade a ser construída. O sobrepreço médio calculado foi
de R$ 549.091,40.
28. Neste ponto, é importante ressaltar que as cotações realizadas pelo Ministério da Saúde não
foram enviadas ao TCU, prejudicando, em alguns casos, o exame da unidade técnica.
29. Nas UBS, a situação foi diferente. Os problemas foram pontuais, dado que houve ampla
utilização dos custos constantes do Sinapi e que o Ministério enviou as cotações utilizadas para estimar
os insumos e serviços não constantes no referido sistema mantido pela Caixa. A superavaliação, neste
caso, oscilou de R$ 19 mil a R$ 35 mil, a depender do porte da unidade.
452
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
30. O Ministério da Saúde informou que as planilhas orçamentárias estavam sendo ajustadas
para dirimir as constatações do TCU. Considerando que não houve contratação, que o órgão já teve
ciência do relatório de auditoria e que a unidade técnica está monitorando a eventual publicação de
novo certame para a construção de UPA/UBS, deixo de propor qualquer providência quanto a este
ponto.
31. Por último, os auditores vislumbraram uma oportunidade de aperfeiçoamento do modelo
adotado no RDC Presencial SRP 01/2014. Ainda que se adote um projeto arquitetônico padrão, há
itens do orçamento que naturalmente dependem das condições do local de implantação, não sendo
razoável orçar um custo global fixo. É o caso, por exemplo, das distâncias de transporte, das
características do subsolo, dos fatores ambientais e da posição do terreno.
32. Exemplifico. Apesar de o edital prever a possibilidade de diferentes soluções técnicas para as
fundações, os orçamentos das UBS previram o emprego de estacas de concreto armado de 0,20 m de
diâmetro e 4 m de profundidade média, que deverão estar acompanhadas de blocos e vigas baldrames.
33. Obviamente que a solução dependerá das condições específicas do local de construção de
cada unidade, mas chama atenção que a escolha prevista na planilha não aparenta ser a mais
econômica. Por se tratar de edificação térrea, é razoável supor que, para a maioria dos casos, seja
suficiente a utilização de sapatas ou radiers, soluções economicamente menos onerosas que as estacas.
34. Ou seja, padronizar todos os serviços, como foi feito pelo órgão gerenciador, pode conduzir a
contratações antieconômicas e desvantajosas para o poder público. Por essa razão, acolho a proposta
da unidade técnica de expedir ciência ao ministério responsável.
III
35. Nesta seção, passo a tratar de um problema que, a despeito ter sido apenas tangenciado pela
unidade técnica, configura, a meu ver, a principal falha que atualmente impede a conclusão de diversos
empreendimentos Brasil afora.
36. Refiro-me à replicação de projetos padronizados sem que sejam consideradas as
particularidades de cada caso concreto. A despeito de o regulamento do RDC permitir a utilização do
sistema de registro de preços para obras de engenharia, o que possibilita em tese ganhos de escala,
deve-se ter bastante cuidado na utilização desse mecanismo, até porque os resultados práticos atuais
não são satisfatórios.
37. Dou um exemplo: o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) publicou nos
anos de 2012 e 2013 diversos editais para a seleção de empresas para a possível contratação de creches
no âmbito do Programa Proinfância. Passados alguns anos, observou-se o abandono da grande maioria
dos empreendimentos contratados, gerando, por um lado, obras abandonadas e, por outro, a utilização
da quase totalidade dos recursos previstos na ação governamental.
38. Uma das causas apontadas para o fracasso da utilização do modelo consiste exatamente na
utilização indiscriminada de projetos padrão. Em reportagem de setembro de 2016 – que pode ser
acessada por meio do seguinte endereço eletrônico
https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/escolas-creches-inacabadas-custaram-ao-menos-840-
milhoes-em-recursos-publicos-20086432 –, uma das razões invocadas pelas empresas contratadas diz
respeito à falta de adequação dos terrenos pelas prefeituras municipais. Ao que tudo indica, os
documentos técnicos previam uma determinada conformação do terreno que nem sem está presente em
todo o território nacional.
39. Outros problemas decorrentes dessa padronização também poderiam ser citados: a distância
média de transporte de solos adotada nos estudos pode não ser a adequada ao caso concreto. Na
hipótese de ser maior que a prevista na planilha contratada, são necessários aportes adicionais de
recursos, o que nem sempre acontece. Com isso, há o risco da paralisação dos empreendimentos, não
surtindo os efeitos desejados para a política pública.
40. Nesse sentido, entendo que o plenário deve expedir uma recomendação ao Ministério da
Saúde para que avalie os riscos inerentes à replicação de projetos padronizados sem que sejam
453
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
consideradas as particularidades de cada caso concreto, bem como adote mecanismos com vistas a
prevenir as falhas que vem sendo observadas nos casos em que tal mecanismo é adotado.
41. Ante o exposto, voto por que seja adotada a deliberação que ora submeto a este Colegiado.
ACÓRDÃO Nº 2618/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 011.014/2014-8.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessado: Congresso Nacional (vinculador) ()
3.2. Responsável: Ademar Arthur Chioro dos Reis (738.678.377-91).
4. Órgão: Ministério da Saúde (vinculador).
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana (SeinfraUrb).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade com objetivo de avaliar
os projetos padronizados do Ministério da Saúde (MS) para obras de construção de Unidades Básicas
de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), assim como sua utilização para
contratação das unidades por meio de Sistema de Registro de Preços,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. dar ciência ao Ministério da Saúde sobre as seguintes impropriedades identificadas na
documentação relativa à contratação RDC Presencial SRP n. 01/2014, por meio de Sistema de Registro
de Preços, das obras de construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS):
9.1.1. o parcelamento insuficiente da licitação, em lotes muito grandes, havendo a possibilidade
de maior divisão regional e/ou temporal, contraria o disposto no art. 4º, inciso VI, da Lei 12.462/2011
c/c a Súmula TCU 247;
9.1.2. a não divulgação da intenção do registro de preços previamente à licitação, em licitações
no âmbito do RDC, contraria o disposto no art. 92 do Decreto 7.581/2011;
9.1.3. a adoção do sistema de registro de preços, sem dispor de projetos de referência
padronizados em nível básico ou executivo, afronta o comando do art. 89, parágrafo único, inciso II,
do Decreto 7.581/2011;
9.1.4. a não regionalização dos custos unitários do orçamento de referência para julgamento da
licitação está em desacordo com o art. 9º, § 2º, inciso II da Lei 12.462/2011;
9.1.5. a ausência de justificativa técnica e econômica, fundamentada e completa, para a adoção
do regime de contratação integrada, comparando-o às outras alternativas possíveis, vai de encontro ao
disposto nos arts. 9º da Lei 12.462/2011 e 73 do Decreto 7.581/2011; e
9.1.6. a não separação, para fins de registro de preço para execução de cada porte de obra, de
itens que podem ser remunerados por preço global dos itens que, por serem variáveis em função do
local de implantação das obras, devem ser pagos por preços unitários, afronta o art. 89 do Decreto
7.581/2011.
9.2. Recomendar ao Ministério da Saúde que avalie os riscos inerentes à replicação de projetos
padronizados sem que sejam consideradas as particularidades de cada caso concreto, bem como adote
mecanismos com vistas a prevenir as falhas que vem sendo observadas nos casos em que tal
mecanismo é adotado;
454
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.3. arquivar o presente processo, com fundamento no art. 169, inciso V, do Regimento Interno
do TCU.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2618-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – PLENÁRIO
TC 011.577/2018-5
Natureza: Representação
Órgão: Ministério do Trabalho
Representação legal: não há
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. EDIÇÃO, PELO MINISTÉRIO DO TRABALHO, DE
PORTARIA PROIBINDO A ESTIPULAÇÃO, NO ÂMBITO DO PROGRAMA DE
ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR (PAT), DE TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO NEGATIVAS
EM FAVOR DOS ADQUIRENTES DOS INSTRUMENTOS DE CRÉDITO EMITIDOS PELAS
EMPRESAS OPERADORAS. EXTENSÃO DA REGRA AOS CONTRATOS EM VIGOR. OFENSA
AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA RAZOABILIDADE, DA PROPORCIONALIDADE E
DA MOTIVAÇÃO. PROCEDÊNCIA. DETERMINAÇÕES.
RELATÓRIO
Adoto como relatório, com os ajustes de forma pertinentes, a instrução elaborada no âmbito da
Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência Social
(SecexPrevidência), a qual contou com a anuência dos dirigentes da unidade técnica:
“Trata-se de representação formulada pelo Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) para
que este Tribunal determine ao Ministério do Trabalho (MTb) que se abstenha de exigir a observância
da Portaria 1.287, publicada em 28/12/2017, em relação aos contratos da administração pública
federal e das entidades do Sistema S (peça 1).
2. A referida portaria vedou a prática comercial de cobrar taxas de serviço negativas por parte
das empresas fornecedoras de vales-alimentação/refeição e documentos similares (peça 1, p. 39).
HISTÓRICO
3. Este Tribunal referendou, por meio do Acórdão 1.623/2018-TCU-Plenário, prolatado na
Sessão Ordinária de 18/7/2018 (peça 22), a medida cautelar concedida pelo Ministro Benjamin
Zymler (relator), mediante o Despacho de 17/7/2018, nos seguintes termos (peça 18, p. 5):
‘9. Assim, concedo a medida cautelar nos termos em que requerida pelo Ministério Público,
determinando ao Ministério do Trabalho que se abstenha de exigir a observância da
Portaria 1.287/2017 em relação aos contratos firmados por entidades da administração pública
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federal e do Sistema S celebrados em data anterior ao início da vigência da citada portaria,
divulgando essa determinação entre os empregadores credenciados no PAT.
10. Aditivamente, autorizo a adoção das demais providências indicadas pela unidade técnica na
instrução à peça 15.’
4. Em cumprimento ao referido acórdão, o MTb informou a este Tribunal, por meio do
Ofício 617/2018/GM/MTb, de 24/8/2018 (peça 50), que determinou à Secretaria de Inspeção do
Trabalho, por meio do Despacho publicado em 30/7/2018 no DOU (peça 50, p. 8), que se abstenha de
exigir a observância da Portaria 1.287/2017 em relação aos contratos firmados por entidades da
administração pública federal e do Sistema S celebrados em data anterior no início da vigência da
citada portaria.
5. Entre as providências autorizadas pelo relator (peça 18), esta SecexPrevidência realizou a
oitiva do MTb, por meio do Ofício 0541/2018-TCU/SecexPrevidência, de 17/7/2018, nos seguintes
termos (peça 21):
‘b) (...) manifestar-se sobre os fatos apontados na representação formulada pelo Procurador do
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Sr. Rodrigo Medeiros de Lima,
especialmente quanto à publicação da Portaria 1.287 (de 28/12/2017), que dispõe sobre a vedação da
prática de taxas de serviço negativas por parte das empresas que fornecem vales alimentação/refeição
e documentos similares, e, também, quanto ao possível prejuízo que a observância dessa portaria
pode causar à administração pública federal e às entidades do Sistema S’.
6. Em resposta à oitiva, o MTb encaminhou a esta SecexPrevidência o Oficio 244/SE-MTb, de
6/8/2018 (peça 48), acompanhado de cópia da Nota Técnica 128/2018/CGAT/AESAM/MTb, de
25/7/2018 (peça 48, p. 2-4), do Despacho do Ministro do Trabalho, publicado em 30/7/2018 no DOU
(peça 48, p. 5-7), do Memorando-Circular 13/DSST/SIT/MTb, de 25/7/2018 (peça 48, p. 8-9), que
serão objeto de exame técnico a seguir.
EXAME TÉCNICO
7. A Nota Técnica 128/2018/CGAT/AESAM/MTb, de 25/7/2018 (peça 48, p. 2-4), apresentou os
seguintes argumentos para fundamentar o referido despacho do Ministro do Trabalho (peça 48,
p. 5-7):
a) o art. 9º do Decreto 5, de 14/1/1991, que regulamenta a Lei 6.321/1976, atribuiu competência
ao MTb para expedir instruções sobre a aplicação do regulamento;
b) o Despacho 04950/2017/CONJUR-MTB/CGU/AGU sustentou a juridicidade formal da
proposta que resultou na Portaria 1.287/2017, pois a matéria é da competência daquele ministério,
uma vez que o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) está relacionado à saúde no trabalho,
bem como atenderia aos direitos sociais de saúde e alimentação do trabalhador previstos no art. 6º e
no inciso IV do art. 7º, todos da Constituição Federal de 1988;
c) a Nota Técnica GM 58/2017 defendeu o mérito da proposta que resultou na
Portaria 1.287/2017;
d) a Nota Técnica 45/2018/DIPAT/CGFIP/DSST/SIT/MT esclareceu o conteúdo jurídico e a
vigência da Portaria 1.287/2017.
8. Quanto ao primeiro argumento, cabe analisar se a Portaria 1.287/2017, expedida pelo MTb
com fundamento na competência prevista no art. 9º do Decreto 5, de 14/1/1991, restringiu-se a
expedir instruções sobre a aplicação do regulamento do PAT, instituído por meio da Lei 6.321/1976.
