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ATAS do VI Encontro do CIED – I Encontro Internacional em Estudos Educacionais. Avaliação: Desafios e Riscos ATAS do VI Encontro do CIED – I Encontro Internacional em Estudos Educacionais. Avaliação: Desafios e Riscos Organizado por: Catarina Tomás e Carolina Gonçalves

ATAS do VI Encontro do CIED I Encontro Internacional em ...repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/3547/1/Atas VI Encontro do CIED 3. 2014.pdfResumo: De acordo com a informação fornecida

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro

Internacional em Estudos Educacionais

Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

Organizado por Catarina Tomaacutes e Carolina Gonccedilalves

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

i

Publicado em marccedilo de 2014 por CIED - Centro de Interdisciplinar de Estudos Educacionais

Esta publicaccedilatildeo conteacutem as comunicaccedilotildees apresentadas no VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos nos dias 15 e 16 de novembro de 2013 na Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa Instituto Politeacutecnico de Lisboa organizado pelo CIED com o apoio da Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa httpwwweselxiplptciedeventos_VI_ptindex_vi_encontro_pthtml ISBN 989-98421

Design Susana Torres

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

ii

Iacutendice

AVALIACcedilAtildeO DE POLIacuteTICAS DE EDUCACcedilAtildeO E DE INTERVENCcedilAtildeO SOCIOCULTURAL

Evaluaciones nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el

contexto Europeo _Heacutector Monarca amp Javier Valle

3

Las evaluaciones externas en la Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa de Espantildea _

Heacutector Monarca

16

Poliacuteticas para el aseguramiento de la calidad en la ensentildeanza obligatoria de Espantildea _ Heacutector

Monarca Soledad Rappoport amp Cristina Soto

29

Animaccedilatildeo e Animadores Socioculturais incertezas e controveacutersias de umaocupaccedilatildeo professional _

Antoacutenio Batista

39

Avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo socioeducativa sobre a violecircncia na escola _ Joana Campos Joatildeo Sebastiatildeo

Sara Merlini amp Mafalda Chambino

61

A avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino de muacutesica entre a estandardizaccedilatildeo e as singularidades _

Antoacutenio Acircngelo Vasconcelos

79

AVALIACcedilAtildeO DAS APRENDIZAGENS

Desenvolvimento do conceito de acircngulo Um estudo no 5ordmano de escolaridade _ Marisa Bernardo amp

Margarida Rodrigues

96

O aacutelbum infantil alguns criteacuterios de seleccedilatildeo _ Encarnaccedilatildeo Silva amp Helena Barroso 116

Avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua _Patriacutecia Ferreira

Santos

132

Teatro no curriacuteculo avaliar o quecirc e para quecirc _ Miguel Falcatildeo 148

Praacuteticas de literacia e avaliaccedilatildeo da competecircncia da escrita _ Maria da Conceiccedilatildeo Pires amp Joseacute Antoacutenio

Brandatildeo Carvalho

165

Relatoacuterio de Estaacutegio que desafio(s) para a avaliaccedilatildeo das aprendizagens Uma anaacutelise a partir de um

Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar numa Escola Superior de Educaccedilatildeo _ Ana Simotildees

185

O Portefoacutelio e a aprendizagem no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico _ Inecircs Pimente amp Jorge Pinto 208

Problematizar a Metodologia de Projeto articulando e avaliando aprendizagens _ Irene Cortesatildeo

Costa Ivone Neves amp Paula Pequito

Transversalidade e continuidade em educaccedilatildeo Um olhar criacutetico sobre as especificidades do

educador de infacircncia e do professor do 1ordm ciclo do enino baacutesico _ Diana Cunha Ivone Neves amp Ana

Pinheiro

223

241

Como avaliar as aprendizagens das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo Musical _ Maacuterio Relvas 256

Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) e as implicaccedilotildees e

desafios nas praacuteticas de gestores e docentes de escolas puacuteblicas (2007-2012) _ Maluacute de Souza

Fernandes amp Rita de Cassia Gallego

271

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

iii

Desafios da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior um exame dos discursos presentes em perioacutedicos

educacionais brasileiros (2000-2010) _ Dislane Zerbinatti Moraes Rita de Cassia Gallego amp Vivian

Batista da Silva

287

Praacutetica de ensino supervisionada no 1ordm e no 2ordm ciclo do ensino baacutesicoo interesse dos alunos pela

aacuterea de estudo do meio _ Carina Ferreira amp Antoacutenio Almeida

301

A coavaliaccedilatildeo entre pares e regulaccedilatildeo das aprendizagens _ Helga Machado Jorge Pinto 317

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo na educaccedilatildeo da retoacuterica a praacutetica _ Leila Pessocirca da Costa 332

Consideraccedilotildees sobre o erro na avaliaccedilatildeo escolar_ Leila Pessocirca da Costa amp Janira Siqueira Camargo 348

Avaliaccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas Preacute-Escolares com e sem problemas

de linguagem _ Tacircnia Fernandes amp Joatildeo Rosa

Compreensatildeo na leitura e resoluccedilatildeo de problemas de matemaacutetica _ Cacircndida Ribeiro Faacutetima Cruz

Manuela Coelho amp Maria da Luz Fragoso

Dez anos de investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das aprendizagens (2001-2010) uma siacutentese de teses de

doutoramento _ Domingos Fernandes amp Andreia Gaspar

362

383

399

O desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo mediado pela apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo _ Inecircs

Bruno amp Leonor Santos

415

AVALIACcedilAtildeO DE POLIacuteTICAS DE ORGANIZACcedilOtildeES

A institucionalizaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas atraveacutes de mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e

traduccedilatildeo anaacutelise cognitiva de uma poliacutetica puacuteblica _ Elvira Tristatildeo

Avaliaccedilatildeo de Capacidades e Competecircncias Contributospara uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade

_ Ricardo Machado Margarida Ceacutesar amp Joseacute Manuel Matos

Avaliar para conhecer A Avaliaccedilatildeo Externa vs Documentos Norteadores da Praacutetica Letiva ndash

(des)Articulaccedilatildeo _ Madalena Teixeira Rosaacuteria Correia amp Susana Pereira

AVALIACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

434

450

469

Contributos da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional de Assistentes

Operacionais no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico _ Fernando Ferraz amp Joatildeo Rosa

486

Avaliaccedilatildeo do Desempenho Docente Percepccedilotildees de professores sobre o modelo e os seus criteacuterios _

Alan Stoleroff amp Patriacutecia Santos

502

Avaliaccedilatildeo de desempenho docente feita pelos alunos um estudo no ISCED do Sumbe _ Eduardo

Nangayafina

O (re) conhecimento da estrutura passiva por alunos do Ensino Superior_ Antoacutenia Estrela

517

536

Trajetoacuterias profissionais de professores mdash casos de diplomados da ESELx _ Clara Rolo Cristina

Loureiro amp Carolina Gonccedilalves

547

Une eacutevaluation au service des apprenants de leurs projets et de la socieacuteteacute entiegravere _ Alain Brouteacute 566

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

1

Introduccedilatildeo

Os artigos reunidos nestas atas pretendem divulgar as comunicaccedilotildees realizadas pelosas

participantes no VI Encontro do CIED ndash Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos que decorreu na Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa nos dias 15 e 16 de novembro de 2013 O Encontro foi

dinamizado pelo CIED ndash Centro de Interdisciplinar de Estudos Educacionais e pela Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa que reuacutene a investigaccedilatildeo realizada na instituiccedilatildeo no acircmbito

da Educaccedilatildeo Formaccedilatildeo de Professores e outros agentes educativos

Os objetivos iniciais foram (i) Promover a apresentaccedilatildeo de trabalhos cientiacuteficos no acircmbito da

educaccedilatildeo (formal e natildeo formal) estimulando o debate sobre as questotildees atuais que afetam os

muacuteltiplos contextos (ii) Estimular a formaccedilatildeo de parcerias cientiacuteficas entre Investigadores e

Educadores (iii) Contribuir para a anaacutelise dos processos e resultados de avaliaccedilatildeo em

diferentes contextos (iv) Promover o debate e a anaacutelise dos efeitos dos diferentes modelos e

praacuteticas de avaliaccedilatildeo

Na tentativa de cobrir todos os contextos e atores implicados nesta temaacutetica este volume estaacute

organizado de acordo com quatro eixos temaacuteticos tambeacutem abordados no Encontro I

Avaliaccedilatildeo de poliacuteticas de educaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo sociocultural 2 Avaliaccedilatildeo das

aprendizagens 3 Avaliaccedilatildeo de organizaccedilotildees e 4 Avaliaccedilatildeo e desenvolvimento profissional

O primeiro eixo ndash Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo e de Intervenccedilatildeo Sociocultural - pretende

dar conta dos processos dos aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos e poliacuteticos que orientam a

avaliaccedilatildeo de poliacuteticas educativas A avaliaccedilatildeo parece surgir como resposta para a resoluccedilatildeo de

problemas tatildeo complexos e diversos como o desempenho profissional de professores e outros

agentes educativos a melhoria da qualidade das escolas e seus serviccedilos educativos o

incremento da qualidade das aprendizagens dos alunos e tambeacutem da performance dos

sistemas educativos nacionais formais e natildeo formais

O segundo eixo ndash Avaliaccedilatildeo das Aprendizagens ndash daacute conta do processo de avaliaccedilatildeo das

aprendizagens nas diversas aacutereas cientiacuteficas utilizando conceccedilotildees eou accedilotildees e praacuteticas do

professor como unidade de anaacutelise bem como os processos utilizados com os alunos em

contexto de sala de aula Vaacuterios textos datildeo conta de diferentes instrumentos e metodologias

com vista a uma avaliaccedilatildeo eficaz e efetiva dos processos de aprendizagem

Por sua vez o terceiro eixo ndash Avaliaccedilatildeo de Organizaccedilotildees ndash ocupa-se da anaacutelise e avaliaccedilatildeo dos

processos organizativos das instituiccedilotildees e dos seus impactos Satildeo abordados os princiacutepios das

organizaccedilotildees e as suas dimensotildees de avaliaccedilatildeo destacando especificidades que caracterizam

os contextos em avaliaccedilatildeo e contribuindo para um corpo teoacuterico relativo agrave avaliaccedilatildeo que seja

uacutetil para os atores que fazem parte dessa realidade

Por fim o quarto eixo ndash Avaliaccedilatildeo e Desenvolvimento Profissional ndash foca a importacircncia da

avaliaccedilatildeo como ferramenta do desenvolvimento profissional dos agentes educativos neste

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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caso particular dos docentes Os textos abordam natildeo soacute os conceitos e a filosofia do

desenvolvimento profissional como tambeacutem datildeo conta de processos de formaccedilatildeo contiacutenua

que contribuem para a profissionalidade dos docentes

Todos os artigos publicados foram sujeitos a blind referee

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Evaluaciones nacionales e internacionales como poliacutetica de

mejora de la educacioacuten en Espantildea en el contexto Europeo1

HECTOR MONARCA

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales hectormonarcauames

JAVIER VALLE

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales Jmvalleuames

Resumen

La presente comunicacioacuten se enmarca en el proyecto de investigacioacuten ldquoEvaluaciones

nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el contexto

Europeordquo (referencia CEMU-2013-20) financiado en el marco de la segunda convocatoria

competitiva de Proyectos de Investigacioacuten Multidisciplinares de la Universidad Autoacutenoma de

Madrid aprobada por el Consejo de Gobierno del 8 de febrero de 2013 En este caso el

objetivo principal de la comunicacioacuten es dar a conocer el proyecto aunque sin avanzar en sus

resultados dado la fase en la que nos encontramos

El proyecto que aquiacute se presenta se enmarca dentro de las poliacuteticas de evaluacioacuten de la calidad

de la educacioacuten La propuesta se hace desde un claro abordaje multidisciplinar tanto desde el

punto de vista epistemoloacutegico como metodoloacutegico Los sistemas de evaluacioacuten de la calidad de

la educacioacuten se han transformado en un dispositivo clave para los gobiernos en los procesos de

mejora educativa En Espantildea se vienen incorporando estas poliacuteticas de forma sistemaacutetica a

nivel estatal y autonoacutemico En esta tendencia encontramos una clara justificacioacuten para

implementar un proyecto de estas caracteriacutesticas capaz de indagar en lo que estas poliacuteticas

1 La presente comunicacioacuten se desprende del disentildeo del proyecto de investigacioacuten del mismo nombre

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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aportan realmente a la mejora educativa En este sentido se pretende realizar un trabajo de

investigacioacuten multidisciplinar que ofrezca posibles respuestas a dos interrogantes clave iquestson

las pruebas externas una herramienta para la mejora de la educacioacuten en Espantildea Pregunta

que bajo la hipoacutetesis que surge a la luz de los aportes de las investigaciones y bibliografiacutea

revisadas lleva a una segunda iquestcoacutemo pueden estas pruebas convertirse en una herramienta

de mejora Los objetivos de esta investigacioacuten giran en torno a estos dos interrogantes

Aspectos que seraacuten abordados en esta comunicacioacuten

Palabras clave Sistemas de Evaluacioacuten Poliacuteticas Educativas Mejora Educativa

Resumo De acordo com a informaccedilatildeo fornecida pelo Instituto Nacional de Avaliaccedilatildeo (2012)

Espanha participou nas ediccedilotildees de 1990 2006 e 2011 do PIRLS e nas ediccedilotildees de 1995 e 2011

do TIMSS Por outro lado em 2009 o nosso paiacutes participou pela primeira vez no Estudo

Internacional de Civismo e Cidadania (Instituto de Avaliaccedilatildeo 2010) Finalmente Espanha

participa no Programa para a Avaliaccedilatildeo Internacional dos Alunos (PISA) Conjuntamente com

essas avaliaccedilotildees internacionais tanto a niacutevel estatal como regional foram implementadas

outras provas externas Esta tendecircncia foi reforccedilada e alargada pela nova Lei Orgacircnica para a

Melhoria da Qualidade Educativa (LOMCE) aspeto que seraacute analisado nesta apresentaccedilatildeo A

proliferaccedilatildeo destas praacuteticas pode ser analisada a partir de diversas perspetivas Nesta

apresentaccedilatildeo faz-se uma aproximaccedilatildeo sustentada em numerosos escritos recentes (Peacuterez y

Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006 etc) que alertam sobre o impacto dos sistemas de

avaliaccedilatildeo nas praacuteticas de ensino Por outro lado a partir desta abordagem criacutetica defende-se

que as evidecircncias sobre o que estas contribuem para a melhoria da educaccedilatildeo natildeo parecem ser

tatildeo abundantes

ANTECEDENTES Y ESTADO ACTUAL DEL TEMA

La preocupacioacuten por la calidad de la educacioacuten viene siendo una realidad cada vez maacutes

evidente tanto a nivel nacional como internacional Esto ha quedado reflejado en diversos

acuerdos europeos y ocupa un lugar clave en la estrategia de Lisboa reflejado en una serie de

objetivos en el campo educativo para el antildeo 2020 (Consejo de la Unioacuten Europea 2009) Junto

con esta preocupacioacuten estaacute la de ofrecer informacioacuten a la ciudadaniacutea sobre las poliacuteticas que sus

gobiernos desarrollan como una forma de laquodar cuentaraquo ofreciendo informacioacuten que permita

valorar las acciones que estos realizan Los sistemas nacionales de evaluacioacuten se ubican en esta

doble demanda ambas complementarias

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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En cualquier caso maacutes allaacute del consenso sobre la necesidad de los sistemas nacionales de

evaluacioacuten (Tiana 1996a EURYDICE 2010) siguen existiendo discrepancias de diverso tipo

sobre su naturaleza e implementacioacuten (Tiana 1996b Elmore 2004 Fullan 2006 Stobart

2008 Benavides 2010 Peacuterez amp Soto 2011 Monarca 2012a) Como cualquier otro aacutembito de

las ciencias sociales los sistemas nacionales de evaluacioacuten se encuentran atravesados por

muacuteltiples praacutecticas y demandas muchas de las cuales pueden ser contradictorias o generar

diferencias (Gimeno 1988 Moriacuten 2003 Marchesi 2011) En este sentido las investigaciones y

la literatura que hacen referencia a esta temaacutetica reflejan un debate a nivel teoacuterico y praacutectico

el cual es posible relacionar con los siguientes ejes

a Vinculado al sentido y objetivos de las pruebas nacionales La bibliografiacutea sobre el

tema suele identificar dos objetivos o sentidos principales (Tiana 1996b Anderson 2012

Pulido 2012)

a) Certificar rendimientos o competencias adquiridas al final de un proceso no tiene una

relacioacuten directa con la mejora educativa

b) Generar un conocimiento sobre el funcionamiento del sistema educativo los centros la

ensentildeanza y los procesos de aprendizaje no suelen ser frecuentes la existencia de

procedimientos de evaluacioacuten sistemaacuteticas que permitan obtener este tipo de conocimiento

Gran parte de las criacuteticas a los sistemas de evaluacioacuten se centran en este vaciacuteo (Earl amp

LeMahieu 2003 Myres amp Goldstein 2003 Peacuterez amp Soto 2011) Aunque la mayoriacutea de los

sistemas de evaluacioacuten hacen alguna referencia a este aspecto las investigaciones y literatura

que hacen referencia al mismo sostienen que esto no se estaacute logrando o al menos no como los

procesos de mejora demandariacutean (Romaacuten amp Murillo 2009) Ciertamente como lo demuestra

el estudio de EURYDICE (2010) es realmente reducido el nuacutemero de paiacuteses que realiza una

evaluacioacuten con un fin formativo

b Vinculado al contenido y caracteriacutesticas de estas pruebas Otro de los debates

importantes que evidencia la literatura dentro del campo de las evaluaciones externas es el

que hace referencia al contenido de las mismas y a las caracteriacutesticas que tienen que asumir

En esta liacutenea el ldquoPrograma para la Evaluacioacuten Internacional de Alumnosrdquo (Programme for

International Student Assessment PISA) ha introducido una importante novedad al centrar

sus evaluaciones en el desarrollo de competencias (Instituto de Evaluacioacuten 2011b) y asiacute un

nuevo elemento para el debate

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c Vinculado al equilibrio entre la necesidad de obtener datos sobre rendimiento y el

riesgo de una evaluacioacuten excesiva Existe un constante debate entre los responsables poliacuteticos

y los profesionales de la educacioacuten sobre la necesidad de hallar un punto de equilibrio entre el

objetivo legiacutetimo de ofrecer un panorama actualizado sobre el rendimiento de los alumnos y

los efectos potencialmente negativos que las pruebas tienen sobre alumnos y profesores

especialmente en lo que se refiere al impacto de las pruebas sobre el tiempo efectivo de

ensentildeanza sobre el tiempo que se dedica a objetivos curriculares maacutes amplios asiacute como en

teacuterminos del estreacutes y la peacuterdida de motivacioacuten que pueden generar

d Vinculado al impacto sobre la ensentildeanza y posible restriccioacuten del curriacuteculo Se ha

puesto de manifiesto que las evaluaciones externas tienen una serie de efectos sobre el

desarrollo del curriacuteculo en general sobre aspectos especiacuteficos de la ensentildeanza y sobre las

mismas configuraciones de las representaciones en torno a la calidad educativa (Nichols amp

Berliner 2007 Abrantes 2010 Barquiacuten et al 2011 Peacuterez y Soto 2011 Monarca 2012a b)

Sintetizando la abundante literatura al respecto es posible identificar los siguientes aspectos

- Limitacioacuten de materias o competencias evaluadas cuando en las etapas obligatorias hay un

consenso de que la calidad de la educacioacuten tiene que ver con el desarrollo integral del sujeto

en un contexto de inclusioacuten

- Alteracioacuten del tiempo escolar estas alteraciones pueden reflejarse en dos aspectos

principales a) que en lugar de enfocar la ensentildeanza al desarrollo total y global de la

asignatura que se centre en ldquoentrenarserdquo para la prueba cuando esto ya ha sido cuestionado

hace deacutecadas (Hargreaves amp Fink 2006 Hopkins 2008) b) destinar maacutes tiempo de ensentildeanza

a aquellos aspectos que van a ser evaluados por tanto dejando sin cubrir o devaluando las

ensentildeanzas o el desarrollo de otros aspectos clave para el sujeto

- Informacioacuten escasa o nula sobre el proceso de aprendizaje y de ensentildeanza Aunque cada vez

maacutes son las pruebas que toman en cuenta el contexto y otras variables del centro escolar Lo

cierto es que la informacioacuten que se suele ofrecer como resultado de las evaluaciones se centra

en los ldquoresultados de aprendizajerdquo

- Se valora la informacioacuten externa en detrimento de las evaluaciones internas Este aspecto es

algo que ya estaacute siendo revertido en muchos paiacuteses con los cambios que se han introducido en

sus sistemas de evaluacioacuten Como refleja el estudio realizado por EURYDICE (2010) estos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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cambios apuntan a dar maacutes peso a las valoraciones que se realizan desde el propio centro algo

que tambieacuten constatoacute Hopkins (2008) en la revisioacuten que realizoacute de investigaciones anteriores

e Vinculado a la utilizacioacuten de los resultados de las pruebas para la mejora de los centros

y para el control y seguimiento de la calidad de la educacioacuten Los debates que recoge la

literatura sobre este aspecto se pueden sintetizar en dos liacuteneas argumentales distintas (Bonilla

2003 Derouet Normand amp Bessy 2009 Martiacuten amp Rizo 2011) La primera se vincula a los usos

relacionados con la mejora educativa En este sentido aunque la mayoriacutea de los paiacuteses

explicita la intencioacuten de usar estas pruebas con este fin y que en muchos de ellos existen

procedimientos para que esto se haga efectivo sigue siendo uno de los aspectos maacutes

cuestionados y debatidos (Romaacuten amp Murillo 2009 Barquiacuten et al 2011) La segunda liacutenea

argumental dentro de este aacutembito de debate tiene que ver con la forma en que los resultados

son comunicados a los centros a los estudiantes a sus familias y a la ciudadaniacutea en general

(Iaies 2003 Myres amp Goldstein 2003 MacLauchlan 2011) existe una importante coincidencia

en el efecto negativo que suelen tener las listas comparativas de centros escolares algo que

en Europa a diferencia de EEUU y Canadaacute suele ser una praacutectica poco frecuente incluso

legalmente prohibidas (EURYDICE 2010)

Por otra parte dentro de las investigaciones y la literatura podemos identificar tres aacutembitos

donde el debate vinculado con las praacutecticas relacionadas con las evaluaciones externas

asumen caracteriacutesticas que podemos diferenciar desde el punto de vista analiacutetico

a Desde el punto de vista de las poliacuteticas puacuteblicas en cuyo caso parece existir bastante

consenso sobre su necesidad sin embargo aunque este consenso es maacutes bien compartido

tanto por organismos internacionales como por la mayoriacutea de los estados nacionales hay

paiacuteses que como se ha visto se encuentra revisando la existencia de estos sistemas

b Desde el punto de vista de los profesionales de la educacioacuten dentro de los cuales

como es evidente se pueden encontrar diversos posicionamientos Sin embargo en algo en lo

que parece coincidir la investigacioacuten sobre esta temaacutetica es que la mayoriacutea de los profesores

no aprecia un aporte por parte de estos sistemas de evaluacioacuten para la mejora de su trabajo y

de la ensentildeanza Por otra parte ciertos sistemas de evaluacioacuten que establecen viacutenculos con el

salario merecen un anaacutelisis independiente

c Finalmente desde el punto de vista de los estudiantes de sus familias y de la

ciudadaniacutea en general una vez maacutes las investigaciones muestran disparidad de criterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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aunque parece existir cierta valoracioacuten de ciertas formas de evaluar muchas veces cuestionan

el tipo de informacioacuten que se ofrece a la poblacioacuten

Por otra parte a partir de la estudio realizada por EURYDICE (2010) se pueden identificar tres

tipos de pruebas existentes

a Pruebas que tienen un efecto importante en la trayectoria educativa de los estudiantes

(otorgar certificaciones tomar decisiones pedagoacutegicas promocioacuten etc) Son pruebas de

aprendizaje o sumativas y son realizadas al final de un curso escolar o de una etapa educativa

b Pruebas que tienen como finalidad principal evaluar a los centros escolares yo al mismo

sistema educativo En este caso los resultados de estas pruebas se toman como referente de

la calidad enfocada en ocasiones al profesorado a las praacutecticas educativas o a las mismas

poliacuteticas

c Pruebas cuya finalidad es evaluar el proceso de aprendizaje de los estudiantes a nivel

individual con el objetivo de identificar necesidades y ajustar las respuestas de ensentildeanza es

la denominada evaluacioacuten formativa

Cada uno de estos tipos da lugar a una praacutectica de evaluacioacuten con caracteriacutesticas especiacuteficas

las cuales influyen en los impactos que tienen en la mejora educativa Aunque la mayoriacutea de

los expertos dentro de este campo teoacuterico llegan a admitir que es posible la combinacioacuten y

coexistencia de estas tres pruebas muchos de ellos son criacuteticos con ciertos usos de las mismas

o con los usos maacutes frecuentes que terminan teniendo dentro de los sistemas de evaluacioacuten Sin

embargo maacutes allaacute de que existen importantes defensores de las evaluaciones sumativas las

tendencias actuales muestran una clara convergencia hacia modelos cuando miacutenimo mixtos

es decir que combinan procesos de control y evaluacioacuten externos con otros procesos

evaluativos y educativos internos La investigacioacuten realizada por Elmore (2004) y su equipo en

el distrito escolar de California muestra la importancia de enfocar las evaluaciones externas

como herramientas claramente orientadas a la mejora en la que tambieacuten han evidenciado la

importancia de la del trabajo colaborativo dentro del distrito como condicioacuten para la mejora

educativa En el caso estudiado por Elmore el foco no estuvo puesto en los centros de forma

aislada sino en el distrito como aacutembito de mejora de esta forma sostiene este autor la

competencia que aparece en otros procesos de evaluacioacuten y que muchas veces termina

siendo un obstaacuteculo en varios sentidos no se hace presente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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En otra investigacioacuten realizada por Fullan (2006) en Ontario es destacable la estrategia de

mejora empleada el objetivo fue el uso continuo de la informacioacuten para el desarrollo de

capacidades Trasladado esto a los sistemas de evaluacioacuten parece evidente de que si sus

resultados pueden relacionarse con aspectos a transformar en capacidades para la mejora

cambiariacutea notablemente la visioacuten de supervisioacuten burocraacutetica En una liacutenea similar Hopkins

(2008) sostiene a partir de una investigacioacuten sobre la calidad del sistema educativo de

Finlandia paiacutes que ha eliminado sus pruebas nacionales hasta los 19 antildeos que todo sistema de

rendicioacuten de cuentas debe desarrollar capacidades y generar confianza Para este autor un

sistema de rendicioacuten de cuentas debe ofrecer ldquohellip+ informacioacuten relevante y actualizada que

verdaderamente refleje las fortalezas y debilidades en cuanto al desarrollo del potencial de sus

alumnos Combina sistemas de escolares internos con distintos niveles de control externos

hellip+rdquo (Hopkins 2008155) Para eacutel la rendicioacuten de cuentas que mejora la calidad ofrece

informacioacuten para personalizar la educacioacuten es decir para detectar la respuesta educativa que

necesita cada estudiante para desarrollar el maacuteximo potencial e informacioacuten para abordar

aquellos aspectos del desarrollo profesional necesarios La evaluacioacuten centrada en el

conocimiento de la que habla Stake (2006) forma parte de este tipo de tendencias Este autor

no rechaza la evaluaciones sumativas sin embargo si la intencioacuten es la mejora sostiene que es

necesario inclinarse claramente hacia evaluaciones que generen un conocimientos sobre los

procesos y los resultados

En el marco de las investigaciones realizadas y de los debates dentro del campo de las

evaluaciones de la calidad educativa Hopkins (2008) en coincidencia con Fullan (2006)

considera que los sistemas de rendicioacuten de cuentas parecen ser una condicioacuten para la mejora

de la educacioacuten sin embargo esto muchas veces no sucede cuando dependen uacutenicamente o

de forma excesiva de formas externas y aboga por un sistema que combine procedimientos

externos e internos de rendicioacuten de cuentas para la mejora educativa algo que parece estar

configurando una nueva tendencia dentro de algunos paiacuteses europeos En esta misma liacutenea

Poggi (2008) sentildeala que para la mejora de la educacioacuten se hace necesario la conjuncioacuten de los

siguientes aspectos a) responsabilidad individual y colectiva (en distintos planos o niveles

desde el Estado hasta los alumnos pasando por docentes familias y otros actores) b) altas

expectativas sociales (y maacutes precisamente de la comunidad maacutes proacutexima a la institucioacuten

escolar) sobre el valor de la educacioacuten y c) condiciones adecuadas para el desarrollo del

proceso educativo y reglas y mecanismos democraacuteticamente construidos de rendicioacuten de

cuentas Como puede verse es necesario que no soacutelo se hable de la complejidad del sistema

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

10

educativo y de su evaluacioacuten en relacioacuten con la rendicioacuten de cuentas y la responsabilidad sino

que se evite la proposicioacuten de formas extremadamente simplificadas para llevarlas a cabo

En este contexto y teniendo en cuenta las necesidades de mejora educativa que han quedado

reflejadas en el Sistema Estatal de Indicadores 2011 (Instituto de Evaluacioacuten 2011) y los

compromisos que ha asumido Espantildea en esta direccioacuten (Instituto de Evaluacioacuten 2011b)

resulta imprescindible generar un conocimiento contrastado sobre las poliacuteticas de evaluacioacuten

externa en cuanto a lo que aportan para la mejora educativa Se enmarca asiacute dentro del

estudio de las poliacuteticas puacuteblicas

LAS POLIacuteTICAS DE EVALUACIOacuteN EN ESPANtildeA

La Ley Orgaacutenica 22006 de 3 de mayo de Educacioacuten (LOE) ha dado un lugar relevante a las

evaluaciones externas en ella se preveacute la realizacioacuten de evaluaciones generales de diagnoacutestico

con el objetivo de obtener datos de estudiantes y centros de las distintas comunidades

autoacutenomas y del conjunto del Estado Tomando como referente al programa PISA estas

evaluaciones se centraraacuten seguacuten la normativa en las competencias baacutesicas del curriacuteculo y se

realizaraacuten una en la ensentildeanza primaria (al finalizar segundo ciclo) y otra en la ESO (al finalizar

el segundo curso) De acuerdo con el marco teoacuterico definido con anterioridad estas

evaluaciones tendraacuten un caraacutecter formativo e interno

En cualquier caso la normativa contempla dos tipos de procesos uno de caraacutecter muestral es

decir a partir de la aplicacioacuten del diagnoacutestico a centros seleccionados y otra de caraacutecter censal

destinada a todos los centros Se establece una finalidad relacionada con la mejora e

innovacioacuten educativa definieacutendolas como formativas y orientadoras para los centros e

informativas para las familias y para la comunidad educativa En la misma ley se insiste por

otra parte en la necesidad de fomentar procesos de autoevaluacioacuten institucional

Ademaacutes de estas evaluaciones de diagnoacutestico de caraacutecter prescriptivo en todo el territorio

espantildeol hay comunidades que cuentan con otras evaluaciones con finalidades y caracteriacutesticas

diversas tanto de aprendizajes como institucionales

Finalmente hay que mencionar las pruebas internacionales en las que Espantildea participa De

acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten (2012) Espantildea ha

participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y en las ediciones de 1995 y de

2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro paiacutes participoacute por primera vez en el

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea (Instituto de Evaluacioacuten 2010) Finalmente

Espantildea participa en el Programa para la Evaluacioacuten Internacional de los Alumnos (PISA)

REFLEXIOacuteN EN TORNO A LAS HIPOacuteTESIS

En el enfoque metodoloacutegico escogido la funcioacuten de las hipoacutetesis se asocia con la formulacioacuten

de los objetivos en este sentido supone una formulacioacuten basada en el marco teoacuterico que

focalizaraacute la atencioacuten en alguacuten aspecto especiacutefico a modo de problema dilemas o vaciacuteos que

auacuten no se logran responder o cubrir con el conocimiento disponible

a) Las conceptualizaciones sobre las evaluaciones educativas (nacionales internacionales

externar internas sumativas formativas etc) se presentan de forma sumamente

fragmentada con sentidos acotados y carente de una visioacuten holiacutestica que constituya un marco

interpretativo uacutetil para el disentildeo de poliacuteticas de evaluacioacuten claramente orientadas a la mejora

educativa

b) En Espantildea ademaacutes de las evaluaciones nacionales existen comunidades con otro tipo

de pruebas El conocimiento existente no da cuenta de su necesidad y relevancia

c) Desde el punto de vista normativo las evaluaciones nacionales que contempla Espantildea

se presentan como formativas y orientadas a la mejora e innovacioacuten de los centros de

acuerdo con las evidencias de la literatura esta intencioacuten no es una realidad generalizada Es

necesario corroborar este hecho y ofrecer una respuesta sobre las causas del mismo

d) A pesar de las intenciones reflejadas en la normativa espantildeola que intentan hacer de

las evaluaciones nacionales e internacionales una herramienta de mejora educativa no hay

evidencias de que se cuente con los conocimientos y las competencias necesarias para hacerlo

e) La calidad de la educacioacuten hace referencia entre otras cosas al desarrollo integral del

sujeto el cual viene estipulado en el curriacuteculo de cada comunidad autoacutenoma Sin embargo las

evaluaciones nacionales e internacionales soacutelo se centran en un aspecto del mismo o en

aspectos que incluso pueden no estar reflejados en eacutel

f) Las evaluaciones nacionales e internacionales pueden analizarse como poliacuteticas

puacuteblicas para la mejora educativa sin embargo su visualizacioacuten queda reducida en muchas

ocasiones a una accioacuten aislada no vinculada con otras acciones de mejora ni inserta en otras

poliacuteticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

12

METODOLOGIacuteA PROPUESTA

La investigacioacuten presentada se desarrollaraacute desde un enfoque de metodologiacutea mixto que se

concreta en las siguientes fases

Fase 1 Elaboracioacuten del marco teoacuterico multidisciplinar de caraacutecter holiacutestico sobre la calidad

educativa y sus evaluaciones

Fase 2 Estudio comparado de las poliacuteticas de evaluacioacuten especiacuteficas de cada una de las

Comunidades Autoacutenomas

Se centra en el desarrollo de los objetivos B1 y B2 El estudio seguiraacute las fases especiacuteficas de

la metodologiacutea comparada

Fase 3 Estudio de las evaluaciones como poliacuteticas para la mejora educativa Estudio de casos

muacuteltiples

El caso constituye la unidad objeto de estudio las poliacuteticas de evaluacioacuten contempladas en sus

tres niveles de concrecioacuten macro meso y micro que se desarrollan en las comunidades

autoacutenomas Es la fase maacutes extensa y supone un importante trabajo de campo abarca los todos

los objetivos restantes El estudio se realizaraacute en 8 comunidades autoacutenomas Esta fase se

organiza en dos sub-fases

3A- Administracioacuten de un cuestionario a gran escala relacionado con los objetivos C1

al F5 Esta sub-fase nos ofreceraacute un conocimiento que serviraacute de base para la fase

siguiente

3B- Estudio de casos muacuteltiples La unidad objeto de estudio las poliacuteticas de

evaluacioacuten contempladas en sus tres niveles de concrecioacuten macro meso y micro que

se desarrollan en las comunidades autoacutenomas Es la fase maacutes extensa y supone un

importante trabajo de campo que abarca los objetivos C1 a F5 Se realizaraacute en 8

comunidades autoacutenomas Este estudio de caso se caracteriza por ser

- De tipo descriptivo en tanto se pretende analizar el fenoacutemeno de las evaluaciones

como poliacuteticas para la mejora educativa en el contexto de las Comunidades

Autoacutenomas (Yin 1994)

- De tipo explicativo en tanto se busca producir conocimiento sobre causas y procesos

relacionados con el fenoacutemeno mencionado (Yin 1994)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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A MODO DE CIERRE

Con esta investigacioacuten se pretende construir un conocimiento desde un enfoque

multidisciplinar de las poliacuteticas de evaluacioacuten como herramientas para la mejora educativa Se

han escogido las poliacuteticas en vigor procurando identificar posibilidades de mejora de las

mismas tanto en lo que se refiere a su conceptualizacioacuten como a sus posibles concreciones El

conocimiento generado tendraacute una alta probabilidad de transferencia y buscaraacute profundizar en

la liacutenea iniciada a traveacutes de un nuevo proyecto de investigacioacuten para ser presentado en las

convocatorias nacionales europeas explorando tambieacuten otras alternativas en un contexto

donde las poliacuteticas supranacionales son cada vez objeto de mayor atencioacuten epistemoloacutegica

En este momento el presente proyecto se encuentra en fase de desarrollo no poseemos de

momento resultados directos provenientes del trabajo de campo Sin embargo se empieza a

vislumbrar un escenario complejo teniendo en cuenta los tres niveles de abordaje nivel

macro (Administracioacuten Central Nivel Estatal) meso (Administracioacuten Autonoacutemica Nivel

Autonoacutemico) y micro (Centros Educativos) Cada uno de ellos nos ofrece un punto de vista

especiacutefico relacionado con el disentildeo y desarrollo de las poliacuteticas de evaluacioacuten con una

diferencia importante entre los puntos de vistas de nivel macro y meso con las del nivel micro

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Las evaluaciones externas en la Ley Orgaacutenica para la Mejora de

la Calidad Educativa de Espantildea

HECTOR MONARCA

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

hectormonarcauames

Resumen

De acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten (2012)

Espantildea ha participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y en las

ediciones de 1995 y de 2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro paiacutes

participoacute por primera vez en el Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea (Instituto

de Evaluacioacuten 2010) Finalmente Espantildea participa en el Programa para la Evaluacioacuten

Internacional de los Alumnos (PISA) Por otra parte junto a estas evaluaciones

internacionales tanto a nivel estatal como autonoacutemico se han implementado otras

pruebas externas Esta tendencia se ha visto reafirmada y ampliada por la nueva Ley

Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa (LOMCE) aspecto que seraacute analizado

en esta comunicacioacuten La proliferacioacuten de estas praacutecticas puede ser analizada desde

diversas perspectivas En esta comunicacioacuten se realiza una aproximacioacuten sustentada en

numerosos escritos recientes (Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006) que

advierten sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las praacutecticas de

ensentildeanza Por otra parte desde esta aproximacioacuten criacutetica se sostiene que las

evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la educacioacuten no parecen ser

tan abundantes

Palabras clave evalauciones externas LOMCE calidad de la educacioacuten

Abstract

This paper derives from research project lsquoNational and international evaluations as

educational improvement measures in Spain within the European contextrsquo (reference

CEMU-2013-20) funded in the context of Autonoma University of Madridrsquos (UAM)

second competitive call for interdisciplinary research projects approved on 8th

February 2013 by UAMrsquos governing board More specifically our main objective is to

present this project although at this stage results cannot be put forward yet This

project focuses on the policies of quality assessment in education The proposal

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

17

departs from a multidisciplinary approach both epistemologically and

methodologically Systems of quality assessment in education have become a key

device for governments to improve education Spain has been systematically

incorporating these policies at the national and regional level and the last educational

reform proposals are emphasising this trend Here we find a clear rationale for

implementing a project of this nature able to investigate what these policies actually

contribute to educational improvement In this sense we intend to carry out

multidisciplinary research work in order to answer two key questions First are

external assessments capable to enhance education in Spain This question under the

hypothesis raised in the light of the literature revised leads to the second question

which is how can these tests become an improvement tool The objectives of this

research turn around these two questions and these aspects will be addressed in this

paper

Keywords external evalauciones LOMCE quality of education

INTRODUCCIOacuteN

De acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten

(MECyD 2012) Espantildea ha participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y

en las ediciones de 1995 y de 2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro

paiacutes participoacute por primera vez en el Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea

(Instituto de Evaluacioacuten 2010) Finalmente Espantildea participa en el Programa para la

Evaluacioacuten Internacional de los Alumnos (PISA) Por otra parte junto a estas

evaluaciones internacionales tanto a nivel estatal como autonoacutemico se han

implementado otras pruebas externas

La proliferacioacuten de estas praacutecticas puede ser analizada desde diversas perspectivas En

esta comunicacioacuten se realiza una aproximacioacuten sustentada en numerosos escritos

recientes (Barquiacuten et al 2011 Monarca 2012 Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008

Stake 2006) que advierten sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las

praacutecticas de ensentildeanza Las evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la

educacioacuten no parecen ser tan abundantes como el documento sugiere y tampoco

existen consensos claros sobre ellas Sin embargo el documento da por sentado algo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

18

que de momento la investigacioacuten educativa no corrobora los beneficios que aportan

a la mejora de los resultados

Junto con esta novedad la Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa

incorpora novedades que pueden ser interpretadas como un cambio de muchos de los

laquosentidosraquo que hasta ahora se le veniacutea dando en Espantildea a la educacioacuten De esta

manera se restaura la idea de una respuesta educativa diferenciada dentro de la

misma educacioacuten denominada baacutesica apelando a un lenguaje que legitima las

diferencias a modo de naturalizaciones En este contexto la imposicioacuten de

evaluaciones supone algo maacutes que un elemento teacutecnico tal como permiten apreciar

diversas corrientes teoacutericas las evaluaciones son estudiadas cada vez maacutes como nueva

formas de regulacioacuten de la educacioacuten (Barroso 2005 Carvalho 2009)

Por tanto en esta comunicacioacuten se propone una laquolecturaraquo de las evaluaciones que

incorpora el Ministerio de Educacioacuten Cultura y Deporte de Espantildea (MECyD) como una

nueva forma de regulacioacuten de las praacutecticas educativas un instrumento de regulacioacuten

que junto con otras regulaciones normativas pretende acompantildear un cambio de la

forma de entender la educacioacuten baacutesica en Espantildea

REFLEXIOacuteN EN TORNO A LA NUEVA PROPUESTA DE LEY2

Una idea global que surge de la lectura del anteproyecto es que nos encontramos ante

una reconfiguracioacuten de los sentidos vinculados con la educacioacuten y con la escuela Las

propuestas realizadas los argumentos que se ofrecen el lenguaje que se emplea y los

marcos subyacentes que un anaacutelisis del discurso revela nos permite apreciar el intento

de reconfigurar los sentidos y las praacutecticas de lo que hasta ahora al menos desde

1990 se ha entendido por educacioacuten baacutesica y obligatoria En este sentido las

propuestas del anteproyecto permiten anticipar ldquola quiebra de la unidad del sistema

educativo que es un punto de partida para la igualdad de oportunidadesrdquo (Gimeno

2 Este apartado es una adaptacioacuten del artiacuteculo que he escrito en 2012 sobre esta temaacutetica Monarca H

(2012) La nueva ley orgaacutenica para la mejora de la calidad educativa La restauracioacuten del discurso conservador Tendencias Pedagoacutegicas 20 107-121

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

19

1998312) Tomando las palabras del autor recieacuten mencionado las propuestas de

diversificacioacuten en itinerarios o circuitos diferenciados dentro de la ensentildeanza

obligatoria como expliacutecitamente se hace puede fomentar la desigualdad En esta

liacutenea el documento puede ser interpretado como un retroceso en cuanto al principio

de comprensividad educativa un claro cambio de direccionalidad en cuanto al mismo

Este cambio de direccionalidad se hace bajo un lenguaje que anula descarta en cierta

forma desvaloriza una consensuada liacutenea democratizadora en la que la educacioacuten es

un derecho vinculado a la construccioacuten de la ciudadaniacutea (Gimeno 2000 Veacutelaz de

Medrano y De Paz 2010) Dicha tendencia basada en el principio de comprensividad y

atencioacuten a la diversidad simultaacuteneamente se instaura a partir de la vuelta de la

democracia a Espantildea no inmediatamente sino a partir de un proceso complejo de

debates y reclamos sociales acadeacutemicos y profesionales Hoy este documento

sencillamente da la espalda a este proceso y a lo que este ha supuesto en cuanto a

consenso sobre el sentido de la educacioacuten y de la escuela Es cierto que este consenso

ha permanecido en ocasiones maacutes a nivel de principios normativos que de

concreciones o resultados evidentes El Sistema Estatal de Indicadores de la Educacioacuten

(MEC 2011) junto con ofrecernos evidencias de mejora como se ha visto nos sigue

mostrando por ejemplo que un porcentaje de los joacutevenes no finaliza la ESO en el

momento que la ley estipula Por otro lado las investigaciones y literatura sobre el

fracaso escolar y la exclusioacuten educativa (Calero 2006 Calero Choi y Waisgrais 2010

Escudero y Martiacutenez 2011 Fernaacutendez Mena y Riviere 2010 Gil Villa 2010 Roca

2010) muestran el viacutenculo entre los resultados del sistema y el origen social de los

alumnos y alumnas Sin embargo nada de lo que propone el anteproyecto parece

apuntar a revertir esta situacioacuten antes propone laquoblanquearraquo estos resultados

diferenciados reforzando la idea y la propuesta ya existente de dos circuitos uno

acadeacutemico para aquellos que la naturaleza ha favorecido otro profesional para los

que no son aptos para el primero

El documento se aparta de esta tradicioacuten progresista maacutes o menos asumida y no

siempre del todo acompantildeada En este caso el argumento que se expone no soacutelo se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

20

aparta de lo laquopoliacuteticamente correctoraquo sino de los campos teoacutericos que despueacutes de

muchos esfuerzos han logrado despejar del lenguaje la idea de que nacemos con

ciertos dones que la divinidad o la naturaleza nos ha regalado (Kaplan y Ferrero 2002)

desvinculadas de las condiciones histoacutericas poliacuteticas econoacutemicas y educativas de los

contextos y de los sujetos que en ellos viven y de las oportunidades que estos tienen

para desarrollarse como tales El laquosistemaraquo ofreceriacutea asiacute una legitimacioacuten o

naturalizacioacuten de las desigualdades sociales existentes (Terigi 2010) bajo el

argumento anacroacutenico de la laquoreparticioacuten de los donesraquo (Kaplan y Ferrero 2002) algo

inexplicable en el siglo XXI Asiacute el documento se fundamenta en el innatismo el cual

defiende ldquola creencia de que existe un reparto desigual de las capacidades humanas

que no permite ir maacutes allaacute de lo que posibilitan los liacutemites dados de cada unordquo

(Gimeno 200057)

Explicadas asiacute las diferencias entre los sujetos el documento propone la separacioacuten

temprana de circuitos educativos concretamente que esto suceda a los 14-15 antildeos

ubicaacutendonos en el escenario educativo de 1970 De esta manera la formacioacuten

polivalente y amplia de los estudiantes en la educacioacuten baacutesica como base de una

ciudadaniacutea democraacutetica deja de ser una prioridad Se puede deducir del documento

que la actual educacioacuten baacutesica formada por la educacioacuten primaria y la educacioacuten

secundaria obligatoria se fragmenta De hecho no se hace ni una sola mencioacuten a la

educacioacuten baacutesica De la misma manera tampoco hace ninguna mencioacuten al derecho de

la educacioacuten

Por otra parte el documento de propuestas para el anteproyecto no soacutelo ofrece como

supuesta novedad la diferenciacioacuten en dos circuitos uno acadeacutemico y otro profesional

algo que ahora tambieacuten existe sino que lo anticipa y los desliga del tiacutetulo de la ESO

algo realmente preocupante

Se crea asiacute un circuito devaluado al margen del valor social que las certificaciones

puedan tener Un circuito desligado de la educacioacuten baacutesica Algo que plantea un

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

21

sinnuacutemero de preguntas iquestSe obligariacutea a unos determinados estudiantes a ir por un

trayecto mientras a otros se les obliga a ir por otro iquestO dejariacuteamos de hablar de

educacioacuten obligatoria iquestPor queacute se desvincula la opcioacuten profesional del tiacutetulo de la

ESO acaso deja de formar parte de la misma iquestCoacutemo se espera con esta medida lograr

uno de los objetivos que el anteproyecto dice perseguir aumentar la tasa de

graduados en educacioacuten secundaria obligatoria Esta aparente contradiccioacuten puede

interpretarse en clave de cambios de sentidos de la educacioacuten baacutesica de la

obligatoriedad y de la educacioacuten en general Ninguna referencia hareacute al resto de la

frase como por ejemplo queacute se quiere decir con miacutenima cualificacioacuten profesional y

coacutemo puede encajar esto en una ley para la mejora de la calidad

Otro de los elementos que pueden ser interpretados en clave de cambio de sentido de

la educacioacuten baacutesica es la propuesta de aumentar las horas de clase de las denominadas

materias instrumentales Esto se haraacute seguacuten parece desprenderse del documento

reduciendo el nuacutemero de materias Esta visioacuten maacutes claacutesica y academicista de la

educacioacuten limita uno de los sentidos que la misma tiene cuando se trata de una etapa

obligatoria el estimular el desarrollo integral del sujeto ofreciendo un educacioacuten

polivalente Por otra parte se insiste en algo que no ha dado resultado desde el punto

de vista de la calidad-equidad en este sentido Cecilia Braslavsky (2006) considera que

a la luz del fracaso del sistema educativo en la concrecioacuten del equilibrio entre

formacioacuten racional praacutectica y emocional se debe ahora entender que la calidad para

todos se relaciona con el desarrollo simultaacuteneo de los tres aspectos antes

mencionados algo maacutes acorde con la buacutesqueda en la que Espantildea ha estado inmersa

en los uacuteltimos 25 antildeos

Otro aspecto del documento que refuerza la idea que se estaacute abordando en este

apartado tiene que ver con que la laquoinclusioacutenraquo como concepto y como praacutectica

desaparece del discurso De pronto despueacutes de deacutecadas inmersos en debates y en la

buacutesqueda de praacutecticas que favorezcan la inclusioacuten educativa eacutesta desaparece del

discurso En este sentido no se menciona ni una sola vez la palabra inclusioacuten siendo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

22

que este es una de los aspectos en los que maacutes se ha matizado y materializado la

democratizacioacuten de la educacioacuten a traveacutes de una forma de entender la educacioacuten y de

organizar las ensentildeanzas Tampoco se hace referencia a la laquoatencioacuten a la diversidadraquo

salvo que se entienda por eso la propuesta que se hace de ofrecer caminos distintos

para los que quieran seguir estudiando y los que no totalmente alejado de los

planteamiento maacutes actuales en la temaacutetica

Antes de finalizar este apartado quiero mencionar dos aspectos maacutes relacionados con

el cambio de sentido de la educacioacuten baacutesica y de la educacioacuten en general que subyace

en el anteproyecto Por un lado en consonancia con muchas de las cosas que se han

abordado ya en ninguacuten lugar se menciona el tema de la equidad aspecto que ha sido

asociado por muchos a la calidad de la educacioacuten (Braslavsky 2006 Seibold 2000)

desligadas ambas la compleja relacioacuten entre calidad y cantidad de la que habla

Tedesco (2007) se resuelve estrechando los pasos entre unos niveles y otros de tal

manera que soacutelo aquellos que logran superar determinadas pruebas pueden acceder

a los bienes culturales que la sociedad genera En este sentido como sostiene Gentili

(199748) ldquocalidad y cantidad son en la perspectiva neoliberal dinaacutemicas de imposible

articulacioacutenrdquo

Por otro lado no se menciona ni una sola vez la educacioacuten social y ciudadana ni como

espacio curricular especiacutefico (aacuterea o materia) ni como algo transversal Esta funcioacuten

que ha asumido la escuela desde su origen no puede desaparecer quedaraacute por tanto

impliacutecita en el denominado curriacuteculo oculto alejada asiacute de las esferas puacuteblicas de

debate y contraste necesarios cuando de construir la ciudadaniacutea se trata Los intentos

de los uacuteltimos antildeos por explicitar esta funcioacuten de la educacioacuten dando la oportunidad

para que se transforme en objeto de debate y contraste puacuteblico quedaraacute ahora

diluida y apareceraacute bajo otras formas no siempre contrastadas

LAS EVALUACIONES EXTERNAS EN LA LOMCE3

Sobre esta temaacutetica contamos con numerosos escritos recientes (Barquiacuten et al 2011

Monarca 2012 Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006) que advierten

3 Se retoma los argumentos expuestos en el artiacuteculo de mi autoriacutea mencionado en el pie de paacutegina nordm 1

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

23

sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las praacutecticas de ensentildeanza Las

evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la educacioacuten no parecen ser

tan abundantes como el documento sugiere y tampoco existen consensos claros sobre

ellas Sin embargo el documento da por sentado algo que de momento la

investigacioacuten educativa no corrobora los beneficios que aportan a la mejora de los

resultados

La Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa otorga una excesiva relevancia

a los mecanismos de evaluacioacuten externa incorporando varias pruebas de este tipo

dentro de lo que al menos hasta hoy se denomina educacioacuten baacutesica y obligatoria

I) Dos pruebas en primaria ldquode competencias baacutesicas y consecucioacuten de objetivos

(con efectos individuales) y de conocimientos (sin efectos individuales)rdquo

II) Dos pruebas en la ESO a) una en 3ordm ESO denominada ldquoprueba diagnoacutesticordquo sin

efectos acadeacutemicos b) una evaluacioacuten final de ESO aparentemente diferenciada

seguacuten se quiera acceder a Bachillerato o a Formacioacuten Profesional

Se puede decir que estas pruebas pasan a ser las verdaderas organizadoras de la

educacioacuten casi el fin de la misma contra toda sugerencia que pueda hacer la

pedagogiacutea como campo de estudio especializado En este sentido considero adecuado

mencionar los siguientes aspectos

a) Esta visioacuten supone una limitacioacuten de la formacioacuten integral polivalente del

sujeto (Braslavsky 2006 Peacuterez y Soto 2011 Tedesco 2007) Las pruebas obligan a

centrar la ensentildeanza en determinadas materias y en determinados aspectos de las

mismas en ese marco el curriacuteculo queda condicionado laquoatrapadoraquo laquoatadoraquo a estas

pruebas

b) Las pruebas externas y las praacutecticas asociadas a ellas contribuyen a generar un

concepto empobrecido de calidad educativa (Monarca 2012) La loacutegica subyacente a

eacutestas vincula la calidad con el resultado en una prueba concreta y con las puntuaciones

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

24

que a partir de ellos se construyen En este sentido recomiendo profundizar sobre la

forma en que estas pruebas se desarrollan y las puntuaciones se construyen (Martiacutenez

2006 Saacutenchez y Garciacutea-Rodicio 2006)

c) Se devaluacutea el sentido de la evaluacioacuten continua como praacutectica incorporada al

mismo proceso de ensentildeanza con finalidad formativa de mejora del estudiante

evaluado (Perrenoud 2008 Stake 2006)

d) Por lo general la informacioacuten que aportan este tipo de pruebas para la mejora

de la ensentildeanza es muy escasa y limitada En teacuterminos generales soacutelo ofrecen

informacioacuten sobre lo que he denominado un laquoestado estaacutetico de logroraquo (Monarca

2012) nada o muy poca sobre los procesos realizados ninguna sobre el proceso que

ha seguido un sujeto o grupo de sujetos desde un laquopunto hasta otroraquo

e) Relacionado con lo anterior las pruebas externas basadas soacutelo en un laquoestado

estaacutetico de logroraquo output dice el documento contribuyen a reforzar y legitimar las

diferencias iniciales existentes laquopremiandoraquo incluso a los maacutes beneficiados en la

entrada del sistema

SU CONCEPCIOacuteN DE CALIDAD

Quiero insistir en la idea de evaluacioacuten y de calidad que ofrece la ley La definicioacuten que

hace el documento es sencillamente anacroacutenicahellip pero ofrece claves para comprender

los marcos ideoloacutegicos subyacentes Seguacuten se expresa en el anteproyecto de la misma

ley ldquoLa calidad educativa debe medirse en funcioacuten del output (resultados de los

estudiantes) no del input (inversioacuten nordm profesoresunidades)rdquo

Como puede verse a pesar de los debates y las criacuteticas relacionados con la

terminologiacutea empleada se habla de medir la calidad no de evaluarla diagnosticarla

sino de medirla concepto alejado de los marcos teoacutericos actuales de la evaluacioacuten

educativa Centraacutendonos en lo que maacutes refleja su caraacutecter conservador su concepto

de calidad desliga laquoorigen y procesosraquo de laquoresultadosraquo iquestCoacutemo un documento de un

organismo puacuteblico el Ministerio de Educacioacuten Cultura y Deporte en este caso puede

hacer expliacutecito de esta manera esta concepcioacuten Las pruebas externas asiacute entendidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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constituyen una forma evidente de laquolegitimarraquo la desigualdad y la injusticia a traveacutes de

las praacutecticas de evaluacioacuten externa Esta frase del documento equivale a decir laquomire

usted a miacute me da igual que sus padres no hayan podido estudiar que no tengan

recursos que usted no los tenga Me da igual si en su clase son 21 o 42 si su centro

tiene los recursos necesarios si tiene suficientes profesores si tiene libros u otros

recursos si tiene un lugar donde estudiarhellipLo uacutenico que me interesa lo uacutenico que voy

a contemplar a valorar es el resultado que usted obtiene en esta prueba que ahora le

hago lo que esta prueba me indicaraquo

Despueacutes de deacutecadas de esfuerzos por resituar esta temaacutetica con una identidad maacutes o

menos adecuada para el campo educativo se vuelve a una idea de calidad maacutes

apropiada para el campo productivo que para el educativo Pruebas que asiacute

presentadas se transforman en una laquopraacutectica de seleccioacutenraquo que ignora las diferencias

iniciales la cual queda legitimada a traveacutes de los resultados que los estudiantes

obtienen en las mencionadas pruebas A partir de los cuales se diferenciaraacuten los

circuitos educativos

Nada maacutes direacute sobre las evaluaciones externas y la calidad de la educacioacuten que de

forma expliacutecita o impliacutecita se desprenden del documento aunque siacute sugiero una

lectura centrada en estos aspectos prestando especial atencioacuten a la terminologiacutea

empleada a los usos conceptuales que realiza a las evidencias que ofrece

CONCLUSIONES

La Ley Orgaacutenica de Mejora de la Calidad (LOMCE) de Espantildea se presenta a la

ciudadaniacutea y al profesorado como una propuesta tendente a superar una supuesta

crisis del sistema educativo Espantildeol Este discurso generado desde el poder en el que

se muestra una visioacuten apocaliacuteptica de la educacioacuten actual en un momento en el que los

mismos datos estadiacutesticos confirman que nunca Espantildea ha estado mejor parece ser el

marco en el que se intenta legitimar la actual propuesta de ley La misma entre otras

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

26

cosas pone especial eacutenfasis en las evaluaciones externas y estas se transforman en la

respuesta a la crisis mencionada Las mismas traeriacutean aparejada la mejora del sistema

Esta propuesta especiacutefica junto con otros aspectos de la Ley no abordados en esta

comunicacioacuten suponen un clara transformacioacuten de los sentidos que desde finales de

la dictadura franquista a la actualidad se veniacutean consensuando en torno a la

educacioacuten De esta manera tanto las evaluaciones como otros elementos de la Ley

estaacuten jugando un papel relevante en este cambio de sentidos en torno a la educacioacuten

en sintoniacutea con los avances de las ideas neoconservadoras y neotecnicistas

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

29

Poliacuteticas para el aseguramiento de la calidad en la ensentildeanza

obligatoria de Espantildea

HECTOR MONARCA Universidad Autoacutenoma de Madrid

Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

hectormonarcauames

SOLEDAD RAPPOPORT Universidad Autoacutenoma de Madrid

Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

soledadrappoportuames

CRISTIAN SOTO Universidad Autoacutenoma de Madrid

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

Resumen

La presente comunicacioacuten se enmarca en el proyecto de investigacioacuten ldquoEvaluaciones

nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el

contexto Europeordquo (referencia CEMU-2013-20) financiado en el marco de la segunda

convocatoria competitiva de Proyectos de Investigacioacuten Multidisciplinares de la

Universidad Autoacutenoma de Madrid aprobada por el Consejo de Gobierno del 8 de

febrero de 2013 En este caso el objetivo principal de la presente comunicacioacuten es

presentar los sistemas de aseguramiento de la calidad que han implementado en tres

Comunidades Autoacutenomas (CCAA) de Espantildea Paiacutes Vasco Andaluciacutea y Madrid

En el marco del proyecto mencionado denominamos poliacuteticas de aseguramiento de la

calidad a aquellas praacutecticas relativamente recientes orientadas a generar

conocimiento sobre el sistema educativo en este caso vinculado a la ensentildeanza

obligatoria y acciones dirigidas a su mejora Con mucha frecuencia estas praacutecticas han

terminado estando reducidas a evaluaciones externas centradas en el rendimiento de

los estudiantes sin ninguna o con escasas acciones posteriores Por otra parte estos

sistemas de aseguramiento de la calidad han recibido diversas criacuteticas en gran parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

30

relacionadas con su loacutegica original maacutes proacutexima al mundo empresarial que al

educativo

En este sentido junto con dar a conocer desde un punto de vista fundamentalmente

descriptivo los sistemas de aseguramiento de la calidad de las cuatro CCAA

mencionadas se aborda la discusioacuten centrada en los siguientes aspectos iquestes posible

hablar de sistemas de aseguramiento de la calidad iquestqueacute concepciones de calidad

subyacente predominan iquestqueacute consecuencias tienen para las praacutecticas educativas

Palabras clave sistemas de aseguramiento de la calidad evaluaciones externas

calidad de la educacioacuten

Abstract

This communication is part of the research project umlNational and International

assessments such as police for the improvement of education in Spain in the European

contextuml (reference CEMU-2013-20) funding within the framework of the second

competitive call for proposals projects research multidisciplinary of the Universidad

Autoacutenoma of Madrid approved by the Governing Council on February 8 2013 The

main objective of this communication is to present the systems of quality assurance

that have implemented in three autonomous communities of Spain Basque country

Andalucia and MadridIn the framework of this research we call that quality assurance

policies practices relatively recent aimed to generate knowledge about the

educational system in this case linked to compulsory education and actions aimed at

its improvement Most often these practices have ended up being reduced to external

assessment focused on the performance of students without any or with scarce shares

posteriors On the other hand these systems of quality assurance have been various

criticisms largely related to its original logic more next to the business world than to

education Therefore together with make know from a primarily descriptive point of

view the above regions quality assurance systems deals with the discussion focused

on the following aspects is it possible to talk about quality assurance systems That

conceptions of underlying quality predominated have implications for the educational

practices

Keywords systems of quality assurance external evaluations quality of education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

31

INTRODUCCIOacuteN

Los sistemas de evaluacioacuten de la calidad educativa tienen una trayectoria

relativamente extensa en los paiacuteses anglosajones Sin embargo su instalacioacuten en

Espantildea como en otros paiacuteses es mucho maacutes reciente Aun asiacute es una temaacutetica que ya

se encuentra instalada tanto a nivel teoacuterico como praacutectico El origen de estos sistemas

de evaluacioacuten de la calidad ha estado muy ligado al sector econoacutemico y empresarial

de hecho gran parte de los conceptos como asiacute tambieacuten de las concreciones de los

mismos ha asimilado sistemas ya existentes en aquel campo En este sentido los

mismos se han definido por una racionalidad teacutecnica dentro del paradigma proceso-

producto cuyo fundamentacioacuten se encontraba en determinar la relacioacuten entre

objetivos y resultados

Este aspecto vinculado al origen de los sistemas de evaluacioacuten de la calidad ha

marcado en gran medida su razoacuten de ser sus rasgos sus formas de concretarse Sin

embargo este rasgo original ha sido cuestionado desde diversos enfoques y por

diversas razones Actualmente aunque la mayoriacutea de los paiacuteses occidentales cuentan

con sistemas de aseguramiento de la calidad los debates en torno a los mismos son

cada vez maacutes intensos

Los sistemas originales centrados en el paradigma proceso-producto han sido

duramente cuestionados por no lograr dar cuenta de la realidad del mundo social y

educativo En este marco los debates en torno a la calidad educativa se han ido

ampliando dando lugar a la buacutesqueda de alternativas maacutes proacuteximas a estos campos

De esta manera se podriacutea sostener que los sistemas de evaluacioacuten de la calidad han

dado lugar a los sistemas de aseguramiento de la calidad como un intento teoacuterico-

praacutectico de dar cuenta de los debates y criacuteticas que se estaban dando

En este sentido los sistemas de aseguramiento de la calidad se supone que significan

un avance en cuanto a los sistemas de evaluacioacuten quedando estos uacuteltimos

comprendidos en los primeros Este avance quedariacutea reflejado en que no soacutelo se pone

la atencioacuten en los productos sino tambieacuten en los procesos necesarios para llegar a los

mismos y muy especialmente en los procesos de mejora que es necesario

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

32

implementar en el marco de las evaluaciones realizadas Este giro conceptual en

cualquier caso no resuelve los debates maacutes profundos en torno a la calidad de la

educacioacuten Por otra parte desde el punto de vista de la concrecioacuten de estos sistemas

la mayoriacutea de ellos desde un punto de vista macro siguen estando centrados maacutes en

la evaluacioacuten que en los procesos de mejora

La presente comunicacioacuten junto con abordar estos debates presenta los sistemas de

evaluacioacuten de la calidad de tres Comunidades Autoacutenomas de Espantildea con el objetivo

de poder tomarlos como punto para el anaacutelisis de acuerdo a los debates antes

mencionados De la misma manera se pretende mediante un estudio comparado

analizar si existen especificidades tanto en los tipos de evaluacioacuten que contempla cada

una de estas comunidades como en la forma en que las implementan

LAS RACIONALIDADES SUBYACENTES4

Tal como se expresoacute en el artiacuteculo ldquoLa racionalidad de las poliacuteticas de evaluacioacuten de la

calidad de la educacioacutenrdquo (Monarca 2012) las praacutecticas vinculadas a la evaluacioacuten de la

calidad educativa pueden ser analizadas desde las racionalidades que subyacen en sus

discursos y en sus procedimientos En este sentido a simple vista podemos apreciar

que durante mucho tiempo los sistemas de evaluacioacuten de la calidad educativa han sido

considerados como un asunto meramente teacutecnico caracteriacutestica que auacuten perdura

como rasgo general en muchos sistemas Tal como se explicoacute en dicho artiacuteculo desde

esta racionalidad la realidad y el conocimiento son entendidos como algo dado que es

necesario captar por medio de una serie de procedimientos algo preexistente a la

accioacuten del sujeto que actuacutea sobre ellos En aquel artiacuteculo aunque no se rechazoacute la

posibilidad de alguna utilidad de esta forma de asumir la evaluacioacuten se cuestionaron

tres aspectos relacionadas las mismas

a) En primer lugar el dejar de lado los aspectos eacutetico-ideoloacutegicos-poliacuteticos que

subyacen a las praacutecticas sociales como la educacioacuten Los sistemas de

evaluacioacuten de la calidad educativa caracterizados por esta racionalidad parten

4 Basado en el artiacuteculo de Monarca (2012)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

33

del supuesto de neutralidad de las praacutecticas evaluativas de sus

procedimientos de sus fines de sus intenciones de sus intereses del lenguaje

etc

b) La segunda criacutetica se referiacutea a las caracteriacutesticas de estos procedimientos de

evaluacioacuten como forma de construir conocimientos sobre los aprendizajes con

importante limitaciones para dar cuenta de la complejidad de la vida escolar y

de los procesos desplegados para promover aprendizajes (Peacuterez y Soto 2011)

c) En tercer lugar se mencionoacute el reduccionismo imperante a la hora de comunicar

los resultados de estos procedimientos de evaluacioacuten

Desde esta perspectiva los sistemas de evaluacioacuten caracterizados por una racionalidad

teacutecnica suelen tener un escaso valor interpretativo y su impacto esperado en la

mejora educativa suele ser pobre o inexistente

Desde una racionalidad hermeneacuteutica-interpretativa en la cual el acento se pone en la

comprensioacuten de los procesos Son muchos los autores que abogan por este tipo de

procesos de evaluacioacuten (Stake 2006 Perrenoud 2008 Escudero 2010 Peacuterez y Soto

2011) en donde el aspecto central es el conocimiento de la realidad Sin embargo en

este caso este conocimiento no se refiere a unos cuantos datos sobre resultados

estos se consideran uacutetiles soacutelo en el marco de otros debates muchos maacutes profundos

Se aboga por un tipo de praacutectica evaluativa capaz de construir un conocimiento que deacute

cuente de la complejidad de los fenoacutemenos por tanto hace referencia a una

evaluacioacuten sisteacutemica (Martiacutenez Rizo 2011) o en palabras de Escudero (2010)

transversal

Tal como se explica en el artiacuteculo de Monarca (2012) antes mencionado desde una

racionalidad hermeneacuteutica los procesos de evaluacioacuten de la calidad de la educacioacuten

deben ser capaces de ofrecer un conocimiento relevante sobre lo que estaacute pasando en

las praacutecticas educativas Esta visioacuten atraviesa todos los aacutembitos de la realidad

educativa y social y simultaacuteneamente del mismo proceso de evaluacioacuten En este

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

34

sentido se entiende que los procedimientos empleados son los que deben garantizar

esto

Finalmente en dicho artiacuteculo se menciona la racionalidad criacutetica la cual ofrece una

visioacuten amplia de los fenoacutemenos educativos y sociales de las interacciones de ambos y

del lugar de la ideologiacutea y los intereses presentes en las diversas praacutecticas aunque

como se apreciarse no puede separarse con claridad de la anterior En este caso

deberaacute contemplarse muy especialmente el papel que juegan las poliacuteticas en la

configuracioacuten de la misma realidad poniendo eacutenfasis en los diversos intereses y

tensiones que recaen sobre el sistema y lo condicionan en las posibilidades de

encaminarse a las metas que expliacutecitamente mencionan las poliacuteticas entre otras las

reflejadas en las leyes de educacioacuten y en los curriacuteculos oficiales Cerrariacuteamos asiacute el

ciacuterculo evaluador que no se inicia ni termina con los resultados de las pruebas de

evaluacioacuten sino que contempla la responsabilidad principal de las poliacuteticas y las

condiciones y funcionamiento social como elementos clave y centrales en relacioacuten a

los aprendizajes realizados Queda asiacute resaltado el caraacutecter eacutetico-poliacutetico de los

sistemas de evaluacioacuten

SISTEMAS DE EVALUACIOacuteN DE LA CALIDAD EN ESPANtildeA

Espantildea ha incorporado los sistemas de evaluacioacuten de forma sistemaacutetica a partir de antildeo

2000 Esta incorporacioacuten ha sido progresiva y hoy en diacutea se cuenta con evaluaciones de

diverso tipo focalizadas en aacutembitos distintos aunque muy especialmente en los

estudiantes tanto de caraacutecter nacional como internacional En esta comunicacioacuten nos

centraremos exclusivamente en lo que sucede en tres Comunidades Autoacutenomas

(CCAA) Comunidad Autoacutenoma de Andaluciacutea Comunidad Autoacutenoma de Madrid y

Comunidad Autoacutenoma del Paiacutes Vasco Es necesario aclarar que desde el punto de vista

de la evaluacioacuten existen pruebas que se dan en todo el Estado espantildeol mientras que

otras soacutelo se implementan en alguna de las CCAA tal como puede apreciarse en la

Tabla 1 la cual refleja aquellas evaluaciones focalizadas en a) estudiantes b)

profesores c) centros y d) otros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Tabla 1 Evaluaciones implementadas en Andaluciacutea Madrid y Paiacutes Vasco

CCAA Sistemas de evaluacioacuten implementado

De Estudiantes De Profesores De centros Otros

Andaluciacutea PIRLS TALIS PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

ESCALA pruebas de competencia linguumliacutestica a 2ordm de Educacioacuten Primaria

Funcioacuten docente y

directiva

Autoevaluacioacuten

basada en

indicadores

Al sistema

educativo andaluz

Madrid PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

Pruebas CDI (Conocimientos y destrezas indispensables 3ordm ESO y 6ordm EP)

Pruebas LEA (Lectura escritura y aritmeacutetica) de 2ordm de Educacioacuten Primaria

Paiacutes Vasco PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

Funcioacuten directiva No dispone No dispone

Fuente Elaboracioacuten propia

Como puede apreciarse las evaluaciones se centran prioritariamente en pruebas

dirigidas a los estudiantes ademaacutes principalmente vinculadas a las competencias

linguumliacutesticas y matemaacuteticas En este caso se cuenta con evaluaciones tanto de caraacutecter

internacional por ejemplo las tres CCAA participan de PISA como de caraacutecter estatal

como la Evaluacioacuten Diagnoacutestica la cual viene estipulada en la Ley Orgaacutenica de

Educacioacuten del antildeo 2006 Sin embargo tambieacuten pueden apreciarse diferencias en

algunos casos significativas En este sentido la Comunidad Autoacutenoma del Paiacutes Vasco

soacutelo cuenta con las pruebas estipuladas para todo el Estado Espantildeol y PISA no agrega

otro tipo de evaluaciones En cambio tanto la Comunidad de Andaluciacutea como la de

Madrid incorporan otro tipo de pruebas especiacuteficas las cuales vienen reguladas por

normativas autonoacutemicas de exclusiva aplicacioacuten en la comunidad correspondiente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

36

Aun asiacute tambieacuten hay diferencias entre estas dos comunidades De esta manera nos

encontramos con que las siguientes particularidades

La CA del Paiacutes Vasco tiene dos evaluaciones de las competencias de sus

estudiantes una de caraacutecter internacional PISA y otra de caraacutecter estatal

evaluacioacuten diagnoacutestico dirigida a alumnos de 2ordm curso de Ensentildeanza

Secundaria Obligatoria y a 4ordm curso de Educacioacuten Primaria en ambos casos

para evaluar la competencia linguumliacutestica (tanto en su lengua autonoacutemica como

en castellano) y la competencia matemaacutetica de forma fija y otras competencias

de forma alterna

La CA de Andaluciacutea tiene ademaacutes de las pruebas sentildealadas para la CA del

Paiacutes Vasco la prueba ESCALA de competencia linguumliacutestica a 2ordm de Educacioacuten

Primaria de caraacutecter autonoacutemico Por otra parte Andaluciacutea participa de otras

evaluaciones de caraacutecter internacional PIRLS y TALIS ademaacutes de PISA

Finalmente la CA de Madrid ademaacutes de las mismas pruebas que tiene la CA

del Paiacutes Vasco de caraacutecter estatal a nivel autonoacutemico tiene tambieacuten una

evaluacioacuten de 2ordm de Educacioacuten Primaria la Prueba LEA de lectura escritura y

aritmeacutetica Por otra parte tambieacuten a nivel autonoacutemico tiene la Prueba CDI

(Conocimientos y Destrezas Indispensables) para estudiantes de 3ordm ensentildeanza

secundaria obligatoria y 6ordm educacioacuten primaria) En cuanto a evaluaciones de

caraacutecter internacional al igual que la CA del Paiacutes Vasco soacutelo participa en PISA

Como aspecto comuacuten que tienen las evaluaciones en estas tres CCAA es que al menos

la Evaluacioacuten Diagnoacutestica tiene contemplado la utilizacioacuten de los resultados de la

misma en el disentildeo de planes de mejora por parte de los centros

Hay que tener en cuenta que aunque la evaluacioacuten diagnoacutestico tiene caraacutecter estatal

es decir se implementa en todas las Comunidades Autoacutenomas pueden existir

particularidades en las formas en que cada una de ellas concreta su aplicacioacuten De esta

manera hemos identificado singularidades con respecto a a) uso de los resultados b)

ciclos de aplicacioacuten c) competencias evaluadas d) evaluacioacuten de la evaluacioacuten

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

37

Aunque no es posible en esta comunicacioacuten profundizar en estos aspectos puede ser

una sugerente liacutenea de investigacioacuten

Con respecto a otros aacutembitos de evaluacioacuten ha quedado en evidencia que las

evaluaciones de estudiantes ocupan el lugar central sin embargo en teacuterminos

generales no se generan sistemas de la misma envergadura para evaluar a docentes

centros o al mismo sistema educativo desde un punto de vista sisteacutemico a excepcioacuten

de la CA de Andaluciacutea que siacute los contempla en CA del Paiacutes Vasco se contempla soacutelo

la evaluacioacuten de la funcioacuten directiva y en la CA de Madrid no hay otros sistemas de

evaluacioacuten que no se dirijan a los estudiantes

CONCLUSIONES

En Espantildea como en otros paiacuteses las evaluaciones han ido ocupando un lugar cada vez

maacutes relevantes en el escenario educativo Este lugar viene en parte delimitado por lo

que sucede con las mismas en un contexto internacional (Barroso 2005 Carvalho

2009) en un contexto de globalizacioacuten de transformacioacuten del Estado de Bienestar

(Cerny 1997) y de una clara transformacioacuten de la forma en la que los Estados

nacionales conciben y disentildean sus poliacuteticas (Dale 1999) Por otra parte tal como ha

mostrado Barroso (2005) en su investigacioacuten las evaluaciones pueden ser analizadas

desde las nuevas formas de regulacioacuten poliacutetica

En cualquier caso los debates en torno a los sistemas de evaluacioacuten siguen presentes

En Espantildea se ha reavivado con la nueva Ley Orgaacutenica de Mejora de la Calidad de la

Educacioacuten Estos debates lejos de arribar a consensos sobre los cuales seguir

trabajando ponen de manifiesto racionalidades distintas formas diferentes de

entender la ensentildeanza las praacutecticas educativas y la evaluacioacuten en ese marco

Aunque puede ser cierto que los resultados de estos procesos de evaluacioacuten en

ocasiones arrojan mejoras no hay que perder de vista que las mismas se producen en

el contexto y la racionalidad de estos sistemas de evaluacioacuten El debate de fondo es si

realmente esto supone una mejora de la educacioacuten

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

38

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Animaccedilatildeo e Animadores Socioculturais incertezas e

controveacutersias de uma ocupaccedilatildeo profissional

Antoacutenio Manuel Rodrigues Ricardo Batista5

CESNOVA ndash Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa

aricardo1959gmailcom

Resumo

A presente comunicaccedilatildeo6 tem como propoacutesito dar conta das controveacutersias puacuteblicas em

torno de problemaacuteticas suscitadas no seio da Animaccedilatildeo Sociocultural e do tipo de

envolvimento dos seus atores7 nessas mesmas controveacutersias Faz-se em primeiro

lugar uma abordagem introdutoacuteria agrave Animaccedilatildeo Sociocultural enquanto atividade

profissional realccedilando a imprecisatildeo a ambiguidade e a incerteza que esta atividade

comporta Em seguida relaciona-se a Animaccedilatildeo Sociocultural com as transformaccedilotildees

ocorridas na sociedade Por uacuteltimo evidenciam-se as problemaacuteticas existentes as

controveacutersias em que os seus atores se envolvem publicamente em face dessas

mesmas problemaacuteticas e ainda a diversidade de meios utilizados para a sua

expressatildeo

5 Doutorando em Sociologia aacuterea de especializaccedilatildeo em Cultura Conhecimento e Educaccedilatildeo (FCSHUNL) Mestrado

em Sociologia aacuterea de especializaccedilatildeo em Conhecimento Educaccedilatildeo e Sociedade (FCSHUNL) Licenciatura em Sociologia (ISCTE-IUL) Experiecircncia profissional aacutereas do emprego da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo profissional Atividade profissional atual Socioacutelogo no Gabinete Teacutecnico da Fundaccedilatildeo Monsenhor Alves Braacutes investigadorcolaborador do CESNOVA ndash Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa (grupo de trabalho Mundos Sociais Trajetoacuterias e Mobilidades) professor do ensino secundaacuterio profissional na Escola Profissional de Agentes de Serviccedilo e Apoio Social

6 Surgida no acircmbito do projeto de doutoramento ldquoAnimaccedilatildeo Sociocultural Atores e Controveacutersias Puacuteblicasrdquo a

decorrer na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e cujo objetivo eacute perceber a maneira como os Animadores Socioculturais orientam e ajustam a sua accedilatildeo em face do caraacuteter justo ou injusto das situaccedilotildees concretas de trabalho com que se vatildeo deparando

7 Animadores Socioculturais com formaccedilatildeo superior alunos finalistas de cursos de licenciatura em Animaccedilatildeo

Sociocultural professores desses mesmos cursos e dirigentes das associaccedilotildees que representam os Animadores Socioculturais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

40

Palavras-chave animaccedilatildeo sociocultural sociologia pragmaacutetica controveacutersias puacuteblicas

regime de envolvimento em puacuteblico

Abstract

This Communication aims to take account of public controversies surrounding issues

raised within the Sociocultural and type of involvement of its players in those

controversies It will be first an introductory approach to Sociocultural Animation as a

business highlighting the vagueness ambiguity and uncertainty that this activity

entails Then relates the Sociocultural Animation with transformations in society

Finally show up existing problems disputes in which his actors engage publicly in the

face of these same issues and also the variety of means used to express them

Keywords sociocultural pragmatic sociology public controversy rules of engagement

in public

Introduccedilatildeo

A partir dos discursos dos vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural constata-se que

algumas das problemaacuteticas que afetam esta atividade natildeo satildeo problemaacuteticas surgidas

recentemente nomeadamente as respeitantes ao valor das licenccedilas profissionais e aos

modelos de formaccedilatildeo que lhes estatildeo ou devem estar associados agrave definiccedilatildeo do

mandato profissional e ao estabelecimento do estatuto profissional O seu

arrastamento no tempo levanta desde logo duas questotildees a) a primeira relacionada

com os contextos de trabalho a de saber como esses atores sentem estas

problemaacuteticas como eacute que orientam a sua accedilatildeo e que posiccedilotildees puacuteblicas assumem que

justificaccedilotildees datildeo para essas posiccedilotildees e que criacuteticas produzem em relaccedilatildeo agraves posiccedilotildees

dos outros significativos sejam esses outros os seus pares sejam pessoas a exercer

outras atividades profissionais b) a segunda relacionada com as soluccedilotildees

encontradas a de saber que medidas satildeo propostas se essas medidas poderatildeo

proporcionar um acordo vaacutelido para todos e que dispositivos satildeo acionados com vista

ao estabelecimento desse acordo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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A referecircncia por parte dos vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural agrave situaccedilatildeo de

arrastamento das problemaacuteticas mencionadas deixa supor a existecircncia de

controveacutersias entre estes Considerando que uma controveacutersia implica posiccedilotildees

divergentes em relaccedilatildeo a essas problemaacuteticas achou-se relevante do ponto de vista

analiacutetico tentar perceber as razotildees e as maneiras como os atores se envolvem nas

disputas ou seja que justificaccedilotildees apresentam para as suas accedilotildees eou os juiacutezos que

produzem em relaccedilatildeo agraves accedilotildees dos outros

A Animaccedilatildeo Sociocultural caracteriza-se por ser uma atividade imprecisa ambiacutegua e

incerta Imprecisa por ser difiacutecil delimitar os seus contornos Ambiacutegua pelos muacuteltiplos

sentidos atribuiacutedos ao conceito sentidos que resultam por um lado de

posicionamentos ideoloacutegicos diferentes e por outro lado da grande diversidade de

acircmbitos de contextos e de puacuteblicos a quem a atividade se dirige bem como da grande

variedade de instrumentos que utiliza e de atividades que desenvolve Incerta pelo

caraacuteter transitoacuterio de muitos dos seus trabalhos

Na verdade ldquonatildeo haacute um autor que se tenha preocupado com o conceito de animaccedilatildeo

sociocultural que em seguida natildeo tenha reconhecido a polissemia a ambiguidade a

imprecisatildeo o caraacuteter vagohellip no uso da expressatildeordquo (Trilla 2004 p 25) O mesmo eacute

reconhecido por Quintas e Castantildeo (1998 p 17) quando afirmam que ldquoo conceito de

animaccedilatildeo eacute bastante impreciso Natildeo existe unanimidade entre os autoresrdquo Haacute com

efeito segundo Lopes (1993 p 79) uma ldquoconflitualidade teoacuterica agrave volta do conceitordquo

conferindo aos autores perspetivas de abordagem diferentes

Num artigo intitulado ldquoSobre a definiccedilatildeo de Animaccedilatildeo Socioculturalrdquo Azevedo (2008)

apoacutes colocar vaacuterias interrogaccedilotildees ndash ldquoA animaccedilatildeo sociocultural poderaacute ser uma ciecircncia

Poderaacute ser um ramo das ciecircncias sociais O que eacute a animaccedilatildeo sociocultural Seraacute uma

teacutecnica um meacutetodo ou uma ciecircnciardquo ndash reconhece ldquoque a mesma eacute um diamante em

bruto que carece de ser lapidado de forma a otimizar a sua apresentaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo

socialrdquo Por seu lado Ander-Egg define-a como ldquoum conjunto de teacutecnicas sociais que

baseadas numa pedagogia participativa tem como finalidade promover praacuteticas e

atividades voluntaacuteriasrdquo (1986 p 125) apresentando-a ldquocomo uma criaccedilatildeo frente agraves

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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atonias do corpo socialrdquo (1999 pp 69-77) Adianta ao mesmo tempo trinta e duas

definiccedilotildees de vaacuterios autores referindo que a maior parte delas ldquoexpressam um projeto

pedagoacutegico de consciencializaccedilatildeo de participaccedilatildeo e de criatividade socialrdquo e ldquocada um

conforme as suas proacuteprias perspetivas ideoloacutegicaspoliacuteticas cientiacuteficas e a sua proacutepria

praacutetica poderaacute escolher ou rejeitarrdquo (1999 pp 69-77) Maria de Lourdes Lima dos

Santos (1998 p 249) sintetizando a atividade refere o seguinte

ldquo(hellip) torna-se difiacutecil precisar os seus limites e delimitar os seus contornos Na maior

parte dos casos procede-se de uma das trecircs formas por exemplificaccedilatildeoinventariaccedilatildeo

definindo o conceito pelas atividades que engloba pela negativa eliminando as

atividades que natildeo se enquadram no seu acircmbito ou ainda pelo considerar do seu

caraacuteter residual na Animaccedilatildeo cabe entatildeo um imenso lsquoterritoacuterio ndash restorsquo de praacuteticas

de difiacutecil classificaccedilatildeordquo

Animaccedilatildeo Sociocultural e transformaccedilotildees sociais

A animaccedilatildeo enquanto ldquoprocesso de dar vida de infundir alma a algueacutem ou alguma

coisa ato ou efeito de animar ou de se animarrdquo8 eacute um fenoacutemeno de todos os tempos

No entanto a origem do conceito de animaccedilatildeo enquanto praacutetica ligada agrave intervenccedilatildeo

social educativa e cultural surge somente a partir de meados do seacuteculo XX mercecirc da

recomposiccedilatildeo do tecido social provocada pelo nascimento das sociedades industriais e

desintegraccedilatildeo das chamadas sociedades tradicionais com todos os problemas que

uma alteraccedilatildeo dessa natureza acarretou em termos de integraccedilatildeo social de

participaccedilatildeo comunitaacuteria de comunicaccedilatildeo interpessoal e de identidade cultural

indicaccedilatildeo que eacute partilhada pelos vaacuterios autores (Ander-Egg 1999 2008 Lopes 2006

Thery 1970 Tracana 2006 Ventosa 2007) Problemas que ganharam expressatildeo agrave

medida a que se ia assistindo agrave passagem de uma sociedade localizada (em que as

identidades se confinavam basicamente ao territoacuterio e agrave liacutengua) para uma sociedade

globalizada (em que as identidades passaram a apresentar um caraacuteter transterritorial

8 Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircnea da Academia de Ciecircncias de Lisboa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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multilinguiacutestico e multimeacutedia) assente em redes de comunicaccedilatildeo virtuais (Gonzalez

2008 p 6)

Animaccedilatildeo Sociocultural em Portugal breve perspetiva histoacuterica

No caso portuguecircs a Animaccedilatildeo Sociocultural tem-se traduzido em diferentes formas

de intervenccedilatildeo formas essas que expressam as vaacuterias conceccedilotildees da atividade (Lopes

2006 p 156 2008ordf pp 457-485 e 2008b pp 147-158) Ela comeccedila a ganhar alguma

consistecircncia a partir dos anos 60 mercecirc das novas dinacircmicas sociais e econoacutemicas que

o paiacutes comeccedilara a conhecer No entanto em resultado dos condicionamentos em

mateacuteria de direitos liberdades e garantias dos cidadatildeos ldquoa uacutenica lsquoanimaccedilatildeorsquo permitida

era preconizada pela Fundaccedilatildeo Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT)rdquo (Ventosa

2006) cujo propoacutesito era propagandear os ideais do regime poliacutetico ndash expressos na

triacuteade ldquoDeus Paacutetria e Famiacuteliardquo ndash atraveacutes da organizaccedilatildeo de coloacutenias de feacuterias de

excursotildees de demonstraccedilotildees desportivas de conferecircncias entre outras atividades

Tendo como pano de fundo uma perspetiva de cultura nacional assente numa

conceccedilatildeo nacionalista de Portugal a criaccedilatildeo da FNAT inspirada no ldquoMovimento

Internacional Alegria e Trabalhordquo ao promover ldquoo aproveitamento do tempo livre dos

trabalhadores portugueses por forma a assegurar-lhes o maior desenvolvimento fiacutesico

e a elevaccedilatildeo do seu niacutevel intelectual e moralrdquo9 tem em vista como refere Daniel de

Melo (2001 p 62) a ldquointegraccedilatildeo do mundo laboral na orgacircnica corporativa do Estado

Novordquo baseada numa perspetiva de conciliaccedilatildeo entre o trabalho e o capital e de

recusa dos antagonismos sociais e do conflito social e cujas accedilotildees eram preparadas

com referecircncia a uma matriz ruralista que se insere num programa poliacutetico de cultura

ldquoespiritualrdquo dos portugueses (Melo 2001 Ramos do Oacute 1993 1999 Rosas 1994

Valente 1999)

O papel da FNAT ndash convergindo com a accedilatildeo do Secretariado de Propaganda

NacionalSecretariado Nacional de Informaccedilatildeo e das Casas do PovoJunta Central das

Casas do Povo ndash inscreve-se num trabalho de imposiccedilatildeo autoritaacuteria de um projeto

9 Decreto-Lei nordm 25495 de 13 de junho de 1935 ndash diploma de criaccedilatildeo da FNAT

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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doutrinaacuterio totalizante para a sociedade portuguesa consubstanciado atraveacutes de

medidas institucionais consagradoras de uma pretendida unicidade poliacutetico-ideoloacutegica

Atraveacutes desse projeto o Estado Novo procura de acordo com Rosas (1994 p 281)

ldquomoldar todos os niacuteveis da sociedade civil de acordo com os lsquonovos valoresrsquo isto eacute

tentaraacute educaacute-la e formaacute-la imperativamente na moral nacionalista corporativa e

cristatilde que haveria de presidir agrave poliacutetica agraves relaccedilotildees de trabalho aos lazeres agrave vida em

famiacutelia agrave educaccedilatildeo dos jovens ou agrave cultura em geralrdquo

As mudanccedilas que se vatildeo sucedendo na sociedade portuguesa do poacutes-guerra (Rosas

1994 pp 419-501) ndash resultantes de um processo de industrializaccedilatildeo urbanizaccedilatildeo e

terciarizaccedilatildeo que vai ganhando forma ndash transportam consigo novas questotildees sociais

que ao longo da deacutecada de 50 provocariam um reajustamento na linha de orientaccedilatildeo

do corporativismo perdendo importacircncia a perspetiva ruralista e ganhando uma

crescente expressatildeo a linha industrialista atraveacutes dos Planos de Fomento e

consubstanciada no Plano de Formaccedilatildeo Social e Organizaccedilatildeo Corporativa

Natildeo obstante a abertura que se fez sentir na ldquoPrimavera Marcelistardquo a ideia

nacionalista da cultura nacional natildeo foi colocada de parte Ela perdurou ateacute ao 25 de

Abril de 1974 Portugal mantinha-se no dizer de Barreto ldquo(hellip) muito mais do que

qualquer paiacutes (hellip) numa espeacutecie de atabafante unidade um povo com uma soacute etnia

uma soacute religiatildeo uma soacute fronteira uma soacute liacutengua uma soacute cultura uma soacute raccedila ndash se

assim me posso exprimir ndash um soacute Estadordquo10

No periacuteodo de 1974 a 1980 assiste-se agrave institucionalizaccedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural

Esta eacute centralizada em instituiccedilotildees criadas expressamente para o efeito assumindo o

Estado a gestatildeo e o controlo das atividades e a formaccedilatildeo dos animadores Dentro

deste periacuteodo Lopes (2006 157-239) distingue duas fases na Animaccedilatildeo Sociocultural

a ldquofase revolucionaacuteriardquo que decorre entre 1974 e 1976 e a ldquofase constitucionalistardquo

entre 1977 e 1980 Na primeira fase assiste-se a uma intensa atividade de animaccedilatildeo

coordenada pela Comissatildeo Interministerial para a Animaccedilatildeo Sociocultural (CIASC) Na

10

Antoacutenio Barreto Expresso de 11 de julho de 1998 cit in Lopes 2006 p 239

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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segunda fase a accedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural eacute determinada por instituiccedilotildees que

assumiram a centralidade da mesma constituindo exemplos dessa centralidade o

Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ) e o Instituto Nacional para o

Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores (INATEL)11

Entre 1981 e 1990 a conceccedilatildeo de Animaccedilatildeo que anteriormente passava por dar

expressatildeo a uma ideia de cultura una e homogeacutenea evoluiu para o reconhecimento de

uma cultura com dimensatildeo plural e diversificada pois

ldquo(hellip) com a emigraccedilatildeo o turismo o regresso dos retornados a abertura democraacutetica a

diversidade de investimentos a criaccedilatildeo de grupos e empresas privadas os partidos

poliacuteticos e as associaccedilotildees a televisatildeo a integraccedilatildeo europeiahellip com tudo isto de

repente haacute mesquitas as sinagogas tecircm nova vida nascem seitas surgem novos

cultos aparecem igrejas protestantes haacute sindicatos diversificados e plurais opiniotildees

diferentes novos credos e crenccedilashellipIsto eacute estaacute em construccedilatildeo uma sociedade

finalmente pluralhelliprdquo12

Neste periacuteodo a Animaccedilatildeo passa gradualmente da esfera do poder central para a

esfera do poder local Tambeacutem nesta deacutecada Lopes (2006 p 240-276) identifica duas

fases da Animaccedilatildeo Sociocultural a ldquofase patrimonialistardquo que decorre entre 1981 e

1985 em que o Estado se manteacutem ainda como o grande impulsionador da atividade

atraveacutes da Secretaria de Estado da Cultura do FAOJ e da Junta Central das Casas do

Povo caracterizando-se esta fase por uma intervenccedilatildeo centrada na preservaccedilatildeo e

recuperaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural a ldquofase da deslocaccedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural

do poder central para o poder localrdquo que decorre entre 1986 e 1990 em que o poder

local passa a assumir um crescente interesse e um papel relevante na Animaccedilatildeo

Sociocultural encarando-a como uma maneira de mobilizar vontades e recursos

De 1991 a 1995 assiste-se ao crescimento do fenoacutemeno da imigraccedilatildeo natildeo soacute dos

paiacuteses africanos de liacutengua oficial portuguesa mas tambeacutem do Brasil dos paiacuteses da

Europa do leste da China e da Iacutendia Nestas circunstacircncias a intervenccedilatildeo da Animaccedilatildeo

11

A FNAT passou a denominar-se INATEL em 3 de abril de 1975

12 Antoacutenio Barreto Expresso de 11 de julho de 1998 cit in Lopes 2006 pp 276

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Sociocultural passa a dar expressatildeo agrave dimensatildeo multicultural (Lopes 2006 pp 277-

287)

A partir de meados dos anos 90 em resultado das transformaccedilotildees ocorridas num

mundo cada vez mais globalizado eacute posta agrave prova a capacidade da Animaccedilatildeo

Sociocultural para enfrentar os novos e complexos desafios E pese embora no dizer

de Ander-Egg (2008 pp 20-21) a insuficiente valorizaccedilatildeo atribuiacuteda agrave Animaccedilatildeo

Sociocultural em termos de poliacuteticas puacuteblicas natildeo deixou de se alargar a intervenccedilatildeo

dos Animadores Socioculturais e de se ampliarem os seus perfis profissionais (Ferreira

2008 p 200)

A este respeito Dinis (2007) situa a Animaccedilatildeo Sociocultural num terreno ldquoflexiacutevelrdquo e

por natureza ldquocriativordquo Por sua vez Azevedo (2009) sublinhando a flexibilidade

apontada por Dinis acrescenta o perfil do ldquoanimador empreendedorrdquo como sendo

aquele que ldquodesenvolve a atividade em diferentes cenaacuterios e posiccedilotildees organizacionaisrdquo

Jaacute Correia (2008) ao traccedilar o ldquoperfil do Animador Investigadorrdquo realccedila um conjunto de

requisitos pessoais e profissionais que remetem nomeadamente para o ldquomundo

ciacutevicordquo o ldquomundo inspiradordquo e o ldquomundo de projetosrdquo (Boltanski amp Theacutevenot 1991

Bolthanski amp Chiapello 1999 Boltanski 2001)

Animaccedilatildeo Sociocultural e alteraccedilotildees no mundo do trabalho

A atuaccedilatildeo em novos campos de intervenccedilatildeo parece traduzir pois a capacidade de

adaptaccedilatildeo e flexibilidade dos Animadores Socioculturais perante experiecircncias de

trabalho que apresentam ndash muitas delas ndash um caraacuteter transitoacuterio e uma grande

diversidade em termos das competecircncias exigidas O que parece corresponder agrave

indicaccedilatildeo dada por Lopes (2008a) quando em mateacuteria de empregabilidade escreve

que

ldquoentre os anos 60 e 90 existiu emprego em Animaccedilatildeo No seacuteculo XXI vai existir muito

trabalho em Animaccedilatildeo mas natildeo o modelo de emprego do seacuteculo XX isto requer

preparar os Animadores para um novo conceito de empregabilidade assente no

trabalho em rede e natildeo no trabalho por conta de outrem na criaccedilatildeo de empresas que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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respondam ao pulsar do novo tempo e que os contratos programa com lares hospitais

jardins de infacircncia autarquias organizaccedilotildees governamentais deem respostas aos

diferentes acircmbitos de Animaccedilatildeo existentes e ainda os que hatildeo de vir porque o

movimento da vida vai sempre gerar novas necessidades e consequentemente novos

acircmbitosrdquo

Ao traduzir uma mudanccedila de paradigma em mateacuteria de trabalho a indicaccedilatildeo dada

ajusta-se assim a um mundo em que o futuro se encontra completamente em aberto

Por um lado a loacutegica do ldquotrabalho em rederdquo tende a difundir-se cada vez mais

parecendo constituir-se como o centro do sistema Por outro lado o fosso que separa

a decisatildeo do conhecimento parece acentuar-se ou seja um mundo que impotildee a cada

ldquoum de noacutes o fardo de ter que tomar decisotildees cruciais que podem afetar a nossa

sobrevivecircncia sem qualquer base de conhecimento adequadordquo e por vezes ldquosem ter

consciecircncia das suas consequecircnciasrdquo (Žižek 1999 pp 450-451) Em muitos casos a

incerteza que caracteriza o mundo moderno de hoje torna difiacutecil prever os resultados

das decisotildees que os indiviacuteduos possam tomar (sejam pessoais sejam profissionais)

requerendo a aquisiccedilatildeo de novas capacidades que os tornem adaptaacuteveis e flexiacuteveis Eacute

isto aliaacutes que ressalta da anaacutelise dos discursos proferidos em Animaccedilatildeo Sociocultural

a importacircncia que a loacutegica de projeto (Boltanski amp Chiapello 1999 Boltanski 2001)

parece estar a ganhar em mateacuteria de emprego E a ser assim a empregabilidade dos

Animadores passaraacute a estar condicionada pela capacidade destes se movimentarem na

ldquorederdquo ou seja a prova da sua grandeza passaraacute a ser dada pela sua capacidade de

adaptaccedilatildeo e flexibilidade perante experiecircncias de trabalho que tendem a apresentar

um caraacuteter transitoacuterio e uma grande diversidade em termos das competecircncias

exigidas

Esta tendecircncia fazendo-se sentir nos vaacuterios setores de intervenccedilatildeo da Animaccedilatildeo

Sociocultural assume grande expressatildeo no setor cultural conforme realccedila Gomes

(2010 p 118) Refere este autor que o aumento das oportunidades de trabalho neste

setor vem sendo associado a uma maior flexibilidade e precariedade dos viacutenculos e

prestaccedilotildees de trabalho assim como agrave emergecircncia ou consolidaccedilatildeo de novas funccedilotildees e

modos de organizaccedilatildeo do trabalho marcados pela polivalecircncia e cumulatividade Aliaacutes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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os dados do Observatoacuterio das Atividades Culturais indicam que a crescente difusatildeo das

formas flexiacuteveis de trabalho registada ao longo dos anos 80 e 90 se articula de um

modo muito estreito com o aumento da oferta cultural e nessa medida com o

acreacutescimo de emprego e de oportunidades de trabalho para os diversos profissionais

relacionados com o setor contando-se entre estes os Animadores Socioculturais a

trabalharem em contextos culturais diversos nomeadamente em departamentos de

accedilatildeo cultural de Cacircmaras Municipais e Juntas de Freguesia Este aumento da oferta

cultural nomeadamente ao niacutevel das programaccedilotildees das autarquias locais implica

frequentemente o estabelecimento de parcerias com associaccedilotildees fundaccedilotildees e outras

entidades com recurso a formas de trabalho flexiacuteveis na modalidade de projeto e

baseadas em praacuteticas de outsourcing (Gomes amp Martinho 2009 pp 151-159

Martinho 2010 pp 243-247)

O que se regista no setor cultural em geral e na Animaccedilatildeo Sociocultural em particular

nas vaacuterias vertentes da sua intervenccedilatildeo inscreve-se num plano mais alargado de uma

forte mudanccedila no mundo do trabalho Mudanccedila que assenta no caso portuguecircs

numa crescente representaccedilatildeo das formas instaacuteveis de empregar contrataccedilatildeo a

prazotermo recibos verdes trabalho temporaacuterio trabalho clandestino entre outras

Esta mudanccedila comeccedila a desenhar-se a partir da segunda metade dos anos 70 ndash com a

publicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo que regulamenta a contrataccedilatildeo a prazo ndash e ao longo dos anos

80 intensificando-se a partir de meados dos anos 90

O trabalho enquanto mecanismo de inserccedilatildeo e de integraccedilatildeo social e de

reconhecimento garantindo niacuteveis baacutesicos de proteccedilatildeo social parece pois estar

sujeito a um processo de fragilizaccedilatildeo O modelo que tem vindo a ganhar forccedila assenta

em larga medida no crescimento acentuado das formas de trabalho intermitentes e

natildeo raras vezes socialmente pouco protegidas No caso portuguecircs a contrataccedilatildeo a

termo o trabalho temporaacuterio (Pereira 1988) e a falsa prestaccedilatildeo de serviccedilos satildeo

exemplos ilustrativos de uma regra na praacutetica contratual e natildeo jaacute de uma exceccedilatildeo

Ao contraacuterio do que sucedia haacute umas deacutecadas atraacutes o mundo do trabalho caracteriza-

se presentemente por ser pouco linear (Pais 2005) Especialmente nas geraccedilotildees mais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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jovens os percursos profissionais satildeo ldquomarcados pela instabilidade e pelo riscordquo

(Guerreiro amp Abrantes 2004 p 28) E muito embora pareccedila ser crescente a

impotecircncia das comunidades locais em atenuar esse risco (Hespanha amp Carapinheiro

2002 p 29) importa perceber a maneira como os indiviacuteduos orientam e ajustam a sua

accedilatildeo ou seja que tomadas de posiccedilatildeo vatildeo assumindo em face das situaccedilotildees concretas

de trabalho com que se vatildeo deparando E satildeo precisamente essas tomadas de posiccedilatildeo

que os Animadores Socioculturais vatildeo assumindo sobre o caraacuteter justo ou injusto das

situaccedilotildees em que se encontram (Boltanski amp Theacutevenot 1991 p 87) bem como as

gramaacuteticas em que as mesmas assentam que se procuraratildeo aclarar nas vaacuterias etapas

da investigaccedilatildeo em curso

Animaccedilatildeo Sociocultural e controveacutersias no espaccedilo puacuteblico

Como forma de orientaccedilatildeo da investigaccedilatildeo mobiliza-se o quadro teoacuterico da Sociologia

Pragmaacutetica perspetiva que considera a accedilatildeo como o produto de um encontro entre as

situaccedilotildeescontextosacontecimentos e as formas como os atores nelas se envolvem

em determinados regimes13 Mais especificamente toma-se em consideraccedilatildeo a

pluralidade de regimes de justificaccedilatildeo (citeacutes)14 sempre que os atores envolvidos nas

controveacutersias em torno de situaccedilotildees problemaacuteticas de justiccedila suscitadas pela

Animaccedilatildeo Sociocultural satildeo chamados a justificar as suas accedilotildees eou a produzir juiacutezos

criacuteticos sobre as accedilotildees dos outros E nesses termos procurando perceber em que

13

Na sua obra ldquoLrsquoAction au Pluriel ndash Sociologie des Reacutegimes drsquoEngagementrdquo Laurent Theacutevenot (2006 pp 8-11) distingue trecircs regimes de accedilatildeo a) o primeiro o regime de accedilatildeo em puacuteblico realccedilando as questotildees da justiccedila e do bem comum e considerando a filosofia poliacutetica como fonte de inspiraccedilatildeo na construccedilatildeo dos modelos de ordem que servem de base agraves justificaccedilotildees e agraves criacuteticas dos atores nas disputas em que se envolvem

13 b) o segundo o regime

de accedilatildeo em plano destacando o indiviacuteduo a sua autonomia as suas escolhas os seus projetos as suas decisotildees as suas estrateacutegias a sua racionalidade os seus interesses c) o terceiro o regime de accedilatildeo familiar em que as accedilotildees por decorrerem num ambiente de proximidadeintimidade se caracterizam por oposiccedilatildeo agrave racionalidade que caracteriza o regime de accedilatildeo em plano

14 Boltanski amp Theacutevenot (1991 pp 86-106) definem a ldquociteacuterdquo como um modelo de ordem em que o bem comum eacute

contraposto aos interesses particulares devendo estes ser sacrificados para aceder a um estado de grandeza superior Os mesmos autores explicitam cada um dos modelos e as respetivas fontes (1991 pp 27 61-82 107-157) ldquociteacute inspiradardquo ndash Sto Agostinho 354 a 430 aC ldquociteacute domeacutesticardquo ndash Bossuet 1627 a 1704 ldquociteacute de opiniatildeordquo ndash Hobbes 1588 a 1679 ldquociteacute ciacutevicardquo ndash Rousseau 1712 a 1778 ldquociteacute industrialrdquo ndash Saint-Simon 1760 a 1825 ldquociteacute mercantilrdquo ndash A Smith 1723 a 1790 Por sua vez Boltanski e Chiapello (1999) acrescentam aos seis modelos anteriores um seacutetimo modelo a ldquociteacute por projetordquo ndash estrutura social baseada numa rede de projetos e em que a adaptaccedilatildeo faacutecil a flexibilidade a polivalecircncia constituem entre outros criteacuterios de mediccedilatildeo da grandeza dos indiviacuteduos

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medida as soluccedilotildees que vatildeo sendo encontradas assentam em princiacutepios de justiccedila com

criteacuterios de subida em generalidade ou seja em princiacutepios de ordem que permitam

associar os atores num acordo vaacutelido para todos

A informaccedilatildeo recolhida ateacute ao momento presente ndash atraveacutes de documentos15 e atraveacutes

de entrevistas16 ndash revela por um lado uma assinalaacutevel diferenccedila entre aquilo que os

Animadores Socioculturais gostariam que fosse a Animaccedilatildeo e aquilo com que estes na

realidade se deparam nos vaacuterios contextos de trabalho Diferenccedila que se faz notar em

relaccedilatildeo agraves ldquolicenccedilasrdquo17 e ao ldquomandatordquo18 (Hughes 1993 Strauss 1992) ao ldquopoder

profissionalrdquo19 (Freidson 1986 e 1994) agrave ldquojurisdiccedilatildeo profissionalrdquo20 (Abbott 1988) e ao

ldquoestatuto profissionalrdquo21 constituindo por isso problemaacuteticas que geram tensotildees e

controveacutersias entre os profissionais Por outro lado a informaccedilatildeo recolhida pocircs em

evidecircncia a diversidade de posiccedilotildees que os atores da Animaccedilatildeo Sociocultural assumem

publicamente face agraves problemaacuteticas enunciadas bem como a diversidade de meios

utilizados para a sua expressatildeo (jornais revistas foacuteruns de discussatildeo blogs

congressos encontros entre outros)

15

Jornais revistas atas de congressos e encontros foacuteruns de discussatildeo e blogues

16 Foram efetuadas oito entrevistas ao longo do mecircs de julho de 2010 quatro a Animadores Socioculturais com

formaccedilatildeo superior duas a professores do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural uma a um dirigente associativo e uma a um estudante finalista do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural

17 Autorizaccedilatildeo legal de exerciacutecio de certas atividades obtida atraveacutes de uma formaccedilatildeo longa (normalmente de niacutevel

superior) e que deste modo assegura o controlo no acesso ao exerciacutecio da atividade protegendo a autoridade e prestiacutegio dos profissionais

18 Obrigaccedilatildeo de assegurar uma funccedilatildeo especiacutefica sendo que a fixaccedilatildeo dessa obrigaccedilatildeo resulta de um processo social

que implica conflito e negociaccedilatildeo com outras aacutereas ocupacionais e se traduz em autonomia e autoridade profissionais

19 Capacidade de traduzir recursos de vaacuteria ordem (poliacuteticos organizacionais cognitivos culturais e ideoloacutegicos) em

maior autonomia e controlo sobre a relaccedilatildeo com os clientes a organizaccedilatildeo do trabalho o mercado de trabalho e o conhecimento

20Aacuterea de atividade sobre a qual a profissatildeo deteacutem o direito de controlar a prestaccedilatildeo de serviccedilos direito esse que

por um lado estaraacute tanto mais garantido quanto mais elevado for o grau de predominacircncia de inferecircncia na ligaccedilatildeo do diagnoacutestico ao tratamento e por outro lado constitui o resultado de disputas conflitos e competiccedilatildeo com outras aacutereas ocupacionais

21 Conjunto de normas reconhecido pelo Estado atraveacutes de legislaccedilatildeo especiacutefica que por um lado estabelece os

requisitos para o exerciacutecio da atividade e as penas para quem a exerccedila sem licenciamento e que por outro lado promove os valores de orientaccedilatildeo profissional definindo os direitos e os deveres profissionais e estabelecendo um regime sancionatoacuterio aplicaacutevel a situaccedilotildees que violem o cumprimento desses mesmos deveres

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Na verdade os dados permitem dizer que os Animadores orientam publicamente a sua

accedilatildeo indicando um efetivo envolvimento destes profissionais em controveacutersias em

torno de situaccedilotildees problemaacuteticas de justiccedila deixando perceber por via da sua

expressatildeo puacuteblica os dispositivosgramaacuteticas que servem de base agraves justificaccedilotildees da

sua accedilatildeo eou agrave produccedilatildeo de juiacutezos criacuteticos sobre accedilatildeo dos outros Dispositivos que

resultam de ldquodiferentes mundosrdquo justificativos (Boltanski amp Theacutevenot 1991 Bolthanski

amp Chiapello 1999 Boltanski 2001) especialmente do mundo ciacutevico em que o bem

coletivo a promoccedilatildeo da participaccedilatildeo na vida da cidade e a igualdade constituem as

formas de expressatildeo privilegiadas dando disso conta os proacuteprios tiacutetulos de um

conjunto de artigos incluiacutedos em vaacuterias publicaccedilotildees da Animaccedilatildeo Sociocultural22 bem

como da maneira como os seus protagonistas encaram a atividade nas suas trecircs

dimensotildees de intervenccedilatildeo a social a educativa e a cultural Na dimensatildeo social a

atuaccedilatildeo consiste segundo Viveiros (2008) em ldquocapacitar os atores do lsquolocalrsquo com

competecircncias sociais e operativas vaacutelidas que lhes possibilite uma autonomia cultural

poliacutetica e econoacutemica (hellip)rdquo Na dimensatildeo educativa a intervenccedilatildeo situa-se segundo

Trilla (2004 pp 32-33) ldquoquase sempre fora do limite dos curricula proacuteprios do ensino

regulado (hellip) no setor natildeo formal do universo educativo (hellip)rdquo Na dimensatildeo cultural a

atividade parte segundo o mesmo autor (2004 p 20) de um conceito amplo de

cultura e natildeo da noccedilatildeo mais restrita proacutepria da linguagem corrente que circunscreve

o conceito agrave noccedilatildeo de ldquocultura lsquoescolarrsquo ou lsquogeralrsquo (saber ler e escrever noccedilotildees de

aritmeacutetica humanidades etc) ou esta outra noccedilatildeo de cultura mais requintada

elitista elaborada o requinte da pessoa lsquocultarsquo que desenvolveu uma sensibilidade

especial para apreciar uma obra de arte que se movimenta livremente pelo mundo das

ideias e da ciecircnciardquo Nesta dimensatildeo a ideia que se encontra subjacente agrave Animaccedilatildeo

Sociocultural eacute a de uma cultura que normalmente se designa por ldquocultura popularrdquo e

22

ldquoEstudo para uma Formaccedilatildeo Especiacutefica em Meio Rural Dar Vez e Voz aos Atores e Atrizes do Territoacuteriordquo

ldquoAnimaccedilatildeo Sociocultural e Protagonismo Juvenilrdquo ldquoO Animador e a Memoacuteria Social ndash Lembrar Esquecer e

Mitificarrdquo ldquoAnimaccedilatildeo Territorial ndash Ouvir a Vida e Fazer o Destinordquo ldquoCultura de Cidaderdquo ldquoPraacuteticas de Animaccedilatildeo Um

Espaccedilo para o Debate Coletivo na Perspetiva da Pluralidade das Ideiasrdquo ldquoO Desenvolvimento Local e a Animaccedilatildeo

Sociocultural Uma Comunhatildeo de Princiacutepiosrdquo ldquoDe la ciudadaniacutea asistida a la ciudadaniacutea emancipada Apuntes para

la lectura del aporte del ocio en contextos de exclusioacutenrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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que Lopes (nd) associa ao conceito de ldquodemocracia culturalrdquo em que a accedilatildeo ldquoeacute

encarada de baixo para cima e de dentro para fora a partir das necessidades e

aspiraccedilotildees das populaccedilotildeesrdquo

Ao mesmo tempo os dispositivosgramaacuteticas que servem de base agraves justificaccedilotildees natildeo

deixam de resultar do mundo industrial em que satildeo destacados os atributos

profissionais da Animaccedilatildeo Sociocultural e a sua eficaacutecia do mundo inspirado em que a

criatividadeinovaccedilatildeo a autenticidade e o espiacuterito artiacutestico satildeo capacidades

enaltecidas e ainda do mundo assente numa loacutegica de projetos em que a adaptaccedilatildeo

e a flexibilidade satildeo atributos indicados como indispensaacuteveis

Assim no que respeita agraves ldquolicenccedilasrdquo a controveacutersia gira em torno da sua real

importacircncia em termos de exerciacutecio da Animaccedilatildeo Sociocultural Natildeo assegurando o

controlo no acesso ao exerciacutecio da atividade as licenccedilas natildeo protegem a autoridade e

prestiacutegio dos profissionais Com efeito nas vaacuterias manifestaccedilotildees puacuteblicas sobre esta

mateacuteria os Animadores Socioculturais deixam claro um sentimento de injusticcedila

resultante da preferecircncia que eacute dada aos Animadores com formaccedilatildeo secundaacuteria em

muitos contextos de trabalho em detrimento dos Animadores com formaccedilatildeo superior

Este sentimento de injusticcedila prende-se ao mesmo tempo com a diferenccedila de

tratamento entre os licenciados em Animaccedilatildeo e outros licenciados no que se refere agrave

remuneraccedilatildeo A explicaccedilatildeo para esta diferenccedila de tratamento radica segundo um

participante no ANIMUSFOacuteRUM de 20 de setembro de 2008 na existecircncia de

formaccedilotildees em Animaccedilatildeo Sociocultural ao niacutevel secundaacuterio pois ldquo(hellip) enquanto

existirem cursos profissionais na aacuterea (hellip) existe um saco e colocam-nos todos laacute

dentro (hellip) Se as entidades (hellip) puderem colocar um Animador do Curso Teacutecnico (eacute o

que fazem porque sai muito mais barato) colocamrdquo

Por sua vez a ldquomultiplicaccedilatildeo desenfreada dos cursos de Animaccedilatildeo ao niacutevel do ensino

superior ensino profissional eou secundaacuterio e outras formaccedilotildees paralelas e a

inexistecircncia de um fio condutor entre formaccedilotildees constituem fatores desvalorizadores

dos diplomasrdquo (ANIMUSFOacuteRUM 20 de setembro de 2008) A grande diversidade de

acircmbitos de contextos e de puacuteblicos a quem a atividade se dirige e ao mesmo tempo

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a grande variedade de formaccedilotildees e a inexistecircncia de um fio condutor entre elas leva a

que Santos Costa (2010 p 14) questionando o perfil ocupacional o modelo de

formaccedilatildeo e a definiccedilatildeo diferencial da Animaccedilatildeo Sociocultural coloque as seguintes

interrogaccedilotildees

ldquoA Animaccedilatildeo Sociocultural eacute uma profissatildeo especiacutefica ou um modelo de intervenccedilatildeo

que possa ser utilizado noutras profissotildees (hellip) A animaccedilatildeo sociocultural deve ter uma

formaccedilatildeo especiacutefica de animadores com caraacuteter finalista ou uma formaccedilatildeo para a

animaccedilatildeo com caraacuteter transversal e incluiacuteda em diversos estudos (hellip) O que eacute

verdadeiramente especiacutefico da Animaccedilatildeo Sociocultural O que faz realmente diferente

a Animaccedilatildeo Sociocultural em relaccedilatildeo a outros modelos de formaccedilatildeordquo

Tambeacutem Bento (2007) sobre a questatildeo de saber que Animadores devem ser

formados se interroga ldquoSeraacute que o animador cultural para desenvolver a sua

atividade profissional deveraacute ter uma formaccedilatildeo acadeacutemica Os animadores deveratildeo

ter uma formaccedilatildeo polivalente ou especializadardquo E logo a seguir refere que ldquo(hellip)

devem existir do nosso ponto de vista animadores culturais sem grau acadeacutemico Ao

mesmo tempo tambeacutem pensamos que devem existir animadores culturais com

formaccedilatildeo acadeacutemicardquo

Por seu turno a reduzida visibilidade dos projetos de Animaccedilatildeo Sociocultural parece

constituir no dizer de uma Animadora Sociocultural a trabalhar num Centro de Dia e

Centro de Conviacutevio para Idosos de uma Instituiccedilatildeo Particular de Solidariedade Social

um fator condicionador do valor atribuiacutedo aos diplomas (entrevista 1 ndash julho de 2010)

ldquo(hellip) haacute uma seacuterie de projetos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria mas eles natildeo tecircm

visibilidade porque depois ficam neles proacuteprios (hellip) dar visibilidade a trabalhos

comunitaacuterios e ao sentido comunitaacuteriohellip talvezhellip pudesse ser a chave para um maior

valor do diploma (hellip)rdquo

Relativamente ao ldquomandatordquo sendo pouco claro compromete a autonomia e a

autoridade profissionais tornando ambiacuteguo o espaccedilo institucional de atuaccedilatildeo dos

Animadores Socioculturais Esta ambiguidade parece estar relacionada de acordo com

as conclusotildees do debate sobre o ldquoEstatuto dos Animadores Socioculturaisrdquo promovido

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pela Associaccedilatildeo Regional dos Animadores Socioculturais de Tondela a 9 de marccedilo de

2010 ldquocom as especializaccedilotildees existentes no ensino superiorrdquo pois estas tornam ldquomais

complicado gerir os conteuacutedos funcionais do Animador assim como os seus direitos e

deveresrdquo E tal como eacute referido num documento intitulado ldquoLexis e Praxisrdquo ndash produzido

pela Escola Superior de Educaccedilatildeo de Santareacutem sobre a orientaccedilatildeo estrateacutegica para a

reformulaccedilatildeo do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Cultural e Educaccedilatildeo Comunitaacuteria ndash

a carecircncia de saberes cientiacuteficos na formaccedilatildeo dos Animadores constitui uma

explicaccedilatildeo para a ambiguidade que se faz notar no seu dia a dia profissional

ldquoAnimadores satildeo detentores de Processos mas carecem geralmente de formaccedilatildeo

conteuacutedal (saberes numa dada aacuterea cientiacutefica) (hellip) natildeo se pode ser soacute detentor de

saberes processuais (saber como se deve agir) sem se saber bem sobre o quecirc

(conteuacutedo) se age ou vice-versardquo

Em relaccedilatildeo ao ldquopoder profissionalrdquo sendo fraacutegil traduz-se numa ausecircncia de controlo

sobre a relaccedilatildeo com os clientes a organizaccedilatildeo do trabalho o mercado e o

conhecimento e desta maneira incapacita os profissionais em ditar o conteuacutedo os

termos e as condiccedilotildees do seu trabalho Este poder no dizer de uma professora de um

curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural ldquo(hellip) tem que ser conquistado pelos

Animadores com certeza e por eles proacuteprios enquanto grupo socioprofissionalrdquo

(Entrevista 6 ndash julho de 2010) A mesma opiniatildeo eacute partilhada por um dirigente

associativo (APDASC - Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento da Animaccedilatildeo Sociocultural

nuacutecleo da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo ndash Entrevista 7 ndash julho de 2010) ao afirmar que

ldquo(hellip) o Animador tem sobretudo de conquistar o espaccedilo o espaccedilo natildeo lhe eacute cedido em

funccedilatildeo da formaccedilatildeo que apresenta ao contraacuterio do que sucede normalmente com o

Assistente Social em que o espaccedilo lhe eacute cedido em funccedilatildeo do curso em que estaacute

formado (hellip)rdquo-

Em mateacuteria de ldquojurisdiccedilatildeo profissionalrdquo sendo vulneraacutevel explica a intromissatildeo de

outros profissionais nas atividades de Animaccedilatildeo Sociocultural Efetivamente ldquo(hellip)

debaixo da designaccedilatildeo Animaccedilatildeo temos situaccedilotildees muito diversas algumas ateacute

hiacutebridasrdquo (professora de um curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural ndash

Entrevista 6 ndash julho de 2010)

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Sobre o ldquoestatuto profissionalrdquo percebe-se que a necessidade de existir um estatuto

para o reconhecimento da atividade de Animaccedilatildeo Sociocultural suscita controveacutersia

Por um lado haacute a expectativa de que o estatuto possa regular a atividade de Animaccedilatildeo

Sociocultural e dessa maneira constituir um fator disciplinador do mercado indicando

e impondo os requisitos necessaacuterios para o seu exerciacutecio Por outro lado haacute o receio

de que o estatuto possa limitar a atividade de Animaccedilatildeo Sociocultural e desse modo

constituir um fator de exclusatildeo

Para os defensores do estatuto enquanto regulador da atividade a sua criaccedilatildeo

constitui uma medida essencial para

ldquodisciplinar o exerciacutecio da profissatildeo do Animador distinguindo os direitos e deveres do

profissional (hellip)rdquo uma vez que ldquo() teraacute que ser aprovado por uma Associaccedilatildeo de

Direito Puacuteblico representativa dos profissionais do setor que mais tarde se

poderaacutedeveraacute transformar em Sindicato ou ateacute mesmo em Ordem Profissionalrdquo

(conclusotildees do debate sobre o ldquoEstatuto dos Animadores Socioculturaisrdquo promovido

pela Associaccedilatildeo Regional dos Animadores Socioculturais de Tondela em marccedilo de

2010)

Associaccedilatildeo que chamaraacute a si no dizer dos defensores do estatuto a prerrogativa de

ldquocertificar o perfil e as competecircncias dos profissionais de animaccedilatildeo socioculturalrdquo

garantindo assim a sua qualidade teacutecnica e pedagoacutegica Dentro desta linha reguladora

o estatuto teraacute de conter um corpo normativo que permita ldquodisciplinar as relaccedilotildees que

os animadores socioculturais estabelecem entre si reciprocamente ou com a

comunidaderdquo e ao mesmo tempo sancionar os que natildeo cumpram os princiacutepios

deontoloacutegicos estabelecidos

Quanto ao efeito limitador que o estatuto poderaacute ter na atividade da Animaccedilatildeo

Sociocultural Esauacute Dinis (2010 pp 179-193) eacute contundente ao afirmar a sua recusa em

relaccedilatildeo agrave criaccedilatildeo

ldquo(hellip) de dispositivos juriacutedicos que assegurem um tratamento especiacutefico para a

Animaccedilatildeo Sociocultural e seus profissionais (hellip) Longe de preconizar coacutedigos

deontoloacutegicos e estatutos corporativos de reduzida eficaacutecia e natural opacidade

apostaria antes que fossem exploradas modalidades de transparecircncia como o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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contrato de animaccedilatildeo ou contrato de projeto em que os dados ficam definidos e se

previnem operaccedilotildees de desvio de ocultaccedilatildeo ou manipulativas sejam na linha do

domesticar sejam no intuito de rutura ou ldquorevoluccedilatildeordquo seja na contumaacutecia de

prolongar rotinas contra a corrente (hellip)rdquo

O mesmo efeito limitador eacute apontado por um dirigente da APDASC - Associaccedilatildeo para o

Desenvolvimento da Animaccedilatildeo Sociocultural nuacutecleo da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo

ao manifestar o receio do estatuto constituir um fator de exclusatildeo ldquo(hellip) afastando dela

pessoas que haacute muitos anos fazem Animaccedilatildeo pese embora natildeo tenham formaccedilatildeo

formal (hellip) (Entrevista 7 ndash julho de 2010)

Nota final

Natildeo obstante a Animaccedilatildeo Sociocultural acompanhar as grandes transformaccedilotildees sociais

ocorridas a partir de meados do seacuteculo XX natildeo deixa de ser assinalaacutevel a diferenccedila

entre aquilo que os Animadores Socioculturais gostariam que fosse a Animaccedilatildeo e

aquilo com que se deparam nos vaacuterios contextos de trabalho imprecisatildeo ambiguidade

e incerteza Essa diferenccedila gera tensotildees que se traduzem num regime de envolvimento

puacuteblico em controveacutersias em torno de situaccedilotildees problemaacuteticas nomeadamente em

torno das ldquolicenccedilasrdquo do ldquomandatordquo do ldquopoder profissionalrdquo da ldquojurisdiccedilatildeo

profissionalrdquo e do ldquoestatuto profissionalrdquo Os argumentos que suportam as diversas

justificaccedilotildees eou os juiacutezos criacuteticos que os vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural vatildeo

produzindo em relaccedilatildeo agraves problemaacuteticas que afetam a atividade assentam sobretudo

em dispositivos de ordem ciacutevica Mas tambeacutem em dispositivos relacionados com os

atributos profissionais e a sua eficaacutecia com a criatividadeinovaccedilatildeo a autenticidade e

o espiacuterito artiacutestico e com a flexibilidade e a capacidade de adaptaccedilatildeo a um mundo em

que o futuro eacute uma incoacutegnita

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

61

Avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo socioeducativa sobre a violecircncia na

escola

JOANA CAMPOS Escola Superior de Educaccedilatildeo ndash IPLCIES-IUL

jcamposeselxiplpt

JOAtildeO SEBASTIAtildeO ISCTE-IULCIES-IUL

joaosebastiaoisctept

SARA MERLINI CIES-IUL

merlinisaragmailcom

MAFALDA CHAMBINO CIES-IUL

mafalda_sofia_chambinoisctept

Resumo A investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito do projeto Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo

socioeducativa em contextos sociais complexos23 enquadra-se na avaliaccedilatildeo das

poliacuteticas sociais e educativas em particular no que diz respeito agrave seguranccedila escolar em

contextos marcados pela diversidade e complexidade social e cultural O processo de

avaliaccedilatildeo centrou-se na anaacutelise das estrateacutegias de intervenccedilatildeo socioeducativa relativas

ao problema da violecircncia na escola desenvolvidas em trecircs escolas de um concelho da

Aacuterea Metropolitana de Lisboa

Partindo do pressuposto que a violecircncia na escola eacute um fenoacutemeno multideterminado e

multifacetado a pesquisa centrou-se numa abordagem que enquadra as esferas de

intervenccedilatildeoaccedilatildeo das instituiccedilotildees formais e dos agentes sociais enquanto mecanismos

que estruturam e regulam as concepccedilotildees e praacuteticas de violecircncia na escola

A recolha e sistematizaccedilatildeo de informaccedilatildeo centrou-se por um lado nas estrateacutegias de

intervenccedilatildeo que tecircm vindo a ser desenvolvidas localmente pelas escolas e por outro

nas perspetivas dos diferentes intervenientes considerando-se os alunos os

23

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT n ordm 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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professores as direccedilotildees escolares e representantes das entidades e instituiccedilotildees locais

Metodologicamente privilegiou-se o cruzamento de meacutetodos de caraacutecter extensivo e

intensivo combinando teacutecnicas como a Observaccedilatildeo Direta a realizaccedilatildeo de Entrevistas

de Grupos Focais de Questionaacuterios e ainda a Anaacutelise de Redes e a Anaacutelise

Documental Numa fase posterior os diversos intervenientes participaram na

discussatildeo e anaacutelise dos resultados previamente recolhidos e na validaccedilatildeo conjunta de

uma metodologia de intervenccedilatildeo que define um conjunto de estrateacutegias gerais de

combate agraves situaccedilotildees de violecircncia na escola e nos territoacuterios educativos Esta

metodologia eacute o principal produto do projeto e resulta de um processo de avaliaccedilatildeo

dinacircmico e participado A contribuiccedilatildeo que se apresenta no VI Encontro do CIED

ocupa-se dos procedimentos de avaliaccedilatildeo desenvolvidos no acircmbito deste projeto

Palavras-chave Violecircncia na escola Intervenccedilatildeo socioeducativa Avaliaccedilatildeo de

poliacuteticas

Abstract

The research developed through the project Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo socioeducativa

em contextos sociais complexos24 concerns the assessment of social and educational

policies particularly in what regards safety in school contexts marked by social and

cultural complexity and diversity The assessment focused on the analysis of the social

and educational intervention strategies of three schools of the Lisbon Metropolitan

Area on the problem of school violence

Assuming that school violence is a multidetermined and multifaceted phenomenon the

research engaged an approach that includes the interventionaction of formal

institutions and of social agents as mechanisms that structure and regulate

conceptions and practices of school violence

The gathering and systematization of information was centered on the intervention

strategies developed locally by the schools on one hand and the perspectives of the

different stakeholders on the other hand considering students teachers school

directors and representatives from the local organizations and institutions

The methodology intersected extensive and intensive methods combining techniques

such as Observation Interviews Focus Groups Questionnaires Social Network

Analysis and Document Analysis At the final stage the various actors were involved on

the discussion and analysis of the results as well as the validation of an intervention

strategy to deal with school violence This strategy was the main result of the project

25

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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and resulted from a dynamic assessment and participative procedures The

presentation at the VI CIED Conference focused on the procedures and key outputs of

this research project

Keywords School Violence Social and educational intervention Policy assessment

Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo socioeducativa em contextos sociais complexos breve

apresentaccedilatildeo do projeto

A investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito do projeto Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo

socioeducativa em contextos sociais complexos25 inscreve-se na avaliaccedilatildeo das poliacuteticas

sociais e educativas em particular no que diz respeito agrave seguranccedila escolar em

contextos marcados pela diversidade e complexidade social e cultural

O processo de avaliaccedilatildeo centrou-se na anaacutelise das estrateacutegias de intervenccedilatildeo

socioeducativa relativas ao problema da violecircncia na escola desenvolvidas em trecircs

escolas do concelho da Aacuterea Metropolitana de Lisboa O projeto teve como finalidade

geral avaliar como se concretiza a niacutevel territorial a articulaccedilatildeo entre o Programa

Escola Segura e os programas centrados na inclusatildeo e igualdade educativa e social

Definiram-se os seguintes objetivos (1) avaliar a eficaacutecia local das poliacuteticas de

seguranccedila escolar (2) identificar as concepccedilotildees e praacuteticas de intervenccedilatildeo relativas agrave

violecircncia e as dinacircmicas de articulaccedilatildeo da intervenccedilatildeo das instituiccedilotildees e agentes

sociais locais que concretizam as poliacuteticas no territoacuterio (3) identificar os elementos

centrais de uma metodologia integrada de intervenccedilatildeo sobre a violecircncia em contexto

escolar passiacutevel de disseminaccedilatildeo e implementaccedilatildeo em diferentes contextos e

territoacuterios

25

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Quadro 1 ndash Dimensotildees de anaacutelise

Dimensotildees Sub-dimensotildees

A violecircncia como

problema

- Conceccedilotildees dos professores e agentes sociais locais sobre a

violecircncia

- Conceccedilotildees e praacuteticas de violecircncia dos alunos considerando

as suas relaccedilotildees a niacutevel informal familiar e institucional

A escola face agrave violecircncia

- Reaccedilatildeoresposta da escola face agrave violecircncia identificaccedilatildeo

das praacuteticas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo

A aplicaccedilatildeo de poliacuteticas

pelas escolas e redes

locais

- Articulaccedilatildeo da rede local na concretizaccedilatildeo de estrateacutegias

de intervenccedilatildeo em situaccedilotildees de violecircncia

- Eficaacutecia das poliacuteticas de seguranccedila local nestes territoacuterios

Fonte proacutepria

A anaacutelise da violecircncia como problema lida a partir das conceccedilotildees dos agentes sociais

locais e escolares as respostas das escolas face ao problema da violecircncia vivida no seu

interior e exterior e ainda o modo como localmente as orientaccedilotildees poliacuteticas relativas

ao problema satildeo apropriadas e executadas constituiacuteram-se como as dimensotildees

analiacuteticas centrais do projeto

O projeto fundou-se no pressuposto que a violecircncia na escola eacute um fenoacutemeno

multideterminado e multifacetado por isso a pesquisa apoiou-se numa abordagem

que considerou as esferas de intervenccedilatildeoaccedilatildeo das instituiccedilotildees formais e dos agentes

sociais como mecanismos que estruturam e regulam as concepccedilotildees e praacuteticas de

violecircncia na escolar (Sebastiatildeo e outros 2013) Entender a violecircncia como uma

possibilidade enfatiza a potencialidade de uma intervenccedilatildeo nos territoacuterios educativos

enquadrada teoricamente e fundamentada em procedimentos de diagnoacutestico robustos

e com a participaccedilatildeo e responsabilidade das instituiccedilotildees e dos agentes sociais em

presenccedila

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

65

O uso de termos como bullying violecircncia indisciplina agressividade ou incivilidade

quando utilizados sem referecircncia aos contextos teoacutericos em que foram produzidos

confunde o diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo (Sebastiatildeo e outros 2013) Para o trabalho em

referecircncia tivemos como ponto de partida o reconhecimento da diversidade

conceptual e de algum fechamento disciplinar nas propostas analiacuteticas desenvolvidas

em torno deste fenoacutemeno que tecircm dificultado a construccedilatildeo de linhas de contacto

entre as vaacuterias abordagens cientiacuteficas como discutimos em trabalhos anteriores

(Sebastiatildeo Alves amp Campos 2003 Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010) Nas anaacutelises

mais recentes temos procurado ultrapassar essa ldquobalcanizaccedilatildeordquo disciplinar e optar pelo

cruzamento de perspetivas (Sebastiatildeo e outros 2013) O reconhecimento da

proximidade semacircntica e conceptualmente entre diferentes termos e conceitos tem

sido assim rentabilizada no sentido de alargar o espectro de anaacutelise (Sebastiatildeo e

outros 2003) Na presente pesquisa e no sentido de contornar este efeito adotou-se

uma definiccedilatildeo de violecircncia anteriormente apresentada e discutida (Sebastiatildeo 2009

2013) que entende a violecircncia como forma de accedilatildeo num quadro de relaccedilotildees

interpessoais um comportamento levado a cabo por uma pessoa (o agressor) com a

intenccedilatildeo de magoar outra pessoa (a viacutetima) cuja qual o agressor acredita estar

motivada para tentar evitar essa ofensa (Anderson 2000 p 68) Consideramos nesta

definiccedilatildeo apenas as situaccedilotildees de violecircncia interpessoal deixando de lado as formas de

violecircncia institucional existentes na escola ou outras formas de violecircncia social Tal natildeo

significa adotar uma abordagem individualista mas antes delimitar algumas das

dimensotildees centrais do fenoacutemeno no quadro da escola centrando a anaacutelise nos

processos relacionais que nela se produzem A anaacutelise centra-se assim na relaccedilatildeo entre

a intencionalidade e tipos de agressatildeo que podem assumir formas fiacutesicas ou

psicoloacutegicas distinguindo-se desta forma de situaccedilotildees acidentais ou resultantes de

consequecircncias natildeo esperadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

66

Quadro 2 - Relaccedilatildeo entre agressatildeo e intencionalidade

(Sebastiatildeo 2009 41)

As situaccedilotildees de violecircncia podem assim ser classificadas separando as que possuem

caracteriacutesticas de tipo reativoafetivo em que a agressatildeo constitui um objetivo em si

mesma das de tipo proactivo instrumental em que a violecircncia constitui um meio para

alcanccedilar um fim No primeiro caso a finalidade eacute magoar o outro e resulta de uma

reaccedilatildeo emocional a um impulso a uma provocaccedilatildeo ou atitude hostil e esgota-se na

agressatildeo no segundo caso a agressatildeo eacute meramente instrumental para obter algo em

troca podendo natildeo passar da ameaccedila se a viacutetima aceitar tacitamente as condiccedilotildees do

agressor (Sebastiatildeo 2009)

Sebastiatildeo partindo desta distinccedilatildeo preacutevia define a violecircncia como atos caracterizados

pela agressatildeo intencional seja esta fiacutesica ou psicossocial podendo assumir formas

reativasafetivas ou proactivasinstrumentais (Sebastiatildeo 201327) Nesse sentido a

violecircncia eacute uma configuraccedilatildeo relacional particular marcada pela tensatildeo

confrontacional (Collins 2008) interaccedilatildeo que incorpora tendencialmente relaccedilotildees de

poder assimeacutetricas entre os atores (Sebastiatildeo 2013) A limitaccedilatildeo da capacidade de

reaccedilatildeo das viacutetimas agraves consequecircncias da agressatildeo seja pelo uso da forccedila fiacutesica ou de

mecanismos de pressatildeo psicoloacutegica coloca-as numa situaccedilatildeo particular de

desproteccedilatildeo impedindo muitas vezes o acionamento dos sistemas de regras

Tipo de Agressatildeo

Fiacutesica Psicossocial

Inte

nci

on

alid

ade

Reativa

Afectiva

O principal motivo eacute magoar o alvo

reaccedilatildeo emocional baseada em fuacuteria

que ocorre tipicamente em resposta agrave

provocaccedilatildeo

Comportamento que procura

ferir outros ao prejudicar o

seu estatuto social ou

relaccedilotildees de amizade (agressatildeo

indireta ou relacional)

Proactiva

Instrumental

Ocorre na ausecircncia de provocaccedilatildeo

deliberada eacute desencadeada para

obter algo em troca O agressor

tem a expectativa de que a

agressatildeo fiacutesica tenha

consequecircncias positivas de caraacutecter

instrumental

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

67

institucionais Assim um agressor caracteriza-se por ser tipicamente um indiviacuteduo que

utiliza formas de poder (que satildeo suportadas por agressividade fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica) com o objetivo de simultaneamente anular a capacidade reguladora do

sistema de regras e de desencadear ao niacutevel relacional um processo de dominaccedilatildeo de

um ou mais indiviacuteduos A viacutetima nesta perspetiva eacute tipicamente um indiviacuteduo que natildeo

possui capacidade para resistir aos processos de dominaccedilatildeo nem para ativar para sua

proteccedilatildeo o sistema de regras sociais da escola (Sebastiatildeo 2009 p 46) Teoricamente o

projeto sustentou-se no modelo teoacuterico enquadrador da definiccedilatildeo proposta

(Sebastiatildeo 2013) Investigar os processos de intervenccedilatildeo em situaccedilotildees de violecircncia na

escola implica adotar uma abordagem que enquadre as esferas de intervenccedilatildeo e accedilatildeo

das instituiccedilotildees formais e dos agentes sociais e os mecanismos que estruturam e

regulam as conceccedilotildees e praacuteticas de violecircncia Trata-se de perspetivar a violecircncia

enquanto forma de accedilatildeo contingente que traduz uma configuraccedilatildeo relacional

particular com quadros de possibilidades diversos em que diferentes tipos e graus de

tensatildeo podem levar (ou natildeo) a situaccedilotildees de confronto (Sebastiatildeo e outros 2013)

As conceccedilotildees e atitudes violentas estruturam-se como resultado dos diversos

processos de socializaccedilatildeo de que os indiviacuteduos satildeo alvo dos modos de regulaccedilatildeo da

violecircncia e das caracteriacutesticas particulares dos contextos em que estas interaccedilotildees se

desenvolvem Nesse sentido a violecircncia pode acontecer ou natildeo dependendo por

exemplo da existecircncia ou da eficaacutecia dos processos de regulaccedilatildeo existentes na escola

A violecircncia em meio escolar eacute portanto uma problemaacutetica que implica que se olhe de

forma abrangente e cruzada para a escola Foi com base nestes referenciais e nos

elementos chave para a anaacutelise da violecircncia na escola que se procurou aprofundar a

anaacutelise em torno do fenoacutemeno natildeo apenas neste projeto mas em pesquisas

anteriormente desenvolvidas pela equipa do Observatoacuterio de Seguranccedila Escolar (OSE)

ao longo dos uacuteltimos anos Metodologicamente a adoccedilatildeo de uma estrateacutegia

metodoloacutegica abrangente e compreensiva que permita ler e intervir sobre um

fenoacutemeno com elevado niacutevel de complexidade multideterminado e multifacetado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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constitui-se como princiacutepio organizador das pesquisas levadas a cabo pela equipa (cf

Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2012 2013a 2013b 2013c)26

Fonte Sebastiatildeo 2013 p2

Fonte Sebastiatildeo (2013)

26

A anaacutelise do percurso que tem sido desenvolvido pela equipa (Sebastiatildeo Campos Merlini e Cambino

2013a 2013b) foi apresentada e discutida recentemente no 9th International Conference ERNAPE -

Families Schools and Communities Learn from the past review the present prepare for a future with

equity na Universidade de Lisboa de 4 a 6 de Setembro de 2013 concretamente com as seguintes

comunicaccedilotildees Sebastiatildeo J Campos J Merlini S amp Chambino M (2013) The School as a Complex

Object Methodological Strategies and Knowledge Production e Sebastiatildeo J Campos J Merlini S amp

Chambino M (2013) Social Netwok Analysis in School Violence Research - Methodological

Implications

Praacuteticas institucionalizadas de

regulaccedilatildeo da violecircncia

(estado escola seguranccedila

social autarquias etc)

Processos longos de socializaccedilatildeo

institucional

(processos de aprendizagem dos

sistemas de regras formais)

A violecircncia

enquanto

forma de accedilatildeo

contingente

Processos de estruturaccedilatildeo das

conceccedilotildees e atitudes violentas

Processos de regulaccedilatildeo social

das conceccedilotildees e praacuteticas de

violecircncia

Praacuteticas informais de

regulaccedilatildeo da violecircncia

(famiacutelia pares etc)

Processos longos de socializaccedilatildeo

comunitaacuteria (aprendizagem de

quadros e modelos sociais e

culturais grupais)

Figura 1 - A violecircncia enquanto forma de accedilatildeo contingente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

69

Procedimentos metodoloacutegicos

A abordagem metodoloacutegica desenvolvida centrou-se numa anaacutelise integrada e

sistemaacutetica das diversas estrateacutegias de intervenccedilatildeo socioeducativa implementadas em

contextos sociais complexos A triangulaccedilatildeo das teacutecnicas de anaacutelise contribuiu para

uma maior complementaridade e riqueza da informaccedilatildeo recolhida facilitando o

processo de interpretaccedilatildeo e compreensatildeo das condiccedilotildees produtoras de violecircncia e das

esferas de intervenccedilatildeo (prevenccedilatildeo e regulaccedilatildeo) acionadas (Sebastiatildeo Alves amp Campos

2010 Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2013b 20013c) Visando contribuir

para futuras estrateacutegias e mecanismos de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e

estudo prospetivo realizou-se no concelho do paiacutes em que se verificou o maior nuacutemero

de ocorrecircncias entre 2006 e 2010 (Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010) Neste concelho

da Aacuterea Metropolitana de Lisboa foram selecionados trecircs territoacuterios distintos

representado cada um por uma escola de 2ordm e 3ordm ciclo do Ensino Baacutesico estando todas

integradas no programa dos Territoacuterios Educativos de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria com

situaccedilotildees de violecircncia escolar relevantes isto eacute entendidas pelos intervenientes nas

escolas como perturbadoras do ambiente escolar e onde se identificaram capacidades

de regulaccedilatildeo e prevenccedilatildeo das situaccedilotildees de violecircncia diferenciadas

A recolha e sistematizaccedilatildeo de informaccedilatildeo centrou-se nas estrateacutegias de intervenccedilatildeo

que tecircm vindo a ser desenvolvidas localmente pelas escolas por um lado e nas

perspectivas dos diferentes intervenientes por outro considerando-se os alunos os

professores as direccedilotildees escolares e representantes das entidades e instituiccedilotildees locais

que foram em publicaccedilotildees anteriores apresentadas com maior detalhe (Sebastiatildeo

Campos Merlini amp Chambino 2012 Campos Sebastiatildeo amp Merlini 2012 Sebastiatildeo

Campos Merlini amp Chambino 2013b 2013c) Para aprofundar o conhecimento sobre o

fenoacutemeno da violecircncia na escola a equipa do OSE recorreu a uma combinatoacuteria de

meacutetodos extensivos e qualitativos em trecircs niacuteveis de anaacutelise da difusatildeo das situaccedilotildees

violecircncia A niacutevel macro analiacutetico realizou-se a recolha e anaacutelise de dados nacionais

coletados atraveacutes do formulaacuterio eletroacutenico online situado na rede informaacutetica do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do qual as escolas registam obrigatoriamente as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

70

ocorrecircncias de violecircncia Um segundo niacutevel de anaacutelise pautou-se pelo

desenvolvimento de pesquisas que tomaram os territoacuterios educativos (agrupamentos

de escolas) ou escolas isoladas como unidades analiacuteticas centradas numa perspetiva

organizacional territorial e comparativa A niacutevel micro analiacutetico centrou-se na

observaccedilatildeo participante e na inquiriccedilatildeo de atores chave da comunidade educativa e

local (como os diretores da escola delegados de seguranccedila27 professores alunos e

agentes locais com intervenccedilatildeo nesta mateacuteria) Quer a niacutevel meso quer ao niacutevel micro

analiacutetico recorreu-se ainda a teacutecnicas de recolha de informaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo de

inqueacuteritos por questionaacuterio28 entrevistas semiestruturadas realizaccedilatildeo de grupos

focais anaacutelise de redes anaacutelise documental e observaccedilatildeo participante O processo de

recolha de informaccedilatildeo durou cerca de um ano e meio correspondente ao ano letivo

201112 e a parte de 201213 O tratamento e anaacutelise dos dados recolhidos pautou-se

pela combinaccedilatildeo de diferentes meacutetodos e teacutecnicas como a anaacutelise de redes sociais ndash

com recurso ao software UCINET ndash anaacutelise de conteuacutedo ndash com recurso ao software

MAXqda - anaacutelise documental e anaacutelise estatiacutestica ndash com recurso ao software SPSS

Quadro 2 ndash Procedimentos metodoloacutegicos

Teacutecnicas de recolha e anaacutelise Objeto da investigaccedilatildeo

Entrevistas

- aos elementos das direccedilotildees escolares (diretores e responsaacuteveis pela seguranccedila escolar)

- aos alunos com comportamentos reincidentes identificados com apoio das direccedilotildees de escola e direccedilotildees de turma

Questionaacuterios

- aos alunos das 3 escolas sede dos agrupamentos de escolas dos 3 territoacuterios educativos

- aos professores das escolas sede - aos representantes das instituiccedilotildees locais

27

Responsaacuteveis pela gestatildeo disciplinar da Escola habitualmente satildeo professores membros da direccedilatildeo assumindo a funccedilatildeo de participar as ocorrecircncias ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do formulaacuterio eletroacutenico 28

A opccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos inqueacuteritos numa plataforma online em software especializado ndash limesurvey ndash revelou-se vantajosa tanto ao niacutevel da eficiecircncia como da eficaacutecia do processo de inquiriccedilatildeo Um exemplo demostrativo disso mesmo foi o inqueacuterito realizado a uma amostra de 792 alunos Com a colaboraccedilatildeo das escolas foi possiacutevel colocar os alunos responder a partir de computadores com ligaccedilatildeo agrave Internet em sessotildees coletivas contando para o efeito com o apoio presencial de membros da equipa de investigaccedilatildeo Aleacutem de evitar os habituais erros de inserccedilatildeo de dados este processo agilizou o tempo de tratamento dos dados e consequentemente da sua anaacutelise

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Grupos Focais e reuniotildees - com agentes sociais locais

Anaacutelise de redes sociais - das parcerias entre instituiccedilotildees locais - dos relacionamentos pessoais de alunos com

comportamentos reincidentes

Anaacutelise documental - dos normativos centrais - dos documentos das instituiccedilotildees formais eou locais

Fonte proacutepria

Instituiccedilotildees e agentes locais integrados no projeto

A seleccedilatildeo do conjunto de entidades locais e instituiccedilotildees formais que configuram as

redes de intervenccedilatildeo sobre situaccedilotildees de violecircncia em cada um dos territoacuterios

socioeducativos considerados na pesquisa procurou enquadrar as respetivas

dinacircmicas dos contextos territoriais Ao todo escolheram-se 23 entidades e instituiccedilotildees

que se distribuem da seguinte forma pelo concelho e freguesias (Sebastiatildeo Campos

Merlini amp Chambino 2013c)

Quadro 3 - Distribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees com intervenccedilatildeo nos territoacuterios socioeducativos em estudo (seleccedilatildeo)

Tipo Local Concelho Fregue-

sia 1

Fregue-

sia 2

Zona 1

(Freguesi

as 1 e 2)

Fregue-

sia 3 Total

Autaacuterquica ou Oficial natildeo judiciaacuteria 3 1 2 1 2 9

Associaccedilatildeo Projeto ou Programa Social 0 2 1 0 1 4

Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo 1 1 1 0 1 4

Policial ou Judicial 1 1 1 0 1 4

Sauacutede 0 0 0 1 1 2

Total 5 5 5 2 6 23

Fontes Informaccedilotildees privilegiadas das escolas e anaacutelise dos documentos oficiais

Para a distribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees definiu-se como criteacuterio a identificaccedilatildeo da sua

funccedilatildeo e natureza A classificaccedilatildeo atribuiacuteda revelou-se de grande utilidade quer para a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

72

anaacutelise do conjunto global de instituiccedilotildees quer para a compreensatildeo das relaccedilotildees

estabelecidas entre estas O peso de cada tipo institucional no total de inquiridos foi

informado e ponderado face agrave realidade local e agrave importacircncia destas entidades na

regulaccedilatildeo do fenoacutemeno Num total de 23 intervenientes incluiacutedos na anaacutelise cinco natildeo

responderam Ainda que apenas 18 tivessem respondido foi simultaneamente

relevante constatar que as nomeaccedilotildees dos parceiros29 se centraram sobretudo no

conjunto total de entidades que estavam previamente selecionadas para o estudo

verificando-se ainda uma forte correspondecircncia entre os respetivos objetivos de

atuaccedilatildeo e o tipo institucional atribuiacutedo na classificaccedilatildeo (Sebastiatildeo Campos Merlini amp

Chambino 2013c)

A correspondecircncia entre os tipos institucionais (por noacutes categorizados) e os principais

objetivos de atuaccedilatildeo reportados pelos inquiridos permitiu a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise

das relaccedilotildees entre parceiros segundo a sua afiliaccedilatildeo ou pertenccedila organizacional

levantando questotildees pertinentes em termos das propriedades emergentes desta rede

de parceiros

Quadro 1 - Objetivos de atuaccedilatildeo segundo o tipo institucional

Tipo de instituiccedilatildeo Objetivos de atuaccedilatildeo

Autaacuterquica ou Oficial natildeo judicial Proteccedilatildeo da infacircncia apoio e bem estar social

Associaccedilatildeo Projeto ou Programa Social Inclusatildeo social cultural e educativa

Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Educativos e formativos

Policial ou Judicial Prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo policial e judiciaacuteria

Sauacutede Promoccedilatildeo de sauacutede

Fonte Inqueacuterito aos representantes institucionais

29

A liberdade de nomeaccedilatildeo restringida ateacute 10 parceiros possiacuteveis foi uma das opccedilotildees metodoloacutegicas na construccedilatildeo do instrumento de inquiriccedilatildeo para a anaacutelise de redes Embora uma lista exaustiva dos parceiros permita suprir os problemas tiacutepicos de recurso agrave memoacuteria neste tipo de teacutecnica o facto de se tratar de relaccedilotildees estabelecidas entre instituiccedilotildees garantiu-nos alguma fiabilidade na obtenccedilatildeo dos dados Resta salientar que cerca de 70 das instituiccedilotildees (N=18) escolheram ateacute 6 parceiros o que dada a problemaacutetica em anaacutelise seria expectaacutevel

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

73

Construccedilatildeo da Metodologia de Intervenccedilatildeo Integrada etapas do processo de

avaliaccedilatildeo com os participantes dos territoacuterios educativos

Tendo como foco principal um processo de avaliaccedilatildeo participada a intervenccedilatildeo

pautou-se por um envolvimento sistemaacutetico dos sujeitos avaliados Numa fase

posterior agrave recolha e tratamento da informaccedilatildeo os diversos intervenientes

participaram na discussatildeo e anaacutelise dos primeiros resultados apresentados validando

conjuntamente as propostas conducentes agrave elaboraccedilatildeo da metodologia de

intervenccedilatildeo enquanto principal resultado do processo e com definiccedilatildeo das

estrateacutegias gerais de combate agraves situaccedilotildees problemaacuteticas em territoacuterios educativos

Sobre as reaccedilotildees dos agentes sociais locais e escolares relativamente agraves propostas que

sustentam a metodologia de intervenccedilatildeo e os resultados encontrados em cada

territoacuterio e para cada instituiccedilatildeo recomendamos a consulta do relatoacuterio de pesquisa

em que se apresenta de modo detalhado essa informaccedilatildeo No presente texto

apresentamos apenas as principais etapas do processo de avaliaccedilatildeo em referecircncia O

processo de avaliaccedilatildeo participada desenvolveu-se atraveacutes das seguintes etapas

Fonte proacutepria

A validaccedilatildeo e discussatildeo conjunta dos resultados e da proposta de metodologia de

intervenccedilatildeo foi realizada em duas fases Primeiro atraveacutes da concretizaccedilatildeo de um

Figura 2 ndash Etapas do processo de avaliaccedilatildeo participada

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

74

foacuterum de colaboraccedilatildeo numa sessatildeo alargada de discussatildeo puacuteblica que possibilitou

analisar criticamente os resultados e a metodologia de intervenccedilatildeo Posteriormente

os resultados e produtos finais foram testados em sessotildees de formaccedilatildeo com os

intervenientes em cada territoacuterio educativo considerado Nesta fase da avaliaccedilatildeo

participada foram apresentados e discutidos o modelo teoacuterico os resultados das

entrevistas e questionaacuterios (identificaccedilatildeo do problema dificuldades e alternativas

propostas pelos inquiridos) a anaacutelise em torno dos procedimentos e estrateacutegias de

intervenccedilatildeo identificados nos territoacuterios e a metodologia de intervenccedilatildeo construiacuteda

Os participantes no processo distinguiram-se quanto ao tipo de participaccedilatildeo e

posicionamentos face ao fenoacutemeno em referecircncia tal como se discutiu e apresentou

anteriormente (Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2012 2013b 2013c) Em

grande medida as diferenccedilas encontradas prendem-se sobretudo com a natureza e

tipo de instituiccedilatildeo a que pertencem Sublinha-se aqui a importacircncia do trabalho em

continuidade nestes territoacuterios o que garantiu que nesta fase de intervenccedilatildeo existisse

jaacute um pano de fundo comum aos intervenientes sustentado no reconhecimento

interinstitucional e interpessoal por um lado e nos resultados jaacute alcanccedilados em

mateacuteria de regulaccedilatildeo do problema da violecircncia na escola de haacute alguns anos por

outro Aliaacutes esta constitui uma das condiccedilotildees para a integraccedilatildeo destas escolas e

instituiccedilotildees locais como promotoras do projeto em referecircncia logo na fase de

candidatura ao programa (Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2013a) O

processo de avaliaccedilatildeo participada resultou assim na definiccedilatildeo de um conjunto de

fatores-chave no acircmbito de um processo de construccedilatildeo de uma metodologia de

intervenccedilatildeo bem como numa proposta de metodologia integrada de intervenccedilatildeo

como se pode ver na figura abaixo Em cada territoacuterio a informaccedilatildeo recolhida e tratada

pela equipa foi sendo disponibilizada para que no processo de apropriaccedilatildeo da

metodologia de intervenccedilatildeo em construccedilatildeo se assegurasse a adequaccedilatildeo agraves

especificidades de cada territoacuterio e respetivas instituiccedilotildees A devoluccedilatildeo dessa

informaccedilatildeo agraves escolas permitiu ainda que em cada territoacuterio os diversos

intervenientes aprofundassem o seu conhecimento e reflexividade sobre o fenoacutemeno

e as respostas institucionais existentes Por outro lado a diversidade de conceccedilotildees e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

75

praacuteticas desenvolvidas pocircde assim ser discutida e analisada em cada uma das escolas e

em comparaccedilatildeo agraves outras nas discussotildees mais alargadas

Fonte proacutepria

Notas Finais

No acircmbito da Avaliaccedilatildeo de poliacuteticas de educaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo sociocultural

retomando a temaacutetica do painel algumas notas finais O processo de avaliaccedilatildeo em

anaacutelise procurou ilustrar a importacircncia da articulaccedilatildeo entre equipas mistas que

combinem os processos de investigaccedilatildeo intervenccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da definiccedilatildeo

conjunta do diagnoacutestico e dos planos de intervenccedilatildeo incluindo todos os intervenientes

da avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo participada e apoiada em espaccedilos de discussatildeo puacuteblica e

validaccedilatildeo das diversas etapas do processo e da apresentaccedilatildeo e discussatildeo do processo

procedimentos e produtos noutros foacuteruns como encontros cientiacuteficos e pedagoacutegicos

De um ponto de vista mais substantivo sublinham-se os principais aspetos no que ao

processo em referecircncia diz respeito Um primeiro prende-se com o reconhecimento a

priorizaccedilatildeo do problema da violecircncia na escola enquanto um fator de sucesso central

na regulaccedilatildeo dos quotidianos escolares isto eacute na pacificaccedilatildeo do ambiente escolar e da

convivialidade entre todos os que na escola e nos territoacuterios educativos se encontram

Por um lado e como resultado do planeamento e da estruturaccedilatildeo de estrateacutegias

expliacutecitas e sistemaacuteticas por outro Relativamente ao desenvolvimento de um

Figura 3 ndash Fases de validaccedilatildeo e discussatildeo e principais resultados

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

76

abordagem integrada e articulada de intervenccedilatildeo sobre a violecircncia na escola o

sublinhado sobre a necessidade de realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico aprofundado e a

definiccedilatildeo de um plano comunitaacuterio que integre os diversos parceiros e crie condiccedilotildees

de resposta tanto para a primeira como para a segunda linha de atuaccedilatildeo

Do ponto de vista processual assinala-se a relevacircncia que os fatores organizacionais

assumem nomeadamente no que agrave articulaccedilatildeo entre niacuteveis organizacionais agraves

relaccedilotildees interinstitucionais e agrave existecircncia de procedimentos estruturados e rotinados

de monitorizaccedilatildeo que orientem a prevenccedilatildeo e a intervenccedilatildeo diz respeito Por fim

uma nota sobre as modalidades de trabalho em parceria na medida em que

constituem uma forma de accedilatildeo coletiva que se revelou particularmente uacutetil e

produtiva nos mecanismos de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo territoriais da violecircncia na

escola

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79

A avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino de muacutesica entre a

estandardizaccedilatildeo e as singularidades

Antoacutenio Acircngelo Vasconcelos Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Escola Superior de Educaccedilatildeo antoniovasconceloseseipspt

Resumo

O ensino de muacutesica eacute um campo compoacutesito e reticular situado no cruzamento entre os

mundos da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo e os mundos das artes e da cultura Esta dupla

referencialidade eacute geradora de muacuteltiplas ambiguidades incoerecircncias e paradoxos mas

tambeacutem de virtualidades que nem sempre estatildeo contemplados nos processos de

avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas para este sector de formaccedilatildeo artiacutestica A diversidade de

atores (puacuteblicos privados e do terceiro sector) e de referentes confluem na avaliaccedilatildeo

das poliacuteticas em que os princiacutepios de verticalidade e de linearidade dos procedimentos

dominantes satildeo confrontados pela horizontalidade e circularidade das

interdependecircncias e das interaccedilotildees

Esta comunicaccedilatildeoresulta de uma investigaccedilatildeo inserida na dissertaccedilatildeo de

doutoramento situada no acircmbito da anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da administraccedilatildeo

da educaccedilatildeo Partindo de um conjunto alargado de entrevistas a atores das cenas da

governaccedilatildeo artiacutestica e musical e formativa (superior e natildeo superior) entre 1972-2009

bem como a anaacutelise das intervenccedilotildees no parlamento e de artigos publicados na

imprensa procura-se compreender descrever analisar e interpretar os modos como

se processam os diferentes tipos de impulsos que estatildeo subjacentes agrave avaliaccedilatildeo deste

tipo de poliacutetica bem como os modos como se avalia e se receciona e as suas

influecircncias na accedilatildeo organizada

A investigaccedilatildeo permite evidenciar o caraacutecter multissituado da avaliaccedilatildeo caracterizada

por procedimentos que envolvem referenciais mediaccedilotildees instrumentos e regulaccedilotildees

multiformes e multipolares Procedimentos que resultam por um lado da

complexidade de articulaccedilatildeo dos diferentes referentes no confronto entre a afirmaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

80

das particularidades e tendecircncias normalizadoras e por outro da recomposiccedilatildeo do

papel do Estado

Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas avaliaccedilatildeo ensino de muacutesica

Abstract

The music education is a composite reticular and complex field situated at the

crossroads between the worlds of education and training and the arts worlds and

culture This dual referentiality generate multiple ambiguities inconsistencies and

paradoxes but also virtues that are not always included in the assessment of public

policies for this sector of artistic training The diversity of actors (public private and

third sector) and referents converge in the evaluation of policies in which the

principles of verticality and linearity procedures are confronted by the dominant

horizontality and roundness of interdependencies and interactions

This paper is the result of a research inserted into the doctoral dissertation located

within the public policy analysis and administration of education From a wide range of

interviews with actors from scenes of government artistic and formative between

1972-2009 as well as analysis of interventions in parliament and press articles we

seek to understand describe analyze and interpret the ways they process the

different types of impulses that underlie the evaluation of this type of policy and the

ways of evaluating and reception influences organized action

Research allows us to highlight the multi-set of evaluation procedures characterized by

involving multiform and multipolar references mediations instruments and

regulations Procedures that result on the one hand from the complexity of articulation

of different referents in the confrontation between the statement of the

particularities and the normalizing tendencies and on the other hand from the

recomposition of satersquos role

Keywords public policies evaluation music education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Introduccedilatildeo

O ensino de muacutesica eacute um campo compoacutesito complexo e reticular situado no

cruzamento entre os mundos da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo e os mundos das artes e da

cultura Esta dupla referencialidade abrange modalidades territoacuterios e finalidades

diferenciadas e fragmentadas bem como os tipos de saberes que aborda mais

teacutecnicos criativos ou investigativos Por outro lado a educaccedilatildeo e formaccedilatildeo que natildeo se

joga apenas nos espaccedilos e nos tempos da escola mas em territoacuterios multipolares em

que interagem uma diversidade de atores puacuteblicos privados e do terceiro sector

(nacionais locais e internacionais) em redes diferenciadas de sentidos e onde se

confrontam e complementam olhares saberes e experiecircncias

Nestas complexidades a diversidade de atores e de referentes confluem na

construccedilatildeo implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das poliacuteticas formativas e organizacionais em

que os princiacutepios de verticalidade e de linearidade dos processos satildeo substituiacutedos pela

horizontalidade e circularidade das interdependecircncias e das interaccedilotildees dos diversos

atores nos processos de construccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas (Barrroso et al 2007

Delvaux 2007 Lascoumes amp Le Gales 2004) Isto conduz a que todos estes processos

sejam dificilmente enquadrados em modelos predominantemente burocratizantes e

uniformizadores

Este texto parte de uma investigaccedilatildeo inserida na dissertaccedilatildeo de doutoramento situada

no acircmbito da anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da administraccedilatildeo da educaccedilatildeo o trabalho

empiacuterico abrangeu um conjunto alargado de entrevistas a atores das cenas da

governaccedilatildeo artiacutestica e musical e formativa (superior e natildeo superior) bem como a

recolha e anaacutelise de diferente tipo de documentaccedilatildeo oriundos dos debates

parlamentares e de artigos publicados na imprensa entre 1972-2009 A metodologia

utilizada inscrita na investigaccedilatildeo qualitativa e num paradigma compreensivo

compreendeu diferentes tipos de procedimentos e processos analiacuteticos (cf

Vasconcelos 2011)

Nesta reflexatildeo defende-se a ideia de que a avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino

de muacutesica decorre de processos situados em contextos complexos de accedilatildeo puacuteblica

caracterizada por um conjunto diversificado de multi-regulaccedilotildees que questiona

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

82

procedimentos avaliativos lineares e universais Estaacute dividida em duas partes Na

primeira ainda que de um modo sucinto problematizo a complexidade de accedilatildeo

puacuteblica no ensino de muacutesica Na segunda partindo do trabalho empiacuterico desenvolvido

discuto a avaliaccedilatildeo das poliacuteticas como um processo multipolar onde coexistem multi-

regulaccedilotildees diferenciadas e contraditoacuterias situado entre a estandardizaccedilatildeo e as

singularidades Por uacuteltimo umas breves consideraccedilotildees finais

1 A complexidade da accedilatildeo puacuteblica no ensino de muacutesica

Pensar as relaccedilotildees entre o Estado a sociedade o mercado e as artes na educaccedilatildeo e na

cultura eacute tambeacutem pensar como eacute que os diferentes atores interagem num contexto

marcado por uma tendecircncia crescente da privatizaccedilatildeo dos serviccedilos da

descentralizaccedilatildeo e da deslocaccedilatildeo das responsabilidades do Estado para os planos

locais e regionais e para sectores privados eou do terceiro sector pelo incremento

das agendas internacionais e da externalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas A proliferaccedilatildeo de

visotildees e de accedilotildees cria natildeo soacute um conjunto de tensotildees diversificadas como tambeacutem

influencia direta e indiretamente a conduccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas num

conjunto de interaccedilotildees diversificadas e muitas vezes conflituais

Por outro lado com o incremento da complexidade da vida social cultural econoacutemica

e educativo-artiacutestica o Estado fragmentou-se em diferentes tipos de estruturas

poliacuteticas e administrativas com niacuteveis de intervenccedilatildeo e funccedilotildees distintas que interagem

de diferentes modos com este tipo de ensino Tambeacutem a diferenciaccedilatildeo e

fragmentaccedilatildeo crescente do tecido social educativo e cultural conduziu a que a accedilatildeo

puacuteblica se caracterize pela bricolage pela existecircncia de redes do aleatoacuterio por

finalidades muacuteltiplas pela heterogeneidade e transversalidade dos problemas pelas

mudanccedilas de escala e de territoacuterios (Lascoumes amp Le Galegraves 2004)

Deste modo a multiplicidade dos atores sociais artiacutesticos econoacutemicos educativos e

culturais envolvidos neste tipo de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo artiacutestica tendem a alterar as

relaccedilotildees verticais entre o Estado a sociedade e as organizaccedilotildees baseado apenas na

regulaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo no sentido de um relacionamento mais horizontal em que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

83

se privilegia o diaacutelogo a participaccedilatildeo e a diversidade de situaccedilotildees referenciais e

instrumentos de accedilatildeo

Assim as poliacuteticas puacuteblicas neste ensino sendo o resultado de interaccedilotildees trocas e

relaccedilotildees de poder entre uma pluralidade de atores estatildeo consubstanciadas em

diferentes visotildees e ldquoverdadesrdquo do campo de intervenccedilatildeo percorrem o espaccedilo e o

tempo natildeo soacute da sua conceptualizaccedilatildeo como tambeacutem da sua implementaccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo Existe uma cadeia multiforme de escalas em que a accedilatildeo puacuteblica decorre e

que implica a negociaccedilatildeo entre diferentes instacircncias situadas entre um plano mais

micro relacionado com os indiviacuteduos e os territoacuterios de formaccedilatildeo um plano

intermeacutedio relacionado com as comunidades locais por exemplo e um plano mais

macro situado nas instacircncias transnacionais num contexto de ldquopoliacuteticas multi-niacuteveisrdquo

Poliacuteticas que como processo resultante de loacutegicas natildeo lineares e verticalizadas satildeo

tributaacuterias das poliacuteticas puacuteblicas anteriores e das rotinas institucionais dominantes

assim como de poliacuteticas conexas ou mesmo afastadas que influenciam as poliacuteticas para

este setor e que pressupotildeem a existecircncia de ldquonarrativas partilhadasrdquo (Postman 2002)

de ideias e valores Ideias e valores que advecircm de proveniecircncias diversas e que

interagem na definiccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo das poliacuteticas nos modos como os

diferentes tipos de atores constroem os sentidos e as diferentes visotildees do mundo e

que natildeo estatildeo adstritas nem se identificam apenas com o discurso e tomada de

posiccedilatildeo de determinadas elites e especialistas (Blondiaux 2008)

Isto significa colocar em causa natildeo soacute ldquoa maneira correta de avaliar e solucionar

determinados problemasrdquo como tambeacutem a ideia de um determinismo estrutural

artiacutestico social formativo artiacutestico e cultural em que as avaliaccedilotildees e soluccedilotildees satildeo

contingente muitas vezes indeterminadas e arbitraacuterias (Crozier amp Friedberg 1977 13)

Em siacutentese cinco caracteriacutesticas principais podem ser destacadas na governanccedila do

ensino de muacutesica (1) uma arquitetura estrutural social e artiacutestico-educativa

policentrada debilmente articulada em que os processos e os resultados a obter

atraveacutes de determinadas poliacuteticas satildeo relacionais dialoacutegicos e imprevisiacuteveis (2) a

interdependecircncia entre os diferentes atores puacuteblicos privados e do terceiro sector

que atraveacutes de racionalidades negociadas dependem entre si para atingir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

84

determinados objetivos e recursos para o desenvolvimento de projetos educativos

artiacutesticos culturais e de intervenccedilatildeo comunitaacuteria (3) a existecircncia de um conjunto de

relaccedilotildees e intenccedilotildees com determinados niacuteveis de estabilidade eou de

institucionalizaccedilatildeo a par de niacuteveis de informalidade e intermitecircncia (4) os meios

utilizados para as tomadas de decisatildeo e o cumprimento dessas mesmas decisotildees satildeo

alicerccedilados na confianccedila muacutetua e num sentimento de obrigaccedilatildeo poliacutetica e artiacutestico-

educativa e cultural que daacute lugar a construccedilatildeo negociada das regras de jogo e as suas

reestruturaccedilotildees e (5) a natildeo existecircncia de um centro capaz de determinar em exclusivo

os processos procedimentos e decisotildees poliacuteticas resulta por um lado num elevado

grau de autonomia das redes em relaccedilatildeo ao Estado e por outro na sua capacidade de

autogoverno

2 Da avaliaccedilatildeo como processo multissituado e multirregulado convergecircncias

divergecircncias e mudanccedilas

As poliacuteticas do ensino de muacutesica e a sua avaliaccedilatildeo estatildeo sujeitas a diferentes tipos de

pressotildees e de transformaccedilotildees internas e externas de natureza poliacutetica social

econoacutemica artiacutestica e cultural que se traduzem no incremento da complexidade e na

alteraccedilatildeo nos processos de regulaccedilatildeo Processos que se situam no cruzamento entre

dois modelos ldquoantagoacutenicos e complementaresrdquo (Afonso 2003 50)

Por um lado um modelo ldquoverticalrdquo assente na regra e na lei e por outro modos mais

horizontais No primeiro caso o poder eacute exercido pela autoridade hierarquia e

regulamentaccedilatildeo formal atraveacutes do quadro legal emanado das instacircncias do Estado e

da administraccedilatildeo das instacircncias do governo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo e do ldquoquadro

regulamentarrdquo mesmo que com caracteriacutesticas mais informais produzido pelas

instituiccedilotildees e pelos professores No segundo caso o poder eacute exercido num quadro de

influecircncias diferenciadas atraveacutes de ajustamentos muacutetuos de natureza difusa Estes

dois modelos coexistem numa tensatildeo permanente e com uma expressatildeo diversificada

e variaacutevel consoante os contextos e as accedilotildees poliacuteticas concretas

As caracteriacutesticas particulares de cada uma das componentes que constituem as

poliacuteticas do ensino de muacutesica apresentam tambeacutem diferenccedilas e divergecircncias nas

poliacuteticas seguidas Por exemplo existem subsistemas ldquoensino especializado de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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muacutesicardquo no acircmbito superior e natildeo superior que atribuem uma maior relevacircncia ao

mercado artiacutestico e formativo agrave ldquoaurardquo de determinados professores como

reguladores dos processo formativos e da ldquoqualidade e visibilidaderdquo da formaccedilatildeo

enquanto outros a formaccedilatildeo de professores p ex o relevo se situa mais no plano

relacionado com a regulaccedilatildeo estatal

Isto configura os processos de receccedilatildeo traduccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas em

que existe uma ldquohibridaccedilatildeordquo aos niacuteveis institucional organizacional e simboacutelico das

realidades de cada subsistema que se prende com os cruzamentos de vaacuterias loacutegicas e

orientaccedilotildees dentro de uma mesma poliacutetica e que se traduz em algumas contradiccedilotildees

sob o ponto de vista da articulaccedilatildeo entre as poliacuteticas globais e sectoriais e sob o ponto

de vista dos resultados Por exemplo enquanto as escolas natildeo superiores do ldquoensino

especializado de muacutesicardquo a sua avaliaccedilatildeo formal eacute muito limitada no entanto a

possibilidade dos pais e encarregados de educaccedilatildeo poderem ldquoescolher livrementerdquo a

instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo bem como as escolas poderem escolher os estudantes

evidencia que as loacutegicas de mercado e da competiccedilatildeo mesmo que natildeo reconhecidas

enquanto tal se apresentam como instrumentos de regulaccedilatildeo

Tambeacutem sob o ponto de vista local e regional a regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo artiacutestico-

musical caracteriza-se pelo incremento de processos de multirregulaccedilatildeo que tecircm

origem num conjunto cada vez mais alargado de atores (Estado instituiccedilotildees regionais

e locais mecanismos de mercado por exemplo) que assumem diferentes tipos de

papeacuteis e um incremento nos meios e dispositivos situados entre praacuteticas burocraacuteticas e

hierarquizadas de controlo e de autonomia e dispositivos poacutes-burocraacuteticos

(Kernaghan 2000) com a partilha de praacuteticas de recursos e modos de auto-

organizaccedilatildeo Estes diferentes atores tendem a traduzir a sua missatildeo e accedilatildeo poliacutetica

formativa e artiacutestica de um modo autoacutenomo em relaccedilatildeo aos outros ldquoAutonomiardquo que

se por um lado pode facilitar uma maior adaptaccedilatildeo dos atores agraves particularidades de

cada contexto e de cada instituiccedilatildeo formativa por outro torna-se uma fonte potencial

de incoerecircncia e de confronto entre os atores nos vaacuterios niacuteveis em que desenvolvem

as suas atividades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

86

Neste contexto podem ser identificados cinco aspetos relevantes nas transformaccedilotildees

da avaliaccedilatildeo e da regulaccedilatildeo das poliacuteticas da educaccedilatildeo artiacutestico-musical (a) a

diversidade de dispositivos e dos niacuteveis de controlo da accedilatildeo (b) o incremento da

regulaccedilatildeo pelo mercado (c) o incremento dos atores e do controlo social e cultural (d)

o hibridismo da profissionalidade artiacutestico-docente e (e) o incremento da

externalizaccedilatildeo

A diversidade de dispositivos e dos niacuteveis de controlo da accedilatildeo

A diversidade de dispositivos e dos niacuteveis do controlo da accedilatildeo resulta em grande

medida da conjugaccedilatildeo de dois tipos de fatores as transformaccedilotildees soacutecio histoacutericas em

particular no que se refere agraves poliacuteticas curriculares e a proliferaccedilatildeo das atividades

artiacutesticas e musicais no acircmbito das poliacuteticas culturais

A ldquotradiccedilatildeo histoacutericardquo consolidou uma oferta educativo-artiacutestica centrada no

ldquoajustamento muacutetuordquo das loacutegicas de accedilatildeo dos atores A esta ldquotradiccedilatildeo histoacutericardquo

contrapotildee-se a procura do reforccedilo do controlo estatal que se manifesta por um lado

atraveacutes do estabelecimento de um curriacuteculo nacional de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria para

todas as escolas puacuteblicas e particulares e em que a exigecircncia de regras estritas de

avaliaccedilatildeo dos estudantes e uma certa padronizaccedilatildeo das praacuteticas docentes e por outro

os mecanismos reguladores satildeo manifestamente insuficientes compoacutesitos e

contraditoacuterios para que se cumpram estes desiacutegnios deixando uma margem de

autonomia mesmo que ldquoclandestinardquo agraves instituiccedilotildees de formaccedilatildeo potenciando a

gestatildeo das poliacuteticas de formaccedilatildeo centradas ao niacutevel de cada escola sem que haja uma

ldquoautoridade local de educativo-artiacutesticardquo que assegure esse controlo

Estas intervenccedilotildees confrontam-se com poliacuteticas contraditoacuterias de coordenaccedilatildeo e de

avaliaccedilatildeo ldquoque denotam um impasse caracterizado pela retoacuterica poliacutetica do Estado

Avaliador e pela praacutetica gestionaacuteria do Estado Educadorrdquo (Afonso 2003 p 57)

situadas entre a existecircncia de ldquoregras riacutegidasrdquo em termos gerais da formaccedilatildeo do

sistema educativo do curriacuteculo aos exames e agrave avaliaccedilatildeo externa e regras informais na

escolha dos reportoacuterios na elaboraccedilatildeo dos programas de formaccedilatildeo nos dispositivos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

87

internos de seleccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo dos estudantes nas ldquobolsas de horasrdquo e outro tipo

de dispositivos que permitem o desenvolvimento das poliacuteticas educativo-artiacutesticas

Paralelamente a este controlo por parte das instacircncias do governo e da administraccedilatildeo

central e regional existe um outro tipo de dispositivos que adveacutem das poliacuteticas

artiacutestico-culturais (locais nacionais e transnacionais) que desempenham um papel

determinante no controlo social e cultural deste tipo de formaccedilatildeo em particular

dispositivos de natureza simboacutelica O desempenho artiacutestico dos estudantes mais do

que acadeacutemico e a sua valorizaccedilatildeo social e cultural bem como a sua participaccedilatildeo em

determinados tipos de eventos e de espaccedilos onde se realizam as atividades artiacutesticas

apresentam-se como fatores que se consideram valorizadores das poliacuteticas de

formaccedilatildeo ministrada E estes desempenhos satildeo mobilizados pelos atores como

dispositivo teacutecnico-poliacutetico para confrontar os dispositivos mais convencionais

utilizados pelas diferentes instacircncias da administraccedilatildeo do Estado

O incremento da regulaccedilatildeo pelo mercado

Embora existam dispositivos formais que privilegiam uma loacutegica de regulaccedilatildeo assente

nos normativos legais o incremento da regulaccedilatildeo pelo mercado apresenta-se como

uma tendecircncia que se alicerccedila e que cruza vaacuterios fatores nos planos da educaccedilatildeo e da

cultura Por um lado apesar da existecircncia de uma ldquocarta escolarrdquo por exemplo ela

dificilmente tem expressatildeo no acircmbito de formaccedilotildees a niacutevel natildeo superior atendendo agrave

abrangecircncia inter-territoral que caracteriza este tipo de poliacutetica formativa Isto eacute ao

contraacuterio de outro tipo de ensino em que existe um territoacuterio relativamente

delimitado de intervenccedilatildeo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo a educaccedilatildeo artiacutestico-musical

nas suas vaacuterias valecircncias e niacuteveis de formaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo corresponde a um

territoacuterio mais alargado que poderaacute abranger e intersectar diferentes tipos de escolas

num dado territoacuterio Tambeacutem no que se refere agrave formaccedilatildeo superior as instituiccedilotildees satildeo

procuradas por estudantes de vaacuterios pontos territoriais mesmo se se pensar no caso

dos objetivos ldquoaparentemente mais locaisrdquo do ensino superior politeacutecnico a

abrangecircncia dos estudantes corresponde ao todo nacional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

88

Por outro lado a regressatildeo demograacutefica a par dos niacuteveis de conclusatildeo de uma

formaccedilatildeo secundaacuteria e o crescimento das escolas de formaccedilatildeo que se traduz num

ldquoexcessordquo de oferta incrementa a ldquocaptaccedilatildeordquo de estudantes e a competiccedilatildeo entre as

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo num movimento aparentemente paradoxal Movimento este

em que as instituiccedilotildees procuram estudantes ldquocom maior potencialrdquo para os

desempenhos artiacutesticos e simultaneamente no caso por exemplo do ensino superior

este ldquomaior potencialrdquo fica sujeito agrave necessidade de se cumprir determinadas metas de

estudantes inscritos

Ora a necessidade de incrementar a ldquocaptaccedilatildeordquo dos estudantes conduz a uma

abordagem em que a prestaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico educativo-artiacutestico se centre no

ldquomarketingrdquo dos ldquomelhores professoresrdquo na ldquoqualidade e excelecircnciardquo da formaccedilatildeo e

na capacidade do desenvolvimento de atividades artiacutesticas e musicais que dinamizem

e promovam a visibilidade das instituiccedilotildees dos seus formadores e da formaccedilatildeo O

controlo social e cultural sobre as instituiccedilotildees eacute assegurado pela competiccedilatildeo entre as

escolas e as formaccedilotildees e pela capacidade destas constituiacuterem um corpo docente com

notoriedade no acircmbito artiacutestico cultural e cientiacutefico Estas dinacircmicas satildeo incentivadas

quer pelas poliacuteticas internas das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo quer pela parte das

instacircncias do Estado quer pela parte das instacircncias artiacutesticas e musicais

O hibridismo da profissionalidade artiacutestico-docente

A formaccedilatildeo inicial e contiacutenua de professores no acircmbito artiacutestico-musical apresenta

duas caracteriacutesticas principais Por um lado a sua inclusatildeo no acircmbito do ensino

superior eacute tardia e muito centrada em dimensotildees teacutecnico-instrumentais e que tem

subjacente a centralidade do muacutesico como requisito fundamental para o exerciacutecio da

profissatildeo docente Por outro lado a formaccedilatildeo contiacutenua tambeacutem ela deficitaacuteria eacute

transferida em larga medida para entidades promotoras de atividades artiacutesticas

(instituiccedilotildees festivais de muacutesica por exemplo) que desempenham muitas vezes um

papel de substituiccedilatildeo do Estado e de outras entidades formadoras

Estas caracteriacutesticas confrontam-se com o controlo da gestatildeo do pessoal docente que

se exerce num quadro em que intervecircm dispositivos que apresentam caracteriacutesticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

89

opostas O modelo burocraacutetico predominante o recrutamento e a gestatildeo da carreira

docente estaacute centralizada no plano da administraccedilatildeo do sistema educativo num

quadro em que os docentes satildeo funcionaacuterios do Estado ldquoescolhidosrdquo muitas vezes

pelas instituiccedilotildees e nomeados centralmente para o exerciacutecio de funccedilotildees ao niacutevel das

instituiccedilotildees educativo-artiacutesticas locais mas que exercem accedilatildeo formativa numa relativa

autonomia quer perante a direccedilatildeo dos estabelecimentos quer perante as normas

emanadas do poder central e regional

Ora este tipo de confrontos esboccedila uma aproximaccedilatildeo a uma regulaccedilatildeo pelo mercado

uma vez que os atores do ldquoterrenordquo (instituiccedilotildees muacutesicos professores) tecircm um papel

importante na provisatildeo da formaccedilatildeo sem que contudo esta formaccedilatildeo englobe as

vaacuterias dimensotildees da profissionalidade dos docentes da aacuterea artiacutestica o que tem um

impacto significativo nesta aacuterea das poliacuteticas da educaccedilatildeo artiacutestico-musical