9. De acordo com a doutrina de Hely Lopes Meireles, em sua obra Direito Administrativo
Brasileiro (Malheiros Editores, 2014, p. 200), as instruções e portarias são espécies de atos
administrativos ordinatórios que emanam do poder hierárquico e visam disciplinar o funcionamento
da Administração e a conduta funcional de seus agentes, por isso somente atuam no âmbito interno
das repartições e somente alcançam servidores subordinados à chefia que os expediu. Não obrigam os
particulares nem os servidores subordinados a outras chefias. São atos inferiores à lei, ao decreto, ao
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
regulamento e ao regimento, que normalmente não criam direitos ou obrigações para os
administrados, mas geram deveres e prerrogativas para os agentes administrativos destinatários.
10. De acordo com a doutrina de Hely Lopes Meireles, em sua obra Direito Administrativo
Brasileiro (Malheiros Editores, 2014, p. 201), ainda, as instruções são ordens escritas e gerais
expedidas pelo superior hierárquico para orientar o desempenho das atribuições dos subalternos e
assegurar a unidade de ação no organismo administrativo. Não podem contrariar a lei, o decreto, o
regulamento, o regimento ou o estatuto do serviço, nem podem alcançar os particulares, nem lhes
impor conhecimento e observância, porque são atos inferiores, de mero ordenamento administrativo
interno, e vigoram apenas como ordens hierárquicas de superior a subalterno. E as portarias são atos
administrativos internos pelos quais os chefes de órgãos públicos expedem determinações a seus
subordinados, as quais não atingem nem obrigam aos particulares, pela manifesta razão de que os
cidadãos não estão sujeitos ao poder hierárquico da Administração Pública.
11. Pois bem, a fim de analisar se a Portaria 1.287/2017 restringiu-se a expedir instruções
sobre a aplicação do Decreto 5, de 14/1/1991, que por sua vez regulamentou a Lei 6.321/1976, cabe
analisar primeiramente o conteúdo jurídico da lei e do decreto mencionados.
12. A Lei 6.321/1976 ‘dispõe sobre a dedução, do lucro tributável para fins de imposto sobre a
renda das pessoas jurídicas, do dobro das despesas realizadas em programas de alimentação do
trabalhador’, conforme a respectiva ementa. Trata-se, portanto, de norma jurídica tributária que
concede incentivo fiscal para determinado sujeito passivo do imposto sobre a renda, qual seja: a
pessoa jurídica que comprovar despesas em programas de alimentação do trabalhador, previamente
aprovados pelo MTb na forma do regulamento (art. 1º da Lei 6.321/1976). O legislador federal
utilizou o tributo para gerar efeitos extrafiscais, como instrumento de intervenção estatal na atividade
econômica, mais especificamente para incentivar a adesão de pessoas jurídicas aos programas de
alimentação do trabalhador.
13. A Lei 6.321/1976 apresenta cinco artigos: o art. 1º indica o objeto da lei e o respectivo
âmbito de aplicação; o art. 2º dispõe que os programas de alimentação devem conferir prioridade aos
trabalhadores de baixa renda e se limitar aos contratados pela pessoa jurídica beneficiária; o art. 3º
exclui dos programas de alimentação o pagamento de salário in natura; o art. 4º atribui competência
ao Poder Executivo para regulamentar a lei; e o art. 5º dispõe sobre a cláusula de vigência e a
cláusula de revogação.
14. Da análise da Lei 6.321/1976, verificou-se que o legislador federal facultou às pessoas
jurídicas a adesão aos programas de alimentação do trabalhador mediante a concessão de incentivo
fiscal. A norma é direcionada às pessoas jurídicas beneficiárias que realizarem despesa com
programas de alimentação do trabalhador.
15. O Presidente da República regulamentou a referida lei por meio do Decreto 5, de 14/1/1991,
que apresenta onze artigos: o art. 1º indica o objeto do decreto e o respectivo âmbito de aplicação; o
art. 2º explica e facilita a execução do art. 2º da lei; o art. 3º dispõe que os programas de alimentação
devem avaliar o teor nutritivo da alimentação; o art. 4º faculta à pessoa jurídica beneficiária manter
serviço próprio de refeições, distribuir alimentos ou firmar convênio com entidades fornecedoras de
alimentação coletiva, sociedades civis, sociedades comerciais e sociedades cooperativas para
executar os programas de alimentação do trabalhador; o art. 5º facilita a execução do artigo
anterior; o art. 6º explica e facilita a execução do art. 3º da lei; o art. 7º dispõe sobre a contabilidade
das despesas do programa; o art. 8º dispõe sobre as sanções pelo descumprimento do programa; o
art. 9º atribui competência ao MTb para expedir instruções sobre a aplicação do decreto; o art. 10
dispõe sobre a cláusula de vigência; e o art. 11 dispõe sobre a cláusula de revogação.
16. De acordo com a doutrina de Hely Lopes Meireles, em sua obra Direito Administrativo
Brasileiro (Malheiros Editores, 2014, p. 197-198), o decreto regulamentar ou de execução visa
explicar a lei e facilitar sua execução, aclarando seus mandamentos e orientando sua aplicação.
Como ato inferior à lei, o regulamento não pode contrariá-la ou ir além do que ela permite. No que o
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regulamento infringir ou extravasar da lei, é írrito e nulo, por caracterizar situação de ilegalidade.
Quando o regulamento visa explicar a lei (regulamento de execução), terá que se cingir ao que a lei
contém.
17. Da análise do art. 4º do Decreto 5, de 14/1/1991, verificou-se que o Presidente da República
explicou que a despesa com programas de alimentação do trabalhador pode ser realizada por meio da
manutenção de serviço próprio de refeições, da distribuição de alimentos ou da assinatura de
convênio com entidades fornecedoras de alimentação coletiva, sociedades civis, sociedades
comerciais e sociedades cooperativas. A regulamentação é direcionada, igualmente, às pessoas
jurídicas beneficiárias que realizarem despesa com programas de alimentação do trabalhador, e
faculta a tais pessoas a livre escolha do modo de realizar essa despesa, entre aqueles regulamentados.
18. A Portaria 1.287/2017 foi expedida pelo MTb, com fundamento no art. 9º do referido
decreto, nos seguintes termos:
‘Art. 1° No âmbito do Programa de Alimentação do Trabalhador, é vedada à empresa
prestadora a adoção de práticas comerciais de cobrança de taxas de serviço negativas às empresas
beneficiárias, sobre os valores dos créditos vinculados aos documentos de legitimação.
Art. 2° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.’
19. A referida portaria impõe vedação, portanto, às empresas fornecedoras de vales-
alimentação/refeição e documentos similares no sentido de proibir que elas pratiquem taxas de
serviço negativas em suas atividades comerciais prestadas às pessoas jurídicas beneficiárias que
realizam despesa com programas de alimentação do trabalhador.
20. Ora, da análise da Portaria 1.287/2017, verificou-se que a instrução é direcionada às
empresas fornecedoras, enquanto que as normas da lei e do decreto são direcionadas às pessoas
jurídicas beneficiárias do PAT.
21. As normas jurídicas obrigam, facultam ou proíbem condutas. Em nosso ordenamento
jurídico, entre os direitos e garantias fundamentais, o constituinte originário estabeleceu que somente
a lei pode criar obrigações ou impor vedações, conforme o princípio constitucional da legalidade,
previsto no inciso II do art. 5º da Constituição Federal de 1988: ‘ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’.
22. De acordo com a doutrina de José Afonso da Silva, em sua obra Comentário Contextual à
Constituição (Malheiros Editores, 2014, p. 83-84), esse dispositivo é um dos mais importantes do
direito constitucional brasileiro porque consubstancia o princípio da legalidade (garantia individual)
e a regra de direito fundamental da liberdade de ação (liberdade-base das demais), correlacionando
liberdade e legalidade, significando que: a liberdade só pode ser condicionada por um sistema de
legalidade legítimo. Ou seja, o princípio é o de que todos têm a liberdade de fazer e de não fazer o que
bem entenderem, exceto se a lei determinar em contrário; e desde que a lei seja proveniente do Poder
Legislativo formado mediante consentimento popular, elaborada segundo o processo estabelecido na
Constituição emanada da soberania popular e com ela se harmonize.
23. De acordo com a doutrina de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em sua obra Direito
Administrativo (Forense, 2016, p. 96): ‘em decorrência disso, a Administração Pública não pode, por
simples ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações
aos administrados; para tanto, ela depende da lei.’
24. Ademais, o constituinte originário estabeleceu o princípio constitucional da liberdade de
iniciativa econômica, previsto no parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal de 1988: ‘é
assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei’.
25. De acordo com a doutrina de José Afonso da Silva, em sua obra Comentário Contextual à
Constituição (Malheiros Editores, 2014, p. 725), a liberdade de iniciativa é princípio básico do
liberalismo econômico e envolve a liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a
liberdade de contrato. Em busca da realização da justiça social e nos termos da lei, o Poder Público
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pode regular a liberdade de indústria e comércio, em alguns casos impondo a necessidade de
autorização para determinado tipo de atividade econômica, bem como a liberdade de contratar,
fixando preços, ou intervir diretamente na produção e comercialização de certos bens.
26. Ocorre que o MTb expediu instrução, por meio da Portaria 1.287/2017, para impor
vedação, restringir a liberdade de comércio e a liberdade de contratar das empresas fornecedoras, em
violação aos princípios constitucionais da legalidade e da liberdade de iniciativa econômica, bem
como em transgressão às disposições da Lei 6.321/1976 e do Decreto 5, de 14/1/1991.
27. O MTb buscou regular reflexamente a conduta das pessoas jurídicas beneficiárias do PAT,
proibindo que elas tenham acesso e aceitem ofertas de taxas de serviço negativas, por meio da
vedação dessa prática comercial, contudo a portaria infringiu os princípios constitucionais bem como
extravasou a lei e o decreto mencionados.
28. Quanto ao Despacho 04950/2017/CONJUR-MTB/CGU/AGU (peça 1, p. 27-28), que
concluiu pela inexistência de óbice jurídico para a expedição da Portaria 1.287/2017, os respectivos
argumentos foram no sentido de que compete ao Ministro do Trabalho dispor sobre a matéria, porque
o PAT está relacionado à saúde no trabalho, e de que a proposta atenderia aos direitos sociais de
saúde e alimentação do trabalhador, porque coibiria práticas comerciais lesivas ao trabalhador.
29. Ora, a competência do Ministro do Trabalho para dispor sobre a matéria encontra limites
nas disposições do decreto expedido pelo Presidente da República, da lei elaborada pelo legislador
federal, bem como nos princípios estabelecidos pelo constituinte. Ocorre que o Ministro do Trabalho
excedeu a sua competência para dispor sobre a matéria, na medida em que inovou o ordenamento
jurídico por meio da imposição de vedação não prevista na lei nem mesmo no decreto presidencial.
30. Em relação à finalidade visada pelo Ministro do Trabalho, no sentido de pretender coibir
práticas comerciais lesivas aos direitos sociais de saúde e alimentação do trabalhador, o despacho em
análise não explicou como essa medida poderia assegurar o resultado pretendido.
31. A efetividade da medida foi posta em dúvida pelo representante (peça 1, p. 4) e pelo relator
(peça 6, p. 5) porque ela poderia ter como único efeito o aumento das margens de lucro das empresas
fornecedoras, em vez de economia para os empregados beneficiários do PAT, sem que o MTb tenha
qualquer controle sobre isso.
32. Em razão disso, esta SecexPrevidência realizou diligência ao MTb, por meio do
Ofício 0350/2018-TCU/SecexPrevidência, de 7/5/2018, nos seguintes termos (peça 8):
‘c) em caso positivo, quais as medidas complementares eventualmente adotadas pelo Ministério
para garantir que a supressão das ‘taxas de serviço negativas às empresas beneficiárias’, com a
consequente majoração dos custos contratuais a cargo das empresas empregadoras, redundará em
efetiva e proporcional redução nos preços dos produtos disponibilizados aos trabalhadores pela rede
varejista credenciada.’
33. Em resposta, o MTb informou, por meio do Ofício 196/SE-MTb, de 13/6/2018 (peça 10, p. 3-
4), que em vista do Decreto 8.894, de 3/11/2016, ‘não tem competência para adotar medidas que
garantam que a supressão das taxas de serviço negativas redundará em efetiva e proporcional
redução nos preços dos produtos disponibilizados aos trabalhadores pela rede varejista credenciada’,
mas sustentou que haveria uma tendência de redução de preços em razão do mecanismo de mercado
(oferta e demanda).
34. Em vista desses argumentos, o relator concluiu pela necessidade do deferimento da medida
cautelar requerida pelo representante para afastar a aplicação da Portaria 1.287/2017 aos contratos
firmados por entidades da administração pública federal e do Sistema S em data anterior ao início da
vigência da portaria mencionada, nos seguintes termos (peça 18, p. 5):
‘7. Como visto, a despeito da oportunidade que lhe foi previamente conferida, o Ministério do
Trabalho não logrou afastar os fundamentos apresentados pelo representante para requerer,
cautelarmente, a suspensão dos efeitos da Portaria 1.287/2017.
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8. Na realidade, em vez disso, ao confirmar a intenção da Pasta de exigir seu imediato
cumprimento, ‘independentemente se à data da publicação já estavam vigentes quaisquer contratos
entre os participantes do PAT, sejam estes por prazo determinado ou indeterminado’, e,
paralelamente, reconhecer que não dispõe de ‘competência’ para garantir que a supressão das taxas
negativas trará algum benefício real para os trabalhadores, o próprio Ministério reforça a
necessidade de adoção da medida de urgência.’
35. Quanto à Nota Técnica GM 58/2017 (peça 1, p. 9-11), que concluiu pela necessidade de
‘regulamentação financeira das taxas praticadas por empresas prestadoras do PAT em relação às
beneficiárias, para coibir as distorções do mercado lesivas aos trabalhadores’, os respectivos
argumentos foram no sentido de que as empresas fornecedoras compensariam a redução das taxas
cobradas das pessoas jurídicas beneficiárias do PAT mediante a majoração das taxas cobradas dos
comerciantes varejistas, que por sua vez repassariam esses custos aos trabalhadores.
36. Esses argumentos já foram analisados pelo representante (peça 1, p. 3-4) e pelo relator
(peça 6, p. 1-2), portanto o MTb não apresentou argumentação nova nesta oportunidade.
37. Quanto à Nota Técnica 45/2018/DIPAT/CGFIP/DSST/SIT/MT (peça 1, p. 42-46), que
concluiu pela desnecessidade de reeditar instrução normativa a fim de disciplinar procedimentos para
fiscalizar o cumprimento da vedação de praticar taxas de serviço negativas, os respectivos
argumentos foram no sentido de que a regulamentação sobre o PAT e a inspeção do trabalho em
vigor seria suficiente para a aplicação da Portaria 1.287/2017.
38. E o Memorando-Circular 13/DSST/SIT/MTb, de 25/7/2018 (peça 48, p. 8-9), apenas
determina às autoridades regionais de fiscalização em segurança e saúde daquele ministério que
informem aos auditores-fiscais do trabalho que se abstenham de exigir o cumprimento da Portaria
1.287 em relação às empresas beneficiárias de decisões judiciais nesse sentido.
CONCLUSÃO
39. Da análise da resposta à oitiva, verificou-se que o MTb não apresentou elementos
necessários e suficientes para elidir os indícios de ilegalidade suscitados pelo representante e se
limitou a reiterar argumentos já analisados pelo relator quando da concessão da medida cautelar que
afastou a aplicação da Portaria 1.287/2017 aos contratos firmados por entidades da administração
pública federal e do Sistema S em data anterior ao início da vigência da portaria mencionada.
40. O MTb não elidiu, ademais, os indícios de ilegalidade apontados pelo representante (peça 1,
p. 5) e pelo relator (peça 6, p. 4-5) referentes ao descumprimento do caput e do inciso I do § 1º, todos
do art. 3° da Lei 8.666/1993 c/c inciso II do art. 32 da Lei 13.303/2016, restando configurada a
afronta aos princípios da legalidade e da vantajosidade da licitação, e ocasionando indevidamente
aumento da despesa de entidades públicas e paraestatais com vales-alimentação e refeição.
41. Em vista disso, este Tribunal deve determinar ao MTb que anule a Portaria 1.287/2017,
abstendo-se de exigir a sua observância em relação aos contratos da administração pública federal e
das entidades do Sistema S, tendo em vista as irregularidades apuradas nesta representação,
divulgando essa determinação entre os empregadores credenciados no PAT.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
42. Ante o exposto, propõe-se:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos no
art. 235 c/c inciso III do art. 237, todos do Regimento Interno deste Tribunal e no § 1º do art. 103 da
Resolução-TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la procedente;
b) determinar ao Ministério do Trabalho, com fundamento no inciso II do art. 250 do Regimento
Interno deste Tribunal, que anule a Portaria 1.287/2017, abstendo-se de exigir a sua observância
relativamente aos contratos da administração pública federal e das entidades do Sistema S,
divulgando essa informação entre os empregadores credenciados no PAT, tendo em vista que restou
configurado o descumprimento do caput e do inciso I do § 1º, todos do art. 3° da Lei 8.666/1993 c/c
inciso II do art. 32 da Lei 13.303/2016, bem como a afronta aos princípios da legalidade e da
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vantajosidade da licitação, ocasionando indevidamente aumento da despesa de entidades públicas e
paraestatais com vales-alimentação e refeição;
c) dar ciência do acórdão que vier a ser proferido ao representante;
d) encaminhar cópia da deliberação à Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério
da Fazenda e à 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, para adoção
das providências que entenderem cabíveis;
e) arquivar o presente processo.”
É o relatório.
VOTO
Em exame representação oferecida pelo Ministério Público junto a esta Corte (MPTCU) contra a
Portaria 1.287/2017 do Ministério do Trabalho (MTb), alusiva à operacionalização do Programa de
Alimentação do Trabalhador (PAT).
2. A norma contestada proíbe a estipulação de taxas de serviço negativas nos contratos de
fornecimento de vales/cartões de alimentação, ou seja, proíbe que as empresas que atuam nesse
segmento de mercado cobrem de seus clientes (empregadores de mão de obra) preços inferiores ao
valor nominal dos títulos de crédito transacionados. Eis o teor da Portaria:
“Art. 1° No âmbito do Programa de Alimentação do Trabalhador, é vedada à empresa
prestadora a adoção de práticas comerciais de cobrança de taxas de serviço negativas às empresas
beneficiárias, sobre os valores dos créditos vinculados aos documentos de legitimação.
Art. 2° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.”
3. Para o Ministério do Trabalho, a vedação se justificaria porque a prática de taxas negativas –
estratégia comercial utilizada para atrair grandes clientes – causa prejuízo aos trabalhadores, porquanto
as empresas operadoras do serviço, para se compensarem dos “descontos” oferecidos aos contratantes
(empregadores), passam a cobrar mais de sua rede de varejistas credenciados (restaurantes,
supermercados), que, por sua vez, “repassam tais custos aos trabalhadores [via aumentos de preços],
reduzindo, ao final, o poder de compra dos vales”.
4. O MPTCU, no entanto, enfatizando a inexistência de previsão legal para a proibição, bem
assim a aparente ausência de “estudos que apontem e quantifiquem – ou, ao menos, estimem – eventual
redução do poder de compra do trabalhador em decorrência da prática de taxas negativas, tampouco
que a sua vedação, por si só, seria medida apta e necessária a coibir as alegadas distorções”, afirma
que a Portaria MTb 1.287 constitui:
“ato administrativo normativo proibitivo ofensivo à legalidade (art. 5º, inc. II, da CF) e à
razoabilidade e proporcionalidade (art. 2º da Lei 9.784/1999), por se mostrar aparentemente
desprovido de evidências quanto à sua adequação para o atingimento dos resultados objetivados,
quanto à sua necessidade, assim entendida como a ausência de medida alternativa tão ou mais eficaz
e menos onerosa, e mesmo quanto à proporcionalidade em sentido estrito entre o ônus imposto aos
empregadores participantes do PAT e os ganhos potenciais ao poder de compra do trabalhador, já
que não se verificou qualquer estimativa a esse respeito. Se, ao contrário, ocorreram tais estudos de
que ora se questiona, o ato, no mínimo, carece da devida motivação, nos termos dos arts. 2°, 29, § 1°,
e 50, inc. I e § 1°, da Lei 9.784/1999” (destaques do original).
5. Atendendo solicitação do Parquet, concedi, em 17/7/2018, após prévia oitiva do Ministério
do Trabalho, medida cautelar afastando os efeitos da Portaria 1.287/2017 sobre os contratos em vigor
firmados por órgãos e entidades da administração federal. A cautelar foi referendada pelo Acórdão
1.623/2018-Plenário.
6. Neste ínterim, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) requereu sua
habilitação nos autos como terceira interessada, o que lhe foi denegado por não restar demonstrada,
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para além de mero interesse econômico, “razão legítima de sua intervenção para a defesa de direito
subjetivo próprio”.
7. O Ministério do Trabalho, por seu turno, instado a se pronunciar sobre o mérito da
representação, limitou-se a reiterar a “lógica” que teria motivado a edição da Portaria 1.287/2017: “os
custos derivados das taxas negativas são repassados ao preço final dos produtos, [ocasionando] a
redução do poder de compra dos [títulos de crédito distribuídos aos] trabalhadores” (peças 10, 48 e
50). Paralelamente, com esteio no art. 9º do Decreto 5/1991, afirmou a competência exclusiva da Pasta
para “expedir instruções dispondo sobre a aplicação do regulamento do PAT”.
8. Em sua derradeira promoção, a Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e
da Assistência Social (SecexPrevi) conclui que “o MTb não apresentou elementos necessários e
suficientes para elidir os indícios de ilegalidade suscitados pelo representante”. Assim, tem por
procedente a representação e sugere que se determine ao Ministério a anulação da Portaria.
9. Em linhas gerais, acompanho, por seus fundamentos, as conclusões da unidade técnica.
10. O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) foi instituído pela Lei 6.321/1976,
prevendo incentivos fiscais para as pessoas jurídicas participantes.
11. Sua atual regulamentação encontra-se no Decreto 5/1991, que dispõe, no que aqui interessa:
“Art. 1° A pessoa jurídica poderá deduzir, do Imposto de Renda devido, valor equivalente à
aplicação da alíquota cabível do Imposto de Renda sobre a soma das despesas de custeio realizadas,
no período-base, em Programas de Alimentação do Trabalhador, previamente aprovados pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social - MTPS, nos termos deste regulamento.
(...)
§ 4° Para os efeitos deste Decreto, entende-se como prévia aprovação pelo Ministério do
Trabalho e da Previdência Social, a apresentação de documento hábil a ser definido em Portaria dos
Ministros do Trabalho e Previdência Social; da Economia, Fazenda e Planejamento e da Saúde.
........................................................................................................................................
Art. 6° Nos Programas de Alimentação do Trabalhador (PAT), previamente aprovados pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social, a parcela paga in natura pela empresa não tem
natureza salarial, não se incorpora à remuneração para quaisquer efeitos, não constitui base de
incidência de contribuição previdenciária ou do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e nem se
configura como rendimento tributável do trabalhador.
........................................................................................................................................
Art. 8° A execução inadequada dos programas de Alimentação do Trabalhador ou o desvio ou
desvirtuamento de suas finalidades acarretarão a perda do incentivo fiscal e a aplicação das
penalidades cabíveis.
Parágrafo único. Na hipótese de infringência de dispositivos deste regulamento, as autoridades
incumbidas da fiscalização no âmbito dos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social, da
Economia, Fazenda e Planejamento, e da Saúde aplicarão as penalidades cabíveis no âmbito de suas
competências.
Art. 9° O Ministério do Trabalho e da Previdência Social expedirá instruções dispondo sobre a
aplicação deste Decreto.”
12. Como se vê, em que pese a atribuição conferida ao Ministério do Trabalho (MTb) para
expedir instruções sobre a aplicação do Decreto (art. 9º), a norma regulamentar inequivocamente
restringe a competência da pasta, no que tange à operacionalização do PAT, à aprovação dos
respectivos pedidos de credenciamento (art. 1º e seu § 4º). O regramento do Programa, assim, inclusive
os requisitos para habilitação das empresas interessadas, deve ser definido conjuntamente pelos
Ministérios do Trabalho, da Fazenda e da Saúde.
13. Exatamente nesse sentido, aliás, a Portaria Interministerial 1/1997, subscrita pelos então
titulares dos três órgãos, estabeleceu:
462
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
“Art. 1º - Fica instituída, no âmbito do Ministério do Trabalho, Comissão Tripartite com a
finalidade de acompanhar e avaliar a execução do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT.
Art. 2º - Compete à Comissão Tripartite:
I - acompanhar e avaliar a execução do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT;
II - propor o aperfeiçoamento da legislação relativa ao PAT, principalmente no que tange ao
credenciamento das empresas prestadoras de serviço de alimentação coletiva (sistema-convênio) e à
definição das regras de utilização e aceitação dos documentos de legitimação;
III - elaborar estudos visando estabelecer regras para a fiscalização e a aplicação de
penalidades às empresas e estabelecimentos conveniados que executarem de modo inadequado o PAT,
conforme preceitua o art. 8º do Decreto nº 05, de 4 de janeiro de 1991;
IV - propor diretrizes para o aperfeiçoamento gradativo do documento de legitimação, visando
a transformá-lo em cartão eletrônico;
V - avaliar as propostas de medidas legislativas encaminhadas ao Ministério do Trabalho
atinentes ao PAT;
VI - elaborar o seu regimento interno, a ser aprovado pelo Ministro de Estado do Trabalho.
Parágrafo único - Os estudos e sugestões serão submetidos à apreciação dos Ministros de
Estado do Trabalho, da Fazenda e da Saúde.