Disto emerge um ldquomodelo artiacutestico-profissionalrdquo em que a regulaccedilatildeo da carreira se faz

atraveacutes de um controlo social cultural e artiacutestico mais do que por mecanismos

burocratizados Controlo este em que o centro estaacute na capacidade de ldquoatrairrdquo e

ldquoformar muacutesicos de qualidaderdquo conduzindo a que os oacutergatildeos de governo das

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo deem uma margem alargada de autonomia aos seus

docentes no acircmbito da construccedilatildeo e gestatildeo do curriacuteculo assim como da participaccedilatildeo

dos estudantes na vida musical local ou nacional Daqui decorre a permanecircncia da

ideia de autonomia no recrutamento dos docentes para as diferentes instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo e que de diferentes modos se procura concretizar tendo em vista a

construccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de uma ldquopoliacutetica de pessoal docenterdquo proacutepria que

corporize determinadas ideias e projetos dos oacutergatildeos de governo das instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo

O incremento dos atores e do controlo social e cultural no governo das instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo

No que se refere ao desenvolvimento de parcerias no contexto local podem ser

identificados dois tipos de fenoacutemenos diferenciados e paradoxais a centraccedilatildeo das

instituiccedilotildees e o alargamento dos atores que de modos diferenciados se envolvem

direta e indiretamente com as instituiccedilotildees

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

90

Contudo esta tendecircncia generalizada confronta-se com os poderes internos das

organizaccedilotildees de formaccedilatildeo que por razotildees diversas se movem numa perspetiva que

conjuga a ldquoautorreferencialidaderdquo interna e sisteacutemica em relaccedilatildeo agraves outras escolas e agrave

cena artiacutestica e musical E esta ldquoautorreferencialidaderdquo manifesta-se nas dificuldades

se integrarem nas poliacuteticas institucionais elementos oriundos das comunidades locais

mesmo que com elas interagem de um modo continuado quer em termos formais ou

informais

Paradoxalmente as instituiccedilotildees locais desempenham papeacuteis relevantes no acircmbito do

apoio agrave formaccedilatildeo artiacutestico-musical As autarquias por exemplo desenvolvem poliacuteticas

no acircmbito da educaccedilatildeo cultura juventude e de animaccedilatildeo sociocomunitaacuteria escolar e

cultural que se concretizam atraveacutes natildeo soacute de financiamentos a projetos especiacuteficos

como tambeacutem atraveacutes da disponibilizaccedilatildeo de recursos diferenciados que potenciam a

inserccedilatildeo social e cultural dos projetos formativos das instituiccedilotildees (Ferreira 2004

Pinhal 2006) Estas intervenccedilotildees contribuem para um controlo informal do curriacuteculo e

das atividades realizadas (Barroso 2002) Por sua vez o controlo social dos pais

manifesta-se sobretudo pela inscriccedilatildeo escolha da escola e pela movimentaccedilatildeo dos

estudantes nos vaacuterios ciclos de formaccedilatildeo

O incremento da externalizaccedilatildeo

A ldquocontaminaccedilatildeordquo das poliacuteticas educativas e culturais (Steiner-Khamsi 2004) e das

praacuteticas artiacutesticas e formativas eacute um fenoacutemeno transversal que percorre os mundos

das artes da cultura e da formaccedilatildeo artiacutestica Por um lado os fenoacutemenos migratoacuterios

na sociedade portuguesa constituem ao longo de todo o seacuteculo XX ldquoum importante

fator de transformaccedilatildeo social e cultural com fortes implicaccedilotildees para a configuraccedilatildeo

das praacuteticas da muacutesica e danccedilardquo desempenhando ldquoum papel ativo em domiacutenios

restauro como o comeacutercio a construccedilatildeo e de instrumentos musicais a ediccedilatildeo de

muacutesica o ensino a investigaccedilatildeo e a praacutetica de muacutesica e da danccedilardquo contribuindo

ldquoativamente para a difusatildeo de novas linguagens e reportoacuterios musicais transformando

profundamente a paisagem cultural e sonora do paiacutesrdquo (Cidra 2010 p 773) Por outro

o ldquoapelordquo ldquofasciacuteniordquo e a ldquoatratividaderdquo dos grandes centros numa espeacutecie de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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ldquoimaginaccedilatildeo ao centrordquo acaba por ser um elemento operatoacuterio das praacuteticas poliacuteticas

artiacutesticas e formativas presentes nos diferentes tipos de atores que participam direta e

indiretamente na educaccedilatildeo artiacutestico-musical

Processos complexos que se consubstanciam atraveacutes de formas diferenciadas situadas

entre (a) a accedilatildeo direta de atores que tendo obtido formaccedilatildeo no estrangeiro ou laacute

desenvolvendo trabalho apropriam modelos e procuram disseminaacute-los (b) a

integraccedilatildeo de artistas nas atividades musicais e de formaccedilatildeo (c) os referenciais

contidos em obras autores e correntes poliacutetico-musicais esteacuteticas e culturais (e) a

importaccedilatildeo atividades artiacutestico-musicais e de projetos de intervenccedilatildeo educativo-

artiacutesticos

Ora estes diferentes processos influenciam os modos de regulaccedilatildeo quer em termos

globais por parte da cena governativa e administrativa quer em termos mais locais

por parte de diferentes atores e organizaccedilotildees formativas incrementando regulaccedilotildees

muacuteltiplas e policentradas que exercem muitas vezes um controlo simboacutelico poderoso

quando comparado com os mecanismos de controlo mais convencionais com

consequecircncias praacuteticas no acircmbito dos diferentes tipos de ajustamentos muacutetuos e nas

heterarquias que se constroem no plano regulatoacuterio

Em siacutentese pode concluir-se que existe uma dominante centrada no reforccedilo de outros

modos de controlo e de responsabilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo que estatildeo para

aleacutem dos mecanismos predominantemente burocraacuteticos protagonizados pela Estado e

Administraccedilatildeo (Formosinho et al 2005) Isto significa ldquouma retraccedilatildeo do papel do

Estado central na prestaccedilatildeo direta do serviccedilo de educaccedilatildeo [artiacutestico-musical] e um

enfraquecimento do uso de estrateacutegias centradas na produccedilatildeo normativa e no

controlo de meios e de procedimentosrdquo (Afonso 2003 p 76) e um incremento de

loacutegicas e de estrateacutegias assentes na ldquoqualidaderdquo das instituiccedilotildees e das formaccedilotildees

Por outro lado num plano mais informal do controlo social e cultural das instituiccedilotildees e

das formaccedilotildees os mecanismos de regulaccedilatildeo satildeo consubstanciados atraveacutes das loacutegicas

de accedilatildeo dos atores locais no plano das poliacuteticas curriculares da gestatildeo do fluxo dos

estudantes das poliacuteticas docentes e da intervenccedilatildeo comunitaacuteria atraveacutes das atividades

artiacutesticas Ora este tipo de mecanismos parece evidenciar que o trabalho desenvolvido

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

92

se centra mais na construccedilatildeo de ordens locais para a coordenaccedilatildeo da accedilatildeo formativa e

artiacutestica ldquodo que nas regulamentaccedilotildees mais imperativas oriundas da administraccedilatildeo da

educaccedilatildeordquo (Idem)

3 Consideraccedilotildees finais

O ensino de muacutesica inscreve-se no que se pode designar por ldquoestrutura rizomaacuteticardquo

por oposiccedilatildeo a uma ldquoestrutura em aacutervorerdquo (Wilson 2002) Contudo o pensamento

dominante de diferentes atores (poliacuteticos intelectuais burocratas professores e

investigadores) inscreve-se numa perspetiva de segmentaccedilatildeo da realidade em que se

classificam planificam e programam as escolas e as instituiccedilotildees artiacutesticas e culturais no

sentido de atingir determinados objetivos mensuraacuteveis Conceptualizar as artes e a

cultura assim como a formaccedilatildeo artiacutestica como ldquoestruturas em aacutervorerdquo quando elas

satildeo rizomaacuteticas e anti estruturais caracteriza uma visatildeo redutora dos fenoacutemenos

complexos contribuindo para o desenvolvimento de poliacuteticas falhadas

Aquilo que comummente o poder poliacutetico e ministerial e determinados sectores

intelectuais acadeacutemicos e formativos caracterizam como problemas por natildeo se

integrarem numa determinada ordem eacute o que caracteriza este tipo de educaccedilatildeo e

formaccedilatildeo em que o ldquoestrutural e o antiestrutural o alto e o baixo o ortodoxo e o

subversivo o nacional e o local o institucional e o anti-institucional o top-down e o

bottom-up os interesses conflituais valores e metas das escolas e das instituiccedilotildees

culturais ndash todas as forccedilas opostas ndash satildeo as caracteriacutesticas permanentes no interior da

paisagem cultural e neste sentido importa mais do que procurar anular os

paradoxos potenciar as oportunidades presentes nos conflitos de interessesrdquo (Wilson

2002 p 211)

Deste modo importa interrogar os modelos dominantes potenciando a diferenciaccedilatildeo

de modos de organizar as instituiccedilotildees e a formaccedilatildeo Se os sistemas educativos foram

pensados tendo como ecircnfase a estandardizaccedilatildeo e a conformidade em relaccedilatildeo a um

conjunto de procedimentos modos de organizaccedilatildeo e desenvolvimento curricular

numa determinada ldquogramaacutetica escolarrdquo (Tyack amp Tobin 1994) na ldquodificuldade de

assunccedilatildeo de loacutegicas diferenciadoras como forma de construccedilatildeo de igualdadesrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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(Vasconcelos 2002) em que existe o predomiacutenio da duplicaccedilatildeo do mesmo no mesmo

em que a poliacutetica emanada do Estado e de diferentes atores das instituiccedilotildees

formativas procuram organizar e avaliar a formaccedilatildeo artiacutestica e artiacutestico-musical como

se fosse uma soacute

Ora o subsistema do ensino de muacutesica eacute tanto mais rico quanto maior for a sua

diversificaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo num quadro de autonomia e de pilotagem Autonomia

que permita o desenvolvimento de projetos formativos e culturais territorializados e

distintivos e com formas organizacionais multifacetadas Pilotagem de modo a evitar a

sua fragmentaccedilatildeo assim como modos de regulaccedilatildeo que corrijam as assimetrias

territoriais culturais esteacuteticas formativas profissionais O que pressupotildee a passagem

de um paradigma assente na centralizaccedilatildeo e na homogeneidade para um caminho de

descentralizaccedilatildeo e reconhecimento da heterogeneidade e da complementaridade

quer se pense em termos das poliacuteticas centrais quer nas poliacuteticas das instituiccedilotildees de

ensino e das instituiccedilotildees culturais

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96

Desenvolvimento do conceito de acircngulo Um estudo no 5ordmano

de escolaridade

MARISA ISABEL BERNARDO

Escola Baacutesica 23 Antoacutenio Seacutergio

marisaisabelbernardohotmailcom

MARGARIDA RODRIGUES

Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

margaridareselxiplpt

Resumo A investigaccedilatildeo em curso visa compreender a influecircncia da implementaccedilatildeo de um

conjunto de tarefas no desenvolvimento do conceito de acircngulo em alunos do 5ordm ano

de escolaridade procurando responder agraves seguintes questotildees a) Que conceccedilotildees

revelam alunos do 5ordm ano de escolaridade relativamente ao conceito de acircngulo b)

Que estrateacutegias utilizam os alunos do 5ordm ano de escolaridade na exploraccedilatildeo das

tarefas utilizadas e c) Que aspetos do conceito de acircngulo satildeo desenvolvidos pelos

alunos atraveacutes da realizaccedilatildeo das tarefas propostas A presente comunicaccedilatildeo incide na

primeira questatildeo do estudo

Optou-se por uma abordagem metodoloacutegica qualitativa de paradigma interpretativo

com a modalidade de experiecircncia de ensino Selecionou-se quatro alunos para

constituir o grupo-alvo Procedeu-se agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo

dos quatro alunos atraveacutes da realizaccedilatildeo no 1ordm Periacuteodo do ano letivo de 201112 de

entrevistas cliacutenicas semiestruturadas individuais gravadas em viacutedeo Aleacutem das

entrevistas foram usadas como teacutecnicas de recolha de dados a observaccedilatildeo

participante das aulas videogravadas bem como a anaacutelise de documentos Para

analisar os dados foram elaboradas categorias analiacuteticas

Os resultados relativos agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica evidenciam conceccedilotildees erradas de

acircngulo e respetiva amplitude (a) os acircngulos satildeo os lados de poliacutegonos (1 aluna) (b) o

comprimento dos segmentos representativos dos lados estaacute relacionado com o

tamanho dos acircngulos (2 alunos) (c) o comprimento do arco marcando o acircngulo estaacute

relacionado com o tamanho dos acircngulos (3 alunos) (d) nos poliacutegonos cocircncavos satildeo

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acircngulos apenas os de amplitude inferior a 1800 (3 alunos) (e) em figuras que natildeo satildeo

poliacutegonos os acircngulos satildeo os espaccedilos entre os segmentos de reta e as linhas curvas (1

aluno) (f) o acircngulo eacute a aacuterea entre dois segmentos representativos dos lados (4 alunos)

e (g) os acircngulos retos satildeo apenas os posicionados na posiccedilatildeo usual horizontalvertical

(1 aluna)

Palavras-chave conceito de acircngulo conceccedilotildees matemaacuteticas avaliaccedilatildeo diagnoacutestica

Abstract The ongoing research aims to understand the influence of the

implementation of a set of tasks in the development of the concept of angle in 5th

grade students trying to answer the following questions a) What conceptions of angle

reveal 5th grade students b) What strategies do 5th grade students use in tasks

exploration and c) What aspects of the concept of angle are developed by students

through the realization of the proposed tasks This communication focuses on the first

question of the study

We opted for a qualitative approach of interpretive paradigm with the use of teaching

experiment Four students were selected to constitute the target group We did the

diagnostic evaluation of angle conceptions of these four students by conducting

videotaped individual semi-structured clinical interviews in the 1st Period of 201112

Besides the interviews we used the participant observation of videotaped classes and

the analysis of documents as techniques of data collection To analyze the data

analytic categories were developed

The results for the diagnostic evaluation reveal misconceptions of angle and of angle

amplitude (a) the angles are the polygon sides (1 student) (b) the length of the

segments representing the angle sides is related to the size of the angles (2 students)

(c) the arc length marking the angle is related to the size of the angles (3 students) (d)

in the concave polygons only the angles with amplitude less than 180deg are considered

as angles (3 students) (e) in figures that there are not polygons the angles are the

spaces between straight segments and curved lines (1 student) (f) the angle is the area

between the two segments representing the angle sides (4 students) and (g ) the right

angles are only perceived when placed in the horizontalvertical usual position (1

student)

Keywords concept of angle mathematical conceptions diagnostic evaluation

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Introduccedilatildeo

O presente estudo visa compreender a influecircncia da implementaccedilatildeo de um conjunto

de tarefas no desenvolvimento do conceito de acircngulo em alunos do 5ordm ano de

escolaridade Sendo o conceito de acircngulo central na construccedilatildeo do conhecimento

geomeacutetrico e simultaneamente difiacutecil de ser aprendido e ensinado apesar de

constituir um toacutepico elementar da Geometria as investigaccedilotildees recentes incidentes no

mesmo ajudam a informar as praacuteticas na sala de aula com vista a enfrentar os

problemas de ensino e de aprendizagem deste conceito Assim este estudo pretende

contribuir para o desenho de um percurso didaacutetico que aponte possibilidades para que

o ensino do acircngulo obtenha uma dimensatildeo ampla e adequada na aprendizagem dos

alunos jaacute que tradicionalmente existe uma abordagem estaacutetica a esta noccedilatildeo

resumindo-se o seu ensino agrave mera apresentaccedilatildeo da definiccedilatildeo e uso de instrumentos de

medida

A avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo dos alunos feita atraveacutes de

entrevistas cliacutenicas individuais a quatro alunos selecionados pela diversidade de

desempenho acadeacutemico orientou a preparaccedilatildeo de um conjunto de tarefas que foram

implementadas por uma das autoras numa das suas turmas de 5ordm ano com vista a

desenvolver nos alunos uma compreensatildeo mais aprofundada do conceito de acircngulo

partindo dos dados obtidos nessa avaliaccedilatildeo O artigo apresenta os resultados da

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica realizada

Avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo

Conceccedilotildees e tipos de avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo enquanto componente do curriacuteculo pode ser concebida de diversos

modos consoante a conceccedilatildeo que se tenha de curriacuteculo tendo sido objeto de diversas

conceptualizaccedilotildees durante o seu periacuteodo breve de existecircncia no uacuteltimo seacuteculo Com

efeito a avaliaccedilatildeo tem sofrido uma evoluccedilatildeo ao longo dos uacuteltimos tempos no modo

como eacute perspetivada e ateacute operacionalizada sendo possiacutevel identificar uma conceccedilatildeo

(i) teacutecnica e instrumental centrada em produtos a partir de meados do seacutec XIX em

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que a avaliaccedilatildeo eacute vista como uma medida (ii) de congruecircncia entre os objetivos e os

desempenhos dos alunos nos anos 40 (iii) de julgamento de especialistas e (iv) de

interaccedilatildeo social complexa a partir dos anos 90 sendo esta uma conceccedilatildeo mais ampla

centrada nos processos em que a avaliaccedilatildeo eacute encarada como inscrita numa praacutetica

social dinacircmica e relacional com muacuteltiplos significados sejam de iacutendole cultural

pedagoacutegica ou poliacutetica (Pinto e Santos 2006)

O modelo de congruecircncia eacute assumido por Tyler (1949) consistindo na verificaccedilatildeo de

resultados atraveacutes do confronto dos mesmos com o que se previa e que estava

estabelecido nos objetivos definidos previamente Esta conceccedilatildeo prescritiva de

avaliaccedilatildeo sofreu fortes criacuteticas por natildeo contemplar os resultados natildeo previstos

inicialmente nem fornecer informaccedilotildees que fundamentassem a tomada de decisotildees

No iniacutecio da deacutecada de 70 surgem os primeiros sinais de uma mudanccedila de paradigma

de uma avaliaccedilatildeo prescritiva para uma avaliaccedilatildeo lsquoiluminativarsquo (Parlett 1975)

colocando a ecircnfase na interpretaccedilatildeo na natureza qualitativa da avaliaccedilatildeo que por sua

vez visa a construccedilatildeo de modelos explicativos dos sistemas especiacuteficos em causa

Como defensores desta uacuteltima corrente encontramos Stenhouse (1981) ao sustentar

que a avaliaccedilatildeo deve integrar o desenvolvimento curricular ao iluminar e guiar o

respetivo processo e Sacristaacuten (2000) que refere que a avaliaccedilatildeo que enfatize o

curriacuteculo contribui para a transformaccedilatildeo do mesmo no curso do seu desenvolvimento

dentro das condiccedilotildees escolares

As diferentes funccedilotildees da avaliaccedilatildeo -- regulaccedilatildeo dos processos de ensino e de

aprendizagem certificaccedilatildeo e seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo -- determinam diferentes modos de

analisar os dados recolhidos sustentados pelos diversos tipos de decisotildees que lhes satildeo

inerentes e encontram-se associadas respetivamente aos diversos tipos de avaliaccedilatildeo

formativa certificativa e diagnoacutestica (Pinto e Santos 2006)

Partilhando da perspetiva de avaliaccedilatildeo como interaccedilatildeo social e assumindo a dimensatildeo

pedagoacutegica da avaliaccedilatildeo encaramos a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica realizada no iniacutecio do

processo de ensino e de aprendizagem como um tipo de avaliaccedilatildeo que tem por

funccedilatildeo orientar a accedilatildeo do professor Este tipo de avaliaccedilatildeo comporta quer a dimensatildeo

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de diagnoacutestico quer a de prognoacutestico e ambas as dimensotildees sustentam as decisotildees

do professor de seleccedilatildeo e de orientaccedilatildeo em funccedilatildeo de uma antecipaccedilatildeo do futuro

proacuteximo do aluno em termos das suas competecircncias para prosseguir determinados

niacuteveis de estudo subsequentes (Pinto amp Santos 2006 p 45)

Assim a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo realizada numa fase inicial do

ensino dos acircngulos pode permitir a elaboraccedilatildeo de tarefas que visem o

desenvolvimento nos alunos de aspetos conceptuais importantes relativos ao acircngulo

partindo do modo concreto como os mesmos conceptualizam este objeto matemaacutetico

Tarefas construiacutedas com base no conhecimento do professor das noccedilotildees dos seus

alunos poderatildeo estimular nestes a transformaccedilatildeo de conceccedilotildees erradas em conceccedilotildees

fundadas numa compreensatildeo mais aprofundada das propriedades inerentes aos

diversos conceitos geomeacutetricos Em suma a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica visa

recolher informaccedilatildeo que permite ao professor antecipar com a maior

clarividecircncia possiacutevel sobre a aprendizagem dos alunos e em segundo lugar

reportar a progressatildeo e os resultados das actividades precedentes natildeo

para controlar o domiacutenio dos conteuacutedos mas sim para justificar as suas

decisotildees de planificaccedilatildeo (Kraemer 2008 p 26)

Conceccedilotildees de acircngulo

Nos uacuteltimos tempos tem vindo a estabelecer-se que o conceito de acircngulo eacute

multifacetado Trecircs classes da definiccedilatildeo de acircngulo surgem frequentemente na revisatildeo

da literatura (a) a uniatildeo de duas semirretas com a mesma origem (b) a regiatildeo

formada pela interseccedilatildeo de dois semiplanos e (c) uma rotaccedilatildeo operaccedilatildeo que

transforma uma semirreta noutra semirreta com a mesma origem (Mitchelmore amp

White 2000) Outros autores tecircm preferido basear a sua classificaccedilatildeo noutras

propriedades do acircngulo observando em particular a diferenccedila entre os aspetos

dinacircmico e estaacutetico do conceito (Close Kieran Scally citados por Mitchelmore amp

White 2000) Ressalta assim que o conceito de acircngulo eacute um conceito geomeacutetrico

complexo e que depende do contexto em que eacute trabalhado sendo esta uma das

razotildees para a dificuldade dos alunos na sua conceptualizaccedilatildeo (Mitchelmore amp White

1998 Matos 1999)

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De acordo com Bryant (2009) no processo de construccedilatildeo do conceito de acircngulo os

alunos tecircm grande dificuldade em coordenar as vaacuterias facetas deste conceito e

possuem uma variedade de conceccedilotildees erradas originando grandes obstaacuteculos para a

sua compreensatildeo No nosso quotidiano experimentamos acircngulos em muitos

contextos diferentes e agrave partida natildeo seraacute faacutecil para as crianccedilas relacionarem os acircngulos

encontrados em diferentes formas sendo que algumas representaccedilotildees satildeo mais

compreensiacuteveis que outras Por exemplo muitas vezes os acircngulos satildeo formados pelo

encontro de duas linhas niacutetidas como o canto de uma mesa enquanto noutros o

acircngulo eacute representado apenas por uma linha como a inclinaccedilatildeo de uma colina em que

uma linha eacute a proacutepria colina e a outra eacute uma linha horizontal imaginaacuteria (Bryant 2009)

Tendo em conta os niacuteveis de Van Hiele (Hiele 1999) e no caso do desenvolvimento do

conceito de acircngulo segundo Wilson e Adams (1999) as crianccedilas primeiro olham para

os acircngulos de uma forma holiacutestica Assim que comeccedilam a reconhecer acircngulos os

alunos reparam que um triacircngulo tem trecircs acircngulos mas natildeo se focalizam em nenhuma

propriedade particular desses acircngulos Mais tarde compreendem que a amplitude de

um acircngulo pode ser menor ou maior que a de um acircngulo reto e comeccedilam a identificar

propriedades e relaccedilotildees entre acircngulos O passo seguinte de desenvolvimento eacute

trabalhar com essas relaccedilotildees como por exemplo um triacircngulo natildeo pode ter mais que

um acircngulo obtuso porque os trecircs lados tecircm que formar uma figura fechada

Outros estudos realizados por diferentes autores apontam vaacuterios equiacutevocos e mal-

entendidos que existem no pensamento das crianccedilas quando lidam com o conceito de

acircngulo Matos (1999) num estudo que efetuou com alunos do 4ordm ano e 5ordm ano

identificou uma seacuterie de respostas ldquoincorretasrdquo para as questotildees de acircngulo como por

exemplo no reconhecimento de acircngulos retos agudos e obtusos em outras

orientaccedilotildees que natildeo a verticalhorizontal conceccedilatildeo de acircngulo como a aacuterea entre dois

segmentos representativos dos lados na identificaccedilatildeo de acircngulos com 1800 e 3600 na

identificaccedilatildeo de acircngulos incorporados em diferentes tipos de figuras (os alunos

reconhecem acircngulos em lados curvos de uma figura e reconhecem melhor acircngulos

convexos do que acircngulos cocircncavos) dificuldade em reconhecer um acircngulo obtuso

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como acircngulo imagem mental de acircngulo eacute de acircngulo reto e acircngulo agudo

metaforicamente os acircngulos satildeo pensados como letras utilizando os siacutembolos ldquoLrdquo e

ldquoVrdquo na relaccedilatildeo entre acircngulos e voltas (alguns alunos fazem associaccedilotildees ao ciacuterculo e

natildeo realizam um quarto de volta ou com menos de 900) Estes resultados satildeo

convergentes com estudos de outros autores (Owens 1998 Keiser 2000 Magina amp

Hoyles 2007 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) Tambeacutem eacute referido que os alunos

tendem a pensar que o comprimento dos segmentos representativos dos lados

(semirretas) estaacute relacionado com a amplitude do acircngulo (Mitchelmore amp White 1998

Wilson amp Adams 1999 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) Em suma o acircngulo eacute um

conceito complexo podendo ser definido em vaacuterios contextos e os alunos apresentam

dificuldades na construccedilatildeo deste conceito

Abordagem metodoloacutegica

Este estudo segue uma abordagem metodoloacutegica qualitativa de paradigma

interpretativo com a modalidade de experiecircncia de ensino Optou-se por esta

abordagem porque se enquadra num tipo de investigaccedilatildeo onde se pretende conhecer

profundamente as conceccedilotildees dos quatro alunos em particular e tambeacutem porque eacute

utilizada quando se procura descrever ou obter determinada explicaccedilatildeo interpretativa

sobre alguma situaccedilatildeo ou fenoacutemeno educacional (Erickson 1986)

Para a seleccedilatildeo dos participantes no estudo privilegiou-se a escolha de alunos do

5ordmano de escolaridade do ensino baacutesico com aproveitamento geral diversificado e

com uma atitude positiva em relaccedilatildeo agrave escola Seguindo estas orientaccedilotildees selecionou-

se quatro alunos de uma turma (a Isabel com aproveitamento fraco o Rui e o Pedro

meacutedio e a Luiacutesa bom) cuja professora de Matemaacutetica desempenhou

simultaneamente o papel de investigadora

Tendo como objetivo o de recolher informaccedilatildeo sobre as conceccedilotildees dos alunos sobre o

conceito de acircngulo procedeu-se a uma avaliaccedilatildeo diagnoacutestica atraveacutes da realizaccedilatildeo no

1ordm Periacuteodo do ano letivo de 20112012 de entrevistas individuais cliacutenicas e

semiestruturadas Para Pires et al citados por Moreira e Dominguez (1993) ldquoa

entrevista cliacutenica eacute apenas um meacutetodo de avaliaccedilatildeo mais especificamente uma

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teacutecnica ou uma ferramenta por meio da qual se pode gerar dados com propoacutesitos de

avaliaccedilatildeordquo (p 19) Procurou-se assim detetar preconceccedilotildees existentes sobre o

conceito de acircngulo com o propoacutesito de utilizar os dados obtidos para a preparaccedilatildeo de

um conjunto de tarefas que levasse em conta tais conceccedilotildees e procurasse facilitar a

mudanccedila conceptual

Na entrevista cliacutenica eacute fixada uma hipoacutetese agrave partida Colocando o

entrevistado na situaccedilatildeo que corresponde a essa hipoacutetese o investigador

suscita da parte dele a revelaccedilatildeo de indiacutecios e de informaccedilotildees que visam

elucidar o problema colocado (hellip) Trata-se portanto de um jogo de accedilotildees

e de respostas que caso a entrevista seja bem orientada conduziraacute agrave

elucidaccedilatildeo do problema e agrave confirmaccedilatildeo ou natildeo da hipoacutetese (Pourtois amp

Desmet citados por Lessard-Hebert Goyette amp Boutin 1990 p 164)

As entrevistas foram assim conduzidas atraveacutes de um guiatildeo onde se encontravam

uma seacuterie de questotildees elaboradas com base em hipoacuteteses decorrentes da revisatildeo de

literatura efetuada e que foram sendo exploradas mediante as respostas orais e

escritas dadas pelos alunos bem como os seus gestos com o intuito da investigadora

compreender as conceccedilotildees que os alunos apresentavam relativamente ao conceito de

acircngulo A construccedilatildeo de algumas questotildees da entrevista foi baseada nos testes

apresentados por Matos (1999) As entrevistas foram gravadas em viacutedeo e ocorreram

em salas da escola onde se desenrolou o estudo Apoacutes a sua realizaccedilatildeo foram

transcritas e os dados foram trabalhados procedendo-se agrave elaboraccedilatildeo de categorias

analiacuteticas com o objetivo de responder agrave questatildeo apresentada neste artigo

Anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Representaccedilatildeo de acircngulo

Ao ser-lhes proposto desenhar dois acircngulos diferentes todos os alunos desenharam

um acircngulo reto e um acircngulo agudo agrave exceccedilatildeo da Isabel que desenhou figuras

geomeacutetricas (figura 1) identificando como acircngulos os lados das figuras como se pode

verificar no extrato transcrito em baixo

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Figura 1 - Lados de figuras geomeacutetricas como representaccedilatildeo de acircngulos pela Isabel

Inv (hellip) o que a professora te pede aqui eacute que tu desenhes um acircngulo qualquer

Isabel (aluna) Posso desenhar um triacircngulo (Afirmo com a cabeccedila que sim)

Inv Entatildeo tens aiacute um acircngulo (A Isabel natildeo responde) Tens um acircngulo

Isabel Natildeo tenho trecircs

Inv Entatildeo diz-me laacute quais satildeo

Isabel Eacute estehellip (Aponta com o dedo um dos lados do triacircngulo)

Inv Podes marcar Marca com o laacutepis o que tu dizes quais satildeo os acircngulos

Isabel Eacute estehellipeste e estehellip (Indica os trecircs lados do triacircngulo)

Pode-se assim inferir que dos quatro alunos entrevistados trecircs usam representaccedilotildees

(desenhos) de exemplos prototiacutepicos de acircngulo e um natildeo desenhou acircngulos tendo

desenhado figuras geomeacutetricas Mas o Rui representou o acircngulo agudo natildeo

posicionado na posiccedilatildeo usual horizontalvertical (figura 2)

Figura 2 ndash Representaccedilatildeo de um acircngulo reto e de um acircngulo agudo natildeo posicionado na

posiccedilatildeo usual horizontalvertical pelo Rui

Identificaccedilatildeo de acircngulos incorporados em diferentes tipos de figuras

Na questatildeo 4 do guiatildeo era proposto assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras

poliacutegonos convexos poliacutegonos cocircncavos e figuras fechadas com linhas curvas A Isabel

identificou como acircngulos em todas as figuras os segmentos de reta que as limitam

natildeo assinalando como acircngulo a linha curva de uma das figuras (figura 3)

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Figura 3 ndash Identificaccedilatildeo como acircngulos dos segmentos de reta que limitam as figuras

pela Isabel

Inv (hellip) vais marcar os acircngulos que encontras nesta figura com a letra ldquovrdquo

(A Isabel assinala os segmentos de reta que limitam as figuras)

(hellip)

(A Isabel na figura fechada com uma linha curva assinala-a como acircngulo

mas depois apaga)

Inv Entatildeo porque eacute que marcaste e depois decidiste que natildeo era

Isabel Este estaacute assim (Com o dedo contorna a linha curva da figura)

Inv Eacute uma linha

Isabel Curva

No poliacutegono convexo os outros trecircs alunos identificaram corretamente os acircngulos

natildeo se verificando o mesmo na identificaccedilatildeo do acircngulo interno de amplitude superior

a 1800 no poliacutegono cocircncavo (figura 4) o Rui e a Luiacutesa natildeo o assinalaram e o Pedro

apesar de ter assinalado no poliacutegono o acircngulo interno superior a 1800 referia-se ao

acircngulo exterior (figura 5)

Inv E aqui (Refiro-me ao poliacutegono cocircncavo) Tu colocaste o ldquovrdquo aqui

(Aponto para o acircngulo interno superior 1800) Onde estaacute o acircngulo

Pedro Eacute este e este (O aluno com o dedo contorna os lados dos acircngulos

internos que tecircm um dos lados comum ao acircngulo interno superior a 1800)

E tambeacutem daacute para fazer um assimhellip (O aluno com o laacutepis contorna os lados

do acircngulo interno superior a 1800 mas aponta para o acircngulo externo)

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Figura 4 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos no poliacutegono cocircncavo pelo Rui e pela Luiacutesa

respetivamente

Figura 5 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos no poliacutegono cocircncavo pelo Pedro

Nas figuras natildeo-poliacutegonos a Luiacutesa identificou corretamente os acircngulos existentes natildeo

assinalando como acircngulo o espaccedilo entre um segmento de reta e uma linha curva

(figura 6) ao contraacuterio do Rui (figura 7)

Figura 6 ndash Identificaccedilatildeo correta dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pela Luiacutesa

Figura 7 ndash Identificaccedilatildeo incorreta dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pelo Rui

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O Pedro referiu que para formar acircngulos ldquotem de ser linhas retasrdquo mas assinalou

como acircngulo o espaccedilo entre um segmento e uma linha curva parecendo que

perceciona o iniacutecio da linha curva como reto (figura 8)

Figura 8 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pelo Pedro

Agrave exceccedilatildeo da Isabel que identificou incorretamente todos os acircngulos nas diferentes

figuras o Rui o Pedro e a Luiacutesa identificaram de forma correta os acircngulos inferiores a

1800 nos poliacutegonos convexos e cocircncavos Nas figuras natildeo-poliacutegonos soacute a Luiacutesa

identificou corretamente os acircngulos existentes

Conceccedilatildeo de amplitude de acircngulo

Quando lhes foi proposto rodear os acircngulos de maior amplitude o Pedro e a Isabel

assinalaram os acircngulos que apresentavam os maiores segmentos representativos dos

lados a partir do criteacuterio de que a amplitude do acircngulo aumenta com o comprimento

dos segmentos representativos dos seus lados (Figura 9) Nas justificaccedilotildees agraves opccedilotildees

feitas o Pedro referiu que as ldquoarestasrdquo satildeo maiores e a Isabel ldquoestas linhas estatildeo

maioresrdquo

Figura 9 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos de

maior amplitude pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

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O Rui e a Luiacutesa identificaram corretamente os acircngulos de maior amplitude fazendo ateacute

uma estimativa da sua amplitude (Figura 10) A Luiacutesa referiu ldquoeacute um acircngulo agudo e

tem menos que 900 mas este (aponta para o 2ordmacircngulo da 1ordm caixa) eacute quase um

acircngulo de 900 mas tem mais

Rui Porque tem mesmo quase os 090 certinhos e este aqui natildeo tem e tambeacutem

haacute a percentagem de acircngulo (Na primeira caixa)

Inv O que queres dizer com isso Percentagem de acircngulo

Rui Tem maior abertura e este natildeo

(hellip)

Rui (hellip) e o acircngulo deste aqui (aponta para o acircngulo da direita da segunda caixa)

estaacute nos 85 por aiacute e este (aponta para o acircngulo da direita da primeira caixa) em

65 e 70

Figura 10 ndash Identificaccedilatildeo correta dos acircngulos de maior amplitude pelo Rui

Na questatildeo 11 do guiatildeo era proposto aos alunos que rodeassem o acircngulo de maior

amplitude Nesta questatildeo os acircngulos estavam marcados com arcos de comprimentos

diferentes Apenas a Luiacutesa identificou corretamente o acircngulo com maior amplitude

referindo ldquoEscolhi este porque este tem o acircngulo (pausa) os graus maiores do que

este Se noacutes formos a ver este estaacute mais fechado e este aqui eacute mais abertordquo (Figura 11)

Figura 11 ndash Identificaccedilatildeo correta do acircngulo de maior amplitude pela Luiacutesa

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Os outros trecircs alunos identificaram incorretamente o acircngulo com maior amplitude A

Isabel identifica o acircngulo com maior amplitude a partir do criteacuterio de que a amplitude

do acircngulo aumenta com o comprimento dos segmentos representativos dos seus

lados ignorando os arcos O Rui e o Pedro identificaram o acircngulo maior como aquele

que tem o arco com maior comprimento fazendo referecircncia ao espaccedilo que

compreende o arco

Inv Agora eacute te pedido que rodeies o maior acircngulo

(O aluno assinala o segundo acircngulo)

Inv Porque eacute que escolheste esse

Rui Porque estaacute mais fechado e este tem um acircngulo maior (Aponta para o

segundo acircngulo da caixa)

Inv Qual eacute o acircngulo que te estaacutes a referir

Rui A este (Aponta para o segundo acircngulo)

Inv E aquele (Aponto para o primeiro acircngulo)

Rui Eacute mais pequeno

Pedro Este eacute o que tem mais dimensatildeo maior (Aponta para o segundo

acircngulo da caixa) E daacute para meter o acircngulo maishellipmais pa sic] caacute Este aqui

natildeo daacute assim tatildeo bem

Inv Daacute para pocircr o quecirc mais para caacute Explica laacute essa tua ideia

Pedro Daacute para meterhellip O acircngulo eacute maior aquihellipo acircngulo aqui estaacute maior

que este (Aponta o espaccedilo que compreende o arco)

Deste modo dos quatro alunos apenas a Luiacutesa identificou corretamente os acircngulos

com maior amplitude e o Rui e o Pedro identificaram como maiores aquele que tem o

arco com maior comprimento considerando que se se alterar a posiccedilatildeo do arco

desenhado tambeacutem se altera o acircngulo e a sua amplitude Quer o Pedro quer a Isabel

identificam como acircngulos com maior amplitude aqueles cujo comprimento dos

segmentos representativos dos seus lados satildeo maiores

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Conceccedilatildeo de acircngulo

Na questatildeo 7 do guiatildeo era proposto aos alunos que circundassem os pontos inseridos

no interior de acircngulos Todos os alunos circundaram apenas os pontos inseridos na

aacuterea entre os segmentos representativos dos lados (Figura 12) No primeiro acircngulo

rodearam os pontos E e F e no segundo acircngulo rodearam os pontos G e F agrave exceccedilatildeo da

Luiacutesa que rodeou tambeacutem os pontos A e B

Figura 12 ndash Identificaccedilatildeo dos pontos inseridos no interior de um acircngulo pelo Rui pela

Luiacutesa pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

O Rui diz que ldquoo B e o C jaacute estatildeo um bocado mais afastadosrdquo o Pedro no segundo

acircngulo refere que ldquose noacutes fizermos assim (movimenta o laacutepis de forma a imaginar-se

um terceiro segmento que une os outros dois segmentos) eles estatildeo caacute dentro eles

ficam caacute dentrordquo A Luiacutesa chega a rodear no primeiro acircngulo o ponto B mas depois

apaga e quando questionada sobre o que fez diz ldquoPorque o acircngulo se fosse maiorhellipse

continuasse assim um bocadinho mais para cima (hellip) estas linhas mais para a frente o

B o pontinho B ia estar dentrordquo (com o dedo faz o gesto do prolongamento do

segmento representativo de um dos lados do acircngulo) No segundo acircngulo a Luiacutesa

refere ldquoo F porque estaacute aqui no meio (aponta com o dedo para o interior do acircngulo) o

B tambeacutem e o G tambeacutem O A natildeo estaacute bem dentro do acircngulo mas ainda estaacutehellipestaacute

quase fora do acircngulo Os outros estatildeo laacute dentro (referindo-se aos que rodeou)rdquo

O desempenho dos alunos evidencia que os mesmos conceberam o acircngulo como uma

superfiacutecie finita isto eacute como a aacuterea interior entre os dois segmentos representativos

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dos lados imaginando o fechamento dessa superfiacutecie formando um triacircngulo tal

como representado na Figura 13

Figura 13 ndash Conceccedilatildeo de acircngulo como uma aacuterea limitada pelos segmentos

representativos dos lados

Nenhum dos alunos teve a ideia de poder prolongar infinitamente os segmentos

sendo que conceptualmente natildeo encararam os lados dos acircngulos como semirretas A

Luiacutesa quando o faz com gestos eacute para justificar o que natildeo circundou A Luiacutesa

evidencia ter considerado para o acircngulo obtuso toda a aacuterea delimitada por linhas

imaginaacuterias verticais a partir dos extremos dos segmentos representativos dos lados

tal como representado na Figura 14 Das respostas dos alunos tambeacutem se pode inferir

que apenas tecircm como referecircncia os acircngulos convexos pois nenhum aluno colocou a

hipoacutetese dos pontos A G (no acircngulo agudo) e E e D (no acircngulo obtuso) pertencerem

ao acircngulo cocircncavo

Figura 14 ndash Conceccedilatildeo de acircngulo com um interior limitado pela Luiacutesa

Constacircncia percetual

Quando lhes foi proposto que circundassem os acircngulos retos de entre um conjunto de

acircngulos representados numa malha quadriculada o Rui e a Luiacutesa (figura 15)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

112

identificaram corretamente trecircs e o Pedro e a Isabel dois (Figura 16) de entre os

quatro acircngulos retos apresentados em diferentes posiccedilotildees

Figura 15 ndash Identificaccedilatildeo de acircngulos retos em diferentes posiccedilotildees pela Luiacutesa

Figura 16 ndash Identificaccedilatildeo de acircngulos retos pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

O Pedro tal como a Luiacutesa movimentou a folha de papel antes de assinalar os acircngulos

Indicou apenas dois acircngulos como retos mas chegou a assinalar um terceiro acircngulo

que acabou por apagar e ao justificar as suas escolhas referiu que se pudesse mover a

folha de papel soacute um acircngulo eacute que natildeo seria reto

Inv Entatildeo natildeo eacute

Pedro Natildeo

Inv Porque eacute que no iniacutecio estavas a rodear

Pedro Porque eu tava [sic] a vecirc-lo assim (move a folha de papel) e depois

vi que era melhor vecirc-lo assim e natildeo erahellip

Inv Entatildeo tens que ter sempre a folha direita

Pedro Sim eu acho que eacute isso Mas se pudermos vermos de todas as

maneiras satildeo quase todos menos este (indica o acircngulo agudo)

O Rui e a Luiacutesa revelam alguma constacircncia percetual relativamente ao acircngulo reto O

Pedro natildeo reconhece facilmente os acircngulos retos natildeo posicionados na posiccedilatildeo usual

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

113

horizontalvertical e a Isabel identificou apenas os acircngulos retos representados na

posiccedilatildeo prototiacutepica

Conclusatildeo

Um dos objetivos deste estudo foi o de recolher informaccedilatildeo sobre as conceccedilotildees dos

alunos sobre o conceito de acircngulo procedendo-se a uma avaliaccedilatildeo diagnoacutestica para

compreender que conceccedilotildees apresentavam relativamente a este conceito Os alunos

utilizam representaccedilotildees de exemplos prototiacutepicos de acircngulos (reto e agudo) e nenhum

representa um acircngulo obtuso dando evidecircncias de possuiacuterem a imagem mental de

acircngulo correspondendo ao acircngulo reto e acircngulo agudo sendo que um aluno (Rui)

pensa metaforicamente nos acircngulos como as letras ldquoLrdquo e ldquoVrdquo (Matos 1999)

Apresentam ainda dificuldades em assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras

tal como nos estudos efetuados por Owens (1998) Keiser (2000) e Matos (1999) A

principal dificuldade detetada foi na identificaccedilatildeo do acircngulo interno de amplitude

superior a 1800 no poliacutegono cocircncavo onde nenhum dos alunos o assinalou Na figura

natildeo-poliacutegono apenas um aluno identificou corretamente os acircngulos existentes As

respostas dos alunos indicam que para eles os acircngulos soacute podem ser concebidos no

interior das figuras Na questatildeo proposta para rodear os acircngulos de maior amplitude

tambeacutem aqui as respostas de dois alunos convergem com um dos equiacutevocos mais

comuns e mencionado por diversos autores (Mitchelmore amp White 1998 Wilson amp

Adams 1999 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) um ldquoacircngulo pequenordquo tem lados

curtos e um ldquoacircngulo granderdquo tem lados longos ou seja a conceccedilatildeo de que o

comprimento dos segmentos representativos dos lados (semirretas) estaacute relacionado

com a amplitude do acircngulo Tambeacutem o comprimento do arco que marcava os acircngulos

foi concebido como estando relacionado com a amplitude dos acircngulos por dois

alunos Na questatildeo para circundar os pontos inseridos no interior de acircngulos os

alunos evidenciam que concebem o acircngulo como uma superfiacutecie finita isto eacute como a

aacuterea interior entre os dois segmentos representativos dos lados tal como aconteceu

nos estudos de Matos (1999) e Keiser (2000) Das respostas dos alunos a esta questatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

114

e agrave questatildeo para assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras pode-se inferir que

apenas tecircm como referecircncia os acircngulos convexos Os alunos apresentam dificuldades

no reconhecimento de acircngulos retos agudos e obtusos em outras orientaccedilotildees que natildeo

a verticalhorizontal (tal como em Matos 1999 Fynh 2007) um aluno natildeo

reconheceu facilmente os acircngulos retos natildeo posicionados na posiccedilatildeo usual

horizontalvertical e a Isabel identificou apenas os acircngulos retos representados na

posiccedilatildeo prototiacutepica Eacute ainda de salientar que a aluna Isabel ao longo da entrevista

indicou frequentemente como exemplos de acircngulos os segmentos de reta que

formam diferentes tipos de figuras Os resultados relativos agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica

evidenciam assim conceccedilotildees erradas de acircngulo e respetiva amplitude confirmando os

estudos realizados por diferentes autores que apontam para vaacuterios equiacutevocos

existentes no pensamento das crianccedilas sobre este conceito geomeacutetrico

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

116

O aacutelbum infantil alguns criteacuterios de seleccedilatildeo

Maria Encarnaccedilatildeo Silva

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

esilvaeselxiplpt

Helena Barroso

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

helenabeselxiplpt

Resumo

A literatura para a infacircncia e juventude desempenha um papel fundamental na

formaccedilatildeo de leitores autoacutenomos isto eacute leitores que queiram ler por iniciativa proacutepria

e que gostem de o fazer Lendo e ouvindo ler literatura para a infacircncia desde muito

cedo a crianccedila vai descobrindo a linguagem escrita vai-se familiarizando com ela e vai

sentindo vontade de querer aprender a ler

Por outro lado o contacto precoce com a literatura para a infacircncia constitui-se como

um fator de desenvolvimento da crianccedila a niacutevel social cultural afetivo e linguiacutestico

Destaca-se ainda a importacircncia deste recurso no acircmbito de uma educaccedilatildeo para os

valores numa sociedade que se quer mais humana e respeitadora dos direitos de todos

e de cada um O aacutelbum ilustrado veicula valores atraveacutes das suas componentes textual

e icoacutenica possibilitando uma discussatildeo enriquecedora sem ser moralista uma

discussatildeo suficientemente descentrada da crianccedila para que a mesma natildeo se sinta

avaliada e suficientemente proacutexima para que a crianccedila se sinta envolvida

Nesta comunicaccedilatildeo pretende-se

caracterizar o aacutelbum de literatura para a infacircncia

identificar criteacuterios que devem presidir agrave escolha de aacutelbuns que

contribuam para o desenvolvimento da educaccedilatildeo literaacuteria para o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

117

desenvolvimento linguiacutestico e para o alargamento de horizontes no que

se refere ao conhecimento do mundo em geral

apresentar alguns exemplos de aacutelbuns que possibitem percursos

enriquecedores de acordo com o que atraacutes se disse

Palavras-chave aacutelbum ilustrado criteacuterios de seleccedilatildeo

Abstract

Literature for children and young people plays a fundamental role in the training of

autonomous readers that is those who read of their own volition because they enjoy

it By reading and listening to childrenrsquos literature from a very early age the child

embarks on a voyage of discovery becoming familiar with the written language and

feeling a desire to learn and to read

At the same time early contact with childrenrsquos literature constitutes an important

factor in the childrsquos social cultural affective and linguistic development

This resource also has an important part to play in helping children to acquire values in

a society that seeks to be more human and respectful of the rights of each and every

citizen The picture story book conveys these values through its textual and graphic

components fostering a discussion which is enriching without being moralistic a

discussion sufficiently removed from the child for it not to feel judged yet sufficiently

close for it to feel involved

Our aim in this communication is to

describe a picture story book

identify criteria to be applied in the selection of picture story books

bearing in mind the construction of an instrument of evaluation and

analysis that may be used both by students of childrenrsquos literature and

by teachers in the selection of suitable works

present some examples of picture story books which fulfill these criteria

Keywords picture story book criteria to be applied in the selection picture story book

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

118

1 Introduccedilatildeo

O presente artigo pretende dar um contributo para a orientaccedilatildeo dos estudantes e dos

profissionais de educaccedilatildeo na aacuterea da educaccedilatildeo baacutesica no que respeita a seleccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo de aacutelbuns infantis em contextos de intervenccedilatildeo educativa

O aacutelbum infantil eacute um geacutenero30 jaacute com longa tradiccedilatildeo em alguns paiacuteses da Europa

desde os anos sessenta do seacuteculo passado Apesar de em Portugal o aacutelbum ter

surgido mais tardiamente atualmente o mercado editorial portuguecircs jaacute disponibiliza

uma grande variedade de aacutelbuns Este facto aliado agrave circunstacircncia de que o

destinataacuterio final a crianccedila eacute no dizer de Soriano (1975 185) um destinataacuterio que

ldquonatildeo dispotildee senatildeo de forma parcial da experiecircncia do real e das estruturas

linguiacutesticas intelectuais afetivas e outras que caracterizam a idade adultardquo exige que

os mediadores recorram a alguns criteacuterios para escolher aacutelbuns adequados aos fins

que pretendem

Neste artigo dar-se-aacute em primeiro lugar uma definiccedilatildeo de aacutelbum infantil e dos

subgeacuteneros que o compotildeem falar-se-aacute em segundo lugar de criteacuterios de seleccedilatildeo

quer de natureza mais geral e transversal quer de natureza mais especiacutefica que

poderatildeo orientar a escolha dos futuros profissionais nesta mateacuteria seratildeo

apresentados ao longo do texto alguns exemplos de aacutelbuns que se consideram

ilustrativos dos criteacuterios que se enumeram

2 O aacutelbum infantil definiccedilatildeo

O aacutelbum infantil define-se antes de tudo por elementos de natureza paratextual a

saber uma capa rija (embora em alguns paiacuteses europeus comece a haver por razotildees

de natureza econoacutemica duas versotildees do mesmo aacutelbum uma com capa rija mais cara

outra com capa mole mais barata) um formato de grandes dimensotildees geralmente

maior do que o formato A5 uma qualidade superior do papel um diminuto nuacutemero de

paacuteginas (entre as 24 e as 32) Relativamente ao conteuacutedo o aacutelbum infantil caracteriza-

se ou por uma completa ausecircncia de texto ou no caso da presenccedila de texto por uma

reduzida extensatildeo de palavras (200 a 1000 aproximadamente) caracteres de

30

Ver aceccedilatildeo p6

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

119

dimensatildeo superior e variaacutevel ilustraccedilotildees abundantes frequentemente impressas em

policromia de paacutegina inteira ou de dupla paacutegina uma interaccedilatildeo entre a linguagem

icoacutenica e a linguagem escrita no caso de o aacutelbum integrar as duas componentes

(Rodrigues 2009 e 2013)

No que respeita os subgeacuteneros do aacutelbum infantil haacute em primeiro lugar que distinguir

os aacutelbuns puros sem texto algum dos aacutelbuns profusamente ilustrados com texto

Tanto num como noutro caso eacute possiacutevel classificar a informaccedilatildeo neles contida de trecircs

diferentes modos narrativo quando o enredo se resolve numa situaccedilatildeo final segundo

o modelo de Greimas (1966) lista ou seja organizados numa sucessatildeo orgacircnica de

toacutepicos ou de situaccedilotildees e documentaacuterio cuja intenccedilatildeo ou propoacutesito se constitui como

especificamente didaacutetico (Bastos 1999)

3 Seleccedilatildeo de aacutelbuns alguns criteacuterios

Os criteacuterios orientadores subjacentes agrave seleccedilatildeo de um aacutelbum infantil podem agrupar-

se em duas categorias gerais e especiacuteficos Os criteacuterios gerais satildeo criteacuterios que devem

estar sempre presentes na escolha do aacutelbum considerando-se que o aacutelbum no seu

todo deve constituir ldquouma unidade esteacutetica de sentidordquo (Rodrigues 2009) visando

contribuir para a educaccedilatildeo literaacuteria da crianccedila A educaccedilatildeo literaacuteria supotildee entre outras

coisas na perspetiva de Filola (2004) formar a crianccedila para participar ativamente no

processo de receccedilatildeo da obra

Na sequecircncia de algumas leituras tais como Colomer (2005) Filola (2004) Teberosky

(2011) e Butlen (2008) na figura 1 apresenta-se uma tentativa de sistematizaccedilatildeo de

alguns criteacuterios gerais considerados pertinentes na escolha de aacutelbuns

Quadro 1 Criteacuterios gerais

Criteacuterios Indicadores

Valor literaacuterio Discurso figurado ironia elipse efeito de

comicidade

Estruturas linguiacutesticas Formas discursivas distintas onomatopeias

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

120

alternacircncia entre texto em prosa e texto

rimado repeticcedilotildees aliteraccedilotildees rimas

estruturas cumulativas

Conteuacutedos temaacuteticos Conhecimento do mundo problemas

relativos ao universo infantil o fantaacutestico e

o maravilhoso

Originalidade na abordagem dos temas O absurdo o nonsense o insoacutelito o

inesperado a subversatildeo do real

Valor esteacutetico do aacutelbum Grafismo design graacutefico teacutecnicas de

ilustraccedilatildeo policromia semacircntica

Diversidade Temas autores geacuteneros

Adequaccedilatildeo agraves diferentes faixas etaacuterias Quantidade de texto tamanho e tipo de

letra niacutevel de complexidade na abordagem

dos temas familiaridade dos temas

competecircncia leitora

Jaacute os criteacuterios especiacuteficos de seleccedilatildeo deste geacutenero prendem-se antes de tudo com os

objetivos e percursos de leitura que o formador previamente definiu atendendo agrave

faixa etaacuteria a que se dirige agrave maior ou menor familiaridade do puacuteblico com o texto

literaacuterio agraves questotildees especiacuteficas que este pretende tratar e agraves competecircncias que quer

desenvolver junto dos destinataacuterios

Apresentamos de seguida alguns criteacuterios especiacuteficos que nos parecem pertinentes

pela riqueza de percursos de leitura que podem proporcionar

Intertextualidade

Encontramos muitas obras que convocam o leitor para o jogo intertextual (a saber o

ldquojogo das relaccedilotildees dialoacutegicasrdquo de acordo com Aguiar e Silva (1988) A relaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

121

intertextual estabelece-se quer atraveacutes da imagem quer atraveacutes do texto incluindo

recriaccedilotildees e reinvenccedilotildees textuais e convivecircncia de geacuteneros por exemplo Eacute a literatura

a falar dela proacutepria orientando o leitor para novos percursos de leitura colocando

desafios de compreensatildeo que soacute satildeo por vezes ultrapassados quando seguindo as

pistas presentes no texto ou na imagem conhecemos os textos citados de forma mais

ou menos expliacutecita

Para bem compreender O Capuchinho Cinzento (2005) de Matilde Rosa Arauacutejo (texto)

e Andreacute Letria (ilustraccedilatildeo) O Chapeuzinho Amarelo (2005) de Chico Buarque (texto) e

Ziraldo (ilustraccedilatildeo) Pela Floresta (2008) de Anthony Browne (texto e ilustraccedilatildeo) ou

Baralhando Histoacuterias (2011) Gianni Rodari (texto) e Alexandra Sanna (ilustraccedilatildeo)

entre outros eacute necessaacuterio conhecer o antepassado inspirador - O Capuchinho

Vermelho Encontra-se tambeacutem este apelo ao estabelecimento de redes textuais nas

ilustraccedilotildees em que surgem por exemplo livros canoacutenicos com os tiacutetulos nas

lombadas

No que se refere agrave convivecircncia de geacuteneros textuais existem atualmente inuacutemeros

aacutelbuns que incluem no seu interior cartas livros de receitas mapas jornais entre

outros constituindo-se como um ponto de partida significativo para a construccedilatildeo de

representaccedilotildees mentais sobre diferentes geacuteneros textuais Utiliza-se aqui e ao longo

de todo o texto a designaccedilatildeo de geacutenero textual na perspetiva de Marcuschi (2008)

entre outros para referir os textos concretos que circulam na vida quotidiana e

apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas definidas por conteuacutedos propriedades

funcionais e determinada composiccedilatildeo especiacutefica A tiacutetulo meramente exemplificativo

desta convivecircncia de diferentes geacuteneros textuais dentro de um outro geacutenero

sugerem-se as obras Cartas de Rumblewick A minha bruxa teimosa (2008) de Hiawyn

Oram (texto) e Sarah Warburton (ilustraccedilatildeo) e A Verdadeira Histoacuteria do Capuchinho

Vermelho (2008) de Sandro Natalini (texto) e Agnese Baruzzi (ilustraccedilatildeo)

Relaccedilatildeo textoimagem

O criteacuterio respeitante agrave relaccedilatildeo imagemtexto remete para o ldquodiaacutelogordquo entre a

componente imageacutetica e a componente textual dos aacutelbuns e de acordo com a maior

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

122

ou menor complexidade dessa conexatildeo constitui um desafio agraves capacidades

interpretativas do leitor Tendo como referecircncia as anaacutelises apresentadas nos

trabalhos de Rodrigues (2013) Baptista (2008) e Ramos (2007) satildeo aqui sintetizadas as

dimensotildees da interaccedilatildeo textoimagem da seguinte forma imitaccedilatildeo

complementariedade contradiccedilatildeo e fusatildeo De acordo com Ramos (2007 231) ldquosatildeo

mais frequentes as imagens que ora funcionam como complemento ora como

amplificaccedilatildeo aprofundando e desenvolvendo o proacuteprio texto e apontando outras

(diferentes novas) possibiidades de leiturardquo em detrimento da ilustraccedilatildeo que se

apresenta redundante relativamente ao texto No primeiro caso considera-se que

existem relaccedilotildees de complementaridade e no segundo relaccedilotildees de imitaccedilatildeo A fusatildeo

eacute a relaccedilatildeo mais complexa Usa-se esta designaccedilatildeo um pouco na perspetiva de Baptista

(2008 5) considerando que as duas linguagens verbal e pictoacuterica funcionam numa

relaccedilatildeo de completa interdependecircncia sendo que o sentido da obra resulta

precisamente dessa reciprocidade

a) Imitaccedilatildeo a imagem ilustra fielmente o texto justifica-o ambas as componentes

formam um todo semacircntico como se pode verificar no exemplo da figura1

Figura 1 Corentin P (texto e

ilustraccedilatildeo) (2005) Fulanito de tal

Barcelona Ediccedilotildees Corimbo

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123

a) Complementariedade A imagem aprofunda completa o texto alargando

assim o leque das interpretaccedilotildees No exemplo das figuras 2 e 3 o texto

precisa da imagem para ganhar sentido

Figura 2 e 3 Portis A (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Natildeo eacute uma caixa Lisboa

Editorial Presenccedila Consultado online em 10 de novembro de 2013 (ver

bibliografia)

b) Contradiccedilatildeo a imagem apresenta elementos contraditoacuterios em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo do texto incitando o leitor agrave formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e agrave

confirmaccedilatildeo das mesmas assim como agrave pesquisa de pormenores (cf figuras 4

e 5)

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124

c) Fusatildeo O texto e a imagem

fundem-se numa relaccedilatildeo de completa interdependecircncia Esta vai para aleacutem da

relaccedilatildeo de complementaridade Um texto natildeo se pode dissociar do outro A

figura 6 mostra um exemplo em que texto e imagem se constituem como um

todo

Figura 6 Gravett E (texto e

ilustraccedilatildeo) (2010) O Grande Livro

dos Medos do pequeno rato

Lisboa Livros Horizonte

Consultado online em 15 de

novembro de 2013 (ver

bibliografia)

Figura 5 Blake Q (texto e

ilustraccedilatildeo) (2009) Catatuas

Lisboa Caminho

Figura 4 Bachelet M(texto e

ilustraccedilatildeo) (2009) O meu gato eacute o

mais tolo do mundo Lisboa

Caminho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

125

Referecircncias Culturais

Embora esta categoria pudesse integrar-se no acircmbito da intertextualidade jaacute atraacutes

considerada optou-se por lhe dedicar um espaccedilo proacuteprio tendo em conta as

potencialidades pedagoacutegicas que apresenta Os aacutelbuns infantis contecircm muitas vezes

referecircncias seja na imagem seja no texto que possibilitam o alargamento dos

horizontes culturais dos leitores e que contribuem para a sua educaccedilatildeo esteacutetica e

artiacutestica Essas referecircncias constituem-se como pistas a seguir e remetem para aacutereas

diversas pintura muacutesica histoacuteria teatro geografia de lugares proacuteximos ou afastados

entre outros e satildeo um convite a percorrer itineraacuterios diversos que despertam a

curiosidade da crianccedila Sugerem-se dois aacutelbuns que se consideram verdadeiramente

exemplares neste aspeto

Em O meu gato eacute o mais tolo do mundo (2009) de Michel Bachelet (texto e ilustraccedilatildeo)

uma excecircntrica personagem julga ser dona de um gato que afinal eacute um elefante e

decide retratar o seu querido animal de estimaccedilatildeo inspirando-se em quadros de

pintores ceacutelebres substituindo a personagem original pela figura ldquodo seu querido

gatordquo Observando essas imagens eacute possiacutevel descobrir marcas de Ceacutezanne Manet

Miroacute Picasso Magritte Mondrian Chagal Matisse entre outros (cf Figura 7) Nas

ilustraccedilotildees deste aacutelbum aparecem tambeacutem imagens de livros em cujas lombadas eacute

possiacutevel ler tiacutetulos como expressionismo surrealismo nomes como Rabier famoso

criador da la vache qui rit e Brunhof o criador de Babar o elefante que encantou

geraccedilotildees (cf Figuras 8 e 9)

Figuras 7 8 e 9 Bachelet M (texto e ilustraccedilatildeo) (2009) O meu gato eacute o mais tolo

do mundo Lisboa Caminho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

126

No aacutelbum Oliacutevia (2000) de Ian Falconer (texto e ilustraccedilatildeo) conhecemos uma

porquinha muito simpaacutetica e irrequieta que nas suas visitas a museus admira um

quadro de Degas e outro de Pollock (cf Figura 10 e 11) Esta porquinha adormece

ouvindo histoacuterias que a matildee lhe lecirc e sonha vir a ser uma grande cantora liacuterica agrave

semelhanccedila de Maria Callas (cf Figura 12) cuja biografia ouviu ler Em ambos os

aacutelbuns estas referecircncias estatildeo disseminados na ilustraccedilatildeo oferecendo-se como pistas

que podem conduzir a percursos de descoberta de diferentes manifestaccedilotildees artiacutesticas

Figuras 10 11 e 12 FalconerI (texto e ilustraccedilatildeo) (2000) Oliacutevia Lisboa Notiacutecias Editora

Valores veiculados

Agrave semelhanccedila do que afirma Azevedo (2006) ldquo() a literatura de receccedilatildeo infantil

mesmo quando concretiza espaccedilos para o questionamento do Outro para a presenccedila

do fragmentaacuterio do carnavalesco e do emancipatoacuterio natildeo parece deixar de criar e de

fomentar determinados modelos de configuraccedilatildeo eacutetica para os seus leitores menos

experientesrdquo (pp 23-24) considera-se que outro dos criteacuterios a ter em conta na

seleccedilatildeo de um aacutelbum infantil prende-se com os valores que este de forma mais ou

menos expliacutecita veicula Com efeito o corpus da literatura infantil constitui-se a partir

do acordo relativamente taacutecito de que a crianccedila eacute um ser em formaccedilatildeo que necessita

de ser esclarecida informada aconselhada ensinada estruturada Com base nesta

assunccedilatildeo discutiacutevel ou natildeo autores e editoras de literatura infantil tomam a seu cargo

essa incumbecircncia criando na sua grande maioria obras edificantes sem ser

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

127

necessaacuteria e excessivamente moralizadoras No caso dos aacutelbuns ilustrados que incluem

texto as figuras mais utilizadas para veicular esses valores satildeo a metaacutefora a alegoria a

metoniacutemia sendo que natildeo raras vezes se assiste agrave desconstruccedilatildeo literal de

expressotildees ou palavras geralmente utilizadas em sentido figurado As obras que a

seguir se apresentam constituem alguns exemplos significativos desta dimensatildeo

Na obra A aacutervore generosa (2008) de Shel Silverstein (texto e ilustraccedilatildeo) convivem

uma aacutervore e um menino A generosidade da aacutervore cresce proporcionalmente agrave

diminuiccedilatildeo do seu tamanho efetivo enquanto o egoiacutesmo do rapaz se torna cada vez

mais evidente agrave medida que avanccedila na idade Estatildeo presentes os valores de daacutediva

incondicional a presunccedilatildeo egoiacutesta de que certos bens satildeo erradamente considerados

como adquiridos o despojamento em prol de quem se ama

Em Arturo (2012) de Davide Cali (texto) e Ninamasina (ilustraccedilatildeo) o tiacutetulo da obra

remete para uma incoacutegnita seraacute Arturo o nome de quem desapareceu e abandonou

ou de quem espera paciente e fielmente pelo dono ausente O aacutelbum retrata com

efeito a incompreensatildeo perante a perda e o abandono a esperanccedila que se manteacutem

fiel a si mesma na procura na espera na acircnsia do regresso

Na obra Orelhas de borboleta (2008) de Luiacutesa Aguilar (texto) e Andreacute Neves

(ilustraccedilatildeo) quem eacute diferente sente-se mais diferente perante o olhar criacutetico e por

vezes cruel das crianccedilas Neste livro poreacutem cada traccedilo diferenciador tem a sua

utilidade e virtude o que transforma a idiossincrasia numa questatildeo de caraacuteter A

Mara menina que eacute diferente como todos somos diferentes aceita-se como eacute e

enfrenta o mundo segura dessa diferenccedila

Em Nadadordizinho (2010) de Leo Lionni (texto e ilustraccedilatildeo) os valores representados

satildeo os da cooperaccedilatildeo e da solidariedade jaacute que um cardume de peixes pequenos

decide constituir-se sob a forma de um peixe imenso a fim de enfrentar monstros

marinhos e grandes medos

A trilogia de aacutelbuns puros O ladratildeo de Galinhas A pesca A vinganccedila do galo (2011) de

Beacuteatrice Rodriguez potildee em evidecircncia as transformaccedilotildees sociais e familiares que

ocorrem nas sociedades contemporacircneas O conceito de famiacutelia e o conceito de

geacutenero satildeo aqui desconstruiacutedos sob a forma de uma comunidade insoacutelita composta

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

128

por membros de diferentes espeacutecies que desempenham papeacuteis tambeacutem eles

incomuns

No aacutelbum A grande questatildeo (2008) de Wolf Erlbruch (texto e ilustraccedilatildeo) coloca-se a

pergunta vimos ao mundo para quecirc Esta eacute a questatildeo filosoacutefica subjacente a este

livro que a ela responde atraveacutes das caracteriacutesticas mais marcantes das personagens

que compotildeem a obra

4 Conclusatildeo

Em primeiro lugar haacute que referir que o presente artigo se destina a mediadores de

leitura menos experientes considerando-se que satildeo dadas algumas sugestotildees que

podem ser uacuteteis a estes profissionais em formaccedilatildeo ou em iniacutecio de carreira

O mercado editorial atual caracteriza-se por uma grande evoluccedilatildeo na qualidade deste

geacutenero Cada vez mais o aacutelbum eacute concebido como objeto artiacutestico com grande

qualidade literaacuteria e grande complexidade possibilitando diferentes niacuteveis de leitura

Por outro lado nesta grande profusatildeo surgem obras de pouca qualidade que se

escondem por vezes atraacutes de um design graacutefico e de uma ilustraccedilatildeo muito apelativos

e que poderatildeo confundir mediadores menos informados que no meio de tanta oferta

necessitam de alguma orientaccedilatildeo

E a fechar salienta-se que apesar de alguns criteacuterios apresentados sugerirem

percursos de leitura muito orientados eacute fundamental ter-se sempre em vista que o

grande objetivo da leitura literaacuteria eacute o de promover a educaccedilatildeo e a competecircncia

literaacuterias

5 Referecircncias bibliograacuteficas

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Kalandraka

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Ediccedilotildees Paulinas

Bachelet M (texto e ilustraccedilatildeo) (2009)O meu gato eacute o mais tolo do mundo Lisboa

Caminho

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Browne A (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) Pela Floresta Matosinhos Kalandraka

Buarque C (texto) amp Ziraldo (ilustraccedilatildeo) (2005) O Chapeuzinho Amarelo Rio de

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Editora

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Gravett E (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Grande livro dos medos do pequeno rato Lisboa

Livros Horizonte

Hodgkinson L (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) Felini e a caixa das sonecas Lisboa

Dinalivro

Lionni L (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Nadadorzinho Matosinhos Kalandraka

Oram H (texto) amp Warburton S (ilustraccedilatildeo) (2008) Cartas de Rumblewick Lisboa

Editorial Presenccedila

Portis A (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) NAtildeO Eacute UMA CAIXA Lisboa Editorial Presenccedila

Rodari G (texto) amp Sana A (ilustraccedilatildeo) (2011) Baralhando histoacuterias Matosinhos

Kalandraka

Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) A Pesca Gafanha da Nazareacute Bags of Books ediccedilotildees

Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) O ladratildeo de galinhas Gafanha da Nazareacute Bags of

Books ediccedilotildees Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) A vinganccedila do galo Gafanha da

Nazareacute Bags of Books ediccedilotildees

Sandro N (texto) amp Baruzzi A (ilustraccedilatildeo) (2008) A verdadeira histoacuteria do Capuchinho

Vermelho Lisboa Ambar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

131

Silverstein S (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) A Aacutervore Generosa Figueira da Foz Bruaaacute

Editora

6) Fonte eletroacutenica das imagens

Figuras 2 e 3

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Figura 6

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

132

Avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua

Patriacutecia Santos Ferreira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

patriciaferreiraeselxiplpt

Resumo Os objetivos da comunicaccedilatildeo satildeo apresentar linhas orientadoras para a avaliaccedilatildeo e a

construccedilatildeo de atividades no acircmbito do conhecimento expliacutecito da liacutengua e proceder agrave

anaacutelise de atividades didaacuteticas neste domiacutenio

A constataccedilatildeo de que as praacuteticas dos docentes ainda natildeo espelham a mudanccedila de

paradigma que se verificou no ensino da gramaacutetica parece justificar em larga medida

o facto de o processo de ensino e aprendizagem da gramaacutetica ter vindo a ser objeto de

discussatildeo e reflexatildeo no contexto internacional Os documentos normativos espelham

frequentemente este conjunto de alteraccedilotildees implicando uma abordagem indutiva da

gramaacutetica e atribuindo aos alunos um papel decisivo na construccedilatildeo das suas

aprendizagens mediante processos de reflexatildeo e de descoberta em pequenos passos

No entanto de um modo geral a investigaccedilatildeo tem revelado que a generalidade dos

docentes continua a utilizar estrateacutegias caracteriacutesticas de uma abordagem dedutiva da

gramaacutetica reservando aos alunos o papel de recetores de regras estruturas e

paradigmas que deveratildeo interiorizar atraveacutes da exercitaccedilatildeo (Mohamed 2006)

No contexto nacional a situaccedilatildeo parece ser semelhante Dois estudos revelaram que os

docentes privilegiam estrateacutegias caracteriacutesticas de uma abordagem dedutiva ou

expositiva da gramaacutetica (Duarte amp Rodrigues 2008 Ferreira 2012) apesar de o novo

paradigma de ensino da gramaacutetica a literatura a investigaccedilatildeo recente e os

documentos normativos e orientadores apontarem para uma perspetiva mais indutiva

e reflexiva Por outro lado vaacuterios estudos tecircm trazido a lume as graves dificuldades

dos alunos na resoluccedilatildeo de exerciacutecios que envolvam conhecimento gramatical ou a sua

explicitaccedilatildeo (Delgado Martins et al 1987 citado por Costa 2009 Ucha Coord 2007

Duarte et al Coord 2008b Costa 2008) Deste modo a investigaccedilatildeo tem tornado

evidente a necessidade de se reformularem as praacuteticas de ensino da gramaacutetica

nomeadamente no que se refere ao tipo de atividades propostas

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo de atividades didaacuteticas Ensino da gramaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

133

Abstract

The aims of the communication are to present guidelines to evaluate and elaborate

activities focused on grammar and to analyse didactic activities in this area

The process of teaching and learning grammar has been widely debated mainly

because of the realisation that teaching practices still donrsquot reflect the change in

paradigm observed in this field This set of changes is frequently present in the

prescriptive and guiding domestic educational documents implying an inductive

approach to grammar and delegating in students a decisive role in their own learning

through reflexion and discovery in small steps However research has revealed that

most teachers still apply strategies coherent with a deductive approach to grammar

attributing to students the role of receivers of rules structures and paradigms to be

incorporated through training (Mohamed 2006)

In Portugal the situation is similar Two studies revealed that teachers favour

strategies consistent with an expositive approach to grammar (Duarte amp Rodrigues

Eds 2008 Ferreira 2012) although the new paradigm of teaching grammar the

linguistic theory recent research and the guiding and prescriptive documents point to

a more constructivist and reflexive perspective On the other hand several studies

have enhanced the serious difficulties that students face in dealing with exercises

involving grammar knowledge or its explicitation (Delgado Martins et al 1987 cit in

Costa 2009 Ucha Ed 2007 Duarte Ed 2008 Costa 2008) Therefore research has

evinced the need to change the way grammar is taught namely as far as the type of

activities introduced is concerned

Keywords Evaluation of didatic activities Grammar teaching

1 Introduccedilatildeo

A redaccedilatildeo de um texto sobre avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do

conhecimento expliacutecito da liacutengua (CEL) foi motivada pela confluecircncia de quatro

fatores i) o importante papel que a reflexatildeo gramatical desempenha na aprendizagem

e no desenvolvimento dos estudantes ii) o insucesso dos alunos no acircmbito da

gramaacutetica iii) a existecircncia de recentes alteraccedilotildees curriculares (e terminoloacutegicas) para o

ensino do Portuguecircs iv) e o posicionamento e as praacuteticas dos professores perante o

ensino e a aprendizagem desta componente da liacutengua

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

134

Em relaccedilatildeo ao primeiro fator a investigaccedilatildeo tem revelado a influecircncia da reflexatildeo

gramatical sobre o desenvolvimento cognitivo e linguiacutestico dos alunos (Duarte 2008

por exemplo) e sobre o sucesso das aprendizagens escolares particularmente no que

se refere agrave leitura e agrave escrita (Sim-Sim 1998 entre outros)

Quanto ao segundo fator vaacuterios estudos (Ucha Ed 2007 Duarte amp Rodrigues Ed

2008 Costa 2008 Delgado-Martins et al 1987 citados por Costa 2009) evidenciaram

as graves dificuldades dos alunos do ensino baacutesico secundaacuterio e superior na resoluccedilatildeo

de exerciacutecios que envolvam o conhecimento gramatical e a sua explicitaccedilatildeo e a

persistecircncia destas fragilidades ao longo do seu percurso escolar

Relativamente ao terceiro fator a existecircncia de novas orientaccedilotildees curriculares devido

agrave entrada em vigor de um novo programa de Portuguecircs (Reis Ed 2009) e

terminoloacutegicas (Dicionaacuterio Terminoloacutegico) exigem uma adaptaccedilatildeo por parte dos

professores e uma transformaccedilatildeo substancial das praacuteticas tradicionalmente

predominantes nas salas de aula

No que diz respeito ao uacuteltimo fator posicionamento e praacuteticas dos professores em

ensino e aprendizagem da gramaacutetica estudos como o de Duarte Ed (2008) e o de

Ferreira (2012) revelaram que de um modo geral os docentes continua a privilegiar

estrateacutegias e metodologias coerentes com uma abordagem dedutiva ou expositiva da

gramaacutetica como por exemplo a apresentaccedilatildeo da regra ou da estrutura em anaacutelise

pelo professor (ou pelo manual) seguida da realizaccedilatildeo de exerciacutecios pelos alunos Por

outro lado muitos docentes desvalorizam o conhecimento expliacutecito da liacutengua face agraves

outras competecircncias

A partir do estudo multicasos de Ferreira (2012) que teve como participantes seis

professores de Portuguecircs liacutengua materna e seis turmas do 2ordm ciclo do ensino baacutesico

sistematiza-se no quadro abaixo um contraste entre o novo paradigma de ensino e

aprendizagem da gramaacutetica muito refletido no atual programa e as praacuteticas

observadas que se situam em polos praticamente opostos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

135

Figura 1 Contraste entre o novo paradigma de ensino e aprendizagem da gramaacutetica e as praacuteticas dos docentes

Tendo em consideraccedilatildeo a situaccedilatildeo problemaacutetica decorrente de praacuteticas de ensino

predominantemente assistemaacuteticas atomiacutesticas restritivas descontextualizadas e

reveladoras de uma desvalorizaccedilatildeo do conhecimento expliacutecito da liacutengua e de uma

abordagem dedutiva e centrada na figura do professor a reflexatildeo sobre o ensino desta

competecircncia da liacutengua e sobre as atividades didaacuteticas propostas aos alunos assume

uma relevacircncia indiscutiacutevel

Nas paacuteginas seguintes proceder-se-aacute agrave apresentaccedilatildeo de linhas orientadoras para a

avaliaccedilatildeo e a construccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito

da liacutengua e a uma anaacutelise de alguns exemplos selecionados de materiais disponiacuteveis

no mercado alguns destinados a alunos do ensino baacutesico e do secundaacuterio como

manuais e gramaacuteticas e outros a professores como documentos orientadores e de

referecircncia ou fichas pedagoacutegicas

2 Anaacutelise e construccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito

da liacutengua

O processo de seleccedilatildeo ou construccedilatildeo de materiais didaacuteticos neste caso de atividades

eacute de natureza complexa e exige da parte dos professores a tomada de consciecircncia das

repercussotildees que a falta de um olhar atento durante essa etapa pode acarretar para as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

136

aprendizagens dos alunos As orientaccedilotildees que seratildeo apresentadas neste ponto

resultam da anaacutelise de propostas didaacuteticas e de uma reflexatildeo sobre as recomendaccedilotildees

de autores como Cardoso (2008) Costa et al (2011) Duarte (2008) Pereira (2010)

Sousa e Cardoso (2005) Sim-Sim Duarte e Ferraz (1997) no acircmbito da didaacutetica da

liacutengua agrave luz de alguns referenciais no campo da Educaccedilatildeo e da Pedagogia Nos pontos

seguintes seratildeo apresentadas sugestotildees que poderatildeo ser uacuteteis durante o processo de

construccedilatildeo ou de seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas

21 Clarificaccedilatildeo

Uma definiccedilatildeo clara e inequiacutevoca de alguns aspetos associados a uma atividade

didaacutetica poderaacute ser uma ferramenta uacutetil para a orientaccedilatildeo dos professores durante a

seleccedilatildeo de materiais a apresentar aos alunos e dos estudantes em situaccedilotildees em que

selecionam autonomamente exerciacutecios ou durante a realizaccedilatildeo de tarefas propostas

pelo professor A clarificaccedilatildeo do tipo de atividade dos descritores de desempenho ou

objetivos dos saberes preacutevios necessaacuterios para a realizaccedilatildeo da tarefa do niacutevel a que se

destina entre outros elementos ajudaacute-los-aacute a reagirem proativamente perante a

tarefa ativando conhecimentos e organizando mentalmente o seu percurso

Apresentam-se de seguida dois formatos que poderatildeo ilustrar a clarificaccedilatildeo referida

Figuras 2 e 3

Exemplos de clarificaccedilatildeo

Costa et al 2011 p40 (cabeccedilalho do enunciado)

Sousa 2013 p113

(Tipologia da atividade impliacutecita mobilizaccedilatildeo para outras competecircncias)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

137

A partir dos dados apresentados natildeo eacute possiacutevel chegar a nenhuma conclusatildeo loacutegica sobre o que eacute um verbo

irregular ou um verbo transitivo apesar de as

expressotildees ldquoentatildeordquo (cf 122) e ldquoa partir de ldquo (cf 13)

poderem levar a crer que sim

22 Quantidade qualidade e adequaccedilatildeo

De uma atividade didaacutetica poderatildeo constar de acordo com Costa et al (2011)

produccedilotildees dos alunos textos orais ou escritos selecionados pelo professor ou textos

orais ou escritos recolhidos pelos alunos Em qualquer dos casos os dados

apresentados deveratildeo ser adequados ao contexto e ao niacutevel de desenvolvimento

linguiacutestico e cognitivo dos alunos (Cardoso 2008 Costa et al 2011) em nuacutemero

suficiente e os necessaacuterios para a realizaccedilatildeo das aprendizagens pretendidas

Apresenta-se de seguida o exemplo de uma atividade em que os dados selecionados

natildeo satildeo os suficientes ou os necessaacuterios para a realizaccedilatildeo das tarefas

Figura 4 Exemplo de atividade com fragilidades ao niacutevel da seleccedilatildeo e da organizaccedilatildeo dos dados

23 Progressatildeo e sequencialidade

Os dados presentes em qualquer atividade didaacutetica deveratildeo ser organizados

hierarquicamente apresentando os casos mais simples nas primeiras etapas e

avanccedilando para casos mais complexos de forma gradual o que pressupotildee uma

Rodriques e Monteiro 2005 p11

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

138

estruturaccedilatildeo por etapas ou em pequenos passos e uma continuidade nas tarefas

propostas Esta progressatildeo e esta sequencialidade estatildeo muito ancoradas na noccedilatildeo de

curriacuteculo em espiral decorrente da teoria de Bruner (1960) que assenta na

apresentaccedilatildeo dos mesmos conteuacutedos ao longo dos vaacuterios niacuteveis de ensino de forma

progressivamente mais complexa e com crescente grau de abrangecircncia e lateralidade

24 Diversificaccedilatildeo e equiliacutebrio

A construccedilatildeo e a seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas devem caracterizar-se por uma

diversificaccedilatildeo e um equiliacutebrio entre os vaacuterios planos do conhecimento expliacutecito da

liacutengua os tipos de atividades e metodologias utilizadas e as unidades linguiacutesticas

analisadas por exemplo

Relativamente aos planos do conhecimento expliacutecito da liacutengua importa natildeo nos

esquecermos de que satildeo oito (cf figura 5) e de que todos eles devem ser alvo de um

trabalho regular e sistemaacutetico Tradicionalmente os planos mais associados agrave

gramaacutetica satildeo o sintaacutetico o das classes das palavras e o morfoloacutegico No entanto a

gramaacutetica de uma liacutengua incorpora muito mais do que os niacuteveis referidos

Figura 5 Planos do CEL

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

139

Freitas Alves e Costa 2007 p53

Plano fonoloacutegico

Gonccedilalves et al 2011 p77

Seratildeo seguidamente apresentados dois excertos de atividades de reflexatildeo gramatical

em dois planos frequentemente negligenciados ou natildeo identificados como

componentes da gramaacutetica o fonoloacutegico e o discursivo e textual

Figura 6 Excerto de atividade no plano fonoloacutegico do CEL

Figura 7 Excerto de atividade no plano discursivo e textual do CEL

25 Transposiccedilatildeo e transferecircncia didaacuteticas

Os conteuacutedos cientiacuteficos da aacuterea da Linguiacutestica deveratildeo sofrer uma adaptaccedilatildeo didaacutetica

de forma a serem ensinaacuteveis pelos professores e aprendiacuteveis pelos alunos de acordo

com o seu niacutevel de desenvolvimento Por outro lado os saberes gerados pelo processo

de aprendizagem deveratildeo constituir-se como mobilizaacuteveis para contextos diversos

A mobilizaccedilatildeo do conhecimento gramatical para contextos de uso diversificados

defendida por autores como Sim-Sim (1998) Cardoso (2008) Pereira (2010) Costa et

al 2011 entre muitos outros eacute uma das pedras de toque do novo programa de

Portuguecircs e assenta no reconhecimento e no reforccedilo do estatuto do conhecimento

Plano discursivo e textual

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

140

Neto 2006 p133

Contextualizaccedilatildeo a partir do texto

O texto como mera fonte de material

linguiacutestico a analisar sem reintegraccedilatildeo do

conhecimento construiacutedo na

exploraccedilatildeo do texto

expliacutecito da liacutengua enquanto competecircncia ou seja um conjunto de saberes saberes-

fazer e saberes-ser a que os alunos devem ser capazes de recorrer em situaccedilotildees

diversas

A operacionalizaccedilatildeo de contextos de mobilizaccedilatildeo pressupotildee uma articulaccedilatildeo

horizontal do curriacuteculo implicando a transferecircncia do conhecimento gramatical para

outros campos e outras competecircncias dentro e fora da Liacutengua Portuguesa Esta

integraccedilatildeo curricular nem sempre eacute bem conseguida como se pode verificar na

proposta constante da figura 8 em que o texto surge unicamente como elemento de

recolha de unidades linguiacutesticas que se pretende analisar sem se verificar uma

articulaccedilatildeo entre o conhecimento gramatical e a competecircncia de Leitura

Figura 8 Excerto de atividade em que natildeo se verifica uma articulaccedilatildeo efetiva entre competecircncias

26 Sistematicidade

O conhecimento expliacutecito da liacutengua eacute uma competecircncia nuclear da Liacutengua Portuguesa

sendo tatildeo importante como as restantes e altamente influente no sucesso de todas

elas Deste modo deve ser alvo de um trabalho sistemaacutetico e natildeo apenas se ldquovier a

propoacutesitordquo operacionalizaccedilatildeo preconizada pelo anterior programa de Portuguecircs no

qual se recomendava que se trabalhassem conteuacutedos no acircmbito do Funcionamento da

Liacutengua (designaccedilatildeo utilizada no programa de 1991 para o trabalho da gramaacutetica)

apenas se surgissem a partir do trabalho de conteuacutedos de outras competecircncias dando

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

141

confusatildeo entre complemento direto e complemento obliacutequo (Ferreira 2012 p52)

P T tendo em conta as funccedilotildees sintaacuteticas analisa-me entatildeo esta frase Vamos comeccedilar por que parte

T O Rui P Muito bem Qual eacute a funccedilatildeo sintaacutetica

T Eacute sujeito P F por que eacute que a T escolheu esta parte F Porque eacute quem fez o quecirc P Muito bem O sujeito eacute quem faz o quecirc

Inadequaccedilatildeo da definiccedilatildeo de sujeito (ibidem)

A professora utilizou as expressotildees ldquomodificador de lugarrdquo e ldquomodificador de tempordquo

Confusatildeo entre a terminologia anterior e a atual (idem p97)

Duarte 2008 p59

margem para que muitos deles nunca fossem alvo de uma accedilatildeo sistemaacutetica rigorosa e

progressiva

27 Rigor

Outra das preocupaccedilotildees dos professores deve ser a de garantir o rigor cientiacutefico e

terminoloacutegico na abordagem de qualquer conteuacutedo de forma a evitar situaccedilotildees como

as que se apresentam abaixo retiradas de registos de observaccedilatildeo de aulas de 2ordm ciclo

do ensino baacutesico

Figuras 9 10 e 11 Registos de observaccedilatildeo de aulas de 2ordm ciclo

28 Motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da(s) tarefa(s)

De forma a contribuir para a motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da(s) tarefa(s) as atividades

didaacuteticas poderatildeo ser construiacutedas de modo a constituiacuterem-se como um desafio aos

olhos dos alunos Dois exemplos de estrateacutegias que poderatildeo ser utilizadas para este

fim satildeo a apresentaccedilatildeo de um problema real ou imaginado (cf figura 12) e a

formulaccedilatildeo de uma questatildeo (cf figura 13)

Figura 12 Formulaccedilatildeo de um problema

A professora realizou no quadro a anaacutelise sintaacutetica de uma frase da seguinte forma Oriana (SUJEITO) cuidava da floresta (PREDICADO) (Complemento Direto)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

142

Costa et al 2011 pp108 e 109

Ativaccedilatildeo de conhecimentos previamente estudados

Reforccedilo do desafio

Formulaccedilatildeo de hipoacuteteses

Organizaccedilatildeo por etapas

Apresentaccedilatildeo de novos dados

Incentivo agrave reflexatildeo

Reformulaccedilatildeo de hipoacuteteses a partir da

anaacutelise dos dados novos

Figura 13 Formulaccedilatildeo

de uma questatildeo

29 Aprendizagem por reflexatildeo e descoberta

O novo paradigma de ensino e aprendizagem em geral e do conhecimento expliacutecito

em particular com um eco significativo no programa de Portuguecircs atualmente em

vigor pressupotildee o reconhecimento do papel decisivo dos alunos na construccedilatildeo das

suas proacuteprias aprendizagens atribuindo uma grande importacircncia agrave criaccedilatildeo de

contextos de aprendizagem por reflexatildeo e descoberta A atividade analisada de

seguida constitui um excerto de um laboratoacuterio gramatical assente na aprendizagem

gradual atraveacutes da reflexatildeo linguiacutestica e metalinguiacutestica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

143

Serpa et al 2005 p28

Abordagem dedutiva

Duarte 2008 p59

Abordagem indutiva

Figura 14 Excerto de laboratoacuterio gramatical

Seraacute certamente importante que os docentes privilegiem contextos de aprendizagem

por descoberta em detrimento de situaccedilotildees de aprendizagem por receccedilatildeo e que

adotem estrateacutegias e metodologias coerentes com uma abordagem indutiva da

gramaacutetica (cf figura 16) e natildeo com uma abordagem dedutiva ou expositiva (cf figura

15)

Figura 15 Exemplo de percurso dedutivo

Figura 16 Exemplo de percurso indutivo

210 Explicitaccedilatildeo do conhecimento impliacutecito

Vaacuterios autores como Sim-Sim (1997 1998) Duarte (2008) Costa et al 2011 entre

outros atribuem agrave escola a funccedilatildeo de tornar expliacutecito o conhecimento impliacutecito No

decurso desse processo de explicitaccedilatildeo do conhecimento intuitivo dos falantes a

comunicaccedilatildeo de resultados (cf figura 17) que pode ser feita nos modos oral ou

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

144

Duarte 2011 p79

escrito assume um papel fundamental devendo ser associada agrave utilizaccedilatildeo da

terminologia metalinguiacutestica sempre que adequado

Figura 17 Excerto de atividade em que eacute solicitada explicitaccedilatildeo

O conhecimento intuitivo deveraacute ser utilizado como ponto de partida para as

atividades sempre que este existir Em situaccedilotildees de ensino e aprendizagem da liacutengua

materna os docentes natildeo deveratildeo agir como se os alunos natildeo tivessem qualquer

conhecimento da liacutengua a que estatildeo expostos desde que estatildeo no uacutetero materno e que

usam abundantemente no meio familiar com os seus pares na escola na rua etc De

igual modo ao promoverem a reflexatildeo sobre o conhecimento intuitivo dos falantes os

professores estatildeo a criar contextos de aprendizagem significativa e natildeo mecacircnica no

decurso da qual os novos conhecimentos estabelecem ligaccedilotildees cognitivas com os

conhecimentos anteriores gerando desta forma aprendizagens mais soacutelidas e

duradouras

211 Sistematizaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de conhecimentos

Os processos de monitorizaccedilatildeo e regulaccedilatildeo das aprendizagens pelos proacuteprios alunos

poderatildeo ser muito beneacuteficos para o seu percurso Desta forma as atividades poderatildeo

incluir uma sistematizaccedilatildeo final ou apoacutes cada etapa de modo a que favoreccedilam a

organizaccedilatildeo conceptual e cognitiva dos conteuacutedos trabalhados Satildeo apresentados

abaixo dois exemplos da sistematizaccedilatildeo referida

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

145

Costa et al 2011 p 44

Duarte 2008 p 65

Figuras 18 e 19 Exemplos de sistematizaccedilatildeo

3 Consideraccedilotildees finais

Espera-se com esta proposta ter dado um contributo para a anaacutelise e a construccedilatildeo de

propostas didaacuteticas de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua Nesta

secccedilatildeo apresentam-se algumas recomendaccedilotildees finais de caraacuteter global

Importa que a construccedilatildeo de atividades didaacuteticas em qualquer aacuterea de conteuacutedo seja

rigorosa e decorra de uma reflexatildeo profunda sobre as caracteriacutesticas que uma boa

proposta deve apresentar De igual modo seraacute importante que a seleccedilatildeo de atividades

seja criteriosa e natildeo resulte apenas da confianccedila garantida por um selo editorial

Uma atividade didaacutetica pode ser encarada como um texto e deste modo deve ser um

enunciado com sentido caracterizado por coesatildeo adequaccedilatildeo e coerecircncia De igual

modo deveraacute cumprir as quatro meta-regras da boa formaccedilatildeo textual enunciadas por

Charolles (1991 citado por Neves amp Oliveira 2001) i) repeticcedilatildeo ii) natildeo-contradiccedilatildeo iii)

relaccedilatildeo iv) e progressatildeo

Importa ainda que os professores realizem as atividades antes de propocirc-las aos

alunos detetando e corrigindo eventuais aspetos menos bem conseguidos e que natildeo

confiem cegamente nos manuais ou em outros materiais existentes no mercado uma

vez que natildeo raras vezes apresentam falhas em vaacuterios dos campos anteriormente

apresentados Assim durante o processo de seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas a

apresentar aos alunos eacute essencial que os professores adotem um olhar criacutetico sobre os

materiais construiacutedos por si ou por outros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

146

Referecircncias bibliograacuteficas Cardoso A (2008) Desenvolver competecircncias de anaacutelise linguiacutestica In Sousa O amp Cardoso A (Eds) Desenvolver Competecircncias em Liacutengua Portuguesa (pp 137 ndash 172) Lisboa Centro Interdisiciplinar de Estudos Educacionais Costa J (2008) Conhecimento gramatical agrave saiacuteda do Ensino Secundaacuterio estado actual e consequecircncias na relaccedilatildeo com leitura escrita e oralidade In C Reis (Ed) Actas - Conferecircncia Internacional sobre o Ensino do Portuguecircs (pp 149-165) Lisboa ME Costa J (2009) A gramaacutetica na sala de aula o fim das humanidades Palavras 36 32 ndash 46 Costa J Cabral A Santiago A amp Viegas F (2011) Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua guiatildeo de Implementaccedilatildeo do Programa Lisboa ME ndash DGIDC Duarte R (Ed) (2008) Estudo sobre o posicionamento dos docentes face agrave disciplina de Liacutengua Portuguesa Lisboa DGIDC ndash ME Duarte R amp Rodrigues S (Eds) (2008) Dificuldades dos alunos em Liacutengua Portuguesa Lisboa DGIDC ndash ME Ferreira P (2012) Conceccedilotildees e praacuteticas dos professores de Liacutengua Portuguesa em relaccedilatildeo ao ensino e agrave aprendizagem da gramaacutetica um estudo exploratoacuterio no 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (Dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo publicada) Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa Lisboa Freitas M J Alves D amp Costa T (2007) O Conhecimento da Liacutengua desenvolver a consciecircncia fonoloacutegica Lisboa DGIDC ndash ME Gonccedilalves F Guerreiro P amp Freitas M J (2011) O Conhecimento da Liacutengua percursos de desenvolvimento Lisboa DGIDC ndash ME Mohamed N (2006) An exploratory study of the interplay between teachersrsquo beliefs instructional practices amp professional development (Tese de Doutoramento) Universidade de Auckland Neto H (2006) Novo Despertar 4 Maia Ediccedilotildees Livro Directo PP 132-133 Neves D R amp Oliveira V M (2001) Sobre o Texto Contribuiccedilotildees teoacutericas para praacuteticas textuais Porto Ediccedilotildees ASA Pereira S (2010) Explicitaccedilatildeo Gramatical no 1ordm Ciclo In Sousa O amp Cardoso A (Eds) Desenvolver Competecircncias em Liacutengua Portuguesa percursos didaacuteticos (pp 145 ndash 173) Lisboa Ediccedilotildees Colibri Centro Interdisiciplinar de Estudos Educacionais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

147

Reis C (Ed) (2009) Programa de portuguecircs do ensino baacutesico Lisboa ME ndash DGIDC Rodrigues E amp Monteiro T (2005) No Reino da Fantasia 6 ndash Caderno de Actividades Porto Areal Editores Serpa A I Rodrigues G Sousa H amp Gomes M C(2005) Em directo ndash Liacutengua Portuguesa 6ordm ano Porto Areal Editores PP 28 29 132 133 Sim-Sim I Duarte I amp Ferraz M (1997) A liacutengua materna na educaccedilatildeo baacutesica competecircncias nucleares e niacuteveis de desempenho Lisboa ME DEB Sim- Sim I (1998) Desenvolvimento da Linguagem Lisboa Universidade Aberta Sousa M V (2012) as aspas Palavras 42 e 43 113 ndash 115 Sousa O C amp Cardoso A (2005 primavera) Da liacutengua em funcionamento ao funcionamento da liacutengua Palavras 27 61 ndash 69 Ucha L (Ed) (2007) Desempenho dos alunos em Liacutengua Portuguesa ndash ponto da situaccedilatildeo Lisboa ME ndash DGIDC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ciecircncia Dicionaacuterio Terminoloacutegico disponiacutevel em httpdtdgidcmin-edupt

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

148

Teatro no curriacuteculo avaliar o quecirc e para quecirc

Miguel Falcatildeo

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa miguelffalcaogmailcom

Resumo

Nalgumas aacutereas curriculares disciplinares como o Teatro as aprendizagens e as

competecircncias natildeo se adquirem nem desenvolvem em geral de acordo com a diacuteade

de estrateacutegias que os professores parecem privilegiar isto eacute transmissatildeo do

conhecimento e pouco depois confirmaccedilatildeo ndash na maioria das vezes atraveacutes da

modalidade de escrita ndash da aprendizagem desse conhecimento pelos alunos Note-se

poreacutem que mesmo naquelas aacutereas que os responsaacuteveis poliacuteticos distinguem com um

ldquoexame nacionalrdquo como o Portuguecircs nem todas as aprendizagens promovidas e

realizadas satildeo testaacuteveis numa prova escrita e no imediato (como a tiacutetulo de exemplo

as que se inscrevem nos domiacutenios da comunicaccedilatildeo oral e da leitura em voz alta

tambeacutem amplamente abordadas em Teatro)

Agraves aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica e do Teatro em particular os professores associam

essencialmente ndash ou exclusivamente ndash a criatividade a imaginaccedilatildeo e a

expressividade Sendo embora competecircncias potencialmente desenvolvidas e

avaliadas tambeacutem nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica natildeo satildeo um exclusivo destas

aacutereas Cada aacuterea curricular disciplinar do acircmbito da educaccedilatildeo artiacutestica ndash e o Teatro

natildeo eacute exceccedilatildeo ndash assenta numa especiacutefica linguagem artiacutestica que integra conteuacutedos

estrateacutegias atividades recursos teacutecnicas conceitos e terminologias proacuteprios que as

crianccedilas com vista ao seu desenvolvimento completo e harmonioso tecircm o direito de

aprender e desenvolver Daqui decorrem algumas questotildees O que ndash e como ndash avaliar

nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica em particular no Teatro Que princiacutepios poderatildeo

estar inerentes a um dispositivo de avaliaccedilatildeo em Teatro em contexto curricular

Teratildeo as modalidades de avaliaccedilatildeo natildeo escrita estatuto de fiabilidade

O binoacutemio teatrocurriacuteculo encerra um paradoxo a que pretendemos dar atenccedilatildeo

embora nem sempre abordado com regularidade e seguindo uma loacutegica de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

149

desenvolvimento curricular o Teatro constitui apesar disso uma das estrateacutegias

privilegiadas pelos professores de participaccedilatildeo em projetos e iniciativas formais na

maior parte das vezes de cariz pontual (como momentos festivos ou de apresentaccedilatildeo

agrave comunidade) em que os alunos satildeo sujeitos ao juiacutezo avaliativo dos puacuteblicos

Partindo dos princiacutepios de que (i) em contexto curricular cada atividade tem uma

intencionalidade e que (ii) a ldquoeducaccedilatildeordquo artiacutestica natildeo visa a identificaccedilatildeo ou a

valorizaccedilatildeo de ldquotalentosrdquo pretendemos defender a seguinte ideia Soacute depois de

estabelecermos inequivocamente os objetivos da nossa accedilatildeo educativa-pedagoacutegica e

por conseguinte uma estrateacutegia de avaliaccedilatildeo eacute que podemos definir um percurso

com sentido

Esta comunicaccedilatildeo de natureza teoacuterica cuja base reflexiva decorre de mais de vinte

anos de intervenccedilatildeo em contextos escolares tanto do ensino baacutesico como de

formaccedilatildeo de professores tentaraacute formular questotildees e problematizar algumas linhas

de pensamento mais do que encontrar respostas no sentido de suscitar

principalmente da parte dos professores a necessidade de uma mudanccedila de atitude

e de praacuteticas face ao teatro na escola

Palavras-chave Teatro-educaccedilatildeo Curriacuteculo Avaliaccedilatildeo

Abstract

In some subjects areas such as the Drama-Theatre Education the learnings and the

skills arent acquired or developed according to the dyal strategies that the teachers

seem to privilege such as the knowledge transmission and afterwards the

confirmation - most of the times through the writing - of the learning this knowledge

by students However it should be noticed that in some school subjects well

distinguished by the politicians and promoted with a national examination such as

the Portuguese Language not all of their leanings are being tested in a writing test in

the immediate (in the DramaTheatre Education the principles of the oral skills the

writing and the oral reading are widely discussed)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

150

The Artistic Education and the Drama-Theatre Education this last in special the

teachers promote essentially and in exclusivity the creativity the imagination and the

expressivity Being competences applied at the Artistic Education they are not

exclusive of these large areas Each curriculum subject scope of the Artistic Education

ndash the Drama-Theatre Education is not an exception ndash it has an a specific artist

language that has contents strategies activities resources techniques concepts

and its own terminology that children should have the right to learn and developed

with a view to full and harmonious development From this point of view we have

two questions What and how evaluate these artistic curriculum areas in special what

concerns the Drama-Theatre Education What principles should be used to evaluate

this artistic area the Drama-Theatre Education in school context Should the non

writing criteria be evaluated and what their reliability

The Drama-Theatrecurriculum binomial closes the paradox that we intent to give

attention not always regularity addressed and following a logical curricula

development the Drama-Theatre Education has in spite of all one of the most

privileged roles given by the teachers in what concerns the projects participation in

formal activities and in most of the times with off events (such as festivity moments

or to do a community presentation) where the students face a public evaluation

Starting from the principles that (ii) in curriculum context each activity as an

intentionality and that (ii) the artistic education doesnt aimed to identify or

enhancement talent we attend to promote the idea that we only can define a way

with sense after we have established without any doubts that the roles of our

educational and pedagogical action and furthermore the evaluation strategy are

accomplished

This theoretical communication that results of twenty years of school intervention

settings in the basics and the teacher training tries to ask questions and discuss some

lines of thought more than find answers in a way to specially from the teachers

change some attitudes and practices in relation to Drama-Theatre Education in

school

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

151

Keywords Drama-theatre education Curriculum Evaluation

ldquoTalentosrdquo e ldquoexibiccedilotildeesrdquo agrave parte de que falamos afinal

O teatro no ensino baacutesico niacutevel de ensino a que restrinjo este artigo natildeo visa a

formaccedilatildeo de artistas Por conseguinte tornam-se inadequadas afirmaccedilotildees como

ldquoeste aluno tem muito jeitordquo ou na linha de certos programas televisivos em voga

ldquofazemos uma audiccedilatildeo para distribuir as personagensrdquo Este pressuposto ndash

aparentemente tatildeo oacutebvio mas que nem sempre parece claro para todos os

intervenientes nos processos educativos dentro e fora das escolas (famiacutelias incluiacutedas)

ndash eacute determinante para se ter bem presente o que neste acircmbito se ensina e se

aprende e por conseguinte o que se avalia De resto trata-se de uma ideia que

atravessa este texto eminentemente teoacuterico assente em revisatildeo de literatura sobre

o estado da arte e em dados da minha proacutepria praacutetica profissional no ensino baacutesico e

na formaccedilatildeo de professores

A designaccedilatildeo de ldquoteatro na educaccedilatildeordquo ndash aplicaacutevel numa aceccedilatildeo alargada a contextos

educativos formais natildeo formais e informais ndash compreende a gama possiacutevel de

abordagens assentes na linguagem teatral desenvolvidas com objetivos artiacutesticos

socioculturais e pedagoacutegicos que visam a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo O teatro na

educaccedilatildeo inscreve-se pois no territoacuterio da ldquoeducaccedilatildeo artiacutesticardquo e natildeo no do ldquoensino

artiacutesticordquo (este incidindo numa formaccedilatildeo eminentemente ndash ou tendencialmente ndash

artiacutestica)

Por todo o mundo e na Europa em particular tecircm vindo a ser realizadas iniciativas

de dimensatildeo internacional dedicadas agrave educaccedilatildeo artiacutestica na maior parte dos casos

com o alto patrociacutenio dos oacutergatildeos governativos que definem as poliacuteticas educativas e

culturais dos paiacuteses unidos pela mesma vontade de tornar o projeto de cruzamento

das artes e da educaccedilatildeo ndash habitualmente eacute um ldquoprojetordquo que todos garantem

subscrever ndash numa realidade Lisboa acolheu a 1ordf Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo

Artiacutestica em 2006 promovida pela UNESCO e organizada por uma comissatildeo

especificamente criada para o efeito com representantes de quatro ministeacuterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

152

nacionais (Educaccedilatildeo Ciecircncia e Ensino Superior Cultura e Negoacutecios Estrangeiros) A

segunda conferecircncia mundial teve lugar quatro anos depois (Seul 2010) entre

outras iniciativas congeacuteneres como os congressos da International DramaTheatre

and Education Association (a 8ordf ediccedilatildeo foi em Paris jaacute em 2013) Mas daquela

conferecircncia que se realizou em Portugal sob o lema ldquodesenvolver as capacidades

criativas para o seacuteculo XXIrdquo a mais emblemaacutetica por ser a primeira emanou um

documento que reuniu inuacutemeros contributos dos cinco continentes e que se

pretendeu que fosse um roteiro a partir de entatildeo o Roteiro para a Educaccedilatildeo Artiacutestica

(2006) editado pela Comissatildeo Nacional da UNESCO (CNU) Nele foram definidos

quatro grandes objetivos para a educaccedilatildeo artiacutestica

(1) Defender o direito humano agrave educaccedilatildeo e agrave participaccedilatildeo cultural

(2) Desenvolver as capacidades individuais

(3) Melhorar a qualidade da educaccedilatildeo

(4) Promover a expressatildeo da diversidade cultural (CNU 2006 pp 4-8)

O mesmo documento reafirma ndash com a forccedila da palavra impressa ndash o que haacute muito

vinha sendo defendido pelos especialistas isto eacute a educaccedilatildeo artiacutestica estrutura-se

em trecircs eixos pedagoacutegicos complementares como de resto em Portugal o Curriacuteculo

Nacional do Ensino Baacutesico Competecircncias Essenciais (2001) jaacute preconizava Esses trecircs

eixos satildeo

(i) Estudo de trabalhos artiacutesticos

(ii) Contacto direto com trabalhos artiacutesticos

(iii) Participaccedilatildeo em praacuteticas artiacutesticas (CNU 2006 p 10)

Nesta triacuteade defende-se que o estudante adquire conhecimentos ldquopela investigaccedilatildeo

e pelo estudo (de uma forma de arte e da relaccedilatildeo entre arte e histoacuteria) (hellip)

interagindo com o objeto ou a representaccedilatildeo de arte com o artista e com o seu (a

sua) professor(a) (hellip) e+ atraveacutes da sua proacutepria praacutetica artiacutesticardquo (CNU 2006 p 10)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

153

Em Portugal tecircm tido lugar entretanto outras iniciativas importantes e distintas de

que se destacam a Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo Artiacutestica (Porto 2007) e jaacute em

2013 a ldquoRecomendaccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Artiacutesticardquo do Conselho Nacional de

Educaccedilatildeo (CNE) Neste documento bem elaborado e fundamentado em que se

afirma haver um ldquoconsenso alargadordquo (dos decisores poliacuteticos aos investigadores e

profissionais da educaccedilatildeo passando pelas ldquomais diversas instacircncias da sociedaderdquo)

sobre ldquoa importacircncia da educaccedilatildeo artiacutestica para todos os envolvidos no sistema de

educaccedilatildeo e formaccedilatildeordquo eacute defendida uma ldquovisatildeo abrangenterdquo de educaccedilatildeo artiacutestica

ldquoque integre a aprendizagem das linguagens especiacuteficas (artes plaacutesticas muacutesica

danccedila teatro cinema artes digitais) numa perspetiva que valorize a criatividade a

comunicaccedilatildeo e o conhecimento do proacuteprio patrimoacutenio histoacuterico e contemporacircneordquo

(Recomendaccedilatildeo 12013 secccedilatildeo II)

Eacute caso para perguntar sem ironia com tantos e tatildeo relevantes benefiacutecios da

educaccedilatildeo artiacutestica em tantas e tatildeo pertinentes iniciativas por que razatildeo as artes tecircm

cada vez menos expressatildeo nos curriacuteculos

Joatildeo-Francisco Duarte (2001 p 63) na sua caracterizaccedilatildeo das ldquomodernas sociedades

industriaisrdquo identifica entre outros dois postulados em que a civilizaccedilatildeo ocidental

assentou e que ajudam a compreender ndash na praacutetica quotidiana distante dos grandes

eventos oficiais ndash o pouco interesse que a educaccedilatildeo artiacutestica tem merecido da parte

dos decisores e gestores dos curriacuteculos a ldquoprimazia da razatildeordquo e a ldquoprimazia do

trabalhordquo Com efeito a educaccedilatildeo artiacutestica nem eacute encarada como possiacutevel soluccedilatildeo ndash

ou parte da soluccedilatildeo ndash para os problemas reais que habitualmente satildeo enunciados e

ldquocomprovadamenterdquo resolvidos pela ldquociecircnciardquo nem eacute uma aacuterea que

privilegiadamente assente na produccedilatildeo utilitaacuteria de bens Por conseguinte eacute uma

aacuterea que trabalhando com (sobre) o ldquoser sensiacutevelrdquo natildeo se encontra na vanguarda

do reconhecidamente ldquoessencialrdquo eou do lucro econoacutemico E isto tem os seus

custos

No Roteiro para a Educaccedilatildeo Artiacutestica tinha sido identificada ainda uma outra razatildeo a

dificuldade que no acircmbito das artes na educaccedilatildeo temos tido em avaliar e por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

154

conseguinte em comprovar resultados (CNU 2006 pp 15-16) apesar de

observarmos depreendermos intuirmos que a educaccedilatildeo artiacutestica preenche um

espaccedilo uacutenico na formaccedilatildeo de cada um a vaacuterios niacuteveis do conhecimento de si agrave

interpelaccedilatildeo criativa do seu tempo e do mundo da agilizaccedilatildeo da imaginaccedilatildeo agrave

possibilidade de se fingir que se eacute outro(s) da recriaccedilatildeo do vividosentido agraves

possibilidades de criaccedilatildeo e de simbolizaccedilatildeo das experiecircncias interculturais agraves

muacuteltiplas possibilidades expressivas Trata-se pois de um programa complexo que

sob vaacuterios pontos de vista desafia a dimensatildeo da avaliaccedilatildeo

Avaliarhellip Avaliar

O ato de avaliar natildeo se restringe a tarefas de classificaccedilatildeo nem tampouco a

estrateacutegias ldquosumativasrdquo de verificaccedilatildeo de resultados Avaliar como define Maria do

Ceacuteu Roldatildeo eacute estabelecer ldquoum conjunto organizado de processos que visam (i) o

acompanhamento regulador de qualquer aprendizagem pretendida e que

incorporam por isso mesmo (ii) a verificaccedilatildeo da sua consecuccedilatildeordquo (2008 p 41)

Todavia como reconhece a mesma autora ldquoaquilo a que assistimos nas escolas

nestas uacuteltimas deacutecadas como mudanccedila de terminologia de avaliaccedilatildeo (tambeacutem

consagrada nos proacuteprios normativos legais que sobre ela foram sendo produzidos)

natildeo se traduziu em mudanccedilas sensiacuteveis nos modos e nas finalidades da avaliaccedilatildeordquo

(Ibidem p 43)

As fichas os testes as provas os exames e ndash nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica ndash as

ldquoapresentaccedilotildees finaisrdquo continuam a ser as modalidades de ldquoavaliaccedilatildeordquo mais

praticadas apesar de serem ndash em geral e particularmente em teatro ndash claramente

insuficientes Concordo com Domingos Fernandes quando afirma ser necessaacuterio

ldquodiversificar os meacutetodos e instrumentos de recolha de dados e encontrar formas de

dar alguma estrutura agrave avaliaccedilatildeo de natureza mais informal (2005 p 81) Esta

preocupaccedilatildeo eacute notoacuteria na aacuterea do teatro em que as avaliaccedilotildees informais

(espontacircneas frequentes natildeo sistematizadas) satildeo suscitadas por uma permanente

experimentaccedilatildeo que a toda a hora solicita retornos (dos proacuteprios e dos outros)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

155

A avaliaccedilatildeo tem tendido a ser mal recebida pelas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica entre

outras razotildees identificadas por Elliot W Eisner porque ldquose baseia em juiacutezos sobre a

qualidade do trabalho dos alunos que podem ser considerados obstaacuteculos agrave

libertaccedilatildeo do seu potencial criativordquo (2004 p 219) e porque recorre por norma a

algum tipo de mediccedilatildeo o que alguns consideram incompatiacutevel com as artes uma vez

que naquela loacutegica ldquoas artes valorizam tipos de experiecircncias que natildeo se podem

quantificarrdquo (Ibidem) Poreacutem os professores que abordam o teatro tambeacutem avaliam

e se necessaacuterio tambeacutem classificam inscrevendo mais comummente as suas

praacuteticas no paradigma da ldquointuiccedilatildeo pragmaacuteticardquo (Serpa 2010) com recurso a

informaccedilotildees recolhidas de forma ocasional e intuitiva na maior parte das vezes

atraveacutes de observaccedilatildeo direta

A estas circunstacircncias acresce a dimensatildeo da subjetividade Aliaacutes segundo vaacuterios

estudos analisados por Margarida da Silva Damiatildeo Serpa (2010) a ldquogestatildeo da

subjetividaderdquo eacute uma das situaccedilotildees que na opiniatildeo geral dos professores

desencadeiam maior tensatildeo na avaliaccedilatildeo Ora as aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica e o

teatro em particular lidam a toda a hora com a subjetividade porque o ldquogosto

pessoalrdquo eacute desde logo uma questatildeo subjetiva Todavia haacute que reconhecer que este

aspeto eacute por vezes empolado ou mesmo excessivamente cultivado pelos proacuteprios

educadores eou artistas que desempenham o papel de avaliadores quando natildeo

pelos proacuteprios alunos

Por um lado percebe-se que por razotildees do foro subjetivo nem sempre (claramente)

descritiacuteveis ou explicaacuteveis ateacute ao espectador mais conhecedor e familiarizado com a

linguagem artiacutestica pode acontecer por exemplo ser tocado por um espetaacuteculo (seja

de uma experimentada companhia profissional seja de crianccedilas numa escola) que

poreacutem reconhece ter inuacutemeras ldquoimperfeiccedilotildeesrdquo teacutecnicas Como explicar ndash e como

avaliar ndash essas razotildees ldquoinvisiacuteveisrdquo que para si (e talvez para outros ateacute de formas

diferentes) foram tatildeo significativas

Por outro lado tambeacutem se percebe que uma vez assentes numa linguagem artiacutestica

(com coacutedigos teacutecnicas e praacuteticas proacuteprios apesar de dinacircmicos e abertos a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

156

renovaccedilotildees e cruzamentos) e para mais enquadrados por objetivos artiacutestico-

pedagoacutegicos em contexto curricular os desempenhos na aula de teatro sejam

potencialmente avaliaacuteveis

Avaliarhellip o quecirc

A Recomendaccedilatildeo do CNE relembra as duas perspetivas em que a artes tecircm sido

entendidas no campo da educaccedilatildeo

Para que desde cedo os sujeitos possam beneficiar desse duplo valor que a arte

tem ndash instrumental e intriacutenseco ndash a escola natildeo pode eximir-se ao dever de

educar todos e cada um de forma empenhada proporcionando uma

aprendizagem artiacutestica capaz de assegurar a igualdade de oportunidades neste

domiacutenio (Recomendaccedilatildeo 12013 secccedilatildeo II)

Em contexto escolar a perspetiva instrumental parece ser a mais consensual Os

professores em geral demonstram mais abertura para entenderem as artes como

facilitadoras ou complementos de aprendizagens especiacuteficas de outros domiacutenios do

que em conceber as artes pelo seu proacuteprio valor e como aacutereas de ldquoconteuacutedordquo

Intuitivamente a generalidade dos docentes crecirc que as artes contribuem fortemente

para o desenvolvimento emocional e social dos alunos e apontam competecircncias

transversais como ldquoexpressividaderdquo ldquocriatividaderdquo e ldquoimaginaccedilatildeordquo Todavia como

facilmente se compreende estas competecircncias ndash sem duacutevida desenvolvidas tambeacutem

a partir das metodologias do teatro ndash natildeo constituem um traccedilo distintivo nem desta

nem de outras aacutereas artiacutesticas Ningueacutem negaraacute por exemplo a relevacircncia que a

imaginaccedilatildeo e a criatividade tecircm no domiacutenio das ciecircncias naturais ou que a

expressividade tem no domiacutenio da liacutengua tanto ao niacutevel da escrita como da leitura e

da oralidade Ceacutelia Maria de Castro Almeida verificou tambeacutem a dificuldade que os

professores tecircm em justificar a integraccedilatildeo das artes no curriacuteculo

A maioria dos professores acredita que desenhar pintar modelar cantar

danccedilar tocar e representar eacute bom para os alunos mas poucos satildeo capazes de

apresentar argumentos convincentes para responder laquoPor que essas atividades

satildeo importantes e devem ser incluiacutedas no curriacuteculo escolarraquo Isso eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

157

desalentador pois o miacutenimo que se espera de algueacutem que ensina eacute que saiba

por que ensina (apud Ferreira 2001 p 13)

Ora quando perspetivamos ldquoo que se avalia em teatrordquo temos forccedilosamente de ter

presente ldquoo que se ensinardquo e ldquoo que se aprenderdquo

O teatro eacute por natureza uma aacuterea multidisciplinar na qual confluem e se cruzam

diversos saberes competecircncias e aprendizagens o que poderaacute tornar mais complexo

o ato de avaliar Uma metodologia de avaliaccedilatildeo depende de vaacuterios fatores como

desde logo a natureza do campo ndash ldquoinstrumentalrdquo ou ldquointriacutensecordquo ndash em que uma

intervenccedilatildeo se situa Embora salvaguardando os aspetos contextuais que devem

subjazer agrave definiccedilatildeo dessas especiacuteficas metodologias proponho dois princiacutepios que

poderatildeo nortear a definiccedilatildeo do que se avalia em teatro na educaccedilatildeo (1) a assunccedilatildeo

de que o teatro na educaccedilatildeo assenta numa especiacutefica linguagem artiacutestica e (2) o

entendimento de que o produto faz parte integrante do processo

No que diz respeito ao primeiro princiacutepio o de que o teatro na educaccedilatildeo tem por

base uma linguagem artiacutestica lembro antes de mais com Tiche Vianna e Maacutercia

Strazzacappa que frequentemente as artes na educaccedilatildeo satildeo trabalhadas ldquode forma

a abolir as particularidades das linguagens artiacutesticas e [a] generalizar excessivamente

os conceitos como se todas as artes fossem mais ou menos a mesma coisa ou pior

como se as praacuteticas fossem uma soacuterdquo (apud Ferreira 2001 p 118) As autoras

referem-se agrave realidade brasileira mas entre noacutes o panorama natildeo eacute mais favoraacutevel

Estamos a assistir a uma deriva curricular com opccedilotildees de poliacutetica educativa que ndash no

caso das artes e do teatro em particular ndash nem sempre se apresentam

rigorosamente fundamentadas e suportadas em investigaccedilatildeo recente e que nem

sempre tecircm claros os pressupostos do rumo apontado Veja-se a tiacutetulo ilustrativo o

inusitado regresso ao passado a que o Decreto-lei 1392012 de 5 de julho volta a

sujeitar as abordagens curriculares das aacutereas artiacutesticas e ateacute da educaccedilatildeo fiacutesica no

1ordm ciclo do ensino baacutesico de novo colocadas indistintamente no mesmo pacote das

ldquoExpressotildeesrdquo A acompanhar este retrocesso foram repescados ndash ante a pressa de se

rejeitar as ldquometas de aprendizagemrdquo aliaacutes recentes (de 2010) e perante a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

158

inexistecircncia de alternativa atualizada ndash os obsoletos programas dos anos 8090 do

seacuteculo passado como documentos curriculares orientadores

Note-se que as aacutereas disciplinares que naquele caso satildeo consignadas (Teatro

Muacutesica Artes Plaacutesticas e Educaccedilatildeo Fiacutesica) tecircm quadros histoacutericos concetuais e

praacutexicos distintos Ou seja aprenderensinaravaliar em ldquoexpressotildeesrdquo focando por

ventura em competecircnciasaprendizagens abrangentes e transversais a vaacuterias aacutereas

(como a expressividade a criatividade ou a imaginaccedilatildeo) eacute substancialmente

diferente de aprenderensinaravaliar em aacutereas artiacutesticas distintas ndash Teatro Muacutesica

Artes Plaacutesticas Danccedilahellip ndash que embora reconhecendo pontos de interseccedilatildeo entre si e

podendo ser abordadas de forma interdisciplinar assumem e valorizam as suas

especificidades nomeadamente a niacutevel de conceitos terminologias conteuacutedos

metodologias e recursos

Verifica-se que os professores foram posicionados desprevenidamente (e mais uma

vez sem formaccedilatildeo especiacutefica) entre dois paradigmas como se todavia fossem a

mesma coisa o paradigma educativo-artiacutestico que estava na base da reforma

curricular de 2001 e o paradigma expressivo-esteacutetico em voga sobretudo antes da

Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) que foi retomado na reforma curricular de

2012

Relativamente ao segundo princiacutepio o do produto como parte do processo deve ter-

se em conta que na aacuterea do teatro na educaccedilatildeo assiste-se com frequecircncia a

situaccedilotildees que poderatildeo ser paradoxais nas quais a toacutenica da avaliaccedilatildeo eacute colocada

pelos professores nos resultados ndash por vezes somente nos resultados ndash e natildeo nos

processos que a eles conduzem Isto ocorre tanto em atividades dramaacuteticas

quotidianas mais circunscritas no tempo e nos objetivos (como os jogos os

exerciacutecios as improvisaccedilotildees etc realizados em cada sessatildeo) como em projetos de

teatro por natureza mais prolongados no tempo e com objetivos mais exigentes

Neste caso o exemplo mais paradigmaacutetico reside na montagem de espetaacuteculos em

muitos casos feitos agrave pressa desenquadrados de uma praacutetica curricular regular a

partir das decisotildees e das orientaccedilotildees modelares do professor com o objetivo uacutenico ndash

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

159

ou principal ndash de abrilhantar ocasiotildees festivas como as festas de Natal ou de final de

ano letivo Mas se eacute verdade que antes de um produto deve (deveria) haver um

processo consistente tambeacutem eacute verdade que um processo natildeo acaba (natildeo deveria

acabar) no momento formal em que esse produto eacute socializado O projeto de teatro

natildeo termina no dia em que se faz a apresentaccedilatildeo pelo que o produto eacute parte de um

processo que se prolonga O projeto continua com a avaliaccedilatildeo do que jaacute foi feito e do

que ainda estaacute em curso bem como com a projeccedilatildeo do que tambeacutem a partir desse

produto se seguiraacute

Avaliarhellip para quecirc

Mas afinal no que ao teatro no curriacuteculo concerne para que eacute que se avalia Numa

frase sumaacuteria talvez se possa dizer que se avalia para se potenciar os processos

educativos para se escolher as metodologias artiacutestico-pedagoacutegicas mais adequadas a

cada contexto e a cada grupo e agrave cabeccedila de todas as razotildees para se melhorar e

ampliar as aprendizagens dos alunos Explicito esta ideia atraveacutes de duas linhas de

forccedila (1) a avaliaccedilatildeo como buacutessola da definiccedilatildeo de percursos educativos com

sentido e (2) a praacutetica de avaliaccedilatildeo regular como estrateacutegia de aprendizagem e de

participaccedilatildeo

Relativamente agrave primeira linha de forccedila a avaliaccedilatildeo na base de percursos com

sentido estou convicto de que soacute depois de estabelecermos inequivocamente os

objetivos da nossa accedilatildeo educativa-pedagoacutegica e consequentemente uma estrateacutegia

de avaliaccedilatildeo eacute que podemos definir um percurso com sentido na certeza poreacutem de

que entre curriacuteculos opccedilotildees metodoloacutegicas dos professores e aprendizagens dos

alunos tem de existir coerecircncia Trecircs aspetos definem esta linha de forccedila (i) a

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica (ii) a adequaccedilatildeo e a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica e (iii) a

complementaridade entre estudoexperimentaccedilatildeofruiccedilatildeo

No iniacutecio de cada intervenccedilatildeo eacute fundamental antes de mais proceder a uma

ajustada e rigorosa avaliaccedilatildeo diagnoacutestica para se entender em que ponto os alunos

estatildeo ndash seus (des)interesses potencialidades dificuldades e preferecircncias ndash e que

percurso a partir dessa realidade concreta pode ser delineado Do mesmo modo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

160

que um percurso com sentido natildeo deve estar focado somente no fim do caminho e

na classificaccedilatildeo tambeacutem natildeo pode assentar exclusivamente na loacutegica da abordagem

ldquocegardquo dos conteuacutedos (rdquomateacuteriasrdquo) consignados nos programas Avaliar tambeacutem eacute

conhecer e compreender cada um dos alunos e por conseguinte adequar os

processos agraves suas possibilidades de aprendizagem Os princiacutepios da adequaccedilatildeo e da

diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica natildeo satildeo bandeiras hasteaacuteveis exclusivamente no mastro

das necessidades educativas especiais Adequar e diferenciar nos processos de

ensino-aprendizagem neles incluiacuteda a avaliaccedilatildeo eacute para todos Processos de trabalho

especiacuteficos com cada turma requerem processos e instrumentos de avaliaccedilatildeo

especiacuteficos que se adequacuteem especificamente a essa realidade e em particular agraves

caracteriacutesticas dos alunos e do ensino pelo professor O professor tem aqui tambeacutem

aqui uma responsabilidade que natildeo deveria alienar sendo positivo ndash porque

constitui uma oportunidade de reflexatildeo e aprendizagem ndash o envolvimento dos alunos

na proacutepria criaccedilatildeo dos especiacuteficos instrumentos de avaliaccedilatildeo

Todo o percurso com sentido em teatro natildeo pode ignorar que as aprendizagens se

constroem complementarmente em 3 eixos estudo experimentaccedilatildeo e fruiccedilatildeo Por

conseguinte natildeo basta dizer ao aluno ldquopesquisardquo ldquofazrdquo ou ldquoapreciardquo eacute essencial

fornecer ao aluno as coordenadas para essas concretizaccedilotildees Ao avaliar o aluno

produz no fundo um juiacutezo de valor

[O juiacutezo de valor do aluno] depende por um lado dum enunciado prescritivo

que o precede dado que natildeo (hellip) poderaacute+ apreciar sem estabelecer uma

comparaccedilatildeo com aquilo que (hellip) entende+ que deveria ser e por outro de um

julgamento do observador uma vez que natildeo (hellip) poderaacute+ estabelecer uma

apreciaccedilatildeo sem conhecer algo daquilo que (hellip) estaacute+ a apreciar (Pinto amp

Santos 2006 p 29)

Quando o professor e os alunos analisam o que eacute pesquisado feito ou apreciado

mobilizam ndash a par de dados subjetivos e pessoais que devem ser considerados e

valorizados ndash conhecimentos especiacuteficos da linguagem artiacutestica que foram adquiridos

tambeacutem em contexto curricular

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

161

Quanto agrave segunda linha de forccedila a avaliaccedilatildeo como estrateacutegia de aprendizagem e

participaccedilatildeo ela define-se numa loacutegica de avaliaccedilatildeo contiacutenua em torno de dois

aspetos centrais (i) o aluno-participante e (ii) o professor-regulador

Uma estrateacutegia de avaliaccedilatildeo pressupotildee da parte do professor acompanhar e

orientar os alunos dando-lhes pistas e retornos com a plena consciecircncia de que ldquoo

ato de conhecer natildeo eacute uma passagem da ignoracircncia ao saber de uma soacute vez mas um

processo de reestruturaccedilotildees progressivasrdquo (Pinto amp Santos 2006 p 114) Na aula de

teatro eacute natural que haja realizaccedilotildees incompletas inacabadas experimentais E eacute

importante que sejam vistas como passiacuteveis de serem melhoradas pois a aula de

teatro tende a privilegiar processos de experimentaccedilatildeo de repeticcedilatildeo de tentativa e

erro e de permanente procura de melhoramento Esta dinacircmica tanto requer

frequentes interaccedilotildees de natureza avaliativa ou seja de ldquomicro balanccedilos sobre o

desenvolvimento de tarefas realizadas pelos alunos e de intervenccedilotildees reguladoras

por parte do professorrdquo (Ibidem p 115) que constituem permanentes

oportunidades de aprendizagem como obriga a um autocontrolo por parte do

docente da eventual tendecircncia que possa ter para antecipar respostas e soluccedilotildees ou

para se assumir como modelo a seguir Como advertem Pinto amp Santos ldquoa ansiedade

de dar a resposta ou dizer como se faz sem dar espaccedilo para que o aluno perceba o

erro e reconstrua a sua representaccedilatildeo da tarefa deixa normalmente o aluno numa

situaccedilatildeo de vulnerabilidade quando novas situaccedilotildees semelhantes ocorreremrdquo

(Ibidem p 114)

A modalidade de avaliaccedilatildeo formativa eacute por excelecircncia aquela que proporciona aos

alunos a constante tomada de consciecircncia do seu processo de aprendizagem porque

uma parte relevante da responsabilidade desse processo eacute transferida para eles Ao

intervirem na avaliaccedilatildeo dos seus processos de trabalho e dos resultados obtidos os

alunos estatildeo a demonstrar quotidianamente os seus conhecimentos aos colegas e

ao professor bem como a tomar consciecircncia do caminho que estatildeo a percorrer Esta

perspetiva opotildee-se diametralmente a uma accedilatildeo que natildeo valoriza o continuum de

realizaccedilotildees e de aprendizagens Trata-se no fundo numa siacutentese algo esquemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

162

da ldquotradicionalrdquo diferenccedila entre a crianccedila ter de se ldquodesenvencilharrdquo no espetaacuteculo

feito agrave pressa para a festa da escola (natildeo raras vezes seguindo com hesitaccedilatildeo e

desconforto agrave vista do espectador as afanosas indicaccedilotildees sopradas pelo professor

dos bastidores) e ocupar o lugar central no processo de conceccedilatildeo planeamento

implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de um projeto de teatro com o apoio do professor na

sequecircncia de uma regular abordagem curricular do teatro

Conclusatildeo

O tiacutetulo deste artigo parte de um pressuposto que nem sempre corresponde agrave

realidade o de que haacute teatro no curriacuteculo Como se expressa na introduccedilatildeo deste

texto embora as iniciativas que reforccedilam a importacircncia da educaccedilatildeo artiacutestica em

geral tenham vindo a multiplicar-se nacional e internacionalmente as artes nos

curriacuteculos em Portugal ndash umas menos outras mais (como o Teatro) ndash tecircm vindo a ser

objeto de um tratamento que nem sempre eacute coerente com as linhas orientadoras

que tecircm sido apontadas para estas aacutereas ou vecircm sendo dissimuladamente

transferidas para fora do curriacuteculo obrigatoacuterio no 1ordm ciclo (para o ldquoenriquecimento

curricularrdquo ou para o extracurricular) ou encurtadas na sua carga horaacuteria limitadas a

menos anos de escolaridade e reduzidas a meras opccedilotildees das escolas nos 2ordm e 3ordm

ciclos ou totalmente extintas como nalguns cursos do ensino secundaacuterio

Mas quando haacute teatro no curriacuteculo haacute que perspetivar a dimensatildeo da avaliaccedilatildeo

Neste artigo em que propositadamente natildeo entro no ldquocomordquo fazer (pretendo

dedicar-lhe uma reflexatildeo autoacutenoma) para aleacutem de procurar definir avaliaccedilatildeo

simultaneamente procedendo a uma breve revisatildeo de literatura sobre o tema

detemo-nos nos dois toacutepicos principais que o tiacutetulo principal anuncia Avaliar o quecirc

Avaliar para quecirc

No primeiro caso proponho dois princiacutepios para a definiccedilatildeo do que se avalia em

teatro na educaccedilatildeo (1) a assunccedilatildeo de que o teatro na educaccedilatildeo assenta numa

especiacutefica linguagem artiacutestica que deve estar refletida na avaliaccedilatildeo e (2) o

entendimento de que o produto faz parte integrante do processo por conseguinte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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refutando a ideia de que a avaliaccedilatildeo se restringe a avaliaccedilatildeo sumativa ou a

classificaccedilatildeo

No segundo caso explicito o toacutepico atraveacutes de duas linhas de forccedila (1) a avaliaccedilatildeo

como buacutessola da definiccedilatildeo de percursos educativos com sentido destacando a

relevacircncia que devem ter (i) a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica (ii) a adequaccedilatildeo e a

diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica e (iii) a complementaridade entre

estudoexperimentaccedilatildeofruiccedilatildeo e (2) a praacutetica de avaliaccedilatildeo regular como estrateacutegia

de aprendizagem e de participaccedilatildeo pensada numa loacutegica de avaliaccedilatildeo contiacutenua em

torno de dois aspetos centrais (i) o aluno-participante e (ii) o professor-regulador

Em suma neste artigo que pretende sobretudo identificar questotildees mais do que

avanccedilar respostas haacute uma conclusatildeo que parece integrar outras conclusotildees

possiacuteveis dependendo da forma como eacute entendida e integrada no quotidiano

pedagoacutegico a avaliaccedilatildeo pode contribuir para se crescer ou para se mirrar para se

prosseguir ou para se desistir

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165

PRAacuteTICAS DE LITERACIA E AVALIACcedilAtildeO DA COMPETEcircNCIA

DE ESCRITA31

Maria da Conceiccedilatildeo Pires

Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd ndash Universidade do Minho saopiresgmailcom

Joseacute Antoacutenio Brandatildeo Carvalho

Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd ndash Universidade do Minho jabrandaoieuminhopt

RESUMO O desfasamento entre a escola e os diferentes contextos sociais em que se

insere a dificuldade em dar resposta agraves solicitaccedilotildees e desafios que as suas

comunidades lhe colocam a deficiente preparaccedilatildeo de muitos dos alunos para um uso

competente e criacutetico da linguagem oral e escrita constituem trecircs criacuteticas seacuterias ao

papel atual da escola

O projeto que estamos a dinamizar com uma turma do ensino secundaacuterio procura

contrariar este rumo da educaccedilatildeo demonstrando que eacute possiacutevel construir e valorizar

as competecircncias de literacia que natildeo se circunscrevem agrave proacutepria vida escolar atraveacutes

de atividades de aprendizagem efetiva da escrita numa relaccedilatildeo interdisciplinar com

outras aacutereas de conhecimento Ele surge nos antiacutepodas do ensino tradicional onde a

produccedilatildeo escrita eacute imposta aos alunos tendo quase sempre o professor como uacutenico

destinataacuterio valorizando-se aspetos de natureza formal e superficial em detrimento de

outros que satildeo fundamentais em termos de eficaacutecia discursiva fazendo dela depender

quase exclusivamente a avaliaccedilatildeo do aluno muitas vezes assente numa mera

reproduccedilatildeo de conhecimento

31

Este trabalho faz parte de um projeto de investigaccedilatildeo desenvolvido no acircmbito do doutoramento em Ciecircncias da Educaccedilatildeo (especialidade de Literacias e Ensino do Portuguecircs) pelo Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd - da Universidade do Minho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

166

Assim e com recurso agrave metodologia do trabalho de projeto concebemos um roteiro

paisagiacutestico ainda em fase de realizaccedilatildeo acerca de uma quinta de D Antoacutenia

(Ferreirinha) destinado aos seus turistas que tem obrigado a uma participaccedilatildeo no

quadro mais alargado da escola enquanto comunidade e nas comunidades em que os

seus membros se inserem fazendo com que os alunos interajam com os contextos

culturais histoacutericos econoacutemicos sociais e institucionais onde atuam estudam e

vivem o Douro

Nesta comunicaccedilatildeo procuramos divulgar estas praacuteticas e discutir a sua viabilidade

evidenciando o modo como os alunos constroem o seu saber sobre a liacutengua e de que

modo a avaliaccedilatildeo eacute um processo indispensaacutevel quer nas diferentes etapas de

elaboraccedilatildeo de um projeto quer no domiacutenio da competecircncia de escrita

Palavras-chave metodologia de trabalho de projeto escrita avaliaccedilatildeo

Abstract Among other things schools are often criticised for the gap between their

work and the demands of the contexts where they are inserted the difficulty in

responding to the challenges raised by the communities and the insufficient

preparation of the students in what concerns competent and critical uses of oral and

written language

The project that we are developing at a secondary school aims at demonstrating that it

is possible to enhance literacy skills that are not limited to the school context through

learning activities that imply an interdisciplinary relationship with other areas of

knowledge

This approach intends to be different from traditional ways of teaching writing that

tend to focus on superficial aspects rather than on discourse effectiveness and mainly

use writing as an assessment tool In this project students are invited to create the

touristic road-map of a farm where Port Wine is produced what implies multiple

language uses the insertion in different social and cultural contexts and the

interaction with several institutions of the region where they live the Douro

In this presentation we describe the project activities and discuss their interest trying

to demonstrate their contribution to the enhancement of studentsrsquo language skills We

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

167

also try to describe how the different steps of the project and its impact on students

writing performance are evaluated

Key words project methodology writing evaluation

1 Introduccedilatildeo

Uma reflexatildeo sobre o ensino do Portuguecircs no ensino secundaacuterio leva-nos a questionar

o percurso de aprendizagem a que os alunos satildeo submetidos e a discutir o que tem

falhado no ensino desta disciplina na qual se vem verificando bastante insucesso no

que se refere agrave competecircncia da escrita algo que os exames nacionais parecem

confirmar

Esta preocupaccedilatildeo agudiza-se se considerarmos que a escola eacute hoje chamada a

responder a novos desafios colocados pela sociedade e que exigem um indiviacuteduo

autoacutenomo e haacutebil na escrita perfil nem sempre coadunado com as metodologias

pedagoacutegicas predominantes que ainda tendem a apresentar esta competecircncia como

um saber de natureza declarativa e normativa e dela fazem depender quase

exclusivamente a avaliaccedilatildeo do aluno muitas vezes assente na mera reproduccedilatildeo de um

conhecimento imposto e tendo normalmente o professor como uacutenico destinataacuterio

Os elevados niacuteveis de iliteracia registados na populaccedilatildeo portuguesa escolarizada

continuam a alertar para a pouca e por vezes incorreta utilizaccedilatildeo que um grande

nuacutemero de pessoas faz da linguagem escrita deixando-as expostas a manipulaccedilotildees

sociais e poliacuteticas revelando uma escola ineficaz nesta mateacuteria que contraria deste

modo o princiacutepio de que eacute uma escola para todos Por outro lado confirmam que os

alunos natildeo chegam a desenvolver capacidades especializadas em vaacuterios geacuteneros

textuais implicando diferentes suportes nem as de comunicar em contextos que

pelas suas caracteriacutesticas proacuteprias implicam usos especiacuteficos da linguagem que

exigem na maior parte dos casos um maior grau de explicitaccedilatildeo e cuja relevacircncia nem

sempre os professores reconhecem Frequentemente eacute apenas em momentos de

avaliaccedilatildeo que abordam a escrita em contexto escolar (CARVALHO 1999)

Segundo vaacuterios estudos feitos nas uacuteltimas deacutecadas a escrita eacute natildeo soacute essencial agrave

construccedilatildeo do conhecimento de outras disciplinas como apresenta potencialidades

para se tornar ela proacutepria num instrumento de aprendizagem desde que natildeo se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

168

confine agrave transcriccedilatildeo ou repeticcedilatildeo de informaccedilatildeo antes transforme o conhecimento

numa parte integrante de um contexto que o torne significativo no qual laquo(hellip) o aluno

encontraraacute durante o processo e no momento de realizaccedilatildeo de funccedilotildees por meio do

produto escrito vivecircncias nas quais se projeta como pessoa com o seu empenho e

com os seus sentimentos e emoccedilotildeesraquo (BARBEIRO 2007185) Contudo tal natildeo pode

acontecer agrave margem da escola pois haveraacute alunos que nunca encontraratildeo no seu meio

sociocultural o acesso a tais vivecircncias a sua promoccedilatildeo e valorizaccedilatildeo Pelo contraacuterio

ela deve laquo(hellip) alargar as vivecircncias proporcionadas no meio escolar ao universo de

funccedilotildees que os textos desempenhamraquo (p186) como tambeacutem defende o programa de

Portuguecircs do ensino secundaacuterio (MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO 2001)

Eacute isto que advoga a perspetiva sociocognitiva sobre o ensino-aprendizagem da escrita

para a qual o processo de escrever se relaciona com os contextos sociais na procura

de uma maior aproximaccedilatildeo entre a escrita e os conteuacutedos curriculares reconhecendo

que os textos natildeo satildeo independentes do contexto mas dele emergem revelando-se

essenciais os ensinamentos dos estudos linguiacutesticos sobre a enunciaccedilatildeo e o discurso ao

fornecerem bases conceptuais indispensaacuteveis agrave compreensatildeo da produccedilatildeo escrita

como atividade de uso da liacutengua As situaccedilotildees de ensino e aprendizagem representam

laquo(hellip) atividades partilhadas sociais que satildeo levadas a cabo na escola lugar onde

crianccedilas e jovens desenvolvem uma parte da sua vida com o objetivo de crescer como

cidadatildeos e de se apropriarem daqueles saberes que a sociedade considera baacutesicos

para siraquo (CAMPS 200521) A eles deve ser dado o papel principal na escola como

espaccedilo de comunicaccedilatildeo atraveacutes da sua participaccedilatildeo em projetos onde a escrita surge

laquo(hellip) como meio de exploraccedilatildeo e de conhecimento de si mesmos da sua proacutepria

realidade e da realidade agrave sua volta e como instrumentos de exploraccedilatildeo do mundoraquo

(idem) pois os textos escritos laquo(hellip) interagem sempre com os contextos culturais

histoacutericos e institucionais onde atuam estudam e trabalham aqueles que os produzem

(hellip)raquo (NIZA 200715)

Perspetivada assim a competecircncia da escrita natildeo faz sentido que a avaliaccedilatildeo continue

a ser implementada segundo um modelo tradicional que a investigaccedilatildeo jaacute veio provar

desajustada por natildeo haver lugar a um ensino puramente expositivo antes a um

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

169

trabalho pedagoacutegico cujos propoacutesitos passam por uma avaliaccedilatildeo contiacutenua imediata

formal expliacutecita e integrada na praacutetica pedagoacutegica fornecendo orientaccedilotildees aos

professores e alunos sobre os desempenhos individuais

2 Desenvolvimento

Segundo o programa de Portuguecircs do ensino secundaacuterio a avaliaccedilatildeo eacute uma

laquocomponente essencial do processo de ensino-aprendizagemraquo (ME 200130)

devendo ser sistemaacutetica e cuidadosa para que se cumpram a objetividade e o rigor

assim como o desenvolvimento das competecircncias do aluno ao longo deste ciclo de

estudos Deve por isso contemplar a adequaccedilatildeo das teacutecnicas e instrumentos aos

objetivos e conteuacutedos e ao processo de ensino-aprendizagem especificar o objeto de

avaliaccedilatildeo ndash os processos e os produtos - os criteacuterios e as estrateacutegias proporcionar

condiccedilotildees para a autoavaliaccedilatildeo e a coavaliaccedilatildeo ponderar o percurso individual e o

coletivo considerando ajustamentos e correccedilotildees para reorientar as praacuteticas

pedagoacutegicas e dar a conhecer ao aluno as informaccedilotildees respeitantes a todo o seu

processo avaliativo

Atraveacutes da avaliaccedilatildeo nas suas diferentes modalidades (diagnoacutestica formativa e

sumativa) obtecircm-se informaccedilotildees sobre a consecuccedilatildeo dos objetivos e a atitude dos

intervenientes ao longo desse processo de ensino-aprendizagem delineando-se

estrateacutegias de superaccedilatildeo de eventuais dificuldades ainda natildeo ultrapassadas com vista

agrave melhoria da qualidade da formaccedilatildeo do processo e das estrateacutegias a implementar ao

longo do ano Os instrumentos de avaliaccedilatildeo a usar na disciplina de Portuguecircs variaratildeo

consoante a competecircncia nuclear (compreensatildeo e expressatildeo oral e escrita e

funcionamento da liacutengua) com criteacuterios de avaliaccedilatildeo especiacuteficos de cada uma delas

cabendo ao professor escolher aqueles que melhor se adequam ao objeto a ser

avaliado Passam pela observaccedilatildeo direta questionaacuterios textos orais textos escritos

listas de verificaccedilatildeo escalas de classificaccedilatildeo (onde constam os criteacuterios de

desempenho como competecircncias linguiacutestica discursiva e sociolinguiacutestica) testes

objetivos (exerciacutecios de escolha muacuteltipla de associaccedilatildeo de alternativa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

170

verdadeirofalso de completamento) testes natildeo objetivos (com resposta longa e

ensaio)

Por isso a laquoatribuiccedilatildeo de uma classificaccedilatildeo ao aluno deveraacute decorrer dos vaacuterios dados

recolhidos em momentos de avaliaccedilatildeo formais e informais (hellip) mas tambeacutem da

avaliaccedilatildeo de vaacuterias produccedilotildees dos alunos tais como elaboraccedilatildeo de dossiecircs de vaacuterios

tipos projetos de escrita e de leitura trabalhos realizados fora da sala de aula

cadernos diaacuterios etcraquo (ME 200131) O programa sugere que o aluno organize um

portefoacutelio de avaliaccedilatildeo no qual incluiraacute uma amostra significativa de trabalhos

datados e comentados para que o professor conheccedila o seu esforccedilo os seus

progressos e o seu desempenho ao longo de um determinado periacuteodo de tempo

laquoEm suma a avaliaccedilatildeo em Portuguecircs deve gerar uma dinacircmica processual coerente

com todo o processo de ensino-aprendizagem que passe pela perspetiva de

consciencializaccedilatildeo e participaccedilatildeo zele em termos de eficiecircncia pela validade e

relevacircncia e busque melhorias para promover mudanccedilasraquo (ME 200133)

Conscientes destas realidades iniciaacutemos no ano letivo de 20112012 com uma turma

do deacutecimo ano de escolaridade do Curso Cientiacutefico-Humaniacutesticos de Liacutenguas e

Humanidades - pretendemos continuar a acompanhaacute-la ateacute agrave conclusatildeo do seu deacutecimo

segundo ano (junho de 2014) - um estudo de caso no intuito de verificar em que

medida a metodologia de trabalho de projeto constitui uma mais-valia na

aprendizagem efetiva da escrita no ensino secundaacuterio se lhe confere sentido se

motiva o aluno e se como defendem os seus seguidores o leva a construir e a

mobilizar conhecimento ancorado na leitura e produccedilatildeo de textos em cooperaccedilatildeo

com todos os participantes atraveacutes de vivecircncias laquo(hellip) que permite+m a descoberta das

funccedilotildees da escrita e que torn[a]m significativas as competecircncias de leitura e de escrita

em ligaccedilatildeo a dimensotildees como a fruiccedilatildeo e criaccedilatildeo esteacuteticas a expressatildeo pessoal a

procura de informaccedilatildeo a elaboraccedilatildeo de documentos para o exerciacutecio da cidadania e

para a comunicaccedilatildeo interpessoal a descoberta de utilizaccedilotildees especiacuteficas no acircmbito de

determinadas atividades (hellip)raquo (BARBEIRO 20062) Frequentemente o

desenvolvimento de projetos embora proporcione a participaccedilatildeo em eventos de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

171

literacia circunscreve-se agrave proacutepria vida escolar tornando-se depois objeto de

avaliaccedilatildeo

Quisemos ir mais longe ultrapassando a vida escolar numa tentativa de aproximaccedilatildeo

agrave realidade social e cultural do meio de onde os alunos satildeo provenientes o Douro

Assim e com recurso agrave metodologia de aprendizagem por projeto concebemos um

roteiro paisagiacutestico ainda em fase de realizaccedilatildeo acerca de uma quinta que pertenceu

a uma figura destacada do meio em que a escola onde ele se desenvolve se insere Dordf

Antoacutenia Ferreira a Ferreirinha Tal roteiro destina-se aos turistas que a visitam e a sua

construccedilatildeo associa os processos de ensino-aprendizagem da escrita agrave participaccedilatildeo nos

contextos mais alargados da escola enquanto comunidade e no das comunidades em

que os seus membros se inserem fazendo com que os alunos interajam com os

ambientes culturais histoacutericos econoacutemicos sociais e institucionais onde atuam

estudam e vivem

A construccedilatildeo do nosso projeto insere-se numa perspetiva recente da investigaccedilatildeo

sobre a pedagogia da escrita que a projeta em quatro planos distintos natildeo os

encarando de forma estanque antes potenciando cada um deles para uma abordagem

mais completa da escrita na escola colocando-se a ecircnfase no diaacutelogo que deve existir

entre os geacuteneros escolares e os tipos de discurso que as sociedades alfabetizadas

foram elaborando e cujas caracteriacutesticas os alunos devem aprender a dominar laquo(hellip) a)

o plano do sujeito que aprende com as suas caracteriacutesticas pessoais o seu niacutevel de

desenvolvimento cognitivo as suas competecircncias de uso da linguagem em geral e da

escrita em particular b) o plano da relaccedilatildeo da escrita com os outros domiacutenios ou

conteuacutedos da disciplina de Portuguecircs ndash conhecimento expliacutecito da liacutengua leitura e

oralidade c) num outro niacutevel o plano da implicaccedilatildeo da escrita no quadro das outras

disciplinas escolares d) finalmente o plano da participaccedilatildeo pela escrita no quadro

mais alargado da escola enquanto comunidade e na(s) comunidade(s) em que a escola

e os sujeitos se inseremraquo (CARVALHO 201194)

Por isso e porque sempre nos preocupaacutemos com o modo ldquocomo avaliarrdquo e ldquopor que

avaliarrdquo era imperioso que agora na dinamizaccedilatildeo do nosso projeto a avaliaccedilatildeo se

instaurasse como um referente flexiacutevel adequado agrave grande variedade de geacuteneros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

172

textuais que os alunos escreveriam aos seus contextos aos processos a eles

subjacentes e aos diferentes intervenientes Deste modo ela facilitaria esta nossa

conceccedilatildeo de projeto que certifica as diversas competecircncias adquiridas - neste caso a

escrita sobretudo - e que conduz agrave adoccedilatildeo de estrateacutegias de diferenciaccedilatildeo

pedagoacutegica Partimos do pressuposto de que a avaliaccedilatildeo contribui para uma melhoria

da qualidade dos projetos curriculares sendo imperioso que os alunos estivessem na

posse dos criteacuterios de apreciaccedilatildeo de qualquer trabalho escolar Soacute desta maneira se

chegaria agrave regulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos percursos de formaccedilatildeo estimulando a

construccedilatildeo de opccedilotildees pessoais adequadas e com sentido face aos objetivos propostos

Privilegiariacuteamos uma pedagogia diferenciada organizadora das atividades e das

interaccedilotildees de maneira a que cada aluno fosse confrontado com situaccedilotildees didaacuteticas

mais proveitosas para ele geradoras de verdadeiras aprendizagens da escrita

A aposta recaiu assim no uso do portefoacutelio educativo como instrumento de

regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo ligado verdadeiramente agrave metodologia de trabalho de projeto

visando o desenvolvimento de competecircncias implicando a autonomia do aluno na sua

relaccedilatildeo com o saber e estimulando o gosto pela aprendizagem Perspetivaacutemo-lo natildeo

na sua materialidade ndash uma coleccedilatildeo de documentos organizados correspondentes aos

diferentes trabalhos realizados pelo aluno titular desse dossiecirc - mas antes como um

dispositivo pedagoacutegico dirigido ao desenvolvimento de uma competecircncia nuclear ndash a

escrita no nosso projeto - no qual se colocaria a toacutenica no procedimento do discente

na execuccedilatildeo das tarefas a propor numa variedade de contextos e natildeo tanto nos seus

conhecimentos e na avaliaccedilatildeo destes uacuteltimos Ele seria o instrumento que salientaria

as necessidades e os desafios colocados as opccedilotildees tomadas as reaccedilotildees e os esforccedilos

do aluno as suas melhorias processos e rendimentos Este assumiria o protagonismo

e a responsabilidade do seu processo de aprendizagem da competecircncia da escrita pela

reflexatildeo a ele inerente autoavaliando-se (e desmistificando a avaliaccedilatildeo) a qualquer

momento fornecendo simultaneamente ao professor a visatildeo global dos seus

progressos individuais Com ele tornar-se-ia um cidadatildeo responsaacutevel autoacutenomo

confiante em si mesmo continuando a sua aprendizagem depois da escola o que lhe

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

173

proporcionaria a emancipaccedilatildeo social Ao mesmo tempo o professor refletiria sobre as

suas praacuteticas para melhorar o ensino da escrita

De entre os variados tipos de portefoacutelio escolhemos o de aprendizagem Nele

deveriam constar os resultados das pesquisas os textos produzidos a descriccedilatildeo dos

processos imanentes agrave redaccedilatildeo dos diferentes geacuteneros textuais - os planos para a

textualizaccedilatildeo as vaacuterias versotildees dos textos e a sua revisatildeo as pesquisas realizadas para

aprofundar o seu conhecimento acerca do conteuacutedo do texto em elaboraccedilatildeo ou para

facilitar uma tomada de posiccedilatildeo pessoal num texto argumentativo a organizaccedilatildeo

seguida para a estruturaccedilatildeo das ideias seguindo modelos dependentes das tipologias e

geacuteneros textuais a decisatildeo sobre o estilo e o formato a adotar no seu texto - as

comparaccedilotildees com outras produccedilotildees textuais as reflexotildees sobre os materiais as suas

escolhas as reformulaccedilotildees propostas pela professora e por ele proacuteprio as fichas de

auto e coavaliaccedilatildeo a autoavaliaccedilatildeo do trabalho e a ligaccedilatildeo entre avaliaccedilatildeo e

aprendizagem assim como as justificaccedilotildees das escolhas e das estrateacutegias usadas

consideradas mais eficazes Deste modo achamos que os alunos estabeleceriam a

ligaccedilatildeo entre a avaliaccedilatildeo e as aprendizagens Decidimos com os alunos o seu iacutendice

para uma organizaccedilatildeo mais eficaz no que se refere agrave funcionalidade e acessibilidade

Para o ensino da escrita defendemos que o aluno deve desenvolver o seu portefoacutelio

de aprendizagem da escrita por lhe proporcionar a aprendizagem efetiva dos

processos de escrita As dificuldades que a turma revelava quando comeccedilaacutemos o nosso

estudo de caso e que urgia ultrapassar ndash ausecircncia de uma planificaccedilatildeo preacutevia agrave

redaccedilatildeo textual lacunas na organizaccedilatildeo discursiva e correccedilatildeo linguiacutestica desrespeito

pelas propriedades especiacuteficas do geacutenero textual em causa e desmotivaccedilatildeo pela

composiccedilatildeo escrita pelo seu fingimento face agraves reais necessidades comunicativas da

sociedade a que pertencem acrescidas frequentemente de alguma incerteza na

escolha do curso adequado aos seus anseios profissionais - justificaram esta opccedilatildeo

Por isso o projeto de escrita tem sido sempre realizado numa oficina de escrita

modalidade obrigatoacuteria no programa do ensino secundaacuterio na qual os alunos

aprendem a escrever pelo treino e os professores ensinam a escrita contrariando o

mito do talento inato da escrita e as ideias de que neste niacutevel de ensino natildeo haacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

174

espaccedilo para o seu ensino da escrita e o que deve ser avaliado eacute o produtoresultado

do ato de escrever laquoNuma oficina de escrita o aluno treina modelos de escrita

mobiliza estrateacutegias ligadas a modalidades discursivas distintas desenvolve as

competecircncias discursiva e textual adequa agrave situaccedilatildeo comunicativa transferindo

recorrecircncias e estruturas que sirvam de referentes agrave produccedilatildeo de textos

diversificadosraquo (COELHO 200352)

O nosso projeto tem sido construiacutedo em contexto de sala de aula tendo-se traduzido

jaacute numa variedade de geacuteneros textuais produzidos individualmente ou em grupo

pelos alunos e que constaratildeo no roteiro paisagiacutestico final Todo o processo que lhes

subjaz tem sido considerado no nosso estudo pelos seus efeitos na aprendizagem

expliacutecita da escrita no ensino secundaacuterio indo simultaneamente ao encontro do

estipulado no programa de Portuguecircs deste niacutevel de ensino

Aleacutem disso os materiais usados pautam-se pela diversidade proporcionando de

forma intencional experiecircncias de literacia indispensaacuteveis agrave plena integraccedilatildeo destes

jovens na sociedade Por exemplo a imagem tem-nos auxiliado enquanto elemento

motivador e ilustrativo da aprendizagem na esteira do proacuteprio programa oficial que

impotildee ldquo(hellip) natildeo soacute a leitura de textos escritos mas tambeacutem de imagens equacionando

a relaccedilatildeo entre o verbal e o visualrdquo (ME 200124) devido tambeacutem ao seu caraacuteter

interdisciplinar e polivalente A deslocaccedilatildeo agrave quinta em estudo tem permitido o registo

fotograacutefico e fiacutelmico dos seus espaccedilos a partir do que criaacutemos variadas oficinas de

escrita

O recurso aos media tem-se revelado tambeacutem indispensaacutevel na prossecuccedilatildeo do nosso

projeto atraveacutes da produccedilatildeo e da leitura analiacutetica e criacutetica - os textos dos media satildeo

essenciais na formaccedilatildeo de leitores criacuteticos e conscientes da informaccedilatildeo de que

diariamente satildeo recetores leitores capazes de distinguir objetividade de subjetividade

facto de opiniatildeo - em termos de conteuacutedo intencionalidade e forma de textos de

caraacuteter multimodal de natureza poliacutetica histoacuterica econoacutemica e socioculturalmente

situada Procuramos promover a tomada de consciecircncia dos modos distintos de

comunicar na sociedade visando uma participaccedilatildeo ativa e esclarecida na vida local e

social pela leitura e produccedilatildeo de geacuteneros textuais diversos Enquanto fonte de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

175

conhecimentos gerais e de consulta mais atualizada de conteuacutedos organizados claros

e sequenciados eles abrem as janelas para o mundo ao mesmo tempo que ensinam a

desenvolver e treinar a par de outras as competecircncias de leitura de textos e imagens

(fixas e em movimento) as competecircncias de oralidade e de escrita e a reflexatildeo sobre a

liacutengua Na verdade cabe agrave escola promover situaccedilotildees de aprendizagem com vista ao

desenvolvimento da competecircncia de comunicaccedilatildeo competecircncia linguiacutestica

discursivatextual sociolinguiacutestica e estrateacutegica

Paralelamente respeitaacutemos os conteuacutedos constantes no programa oficial desta

disciplina distribuindo-os de forma mais consonante com as fases de elaboraccedilatildeo do

projeto No que respeita agraves obras literaacuterias de referecircncia foram acrescentadas duas ndash

Vindima de Miguel Torga e Fuacuteria das Vinhas de Francisco Moita Flores - para aleacutem

da opccedilatildeo por As Cidades e as Serras de Eccedila de Queiroacutes em detrimento de Os Maias

habitualmente escolhido pelos professores no deacutecimo primeiro ano de escolaridade

devido agrave temaacutetica do nosso roteiro e aos seus objetivos

No iniacutecio do ano letivo de 20112012 quando enunciaacutemos os objetivos gerais do nosso

projeto e o produto final desejado os alunos planificaram a curto e a longo prazo

comeccedilaram a organizar o seu portefoacutelio de aprendizagem e redigiram um ofiacutecio

endereccedilado aos proprietaacuterios de quintas durienses ainda pertencentes a descendentes

diretos de D Antoacutenia Ferreira e geograficamente proacuteximas da escola solicitando a sua

participaccedilatildeo na consecuccedilatildeo do referido projeto

Precisamente por causa desta figura iacutempar na histoacuteria do Douro recorremos quer agrave

seacuterie televisiva escrita por Francisco Moita Flores A Ferreirinha quer a documentaacuterios

muitos deles acessiacuteveis apenas na internet para um conhecimento mais aprofundado

tanto da sua eacutepoca como da sua vida privada o que foi complementado com a visita agrave

exposiccedilatildeo temporaacuteria do Museu do Douro intitulada D Antoacutenia uma vida singular

realizada em 2011 no acircmbito das comemoraccedilotildees dos duzentos anos do seu

nascimento e com a leitura da sua biografia A este propoacutesito consultaacutemos a

imprensa regional e a nacional com vista agrave recolha de informaccedilatildeo imprescindiacutevel agrave

elaboraccedilatildeo do friso cronoloacutegico constante no nosso roteiro porque jornalismo e

memoacuteria caminham lado a lado colocando agrave nossa disposiccedilatildeo de maneira contiacutenua e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

176

ininterrupta factos da vida selecionados e construiacutedos jornalisticamente com tantas

faces e vozes quanto os media existentes

Algum tempo depois voltaacutemos a este espaccedilo cultural para participarmos no projeto

ldquoBIOSrdquo que haveria de nos introduzir na paisagem fiacutesica e imaterial desta regiatildeo

portuguesa Atraveacutes dele produzimos um texto autobiograacutefico coletivo ndash a integrar no

roteiro - convocando memoacuterias de um passado aqui vivido pelos alunos para o qual

muito contribuiacuteram textos selecionados de variados autores durienses

Porque era necessaacuteria uma autorizaccedilatildeo formal quer da direccedilatildeo do estabelecimento de

ensino quer tambeacutem dos Encarregados de Educaccedilatildeo dos alunos participantes para

nos ausentarmos do espaccedilo escolar aprendemos a escrever requerimentos tantas

vezes retomados quantas as saiacutedas jaacute verificadas

Todas as visitas agrave quinta satildeo precedidas de contactos telefoacutenicos efetuados pela

professora mas tambeacutem de menagens eletroacutenicas algumas das quais redigidas com

auxiacutelio dos discentes Aquelas satildeo detalhadamente planificadas em grupo turma assim

como os guiotildees daiacute resultantes Numa fase inicial pretendiacuteamos a recolha de imagens

fotograacuteficas e fiacutelmicas ndash enquanto representaccedilotildees do real percecionado e instrumento

de comunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo de conhecimento de discurso de ensinamento mas

tambeacutem como utensiacutelio de memorizaccedilatildeo e de observaccedilatildeo do real que traduzissem a

diversidade da fauna e da flora em diversos momentos do ano tendo em conta que se

trata de uma exploraccedilatildeo viniacutecola Para que esta atividade surtisse efeito procedemos

em muacuteltiplas ocasiotildees ao estudo preacutevio em contexto de sala de aula de diversos

tipos de imagem nomeadamente a sua linguagem especiacutefica e o seu valor proacuteprio

Dela extraiacutemos a maior quantidade de informaccedilatildeo e treinaacutemos algumas estrateacutegias da

sua leitura correta e adequada Natildeo raras vezes elaboraacutemos um guiatildeo de exploraccedilatildeo

fragmentada e com cadecircncia da imagem fixa e em movimento que passava pela

identificaccedilatildeo do tema da(s) teacutecnica(s) usadas dos modos de criaccedilatildeo da ilusatildeo do

espaccedilo e da luz (como nos quadros por exemplo) das marcas do estilo do periacuteodo

histoacuterico representado da linguagem simboacutelica e alegoacuterica subjacente mas tambeacutem

pela dimensatildeo pessoal que a observaccedilatildeo de uma imagem exige dos alunos em

consonacircncia com as suas experiecircncias e vivecircncias No final procuraacutevamos com todos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

177

estes elementos construir a sua significaccedilatildeo e contribuir para a familiarizaccedilatildeo dos

jovens com diferentes formas de comunicar Noutras ocasiotildees optaacutemos pela fruiccedilatildeo

plena da imagem sem mediaccedilatildeo da professora aproveitando-se as intervenccedilotildees orais

dos alunos para focar a sua atenccedilatildeo nos aspetos mais cientiacuteficos e importantes por

vezes complementados com esquemas para clarificaccedilatildeo do conteuacutedo da imagem Ateacute

ao momento presente jaacute foram redigidos textos expositivos sobre por exemplo os

tipos de vinha e de aacutervores de fruto um texto argumentativo ao serviccedilo de uma

anaacutelise criacutetica das mensagens visuais ou ainda um outro expressivo criativo e mais

intimista como a evocaccedilatildeo de memoacuterias infantis ou juvenis vivenciadas no Douro a

sua terra natal Por outro lado os alunos desenvolvem as suas capacidades percetivo-

visuais atraveacutes da composiccedilatildeo de mensagens icoacutenicas para se expressarem e

comunicarem com os demais o que exige algum domiacutenio do coacutedigo visual ndash eacute o caso

da combinaccedilatildeo de fotografias na mesma paacutegina do roteiro ou da produccedilatildeo de um filme

global e final do projeto para posterior divulgaccedilatildeo quer junto dos seguidores do

enoturismo desta quinta quer no Museu do Douro - mas tambeacutem da sua combinaccedilatildeo

com outras linguagens como por exemplo a legendagem de fotografias entre outras

situaccedilotildees

Para facilitar este trabalho servimo-nos uma vez mais dos meios de comunicaccedilatildeo

social neles procurando imagens plaacutesticas e anuacutencios publicitaacuterios sobre variados

temas reportagens notiacutecias e documentaacuterios sobre o Douro e as suas realidades

histoacutericas geograacuteficas econoacutemicas ambientais e sociais e revistas especializadas

sobre o vinho A literatura aparece associada ao Douro Portanto a leitura integral de

A Cidade e as Serras de Eccedila de Queiroacutes tem ajudado na seleccedilatildeo das melhores imagens

para o roteiro O trabalho levado a cabo tem sustentado outras atividades

conducentes ao nosso roteiro paisagiacutestico

Ainda para essas deslocaccedilotildees agrave quinta a entrevista jaacute mereceu a nossa atenccedilatildeo quer

para recolha de informaccedilatildeo sobre a regiatildeo duriense quer para anaacutelise criacutetica quanto agrave

sua especificidade e complexidade ao niacutevel da tipologia e estrutura para posterior

preparaccedilatildeo e realizaccedilatildeo de outras como a do proprietaacuterio de uma quinta produtora de

vinho a do seu caseiro e as de alguns dos seus hoacutespedes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

178

Os editoriais os artigos de opiniatildeo e a croacutenica (radiofoacutenica e da imprensa) foram

outros geacuteneros textuais do discurso jornaliacutestico estudados quanto agraves suas

propriedades Nestes textos a dimensatildeo argumentativa eacute particularmente relevante

dado que o locutor pretende fazer com que os seus alocutaacuterios adiram agraves suas teses

convencendo-os e persuadindo-os Por conseguinte estudaacutemos as sequecircncias de tipo

argumentativo dominantes em textos deste geacutenero Separaacutemos a responsabilidade da

opiniatildeo em cada um deles e refletimos sobre as macroproposiccedilotildees integradoras das

sequecircncias textuais de tipo argumentativo enquanto modos de estruturaccedilatildeo textual

para nos apercebermos do modo de ordenaccedilatildeo das premissas e da conclusatildeo

Com base na leitura destes geacuteneros textuais recolhidos essencialmente na imprensa e

com temaacuteticas atuais e variadas os alunos encontraram modelos para a produccedilatildeo dos

seus textos argumentativos subordinados a temaacuteticas variadas alguns dos quais

integraratildeo o roteiro paisagiacutestico que estatildeo a construir sendo outros uacuteteis noutros

contextos adjacentes ao decurso do referido projeto Todo este trabalho de

desenvolvimento da competecircncia da escrita tem decorrido nas chamadas ldquooficinas de

escritardquo espaccedilo privilegiado de verdadeiras aprendizagens do processo da escrita nas

quais tem sido possiacutevel trabalhar os seus trecircs sub-processos - planificaccedilatildeo redaccedilatildeo e

revisatildeo - de modo recursivo e interativo

A reportagem tem sido outro geacutenero discursivo trabalhado em contexto de sala de

aula sobretudo pelo seu efeito perlocutoacuterio pretendido - o de informar - sendo a

funccedilatildeo denotativa a funccedilatildeo da linguagem predominante Neste aspeto evidencia

caracteriacutesticas proacuteprias da notiacutecia e da entrevista esta uacuteltima por poder integrar

sequecircncias de tipo dialogal ao colocar questotildees e ao obter respostas dos indiviacuteduos

entrevistados Foi o que aconteceu por exemplo com uma reportagem sobre o

enoturismo extraiacuteda da revista Visatildeo que foi determinante na preparaccedilatildeo das

entrevistas aos turistas da quinta duriense envolvida no projeto

Associada agrave reportagem surgiu a notiacutecia com a qual o locutor pretende divulgar um

acontecimento ou um conjunto de eventos de variada natureza com correspondecircncia

entre os conteuacutedos veiculados e a realidade objetiva atestaacutevel Sobejamente estudada

no ensino baacutesico recordaacutemos a seleccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos conteuacutedos no texto e a sua

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

179

dimensatildeo informativa quer se tratasse de uma notiacutecia escrita em suporte papel ou

digital quer produzida oralmente na televisatildeo e na raacutedio Este contacto visava a

recolha de dados sobre a referida quinta as figuras de D Antoacutenia Ferreira e do seu

descendente direto atual proprietaacuterio da quinta o Douro e as vindimas Estes dados

tecircm-se revelado muito uacuteteis na elaboraccedilatildeo do nosso roteiro

Para divulgaccedilatildeo de todas as atividades jaacute levadas a cabo e os objetivos subjacentes agrave

investigaccedilatildeo universitaacuteria por detraacutes da construccedilatildeo do roteiro em suporte papel e

audiovisual os alunos foram ainda chamados a conhecer o comunicado de imprensa

para posterior redaccedilatildeo de um Mais uma vez tratou-se de uma ocasiatildeo propiacutecia ao

desenvolvimento da competecircncia da escrita ao permitir que os alunos tomassem

consciecircncia deste modo especiacutefico de comunicar em sociedade Na verdade para a

redaccedilatildeo do nosso comunicado de imprensa os alunos tiveram de adequar o texto agrave

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo tendo em conta os objetivos que presidiam agrave sua produccedilatildeo e

o leitor a quem se destinava cujo contexto proacuteprio e necessidade de informaccedilatildeo

determinavam a estrutura conteuacutedo e organizaccedilatildeo textuais

A curto prazo e a propoacutesito da descriccedilatildeo da geologia da vinha dos socalcos e muros

das aacutervores em suma da paisagem da quinta em estudo os alunos teratildeo de ler artigos

cientiacuteficos sobretudo em revistas especializadas para procederem agrave escrita de textos

expositivos e descritivos sobre aquelas realidades e que constaratildeo do roteiro

Contudo jaacute tiveram ocasiatildeo de escrever textos poeacuteticos e intimistas a partir das suas

deslocaccedilotildees agrave quinta em oficinas de escrita criativa como aquela focada na teacutecnica do

ldquopasticherdquo numa imitaccedilatildeo aberta do estilo de Cesaacuterio Verde

Todos estes textos produzidos pelos alunos constam do seu portefoacutelio de

aprendizagem perspetivado agora tambeacutem como um dossiecirc evolutivo e foram

submetidos a uma avaliaccedilatildeo formativa A professora analisou-os diagnosticou os

problemas ou as dificuldades valorizou os aspetos considerados jaacute adquiridos ou

aperfeiccediloados orientou os alunos ndash sempre na posse de todas estas informaccedilotildees - na

melhoria desta competecircncia ajudando-os e motivando-os a aprender a desenvolver-

se Destacou sempre a importacircncia do processo relegando para segundo plano o

produto Consequentemente o portefoacutelio foi sempre avaliado ou observado pelo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

180

desenvolvimento da competecircncia visada e pelo envolvimento do aluno (autor do

portefoacutelio) no processo de construccedilatildeo dos seus proacuteprios saberes que tem aprendido a

refletir ndash em associaccedilatildeo permanente com a capacidade de julgar e de corrigir - a ter

em conta as sugestotildees que a professora foi fazendo ao longo da realizaccedilatildeo da tarefa a

experimentar a reformular a explicitar as decisotildees a ganhar autonomia e a conceber

a sua trajetoacuteria e a tomar consciecircncia das suas aprendizagens e das estrateacutegias de

regulaccedilatildeo que adotou Analisaacutemos sempre as suas escolhas e as suas justificaccedilotildees

verificaacutemos a eficaacutecia das estrateacutegias cognitivas e metacognitivas utilizadas e o seu

pensamento criativo e criacutetico Finalmente avaliaacutemos o trabalho cooperativo com os

seus pares e os diferentes contextos sociais nos quais fez a sua aprendizagem

3 Conclusotildees

Ainda que o projeto natildeo tenha sido concluiacutedo podemos adiantar que os resultados

obtidos com as atividades desenvolvidas ateacute ao momento presente se revelam jaacute

bastante positivos

Em primeiro lugar a anaacutelise dos textos produzidos pelos alunos cuja evoluccedilatildeo eacute

notoacuteria demonstra as potencialidades da abordagem da metodologia de trabalho de

projeto para promover aprendizagens significativas Os textos que escrevemos

surgiram porque necessitaacutevamos deles para prosseguir o roteiro proporcionando aos

discentes o contacto com uma variedade de geacuteneros textuais que ultrapassa os

previstos no programa de Portuguecircs do ensino secundaacuterio

Aleacutem disso na escola as atividades pedagoacutegicas relacionadas com a imagem

constituiacuteram formas de ldquoalfabetizaccedilatildeo visualrdquo ao permitirem aos alunos a

compreensatildeo e domiacutenio de uma linguagem com o seu sistema proacuteprio de

representaccedilatildeo utilizada como elemento de comunicaccedilatildeo afinal a linguagem com a

qual eles mais se defrontam no seu dia a dia fora da escola da qual gostam e a qual

procuram para se expressarem Acreditamos que eacute preciso ensinar a ver uma imagem

pois eacute importante interpretaacute-la nela descobrindo as suas conotaccedilotildees e as suas

potencialidades interpretativas assim como o essencial e o acessoacuterio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

181

Por outro lado e aproveitando os ensinamentos da investigaccedilatildeo temos criado

momentos reais de escrita nos quais os contextos entendidos como situaccedilatildeo

comunicativa (quem escreve a quem escreve com que intenccedilatildeo o faz) e como espaccedilo

social se sobrepotildeem Comeccedilamos a compreender como os alunos constroem o seu

saber sobre a liacutengua atraveacutes de situaccedilotildees que lhes permitam relacionar os conteuacutedos

da aprendizagem com as atividades de produccedilatildeo e de compreensatildeo em contextos que

lhes datildeo sentido respeitando o seu estaacutedio de desenvolvimento linguiacutestico cognitivo e

emocional Todo este trabalho tem sido facilitado pela uso do portefoacutelio de

aprendizagem

Ao mesmo tempo temos registado uma preocupaccedilatildeo em respeitar os conteuacutedos

processuais no momento de produccedilatildeo escrita com reflexos transversais noutras

disciplinas

Tambeacutem o empenhamento destes tem sido notoacuterio pois sentem jaacute o projeto como

seu indo ao encontro dos seus interesses e necessidades mobilizando diversos

saberes adequados a uma situaccedilatildeo concreta e implicando um fazer que se desenrola

no tempo sempre aberto agrave transformaccedilatildeo agrave descoberta agraves ideias novas e agrave resoluccedilatildeo

de problemas imprevistos apresentando-se como cenaacuterio ideal de uma verdadeira

aprendizagem laquoEsta dimensatildeo de reflexatildeo alarga o relacionamento do indiviacuteduo com

os textos escritos constituindo-os como objetos de descoberta e de projeccedilatildeo para

novas possibilidades a partir das experiecircncias do sujeitoraquo (BARBEIRO 20063)

Sabendo ainda que a motivaccedilatildeo individual e os objetivos que cada aluno se propotildee

atingir com determinada atividade de escrita satildeo determinantes no sentido a atribuir-

lhe na metodologia de trabalho de projeto que nos tem servido de orientaccedilatildeo na

nossa investigaccedilatildeo tecircm sido concebidas situaccedilotildees de aprendizagem escolar da

composiccedilatildeo escrita relacionadas tambeacutem com os conteuacutedos curriculares e as suas

finalidades com significado na relaccedilatildeo com o todo atraveacutes das interaccedilotildees verbais das

pessoas que partilham um mesmo contexto de comunicaccedilatildeo aprendendo a conhecer

e a participar na complexa realidade social na qual se constroem como pessoas Eacute

nesta dinacircmica que os geacuteneros discursivos tecircm sido convocados e trabalhados

detalhadamente em sequecircncias didaacuteticas planificadas permitindo a entrada noutras

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

182

aacutereas do conhecimento na construccedilatildeo de uma interdisciplinaridade de saberes e de

uma transversalidade da escrita afinal tatildeo desejadas neste niacutevel de ensino Como

afirma Anna Camps (200523-24) laquo[a] linha de investigaccedilatildeo sobre o ensino da

composiccedilatildeo escrita a partir de sequecircncias didaacuteticas baseadas em projetos tem

permitido avanccedilar na anaacutelise dos dois processos o de composiccedilatildeo textual que tem os

seus proacuteprios objetivos na dinacircmica da comunicaccedilatildeo verbal e o de ensino e

aprendizagem dos procedimentos e dos conteuacutedos linguiacutestico-discursivos do geacutenero

sobre o qual se trabalharaquo

Por outro lado na avaliaccedilatildeo do portefoacutelio temos seguido o modelo construtivista da

aprendizagem damos agrave avaliaccedilatildeo formativa uma funccedilatildeo de regulaccedilatildeo quer da

pedagogia quer das atitudes e procedimentos dos alunos face agraves suas aprendizagens

aceitamos o erro como processo de formaccedilatildeo enquadramos a avaliaccedilatildeo nas atividades

de aprendizagem em situaccedilotildees reais e indispensaacuteveis ao prosseguimento da realizaccedilatildeo

do roteiro paisagiacutestico praticamos uma avaliaccedilatildeo autecircntica ao monitorizarmos a

produccedilatildeo do discente integramos sistematicamente a praacutetica da autoavaliaccedilatildeo e

coavaliaccedilatildeo privilegiando uma avaliaccedilatildeo mais qualitativa que quantitativa motivando

continuamente o aluno a avanccedilar no seu processo (individual) de aprendizagem da

competecircncia da escrita e cujo talento acaba por demonstrar porque a escrita aprende-

se escrevendo Pensamos que esta eacute a melhor forma de obtermos a motivaccedilatildeo e o

sucesso de uma aprendizagem da escrita autecircntica e significativa para o aluno

Segundo Conceiccedilatildeo Coelho (200352) laquoUma pedagogia da escrita soacute promoveraacute o

sucesso se o aluno desempenhar continuamente um papel ativo em todos os

momentos do processo sobretudo e tambeacutem na revisatildeo textual que deve ser

entendida como um aperfeiccediloamento sistemaacutetico na praacutetica pedagoacutegicaraquo

Finalmente o desenvolvimento deste projeto tem permitido a abordagem do conceito

pleno de ldquoliteracyrdquo de conteuacutedos de forma apelativa e facilitado a compreensatildeo e a

aquisiccedilatildeo de conhecimentos a capacidade criacutetica o enriquecimento do pensamento a

intensificaccedilatildeo das emoccedilotildees a estimulaccedilatildeo do sonho da imaginaccedilatildeo e da criatividade

Simultaneamente registamos a participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo dos alunos cuja

socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo na comunidade local e nacional aparecem mais facilitadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

183

devido agrave compreensatildeo do mundo que os rodeia porque defendemos uma escola

atualizada e interessante com alunos ativos que interagem entre si e com o professor

em aulas necessariamente mais dinacircmicas

Perspetivada como contributo na construccedilatildeo de uma didaacutetica eficaz da escrita com

vista ao cumprimento da funccedilatildeo e da responsabilidade exclusiva da escola - o ensino

desta competecircncia da qual nenhum professor se deveria alhear pois soacute a ele compete

reservando um espaccedilo para a escrita - temos delineado a nossa investigaccedilatildeo na busca

de soluccedilotildees para os obstaacuteculos relativos agrave incapacidade de conciliaccedilatildeo dos conteuacutedos

programaacuteticos previstos para a disciplina de Portuguecircs no ensino secundaacuterio com a

carga horaacuteria semanal a ela atribuiacuteda e com a tarefa exigida de ldquorecuperaccedilatildeordquo e de

ldquoremediaccedilatildeordquo de aprendizagens linguiacutesticas ldquoincompletasrdquo ou mal sucedidas

anteriormente natildeo descurando o interesse do aluno e o exame que o aguarda no final

deste ciclo Acreditamos que eacute possiacutevel ensinar e aprender a escrever neste niacutevel de

ensino respeitando o estipulado no programa oficial praticando nas aulas de

Portuguecircs a escrita como atividade segundo criteacuterios e frequecircncia determinados pelo

cumprimento de um projeto participado e condicionado por uma variedade de fatores

especiacuteficos desta modalidade de trabalho Com ele achamos que eacute possiacutevel propor

uma intervenccedilatildeo que se revele mais eficaz no domiacutenio da escrita integrando todos os

conhecimentos e competecircncias interligadas e relativas ao funcionamento e agrave produccedilatildeo

do escrito para aleacutem das operaccedilotildees cognitivas numa tentativa de explicitar os

procedimentos a adotar que natildeo se confinam agraves praacuteticas corretivas ndash tantas vezes

fluidas feitas de forma empiacuterica reforccedilando a ideia errada de que a avaliaccedilatildeo dos

escritos eacute em Portuguecircs muito subjetiva - antes tecircm passado pelo ensino processual

da escrita conducente agrave sua real aprendizagem associado sempre agrave motivaccedilatildeo do

aluno e agraves aprendizagens anteriores

Encontrar uma resposta a questotildees como esta representaraacute um modesto contributo

na construccedilatildeo de uma verdadeira didaacutetica da escrita na aula de Portuguecircs do ensino

secundaacuterio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

184

Referecircncias bibliograacuteficas

BARBEIRO Luiacutes (2006) Processo e produtos de escrita no desenvolvimento de projectos Disponiacutevel em lthttpalmadaformaorgproformarrevistaedicao_15proc_escr_desen_projectospdfgt [Consulta realizada em 18082011] BARBEIRO Luiacutes (2007) A escrita no trabalho de projecto construccedilatildeo de conhecimento e eventos de literacia Disponiacutevel em lthttpsedllorgesadminuploadscongresos12act21Barbeiro_Lgt [Consulta realizada em 18082011] CAMPS Anna (2005) ldquoPontos de vista sobre o ensino-aprendizagem da expressatildeo escritardquoIn Joseacute A Brandatildeo Carvalho et alii (Org) (2005) A escrita na Escola Hoje Problemas e Desafios Atas do II Encontro de reflexatildeo sobre o ensino da escrita Universidade do Minho Instituto de Educaccedilatildeo e Psicologia pp 11-26 CARVALHO Joseacute A Brandatildeo (1999) ndash O ensino da escrita Da teoria agraves praacuteticas pedagoacutegicas Universidade do Minho Instituto de Educaccedilatildeo e Psicologia pp 11-26 CARVALHO Joseacute A Brandatildeo (2011) ldquoA Escrita como objeto escolar ndash contributo para a sua (re)configuraccedilatildeordquo In Isabel Duarte amp Oliacutevia Figueiredo (Orgs) Portuguecircs Liacutengua e Ensino Porto U Porto Editorial pp76-105 COELHO Conceiccedilatildeo e Campos Joana (2003) Como abordarhellipO Portfolio na sala de aula Porto Areal Editores MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO (2001) Programa de Portuguecircs 10ordm 11ordm e 12ordm anos Cursos Cientiacutefico- Humaniacutesticos e Cursos Tecnoloacutegicos Lisboa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Departamento do Ensino Secundaacuterio NIZA Seacutergio (2007) ldquoPrefaacuteciordquo In Inaacutecia Santana (2007) A aprendizagem da escrita Estudo sobre a revisatildeo cooperada de texto Porto Porto Editora 2007 p13-6