Art. 3º - Integram a Comissão:
I - um representante do Ministério do Trabalho, que a presidirá;
II - um representante do Ministério da Fazenda;
III - um representante do Ministério da Saúde;
IV - três representantes dos trabalhadores;
V - três representantes dos empregadores.”
14. Essa Portaria, cumpre anotar, foi substituída pela Portaria Interministerial 6/2005, assinada
pelos Ministros do Trabalho, da Fazenda, da Saúde, da Previdência Social e do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, de teor essencialmente idêntico, em particular no que tange à competência
firmada no inciso II do art. 2º, acima reproduzido.
15. Num tal cenário, parece-me evidente falecer ao MTb competência para instituir ou modificar,
unilateralmente, regras de utilização e aceitação dos documentos de legitimação do Programa,
precisamente o escopo da Portaria 1.287/2017, ora impugnada.
16. Não fora isso, o fato é que, a despeito das diversas oportunidades que lhe foram conferidas, o
Ministério do Trabalho em momento algum trouxe aos autos estudos técnicos, econômicos e jurídicos
aptos a sustentar o ato normativo questionado.
17. Na realidade, a motivação da Portaria 1.287/2017 se esgota no quanto apresentado na Nota
Técnica 58/2017, documento de pouco mais de duas laudas que impressiona pela singeleza e
superficialidade, mormente quando contrastado com a dimensão do PAT:
- mercado estimado em mais de R$ 80 bilhões por ano(1);
- gasto tributário superior a R$ 800 milhões(2);
- mais de 250 mil empresas participantes(3); e
- universo superior a 20 milhões de trabalhadores beneficiados(3).
(1)
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2018/03/01/internas_economia,663020/reforma-pode-
triplicar-mercado-de-beneficios-avalia-ceo-da-alelo.shtml; (2) página da Receita Federal; (3) página do Ministério do
Trabalho.
18. Ora, é intuitivo que a adoção de taxas de administração negativas pelas empresas
fornecedoras de vales alimentação/refeição afeta sua estrutura de custos; porém, como anotou o
Ministério Público,
463
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
“Não é possível afirmar, aprioristicamente, se e em que medida esse acréscimo de custos (...)
seria repassado ao varejo alimentício, por meio da majoração das ‘taxas de serviço’ cobradas por
aquelas empresas, e, ato contínuo, a todos os consumidores, trabalhadores beneficiados pelo PAT ou
não. Isso dependerá das condições de concorrência dos mercados envolvidos e de fatores como a
elasticidade dos preços. Há, por certo, um limite quanto ao valor cobrado a título de ‘taxa de serviço’
a partir do qual deixa de ser vantajoso aos varejistas conveniarem-se com as empresas fornecedoras
de vales-alimentação/refeição, e, a depender das condições de concorrência, nada impede que as
taxas cobradas se aproximem desse limite, haja ou não a prática da ‘taxa negativa’, cujos custos
poderão ter efeito tão somente na margem de lucro da administradora do benefício alimentício.”
19. A necessidade de debate mais abrangente sobre a matéria, com a participação dos diversos
atores envolvidos – tanto do governo quanto da sociedade civil (e não apenas de um pequeno grupo de
administradoras de benefícios, como se verificou na espécie) –, foi acentuada pelo juízo da 17ª Vara do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região nos autos da ação ordinária 5022757-98.2018.4.02.5101:
“A observância das cautelas previstas na Portaria 1.127/2003 e na Portaria Interministerial
6/2005 para a fixação do regramento aplicável ao Programa de Alimentação do Trabalhador - a
exemplo do debate das alterações normativas perante a Comissão Tripartite Paritária e pelo
respectivo Grupo Técnico - é importante para que haja o necessário equilíbrio entre os interesses
envolvidos em questão, tendo em vista tratar-se de matéria sensível e capaz de produzir relevantes
impactos sociais. A ausência de maior discussão durante o processo de elaboração da norma em
avilte encontra-se corroborada no trecho citado da Nota Técnica 45/2018, quando se afirma que a
Portaria 1.287/2017 não foi submetida ao debate pelas comissões competentes haja vista a
necessidade de se atender demanda das próprias empresas que atuam no segmento de benefícios ao
trabalhador. Nesse ponto, impressiona-me a ausência de justificativa relacionada aos eventuais
benefícios da alteração normativa proposta em favor do próprio funcionamento do PAT e dos
interesses dos trabalhadores a serem albergados pelo referido ato.”
20. As implicações da Portaria 1.287/2017 para a administração pública, em particular, foram
bem situadas pelo ilustre Procurador Rodrigo Medeiros de Lima:
“a vedação à prática de taxas negativas causará prejuízo concreto, substancial e iminente às
entidades públicas ou paraestatais, caracterizado pela eliminação da espécie de remuneração que as
referidas taxas representam para os empregadores participantes do PAT, por estarem sendo
impedidas de monetizar um ativo de que dispõem, qual seja o volume de benefícios alimentícios pago
a seus empregados.”
21. O problema se agrava quando se considera a hipótese de incidência da norma sobre contratos
em execução, consoante sinalizado pela Nota Técnica 45/2018 da Divisão do Programa de
Alimentação do Trabalhador do Ministério (peça 1, p. 42-46), em patente violência ao ato jurídico
perfeito e dando azo, em princípio, ao enriquecimento sem causa das administradoras, isso em
detrimento dos empregadores contratantes, entre eles empresas públicas, autarquias corporativas e
entidades paraestatais.
22. A propósito, ao interferir, por via transversa, na ordem econômica, a Portaria MTb
1.287/2017, no que mais especialmente interessa a esta Corte de Contas, restringe a competividade do
setor de vales alimentação, mitigando, em consequência, os efeitos da legislação de regência das
compras públicas:
Lei 8.666/1993
“Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia,
a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são
correlatos.
464
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
§ 1o É vedado aos agentes públicos:
I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que
comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades
cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da naturalidade, da sede ou
domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o
específico objeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei
no 8.248, de 23 de outubro de 1991”.
Lei 13.303/2016
“Art. 32. Nas licitações e contratos de que trata esta Lei serão observadas as seguintes
diretrizes:
............................................................................................................................................
II - busca da maior vantagem competitiva para a empresa pública ou sociedade de economia
mista, considerando custos e benefícios, diretos e indiretos, de natureza econômica, social ou
ambiental, inclusive os relativos à manutenção, ao desfazimento de bens e resíduos, ao índice de
depreciação econômica e a outros fatores de igual relevância.”
23. Procedente, pois, a representação.
24. Destarte, tratando-se de ato ilegal produzido por unidade jurisdicionada a esta Corte Contas,
cumpre, nos termos do art. 71, inciso IX, da Constituição Federal, “assinar prazo para que o órgão
adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei”, consistentes, no caso, na anulação da
Portaria 1.287/2017.
25. Diante do exposto, voto no sentido de que este Colegiado adote a deliberação que ora
submeto à sua apreciação.
ACÓRDÃO Nº 2619/2018 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 011.577/2018-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Representação
3. Representante: Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (Procurador Rodrigo
Medeiros de Lima).
4. Órgão: Ministério do Trabalho.
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência
Social (SecexPrevi).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação envolvendo a operacionalização do
Programa de Alimentação do Trabalhador,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, com
fulcro no art. 237, inciso VII e parágrafo único, do Regimento Interno, e diante das razões expostas
pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. determinar ao Ministério do Trabalho que, nos termos do art. 45 da Lei 8.443/1992, c/c o art.
71, inciso IX, da Constituição Federal, promova, no prazo de 15 (quinze) dias contado a partir da
ciência desta deliberação, a anulação da Portaria MTb 1.287/2017;
9.3. dar ciência desta deliberação ao Ministério do Trabalho e ao representante;
465
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.4. autorizar o oportuno arquivamento dos autos.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2619-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler (Relator), Augusto
Nardes, Aroldo Cedraz, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I – CLASSE VII – Plenário
TC 024.230/2018-9
Natureza: Representação (com pedido de medida cautelar).
Representantes: Link Card Administradora de Benefícios Eireli (CNPJ 12.039.966/0001-11);
Prime Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. (CNPJ: 05.340.639/0001-30).
Unidade jurisdicionada: Companhia Energética do Piauí (Cepisa) (CNPJ: 06.840.748/0001-89).
Advogados constituídos nos autos: Décio Flávio Gonçalves Torres Freire (12.170/OAB-AL);
Amélia Lúcia Brandão Araújo (OAB/PI 6.527); Danilo Sá Urtiga Nogueira (OAB/PI 4.961); e outros.
SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO FORMULADA COM BASE NO ART. 113, § 1º, DA LEI Nº
8.666/93. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.
CONHECIMENTO. PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR PARA SUSPENSÃO DO CERTAME.
OITIVA PRÉVIA. DILIGÊNCIA. REVOGAÇÃO DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO POR
INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO. PRIVATIZAÇÃO DA UNIDADE JURISDICIONADA.
PERDA DE OBJETO. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR.
ARQUIVAMENTO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Trata-se de Representação formulada por licitantes, com pedido de concessão de medida
cautelar suspensiva do certame, noticiando possíveis irregularidades no edital do Pregão Eletrônico
17/2018-Serviços/Cepisa, promovido pela Companhia Energética do Piauí, tendo como objeto a
contratação de empresa para a prestação de serviços de gerenciamento informatizado de
abastecimento, por meio do uso da tecnologia de cartões chipados, paralelamente com o
credenciamento de posto de combustíveis.
2. Por meio do despacho de peça 26, acolhi parcialmente a proposta inicial da Secex/PI, de
conhecimento da representação. Entretanto, entendendo que os elementos jungidos aos autos não
seriam suficientes para a concessão da medida pleiteada, determinei a promoção de diligência e da
oitiva prévia dos responsáveis pela condução do Pregão, nos termos a seguir transcritos:
2. De início, acolho o exame de admissibilidade da unidade técnica e conheço da Representação, por
adimplir os requisitos estabelecidos no art. 113, § 1º, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 235 e 237, inciso VII e parágrafo único, do Regimento Interno.
3. A Secex-PI, em instruções uniformes (peças 24-25), manifestou-se pela concessão da medida cautelar,
inaudita altera pars, considerando presentes os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora.
466
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
4. Consoante os termos da Representação, as licitantes alegam falhas no edital, com cláusulas tendentes a
restringir a competitividade e a dificultar a obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração, conforme
resumido a seguir: i) sigilo do orçamento estimado, em suposta violação ao princípio do julgamento objetivo; ii)
escolha incorreta do critério de julgamento; iii) inexistência do requisito de regularidade trabalhista; e iv) exigência indevida de lista de estabelecimentos credenciados na fase de habilitação (ocorrência que já teria sido
saneada pela Pregoeira, em face de impugnação promovida por outra licitante).
5. Passo a decidir. 6. Assiste razão parcial à unidade técnica, eis que verificados razoáveis indícios de falhas na condução do
procedimento licitatório, com potencial de restringir o caráter competitivo, impedindo-se, em tese, a
participação de mais empresas e a consequente obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração.
7. Entretanto, embora a instrução da Secex-PI (9/8/2018) tenha tratado da caracterização dos pressupostos para a concessão da medida cautelar, não há maiores informações sobre a fase em que se encontra o certame e
sobre seu atual processamento, exceto por uma impugnação do edital, acolhida pela pregoeira em 6/8/2018, o
que permite inferir que o procedimento passou por reformulação. Também não há notícias de eventual finalização do processo, demais recursos supervenientes, prazos para a contratação, início da execução e
eventuais prejuízos à contratante, o que impossibilita, a meu ver, a formulação de juízo exauriente quanto ao
periculum in mora reverso. 8. Nessa seara, ausentes demais registros atualizados do certame, e tendo em vista que a pregoeira já
promoveu ajustes parciais no Pregão (peça 22), entendo necessário o aprofundamento da análise quanto ao
pressuposto do perigo da demora reverso, pois não restou evidenciado se o serviço é essencial ao funcionamento
das atividades da entidade; se já existe cobertura contratual prévia, possibilitando o retorno de fase ou refazimento do certame caso concedida a cautelar; e, na eventualidade de manutenção do contrato atual (se
existir), se as condições seriam melhores do que as que se pretende com a licitação atual. São questões que
demandam esclarecimentos. 9. Consoante o art. 276 do Regimento Interno, o Relator poderá, em caso de urgência, de fundado receio
de grave lesão ao Erário, ao interesse público, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, de ofício ou
mediante provocação, adotar medida cautelar, determinando a suspensão do procedimento impugnado, até que o
Tribunal julgue o mérito da questão. 10. Analisando os elementos apresentados pelas representantes e a instrução da Secex-PI, embora a
unidade técnica verifique presentes os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora, a permitir a
concessão de medida cautelar, demais da referida medida não exigir cognição exauriente da matéria, bastando um juízo de mera verossimilhança para a verificação da plausibilidade jurídica que a ampare, consubstanciada
nas impropriedades verificadas na condução do certame, com efeitos sobre a competitividade e a contratação da
proposta mais vantajosa para a Administração, não vislumbro elementos suficientes para afastar, de plano, o perigo da demora reverso, conforme já esclarecido. Assim, pugno por que seja realizada a oitiva prévia da
entidade e diligências complementares ao feito.
11. Nesse contexto, as informações trazidas aos autos são suficientes para embasar o conhecimento da
causa, mas não permitem adentrar, com segurança, o exame de mérito quanto à efetiva consumação de ilicitudes, eis que ausentes, como já anotado, informações pormenorizadas e atuais sobre o Pregão e sobre as
providências finais de contratação no âmbito da Cepisa.
12. Desse modo, reportando-me ao art. 276 do Regimento Interno, entendo ser mais consentânea, no momento, a promoção da oitiva prévia, à luz do § 2º do referido diploma, em substituição à modalidade
inaudita altera pars com suspensão liminar do processo de contratação.
13. Tal medida, ao mesmo tempo em que não traz maiores prejuízos à eficácia de eventual decisão cautelar caso os argumentos apresentados não sejam aptos a elidir os indícios de irregularidades apontados, visa
a garantir a ampla defesa à entidade e a seus gestores, permitindo que a análise da medida em tela considere,
porventura, aspectos não evidenciados na inicial.
14. Assim, determino, com fulcro no § 2º do art. 276 do Regimento Interno, a oitiva prévia da
Companhia Energética do Piauí para que, no prazo de 5 (cinco) dias, prorrogáveis, contado da notificação,
com o alerta sobre a possibilidade de o TCU vir a adotar a medida pleiteada, pronuncie-se acerca da existência
dos pressupostos da cautelar e sobre os indícios de irregularidades indicados na instrução preliminar (peça 24), sem prejuízo de que apresente demais informações que julgar necessárias e designe formalmente
interlocutor junto a esta Corte.
467
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
15. Em acréscimo, autorizo, com fundamento no art. 157 do Regimento Interno, a realização de
diligência, para que a Cepisa, no prazo de 5 (cinco) dias, prorrogáveis, contado da notificação, encaminhe ao
Tribunal os seguintes documentos/informações: a) edital completo e atualizado do certame; b) atual estágio do
Pregão, com as respectivas atas e eventuais recursos interpostos, se for o caso; c) contrato atualmente vigente para execução do objeto da contratação pretendida, se existir; e d) outras informações que julgar cabíveis sobre
a matéria, indicando interlocutor para dirimir eventuais dúvidas, com nome, cargo/função, telefone e e-mail de
contato.
3. Em resposta à diligência e oitiva prévia, foi encaminhada, pela Cepisa, a documentação
pertinente, cuja análise da unidade técnica concluiu, em uníssono (peças 38-39), pelo arquivamento do
processo, por perda de objeto, tendo em vista a superveniente revogação do certame por interesse da
Administração, bem assim o fato de a unidade jurisdicionada Eletrobrás Distribuição Piauí ter sido
recentemente privatizada, consoante os termos da instrução final de mérito transcrita a seguir (peça
37):
INTRODUÇÃO 1. Cuidam os autos de representação, com pedido de medida cautelar, formulada pelas empresas Link
Card Administradora de Benefícios Eireli (CNPJ 12.039.966/0001-11) e Prime Consultoria e Assessoria
Empresarial Ltda. (CNPJ: 05.340.639/0001-30) a respeito de possíveis irregularidades no edital do Pregão Eletrônico 17/2018-Serviços/Cepisa, realizado pela Companhia Energética do Piauí (Cepisa), com o objetivo de
contratar empresa para prestação de serviços de gerenciamento informatizado do abastecimento, através do uso
da tecnologia de cartões chipados, paralelamente com o credenciamento de posto de combustíveis, no âmbito de
todo o Estado do Piauí.
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
2. Inicialmente, deve-se registrar que as representações preenchem os requisitos de admissibilidade
constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU, haja vista a matéria ser de competência do Tribunal, referir-se a responsável sujeito a sua jurisdição, estarem redigidas em linguagem clara e objetiva, conter nome
legível, qualificação e endereço do representante, bem como encontrarem-se acompanhadas do indício
concernente à irregularidade ou ilegalidade. 3. Além disso, as empresas Link Card e Prime Consultoria possuem legitimidade para representar ao
Tribunal, consoante disposto no inciso VII do art. 237 do RI/TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993.
4. Ainda, conforme dispõe o art. 103, § 1º, in fine, da Resolução – TCU 259/2014, verifica-se a existência
do interesse público no trato da suposta irregularidade, pois as falhas apontadas pelo representante no edital do certame promovido pela Cepisa poderiam, em tese, causar prejuízo à competitividade da licitação, e
consequentemente, ao interesse público para a escolha mais vantajosa à Administração.
5. Dessa forma, as representações poderão ser apuradas, para fins de comprovar a sua procedência, nos termos do art. 234, § 2º, segunda parte, do Regimento Interno do TCU, aplicável às representações de acordo
com o parágrafo único do art. 237 do mesmo RI/TCU.
HISTÓRICO
6. As licitantes Link Card Administradora de Benefícios Eireli (CNPJ 12.039.966/0001-11) e Prime Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. (CNPJ: 05.340.639/0001-30) impetraram Representação junto ao
Tribunal face indícios de irregularidades no Pregão Eletrônico 17/2018-Serviços/Cepisa, realizado pela
Companhia Energética do Piauí (Cepisa), com o objetivo de contratar empresa para prestação de serviços de gerenciamento informatizado do abastecimento, através do uso da tecnologia de cartões chipados, paralelamente
com o credenciamento de posto de combustíveis, no âmbito de todo o Estado do Piauí.
7. A licitante Link Card suscitou as seguintes irregularidades: sigilo do orçamento estimado; escolha incorreta do critério de julgamento; e inexistência do requisito de regularidade trabalhista. Já Prime Consultoria
suscitou as seguintes: apresentação de rede credenciada junto com a proposta; e ausência do valor estimado.
8. Em instrução de peça 24, foi proposta a adoção de medida cautelar para a suspensão do procedimento
licitatório, tendo em vista a as irregularidades relativas ao sigilo do orçamento estimado (ausência dos quantitativos de todos os combustíveis) e à possível escolha incorreta do critério de julgamento (o qual não
permitiria inferir o preço real da contratação e como se dariam os pagamentos), falhas estas passíveis de
prejudicar a competitividade do certame e a obtenção da proposta mais vantajosa.
468
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9. O Relator, no entanto, entendeu necessário o aprofundamento da análise quanto ao pressuposto do
perigo da demora reverso, tendo determinado a oitiva prévia da Cepisa, a fim de se pronunciar acerca da
existência dos pressupostos da cautelar e sobre os indícios de irregularidades indicados na instrução preliminar
acostada à peça 24 (peça 26). 10. Além disso, o Ministro autorizou a realização de diligências para encaminhamento dos seguintes
documentos/informações: a) edital completo e atualizado do certame; b) atual estágio do Pregão, com as
respectivas atas e eventuais recursos interpostos, se for o caso; c) contrato atualmente vigente para execução do objeto da contratação pretendida, se existir; e d) outras informações que julgar cabíveis sobre a matéria,
indicando interlocutor para dirimir eventuais dúvidas, com nome, cargo/função, telefone e e-mail de contato
(peça 26).
11. A oitiva foi encaminhada via o Ofício 1.187/2018-TCU/SECEX-PI, de 23/8/2018, enquanto a diligência foi realizada via Ofício 1.188/2018-TCU/SECEX-PI, de 23/8/2018 (peça 28 e 27, respectivamente),
conforme ciências de comunicação acostadas à peça 29 e 30. As respostas estão acostadas à peça 34. Frisa-se
que foi solicitado prorrogação de prazo, sendo deferida pela Secex/PI (peças 32 e 33). 12. Especificamente, o edital está à peça 34, p.21-39 e os esclarecimentos deste estão na peça 34, p. 11-
20; a declaração do estágio atual está à peça 34, p. 6; os contratos estão à peça 34, p. 40-51; 53-65 e 81; e a
indicação de interlocutor está à peça 34, p. 52. 13. Destaca-se que, estando os autos nesta Secretaria, foi encaminhada pela Cepisa documentação
(Resolução 168/2018 da Diretoria Executiva, de 25/9/2018) informando a revogação, por interesse da
Administração Pública, do Pregão 17/2018, assim como de diversos outros certames, possivelmente devido à
recente privatização desta empresa (peças 35 e 36).
EXAME TÉCNICO
14. Considerando a superveniente revogação do Pregão 17/2018, bem como o fato de que a unidade
jurisdicionada Eletrobrás Distribuição Piauí foi recentemente privatizada e, por esse motivo, não haverá outros procedimentos licitatórios que, eventualmente, possam vir a repetir as irregularidades verificadas nestes autos,
entende-se cabível o arquivamento do presente processo por perda do objeto, com fundamento no art. 169,
inciso III, do Regimento Interno.
CONCLUSÃO 15. Os documentos constantes das peças 1 e 11 e 12 a 21 devem ser conhecidos como representação, por
preencherem os requisitos previstos nos arts. 235 e 237, VII, do Regimento Interno/TCU, c/c o art. 113, § 1º, da
Lei 8.666/1993 e no art. 103, § 1º da Resolução – TCU 259/2014. 16. A partir das informações prestadas pela Cepisa, dando conta da revogação do Pregão 17/2018,
entende-se cabível o arquivamento do presente processo por perda do objeto, com fundamento no art. 169,
inciso III, do Regimento Interno.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
17. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235
e 237, VII, do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, §1º, da Lei 8.666/1993 e no art. 103, § 1º, in fine, da Resolução - TCU 259/2014;
b) arquivar o presente processo por perda de objeto, com fundamento no art. 169, inciso III, do
Regimento Interno; e c) dar ciência da decisão que vier a ser adotada às representantes e à representada.
É o Relatório.
VOTO
De início, registro que a representação formulada pelas empresas Link Card Administradora de
Benefícios Eireli e Prime Consultoria e Assessoria empresarial Ltda., com pedido de concessão de
medida cautelar suspensiva do certame, na qual foram noticiadas supostas irregularidades no Pregão
Eletrônico 17/2018-Serviços/Cepisa, tendo como objeto a contratação de empresa para a prestação de
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
serviços de gerenciamento informatizado de abastecimento, paralelamente com o credenciamento de
posto de combustíveis, merece ser conhecida, porquanto preenchidos os requisitos de admissibilidade
aplicáveis à espécie.
2. Como visto no relatório, a Secex-PI examinou detidamente a documentação relativa ao
certame, encaminhada a este Tribunal pela Cepisa, em cotejo com as alegações das representantes,
concluindo pelo arquivamento do processo por perda de objeto, tendo em vista a revogação do pregão
por interesse da Administração, e considerando também o fato de a unidade jurisdicionada ter passado
por recente processo de privatização.
3. Com efeito, os elementos coligidos aos autos permitem concluir que assiste razão à unidade
técnica em sua instrução de mérito, cujos fundamentos incorporo às minhas razões de decidir, devendo
o processo ser arquivado.
4. Nesse seara, de perda de objeto do processo, deve ainda ser indeferido o pedido de concessão
da medida cautelar pleiteada.
Ante o exposto, manifestando concordância com a proposta constante dos autos, VOTO por que
o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à elevada consideração do Plenário.
ACÓRDÃO Nº 2620/2018 – TCU – Plenário
1. Processo TC 024.230/2018-9.
2. Grupo: I - Classe de Assunto: VII – Representação (com pedido de medida cautelar).
3. Interessadas: Link Card Administradora de Benefícios Eireli (CNPJ 12.039.966/0001-11);
Prime Consultoria e Assessoria Empresarial Ltda. (CNPJ: 05.340.639/0001-30).
4. Unidade jurisdicionada: Companhia Energética do Piauí - Cepisa (CNPJ: 06.840.748/0001-
89).
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Piauí (Secex-PI).
8. Advogados constituídos nos autos: Décio Flávio Gonçalves Torres Freire (12.170/OAB-AL);
Amélia Lúcia Brandão Araújo (OAB/PI 6.527); Danilo Sá Urtiga Nogueira (OAB/PI 4.961); e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Representação formulada por licitantes, com
pedido de concessão de medida cautelar suspensiva do certame, noticiando possíveis irregularidades
no edital do Pregão Eletrônico 17/2018-Serviços/Cepisa, tendo como objeto a contratação de empresa
para a prestação de serviços de gerenciamento informatizado de abastecimento, por meio do uso da
tecnologia de cartões chipados, paralelamente com o credenciamento de posto de combustíveis.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da Representação, por adimplir os requisitos de admissibilidade estabelecidos no
art. 113, § 1º, da Lei 8.666/93, c/c os arts. 235 e 237, do Regimento Interno do TCU, para, no mérito,
considerá-la prejudicada, por perda de objeto;
9.2. indeferir o pedido de concessão de medida cautelar para a suspensão do pregão;
9.3. determinar o arquivamento do presente processo, nos termos do art. 169, inciso III, do
Regimento Interno/TCU;
9.4. dar ciência da presente deliberação à representante e à Companhia Energética do Piauí.