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

185

Relatoacuterio de Estaacutegio Que desafios(s) para a avaliaccedilatildeo das

aprendizagens Uma anaacutelise a partir de um Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar numa Escola Superior de Educaccedilatildeo

ANA SIMOtildeES

Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

anasimoeseselxiplpt

Resumo A formaccedilatildeo profissional nomeadamente a formaccedilatildeo profissionalizante (2ordmCiclo de

Estudos no acircmbito de Bolonha) tem vindo a ser alvo de discussatildeo entre as diferentes

aacutereas do conhecimento nomeadamente no que respeita agraves possiacuteveis metodologias de

avaliaccedilatildeo a adotar (praacuteticas profissionais supervisionadas elaboraccedilatildeo de portefoacutelios

individuais realizaccedilatildeo de trabalhos de grupo com acompanhamento tutorial redaccedilatildeo

de Relatoacuterios de Estaacutegio entre outras)

A presente comunicaccedilatildeo tem como principal objetivo discutir e analisar as conceccedilotildees

dos educadores de infacircncia receacutem-formados acerca da educaccedilatildeo de infacircncia e das

aprendizagens realizadas no acircmbito da Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

atraveacutes da anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio elaborados no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar de uma escola superior de educaccedilatildeo especificamente os que

dizem respeito a um grupo de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 2011-2012 e

2012-2013 Nesta anaacutelise seratildeo privilegiados os seguintes eixos i) a caracterizaccedilatildeo

reflexiva do contexto socioeducativo ii) a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo iii) as

consideraccedilotildees finais realizadas Pretende-se a partir desta anaacutelise identificar e

compreender os potenciais desafios (que elementos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo Como

caracterizar de forma reflexiva um determinado contexto socioeducativo) trazidos

ao processo de avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos mestrandos do curso em questatildeo

O quadro teoacuterico de referecircncia centra-se numa revisatildeo de literatura sobre a formaccedilatildeo

profissional dos educadores de infacircncia e sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos

adultos

A metodologia utilizada de natureza qualitativa inclui anaacutelise documental (objetivos

do curso perfil profissional de saiacuteda guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de

Estaacutegio) e a subsequente anaacutelise de conteuacutedo Os resultados obtidos apontam para as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

186

seguintes conclusotildees se por um lado todos (12) os mestrandos do estudo seguiram

escrupulosamente o guiatildeo fornecido pela equipa de docentes da Praacutetica Profissional

Supervisionada para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de Estaacutegio por outro lado e no que se

relaciona com a caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo a anaacutelise reflexiva

da intervenccedilatildeo e as consideraccedilotildees finais realizadas constata-se que existem diferenccedilas

significativas na estrutura organizativa do discurso escrito na escolha do quadro

teoacuterico de referecircncia bem como nas reflexotildees pessoais realizadas Enquanto que os

mestrandos (5) do ano letivo 2010-2011 demonstram ter optado por construir um

quadro teoacuterico de referecircncia ancorado preferencialmente por referecircncias

bibliograacuteficas relacionadas com a Educaccedilatildeo de Infacircncia e facultadas pela equipa de

docentes do mestrado em estudo os mestrandos do ano letivo 2011-2012 (3) optaram

por recorrer a um quadro teoacuterico de referecircncia mais alargado e abrangente no qual se

pode verificar tambeacutem a existecircncia de uma consulta e anaacutelise documental frequente

sobre a legislaccedilatildeo em vigor para o acircmbito da Educaccedilatildeo de Infacircncia Por sua vez os

mestrandos que terminaram a sua formaccedilatildeo no ano letivo 2012-2013 (4)

demonstraram na elaboraccedilatildeo dos seus relatoacuterios de estaacutegio uma preocupaccedilatildeo e

intenccedilatildeo claras em dar resposta a todas as questotildees colocadas fazendo emergir

algumas questotildees de fundo 1) por que razatildeo os relatoacuterios de estaacutegio analisados

apresentam diferenccedilas significativas nas aprendizagens realizadas pelos mestrandos

em estudo 2) Quais as possiacuteveis razotildees para estas diferenccedilas 3) Que aprendizagens

realizaram estes mestrandos e quais foram as mais significativas Estes satildeo alguns dos

possiacuteveis desafios colocados agrave avaliaccedilatildeo das aprendizagens

Palavras-chave Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-escolar Relatoacuterios de Estaacutegio Avaliaccedilatildeo

das Aprendizagens

Abstract

Vocational training including professional qualification (within the second cycle of the

Bologna Process) has been the subject of discussions between different areas of

knowledge Attention has been specially paid to possible evaluation methodologies

(mentoring of professional practices preparation of individual portfolios conducting

group work with tutorial guidance writing Apprenticeship Reports among others)

The main goal of the present work is to analyse the Apprenticeship Reports made

during a second cycle program in Master in Preschool Education of the Higher School

of Education A convenience sample of reports written by students of academic years

2010-2011 2011-2012 and from 2012-2013 is considered In this analysis the

following will be privileged axes i) the reflective characterization of the educational

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

187

context ii) the reflective analysis of their own teaching practices iii) the contents of

the final remarks It is intended therefore to understand and analyse the potential

challenges brought to the process of assessment of these studentsrsquo learning

The theoretical framework focuses on a literature review on training of early childhood

educators (Cardona 2002 Moita 2012 and Vasconcelos 2009 2012) and on

assessment of adultsrsquo learning (Danis amp Solar 2001 and Fernandes 2008) A qualitative

methodology was used including document analysis (course objectives expected

professional profile guidelines for writing the apprenticeship report) and subsequent

content analysis

The results achieved point to the following conclusions if on the one hand all (12) the

students of the study followed precisely the script provided by the team of teachers

on the other side and in what relates to the characterization of the reflective

educational context a reflective analysis of the intervention and the final

considerations carried out noted that there are significant differences in organizational

structure of speech writing in the choice of theoretical framework of reference as well

as on personal reflections While the master students (5) of the school year 2010-2011

show to build a theoretical framework for bibliographic references related to

childhood and education provided by the team of teachers of the master in study

students of the school year 2011-2012 (3) opted for a wider theoretical framework of

reference which we can also check the existence of a query and documental analysis

on legislation regarding childhood education In turn students who have completed

their training in the academic year 2012-2013 (4) demonstrate in the preparation of

their reports to internship a concern and a clear intent in responding to all the

questions subjected and triggering some substantive issues 1) Why the internship

reports analysed have significant differences in the accomplished learning undertaken

by graduate students in study 2) What are the possible reasons for these differences

3) What did the masters learned and what was the most significant subject These are

some of the possible challenges to the evaluation of learning

Keywords Masters Degree in Preschool Education Apprenticeship Report

assessment of learning

Introduccedilatildeo

Esta comunicaccedilatildeo tem como principal objetivo discutir e analisar as conceccedilotildees dos

educadores de infacircncia receacutem-formados acerca da educaccedilatildeo de infacircncia e das

aprendizagens realizadas no acircmbito da Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

188

atraveacutes da anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio elaborados no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar de uma escola superior de educaccedilatildeo especificamente os que

dizem respeito a um grupo de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 2011-2012 e

2012-2013

O quadro teoacuterico de referecircncia centra-se numa revisatildeo de literatura sobre a formaccedilatildeo

profissional dos educadores de infacircncia (Cardona 2002 Moita 2012 Vasconcelos

2009) e sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos adultos (Danis amp Solar 2001

Fernandes 2008)

A formaccedilatildeo profissional nomeadamente a formaccedilatildeo profissionalizante (2ordmCiclo de

Estudos no acircmbito de Bolonha) tem vindo a ser alvo de discussatildeo entre as diferentes

aacutereas do conhecimento nomeadamente no que respeita agraves possiacuteveis metodologias de

avaliaccedilatildeo a adotar (praacuteticas profissionais supervisionadas elaboraccedilatildeo de portefoacutelios

individuais realizaccedilatildeo de trabalhos de grupo com acompanhamento tutorial redaccedilatildeo

de Relatoacuterios de Estaacutegio entre outras)

A formaccedilatildeo profissional dos educadores de infacircncia ministrada nas escolas superiores

de educaccedilatildeo (puacuteblicas e privadas) portuguesas tem vindo a sofrer uma evoluccedilatildeo

significativa no que se relaciona com a avaliaccedilatildeo das aprendizagens (processos

criteacuterios elementos) dos seus alunosmestrandos (jovens adultos) Nesse sentido um

dos elementos de avaliaccedilatildeo privilegiado nos mestrados profissionalizantes eacute a

elaboraccedilatildeo de um Relatoacuterio de Estaacutegio que deveraacute ilustrar todo o processo da praacutetica

pedagoacutegica vivida por cada alunomestrando

No que se refere ao Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e a uma reflexatildeo mais

aprofundada sobre a Educaccedilatildeo de Infacircncia considerada por Cardona (200223) como

ldquotoda a contribuiccedilatildeo direta ou indireta para o bem-estar das crianccedilasrdquo os mestrandos

satildeo convocados a refletir sobre as suas praacuteticas pedagoacutegicas a partir de um referencial

teoacuterico no campo da Educaccedilatildeo de Infacircncia A esse propoacutesito e no acircmbito da formaccedilatildeo

profissional Vasconcelos (2009) afirma que se passou de uma visatildeo assistencialista

(relacional) para uma visatildeo educativa e pedagoacutegica (desenvolvimento socioemocional

das crianccedilas) e que por essa razatildeo a reflexatildeo sobre a praacutetica profissional na formaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

189

de educadores de infacircncia eacute fundamental para a melhoria da qualidade das praacuteticas

pedagoacutegicas desejando-se de forma exigente e cada vez mais atingir a excelecircncia

Moita (201245) reitera que ldquoa educaccedilatildeo eacute uma ocupaccedilatildeo eacuteticardquo e defende uma Eacutetica

na formaccedilatildeo profissional dos educadores de infacircncia que corresponde ao ldquolugar por

excelecircncia das decisotildees pessoais que fundamentam e conferem sentido ao agirrdquo agrave

ldquoresponsabilidade em relaccedilatildeo ao outrordquo (Moita 201231-32)

Mas que outro eacute este Eacute a crianccedila com quem se interveacutem eacute a famiacutelia dessa crianccedila eacute

a equipa na qual se estaacute integrado(a) satildeo todos os que interagem direta eou

indiretamente com cada profissional da infacircncia

Segundo Danis (2001) o adulto que estaacute em processo de formaccedilatildeo

profissionalprofissionalizante estaacute em constante aprendizagem num processo de

desenvolvimento pessoal e profissional atraveacutes da descoberta do sentido profundo

dos acontecimentos experienciais (experiecircncias vividas) que satildeo integrados no seu

pensamento a partir de uma tomada de consciecircncia pessoal Com efeito satildeo estas

experiecircncias pessoais e profissionais aliadas a uma atitude reflexiva e eticamente

situada que permitem realizar aprendizagens e avaliar as mesmas Para Fernandes

(2008) a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos adultos visa a melhoria das proacuteprias

aprendizagens sustentada por trecircs razotildees o desenvolvimento das teorias do

desenvolvimento e da aprendizagem o desenvolvimento das teorias do curriacuteculo e a

democratizaccedilatildeo dos sistemas educativos

Metodologia um estudo preliminar

A metodologia utilizada de natureza qualitativa inclui anaacutelise documental (objetivos

do curso perfil profissional de saiacuteda guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de

Estaacutegio) da escola superior de educaccedilatildeo em estudo e a subsequente anaacutelise de

conteuacutedo De um universo de cerca de 60 mestrandosano letivo foram analisados os

Relatoacuterios de Estaacutegio de um grupo (12) de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 (5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

190

2011-2012 (3) e 2012-2013 (4)32 Trata-se portanto de um estudo preliminar Na

anaacutelise realizada foram privilegiados os seguintes eixos i) a caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo ii) a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo iii) as consideraccedilotildees

finais realizadas Pretende-se a partir desta anaacutelise identificar e analisar os potenciais

desafios trazidos ao processo de avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos mestrandos do curso

em questatildeo

Seguidamente far-se-aacute uma breve apresentaccedilatildeo de um Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar ministrado numa Escola Superior de Educaccedilatildeo puacuteblica portuguesa a escola em

estudo nesta comunicaccedilatildeo

O MEPE da Escola Superior de Educaccedilatildeo em anaacutelise ldquo (hellip) confere habilitaccedilatildeo

profissional para a docecircncia na Educaccedilatildeo Preacute-Escolar possibilita uma qualificaccedilatildeo

sustentada por praacuteticas de ensino supervisionadas em contextos educativos nos niacuteveis

de ensino para que habilita assumindo como referecircncia os perfis de desempenho

docente e os planos curriculares da educaccedilatildeo baacutesicardquo Tem como principal objetivo ldquo

(hellip) capacitar profissionais para o desempenho de funccedilotildees docentes em creche e

jardim-de-infacircncia Prepara ainda para o desempenho de funccedilotildees educativas em ATL

e em outros contextos socioeducativos para a infacircnciardquo (Fonte

wwweselxiplptmestradosmepeindexhtml)

No que se refere ao perfil profissional de saiacuteda o MEPE defende que no final do curso

os estudantes deveratildeo ser capazes de ldquointegrar-se e relacionar-se de forma positiva

com as equipas os educadores cooperantes crianccedilas e suas famiacutelias (hellip) construir um

modelo pessoal de intervenccedilatildeo educativa reflectido e fundamentado e (hellip)

implementar abordagens investigativas como motor essencial das mudanccedilas das

praacuteticas pedagoacutegicasrdquo (Fonte httpwwweselxiplptmestradosmepeindexhtml)

32

Nota da autora a opccedilatildeo por analisar os relatoacuterios de Estaacutegio deste grupo de mestrandos (12) e natildeo de outros mestrandos deveu-se ao facto do acesso a estes documentos ter sido privilegiado (acesso em tempo uacutetil)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

191

Relatoacuterios de Estaacutegio33 que desafio(s) para a avaliaccedilatildeo das aprendizagens Uma

anaacutelise preliminar

O Relatoacuterio de Estaacutegio eacute um dos elementos de avaliaccedilatildeo da unidade curricular Praacutetica

Profissional Supervisionada (PPS) que integra o Plano de Estudos do MEPE da escola

superior de educaccedilatildeo em anaacutelise (consultar Quadro 1 Plano de Estudos do MEPE (2

semestres)

Quadro 1 Plano de Estudos do MEPE (2 semestres)

Unidades Curriculares Aacuterea Cientiacutefica Tipo

Organizaccedilatildeo e Desenvolvimento na Educaccedilatildeo de Infacircncia (0-6)

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Desenvolvimento e Aprendizagem (0-6)

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Necessidades Educativas Especiais e Intervenccedilatildeo Precoce

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Matemaacutetica em Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Liacutengua Portuguesa em Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Conhecimento do Mundo e Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Expressotildees e Educaccedilatildeo Fiacutesica Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Administraccedilatildeo e Gestatildeo Educacional

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Projetos Curriculares Integrados Educaccedilatildeo Geral Semestral

Seminaacuterio de Apoio agrave Praacutetica Profissional Supervisionada (0-3

e 3-6)

Educaccedilatildeo Geral Anual

Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS) (0-3 e 3-6)

PPS Anual

Fonte Adaptado de

httpwwweselxiplpteselxdownloadsSAcademicosMestrados2012_13plano_pre_escolarpdf

33

Nota da autora Ao fazer-se referecircncia ao Estaacutegio na Escola Superior de Educaccedilatildeo em anaacutelise utiliza-se a expressatildeo Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

192

No que respeita aos Relatoacuterios de Estaacutegio dos 12 mestrandos o Quadro 2 apresenta a

caracterizaccedilatildeo de cada mestrando por geacutenero e ano letivo a que pertenceram na

escola de formaccedilatildeo

Quadro 2 Caracterizaccedilatildeo dos mestrandos (geacutenero e ano letivo)

Mestrando (M)

Geacutenero (MF)

2010-2011 2011-2012 2012-2013

M1 (F) X

M2 (F) X

M3 (M) X

M4 (F) X

M5 (M) X

M6 (F) X

M7 (F) X

M8 (F) X

M9 (F) X

M10 (F) X

M11 (F) X

M12 (F) X

No que se refere aos trecircs eixos de anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio (Quadro 3)

apresentam-se alguns subpontos que se consideraram na discussatildeo e anaacutelise dos

resultados obtidos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

193

Quadro 3 Os trecircs eixos de anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio

1 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo

2 Anaacutelise reflexiva da

intervenccedilatildeo

3 Consideraccedilotildees finais

realizadas

11 Caracterizaccedilatildeo para a accedilatildeo 21 Identificaccedilatildeo e

fundamentaccedilatildeo das intenccedilotildees

para a accedilatildeo pedagoacutegica

31 Caracterizaccedilatildeo do impacto

da intervenccedilatildeo

12 Siacutentese global e articulaccedilatildeo

de pontos convergentes e

explicitaccedilatildeo de especificidades

22 Identificaccedilatildeo da

problemaacutetica (que justifica o

tiacutetulo do Relatoacuterio a partir do

ano letivo 2011-2012)

32 Reflexatildeo sobre a construccedilatildeo

da identidade profissional

Fonte Guiatildeo para a elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio da Praacutetica Profissional Supervisionada

Discussatildeo e anaacutelise dos resultados

O Quadro 4 apresenta os resultados obtidos no que diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo

reflexiva do contexto socioeducativo realizada por cada mestrando organizada por

anos letivos (consultar Quadro 4 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo

(SimNatildeo)

Quadro 4 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo (SimNatildeo)

Mestrando

(M)

Ano letivo

2010-2011 2011-2012 2012-2013

M1 Sim com referecircncias teoacutericas

expliacutecitas e pertinentes

M2 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M3 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M4 Sim com referecircncias teoacutericas

expliacutecitas e pertinentes

M5 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M6 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

194

M7 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

M8 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

M9 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M10 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M11 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M12 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco adequadas

No que diretamente se relaciona com o eixo de anaacutelise 1 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo pode verificar-se que todos (12) os mestrandos

caracterizaram de forma mais ou menos reflexiva os contextos socioeducativos nos

quais decorreram as suas praacuteticas profissionais supervisionadas sendo que a M2 o

M3 o M5 a M6 a M7 M8 e M12 fizeram-no mas com base em referecircncias teoacutericas

pouco adequadas A tiacutetulo de exemplo apresentam-se aqui alguns excertos dos

relatoacuterios analisados ldquoRelativamente aos materiais existe variedade de recursos natildeo

soacute em quantidade mas tambeacutem em relaccedilatildeo a diferentes intencionalidades O

conhecimento dos mesmos eacute importante para a praacutetica uma vez que permite

proporcionar diferentes experiecircncias agraves crianccedilasrdquo (M2)

ldquoNo que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico do Jardim-de-Infacircncia algumas das estrutura

fiacutesicas da instituiccedilatildeo encontram-se degradadas pela antiguidade da instituiccedilatildeo (hellip)

As paredes da sala que dividem a sustentaccedilatildeo do preacutedio dividem a sala ao meio

retirando visibilidade aos adultos da sala e condicionando a realizaccedilatildeo de actividades

que envolvam a utilizaccedilatildeo de uma aacuterea mais alargadardquo (M5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

195

A M12 afirma que

ldquoNo que se refere agraves estruturas e aos materiais (hellip) existem algumas discrepacircncias

nas duas instituiccedilotildees sendo que o Coleacutegio do Monte apresenta um maior nuacutemero de

materiais de qualidade com estruturas para os manter de forma organizada sendo

que o JI Arco Redondo tem tambeacutem vaacuterios materiais no entanto apresentam

alguma falta de manutenccedilatildeo assim como estruturas para arrumaccedilatildeo dos mesmos

Estes aspetos traduzem-se na qualidade das oportunidades de aprendizagem das

crianccedilasrdquo (M6) ldquoA relaccedilatildeo entre a equipa educativa primava pelo diaacutelogo aberto

ambas as equipas dos contextos partilhavam as informaccedilotildees relevantes relativas agraves

crianccedilas da sala e todas as decisotildees erma tomadas em conjuntordquo (M12)

A M10 a propoacutesito da caracterizaccedilatildeo dos meios onde estatildeo inseridos os contextos

socioeducativos afirmou ldquoConsciente da importacircncia de caraterizar o meio

envolvente uma vez que ldquopara compreender os processos sociais que estruturam e

satildeo estruturados pelas crianccedilas enquanto actores nas acccedilotildees sociais que desenvolvem

e em que se envolvem no contexto educativo de um JI situo-me no laquoantesraquo (Ferreira

2004 p67)rdquo (M10) por sua vez A M9 a propoacutesito das famiacutelias das crianccedilas reiterou

que

ldquoFerreira (2004) alerta para a importacircncia de termos presente que ldquo (hellip) as crianccedilas

quando chegam agrave porta do JI natildeo satildeo seres ocos associais ou desprovidos de histoacuteria

(hellip) satildeo portadores de uma cultura que se revela no modo como se exprimem nas

situaccedilotildees sociaisrdquo torna-se assim imprescindiacutevel caracterizar as famiacutelias para que

possa valorizar as vivecircncias e os valores familiares de cada crianccedilardquo (M9)

A M11 defendeu que ldquo(hellip) cada contexto socioeducativo tem especificidades

organizacionais e culturais muito proacuteprias estas devem ser compreendidas pelo

educador de modo a encontrar uma resposta educativa adequada agravequele contexto

especiacutefico Numa perspetiva sisteacutemica e ecoloacutegica do desenvolvimento defendida por

Broffenbrenner isto eacute o meio eacute ldquoconstituiacutedo por diferentes sistemas que

desempenham funccedilotildees especiacuteficas e que estando em interconexatildeo se apresentam

como dinacircmicos e em evoluccedilatildeohelliprdquo (OCEPE 1997 p32) influencia profundamente a

crianccedilardquo (M11) Sobre a relaccedilatildeo existente entre a equipa educativa a M12 afirmou

que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

196

ldquo (hellip) A relaccedilatildeo existente primava pelo diaacutelogo aberto ambas partilhavam as

informaccedilotildees relevantes relativas agraves crianccedilas da sala e todas as decisotildees eram

tomadas em conjunto bem como a definiccedilatildeo e a organizaccedilatildeo das propostas

educativas a desenvolver com o grupo No que diz respeito agraves tarefas relativas aos

cuidados quotidianos das crianccedilas tambeacutem essas eram partilhadas Assim o clima de

interaccedilotildees eacute caracterizado pelo respeito cooperaccedilatildeo e entreajuda no qual tambeacutem

eu me integrei e me identifiqueirdquo (M12)

No que concerne agrave anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo apresentam-se de seguida os

resultados obtidos com a informaccedilatildeo sistematizada por ano letivo (Consultar quadros

5 6 e 7)

Quadro 5 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (a)

Mestrando (M) 2010-2011

M1 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pertinente e com exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M2 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M3 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M4 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pertinente e com exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M5 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Poder-se-aacute constatar pela anaacutelise do quadro apresentado que todos (5) os

mestrandos do ano letivo 2010-2011 identificaram e fundamentaram as suas intenccedilotildees

pedagoacutegicas apesar de uns (M2 M3 e M5) o terem feito de forma pouco pertinente

mobilizando com pouca frequecircncia os exemplos das suas praacuteticas pedagoacutegicas A

tiacutetulo de exemplo apresentam-se de seguida alguns excertos dos relatoacuterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

197

analisados ldquoAo longo da minha praacutetica privilegiei os interesses das crianccedilas realizando

actividades que fossem ao encontro dos mesmosrdquo (M2) ldquoAo longo da minha praacutetica

(hellip) acompanhei todos os momentos o acolhimento das crianccedilas] momento em que

interagia com os pais de forma a passar-lhes alguma tranquilidade em relaccedilatildeo agrave minha

presenccedila na sala efectuava a higiene das crianccedilas sendo esse um excelente momento

de interaccedilatildeo com as mesmasrdquo (M3) Jaacute a M5 afirmou o seguinte

ldquoTanto em Creche como em Jardim-de-Infacircncia penso que me apropriei

adequadamente agraves rotinas diaacuterias das crianccedilas Na Creche a minha intervenccedilatildeo

iniciou-se sobretudo atraveacutes da leitura de histoacuterias agraves crianccedilas No contexto de

Jardim-de-Infacircncia fui dirigindo de forma gradual vaacuterios momentos diaacuterios das

crianccedilas como a marcaccedilatildeo das presenccedilas ou as transiccedilotildees sala-refeitoacuteriordquo (M5)

Quadro 6 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (b)

Mestrando (M) 2011-2012

M6 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

M7 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

M8 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

As mestrandas do ano letivo 2011-2012 (ano letivo em que foi introduzida a

identificaccedilatildeo de uma problemaacutetica que justificasse o tiacutetulo do Relatoacuterio) identificaram

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

198

e fundamentaram as suas intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica e identificaram tambeacutem

a problemaacutetica que justificou o tiacutetulo do Relatoacuterio34 Natildeo obstante as referecircncias

teoacutericas mobilizadas demonstraram ser escassas e pouco adequadas A M6 identificou

as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma pouco frequente e pouco consistente

ldquoUma das minhas preocupaccedilotildees constantes prendeu-se com o facto de querer dar

continuidade aos objetivos e propostas das educadoras cooperantes [natildeo explicita]

(hellip) Durante os processos interventivos fiz-me valer do curriacuteculo HighScope e das

OCEPE para enriquecer e adequar as minhas propostas agraves diferentes valecircnciasrdquo (M6)

a M7 a propoacutesito da fundamentaccedilatildeo teoacuterica da problemaacutetica ldquoA importacircncia do

registo escrito no Jardim de Infacircncia uma reflexatildeordquo afirmou

ldquoOutro aspeto relevante para esta reflexatildeo vai ao encontro da grande maioria das

crianccedilas de quatro a cinco anos conhecer as letras sendo esta outra ldquocompetecircncia

importante para a literaciardquo pois o conhecimento das competecircncias letra-som em

particular do nome das letras eacute um bom preditor de sucesso (hellip) da aprendizagem da

leitura e da escrita (Whitehurst amp Lonigan 2001 cit in Leal et al 2006) ldquo (M7)

Por seu lado a M8 defendeu que ldquo (hellip) As minhas intencionalidades educativas em

ambos os contextos recaiacuteam sobre o promover a seguranccedila e a autonomia das

crianccedilas envolver as mesmas em actividades que partissem dos interesses delas

envolvendo-as numa praacutetica de aprendizagem ativa (Post amp Hohman 2007) Recorde-

se que esta mestranda desenvolveu a sua Praacutetica Profissional Supervisionada numa

instituiccedilatildeo cooperante que se encontrava em fase de implementaccedilatildeo do Movimento

da Escola Moderna e que a escolha da mestranda para a problemaacutetica a estudar foi ldquoO

Movimento da Escola Moderna Portuguesa Um novo caminho para a accedilatildeo

pedagoacutegicardquo

O quadro 7 (Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (c) apresenta os dados relativos agraves

mestrandas do ano letivo 2012-2013

34

Nota da autora apresentam-se a tiacutetulo de curiosidade os tiacutetulos dos Relatoacuterios dos mestrandos (2011-2012) M6 ldquoAs Ciecircncias Naturais no Jardim de Infacircncia um relatordquo M7 ldquoA importacircncia do registo escrito no Jardim de Infacircncia uma reflexatildeordquo M8 ldquoO Movimento da Escola Moderna Portuguesa Um novo caminho para a accedilatildeo pedagoacutegicardquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

199

Quadro 7 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (c)

Mestrando

(M)

2012-2013

M9 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M10 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M11 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M12 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma pouco

frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica pedagoacutegica

(Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com referecircncias

teoacutericas escassas e pouco adequadas

As mestrandas do ano letivo 2012-2013 identificaram e fundamentaram as suas

intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica e identificaram tambeacutem a problemaacutetica que

justificou o tiacutetulo do Relatoacuterio35 Todas (4) revelaram ter mobilizado exemplos das suas

praacuteticas pedagoacutegicas Seguem-se alguns excertos dos relatoacuterios das mestrandas do ano

letivo 2012-2013 ldquo (hellip) Posso afirmar que ao longo da minha intervenccedilatildeo pretendi ser

muito mais do que uma mera detentora e transmissora de sabres ou uma mediadora

de atividades indo ao encontro do conceito de adulto playmate conceito que surge na

obra de Portugal (2000) rdquo (M9) E apresenta de seguida uma nota de campo em

35

Apresentam-se os tiacutetulos dos Relatoacuterios dos mestrandos (2012-2013) M9 ldquoNo dia-a-dia dos afetos a importacircncia das interaccedilotildees na relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo M10 ldquoDar voz agraves vozes das crianccedilas na construccedilatildeo da praacutetica pedagoacutegicardquo M11 ldquoEscutar para planear a participaccedilatildeo das crianccedilas na planificaccedilatildeo pedagoacutegicardquo M12 ldquoA importacircncia da linguagem oral no Jardim de Infacircnciardquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

200

conformidade] A M10 por sua vez a propoacutesito da problemaacutetica que justifica o tiacutetulo

do Relatoacuterio afirma

ldquo (hellip) Eacute importante referir que adoto uma postura de respeito pelos direitos das

crianccedilas natildeo soacute por serem estas as posturas que as Educadoras Cooperantes

demonstraram ter mas tambeacutem porque acredito enquanto futura profissional que

as crianccedilas devem estar conscientes daquilo que podem (e devem) fazer no decorrer

da vida social promovendo assim o desenvolvimento do grupo sem esquecer o

desenvolvimento individual e o respeito pelos pares e pelos adultosrdquo (M10)

E justifica esta afirmaccedilatildeo com uma referecircncia teoacuterica consistente e contextualizada A

M11 reitera no acircmbito da problemaacutetica que identificou (ldquoEscutar para planear a

participaccedilatildeo das crianccedilas na planificaccedilatildeo pedagoacutegicardquo) que ldquo (hellip) poderemos dizer que

participar eacute agir em conformidade com as normas e as dinacircmicas existentes no

contexto no qual se estaacute inserido Neste trabalho vou considerar como participaccedilatildeo agrave

semelhanccedila de Tomaacutes (2007) ldquoa partilha de poderes entre adultos e crianccedilas (hellip) a

introduccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que permitam as crianccedilas participarrdquo (M11) Por

fim a M12 justifica o tiacutetulo do seu Relatoacuterio mas com referecircncias teoacutericas escassas e

pouco adequadas ldquo (hellip) Uma preocupaccedilatildeo constante que eu tinha era corrigir frases

mal construiacutedas pelas crianccedilas e ir alargando o seu vocabulaacuteriordquo (M12) Ilustra com

uma nota de campo mas natildeo discute esta questatildeo agrave luz de um referencial teoacuterico

pertinente

No que se refere agraves consideraccedilotildees finais realizadas em que cada mestrando deveria

apresentar a caracterizaccedilatildeo do impacto da sua intervenccedilatildeo e refletir sobre a

construccedilatildeo da identidade profissional apresentam-se de seguida alguns resultados

da anaacutelise realizada Assim a M1 a M2 e a M4 caracterizaram o impacto da

intervenccedilatildeo com atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo das aprendizagens realizadas

refletiram sobre a construccedilatildeo da identidade profissional com sentido eacutetico e

apresentaram os seus princiacutepios pedagoacutegicos ldquo (hellip) Uma das aprendizagens que

identifico como das mais relevantes foi o facto de ter desenvolvido trabalho de

projecto com as crianccedilas de Jardim-de-Infacircnciardquo (M1) e fundamenta teoricamente em

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

201

que consiste a Metodologia de Trabalho de Projeto+ ldquo (hellip) Ao longo das praacuteticas fui

adequando a minha intervenccedilatildeo de acordo com o que ia observando e reflectindo e

devido agraves sugestotildees das educadoras cooperantesrdquo (M2) ldquo (hellip) Considero que tudo que

aprendi ao longo das praacuteticas eacute relevante para a minha praacutetica profissionalrdquo (M4) A

M2 revelou uma ausecircncia de pensamento criacutetico e uma escassa fundamentaccedilatildeo

relativa agrave construccedilatildeo da sua identidade profissional bem como o M3 ldquo (hellip) Na

bagagem levo experiecircncias e vivecircncias que jamais irei esquecer bem como ldquopedaccedilosrdquo

de cada crianccedilardquo (M2) ldquo (hellip) Pretendi relacionar-me com as crianccedilas para favorecer a

sua seguranccedila e autonomia acontecendo com bastante frequecircncia no JI que as

crianccedilas me falavam sobre um determinado assunto e eu observava que o facto de

lhes dar atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave temaacutetica elas apresentavam-se animadasrdquo (M3) Por

sua vez o M5 natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo da sua identidade profissional e

caracterizou o impacto da sua intervenccedilatildeo de forma pouco reflexiva ldquoSatildeo as crianccedilas

que constroem o conhecimento aos adultos compete serem agentes que auxiliam e

proporcionam momentos em que as crianccedilas possam alcanccedilar esses conhecimentos

Assim toda a minha praacutetica profissional pedagoacutegica funcionou em torno das crianccedilas

das suas necessidades e potencialidadesfragilidadesrdquo (M5) A M6 caracterizou o

impacto da intervenccedilatildeo com atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo das aprendizagens

realizadas e refletiu sobre a construccedilatildeo da identidade profissional mas com ausecircncia

de pensamento criacutetico e de forma pouco fundamentada

ldquo (hellip) Durante as intervenccedilotildees fiz com que as crianccedilas se sentissem ouvidas

esperando sempre que cada uma tivesse o seu tempo para interagir comigo e com o

restante grupo uma vez que nestas idades as capacidades sociais satildeo adquiridas

essencialmente atraveacutes do processo das interaccedilotildees em momentos de brincadeiras

ou de trabalho cooperativo como eacute referido por Katz e McClellan (2006) rdquo (M6)

No que respeita agrave M7 esta caracterizou o impacto da intervenccedilatildeo com atitude pouco

reflexiva e natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo da identidade profissional ldquo (hellip) Foram

longos os caminhos percorridos em ambas as intervenccedilotildees concretizadas na creche e

no jardim de infacircncia Caminhos estes repletos de alegrias aprendizagens harmonia

trabalho responsabilidades experiecircncias enriquecedoras e tambeacutem com alguns

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

202

obstaacuteculosrdquo (M7) A M8 deu uma resposta adequada a estas questotildees demonstrando

ter uma atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo de qualidade

ldquo (hellip) A atitude reflexiva vivida ao longo de ambos os momentos da praacutetica vai por si

soacute ao encontro do que se espera ser o perfil geral de desempenho dos professores e

educadores de infacircncia o educador ldquoreflecte sobre as suas praacuteticas apoiando-se na

experiecircncia na investigaccedilatildeo e em outros recursos importantes para a avaliaccedilatildeo dos

seu desempenho profissional nomeadamente no seu proacuteprio projeto de formaccedilatildeordquo

(V ndash Decreto-Lei nordm 2402001 de 30 de agosto) rdquo (M8)

No ano letivo 2012-2013 todas quase todas (3) as mestrandas revelaram ser capazes

de refletir e avaliar o impacto das suas intervenccedilotildees apenas a M12 caracterizou o

impacto da intervenccedilatildeo com atitude pouco reflexiva e natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo

da identidade profissional ldquo (hellip) No decorrer da minha intervenccedilatildeo foi-me possiacutevel

observar contextos diferentes integrar equipas educativas diferentes aplicar

diferentes metodologiasrdquo (M8)E acrescenta ldquo (hellip) Ao escolher seguir este percurso

[ser educadora de infacircncia] para a minha vida sempre tive a intenccedilatildeo de ajudar

crianccedilas a desenvolverem-se enquanto seres humanos aprendendo a viver em

sociedade com um desenvolvido sentido democraacutetico e respeitando e aceitando

sempre as diferenccedilas dos outros ldquo (M8) Nesta reflexatildeo natildeo mobiliza qualquer revisatildeo

de literatura

Conclusotildees

Os resultados obtidos atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo realizada aos Relatoacuterios de

Estagio de um grupo de mestrandos de uma escola superior de educaccedilatildeo puacuteblica

portuguesa apontam para as seguintes conclusotildees

Se por um lado todos (12) os mestrandos seguiram escrupulosamente o guiatildeo

fornecido pela equipa de docentes da Praacutetica Profissional Supervisionada para a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de Estaacutegio por outro lado e no que se relaciona com a

caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

203

e as consideraccedilotildees finais realizadas constata-se que existem diferenccedilas significativas

na estrutura organizativa do discurso escrito na escolha do quadro teoacuterico de

referecircncia bem como nas na reflexotildees pessoais realizadas Enquanto os mestrandos (5)

do ano letivo 2010-2011 demonstram ter optado por construir um quadro teoacuterico de

referecircncia ancorado preferencialmente por referecircncias bibliograacuteficas relacionadas

com a Educaccedilatildeo de Infacircncia e facultadas pela equipa de docentes do mestrado em

estudo os mestrandos do ano letivo 2011-2012 (3) optaram por recorrer a um quadro

teoacuterico de referecircncia mais alargado e abrangente no qual se pode verificar tambeacutem a

existecircncia de uma consulta e anaacutelise documental frequente sobre a legislaccedilatildeo em vigor

para o acircmbito da Educaccedilatildeo de Infacircncia

Apresentam-se alguns exemplos de referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos

mestrandos do ano letivo 2010-2011

Quadro 8 Referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2010-201136

Mestrando

(M)

2010-2011

M1 Brazelton T B (2009) O Grande Livro da Crianccedila (11ordf ediccedilatildeo) Queluz de Baixo

Editorial Presenccedila

M2 Brazelton T B (2006) A Crianccedila e o seu Mundo Queluz de Baixo Editorial

Presenccedila

M3 Siraj-Blatchford I (2007) Manual de Desenvolvimento Curricular para a

Educaccedilatildeo de Infacircncia Lisboa Texto Editores

M4 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (1997) Orientaccedilotildees Curriculares para a Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar Lisboa Departamento de Educaccedilatildeo Baacutesica

M5 Katz L amp Chard S (2009) A abordagem por projectos na Educaccedilatildeo de Infacircncia

Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

O quadro seguinte (Quadro 9) pretende apresentar algumas das referecircncias

bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2011-2012

36

Nota optou-se por respeitar na iacutentegra a forma de apresentaccedilatildeo das referecircncias bibliograacuteficas por parte dos mestrandos do presente estudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

204

Quadro 9 Referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2011-201237

Mestrando

(M)

2011-2012

M6 Hohman W amp Weikart DP (1997) Educar a Crianccedila Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian

Decreto-Lei nordm752008 de 22 de abril Diaacuterio da Repuacuteblica nordm79 ndash 1ordf Seacuterie

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lisboa

M7 Portugal G (1998) Crianccedilas Famiacutelias e Creches ndash Uma abordagem ecoloacutegica da

adaptaccedilatildeo do bebeacute agrave Creche Porto Porto Editora

Portaria nordm 2622011 de 31 de agosto Diaacuterio da Repuacuteblica nordm 167 ndash 1ordf Seacuterie

Ministeacuterio da Solidariedade e Seguranccedila Social

M8 Niza S Lino D amp Formosinho J (2007) Modelos Curriculares para a Educaccedilatildeo

de Infacircncia Porto Porto Editora

Decreto-Lei nordm41997 de 10 de Fevereiro

Por sua vez os mestrandos que terminaram a sua formaccedilatildeo no ano letivo 2012-2013

(4) demonstraram na elaboraccedilatildeo dos seus relatoacuterios de estaacutegio uma preocupaccedilatildeo e

intenccedilatildeo claras em dar resposta a todas as questotildees colocadas fazendo emergir

algumas questotildees de fundo e revelando uma reflexatildeo fundamentada sobre a accedilatildeo

pedagoacutegica desenvolvida

Quadro 10 As reflexotildees sobre a accedilatildeo pedagoacutegica dos mestrandos do ano letivo 2012-2013

Mestrando

(M)

2012-2013

M9 ldquoQuando recorremos agrave praacutetica pedagoacutegica afetiva esta estimula natildeo soacute a

relaccedilatildeo afetiva mas ao ter em conta os sentimentos e as emoccedilotildees das crianccedilas

favorece tambeacutem o seu desenvolvimento cognitivo e social transformando o

educador num profissional insubstituiacutevelrdquo

M10 ldquoNas palavras dessas profissionais acabaacutevamos por nos adaptar de tal forma

aquele adulto que nos acolhia e orientava que nos tornaacutevamos quase que uma

37

Nota optou-se por respeitar na iacutentegra a forma de apresentaccedilatildeo das referecircncias bibliograacuteficas por parte dos mestrandos do presente estudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

205

extensatildeo da sua personalidaderdquo ndash posso concluir que natildeo natildeo sou uma coacutepia

fiel das minhas Educadoras Cooperantes nem nunca o fui Sempre lutei por ser

eu mesma ser autecircntica Natildeo pretendo seguir um modelo especiacutefico de alguma

profissional que eu tenha conhecido (ou que ainda venha a conhecer) criando

um modelo de filosofia educativa que se adapte por completo a mimrdquo

M11 ldquoNote-se que em busca de me tornar uma educadora cada vez melhor e mais

reflexiva de acordo com Alarcatildeo (1995) foi importante este trabalho de

ldquohellipprocura da minha+ identidade pessoal e profissional na constante

redescoberta do sentido dos [meus] actos e na plena assunccedilatildeo da [minha]

responsabilidade socialhelliprdquo (p15) rdquo

M12 A propoacutesito das interaccedilotildees adulto-crianccedila a mestranda recorre agrave seguinte

citaccedilatildeo ldquo (hellip) As interacccedilotildees das crianccedilas+ com adultos em quem confiam

dentro e fora de casa proporcionam o ldquocombustiacutevelrdquo emocional de que (hellip)

precisam para desvendar os misteacuterios com que se deparam no mundo social e

fiacutesicordquo (Post amp Hohmann 2011 p12) rdquo

Notas finais e questotildees emergentes

As diferenccedilas encontradas nos Relatoacuterios de Estaacutegio analisados fazem emergir algumas

questotildees finais a saber

- Que aprendizagens realizaram os mestrandos Parecem existir algumas evidecircncias

nos relatoacuterios analisados aprendizagens no aperfeiccediloamento da liacutengua portuguesa na

capacidade de se descrever e analisar contextos socioeducativos capacidade de

autoreflexatildeo e de auto avaliaccedilatildeo bem como mobilizaccedilatildeo de revisatildeo de literatura

pertinente para a construccedilatildeo de uma determinada problemaacutetica entre outras

aprendizagens (organizaccedilatildeo gestatildeo do tempo cumprimento de normas formais)

- Por que razatildeo os relatoacuterios de estaacutegio analisados apresentam diferenccedilas significativas

nas aprendizagens realizadas pelos mestrandos em estudo Quais as possiacuteveis razotildees

para estas diferenccedilas

Uma das possiacuteveis razotildees poderaacute estar relacionada com o facto dos relatoacuterios de

estaacutegio analisados pertencerem a um grupo de mestrandos que satildeo antes de mais

indiviacuteduos e por essa razatildeo seres uacutenicos com expectativas objetivos e ldquoformas de ver

o mundordquo diferentes outra razatildeo possiacutevel poderaacute ser a forma como cada

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

206

pessoamestrando aprende (pelas suas motivaccedilotildees pessoais e profissionais e pela

predisposiccedilatildeo para a aprendizagem) enquanto alguns mestrandos perspetivaram e

encararam a sua formaccedilatildeo profissional e a elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio de Estaacutegio como

um desafio para a avaliaccedilatildeo das suas aprendizagens outros poderatildeo eventualmente

ter encarado a elaboraccedilatildeo daquele trabalho como mais um elemento de avaliaccedilatildeo

sem refletirem na pertinecircncia do mesmo para os seus percursos de formaccedilatildeo

Referecircncias

Cardona M J (1997) Para a Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Infacircncia em Portugal O discurso

oficial (1834-1990) Porto Porto Editora

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Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar Disponiacutevel em

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Lisboa APEI

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207

Vasconcelos T (2009) Praacutetica Pedagoacutegica Sustentada Cruzamento de Saberes e

Competecircncias Lisboa Ediccedilotildees Colibri Instituto Politeacutecnico de Lisboa

Documentos consultados

Relatoacuterios finais da Praacutetica Profissional Supervisionada no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar (anos letivos 2010-2011 2011-2012 e 2012-2013) de uma escola

superior de educaccedilatildeo puacuteblica portuguesa38

38

Por questotildees de eacutetica na investigaccedilatildeo natildeo se apresentam de forma discriminada os autores e os respetivos tiacutetulos dos relatoacuterios finais elaborados pelos doze mestrandos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

208

O Portefoacutelio e a aprendizagem no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Inecircs Pimentel

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Setuacutebal Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Ines-cunhhotmailcom

Jorge Pinto Escola Superior de Educaccedilatildeo de Setuacutebal Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Jorgepintoeseipspt

Resumo

O processo de autorregulaccedilatildeo natildeo se desenvolve nos alunos de forma espontacircnea

Neste sentido eacute necessaacuterio preparar o trabalho com os alunos a fim de se conseguir

uma autorregulaccedilatildeo eficaz e uma apropriaccedilatildeo do significado dos objetivos de

aprendizagem

No acircmbito do Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e Ensino do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

realizei um estudo com o objetivo de compreender o contributo do Portefoacutelio

enquanto instrumento (auto) regulador da aprendizagem Assim as nossas hipoacuteteses

de trabalho consistiram em analisar como se negociou com os alunos o processo de

construccedilatildeo e como foi dinamizado e utilizado o portefoacutelio em sala de aula Com esta

anaacutelise procuraacutemos perceber tambeacutem como eacute que os alunos evoluiacuteram neste percurso

em termos da sua apropriaccedilatildeo deste instrumento para o desenvolvimento das suas

aprendizagens

A metodologia adotada inscreve-se numa abordagem qualitativa com um design

proacuteximo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo Os dados foram recolhidos atraveacutes da observaccedilatildeo

inqueacuterito atraveacutes de entrevistas e questionaacuterio e ainda atraveacutes de anaacutelise documental

dos portefoacutelios dos alunos Para a anaacutelise de dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo

em que as categorias se foram construindo no decurso do trabalho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

209

Os resultados mostram que a apropriaccedilatildeo de um trabalho novo eacute gradual e que a

utilizaccedilatildeo do portefoacutelio enquanto instrumento de autorregulaccedilatildeo contribui para o

desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se relacionam com as aacutereas

curriculares mas tambeacutem com a autonomia O estudo tambeacutem mostra que o

portefoacutelio assume-se como um instrumento por excelecircncia para a atribuiccedilatildeo de

feedback que tambeacutem possibilita que os alunos melhorem o seu desempenho

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo formativa Portefoacutelio Aprendizagem 1ordm ciclo do EB

Abstract

The process of self-regulation does not develop in the students in a spontaneous way

In this sense it is necessary to prepare students to work in order to achieve effective

self-regulation and ownership of the meaning of the learning objectives

In the context of Masters in Preschool and Primary Teaching Education we conducted a

study aimed at understanding the contribution of the Portfolio as an instrument (self)

control of learning So our working hypotheses consisted of examining how students

have negotiated with the construction process and how it was used and developed the

portfolio in the classroom With this analysis we also try to understand how students

progressed in this path in terms of their appropriation of this tool for the development

of their learning

The methodology is part of a qualitative approach with a design close to the action

research Data were collected through observation investigation through interviews

and questionnaire and also through documentary analysis of portfolios of students For

data analysis we used the content analysis where the categories are gone during the

building work

The results show that ownership of a new work is gradual and that the use of the

portfolio as a tool for self-regulation contributes to the development of a set of

learning that relate to curriculum areas but also with autonomy The study also shows

that the portfolio is assumed as an instrument par excellence for the assignment

feedback which also enables students to improve their performance

Keywords Formative Assessment Portfolio Learning in the Primary Education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

210

Introduccedilatildeo

Quando a avaliaccedilatildeo eacute entendida como um meio de regulaccedilatildeo da aprendizagem surge

o portefoacutelio enquanto instrumento de autoavaliaccedilatildeo Este constitui-se como uma

ldquoescolha refletida de alguns de um conjunto mais vasto de trabalhosrdquo (Pinto 2010

p7) Esta escolha exige entatildeo que os alunos selecionem uns trabalhos em detrimento

de outros que reflitam sobre o que aprenderam e que identifiquem os pontos fracos e

fortes do seu trabalho

O portefoacutelio ao dar voz ao principal narrador permite o desenvolvimento da sua

capacidade de pensar e refletir sobre as suas proacuteprias aprendizagens e de autorregular

o seu proacuteprio processo de ensino e aprendizagem Neste sentido proporciona uma

visatildeo global do trabalho realizado pelos alunos e da sua evoluccedilatildeo em detrimento de

uma visatildeo confinada a aspetos isolados ou pontuais daquilo que os alunos fazem Isto

permite criar situaccedilotildees de apoio e ajuda (Pinto 2010)

A introduccedilatildeo do portefoacutelio natildeo eacute natural e espontacircnea pois muda substancialmente a

loacutegica da avaliaccedilatildeo Assim o professor tem de criar oportunidades para que os alunos

se apropriem do trabalho e do significado dos seus objetivos em termos de

aprendizagem Um caminho possiacutevel para fazecirc-lo eacute atraveacutes de um processo negociado

Este estudo ao procurar compreender o contributo do portefoacutelio para a aprendizagem

de todos os alunos tem como ponto de partida perceber como eacute que os alunos

pensam as tarefas inerentes ao portefoacutelio e como este trabalho contribui para as suas

aprendizagens

Avaliar como uma tarefa de aprendizagem

Este estudo pressupotildee a introduccedilatildeo de um instrumento de trabalho na sala de aula ndash O

Portefoacutelio que implica uma alteraccedilatildeo na pedagogia adotada passando assim da

pedagogia do ensinar para a pedagogia do aprender

Na pedagogia do ensinar existe uma maior preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo de saberes

teoacutericos que se assumem como produto final sem ter em atenccedilatildeo as suas

potencialidades de uso no quotidiano para aleacutem de existir um processo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

211

transmissatildeo de conhecimento expositivo de forma preacute-estabelecida por parte do

professor e uma uniformizaccedilatildeo dos tempos letivos meacutetodos e trabalhos esquecendo

a crianccedila enquanto ser individual e autoacutenomo De um modo geral podemos referir

que a pedagogia do ensinar centra-se ldquona loacutegica dos saberes no conhecimento que

quer vincular (hellip) atraveacutes da escolha unidirecional dos saberes a serem transmitidos

(hellip) (Oliveira Formosinho 2007 p17)

A histoacuteria da pedagogia oferece-nos meios para pensar em praacuteticas mais significativas

e em consonacircncia com a realidade educativa desafiando assim o ldquocurriacuteculo uacutenicordquo e a

mudanccedila de praacuteticas muito centradas no professor para outras onde o aluno eacute

considerado protagonista da sua aprendizagem Atraveacutes deste envolvimento

determina-se a ldquopraacutexis como loacutecus da Pedagogiardquo (Oliveira-Formosinho 2007 p17)

pois envolve ldquoum processo interativo de diaacutelogo e confronto entre crenccedilas e saberes

entre saberes e praacuteticas entre praacuteticas e crenccedilas e entre estes polos em interaccedilatildeo e os

contextos envolventesrdquo (Oliveira-Formosinho 2007 p17) Deste modo preocupa-se

em promover o desenvolvimento holiacutestico do individuo atraveacutes de muacuteltiplas interaccedilotildees

(interaccedilatildeo aluno-aluno professor-aluno e aluno-material)

No campo pedagoacutegico existem dois grandes tipos de avaliaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo sumativa e

a avaliaccedilatildeo formativa A introduccedilatildeo do portefoacutelio tambeacutem pressupotildee uma alteraccedilatildeo no

modelo de avaliaccedilatildeo adotado Assim deixamos a avaliaccedilatildeo sumativa para nos

centrarmos na avaliaccedilatildeo formativa Ou seja deixamos a avaliaccedilatildeo realizada

exclusivamente pelo professor que se centra nos produtos de trabalho e que tem

como objetivo verificar e certificar aprendizagens para nos centrarmos na avaliaccedilatildeo

que possibilita a participaccedilatildeo do aluno que se centra tanto no processo como no

produto de trabalho e que tem como objetivo melhorar e regular o processo de

aprendizagem Desta forma passamos de uma avaliaccedilatildeo que se apresenta como a

ldquoavaliaccedilatildeo das aprendizagensrdquo para uma avaliaccedilatildeo que se assume como a ldquoavaliaccedilatildeo

para as aprendizagensrdquo (Black amp William in Pinto 2010 p4)

O portefoacutelio enquanto instrumento de autoavaliaccedilatildeo regulada constitui-se como uma

ferramenta organizada de trabalhos produzidos pelos alunos durante um

determinado periacuteodo de tempo que ilustra e documenta a aprendizagem e a reflexatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

212

desenvolvidas (Pinto amp Santos 2006) Neste processo o aluno reflete sobre as diversas

experiecircncias de aprendizagem justificando a sua escolha e por isso estamos perante

um processo que apela ao pensamento reflexivo e agrave metacogniccedilatildeo (Pinto amp Santos

2006)

No desenvolvimento de todo este processo o professor desempenha um papel de

extrema importacircncia pois deve estabelecer encontros perioacutedicos com o aluno para

analisar o seu portefoacutelio (Bernardes amp Miranda 2003) a fim de conhecer os seus

pontos fortes e fracos para que consiga ajustar a sua accedilatildeo e intervenccedilatildeo no sentido de

ajudar a superaacute-los Assim antes de se reunir com os alunos o professor deve ver os

portefoacutelios tomar notas sobre as questotildees a colocar durante o encontro para tornar o

momento num ldquodiaacutelogo construtivordquo (Bernardes amp Miranda 2003 p27) As mesmas

autoras afirmam que durante este diaacutelogo o professor deve deixar o aluno falar sobre

o que aprendeu e explicar as suas opccedilotildees negociando e planificando posteriormente

com ele os aspetos a melhorar eou as etapas seguintes Como tal o portefoacutelio eacute um

instrumento que possibilita que o curriacuteculo e a praacutetica docente sejam adequados a

cada aluno garantindo e respeitando assim a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica

Sendo o portefoacutelio um instrumento regulador ele eacute tambeacutem um pretexto para a

atribuiccedilatildeo de feedback uma vez que os alunos para melhorarem e regularem as suas

aprendizagens necessitam de orientaccedilotildees sistemaacuteticas e de avaliaccedilotildees dos seus

trabalhos Assim no desenvolvimento de uma avaliaccedilatildeo formativa o feedback eacute um

requisito fundamental para o progresso das aprendizagens dos alunos (Tunstall e

Gipps1996) De facto eacute atraveacutes deste dado de uma forma regular que os alunos

podem ldquocomeccedilar a desenvolver competecircncias de autoavaliaccedilatildeo e autorregulaccedilatildeo das

suas aprendizagensrdquo (Fernandes 2005 p84) durante e no final de um periacuteodo de

aprendizagem podendo utilizaacute-lo para melhorar ou corrigir o trabalho que havia sido

feito

Tunstall e Gipps (1996) distinguem dois tipos de feedback o feedback avaliativo e o

feedback descritivo O primeiro implica a emissatildeo de um juiacutezo de valor com

referecircncias expliacutecitas centrado nas caracteriacutesticas do aluno ou no trabalho realizado

por ele O segundo relaciona-se com as tarefas que satildeo apresentadas aos alunos e eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

213

utilizado para se referir explicitamente agraves aprendizagens que satildeo evidenciadas na sua

resoluccedilatildeo Para aleacutem disso o feedback descritivo procura incentivar o aluno a repensar

na proposta de aprendizagem daacute pistas para a accedilatildeo que o aluno deve executar para

conseguir progredir na sua aprendizagem e natildeo inclui a correccedilatildeo do erro no sentido

de dar ao proacuteprio a oportunidade de o corrigir contribuindo assim para uma

aprendizagem mais longa no tempo Este feedback assinala tambeacutem os pontos fortes

para que sejam conscientemente reconhecidos e para encorajar o aluno para as etapas

seguintes (Santos 2003 referida por Pinto amp Santos 2006)

Metodologia

Este trabalho insere-se numa abordagem qualitativa com metodologia proacutexima da

investigaccedilatildeo-accedilatildeo uma vez que o objeto de estudo refere-se agrave praacutetica pedagoacutegica do

proacuteprio autor Foi desenvolvido numa turma de 4ordm ano de escolaridade e os

participantes foram respetivamente 24 alunos Destes seis alunos foram objeto de

uma recolha de dados e de uma anaacutelise mais pormenorizada Estes alunos foram

escolhidos em funccedilatildeo do seu estatuto escolar como tal escolheu-se um aluno com

dificuldades de aprendizagem uma aluna que natildeo relevava dificuldades e quatro

alunos intermeacutedios que foram selecionados aleatoriamente

Os dados foram recolhidos atraveacutes dos seguintes instrumentos observaccedilatildeo

participante utilizada para observar a dinacircmica de trabalho com o portefoacutelio

entrevistas que designei por conversas de explicitaccedilatildeo que permitiram clarificar

alguns aspetos das reflexotildees escritas dos alunos e anaacutelise documental que recaiu sobre

as reflexotildees dos alunos

Para analisar os dados foi utilizada a anaacutelise de conteuacutedo uma vez que foi necessaacuterio

interpretar compreender e inferir sobre os dados que se apresentaram

essencialmente em texto

A intervenccedilatildeo educacional foi como se segue

1 Preparaccedilatildeo e construccedilatildeo dos portefoacutelios

2 Negociaccedilatildeo da dinacircmica de trabalho

3 Sessotildees de seleccedilatildeo e reflexatildeo das tarefas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

214

4 Leitura dos Portefoacutelios feedback encontros perioacutedicos com os alunos e

negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo

Resultados

Para iniciar o trabalho de negociaccedilatildeo com os alunos decidi fazer um levantamento das

ideias preacutevias dos alunos a partir da palavra portefoacutelio pedindo-lhes para dizerem o

que achavam que era um portefoacutelio Depois expliquei que podem existir vaacuterios tipos

de portefoacutelios e aproveitei para questionaacute-los sobre o que entendiam por portefoacutelio de

avaliaccedilatildeo para as aprendizagens uma vez que foi o objetivo atribuiacutedo agrave utilizaccedilatildeo

deste portefoacutelio

Este debate revelou-se importante para introduzir e fazer emergir sentidos sobre

portefoacutelios de modo a que os alunos se apropriassem do seu significado e dos

objetivos pretendidos Seguidamente passaacutemos agrave construccedilatildeo do portefoacutelio e agrave

negociaccedilatildeo dos materiais a utilizar

Professora Estagiaacuteria (PE) Que materiais podemos utilizar para construir a capa dos

portefoacutelios

JA Cartolinas

R Material reciclado

M Folhas brancas

PE Cartolinas parece-me uma boa ideia Concordam com a ideia do JA

IR Sim com cartolinas eacute melhor porque satildeo mais duras do que as folhas e

duram mais tempo

PE Parece-me muito bem Eu por acaso trouxe umas cartolinas grossas porque

parece-me que este material eacute o mais adequado para que os nossos portefoacutelios durem

mais tempo

Esta discussatildeo permitiu-nos passar agrave construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo da capa do portefoacutelio

Promovi entatildeo um diaacutelogo em torno das informaccedilotildees que os alunos consideravam

importantes para constarem na capa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

215

PE O que acham que podemos colocar na capa

RB Podemos fazer um desenho

PE Parece-me bem todos concordam

Turma Sim

PE E que informaccedilotildees devemos colocar na capa

IR O Tiacutetulo ndash Portefoacutelio

PE Sim boa Parece-me uma boa ideia E mais

MA O nome e a data

R A data natildeo porque o portefoacutelio eacute para o ano todo

PE O nome parece-me bem para conseguirmos saber de quem eacute E a data

colocamos ou natildeo

B Natildeo eu concordo com a R Acho eacute que temos de colocar o ano letivo mas

podemos escrever na outra capa [referindo-se agrave contracapa]

PE Quem eacute que concorda com a B (hellip)

Para aleacutem disso tambeacutem negociaacutemos a dinacircmica de trabalho Aqui tratava-se de

envolver os alunos na configuraccedilatildeo desta atividade previamente pensada pelo

professor Todavia houve sempre a disponibilidade para a ajustar o que fosse

necessaacuterio para que o trabalho fizesse sentido para os alunos

PE Eu pensei em selecionarmos as duas tarefas de Liacutengua Portuguesa em que

acham que aprenderam mais O que vos parece

JA Parece-me bem por exemplo se acho que aprendi muito sobre o grau dos

adjetivos posso selecionar essa

PE Sim claro

PE E depois tambeacutem pensei em selecionarmos duas tarefas de Matemaacutetica a

que mais gostaram e a que menos gostaram O que vos parece

R Sim eu gosto sempre dos problemas mas natildeo gosto quando satildeo faacuteceis

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

216

Como se pode verificar em todos os diaacutelogos estabelecidos com os alunos todos eles

participaram contribuindo com ideias e opiniotildees distintas para que juntos

decidiacutessemos como iriamos trabalhar

Para compreender como o portefoacutelio eacute um instrumento que contribui para as

aprendizagens dos alunos considerei fulcral compreender como eacute que os alunos

comentam e refletem as suas aprendizagens e participam na gestatildeo do seu curriacuteculo

escolar Para tal passo a analisar a natureza das tarefas selecionadas pelos alunos a

sua capacidade de reflexatildeo e o seu papel na regulaccedilatildeo das suas aprendizagens

Em relaccedilatildeo agrave natureza das tarefas verifica-se que os alunos selecionam um leque

variado de produccedilotildees tanto na aacuterea da Liacutengua Portuguesa como na da Matemaacutetica

Contudo constata-se que alguns alunos selecionam em momentos diferentes tarefas

idecircnticas e relacionadas com o mesmo conteuacutedo quando reconhecem que houve mais

aprendizagem uma vez que referem que aprenderam ldquomais um bocadinhordquo

Relativamente agrave capacidade de reflexatildeo verifica-se que todos os alunos satildeo capazes

de pensar sobre a sua aprendizagem ainda que de formas diferentes A maioria dos

alunos permanece no niacutevel descritivo puro indicando apenas o que aprenderam R ldquoA

tarefa ajudou-me a aprender os sinoacutenimos e os antoacutenimosrdquo no entanto outros vatildeo

mais longe pois satildeo capazes de descrever o que aprendem recorrendo a evidecircncias

que comprovam a sua aprendizagem por exemplo A ldquoAprendi o sujeito e o predicado

como por exemplo na frase As irmatildes da Joana comem As irmatildes da Joana corresponde

ao sujeito e comem ao predicadordquo Verifica-se ainda que alguns alunos descrevem a

sua aprendizagem com recurso ao passado MF ldquoAjudou-me a aprender porque eu jaacute

natildeo me lembrava do que era o predicado e o sujeito de uma fraserdquo

Quanto agraves escolhas na aacuterea da Matemaacutetica verifica-se que existe uma relaccedilatildeo entre

duas variaacuteveis o saber e o gostar Os alunos selecionam como as tarefas que mais

gostaram aquelas em que se sentem confortaacuteveis com o conteuacutedo em estudo ou

aquelas que consideram que criam desafio e que lhes permitem aprender algo de

novo Como as tarefas que menos gostaram consideram aquelas em que natildeo sentem

dificuldades e por isso acham faacuteceis ou entatildeo aquelas em que sentem dificuldades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

217

Depois das sessotildees de seleccedilatildeo e reflexatildeo das tarefas reuni-me com os alunos para

verificar a consolidaccedilatildeo ou natildeo dos conteuacutedos em estudo A partir deste encontro

negociei tarefas de trabalho autoacutenomo com os alunos em funccedilatildeo das suas dificuldades

e ou necessidades Depois da realizaccedilatildeo destas tarefas verificam-se alteraccedilotildees nas

escolhas dos alunos pois as tarefas que inicialmente foram selecionadas como as que

menos gostaram por natildeo terem sido capazes de perceber passaram a ser

consideradas como as que mais gostaram depois de terem levado tarefas de trabalho

autoacutenomo para melhorarem alguns aspetos da sua aprendizagem Ao longo do

trabalho com o portefoacutelio verifiquei tambeacutem que os alunos escreviam as suas

reflexotildees com alguns erros Desta forma considerando o portefoacutelio como um

instrumento que contribui para a aprendizagem dos alunos decidi dar feedback agraves

produccedilotildees dos alunos com o intuito de melhorar a sua escrita Como se pode verificar

na imagem apresentada em baixo (figura 1) o feedback foi centrado nas tarefas e os

alunos foram encorajados a procurar as respostas corretas e a corrigir os seus erros

Neste sentido optei por assinalar os erros dos alunos sublinhando as palavras e

dando-lhes algumas indicaccedilotildees que lhes permitisse chegar agrave sua correccedilatildeo como por

exemplo ldquoVerifica a acentuaccedilatildeo Podes consultar o dicionaacuterio Revecirc este verbo

Verifica estas duas palavras podes consultar a folha da tarefa etcrdquo

Figura 1 - Exemplo de feedback dado

Para aleacutem disso quando constatei que surgiam palavras escritas corretamente e mais

agrave frente ou atraacutes a mesma palavra surgia escrita com erro decidi assinalar as palavras

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

218

que estavam bem escritas tambeacutem com uma anotaccedilatildeo ldquoMuito bem ou Aqui

escreveste bemrdquo (ver figura 2)

Figura 2 ndash Exemplo de feedback a incentivar um aluno

Para aleacutem disso tambeacutem atribuiacute feedback a algumas tarefas realizadas pelos alunos

quando natildeo houve disponibilidade para se realizar a correccedilatildeo coletiva no quadro

como era habitual na praacutetica da professora titular de turma Nestas tarefas optei por

assinalar o que estava correto e por colocar algumas questotildees que encaminhassem o

aluno para a resoluccedilatildeo na proacutexima fase

Dado ao tempo destinado agrave implementaccedilatildeo deste estudo natildeo foi possiacutevel reunir-me

semanalmente com todos os alunos para a realizaccedilatildeo das conversas de explicitaccedilatildeo e

para a posterior negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo Neste sentido decidi

dar feedback agraves reflexotildees escritas de alguns alunos com o intuito de clarificar as suas

reflexotildees e de obter evidecircncias que comprovem as aprendizagens Depois de obter as

respostas dos alunos verifiquei se existia necessidade de partir para a conversa de

explicitaccedilatildeo e para a posterior negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo

Ao longo das sessotildees verificou-se que deixou de ser preciso questionar os alunos

quanto agrave sua vontade para melhorar a sua aprendizagem atraveacutes da realizaccedilatildeo de

novas tarefas pois eram os proacuteprios que solicitavam apoio B ldquoProfessora eu natildeo

percebi muito bem este exerciacutecio Pode dar-me uma tarefa parecida para eu

melhorarrdquo

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Todos os alunos acharam as tarefas de trabalho uacuteteis referindo ldquoProfessora eu acho

que estas tarefas satildeo uma coisa boa porque eu sinto que melhorei agora jaacute natildeo tenho

dificuldadesrdquo

Conclusatildeo

Em siacutentese podemos com este estudo verificar a importacircncia de negociar com os

alunos quando se pretende introduzir uma mudanccedila na praacutetica da sala de aula de

modo a que os alunos sintam essa mudanccedila como sua e que percebam os seus

sentidos e como se faz Tambeacutem se destaca a importacircncia da persistecircncia do professor

na implementaccedilatildeo da atividade Ela eacute necessaacuteria para que os alunos se apropriem das

mudanccedilas e para o benefiacutecio de todo o trabalho intencionalmente dirigido agrave

aprendizagem

Apoacutes a anaacutelise de todo o percurso verifica-se que o portefoacutelio contribui para o

desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se relacionam com as

aprendizagens curriculares pois os alunos aprenderam conteuacutedos tais como sujeito e

predicado palavras compostas soacutelidos geomeacutetricos operaccedilotildees melhoraram a escrita

etc mas tambeacutem para o desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se

relacionam com a autonomia desenvolvimento da capacidade de reflexatildeo seleccedilatildeo

organizaccedilatildeo e sentido criacutetico

Foi possiacutevel perceber que os alunos satildeo capazes de refletir sobre a sua aprendizagem

de diversas formas quando lhes eacute dada a oportunidade de pensar sobre o seu

processo de aprendizagem

O feedback dado permitiu que os alunos desempenhassem um papel ativo na correccedilatildeo

dos seus erros adquirindo aprendizagens soacutelidas e duradouras uma vez que depois de

o erro ter sido assinalado e posteriormente corrigido verificou-se que nas produccedilotildees

seguintes esse mesmo erro jaacute natildeo se verificava Verificam-se evoluccedilotildees nas

produccedilotildees escritas dos alunos com a diminuiccedilatildeo de feedback que natildeo pretendia

corrigir o erro mas promover o envolvimento do aluno neste processo de

aprendizagem atraveacutes de anotaccedilotildees que encaminhavam o aluno para a sua

autocorreccedilatildeo Estas anotaccedilotildees lembravam sistematicamente os alunos do que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

220

precisavam de melhorar para atingirem o que se propuseram e permitiam-lhes tomar

consciecircncia dos seus proacuteprios progressos comparativamente aos seus desempenhos

anteriores Assim a avaliaccedilatildeo acompanhada de feedback escrito demonstrou que os

alunos conseguem acompanhar o seu progresso apercebem-se das suas proacuteprias

dificuldades e posteriormente autonomamente conseguem ultrapassaacute-las

Esta proposta de atividade suscitou interesse nos alunos dando-lhes a possibilidade de

participarem ativamente no processo de aprendizagem gerindo e autorregulando o

seu processo de aprendizagem a partir da identificaccedilatildeo dos seus erros e dificuldades

Para aleacutem disso esta proposta cria ainda condiccedilotildees de aproximaccedilatildeo entre professor e

aluno permitindo-lhes refletir sobre as evoluccedilotildees reveladas nas atividades propostas e

dificuldades sentidas na realizaccedilatildeo das mesmas bem como negociar e pensar em

estrateacutegias em conjunto que permitam melhorar a aprendizagem

O trabalho autoacutenomo surgiu como um instrumento que permitiu colocar o aluno numa

situaccedilatildeo de aprendizagem ldquofecunda para elerdquo (Perrenoud 2000 p51) e que

possibilitou a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica pois constitui-se como uma forma de adaptar

o ensino agraves dificuldades de cada um dos alunos para os conduzir ao domiacutenio dos

objetivos pretendidos

A concluir podemos afirmar que o portefoacutelio tanto pode ser usado numa perspetiva

sumativa como formativa Contudo neste caso a nossa intenccedilatildeo foi utilizaacute-lo como

um instrumento de reflexatildeo e documentaccedilatildeo das aprendizagens como um

instrumento de avaliaccedilatildeo formativa uma vez que o objetivo era ajudar os alunos a

tomar consciecircncia e eventualmente a superarem as suas dificuldades nas

aprendizagens realizadas De facto por vezes os alunos ao considerem ter aprendido e

selecionarem trabalhos representativos dessa aprendizagem revelam hesitaccedilotildees e

atraveacutes do dialogo evidenciam que haacute aprendizagens ainda natildeo totalmente

consolidadas Desta forma a avaliaccedilatildeo reguladora isto eacute a capacidade de refletir

sobre o que se aprendeu relativamente ao que se devia aprender foi um instrumento

poderoso para a aprendizagem mas fundamentalmente para a superaccedilatildeo das

dificuldades existentes durante a construccedilatildeo do conhecimento Deste modo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

221

pensamos que se os alunos aprenderam efetivamente seraacute expectaacutevel que isso se

venha a traduzir posteriormente nos momentos formais de avaliaccedilatildeo sumativa

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223

Problematizar a metodologia de projeto articulando e avaliando

aprendizagens

Irene Cortesatildeo Costa Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

irenecortesaotildeesepfpt

Ivone Neves Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

Ivoneesepfpt

Paula Pequito Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

pequitoesepfpt

Resumo

O presente texto pretende fazer uma avaliaccedilatildeo criacutetica sobre a experiecircncia da aplicaccedilatildeo de um instrumento de avaliaccedilatildeo de projetos instrumento este que contempla um conjunto de indicadores que evidenciam qualitativa e criticamente a qualidade dos projetos realizados no contexto de Jardim de Infacircncia tendo em conta a riqueza dos processos e natildeo soacute dos resultados Este instrumento e respetivos indicadores foram construiacutedos de forma adaptada agrave realidade concreta que eacute a do trabalho no contexto de Jardim de Infacircncia Este instrumento foi aplicado no contexto de estaacutegios profissionalizantes em educaccedilatildeo de infacircncia pelas equipas pedagoacutegicas dos mesmos (educador cooperante e estagiaacuterio finalista) Posteriormente fez-se uma anaacutelise de conteuacutedo das grelhas preenchidas Olhando globalmente para os resultados recolhidos os criteacuterios a que se recorreu evidenciam que o projeto constitui uma metodologia muito importante para o desenvolvimento e aprendizagem da crianccedila atraveacutes do qual se pode atingir um niacutevel de profundidade e riqueza de intervenccedilatildeo diferenciada Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Competecircncias Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo Metodologia de Projeto Qualidade Jardim-de-infacircncia

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Abstract

This text aims to make a critical assessment on the experience of the application of an project evaluation instrument a set of indicators that looks qualitatively and critically on the quality of the projects taking into account the richness of processes and not only the results adapted to the kindergartenrsquos context This instrument was applied by the pedagogical teams in kindergartenrsquos contexts of vocational training in childhood education Later there was a content analysis of the completed grids Looking globally to the results they show that the project constitutes a very important methodology for the childrsquos learning process and development through which one can achieve a level of depth and richness of differentiated intervention Keywords Evaluation Competences Action Research Project Methodology Quality

Introduccedilatildeo

O trabalho que aqui se apresenta eacute fruto de vaacuterios desafios que adiante se iratildeo

descrever

No decurso do trabalho docente desenvolvido no contexto da atividade docente da

Escola Superior de Educaccedilatildeo (supervisatildeo de estaacutegios em contexto de Jardim de

infacircncia) o contacto com a qualidade e diversidade de projetos luacutedicos vividos nas sala

das instituiccedilotildees cooperantes de estaacutegio foi tornando clara a necessidade construir

instrumentos de registo e avaliaccedilatildeo destas experiecircncias que permitissem mostrar a

riqueza dos processos e a quantidade e qualidade de competecircncias e aprendizagens

que a Metodologia de Projeto permitia alcanccedilar Neste sentido foi concebida uma

grelha de avaliaccedilatildeo de projetos luacutedicos de forma a respeitar as caracteriacutesticas dos

projetos realizados em contexto de Jardim-de-infacircncia

Foi desenvolvido um estudo (Pequito amp Cortesatildeo 2007 p-11) em que se procurou

entatildeo perceber ateacute que ponto era possiacutevel utilizar uma grelha de avaliaccedilatildeo de projetos

no universo do trabalho em Jardim de Infacircncia A grelha de avaliaccedilatildeo que foi

construiacuteda eacute composta de duas partes distintas um conjunto de criteacuterios que

procuram fazer um balanccedilo das competecircncias adquiridas pelas crianccedilas nos diferentes

momentos e um conjunto de criteacuterios que procuram avaliar a qualidade do trabalho

desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

225

Foram convidados a participar sete estagiaacuterias finalistas e respetivas equipas

pedagoacutegicas a quem foi pedido no final do ano letivo que utilizassem esta grelha de

avaliaccedilatildeo para fazer uma avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos que tinham desenvolvido

durante o ano letivo

Logo nessa altura se perceberam duas coisas muito importantes que o conjunto de

criteacuterios que constitui a grelha de avaliaccedilatildeo de projetos eacute perfeitamente adaptaacutevel ao

contexto especiacutefico de trabalho em Jardim de Infacircncia (idem p108) mas tambeacutem que

seria necessaacuterio perceber ateacute que ponto os criteacuterios utilizados poderiam ser usados

como ferramenta de auto avaliaccedilatildeo das equipas envolvidas nos projetos constituindo-

se como um instrumento de melhoria da qualidade no decurso do trabalho (idem p

125)

Pensou-se entatildeo que seria interessante procurar utilizar esta grelha como

instrumento de avaliaccedilatildeo formativa que pudesse ir servindo de buacutessola orientadora

dos percursos dos diferentes projetos desenvolvidos no contexto de Jardim de Infacircncia

e jaacute natildeo soacute como instrumento de avaliaccedilatildeo final

Neste sentido no iniacutecio do ano letivo de 20092010 e como este seria o uacuteltimo ano

em que a profissionalizaccedilatildeo dos educadores de infacircncia acontecia ao niacutevel da

Licenciatura em Educaccedilatildeo de Infacircncia decidiu-se nessa altura evidenciar a qualidade

do trabalho em contexto de Jardim de Infacircncia no que diz respeito agrave utilizaccedilatildeo da

metodologia de projeto nos estaacutegios profissionalizantes

Assim apoacutes a explicaccedilatildeo dos criteacuterios utilizados na grelha de avaliaccedilatildeo (ver grelha de

avaliaccedilatildeo anexo I) desafiaram-se todos os finalistas do Curso de Educaccedilatildeo de infacircncia

(76 no total) a utilizarem este instrumento de avaliaccedilatildeo logo desde o iniacutecio dos

projetos nas respetivas salas Foi tambeacutem proposto que esta avaliaccedilatildeo fosse feita de

forma regular (mensal bimensal ou trimestral) e que fosse feita natildeo soacute pela estagiaacuteria

mas envolvendo toda a equipa pedagoacutegica para que servisse de facto de espaccedilo de

reflexatildeo conjunta para os adultos envolvidos nos diferentes projetos Isto porque se

acredita que quando se estaacute implicado ativa e afetivamente no desenvolvimento dos

projetos se tem a capacidade de os avaliar de forma profunda sendo importante

garantir que essa anaacutelise seja criacutetica e metodologicamente controlada

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

226

No final de ano letivo foram recolhidas 22 grelhas de avaliaccedilatildeo de projetos luacutedicos

Estas eram o resultado de todo um processo de avaliaccedilatildeo formativa que tinha sido

realizada ao longo do ano desde o aparecimento dos projetos nos diferentes

contextos

A avaliaccedilatildeo proposta centra-se entatildeo mais na qualidade dos processos do que nos

resultados embora estes tambeacutem possam e devam ser avaliados

Os dados analisados mostram realmente que em primeiro lugar o projeto luacutedico eacute de

facto uma metodologia extremamente rica e eficaz no que diz respeito agrave qualidade do

trabalho desenvolvido e agrave variedade de competecircncias das crianccedilas que permite

trabalhar mas mostra tambeacutem que a grelha de avaliaccedilatildeo proposta pode funcionar de

facto como um instrumento eficaz de avaliaccedilatildeo formativa de projetos

O Trabalho de Projeto

Parece fundamental antes de mais nada tornar clara a forma como aqui eacute entendida a

Metodologia de projeto

Epistemologicamente a palavra projeto que deriva do latim conteacutem a noccedilatildeo de

futuro (pro para a frente no espaccedilo ou no tempo) e de intervenccedilatildeo (jectare atirar)

(Many e Guimaratildees 2006)

O Trabalho de Projeto eacute uma metodologia investigativa e segundo Lilian Katz projeto

designa-se como sendo ldquoum estudo em profundidade de um determinado toacutepico que

uma ou mais crianccedilas levam a cabo Consiste na exploraccedilatildeo de um toacutepico ou temardquo

(1997 p3) que desperta a curiosidade das crianccedilas e prende a sua atenccedilatildeo

Com efeito o trabalho eacute orientado para a resoluccedilatildeo de um problema que deve ser

considerado importante e real para todos os participantes levando a aprendizagens

novas e tendo em conta o meio envolvente

ldquoEsta abordagem daacute ecircnfase ao papel do professor no incentivo agraves crianccedilas a

interagirem com pessoas objectos e com o ambiente de formas que tenham um

significado pessoal para elasrdquo (Katz amp Chard 1997 p5) pois se a crianccedila estiver

ativamente envolvida na construccedilatildeo da sua aprendizagem esta vai fazer muito mais

sentido e a crianccedila vai sentir-se muito mais motivada O educador pode deste modo

sensibilizar as crianccedilas para a procura de informaccedilatildeo e para a dedicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao

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227

projeto fornecendo ao grupo os materiais e os recursos necessaacuterios favorecendo

saberes competecircncias e sentimentos

Segundo Many e Guimaratildees (2006) um projeto ldquohellip+ parte de uma ideia de um sonho

de uma vontade cuja realizaccedilatildeo seraacute planificadardquo (p10) Assumimos que o projeto

parte dos interesses das crianccedilas sendo planificadas possibilidades e oportunidades de

aprendizagem com base nos mesmos que permitam aprofundar o toacutepico em questatildeo

O Educador tornaraacute a aprendizagem possiacutevel e provaacutevel

Como Vasconcelos (1998) afirmamos que todo o projeto se desenvolve em fases das

quais destacamos os seguintes percursos na primeira fase Definiccedilatildeo do Problema

define-se perguntas questiona-se acerca de um tema toacutepico um problema pelo qual

o grupo estaacute interessado As crianccedilas partilham o seu conhecimento sendo este

registado por exemplo atraveacutes do desenho Com o apoio do educador pode

construiacuteda uma teia ou rede para que as crianccedilas esquematizem as suas ideias Cabe

ao educador ajudar a manter os diaacutelogos e discussotildees

Na segunda fase Planificaccedilatildeo e Desenvolvimento do Trabalho as crianccedilas com o apoio

do educador decidem o que querem fazer como fazer por onde comeccedilar e por fim

atribuem-se tarefas Antecipam atividades tarefas recursos e documentaccedilatildeo que

necessitem Agrave medida que continuam a construir a teia as crianccedilas ldquocomeccedilam a ganhar

consciecircncia da orientaccedilatildeo que pretendem tomarrdquo (Vasconcelos 1998 p142) O

educador guia as crianccedilas daacute sugestotildees e acima de tudo observa e regista

Na terceira fase Execuccedilatildeo as crianccedilas datildeo iniacutecio agraves pesquisas Aprontam as perguntas

o que desejam saber e comeccedilam a procurar respostas atraveacutes de visitas consulta de

livros e outros suportes quer documentais ou informaacuteticos Posteriormente as

crianccedilas organizam o material que recolheram realizam registos e voltam a fazer

consultas para completar a informaccedilatildeo que adquiriram Durante esta fase eacute

fundamental que as crianccedilas usem todas as linguagens e formas de expressatildeo

desenhar pintar dialogar e dramatizar Nesta fase o educador tem de dar respostas

agraves necessidades e perguntas das crianccedilas

Por uacuteltimo na quarta fase Avaliaccedilatildeodivulgaccedilatildeo o grupo deve divulgar o seu trabalho

Primeiramente tecircm de pensar a quem se destina a divulgaccedilatildeo (crianccedilas adultos pais)

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e o educador trabalha com as crianccedilas a preparaccedilatildeo da apresentaccedilatildeo Quanto agrave

avaliaccedilatildeo as crianccedilas reuacutenem-se para avaliar a qualidade do trabalho realizado

comparam o que aprenderam com o que estava inicialmente definido analisando o

contributo de cada crianccedila em atitudescomportamentos e na cooperaccedilatildeo com os

colegas O educador por sua vez suscita o debate para que as crianccedilas compreendam

o que realizaram e o que podia ter sido aperfeiccediloado

A grelha de avaliaccedilatildeo proposta

A grelha de avaliaccedilatildeo (ver anexo I) eacute composta de duas partes distintas um conjunto

de criteacuterios que procuram fazer um balanccedilo das competecircncias adquiridas pelas

crianccedilas nos diferentes momentos e um conjunto de criteacuterios que procuram avaliar a

qualidade do trabalho desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

O texto ldquoO Recurso a Criteacuterios nas Praacuteticas Avaliativas em Questatildeordquo39 de Cortesatildeo

(2005) serviu de base agrave construccedilatildeo do instrumento por definir um conjunto de criteacuterios

de avaliaccedilatildeo de projetos que reflete de forma muito clara o tipo de preocupaccedilotildees jaacute

enunciadas Trata-se de um conjunto de indicadores construiacutedos a partir dos ldquoSete

princiacutepios de Avaliaccedilatildeo Curricularrdquo de S Kemmis 40 (Cortesatildeo 2005) A estes sete

princiacutepios a autora faz corresponder sete indicadores de avaliaccedilatildeo indicadores esses

que foram utilizados na construccedilatildeo de uma grelha de avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos

no que diz respeito ao trabalho desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

Verificou-se que em quase todos os casos era possiacutevel fazer uma aplicaccedilatildeo quase

direta destes criteacuterios ao universo da Educaccedilatildeo de Infacircncia embora em alguns casos

tenha sido necessaacuteria uma redefiniccedilatildeo dado o contexto de aplicaccedilatildeo

Esses criteacuterios satildeo

O princiacutepio do caraacuteter socialmente razoaacutevel das racionalidades41 a partir do qual a

autora propotildee o conceito de Negociaccedilatildeo que se entende como ldquoa capacidade maior

39

Idem 40

Kemmis S (1989) Seven Principles for Program Evaluation in Curriculum Development and Innovation in House ER New Direction in Educational Evaluation London The Falmer Press 41

Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) defende a importacircncia da atenccedilatildeo necessaacuteria ao caraacutecter orgacircnico e reflexivo da vida social defendendo que ldquoos programas deveratildeo ser capazes de alterar os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

229

ou menor que eacute encontrada no projeto de identificar e compatibilizar deferentes

interesses e valores presentes na populaccedilatildeo abrangida pelo projetordquo

O princiacutepio da autonomia e responsabilidade42 valorizando como indicador de

avaliaccedilatildeo dos projetos a ldquocapacidade maior ou menor que um projeto revela de

proporcionar espaccedilos de intervenccedilatildeo pelos quais os diferentes atores nele implicados

se sintam responsaacuteveis em praacuteticas desenvolvidas cooperativamenterdquo de onde surge o

conceito de Partilha

O princiacutepio da comunidade com interesses partilhados43 entendendo-se por

ldquoAdequaccedilatildeo a capacidade maior ou menor de resposta do projeto agraves necessidades

identificadas nas populaccedilotildees com que o projeto trabalhardquo (Cortesatildeo 2005 pp7-8)

O princiacutepio da pluralidade de interesses e valores44 - eacute necessaacuterio considerar a

existecircncia (simultacircnea e conflitual) de dois criteacuterios importantes para a avaliaccedilatildeo dos

projetos a Pertinecircncia (o grau de relevacircncia que as propostas do projeto assumem

parar a qualidade de vida das populaccedilotildees abrangidas) e a Eficaacutecia (a qualidade eou

Quantidade de efeitos - previstos e imprevistos ndash para os quais o projeto poderaacute estar

a contribuir ao longo do seu processo de desenvolvimento) (Cortesatildeo 2005)

O princiacutepio da capacidade de se autocriticar por parte da comunidade (avaliaccedilatildeo

interna avaliaccedilatildeo por consultoria mate avaliaccedilatildeo avaliaccedilatildeo externa e independente)45

ndash a partir do qual surge o conceito de Reflexibilidade aqui entendida como o estiacutemulo

objetivos agrave medida que mudam as circunstacircncias e oportunidades pois as necessidades em educaccedilatildeo satildeo relativas e natildeo absolutasrdquo 42

- Como Cortesatildeo afirma (idem) pretende-se valorizar neste tipo de projetos a implicaccedilatildeo e a partilha dos organizadores e dos participantes no trabalho e portanto a responsabilidade de todos os actores implicados reconhecendo a importacircncia da existecircncia da pluralidade de valores e do caraacutecter cooperativo do desenvolvimento do trabalho 43

Considera-se muito importante ter consciecircncia da variedade de interesses presentes na comunidade com que se desenvolve o projeto ldquointeresses particulares que se submetem eou conflituam com os interesses comunsrdquo (Cortesatildeo 2005) 44

A avaliaccedilatildeo de projetos deve incidir a sua atenccedilatildeo para o facto de que existem no interior de cada projeto interesses e valores que variam de participante para participante Segundo Luiza Cortesatildeo ldquoo avaliador teraacute a responsabilidade de iluminar a intensidade da partilha e conflitos entre valores e interesses dos participantes do projetordquo (idem) 45 Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) advoga que a avaliaccedilatildeo natildeo deve ser vista como uma actividade a desenvolver soacute por pessoas exteriores ao projeto (com uma visatildeo mais distanciada) mas sim ter em conta a opiniatildeo e os interesses dos envolvidos no processo devendo entatildeo ser um processo interactivo e reactivo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

230

maior ou menor que o projeto daacute agrave ocorrecircncia de actividade de auto e hetero

avaliaccedilatildeo do processo em curso

O Princiacutepio da propriedade da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo46 ndash que permite

apontar outro criteacuterio importante o da Responsabilidade aqui entendida como ldquoo

papel mais ou menos relevante atribuiacutedo aos avaliadores relativamente agraves decisotildees a

tomar sobre a utilizaccedilatildeo das informaccedilotildees recolhidasrdquo (Cortesatildeo2005)

O princiacutepio da adequaccedilatildeo47 ndash a Flexibilidade como criteacuterio de avaliaccedilatildeo aqui

entendida como ldquoa agilidade maior ou menor de um projeto em recorrer a diferentes

estrateacutegias que se estejam a revelar mais adequadas agraves caracteriacutesticas do contexto e

dos problemas que o projeto procura enfrentarrdquo (Cortesatildeo 2005)

No que diz respeito ao balanccedilo de competecircncias os indicadores utilizados foram

Aprendizagem entendida como ldquoa aquisiccedilatildeo maior ou menor de saberes e

competecircncias relativas a problemaacuteticas enfrentadas no projetordquo Neste caso concreto

pedimos para os estagiaacuterios finalistas referirem as aacutereas curriculares abordadas no

projeto explicitando a forma como foram trabalhadas em termos de

interdisciplinaridade e de criatividade) Autonomia que surge como a maior ou menor

capacidade ldquoque os agentes que trabalham no projeto tecircm de gerirem espaccedilos de

autonomia existentes no contexto em que se movemrdquo Cooperaccedilatildeo que surge como a

capacidade maior ou menor que os elementos do grupo ldquotecircm de trabalhar em grupo e

de partilhar experiecircncias e saberesrdquo Eficaacutecia entendida como a ldquocapacidade maior ou

menor de isoladamente ou em grupo contribuir para que sejam conseguidos

resultados considerados positivos no processordquo Implicaccedilatildeo que procura avaliar o

sentimento de pertenccedila e de responsabilidade maior ou menor que as crianccedilas ldquoteratildeo

em relaccedilatildeo ao projeto em que trabalhamrdquo e Negociaccedilatildeo vista como a ldquocapacidade

maior ou menor de lidar com situaccedilotildees conflituais surgidas no decurso do projetordquo

Os grupos envolvidos

46

Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) chama a atenccedilatildeo para o facto de os avaliadores ldquoterem de ser responsabilizar e ter consciecircncia das consequecircncias da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeordquo 47

para Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) a planificaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo de um projeto tecircm de ser renegociadas agrave medida que os interesses vatildeo mudando como consequecircncia da proacutepria evoluccedilatildeo do projeto

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231

Responderam ao nosso desafio como jaacute foi dito 22 grupos de crianccedilas e adultos do

universo das Instituiccedilotildees Cooperantes da ESE de Paula Frassinetti com estaacutegios

profissionalizantes da Licenciatura em Educaccedilatildeo de Infacircncia no ano letivo de

20092010 Estes estatildeo distribuiacutedos pelos distritos do Porto (grande maioria) mas

tambeacutem pelo distrito de Braga

O alvo desta investigaccedilatildeo foi o trabalho de metodologia de projeto desenvolvido no

contexto de estaacutegios profissionais em Educaccedilatildeo de Infacircncia da ESEPF com grupos de

crianccedilas dos 3 anos (5 salas) dos 4 anos (8 salas) dos 5 anos (8 salas) e ainda uma sala

mista de 45anos No cocircmputo geral estiveram entatildeo envolvidos entre adultos

(equipas pedagoacutegicas das salas) e crianccedilas cerca de quinhentas pessoas

Neste trabalho vamos apenas apresentar os dados recolhidos relativamente agrave

avaliaccedilatildeo das aprendizagens que a Metodologia de Projeto permite ao grupo de

crianccedilas pois nesta apresentaccedilatildeo existem condicionantes que natildeo possibilitam a

explicaccedilatildeo do estudo na sua globalidade Os dados relativos agrave avaliaccedilatildeo da qualidade

do trabalho desenvolvido pelas equipas pedagoacutegicas seratildeo alvos de anaacutelise e discussatildeo

numa oportunidade que se pretende proacutexima

O que mostraram os dados recolhidos

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo das aprendizagens adquiridas pelas crianccedilas no decurso dos

projetos os resultados recolhidos apoiam a ideia de que a metodologia de projeto eacute de

facto um espaccedilo de crescimento de desenvolvimento do grupo no sentido de se

tronarem mais questionadores mais reflexivos mais autoacutenomos e como indiviacuteduos e

tambeacutem como grupos A primeira conclusatildeo que parece ser possiacutevel tirar eacute de que o

trabalho de projeto eacute de facto uma ferramenta muito uacutetil no que diz respeito agraves

Aprendizagens que as crianccedilas fazem no seu decurso

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

232

Aprendizagem

2019

18

1615

95

18

0 10 20 30

cate

gori

as

nordm de referecircncias

Interdisciplinaridade

Capacidade investigativa

Todas a aacutereas de conteuacutedo

Iniciaccedilatildeo aacute leitura e abordagem agrave

escritaDomiacutenio da matemaacutetica

Expressatildeo e comunicaccedilatildeo

Formaccedilatildeo pessoal e social

Conhecimento do mundo

De facto e se nos debruccedilarmos mais de perto sobre os dados recolhidos vemos que a

grande maioria das referecircncias vai no sentido das aacutereas de conteuacutedo trabalhadas no

decurso dos vaacuterios projetos (ao todo 106 referecircncias) Haacute 15 referecircncias a que os

projetos luacutedicos trabalharam todas a aacutereas de conteuacutedo sendo que haacute 5 referecircncias agrave

importacircncia interdisciplinaridade Isto pode ser entendido como um sinal de que na

educaccedilatildeo preacute-escolar e neste tipo de metodologia as aacutereas de conteuacutedo satildeo

trabalhadas transversalmente e de forma interligada o que parece conferir um

especial interesse ao projeto como instrumento de desenvolvimento de inuacutemeras

competecircncias que devem ser trabalhadas no contexto de Jardim de Infacircncia Olhando

para as diferentes aacutereas de conteuacutedo vemos que o maior nuacutemero de referecircncias (20)

vai para a aacuterea do conhecimento do mundo seguindo-se a aacuterea de formaccedilatildeo pessoal e

social com 19 referecircncias que parece surgir sobretudo ligada agraves competecircncias que o

trabalho de projeto requer tambeacutem foram feitas aprendizagens nas aacutereas de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo (18 referecircncias) e no domiacutenio da matemaacutetica (18

referecircncias) Um nuacutemero consideraacutevel de referecircncias (16) destaca a aacuterea da iniciaccedilatildeo agrave

leitura e abordagem agrave escrita falando-se de um maior contacto com o mundo dos

livros e das histoacuterias

Com um peso tambeacutem muito consideraacutevel surgem as referecircncias (9) ao

desenvolvimento da capacidade investigativa das crianccedilas Com efeito os

testemunhos recolhidos revelam que estes grupos atingiram uma qualidade e

profundidade de pesquisa e investigaccedilatildeo no miacutenimo surpreendente quando se pensa

que estamos a falar de investigadores entre os trecircs e os cinco anos de idade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

233

O projeto luacutedico parece ser um espaccedilo privilegiado de exerciacutecio da Autonomia por

parte das crianccedilas segundo os testemunhos recolhidos Este conceito aparece

sobretudo ligado ao espaccedilo dado aos grupos para se co-responsabilizarem pela gestatildeo

de aprendizagem espaccedilos e materiais no decurso dos diferentes projetos

Autonomia

19

11

8

4

1

1

0 5 10 15 20

cate

gori

as

nordm de referecircncias

Capacidade investigativa

Capacidade de gestatildeo de conflitos

Capacidade de co-avaliar

Capacidade gerir papeis dentro de

uma equipaCapacidade de gestatildeo de espaccedilos e

materiaisCapacidade de co-planificar

De facto podemos verificar que as referecircncias (19) vatildeo sobretudo no sentido de verem

a co-planificaccedilatildeo como um espaccedilo privilegiado para o exerciacutecio da autonomia dos

grupos Verifica-se que as crianccedilas formam em muitos casos parte do investigador

coletivo (juntamente com a equipa pedagoacutegica) construindo a problemaacutetica a

investigar agindo investigando e reformulando os dados da pesquisa de acordo com

o que vatildeo recolhendo Parecem pequenos traccedilos de processos de investigaccedilatildeo accedilatildeo

Olhando os dados recolhidos parece claro que a competecircncia de Cooperaccedilatildeo (aqui

entendida como a capacidade maior ou menor de trabalhar em grupo e partilhar

experiecircncias e saberes) eacute muito trabalhada durante o desenvolvimento dos projetos

luacutedicos Surgem exemplos de cooperaccedilatildeo tanto com os elementos internos agrave equipa de

trabalho (grupo e equipa pedagoacutegica) como com elementos externos (famiacutelia e

comunidade)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

234

Cooperaccedilatildeo

1612

106

311

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

ind

icad

ore

s

nordm de referecircncias

Negativo

Partilha com outras

instituiccedilotildeesPartilha crianccedilacrianccedila

Partilha com outras salas

da instituiccedilatildeoGestatildeo do trabalho em

equipaPartilha jardim de

InfacircnciafamiacuteliaPartilha crianccedilagrupo

Um dos aspetos mais citados (16) eacute o exerciacutecio da cooperaccedilatildeo feito atraveacutes dos

contributos que cada crianccedila traz para o grupo

De acordo com os dados recolhidos parece possiacutevel afirmar-se que os projetos

analisados contecircm inuacutemeros exemplos de Eficaacutecia aqui entendida como sendo a

capacidade maior ou menor de isoladamente ou em grupo contribuir para que sejam

conseguidos resultados considerados positivos no processo

Eficaacutecia

129

65

3222

0 5 10 15

cate

go

ria

s

nordm de referecircncias

Envolvimento da famiacutelia

Contributo para a capacidade de trabalho

de equipa

Contributo para o desenvolvimento nas

aacutereas curriculares

Contributo para a capacidade de resoluccedilatildeo

de problemas

Contributo para aumentar a autonomia

Contributo para a capacidade reflexiva do

grupo

Contributo para a capacidade de pesquisa

Contributo para o envolvimento na

temaacutetica trabalhada

Haacute muitos exemplos (12) que falam de contributos eficazes das crianccedilas para o

desenvolvimento do projeto atraveacutes do envolvimento com as temaacuteticas trabalhadas

A Implicaccedilatildeo eacute vista aqui como sentimento de pertenccedila e responsabilidade maior ou

menor que as crianccedilas teratildeo em relaccedilatildeo ao projeto em que trabalharam

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

235

Implicaccedilatildeo

13

12

12

6

4

0 2 4 6 8 10 12 14

ca

teg

oria

s

nordm de referecircncias

Responsabilidade pelo material

construiacutedo em conjunto

Vontade de divulgarpartilhar o

projecto

Responsabilidade em contribuir

com materiais

Envolvimento afectivo

Responsabilidade em contribuir

com produtos de pesquisa

A implicaccedilatildeo aparece nas respostas analisadas (13 referecircncias) como associada agrave

responsabilidade demonstrada pelas crianccedilas em contribuir com produtos da sua

pesquisa

A Negociaccedilatildeo parece ser uma das competecircncias mais trabalhadas transversalmente

no decurso dos diferentes projetos Eacute referida como tendo em muitos projetos uma

evoluccedilatildeo positiva importante no decurso dos mesmos

Negociaccedilatildeo

14

14

10

0 5 10 15

ca

teg

oria

s

nordm de referecircncias

Evoluccedilatildeo na capacidade de

negociaccedilatildeo

Co-planificaccedilatildeo como exemplo

da capacidade de negociaccedilatildeo do

grupoEntre interesses individuais e

do grupo

Grande parte das referecircncias (14) fala do desenvolvimento da capacidade de

negociaccedilatildeo demonstrada pelos diferentes momentos de negociaccedilatildeo entre interesses

individuais e do grupo fundamentais para o eficaz desenvolvimento dos projetos

Reflexatildeo Final

Os dados analisados revelaram como se pode verificar que a Metodologia de Projeto eacute

um campo extremamente feacutertil de aprendizagens e crescimento quer para as crianccedilas

quer para os adultos Sentia-se que era importante natildeo deixar cair este campo de

investigaccedilatildeo que parecia ser ainda muito promissor em termos de resultados

interessantes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

236

Partindo desta experiecircncia jaacute vivida e percebendo a necessidade que existe de

construir instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo da Metodologia de Projeto no

contexto da Educaccedilatildeo de Infacircncia em Portugal pensou-se que seria importante

procurar encontrar um espaccedilo de reflexatildeo e de trabalho com equipas pedagoacutegicas no

terreno no sentido de se procurar construir e sistematizar numa loacutegica de

investigaccedilatildeo accedilatildeo instrumentos de acompanhamento dos projetos desenvolvidos nas

diferentes instituiccedilotildees convidadas a participar nesta primeira fase do projeto

Desta forma no ano letivo de 20122013 surge o Projeto de Investigaccedilatildeo

ldquoProblematizar a Metodologia de Projeto Articulando e Avaliando Aprendizagensrdquo

Convidaram-se cinco instituiccedilotildees com a valecircncia de Jardim de Infacircncia que de alguma

forma se foram mostrando empenhadas em aprofundar esta Metodologia Trata-se de

instituiccedilotildees com carateriacutesticas muito diferentes (jardins de infacircncia da rede puacuteblica

coleacutegios privados uns situados no centro da cidade do Porto outras em zonas

desfavorecidas da cidade e ainda outros de concelhos do grande Porto) Estas

diferenccedilas juntamente com praacuteticas diferenciadas de aplicaccedilatildeo da Metodologia de

Projeto com diferentes experiecircncias vivecircncias e saberes pareceram-nos uma riqueza

fundamental para que se pudessem produzir de facto novos conhecimentos No

entanto estava-se consciente que seria necessaacuterio abordar estas questotildees atraveacutes de

uma metodologia de investigaccedilatildeo que natildeo soacute respeitasse estas diferenccedilas como

permitisse articulaacute-las e valorizaacute-las

Assumiu-se sempre que a Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo seria uma metodologia de investigaccedilatildeo

que se adapta particularmente bem ao tipo de trabalho que se pretendia desenvolver

por se tratar de uma metodologia que desenvolve ldquoum conjunto de praacuteticas de

pesquisa visando produzir um conhecimento que se admite ser necessaacuterio pois que

permitiraacute intervir melhor num problema social eou educativo que se pensa ser

importante enfrentarrdquo48

48

Cortesatildeo L Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo ndash um convite a praacuteticas cientificamente transgressivas Conferecircncia proferida no Recife em Dezembro de 2004 p 3

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

237

A loacutegica do projeto sendo este de investigaccedilatildeo accedilatildeo assenta na problematizaccedilatildeo das

praacuteticas educativas dos diferentes intervenientes e na construccedilatildeo coletiva de um plano

de investigaccedilatildeointervenccedilatildeo

Tambeacutem e ainda segundo Cortesatildeo ldquo esse conjunto de praacuteticas usa sempre os

resultados obtidos da anaacutelise do que acontece em consequecircncia da

intervenccedilatildeo para produzir novo conhecimento (e assim sucessivamente)

Assim sendo poderaacute dizer-se que a Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo privilegia a mudanccedila

que catalisa como instrumento de pesquisa bem como a actividade de pesquisa

que produz como agente de mudanccedila (Bataille 1981 p 34)49

Outra das caracteriacutesticas que pareceu ser particularmente promissora em termos de

resultados eacute o facto de a Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo implicar a construccedilatildeo do que se

denomina de ldquoInvestigador coletivordquo o qual ldquorealiza um trabalho simultacircneo de

pesquisa e accedilatildeo conseguido atraveacutes de uma sinergia dos seus saberes e competecircncias

dos atores sociais que o compotildeem Eacute pois uma criaccedilatildeo coletiva de inovaccedilatildeo

pedagoacutegica e de aquisiccedilatildeo de conhecimentos (Perrenoud 1980) Eacute esta criaccedilatildeo

coletiva de inovaccedilatildeo e produccedilatildeo de conhecimento que confere agrave Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo a

sua especificidade (Bataille 1981 p 30)50

A construccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo de instrumentos de acompanhamento dos projetos

desenvolvidos nas diferentes instituiccedilotildees constituiu desde o iniacutecio um dos

mecanismos para a reflexatildeo problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de novos saberes entre os

investigadores Atraveacutes de uma accedilatildeo partilhada entre os diferentes investigadores

tem-se procurado desde o iniacutecio encontrar coerecircncia entre os pressupostos da

metodologia e o seu impacto na construccedilatildeo das aprendizagens dos grupos de crianccedilas

e adultos envolvidos nos projetos

Este projeto estaacute ainda no seu iniacutecio Tratando-se de um projeto de Investigaccedilatildeo-accedilatildeo

a construccedilatildeo do investigador coletivo pareceu ser a necessidade inicial mais premente

para que o trabalho se pudesse desenvolver da forma mais produtiva possiacutevel Assim

neste primeiro ano de desenvolvimento do projeto privilegiaacutemos espaccedilos de

formaccedilatildeo e de reflexatildeo conjunta a todos os envolvidos Nestes momentos os

49

Idem 50

Idem 200434

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

238

participantes foram convidados a refletir sobre questotildees teoacutericas importantes para

que a linguagem e princiacutepios a utilizar no projeto fossem de facto comuns a todos os

investigadores (foram abordados temas como a Investigaccedilatildeo accedilatildeo - Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo

ndash um convite a praacuteticas cientificamente transgressivas) Anaacutelise e discussatildeo da grelha

de avaliaccedilatildeo de projetos proposta multiculturalidade e diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica)

Foram tambeacutem realizadas sessotildees de partilha de experiecircncias (por exemplo a

realizaccedilatildeo de um Seminaacuterio de partilha das diferentes experiecircncias vividas na

instituiccedilotildees da Metodologia de Projeto) Por uacuteltimo realizou-se um seminaacuterio em que

conjuntamente todos os investigadores refletiram sobre o rumo que o projeto deveria

tomar Foram levantadas questotildees como quais os aspetos importantes para refletir

que necessidades satildeo sentidas na praacutetica no dia a dia nos Jardins de Infacircncia em

relaccedilatildeo agrave utilizaccedilatildeo da Metodologia pelos investigadores que aspetos da avaliaccedilatildeo e

de reflexatildeo dos processos da Metodologia os investigadores sentem como importantes

e neste sentido foi proposta a construccedilatildeo de instrumentos e dispositivos a

experienciar

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

240

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Frassinetti

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

241

Transversalidade e continuidade em educaccedilatildeo

Um olhar sobre os instrumentos de registo e observaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Preacute-escolar e no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

DIANA CUNHA

O Caminhar ndash Jardim de Infacircncia Lda dianaptcunhagmailcom

IVONE NEVES

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti ivonenevesesepfpt

ANA PINHEIRO

anapinheiroesepfpt Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

Resumo

Tomar consciecircncia do papel do educador de infacircncia e do professor do 1ordm CEB manifesta-se uma tarefa essencial agrave praacutetica permitindo uma orientaccedilatildeo da intervenccedilatildeo educativa no sentido de ir ao encontro do que eacute esperado por parte destes profissionais O trabalho espelha as experiecircncias nos contextos de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar sendo que se encontram evidenciadas as especificidades transversalidade e continuidade existentes em ambos os contextos A abordagem do estudo apresenta um caraacuteter misto Isto eacute por um lado um caraacuteter qualitativo na medida em que procuramos perceber mecanismos comportamentos e atitudes por outro lado um caraacuteter quantitativo na medida em que a informaccedilatildeo recolhida atraveacutes dos questionaacuterios e entrevistas pode espelhar uma perspetiva quantitativa

O trabalho comum a ambas as valecircncias com vista a um incremento na melhoria da intervenccedilatildeo educativa visa compreender as necessidades motivaccedilotildees e comportamentos dos sujeitos de estudo Este estudo tem carateriacutesticas proacuteximas de uma investigaccedilatildeo-accedilatildeo que permitiram uma avaliaccedilatildeo constante da intervenccedilatildeo com o objetivo de a tornar mais eficaz

Os instrumentos e teacutecnicas de investigaccedilatildeo utilizados foram a anaacutelise documental as listas de verificaccedilatildeo ou controlo as grelhas de observaccedilatildeo a observaccedilatildeo participante os registos de observaccedilatildeo o inqueacuterito por questionaacuterio a entrevista os instrumentos de avaliaccedilatildeo das aprendizagens o portfoacutelio de crianccedila o registo de projeto luacutedico e a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

242

rede curricular O conhecimento dos grupos de crianccedilas permite atitudes adequadas assim como uma planificaccedilatildeo mais eficaz na medida em que satildeo promovidas atividades significativas e diferenciadas que vatildeo de encontro agraves necessidades e interesses de cada um

Estes reguladores da praacutetica educativa satildeo instrumentos que permitem a reflexatildeo praacutetica sine-qua-non para uma intervenccedilatildeo de qualidade pois esta accedilatildeo vai permitir uma avaliaccedilatildeo dos acontecimentos e suas consequecircncias e ainda a remodelaccedilatildeo de praacuteticas e atitudes

Palavras-chave transversalidade continuidade profissional generalista

Abstract

The work of early childhood educators as well as primary schoolrsquos teachers is an essential practice allowing the intervention to shows us what to be expected from these professionals The work reflects the experiences in both these contexts especially in what concerns both transversal and continuity of pedagogies and methodologies with in each of them This report is mainly characterized as being based on mixed study On one hand has a qualitative nature as we tried to understand mechanisms behaviors and attitudes On the other hand we used a quantitative approach as the information gathered from questionnaires and interviews reveal a quantitative perspective

The study is aimed to understand the needs motivations and behaviors of the subjects It has features of an action-investigation that allowed a constant assessment of the intervention in order to make it more effective

The instruments and research techniques used to collect data were document analysis checklists and control grids for register participant observation observation records questionnaire survey interview childrsquos portfolio and childrensrsquos work The knowledge both teachers and educators have of the group they work with allows appropriate intervention as well as more efficient planning Significant activities related to childrenrsquos needs and interests

Keywords transversality continuity general professional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

243

Refletir sobre o profissional reflexivo

A constante busca da atualizaccedilatildeo e da reformulaccedilatildeo da praacutetica educativa visando a

melhoria das aprendizagens do educando leva o Educador51 a tomar uma atitude

reflexiva Neste processo estatildeo implicados os valores e crenccedilas que defendemos isto

eacute refletir implica o ldquohellip+ exerciacutecio da actividade reflexiva sobre a sua laquopraacutexisraquo hellip+rdquo

(Neves 2007 p81) revestindo este processo ldquohellip+ de uma dinacircmica construtivista

situado nos contextos onde decorre a acccedilatildeo e por isso eacute interactivo e

multidimensional considerando-se essencial para a melhoria da qualidade das praacuteticas

educativasrdquo (Ibidem p79) Deste modo tendo como base os seus ideais o Educador

reflete acerca do que observou e aconteceu no contexto atribuindo-lhe um significado

e concluindo as razotildees que o justificam

Agrave luz do que referimos anteriormente e de modo a melhorar as praacuteticas educativas a

reflexatildeo eacute indispensaacutevel sendo que ldquopara que o professor possa assumir o papel de

solucionar os seus proacuteprios problemas da accedilatildeo concreta hellip+ eacute necessaacuterio que o

professor assuma um processo de reflexatildeo criacutetica sobre a sua praacutetica docenterdquo (Nunes

2000 p21) Esta reflexatildeo criacutetica deve ter lugar antes durante e apoacutes a accedilatildeo tendo em

vista uma avaliaccedilatildeo formativa que ao longo do percurso de aprendizagem vai

melhorando o que se considera menos correto

De modo a organizar e documentar todos os resultados consequentes da sua praacutetica

reflexiva o Educador recorre ao portfoacutelio reflexivo sendo que este se trata rdquohellip+ de um

conjunto de trabalhos que atraveacutes de estrateacutegias de investigaccedilatildeo-acccedilatildeo procuram

evidenciar a natureza reflexiva colaborativa e interpessoal dos processos de

construccedilatildeo de conhecimento hellip+rdquo (Saacute-chaves 2007 p7) Ou seja adotar uma postura

reflexiva eacute um alicerce para que imprimamos maior qualidade nas nossas praacuteticas O

portfoacutelio visa ldquohellip+ em primeiro lugar a autoavaliaccedilatildeo e a autotransformaccedilatildeo hellip+ que

teratildeo com certeza repercussotildees na melhoria da praacutetica educativa e no

desenvolvimento pessoal e profissional do professorrdquo (Nunes 2000 p36)

O presente estudo reporta a duas experiecircncias de estaacutegio interventivo desenvolvidos

nos contextos de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar Estas

experiecircncias decorreram no periacuteodo de 26 de setembro de 2011 a 11 de janeiro de

2012 e de 6 de fevereiro a 6 de junho de 2012 respetivamente sendo que o primeiro

periacuteodo mencionado decorreu numa instituiccedilatildeo da rede puacuteblica concretamente com

51

No presente documento surgiraacute a necessidade de nos referirmos ao educador de infacircncia e ao professor do 1ordm CEB em simultacircneo quando tal acontecer estes seratildeo denominados como Educador ou profissional de educaccedilatildeo uma vez que ambos desempenham um papel educativo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

244

uma turma do 2ordm ano de escolaridade e o segundo periacuteodo de tempo referido teve

ocorrecircncia com um grupo de 45 anos numa instituiccedilatildeo particular e cooperativa

Para a prossecuccedilatildeo deste estudo foi necessaacuterio compreender qual o meio mais eficaz e

adequado de obter a informaccedilatildeo pretendida e para tal foi necessaacuteria uma

apropriaccedilatildeo das metodologias de investigaccedilatildeo

Ao longo destas experiecircncias adotamos uma atitude de professor-investigador Tal

postura implicou o desenvolvimento de ldquohellip+ competecircncias para investigar na sobre e

para a acccedilatildeo educativa hellip+rdquo (Alarcatildeo 2001 p6) bem como adotar uma postura

criacutetica questionando-nos acerca da nossa intervenccedilatildeo educativa ldquohellip+ como intelectual

que criticamente questiona e se questionardquo (Ibidem)

A abordagem de estudo apresentou um caraacuteter misto Isto eacute por um lado um caraacuteter

qualitativo na medida em que procuramos ldquohellip+ compreender os mecanismos o como

funcionam certos comportamentos atitudes e funccedilotildeesrdquo (Sousa 2009 p31) por outro

lado um caraacuteter quantitativo na medida em que a informaccedilatildeo recolhida atraveacutes dos

questionaacuterios e entrevistas ldquohellip+ pode ser transformada em nuacutemeros ou dados

quantitativos hellip+rdquo (Tuckman 2000 pp307-308)

O estudo comum a ambas as valecircncias com vista a um incremento na melhoria da

intervenccedilatildeo educativa visava compreender as necessidades motivaccedilotildees e

comportamentos dos sujeitos de estudo ou seja ldquohellip+ uma propriedade que natildeo eacute

passiacutevel de ser medida numa escala numeacuterica hellip+rdquo (Rosental amp Freacutemontier-Murphy

2002 p17) Tendo em conta que a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute uma investigaccedilatildeo hellip+

sistemaacutetica e auto-reflexiva levada a cabo por praacuteticos para melhorar a praacuteticardquo

(McKernan 1998 citado em Maacuteximo-Esteves 2008 P20) este estudo tem

carateriacutesticas proacuteximas de uma investigaccedilatildeo-accedilatildeo que permitiram uma avaliaccedilatildeo

constante da intervenccedilatildeo com o objetivo de a tornar mais eficaz

Pode ainda considerar-se que este estudo teve um caraacuteter etnograacutefico na medida em

que a etnografia eacute entendida como ldquohellip+ um meacutetodo de investigaccedilatildeo assente no

contacto directo e prolongado com os actores sociais cuja interacccedilatildeo constitui o

objecto de estudordquo (Silva 2003 citado em Vasconcelos sd p87)

Os sujeitos de estudo envolvidos foram a turma de vinte alunos do 2ordm ano de

escolaridade do 1ordm CEB com idades compreendidas entre os 7 e os 8 anos de idade

assim como o grupo de 25 crianccedilas da sala dos 45 anos de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar com

idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos de idade Sendo os educandos o centro

da accedilatildeo educativa estes devem ser alvo de constante observaccedilatildeo e investigaccedilatildeo pois

os sinais de qualidade da accedilatildeo educativa satildeo transmitidos atraveacutes dos mesmos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

245

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar surgiu uma questatildeo pertinente que colocou os

pais das crianccedilas e a educadora cooperante tambeacutem como sujeitos de estudo uma vez

que consideramos pertinente compreender a perceccedilatildeo destes face agraves implicaccedilotildees que

o projeto luacutedico ldquoA Selvardquo vivenciado pelo grupo de crianccedilas teve no desenvolvimento

e aquisiccedilatildeo de novas competecircncias do grupo de crianccedilas em questatildeo Torna-se

impreteriacutevel justificar o porquecirc da seleccedilatildeo destes sujeitos de estudo a educadora

cooperante pois como educadora titular do grupo acompanhou todo o seu processo e

desenvolvimento e os pais das crianccedilas uma vez que se envolveram ativamente no

projeto Importa ainda referir que os pais foram representados atraveacutes de uma

amostra de cinco pais selecionada aleatoriamente uma vez que todos se envolveram

nas atividades do projeto luacutedico

Instrumentos e teacutecnicas do profissional-investigador

Os instrumentos e teacutecnicas de estudo devem ser criteriosamente selecionados para

que deles se possa tirar o melhor partido Neste sentido os instrumentos e teacutecnicas de

investigaccedilatildeo utilizados neste estudo foram a anaacutelise documental as listas de

verificaccedilatildeo ou controlo as grelhas de observaccedilatildeo a observaccedilatildeo participante os

registos de observaccedilatildeo o inqueacuterito por questionaacuterio a entrevista os instrumentos de

avaliaccedilatildeo das aprendizagens o portfoacutelio de crianccedila o registo de projeto luacutedico e a rede

curricular

A anaacutelise documental carateriza-se pelo ldquohellip+ procedimento indirecto de pesquisa

reflexivo e sistemaacutetico controlado e criacutetico procurando dados factos relaccedilotildees ou leis

sobre determinado tema em documentaccedilatildeo existenterdquo (Sousa 2009 p 88) Esta

teacutecnica foi utilizada aquando da anaacutelise dos documentos de autonomia e gestatildeo das

instituiccedilotildees de ensino em que estas experiecircncias tiveram lugar para um conhecimento

mais aprofundado das mesmas bem como para a apropriaccedilatildeo de pressupostos

teoacutericos que sustentassem a praacutetica educativa Por outro lado estas anaacutelises tambeacutem

incidiram sobre os documentos oficiais orientadores da praacutetica educativa em Educaccedilatildeo

Preacute-Escolar e 1ordm CEB bem como na consulta de artigos cientiacuteficos livros e publicaccedilotildees

relacionados com as problemaacuteticas vivenciadas

Segundo Alberto Sousa (2009) ldquohellip+ a observaccedilatildeo em educaccedilatildeo destina-se

essencialmente a pesquisar problemas a procurar respostas para questotildees que se

levantem e a ajudar na compreensatildeo do processo pedagoacutegicordquo (p109) daiacute a

pertinecircncia da observaccedilatildeo em contexto educativo pois leva a uma compreensatildeo mais

profunda do que ocorre no meio em estudo A observaccedilatildeo nestes contextos a que nos

referimos foi permanente como condiccedilatildeo sine-qua-non pois eacute fundamental em todas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

246

as etapas do processo educativo Foi tambeacutem participante pois integramo-nos nos

diferentes contextos participando na vida dos grupos para recolher informaccedilatildeo Para

que a observaccedilatildeo seja eficaz como ato promotor de conhecimento urge a necessidade

de que esta seja alvo de registo Deste modo foram utilizados diferentes formatos de

observaccedilatildeo como meio de documentar as aprendizagens e carateriacutesticas dos

educandos

As listas de verificaccedilatildeo ou controlo ldquohellip+ satildeo listas de traccedilos especiacuteficos ou

comportamentos agrupados numa ordem loacutegica O observador assinala a presenccedila ou

ausecircncia de cada comportamento enquanto observa ou faacute-lo posteriormente quando

reflecte sobre as observaccedilotildees realizadasrdquo (Parente 2002 p187) Este natildeo foi um

instrumento utilizado com frequecircncia e foi apenas utilizado no acircmbito de 1ordm CEB pois

poucas situaccedilotildees permitiam este tipo de registo em que o comportamento estaacute ou natildeo

presente natildeo existindo um meio-termo Um exemplo da aplicaccedilatildeo de uma lista de

verificaccedilatildeo foi aquando da observaccedilatildeo da identificaccedilatildeo dos cuidados a ter com a visatildeo

As descriccedilotildees diaacuterias permitem ldquohellip+ documentar mudanccedilas ao niacutevel do crescimento do

comportamento e do desenvolvimento hellip+rdquo (Parente 2002 p180) Atraveacutes deste tipo

de registo pudemos constatar por exemplo a aquisiccedilatildeo de competecircncias pelos

educandos ou a alteraccedilatildeo de comportamentos

No que respeita ao registo contiacutenuo este trata-se de um ldquohellip+ relato narrativo e

detalhado de um comportamento ou acontecimento registado sequencialmente tal

como ocorremrdquo (Parente 2002 p183) Este tipo de registo foi apenas utilizado no

contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar permitindo-nos observar comportamentos

complexos no seu ambiente natural assim como observar comportamentos de

determinadas crianccedilas em contextos especiacuteficos

Os registos de incidentes criacuteticos ldquohellip+ descrevem um incidente ou comportamento

considerado importante para ser observado e registadordquo (Parente 2002 p181) sendo

que devem ser objetivos relatando o que aconteceu quando onde e o que foi dito

De entre muitos aspetos este instrumento permitiu-nos no contexto de 1ordm CEB

verificar demonstraccedilotildees de crenccedilas de carecircncias afetivas ou de sentido de entreajuda

e cooperaccedilatildeo Jaacute no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar possibilitou constatar por

exemplo manifestaccedilotildees de responsabilidade e lideranccedila de irresponsabilidade

perante as quais era necessaacuterio atuar ou de consciecircncia ambiental

A amostragem de acontecimentos foi tambeacutem um instrumento utilizado Este permitiu

a focalizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em ocorrecircncias de comportamentos previamente definidos

como alvo de observaccedilatildeo (PARENTE 2002) Este tipo de registo de observaccedilatildeo permitiu

documentar no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar as aacutereas que eram mais ou menos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

247

frequentadas pelas crianccedilas permitindo uma posterior atuaccedilatildeo face agraves lacunas

apresentadas por algumas das aacutereas e proporcionando um maior conhecimento dos

interesses de cada crianccedila

Os instrumentos de recolha de dados ateacute aqui abordados foram criados por Cristina

Parente (2002) e permitiram uma recolha variada de informaccedilotildees que se converteram

em intervenccedilotildees mais adequadas a cada grupo bem como agraves suas necessidades e

vivecircncias

As grelhas de observaccedilatildeo permitem ldquohellip+ um registo imediato e raacutepido das observaccedilotildees

realizadasrdquo (Trindade 2007 p41) favorecendo o processo de observaccedilatildeo Deste

modo no contexto de 1ordm CEB foram utilizadas grelhas de observaccedilatildeo com muita

frequecircncia sendo que estas apresentavam o comportamento a ser observado

criteacuterios de observaccedilatildeo e escalas Em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar este instrumento verificou-

se profiacutecuo aquando das sessotildees de motricidade na medida em que permitiram um

raacutepido e faacutecil registo do desempenho de cada crianccedila em atividades especiacuteficas Os

campos que constavam destas grelhas foram por noacutes criados no sentido de criar um

instrumento que se ajustasse agraves nossas necessidades e que para noacutes fizesse sentido e

facilitasse o processo de observaccedilatildeo

O registo das atividades significativas traduz-se no registo de atividades que por algum

motivo tiveram um maior impacto no grupo ou ateacute num soacute educando Este tipo de

instrumento permitiu o registo de atividades como a implementaccedilatildeo de uma nova

aacuterea na sala as pesquisas autoacutenomas realizadas pelos alunos ou ainda o trabalho de

grupo todas estas em contexto de 1ordm CEB Em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar permitiu o registo

de atividades que foram significativas para o grupo ou apenas para alguns elementos

como por exemplo a exploraccedilatildeo da digitinta ou as sessotildees de culinaacuteria em que

inuacutemeras competecircncias eram desenvolvidas

O PIP ndash Perfil de Implementaccedilatildeo do Programa ndash eacute um instrumento criado pela

Fundaccedilatildeo de Investigaccedilatildeo Educacional High-Scope em 1989 que visa a avaliaccedilatildeo da

qualidade da implementaccedilatildeo do programa nas salas Este instrumento foi em 1998

complementado pelo PQA ndash Program Quality Assessment ndash um outro instrumento que

tem como finalidade a avaliaccedilatildeo dos contextos Apesar de o PIP ser um instrumento

criado para a regulaccedilatildeo das salas que implementam o modelo High-Scope este

modelo de recolha de dados eacute facilmente adaptaacutevel a outros contextos que natildeo sigam

o modelo curricular a que nos referimos pois os elementos avaliados satildeo geneacutericos agrave

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar nomeadamente o espaccedilo fiacutesico a rotina diaacuteria a interaccedilatildeo

adulto-crianccedila e a interaccedilatildeo adulto-adulto No acircmbito de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar o PIP

em relaccedilatildeo ao ambiente fiacutesico foi utilizado pois essa necessidade foi sentida apoacutes as

conclusotildees retiradas da amostragem de acontecimentos Desta forma pudemos refletir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

248

acerca da organizaccedilatildeo do espaccedilo e posteriormente reorganizar o mesmo face agraves

necessidades manifestadas pelo grupo e agraves conclusotildees alcanccediladas pela equipa

pedagoacutegica

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar na tentativa de compreender as implicaccedilotildees que

o projeto luacutedico vivenciado pelo grupo tivera no seu desenvolvimento recorremos ao

inqueacuterito por questionaacuterio para perceber a opiniatildeo da famiacutelia face agrave questatildeo

levantada O inqueacuterito por questionaacuterio ldquoConsiste em colocar a um conjunto de

inquiridos geralmente representativo de uma populaccedilatildeo uma seacuterie de perguntas

relativas hellip+ ao seu niacutevel de conhecimento ou de consciecircncia de um acontecimento ou

de um problema ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse o investigadorrdquo

(Quivy amp Campenhoudt 1998 p188) estas carateriacutesticas aliadas agrave possibilidade de

ldquohellip+ quantificar uma multiplicidade de dados e de proceder por conseguinte a

numerosas anaacutelises de correlaccedilatildeordquo (Ibidem p189) levaram a que consideraacutessemos o

inqueacuterito por questionaacuterio o instrumento mais indicado para compreender a perceccedilatildeo

das famiacutelias face agraves aprendizagens dos seus educandos no acircmbito do projeto luacutedico ldquoA

Selvardquo Uma vez que este inqueacuterito por questionaacuterio era destinado agraves famiacutelias foi

necessaacuterio dotaacute-lo de uma contextualizaccedilatildeo introduzindo a metodologia utilizada no

trabalho desenvolvido em sala garantindo assim um conhecimento miacutenimo acerca do

assunto sobre o qual se pretendia que os pais fossem criacuteticos Para as questotildees deste

inqueacuterito foram tidos em conta indicadores como conhecimento do projeto luacutedico

partilha das crianccedilas motivaccedilatildeo das crianccedilas importacircncia do projeto luacutedico no

desenvolvimento das crianccedilas importacircncia do envolvimento parental

No que concerne agrave entrevista esta foi utilizada tambeacutem apenas no acircmbito de

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar para compreender a opiniatildeo da educadora cooperante face ao

desenvolvimento do grupo no acircmbito do projeto luacutedico A entrevista ldquohellip+ eacute um acto de

conversaccedilatildeo intencional e orientado que implica uma relaccedilatildeo pessoal hellip+ utilizada

quando se pretende conhecer o ponto de vista do outrordquo (Maacuteximo-Esteves 2008

pp92-93) Tratando-se a educadora de um indiviacuteduo restrito do qual se pretendia

recolher informaccedilotildees acerca de algo que vivenciou optamos por este instrumento

pois permite um maior ldquohellip+ grau de profundidade dos elementos de anaacutelise

recolhidosrdquo (Quivy amp Campenhoudt 1998 p194)

Os dados destes dois uacuteltimos instrumentos de recolha de informaccedilatildeo foram

devidamente tratados atraveacutes de uma anaacutelise de conteuacutedo que possibilitou

compreender a perceccedilatildeo dos sujeitos de estudo face agrave questatildeo levantada

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo das aprendizagens foram tambeacutem fonte de recolha de

dados que permitiam a regulaccedilatildeo das aprendizagens a par com os registos de

observaccedilatildeo efetuados assim como a intervenccedilatildeo do adulto

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

249

No contexto de 1ordm CEB estes instrumentos traduziram-se nas fichas de trabalho por

noacutes construiacutedas nas estrateacutegias promotoras de aprendizagem ativa pelo aluno

nomeadamente os trabalhos de pesquisa de grupo e experimentais assim como nas

estrateacutegias luacutedicas em que os alunos aprendiam brincando Todos estes momentos

foram alvo de observaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo formativa no sentido de regular as

aprendizagens

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar a realizaccedilatildeo do portfoacutelio de crianccedila permitiu

verificar a mais-valia que este instrumento representa na orientaccedilatildeo da accedilatildeo pois este

instrumento encoraja ldquohellip+ a reflexatildeo e o estabelecimento de objetivos a cada aprendiz

hellip+rdquo (Shores amp Grace 2001 p13) Assim atraveacutes do registo sistemaacutetico da evoluccedilatildeo da

crianccedila e do diaacutelogo com a mesma pudemos refletir acerca das competecircncias que

seriam importantes que a crianccedila desenvolvesse sendo que esta reflexatildeo se

apresentou sob a forma de propostas de intervenccedilatildeo ou de relatoacuterio narrativo

O registo do projeto luacutedico tambeacutem possibilitava uma reflexatildeo acerca das

aprendizagens alcanccediladas pelas crianccedilas assim como uma reflexatildeo acerca do trabalho

desenvolvido na medida em que as atividades eram descritas da forma como haviam

decorrido elencando competecircncias trabalhadas e comportamentos manifestados

pelas crianccedilas A grelha de avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos foi tambeacutem algo a que

recorremos para a documentaccedilatildeo das aprendizagens das crianccedilas no acircmbito do

projeto luacutedico Este instrumento que referimos por uacuteltimo permitiu a avaliaccedilatildeo das

competecircncias alcanccediladas pelas crianccedilas assim como a avaliaccedilatildeo da equipa pedagoacutegica

face agrave sua atuaccedilatildeo

A rede curricular surgiu a par com o registo do projeto luacutedico Esta representa um meio

de registo do trabalho desenvolvido numa sala ao longo de um ano letivo Este

instrumento permite-nos uma leitura integral do trabalho desenvolvido

compreendendo o caraacuteter sequencial e articulado do trabalho de projeto e podendo

ser verificada a interdisciplinaridade que cada atividade contempla Uma vez que ldquoA

rede natildeo tem centro ou pode ter vaacuterios centros que trazem ao redor de si pequenas

ramificaccedilotildeesrdquo (Ferreira de Arauacutejo 2008 sp) neste instrumento natildeo consta apenas o

registo das atividades realizadas no acircmbito do projeto luacutedico mas tambeacutem outras

atividades realizadas os instrumentos de organizaccedilatildeo social do grupo e a organizaccedilatildeo

do ambiente educativo assim como o trabalho desenvolvido no acircmbito da instituiccedilatildeo

e com a comunidade Atraveacutes de siacutembolos formas e cores previamente definidos

pode facilmente fazer-se a leitura das aacutereas de desenvolvimento trabalhadas na

atividade em questatildeo e se a mesma foi uma sugestatildeo do grupo dos pais ou do

Educador pode ainda perceber-se o encadeamento das atividades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

250

No que respeita agrave avaliaccedilatildeo da sua intervenccedilatildeo ndash autoavaliaccedilatildeo ndash o Educador

necessita de se descentralizar para que seja capaz de refletir criticamente acerca das

suas intervenccedilotildees e das suas propostas Neste sentido ao longo destas experiecircncias

utilizamos a redaccedilatildeo de reflexotildees escritas a realizaccedilatildeo de avaliaccedilotildees semanais e no

contexto de 1ordm CEB as grelhas de observaccedilatildeo de aula preenchidas pelo par

pedagoacutegico

As reflexotildees escritas eram devidamente fundamentadas teoricamente e tinham como

intuito o esclarecimento acerca de temas imperativos na praacutetica educativa decorrente

Exemplo de um tema que se revelou alvo de reflexatildeo foi a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica

pois ao depararmo-nos com uma heterogeneidade muito demarcada a niacutevel cognitivo

no grupo de 1ordm CEB sentimos a necessidade de compreender o que poderia ser feito

na tentativa de atender agraves necessidades de cada um dos alunos Refletir acerca deste

tema permitiu-nos uma elucidaccedilatildeo das conceccedilotildees teoacutericas e deste modo encontrar

estrateacutegias para colmatar este obstaacuteculo O profissional reflexivo tambeacutem foi um tema

que nos suscitou interesse pois tiacutenhamos a intenccedilatildeo de incrementar a qualidade das

proacuteprias reflexotildees escritas e a consulta de bibliografia adequada foi fundamental para

perceber em que aspetos deveriacuteamos melhorar No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar

continuou a haver assuntos alvo de reflexatildeo como eacute o caso por exemplo da rede

curricular

No que respeita agrave realizaccedilatildeo das avaliaccedilotildees semanais estas permitiam refletir sobre os

aspetos a melhorar numa proacutexima intervenccedilatildeo e tambeacutem sobre os aspetos positivos

que se destacaram Temos como exemplo no contexto de 1ordm CEB a avaliaccedilatildeo do dia

18 de outubro em que refletimos sobre uma gestatildeo natildeo tao eficaz do tempo e do

grupo numa atividade em que foi solicitado o diaacutelogo em grande grupo a reflexatildeo

levou-nos natildeo soacute a identificar um aspeto a melhorar como nos permitiu apontar uma

soluccedilatildeo para a resoluccedilatildeo deste contratempo A tiacutetulo de exemplo no contexto de

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar a avaliaccedilatildeo semanal permitiu constatar a eficaacutecia de estrateacutegias

Estas reflexotildees constantes permitiam uma regulaccedilatildeo da praacutetica sendo que assim nos

forneceu meios para reformular a intervenccedilatildeo alcanccedilando uma progressiva qualidade

das praacuteticas educativas

No que refere ao 1ordm CEB as grelhas de observaccedilatildeo de aula preenchidas pelo par

pedagoacutegico e pela professora cooperante eram tambeacutem um oacutetimo instrumento de

reflexatildeo pois estas eram capazes de observar situaccedilotildees e aspetos que nos passariam

despercebidos por nos encontrarmos embrenhados na realizaccedilatildeo das atividades

pedagoacutegicas e na assistecircncia a todos os alunos As grelhas de observaccedilatildeo de aula

permitiram ainda que tiveacutessemos em atenccedilatildeo os aspetos que realmente satildeo

importantes na praacutetica educativa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

251

Avaliar para agir

Relativamente agrave avaliaccedilatildeo dos educandos nos dias que correm eacute dado adquirido que

a avaliaccedilatildeo natildeo se reduz apenas a um momento isolado no final de cada periacuteodo letivo

e assim a uma avaliaccedilatildeo que visa meramente a atribuiccedilatildeo de classificaccedilotildees A avaliaccedilatildeo

eacute um elemento regulador da praacutetica isto eacute avaliamos em primeiro lugar para

perceber em que niacutevel os nossos educandos se encontram e podermos atuar face agraves

suas necessidades depois eacute necessaacuterio que haja uma avaliaccedilatildeo constante ao longo do

processo e como natildeo podia deixar de ser eacute necessaacuterio avaliar os resultados finais

Eacute entatildeo evidente que a avaliaccedilatildeo eacute realizada em diferentes momentos do processo

educativo momentos esses que datildeo lugar a trecircs tipos de avaliaccedilatildeo distintos

nomeadamente a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica a avaliaccedilatildeo formativa e a avaliaccedilatildeo sumativa

A avaliaccedilatildeo diagnoacutestica eacute utilizada para apurar a ldquohellip+ posiccedilatildeo do aluno face a novas

aprendizagens que lhe vatildeo ser propostas e a aprendizagem anteriores que servem de

base agravequelas hellip+rdquo (Ribeiro 1991 p79) permitindo diagnosticar as necessidades das

crianccedilas

No que respeita agrave avaliaccedilatildeo formativa esta tem por excelecircncia um caraacuteter evolutivo

na medida em que ldquohellip+ pretende determinar a posiccedilatildeo do aluno ao longo de uma

unidade de ensino no sentido de identificar dificuldades e de lhes dar soluccedilatildeordquo

(Ribeiro 1991 p84) No contexto em 1ordm CEB a avaliaccedilatildeo formativa foi realizada

atraveacutes do acompanhamento constante de cada aluno aquando da realizaccedilatildeo de

tarefas de jogos de pesquisas de trabalhos de grupo de experiecircncias da realizaccedilatildeo

de fichas de trabalho por parte dos alunos bem como aquando do preenchimento de

grelhas de observaccedilatildeo e listas de verificaccedilatildeo permitindo a averiguaccedilatildeo de dificuldades

para a posterior intervenccedilatildeo no sentido de colmatar tais dificuldades Jaacute no contexto

de jardim-de-infacircncia o acompanhamento de cada crianccedila os registos de observaccedilatildeo

e por vezes as grelhas de observaccedilatildeo tambeacutem foram instrumentos que suportaram a

avaliaccedilatildeo formativa deste grupo

Os instrumentos de observaccedilatildeo direta enumerados anteriormente permitiram avaliar

as aquisiccedilotildees conseguidas pelos educandos nos diferentes domiacutenios do

desenvolvimento bem como documentar os seus progressos

A autoavaliaccedilatildeo dos alunos foi tambeacutem um instrumento de avaliaccedilatildeo utilizado em

ambas as valecircncias No contexto de 1ordm CEB este instrumento permitiu verificarmos o

modo como os alunos estavam a percecionar o seu desempenho e se seriam capazes

de apontar soluccedilotildees para a colmataccedilatildeo de lacunas No que respeita agrave Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar esta autoavaliaccedilatildeo acontecia ao niacutevel da reflexatildeo acerca de comportamentos e

atitudes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

252

Jaacute em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo sumativa esta tem como finalidade determinar se os

objetivos previamente estipulados foram alcanccedilados Esta avaliaccedilatildeo eacute rdquo hellip+ pertinente

no final de um qualquer segmento jaacute longo de aprendizagem ndash seja ele uma ou mais

unidades de ensino hellip+rdquo (Ribeiro 1991 p89)

Sendo aplicada em todos estes momentos a avaliaccedilatildeo transforma-se num ato de

comunicaccedilatildeo entre professor e aluno em que o professor capta as necessidades do

aluno e as vai transmitindo ao mesmo e este vai dando a resposta adequada Assim a

avaliaccedilatildeo como feedback ldquohellip+ tem como uacutenica finalidade melhorar o desenrolar da

accedilatildeo e tornaacute-la mais condizente com o seu projeto hellip+rdquo (Barlow 2006 p15)

Para avaliar os educandos o profissional de educaccedilatildeo tem de saber o que vai avaliar

Assim a avaliaccedilatildeo torna-se indissociaacutevel da planificaccedilatildeo pois ao iniciar qualquer

planificaccedilatildeo importa ldquohellip+ natildeo definir primeiro o que o professor vai fazer para

transmitir tal saber ou habilidade mas o que o aluno seraacute capaz de fazer ao teacutermino da

formaccedilatildeo Natildeo vamos nos situar no ponto de partida da acccedilatildeo mas no seu ponto de

chegadardquo (Ibidem p83)

Conclusatildeo

O crescimento pessoal e profissional depende em muito da capacidade de reflexatildeo

criacutetica uma vez que esta accedilatildeo vai permitir uma avaliaccedilatildeo dos acontecimentos e suas

consequecircncias e por sua vez a remodelaccedilatildeo de praacuteticas e atitudes

As duacutevidas que se levantaram ao longo das experiecircncias nos diferentes contextos

foram inuacutemeras e exigiram uma postura de permanente procura pelo saber uma

articulaccedilatildeo entre as conceccedilotildees teoacutericas e a praacutetica apostando na ldquohellip+ contiacutenua

procura de novos dados de resoluccedilatildeo de problemas de mudanccedila [que se processa]

atraveacutes de um movimento contiacutenuo entre acccedilatildeo e reflexatildeo que exige intervenccedilatildeo

implicaccedilatildeo e participaccedilatildeordquo (Fernandes 1990 p34)

No contexto de 1ordm CEB a dificuldade em compreender como estabelecer esta ponte

levou a que a nos questionaacutessemos inuacutemeras vezes uma vez que nos encontraacutevamos

com uma turma do 2ordm ano de escolaridade que jaacute estaria ambientada com as

especificidades do 1ordm CEB Ao fim de algum tempo compreendemos que atraveacutes de

uma relaccedilatildeo proacutexima e afetuosa um elemento mediador jaacute seria criado assim como

atraveacutes do luacutedico e dos jogos como estrateacutegias de ensino e dos momentos de

acolhimento e diaacutelogo Poreacutem natildeo satisfeitos questionando-nos acerca do que mais

poderia ser feito e julgamos que a criaccedilatildeo de aacutereas na sala aproximando-nos de

caracteriacutesticas de um projeto luacutedico seria uma possiacutevel estrateacutegia e nesse sentido foi

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

253

criada uma aacuterea de descoberta e construccedilatildeo ativa do conhecimento o Centro de

Recursos

Por sua vez no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar uma vez que se tratava de um grupo

com idades compreendidas entre os cinco e os seis anos de idade a necessidade de

continuidade pedagoacutegica tambeacutem se fez sentir A abordagem de conteuacutedos

programaacuteticos comuns ou semelhantes a ambos os contextos tambeacutem foi uma das

estrateacutegias utilizadas assim como o convite a familiares que lecionam no 1ordm CEB para

abordar conteuacutedos que abordariam em sala desmistificando as ideias preacute-concebidas

das crianccedilas

A relaccedilatildeo pedagoacutegica foi uma preocupaccedilatildeo desde o iniacutecio e foi privilegiada de igual

forma em ambos os contextos Entendemos que esta relaccedilatildeo deveria ser nutrida

diariamente atraveacutes do reforccedilo positivo da atenccedilatildeo conferida a cada crianccedila das

brincadeiras e dos carinhos trocados transformando-se num laccedilo inquebraacutevel

Compreendemos que esta relaccedilatildeo natildeo deve ser de todo uma relaccedilatildeo de imposiccedilatildeo e

distanciada pelo contraacuterio deve traduzir-se numa relaccedilatildeo de respeito cooperaccedilatildeo e

ateacute mesmo de carinho o que natildeo impede o papel de lideranccedila necessaacuterio do

Educador No que respeita agrave relaccedilatildeo estabelecida com as crianccedilas o companheirismo e

proximidade estabelecidos natildeo tardaram em ambos os contextos o que aliado agrave

curiosidade e interesse inatos dos grupos se traduziu em crianccedilas ativamente

envolvidas e participativas

A envolvecircncia com a comunidade e com os pais era valorizada por ambas instituiccedilotildees

o que facilitou este contato Proporcionamos momentos de partilha e conviacutevio com a

comunidade educativa assinalando datas comemorativas assim como a solicitaccedilatildeo do

envolvimento dos pais foi regular incentivando os mesmos a participarem no

desenvolvimento dos seus filhos e no trabalho realizado em sala Os proacuteprios pais

agradeciam e congratulavam a iniciativa pois estavam a passar momento de qualidade

com os filhos verificando a sua evoluccedilatildeo e ateacute em alguns casos constatando lacunas

que necessitavam de ser corrigidas

No que concerne agraves metodologias utilizadas no contexto de 1ordm CEB o meacutetodo ativo foi

privilegiado Este meacutetodo pressupotildee ldquohellip+ que os alunos tenham a oportunidade de

viver situaccedilotildees estimulantes de trabalho escolar que vatildeo da actividade fiacutesica e da

manipulaccedilatildeo dos objectos e meios didaacutecticos agrave descoberta permanente de novos

percursos e de outros saberesrdquo (Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 1991 p23) Elevaacutevamos o

diaacutelogo como forma de exploraccedilatildeo e troca de saberes e opiniotildees numa perspetiva de

valorizar e aproveitar o que cada aluno tinha para dar respondendo ainda agraves suas

curiosidades e interesses No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar era privilegiada a

metodologia de projeto que tambeacutem prevecirc uma pedagogia participativa em que ldquoA

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

254

imagem da crianccedila eacute a de um ser competente que participa com liberdade agecircncia

inteligecircncia e sensibilidaderdquo (Oliveira-Formosinho 2011 p100) Neste contexto

incentivaacutevamos a crianccedila a buscar o seu proacuteprio conhecimento pesquisando

experimentando solucionando

Para que este autoconhecimento tenha sido alcanccedilado foi necessaacuteria a constante

reflexatildeo sobre o tipo de pessoa e Educador que ambicionaacutevamos ser o tipo de crenccedilas

e teorias que desejaacutevamos seguir assim como os constrangimentos que nos eram

colocados A utilizaccedilatildeo do portfoacutelio reflexivo contribuiu para desenvolvermos esta

postura reflexiva e fundamentarmos os processos de reflexatildeo sobre a accedilatildeo

Recorrendo a estes instrumentos vimos facilitados os processos de auto e

heteroavaliaccedilatildeo pois permitiu-nos compreender mais facilmente as nossas atitudes

assim como reunimos dados para a reformulaccedilatildeo da praacutetica educativa

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

256

Como avaliar as aprendizagens das praacuteticas musicais em

Educaccedilatildeo Musical

MAacuteRIO RELVAS

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

marioreselxiplpt

Resumo

Eacute do conhecimento geral que muitos professores ensinam os alunos a ouvir cantar e

compor mas usam testes escritos para avaliar as aprendizagens Este facto revela que

por um lado haacute quem tenha a ideia que os testes escritos estatildeo mesmo a avaliar as

praacuteticas musicais e por outro lado tambeacutem haacute quem considere que eacute muito difiacutecil e

inconsistente avaliar as praacuteticas musicais porque a Muacutesica tem um caraacutecter transitoacuterio

efeacutemero imaterial Aleacutem do problema ser interessante ele eacute abrangente porque

existe tanto entre os professores especialistas de Muacutesica como entre os professores

generalistas de Educaccedilatildeo de Infacircncia e de 1ordm Ciclo

A experiecircncia levada a cabo nos uacuteltimos trecircs anos no Mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo

Musical no Ensino Baacutesico sobre a forma de avaliar as aprendizagens dos alunos em

Educaccedilatildeo Musical manteacutem os testes escritos para avaliar os conhecimentos teoacutericos

mas introduz um instrumento de avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais as grelhas de

descritores de desempenho Estas grelhas ainda que mantendo princiacutepios

orientadores comuns satildeo sempre feitas agrave medida para cada situaccedilatildeo especiacutefica de

obra atividade musical alunos e satildeo aplicadas natildeo soacute em observaccedilatildeo direta mas

tambeacutem sobre registos aacuteudioviacutedeo Estes instrumentos satildeo construiacutedos pelos

docentes e natildeo em conjunto com os alunos mas satildeo-lhes apresentados e explicados

desde o iniacutecio de cada unidade didaacutetica usados regulamente para autoavaliaccedilatildeo

formativa e nas apresentaccedilotildees finais para avaliaccedilatildeo sumativa Desta forma os alunos

sabem desde o iniacutecio onde se espera que cheguem e sabem em cada momento do

processo em que ponto se encontram e que problemasdificuldades musicais devem

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

257

ser ultrapassados Em cada atividade comparaacutemos a autoavaliaccedilatildeo dos alunos com a

avaliaccedilatildeo dos professores e verificaacutemos em todas as situaccedilotildees uma elevada correlaccedilatildeo

positiva (r gt 09)

Teremos ainda que consolidar os dados jaacute obtidos pelo que esperamos o envolvimento

de mais professores A possibilidade de divulgar a soluccedilatildeo aqui apresentada

nomeadamente atraveacutes de accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua permitiraacute um evidente

aumento da consistecircncia e fiabilidade da avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo

Musical

Palavras-chave muacutesica avaliaccedilatildeo descritores

Abstract

Is commun knowledge that many teachers teach students to perform compose and

appraise but tend to assess music learning through written tests This fact shows that

some teachers believe that they are really assessing the music making processes and

also that other teachers think it is very difficult to assess musical making because of

the immaterial nature of music It is not only a very interesting problem but also a

generalized one that affects specialist music teachers and non-specialists like

kindergarten and primary school teachers

The experiments conducted during the last three years in the Master of Arts in

Teaching Music for General Schools kept the written tests to assess theoretical

knowledge but introduced a new assessment device rubrics with progression

descriptors These rubrics although sharing common principles are tailored for each

musical activity piece of music and class and applied both on live and on audiovideo

recordings Rubrics are written by teachers not by students but are used by the later

as a formative self-assessment tool to devise and overcome musical problems In each

activity we compared the assessment by the teachers with studentsrsquo self-assessment

and obtained a very high positive co-relation

We still need to confirm these results by conducting a new research involving a larger

group of teachers The music making assessment rubrics will be part of the next

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

258

continuous professional development programme at the higher education institution

previously mentioned

Keywords music assessment rubrics descriptors

Introduccedilatildeo

O mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo Musical lecionado na ESELx inclui unidades

curriculares (UCs) de praacutetica profissional supervisionada Ao iniciarem o seu estaacutegio

nas escolas cooperantes os alunos estagiaacuterios foram confrontados com a necessidade

de elaborar fichas diagnoacutestico e ateacute ao final do 1ordm periacuteodo foi-lhes solicitada a

elaboraccedilatildeo de testes escritos Surgiram entatildeo as primeiras interrogaccedilotildees mas

avaliamos o cantar o tocar o ouvir atraveacutes de testes escritos

Tanto a Organizaccedilatildeo Curricular e Programas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico como os

Programas de Educaccedilatildeo Musical para os 2ordm e 3ordm Ciclos52 estabelecem como princiacutepio

orientador que Ouvir Tocar e Compor satildeo a base de todas as aprendizagens Ao

cumprirem os programas preparando aulas em que se Faz Muacutesica os professores

cooperantes e os estagiaacuterios viram-se confrontados com vaacuterias dificuldades o que

avaliar como registar o som das interpretaccedilotildees dos alunos como transmitir aos alunos

as nossas expectativas como operacionalizar a avaliaccedilatildeo individual em turmas grandes

e como assegurar que a avaliaccedilatildeo dos alunos eacute semelhante entre todas as turmas da

escola

A experiecircncia levada a cabo aqui na ESELx no acircmbito do Mestrado em Ensino de

Educaccedilatildeo Musical manteacutem os testes escritos para avaliar os conhecimentos teoacutericos

mas introduziu um instrumento de avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais contribuindo assim

para ultrapassar as dificuldades enunciadas

Criaacutemos grelhas com descritores de desempenho para avaliar as aprendizagens praacuteticas

52

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1990) e (1991)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

259

Construiacutemos os descritores segundo princiacutepios gerais mas as grelhas foram feitas agrave medida de cada situaccedilatildeo

Usaacutemos as grelhas no princiacutepio meio e fim do processo permitindo ao alunos saber onde deveriam chegar a meio do processo para identificar os aspetos a melhorar e no fim para avaliaccedilatildeo sumativa

Aumentaacutemos a consistecircncia da avaliaccedilatildeo entre os docentes e fiabilidade da avaliaccedilatildeo

O problema

Vamos ouvir o excerto de uma interpretaccedilatildeo instrumental (School Curriculum and

Assessment Authority SCAA 1996 faixa 5 000-031) Como avaliamos as

aprendizagens das praacuteticas musicais que acabaacutemos de escutar Quaisquer que sejam

as respostas elas vatildeo implicar seguramente ouvir vaacuterias vezes os excertos e isso soacute eacute

possiacutevel porque registaacutemos o som Pode parecer uma resposta oacutebvia para

ultrapassar o caraacuteter efeacutemero e imaterial da Muacutesica mas apesar de todos termos

computador e telemoacutevel poucos somos os que nos socorremos deles para registar o

som Poreacutem mesmo com a possibilidade de ouvir vaacuterias vezes o desempenho dos

alunos os estagiaacuterios tinham dificuldade em verbalizar que caracteriacutesticas procuravam

durante a escuta e os professores cooperantes tinham opiniotildees diferentes sobre os

objetivos a atingir pelos alunos Estas duas situaccedilotildees dificuldade e diversidade satildeo

comuns a muitos colegas em muitas escolas sejam generalistas ou especialistas E

quando procuraacutemos ajuda nos manuais escolares mdash o nosso mestrado tem um moacutedulo

especificamente para avaliar os manuais escolares existentes no mercado mdash

constataacutemos que a esmagadora maioria deles natildeo inclui instrumentos de avaliaccedilatildeo e

os casos raros em que os tecircm consistem em testes escritos com alguns exemplos

auditivos e soacute um caso apresenta instrumentos de avaliaccedilatildeo da Interpretaccedilatildeo e da

Composiccedilatildeo

Com este panorama geral natildeo eacute de estranhar que muitos de noacutes natildeo tenhamos ainda

conseguido incluir nas nossas praacuteticas letivas outros instrumentos de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

260

(Spruce 2002 p117) tanto mais que todos temos que ter registos escritos que

sustentem perante os pais e a escola as avaliaccedilotildees que fazemos do trabalho dos alunos

em Expressatildeo e Educaccedilatildeo Musical No entanto isto natildeo nos deve impedir de procurar

melhores soluccedilotildees e eacute importante relembrar a todos os intervenientes que os

programas satildeo clariacutessimos e estatildeo ldquodo nosso ladordquo no Programa do 1ordm ciclo ldquoA praacutetica

do canto constitui a base da expressatildeo e educaccedilatildeo musical no 1ordm ciclordquo (ME+ 1990

p73) e nos Programas dos 2ordm e 3ordm Ciclos ldquoTeoria e informaccedilatildeo satildeo considerados meios

e suportes que soacute por si natildeo levam agrave compreensatildeo musicalrdquo (ME+ 1991 p7)

Proposta de soluccedilatildeo

A minha experiecircncia como professor de Educaccedilatildeo Musical do Ensino Baacutesico e os

muitos Conselhos de Turma em que participei sempre me levaram a questionar se

parte dos problemas com que nos defrontamos em termos de sucesso educativo natildeo

seriam causados por uma avaliaccedilatildeo se natildeo incorreta pelo menos incompleta Claro

que se nas aulas damos prioridade agrave teoria e natildeo agrave praacutetica se nos centramos nos

siacutembolos e nas definiccedilotildees e natildeo em fazer Muacutesica entatildeo os testes escritos satildeo os

instrumentos de avaliaccedilatildeo adequados e coerentes com o processo de ensino-

aprendizagem Poreacutem se cumprimos os programas entatildeo o desenvolvimento musical

dos alunos eacute feito a partir de atividades de Audiccedilatildeo Interpretaccedilatildeo e Composiccedilatildeo e

logo satildeo necessaacuterios outros instrumentos de avaliaccedilatildeo adequados e coerentes com

este outro processo de ensino-aprendizagem

Estas preocupaccedilotildees acompanham-me desde haacute muitos anos e tambeacutem isso justifica

que o tema Avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Musical esteja presente nas unidades curriculares

que coordeno e leciono no mestrado nomeadamente Metodologias do Ensino de

Muacutesica e Praacutetica Profissional Supervisionada Satildeo unidades curriculares pensadas para

funcionarem em simultacircneo ao longo de todo o ano letivo permitindo aos estagiaacuterios

dar significado aos quadros teoacutericos e refletir sobre a praacutetica Mas se em termos de

organizaccedilatildeo do plano de estudos estavam criadas boas condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo destes instrumentos de avaliaccedilatildeo importava principalmente que desde o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

261

iniacutecio dos trabalhos se conseguisse ldquoganharrdquo ldquoconquistarrdquo os alunos estagiaacuterios e os

professores cooperantes removendo o maior nuacutemero possiacutevel de obstaacuteculos Seraacute que

tudo iria ser posto em causa pela simples falta de facilidade e qualidade em registar o

som Agrave partida natildeo pois nos uacuteltimos 5 anos tenho constatado uma evoluccedilatildeo muito

significativa na acessibilidade agraves TIC e hoje todos os alunos do mestrado tecircm

computador portaacutetil e software gratuito para registar o som Alguns estagiaacuterios para

aleacutem do computador tecircm tambeacutem telefones moacuteveis com a capacidade de registar

som e viacutedeo com muito boa qualidade E o que poderia esperar dos professores

cooperantes e da sua necessidade em gerir o tempo letivo e natildeo letivo Tambeacutem aqui

natildeo me parecia que pudesse vir a encontrar grande resistecircncia pois alguns dos

professores cooperantes foram nossos alunos aqui na ESELx logo jaacute tinham

desenvolvido trabalho neste domiacutenio

A ideia passava entatildeo por

1 apresentar e discutir a avaliaccedilatildeo em termos teoacutericos no acircmbito da unidade

curricular de Metodologias do Ensino de Muacutesica realizando aiacute tambeacutem alguns

exerciacutecios de aplicaccedilatildeo

2 seguidamente responder agraves solicitaccedilotildees da Praacutetica Profissional Supervisionada

debatendo e criando descritores de desempenho organizados em grelhas para

cada uma das obras e atividades musicais

3 apresentar e explicar estes instrumentos aos alunos desde o iniacutecio de cada

projeto musical usados regularmente para autoavaliaccedilatildeo formativa e nas

apresentaccedilotildees finais para avaliaccedilatildeo sumativa

4 proceder agrave anaacutelise estatiacutestica dos coeficientes de correlaccedilatildeo entre os resultados

das avaliaccedilotildees dos alunos estagiaacuterios dos professores cooperantes e da

autoavaliaccedilatildeo dos alunos do Ensino Baacutesico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

262

Desenvolvimento

Quadro teoacuterico

Os alunos que entram para o mestrado sabem tocar um instrumento e tecircm o haacutebito de

se apresentar em puacuteblico logo das trecircs atividades musicais preconizadas nos

Programas do Ensino Baacutesico a atividade de Interpretaccedilatildeo eacute aquela com que eles estatildeo

mais familiarizados em que se sentem mais agrave vontade Por isso decidi que na unidade

curricular de Metodologias deveria comeccedilar a abordar o tema Avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Musical pela avaliaccedilatildeo da atividade de Interpretaccedilatildeo e soacute depois abordar a avaliaccedilatildeo

das atividades de Composiccedilatildeo e de Audiccedilatildeo Comeccedilaacutemos com um brainstorming em

torno de perguntas sobre o que avaliar (Figura 1)

Figura 1 Exemplo do brainstorming realizado na aula de Metodologias antes da apresentaccedilatildeo do

quadro teoacuterico

A resposta a estas e outras perguntas foram encontradas no documento Consistency in

Teacher Assessment - Exemplification of Standards Music ([SCAA] 1996) Ele comeccedila

por apresentar as metas expectations e a progressatildeo nas trecircs atividades musicais

Tem um segundo capiacutetulo em que apresenta casos concretos de trabalhos de alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

263

em CD e em partitura com breve descriccedilatildeo dos contextos em que ocorreram Por fim

apresenta a avaliaccedilatildeo realizada pelos autores com as justificaccedilotildees definidas no

primeiro capiacutetulo

A primeira ideia a destacar do quadro teoacuterico eacute a necessidade de definir expectativas

que todos os alunos devem alcanccedilar A segunda ideia eacute que alguns alunos

ultrapassaratildeo essas expectativas e outros estaratildeo ainda a tentar alcanccedilaacute-las A Figura 2

mostra estes trecircs estaacutedios

ALGUNS ALUNOS MAIORIA DOS ALUNOS ALGUNS ALUNOS

ultrapassaram

as expectativas

demonstra ter atingido as

expectativas

ainda estatildeo a

trabalhar no

sentido de

alcanccedilar as

expectativas

Figura 2 Estaacutedios das expectativas que os descritores de desempenho devem refletir

A segunda ideia do quadro teoacuterico diz respeito agraves dimensotildees que devemos ter em

conta na progressatildeo de cada uma das atividades musicais

DIVERSIDADE

DIFICULDADE

QUALIDADE

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

264

Na dimensatildeo Diversidade deveremos procurar evidecircncias de que o aluno mobiliza mais

e diferentes competecircncias e conhecimentos na realizaccedilatildeo das tarefas por exemplo

utilizando vaacuterios instrumentos musicais ou aplicando os seus conhecimentos em vaacuterios

contextos Na dimensatildeo Dificuldade teremos de verificar se o aluno participa em

tarefas mais difiacuteceis e complexas tanto em competecircncias como em conhecimentos

por exemplo compondo com estruturas musicais mais elaboradas ou realizndo

pesquisas sobre questotildees mais abstratas das muacutesicas que interpreta Por fim na

dimensatildeo Qualidade procuram-se evidecircncias de interpretaccedilotildees musicais mais seguras

aplicaccedilatildeo dos conhecimentos na apreciaccedilatildeo musical e produtos das composiccedilotildees mais

bem acabados

Apoacutes este primeiro contacto com o quadro teoacuterico e seguindo as atividades propostas

pelo documento citado procuraacutemos uma avaliaccedilatildeo consensual sobre os exemplos de

interpretaccedilatildeo instrumental contidos no CD Esta foi uma etapa fundamental para os

estagiaacuterios aferirem criteacuterios ouvindo as opiniotildees uns dos outros e dos proacuteprios

autores do documento (SCAA 1996 faixa 4 009-022) Foi um processo que resultou

bem pois se das primeiras vezes surgiram avaliaccedilotildees bastante diferentes agrave medida que

iam praticando os estagiaacuterios comeccedilaram a realizar uma avaliaccedilatildeo mais proacutexima uns

dos outros por vezes quase unacircnime De referir algo tambeacutem jaacute mencionado por

outros autores (Hallam 2006) os estagiaacuterios tenderam a ser mais exigentes na

avaliaccedilatildeo dentro das suas especialidades ou seja um estagiaacuterio licenciado em canto

tende a ser mais exigente que um estagiaacuterio licenciado em piano quando ambos

avaliam um aluno a cantar

Para terminar este estudo teoacuterico do problema os estagiaacuterios partiram dos consensos

e formularam descritores de desempenho para os vaacuterios niacuteveis de progressatildeo e

tentaram aplicaacute-los aos exemplos do CD ouvidos anteriormente Da aplicaccedilatildeo destes

protoacutetipos concluiu-se da necessidade de os melhorar em particular tendo em vista a

utilizaccedilatildeo para autoavaliaccedilatildeo formativa pelos alunos do Ensino Baacutesico Por fim faltava

perceber se poderiacuteamos aplicar instrumentos preacute-concebidos a interpretaccedilotildees

musicais do mesmo tipo Para isso socorremo-nos de uma grelha de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

265

elaborada para uma situaccedilatildeo de desempenho musical (Rodrigues 2004) e chegou-se agrave

conclusatildeo de que eacute indispensaacutevel construir o instrumento para cada situaccedilatildeo

especiacutefica tendo em conta a obra musical o grau de desenvolvimento musical dos

alunos e os objetivos que se pretende alcanccedilar

Grelhas construiacutedas para situaccedilotildees especiacuteficas

Como referi no iniacutecio desta comunicaccedilatildeo importava que os estagiaacuterios dessem

resposta agraves solicitaccedilotildees dos professores cooperantes e ao problema de como avaliar as

praacuteticas musicais Assim para cada unidade didaacutetica planificada foram construiacutedas

grelhas de avaliaccedilatildeo de desempenho Das muitas e variadas obras musicais que os

estagiaacuterios prepararam para os seus alunos apresentarei na Tabela 1 apenas uma

situaccedilatildeo especiacutefica e na Tabela 2 quais as expectativas e progressatildeo do desempenho

dos alunos em termos de controlo teacutecnico e de competecircncias de conjunto

Tabela 1

Caracterizaccedilatildeo da situaccedilatildeo especiacutefica

Ano de escolaridade 6ordm

Obra musical Natildeo haacute estrelas no ceacuteu (Rui Veloso Rock portuguecircs)

Conceito e conteuacutedo do programa Ritmo ritmos pontuados (niacutevel IX)

Competecircncia a desenvolver O aluno interpreta canccedilotildees harmonizadas a capella e com acompanhamento instrumental

Unidade didaacutetica Com 1 aula por semana durante 6 semanas os alunos ouvem cantam e tocam pesquisam compotildeem e apresentam-se em puacuteblico (por esta ordem)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

266

Tabela 2

As grelhas com os indicadores de desempenho para cada uma das partes musicais e para o conjunto

Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5

Voz

O aluno natildeo consegue cantar a melodia e a letra da canccedilatildeo do iniacutecio ao fim

O aluno consegue cantar a melodia e a letra do iniacutecio ao fim e consegue recuperar quando existem hesitaccedilotildees

O aluno consegue cantar toda a canccedilatildeo do iniacutecio ao fim sem se enganar

O aluno consegue cantar toda a canccedilatildeo do iniacutecio ao fim realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados e a descontraccedilatildeo

Clavas

O aluno natildeo consegue manter a pulsaccedilatildeo nem interpretar a linha riacutetmica do arranjo instrumental do iniacutecio ao fim

O aluno consegue manter a pulsaccedilatildeo do iniacutecio ao fim e consegue recuperar quando existem hesitaccedilotildees na parte riacutetmica

O aluno consegue executar o arranjo do iniacutecio ao fim mantendo a pulsaccedilatildeo

O aluno executa o arranjo musical do iniacutecio ao fim mantendo a pulsaccedilatildeo e realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados

Xilofones

O aluno natildeo consegue tocar o acompanhamento dos xilofones do iniacutecio ao fim

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim mas revela hesitaccedilotildees no ritmo e nas notas

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim sem hesitaccedilotildees

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados

Conjunto

O aluno consegue seguir indicaccedilotildees visuais comeccedilar e acabar ao mesmo tempo mas natildeo faz pequenos ajustes a partir do que ouve dos colegas

Integra-se no todo escutando os colegas p ex consegue integrar o conjunto mesmo depois de se enganar

Tem noccedilatildeo do efeito global produzido p ex fazendo pequenos ajustes na sua parte para equilibrar e atingir o efeito pretendido

Reconhece toda a estrutura do arranjo e integra-se com consciecircncia do estilo musical e atenccedilatildeo aos restantes inteacuterpretes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

267

Didaacutetica da utilizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo

A forma de utilizar estes instrumentos de avaliaccedilatildeo tambeacutem foi sendo melhorada ao

longo do ano letivo cada vez mais integrada no processo de ensino-aprendizagem

Chegaacutemos a um conjunto de procedimentos que pelos resultados obtidos nos parece

adequado

1 Sempre que iniciaacutemos o ensino de uma das partes musicais mostraacutemos aos

alunos a respetiva grelha de avaliaccedilatildeo Pedimos voluntaacuterios para ler depois

outros para explicar por palavras proacuteprias o que tinham entendido Por fim

exemplificaacutemos musicalmente o que poderia ser representativo de cada niacutevel

Desta forma os alunos ficavam a saber onde deveriam chegar em termos de

desempenho musical

2 Durante os ensaios voltaacutemos a mostrar as grelhas e pedimos aos alunos que se

autoavaliassem e identificassem os pontos fortes e os problemas musicais a

ultrapassar num processo de avaliaccedilatildeo formativa regulador dos ensaios

seguintes

3 Na apresentaccedilatildeo final aos colegas da turma com registo aacuteudio e ou viacutedeo as

grelhas foram usadas para avaliaccedilatildeo sumativa pelos alunos estagiaacuterios e

professores cooperantes

Apesar de natildeo termos diaacuterios com a opiniatildeo dos alunos sobre este processo pudemos

observar como estavam disponiacuteveis para participar nesta autoavaliaccedilatildeo de forma

autecircntica como se apercebiam dos problemas e principalmente da possibilidade de

os ultrapassar A dimensatildeo formativa e o estabelecimento claro de expectativas a

alcanccedilar foram um fator de motivaccedilatildeo para os alunos que valeria a pena investigar por

si soacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

268

Anaacutelise da correlaccedilatildeo classificaccedilotildees atribuiacutedas por estagiaacuterios cooperantes e auto-

avaliaccedilatildeo dos alunos

Ao longo do ano letivo sempre que se fez a avaliaccedilatildeo sumativa dos projetos musicais

registaacutemos numa folha de caacutelculo os niacuteveis atribuiacutedos pelos estagiaacuterios professores

cooperantes e a autoavaliaccedilatildeo dos alunos Para o tratamento destes dados os alunos

foram apoiados no moacutedulo de TIC da unidade curricular de Metodologias de Ensino de

Muacutesica e na unidade curricular de Metodologias de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo A tiacutetulo

de exemplo apresenta-se na Tabela 3 os dados recolhidos e os resultados obtidos

numa situaccedilatildeo diferente da descrita anteriormente com outros estagiaacuterios

professores cooperantes e alunos do 3ordm Ciclo

Tabela 3

Dados de avaliaccedilatildeo e coeficientes de correlaccedilatildeo

Professor cooperante

(A)

Estagiaacuterio

(B)

Autoavaliaccedilatildeo

(C)

1

2

3

5

4

4

1

1

3

1

5

1

2

2

2

5

3

4

2

2

3

2

4

2

1

3

2

4

3

3

1

1

3

2

3

1

Nota com estes dados obteacutem-se as seguintes correlaccedilotildees A-B r =09 A-C r=09 e B-C r=08

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

269

Estes resultados parecem apontar para uma elevada consistecircncia e fiabilidade do

processo e dos instrumentos de avaliaccedilatildeo mas eacute importante para todos noacutes sermos

capazes de realizar esta anaacutelise de uma forma sistemaacutetica tal como avaliamos a

fiabilidade dos testes ([ME] 1992)

Conclusotildees e continuaccedilatildeo do trabalho

O trabalho aqui apresentado soacute foi possiacutevel graccedilas ao empenhamento dos vaacuterios

intervenientes nomeadamente os professores cooperantes e os estagiaacuterios do

Mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo Musical e os alunos das vaacuterias Escolas do Ensino

Baacutesico onde se realizou a Praacutetica Profissional Supervisionada

A construccedilatildeo agrave medida de cada situaccedilatildeo de descritores de desempenho das praacuteticas

musicais explicitando as expectativas e a progressatildeo e a sua utilizaccedilatildeo para

autoavaliaccedilatildeo formativa e avaliaccedilatildeo sumativa aumentou a consistecircncia da avaliaccedilatildeo

entre os docentes

Como tudo em Educaccedilatildeo natildeo haacute resultados com ldquoo estalar dos dedosrdquo e eacute preciso

tempo Teremos ainda que consolidar os dados jaacute obtidos em particular no 1ordm Ciclo do

Ensino Baacutesico pelo que esperamos o envolvimento de mais professores A

possibilidade de divulgar a soluccedilatildeo aqui apresentada nomeadamente atraveacutes de

accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua permitiraacute um evidente aumento da consistecircncia e

fiabilidade da avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo Musical

Referecircncias

Hallam S (2006) Assessment Music Psycholgy in Education London Institute of

Education University of London pp155-164

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1990) Ensino Baacutesico

1ordm Ciclo Organizaccedilatildeo curricular e programas Lisboa Editorial do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

270

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1991) Ensino Baacutesico

2ordm Ciclo Programa de Educaccedilatildeo Musical (5ordm e 6ordm anos) Lisboa Editorial do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1991) Ensino Baacutesico

3ordm Ciclo Programa de Educaccedilatildeo Musical (7ordm - 9ordm anos) Lisboa Editorial do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Gabinete de Estudos e Planeamento (1992) Praacuteticas de

elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de testes escolares Lisboa GEP

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Audiation de Edwin Gordon para uma situaccedilatildeo de desempenho musical de crianccedilas do

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Spruce G (2002) Assessment in the Arts issues of objectivity In Spruce G Teaching

Music in Secondary Schools A reader London RoutledgeFalmer pp117-129

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

271

Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) implicaccedilotildees e desafios nas praacuteticas de gestores

e docentes de escolas puacuteblicas (2007-2012)

MALUacute DE SOUZA FERNANDES

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP (Brasil)

malufernandesuspbr

RITA DE CASSIA GALLEGO

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP (Brasil)

ritagallegouspbr

Resumo As avaliaccedilotildees externas compotildeem as poliacuteticas puacuteblicas educacionais brasileiras

implantadas a partir da deacutecada de 1990 No Estado de Satildeo Paulo as avaliaccedilotildees

externas constituiram-se elementos inerentes agrave atividade escolar mediante a

implantaccedilatildeo do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

(SARESP) impondo muitos desafios de modo particular aos gestores e professores A

comunicaccedilatildeo proposta fruto de pesquisa em andamento no acircmbito do mestrado tem

como objetivo discutir as possiacuteveis implicaccedilotildees e desafios enfrentados nas praacuteticas

pedagoacutegicas e administrativas de escolas puacuteblicas da rede estadual paulista que

oferecem o Ensino Fundamental I particularmente duas escolas localizadas na

periferia da zona Sul da cidade de Satildeo Paulo apoacutes a implementaccedilatildeo do SARESP em

2007 Nesta oportunidade seraacute privilegiada a discussatildeo de dados da legislaccedilatildeo e dos

documentos oficiais da Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo sobre o

SARESP A anaacutelise eacute ancorada nos referenciais teoacutericos de Azanha Frago e Escolano

que tecircm contribuiacutedo para o mapeamento das praacuteticas escolares a partir do conceito

de cultura escolar e de Catani e Gallego para a reflexatildeo em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo escolar

Os estudos realizados ateacute 2007 sinalizavam o SARESP como fator de induccedilatildeo sobre o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

272

curriacuteculo nas escolas o que se concretizou nos textos legais elaborados pela Secretaria

de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo Jaacute os estudos realizados apoacutes 2007 apontavam o

SARESP como orientador de praacuteticas escolares e fator de legitimaccedilatildeo das mesmas

juntos agraves instituiccedilotildees de ensino

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo externa Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Praacuteticas de Ensino

Abstract

External evaluations comprise the educational policies implemented in Brazil from the

1990s In Satildeo Paulo external evaluations constituted elements are inherent to school

through the implementation of the System of School Performance Evaluation of the

State of Satildeo Paulo (SARESP) imposing many challenges in particular managers and

teachers The proposed communication the result of ongoing research in the Masters

aims to discuss the possible implications and challenges in teaching practices and

administrative public school state public offering elementary school particularly two

schools located on the outskirts of the south of the city of Satildeo Paulo after the

implementation of SARESP in 2007 This time the discussion will turn to data

legislation and official documents of the Department of Education of the State of Satildeo

Paulo on SARESP The analysis is grounded in the theoretical framework of Azanha

Frago and Escolano which have contributed to the mapping of school practices from

the concept of school culture and Catani and Gallego for reflection in relation to

school evaluation Studies to 2007 signaled SARESP factor induction on the curriculum

in schools which has resulted in legal texts downloaded from the Ministry of

Education of Satildeo Paulo The studies conducted after 2007 pointed SARESP school

practices as guiding factor and legitimization of same together with educational

institutions

Keywords External evaluations Learning evaluation Teaching practice

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

273

Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo eacute tambeacutem um ato poliacutetico a proacutepria escola traz em sua gecircnese a essecircncia

de um projeto de naccedilatildeo arquitetado pelos regimes poliacuteticos de cada periacuteodo histoacuterico

pois

() a escola bem como trata Martin Lawn (2000) integra um projeto civilizador o qual pretende alcanccedilar a todos da naccedilatildeo Sem duacutevida a histoacuteria da escola de modo particular da sua cultura eacute influenciada em diferentes paiacuteses por traccedilos caracteriacutesticos do regime poliacutetico (GALLEGO 2008 p 38)

Ponderamos no entanto que nenhuma poliacutetica educacional eacute implantada e efetivada

sem que haja accedilotildees praacuteticas no acircmbito das salas de aula natildeo negando as forccedilas

exercidas por essas esferas na intenccedilatildeo de concretizaccedilatildeo das poliacuteticas mas

entendendo que a sua implantaccedilatildeo depende da praacutetica de cada unidade escolar

Conforme assinala Azanha (1991 p69) acerca das sucessivas reformas da educaccedilatildeo

brasileira que a cada nova reforma natildeo se realiza um exame da repercussatildeo das

reformas anteriores no interior da vida escolar O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para

o fato de que natildeo haacute descriccedilotildees confiaacuteveis acerca das alteraccedilotildees da vida escolar

provocadas pelas reformas quase sempre haacute uma seacuterie de julgamentos ideoloacutegico

sobre as mesmas Poreacutem eacute no interior das salas de aula que o destino de poliacuteticas e

reformas educacionais eacute definido segundo Azanha Essas consideraccedilotildees embora a

propoacutesito do contexto educacional da deacutecada de 1990 satildeo muito perspicazes e

adequadas para se pensar o objeto deste texto implicaccedilotildees e desafios nas praacuteticas de

gestores e docentes de escolas puacuteblicas apoacutes a implemantaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo

externa ndash o SARESP

A avaliaccedilatildeo inerente agrave praacutetica escolar e elemento da cultura escolar natildeo pode ser

vista como algo natural no processo escolar pois natildeo o eacute trata-se de uma praacutetica

produzida por uma cultura contextualizada num periacuteodo histoacuterico e para atender a

uma demanda social de sua eacutepoca No contexto atual ldquoos exames integram cada vez

mais intensamente a cultura escolarrdquo (Catani amp Gallego 2009 p30)

A escola tem sua cultura estabelecida e que eacute institucionalizada que se manifesta

segundo Escolano (2002) atraveacutes do conjunto de ideias pautas praacuteticas

mentalidades haacutebitos e comportamentos que estatildeo consolidados e se estrutura sobre

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

274

processos valores normas regras ritos e tradiccedilotildees No entanto devemos considerar

que a cultura escolar tambeacutem sofre pressotildees das estruturas sociais inclusive das

reformas poliacuteticas que delas emergem Nesse sentido Frago (1996 p 37) sublinha que

ldquoas macro reformas estruturais e curriculares geradas desde o acircmbito poliacutetico

administrativo modificam pois a cultura escolarrdquo Assim qualquer reforma produz

efeitos natildeo previstos e cada escola a assimila e dela faz uso de maneira proacutepria e

peculiar Desse modo uma uacutenica reforma tem sua implantaccedilatildeo e desdobramentos

singulares em cada instituiccedilatildeo escolar produzindo inovaccedilotildees e continuidades

mudanccedilas e permanecircncias

Eacute importante se levar em conta que a avaliaccedilatildeo enquanto praacutetica escolar e objeto de

poliacuteticas educacionais ldquoassumiu ao longo dos anos sentidos particulares havendo

marcas de rupturas mas tambeacutem marcas de permanecircncias e ressignificaccedilotildeesrdquo (Catani

amp Gallego 2009 p31)

O presente trabalho eacute parte da pesquisa desenvolvida e em andamento no Programa

de Mestrado em Educaccedilatildeo junto agrave Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo

Paulo que pretende investigar as possiacuteveis implicaccedilotildees do SARESP para as praacuteticas

escolares relativas agrave avaliaccedilatildeo orientadas e realizadas por gestores e professores do

Ensino Fundamental I no interior de duas escolas puacuteblicas da rede estadual paulista

no periacuteodo de 2007 a 2012 Tal investigaccedilatildeo tem sido efetivada mediante a coleta de

dados por meio do levantamento leitura e sistematizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo dos

documentos oficiais da Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo sobre o

SARESP dos documentos escolares que possam trazer indiacutecios das mudanccedilas nas

praacuteticas escolares no periacuteodo estudado e entrevistas semiestruturadas gravadas e

transcritas A anaacutelise dos dados estaacute sendo realizada agrave luz das contribuiccedilotildees teoacutericas de

Azanha (1991) Frago (1996) e Escolano (2002) sobre poliacuteticas educacionais e praacuteticas

escolares a partir do conceito de cultura escolar e de Catani e Gallego (2009) para a

reflexatildeo sobre a avaliaccedilatildeo escolar

Nesta oportunidade seraacute apresentada uma discussatildeo acerca das disposiccedilotildees sobre o

SARESP com base nos textos legais do Estado de Satildeo Paulo que versam sobre o

referido sistema de avaliaccedilatildeo e nas poliacuteticas que foram desencadeadas desde a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

275

implementaccedilatildeo do SARESP na Rede Puacuteblica de Ensino do Estado de Satildeo Paulo em

consequecircncia dos resultados apresentados pelas escolas Busca-se dar visibilidade agrave

estrutura desse exame e as prescriccedilotildees acerca dos modos de trabalho a serem notados

nas escolas desde sua implantaccedilatildeo Apresentamos ainda um panorama sobre esse

objeto de estudo a fim de buscar elementos que contribuam para a compreensatildeo de

como esse vem sendo tratado pela literatura educacional nos uacuteltimos anos mediante a

realizaccedilatildeo de um levantamento e sistematizaccedilatildeo das pesquisas realizadas sobre as

avaliaccedilotildees externas com foco no SARESP no periacuteodo de 1990 a 2012

Assim apresentaremos a seguir os resultados dos levantamentos leituras e

sistematizaccedilotildees jaacute realizados Num primeiro momento discutiremos embasados nos

autores que referenciam o trabalho um breve histoacuterico sobre o SARESP e seu advento

e num segundo momento explicitaremos o panorama dos trabalhos cientiacuteficos que

tiveram como objeto de estudo o SARESP

Um breve histoacuterico do SARESP e das poliacuteticas educacionais desencadeadas a partir da

anaacutelise de seus resultados nas escolas

No Estado de Satildeo Paulo o direcionamento poliacutetico rumo agrave construccedilatildeo de um sistema

de avaliaccedilatildeo externo agraves unidades escolares iniciou-se em 1992 quando foi instituiacutedo o

Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual Tal programa que antecedeu ao

SARESP tinha como propoacutesito ldquoobter elementos para formulaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais e de informar as escolas com dados objetivos acerca dos pontos criacuteticos

do processo ensino-aprendizagemrdquo (SEESP 1996 p 3) e consistia numa sistemaacutetica de

avaliaccedilotildees externas das disciplinas de Liacutengua Portuguesa e redaccedilatildeo Matemaacutetica

Histoacuteria Geografia e Ciecircncias que eram aplicadas apenas aos alunos matriculados nas

8ordf seacuteries das escolas que faziam parte do Projeto Escola Padratildeo53 criadas no ano de

1991 abrangendo inicialmente apenas 307 escolas de um total de 6700 escolas agrave

eacutepoca Atualmente a rede puacuteblica estadual conta com 557854 escolas visto que o

restante sofreu o processo de municipalizaccedilatildeo

53

O Projeto Escola Padratildeo implantado gradativamente em 2224 escolas estaduais paulistas durante o Governo Fleury (1991-1994) pelo Decreto Estadual nordm 340351991 54

Dados retirados do site da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

276

Em 1994 o Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual foi ampliado e

passou-se a avaliar o rendimento dos alunos de toda a Rede Puacuteblica Estadual atraveacutes

de uma amostragem estatisticamente representativa da Rede Estadual Paulista e natildeo

somente dos alunos matriculados nas escolas pertencentes ao Projeto Escola Padratildeo

Em documento oficial a Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo

descreve uma de suas constataccedilotildees a partir da experiecircncia do Programa de Avaliaccedilatildeo

Educacional da Rede Estadual

() evidenciou a importacircncia da avaliaccedilatildeo educacional enquanto instrumento orientador para tomadas de decisatildeo que visem a melhoria da qualidade do ensino oferecido pelas escolas Impocircs-se assim a necessidade de formular e consolidar uma poliacutetica de avaliaccedilatildeo do sistema educacional do Estado (SEESP 1997 p5)

Assim o Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual contribuiu para a

construccedilatildeo do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

bem como as diretrizes poliacuteticas nacionais e internacionais Portanto no ano de 1996

a Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo institui o Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) atraveacutes da Resoluccedilatildeo SE nordm 27

de 29 de marccedilo de 1996 e no mesmo ano realizou-se a primeira avaliaccedilatildeo do SARESP

Conforme informa Scorzafave (2010 p 21)

O Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo ndash SARESP ndash eacute uma avaliaccedilatildeo externa da Educaccedilatildeo Baacutesica realizada desde 1996 pela Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo ndash SEESP O SARESP tem como finalidade fornecer informaccedilotildees consistentes perioacutedicas e comparaacuteveis sobre a situaccedilatildeo da escolaridade baacutesica da rede puacuteblica de ensino paulista visando orientar gestores do ensino no monitoramento das poliacuteticas voltadas para a melhoria qualidade educacional

Outras ediccedilotildees do SARESP foram realizadas nos anos subsequentes com exceccedilotildees dos

anos de 1999 e 2006 Contudo eacute necessaacuterio salientar que a ediccedilatildeo do SARESP de 2005

em que todos os anos do Ensino Fundamental e Meacutedio foram avaliados foi

determinante para o desencadeamento de uma seacuterie de poliacuteticas educacionais que

com o objetivo de buscar a melhoria da qualidade do ensino puacuteblico paulista tinha

como alvo as mudanccedilas nas praacuteticas escolares e justamente no ano de 2006 natildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

277

houve a aplicaccedilatildeo do SARESP pois foi o ano em que os oacutergatildeos centrais analisaram e

organizaram as poliacuteticas que viriam

Os resultados do SARESP de 2005 evidenciaram agrave Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo a

necessidade de realizar intervenccedilotildees ou interferecircncias principalmente nos anos

iniciais do Ensino Fundamental no que tangia agrave alfabetizaccedilatildeo dos alunos agrave

aprendizagem de leitura e de escrita em todas as seacuteries do Ensino Fundamental I

conforme explicita a parte preliminar da Resoluccedilatildeo SE nordm 862007

() a urgecircncia em solucionar as dificuldades apresentadas pelos alunos de Ciclo I com relaccedilatildeo agraves competecircncias de ler e escrever expressas nos resultados do SARESP 2005 a necessidade de promover a recuperaccedilatildeo da aprendizagem de leitura e escrita dos alunos de todas as seacuteries do Ciclo I a imprescindibilidade de se investir na efetiva melhoria da qualidade de ensino nos anos iniciais da escolaridade () (Resoluccedilatildeo SE nordm 862007)

A partir do ano de 2007 a avaliaccedilatildeo do SARESP passa a ter uma matriz de referecircncia

uacutenica para cada disciplina e em consonacircncia agraves matrizes de referecircncias das avaliaccedilotildees

externas nacionais do Sistema de Avaliaccedilatildeo da educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) Conforme

afirma Scorzafave (2010) ldquodesde de 2007 os resultados da avaliaccedilatildeo do SARESP em

Liacutengua Portuguesa e em Matemaacutetica podem ser comparados aos da avaliaccedilatildeo nacional

(SAEB Prova Brasil) e aos do proacuteprio SARESP ano apoacutes anordquo

Aleacutem da definiccedilatildeo de uma matriz de referecircncia uacutenica nos anos de 2007 e 2008 inicia-

se o processo de implantaccedilatildeo de um curriacuteculo unificado na rede puacuteblica estadual

inicialmente sinalizado pela Instituiccedilatildeo do Programa Ler e Escrever dedicado aos anos

iniciais do Ensino Fundamental atraveacutes da publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo SE nordm86 de 19 de

dezembro de 2007 e posteriormente com a Resoluccedilatildeo SE nordm 76 de 7 de novembro de

2008 que dispotildee sobre a implementaccedilatildeo da proposta curricular do Estado de Satildeo

Paulo para o Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio nas escolas da rede estadual

O Programa Ler e Escrever enquanto programa viabilizador da proposta curricular do

Estado de Satildeo Paulo para os anos iniciais do Ensino Fundamental trazia como

principais objetivos uma resposta aos resultados do SARESP2005

Art 1ordm Fica instituiacutedo a partir do ano de 2008 o Programa ldquoLer e Escreverldquo com os seguintes objetivos I ndash alfabetizar ateacute 2010 a todos os alunos com idade de ateacute oito anos do Ensino Fundamental da Rede Estadual de Ensino

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

278

II ndash recuperar a aprendizagem de leitura e escrita dos alunos de todas as seacuteries do Ciclo I do Ensino Fundamental (Resoluccedilatildeo SE 862007)

Desse modo o SARESP determina as tomadas de decisotildees no niacutevel central das esferas

governamentais que afetam as unidades escolares diretamente em suas praacuteticas

inclusive eacute importante pontuar que a funccedilatildeo de Professor Coordenador para cada

ciclo55 do Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio eacute criada no Estado de Satildeo Paulo

nesse mesmo periacuteodo atraveacutes da Resoluccedilatildeo SE nordm 88 de 19 de dezembro de 2007 tal

Resoluccedilatildeo tambeacutem eacute influenciada pelos resultados expressos nas ediccedilotildees do SARESP

Aliados agraves poliacuteticas citadas ateacute o momento e que estatildeo diretamente ligadas ao

SARESP no ano de 2008 satildeo instituiacutedos o Programa de Qualidade da Escola ndash PQE e o

Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo ndash IDESP pela

Resoluccedilatildeo SE nordm 74 de 6 de novembro de 2008 tais programas satildeo considerados no

texto legal indicadores de qualidade das escolas estaduais paulistas e que permitem

avaliar qualidade de ensino fixar metas especiacuteficas para cada unidade escolar e

subsidiar accedilotildees de melhoria para a qualidade de ensino O IDESP eacute calculado

considerando dois criteacuterios especiacuteficos fluxo escolar em quanto tempo os alunos

aprenderam medido pela taxa de aprovaccedilatildeo e reprovaccedilatildeo nas seacuteries do Ensino

Fundamental e Meacutedio e desempenho escolar medido pelos resultados alcanccedilados por

cada escola no SARESP

Assim o SARESP natildeo somente se consolidou ao longo dos anos enquanto sistema de

avaliaccedilatildeo externa de rendimento escolar do Estado de Satildeo Paulo como contribuiu

entre outras coisas para o surgimento de um iacutendice que mede o desempenho das

escolas paulistas a unificaccedilatildeo do curriacuteculo do Ensino Fundamental e Meacutedio mediado

pelo material didaacutetico do Programa Ler e Escrever no caso do Ensino Fundamental I e

para a criaccedilatildeo da funccedilatildeo de professor coordenador pedagoacutegico em cada segmento de

ensino e em cada ciclo do Ensino Fundamental

55

Na Rede Puacuteblica Estadual Paulista o Ensino Fundamental foi e continua estruturado em dois ciclos o primeiro abrangendo do 1ordm ao 5ordf ano e o segundo do 6ordm ao 9ordm ano

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

279

O que sinalizam os estudos sobre o SARESP (1990-2012)

A Fundaccedilatildeo Carlos Chagas (FCC) realizou um levantamento do conhecimento

produzido sobre a Avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica do periacuteodo de 1990 a 1998 sob a

coordenaccedilatildeo de Elba Siqueira de Saacute Barreto (2001) e Regina Pahim Pinto (2001) e que

foi publicado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacional As fontes utilizadas pelas autoras foram principalmente

artigos de nove perioacutedicos de maior expressatildeo nacional (Cadernos de Pesquisa

Educaccedilatildeo e Realidade Educaccedilatildeo amp Sociedade Em aberto Ensaio Estudos em

Avaliaccedilatildeo Educacional Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Revista da Faculdade

de Educaccedilatildeo da USP e Tecnologia Educacional) dissertaccedilotildees e teses e uma minoria

composta por comunicaccedilotildees apresentadas em congressos livros capiacutetulos de livros e

relatoacuterios de pesquisa

No referido levantamento foram encontrados 218 artigos sobre a Avaliaccedilatildeo no Ensino

Baacutesico e apenas dois que tratam diretamente do Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento

Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) um intitulado ldquoO Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo implantaccedilatildeo e continuidaderdquo (BITTAR et

al 1998) em que as autoras descrevem um breve histoacuterico da implantaccedilatildeo do SARESP

e do contexto em que o mesmo surgiu aleacutem de situar os objetivos e os pressupostos

desse sistema de avaliaccedilatildeo Jaacute o outro trata do proacuteprio documento de implantaccedilatildeo do

SARESP pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo

Outros oito artigos embora natildeo tenham tratado especificamente do SARESP podem

ser considerados como estudos precursores do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento

Escolar do Estado de Satildeo Paulo Isso

porque apresentam e discutem estudos de avaliaccedilatildeo realizados a partir de 1988 e que foram importantes para criar em Satildeo Paulo certa competecircncia em relaccedilatildeo ao que se pode chamar de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar nos sistemas de ensino (INEP 2001 p 59)

Dentre os trabalhos levantados e relacionados pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sob a

coordenaccedilatildeo de Barreto e Pinto (2001) consta o artigo ldquoDesenvolvimentos de

projetos de avaliaccedilatildeo do sistema educacional no Estado de Satildeo Paulordquo em que a

autora Bernadete Gatti (1996) apresenta e discute as experiecircncias de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

280

realizadas nos anos de 1987 1988 e 1989 de um possiacutevel Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo proposto pelo MEC com apoio do Banco Mundial e as experiecircncias de

avaliaccedilatildeo realizadas nos Estados da Federaccedilatildeo entre elas destaca a avaliaccedilatildeo da rede

puacuteblica estadual Paulista no ano de 1992 num primeiro movimento de implantar um

sistema de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar no acircmbito da Secretaria de Educaccedilatildeo de

Satildeo Paulo vinculada no momento ao Projeto das Escolas-Padratildeo Tal artigo embora

natildeo trate especificamente sobre o SARESP mas ao contextualizaacute-lo no cenaacuterio

nacional possilita que compreendamos melhor a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica do

SARESP

Os estudos pioneiros realizados sobre os sistemas de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar

nesta deacutecada sinalizaram que

() eacute importante que o sistema gere e processe informaccedilotildees que possibilitem melhor fundamentar a tomada de decisotildees quanto agrave formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Revela tambeacutem que a avaliaccedilatildeo de monitoramento nos estilos Saeb Saresp e Paemg natildeo tem se revestido da conotaccedilatildeo concorrencial e do caraacuteter competitivo que foi muito acentuado nas experiecircncias de outros paiacuteses o que sinaliza para as limitaccedilotildees da aplicaccedilatildeo de um modelo que utiliza testes e publica os resultados dos alunos por escola tendo em mira sobretudo a orientaccedilatildeo dos consumidores da mercadoria educacional (INEP 2001 p 61)

Para a compreensatildeo do estado do conhecimento sobre o SARESP na deacutecada seguinte

do periacuteodo de 2000 a 2012 realizamos um levantamento de teses e dissertaccedilotildees

produzidas e defendidas no interior das Universidades localizadas no Estado de Satildeo

Paulo a saber Universidade de Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de

Mesquita Filhordquo Universidade Federal de Satildeo Paulo Universidade Estadual de

Campinas Universidade Federal de Satildeo Carlos Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo

Paulo Universidade de Taubateacute e Universidade Satildeo Francisco visto que tal objeto de

estudo foi mais amplamente discutido e produzido nas universidades localizadas no

Estado de Satildeo Paulo

De 2000 a 2012 encontramos vinte e oito trabalhos dos quais trecircs satildeo teses de

doutorado e o restante satildeo dissertaccedilotildees de mestrado A maioria das pesquisas

encontradas sobre o tema foi realizada nos de 2006 2007 2008 A maioria das

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

281

pesquisas desenvolvidas ateacute 2007 possibilita visualizar o Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo como um instrumento iminente para o

direcionamento do curriacuteculo escolar Tal fato se concretiza posteriormente pois a

partir do ano de 2007 uma seacuterie de resoluccedilotildees entram em vigor entre elas as

resoluccedilotildees que dispotildeem sobre a proposta curricular do Estado de Satildeo Paulo para o

Ensino Fundamental e Meacutedio

Os resultados do SARESP de 2005 satildeo responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo de uma proposta

curricular organizada pelos Programas Ler e Escrever destinado agraves seacuteries iniciais do

Ensino Fundamental e Satildeo Paulo faz escola destinado agraves seacuteries finais do Ensino

Fundamental e Ensino Meacutedio aleacutem disso cria-se o Iacutendice de Desenvolvimento da

educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo o IDESP conforme explicitado no Caderno do

Gestor publicado pela SEE-SP em 2010

A Secretaria da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo desenvolve desde de 2007 uma poliacutetica educacional articulada em quatro grandes eixos Implantaccedilatildeo de uma base curricular comum para todas as escolas da rede estadual organizadas pelos programas ler e escrever (Ensino Fundamental ndash Ciclo I) Satildeo Paulo faz escola (Ensino Fundamental ndash Ciclo II e Ensino Meacutedio) Avaliaccedilatildeo e metas de qualidade com a completa reformulaccedilatildeo do Saresp e a criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento da educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo (Idesp) que fixou metas de qualidade por escola e por segmento de ensino () Programa de incentivo aos profissionais da educaccedilatildeo e mais qualidade na escola com inovaccedilotildees nas carreiras () (caderno do Gestor 2010 pp 6-7)

Portanto o que sinalizavam as pesquisas realizadas ateacute o ano de 2007 sobre o SARESP

como fator de induccedilatildeo sobre curriacuteculo nas escolas se concretizou efetivamente atraveacutes

dos textos legais e pelos documentos baixados pela SEESP

Destacamos ainda as pesquisas de Machado (2003) e de Bauer (2006) que

contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo da compreensatildeo a respeito do SARESP para a definiccedilatildeo

de poliacuteticas de gestatildeo na educaccedilatildeo da rede de ensino estadual paulista pois ambas

discutem os usos dos resultados do SARESP para a definiccedilatildeo de accedilotildees por parte das

Diretorias Regionais de Ensino

Machado (2003) faz uma anaacutelise da utilizaccedilatildeo dos resultados SARESP do ano de 2000

como instrumento para direcionar as accedilotildees no niacutevel das Diretorias de Ensino visando agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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melhoria da qualidade do ensino puacuteblico Nesse trabalho a autora detalha e

aprofunda a anaacutelise sobre o contexto de implantaccedilatildeo e as principais caracteriacutesticas do

SARESP e da utilizaccedilatildeo dos resultados da avaliaccedilatildeo de 2000 pelas Diretorias de Ensino e

assinala que o SARESP tem possibilidade de ser um instrumento para direcionar accedilotildees

e poliacuteticas visando construir a qualidade do ensino nas escolas puacuteblicas estaduais por

estar alicerccedilado nos testes de rendimento dos alunos Poreacutem destaca que o mesmo

tem sido utilizado muito mais para dar visibilidade a esses resultados por escolas

estabelecendo um ranking que gera a comparaccedilatildeo entre as escolas e enfatiza que

desse modo as escolas e as Diretorias de Ensino satildeo impossibilitadas de refletir sobre

as condiccedilotildees nas quais os rendimentos dos alunos satildeo alcanccedilados e de propor

iniciativas accedilotildees e alternativas que viabilizem a construccedilatildeo de uma escola puacuteblica de

qualidade

Bauer (2006) ao pesquisar o uso dos resultados do SARESP na formulaccedilatildeo de accedilotildees de

formaccedilatildeo de professores no acircmbito das diretorias regionais da capital paulista cujo

problema que guiou as reflexotildees foi a anaacutelise sobre em que medida os resultados da

avaliaccedilatildeo sistecircmica subsidiam a formulaccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente aponta

que os dados analisados sinalizaram que o uso dos resultados do SARESP para a

elaboraccedilatildeo de accedilotildees de formaccedilatildeo docente depende da equipe responsaacutevel por essa

formaccedilatildeo no acircmbito da diretoria e que as equipes tinham dificuldades no

entendimento dos resultados da avaliaccedilatildeo fato que poderia ser uma das explicaccedilotildees

para a diferenciaccedilatildeo das accedilotildees observadas entre as diretorias Tambeacutem identificou que

muitas das accedilotildees realizadas nas diretorias satildeo desdobramentos de atividades de

formaccedilatildeo definidas pela SEE para toda a rede de ensino indicando a partir de 2002

uma tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das accedilotildees de formaccedilatildeo Tambeacutem foram percebidas

algumas iniciativas das diretorias na busca de accedilotildees de formaccedilatildeo balizadas pelas

necessidades dos professores evidenciadas pelos resultados da avaliaccedilatildeo

A partir de 2007 as pesquisas sobre o SARESP se intensificaram e trouxeram

elementos diversificados para a compreensatildeo desse objeto de estudo Um exemplo eacute o

estudo de Freire (2008) que retoma a discussatildeo sobre o impacto do SARESP no

interior das escolas Com base em um estudo de caso estuda as vicissitudes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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provocadas pelo SARESP na dinacircmica de uma escola da rede estadual da Grande Satildeo

Paulo no decorrer do processo avaliativo do ano de 2005 O objetivo foi investigar o

percurso que foi trilhado pela escola aleacutem de apreciar sua eventual articulaccedilatildeo com os

objetivos traccedilados pela SEE Ao finalizar este estudo a autora verificou que a avaliaccedilatildeo

externa natildeo manteacutem um diaacutelogo com a cultura de avaliaccedilatildeo da escola tatildeo necessaacuteria

para que a educaccedilatildeo em nosso Estado trilhe um caminho em busca da qualidade e

sinaliza a necessidade do aprofundamento desta questatildeo

Chiste (2009) ao investigar a repercussatildeo do resultado positivo de seus alunos nas

avaliaccedilotildees do SARESP em duas escolas no ano de 2007 realizou um apontamento

importante de alguns fatores e accedilotildees que contribuem para o bom rendimento destas

escolas grupo de professores efetivos trabalhando na escola haacute muitos anos e de

maneira coesa busca por resultados que traduzem os esforccedilos dos docentes e dos

alunos reuniotildees com professores e gestores para reavaliar e discutir estrateacutegias

pedagoacutegicas diretores e coordenadores atuantes servindo de ligaccedilatildeo entre anseios

dos alunos da comunidade e os da escola

A tese de Paulo Henrique Arcas (2009) favoreceu a ampliaccedilatildeo da compreensatildeo acerca

dos estudos sobre o SARESP ao investigar as implicaccedilotildees da progressatildeo continuada e

do SARESP na avaliaccedilatildeo escolar Com o objetivo de identificar e analisar eventuais

alteraccedilotildees ocorridas na avaliaccedilatildeo induzidas pela implantaccedilatildeo dessas medidas o autor

realizou o levantamento de pesquisas acadecircmicas acerca dos temas tratados aplicou

questionaacuterios e realizou entrevistas com professores coordenadores de escolas de

uma Diretoria de Ensino da rede estadual paulista e apoacutes a anaacutelise dos dados concluiu

que a Progressatildeo Continuada e o SARESP estatildeo refletindo na avaliaccedilatildeo escolar

Contudo identificou-se que a Progressatildeo Continuada tende a influenciar mais o

discurso do que as praacuteticas avaliativas e enfrenta maior resistecircncia do professorado

Segundo o autor

O SARESP tem assumido gradualmente o papel de orientador de praacuteticas escolares sendo utilizado no planejamento e replanejamento das escolas Tem repercutido nas praacuteticas avaliativas induzindo ao fortalecimento de uma concepccedilatildeo de verificaccedilatildeo escolar em detrimento da avaliaccedilatildeo formativa potencializada pela progressatildeo continuada O dilema causado pela convivecircncia dessas medidas evidencia um confronto entre a loacutegica da avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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formativa com praacuteticas tradicionalmente desenvolvidas nas escolas que tendem a restringir a avaliaccedilatildeo agrave medida de resultados com fim classificatoacuterio O SARESP ao servir como referecircncia para organizaccedilatildeo das praacuteticas escolares e avaliativas potencializa a tensatildeo entre a avaliaccedilatildeo tradicional e a avaliaccedilatildeo formativa Devido agrave importacircncia que tem adquirido na poliacutetica educacional evidenciou-se a tendecircncia em tornar-se gradativamente indutor do trabalho escolar (Arcas 2009 p 09)

Alves (2010) investigou como professores de duas escolas do municiacutepio de Guarulhos

agiam sob os efeitos do SARESP segundo ele importante ferramenta de gestatildeo

administrativa da Secretaria da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo Para compreender a

produccedilatildeo do cotidiano desses sujeitos foi utilizada a perspectiva de Michel de

Certeau analisando o uso de taacuteticas ou seja de usos cotidianos que se distanciam ou

apropriam das normativas do exame considerado na pesquisa como uma estrateacutegia

do Estado para o controle do trabalho docente Os resultados indicaram um grande

desconhecimento dos professores das duas escolas em relaccedilatildeo a essa medida estatal e

tambeacutem mostraram que eles jaacute conheciam muitas maneiras de lidar com ela sendo

que algumas eram consensualmente vistas como legiacutetimas pela grande maioria como

os simulados aplicados com frequecircncia a utilizaccedilatildeo de questotildees de provas antigas e os

estiacutemulos agrave adesatildeo discente agrave prova Poreacutem as escolas diferiram no que dizia respeito

agrave mobilizaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica como um todo para um uso bem sucedido e

contiacutenuo dessas taacuteticas O autor aponta pois que ainda eacute preciso refletir sobre a

utilizaccedilatildeo dos seus resultados

Camba (2011) pretendeu com sua pesquisa disponibilizar um leque de vetores como

(re)orientadores dos rumos da poliacutetica apontando especificidades do processo de

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica para tanto analisou a trajetoacuteria da elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo da poliacutetica de avaliaccedilatildeo no Brasil com foco no SARESP atraveacutes da

descriccedilatildeo e anaacutelise de trecircs gestotildees governamentais que no periacuteodo de 1995 a 2010

elaboraram e implementaram a poliacutetica de avaliaccedilatildeo Essa periodizaccedilatildeo permitiu

reconhecer os momentos de iniciaccedilatildeo desenvolvimento e consolidaccedilatildeo e

simultaneamente em que medida cada uma das gestotildees foram imprimindo ajustes e

criando dispositivos de (re) orientaccedilatildeo eou fortalecimento de seus propoacutesitos

vinculados a criar uma cultura de avaliaccedilatildeo e fornecer subsiacutedios para discutir a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

285

melhoria da qualidade da educaccedilatildeo A autora concluiu que o instrumento instalou-se

de forma permanente e que a poliacutetica do SARESP se consolidou

Em suma os estudos realizados ateacute 2007 sinalizavam o SARESP como fator de induccedilatildeo

sobre o curriacuteculo nas escolas jaacute os estudos realizados apoacutes 2007 apontavam o SARESP

como orientador de praacuteticas escolares e fator de legitimaccedilatildeo das mesmas nas

Diretorias de Ensino

Consideraccedilotildees finais

Tanto a trajetoacuteria histoacuterica do SARESP das poliacuteticas puacuteblicas que decorreram dos

resultados evidenciados por essa avaliaccedilatildeo sistecircmica quanto o panorama dos estudos

realizados cujo objeto foi o SARESP nos permite ampliar a compreensatildeo de como esse

sistema foi se configurando na rede puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo se tornando

direcionador de poliacuteticas puacuteblicas tendo sempre como alvos as unidades escolares e

ainda de como o proacuteprio SARESP foi sendo legitimado ao longo dos anos nas

Diretorias de Ensino e nas escolas cada qual a seu modo

Nesse sentido salientamos a necessidade de se compreender as maneiras pelas quais

as equipes escolares se relacionam legitimam ou natildeo resistem ou modificam suas

praacuteticas escolares diante da poliacutetica do SARESP pois entendemos que o SARESP com

quase duas deacutecadas de existecircncia estaacute consolidado como poliacutetica puacuteblica e estaacute

presente na histoacuteria cotidiana da educaccedilatildeo paulista nas instituiccedilotildees escolares e as

maneiras de como ele se manifesta nas praacuteticas escolares ainda eacute segundo Frago

(1996) uma ldquocaixa pretardquo a ser aberta e investigada

Referecircncias bibliograacuteficas

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

286

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MACHADO C (2003) Avaliar as escolas estaduais para que Uma anaacutelise do usodos resultados do SARESP Satildeo Paulo FEUSP

SAtildeO PAULO (2010) Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo Caderno do Gestor gestatildeo do curriacuteculo na escola Satildeo Paulo SEESP SP

__________ (1997) Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

__________ (1991) Decreto Nordm 34035 Institui o Projeto Educacional Escola-Padratildeo

__________ (2007) Resoluccedilatildeo SE Nordm 86 Institui para o ano de 2008 o Programa ldquoLer e Escreverrdquo no Ciclo I das Escolas Estaduais de Ensino Fundamental das Diretorias de Ensino da Coordenadoria de Ensino da Regiatildeo Metropolitana da Grande Satildeo Paulo

__________ (2007) Resoluccedilatildeo SE Nordm 88 Dispotildee sobre a funccedilatildeo gratificada de Professor Coordenador

__________ (2008) Resoluccedilatildeo SE nordm 74 Institui o Programa de Qualidade da Escola ndash PQE

__________ (2008) Resoluccedilatildeo SE Nordm 76 Dispotildee sobre a implementaccedilatildeo da proposta curricular do Estado de Satildeo Paulo para o Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio

SCORZAFAVE L (2011) As avaliaccedilotildees externas no Brasil Satildeo Paulo USP

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

287

Desafios da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior um exame dos

discursos presentes em perioacutedicos educacionais brasileiros

(2000-2010)

Dislane Zerbinatti Moraes

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

dzmoraesuspbr

Rita de Cassia Gallego

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

ritagallegouspbr

Vivian Batista da Silva

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

vivianbsyahoocom

Resumo

A comunicaccedilatildeo aqui proposta visa a apresentar os dados da produccedilatildeo cientiacutefica sobre

o tema da avaliaccedilatildeo no Ensino Superior publicada em perioacutedicos brasileiros no

periacuteodo de 2000 a 2010 como fruto dos dados da pesquisa que integra o Projeto de

Pesquisa Avaliaccedilatildeo Ensino e Aprendizagens no Ensino Superior em Portugal e no Brasil

Realidades e Perspectivas (PTDCCPE-CED1143182009) vinculado agrave Universidade de

Lisboa sob a coordenaccedilatildeo geral do professor Domingos Fernandes Participam do

Projeto quatro universidades portuguesas (Universidade de Lisboa Universidade de

Coimbra Universidade do Minho e Universidade de Eacutevora) e trecircs brasileiras

(Universidade de Satildeo Paulo ndash USP Universidade do Estado do Paraacute ndash UEPA e

Universidade da Amazocircnia ndash UNAMA) Discute-se nesta oportunidade como essa

temaacutetica se constitui pauta entre os especialistas da aacuterea ou seja entre os

pesquisadores que na maior parte das vezes satildeo professores universitaacuterios Quando

se comeccedila a pensar sobre as questotildees de avaliaccedilatildeo no ensino superior O que

diferencia as discussotildees mais amplas sobre a avaliaccedilatildeo educacional daquelas que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

288

atentam especificamente para o que acontece nas universidades e faculdades Que

preocupaccedilotildees estatildeo presentes nos estudos sobre avaliaccedilatildeo no ensino superior Que

praacuteticas satildeo criticadas Que praacuteticas se quer inspirar Quais os principais desafios

enfrentados Para responder questotildees como essas selecionamos revistas

educacionais considerando sua representatividade no meio acadecircmico Os quatro

tiacutetulos com os quais trabalhamos aproximam-se por serem publicaccedilotildees com vocaccedilatildeo

para o debate acadecircmico e sensibilidade quanto agraves demandas sociais com ecircnfase nos

estudos educacionais Um desses tiacutetulos satildeo os Cadernos de Pesquisa Outras revistas

pesquisadas estatildeo voltadas agrave difusatildeo da produccedilatildeo realizada entre os investigadores de

expressatildeo no campo acadecircmico educacional Satildeo Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo

Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

Palavras-chave ensino superior avaliaccedilatildeo perioacutedicos educacionais

Abstract

The communication proposal aims to present the data of the scientific production on

the subject of the evaluation in Higher Education published in Brazilians Journals of

Education in the period of 2000 the 2010 as fruit of the data of the research that

integrates the Project of Research Evaluation Education and Learnings in Higher

Education in Portugal and Brazil Realities and Perspectivas (PTDCCPE-

CED1143182009) tied with the University of Lisbon under the general coordination

of the professor Domingos Fernandes They participate of the Project four Portuguese

universities (University of Lisbon University of Coimbra University of the Minho and

University of Eacutevora) and three Brazilians universities (University of Satildeo Paulo - USP

University of the State of Paraacute - UEPA and University of Amazocircnia - UNAMA) It is

argued in this chance as this thematic one if it constitutes guideline enters the

specialists of the area that is between the researchers who to a great extent are

university professors When it is started to think on the evaluation questions about

Higher Education What it differentiates the quarrels amplest on the educational

evaluation of that they attempt against specifically for what it happens in the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

289

universities and colleges That concerns are presents in the studies on evaluation in

Higher Education Which practical is criticized Which the main faced challenges To

answer these questions we select Journals of Education considering its

representation in the half academic The four headings with which we work are come

close for being publications with vocation for the academic debate and sensitivity how

much to the social demands with emphasis in the educational studies They are

Cadernos de Pesquisa Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

Keywords higher education evaluation educational journals

A comunicaccedilatildeo aqui proposta consiste nos primeiros esforccedilos de apresentar os dados

da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema da avaliaccedilatildeo no ensino superior publicada em

perioacutedicos brasileiros no periacuteodo de 2000 a 2010 O que se quer eacute investigar como essa

temaacutetica se constitui pauta entre os especialistas da aacuterea ou seja entre os

pesquisadores que muitas vezes satildeo professores universitaacuterios Quando se comeccedila a

pensar sobre as questotildees de avaliaccedilatildeo no ensino superior O que diferencia as

discussotildees mais amplas sobre a avaliaccedilatildeo educacional daquelas que atentam

especificamente para o que acontece nas universidades e faculdades Que

preocupaccedilotildees estatildeo presentes nos estudos sobre avaliaccedilatildeo no ensino superior Que

praacuteticas satildeo criticadas Que praacuteticas se quer inspirar Para responder questotildees como

essas selecionamos revistas educacionais considerando sua representatividade no

meio acadecircmico Os quatro tiacutetulos com os quais trabalhamos aproximam-se por serem

publicaccedilotildees com vocaccedilatildeo para o debate acadecircmico e sensibilidade quanto agraves

demandas sociais com ecircnfase nos estudos educacionais Um desses tiacutetulos satildeo os

Cadernos de Pesquisa Outras revistas pesquisadas estatildeo voltadas agrave difusatildeo da

produccedilatildeo realizada entre os investigadores de expressatildeo no campo acadecircmico

educacional Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

290

Este trabalho de levantamento e anaacutelise bibliograacutefica se integra ao Projeto de Pesquisa

Avaliaccedilatildeo Ensino e Aprendizagens no Ensino Superior em Portugal e no Brasil

Realidades e Perspectivas (PTDCCPE-CED1143182009) proposto pela Universidade

de Lisboa sob a coordenaccedilatildeo geral do professor Domingos Fernandes Participam do

Projeto quatro universidades portuguesas (Universidade de Lisboa Universidade de

Coimbra Universidade do Minho e Universidade de Eacutevora) e trecircs brasileiras

(Universidade de Satildeo Paulo ndash USP Universidade do Estado do Paraacute ndash UEPA e

Universidade da Amazocircnia ndash UNAMA) O principal objetivo do projeto eacute conhecer e

compreender as praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo e processos de participaccedilatildeo dos

estudantes no desenvolvimento de suas aprendizagens no ensino superior em

contextos reais de sala de aula Aleacutem da identificaccedilatildeo da bibliografia especializada os

pesquisadores envolvidos estatildeo em processo de coleta de dados sendo esses

compostos por entrevistas com professores questionaacuterios aos alunos e observaccedilotildees

de aulas em diferentes cursos do Ensino Superior

Fundamenta o projeto o reconhecimento de que haacute uma diversidade de perspectivas e

abordagens em relaccedilatildeo ao domiacutenio cientiacutefico da avaliaccedilatildeo assim como diferentes

entendimentos do que seja o ato de avaliar em sua dimensatildeo praacutetica Assim caberia

um esforccedilo investigativo procurando discernir e clarificar os sentidos atribuiacutedos agrave

avaliaccedilatildeo nos sistemas de ensino evitando-se dogmatismos e ortodoxias ontoloacutegicas

epistemoloacutegicas ou metodoloacutegicas de qualquer espeacutecie De acordo com Fernandes

Eacute importante que se compreenda que a avaliaccedilatildeo eacute em boa

medida e em muitas situaccedilotildees concretas uma construccedilatildeo social

complexa que envolve pessoas que funcionam em determinados

contextos com suas praacuteticas e poliacuteticas proacuteprias e que envolve

a natureza do que estaacute a ser avaliado que por sua vez tambeacutem

tem as suas finalidades loacutegicas e poliacuteticas proacuteprias (2008 p5)

Parece-nos que este trabalho com os textos produzidos na aacuterea eacute um importante

ponto de partida pois permite mapear como o discurso acadecircmico eacute produzido e ao

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

291

mesmo tempo produz aquilo que se espera das praacuteticas de avaliaccedilatildeo no Ensino

Superior As revistas aqui examinadas satildeo instacircncias de debate intenso e satildeo lugares

nos quais pesquisadores e professores universitaacuterios expotildeem suas perspectivas de

compreensatildeo das praacuteticas de avaliaccedilatildeo no ensino superior A anaacutelise dos perioacutedicos

indica que ateacute os anos 2000 esse tema era mais raramente tratado entre os

especialistas da aacuterea que falavam sobretudo sobre a avaliaccedilatildeo nos niacuteveis mais

elementares de ensino Ao examinarmos artigos publicados na primeira deacutecada do

seacuteculo XXI estamos atentas justamente para um momento em que a avaliaccedilatildeo no

Ensino Superior comeccedila a se configurar como tema de interesse ganhando visibilidade

cada vez maior entre os educadores Afinal quem fala sobre a temaacutetica O

levantamento realizado nos quatro perioacutedicos aqui escolhidos mapeia as iniciativas e

os discursos que datildeo vida agrave avaliaccedilatildeo no Ensino Superior como tema de debate no

campo Comecemos o exame do material considerando os textos localizados na revista

onde as preocupaccedilotildees com os rumos da educaccedilatildeo satildeo mais evidentes

O perioacutedico Cadernos de Pesquisa eacute uma publicaccedilatildeo mantida pela Fundaccedilatildeo Carlos

Chagas instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos dedicada agrave seleccedilatildeo e agrave pesquisa na aacuterea

de Educaccedilatildeo com sede em Satildeo Paulo A Fundaccedilatildeo Carlos Chagas foi fundada em l964

com o objetivo de preparar exames vestibulares de ingresso ao Ensino Superior e

passou a atuar tambeacutem na seleccedilatildeo de recursos humanos para oacutergatildeos puacuteblicos e

empresas privadas Sua histoacuteria de projeccedilatildeo como centro de pesquisas deu-se a partir

dessa atividade praacutetica de caracterizaccedilatildeo socioeconocircmica de candidatos e de avaliaccedilatildeo

de competecircncias Em 1971 foi criado o Departamento de Pesquisas Educacionais com

pesquisadores associados promovendo projetos de investigaccedilatildeo voltados para a

relaccedilatildeo da educaccedilatildeo com os problemas e perspectivas sociais do paiacutes No mesmo ano

inicia-se a publicaccedilatildeo dos Cadernos de Pesquisa nos quais passa a ser veiculado amplo

espectro de investigaccedilotildees interdisciplinares de temas emergentes e de estudos e

pesquisas que propiciam o debate com especial atenccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas de

educaccedilatildeo Nesse longo periacuteodo o grupo de pesquisadores envolvido com a publicaccedilatildeo

tem buscado o equiliacutebrio entre o compromisso de trazer em cada nuacutemero notiacutecias de

pesquisas originais e portanto expressar a produccedilatildeo do Departamento de Pesquisa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

292

Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas e receber a colaboraccedilatildeo de investigadores

externos associados a outras instituiccedilotildees de pesquisa e universidades atraveacutes de

demanda induzida ou proposta por autores independentes Pretende atingir assim

um puacuteblico de interesses diversificados natildeo soacute em relaccedilatildeo agrave aacuterea de educaccedilatildeo mas

tambeacutem na aacuterea de gecircnero relaccedilotildees eacutetnico-raciais e outros temas que espelham as

questotildees poliacuteticas e sociais do momento (AUAD 1998)

Durante as deacutecadas de 1970 1980 e 1990 os autores publicados abordaram o tema da

avaliaccedilatildeo tomando como objeto de estudo os modos de avaliar as competecircncias dos

estudantes o curriacuteculo e material didaacutetico-instrucional com ecircnfase nas questotildees de

acesso agrave universidade aprovaccedilatildeo reprovaccedilatildeo e evasatildeo desempenho linguiacutestico

rendimento escolar instrumentos de medidas e objetivos instrucionais eficiecircncia do

sistema nos niacuteveis da educaccedilatildeo baacutesica (ensino fundamental e meacutedio) Dois espaccedilos de

aplicaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo as destinadas agrave avaliaccedilatildeo do professor e das instituiccedilotildees

sobretudo no niacutevel Ensino Superior enfrentavam resistecircncias relacionadas a motivos

corporativos e apoiadas na criacutetica em relaccedilatildeo agrave ausecircncia de um modelo de avaliaccedilatildeo

adequado agrave realidade brasileira Estudos sobre as metodologias de obtenccedilatildeo de dados

para avaliaccedilatildeo com discussotildees sobre os meacutetodos quantitativos qualitativos e pesquisa

participante (pesquisaaccedilatildeo) tambeacutem se constituiacuteram em temas privilegiados pelos

investigadores

Nesse periacuteodo o tema da avaliaccedilatildeo se consolida como um objeto de investigaccedilatildeo

surgindo discussotildees sobre a relevacircncia desses estudos para a melhoria da qualidade

dos projetos e sistemas educacionais Poreacutem ainda em l992 em artigo de balanccedilo da

produccedilatildeo sobre avaliaccedilatildeo nos Cadernos de Pesquisa Heraldo Marelim Vianna

afirmava

() inexiste em nosso contexto uma cultura da avaliaccedilatildeo

mas por pressatildeo das autoridades educacionais e das grandes

agecircncias financiadoras a avaliaccedilatildeo comeccedila ser considerada

uma necessidade de primeira grandeza Haacute contudo falta de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

293

elementos qualificados para o exerciacutecio da avaliaccedilatildeo salvo

algumas exceccedilotildeesrdquo (Cadernos de Pesquisa 80 p 102)

Identificamos cinco artigos entre os anos de 2000-2010 abrangendo as seguintes

temaacuteticas a) estudos sobre a poliacutetica de avaliaccedilatildeo do Ensino Superior atraveacutes do

Exame Nacional de Cursos (2 artigos) b) investigaccedilotildees sobre o rendimento de alunos

ingressantes na Universidade pelo sistema de cotas reservadas agrave etnia negra (2

artigos) c) apresentaccedilatildeo de pesquisa com cooperaccedilatildeo internacional (UFRGS UFPel e

Universidade de Aveiro) identificando a percepccedilatildeo dos estudantes sobre a relevacircncia

de avaliaccedilotildees institucionais na universidade (1 artigo)

Quanto agrave natureza dos artigos em um deles a autora analisa o Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo Educacional de modo teoacuterico buscando referecircncias na literatura cientiacutefica

Vale frisar que a partir dos anos finais da deacutecada de 1990 haacute um aumento significativo

dos instrumentos avaliativos utilizados pelo Estado brasileiro com vistas a controlar o

desempenho dos alunos nos diferentes niacuteveis de ensino inclusive no Ensino Superior

discussotildees essas que ocupam um espaccedilo expressivo natildeo soacute nesse perioacutedico mas nos

demais Os outros quatro textos utilizaram entrevistas abertas questionaacuterios

socioculturais e documentaccedilatildeo acadecircmica de desempenho escolar para

desenvolverem as pesquisas Dois textos entre esses tratam de maneira extensiva da

questatildeo metodoloacutegica para a obtenccedilatildeo e anaacutelise dos dados quantitativos e

qualitativos Cada qual segue perspectiva metodoloacutegica diferente Um deles produzido

por pesquisadores do campo da estatiacutestica apresenta nova metodologia

fundamentada em medidas de diversidades proposta por Rao e na utilizaccedilatildeo de U-

estatiacutesticas Com base na variaacutevel ldquoganho relativordquo propotildeem testes de

homogeneidade para avaliar se existe diferenccedila no desempenho entre estudantes

segundo alguns agrupamentos (sexo formaccedilatildeo em escola puacuteblica ou particular

caracteriacutesticas socioeconocircmicas) O outro estudo que aborda a percepccedilatildeo de

estudantes sobre a avaliaccedilatildeo baseou-se na anaacutelise de respostas a questotildees abertas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

294

Foram organizadas categorias segundo o seu significado com apoio de dispositivo

informaacutetico

O segundo perioacutedico selecionado para esta anaacutelise eacute Educaccedilatildeo e Pesquisa que eacute uma

revista trimestral da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo uma das

mais renomadas universidades brasileiras e da Ameacuterica Latina Tem sido editada

ininterruptamente desde 1975 originalmente como Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo

e com o tiacutetulo atual desde 1999 Eacute uma publicaccedilatildeo bastante conceituada que aceita

para publicaccedilatildeo artigos ineacuteditos na aacuterea educacional resultantes de pesquisa de

caraacuteter teoacuterico ou empiacuterico assim como revisotildees da literatura de pesquisa

educacional Satildeo publicados nesta revista artigos dos mais variados temas e

comumente satildeo realizados Dossiecircs temaacuteticos poreacutem natildeo foi localizado nenhum sobre

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior Entre os anos 2000 e 2010 foram encontrados somente

dois artigos que versam sobre a temaacutetica avaliaccedilatildeo relativa ao niacutevel Superior sendo

que todos discutem as poliacuteticas de avaliaccedilatildeo externa numa perspectiva poliacutetica

publicados em 2006 e 2009 O primeiro com autoria de Carmen Luacutecia Dias Maria de

Lourdes Morales Horiguela e Paulo Sergio Marchelli eacute intitulado ldquoPoliacuteticas para

avaliaccedilatildeo da qualidade do Ensino Superior no Brasil um balanccedilo criacuteticordquo (n 32

setdez2006) e faz a anaacutelise por meio de revisatildeo bibliograacutefica e de anaacutelise

documental acerca das origens do processo de avaliaccedilatildeo da sequecircncia histoacuterica dos

debates poliacuteticos que definiram os programas de trabalho na aacuterea das concepccedilotildees

metodoloacutegicas adotadas por esses programas dos instrumentos de mensuraccedilatildeo e

acompanhamento que foram desenvolvidos e dos sistemas de indicadores criados para

aferir a qualidade de ensino nas instituiccedilotildees bem como do desempenho dos

estudantes No segundo artigo ldquoAvaliaccedilatildeo e qualidade no Ensino Superior os impactos

do periacuteodo 1995-2002rdquo (n 35 setdez2009) Giselle Cristina Martins Real discute os

impactos que a poliacutetica de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior adotada no periacuteodo de 1995

a 2002 proporcionou agrave construccedilatildeo da concepccedilatildeo de qualidade nas instituiccedilotildees de

Ensino Superior de forma a compreender a sua loacutegica intriacutenseca

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

295

No acircmbito das discussotildees poliacuteticas acerca das avaliaccedilotildees institucionais o autor Joseacute

Dias Sobrinho eacute um dos mais citados nos artigos encontrados seja na Educaccedilatildeo e

Pesquisa seja em outros perioacutedicos e foi quem produziu um nuacutemero significativo de

livros e artigos sobre essa temaacutetica dos quais podemos destacar os seguintes livros

Universidade e Avaliaccedilatildeo Entre a eacutetica e o mercado (Insular 2002) Avaliaccedilatildeo

Poliacuteticas educacionais e reformas da educaccedilatildeo superior (Cortez 2003) e Dilemas da

Educaccedilatildeo Superior no mundo globalizado Sociedade do conhecimento ou economia

do conhecimentordquo (Casa do Psicoacutelogo 2005) Dias Sobrinho eacute professor do Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da UNISO (Universidade de Sorocaba) e professor

titular aposentado da UNICAMP onde atua na Poacutes-Graduaccedilatildeo e eacute editor de uma

revista voltada agrave temaacutetica da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior desde sua primeira ediccedilatildeo

1996 O perioacutedico Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute produzido

por RAIES (Rede Brasileira de Avaliaccedilatildeo Institucional do Ensino Superior) em parceria

com a UNISO Observa-se que a revista tinha sido publicada desde 1996 pela RAIES

sob o subtiacutetulo Revista de Rede de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e a partir de

2007 em parceria com a UNISO a legenda foi alterada para Revista da Avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superiorrdquo sendo financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico) agecircncia do Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo (MCTI) que tem como principais atribuiccedilotildees fomentar a

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica e incentivar a formaccedilatildeo de pesquisadores brasileiros

A produccedilatildeo desse perioacutedico tambeacutem eacute marcadamente poliacutetica e ao se remeter a uma

anaacutelise pedagoacutegica essa eacute voltada na maior parte das vezes ao formato das avaliaccedilotildees

institucionais e ao sistema de Ensino Superior Foram encontrados esparsos registros e

anaacutelises de experiecircncias particulares de modo geral na formaccedilatildeo teacutecnica

Foi possiacutevel ainda examinar os conhecimentos produzidos pelos chamados

ldquoespecialistasrdquo a partir de pesquisas realizadas na aacuterea da educaccedilatildeo ou mais

especificamente junto agrave sociologia educacional agrave psicologia educacional agrave filosofia

educacional e outras aacutereas afins Nessa perspectiva o projeto incluiu tambeacutem o

levantamento sistematizaccedilatildeo e exame de artigos publicados pela Revista Brasileira de

Educaccedilatildeo uma publicaccedilatildeo quadrimestral da ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

296

Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo) em circulaccedilatildeo desde 1995 Natildeo se poderia deixar

de mencionar aqui a atual e notaacutevel ldquocomplexificaccedilatildeordquo do campo dos educadores

configurada no significativo aumento do nuacutemero de centros reuniotildees congressos

teses dissertaccedilotildees e publicaccedilotildees educacionais destacando-se os livros e os perioacutedicos

da aacuterea Os esforccedilos da ANPEd satildeo indiacutecios relevantes dessa tendecircncia Em 2002 ao

avaliar e propor as atividades e seus vaacuterios grupos de trabalho a Diretoria da

Associaccedilatildeo reafirmou entre outros o propoacutesito de reunir pesquisadores estudiosos e

interessados na praacutetica educacional construir um espaccedilo para expor vaacuterias

perspectivas teoacuterico-metodoloacutegicas presentes nos estudos da aacuterea acompanhar e

analisar a produccedilatildeo cientiacutefica e os projetos de pesquisa aleacutem de colaborar com a

melhoria das disciplinas da Poacutes-Graduaccedilatildeo e produzir bibliografia analiacutetica Eacute nesse

sentido que um dos artigos que trata da avaliaccedilatildeo do Ensino Superior ainda que natildeo

de uma forma central eacute o de Maria de Lourdes Albuquerque Faacutevero (2002) no qual a

autora apresenta e discute a origem o desenvolvimento e a produccedilatildeo de um dos

Grupos de Trabalho da ANPEd sobre Poliacutetica de Educaccedilatildeo Superior

Nem sempre o tema da avaliaccedilatildeo comparece nos trabalhos relativos ao Ensino

Superior como eacute o caso do artigo de Ana Waleska sobre a histoacuteria do Ensino Superior

no Brasil (2000) As colaboraccedilotildees do texto satildeo inegaacuteveis evidenciando uma

preocupaccedilatildeo mais presente na produccedilatildeo localizada na RBE que eacute situar os princiacutepios e

as orientaccedilotildees poliacuteticas desse niacutevel de escolarizaccedilatildeo Em 2003 conjuntamente

Bernardete Gatti Marli Andreacute Osmar Faacutevero e Vera Maria Candau examinam o

modelo de avaliaccedilatildeo da CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento do Pessoal de

Ensino Superior) O artigo eacute emblemaacutetico de um tipo de preocupaccedilatildeo que comeccedila a se

configurar entre os profissionais da aacuterea jaacute que a CAPES eacute um dos oacutergatildeos federais que

financiam apoiam e controlam o trabalho acadecircmico no Brasil A avaliaccedilatildeo eacute aqui

pensada para medir os resultados de um sistema de ensino que conta com uma

pluralidade de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas algumas com mais reconhecimento e

condiccedilotildees de funcionamento do que outras Discussatildeo semelhante eacute tratada por Joseacute

Silveacuterio Baiacutea Horta e Maria Ceacutelia Marcondes de Moraes em 2005 quando os autores

escrevem sobre ldquoO sistema CAPES de avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo da aacuterea de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

297

educaccedilatildeo agrave grande aacuterea de ciecircncias humanasrdquo O referido sistema de avaliaccedilatildeo opera

uma espeacutecie de ldquofabricaccedilatildeordquo da identidade (Lawn 2000) do ensino superior regulando

seus princiacutepios e suas praacuteticas Os artigos publicados na revista por sua vez satildeo

instancias mediante as quais esses mecanismos de controle satildeo expostos e

examinados pelos profissionais da aacuterea eles mesmos professores e pesquisadores do

ensino superior Esses artigos podem ser entendidos como respostas e ateacute mesmo

resistecircncias que tambeacutem participam da construccedilatildeo da identidade das praacuteticas no

ensino superior

Com base nas consideraccedilotildees acima pode-se afirmar que a Revista Brasileira de

Educaccedilatildeo colabora para construir o que Marilena Chauiacute em artigo publicado no

perioacutedico em 2003 chama de nova perspectiva da universidade puacuteblica Eacute no acircmbito

das disputas travadas em torno do ensino superior que mais recentemente os autores

Thiago Leitatildeo Gabriela Moriconi Mariangela Abratildeo e Dayse Silva evidenciam os

efeitos das medidas de controle da qualidade do Ensino Superior ao examinarem o

boicote dos estudantes aos exames de avaliaccedilatildeo As formas de se pensar propor e

viver o controle da qualidade do trabalho acadecircmico tambeacutem comparecem no artigo

de Carlos Cury (2010) em que ele trata da pesquisa e a avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo em

educaccedilatildeo De todos os artigos localizados o de Maria Isabel da Cunha (2006) eacute o que

mais se interroga sobre as praacuteticas cotidianas da instituiccedilatildeo pensada assim natildeo apenas

na perspectiva do sistema de ensino Em seu artigo intitulado ldquoDocecircncia na

universidade cultura e avaliaccedilatildeo institucional saberes silenciados em questatildeordquo a

autora ajuda a compreender como as diretrizes poliacuteticas e educacionais satildeo

apropriadas por alunos e professores

Buscando uma siacutentese podemos dizer que no conjunto de artigos selecionados

predominam perspectivas de investigaccedilatildeo que problematizam a atuaccedilatildeo estatal no

acircmbito da avaliaccedilatildeo tanto nos cursos de graduaccedilatildeo como no niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

e portanto denuncia-se o seu caraacuteter de regulaccedilatildeo e controle do Sistema de Ensino

Superior ao direcionar os objetos de investigaccedilatildeo no plano da pesquisa e as praacuteticas

dos professores em relaccedilatildeo ao curriacuteculo e objetivos de ensino em detrimento de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

298

iniciativas que favoreccedilam a utilizaccedilatildeo dos dados para a melhoria dos processos

internos de gestatildeo democraacutetica formaccedilatildeo de professores invenccedilatildeo de novos

caminhos de produccedilatildeo de conhecimento e aperfeiccediloamento das praacuteticas de ensino e

de aprendizagem Em consonacircncia a essa abordagem criacutetica nos estudos voltados a

temaacuteticas especiacuteficas privilegia-se a anaacutelise com ecircnfase na figura do estudante

universitaacuterio buscando-se ampliar o conhecimento sobre as suas percepccedilotildees acerca

da avaliaccedilatildeo institucional bem como a respeito da possibilidade de fatores

socioculturais raccedila e etnia sexo formaccedilatildeo em escola puacuteblica ou particular culturas

estudantis sejam determinantes ou natildeo do desempenho acadecircmico Nesse sentido

no proacuteprio espaccedilo acadecircmico eacute possiacutevel identificar as tensotildees que recobrem o tema

Ao acompanhar as decisotildees poliacuteticas voltadas agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees e sua

consequente classificaccedilatildeo marcadamente a partir dos anos de 1990 compreende-se a

ecircnfase dada a essa discussatildeo nos anos de 2000 em diante sendo de modo geral

tecidas criacuteticas aos modos de realizaccedilatildeo dessas avaliaccedilotildees

Esse levantamento foi essencial para dar visibilidade agrave lacuna na produccedilatildeo sobre

avaliaccedilatildeo no Ensino Superior acerca das praacuteticas avaliativas em sala de aula das

concepccedilotildees dos professores ao avaliarem e dos alunos ao serem avaliados num

determinado curso de graduaccedilatildeo fortalecendo a relevacircncia do projeto em

desenvolvimento Os artigos da Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo e Pesquisa

Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e tambeacutem os dos Cadernos de

Pesquisa compotildeem um conjunto variado de produccedilotildees Satildeo instacircncias diversas de

produccedilatildeo espaccedilos de circulaccedilatildeo e estrateacutegias de apropriaccedilatildeo do conhecimento sobre

o tema da avaliaccedilatildeo no Ensino Superior Elas participam de um jogo de construccedilatildeo

discursiva fundamental para que se definam as diretrizes para a avaliaccedilatildeo nesse niacutevel

de ensino e para as condiccedilotildees concretas de seu exerciacutecio sejam conhecidas e

discutidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

299

Referecircncias Bibliograacuteficas

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SCHRIEWER J A difusatildeo mundial da escolar Lisboa Educa 2000

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

300

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Pesquisa 80 100-105

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

301

Praacutetica de Ensino Supervisionada no 1ordm e no 2ordm Ciclo do Ensino

Baacutesico o interesse dos alunos pela aacuterea de Estudo do Meio

Carina Ferreira

Externato Matildee de Deus

cpferreiraahotmailcom

Antoacutenio Almeida

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

aalmeidaeselxiplpt

Resumo

A presente comunicaccedilatildeo tem como principal finalidade relatar a Praacutetica de Ensino

Supervisionada desenvolvida no 2ordm ano do Curso de Mestrado em Ensino do 1ordm e do

2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico refletindo todo o percurso formativo desafios processos e

desempenhos do quotidiano profissional experienciado

Neste acircmbito foi desenvolvida uma investigaccedilatildeo com enfoque sobre o interesse dos

alunos do 1ordm Ciclo pela aacuterea disciplinar de Estudo do Meio que procurou analisar se a

intervenccedilatildeo afetou positivamente o referido interesse Para tal foi aplicado um

questionaacuterio antes e apoacutes a realizaccedilatildeo da praacutetica (que teve a duraccedilatildeo de seis semanas)

a um grupo de vinte alunos com idades entre os 8 e os 10 anos que frequentavam no

ano letivo 20122013 o 3ordm ano de escolaridade numa escola da aacuterea de Lisboa O

questionaacuterio implementado antes da intervenccedilatildeo permitiu efetuar uma avaliaccedilatildeo

diagnoacutestica acerca do interesse por esta aacuterea e da predisposiccedilatildeo das crianccedilas para

investigar autonomamente determinados temas desta aacuterea disciplinar

Os resultados apoacutes realizaccedilatildeo de atividades praacuteticas e experimentais demonstram

que o interesse por determinados temas de Estudo do Meio aumentou Todavia o

interesse dos alunos por esta aacuterea natildeo se alterou significativamente o que pode

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

302

dever-se a um preacute-conceito interiorizado nas crianccedilas de que se trata de uma aacuterea

difiacutecil e que envolve aprendizagens com um certo grau de dificuldade

Palavras-chave Aacuterea de Estudo do Meio interesse dos alunos atividades praacuteticas e

experimentais

Abstract

The present communication aims to report a study developed during Supervised

Teaching Practice in the 2nd year of the Master of Teaching in 1ordm and 2ordm Cycles of

Basic School reflecting all the educational challenges processes and performances of

daily experienced professionals

The research study was focused on the interest of the 1st Cycle students for the

curriculum area of ldquoEstudo do Meiordquo we sought to examine whether the intervention

positively affected that interest For this purpose a questionnaire was applied before

and after the teaching practice (which lasted for six weeks) to a group of twenty

students aged between 8 and 10 years who attended the school year 20122013 3rd

grade in a school in the Lisbon area The questionnaire was implemented before the

intervention and allowed performing a diagnostic evaluation about the interest in the

mentioned area and the predisposition of children to independently investigate certain

topics of this curriculum area

The results have demonstrated that the interest in certain topics of this area increased

when they involved practical activities and experiments Simultaneously the students

interest in the area of ldquoEstudo do Meiordquo has not changed significantly which may be

due to a misconception in children that this is a difficult area and involves a certain

degree of difficulty

Keywords Area of ldquoEstudo do Meiordquo childrenacutes interests practical and experimental

activities

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

303

A Aacuterea Curricular de Estudo do Meio

O Estudo do Meio (EM) eacute uma aacuterea disciplinar do 1ordm CEB para a qual concorrem

conceitos meacutetodos e teacutecnicas das Ciecircncias da Natureza ndashBiologia Geologia Fiacutesica e

Quiacutemica ndash e das Ciecircncias Sociais ndashGeografia Histoacuteria Economia e Sociologia Esta aacuterea

permite que os alunos adquiram conhecimentos e competecircncias desenvolvam e

interiorizem atitudes e valores que os levam a compreender a realidade fiacutesica e social

que os rodeia com respeito por todas as culturas e despertando a consciecircncia de que

somos cidadatildeos do mundo (Cardoso 1998) Por isso esta aacuterea contribui para a sua

preparaccedilatildeo enquanto cidadatildeos ativos de uma sociedade em mudanccedila

Deste modo Roldatildeo (2001) encara o EM como uma aacuterea de abertura para o futuro

apelando a todos os docentes para que promovam uma reflexatildeo criacutetica sobre esta aacuterea

disciplinar e sobre as praacuteticas didaacuteticas a ela associadas na busca de estrateacutegias e

atividades adequadas aos alunos com o intuito de contribuir natildeo apenas para o seu

empenho mas tambeacutem para o interesse e sucesso nesta aacuterea Para tal o programa de

EM deve ser orientado de forma aberta e flexiacutevel de modo a proporcionar aos alunos

a conceccedilatildeo e o desenvolvimento de projetos e a realizaccedilatildeo de atividades investigativas

de teor diferenciado Este tipo de atividades promove a aquisiccedilatildeo de conhecimentos

de meacutetodos de estudo e estrateacutegias de aprendizagem e ainda contribui para o

desenvolvimento socioafetivo dos alunos

Por esta razatildeo o referido programa apresenta uma estrutura disciplinar por

alargamento progressivo denominada por laquoexpanding horizons curriculumraquo De

acordo com este modelo haacute uma progressatildeo dos conteuacutedos a abordar que se inicia

pela exploraccedilatildeo do meio proacuteximo da famiacutelia do presente do eu para um

alargamento progressivo a contextos mais amplos (Roldatildeo 2001)

Embora o programa se apresente por blocos de conteuacutedos seguindo uma

determinada ordem o documento da Organizaccedilatildeo Curricular e Programas para o 1ordm

CEB sugere que os professores ldquodeveratildeo recriar o programa de modo a atender aos

diversificados pontos de partida e ritmos de aprendizagem dos alunos aos seus

interesses e necessidades e agraves caracteriacutesticas do meiordquo (1998 p108) podendo ainda

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

304

ldquoalterar a ordem dos conteuacutedos associaacute-los de diferentes formas variar o seu grau de

aprofundamento ou mesmo acrescentar outrosrdquo (Curriacuteculo Nacional do Ensino Baacutesico

2001 p 76)

Poreacutem nas escolas nem sempre esta aacuterea curricular eacute abordada com o merecido

desenvolvimento evocando os professores a necessidade de uma atenccedilatildeo maior agrave

Liacutengua Portuguesa e agrave Matemaacutetica porque os conteuacutedos destas aacutereas satildeo objeto de

provas finais de avaliaccedilatildeo

O Estudo do Meio como aacuterea potenciadora do interesse das crianccedilas

As crianccedilas satildeo seres com um interesse e uma curiosidade intrinsecamente naturais

Desde muito cedo questionam sobre tudo o que as rodeia pedindo explicaccedilotildees para o

que observam e formulando perguntas como por exemplo as seguintes ldquopor que eacute

que a lua natildeo cairdquo ldquose os barcos satildeo tatildeo pesados por que eacute que flutuamrdquo ou ldquoas

plantas satildeo tortas porque algueacutem lhes mexeu56rdquo

Muitas destas perguntas satildeo claramente do acircmbito do EM e cabe aos professores

alimentar o fasciacutenio e o interesse das crianccedilas pelo mundo que as rodeia De facto as

crianccedilas em qualquer parte do mundo ficam intrigadas com problemas simples quer

sejam idealizados quer identificados no meio circundante Num encontro de

especialistas da UNESCO em 1983 afirmou-se que se o EM ldquoincidir sobre tais

problemas explorando os caminhos que despertem o interesse das crianccedilas nenhuma

outra disciplina seraacute mais apelativa e excitante para elasrdquo (Saacute 2002 p 35)

Catita (2007) acredita que o uso pelas crianccedilas de todos os seus sentidos na

descoberta do Meio Fiacutesico e Social deve opor-se agrave tendecircncia de um ensino que

privilegie a receccedilatildeo passiva de informaccedilatildeo verbal Tambeacutem Saacute (2002) admite que ldquoo

interesse e a curiosidade natural da crianccedila pelo ambiente proacuteximo que habita faz da

56

Estas questotildees foram colocadas por trecircs alunos que frequentavam o 3ordm ano de escolaridade durante a Praacutetica de Ensino Supervisionada II

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

305

exploraccedilatildeo dos objetos materiais e seres vivos uma pulsatildeo geneacutetica como comprova a

Psicologia do Desenvolvimentordquo (p 36)

Muitos autores afirmam que a seleccedilatildeo de saberestemas pode suscitar o interesse e a

curiosidade dos alunos desde que tenha como base as suas experiecircncias pessoais

Migueacutens Santos Simotildees amp Roldatildeo (1996) satildeo da opiniatildeo que ldquoeacute considerado

desmotivador (quer para os alunos quer para os professores) trabalhar assuntos que

aparentemente natildeo tecircm qualquer utilidade ou significado no presente e no futuro

proacuteximordquo (p 58)

Uma forma de consubstanciar algumas das ideias anteriores pode ser atraveacutes do

recurso agrave implementaccedilatildeo com alguma periodicidade de atividades praacuteticas e

experimentais relacionadas particularmente com as Ciecircncias da Natureza Lunetta

(1991) considera que as atividades praacuteticas contribuem de forma positiva para a

compreensatildeo de algumas perspetivas da natureza da ciecircncia para a progressatildeo

intelectual concetual e de atitudes positivas das crianccedilas para com a ciecircncia Jaacute Saacute

Veiga Martins Jorge amp Teixeira (2003) sugerem que o ensino experimental das

ciecircncias eacute fundamental para o desenvolvimento dos chamados processos cientiacuteficos

como o planificar e prever executar procedimentos fazer mediccedilotildees observaccedilotildees

registar e explicar interpretar e avaliar

Portanto pode-se considerar que as atividades praacuteticas e experimentais natildeo satildeo

simples manipulaccedilotildees fiacutesicas executadas de forma mecacircnica por imitaccedilatildeo ou seguindo

as instruccedilotildees fornecidas pelo professor Elas contecircm uma forte intencionalidade

associada ao desenvolvimento mental do aluno combinando o seu pensamento e

conduzindo agrave aprendizagem Por isso eacute que Williams Rockwell e Sherwood (2003)

afirmam que as atividades nesta aacuterea permitem ldquodesenvolver espiacuteritos investigadores

(hellip) e natildeo crianccedilas que satildeo simplesmente armazeacutens de informaccedilatildeordquo (p 38)

Muitos autores satildeo de opiniatildeo que mesmo que natildeo se proporcione agraves crianccedilas o

contacto formal com o ensino das ciecircncias elas desenvolveratildeo ideias acerca do

mundo Poreacutem essas ideias seratildeo baseadas em observaccedilotildees casuais de senso-comum

podendo ateacute constituir-se como conceccedilotildees erradas Eacute importante que os alunos sintam

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

306

necessidade de descobrir e explorar aspetos que surgem no quotidiano quer atraveacutes

das atividades praacuteticas em geral quer das de iacutendole mais experimental e de

preferecircncia inseridas na dinacircmica do trabalho investigativo Assim para Reis (2008)

este tipo de trabalho ldquosempre que envolva a procura de soluccedilotildees para problemas

levantados pelo educadorprofessor ou pelas crianccedilas constitui uma instrumento

adequado ao desenvolvimento de capacidades como observar classificar prever

medir interpretar discutir colaborar e comunicarrdquo (pp 16-17) capacidades

naturalmente potenciadas no decurso de atividades praacuteticas

Posto isto no acircmbito da aacuterea do EM (1ordm CEB) e nas Ciecircncias da Natureza (2ordm CEB) o

professor deveraacute desenvolver atividades impulsionadoras do desenvolvimento da

crianccedila como por exemplo questionar e facultar informaccedilotildees que estimulem a sua

capacidade de pensar ajudar e incentivar a procurar respostas para solucionarem os

problemas com que se deparam desafiando-as com ideias novas obrigando-as a

testar a exatidatildeo das mesmas

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo surgiu da necessidade pessoal de aumentar a visibilidade da aacuterea de

Estudo do Meio (EM) alimentada por questotildees levantadas por um grupo de 20 alunos

do 3ordm ano de um Agrupamento de Escolas de Lisboa Estes alunos levantavam

questotildees pertinentes relativamente aos conteuacutedos programaacuteticos abordados que natildeo

eram respondidas pelo professor cooperante devido essencialmente a uma

modalidade de praacutetica pedagoacutegica muito fechada agraves intervenccedilotildees e curiosidades das

crianccedilas

Assim foi aplicado um questionaacuterio aos alunos com as seguintes finalidades

identificar as suas duas aacutereas disciplinares preferidas e as duas aacutereas de que natildeo

gostavam tanto identificar os temas pelos quais tinham mais interesse e saber se

eventualmente jaacute tinham sentido curiosidade em pesquisar sobre eles e ainda

identificar quais os modos como preferiam aprender EM na escola

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

307

O questionaacuterio era constituiacutedo por um leque de perguntas fechadas com recurso a

uma escala ordinal no caso dos temas (natildeo gosto gosto pouco gosto mais ou menos

gosto muito e nunca ouvi falar) Os alunos podiam justificar as suas escolhas atraveacutes da

inclusatildeo de espaccedilos de resposta aberta Com o objetivo de detetar eventuais erros na

sua conceccedilatildeo o questionaacuterio foi pilotado junto de um grupo de dez crianccedilas que

frequentavam um centro de explicaccedilotildees com idades compreendidas entre os 8 e os 10

anos o mesmo leque de idades da amostra e residentes no concelho de Vila Franca de

Xira As crianccedilas reagiram de forma positiva agraves questotildees colocadas natildeo apresentando

quaisquer dificuldades em responder com a exceccedilatildeo de terem mencionado

desconhecer alguns dos temas programaacuteticos incluiacutedos situaccedilatildeo previsiacutevel por os

mesmos nunca terem sido abordados em contexto formal de aprendizagem

No momento da aplicaccedilatildeo do questionaacuterio e indo de encontro das ideias defendidas

por Tuckman (2000) todas as crianccedilas foram informadas do objetivo da investigaccedilatildeo

da proteccedilatildeo dos dados da oportunidade para o esclarecimento ao longo da aplicaccedilatildeo

e das orientaccedilotildees especiais uma vez que todo o questionaacuterio foi lido em voz alta Os

questionaacuterios foram passados com duas versotildees em que a ordem dos itens (aacutereas

disciplinares e temas disciplinares) foi diferente Pretendeu-se assim garantir que

questotildees de ordem na apresentaccedilatildeo dos itens natildeo afetassem a seleccedilatildeo das respostas

O questionaacuterio foi aplicado em dois momentos distintos antes da intervenccedilatildeo

propriamente dita e no final desta na tentativa de verificar alguma mudanccedila que

pudesse ser explicada pelo teor da proacutepria intervenccedilatildeo No decurso desta foram

realizadas oito atividades praacuteticas sendo uma de teor experimental pois envolvia o

controlo de variaacuteveis tendo em conta os conteuacutedos programaacuteticos contemplados na

Praacutetica de Ensino Supervisionada

A primeira atividade proposta consistiu num trabalho de pesquisa em grupo sobre o

tema dos animais Para a sua concretizaccedilatildeo disponibilizou-se aos alunos um guiatildeo do

trabalho que continha os seguintes pontos o que jaacute sei o que goatva de saber como

vou pesquisar e como vou apresentar o trabalho Disponibilizaram-se ainda alguns

livros para pesquisa A recolha de informaccedilatildeo em enciclopeacutedias atlas e internet foi

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

308

realizada durante uma semana com supervisatildeo dos professores No fim cada grupo

apresentou os trabalhos ao grande grupo atraveacutes de cartolinas

A segunda atividade visou a observaccedilatildeo de rochas em amostra de matildeo Para isso

disponibilizaram-se seis amostras diferentes a cada grupo O objetivo principal da

atividade foi a sua identificaccedilatildeo utilizando uma chave dicotoacutemica partindo das suas

carateriacutesticas

A terceira atividade consistiu em verificar a permeabilidade de trecircs tipos solos ndash

argiloso terra arenoso- verificando a sua cor cheiro e textura Para esta atividade

recorreu-se a material reciclaacutevel (garrafas de aacutegua de plaacutestico) que serviram de

recipientes para a execuccedilatildeo da atividade

Atraveacutes destes trabalhos pretendeu-se que os alunos desenvolvessem vaacuterias

competecircncias natildeo soacute de EM mas tambeacutem de Liacutengua Portuguesa nomeadamente

atraveacutes da pesquisa e seleccedilatildeo de informaccedilatildeo pertinente e exposiccedilatildeo oral das

aprendizagens efetuadas

Desenvolveram-se ainda na sala de aula a construccedilatildeo de um terraacuterio uma sessatildeo com

iacutemanes outra com materiais de diferentes carateriacutesticas (transparentes opacos e

transluacutecidos) para se observar o comportamento da luz e a construccedilatildeo da maquete do

ciclo da aacutegua Poreacutem natildeo se procedeu a uma autoavaliaccedilatildeo formal

Todas as atividades descritas anteriormente foram realizadas a pares eou em

pequenos grupos (maacuteximo de 45 alunos) Para cada uma foi tambeacutem elaborado um

guiatildeo de apoio onde se forneciam informaccedilotildees acerca do procedimento que os alunos

deviam seguir bem como algumas questotildees que os ajudavam a retirar conclusotildees Ao

longo da sua execuccedilatildeo o professor desempenhou o papel de tutor isto eacute um

facilitador das aprendizagens que se pretenderam em parte autoacutenomas

Anaacutelise dos resultados

Para se proceder agrave anaacutelise dos resultados optou-se por contabilizar as frequecircncias de

resposta dos alunos ao questionaacuterio A partir destes dados construiacuteram-se tabelas de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

309

frequecircncia e para algumas perguntas graacuteficos As respostas abertas foram agrupadas

em funccedilatildeo do seu teor e algumas dadas reproduzidas Estas foram quase sempre

curtas facto compreensiacutevel se atendermos agrave idade das crianccedilas

Da aplicaccedilatildeo do questionaacuterio antes da intervenccedilatildeo (Quadro 1) verificou-se que as

aacutereas disciplinares preferidas dos alunos foram a Expressatildeo Fiacutesica-Motora (13 alunos ndash

65) e a Matemaacutetica (10 alunos ndash 50) De entre as diversas aacutereas o EM foi pouco

escolhido (5 alunos - 25) Ainda assim os que o escolheram afirmaram que ldquoera

interessanterdquo permitia ldquoaprender coisas novasrdquo e ldquofazermos experiecircnciasrdquo Outros

alunos por sua vez justificaram pelo interesse que alguns dos conteuacutedos desta aacuterea

lhes despertavam

De opiniatildeo contraacuteria 10 alunos assinalaram natildeo preferir o EM afirmando natildeo gostar

de alguns temas meacutetodos de trabalho a ela associados (ouvir os alunos fazer coacutepias

ler o manual) niacutevel de dificuldade mas tambeacutem por considerarem que ldquoeacute chato e

aborrecidordquo

Quadro 1 ndash Preferecircncias dos alunos face agraves Aacutereas disciplinares

Aacutereas Disciplinares De que mais gosta De que menos gosta

Frequecircncia Frequecircncia

Portuguecircs 4 20 10 50

Matemaacutetica 10 50 7 35

Expressotildees Artiacutesticas 8 40 8 40

Estudo do Meio 5 25 10 50

Expressatildeo Fiacutesica-

MotoraMotora

13 65 5 25

No que diz respeito aos conteuacutedos programaacuteticos um nuacutemero significativo de crianccedilas

afirmou natildeo gostar ou gostar pouco de temas jaacute abordados ou ainda por abordar

Como se previa algumas disseram que natildeo conheciam alguns deles nomeadamente

os iacutemanes e as atividades econoacutemicas

O niacutevel de pesquisa autoacutenoma sobre os temas rondou os 586 existindo alguns para

os quais as crianccedilas estavam mais despertas razatildeo pela qual provavelmente a

pesquisa aumentava como por exemplo em temas como ldquoos animaisrdquo e ldquoos astrosrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

310

Analisando individualmente os questionaacuterios estabeleceu-se uma relaccedilatildeo entre o

interesse e o niacutevel de pesquisa os alunos pesquisavam apenas sobre os temas de que

gostavam mais ou menos ou de que gostavam muito

Quando se questionou as crianccedilas sobre como gostavam de aprender EM verificou-se

uma grande diversidade de respostas (Quadro 2) Pensa-se que o facto de as crianccedilas

soacute conhecerem a metodologia de trabalho do professor titular da turma impediu-as

de optar por formas de aprendizagem mais dinacircmicas

Quadro 2ndash Anaacutelise da questatildeo ldquona escola como preferes aprender EMrdquo (inicialmente)

Atividade preferida Frequecircncia absoluta Percentagem

Pesquisar na internet 3 15

Realizar exerciacutecios 3 15

Ouvir o professor 7 35

Fazer coacutepiasresumos 7 35

Fazer experiecircncias 2 10

Ler livros 7 35

Trabalhos de grupo 1 5

Observar o que me rodeia 1 5

Tendo por base as ideias referidas anteriormente na praacutetica de ensino supervisionada

privilegiaram-se as atividades praacuteticas e experimentais para abordar os conteuacutedos de

EM Como jaacute foi mencionado a primeira atividade proposta foi um trabalho de

pesquisa em grupo sobre o tema dos animais ndash agrave descoberta do meio natural Dos

resultados obtidos na auto avaliaccedilatildeo dos alunos obteve-se uma grande diversidade de

respostas tendo 5 alunos (25) afirmado ter gostado de tudo mas os restantes

identificaram sempre algo mais ou menos positivo na atividade (Figura 1)

Figura 1 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquoos animaisrdquo

3 15

2 10

5 255 25

5 25

O que gostei menosConfusatildeo na salade aula

Conflitos entre ogrupo

Dar a opiniatildeo

Redigir o texto

Sem resposta

3 15

5 25

7 35

5 25

O que gostei mais

ExpressatildeoPlaacutestica

Tudo

Apresentaccedilatildeooral

Trabalho emgrupo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

311

No que respeita agrave sessatildeo praacutetica de observaccedilatildeo das rochas (Figura 2) 8 alunos (40)

referiram que gostaram de tudo havendo um aumento em relaccedilatildeo agrave atividade

anterior Em relaccedilatildeo ao que assinalaram gostar menos houve uma diversidade de

respostas maior percebendo-se entre outros aspetos que 3 alunos (15) natildeo

gostaram de observar as rochas e outros 3 (15) de posteriormente as moldar

Figura 2 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquoobservaccedilatildeo das rochasrdquo

A terceira atividade teve caraacutecter experimental e foi dedicada agrave permeabilidade dos

solos Analisando a auto e heteroavaliaccedilatildeo dos alunos (Figura 3) constatou-se que a

preferecircncia dos alunos por esta atividade aumentou (14 alunos ndash 70)

Figura 3 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquopermeabilidade dos solosrdquo

2 10

4 20

14 70

O que gostei maishellip

Cheirar os solos

Sentir a textura dos solos

Fazer a experiecircncia

14 70

3 15

2 10

1 5

O que gostei menoshellip

Sem resposta

Sentir a textura dossolos

Retirar conclusotildees

Confusatildeo da sala

5 25

7 35

8 40

O que gostei maishellip

Observar as rochas

Trabalhar em grupo

Tudo

3 151 5

4 20

1 5

3 15

8 40

O que gostei menoshellip Atividade de EEP

Confusatildeo na sala

Retirar conclusotildees sobre a atividade

Desentendimentos no grupo

Observar as rochas

Sem resposta

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

312

Ainda assim alguns alunos apontaram aspetos negativos que decorreram natildeo soacute do

seu proacuteprio comportamento que conduziu a alguma ldquoconfusatildeo na salardquo mas tambeacutem

da proacutepria atividade principalmente no que se refere agrave necessidade de ldquoretirar

conclusotildeesrdquo

Se estabelecermos uma comparaccedilatildeo entre os resultados apresentados acerca das trecircs

atividades (Quadro 3) pode verificar-se semelhanccedilas no que se refere aos aspetos que

os alunos gostaram menos Estas razotildees comuns surgem provavelmente porque os

alunos natildeo estavam habituados a esta forma de trabalhar mais autoacutenoma pelo que

talvez tivessem sentido dificuldades na retirada de conclusotildees ou na redaccedilatildeo de um

texto conclusivo sobre as aprendizagens que fizeram De igual modo porque

raramente trabalhavam em grupo houve a necessidade no iniacutecio de acentuar as

regras estipuladas para a sala de aula nomeadamente no que se refere ao tipo de

comportamentos esperados no decurso da realizaccedilatildeo deste tipo de atividades Ainda

assim estas regras natildeo foram totalmente interiorizadas e natildeo foi raro ver surgir como

anaacutelise negativa os motivos de ldquoconfusatildeo na salardquo e ldquoconflitos entre o grupordquo

Quadro 3 ndash Quadro comparativo dos aspetos negativos avaliados pelos alunos

Atividade realizada Confusatildeo

na sala

Conflitos

entre o

grupo

Redigir o

texto

Retirar

conclusotildees Os animais 3 2 5 0

Observar rochas 1 1 0 4

Permeabilidade dos

solos

1 0 0 2

Natildeo obstante verificou-se o decreacutescimo no nuacutemero de alunos que referenciam estas

razotildees associadas ao que gostaram menos Daiacute que seja legiacutetima a seguinte pergunta

ldquoseraacute que se este tipo de trabalho com os alunos se prolongasse mais tempo estes

deixariam de referir estes motivosrdquo

No final do periacuteodo de intervenccedilatildeo aplicou-se novamente o questionaacuterio tal como jaacute

tinha sido referido Ao contraacuterio do que se esperava mais de metade da amostra de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

313

alunos continuou a natildeo preferir a aacuterea de Estudo do Meio (Quadro 4) quando

comparada com as restantes referindo que tinham de saber muita mateacuteria ser difiacutecil

mas tambeacutem porque era chata e cansativa

Quadro 4 ndash Preferecircncias finais dos alunos face agraves Aacutereas Disciplinares

Aacutereas Disciplinares De que mais gosta De que menos gosta

Frequecircncia Frequecircncia

Portuguecircs 5 25 11 55

Matemaacutetica 8 40 7 35

Expressotildees Artiacutesticas 12 50 4 20

Estudo do Meio 4 20 13 65

Expressatildeo Fiacutesica-Motora 11 55 5 25

Poreacutem se analisarmos o niacutevel de interesse inicial por cada tema do EM e o niacutevel de

interesse final apoacutes a praacutetica de ensino constatou-se que muitos dos alunos

aumentaram o seu interesse por determinados temas Por outras palavras

inicialmente havia uma meacutedia de 398 de alunos que gostavam muito dos temas

definidos e no fim este valor subiu para 594 Para aleacutem disso e como seria de

esperar desapareceu o nuacutemero de alunos que nunca tinham ouvido falar de alguns

temas

O mesmo se passou em relaccedilatildeo ao niacutevel de pesquisa por cada tema do EM

Inicialmente os alunos apresentavam uma meacutedia de pesquisa autoacutenoma de 586

aumentando substancialmente para uma meacutedia de pesquisa final de 678

De modo semelhante tambeacutem o modo como preferem aprender EM sofreu alteraccedilotildees

(Quadro 5) No final da intervenccedilatildeo este grupo de alunos optou com maior frequecircncia

pela pesquisa na internet e pelas experiecircncias ao inveacutes de ouvir o professor e realizar

coacutepiasresumos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

314

Quadro 5 ndash ldquoNa escola como preferes aprender EMrdquo

Atividade preferida Frequecircncia absoluta Percentagem

Pesquisar na internet 10 50

Realizar exerciacutecios 1 5

Ouvir o professor 0 0

Fazer coacutepiasresumos 2 10

Fazer experiecircncias 8 40

Ler livros 1 5

Trabalhos de grupo 0 0

Observar o que me rodeia 2 10

Assim em termos globais a perceccedilatildeo negativa da aacuterea do Estudo do Meio persistiu

mas muitos dos temas trabalhados neste acircmbito passaram a merecer um maior

interesse

Conclusotildees

Ao longo de toda a Praacutetica de Ensino Supervisionada houve a preocupaccedilatildeo de

incentivar motivar acompanhar e ajudar todas as crianccedilas tendo em conta os seus

interesses e as suas necessidades individuais Para isso a aposta foi na diversificaccedilatildeo

de atividades nas diferentes aacutereas disciplinares e na construccedilatildeo de materiais didaacuteticos

apelativos sempre que tal fosse possiacutevel

No caso do EM os resultados da investigaccedilatildeo encetada levam a acreditar que esta aacuterea

pode de facto contribuir para que os alunos se interessem pelo conhecimento e

encontrem resposta para algumas das suas perguntas e curiosidades E pareceu claro

que vaacuterios e importantes objetivos educacionais foram atingidos em particular devido

agrave dimensatildeo praacutetica associada agraves Ciecircncias da Natureza que foi introduzida

Poreacutem e embora se planificasse com rigor todo o plano de accedilatildeo e se refletisse acerca

das estrateacutegias que seriam utilizadas algumas tarefas natildeo decorreram como previsto

tendo sido necessaacuterio reformular o planeamento inicial Um exemplo deste

constrangimento foi a realizaccedilatildeo dos momentos com trabalho de grupo uma vez que

os alunos natildeo estavam habituados a esta metodologia como foi bem visiacutevel nas

apreciaccedilotildees mais negativas que fizeram associadas agrave avaliaccedilatildeo das atividades praacuteticas

realizadas Assim e como forma de encontrar soluccedilotildees com vista agrave concretizaccedilatildeo dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

315

objetivos definidos para cada sessatildeo foi importante uma atualizaccedilatildeo permanente na

busca das melhores respostas o que se considera ter constituiacutedo um dos princiacutepios

desafios enfrentados

Esta procura vai de encontro agrave ideia de que um professor eacute um eterno aluno E como

tal existe sempre a necessidade de atualizar e aperfeiccediloar os conhecimentos e

debruccedilar-se sobre o desempenho pedagoacutegico modificando ou corrigindo a atuaccedilatildeo

sempre que for necessaacuterio E por isso como defende Arends (2008)

Eacute necessaacuterio muito voluntarismo alimentado pelo desejo de perfeiccedilatildeo eacute

necessaacuterio compreender que aprender a ensinar consiste num processo de

desenvolvimento que se desenrola ao longo de toda a vida durante o qual se vai

gradualmente descobrindo um estilo proacuteprio mediante reflexatildeo e pesquisa

criacuteticas (p 19)

Este desejo de perfeiccedilatildeo tem assim de aplicar-se ao modo como se planificam todas as

aacutereas do curriacuteculo potenciando as competecircncias especiacuteficas de cada uma como aliaacutes

se pretendeu exemplificar atraveacutes do trabalho desenvolvido em EM

Referecircncias

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Ediccedilatildeo) Lisboa Instituto Piaget

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

317

Os contributos da coavaliaccedilatildeo entre pares atraveacutes do feedback

na regulaccedilatildeo das aprendizagens

Helga Machado

Escola Superior de Educaccedilatildeo Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Helgamachadogmailcom

Jorge Pinto

Escola Superior de Educaccedilatildeo Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Jorgepintoeseipspt

Resumo

Neste trabalho eacute analisado de que modo o fornecimento de feedback num

processo de coavaliaccedilatildeo entre pares contribui para a regulaccedilatildeo das aprendizagens dos

alunos em Matemaacutetica Atraveacutes de uma investigaccedilatildeo qualitativa elaborou-se um

processo de avaliaccedilatildeo dividido em cinco fases em que os alunos do 3ordm ano envolvidos

trabalhavam em pequenos grupos Pode-se concluir que este estudo evidencia a

importacircncia do feedback enquanto instrumento de aprendizagem da matemaacutetica natildeo

soacute para os alunos que avaliam como tambeacutem para os que satildeo avaliados O feedback

regulador providenciado pelos alunos avaliadores possui pistas orientadoras

importantes que permitiram aos seus pares identificar o erro e corrigirem-no de forma

autoacutenoma melhorando o seu desempenho Com efeito este processo de coavaliaccedilatildeo

promove a regulaccedilatildeo das aprendizagens e contribui para o desenvolvimento de

competecircncias de autoavaliaccedilatildeo e autorregulaccedilatildeo nos alunos

Palavras-chave Coavaliaccedilatildeo feedback processos matemaacuteticos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

318

Abstract

The peer assessment seems a fruitful process in identifying and overcoming the

difficulties of students in a class However for this to happen it is necessary to ensure

that each element give the right answer to the other It is necessary that the mutual

feedback in pair have some characteristics that require everyone to think about what

he did and give clues finding each other in order to help him overcome the difficulties

encountered in task analysis by the pair These works try to understand the role of

feedback in a situation of peer assessment in terms of regulation of learning by

students in Mathematics

In qualitative research on own practice teacher was implemented a peer assessment

process organized into three phases in which students of the 3rd year was involved

working in small groups Data collection was based on observation document analysis

and interviews

The data analysis evidences the importance of feedback as a tool for learning

mathematics not only for assessorrsquos students but also for those which are assessed

The feedback provided by the assessors students has important guiding clues that

enabled their peers to identify the error and correct it independently improving their

performance Indeed this process promotes peer assessment regulation of learning

and contributes to the development of skills of self-assessment and self-regulation in

students

Keywords Peer assessment feedback mathematical processes in primary school

Introduccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo tem para muitos investigadores um objetivo que consiste em

principalmente e acima de tudo apoiar a aprendizagem dos alunos A anaacutelise das suas

componentes nomeadamente a complexidade cognitiva das tarefas a valorizaccedilatildeo do

erro o feedback o questionamento a transparecircncia dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo e a

adequaccedilatildeo de instrumentos avaliativos diversificados satildeo essenciais para o

desenvolvimento da avaliaccedilatildeo formativa (Hattie amp Timperley 2007) Este tipo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

319

avaliaccedilatildeo preconiza situaccedilotildees de aprendizagem onde o aluno tem necessariamente um

papel de destaque enquanto agente ativo deste processo (Semana amp Santos 2009)

Para isso os propoacutesitos da avaliaccedilatildeo formativa contemplam o destaque da

componente reguladora e o envolvimento dos alunos no processo de avaliaccedilatildeo (Dias amp

Santos 2010)

Debruccedilando-nos apenas sobre o feedback este eacute reconhecido como uma das formas

de comunicaccedilatildeo mais poderosa que ocorre no processo de regulaccedilatildeo de aprendizagens

entre os alunos e os professores e ou os seus pares (Semana amp Santos 2009) Contudo

ateacute ao momento tem sido relativamente desvalorizado o efeito da coavaliaccedilatildeo em que

o feedback eacute o principal objeto de avaliaccedilatildeo Quer isto dizer neste caso concreto que

a falta de praacuteticas avaliativas formativas em que alunos providenciem feedbacks aos

seus pares como elemento de avaliaccedilatildeo regulador da aprendizagem da Matemaacutetica eacute

pouco ponderada e utilizada

Posto isto a presente investigaccedilatildeo serviu para estudar os resultados da praacutetica de um

processo de avaliaccedilatildeo formativa que incide sobre o papel dos alunos enquanto

aprendizes e avaliadores dos conteuacutedos matemaacuteticos O objetivo deste estudo eacute

entatildeo compreender de que modo a praacutetica de um processo de avaliaccedilatildeo formativa

baseada na coavaliaccedilatildeo atraveacutes do feedback realizado pelos alunos aos seus pares

pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem matemaacutetica Natildeo obstante

com este projeto de investigaccedilatildeo espera-se responder a duas questotildees pedagoacutegicas

- Que tipo de feedback foram os alunos capazes de fornecer

- Qual o tipo de feedback que contribuiu mais como objeto de regulaccedilatildeo das

aprendizagens matemaacuteticas

Avaliaccedilatildeo Formativa

Ao longo dos anos muitos autores debruccedilaram-se sobre a avaliaccedilatildeo formativa

definindo-a de forma diferente Contudo apesar de natildeo existir uma definiccedilatildeo uacutenica

Pinto amp Santos (2006) encontram nas definiccedilotildees de diversos autores alguns aspetos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

320

comuns que caracterizam a accedilatildeo pedagoacutegica da avaliaccedilatildeo formativa nomeadamente

a) dirige-se ao aluno e agrave sua aprendizagem b) implica o aluno no percurso da sua

aprendizagem quando consciente das suas dificuldades e sucessos c) eacute parte

constitutiva da aprendizagem d) procura respeitar e adaptar o indiviacuteduo mas tambeacutem

o grupo e) valoriza as informaccedilotildees que se observam no processo de aprendizagem e

natildeo somente o resultado do aluno f) nela ocorrem intervenccedilotildees pedagoacutegicas sobre o

ensino e sobre a aprendizagem ou ambos g) tenta compreender as causas do erro e

da dificuldade do aluno e h) fornece orientaccedilotildees de correccedilatildeo de forma subtil e eficaz

para o desenvolvimento da aprendizagem

O objetivo principal desta avaliaccedilatildeo com caracteriacutestica reguladora eacute prestar atenccedilatildeo ao

percurso do aluno mais propriamente agraves suas manifestaccedilotildees e produtos para

descobrir-se as possiacuteveis complicaccedilotildees e dificuldades que emergem no seu processo

de aprendizagem Soacute assim eacute possiacutevel atuar diretamente nas necessidades dos alunos

atraveacutes de adequaccedilotildees na gestatildeo curricular (Dias amp Santos 2010) A funccedilatildeo principal

da avaliaccedilatildeo formativa eacute deste modo (re)investir no processo de ensino-

aprendizagem consoante os dados recolhidos e analisados atraveacutes dos dispositivos de

regulaccedilatildeo (Pinto amp Santos 2006)

Existem dispositivos de regulaccedilatildeo externos ou internos aos alunos Os primeiros satildeo

produzidos e disponibilizados pelo professor E dos segundos destacam-se os

processos cognitivos57 e metacognitivos58 dos alunos que desempenham um papel

fundamental na autorregulaccedilatildeo e autoavaliaccedilatildeo das proacuteprias aprendizagens De

acordo com isto Fernandes (2008) explica que o essencial neste tipo de avaliaccedilatildeo ldquoeacute

estudar e perceber os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos e intervir a

partir daiacute para que eles proacuteprios regulem as suas aprendizagensrdquo (p66) Com efeito

um dos papeacuteis do professor na promoccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo que assiste as

aprendizagens eacute desenvolver competecircncias metacognitivas de autoavaliaccedilatildeo e de

autorregulaccedilatildeo nos alunos

57

Processos cognitivos processos onde a funccedilatildeo da inteligecircncia adquire um conhecimento 58

Processos metacognitivos processos onde se faz uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo cognitiva

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

321

Para aleacutem disto eacute importante mencionar que outro dos princiacutepios da avaliaccedilatildeo

formativa eacute integrar o processo da avaliaccedilatildeo no ensino e na aprendizagem A ponte de

ligaccedilatildeo entre os processos envolvidos ndash da avaliaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem - eacute

o feedback uma vez que este possibilita a regulaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem

atraveacutes de tarefas que simultaneamente satildeo para ensinar aprender avaliar e

contextualizar a avaliaccedilatildeo (Fernandes 2008 p78)

Neste sentido o professor pode ser capaz de compreender (a) como ajudar os alunos

a aprenderem melhor e (b) o que pode fazer para melhorar o ensino dos conteuacutedos

(Wiliam 2007) Assim a avaliaccedilatildeo reguladora permite ajudar os alunos a

ultrapassarem as dificuldades de novo no ldquotrilhordquo da aprendizagem (id)

O feedback eacute um comentaacuterio escrito ou oral dado por um avaliador Ele possui

mensagens cujo propoacutesito eacute dar aos alunos informaccedilatildeo uacutetil que os ajuda a alterar e

melhorar os seus pensamentos ideias e respostas (Fernandes 2008) Atualmente

podemos distinguir o feedback em dois tipos diferentes o feedback avaliativo ou o

feedback descritivo (Gipps 1999 cit in Pinto amp Santos2006)

O feedback avaliativo relaciona-se com a avaliaccedilatildeo sumativa Este feedback acentua a

presenccedila de juiacutezos de valor com a funccedilatildeo de transmitir informaccedilatildeo escrita ou simboacutelica

(certo vs erradocorreto vs incorreto ou vs respetivamente) cujo contributo para

a aprendizagem ou melhoramento de desempenho eacute reduzido Adicionalmente o

feedback avaliativo pretende descrever eou quantificar somente os produtos

realizados pelos alunos Neste tipo de avaliaccedilatildeo o erro eacute desvalorizado e representa a

incompetecircncia do aluno

Em contrapartida o feedback descritivo eacute um elemento poderoso da avaliaccedilatildeo

formativa No feedback descritivo em oposiccedilatildeo ao avaliativo o professor partilha o

seu poder de avaliador com os alunos responsabilizando-os do mesmo modo pelas

suas aprendizagens e pela utilizaccedilatildeo das estrateacutegias autorreguladoras no processo de

aprendizagem Apesar deste tipo de feedback ser caracteriacutestico do processo de

regulaccedilatildeo da aprendizagem os seus efeitos podem ser positivos e reguladores ou

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

322

negativos e inibidores de progressatildeo dependendo da qualidade do comentaacuterio

realizado

Especificamente a utilizaccedilatildeo do feedback descritivo valoriza o erro na medida em que

a partir dele procura-se orientar e incentivar os alunos a melhorarem o seu

desempenho atraveacutes de questotildees pistas anaacutelise e reflexatildeo especificando qual o

caminho para o progresso Neste sentido o feedback descritivo deve possuir

determinadas caracteriacutesticas para que tenha qualidade e provoque um efeito positivo

como ser claro informativo e objetivo para que os alunos o compreendam

apresentar-se em forma de diaacutelogo natildeo identificar o erro nem a sua soluccedilatildeo ser

diversificado e adequado a cada aluno pois o mesmo feedback tem efeitos diferentes

em alunos diferentes ser descritivo e incidir na tarefa em anaacutelise possuir pistas de

accedilatildeo futura detalhadas que conduzam o aluno a prosseguir incentivar o aluno a

reanalisar a sua resposta salientar o que estaacute correto para que seja percetiacutevel e

reconhecer o esforccedilo do aluno para que promova a sua autoconfianccedila (Black amp Wiliam

1998 Santos amp Pinto 2010 Santos amp Dias 2006 e Gipps 2003 Santos 2003 Jorro

2000 cit in Dias amp Santos 2009)

Para aleacutem disso Wiliam (2007) entre outros acrescentam que o feedback para que

seja eficaz deve ocorrer de forma sistemaacutetica intencional e contiacutenua apresentar-se

de forma curta apenas com a informaccedilatildeo necessaacuteria promover uma postura de

autoquestionamento e autonomia nos alunos para redirecionar a sua accedilatildeo e natildeo

incluir classificaccedilotildees nem surgir antes de o aluno ter oportunidade para pensar e

trabalhar sobre a tarefa (Black et al2003 Wiliam 1999 2007 cit in Semana amp Santos

2009)

Em suma a avaliaccedilatildeo formativa natildeo o seraacute realmente sem um sistema de feedback

que apoie regule e melhore os processos de ensino e de aprendizagem (Fernandes

2008) No entanto o fornecimento de feedback por si soacute natildeo eacute a soluccedilatildeo para um

melhoramento na aprendizagem por parte dos alunos tendo de ser necessaacuterio o uso

de outras estrateacutegias que preconizem uma avaliaccedilatildeo formativa mais eficiente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

323

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo seguiu uma metodologia qualitativa proacutexima da investigaccedilatildeo-accedilatildeo

(Bell 2002 amp Afonso 2005) A recolha de dados foi feita atraveacutes da observaccedilatildeo-

participante nas aulas e da anaacutelise dos documentos que contemplavam a resoluccedilatildeo

das tarefas e a sua avaliaccedilatildeo

O estudo envolveu uma turma de 3ordm ano constituiacuteda por 23 alunos que foram

organizados em 6 grupos de trabalho com 34 elementos com diferentes niacuteveis de

desempenho matemaacutetico Os grupos funcionaram sempre a pares nomeadamente o

grupo 1 com o grupo 2 o grupo 3 com o grupo 4 e o grupo 5 com o grupo 6

O processo de avaliaccedilatildeo concretizado na investigaccedilatildeo foi realizado durante cinco

semanas e estava organizado em cinco fases distintas

Fase 1 Construccedilatildeo da ficha de trabalho para outro grupo resolver

Fase 2 Resoluccedilatildeo da ficha de trabalho que outro grupo construiu

Fase 3 Primeira avaliaccedilatildeo da ficha de trabalho pelo grupo que

construiu

Fase 4 Reformulaccedilatildeo das respostas da ficha de trabalho que o outro

grupo avaliou

Fase 5 Avaliaccedilatildeo final da ficha de trabalho pelo grupo que construiu

Para a concretizaccedilatildeo destas cinco fases foram precisas 3 sessotildees de trabalho com uma

duraccedilatildeo de sensivelmente 60 minutos cada As fases 1 e 2 eram realizadas em duas

sessotildees diferentes ao passo que as fases 3 4 e 5 eram realizadas juntas numa sessatildeo

igualmente distinta Isto quer dizer que a realizaccedilatildeo do processo avaliativo foi

efetuado em trecircs sessotildees por semana normalmente em dias diferentes Para aleacutem

disso destaca-se que em cada uma destas semanas elaborou-se resolveu-se e avaliou-

se uma ficha de trabalho com um toacutepico matemaacutetico distinto No final da investigaccedilatildeo

o processo de avaliaccedilatildeo foi realizado em cinco semanas consecutivas originando assim

cinco fichas de matemaacutetica com os toacutepicos ldquoTabuada e muacuteltiplos do cincordquo ldquoFiguras e

soacutelidos geomeacutetricosrdquo ldquoDinheirordquo ldquoCombinaccedilotildeesrdquo e ldquoSequecircncias e padrotildeesrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

324

Apresentaccedilatildeo e anaacutelise de dados

Os alunos avaliadores numa fase inicial precisaram de aprender o que eacute a avaliaccedilatildeo

como se avalia o que eacute o feedback e como se daacute feedback Como eacute percetiacutevel na

primeira semana de implementaccedilatildeo deste processo de coavaliaccedilatildeo os alunos

avaliadores tiveram dificuldades em providenciar um tipo de feedback descritivo uacutetil

para os outros Devido a isso alguns alunos escreveram duas versotildees da primeira

avaliaccedilatildeo (ldquo1ordf avaliaccedilatildeo- 1ordf versatildeordquo e ldquo1ordf avaliaccedilatildeo ndash 2ordf versatildeordquo) sendo que a uacuteltima

era a uacutenica a ser apresentada ao grupo parceiro pois trata-se de um melhoramento da

primeira (como na fig1 no exemplo nordm1) Noutras situaccedilotildees os alunos realizaram duas

avaliaccedilotildees ldquo1ordf avaliaccedilatildeordquo e ldquo2ordf avaliaccedilatildeordquo em que a primeira diz respeito agrave avaliaccedilatildeo

da resoluccedilatildeo original da tarefa e a segunda eacute referente agrave correccedilatildeo da resoluccedilatildeo da

tarefa (como se pode ler na figa4 no exemplo nordm2)

Exemplo nordm1

Nos post-its de avaliaccedilatildeo apresentados na fig1 verificamos que os alunos avaliadores

referiram que existem trecircs tarefas cujas respostasresoluccedilotildees estavam incorretas Os

feedbacks dados pelos alunos avaliadores do grupo 6 a estas incorreccedilotildees satildeo

Fig 1 ndash Feedbacks escritos pelo grupo 6 agrave ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

Ao analisarmos as avaliaccedilotildees apresentadas na fig1 percebemos que no post-it ldquo1ordf

avaliaccedilatildeo - 1ordf versatildeordquo os feedbacks fornecidos pelos alunos satildeo avaliativos Este tipo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

325

de indicaccedilotildees caracteriza-se como feedback de constataccedilatildeo natildeo satildeo fornecidos dados

apreciativos sobre o desempenho do aluno natildeo tecircm em vista o melhoramento da

produccedilatildeo e a aprendizagem de conhecimentos a partir dos erros dos alunos avaliam

apenas o que o aluno sabe em vez de ajudaacute-lo a ultrapassar as suas dificuldades

Tendo em conta que esta foi a primeira experiecircncia que os alunos avaliadores

realizaram era importante que refletissem sobre os feedbacks providenciados e os

seus contributos Assim apoacutes pensarem na anaacutelise de exemplos de feedbacks com

qualidade (apresentados numa das aulas tidas anteriormente) e realizarem uma

conversa com a professora o grupo considerou que podia melhorar os seus feedbacks

escrevendo entatildeo os feedbacks dados na ldquo1ordf avaliaccedilatildeo ndash 2ordf versatildeordquo

Ao contraacuterio da primeira avaliaccedilatildeo dada na segunda (fig1) os alunos avaliadores

conseguiram apresentar algumas caracteriacutesticas reguladoras tais como pistas sobre os

erros encontrados Deste modo os feedbacks dados nesta segunda versatildeo da

avaliaccedilatildeo satildeo descritivos centrados na produccedilatildeo com pistas cujo objetivo eacute a

reformulaccedilatildeo das respostas

De acordo com a leitura das avaliaccedilotildees da fig1 constatamos que a tarefa 1 2 e 4

possuem erros Especialmente neste caso vamos proceder agrave anaacutelise apenas da tarefa

4 A principal finalidade desta tarefa eacute identificar quantas satildeo as combinaccedilotildees possiacuteveis

de cinco toucas e sete fatos de banho diferentes Na fig2 observa-se a primeira

resoluccedilatildeo do grupo 5

Fig 2ndash Resoluccedilatildeo inicial do grupo 5 agrave tarefa 4 da ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

326

As representaccedilotildees icoacutenicas utilizadas pelos alunos na resoluccedilatildeo da fig2 mostram sete

fatos de banho e sete toucas para combinar o que natildeo corresponde agrave instruccedilatildeo da

tarefa Analisando este aspeto percebemos que a resoluccedilatildeo estaacute errada pois deveriam

estar representadas cinco toucas e sete fatos de banho Neste sentido a avaliaccedilatildeo

realizada para esta tarefa foi ldquoerraram satildeo menos do que 7 toucasrdquo (fig1) Os proacuteprios

alunos avaliadores perceberam qual foi o motivo do erro e perante isso conseguiram

fornecer um feedback com uma pista crucial chamando a atenccedilatildeo do nuacutemero de

toucas que os aprendizes representaram (fator regulador) Mediante esta avaliaccedilatildeo o

grupo 5 alterou a sua resposta como se observa na fig3

Fig 3 ndash Correccedilatildeo da resoluccedilatildeo na tarefa 4 pelo grupo 5 da ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

A correccedilatildeo da resoluccedilatildeo evidencia que os alunos realizaram uma nova forma de

representar os dados do problema chegando agrave soluccedilatildeo correta A estrateacutegia aplicada

dos alunos centrou-se na representaccedilatildeo das cinco toucas a partir das quais

desenharam os sete fatos de banho correspondentes Devido a esta situaccedilatildeo

compreendemos que o feedback dado pelo grupo 6 foi eficaz na medida em que a

pista permitiu que o grupo 5 identificasse o erro que cometeu e corrigisse-o de forma a

melhorar o seu desempenho Neste sentido podemos concluir que neste caso

somente houve regulaccedilatildeo da aprendizagem efetuada devido ao feedback regulador

providenciado e haacute oportunidade de (re)pensar e (re)solucionar o problema

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

327

Exemplo nordm2

Ao observarmos os feedbacks providenciados pelos alunos avaliadores do grupo 6 na

fig4 verificamos que a tarefa 3 teve um erro no processo de resoluccedilatildeo

Fig 4 ndash Feedbacks escritos pelo grupo 6 agrave ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo

A tarefa 3 eacute composta por um padratildeo geomeacutetrico que tem de ser completado de

forma a responder agraves aliacuteneas Os alunos do grupo 5 redigiram a resoluccedilatildeo original da

seguinte forma

Fig 5 ndash Resoluccedilatildeo original do G5 agrave tarefa 3 da ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo A anaacutelise da resoluccedilatildeo do grupo 5 mostra que os alunos resolvem incorretamente a

aliacutenea 3 uma vez que na representaccedilatildeo icoacutenica expuseram uma figura com dez

quadrados e dez triacircngulos Ora o correto eacute que uma figura com dez quadrados

possua nove triacircngulos Mediante o erro efetuado pelo grupo 5 os alunos avaliadores

do grupo 6 redigiram um feedback que menciona ldquoEstaacute mal desculpa pensa melhor

eacute nos triacircngulos do 3ordmrdquo (fig4) Este comentaacuterio eacute centrado na tarefa descritivo e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

328

possui uma pista de resoluccedilatildeo que tem a funccedilatildeo de reformular a resposta Como

resultado o impacto deste comentaacuterio na correccedilatildeo da resoluccedilatildeo foi

Fig 6 ndash Correccedilatildeo da resoluccedilatildeo na tarefa 3 da ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo pelo G5

Como podemos verificar os alunos do grupo 5 conseguiram identificar e corrigir o seu

erro evidenciado uma representaccedilatildeo icoacutenica (semelhante agrave resoluccedilatildeo anterior) mas

corretamente Desta forma conseguiram determinar o nuacutemero certo de triacircngulos da

figura Mais uma vez esta situaccedilatildeo educativa revelou o poder positivo do feedback nas

regulaccedilotildees das aprendizagens pois permitiu que os alunos repensassem na sua

resposta identificasse o erro e corrigi-lo Aleacutem disto os alunos do grupo 5 tiveram

que devido agrave natureza do trabalho ser concretizado em grupo debater e explicitar

raciociacutenios de forma a que todos estivessem de acordo sobre a ldquonovardquo resoluccedilatildeo e

porquecirc

Conclusotildees

- Que tipo de feedback foram os alunos capazes de fornecer

Os alunos avaliadores foram capazes de fornecer natildeo soacute feedbacks avaliativos mas

tambeacutem descritivos Os feedbacks avaliativos utilizados pelos alunos tinham somente

uma informaccedilatildeo ldquocertordquo ou ldquoerradordquo Enquanto no que diz respeito ao feedback

descritivo as caracteriacutesticas mais utilizadas pelos alunos foram fornecimento de

comentaacuterios centrados no desempenho do grupo de alunos sendo normalmente

curtos objetivos motivadores e com a presenccedila de pistas reguladoras fulcrais para a

identificaccedilatildeo dos errosdificuldades e para a descoberta da suas causas Estas pistas

escritas pelos alunos tinham somente funccedilatildeo de reformulaccedilatildeo

Ainda relativamente agraves caracteriacutesticas dos feedbacks providenciados pelos alunos

avaliadores a anaacutelise dos dados evidencia alguns aspetos negativos nomeadamente a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

329

inexistecircncia de frases lexical e ortograficamente corretas o que confere falta de

clareza

- Quais os tipos de feedbacks que contribuiacuteram mais como objeto de regulaccedilatildeo

Sem duacutevida alguma que se pode afirmar que os feedbacks descritivos favoreceram

mais a regulaccedilatildeo das aprendizagens matemaacuteticas do que os comentaacuterios avaliativos

Isto porque nos casos de ausecircncia de feedback natildeo houve regulaccedilatildeo e na maior parte

das vezes o mesmo aconteceu em situaccedilotildees em que a avaliaccedilatildeo dada era de iacutendole

sumativa com feedbacks de constataccedilatildeo

Poreacutem o tipo de feedback de constataccedilatildeo com ausecircncia de pistas em raras situaccedilotildees

teve impacto na correccedilatildeo da resoluccedilatildeo Efetivamente podemos concluir que a praacutetica

sucessiva do processo centrado na avaliaccedilatildeo formativa desenvolveu nos alunos

competecircncias autorreguladoras de aprendizagens tais como o mecanismo de

identificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de erros de autoavaliaccedilatildeo e de autoeficaacutecia (Hattie amp

Timperley 2007)

Em suma constatam-se diversos aspetos fulcrais para o processo de avaliaccedilatildeo atraveacutes

da ministraccedilatildeo de feedback dado que este foi uma aprendizagem completamente

nova para os alunos Com efeito para realizar-se este tipo de avaliaccedilatildeo os alunos

tiveram de ser capazes de analisar e compreender os dados os processosestrateacutegias

utilizados testaacute-los para verificar se estatildeo corretos refletir sobre o que estaacute

corretoerrado descobrir o porquecirc e fornecer pistas para realizarmelhorar o

desempenho jaacute efetuado Eacute correto afirmar que estas etapas despoletaram

aprendizagens relevantes para os alunos pois atraveacutes desta avaliaccedilatildeo gerou-se um

processo de reflexatildeo pesquisa e aprendizagem e consequentemente a correccedilatildeo de

resoluccedilatildeo

Para aleacutem disso providenciar e receber feedback principalmente em trabalho de

equipa requere que os alunos possuam e desenvolvam diversas elevadas capacidades

especiacuteficas como lidar com diversos julgamentos ter profundos conhecimentos dos

conteuacutedos de forma a estar preparado para fornecer feedback agraves tarefas ter ideias e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

330

vontade para incentivar a autorregulaccedilatildeo e fornecer feedback no momento ideal

(Hattie amp Timperley 2007)

De acordo com estes autores natildeo se pode esperar que os alunos sejam capazes de

fornecer feedback com qualidade logo da primeira vez Com efeito a aprendizagem

dos alunos sobre a avaliaccedilatildeo com qualidade foi um processo contiacutenuo em que foi

visiacutevel a sua evoluccedilatildeo No decorrer da investigaccedilatildeo a capacidade de providenciar

feedback com qualidade foi evoluindo Nas uacuteltimas semanas as avaliaccedilotildees dos alunos

apresentavam caracteriacutesticas reguladoras mais diversificadas Em alguns casos as

avaliaccedilotildees expunham questotildees reflexivas apelavam agrave fundamentaccedilatildeo das respostas

natildeo possuiacuteam erros cientiacuteficos requeriam respostas claras e organizadas eou

alertavam para os erros ortograacuteficos

Referecircncias Bibliograacuteficas

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

332

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Leila Pessocirca Da Costa

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

dacostaleilagmailcom

Resumo

A visatildeo de homem mundo e conhecimento constituiacuteda ao longo do desenvolvimento

da humanidade marcaram a concepccedilatildeo de escola ensino aprendizagem e sobretudo

de avaliaccedilatildeo Este trabalho se propocircs analisar a mediaccedilatildeo do professor no processo de

ensino e aprendizagem da leitura e da escrita Utilizamos a observaccedilatildeo o questionaacuterio

e a anaacutelise documental como instrumentos para refletir sobre o papel da avaliaccedilatildeo no

processo de ensino e de aprendizagem Observamos que a avaliaccedilatildeo adotada impotildee

regras que definem e estabelecem certo padratildeo de conduta inserido num modelo preacute-

determinado aleacutem de excluir do grupo aqueles que aos seus criteacuterios natildeo conseguem

atender desempenhando um papel importante na produccedilatildeo do fracasso escolar Eacute

necessaacuterio que a escola perceba-se como instrumento desse sistema e abra espaccedilo na

conquista de sua autonomia para servir ao ensino e aprendizagem

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Fracasso escolar Ensino fundamental

Abstract

The vision of man world and knowledge formed along the development of humanity

marked the conception of school teaching learning and above all for evaluation

This Study proposes to analyze the mediation by the teacher in teaching and learning

process of reading and writing We used the observation the questionnaire and the

documentary analysis to reflect on the role of assessment in the teaching and learning

process We observed that the evaluation adopted imposes rules that define and

establish a certain standard of conduct inserted in a pre-determined model also

excludes the group those that cannot meet in his judgment playing an important role

in the production of school failure It is necessary that the school understands itself as

an instrument of this system and open space in the conquest of their autonomy to

serve the teaching and learning

Keywords Evaluation School failure Elementary education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

333

Introduccedilatildeo

O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica no Brasil hoje direito constitucional foi mote de inuacutemeras

poliacuteticas puacuteblicas seguidas pelos esforccedilos da permanecircncia e ampliaccedilatildeo do nuacutemero de

anos de escolarizaccedilatildeo do paiacutes A visatildeo de homem mundo e conhecimento constituiacutedos

ao longo do desenvolvimento da humanidade marcaram a concepccedilatildeo de escola

ensino aprendizagem e sobretudo de avaliaccedilatildeo Se eacute dever da escola e direito do

cidadatildeo o acesso a esse saber e a forma como os sujeitos de direito e dever se

relacionam a ele podemos dizer que como se concebe esse saber e esse

conhecimento mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com a praacutetica

pedagoacutegica

Para esse trabalho analisamos como se daacute a avaliaccedilatildeo do processo de ensino e de

aprendizagemdo da leitura e da escrita em uma classe da seacuterie final do ciclo I do Ensino

Fundamental em uma escola de um municiacutepio da cidade de Satildeo Paulo numa regiatildeo

marcadamente industrial Utilizamos a observaccedilatildeo um questionaacuterio e a anaacutelise de

diferentes documentos utilizados pelo professor e pelos alunos atraveacutes dos quais

procurou-se verificar se a avaliaccedilatildeo desempenha um papel de mediaccedilatildeo do processo

de ensino e a aprendizagem e quais as concepccedilotildees subjacentes a ele

Da avaliaccedilatildeo

Segundo o dicionaacuterio Aureacutelio avaliar eacute ldquodeterminar a valia ou o valor de apreciar ou

estimar o merecimento de fazer a apreciaccedilatildeo ajuizarrdquo Assim ao avaliarmos

emitimos um juiacutezo de valor que natildeo eacute absoluto mas relativizado pois que ldquona

realidade nenhum juiacutezo de valor lsquoexistersquo em tal isolamento Todo juiacutezo funciona

sempre expliacutecita ou implicitamente como parte da totalidade de uma teoria de uma

concepccedilatildeo do mundo de uma imagem do mundordquo (Heller1992 p13)

A avaliaccedilatildeo natildeo soacute normatiza ao impor regras que definem e estabelecem certo

padratildeo de conduta inserido num modelo preacute-determinado como tambeacutem exclui do

grupo aqueles que aos seus criteacuterios natildeo conseguem atender e consequentemente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

334

desempenha um papel importante na produccedilatildeo do fracasso escolar pois tem ldquoa

capacidade de lsquopenumbrarrsquo a realidade de nos lsquomiopizarrsquo de nos ensurdecer que faz

por exemplo a muito de noacutes aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista

neoliberalrdquo (Freire 1987 p142)

Ao analisarmos os dados os iacutendices percentuais do Indicador de Alfabetismo Funcional

(Inaf)59 do Instituto Paulo Montenegro (IPM) na populaccedilatildeo de 15 a 64 anos na Tabela

1 percebemos que haacute um avanccedilo nos niacuteveis de alfabetismo mas que estatildeo longe de

podermos ser considerados uma sociedade com pleno domiacutenio das habilidades de

leitura e escrita ldquoque satildeo hoje condiccedilatildeo imprescindiacutevel para a inserccedilatildeo plena na

sociedade letradardquo (INAF 2011 p1)

2007 2009 2011-2012

Analfabetos funcionais

(Analfabeto e Rudimentar) 34 27 27

Alfabetizados funcionalmente

(Baacutesico e Pleno) 66 73 73

Tabela 1 Escolaridade da populaccedilatildeo de 15 a 64 anos no Brasil (em ) IBGE

Fonte INAF BRASIL 2007-2011

Assim ao discutirmos os aspectos teacutecnicos da avaliaccedilatildeo eacute imprescindiacutevel focarmos

nossa atenccedilatildeo para o dever da escola que eacute

A transmissatildeo do saber e sua apropriaccedilatildeo pelos alunos O saber

escolar eacute entendido como um conjunto dos conhecimentos

selecionados entre os bens culturais disponiacuteveis enquanto

patrimocircnio coletivo da sociedade em funccedilatildeo de seus efeitos

formativos e instrumentais (Libacircneo 1994 p 13-14)

Palma Filho (1994 p31) ao discutir o papel que a avaliaccedilatildeo desempenha no processo

de ensino ndash aprendizagem como um todo aponta que ldquoeacute evidente que eacute necessaacuterio

avaliar caso contraacuterio natildeo saberiacuteamos se o processo educacional estaria sendo

eficiente na transmissatildeo daquilo que eacute desejado pelo conjunto da sociedaderdquo

59

O IPM adota os conceitos de analfabetismo e alfabetismo funcional sugerido pela UNESCO A explicitaccedilatildeo dos niacuteveis pode ser consultada em httpwwwipmorgbripmb_paginaphpmpg=402000000ampver=por

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Pelos dados apresentados podemos observar que a escola puacuteblica brasileira tem

excluiacutedo atraveacutes do processo educativo o direito ao acesso ao conhecimento e agrave

cidadania e tem na avaliaccedilatildeo um dos instrumentos para assegurar o mecanismo de

exclusatildeo social Perrenoud (1999) ao analisar a avaliaccedilatildeo no princiacutepio de excelecircncia e

do ecircxito escolares para explicar o fracasso aponta que

[] o ecircxito e o fracasso satildeo realidades socialmente construiacutedas

tanto em sua definiccedilatildeo global quanto na atribuiccedilatildeo de um valor a

cada aluno Uma sociologia da avaliaccedilatildeo nasce a partir do instante

em que se recusa a acreditar que o ecircxito e o fracasso escolares

resultam de uma medida objetiva de competecircncias reais em que

essas satildeo vistas ao contraacuterio como representaccedilotildees criadas pela

escola (e que a escola) tem o poder de lhes atribuir forccedila de lei

(grifos do autor) (Perrenoud 1999 p19)

Se for dever da escola e direito do cidadatildeo o acesso a esse saber e a forma como os

sujeitos de direito e dever se relacionam a ele podemos dizer que o modo como se

concebe esse saber e esse conhecimento nos diferentes momentos da histoacuteria

mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com a praacutetica pedagoacutegica

Ao entendermos que o papel da escola eacute o de transmissatildeo do saber atribuiacutemos a ela

um poder de julgar os que sabem e aqueles que natildeo sabem ou ainda os que podem

daqueles que natildeo podem Pressupomos que ela ndash a escola ndash deteacutem todo o

conhecimento necessaacuterio e eacute a uacutenica apta para avaliar e julgar

Do contexto da pesquisa

Com base nesses pressupostos realizamos uma pesquisa numa escola da rede puacuteblica

estadual que atende o Ciclo I do Ensino Fundamental no municiacutepio de Mauaacute

localizado na sub-regiatildeo sudeste da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo conhecida

como regiatildeo do grande ABC

Pesquisa por amostragem realizada pela SEPLAMA - Secretaria de Planejamento de

Mauaacute indica que 41 da populaccedilatildeo tecircm ateacute 18 anos apontando para uma renda

familiar de 411 salaacuterios miacutenimos Esta situaccedilatildeo eacute acentuada pela baixa oferta de

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empregos e ausecircncia de qualificaccedilatildeo profissional da populaccedilatildeo para o ingresso no

mercado de trabalho

A escola pesquisada tem sete classes do uacuteltimo ano do Ensino Fundamental I e

realizamos junto a uma dessas classes nossa pesquisa A classe selecionada

aleatoriamente para a observaccedilatildeo eacute composta por 43 alunos 26 meninas e 17

meninos com idades que variam de 9 a 13 anos Apesar da baixa renda do grupo

possuem em sua maioria em suas residecircncias televisatildeo aparelho de som ferro

eleacutetrico raacutedio maacutequina de lavar roupas batedeira e liquidificador

Os pais concluiacuteram o Ciclo I do Ensino Fundamental ou iniciaram o 5ordm ano mas natildeo

concluiacuteram

Deste grupo 16 alunos trabalham e em sua maioria satildeo as meninas que se ocupam das

atividades domeacutesticas em casas de famiacutelia e muitas vezes natildeo satildeo remuneradas (13

alunos)

No geral esse grupo reproduz as desigualdades observadas no municiacutepio e espelha a

situaccedilatildeo dramaacutetica de algumas famiacutelias quanto ao niacutevel de pobreza da populaccedilatildeo seja

em relaccedilatildeo agrave renda per capita seja na ausecircncia de qualificaccedilatildeo profissional que atenda

agrave demanda da atual conjuntura econocircmica do pais

Mesmo residindo em casas proacuteprias a maioria dessas pessoas mora em casas

populares agraves vezes coletivas e algumas em terrenos da prefeitura que foram cedidos

ou invadidos

Eacute um grupo que representa significativamente o contexto do municiacutepio e tem na

escola puacuteblica a possibilidade de acesso ao saber e nela depositam a esperanccedila de uma

melhoria de vida

A professora desta classe que funciona no periacuteodo da manha eacute formada em Letras

ministra aulas de Portuguecircs na 5ordf serie do Ensino Fundamental em outra escola no

periacuteodo vespertino e na suplecircncia I no periacuteodo noturno Observamos que a tripla

jornada de trabalho desta professora natildeo eacute diferente da que encontramos junto aos

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demais profissionais do ensino que quando natildeo estatildeo envolvidos com cursos de

graduaccedilatildeo ou especializaccedilatildeo se dedicam a vaacuterios trabalhos como forma de garantir

sua sobrevivecircncia ou a da famiacutelia e tecircm pouco ou nenhum tempo para refletir ou

buscar alternativas com vistas agrave melhoria do trabalho desenvolvido

Da anaacutelise do material

Um dos documentos analisados foi o Plano de Gestatildeo visto ser um documento que

deve ser elaborado pelo coletivo escolar e traduz o perfil dos alunos e as accedilotildees a

serem desencadeadas para os objetivos propostos Esse documento eacute condiccedilatildeo baacutesica

para a autonomia escolar e que se constroacutei a partir de trecircs eixos fundamentais ldquoa

capacidade de identificar os problemas e de apresentar alternativas para solucionaacute-los

e a capacidade de administrar recursos financeiros consoante com essas alternativasrdquo

(Oyafuso 1998 p13) a anaacutelise buscou verificar sua identidade intencionalidade e

accedilotildees a serem desencadeadas

Dessa anaacutelise percebemos que em seus objetivos a escola demonstra sua preocupaccedilatildeo

com o exerciacutecio da cidadania a participaccedilatildeo de todos pressupondo um espaccedilo de

discussatildeo do trabalho pedagoacutegico a ser realizada de forma coletiva necessaacuterio agrave sua

autonomia condiccedilatildeo sine qua non para construccedilatildeo de sua identidade

Nele a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo explicita os problemas observados e tem seus

objetivos definidos de forma bastante geneacuterica e paternalista ao ldquodar condiccedilotildees de

questionamento [] utilizando-se da praacutetica da solidariedade [] irem de encontro

aos menos favorecidosrdquo ou seja a escola se coloca agrave margem da comunidade ao natildeo

se institui como espaccedilo de relaccedilotildees a ser questionado e de possibilidade de

mudanccedilaAo definir as metas a serem atingidas apesar de natildeo haver um diagnoacutestico

mais preciso sobre os problemas da escola haacute uma preocupaccedilatildeo com ldquoreduzir os

iacutendices de evasatildeo e retenccedilatildeo garantindo a melhoria da qualidade de ensinordquo Assim

posto a diminuiccedilatildeo da evasatildeo e retenccedilatildeo remete-nos automaticamente para a

melhoria da qualidade do ensino

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Ao propor ldquodesenvolver a integraccedilatildeo entre os educadores para garantir o trabalho

coletivo e solidaacuteriordquo percebe-se que natildeo concebe o trabalho como forma de

integraccedilatildeo ao mesmo tempo em que o termo solidaacuterio parece negar a possibilidade

de um trabalho que se paute nas diferenccedilas e ao negaacute-las junto ao grupo e ao

trabalho apoia-se numa concepccedilatildeo de homogeneidade seja nas relaccedilotildees seja no

desenvolvimento do trabalho

Consta tambeacutem no Plano um grande nuacutemero de projetos mas natildeo haacute uma vinculaccedilatildeo

entre eles e natildeo observamos registros que sejam significativos quanto ao seu

acompanhamento e resultados

Haacute um equiacutevoco quanto agrave concepccedilatildeo do que seja um Projeto ndash capaz de modificar

haacutebitos e comportamentos ou ainda buscar a soluccedilatildeo de um problema e desta forma

satildeo concebidos como eventos mesmo que aconteccedilam com frequecircncia e de forma

sistemaacutetica

Outro documento analisado foram os registros constantes na Ata do Horaacuterio de

Trabalho Pedagoacutegico Coletivo (HTPC) Esse horaacuterio eacute o periacuteodo instituiacutedo para que os

professores possam organizar o trabalho pedagoacutegico Nesta escola estaacute organizado em

duas reuniotildees semanais com uma hora de duraccedilatildeo cada uma Acreditamos que o HTPC

eacute o espaccedilo de discussatildeo coletiva para o encaminhamento do Plano de Gestatildeo que se

viabiliza na praacutetica de sala de aula

Os registros desses encontros constam de uma listagem com os nomes dos

participantes e duas colunas com os dias da semana para assinatura dos professores

As pautas registradas elencam toacutepicos sobre os assuntos que seratildeo abordados mas

natildeo elege prioridades ou determina a profundidade com que os assuntos foram

tratados pois o registro natildeo estabelece os objetivos a serem atingidos nem tampouco

contempla o registro das discussotildees ou decisotildees tomadas

Em nenhum dos registros observados haacute essa preocupaccedilatildeo com o processo ou o

objetivo da discussatildeo desta forma natildeo situam as discussotildees num contexto mais amplo

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do papel e funccedilatildeo da escola e do grupo nem na avaliaccedilatildeo do trabalho desenvolvido

ou tampouco nos objetivos do Plano de Gestatildeo

Esse eacute um dos espaccedilos de importacircncia fundamental para sustentar a accedilatildeo da escola

ldquoao exercer o trabalho coletivo o professor cresce Eacute na discussatildeo com os colegas que

desenvolve seu potencial de participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo respeito muacutetuo e criacutetica Ao

analisar uma questatildeo um texto uma praacutetica pedagoacutegica o professor ouve pensa

discute decide ndash exerciacutecio fundamental do trabalho coletivo ndash ficando ainda mais

seguro para desenvolver essas mesmas habilidades em seus alunosrdquo (CENPEC 1994

p3)

No trabalho coletivo pressupotildee-se a discussatildeo no e com o grupo visto que a discussatildeo

eacute um instrumento precioso na organizaccedilatildeo do pensamento

[] o pensamento nasce atraveacutes das palavras Uma palavra desprovida de pensamento eacute uma coisa morta e um pensamento natildeo expresso por palavras permanece na sombra A relaccedilatildeo entre eles natildeo eacute no entanto algo jaacute formado e constante surge ao longo do desenvolvimento e tambeacutem se modifica [] O pensamento e a linguagem que refletem a realidade de uma forma diferente daquela da percepccedilatildeo satildeo a chave para a compreensatildeo da natureza da consciecircncia humana As palavras desempenham um papel central natildeo soacute no desenvolvimento do pensamento mas tambeacutem na evoluccedilatildeo histoacuterica da consciecircncia como um todo Uma palavra eacute um microcosmo da consciecircncia humanardquo (Vygotsky 1989 pp131-132)

O registro desses momentos pode auxiliar na conscientizaccedilatildeo e portanto na produccedilatildeo

de conhecimento sobre o trabalho realizado Deve contemplar o movimento dessa

proacutepria accedilatildeo suas idas e vindas O ato de registrar exige um distanciamento da

situaccedilatildeo real fundamental para sua apreensatildeo e reflexatildeo Vygotsky (1989) ao

diferenciar a escrita da fala propotildee que ldquoos motivos para escrever satildeo mais abstratos

mais intelectualizados mais distantes das necessidades imediatas Na escrita somos

obrigados a criar a situaccedilatildeo ou a representaacute-la para noacutes mesmos Isso exige um

distanciamento da situaccedilatildeo realrdquo (Vygotsky 1989 p85)

O trabalho desenvolvido pela professora no que se refere ao aprendizado da leitura e

da escrita foi analisado a partir dos seguintes registros o diaacuterio de classe do 1ordm

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bimestre do ano pasta de alunos com suas produccedilotildees cadernos dos alunos de uma

avaliaccedilatildeo realizada pela escola junto as classes dos 4ordms anos e os registros de

observaccedilatildeo realizados pela pesquisadora em suas visitas Outro registro analisado

refere-se agrave ficha individual de aproveitamento pedagoacutegico por parte dos alunos

preenchida pela professora

No Resumo Programaacutetico dos meses de Fevereiro Marccedilo e Abril haacute propostas diaacuterias

de leitura e escrita em que os gecircneros discursivos mais explorados satildeo os contos

lendas e fabulas seguido dos textos expositivos

Observamos uma intensa oferta de textos agraves crianccedilas incluindo diferentes autores

mas com uma variaccedilatildeo bastante pobre quanto aos gecircneros discursivos Em geral satildeo

contos e lendas populares que reforccedilam a estrutura da linguagem oral como

referencial para o que seja escrever ndash escreve-se o que se fala ndash restringindo o ensino

a aprendizagem e a importacircncia da linguagem escrita

a seleccedilatildeo do material de leitura deve ter como criteacuterios validade de gecircneros a possibilidade de o conteuacutedo interessar o atendimento aos projetos de estudo e pesquisa das demais aacutereas o subsiacutedio aos projetos da proacutepria aacuterea (Brasil1997 p106)

Podemos perceber que natildeo haacute um planejamento especiacutefico para o trabalho com a

linguagem oral e nas situaccedilotildees observadas essas atividades ocorrem

espontaneamente em relaccedilatildeo aos alunos e com a professora geralmente contam fatos

e acontecimentos do dia-a-dia socializados no grupo Aliaacutes a professora coloca-se

sempre agrave disposiccedilatildeo dos alunos e os ouve atentamente fazendo comentaacuterios sobre os

relatos Sua postura de receptividade para com eles faz com que o relacionamento seja

tranquilo e em contra partida haacute um respeito muito grande por parte do grupo em

relaccedilatildeo a ela quando fala ou explica consegue a atenccedilatildeo de todos bem como o

envolvimento na realizaccedilatildeo das tarefas propostas Em nenhum momento a

pesquisadora observou outro tipo de comportamento da professora com relaccedilatildeo ao

grupo que natildeo fosse essa

Ao oferecer textos diferenciados agraves crianccedilas buscando ampliar e incluir novos gecircneros

de textos nota-se uma preocupaccedilatildeo com os aspectos discursivos da liacutengua mas ao

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fazer a exploraccedilatildeo desses textos haacute mais preocupaccedilatildeo com seu conteuacutedo do que com

a forma como eles se organizam ou com os diferentes elementos especiacuteficos de cada

um desses textos Isso pode ser tambeacutem observado nas questotildees que satildeo colocadas na

lousa para que as crianccedilas as respondam referem-se as informaccedilotildees que estatildeo

expliacutecitas no texto ou datildeo uma abertura para que escrevam o que pensam sobre a

situaccedilatildeo exposta

Natildeo se percebeu no planejamento uma preocupaccedilatildeo expliacutecita com as habilidades que

se quer explorar e desenvolver junto aos alunos o que natildeo significa que natildeo ocorram

dada a formaccedilatildeo da professora e sua praacutetica na docecircncia mas essa ausecircncia de

explicitaccedilatildeo dos objetivos a serem alcanccedilados dificulta sobremaneira o processo de

avaliaccedilatildeo

Com relaccedilatildeo aos procedimentos de leitura verificamos que satildeo intuitivamente

trabalhados junto aos alunos mas na medida em que natildeo eacute uma praacutetica intencional e

planejada descaracteriza o trabalho da escola no sentido de garantir aos alunos de

fato a aprendizagem da leitura e da escrita

Outro aspecto interessante relaciona-se agrave interaccedilatildeo que ocorre em sala de aula toda

atividade estaacute centrada na figura do professor organiza o material distribui propotildee e

responde agraves questotildees dos alunos Atende individualmente algumas crianccedilas para

responder agraves duacutevidas que colocam

As conversas paralelas satildeo aceitas com tranquilidade pela professora e percebe-se que

assim estabelece implicitamente para os alunos que o colega do lado eacute seu

interlocutor no desenvolvimento da tarefa Apesar de natildeo haver uma organizaccedilatildeo

clara haacute um consenso no grupo sobre isso mas que perde sua qualidade agrave medida

que natildeo haacute uma mediaccedilatildeo direta e nem planejada por parte da professora ou ainda

uma observaccedilatildeo ou um registro sobre essa intervenccedilatildeo diferentemente do que

propotildee Vygotsky (1989) e Luria (1998) ao explorar a zona de desenvolvimento

proximal

Depois de atender alguns alunos a professora aguarda o teacutermino da tarefa Vemos

aqui retomada a importacircncia do produto em detrimento do processo explicitado pela

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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fala da professora ldquoQuem terminou coloca na mesa e sentardquo Parece que a conclusatildeo

da tarefa garante a realizaccedilatildeo do trabalho

Outro aspecto a salientar e jaacute observado em outras praacuteticas escolares eacute que parece

haver um entendimento que basta expor a crianccedila a diferentes tipos de gecircneros

discursivos para que a anaacutelise e a reflexatildeo sobre a liacutengua oral ou escrita ocorram

Nesse exemplo parece que o proacuteprio portador de texto as diferentes formas de

registro e organizaccedilatildeo dos textos estatildeo agrave disposiccedilatildeo para serem decodificados e

tratados isoladamente do seu contexto de produccedilatildeo e inserccedilatildeo histoacuterica Eacute preciso

lembrar que a liacutengua eacute um ldquoveiacuteculo de valores e preconceitos de classe credo gecircnero

e etniardquo (Brasil 1997 p 46) e a discussatildeo eacute um dos instrumentos essenciais para

explicitar contrapor e argumentar sobre essas questotildees Ao mesmo tempo eacute preciso

ter claro que a atividade discursiva realiza-se num tempo e num espaccedilo em que eacute

necessaacuterio considerar as funccedilotildees e o funcionamento da escrita aleacutem das condiccedilotildees nas

quais eacute produzida

Assim com relaccedilatildeo aos textos propostos apesar de serem extraiacutedos de um mesmo

portador possuem caracteriacutesticas e estruturas diferenciadas que natildeo satildeo exploradas

Essa praacutetica pedagoacutegica habitualmente observada em diferentes circunstacircncias

parece ocasionar um entendimento de que o conteuacutedo jaacute foi lsquotrabalhadorsquo quando na

verdade soacute foi lsquoapresentadorsquo e desta forma ocasiona um lsquoconhecimentorsquo que na

verdade natildeo foi transformado em lsquosaberrsquo

A ficha de acompanhamento dos alunos natildeo especifica o que o professor considera

como satisfatoacuterio ou insatisfatoacuterio e os encaminhamentos propostos para os alunos

com rendimento insatisfatoacuterio demonstram que o professor atribui a si a

responsabilidade de desenvolver atividades que garantam um melhor aproveitamento

dos alunos

Natildeo se observa em nenhum dos registros uma reflexatildeo mais rigorosa que incluiacutesse o

ensino e a aprendizagem como elementos de um mesmo processo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

343

O mesmo ocorre com os registros do trabalho realizado em sala de aula natildeo fornecem

subsiacutedios para que o professor possa propor uma accedilatildeo capaz de garantir a

aprendizagem

Algumas consideraccedilotildees

Na realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel constatar que o grupo observado representa

significativamente o contexto do municiacutepio e tem na escola puacuteblica a possibilidade de

acesso ao saber e nela deposita a esperanccedila de uma melhoria de vida

A questatildeo da autonomia da escola que se viabiliza a partir do Plano de Gestatildeo natildeo eacute

uma realidade no universo observado visto que natildeo consegue diagnosticar com

fidedignidade o contexto no qual se insere ou as necessidades da comunidade para

desencadear accedilotildees ou formas realmente eficazes que garantam o cumprimento do seu

papel

Ao longo do seu percurso histoacuterico a escola puacuteblica tem estado a serviccedilo do sistema

de manutenccedilatildeo do poder que desconsiderou a autonomia da escola Hoje o discurso

oficial propotildee uma autonomia a serviccedilo da comunidade contudo estabelece

procedimentos e normatiza sobre a forma de como ela deve ocorrer fazendo com que

a escola continue sendo dividida entre o discurso preconizado e as restriccedilotildees impostas

agrave sua accedilatildeo

Percebemos que essa incoerecircncia eacute formalizada no Plano de Gestatildeo da escola e uma

das possibilidades de mudanccedila seria o movimento do proacuteprio grupo de professores

que em interaccedilatildeo pudessem discutir e refletir sobre os aspectos teoacutericos subjacentes

agrave pratica desenvolvida em sala de aula

A observaccedilatildeo acerca desses momentos formalizadas nos registros das HTPCs mostrou

que natildeo haacute uma apropriaccedilatildeo desse espaccedilo de interlocuccedilatildeo por parte dos professores

A proacutepria organizaccedilatildeo do grupo quanto ao nuacutemero de professores (34 no total) e o

tempo disponiacutevel - dois encontros semanais com duraccedilatildeo de uma hora cada ndash fazem

com que os assuntos abordados priorizem as questotildees administrativas ou

organizacionais do trabalho ao inveacutes do processo pedagoacutegico O proacuteprio registro

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explicita a construccedilatildeo burocraacutetica desse espaccedilo registra a presenccedila e pontua os

toacutepicos discutidos

Observamos aiacute uma das perversidades do sistema e dos mecanismos que dispotildee ao

propor a HTPC como espaccedilo coletivo de discussatildeo do trabalho pedagoacutegico formaliza-o

em um curto periacuteodo de tempo para um grupo bastante numeroso Mesmo que a

organizaccedilatildeo fosse alterada para um encontro de duas horas - teriacuteamos ainda um grupo

grande de professores com pouca possibilidade de participaccedilatildeo de todos e caso

tiveacutessemos um grupo subdividido este natildeo garantiria o coletivo da escola

Outro aspecto importante para o processo de constituiccedilatildeo do coletivo eacute o registro

desses encontros Natildeo haacute como conceber um registro que natildeo aponte as vivecircncias as

duacutevidas as descobertas e as hipoacuteteses do grupo Sem ele todo planejamento ou

avaliaccedilatildeo eacute superficial e inconsequente pois natildeo possibilita a reflexatildeo sobre o trabalho

realizado e quais encaminhamentos seratildeo dados visto que ldquonatildeo existem receitas ou

modelos A realidade nos desafia a cada momento e eacute preciso responder de forma

original se quisermos modificaacute-lardquo (Elias 2000 p202)

O Resumo do Conteuacutedo Programaacutetico e das Atividades Desenvolvidas as pastas

cadernos e produccedilotildees dos alunos reforccedilam significativamente que o ensino ocorre de

forma paralela agrave aprendizagem numa visatildeo que dissocia o ensino do sujeito da

aprendizagem e natildeo institui tampouco o professor como mediador desses processos

Contudo a ficha de avaliaccedilatildeo do desempenho dos alunos institui o professor como o

uacutenico responsaacutevel pelo sucesso da aprendizagem

O trabalho da professora espelha o trabalho do proacuteprio grupo de professores da

escola natildeo pressupotildee que os processos pedagoacutegicos sejam intencionais e deliberados

e que portanto devem ser observados registrados discutidos e avaliados

O conhecimento eacute visto como algo pronto a ser transmitido e aprendido Ao natildeo se dar

conta do movimento que haacute na apropriaccedilatildeo desse conhecimento eacute comum que o

grupo restrinja ainda mais a anaacutelise e discussatildeo da praacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Essa dinacircmica faz com que a avaliaccedilatildeo seja vista individual e parcial com um caraacuteter

seletivo verificar os que sabem daqueles que natildeo sabem visto que natildeo haacute uma

articulaccedilatildeo entre as inuacutemeras atividades propostas o Plano de Gestatildeo e a

aprendizagem dos alunos

Na pesquisa realizada natildeo se conseguiu observar o desenvolvimento de propostas

intencionalmente planejadas que pudessem garantir a construccedilatildeo de habilidades

sociais de leitura

Considerando que esse grupo iraacute para o 2ordm ciclo do Ensino Fundamental onde a leitura

eacute ferramenta baacutesica para a apropriaccedilatildeo de conhecimento pode-se prever que as

dificuldades iniciais seratildeo inuacutemeras e estes alunos tecircm grandes possibilidades de

reproduzirem a trajetoacuteria de seus pais que abandonaram o estudo nesse mesmo ciclo

e talvez pelas mesmas razotildees

Trabalhar estrateacutegias de leitura pressupotildee ainda a organizaccedilatildeo do trabalho em torno

de uma diversidade de textos que circulam socialmente e que natildeo foram

contemplados nos registros e observaccedilotildees feitas Ao contrario as atividades propostas

estatildeo voltadas para decodificaccedilatildeo dos textos numa concepccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo ligada

ao domiacutenio do coacutedigo

Natildeo se poderia como diz Perrenoud (1999 p83) ldquorecriminar os professores pela

ignoracircncia dos processos de aprendizagemrdquo mas isso impede tanto o diagnoacutestico

como a mediaccedilatildeo por parte do professor que deve ocorrer num determinado tempo ndash

no conflito evidenciado pelo aluno ndash como no planejamento de uma accedilatildeo que

assegure uma aprendizagem real

Desta forma os pressupostos de trabalho descritos nas normas para avaliaccedilatildeo do

rendimento escolar constantes do Plano de Gestatildeo ldquorealizada de forma contiacutenua

cumulativa e sistemaacutetica tendo como um de seus objetivos o diagnoacutestico da situaccedilatildeo

de aprendizagem de cada alunordquo natildeo satildeo legitimados pela praacutetica

Se for considerado que avaliar eacute uma lsquoforma de verrsquo permeada pelas nossas

concepccedilotildees de mundo de homem e de conhecimento eacute preciso entatildeo aprender a ver

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

346

de uma forma que teoria e praacutetica se unam na busca de uma transformaccedilatildeo da

realidade que hoje se nos apresenta

Deve-se entender que toda educaccedilatildeo se daacute num contexto (espaccedilo - temporal)

determinado por sujeitos que ensinam e aprendem e portanto reconstroem ou

recriam conhecimento para transformaacute-lo em uacuteltima instacircncia em benefiacutecio do

proacuteprio homem

Tem-se discutido e praticado a avaliaccedilatildeo num discurso que muitas vezes o dissocia da

praacutetica Transpor essa oacutetica para se apropriar num sentido mais amplo deste

conhecimento eacute produzir um novo conhecimento e consequentemente instaurar uma

nova praacutetica Ocultamos no conhecimento a violecircncia das praacuteticas as quais fomos

submetidos que enraizadas numa pseudo-especificidade fez com que perdecircssemos a

capacidade imaginativa e inventiva capaz de transformar a realidade em que vivemos

O discurso atual propaga a importacircncia da autonomia da escola e da participaccedilatildeo da

comunidade em suas decisotildees princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica mas como se vecirc

a proacutepria escola natildeo tem clareza quanto aos problemas que enfrenta e assim ao inveacutes

de ser instrumento da comunidade em busca de sua cidadania serve de instrumento

para continuidade de uma concepccedilatildeo a ser superada

Nesse contexto verifica-se que o papel e funccedilatildeo da escola polarizam por um lado

uma escola que se pretende e faz parte do discurso oficial e de outro uma escola que

se pretende e se manifesta atraveacutes do anseio da populaccedilatildeo que dela se serve Entre

elas haacute uma escola real que natildeo atende a nenhuma das partes natildeo eleva o niacutevel da

qualificaccedilatildeo esperada na atual conjuntura poliacutetica e nem contribui para a conquista da

cidadania

Mas eacute justamente nesse movimento e na possibilidade de seu vir-a-ser que um novo

perfil de escola pode se configurar de um lado uma elevaccedilatildeo qualitativa que garanta a

qualificaccedilatildeo pretendida pelo sistema ou por outro como instrumento que impulsione

a conquista da cidadania

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347

Eacute necessaacuterio que a escola exerccedila de fato sua autonomia tendo clareza sobre `a serviccedilo

de quem estaacute determinando assim se a avaliaccedilatildeo serviraacute para manter a seletividade

excluindo e perpetuando o fracasso escolar ou serviraacute ao ensino e aprendizagem e

nesse sentido somos todos aprendizes

Referecircncia

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto Secretaria de Ensino Fundamental

Paracircmetros curriculares nacionais Brasiacutelia MECSEF v 2 Liacutengua Portuguesa1997

CENPEC ndash Centro de pesquisas para educaccedilatildeo e cultura Projeto raiacutezes e asas Satildeo Paulo CENPEC 1994 v 3 p 3 ELIAS MDC (2000) De Emilio a Emilia a trajetoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Scipione FREIRE P (1987) Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 17ordf ed HELLER A 1972) O cotidiano e a histoacuteria Rio de Janeiro Paz e Terra IPM - Instituto Paulo Montenegro e Accedilatildeo Educativa (Org) INAF BRASIL 2011 Indicador

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Consideraccedilotildees sobre o erro na avaliaccedilatildeo escolar

Leila Pessocirca Da Costa

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

dacostaleilagmailcom

Janira Siqueira Camargo

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

janirascamargogmailcom

Resumo

O objetivo deste texto foi analisar o papel do erro no processo de avaliaccedilatildeo escolar a

partir de uma percepccedilatildeo de erro construtivo e constitutivo do processo de

ensinagem60 e aprendizagem A partir de pesquisa teoacuterica discutimos o papel da

escola como transmissora de um saber repleto de representaccedilotildees sociais de professor

e aluno que acaba por atribuir ao primeiro a responsabilidade e o poder de

dimensionar o desempenho do segundo uacutenica e exclusivamente por meio da avaliaccedilatildeo

ndash prova desconsiderando as tentativas e as hipoacuteteses levantadas pelo aluno no

processo O erro no processo de avaliaccedilatildeo deve ser utilizado como instrumento para

redimensionar o que se ensina e o que se aprende portanto como referencial tanto

para o professor quanto para o aluno dos conteuacutedos programaacuteticos que tem lugar na

escola mas levando em conta o conhecimento anteriormente adquirido pelo aluno em

suas relaccedilotildees extra muros escolares

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Erro Escola

ABSTRACT

The aim of this paper was to analyze the role of error in the process of school

evaluation from a perception error constructive and constitutive process teaching and

learning From theoretical research we discuss the role of the school as a transmitter

60

O termo aprendizagem se configura como processo em contraponto ao termo aprendido como algo concluiacutedo Por isso o uso do termo ensinagem como busca de dar uma perspectiva de processo que o termo ensino utilizado usualmente e que natildeo aponta

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of knowledge full of social representations of teacher and student which ultimately

assign to the first responsibility and power to scale the performance of the second

single exclusively through evaluation - proof disregarding attempts and hypotheses

raised by the student in the process The error in the assessment process should be

used as a tool to resize what is taught and what is learned therefore as a reference

for both the teacher and to the student of the syllabus that takes place in school but

taking into account the knowledge previously acquired by the student in their

relationships extra school walls

Key-words Evaluation Error School

A escola o saber e a avaliaccedilatildeo

O objetivo deste texto eacute analisar a avaliaccedilatildeo e o erro na perspectiva escolar a partir de

uma percepccedilatildeo de erro construtivo e constitutivo do processo de ensinagem e

aprendizagem Ao discutirmos a avaliaccedilatildeo e o erro na perspectiva escolar eacute

importante definirmos inicialmente o papel da escola e sua relaccedilatildeo com o saber e

sobre isso Libacircneo (1994) afirma que

ldquoA transmissatildeo do saber eacute sua apropriaccedilatildeo pelos alunos O

saber escolar eacute entendido como um conjunto dos

conhecimentos selecionados entre os bens culturais

disponiacuteveis enquanto patrimocircnio coletivo da sociedade em

funccedilatildeo de seus efeitos formativos e instrumentais Longe de ser

caracterizado como conjunto de informaccedilotildees a serem

depositadas na cabeccedila do aluno o saber escolar constitui-se

em elemento de elevaccedilatildeo cultural base para a inserccedilatildeo criacutetica

do aluno na pratica social de vidardquo (pp 13-14)

Ao desempenhar o papel de transmissora do saber a escola assume um poder de

julgar os que sabem e os que natildeo sabem e um dos instrumentos que a escola utiliza

para que isso se efetive eacute a avaliaccedilatildeo e eacute importante considerarmos que

ldquotodo saber eacute expressivo pois procura representar mundos

subjetivos intersubjetivos e objetivos Longe de serem

construtos cognitivos monoloacutegicos sistemas de saber satildeo

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gerados por triacuteades intersubjetivas que ligam o conhecimento a

pessoas e aos contextos puacuteblicos em que eacute produzidordquo

(Jovchelovitch 2008 p 259)

Acerca dessa triacuteade a autora aponta que ela representa o espaccedilo potencial da

possibilidade da representaccedilatildeo simboacutelica ou seja eacute espaccedilo de produccedilatildeo de sentido e

de significaccedilatildeo ou ainda eacute a estrutura mediadora pertencendo ao ldquoentrerdquo na triacuteade

sujeito ndash mundo e objeto de conhecimento

O segundo aspecto ldquorefere-se agrave ideia de que diferentes formas de saber podem viver

lado a lado [] satildeo vistos como fenocircmeno plural e heterogecircneordquo (Jovchelovitch 2008

p 21) Estudar os saberes ldquosignifica estudar o conjunto de praacuteticas relaccedilotildees e

contextos concretos em que o saber enquanto accedilatildeo social ocorrerdquo (Jovchelovitch

2008 p 261) cujo objetivo eacute o de ldquorecuperar a visatildeo dialoacutegica da representaccedilatildeo

reafirmar seu caraacuteter simboacutelico e social e ligar sua dinacircmica a diferentes formas de

conhecimentordquo (Jovchelovitch 2008 p 22)

Jovchelovitch (2008 p 276) considera ainda que o processo de formaccedilatildeo do

conhecimento depende das condiccedilotildees sociais concretas que tambeacutem datildeo forma a sua

estrutura interna ou seja ldquoinformam as coerccedilotildees e obrigaccedilotildees cotidianas que

organizam as praacuteticas de um grupordquo e mapeaacute-las implica estudar os mundos

subjetivos intersubjetivos e objetivos que ela compreende

ldquoo saber eacute um sistema variaacutevel relacionado agrave arquitetura

intersubjetiva das representaccedilotildees que o produzem A gecircnese

relacional do conhecimento faz dele um fenocircmeno plaacutestico e

variaacutevel que muda dependendo do ldquoquemrdquo ldquocomordquo ldquoquerdquo

ldquopor querdquo e ldquopara querdquo da representaccedilatildeo Estas diferentes

dimensotildees do processo representacional constituem contextos

do saber e eacute para estes contextos que necessitamos nos dirigir

se quisermos compreender a expressividade de um sistema de

conhecimentordquo (Jovchelovitch 2008 p 263)

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Considerando que o saber estaacute relacionado ao contexto no qual foi produzido

Machado (1996 p 263) aponta que ldquoa avaliaccedilatildeo educacional eacute tributaacuteria de uma

concepccedilatildeo de conhecimento irradiada pela escolardquo que lhe confere uma dimensatildeo

epistemoloacutegica que o homem partilha e que o constitui sua racionalidade e sua

historicidade ou como apontado por Bombassaro (1993 p 14) ldquoo homem nasce

marcado natildeo soacute pela racionalidade mas tambeacutem pela historicidade que se manifesta

como praacutexis como o conjunto das accedilotildees que ele realiza no tempordquo

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo

Antes de adentrarmos na discussatildeo acerca da representaccedilatildeo do erro no processo de

avaliaccedilatildeo gostariacuteamos de retomar alguns aspectos importantes sobre a avaliaccedilatildeo e

suas representaccedilotildees sociais

De acordo com Da Costa (2006 p 45)

ldquose eacute dever da escola e direito do cidadatildeo o acesso a esse

saber a forma como os sujeitos de direito e dever se

relacionam a ele podemos dizer que o modo como se concebe

esse saber () mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas

relaccedilotildees com a praacutetica pedagoacutegica constituindo assim uma

nova dimensatildeo a epistemoloacutegicardquo

A essa dimensatildeo epistemoloacutegica Luckesi (2004) aponta que os professores mantecircm

modelos que inconscientemente refletem na praacutetica da avaliaccedilatildeo escolar entre eles o

ato de examinar ou dar notas ao inveacutes de avaliar Para o autor avaliar eacute sempre um

procedimento qualitativo pois

ldquoAvaliaccedilatildeo para ser constitutivamente avaliaccedilatildeo soacute pode ser

qualitativa O termo avaliar proveacutem etimologicamente de dois

outros termos latinos prefixo a e verbo valere que significa

lsquodar preccedilo arsquo lsquodar valor arsquo em siacutentese atribuir lsquoqualidade arsquo

Com isso compreendo que toda avaliaccedilatildeo eacute qualitativa levado

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a seacuterio o conceito natildeo existe avaliaccedilatildeo quantitativardquo (Luckesi

2004 p 86)

Nessa perspectiva a avaliaccedilatildeo eacute vista como uma forma de diagnosticar a

aprendizagem ou de atribuir uma qualidade a alguma coisa e no caso ao ensino e a

aprendizagem Luckesi (2004 p 86) aponta ainda que com frequecircncia ldquoconfundimos

instrumentos de coleta de dados com instrumentos de avaliaccedilatildeordquo ou seja natildeo

qualificamos a realidade apenas a constatamos O autor aponta ainda que

ldquonoacutes educadores agimos mais pelo padratildeo inconsciente do

que por um ato consciente o que quer dizer que em nossa

praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola orientamo-nos

muito mais por representaccedilotildees sociais do que por decisotildees

conscientesrdquo (Luckesi 2004 p 88)

A avaliaccedilatildeo eacute um processo que tem muitas funccedilotildees algumas especiacuteficas em relaccedilatildeo aos

componentes do espaccedilo escolar alunos professores metodologias curriacuteculos

estrutura fiacutesica e pode ser definida como instrumento que ldquo+ diagnostica uma

situaccedilatildeo e permite modificaacute-la de acordo com as necessidades detectadasrdquo (Santrsquoanna

1997 p 30) Vasconcellos (1994 p 43) define avaliaccedilatildeo como

ldquoum processo abrangente da existecircncia humana que implica

uma reflexatildeo criacutetica sobre a praacutetica no sentido de captar seus

avanccedilos suas resistecircncias suas dificuldades e de possibilitar a

tomada de decisatildeo sobre o que fazer para superar os

obstaacuteculosrdquo

Mas pode ainda ter funccedilotildees mais gerais apontando aspectos poliacuteticos econocircmicos e

sociais que regem a realidade onde estaacute inserida a escola e todos os seus elementos

Para Santrsquoanna (1995) os objetivos da avaliaccedilatildeo satildeo

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- fornecer bases para o planejamento das aulas e das atividades a serem

desenvolvidas tendo como referecircncia o desempenho dos alunos

- ajustar poliacuteticas e praacuteticas curriculares na medida em fornece paracircmetros acerca da

necessidade de adequaccedilatildeo da poliacutetica educacional agraves necessidades sociais

- possibilitar a seleccedilatildeo e a classificaccedilatildeo dos alunos em casos que seja preciso como

por exemplo em concursos para premiaccedilatildeo etc

- facilitar o diagnoacutestico permitindo ajustar o desenvolvimento das aulas tendo como

ponto de partida o conhecimento jaacute adquirido pelos alunos

- melhorar a ensinagem e a aprendizagem pois o que se busca na escola eacute a

transmissatildeo de conhecimentos cientiacuteficos preferencialmente pelo professor e a

apreensatildeo destes pelos alunos por meio da mediaccedilatildeo

- estabelecer situaccedilotildees individuais de aprendizagem tendo em vista que o domiacutenio de

conhecimento eacute diferenciado de sujeito para sujeito e ensinar tendo consciecircncia desta

diversidade proporciona maiores condiccedilotildees de que as atividades propostas se ajustem

aos alunos

- interpretar resultados uma vez que tambeacutem natildeo basta ter um resultado numeacuterico e

quantitativo sobre o desempenho analisando os dados fornecidos pela avaliaccedilatildeo eacute

possiacutevel definir os diferentes niacuteveis de desenvolvimento dos alunos e em que aacutereas se

encontram suas maiores dificuldades

Hoffmann (1993) afirma que satildeo trecircs os tipos de avaliaccedilatildeo diagnoacutestica somativa e

formativa A diagnoacutestica normalmente se realiza no iniacutecio do processo e determina a

ausecircncia ou presenccedila de conhecimentos e habilidades dos avaliados sobre o tema a

ser desenvolvido na aula ou periacuteodo Um dos instrumentos a ser utilizado para a

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica pode ser a auto avaliaccedilatildeo e pode ser realizado tanto de maneira

formal (com um preacute-teste por exemplo) quanto de maneira informal (questionando-

se os alunos acerca do assunto)

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A avaliaccedilatildeo somativa tem como principal objetivo a classificaccedilatildeo dos alunos porque se

baseia no rendimento apresentado em termos dos objetivos propostos Este tipo de

avaliaccedilatildeo eacute o mais comumente usado em concursos vestibulares ou de trabalho pois

buscam classificar os indiviacuteduos em relaccedilatildeo a um nuacutemero de vagas disponiacuteveis No

entanto e mais ainda quando os editais com os resultados satildeo tornados puacuteblicos

expotildee as pessoas gerando muitas vezes desconforto e sentimento de incompetecircncia o

que do ponto de vista emocional pode trazer profundas sequelas

A avaliaccedilatildeo formativa indica como os alunos estatildeo se comportando em funccedilatildeo dos

objetivos traccedilados inicialmente sua evoluccedilatildeo ou natildeo para isso deve-se selecionar os

objetivos e os conteuacutedos formular os objetivos elaborar esquema teoacuterico corrigir

erros e insuficiecircncias selecionar alternativas terapecircuticas

Existem diferentes instrumentos de avaliaccedilatildeo um dos mais utilizados eacute a prova

percebida por muitos educadores como o uacutenico que de fato fornece resultados

significativos No entanto o seminaacuterio pode e deve ser usado em sala de aula

favorecendo o desenvolvimento de habilidades de explanaccedilatildeo argumentaccedilatildeo

organizaccedilatildeo mental verbalizaccedilatildeo dentre outras Aleacutem destes a pesquisa teoacuterica eacute

fundamental no processo ensino-aprendizagem do conhecimento cientiacutefico que tem

lugar na escola por isso o uso de teacutecnicas para o registro destas pesquisas eacute

importante como o fichamento o resumo e a resenha Outro instrumento eficaz de

avaliaccedilatildeo eacute o relato de experiecircncias vivenciadas por observaccedilatildeo ou por participaccedilatildeo e

registradas de maneira sistemaacutetica como resultados de pesquisas

O professor dispotildee de inuacutemeros instrumentos para efetuar a avaliaccedilatildeo e a arte por

exemplo disponibiliza diversos recursos que podem ser utilizados pelos professores

natildeo somente para os alunos de cursos especiacuteficos da aacuterea artiacutestica (plaacutestica dramaacutetica

musical) mas para qualquer aacuterea como ferramenta para verificar o niacutevel de apreensatildeo

e compressatildeo dos conhecimentos apresentados em sala de aula Por isso o relato de

observaccedilatildeo e anaacutelise de uma obra de arte tambeacutem pode servir como instrumento de

avaliaccedilatildeo

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Contudo a escolha de um ou outro instrumento deve ser realizada baseada em

criteacuterios e um destes eacute o objetivo que se estabeleceu para o desenvolvimento do

processo ou seja o que ensino buscou transformar em aprendizagem O conteuacutedo

que se quer verificar eacute um outro criteacuterio pois alguns conteuacutedos programaacuteticos de

algumas aacutereas de conhecimento exigem um determinado tipo de habilidade cognitiva

tal como a memorizaccedilatildeo enquanto outros exigem raciociacutenio loacutegico matemaacutetico por

exemplo

Os alunos tambeacutem devem ser levados em consideraccedilatildeo porque com a poliacutetica da

educaccedilatildeo inclusiva dia a dia encontramos sujeitos com necessidades especiais que

carecem de uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica diferenciada incluindo-se a avaliaccedilatildeo e isto

vale tambeacutem para alunos considerados ldquonormaisrdquo

O professor deve ter claro esses criteacuterios para que possa escolher um ou outro

instrumento aleacutem de considerar que sua seleccedilatildeo deve se pautar no conhecimento

que tem desses instrumentos ou seja sua familiaridade e domiacutenio em funccedilatildeo de sua

aacuterea de atuaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo pessoal e da forma como percebe sua relaccedilatildeo com

os alunos e dos alunos com o conhecimento a ser avaliado

A instituiccedilatildeo tambeacutem ajuda a definir os criteacuterios para a escolha do instrumento de

avaliaccedilatildeo Existem normas estabelecidas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo acerca da

avaliaccedilatildeo mas cada instituiccedilatildeo tem autonomia para definir regras mais especiacuteficas

como estabelecer tipo e quantidade de instrumentos a serem utilizados no processo

de avaliaccedilatildeo ou o peso atribuiacutedo a cada uma delas

Avaliaccedilatildeo e erro na perspectiva construtivista

Acreditamos assim que uma das formas de conceber a avaliaccedilatildeo numa perspectiva

qualitativa eacute compreender a funccedilatildeo e o papel do erro nesse processo Para Castorina

(1988 p 43) haacute erros sistemaacuteticos ldquo+ que marcam o limite entre o que um sujeito

consegue e natildeo consegue fazer ndash e os erros manifestos durante o processo de

invenccedilatildeo e descobertardquo

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O erro demonstra ou aponta indiacutecios de quais estrateacutegias o aluno utilizou na resoluccedilatildeo

do problema apresentado portanto funciona como balizador para o professor

apontando para as necessaacuterias adequaccedilotildees nas estrateacutegias de ensino Por isso permite

que o aluno tome consciecircncia do procedimento utilizado e do procedimento esperado

para a resoluccedilatildeo do problema proposto e o ajuste em termos dos objetivos

Ao mesmo tempo o erro detectado pela avaliaccedilatildeo deve ser instrumento para que o

professor defina a partir de onde deveraacute dar continuidade ou retomar o processo

ensino-aprendizagem com seus elementos tais como conteuacutedos metodologia

viacutenculos

Castorina (1988) afirma que

ldquoAo considerar os erros sistemaacuteticos ndash o fato de as crianccedilas

diante de situaccedilotildees diferentes se equivocarem da mesma

maneira ndash teve-se que ir aleacutem da sua proacutepria fenomenalidade

para descrever e especificar a organizaccedilatildeo intelectual que os

explicavam Os erros infantis respondiam a certa estruturaccedilatildeo

das accedilotildees que podia ser caracterizada positivamente Os erros

deixaram de ser soacute indiacutecio de uma dificuldade ou uma

incapacidade e passaram a ser reveladores de uma loacutegica

infantil irredutiacutevel agrave loacutegica dos adultosrdquo (p 33)

Por isso para o pesquisador o erro funciona como dado de pesquisa e como tal deve

ser analisado possibilitando a retomada do referencial teoacuterico-metodoloacutegico que

embasa a praacutetica pedagoacutegica do docente proporcionando temas de pesquisa a serem

aprofundados na compreensatildeo dos processos vivenciados Oacutergatildeos financiadores de

pesquisas puacuteblicos e privados devem estar atentos ao erro pois ele sinaliza as aacutereas

onde haacute maior necessidade de investimento em novas pesquisas

Hoffmann (1993) argumenta que

ldquoNem todos os erros cometidos podem ser denominados lsquoerros

construtivosrsquo passiacuteveis de descoberta por ele em termos de

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melhores soluccedilotildees Os erros construtivos caracterizam-se por

sua perspectiva loacutegico-matemaacuteticardquo (p 79)

O erro desta maneira deve ser compreendido como fazendo parte do processo de

aprendizagem como parte constitutiva do processo de construccedilatildeo de conhecimento

como sinalizador do percurso utilizado pelo sujeito compreendido como ser ativo e

atuante

Natildeo se poderia como diz Perrenoud (1999 p 83) ldquorecriminar os professores pela

ignoracircncia dos processos de aprendizagemrdquo mas pudemos perceber que isso impede

tanto o diagnoacutestico como a intervenccedilatildeo que deve ocorrer num determinado tempo ndash

no conflito evidenciado pelo aluno ndash como no planejamento de uma accedilatildeo que

assegure uma aprendizagem real

Assim o erro tem um papel importante na articulaccedilatildeo desse processo e deve

possibilitar ldquoa troca de experiecircncias e a partilha de saberes que+ consolidam espaccedilos

de formaccedilatildeo muacutetua nos quais cada professor eacute chamado a desempenhar

simultaneamente o papel de formador e de formandordquo (Noacutevoa 1992 p 26) pois ldquonatildeo

existem receitas ou modelos A realidade nos desafia a cada momento e eacute preciso

responder de forma original se quisermos modificaacute-lardquo (Elias 2000 p 202)

Da pesquisa

O trabalho eacute resultado de pesquisa teoacuterica desencadeada a partir de experiecircncias

vivenciadas pelas autoras como professoras em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo cujas discussotildees

acerca dos conceitos e preacute-conceitos relacionados a processos avaliativos encontraram

eco nas representaccedilotildees sociais de professores e alunos e interferem significativamente

no processo de ensinagem e de aprendizagem Por isso o referencial de anaacutelise

utilizado pelas autoras pautou-se nas representaccedilotildees sociais encontradas nas obras

pesquisadas que discutem avaliaccedilatildeo priorizando o conceito de erro e o papel da

escola como transmissora de saber

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Ao analisarmos a avaliaccedilatildeo escolar podemos afirmar que ela tem desempenhado o

papel de julgar os alunos ou separar os que sabem dos que natildeo sabem Segundo Saul

(1994) a avaliaccedilatildeo

ldquose tornou uma praacutetica ameaccediladora uma praacutetica autoritaacuteria

Mas ela natildeo eacute isoladamente autoritaacuteria Ela o eacute porque estaacute no

bojo de um conjunto de uma Educaccedilatildeo entendida como

transmissora de informaccedilotildees que eacute igualmente autoritaacuteriardquo

(p66)

Assim compreendida a avaliaccedilatildeo eacute sempre a emissatildeo de um juiacutezo de valor que natildeo eacute

absoluto mas relativizado e ldquofunciona sempre expliacutecita ou implicitamente como

parte da totalidade de uma teoria de uma concepccedilatildeo do mundo de uma imagem do

mundordquo (Heller 1992 p13)

Perrenoud (1999) afirma ainda que

ldquoo ecircxito e o fracasso satildeo realidades socialmente construiacutedas

tanto em sua definiccedilatildeo global quanto na atribuiccedilatildeo de um valor

a cada aluno () Uma sociologia da avaliaccedilatildeo nasce a partir do

instante em que se recusa a acreditar que o ecircxito e o fracasso

escolares resultam de uma medida objetiva de competecircncias

reais em que essas satildeo vistas ao contraacuterio como

representaccedilotildees criadas pela escola (e que a escola) tem o

poder de lhes atribuir forccedila de leirdquo (p19)

Podemos entatildeo afirmar que avaliar eacute antes de tudo posicionar-se poliacutetica e

ideologicamente frente ao que se estaacute avaliando estabelecendo padrotildees de

racionalidade associados ao mundo praacutetico no qual o conhecimento eacute produzido e que

tem na historicidade seu elemento central e que nem sempre se pauta pelo

conhecimento cientiacutefico embora muitas vezes o use para subsidiar o discurso e

consequentemente encobrir a ideologia que veicula pois tem ldquoa capacidade de

lsquopenumbrarrsquo a realidade de nos lsquomiopizarrsquo de nos ensurdecer e faz por exemplo a

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muito de noacutes aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista neoliberalrdquo (Freire

1997 p142)

Um dos aspectos relacionados agrave avaliaccedilatildeo escolar eacute o que se refere agrave qualidade do

ensino Contudo definir qualidade depende de inuacutemeros fatores entre eles ldquoos

valores nos quais as pessoas acreditam as tradiccedilotildees de uma determinada cultura os

conhecimentos cientiacuteficos sobre como alunos aprendem e se desenvolvem o contexto

histoacuterico social e econocircmico no qual a escola se insere () a qualidade pode ser

concebida de forma diversa conforme o momento histoacuterico o contexto cultural e as

condiccedilotildees objetivas locaisrdquo (Brasil 2009 p 13)

Se a escola eacute o espaccedilo no qual o trabalho coletivo deve ser instaurado eacute preciso ter

claro que este eacute antes de tudo um espaccedilo de negociaccedilotildees e articulaccedilotildees entre a

ensinagem e a aprendizagem

Para tanto se faz necessaacuterio que o processo de ensinagem e de aprendizagem seja

registrado apontando as vivecircncias as duacutevidas as descobertas e as hipoacuteteses do grupo

pois os processos pedagoacutegicos satildeo sempre intencionais e deliberados e que portanto

devem ser observados registrados discutidos e avaliados e sem ele todo

planejamento ou avaliaccedilatildeo eacute superficial e inconsequente

Faz-se necessaacuterio ainda que o aluno seja considerado tanto do ponto de vista

bioloacutegico quanto a partir das relaccedilotildees intra e interpessoais pois o conhecimento natildeo eacute

algo pronto a ser transmitido e aprendido ao contraacuterio haacute todo um movimento nesse

processo e somente a sua compreensatildeo pode contribuir para que a avaliaccedilatildeo seja

efetivada de forma compartilhada e natildeo individual

Consideraccedilotildees finais

A avaliaccedilatildeo ndash ferramenta baacutesica para a reflexatildeo do processo de ensinagem e

aprendizagem e portanto para o planejamento do professor ndash natildeo tem na realidade

contribuiacutedo para a superaccedilatildeo dos obstaacuteculos epistemoloacutegicos do aluno

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O diagnoacutestico dos diferentes sistemas de saber e sua comunicaccedilatildeo pressupotildee uma

postura dialoacutegica que reconheccedila a legitimidade das perspectivas locais como meios

praacuteticos de uma comunidade para expressar a si mesma sua identidade e seu modo

de vida A perspectiva dialoacutegica pressupotildee a comunicaccedilatildeo entre diferentes

reconhecendo os saberes locais - reconhecendo que possuem saber de tipo diferente

mas rico e que podem gerar alianccedilas produtivas ndash evitando-se a extensatildeo de saberes

com outras identidades A anaacutelise desses fatores - da identidade representaccedilotildees

sociais e o poder da comunidade - eacute um processo reflexivo importante para o

desenvolvimento da consciecircncia criacutetica

Para Santrsquoanna (1997) a avaliaccedilatildeo deve ser contiacutenua integrada progressiva dinacircmica

voltada para o aluno abrangente cooperativa versaacutetil Na praacutetica pedagoacutegica a

avaliaccedilatildeo formativa deve ser priorizada todavia exige que o professor altere a

metodologia de trabalho em sala de aula diminua a ecircnfase na avaliaccedilatildeo redimensione

o conteuacutedo da avaliaccedilatildeo altere a postura diante dos resultados da avaliaccedilatildeo e trabalhe

na conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar pois esta mudanccedila deve ser ampla

para alcanccedilar resultados efetivos

A avaliaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla tanto aponta aquilo que o aluno aprendeu ou

natildeo quanto o que o professor ensinou ou natildeo e desta forma a reflexatildeo desse

processo no coletivo faz do erro um norte para a melhoria do processo de ensinagem

e aprendizagem assumindo de fato o seu papel

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362

Avaliaccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas

Preacute-Escolares com e sem problemas de linguagem

TAcircNIA FERNANDES

Professora de Educaccedilatildeo Especial na Regiatildeo Autoacutenoma da Madeira

Centro de Apoio Psicopedagoacutegico do Funchal

tanifernandes28hotmailcom

JOAtildeO ROSA

Professor na Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

jmsrosahotmailcom

Resumo

Neste estudo de intervenccedilatildeo avaliou-se o niacutevel de desenvolvimento da consciecircncia

fonoloacutegica em crianccedilas preacute-escolares com e sem problemas de linguagem e mediu-se

o impacto de um programa de promoccedilatildeo daquela competecircncia metalinguiacutestica

Os estudos mostram que os programas de promoccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica satildeo

exequiacuteveis e implementaacuteveis antes da iniciaccedilatildeo formal agrave leitura e escrita (Capovilla amp

Capovilla 2000 Nunes 2009 Sim-Sim Duarte Barbeito amp Pereira (2010) e

especialmente necessaacuterios para potenciar o desenvolvimento de crianccedilas com

problemas de linguagem (Freitas Alves amp Costa 2007 Mota amp Silva 2007 Soeiro

2007)

Neste estudo participaram 62 crianccedilas de cinco e seis anos de idade a frequentar sete

estabelecimentos de ensino preacute-escolar divididas em trecircs condiccedilotildees experimentais 1)

Grupo de Intervenccedilatildeo I (crianccedilas sem problemas de linguagem) 2) Grupo de

Intervenccedilatildeo II (crianccedilas com problemas de linguagem) 3) Grupo de Controlo (crianccedilas

sem problemas de linguagem) Todas as crianccedilas realizaram individualmente um preacute

e um poacutes-teste atraveacutes da aplicaccedilatildeo das Provas de Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica (Jimeacutenez e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

363

Ortiz 1995) e de um teste de especificidade da intervenccedilatildeo (Aritmeacutetica - WISC III) Os

dois grupos de intervenccedilatildeo participaram em oito sessotildees desenhadas para potenciar o

desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica de acordo com um programa

desenvolvido originalmente por Silva (2002) Os trecircs grupos eram equivalentes no preacute-

teste em consciecircncia fonoloacutegica total

Os resultados revelaram uma significativa superioridade das crianccedilas dos dois grupos

de intervenccedilatildeo em importantes sub-competecircncias da consciecircncia fonoloacutegica quando

comparadas com o grupo de controlo Comprovou-se ainda que o efeito da

intervenccedilatildeo era especiacutefico

Em conclusatildeo o niacutevel de desenvolvimento atual da consciecircncia fonoloacutegica de crianccedilas

preacute-escolares com e sem problemas de linguagem pode ser significativamente

potenciado antes da iniciaccedilatildeo formal agrave leitura e agrave escrita

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica Desenvolvimento da Consciecircncia

Fonoloacutegica Consciecircncia Fonoloacutegica e Problemas de Linguagem

Abstract

This intervention study aimed at evaluating phonological awareness development level

in pre-school children with or without language delays and assess the impact of a

programme designed to promoting that metalinguistic ability

Studies show that such programmes are feasible can be implemented before formal

instruction on reading and writing (Capovilla amp Capovilla 2000 Nunes 2009 Sim-Sim

Duarte Barbeito amp Pereira (2010) and are especially necessary to potentiate the

development of children showing language delays (Freitas Alves amp Costa 2007 Mota

amp Silva 2007 Soeiro 2007)

The participants were sixty two five- and six-year-olds attending seven pre-schools

They were allocated to three experimental conditions 1) Intervention Group I -

children with no language delay 2) Intervention Group II - children with language

delay 3) Control Group - children with no language delay Pre- and post-tests were

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364

individually administered to all children consisting of a battery of linguistic

segmentation tests (Jimeacutenez amp Ortiz 1995) and an intervention specificity test

(Arithmetic - WISC III) The two intervention groups further participated in eight

training sessions designed to enhance phonological awareness according to a

programme developed by Silva (2002) There were no significant pretest differences on

total phonological awareness across the three groups

The two intervention groups significantly outperformed the control group on

important phonological awareness sub-skills The effect of the intervention was found

to be specific

To conclude the atual phonological awareness development level of pre-school

children with or without language delays can be successfully improved before formal

literacy instruction

Keywords Phonological Awareness Assessment Phonological Awareness

Development Phonological Awareness and Language Delays

Introduccedilatildeo

O objetivo deste estudo de intervenccedilatildeo eacute avaliar o efeito de um programa de

estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica em crianccedilas preacute-escolares com e sem

problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico)

De acordo com Sim-Sim (1998) um bom domiacutenio da linguagem falada eacute um dos

suportes basilares para a aprendizagem da leitura e da escrita Se tudo decorre dentro

da normalidade os primeiros cinco anos de vida satildeo suficientes para dotar a crianccedila de

uma capacidade satisfatoacuteria de expressatildeo oral Caso contraacuterio muitos satildeo os

problemas que podem surgir no desenvolvimento da linguagem falada e que podem

interferir grandemente na aprendizagem da leitura e da escrita Assim e tomando

como base o estudo efetuado por Mota e Silva (2007) haacute evidecircncia de que a

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365

estimulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo em consciecircncia fonoloacutegica podem produzir melhorias na

produccedilatildeo da fala

Investigaccedilotildees realizadas por Alves Freitas e Costa (2007) evidenciaram que uma

consciecircncia fonoloacutegica tatildeo desenvolvida quanto possiacutevel agrave entrada para o 1ordm ciclo eacute

uma competecircncia promotora de sucesso escolar na leitura e na escrita melhorando

assim os niacuteveis de literacia da crianccedila

Quando a crianccedila natildeo identifica corretamente os sons da fala ela acabaraacute

reproduzindo estes equiacutevocos na escrita e poderaacute tambeacutem apresentar lacunas na

leitura Verificamos diariamente nas nossas escolas que alguns alunos com e sem

Necessidades Educativas Especiais apresentam dificuldades na aprendizagem da

leitura e da escrita no 1ordm ciclo do Ensino Baacutesico Como tal torna-se fulcral um trabalho

mais sistematizado e intensivo com estes alunos para a estimulaccedilatildeo da consciecircncia

fonoloacutegica

Da mesma forma o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do Programa Nacional de Ensino

do Portuguecircs (PNEP) e a Direccedilatildeo Geral de Inovaccedilatildeo e de Desenvolvimento Curricular

(DGIDC) alertaram os professores do preacute-escolar e do 1ordm ciclo do ensino baacutesico para a

necessidade de se treinar a consciecircncia fonoloacutegica antes e durante a aprendizagem do

coacutedigo alfabeacutetico Para evitar que aconteccedilam problemas decorrentes da falta de treino

desta competecircncia o seu desenvolvimento deve ser introduzido logo na educaccedilatildeo preacute-

escolar facultando agrave crianccedila o contacto e a relaccedilatildeo com diferentes formas de

expressatildeo Eacute isso que estaacute definido nas ldquoMetas de Aprendizagemrdquo (Sim-Sim Duarte

Duarte Barbeito e Pereira 2010) para o preacute-escolar Eacute por isso grande a relevacircncia

desta temaacutetica e importante verificar o impacto de um programa de promoccedilatildeo neste

acircmbito

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366

I- Revisatildeo da Literatura

11 - Consciecircncia fonoloacutegica conceitos gerais

Como sabemos as crianccedilas quando aprendem a falar natildeo tecircm consciecircncia de que as

palavras satildeo formadas por sucessotildees de sons uma vez que apenas focalizam a sua

atenccedilatildeo e o seu interesse na significaccedilatildeo do que estatildeo a ouvir e do que pronunciam

As crianccedilas tecircm que se consciencializar de que as palavras ditas oralmente satildeo

constituiacutedas por uma sequecircncia de fonemas correspondente ao que eacute representado

pelo coacutedigo alfabeacutetico atraveacutes da escrita Eacute esta consciecircncia da estrutura fonoloacutegica da

liacutengua que se designa por consciecircncia fonoloacutegica

Silva (1992) enfatiza que para alguns investigadores a noccedilatildeo de consciecircncia fonoloacutegica

significa o acesso ao niacutevel foneacutetico e agrave capacidade para manipular cognitivamente as

representaccedilotildees situadas a este niacutevel para outros significa a competecircncia geral de

sensibilidade aos sons do discurso oral

Para Morais (1997) eacute a consciecircncia de que as palavras satildeo constituiacutedas por diversos

sons ou grupos de sons e que elas podem ser fragmentadas em partiacuteculas menores

Importa ainda frisar que de acordo com Wood e Terrel (1998) muitos autores

confundem a Consciecircncia Fonoloacutegica com a Consciecircncia Foneacutetica sendo esta uacuteltima o

conhecimento da estrutura foneacutemica das palavras ou seja conseguir decompor uma

palavra em unidades mais pequenas - os fonemas

De acordo com Alves Freitas e Costa (2007) a Consciecircncia Fonoloacutegica ramifica-se em

trecircs tipos

(i) ldquo ao isolar siacutelabas a crianccedila revela consciecircncia silaacutebica (ex pra - tos)

(ii) ao isolar unidades dentro da siacutelaba a crianccedila revela consciecircncia

intrassilaacutebica (ex pra] [tos)

(iii) ao isolar sons da fala a crianccedila revela consciecircncia foneacutemica (ex pratos)

rdquo (p4)

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367

12 - Desenvolvimento Fonoloacutegico

Sabe-se que o desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica se inicia muito cedo e se vai

expandindo progressivamente ao longo da infacircncia Para Lane e Pullen (2004) haacute que

considerar o desenvolvimento cognitivo as experiecircncias linguiacutesticas da crianccedila e a

exposiccedilatildeo formal ao sistema alfabeacutetico Estes mesmos autores referem que o

desenvolvimento desta competecircncia metalinguiacutestica nem sempre ocorre da mesma

forma dado que o niacutevel de maior complexidade da consciecircncia fonoloacutegica e a uacuteltima

capacidade a surgir eacute a consciecircncia foneacutemica

Juacutenior Freitas Souza Maranhe e Bandini (2006) referem que a consciecircncia fonoloacutegica

eacute uma habilidade que permite aos indiviacuteduos formar novas palavras atraveacutes da

recombinaccedilatildeo de sons de palavras diferentes O acreacutescimo ou remoccedilatildeo de sons de

uma palavra permite agrave crianccedila encontrar palavras embutidas noutras e realizar

diferentes tipos de jogos com a sonoridade das palavras Estes autores referem que a

evoluccedilatildeo desta habilidade eacute gradual isto eacute tem iniacutecio na discriminaccedilatildeo de expressotildees

palavras ou siacutelabas dentro de unidades mais amplas de fala progride para a

discriminaccedilatildeo de rimas aliteraccedilotildees e siacutelabas e soacute depois eacute que se chega agrave consciecircncia

dos fonemas como unidades independentes na fala

Eacute importante frisar que na literatura surgem diferentes etapas do desenvolvimento da

consciecircncia fonoloacutegica assim como diferentes habilidades metafonoloacutegicas sendo que

umas satildeo adquiridas mais precocemente do que outras deixando transparecer uma

loacutegica de complexidade crescente

2 - A importacircncia da promoccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica

A consciecircncia fonoloacutegica eacute fundamental para compreender o princiacutepio alfabeacutetico Por

isso antes da sua compreensatildeo as crianccedilas devem entender que os sons associados agraves

letras satildeo os mesmos sons da fala e eacute atraveacutes do treino desta habilidade que as

crianccedilas ganham esta sensibilidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Correia (2010) afirma que o mais importante eacute que ldquoo treino da consciecircncia fonoloacutegica

seja gradual e para isso torna-se necessaacuterio apresentar diversas etapas de acordo com

uma ordem em que se vaacute aumentando o grau de complexidaderdquo (p120)

Corroborando esta ideia Freitas Alves e Costa (2007) referem que devemos comeccedilar

pelo treino da consciecircncia silaacutebica uma vez que todas as crianccedilas a possuem

naturalmente agrave entrada na escola A consciecircncia intrassilaacutebica e a consciecircncia

foneacutemica devem ser estimuladas em contexto letivo antes e durante o processo de

iniciaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacutetico

Sim-Sim (1998) considera que desde tenra idade sensivelmente por volta dos 2 ou 3

anos se a crianccedila for estimulada eacute capaz de realizar atividades de manipulaccedilatildeo

silaacutebica Muito antes do ingresso no 1ordm ciclo do ensino baacutesico as crianccedilas jaacute brincam

com as palavras e satildeo capazes de produzir rimas habilidades essas que exigem

sensibilidade agraves componentes sonoras da liacutengua Por isso eacute fundamental desenvolver

estimular e treinar a consciecircncia fonoloacutegica em idade preacute-escolar atraveacutes de

atividades de discriminaccedilatildeo auditiva rimas infantis e contos rimados uma vez que

favorecem o vocabulaacuterio e a memoacuteria auditiva Freitas Alves e Costa (2007)

consideram que eacute atraveacutes destes jogos que as crianccedilas comeccedilam a refletir sobre a

estrutura da linguagem oral e a analisar a liacutengua nos seus constituintes sonoros

Para Viana (2006) o treino da consciecircncia fonoloacutegica eacute importante para a

aprendizagem da leitura e da escrita pelo que a implementaccedilatildeo de estrateacutegias

promotoras desta capacidade eacute indispensaacutevel quer no 1ordm ciclo do ensino baacutesico quer

no preacute-escolar O treino sistemaacutetico no ensino preacute-escolar eacute crucial pois evita o

insucesso escolar na liacutengua portuguesa como nos referem Freitas Alves e Costa

(2007) Segundo estas autoras a realizaccedilatildeo de atividades promotoras de escuta de

atenccedilatildeo auditiva perceccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de sons satildeo exemplos de atividades

promotoras do treino da consciecircncia fonoloacutegica Acrescentam ainda que eacute importante

que o educador inclua nas suas praacuteticas e rotinas diaacuterias atividades luacutedicas onde treine

esta habilidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

369

O treino desta competecircncia pode ser realizado de forma luacutedica e deve ser apropriado agrave

faixa etaacuteria em que a crianccedila se encontra Deve iniciar-se por um niacutevel mais faacutecil por

exemplo atraveacutes da exploraccedilatildeo de rimas e da segmentaccedilatildeo de palavras Os poemas

os trava-liacutenguas as muacutesicas as adivinhas as lengalengas os ditados populares as

histoacuterias os jogos de escuta e de linguagem satildeo igualmente exemplos de atividades

facilitadoras do desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica no preacute-escolar

3 - Intervenccedilotildees com crianccedilas com problemas da linguagem e da fala

Magnusson (1999) realizou um estudo com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees

entre crianccedilas com e sem desvios fonoloacutegicos Os resultados obtidos comprovaram

que as crianccedilas que possuiam um desvio fonoloacutegico tinham um niacutevel de consciecircncia

metalinguiacutestica inferior ao das crianccedilas sem esse problema Esta autora concluiu que

algumas crianccedilas natildeo desenvolvem o processamento cognitivo necessaacuterio para refletir

analisar julgar ou manipular a liacutengua ou seja natildeo tecircm acesso ao conhecimento

linguiacutestico Refere tambeacutem que as crianccedilas com deacutefice fonoloacutegico por possuiacuterem uma

representaccedilatildeo fonoloacutegica diferente fornecem respostas incorretas agraves tarefas

metalinguiacutesticas

Juacutenior et al (2006) realizaram um estudo com 4 crianccedilas que possuiacuteam dificuldades na

aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita e um baixo niacutevel de consciecircncia fonoloacutegica Os

participantes foram submetidos a um programa de ensino para o desenvolvimento de

habilidades de consciecircncia fonoloacutegica com tarefas de identificaccedilatildeo de rima e

aliteraccedilatildeo e anaacutelise e siacutentese silaacutebica e foneacutemica enquanto continuavam sendo

expostos a um programa individualizado para ensino de leitura no qual natildeo haviam

obtido sucesso previamente

Estes investigadores evidenciaram que apesar destas crianccedilas apresentarem um fraco

desempenho no preacute-teste nas provas de consciecircncia fonoloacutegica obtiveram sucesso

com o programa de desenvolvimento tal como as elevadas pontuaccedilotildees no poacutes-teste

mostraram Como consequecircncia desse programa verificaram-se ainda melhorias na

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

370

leitura e na escrita Isso mostra que o treino da consciecircncia fonoloacutegica contribui para a

aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita ateacute mesmo com crianccedilas com dificuldades nessa aacuterea

O estudo efetuado por Mota e Silva (2007) clarifica a importacircncia do treino fonoloacutegico

nas crianccedilas com desvio fonoloacutegico Estes autores realizaram uma investigaccedilatildeo no

Brasil que tinha como objetivo verificar a relaccedilatildeo entre as habilidades de consciecircncia

fonoloacutegica e a escrita sob ditado Para avaliar a consciecircncia fonoloacutegica foi aplicado o

Instrumento de Avaliaccedilatildeo Sequencial ndash CONFIAS Os resultados apontavam para a

eficaacutecia da intervenccedilatildeo na produccedilatildeo da fala e no desenvolvimento da leitura Os

autores concluiacuteram que eacute importante estimular a consciecircncia fonoloacutegica durante a

idade preacute-escolar principalmente em crianccedilas com desvio fonoloacutegico dado o risco de

emergecircncia de futuras dificuldades no desenvolvimento da linguagem

Segundo Freitas (2004) as crianccedilas com necessidades educativas especiais

nomeadamente com problemas da linguagem e da fala necessitam de mais tempo e

de estrateacutegias variadas para desenvolver a codificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo Por isso eacute

importante proporcionar-lhes estiacutemulos que as ajudem a desenvolver a consciecircncia

linguiacutestica

II- Metodologia

21 - Objetivo e hipoacuteteses do Estudo

Na sequecircncia da revisatildeo da literatura e relembrando o objetivo de avaliar o impacto de

um programa de intervenccedilatildeo no desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica em

crianccedilas preacute-escolares com e sem problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico) foram

definidas as seguintes hipoacuteteses

Hipoacutetese 1 - Haacute um efeito significativo da estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica no

desenvolvimento dessa competecircncia em crianccedilas com ou sem problemas de

Linguagem

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371

Espera-se poder verificar que as crianccedilas a quem for feita a intervenccedilatildeo progrediratildeo

substancialmente mais nas variaacuteveis medidas pelas Provas de Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica

(Jimeacutenez e Ortiz 1995) nomeadamente em Segmentaccedilatildeo Leacutexica Consciecircncia

Intrassilaacutebica Omissatildeo de Siacutelabas com ou sem indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo Identificaccedilatildeo da

Siacutelaba Inicial e Final Contagem de Siacutelabas e Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

Hipoacutetese 2 - O efeito da estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica eacute especiacutefico

Na sequecircncia das recomendaccedilotildees de Nunes Bryant e Olsson (2003) foi introduzida

uma medida numa aacuterea natildeo trabalhada na intervenccedilatildeo para verificar se eventuais

ganhos em consciecircncia fonoloacutegica poderiam considerar-se especiacuteficos e relativos a

essa intervenccedilatildeo por natildeo se generalizarem a aacutereas natildeo trabalhadas Se essa

generalizaccedilatildeo acontecesse entatildeo os resultados poderiam estar apenas dependentes

da maior atenccedilatildeo recebida pelos grupos experimentais por parte do investigador

22 - Participantes

Os participantes foram 62 crianccedilas de idade preacute-escolar habitando na Regiatildeo

Autoacutenoma da Madeira Destas 50 natildeo tinham problemas de linguagem e foram

distribuiacutedas em dois grupos equivalentes (Experimental 1 - GE1) e de Controlo - GC)

em funccedilatildeo dos valores obtidos em consciecircncia fonoloacutegica total no preacute-teste

As restantes (N=12) tinham sido diagnosticadas como apresentando um desvio

fonoloacutegico e formaram um segundo grupo Experimental (GE2) Este grupo foi

constituiacutedo a partir de uma amostra de conveniecircncia identificada pelos serviccedilos

regionais de educaccedilatildeo

A meacutedia de idades das crianccedilas era de 6616 meses (dp = 364) com idades variando

entre os 62 e os 73 meses

A equivalecircncia das meacutedias em consciecircncia fonoloacutegica total do GE1 e GC foi garantida agrave

partida pelo meacutetodo de alocaccedilatildeo usado Contrariamente agraves expectativas tambeacutem o

GE2 revelou uma meacutedia semelhante aos outros dois grupos

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Como forma de confirmar que os grupos eram equivalentes no Preacute-teste foi realizada

uma Two-Way ANOVA em que a variaacutevel dependente era o score de consciecircncia

fonoloacutegica total e os f atores o grupo (3 grupos) e a idade

Os resultados mostraram que os grupos natildeo eram significativamente diferentes quer

em funccedilatildeo do grupo (F (261) = 042 p = 959) quer em funccedilatildeo da idade (F (261) = 1041 p

= 360) Este resultado garante que eventuais diferenccedilas a encontrar no poacutes-teste natildeo

podem ser devidas a diferenccedilas de partida nestas variaacuteveis

23 - Design do Estudo

Neste estudo de intervenccedilatildeo todas as crianccedilas foram avaliadas nos preacute- e poacutes-testes

em Consciecircncia Fonoloacutegica (PSL) e em Aritmeacutetica (WISC ndash III)

Os dois grupos experimentais foram sujeitos a um mesmo programa de intervenccedilatildeo

com 8 sessotildees com a duraccedilatildeo aproximada de 30 minutos cada O grupo de controlo

natildeo realizou qualquer intervenccedilatildeo

Definiram-se as seguintes variaacuteveis

1) Variaacuteveis dependentes A Consciecircncia Fonoloacutegica das crianccedilas medida atraveacutes da

Prova Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica (PSL) com as seguintes sub-variaacuteveis

Segmentaccedilatildeo Leacutexica Consciecircncia Intrassilaacutebica Omissatildeo de Siacutelabas com e sem

indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo Identificaccedilatildeo da Siacutelaba Inicial e Final Contagem de Siacutelabas e

Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

2) Variaacutevel independente o Grupo

3) Variaacutevel de controlo da especificidade da intervenccedilatildeo Sub-teste de Aritmeacutetica

(WISC ndash III)

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373

III-Resultados

31Siacutentese de Resultados

Por razotildees de espaccedilo e dado o grande nuacutemero de variaacuteveis examinado apresenta-se

aqui apenas uma siacutentese de resultados61

Quanto agrave Hipoacutetese 1 de que haveria um efeito significativo da estimulaccedilatildeo da

Consciecircncia Fonoloacutegica no desenvolvimento dessa competecircncia em crianccedilas com ou

sem problemas de Linguagem e considerando a diferenccedilas de ganhos entre o preacute-

teste e o poacutes-teste verificou-se que

a) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo nas variaacuteveis Consciecircncia

Fonoloacutegica Total e Omissatildeo de Siacutelabas com indicaccedilatildeo da posiccedilatildeo (GE1gt GE2gt

GC) isto eacute o Grupo Experimental 1 obteve ganhos significativamente maiores

que o Grupo Experimental 2 mas ambos os grupos obtiveram ganhos

significativamente superiores ao Grupo de Controlo

b) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Omissatildeo de Siacutelabas sem

indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo (GE1 = GE2 gt GC) isto eacute os dois grupos experimentais

obtiveram ganhos semelhantes e significativamente superiores ao grupo de

controlo

c) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Segmentaccedilatildeo Leacutexica (GE1 gt

GE2 = GC) isto eacute o grupo experimental 1 obteacutem ganhos significativamente

superiores aos outros dois grupos natildeo se distinguindo estes dois uacuteltimos

grupos entre si

d) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Consciecircncia Intrassilaacutebica

(GE2gt GE1 gt GC) isto eacute as crianccedilas com desvio fonoloacutegico lucraram mais do

61

Para uma descriccedilatildeo detalhada consultar Fernandes T (2011) Efeitos do Treino da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas Preacute- Escolares Com e Sem Problemas de Linguagem Tese de Mestrado Escola Superior de Educaccedilatildeo Lisboa httprepositorioiplptbitstream104002113661Efeitos20do20Treino20da20ConsciC3AAncia20FonolC3B3gicapdf

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374

que o GE1 composto por crianccedilas sem problemas de linguagem e ambos os

grupos de intervenccedilatildeo se distinguiram significativamente do grupo de controlo

e) Houve um efeito significativo de intervenccedilatildeo em Identificaccedilatildeo da Siacutelaba Inicial e

Final (GE1 gt GE2 = GC) isto eacute o Grupo Experimental 1 eacute superior aos restantes

dois grupos que natildeo se distinguem entre si

f) Natildeo houve efeito significativo da intervenccedilatildeo em Contagem de Siacutelabas e

Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

Quanto agrave Hipoacutetese 2 de que avaliava se o efeito do treino da Consciecircncia Fonoloacutegica

era especiacutefico da intervenccedilatildeo verificou-se que natildeo houve diferenccedilas significativa entre

os trecircs grupos em raciociacutenio aritmeacutetico Isto eacute os ganhos alcanccedilados em muitas das

sub-competecircncias da Consciecircncia Fonoloacutegica natildeo podem ser explicados apenas pelo

facto de as crianccedilas dos grupos de intervenccedilatildeo terem recebido maior atenccedilatildeo Eles

foram devidos agrave especificidade da intervenccedilatildeo

IV- Conclusotildees e discussatildeo

Pretendeu-se em primeiro lugar investigar se havia um efeito da estimulaccedilatildeo da

consciecircncia fonoloacutegica no desenvolvimento dessas competecircncias em crianccedilas com ou

sem problemas de Linguagem

Dado que os trecircs grupos eram semelhantes em consciecircncia fonoloacutegica total no preacute-

teste pudemos controlar o efeito potencial de diferenccedilas de partida No entanto apoacutes

a intervenccedilatildeo os grupos experimentais apresentaram ganhos estatisticamente

superiores num grande nuacutemero de competecircncias fonoloacutegicas O grupo de controlo natildeo

revelou progressos por natildeo ter tido participaccedilatildeo no programa Estes resultados

confirmam os encontrados por Bandini e Rose (2006) e por Nunes et al (2009)

Tambeacutem Gillon e Dodd (1995) e Gillon (2000) encontraram uma relaccedilatildeo entre

intervenccedilatildeo precoce em consciecircncia fonoloacutegica e ganhos nestas competecircncias apoacutes

um programa de estimulaccedilatildeo

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375

No presente estudo a intervenccedilatildeo tambeacutem possibilitou agraves crianccedilas que apresentavam

problemas de linguagem uma melhoria significativa em muitas competecircncias

fonoloacutegicas Estes resultados vecircm confirmar os encontrados por Freitas (1999) que

tambeacutem verificou uma melhoria significativa em crianccedilas com desvio fonoloacutegico

Neste estudo constatou-se que em Contagem de Siacutelabas e Recomposiccedilatildeo Silaacutebica as

crianccedilas dos GE 1 e GE2 natildeo lucraram nestas tarefas Partindo das ideias de Bandini e

De Rose (2005) na liacutengua portuguesa as siacutelabas satildeo unidades mais acessiacuteveis pela fala

isolaacuteveis do ponto de vista acuacutestico salientes e menos abstratas pois baseiam-se

diretamente na articulaccedilatildeo justificando-se assim a facilidade encontrada Isso sugere

que as crianccedilas jaacute tinham este treino bem adquirido aos 5 anos Por essa razatildeo essas

tarefas foram excessivamente simples tal como se verificou no estudo efetuado por

Sim-Sim (1997)

As tarefas de Consciecircncia Intrassilaacutebica parecem situar-se num niacutevel intermeacutedio de

dificuldade entre a siacutelaba e o fonema de acordo com Valente e Martins (2004) No

entanto e atendendo ao seu grau de complexidade e agraves diferentes propriedades

acuacutesticas das palavras as crianccedilas com problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico)

lucraram mais significativamente do que o GE1 nesta tarefa Especula-se que esses

progressos satildeo fruto do apoio terapecircutico semanal a niacutevel da fala e pelo facto dos

docentes especializados treinarem este tipo de tarefas linguiacutesticas

Na tarefa de Omissatildeo de Siacutelabas com indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo as crianccedilas com desvio

fonoloacutegico obtiveram resultados inferiores aos do grupo experimental 1 embora

significativamente superiores aos do grupo de controlo Pensamos que isso se deve ao

facto de se tratar de uma tarefa mais complexa e portanto passiacutevel de ser bem

conseguida apenas por crianccedilas mais desenvolvidas (Snowling 2004) Apesar de as

crianccedilas do grupo experimental 2 apresentarem problemas de linguagem

conseguiram lucrar de forma muito significativa em muitas variaacuteveis Isto leva-nos a

refletir sobre a importacircncia da utilizaccedilatildeo do programa de estimulaccedilatildeo da consciecircncia

fonoloacutegica e da intervenccedilatildeo dos docentes especializados no sentido de estimularem e

propiciarem muacuteltiplas experiecircncias linguiacutesticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

376

No que se refere agrave Segmentaccedilatildeo Leacutexica trata-se de uma competecircncia que na opiniatildeo

de Barrera e Maluf (2003) soacute eacute adquirida de forma sistemaacutetica por volta dos 7 anos

Neste estudo constatou-se que os meninos com problemas de linguagem natildeo

lucraram em Segmentaccedilatildeo Leacutexica mais do que o grupo de controlo o que vai de

encontro ao que eacute apresentado na literatura (Meneses Lozi Souza e Assecircncio-Ferreira

2004) No entanto as crianccedilas sem problemas de linguagem lucraram

significativamente com a intervenccedilatildeo

Comparando os resultados da presente investigaccedilatildeo com os resultados observados por

Olofsson e Lundberg (1985) e por Silva (2003) podemos igualmente concluir que

programas de estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica podem ser eficazmente

conduzidos com crianccedilas de idade preacute-escolar e potenciarem a aprendizagem da

leitura e da escrita tal como eacute comprovado em numerosos estudos (Capovilla e

Capovilla 1998 Jenkins e Bowen 1994 Lundberg Frost e Petersen 1988 Warrick

Rubin e Rowe-Walsh 1993 citados por Capovilla e Capovilla 2000)

Para analisar a especificidade da intervenccedilatildeo usou-se um meacutetodo proposto por Nunes

Bryant e Olsson (2003) As crianccedilas dos grupos de intervenccedilatildeo progrediram em

consciecircncia fonoloacutegica mas continuaram equivalentes em raciociacutenio aritmeacutetico De

acordo com os autores acima citados se ocorressem efeitos genuiacutenos na intervenccedilatildeo

esses seriam especificamente encontrados na consciecircncia fonoloacutegica e natildeo em

aritmeacutetica Ao encontrar-se o mesmo niacutevel aritmeacutetico nos trecircs grupos entatildeo pode

sugerir-se que a intervenccedilatildeo foi responsaacutevel pelas melhorias encontradas

41 - Limitaccedilotildees do Estudo e Futuras Linhas de Investigaccedilatildeo

No decorrer desta investigaccedilatildeo levantaram-se questotildees que conduziram a uma

reflexatildeo sobre algumas limitaccedilotildees e como poderiam ser aperfeiccediloadas Eacute possiacutevel

sintetizaacute-las da seguinte forma

1 Apesar do programa de estimulaccedilatildeo ter sido aplicado somente a um pequeno

nuacutemero de participantes pensa-se existirem razotildees suficientes para continuar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

377

a realizar investigaccedilotildees sobre a eficaacutecia de um programa desta natureza

Justifica-se por isso alargar o nuacutemero de participantes em futuros estudos

2 Se estabelecermos uma comparaccedilatildeo entre a duraccedilatildeo da intervenccedilatildeo neste

estudo e nos estudos referenciados na revisatildeo da literatura concluiacutemos que

este programa de estimulaccedilatildeo teve uma duraccedilatildeo meacutedia Seria uacutetil verificar se as

intervenccedilotildees com menor duraccedilatildeo satildeo mais eficientes do que as intervenccedilotildees

mais longas e vice-versa

3 Natildeo foi realizado um poacutes-teste diferido por razotildees de tempo Contudo isso eacute

necessaacuterio para se confirmar a eventual permanecircncia dos efeitos da

intervenccedilatildeo

4 Em futuros estudos seria tambeacutem pertinente controlar os efeitos explicados

pelas diferenccedilas de desenvolvimento cognitivo das crianccedilas

5 Face agraves condiccedilotildees da experimentaccedilatildeo e aos resultados verificados sugere-se

que este estudo constitua o ponto de partida para outras investigaccedilotildees que

incluam um maior nuacutemero de escolas

6 A aplicaccedilatildeo de um programa de treino de Consciecircncia Fonoloacutegica para alunos

com necessidades educativas especiais com outros diagnoacutesticos seria outra

aacuterea de investigaccedilatildeo a explorar

7 Deve-se tambeacutem repensar a importacircncia destas questotildees na formaccedilatildeo inicial e

contiacutenua dos educadores de infacircncia Os educadores jaacute em exerciacutecio deveriam

frequentar accedilotildees de formaccedilatildeo que lhes permitissem conhecer as vantagens do

desenvolvimento desta competecircncia antes das crianccedilas ingressarem no Ensino

Baacutesico

43Implicaccedilotildees para a Praacutetica Pedagoacutegica

Com este estudo podem tambeacutem apontar-se algumas sugestotildees ou implicaccedilotildees para a

praacutetica pedagoacutegica

1 Para ajudar as crianccedilas a progredir em Consciecircncia Fonoloacutegica natildeo basta

realizar jogos de batimentos de siacutelabas Tal como alguns estudos sugerem

(Carlisle 1988) eacute necessaacuterio um trabalho intencional e explicitador por parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

378

dos profissionais de educaccedilatildeo de infacircncia As Orientaccedilotildees Curriculares para a

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar (1997) sensibilizam os educadores de infacircncia para a

realizaccedilatildeo de atividades de reflexatildeo sobre os segmentos sonoros das palavras

uma vez que ldquoas rimas as lengalengas os trava-liacutenguas e as adivinhas satildeo

aspetos da tradiccedilatildeo cultural portuguesa que podem ser trabalhados na

educaccedilatildeo preacute-escolar e (hellip) podem ainda ser meios de competecircncia

metalinguiacutestica isto eacute de compreensatildeo do funcionamento da liacutenguardquo (p 67)

Eacute crucial que os educadores de infacircncia realizem tarefas promotoras de

consciecircncia fonoloacutegica facultando agrave crianccedila maior habilidade metalinguiacutestica

preparando assim as aprendizagens subsequentes

2 As crianccedilas aprendem e progridem em consciecircncia fonoloacutegica atraveacutes de

atividades especiacuteficas e que satildeo objeto de preparaccedilatildeo por parte do

educadorprofessor Estas envolvem discussatildeo reflexatildeo e interaccedilatildeo entre as

crianccedilas e o educadorprofessor

3 Tendo em vista a promoccedilatildeo da continuidade entre ciclos de ensino Sim-Sim

Duarte Duarte Barbeiro e Pereira (2010) num grupo de trabalho da DGIDC

lanccedilaram as ldquoMetas de Aprendizagemrdquo intermediaacuterias e finais relativas agraves

diferentes aacutereas do preacute-escolar e dos trecircs ciclos do ensino baacutesico O objetivo

destas metas eacute promover a qualidade do ensino e da aprendizagem e para tal

pretende-se que os docentes analisem as metas dos ciclos posteriores e

precedentes para poderem trabalhar numa linha de continuidade das

aprendizagens Para o preacute-escolar por natildeo ser de caraacuteter obrigatoacuterio nem

abranger todas as crianccedilas desde os trecircs anos de idade lanccedilaram-se apenas

metas finais e natildeo metas intermediaacuterias como nos trecircs ciclos do ensino baacutesico

O Decreto - Lei nordm51997 do Diaacuterio da Repuacuteblica define que ldquoa educaccedilatildeo preacute-

escolar eacute a primeira etapa da educaccedilatildeo baacutesica no processo de educaccedilatildeo ao

longo da vidardquo (p 670) Por isso o objetivo primordial destas metas eacute facilitar a

continuidade entre a educaccedilatildeo preacute-escolar e o 1ordm ciclo do ensino baacutesico Como

tal o educador deveraacute estar consciencializado de que o desenvolvimento da

consciecircncia fonoloacutegica eacute fundamental para a aprendizagem da literacia para

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

379

todas as crianccedilas e especialmente para aquelas cujas dificuldades na linguagem

podem dificultar ainda mais essa aprendizagem

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

383

Compreensatildeo na Leitura e Resoluccedilatildeo de Problemas de

Matemaacutetica

Cacircndida Ribeiro Agrupamento de Escolas Joseacute Cardoso Pires

candi75gmailcom

Faacutetima Cruz Agrupamento de Escolas da Damaia

cruzpiresfatimagmailcom

Manuela Coelho Agrupamento de Escolas Nordm 1 de Loures

mcfcoelhogmailcom

Maria da Luz Fragoso Agrupamento de Escolas S Joatildeo da Talha

luz_mariasapopt

Resumo A formaccedilatildeo contiacutenua enquanto processo de construccedilatildeo e desenvolvimento profissional assente em praacuteticas de investigaccedilatildeo envolvendo reflexatildeo experimentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de boas praacuteticas poderaacute ser essencial para dar resposta aos desafios decorrentes da acentuada ldquomudanccedila na natureza e exigecircncia do serviccedilo prestado pelo profissional de ensino e pela instituiccedilatildeo educativardquo (Roldatildeo 1999 p 99) Assim apresenta-se um percurso de investigaccedilatildeo de caraacuteter exploratoacuterio no acircmbito da compreensatildeo das dificuldades dos alunos na resoluccedilatildeo de problemas matemaacuteticos a partir da liacutengua portuguesa realizado por quatro formandas da accedilatildeo de formaccedilatildeo contiacutenua no domiacutenio do Portuguecircs ldquoDesenvolver competecircncias em Liacutengua Portuguesardquo promovida pela Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa no ano letivo 20122013 Dizer que os alunos natildeo conseguem resolver os problemas porque natildeo sabem liacutengua portuguesa eacute tatildeo dramaacutetico quanto redutor Haacute uma relaccedilatildeo de impregnaccedilatildeo muacutetua entre a matemaacutetica e a liacutengua materna pois a liacutengua materna constitui-se um instrumento de intermediaccedilatildeo na construccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos Nesse sentido desenvolveu-se um trabalho investigativo com a finalidade de avaliar em que medida a liacutengua portuguesa coloca obstaacuteculos na compreensatildeo dos problemas matemaacuteticos Estiveram envolvidos 48 alunos de quatro turmas do 2ordm ao 5ordm ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 7 e os 14 anos de idade Para desenvolver o estudo optou-se por um ldquocorpusrdquo constituiacutedo por enunciados de problemas de caacutelculo de dois passos com predominacircncia de estruturas passivas A resoluccedilatildeo dos problemas foi realizada em diacuteades cujos alunos apresentavam diferentes niacuteveis de desenvolvimento cognitivo

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Os instrumentos de recolha de dados consubstanciaram-se em protocolos e na observaccedilatildeo participante com registos sobre as interaccedilotildees aluno-aluno e professor-aluno e a mediaccedilatildeo estabelecida entre todos A recolha de dados fez-se a dois niacuteveis um mais direcionado para as questotildees da compreensatildeo leitora linguiacutesticas e outro no domiacutenio dos conceitos matemaacuteticos As dificuldades apresentadas pelos alunos natildeo incidiram propriamente nos enunciados com estruturas passivas mas sim no enunciado com estrutura ativa onde questotildees de natureza semacircntica e do conhecimento do mundo impediram a resoluccedilatildeo correta dos problemas Foi ainda possiacutevel identificar dificuldades relacionadas com o tipo de problemas apresentado dando origem a reflexotildees de caraacuteter cientiacutefico-pedagoacutegico

Palavras-chave Praacuteticas de ensino transversalidade da Liacutengua Portuguesa resoluccedilatildeo de problemas de matemaacutetica desenvolvimento profissional Abstract Professional development and learning as a process of construction and development based on research practices involving reflection experimentation and evaluation of good practices may be essential to meet the challenges arising from the sharp change in the nature and the demands of the service provided by professional teaching staff and by the educational institution62 (Roldatildeo 1999 p 99 )Thus we present an exploratory research which regards the understanding (OR analysis) of studentsrsquo difficulties in solving mathematical problems arising from difficulties in the comprehension of the Portuguese language The research was led by four participants of the professional training session Developing skills in Portuguese Language promoted by the institution ldquoEscola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboardquo (Higher School of Education Lisbon) in the academic year of 20122013 Affirming that students cannot solve mathematical problems because they do not know Portuguese is as dramatic as reductionist There is a relationship of mutual impregnation between mathematics and language because language is an instrument of mediation in the construction of mathematical concepts Accordingly the research work was developed in order to assess to what extent the Portuguese language might set obstacles in understanding mathematical problems48 students of four classes from 2nd to 5th grade between the ages of 7 and 14 were involved in the research study A corpus consisting of two step math word problems with predominantly passive structures was chosen to develop the study On behalf of the children the resolution of the problems was done in pairs built up by two students with different levels of cognitive development The instruments for data collection used were protocols participant observation records of the student-student and student-teacher interactions and mediation established among all Data collection was done at two levels at one level more focused on the issues of reading comprehension and at the other on what regards understanding mathematical concepts The difficulties shown by the students did not exactly focus on word problems withholding passive structures but on the ones using an active structure in which issues related to semantics and ldquoknowledge of the world aroundrdquo

62

nossa traduccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

385

prevented the correct resolution of the problems It was also possible to identify other difficulties related to the type of word problems presented to students which gave rise to other reflections of scientific-pedagogical nature Keywords Teaching practices transversality of the Portuguese language solving math problems professional development

Introduccedilatildeo

A aprendizagem em qualquer aacuterea depende do desenvolvimento de competecircncias ao

niacutevel da compreensatildeo e expressatildeo quer no modo oral quer no modo escrito No que

diz respeito agrave resoluccedilatildeo de problemas e porque este eacute um domiacutenio em que os alunos

continuam a revelar fragilidades como se comprova pelos resultados de estudos

internacionais designadamente PISA (2003) e TIMSS (1996) bem como nos testes

intermeacutedios do 2ordm ano e nas provas de afericcedilatildeo do 4ordm ano importa saber em que

medida a transversalidade curricular da Liacutengua Portuguesa se assume fundamental na

aquisiccedilatildeo de saberes estruturantes do pensamento Sendo assim uma intervenccedilatildeo

didaticamente mais consistente na matemaacutetica poderaacute ser uma condiccedilatildeo necessaacuteria

mas natildeo suficiente

Dizer que os alunos natildeo conseguem resolver os problemas porque natildeo sabem liacutengua

portuguesa eacute tatildeo dramaacutetico quanto redutor Haacute uma relaccedilatildeo de impregnaccedilatildeo muacutetua

entre a matemaacutetica e a liacutengua materna pois a liacutengua materna constitui-se um

instrumento de intermediaccedilatildeo na construccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos

Colocar a ecircnfase a montante justifica-se pelas evidecircncias das praacuteticas em sala de aula

que nos proporcionam este cenaacuterio recorrente os alunos perante um enunciado

perguntam se eacute de dividir ou de somar e os professores (con)vencidos dizem que os

alunos natildeo resolvem porque natildeo sabem o que o problema pede

A anaacutelise das implicaccedilotildees da liacutengua materna na resoluccedilatildeo de problemas tem merecido

a atenccedilatildeo de vaacuterios autores (Barnett Sowder e Vos 1997) Poggioli (2001) identificou

variaacuteveis verbais que interferem na resoluccedilatildeo de problemas matemaacuteticos as de

natureza sintaacutetica e as de natureza semacircntica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

386

Face a este vasto campo de possibilidades de estudo optaacutemos por nos debruccedilar sobre

as variaacuteveis de natureza sintaacutetica mais concretamente enunciados de problemas com

a predominacircncia de estruturas passivas O corpus documental constituiu-se a partir de

enunciados que se podem encontrar em qualquer manual escolar

As dificuldades apresentadas pelos alunos natildeo incidiram nos enunciados com

estruturas passivas mas sim no enunciado com estrutura ativa onde questotildees de

natureza semacircntica e do conhecimento do mundo impediram a resoluccedilatildeo correta dos

problemas Foi ainda possiacutevel identificar dificuldades relacionadas com o tipo de

problemas apresentado dando origem a reflexotildees de caraacuteter cientiacutefico-pedagoacutegico

Enquadramento do estudo

A Centralidade da Liacutengua Portuguesa nas Aprendizagens

A linguagem desempenha na aprendizagem a funccedilatildeo de mediadora das relaccedilotildees entre

o sujeito e o objeto a conhecer seja na escola ou em qualquer outro contexto Se a

relaccedilatildeo entre o conhecer e a linguagem eacute assim tatildeo estreita torna-se relevante a tese

de Vygostky defendida por Azevedo e Rowell (2007 p15) de que ldquoa linguagem daacute

forma ao pensamento estruturando-o Eacute por meio da linguagem que o sujeito

interpreta constroacutei reconstroacutei ressignifica redimensiona e socializa o conhecimentordquo

Esta dimensatildeo do fenoacutemeno social da interaccedilatildeo verbal configura-se como a verdadeira

substacircncia da liacutengua que natildeo se aprende nos dicionaacuterios ou nas gramaacuteticas mas sim

atraveacutes dos enunciados concretos que ouvimos e adquirimos em situaccedilotildees reais

Neste contexto a disciplina do portuguecircs liacutengua materna para a maioria dos nossos

alunos ou liacutengua de escola para os demais assume a dupla funccedilatildeo de lhes fornecer os

mecanismos linguiacutestico-discursivos necessaacuterios agrave leitura e escrita dos mais variados

geacuteneros textuais e de os instrumentalizar linguisticamente para que possam interagir

nas diferentes disciplinas curriculares

A centralidade da liacutengua portuguesa eacute inquestionaacutevel As dificuldades dos alunos nem

sempre estatildeo situadas no acircmbito dos algoritmos das foacutermulas ou dos conceitos da

matemaacutetica quiacutemica fiacutesica geografia biologia ldquomas nas construccedilotildees linguiacutesticas dos

enunciados dos problemas Satildeo dificuldades de niacutevel lexical sintaacutetico semacircntico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

387

textual eou discursivo que impedem os alunos de resolver adequadamente os

problemas por natildeo poderem recuperar a sua unidade de sentidordquo (Azevedo e Rowell

2007 pp 18-19)

Partindo do pressuposto de que o fraco domiacutenio da liacutengua materna escrita pode

constituir mais um obstaacuteculo a vencer na resoluccedilatildeo de um problema importa analisar

as situaccedilotildees problemaacuteticas que o professor fornece aos seus alunos para em concreto

saber o que especificamente em cada niacutevel acima referido contribui para o fracasso

das aprendizagens

A Complexidade Sintaacutetica das Construccedilotildees Passivas

A investigaccedilatildeo no acircmbito da apropriaccedilatildeo e desenvolvimento da linguagem procura

determinar a natureza das dificuldades do processo de compreensatildeo e produccedilatildeo de

determinadas estruturas sintaacuteticas Haacute uma correlaccedilatildeo entre as construccedilotildees que

apresentam um maior grau de complexidade sintaacutetica e o baixo niacutevel de compreensatildeo

Satildeo as construccedilotildees passivas as que causam maior dificuldade agrave interpretaccedilatildeo dos

enunciados dos problemas de matemaacutetica (Correia 2004)

Para as crianccedilas as estruturas passivas satildeo mais difiacuteceis do que as ativas e os verbos

natildeo agentivos satildeo mais exigentes do que os agentivos

ldquoO motorista derrubou o murordquo ndash sujeito agentivo

ldquoO vento derrubou o murordquo - sujeito causativo

ldquoO trator derrubou o murordquo - sujeito instrumental

Na perspetiva da gramaacutetica generativa a passiva eacute encarada como o reverso da

ativa ou seja constitui um processo de transformaccedilatildeo por excelecircncia classificando-se

como uma forma alternativa de parafrasear estruturas ativas No entanto a

reversibilidade natildeo se pode aplicar a todo o universo como por exemplo i) ldquoAs

crianccedilas gostaram dos palhaccedilosrdquo ii)ldquoOs palhaccedilos foram gostados pelas crianccedilas

No portuguecircs europeu temos passivas perifraacutesticas verbais (1) e as passivas de cliacutetico

(2) a tiacutetulo de exemplo (1)ldquoForam repartidas 100 bolachas pelos vinte alunos da

turmardquo (2)ldquoDistribuiacuteram-se 100 folhetos pelos pais das crianccedilas do jardim de infacircnciardquo

Correia (2004) refere que haacute trecircs diferenccedilas baacutesicas nestes dois enunciados

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

388

a) O tipo de sujeito que em (2) eacute indeterminado em (1) eacute interpretado como

toacutepico Em ambos os exemplos os alunos perguntam ldquoQuem reparte as

bolachasrdquo (1) e ldquoQuem daacute os folhetosrdquo (2)

b) A expressatildeo do agente que dificilmente ocorre nas passivas de cliacutetico mas

ocorre com alguma frequecircncia nas passivas perifraacutesticas ldquoEstatildeo a ser enviadas

pelos ambientalistas cartas a todos os jornaisrdquo

c) A intencionalidade eacute mais presente nas construccedilotildees perifraacutesticas a que natildeo eacute

alheia a presenccedila de um sujeito impliacutecito supondo-se a presenccedila de um agente

concreto que opera sobre um objeto externo por exemplo ldquoforam vendidas 80

caixas de laacutepisrdquo enquanto nas construccedilotildees de cliacutetico enuncia-se o facto

ldquovenderam-se a quarta parte dos jornais escolaresrdquo

A identificaccedilatildeo de processos e estruturas de aquisiccedilatildeo tardia dentro dos quais

se situam as construccedilotildees passivas eacute imprescindiacutevel para que os professores faccedilam a

melhor escolha dos materiais didaacuteticos quer pelo contributo que possam vir a ter na

estabilizaccedilatildeo do desenvolvimento da linguagem quer pelo seu caraacuteter mediador nas

aprendizagens especiacuteficas das outras disciplinas

Seguidamente apresentar-se-aacute o percurso metodoloacutegico desenvolvido e os resultados

obtidos

Metodologia e Resultados

Partimos da questatildeo ldquoEm que medida a liacutengua portuguesa coloca obstaacuteculos na

compreensatildeo dos problemas matemaacuteticosrdquo Retomou-se um estudo efetuado por

Correia (2004) que analisou a natureza das dificuldades no processo de compreensatildeo

das estruturas passivas em diversas fases do desenvolvimento de falantes de

portuguecircs europeu A sua amostra constituiu-se por 80 sujeitos alunos do 4ordm 6ordm e 9ordm

anos com idades compreendidas entre os 9 e os 15 anos e sujeitos adultos

Estando noacutes a trabalhar com diferentes anos de escolaridade dos quatro domiacutenios

comuns ao 1ordm e 2ordm ciclos optaacutemos pelo domiacutenio dos nuacutemeros e caacutelculo na forma de

resoluccedilatildeo de problemas uma vez que os resultados das aprendizagens dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

389

relativamente agrave disciplina de matemaacutetica apontam este domiacutenio como um dos que

regista mais insucesso

Dentro da tipologia de problemas escolhemos problemas de caacutelculo de dois passos

porque satildeo frequentes nas fichas de trabalho e nos manuais escolares e permitem que

os alunos mobilizem conceitos e destrezas previamente apreendidos

A recolha de dados fez-se atraveacutes de um teste composto de trecircs problemas

1ordm problema ndash enunciado com estruturas ativas Um Mercado ofereceu agrave escola da Maria 240 peccedilas de fruta de duas qualidades A quarta-parte recebeu bananas os restantes receberam laranjas Quantos alunos receberam laranjas

2ordm problema ndash enunciado com estruturas passivas perifraacutesticas de verbais Foram oferecidos 300 livros para comemorar o dia Mundial da Poesia agrave biblioteca de uma escola Nesse dia foi requisitada a terccedila-parte dos livros para os alunos lerem em casa Quantos livros natildeo foram requisitados

3ordm problema ndash enunciado com estruturas passivas de cliacutetico Na semana da Ciecircncia fizeram-se 150 folhetos de divulgaccedilatildeo Entregou-se a quinta-parte dos folhetos aos pais do Jardim de Infacircncia Quantos folhetos se entregaram aos pais dos outros alunos

Cada protocolo entregue aos pares continha um enunciado do problema e questotildees de

resposta aberta para os alunos refletirem sobre o modo como resolveram e

expressarem as dificuldades

Cada formanda selecionou uma turma onde aplicou o teste que foi resolvido a pares

Para o tratamento de dados escolheram 12 alunos No final estiveram envolvidos 48

alunos do 2ordm ano ao 5ordm ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 7 e os

14 anos

A opccedilatildeo do trabalho em diacuteades encontra a sua justificaccedilatildeo em Vigotsky defendido por

Fino (2007 p 5) quando afirma que ldquoo desenvolvimento consiste num processo de

aprendizagem do uso das ferramentas intelectuais atraveacutes da interaccedilatildeo social com

outros mais experimentados no uso dessas ferramentasrdquo Aleacutem de estarmos a explorar

a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) tambeacutem quisemos tirar partido do papel

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

390

de mediador no processo de construccedilatildeo do conhecimento da crianccedila desempenhado

aqui pelo professor

Os instrumentos de recolha de dados consubstanciaram-se em protocolos e na

observaccedilatildeo participante onde fizemos registos sobre as interaccedilotildees aluno-aluno e

professor-aluno e a mediaccedilatildeo estabelecida entre todos A observaccedilatildeo fez-se a dois

niacuteveis um mais direcionado para as questotildees da compreensatildeo leitora linguiacutesticas e

outro no domiacutenio dos conceitos matemaacuteticos

Os protocolos recolhidos foram sujeitos a trecircs anaacutelises uma no domiacutenio do raciociacutenio

loacutegico e ou abstrato outra no domiacutenio da compreensatildeo e por fim numa leitura

cruzada entre ambos os domiacutenios

No domiacutenio da matemaacutetica contabilizaram-se as respostas das diacuteades a niacutevel do

raciociacutenio do caacutelculo e do resultado podendo-se concluir que 58 (14 diacuteades)

resolveram o 1ordm primeiro problema (Graacutefico 1 da Figura 1) o que quer dizer que 10

diacuteades falharam o segundo passo Isto aconteceu em todos os anos de escolaridade

sendo os alunos do 3ordm ano os que menos acertaram Quatro pares em cada ano

completaram a tarefa com sucesso

Figura 1 ndash Graacutefico da resoluccedilatildeo do problema 1

O insucesso situou-se no primeiro problema cujo enunciado continha estruturas

ativas No segundo e no terceiro natildeo se registaram dificuldades sendo estes os que

continham construccedilotildees passivas Inicialmente previacuteamos que aqui se situariam os

maiores obstaacuteculos agrave resoluccedilatildeo dos problemas mas tal natildeo se verificou Propomos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

391

como explicaccedilatildeo que a proacutepria dinacircmica da investigaccedilatildeo e as questotildees colocadas na

parte final do protocolo fizeram emergir outras dificuldades que constituiacuteram outras

descobertas para noacutes

Da anaacutelise feita aos vaacuterios registos recolhidos sobre a explicitaccedilatildeo do modo como os

alunos chegaram ao resultado pode-se inferir que esta tarefa facilita o processo de

generalizaccedilatildeo indo ao encontro do que vaacuterios autores dizem nomeadamente Chi et

al (1989) como estrateacutegias a que os alunos recorrem para resolver problemas (Figura

2)

Figura 2 ndash Resoluccedilatildeo do problema 2 ndash Diacuteade 1 do 2ordm ano

Do ponto de vista da matemaacutetica o exemplo acima referido reporta-se a uma correta

resoluccedilatildeo do problema 2 verificando-se que sete diacuteades natildeo completaram o 2ordm passo

Podemos ainda observar no Quadro 1 o nuacutemero de respostas certas e incompletas

sobre cada um dos problemas resolvido pelas diacuteades

Quadro 1 ndash Respostas certas e incompletas apoacutes a resoluccedilatildeo dos problemas

No domiacutenio da Liacutengua Portuguesa a anaacutelise colocou-nos interrogaccedilotildees de saber por

que razatildeo o primeiro problema teve mais resoluccedilotildees incompletas do que os outros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

392

dois contrariando assim investigaccedilotildees anteriores como se pode observar no

testemunho dos alunos (Figura 3)

Figura 3 ndash Dificuldades identificadas sobre o problema 1 ndash Diacuteade 5 do 3ordm ano

Satildeo os alunos do 2ordm ano e do 5ordm ano que tiveram mais dificuldades em compreender

globalmente o texto pelo que solicitaram ajuda (trecircs pares do 2ordm ano e cinco do 5ordm)

Durante a resoluccedilatildeo algumas diacuteades dos vaacuterios anos colocaram questotildees mais

focalizadas

ldquoo que satildeo qualidades de frutardquo

ldquobananasrdquo e ldquolaranjasrdquo fazem parte da fruta (hiperoacutenimo)

ldquo quantos eram os alunosrdquo

A construccedilatildeo dos enunciados criou dificuldades de compreensatildeo que natildeo estavam

previstas Era necessaacuterio que os alunos fizessem inferecircncias do tipo

a) ldquoEram 240 alunos porque havia 240 peccedilas de fruta e todos

receberam peccedilas de frutardquo

Podendo ser este o raciociacutenio esperado eacute certo que numa das turmas os alunos

comem mais do que uma peccedila de fruta mas tambeacutem eacute certo que nas outras turmas

havendo haacutebito um aluno uma peccedila de fruta algumas diacuteades perguntaram ldquoquantos

alunos eramrdquo

b) ldquoBananasrdquo e ldquolaranjasrdquo satildeo exemplos de fruta e natildeo a ldquofrutardquo No entanto esta

relaccedilatildeo entre parte e o todo natildeo parece clara para os pares e mais complicado ficou

com a palavra ldquoqualidaderdquo que no universo escolar destes alunos poderaacute ser familiar

se estivermos a estudar adjetivos mas o vocaacutebulo tornou-se estranho num problema

matemaacutetico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

393

Fazendo o cruzamento das duas anaacutelises na intenccedilatildeo de articular o referencial

matemaacutetico e o referencial linguiacutestico e sabendo que no raciociacutenio loacutegico eou

abstrato analiticamente dividido em raciociacutenio caacutelculo e resultado o raciociacutenio eacute o

niacutevel que estabelece as correlaccedilotildees mais fortes com o domiacutenio da compreensatildeo

(Lorensatti 2009 p 92) pareceram-nos ldquoadquiridasrdquo as noccedilotildees de metade terccedila parte

e quinta parte Quer recorrendo agrave linguagem simboacutelica quer agrave linguagem icoacutenica os

alunos possuiacuteam os ldquoskillsrdquo para resolver com sucesso o primeiro passo do ponto de

vista da matemaacutetica

Concluiu-se que uma das dificuldades consistiu em ajustar esta linguagem formalizada

agrave linguagem natural do enunciado Isto tornou visiacutevel as zonas de opacidade dos

textos Natildeo se verificou aqui a possibilidade de haver compreensotildees diferentes porque

os erros decorrem da natildeo resoluccedilatildeo do segundo passo Para tal concorreram

dificuldades de ordem sintaacutetica semacircntica e de conhecimento do mundo

Apresentamos o testemunho da interaccedilatildeo professor-diacuteade do quarto ano no final da

resoluccedilatildeo dos problemas

P - Expliquem como fizeram Me ndash Aqui fizemos 240 Ma ndash A dividir por 4 Me ndash Para saber a quarta -parte Depois fizemos o ciacuterculo e cortaacutemos em 4 para representar a quarta-parte Ma ndash A conta deu 60 P ndash Este problema tem dificuldade Me ndash Natildeo P- Leiam a pergunta Me ndash Quantos alunos receberam laranjas P ndash Entatildeohellip Me ndash Diz que eram 240 peccedilas de fruta de duas qualidades P- Que qualidades satildeo essas Me ndash Bananas e laranjas P ndash Essa quarta -parte refere-se a que fruta Me ndash Bananashellip a quarta -parte eacute uma delas agora eacute que eu percebi P- Explica agrave Ma Me ndash Imagina que este ciacuterculo satildeo 240 peccedilas de fruta e uma das partes eacute bananas e depois tiacutenhamos de fazer 60x3 Ma ndash Jaacute percebi P ndash Entenderam este problema de dois passos Me e Ma ndash Sim

Questionados os alunos do quarto ano no sentido de melhorar o texto para outros

colegas resolverem os mesmos problemas (Figura 4) foram unacircnimes quanto a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

394

especificar o seguinte ldquoO Mercado ofereceu agrave escola da Maria 240 peccedilas de fruta de

duas qualidades diferentesrdquo

Figura 4 ndash Sugestatildeo para melhoramento do enunciado ndash Diacuteade 1 do 4ordm ano

E mesmo que alguns alunos acrescentassem que ldquoas laranjas eram do Algarve porque

eram as mais docinhasrdquo (evidenciando conhecimentos do mundo) referiram que era

importante dizer antes da pergunta que ldquotodos os alunos receberam uma peccedila de

frutardquo Em boa medida estas sugestotildees sublinham a importacircncia dos problemas

matemaacuteticos conterem retomas de elementos jaacute enunciados e ao mesmo tempo ser

importante acrescentar informaccedilatildeo Num certo sentido os alunos transpotildeem algumas

caracteriacutesticas de outros geacuteneros textuais nomeadamente da narrativa para o geacutenero

textual matemaacutetico Realccedilamos que as retomas (marcas que caracterizam a coerecircncia

dos textos narrativos especialmente das histoacuterias tradicionais) podem ser utilizadas

nas estrateacutegias de ensino da leitura e da escrita e portanto de compreensatildeo leitora de

acordo com diversos autores (Sousa e Cardoso 2010)

Proposta de mapeamento dos textos matemaacuteticos

Na parte final da pesquisa o grupo concebeu uma proposta de mapeamento dos

textos matemaacuteticos para este tipo de problema baseado nos resultados obtidos Na

intervenccedilatildeo didaacutectica sabemos que eacute relevante que o professor localize as

dificuldades dos alunos e simultaneamente o proacuteprio professor clarifique o seu

quadro de referecircncias sobre o que eacute que o aluno tem de fazer em termos de liacutengua

para passar agrave resoluccedilatildeo do ponto de vista matemaacutetico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

395

Por sua vez o aluno deveraacute desenvolver competecircncias sobre o geacutenero textual

matemaacutetico para criar o referencial linguiacutestico Tal implica o ensino expliacutecito

articulando os processos de leitura com a compreensatildeo matemaacutetica atraveacutes da

mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias de automonitorizaccedilatildeo da leitura em vaacuterios momentos

antes de leitura durante a leitura e depois da leitura (Sim-Sim 2007)

Tendo por base estas informaccedilotildees apresentamos um esquema como proposta

didaacutetica para a resoluccedilatildeo de problemas (Quadro 2)

Quadro 2 - Etapas de Resoluccedilatildeo de Problemas

Etapas de Resoluccedilatildeo de Problemas

ANTES DURANTE DEPOIS

Conhecimentos preacutevios

Explicitaccedilatildeo de leacutexico

Mediaccedilatildeo seleccedilatildeo de palavras

organizaccedilatildeo de dados

Verificar o resultado com

o que foi pedido

Compreender o enunciado Planear a resoluccedilatildeo Resolver o problema Verificar a soluccedilatildeo

Poacutelya (1945)

A partir das etapas anteriormente enunciadas apresentamos uma proposta de modelo

de mapeamento de enunciados matemaacuteticos enquanto geacutenero textual direcionados

para problemas de dois passos (Figura 5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

396

Figura 5 ndash Modelo de Mapeamento de enunciados matemaacuteticos

Embora fundamentadas teoricamente e induzidas pela praacutetica estas propostas natildeo

dispensam a sua testagem Elas fazem parte do processo de formaccedilatildeo em que a

investigaccedilatildeo eacute desenvolvida pelos ldquopraacuteticosrdquo nas suas salas de aula

Conclusatildeo

A leitura de textos matemaacuteticos vai aleacutem da compreensatildeo do leacutexico Para interpretar o

aluno precisa de um referencial linguiacutestico e para decifrar os coacutedigos matemaacuteticos um

referencial de linguagem matemaacutetica (Lorensatti 2009) A

Embora a Liacutengua Portuguesa seja no miacutenimo o veiacuteculo das informaccedilotildees pode estar

nela as dificuldades que os alunos encontram na resoluccedilatildeo de problemas como foi

possiacutevel constatar com os dados recolhidos na nossa investigaccedilatildeo A liacutengua eacute

necessaacuteria para ler e compreender o texto de matemaacutetica Contudo tambeacutem eacute

necessaacuterio ler e escrever em linguagem matemaacutetica compreender os significados dos

siacutembolos dos sinais ou das notaccedilotildees proacuteprias dessa linguagem uma vez que de acordo

com Lorensatti (2009 p 2) Eacute provaacutevel que a compreensatildeo verbal do problema seja

anterior agrave compreensatildeo de natureza matemaacutetica

O resultado da compreensatildeo leva agrave construccedilatildeo de uma representaccedilatildeo mental

decorrente da interaccedilatildeo entre os conhecimentos preacutevios do aluno e as informaccedilotildees

novas contidas no enunciado Seraacute neste momento que o aluno ldquofechardquo o Plano de

Resoluccedilatildeo se estivermos a utilizar os princiacutepios da ldquoarte de resolver problemasrdquo

propostos por Poacutelya (1959) a saber compreender o enunciado planear a resoluccedilatildeo

resolver o problema e verificar a resoluccedilatildeo

Aceitando que um problema eacute um geacutenero textual ensinar a resolver problemas requer

natildeo soacute cuidado na escolha de enunciados bem construiacutedos como tambeacutem uma

abordagem linguiacutestica porque conteacutem uma sintaxe e uma semacircntica que podem

facilitar ou natildeo a sua compreensatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

397

Assim os enunciados bem estruturados satildeo aqueles que apresentam textos com

coesatildeo e coerecircncia ou seja as suas marcas linguiacutesticas ligam os elementos de forma

a apresentarem uma organizaccedilatildeo sequencial e com possibilidade de ser interpretados

(Lorensatti 2009)

Agrave medida que fomos fazendo o percurso iacuteamos encontrando desafios para encontrar a

resposta agrave pergunta ldquopara quecirc investigar em educaccedilatildeordquo A praacutetica profissional

reclama o concurso ora de sequecircncias de accedilotildees para enfrentar as situaccedilotildees de rotina

ora de combinaccedilotildees originais de accedilotildees para enfrentar e resolver problemas novos

(Esteves 2009 p 43) Assim fazer da sala de aula um espaccedilo de investigaccedilatildeo justifica-

se no desejo de transformar e simultaneamente apresenta-se como um campo de

possibilidade e alternativas Estas duas razotildees satildeo referentes do nosso entendimento

sobre o desenvolvimento profissional de professores

Conveacutem referir que todo este processo implica que o professor perceba quais os

problemas que levam o aluno a natildeo ser capaz de concluir com ecircxito a tarefa que lhe foi

proposta Assim o professor assume o papel de investigador das suas praacuteticas sendo

fundamental para promover um ensino expliacutecito e mais eficaz

Acreditamos que eacute dentro da proacutepria escola que se podem encontrar alternativas para

melhorar e aperfeiccediloar as praacuteticas pedagoacutegicas Conforme Loiola (2005p2) ldquoeacute

necessaacuterio desenvolver estrateacutegias de formaccedilatildeo a partir das exigecircncias de praacuteticas

concretas e das interaccedilotildees com os seus pares procurando ao mesmo tempo o apoio

dos profissionais que trabalham com problemaacutetica da formaccedilatildeo de professoresrdquo

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

399

Dez anos de investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das aprendizagens

(2001-2010) uma siacutentese de teses de doutoramento

DOMINGOS FERNANDES

Universidade de Lisboa

dfernandesieulpt

ANDREIA GASPAR Universidade de Lisboa

andreiacgaspargmailcom

Resumo

Este trabalho integra-se numa linha de pesquisa cujo propoacutesito eacute produzir siacutenteses do

que no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das aprendizagens se vai realizando em Portugal A

relevacircncia de sintetizar literatura resulta da escassez de investigaccedilotildees que integrem os

seus resultados para construir conhecimento Assim sintetizaram-se conteuacutedos de

oito teses de doutoramento concluiacutedas entre 2001 e 2010 em universidades

portuguesas cujo objeto de pesquisa era a avaliaccedilatildeo das aprendizagens em contextos

do ensino natildeo superior

Uma anaacutelise de literatura sobre avaliaccedilatildeo das aprendizagens permitiu identificar alguns

dos temas mais discutidos neste domiacutenio do conhecimento (eg avaliaccedilatildeo formativa e

avaliaccedilatildeo sumativa auto e heteroavaliaccedilatildeo feedback participaccedilatildeo dos alunos) e linhas

de orientaccedilatildeo que permitissem produzir uma reflexatildeo sistematizada sobre o conteuacutedo

das teses e natildeo uma mera revisatildeo de literatura Assim o propoacutesito deste trabalho foi

identificar os problemas e questotildees selecionados pelos investigadores as suas opccedilotildees

metodoloacutegicas e as suas conclusotildees para a partir daiacute produzir uma siacutentese da

investigaccedilatildeo realizada no acircmbito das teses analisadas

A investigaccedilatildeo apresentada neste artigo foi financiada por Fundos Nacionais atraveacutes da FCT (Fundaccedilatildeo

para a Ciecircncia e a Tecnologia) no acircmbito do projeto PTDCCPE-CED1143182009

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

400

Para cada tese foram construiacutedas siacutenteses verticais e horizontais a partir da descriccedilatildeo

e anaacutelise de cada um dos temas referidos e uma siacutentese integrada global

Foi possiacutevel elaborar conclusotildees tais como a) a maioria da investigaccedilatildeo realizada

baseou-se no estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de professores b) foram poucas as

investigaccedilotildees em que se observaram praacuteticas no contexto da sala de aula c) a maioria

das teses utilizou essencialmente abordagens qualitativas na recolha e anaacutelise de

dados Os investigadores abordaram alguns dos temas identificados na literatura com

relevo para questotildees relacionadas com a avaliaccedilatildeo formativa Apesar dos progressos

alcanccedilados em relaccedilatildeo a deacutecadas anteriores discutem-se fragilidades que caraterizam

a produccedilatildeo teoacuterica em avaliaccedilatildeo das aprendizagens

Palavras-chave AVALIACcedilAtildeO DAS APRENDIZAGENS SIacuteNTESE DE INVESTIGACcedilAtildeO

AVALIACcedilAtildeO FORMATIVA

Abstract Research presented in this paper is part of a broader project that aims at

synthesising what has been made in Portugal in the learning assessment domain

Literature synthesis is relevant because there are few studies that integrate its results

for knowledge construction Contents of eight doctoral dissertations in the domain of

learning assessment (K-12 contexts) produced in the 2001-2010 period within

Portuguese universities were synthesised

A literature analysis on learning assessment enabled one to identify some of the most

discussed issues in this knowledge domain (eg formative and summative assessment

self and hetero assessment feedback student participation) as well as a set of

guidelines to produce a systematic reflection on the dissertations content rather than

a mere literature review Thus the purpose of this research was to identify problems

and questions selected by the researchers their methodological options and

conclusions in order to produce a synthesis of research developed within the selected

dissertations

For each one of the dissertations a set of both vertical and horizontal syntheses was

produced based upon the description and analysis performed for each one of the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

401

above mentioned issues A global integerated synthesis was also performed The

synthesis enabled conclusions such as a) most of the dissertations dealt with teacher

beliefs and teacher practices b) very few investigations made use of observations in

the classroom context c) most of the research studies were qualitative in nature Also

one could notice that researchers dealt with one or more of the most discussed issues

in the literature particularly those related to formative assessment Although there

are clear improvements concerning precedent decades some weaknesses concerning

theoretical construction on the learning assessment domain were analysed and

discussed

Keywords Learning assessment Research synthesis Formative assessment

Introduccedilatildeo e Enquadramento

O trabalho que se apresenta e discute neste artigo integra-se numa linha de pesquisa

que estaacute em curso haacute alguns anos e cujo principal propoacutesito eacute o de ir produzindo

siacutenteses do que no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens se tem vindo a

realizar em Portugal nas uacuteltimas deacutecadas (eg Fernandes 2006 2007 Martins 2008)

A avaliaccedilatildeo para as aprendizagens designaccedilatildeo essencialmente equivalente a avaliaccedilatildeo

formativa eacute um processo eminentemente pedagoacutegico indissociaacutevel da organizaccedilatildeo e

desenvolvimento do curriacuteculo no contexto das salas de aula e comprovadamente

associado agrave melhoria das aprendizagens de todos os alunos Em particular satildeo os

alunos com mais problemas os que mais beneficiam das praacuteticas sistemaacuteticas de

avaliaccedilatildeo formativa (Black amp Wiliam 1998) Por outro lado na sua mais recente

conceccedilatildeo a avaliaccedilatildeo das aprendizagens ou avaliaccedilatildeo sumativa ainda que tenha

propoacutesitos distintos da avaliaccedilatildeo para as aprendizagens tambeacutem tem propoacutesitos

semelhantes o mais relevante dos quais eacute o de poder contribuir igualmente para que

os alunos aprendam mais e melhor com mais profundidade (eg Harlen 2006 Harlen

amp James 1997) Nestas condiccedilotildees avaliar nas salas de aula o que os alunos sabem e

satildeo capazes de fazer assume uma particular relevacircncia e estaacute muito dependente de

aspetos tais como a) as dinacircmicas de participaccedilatildeo dos alunos (eg auto-avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

402

heteroavaliaccedilatildeo avaliaccedilatildeo entre pares) b) a estrutura e desenvolvimento das aulas c)

as tarefas utilizadas para recolher informaccedilatildeo d) os papeacuteis desempenhados pelos

alunos e pelos professores e) as relaccedilotildees que se estabelecem entre a avaliaccedilatildeo e o

ensino e as aprendizagens Estes aspetos mostram bem a complexidade que o

processo de avaliaccedilatildeo no domiacutenio das aprendizagens envolve e por isso mesmo

prosseguem os esforccedilos de investigaccedilatildeo que contribuam para aprofundar a nossa

compreensatildeo e o nosso conhecimento das perspetivas neste domiacutenio Na verdade uma

anaacutelise da literatura permitiu identificar alguns dos temas que mais tecircm suscitado o

interesse de investigadores de referecircncia na aacuterea (eg Black amp Wiliam 1998 Gardner

2006 Gifford amp Orsquo Connor 1992 Gipps 1994 Kellaghan amp Stufflebeam 2003) e que

foram tidos em conta na presente investigaccedilatildeo (eg relaccedilotildees entre a avaliaccedilatildeo

formativa e a avaliaccedilatildeo sumativa papeacuteis de alunos e professores no processo de

avaliaccedilatildeo procedimentos de recolha de informaccedilatildeo processos de autoavaliaccedilatildeo e de

heteroavaliaccedilatildeo relaccedilotildees entre o feedback a avaliaccedilatildeo e as aprendizagens integraccedilatildeo

dos processos de aprendizagem avaliaccedilatildeo e ensino) Estes temas tiveram relevacircncia

para a presente investigaccedilatildeo porque constituiacuteram referecircncias indispensaacuteveis para a

anaacutelise das teses que integraram o corpus do trabalho

As siacutenteses de literatura satildeo reflexotildees sistematizadas que em geral integram o

trabalho de investigaccedilatildeo empiacuterica realizado por outros (Fernandes 2007) O seu

principal propoacutesito eacute o de compreender a investigaccedilatildeo disponiacutevel sobre um

determinado toacutepico entendido como um todo (Rhoades 2011) Por exemplo Cooper

(2003) apesar de considerar que haveraacute sempre arte nos processos de construccedilatildeo

cientiacutefica porque a partir das suas concepccedilotildees conhecimentos e experiecircncias os

investigadores elaboram e criam acerca do que quando e como estudar desenvolveu

um conjunto de categorias (eg definiccedilatildeo de um Foco clarificaccedilatildeo de um Objetivo

adoccedilatildeo de uma Perspetiva seleccedilatildeo da Audiecircncia) para sistematizar e caraterizar

siacutenteses de literatura Estas categorias contribuiacuteram para orientar e organizar a siacutentese

realizada no acircmbito desta investigaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

403

Problema e Questotildees da Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo realizada no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens

particularmente a que se baseia em dados empiacutericos recolhidos em contextos reais eacute

relativamente escassa (eg Fernandes 2005 2007 Neves Jordatildeo amp Santos 2004)

A investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens que se desenvolve no

acircmbito de programas de doutoramento reflete com boa aproximaccedilatildeo agrave realidade o

que naquele domiacutenio se tem realizado de mais significativo em Portugal Neste

sentido pareceu ser oportuno sintetizar o trabalho de investigaccedilatildeo constante em teses

de doutoramento realizadas no acircmbito da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens

Mais concretamente esta investigaccedilatildeo foi concebida e desenvolvida tendo em conta

as seguintes questotildees orientadoras

1 Que problemas questotildees de investigaccedilatildeo eou objetivos foram

selecionados pelos investigadores das teses de doutoramento realizadas

em Portugal no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das aprendizagens

2 Como se poderatildeo caraterizar as principais opccedilotildees metodoloacutegicas feitas

pelos investigadores

3 Quais foram as conclusotildees mais relevantes das investigaccedilotildees realizadas

4 Como se poderaacute definir o estado da arte da investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo

das e para as aprendizagens no contexto das teses analisadas

Meacutetodo

Para efeito da seleccedilatildeo das teses a integrar na investigaccedilatildeo foram definidos os

seguintes criteacuterios a) a tese tinha sido realizada no acircmbito de um programa de

doutoramento de uma universidade com assento no Conselho de Reitores das

Universidades Portuguesas (CRUP) b) o orientador ou orientadora ou pelo menos um

dos orientadores no caso de co-orientaccedilatildeo exerciam a sua atividade docente e de

investigaccedilatildeo numa universidade com assento no CRUP c) o principal objeto de

investigaccedilatildeo da tese era a avaliaccedilatildeo das ou para as aprendizagens no contexto do

ensino natildeo superior e d) a tese tinha sido concluiacuteda e formalmente defendida ateacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

404

2011 (inclusive) Uma vez que existiam fundadas razotildees para crer que o nuacutemero de

teses concluiacutedas seria reduzido decidiu-se inicialmente natildeo definir o ano a partir do

qual se iniciaria a seleccedilatildeo Tendo em conta os criteacuterios referidos foram identificadas

11 teses de doutoramento concluiacutedas (defendidas) entre 1992 e 2011 (inclusive)

Poreacutem tendo em conta que nos anos 90 foram apenas identificadas duas teses

(Cardoso 1993 Lemos 1992) e que em 2000 e 2011 natildeo foram encontrados quaisquer

trabalhos foi decidido selecionar as nove teses concluiacutedas entre 2001 e 2010

inclusive conforme se pode verificar na Tabela 1 No entanto apesar de todos os

esforccedilos desenvolvidos pelos investigadores junto de diversas entidades e pessoas

natildeo foi possiacutevel obter a tese de Alves (2001) que consequentemente natildeo pocircde ser

incluiacuteda na siacutentese aqui apresentada

Tabela 1

Distribuiccedilatildeo das teses selecionadas para anaacutelise de acordo com a data constante em

cada uma o(a) autor(a) o tiacutetulo e a instituiccedilatildeo onde se realizou

Data Autor Tiacutetulo Instituiccedilatildeo

2001 Maria Palmira

Carlos Alves

O papel do pensamento do professor nas

suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo

Universidade

do Minho

2001 Carlos Manuel

Folgado Barreira

Avaliaccedilatildeo das aprendizagens em contexto

escolar estudo das atitudes dos docentes

face ao modelo de avaliaccedilatildeo do ensino

baacutesico

Universidade

de Coimbra

2002 Jorge Manuel

Bento Pinto

A avaliaccedilatildeo Formal no 1ordm ciclo do ensino

baacutesico uma construccedilatildeo social

Universidade

do Minho

2003

Carlos Alberto

Alves Soares

Ferreira

O pensamento e as praacuteticas de avaliaccedilatildeo

formativa no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Universidade

de Traacutes-os-

Montes e

Alto Douro

2003 Margarida da Silva

Damiatildeo Serpa Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar

perspectivas de professores do ensino

Universidade

dos Accedilores

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

405

baacutesico

2004 Maria Cristina

Cristo Parente

A construccedilatildeo de praacuteticas alternativas de

avaliaccedilatildeo na pedagogia da infacircncia sete

jornadas de aprendizagem

Universidade

do Minho

2008 Antoacutenio Joseacute

Nunes de Almeida

Avaliaccedilatildeo em matemaacutetica escolar

implementando portfoacutelios de

aprendizagens dos alunos contributos de

um projeto de investigaccedilatildeo colaborativa

para o desenvolvimento profissional de

professores

Universidade

do Minho

2010 Aldina Silveira

Lobo

A avaliaccedilatildeo formativa avaliaccedilatildeo sumativa

e exames na praacutetica de trecircs professoras

de portuguecircs de 12ordm ano

Universidade

de Lisboa

2010 Dalva Maria

Queiroz

A avaliaccedilatildeo como acompanhamento

sisteacutemico da aprendizagem uma

experiecircncia de investigaccedilatildeo colaborativa

no ensino fundamental

Universidade

de Coimbra

A anaacutelise de cada tese teve em conta trecircs categorias a) o problema b) as questotildees de

investigaccedilatildeo eou os objetivos e c) a metodologia e as conclusotildees e resultou num

processo de elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees e anaacutelises de cada uma dessas categorias nas

teses em estudo Ora estas descriccedilotildees e anaacutelises deram origem a siacutenteses analiacuteticas

que permitiram uma leitura integrada das referidas categorias ao longo das oito teses

No fundo este trabalho traduz uma interpretaccedilatildeo feita a partir dessas siacutenteses

analiacuteticas

Apresentaccedilatildeo e Discussatildeo dos Principais Resultados

A maioria dos investigadores optou por estudar relaccedilotildees entre conceccedilotildees de

professores e praacuteticas de avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens tendo por base os

discursos dos professores (Almeida 2008 Barreira 2001 Ferreira 2003 Pinto 2002

Serpa 2003) Este resultado eacute consistente com o que se verificou em investigaccedilotildees

anteriores (eg Martins 2008 Neves Jordatildeo e Santos 2004) Ou seja verificou-se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

406

que as praacuteticas foram sobretudo estudadas atraveacutes das narrativas que os professores

produziam sobre essas mesmas praacuteticas

Siacutentese dos Problemas e Questotildees

Apesar de todos os investigadores terem de algum modo estudado relaccedilotildees entre

conceccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas de professores os problemas as questotildees e os

objetivos formulados apresentaram algumas diferenccedilas originando abordagens

singulares daquela temaacutetica

Serpa (2003) e Queiroz (2010) partilharam o propoacutesito de compreender como

melhorar as aprendizagens dos alunos atraveacutes de abordagens de avaliaccedilatildeo para as

aprendizagens Assim baseadas nos discursos dos professores participantes estas

investigadoras estudaram a consistecircncia entre as conceccedilotildees declaradas nesses

discursos e as praacuteticas quotidianas nas salas de aula Apesar de semelhantes no seu

propoacutesito geral as duas investigadoras tinham interesses e ecircnfases de investigaccedilatildeo

distintos Para Serpa (2003) os objetivos e as questotildees definidos tinham mais a ver

com a compreensatildeo dos professores sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens com

processos de classificaccedilatildeo e com as relaccedilotildees entre as caracteriacutesticas pessoais e

profissionais dos professores e as suas conceccedilotildees No caso de Queiroz (2010) as

questotildees orientadoras sugerem uma investigaccedilatildeo mais relacionada com a regulaccedilatildeo

dos processos de ensino-aprendizagem a partir de uma visatildeo sisteacutemica e integrada da

avaliaccedilatildeo e da aprendizagem

Foram vaacuterios os autores que deram especial ecircnfase a questotildees diretamente

relacionadas com a avaliaccedilatildeo formativa avaliaccedilatildeo para as aprendizagens ou com

alguma forma de avaliaccedilatildeo alternativa a visotildees mais classificatoacuterias do processo

avaliativo (eg Ferreira 2003 Parente 2004 Almeida 2008 Lobo 2010) Por

exemplo Lobo (2010) descreveu com detalhe praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo e

relaccedilotildees entre a avaliaccedilatildeo para as aprendizagens e a avaliaccedilatildeo externa das

aprendizagens nas praacuteticas de trecircs professoras do ensino secundaacuterio tendo como

contexto geral os exames nacionais Aleacutem disso estudou igualmente de que modo os

exames nacionais influenciavam as praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo das referidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

407

professoras Ferreira (2003) investigou conceccedilotildees e praacuteticas de avaliaccedilatildeo formativa de

quatro grupos de professores do 1ordm ciclo (estagiaacuterios orientadores professores

iniciados e professores experientes) tendo em conta o processo de construccedilatildeo do

conhecimento praacutetico Para este autor a questatildeo central era compreender em que

medida o conhecimento praacutetico e a experiecircncia dos professores se relacionavam com

as suas conceccedilotildees e com as suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo formativa

Parente (2004) e Almeida (2008) investigaram no domiacutenio do que designaram como

ldquoavaliaccedilatildeo alternativardquo mas cujas caracteriacutesticas se identificam com a avaliaccedilatildeo

formativa ou avaliaccedilatildeo para as aprendizagens Em ambos os casos foram utilizados

portefoacutelios (Parente 2004) investigou praacuteticas e conceccedilotildees de avaliaccedilatildeo de um grupo

de educadoras envolvidas num processo participado de formaccedilatildeo A investigadora

analisou o desenvolvimento e a utilizaccedilatildeo de portefoacutelios de avaliaccedilatildeo por parte das

educadoras participantes e procurou compreender o processo de formaccedilatildeo incluindo

as suas dificuldades e obstaacuteculos Almeida (2008) tambeacutem investigou conceccedilotildees e

praacuteticas avaliativas de professores do 3ordm ciclo do ensino baacutesico e do ensino

secundaacuterio procurando identificar as suas principais dificuldades e as respetivas

consequecircncias no quotidiano das salas de aula

As investigaccedilotildees de Barreira (2001) e Pinto (2002) tiveram em conta os contextos

formais em que a avaliaccedilatildeo se desenvolve assim como os normativos legais aplicaacuteveis

naquele domiacutenio Assim Barreira (2001) quis compreender as atitudes dos professores

dos 2ordm e 3ordm ciclos do ensino baacutesico relativamente ao Despacho Normativo 98-A92

Este autor procurou conhecer as dificuldades e as necessidades de formaccedilatildeo dos

professores em temas relacionados com o chamado novo modelo de avaliaccedilatildeo assim

como a consecuccedilatildeo praacutetica das suas recomendaccedilotildees Pinto (2002) desenvolveu o

essencial da sua investigaccedilatildeo no contexto formal das reuniotildees do conselho escolar

numa escola do 1ordm ciclo do ensino baacutesico procurando compreender o funcionamento

da avaliaccedilatildeo formal atraveacutes das respetivas praacuteticas dos professores e da instituiccedilatildeo

Assim Pinto estudou questotildees tais como a formulaccedilatildeo de juiacutezos avaliativos as reaccedilotildees

do conselho escolar aos enunciados avaliativos as consequecircncias das respetivas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

408

decisotildees para os alunos os significados pedagoacutegicos e institucionais das praacuteticas de

avaliaccedilatildeo formal e a natureza da informaccedilatildeo que era divulgada aos pais e

encarregados de educaccedilatildeo apoacutes os momentos formais de avaliaccedilatildeo

Siacutentese das Metodologias

Tendo em conta uma das muitas caraterizaccedilotildees da investigaccedilatildeo em educaccedilatildeo (eg

Cohen Manion amp Morrison 2011) pode dizer-se que na maioria das teses a

abordagem qualitativa agrave recolha e anaacutelise dos dados prevaleceu largamente em

relaccedilatildeo agrave abordagem quantitativa Assim Almeida (2008) Lobo (2010) Parente (2004)

Pinto (2002) e Queiroz (2010) utilizaram abordagens estritamente qualitativas Barreira

(2001) utilizou uma abordagem essencialmente quantitativa e Ferreira (2003) e Serpa

(2003) abordagens mistas As principais estrateacutegias de investigaccedilatildeo selecionadas pelos

autores variaram entre o estudo de caso qualitativo (Lobo 2010 Pinto 2002 Parente

2004 Queiroz 2010) o inqueacuterito por questionaacuterio (Barreira 2001) ou por entrevista

(Serpa 2003) a etnografia referida por Ferreira (2003) como a principal estrateacutegia de

investigaccedilatildeo utilizada no seu trabalho e a investigaccedilatildeo-accedilatildeo mencionada por Almeida

(2008)

Apesar de alguns investigadores (Ferreira 2001 Parente 2004 Serpa 2003) fazerem

referecircncia agrave utilizaccedilatildeo da observaccedilatildeo verificou-se que esta teacutecnica raramente foi

utilizada pelos mesmos sobretudo em contexto de sala de aula A observaccedilatildeo

ocasional referida por Serpa (2003) serviu de acordo com a autora o propoacutesito de

clarificar algum aspeto que atraveacutes das entrevistas natildeo tenha ficado esclarecido No

entanto outros autores utilizaram observaccedilotildees sistemaacuteticas e frequentes como

principal processo de recolha de informaccedilatildeo (Almeida 2008 Lobo 2010 Pinto 2002

Queiroz 2010)

Em siacutentese o inqueacuterito por questionaacuterio ou entrevista foi o meio privilegiado de

recolha de informaccedilatildeo para responder a questotildees relacionadas com praacuteticas de

avaliaccedilatildeo de professores Apesar de haver praacuteticas de avaliaccedilatildeo que ocorrem fora das

salas de aula a anaacutelise das teses mostrou que a utilizaccedilatildeo do termo praacuteticas por parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

409

dos autores estava associada ao que normalmente se designa por praacuteticas de sala de

aula ou praacuteticas na sala de aula

Siacutentese das Principais Conclusotildees

A anaacutelise das conclusotildees das teses permitiu constatar que a avaliaccedilatildeo predominante

na grande maioria dos contextos em que decorreram as investigaccedilotildees analisadas era

de natureza sumativa e essencialmente centrada nos resultados exibidos pelos alunos

(eg Almeida 2008 Barreira 2001 Ferreira 2003 Queiroz 2010 Pinto 2002 Serpa

2003) Nos seus discursos muitas vezes progressivos grande parte dos professores

participantes reconheceu as vantagens pedagoacutegicas da avaliaccedilatildeo para as

aprendizagens mas simultaneamente assumiu as dificuldades em utilizaacute-la de forma

sistemaacutetica e deliberada integrando-a nos processos de ensino e de aprendizagem A

argumentaccedilatildeo utilizada baseou-se sobretudo na falta de formaccedilatildeo e na falta de tempo

De modo geral as investigaccedilotildees analisadas mostraram que os alunos natildeo participaram

de forma regular e sistemaacutetica nas atividades das aulas nomeadamente no que se

refere agrave produccedilatildeo de reflexotildees sobre as suas realizaccedilotildees e agrave organizaccedilatildeo e

desenvolvimento da avaliaccedilatildeo e das suas aprendizagens Na maioria dos casos os

professores participantes manifestaram ter dificuldades em delinearem estrateacutegias

que suscitassem a participaccedilatildeo ativa dos alunos nos processos de avaliaccedilatildeo (eg

Barreira 2001 Lobo 2010 Queiroz 2010) A utilizaccedilatildeo de portefoacutelios nos casos de

Almeida (2008) e Parente (2004) contribuiu para que se gerassem dinacircmicas de

participaccedilatildeo por parte dos alunos na avaliaccedilatildeo das suas aprendizagens e na discussatildeo

do seu trabalho com os colegas Tambeacutem uma das participantes na investigaccedilatildeo de

Lobo (2010) organizou o processo de ensino de forma a que os seus alunos

participassem ativamente em todas as atividades de uma forma natural e autoacutenoma A

natureza das tarefas a relaccedilatildeo pedagoacutegica a dinacircmica de trabalho e a estrutura das

aulas satildeo alguns dos aspetos que neste caso facilitaram a participaccedilatildeo dos alunos

No que se refere ao envolvimento dos alunos em processos de auto e de

heteroavaliaccedilatildeo apenas na investigaccedilatildeo de Lobo (2010) uma das docentes criou

condiccedilotildees que permitiam que os alunos pudessem refletir de forma sistemaacutetica acerca

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

410

do seu proacuteprio trabalho e do dos seus colegas Ainda assim a maioria dos

investigadores referiu as potencialidades de envolver regularmente os seus alunos

naqueles processos mas revelou dificuldades em implementaacute-los nas suas praacuteticas

docentes (eg Barreira 2001 Ferreira 2003 Queiroz 2010) A recolha de informaccedilatildeo

atraveacutes de uma diversidade de processos (eg testes composiccedilotildees investigaccedilotildees

relatoacuterios apresentaccedilotildees dramatizaccedilotildees experiecircncias) eacute fundamental pois soacute assim

seraacute possiacutevel determinar com algum rigor e de forma abrangente o que efetivamente

os alunos sabem e satildeo capazes de fazer (eg Black amp Wiliam 2006 Fernandes 2005

Gipps 1994) Ainda que em geral os professores participantes reconhecessem isso

mesmo a verdade eacute que nas suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo utilizavam essencialmente

testes ou provas de natureza semelhante (eg Almeida 2008 Ferreira 2003 Lobo

2010 Queiroz 2010 Pinto 2002 Serpa 2008) Por outro lado soacute muito pontualmente

partilharam responsabilidades na avaliaccedilatildeo dos seus alunos apesar de reconhecerem

a importacircncia dessa partilha e da diversificaccedilatildeo de intervenientes no processo de

avaliaccedilatildeo (eg Barreira 2001 Ferreira 2003 Serpa 2003) Pinto (2002) e Ferreira

(2003) referiram-se respetivamente agrave avaliaccedilatildeo como domiacutenio da accedilatildeo individual dos

professores e ao papel passivo sem deveres e responsabilidades dos pais e

encarregados de educaccedilatildeo nesse processo Queiroz (2010) concluiu que a falta de

clareza dos criteacuterios utilizados pelos professores parecia constituir um fator de

afastamento dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e dos proacuteprios alunos do processo

de avaliaccedilatildeo

Conclusotildees

A grande maioria da investigaccedilatildeo realizada em Portugal no periacuteodo estudado (2001-

2010) no acircmbito de programas de doutoramento centrou-se fundamentalmente no

estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de docentes do ensino baacutesico no domiacutenio da avaliaccedilatildeo

daspara as aprendizagens Com exceccedilatildeo de uma tese que utilizou essencialmente

dados de natureza quantitativa obtidos atraveacutes de um inqueacuterito por questionaacuterio as

restantes investigaccedilotildees foram qualitativas por natureza utilizando estrateacutegias tais

como o estudo de caso (a maioria) o inqueacuterito por entrevista a etnografia e a

investigaccedilatildeo-accedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

411

A anaacutelise e a siacutentese das conclusotildees elaboradas nas oito teses selecionadas permite

referir antes do mais que as praacuteticas de avaliaccedilatildeo da grande maioria dos docentes

participantes natildeo satildeo consistentes com as recomendaccedilotildees constantes na literatura

nacional e internacional (eg Black amp Wiliam 1998 Fernandes 2005 2006 2009

Gardner 2006) nem com a legislaccedilatildeo aplicaacutevel Isto eacute a avaliaccedilatildeo eacute essencialmente

sumativa orientada para a produccedilatildeo de classificaccedilotildees com o protagonismo exclusivo

do professor sem a participaccedilatildeo e o envolvimento dos alunos ou outros intervenientes

e por isso sem recurso aos processos de auto e de heteroavaliaccedilatildeo Aleacutem disso as

investigaccedilotildees mostraram igualmente que em geral os docentes variam pouco os

processos de recolha de informaccedilatildeo baseando-se sobretudo nos testes as dinacircmicas

de trabalho e de avaliaccedilatildeo e a estrutura das aulas (em que tendem a ser os uacutenicos

protagonistas expondo a ldquomateacuteriardquo enquanto os alunos se limitam a ldquoouvirrdquo) A

avaliaccedilatildeo na maioria dos casos natildeo estaacute integrada ou articulada com os processos de

ensino e de aprendizagem No entanto nos seus discursos os professores

participantes reconheceram quase sempre as vantagens pedagoacutegicas da avaliaccedilatildeo para

as aprendizagens ou da avaliaccedilatildeo formativa mas referiam que natildeo tinham formaccedilatildeo

eou tempo para a pocircr realmente em praacutetica Por fim constatou-se que alguns

docentes organizaram a avaliaccedilatildeo com o principal propoacutesito de apoiar os alunos a

aprender melhor envolvendo-os nas atividades das aulas e promovendo a sua reflexatildeo

e autonomia

O nuacutemero de teses concluiacutedas no periacuteodo considerado (2001-2010) eacute modesto e pode

indiciar o estado ainda embrionaacuterio da investigaccedilatildeo portuguesa no domiacutenio da

avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens Poreacutem tendo em conta que na deacutecada anterior

se produziram apenas duas parece haver um interesse crescente por aquele domiacutenio

de investigaccedilatildeo Os problemas e as questotildees selecionados pelos investigadores na sua

maioria enquadram-se nos programas de investigaccedilatildeo em curso um pouco por todo o

mundo No entanto este significativo corpo de investigaccedilatildeo evidencia fragilidades

(eg ausecircncia de investigaccedilotildees relacionadas com a avaliaccedilatildeo externa das

aprendizagens ou que estudem as suas relaccedilotildees com a avaliaccedilatildeo interna a significativa

escassez de estudos baseados na observaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

412

professores a exclusiva dependecircncia do ldquomodelo da avaliaccedilatildeo formativardquo no estudo

das conceccedilotildees e praacuteticas de avaliaccedilatildeo dos professores) que podem estar relacionadas

com situaccedilotildees tais como a dimensatildeo da comunidade de investigaccedilatildeo em educaccedilatildeo em

geral e no domiacutenio da avaliaccedilatildeo pedagoacutegica em particular a ldquodiluiccedilatildeordquo da avaliaccedilatildeo

noutros domiacutenios do conhecimento em educaccedilatildeo e a pouca tradiccedilatildeo na realizaccedilatildeo de

estudos empiacutericos com estadias prolongadas no terreno

Nestas condiccedilotildees o que se poderaacute dizer acerca do ldquoestado da arterdquo da investigaccedilatildeo no

domiacutenio da avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens tal como ele pode ser percecionado

atraveacutes das teses analisadas nesta pesquisa eacute o progresso assinalaacutevel em relaccedilatildeo agrave

deacutecada anterior a densidade e sofisticaccedilatildeo teoacuterica da investigaccedilatildeo uma certa

fragilidade no domiacutenio metodoloacutegico traduzida na falta de recolha direta de dados nos

contextos das praacuteticas e um espetro ainda muito estreito de questotildees e de problemas

investigados essencialmente centrado no estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de

professores

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

415

O desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo mediado pela

apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

INEcircS BRUNO

Agrupamento de escolas D Carlos I

inesbrunogmailcom

LEONOR SANTOS

Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa

mlsantosieulpt

Resumo Este artigo estuda o processo de desenvolvimento da competecircncia de

autorregulaccedilatildeo dos alunos mediado pela apropriaccedilatildeo de criteacuterios de avaliaccedilatildeo de

relatoacuterios de tarefas investigativas de Fiacutesica e Quiacutemica Apresentamos um estudo de

caso interpretativo que envolve um aluno do ensino secundaacuterio que desenvolve quatro

relatoacuterios ao longo dos 10ordm e 11ordm anos de escolaridade Os resultados sugerem que o

diaacutelogo em torno das produccedilotildees do aluno eacute fundamental para a apropriaccedilatildeo dos

criteacuterios de avaliaccedilatildeo Ocorreu evoluccedilatildeo na competecircncia de autorregulaccedilatildeo ainda que

este seja um processo em desenvolvimento que necessita de uma praacutetica sistemaacutetica

e prolongada de modo a que as reflexotildees sejam mais profundas e fundamentadas e as

reformulaccedilotildees mais frequentes

Palavras-chave Criteacuterios de avaliaccedilatildeo Autorregulaccedilatildeo Ensino secundaacuterio

Abstract This article studies the process of development of students self-regulation

competence mediated by the appropriation of assessment criteria of Physics and

Chemistry inquiry reports We present an interpretative case study involving a high

school student who developed four reports over the 10th and 11th grades The results

suggest that the dialogue about the studentrsquos assignments is essential for the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

416

appropriation of assessment criteria There was evolution of the self-regulation

competence but this revealed to be a continuous process that requires systematic

and long-lasting practice in order to promote deeper reflections and more frequent

improvements

Keywords Assessment criteria Self-regulation Secondary school

Introduccedilatildeo

Nos dias de hoje a sociedade requer indiviacuteduos com capacidade de resoluccedilatildeo de

problemas pensamento criacutetico e principalmente capacidade para adquirir novos

conhecimentos e competecircncias ao longo da vida De acordo com as orientaccedilotildees do

programa de Fiacutesica e Quiacutemica ldquoeacute necessaacuterio ensinar melhor a pensar e sobretudo

ensinar melhor a aprenderrdquo (Martins amp Caldeira 2001 p 7) Eacute fundamental que o

aluno tenha um papel ativo e construtivo na sua aprendizagem e que ele proacuteprio seja

um elemento chave na deteccedilatildeo e superaccedilatildeo das suas dificuldades (Nunziati 1990

Zimmerman 2002) Segundo Perrenoud (1999) ldquotoda a regulaccedilatildeo em uacuteltima instacircncia

soacute pode ser uma auto-regulaccedilatildeo pelo menos se aderirmos agraves teses baacutesicas do

construtivismo nenhuma intervenccedilatildeo externa age se natildeo for percebida interpretada e

assimilada pelo sujeitordquo (p 96) Eacute muito improvaacutevel que o aluno progrida se natildeo

refletir sobre si proacuteprio sobre o que fez e como fez sobre os sucessos e o que estaacute por

alcanccedilar (Dann 2002) Neste sentido uma das competecircncias essenciais para que se

desenvolva uma aprendizagem autorregulada consiste na autoavaliaccedilatildeo A

autoavaliaccedilatildeo ajuda os alunos a assumir o controle da sua aprendizagem na medida

em que torna expliacutecitos (logo acessiacuteveis ao proacuteprio controlo) processos que estariam

inacessiacuteveis por serem inconscientes e automaacuteticos (Taras 2001) Como tal a

avaliaccedilatildeo deve evoluir para uma situaccedilatildeo em que o aluno tenha desenvolvido a sua

autorregulaccedilatildeo de tal modo que natildeo seja necessaacuteria a intervenccedilatildeo do professor

(Perrenoud 1999 Santos 2008)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

417

A autorregulaccedilatildeo envolve a recolha de dados acerca do desempenho do proacuteprio a

interpretaccedilatildeo desses dados (a realizaccedilatildeo de julgamentos acerca da qualidade das suas

produccedilotildeesaprendizagens com a identificaccedilatildeo do que jaacute foi conseguido e do que falta

alcanccedilar bem como as causas dos sucessos e dos fracassos) e por uacuteltimo a utilizaccedilatildeo

desses resultados para (re)orientar o processo de aprendizagem (Zimmerman 2002)

Por conseguinte conhecer os criteacuterios de avaliaccedilatildeo eacute fundamental (Crisp 2012)

Poreacutem dado que cada indiviacuteduo estabelece os seus proacuteprios padrotildees criteacuterios ou

autorrepresentaccedilotildees qualquer tentativa de trabalhar os criteacuterios de avaliaccedilatildeo seraacute

influenciada pelos mesmos logo eacute indispensaacutevel recorrer-se a estrateacutegias que

promovam a sua apropriaccedilatildeo (Santos 2008) A criaccedilatildeo de um entendimento comum

acerca do significado dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo eacute de tal forma importante que Pacheco

(2002) considera que uma deacutebil construccedilatildeo do referente ou a sua falta de clarificaccedilatildeo

justificam em grande parte o insucesso dos alunos

Pelas razotildees apresentadas este estudo63 focou-se na apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Pretendeu compreender o modo como alunos do ensino secundaacuterio

compreendem valorizam e aplicam os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de relatoacuterios de tarefas

investigativas bem como o modo como essa apropriaccedilatildeo contribui para o

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo Para tal enunciaacutemos as

seguintes questotildees de investigaccedilatildeo

1 De que modo alunos do ensino secundaacuterio apropriam os criteacuterios de

avaliaccedilatildeo de relatoacuterios de tarefas investigativas de Fiacutesica e Quiacutemica

2 Qual o contributo da apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo no

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo

Tal como vaacuterios estudos sustentam (por exemplo Kirby amp Downs 2007) dar a

conhecer os criteacuterios de avaliaccedilatildeo geralmente eacute insuficiente para que ocorra a sua

apropriaccedilatildeo isto eacute a sua explicitaccedilatildeo pode natildeo ser suficiente para ajudar os alunos a

julgar a qualidade ou guiar o seu trabalho porque haacute sempre muitas variaacuteveis em jogo

(Sadler 1989) O significado dos criteacuterios tem de ser interpretado para que os alunos

63

Financiado pela Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD360832007)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

418

compreendam efetivamente o que eacute pretendido (Vial 2012) Alguns estudos empiacutericos

apontam recursos que poderatildeo promover este processo como o feedback fornecido

pelo professor para ajudar o aluno a identificar e compreender os pontos fortes e

fracos de exemplos ou do proacuteprio desempenho em relaccedilatildeo aos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

(Andrade Du amp Mycek 2010 Semana 2008 Taras 2001) Como tal e de acordo com

o que eacute sugerido na literatura optaacutemos por recorrer agrave accedilatildeo combinada de vaacuterias

estrateacutegias e recursos para a promoccedilatildeo da apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

Metodologia

Com este estudo pretendemos compreender atraveacutes da descriccedilatildeo de acontecimentos

os processos associados agrave elaboraccedilatildeo de relatoacuterios norteada pelos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Por isso e tendo em conta que as questotildees que o orientaram incidem na

atribuiccedilatildeo de significados na compreensatildeo e na interpretaccedilatildeo optaacutemos por seguir um

paradigma metodoloacutegico interpretativo (Lichtman 2006 Silverman 2004) Os alunos

participantes fazem parte de uma turma do ensino secundaacuterio tendo sido

selecionados dois que foram objeto de anaacutelise em dois estudos de caso Segundo

Merriam (1988) o estudo de caso em particular o estudo de caso qualitativo ldquoeacute o

design ideal para compreender e interpretar observaccedilotildees de fenoacutemenos educacionaisrdquo

(p 2)

A seleccedilatildeo dos casos teve em conta os seguintes criteacuterios disponibilidade para

participar no estudo facilidade de comunicaccedilatildeo dificuldade em refletir sobre o

trabalho desenvolvido e diferirem quanto ao geacutenero ao niacutevel de desempenho (entre o

meacutedio e o bom) e ao envolvimento na utilizaccedilatildeo do feedback escrito No entanto

nesta comunicaccedilatildeo seratildeo apenas apresentados e discutidos os resultados

relativamente a um deles o Gustavo64

O Gustavo eacute um aluno com um desempenho meacutedio na disciplina de Fiacutesica e Quiacutemica A

sua postura em sala de aula variou Umas vezes estava atento e intervinha colocando

questotildees e participando em discussotildees no grupo-turma Noutros momentos

64

Foram atribuiacutedos nomes fictiacutecios aos participantes para garantir a confidencialidade e anonimato

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

419

conversava com os colegas sobre assuntos alheios agrave aula Demonstrava ter confianccedila

nas suas capacidades e revelava ter sentido criacutetico A experiecircncia que teve no ensino

baacutesico tanto ao niacutevel do trabalho experimental e investigativo e dos respetivos

relatoacuterios como ao niacutevel da autoavaliaccedilatildeo foi escassa Ainda assim foi capaz de utilizar

formativamente grande parte do feedback escrito fornecido na primeira versatildeo do

relatoacuterio da primeira tarefa

O estudo acompanhou os alunos ao longo de dois anos tendo a turma no primeiro

ano letivo a primeira autora como professora e no segundo ano uma outra

professora que trabalhou de perto com a primeira no que respeita agrave intervenccedilatildeo

pedagoacutegica desenvolvida no acircmbito do estudo No que diz respeito ao contexto

pedagoacutegico-didaacutetico foram implementadas quatro tarefas investigativas (T) ao longo

dos 10ordm e 11ordm anos de escolaridade entre novembro de 2008 e janeiro de 2010 Estas

tarefas envolveram os alunos na realizaccedilatildeo de observaccedilotildees na anaacutelise de fontes de

informaccedilatildeo na planificaccedilatildeo de investigaccedilotildees na utilizaccedilatildeo de instrumentos para

recolher e organizar dados na interpretaccedilatildeo de resultados na proposta de respostas

explicaccedilotildees e previsotildees e na comunicaccedilatildeo dos resultados (NRC 1996) Atendendo a

que as questotildees a investigar foram apresentadas pela professora estas podem

classificar-se em tarefas investigativas guiadas (Bell Smetana amp Binns 2005)

Relativamente a cada tarefa os alunos desenvolveram um relatoacuterio escrito incluindo

cinco secccedilotildees introduccedilatildeo planificaccedilatildeo procedimento resultados e conclusotildees O

guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos mesmos foi discutido na aula que antecedeu a realizaccedilatildeo

da primeira tarefa tendo sido posteriormente elaborada uma ruacutebrica (grelha que

operacionaliza os criteacuterios de avaliaccedilatildeo atraveacutes de descritores de niacuteveis de

desempenho) que foi sofrendo reajustes ao longo do estudo Ao longo do

desenvolvimento das tarefas e dos respetivos relatoacuterios foi fornecido feedback oral e

trecircs dos quatro relatoacuterios (R) envolveram a realizaccedilatildeo de uma segunda versatildeo (V)

norteada pelo feedback escrito Aleacutem disso foi solicitada a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo

escrita que consistiu na atribuiccedilatildeo de um niacutevel a cada secccedilatildeo do relatoacuterio

(considerando os niacuteveis da ruacutebrica) de forma justificada (salientando os pontos fortes e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

420

fracos) Aquando da discussatildeo dos relatoacuterios da segunda tarefa foi entregue e

discutido um relatoacuterio-exemplo que consistiu na compilaccedilatildeo das melhores partes das

produccedilotildees dos alunos

A recolha de dados incluiu a observaccedilatildeo a entrevista e a recolha documental65 A

primeira autora fez observaccedilatildeo participante (Cohen Manion amp Morrison 2003) com

registo aacuteudio nas aulas (A) em que os alunos realizaram as tarefas os respetivos

relatoacuterios e as reflexotildees escritas Aleacutem disso fez entrevistas semiestruturadas (E)

(Burns 2000) com registo aacuteudio aos alunos que constituiacuteram os casos apoacutes a

devoluccedilatildeo da uacuteltima versatildeo de cada relatoacuterio e no final do estudo Esta teacutecnica permite

que o informante revele sentimentos intenccedilotildees significados e pensamentos sobre um

toacutepico ou situaccedilatildeo (Lichtman 2006) Neste caso sobre o desenvolvimento das tarefas

e respetivos relatoacuterios e reflexotildees escritas As questotildees procuraram fomentar a anaacutelise

por parte dos alunos de cada secccedilatildeo do relatoacuterio de modo a favorecer a compreensatildeo

dos processos utilizados para a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo e as razotildees

subjacentes aos aspetos menos conseguidos Procurou-se ainda que os alunos

fizessem uma anaacutelise criacutetica das reflexotildees escritas

A recolha documental permite aceder a alguns pensamentos ideias e significados

atribuiacutedos pelos autores dos documentos e pode levantar questotildees a retomar em

momentos subsequentes da recolha de dados (Lichtman 2006 Yin 2002) Neste

estudo os documentos recolhidos foram fundamentalmente ambas as versotildees dos

relatoacuterios e as reflexotildees escritas A qualidade destas produccedilotildees estaacute relacionada com

uma apropriaccedilatildeo mais ou menos conseguida dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

Na anaacutelise de dados utilizou-se o meacutetodo do questionamento e comparaccedilatildeo

constantes (Strauss amp Corbin 1998) recorrendo-se a categorias definidas durante o

processo de anaacutelise e com base no referencial teoacuterico do estudo Deste modo para

estudar a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo foram consideradas as seguintes

65 As transcriccedilotildees e excertos apresentados satildeo fieacuteis ao que foi ditoescrito pelos alunos logo podem

conter erros ortograacuteficos gramaticais ou natildeo respeitar o acordo ortograacutefico de 1990

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

421

categorias a compreensatildeo a valorizaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo No

que concerne ao estudo do desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo foi

analisada a evoluccedilatildeo das reflexotildees feitas pelos alunos sobre as suas produccedilotildees e das

reformulaccedilotildees realizadas

Apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados

A apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo No que diz respeito agrave compreensatildeo dos

criteacuterios de avaliaccedilatildeo Gustavo salientou que determinadas palavras da ruacutebrica como

por exemplo ldquoadequadordquo poderatildeo ser pouco esclarecedoras se o aluno natildeo souber de

antematildeo o seu significado no contexto em que estatildeo inseridas Por exemplo o que eacute

um esquema adequado para ilustrar o procedimento adotado

Soacute que aiacute o niacutevel maacuteximo diz ldquoInclui um esquema adequadordquo mas como eacute

que noacutes sabiacuteamos quehellip ahh pronto o que eacute o esquema adequado

Pronto natildeo sei talvez pudesse tar [sic] um pouco mais expliacutecito (hellip) Natildeo

sabemos como eacute que vai ser o esquema adequado (E3)

Ao natildeo compreender o que se pretendia o Gustavo natildeo incluiu qualquer esquema

ilustrativo no relatoacuterio da primeira tarefa ateacute porque parece natildeo ter valorizado esta

parte do relatoacuterio uma vez que uma descriccedilatildeo pormenorizada dos passos realizados

permitiria dar a conhecer o que foi feito

Porque eu ainda tentei fazer um esquemazinho com as setinhas e o que eacute

que podia fazer (hellip) Natildeo tinha loacutegica nenhuma (hellip) Estava a ver que natildeo iria

conseguir e entatildeo desisti do esquema e tentei explicar mais

pormenorizadamente estes passos (E1)

Na primeira versatildeo do relatoacuterio da segunda tarefa em vez de representar o esquema

de montagem apresentado na simulaccedilatildeo computacional (utilizada para dar resposta agraves

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

422

questotildees-problema) elaborou um esquema que procurava ilustrar os caacutelculos

efetuados (Figura 1) Nesta altura parecia existir uma tensatildeo entre os padrotildees

autoimpostos e o que era pretendido Nem a explicitaccedilatildeo e exemplificaccedilatildeo do que se

pretendia durante a primeira entrevista nem a pista fornecida atraveacutes de feedback

escrito na primeira versatildeo deste relatoacuterio (ldquoum esquema da simulaccedilatildeo ajudava a

compreender o que fizeram o que mediramrdquo) conduziram a um ajustamento ou a um

autocontrolo das suas representaccedilotildees iniciais uma vez que a segunda versatildeo

continuou a incluir um esquema que natildeo ia ao encontro do esperado O relatoacuterio-

exemplo parece ter contribuiacutedo para que o Gustavo compreendesse e valorizasse o

que se pretendia de tal modo que elaborou um esquema adequado para incluir no

relatoacuterio da quarta tarefa (Figura 2)

Figura 1 Excerto do procedimento (R2_V1)

Figura 2 Esquema ilustrativo do

procedimento (R4_V1)

No que diz respeito agrave organizaccedilatildeo do registo e do tratamento dos dados inicialmente

emergiu a conceccedilatildeo de que o registo de dados deveria incluir mediccedilotildees diretas e

indiretas ldquoPenso que o registo de dados tenha sido da [sic] tabela porque satildeo os dados

registados o que noacutes tiacutenhamos tirado da simulaccedilatildeo e os resultados a que tiacutenhamos

chegado (E2)rdquo Apesar do feedback escrito e oral fornecido no acircmbito do relatoacuterio da

segunda tarefa surgiu uma tensatildeo entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo e os padrotildees

autoimpostos Durante a entrevista sobre a terceira tarefa o aluno parece

compreender que se pretende que haja uma separaccedilatildeo entre o registo e o tratamento

de dados mas considera que a leitura e compreensatildeo do relatoacuterio satildeo facilitadas se

esta separaccedilatildeo natildeo existir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

423

Por um lado estaacute bem feito mas por outro natildeo estaacute bem organizado

porque talvez os registos dos dados deviam estar todos juntos Soacute que

aqui como estamos tipo fazemos dizemos os dados depois fazemos a

contahellip Se fizeacutessemos soacute a conta a pessoa que natildeo visse nada era capaz de

pensar ldquoTaacute [sic] aqui mas onde eacute que eles foram buscar os dadosrdquo (hellip)

Penso que seja melhor assim como estaacute porque pronto eacute mais seguido a

pessoa vai com a loacutegica Pronto aqui mete-se a loacutegica para a pessoa soacute

que natildeo taacute [sic] pronto tatildeo cientiacutefico (E3)

Apenas no acircmbito do desenvolvimento do relatoacuterio da quarta tarefa o Gustavo

demonstrou querer separar o registo do tratamento de dados

Gustavo ndash A gente deviacuteamos [sic] de acho que eacute para dividirmos isto em

medidas diretas e medidas indiretas As diretas eacute as que a gente tipo

vemos [sic] tipo o alcance quanto vai medimos

Luiacutesa ndash Sim

Gustavo ndash E tiramos o tempo Enquanto a velocidade natildeo conseguimos

tirar logo temos de a calcular

Luiacutesa ndash Sim

Gustavo ndash Acho que eacute para fazer isso assim (T4_A1)

No que diz respeito agrave aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo o Gustavo adotou vaacuterias

estrateacutegias de apoio Uma delas foi o pedido de ajuda tanto aos colegas de grupo

[falas 1 a 5 do excerto seguinte] como agrave professora [fala 6] para conseguir

desenvolver com rigor e completude algumas partes do relatoacuterio especialmente

aquelas que envolviam a execuccedilatildeo de caacutelculos Procurou natildeo soacute obter uma resposta

correta mas tambeacutem compreender o raciociacutenio subjacente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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1 Gustavo ndash Como eacute que se faz a massa molar (hellip)

2 Duarte ndash Agora vais fazer M igual a quatro 3 Gustavo ndash Onde eacute que tu foste buscar o quatro 4 Duarte ndash Vi pela Tabela Perioacutedica Vezes um 5 Gustavo ndash Como eacute que sabes que eacute um (T2_A1)

6 Gustavo ndash Oacute stora o Gomes fez isto [a previsatildeo de resultados] assim soacute que eu jaacute natildeo tou a entender nada disto (T3_A1)

Uma outra estrateacutegia utilizada foi a aprendizagem atraveacutes do erro Por exemplo a

partir do relatoacuterio da primeira tarefa o Gustavo passou a desenvolver introduccedilotildees

teoacutericas mais completas incluindo a definiccedilatildeo das grandezas mais relevantes

Gustavo ndash Penso que uma pessoa como se diz tambeacutem aprende com os

erros natildeo eacute

(hellip)

Investigadora ndash Daacute-me laacute um exemplo

Gustavo ndash Um exemplo Aqui na introduccedilatildeo por exemplo quando a stora

diz para eu explicar o que eacute a massa voluacutemica se para uma proacutexima vez eu

utilizar a massa voluacutemica e tambeacutem a terei de referir na introduccedilatildeo e daiacute

explicaacute-la de uma forma detalhada

Investigadora ndash Entatildeo e se natildeo for a massa voluacutemica se for outro assunto

qualquer

Gustavo ndash Se for outro assunto tambeacutem (hellip) eu dei o exemplo da massa

voluacutemica (E1)

Tambeacutem ao niacutevel do rigor cientiacutefico parece ter havido uma aprendizagem com o erro

na medida em que algumas falhas cometidas nos primeiros relatoacuterios natildeo se repetiram

nos subsequentes Na primeira versatildeo do relatoacuterio da primeira tarefa o Gustavo

escreveu ldquoanota-se o resultado indicado no visor da balanccedila que corresponde agrave

quantidade de massa do tipo de areia em 10 cm3rdquo (R1_V1) Ao ter sido indicado

atraveacutes de feedback escrito que ldquoNatildeo eacute correcto dizer quantidade de massa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

425

quantidade de temperatura quantidade de volumerdquo este erro natildeo voltou a ser

cometido Neste relatoacuterio o aluno tambeacutem indicou que ldquoDepois divide-se o resultado

da massa por 10 que eacute para obter-mos [sic] o resultado em gcm3rdquo (R1_V1) sem

referir a grandeza que estava a calcular Atendendo ao comentaacuterio escrito ldquoO

resultado do quecirc Que grandeza estaacutes a calcularrdquo o aluno acrescentou na segunda

versatildeo a grandeza que estava a ser determinada (a massa voluacutemica) Aleacutem disso em

ambas as versotildees do relatoacuterio da segunda tarefa continuou a indicar as grandezas

medidas ou calculadas em vez da sua unidade ldquocalcular a massa molarrdquo ldquocalcular o

volume molarrdquo (R2_V1) ldquocalcular o nuacutemero de partiacuteculasrdquo (R2_V2) evidenciando que

a aprendizegem tinha sido feita

O Gustavo procurou ainda criar um ambiente favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do relatoacuterio

propondo que a realizaccedilatildeo ou a revisatildeo de algumas partes em que sentia mais

dificuldade ou que considerava natildeo estarem de acordo com o esperado (com falhas ao

niacutevel do rigor da expressatildeo escrita incompletas ou pouco desenvolvidas) decorresse

num ambiente mais calmo e com mais tempo

A estrateacutegia que noacutes optaacutemos foi calcular a energia cedida pela limonada

pois esta eacute igual agrave energia absorvida pela aacutegua fria ou pelo gelo Natildeo eacute Eu

acho que isto natildeo estaacute bem dito Eu em casa tenho de ver isto Depois tens

de me mandar isso Duarte (hellip) Agora natildeo sei mais (T3_A1)

Ao longo da elaboraccedilatildeo dos relatoacuterios o Gustavo recorreu ainda agrave interaccedilatildeo criacutetica

consigo proacuteprio Propocircs e fez alteraccedilotildees de forma a melhorar fundamentalmente a

escrita o rigor cientiacutefico e a correccedilatildeo analiacutetica

Isto eacute o peso do balatildeo Peso do balatildeo igual a 96 ponto 753 (hellip) Espera aiacute

isto eacute qual pesohellip isto eacute massa qual peso (T2_A1)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

426

Porque depois tipo primeiro fiz as contas todas soacute que dava-me nuacutemeros

um bocado grandes Entatildeo mas o que eacute que se passa aqui Isto eacute

impossiacutevel dar um escorrega com 100 metros Fui ver natildeo sei quecirc tinha-

me esquecido de meter na energia cineacutetica a velocidade ao quadrado (hellip)

Enganei-me uma data de vezes (T4_A3)

O desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo A autorregulaccedilatildeo envolve

numa primeira fase a reflexatildeo sobre a produccedilatildeo atendendo aos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

e numa segunda fase a reformulaccedilatildeo da produccedilatildeo para que esta se aproxime do que

eacute esperado No que diz respeito agraves reflexotildees realizadas pelo Gustavo a partir do

primeiro relatoacuterio deixaram de ser tatildeo vagas e de se restringir agrave anaacutelise da

completude (presenccedila ou ausecircncia dos itens solicitados) contemplando outros

criteacuterios de avaliaccedilatildeo (por exemplo o desenvolvimento) e por vezes a justificaccedilatildeo das

suas afirmaccedilotildees Ainda assim verificou-se que ao longo do estudo a argumentaccedilatildeo

relativamente aos criteacuterios assinalados como pontos fortes ou fracos geralmente foi

diminuta

Estrateacutegias ndash 3 porque apresento poucas estrateacutegias Procedimento ndash 3 porque natildeo apresento um esquema (R1_V1) A estrateacutegia natildeo estaacute bem explicada de uma forma detalhada (T2_A3) O esquema natildeo tem legenda apesar de ilustrar o procedimento (R2_V2)rdquo

Como se pode verificar atraveacutes da anaacutelise do quadro seguinte ao longo do tempo

verifica-se um aumento da percentagem de itens cuja avaliaccedilatildeo por parte de Gustavo

esteve em conformidade com a do professor Este aumento verifica-se tanto quando

se comparam as primeiras versotildees entre si como as segundas versotildees Assim pode

sugerir-se que a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo contribuiu para a realizaccedilatildeo de

apreciaccedilotildees mais fidedignas ao longo do tempo

Quadro 1 Percentagem de itens cuja avaliaccedilatildeo por parte do Gustavo esteve em conformidade com a do professor nos vaacuterios relatoacuterios

Relatoacuterio 1ordf Tarefa 2ordf Tarefa 4ordf Tarefa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

427

1ordf Versatildeo 50 50 63

2ordf Versatildeo 50 86 ----

Natildeo foram apresentadas pelo grupo do Gustavo as reflexotildees escritas sobre o relatoacuterio da terceira tarefa e sobre a segunda versatildeo do relatoacuterio da quarta tarefa No entanto no que diz respeito agrave secccedilatildeo das conclusotildees a explicaccedilatildeo dos efeitos das

fontes de erro eacute um item que nunca foi assinalado como um ponto fraco Contudo os

alunos nunca explicaram os efeitos o que leva a supor que natildeo compreenderam o que

era pretendido

Investigadora ndash Vocecircs explicam o efeito de cada uma das fontes de erro

nos resultados

Gustavo ndash () Acho que dizemos o que eacute que pronto o que eacute que as

fontes de erro fizeram Penso eu

()

Investigadora ndash Vocecircs dizem o facto de massa ter ficado laacute o facto disto o

facto daquilohellip influenciaram o resultadohellip

Gustavo ndash Mas natildeo influenciaram como

Investigadora ndash Natildeo explicam eacute como

Gustavo ndash Exato Jaacute entendi Pois (E3)

Agrave semelhanccedila do que se verificou relativamente agrave reflexatildeo sobre os relatoacuterios as

reformulaccedilotildees tambeacutem parecem ter sido favorecidas pela compreensatildeo e

interiorizaccedilatildeo daquilo que era esperado Durante a primeira entrevista mediante os

esclarecimentos fornecidos sobre o que era pretendido o Gustavo ao contraacuterio do

que se verificou em ambas as versotildees do relatoacuterio da primeira tarefa conseguiu

identificar fontes de erro (fala 1) Na quarta entrevista foi capaz de fazer

autonomamente uma anaacutelise criacutetica de aspetos que em relatoacuterios anteriores tinham

sido pouco conseguidosausentes (como o esquema ilustrativo) e propocircs melhorias

(fala 2)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

428

1 Penso que tambeacutem natildeo tenha escrito as fontes de erro (hellip) Quando noacutes pesamos tem sempre o erro erro de observaccedilatildeo (hellip) Poderia ter alguma coisa algum componente diferente do outro canto (hellip) Natildeo ficar certamente no limite eacute de olho natildeo se consegue ter a certeza que eacute mesmo no limite ou entatildeo pode ter algum erro de caacutelculo (E1)

2 A gente temos [sic] aqui as medidas reais e tudo porque isto eacute o procedimento eacute o procedimento que a gente utilizamos [sic] na experiecircncia e este esquema eacute sobre o escorrega que ia ser feito na realidade Tem aqui cinco metros e sete metros Isto era impossiacutevel a gente fazer [na aula praacutetica] (hellip) Natildeo metiacuteamos medidas nenhumas e ficava pronto ficava ao criteacuterio depois do que eacute que a gente iacuteamos [sic] utilizar tanto que a gente natildeo sabiacuteamos [sic] A gente natildeo sabiacuteamos [sic] o alcance (E4)

Embora existam evidecircncias que apontam para o desenvolvimento da competecircncia de

autorregulaccedilatildeo o Gustavo nem sempre se envolveu neste processo tanto quanto seria

desejaacutevel Durante a entrevista que sucedeu a quarta tarefa o aluno referiu que natildeo

releu todo o relatoacuterio ldquoNatildeo eu acho que este relatoacuterio a gente nem chegaacutemos [sic] a

ler o relatoacuterio a relerrdquo (E4) Tambeacutem no relatoacuterio da terceira tarefa concluiacutedo extra-

aula a leitura feita pelo Gustavo antes de o entregar natildeo parece ter sido muito

pormenorizada ldquoPronto fomos dar assim uma revisatildeo Natildeo eacute preciso ler os

pormenores todosrdquo (E3) Tal sugere que fornecer mais tempo poderaacute natildeo ser

suficiente para se fomentar a realizaccedilatildeo de reflexotildees mais cuidadas Aleacutem disso

verificou-se que muitas vezes esta reflexatildeo realizada no final da elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios natildeo culminou em reformulaccedilotildees relativamente aos aspetos identificados

como pontos fracos

Conclusotildees

Os criteacuterios que inicialmente natildeo foram compreendidos parecem natildeo ter sido

valorizados porque natildeo foram contemplados no(s) primeiro(s) relatoacuterio(s) e natildeo houve

um questionamento para esclarecer o que era pretendido

O diaacutelogo que se estabeleceu principalmente em relaccedilatildeo agraves produccedilotildees do Gustavo

(atraveacutes do confronto entre as mesmas e o que era esperado) favoreceu a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

429

identificaccedilatildeo de aspetos menos claros e de padrotildees autoimpostos Logo a verbalizaccedilatildeo

do significado dos criteacuterios realizada pelo aluno em colaboraccedilatildeo com a professora teve

um papel muito importante (Nunziati 1990) A partir dela o professor compreende o

modo como os alunos interpretam os criteacuterios de avaliaccedilatildeo e confronta as suas

representaccedilotildees com as deles para se alcanccedilar um entendimento comum (Barbosa amp

Alaiz 1994)

Ao longo do estudo por vezes emergiram tensotildees entre os padrotildees autoimpostos e os

criteacuterios de avaliaccedilatildeo tal como se verificou nos estudos desenvolvidos por Gomes

(2005) e Semana (2008) e em algumas situaccedilotildees o processo de modificaccedilatildeo das

representaccedilotildees do Gustavo mostrou-se lento Por vezes foi necessaacuterio recorrer a mais

do que um recurso foi preciso fornecer feedback em vaacuterios momentos e recorrer agrave

anaacutelise do exemplo Para este aluno parece ser essencial compreender e concordar

com as razotildees subjacentes ao que eacute solicitado para que o ajustamento ou autocontrolo

ocorra Tal como Santos (2008) salienta eacute fundamental que os criteacuterios de avaliaccedilatildeo

faccedilam sentido para os proacuteprios alunos de modo a que natildeo ocorram falsas

apropriaccedilotildees

No que diz respeito agrave aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo o Gustavo adotou vaacuterias

estrateacutegias com o intuito de ir ao encontro do esperado tais como a interaccedilatildeo criacutetica

consigo proacuteprio o pedido de ajuda (aos colegas e agrave professora) a aprendizagem

atraveacutes do erro e a criaccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do relatoacuterio

Relativamente ao desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo os resultados parecem sugerir

que a qualidade das reflexotildees foi favorecida pela apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo A partir do relatoacuterio da primeira tarefa as reflexotildees deixaram de ser tatildeo

vagas e incidiram num leque mais diversificado de criteacuterios de avaliaccedilatildeo Tal como no

estudo desenvolvido por Semana e Santos (2012) observou-se uma aproximaccedilatildeo entre

a reflexatildeo dos alunos sobre o seu desempenho e a avaliaccedilatildeo do professor Aleacutem disso

as reformulaccedilotildees tambeacutem parecem ter sido favorecidas pela compreensatildeo e

interiorizaccedilatildeo daquilo que era esperado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

430

Mas se por um lado a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo parece ter fomentado

reflexotildees mais adequadas e subsequentes reformulaccedilotildees (escritas ou orais) por outro

quando os criteacuterios natildeo foram apropriados a reflexatildeo que foi feita em relaccedilatildeo a eles

tambeacutem natildeo foi adequada apoiando a ideia de que a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo essencial para o desenvolvimento da autoavaliaccedilatildeo (Dann 2002)

Apesar de as evidecircncias sugerirem a ocorrecircncia de algum progresso no que diz

respeito agrave competecircncia de autorregulaccedilatildeo verificou-se que por vezes as reflexotildees

feitas pelo Gustavo foram pouco pormenorizadas e argumentadas e as reformulaccedilotildees

realizadas durante o desenvolvimento dos relatoacuterios foram pouco frequentes Estes

resultados parecem sustentar que eacute difiacutecil levar os alunos a refletir sobre o seu proacuteprio

trabalho nomeadamente em funccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo com a profundidade

que se pretende (Black Harrison Lee Marshall amp Wiliam 2003) Deste modo o

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo parece ser um processo

complexo e que requer tempo (Black et al 2003 Semana 2008) Em futuras

investigaccedilotildees seria importante investigar formas de levar os alunos a refletir mais

profunda e criticamente sobre os processos utilizados e sobre as suas produccedilotildees

assim como a reformular as suas produccedilotildees na sequecircncia dessas reflexotildees

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434

A institucionalizaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas atraveacutes de

mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e traduccedilatildeo anaacutelise cognitiva

de uma poliacutetica puacuteblica

Elvira Tristatildeo

Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa

elviratristaogmailcom

Resumo

O projeto de investigaccedilatildeo em curso visa conhecer os mecanismos atraveacutes dos quais a

autoavaliaccedilatildeo das escolas tem vindo a instituir-se como um novo instrumento poliacutetico

de regulaccedilatildeo local da educaccedilatildeo

Analiso a implementaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas enquanto processo que se

desenrola num contexto global de reconfiguraccedilatildeo do papel dos Estados Concebo esta

poliacutetica enquanto accedilatildeo puacuteblica onde intervecircm muacuteltiplos atores em escalas e niacuteveis de

accedilatildeo variados num quadro multipolar de interdependecircncias onde as fronteiras entre

puacuteblico e privado social e econoacutemico se esbatem sendo o Estado um ator entre

muitos Neste contexto de governanccedila encaro a autoavaliaccedilatildeo das organizaccedilotildees

escolares como um instrumento de regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo Considero que esse

instrumento de regulaccedilatildeo se baseia no conhecimento produzido e difundido no seio de

redes complexas de atores e que os profissionais mobilizam esses conhecimentos para

a operacionalizaccedilatildeo de dispositivos de autoavaliaccedilatildeo que por sua vez satildeo o resultado

de processos de traduccedilatildeo e de bricolagem

Analiso os dispositivos de autoavaliaccedilatildeo dos agrupamentos de escolas e escolas natildeo

agrupadas da Regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo que no periacuteodo entre 20062007 e

20102011 foram objeto de avaliaccedilatildeo externa recorrendo agrave anaacutelise de conteuacutedo da

secccedilatildeo respeitante ao domiacutenio ldquoCapacidade de autorregulaccedilatildeo e melhoriardquo dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

435

relatoacuterios produzidos pelos avaliadores externos Atraveacutes desse estudo extensivo

exploratoacuterio procuro fazer uma caracterizaccedilatildeo dos dispositivos produzidos pelas

organizaccedilotildees escolares focando a minha anaacutelise em trecircs eixos os atores envolvidos o

conhecimento organizacional evidenciado e os dispositivos de autoavaliaccedilatildeo

montados No acircmbito deste uacuteltimo eixo fiz uma entrada pelos modelos de

autoavaliaccedilatildeo identificados e constatei que cerca de 30 das escolasagrupamentos

tinham recorrido ao CAF (Common Assessment Framework) Esse dado conduziu a

uma nova etapa do estudo que me permitiu iluminar a dimensatildeo europeia na

elaboraccedilatildeo e difusatildeo da poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo

Palavras-chave autoavaliaccedilatildeo instrumentaccedilatildeo regulaccedilatildeo

Abstract

With this research I intend to know the arrangements through which the school self-

evaluation has been institutionalized as a new political tool on the educationrsquos local

regulation

I analyse the implementation of the school self-evaluation as a process developed in a

context of global reconfiguration of the role of States I conceive this policy as public

action in which multiple actors take part in diverse scales and levels of action in a

multipolar framework of interdependencies where the boundaries between public and

private social and economic become blurred and where the State is one among many

others In this context of governance I treat the schoolrsquos self-evaluation as a tool of

educationrsquos regulation I consider that this regulationrsquos tool is founded on the

knowledge produced and diffused within complex networks of actors and that those

professionals mobilize those knowledges to operate school self-evaluation which are

in turn the result of translation and bricolage processes

I analyse the self-evaluationrsquos processes of the schools and the schools clusters of the

Lisbon and Tagus Valleyrsquos Region which between 20062007 and 20102011 have

been submitted to the school external evaluation To this end I resort to the content

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

436

analyse of the external evaluationrsquos reports on the section concerning the dimension

laquo Self-regulation capacity and improvement raquo elaborated by the external evaluators

Through this extensive exploratory study I intend to describe the devices elaborated

by the schools focusing my analysis upon three axes the actors engaged the

organizational knowledge evidenced and the assembled devices As part of the last

axis I made an entrance through the self-evaluation models identified on the reports

and I found that about 30 of schoolsschools clusters have adopted the CAF

(Common Assessment Framework) This outcome led the research to a new stage

which let me illuminate the Europeanrsquos dimension of the fabrication and diffusion of

the public policy of self-evaluation

Keywords self-evaluation tool regulation

Introduccedilatildeo

A emergecircncia das poliacuteticas de avaliaccedilatildeo nos sistemas educativos nacionais tem

evidenciado a introduccedilatildeo de novos modos de regulaccedilatildeo na educaccedilatildeo que importa

analisar enquanto fenoacutemeno poliacutetico com implicaccedilotildees na regulaccedilatildeo social Este

fenoacutemeno enquadra-se num processo de reconfiguraccedilatildeo do papel do Estado num

contexto de globalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e de expansatildeo do paradigma neoliberal

nas sociedades capitalistas

No conjunto das poliacuteticas de avaliaccedilatildeo em educaccedilatildeo escolhi a poliacutetica puacuteblica de

autoavaliaccedilatildeo da escola para nosso objeto de estudo Procurei compreender os

mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e traduccedilatildeo do conhecimento na implementaccedilatildeo da

autoavaliaccedilatildeo organizacional nos estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino natildeo

superior

No estudo do processo de implementaccedilatildeo desta poliacutetica puacuteblica concebo-a enquanto

accedilatildeo puacuteblica levada a cabo por uma diversidade de atores em muacuteltiplos contextos de

praacutetica Assim desloco a minha anaacutelise dos textos e da decisatildeo poliacutetica para olhar para

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

437

a autoavaliaccedilatildeo da escola enquanto processo de aprendizagem pelos atores que a

recontextualizam em dispositivos de avaliaccedilatildeo interna

1 Apresentaccedilatildeo do quadro teoacuterico-conceptual para uma anaacutelise das poliacuteticas

puacuteblicas

Concebo uma poliacutetica puacuteblica enquanto ldquoprograma de accedilatildeo governamentalrdquo (Rose amp

Davies 1994) No entanto mesmo quando satildeo articulados em termos nacionais os

processos que definem a poliacutetica educacional satildeo constituiacutedos globalmente e muito

para laacute do Estado-naccedilatildeo ( Hassenteufel 2008 Rizvi amp Lingard 2010)

Uma poliacutetica puacuteblica eacute tambeacutem um processo que veicula conteuacutedos se traduz em

accedilotildees e gera efeitos (Thoenig 2006) Os conteuacutedos veiculados pelas poliacuteticas puacuteblicas

remetem para a sua dimensatildeo cognitiva que se prende com os valores que estas

comportam nos seus aspetos discursivos Por sua vez as accedilotildees desencadeadas pelas

poliacuteticas puacuteblicas resultam em arranjos institucionais que fazem coexistir as mudanccedilas

propostas com as normas preexistentes no seio de contextos culturais histoacutericos e

poliacuteticos simultaneamente muacuteltiplos e singulares Os efeitos produzidos muitas vezes

escapam agrave intencionalidade expressa nos textos que cristalizam a tomada de decisatildeo

pois os diferentes atores implicados na sua implementaccedilatildeo protagonizam diferentes

processos de aprendizagem atraveacutes dos quais reelaboram essas poliacuteticas

Interessa-me especialmente ldquoa accedilatildeo dos atores as suas interaccedilotildees e o sentido que

estes lhes datildeo mas tambeacutem as normas que orientam o conjunto dessas interaccedilotildees

assim como as representaccedilotildees coletivasrdquo (Lascoumes amp Le Galegraves 2007 p 10) Concebo

o conhecimento envolvido no processo poliacutetico como uma construccedilatildeo social da

realidade que ldquose desenvolve transmite e conserva em situaccedilotildees sociaisrdquo (Berger amp

Luckmann 2004) Neste sentido postulo que o conhecimento ndash incluindo o

conhecimento cientiacutefico - natildeo eacute neutro porquanto eacute situado relativamente aos seus

contextos de produccedilatildeo A sua difusatildeo constitui um processo contiacutenuo cujas dinacircmicas

determinam a sua traduccedilatildeo e reproduccedilatildeo em contextos de praacutetica Como Callon

(Callon 2006 p 268) postulo que ldquoum facto cientiacutefico ou um artefacto tecnoloacutegico satildeo

moldados por forccedilas exteriores cuja origem se situa na sociedade pode tratar-se por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

438

exemplo de interesses ou ideologias ou ainda de relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo ou de

poderrdquo (Callon 2006 p 268)

2 O papel do conhecimento nas poliacuteticas de avaliaccedilatildeo da escola

Salientando o papel que o conhecimento tem na esfera da decisatildeo poliacutetica situo as

origens da poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo institucional nos estudos sobre a escola

que a partir da deacutecada de 1960 deram origem aos movimentos de eficaacutecia e melhoria

da escola Os conhecimentos cientiacuteficos produzidos sobre os fatores que condicionam

a eficaacutecia das escolas no que respeita ao sucesso acadeacutemico dos seus alunos e agrave

garantia da igualdade de oportunidades para todos tecircm vindo assim a sustentar os

discursos que legitimam a poliacutetica de avaliaccedilatildeo das escolas Todavia estes movimentos

com origem no mundo acadeacutemico das ciecircncias da educaccedilatildeo inscrevem-se em

contextos poliacuteticos mais abrangentes que se desenvolvem em interaccedilatildeo com

fenoacutemenos econoacutemicos E eacute por isso importante recordar que a necessidade de olhar

para a escola como o centro estrateacutegico da mudanccedila e da melhoria da educaccedilatildeo

coincide com a retraccedilatildeo do investimento puacuteblico nos sistemas educativos nacionais em

consequecircncia do decliacutenio do paradigma keinesiano do Estado-providecircncia e da

progressiva expansatildeo ao niacutevel global dos ideais neoliberais assentes no mercado

como modo privilegiado de regulaccedilatildeo econoacutemica e social Eacute com esta moldura que

olho para a poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo da escola como ldquoportadora

simultaneamente de uma ideia do problema de uma representaccedilatildeo do grupo social ou

do setor implicado que esta contribui para tornar presente e de uma teoria de

mudanccedila socialrdquo (Muller 1995 p 159) Neste sentido os objetivos de eficiecircncia e

eficaacutecia presentes nos discursos sobre a avaliaccedilatildeo da escola estatildeo associados agrave

necessidade de alcanccedilar melhores resultados escolares com menos recursos num

clima de competiccedilatildeo e comparaccedilatildeo

Um conceito central na minha anaacutelise eacute o de ldquogovernanccedilardquo Encarada como um

sistema de organizaccedilatildeo num mundo pacificado e democraacutetico e preservando a

concorrecircncia entendo que a governanccedila visa alcanccedilar o interesse geral atraveacutes de

uma constante renegociaccedilatildeo dos compromissos (Gaudin 2002) Nessa dinacircmica de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

439

constante renegociaccedilatildeo de compromissos intervecircm inuacutemeros atores numa intrincaccedilatildeo

entre teacutecnica e poliacutetica puacuteblico e privado nacional e internacional (Defarges 2002)

Olhar para as poliacuteticas puacuteblicas enquanto accedilatildeo puacuteblica implica enquadrar o papel do

Estado num sistema multipolar de governo tendo em conta a interaccedilatildeo de atores

exteriores agrave esfera governamental a ausecircncia de rigidez nas fronteiras entre a accedilatildeo

econoacutemica e social a interdependecircncia entre as instacircncias formais e os atores

associados agrave accedilatildeo coletiva a intervenccedilatildeo de redes de autores autoacutenomos e a

possibilidade de accedilatildeo natildeo endossaacutevel ao Estado (Stoker 1998)

Eacute com este enquadramento que olho para a autoavaliaccedilatildeo da escola como um

instrumento de regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo baseado no conhecimento Nesse processo de

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do conhecimento no que diz respeito aos fatores de eficaacutecia e

melhoria mas tambeacutem a questotildees metodoloacutegicas e conceptuais sobre como avaliar as

organizaccedilotildees escolares participam inuacutemeros atores Esses atores satildeo oriundos dos

setores puacuteblico e privado pertencem ao campo da educaccedilatildeo mas tambeacutem ao da

economia e da gestatildeo fazem parte das hierarquias estatais mas tambeacutem de

organizaccedilotildees internacionais e de redes de peritos

3 A autoavaliaccedilatildeo da escola loacutegicas e modos de regulaccedilatildeo

Correspondendo agrave outra face da poliacutetica de promoccedilatildeo da autonomia da escola

(Afonso 1999) a autoavaliaccedilatildeo institucional eacute proposta aos docentes e aos agentes

educativos em cada comunidade como um instrumento atraveacutes do qual se prestam

contas ao mesmo tempo que se implementam processos de melhoria Aparentemente

este novo modo de regulaccedilatildeo da escola parece substituir a regulaccedilatildeo de conformidade

para com as regras hierarquicamente estatuiacutedas pela regulaccedilatildeo pelos resultados Ao se

implicarem nestes processos de accedilatildeo coletiva os atores escolares e em especial os

professores definem compromissos que visam o interesse geral E eacute por isso que

entendo a autoavaliaccedilatildeo como um instrumento de regulaccedilatildeo soft

A cultura de avaliaccedilatildeo que se vai instituindo na escola inscreve-se em certa medida

num discurso reformista que defende a modernizaccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos por

mimetismo aos meacutetodos de gestatildeo do mundo empresarial e da atividade das empresas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

440

privadas e que se concretiza no movimento da nova gestatildeo puacuteblica (new public

management) Assim esta cultura de avaliaccedilatildeo ora atende ao conhecimento que

radica do campo das ciecircncias da educaccedilatildeo sobre os fatores de melhoria e eficaacutecia da

escola ora se hibridiza com outros conhecimentos oriundos da economia e da gestatildeo

no acircmbito dos processos de garantia da qualidade

As poliacuteticas de avaliaccedilatildeo concretizam um novo modelo de Estado ndash o Estado-avaliador

ndash que natildeo abdicando das funccedilotildees de definiccedilatildeo dos objetivos e de controlo do sistema

delega nas instituiccedilotildees educativas e na sociedade civil as tarefas de provisatildeo da

educaccedilatildeo e de implementaccedilatildeo de processos de melhoria para alcanccedilar as metas e os

padrotildees tidos por desejados com base em dispositivos de autoavaliaccedilatildeo formal A

escola passa com estas poliacuteticas de responsabilizaccedilatildeo a ser sujeito e objeto de

controlo social atraveacutes da combinaccedilatildeo de programas de avaliaccedilatildeo externa com

processos de autoavaliaccedilatildeo A autoavaliaccedilatildeo das escolas eacute assim apresentada como

uma estrateacutegia essencial para o desenvolvimento organizacional e dos seus

profissionais que se desenvolve atraveacutes da praacutetica coletiva de reflexatildeo sobre as

praacuteticas ao mesmo tempo que constitui um instrumento chave para o planeamento

estrateacutegico e para a tomada de decisatildeo Deste modo a autoavaliaccedilatildeo da escola

apresenta-se ao mesmo tempo como um instrumento de regulaccedilatildeo institucional de

controlo por parte do Estado e da sociedade civil e de regulaccedilatildeo autoacutenoma pela accedilatildeo

dos atores que ajustam as suas condutas a regras localmente construiacutedas

A autoavaliaccedilatildeo da escola enquanto instrumento local da educaccedilatildeo pode concretizar-

se vinculada agrave loacutegica burocraacutetico-profissional proacutepria de um modelo de Estado

centralizador que privilegia a regulaccedilatildeo de controlo obedecendo agrave loacutegica de mercado

que olha para os alunos e suas famiacutelias como consumidores no ldquomercado educativordquo

ou numa loacutegica comunitaacuteria Estes trecircs modos de regulaccedilatildeo da escola pressupotildeem

dinacircmicas poliacuteticas que se traduzem em ldquoalianccedilas bipolares de que resultam sempre

um terceiro excluiacutedordquo (Barroso 2005 p 73) Com a regulaccedilatildeo burocraacutetico-profissional

os pais satildeo os excluiacutedos de uma regulaccedilatildeo assente na alianccedila entre o Estado e os

professores na regulaccedilatildeo pelo mercado a alianccedila do Estado com os pais dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

441

exclui os professores finalmente a regulaccedilatildeo comunitaacuteria pressupotildee a alianccedila entre

pais e professores em detrimento do Estado (ibidem) Nos dispositivos de

autoavaliaccedilatildeo julgo ser possiacutevel encontrar a presenccedila dessas loacutegicas em tensatildeo uma

vez que estas fazem parte das distintas representaccedilotildees dos diferentes atores sobre

este instrumento por sua vez moldadas pelas normas e valores que integram as

culturas escolares Neste sentido entendo que estes instrumentos de regulaccedilatildeo tecircm

uma natureza hiacutebrida coexistindo neles diferentes loacutegicas

4 A implementaccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das escolas nas escolas e

agrupamentos de escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo uma entrada

pela avaliaccedilatildeo externa das escolas

Desenvolvo um estudo qualitativo naturalista (Afonso 2005) que visa descrever e

interpretar o modo como nas organizaccedilotildees escolares a poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das

escolas eacute reapropriada pelos atores escolares em dispositivos de avaliaccedilatildeo interna e

compreender em que medida estes constituem instrumentos de autorregulaccedilatildeo

organizacional O design investigativo contempla uma primeira etapa extensiva de

caraacuteter exploratoacuterio e prevecirc o cruzamento desta com um estudo intensivo num

segundo momento Na primeira foco as estruturas formais de avaliaccedilatildeo interna das

escolas e agrupamentos de escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo que foram

objeto de avaliaccedilatildeo externa no periacuteodo de universalizaccedilatildeo do programa de Avaliaccedilatildeo

Externa das Escolas (de 20062007 a 2010-2011) Elejo como fontes documentais os

relatoacuterios de avaliaccedilatildeo externa de cada uma das organizaccedilotildees escolares avaliadas

produzidos pelas equipas de avaliadores e publicados pela Inspeccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo

(atualmente IGEC) designadamente a secccedilatildeo correspondente ao domiacutenio ldquocapacidade

de autorregulaccedilatildeo e melhoria da escolardquo composto pelos fatores ldquoautoavaliaccedilatildeordquo e

ldquosustentabilidade do progressordquo

Procedi agrave anaacutelise de conteuacutedo de 345 relatoacuterios exclusivamente da secccedilatildeo acima

referida partindo de uma grelha de anaacutelise para descrever os processos de

autoavaliaccedilatildeo implementados por aquelas organizaccedilotildees escolares aquando da

atividade de avaliaccedilatildeo externa A minha anaacutelise documental conduziu-me agrave construccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

442

de uma base de dados composta por categorias analiacuteticas por indexaccedilatildeo visando

saber a) quem foram os atores envolvidos nos dispositivos de autoavaliaccedilatildeo na escola

ou agrupamento de escolas b) quais os objetos focados nessa avaliaccedilatildeo c) que

estrateacutegias foram desenvolvidas pelos atores responsaacuteveis pelas estruturas de

autoavaliaccedilatildeo no decurso dos processos de avaliaccedilatildeo interna d) que modelos de

avaliaccedilatildeo foram referenciados como tendo sido adotados pelas escolas ou

agrupamentos de escolas e) que tipos de conhecimentos sobre a organizaccedilatildeo foram

produzidos pelos atores f) e em que medida esses dispositivos deram origem a

poliacuteticas de melhoria organizacional Criei uma categoria marginal agraves anteriores

procurando situar no tempo as primeiras praacuteticas de avaliaccedilatildeo interna das escolas ou

agrupamentos de escolas tendo como referecircncias as iniciativas da tutela na promoccedilatildeo

de uma cultura de avaliaccedilatildeo organizacional a fim de compreender em que medida

estas uacuteltimas tiveram impacto na institucionalizaccedilatildeo dessa cultura de avaliaccedilatildeo A

anaacutelise de conteuacutedo por indexaccedilatildeo-classificaccedilatildeo (Bardin 2007) e a conclusatildeo da base

de dados em Access 2000 permite-me descrever sumariamente cada um dos

processos de avaliaccedilatildeo interna e dar conta das tendecircncias em funccedilatildeo do nuacutemero de

ocorrecircncias por categoria e subcategoria de anaacutelise

5 A autoavaliaccedilatildeo das escolas quem a faz como eacute feita a quem se destina e

quais os seus efeitos nas tomadas de decisatildeo

Este estudo extensivo exploratoacuterio com base em dados qualitativos permitiu-me

identificar algumas tendecircncias na implementaccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das

escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo entre 20062007 e 20102011

Nas escolas e agrupamentos de escolas contemplados neste estudo (345) 65 tinha

criado uma equipa de autoavaliaccedilatildeo enquanto cerca de 20 criou estruturas anaacutelogas

com designaccedilotildees distintas tais como ldquoobservatoacuteriordquo ldquogrupo de trabalhordquo ou

ldquocomissatildeordquo Eacute residual o nuacutemero das organizaccedilotildees escolares que atribuem a missatildeo da

avaliaccedilatildeo interna aos oacutergatildeos de administraccedilatildeo e gestatildeo

No que concerne agrave constituiccedilatildeo das equipas de autoavaliaccedilatildeo estas satildeo na sua maioria

compostas exclusivamente por docentes A participaccedilatildeo dos utilizadores (alunos e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

443

encarregados de educaccedilatildeo) nessas estruturas ocorre no seu conjunto em pouco mais

de 20 Assim a autoavaliaccedilatildeo institucional tendo em conta os atores responsaacuteveis

pela sua execuccedilatildeo pode estar a ser integrada no quotidiano das escolas como uma

tarefa subordinada agrave loacutegica da burocracia-profissional isto eacute a sua praacutetica pode ser

vista como tarefa da esfera dos profissionais que tecircm o dever de prestar contas agraves

hierarquias da tutela Apesar disso haacute alguma hibridez aparente na natureza destas

estruturas que funcionam paralelamente agraves hierarquias da escola como equipas de

missatildeo tendo em conta as suas designaccedilotildees de ldquoequipardquo ldquocomissatildeordquo ou ldquogrupo de

trabalhordquo

Quis saber se os responsaacuteveis pela autoavaliaccedilatildeo contemplaram a inquiriccedilatildeo de outros

atores fundamentando com isso os seus juiacutezos Verifiquei que em mais de metade dos

processos formais de avaliaccedilatildeo interna natildeo eacute contemplado o ponto de vista dos atores

escolares que ldquohabitamrdquo os estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino (alunos pais e

encarregados de educaccedilatildeo funcionaacuterios natildeo docentes) tratando-se de um exerciacutecio

de expertise profissional para o qual alguns professores foram mandatados

Identifiquei tambeacutem a participaccedilatildeo de atores externos nos processos de autoavaliaccedilatildeo

Em 44 relatoacuterios eacute mencionada a participaccedilatildeo de colaboradores externos e em 31

destes eacute feita referecircncia agrave sua condiccedilatildeo de consultores externos A participaccedilatildeo dos

representantes das autarquias e de elementos da comunidade acadeacutemica eacute residual

naqueles processos Estes dados sugerem o recurso a uma expertise teacutecnica a dos

consultores que dispotildeem de know-how para a realizaccedilatildeo de uma tarefa que eacute assim

percecionada pelos responsaacuteveis pelas organizaccedilotildees escolares como um artefacto

teacutecnico e natildeo como uma praacutexis de questionamento agraves praacuteticas

Relativamente ao que eacute avaliado em cada organizaccedilatildeo escolar verifiquei que a

principal preocupaccedilatildeo satildeo os resultados escolares dos alunos isto eacute os seus

desempenhos vertidos em pautas de classificaccedilatildeo Em cerca de dois terccedilos dos

relatoacuterios este objeto de avaliaccedilatildeo interna eacute mencionado Os planos anuais de

atividades surgem em segundo lugar referidos em cerca de um quarto dos relatoacuterios

Quanto ao projeto educativo as referecircncias diminuem para cerca de 10 das

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

444

organizaccedilotildees escolares intervencionadas A organizaccedilatildeo e gestatildeo satildeo referidas em

cerca de 14 dos relatoacuterios e os processos de ensino e de aprendizagem satildeo referidos

em 12 das instituiccedilotildees avaliadas Em inuacutemeros estabelecimentos a avaliaccedilatildeo interna

debruccedila-se sobre projetos ministeriais a que estes aderiram e que obrigavam agrave regular

prestaccedilatildeo de contas perante os organismos da tutela (Programa de Ocupaccedilatildeo Plena

dos Tempos Livres ou Biblioteca Escolar por exemplo) A diversidade de referecircncias ao

que os estabelecimentos decidiram avaliar internamente eacute significativa da

singularidade de cada um dos processos e de cada um dos contextos de accedilatildeo Julgo

poder afirmar no entanto que a avaliaccedilatildeo pelos resultados se impotildee ndash os resultados

escolares o grau de execuccedilatildeo do plano de atividades e do projeto educativo A

avaliaccedilatildeo pelos resultados indicia um novo modo de regulaccedilatildeo designado de poacutes-

burocraacutetico cujo enfoque deixa de ser a conformidade agraves regras para se focar nos

resultados As classificaccedilotildees correspondem assim a unidades de medida que

traduzem padrotildees do desempenho dos alunos no que respeita agraves suas aprendizagens

nas aacutereas do curriacuteculo formal parecendo evidente o enfoque nos resultados do

desempenho dos alunos ao serviccedilo da autoavaliaccedilatildeo da escola

No que concerne ao modo como se desenvolvem os processos de autoavaliaccedilatildeo

institucional considero o recurso dos responsaacuteveis pela autoavaliaccedilatildeo a dois tipos de

fontes os suportes escritos produzidos no seio das estruturas de gestatildeo de

coordenaccedilatildeo e de supervisatildeo educativa e os instrumentos de recolha de dados O

instrumento de recolha de dados mais mencionado nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo externa

eacute o inqueacuterito por questionaacuterio com 204 referecircncias que contrasta com 12 menccedilotildees agrave

realizaccedilatildeo de entrevistas Sobre o conteuacutedo dos questionaacuterios raramente encontrei

dados que fossem para aleacutem de referecircncias a ldquosatisfaccedilatildeordquo Deste modo a inquiriccedilatildeo

dos alunos e seus representantes legais coloca-os no papel de

utilizadoresconsumidores de um serviccedilo realidade que sugere alguma aproximaccedilatildeo

aos processos de avaliaccedilatildeo e garantia da qualidade de iacutendole empresarial

Nem sempre o processo de avaliaccedilatildeo interna culmina na elaboraccedilatildeo de um relatoacuterio a

apresentar agrave comunidade escolar A divulgaccedilatildeo formal do relatoacuterio de autoavaliaccedilatildeo eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

445

mencionada em 17 documentos analisados Haacute no entanto 53 outros documentos

que referem a divulgaccedilatildeo dos resultados sem que se saiba em que formato

No total das referecircncias agrave divulgaccedilatildeo formal dos resultados de avaliaccedilatildeo interna ndash 53

(15 do total) ndash o conselho pedagoacutegico eacute o destinataacuterio privilegiado e soacute em metade o

conselho geral (ou assembleia de escolaagrupamento) surge como destinataacuterio

Somente em quatro organizaccedilotildees escolares eacute feita referecircncia agrave divulgaccedilatildeo dos

resultados agrave comunidade envolvente atraveacutes do seu website

Procurei referecircncias agrave utilizaccedilatildeo de modelos de autoavaliaccedilatildeo tendo em consideraccedilatildeo

dois grupos principais os modelos abertos presentes em algumas experiecircncias

promovidas pela administraccedilatildeo central e os modelos estruturados oriundos das

realidades empresariais Constatei que a maior parte dos relatoacuterios natildeo mencionava

qualquer nomenclatura a este respeito o que me levou a considerar que na maior

parte dos estabelecimentos a metodologia adotada resultou de um processo singular

de (re)construccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo a partir dos conhecimentos mobilizados

para o efeito

Todavia em cerca de 30 dos processos foi possiacutevel detetar a adoccedilatildeo de um modelo

estruturado a Common Assessment Framework (CAF) Na maior parte das instituiccedilotildees

onde este modelo foi adotado foi tambeacutem possiacutevel constatar a presenccedila de

consultores externos Para conhecer as circunstacircncias que determinaram a adoccedilatildeo

deste modelo de autoavaliaccedilatildeo institucional realizei um inqueacuterito por questionaacuterio

dirigido agraves direccedilotildees daquelas escolas e agrupamentos de escolas A sua adoccedilatildeo foi na

maior parte dos casos da exclusiva iniciativa das direccedilotildees executivas tendo ocorrido a

auscultaccedilatildeo do conselho pedagoacutegico em menos de metade Uma empresa privada de

consultoria (Another Step) assim como a formaccedilatildeo do Instituto Nacional de

Administraccedilatildeo (INA) dirigida a presidentes do conselho executivo ou diretores foram

os principais agentes de difusatildeo deste modelo de autoavaliaccedilatildeo organizacional nos

estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino da regiatildeo em estudo As razotildees apontadas

pelos gestores escolares para a adoccedilatildeo deste modelo prenderam-se com as suas

representaccedilotildees sobre a credibilidade do modelo e sobre a sua adequaccedilatildeo agraves exigecircncias

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

446

da tutela Na escolha do modelo os decisores escolares tiveram em conta a opiniatildeo

dos seus pares e a reputaccedilatildeo dos peritos (consultores e formadores do INA) Em perto

de 80 da nossa amostra o modelo foi utilizado em mais de um ano letivo Tambeacutem

em perto de 80 dos estabelecimentos verificou-se a presenccedila dos consultores

externos apesar da responsabilidade do processo ter sido assumida maioritariamente

pela equipa de autoavaliaccedilatildeo segundo as fontes inquiridas

Os processos de autoavaliaccedilatildeo na sua maioria natildeo conduzem a planos de melhoria

segundo os dados recolhidos Somente 102 relatoacuterios apresentam referecircncias a accedilotildees

de melhoria na sequecircncia dos processos formais de autoavaliaccedilatildeo

Identifiquei 50 referecircncias a accedilotildees de melhoria na dimensatildeo da organizaccedilatildeo e gestatildeo

agraves quais acrescentei mais 32 menccedilotildees agraves alteraccedilotildees aos documentos de planeamento

estrateacutegico que considero uma dimensatildeo integraacutevel na primeira Na dimensatildeo do

curriacuteculo constatei 29 referecircncias agrave diversificaccedilatildeo da oferta curricular e 22 no acircmbito

das mudanccedilas introduzidas nos processos de ensino e de aprendizagem Todas as

demais referecircncias surgem em muito menor nuacutemero

Quanto aos processos internos que dizem respeito agrave melhoria das competecircncias dos

profissionais designadamente no acircmbito da formaccedilatildeo e da implementaccedilatildeo de

estrateacutegias para o reforccedilo do trabalho colaborativo dos professores as evidecircncias

encontradas satildeo residuais Somente quatro escolasagrupamentos de escolas deram

conta da implementaccedilatildeo de processos de formaccedilatildeo interna e outras trecircs referiram

como accedilatildeo de melhoria o desenvolvimento do trabalho colaborativo dos docentes

Discussatildeo dos resultados

Em primeiro lugar considero que a implementaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo ndash sobretudo nos

uacuteltimos anos do ciclo - se daacute por via da avaliaccedilatildeo externai Na maior parte dos

processos os resultados da autoavaliaccedilatildeo realizada pelos professores para prestar

contas agraves hierarquias das organizaccedilotildees e agrave Inspeccedilatildeo Geral da Educaccedilatildeo apresenta uma

loacutegica burocraacutetica-profissional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

447

No entanto se atentarmos no modo como os alunos e os pais e encarregados de

educaccedilatildeo satildeo convocados para o processo arriscaria afirmar que a loacutegica de mercado

estaacute tambeacutem presente O recurso ao inqueacuterito por questionaacuterio visa aferir da

ldquosatisfaccedilatildeordquo dos utilizadores Ao serem implicados deste modo os alunos e seus

encarregados de educaccedilatildeo satildeo tratados como ldquoclientesrdquo ou ldquoconsumidoresrdquo dos

serviccedilos prestados

Apesar da predominacircncia de uma loacutegica burocraacutetica-profissional quanto agrave finalidade

do dispositivo eivada de uma loacutegica de mercado no modo como se dirige ao puacuteblico

visado natildeo queremos excluir da nossa anaacutelise a existecircncia de condiccedilotildees de contexto

que possam potenciar a emergecircncia de uma regulaccedilatildeo de loacutegica comunitaacuteria No

entanto soacute uma abordagem intensiva poderaacute demonstraacute-lo

A emergecircncia do modelo CAF nos processos de autoavaliaccedilatildeo das escolas e

agrupamentos de escolas eacute quanto a mim um indicador de uma deriva gerencialista

na regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo que incorpora princiacutepios da nova gestatildeo puacuteblica por

emulaccedilatildeo de praacuteticas do setor empresarial privado Natildeo soacute os princiacutepios gestionaacuterios

oriundos do setor privado ndash ainda que adotados agrave educaccedilatildeo - orientam o dispositivo de

autoavaliaccedilatildeo como se verifica a participaccedilatildeo de atores privados na avaliaccedilatildeo interna

do setor puacuteblico da educaccedilatildeo esbatendo-se assim as fronteiras entre o puacuteblico e o

privado

Julgo poder concluir tambeacutem que os processos de autoavaliaccedilatildeo das escolas se focam

nos resultados dos alunos enquanto fator que passa a orientar as praacuteticas

organizacionais Deste modo ldquoresultadosrdquo e ldquogestatildeo estrateacutegicardquo satildeo vocaacutebulos que

orientam o governo das escolas mandatos que os atores escolares vatildeo aos poucos

integrando no seu quotidiano

Num sistema educativo marcado pela centralizaccedilatildeo por uma autonomia mais retoacuterica

do que efetiva e pela atual robustez da poliacutetica de avaliaccedilatildeo externa das escolas

considero que a avaliaccedilatildeo das escolas constitui principalmente uma praacutetica instituiacuteda

de regulaccedilatildeo de controlo para a qual a autoavaliaccedilatildeo institucional contribui Considero

assim a avaliaccedilatildeo externa das escolas um dispositivo de vigilacircncia do Estado em

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

448

relaccedilatildeo agraves organizaccedilotildees escolares ao qual se associa a autoavaliaccedilatildeo como mecanismo

indutor de formas de ldquosubjetivaccedilatildeordquo (Foucault 2010) Os atores escolares vatildeo

integrando a autoavaliaccedilatildeo da escola nos seus quotidianos adotando ldquocriteacuterios de

autorresponsabilizaccedilatildeordquo e definindo ldquoobjetivos autoimpostosrdquo (Broadfoot 2000) por

referecircncia a outros instrumentos de regulaccedilatildeo Num quadro de multirregulaccedilatildeo

(Barroso 2005) a autoavaliaccedilatildeo das escolas como instrumento de autorregulaccedilatildeo e

desenvolvimento organizacional colhe ainda um estatuto de menoridade

Referecircncias

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450

Avaliaccedilatildeo de Capacidades e Competecircncias

Contributos para uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade

Ricardo Machado

Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Unidade de Investigaccedilatildeo

Educaccedilatildeo e Desenvolvimento

ricardojrmachadogmailcom

Margarida Ceacutesar

Universidade de Lisboa Instituto de Educaccedilatildeo

macesarieulpt

Joseacute Manuel Matos

Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Unidade de Investigaccedilatildeo

jmmfctunlpt

Resumo O insucesso acadeacutemico em Matemaacutetica eacute elevado Documentos de poliacutetica educativa

realccedilam as vantagens do trabalho em grupo e do recurso a tarefas diversificadas

Estudos sobre desempenhos matemaacuteticos iluminam a importacircncia das interacccedilotildees

sociais nas aprendizagens Mas eacute preciso conhecer as capacidades e competecircncias dos

alunos desde a primeira semana de aulas para adequar as tarefas agraves caracteriacutesticas

necessidades e interesses da turma Elaboraacutemos no projecto Interacccedilatildeo e

Conhecimento um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e competecircncias (IACC)

para ser utilizado por professores Este estudo de caso intriacutenseco inserido no

paradigma interpretativo analisa o IACC iluminando o processo de elaboraccedilatildeo

utilizaccedilatildeo padrotildees de desempenho e impactes nas praacuteticas incluindo a formaccedilatildeo Os

participantes principais satildeo os alunos (cerca de 600 turmas) O instrumento de recolha

de dados privilegiado eacute a recolha documental O tratamento e anaacutelise de dados

baseou-se numa anaacutelise de conteuacutedo emergindo categorias indutivas Os resultados

iluminam os padrotildees de desempenho e os contributos do IACC para a promoccedilatildeo de

uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade intercultural e inclusiva

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo capacidades e competecircncias Matemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

451

Abstract

Underachievement in Mathematics is high Educational policy documents stress the

advantages of group work and diversified tasks Studies regarding mathematical

performances illuminate the importance of social interactions in learning We need to

know studentsrsquo abilities and competencies since the first week of classes to adequate

the tasks to the characteristics needs and interests of a class In the Interaction and

Knowledge project we elaborated an instrument to evaluate studentsrsquo abilities and

competencies (IACC) and to be used by teachers This intrinsic case study developed in

an interpretative paradigm analyses the IACC illuminating its elaboration process use

studentsrsquo patterns of performances and its impacts upon practices including teachersrsquo

education The main participants are the students (around 600 classes) The main data-

collecting instrument is the documents The data treatment and analysis was based in

a content analysis from which inductive categories emerged The results illuminate

studentsrsquo patterns of performance and the contributions of IACC to the promotion of a

quality intercultural and inclusive mathematics education

Keywords Evaluation abilities and competencies Mathematics

Quadro de referecircncia teoacuterico

Aprendizagens matemaacuteticas e trabalho colaborativo

A Matemaacutetica eacute apreciada por uns e odiada por muitos mais deixando poucos

indiferentes (Machado 2008 Machado amp Ceacutesar 2012 2013) Para aleacutem disso sendo o

insucesso acadeacutemico elevado e tratando-se de uma das disciplinas mais selectivas em

termos de percurso escolar futuro entrar num ciacuterculo vicioso de insucesso repetido

pode ser extremamente penalizante para os alunos traduzindo-se em representaccedilotildees

sociais negativas e em alguns casos em abandonos escolares precoces (Ceacutesar 2009)

Markovaacute (2005) sustenta que as representaccedilotildees sociais que se constroem satildeo

dinacircmicas e dialoacutegicas pelo que podem mudar ao longo do tempo Por outro lado

influenciam os desempenhos dos alunos na disciplina de Matemaacutetica (Ceacutesar 2009

Machado 2008 Machado amp Ceacutesar 2012 2013) pelo que eacute importante conhececirc-las e

desenvolver praacuteticas em aula que facilitem a mudanccedila nessas representaccedilotildees sociais

quando estas satildeo negativas para que os alunos consigam realizar aprendizagens

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

452

matemaacuteticas atribuindo-lhes sentidos Isso facilita que mobilizem esses conhecimentos

(matemaacuteticos) em novos contextos cenaacuterios ou situaccedilotildees

Em Portugal desde a deacutecada de 80 do seacuteculo XX que diversos documentos de poliacutetica

educativa realccedilam as vantagens dos trabalhos de grupo e de confrontar os alunos com

tarefas de natureza diversificada (Abrantes 1994 Matos 2006) colocando em acccedilatildeo

princiacutepios de uma educaccedilatildeo (mais) inclusiva e onde exista equidade em que todos

tenham tempo e espaccedilo para apropriarem conhecimentos (matemaacuteticos) e

desenvolverem capacidades e competecircncias atraveacutes do diaacutelogo e do confronto de

formas de pensamento diversificadas ou seja atraveacutes das interacccedilotildees sociais e

dialoacutegicas que se estabelecem entre pares (Ceacutesar 2009 2013)

A importacircncia das interacccedilotildees sociais nos processos de ensino e de aprendizagem eacute

realccedilada em diversos estudos muitos deles centrados nos desempenhos matemaacuteticos

(Baucal Arcidiacono amp Budevac 2011 Ceacutesar 2013 Ceacutesar amp Kumpulainen 2009 Roth

amp Radford 2011) Ao assumirmos a aprendizagem como situada e dialoacutegica as

interacccedilotildees sociais que se estabelecem quando se desenvolvem praacuteticas colaborativas

em cenaacuterios de educaccedilatildeo formal actuam como uma componente indissociaacutevel da

aprendizagem matemaacutetica

Desenvolver praacuteticas de aprendizagem que se baseiam no trabalho colaborativo tem

subjacente que os alunos assumem um papel mais activo nos processos de

aprendizagem tornando-se mais responsaacuteveis e aprendendo de uma forma mais

autoacutenoma (para mais detalhes sobre trabalho colaborativo ver Ceacutesar 2009 2013

Machado 2013) Assim consideramos a aprendizagem como historico-culturalmente

situada (Ceacutesar 2009 2013 Roth amp Radford 2011 Vygotsky 19341962) na medida

em que os fenoacutemenos que ocorrem satildeo sociais culturais e o conhecimento eacute

construiacutedo e partilhado pelos vaacuterios elementos envolvidos nesses processos Eacute

necessaacuterio negociar um contrato didaacutectico coerente com essas praacuteticas bem como

realizar tarefas matemaacuteticas de elevada exigecircncia cognitiva (Boston amp Wolf 2006) que

promovam argumentaccedilotildees sustentadas colocando em confronto diversas formas de

pensamento matemaacutetico Tambeacutem eacute essencial pocircr em praacutetica uma avaliaccedilatildeo que

promova a melhoria nas aprendizagens dos alunos ou seja o que Fernandes (2005

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453

2008) designa por avaliaccedilatildeo formativa alternativa ou Santos e seus colaboradores

(2010) por auto-avaliaccedilatildeo regulada

Este tipo de praacuteticas colaborativas facilita que se trabalhe na zona de desenvolvimento

proximal (ZDP) de cada aluno (Vygotsky 19341962) permitindo que eles consigam

desenvolver capacidades e competecircncias (matemaacuteticas) essenciais numa sociedade

em constante mudanccedila e cada vez mais exigente Mas continuava a existir uma

questatildeo que permanecia em aberto como conhecer as capacidades e competecircncias

dos alunos desde a primeira semana de aulas permitindo ajustar as tarefas propostas

e as instruccedilotildees de trabalho agraves caracteriacutesticas necessidades e interesses de uma turma

especiacutefica Foi para responder a esta questatildeo que a equipa do projecto Interacccedilatildeo e

Conhecimento (IC) elaborou um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e

competecircncias (IACC) que analisamos nesta comunicaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo de capacidades e competecircncias

A avaliaccedilatildeo eacute um elemento intriacutenseco de qualquer processo de ensino e de

aprendizagem Fernandes (2011) afirma que a avaliaccedilatildeo ldquopode e deve+ contribuir para

ajudar os alunos a melhorar as suas aprendizagensrdquo (p 131) pelo que avaliar as

capacidades e competecircncias que os alunos conseguem mobilizar e quais as que

precisam de desenvolver ao longo do ano lectivo assume especial importacircncia

quando se pretende proporcionar uma educaccedilatildeo matemaacutetica de elevada qualidade

Os conceitos de capacidade e competecircncia satildeo muitas vezes confundidos ou mesmo

utilizados como sinoacutenimos Concebemos as competecircncias como conhecimentos em

acccedilatildeo que se mobilizam em diferentes situaccedilotildees cenaacuterios ou contextos na resoluccedilatildeo

de um determinado problema Ao considerarmos que as competecircncias mobilizam

conhecimentos implicitamente estamos a assumir que para que as competecircncias se

manifestem eacute necessaacuterio existirem transiccedilotildees ou seja que os indiviacuteduos sejam

capazes de usar o que aprenderam noutros contextos cenaacuterios ou situaccedilotildees Esta

posiccedilatildeo teoacuterica eacute tambeacutem assumida por outros autores (Abrantes 1994 Perrenoud

1999 Roldatildeo 2003) A capacidade resulta da actualizaccedilatildeo de uma potencialidade Por

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exemplo os seres humanos tecircm a capacidade de memorizar de atenccedilatildeo mas tambeacutem

de falar uma liacutengua oral ou seja de articular sons que constituem palavras Eacute de

realccedilar que as competecircncias tecircm subjacente a utilizaccedilatildeo de capacidades pois soacute se

conseguem mobilizar competecircncias linguiacutesticas quando jaacute se desenvolveu a

capacidade de emitir sons e reconhecer letras ou outros siacutembolos

Quando se avaliam capacidades e competecircncias podemos utilizar dois tipos de

instrumentos de acordo com os princiacutepios teoacutericos subjacentes agrave sua elaboraccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo psicomeacutetricos ou desenvolvimentistas Os instrumentos que seguem uma

perspectiva psicomeacutetrica baseiam-se numa concepccedilatildeo de que as capacidades e

competecircncias se mantecircm constantes ao longo da vida e satildeo susceptiacuteveis de serem

medidas rigorosamente Assim pretendem medir quantitativamente essas

capacidades e competecircncias de forma objectiva para depois as comparar com as de

outros sujeitos ou ateacute mesmo com uma populaccedilatildeo (Lourenccedilo 2010) Satildeo exemplos

deste tipo de instrumentos a escala de inteligecircncia de Binet-Simon a escala de

inteligecircncia para crianccedilas de Weschler (WISC) ou as Matrizes Progressivas de Raven

(Anastasi 2003) Por seu turno os instrumentos desenvolvimentistas baseiam-se na

concepccedilatildeo de que as capacidades e competecircncias se desenvolvem ao longo da vida se

constroem pelo que natildeo se pretende medi-las quantitativamente mas sim avaliaacute-las

qualitativamente de forma situada ou seja num determinado espaccedilo e tempo Estes

instrumentos podem ser respondidos por sujeitos de idades e niacuteveis de

desenvolvimento variados permitindo traccedilar padrotildees de desenvolvimento atraveacutes da

anaacutelise dos desempenhos Este tipo de instrumentos tecircm subjacente a teoria

elaborada por Piaget (1923) como por exemplo acontece com as provas Piagetianas

Nesta investigaccedilatildeo assumimos uma perspectiva desenvolvimentista

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo analisa parte do corpus empiacuterico do projecto IC que teve a duraccedilatildeo

formal de 12 anos (199495 a 200506) incluindo 10 anos de follow up e cujo

principal objectivo era estudar e promover o trabalho colaborativo em cenaacuterios de

educaccedilatildeo formal para melhorar os desempenhos acadeacutemicos dos alunos e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

455

desenvolver capacidades e competecircncias soacutecio-cognitivas e emocionais O IC recorreu

a trecircs designs de investigaccedilatildeo (1) estudos quasi experimentais (2) projectos de

investigaccedilatildeo-acccedilatildeo e (3) estudos de caso (para mais detalhes ver Ceacutesar 2009 2013

Machado 2013 Ventura 2012) Era no Design 2 ou seja nos projectos de

investigaccedilatildeo-acccedilatildeo que o IACC era respondido pelos alunos na primeira semana de

aulas pelo que eacute nos resultados destes projectos que nos focamos Neste estudo

assumimos uma abordagem interpretativa (Denzin 2002) e desenvolvemos um estudo

de caso intriacutenseco (Stake 1995) pois procuraacutemos obter um conhecimento mais

aprofundado sobre um caso particular o IACC

O principal objectivo desta investigaccedilatildeo consistiu em estudar e compreender as

potencialidades e os contributos de um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e

competecircncias (IACC) construiacutedo no acircmbito do projecto Interacccedilatildeo e Conhecimento

(IC) Abordaremos duas das questotildees de investigaccedilatildeo (1) Como satildeo analisados os

desempenhos dos alunos quando se utiliza este instrumento de acordo com os

princiacutepios do projecto IC e (2) Como contribui o IACC para praacuteticas pedagoacutegicas em

aula nomeadamente para a formaccedilatildeo das primeiras diacuteades

Os participantes satildeo os alunos das turmas que participaram no projecto IC desde o 5ordm

ao 12ordm anos de escolaridade de norte a sul de Portugal Continental (cerca de 600

turmas) Accedilores (3 turmas) Cabo Verde (6 turmas) e Escola Europeia de Bruxelas (4

turmas) Foram tambeacutem considerados como participantes os 69

professoresinvestigadores que leccionavam a essas turmas Matemaacutetica ou disciplinas

afins investigadores e outros significativos (famiacutelias e outros agentes educativos)

Em relaccedilatildeo aos instrumentos de recolha de dados foram considerados dois grupos O

primeiro grupo ndash recolha documental ndash eacute constituiacutedo pelo corpus empiacuterico do IC ou

seja os instrumentos utilizados para recolher dados durante os 12 anos de duraccedilatildeo

formal desse projecto nomeadamente o IACC questionaacuterios (Q) tarefas de

inspiraccedilatildeo projectiva (TIP) entrevistas (E) conversas informais (CI) protocolos dos

alunos (PA) e outros documentos (D) do IC Ao segundo grupo pertencem os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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instrumentos de recolha de dados que foram utilizados especificamente para esta

investigaccedilatildeo e que complementam os dados recolhidos durante a vigecircncia do IC como

o diaacuterio de bordo do investigador (DB) e conversas informais (CI) (para mais detalhes

ver Machado 2013)

Quanto aos procedimentos comeccedilaacutemos por organizar os dados provenientes dos 12

anos de existecircncia formal do projecto IC nomeadamente no que respeita agraves respostas

dos alunos ao IACC procurando encontrar padrotildees de desempenho que permitissem

caracterizar o niacutevel de desenvolvimento dos alunos e simultaneamente as

capacidades e competecircncias que jaacute conseguiam mobilizar Posteriormente o

tratamento e anaacutelise de dados referente agraves respostas ao IACC e demais instrumentos

de recolha de dados considerados baseou-se numa anaacutelise de conteuacutedo de tipo

narrativo (Clandinin amp Connelly 1998) sistemaacutetica e sucessiva passando duma leitura

flutuante ao reconhecimento de padrotildees fazendo emergir categorias indutivas de

anaacutelise (Ceacutesar 2009)

Resultados

O IACC eacute um instrumento que apresenta caracteriacutesticas que o tornam singular no

panorama educativo portuguecircs (1) eacute um instrumento baseado numa perspectiva

desenvolvimentista e natildeo psicomeacutetrica pelo que se baseou na noccedilatildeo de prova

(eacutepreuve) da teoria piagetiana (2) avalia capacidades e competecircncias e natildeo

conhecimentos como por exemplo acontece nos testes de diagnoacutestico

habitualmente respondidos pelos alunos no iniacutecio do ano lectivo (3) como natildeo avalia

conhecimentos matemaacuteticos especiacuteficos de um determinado ano de escolaridade

pode ser respondido por alunos desde o 5ordm ao 12ordm anos de escolaridade iluminando

desta forma a evoluccedilatildeo dessas capacidades e competecircncias ao longo do processo de

desenvolvimento e (4) pode ser utilizado de forma autoacutenoma pelos professores

desde que previamente tenham realizado formaccedilatildeo nesse sentido atraveacutes de cursos

ou acccedilotildees de formaccedilatildeo especiacuteficos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

457

O IACC eacute composto por cinco tarefas que visam identificar quais as capacidades e

competecircncias que os alunos jaacute conseguem mobilizar e as que ainda precisam de

desenvolver Cada tarefa permite analisar uma ou mais capacidades e competecircncias

de acordo com as que um grupo alargado de professores (N=1011) que tinha

diferentes anos de experiecircncia e que leccionava anos de escolaridade distintos indicou

como as mais essenciais a serem conhecidas no iniacutecio do ano lectivo para promover

uma educaccedilatildeo de qualidade e o acesso dos alunos ao sucesso escolar O processo de

elaboraccedilatildeo de cada tarefa resultou de um trabalho colaborativo entre professores e

investigadores do ensino universitaacuterio psicoacutelogos e professores do ensino baacutesico e

secundaacuterio Por isso o IACC natildeo soacute se destina a potenciar o desenvolvimento de

praacuteticas colaborativas em aula mas foi ele proacuteprio fruto de um trabalho colaborativo

que caracterizava a equipa central do IC

Eacute fundamental que os alunos e professores percebam a importacircncia de explicarem as

estrateacutegias de resoluccedilatildeo utilizadas podendo para tal recorrer a diversos tipos de

explicitaccedilatildeo como as composiccedilotildees matemaacuteticas ou de estrateacutegias de resoluccedilatildeo como

as representaccedilotildees graacuteficas (onde se incluem esquemas eou desenhos) ou as

estrateacutegias aritmeacuteticas que incluem as operaccedilotildees baacutesicas foacutermulas entre outras

(Machado 2008 2013 Ventura 2012) Essa explicitaccedilatildeo permite ao professor adaptar

de forma mais adequada as praacuteticas em aula uma vez que consegue inferir os

processos de raciociacutenio utilizados iluminando quais as capacidades e competecircncias

envolvidas facilitando a constituiccedilatildeo de diacuteades assimeacutetricas cujos elementos

consigam mobilizar capacidades e competecircncias complementares facilitando que os

alunos consigam trabalhar na ZDP de cada um deles ou seja possibilitando que o que

hoje ainda natildeo faz parte do niacutevel de desenvolvimento real que os sujeitos conseguem

utilizar autonomamente dele venha a ser parte integrante no futuro (Ceacutesar 2009

2013 Vygotsky 19341962)

A Tarefa A permite avaliar se o aluno consegue mobilizar sentido criacutetico em relaccedilatildeo a

uma notiacutecia que conteacutem informaccedilatildeo matemaacutetica No exemplo da Figura 1 o Aluno

CP1 refere que a notiacutecia estaacute incorrecta uma vez que natildeo existiu um decreacutescimo no

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

458

nuacutemero de assaltos mas sim um aumento elaborando uma composiccedilatildeo matemaacutetica

como forma de explicitaccedilatildeo da sua estrateacutegia de resoluccedilatildeo que eacute aritmeacutetica

Figura 1 ndash Desempenho do Aluno CP1 na Tarefa A (10ordm ano de escolaridade Viseu)

Este desempenho ilumina que ele conseguiu mobilizar o sentido criacutetico face a uma

notiacutecia de um jornal que conteacutem dados matemaacuteticos Para aleacutem disso revela mobilizar

competecircncias matemaacuteticas associadas a conhecimentos como o conceito de fracccedilatildeo e

suas representaccedilotildees Tambeacutem revela capacidade de comunicaccedilatildeo escrita e

matemaacutetica que sustentam competecircncias linguiacutesticas (ortografia sintaxe riqueza

vocabular) bem como outras competecircncias tais como as que lhe permitem

interpretar o enunciado estabelecer conexotildees entre conhecimentos matemaacuteticos

utilizar raciociacutenio matemaacutetico e verificar os resultados obtidos com a estrateacutegia de

resoluccedilatildeo pela qual optou

Em relaccedilatildeo agrave Tarefa B esta pretende avaliar se o aluno evidencia intuiccedilatildeo matemaacutetica

criatividade ou persistecircncia na tarefa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

459

Figura 2 ndash Desempenho do Aluno CT1 na Tarefa B (8ordm ano de escolaridade Lisboa)

Na Figura 2 podemos observar um exemplo de desempenho desta tarefa no qual o

Aluno CT1 mobiliza a intuiccedilatildeo matemaacutetica recorrendo a uma pequena composiccedilatildeo

matemaacutetica como forma de explicitaccedilatildeo da estrateacutegia de resoluccedilatildeo que utilizou Este

desempenho revela a mobilizaccedilatildeo das capacidades como o pensamento divergente e

a intuiccedilatildeo matemaacutetica Para aleacutem disso recorre a competecircncias linguiacutesticas presentes

na clareza da composiccedilatildeo matemaacutetica que elabora bem como ao raciociacutenio

matemaacutetico presente nos mecanismos de verificaccedilatildeo da intuiccedilatildeo matemaacutetica que lhe

permitem mostrar que seguindo aqueles passos consegue obter o litro de leite

pedido no enunciado da tarefa Assim tambeacutem revela competecircncias relacionadas com

a interpretaccedilatildeo de enunciados

A Tarefa C permite avaliar se o aluno mobiliza o raciociacutenio concreto ou o raciociacutenio

abstracto (ver Figura 3)

Figura 3 ndash Desempenho do Aluno EM4 na Tarefa C (10ordm ano de escolaridade Cabo

Verde)

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460

Atraveacutes da anaacutelise do desempenho do Aluno EM4 podemos afirmar que ele

conseguiu compreender duas informaccedilotildees desta figura complexa (1) a existecircncia de

um elemento invariante ndash o quadrado central ndash pois aparece em qualquer das figuras

que se considere e (2) segundo cada linha natildeo existe repeticcedilatildeo do elemento exterior

ou seja este deveraacute ser rectacircngulo e triacircngulo Contudo natildeo consegue compreender

na uacuteltima figura que desenha a informaccedilatildeo respeitante ao nuacutemero de pintas pelo que

considera existir apenas uma pinta Assim revela competecircncias matemaacuteticas

relacionadas com conhecimentos de geometria como o reconhecimento de figuras

geomeacutetricas e a identificaccedilatildeo de padrotildees Este tipo de desempenho pode evidenciar

que este aluno se encontra na transiccedilatildeo do raciociacutenio concreto para o abstracto ou

seja que revela capacidades relacionadas com o raciociacutenio concreto mas natildeo com o

raciociacutenio abstracto Atendendo a que se encontra no 10ordm ano de escolaridade e que o

iniacutecio dos conteuacutedos matemaacuteticos apela agrave mobilizaccedilatildeo do raciociacutenio abstracto o

professor deveraacute ter especial cuidado na elaboraccedilatildeo adaptaccedilatildeo ou selecccedilatildeo das

primeiras tarefas propostas uma vez que precisa que este aluno desenvolva o

raciociacutenio abstracto Para aleacutem disso como natildeo explicita o que o levou a optar por

aquelas figuras natildeo revela capacidades muito desenvolvidas de memorizaccedilatildeo e

atenccedilatildeo concentrada

A Tarefa D pretende avaliar o tipo de raciociacutenio preferencial na abordagem de um

problema (analiacutetico ou geomeacutetrico) no qual os alunos devem determinar a aacuterea da

parte pintada do mosaico sabendo que este tem de dimensotildees 15 cm por 10 cm Na

Figura 4 o Aluno CR3 tem preferecircncia por um raciociacutenio geomeacutetrico na medida em

que estatildeo envolvidos processos de raciociacutenio referentes agrave decomposiccedilatildeo da figura

Assim revela competecircncias matemaacuteticas relacionadas com a noccedilatildeo de aacuterea de um

poliacutegono incluindo a sua foacutermula bem como com a decomposiccedilatildeo de figuras

geomeacutetricas A estrateacutegia de resoluccedilatildeo utilizada ndash representaccedilatildeo graacutefica ndash ilumina que

este aluno vai associando cada parte a negro agrave respectiva parte em branco

preenchendo metade do mosaico No entanto para determinar a aacuterea da parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

461

pintada divide as duas dimensotildees de mosaico por dois obtendo um resultado

desadequado ao problema e apresentando um desempenho tiacutepico de quem mobiliza

raciociacutenio concreto e natildeo o raciociacutenio abstracto

Figura 4 ndash Desempenho do Aluno CR3 na Tarefa D (9ordm ano de escolaridade Lisboa)

Por fim a Tarefa E tem como finalidade avaliar que abordagem um aluno adopta

(global ou passo-a-passo) num problema relacionado com uma situaccedilatildeo da vida

quotidiana ndash a compra e venda de um artigo O Aluno JC3 recorre a uma estrateacutegia

de resoluccedilatildeo que ilumina uma preferecircncia por uma abordagem passo-a-passo pois

analisa o que acontece em cada transacccedilatildeo (ver Figura 5)

Figura 5 ndash Desempenho do Aluno JC3 na Tarefa E (12ordm ano de escolaridade Faro)

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462

Este aluno opta por recorrer a uma composiccedilatildeo matemaacutetica como forma de

explicitaccedilatildeo da estrateacutegia de resoluccedilatildeo aritmeacutetica a que recorreu em que explica o

que aconteceu e o lucro obtido no final das duas transacccedilotildees Assim revela

capacidade de comunicaccedilatildeo e competecircncias linguiacutesticas Observamos tambeacutem

capacidades como a selecccedilatildeo de dados do enunciado organizaccedilatildeo e argumentaccedilatildeo

associadas a competecircncias matemaacuteticas tais como o recurso agraves operaccedilotildees baacutesicas

para calcular o lucro obtido tendo em consideraccedilatildeo a situaccedilatildeo descrita Este

desempenho ilustra ainda competecircncias como as conexotildees entre a vida real e a

Matemaacutetica ou a verificaccedilatildeo das estrateacutegias de resoluccedilatildeo utilizadas

Um exemplo de utilizaccedilatildeo nas aulas de Matemaacutetica

A anaacutelise do IACC conjugada com a dos outros instrumentos que os alunos respondem

na primeira semana de aulas ndash TIP1 e Q1 ndash e a observaccedilatildeo realizada permitem

desenvolver praacuteticas mais adaptadas agraves caracteriacutesticas necessidades e interesses de

uma determinada turma As informaccedilotildees a que estes instrumentos permitem ter

acesso satildeo essenciais para a constituiccedilatildeo das primeiras diacuteades bem como para a

escolha da natureza das tarefas propostas nas primeiras aulas

Na Figura 6 podemos observar um exemplo de uma diacuteade de uma turma de 9ordm ano de

escolaridade que se encontrava a trabalhar colaborativamente pela primeira vez ou

seja numa turma que anteriormente natildeo tinha sido leccionada por este

professorinvestigador

Figura 6 ndash Exemplo de uma diacuteade (9ordm ano de escolaridade Lisboa)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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A diacuteade formada pelos Alunos E e Z eacute constituiacuteda por um elemento do geacutenero

masculino (Z azul) e por um do feminino (E rosa) O Aluno Z mobiliza o raciociacutenio

concreto (RC verde) e a Aluna E o raciociacutenio abstracto (RA verde) observaacuteveis atraveacutes

dos desempenhos na Tarefa C Se reparamos o aluno que mobiliza RC eacute o que se

considera muito bom (MB lilaacutes) a Matemaacutetica e que obtinha habitualmente Niacutevel 5

nessa disciplina nos anos lectivos anteriores enquanto o aluno que mobilizava o RA

era o que se considerava muito fraco (MF lilaacutes) e que tinha transitado de ano com

niacutevel inferior a 3 a Matemaacutetica

Quanto agrave representaccedilatildeo social que estes alunos construiacuteram acerca da matemaacutetica no

Aluno Z esta eacute positiva (+ vermelho) e inovadora (I vermelho) enquanto que na Aluna

E esta eacute negativa (- vermelho) e tradicional (T vermelho) iluminando que estes alunos

tecircm representaccedilotildees sociais de matemaacutetica e deles proacuteprios enquanto aprendentes de

Matemaacutetica que satildeo complementares Esta informaccedilatildeo eacute importante na medida em

que pode indiciar que esta diacuteade pode estabelecer interacccedilotildees dialoacutegicas produtivas

evitando por exemplo que ambos desistam de realizar alguma das tarefas propostas

em aula

No que respeita agrave anaacutelise dos desempenhos destes alunos no IACC podemos afirmar

que a Aluna E tem preferecircncia por raciociacutenios geomeacutetricos ndash D(Geo verde) ndash e o Aluno

Z por analiacuteticos ndash D(A verde) Ambos percebem que a aacuterea da parte pintada

corresponde a metade da aacuterea do mosaico embora a Aluna E natildeo determine esse

valor como pedido no enunciado da tarefa Assim para esta diacuteade as tarefas

matemaacuteticas devem apelar simultaneamente ao recurso a estrateacutegias de resoluccedilatildeo

associadas a raciociacutenios analiacuteticos e a raciociacutenios geomeacutetricos para que estes dois

alunos possam mobilizaacute-los e ambos desenvolvam aquilo que necessitam ao

trabalharem na ZDP de cada um deles (Vygotsky 19341962) Isso tambeacutem permite

que cada um deles possa actuar como par mais competente alternadamente em

funccedilatildeo do tipo de raciociacutenio usado na resoluccedilatildeo de uma tarefa matemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

464

O Aluno Z revelou capacidade de observaccedilatildeo e sentido criacutetico em relaccedilatildeo a notiacutecias

com conteuacutedos matemaacuteticos (Tarefa A verde) enquanto a Aluna E natildeo respondeu a

esta tarefa Assim no que se refere ao sentido criacutetico o Aluno Z pode actuar como par

mais competente (Vygotsky 19341962) Na Tarefa B nenhum revela intuiccedilatildeo

matemaacutetica nem criatividade Como tal estas capacidades teratildeo de vir a ser

desenvolvidas durante as discussotildees gerais ou posteriormente com outros pares

quando as diacuteades forem reorganizadas algo que acontece periodicamente Quanto agrave

Tarefa E o Aluno Z resolve-a de forma completa preferindo uma abordagem passo-a-

passo enquanto a Aluna E indica um lucro de 100 euros mostrando que o seu

desempenho se encontra na transiccedilatildeo entre o raciociacutenio concreto e o raciociacutenio

abstracto que mobilizou na Tarefa C mais associado a raciociacutenios geomeacutetricos que

ela prefere Na Tarefa E que apelava a raciociacutenios analiacuteticos preferenciais para o

Aluno Z ela jaacute natildeo consegue mobilizar o raciociacutenio abstracto Eacute frequente os alunos

que se encontram na transiccedilatildeo entre o RC e o RA soacute conseguirem mobilizar o RA na

forma preferencial de raciociacutenio analiacutetico ou geomeacutetrico (Machado 2013)