10. Ata n° 45/2018 – Plenário.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
11. Data da Sessão: 14/11/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2620-45/18-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Benjamin Zymler, Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz (Relator), José Múcio Monteiro e Ana Arraes.
13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.
GRUPO I - CLASSE I - Plenário
TC 026.069/2008-4
Natureza: Embargos de Declaração (Relatório de Acompanhamento).
Unidade jurisdicionada: Secretaria do Tesouro Nacional.
Embargante: Ministério Público junto ao TCU.
Representação legal: não há.
SUMÁRIO: RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO. DETERMINAÇÕES. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO. OBSCURIDADE. CONHECIMENTO. ACOLHIMENTO PARCIAL.
ESCLARECIMENTOS. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Adoto como Relatório a bem lançada instrução do auditor federal de controle externo
responsável pela análise do processo no âmbito da Secretaria de Recursos (peça 33), cuja proposta de
encaminhamento contou com a aprovação do corpo dirigente da referida unidade técnica (peças 34-
35):
“INTRODUÇÃO
1. Trata-se de embargos de declaração (peça 14), interpostos pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas (MPTCU), na pessoa do Procurador Lucas Rocha Furtado, contra o Acórdão 158/2012 – Plenário (peça
6, p. 52-54), relatado pelo Ministro Raimundo Carreiro, com o seguinte teor:
9.1. determinar à Secretaria do Tesouro Nacional (STN), na qualidade de Órgão Central do Sistema de
Contabilidade da União, que: 9.1.1. oriente as setoriais contábeis para que, quando da verificação do enquadramento dos empenhos não
liquidados às hipóteses listadas nos incisos do art. 35 do Decreto nº 93.872/86, avaliem se as referidas despesas
orçamentárias transcorreram, sob a ótica patrimonial, o estágio do fato gerador; 9.1.2. estabeleça sistemática de verificação dos empenhos não liquidados, de forma que seja possível,
quando da inscrição dos mesmos em restos a pagar, identificá-los/classificá-los em “restos a pagar exigíveis” ou
“restos a pagar não exigíveis”; 9.1.3. oriente as setoriais contábeis para que, caso não seja possível verificar se os empenhos não
liquidados transcorreram, sob a ótica patrimonial, o estágio do fato gerador, inscrevam os respectivos valores
em “restos a pagar exigíveis”, registrando-os como despesa sob a ótica patrimonial;
9.1.4. abstenha-se de retificar no Balanço Patrimonial o montante dos “restos a pagar exigíveis”, registrando-os como despesa sob a ótica patrimonial;
9.1.5. ante o disposto no art. 43, §§ 1º e 2º, da Lei nº 4.320/1964, volte a executar, para os “restos a pagar
não exigíveis”, a rotina de retificação de “restos a pagar” utilizada anteriormente ao ano de 2007; 9.1.6. adote as providências necessárias para que todos os órgãos que arrecadem receitas públicas
registrem no SIAFI e evidenciem, até 31/12/2012, mensalmente, em contas do ativo do Balanço Patrimonial, o
estoque de créditos a receber, de natureza tributária e não tributária;
471
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
9.1.7. avalie a necessidade de integração com o SIAFI dos sistemas de informação dos órgãos que
arrecadam receitas públicas, com vistas ao registro tempestivo e automático dos créditos a receber, considerando
a relação custo/benefício dessa integração, apresentando a este Tribunal os resultados, no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias, acompanhado de cronograma de implantação; 9.1.8. em conjunto com as setoriais contábeis, realize conciliação periódica, até o fechamento contábil do
mês de referência, entre os saldos contábeis dos créditos, de natureza tributária e não tributária, registrados no
Ativo, com os valores de estoque de créditos dos sistemas de informação dos órgãos que arrecadam receitas públicas;
9.2. recomendar à Secretaria do Tesouro Nacional que:
9.2.1. verifique junto às unidades competentes, inclusive de outros Poderes, sobre as necessidades de
melhorias na rotina de registro da folha de pagamento, considerando as seguintes situações: a) no caso de servidor cedido sem ônus, hoje os usuários têm que manter um controle manual dos valores
pagos, pois não há mais o controle por conta corrente (CPF), apenas o valor total de todos os servidores cedidos.
Assim, não é possível saber o valor a ser ressarcido ao Órgão cedente por cada órgão cessionário, caso seja preciso solicitar esse ressarcimento;
b) o fato de não aparecer a célula orçamentária, antes representada pela nota de empenho, na Nota de
Sistema - NS gerada para o usuário dificulta o trabalho de conferência. O servidor entra no SIAFI, na transação CONFOLHA e analisa as informações no próprio computador, olhando as telas de despesas dentro do
CONFOLHA no SIAFI. Outra conta contábil utilizada para conferência da folha é 29.213.03.01 – Crédito Pago
da Folha, mas nesta conta o saldo somente é registrado após a emissão dos documentos financeiros na transação
CONFLUXO (Ordem Bancária, DARF, GPS, etc.); c) no documento FR, de reclassificação de despesa, utilizado para correção de lançamentos, deveria haver
um número maior de linhas a serem contabilizadas, pois há apenas quatro linhas. Sugere-se um mínimo de doze
linhas; d) transação CONFLUXO, após a homologação do documento FL, deveria continuar permitindo efetuar a
realização dos demais documentos, não relacionados com folha de pagamento, por meio da classificação por
credor ou por data e não apenas pelo número do documento hábil. Isso facilita a homologação em dias em que
há folha de pagamento de pessoal, diárias e fornecedores, por exemplo, a serem pagos. 9.2.2. oriente os órgãos quanto à constituição das provisões respectivas, ressaltando a sua importância,
bem como divulgando melhor a rotina de lançamento e a forma de cálculo do montante dessas reservas.
9.2.3. que, em atenção ao disposto na Lei Complementar nº 131/2009 e Resolução CFC nº 1133/2008, alterada pela Resolução CFC nº 1268/2009, inclua em notas explicativas informações relativas aos montantes da
receita reconhecida e da receita arrecadada no exercício.
9.3. encaminhar cópia deste acórdão, relatório e voto: ao Ministro de Estado da Fazenda, ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, à Secretaria do Tesouro Nacional, à Secretaria de Orçamento
Federal, à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional, à Comissão
de Assuntos Econômicos do Senado Federal, à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, à
Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, aos Tribunais de Contas Estaduais, aos Tribunais de Contas dos Municípios e ao Conselho Federal de Contabilidade;
9.4. arquivar os autos.
HISTÓRICO 2. Trata-se, originariamente, de acompanhamento realizado pela Secretaria de Macroavaliação
Governamental (Semag), com o objetivo de avaliar a legalidade de alterações em procedimentos contábeis que
provocaram impactos nos demonstrativos contábeis exigidos pela Lei 4.320/1964, bem como das Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público.
2.1. O relatório de acompanhamento apontou as seguintes alterações promovidas pela Secretaria do
Tesouro Nacional (STN) nos procedimentos contábeis:
- alterações na contabilização das receitas fonte tesouro; - registro de passivo sem lastro orçamentário;
- alteração da rotina de inscrição de restos a pagar não processados;
- alteração na rotina de suprimento de fundos; - alteração na rotina de folha de pessoal;
- alteração da forma de contabilização do resultado do exercício dos fundos.
472
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
2.2. Os técnicos trataram, também, de alterações que, à época, encontravam-se em estudos na STN, em
especial o estabelecimento do regime de competência para o reconhecimento de receitas e despesas.
2.3. A equipe de acompanhamento entendeu legais a maioria das alterações promovidas na contabilidade
pública pela STN, com exceção de alguns aspectos pontuais. Em relação ao que interessa ao presente recurso, assim se manifestaram os técnicos, conforme consta no relatório do acórdão recorrido (peça 6, p. 31):
8.6 . A Lei nº 4.320/64 também veda, no art. 39, a adoção do regime de competência para a receita e
estabelece, no art. 35, o reconhecimento no momento da arrecadação. A LRF exige o registro pelo regime de competência somente para as despesas e obrigações, não para as receitas. Ademais, o registro por competência
de tributos em que se opera o lançamento por homologação fica impossibilitado em vista da necessária
individuação do devedor e respectiva importância para escrituração dos respectivos créditos, conforme dispõe o
art. 88 da Lei nº 4.320/64. 2.4. Após oitiva da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
(PGFN) acerca das conclusões da Semag e análise das considerações encaminhadas pelos órgãos, o Tribunal,
por meio do Acórdão 158/2012 – Plenário (peça 6, p. 52-54), proferiu determinações e recomendações aos órgãos envolvidos, na forma transcrita na introdução acima.
2.5. Com o objetivo de sanear o julgado, o ilustre representante do Ministério Público junto ao TCU,
Lucas Rocha Furtado, opôs os presentes embargos de declaração, requerendo o conhecimento e acolhimento do pedido, com a finalidade de esclarecer que (peça 14, p. 3):
a) o regime de contabilização da receita estabelecido no art. 6° da Portaria Conjunta 3 da Secretaria do
Tesouro Nacional e da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
de 14/10/2008, deve ser utilizado apenas para efeito de melhor acompanhamento e controle dos créditos a receber pela União, devendo o regime de caixa continuar sendo aplicado para os balanços da Lei 4.320/1964;
b) a mencionada portaria somente é de obediência obrigatória para a Administração Pública Federal,
sendo facultada a sua adoção pelos demais entes da federação.
ADMISSIBILIDADE
3. Reitera-se o exame preliminar de admissibilidade (peças 22-23), que concluiu pelo conhecimento do
recurso, suspendendo-se os efeitos dos itens 9.1 e 9.2 do Acórdão 158/2012 - Plenário, relatado pelo Ministro
Raimundo Carreiro, eis que preenchidos os requisitos processuais aplicáveis à espécie.
MÉRITO
4. Delimitação
4.1. Constituem objetos do recurso as seguintes questões: Se o regime de contabilização da receita estabelecido no art. 6° da Portaria Conjunta STN/SOF 3, de 14/10/2008, deve ser utilizado apenas para efeito de
melhor acompanhamento e controle dos créditos a receber pela União, devendo o regime de caixa continuar
sendo aplicado para os balanços da Lei 4.320/1964 e se a mencionada portaria somente é de obediência obrigatória para a Administração Pública Federal, sendo facultada a sua adoção pelos demais entes da federação
(peça 14);
5. Regime de contabilização da receita estabelecido no art. 6° da Portaria Conjunta STN/SOF 3, de
14/10/2008, utilização apenas para efeito de melhor acompanhamento e controle dos créditos a receber
pela União, devendo o regime de caixa continuar sendo aplicado para os balanços da Lei 4.320/1964,
obediência obrigatória para a Administração Pública Federal e facultada pelos demais entes da federação
(peça 14); 5.1. O recorrente afirma que o regime de contabilização da receita estabelecido no art. 6° da Portaria
Conjunta STN/SOF 3, de 14/10/2008, deve ser utilizado apenas para efeito de melhor acompanhamento e
controle dos créditos a receber pela União, devendo o regime de caixa continuar sendo aplicado para os balanços da Lei 4.320/1964, além de a mencionada portaria ser de obediência obrigatória apenas para a
Administração Pública Federal, sendo facultada a sua adoção pelos demais entes da federação, o que impõe
esclarecimento no julgado, tendo em vista os seguintes argumentos:
a) O autor do recurso pretende esclarecer qual o alcance da alteração normativa, que terá reflexos em diversos setores da contabilidade pública (peça 14, p. 2);
b) A utilização do regime de competência tem a vantagem de se colocar no balanço todos os créditos que
irão ingressar nos cofres públicos, mas traz para os demonstrativos ingressos que, talvez, jamais venham a se realizar. Não existe certo ou errado, mas apenas formas diferentes de se contabilizar receitas. A opção do
legislador pelo regime de caixa tem a intenção de privilegiar o princípio da prudência (peça 14, p. 2);
473
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
c) A deliberação recorrida somente pode ser mantida se houver delimitação do alcance do julgado,
podendo ser aceita apenas se o regime de competência conviver com o de caixa no que se refere às múltiplas
implicações que o instituto possui no atual Direito Econômico. Essa sistemática não pode substituir o regime de
caixa para todos os fins, a exemplo do resultado do exercício, apesar de ser recomendável o controle de créditos a receber pelo Estado;
d) Há claro receio de que a utilização indiscriminada do regime de competência venha a gerar distorções
nos critérios legais que têm por fundamento a receita pública, como a receita corrente líquida (RCL), prevista no artigo 2º, inciso IV, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), definida como parâmetro para fixação do limite
da despesa total com pessoal dos três poderes dos entes da federação, bem como para limitar o montante da
dívida consolidada da União (peça 14, p. 2);
e) A utilização por uma ou outra metodologia vai implicar diferentes resultados na receita corrente líquida, sendo que a sistemática por competência irá trazer resultado maior que o regime de caixa;
f) O parágrafo 3º do inciso IV do artigo 2º da LRF estabelece que a RCL será apurada somando-se as
receitas arrecadadas no mês em referência e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades, referindo-se claramente ao regime de caixa (peça 14, p. 2);
g) De acordo com a Lei 4.320/1964, a receita tributária passa pelas etapas de lançamento, arrecadação e
recolhimento. De acordo com o regime de competência, o lançamento já seria condição necessária e suficiente para a contabilização da receita. Mas, nem todos os tributos lançados são efetivamente recolhidos, o que poderá
gerar inconsistências nos balanços contábeis, deixando de refletir, com exatidão, o ingresso de recursos nos
cofres públicos (peça 14, p. 2);
h) A mudança de regime impactará na apuração do superávit financeiro, com reflexos nos indicadores econômicos do país, além dos efeitos sobre a abertura crédito especial e suplementar, podendo alterar a vontade
do Poder Legislativo, autor da Lei Orçamentária Anual (peça 14, p. 2-3);
i) O disposto no artigo 6º da Portaria 3/2008 deve se restringir à esfera da Administração Pública Federal, pois a imposição de alterações no regime contábil dos demais entes da federação dependeria de lei
complementar, conforme exigência prevista no artigo 165 da Constituição Federal (peça 14, p. 3);