As tarefas matemaacuteticas propostas durante o ano lectivo devem proporcionar o

confronto de diferentes estrateacutegias de resoluccedilatildeo bem como formas de pensamento e

processos de raciociacutenio entre os alunos de cada diacuteade e no grupo turma Mas para que

tal aconteccedila as tarefas deveratildeo ser de elevado niacutevel de exigecircncia cognitiva (Boston amp

Wolf 2006) promovendo espaccedilos e tempos nos quais a argumentaccedilatildeo e a

comunicaccedilatildeo matemaacutetica ganham especial relevo (Ceacutesar 2009 2013)

Consideraccedilotildees finais

A promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade estaacute relacionada com as

opccedilotildees de cada professor em termos das formas de actuaccedilatildeo das praacuteticas

desenvolvidas em aula bem como dos instrumentos que utiliza quando pretende

conhecer os alunos no iniacutecio do ano lectivo Comeccedilar a seleccionar adaptar ou

elaborar tarefas matemaacuteticas desconhecendo as capacidades e competecircncias que os

diversos alunos de uma determinada turma jaacute conseguem mobilizar bem como as que

precisam de desenvolver significa que natildeo se promovem oportunidades desses

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

465

mesmos alunos trabalharem na ZDP aspecto que Vygotsky (19321964) realccedila ser

essencial para que as aprendizagens contribuam para o desenvolvimento Poreacutem

muitos satildeo os professores que quando questionados sobre as capacidades e

competecircncias mobilizadas pelos alunos das turmas que leccionam natildeo as conseguem

identificar nem conseguem explicitar as capacidades e competecircncias que as tarefas

matemaacuteticas que propotildeem permitem desenvolver O IACC eacute um instrumento que

permite ao professor ter acesso agraves capacidades e competecircncias que os alunos jaacute

conseguem mobilizar para poder adaptar as praacuteticas em aula agraves caracteriacutesticas

necessidade e interesses de cada turma Essa avaliaccedilatildeo permite operacionalizar

praacuteticas colaborativas fomentando o desenvolvimento do pensamento (matemaacutetico)

da argumentaccedilatildeo sustentada da responsabilizaccedilatildeo e da autonomia aspectos

essenciais no desenvolvimento de cada aluno e agrave participaccedilatildeo activa e criacutetica

enquanto cidadatildeo informado e capaz de decidir

AGRADECIMENTOS

O projecto Interacccedilatildeo e Conhecimento foi parcialmente subsidiado pelo IIE em

199697 e em 199798 medida SIQE 2 (projecto nordm 796) e pelo CIEFCUL desde

1996 Agradecemos a todos os participantes que tornaram este trabalho possiacutevel

principalmente aos alunos professores investigadores e investigadores que mais

horas de trabalho colaborativo e reflexatildeo lhe dedicaram

Nota Por vontade expressa dos autores este artigo natildeo utiliza o novo acordo ortograacutefico

Utilizaacutemos Matemaacutetica (com maiuacutescula) apenas quando nos referimos agrave disciplina de

Matemaacutetica no ensino baacutesico ou secundaacuterio

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467

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

469

Avaliar para Conhecer A Avaliaccedilatildeo Externa vs Documentos

Norteadores da Praacutetica Letiva ndash (des)Articulaccedilatildeo

Madalena Teixeira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de SantareacutemUniversidade de Lisboa

madalenadtgmailcom

Rosaacuteria Correia

Instituto Superior de Educaccedilatildeo e Ciecircncias

rosariacorreiahotmailcom

Susana Pereira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Santareacutem

susanafigueirapereiragmailcom

Resumo Esta comunicaccedilatildeo eacute sobre a avaliaccedilatildeo do conhecimento gramatical no 1ordm Ciclo do

Ensino Baacutesico sendo o nosso ponto de partida aferir a articulaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo externa

com os textos reguladores da praacutetica pedagoacutegica Pois embora o domiacutenio do

Funcionamento da Liacutengua agora Gramaacutetica apresente resultados positivos ndash 54 - eacute

de salientar que correspondem (apenas) ldquoateacute um maacuteximo de trecircs respostas no

conjunto dos seis itens consideradosrdquo (Prova de Afericcedilatildeo de 1ordm Ciclo - Liacutengua

Portuguesa ndash Relatoacuterio 2012 p8)

O facto de a investigaccedilatildeo ter vindo a demonstrar a existecircncia de correlaccedilatildeo entre os

diferentes competecircncias do portuguecircs (Correia Neves amp Teixeira 2011 Teixeira amp

Santos 2011) e de o proacuteprio Programa de Portuguecircs do Ensino Baacutesico (PPEB) (2009)

referir que se entende ldquopor leitura o processo interactivo () que exige vaacuterios

processos de actuaccedilatildeo interligados (decifraccedilatildeo de sequecircncias grafemaacuteticas acesso a

informaccedilatildeo semacircnticardquo e ldquopor escrita o resultado dotado de significado e conforme agrave

Gramaacutetica da Liacutengua de um processo de fixaccedilatildeo linguiacutesticardquo (p16) justificam a

relevacircncia de um conhecimento aprofundado acerca da temaacutetica mencionada no

paraacutegrafo anterior

Assim eacute nosso propoacutesito i) analisar o PPEB (2009) no que concerne ao Conhecimento

Expliacutecito da Liacutengua ii) analisar as Metas Curriculares de Portuguecircs no que refere agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

470

Gramaacutetica iii) analisar a prova do final do 1ordm Ciclo (2013) iv) conhecer os criteacuterios de

correccedilatildeo aplicados v) perceber as caracteriacutesticas da avaliaccedilatildeo externa

A investigaccedilatildeo ainda se encontra em fase de desenvolvimento Todavia os resultados

apontam para a ausecircncia de articulaccedilatildeo entre os normativos reguladores da praacutetica

letiva e as provas de avaliaccedilatildeo externa

Palavras-chave Gramaacutetica Avaliaccedilatildeo Documentos reguladores da praacutetica letiva

Summary This communication is about the evaluation of grammatical knowledge in the 1st cycle

of basic education being our starting point the knowledge of the articulation between

external evaluation and the regulatory texts of pedagogical practice like programs

For although the field of Funcionamento da Liacutengua now Gramaacutetica - grammar)

presents positive results - 54 - is to emphasize that it corresponds (only) up to three

answers in all the six items considered (Prova de Afericcedilatildeo de 1ordm Ciclo - Liacutengua

Portuguesa ndash Relatoacuterio 2012 p8)

The fact the research has been showing the correlation between the different

competence of the Portuguese Language (Correia Neves amp Teixeira 2011 Teixeira amp

Santos 2011) and the Programme Portuguese Basic Education (PPBE) 2009) itself

refers ldquofor reading the interactive process () that require several processes of

interconnected performance (the deciphering of ldquografemaacuteticasrdquo sequences of

semantic informationrdquo and ldquofor writing the result bestowed upon meaning and

according to the grammar of the language upon a process for the linguistic settingrdquo

(p16) justifies the importance of a deeper knowledge about the thematic mentioned

in the previous paragraph

Thus it is our purpose i) to analyse the PPBE (2009) regarding the explicit knowledge

of the language ii) to analyse the Goals of Portuguese Curriculum (GPC) (2012) in

terms of grammar iii) to analyse the assessment proof of the end of the 1st cycle

(2013) iv) to know the criteria applied for classification v) to understand the

characteristics of external evaluation

This investigation is still on development However the results point to an articulation

between external evaluation and the guiding documents of teaching practice

Keywords Grammar Assessment Guiding documents for teaching practice

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

471

Introduccedilatildeo

Num mundo cada vez mais competitivo a escola tem ao longo dos tempos modificado

a sua accedilatildeo adaptando-se agraves exigecircncias da atual sociedade adquirindo a avaliaccedilatildeo de

aprendizagens dos alunos uma importacircncia crescente no seu percurso escolar Deste

modo investigar sobre a avaliaccedilatildeo da qual satildeo alvo os alunos bem como sobre os

documentos reguladores da praacutetica letiva e demais diretrizes institucionais

compreendendo a sua pertinecircncia e apropriaccedilatildeo afigura-se-nos essencial Os

resultados escolares dos alunos ao niacutevel da aacuterea do portuguecircs visiacuteveis atraveacutes dos

relatoacuterios das provas e exames nacionais e de estudos internacionais como o PISA66

(2000 2003) e Reading Literacy - IEA (1992) bem como estudos nacionais como A

Literacia em Portugal (1995) tecircm-se verificado pouco abonatoacuterios Tendo em conta o

Relatoacuterio de 2012 referente agraves Provas de Afericcedilatildeo do 1ordm Ciclo do mesmo ano verifica-

se que os alunos obtiveram 159 de niacuteveis D 55 de niacutevel E perfazendo um total de

214 de resultados negativos - percentagem semelhante ao niacutevel C - 21 (p8)

Embora o domiacutenio Funcionamento da Liacutengua agora Gramaacutetica apresente resultados

positivos - 54 (Idem p19) consideramos que estes parecem ser insuficientes para

um conhecimento adequado da liacutengua uma vez que esta percentagem corresponde

apenas a ldquoum maacuteximo de trecircs respostas no conjunto dos seis itens consideradosrdquo

(Idem p19) Cientes de que o desenvolvimento da competecircncia gramatical interfere

com outros domiacutenios do saber natildeo nos surpreende que no mesmo Relatoacuterio se

constate que o domiacutenio da Escrita eacute aquele que ldquoapresenta resultados mais baixosrdquo

(Idem10) verificando-se a percentagem mais elevada (27) de alunos a obterem niacutevel

D Segundo o mesmo Relatoacuterio a meacutedia nacional dos alunos no ano de 2012 eacute de 66

Agora tendo em conta a anaacutelise preliminar dos resultados das Provas Finais de Ciclo

de 2013 a classificaccedilatildeo meacutedia na 1ordf fase foi de 49 na disciplina de Portuguecircs

Segundo o mesmo relatoacuterio ldquoo desempenho meacutedio dos alunos portugueses em sede

da avaliaccedilatildeo externa mostra sinais de estabilidaderdquo (p17)

66

Programme for International Student Assessment

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

472

Dado que a investigaccedilatildeo recente (Duarte 2008 Correia Neves amp Teixeira 2011) tem

vindo a demonstrar a existecircncia de correlaccedilatildeo entre os diferentes domiacutenios do

portuguecircs e o PPEB (2009) entender ldquopor leitura o processo interactivo () que exige

vaacuterios processos de actuaccedilatildeo interligados (decifraccedilatildeo de sequecircncias grafemaacuteticas

acesso a informaccedilatildeo semacircnticardquo e ldquopor escrita o resultado dotado de significado e

conforme agrave Gramaacutetica da liacutengua de um processo de fixaccedilatildeo linguiacutesticardquo (p16) leva-

nos a considerar que o ensino da Gramaacutetica eacute fundamental tendo implicaccedilotildees ao niacutevel

dos restantes domiacutenios conferindo-lhe por isso particular importacircncia Assim sendo

pretende-se compreender se a avaliaccedilatildeo efetuada anualmente a niacutevel nacional se

encontra de acordo com aquilo que eacute indicado nos documentos reguladores da praacutetica

letiva ou seja aferir a articulaccedilatildeo destes mesmos documentos com a avaliaccedilatildeo

externa no que refere ao conhecimento gramatical dos alunos do 1ordm Ciclo do Ensino

Baacutesico

Neste texto num primeiro momento refletiremos acerca da importacircncia do

conhecimento gramatical e do ensino da Gramaacutetica Seguidamente analisaremos as

Provas Finais de 1ordm Ciclo de Portuguecircs do 4ordm ano 1ordm e 2ordm fase realizadas pelos alunos

no ano letivo de 20122013 Por uacuteltimo teceremos as consideraccedilotildees finais

1 Importacircncia do Conhecimento Gramatical

Desde cedo a crianccedila vai desenvolvendo conhecimentos linguiacutesticos no que respeita agrave

sua liacutengua materna Com efeito quando iniciam o seu percurso escolar os alunos jaacute

possuem conhecimento que eacute impliacutecito (Sim-Sim Silva amp Nunes 2008) Depois de

aprender a utilizar a sua liacutengua a crianccedila necessita conhecer a sua estrutura

funcionamento e os termos que designam os seus elementos transformando o seu

conhecimento impliacutecito em expliacutecito iniciando a sua reflexatildeo sobre a liacutengua e as suas

propriedades formais - consciecircncia linguiacutestica (Idem) Para Antunes (2012 p25) a

Gramaacutetica expliacutecita trata-se de ldquoum conhecimento consciente e refletido da liacutenguardquo

A consciecircncia linguiacutestica estando diretamente ligada com o desenvolvimento de

capacidades para um uso adequado da liacutengua possui um papel transversal e crucial

para a aquisiccedilatildeo de competecircncias de escrita leitura e oralidade (Teixeira Silva amp

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

473

Santos 2011) Tal como refere o PPEB (2009 p2) a aprendizagem expliacutecita da

Gramaacutetica permite ldquoo controlo das regras e a seleccedilatildeo dos procedimentos mais

adequados agrave compreensatildeo e agrave expressatildeo em cada situaccedilatildeo comunicativardquo Assim o

ensino da Gramaacutetica deve ser interligado com os demais domiacutenios a desenvolver

ldquocessandordquo a praacutetica letiva onde o ensino da escrita eacute separado da leitura e estes

totalmente desvinculados da Gramaacutetica contribuindo para que os alunos natildeo

compreendam ldquoquando nem como nem para quecirc fazer uso daquilo que lhe

ensinavamrdquo (Antunes 2012 p2) Corroborando esta ideia pode ler-se no documento

MCP (20126)

No domiacutenio da Gramaacutetica pretende-se que o aluno adquira e desenvolva a

capacidade para sistematizar unidades regras e processos gramaticais da nossa

liacutengua de modo a fazer um uso sustentado do portuguecircs padratildeo nas diversas

situaccedilotildees da Oralidade da Leitura e da Escrita O ensino dos conteuacutedos gramaticais

deve ser realizado em estreita sintonia com atividades inerentes agrave consecuccedilatildeo dos

objetivos dos restantes domiacutenios

Do mesmo modo o PPEB (2009) refere que o Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua eacute

transversal aos diferentes domiacutenios da liacutengua Costa Costa amp Barbosa (2008)

preconizam que o ensino da Gramaacutetica se encontra em constante articulaccedilatildeo com os

restantes domiacutenios da liacutengua nomeadamente no que refere agrave escrita por exemplo ao

niacutevel da micro-estrutura textual da ortografia e da pontuaccedilatildeo Tambeacutem no domiacutenio da

Leitura o conhecimento expliacutecito de normas sintaacuteticas complexas possibilita uma

leitura proficiente No que refere agrave Oralidade o conhecimento de Gramaacutetica

possibilita por exemplo uma adequaccedilatildeo do registo oral a distintos contextos de

formalidade Deste modo para compreender e produzir impotildee-se um conhecimento

metalinguiacutestico ativado sempre que se trata de um processamento da liacutengua Tal como

refere o Conselho da Europa (2001) o ensino da Gramaacutetica viabiliza o

desenvolvimento das competecircncias da liacutengua que possibilitaratildeo a execuccedilatildeo de tarefas

e atividades essenciais para situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

474

2A Gramaacutetica no Programa de Portuguecircs do Ensino Baacutesico e nas Metas Curriculares

de Portuguecircs

Os professores referem constantemente as lacunas dos seus alunos ao niacutevel da

produccedilatildeo textual sejam de ordem sintaacutetica morfoloacutegica eou ortograacutefica a leitura

demonstra que natildeo reconhecem automaticamente as palavras evidenciando um

inadequado desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica e um desconhecimento das

normas do funcionamento da liacutengua comprovando assim a importacircncia do

conhecimento gramatical para o exerciacutecio das restantes competecircncias do portuguecircs67

Os oacutergatildeos de gestatildeo tecircm revelado estar cientes da importacircncia do ensino da liacutengua

bem como da necessidade de adequar constantemente as orientaccedilotildees curriculares agraves

modificaccedilotildees da sociedade e aos desafios que estas acarretam Note-se a realizaccedilatildeo da

Conferecircncia Internacional sobre o Ensino do Portuguecircs (2007) o Plano Nacional de

Leitura (2007) o Dicionaacuterio Terminoloacutegico (2008) a implementaccedilatildeo do Programa de

Portuguecircs do Ensino Baacutesico (2009) e as recentes Metas Curriculares de Portuguecircs

(2012) Materiais e recursos que atualmente direcionam o trabalho e a praacutetica docente

devendo ser utilizados natildeo de forma mecacircnica e acriacutetica mas compreendidos em

profundidade de modo a contribuiacuterem para uma praacutetica educativa consciente e

fundamentada em funccedilatildeo do grupo e do contexto concreto em que este se insere

(Teixeira Silva amp Santos 2011)

Para o ensino da aacuterea do Portuguecircs os dois documentos reguladores que deveratildeo ser

colocados na primeira linha do labor pedagoacutegico contecircm indicaccedilotildees precisas devendo

ser ambos utilizados em estreita articulaccedilatildeo permitindo uma intervenccedilatildeo coerente e

coesa sem esquecer que as MCP (2012) contribuem para que o professor seja capaz

de tomar decisotildees mediante prioridades previamente estabelecidas No entanto e

apesar de o mais recente documento (MCP2012) ter como referecircncia o PPEB (2009)

estes satildeo distintos e em determinados aspetos parecem contraditoacuterios tanto no que

refere agrave estrutura e modo de organizaccedilatildeo como no que concerne agrave terminologia

67

Teixeira Silva amp Santos (2011)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

475

utilizada Focando a nossa atenccedilatildeo no que pertence ao saber gramatical o PPEB (2009)

estaacute estruturado por competecircncias descritores de desempenho e respetivos

conteuacutedos sendo que a nomenclatura para ldquoeste saberrdquo eacute Conhecimento Expliacutecito da

Liacutengua (CEL) Um uacuteltimo apontamento recai no facto de este documento para o 1ordm

Ciclo estar construiacutedo por blocos de dois anos isto eacute 1ordm e 2ordm Anos e 3ordm e 4ordm Anos Jaacute

nas MCP (2012) deparamos com domiacutenios ndash o que nos parece corresponder agraves

competecircncias enunciadas no PPEB (2009) e que no caso pretendido altera CEL para

Gramaacutetica- seguidos de Subdomiacutenios para os quais se definem Objetivos Gerais que

por sua vez se desdobram em Descritores de Desempenho Salientamos ainda que os

Domiacutenios estatildeo por cada ano de escolaridade ndash 1ordm Ano 2ordm Ano 3ordm Ano e 4ordm Ano

Efetivamente natildeo eacute raro ouvir-se em contexto escolar ldquoAgora natildeo se diz

Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua eacute Gramaacuteticardquo ldquoAs planificaccedilotildees tecircm de ser feitas

com base nas Metasrdquo ldquoO Programa jaacute natildeo estaacute em vigorrdquo ldquoOs conteuacutedos satildeo os que

estatildeo nas Metasrdquo Ora embora estas afirmaccedilotildees tenham com base o empirismo satildeo

suficientes para levantarmos algumas questotildees nomeadamente uma vez que as

Metas devem ldquoidentificar os desempenhos que traduzem os conhecimentosrdquo seraacute

que podem ser consideradas como o documento no qual constam os conteuacutedos a

aprender Se este documento indica as capacidades que se querem ver desenvolvidas

seraacute que o Programa era demasiado exigente uma vez que estas apresentam o que eacute

essencial e sobretudo prioritaacuterio Se houve a preocupaccedilatildeo de as formular as Metas

de forma clara e precisa de modo a que os professores saibam exatamente o que se

pretende que o aluno aprenda o que se pretende quando no mesmo documento se lecirc

que eacute importante natildeo esquecer que uma vez alcanccediladas eacute possiacutevel e desejaacutevel ir mais

aleacutem sendo o professor quem deve decidir por onde e como prosseguir Natildeo temos

resposta para estas (e outras perguntas) mas estamos em crer que este documento eacute

redutor parecendo inclusivamente que se registam prioridades diferentes

relativamente ao PPEB (2009) Para tanto veja-se a Figura 1

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

476

Figura 1 ndash Do Programa agraves Metas Curriculares

Os descritores de desempenho no 1ordm Ciclo satildeo invariavelmente os mesmos sendo que

no 2ordm e 3ordm Ciclos jaacute se poderatildeo ler como processos de operacionalizaccedilatildeo

Relativamente aos conteuacutedos verifica-se que eacute dada a indicaccedilatildeo do documento a

utilizar pelo professor - Dicionaacuterio Terminoloacutegico (DT) - e do Plano a trabalhar B11

que corresponde ao Plano Fonoloacutegico Os conteuacutedos que se encontram escritos a

negrito satildeo aqueles nos quais a aprendizagem integra o recurso agrave metalinguagem Os

que estatildeo com traccedilo simples indicam os conteuacutedos a trabalhar sem o uso

metalinguiacutestico No entanto e a tiacutetulo exemplificativo ao efetuar-se uma leitura na

coluna da direita no documento MCP (2012) observa-se que os conteuacutedos imbricados

nos objetivos e nos descritores de desempenho em nada se relacionam com os

preconizados no PPEB (2009) ndash atente-se na Figura 2

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

477

Figura 2 ndash Do Programas agraves Metas Curriculares ndash 2

Dos Planos considerados no Dicionaacuterio Terminoloacutegico ndash Plano da Liacutengua Variaccedilatildeo e

Mudanccedila (DT A) Plano Fonoloacutegico (DT B1) Plano Morfoloacutegico (DT B2) Plano das

Classes de Palavras (DT B3) Plano Sintaacutetico (DT B4) Plano Lexical e Semacircntico (DT B5 e

B6) Plano Discursivo e Textual (DT C) Plano da Representaccedilatildeo Graacutefica e Ortograacutefica

(DT E) com exceccedilatildeo do DT A todos os Planos estatildeo contemplados nos PPEB (2009) no

1ordm e no 2ordm anos de escolaridade enquanto para estes mesmos anos nas Metas

Curriculares (2012) o Plano em foco eacute o da Morfologia

Se por um lado o termo Gramaacutetica eacute tal como refere Antunes (2012) ldquoa designaccedilatildeo

internacionalmente conhecida do estudo dos factos e das estruturas linguiacutesticas

comummente utilizadas por alunos pais e professoresrdquo (p23) e por outro o termo

Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua sendo muitas vezes substituiacutedo pelo acroacutenimo CEL

perder segundo Machado (2012) ldquoa essecircncia do valor semacircntico da designaccedilatildeordquo

(p14) colocamos a hipoacutetese de que o mais importante independentemente desta

nomenclatura utilizada eacute efetivamente que os docentes trabalhem articuladamente

esta competecircncia entendendo-a como a ferramenta essencial para aprendizagem da

leitura da escrita e da oralidade contribuindo assim para uma melhoria na qualidade

de vida No entanto sublinhamos que ldquoestas oscilaccedilotildeesrdquo potenciam a inseguranccedila e a

duacutevida culminando no erro de se considerar a possibilidade de os conteuacutedos de

Gramaacutetica poderem ser ldquopostos de parterdquo na medida em que ldquosatildeo instaacuteveis pouco

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

478

clarosrdquo (Costa Costa amp Barbosa (2008160) Claro estaacute que surgem justificaccedilotildees para

os resultados escolares dos alunos ao niacutevel da (falta de conhecimento gramatical) (i)

formaccedilatildeo inicial e contiacutenua de professores (ii) peso da Gramaacutetica nas provas de

exame (iii) instabilidade terminoloacutegica (iv) metodologias de ensino da Gramaacutetica (v)

articulaccedilatildeo entre os conteuacutedos de Gramaacutetica e as restantes competecircncias (Idem)

3Articulaccedilatildeo entre Avaliaccedilatildeo Externa e Documentos Reguladores da Praacutetica

Analisando os Relatoacuterios disponibilizados desde 20072008 pelo Gabinete de

Avaliaccedilatildeo Educacional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ciecircncia no que diz respeito agraves

Provas de Avaliaccedilatildeo eacute observaacutevel que os resultados tecircm demonstrado ser

insatisfatoacuterios Assim importa analisar a Prova Final de Ciclo de 4ordm ano referente ao

ano letivo 20122013 1ordf e 2ordf fase perspetivando a sua articulaccedilatildeo com os

documentos reguladores da praacutetica letiva no que refere ao conhecimento gramatical

Cada um dos itens do Grupo II do primeiro caderno foi analisado e comparado com os

descritores de desempenho da competecircncia Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua no

PPEB (2009) para os 3ordm e 4ordm anos de escolaridade bem como com os descritores de

desempenho do domiacutenio Gramaacutetica para o 4ordm ano de escolaridade no documento MCP

(2012) uma vez que eacute neste ano que ldquorecairdquo a avaliaccedilatildeo de final do 1ordm CEB e ainda

porque consideramos semelhantes os objetivos definidos para os dois uacuteltimos anos

deste ciclo Efetuamos tambeacutem para este estudo uma consulta aos criteacuterios de

correccedilatildeo no qual o grupo II da prova mencionada eacute designado como ldquofuncionamento

da liacutenguardquo - uma terminologia a nosso ver pouco coerente na medida em que agrave data

da Prova Final de Ciclo o termo apresentado natildeo se encontra de acordo com os

documentos reguladores da praacutetica letiva em vigor e que serviram de base para a

elaboraccedilatildeo da referida prova Esta anaacutelise assume caracteriacutesticas de um estudo de

caso em virtude de se cingir a uma situaccedilatildeo particular que analisa um fenoacutemeno da

atualidade no seu contexto real (Yin 2003 p13)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

479

31 Anaacutelise e Interpretaccedilatildeo dos Resultados Obtidos

Tanto na 1ordf como na 2ordf fase da Prova Final de Ciclo (PFC) o domiacutenio que pretendemos

analisar integra-se invariavelmente no Grupo II sendo sempre constituiacutedo por cinco

ldquoquestotildeesrdquo

Atentemos na primeira questatildeo do Grupo II Nas provas de ambas as fases era

solicitado aos alunos que completassem duas frases selecionando uma palavra de

duas apresentadas de acordo com o sentido da frase Na 1ordf fase os alunos deveriam

selecionar em 1 a) agrave ou haacute para a frase Achas que __ algum filme de sereias e em 1

b) querer ou crer para a frase Depois do filme ele vai __ em sereias Na 2ordf fase os

alunos deveriam selecionar em 1 a) traacutes ou traz para a frase Ruy sem olhar para __

tomou uma decisatildeo e selecionar em 1 b) haver ou a ver para a frase A falta de

coragem nada teve __ com o resultado alcanccedilado Analisando os criteacuterios de correccedilatildeo

as respostas vaacutelidas para a 1ordf fase satildeo haacute em a) e crer em b) e na 2ordf fase traacutes em a) e a

ver em b) No acircmbito do Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua do PPEB (2009) o item

enquadra-se no plano da representaccedilatildeo graacutefica e ortograacutefica referente ao descritor de

desempenho Explicitar regras e procedimentos identificar palavras homoacutenimas

homoacutefonas e homoacutegrafas Analisando a estrutura do item e comparando-a com o

descritor de desempenho consideramos que natildeo se encontra em total concordacircncia

na medida em que natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem as regras e

procedimentos da diferenccedila entre ldquografiardquo e ldquofoniardquo nem mesmo que recorram agrave

metalinguagem para identificar as palavras No acircmbito das MCP (2012) tendo em

conta o domiacutenio Gramaacutetica referente ao 4ordm ano de escolaridade a questatildeo natildeo se

enquadra em nenhum dos descritores de desempenho previstos

Veja-se agora a segunda questatildeo do Grupo II No item 2 da 1ordf e da 2ordf fases os

alunos necessitavam escrever uma frase dando a determinada palavra uma acessatildeo

diferente contextualizando-a de modo adequado Na 1ordf fase da PFC a frase

apresentada em 2 era A escultura de maacutermore tinha a altura de um rapaz devendo

ser a palavra altura utilizada numa nova frase revestindo-se de um outro significado

Na PFC da 2ordf fase a frase apresentada em 2 era O curso de aacutegua era pouco profundo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

480

desta vez a alteraccedilatildeo deveria focalizar-se em curso No que concerne ao Conhecimento

Expliacutecito da Liacutengua (PPEB 2009) o item enquadra-se no plano da representaccedilatildeo graacutefica

e ortograacutefica referente ao descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos

identificar palavras homoacutenimas homoacutefonas e homoacutegrafas No entanto consideramos

que o descritor de desempenho natildeo se encontra em total coerecircncia com a questatildeo 2

na medida em que natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem as razotildees da sua escolha

recorrendo inclusivamente agrave metalinguagem Agrave semelhanccedila do item anterior

tambeacutem este natildeo se encontra nas MCP (2012) no domiacutenio da Gramaacutetica nem mesmo

se encontra qualquer alusatildeo ao conteuacutedo referente agraves relaccedilotildees de sentido entre

palavras escritas

Na terceira questatildeo do Grupo II da 1ordf fase os alunos necessitavam de (apenas)

transcrever o adjetivo da seguinte frase A avoacute era uma senhora orgulhosa da sua

posiccedilatildeo Tendo em conta os criteacuterios de correccedilatildeo o aluno deveria transcrever

orgulhosa Na 2ordf fase a frase apresentada era Houve atletas que chegaram atrasados

ao estaacutedio Sendo considerado correto apenas a transcriccedilatildeo da palavra atrasados

Relativamente ao PPEB (2009) mais concretamente ao Conhecimento Expliacutecito da

Liacutengua o item enquadra-se no plano das classes de palavras referente ao descritor de

desempenho Explicitar identificar as caracteriacutesticas que justificam a inclusatildeo (ou

exclusatildeo) de palavras numa classe Quanto agraves MCP (2012) no domiacutenio Gramaacutetica o

item refere-se ao objetivo Reconhecer classes de palavras e ao descritor de

desempenho Integrar as palavras nas classes a que pertencem adjetivo qualificativo e

numeral Neste item afigura-se uma concertaccedilatildeo entre o texto que serve de referencial

para a avaliaccedilatildeo externa (MCP 2012) e o proacuteprio Programa (2009)

Quarta questatildeo do grupo II - os alunos necessitavam conjugar verbos apresentados no

infinitivo em diferentes tempos verbais Na 1ordf fase os verbos em avaliaccedilatildeo foram

mergulhar e estar (preteacuterito perfeito do indicativo) partir e ter (presente do

indicativo) e ser e viver (futuro do indicativo) Tendo em conta os criteacuterios de correccedilatildeo

eram aceites como corretas as respostas mergulharam e estiveram partem e tecircm e

por uacuteltimo seratildeo e viveratildeo Na 2ordf fase os alunos necessitavam conjugar os verbos ser

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

481

e ter (preteacuterito perfeito do indicativo) os verbos estar e conversar (presente do

indicativo) e os verbos responder e decidir (futuro do indicativo) De acordo com os

criteacuterios de correccedilatildeo eram aceites as seguintes respostas foram e tiveram estatildeo e

conversam e por uacuteltimo responderatildeo e decidiraacute Este item enquadra-se no plano

morfoloacutegico referente ao descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos

explicitar algumas regras de flexatildeo nominal adjetival pronominal e verbal (verbos

regulares) (PPEB 2009) Neste caso entendemos que o descritor de desempenho eacute

bastante abrangente cingindo-se a questatildeo da prova agrave flexatildeo verbal Mais uma vez

natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem o ldquoporquecircrdquo das suas escolhas de regras e de

procedimentos parecendo-nos que as respostas poderiam ser apresentadas (quase)

intuitivamente por falantes para quem o portuguecircs eacute liacutengua materna ndash natildeo fosse o

(des)conhecimento de desinecircncias como as da 3ordf pessoa do plural do futuro do

indicativo No acircmbito das MCP (2012) no domiacutenio Gramaacutetica o item corresponde ao

objetivo Conhecer propriedades das palavras e explicitar aspetos fundamentais da sua

morfologia e do seu comportamento sintaacutetico e ao descritor de desempenho Conjugar

verbos regulares e verbos irregulares muito frequentes no indicativo (preteacuterito perfeito

preteacuterito imperfeito e futuro) e no imperativo Consideramos que este descritor eacute de

algum modo redutor em termos de aprendizagem pois ldquoprenderdquo agrave situaccedilatildeo de

conjugaccedilatildeo e isso natildeo implica que haja aprendizagem relativa ao uso dos tempos

verbais indicados Note-se que os alunos para a consecuccedilatildeo das suas respostas

tinham a indicaccedilatildeo do tempo verbal a utilizar sem que para isso necessitassem de

refletir acerca do contexto do respetivo uso Ao contraacuterio do PPEB (2009) o

documento MCP (2012) natildeo contempla a flexatildeo nominal adjetival e pronominal

destacando os verbos regulares e irregulares

Finalmente na quinta questatildeo do grupo II os alunos deveriam selecionar de entre

quatro opccedilotildees o predicado de uma dada frase Na PFC da 1ordf fase a frase apresentada

era Uma roseira e uma bela escultura de maacutermore decoravam o canteiro Na PFC da

2ordf fase a frase apresentada era Os atletas deram uma justificaccedilatildeo ao diretor Os

criteacuterios de correccedilatildeo indicaram para o primeiro caso - decoravam o canteiro e para o

segundo - deram uma justificaccedilatildeo ao diretor jaacute se percebendo a eventual influecircncia do

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

482

Dicionaacuterio Terminoloacutegico na deriva terminoloacutegica pois chegou a verificar-se em

situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo interna que o predicado era constituiacutedo unicamente pelo verbo

Tanto no PPEB (2009) - descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos -

identificar funccedilotildees sintaacuteticas ndash como nas MCP (2012) ndash descritor de desempenho

Identificar as seguintes funccedilotildees sintaacuteticas sujeito e predicado ndash se pode verificar que o

ser capaz de identificar funccedilotildees sintaacuteticas neste caso o predicado eacute tido como

fundamental em ambos os documentos

Consideraccedilotildees Finais

Pelo que acima fica exposto consideramos que a PFC evidencia que os itens

respondentes ao grupo II natildeo se encontram em total articulaccedilatildeo com os documentos

reguladores da praacutetica letiva quer no que refere agrave nomenclatura utilizada estrutura

das questotildees e no que concerne ao conteuacutedo de cada item Assim sublinhamos os

seguintes aspetos i) alguns itens encontram-se referenciados apenas num dos

documentos reguladores da praacutetica - no PPEB (2009) - natildeo fazendo parte do domiacutenio

Gramaacutetica para o 4ordm ano de escolaridade do documento MCP (2012) ii) todos os itens

da prova encontram-se referidos no documento PPEB (2009) o que nos leva a

considerar que a avaliaccedilatildeo externa ldquoconduziu a organizaccedilatildeordquo desta prova

essencialmente por este documento e note que as MCP (2012) definem-se como o

documento ldquode referecircncia para o ensino e a aprendizagem e para a avaliaccedilatildeo interna e

externardquo (p4) iii) a estrutura e conteuacutedo dos itens apresentados em prova natildeo estatildeo

articulados com os descritores de desempenho (PPEB 2009) (MCP 2012) dos

documentos nomeadamente porque estes se focam em capacidades de explicitaccedilatildeo

de procedimentos e de regras sendo o recurso metalinguiacutestico (quase) inevitaacutevel

diferenciando-se assim do que eacute solicitado nas questotildees analisadas

Questionamo-nos ateacute que ponto o volume e o ritmo de trabalho as constantes

solicitaccedilotildees escolares e ainda o peso da avaliaccedilatildeo poderaacute levar os docentes a

restringirem o seu ato pedagoacutegico pois segundo o documento MCP (2012 p4) este

ldquohellipfornece uma visatildeo o mais objetiva possiacutevel daquilo que se pretende alcanccedilar

permitindo que os professores se concentrem no que eacute essencial () Houve a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

483

preocupaccedilatildeo de as formular de forma clara e precisa de modo a que os

professores saibam exatamente o que se pretende que o aluno aprendardquo

Questionamo-nos ainda se estaremos perante um contrassenso na medida em que

limitando-se ao que eacute prioritaacuterio em relaccedilatildeo ao PPEB (2009) o documento MCP (2012)

natildeo tornaraacute o processo de ensino demasiado delimitado uma vez que ldquoas metas (hellip)

identificaram os desempenhos que traduzem os conhecimentos a adquirir e as

capacidades que se querem ver desenvolvidas respeitando a ordem de progressatildeo da

sua aquisiccedilatildeordquo Qual eacute entatildeo ldquoa margem de manobrardquo do professor Em que

consiste Sendo que tal como houve oportunidade de analisar a avaliaccedilatildeo externa

natildeo se encontra em nosso entender de acordo com o que eacute considerado essencial

uma vez que alguns itens da prova natildeo satildeo abrangidos pelo domiacutenio Gramaacutetica do

documento MCP (2012) qual eacute entatildeo o referencial do professor

Eacute fundamental que os professores encarem os documentos reguladores com

reflexividade e que os utilizem a ambos em plena articulaccedilatildeo Diante desta realidade

consideramos a Gramaacutetica o cerne das dificuldades dos alunos devendo ser por isso

encarada como competecircncia foco para o desenvolvimento da oralidade da leitura e

em particular da escrita Julgamos ainda essencial uma reformulaccedilatildeo harmoniosa

entre estes documentos em particular no que toca aos descritores de desempenho e

ainda uma adequaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo externa em conformidade com as ldquoprescriccedilotildeesrdquo ali

indicadas uma vez que estes guiam o ato pedagoacutegico

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486

Contributos da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional de Assistentes Operacionais no

1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Fernando Ferraz

Professor do Ensino Baacutesico Lisboa

fferraz12gmailcom

Joatildeo Rosa

Professor na Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

jmsrosahotmailcom

RESUMO

Este estudo analisou se haveria um contributo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos

no desenvolvimento profissional de Assistentes Operacionais (AO) quer quanto agrave

mobilizaccedilatildeo de conhecimentos fundamentados naquela aacuterea quer quanto agrave perceccedilatildeo

de mudanccedilas de atitude quando intervecircm em situaccedilotildees de conflituosidade entre

alunos

Os recreios das escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (1ordm CEB) satildeo os locais onde

ocorre a quase totalidade dos conflitos entre alunos (Fernaacutendez 2007 Oliveira 2007

Rosa 2007) Esses recreios satildeo supervisionados pelos AO os quais devem ter

formaccedilatildeo especiacutefica em estrateacutegias de resoluccedilatildeo de conflitos A mediaccedilatildeo eacute apontada

como a melhor estrateacutegia na abordagem dos conflitos escolares conduzindo a

melhoria na convivecircncia escolar e na construccedilatildeo de um clima escolar positivo propiacutecio

agrave eficaacutecia da educaccedilatildeo (Torrego 2003 Boqueacute 2008 Tomaacutes 2010)

A estrateacutegia de pesquisa baseou-se num estudo de intervenccedilatildeo com uma amostra de

conveniecircncia simultaneamente qualitativo e quantitativo Os dados foram recolhidos

por questionaacuterio por levantamento dos conhecimentos anteriores e posteriores agrave

formaccedilatildeo e por entrevistas aos participantes No estudo participaram sete AO de uma

escola puacuteblica na aacuterea da Grande Lisboa em Portugal

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

487

Os resultados revelaram que os AO desenvolveram conhecimentos sobre mediaccedilatildeo e

percecionaram em si mesmos mudanccedilas de atitude face agraves suas intervenccedilotildees na

resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos Os resultados ainda revelaram que os AO sentem

que as autoridades educacionais e escolares desvalorizam em grande medida o seu

valor profissional mas retiram motivaccedilatildeo da interaccedilatildeo com os alunos

Concluiu-se que a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos oferece um contributo

significativo para avaliar o impacto da formaccedilatildeo no desenvolvimento profissional dos

Assistentes Operacionais que estatildeo conscientes do seu papel educativo e tecircm

sugestotildees pertinentes de melhoria da sua intervenccedilatildeo

Palavras-chave Desenvolvimento profissional Formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos

Assistentes Operacionais

ABSTRACT

This study evaluated whether training in conflict mediation contributed for

professional development of Operational Assistants (OA) either on grounded

knowledge on that subject area or on their perceived attitudinal change when sorting

out conflicts between students

Most conflicts between students take place in school playgrounds (Fernaacutendez 2007

Oliveira 2007 Rosa 2007) These are supervised by OA who should have specific

training in conflict mediation strategies Mediation is considered as the best strategy

for addressing conflict thus improving school coexistence and positive climate and

enhancing education effectiveness (Torrego 2003 Boqueacute 2008 Tomaacutes 2010)

The research strategy was based on an intervention study with both qualitative and

quantitative data collected through questionnaire knowledge assessment tests and

interviews The participants were seven OA from a state run school in the greater

Lisbon area in Portugal

The results revealed that knowledge about conflict mediation did improve and

attitudinal change was perceived when conflicting situations were sorted out by OA

There was also evidence that OA felt to a large extent professionally devalued by

educational and school authorities but find interaction with students as motivating

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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It is concluded that training in conflict mediation offers a significant contribution to

assess the impact of training on Operational Assistants professional development who

are well aware of their educational role and have relevant suggestions for improving

their intervention

Key-words Professional Development Training in Conflict Mediation Operational

Assistants

INTRODUCcedilAtildeO

O estudo que apresentamos teve como objetivo analisar o contributo da formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional dos AO em escola puacuteblica do

1ordm CEB Mais especificamente pretendeu verificar se haveria um contributo da

formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo no desenvolvimento de conhecimentos nessa aacuterea e na

mudanccedila de atitude nos AO face agrave intervenccedilatildeo nos conflitos entre alunos

Segundo Torrego (2003) Boqueacute (2008) e Tomaacutes (2010) a mediaccedilatildeo eacute a melhor

estrateacutegia na intervenccedilatildeo dos conflitos escolares com vista agrave convivecircncia e agrave

construccedilatildeo de um clima escolar propiacutecio agrave aprendizagem e agrave eficaacutecia da educaccedilatildeo

Os recreios das escolas do 1ordm CEB satildeo os locais onde ocorre a quase totalidade dos

conflitos entre alunos Tais recreios devem ser adequadamente equipados e

supervisionados atendendo agrave faixa etaacuteria daqueles alunos e ao papel das atividades

luacutedicas na socializaccedilatildeo dos alunos (Fernaacutendez 2007 Oliveira 2007 Rosa 2007) Sendo

aqueles recreios supervisionados pelos AO torna-se urgente a necessidade de

formaccedilatildeo dos AO em mediaccedilatildeo de conflitos

A relevacircncia do estudo fundamenta-se no contributo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo dos

AO para o seu desenvolvimento profissional considerando a necessidade do

reconhecimento e valorizaccedilatildeo profissional daqueles atores educativos uma vez que

podem desempenhar um papel relevante na intervenccedilatildeo dos conflitos entre alunos

perspetivando-se melhoria na qualidade da educaccedilatildeo do cidadatildeo da sociedade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

489

ENQUADRAMENTO TEOacuteRICO

O conflito natural e inerente ao desenvolvimento humano deve ser encarado de

forma construtiva num processo que resulte em aprendizagem com vista agrave

convivecircncia paciacutefica O comportamento social humano torna-se complexo em virtude

dos relacionamentos interpessoais se basearem em interesses por vezes

incompatiacuteveis como a afirmaccedilatildeo da autoimagem o dinheiro e a realizaccedilatildeo pessoal

(Matos 1993)

Numa visatildeo tradicional o conflito eacute visto como um mal resultante de comportamento

indesejaacutevel associado agrave agressividade agrave violecircncia fiacutesica e verbal a sentimentos e a

comportamentos negativos e prejudiciais que precisa eliminar recorrendo agrave

autoridade e ao poder Ao contraacuterio numa visatildeo atual eacute admissiacutevel um certo grau de

conflito nos grupos pois a partilha e a discussatildeo aberta de pontos de vista diferentes

pode proporcionar uma maior exploraccedilatildeo de sentimentos de valores e de atitudes

favorecendo ideias inovadoras e melhores soluccedilotildees (Fachada 2012)

O conflito natildeo tem que acabar em destruiccedilatildeo A questatildeo natildeo se coloca em erradicar os

conflitos mas sim em abordaacute-los de forma construtiva pois ldquoaproveitar a riqueza de

cada pessoa favorece a inovaccedilatildeo social e promove o bom entendimentordquo (Boqueacute

2008 p 20)

A escola reflete a complexidade da sociedade circundante As tensotildees motivadas pelos

contrastes sociais econoacutemicos culturais e familiares repercutem-se no quotidiano

escolar Indisciplina violecircncia bullying satildeo termos que refletem a conflituosidade nas

escolas ultrapassando a dimensatildeo da sala de aula As ocorrecircncias de agressividade e

maus tratos entre alunos registam-se prioritariamente em zonas urbanas de grande

densidade populacional e nos meses iniciais de cada ano letivo (Estrela 2002

Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010)

Nas escolas de 1ordm CEB o recreio eacute o local onde ocorre a quase totalidade das

agressotildees fiacutesicas e verbais entre alunos (Rosa 2007 Oliveira 2007) Os espaccedilos de

recreio podem ser de grande importacircncia educativa para os alunos e por isso os

recreios precisam de ser adequadamente equipados preservados e supervisionados

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

490

por profissionais com formaccedilatildeo e treino especiacutefico na abordagem dos conflitos entre

alunos (Pereira et al 2003 Pereira 2005 Fernaacutendez 2007)

A literatura referente agrave problemaacutetica dos conflitos escolares tem incidido de um modo

geral sobre adolescentes e jovens sendo escassos os estudos em escolas de 1ordm CEB

Por um lado as consequecircncias fiacutesicas das agressotildees fiacutesicas entre as crianccedilas nessas

idades natildeo satildeo em geral graves e consequentemente natildeo constituem notiacutecia Por

outro lado o mau trato entre iguais (Bullying) eacute a forma de violecircncia que mais se

pratica nas escolas com graves consequecircncias imediatas e a longo prazo (Estrela

2002) Por isso haacute toda a conveniecircncia em encarar a abordagem dos conflitos desde

crianccedila pois ldquoos programas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo devem ser efetuados o mais

precocemente possiacutevelrdquo (Matos Simotildees Gaspar amp Equipa do Projeto Aventura Social

2010 p 63) podendo a mediaccedilatildeo desempenhar um papel crucial

A mediaccedilatildeo eacute ldquoum meacutetodo de resoluccedilatildeo de conflitos em que duas partes em confronto

recorrem voluntariamente a uma terceira pessoa imparcial o mediador a fim de

chegarem a um acordo satisfatoacuteriordquo (Torrego 2003 p 5) Trata-se de um processo

inovador de abordar o conflito baseado no respeito na aprendizagem e no

crescimento contribuindo para uma sociedade paciacutefica desenvolvida e humanista um

processo que abrange um conjunto de competecircncias e procedimentos com vista a

transformar os conflitos em oportunidades resultando num maior conhecimento de si

proacuteprio e de outros A mediaccedilatildeo eacute ldquoa forma mais eficaz e assertiva de chegar a um

consenso e de prevenir um determinado conflito (Tomaacutes 2010 p 27)

A mediaccedilatildeo registou um impulso decisivo nas uacuteltimas deacutecadas sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees Na escola a mediaccedilatildeo tem sido considerada uma boa abordagem

para a transformaccedilatildeo criativa dos conflitos aproveitando-os como oportunidade de

crescimento e aprendizagem cria um ambiente mais descontraiacutedo e produtivo reduz

o nuacutemero de sanccedilotildees e dada a intervenccedilatildeo da mediaccedilatildeo entre pares diminui a

intervenccedilatildeo dos adultos (Torrego 2003) Portanto a mediaccedilatildeo promove o

desenvolvimento de capacidades e competecircncias interpessoais e sociais essenciais

para o exerciacutecio da cidadania

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

491

Nos processos de mediccedilatildeo satildeo necessaacuterios os contributos das teacutecnicas para uma

comunicaccedilatildeo eficaz bem como os contributos da mediaccedilatildeo formal e informal No caso

da mediaccedilatildeo informal as teacutecnicas satildeo proacuteprias da comunicaccedilatildeo diaacuteria e as normas satildeo

mais flexiacuteveis o mediador pode natildeo ser um especialista em mediaccedilatildeo pretende-se

uma melhoria das relaccedilotildees entre as partes em desacordo

Estando o objetivo do nosso estudo relacionado com a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo dos AO

em escolas do 1ordm CEB atendendo agrave sua funccedilatildeo de supervisatildeo nos recreios locais de

frequentes conflitos entre alunos consideramos que a intervenccedilatildeo dos AO se situa

preponderantemente no quadro da praacutetica da mediaccedilatildeo informal ateacute porque ldquoo

exerciacutecio natildeo formal da mediaccedilatildeo chega a ser o substrato onde se enraiacutezam sociedades

mais paciacuteficas e por isso mais justasrdquo (Boqueacute 2008 p 29)

A formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo eacute recomendada natildeo apenas a professores mas tambeacutem a

toda a comunidade educativa incluindo alunos AO e famiacutelias (Morgado amp Oliveira

2011) pois contribui para uma diminuiccedilatildeo de conflitos entre alunos e para o

desenvolvimento pessoal e profissional dos auxiliares na gestatildeo de conflitos entre

alunos (Arroz 2010) Tambeacutem ao niacutevel das escolas do 1ordm CEB eacute proposto a

implementaccedilatildeo de projetos de mediaccedilatildeo com a participaccedilatildeo ativa dos alunos e da

restante comunidade educativa (Oliveira 2007 Rosa 2007)

Poreacutem precisamos de ser realistas e saber que os processos de mudanccedila de

comportamentos sociais satildeo sempre lentos Seraacute necessaacuteria a vontade de mudanccedila

por parte dos intervenientes o apoio por parte da comunidade escolar e o incentivo

por parte das poliacuteticas educativas Se eacute verdade que ldquoo comportamento perturbador eacute

um haacutebito de vida do aluno sendo difiacutecil acabar com ele num soacute diardquo (Lopes amp

Rutherford 1994 p 71) e se tambeacutem eacute verdade que ldquoatuar dentro de um estilo de

colaboraccedilatildeo exige condiccedilotildees de tempo e de contexto que nem sempre ocorremrdquo

(Torrego 2003 p 40) o facto eacute que natildeo podemos baixar os braccedilos

Poderemos esperar melhor eficaacutecia na educaccedilatildeo melhor clima escolar nas escolas dos

adolescentes e jovens comeccedilando pelas crianccedilas envolvendo os AO na formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo ldquoA formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo assume-se como um elemento nuclear de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

492

qualquer projeto de intervenccedilatildeo em prol da melhoria da convivecircncia escolarrdquo (Costa

E Almeida L amp Melo M 2009 p 177)

A realidade do pessoal natildeo docente ldquoo pessoal teacutecnico-profissional administrativo e

de apoio educativo dos estabelecimentos puacuteblicos de educaccedilatildeo preacute-escolar e dos

ensinos baacutesico e secundaacuteriordquo (Decreto-Lei nordm 1842004 de 29 de julho p 4898)

sempre esteve presente na escola ainda que com outras designaccedilotildees como pessoal

menor pessoal auxiliar pessoal auxiliar de apoio auxiliar de accedilatildeo educativa (AAE) e

atualmente como assistente operacional (AO)

A literatura normativa tem procurado dar relevacircncia ao grupo profissional dos AO

considerando-os imprescindiacuteveis no processo educativo nomeadamente na

organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas e no apoio agrave funccedilatildeo educativa (Decreto-Lei

nordm 1842004 de 29 de julho Decreto-Lei nordm 1212008 de 11 de julho)

Na verdade uma escola reduzida a alunos e professores estaacute cada vez mais

ultrapassada a favor de uma escola autoacutenoma e reflexiva interagindo com todos os

seus atores e parceiros uma escola que eacute lugar de aprendizagem para todos crianccedilas

e jovens educadores e professores auxiliares e outros funcionaacuterios natildeo docentes

(Alarcatildeo amp Tavares 2003) Inclusivamente os AO podem assumir papeacuteis importantes

na escola pois ldquorepresentam um poder subtil com formas de expressatildeo verbal pouco

significativas mas com grande poder de cariz informalrdquo (Rodrigues 2009 p 147)

No entanto a verbalizaccedilatildeo da promoccedilatildeo dos AO contrasta com o sentimento de

desvalorizaccedilatildeo e com a falta de reconhecimento sendo ainda conotados como um

ldquogrupo profissional de limpeza subalterno e com poucas habilitaccedilotildees (Gonccedilalves

2010 p 153)

No acircmbito da formaccedilatildeo dos AO eacute suposto que eles tenham como habilitaccedilatildeo miacutenima o

ensino baacutesico e que lhes seja proporcionada formaccedilatildeo complementar adequada (Lei

nordm 461986 de 14 de outubro) Os serviccedilos devem elaborar e atualizar o diagnoacutestico

das necessidades de formaccedilatildeo (Decreto-Lei nordm 501998 de 11 de marccedilo)

Em relaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional a literatura cientiacutefica eacute esclarecedora em

reconhecer a pertinecircncia e a necessidade de formaccedilatildeo e desenvolvimento profissional

do pessoal natildeo docente (Alarcatildeo amp Tavares 2003) Inclusivamente na avaliaccedilatildeo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

493

desempenho dos AO eacute-lhes solicitada a ldquocapacidade para se ajustar a novas tarefas e

atividades e de se empenhar na aprendizagem e desenvolvimento profissionalrdquo

(Competecircncia nordm 8 Lista de Competecircncias do Pessoal Operaacuterio e Auxiliar Anexo VI

Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro p 9151) Tambeacutem lhes eacute pedida a

capacidade e o contributo para o ldquodesenvolvimento ou manutenccedilatildeo de um bom

ambiente de trabalhordquo e para ldquointeragir adequadamente com pessoas com diferentes

caracteriacutesticas tendo uma atitude facilitadora do relacionamento e gerindo as

dificuldades e eventuais conflitos de forma ajustadardquo (Competecircncia nordm 5 e

Competecircncia nordm 7 Lista de Competecircncias do Pessoal Operaacuterio e Auxiliar Anexo VI

Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro p 9151)

A escola a tempo inteiro no 1ordm CEB tem vindo a aumentar consideravelmente o tempo

em que os alunos estatildeo sob supervisatildeo dos AO Se tivermos em conta as alteraccedilotildees

introduzidas no 1ordm CEB nos uacuteltimos anos a construccedilatildeo de centros escolares a

generalizaccedilatildeo do serviccedilo de almoccedilo e a introduccedilatildeo das Atividades de Enriquecimento

Curricular (AEC) ateacute agraves 17h30 verificamos um significativo acreacutescimo do tempo em que

os alunos do 1ordm CEB estatildeo sob supervisatildeo dos AO

Acresce que a investigaccedilatildeo cientiacutefica tem deixado para plano secundaacuterio o pessoal natildeo

docente (Carreira 2007 Rodrigues 2009 Silva 2009) centrando-se os poucos estudos

na aacuterea da administraccedilatildeo e gestatildeo escolar Escassos satildeo os estudos no acircmbito da

supervisatildeo educativa na perspetiva do desenvolvimento profissional dos AO

especificamente no campo da mediaccedilatildeo ainda que comece a ser indicada a formaccedilatildeo

dos AO em aacutereas da psicologia da educaccedilatildeo em especial da comunicaccedilatildeo e do

relacionamento humano (Gonccedilalves 2010)

Sendo certo que os AO tecircm a funccedilatildeo de supervisionar os alunos no recreio local onde

ocorre a quase totalidade dos conflitos entre alunos parece inquestionaacutevel a

relevacircncia da formaccedilatildeo dos AO em estrateacutegias de gestatildeo de conflitos entre alunos

pois ldquona educaccedilatildeo da crianccedila todos intervecircm com o seu saber com a atitude e com o

exemplordquo (Duratildeo Odete Pereira amp Saboga 1998 p 15)

Face aos pressupostos teoacutericos que acabaacutemos de rever estabeleceram-se para o

presente estudo as seguintes hipoacuteteses

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

494

- Hipoacutetese 1 haacute um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo para os

conhecimentos que os AO tecircm dessa temaacutetica

- Hipoacutetese 2 haacute um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo na

mudanccedila de atitude nos AO face agrave sua intervenccedilatildeo nos conflitos entre alunos

METODOLOGIA

Os participantes (N=7) uma amostra de conveniecircncia satildeo todas as pessoas que

exerciam funccedilotildees de AO numa escola puacuteblica em Lisboa Satildeo todas do sexo feminino

A escola de 1ordm CEB onde se realizou o presente estudo estaacute integrada num

agrupamento de escolas numa zona residencial com importantes centros de comeacutercio

e serviccedilos onde se empregam pessoas provenientes de outros locais da cidade de

Lisboa e de concelhos limiacutetrofes A escola alvo do estudo tem cerca de 400 alunos

Para aleacutem da Componente Letiva satildeo disponibilizados aos alunos as Atividades de

Enriquecimento Curricular (AEC) e o Serviccedilo de Apoio agrave Famiacutelia A quase totalidade dos

alunos participa nas AEC e almoccedila na escola pelo que os alunos permanecem no

espaccedilo escolar cerca de 9 horas diaacuterias

O estudo de intervenccedilatildeo com um design composto por preacute-teste ndash intervenccedilatildeo ndash poacutes-

teste usou uma metodologia simultaneamente quantitativa e qualitativa com as

seguintes etapas

Primeira etapa Questionaacuterio de diagnoacutestico

Foi desenhado um questionaacuterio com questotildees sugeridas pela revisatildeo da literatura que

foi previamente validado com entrevistas exploratoacuterias semiestruturadas a trecircs AO

em funccedilotildees que natildeo participaram no estudo

O questionaacuterio centrou-se em trecircs aspetos essenciais para o estudo ou seja a)

Perceccedilatildeo da funccedilatildeo das AO na escola b) Perceccedilatildeo do comportamento dos alunos e c)

Perceccedilatildeo das estrateacutegias de resoluccedilatildeo de conflitos Para complementar e conferir

opiniotildees foi solicitado aos participantes que manifestassem a sua avaliaccedilatildeo sobre os

mesmos aspetos essenciais numa escala de 0 a 20 Por fim numa questatildeo aberta os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

495

participantes puderam exprimir o seu pensamento sobre a preparaccedilatildeo que sentiam

para intervir na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos

Segunda etapa Conhecimentos sobre mediaccedilatildeo anteriores agrave formaccedilatildeo

Esta etapa consistiu na resposta a quatro questotildees sobre mediaccedilatildeo nomeadamente o

conceito de mediaccedilatildeo a diferenccedila entre a atuaccedilatildeo de um mediador de um aacuterbitro e

de um juiz a diferenccedila entre mediaccedilatildeo formal e informal e por fim as vantagens e os

inconvenientes da utilizaccedilatildeo da mediaccedilatildeo na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos

Terceira etapa Formaccedilatildeo intervenccedilatildeo

Foram realizadas quatro sessotildees consistindo essencialmente na apresentaccedilatildeo de

alguns conceitos na partilha de experiecircncias e na realizaccedilatildeo de atividades praacuteticas de

treino de competecircncias sociais As sessotildees decorreram com intervalos de duas

semanas para que as participantes pudessem praticar os conteuacutedos da formaccedilatildeo na

sua atividade diaacuteria de acompanhamento e vigilacircncia aos alunos nos recreios

Quarta etapa Conhecimentos posteriores agrave formaccedilatildeo

Nesta etapa foram colocadas as mesmas questotildees da segunda etapa como forma de

recolher dados sobre o desenvolvimento ou natildeo de novos conhecimentos

Quinta etapa Entrevistas aos participantes

Na sequecircncia dos resultados do questionaacuterio e dos conhecimentos anteriores e

posteriores agrave formaccedilatildeo percebeu-se a necessidade de aprofundar alguns aspetos pelo

que foram realizadas entrevistas finais semiestruturadas aos participantes

RESULTADOS

As AO tecircm uma forte perceccedilatildeo de desvalorizaccedilatildeo da escola em relaccedilatildeo a si proacuteprias e

agraves suas funccedilotildees pois sentem desconsideraccedilatildeo por parte de pais de professores e da

direccedilatildeo da escola sentem desconforto pela sobrecarga de trabalho pelo baixo salaacuterio

pela avaliaccedilatildeo de desempenho e por lhes ser atribuiacutedo predominantemente a funccedilatildeo

de limpeza No entanto as AO tambeacutem referem motivaccedilatildeo para o trabalho bom

ambiente entre colegas preferecircncia por atividades de interaccedilatildeo com os alunos e

consciecircncia do seu contributo para a educaccedilatildeo dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

496

Os problemas de comportamento dos alunos o seu niacutevel de conflituosidade e

agressividade natildeo satildeo considerados pelas AO como muito complexos contudo

reconhecem situaccedilotildees pontuais de maior complexidade As AO propotildeem a

dinamizaccedilatildeo dos recreios para melhorar o comportamento dos alunos

No que se refere agrave temaacutetica da resoluccedilatildeo de conflitos as AO consideram-se num

primeiro momento do questionaacuterio com preparaccedilatildeo capazes eficazes e com

conhecimentos Contudo o discurso eacute contraditoacuterio pois considerando a uacuteltima parte

do questionaacuterio os conhecimentos preacutevios e entrevistas verifica-se que as AO revelam

dificuldades e falta de formaccedilatildeo especiacutefica

Quando se comparam os resultados anteriores e posteriores agrave formaccedilatildeo e pela anaacutelise

das entrevistas verifica-se que as AO desenvolveram os seus conhecimentos sobre

mediaccedilatildeo pois apresentaram respostas globalmente corretas sobre o conceito de

mediaccedilatildeo a diferenccedila entre o mediador o aacuterbitro e o juiz a diferenccedila entre mediaccedilatildeo

formal e informal e as vantagens e os inconvenientes da mediaccedilatildeo escolar Utilizaram

os conceitos discutidos de forma mais rigorosa

A anaacutelise das entrevistas revela que as AO percecionaram em si mesmas mudanccedilas de

atitude na resoluccedilatildeo de conflitos satildeo menos autoritaacuterias com os alunos ouvem-nos

mais criam condiccedilotildees de diaacutelogo utilizam a escuta ativa esforccedilam-se pela

imparcialidade e procuram que eles encontrem as soluccedilotildees para os proacuteprios conflitos

No conjunto dos resultados verificou-se que as AO desenvolveram os seus

conhecimentos sobre mediaccedilatildeo e que percecionaram em si mesmas mudanccedila de

atitude na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos Estes eram resultados esperados Como

resultados emergentes verificou-se que as AO exprimiram um forte sentimento de

desvalorizaccedilatildeo manifestaram consciecircncia do papel educativo com os alunos e

apresentaram sugestotildees pertinentes de melhoria para o comportamento dos alunos

CONCLUSAtildeO E DISCUSSAtildeO

Decorrente dos resultados pocircde concluir-se que reportando-nos agrave hipoacutetese 1 se

verificou um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo nos conhecimentos

que os AO tecircm dessa temaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

497

Os estudos cientiacuteficos apontam para a necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica dos AO

pois ldquomuitas vezes apresentam seacuterias dificuldades de relacionamento com os alunosrdquo

(Pereira et al 2003 p 240) com vista agrave manutenccedilatildeo da ordem nomeadamente na

supervisatildeo dos recreios o local onde se registam a maioria das ocorrecircncias (Oliveira

2007 Rosa 2007 Fernaacutendez 2007)

A formaccedilatildeo realizada aliando teoria praacutetica e reflexatildeo partilhada conferiu ou

desenvolveu conhecimentos na temaacutetica da mediaccedilatildeo permitindo fundamentar as

praacuteticas na abordagem quotidiana dos conflitos tal como concluiu Arroz (2010) em

que os Auxiliares de Accedilatildeo Educativa evidenciaram ldquocrescimento pessoal e profissionalrdquo

(p 12) e uma evoluccedilatildeo significativa na gestatildeo de conflitos entre alunos

Tambeacutem para a hipoacutetese 2 se verificou um contributo significativo da formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo na mudanccedila de atitude dos AO face agrave sua intervenccedilatildeo na resoluccedilatildeo de

conflitos entre alunos

Na verdade a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo eacute recomendada pela literatura cientiacutefica

(Torrego 2003 Pereira et al 2003 Gonccedilalves 2010) sendo considerada ldquoum

elemento nuclear de qualquer projeto de intervenccedilatildeo em prol da melhoria da

convivecircncia escolarrdquo (Costa et al 2009 p 177)

A anaacutelise das entrevistas aos participantes revelou que as AO percecionaram em si

mesmas mudanccedilas de atitude na intervenccedilatildeo dos conflitos dos alunos pois passaram a

ser menos autoritaacuterias com os alunos a ouvir mais os alunos a criar mais condiccedilotildees de

diaacutelogo a utilizar a escuta ativa a esforccedilarem-se mais pela imparcialidade e a

procurarem que os alunos encontrassem as soluccedilotildees para os proacuteprios conflitos

Concluiu-se assim que a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo em contexto escolar facilita uma

mudanccedila de atitude na intervenccedilatildeo dos AO quando eles intervecircm na resoluccedilatildeo de

conflitos entre alunos Do mesmo modo o jaacute referido estudo de Arroz (2010) concluiu

que os Auxiliares da Accedilatildeo Educativa ldquoaprenderam a gerir melhor os conflitos entre os

alunos aplicando a aprendizagem conseguida na formaccedilatildeo e sentindo que eram

capazes de resolver situaccedilotildees que antes natildeo tinham autonomia para o fazerrdquo (p 11)

Os resultados fizeram ainda emergir outros aspetos nomeadamente em relaccedilatildeo agrave

funccedilatildeo das AO na escola Por exemplo verificou-se o contraste entre o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

498

reconhecimento normativo e a ausecircncia de reconhecimento real Por um lado os AO

satildeo considerados como indispensaacuteveis ao sucesso educativo na organizaccedilatildeo e

funcionamento das escolas (Decreto-Lei nordm 1842004 de 29 de julho) sendo-lhes

reconhecido um significativo impacto de caraacutecter informal (Rodrigues 2009) por

outro lado os AO satildeo conotados como um grupo profissional de limpeza subalterno e

com poucas habilitaccedilotildees (Gonccedilalves 2010) Os proacuteprios AO participantes neste estudo

revelaram um forte sentimento de desvalorizaccedilatildeo sobretudo por parte dos

professores ldquosomos o elo mais fraco da cadeia (hellip) somos aquele peatildeozinho que anda

ali a olhar e a limpar (hellip) os professores tecircm laacute as coisas deles e noacutes estamos ali no

nosso cantinhordquo (AO1)

Outro aspeto emergente foi a sugestatildeo de formaccedilatildeo adicional em animaccedilatildeo de

recreios Verificou-se que as AO foram unacircnimes em sugerir a animaccedilatildeo de recreios

como sugestatildeo de melhoria tal como refere a literatura (Fernaacutendez 2007)

Como sugestotildees para novos estudos seria interessante avaliar a implementaccedilatildeo de

projetos de mediaccedilatildeo de conflitos em escolas de 1ordm CEB considerando a

especificidade etaacuteria dos alunos incluindo alunos mediadores Sabemos que a vivecircncia

num clima escolar de qualidade pode marcar decisivamente os alunos com provaacuteveis

ganhos na fase etaacuteria seguinte a da adolescecircncia nas EB23 e Secundaacuterias Poderia

tambeacutem ser relevante estudar o impacto dos conflitos natildeo resolvidos durante os

intervalos nas escolas do 1ordm CEB no recomeccedilo da atividade letiva apoacutes os intervalos O

tempo gasto no recomeccedilo da atividade letiva apoacutes os recreios por motivos de

conflitos ocorridos no recreio e natildeo resolvidos pode ser significativo

Este estudo reforccedila a urgecircncia em motivar valorizar e respeitar os AO pois tecircm

consciecircncia da sua importacircncia na escola e sentem-se motivados para atividades com

crianccedilas visando a educaccedilatildeo Eacute necessaacuterio ouvir e dar voz aos AO pois natildeo soacute tecircm

sugestotildees pertinentes de melhoria como tambeacutem com formaccedilatildeo e experiecircncia

pessoal adquiridas podem colaborar no desenvolvimento da escola Seraacute tambeacutem

importante investir na formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo em contexto escolar dos agentes

educativos pois se preparados para tal podem contribuir significativamente para o

desenvolvimento de uma cultura de mediaccedilatildeo com vista agrave melhoria do clima escolar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

499

da aprendizagem da educaccedilatildeo do cidadatildeo da sociedade Assim as autoridades

educacionais e de gestatildeo teriam de refletir sobre as necessidades de reconhecimento e

de valorizaccedilatildeo profissional dos AO

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Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

502

AVALIACcedilAtildeO DO DESEMPENHO DOCENTE PERCEPCcedilOtildeES DE

PROFESSORES SOBRE O MODELO E OS SEUS CRITEacuteRIOS

ALAN STOLEROFF CIES-ISCTEIUL

alanstoleroffisctept

PATRIacuteCIA SANTOS CIES-ISCTEIUL

anapatriciasantosisctept

Resumo

No quadro da revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente (2007) implementou-se um

sistema de avaliaccedilatildeo individual dos professores do ensino puacuteblico portuguecircs com

consequecircncias visiacuteveis para o trabalho e para a profissatildeo de professor que por sua vez

originou um periacuteodo intenso de conflitos entre Governo sindicatos e professores

Nesta comunicaccedilatildeo apresentamos uma anaacutelise de perceccedilotildees e formas de reaccedilatildeo dos

professores com respeito ao modelo e criteacuterios de avaliaccedilatildeo do desempenho

introduzido e os seus efeitos na sua profissionalidade Para tal recorremos a resultados

parciais de um inqueacuterito por questionaacuterio realizado a uma amostra de professores

(N=1872) dos ensinos preacute-escolar baacutesico e secundaacuterio de Portugal continental

Verificamos predominantemente reaccedilotildees negativas da parte dos professores em

relaccedilatildeo ao modelo e aos seus criteacuterios de avaliaccedilatildeo mas tambeacutem encontramos

reaccedilotildees que indicam atitudes diversas em relaccedilatildeo agraves suas consequecircncias Um dos

elementos-chave da anaacutelise eacute a diferenciaccedilatildeo e convergecircncia de sentidos que o

modelo teve para os professores consoante a geraccedilatildeo profissional a que pertencem

Palavras-chave modelo de avaliaccedilatildeo professores profissionalismo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

503

Abstract In the review of the Teaching Career Statute (2007) was implemented a

system of individual evaluation of Portuguese public school teachers with visible

consequences for the teaching profession that for has led to an intense period of

conflict between the government unions and teachers In this communication we

present an analysis of perceptions and ways of reaction of teachers with respect to the

model and the performance evaluation criteria introduced and its effects on their

professionalism For this we uso partial results of a survey conducted with a sample of

pre-school primary and secondary teachers (N = 1872) of Portugal We predominantly

observed negative reactions from the teachers in relation to the model and its

evaluation criteria but we also found responses that indicate various attitudes in

relation to their consequences One of the key elements of the analysis is the

differentiation and convergence of meaning for teachers about this evaluation model

depending on the professional generation that they belong

Keywords evaluation model teachers professionalism

A avaliaccedilatildeo do desempenho dos professores no centro das reformas profissionais em

Portugal

Desde a viragem do seacuteculo para responder a problemas de eficaacutecia e eficiecircncia no

campo da educaccedilatildeo puacuteblica os governos dos paiacuteses da OCDE como os de Portugal

tecircm vindo a desenvolver poliacuteticas visando a responsabilizaccedilatildeo dos professores como o

meio basilar para a melhoria dos resultados escolares (Osborn amp McNess 2005 Day amp

Quing 2009) Esta perspectiva que nasceu de uma ideologia supranacional e integra

poliacuteticas europeias e nacionais com agendas globais (Magalhatildees amp Stoer 2006)

traduziu-se em medidas de ldquoprestaccedilatildeo de contasrdquo ndash sobretudo atraveacutes da avaliaccedilatildeo do

desempenho Trata-se de uma estrateacutegia hegemoacutenica que subjaz as tendecircncias gerais

de ldquoracionalizaccedilatildeo institucionalrdquo (Evetts 2003) no sector puacuteblico em conformidade

com o quadro da jaacute velha ldquonova gestatildeo puacuteblicardquo e a reclamada convergecircncia do

modelo de gestatildeo puacuteblica com a gestatildeo de recursos humanos no sector privado Tudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

504

isso teve em consequecircncia implicaccedilotildees organizacionais para a gestatildeo das escolas em

particular no que diz respeito agraves funccedilotildees e agrave profissionalidade dos professores

Em 2007 o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo reformulou neste sentido o Estatuto da Carreira

Docente (Decreto-Lei nordm152007) e em 2008 regulamentou a Avaliaccedilatildeo de

Desempenho Docente (Decreto Regulamentar nordm22008 de 10 de Janeiro) Esta

regulamentaccedilatildeo fixou as bases de um novo sistema de avaliaccedilatildeo individual dos

professores agrave imagem do criado para os restantes funcionaacuterios puacuteblicos68 e terminou

com as promoccedilotildees ldquoautomaacuteticasrdquo fazendo depender a progressatildeo na carreira dos

professores as promoccedilotildees e a remuneraccedilatildeo do meacuterito apurado atraveacutes de novos

procedimentos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo do seu desempenho individual

Evidentemente a medida natildeo foi consensualmente aceite Na medida em que o

modelo de avaliaccedilatildeo promove criteacuterios de gestatildeo em oposiccedilatildeo a criteacuterios profissionais

para apurar o meacuterito (Stoleroff amp Pereira 2008) a sua aplicaccedilatildeo despertou a

resistecircncia e oposiccedilatildeo visiacuteveis dos professores e dos seus representantes sindicais

Como marco de uma nova orientaccedilatildeo na regulaccedilatildeo das poliacuteticas profissionais a

introduccedilatildeo deste tipo de esquema de gestatildeo de recursos humanos nas escolas abalou

e implicou uma rutura com o padratildeo existente de relaccedilotildees de trabalho na profissatildeo

docente Contudo mesmo argumentando que a resistecircncia tenha produzido um forte

movimento social profissional de afirmaccedilatildeo de identidades natildeo eacute verosiacutemil pressupor

que entre os professores a medida tenha sido consensualmente rejeitada Daiacute com

base na hipoacutetese de que esta reforma trouxe consequecircncias significativas para a

identidade docente eacute pertinente analisar as representaccedilotildees dos professores

relativamente ao modelo de avaliaccedilatildeo implementado

Neste trabalho eacute nossa intenccedilatildeo tornar visiacuteveis as representaccedilotildees e atitudes dos

professores sobre este tema Para tal faremos uma anaacutelise de itens pertinentes de um

questionaacuterio aplicado a niacutevel nacional a professores que lecionam os diferentes niacuteveis

68

Tal como os restantes funcionaacuterios puacuteblicos os professores estatildeo sujeitos a um sistema de avaliaccedilatildeo de desempenho individual e agraves suas implicaccedilotildees na progressatildeo ao longo dos diversos escalotildees de remuneraccedilatildeo Poreacutem o grupo docente beneficia de procedimentos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo regulados por legislaccedilatildeo especiacutefica do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

505

do ensino puacuteblico69 A amostra foi probabiliacutestica e estratificada por NUTS II (Norte

Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo e Algarve) e niacutevel de ensino e foram

considerados 1872 inqueacuteritos (com um erro amostral de 227 para um intervalo de

confianccedila de 95) A composiccedilatildeo de geacutenero na amostra vai ao encontro da

caracterizaccedilatildeo do proacuteprio grupo predominam as professoras (77) Tambeacutem a

maioria (555) dos professores natildeo se encontra filiado num sindicato profissional

A amostra do grupo profissional eacute constituiacuteda por vaacuterias geraccedilotildees de professores cuja

entrada na profissatildeo teve lugar em diferentes momentos histoacutericos grande parte dos

professores encontra-se entre os 16 e os 25 anos de serviccedilo (348) seguindo-se dos

que se encontram entre os 26 e os 35 anos de serviccedilo (259) e entre os 7 e 15 anos

de serviccedilo (258) e finalmente dos professores ldquonovatosrdquo com ateacute seis anos de

serviccedilo (65) e ldquoveteranosrdquo com mais de 36 anos de serviccedilo (29) Se eacute certo que as

representaccedilotildees dos professores sobre a profissatildeo modificam-se ao longo das suas

carreiras (Huberman 1989) haveraacute efetivamente variaccedilatildeo nas diferentes perspectivas

sobre o tema da avaliaccedilatildeo do desempenho e o modelo implementado entre os

professores de acordo com a geraccedilatildeo profissional a que pertencem

O Modelo de avaliaccedilatildeo do desempenho profissional e a revisatildeo do Estatuto da

Carreira Docente nas perceccedilotildees dos professores

Parece existir aquilo a que Hughes (1958 cit por Dubar 2005) chama de ldquofilosofiardquo do

grupo profissional entre uma maioria dos professores indicando a existecircncia de uma

certa coerecircncia interna nas representaccedilotildees do grupo profissional no seu conjunto

Contudo existindo no geral e tendencialmente uma maioria que exprime oposiccedilatildeo agraves

mudanccedilas em curso estaacute presente uma corrente minoritaacuteria entre os professores com

representaccedilotildees e atitudes contraacuterias ao grupo dominante na profissatildeo A coexistecircncia

69

Os objetivos deste artigo enquadram-se no projeto ldquoOs professores do ensino puacuteblico e associativismo docente em Portugal a reconstruccedilatildeo de identidades e discursosrdquo que decorreu no CIES-ISCTEIUL financiado pela Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia e coordenado por Alan Stoleroff No acircmbito deste projeto foram tanto utilizadas metodologias quantitativas (cujos resultados satildeo aqui parcialmente representados) como metodologias qualitativas (anaacutelise de conteuacutedo aos discursos sindicais e entrevistas biograacuteficas a professores do 3ordm ciclo do ensino baacutesico e ensino secundaacuterio)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

506

de muacuteltiplos e diacutespares quadros de referecircncia geracionais impulsionam

potencialmente os professores em direccedilotildees distintas

Este eacute o caso da posiccedilatildeo face agrave introduccedilatildeo do proacuteprio modelo de avaliaccedilatildeo de

desempenho que provocou uma resistecircncia alargada do grupo profissional Grande

parte dos professores rejeitou (436) ou rejeit plenamente (252) este modelo de

avaliaccedilatildeo mas uma minoria expressiva dos professores aceit-o (283) Os professores

que aceitam esta medida na sua maioria lecionam no 3ordm ciclo do ensino baacutesico e do

ensino secundaacuterio (525) na regiatildeo Norte (354) efetivos (762) posicionam-se

ideologicamente no centro (386) e direita (38) e natildeo pertencem a nenhum

sindicato (629) Estas diferenccedilas satildeo significativas quando cruzadas com as geraccedilotildees

profissionais Nesse sentido a rejeiccedilatildeo tende a crescer com o aumento do nuacutemero de

anos de serviccedilo os professores ldquoveteranosrdquo satildeo mais propensos a rejeitar o modelo de

avaliaccedilatildeo (741) enquanto os jovens professores ldquonovatosrdquo estatildeo tendencialmente

mais abertos as novas formas de avaliaccedilatildeo (451 aceitou-o) Mas mesmo entre os

novatos uma maioria rejeita o modelo

Verificamos ainda que existe uma relaccedilatildeo negativa e significativa entre as perceccedilotildees

relativas agrave forma como a revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente mudou a profissatildeo e

o grau de aceitaccedilatildeo do modelo de avaliaccedilatildeo (t=-17779 plt0001) ou seja quanto

maior a concordacircncia com a ideia de que estas medidas afectaram a profissionalidade

em sentidos opostos aos ideais e poderes profissionais tradicionais menor eacute o grau de

aceitaccedilatildeo do modelo de avaliaccedilatildeo A intensidade da rejeiccedilatildeo parece derivar assim de

um choque relativamente ao conteuacutedo do novo modelo com as conceccedilotildees da

profissionalidade docente ldquoa especificidade de ser professorrdquo (Sacristaacuten 1995 65)

Talvez por isso a maioria dos professores rejeita a ideia de que a revisatildeo visou

melhorar o seu desempenho profissional (563 discorda e 285 discorda

plenamente com a proposiccedilatildeo de que a revisatildeo do ECD tenha visado melhorar o

desempenho profissional) e considerou que a revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente

implicou alteraccedilotildees no que se considerava ser o modelo de ldquobom professorrdquo (553

concorda e mais 89 concorda plenamente) Neste uacuteltimo caso importa salientar que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

507

as alteraccedilotildees no modelo profissional satildeo tendencialmente mais reconhecidas pelos

professores ldquonovatosrdquo (615 + 66) do que pelos ldquoveteranosrdquo (472 + 75) num

sentido significativamente decrescente com o aumento dos anos de serviccedilo (p=0020)

Parece assim que os anos de serviccedilo ajudam a preservar a profissionalidade mesmo

face a grandes mudanccedilas no enquadramento da carreira Pode ser que uma orientaccedilatildeo

em que os ideais e os princiacutepios estatildeo acima de tudo havendo pouca ou nenhuma

adaptaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo se contrapotildee a uma estrateacutegia em que as orientaccedilotildees poliacuteticas

prevalecem sobre os ideais em que uma acomodaccedilatildeo conformista pode prevalecer

Existe tambeacutem algum consenso de que o modelo de avaliaccedilatildeo tal como estaacute

estabelecido exerce um controlo sobre o exerciacutecio da profissatildeo para assegurar a

aplicaccedilatildeo e o cumprimento das normas num processo de ldquofuncionarizaccedilatildeordquo A vasta

maioria dos professores (825) concorda com a afirmaccedilatildeo de que esta revisatildeo visou

transformar os professores em meros funcionaacuterios do Estado (53 concorda e mais

295 concorda plenamente) e implicou o reforccedilo do poder das direccedilotildees (825) A

escola ter sido ateacute entatildeo uma organizaccedilatildeo basicamente horizontal pode ser a

explicaccedilatildeo para uma natildeo-aceitaccedilatildeo sem tensotildees desta maior divisatildeo hieraacuterquica no

seio dos professores Estas reformas acabam tambeacutem por representar uma ameaccedila no

que se refere agraves supostas garantias de autonomia sobre determinados terrenos

contraditoacuterio com a retoacuterica largamente difundida sobre a autonomia profissional

Parece haver uma percepccedilatildeo generalizada de que a revisatildeo do Estatuto da Carreira

Docente impocircs funccedilotildees burocraacuteticas que desvalorizam as funccedilotildees pedagoacutegicas (917

dos professores concorda ou concorda plenamente com esta alteraccedilatildeo 489 e 428

respectivamente) Assim o trabalho dos professores eacute visto pelos proacuteprios como cada

vez mais dependente de criteacuterios normalizados e impostos externamente levando a

uma proliferaccedilatildeo de papelada e tarefas administrativas Sendo que a profissionalidade

implica sobretudo uma funccedilatildeo pedagoacutegica esta percepccedilatildeo do aumento das tarefas

burocraacuteticas pode contribuir para um sentimento de que ensinar natildeo eacute o mais

importante

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

508

Ainda assim umas das questotildees-chave nesta temaacutetica satildeo os seus criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Se os professores natildeo concordarem ou natildeo entenderem os indicadores que

medem o seu desempenho dificilmente cooperaratildeo com o processo (Richardson

1999) Como seria de esperar quanto maior o grau de aceitaccedilatildeo das reformas maior eacute

a concordacircncia com os criteacuterios de avaliaccedilatildeo (t=11657 plt0001) Mas quanto agraves

perceccedilotildees sobre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo existem diferenccedilas estatisticamente

significativas (p=0002) entre os professores com ateacute 25 anos de serviccedilo e os

professores ldquoveteranosrdquo

As orientaccedilotildees desta medida baseiam-se na convicccedilatildeo de que uma melhoria na

qualidade do desempenho dos professores exige a criaccedilatildeo de esquemas de promoccedilatildeo

baseados no meacuterito individual do docente (Stoleroff amp Pereira 2009) Os resultados

deste inqueacuterito indicam que de facto muitos professores apoiam abstratamente a

justiccedila desta ideia sendo que 458 concordam e mais 120 concordam plenamente

com a afirmaccedilatildeo ldquoEacute justo que a promoccedilatildeo na carreira se baseie no meacuterito individualrdquo

Em outras palavras eacute uma minoria de professores (463) que discorda com a

proposiccedilatildeo (A variaacutevel geraccedilatildeo profissional natildeo eacute significativamente diferenciadora

com respeito a esta pergunta) Poreacutem a maioria dos professores seria resistente ao

uso dos resultados dos alunos como forma de medir esse meacuterito do professor e 556

discorda com a afirmaccedilatildeo teoacuterica ldquoO meacuterito dos professores reflecte-se nos resultados

dos alunosrdquo E em termos concretos parece haver um grande ceticismo face a ideia de

que estes esquemas de avaliaccedilatildeo tenham efectivamente recompensado os melhores

professores (959 dos professores discorda com a afirmaccedilatildeo ldquoCom o ECD os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

509

melhores professores tecircm vindo a ser efectivamente recompensadosrdquo) Tal pode estar

relacionado com o desenvolvimento de sentimentos de injusticcedila entre professores

relativamente a criteacuterios muitas vezes pouco relacionados com aspectos cientiacuteficos e

pedagoacutegicos ou com o cumprimento dos objectivos enunciados para o modelo de

avaliaccedilatildeo Por exemplo a aplicaccedilatildeo de quotas introduz uma seleccedilatildeo quantitativa onde

mesmo os professores que cumpram os requisitos de preenchimento das quotas

podem natildeo vir a preenchecirc-las uma vez que haacute um limite de atribuiccedilatildeo

Quanto ao uso dos resultados dos alunos como forma de medir o desempenho do

professor as criacuteticas advecircm precisamente porque haacute uma gama de questotildees (sociais

econoacutemicas culturas e poliacuteticas) na sala de aula que extravasam a proacutepria escola que

tornam difiacutecil correlacionar diretamente o desempenho do professor com o

desempenho dos alunos Mesmo assim este criteacuterio permanece controverso no

interior do grupo profissional A discordacircncia diminui com o aumento da geraccedilatildeo

profissional haacute uma maior concordacircncia nos professores ldquoveteranosrdquo (679)

enquanto a maioria dos jovens professores e no iniacutecio e ao meio da carreira discorda

(por exemplo 593 dos com 1-6 anos de experiecircncia e 603 dos com 7-15 anos) Tal

pode ilustrar por um lado uma tendecircncia de autoconfianccedila no cumprimento do seu

dever que se repercute nos resultados atingidos pelos alunos daqueles que tecircm mais

anos de serviccedilo e que adquiriram um conhecimento taacutecito e por outro lado a menor

confianccedila dos jovens professores e os que ainda estatildeo no pleno da sua actividade no

processo e resultados do trabalho desenvolvido nestas fases da carreira Tal criteacuterio ndash

se introduzido na avaliaccedilatildeo - pode pressionar os professores para atingir as metas

quantitativas preacute-estabelecidas uma vez que a vertente qualitativa natildeo se torna tatildeo

apreensiacutevel pelos meacutetodos e criteacuterios propostos

Modelo de avaliaccedilatildeo do desempenho profissional emoccedilotildees versus reaccedilotildees dos

professores com impactos na satisfaccedilatildeo e compromisso profissional

Reformas criam reaccedilotildees com base racional e emocional (Kelchtermans 2005)

Verificamos que estas mudanccedilas no contexto profissional conduziram agrave produccedilatildeo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

510

emoccedilotildees sobretudo negativas (869 das emoccedilotildees identificadas) Emoccedilotildees que

enunciam uma experiecircncia particular alicerccedilada precisamente em sentimentos

extremos satildeo avanccediladas pelos professores que foram solicitados a identificar a

emoccedilatildeo sentida em reacccedilatildeo agrave revisatildeo e as medidas implementadas da ldquorevoltardquo

(133) agrave desmotivaccedilatildeo (23) passando pela desilusatildeo (69) indignaccedilatildeo (54)

frustraccedilatildeo (49) tristeza (43) e injusticcedila (42) nas suas proacuteprias palavras No

entanto as reaccedilotildees emocionais dos professores agrave mudanccedila devem ser apuradas e

vistas em relaccedilatildeo agrave fase em que estatildeo na sua carreira

A ldquorevoltardquo eacute a emoccedilatildeo mais salientada por todas as geraccedilotildees excetuando os

ldquonovatosrdquo que apresentam sentimentos de ldquodesacircnimordquo e ldquotristezardquo Para quem se

encontra numa situaccedilatildeo precaacuteria a motivaccedilatildeo profissional principal eacute obter o acesso a

um estatuto reconhecido sinoacutenimo da construccedilatildeo de uma carreira Nesse sentido

estas reacccedilotildees denotam a percepccedilatildeo dos constrangimentos a essa expectativa Para os

professores de entre os 7 e os 35 anos de carreira trata-se de uma experiecircncia de

dececcedilatildeo e ldquodesilusatildeordquo Jaacute a ldquoindignaccedilatildeordquo eacute a segunda emoccedilatildeo mais salientada pelos

ldquoveteranosrdquo alimentada talvez por um sentimento de conflito de oposiccedilatildeo entre os

valores profissionais e a loacutegica imposta por estas medidas

Contudo as reformas que provocam sentimentos intensos natildeo provocam

necessariamente uma participaccedilatildeo em accedilotildees de protesto ou de resistecircncia 276 dos

professores indica que nunca participou em manifestaccedilotildees contudo isso significa que

quase trecircs quartos participaram em qualquer grau (da participaccedilatildeo rara agrave participaccedilatildeo

constante) A geraccedilatildeo profissional eacute uma variaacutevel estatisticamente significativa no que

diz respeito ao grau de participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees decorrentes da revisatildeo do

Estatuto da Carreira Docente (p=001) Isto eacute explicado uma vez que os diferentes

grupos geracionais aguardam no momento atual coisas diferentes o desempenho

adequado de uma nova funccedilatildeo que garanta alguma estabilidade profissional melhores

condiccedilotildees de trabalho e uma mobilidade ascendente uma experiecircncia de reforma a

curto prazo Os resultados sugerem que satildeo os professores com 7 a 35 anos de serviccedilo

os que participaram mais em manifestaccedilotildees (entre 38 e 40 dos professores com

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

511

estes anos de serviccedilo respondem que participaram frequentemente ou sempre nas

manifestaccedilotildees organizadas pelos sindicatos) Natildeo eacute surpreendente que os professores

nesta fase sejam mais ativos eacute um meio de afirmar a sua profissionalidade e

sobretudo uma forma de reivindicar o seu status quo para quem ainda tem muitos

anos de serviccedilo pela frente

Interessante eacute verificar que os polos geracionais aproximam-se uma grande parte dos

ldquonovatosrdquo nunca participou numa manifestaccedilatildeo (41) tal como uma minoria grande

dos ldquoveteranosrdquo (321) No caso dos professores ldquonovatosrdquo haacute uma situaccedilatildeo de ainda

fraca ligaccedilatildeo ao grupo profissional e de constrangimentos profissionais decorrentes da

instabilidade e intensidade do trabalho que podem ajudar a reduzir as margens de

liberdade de pensamento e levar ao ajustamento da construccedilatildeo da carreira agraves

medidas Centralizam a sua accedilatildeo no cumprimento das tarefas o que pode fazer

resvalar a intervenccedilatildeo para o cumprimento passivo das medidas poliacuteticas No caso dos

professores ldquoveteranosrdquo como vimos ldquoindignadosrdquo este processo pode traduzir-se na

fragmentaccedilatildeo das identidades profissionais em que a desmobilizaccedilatildeo e

posteriormente o abandono da carreira se transformam na uacutenica saiacuteda Uma reaccedilatildeo

que pode traduzir o ldquoabandono da causardquo por parte do professor

A racionalidade e a emoccedilatildeo advinda do ldquoataque profissionalrdquo conjugam-se fortemente

neste caso Verificaacutemos a existecircncia de uma relaccedilatildeo estatisticamente significativa

entre o grau de participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees e a concordacircncia com os criteacuterios de

avaliaccedilatildeo (t=-2126 p=034) mas trata-se de uma relaccedilatildeo negativa ou seja quanto

maior a concordacircncia com os criteacuterios menos participam em manifestaccedilotildees e vice-

versa Por outro lado existe uma relaccedilatildeo estatisticamente significativa entre as

perceccedilotildees sobre as mudanccedilas na profissatildeo provocadas por estas medidas e o grau de

participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees (t=5405 plt0001) sendo que quanto mais consideram

que houve mudanccedilas significativas na sua profissatildeo mais participam em

manifestaccedilotildees Ou seja a mobilizaccedilatildeo dos professores aparenta um movimento para a

afirmaccedilatildeo da sua profissionalidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

512

A satisfaccedilatildeo no trabalho e as perspetivas futuras dos professores satildeo consequecircncias

fundamentais de todo este processo Supotildee-se que a satisfaccedilatildeo no trabalho eacute tanto

afetada pela situaccedilatildeo de trabalho como influencia o compromisso profissional Nesta

caso haacute convergecircncia os professores atravessam uma fase de desmotivaccedilatildeo As

poliacuteticas do governo e os conflitos e atritos tiveram um impacto negativo sobre a

motivaccedilatildeo dos professores A grande parte dos professores encontra-se pouco

satisfeita profissionalmente (403) e uma parte consideraacutevel nada satisfeita (180)

Nesta profissatildeo chave para a socializaccedilatildeo e formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees apenas 45

declara-se muito satisfeito Apesar de natildeo haver diferenccedilas geracionais significativas

(p=0294) em termos gerais pode constatar-se que satildeo os professores ldquoveteranosrdquo

aqueles que se encontram menos satisfeitos (688) Tal achado vai no sentido daquilo

que alguns investigadores jaacute analisaram a perceccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho como

ingratas podem produzir sentimentos de desencanto no final (Huberman 1989) e o

compromisso do professor tende a diminuir progressivamente ao longo da sua carreira

em resposta a fatores como as mudanccedilas nas poliacuteticas de educaccedilatildeo (Day 2000)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

513

Jaacute quando questionados se deixariam de ser professores 415 respondem

afirmativamente Verifica-se que satildeo os professores ldquonovatosrdquo aqueles que na sua

maioria afirmam que sim (500) havendo um decreacutescimo da intenccedilatildeo ou vontade de

deixar a profissatildeo agrave medida que os anos de serviccedilo aumentam (estatisticamente

significativo plt0001) 66 dos professores ldquoveteranosrdquo afirma que natildeo deixaria

Enquanto os ldquoveteranosrdquo jaacute estatildeo em ldquopasso de retiradardquo da profissatildeo os jovens

professores ainda vatildeo a tempo de reencaminhar a sua profissatildeo podendo encontrar

oportunidades de trabalho fora do ensino Em ambos os casos pode haver um

desinvestimento progressivo (jaacute analisado no Reino Unido por Osborn e McNess [2005]

no decorrer de medidas gestionaacuterias) Em ambos os casos o seu compromisso estaacute sob

ataque

Reflexotildees finais

Em geral os professores foram criacuteticos da medida de avaliaccedilatildeo do desempenho dos

professores e altamente criacuteticos dos seus criteacuterios Estatildeo longe de estarem

convencidos de que este modelo pode levar agrave efetiva meritocracia recusam os

resultados acadeacutemicos dos alunos serem um criteacuterio fundamental para a sua avaliaccedilatildeo

e enfatizam que a prestaccedilatildeo de contas adicionou exigecircncias burocraacuteticas com

consequecircncias nas funccedilotildees pedagoacutegicas Esta medida desafia a profissionalidade dos

professores sobretudo a sua autonomia e estes procuram estrateacutegias que lhes

permitam perpetuar o status que ateacute entatildeo possuiacuteam Tudo isto resulta num

sentimento generalizado de desmotivaccedilatildeo especialmente no caso dos professores

ldquonovatosrdquo e ldquoveteranosrdquo que conduz a uma conformidade aparente com as alteraccedilotildees

Embora se possa falar de percepccedilotildees comuns ao grupo profissional no que diz

respeito a esta temaacutetica este grupo profissional constitui um conjunto

consideravelmente fragmentado O sentido que esta medida de poliacutetica teve nos

professores num determinado momento da sua carreira profissional varia e em uacuteltima

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

514

instacircncia pode expressar diferentes ldquomodos de serrdquo profissional Verificamos que os

ldquonovatosrdquo satildeo consideravelmente mais abertos a estas mudanccedilas talvez mobilizados

pelas expectativas de mobilidade ascendente no interior da organizaccedilatildeo Neste

sentido retomamos o conceito de Bucher e Strauss (1991) de ldquosegmentosrdquo para

questionar se esta profissatildeo pode perder as ligaccedilotildees entre grupos geracionais que

perseguem objetivos distintos

Parece que a identidade profissional de professor esteja a perder forccedila neste contexto

de exigecircncias que impotildeem a objetividade e a previsibilidade da praacutetica profissional

Parece ainda que as preocupaccedilotildees de padronizaccedilatildeo de certos processos

administrativos e pedagoacutegicos sejam vistas mais como uma tentativa de normalizaccedilatildeo

da praacutetica do que de aumento de qualidade - apesar da retoacuterica poliacutetica privilegiar a

uacuteltima - se natildeo tiverem em conta a complexidade do trabalho do professor Aleacutem

disso a ecircnfase crescente na responsabilizaccedilatildeo pela melhoria do desempenho do aluno

dentro de conteuacutedos capacidades e competecircncias mensuraacuteveis e restritas pode tornar

preferiacutevel um modelo orientado para a transmissatildeo de conhecimento a um modelo

que reconhece e incluiu uma abordagem mais holiacutestica e centrada no aluno

Ficaram de fora desta anaacutelise aspectos importantes Este modelo pode representar

uma ameaccedila agrave colaboraccedilatildeo e o decliacutenio do modelo colegial Qual o impacto desta

divisatildeo na socializaccedilatildeo profissional dos jovens professores estando eles num periacuteodo

determinante da construccedilatildeo identitaacuteria Tambeacutem as percepccedilotildees sobre a utilidade e

eficaacutecia da utilizaccedilatildeo da observaccedilatildeo formal de aulas como forma de avaliar a qualidade

do desempenho do professor satildeo importantes

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517

AVALIACcedilAtildeO DE DESEMPENHO DOCENTE FEITA PELOS ALUNOS

UM ESTUDO NO ISCED DO SUMBE

Eduardo Nangayafina

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe

Universidade Katyavala Bwila

Kwanza Sul-ANGOLA

eduardonangayafinagmailcom

RESUMO

Enquadramento conceptual a avaliaccedilatildeo de desempenho docente no ensino superior

constitui um tema de grande atualidade e importacircncia no mundo e particularmente

em Angola No entanto faltam estudos empiacutericos nesta aacuterea com instrumentos

vaacutelidos Objetivos com esta investigaccedilatildeo pretende-se caraterizar o desempenho dos

Professores visto pelos estudantes no ISCED do Sumbe Identificar os fatores e analisar

as correlaccedilotildees entre o desempenho dos professores percebido pelos estudantes com o

ano de escolaridade geacutenero e habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais e desta forma

contribuir para melhorar a eficiecircncia do Desempenho Docente no ISCED do Sumbe

Angola Metodologia a natureza desta investigaccedilatildeo assume uma abordagem mista ou

seja qualitativa e quantitativa tendo como instrumento de recolha de dados o

inqueacuterito com questionaacuterio e entrevista A amostra eacute composta por 137 elementos

dos quais 72 satildeo do sexo Masculino e 28 do Feminino com idades compreendidas

entre 21 e 58 anos de idade 56 inquiridos (479) frequentam o 4ordm ano e 45 (385)

frequentam o 1ordm ano ambos do Instituto Superior de Educaccedilatildeo do Sumbe Resultados

para o alcance dos resultados recorreu-se agrave anaacutelise estatiacutestica descritiva e natildeo

parameacutetrica dada a natureza dos dados Admite-se que a informaccedilatildeo recolhida

permitiu encontrar os fatores e analisar as Correlaccedilotildees entre o desempenho dos

professores percebido pelos estudantes com o ano de escolaridade geacutenero e

habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais Desta forma contribuiu para melhorar a eficiecircncia do

Desempenho Docente no ISCED do Sumbe Angola

Palavras-chave avaliaccedilatildeo desempenho docente no ensino superior percepccedilatildeo dos

estudantes sobre o desempenho docente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Abstract

Evaluating higher education lecturersrsquo teaching ability is of outmost importance and

there is a need for empirical studies and for the development of reliable research

tools especially in Angola We attempt to cover this gap by analysing what higher

education students think about their lecturersrsquo teaching skills at the Higher Institute

for Educational Studies (ISCED) Sumbe Angola thus aiming to contribute to a

significant improvement and effectiveness of the evaluation process A quantitative

and qualitative methodology will be used Data will be collected through questionnaire

and interviews The participants are twenty (N=20) students ending their first honours

degrees Content analysis and non-parametric statistics will be performed We expect

to identify dimensions and indicators allowing for the understanding of lecturersrsquo

teaching effectiveness level of participation on the development of evaluation criteria

and how those are judged for their subjectivity and what procedures were used to

develop the present Model of Teaching Evaluation at ISCED We also hope to bring in

new knowledge enabling the restructuring of a new and more effective model of

teachersrsquo evaluation

Keywords Teachersrsquo teaching skill Higher education lecturer Improving teaching

effectiveness Evaluation criteria

1 INTRODUCcedilAtildeO

Avaliaccedilatildeo de desempenho dos professores eacute um assunto recorrente que interessa agrave

maioria das pessoas com ligaccedilotildees diretas ou indiretas aos problemas da Educaccedilatildeo

ansiosas por ver nos seus resultados praacuteticos a prova de uma visatildeo aprioriacutestica de

incompetecircncia desinteresse desleixo e absentismo da maioria dos docentes Joel

Serratildeo (1981 cit por Azevedo 2001 p 253) fez um diagnoacutestico breve sem rodeios

nem cautelas escrevendo o seguinte ldquo a condiccedilatildeo de professor entre noacutes sempre se

definiu pela humildade do seu estipecircndio e pela precariedade da sua preparaccedilatildeo

cultural e profissionalrdquo

Deste modo e atraveacutes de um julgamento historicamente sustentado estatildeo lanccediladas

as bases sumaacuterias simplistas e demasiado redutoras da justificaccedilatildeo cientiacutefica de todo

o insucesso educativo Angolano e natildeo soacute bem ilustrado nas baixas prestaccedilotildees dos

nossos alunos nas mais diversas disciplinas e nos diacutespares rankings oficiais de vaacuterias

instituiccedilotildees

Atento a esta situaccedilatildeo e com a sua perspicaacutecia habitual Antoacutenio Noacutevoa (1992 p9)

refere que ldquoa profissatildeo de professor estaacute na atualidade sob o fogo cruzado das mais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

519

diversas acusaccedilotildees criacuteticas e depreciaccedilotildees da sociedade atraveacutes de miras diversas

que passam pelo poder poliacutetico econoacutemico mediaacutetico entre outrosrdquo Eacute neste

enquadramento reconhecidamente adverso que os professores tecircm de construir a

sua argumentaccedilatildeo aceitando as criacuteticas e reparos fundamentados e repensando a

forma como querem ser avaliados Numa anaacutelise relativamente a esta problemaacutetica

Ana Paula Curado (2002) apresenta duas alternativas para reflexatildeo que sintetizo da

seguinte maneira (i) Manter o status quo corporativista que estigmatiza a classe e se

calhar indicia aquilo que de pior existe nos professores um certo comodismo

existencial que reage agraves criacuteticas com uma postura defensiva comprometedora

reveladora de medos e inseguranccedilas pouco recomendaacuteveis que servem de alimento

agraves suspeiccedilotildees mais negras sobre a classe (ii) Ou em contrapartida propor sem

receios e com audaacutecia novos moldes de ver analisado o seu trabalho diaacuterio de curto

meacutedio e longo prazo com as respectivas preparaccedilotildees e realizaccedilotildees lectivas as suas

planificaccedilotildees curriculares e extracurriculares e o seu desempenho pedagoacutegico

Por conseguinte enuncia-se as razotildees pelas quais foi escolhido o tema da Avaliaccedilatildeo

do desempenho dos Professores feita pelos estudantes um estudo realizado no

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe)

Porque apesar de ser um tema muito em vulgar natildeo tem tido o devido

destaque e atenccedilatildeo das Ciecircncias da Educaccedilatildeo em especial no nosso paiacutes isto

eacute em Angola a niacutevel acadeacutemico e ao niacutevel da reflexatildeo e intervenccedilatildeo da classe

docente

A necessidade de aprofundar o conhecimento relativamente a avaliaccedilatildeo de

desempenho dos professores atraveacutes dos estudantes e desta contribuir na

qualidade do processo docente-educativo no Ensino Superior

Assim sendo com vista a delimitar o problema elaborou-se a seguinte pergunta

geneacuterica que conduziu o processo de investigaccedilatildeo (Alvarenga 2009)

Problema de Investigaccedilatildeo

bull Como se caracteriza o Desempenho dos Professores visto pelos estudantes no

Instituto Superior Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe e quais satildeo os factores

Questotildees do Estudo

No intuito de operacionalizar a problemaacutetica de investigaccedilatildeo foram consideradas as

seguintes questotildees de investigaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

520

I Como se atribuem os estudantes pelos que avaliam o desempenho dos

professores (em termos de competecircncias altas ou baixas)

II Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

Estudantes e a reprovaccedilatildeo dos mesmos (dos estudantes)

III Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

estudantes e o ano de escolaridade (dos estudantes)

IV Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

estudantes e as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

V Seraacute que existe diferenccedilas significativas nas competecircncias dos professores

percebidas pelos estudantes entre o geacutenero Masculino e Feminino

VI Seraacute que existe diferenccedilas significativas nas competecircncias dos professores

percebida pelos estudantes entre os cursos de Licenciatura em Ciecircncias de

Educaccedilatildeo Exatas da Natureza e Sociais

Objetivos do Estudo

Na tenta de encontrar resposta ao do problema de Investigaccedilatildeo elaborou-se os

seguintes objectivos Geral e Especiacuteficos

Geral

Com este estudo pretende-se caracterizar o Desempenho dos Professores visto pelos

estudantes no ISCED do Sumbe Identificar os factores e analisar correlaccedilotildees entre o

desempenho dos Professores percebido pelos estudantes com o ano de escolaridade

geacutenero e habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

Especiacuteficos

bull Investigar a forma como se atribuem os estudantes pelos avaliam o

desempenho dos professores (em termos de competecircncias altas ou baixas)

bull Constatar a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos Estudantes e a reprovaccedilatildeo dos mesmos (dos estudantes)

bull Averiguar a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos estudantes e o ano de escolaridade (dos estudantes)

bull Conhecer a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos estudantes e as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

bull Saber se existe diferenccedilas significativas no desempenho dos professores

percebido pelos estudantes entre o geacutenero Masculino e Feminino

bull Averiguar se existe diferenccedilas significativas no desempenho dos professores

percebido pelos estudantes entre os cursos de Licenciatura em Ciecircncias de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

521

Educaccedilatildeo Exatas da Natureza e Ciecircncias Sociais

Metodologia

Na tentativa da procura de coerecircncia e de validaccedilatildeo dos procedimentos metodoloacutegicos

recorreu-se agrave vaacuterias sugestotildees metodoloacutegicas com vista a atender agrave questotildees de

estudo

As teacutecnicas sendo adequadas aos objetivos do estudo e consequente problema de

investigaccedilatildeo tiveram como base a metodologia quantitativo e qualitativa uma vez que

atraveacutes da mesma torna-se possiacutevel ldquoencontrar relaccedilotildees entre variaacuteveis fazer

descriccedilotildees recorrendo ao tratamento estatiacutestico de dados recolhidos e testar teoriasrdquo

(Carmo amp Ferreira 1998 p178)

O meacutetodo quantitativo foi ainda considerado pelo facto de o mesmo possibilitar a

classificaccedilatildeo e anaacutelise de todos os dados permitindo posteriores generalizaccedilotildees Em

linha com esta opccedilatildeo assumiu-se que a recolha dos dados de informaccedilatildeo seria

efetuada com base num inqueacuterito por questionaacuterio Sendo este um instrumento que

se pretende passiacutevel de representatividade de um determinado universo de indiviacuteduos

uma vez que permite interrogar um elevado nuacutemero de sujeitos (Hill amp Hill 2009) e

dada a importacircncia atribuiacuteda agraves conclusotildees passiacuteveis de serem retiradas das respostas

obtidas junto dos inquiridos assume-se o seu contributo na anaacutelise de fenoacutemenos

sociais

O questionaacuterio foi aplicado a um conjunto de alunos dos cursos de Pedagogia

Psicologia Histoacuteria Matemaacutetica e Geografia mais concretamente haacute alunos integrados

em turmas do 1ordm e 4ordm anos do periacuteodo regular e Poacutes-laboral ambos do Instituto

Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe Atraveacutes das suas opiniotildees e perceccedilotildees

face aos itens indicados procurou-se dar respostas agraves questotildees de estudo No que

respeita agrave anaacutelise dos dados importa referir que os mesmos foram codificados de

forma a facilitar o tratamento dos mesmos tendo sido posteriormente analisados

estatisticamente

Relativamente agraves limitaccedilotildees associadas a este processo haacute a assinalar o tempo de

duraccedilatildeo do questionaacuterio e as taxas de natildeo resposta ao mesmo compensadas no

entanto pela fiabilidade atribuiacuteda a esse procedimento pela salvaguarda do

anonimato dos inquiridos aquando do preenchimento

Amostra do estudo

Com o intuito de tornar a amostra o mais representativa possiacutevel e de forma a permitir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

522

posteriores generalizaccedilotildees procurou-se uma amostra que viabilizasse os resultados

para tal e seguindo os criteacuterios de que os agrupamentos deveriam ser todas as turmas

do 1ordm E 4ordm anos de todos os cursos leccionados no Instituto Superior de Ciecircncias de

Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe) Assim sendo foram selecionadas

aleatoriamente 13 turmas dos quais sete (7) do 1ordmano e seis (6) do 4ordm ano ambas

turmas do periacuteodo regular e poacutes-laboral Assim a aplicaccedilatildeo do inqueacuterito por

questionaacuterio decorreu em treze turmas no Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo

do Sumbe da Universidade Katyavala Bwila

Os questionaacuterios foram distribuiacutedos numa composiccedilatildeo de trecircs paacuteginas e dividido em

trecircs secccedilotildees Numa primeira secccedilatildeo constavam elementos caracteriacutesticos do aluno

geacutenero idade ano de escolaridade nuacutemero de reprovaccedilotildees preferecircncias sobre

ciecircncias de Educaccedilatildeo Exatas Sociais ou letras Modernas e as habilitaccedilotildees literaacuterias do

pai e da matildee Na segunda secccedilatildeo estava incluiacutedo um conjunto de situaccedilotildees referentes

Opiniatildeo sobre o desempenho docente ndash ODD-FHV

Que permite avaliar o desempenho dos docentes na percepccedilatildeo dos alunos (Veiga

2010) perante os quais os alunos optavam de acordo com uma escala de 1 a 6 do

discordo totalmente a concordo totalmente Integrava a terceira secccedilatildeo sobre as

Representaccedilotildees dos Alunos acerca dos comportamentos de Profissionalidade Docente

(ERA-CPD) um conjunto total de quarenta e dois itens sobre os Indicadores da

Avaliaccedilatildeo de desempenho do professor no ensino superior

Procedimentos

Apoacutes a conclusatildeo da elaboraccedilatildeo do questionaacuterio aplicado aos alunos foi solicitada

autorizaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED

do Sumbe) para a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios em meio escolar Na sequecircncia da

autorizaccedilatildeo contactaram-se os chefes de Departamentos dos de Cinco curso

leccionados no ISCED do Sumbe para obter a sua autorizaccedilatildeo tendo sido entregues os

comprovativos da autorizaccedilatildeo da Exma Senhora Decana do ISCED do Sumbe

2 CONCEPCcedilOtildeES DE AVALIACcedilAtildeO DE DESEMPENHO DOCENTE

21 Conceito de Avaliaccedilatildeo

A funccedilatildeo de avaliar tem lugar preponderante em operaccedilotildees de planeamento

sistemaacutetico conforme as acccedilotildees realizadas numa instituiccedilatildeo de ensino o planeamento

de uma disciplina um semestre

Segundo Idalberto Chavenato (2010) a avaliaccedilatildeo seraacute numa perspectiva lata um meio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

523

que permite manter alterar ou suspender justificadamente um dado plano ou numa

perspectiva pedagoacutegica leccionar o que tem interesse optimizar a qualidade do que eacute

aceite e eliminar o que representa desperdiacutecio Contudo avaliar poderaacute significar o

acto de examinar o grau de adequaccedilatildeo entre um conjunto de informaccedilotildees e um

conjunto de criteacuterios apropriados ao objectivo fixado para uma tomada de decisatildeo

Sistemas de avaliaccedilatildeo e suas formas

Um sistema de avaliaccedilatildeo como qualquer outro sistema eacute baseado em determinados

pressupostos que por um lado o justificam e por outro o tornam exequiacutevel logo uma

planificaccedilatildeo de todo o processo de ensino-aprendizagem torna-se extremamente

relevante (Ponte 2000p19-23)

Basicamente a avaliaccedilatildeo assenta em trecircs formas distintas Heteroavaliaccedilatildeo auto-

avaliaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo mista conforme o agente que avalia

Heteroavaliaccedilatildeo consiste na valorizaccedilatildeo do rendimento escolar feita por

pessoas distintas do proacuteprio aluno

Auto-avaliaccedilatildeo consta do juiacutezo de valor que o aluno faz do rendimento

educativo que teve

A avaliaccedilatildeo mista tem lugar quando o docente e o aluno avaliam em comum as

actividades ou o rendimento deste eacute uma avaliaccedilatildeo conjunta que tem lugar

quando ambos analisam determinadas tarefas ou rendimentos

Salienta-se que tambeacutem iremos praticar este tipo de avaliaccedilatildeo porque seraacute tido em

conta as respostas que o aluno deu ao um conjunto de questotildees colocadas como as

respostas que o aluno deu a um inqueacuterito

Resultados da aprendizagem

Na perspectiva de Brunner amp Gagne (2001) um dos principais valores da avaliaccedilatildeo

consiste em permitir diagnosticar uma deficiecircncia de aprendizagem mal ela se produza

para se poder superar tal dificuldade de imediato Se os alunosformandos natildeo forem

avaliados eles prosseguiratildeo pelos diversos graus de ensino sem saberem quais as suas

falhas consequentemente surgiratildeo carecircncias difiacuteceis de ultrapassar noutros niacuteveis de

ensino

E finalmente no sentido mais pedagoacutegico o objectivo bem definido descreveraacute o que

o aluno teraacute de fazer para demonstrar que o atingiu Resumindo a avaliaccedilatildeo permite-

nos conhecer os pontos fortes e os pontos fracos do ensino e da aprendizagem e

consequentemente facilitaraacute a sua correcccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

524

22 Avaliaccedilatildeo de Desempenho

De acordo Brilman Jean (2000P377-392) a avaliaccedilatildeo de desempenho eacute um

questionaacuterio padronizado que visa classificar o desempenho do avaliado (com base em

criteacuterios quantificaacuteveis comentaacuterios qualitativos e as aacutereas prioritaacuterias a melhorar) Em

regra a avaliaccedilatildeo eacute feita pelo superior hieraacuterquico eou pelo proacuteprio avaliado

Para que serve a Avaliaccedilatildeo de Desempenho

Segundo o autor acima citado a aplicaccedilatildeo de uma gestatildeo previsional do pessoal supotildee

a existecircncia de um sistema de avaliaccedilatildeo que permita reunir as informaccedilotildees necessaacuterias

para construir os diferentes programas (promoccedilatildeo remuneraccedilatildeo formaccedilatildeo) e que

estabeleccedila as decisotildees respeitantes agraves carreiras dos colaboradores da empresa

A avaliaccedilatildeo de desempenho eacute o sistema que serve aos superiores e aos restantes

colaboradores para reflectirem conjuntamente acerca dos resultados e em novos

planos de acccedilatildeo O sistema de avaliaccedilatildeo torna-se um utensiacutelio de direcccedilatildeo e de

comunicaccedilatildeo Esta ferramenta orienta a acccedilatildeo dos organizadores e dos directores em

trecircs variaacuteveis

1 Acccedilatildeo sobre as capacidades e as competecircncias individuais A avaliaccedilatildeo faz

surgir lacunas sobre as quais eacute possiacutevel agir atraveacutes da formaccedilatildeo do trabalhador

e elevaccedilatildeo do seu niacutevel de intervenccedilatildeo de forma a responder agraves exigecircncias da

sua tarefa

2 Acccedilatildeo sobre a organizaccedilatildeo das tarefas As carecircncias em termos de organizaccedilatildeo

dos postos de trabalho da definiccedilatildeo das tarefas e as insuficiecircncias dos modos

operatoacuterios limitam a produtividade dos esforccedilos realizados A avaliaccedilatildeo de

desempenho pode ressaltar as melhorias a introduzir na organizaccedilatildeo do

trabalho de modo a fazer crescer a eficaacutecia do posto de trabalho

3 Acccedilatildeo sobre o esforccedilo atraveacutes de uma acccedilatildeo sobre as recompensas A

avaliaccedilatildeo de desempenho condiciona a concessatildeo das recompensas

(promoccedilatildeo distinccedilatildeo aumentos remuneratoacuterios)

23 Objectivos da Avaliaccedilatildeo de Desempenho

Na visatildeo de Hiam Alexander (1998 pp 20-24) os objectivos da Avaliaccedilatildeo de

Desempenho devem ser delineados de forma a orientar e responsabilizar os

colaboradores da empresa para os resultados da sua funccedilatildeo Assim reconhece-se o

desempenho efectivamente demonstrado Os objectivos devem ser definidos pela

empresa e devem incluir prazos estimados indicadores e metas a atingir No final do

periacuteodo de avaliaccedilatildeo caberaacute ao avaliador efectuar a avaliaccedilatildeo do cumprimento dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

525

objectivos definidos consoante os indicadores e as suas metas

Caracteriacutesticas da Avaliaccedilatildeo de Desempenho

A avaliaccedilatildeo de desempenho possui trecircs caracteriacutesticas que observadas actuam como

catalisadores do desenvolvimento organizacional Assim a avaliaccedilatildeo de desempenho

teraacute de ser

Sistemaacutetica porque requer uma observaccedilatildeo orientada e continuada do

desempenho profissional dos indiviacuteduos

Perioacutedica na medida em que implica a definiccedilatildeo de periacuteodos regulares de

observaccedilatildeo

Estandardizada e Qualificada porque obedece a um conjunto de criteacuterios e

procedimentos estabelecidos tecnicamente e concretizados na utilizaccedilatildeo de

uma ficha e de um manual de avaliaccedilatildeo

24 Avaliaccedilatildeo de Desempenho Docente e Controveacutersias

A literatura neste domiacutenio tem demonstrado a complexidade e tambeacutem a controveacutersia

da avaliaccedilatildeo de professores tendo em conta os seus propoacutesitos os processos e os

efeitos Para Natriello (1990) as razotildees do processo de avaliaccedilatildeo e o respectivo

resultado quer estabelecendo ou natildeo qualquer relaccedilatildeo com os propoacutesitos iniciais

deveratildeo estabelecer relaccedilatildeo com as praacuteticas e as actividades empreendidas no

processo No seu estudo das consequecircncias natildeo esperadas da avaliaccedilatildeo ao niacutevel

individual organizacional e contextual defendeu uma maior consciencializaccedilatildeo dessas

consequecircncias na formulaccedilatildeo dos modelos de avaliaccedilatildeo

Neste contexto haacute autores que defendem a possibilidade de no mesmo sistema de

avaliaccedilatildeo serem incorporados propoacutesitos formativos e sumativos mas outros haacute que

advogam a incompatibilidade entre estes dois propoacutesitos (Duke amp Stiggins 1990

Simotildees 2000 Chow et al 2002 Avalos amp Assael 2006)

A este propoacutesito Darling-Hammond clarifica e distingue dois conceitos relacionados o

de qualidade dos professores e o de qualidade do ensino Refere que

ldquoA qualidade do ensino eacute em parte uma funccedilatildeo da qualidade

do professor () mas eacute tambeacutem fortemente influenciada pelo

contexto de ensino () Um professor ldquode qualidaderdquo pode natildeo ser

capaz de proporcionar um ensino de qualidade num contexto onde se

verifica um desfasamento entre as exigecircncias da situaccedilatildeo e o seu

conhecimento ou destrezas () Por exemplo um professor preparado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

526

para ensinar alunos do ensino secundaacuterio pode natildeo ser capaz de

ensinar alunos mais novos um professor que eacute capaz de ensinar

alunos com elevadas destrezas e competecircncias pode natildeo ser capaz de

ensinar alunos que tecircm dificuldades ou que natildeo dispotildeem em casa dos

recursos que o professor estaacute habituado a assumir que existemrdquo

(Darling-Hammond 2008 p 4)

A qualidade dos professores diz respeito ao conjunto de traccedilos pessoais destrezas e

perspectivas que algueacutem traz para o ensino incluindo tambeacutem determinadas

disposiccedilotildees em termos de comportamento A referida autora com base na

investigaccedilatildeo sobre a eficaacutecia docente identifica um conjunto de qualidades entre as

quais se destacam o domiacutenio do conhecimento do conteuacutedo e do conhecimento

pedagoacutegico do conteuacutedo a capacidade de comunicaccedilatildeo a compreensatildeo dos

aprendentes e da sua aprendizagem e desenvolvimento ser um profissional

especializado e com capacidade de se adaptar permitindo ao professor julgar sobre o

modo como deve agir em determinado contexto para responder agraves necessidades dos

alunos

5APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Dos 137 inquiridos 56 inquiridos (479) dizem estar a frequentar o 4ordm ano de

escolaridade (ver graacutefico 1) e 45 (385) frequentam o primeiro ano

Graacutefico 2 ndash Ano de escolaridade

A idade dos inquiridos varia entre os 21 e os 58 anos sendo que a maioria dos alunos

(504) tem idade inferior a 30 anos (ver graacutefico 2) e 229 tem idade igual ou

superior a 40 anos De modo geral os inquiridos tecircm em meacutedia 325plusmn822 anos isto eacute

a meacutedia de idade varia entre os 24 e os 41 anos

45

16

56

0

20

40

60

80

100

11 3 4

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

527

Graacutefico 3 ndash Idade dos inquiridos em categorias

A amostra eacute composta por 72 alunos do sexo masculino sendo que o sexo feminino

representa 28 da amostra (ver graacutefico 3)

28

72

Feminino

Masculino

Graacutefico 4 ndash Sexo

Apesar de 599 dos inquiridos natildeo ter respondido a questatildeo sobre o nuacutemero de

reprovaccedilotildees ateacute a data dos que responderam 527 (29 casos) natildeo tiveram qualquer

reprovaccedilatildeo e 291 (16 casos) soacute reprovaram uma vez O maacuteximo de reprovaccedilotildees

identificadas foi de 5 anos (18 dos inquiridos que responderam) sendo que a meacutedia

de reprovaccedilotildees eacute de 085plusmn122 isto eacute as reprovaccedilotildees variam em meacutedia entre 0 e 2

anos Estes dados correlacionam-se negativamente com o ano de escolaridade (RS[50]=-

0329 p=0020) indicando que os alunos que estatildeo em anos de frequecircncia superiores

tecircm tendencialmente menos reprovaccedilotildees em comparaccedilatildeo com os alunos que estatildeo

num ano de frequecircncia menor Esta relaccedilatildeo tambeacutem poderaacute indicar que os alunos com

menos reprovaccedilotildees tendem a avanccedilar (ano de frequecircncia) no curso no entanto

identificar os motivos da existecircncia desta correlaccedilatildeo teraacute de ser efectuado outro

estudo

Graacutefico 5 ndash Nuacutemero de reprovaccedilotildees ateacute agora 0

5

10

15

20

25

30

35

0 1 2 3 4 5

26

40

17 1812

18

0

10

20

30

40

50

lt 25 anos [25-30[ anos [30-35[ anos [35-40[ anos [40-44[ anos gt= 45 anos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

528

Paralelamente os inquiridos foram questionados sobre qual a aacuterea de preferecircncia de

cursos sendo que 61 (72 casos) respondeu que tecircm preferecircncia pela aacuterea de ciecircncias

de educaccedilatildeo (ver graacutefico 5) Das restantes aacutereas 195 prefere as ciecircncias sociais

seguidas das ciecircncias exatas com 178 e por uacuteltimo as ciecircncias da natureza com 17

De realccedilar que nenhum dos inquiridos escolheu a aacuterea das letras modernas Esta

variaacutevel estaacute relacionada com a idade (p=0010) Pela anaacutelise das classificaccedilotildees meacutedias

verificamos que por ordem decrescente de idade os alunos preferem as ciecircncias da

natureza seguidas das ciecircncias sociais ciecircncias da educaccedilatildeo e ciecircncias exatas (por esta

ordem) Tambeacutem encontramos uma relaccedilatildeo entre a aacuterea de preferecircncia do curso e o

sexo dos alunos (p=0014) Pela anaacutelise das classificaccedilotildees meacutedias verificamos que os

alunos do sexo feminino tecircm maior preferecircncia pelas aacutereas ciecircncias de educaccedilatildeo e

ciecircncias sociais enquanto que os alunos do sexo masculino preferem as ciecircncias da

natureza e as ciecircncias exatas

72 21 23 2

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

1

Ciecircncias de Educaccedilatildeo Ciecircncias Exactas Ciecircncias Sociais Ciecircncias da Natureza

Graacutefico 6 ndash Aacuterea de preferecircncia dos cursos

Verificamos que as habilitaccedilotildees da matildee satildeo inferiores agraves do pai As matildees tecircm um valor

meacutedio de 181plusmn1397 (classificaccedilatildeo das habilitaccedilotildees literaacuterias) isto eacute em meacutedia variam

entre natildeo terem estudos e terem o ensino meacutedio No caso dos pais o valor meacutedio eacute de

25plusmn1368 isto eacute em meacutedia variam entre o ensino primaacuterio e o ensino teacutecnico

Paralelamente existe uma correlaccedilatildeo entre as habilitaccedilotildees da matildee e do pai

(RS[86]=773 plt00001) que nos indica que quanto maior forem as habilitaccedilotildees da

matildee maior seratildeo as habilitaccedilotildees do pai

As habilitaccedilotildees dos pais tambeacutem estatildeo (ambas) negativamente correlacionadas com a

idade dos alunos inquiridos (plt00001) sendo que quanto maior for a idade do aluno

menor seratildeo as habilitaccedilotildees dos pais Estas duas variaacuteveis tambeacutem se relacionam com

o sexo dos alunos (matildee p=0057 significativo para um grau de confianccedila de 90 pai

p=0034 significativo para um grau de confianccedila de 95) Analisando as classificaccedilotildees

meacutedias verificamos que medas das habilitaccedilotildees dos pais dos alunos do sexo feminino

satildeo superiores agrave meacutedia das habilitaccedilotildees dos pais dos alunos do sexo masculino

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

529

0

10

20

30

40

Sem Estudos Ensino Primaacuterio Ensino

Secundaacuterio

Ensino Meacutedio Ensino Teacutecnico Ensino Superior

Matildee Pai

Graacutefico 7 ndash Habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

Tambeacutem foi questionado qual a escola que o inquirido frequenta Apesar de nem

todos terem respondido agrave questatildeo sabemos que este inqueacuterito foi aplicado somente a

alunos do ISCED do Sumbe pelo que consideramos que 100 dos inquiridos satildeo

alunos desta escola

Opiniatildeo sobre o desempenho do docente ndash ODD-FHV

Iniciamos este capiacutetulo com a anaacutelise da normalidade para podermos definir quais os

testes estatiacutesticos a aplicar para obtenccedilatildeo das correlaccedilotildees existentes entre as

variaacuteveis avaliadas

Tabela 1 ndash Teste de Normalidade

Aplicou-se o teste K-S agraves variaacuteveis quantitativas e verificamos que as variaacuteveis natildeo tecircm

uma distribuiccedilatildeo normal (ver tabela 6)

Paralelamente o valor de Alpha de Cronbach para as variaacuteveis desta escala eacute de 0895

o que nos indica que a escala ODD_FHV tem uma fiabilidade alta (ver tabela 7)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

530

Pela anaacutelise da tabela 2 podemos verificar se existe alguma questatildeo que esteja a

ldquoprejudicarrdquo o valor de Alpha de Cronbach encontrado no entanto todos os valores de

Alpha de Cronbach encontrados variam entre 0878 e 0893 mantendo-se a

classificaccedilatildeo de fiabilidade alta

Tabela 2 ndash Alpha de Cronbach se uma variaacutevel for eliminada para a escala ODD_FHV

As respostas agraves questotildees colocadas podem ser divididas em dois grupos Os que estatildeo

em desacordo com as afirmaccedilotildees que englobam as respostas ldquoCompletamente em

desacordordquo ldquoBastante em desacordordquo e ldquoMais em desacordo que de acordordquo e os que

estatildeo de acordo com as afirmaccedilotildees que englobam as repostas ldquoCompletamente de

acordordquo ldquoBastante de acordordquo e ldquoMais de acordo que em desacordordquo

0 25 50 75 100

Os elementos do estudo indicados pelo professor satildeo adaptados

Os docentes expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulas

As actividades da sala de aulas satildeo bem organizadas

Os docentes respondem com clareza agraves questotildees colocadas nas aulas

Os docentes satildeo acessiacuteveis para apoios fora das aulas

O relacionamente pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bom

A assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadas

O processo de avaliaccedilatildeo eacute adequado aos conteuacutedos ensinados

O processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidade

A minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boa

Em Desacordo De Acordo

Graacutefico 8 ndash Respostas agraves questotildees colocadas ndash ODD_FHV

Das afirmaccedilotildees apresentadas vamos em destaque agrave que classifica como boa a

apreciaccedilatildeo global do docente sendo que 354 diz estar bastante de acordo e 308

afirma estar mais de acordo do que em desacordo A meacutedia de respostas eacute de

429plusmn1184 (ver tabela 3) o que nos indica que a meacutedia de resposta varia

positivamente isto eacute em meacutedia os alunos consideram que a apreciaccedilatildeo global do

docente eacute boa apesar de termos respostas todas as respostas possiacuteveis (Min=1 e

Max=6)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

531

Tabela 3 ndash Estatiacutestica descritiva da escala ODD_FHV

Pela anaacutelise da tabela 3 verificamos que todas as afirmaccedilotildees apresentadas tecircm em

meacutedia respostas positivas indicando que estatildeo mais de acordo com as afirmaccedilotildees do

que em desacordo podendo em meacutedia chegar a resposta do tipo ldquoconcordo bastanterdquo

e destacar a afirmaccedilatildeo ldquoOs docentes satildeo acessiacuteveis para apoios fora das aulasrdquo onde a

meacutedia eacute inferior (364plusmn1478) agraves restantes indicando que nesta afirmaccedilatildeo as meacutedia de

resposta varia entre uma resposta negativa e uma positiva isto eacute entre o ldquomais em

desacordo que de acordordquo e ldquomais de acordo que em desacordordquo

Como era esperado cada uma das 10 variaacuteveis que analisam a opiniatildeo sobre o

desempenho do docente estaacute positivamente e significativamente relacionada as

outras 9 variaacuteveis (plt0002)

Tabela 4 ndash Correlaccedilatildeo entre escala ODD-FHV e caraterizaccedilatildeo da amostra

O ano de escolaridade do aluno estaacute positivamente correlacionado com ldquoos docentes

expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulasrdquo (p=0001) e com ldquoa minha apreciaccedilatildeo global

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

532

do docente eacute boardquo (p=0015) indicando que os alunos com mais anos de escolaridade

tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo a estas duas afirmaccedilotildees (ver tabela 4)

A idade do aluno estaacute positivamente correlacionada com ldquoos docentes expotildeem a

mateacuteria com clareza nas aulasrdquo (p=0039) com ldquoo relacionamento pedagoacutegico entre

docentes e alunos eacute bomrdquo (p=0010) com ldquoa assiduidade dos docentes agraves aulas eacute

elevadasrdquo (p=0025) com ldquoo processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidaderdquo

(p=0044) e com ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boardquo (p=0013) indicando

que os alunos com mais idade tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo a estas

cinco afirmaccedilotildees (ver tabela 4)

O nuacutemero de reprovaccedilotildees ateacute agrave data do aluno estaacute negativamente correlacionado

com ldquoo processo de avaliaccedilatildeo eacute adequado aos conteuacutedos ensinadosrdquo (p=0030)

indicando que os alunos com mais reprovaccedilotildees tecircm uma opiniatildeo menos favoraacutevel em

relaccedilatildeo a esta afirmaccedilatildeo (ver tabela 4)

Tabela 5 ndash Correlaccedilatildeo da escala ODD_FHV com a variaacutevel Sexo

Em relaccedilatildeo ao sexo do aluno este estaacute correlacionado (ver tabela 5 com ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo (p=0019) e com ldquoO processo de

avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidaderdquo (p=0043) Pela anaacutelise da classificaccedilatildeo das meacutedias

verificamos que as mulheres tecircm uma opiniatildeo mais negativa que os homens em

relaccedilatildeo agraves duas afirmaccedilotildees referidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

533

Tabela 6 ndash Correlaccedilotildees da escala ODD_FHV com a aacuterea de preferecircncia de cursos

Paralelamente encontramos 5 afirmaccedilotildees que se correlacionam com a aacuterea de

preferecircncia de cursos (ver tabela 6) sendo elas ldquoOs docentes expotildeem a mateacuteria com

clareza nas aulasrdquo ldquoO relacionamento pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bomrdquo ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo ldquoO processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado

com equidaderdquo e ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boardquo

Pela anaacutelise da classificaccedilatildeo de meacutedias verificamos que os alunos que assinalaram as

ciecircncias da natureza satildeo os que tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo agraves cinco

afirmaccedilotildees apresentadas no entanto natildeo nos podemos esquecer que soacute 2 em mais de

100 alunos escolheram esta aacuterea Os alunos que escolheram as ciecircncias soacutecias como a

aacuterea de preferecircncia satildeo os que (em segundo lugar) datildeo mais respostas positivas Os

alunos que selecionaram as ciecircncias exatas tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel que os

alunos que selecionariam as ciecircncias da educaccedilatildeo nas afirmaccedilotildees ldquoOs docentes

expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulasrdquo e ldquoO processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com

equidaderdquo Em oposiccedilatildeo os alunos que selecionaram as ciecircncias de educaccedilatildeo tecircm uma

opiniatildeo mais favoraacutevel que os alunos que selecionaram as ciecircncias exatas nas

afirmaccedilotildees ldquoO relacionamento pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bomrdquo ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo e ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do

docente eacute boardquo Anaacutelise do Inqueacuterito aplicado aos alunos do 1ordm 3ordm e 4ordm anos dos

Cursos de Licenciatura em Matemaacutetica Geografia Histoacuteria Pedagogia e Psicologia no

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe)

4CONCLUSOtildeES

A amostra eacute composta por 72 de alunos do sexo masculino e 28 do sexo masculino

A maioria dos alunos (50) tem idade inferior a 30 anos no entanto 23 tecircm idade

superior a 40 anos Tendo em conta que natildeo foram inquiridos alunos do segundo ano

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

534

48 dos alunos frequentam o quarto ano enquanto que 385 frequentam o primeiro

ano tambeacutem se observou que o nuacutemero de reprovaccedilotildees eacute mais elevado nos alunos do

primeiro ano (p=002)

As aacutereas de preferecircncia de cursos mais escolhida eacute a de ciecircncias de educaccedilatildeo (61) no

entanto esta preferecircncia varia significativamente com o sexo dos alunos sendo esta

aacuterea a preferida das mulheres enquanto que os homens preferem as ciecircncias exactas

e da natureza A idade tambeacutem influencia significativamente a aacuterea de preferecircncia dos

cursos sendo que os mais novos preferem as ciecircncias exactas e da educaccedilatildeo

Paralelamente as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais estatildeo relacionadas entre si

(plt00001) indicando que quanto maior for as habilitaccedilotildees da matildee maior seratildeo as

habilitaccedilotildees do pai Os alunos com mais idade tecircm pais com menos habilitaccedilotildees

literaacuterias (plt00001) e os alunos do sexo feminino tecircm pais com mais habilitaccedilotildees

literaacuterias que os alunos do sexo masculino

A opiniatildeo que os alunos tecircm sobre o desempenho do docente eacute positiva para mais de

55 dos alunos para as 10 afirmaccedilotildees apresentadas sendo que para 6 dessas

afirmaccedilotildees mais de 75 dos alunos datildeo resposta positiva

Destaca-se que quanto mais idade ou quanto maior fora a idade escolar do aluno

melhor a sua opiniatildeo sobre o desempenho do docente indicando que os alunos do

primeiro ano (ou os alunos mais novos) satildeo os que tecircm uma opiniatildeo menos favoraacutevel

Como era de esperar os alunos com mais reprovaccedilotildees satildeo os que datildeo opiniotildees menos

favoraacuteveis em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo dos conteuacutedos ensinados versus o processo de

avaliaccedilatildeo

Os alunos do sexo feminino satildeo mais criacuteticos comparativamente com os alunos do

sexo masculino sobre a assiduidade dos docentes e sobre a equidade do processo de

avaliaccedilatildeo

Os alunos que tecircm referecircncia pela aacuterea das ciecircncias sociais satildeo os que tecircm uma

opiniatildeo mais positiva em relaccedilatildeo agrave maioria das afirmaccedilotildees apresentadas inclusive

sobre a apreciaccedilatildeo global do docente

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Brilman J (2000) As melhores praacuteticas de gestatildeo no centro do desempenho Lisboa

Editora Siacutelabo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Hiam A (1998) Ferramentas de Decisatildeo para Executivos (VEST POCKET CEO)

BenficaExecutive Digest

Farinha P amp Jacinto P (2007) Consultoria Em Gestatildeo De Recursos Humanos Lisboa

ISLA

Rodrigues J N (2005) 50 Gurus da Gestatildeo para o Seacuteculo XXI Vila Nova de Famalicatildeo

Editora Centro Atlacircntico

Gomes M C (2010) Avaliaccedilatildeo de Desempenho Docente Objetivos e Controveacutersias

Dissertaccedilatildeo de Mestrado in

httprecilgrupolusofonaptjspuibitstream1043711551Dissertacao-Avaliacao-

MCeuGomespdf

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536

O (re)conhecimento da estrutura passiva por alunos do

Ensino Superior

ANTOacuteNIA ESTRELA

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

antoniaestrelaeselxiplpt

Resumo Tendo em conta as recentes propostas de tipologia das construccedilotildees passivas como

eventivas (ser) resultativas (ficar) e estativas (estar) (Embick 2004 Duarte e Oliveira

2010 Duarte 2013) o objetivo deste estudo eacute avaliar atraveacutes de um estudo

experimental se os alunos do Ensino Superior conseguem distinguir os trecircs tipos de

passiva e as suas diferentes especificidades e se satildeo sensiacuteveis agraves propriedades dos

verbos passivizaacuteveis (transitivos diretos)

O estudo experimental desenvolvido visa testar a compreensatildeo dos trecircs tipos de

estruturas passivas atraveacutes de uma tarefa de juiacutezo de gramaticalidade No estudo

participaram 47 alunos do 1ordm ano de licenciatura tendo sido testados 60 pares de

frases (com 20 verbos distintos) que contrastavam passivas eventivas e estativas

eventivas e resultativas e resultativas e estativas e ainda 5 pares de frases fillers

(distratores)

Os resultados apurados mostram natildeo haver dificuldades no reconhecimento das

estruturas em anaacutelise No estudo experimental foram introduzidos alguns itens de

teste que funcionaram como fillers mas que serviram para testar a capacidade para

distinguir os verbos que podem surgir em oraccedilotildees passivas eventivas em portuguecircs

europeu dos que natildeo podem ocupar esse lugar

Os resultados mostram que os alunos tiveram alguma dificuldade em reconhecer as

caracteriacutesticas dos verbos passivizaacuteveis o que corrobora os resultados apurados por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

537

Estrela (2012) que datildeo conta da produccedilatildeo de passivas com verbos que natildeo satildeo

transitivos em textos de alunos do Ensino Superior A anaacutelise de resultados individuais

permite vislumbrar tambeacutem essa dificuldade

Palavras-chave Estrutura passiva transitividade

Abstract

Given the recently proposed typology of passive constructions as eventives (ser)

resultative (ficar) and stative (estar) (Embick 2004 Duarte and Oliveira 2010 Duarte

2013) the aim of this study is to evaluate through an experimental study if students

of Higher Education can distinguish these three types of passive and their different

specificities and if they are sensitive to the properties of verbs that can occur in the

passive construction

The experimental study was designed as a grammaticality judgment task The study

involved 47 students in the 1st year of degree Sixty pairs of sentences (with 20 verbs)

which contrasted eventive and stative passives eventive and resultative and

resultative and stative plus 5 pairs of sentences fillers

The results show that there is no difficulty in recognizing the structures under

consideration In the experimental study we have introduced some test items that

functioned as fillers but which served to test the ability to distinguish verbs that can

occur in passive sentences in European Portuguese and those that cannot

The results show that the students had some difficulty in recognizing the

characteristics of verbs that can occur in this construction which corroborates the

results obtained by Estrela (2012) that account for the production of passive with

transitive verbs by students in Higher Education

Keywords Passive structure transitivity

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538

Introduccedilatildeo

Com este trabalho pretende-se abordar uma proposta recente de tipificaccedilatildeo de

passivas segundo uma perspetiva tripartida passivas eventivas passivas resultativas e

passivas estativas Tal proposta defendida em Duarte (2013) parece dar conta de um

modo muito refinado das especificidades que distinguem cada um dos tipos de

passivas Com base nos contrastes propostos pela autora avaliaacutemos atraveacutes de um

estudo experimental a sensibilidade de alunos do Ensino Superior face aos trecircs tipos

de passiva e agraves suas diferentes propriedades

Este trabalho organiza-se do seguinte modo numa primeira parte apresentamos a

tipologia tripartida das passivas proposta por Duarte (2013) para o portuguecircs de

seguida descrevemos o estudo experimental levado a cabo apresentando a

metodologia os participantes e os resultados apurados e por uacuteltimo apresentamos

algumas notas finais

A adequaccedilatildeo da tipologia tripartida para o portuguecircs

Duarte e Oliveira (2010) e Duarte (2013) argumentam a favor da adequaccedilatildeo da

proposta de Embick (2004) para o portuguecircs e apontam argumentos nesse sentido Os

exemplos de 1) a 3) constituem uma passiva eventiva uma passiva resultativa e uma

passiva estativa respetivamente detendo particiacutepios eventivos resultativos e

estativos70

1) O exemplo foi corrigido por um falante nativo

2) O exemplo ficou corrigido (depois de ter sido revisto)

3) O exemplo estaacute correcto

Quer os particiacutepios eventivos quer os resultativos exibem uma componente eventiva

que falta aos particiacutepios estativos A componente agentiva por sua vez eacute apenas

carateriacutestica dos particiacutepios eventivos Estes satildeo os uacutenicos que podem ocorrer em

portuguecircs com agente da passiva com adveacuterbios orientados para o agente com

70

Os exemplos de 1) a 5) satildeo de Duarte e Oliveira (2010 p401)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

539

sintagmas preposicionais instrumentais Para aleacutem disso podem controlar o sujeito

nulo de oraccedilotildees finais Os exemplos em 4) e 5) datildeo conta desse contraste

4) a O exemplo foi corrigido por um falante nativo

b O exemplo foi corrigido propositadamente (pelo autor)

c O exemplo foi corrigido com tinta azul

d O exemplo foi corrigido por [um falante nativo]i para [-]i mostrar a pronuacutencia

correcta

5) a O exemplo ficou corrigido por um falante nativo

b O exemplo ficou corrigido propositadamente (pelo autor)

c O exemplo ficou corrigido com tinta azul

d O exemplo ficou corrigido para mostrar a pronuacutencia correcta

Como vimos a ausecircncia de uma componente eventiva nos particiacutepios estativos marca

a diferenccedila em relaccedilatildeo aos eventivos e aos resultativos

Se tradicionalmente natildeo se fazia a diferenciaccedilatildeo dentro das passivas adjetivais com a

distinccedilatildeo entre os particiacutepios resultativos e estativos essa separaccedilatildeo torna-se mais

clara podendo ser perspetivada natildeo apenas a partir do auxiliar com que se constroacutei

(serestarficar) mas tambeacutem com os tipos aspectuais de predicaccedilotildees (Duarte e

Oliveira 2010402)

21 Passivas eventivas

Nas construccedilotildees passivas eventivas a natureza aspectual do particiacutepio eacute irrelevante

como se pode verificar em 6) em que ocorrem particiacutepios eventivos pertencentes a

diferentes classes aspectuais baacutesicas

6) a Bagdad foi destruiacuteda pelos bombardeamentos americanos (processo

culminado)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

540

b A janela foi aberta para arejar o quarto (culminaccedilatildeo)

c O carro foi conduzido por um piloto experiente (processo)

d A sobremesa foi apreciada por todos (estado)

Geralmente as oraccedilotildees passivas eventivas descrevem situaccedilotildees dinacircmicas em que

uma das entidades envolvidas sofre alguma mudanccedila (de estado lugar ou posse) Isto

explica a existecircncia de fortes restriccedilotildees relativamente agrave ocorrecircncia nestas oraccedilotildees de

verbos transitivos estativos Um exemplo entre outros eacute a impossibilidade de verbos

estativos de posse admitirem passivas eventivas como se vecirc em 7)

7) As riquezas satildeo tidas pelos reis

22 Passivas resultativas

As passivas resultativas constroem-se tipicamente com ficar Este verbo marca o fim

de um evento e o iniacutecio de um estado resultativo como se vecirc nos exemplos seguintes

8) a O poste ficou caiacutedo

b As pontes ficaram destruiacutedas

Aspetualmente as passivas resultativas surgem principalmente com predicaccedilotildees

baacutesicas de tipo teacutelico culminaccedilotildees e processos culminados como se ilustra em 9) e

10)

9) a O espelho ficou partido

b O espelho jaacute estaacute partido

10) a A cidade ficou destruiacuteda

b A cidade jaacute estaacute destruiacuteda

Este tipo de passivas eacute incompatiacutevel com estados e raramente ocorre com processos

necessitando neste caso de contextos especiais (Embick 2004)

11) a A Rita ficou amada (estado)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

541

b A Rita jaacute estaacute amada

12) a O carro ficou empurrado (processo)

b O carro jaacute estaacute empurrado

Outra caracteriacutestica que diferencia as passivas eventivas das passivas resultativas eacute o

facto de estas uacuteltimas natildeo admitirem em princiacutepio a realizaccedilatildeo lexical do argumento

externo do verbo atraveacutes de um complemento agente da passiva como mostra o

exemplo 13)

13) O espelho ficou partido pela rapariga

A impossibilidade de ocorrecircncia do agente da passiva deve-se nestas construccedilotildees ao

facto de o argumento externo natildeo estar impliacutecito ao inveacutes do que acontece nas

passivas eventivas Assim de acordo com Duarte amp Oliveira (2010) as passivas

resultativas natildeo admitem adveacuterbios orientados para o agente natildeo coocorrem com

oraccedilotildees subordinadas finais (cf 14) e natildeo admitem sintagmas preposicionais de valor

instrumental (cf 15)

14) O espelho ficou partido para natildeo se gastar mais dinheiro

15) O espelho ficou partido com um martelo

As passivas resultativas assinalam natildeo soacute o estado resultante como ainda a fronteira da

passagem a esse estado pelo que admitem a expressatildeo em x tempo que mede o

tempo que o processo demora ateacute atingir o estado resultante

16) O espelho fica partido em 5 minutos

Jaacute quando a expressatildeo em x tempo co-ocorre em passivas com estar a interpretaccedilatildeo

primeira da expressatildeo em x tempo eacute daqui a x tempo como se observa em 17)

17) O espelho estaacute partido em 5 minutos

A passiva estativa contempla entatildeo o estado resultante mas natildeo a fronteira de

passagem a esse estado

23 Passiva estativa

As passivas estativas descrevem situaccedilotildees estativas mas natildeo encerram a componente

da fronteira da passagem ao estado como se pode assinalar nos exemplos 18) e 19)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

542

18) O autor eacute reconhecido mundialmente

19) A professora estaacute desorientada

O que se nota eacute que a construccedilatildeo com ficar e a construccedilatildeo com estar partilham o facto

de exprimirem um estado mas distinguem-se por a primeira implicar dinamismo e

uma alteraccedilatildeo do estado de coisas

No quadro seguinte apresentamos um resumo dos contextos que poderatildeo ser usados

para aferir se determinada construccedilatildeo exibe uma estrutura passiva eventiva

resultativa ou estativa

Passiva

Eventiva

Passiva

Resultativ

a

Passiva

Estativa

Sintagmas preposicionais de

valor instrumental

Oraccedilotildees subordinadas finais

Complemento agente da passiva

Adveacuterbios orientados para o

agente

Expressatildeo em x tempo

Quadro 2- O comportamento de particiacutepios eventivos resultativos e estativos

Estudo experimental

Tendo em conta a pertinecircncia da tipologia tripartida de passivas foi desenvolvido um

estudo com o objetivo de testar a sensibilidade de alunos do Ensino Superior perante

esta construccedilatildeo Assim consideramos duas hipoacuteteses A primeira diz respeito agrave

sensibilidade face agraves diferenccedilas entre as passivas eventivas resultativas e estativas

distinguindo-se a conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares (ser ficar estar) com diferentes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

543

constituintes a segunda refere-se agrave sensibilidade face aos verbos que satildeo passivizaacuteveis

e aos que natildeo o satildeo

A metodologia utilizada consiste numa tarefa de juiacutezo de gramaticalidade No estudo

participaram 47 alunos do 1ordm ano de licenciatura com idades compreendidas entre os

18 e os 37 anos tendo sido testados 60 pares de frases (com 20 verbos distintos) que

contrastavam passivas eventivas e estativas eventivas e resultativas e resultativas e

estativas e ainda 5 pares de frases fillers

Assim foram testadas frases como as que a seguir se apresentam

Passiva eventiva Passiva estativa

20) O castelo foi construiacutedo com uma paacute

21) O castelo estaacute construiacutedo com uma paacute

Passiva eventiva Passiva resultativa

22) O desenho foi colorido para mostrar agrave professora

23) O desenho ficou colorido para mostrar agrave professora

Passiva resultativa Passiva estativa

24) O quadro ficou pintado em cinco minutos

25) O quadro estaacute pintado em cinco minutos

Os resultados foram os que se mostram na tabela 1

Eventiva vs estativa Eventiva vs resultativa Resultativa vs estativa

47 adultos 9145 895 926

Tabela 1 Percentagem de acerto dos adultos face aos trecircs contextos

Como vemos os resultados situam-se nos 90 de acerto nos trecircs contextos o que

revela que os alunos mostraram sensibilidade face agraves diferenccedilas entre passivas

eventivas e resultativas eventivas e estativas e resultativas e estativas tendo-se

distinguido a conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares (ser ficar estar) com diferentes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

544

constituintes como sintagmas preposicionais de valor instrumental oraccedilotildees

subordinadas finais e a expressatildeo em x tempo

No que diz respeito aos fillers (ou distratores) usados foram testadas algumas frases

que visavam verificar a capacidade para distinguir os verbos que podem surgir em

oraccedilotildees passivas eventivas em portuguecircs europeu dos que natildeo podem ocupar esse

lugar Os exemplos em 26) 28) e 30) exibem um verbo transitivo e um intransitivo

pelo que a escolha da frase considerada gramatical deveraacute recair sobre a construccedilatildeo

com o verbo transitivo Por sua vez os exemplos em 27) e 29) exibem apenas verbos

transitivos Nestes dois pares de frases seratildeo as caracteriacutesticas do sujeito [+- HUM]

que condicionaratildeo a respetiva aceitabilidade Os alunos perante as duas frases tecircm

de decidir qual a aceitaacutevel Assim foram testados os seguintes pares de frases estando

a frase agramatical marcada com asterisco

26) a O Joatildeo foi chegado

b O Joatildeo foi ultrapassado

27) a O menino foi explicado

b O menino foi ouvido

28) a A Maria foi agradecida

b A Maria foi transportada

29) a A cantora foi dificultada

b A cantora foi aplaudida

30) a O professor foi apelado

b O professor foi encontrado

Os resultados relativos aos juiacutezos de gramaticalidade dos fillers dos alunos do 1ordm ano

foram os seguintes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

545

Percentagem de respostas

corretas

Chegar vs ultrapassar 98

Explicar vs ouvir 98

Agradecer vs transportar 89

Dificultar vs aplaudir 64

Apelar vs encontrar 91

Tabela 2 Resultados dos alunos face aos fillers

Natildeo se verificam dificuldades na identificaccedilatildeo de frases com verbos transitivos como

aqueles que podem ocorrer na passiva Em relaccedilatildeo ao par de frases em que os alunos

tiveram pior desempenho (dificultar vs aplaudir) as dificuldades encontradas parecem

poder justificar-se com as propriedades sintaacutetico-semacircnticas dos verbos Os alunos

teratildeo aceitado frases como a de 29a) porque natildeo identificam o traccedilo [+- HUM] do

sujeito como relevante Se por um lado podemos ter frases como O trabalho foi

dificultado natildeo satildeo aceitaacuteveis por outro frases como A cantora foi dificultada Assim

os alunos parecem natildeo reconhecer os traccedilos semacircnticos associados ao sujeito que

pode ocorrer neste contexto

Conclusatildeo

A tipologia tripartida de passivas proposta por Duarte (2013) para o portuguecircs revela-

se adequada e pertinente se tivermos em conta tambeacutem a sensibilidade que os

alunos revelaram face agrave conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares e contextos especiacuteficos

que permitem o uso de tais estruturas passivas

O verbo auxiliar assume um papel importante na distinccedilatildeo dos trecircs tipos de passivas

bem como a possibilidade de ocorrecircncia destas trecircs estruturas em contextos que

possibilitam a sua identificaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo como sintagmas preposicionais com

valor instrumental oraccedilotildees subordinadas finais e a expressatildeo em x tempo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

546

Por um lado os alunos natildeo mostraram dificuldades no reconhecimento da distinccedilatildeo

entre passivas eventivas e resultativas passivas eventivas e estativas e passivas

resultativas e estativas Por outro revelaram dificuldades no reconhecimento de um

verbo transitivo (dificultar) que apenas eacute passivizaacutevel se ocorrer na passiva com um

sujeito que apresenta determinados traccedilos semacircnticos Tais dificuldades permitem-

nos apontar para a necessidade de um trabalho minucioso sobre as caracteriacutesticas dos

verbos que podem ocorrer na estrutura passiva em contexto de sala de aula

Referecircncias

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Portuguesa de Linguiacutestica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

547

Trajetoacuterias profissionais de professores mdash casos de diplomados

da ESELx

Clara Rolo Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

clararolo7gmailcom

Cristina Loureiro Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

cristinaeselxiplpt

Carolina Gonccedilalves Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

carolinageselxiplpt

Resumo

Pretendemos com esta comunicaccedilatildeo dar conta de um estudo que temos em

desenvolvimento sobre trajetoacuterias profissionais de professores diplomados pela ESELx

desde 1991 de todos os cursos e que tecircm no miacutenimo 5 anos de profissatildeo

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa de matriz compreensiva alicerccedilado em

entrevistas biograacuteficas e materializa-se na anaacutelise de um ldquocorpusrdquo documental de

narrativas profissionais que nos permitem conhecer como as formas identitaacuterias que

assumem concretizam a profissionalidade docente no quotidiano das escolas em que

trabalham A conceccedilatildeo teoacuterica de formas identitaacuterias eacute tributaacuteria dos contributos de

Dubar e Demazieacutere (1997) que as definem como o resultado da relaccedilatildeo entre dois

percursos de identificaccedilatildeo profissional como uma relaccedilatildeo entre os contextos e os

percursos biograacuteficos

Ao privilegiarmos as narrativas biograacuteficas estamos a dar ldquoa vozrdquo a atores que no

quotidiano assumem um conjunto de conhecimentos atitudes valores e accedilotildees

atraveacutes dos quais se manifesta a profissionalidade docente nos vaacuterios campos da accedilatildeo

praacutetica o campo pedagoacutegico o contexto profissional e o contexto sociocultural

(Sacristan 1991 Roldatildeo 2005 2007)

A anaacutelise das entrevistas jaacute realizadas ateacute ao momento permite evidenciar um

conjunto de respostas padratildeo comuns a todos os atores devolvendo-nos assim um

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

548

olhar retrospetivo criacutetico e reflexivo sobre a sua formaccedilatildeo inicial O conhecimento das

trajetoacuterias profissionais de diplomados da ESELx remete-nos para uma reflexatildeo sobre o

projeto de formaccedilatildeo que desenvolvemos ao mesmo tempo que acentua a

necessidade de estabelecer relaccedilotildees consistentes com os profissionais que fazem a

profissatildeo Recuperar este tipo de ligaccedilotildees eacute tambeacutem reconhecer o potencial destes

profissionais e das suas trajetoacuterias como elementos catalisadores do desenvolvimento

da proacutepria instituiccedilatildeo

Palavras chave mdash trajetoacuterias profissionais entrevista biograacutefica profissionalidade

docente

Teachers professional trajectories - cases of graduates of ESELx

Abstract

We present a study under development about the professional careers of graduate

teachers from ESELx since 1991 from all courses and who have at least 5 years of

professional experience

This is a qualitative study with a comprehensive matrix based on biographical

interviews It is materialized in the analysis of a corpus of professional documentary

narratives that allow us to know how the assumed identity forms concretize the

teaching profession in the everyday of the schools in which they work The theoretical

design of identity forms is tributary to contributions of Dubar and Demaziegravere (1997)

who define them as the result of the relationship between two routes of professional

identity as a relation between contexts and biographies

By choosing the biographical narratives we are giving voice to actors that in

everyday life assume knowledge attitudes values and actions in their teaching

profession which is manifested in the various fields of practical action the educational

field the professional context and socio cultural context (Sacristan 1991 Roland

2005 2007)

The analysis of interviews allows us to highlight a set of standard responses common

to all actors giving us a retrospective critical and reflective look on their initial

training The knowledge of the professional careers of graduates of ESELx leads us to

reflect on the training project that we have developed which accentuates the need to

establish consistent relationships with those professionals Recovering such

connections is also recognizing the potential of these professionals and their

trajectories as enablers of development of the institution

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

549

Keywords - Professional trajectories biographical interview teacher professionalism

1 O estudo mdash motivaccedilotildees e objetivos

O trabalho que apresentamos no acircmbito de um projeto ainda em desenvolvimento

comeccedilou por uma motivaccedilatildeo muito simples revisitar diplomados da ESE com os quais

tiacutenhamos mantido algum contacto ao longo do tempo e que tinham no seu percurso

profissional alguma caracteriacutestica considerada marcante por noacutes Duas ideias

assinalam esta motivaccedilatildeo (i) a constituiccedilatildeo da equipa de investigadores do projeto e a

sua ligaccedilatildeo a alguns destes diplomados A equipa de investigadores inclui duas

professoras da ESE haacute mais de vinte anos elas proacuteprias com um percurso profissional

fortemente marcado pelo acompanhamento de estaacutegios e por uma soacutelida ligaccedilatildeo aos

alunos e aos contextos profissionais e (ii) a relaccedilatildeo mantida com alguns destes alunos

ao longo de muitos anos e com envolvimento grande no seu desenvolvimento

profissional Importa ainda registar a intenccedilatildeo de convocar para este trabalho

diplomados que jaacute tinham ultrapassado a fase de inserccedilatildeo profissional e nos quais

identificaacutevamos ou tiacutenhamos conhecimento de algum aspecto a privilegiar e a

destacar do ponto de vista profissional

Desde o iniacutecio tiacutenhamos presente que o conhecimento das manifestaccedilotildees da

profissionalidade docente destes diplomados pela ESELx nos remeteria para uma

reflexatildeo sobre o projeto de formaccedilatildeo que desenvolvemos De acordo com a nossa

motivaccedilatildeo definimos como grande objetivo para este estudo o conhecimento das

manifestaccedilotildees de profissionalidade docente nos vaacuterios campos da accedilatildeo praacutetica em que

a funccedilatildeo de professor se exerce bem como a caraterizaccedilatildeo dos percursos

profissionais entendendo-os como trajetoacuterias profissionais (Dubar 1999) na dupla

aceccedilatildeo em que o autor as considera objetiva isto eacute os lugares de posiccedilatildeo funccedilotildees

desempenhadas certificaccedilotildees acadeacutemicas e subjectiva isto eacute a significaccedilatildeo e os

sentidos que os indiviacuteduos atribuem ao proacuteprio percurso

Investigar e estudar a profissatildeo docente neste momento histoacuterico em que Portugal

atravessa uma profunda crise econoacutemica e social com as instituiccedilotildees sociais e culturais

fragilizadas e desacreditadas eacute de algum modo audacioso mas tambeacutem por isso

desafiador Como refere Noacutevoa (2009) Dar voz a professores que no dia a dia

constroem a profissatildeo em tempos e espaccedilos social e culturalmente diversos eacute

tambeacutem contribuir para a dignificaccedilatildeo de uma profissatildeo para o reconhecimento

profissional de pessoas que resistem e persistem em fazer da escola um espaccedilo de

aprendizagem e de formaccedilatildeo moral e eacutetica Eacute tambeacutem ldquoassegurar que a riqueza e a

complexidade do ensino se tornem visiacuteveis do ponto de vista profissional e cientiacutefico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

550

adquirindo um estatuto idecircntico a outros campos de trabalho acadeacutemico e

criativordquo(p7) Trata-se de construir conhecimento pessoal no interior do

conhecimento profissional de captar o sentido de uma profissatildeo ou seja aquilo que

estaacute no cerne da identidade profissional docente

2 O objeto de estudo mdash a profissionalidade docente e o conhecimento profissional

A profissatildeo docente eacute o objeto de estudo deste trabalho Como nos diz Sacristaacuten

(1991) as profissotildees definem-se pelas suas praacuteticas e por um certo monopoacutelio das

regras e dos conhecimentos da atividade que realizam O que eacute ser professor na

atualidade Qual a especificidade da sua accedilatildeo Que princiacutepios e fundamentos

orientam a sua intervenccedilatildeo Como encaram o seu desenvolvimento profissional

Quais as marcas da formaccedilatildeo inicial na atividade que realizam

Sacristaacuten classifica a profissatildeo docente como uma ldquosemiprofissatildeordquo porque depende

natildeo soacute de coordenadas poliacutetico-administrativas que regulam o sistema educativo em

geral mas tambeacutem de condiccedilotildees do posto de trabalho em particular Assim a praacutetica

profissional dos professores depende de decisotildees individuais mas rege-se por normas

coletivas adotadas pela classe profissional por regulaccedilotildees organizacionais e

sobretudo por decisotildees de poliacutetica educativa em cada momento

A especificidade da profissatildeo de professor eacute uma construccedilatildeo histoacuterico-social em

permanente evoluccedilatildeo sendo a sua principal carateriacutestica a accedilatildeo de ensinar

independentemente do tempo histoacuterico em que nos situemos Em sentido geral a

atividade docente remete-nos frequentemente para o processo ensino-aprendizagem

e muita da investigaccedilatildeo realizada centra-se na accedilatildeo didaacutetica mas a atividade dos

professores natildeo se circunscreve a esta praacutetica visiacutevel sendo necessaacuterio perceber

outras dimensotildees da sua profissionalidade menos evidentes

Agrave educaccedilatildeo referem-se accedilotildees muito diversas que influenciam as praacuteticas de ensino

numa sala de aula Nesse sentido Sacristaacuten considera que a atividade profissional dos

professores eacute influenciada por um conjunto de praacuteticas consideradas como um

sistema de praacuteticas aninhadas Assim as praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas interiores agrave

sala de aula onde tem lugar a maior parte da atividade docente satildeo influenciadas por

praacuteticas de educaccedilatildeo e ensino anteriores e paralelas agrave escolaridade proacuteprias de uma

determinada sociedade ou cultura pelas praacuteticas estruturais do funcionamento do

sistema educativo pelas opccedilotildees de poliacutetica educativa pelas praacuteticas de iacutendole

organizativa das escolas e ainda fora do sistema educativo pelas praacuteticas

concorrentes como satildeo por exemplo as editoras de manuais escolares e outros

materiais didaacuteticos que influenciam e muitas vezes condicionam diretamente a

atividade pedagoacutegica dos professores

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

551

Desta forma torna-se clara a dependecircncia dos professores relativamente ao meio

socialmente organizado em que desenvolvem o seu trabalho dando origem a conflitos

e dilemas porque nem sempre as exigecircncias exteriores coincidem com as suas

interpretaccedilotildees pessoais Portanto a imagem do professor completamente autoacutenomo eacute

tatildeo irreal como a ideia de que o seu trabalho eacute a reproduccedilatildeo acriacutetica de situaccedilotildees

herdadas ou impostas A profissionalidade docente soacute pode ser compreendida se

considerarmos as restriccedilotildees e condicionalismos que advecircm do funcionamento

burocraacutetico das escolas dado que satildeo espaccedilos socialmente organizados anteriores agrave

existecircncia dos professores como atores sociais Mas se isto eacute uma evidecircncia tambeacutem eacute

real que em todas as organizaccedilotildees sociais existem sempre margens para a expressatildeo

da individualidade profissional dos atores que as constituem originando

interpretaccedilotildees e comportamentos alternativos face agraves regulamentaccedilotildees normativas de

uniformizaccedilatildeo das praacuteticas Assim a profissionalidade docente deve ser compreendida

na relaccedilatildeo com os contextos em que se exerce manifestando-se em diversos campos

de accedilatildeo na sala de aula na organizaccedilatildeo escola e no sistema social e igualmente no

desempenho de uma grande diversidade de funccedilotildees ensinar orientar o estudo ajudar

individualmente os alunos regular as relaccedilotildees preparar materiais avaliar organizar

espaccedilos e atividades na escola trabalho em parcerias etc

A conduta profissional de um professor pode assumir loacutegicas de simples adaptaccedilatildeo agraves

condiccedilotildees preestabelecidas e impostas pelos contextos mas pode igualmente

revestir-se de uma perspetiva criacutetica intervindo nesses mesmos contextos com base

em decisotildees estrateacutegicas Esta conceccedilatildeo de profissionalidade docente alargada

convoca um conhecimento profissional especiacutefico Maria do Ceacuteu Roldatildeo (2007 2009)

afirma que os professores satildeo detentores de um saber profissional que se define como

especiacutefico da funccedilatildeo e que comporta um corpo de conhecimentos de natureza

compoacutesita e complexa natildeo sendo redutiacutevel ao conhecimento do quecirc nem de como

ensinar Natildeo basta portanto soacute o conhecimento de conteuacutedo nem tatildeo pouco o

conhecimento das teorias pedagoacutegicas ou didaacuteticas e da sua aplicaccedilatildeo a um dado

conteuacutedo da aprendizagem para que daiacute decorra aprendizagem por parte dos alunos a

quem ensina

A compreensatildeo do ldquoofiacutecio de professorrdquo potildee em evidecircncia discursos e praacuteticas sobre a

sua principal funccedilatildeo ensinar cujo conceito estaacute longe de ser consensual ou estaacutetico

(Roldatildeo 2007) Como Shulman (1986 p29) sublinhou ldquoteaching is a beautifully

ambiguous termrdquo Esta ambiguidade do conceito tem raiacutezes histoacutericas e sociais desde

logo porque a atividade de ensinar se praticou muito antes de sobre ela se produzir

conhecimento sistematizado associando-se agrave ideia de transmitir um saber

independente da sua natureza

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

552

Se a conceccedilatildeo de ensinar como sinoacutenimo de transmitir um saber assumiu significado

e utilidade social em tempos distantes quando o saber disponiacutevel era muito menor na

atualidade em que se verifica o acesso alargado agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

global tal conceccedilatildeo revela-se anacroacutenica e deixa de ser a marca distintiva da

profissionalidade docente Tal como eacute defendido por vaacuterios autores (Jonnaert amp

Vander Borght 2002 Perrenoud 1999 Roldatildeo 2005 2007) a funccedilatildeo de ensinar nos

nossos dias exige clarificaccedilatildeo devendo ser entendida como a especificidade de fazer

aprender alguma coisa a algueacutem Desta forma ensinar implica uma relaccedilatildeo transitiva

entre quem ensina e quem aprende e ainda entre o saber que se quer fazer aprender

Soacute quando a transaccedilatildeo estabelecida entre quem ensina e quem aprende resulta em

apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento pelo aprendente podemos

falar da funccedilatildeo de ensinar como atividade principal do professor sob pena de a natildeo

efetuar-se aprendizagem a funccedilatildeo de ensinar ser inexistente ou mesmo gratuita

As dificuldades na clarificaccedilatildeo da especificidade do conhecimento profissional docente

como eacute referido por Roldatildeo (2007a) resultam de uma constelaccedilatildeo de saberes de

vaacuterios tipos ligados ao ato de ensinar Retomando a classificaccedilatildeo analiacutetica do

conhecimento profissional proposta por Lee Shulman (1986) observamos que ele

integra conhecimento (i) de conteuacutedo referindo-se aos conteuacutedos das mateacuterias a

ensinar (ii) do curriacuteculo referindo-se ao domiacutenio especiacutefico de programas e materiais

(iii) dos alunos e suas carateriacutesticas (iv) pedagoacutegico geral referindo-se ao domiacutenio dos

princiacutepios geneacutericos subjacentes agrave organizaccedilatildeo e gestatildeo da classe conhecimentos

transversais (v) pedagoacutegico de conteuacutedo sobre os modos de ensinar cada conteuacutedo o

conhecimento didaacutetico (vi) dos fins e valores educacionais e dos seus fundamentos

filosoacuteficos e histoacutericos (vii) dos contextos que remete para as dimensotildees que vatildeo da

especificidade da sala de aula e da escola agrave natureza particular das comunidade e das

culturas

Significa portanto que este conjunto de saberes o que ensinar como ensinar a quem

ensinar com que finalidades condiccedilotildees e recursos resultam num conhecimento

profissional de grande complexidade que estaacute presente no quotidiano da atividade

docente e que vulgarmente se designa como o saber praacutetico dos professores Este

saber praacutetico requer e implica uma accedilatildeo emancipatoacuteria (Kemmis Stephen amp Smith

Tracey J 2008) o poder de decisatildeo sobre a accedilatildeo desenvolvida e a consequente

responsabilizaccedilatildeo social e puacuteblica (Roldatildeo 2005) ou como refere Noacutevoa (2009) um

compromisso social inscrito num quadro de valores e princiacutepios (inclusatildeo social

diversidade cultural etc) que obriga a que realidade de quem faz a escola hoje vaacute

para aleacutem da escola isto eacute ldquocomunicar com o puacuteblico intervir no espaccedilo puacuteblico da

educaccedilatildeo faz parte do ethos profissional docenterdquo(p12)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

553

Em nenhuma circunstacircncia este saber praacutetico pode ser confundido com atividade

rotineira e mecacircnica a que muitas vezes se associa o termo praacutetico A conceccedilatildeo

claacutessica do ofiacutecio de professor ainda hoje bastante difundida mesmo junto dos

professores apoia-se no entendimento de que o seu conhecimento profissional resulta

de um conjunto de saberes adquiridos atraveacutes da experiecircncia saberes-fazer e que soacute

ocasionalmente necessita de formalizaccedilatildeo Corresponde a uma certa visatildeo que

considera a teoria e a praacutetica como entidades separadas cuja relaccedilatildeo se traduz apenas

em processos de aplicaccedilatildeo De acordo com esta perspetiva praticista a atividade

docente (a praacutetica) resultaria do domiacutenio e da aplicaccedilatildeo de um reportoacuterio de teacutecnicas

procedimentos tarefas etc produzidos pela investigaccedilatildeo educacional (os teoacutericos)

aprendidas na formaccedilatildeo inicial ou nos espaccedilos de socializaccedilatildeo profissional

A vasta literatura produzida a partir de investigaccedilatildeo aponta para um sentido contraacuterio

a esta visatildeo racionalista e teacutecnica da profissionalidade docente Com efeito as zonas

de imprevisibilidade e incerteza que caraterizam as situaccedilotildees educativas de todos os

tempos mas particularmente as que decorrem da concretizaccedilatildeo de uma escola de

massas natildeo satildeo passiacuteveis de ser analisadas segundo a ideia redutora de uma escola

como um sistema de reproduccedilatildeo da informaccedilatildeo (Canaacuterio 1992) A perspetiva de um

ensino uniformizado em que a homogeneizaccedilatildeo dos processos e produtos satildeo o

objetivo central e em que a accedilatildeo dos professores se reduz agrave transmissatildeo de saberes

produzidos no exterior e a dos alunos ao consumo acriacutetico desses mesmos saberes

revela-se atualmente completamente desajustada

A perspetiva que adotamos neste estudo implica construir um conhecimento que

decorre de trajetoacuterias pessoais sobre as formas de pensar e de trabalhar na escola o

que pressupotildee a explicitaccedilatildeo das justificaccedilotildees eacuteticas cientiacuteficas e sociais que subjazem

agrave accedilatildeo educativa Mais do que o saber-fazer o saber como fazer interessa-nos o saber

porque se faz isto eacute conhecer os processos e os meios que sustentam e fundamentam

a accedilatildeo praacutetica

Como afirma Sacristan (1991) em educaccedilatildeo natildeo existem saberes-fazer desligados de

implicaccedilotildees de valor de consequecircncias sociais de opccedilotildees epistemoloacutegicas acerca do

conhecimento que se transmite de pressupostos sobre o funcionamento da natureza

humana individual e de grupo Para este autor o ofiacutecio de quem ensina natildeo pode ser

visto somente como uma acumulaccedilatildeo de ldquoesquemas praacuteticosrdquo entendidos como

rotinas ou modos de fazer procedimentais enraizados na cultura profissional Por

detraacutes de cada sequecircncia de esquemas praacuteticos na conduccedilatildeo da accedilatildeo educativa

existem ldquoesquemas estrateacutegicosrdquo entendidos como a ordem consciente da accedilatildeo como

princiacutepios reguladores a niacutevel intelectual e praacutetico o que significa que ldquouma praacutetica

transmite a teoria que fundamenta os pressupostos da accedilatildeordquo (p82) Natildeo eacute portanto

soacute o domiacutenio de procedimentos e teacutecnicas didaacuteticas nem tatildeo pouco a pura inspiraccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

554

criativa ou ldquoartiacutesticardquo que fazem a especificidade do saber docente Como salienta

Roldatildeo (2007) o domiacutenio destas valecircncias instrumental e criativa soacute se convertem em

conhecimento profissional quando sobre elas se exercem capacidades de anaacutelise

sustentadas em conhecimentos formalizados

O desenvolvimento da profissionalidade docente e a especificidade do conhecimento

profissional que lhe eacute inerente residem na relaccedilatildeo dialeacutetica entre os elementos

categoriais do conhecimento propostas por Shulman mobilizados na accedilatildeo praacutetica e o

questionamento sistemaacutetico dessa mesma accedilatildeo Este conhecimento constroacutei-se e

exercita-se no quotidiano das praacuteticas profissionais sustentado por capacidades

impliacutecitas numa praacutetica reflexiva em processos mediados por soacutelidos saberes

cientiacuteficos e didaacuteticos e em situaccedilotildees dialoacutegicas de muacutetua supervisatildeo entre pares e

investigadores A natildeo ser assim corre-se o risco de banalizaccedilatildeo da expressatildeo o

professor como praacutetico reflexivo e da proacutepria conceccedilatildeo de reflexatildeo na medida em que

tal exerciacutecio pode natildeo passar da simples discussatildeo e troca de opiniotildees realizadas no

quotidiano dos professores incapazes de avanccedilar e produzir saltos qualitativos nas

suas praacuteticas apesar do empenhamento e genuiacuteno esforccedilo com que o fazem

De acordo com este quadro conceptual entendemos os professores como

profissionais analiacuteticos e investigativos das suas praacuteticas de ensino e por isso neste

nosso estudo procuramos conhecer e compreender a partir das narrativas contadas

o seu papel no desenvolvimento da profissionalidade docente e na construccedilatildeo de

conhecimento profissional

3 Opotildees metodoloacutegicas mdash questotildees de investigaccedilatildeo e entrevistas

Procuraacutemos anteriormente enquadrar conceptualmente o objeto de estudo ndash a

profissionalidade docente e o conhecimento profissional que lhe eacute inerente as

relaccedilotildees que mantecircm entre si as especificidades que os constituem e a sua construccedilatildeo

dialeacutetica ao longo de um percurso profissional A este processo de construccedilatildeo natildeo satildeo

alheios os processos as relaccedilotildees as experiecircncias de aprendizagem vividas na

formaccedilatildeo inicial que habilita para o exerciacutecio da profissatildeo nem fatores pessoais

(disposiccedilotildees expectativas interesses etc) bem como os fatores contextuais ligados agrave

situaccedilatildeo de trabalho Trata-se portanto como refere (Dubar 2012) de processos de

socializaccedilatildeo profissional que articulam permanentemente no tempo e no espaccedilo

situaccedilotildees e percursos tarefas a realizar e perspetivas a seguir relaccedilotildees com os outros

e consigo (self) As atividades de trabalho qualificadas de profissionais satildeo produtoras

de obras ou no caso dos professores produtoras de serviccedilos uacuteteis a outros Elas

possuem uma dimensatildeo simboacutelica em termos de realizaccedilatildeo de si e de reconhecimento

social e permitem agravequeles que as realizam identificar-se pelo seu trabalho e serem por

isso reconhecidos socialmente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

555

Estamos em presenccedila de trajetoacuterias socioprofissionais reveladas pelas representaccedilotildees

do universo profissional produzidas pelos indiviacuteduos atraveacutes dos processos de

inserccedilatildeo em muacuteltiplos espaccedilos sociais (escola famiacutelia profissatildeo formaccedilatildeo etc) Estas

trajetoacuterias datildeo-nos conta dos processos de construccedilatildeo de identidades profissionais

(Dubar 1990) como resultado de uma dupla transaccedilatildeo por um lado entre o indiviacuteduo

e as instituiccedilotildees (o local de trabalho) e por outro entre o indiviacuteduo confrontado com a

mudanccedila com o seu passado e as suas aspiraccedilotildees e desejos de futuro Esta

investigaccedilatildeo procura assim estudar os processos de construccedilatildeo da profissionalidade

docente de diplomados pela ESELx acedendo aos seus percursos profissionais num

determinado tempo e aos modos como eles satildeo contados

Inspirando-nos em Dubar (1998) e Demazieacutere (2011) enquadramos

metodologicamente o nosso objeto de estudo na anaacutelise de trajetoacuterias individuais na

dupla acepccedilatildeo em que os autores as consideram objetivamente como a sequecircncia de

posiccedilotildees num ou mais campos da praacutetica social (o posto de trabalho estatuto

socioprofissional certificaccedilotildees etc) e subjetivamente como uma parte da sua

rdquohistoacuteria pessoalrdquo que daacute conta das visotildees de si e do mundo articuladas nos espaccedilos

significativos de investimento de si e em temporalidades consideradas

De acordo com estas opccedilotildees metodoloacutegicas procuramos (1) caraterizar as trajetoacuterias

objetivas no que refere ao tipo de licenciatura anos de profissatildeo e locais de trabalho e

(2) compreender trajetoacuterias subjetivas no que se refere a justificaccedilotildees princiacutepios e

fundamentos das praacuteticas profissionais e da funccedilatildeo docente os campos de accedilatildeo em

que se realizam as relaccedilotildees com a formaccedilatildeo em serviccedilo e as marcas significados e

relaccedilotildees com a instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo (ESELx) que os habilitou para a docecircncia

Assim definimos quatro grandes questotildees orientadoras de investigaccedilatildeo

Quais os princiacutepios e fundamentos que orientam o desempenho profissional nos

vaacuterios campos da accedilatildeo praacutetica (a sala de aula a escola o sistema social)

Como se processou a inserccedilatildeo na profissatildeo (dificuldades apoios influecircncias)

Como perspetivam o papel e as funccedilotildees do professor na atualidade

Como perspetivam o seu desenvolvimento profissional e quais as referecircncias

mantecircm da sua passagem pela instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo que os diplomou

31 A entrevista biograacutefica

Dado que se trata de um estudo de natureza qualitativa de matriz compreensiva

recorremos agrave entrevista de inspiraccedilatildeo biograacutefica por considerarmos ser o melhor

meacutetodo para captar o discurso dos sujeitos do estudo dado o papel central que este

tipo de entrevista atribui aos sujeitos e ao estatuto epistemoloacutegico que eacute conferido agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

556

subjetividade na produccedilatildeo de conhecimento sobre o social (Alves 2007)

Este tipo de entrevista como salienta a autora eacute uma situaccedilatildeo comunicacional como

que uma conversa em que os sentidos satildeo negociados reforccedilados e questionados

pelos interlocutores Contar uma parte da sua histoacuteria sobre um plano da vida ndash o

plano profissional constitui a representaccedilatildeo de si que se daacute a conhecer na trama como

cada entrevistado organiza o discurso sobre o seu percurso Implica escolher entre

muacuteltiplos acontecimentos que constituem uma parte da vida os que satildeo mais

significativos para conferirem veracidade agrave imagem de si que datildeo a conhecer Silva

(2007 p 77) citando Demaziegravere e Dubar (1999) define a entrevista biograacutefica de

investigaccedilatildeo como uma ldquonarrativa ou contordquo consistindo na recordaccedilatildeo de episoacutedios

na sua interpretaccedilatildeo e na articulaccedilatildeo temporal do passado presente e futuro

inserindo-os numa histoacuteria com um sentido E continua afirmando que numa

entrevista de investigaccedilatildeo biograacutefica cada interveniente com papeacuteis distintos utiliza a

linguagem para mediar a troca de palavras e a produccedilatildeo da narrativa O entrevistado

faz uma reflexatildeo retrospectiva e prospectiva do que eacute importante na proacutepria vida que

os autores denominam por ldquotravail sur soirdquo

Poirier et al (1995) consideram que este tipo de entrevistas que tecircm por fim explorar

uma parte da vida do narrador natildeo corresponde a histoacuterias de vida em que se pede a

um indiviacuteduo que se conte que descreva a sua histoacuteria pessoal No caso particular do

nosso trabalho a entrevista eacute guiada e tem por fim explorar uma parte da vida do

narrador estando focalizada em situaccedilotildees vividas em acontecimentos em

significaccedilotildees A liberdade de palavra deve ser total para todos os casos mas pode ser e

deve ser controlada o que significa que o narrador se pode exprimir sem

constrangimentos ou restriccedilotildees sobre todos os assuntos da maneira que escolher o

que natildeo obsta a que o entrevistador se assegure de que nenhum campo da memoacuteria

seraacute negligenciado

O investigador tem agrave sua disposiccedilatildeo um guiatildeo previamente estabelecido que cumpre

duas funccedilotildees a funccedilatildeo de natildeo deixar o narrador sair do campo da pesquisa e a funccedilatildeo

de precisatildeo sobre a informaccedilatildeo que o narrador natildeo fornece espontaneamente A

entrevista tem assim a funccedilatildeo de recolher o saber especiacutefico de que o narrador eacute

portador pelo que o entrevistador deve ter a preocupaccedilatildeo de recensear todas as

informaccedilotildees em profundidade salvaguardando a singularidade do discurso do

entrevistado

Desta forma assumindo uma atitude de escuta ativa constitui-se como parceiro do

narrador a pessoa que potildee as perguntas que formam a trama da entrevista A sua

funccedilatildeo natildeo eacute o de simples auditor porque soacute a sua presenccedila chega para o transformar

em narrataacuterio (Poirier et al 1995) em coprodutor da narrativa que eacute contada pelo

narrador

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

557

32 A realizaccedilatildeo das entrevistas

O aspeto central da recolha de dados para este estudo satildeo os diplomados selecionados

e as entrevistas realizadas Por esta razatildeo eacute importante situar a seleccedilatildeo dos

entrevistados clarificando os criteacuterios que presidiram a essa escolha bem como

algumas preocupaccedilotildees que estiveram presentes na concepccedilatildeo e realizaccedilatildeo das

entrevistas

Na nossa trajetoacuteria de formadoras de professores desde o iniacutecio da criaccedilatildeo da Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa (ESELx) muitos foram os diplomados que

acompanhaacutemos no seu percurso de formaccedilatildeo inicial em diversas unidades curriculares

dos planos de estudo e muito particularmente na supervisatildeo das unidades curriculares

de praacutetica pedagoacutegica tanto no 1ordm como no 2ordm ciclo do ensino baacutesico (1ordm CEB 2ordm

CEB) Com bastantes destes diplomados agora profissionais quer na escola puacuteblica

quer no ensino privado desenvolvemos ao longo destes anos interaccedilotildees de

variadiacutessimo tipo desde simples relaccedilotildees pessoais e afetivas a apoios a niacutevel da

formaccedilatildeo contiacutenua acreditada acompanhamento de processos de formaccedilatildeo

acadeacutemica participaccedilatildeo em associaccedilotildees socioprofissionais e ateacute colaboraccedilotildees

institucionais nomeadamente como cooperantes da ESELx para as atividades de

praacutetica pedagoacutegica Muitos deles satildeo professores de formaccedilatildeo de variante de ensino

com habilitaccedilatildeo para trabalhar no 2ordm CEB mas que optaram pelo trabalho no 1ordm CEB