5.2. Em contrarrazões recursais, a Secretaria do Tesouro Nacional apresentou a Nota Técnica n.
11/2017/CCONF/SUCON/STN/MF-DF (peça 32), com os seguintes argumentos: a) O Acórdão 158/2012 – Plenário, relatado pelo Ministro Raimundo Carreiro, em relação ao tratamento
dado às receitas públicas, recomendava à STN a inclusão em notas explicativas de informações relativas aos
montantes da receita reconhecida e da receita arrecadada no exercício. No relatório de acompanhamento originário dos presentes autos, questionou-se a adoção do regime de competência para reconhecimento da
receita pública, o qual não teria amparo na Lei 4.320/1964, salvo os créditos inscritos em dívida ativa. O Relator
não acatou o posicionamento da Semag, tendo considerado legais os normativos da Secretaria do Tesouro Nacional. Logo, a questão foi amplamente discutida pelo Tribunal. Atualmente, não há dúvidas de que o
processo de convergência dos procedimentos contábeis para os padrões internacionais vem trazendo inúmeros
benefícios à gestão pública brasileira, mas, ainda assim, foi questionado pelo MPTCU (peça 32, p. 1-2);
b) A Lei 4.320/1964, que trata da elaboração dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 como lei complementar,
tendo estabelecido diretrizes para o registro contábil e os demonstrativos obrigatórios para o setor público
brasileiro. A norma previu a possibilidade de atualização de seus anexos, por meio do Conselho Técnico de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda, conforme o artigo 113 (peça 32, p. 2);
c) O Conselho Técnico de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda chegou a ser instituído, mas foi
extinto em 1971, sendo suas competências transferidas à Subsecretaria de Economia e Finanças da Secretaria Geral do Ministério da Fazenda, atividades exercidas atualmente pela STN. A Secretaria do Tesouro Nacional é
o órgão central do Sistema de Contabilidade Federal, com as atribuições previstas no artigo 113 da Lei
4.320/1964, de acordo com o inciso XXIV do artigo 7º do Decreto 6.976/2009 (peça 14, p. 2-3);
d) Nos termos do §2º do artigo 50 da Lei Complementar 101/2000, cabe à STN a edição de normas gerais para consolidação das contas públicas, enquanto não implantado o Conselho de Gestão Fiscal. O artigo 51 do
referido diploma estabeleceu a obrigatoriedade de consolidação das contas públicas nas três esferas de governo,
exigindo-se critérios uniformes de registro no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios (peça 32, p. 3);
e) Em 2008, o Ministério da Fazenda publicou a Portaria n. 184/2008, considerada o marco inicial do
474
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
processo de convergência da contabilidade aplicada ao setor público aos padrões internacionais, com determinação à STN nesse sentido, de acordo com o artigo 1º da norma (peça 32, p. 3);
f) Na sequência, a STN, em conjunto com a Secretaria de Orçamento Federal (SOF), a Portaria Conjunta
n. 3/2008, com efeitos para a Administração Pública nos três níveis de governo, de modo a garantir a consolidação das contas exigida pela LRF. O normativo aprovava os Manuais da Receita Nacional e da Despesa
Nacional, prevendo o regime de competência para despesa e receita em seu artigo 6º. O parágrafo único desse
dispositivo prevê a manutenção dos procedimentos usuais de reconhecimento e registro da receita e da despesa orçamentárias, de tal sorte que a apropriação patrimonial não modifique os procedimentos legais estabelecidos
para o registro de receitas e despesas orçamentárias. Os registros não podem modificar critérios estabelecidos no
âmbito de cada ente da Federação para a elaboração das estatísticas fiscais e apuração de resultados previstos na
LRF, bem como não podem constituir mecanismo de viabilização de execução de despesa pública para a qual não tenha havido a devida fixação orçamentária (peça 32, p. 3-4);
g) O reconhecimento da receita e da despesa pelo regime de competência diz respeito ao aspecto
patrimonial, mantendo-se os procedimentos usuais para registro da receita e despesa orçamentárias, conforme o artigo 35, I e II, da Lei 4.320/1964. Portanto, para fins de acompanhamento da execução orçamentária,
permanece a adoção do regime de empenho para as despesas e de arrecadação para as receitas, sem prejudicar a
evidenciação do patrimônio público de acordo com a ciência contábil (peça 32, p. 4-5); h) O Decreto 6.976/2009 previu como objetivos do Sistema de Contabilidade Federal a padronização e
consolidação das contas nacionais, a busca da convergência aos padrões internacionais de contabilidade e o
acompanhamento contínuo das normas contábeis aplicadas ao setor público, respeitando-se os princípios
fundamentais de contabilidade (peça 32, p. 4); i) A Portaria MF 184/2008 e o Decreto 6.976/2009 determinam que a STN edite normativos e instruções
para a elaboração e publicação de demonstrações contábeis consolidadas. Esses instrumentos estão em
consonância com as Normas Brasileiras de Contabilidade e buscam convergência com as normas internacionais de contabilidade aplicada ao setor público. Diante disso, a Secretaria editou o Plano de Contas Aplicado ao
Setor Público (PCASP) e o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), com abrangência
nacional (peça 32, p. 4-5);
j) A adoção do PCASP possibilitou aos entes a contabilização dos atos e fatos da gestão pública em mesma base conceitual, com segregação das contábeis em grandes grupos, conforme a natureza da informação:
orçamentária, patrimonial ou de controle. Tais normativos estão alinhados à Lei 4.320/1964, conforme o artigo
85 da norma, que exige que os serviços de contabilidade se organizem de forma a permitir o acompanhamento da execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços
industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e interpretação dos resultados econômicos e
financeiros (peça 32, p. 5); k) O caput do artigo 39 da Lei 4.320/1964 determina o reconhecimento de valores a receber que devem
ser registrados no ativo em contrapartida a uma variação patrimonial, ainda que não se tenha materializado a
efetiva arrecadação (peça 32, p. 5);
l) A utilização do regime de competência não afasta o registro da receita orçamentária pela arrecadação. Não houve, também, prejuízo na apuração de indicadores fiscais, como receita corrente líquida; ou no cálculo
do superávit financeiro, para os quais é possível extrair as informações a partir do PCASP, conforme manuais
editados pela STN. Busca-se o cumprimento integral da legislação vigente, sem deixar de atender a teoria contábil (peça 32, p. 5);
m) A Estrutura Conceitual da Contabilidade (NBC TSP), publicada pelo Conselho Federal de
Contabilidade, prevê que Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público (RCPGs) devem ser elaborados com base no regime de competência. Esses demonstrativos fornecem informações para
subsidiar processos decisórios, prestação de contas e responsabilização dos usuários, sendo componentes
centrais da transparência da informação contábil dos governos (peça 32, p. 5);
n) As demonstrações contábeis em base caixa fornecem informação útil para subsidiar os montantes e o cronograma de recursos necessários aos serviços e ao pagamento das demandas existentes sobre os recursos da
entidade, podendo auxiliar os usuários na avaliação da entidade do setor público, desde que estejam em
conformidade com as estimativas do orçamento aprovado (peça 32, p. 5-6); o) As informações que possibilitam aos usuários compararem a execução orçamentária com o orçamento
previsto facilitam a análise quanto ao desempenho das entidades do setor público, além de instrumentalizar a
475
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
prestação de contas e a responsabilização (accountability), com subsídios para o processo decisório relacionado a orçamentos futuros (peça 32, p. 6);
p) A elaboração e divulgação de informação contábil tem como finalidade fornecer informações úteis aos
usuários dos RCPGs, os quais possuem as mais diversas necessidades (peça 32, p. 6). Análise
5.3. Os argumentos do embargante estão parcialmente corretos e condizem com as contrarrazões recursais
apresentadas pela STN, não obstante a correção do julgado não constitua efeito infringente, cabendo apenas esclarecimento. De acordo com o parágrafo único do artigo 6º da Portaria conjunta STN/SOF n. 3/2008, ainda
vigente, devem ser mantidos os procedimentos usuais de reconhecimento e registro da receita e da despesa
orçamentárias, de tal forma que a apropriação patrimonial não modifique os procedimentos legais estabelecidos
para o registro das receitas e das despesas orçamentárias. Conforme o dispositivo, a contabilização pelo regime de competência, também, não pode implicar necessariamente modificação dos critérios estabelecidos no âmbito
de cada ente da Federação para elaboração das estatísticas fiscais e apuração dos resultados fiscais de que trata a
Lei Complementar 101, de 2000; ou constituir mecanismo de viabilização de execução de despesa pública para a qual não tenha havido a devida fixação orçamentária.
5.4. Note-se que o dispositivo traduz exatamente o conjunto de preocupações do ilustre representante do
MPTCU, pois, de fato, a contabilização de receitas e despesas pelo regime de competência poderia alterar indevidamente o cálculo de elementos importantes das finanças públicas nacionais, como a receita corrente
líquida e superávit financeiro, inflando-os, caso utilizado indiscriminadamente.
5.5. Todavia, ao consultar os normativos e manuais elaborados pela STN após a autorização de instituição
do regime de competência para contabilização de receitas e despesas na contabilidade pública, verifica-se preocupação constante com a diferenciação entre os regimes orçamentário e contábil, de modo a atender todas
as demandas de informações contábeis. Tendo por base os documentos contidos no presente processo, não se
identifica inconsistência, o que poderá ser confirmado em fiscalizações futuras desta Corte. 5.6. Nessa linha, como discorre detalhadamente a STN na 7ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada
ao Setor Público – Exercício de 2017, páginas 55-56, anexo à Portaria conjunta STN/SOF n. 02, de 22/12/2016
(Disponível em:<
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7-490c-8967-b0acd3923f6d>. Acesso em: 18 out. 2017), o artigo 35
da Lei 4.320/1964 se refere ao regime orçamentário e não ao regime contábil (patrimonial).
5.7. Essa perspectiva, inclusive, convive harmoniosamente com os artigos 85, 89, 100 e 104 da Lei 4.320/1964, transcritos abaixo, que determinam que as variações patrimoniais devam ser evidenciadas,
resultantes ou independentes da execução orçamentária:
Título IX – Da Contabilidade [...] Art. 85. Os serviços de contabilidade serão organizados de forma a permitirem o acompanhamento da
execução orçamentária, o conhecimento da composição patrimonial, a determinação dos custos dos serviços
industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e
financeiros. [...] Art. 89. A contabilidade evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira,
patrimonial e industrial. [...]
Art. 100. As alterações da situação líquida patrimonial, que abrangem os resultados da execução orçamentária, bem como as variações independentes dessa execução e as superveniências e insubsistências
ativas e passivas, constituirão elementos da conta patrimonial. [...]
Art. 104. A Demonstração das Variações Patrimoniais evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e indicará o resultado patrimonial do
exercício.
5.8. Assim, a contabilidade pública deve evidenciar tanto fatos ligados à administração orçamentária e
financeira, como eventos relacionados à gestão patrimonial, de modo a que se conheça a estrutura patrimonial e os resultados econômicos e financeiros do ente público.
5.9. Ao se observar a forma atual de contabilização de eventos contábeis, sobretudo no campo de receita
pública, constata-se que os órgãos responsáveis têm utilizado os regimes orçamentário para a arrecadação, em respeito ao artigo 35 da Lei 4.320/1964; e patrimonial, sob a ótica da competência.
5.10. Isso é possível, tendo em vista que o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público prevê rubricas
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distintas para atender as duas sistemáticas: regime de competência nas classes 1 a 4 e regime de caixa nas classes 5 e 6.
5.11. O Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) – Exercício de 2017, página 56
(Disponível em:< http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3
o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7-490c-8967-b0acd3923f6d>. Acesso em: 18 out. 2017) traz
exemplo de contabilização que demonstra que a utilização do regime de competência para a receita, sob o aspecto formal, não traz impactos nas estatísticas fiscais e nos conceitos de receita corrente líquida e superávit
financeiro. Na prática, seria relevante inserir a questão em fiscalizações futuras desta Corte.