Eacute portanto natural o conhecimento que temos dos seus percursos profissionais das

referecircncias sobre a qualidade da sua intervenccedilatildeo pedagoacutegica que nos chegam quer por

vias institucionais ligadas ao posto de trabalho quer por vias informais

O nosso interesse por este estudo comeccedila com esta circunstacircncia Por isso

transformaacutemos este interesse em objeto de investigaccedilatildeo enquadrando-o

conceptualmente e definindo objetivos possiacuteveis de realizaccedilatildeo como anteriormente

procuraacutemos dar conta Os criteacuterios de seleccedilatildeo orientaram-se em duas ordens de

razotildees (1) objetivas ndash trabalho no 1ordm CEB mais de cinco anos na profissatildeo de todos

os cursos de formaccedilatildeo de professores da ESELx e (2) subjetivas - conhecimento de

alguma marca de profissionalidade identificaccedilatildeo feita com base no conhecimento

pessoal ou acompanhamento dos percursos destas pessoas tanto em situaccedilotildees de

formaccedilatildeo informais como em situaccedilotildees formais ligaccedilatildeo que mantiveram agrave ESE

colaboraccedilotildees pontuais cooperaccedilatildeo em estaacutegios participaccedilatildeo em projetos de

formaccedilatildeo contiacutenua percurso acadeacutemico relevante apoacutes a saiacuteda da ESE Foram

excluiacutedos os diplomados que exercem ou tenham exercido funccedilotildees docentes na ESE

Consideraacutemos assim na seleccedilatildeo dos entrevistados marcas relevantes das suas

trajetoacuterias profissionais das quais destacamos o interesse no aprofundamento e

atualizaccedilatildeo das praacuteticas de ensino (trabalho com as crianccedilas) reconhecido pelos pares

e com eventual divulgaccedilatildeo em espaccedilos puacuteblicos eou em publicaccedilotildees da especialidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

558

reconhecidas o envolvimento em cargos da gestatildeo administrativa ou pedagoacutegica nas

escolas por eleiccedilatildeo ou por indicaccedilatildeo de outros o investimento na sua formaccedilatildeo

acadeacutemica lideranccedilas ou envolvimento em projetos sociais eou educativos e ainda a

participaccedilatildeocolaboraccedilotildees com organizaccedilotildees nacionais ou estrangeiras

Logo na fase inicial do projeto foram identificados mais de vinte diplomados que

poderiam ser convidados como informantes privilegiados deste projeto Ateacute ao

momento realizaacutemos treze entrevistas e estatildeo agendadas outra seacuterie tendo os

convites jaacute sido feitos com o mesmo objetivo

O guiatildeo das entrevistas foi construiacutedo tendo em conta algumas categorias preacute-

definidas de acordo com os objetivos da investigaccedilatildeo e o enquadramento teoacuterico em

que esta se inscreve Quanto agraves questotildees integrantes no guiatildeo da entrevista houve a

preocupaccedilatildeo de as formular de modo a proporcionar descriccedilotildees interessantes das

vivecircncias dos entrevistados capazes de recolher memoacuterias e reflexotildees e quem sabe

ateacute provocadoras de novas reflexotildees

Todas as entrevistas foram realizadas no espaccedilo da ESELx Os entrevistados foram

convidados a estar presentes atraveacutes de um telefonema ou uma mensagem de email

recebendo neste caso um pequeno texto explicativo da razatildeo do convite Todas as

entrevistas duraram pelo menos uma hora e em alguns casos hora e meia As

entrevistas foram gravadas em aacuteudio mas no fim de todas elas a conversa prolongou-

se depois para aspetos mais pessoais jaacute sem o gravador ligado Algumas vezes o

gravador voltou a ser ligado e em muitos casos percebemos que muito tinha ficado por

dizer

Desde o iniacutecio deste trabalho estivemos conscientes dos efeitos de contaminaccedilatildeo que

este estudo acarretava e portanto da necessidade de salvaguardar a dimensatildeo eacutetica

desta investigaccedilatildeo De facto as pessoas foram escolhidas com base no conhecimento

pessoal das suas praacuteticas noacutes proacuteprias sobretudo dois membros da equipa fomos

suas professoras e por isso temos as nossas proacuteprias memoacuterias do seu percurso de

formaccedilatildeo inicial Esta duplicidade de papeacuteis durante a realizaccedilatildeo da entrevista mdash as

professoras e as investigadoras mdash forccedilou-nos a criar um distanciamento entre este

duplo papel pertencendo as primeiras ao mundo observado e as segundas ao mundo

da investigaccedilatildeo De facto enquanto professoras da instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo destes

diplomados natildeo estamos totalmente descomprometidas com este trabalho de certa

forma ele representa tambeacutem a histoacuteria da instituiccedilatildeo a que pertencemos e o

reconhecimento social da nossa funccedilatildeo de formadoras Como nos adverte Costa (1990

p135) na pesquisa social muitas vezes o investigador torna-se interferente o que

segundo o autor natildeo eacute ldquosimplesmente um obstaacuteculo ao conhecimento socioloacutegico mas

tambeacutem um veiacuteculo desse conhecimentordquo A questatildeo natildeo estaacute em tentar evitar esta

interferecircncia mas sim tecirc-la em consideraccedilatildeo controlaacute-la e objetivaacute-la tanto quanto

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

559

possiacutevel Por esta razatildeo optaacutemos por uma dupla ou tripla presenccedila na realizaccedilatildeo das

entrevistas soacute duas das entrevistas foram realizadas por apenas uma das

investigadoras

Do ponto de vista do clima criado na entrevista importa ressaltar que foi sempre

muito caloroso e por isso facilitador da fluecircncia O guiatildeo estabelecido funcionou

sempre como guiatildeo com ligeiras adaptaccedilotildees relativamente ao perfil eou agrave histoacuteria

pessoal do entrevistado Uma orientaccedilatildeo uniforme que natildeo tivesse em conta este

aspeto poderia empobrecer os relatos ou mesmo tornaacute-los desinteressante Como

afirma Pedrosa (2004) ldquonenhuma conversa segue a cronologia das frases ditas a natildeo

ser que natildeo se queira saber nada sobre a pessoa de quem falamosrdquo Esta foi uma

preocupaccedilatildeo presente em todas as entrevistas Criar um contexto favoraacutevel agrave

recapitulaccedilatildeo de todo um percurso profissional em alguns casos com mais de dez

anos e alimentar o mais possiacutevel esse pescar de memoacuterias procurando natildeo influenciar

o entrevistado

A realizaccedilatildeo destas entrevistas constituiu um prazer enorme Agrave medida que iacuteamos

avanccedilando no processo aumentava o interesse e o gosto por fazecirc-las A ideia inicial da

investigaccedilatildeo que sempre nos tinha parecido promissora ia-se revelando cada vez mais

rica e estimulante Fazer uma nova entrevista passou a ser quase um acontecimento

Por um lado era o gosto de reencontrar algueacutem de quem gostaacutevamos de o trazer de

novo agrave sua escola de formaccedilatildeo e de ouvir as suas histoacuterias profissionais Por outro o

desafio de descobrir novas ideias nessas histoacuterias de identificar ligaccedilotildees entre elas de

confirmar aspetos comuns com as outras histoacuterias anteriores de identificar padrotildees

Tambeacutem fomos percebendo o gosto dos entrevistados por estes momentos de

recordaccedilatildeo mas tambeacutem de reflexatildeo O prazer de voltarem agrave ESELx onde todas as

entrevistas foram feitas E tambeacutem o secreto desejo de alguns de voltar mais vezes de

poderem estar mais presentes na vida da instituiccedilatildeo Parece-nos que a expressatildeo

formulada por alguns ldquoVenho caacute quando quiseremrdquo denota esse desejo

Em todas as entrevistas fomos descobrindo a ligaccedilatildeo que estes professores tinham agrave

ESELx Para alguns essa ligaccedilatildeo tinha determinado a vinda para fazer mestrados ou

para participar em outro tipo de realizaccedilotildees Para outros a ligaccedilatildeo estava patente na

valorizaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo nesta escola na importacircncia desta vivecircncia na sua vida

profissional

O contexto em que as entrevistas realizadas se enquadram e a nossa profissatildeo de

formadores e atores sociais com capacidade real de intervenccedilatildeo permite-nos dar a

estas entrevistas uma outra dimensatildeo Natildeo as encaramos como uma mera recolha de

informaccedilatildeo Reconhecemos-lhes contributos transformadores na medida em que

provocaram reflexotildees significativas Conversaacutemos longas horas apoacutes as entrevistas e

passaacutemos a integrar exemplos decorrentes destas entrevistas em vaacuterias instacircncias da

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

560

nossa accedilatildeo profissional muito para aleacutem desta investigaccedilatildeo Vaacuterias ideias foram

surgindo apoacutes a convocaccedilatildeo destes diplomados De certa forma reforccedilaacutemos ou

reestabelecemos uma ligaccedilatildeo e vamos com certeza voltar a convocar estes

professores porque percebemos que os laccedilos destes profissionais agrave escola matildee podem

ser reforccedilados e podem originar outro tipo de ligaccedilotildees Por outro lado as entrevistas

permitiram identificar dimensotildees distintas entre estes profissionais o que nos exigiu

um aprofundamento teoacuterico muito grande

Todas as entrevistas foram transcritas com o apoio de um elemento exterior agrave equipa

e ao ritmo com que eram realizadas Deste modo pudemos todas ter conhecimento de

todas as entrevistas e ir analisando-as agrave medida que avanccedilaacutevamos no processo de

pesquisa e fundamentaccedilatildeo teoacutericos

4 Os dados recolhidos mdash anaacutelise das entrevistas

41 As trajetoacuterias objetivas

Como dissemos anteriormente o conhecimento parcial que possuiacuteamos dos percursos

profissionais de alguns diplomados da ESELx e que consideraacutevamos relevante foi uma

das motivaccedilotildees principais deste estudo Contudo as entrevistas realizadas permitem-

nos agora ter uma ideia muito mais abrangente destas trajetoacuterias evidenciando os

aspetos que consideramos relevantes para a compreensatildeo das suas trajetoacuterias

subjetivas

Analisando toda a informaccedilatildeo recolhida organizaacutemo-la em subcategorias que

destacamos curso no qual foi obtido o diploma profissional situaccedilatildeo profissional em

2013 graus acadeacutemicos escolas ou ciclos em que trabalhou cargos ocupados

formaccedilatildeo contiacutenua realizada colaboraccedilatildeo com a ESSE intervenccedilatildeo na comunidade

soacutecio profissional visibilidade no espaccedilo educativo alargado Nestas importa clarificar

o que contemplam A frequecircncia de accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua inclui accedilotildees formais e

accedilotildees informais A colaboraccedilatildeo com a ESE refere-se agrave colaboraccedilatildeo como cooperante

dos estaacutegios A intervenccedilatildeo na comunidade soacutecio profissional inclui a colaboraccedilatildeo em

associaccedilotildees profissionais ou outras organizaccedilotildees que intervecircm na educaccedilatildeo formal ou

natildeo formal a participaccedilatildeo em projetos ligados agrave educaccedilatildeo ou natildeo a atividade como

pais em espaccedilos escolares e a participaccedilatildeo comunitaacuteria Por visibilidade no espaccedilo

educativo alargado entendemos a participaccedilatildeo em encontros nacionais ou

internacionais a apresentaccedilatildeo de comunicaccedilotildees e a produccedilatildeo escrita publicada

Esta categorizaccedilatildeo corresponde ao tratamento de toda a informaccedilatildeo recolhida ateacute ao

momento nem todos os entrevistados revelam evidecircncias em todas as categorias

havendo aspetos que estatildeo mais presentes e com uma incidecircncia mais forte em alguns

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

561

do que em outros dos diplomados Em alguns casos para a mesma categoria satildeo

revelados vaacuterios aspetos de atuaccedilatildeo

Consideramos que esta forma de organizaccedilatildeo nos permite reforccedilar a ideia inicial que

tiacutenhamos relativamente agrave relevacircncia dos seus percursos profissionais e ao mesmo

tempo contribui para a anaacutelise e compreensatildeo das suas trajetoacuterias subjetivas Em

paralelo a anaacutelise da categorizaccedilatildeo efetuada permite-nos tambeacutem a clarificaccedilatildeo do

proacuteprio conceito de trajetoacuteria individual contemplando as dimensotildees objetiva e

subjetiva propostas por Dubar e Demazieacutere

42 Trajetoacuterias subjetivas

Relativamente agrave dimensatildeo subjetiva das trajetoacuterias profissionais a anaacutelise de

conteuacutedo das treze entrevistas realizadas ateacute ao momento induz uma organizaccedilatildeo

possiacutevel da informaccedilatildeo em quatro grandes categorias princiacutepios e fundamentos da

accedilatildeo praacutetica relaccedilotildees com o desenvolvimento profissional imagens e projeccedilotildees do

professor na atualidade referecircncias e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial A primeira

engloba informaccedilatildeo que nos remete para os princiacutepios que orientam a accedilatildeo praacutetica

destes profissionais as suas conceccedilotildees de ensino e de aprendizagem o respeito pelos

valores de inclusatildeo a promoccedilatildeo da cidadania democraacutetica a aprendizagem em

cooperaccedilatildeo o desenvolvimento da autonomia e a valorizaccedilatildeo dos contextos e das

comunidades locais como pontos de partida para uma escola aberta e participada Na

categoria de relaccedilotildees com o desenvolvimento profissional inclui-se a informaccedilatildeo que

daacute conta das atitudes face aos modos como encaram a formaccedilatildeo profissional contiacutenua

Tornam-se aqui evidentes as preocupaccedilotildees de que a atividade praacutetica de um professor

exige processos de aprendizagem permanente e contextualizada a necessidades

sentidas quer ela seja organizada de modo informal no interior das escolas em que

trabalham quer em associaccedilotildees socioprofissionais quer ainda recorrendo a

instituiccedilotildees acadeacutemicas que certifiquem com diplomas essa formaccedilatildeo Na terceira

categoria que designamos por imagens e projeccedilotildees do professor na atualidade emerge

a informaccedilatildeo que daacute conta dos modos como estes profissionais encaram o papel e a

funccedilatildeo da escola na atualidade e os grandes desafios que hoje se colocam aos

professores Por uacuteltimo em referecircncias e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial ressaltam o

significado e o sentido que representou para cada um este tempo e espaccedilo de

formaccedilatildeo Sob a forma de memoacuterias estatildeo presentes no discurso espontacircneo dos

entrevistados sem reservas os pontos fortes da sua formaccedilatildeo inicial mas tambeacutem as

criacuteticas sugestotildees de melhoria dos planos de estudo e ateacute ideias para futuras

colaboraccedilotildees

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

562

43 A voz dos professores mdash marcas e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial

Eacute sobre a uacuteltima grande categoria identificada que iremos tecer algumas

consideraccedilotildees Na qualidade de formadores da ESELx elas apontam e contribuem para

uma reflexatildeo sobre as intencionalidades e os processos de trabalho que orientam a

formaccedilatildeo que realizamos

Assim um dos grandes pontos fortes que se destacam no discurso destes professores

sob a forma de memoacuterias mas que o tempo amadureceu e tornou referecircncia eacute a

tomada de consciecircncia das capacidades transversais que foram sendo desenvolvidas

durante o tempo e o espaccedilo da formaccedilatildeo inicial Eacute assim que se tornam evidentes a

presenccedila de capacidades reflexivas de espiacuterito criacutetico de abertura de autonomia na

tomada de decisotildees fundamentadas na profissatildeo Eacute clara a rejeiccedilatildeo de uma

aprendizagem da profissatildeo como se de um receituaacuterio teacutecnico se tratasse da

importacircncia da coerecircncia dos processos vividos com as finalidades

Vejamos a tiacutetulo de exemplo o modo como estas ideias transparecem nos discursos

ldquo() acho que a ESE acima de tudo deu-me essa visatildeo mais abrangente da

maneira de estar na profissatildeo mas tambeacutem me deu espaccedilos aqui para pensar

sobre qual era o caminho que eu queria seguir como professorrdquo () (AA)

ldquoAcho que [A ESE] me preparou com seguranccedila porque me deu a mim como

pessoa a capacidade de procurar quando eu sentia dificuldadesrdquo(H)

ldquo() a formaccedilatildeo tem um papel preponderante ao dizer que o seu papel eacute formar

pessoas reflexivas pessoas boas comunicadoras pessoas que saibam liderar

processos ou pessoas que saibam seguir referecircncias () isso tem que ser

expliacutecito na formaccedilatildeo rdquo A mim foi preciso ser-me dito isso formalmenterdquo (A)

Outro aspeto igualmente referido pela maioria dos entrevistados eacute a relaccedilatildeo educativa

estabelecida entre formadores e formandos e do modo como esta relaccedilatildeo isomoacuterfica

contribuiu para o desenvolvimento pessoal e depois revela pertinente na profissatildeo

ldquo() houve aqui pessoas que me marcaram positivamente a niacutevel de atitudes da

atitude de criar relaccedilatildeo () como aluno-professor acho que isso foi muito

positivo () Acho que foi assim das coisas melhores que levei daqui para a

praacutetica foi isso foi a relaccedilatildeo foi muita coerecircncia ao niacutevel da praacutetica das

cadeiras ligadas agrave pedagogia agrave praacutetica aos estaacutegios()rdquo (F)

ldquoEu acho que minha formaccedilatildeo pessoal () tem tambeacutem muito a ver com o que

aprendi aqui de facto isso natildeo tem a ver soacute com a parte do conhecimento ligado

agrave parte acadeacutemica () tem a ver tambeacutem com a parte das relaccedilotildees () e essa

construccedilatildeo foi feita agrave medida que os anos foram passando e deve ter a ver

provavelmente com os professores que estiveram envolvidos () consigo ver

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

563

agora com algum distanciamento que foram um pilar muito importante para o

meu desenvolvimento profissionalrdquo (H)

ldquo() O que eacute importante e eu acho que isso fizeram aqui comigo eacute preparar o

professor para estar disponiacutevel para aprender com os seus alunosrdquo (A)

Mas se estes exemplos de pontos fortes como grandes aprendizagens marcam o

discurso na generalidade dos nossos entrevistados a instituiccedilatildeo ESELx e os formadores

natildeo estatildeo isentos de criacuteticas tambeacutem reveladoras dos modos como ao longo dos

anos nos posicionaacutemos face agraves intencionalidades da formaccedilatildeo agraves dificuldades e

constrangimentos conjunturais que marcaram este percurso agraves incoerecircncias e

contradiccedilotildees vividas Mas tambeacutem estes pontos fracos que agora agrave distacircncia

emergem satildeo sinais das preocupaccedilotildees e da nossa procura de soluccedilotildees organizativas

para a concretizaccedilatildeo de uma formaccedilatildeo coerente com os princiacutepios que defendemos

Os proacuteximos excertos discursivos documentam dificuldades constrangimentos e

contradiccedilotildees das situaccedilotildees de estaacutegio incoerecircncias dos discursos dos professores

entre o que se diz que se deve fazer e o que realmente se faz da descoberta dos

sentidos e das intencionalidades da formaccedilatildeo

ldquo() os estaacutegios e os cooperantes natildeo terem nada a ver com esse caminho ()

noacutes estamos a ser avaliados () precisamos corresponder agravequilo que a ESE

pretende () por outro lado temos a cooperante com quem noacutes estamos todos

os dias com quem noacutes temos de ter uma relaccedilatildeo minimamente cordial e

saudaacutevel e que quer um caminho completamente diferente () que nos

pressiona depois diz natildeo nada disto isto eacute soacute teoria isto eacute agora porque estatildeo

no estaacutegio esqueccedilam isso ()rdquo(AA)

ldquo() faziacuteamos muitas vezes uma criacutetica aos professores aqui da ESE () falavam

e abordavam muitos conteuacutedos de vaacuterias cadeiras que apontavam para

maneiras inovadoras e ativas de preparar as aulas de mobilizar as atitudes etc

mas depois os proacuteprios professores natildeo conseguiam organizar a proacutepria aula de

acordo com esses princiacutepios que nos queriam incutir rdquo(F)

() ldquomas depois no final do curso no 4ordm ano () senti mesmo pela primeira vez

os professores a quererem realmente dar o exemplo daquilo que falavam em

termos de trabalho cooperativo e de interdisciplinaridade ao fazerem uma equipa

de tutoria nesse ano por ter havido este tipo de coordenaccedilatildeo de articulaccedilatildeo

entre os professores lembro-me de dizer ldquopelo menos haacute aqui uma tentativa de

pocircr em praacutetica aquilo que querem que noacutes ponhamos em praacutetica no futurordquo( F)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

564

5 Conclusatildeo

Da anaacutelise das entrevistas realizadas e de acordo com as opccedilotildees metodoloacutegicas que

orientam este estudo eacute possiacutevel concluir que as trajetoacuterias objetivas e as trajetoacuterias

subjetivas se entrecruzam e se influenciam mutuamente Em rigor os percursos

profissionais destes professores natildeo podem ser analisados linearmente nem se

iniciam com a entrada na formaccedilatildeo inicial Eles satildeo influenciados por trajetoacuterias

anteriores agrave sua entrada na ESELx nomeadamente as razotildees e motivaccedilotildees que

determinaram a escolha da profissatildeo de professor experiecircncias escolares anteriores

experiecircncias de vida etc que conferem disponibilidades diferenciadas perante a

formaccedilatildeo fazendo com que ao longo de quatro anos se focalizem em interesses

distintos atribuam agraves suas experiecircncias significados diferentes e privilegiem respostas

diferenciadas Da mesma forma tambeacutem agora a sua profissionalidade docente eacute

reveladora do cruzamento de todas estas influecircncias e dos modos como se orientam

trajetoacuterias objetivas que por sua vez determinam e datildeo sentido a trajetoacuterias

subjetivas num processo evolutivo de convergecircncia destas duas dimensotildees Como

bem refere Sacristaacuten (1991 p 74)

ldquoA competecircncia docente natildeo eacute tanto uma teacutecnica composta por uma seacuterie

de destrezas baseadas em conhecimentos concretos ou na experiecircncia nem uma

simples descoberta pessoal O professor natildeo eacute um teacutecnico nem um improvisador

mas um profissional que pode utilizar o seu conhecimento e a sua experiecircncia

para se desenvolver em contextos pedagoacutegicos praacuteticos preexistentesrdquo

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

566

Une eacutevaluation au service des apprenants de leurs projets et

de la socieacuteteacute entiegravere

Alain Brouteacute Universiteacute Autonome de Madrid

alainbrouteuames

Reacutesumeacute

Lorsque nous parlons drsquoeacutevaluation aujourdrsquohui la tendance geacuteneacuterale est agrave opposer

savoirs (connaissances) et savoir faire (compeacutetences) Or depuis plus de quinze ans

nous sommes exposeacutes agrave de nombreuses interpreacutetations contradictoires des neacutecessiteacutes

de lrsquoeacuteconomie de marcheacute Drsquoune telle constatation il en reacutesulte que la focalisation des

recherches autour de la dichotomie laquo savoirs savoir faire raquo ou laquo connaissances

compeacutetences raquo ne semble pas justifieacutee Crsquoest ainsi qursquoon assiste agrave une survalorisation

du cognitif qui priorise le reacutesultat sur le processus Par ailleurs lrsquoopposition entre

savoirs et savoir faire nrsquoa pas grand sens si nous pensons au caractegravere compleacutementaire

et incontournable des deux composantes Cela induit une focalisation superficielle sur

un deacutebat qui nous semble deacutejagrave deacutepasseacute De plus pourquoi se limiter agrave ces deux

composantes lorsque nous savons que notre monde requiert chaque fois plus du non-

cognitif Face agrave de telles constatations nous proposons drsquoopter deacutelibeacutereacutement pour une

eacutevaluation personnaliseacutee au service drsquoun collectif agrave travers laquelle le savoir-ecirctre est

synonyme de centration sur lrsquoapprenant le savoir paraicirctre permet drsquoeacutevaluer la

capaciteacute drsquoidentification et de distanciation (ou comment se mettre dans la peau de

lrsquoautre sujet ou objet) et le savoir devenir permet aux formateurs le passage drsquoune

dialectique laquo sujetobjet raquo agrave une trialectique laquo sujet objet projet raquo Au niveau

pratique une telle approche priorise une eacutevaluation multi-profils inteacutegrant une

eacutevaluation formative et continue drsquoun cocircteacute un test des connaissances et des

compeacutetences comme eacutevaluation normative de lrsquoautre et enfin un projet personnaliseacute

pour eacutevaluer le savoir devenir

Mots cleacutes eacutevaluation savoirs compeacutetences non-cognitif personnalisation projet

Abstract

When we talk about evaluation today the general trend is to oppose knowledge

(knowledge) and know-how (skills) However for over fifteen years we are exposed to

many contradictory interpretations of the requirements of the market economy In

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such a finding it follows that the focus of research around the dichotomy of

knowledge know-how or knowledge skills does not seem justified Thus we are

witnessing an overvaluation of cognitive that prioritizes the result of the process

Moreover the opposition between knowledge and skills do not make much sense if we

think about complementary and essential character of the two components This

induces a superficial focus on a debate that seems already outdated Moreover why

limit yourself to these two components when we know that our world requires ever

more non-cognitive Faced with such findings we propose to deliberately opt for a

personalized assessment for a collective through which knowledge is synonymous

with being centration learner knowledge seem possible to evaluate the ability of

identification and distancing (or how to get into the skin of another subject or object)

and of becoming allows trainers passing a dialectic subject object to a trialectic

subject object project On a practical level this approach prioritizes a multi-profile

incorporating formative assessment and ongoing evaluation of a hand a test of

knowledge and skills as a normative assessment of the other and finally a custom

project to assess knowledge become

Keywords Evaluation knowledge skills non-cognitive customization project

Introduction

Si certains chercheurs comme Bertemes posent la question de faccedilon radicale laquo A quoi

sert lrsquoeacutecole Est-ce qursquoelle sert agrave preacuteparer les eacutelegraveves agrave reacutepondre aux questions qursquoon

leur pose agrave lrsquoeacutecole ou est-ce qursquoelle sert agrave preacuteparer agrave la vie et donc agrave des questions

auxquelles on nrsquoest pas preacutepareacute raquo (Bertemes 2012) le grand deacutebat qui agite la

recherche en eacuteducation et la recherche appliqueacutee depuis au moins deux deacutecennies est

celui qui oppose une eacutevaluation dite traditionnelle en lrsquooccurrence celle des acquis de

savoirs que certains veulent assimiler au deacuteveloppement drsquoune culture et une

eacutevaluation de compeacutetences ou savoir-faire qui prend le dessus aujourdrsquohui avec

lrsquoapproche par compeacutetences et qui pour certains repreacutesente une reddition face au

marcheacute dominant et au pouvoir eacuteconomique et financier

Mais ce deacutebat nrsquoest-il pas un peu superficiel et ne nous eacuteloigne-t-il pas du vrai deacutebat

On peut se le demander pour au moins deux raisons

1 Pourquoi opposer deux types drsquoeacutevaluation qui semblent incontournables pour une

formation complegravete dans les apprentissages de tout acteur social en formation

Savoirs et savoir faire connaissances et compeacutetences sont en effet deux composantes

vitales pour toute formation

2 Ce dilemme ne masque-t-il pas un manque criant pour revaloriser drsquoautres savoirs

ou compeacutetences comme les savoir-ecirctre savoir-paraicirctre et surtout les savoir-devenir

qui devraient jouer aujourdrsquohui un rocircle preacutepondeacuterant dans la formation de tout acteur

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social drsquoune eacuteconomie de marcheacute au sein de laquelle le non-cognitif prend chaque fois

plus de place (deacuteveloppement personnel capaciteacute pour ecirctre autonome capaciteacute pour

participer et srsquointeacutegrer dans un projet)

Aussi dans un premier temps nous eacutevoquerons cette dichotomie

laquo savoirscompeacutetences raquo pour mieux en deacutenoncer les limites par rapport au monde

drsquoaujourdrsquohui Dans un second temps nous mettrons en avant lrsquoimportance de

deacutevelopper drsquoautres savoirscompeacutetences comme ceux mentionneacutes auparavant pour

finalement transmettre comment nous travaillons dans la pratique les savoir-ecirctre

savoir paraicirctre et savoir devenir agrave travers trois grands types drsquoeacutevaluations que nous

deacuteveloppons dans nos formations agrave lrsquoUniversiteacute Autonome de Madrid en Espagne

eacutevaluation continue et formative (savoir-ecirctre savoirs savoir-faire savoir paraicirctre)

eacutevaluation normative (savoirs savoir faire) et projets ( savoir devenir savoir ecirctre

savoirs savoir faire)

1 De lrsquointerpreacutetation contradictoire des neacutecessiteacutes de lrsquoeacuteconomie de marcheacute ou la

focalisation des recherches autour de la dichotomie laquo savoirssavoir faire raquo ou

laquo connaissancescompeacutetences raquo

11 La survalorisation du cognitif priorise le reacutesultat sur le processus

Pour nombre de chercheurs lrsquoeacuteconomie de marcheacute doit imposer ses critegraveres et

privileacutegier lrsquoeacutevaluation des acquis De cette sorte les reacutesultats sont toujours prioritaires

par rapport aux processus et les reacutesultats attendus doivent toujours ecirctre obtenus

rapidement Une telle prise de position amegravene agrave ce que la plupart des systegravemes

scolaires soient reacuteguleacutes par une routine drsquoeacutevaluations scolaires sous forme drsquoitems et

de grilles de critegraveres qui assurent la permanence et la fiabiliteacute statistique dont sont

demandeurs les parties prenantes et les deacutecideurs de lrsquoeacuteducation en lrsquooccurrence les

autoriteacutes publiques les parents drsquoeacutelegraveves les propres eacutelegraveves et leurs professeurs

Or les tests passeacutes par les eacutelegraveves qui portent la plupart du temps sur un petit nombre

de compeacutetences de base (expression eacutecrite et matheacutematiques) ont pour fonction non

pas deacutevaluer les eacutelegraveves mais de mesurer la capaciteacute des eacutecoles et parfois des

enseignants agrave remplir les objectifs de niveau et de progression qui leur ont eacuteteacute

assigneacutes Des reacutesultats deacutependent le jeu des incitations de telles incitations pouvant

ecirctre des primes agrave la performance ou bien des sanctions ces sanctions pouvant aller

jusqursquoagrave la fermeture de leacutecole (A Vinokur 2008)

Par ailleurs la floraison des classements et des palmaregraves a tendance agrave creacuteer une

deacuteviation dans le sens ougrave la plupart des institutions eacutevalueacutees attrapeacutees dans un

systegraveme comparatif brut cherchent plus agrave imiter les leaders du palmaregraves qursquoagrave

ameacuteliorer leurs propres reacutesultats Ce pheacutenomegravene de deacuteviation a tendance agrave se

reacutepercuter agrave tous les niveaux des institutions scolaires et des diffeacuterents acteurs qui y

collaborent

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12 De la focalisation superficielle sur un deacutebat deacutejagrave deacutepasseacute en lrsquooccurrence celui

de lrsquoopposition laquo savoirs savoir-faire raquo

Sur le terrain les savoirs imposeacutes ne prennent peut-ecirctre plus autant le dessus

aujourdrsquohui mais lrsquoapproche par compeacutetences ne reacutesout en rien le fond de la question

de lrsquoeacutevaluation car de fait laquo lrsquoapproche par compeacutetences permettrait drsquoinsister sur la

transformation en profondeur de lrsquoorganisation cognitive de lrsquoeacutelegraveve car il srsquoagit bien de

voir comment le savoir est approprieacute et opeacuterationnaliseacute dans des contextes varieacutes et

non pas seulement reacutepeacuteteacute ou restitueacute dans les mecircmes conditions de son acquisition raquo

(Rey Carette Defrance et Kahn 2006) Toutefois la plupart des deacutefenseurs de

lrsquoapproche par compeacutetences ont tendance agrave vouloir reacuteduire le rocircle de la culture de

lrsquoeacuterudition et de lrsquoacquisition des connaissances dans leur deacutesir de privileacutegier la mise en

action et la mise en reacutealisation en contextes diversifieacutes de connaissances mettant en

avant une opposition artificielle justifiant leurs theacuteories

Crsquoest ainsi que pour de nombreux chercheurs la dialectique sujet apprenant-objet

drsquoapprentissage formate lrsquoensemble des terrains et lrsquoeacuteducation doit choisir entre une

eacutevaluation au service de lrsquoeacuteconomie de marcheacute en lrsquooccurrence celle de socieacuteteacutes

avides de compeacutetences reacutepondant agrave leurs besoins les plus impeacuterieux en matiegravere de

marcheacute du travail ou une eacutevaluation au service de lrsquoeacuteducation et de la formation

culturelle des citoyens apprenants qui seraient lieacutees agrave lrsquoacquisition de connaissances

Dans le premier cas il suffit alors de deacuteterminer uniquement lrsquoobjet agrave eacutevaluer et le

modus operandi le plus efficace Neacuteanmoins lrsquoeacutevolution du monde actuel en matiegravere

de formation et de deacuteveloppement professionnel avec en toile de fond une

globalisation chaque fois plus imposante nous amegravene agrave interpeller et agrave questionner

cette dichotomie que nous jugeons artificielle

13 Pourquoi se limiter aux deux composantes du cognitif dans un monde qui

requiert chaque fois plus du non-cognitif

Pour aborder la probleacutematique que soulegraveve la limitation de lrsquoeacutevaluation au cognitif je

me permettrai une longue citation de Hallak qui me semble reacutesumer parfaitement la

situation actuelle laquo La certification des compeacutetences par un systegraveme international

constitue une veacuteritable chance pour lrsquoeacuteducation si la course agrave lrsquoexcellence se traduit

effectivement par une ameacutelioration de la qualiteacute de lrsquoeacuteducation et de la transparence

dans lrsquoeacutevaluation des compeacutetences Cette ameacutelioration ne pourra srsquoeffectuer que si les

compeacutetences acquises au sein de lrsquoeacutecole et des diffeacuterentes formes drsquoeacuteducation

informelle reacutepondent le plus exactement possible aux neacutecessiteacutes du marcheacute Or les

capaciteacutes neacutecessaires seront de plus en plus de lrsquoordre du non-cognitif

(eacutepanouissement personnel et autonomie capaciteacute de participation et drsquointeacutegration)

Ce sont autant drsquoaptitudes qui sont difficilement quantifiables et standardisables Il

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faut donc chercher le moyen de standardiser et eacutevaluer non seulement les

compeacutetences cognitives mais aussi celles qui ne le sont pas Lrsquoeacutechec dans cette mission

risquerait drsquoentraicircner deux conseacutequences drsquoune part tout systegraveme de certification

deviendrait inefficace puisqursquoil ne reacutepondrait pas aux exigences du marcheacute qui a

besoin drsquoune source drsquoinformation sucircre sur laquelle fonder les critegraveres de recrutement

drsquoautre part le reacuteductionnisme du systegraveme drsquoeacutevaluation des aptitudes a toutes les

chances de se reacutepercuter sur la qualiteacute de lrsquoeacuteducation qui tendrait agrave limiter son action agrave

lrsquoapprentissage du savoir raquo (Hallak1998) Et jrsquoajouterai seulement qursquoil en est de mecircme

en ce qui concerne lrsquoapprentissage des savoir faire

De fait les savoirs et les savoir faire ne sont plus les seuls reacutefeacuterences les savoir-ecirctre

qui integravegrent les attitudes et les comportements les savoir-paraicirctre qui traitent de la

capaciteacute drsquointerpreacutetation de rocircles diversifieacutes ouvrant au deacuteveloppement social et

socioprofessionnel et surtout les savoir devenir ou la capaciteacute agrave se projeter en tant

qursquoindividu apprenant dans une socieacuteteacute et un monde professionnel et agrave mettre en

devenir les projets en question doivent ecirctre preacutesents au moins agrave la mecircme hauteur que

les savoirs et les savoir faire De fait le rocircle important qursquoils jouent aujourdrsquohui dans

les recrutements de lrsquoeacuteconomie de marcheacute qui nous gouverne ne peut ecirctre minoreacute

2 Pourquoi opter pour une eacutevaluation personnaliseacutee au service drsquoun collectif

Sur le terrain des enseignements-apprentissages des langues sur lequel nous

travaillons et au vu des eacutevolutions sociales et socioprofessionnelles des derniegraveres

anneacutees les savoir-ecirctre les savoir devenir et les savoir paraicirctre sont devenus chaque

fois plus deacuteterminants plus encore que les savoirs et les savoir faire car ils jouent un

rocircle de valeur ajouteacutee incontournable En effet la plupart des institutions

europeacuteennes et mondiales mettent en avant le rocircle de la recherche et de lrsquoinnovation

comme facteurs deacuteterminants du deacuteveloppement des socieacuteteacutes et des individus mais

oublient tregraves souvent que cette recherche et cette capaciteacute drsquoinnovation passent par

des compeacutetences lieacutees directement aux savoir-ecirctre aux savoir paraicirctre et aux savoir

devenir Or ces trois piliers du deacuteveloppement suggegraverent une eacutevaluation qui ne soit

plus normative et anonyme mais bien personnaliseacutee

21 Le savoir-ecirctre ou la centration sur lrsquoapprenant

Partir des acteurs en formation crsquoest privileacutegier leurs repreacutesentations et favoriser la

diversiteacute et lrsquoinnovation Cela nous oblige agrave regarder de pregraves leurs biographies leurs

profils et leurs expeacuteriences

Pour prendre un exemple sur le terrain qui nous occupe plus particuliegraverement celui

de lrsquoapprentissage des langues ces derniegraveres sont lieacutees directement aux cultures et

dans ce domaine les repreacutesentations jouent un rocircle fondamental pour ce qui est de la

construction des compeacutetences de telles compeacutetences pouvant devenir selon les

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expeacuteriences ou des freins ou des moteurs du deacuteveloppement dans les apprentissages

(Brouteacute 2011) Le savoir-ecirctre ou travail sur les repreacutesentations de chacun et de tous

et notamment lrsquoeacutetude des steacutereacuteotypes de mecircme que la prise en compte des attitudes

et des comportements dans lrsquoapprentissage entre autres la participation lrsquointeacutegration

au sein du groupe classe la toleacuterance envers les autres et lrsquoouverture agrave autrui dans sa

diffeacuterence doivent ecirctre au cœur de ces apprentissages

Toutefois nous avons donc affaire agrave une composante difficilement quantifiable et cela

peut repreacutesenter un obstacle insurmontable agrave lrsquoheure drsquoeacutevaluer les apprenants mais

nous savons que nous ne pouvons en faire lrsquoeacuteconomie et que selon chaque terrain

des outils speacutecifiques peuvent ecirctre mis en place de tels outils permettant une

eacutevaluation certes non scientifique mais empirique et efficace ce qui importe le plus

dans le cas preacutesent

22 Le savoir paraicirctre ou la capaciteacute drsquoidentification et de distanciation

Arriver agrave se mettre dans la peau de lrsquoautre comporte plus drsquoun avantage en ce qui

concerne la compreacutehension des ecirctres sur le terrain de lrsquoapprentissage Une telle

compeacutetence se deacuteveloppe gracircce agrave lrsquointerpreacutetation de rocircles divers et diffeacuterents de soi

que ces rocircles soient de lrsquoordre du sujet ou de lrsquoobjet

Une fois mises agrave jour les repreacutesentations des acteurs en formation gracircce au travail sur

leur biographie et au diagnostic les deux ayant la vertu de favoriser une prise de

conscience le travail doit se centrer sur lrsquoeacutevolution de lrsquoapprenant ou sa capaciteacute agrave

eacutevoluer en tant qursquoacteur social et socioprofessionnel au sein drsquoune socieacuteteacute

changeante et multiple Un tel deacuteveloppement met en relief lrsquoimportance de travailler

et drsquoeacutevaluer la capaciteacute agrave interpreacuteter des rocircles diffeacuterents de soi de se mettre dans la

peau de lrsquoautre non seulement lrsquoautre en tant qursquoacteur de la formation mais aussi

lrsquoautre en tant qursquoobjet diffeacuterent agrave traiter notamment agrave travers un travail sur

lrsquoinduction Ce savoir paraicirctre ou interpreacutetation de rocircle favorise le deacuteveloppement

drsquoune capaciteacute agrave se transposer dans lrsquoautre donc agrave faire des hypothegraveses agrave induire des

solutions (E Goffman Les cadres de lrsquoexpeacuterience 1974 1991) Une telle compeacutetence

joue un rocircle chaque fois plus important dans un monde ougrave la recherche et lrsquoinnovation

repreacutesentent des piliers incontournables du deacuteveloppement eacuteconomique des socieacuteteacutes

23 Le savoir devenir ou le passage de la dialectique laquo sujetobjet raquo agrave la trialectique

laquo sujet objet projet raquo

La trialectique sujet-objet-projet doit prendre le dessus par rapport agrave la dialectique

sujet-objet qui domine les terrains de lrsquoenseignement-apprentissage depuis plusieurs

deacutecennies En effet lrsquoeacutecole doit ecirctre le reflet de la socieacuteteacute mais elle doit en ecirctre aussi

lrsquoespoir lrsquoespoir de millions drsquoapprenants avec leurs biographies en devenir et

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surtout avec leurs projets personnels qui restent la base inconsciente de tout projet

drsquoapprentissage

Pour revenir au terrain qui nous occupe plus particuliegraverement en lrsquooccurrence celui de

lrsquoenseignement-apprentissage des langues eacutetrangegraveres il faut souligner lrsquoimportance

des relations dans les compeacutetences interactionnelles ces derniegraveres illustrant des

compeacutetences majeures (Brouteacute 2014) De lagrave la neacutecessiteacute de la reconnaissance des

personnes en tant que telles et en tant qursquoindividus deacuteveloppant un projet personnel

de futur sachant que chacun et chacune possegravede un profil diffeacuterencieacute drsquoapprentissage

Crsquoest ainsi que depuis quinze ans sur le terrain preacuteciteacute nous avons deacuteveloppeacute un

systegraveme drsquoeacutevaluation des compeacutetences qui prend en compte tous les profils

drsquoapprentissage Gracircce une combinaison actualiseacutee en permanence drsquoeacutevaluations

formatives continues et sommatives au centre desquelles lrsquoautoeacutevaluation joue un

rocircle fondamental sans avoir recours agrave une quelconque deacutemagogie nous avons mis en

place dans nos eacutetudes un systegraveme qualitatif drsquoeacutevaluation des eacutetudiants que nous allons

exposer plus en avant en preacutecisant lrsquoapproche et ses applications pratiques tout en

proposant plusieurs exemples et plusieurs cas particuliers

3 Comment nous avons deacuteveloppeacute notre projet drsquoeacutevaluation personnaliseacutee au

service de la socieacuteteacute

En tenant compte des profils diffeacuterencieacutes drsquoapprenants nous avons opteacute pour trois

grands types drsquoeacutevaluation une eacutevaluation formative qui se projette agrave travers une

eacutevaluation continue une eacutevaluation axeacutee sur lrsquoautonomie drsquoapprentissage agrave travers un

projet personnaliseacute et une eacutevaluation normative axeacutee sur un controcircle de meacutemorisation

et drsquoacquisition de connaissances et de savoir-faire ou compeacutetences

31 Le projet formatif

Le projet formatif doit prendre en compte la neacutecessiteacute drsquoun suivi continu de

lrsquoapprentissage ce qui revient agrave dire que lrsquoeacutevaluation en question doit se vivre

reacuteellement au quotidien Concregravetement cela suppose une eacutevaluation de toutes les

activiteacutes reacutealiseacutees en assistance donc en classe en lrsquooccurrence les travaux reacutealiseacutes au

niveau individuel et en groupes les interventions orales ou eacutecrites de chaque

apprenant et bien sucircr la participation aux activiteacutes sans sous-estimer la coopeacuteration

avec les pairs lors des activiteacutes qui se deacuteveloppent en groupes Mais il ne faut pas

oublier non plus de prendre en consideacuteration tout ce qui doit ecirctre deacuteveloppeacute en

autonomie comme les travaux chez soi ou encore toutes les activiteacutes pratiques qui

requiegraverent une reacutealisation agrave lrsquoexteacuterieur du cadre de la classe Une telle eacutevaluation se

penche prioritairement sur les aspects formatifs deacuteveloppeacutes de faccedilon continue Elle

repreacutesente la veacuteritable prioriteacute car ce type drsquoeacutevaluation reconnaicirct lrsquoengagement dans

la formation un tel engagement eacutetant le requis de base de toute formation cette

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notion drsquoengagement eacutetant prise au sens que lrsquoentend E Goffman (Goffman 1974

1991)

En ce qui concerne notre terrain nous avons opteacute pour un systegraveme de reconnaissance

agrave partir de points accordeacutes en fonction du travail reacutealiseacute Pour prendre un exemple agrave

chaque seacuteance de cours la moitieacute des points concernent lrsquoaction en elle-mecircme ou le

fait de reacutealiser lrsquoactiviteacute demandeacutee lrsquoautre moitieacute repreacutesentant la valeur ajouteacutee agrave

travers laquelle la participation et la coopeacuteration sont fondamentales Sur lrsquoensemble

du cours nous calculons le nombre de points moyen par seacuteance pouvant traduire un

engagement moyen dans la formation Le calcul de lrsquoeacutevaluation se fait sur cette base

Par ailleurs il faut ajouter que tout travail reacutealiseacute en classe peut trouver une

compensation agrave travers les mecircmes travaux effectueacutes agrave lrsquoexteacuterieur ou drsquoautres travaux

ayant une valeur similaire Dans le contexte universitaire un tel principe de base est

vital pour certains eacutetudiants ayant lrsquoobligation de travailler en parallegravele de leurs

eacutetudes

32 Le test des connaissances et savoir-faire

Ce test permet de jauger non seulement la meacutemorisation et lrsquoacquisition de savoirs et

savoir-faire mais eacutegalement la capaciteacute du rendu ponctuel en temps limiteacute En effet si

certains de nos collegravegues ou chercheurs en eacuteducation procircnent lrsquoabandon de toute

eacutevaluation sommative nous consideacuterons pour notre part qursquoun tel abandon peut creacuteer

un handicap pour lrsquoapprenant dans la mesure ougrave le rendu en temps ponctuel reste un

des requis principaux de la plupart des terrains socioprofessionnels Par ailleurs il ne

faut pas oublier qursquoun grand nombre drsquoacteurs ont eacuteteacute formeacutes sur les bases drsquoune telle

eacutevaluation forgeant ainsi leur identiteacute et leur profil drsquoapprenant Tout miser sur

lrsquoautonomie de lrsquoapprenant pour des acteurs qui nrsquoont jamais eacuteteacute preacutepareacutes agrave une telle

autonomie peut conduire ces derniers agrave un eacutechec fracassant En effet lrsquoautonomie

drsquoapprentissage comme toute strateacutegie de conquecircte de la connaissance et de la

compeacutetence requiert son propre apprentissage ses habileteacutes et ses habitudes Au-

delagrave drsquoun tel constat il faut mettre aussi en avant que lrsquoexercice mneacutemotechnique

repreacutesente un axe de travail fondamental dans tout apprentissage et que refuser de le

soumettre agrave toute eacutevaluation perd en grande partie de son sens

Concregravetement pour nous et sur le terrain qui nous occupe il srsquoagit de veacuterifier certains

acquis incontournables tels que les contenus linguistiques pour ne citer que ces

derniers Dans ce contexte il srsquoagit de soumettre agrave eacutevaluation le passage de

lrsquoapprentissage agrave lrsquoacquisition en lrsquooccurrence la capaciteacute pour reacutepondre

spontaneacutement agrave une sollicitation de savoirs et de savoir-faire quelle qursquoelle soit et ce

dans des contextes diffeacuterents Dans ce cadre la notation relegraveve de lrsquoeacutevaluation

sommative et prend la forme drsquoune reconnaissance de lrsquoimportance relative de chacun

des contenus mis en jeu dans une telle eacutevaluation

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574

33 Le projet

Dans la compeacutetition mondiale de l eacuteconomie de la connaissance les produits

strateacutegiques sont deacutesormais moins ceux de lenseignement que de la recherche

deacuteveloppement (Vinokur 2008)

Le projet en tant que tel est la grande reacutefeacuterence de lrsquoapprentissage en termes

drsquoautonomie et drsquoautoeacutevaluation Lrsquoacteur en formation y deacuteveloppe des compeacutetences

de clarteacute dans le jugement de preacutecision dans la probleacutematique rechercheacutee de teacutenaciteacute

dans la recherche mecircme des informations de capaciteacutes drsquoexpression pour transmettre

le projet et les voies exploreacutees ainsi que les eacuteventuelles pistes agrave approfondir dans le

futur

ldquoOn srsquoaccorde souvent sur lrsquoideacutee que lrsquoeacutelegraveve compeacutetent est celui qui est capable de

reacutesoudre des tacircches complexes et ineacutedites qui demandent le choix et la combinaison

de proceacutedures apprises raquo (Carette 2009) De tels propos nous ont ameneacute agrave faire le

choix drsquoune deacutemarche rigoureuse drsquoeacutevaluation des compeacutetences ces derniegraveres

neacutecessitant de mettre lrsquoeacutelegraveve face agrave une situation complexe et ineacutedite ce qui pose un

problegraveme en termes de contrat didactique la plupart des eacutelegraveves comme des

enseignants estiment logiquement que lrsquoeacutevaluation porte sur des connaissances et des

compeacutetences qursquoon a enseigneacutees or la situation drsquoeacutevaluation de la compeacutetence ne

peut faire que difficilement lrsquoobjet drsquoun enseignement preacutealable (Kahn 2012) sauf si

on a les moyens de tester les capaciteacutes en jeu dans un contexte reacuteellement

socioprofessionnel

Or il faut ecirctre tregraves attentif car laquo ce qui est en jeu nrsquoest (donc) pas de confronter

lrsquoeacutelegraveve agrave des opeacuterations laquo infaisables raquo ou trop compliqueacutees pour son niveau mais lui

faire mettre en jeu une articulation diffeacuterente dlsquoopeacuterations deacutejagrave connues ou reacutealiseacutees raquo

(Geacuterard 2008) comme lors de la preacutesentation de son projet en public En effet si

lrsquoautonomie de lrsquoapprenant doit ecirctre totale en ce qui concerne le choix du sujet et de

la probleacutematique traiteacutes la recherche et le travail continu requis doivent ecirctre

accompagneacutes de maniegravere permanente jusque dans les moindres deacutetails Une autre

approche serait irresponsable

De cette sorte les rendez-vous avec les eacutequipes en projet (un deux ou trois eacutelegraveves)

sont constamment preacutesents que ce soit agrave la demande de lrsquoenseignant ou des

apprenants Quant agrave la phase de diffusion ou compte-rendu du projet en question elle

se conclut de maniegravere incontournable par une preacutesentation orale en public agrave travers

laquelle il nrsquoest pas tant question de montrer des reacutesultats que drsquoeacutechanger un

questionnement un processus une recherche et des pistes de reacuteflexion qui pourront

conduire eacuteventuellement dans le futur agrave un travail de recherche aux aspects plus

scientifiques ou pourquoi pas agrave une reacutealisation prenant la forme drsquoune production

faisant sur le marcheacute socioprofessionnel Lrsquoeacutevaluation se base alors plus sur la capaciteacute

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575

agrave parler du projet et de la deacutemarche qui lrsquoaccompagne plutocirct que drsquoun rendu eacuteventuel

Le projet est synonyme de projection de prise de conscience des enjeux personnels

face agrave un apprentissage de lrsquoaccomplissement drsquoun savoir devenir vital pour chaque

acteur apprenant Les critegraveres sur lesquels nous nous basons alors se reflegravetent sur la

fiche que nous avons transcrite en annexe (cf annexe p 10) et qui logiquement

illustrent non seulement des contenus abordeacutes mais eacutegalement une compeacutetence agrave

communiquer un thegraveme une probleacutematique et une recherche une telle

communication se reacuteveacutelant drsquoautant plus efficace que lrsquoapprenant srsquoest engageacute et srsquoest

centreacute sur le projet en question

Conclusion

Au-delagrave de la particulariteacute des diffeacuterentes eacutevaluations mises en avant la question de

lrsquoimportance relative de chacune dans le poids global de lrsquoensemble eacutevaluatif est

deacutecisive et ne peut ecirctre prise agrave la leacutegegravere De fait si nous avons fait le choix drsquoune

eacutevaluation fidegravele agrave la variation des profils drsquoapprentissage afin de permettre aux

acteurs de donner leur pleine mesure et drsquoecirctre eacutevalueacutes drsquoune maniegravere complegravete et

pertinente pour leur futur socioprofessionnel nous ne pouvons oublier complegravetement

quel est lrsquoobjectif et la prioriteacute deacutefinitifs de la formation et de son eacutevaluation En effet

comme nous lrsquoavons souligneacute au deacutebut de cet article lrsquoobjectif majeur de toute

formation et de son eacutevaluation doit ecirctre la personnalisation de cette formation afin

drsquoatteindre une autonomie drsquoaction et de deacuteveloppement chaque fois plus ample au

niveau de chacun des apprenants Ainsi donc lrsquoeacutevaluation du projet doit prendre plus

drsquoimportance au fur et agrave mesure du processus drsquoapprentissage tout en tenant compte

que le requis de lrsquoautonomie ne peut ecirctre le mecircme au deacutebut et agrave la fin de cet

apprentissage dans la mesure ougrave preacuteciseacutement les apprenants se forment

progressivement agrave cette autonomie Concregravetement pour prendre en compte tous ces

diffeacuterents paramegravetres nous avons opteacute sur notre terrain agrave la distribution suivante

pour ce qui est du premier cours eacutevaluation formative et projet repreacutesentent 30 de

lrsquoeacutevaluation totale et lrsquoeacutevaluation normative 40 Lors du deuxiegraveme cours le projet

passe agrave 40 alors que lrsquoeacutevaluation sommative se reacuteduit agrave 30 Enfin le dernier et

troisiegraveme cours voit le projet repreacutesenter 50 de lrsquoeacutevaluation finale alors que

lrsquoeacutevaluation sommative se reacuteduit agrave 20 Comme on peut le constater lrsquoeacutevaluation

continue ou formative se maintient agrave 30 tout au long du processus de formation

Les choix que nous avons effectueacutes en matiegravere drsquoeacutevaluation donnent des reacutesultats plus

que probants et nous sommes convaincus de leur pertinence sur drsquoautres terrains et

pour drsquoautres publics ce qui nous amegravene agrave encourager de nombreux formateurs agrave

travailler dans un sens proche du nocirctre La centration sur lrsquoapprenant nrsquoeacutecarte en rien

la prise en compte du reacuteel gracircce agrave une volonteacute afficheacutee en permanence drsquoun

deacutepassement des activiteacutes transformeacutees ou activiteacutes simulant la reacutealiteacute (exercices

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576

tests divershellip) pour srsquoouvrir chaque fois plus au reacuteel ou agrave la vie sociale Une telle

exigence doit aussi nous amener agrave ecirctre attentifs en permanence quant aux eacutevolutions

des requis sur les marcheacutes socioprofessionnels et pour ce qui est de la formation une

telle exigence se traduisant alors en de constantes actualisations rapides efficaces et

susceptibles de provoquer un engagement absolu des apprenants

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Page 2: ATAS do VI Encontro do CIED I Encontro Internacional em ...repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/3547/1/Atas VI Encontro do CIED 3. 2014.pdfResumo: De acordo com a informação fornecida

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

i

Publicado em marccedilo de 2014 por CIED - Centro de Interdisciplinar de Estudos Educacionais

Esta publicaccedilatildeo conteacutem as comunicaccedilotildees apresentadas no VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos nos dias 15 e 16 de novembro de 2013 na Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa Instituto Politeacutecnico de Lisboa organizado pelo CIED com o apoio da Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa httpwwweselxiplptciedeventos_VI_ptindex_vi_encontro_pthtml ISBN 989-98421

Design Susana Torres

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

ii

Iacutendice

AVALIACcedilAtildeO DE POLIacuteTICAS DE EDUCACcedilAtildeO E DE INTERVENCcedilAtildeO SOCIOCULTURAL

Evaluaciones nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el

contexto Europeo _Heacutector Monarca amp Javier Valle

3

Las evaluaciones externas en la Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa de Espantildea _

Heacutector Monarca

16

Poliacuteticas para el aseguramiento de la calidad en la ensentildeanza obligatoria de Espantildea _ Heacutector

Monarca Soledad Rappoport amp Cristina Soto

29

Animaccedilatildeo e Animadores Socioculturais incertezas e controveacutersias de umaocupaccedilatildeo professional _

Antoacutenio Batista

39

Avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo socioeducativa sobre a violecircncia na escola _ Joana Campos Joatildeo Sebastiatildeo

Sara Merlini amp Mafalda Chambino

61

A avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino de muacutesica entre a estandardizaccedilatildeo e as singularidades _

Antoacutenio Acircngelo Vasconcelos

79

AVALIACcedilAtildeO DAS APRENDIZAGENS

Desenvolvimento do conceito de acircngulo Um estudo no 5ordmano de escolaridade _ Marisa Bernardo amp

Margarida Rodrigues

96

O aacutelbum infantil alguns criteacuterios de seleccedilatildeo _ Encarnaccedilatildeo Silva amp Helena Barroso 116

Avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua _Patriacutecia Ferreira

Santos

132

Teatro no curriacuteculo avaliar o quecirc e para quecirc _ Miguel Falcatildeo 148

Praacuteticas de literacia e avaliaccedilatildeo da competecircncia da escrita _ Maria da Conceiccedilatildeo Pires amp Joseacute Antoacutenio

Brandatildeo Carvalho

165

Relatoacuterio de Estaacutegio que desafio(s) para a avaliaccedilatildeo das aprendizagens Uma anaacutelise a partir de um

Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar numa Escola Superior de Educaccedilatildeo _ Ana Simotildees

185

O Portefoacutelio e a aprendizagem no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico _ Inecircs Pimente amp Jorge Pinto 208

Problematizar a Metodologia de Projeto articulando e avaliando aprendizagens _ Irene Cortesatildeo

Costa Ivone Neves amp Paula Pequito

Transversalidade e continuidade em educaccedilatildeo Um olhar criacutetico sobre as especificidades do

educador de infacircncia e do professor do 1ordm ciclo do enino baacutesico _ Diana Cunha Ivone Neves amp Ana

Pinheiro

223

241

Como avaliar as aprendizagens das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo Musical _ Maacuterio Relvas 256

Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) e as implicaccedilotildees e

desafios nas praacuteticas de gestores e docentes de escolas puacuteblicas (2007-2012) _ Maluacute de Souza

Fernandes amp Rita de Cassia Gallego

271

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

iii

Desafios da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior um exame dos discursos presentes em perioacutedicos

educacionais brasileiros (2000-2010) _ Dislane Zerbinatti Moraes Rita de Cassia Gallego amp Vivian

Batista da Silva

287

Praacutetica de ensino supervisionada no 1ordm e no 2ordm ciclo do ensino baacutesicoo interesse dos alunos pela

aacuterea de estudo do meio _ Carina Ferreira amp Antoacutenio Almeida

301

A coavaliaccedilatildeo entre pares e regulaccedilatildeo das aprendizagens _ Helga Machado Jorge Pinto 317

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo na educaccedilatildeo da retoacuterica a praacutetica _ Leila Pessocirca da Costa 332

Consideraccedilotildees sobre o erro na avaliaccedilatildeo escolar_ Leila Pessocirca da Costa amp Janira Siqueira Camargo 348

Avaliaccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas Preacute-Escolares com e sem problemas

de linguagem _ Tacircnia Fernandes amp Joatildeo Rosa

Compreensatildeo na leitura e resoluccedilatildeo de problemas de matemaacutetica _ Cacircndida Ribeiro Faacutetima Cruz

Manuela Coelho amp Maria da Luz Fragoso

Dez anos de investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das aprendizagens (2001-2010) uma siacutentese de teses de

doutoramento _ Domingos Fernandes amp Andreia Gaspar

362

383

399

O desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo mediado pela apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo _ Inecircs

Bruno amp Leonor Santos

415

AVALIACcedilAtildeO DE POLIacuteTICAS DE ORGANIZACcedilOtildeES

A institucionalizaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas atraveacutes de mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e

traduccedilatildeo anaacutelise cognitiva de uma poliacutetica puacuteblica _ Elvira Tristatildeo

Avaliaccedilatildeo de Capacidades e Competecircncias Contributospara uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade

_ Ricardo Machado Margarida Ceacutesar amp Joseacute Manuel Matos

Avaliar para conhecer A Avaliaccedilatildeo Externa vs Documentos Norteadores da Praacutetica Letiva ndash

(des)Articulaccedilatildeo _ Madalena Teixeira Rosaacuteria Correia amp Susana Pereira

AVALIACcedilAtildeO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

434

450

469

Contributos da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional de Assistentes

Operacionais no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico _ Fernando Ferraz amp Joatildeo Rosa

486

Avaliaccedilatildeo do Desempenho Docente Percepccedilotildees de professores sobre o modelo e os seus criteacuterios _

Alan Stoleroff amp Patriacutecia Santos

502

Avaliaccedilatildeo de desempenho docente feita pelos alunos um estudo no ISCED do Sumbe _ Eduardo

Nangayafina

O (re) conhecimento da estrutura passiva por alunos do Ensino Superior_ Antoacutenia Estrela

517

536

Trajetoacuterias profissionais de professores mdash casos de diplomados da ESELx _ Clara Rolo Cristina

Loureiro amp Carolina Gonccedilalves

547

Une eacutevaluation au service des apprenants de leurs projets et de la socieacuteteacute entiegravere _ Alain Brouteacute 566

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

1

Introduccedilatildeo

Os artigos reunidos nestas atas pretendem divulgar as comunicaccedilotildees realizadas pelosas

participantes no VI Encontro do CIED ndash Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos que decorreu na Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa nos dias 15 e 16 de novembro de 2013 O Encontro foi

dinamizado pelo CIED ndash Centro de Interdisciplinar de Estudos Educacionais e pela Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa que reuacutene a investigaccedilatildeo realizada na instituiccedilatildeo no acircmbito

da Educaccedilatildeo Formaccedilatildeo de Professores e outros agentes educativos

Os objetivos iniciais foram (i) Promover a apresentaccedilatildeo de trabalhos cientiacuteficos no acircmbito da

educaccedilatildeo (formal e natildeo formal) estimulando o debate sobre as questotildees atuais que afetam os

muacuteltiplos contextos (ii) Estimular a formaccedilatildeo de parcerias cientiacuteficas entre Investigadores e

Educadores (iii) Contribuir para a anaacutelise dos processos e resultados de avaliaccedilatildeo em

diferentes contextos (iv) Promover o debate e a anaacutelise dos efeitos dos diferentes modelos e

praacuteticas de avaliaccedilatildeo

Na tentativa de cobrir todos os contextos e atores implicados nesta temaacutetica este volume estaacute

organizado de acordo com quatro eixos temaacuteticos tambeacutem abordados no Encontro I

Avaliaccedilatildeo de poliacuteticas de educaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo sociocultural 2 Avaliaccedilatildeo das

aprendizagens 3 Avaliaccedilatildeo de organizaccedilotildees e 4 Avaliaccedilatildeo e desenvolvimento profissional

O primeiro eixo ndash Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo e de Intervenccedilatildeo Sociocultural - pretende

dar conta dos processos dos aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos e poliacuteticos que orientam a

avaliaccedilatildeo de poliacuteticas educativas A avaliaccedilatildeo parece surgir como resposta para a resoluccedilatildeo de

problemas tatildeo complexos e diversos como o desempenho profissional de professores e outros

agentes educativos a melhoria da qualidade das escolas e seus serviccedilos educativos o

incremento da qualidade das aprendizagens dos alunos e tambeacutem da performance dos

sistemas educativos nacionais formais e natildeo formais

O segundo eixo ndash Avaliaccedilatildeo das Aprendizagens ndash daacute conta do processo de avaliaccedilatildeo das

aprendizagens nas diversas aacutereas cientiacuteficas utilizando conceccedilotildees eou accedilotildees e praacuteticas do

professor como unidade de anaacutelise bem como os processos utilizados com os alunos em

contexto de sala de aula Vaacuterios textos datildeo conta de diferentes instrumentos e metodologias

com vista a uma avaliaccedilatildeo eficaz e efetiva dos processos de aprendizagem

Por sua vez o terceiro eixo ndash Avaliaccedilatildeo de Organizaccedilotildees ndash ocupa-se da anaacutelise e avaliaccedilatildeo dos

processos organizativos das instituiccedilotildees e dos seus impactos Satildeo abordados os princiacutepios das

organizaccedilotildees e as suas dimensotildees de avaliaccedilatildeo destacando especificidades que caracterizam

os contextos em avaliaccedilatildeo e contribuindo para um corpo teoacuterico relativo agrave avaliaccedilatildeo que seja

uacutetil para os atores que fazem parte dessa realidade

Por fim o quarto eixo ndash Avaliaccedilatildeo e Desenvolvimento Profissional ndash foca a importacircncia da

avaliaccedilatildeo como ferramenta do desenvolvimento profissional dos agentes educativos neste

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

2

caso particular dos docentes Os textos abordam natildeo soacute os conceitos e a filosofia do

desenvolvimento profissional como tambeacutem datildeo conta de processos de formaccedilatildeo contiacutenua

que contribuem para a profissionalidade dos docentes

Todos os artigos publicados foram sujeitos a blind referee

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

3

Evaluaciones nacionales e internacionales como poliacutetica de

mejora de la educacioacuten en Espantildea en el contexto Europeo1

HECTOR MONARCA

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales hectormonarcauames

JAVIER VALLE

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales Jmvalleuames

Resumen

La presente comunicacioacuten se enmarca en el proyecto de investigacioacuten ldquoEvaluaciones

nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el contexto

Europeordquo (referencia CEMU-2013-20) financiado en el marco de la segunda convocatoria

competitiva de Proyectos de Investigacioacuten Multidisciplinares de la Universidad Autoacutenoma de

Madrid aprobada por el Consejo de Gobierno del 8 de febrero de 2013 En este caso el

objetivo principal de la comunicacioacuten es dar a conocer el proyecto aunque sin avanzar en sus

resultados dado la fase en la que nos encontramos

El proyecto que aquiacute se presenta se enmarca dentro de las poliacuteticas de evaluacioacuten de la calidad

de la educacioacuten La propuesta se hace desde un claro abordaje multidisciplinar tanto desde el

punto de vista epistemoloacutegico como metodoloacutegico Los sistemas de evaluacioacuten de la calidad de

la educacioacuten se han transformado en un dispositivo clave para los gobiernos en los procesos de

mejora educativa En Espantildea se vienen incorporando estas poliacuteticas de forma sistemaacutetica a

nivel estatal y autonoacutemico En esta tendencia encontramos una clara justificacioacuten para

implementar un proyecto de estas caracteriacutesticas capaz de indagar en lo que estas poliacuteticas

1 La presente comunicacioacuten se desprende del disentildeo del proyecto de investigacioacuten del mismo nombre

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

4

aportan realmente a la mejora educativa En este sentido se pretende realizar un trabajo de

investigacioacuten multidisciplinar que ofrezca posibles respuestas a dos interrogantes clave iquestson

las pruebas externas una herramienta para la mejora de la educacioacuten en Espantildea Pregunta

que bajo la hipoacutetesis que surge a la luz de los aportes de las investigaciones y bibliografiacutea

revisadas lleva a una segunda iquestcoacutemo pueden estas pruebas convertirse en una herramienta

de mejora Los objetivos de esta investigacioacuten giran en torno a estos dos interrogantes

Aspectos que seraacuten abordados en esta comunicacioacuten

Palabras clave Sistemas de Evaluacioacuten Poliacuteticas Educativas Mejora Educativa

Resumo De acordo com a informaccedilatildeo fornecida pelo Instituto Nacional de Avaliaccedilatildeo (2012)

Espanha participou nas ediccedilotildees de 1990 2006 e 2011 do PIRLS e nas ediccedilotildees de 1995 e 2011

do TIMSS Por outro lado em 2009 o nosso paiacutes participou pela primeira vez no Estudo

Internacional de Civismo e Cidadania (Instituto de Avaliaccedilatildeo 2010) Finalmente Espanha

participa no Programa para a Avaliaccedilatildeo Internacional dos Alunos (PISA) Conjuntamente com

essas avaliaccedilotildees internacionais tanto a niacutevel estatal como regional foram implementadas

outras provas externas Esta tendecircncia foi reforccedilada e alargada pela nova Lei Orgacircnica para a

Melhoria da Qualidade Educativa (LOMCE) aspeto que seraacute analisado nesta apresentaccedilatildeo A

proliferaccedilatildeo destas praacuteticas pode ser analisada a partir de diversas perspetivas Nesta

apresentaccedilatildeo faz-se uma aproximaccedilatildeo sustentada em numerosos escritos recentes (Peacuterez y

Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006 etc) que alertam sobre o impacto dos sistemas de

avaliaccedilatildeo nas praacuteticas de ensino Por outro lado a partir desta abordagem criacutetica defende-se

que as evidecircncias sobre o que estas contribuem para a melhoria da educaccedilatildeo natildeo parecem ser

tatildeo abundantes

ANTECEDENTES Y ESTADO ACTUAL DEL TEMA

La preocupacioacuten por la calidad de la educacioacuten viene siendo una realidad cada vez maacutes

evidente tanto a nivel nacional como internacional Esto ha quedado reflejado en diversos

acuerdos europeos y ocupa un lugar clave en la estrategia de Lisboa reflejado en una serie de

objetivos en el campo educativo para el antildeo 2020 (Consejo de la Unioacuten Europea 2009) Junto

con esta preocupacioacuten estaacute la de ofrecer informacioacuten a la ciudadaniacutea sobre las poliacuteticas que sus

gobiernos desarrollan como una forma de laquodar cuentaraquo ofreciendo informacioacuten que permita

valorar las acciones que estos realizan Los sistemas nacionales de evaluacioacuten se ubican en esta

doble demanda ambas complementarias

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

5

En cualquier caso maacutes allaacute del consenso sobre la necesidad de los sistemas nacionales de

evaluacioacuten (Tiana 1996a EURYDICE 2010) siguen existiendo discrepancias de diverso tipo

sobre su naturaleza e implementacioacuten (Tiana 1996b Elmore 2004 Fullan 2006 Stobart

2008 Benavides 2010 Peacuterez amp Soto 2011 Monarca 2012a) Como cualquier otro aacutembito de

las ciencias sociales los sistemas nacionales de evaluacioacuten se encuentran atravesados por

muacuteltiples praacutecticas y demandas muchas de las cuales pueden ser contradictorias o generar

diferencias (Gimeno 1988 Moriacuten 2003 Marchesi 2011) En este sentido las investigaciones y

la literatura que hacen referencia a esta temaacutetica reflejan un debate a nivel teoacuterico y praacutectico

el cual es posible relacionar con los siguientes ejes

a Vinculado al sentido y objetivos de las pruebas nacionales La bibliografiacutea sobre el

tema suele identificar dos objetivos o sentidos principales (Tiana 1996b Anderson 2012

Pulido 2012)

a) Certificar rendimientos o competencias adquiridas al final de un proceso no tiene una

relacioacuten directa con la mejora educativa

b) Generar un conocimiento sobre el funcionamiento del sistema educativo los centros la

ensentildeanza y los procesos de aprendizaje no suelen ser frecuentes la existencia de

procedimientos de evaluacioacuten sistemaacuteticas que permitan obtener este tipo de conocimiento

Gran parte de las criacuteticas a los sistemas de evaluacioacuten se centran en este vaciacuteo (Earl amp

LeMahieu 2003 Myres amp Goldstein 2003 Peacuterez amp Soto 2011) Aunque la mayoriacutea de los

sistemas de evaluacioacuten hacen alguna referencia a este aspecto las investigaciones y literatura

que hacen referencia al mismo sostienen que esto no se estaacute logrando o al menos no como los

procesos de mejora demandariacutean (Romaacuten amp Murillo 2009) Ciertamente como lo demuestra

el estudio de EURYDICE (2010) es realmente reducido el nuacutemero de paiacuteses que realiza una

evaluacioacuten con un fin formativo

b Vinculado al contenido y caracteriacutesticas de estas pruebas Otro de los debates

importantes que evidencia la literatura dentro del campo de las evaluaciones externas es el

que hace referencia al contenido de las mismas y a las caracteriacutesticas que tienen que asumir

En esta liacutenea el ldquoPrograma para la Evaluacioacuten Internacional de Alumnosrdquo (Programme for

International Student Assessment PISA) ha introducido una importante novedad al centrar

sus evaluaciones en el desarrollo de competencias (Instituto de Evaluacioacuten 2011b) y asiacute un

nuevo elemento para el debate

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

6

c Vinculado al equilibrio entre la necesidad de obtener datos sobre rendimiento y el

riesgo de una evaluacioacuten excesiva Existe un constante debate entre los responsables poliacuteticos

y los profesionales de la educacioacuten sobre la necesidad de hallar un punto de equilibrio entre el

objetivo legiacutetimo de ofrecer un panorama actualizado sobre el rendimiento de los alumnos y

los efectos potencialmente negativos que las pruebas tienen sobre alumnos y profesores

especialmente en lo que se refiere al impacto de las pruebas sobre el tiempo efectivo de

ensentildeanza sobre el tiempo que se dedica a objetivos curriculares maacutes amplios asiacute como en

teacuterminos del estreacutes y la peacuterdida de motivacioacuten que pueden generar

d Vinculado al impacto sobre la ensentildeanza y posible restriccioacuten del curriacuteculo Se ha

puesto de manifiesto que las evaluaciones externas tienen una serie de efectos sobre el

desarrollo del curriacuteculo en general sobre aspectos especiacuteficos de la ensentildeanza y sobre las

mismas configuraciones de las representaciones en torno a la calidad educativa (Nichols amp

Berliner 2007 Abrantes 2010 Barquiacuten et al 2011 Peacuterez y Soto 2011 Monarca 2012a b)

Sintetizando la abundante literatura al respecto es posible identificar los siguientes aspectos

- Limitacioacuten de materias o competencias evaluadas cuando en las etapas obligatorias hay un

consenso de que la calidad de la educacioacuten tiene que ver con el desarrollo integral del sujeto

en un contexto de inclusioacuten

- Alteracioacuten del tiempo escolar estas alteraciones pueden reflejarse en dos aspectos

principales a) que en lugar de enfocar la ensentildeanza al desarrollo total y global de la

asignatura que se centre en ldquoentrenarserdquo para la prueba cuando esto ya ha sido cuestionado

hace deacutecadas (Hargreaves amp Fink 2006 Hopkins 2008) b) destinar maacutes tiempo de ensentildeanza

a aquellos aspectos que van a ser evaluados por tanto dejando sin cubrir o devaluando las

ensentildeanzas o el desarrollo de otros aspectos clave para el sujeto

- Informacioacuten escasa o nula sobre el proceso de aprendizaje y de ensentildeanza Aunque cada vez

maacutes son las pruebas que toman en cuenta el contexto y otras variables del centro escolar Lo

cierto es que la informacioacuten que se suele ofrecer como resultado de las evaluaciones se centra

en los ldquoresultados de aprendizajerdquo

- Se valora la informacioacuten externa en detrimento de las evaluaciones internas Este aspecto es

algo que ya estaacute siendo revertido en muchos paiacuteses con los cambios que se han introducido en

sus sistemas de evaluacioacuten Como refleja el estudio realizado por EURYDICE (2010) estos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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cambios apuntan a dar maacutes peso a las valoraciones que se realizan desde el propio centro algo

que tambieacuten constatoacute Hopkins (2008) en la revisioacuten que realizoacute de investigaciones anteriores

e Vinculado a la utilizacioacuten de los resultados de las pruebas para la mejora de los centros

y para el control y seguimiento de la calidad de la educacioacuten Los debates que recoge la

literatura sobre este aspecto se pueden sintetizar en dos liacuteneas argumentales distintas (Bonilla

2003 Derouet Normand amp Bessy 2009 Martiacuten amp Rizo 2011) La primera se vincula a los usos

relacionados con la mejora educativa En este sentido aunque la mayoriacutea de los paiacuteses

explicita la intencioacuten de usar estas pruebas con este fin y que en muchos de ellos existen

procedimientos para que esto se haga efectivo sigue siendo uno de los aspectos maacutes

cuestionados y debatidos (Romaacuten amp Murillo 2009 Barquiacuten et al 2011) La segunda liacutenea

argumental dentro de este aacutembito de debate tiene que ver con la forma en que los resultados

son comunicados a los centros a los estudiantes a sus familias y a la ciudadaniacutea en general

(Iaies 2003 Myres amp Goldstein 2003 MacLauchlan 2011) existe una importante coincidencia

en el efecto negativo que suelen tener las listas comparativas de centros escolares algo que

en Europa a diferencia de EEUU y Canadaacute suele ser una praacutectica poco frecuente incluso

legalmente prohibidas (EURYDICE 2010)

Por otra parte dentro de las investigaciones y la literatura podemos identificar tres aacutembitos

donde el debate vinculado con las praacutecticas relacionadas con las evaluaciones externas

asumen caracteriacutesticas que podemos diferenciar desde el punto de vista analiacutetico

a Desde el punto de vista de las poliacuteticas puacuteblicas en cuyo caso parece existir bastante

consenso sobre su necesidad sin embargo aunque este consenso es maacutes bien compartido

tanto por organismos internacionales como por la mayoriacutea de los estados nacionales hay

paiacuteses que como se ha visto se encuentra revisando la existencia de estos sistemas

b Desde el punto de vista de los profesionales de la educacioacuten dentro de los cuales

como es evidente se pueden encontrar diversos posicionamientos Sin embargo en algo en lo

que parece coincidir la investigacioacuten sobre esta temaacutetica es que la mayoriacutea de los profesores

no aprecia un aporte por parte de estos sistemas de evaluacioacuten para la mejora de su trabajo y

de la ensentildeanza Por otra parte ciertos sistemas de evaluacioacuten que establecen viacutenculos con el

salario merecen un anaacutelisis independiente

c Finalmente desde el punto de vista de los estudiantes de sus familias y de la

ciudadaniacutea en general una vez maacutes las investigaciones muestran disparidad de criterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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aunque parece existir cierta valoracioacuten de ciertas formas de evaluar muchas veces cuestionan

el tipo de informacioacuten que se ofrece a la poblacioacuten

Por otra parte a partir de la estudio realizada por EURYDICE (2010) se pueden identificar tres

tipos de pruebas existentes

a Pruebas que tienen un efecto importante en la trayectoria educativa de los estudiantes

(otorgar certificaciones tomar decisiones pedagoacutegicas promocioacuten etc) Son pruebas de

aprendizaje o sumativas y son realizadas al final de un curso escolar o de una etapa educativa

b Pruebas que tienen como finalidad principal evaluar a los centros escolares yo al mismo

sistema educativo En este caso los resultados de estas pruebas se toman como referente de

la calidad enfocada en ocasiones al profesorado a las praacutecticas educativas o a las mismas

poliacuteticas

c Pruebas cuya finalidad es evaluar el proceso de aprendizaje de los estudiantes a nivel

individual con el objetivo de identificar necesidades y ajustar las respuestas de ensentildeanza es

la denominada evaluacioacuten formativa

Cada uno de estos tipos da lugar a una praacutectica de evaluacioacuten con caracteriacutesticas especiacuteficas

las cuales influyen en los impactos que tienen en la mejora educativa Aunque la mayoriacutea de

los expertos dentro de este campo teoacuterico llegan a admitir que es posible la combinacioacuten y

coexistencia de estas tres pruebas muchos de ellos son criacuteticos con ciertos usos de las mismas

o con los usos maacutes frecuentes que terminan teniendo dentro de los sistemas de evaluacioacuten Sin

embargo maacutes allaacute de que existen importantes defensores de las evaluaciones sumativas las

tendencias actuales muestran una clara convergencia hacia modelos cuando miacutenimo mixtos

es decir que combinan procesos de control y evaluacioacuten externos con otros procesos

evaluativos y educativos internos La investigacioacuten realizada por Elmore (2004) y su equipo en

el distrito escolar de California muestra la importancia de enfocar las evaluaciones externas

como herramientas claramente orientadas a la mejora en la que tambieacuten han evidenciado la

importancia de la del trabajo colaborativo dentro del distrito como condicioacuten para la mejora

educativa En el caso estudiado por Elmore el foco no estuvo puesto en los centros de forma

aislada sino en el distrito como aacutembito de mejora de esta forma sostiene este autor la

competencia que aparece en otros procesos de evaluacioacuten y que muchas veces termina

siendo un obstaacuteculo en varios sentidos no se hace presente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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En otra investigacioacuten realizada por Fullan (2006) en Ontario es destacable la estrategia de

mejora empleada el objetivo fue el uso continuo de la informacioacuten para el desarrollo de

capacidades Trasladado esto a los sistemas de evaluacioacuten parece evidente de que si sus

resultados pueden relacionarse con aspectos a transformar en capacidades para la mejora

cambiariacutea notablemente la visioacuten de supervisioacuten burocraacutetica En una liacutenea similar Hopkins

(2008) sostiene a partir de una investigacioacuten sobre la calidad del sistema educativo de

Finlandia paiacutes que ha eliminado sus pruebas nacionales hasta los 19 antildeos que todo sistema de

rendicioacuten de cuentas debe desarrollar capacidades y generar confianza Para este autor un

sistema de rendicioacuten de cuentas debe ofrecer ldquohellip+ informacioacuten relevante y actualizada que

verdaderamente refleje las fortalezas y debilidades en cuanto al desarrollo del potencial de sus

alumnos Combina sistemas de escolares internos con distintos niveles de control externos

hellip+rdquo (Hopkins 2008155) Para eacutel la rendicioacuten de cuentas que mejora la calidad ofrece

informacioacuten para personalizar la educacioacuten es decir para detectar la respuesta educativa que

necesita cada estudiante para desarrollar el maacuteximo potencial e informacioacuten para abordar

aquellos aspectos del desarrollo profesional necesarios La evaluacioacuten centrada en el

conocimiento de la que habla Stake (2006) forma parte de este tipo de tendencias Este autor

no rechaza la evaluaciones sumativas sin embargo si la intencioacuten es la mejora sostiene que es

necesario inclinarse claramente hacia evaluaciones que generen un conocimientos sobre los

procesos y los resultados

En el marco de las investigaciones realizadas y de los debates dentro del campo de las

evaluaciones de la calidad educativa Hopkins (2008) en coincidencia con Fullan (2006)

considera que los sistemas de rendicioacuten de cuentas parecen ser una condicioacuten para la mejora

de la educacioacuten sin embargo esto muchas veces no sucede cuando dependen uacutenicamente o

de forma excesiva de formas externas y aboga por un sistema que combine procedimientos

externos e internos de rendicioacuten de cuentas para la mejora educativa algo que parece estar

configurando una nueva tendencia dentro de algunos paiacuteses europeos En esta misma liacutenea

Poggi (2008) sentildeala que para la mejora de la educacioacuten se hace necesario la conjuncioacuten de los

siguientes aspectos a) responsabilidad individual y colectiva (en distintos planos o niveles

desde el Estado hasta los alumnos pasando por docentes familias y otros actores) b) altas

expectativas sociales (y maacutes precisamente de la comunidad maacutes proacutexima a la institucioacuten

escolar) sobre el valor de la educacioacuten y c) condiciones adecuadas para el desarrollo del

proceso educativo y reglas y mecanismos democraacuteticamente construidos de rendicioacuten de

cuentas Como puede verse es necesario que no soacutelo se hable de la complejidad del sistema

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

10

educativo y de su evaluacioacuten en relacioacuten con la rendicioacuten de cuentas y la responsabilidad sino

que se evite la proposicioacuten de formas extremadamente simplificadas para llevarlas a cabo

En este contexto y teniendo en cuenta las necesidades de mejora educativa que han quedado

reflejadas en el Sistema Estatal de Indicadores 2011 (Instituto de Evaluacioacuten 2011) y los

compromisos que ha asumido Espantildea en esta direccioacuten (Instituto de Evaluacioacuten 2011b)

resulta imprescindible generar un conocimiento contrastado sobre las poliacuteticas de evaluacioacuten

externa en cuanto a lo que aportan para la mejora educativa Se enmarca asiacute dentro del

estudio de las poliacuteticas puacuteblicas

LAS POLIacuteTICAS DE EVALUACIOacuteN EN ESPANtildeA

La Ley Orgaacutenica 22006 de 3 de mayo de Educacioacuten (LOE) ha dado un lugar relevante a las

evaluaciones externas en ella se preveacute la realizacioacuten de evaluaciones generales de diagnoacutestico

con el objetivo de obtener datos de estudiantes y centros de las distintas comunidades

autoacutenomas y del conjunto del Estado Tomando como referente al programa PISA estas

evaluaciones se centraraacuten seguacuten la normativa en las competencias baacutesicas del curriacuteculo y se

realizaraacuten una en la ensentildeanza primaria (al finalizar segundo ciclo) y otra en la ESO (al finalizar

el segundo curso) De acuerdo con el marco teoacuterico definido con anterioridad estas

evaluaciones tendraacuten un caraacutecter formativo e interno

En cualquier caso la normativa contempla dos tipos de procesos uno de caraacutecter muestral es

decir a partir de la aplicacioacuten del diagnoacutestico a centros seleccionados y otra de caraacutecter censal

destinada a todos los centros Se establece una finalidad relacionada con la mejora e

innovacioacuten educativa definieacutendolas como formativas y orientadoras para los centros e

informativas para las familias y para la comunidad educativa En la misma ley se insiste por

otra parte en la necesidad de fomentar procesos de autoevaluacioacuten institucional

Ademaacutes de estas evaluaciones de diagnoacutestico de caraacutecter prescriptivo en todo el territorio

espantildeol hay comunidades que cuentan con otras evaluaciones con finalidades y caracteriacutesticas

diversas tanto de aprendizajes como institucionales

Finalmente hay que mencionar las pruebas internacionales en las que Espantildea participa De

acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten (2012) Espantildea ha

participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y en las ediciones de 1995 y de

2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro paiacutes participoacute por primera vez en el

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

11

Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea (Instituto de Evaluacioacuten 2010) Finalmente

Espantildea participa en el Programa para la Evaluacioacuten Internacional de los Alumnos (PISA)

REFLEXIOacuteN EN TORNO A LAS HIPOacuteTESIS

En el enfoque metodoloacutegico escogido la funcioacuten de las hipoacutetesis se asocia con la formulacioacuten

de los objetivos en este sentido supone una formulacioacuten basada en el marco teoacuterico que

focalizaraacute la atencioacuten en alguacuten aspecto especiacutefico a modo de problema dilemas o vaciacuteos que

auacuten no se logran responder o cubrir con el conocimiento disponible

a) Las conceptualizaciones sobre las evaluaciones educativas (nacionales internacionales

externar internas sumativas formativas etc) se presentan de forma sumamente

fragmentada con sentidos acotados y carente de una visioacuten holiacutestica que constituya un marco

interpretativo uacutetil para el disentildeo de poliacuteticas de evaluacioacuten claramente orientadas a la mejora

educativa

b) En Espantildea ademaacutes de las evaluaciones nacionales existen comunidades con otro tipo

de pruebas El conocimiento existente no da cuenta de su necesidad y relevancia

c) Desde el punto de vista normativo las evaluaciones nacionales que contempla Espantildea

se presentan como formativas y orientadas a la mejora e innovacioacuten de los centros de

acuerdo con las evidencias de la literatura esta intencioacuten no es una realidad generalizada Es

necesario corroborar este hecho y ofrecer una respuesta sobre las causas del mismo

d) A pesar de las intenciones reflejadas en la normativa espantildeola que intentan hacer de

las evaluaciones nacionales e internacionales una herramienta de mejora educativa no hay

evidencias de que se cuente con los conocimientos y las competencias necesarias para hacerlo

e) La calidad de la educacioacuten hace referencia entre otras cosas al desarrollo integral del

sujeto el cual viene estipulado en el curriacuteculo de cada comunidad autoacutenoma Sin embargo las

evaluaciones nacionales e internacionales soacutelo se centran en un aspecto del mismo o en

aspectos que incluso pueden no estar reflejados en eacutel

f) Las evaluaciones nacionales e internacionales pueden analizarse como poliacuteticas

puacuteblicas para la mejora educativa sin embargo su visualizacioacuten queda reducida en muchas

ocasiones a una accioacuten aislada no vinculada con otras acciones de mejora ni inserta en otras

poliacuteticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

12

METODOLOGIacuteA PROPUESTA

La investigacioacuten presentada se desarrollaraacute desde un enfoque de metodologiacutea mixto que se

concreta en las siguientes fases

Fase 1 Elaboracioacuten del marco teoacuterico multidisciplinar de caraacutecter holiacutestico sobre la calidad

educativa y sus evaluaciones

Fase 2 Estudio comparado de las poliacuteticas de evaluacioacuten especiacuteficas de cada una de las

Comunidades Autoacutenomas

Se centra en el desarrollo de los objetivos B1 y B2 El estudio seguiraacute las fases especiacuteficas de

la metodologiacutea comparada

Fase 3 Estudio de las evaluaciones como poliacuteticas para la mejora educativa Estudio de casos

muacuteltiples

El caso constituye la unidad objeto de estudio las poliacuteticas de evaluacioacuten contempladas en sus

tres niveles de concrecioacuten macro meso y micro que se desarrollan en las comunidades

autoacutenomas Es la fase maacutes extensa y supone un importante trabajo de campo abarca los todos

los objetivos restantes El estudio se realizaraacute en 8 comunidades autoacutenomas Esta fase se

organiza en dos sub-fases

3A- Administracioacuten de un cuestionario a gran escala relacionado con los objetivos C1

al F5 Esta sub-fase nos ofreceraacute un conocimiento que serviraacute de base para la fase

siguiente

3B- Estudio de casos muacuteltiples La unidad objeto de estudio las poliacuteticas de

evaluacioacuten contempladas en sus tres niveles de concrecioacuten macro meso y micro que

se desarrollan en las comunidades autoacutenomas Es la fase maacutes extensa y supone un

importante trabajo de campo que abarca los objetivos C1 a F5 Se realizaraacute en 8

comunidades autoacutenomas Este estudio de caso se caracteriza por ser

- De tipo descriptivo en tanto se pretende analizar el fenoacutemeno de las evaluaciones

como poliacuteticas para la mejora educativa en el contexto de las Comunidades

Autoacutenomas (Yin 1994)

- De tipo explicativo en tanto se busca producir conocimiento sobre causas y procesos

relacionados con el fenoacutemeno mencionado (Yin 1994)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

13

A MODO DE CIERRE

Con esta investigacioacuten se pretende construir un conocimiento desde un enfoque

multidisciplinar de las poliacuteticas de evaluacioacuten como herramientas para la mejora educativa Se

han escogido las poliacuteticas en vigor procurando identificar posibilidades de mejora de las

mismas tanto en lo que se refiere a su conceptualizacioacuten como a sus posibles concreciones El

conocimiento generado tendraacute una alta probabilidad de transferencia y buscaraacute profundizar en

la liacutenea iniciada a traveacutes de un nuevo proyecto de investigacioacuten para ser presentado en las

convocatorias nacionales europeas explorando tambieacuten otras alternativas en un contexto

donde las poliacuteticas supranacionales son cada vez objeto de mayor atencioacuten epistemoloacutegica

En este momento el presente proyecto se encuentra en fase de desarrollo no poseemos de

momento resultados directos provenientes del trabajo de campo Sin embargo se empieza a

vislumbrar un escenario complejo teniendo en cuenta los tres niveles de abordaje nivel

macro (Administracioacuten Central Nivel Estatal) meso (Administracioacuten Autonoacutemica Nivel

Autonoacutemico) y micro (Centros Educativos) Cada uno de ellos nos ofrece un punto de vista

especiacutefico relacionado con el disentildeo y desarrollo de las poliacuteticas de evaluacioacuten con una

diferencia importante entre los puntos de vistas de nivel macro y meso con las del nivel micro

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

16

Las evaluaciones externas en la Ley Orgaacutenica para la Mejora de

la Calidad Educativa de Espantildea

HECTOR MONARCA

Universidad Autoacutenoma de Madrid Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten

hectormonarcauames

Resumen

De acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten (2012)

Espantildea ha participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y en las

ediciones de 1995 y de 2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro paiacutes

participoacute por primera vez en el Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea (Instituto

de Evaluacioacuten 2010) Finalmente Espantildea participa en el Programa para la Evaluacioacuten

Internacional de los Alumnos (PISA) Por otra parte junto a estas evaluaciones

internacionales tanto a nivel estatal como autonoacutemico se han implementado otras

pruebas externas Esta tendencia se ha visto reafirmada y ampliada por la nueva Ley

Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa (LOMCE) aspecto que seraacute analizado

en esta comunicacioacuten La proliferacioacuten de estas praacutecticas puede ser analizada desde

diversas perspectivas En esta comunicacioacuten se realiza una aproximacioacuten sustentada en

numerosos escritos recientes (Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006) que

advierten sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las praacutecticas de

ensentildeanza Por otra parte desde esta aproximacioacuten criacutetica se sostiene que las

evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la educacioacuten no parecen ser

tan abundantes

Palabras clave evalauciones externas LOMCE calidad de la educacioacuten

Abstract

This paper derives from research project lsquoNational and international evaluations as

educational improvement measures in Spain within the European contextrsquo (reference

CEMU-2013-20) funded in the context of Autonoma University of Madridrsquos (UAM)

second competitive call for interdisciplinary research projects approved on 8th

February 2013 by UAMrsquos governing board More specifically our main objective is to

present this project although at this stage results cannot be put forward yet This

project focuses on the policies of quality assessment in education The proposal

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

17

departs from a multidisciplinary approach both epistemologically and

methodologically Systems of quality assessment in education have become a key

device for governments to improve education Spain has been systematically

incorporating these policies at the national and regional level and the last educational

reform proposals are emphasising this trend Here we find a clear rationale for

implementing a project of this nature able to investigate what these policies actually

contribute to educational improvement In this sense we intend to carry out

multidisciplinary research work in order to answer two key questions First are

external assessments capable to enhance education in Spain This question under the

hypothesis raised in the light of the literature revised leads to the second question

which is how can these tests become an improvement tool The objectives of this

research turn around these two questions and these aspects will be addressed in this

paper

Keywords external evalauciones LOMCE quality of education

INTRODUCCIOacuteN

De acuerdo con la informacioacuten aportada por el Instituto Nacional de Evaluacioacuten

(MECyD 2012) Espantildea ha participado en las ediciones de 1990 2006 y 2011 de PIRLS y

en las ediciones de 1995 y de 2011 de TIMSS Por otra parte en el antildeo 2009 nuestro

paiacutes participoacute por primera vez en el Estudio Internacional de Civismo y Ciudadaniacutea

(Instituto de Evaluacioacuten 2010) Finalmente Espantildea participa en el Programa para la

Evaluacioacuten Internacional de los Alumnos (PISA) Por otra parte junto a estas

evaluaciones internacionales tanto a nivel estatal como autonoacutemico se han

implementado otras pruebas externas

La proliferacioacuten de estas praacutecticas puede ser analizada desde diversas perspectivas En

esta comunicacioacuten se realiza una aproximacioacuten sustentada en numerosos escritos

recientes (Barquiacuten et al 2011 Monarca 2012 Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008

Stake 2006) que advierten sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las

praacutecticas de ensentildeanza Las evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la

educacioacuten no parecen ser tan abundantes como el documento sugiere y tampoco

existen consensos claros sobre ellas Sin embargo el documento da por sentado algo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

18

que de momento la investigacioacuten educativa no corrobora los beneficios que aportan

a la mejora de los resultados

Junto con esta novedad la Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa

incorpora novedades que pueden ser interpretadas como un cambio de muchos de los

laquosentidosraquo que hasta ahora se le veniacutea dando en Espantildea a la educacioacuten De esta

manera se restaura la idea de una respuesta educativa diferenciada dentro de la

misma educacioacuten denominada baacutesica apelando a un lenguaje que legitima las

diferencias a modo de naturalizaciones En este contexto la imposicioacuten de

evaluaciones supone algo maacutes que un elemento teacutecnico tal como permiten apreciar

diversas corrientes teoacutericas las evaluaciones son estudiadas cada vez maacutes como nueva

formas de regulacioacuten de la educacioacuten (Barroso 2005 Carvalho 2009)

Por tanto en esta comunicacioacuten se propone una laquolecturaraquo de las evaluaciones que

incorpora el Ministerio de Educacioacuten Cultura y Deporte de Espantildea (MECyD) como una

nueva forma de regulacioacuten de las praacutecticas educativas un instrumento de regulacioacuten

que junto con otras regulaciones normativas pretende acompantildear un cambio de la

forma de entender la educacioacuten baacutesica en Espantildea

REFLEXIOacuteN EN TORNO A LA NUEVA PROPUESTA DE LEY2

Una idea global que surge de la lectura del anteproyecto es que nos encontramos ante

una reconfiguracioacuten de los sentidos vinculados con la educacioacuten y con la escuela Las

propuestas realizadas los argumentos que se ofrecen el lenguaje que se emplea y los

marcos subyacentes que un anaacutelisis del discurso revela nos permite apreciar el intento

de reconfigurar los sentidos y las praacutecticas de lo que hasta ahora al menos desde

1990 se ha entendido por educacioacuten baacutesica y obligatoria En este sentido las

propuestas del anteproyecto permiten anticipar ldquola quiebra de la unidad del sistema

educativo que es un punto de partida para la igualdad de oportunidadesrdquo (Gimeno

2 Este apartado es una adaptacioacuten del artiacuteculo que he escrito en 2012 sobre esta temaacutetica Monarca H

(2012) La nueva ley orgaacutenica para la mejora de la calidad educativa La restauracioacuten del discurso conservador Tendencias Pedagoacutegicas 20 107-121

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

19

1998312) Tomando las palabras del autor recieacuten mencionado las propuestas de

diversificacioacuten en itinerarios o circuitos diferenciados dentro de la ensentildeanza

obligatoria como expliacutecitamente se hace puede fomentar la desigualdad En esta

liacutenea el documento puede ser interpretado como un retroceso en cuanto al principio

de comprensividad educativa un claro cambio de direccionalidad en cuanto al mismo

Este cambio de direccionalidad se hace bajo un lenguaje que anula descarta en cierta

forma desvaloriza una consensuada liacutenea democratizadora en la que la educacioacuten es

un derecho vinculado a la construccioacuten de la ciudadaniacutea (Gimeno 2000 Veacutelaz de

Medrano y De Paz 2010) Dicha tendencia basada en el principio de comprensividad y

atencioacuten a la diversidad simultaacuteneamente se instaura a partir de la vuelta de la

democracia a Espantildea no inmediatamente sino a partir de un proceso complejo de

debates y reclamos sociales acadeacutemicos y profesionales Hoy este documento

sencillamente da la espalda a este proceso y a lo que este ha supuesto en cuanto a

consenso sobre el sentido de la educacioacuten y de la escuela Es cierto que este consenso

ha permanecido en ocasiones maacutes a nivel de principios normativos que de

concreciones o resultados evidentes El Sistema Estatal de Indicadores de la Educacioacuten

(MEC 2011) junto con ofrecernos evidencias de mejora como se ha visto nos sigue

mostrando por ejemplo que un porcentaje de los joacutevenes no finaliza la ESO en el

momento que la ley estipula Por otro lado las investigaciones y literatura sobre el

fracaso escolar y la exclusioacuten educativa (Calero 2006 Calero Choi y Waisgrais 2010

Escudero y Martiacutenez 2011 Fernaacutendez Mena y Riviere 2010 Gil Villa 2010 Roca

2010) muestran el viacutenculo entre los resultados del sistema y el origen social de los

alumnos y alumnas Sin embargo nada de lo que propone el anteproyecto parece

apuntar a revertir esta situacioacuten antes propone laquoblanquearraquo estos resultados

diferenciados reforzando la idea y la propuesta ya existente de dos circuitos uno

acadeacutemico para aquellos que la naturaleza ha favorecido otro profesional para los

que no son aptos para el primero

El documento se aparta de esta tradicioacuten progresista maacutes o menos asumida y no

siempre del todo acompantildeada En este caso el argumento que se expone no soacutelo se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

20

aparta de lo laquopoliacuteticamente correctoraquo sino de los campos teoacutericos que despueacutes de

muchos esfuerzos han logrado despejar del lenguaje la idea de que nacemos con

ciertos dones que la divinidad o la naturaleza nos ha regalado (Kaplan y Ferrero 2002)

desvinculadas de las condiciones histoacutericas poliacuteticas econoacutemicas y educativas de los

contextos y de los sujetos que en ellos viven y de las oportunidades que estos tienen

para desarrollarse como tales El laquosistemaraquo ofreceriacutea asiacute una legitimacioacuten o

naturalizacioacuten de las desigualdades sociales existentes (Terigi 2010) bajo el

argumento anacroacutenico de la laquoreparticioacuten de los donesraquo (Kaplan y Ferrero 2002) algo

inexplicable en el siglo XXI Asiacute el documento se fundamenta en el innatismo el cual

defiende ldquola creencia de que existe un reparto desigual de las capacidades humanas

que no permite ir maacutes allaacute de lo que posibilitan los liacutemites dados de cada unordquo

(Gimeno 200057)

Explicadas asiacute las diferencias entre los sujetos el documento propone la separacioacuten

temprana de circuitos educativos concretamente que esto suceda a los 14-15 antildeos

ubicaacutendonos en el escenario educativo de 1970 De esta manera la formacioacuten

polivalente y amplia de los estudiantes en la educacioacuten baacutesica como base de una

ciudadaniacutea democraacutetica deja de ser una prioridad Se puede deducir del documento

que la actual educacioacuten baacutesica formada por la educacioacuten primaria y la educacioacuten

secundaria obligatoria se fragmenta De hecho no se hace ni una sola mencioacuten a la

educacioacuten baacutesica De la misma manera tampoco hace ninguna mencioacuten al derecho de

la educacioacuten

Por otra parte el documento de propuestas para el anteproyecto no soacutelo ofrece como

supuesta novedad la diferenciacioacuten en dos circuitos uno acadeacutemico y otro profesional

algo que ahora tambieacuten existe sino que lo anticipa y los desliga del tiacutetulo de la ESO

algo realmente preocupante

Se crea asiacute un circuito devaluado al margen del valor social que las certificaciones

puedan tener Un circuito desligado de la educacioacuten baacutesica Algo que plantea un

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

21

sinnuacutemero de preguntas iquestSe obligariacutea a unos determinados estudiantes a ir por un

trayecto mientras a otros se les obliga a ir por otro iquestO dejariacuteamos de hablar de

educacioacuten obligatoria iquestPor queacute se desvincula la opcioacuten profesional del tiacutetulo de la

ESO acaso deja de formar parte de la misma iquestCoacutemo se espera con esta medida lograr

uno de los objetivos que el anteproyecto dice perseguir aumentar la tasa de

graduados en educacioacuten secundaria obligatoria Esta aparente contradiccioacuten puede

interpretarse en clave de cambios de sentidos de la educacioacuten baacutesica de la

obligatoriedad y de la educacioacuten en general Ninguna referencia hareacute al resto de la

frase como por ejemplo queacute se quiere decir con miacutenima cualificacioacuten profesional y

coacutemo puede encajar esto en una ley para la mejora de la calidad

Otro de los elementos que pueden ser interpretados en clave de cambio de sentido de

la educacioacuten baacutesica es la propuesta de aumentar las horas de clase de las denominadas

materias instrumentales Esto se haraacute seguacuten parece desprenderse del documento

reduciendo el nuacutemero de materias Esta visioacuten maacutes claacutesica y academicista de la

educacioacuten limita uno de los sentidos que la misma tiene cuando se trata de una etapa

obligatoria el estimular el desarrollo integral del sujeto ofreciendo un educacioacuten

polivalente Por otra parte se insiste en algo que no ha dado resultado desde el punto

de vista de la calidad-equidad en este sentido Cecilia Braslavsky (2006) considera que

a la luz del fracaso del sistema educativo en la concrecioacuten del equilibrio entre

formacioacuten racional praacutectica y emocional se debe ahora entender que la calidad para

todos se relaciona con el desarrollo simultaacuteneo de los tres aspectos antes

mencionados algo maacutes acorde con la buacutesqueda en la que Espantildea ha estado inmersa

en los uacuteltimos 25 antildeos

Otro aspecto del documento que refuerza la idea que se estaacute abordando en este

apartado tiene que ver con que la laquoinclusioacutenraquo como concepto y como praacutectica

desaparece del discurso De pronto despueacutes de deacutecadas inmersos en debates y en la

buacutesqueda de praacutecticas que favorezcan la inclusioacuten educativa eacutesta desaparece del

discurso En este sentido no se menciona ni una sola vez la palabra inclusioacuten siendo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

22

que este es una de los aspectos en los que maacutes se ha matizado y materializado la

democratizacioacuten de la educacioacuten a traveacutes de una forma de entender la educacioacuten y de

organizar las ensentildeanzas Tampoco se hace referencia a la laquoatencioacuten a la diversidadraquo

salvo que se entienda por eso la propuesta que se hace de ofrecer caminos distintos

para los que quieran seguir estudiando y los que no totalmente alejado de los

planteamiento maacutes actuales en la temaacutetica

Antes de finalizar este apartado quiero mencionar dos aspectos maacutes relacionados con

el cambio de sentido de la educacioacuten baacutesica y de la educacioacuten en general que subyace

en el anteproyecto Por un lado en consonancia con muchas de las cosas que se han

abordado ya en ninguacuten lugar se menciona el tema de la equidad aspecto que ha sido

asociado por muchos a la calidad de la educacioacuten (Braslavsky 2006 Seibold 2000)

desligadas ambas la compleja relacioacuten entre calidad y cantidad de la que habla

Tedesco (2007) se resuelve estrechando los pasos entre unos niveles y otros de tal

manera que soacutelo aquellos que logran superar determinadas pruebas pueden acceder

a los bienes culturales que la sociedad genera En este sentido como sostiene Gentili

(199748) ldquocalidad y cantidad son en la perspectiva neoliberal dinaacutemicas de imposible

articulacioacutenrdquo

Por otro lado no se menciona ni una sola vez la educacioacuten social y ciudadana ni como

espacio curricular especiacutefico (aacuterea o materia) ni como algo transversal Esta funcioacuten

que ha asumido la escuela desde su origen no puede desaparecer quedaraacute por tanto

impliacutecita en el denominado curriacuteculo oculto alejada asiacute de las esferas puacuteblicas de

debate y contraste necesarios cuando de construir la ciudadaniacutea se trata Los intentos

de los uacuteltimos antildeos por explicitar esta funcioacuten de la educacioacuten dando la oportunidad

para que se transforme en objeto de debate y contraste puacuteblico quedaraacute ahora

diluida y apareceraacute bajo otras formas no siempre contrastadas

LAS EVALUACIONES EXTERNAS EN LA LOMCE3

Sobre esta temaacutetica contamos con numerosos escritos recientes (Barquiacuten et al 2011

Monarca 2012 Peacuterez y Soto 2011 Perrenoud 2008 Stake 2006) que advierten

3 Se retoma los argumentos expuestos en el artiacuteculo de mi autoriacutea mencionado en el pie de paacutegina nordm 1

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

23

sobre los impactos de los sistemas de evaluacioacuten en las praacutecticas de ensentildeanza Las

evidencias sobre lo que eacutestas aportan para la mejora de la educacioacuten no parecen ser

tan abundantes como el documento sugiere y tampoco existen consensos claros sobre

ellas Sin embargo el documento da por sentado algo que de momento la

investigacioacuten educativa no corrobora los beneficios que aportan a la mejora de los

resultados

La Ley Orgaacutenica para la Mejora de la Calidad Educativa otorga una excesiva relevancia

a los mecanismos de evaluacioacuten externa incorporando varias pruebas de este tipo

dentro de lo que al menos hasta hoy se denomina educacioacuten baacutesica y obligatoria

I) Dos pruebas en primaria ldquode competencias baacutesicas y consecucioacuten de objetivos

(con efectos individuales) y de conocimientos (sin efectos individuales)rdquo

II) Dos pruebas en la ESO a) una en 3ordm ESO denominada ldquoprueba diagnoacutesticordquo sin

efectos acadeacutemicos b) una evaluacioacuten final de ESO aparentemente diferenciada

seguacuten se quiera acceder a Bachillerato o a Formacioacuten Profesional

Se puede decir que estas pruebas pasan a ser las verdaderas organizadoras de la

educacioacuten casi el fin de la misma contra toda sugerencia que pueda hacer la

pedagogiacutea como campo de estudio especializado En este sentido considero adecuado

mencionar los siguientes aspectos

a) Esta visioacuten supone una limitacioacuten de la formacioacuten integral polivalente del

sujeto (Braslavsky 2006 Peacuterez y Soto 2011 Tedesco 2007) Las pruebas obligan a

centrar la ensentildeanza en determinadas materias y en determinados aspectos de las

mismas en ese marco el curriacuteculo queda condicionado laquoatrapadoraquo laquoatadoraquo a estas

pruebas

b) Las pruebas externas y las praacutecticas asociadas a ellas contribuyen a generar un

concepto empobrecido de calidad educativa (Monarca 2012) La loacutegica subyacente a

eacutestas vincula la calidad con el resultado en una prueba concreta y con las puntuaciones

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

24

que a partir de ellos se construyen En este sentido recomiendo profundizar sobre la

forma en que estas pruebas se desarrollan y las puntuaciones se construyen (Martiacutenez

2006 Saacutenchez y Garciacutea-Rodicio 2006)

c) Se devaluacutea el sentido de la evaluacioacuten continua como praacutectica incorporada al

mismo proceso de ensentildeanza con finalidad formativa de mejora del estudiante

evaluado (Perrenoud 2008 Stake 2006)

d) Por lo general la informacioacuten que aportan este tipo de pruebas para la mejora

de la ensentildeanza es muy escasa y limitada En teacuterminos generales soacutelo ofrecen

informacioacuten sobre lo que he denominado un laquoestado estaacutetico de logroraquo (Monarca

2012) nada o muy poca sobre los procesos realizados ninguna sobre el proceso que

ha seguido un sujeto o grupo de sujetos desde un laquopunto hasta otroraquo

e) Relacionado con lo anterior las pruebas externas basadas soacutelo en un laquoestado

estaacutetico de logroraquo output dice el documento contribuyen a reforzar y legitimar las

diferencias iniciales existentes laquopremiandoraquo incluso a los maacutes beneficiados en la

entrada del sistema

SU CONCEPCIOacuteN DE CALIDAD

Quiero insistir en la idea de evaluacioacuten y de calidad que ofrece la ley La definicioacuten que

hace el documento es sencillamente anacroacutenicahellip pero ofrece claves para comprender

los marcos ideoloacutegicos subyacentes Seguacuten se expresa en el anteproyecto de la misma

ley ldquoLa calidad educativa debe medirse en funcioacuten del output (resultados de los

estudiantes) no del input (inversioacuten nordm profesoresunidades)rdquo

Como puede verse a pesar de los debates y las criacuteticas relacionados con la

terminologiacutea empleada se habla de medir la calidad no de evaluarla diagnosticarla

sino de medirla concepto alejado de los marcos teoacutericos actuales de la evaluacioacuten

educativa Centraacutendonos en lo que maacutes refleja su caraacutecter conservador su concepto

de calidad desliga laquoorigen y procesosraquo de laquoresultadosraquo iquestCoacutemo un documento de un

organismo puacuteblico el Ministerio de Educacioacuten Cultura y Deporte en este caso puede

hacer expliacutecito de esta manera esta concepcioacuten Las pruebas externas asiacute entendidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

25

constituyen una forma evidente de laquolegitimarraquo la desigualdad y la injusticia a traveacutes de

las praacutecticas de evaluacioacuten externa Esta frase del documento equivale a decir laquomire

usted a miacute me da igual que sus padres no hayan podido estudiar que no tengan

recursos que usted no los tenga Me da igual si en su clase son 21 o 42 si su centro

tiene los recursos necesarios si tiene suficientes profesores si tiene libros u otros

recursos si tiene un lugar donde estudiarhellipLo uacutenico que me interesa lo uacutenico que voy

a contemplar a valorar es el resultado que usted obtiene en esta prueba que ahora le

hago lo que esta prueba me indicaraquo

Despueacutes de deacutecadas de esfuerzos por resituar esta temaacutetica con una identidad maacutes o

menos adecuada para el campo educativo se vuelve a una idea de calidad maacutes

apropiada para el campo productivo que para el educativo Pruebas que asiacute

presentadas se transforman en una laquopraacutectica de seleccioacutenraquo que ignora las diferencias

iniciales la cual queda legitimada a traveacutes de los resultados que los estudiantes

obtienen en las mencionadas pruebas A partir de los cuales se diferenciaraacuten los

circuitos educativos

Nada maacutes direacute sobre las evaluaciones externas y la calidad de la educacioacuten que de

forma expliacutecita o impliacutecita se desprenden del documento aunque siacute sugiero una

lectura centrada en estos aspectos prestando especial atencioacuten a la terminologiacutea

empleada a los usos conceptuales que realiza a las evidencias que ofrece

CONCLUSIONES

La Ley Orgaacutenica de Mejora de la Calidad (LOMCE) de Espantildea se presenta a la

ciudadaniacutea y al profesorado como una propuesta tendente a superar una supuesta

crisis del sistema educativo Espantildeol Este discurso generado desde el poder en el que

se muestra una visioacuten apocaliacuteptica de la educacioacuten actual en un momento en el que los

mismos datos estadiacutesticos confirman que nunca Espantildea ha estado mejor parece ser el

marco en el que se intenta legitimar la actual propuesta de ley La misma entre otras

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

26

cosas pone especial eacutenfasis en las evaluaciones externas y estas se transforman en la

respuesta a la crisis mencionada Las mismas traeriacutean aparejada la mejora del sistema

Esta propuesta especiacutefica junto con otros aspectos de la Ley no abordados en esta

comunicacioacuten suponen un clara transformacioacuten de los sentidos que desde finales de

la dictadura franquista a la actualidad se veniacutean consensuando en torno a la

educacioacuten De esta manera tanto las evaluaciones como otros elementos de la Ley

estaacuten jugando un papel relevante en este cambio de sentidos en torno a la educacioacuten

en sintoniacutea con los avances de las ideas neoconservadoras y neotecnicistas

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

29

Poliacuteticas para el aseguramiento de la calidad en la ensentildeanza

obligatoria de Espantildea

HECTOR MONARCA Universidad Autoacutenoma de Madrid

Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

hectormonarcauames

SOLEDAD RAPPOPORT Universidad Autoacutenoma de Madrid

Departamento de Didaacutectica y Teoriacutea de la Educacioacuten Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

soledadrappoportuames

CRISTIAN SOTO Universidad Autoacutenoma de Madrid

Grupo de Investigacioacuten sobre Poliacuteticas Educativas Supranacionales

Resumen

La presente comunicacioacuten se enmarca en el proyecto de investigacioacuten ldquoEvaluaciones

nacionales e internacionales como poliacutetica de mejora de la educacioacuten en Espantildea en el

contexto Europeordquo (referencia CEMU-2013-20) financiado en el marco de la segunda

convocatoria competitiva de Proyectos de Investigacioacuten Multidisciplinares de la

Universidad Autoacutenoma de Madrid aprobada por el Consejo de Gobierno del 8 de

febrero de 2013 En este caso el objetivo principal de la presente comunicacioacuten es

presentar los sistemas de aseguramiento de la calidad que han implementado en tres

Comunidades Autoacutenomas (CCAA) de Espantildea Paiacutes Vasco Andaluciacutea y Madrid

En el marco del proyecto mencionado denominamos poliacuteticas de aseguramiento de la

calidad a aquellas praacutecticas relativamente recientes orientadas a generar

conocimiento sobre el sistema educativo en este caso vinculado a la ensentildeanza

obligatoria y acciones dirigidas a su mejora Con mucha frecuencia estas praacutecticas han

terminado estando reducidas a evaluaciones externas centradas en el rendimiento de

los estudiantes sin ninguna o con escasas acciones posteriores Por otra parte estos

sistemas de aseguramiento de la calidad han recibido diversas criacuteticas en gran parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

30

relacionadas con su loacutegica original maacutes proacutexima al mundo empresarial que al

educativo

En este sentido junto con dar a conocer desde un punto de vista fundamentalmente

descriptivo los sistemas de aseguramiento de la calidad de las cuatro CCAA

mencionadas se aborda la discusioacuten centrada en los siguientes aspectos iquestes posible

hablar de sistemas de aseguramiento de la calidad iquestqueacute concepciones de calidad

subyacente predominan iquestqueacute consecuencias tienen para las praacutecticas educativas

Palabras clave sistemas de aseguramiento de la calidad evaluaciones externas

calidad de la educacioacuten

Abstract

This communication is part of the research project umlNational and International

assessments such as police for the improvement of education in Spain in the European

contextuml (reference CEMU-2013-20) funding within the framework of the second

competitive call for proposals projects research multidisciplinary of the Universidad

Autoacutenoma of Madrid approved by the Governing Council on February 8 2013 The

main objective of this communication is to present the systems of quality assurance

that have implemented in three autonomous communities of Spain Basque country

Andalucia and MadridIn the framework of this research we call that quality assurance

policies practices relatively recent aimed to generate knowledge about the

educational system in this case linked to compulsory education and actions aimed at

its improvement Most often these practices have ended up being reduced to external

assessment focused on the performance of students without any or with scarce shares

posteriors On the other hand these systems of quality assurance have been various

criticisms largely related to its original logic more next to the business world than to

education Therefore together with make know from a primarily descriptive point of

view the above regions quality assurance systems deals with the discussion focused

on the following aspects is it possible to talk about quality assurance systems That

conceptions of underlying quality predominated have implications for the educational

practices

Keywords systems of quality assurance external evaluations quality of education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

31

INTRODUCCIOacuteN

Los sistemas de evaluacioacuten de la calidad educativa tienen una trayectoria

relativamente extensa en los paiacuteses anglosajones Sin embargo su instalacioacuten en

Espantildea como en otros paiacuteses es mucho maacutes reciente Aun asiacute es una temaacutetica que ya

se encuentra instalada tanto a nivel teoacuterico como praacutectico El origen de estos sistemas

de evaluacioacuten de la calidad ha estado muy ligado al sector econoacutemico y empresarial

de hecho gran parte de los conceptos como asiacute tambieacuten de las concreciones de los

mismos ha asimilado sistemas ya existentes en aquel campo En este sentido los

mismos se han definido por una racionalidad teacutecnica dentro del paradigma proceso-

producto cuyo fundamentacioacuten se encontraba en determinar la relacioacuten entre

objetivos y resultados

Este aspecto vinculado al origen de los sistemas de evaluacioacuten de la calidad ha

marcado en gran medida su razoacuten de ser sus rasgos sus formas de concretarse Sin

embargo este rasgo original ha sido cuestionado desde diversos enfoques y por

diversas razones Actualmente aunque la mayoriacutea de los paiacuteses occidentales cuentan

con sistemas de aseguramiento de la calidad los debates en torno a los mismos son

cada vez maacutes intensos

Los sistemas originales centrados en el paradigma proceso-producto han sido

duramente cuestionados por no lograr dar cuenta de la realidad del mundo social y

educativo En este marco los debates en torno a la calidad educativa se han ido

ampliando dando lugar a la buacutesqueda de alternativas maacutes proacuteximas a estos campos

De esta manera se podriacutea sostener que los sistemas de evaluacioacuten de la calidad han

dado lugar a los sistemas de aseguramiento de la calidad como un intento teoacuterico-

praacutectico de dar cuenta de los debates y criacuteticas que se estaban dando

En este sentido los sistemas de aseguramiento de la calidad se supone que significan

un avance en cuanto a los sistemas de evaluacioacuten quedando estos uacuteltimos

comprendidos en los primeros Este avance quedariacutea reflejado en que no soacutelo se pone

la atencioacuten en los productos sino tambieacuten en los procesos necesarios para llegar a los

mismos y muy especialmente en los procesos de mejora que es necesario

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

32

implementar en el marco de las evaluaciones realizadas Este giro conceptual en

cualquier caso no resuelve los debates maacutes profundos en torno a la calidad de la

educacioacuten Por otra parte desde el punto de vista de la concrecioacuten de estos sistemas

la mayoriacutea de ellos desde un punto de vista macro siguen estando centrados maacutes en

la evaluacioacuten que en los procesos de mejora

La presente comunicacioacuten junto con abordar estos debates presenta los sistemas de

evaluacioacuten de la calidad de tres Comunidades Autoacutenomas de Espantildea con el objetivo

de poder tomarlos como punto para el anaacutelisis de acuerdo a los debates antes

mencionados De la misma manera se pretende mediante un estudio comparado

analizar si existen especificidades tanto en los tipos de evaluacioacuten que contempla cada

una de estas comunidades como en la forma en que las implementan

LAS RACIONALIDADES SUBYACENTES4

Tal como se expresoacute en el artiacuteculo ldquoLa racionalidad de las poliacuteticas de evaluacioacuten de la

calidad de la educacioacutenrdquo (Monarca 2012) las praacutecticas vinculadas a la evaluacioacuten de la

calidad educativa pueden ser analizadas desde las racionalidades que subyacen en sus

discursos y en sus procedimientos En este sentido a simple vista podemos apreciar

que durante mucho tiempo los sistemas de evaluacioacuten de la calidad educativa han sido

considerados como un asunto meramente teacutecnico caracteriacutestica que auacuten perdura

como rasgo general en muchos sistemas Tal como se explicoacute en dicho artiacuteculo desde

esta racionalidad la realidad y el conocimiento son entendidos como algo dado que es

necesario captar por medio de una serie de procedimientos algo preexistente a la

accioacuten del sujeto que actuacutea sobre ellos En aquel artiacuteculo aunque no se rechazoacute la

posibilidad de alguna utilidad de esta forma de asumir la evaluacioacuten se cuestionaron

tres aspectos relacionadas las mismas

a) En primer lugar el dejar de lado los aspectos eacutetico-ideoloacutegicos-poliacuteticos que

subyacen a las praacutecticas sociales como la educacioacuten Los sistemas de

evaluacioacuten de la calidad educativa caracterizados por esta racionalidad parten

4 Basado en el artiacuteculo de Monarca (2012)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

33

del supuesto de neutralidad de las praacutecticas evaluativas de sus

procedimientos de sus fines de sus intenciones de sus intereses del lenguaje

etc

b) La segunda criacutetica se referiacutea a las caracteriacutesticas de estos procedimientos de

evaluacioacuten como forma de construir conocimientos sobre los aprendizajes con

importante limitaciones para dar cuenta de la complejidad de la vida escolar y

de los procesos desplegados para promover aprendizajes (Peacuterez y Soto 2011)

c) En tercer lugar se mencionoacute el reduccionismo imperante a la hora de comunicar

los resultados de estos procedimientos de evaluacioacuten

Desde esta perspectiva los sistemas de evaluacioacuten caracterizados por una racionalidad

teacutecnica suelen tener un escaso valor interpretativo y su impacto esperado en la

mejora educativa suele ser pobre o inexistente

Desde una racionalidad hermeneacuteutica-interpretativa en la cual el acento se pone en la

comprensioacuten de los procesos Son muchos los autores que abogan por este tipo de

procesos de evaluacioacuten (Stake 2006 Perrenoud 2008 Escudero 2010 Peacuterez y Soto

2011) en donde el aspecto central es el conocimiento de la realidad Sin embargo en

este caso este conocimiento no se refiere a unos cuantos datos sobre resultados

estos se consideran uacutetiles soacutelo en el marco de otros debates muchos maacutes profundos

Se aboga por un tipo de praacutectica evaluativa capaz de construir un conocimiento que deacute

cuente de la complejidad de los fenoacutemenos por tanto hace referencia a una

evaluacioacuten sisteacutemica (Martiacutenez Rizo 2011) o en palabras de Escudero (2010)

transversal

Tal como se explica en el artiacuteculo de Monarca (2012) antes mencionado desde una

racionalidad hermeneacuteutica los procesos de evaluacioacuten de la calidad de la educacioacuten

deben ser capaces de ofrecer un conocimiento relevante sobre lo que estaacute pasando en

las praacutecticas educativas Esta visioacuten atraviesa todos los aacutembitos de la realidad

educativa y social y simultaacuteneamente del mismo proceso de evaluacioacuten En este

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

34

sentido se entiende que los procedimientos empleados son los que deben garantizar

esto

Finalmente en dicho artiacuteculo se menciona la racionalidad criacutetica la cual ofrece una

visioacuten amplia de los fenoacutemenos educativos y sociales de las interacciones de ambos y

del lugar de la ideologiacutea y los intereses presentes en las diversas praacutecticas aunque

como se apreciarse no puede separarse con claridad de la anterior En este caso

deberaacute contemplarse muy especialmente el papel que juegan las poliacuteticas en la

configuracioacuten de la misma realidad poniendo eacutenfasis en los diversos intereses y

tensiones que recaen sobre el sistema y lo condicionan en las posibilidades de

encaminarse a las metas que expliacutecitamente mencionan las poliacuteticas entre otras las

reflejadas en las leyes de educacioacuten y en los curriacuteculos oficiales Cerrariacuteamos asiacute el

ciacuterculo evaluador que no se inicia ni termina con los resultados de las pruebas de

evaluacioacuten sino que contempla la responsabilidad principal de las poliacuteticas y las

condiciones y funcionamiento social como elementos clave y centrales en relacioacuten a

los aprendizajes realizados Queda asiacute resaltado el caraacutecter eacutetico-poliacutetico de los

sistemas de evaluacioacuten

SISTEMAS DE EVALUACIOacuteN DE LA CALIDAD EN ESPANtildeA

Espantildea ha incorporado los sistemas de evaluacioacuten de forma sistemaacutetica a partir de antildeo

2000 Esta incorporacioacuten ha sido progresiva y hoy en diacutea se cuenta con evaluaciones de

diverso tipo focalizadas en aacutembitos distintos aunque muy especialmente en los

estudiantes tanto de caraacutecter nacional como internacional En esta comunicacioacuten nos

centraremos exclusivamente en lo que sucede en tres Comunidades Autoacutenomas

(CCAA) Comunidad Autoacutenoma de Andaluciacutea Comunidad Autoacutenoma de Madrid y

Comunidad Autoacutenoma del Paiacutes Vasco Es necesario aclarar que desde el punto de vista

de la evaluacioacuten existen pruebas que se dan en todo el Estado espantildeol mientras que

otras soacutelo se implementan en alguna de las CCAA tal como puede apreciarse en la

Tabla 1 la cual refleja aquellas evaluaciones focalizadas en a) estudiantes b)

profesores c) centros y d) otros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

35

Tabla 1 Evaluaciones implementadas en Andaluciacutea Madrid y Paiacutes Vasco

CCAA Sistemas de evaluacioacuten implementado

De Estudiantes De Profesores De centros Otros

Andaluciacutea PIRLS TALIS PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

ESCALA pruebas de competencia linguumliacutestica a 2ordm de Educacioacuten Primaria

Funcioacuten docente y

directiva

Autoevaluacioacuten

basada en

indicadores

Al sistema

educativo andaluz

Madrid PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

Pruebas CDI (Conocimientos y destrezas indispensables 3ordm ESO y 6ordm EP)

Pruebas LEA (Lectura escritura y aritmeacutetica) de 2ordm de Educacioacuten Primaria

Paiacutes Vasco PISA Evaluacioacuten

Diagnoacutestico (2ordm ESO y 4ordm EP)

Funcioacuten directiva No dispone No dispone

Fuente Elaboracioacuten propia

Como puede apreciarse las evaluaciones se centran prioritariamente en pruebas

dirigidas a los estudiantes ademaacutes principalmente vinculadas a las competencias

linguumliacutesticas y matemaacuteticas En este caso se cuenta con evaluaciones tanto de caraacutecter

internacional por ejemplo las tres CCAA participan de PISA como de caraacutecter estatal

como la Evaluacioacuten Diagnoacutestica la cual viene estipulada en la Ley Orgaacutenica de

Educacioacuten del antildeo 2006 Sin embargo tambieacuten pueden apreciarse diferencias en

algunos casos significativas En este sentido la Comunidad Autoacutenoma del Paiacutes Vasco

soacutelo cuenta con las pruebas estipuladas para todo el Estado Espantildeol y PISA no agrega

otro tipo de evaluaciones En cambio tanto la Comunidad de Andaluciacutea como la de

Madrid incorporan otro tipo de pruebas especiacuteficas las cuales vienen reguladas por

normativas autonoacutemicas de exclusiva aplicacioacuten en la comunidad correspondiente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

36

Aun asiacute tambieacuten hay diferencias entre estas dos comunidades De esta manera nos

encontramos con que las siguientes particularidades

La CA del Paiacutes Vasco tiene dos evaluaciones de las competencias de sus

estudiantes una de caraacutecter internacional PISA y otra de caraacutecter estatal

evaluacioacuten diagnoacutestico dirigida a alumnos de 2ordm curso de Ensentildeanza

Secundaria Obligatoria y a 4ordm curso de Educacioacuten Primaria en ambos casos

para evaluar la competencia linguumliacutestica (tanto en su lengua autonoacutemica como

en castellano) y la competencia matemaacutetica de forma fija y otras competencias

de forma alterna

La CA de Andaluciacutea tiene ademaacutes de las pruebas sentildealadas para la CA del

Paiacutes Vasco la prueba ESCALA de competencia linguumliacutestica a 2ordm de Educacioacuten

Primaria de caraacutecter autonoacutemico Por otra parte Andaluciacutea participa de otras

evaluaciones de caraacutecter internacional PIRLS y TALIS ademaacutes de PISA

Finalmente la CA de Madrid ademaacutes de las mismas pruebas que tiene la CA

del Paiacutes Vasco de caraacutecter estatal a nivel autonoacutemico tiene tambieacuten una

evaluacioacuten de 2ordm de Educacioacuten Primaria la Prueba LEA de lectura escritura y

aritmeacutetica Por otra parte tambieacuten a nivel autonoacutemico tiene la Prueba CDI

(Conocimientos y Destrezas Indispensables) para estudiantes de 3ordm ensentildeanza

secundaria obligatoria y 6ordm educacioacuten primaria) En cuanto a evaluaciones de

caraacutecter internacional al igual que la CA del Paiacutes Vasco soacutelo participa en PISA

Como aspecto comuacuten que tienen las evaluaciones en estas tres CCAA es que al menos

la Evaluacioacuten Diagnoacutestica tiene contemplado la utilizacioacuten de los resultados de la

misma en el disentildeo de planes de mejora por parte de los centros

Hay que tener en cuenta que aunque la evaluacioacuten diagnoacutestico tiene caraacutecter estatal

es decir se implementa en todas las Comunidades Autoacutenomas pueden existir

particularidades en las formas en que cada una de ellas concreta su aplicacioacuten De esta

manera hemos identificado singularidades con respecto a a) uso de los resultados b)

ciclos de aplicacioacuten c) competencias evaluadas d) evaluacioacuten de la evaluacioacuten

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

37

Aunque no es posible en esta comunicacioacuten profundizar en estos aspectos puede ser

una sugerente liacutenea de investigacioacuten

Con respecto a otros aacutembitos de evaluacioacuten ha quedado en evidencia que las

evaluaciones de estudiantes ocupan el lugar central sin embargo en teacuterminos

generales no se generan sistemas de la misma envergadura para evaluar a docentes

centros o al mismo sistema educativo desde un punto de vista sisteacutemico a excepcioacuten

de la CA de Andaluciacutea que siacute los contempla en CA del Paiacutes Vasco se contempla soacutelo

la evaluacioacuten de la funcioacuten directiva y en la CA de Madrid no hay otros sistemas de

evaluacioacuten que no se dirijan a los estudiantes

CONCLUSIONES

En Espantildea como en otros paiacuteses las evaluaciones han ido ocupando un lugar cada vez

maacutes relevantes en el escenario educativo Este lugar viene en parte delimitado por lo

que sucede con las mismas en un contexto internacional (Barroso 2005 Carvalho

2009) en un contexto de globalizacioacuten de transformacioacuten del Estado de Bienestar

(Cerny 1997) y de una clara transformacioacuten de la forma en la que los Estados

nacionales conciben y disentildean sus poliacuteticas (Dale 1999) Por otra parte tal como ha

mostrado Barroso (2005) en su investigacioacuten las evaluaciones pueden ser analizadas

desde las nuevas formas de regulacioacuten poliacutetica

En cualquier caso los debates en torno a los sistemas de evaluacioacuten siguen presentes

En Espantildea se ha reavivado con la nueva Ley Orgaacutenica de Mejora de la Calidad de la

Educacioacuten Estos debates lejos de arribar a consensos sobre los cuales seguir

trabajando ponen de manifiesto racionalidades distintas formas diferentes de

entender la ensentildeanza las praacutecticas educativas y la evaluacioacuten en ese marco

Aunque puede ser cierto que los resultados de estos procesos de evaluacioacuten en

ocasiones arrojan mejoras no hay que perder de vista que las mismas se producen en

el contexto y la racionalidad de estos sistemas de evaluacioacuten El debate de fondo es si

realmente esto supone una mejora de la educacioacuten

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

38

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Animaccedilatildeo e Animadores Socioculturais incertezas e

controveacutersias de uma ocupaccedilatildeo profissional

Antoacutenio Manuel Rodrigues Ricardo Batista5

CESNOVA ndash Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa

aricardo1959gmailcom

Resumo

A presente comunicaccedilatildeo6 tem como propoacutesito dar conta das controveacutersias puacuteblicas em

torno de problemaacuteticas suscitadas no seio da Animaccedilatildeo Sociocultural e do tipo de

envolvimento dos seus atores7 nessas mesmas controveacutersias Faz-se em primeiro

lugar uma abordagem introdutoacuteria agrave Animaccedilatildeo Sociocultural enquanto atividade

profissional realccedilando a imprecisatildeo a ambiguidade e a incerteza que esta atividade

comporta Em seguida relaciona-se a Animaccedilatildeo Sociocultural com as transformaccedilotildees

ocorridas na sociedade Por uacuteltimo evidenciam-se as problemaacuteticas existentes as

controveacutersias em que os seus atores se envolvem publicamente em face dessas

mesmas problemaacuteticas e ainda a diversidade de meios utilizados para a sua

expressatildeo

5 Doutorando em Sociologia aacuterea de especializaccedilatildeo em Cultura Conhecimento e Educaccedilatildeo (FCSHUNL) Mestrado

em Sociologia aacuterea de especializaccedilatildeo em Conhecimento Educaccedilatildeo e Sociedade (FCSHUNL) Licenciatura em Sociologia (ISCTE-IUL) Experiecircncia profissional aacutereas do emprego da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo profissional Atividade profissional atual Socioacutelogo no Gabinete Teacutecnico da Fundaccedilatildeo Monsenhor Alves Braacutes investigadorcolaborador do CESNOVA ndash Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa (grupo de trabalho Mundos Sociais Trajetoacuterias e Mobilidades) professor do ensino secundaacuterio profissional na Escola Profissional de Agentes de Serviccedilo e Apoio Social

6 Surgida no acircmbito do projeto de doutoramento ldquoAnimaccedilatildeo Sociocultural Atores e Controveacutersias Puacuteblicasrdquo a

decorrer na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e cujo objetivo eacute perceber a maneira como os Animadores Socioculturais orientam e ajustam a sua accedilatildeo em face do caraacuteter justo ou injusto das situaccedilotildees concretas de trabalho com que se vatildeo deparando

7 Animadores Socioculturais com formaccedilatildeo superior alunos finalistas de cursos de licenciatura em Animaccedilatildeo

Sociocultural professores desses mesmos cursos e dirigentes das associaccedilotildees que representam os Animadores Socioculturais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Palavras-chave animaccedilatildeo sociocultural sociologia pragmaacutetica controveacutersias puacuteblicas

regime de envolvimento em puacuteblico

Abstract

This Communication aims to take account of public controversies surrounding issues

raised within the Sociocultural and type of involvement of its players in those

controversies It will be first an introductory approach to Sociocultural Animation as a

business highlighting the vagueness ambiguity and uncertainty that this activity

entails Then relates the Sociocultural Animation with transformations in society

Finally show up existing problems disputes in which his actors engage publicly in the

face of these same issues and also the variety of means used to express them

Keywords sociocultural pragmatic sociology public controversy rules of engagement

in public

Introduccedilatildeo

A partir dos discursos dos vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural constata-se que

algumas das problemaacuteticas que afetam esta atividade natildeo satildeo problemaacuteticas surgidas

recentemente nomeadamente as respeitantes ao valor das licenccedilas profissionais e aos

modelos de formaccedilatildeo que lhes estatildeo ou devem estar associados agrave definiccedilatildeo do

mandato profissional e ao estabelecimento do estatuto profissional O seu

arrastamento no tempo levanta desde logo duas questotildees a) a primeira relacionada

com os contextos de trabalho a de saber como esses atores sentem estas

problemaacuteticas como eacute que orientam a sua accedilatildeo e que posiccedilotildees puacuteblicas assumem que

justificaccedilotildees datildeo para essas posiccedilotildees e que criacuteticas produzem em relaccedilatildeo agraves posiccedilotildees

dos outros significativos sejam esses outros os seus pares sejam pessoas a exercer

outras atividades profissionais b) a segunda relacionada com as soluccedilotildees

encontradas a de saber que medidas satildeo propostas se essas medidas poderatildeo

proporcionar um acordo vaacutelido para todos e que dispositivos satildeo acionados com vista

ao estabelecimento desse acordo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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A referecircncia por parte dos vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural agrave situaccedilatildeo de

arrastamento das problemaacuteticas mencionadas deixa supor a existecircncia de

controveacutersias entre estes Considerando que uma controveacutersia implica posiccedilotildees

divergentes em relaccedilatildeo a essas problemaacuteticas achou-se relevante do ponto de vista

analiacutetico tentar perceber as razotildees e as maneiras como os atores se envolvem nas

disputas ou seja que justificaccedilotildees apresentam para as suas accedilotildees eou os juiacutezos que

produzem em relaccedilatildeo agraves accedilotildees dos outros

A Animaccedilatildeo Sociocultural caracteriza-se por ser uma atividade imprecisa ambiacutegua e

incerta Imprecisa por ser difiacutecil delimitar os seus contornos Ambiacutegua pelos muacuteltiplos

sentidos atribuiacutedos ao conceito sentidos que resultam por um lado de

posicionamentos ideoloacutegicos diferentes e por outro lado da grande diversidade de

acircmbitos de contextos e de puacuteblicos a quem a atividade se dirige bem como da grande

variedade de instrumentos que utiliza e de atividades que desenvolve Incerta pelo

caraacuteter transitoacuterio de muitos dos seus trabalhos

Na verdade ldquonatildeo haacute um autor que se tenha preocupado com o conceito de animaccedilatildeo

sociocultural que em seguida natildeo tenha reconhecido a polissemia a ambiguidade a

imprecisatildeo o caraacuteter vagohellip no uso da expressatildeordquo (Trilla 2004 p 25) O mesmo eacute

reconhecido por Quintas e Castantildeo (1998 p 17) quando afirmam que ldquoo conceito de

animaccedilatildeo eacute bastante impreciso Natildeo existe unanimidade entre os autoresrdquo Haacute com

efeito segundo Lopes (1993 p 79) uma ldquoconflitualidade teoacuterica agrave volta do conceitordquo

conferindo aos autores perspetivas de abordagem diferentes

Num artigo intitulado ldquoSobre a definiccedilatildeo de Animaccedilatildeo Socioculturalrdquo Azevedo (2008)

apoacutes colocar vaacuterias interrogaccedilotildees ndash ldquoA animaccedilatildeo sociocultural poderaacute ser uma ciecircncia

Poderaacute ser um ramo das ciecircncias sociais O que eacute a animaccedilatildeo sociocultural Seraacute uma

teacutecnica um meacutetodo ou uma ciecircnciardquo ndash reconhece ldquoque a mesma eacute um diamante em

bruto que carece de ser lapidado de forma a otimizar a sua apresentaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo

socialrdquo Por seu lado Ander-Egg define-a como ldquoum conjunto de teacutecnicas sociais que

baseadas numa pedagogia participativa tem como finalidade promover praacuteticas e

atividades voluntaacuteriasrdquo (1986 p 125) apresentando-a ldquocomo uma criaccedilatildeo frente agraves

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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atonias do corpo socialrdquo (1999 pp 69-77) Adianta ao mesmo tempo trinta e duas

definiccedilotildees de vaacuterios autores referindo que a maior parte delas ldquoexpressam um projeto

pedagoacutegico de consciencializaccedilatildeo de participaccedilatildeo e de criatividade socialrdquo e ldquocada um

conforme as suas proacuteprias perspetivas ideoloacutegicaspoliacuteticas cientiacuteficas e a sua proacutepria

praacutetica poderaacute escolher ou rejeitarrdquo (1999 pp 69-77) Maria de Lourdes Lima dos

Santos (1998 p 249) sintetizando a atividade refere o seguinte

ldquo(hellip) torna-se difiacutecil precisar os seus limites e delimitar os seus contornos Na maior

parte dos casos procede-se de uma das trecircs formas por exemplificaccedilatildeoinventariaccedilatildeo

definindo o conceito pelas atividades que engloba pela negativa eliminando as

atividades que natildeo se enquadram no seu acircmbito ou ainda pelo considerar do seu

caraacuteter residual na Animaccedilatildeo cabe entatildeo um imenso lsquoterritoacuterio ndash restorsquo de praacuteticas

de difiacutecil classificaccedilatildeordquo

Animaccedilatildeo Sociocultural e transformaccedilotildees sociais

A animaccedilatildeo enquanto ldquoprocesso de dar vida de infundir alma a algueacutem ou alguma

coisa ato ou efeito de animar ou de se animarrdquo8 eacute um fenoacutemeno de todos os tempos

No entanto a origem do conceito de animaccedilatildeo enquanto praacutetica ligada agrave intervenccedilatildeo

social educativa e cultural surge somente a partir de meados do seacuteculo XX mercecirc da

recomposiccedilatildeo do tecido social provocada pelo nascimento das sociedades industriais e

desintegraccedilatildeo das chamadas sociedades tradicionais com todos os problemas que

uma alteraccedilatildeo dessa natureza acarretou em termos de integraccedilatildeo social de

participaccedilatildeo comunitaacuteria de comunicaccedilatildeo interpessoal e de identidade cultural

indicaccedilatildeo que eacute partilhada pelos vaacuterios autores (Ander-Egg 1999 2008 Lopes 2006

Thery 1970 Tracana 2006 Ventosa 2007) Problemas que ganharam expressatildeo agrave

medida a que se ia assistindo agrave passagem de uma sociedade localizada (em que as

identidades se confinavam basicamente ao territoacuterio e agrave liacutengua) para uma sociedade

globalizada (em que as identidades passaram a apresentar um caraacuteter transterritorial

8 Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircnea da Academia de Ciecircncias de Lisboa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

43

multilinguiacutestico e multimeacutedia) assente em redes de comunicaccedilatildeo virtuais (Gonzalez

2008 p 6)

Animaccedilatildeo Sociocultural em Portugal breve perspetiva histoacuterica

No caso portuguecircs a Animaccedilatildeo Sociocultural tem-se traduzido em diferentes formas

de intervenccedilatildeo formas essas que expressam as vaacuterias conceccedilotildees da atividade (Lopes

2006 p 156 2008ordf pp 457-485 e 2008b pp 147-158) Ela comeccedila a ganhar alguma

consistecircncia a partir dos anos 60 mercecirc das novas dinacircmicas sociais e econoacutemicas que

o paiacutes comeccedilara a conhecer No entanto em resultado dos condicionamentos em

mateacuteria de direitos liberdades e garantias dos cidadatildeos ldquoa uacutenica lsquoanimaccedilatildeorsquo permitida

era preconizada pela Fundaccedilatildeo Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT)rdquo (Ventosa

2006) cujo propoacutesito era propagandear os ideais do regime poliacutetico ndash expressos na

triacuteade ldquoDeus Paacutetria e Famiacuteliardquo ndash atraveacutes da organizaccedilatildeo de coloacutenias de feacuterias de

excursotildees de demonstraccedilotildees desportivas de conferecircncias entre outras atividades

Tendo como pano de fundo uma perspetiva de cultura nacional assente numa

conceccedilatildeo nacionalista de Portugal a criaccedilatildeo da FNAT inspirada no ldquoMovimento

Internacional Alegria e Trabalhordquo ao promover ldquoo aproveitamento do tempo livre dos

trabalhadores portugueses por forma a assegurar-lhes o maior desenvolvimento fiacutesico

e a elevaccedilatildeo do seu niacutevel intelectual e moralrdquo9 tem em vista como refere Daniel de

Melo (2001 p 62) a ldquointegraccedilatildeo do mundo laboral na orgacircnica corporativa do Estado

Novordquo baseada numa perspetiva de conciliaccedilatildeo entre o trabalho e o capital e de

recusa dos antagonismos sociais e do conflito social e cujas accedilotildees eram preparadas

com referecircncia a uma matriz ruralista que se insere num programa poliacutetico de cultura

ldquoespiritualrdquo dos portugueses (Melo 2001 Ramos do Oacute 1993 1999 Rosas 1994

Valente 1999)

O papel da FNAT ndash convergindo com a accedilatildeo do Secretariado de Propaganda

NacionalSecretariado Nacional de Informaccedilatildeo e das Casas do PovoJunta Central das

Casas do Povo ndash inscreve-se num trabalho de imposiccedilatildeo autoritaacuteria de um projeto

9 Decreto-Lei nordm 25495 de 13 de junho de 1935 ndash diploma de criaccedilatildeo da FNAT

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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doutrinaacuterio totalizante para a sociedade portuguesa consubstanciado atraveacutes de

medidas institucionais consagradoras de uma pretendida unicidade poliacutetico-ideoloacutegica

Atraveacutes desse projeto o Estado Novo procura de acordo com Rosas (1994 p 281)

ldquomoldar todos os niacuteveis da sociedade civil de acordo com os lsquonovos valoresrsquo isto eacute

tentaraacute educaacute-la e formaacute-la imperativamente na moral nacionalista corporativa e

cristatilde que haveria de presidir agrave poliacutetica agraves relaccedilotildees de trabalho aos lazeres agrave vida em

famiacutelia agrave educaccedilatildeo dos jovens ou agrave cultura em geralrdquo

As mudanccedilas que se vatildeo sucedendo na sociedade portuguesa do poacutes-guerra (Rosas

1994 pp 419-501) ndash resultantes de um processo de industrializaccedilatildeo urbanizaccedilatildeo e

terciarizaccedilatildeo que vai ganhando forma ndash transportam consigo novas questotildees sociais

que ao longo da deacutecada de 50 provocariam um reajustamento na linha de orientaccedilatildeo

do corporativismo perdendo importacircncia a perspetiva ruralista e ganhando uma

crescente expressatildeo a linha industrialista atraveacutes dos Planos de Fomento e

consubstanciada no Plano de Formaccedilatildeo Social e Organizaccedilatildeo Corporativa

Natildeo obstante a abertura que se fez sentir na ldquoPrimavera Marcelistardquo a ideia

nacionalista da cultura nacional natildeo foi colocada de parte Ela perdurou ateacute ao 25 de

Abril de 1974 Portugal mantinha-se no dizer de Barreto ldquo(hellip) muito mais do que

qualquer paiacutes (hellip) numa espeacutecie de atabafante unidade um povo com uma soacute etnia

uma soacute religiatildeo uma soacute fronteira uma soacute liacutengua uma soacute cultura uma soacute raccedila ndash se

assim me posso exprimir ndash um soacute Estadordquo10

No periacuteodo de 1974 a 1980 assiste-se agrave institucionalizaccedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural

Esta eacute centralizada em instituiccedilotildees criadas expressamente para o efeito assumindo o

Estado a gestatildeo e o controlo das atividades e a formaccedilatildeo dos animadores Dentro

deste periacuteodo Lopes (2006 157-239) distingue duas fases na Animaccedilatildeo Sociocultural

a ldquofase revolucionaacuteriardquo que decorre entre 1974 e 1976 e a ldquofase constitucionalistardquo

entre 1977 e 1980 Na primeira fase assiste-se a uma intensa atividade de animaccedilatildeo

coordenada pela Comissatildeo Interministerial para a Animaccedilatildeo Sociocultural (CIASC) Na

10

Antoacutenio Barreto Expresso de 11 de julho de 1998 cit in Lopes 2006 p 239

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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segunda fase a accedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural eacute determinada por instituiccedilotildees que

assumiram a centralidade da mesma constituindo exemplos dessa centralidade o

Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ) e o Instituto Nacional para o

Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores (INATEL)11

Entre 1981 e 1990 a conceccedilatildeo de Animaccedilatildeo que anteriormente passava por dar

expressatildeo a uma ideia de cultura una e homogeacutenea evoluiu para o reconhecimento de

uma cultura com dimensatildeo plural e diversificada pois

ldquo(hellip) com a emigraccedilatildeo o turismo o regresso dos retornados a abertura democraacutetica a

diversidade de investimentos a criaccedilatildeo de grupos e empresas privadas os partidos

poliacuteticos e as associaccedilotildees a televisatildeo a integraccedilatildeo europeiahellip com tudo isto de

repente haacute mesquitas as sinagogas tecircm nova vida nascem seitas surgem novos

cultos aparecem igrejas protestantes haacute sindicatos diversificados e plurais opiniotildees

diferentes novos credos e crenccedilashellipIsto eacute estaacute em construccedilatildeo uma sociedade

finalmente pluralhelliprdquo12

Neste periacuteodo a Animaccedilatildeo passa gradualmente da esfera do poder central para a

esfera do poder local Tambeacutem nesta deacutecada Lopes (2006 p 240-276) identifica duas

fases da Animaccedilatildeo Sociocultural a ldquofase patrimonialistardquo que decorre entre 1981 e

1985 em que o Estado se manteacutem ainda como o grande impulsionador da atividade

atraveacutes da Secretaria de Estado da Cultura do FAOJ e da Junta Central das Casas do

Povo caracterizando-se esta fase por uma intervenccedilatildeo centrada na preservaccedilatildeo e

recuperaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural a ldquofase da deslocaccedilatildeo da Animaccedilatildeo Sociocultural

do poder central para o poder localrdquo que decorre entre 1986 e 1990 em que o poder

local passa a assumir um crescente interesse e um papel relevante na Animaccedilatildeo

Sociocultural encarando-a como uma maneira de mobilizar vontades e recursos

De 1991 a 1995 assiste-se ao crescimento do fenoacutemeno da imigraccedilatildeo natildeo soacute dos

paiacuteses africanos de liacutengua oficial portuguesa mas tambeacutem do Brasil dos paiacuteses da

Europa do leste da China e da Iacutendia Nestas circunstacircncias a intervenccedilatildeo da Animaccedilatildeo

11

A FNAT passou a denominar-se INATEL em 3 de abril de 1975

12 Antoacutenio Barreto Expresso de 11 de julho de 1998 cit in Lopes 2006 pp 276

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Sociocultural passa a dar expressatildeo agrave dimensatildeo multicultural (Lopes 2006 pp 277-

287)

A partir de meados dos anos 90 em resultado das transformaccedilotildees ocorridas num

mundo cada vez mais globalizado eacute posta agrave prova a capacidade da Animaccedilatildeo

Sociocultural para enfrentar os novos e complexos desafios E pese embora no dizer

de Ander-Egg (2008 pp 20-21) a insuficiente valorizaccedilatildeo atribuiacuteda agrave Animaccedilatildeo

Sociocultural em termos de poliacuteticas puacuteblicas natildeo deixou de se alargar a intervenccedilatildeo

dos Animadores Socioculturais e de se ampliarem os seus perfis profissionais (Ferreira

2008 p 200)

A este respeito Dinis (2007) situa a Animaccedilatildeo Sociocultural num terreno ldquoflexiacutevelrdquo e

por natureza ldquocriativordquo Por sua vez Azevedo (2009) sublinhando a flexibilidade

apontada por Dinis acrescenta o perfil do ldquoanimador empreendedorrdquo como sendo

aquele que ldquodesenvolve a atividade em diferentes cenaacuterios e posiccedilotildees organizacionaisrdquo

Jaacute Correia (2008) ao traccedilar o ldquoperfil do Animador Investigadorrdquo realccedila um conjunto de

requisitos pessoais e profissionais que remetem nomeadamente para o ldquomundo

ciacutevicordquo o ldquomundo inspiradordquo e o ldquomundo de projetosrdquo (Boltanski amp Theacutevenot 1991

Bolthanski amp Chiapello 1999 Boltanski 2001)

Animaccedilatildeo Sociocultural e alteraccedilotildees no mundo do trabalho

A atuaccedilatildeo em novos campos de intervenccedilatildeo parece traduzir pois a capacidade de

adaptaccedilatildeo e flexibilidade dos Animadores Socioculturais perante experiecircncias de

trabalho que apresentam ndash muitas delas ndash um caraacuteter transitoacuterio e uma grande

diversidade em termos das competecircncias exigidas O que parece corresponder agrave

indicaccedilatildeo dada por Lopes (2008a) quando em mateacuteria de empregabilidade escreve

que

ldquoentre os anos 60 e 90 existiu emprego em Animaccedilatildeo No seacuteculo XXI vai existir muito

trabalho em Animaccedilatildeo mas natildeo o modelo de emprego do seacuteculo XX isto requer

preparar os Animadores para um novo conceito de empregabilidade assente no

trabalho em rede e natildeo no trabalho por conta de outrem na criaccedilatildeo de empresas que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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respondam ao pulsar do novo tempo e que os contratos programa com lares hospitais

jardins de infacircncia autarquias organizaccedilotildees governamentais deem respostas aos

diferentes acircmbitos de Animaccedilatildeo existentes e ainda os que hatildeo de vir porque o

movimento da vida vai sempre gerar novas necessidades e consequentemente novos

acircmbitosrdquo

Ao traduzir uma mudanccedila de paradigma em mateacuteria de trabalho a indicaccedilatildeo dada

ajusta-se assim a um mundo em que o futuro se encontra completamente em aberto

Por um lado a loacutegica do ldquotrabalho em rederdquo tende a difundir-se cada vez mais

parecendo constituir-se como o centro do sistema Por outro lado o fosso que separa

a decisatildeo do conhecimento parece acentuar-se ou seja um mundo que impotildee a cada

ldquoum de noacutes o fardo de ter que tomar decisotildees cruciais que podem afetar a nossa

sobrevivecircncia sem qualquer base de conhecimento adequadordquo e por vezes ldquosem ter

consciecircncia das suas consequecircnciasrdquo (Žižek 1999 pp 450-451) Em muitos casos a

incerteza que caracteriza o mundo moderno de hoje torna difiacutecil prever os resultados

das decisotildees que os indiviacuteduos possam tomar (sejam pessoais sejam profissionais)

requerendo a aquisiccedilatildeo de novas capacidades que os tornem adaptaacuteveis e flexiacuteveis Eacute

isto aliaacutes que ressalta da anaacutelise dos discursos proferidos em Animaccedilatildeo Sociocultural

a importacircncia que a loacutegica de projeto (Boltanski amp Chiapello 1999 Boltanski 2001)

parece estar a ganhar em mateacuteria de emprego E a ser assim a empregabilidade dos

Animadores passaraacute a estar condicionada pela capacidade destes se movimentarem na

ldquorederdquo ou seja a prova da sua grandeza passaraacute a ser dada pela sua capacidade de

adaptaccedilatildeo e flexibilidade perante experiecircncias de trabalho que tendem a apresentar

um caraacuteter transitoacuterio e uma grande diversidade em termos das competecircncias

exigidas

Esta tendecircncia fazendo-se sentir nos vaacuterios setores de intervenccedilatildeo da Animaccedilatildeo

Sociocultural assume grande expressatildeo no setor cultural conforme realccedila Gomes

(2010 p 118) Refere este autor que o aumento das oportunidades de trabalho neste

setor vem sendo associado a uma maior flexibilidade e precariedade dos viacutenculos e

prestaccedilotildees de trabalho assim como agrave emergecircncia ou consolidaccedilatildeo de novas funccedilotildees e

modos de organizaccedilatildeo do trabalho marcados pela polivalecircncia e cumulatividade Aliaacutes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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os dados do Observatoacuterio das Atividades Culturais indicam que a crescente difusatildeo das

formas flexiacuteveis de trabalho registada ao longo dos anos 80 e 90 se articula de um

modo muito estreito com o aumento da oferta cultural e nessa medida com o

acreacutescimo de emprego e de oportunidades de trabalho para os diversos profissionais

relacionados com o setor contando-se entre estes os Animadores Socioculturais a

trabalharem em contextos culturais diversos nomeadamente em departamentos de

accedilatildeo cultural de Cacircmaras Municipais e Juntas de Freguesia Este aumento da oferta

cultural nomeadamente ao niacutevel das programaccedilotildees das autarquias locais implica

frequentemente o estabelecimento de parcerias com associaccedilotildees fundaccedilotildees e outras

entidades com recurso a formas de trabalho flexiacuteveis na modalidade de projeto e

baseadas em praacuteticas de outsourcing (Gomes amp Martinho 2009 pp 151-159

Martinho 2010 pp 243-247)

O que se regista no setor cultural em geral e na Animaccedilatildeo Sociocultural em particular

nas vaacuterias vertentes da sua intervenccedilatildeo inscreve-se num plano mais alargado de uma

forte mudanccedila no mundo do trabalho Mudanccedila que assenta no caso portuguecircs

numa crescente representaccedilatildeo das formas instaacuteveis de empregar contrataccedilatildeo a

prazotermo recibos verdes trabalho temporaacuterio trabalho clandestino entre outras

Esta mudanccedila comeccedila a desenhar-se a partir da segunda metade dos anos 70 ndash com a

publicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo que regulamenta a contrataccedilatildeo a prazo ndash e ao longo dos anos

80 intensificando-se a partir de meados dos anos 90

O trabalho enquanto mecanismo de inserccedilatildeo e de integraccedilatildeo social e de

reconhecimento garantindo niacuteveis baacutesicos de proteccedilatildeo social parece pois estar

sujeito a um processo de fragilizaccedilatildeo O modelo que tem vindo a ganhar forccedila assenta

em larga medida no crescimento acentuado das formas de trabalho intermitentes e

natildeo raras vezes socialmente pouco protegidas No caso portuguecircs a contrataccedilatildeo a

termo o trabalho temporaacuterio (Pereira 1988) e a falsa prestaccedilatildeo de serviccedilos satildeo

exemplos ilustrativos de uma regra na praacutetica contratual e natildeo jaacute de uma exceccedilatildeo

Ao contraacuterio do que sucedia haacute umas deacutecadas atraacutes o mundo do trabalho caracteriza-

se presentemente por ser pouco linear (Pais 2005) Especialmente nas geraccedilotildees mais

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jovens os percursos profissionais satildeo ldquomarcados pela instabilidade e pelo riscordquo

(Guerreiro amp Abrantes 2004 p 28) E muito embora pareccedila ser crescente a

impotecircncia das comunidades locais em atenuar esse risco (Hespanha amp Carapinheiro

2002 p 29) importa perceber a maneira como os indiviacuteduos orientam e ajustam a sua

accedilatildeo ou seja que tomadas de posiccedilatildeo vatildeo assumindo em face das situaccedilotildees concretas

de trabalho com que se vatildeo deparando E satildeo precisamente essas tomadas de posiccedilatildeo

que os Animadores Socioculturais vatildeo assumindo sobre o caraacuteter justo ou injusto das

situaccedilotildees em que se encontram (Boltanski amp Theacutevenot 1991 p 87) bem como as

gramaacuteticas em que as mesmas assentam que se procuraratildeo aclarar nas vaacuterias etapas

da investigaccedilatildeo em curso

Animaccedilatildeo Sociocultural e controveacutersias no espaccedilo puacuteblico

Como forma de orientaccedilatildeo da investigaccedilatildeo mobiliza-se o quadro teoacuterico da Sociologia

Pragmaacutetica perspetiva que considera a accedilatildeo como o produto de um encontro entre as

situaccedilotildeescontextosacontecimentos e as formas como os atores nelas se envolvem

em determinados regimes13 Mais especificamente toma-se em consideraccedilatildeo a

pluralidade de regimes de justificaccedilatildeo (citeacutes)14 sempre que os atores envolvidos nas

controveacutersias em torno de situaccedilotildees problemaacuteticas de justiccedila suscitadas pela

Animaccedilatildeo Sociocultural satildeo chamados a justificar as suas accedilotildees eou a produzir juiacutezos

criacuteticos sobre as accedilotildees dos outros E nesses termos procurando perceber em que

13

Na sua obra ldquoLrsquoAction au Pluriel ndash Sociologie des Reacutegimes drsquoEngagementrdquo Laurent Theacutevenot (2006 pp 8-11) distingue trecircs regimes de accedilatildeo a) o primeiro o regime de accedilatildeo em puacuteblico realccedilando as questotildees da justiccedila e do bem comum e considerando a filosofia poliacutetica como fonte de inspiraccedilatildeo na construccedilatildeo dos modelos de ordem que servem de base agraves justificaccedilotildees e agraves criacuteticas dos atores nas disputas em que se envolvem

13 b) o segundo o regime

de accedilatildeo em plano destacando o indiviacuteduo a sua autonomia as suas escolhas os seus projetos as suas decisotildees as suas estrateacutegias a sua racionalidade os seus interesses c) o terceiro o regime de accedilatildeo familiar em que as accedilotildees por decorrerem num ambiente de proximidadeintimidade se caracterizam por oposiccedilatildeo agrave racionalidade que caracteriza o regime de accedilatildeo em plano

14 Boltanski amp Theacutevenot (1991 pp 86-106) definem a ldquociteacuterdquo como um modelo de ordem em que o bem comum eacute

contraposto aos interesses particulares devendo estes ser sacrificados para aceder a um estado de grandeza superior Os mesmos autores explicitam cada um dos modelos e as respetivas fontes (1991 pp 27 61-82 107-157) ldquociteacute inspiradardquo ndash Sto Agostinho 354 a 430 aC ldquociteacute domeacutesticardquo ndash Bossuet 1627 a 1704 ldquociteacute de opiniatildeordquo ndash Hobbes 1588 a 1679 ldquociteacute ciacutevicardquo ndash Rousseau 1712 a 1778 ldquociteacute industrialrdquo ndash Saint-Simon 1760 a 1825 ldquociteacute mercantilrdquo ndash A Smith 1723 a 1790 Por sua vez Boltanski e Chiapello (1999) acrescentam aos seis modelos anteriores um seacutetimo modelo a ldquociteacute por projetordquo ndash estrutura social baseada numa rede de projetos e em que a adaptaccedilatildeo faacutecil a flexibilidade a polivalecircncia constituem entre outros criteacuterios de mediccedilatildeo da grandeza dos indiviacuteduos

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medida as soluccedilotildees que vatildeo sendo encontradas assentam em princiacutepios de justiccedila com

criteacuterios de subida em generalidade ou seja em princiacutepios de ordem que permitam

associar os atores num acordo vaacutelido para todos

A informaccedilatildeo recolhida ateacute ao momento presente ndash atraveacutes de documentos15 e atraveacutes

de entrevistas16 ndash revela por um lado uma assinalaacutevel diferenccedila entre aquilo que os

Animadores Socioculturais gostariam que fosse a Animaccedilatildeo e aquilo com que estes na

realidade se deparam nos vaacuterios contextos de trabalho Diferenccedila que se faz notar em

relaccedilatildeo agraves ldquolicenccedilasrdquo17 e ao ldquomandatordquo18 (Hughes 1993 Strauss 1992) ao ldquopoder

profissionalrdquo19 (Freidson 1986 e 1994) agrave ldquojurisdiccedilatildeo profissionalrdquo20 (Abbott 1988) e ao

ldquoestatuto profissionalrdquo21 constituindo por isso problemaacuteticas que geram tensotildees e

controveacutersias entre os profissionais Por outro lado a informaccedilatildeo recolhida pocircs em

evidecircncia a diversidade de posiccedilotildees que os atores da Animaccedilatildeo Sociocultural assumem

publicamente face agraves problemaacuteticas enunciadas bem como a diversidade de meios

utilizados para a sua expressatildeo (jornais revistas foacuteruns de discussatildeo blogs

congressos encontros entre outros)

15

Jornais revistas atas de congressos e encontros foacuteruns de discussatildeo e blogues

16 Foram efetuadas oito entrevistas ao longo do mecircs de julho de 2010 quatro a Animadores Socioculturais com

formaccedilatildeo superior duas a professores do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural uma a um dirigente associativo e uma a um estudante finalista do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural

17 Autorizaccedilatildeo legal de exerciacutecio de certas atividades obtida atraveacutes de uma formaccedilatildeo longa (normalmente de niacutevel

superior) e que deste modo assegura o controlo no acesso ao exerciacutecio da atividade protegendo a autoridade e prestiacutegio dos profissionais

18 Obrigaccedilatildeo de assegurar uma funccedilatildeo especiacutefica sendo que a fixaccedilatildeo dessa obrigaccedilatildeo resulta de um processo social

que implica conflito e negociaccedilatildeo com outras aacutereas ocupacionais e se traduz em autonomia e autoridade profissionais

19 Capacidade de traduzir recursos de vaacuteria ordem (poliacuteticos organizacionais cognitivos culturais e ideoloacutegicos) em

maior autonomia e controlo sobre a relaccedilatildeo com os clientes a organizaccedilatildeo do trabalho o mercado de trabalho e o conhecimento

20Aacuterea de atividade sobre a qual a profissatildeo deteacutem o direito de controlar a prestaccedilatildeo de serviccedilos direito esse que

por um lado estaraacute tanto mais garantido quanto mais elevado for o grau de predominacircncia de inferecircncia na ligaccedilatildeo do diagnoacutestico ao tratamento e por outro lado constitui o resultado de disputas conflitos e competiccedilatildeo com outras aacutereas ocupacionais

21 Conjunto de normas reconhecido pelo Estado atraveacutes de legislaccedilatildeo especiacutefica que por um lado estabelece os

requisitos para o exerciacutecio da atividade e as penas para quem a exerccedila sem licenciamento e que por outro lado promove os valores de orientaccedilatildeo profissional definindo os direitos e os deveres profissionais e estabelecendo um regime sancionatoacuterio aplicaacutevel a situaccedilotildees que violem o cumprimento desses mesmos deveres

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Na verdade os dados permitem dizer que os Animadores orientam publicamente a sua

accedilatildeo indicando um efetivo envolvimento destes profissionais em controveacutersias em

torno de situaccedilotildees problemaacuteticas de justiccedila deixando perceber por via da sua

expressatildeo puacuteblica os dispositivosgramaacuteticas que servem de base agraves justificaccedilotildees da

sua accedilatildeo eou agrave produccedilatildeo de juiacutezos criacuteticos sobre accedilatildeo dos outros Dispositivos que

resultam de ldquodiferentes mundosrdquo justificativos (Boltanski amp Theacutevenot 1991 Bolthanski

amp Chiapello 1999 Boltanski 2001) especialmente do mundo ciacutevico em que o bem

coletivo a promoccedilatildeo da participaccedilatildeo na vida da cidade e a igualdade constituem as

formas de expressatildeo privilegiadas dando disso conta os proacuteprios tiacutetulos de um

conjunto de artigos incluiacutedos em vaacuterias publicaccedilotildees da Animaccedilatildeo Sociocultural22 bem

como da maneira como os seus protagonistas encaram a atividade nas suas trecircs

dimensotildees de intervenccedilatildeo a social a educativa e a cultural Na dimensatildeo social a

atuaccedilatildeo consiste segundo Viveiros (2008) em ldquocapacitar os atores do lsquolocalrsquo com

competecircncias sociais e operativas vaacutelidas que lhes possibilite uma autonomia cultural

poliacutetica e econoacutemica (hellip)rdquo Na dimensatildeo educativa a intervenccedilatildeo situa-se segundo

Trilla (2004 pp 32-33) ldquoquase sempre fora do limite dos curricula proacuteprios do ensino

regulado (hellip) no setor natildeo formal do universo educativo (hellip)rdquo Na dimensatildeo cultural a

atividade parte segundo o mesmo autor (2004 p 20) de um conceito amplo de

cultura e natildeo da noccedilatildeo mais restrita proacutepria da linguagem corrente que circunscreve

o conceito agrave noccedilatildeo de ldquocultura lsquoescolarrsquo ou lsquogeralrsquo (saber ler e escrever noccedilotildees de

aritmeacutetica humanidades etc) ou esta outra noccedilatildeo de cultura mais requintada

elitista elaborada o requinte da pessoa lsquocultarsquo que desenvolveu uma sensibilidade

especial para apreciar uma obra de arte que se movimenta livremente pelo mundo das

ideias e da ciecircnciardquo Nesta dimensatildeo a ideia que se encontra subjacente agrave Animaccedilatildeo

Sociocultural eacute a de uma cultura que normalmente se designa por ldquocultura popularrdquo e

22

ldquoEstudo para uma Formaccedilatildeo Especiacutefica em Meio Rural Dar Vez e Voz aos Atores e Atrizes do Territoacuteriordquo

ldquoAnimaccedilatildeo Sociocultural e Protagonismo Juvenilrdquo ldquoO Animador e a Memoacuteria Social ndash Lembrar Esquecer e

Mitificarrdquo ldquoAnimaccedilatildeo Territorial ndash Ouvir a Vida e Fazer o Destinordquo ldquoCultura de Cidaderdquo ldquoPraacuteticas de Animaccedilatildeo Um

Espaccedilo para o Debate Coletivo na Perspetiva da Pluralidade das Ideiasrdquo ldquoO Desenvolvimento Local e a Animaccedilatildeo

Sociocultural Uma Comunhatildeo de Princiacutepiosrdquo ldquoDe la ciudadaniacutea asistida a la ciudadaniacutea emancipada Apuntes para

la lectura del aporte del ocio en contextos de exclusioacutenrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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que Lopes (nd) associa ao conceito de ldquodemocracia culturalrdquo em que a accedilatildeo ldquoeacute

encarada de baixo para cima e de dentro para fora a partir das necessidades e

aspiraccedilotildees das populaccedilotildeesrdquo

Ao mesmo tempo os dispositivosgramaacuteticas que servem de base agraves justificaccedilotildees natildeo

deixam de resultar do mundo industrial em que satildeo destacados os atributos

profissionais da Animaccedilatildeo Sociocultural e a sua eficaacutecia do mundo inspirado em que a

criatividadeinovaccedilatildeo a autenticidade e o espiacuterito artiacutestico satildeo capacidades

enaltecidas e ainda do mundo assente numa loacutegica de projetos em que a adaptaccedilatildeo

e a flexibilidade satildeo atributos indicados como indispensaacuteveis

Assim no que respeita agraves ldquolicenccedilasrdquo a controveacutersia gira em torno da sua real

importacircncia em termos de exerciacutecio da Animaccedilatildeo Sociocultural Natildeo assegurando o

controlo no acesso ao exerciacutecio da atividade as licenccedilas natildeo protegem a autoridade e

prestiacutegio dos profissionais Com efeito nas vaacuterias manifestaccedilotildees puacuteblicas sobre esta

mateacuteria os Animadores Socioculturais deixam claro um sentimento de injusticcedila

resultante da preferecircncia que eacute dada aos Animadores com formaccedilatildeo secundaacuteria em

muitos contextos de trabalho em detrimento dos Animadores com formaccedilatildeo superior

Este sentimento de injusticcedila prende-se ao mesmo tempo com a diferenccedila de

tratamento entre os licenciados em Animaccedilatildeo e outros licenciados no que se refere agrave

remuneraccedilatildeo A explicaccedilatildeo para esta diferenccedila de tratamento radica segundo um

participante no ANIMUSFOacuteRUM de 20 de setembro de 2008 na existecircncia de

formaccedilotildees em Animaccedilatildeo Sociocultural ao niacutevel secundaacuterio pois ldquo(hellip) enquanto

existirem cursos profissionais na aacuterea (hellip) existe um saco e colocam-nos todos laacute

dentro (hellip) Se as entidades (hellip) puderem colocar um Animador do Curso Teacutecnico (eacute o

que fazem porque sai muito mais barato) colocamrdquo

Por sua vez a ldquomultiplicaccedilatildeo desenfreada dos cursos de Animaccedilatildeo ao niacutevel do ensino

superior ensino profissional eou secundaacuterio e outras formaccedilotildees paralelas e a

inexistecircncia de um fio condutor entre formaccedilotildees constituem fatores desvalorizadores

dos diplomasrdquo (ANIMUSFOacuteRUM 20 de setembro de 2008) A grande diversidade de

acircmbitos de contextos e de puacuteblicos a quem a atividade se dirige e ao mesmo tempo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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a grande variedade de formaccedilotildees e a inexistecircncia de um fio condutor entre elas leva a

que Santos Costa (2010 p 14) questionando o perfil ocupacional o modelo de

formaccedilatildeo e a definiccedilatildeo diferencial da Animaccedilatildeo Sociocultural coloque as seguintes

interrogaccedilotildees

ldquoA Animaccedilatildeo Sociocultural eacute uma profissatildeo especiacutefica ou um modelo de intervenccedilatildeo

que possa ser utilizado noutras profissotildees (hellip) A animaccedilatildeo sociocultural deve ter uma

formaccedilatildeo especiacutefica de animadores com caraacuteter finalista ou uma formaccedilatildeo para a

animaccedilatildeo com caraacuteter transversal e incluiacuteda em diversos estudos (hellip) O que eacute

verdadeiramente especiacutefico da Animaccedilatildeo Sociocultural O que faz realmente diferente

a Animaccedilatildeo Sociocultural em relaccedilatildeo a outros modelos de formaccedilatildeordquo

Tambeacutem Bento (2007) sobre a questatildeo de saber que Animadores devem ser

formados se interroga ldquoSeraacute que o animador cultural para desenvolver a sua

atividade profissional deveraacute ter uma formaccedilatildeo acadeacutemica Os animadores deveratildeo

ter uma formaccedilatildeo polivalente ou especializadardquo E logo a seguir refere que ldquo(hellip)

devem existir do nosso ponto de vista animadores culturais sem grau acadeacutemico Ao

mesmo tempo tambeacutem pensamos que devem existir animadores culturais com

formaccedilatildeo acadeacutemicardquo

Por seu turno a reduzida visibilidade dos projetos de Animaccedilatildeo Sociocultural parece

constituir no dizer de uma Animadora Sociocultural a trabalhar num Centro de Dia e

Centro de Conviacutevio para Idosos de uma Instituiccedilatildeo Particular de Solidariedade Social

um fator condicionador do valor atribuiacutedo aos diplomas (entrevista 1 ndash julho de 2010)

ldquo(hellip) haacute uma seacuterie de projetos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria mas eles natildeo tecircm

visibilidade porque depois ficam neles proacuteprios (hellip) dar visibilidade a trabalhos

comunitaacuterios e ao sentido comunitaacuteriohellip talvezhellip pudesse ser a chave para um maior

valor do diploma (hellip)rdquo

Relativamente ao ldquomandatordquo sendo pouco claro compromete a autonomia e a

autoridade profissionais tornando ambiacuteguo o espaccedilo institucional de atuaccedilatildeo dos

Animadores Socioculturais Esta ambiguidade parece estar relacionada de acordo com

as conclusotildees do debate sobre o ldquoEstatuto dos Animadores Socioculturaisrdquo promovido

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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pela Associaccedilatildeo Regional dos Animadores Socioculturais de Tondela a 9 de marccedilo de

2010 ldquocom as especializaccedilotildees existentes no ensino superiorrdquo pois estas tornam ldquomais

complicado gerir os conteuacutedos funcionais do Animador assim como os seus direitos e

deveresrdquo E tal como eacute referido num documento intitulado ldquoLexis e Praxisrdquo ndash produzido

pela Escola Superior de Educaccedilatildeo de Santareacutem sobre a orientaccedilatildeo estrateacutegica para a

reformulaccedilatildeo do curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Cultural e Educaccedilatildeo Comunitaacuteria ndash

a carecircncia de saberes cientiacuteficos na formaccedilatildeo dos Animadores constitui uma

explicaccedilatildeo para a ambiguidade que se faz notar no seu dia a dia profissional

ldquoAnimadores satildeo detentores de Processos mas carecem geralmente de formaccedilatildeo

conteuacutedal (saberes numa dada aacuterea cientiacutefica) (hellip) natildeo se pode ser soacute detentor de

saberes processuais (saber como se deve agir) sem se saber bem sobre o quecirc

(conteuacutedo) se age ou vice-versardquo

Em relaccedilatildeo ao ldquopoder profissionalrdquo sendo fraacutegil traduz-se numa ausecircncia de controlo

sobre a relaccedilatildeo com os clientes a organizaccedilatildeo do trabalho o mercado e o

conhecimento e desta maneira incapacita os profissionais em ditar o conteuacutedo os

termos e as condiccedilotildees do seu trabalho Este poder no dizer de uma professora de um

curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural ldquo(hellip) tem que ser conquistado pelos

Animadores com certeza e por eles proacuteprios enquanto grupo socioprofissionalrdquo

(Entrevista 6 ndash julho de 2010) A mesma opiniatildeo eacute partilhada por um dirigente

associativo (APDASC - Associaccedilatildeo para o Desenvolvimento da Animaccedilatildeo Sociocultural

nuacutecleo da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo ndash Entrevista 7 ndash julho de 2010) ao afirmar que

ldquo(hellip) o Animador tem sobretudo de conquistar o espaccedilo o espaccedilo natildeo lhe eacute cedido em

funccedilatildeo da formaccedilatildeo que apresenta ao contraacuterio do que sucede normalmente com o

Assistente Social em que o espaccedilo lhe eacute cedido em funccedilatildeo do curso em que estaacute

formado (hellip)rdquo-

Em mateacuteria de ldquojurisdiccedilatildeo profissionalrdquo sendo vulneraacutevel explica a intromissatildeo de

outros profissionais nas atividades de Animaccedilatildeo Sociocultural Efetivamente ldquo(hellip)

debaixo da designaccedilatildeo Animaccedilatildeo temos situaccedilotildees muito diversas algumas ateacute

hiacutebridasrdquo (professora de um curso de licenciatura em Animaccedilatildeo Sociocultural ndash

Entrevista 6 ndash julho de 2010)

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Sobre o ldquoestatuto profissionalrdquo percebe-se que a necessidade de existir um estatuto

para o reconhecimento da atividade de Animaccedilatildeo Sociocultural suscita controveacutersia

Por um lado haacute a expectativa de que o estatuto possa regular a atividade de Animaccedilatildeo

Sociocultural e dessa maneira constituir um fator disciplinador do mercado indicando

e impondo os requisitos necessaacuterios para o seu exerciacutecio Por outro lado haacute o receio

de que o estatuto possa limitar a atividade de Animaccedilatildeo Sociocultural e desse modo

constituir um fator de exclusatildeo

Para os defensores do estatuto enquanto regulador da atividade a sua criaccedilatildeo

constitui uma medida essencial para

ldquodisciplinar o exerciacutecio da profissatildeo do Animador distinguindo os direitos e deveres do

profissional (hellip)rdquo uma vez que ldquo() teraacute que ser aprovado por uma Associaccedilatildeo de

Direito Puacuteblico representativa dos profissionais do setor que mais tarde se

poderaacutedeveraacute transformar em Sindicato ou ateacute mesmo em Ordem Profissionalrdquo

(conclusotildees do debate sobre o ldquoEstatuto dos Animadores Socioculturaisrdquo promovido

pela Associaccedilatildeo Regional dos Animadores Socioculturais de Tondela em marccedilo de

2010)

Associaccedilatildeo que chamaraacute a si no dizer dos defensores do estatuto a prerrogativa de

ldquocertificar o perfil e as competecircncias dos profissionais de animaccedilatildeo socioculturalrdquo

garantindo assim a sua qualidade teacutecnica e pedagoacutegica Dentro desta linha reguladora

o estatuto teraacute de conter um corpo normativo que permita ldquodisciplinar as relaccedilotildees que

os animadores socioculturais estabelecem entre si reciprocamente ou com a

comunidaderdquo e ao mesmo tempo sancionar os que natildeo cumpram os princiacutepios

deontoloacutegicos estabelecidos

Quanto ao efeito limitador que o estatuto poderaacute ter na atividade da Animaccedilatildeo

Sociocultural Esauacute Dinis (2010 pp 179-193) eacute contundente ao afirmar a sua recusa em

relaccedilatildeo agrave criaccedilatildeo

ldquo(hellip) de dispositivos juriacutedicos que assegurem um tratamento especiacutefico para a

Animaccedilatildeo Sociocultural e seus profissionais (hellip) Longe de preconizar coacutedigos

deontoloacutegicos e estatutos corporativos de reduzida eficaacutecia e natural opacidade

apostaria antes que fossem exploradas modalidades de transparecircncia como o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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contrato de animaccedilatildeo ou contrato de projeto em que os dados ficam definidos e se

previnem operaccedilotildees de desvio de ocultaccedilatildeo ou manipulativas sejam na linha do

domesticar sejam no intuito de rutura ou ldquorevoluccedilatildeordquo seja na contumaacutecia de

prolongar rotinas contra a corrente (hellip)rdquo

O mesmo efeito limitador eacute apontado por um dirigente da APDASC - Associaccedilatildeo para o

Desenvolvimento da Animaccedilatildeo Sociocultural nuacutecleo da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo

ao manifestar o receio do estatuto constituir um fator de exclusatildeo ldquo(hellip) afastando dela

pessoas que haacute muitos anos fazem Animaccedilatildeo pese embora natildeo tenham formaccedilatildeo

formal (hellip) (Entrevista 7 ndash julho de 2010)

Nota final

Natildeo obstante a Animaccedilatildeo Sociocultural acompanhar as grandes transformaccedilotildees sociais

ocorridas a partir de meados do seacuteculo XX natildeo deixa de ser assinalaacutevel a diferenccedila

entre aquilo que os Animadores Socioculturais gostariam que fosse a Animaccedilatildeo e

aquilo com que se deparam nos vaacuterios contextos de trabalho imprecisatildeo ambiguidade

e incerteza Essa diferenccedila gera tensotildees que se traduzem num regime de envolvimento

puacuteblico em controveacutersias em torno de situaccedilotildees problemaacuteticas nomeadamente em

torno das ldquolicenccedilasrdquo do ldquomandatordquo do ldquopoder profissionalrdquo da ldquojurisdiccedilatildeo

profissionalrdquo e do ldquoestatuto profissionalrdquo Os argumentos que suportam as diversas

justificaccedilotildees eou os juiacutezos criacuteticos que os vaacuterios atores da Animaccedilatildeo Sociocultural vatildeo

produzindo em relaccedilatildeo agraves problemaacuteticas que afetam a atividade assentam sobretudo

em dispositivos de ordem ciacutevica Mas tambeacutem em dispositivos relacionados com os

atributos profissionais e a sua eficaacutecia com a criatividadeinovaccedilatildeo a autenticidade e

o espiacuterito artiacutestico e com a flexibilidade e a capacidade de adaptaccedilatildeo a um mundo em

que o futuro eacute uma incoacutegnita

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

61

Avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo socioeducativa sobre a violecircncia na

escola

JOANA CAMPOS Escola Superior de Educaccedilatildeo ndash IPLCIES-IUL

jcamposeselxiplpt

JOAtildeO SEBASTIAtildeO ISCTE-IULCIES-IUL

joaosebastiaoisctept

SARA MERLINI CIES-IUL

merlinisaragmailcom

MAFALDA CHAMBINO CIES-IUL

mafalda_sofia_chambinoisctept

Resumo A investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito do projeto Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo

socioeducativa em contextos sociais complexos23 enquadra-se na avaliaccedilatildeo das

poliacuteticas sociais e educativas em particular no que diz respeito agrave seguranccedila escolar em

contextos marcados pela diversidade e complexidade social e cultural O processo de

avaliaccedilatildeo centrou-se na anaacutelise das estrateacutegias de intervenccedilatildeo socioeducativa relativas

ao problema da violecircncia na escola desenvolvidas em trecircs escolas de um concelho da

Aacuterea Metropolitana de Lisboa

Partindo do pressuposto que a violecircncia na escola eacute um fenoacutemeno multideterminado e

multifacetado a pesquisa centrou-se numa abordagem que enquadra as esferas de

intervenccedilatildeoaccedilatildeo das instituiccedilotildees formais e dos agentes sociais enquanto mecanismos

que estruturam e regulam as concepccedilotildees e praacuteticas de violecircncia na escola

A recolha e sistematizaccedilatildeo de informaccedilatildeo centrou-se por um lado nas estrateacutegias de

intervenccedilatildeo que tecircm vindo a ser desenvolvidas localmente pelas escolas e por outro

nas perspetivas dos diferentes intervenientes considerando-se os alunos os

23

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT n ordm 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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professores as direccedilotildees escolares e representantes das entidades e instituiccedilotildees locais

Metodologicamente privilegiou-se o cruzamento de meacutetodos de caraacutecter extensivo e

intensivo combinando teacutecnicas como a Observaccedilatildeo Direta a realizaccedilatildeo de Entrevistas

de Grupos Focais de Questionaacuterios e ainda a Anaacutelise de Redes e a Anaacutelise