5.12. Na contabilização de eventos ligados ao Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana,
por exemplo, sob a nova perspectiva patrimonial, com o uso do regime de competência, tem sido contabilizada a receita do imposto no momento do lançamento:
Natureza da informação: patrimonial
D 1.1.2.2.x.xx.xx Créditos Tributários a Receber (P) C 4.1.1.2.x.xx.xx Impostos Sobre o Patrimônio e a Renda
5.13. Note-se que a contabilização gerou informação com influência sobre o resultado do exercício e o
ativo permanente, atributo “(P)”, em atendimento ao disposto nos artigos 100 e 104 da Lei 4.320/1964. Entretanto, esses dados não serão aqueles utilizados para as estatísticas de arrecadação de receitas, superávit
financeiro e receita corrente líquida.
5.14. Os atributos financeiro (F) e permanente (P) constituem o Indicador do Superávit Financeiro
explicado no item 3.3.2 do MCASP, página 351-352 (Disponível em:< http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3
o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7-490c-8967-b0acd3923f6d>. Acesso em: 18 out. 2017). Essa
marcação auxilia na identificação das contas contábeis que integrarão o cálculo do saldo em recursos financeiros.
5.15. No momento da efetiva arrecadação, ou seja, a entrada dos valores financeiros no caixa, contabiliza-
se a receita orçamentária, com baixa do ativo registrado e sensibilização no ativo financeiro, atributo “(F)”,
havendo três lançamentos sob as óticas patrimonial, orçamentária e de controle: Natureza da informação: patrimonial
D 1.1.1.1.1.xx.xx Caixa e Equivalentes de Caixa em Moeda Nacional (F)
C 1.1.2.2.x.xx.xx Créditos Tributários a Receber (P) Natureza da informação: orçamentária
D 6.2.1.1.x.xx.xx Receita a Realizar
C 6.2.1.2.x.xx.xx Receita Realizada Natureza da informação: controle
D 7.2.1.1.x.xx.xx Controle da Disponibilidade de Recursos
C 8.2.1.1.1.xx.xx Disponibilidade por Destinação de Recursos (DDR)
5.16. Diante disso, é a arrecadação que gera o lançamento orçamentário da receita realizada (Contas 6.2.1.2.x.xx.xx), as quais compõem a receita corrente líquida, não havendo qualquer afronta ao artigo 35 da Lei
4.320/1964 e ao artigo 2º, inciso IV e §3º, da LRF. O regime é de caixa, ótica financeira, como se constata no
atual Manual de Demonstrativos Fiscais, aprovado pela Portaria/STN n. 495/2017, página 175 (Disponível em:< http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/592968/MDF+8%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o+
vers%C3%A3o+18.09.2017.pdf/5fe8f9eb-ec0b-46f7-bbb3-4e7ffb4e9854>. Acesso em: 18 out. 2017):
RECEITAS CORRENTES (I) Registra os ingressos de recursos financeiros oriundos das seguintes subcategorias econômicas: receitas
de impostos, taxas e contribuições de melhoria, de contribuições, patrimoniais, agropecuárias, industriais, de
serviços, transferências correntes e outras receitas correntes.
5.17. Do mesmo modo, o saldo decorrente dos lançamentos na conta Disponibilidade por Destinação de Recursos (8.2.1.1.1.xx.xx) constitui o próprio superávit/déficit financeiro, apurado conforme o §2º do artigo 43
da Lei 4.320/1964 e explicitado no Quadro do Superávit/Déficit Financeiro, anexo ao balanço patrimonial da
entidade e descrito no item 4.4.4 do MCASP, página 394 (Disponível em:< http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/456785/MCASP+7%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3
o+Vers%C3%A3o+Final.pdf/6e874adb-44d7-490c-8967-b0acd3923f6d>. Acesso em: 18 out. 2017).
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
5.18. O voto condutor da deliberação recorrida também discorre sobre o tema, não obstante não tenha
explicitado com clareza o ponto acerca da necessária manutenção dos procedimentos usuais de reconhecimento
e registro da receita e da despesa em determinados aspectos contábeis da contabilidade aplicada ao setor
público, o que se esclarecerá nesta assentada: 14. Há que se diferenciar o conceito patrimonial do conceito orçamentário e seus reflexos na
apresentação das demonstrações contábeis. Os créditos são reconhecidos sob o aspecto patrimonial. Na medida
em que são arrecadados e se tornam "caixa", são escriturados como receita orçamentária no respectivo exercício (aspecto orçamentário). Tal procedimento segue o mesmo rito da inscrição em dívida ativa, que somente se
"transforma" em receita orçamentária depois que o contribuinte liquida sua obrigação junto à fazenda pública. A
grande diferença das mudanças introduzidas e defendidas pela STN é que a contabilidade passa a evidenciar o
direito a receber em momento anterior ao da inscrição em dívida ativa, permitindo o acompanhamento dos fatos posteriores, como a arrecadação e a própria baixa do crédito que porventura venha a ocorrer.
15. Assim, os balanços patrimoniais da União (e dos demais entes da federação: estados, Distrito Federal
e municípios) são aprovados sem o registro de todos os ativos (direitos a receber) na contabilidade. Tomando-se como exemplo o caso de uma prefeitura que envia o boleto de cobrança do IPTU para o contribuinte, pode-se
verificar que neste momento o contribuinte tem uma obrigação a pagar e consequentemente a prefeitura deveria
registrar o direito a receber em contrapartida de uma variação patrimonial aumentativa. Tal registro não afeta a
receita orçamentária do município, portanto não amplia a capacidade de gastar. Atualmente, o registro do
crédito a receber somente é feito depois de inscrito em dívida ativa. Mas é somente neste momento que o setor
público deve evidenciar os valores a receber? Como se pode saber quanto dos créditos cobrados/lançados foram
arrecadados antes de se inscrever em dívida ativa? Esta informação não tem transparência nos balanços do setor público, pois não está registrado na contabilidade o crédito cobrado e não pago. As mudanças propostas e
realizadas pela STN visam evidenciar o montante dos créditos lançados pela fazenda pública e ainda não
arrecadados, similarmente ao que acontece com os créditos inscritos em dívida ativa. Vale ressaltar que todas as empresas estatais que utilizam o Siafi e já fazem esse registro, bem como algumas autarquias, a exemplo do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que realizava o controle dos créditos previdenciários e
administrativos desde 2000, atividade posteriormente transferida para a Receita Federal do Brasil. (Grifos no
original) 5.19. Assim, a sistemática estabelecida pela STN permite que os dois regimes de contabilização convivam
sem que se deixe de dar transparência aos diferentes tipos de informações necessárias aos variados usuários das
demonstrações contábeis. 5.20. Não se mostra verdadeira a afirmação do embargante de que a utilização do regime de competência
para o registro da receita tributária, na etapa do lançamento do tributo, poderá provocar inconsistência nos
balanços, desde que seguidos os procedimentos usuais de contabilização em vigência. Como se nota na análise do exemplo acima, tanto a receita patrimonial quanto a receita orçamentária foram adequadamente
contabilizados.
5.21. Essa conjuntura pode ser observada com maior clareza nas Instruções de Procedimentos Contábeis
(IPC) 02 – Reconhecimento dos Créditos Tributários pelo Regime de Competência, elaboradas pela STN e publicadas no sítio do órgão na internet Disponível em:<
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/36614/IPC02_ReconhecimentoCreditosTributariosRegim
eCompetencia.pdf/039afc79-b027-4909-a297-1ff930d37739>. Acesso em: 18 out. 2017. 5.22. No documento, a Secretaria do Tesouro Nacional busca padronizar a contabilização dessas rubricas
nas diversas unidades da federação, sob a mesma base conceitual do MCASP, das Normas Brasileiras e
Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. 5.23. O documento traz a forma de contabilização dos mais diversos tributos de natureza estadual e
municipal, como o Imposto sobre Serviços e o Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação.
5.24. Os lançamentos, como destacado no exemplo acima, envolvem tanto a informação patrimonial do reconhecimento dos créditos a receber, como o registro da receita orçamentária, quando da arrecadação efetiva.
5.25. Todavia, caso não ocorra o pagamento do tributo, não serão sensibilizadas as contas de natureza
orçamentária como a receita realizada (Código 6.2.1.2.X.XX.XX) e Disponibilidade por Destinação de Recursos (Código 8.2.1.1.1.xx.xx), não havendo, portanto, impacto nos resultados fiscais, na receita corrente líquida e no
superávit financeiro, ao contrário do que afirma o embargante, os quais serão impactados apenas em caso de
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
pagamento direto, nas fases de cobrança administrativa ou após a inscrição em dívida ativa.
5.26. Assim, a atualização na contabilidade pública operada pela STN está em consonância com o
disposto na Lei 4.320/1964, sendo ele o órgão central do Sistema de Contabilidade Federal, responsável pela
atualização dos anexos da norma e expedição de recomendações técnicas acerca do tema, citado no artigo 113 do referido dispositivo legal. Nessa linha, transcreve-se o inciso XXIV do artigo 7º do Decreto n. 6.976/2009,
trazido à colação nas contrarrazões recursais:
Art. 7º Compete ao órgão central do Sistema de Contabilidade Federal: (...)
XXIV - exercer as atribuições definidas pelo art. 113 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 , a saber:
atender a consultas, coligir elementos, promover o intercâmbio de dados informativos, expedir recomendações
técnicas, quando solicitadas, e atualizar, sempre que julgar conveniente, os anexos que integram aquela Lei; 5.27. Em que pesem as discussões relacionadas ao artigo 165, §9º, inciso I, acerca da necessidade de lei
complementar para tratar do tema, é amplamente majoritário na doutrina e na jurisprudência, entendimento no
sentido de que a Lei 4.320/1964 foi recepcionada pela Constituição com caráter de lei complementar e constitui lei nacional.
5.28. Nesse sentido, transcreve-se trecho do relatório do Acórdão 2.281/2008 – Plenário, acatado pelo
Relator Ministro Ubiratan Aguiar: 107. A tese empreendida pela Procuradoria-Geral da República no âmbito da MP que instituiu o slogan
PAC não pode ser tida como absoluta e inequívoca. Para fazer o contraponto em face da pretensão de restringir
a discussão à eventual crise de legalidade, convém recorrer à Lei nº 4.320, de 1964, recepcionada pela
Constituição com status de lei complementar segundo a pacífica jurisprudência do STF (ADI 1.726-MC e ADI 2.250-MC). Com respaldo no artigo 165, § 9º da Carta Política, a Lei em foco estabelece as diretrizes para
elaboração das leis de orçamento, além das normas gerais sobre gestão financeira e patrimonial - na qual se
inserem as transferências entre os entes da Federação, matérias também abarcadas pelo Capítulo das Finanças Públicas.
5.29. A finalidade do caráter nacional da Lei 4.320/1964 está na necessidade de padronização de
informações contábeis, de modo a facilitar a obtenção de dados estatísticos e de finanças públicas, como leciona
Heraldo Teixeira da Costa Reis e José Teixeira Machado Júnior (A lei 4.320 comentada e a lei de
responsabilidade fiscal. 33. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 3):
Como é sabido e já foi dito acima, a lei abrange a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, o
que possibilita a existência de normas homogêneas para todo o país e facilita a obtenção de dados estatísticos financeiros e de realização dos programas de trabalho, bem como a consolidação dos orçamentos e balanços do
setor público brasileiro.
5.30. Igualmente, cabe à STN, como órgão central de contabilidade da União, a edição de normas gerais para consolidação das contas públicas, conforme o §2º do artigo 50 da Lei de Responsabilidade Fiscal.
5.31. Diante disso, não tem sentido o pedido do embargante para restringir o artigo 6º da Portaria 3/2008
à esfera da Administração Pública Federal, estando a definição do regime contábil aplicável às receitas públicas
dentro dos conceitos estabelecidos pela Lei 4.320/1964 e no âmbito de atuação da STN. A diferenciação nos procedimentos de contabilização da União em relação aos demais entes é que traria substanciais prejuízos às
estatísticas fiscais e consolidação de orçamentos e balanços.
CONCLUSÃO 6. Das análises anteriores, conclui-se que, na contabilidade do setor público brasileiro, devem ser
mantidos os procedimentos usuais de reconhecimento e registro da receita e da despesa orçamentárias, de tal
forma que a apropriação patrimonial não modifique os procedimentos legais estabelecidos para o registro das receitas e das despesas orçamentárias. A contabilização pelo regime de competência, também, não pode
implicar necessariamente modificação dos critérios estabelecidos no âmbito de cada ente da Federação para
elaboração das estatísticas fiscais e apuração dos resultados fiscais de que trata a Lei Complementar 101, de
2000; ou constituir mecanismo de viabilização de execução de despesa pública para a qual não tenha havido a devida fixação orçamentária.
6.1. Constata-se, com as contrarrazões trazidas pela STN, bem como pelas provas contidas nos autos e a
análise dos normativos e manuais de procedimentos contábeis oficiais, não haver afronta à Lei 4.320/1964 ou à LRF. Está condizente com os referidos diplomas a convivência entre os regimes de competência e caixa na
contabilidade pública, respeitado o enfoque orçamentário das receitas e despesas.