Documental Numa fase posterior os diversos intervenientes participaram na

discussatildeo e anaacutelise dos resultados previamente recolhidos e na validaccedilatildeo conjunta de

uma metodologia de intervenccedilatildeo que define um conjunto de estrateacutegias gerais de

combate agraves situaccedilotildees de violecircncia na escola e nos territoacuterios educativos Esta

metodologia eacute o principal produto do projeto e resulta de um processo de avaliaccedilatildeo

dinacircmico e participado A contribuiccedilatildeo que se apresenta no VI Encontro do CIED

ocupa-se dos procedimentos de avaliaccedilatildeo desenvolvidos no acircmbito deste projeto

Palavras-chave Violecircncia na escola Intervenccedilatildeo socioeducativa Avaliaccedilatildeo de

poliacuteticas

Abstract

The research developed through the project Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo socioeducativa

em contextos sociais complexos24 concerns the assessment of social and educational

policies particularly in what regards safety in school contexts marked by social and

cultural complexity and diversity The assessment focused on the analysis of the social

and educational intervention strategies of three schools of the Lisbon Metropolitan

Area on the problem of school violence

Assuming that school violence is a multidetermined and multifaceted phenomenon the

research engaged an approach that includes the interventionaction of formal

institutions and of social agents as mechanisms that structure and regulate

conceptions and practices of school violence

The gathering and systematization of information was centered on the intervention

strategies developed locally by the schools on one hand and the perspectives of the

different stakeholders on the other hand considering students teachers school

directors and representatives from the local organizations and institutions

The methodology intersected extensive and intensive methods combining techniques

such as Observation Interviews Focus Groups Questionnaires Social Network

Analysis and Document Analysis At the final stage the various actors were involved on

the discussion and analysis of the results as well as the validation of an intervention

strategy to deal with school violence This strategy was the main result of the project

25

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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and resulted from a dynamic assessment and participative procedures The

presentation at the VI CIED Conference focused on the procedures and key outputs of

this research project

Keywords School Violence Social and educational intervention Policy assessment

Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo socioeducativa em contextos sociais complexos breve

apresentaccedilatildeo do projeto

A investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito do projeto Estrateacutegias de Intervenccedilatildeo

socioeducativa em contextos sociais complexos25 inscreve-se na avaliaccedilatildeo das poliacuteticas

sociais e educativas em particular no que diz respeito agrave seguranccedila escolar em

contextos marcados pela diversidade e complexidade social e cultural

O processo de avaliaccedilatildeo centrou-se na anaacutelise das estrateacutegias de intervenccedilatildeo

socioeducativa relativas ao problema da violecircncia na escola desenvolvidas em trecircs

escolas do concelho da Aacuterea Metropolitana de Lisboa O projeto teve como finalidade

geral avaliar como se concretiza a niacutevel territorial a articulaccedilatildeo entre o Programa

Escola Segura e os programas centrados na inclusatildeo e igualdade educativa e social

Definiram-se os seguintes objetivos (1) avaliar a eficaacutecia local das poliacuteticas de

seguranccedila escolar (2) identificar as concepccedilotildees e praacuteticas de intervenccedilatildeo relativas agrave

violecircncia e as dinacircmicas de articulaccedilatildeo da intervenccedilatildeo das instituiccedilotildees e agentes

sociais locais que concretizam as poliacuteticas no territoacuterio (3) identificar os elementos

centrais de uma metodologia integrada de intervenccedilatildeo sobre a violecircncia em contexto

escolar passiacutevel de disseminaccedilatildeo e implementaccedilatildeo em diferentes contextos e

territoacuterios

25

Estudo Prospetivo e de Avaliaccedilatildeo ndash POAT 00377402011

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Quadro 1 ndash Dimensotildees de anaacutelise

Dimensotildees Sub-dimensotildees

A violecircncia como

problema

- Conceccedilotildees dos professores e agentes sociais locais sobre a

violecircncia

- Conceccedilotildees e praacuteticas de violecircncia dos alunos considerando

as suas relaccedilotildees a niacutevel informal familiar e institucional

A escola face agrave violecircncia

- Reaccedilatildeoresposta da escola face agrave violecircncia identificaccedilatildeo

das praacuteticas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo

A aplicaccedilatildeo de poliacuteticas

pelas escolas e redes

locais

- Articulaccedilatildeo da rede local na concretizaccedilatildeo de estrateacutegias

de intervenccedilatildeo em situaccedilotildees de violecircncia

- Eficaacutecia das poliacuteticas de seguranccedila local nestes territoacuterios

Fonte proacutepria

A anaacutelise da violecircncia como problema lida a partir das conceccedilotildees dos agentes sociais

locais e escolares as respostas das escolas face ao problema da violecircncia vivida no seu

interior e exterior e ainda o modo como localmente as orientaccedilotildees poliacuteticas relativas

ao problema satildeo apropriadas e executadas constituiacuteram-se como as dimensotildees

analiacuteticas centrais do projeto

O projeto fundou-se no pressuposto que a violecircncia na escola eacute um fenoacutemeno

multideterminado e multifacetado por isso a pesquisa apoiou-se numa abordagem

que considerou as esferas de intervenccedilatildeoaccedilatildeo das instituiccedilotildees formais e dos agentes

sociais como mecanismos que estruturam e regulam as concepccedilotildees e praacuteticas de

violecircncia na escolar (Sebastiatildeo e outros 2013) Entender a violecircncia como uma

possibilidade enfatiza a potencialidade de uma intervenccedilatildeo nos territoacuterios educativos

enquadrada teoricamente e fundamentada em procedimentos de diagnoacutestico robustos

e com a participaccedilatildeo e responsabilidade das instituiccedilotildees e dos agentes sociais em

presenccedila

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

65

O uso de termos como bullying violecircncia indisciplina agressividade ou incivilidade

quando utilizados sem referecircncia aos contextos teoacutericos em que foram produzidos

confunde o diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo (Sebastiatildeo e outros 2013) Para o trabalho em

referecircncia tivemos como ponto de partida o reconhecimento da diversidade

conceptual e de algum fechamento disciplinar nas propostas analiacuteticas desenvolvidas

em torno deste fenoacutemeno que tecircm dificultado a construccedilatildeo de linhas de contacto

entre as vaacuterias abordagens cientiacuteficas como discutimos em trabalhos anteriores

(Sebastiatildeo Alves amp Campos 2003 Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010) Nas anaacutelises

mais recentes temos procurado ultrapassar essa ldquobalcanizaccedilatildeordquo disciplinar e optar pelo

cruzamento de perspetivas (Sebastiatildeo e outros 2013) O reconhecimento da

proximidade semacircntica e conceptualmente entre diferentes termos e conceitos tem

sido assim rentabilizada no sentido de alargar o espectro de anaacutelise (Sebastiatildeo e

outros 2003) Na presente pesquisa e no sentido de contornar este efeito adotou-se

uma definiccedilatildeo de violecircncia anteriormente apresentada e discutida (Sebastiatildeo 2009

2013) que entende a violecircncia como forma de accedilatildeo num quadro de relaccedilotildees

interpessoais um comportamento levado a cabo por uma pessoa (o agressor) com a

intenccedilatildeo de magoar outra pessoa (a viacutetima) cuja qual o agressor acredita estar

motivada para tentar evitar essa ofensa (Anderson 2000 p 68) Consideramos nesta

definiccedilatildeo apenas as situaccedilotildees de violecircncia interpessoal deixando de lado as formas de

violecircncia institucional existentes na escola ou outras formas de violecircncia social Tal natildeo

significa adotar uma abordagem individualista mas antes delimitar algumas das

dimensotildees centrais do fenoacutemeno no quadro da escola centrando a anaacutelise nos

processos relacionais que nela se produzem A anaacutelise centra-se assim na relaccedilatildeo entre

a intencionalidade e tipos de agressatildeo que podem assumir formas fiacutesicas ou

psicoloacutegicas distinguindo-se desta forma de situaccedilotildees acidentais ou resultantes de

consequecircncias natildeo esperadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

66

Quadro 2 - Relaccedilatildeo entre agressatildeo e intencionalidade

(Sebastiatildeo 2009 41)

As situaccedilotildees de violecircncia podem assim ser classificadas separando as que possuem

caracteriacutesticas de tipo reativoafetivo em que a agressatildeo constitui um objetivo em si

mesma das de tipo proactivo instrumental em que a violecircncia constitui um meio para

alcanccedilar um fim No primeiro caso a finalidade eacute magoar o outro e resulta de uma

reaccedilatildeo emocional a um impulso a uma provocaccedilatildeo ou atitude hostil e esgota-se na

agressatildeo no segundo caso a agressatildeo eacute meramente instrumental para obter algo em

troca podendo natildeo passar da ameaccedila se a viacutetima aceitar tacitamente as condiccedilotildees do

agressor (Sebastiatildeo 2009)

Sebastiatildeo partindo desta distinccedilatildeo preacutevia define a violecircncia como atos caracterizados

pela agressatildeo intencional seja esta fiacutesica ou psicossocial podendo assumir formas

reativasafetivas ou proactivasinstrumentais (Sebastiatildeo 201327) Nesse sentido a

violecircncia eacute uma configuraccedilatildeo relacional particular marcada pela tensatildeo

confrontacional (Collins 2008) interaccedilatildeo que incorpora tendencialmente relaccedilotildees de

poder assimeacutetricas entre os atores (Sebastiatildeo 2013) A limitaccedilatildeo da capacidade de

reaccedilatildeo das viacutetimas agraves consequecircncias da agressatildeo seja pelo uso da forccedila fiacutesica ou de

mecanismos de pressatildeo psicoloacutegica coloca-as numa situaccedilatildeo particular de

desproteccedilatildeo impedindo muitas vezes o acionamento dos sistemas de regras

Tipo de Agressatildeo

Fiacutesica Psicossocial

Inte

nci

on

alid

ade

Reativa

Afectiva

O principal motivo eacute magoar o alvo

reaccedilatildeo emocional baseada em fuacuteria

que ocorre tipicamente em resposta agrave

provocaccedilatildeo

Comportamento que procura

ferir outros ao prejudicar o

seu estatuto social ou

relaccedilotildees de amizade (agressatildeo

indireta ou relacional)

Proactiva

Instrumental

Ocorre na ausecircncia de provocaccedilatildeo

deliberada eacute desencadeada para

obter algo em troca O agressor

tem a expectativa de que a

agressatildeo fiacutesica tenha

consequecircncias positivas de caraacutecter

instrumental

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

67

institucionais Assim um agressor caracteriza-se por ser tipicamente um indiviacuteduo que

utiliza formas de poder (que satildeo suportadas por agressividade fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica) com o objetivo de simultaneamente anular a capacidade reguladora do

sistema de regras e de desencadear ao niacutevel relacional um processo de dominaccedilatildeo de

um ou mais indiviacuteduos A viacutetima nesta perspetiva eacute tipicamente um indiviacuteduo que natildeo

possui capacidade para resistir aos processos de dominaccedilatildeo nem para ativar para sua

proteccedilatildeo o sistema de regras sociais da escola (Sebastiatildeo 2009 p 46) Teoricamente o

projeto sustentou-se no modelo teoacuterico enquadrador da definiccedilatildeo proposta

(Sebastiatildeo 2013) Investigar os processos de intervenccedilatildeo em situaccedilotildees de violecircncia na

escola implica adotar uma abordagem que enquadre as esferas de intervenccedilatildeo e accedilatildeo

das instituiccedilotildees formais e dos agentes sociais e os mecanismos que estruturam e

regulam as conceccedilotildees e praacuteticas de violecircncia Trata-se de perspetivar a violecircncia

enquanto forma de accedilatildeo contingente que traduz uma configuraccedilatildeo relacional

particular com quadros de possibilidades diversos em que diferentes tipos e graus de

tensatildeo podem levar (ou natildeo) a situaccedilotildees de confronto (Sebastiatildeo e outros 2013)

As conceccedilotildees e atitudes violentas estruturam-se como resultado dos diversos

processos de socializaccedilatildeo de que os indiviacuteduos satildeo alvo dos modos de regulaccedilatildeo da

violecircncia e das caracteriacutesticas particulares dos contextos em que estas interaccedilotildees se

desenvolvem Nesse sentido a violecircncia pode acontecer ou natildeo dependendo por

exemplo da existecircncia ou da eficaacutecia dos processos de regulaccedilatildeo existentes na escola

A violecircncia em meio escolar eacute portanto uma problemaacutetica que implica que se olhe de

forma abrangente e cruzada para a escola Foi com base nestes referenciais e nos

elementos chave para a anaacutelise da violecircncia na escola que se procurou aprofundar a

anaacutelise em torno do fenoacutemeno natildeo apenas neste projeto mas em pesquisas

anteriormente desenvolvidas pela equipa do Observatoacuterio de Seguranccedila Escolar (OSE)

ao longo dos uacuteltimos anos Metodologicamente a adoccedilatildeo de uma estrateacutegia

metodoloacutegica abrangente e compreensiva que permita ler e intervir sobre um

fenoacutemeno com elevado niacutevel de complexidade multideterminado e multifacetado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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constitui-se como princiacutepio organizador das pesquisas levadas a cabo pela equipa (cf

Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2012 2013a 2013b 2013c)26

Fonte Sebastiatildeo 2013 p2

Fonte Sebastiatildeo (2013)

26

A anaacutelise do percurso que tem sido desenvolvido pela equipa (Sebastiatildeo Campos Merlini e Cambino

2013a 2013b) foi apresentada e discutida recentemente no 9th International Conference ERNAPE -

Families Schools and Communities Learn from the past review the present prepare for a future with

equity na Universidade de Lisboa de 4 a 6 de Setembro de 2013 concretamente com as seguintes

comunicaccedilotildees Sebastiatildeo J Campos J Merlini S amp Chambino M (2013) The School as a Complex

Object Methodological Strategies and Knowledge Production e Sebastiatildeo J Campos J Merlini S amp

Chambino M (2013) Social Netwok Analysis in School Violence Research - Methodological

Implications

Praacuteticas institucionalizadas de

regulaccedilatildeo da violecircncia

(estado escola seguranccedila

social autarquias etc)

Processos longos de socializaccedilatildeo

institucional

(processos de aprendizagem dos

sistemas de regras formais)

A violecircncia

enquanto

forma de accedilatildeo

contingente

Processos de estruturaccedilatildeo das

conceccedilotildees e atitudes violentas

Processos de regulaccedilatildeo social

das conceccedilotildees e praacuteticas de

violecircncia

Praacuteticas informais de

regulaccedilatildeo da violecircncia

(famiacutelia pares etc)

Processos longos de socializaccedilatildeo

comunitaacuteria (aprendizagem de

quadros e modelos sociais e

culturais grupais)

Figura 1 - A violecircncia enquanto forma de accedilatildeo contingente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

69

Procedimentos metodoloacutegicos

A abordagem metodoloacutegica desenvolvida centrou-se numa anaacutelise integrada e

sistemaacutetica das diversas estrateacutegias de intervenccedilatildeo socioeducativa implementadas em

contextos sociais complexos A triangulaccedilatildeo das teacutecnicas de anaacutelise contribuiu para

uma maior complementaridade e riqueza da informaccedilatildeo recolhida facilitando o

processo de interpretaccedilatildeo e compreensatildeo das condiccedilotildees produtoras de violecircncia e das

esferas de intervenccedilatildeo (prevenccedilatildeo e regulaccedilatildeo) acionadas (Sebastiatildeo Alves amp Campos

2010 Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2013b 20013c) Visando contribuir

para futuras estrateacutegias e mecanismos de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e

estudo prospetivo realizou-se no concelho do paiacutes em que se verificou o maior nuacutemero

de ocorrecircncias entre 2006 e 2010 (Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010) Neste concelho

da Aacuterea Metropolitana de Lisboa foram selecionados trecircs territoacuterios distintos

representado cada um por uma escola de 2ordm e 3ordm ciclo do Ensino Baacutesico estando todas

integradas no programa dos Territoacuterios Educativos de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria com

situaccedilotildees de violecircncia escolar relevantes isto eacute entendidas pelos intervenientes nas

escolas como perturbadoras do ambiente escolar e onde se identificaram capacidades

de regulaccedilatildeo e prevenccedilatildeo das situaccedilotildees de violecircncia diferenciadas

A recolha e sistematizaccedilatildeo de informaccedilatildeo centrou-se nas estrateacutegias de intervenccedilatildeo

que tecircm vindo a ser desenvolvidas localmente pelas escolas por um lado e nas

perspectivas dos diferentes intervenientes por outro considerando-se os alunos os

professores as direccedilotildees escolares e representantes das entidades e instituiccedilotildees locais

que foram em publicaccedilotildees anteriores apresentadas com maior detalhe (Sebastiatildeo

Campos Merlini amp Chambino 2012 Campos Sebastiatildeo amp Merlini 2012 Sebastiatildeo

Campos Merlini amp Chambino 2013b 2013c) Para aprofundar o conhecimento sobre o

fenoacutemeno da violecircncia na escola a equipa do OSE recorreu a uma combinatoacuteria de

meacutetodos extensivos e qualitativos em trecircs niacuteveis de anaacutelise da difusatildeo das situaccedilotildees

violecircncia A niacutevel macro analiacutetico realizou-se a recolha e anaacutelise de dados nacionais

coletados atraveacutes do formulaacuterio eletroacutenico online situado na rede informaacutetica do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do qual as escolas registam obrigatoriamente as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

70

ocorrecircncias de violecircncia Um segundo niacutevel de anaacutelise pautou-se pelo

desenvolvimento de pesquisas que tomaram os territoacuterios educativos (agrupamentos

de escolas) ou escolas isoladas como unidades analiacuteticas centradas numa perspetiva

organizacional territorial e comparativa A niacutevel micro analiacutetico centrou-se na

observaccedilatildeo participante e na inquiriccedilatildeo de atores chave da comunidade educativa e

local (como os diretores da escola delegados de seguranccedila27 professores alunos e

agentes locais com intervenccedilatildeo nesta mateacuteria) Quer a niacutevel meso quer ao niacutevel micro

analiacutetico recorreu-se ainda a teacutecnicas de recolha de informaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo de

inqueacuteritos por questionaacuterio28 entrevistas semiestruturadas realizaccedilatildeo de grupos

focais anaacutelise de redes anaacutelise documental e observaccedilatildeo participante O processo de

recolha de informaccedilatildeo durou cerca de um ano e meio correspondente ao ano letivo

201112 e a parte de 201213 O tratamento e anaacutelise dos dados recolhidos pautou-se

pela combinaccedilatildeo de diferentes meacutetodos e teacutecnicas como a anaacutelise de redes sociais ndash

com recurso ao software UCINET ndash anaacutelise de conteuacutedo ndash com recurso ao software

MAXqda - anaacutelise documental e anaacutelise estatiacutestica ndash com recurso ao software SPSS

Quadro 2 ndash Procedimentos metodoloacutegicos

Teacutecnicas de recolha e anaacutelise Objeto da investigaccedilatildeo

Entrevistas

- aos elementos das direccedilotildees escolares (diretores e responsaacuteveis pela seguranccedila escolar)

- aos alunos com comportamentos reincidentes identificados com apoio das direccedilotildees de escola e direccedilotildees de turma

Questionaacuterios

- aos alunos das 3 escolas sede dos agrupamentos de escolas dos 3 territoacuterios educativos

- aos professores das escolas sede - aos representantes das instituiccedilotildees locais

27

Responsaacuteveis pela gestatildeo disciplinar da Escola habitualmente satildeo professores membros da direccedilatildeo assumindo a funccedilatildeo de participar as ocorrecircncias ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do formulaacuterio eletroacutenico 28

A opccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos inqueacuteritos numa plataforma online em software especializado ndash limesurvey ndash revelou-se vantajosa tanto ao niacutevel da eficiecircncia como da eficaacutecia do processo de inquiriccedilatildeo Um exemplo demostrativo disso mesmo foi o inqueacuterito realizado a uma amostra de 792 alunos Com a colaboraccedilatildeo das escolas foi possiacutevel colocar os alunos responder a partir de computadores com ligaccedilatildeo agrave Internet em sessotildees coletivas contando para o efeito com o apoio presencial de membros da equipa de investigaccedilatildeo Aleacutem de evitar os habituais erros de inserccedilatildeo de dados este processo agilizou o tempo de tratamento dos dados e consequentemente da sua anaacutelise

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Grupos Focais e reuniotildees - com agentes sociais locais

Anaacutelise de redes sociais - das parcerias entre instituiccedilotildees locais - dos relacionamentos pessoais de alunos com

comportamentos reincidentes

Anaacutelise documental - dos normativos centrais - dos documentos das instituiccedilotildees formais eou locais

Fonte proacutepria

Instituiccedilotildees e agentes locais integrados no projeto

A seleccedilatildeo do conjunto de entidades locais e instituiccedilotildees formais que configuram as

redes de intervenccedilatildeo sobre situaccedilotildees de violecircncia em cada um dos territoacuterios

socioeducativos considerados na pesquisa procurou enquadrar as respetivas

dinacircmicas dos contextos territoriais Ao todo escolheram-se 23 entidades e instituiccedilotildees

que se distribuem da seguinte forma pelo concelho e freguesias (Sebastiatildeo Campos

Merlini amp Chambino 2013c)

Quadro 3 - Distribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees com intervenccedilatildeo nos territoacuterios socioeducativos em estudo (seleccedilatildeo)

Tipo Local Concelho Fregue-

sia 1

Fregue-

sia 2

Zona 1

(Freguesi

as 1 e 2)

Fregue-

sia 3 Total

Autaacuterquica ou Oficial natildeo judiciaacuteria 3 1 2 1 2 9

Associaccedilatildeo Projeto ou Programa Social 0 2 1 0 1 4

Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo 1 1 1 0 1 4

Policial ou Judicial 1 1 1 0 1 4

Sauacutede 0 0 0 1 1 2

Total 5 5 5 2 6 23

Fontes Informaccedilotildees privilegiadas das escolas e anaacutelise dos documentos oficiais

Para a distribuiccedilatildeo das instituiccedilotildees definiu-se como criteacuterio a identificaccedilatildeo da sua

funccedilatildeo e natureza A classificaccedilatildeo atribuiacuteda revelou-se de grande utilidade quer para a

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anaacutelise do conjunto global de instituiccedilotildees quer para a compreensatildeo das relaccedilotildees

estabelecidas entre estas O peso de cada tipo institucional no total de inquiridos foi

informado e ponderado face agrave realidade local e agrave importacircncia destas entidades na

regulaccedilatildeo do fenoacutemeno Num total de 23 intervenientes incluiacutedos na anaacutelise cinco natildeo

responderam Ainda que apenas 18 tivessem respondido foi simultaneamente

relevante constatar que as nomeaccedilotildees dos parceiros29 se centraram sobretudo no

conjunto total de entidades que estavam previamente selecionadas para o estudo

verificando-se ainda uma forte correspondecircncia entre os respetivos objetivos de

atuaccedilatildeo e o tipo institucional atribuiacutedo na classificaccedilatildeo (Sebastiatildeo Campos Merlini amp

Chambino 2013c)

A correspondecircncia entre os tipos institucionais (por noacutes categorizados) e os principais

objetivos de atuaccedilatildeo reportados pelos inquiridos permitiu a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise

das relaccedilotildees entre parceiros segundo a sua afiliaccedilatildeo ou pertenccedila organizacional

levantando questotildees pertinentes em termos das propriedades emergentes desta rede

de parceiros

Quadro 1 - Objetivos de atuaccedilatildeo segundo o tipo institucional

Tipo de instituiccedilatildeo Objetivos de atuaccedilatildeo

Autaacuterquica ou Oficial natildeo judicial Proteccedilatildeo da infacircncia apoio e bem estar social

Associaccedilatildeo Projeto ou Programa Social Inclusatildeo social cultural e educativa

Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Educativos e formativos

Policial ou Judicial Prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo policial e judiciaacuteria

Sauacutede Promoccedilatildeo de sauacutede

Fonte Inqueacuterito aos representantes institucionais

29

A liberdade de nomeaccedilatildeo restringida ateacute 10 parceiros possiacuteveis foi uma das opccedilotildees metodoloacutegicas na construccedilatildeo do instrumento de inquiriccedilatildeo para a anaacutelise de redes Embora uma lista exaustiva dos parceiros permita suprir os problemas tiacutepicos de recurso agrave memoacuteria neste tipo de teacutecnica o facto de se tratar de relaccedilotildees estabelecidas entre instituiccedilotildees garantiu-nos alguma fiabilidade na obtenccedilatildeo dos dados Resta salientar que cerca de 70 das instituiccedilotildees (N=18) escolheram ateacute 6 parceiros o que dada a problemaacutetica em anaacutelise seria expectaacutevel

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Construccedilatildeo da Metodologia de Intervenccedilatildeo Integrada etapas do processo de

avaliaccedilatildeo com os participantes dos territoacuterios educativos

Tendo como foco principal um processo de avaliaccedilatildeo participada a intervenccedilatildeo

pautou-se por um envolvimento sistemaacutetico dos sujeitos avaliados Numa fase

posterior agrave recolha e tratamento da informaccedilatildeo os diversos intervenientes

participaram na discussatildeo e anaacutelise dos primeiros resultados apresentados validando

conjuntamente as propostas conducentes agrave elaboraccedilatildeo da metodologia de

intervenccedilatildeo enquanto principal resultado do processo e com definiccedilatildeo das

estrateacutegias gerais de combate agraves situaccedilotildees problemaacuteticas em territoacuterios educativos

Sobre as reaccedilotildees dos agentes sociais locais e escolares relativamente agraves propostas que

sustentam a metodologia de intervenccedilatildeo e os resultados encontrados em cada

territoacuterio e para cada instituiccedilatildeo recomendamos a consulta do relatoacuterio de pesquisa

em que se apresenta de modo detalhado essa informaccedilatildeo No presente texto

apresentamos apenas as principais etapas do processo de avaliaccedilatildeo em referecircncia O

processo de avaliaccedilatildeo participada desenvolveu-se atraveacutes das seguintes etapas

Fonte proacutepria

A validaccedilatildeo e discussatildeo conjunta dos resultados e da proposta de metodologia de

intervenccedilatildeo foi realizada em duas fases Primeiro atraveacutes da concretizaccedilatildeo de um

Figura 2 ndash Etapas do processo de avaliaccedilatildeo participada

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foacuterum de colaboraccedilatildeo numa sessatildeo alargada de discussatildeo puacuteblica que possibilitou

analisar criticamente os resultados e a metodologia de intervenccedilatildeo Posteriormente

os resultados e produtos finais foram testados em sessotildees de formaccedilatildeo com os

intervenientes em cada territoacuterio educativo considerado Nesta fase da avaliaccedilatildeo

participada foram apresentados e discutidos o modelo teoacuterico os resultados das

entrevistas e questionaacuterios (identificaccedilatildeo do problema dificuldades e alternativas

propostas pelos inquiridos) a anaacutelise em torno dos procedimentos e estrateacutegias de

intervenccedilatildeo identificados nos territoacuterios e a metodologia de intervenccedilatildeo construiacuteda

Os participantes no processo distinguiram-se quanto ao tipo de participaccedilatildeo e

posicionamentos face ao fenoacutemeno em referecircncia tal como se discutiu e apresentou

anteriormente (Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2012 2013b 2013c) Em

grande medida as diferenccedilas encontradas prendem-se sobretudo com a natureza e

tipo de instituiccedilatildeo a que pertencem Sublinha-se aqui a importacircncia do trabalho em

continuidade nestes territoacuterios o que garantiu que nesta fase de intervenccedilatildeo existisse

jaacute um pano de fundo comum aos intervenientes sustentado no reconhecimento

interinstitucional e interpessoal por um lado e nos resultados jaacute alcanccedilados em

mateacuteria de regulaccedilatildeo do problema da violecircncia na escola de haacute alguns anos por

outro Aliaacutes esta constitui uma das condiccedilotildees para a integraccedilatildeo destas escolas e

instituiccedilotildees locais como promotoras do projeto em referecircncia logo na fase de

candidatura ao programa (Sebastiatildeo Campos Merlini amp Chambino 2013a) O

processo de avaliaccedilatildeo participada resultou assim na definiccedilatildeo de um conjunto de

fatores-chave no acircmbito de um processo de construccedilatildeo de uma metodologia de

intervenccedilatildeo bem como numa proposta de metodologia integrada de intervenccedilatildeo

como se pode ver na figura abaixo Em cada territoacuterio a informaccedilatildeo recolhida e tratada

pela equipa foi sendo disponibilizada para que no processo de apropriaccedilatildeo da

metodologia de intervenccedilatildeo em construccedilatildeo se assegurasse a adequaccedilatildeo agraves

especificidades de cada territoacuterio e respetivas instituiccedilotildees A devoluccedilatildeo dessa

informaccedilatildeo agraves escolas permitiu ainda que em cada territoacuterio os diversos

intervenientes aprofundassem o seu conhecimento e reflexividade sobre o fenoacutemeno

e as respostas institucionais existentes Por outro lado a diversidade de conceccedilotildees e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

75

praacuteticas desenvolvidas pocircde assim ser discutida e analisada em cada uma das escolas e

em comparaccedilatildeo agraves outras nas discussotildees mais alargadas

Fonte proacutepria

Notas Finais

No acircmbito da Avaliaccedilatildeo de poliacuteticas de educaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo sociocultural

retomando a temaacutetica do painel algumas notas finais O processo de avaliaccedilatildeo em

anaacutelise procurou ilustrar a importacircncia da articulaccedilatildeo entre equipas mistas que

combinem os processos de investigaccedilatildeo intervenccedilatildeo e avaliaccedilatildeo da definiccedilatildeo

conjunta do diagnoacutestico e dos planos de intervenccedilatildeo incluindo todos os intervenientes

da avaliaccedilatildeo da intervenccedilatildeo participada e apoiada em espaccedilos de discussatildeo puacuteblica e

validaccedilatildeo das diversas etapas do processo e da apresentaccedilatildeo e discussatildeo do processo

procedimentos e produtos noutros foacuteruns como encontros cientiacuteficos e pedagoacutegicos

De um ponto de vista mais substantivo sublinham-se os principais aspetos no que ao

processo em referecircncia diz respeito Um primeiro prende-se com o reconhecimento a

priorizaccedilatildeo do problema da violecircncia na escola enquanto um fator de sucesso central

na regulaccedilatildeo dos quotidianos escolares isto eacute na pacificaccedilatildeo do ambiente escolar e da

convivialidade entre todos os que na escola e nos territoacuterios educativos se encontram

Por um lado e como resultado do planeamento e da estruturaccedilatildeo de estrateacutegias

expliacutecitas e sistemaacuteticas por outro Relativamente ao desenvolvimento de um

Figura 3 ndash Fases de validaccedilatildeo e discussatildeo e principais resultados

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abordagem integrada e articulada de intervenccedilatildeo sobre a violecircncia na escola o

sublinhado sobre a necessidade de realizaccedilatildeo de um diagnoacutestico aprofundado e a

definiccedilatildeo de um plano comunitaacuterio que integre os diversos parceiros e crie condiccedilotildees

de resposta tanto para a primeira como para a segunda linha de atuaccedilatildeo

Do ponto de vista processual assinala-se a relevacircncia que os fatores organizacionais

assumem nomeadamente no que agrave articulaccedilatildeo entre niacuteveis organizacionais agraves

relaccedilotildees interinstitucionais e agrave existecircncia de procedimentos estruturados e rotinados

de monitorizaccedilatildeo que orientem a prevenccedilatildeo e a intervenccedilatildeo diz respeito Por fim

uma nota sobre as modalidades de trabalho em parceria na medida em que

constituem uma forma de accedilatildeo coletiva que se revelou particularmente uacutetil e

produtiva nos mecanismos de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo territoriais da violecircncia na

escola

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A avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino de muacutesica entre a

estandardizaccedilatildeo e as singularidades

Antoacutenio Acircngelo Vasconcelos Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Escola Superior de Educaccedilatildeo antoniovasconceloseseipspt

Resumo

O ensino de muacutesica eacute um campo compoacutesito e reticular situado no cruzamento entre os

mundos da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo e os mundos das artes e da cultura Esta dupla

referencialidade eacute geradora de muacuteltiplas ambiguidades incoerecircncias e paradoxos mas

tambeacutem de virtualidades que nem sempre estatildeo contemplados nos processos de

avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas para este sector de formaccedilatildeo artiacutestica A diversidade de

atores (puacuteblicos privados e do terceiro sector) e de referentes confluem na avaliaccedilatildeo

das poliacuteticas em que os princiacutepios de verticalidade e de linearidade dos procedimentos

dominantes satildeo confrontados pela horizontalidade e circularidade das

interdependecircncias e das interaccedilotildees

Esta comunicaccedilatildeoresulta de uma investigaccedilatildeo inserida na dissertaccedilatildeo de

doutoramento situada no acircmbito da anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da administraccedilatildeo

da educaccedilatildeo Partindo de um conjunto alargado de entrevistas a atores das cenas da

governaccedilatildeo artiacutestica e musical e formativa (superior e natildeo superior) entre 1972-2009

bem como a anaacutelise das intervenccedilotildees no parlamento e de artigos publicados na

imprensa procura-se compreender descrever analisar e interpretar os modos como

se processam os diferentes tipos de impulsos que estatildeo subjacentes agrave avaliaccedilatildeo deste

tipo de poliacutetica bem como os modos como se avalia e se receciona e as suas

influecircncias na accedilatildeo organizada

A investigaccedilatildeo permite evidenciar o caraacutecter multissituado da avaliaccedilatildeo caracterizada

por procedimentos que envolvem referenciais mediaccedilotildees instrumentos e regulaccedilotildees

multiformes e multipolares Procedimentos que resultam por um lado da

complexidade de articulaccedilatildeo dos diferentes referentes no confronto entre a afirmaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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das particularidades e tendecircncias normalizadoras e por outro da recomposiccedilatildeo do

papel do Estado

Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas avaliaccedilatildeo ensino de muacutesica

Abstract

The music education is a composite reticular and complex field situated at the

crossroads between the worlds of education and training and the arts worlds and

culture This dual referentiality generate multiple ambiguities inconsistencies and

paradoxes but also virtues that are not always included in the assessment of public

policies for this sector of artistic training The diversity of actors (public private and

third sector) and referents converge in the evaluation of policies in which the

principles of verticality and linearity procedures are confronted by the dominant

horizontality and roundness of interdependencies and interactions

This paper is the result of a research inserted into the doctoral dissertation located

within the public policy analysis and administration of education From a wide range of

interviews with actors from scenes of government artistic and formative between

1972-2009 as well as analysis of interventions in parliament and press articles we

seek to understand describe analyze and interpret the ways they process the

different types of impulses that underlie the evaluation of this type of policy and the

ways of evaluating and reception influences organized action

Research allows us to highlight the multi-set of evaluation procedures characterized by

involving multiform and multipolar references mediations instruments and

regulations Procedures that result on the one hand from the complexity of articulation

of different referents in the confrontation between the statement of the

particularities and the normalizing tendencies and on the other hand from the

recomposition of satersquos role

Keywords public policies evaluation music education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Introduccedilatildeo

O ensino de muacutesica eacute um campo compoacutesito complexo e reticular situado no

cruzamento entre os mundos da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo e os mundos das artes e da

cultura Esta dupla referencialidade abrange modalidades territoacuterios e finalidades

diferenciadas e fragmentadas bem como os tipos de saberes que aborda mais

teacutecnicos criativos ou investigativos Por outro lado a educaccedilatildeo e formaccedilatildeo que natildeo se

joga apenas nos espaccedilos e nos tempos da escola mas em territoacuterios multipolares em

que interagem uma diversidade de atores puacuteblicos privados e do terceiro sector

(nacionais locais e internacionais) em redes diferenciadas de sentidos e onde se

confrontam e complementam olhares saberes e experiecircncias

Nestas complexidades a diversidade de atores e de referentes confluem na

construccedilatildeo implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das poliacuteticas formativas e organizacionais em

que os princiacutepios de verticalidade e de linearidade dos processos satildeo substituiacutedos pela

horizontalidade e circularidade das interdependecircncias e das interaccedilotildees dos diversos

atores nos processos de construccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas (Barrroso et al 2007

Delvaux 2007 Lascoumes amp Le Gales 2004) Isto conduz a que todos estes processos

sejam dificilmente enquadrados em modelos predominantemente burocratizantes e

uniformizadores

Este texto parte de uma investigaccedilatildeo inserida na dissertaccedilatildeo de doutoramento situada

no acircmbito da anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da administraccedilatildeo da educaccedilatildeo o trabalho

empiacuterico abrangeu um conjunto alargado de entrevistas a atores das cenas da

governaccedilatildeo artiacutestica e musical e formativa (superior e natildeo superior) bem como a

recolha e anaacutelise de diferente tipo de documentaccedilatildeo oriundos dos debates

parlamentares e de artigos publicados na imprensa entre 1972-2009 A metodologia

utilizada inscrita na investigaccedilatildeo qualitativa e num paradigma compreensivo

compreendeu diferentes tipos de procedimentos e processos analiacuteticos (cf

Vasconcelos 2011)

Nesta reflexatildeo defende-se a ideia de que a avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas no ensino

de muacutesica decorre de processos situados em contextos complexos de accedilatildeo puacuteblica

caracterizada por um conjunto diversificado de multi-regulaccedilotildees que questiona

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

82

procedimentos avaliativos lineares e universais Estaacute dividida em duas partes Na

primeira ainda que de um modo sucinto problematizo a complexidade de accedilatildeo

puacuteblica no ensino de muacutesica Na segunda partindo do trabalho empiacuterico desenvolvido

discuto a avaliaccedilatildeo das poliacuteticas como um processo multipolar onde coexistem multi-

regulaccedilotildees diferenciadas e contraditoacuterias situado entre a estandardizaccedilatildeo e as

singularidades Por uacuteltimo umas breves consideraccedilotildees finais

1 A complexidade da accedilatildeo puacuteblica no ensino de muacutesica

Pensar as relaccedilotildees entre o Estado a sociedade o mercado e as artes na educaccedilatildeo e na

cultura eacute tambeacutem pensar como eacute que os diferentes atores interagem num contexto

marcado por uma tendecircncia crescente da privatizaccedilatildeo dos serviccedilos da

descentralizaccedilatildeo e da deslocaccedilatildeo das responsabilidades do Estado para os planos

locais e regionais e para sectores privados eou do terceiro sector pelo incremento

das agendas internacionais e da externalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas A proliferaccedilatildeo de

visotildees e de accedilotildees cria natildeo soacute um conjunto de tensotildees diversificadas como tambeacutem

influencia direta e indiretamente a conduccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas num

conjunto de interaccedilotildees diversificadas e muitas vezes conflituais

Por outro lado com o incremento da complexidade da vida social cultural econoacutemica

e educativo-artiacutestica o Estado fragmentou-se em diferentes tipos de estruturas

poliacuteticas e administrativas com niacuteveis de intervenccedilatildeo e funccedilotildees distintas que interagem

de diferentes modos com este tipo de ensino Tambeacutem a diferenciaccedilatildeo e

fragmentaccedilatildeo crescente do tecido social educativo e cultural conduziu a que a accedilatildeo

puacuteblica se caracterize pela bricolage pela existecircncia de redes do aleatoacuterio por

finalidades muacuteltiplas pela heterogeneidade e transversalidade dos problemas pelas

mudanccedilas de escala e de territoacuterios (Lascoumes amp Le Galegraves 2004)

Deste modo a multiplicidade dos atores sociais artiacutesticos econoacutemicos educativos e

culturais envolvidos neste tipo de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo artiacutestica tendem a alterar as

relaccedilotildees verticais entre o Estado a sociedade e as organizaccedilotildees baseado apenas na

regulaccedilatildeo e subordinaccedilatildeo no sentido de um relacionamento mais horizontal em que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

83

se privilegia o diaacutelogo a participaccedilatildeo e a diversidade de situaccedilotildees referenciais e

instrumentos de accedilatildeo

Assim as poliacuteticas puacuteblicas neste ensino sendo o resultado de interaccedilotildees trocas e

relaccedilotildees de poder entre uma pluralidade de atores estatildeo consubstanciadas em

diferentes visotildees e ldquoverdadesrdquo do campo de intervenccedilatildeo percorrem o espaccedilo e o

tempo natildeo soacute da sua conceptualizaccedilatildeo como tambeacutem da sua implementaccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo Existe uma cadeia multiforme de escalas em que a accedilatildeo puacuteblica decorre e

que implica a negociaccedilatildeo entre diferentes instacircncias situadas entre um plano mais

micro relacionado com os indiviacuteduos e os territoacuterios de formaccedilatildeo um plano

intermeacutedio relacionado com as comunidades locais por exemplo e um plano mais

macro situado nas instacircncias transnacionais num contexto de ldquopoliacuteticas multi-niacuteveisrdquo

Poliacuteticas que como processo resultante de loacutegicas natildeo lineares e verticalizadas satildeo

tributaacuterias das poliacuteticas puacuteblicas anteriores e das rotinas institucionais dominantes

assim como de poliacuteticas conexas ou mesmo afastadas que influenciam as poliacuteticas para

este setor e que pressupotildeem a existecircncia de ldquonarrativas partilhadasrdquo (Postman 2002)

de ideias e valores Ideias e valores que advecircm de proveniecircncias diversas e que

interagem na definiccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo das poliacuteticas nos modos como os

diferentes tipos de atores constroem os sentidos e as diferentes visotildees do mundo e

que natildeo estatildeo adstritas nem se identificam apenas com o discurso e tomada de

posiccedilatildeo de determinadas elites e especialistas (Blondiaux 2008)

Isto significa colocar em causa natildeo soacute ldquoa maneira correta de avaliar e solucionar

determinados problemasrdquo como tambeacutem a ideia de um determinismo estrutural

artiacutestico social formativo artiacutestico e cultural em que as avaliaccedilotildees e soluccedilotildees satildeo

contingente muitas vezes indeterminadas e arbitraacuterias (Crozier amp Friedberg 1977 13)

Em siacutentese cinco caracteriacutesticas principais podem ser destacadas na governanccedila do

ensino de muacutesica (1) uma arquitetura estrutural social e artiacutestico-educativa

policentrada debilmente articulada em que os processos e os resultados a obter

atraveacutes de determinadas poliacuteticas satildeo relacionais dialoacutegicos e imprevisiacuteveis (2) a

interdependecircncia entre os diferentes atores puacuteblicos privados e do terceiro sector

que atraveacutes de racionalidades negociadas dependem entre si para atingir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

84

determinados objetivos e recursos para o desenvolvimento de projetos educativos

artiacutesticos culturais e de intervenccedilatildeo comunitaacuteria (3) a existecircncia de um conjunto de

relaccedilotildees e intenccedilotildees com determinados niacuteveis de estabilidade eou de

institucionalizaccedilatildeo a par de niacuteveis de informalidade e intermitecircncia (4) os meios

utilizados para as tomadas de decisatildeo e o cumprimento dessas mesmas decisotildees satildeo

alicerccedilados na confianccedila muacutetua e num sentimento de obrigaccedilatildeo poliacutetica e artiacutestico-

educativa e cultural que daacute lugar a construccedilatildeo negociada das regras de jogo e as suas

reestruturaccedilotildees e (5) a natildeo existecircncia de um centro capaz de determinar em exclusivo

os processos procedimentos e decisotildees poliacuteticas resulta por um lado num elevado

grau de autonomia das redes em relaccedilatildeo ao Estado e por outro na sua capacidade de

autogoverno

2 Da avaliaccedilatildeo como processo multissituado e multirregulado convergecircncias

divergecircncias e mudanccedilas

As poliacuteticas do ensino de muacutesica e a sua avaliaccedilatildeo estatildeo sujeitas a diferentes tipos de

pressotildees e de transformaccedilotildees internas e externas de natureza poliacutetica social

econoacutemica artiacutestica e cultural que se traduzem no incremento da complexidade e na

alteraccedilatildeo nos processos de regulaccedilatildeo Processos que se situam no cruzamento entre

dois modelos ldquoantagoacutenicos e complementaresrdquo (Afonso 2003 50)

Por um lado um modelo ldquoverticalrdquo assente na regra e na lei e por outro modos mais

horizontais No primeiro caso o poder eacute exercido pela autoridade hierarquia e

regulamentaccedilatildeo formal atraveacutes do quadro legal emanado das instacircncias do Estado e

da administraccedilatildeo das instacircncias do governo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo e do ldquoquadro

regulamentarrdquo mesmo que com caracteriacutesticas mais informais produzido pelas

instituiccedilotildees e pelos professores No segundo caso o poder eacute exercido num quadro de

influecircncias diferenciadas atraveacutes de ajustamentos muacutetuos de natureza difusa Estes

dois modelos coexistem numa tensatildeo permanente e com uma expressatildeo diversificada

e variaacutevel consoante os contextos e as accedilotildees poliacuteticas concretas

As caracteriacutesticas particulares de cada uma das componentes que constituem as

poliacuteticas do ensino de muacutesica apresentam tambeacutem diferenccedilas e divergecircncias nas

poliacuteticas seguidas Por exemplo existem subsistemas ldquoensino especializado de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

85

muacutesicardquo no acircmbito superior e natildeo superior que atribuem uma maior relevacircncia ao

mercado artiacutestico e formativo agrave ldquoaurardquo de determinados professores como

reguladores dos processo formativos e da ldquoqualidade e visibilidaderdquo da formaccedilatildeo

enquanto outros a formaccedilatildeo de professores p ex o relevo se situa mais no plano

relacionado com a regulaccedilatildeo estatal

Isto configura os processos de receccedilatildeo traduccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo destas poliacuteticas em

que existe uma ldquohibridaccedilatildeordquo aos niacuteveis institucional organizacional e simboacutelico das

realidades de cada subsistema que se prende com os cruzamentos de vaacuterias loacutegicas e

orientaccedilotildees dentro de uma mesma poliacutetica e que se traduz em algumas contradiccedilotildees

sob o ponto de vista da articulaccedilatildeo entre as poliacuteticas globais e sectoriais e sob o ponto

de vista dos resultados Por exemplo enquanto as escolas natildeo superiores do ldquoensino

especializado de muacutesicardquo a sua avaliaccedilatildeo formal eacute muito limitada no entanto a

possibilidade dos pais e encarregados de educaccedilatildeo poderem ldquoescolher livrementerdquo a

instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo bem como as escolas poderem escolher os estudantes

evidencia que as loacutegicas de mercado e da competiccedilatildeo mesmo que natildeo reconhecidas

enquanto tal se apresentam como instrumentos de regulaccedilatildeo

Tambeacutem sob o ponto de vista local e regional a regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo artiacutestico-

musical caracteriza-se pelo incremento de processos de multirregulaccedilatildeo que tecircm

origem num conjunto cada vez mais alargado de atores (Estado instituiccedilotildees regionais

e locais mecanismos de mercado por exemplo) que assumem diferentes tipos de

papeacuteis e um incremento nos meios e dispositivos situados entre praacuteticas burocraacuteticas e

hierarquizadas de controlo e de autonomia e dispositivos poacutes-burocraacuteticos

(Kernaghan 2000) com a partilha de praacuteticas de recursos e modos de auto-

organizaccedilatildeo Estes diferentes atores tendem a traduzir a sua missatildeo e accedilatildeo poliacutetica

formativa e artiacutestica de um modo autoacutenomo em relaccedilatildeo aos outros ldquoAutonomiardquo que

se por um lado pode facilitar uma maior adaptaccedilatildeo dos atores agraves particularidades de

cada contexto e de cada instituiccedilatildeo formativa por outro torna-se uma fonte potencial

de incoerecircncia e de confronto entre os atores nos vaacuterios niacuteveis em que desenvolvem

as suas atividades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

86

Neste contexto podem ser identificados cinco aspetos relevantes nas transformaccedilotildees

da avaliaccedilatildeo e da regulaccedilatildeo das poliacuteticas da educaccedilatildeo artiacutestico-musical (a) a

diversidade de dispositivos e dos niacuteveis de controlo da accedilatildeo (b) o incremento da

regulaccedilatildeo pelo mercado (c) o incremento dos atores e do controlo social e cultural (d)

o hibridismo da profissionalidade artiacutestico-docente e (e) o incremento da

externalizaccedilatildeo

A diversidade de dispositivos e dos niacuteveis de controlo da accedilatildeo

A diversidade de dispositivos e dos niacuteveis do controlo da accedilatildeo resulta em grande

medida da conjugaccedilatildeo de dois tipos de fatores as transformaccedilotildees soacutecio histoacutericas em

particular no que se refere agraves poliacuteticas curriculares e a proliferaccedilatildeo das atividades

artiacutesticas e musicais no acircmbito das poliacuteticas culturais

A ldquotradiccedilatildeo histoacutericardquo consolidou uma oferta educativo-artiacutestica centrada no

ldquoajustamento muacutetuordquo das loacutegicas de accedilatildeo dos atores A esta ldquotradiccedilatildeo histoacutericardquo

contrapotildee-se a procura do reforccedilo do controlo estatal que se manifesta por um lado

atraveacutes do estabelecimento de um curriacuteculo nacional de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria para

todas as escolas puacuteblicas e particulares e em que a exigecircncia de regras estritas de

avaliaccedilatildeo dos estudantes e uma certa padronizaccedilatildeo das praacuteticas docentes e por outro

os mecanismos reguladores satildeo manifestamente insuficientes compoacutesitos e

contraditoacuterios para que se cumpram estes desiacutegnios deixando uma margem de

autonomia mesmo que ldquoclandestinardquo agraves instituiccedilotildees de formaccedilatildeo potenciando a

gestatildeo das poliacuteticas de formaccedilatildeo centradas ao niacutevel de cada escola sem que haja uma

ldquoautoridade local de educativo-artiacutesticardquo que assegure esse controlo

Estas intervenccedilotildees confrontam-se com poliacuteticas contraditoacuterias de coordenaccedilatildeo e de

avaliaccedilatildeo ldquoque denotam um impasse caracterizado pela retoacuterica poliacutetica do Estado

Avaliador e pela praacutetica gestionaacuteria do Estado Educadorrdquo (Afonso 2003 p 57)

situadas entre a existecircncia de ldquoregras riacutegidasrdquo em termos gerais da formaccedilatildeo do

sistema educativo do curriacuteculo aos exames e agrave avaliaccedilatildeo externa e regras informais na

escolha dos reportoacuterios na elaboraccedilatildeo dos programas de formaccedilatildeo nos dispositivos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

87

internos de seleccedilatildeo e de avaliaccedilatildeo dos estudantes nas ldquobolsas de horasrdquo e outro tipo

de dispositivos que permitem o desenvolvimento das poliacuteticas educativo-artiacutesticas

Paralelamente a este controlo por parte das instacircncias do governo e da administraccedilatildeo

central e regional existe um outro tipo de dispositivos que adveacutem das poliacuteticas

artiacutestico-culturais (locais nacionais e transnacionais) que desempenham um papel

determinante no controlo social e cultural deste tipo de formaccedilatildeo em particular

dispositivos de natureza simboacutelica O desempenho artiacutestico dos estudantes mais do

que acadeacutemico e a sua valorizaccedilatildeo social e cultural bem como a sua participaccedilatildeo em

determinados tipos de eventos e de espaccedilos onde se realizam as atividades artiacutesticas

apresentam-se como fatores que se consideram valorizadores das poliacuteticas de

formaccedilatildeo ministrada E estes desempenhos satildeo mobilizados pelos atores como

dispositivo teacutecnico-poliacutetico para confrontar os dispositivos mais convencionais

utilizados pelas diferentes instacircncias da administraccedilatildeo do Estado

O incremento da regulaccedilatildeo pelo mercado

Embora existam dispositivos formais que privilegiam uma loacutegica de regulaccedilatildeo assente

nos normativos legais o incremento da regulaccedilatildeo pelo mercado apresenta-se como

uma tendecircncia que se alicerccedila e que cruza vaacuterios fatores nos planos da educaccedilatildeo e da

cultura Por um lado apesar da existecircncia de uma ldquocarta escolarrdquo por exemplo ela

dificilmente tem expressatildeo no acircmbito de formaccedilotildees a niacutevel natildeo superior atendendo agrave

abrangecircncia inter-territoral que caracteriza este tipo de poliacutetica formativa Isto eacute ao

contraacuterio de outro tipo de ensino em que existe um territoacuterio relativamente

delimitado de intervenccedilatildeo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo a educaccedilatildeo artiacutestico-musical

nas suas vaacuterias valecircncias e niacuteveis de formaccedilatildeo esta delimitaccedilatildeo corresponde a um

territoacuterio mais alargado que poderaacute abranger e intersectar diferentes tipos de escolas

num dado territoacuterio Tambeacutem no que se refere agrave formaccedilatildeo superior as instituiccedilotildees satildeo

procuradas por estudantes de vaacuterios pontos territoriais mesmo se se pensar no caso

dos objetivos ldquoaparentemente mais locaisrdquo do ensino superior politeacutecnico a

abrangecircncia dos estudantes corresponde ao todo nacional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

88

Por outro lado a regressatildeo demograacutefica a par dos niacuteveis de conclusatildeo de uma

formaccedilatildeo secundaacuteria e o crescimento das escolas de formaccedilatildeo que se traduz num

ldquoexcessordquo de oferta incrementa a ldquocaptaccedilatildeordquo de estudantes e a competiccedilatildeo entre as

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo num movimento aparentemente paradoxal Movimento este

em que as instituiccedilotildees procuram estudantes ldquocom maior potencialrdquo para os

desempenhos artiacutesticos e simultaneamente no caso por exemplo do ensino superior

este ldquomaior potencialrdquo fica sujeito agrave necessidade de se cumprir determinadas metas de

estudantes inscritos

Ora a necessidade de incrementar a ldquocaptaccedilatildeordquo dos estudantes conduz a uma

abordagem em que a prestaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico educativo-artiacutestico se centre no

ldquomarketingrdquo dos ldquomelhores professoresrdquo na ldquoqualidade e excelecircnciardquo da formaccedilatildeo e

na capacidade do desenvolvimento de atividades artiacutesticas e musicais que dinamizem

e promovam a visibilidade das instituiccedilotildees dos seus formadores e da formaccedilatildeo O

controlo social e cultural sobre as instituiccedilotildees eacute assegurado pela competiccedilatildeo entre as

escolas e as formaccedilotildees e pela capacidade destas constituiacuterem um corpo docente com

notoriedade no acircmbito artiacutestico cultural e cientiacutefico Estas dinacircmicas satildeo incentivadas

quer pelas poliacuteticas internas das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo quer pela parte das

instacircncias do Estado quer pela parte das instacircncias artiacutesticas e musicais

O hibridismo da profissionalidade artiacutestico-docente

A formaccedilatildeo inicial e contiacutenua de professores no acircmbito artiacutestico-musical apresenta

duas caracteriacutesticas principais Por um lado a sua inclusatildeo no acircmbito do ensino

superior eacute tardia e muito centrada em dimensotildees teacutecnico-instrumentais e que tem

subjacente a centralidade do muacutesico como requisito fundamental para o exerciacutecio da

profissatildeo docente Por outro lado a formaccedilatildeo contiacutenua tambeacutem ela deficitaacuteria eacute

transferida em larga medida para entidades promotoras de atividades artiacutesticas

(instituiccedilotildees festivais de muacutesica por exemplo) que desempenham muitas vezes um

papel de substituiccedilatildeo do Estado e de outras entidades formadoras

Estas caracteriacutesticas confrontam-se com o controlo da gestatildeo do pessoal docente que

se exerce num quadro em que intervecircm dispositivos que apresentam caracteriacutesticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

89

opostas O modelo burocraacutetico predominante o recrutamento e a gestatildeo da carreira

docente estaacute centralizada no plano da administraccedilatildeo do sistema educativo num

quadro em que os docentes satildeo funcionaacuterios do Estado ldquoescolhidosrdquo muitas vezes

pelas instituiccedilotildees e nomeados centralmente para o exerciacutecio de funccedilotildees ao niacutevel das

instituiccedilotildees educativo-artiacutesticas locais mas que exercem accedilatildeo formativa numa relativa

autonomia quer perante a direccedilatildeo dos estabelecimentos quer perante as normas

emanadas do poder central e regional

Ora este tipo de confrontos esboccedila uma aproximaccedilatildeo a uma regulaccedilatildeo pelo mercado

uma vez que os atores do ldquoterrenordquo (instituiccedilotildees muacutesicos professores) tecircm um papel

importante na provisatildeo da formaccedilatildeo sem que contudo esta formaccedilatildeo englobe as

vaacuterias dimensotildees da profissionalidade dos docentes da aacuterea artiacutestica o que tem um

impacto significativo nesta aacuterea das poliacuteticas da educaccedilatildeo artiacutestico-musical

Disto emerge um ldquomodelo artiacutestico-profissionalrdquo em que a regulaccedilatildeo da carreira se faz

atraveacutes de um controlo social cultural e artiacutestico mais do que por mecanismos

burocratizados Controlo este em que o centro estaacute na capacidade de ldquoatrairrdquo e

ldquoformar muacutesicos de qualidaderdquo conduzindo a que os oacutergatildeos de governo das

instituiccedilotildees de formaccedilatildeo deem uma margem alargada de autonomia aos seus

docentes no acircmbito da construccedilatildeo e gestatildeo do curriacuteculo assim como da participaccedilatildeo

dos estudantes na vida musical local ou nacional Daqui decorre a permanecircncia da

ideia de autonomia no recrutamento dos docentes para as diferentes instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo e que de diferentes modos se procura concretizar tendo em vista a

construccedilatildeo e a implementaccedilatildeo de uma ldquopoliacutetica de pessoal docenterdquo proacutepria que

corporize determinadas ideias e projetos dos oacutergatildeos de governo das instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo

O incremento dos atores e do controlo social e cultural no governo das instituiccedilotildees de

formaccedilatildeo

No que se refere ao desenvolvimento de parcerias no contexto local podem ser

identificados dois tipos de fenoacutemenos diferenciados e paradoxais a centraccedilatildeo das

instituiccedilotildees e o alargamento dos atores que de modos diferenciados se envolvem

direta e indiretamente com as instituiccedilotildees

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

90

Contudo esta tendecircncia generalizada confronta-se com os poderes internos das

organizaccedilotildees de formaccedilatildeo que por razotildees diversas se movem numa perspetiva que

conjuga a ldquoautorreferencialidaderdquo interna e sisteacutemica em relaccedilatildeo agraves outras escolas e agrave

cena artiacutestica e musical E esta ldquoautorreferencialidaderdquo manifesta-se nas dificuldades

se integrarem nas poliacuteticas institucionais elementos oriundos das comunidades locais

mesmo que com elas interagem de um modo continuado quer em termos formais ou

informais

Paradoxalmente as instituiccedilotildees locais desempenham papeacuteis relevantes no acircmbito do

apoio agrave formaccedilatildeo artiacutestico-musical As autarquias por exemplo desenvolvem poliacuteticas

no acircmbito da educaccedilatildeo cultura juventude e de animaccedilatildeo sociocomunitaacuteria escolar e

cultural que se concretizam atraveacutes natildeo soacute de financiamentos a projetos especiacuteficos

como tambeacutem atraveacutes da disponibilizaccedilatildeo de recursos diferenciados que potenciam a

inserccedilatildeo social e cultural dos projetos formativos das instituiccedilotildees (Ferreira 2004

Pinhal 2006) Estas intervenccedilotildees contribuem para um controlo informal do curriacuteculo e

das atividades realizadas (Barroso 2002) Por sua vez o controlo social dos pais

manifesta-se sobretudo pela inscriccedilatildeo escolha da escola e pela movimentaccedilatildeo dos

estudantes nos vaacuterios ciclos de formaccedilatildeo

O incremento da externalizaccedilatildeo

A ldquocontaminaccedilatildeordquo das poliacuteticas educativas e culturais (Steiner-Khamsi 2004) e das

praacuteticas artiacutesticas e formativas eacute um fenoacutemeno transversal que percorre os mundos

das artes da cultura e da formaccedilatildeo artiacutestica Por um lado os fenoacutemenos migratoacuterios

na sociedade portuguesa constituem ao longo de todo o seacuteculo XX ldquoum importante

fator de transformaccedilatildeo social e cultural com fortes implicaccedilotildees para a configuraccedilatildeo

das praacuteticas da muacutesica e danccedilardquo desempenhando ldquoum papel ativo em domiacutenios

restauro como o comeacutercio a construccedilatildeo e de instrumentos musicais a ediccedilatildeo de

muacutesica o ensino a investigaccedilatildeo e a praacutetica de muacutesica e da danccedilardquo contribuindo

ldquoativamente para a difusatildeo de novas linguagens e reportoacuterios musicais transformando

profundamente a paisagem cultural e sonora do paiacutesrdquo (Cidra 2010 p 773) Por outro

o ldquoapelordquo ldquofasciacuteniordquo e a ldquoatratividaderdquo dos grandes centros numa espeacutecie de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

91

ldquoimaginaccedilatildeo ao centrordquo acaba por ser um elemento operatoacuterio das praacuteticas poliacuteticas

artiacutesticas e formativas presentes nos diferentes tipos de atores que participam direta e

indiretamente na educaccedilatildeo artiacutestico-musical

Processos complexos que se consubstanciam atraveacutes de formas diferenciadas situadas

entre (a) a accedilatildeo direta de atores que tendo obtido formaccedilatildeo no estrangeiro ou laacute

desenvolvendo trabalho apropriam modelos e procuram disseminaacute-los (b) a

integraccedilatildeo de artistas nas atividades musicais e de formaccedilatildeo (c) os referenciais

contidos em obras autores e correntes poliacutetico-musicais esteacuteticas e culturais (e) a

importaccedilatildeo atividades artiacutestico-musicais e de projetos de intervenccedilatildeo educativo-

artiacutesticos

Ora estes diferentes processos influenciam os modos de regulaccedilatildeo quer em termos

globais por parte da cena governativa e administrativa quer em termos mais locais

por parte de diferentes atores e organizaccedilotildees formativas incrementando regulaccedilotildees

muacuteltiplas e policentradas que exercem muitas vezes um controlo simboacutelico poderoso

quando comparado com os mecanismos de controlo mais convencionais com

consequecircncias praacuteticas no acircmbito dos diferentes tipos de ajustamentos muacutetuos e nas

heterarquias que se constroem no plano regulatoacuterio

Em siacutentese pode concluir-se que existe uma dominante centrada no reforccedilo de outros

modos de controlo e de responsabilizaccedilatildeo das instituiccedilotildees de formaccedilatildeo que estatildeo para

aleacutem dos mecanismos predominantemente burocraacuteticos protagonizados pela Estado e

Administraccedilatildeo (Formosinho et al 2005) Isto significa ldquouma retraccedilatildeo do papel do

Estado central na prestaccedilatildeo direta do serviccedilo de educaccedilatildeo [artiacutestico-musical] e um

enfraquecimento do uso de estrateacutegias centradas na produccedilatildeo normativa e no

controlo de meios e de procedimentosrdquo (Afonso 2003 p 76) e um incremento de

loacutegicas e de estrateacutegias assentes na ldquoqualidaderdquo das instituiccedilotildees e das formaccedilotildees

Por outro lado num plano mais informal do controlo social e cultural das instituiccedilotildees e

das formaccedilotildees os mecanismos de regulaccedilatildeo satildeo consubstanciados atraveacutes das loacutegicas

de accedilatildeo dos atores locais no plano das poliacuteticas curriculares da gestatildeo do fluxo dos

estudantes das poliacuteticas docentes e da intervenccedilatildeo comunitaacuteria atraveacutes das atividades

artiacutesticas Ora este tipo de mecanismos parece evidenciar que o trabalho desenvolvido

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

92

se centra mais na construccedilatildeo de ordens locais para a coordenaccedilatildeo da accedilatildeo formativa e

artiacutestica ldquodo que nas regulamentaccedilotildees mais imperativas oriundas da administraccedilatildeo da

educaccedilatildeordquo (Idem)

3 Consideraccedilotildees finais

O ensino de muacutesica inscreve-se no que se pode designar por ldquoestrutura rizomaacuteticardquo

por oposiccedilatildeo a uma ldquoestrutura em aacutervorerdquo (Wilson 2002) Contudo o pensamento

dominante de diferentes atores (poliacuteticos intelectuais burocratas professores e

investigadores) inscreve-se numa perspetiva de segmentaccedilatildeo da realidade em que se

classificam planificam e programam as escolas e as instituiccedilotildees artiacutesticas e culturais no

sentido de atingir determinados objetivos mensuraacuteveis Conceptualizar as artes e a

cultura assim como a formaccedilatildeo artiacutestica como ldquoestruturas em aacutervorerdquo quando elas

satildeo rizomaacuteticas e anti estruturais caracteriza uma visatildeo redutora dos fenoacutemenos

complexos contribuindo para o desenvolvimento de poliacuteticas falhadas

Aquilo que comummente o poder poliacutetico e ministerial e determinados sectores

intelectuais acadeacutemicos e formativos caracterizam como problemas por natildeo se

integrarem numa determinada ordem eacute o que caracteriza este tipo de educaccedilatildeo e

formaccedilatildeo em que o ldquoestrutural e o antiestrutural o alto e o baixo o ortodoxo e o

subversivo o nacional e o local o institucional e o anti-institucional o top-down e o

bottom-up os interesses conflituais valores e metas das escolas e das instituiccedilotildees

culturais ndash todas as forccedilas opostas ndash satildeo as caracteriacutesticas permanentes no interior da

paisagem cultural e neste sentido importa mais do que procurar anular os

paradoxos potenciar as oportunidades presentes nos conflitos de interessesrdquo (Wilson

2002 p 211)

Deste modo importa interrogar os modelos dominantes potenciando a diferenciaccedilatildeo

de modos de organizar as instituiccedilotildees e a formaccedilatildeo Se os sistemas educativos foram

pensados tendo como ecircnfase a estandardizaccedilatildeo e a conformidade em relaccedilatildeo a um

conjunto de procedimentos modos de organizaccedilatildeo e desenvolvimento curricular

numa determinada ldquogramaacutetica escolarrdquo (Tyack amp Tobin 1994) na ldquodificuldade de

assunccedilatildeo de loacutegicas diferenciadoras como forma de construccedilatildeo de igualdadesrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

93

(Vasconcelos 2002) em que existe o predomiacutenio da duplicaccedilatildeo do mesmo no mesmo

em que a poliacutetica emanada do Estado e de diferentes atores das instituiccedilotildees

formativas procuram organizar e avaliar a formaccedilatildeo artiacutestica e artiacutestico-musical como

se fosse uma soacute

Ora o subsistema do ensino de muacutesica eacute tanto mais rico quanto maior for a sua

diversificaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo num quadro de autonomia e de pilotagem Autonomia

que permita o desenvolvimento de projetos formativos e culturais territorializados e

distintivos e com formas organizacionais multifacetadas Pilotagem de modo a evitar a

sua fragmentaccedilatildeo assim como modos de regulaccedilatildeo que corrijam as assimetrias

territoriais culturais esteacuteticas formativas profissionais O que pressupotildee a passagem

de um paradigma assente na centralizaccedilatildeo e na homogeneidade para um caminho de

descentralizaccedilatildeo e reconhecimento da heterogeneidade e da complementaridade

quer se pense em termos das poliacuteticas centrais quer nas poliacuteticas das instituiccedilotildees de

ensino e das instituiccedilotildees culturais

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96

Desenvolvimento do conceito de acircngulo Um estudo no 5ordmano

de escolaridade

MARISA ISABEL BERNARDO

Escola Baacutesica 23 Antoacutenio Seacutergio

marisaisabelbernardohotmailcom

MARGARIDA RODRIGUES

Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

margaridareselxiplpt

Resumo A investigaccedilatildeo em curso visa compreender a influecircncia da implementaccedilatildeo de um

conjunto de tarefas no desenvolvimento do conceito de acircngulo em alunos do 5ordm ano

de escolaridade procurando responder agraves seguintes questotildees a) Que conceccedilotildees

revelam alunos do 5ordm ano de escolaridade relativamente ao conceito de acircngulo b)

Que estrateacutegias utilizam os alunos do 5ordm ano de escolaridade na exploraccedilatildeo das

tarefas utilizadas e c) Que aspetos do conceito de acircngulo satildeo desenvolvidos pelos

alunos atraveacutes da realizaccedilatildeo das tarefas propostas A presente comunicaccedilatildeo incide na

primeira questatildeo do estudo

Optou-se por uma abordagem metodoloacutegica qualitativa de paradigma interpretativo

com a modalidade de experiecircncia de ensino Selecionou-se quatro alunos para

constituir o grupo-alvo Procedeu-se agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo

dos quatro alunos atraveacutes da realizaccedilatildeo no 1ordm Periacuteodo do ano letivo de 201112 de

entrevistas cliacutenicas semiestruturadas individuais gravadas em viacutedeo Aleacutem das

entrevistas foram usadas como teacutecnicas de recolha de dados a observaccedilatildeo

participante das aulas videogravadas bem como a anaacutelise de documentos Para

analisar os dados foram elaboradas categorias analiacuteticas

Os resultados relativos agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica evidenciam conceccedilotildees erradas de

acircngulo e respetiva amplitude (a) os acircngulos satildeo os lados de poliacutegonos (1 aluna) (b) o

comprimento dos segmentos representativos dos lados estaacute relacionado com o

tamanho dos acircngulos (2 alunos) (c) o comprimento do arco marcando o acircngulo estaacute

relacionado com o tamanho dos acircngulos (3 alunos) (d) nos poliacutegonos cocircncavos satildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

97

acircngulos apenas os de amplitude inferior a 1800 (3 alunos) (e) em figuras que natildeo satildeo

poliacutegonos os acircngulos satildeo os espaccedilos entre os segmentos de reta e as linhas curvas (1

aluno) (f) o acircngulo eacute a aacuterea entre dois segmentos representativos dos lados (4 alunos)

e (g) os acircngulos retos satildeo apenas os posicionados na posiccedilatildeo usual horizontalvertical

(1 aluna)

Palavras-chave conceito de acircngulo conceccedilotildees matemaacuteticas avaliaccedilatildeo diagnoacutestica

Abstract The ongoing research aims to understand the influence of the

implementation of a set of tasks in the development of the concept of angle in 5th

grade students trying to answer the following questions a) What conceptions of angle

reveal 5th grade students b) What strategies do 5th grade students use in tasks

exploration and c) What aspects of the concept of angle are developed by students

through the realization of the proposed tasks This communication focuses on the first

question of the study

We opted for a qualitative approach of interpretive paradigm with the use of teaching

experiment Four students were selected to constitute the target group We did the

diagnostic evaluation of angle conceptions of these four students by conducting

videotaped individual semi-structured clinical interviews in the 1st Period of 201112

Besides the interviews we used the participant observation of videotaped classes and

the analysis of documents as techniques of data collection To analyze the data

analytic categories were developed

The results for the diagnostic evaluation reveal misconceptions of angle and of angle

amplitude (a) the angles are the polygon sides (1 student) (b) the length of the

segments representing the angle sides is related to the size of the angles (2 students)

(c) the arc length marking the angle is related to the size of the angles (3 students) (d)

in the concave polygons only the angles with amplitude less than 180deg are considered

as angles (3 students) (e) in figures that there are not polygons the angles are the

spaces between straight segments and curved lines (1 student) (f) the angle is the area

between the two segments representing the angle sides (4 students) and (g ) the right

angles are only perceived when placed in the horizontalvertical usual position (1

student)

Keywords concept of angle mathematical conceptions diagnostic evaluation

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

98

Introduccedilatildeo

O presente estudo visa compreender a influecircncia da implementaccedilatildeo de um conjunto

de tarefas no desenvolvimento do conceito de acircngulo em alunos do 5ordm ano de

escolaridade Sendo o conceito de acircngulo central na construccedilatildeo do conhecimento

geomeacutetrico e simultaneamente difiacutecil de ser aprendido e ensinado apesar de

constituir um toacutepico elementar da Geometria as investigaccedilotildees recentes incidentes no

mesmo ajudam a informar as praacuteticas na sala de aula com vista a enfrentar os

problemas de ensino e de aprendizagem deste conceito Assim este estudo pretende

contribuir para o desenho de um percurso didaacutetico que aponte possibilidades para que

o ensino do acircngulo obtenha uma dimensatildeo ampla e adequada na aprendizagem dos

alunos jaacute que tradicionalmente existe uma abordagem estaacutetica a esta noccedilatildeo

resumindo-se o seu ensino agrave mera apresentaccedilatildeo da definiccedilatildeo e uso de instrumentos de

medida

A avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo dos alunos feita atraveacutes de

entrevistas cliacutenicas individuais a quatro alunos selecionados pela diversidade de

desempenho acadeacutemico orientou a preparaccedilatildeo de um conjunto de tarefas que foram

implementadas por uma das autoras numa das suas turmas de 5ordm ano com vista a

desenvolver nos alunos uma compreensatildeo mais aprofundada do conceito de acircngulo

partindo dos dados obtidos nessa avaliaccedilatildeo O artigo apresenta os resultados da

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica realizada

Avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo

Conceccedilotildees e tipos de avaliaccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo enquanto componente do curriacuteculo pode ser concebida de diversos

modos consoante a conceccedilatildeo que se tenha de curriacuteculo tendo sido objeto de diversas

conceptualizaccedilotildees durante o seu periacuteodo breve de existecircncia no uacuteltimo seacuteculo Com

efeito a avaliaccedilatildeo tem sofrido uma evoluccedilatildeo ao longo dos uacuteltimos tempos no modo

como eacute perspetivada e ateacute operacionalizada sendo possiacutevel identificar uma conceccedilatildeo

(i) teacutecnica e instrumental centrada em produtos a partir de meados do seacutec XIX em

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

99

que a avaliaccedilatildeo eacute vista como uma medida (ii) de congruecircncia entre os objetivos e os

desempenhos dos alunos nos anos 40 (iii) de julgamento de especialistas e (iv) de

interaccedilatildeo social complexa a partir dos anos 90 sendo esta uma conceccedilatildeo mais ampla

centrada nos processos em que a avaliaccedilatildeo eacute encarada como inscrita numa praacutetica

social dinacircmica e relacional com muacuteltiplos significados sejam de iacutendole cultural

pedagoacutegica ou poliacutetica (Pinto e Santos 2006)

O modelo de congruecircncia eacute assumido por Tyler (1949) consistindo na verificaccedilatildeo de

resultados atraveacutes do confronto dos mesmos com o que se previa e que estava

estabelecido nos objetivos definidos previamente Esta conceccedilatildeo prescritiva de

avaliaccedilatildeo sofreu fortes criacuteticas por natildeo contemplar os resultados natildeo previstos

inicialmente nem fornecer informaccedilotildees que fundamentassem a tomada de decisotildees

No iniacutecio da deacutecada de 70 surgem os primeiros sinais de uma mudanccedila de paradigma

de uma avaliaccedilatildeo prescritiva para uma avaliaccedilatildeo lsquoiluminativarsquo (Parlett 1975)

colocando a ecircnfase na interpretaccedilatildeo na natureza qualitativa da avaliaccedilatildeo que por sua

vez visa a construccedilatildeo de modelos explicativos dos sistemas especiacuteficos em causa

Como defensores desta uacuteltima corrente encontramos Stenhouse (1981) ao sustentar

que a avaliaccedilatildeo deve integrar o desenvolvimento curricular ao iluminar e guiar o

respetivo processo e Sacristaacuten (2000) que refere que a avaliaccedilatildeo que enfatize o

curriacuteculo contribui para a transformaccedilatildeo do mesmo no curso do seu desenvolvimento

dentro das condiccedilotildees escolares

As diferentes funccedilotildees da avaliaccedilatildeo -- regulaccedilatildeo dos processos de ensino e de

aprendizagem certificaccedilatildeo e seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo -- determinam diferentes modos de

analisar os dados recolhidos sustentados pelos diversos tipos de decisotildees que lhes satildeo

inerentes e encontram-se associadas respetivamente aos diversos tipos de avaliaccedilatildeo

formativa certificativa e diagnoacutestica (Pinto e Santos 2006)

Partilhando da perspetiva de avaliaccedilatildeo como interaccedilatildeo social e assumindo a dimensatildeo

pedagoacutegica da avaliaccedilatildeo encaramos a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica realizada no iniacutecio do

processo de ensino e de aprendizagem como um tipo de avaliaccedilatildeo que tem por

funccedilatildeo orientar a accedilatildeo do professor Este tipo de avaliaccedilatildeo comporta quer a dimensatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

100

de diagnoacutestico quer a de prognoacutestico e ambas as dimensotildees sustentam as decisotildees

do professor de seleccedilatildeo e de orientaccedilatildeo em funccedilatildeo de uma antecipaccedilatildeo do futuro

proacuteximo do aluno em termos das suas competecircncias para prosseguir determinados

niacuteveis de estudo subsequentes (Pinto amp Santos 2006 p 45)

Assim a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica das conceccedilotildees de acircngulo realizada numa fase inicial do

ensino dos acircngulos pode permitir a elaboraccedilatildeo de tarefas que visem o

desenvolvimento nos alunos de aspetos conceptuais importantes relativos ao acircngulo

partindo do modo concreto como os mesmos conceptualizam este objeto matemaacutetico

Tarefas construiacutedas com base no conhecimento do professor das noccedilotildees dos seus

alunos poderatildeo estimular nestes a transformaccedilatildeo de conceccedilotildees erradas em conceccedilotildees

fundadas numa compreensatildeo mais aprofundada das propriedades inerentes aos

diversos conceitos geomeacutetricos Em suma a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica visa

recolher informaccedilatildeo que permite ao professor antecipar com a maior

clarividecircncia possiacutevel sobre a aprendizagem dos alunos e em segundo lugar

reportar a progressatildeo e os resultados das actividades precedentes natildeo

para controlar o domiacutenio dos conteuacutedos mas sim para justificar as suas

decisotildees de planificaccedilatildeo (Kraemer 2008 p 26)

Conceccedilotildees de acircngulo

Nos uacuteltimos tempos tem vindo a estabelecer-se que o conceito de acircngulo eacute

multifacetado Trecircs classes da definiccedilatildeo de acircngulo surgem frequentemente na revisatildeo

da literatura (a) a uniatildeo de duas semirretas com a mesma origem (b) a regiatildeo

formada pela interseccedilatildeo de dois semiplanos e (c) uma rotaccedilatildeo operaccedilatildeo que

transforma uma semirreta noutra semirreta com a mesma origem (Mitchelmore amp

White 2000) Outros autores tecircm preferido basear a sua classificaccedilatildeo noutras

propriedades do acircngulo observando em particular a diferenccedila entre os aspetos

dinacircmico e estaacutetico do conceito (Close Kieran Scally citados por Mitchelmore amp

White 2000) Ressalta assim que o conceito de acircngulo eacute um conceito geomeacutetrico

complexo e que depende do contexto em que eacute trabalhado sendo esta uma das

razotildees para a dificuldade dos alunos na sua conceptualizaccedilatildeo (Mitchelmore amp White

1998 Matos 1999)

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101

De acordo com Bryant (2009) no processo de construccedilatildeo do conceito de acircngulo os

alunos tecircm grande dificuldade em coordenar as vaacuterias facetas deste conceito e

possuem uma variedade de conceccedilotildees erradas originando grandes obstaacuteculos para a

sua compreensatildeo No nosso quotidiano experimentamos acircngulos em muitos

contextos diferentes e agrave partida natildeo seraacute faacutecil para as crianccedilas relacionarem os acircngulos

encontrados em diferentes formas sendo que algumas representaccedilotildees satildeo mais

compreensiacuteveis que outras Por exemplo muitas vezes os acircngulos satildeo formados pelo

encontro de duas linhas niacutetidas como o canto de uma mesa enquanto noutros o

acircngulo eacute representado apenas por uma linha como a inclinaccedilatildeo de uma colina em que

uma linha eacute a proacutepria colina e a outra eacute uma linha horizontal imaginaacuteria (Bryant 2009)

Tendo em conta os niacuteveis de Van Hiele (Hiele 1999) e no caso do desenvolvimento do

conceito de acircngulo segundo Wilson e Adams (1999) as crianccedilas primeiro olham para

os acircngulos de uma forma holiacutestica Assim que comeccedilam a reconhecer acircngulos os

alunos reparam que um triacircngulo tem trecircs acircngulos mas natildeo se focalizam em nenhuma

propriedade particular desses acircngulos Mais tarde compreendem que a amplitude de

um acircngulo pode ser menor ou maior que a de um acircngulo reto e comeccedilam a identificar

propriedades e relaccedilotildees entre acircngulos O passo seguinte de desenvolvimento eacute

trabalhar com essas relaccedilotildees como por exemplo um triacircngulo natildeo pode ter mais que

um acircngulo obtuso porque os trecircs lados tecircm que formar uma figura fechada

Outros estudos realizados por diferentes autores apontam vaacuterios equiacutevocos e mal-

entendidos que existem no pensamento das crianccedilas quando lidam com o conceito de

acircngulo Matos (1999) num estudo que efetuou com alunos do 4ordm ano e 5ordm ano

identificou uma seacuterie de respostas ldquoincorretasrdquo para as questotildees de acircngulo como por

exemplo no reconhecimento de acircngulos retos agudos e obtusos em outras

orientaccedilotildees que natildeo a verticalhorizontal conceccedilatildeo de acircngulo como a aacuterea entre dois

segmentos representativos dos lados na identificaccedilatildeo de acircngulos com 1800 e 3600 na

identificaccedilatildeo de acircngulos incorporados em diferentes tipos de figuras (os alunos

reconhecem acircngulos em lados curvos de uma figura e reconhecem melhor acircngulos

convexos do que acircngulos cocircncavos) dificuldade em reconhecer um acircngulo obtuso

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102

como acircngulo imagem mental de acircngulo eacute de acircngulo reto e acircngulo agudo

metaforicamente os acircngulos satildeo pensados como letras utilizando os siacutembolos ldquoLrdquo e

ldquoVrdquo na relaccedilatildeo entre acircngulos e voltas (alguns alunos fazem associaccedilotildees ao ciacuterculo e

natildeo realizam um quarto de volta ou com menos de 900) Estes resultados satildeo

convergentes com estudos de outros autores (Owens 1998 Keiser 2000 Magina amp

Hoyles 2007 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) Tambeacutem eacute referido que os alunos

tendem a pensar que o comprimento dos segmentos representativos dos lados

(semirretas) estaacute relacionado com a amplitude do acircngulo (Mitchelmore amp White 1998

Wilson amp Adams 1999 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) Em suma o acircngulo eacute um

conceito complexo podendo ser definido em vaacuterios contextos e os alunos apresentam

dificuldades na construccedilatildeo deste conceito

Abordagem metodoloacutegica

Este estudo segue uma abordagem metodoloacutegica qualitativa de paradigma

interpretativo com a modalidade de experiecircncia de ensino Optou-se por esta

abordagem porque se enquadra num tipo de investigaccedilatildeo onde se pretende conhecer

profundamente as conceccedilotildees dos quatro alunos em particular e tambeacutem porque eacute

utilizada quando se procura descrever ou obter determinada explicaccedilatildeo interpretativa

sobre alguma situaccedilatildeo ou fenoacutemeno educacional (Erickson 1986)

Para a seleccedilatildeo dos participantes no estudo privilegiou-se a escolha de alunos do

5ordmano de escolaridade do ensino baacutesico com aproveitamento geral diversificado e

com uma atitude positiva em relaccedilatildeo agrave escola Seguindo estas orientaccedilotildees selecionou-

se quatro alunos de uma turma (a Isabel com aproveitamento fraco o Rui e o Pedro

meacutedio e a Luiacutesa bom) cuja professora de Matemaacutetica desempenhou

simultaneamente o papel de investigadora

Tendo como objetivo o de recolher informaccedilatildeo sobre as conceccedilotildees dos alunos sobre o

conceito de acircngulo procedeu-se a uma avaliaccedilatildeo diagnoacutestica atraveacutes da realizaccedilatildeo no

1ordm Periacuteodo do ano letivo de 20112012 de entrevistas individuais cliacutenicas e

semiestruturadas Para Pires et al citados por Moreira e Dominguez (1993) ldquoa

entrevista cliacutenica eacute apenas um meacutetodo de avaliaccedilatildeo mais especificamente uma

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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teacutecnica ou uma ferramenta por meio da qual se pode gerar dados com propoacutesitos de

avaliaccedilatildeordquo (p 19) Procurou-se assim detetar preconceccedilotildees existentes sobre o

conceito de acircngulo com o propoacutesito de utilizar os dados obtidos para a preparaccedilatildeo de

um conjunto de tarefas que levasse em conta tais conceccedilotildees e procurasse facilitar a

mudanccedila conceptual

Na entrevista cliacutenica eacute fixada uma hipoacutetese agrave partida Colocando o

entrevistado na situaccedilatildeo que corresponde a essa hipoacutetese o investigador

suscita da parte dele a revelaccedilatildeo de indiacutecios e de informaccedilotildees que visam

elucidar o problema colocado (hellip) Trata-se portanto de um jogo de accedilotildees

e de respostas que caso a entrevista seja bem orientada conduziraacute agrave

elucidaccedilatildeo do problema e agrave confirmaccedilatildeo ou natildeo da hipoacutetese (Pourtois amp

Desmet citados por Lessard-Hebert Goyette amp Boutin 1990 p 164)

As entrevistas foram assim conduzidas atraveacutes de um guiatildeo onde se encontravam

uma seacuterie de questotildees elaboradas com base em hipoacuteteses decorrentes da revisatildeo de

literatura efetuada e que foram sendo exploradas mediante as respostas orais e

escritas dadas pelos alunos bem como os seus gestos com o intuito da investigadora

compreender as conceccedilotildees que os alunos apresentavam relativamente ao conceito de

acircngulo A construccedilatildeo de algumas questotildees da entrevista foi baseada nos testes

apresentados por Matos (1999) As entrevistas foram gravadas em viacutedeo e ocorreram

em salas da escola onde se desenrolou o estudo Apoacutes a sua realizaccedilatildeo foram

transcritas e os dados foram trabalhados procedendo-se agrave elaboraccedilatildeo de categorias

analiacuteticas com o objetivo de responder agrave questatildeo apresentada neste artigo

Anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Representaccedilatildeo de acircngulo

Ao ser-lhes proposto desenhar dois acircngulos diferentes todos os alunos desenharam

um acircngulo reto e um acircngulo agudo agrave exceccedilatildeo da Isabel que desenhou figuras

geomeacutetricas (figura 1) identificando como acircngulos os lados das figuras como se pode

verificar no extrato transcrito em baixo

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Figura 1 - Lados de figuras geomeacutetricas como representaccedilatildeo de acircngulos pela Isabel

Inv (hellip) o que a professora te pede aqui eacute que tu desenhes um acircngulo qualquer

Isabel (aluna) Posso desenhar um triacircngulo (Afirmo com a cabeccedila que sim)

Inv Entatildeo tens aiacute um acircngulo (A Isabel natildeo responde) Tens um acircngulo

Isabel Natildeo tenho trecircs

Inv Entatildeo diz-me laacute quais satildeo

Isabel Eacute estehellip (Aponta com o dedo um dos lados do triacircngulo)

Inv Podes marcar Marca com o laacutepis o que tu dizes quais satildeo os acircngulos

Isabel Eacute estehellipeste e estehellip (Indica os trecircs lados do triacircngulo)

Pode-se assim inferir que dos quatro alunos entrevistados trecircs usam representaccedilotildees

(desenhos) de exemplos prototiacutepicos de acircngulo e um natildeo desenhou acircngulos tendo

desenhado figuras geomeacutetricas Mas o Rui representou o acircngulo agudo natildeo

posicionado na posiccedilatildeo usual horizontalvertical (figura 2)

Figura 2 ndash Representaccedilatildeo de um acircngulo reto e de um acircngulo agudo natildeo posicionado na

posiccedilatildeo usual horizontalvertical pelo Rui

Identificaccedilatildeo de acircngulos incorporados em diferentes tipos de figuras

Na questatildeo 4 do guiatildeo era proposto assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras

poliacutegonos convexos poliacutegonos cocircncavos e figuras fechadas com linhas curvas A Isabel

identificou como acircngulos em todas as figuras os segmentos de reta que as limitam

natildeo assinalando como acircngulo a linha curva de uma das figuras (figura 3)

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105

Figura 3 ndash Identificaccedilatildeo como acircngulos dos segmentos de reta que limitam as figuras

pela Isabel

Inv (hellip) vais marcar os acircngulos que encontras nesta figura com a letra ldquovrdquo

(A Isabel assinala os segmentos de reta que limitam as figuras)

(hellip)

(A Isabel na figura fechada com uma linha curva assinala-a como acircngulo

mas depois apaga)

Inv Entatildeo porque eacute que marcaste e depois decidiste que natildeo era

Isabel Este estaacute assim (Com o dedo contorna a linha curva da figura)

Inv Eacute uma linha

Isabel Curva

No poliacutegono convexo os outros trecircs alunos identificaram corretamente os acircngulos

natildeo se verificando o mesmo na identificaccedilatildeo do acircngulo interno de amplitude superior

a 1800 no poliacutegono cocircncavo (figura 4) o Rui e a Luiacutesa natildeo o assinalaram e o Pedro

apesar de ter assinalado no poliacutegono o acircngulo interno superior a 1800 referia-se ao

acircngulo exterior (figura 5)

Inv E aqui (Refiro-me ao poliacutegono cocircncavo) Tu colocaste o ldquovrdquo aqui

(Aponto para o acircngulo interno superior 1800) Onde estaacute o acircngulo

Pedro Eacute este e este (O aluno com o dedo contorna os lados dos acircngulos

internos que tecircm um dos lados comum ao acircngulo interno superior a 1800)

E tambeacutem daacute para fazer um assimhellip (O aluno com o laacutepis contorna os lados

do acircngulo interno superior a 1800 mas aponta para o acircngulo externo)

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Figura 4 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos no poliacutegono cocircncavo pelo Rui e pela Luiacutesa

respetivamente

Figura 5 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos no poliacutegono cocircncavo pelo Pedro

Nas figuras natildeo-poliacutegonos a Luiacutesa identificou corretamente os acircngulos existentes natildeo

assinalando como acircngulo o espaccedilo entre um segmento de reta e uma linha curva

(figura 6) ao contraacuterio do Rui (figura 7)

Figura 6 ndash Identificaccedilatildeo correta dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pela Luiacutesa

Figura 7 ndash Identificaccedilatildeo incorreta dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pelo Rui

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O Pedro referiu que para formar acircngulos ldquotem de ser linhas retasrdquo mas assinalou

como acircngulo o espaccedilo entre um segmento e uma linha curva parecendo que

perceciona o iniacutecio da linha curva como reto (figura 8)

Figura 8 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos em figuras natildeo poliacutegonos pelo Pedro

Agrave exceccedilatildeo da Isabel que identificou incorretamente todos os acircngulos nas diferentes

figuras o Rui o Pedro e a Luiacutesa identificaram de forma correta os acircngulos inferiores a

1800 nos poliacutegonos convexos e cocircncavos Nas figuras natildeo-poliacutegonos soacute a Luiacutesa

identificou corretamente os acircngulos existentes

Conceccedilatildeo de amplitude de acircngulo

Quando lhes foi proposto rodear os acircngulos de maior amplitude o Pedro e a Isabel

assinalaram os acircngulos que apresentavam os maiores segmentos representativos dos

lados a partir do criteacuterio de que a amplitude do acircngulo aumenta com o comprimento

dos segmentos representativos dos seus lados (Figura 9) Nas justificaccedilotildees agraves opccedilotildees

feitas o Pedro referiu que as ldquoarestasrdquo satildeo maiores e a Isabel ldquoestas linhas estatildeo

maioresrdquo

Figura 9 ndash Identificaccedilatildeo dos acircngulos de

maior amplitude pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

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O Rui e a Luiacutesa identificaram corretamente os acircngulos de maior amplitude fazendo ateacute

uma estimativa da sua amplitude (Figura 10) A Luiacutesa referiu ldquoeacute um acircngulo agudo e

tem menos que 900 mas este (aponta para o 2ordmacircngulo da 1ordm caixa) eacute quase um

acircngulo de 900 mas tem mais

Rui Porque tem mesmo quase os 090 certinhos e este aqui natildeo tem e tambeacutem

haacute a percentagem de acircngulo (Na primeira caixa)

Inv O que queres dizer com isso Percentagem de acircngulo

Rui Tem maior abertura e este natildeo

(hellip)

Rui (hellip) e o acircngulo deste aqui (aponta para o acircngulo da direita da segunda caixa)

estaacute nos 85 por aiacute e este (aponta para o acircngulo da direita da primeira caixa) em

65 e 70

Figura 10 ndash Identificaccedilatildeo correta dos acircngulos de maior amplitude pelo Rui

Na questatildeo 11 do guiatildeo era proposto aos alunos que rodeassem o acircngulo de maior

amplitude Nesta questatildeo os acircngulos estavam marcados com arcos de comprimentos

diferentes Apenas a Luiacutesa identificou corretamente o acircngulo com maior amplitude

referindo ldquoEscolhi este porque este tem o acircngulo (pausa) os graus maiores do que

este Se noacutes formos a ver este estaacute mais fechado e este aqui eacute mais abertordquo (Figura 11)

Figura 11 ndash Identificaccedilatildeo correta do acircngulo de maior amplitude pela Luiacutesa

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Os outros trecircs alunos identificaram incorretamente o acircngulo com maior amplitude A

Isabel identifica o acircngulo com maior amplitude a partir do criteacuterio de que a amplitude

do acircngulo aumenta com o comprimento dos segmentos representativos dos seus

lados ignorando os arcos O Rui e o Pedro identificaram o acircngulo maior como aquele

que tem o arco com maior comprimento fazendo referecircncia ao espaccedilo que

compreende o arco

Inv Agora eacute te pedido que rodeies o maior acircngulo

(O aluno assinala o segundo acircngulo)

Inv Porque eacute que escolheste esse

Rui Porque estaacute mais fechado e este tem um acircngulo maior (Aponta para o

segundo acircngulo da caixa)

Inv Qual eacute o acircngulo que te estaacutes a referir

Rui A este (Aponta para o segundo acircngulo)

Inv E aquele (Aponto para o primeiro acircngulo)

Rui Eacute mais pequeno

Pedro Este eacute o que tem mais dimensatildeo maior (Aponta para o segundo

acircngulo da caixa) E daacute para meter o acircngulo maishellipmais pa sic] caacute Este aqui

natildeo daacute assim tatildeo bem

Inv Daacute para pocircr o quecirc mais para caacute Explica laacute essa tua ideia

Pedro Daacute para meterhellip O acircngulo eacute maior aquihellipo acircngulo aqui estaacute maior

que este (Aponta o espaccedilo que compreende o arco)

Deste modo dos quatro alunos apenas a Luiacutesa identificou corretamente os acircngulos

com maior amplitude e o Rui e o Pedro identificaram como maiores aquele que tem o

arco com maior comprimento considerando que se se alterar a posiccedilatildeo do arco

desenhado tambeacutem se altera o acircngulo e a sua amplitude Quer o Pedro quer a Isabel

identificam como acircngulos com maior amplitude aqueles cujo comprimento dos

segmentos representativos dos seus lados satildeo maiores

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110

Conceccedilatildeo de acircngulo

Na questatildeo 7 do guiatildeo era proposto aos alunos que circundassem os pontos inseridos

no interior de acircngulos Todos os alunos circundaram apenas os pontos inseridos na

aacuterea entre os segmentos representativos dos lados (Figura 12) No primeiro acircngulo

rodearam os pontos E e F e no segundo acircngulo rodearam os pontos G e F agrave exceccedilatildeo da

Luiacutesa que rodeou tambeacutem os pontos A e B

Figura 12 ndash Identificaccedilatildeo dos pontos inseridos no interior de um acircngulo pelo Rui pela

Luiacutesa pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

O Rui diz que ldquoo B e o C jaacute estatildeo um bocado mais afastadosrdquo o Pedro no segundo

acircngulo refere que ldquose noacutes fizermos assim (movimenta o laacutepis de forma a imaginar-se

um terceiro segmento que une os outros dois segmentos) eles estatildeo caacute dentro eles

ficam caacute dentrordquo A Luiacutesa chega a rodear no primeiro acircngulo o ponto B mas depois

apaga e quando questionada sobre o que fez diz ldquoPorque o acircngulo se fosse maiorhellipse

continuasse assim um bocadinho mais para cima (hellip) estas linhas mais para a frente o

B o pontinho B ia estar dentrordquo (com o dedo faz o gesto do prolongamento do

segmento representativo de um dos lados do acircngulo) No segundo acircngulo a Luiacutesa

refere ldquoo F porque estaacute aqui no meio (aponta com o dedo para o interior do acircngulo) o

B tambeacutem e o G tambeacutem O A natildeo estaacute bem dentro do acircngulo mas ainda estaacutehellipestaacute

quase fora do acircngulo Os outros estatildeo laacute dentro (referindo-se aos que rodeou)rdquo

O desempenho dos alunos evidencia que os mesmos conceberam o acircngulo como uma

superfiacutecie finita isto eacute como a aacuterea interior entre os dois segmentos representativos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

111

dos lados imaginando o fechamento dessa superfiacutecie formando um triacircngulo tal

como representado na Figura 13

Figura 13 ndash Conceccedilatildeo de acircngulo como uma aacuterea limitada pelos segmentos

representativos dos lados

Nenhum dos alunos teve a ideia de poder prolongar infinitamente os segmentos

sendo que conceptualmente natildeo encararam os lados dos acircngulos como semirretas A

Luiacutesa quando o faz com gestos eacute para justificar o que natildeo circundou A Luiacutesa

evidencia ter considerado para o acircngulo obtuso toda a aacuterea delimitada por linhas

imaginaacuterias verticais a partir dos extremos dos segmentos representativos dos lados

tal como representado na Figura 14 Das respostas dos alunos tambeacutem se pode inferir

que apenas tecircm como referecircncia os acircngulos convexos pois nenhum aluno colocou a

hipoacutetese dos pontos A G (no acircngulo agudo) e E e D (no acircngulo obtuso) pertencerem

ao acircngulo cocircncavo

Figura 14 ndash Conceccedilatildeo de acircngulo com um interior limitado pela Luiacutesa

Constacircncia percetual

Quando lhes foi proposto que circundassem os acircngulos retos de entre um conjunto de

acircngulos representados numa malha quadriculada o Rui e a Luiacutesa (figura 15)

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112

identificaram corretamente trecircs e o Pedro e a Isabel dois (Figura 16) de entre os

quatro acircngulos retos apresentados em diferentes posiccedilotildees

Figura 15 ndash Identificaccedilatildeo de acircngulos retos em diferentes posiccedilotildees pela Luiacutesa

Figura 16 ndash Identificaccedilatildeo de acircngulos retos pelo Pedro e pela Isabel respetivamente

O Pedro tal como a Luiacutesa movimentou a folha de papel antes de assinalar os acircngulos

Indicou apenas dois acircngulos como retos mas chegou a assinalar um terceiro acircngulo

que acabou por apagar e ao justificar as suas escolhas referiu que se pudesse mover a

folha de papel soacute um acircngulo eacute que natildeo seria reto

Inv Entatildeo natildeo eacute

Pedro Natildeo

Inv Porque eacute que no iniacutecio estavas a rodear

Pedro Porque eu tava [sic] a vecirc-lo assim (move a folha de papel) e depois

vi que era melhor vecirc-lo assim e natildeo erahellip

Inv Entatildeo tens que ter sempre a folha direita

Pedro Sim eu acho que eacute isso Mas se pudermos vermos de todas as

maneiras satildeo quase todos menos este (indica o acircngulo agudo)

O Rui e a Luiacutesa revelam alguma constacircncia percetual relativamente ao acircngulo reto O

Pedro natildeo reconhece facilmente os acircngulos retos natildeo posicionados na posiccedilatildeo usual

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

113

horizontalvertical e a Isabel identificou apenas os acircngulos retos representados na

posiccedilatildeo prototiacutepica

Conclusatildeo

Um dos objetivos deste estudo foi o de recolher informaccedilatildeo sobre as conceccedilotildees dos

alunos sobre o conceito de acircngulo procedendo-se a uma avaliaccedilatildeo diagnoacutestica para

compreender que conceccedilotildees apresentavam relativamente a este conceito Os alunos

utilizam representaccedilotildees de exemplos prototiacutepicos de acircngulos (reto e agudo) e nenhum

representa um acircngulo obtuso dando evidecircncias de possuiacuterem a imagem mental de

acircngulo correspondendo ao acircngulo reto e acircngulo agudo sendo que um aluno (Rui)

pensa metaforicamente nos acircngulos como as letras ldquoLrdquo e ldquoVrdquo (Matos 1999)

Apresentam ainda dificuldades em assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras

tal como nos estudos efetuados por Owens (1998) Keiser (2000) e Matos (1999) A

principal dificuldade detetada foi na identificaccedilatildeo do acircngulo interno de amplitude

superior a 1800 no poliacutegono cocircncavo onde nenhum dos alunos o assinalou Na figura

natildeo-poliacutegono apenas um aluno identificou corretamente os acircngulos existentes As

respostas dos alunos indicam que para eles os acircngulos soacute podem ser concebidos no

interior das figuras Na questatildeo proposta para rodear os acircngulos de maior amplitude

tambeacutem aqui as respostas de dois alunos convergem com um dos equiacutevocos mais

comuns e mencionado por diversos autores (Mitchelmore amp White 1998 Wilson amp

Adams 1999 Fyhn 2007 Munier amp Merle 2009) um ldquoacircngulo pequenordquo tem lados

curtos e um ldquoacircngulo granderdquo tem lados longos ou seja a conceccedilatildeo de que o

comprimento dos segmentos representativos dos lados (semirretas) estaacute relacionado

com a amplitude do acircngulo Tambeacutem o comprimento do arco que marcava os acircngulos

foi concebido como estando relacionado com a amplitude dos acircngulos por dois

alunos Na questatildeo para circundar os pontos inseridos no interior de acircngulos os

alunos evidenciam que concebem o acircngulo como uma superfiacutecie finita isto eacute como a

aacuterea interior entre os dois segmentos representativos dos lados tal como aconteceu

nos estudos de Matos (1999) e Keiser (2000) Das respostas dos alunos a esta questatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

114

e agrave questatildeo para assinalar acircngulos em diferentes tipos de figuras pode-se inferir que

apenas tecircm como referecircncia os acircngulos convexos Os alunos apresentam dificuldades

no reconhecimento de acircngulos retos agudos e obtusos em outras orientaccedilotildees que natildeo

a verticalhorizontal (tal como em Matos 1999 Fynh 2007) um aluno natildeo

reconheceu facilmente os acircngulos retos natildeo posicionados na posiccedilatildeo usual

horizontalvertical e a Isabel identificou apenas os acircngulos retos representados na

posiccedilatildeo prototiacutepica Eacute ainda de salientar que a aluna Isabel ao longo da entrevista

indicou frequentemente como exemplos de acircngulos os segmentos de reta que

formam diferentes tipos de figuras Os resultados relativos agrave avaliaccedilatildeo diagnoacutestica

evidenciam assim conceccedilotildees erradas de acircngulo e respetiva amplitude confirmando os

estudos realizados por diferentes autores que apontam para vaacuterios equiacutevocos

existentes no pensamento das crianccedilas sobre este conceito geomeacutetrico

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116

O aacutelbum infantil alguns criteacuterios de seleccedilatildeo

Maria Encarnaccedilatildeo Silva

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

esilvaeselxiplpt

Helena Barroso

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

helenabeselxiplpt

Resumo

A literatura para a infacircncia e juventude desempenha um papel fundamental na

formaccedilatildeo de leitores autoacutenomos isto eacute leitores que queiram ler por iniciativa proacutepria

e que gostem de o fazer Lendo e ouvindo ler literatura para a infacircncia desde muito

cedo a crianccedila vai descobrindo a linguagem escrita vai-se familiarizando com ela e vai

sentindo vontade de querer aprender a ler

Por outro lado o contacto precoce com a literatura para a infacircncia constitui-se como

um fator de desenvolvimento da crianccedila a niacutevel social cultural afetivo e linguiacutestico

Destaca-se ainda a importacircncia deste recurso no acircmbito de uma educaccedilatildeo para os

valores numa sociedade que se quer mais humana e respeitadora dos direitos de todos

e de cada um O aacutelbum ilustrado veicula valores atraveacutes das suas componentes textual

e icoacutenica possibilitando uma discussatildeo enriquecedora sem ser moralista uma

discussatildeo suficientemente descentrada da crianccedila para que a mesma natildeo se sinta

avaliada e suficientemente proacutexima para que a crianccedila se sinta envolvida

Nesta comunicaccedilatildeo pretende-se

caracterizar o aacutelbum de literatura para a infacircncia

identificar criteacuterios que devem presidir agrave escolha de aacutelbuns que

contribuam para o desenvolvimento da educaccedilatildeo literaacuteria para o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

117

desenvolvimento linguiacutestico e para o alargamento de horizontes no que

se refere ao conhecimento do mundo em geral

apresentar alguns exemplos de aacutelbuns que possibitem percursos

enriquecedores de acordo com o que atraacutes se disse

Palavras-chave aacutelbum ilustrado criteacuterios de seleccedilatildeo

Abstract

Literature for children and young people plays a fundamental role in the training of

autonomous readers that is those who read of their own volition because they enjoy

it By reading and listening to childrenrsquos literature from a very early age the child

embarks on a voyage of discovery becoming familiar with the written language and

feeling a desire to learn and to read

At the same time early contact with childrenrsquos literature constitutes an important

factor in the childrsquos social cultural affective and linguistic development

This resource also has an important part to play in helping children to acquire values in

a society that seeks to be more human and respectful of the rights of each and every

citizen The picture story book conveys these values through its textual and graphic

components fostering a discussion which is enriching without being moralistic a

discussion sufficiently removed from the child for it not to feel judged yet sufficiently

close for it to feel involved

Our aim in this communication is to

describe a picture story book

identify criteria to be applied in the selection of picture story books

bearing in mind the construction of an instrument of evaluation and

analysis that may be used both by students of childrenrsquos literature and

by teachers in the selection of suitable works

present some examples of picture story books which fulfill these criteria

Keywords picture story book criteria to be applied in the selection picture story book

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

118

1 Introduccedilatildeo

O presente artigo pretende dar um contributo para a orientaccedilatildeo dos estudantes e dos

profissionais de educaccedilatildeo na aacuterea da educaccedilatildeo baacutesica no que respeita a seleccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo de aacutelbuns infantis em contextos de intervenccedilatildeo educativa

O aacutelbum infantil eacute um geacutenero30 jaacute com longa tradiccedilatildeo em alguns paiacuteses da Europa

desde os anos sessenta do seacuteculo passado Apesar de em Portugal o aacutelbum ter

surgido mais tardiamente atualmente o mercado editorial portuguecircs jaacute disponibiliza

uma grande variedade de aacutelbuns Este facto aliado agrave circunstacircncia de que o

destinataacuterio final a crianccedila eacute no dizer de Soriano (1975 185) um destinataacuterio que

ldquonatildeo dispotildee senatildeo de forma parcial da experiecircncia do real e das estruturas

linguiacutesticas intelectuais afetivas e outras que caracterizam a idade adultardquo exige que

os mediadores recorram a alguns criteacuterios para escolher aacutelbuns adequados aos fins

que pretendem

Neste artigo dar-se-aacute em primeiro lugar uma definiccedilatildeo de aacutelbum infantil e dos

subgeacuteneros que o compotildeem falar-se-aacute em segundo lugar de criteacuterios de seleccedilatildeo

quer de natureza mais geral e transversal quer de natureza mais especiacutefica que

poderatildeo orientar a escolha dos futuros profissionais nesta mateacuteria seratildeo

apresentados ao longo do texto alguns exemplos de aacutelbuns que se consideram

ilustrativos dos criteacuterios que se enumeram

2 O aacutelbum infantil definiccedilatildeo

O aacutelbum infantil define-se antes de tudo por elementos de natureza paratextual a

saber uma capa rija (embora em alguns paiacuteses europeus comece a haver por razotildees

de natureza econoacutemica duas versotildees do mesmo aacutelbum uma com capa rija mais cara

outra com capa mole mais barata) um formato de grandes dimensotildees geralmente

maior do que o formato A5 uma qualidade superior do papel um diminuto nuacutemero de

paacuteginas (entre as 24 e as 32) Relativamente ao conteuacutedo o aacutelbum infantil caracteriza-

se ou por uma completa ausecircncia de texto ou no caso da presenccedila de texto por uma

reduzida extensatildeo de palavras (200 a 1000 aproximadamente) caracteres de

30

Ver aceccedilatildeo p6

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

119

dimensatildeo superior e variaacutevel ilustraccedilotildees abundantes frequentemente impressas em

policromia de paacutegina inteira ou de dupla paacutegina uma interaccedilatildeo entre a linguagem

icoacutenica e a linguagem escrita no caso de o aacutelbum integrar as duas componentes

(Rodrigues 2009 e 2013)

No que respeita os subgeacuteneros do aacutelbum infantil haacute em primeiro lugar que distinguir

os aacutelbuns puros sem texto algum dos aacutelbuns profusamente ilustrados com texto

Tanto num como noutro caso eacute possiacutevel classificar a informaccedilatildeo neles contida de trecircs

diferentes modos narrativo quando o enredo se resolve numa situaccedilatildeo final segundo

o modelo de Greimas (1966) lista ou seja organizados numa sucessatildeo orgacircnica de

toacutepicos ou de situaccedilotildees e documentaacuterio cuja intenccedilatildeo ou propoacutesito se constitui como

especificamente didaacutetico (Bastos 1999)

3 Seleccedilatildeo de aacutelbuns alguns criteacuterios

Os criteacuterios orientadores subjacentes agrave seleccedilatildeo de um aacutelbum infantil podem agrupar-

se em duas categorias gerais e especiacuteficos Os criteacuterios gerais satildeo criteacuterios que devem

estar sempre presentes na escolha do aacutelbum considerando-se que o aacutelbum no seu

todo deve constituir ldquouma unidade esteacutetica de sentidordquo (Rodrigues 2009) visando

contribuir para a educaccedilatildeo literaacuteria da crianccedila A educaccedilatildeo literaacuteria supotildee entre outras

coisas na perspetiva de Filola (2004) formar a crianccedila para participar ativamente no

processo de receccedilatildeo da obra

Na sequecircncia de algumas leituras tais como Colomer (2005) Filola (2004) Teberosky

(2011) e Butlen (2008) na figura 1 apresenta-se uma tentativa de sistematizaccedilatildeo de

alguns criteacuterios gerais considerados pertinentes na escolha de aacutelbuns

Quadro 1 Criteacuterios gerais

Criteacuterios Indicadores

Valor literaacuterio Discurso figurado ironia elipse efeito de

comicidade

Estruturas linguiacutesticas Formas discursivas distintas onomatopeias

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120

alternacircncia entre texto em prosa e texto

rimado repeticcedilotildees aliteraccedilotildees rimas

estruturas cumulativas

Conteuacutedos temaacuteticos Conhecimento do mundo problemas

relativos ao universo infantil o fantaacutestico e

o maravilhoso

Originalidade na abordagem dos temas O absurdo o nonsense o insoacutelito o

inesperado a subversatildeo do real

Valor esteacutetico do aacutelbum Grafismo design graacutefico teacutecnicas de

ilustraccedilatildeo policromia semacircntica

Diversidade Temas autores geacuteneros

Adequaccedilatildeo agraves diferentes faixas etaacuterias Quantidade de texto tamanho e tipo de

letra niacutevel de complexidade na abordagem

dos temas familiaridade dos temas

competecircncia leitora

Jaacute os criteacuterios especiacuteficos de seleccedilatildeo deste geacutenero prendem-se antes de tudo com os

objetivos e percursos de leitura que o formador previamente definiu atendendo agrave

faixa etaacuteria a que se dirige agrave maior ou menor familiaridade do puacuteblico com o texto

literaacuterio agraves questotildees especiacuteficas que este pretende tratar e agraves competecircncias que quer

desenvolver junto dos destinataacuterios

Apresentamos de seguida alguns criteacuterios especiacuteficos que nos parecem pertinentes

pela riqueza de percursos de leitura que podem proporcionar

Intertextualidade

Encontramos muitas obras que convocam o leitor para o jogo intertextual (a saber o

ldquojogo das relaccedilotildees dialoacutegicasrdquo de acordo com Aguiar e Silva (1988) A relaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

121

intertextual estabelece-se quer atraveacutes da imagem quer atraveacutes do texto incluindo

recriaccedilotildees e reinvenccedilotildees textuais e convivecircncia de geacuteneros por exemplo Eacute a literatura

a falar dela proacutepria orientando o leitor para novos percursos de leitura colocando

desafios de compreensatildeo que soacute satildeo por vezes ultrapassados quando seguindo as

pistas presentes no texto ou na imagem conhecemos os textos citados de forma mais

ou menos expliacutecita

Para bem compreender O Capuchinho Cinzento (2005) de Matilde Rosa Arauacutejo (texto)

e Andreacute Letria (ilustraccedilatildeo) O Chapeuzinho Amarelo (2005) de Chico Buarque (texto) e

Ziraldo (ilustraccedilatildeo) Pela Floresta (2008) de Anthony Browne (texto e ilustraccedilatildeo) ou

Baralhando Histoacuterias (2011) Gianni Rodari (texto) e Alexandra Sanna (ilustraccedilatildeo)

entre outros eacute necessaacuterio conhecer o antepassado inspirador - O Capuchinho

Vermelho Encontra-se tambeacutem este apelo ao estabelecimento de redes textuais nas

ilustraccedilotildees em que surgem por exemplo livros canoacutenicos com os tiacutetulos nas

lombadas

No que se refere agrave convivecircncia de geacuteneros textuais existem atualmente inuacutemeros

aacutelbuns que incluem no seu interior cartas livros de receitas mapas jornais entre

outros constituindo-se como um ponto de partida significativo para a construccedilatildeo de

representaccedilotildees mentais sobre diferentes geacuteneros textuais Utiliza-se aqui e ao longo

de todo o texto a designaccedilatildeo de geacutenero textual na perspetiva de Marcuschi (2008)

entre outros para referir os textos concretos que circulam na vida quotidiana e

apresentam caracteriacutesticas sociocomunicativas definidas por conteuacutedos propriedades

funcionais e determinada composiccedilatildeo especiacutefica A tiacutetulo meramente exemplificativo

desta convivecircncia de diferentes geacuteneros textuais dentro de um outro geacutenero

sugerem-se as obras Cartas de Rumblewick A minha bruxa teimosa (2008) de Hiawyn

Oram (texto) e Sarah Warburton (ilustraccedilatildeo) e A Verdadeira Histoacuteria do Capuchinho

Vermelho (2008) de Sandro Natalini (texto) e Agnese Baruzzi (ilustraccedilatildeo)

Relaccedilatildeo textoimagem

O criteacuterio respeitante agrave relaccedilatildeo imagemtexto remete para o ldquodiaacutelogordquo entre a

componente imageacutetica e a componente textual dos aacutelbuns e de acordo com a maior

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122

ou menor complexidade dessa conexatildeo constitui um desafio agraves capacidades

interpretativas do leitor Tendo como referecircncia as anaacutelises apresentadas nos

trabalhos de Rodrigues (2013) Baptista (2008) e Ramos (2007) satildeo aqui sintetizadas as

dimensotildees da interaccedilatildeo textoimagem da seguinte forma imitaccedilatildeo

complementariedade contradiccedilatildeo e fusatildeo De acordo com Ramos (2007 231) ldquosatildeo

mais frequentes as imagens que ora funcionam como complemento ora como

amplificaccedilatildeo aprofundando e desenvolvendo o proacuteprio texto e apontando outras

(diferentes novas) possibiidades de leiturardquo em detrimento da ilustraccedilatildeo que se

apresenta redundante relativamente ao texto No primeiro caso considera-se que

existem relaccedilotildees de complementaridade e no segundo relaccedilotildees de imitaccedilatildeo A fusatildeo

eacute a relaccedilatildeo mais complexa Usa-se esta designaccedilatildeo um pouco na perspetiva de Baptista

(2008 5) considerando que as duas linguagens verbal e pictoacuterica funcionam numa

relaccedilatildeo de completa interdependecircncia sendo que o sentido da obra resulta

precisamente dessa reciprocidade

a) Imitaccedilatildeo a imagem ilustra fielmente o texto justifica-o ambas as componentes

formam um todo semacircntico como se pode verificar no exemplo da figura1

Figura 1 Corentin P (texto e

ilustraccedilatildeo) (2005) Fulanito de tal

Barcelona Ediccedilotildees Corimbo

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123

a) Complementariedade A imagem aprofunda completa o texto alargando

assim o leque das interpretaccedilotildees No exemplo das figuras 2 e 3 o texto

precisa da imagem para ganhar sentido

Figura 2 e 3 Portis A (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Natildeo eacute uma caixa Lisboa

Editorial Presenccedila Consultado online em 10 de novembro de 2013 (ver

bibliografia)

b) Contradiccedilatildeo a imagem apresenta elementos contraditoacuterios em relaccedilatildeo ao

conteuacutedo do texto incitando o leitor agrave formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e agrave

confirmaccedilatildeo das mesmas assim como agrave pesquisa de pormenores (cf figuras 4

e 5)

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124

c) Fusatildeo O texto e a imagem

fundem-se numa relaccedilatildeo de completa interdependecircncia Esta vai para aleacutem da

relaccedilatildeo de complementaridade Um texto natildeo se pode dissociar do outro A

figura 6 mostra um exemplo em que texto e imagem se constituem como um

todo

Figura 6 Gravett E (texto e

ilustraccedilatildeo) (2010) O Grande Livro

dos Medos do pequeno rato

Lisboa Livros Horizonte

Consultado online em 15 de

novembro de 2013 (ver

bibliografia)

Figura 5 Blake Q (texto e

ilustraccedilatildeo) (2009) Catatuas

Lisboa Caminho

Figura 4 Bachelet M(texto e

ilustraccedilatildeo) (2009) O meu gato eacute o

mais tolo do mundo Lisboa

Caminho

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125

Referecircncias Culturais

Embora esta categoria pudesse integrar-se no acircmbito da intertextualidade jaacute atraacutes

considerada optou-se por lhe dedicar um espaccedilo proacuteprio tendo em conta as

potencialidades pedagoacutegicas que apresenta Os aacutelbuns infantis contecircm muitas vezes

referecircncias seja na imagem seja no texto que possibilitam o alargamento dos

horizontes culturais dos leitores e que contribuem para a sua educaccedilatildeo esteacutetica e

artiacutestica Essas referecircncias constituem-se como pistas a seguir e remetem para aacutereas

diversas pintura muacutesica histoacuteria teatro geografia de lugares proacuteximos ou afastados

entre outros e satildeo um convite a percorrer itineraacuterios diversos que despertam a

curiosidade da crianccedila Sugerem-se dois aacutelbuns que se consideram verdadeiramente

exemplares neste aspeto

Em O meu gato eacute o mais tolo do mundo (2009) de Michel Bachelet (texto e ilustraccedilatildeo)

uma excecircntrica personagem julga ser dona de um gato que afinal eacute um elefante e

decide retratar o seu querido animal de estimaccedilatildeo inspirando-se em quadros de

pintores ceacutelebres substituindo a personagem original pela figura ldquodo seu querido

gatordquo Observando essas imagens eacute possiacutevel descobrir marcas de Ceacutezanne Manet

Miroacute Picasso Magritte Mondrian Chagal Matisse entre outros (cf Figura 7) Nas

ilustraccedilotildees deste aacutelbum aparecem tambeacutem imagens de livros em cujas lombadas eacute

possiacutevel ler tiacutetulos como expressionismo surrealismo nomes como Rabier famoso

criador da la vache qui rit e Brunhof o criador de Babar o elefante que encantou

geraccedilotildees (cf Figuras 8 e 9)

Figuras 7 8 e 9 Bachelet M (texto e ilustraccedilatildeo) (2009) O meu gato eacute o mais tolo

do mundo Lisboa Caminho

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126

No aacutelbum Oliacutevia (2000) de Ian Falconer (texto e ilustraccedilatildeo) conhecemos uma

porquinha muito simpaacutetica e irrequieta que nas suas visitas a museus admira um

quadro de Degas e outro de Pollock (cf Figura 10 e 11) Esta porquinha adormece

ouvindo histoacuterias que a matildee lhe lecirc e sonha vir a ser uma grande cantora liacuterica agrave

semelhanccedila de Maria Callas (cf Figura 12) cuja biografia ouviu ler Em ambos os

aacutelbuns estas referecircncias estatildeo disseminados na ilustraccedilatildeo oferecendo-se como pistas

que podem conduzir a percursos de descoberta de diferentes manifestaccedilotildees artiacutesticas

Figuras 10 11 e 12 FalconerI (texto e ilustraccedilatildeo) (2000) Oliacutevia Lisboa Notiacutecias Editora

Valores veiculados

Agrave semelhanccedila do que afirma Azevedo (2006) ldquo() a literatura de receccedilatildeo infantil

mesmo quando concretiza espaccedilos para o questionamento do Outro para a presenccedila

do fragmentaacuterio do carnavalesco e do emancipatoacuterio natildeo parece deixar de criar e de

fomentar determinados modelos de configuraccedilatildeo eacutetica para os seus leitores menos

experientesrdquo (pp 23-24) considera-se que outro dos criteacuterios a ter em conta na

seleccedilatildeo de um aacutelbum infantil prende-se com os valores que este de forma mais ou

menos expliacutecita veicula Com efeito o corpus da literatura infantil constitui-se a partir

do acordo relativamente taacutecito de que a crianccedila eacute um ser em formaccedilatildeo que necessita

de ser esclarecida informada aconselhada ensinada estruturada Com base nesta

assunccedilatildeo discutiacutevel ou natildeo autores e editoras de literatura infantil tomam a seu cargo

essa incumbecircncia criando na sua grande maioria obras edificantes sem ser

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

127

necessaacuteria e excessivamente moralizadoras No caso dos aacutelbuns ilustrados que incluem

texto as figuras mais utilizadas para veicular esses valores satildeo a metaacutefora a alegoria a

metoniacutemia sendo que natildeo raras vezes se assiste agrave desconstruccedilatildeo literal de

expressotildees ou palavras geralmente utilizadas em sentido figurado As obras que a

seguir se apresentam constituem alguns exemplos significativos desta dimensatildeo

Na obra A aacutervore generosa (2008) de Shel Silverstein (texto e ilustraccedilatildeo) convivem

uma aacutervore e um menino A generosidade da aacutervore cresce proporcionalmente agrave

diminuiccedilatildeo do seu tamanho efetivo enquanto o egoiacutesmo do rapaz se torna cada vez

mais evidente agrave medida que avanccedila na idade Estatildeo presentes os valores de daacutediva

incondicional a presunccedilatildeo egoiacutesta de que certos bens satildeo erradamente considerados

como adquiridos o despojamento em prol de quem se ama

Em Arturo (2012) de Davide Cali (texto) e Ninamasina (ilustraccedilatildeo) o tiacutetulo da obra

remete para uma incoacutegnita seraacute Arturo o nome de quem desapareceu e abandonou

ou de quem espera paciente e fielmente pelo dono ausente O aacutelbum retrata com

efeito a incompreensatildeo perante a perda e o abandono a esperanccedila que se manteacutem

fiel a si mesma na procura na espera na acircnsia do regresso

Na obra Orelhas de borboleta (2008) de Luiacutesa Aguilar (texto) e Andreacute Neves

(ilustraccedilatildeo) quem eacute diferente sente-se mais diferente perante o olhar criacutetico e por

vezes cruel das crianccedilas Neste livro poreacutem cada traccedilo diferenciador tem a sua

utilidade e virtude o que transforma a idiossincrasia numa questatildeo de caraacuteter A

Mara menina que eacute diferente como todos somos diferentes aceita-se como eacute e

enfrenta o mundo segura dessa diferenccedila

Em Nadadordizinho (2010) de Leo Lionni (texto e ilustraccedilatildeo) os valores representados

satildeo os da cooperaccedilatildeo e da solidariedade jaacute que um cardume de peixes pequenos

decide constituir-se sob a forma de um peixe imenso a fim de enfrentar monstros

marinhos e grandes medos

A trilogia de aacutelbuns puros O ladratildeo de Galinhas A pesca A vinganccedila do galo (2011) de

Beacuteatrice Rodriguez potildee em evidecircncia as transformaccedilotildees sociais e familiares que

ocorrem nas sociedades contemporacircneas O conceito de famiacutelia e o conceito de

geacutenero satildeo aqui desconstruiacutedos sob a forma de uma comunidade insoacutelita composta

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

128

por membros de diferentes espeacutecies que desempenham papeacuteis tambeacutem eles

incomuns

No aacutelbum A grande questatildeo (2008) de Wolf Erlbruch (texto e ilustraccedilatildeo) coloca-se a

pergunta vimos ao mundo para quecirc Esta eacute a questatildeo filosoacutefica subjacente a este

livro que a ela responde atraveacutes das caracteriacutesticas mais marcantes das personagens

que compotildeem a obra

4 Conclusatildeo

Em primeiro lugar haacute que referir que o presente artigo se destina a mediadores de

leitura menos experientes considerando-se que satildeo dadas algumas sugestotildees que

podem ser uacuteteis a estes profissionais em formaccedilatildeo ou em iniacutecio de carreira

O mercado editorial atual caracteriza-se por uma grande evoluccedilatildeo na qualidade deste

geacutenero Cada vez mais o aacutelbum eacute concebido como objeto artiacutestico com grande

qualidade literaacuteria e grande complexidade possibilitando diferentes niacuteveis de leitura

Por outro lado nesta grande profusatildeo surgem obras de pouca qualidade que se

escondem por vezes atraacutes de um design graacutefico e de uma ilustraccedilatildeo muito apelativos

e que poderatildeo confundir mediadores menos informados que no meio de tanta oferta

necessitam de alguma orientaccedilatildeo

E a fechar salienta-se que apesar de alguns criteacuterios apresentados sugerirem

percursos de leitura muito orientados eacute fundamental ter-se sempre em vista que o

grande objetivo da leitura literaacuteria eacute o de promover a educaccedilatildeo e a competecircncia

literaacuterias

5 Referecircncias bibliograacuteficas

Aguiar e Silva VM (1988) Teoria da Literatura Coimbra Livraria Almedina

Azevedo F (2006) Literatura Infantil e Leitores Da teoria agraves praacuteticas Braga

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Bastos G (1999) Literatura Infantil e Juvenil Lisboa Universidade Aberta

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Referecircncias bibliograacuteficas das obras infantis mencionadas

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Kalandraka

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

130

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Ediccedilotildees Paulinas

Bachelet M (texto e ilustraccedilatildeo) (2009)O meu gato eacute o mais tolo do mundo Lisboa

Caminho

Blake Q (2009) CATATUAS Lisboa Editorial Caminho

Browne A (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) Pela Floresta Matosinhos Kalandraka

Buarque C (texto) amp Ziraldo (ilustraccedilatildeo) (2005) O Chapeuzinho Amarelo Rio de

Janeiro JOSEacute OLYMPIO EDITORA

Cali D (texto) amp Ninamasina (ilustraccedilatildeo) (2012) ARTURO Figueira da Foz Bruaacute

Editora

Corentin P (texto e ilustraccedilatildeo) (2005) Fulanito de tal Barcelona Ediccedilotildees Corimbo

Erlbruch W(texto e ilustraccedilatildeo) (2008) A grande questatildeo Figueira da Foz Bruaaacute

Editora

Falconer I (texto e ilustraccedilatildeo) (2000) Oliacutevia Lisboa Editorial de notiacutecias

Gravett E (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Grande livro dos medos do pequeno rato Lisboa

Livros Horizonte

Hodgkinson L (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) Felini e a caixa das sonecas Lisboa

Dinalivro

Lionni L (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) Nadadorzinho Matosinhos Kalandraka

Oram H (texto) amp Warburton S (ilustraccedilatildeo) (2008) Cartas de Rumblewick Lisboa

Editorial Presenccedila

Portis A (texto e ilustraccedilatildeo) (2010) NAtildeO Eacute UMA CAIXA Lisboa Editorial Presenccedila

Rodari G (texto) amp Sana A (ilustraccedilatildeo) (2011) Baralhando histoacuterias Matosinhos

Kalandraka

Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) A Pesca Gafanha da Nazareacute Bags of Books ediccedilotildees

Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) O ladratildeo de galinhas Gafanha da Nazareacute Bags of

Books ediccedilotildees Rodriguez B (ilustraccedilatildeo) (2011) A vinganccedila do galo Gafanha da

Nazareacute Bags of Books ediccedilotildees

Sandro N (texto) amp Baruzzi A (ilustraccedilatildeo) (2008) A verdadeira histoacuteria do Capuchinho

Vermelho Lisboa Ambar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

131

Silverstein S (texto e ilustraccedilatildeo) (2008) A Aacutervore Generosa Figueira da Foz Bruaaacute

Editora

6) Fonte eletroacutenica das imagens

Figuras 2 e 3

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HeSR7AbHhoCoCwampved=0CAkQ_AUoAQampbiw=1536ampbih=812facrc=_ampimgdii=_ampimgrc=i6Exc-

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Figura 6

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

132

Avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua

Patriacutecia Santos Ferreira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

patriciaferreiraeselxiplpt

Resumo Os objetivos da comunicaccedilatildeo satildeo apresentar linhas orientadoras para a avaliaccedilatildeo e a

construccedilatildeo de atividades no acircmbito do conhecimento expliacutecito da liacutengua e proceder agrave

anaacutelise de atividades didaacuteticas neste domiacutenio

A constataccedilatildeo de que as praacuteticas dos docentes ainda natildeo espelham a mudanccedila de

paradigma que se verificou no ensino da gramaacutetica parece justificar em larga medida

o facto de o processo de ensino e aprendizagem da gramaacutetica ter vindo a ser objeto de

discussatildeo e reflexatildeo no contexto internacional Os documentos normativos espelham

frequentemente este conjunto de alteraccedilotildees implicando uma abordagem indutiva da

gramaacutetica e atribuindo aos alunos um papel decisivo na construccedilatildeo das suas

aprendizagens mediante processos de reflexatildeo e de descoberta em pequenos passos

No entanto de um modo geral a investigaccedilatildeo tem revelado que a generalidade dos

docentes continua a utilizar estrateacutegias caracteriacutesticas de uma abordagem dedutiva da

gramaacutetica reservando aos alunos o papel de recetores de regras estruturas e

paradigmas que deveratildeo interiorizar atraveacutes da exercitaccedilatildeo (Mohamed 2006)

No contexto nacional a situaccedilatildeo parece ser semelhante Dois estudos revelaram que os

docentes privilegiam estrateacutegias caracteriacutesticas de uma abordagem dedutiva ou

expositiva da gramaacutetica (Duarte amp Rodrigues 2008 Ferreira 2012) apesar de o novo

paradigma de ensino da gramaacutetica a literatura a investigaccedilatildeo recente e os

documentos normativos e orientadores apontarem para uma perspetiva mais indutiva

e reflexiva Por outro lado vaacuterios estudos tecircm trazido a lume as graves dificuldades

dos alunos na resoluccedilatildeo de exerciacutecios que envolvam conhecimento gramatical ou a sua

explicitaccedilatildeo (Delgado Martins et al 1987 citado por Costa 2009 Ucha Coord 2007

Duarte et al Coord 2008b Costa 2008) Deste modo a investigaccedilatildeo tem tornado

evidente a necessidade de se reformularem as praacuteticas de ensino da gramaacutetica

nomeadamente no que se refere ao tipo de atividades propostas

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo de atividades didaacuteticas Ensino da gramaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

133

Abstract

The aims of the communication are to present guidelines to evaluate and elaborate

activities focused on grammar and to analyse didactic activities in this area

The process of teaching and learning grammar has been widely debated mainly

because of the realisation that teaching practices still donrsquot reflect the change in

paradigm observed in this field This set of changes is frequently present in the

prescriptive and guiding domestic educational documents implying an inductive

approach to grammar and delegating in students a decisive role in their own learning

through reflexion and discovery in small steps However research has revealed that

most teachers still apply strategies coherent with a deductive approach to grammar

attributing to students the role of receivers of rules structures and paradigms to be

incorporated through training (Mohamed 2006)

In Portugal the situation is similar Two studies revealed that teachers favour

strategies consistent with an expositive approach to grammar (Duarte amp Rodrigues

Eds 2008 Ferreira 2012) although the new paradigm of teaching grammar the

linguistic theory recent research and the guiding and prescriptive documents point to

a more constructivist and reflexive perspective On the other hand several studies

have enhanced the serious difficulties that students face in dealing with exercises

involving grammar knowledge or its explicitation (Delgado Martins et al 1987 cit in

Costa 2009 Ucha Ed 2007 Duarte Ed 2008 Costa 2008) Therefore research has

evinced the need to change the way grammar is taught namely as far as the type of

activities introduced is concerned

Keywords Evaluation of didatic activities Grammar teaching

1 Introduccedilatildeo

A redaccedilatildeo de um texto sobre avaliaccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do

conhecimento expliacutecito da liacutengua (CEL) foi motivada pela confluecircncia de quatro

fatores i) o importante papel que a reflexatildeo gramatical desempenha na aprendizagem

e no desenvolvimento dos estudantes ii) o insucesso dos alunos no acircmbito da

gramaacutetica iii) a existecircncia de recentes alteraccedilotildees curriculares (e terminoloacutegicas) para o

ensino do Portuguecircs iv) e o posicionamento e as praacuteticas dos professores perante o

ensino e a aprendizagem desta componente da liacutengua

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

134

Em relaccedilatildeo ao primeiro fator a investigaccedilatildeo tem revelado a influecircncia da reflexatildeo

gramatical sobre o desenvolvimento cognitivo e linguiacutestico dos alunos (Duarte 2008

por exemplo) e sobre o sucesso das aprendizagens escolares particularmente no que

se refere agrave leitura e agrave escrita (Sim-Sim 1998 entre outros)

Quanto ao segundo fator vaacuterios estudos (Ucha Ed 2007 Duarte amp Rodrigues Ed

2008 Costa 2008 Delgado-Martins et al 1987 citados por Costa 2009) evidenciaram

as graves dificuldades dos alunos do ensino baacutesico secundaacuterio e superior na resoluccedilatildeo

de exerciacutecios que envolvam o conhecimento gramatical e a sua explicitaccedilatildeo e a

persistecircncia destas fragilidades ao longo do seu percurso escolar

Relativamente ao terceiro fator a existecircncia de novas orientaccedilotildees curriculares devido

agrave entrada em vigor de um novo programa de Portuguecircs (Reis Ed 2009) e

terminoloacutegicas (Dicionaacuterio Terminoloacutegico) exigem uma adaptaccedilatildeo por parte dos

professores e uma transformaccedilatildeo substancial das praacuteticas tradicionalmente

predominantes nas salas de aula

No que diz respeito ao uacuteltimo fator posicionamento e praacuteticas dos professores em

ensino e aprendizagem da gramaacutetica estudos como o de Duarte Ed (2008) e o de

Ferreira (2012) revelaram que de um modo geral os docentes continua a privilegiar

estrateacutegias e metodologias coerentes com uma abordagem dedutiva ou expositiva da

gramaacutetica como por exemplo a apresentaccedilatildeo da regra ou da estrutura em anaacutelise

pelo professor (ou pelo manual) seguida da realizaccedilatildeo de exerciacutecios pelos alunos Por

outro lado muitos docentes desvalorizam o conhecimento expliacutecito da liacutengua face agraves

outras competecircncias

A partir do estudo multicasos de Ferreira (2012) que teve como participantes seis

professores de Portuguecircs liacutengua materna e seis turmas do 2ordm ciclo do ensino baacutesico

sistematiza-se no quadro abaixo um contraste entre o novo paradigma de ensino e

aprendizagem da gramaacutetica muito refletido no atual programa e as praacuteticas

observadas que se situam em polos praticamente opostos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

135

Figura 1 Contraste entre o novo paradigma de ensino e aprendizagem da gramaacutetica e as praacuteticas dos docentes

Tendo em consideraccedilatildeo a situaccedilatildeo problemaacutetica decorrente de praacuteticas de ensino

predominantemente assistemaacuteticas atomiacutesticas restritivas descontextualizadas e

reveladoras de uma desvalorizaccedilatildeo do conhecimento expliacutecito da liacutengua e de uma

abordagem dedutiva e centrada na figura do professor a reflexatildeo sobre o ensino desta

competecircncia da liacutengua e sobre as atividades didaacuteticas propostas aos alunos assume

uma relevacircncia indiscutiacutevel

Nas paacuteginas seguintes proceder-se-aacute agrave apresentaccedilatildeo de linhas orientadoras para a

avaliaccedilatildeo e a construccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito

da liacutengua e a uma anaacutelise de alguns exemplos selecionados de materiais disponiacuteveis

no mercado alguns destinados a alunos do ensino baacutesico e do secundaacuterio como

manuais e gramaacuteticas e outros a professores como documentos orientadores e de

referecircncia ou fichas pedagoacutegicas

2 Anaacutelise e construccedilatildeo de atividades de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito

da liacutengua

O processo de seleccedilatildeo ou construccedilatildeo de materiais didaacuteticos neste caso de atividades

eacute de natureza complexa e exige da parte dos professores a tomada de consciecircncia das

repercussotildees que a falta de um olhar atento durante essa etapa pode acarretar para as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

136

aprendizagens dos alunos As orientaccedilotildees que seratildeo apresentadas neste ponto

resultam da anaacutelise de propostas didaacuteticas e de uma reflexatildeo sobre as recomendaccedilotildees

de autores como Cardoso (2008) Costa et al (2011) Duarte (2008) Pereira (2010)

Sousa e Cardoso (2005) Sim-Sim Duarte e Ferraz (1997) no acircmbito da didaacutetica da

liacutengua agrave luz de alguns referenciais no campo da Educaccedilatildeo e da Pedagogia Nos pontos

seguintes seratildeo apresentadas sugestotildees que poderatildeo ser uacuteteis durante o processo de

construccedilatildeo ou de seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas

21 Clarificaccedilatildeo

Uma definiccedilatildeo clara e inequiacutevoca de alguns aspetos associados a uma atividade

didaacutetica poderaacute ser uma ferramenta uacutetil para a orientaccedilatildeo dos professores durante a

seleccedilatildeo de materiais a apresentar aos alunos e dos estudantes em situaccedilotildees em que

selecionam autonomamente exerciacutecios ou durante a realizaccedilatildeo de tarefas propostas

pelo professor A clarificaccedilatildeo do tipo de atividade dos descritores de desempenho ou

objetivos dos saberes preacutevios necessaacuterios para a realizaccedilatildeo da tarefa do niacutevel a que se

destina entre outros elementos ajudaacute-los-aacute a reagirem proativamente perante a

tarefa ativando conhecimentos e organizando mentalmente o seu percurso

Apresentam-se de seguida dois formatos que poderatildeo ilustrar a clarificaccedilatildeo referida

Figuras 2 e 3

Exemplos de clarificaccedilatildeo

Costa et al 2011 p40 (cabeccedilalho do enunciado)

Sousa 2013 p113

(Tipologia da atividade impliacutecita mobilizaccedilatildeo para outras competecircncias)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

137

A partir dos dados apresentados natildeo eacute possiacutevel chegar a nenhuma conclusatildeo loacutegica sobre o que eacute um verbo

irregular ou um verbo transitivo apesar de as

expressotildees ldquoentatildeordquo (cf 122) e ldquoa partir de ldquo (cf 13)

poderem levar a crer que sim

22 Quantidade qualidade e adequaccedilatildeo

De uma atividade didaacutetica poderatildeo constar de acordo com Costa et al (2011)

produccedilotildees dos alunos textos orais ou escritos selecionados pelo professor ou textos

orais ou escritos recolhidos pelos alunos Em qualquer dos casos os dados

apresentados deveratildeo ser adequados ao contexto e ao niacutevel de desenvolvimento

linguiacutestico e cognitivo dos alunos (Cardoso 2008 Costa et al 2011) em nuacutemero

suficiente e os necessaacuterios para a realizaccedilatildeo das aprendizagens pretendidas

Apresenta-se de seguida o exemplo de uma atividade em que os dados selecionados

natildeo satildeo os suficientes ou os necessaacuterios para a realizaccedilatildeo das tarefas

Figura 4 Exemplo de atividade com fragilidades ao niacutevel da seleccedilatildeo e da organizaccedilatildeo dos dados

23 Progressatildeo e sequencialidade

Os dados presentes em qualquer atividade didaacutetica deveratildeo ser organizados

hierarquicamente apresentando os casos mais simples nas primeiras etapas e

avanccedilando para casos mais complexos de forma gradual o que pressupotildee uma

Rodriques e Monteiro 2005 p11

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

138

estruturaccedilatildeo por etapas ou em pequenos passos e uma continuidade nas tarefas

propostas Esta progressatildeo e esta sequencialidade estatildeo muito ancoradas na noccedilatildeo de

curriacuteculo em espiral decorrente da teoria de Bruner (1960) que assenta na

apresentaccedilatildeo dos mesmos conteuacutedos ao longo dos vaacuterios niacuteveis de ensino de forma

progressivamente mais complexa e com crescente grau de abrangecircncia e lateralidade

24 Diversificaccedilatildeo e equiliacutebrio

A construccedilatildeo e a seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas devem caracterizar-se por uma

diversificaccedilatildeo e um equiliacutebrio entre os vaacuterios planos do conhecimento expliacutecito da

liacutengua os tipos de atividades e metodologias utilizadas e as unidades linguiacutesticas

analisadas por exemplo

Relativamente aos planos do conhecimento expliacutecito da liacutengua importa natildeo nos

esquecermos de que satildeo oito (cf figura 5) e de que todos eles devem ser alvo de um

trabalho regular e sistemaacutetico Tradicionalmente os planos mais associados agrave

gramaacutetica satildeo o sintaacutetico o das classes das palavras e o morfoloacutegico No entanto a

gramaacutetica de uma liacutengua incorpora muito mais do que os niacuteveis referidos

Figura 5 Planos do CEL

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

139

Freitas Alves e Costa 2007 p53

Plano fonoloacutegico

Gonccedilalves et al 2011 p77

Seratildeo seguidamente apresentados dois excertos de atividades de reflexatildeo gramatical

em dois planos frequentemente negligenciados ou natildeo identificados como

componentes da gramaacutetica o fonoloacutegico e o discursivo e textual

Figura 6 Excerto de atividade no plano fonoloacutegico do CEL

Figura 7 Excerto de atividade no plano discursivo e textual do CEL

25 Transposiccedilatildeo e transferecircncia didaacuteticas

Os conteuacutedos cientiacuteficos da aacuterea da Linguiacutestica deveratildeo sofrer uma adaptaccedilatildeo didaacutetica

de forma a serem ensinaacuteveis pelos professores e aprendiacuteveis pelos alunos de acordo

com o seu niacutevel de desenvolvimento Por outro lado os saberes gerados pelo processo

de aprendizagem deveratildeo constituir-se como mobilizaacuteveis para contextos diversos

A mobilizaccedilatildeo do conhecimento gramatical para contextos de uso diversificados

defendida por autores como Sim-Sim (1998) Cardoso (2008) Pereira (2010) Costa et

al 2011 entre muitos outros eacute uma das pedras de toque do novo programa de

Portuguecircs e assenta no reconhecimento e no reforccedilo do estatuto do conhecimento

Plano discursivo e textual

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

140

Neto 2006 p133

Contextualizaccedilatildeo a partir do texto

O texto como mera fonte de material

linguiacutestico a analisar sem reintegraccedilatildeo do

conhecimento construiacutedo na

exploraccedilatildeo do texto

expliacutecito da liacutengua enquanto competecircncia ou seja um conjunto de saberes saberes-

fazer e saberes-ser a que os alunos devem ser capazes de recorrer em situaccedilotildees

diversas

A operacionalizaccedilatildeo de contextos de mobilizaccedilatildeo pressupotildee uma articulaccedilatildeo

horizontal do curriacuteculo implicando a transferecircncia do conhecimento gramatical para

outros campos e outras competecircncias dentro e fora da Liacutengua Portuguesa Esta

integraccedilatildeo curricular nem sempre eacute bem conseguida como se pode verificar na

proposta constante da figura 8 em que o texto surge unicamente como elemento de

recolha de unidades linguiacutesticas que se pretende analisar sem se verificar uma

articulaccedilatildeo entre o conhecimento gramatical e a competecircncia de Leitura

Figura 8 Excerto de atividade em que natildeo se verifica uma articulaccedilatildeo efetiva entre competecircncias

26 Sistematicidade

O conhecimento expliacutecito da liacutengua eacute uma competecircncia nuclear da Liacutengua Portuguesa

sendo tatildeo importante como as restantes e altamente influente no sucesso de todas

elas Deste modo deve ser alvo de um trabalho sistemaacutetico e natildeo apenas se ldquovier a

propoacutesitordquo operacionalizaccedilatildeo preconizada pelo anterior programa de Portuguecircs no

qual se recomendava que se trabalhassem conteuacutedos no acircmbito do Funcionamento da

Liacutengua (designaccedilatildeo utilizada no programa de 1991 para o trabalho da gramaacutetica)

apenas se surgissem a partir do trabalho de conteuacutedos de outras competecircncias dando

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

141

confusatildeo entre complemento direto e complemento obliacutequo (Ferreira 2012 p52)

P T tendo em conta as funccedilotildees sintaacuteticas analisa-me entatildeo esta frase Vamos comeccedilar por que parte

T O Rui P Muito bem Qual eacute a funccedilatildeo sintaacutetica

T Eacute sujeito P F por que eacute que a T escolheu esta parte F Porque eacute quem fez o quecirc P Muito bem O sujeito eacute quem faz o quecirc

Inadequaccedilatildeo da definiccedilatildeo de sujeito (ibidem)

A professora utilizou as expressotildees ldquomodificador de lugarrdquo e ldquomodificador de tempordquo

Confusatildeo entre a terminologia anterior e a atual (idem p97)

Duarte 2008 p59

margem para que muitos deles nunca fossem alvo de uma accedilatildeo sistemaacutetica rigorosa e

progressiva

27 Rigor

Outra das preocupaccedilotildees dos professores deve ser a de garantir o rigor cientiacutefico e

terminoloacutegico na abordagem de qualquer conteuacutedo de forma a evitar situaccedilotildees como

as que se apresentam abaixo retiradas de registos de observaccedilatildeo de aulas de 2ordm ciclo

do ensino baacutesico

Figuras 9 10 e 11 Registos de observaccedilatildeo de aulas de 2ordm ciclo

28 Motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da(s) tarefa(s)

De forma a contribuir para a motivaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da(s) tarefa(s) as atividades

didaacuteticas poderatildeo ser construiacutedas de modo a constituiacuterem-se como um desafio aos

olhos dos alunos Dois exemplos de estrateacutegias que poderatildeo ser utilizadas para este

fim satildeo a apresentaccedilatildeo de um problema real ou imaginado (cf figura 12) e a

formulaccedilatildeo de uma questatildeo (cf figura 13)

Figura 12 Formulaccedilatildeo de um problema

A professora realizou no quadro a anaacutelise sintaacutetica de uma frase da seguinte forma Oriana (SUJEITO) cuidava da floresta (PREDICADO) (Complemento Direto)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

142

Costa et al 2011 pp108 e 109

Ativaccedilatildeo de conhecimentos previamente estudados

Reforccedilo do desafio

Formulaccedilatildeo de hipoacuteteses

Organizaccedilatildeo por etapas

Apresentaccedilatildeo de novos dados

Incentivo agrave reflexatildeo

Reformulaccedilatildeo de hipoacuteteses a partir da

anaacutelise dos dados novos

Figura 13 Formulaccedilatildeo

de uma questatildeo

29 Aprendizagem por reflexatildeo e descoberta

O novo paradigma de ensino e aprendizagem em geral e do conhecimento expliacutecito

em particular com um eco significativo no programa de Portuguecircs atualmente em

vigor pressupotildee o reconhecimento do papel decisivo dos alunos na construccedilatildeo das

suas proacuteprias aprendizagens atribuindo uma grande importacircncia agrave criaccedilatildeo de

contextos de aprendizagem por reflexatildeo e descoberta A atividade analisada de

seguida constitui um excerto de um laboratoacuterio gramatical assente na aprendizagem

gradual atraveacutes da reflexatildeo linguiacutestica e metalinguiacutestica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

143

Serpa et al 2005 p28

Abordagem dedutiva

Duarte 2008 p59

Abordagem indutiva

Figura 14 Excerto de laboratoacuterio gramatical

Seraacute certamente importante que os docentes privilegiem contextos de aprendizagem

por descoberta em detrimento de situaccedilotildees de aprendizagem por receccedilatildeo e que

adotem estrateacutegias e metodologias coerentes com uma abordagem indutiva da

gramaacutetica (cf figura 16) e natildeo com uma abordagem dedutiva ou expositiva (cf figura

15)

Figura 15 Exemplo de percurso dedutivo

Figura 16 Exemplo de percurso indutivo

210 Explicitaccedilatildeo do conhecimento impliacutecito

Vaacuterios autores como Sim-Sim (1997 1998) Duarte (2008) Costa et al 2011 entre

outros atribuem agrave escola a funccedilatildeo de tornar expliacutecito o conhecimento impliacutecito No

decurso desse processo de explicitaccedilatildeo do conhecimento intuitivo dos falantes a

comunicaccedilatildeo de resultados (cf figura 17) que pode ser feita nos modos oral ou

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

144

Duarte 2011 p79

escrito assume um papel fundamental devendo ser associada agrave utilizaccedilatildeo da

terminologia metalinguiacutestica sempre que adequado

Figura 17 Excerto de atividade em que eacute solicitada explicitaccedilatildeo

O conhecimento intuitivo deveraacute ser utilizado como ponto de partida para as

atividades sempre que este existir Em situaccedilotildees de ensino e aprendizagem da liacutengua

materna os docentes natildeo deveratildeo agir como se os alunos natildeo tivessem qualquer

conhecimento da liacutengua a que estatildeo expostos desde que estatildeo no uacutetero materno e que

usam abundantemente no meio familiar com os seus pares na escola na rua etc De

igual modo ao promoverem a reflexatildeo sobre o conhecimento intuitivo dos falantes os

professores estatildeo a criar contextos de aprendizagem significativa e natildeo mecacircnica no

decurso da qual os novos conhecimentos estabelecem ligaccedilotildees cognitivas com os

conhecimentos anteriores gerando desta forma aprendizagens mais soacutelidas e

duradouras

211 Sistematizaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de conhecimentos

Os processos de monitorizaccedilatildeo e regulaccedilatildeo das aprendizagens pelos proacuteprios alunos

poderatildeo ser muito beneacuteficos para o seu percurso Desta forma as atividades poderatildeo

incluir uma sistematizaccedilatildeo final ou apoacutes cada etapa de modo a que favoreccedilam a

organizaccedilatildeo conceptual e cognitiva dos conteuacutedos trabalhados Satildeo apresentados

abaixo dois exemplos da sistematizaccedilatildeo referida

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

145

Costa et al 2011 p 44

Duarte 2008 p 65

Figuras 18 e 19 Exemplos de sistematizaccedilatildeo

3 Consideraccedilotildees finais

Espera-se com esta proposta ter dado um contributo para a anaacutelise e a construccedilatildeo de

propostas didaacuteticas de desenvolvimento do conhecimento expliacutecito da liacutengua Nesta

secccedilatildeo apresentam-se algumas recomendaccedilotildees finais de caraacuteter global

Importa que a construccedilatildeo de atividades didaacuteticas em qualquer aacuterea de conteuacutedo seja

rigorosa e decorra de uma reflexatildeo profunda sobre as caracteriacutesticas que uma boa

proposta deve apresentar De igual modo seraacute importante que a seleccedilatildeo de atividades

seja criteriosa e natildeo resulte apenas da confianccedila garantida por um selo editorial

Uma atividade didaacutetica pode ser encarada como um texto e deste modo deve ser um

enunciado com sentido caracterizado por coesatildeo adequaccedilatildeo e coerecircncia De igual

modo deveraacute cumprir as quatro meta-regras da boa formaccedilatildeo textual enunciadas por

Charolles (1991 citado por Neves amp Oliveira 2001) i) repeticcedilatildeo ii) natildeo-contradiccedilatildeo iii)

relaccedilatildeo iv) e progressatildeo

Importa ainda que os professores realizem as atividades antes de propocirc-las aos

alunos detetando e corrigindo eventuais aspetos menos bem conseguidos e que natildeo

confiem cegamente nos manuais ou em outros materiais existentes no mercado uma

vez que natildeo raras vezes apresentam falhas em vaacuterios dos campos anteriormente

apresentados Assim durante o processo de seleccedilatildeo de atividades didaacuteticas a

apresentar aos alunos eacute essencial que os professores adotem um olhar criacutetico sobre os

materiais construiacutedos por si ou por outros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

146

Referecircncias bibliograacuteficas Cardoso A (2008) Desenvolver competecircncias de anaacutelise linguiacutestica In Sousa O amp Cardoso A (Eds) Desenvolver Competecircncias em Liacutengua Portuguesa (pp 137 ndash 172) Lisboa Centro Interdisiciplinar de Estudos Educacionais Costa J (2008) Conhecimento gramatical agrave saiacuteda do Ensino Secundaacuterio estado actual e consequecircncias na relaccedilatildeo com leitura escrita e oralidade In C Reis (Ed) Actas - Conferecircncia Internacional sobre o Ensino do Portuguecircs (pp 149-165) Lisboa ME Costa J (2009) A gramaacutetica na sala de aula o fim das humanidades Palavras 36 32 ndash 46 Costa J Cabral A Santiago A amp Viegas F (2011) Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua guiatildeo de Implementaccedilatildeo do Programa Lisboa ME ndash DGIDC Duarte R (Ed) (2008) Estudo sobre o posicionamento dos docentes face agrave disciplina de Liacutengua Portuguesa Lisboa DGIDC ndash ME Duarte R amp Rodrigues S (Eds) (2008) Dificuldades dos alunos em Liacutengua Portuguesa Lisboa DGIDC ndash ME Ferreira P (2012) Conceccedilotildees e praacuteticas dos professores de Liacutengua Portuguesa em relaccedilatildeo ao ensino e agrave aprendizagem da gramaacutetica um estudo exploratoacuterio no 2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (Dissertaccedilatildeo de mestrado natildeo publicada) Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa Lisboa Freitas M J Alves D amp Costa T (2007) O Conhecimento da Liacutengua desenvolver a consciecircncia fonoloacutegica Lisboa DGIDC ndash ME Gonccedilalves F Guerreiro P amp Freitas M J (2011) O Conhecimento da Liacutengua percursos de desenvolvimento Lisboa DGIDC ndash ME Mohamed N (2006) An exploratory study of the interplay between teachersrsquo beliefs instructional practices amp professional development (Tese de Doutoramento) Universidade de Auckland Neto H (2006) Novo Despertar 4 Maia Ediccedilotildees Livro Directo PP 132-133 Neves D R amp Oliveira V M (2001) Sobre o Texto Contribuiccedilotildees teoacutericas para praacuteticas textuais Porto Ediccedilotildees ASA Pereira S (2010) Explicitaccedilatildeo Gramatical no 1ordm Ciclo In Sousa O amp Cardoso A (Eds) Desenvolver Competecircncias em Liacutengua Portuguesa percursos didaacuteticos (pp 145 ndash 173) Lisboa Ediccedilotildees Colibri Centro Interdisiciplinar de Estudos Educacionais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

147

Reis C (Ed) (2009) Programa de portuguecircs do ensino baacutesico Lisboa ME ndash DGIDC Rodrigues E amp Monteiro T (2005) No Reino da Fantasia 6 ndash Caderno de Actividades Porto Areal Editores Serpa A I Rodrigues G Sousa H amp Gomes M C(2005) Em directo ndash Liacutengua Portuguesa 6ordm ano Porto Areal Editores PP 28 29 132 133 Sim-Sim I Duarte I amp Ferraz M (1997) A liacutengua materna na educaccedilatildeo baacutesica competecircncias nucleares e niacuteveis de desempenho Lisboa ME DEB Sim- Sim I (1998) Desenvolvimento da Linguagem Lisboa Universidade Aberta Sousa M V (2012) as aspas Palavras 42 e 43 113 ndash 115 Sousa O C amp Cardoso A (2005 primavera) Da liacutengua em funcionamento ao funcionamento da liacutengua Palavras 27 61 ndash 69 Ucha L (Ed) (2007) Desempenho dos alunos em Liacutengua Portuguesa ndash ponto da situaccedilatildeo Lisboa ME ndash DGIDC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ciecircncia Dicionaacuterio Terminoloacutegico disponiacutevel em httpdtdgidcmin-edupt

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

148

Teatro no curriacuteculo avaliar o quecirc e para quecirc

Miguel Falcatildeo

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa miguelffalcaogmailcom

Resumo

Nalgumas aacutereas curriculares disciplinares como o Teatro as aprendizagens e as

competecircncias natildeo se adquirem nem desenvolvem em geral de acordo com a diacuteade

de estrateacutegias que os professores parecem privilegiar isto eacute transmissatildeo do

conhecimento e pouco depois confirmaccedilatildeo ndash na maioria das vezes atraveacutes da

modalidade de escrita ndash da aprendizagem desse conhecimento pelos alunos Note-se

poreacutem que mesmo naquelas aacutereas que os responsaacuteveis poliacuteticos distinguem com um

ldquoexame nacionalrdquo como o Portuguecircs nem todas as aprendizagens promovidas e

realizadas satildeo testaacuteveis numa prova escrita e no imediato (como a tiacutetulo de exemplo

as que se inscrevem nos domiacutenios da comunicaccedilatildeo oral e da leitura em voz alta

tambeacutem amplamente abordadas em Teatro)

Agraves aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica e do Teatro em particular os professores associam

essencialmente ndash ou exclusivamente ndash a criatividade a imaginaccedilatildeo e a

expressividade Sendo embora competecircncias potencialmente desenvolvidas e

avaliadas tambeacutem nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica natildeo satildeo um exclusivo destas

aacutereas Cada aacuterea curricular disciplinar do acircmbito da educaccedilatildeo artiacutestica ndash e o Teatro

natildeo eacute exceccedilatildeo ndash assenta numa especiacutefica linguagem artiacutestica que integra conteuacutedos

estrateacutegias atividades recursos teacutecnicas conceitos e terminologias proacuteprios que as

crianccedilas com vista ao seu desenvolvimento completo e harmonioso tecircm o direito de

aprender e desenvolver Daqui decorrem algumas questotildees O que ndash e como ndash avaliar

nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica em particular no Teatro Que princiacutepios poderatildeo

estar inerentes a um dispositivo de avaliaccedilatildeo em Teatro em contexto curricular

Teratildeo as modalidades de avaliaccedilatildeo natildeo escrita estatuto de fiabilidade

O binoacutemio teatrocurriacuteculo encerra um paradoxo a que pretendemos dar atenccedilatildeo

embora nem sempre abordado com regularidade e seguindo uma loacutegica de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

149

desenvolvimento curricular o Teatro constitui apesar disso uma das estrateacutegias

privilegiadas pelos professores de participaccedilatildeo em projetos e iniciativas formais na

maior parte das vezes de cariz pontual (como momentos festivos ou de apresentaccedilatildeo

agrave comunidade) em que os alunos satildeo sujeitos ao juiacutezo avaliativo dos puacuteblicos

Partindo dos princiacutepios de que (i) em contexto curricular cada atividade tem uma

intencionalidade e que (ii) a ldquoeducaccedilatildeordquo artiacutestica natildeo visa a identificaccedilatildeo ou a

valorizaccedilatildeo de ldquotalentosrdquo pretendemos defender a seguinte ideia Soacute depois de

estabelecermos inequivocamente os objetivos da nossa accedilatildeo educativa-pedagoacutegica e

por conseguinte uma estrateacutegia de avaliaccedilatildeo eacute que podemos definir um percurso

com sentido

Esta comunicaccedilatildeo de natureza teoacuterica cuja base reflexiva decorre de mais de vinte

anos de intervenccedilatildeo em contextos escolares tanto do ensino baacutesico como de

formaccedilatildeo de professores tentaraacute formular questotildees e problematizar algumas linhas

de pensamento mais do que encontrar respostas no sentido de suscitar

principalmente da parte dos professores a necessidade de uma mudanccedila de atitude

e de praacuteticas face ao teatro na escola

Palavras-chave Teatro-educaccedilatildeo Curriacuteculo Avaliaccedilatildeo

Abstract

In some subjects areas such as the Drama-Theatre Education the learnings and the

skills arent acquired or developed according to the dyal strategies that the teachers

seem to privilege such as the knowledge transmission and afterwards the

confirmation - most of the times through the writing - of the learning this knowledge

by students However it should be noticed that in some school subjects well

distinguished by the politicians and promoted with a national examination such as

the Portuguese Language not all of their leanings are being tested in a writing test in

the immediate (in the DramaTheatre Education the principles of the oral skills the

writing and the oral reading are widely discussed)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

150

The Artistic Education and the Drama-Theatre Education this last in special the

teachers promote essentially and in exclusivity the creativity the imagination and the

expressivity Being competences applied at the Artistic Education they are not

exclusive of these large areas Each curriculum subject scope of the Artistic Education

ndash the Drama-Theatre Education is not an exception ndash it has an a specific artist

language that has contents strategies activities resources techniques concepts

and its own terminology that children should have the right to learn and developed

with a view to full and harmonious development From this point of view we have

two questions What and how evaluate these artistic curriculum areas in special what

concerns the Drama-Theatre Education What principles should be used to evaluate

this artistic area the Drama-Theatre Education in school context Should the non

writing criteria be evaluated and what their reliability

The Drama-Theatrecurriculum binomial closes the paradox that we intent to give

attention not always regularity addressed and following a logical curricula

development the Drama-Theatre Education has in spite of all one of the most

privileged roles given by the teachers in what concerns the projects participation in

formal activities and in most of the times with off events (such as festivity moments

or to do a community presentation) where the students face a public evaluation

Starting from the principles that (ii) in curriculum context each activity as an

intentionality and that (ii) the artistic education doesnt aimed to identify or

enhancement talent we attend to promote the idea that we only can define a way

with sense after we have established without any doubts that the roles of our

educational and pedagogical action and furthermore the evaluation strategy are

accomplished

This theoretical communication that results of twenty years of school intervention

settings in the basics and the teacher training tries to ask questions and discuss some

lines of thought more than find answers in a way to specially from the teachers

change some attitudes and practices in relation to Drama-Theatre Education in

school

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

151

Keywords Drama-theatre education Curriculum Evaluation

ldquoTalentosrdquo e ldquoexibiccedilotildeesrdquo agrave parte de que falamos afinal

O teatro no ensino baacutesico niacutevel de ensino a que restrinjo este artigo natildeo visa a

formaccedilatildeo de artistas Por conseguinte tornam-se inadequadas afirmaccedilotildees como

ldquoeste aluno tem muito jeitordquo ou na linha de certos programas televisivos em voga

ldquofazemos uma audiccedilatildeo para distribuir as personagensrdquo Este pressuposto ndash

aparentemente tatildeo oacutebvio mas que nem sempre parece claro para todos os

intervenientes nos processos educativos dentro e fora das escolas (famiacutelias incluiacutedas)

ndash eacute determinante para se ter bem presente o que neste acircmbito se ensina e se

aprende e por conseguinte o que se avalia De resto trata-se de uma ideia que

atravessa este texto eminentemente teoacuterico assente em revisatildeo de literatura sobre

o estado da arte e em dados da minha proacutepria praacutetica profissional no ensino baacutesico e

na formaccedilatildeo de professores

A designaccedilatildeo de ldquoteatro na educaccedilatildeordquo ndash aplicaacutevel numa aceccedilatildeo alargada a contextos

educativos formais natildeo formais e informais ndash compreende a gama possiacutevel de

abordagens assentes na linguagem teatral desenvolvidas com objetivos artiacutesticos

socioculturais e pedagoacutegicos que visam a formaccedilatildeo global do indiviacuteduo O teatro na

educaccedilatildeo inscreve-se pois no territoacuterio da ldquoeducaccedilatildeo artiacutesticardquo e natildeo no do ldquoensino

artiacutesticordquo (este incidindo numa formaccedilatildeo eminentemente ndash ou tendencialmente ndash

artiacutestica)

Por todo o mundo e na Europa em particular tecircm vindo a ser realizadas iniciativas

de dimensatildeo internacional dedicadas agrave educaccedilatildeo artiacutestica na maior parte dos casos

com o alto patrociacutenio dos oacutergatildeos governativos que definem as poliacuteticas educativas e

culturais dos paiacuteses unidos pela mesma vontade de tornar o projeto de cruzamento

das artes e da educaccedilatildeo ndash habitualmente eacute um ldquoprojetordquo que todos garantem

subscrever ndash numa realidade Lisboa acolheu a 1ordf Conferecircncia Mundial de Educaccedilatildeo

Artiacutestica em 2006 promovida pela UNESCO e organizada por uma comissatildeo

especificamente criada para o efeito com representantes de quatro ministeacuterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

152

nacionais (Educaccedilatildeo Ciecircncia e Ensino Superior Cultura e Negoacutecios Estrangeiros) A

segunda conferecircncia mundial teve lugar quatro anos depois (Seul 2010) entre

outras iniciativas congeacuteneres como os congressos da International DramaTheatre

and Education Association (a 8ordf ediccedilatildeo foi em Paris jaacute em 2013) Mas daquela

conferecircncia que se realizou em Portugal sob o lema ldquodesenvolver as capacidades

criativas para o seacuteculo XXIrdquo a mais emblemaacutetica por ser a primeira emanou um

documento que reuniu inuacutemeros contributos dos cinco continentes e que se

pretendeu que fosse um roteiro a partir de entatildeo o Roteiro para a Educaccedilatildeo Artiacutestica

(2006) editado pela Comissatildeo Nacional da UNESCO (CNU) Nele foram definidos

quatro grandes objetivos para a educaccedilatildeo artiacutestica

(1) Defender o direito humano agrave educaccedilatildeo e agrave participaccedilatildeo cultural

(2) Desenvolver as capacidades individuais

(3) Melhorar a qualidade da educaccedilatildeo

(4) Promover a expressatildeo da diversidade cultural (CNU 2006 pp 4-8)

O mesmo documento reafirma ndash com a forccedila da palavra impressa ndash o que haacute muito

vinha sendo defendido pelos especialistas isto eacute a educaccedilatildeo artiacutestica estrutura-se

em trecircs eixos pedagoacutegicos complementares como de resto em Portugal o Curriacuteculo

Nacional do Ensino Baacutesico Competecircncias Essenciais (2001) jaacute preconizava Esses trecircs

eixos satildeo

(i) Estudo de trabalhos artiacutesticos

(ii) Contacto direto com trabalhos artiacutesticos

(iii) Participaccedilatildeo em praacuteticas artiacutesticas (CNU 2006 p 10)

Nesta triacuteade defende-se que o estudante adquire conhecimentos ldquopela investigaccedilatildeo

e pelo estudo (de uma forma de arte e da relaccedilatildeo entre arte e histoacuteria) (hellip)

interagindo com o objeto ou a representaccedilatildeo de arte com o artista e com o seu (a

sua) professor(a) (hellip) e+ atraveacutes da sua proacutepria praacutetica artiacutesticardquo (CNU 2006 p 10)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

153

Em Portugal tecircm tido lugar entretanto outras iniciativas importantes e distintas de

que se destacam a Conferecircncia Nacional de Educaccedilatildeo Artiacutestica (Porto 2007) e jaacute em

2013 a ldquoRecomendaccedilatildeo sobre Educaccedilatildeo Artiacutesticardquo do Conselho Nacional de

Educaccedilatildeo (CNE) Neste documento bem elaborado e fundamentado em que se

afirma haver um ldquoconsenso alargadordquo (dos decisores poliacuteticos aos investigadores e

profissionais da educaccedilatildeo passando pelas ldquomais diversas instacircncias da sociedaderdquo)

sobre ldquoa importacircncia da educaccedilatildeo artiacutestica para todos os envolvidos no sistema de

educaccedilatildeo e formaccedilatildeordquo eacute defendida uma ldquovisatildeo abrangenterdquo de educaccedilatildeo artiacutestica

ldquoque integre a aprendizagem das linguagens especiacuteficas (artes plaacutesticas muacutesica

danccedila teatro cinema artes digitais) numa perspetiva que valorize a criatividade a

comunicaccedilatildeo e o conhecimento do proacuteprio patrimoacutenio histoacuterico e contemporacircneordquo

(Recomendaccedilatildeo 12013 secccedilatildeo II)

Eacute caso para perguntar sem ironia com tantos e tatildeo relevantes benefiacutecios da

educaccedilatildeo artiacutestica em tantas e tatildeo pertinentes iniciativas por que razatildeo as artes tecircm

cada vez menos expressatildeo nos curriacuteculos

Joatildeo-Francisco Duarte (2001 p 63) na sua caracterizaccedilatildeo das ldquomodernas sociedades

industriaisrdquo identifica entre outros dois postulados em que a civilizaccedilatildeo ocidental

assentou e que ajudam a compreender ndash na praacutetica quotidiana distante dos grandes

eventos oficiais ndash o pouco interesse que a educaccedilatildeo artiacutestica tem merecido da parte

dos decisores e gestores dos curriacuteculos a ldquoprimazia da razatildeordquo e a ldquoprimazia do

trabalhordquo Com efeito a educaccedilatildeo artiacutestica nem eacute encarada como possiacutevel soluccedilatildeo ndash

ou parte da soluccedilatildeo ndash para os problemas reais que habitualmente satildeo enunciados e

ldquocomprovadamenterdquo resolvidos pela ldquociecircnciardquo nem eacute uma aacuterea que

privilegiadamente assente na produccedilatildeo utilitaacuteria de bens Por conseguinte eacute uma

aacuterea que trabalhando com (sobre) o ldquoser sensiacutevelrdquo natildeo se encontra na vanguarda

do reconhecidamente ldquoessencialrdquo eou do lucro econoacutemico E isto tem os seus

custos

No Roteiro para a Educaccedilatildeo Artiacutestica tinha sido identificada ainda uma outra razatildeo a

dificuldade que no acircmbito das artes na educaccedilatildeo temos tido em avaliar e por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

154

conseguinte em comprovar resultados (CNU 2006 pp 15-16) apesar de

observarmos depreendermos intuirmos que a educaccedilatildeo artiacutestica preenche um

espaccedilo uacutenico na formaccedilatildeo de cada um a vaacuterios niacuteveis do conhecimento de si agrave

interpelaccedilatildeo criativa do seu tempo e do mundo da agilizaccedilatildeo da imaginaccedilatildeo agrave

possibilidade de se fingir que se eacute outro(s) da recriaccedilatildeo do vividosentido agraves

possibilidades de criaccedilatildeo e de simbolizaccedilatildeo das experiecircncias interculturais agraves

muacuteltiplas possibilidades expressivas Trata-se pois de um programa complexo que

sob vaacuterios pontos de vista desafia a dimensatildeo da avaliaccedilatildeo

Avaliarhellip Avaliar

O ato de avaliar natildeo se restringe a tarefas de classificaccedilatildeo nem tampouco a

estrateacutegias ldquosumativasrdquo de verificaccedilatildeo de resultados Avaliar como define Maria do

Ceacuteu Roldatildeo eacute estabelecer ldquoum conjunto organizado de processos que visam (i) o

acompanhamento regulador de qualquer aprendizagem pretendida e que

incorporam por isso mesmo (ii) a verificaccedilatildeo da sua consecuccedilatildeordquo (2008 p 41)

Todavia como reconhece a mesma autora ldquoaquilo a que assistimos nas escolas

nestas uacuteltimas deacutecadas como mudanccedila de terminologia de avaliaccedilatildeo (tambeacutem

consagrada nos proacuteprios normativos legais que sobre ela foram sendo produzidos)

natildeo se traduziu em mudanccedilas sensiacuteveis nos modos e nas finalidades da avaliaccedilatildeordquo

(Ibidem p 43)

As fichas os testes as provas os exames e ndash nas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica ndash as

ldquoapresentaccedilotildees finaisrdquo continuam a ser as modalidades de ldquoavaliaccedilatildeordquo mais

praticadas apesar de serem ndash em geral e particularmente em teatro ndash claramente

insuficientes Concordo com Domingos Fernandes quando afirma ser necessaacuterio

ldquodiversificar os meacutetodos e instrumentos de recolha de dados e encontrar formas de

dar alguma estrutura agrave avaliaccedilatildeo de natureza mais informal (2005 p 81) Esta

preocupaccedilatildeo eacute notoacuteria na aacuterea do teatro em que as avaliaccedilotildees informais

(espontacircneas frequentes natildeo sistematizadas) satildeo suscitadas por uma permanente

experimentaccedilatildeo que a toda a hora solicita retornos (dos proacuteprios e dos outros)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

155

A avaliaccedilatildeo tem tendido a ser mal recebida pelas aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica entre

outras razotildees identificadas por Elliot W Eisner porque ldquose baseia em juiacutezos sobre a

qualidade do trabalho dos alunos que podem ser considerados obstaacuteculos agrave

libertaccedilatildeo do seu potencial criativordquo (2004 p 219) e porque recorre por norma a

algum tipo de mediccedilatildeo o que alguns consideram incompatiacutevel com as artes uma vez

que naquela loacutegica ldquoas artes valorizam tipos de experiecircncias que natildeo se podem

quantificarrdquo (Ibidem) Poreacutem os professores que abordam o teatro tambeacutem avaliam

e se necessaacuterio tambeacutem classificam inscrevendo mais comummente as suas

praacuteticas no paradigma da ldquointuiccedilatildeo pragmaacuteticardquo (Serpa 2010) com recurso a

informaccedilotildees recolhidas de forma ocasional e intuitiva na maior parte das vezes

atraveacutes de observaccedilatildeo direta

A estas circunstacircncias acresce a dimensatildeo da subjetividade Aliaacutes segundo vaacuterios

estudos analisados por Margarida da Silva Damiatildeo Serpa (2010) a ldquogestatildeo da

subjetividaderdquo eacute uma das situaccedilotildees que na opiniatildeo geral dos professores

desencadeiam maior tensatildeo na avaliaccedilatildeo Ora as aacutereas da educaccedilatildeo artiacutestica e o

teatro em particular lidam a toda a hora com a subjetividade porque o ldquogosto

pessoalrdquo eacute desde logo uma questatildeo subjetiva Todavia haacute que reconhecer que este

aspeto eacute por vezes empolado ou mesmo excessivamente cultivado pelos proacuteprios

educadores eou artistas que desempenham o papel de avaliadores quando natildeo

pelos proacuteprios alunos

Por um lado percebe-se que por razotildees do foro subjetivo nem sempre (claramente)

descritiacuteveis ou explicaacuteveis ateacute ao espectador mais conhecedor e familiarizado com a

linguagem artiacutestica pode acontecer por exemplo ser tocado por um espetaacuteculo (seja

de uma experimentada companhia profissional seja de crianccedilas numa escola) que

poreacutem reconhece ter inuacutemeras ldquoimperfeiccedilotildeesrdquo teacutecnicas Como explicar ndash e como

avaliar ndash essas razotildees ldquoinvisiacuteveisrdquo que para si (e talvez para outros ateacute de formas

diferentes) foram tatildeo significativas

Por outro lado tambeacutem se percebe que uma vez assentes numa linguagem artiacutestica

(com coacutedigos teacutecnicas e praacuteticas proacuteprios apesar de dinacircmicos e abertos a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

156

renovaccedilotildees e cruzamentos) e para mais enquadrados por objetivos artiacutestico-

pedagoacutegicos em contexto curricular os desempenhos na aula de teatro sejam

potencialmente avaliaacuteveis

Avaliarhellip o quecirc

A Recomendaccedilatildeo do CNE relembra as duas perspetivas em que a artes tecircm sido

entendidas no campo da educaccedilatildeo

Para que desde cedo os sujeitos possam beneficiar desse duplo valor que a arte

tem ndash instrumental e intriacutenseco ndash a escola natildeo pode eximir-se ao dever de

educar todos e cada um de forma empenhada proporcionando uma

aprendizagem artiacutestica capaz de assegurar a igualdade de oportunidades neste

domiacutenio (Recomendaccedilatildeo 12013 secccedilatildeo II)

Em contexto escolar a perspetiva instrumental parece ser a mais consensual Os

professores em geral demonstram mais abertura para entenderem as artes como

facilitadoras ou complementos de aprendizagens especiacuteficas de outros domiacutenios do

que em conceber as artes pelo seu proacuteprio valor e como aacutereas de ldquoconteuacutedordquo

Intuitivamente a generalidade dos docentes crecirc que as artes contribuem fortemente

para o desenvolvimento emocional e social dos alunos e apontam competecircncias

transversais como ldquoexpressividaderdquo ldquocriatividaderdquo e ldquoimaginaccedilatildeordquo Todavia como

facilmente se compreende estas competecircncias ndash sem duacutevida desenvolvidas tambeacutem

a partir das metodologias do teatro ndash natildeo constituem um traccedilo distintivo nem desta

nem de outras aacutereas artiacutesticas Ningueacutem negaraacute por exemplo a relevacircncia que a

imaginaccedilatildeo e a criatividade tecircm no domiacutenio das ciecircncias naturais ou que a

expressividade tem no domiacutenio da liacutengua tanto ao niacutevel da escrita como da leitura e

da oralidade Ceacutelia Maria de Castro Almeida verificou tambeacutem a dificuldade que os

professores tecircm em justificar a integraccedilatildeo das artes no curriacuteculo

A maioria dos professores acredita que desenhar pintar modelar cantar

danccedilar tocar e representar eacute bom para os alunos mas poucos satildeo capazes de

apresentar argumentos convincentes para responder laquoPor que essas atividades

satildeo importantes e devem ser incluiacutedas no curriacuteculo escolarraquo Isso eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

157

desalentador pois o miacutenimo que se espera de algueacutem que ensina eacute que saiba

por que ensina (apud Ferreira 2001 p 13)

Ora quando perspetivamos ldquoo que se avalia em teatrordquo temos forccedilosamente de ter

presente ldquoo que se ensinardquo e ldquoo que se aprenderdquo

O teatro eacute por natureza uma aacuterea multidisciplinar na qual confluem e se cruzam

diversos saberes competecircncias e aprendizagens o que poderaacute tornar mais complexo

o ato de avaliar Uma metodologia de avaliaccedilatildeo depende de vaacuterios fatores como

desde logo a natureza do campo ndash ldquoinstrumentalrdquo ou ldquointriacutensecordquo ndash em que uma

intervenccedilatildeo se situa Embora salvaguardando os aspetos contextuais que devem

subjazer agrave definiccedilatildeo dessas especiacuteficas metodologias proponho dois princiacutepios que

poderatildeo nortear a definiccedilatildeo do que se avalia em teatro na educaccedilatildeo (1) a assunccedilatildeo

de que o teatro na educaccedilatildeo assenta numa especiacutefica linguagem artiacutestica e (2) o

entendimento de que o produto faz parte integrante do processo

No que diz respeito ao primeiro princiacutepio o de que o teatro na educaccedilatildeo tem por

base uma linguagem artiacutestica lembro antes de mais com Tiche Vianna e Maacutercia

Strazzacappa que frequentemente as artes na educaccedilatildeo satildeo trabalhadas ldquode forma

a abolir as particularidades das linguagens artiacutesticas e [a] generalizar excessivamente

os conceitos como se todas as artes fossem mais ou menos a mesma coisa ou pior

como se as praacuteticas fossem uma soacuterdquo (apud Ferreira 2001 p 118) As autoras

referem-se agrave realidade brasileira mas entre noacutes o panorama natildeo eacute mais favoraacutevel

Estamos a assistir a uma deriva curricular com opccedilotildees de poliacutetica educativa que ndash no

caso das artes e do teatro em particular ndash nem sempre se apresentam

rigorosamente fundamentadas e suportadas em investigaccedilatildeo recente e que nem

sempre tecircm claros os pressupostos do rumo apontado Veja-se a tiacutetulo ilustrativo o

inusitado regresso ao passado a que o Decreto-lei 1392012 de 5 de julho volta a

sujeitar as abordagens curriculares das aacutereas artiacutesticas e ateacute da educaccedilatildeo fiacutesica no

1ordm ciclo do ensino baacutesico de novo colocadas indistintamente no mesmo pacote das

ldquoExpressotildeesrdquo A acompanhar este retrocesso foram repescados ndash ante a pressa de se

rejeitar as ldquometas de aprendizagemrdquo aliaacutes recentes (de 2010) e perante a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

158

inexistecircncia de alternativa atualizada ndash os obsoletos programas dos anos 8090 do

seacuteculo passado como documentos curriculares orientadores

Note-se que as aacutereas disciplinares que naquele caso satildeo consignadas (Teatro

Muacutesica Artes Plaacutesticas e Educaccedilatildeo Fiacutesica) tecircm quadros histoacutericos concetuais e

praacutexicos distintos Ou seja aprenderensinaravaliar em ldquoexpressotildeesrdquo focando por

ventura em competecircnciasaprendizagens abrangentes e transversais a vaacuterias aacutereas

(como a expressividade a criatividade ou a imaginaccedilatildeo) eacute substancialmente

diferente de aprenderensinaravaliar em aacutereas artiacutesticas distintas ndash Teatro Muacutesica

Artes Plaacutesticas Danccedilahellip ndash que embora reconhecendo pontos de interseccedilatildeo entre si e

podendo ser abordadas de forma interdisciplinar assumem e valorizam as suas

especificidades nomeadamente a niacutevel de conceitos terminologias conteuacutedos

metodologias e recursos

Verifica-se que os professores foram posicionados desprevenidamente (e mais uma

vez sem formaccedilatildeo especiacutefica) entre dois paradigmas como se todavia fossem a

mesma coisa o paradigma educativo-artiacutestico que estava na base da reforma

curricular de 2001 e o paradigma expressivo-esteacutetico em voga sobretudo antes da

Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) que foi retomado na reforma curricular de

2012

Relativamente ao segundo princiacutepio o do produto como parte do processo deve ter-

se em conta que na aacuterea do teatro na educaccedilatildeo assiste-se com frequecircncia a

situaccedilotildees que poderatildeo ser paradoxais nas quais a toacutenica da avaliaccedilatildeo eacute colocada

pelos professores nos resultados ndash por vezes somente nos resultados ndash e natildeo nos

processos que a eles conduzem Isto ocorre tanto em atividades dramaacuteticas

quotidianas mais circunscritas no tempo e nos objetivos (como os jogos os

exerciacutecios as improvisaccedilotildees etc realizados em cada sessatildeo) como em projetos de

teatro por natureza mais prolongados no tempo e com objetivos mais exigentes

Neste caso o exemplo mais paradigmaacutetico reside na montagem de espetaacuteculos em

muitos casos feitos agrave pressa desenquadrados de uma praacutetica curricular regular a

partir das decisotildees e das orientaccedilotildees modelares do professor com o objetivo uacutenico ndash

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

159

ou principal ndash de abrilhantar ocasiotildees festivas como as festas de Natal ou de final de

ano letivo Mas se eacute verdade que antes de um produto deve (deveria) haver um

processo consistente tambeacutem eacute verdade que um processo natildeo acaba (natildeo deveria

acabar) no momento formal em que esse produto eacute socializado O projeto de teatro

natildeo termina no dia em que se faz a apresentaccedilatildeo pelo que o produto eacute parte de um

processo que se prolonga O projeto continua com a avaliaccedilatildeo do que jaacute foi feito e do

que ainda estaacute em curso bem como com a projeccedilatildeo do que tambeacutem a partir desse

produto se seguiraacute

Avaliarhellip para quecirc

Mas afinal no que ao teatro no curriacuteculo concerne para que eacute que se avalia Numa

frase sumaacuteria talvez se possa dizer que se avalia para se potenciar os processos

educativos para se escolher as metodologias artiacutestico-pedagoacutegicas mais adequadas a

cada contexto e a cada grupo e agrave cabeccedila de todas as razotildees para se melhorar e

ampliar as aprendizagens dos alunos Explicito esta ideia atraveacutes de duas linhas de

forccedila (1) a avaliaccedilatildeo como buacutessola da definiccedilatildeo de percursos educativos com

sentido e (2) a praacutetica de avaliaccedilatildeo regular como estrateacutegia de aprendizagem e de

participaccedilatildeo

Relativamente agrave primeira linha de forccedila a avaliaccedilatildeo na base de percursos com

sentido estou convicto de que soacute depois de estabelecermos inequivocamente os

objetivos da nossa accedilatildeo educativa-pedagoacutegica e consequentemente uma estrateacutegia

de avaliaccedilatildeo eacute que podemos definir um percurso com sentido na certeza poreacutem de

que entre curriacuteculos opccedilotildees metodoloacutegicas dos professores e aprendizagens dos

alunos tem de existir coerecircncia Trecircs aspetos definem esta linha de forccedila (i) a

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica (ii) a adequaccedilatildeo e a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica e (iii) a

complementaridade entre estudoexperimentaccedilatildeofruiccedilatildeo

No iniacutecio de cada intervenccedilatildeo eacute fundamental antes de mais proceder a uma

ajustada e rigorosa avaliaccedilatildeo diagnoacutestica para se entender em que ponto os alunos

estatildeo ndash seus (des)interesses potencialidades dificuldades e preferecircncias ndash e que

percurso a partir dessa realidade concreta pode ser delineado Do mesmo modo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

160

que um percurso com sentido natildeo deve estar focado somente no fim do caminho e

na classificaccedilatildeo tambeacutem natildeo pode assentar exclusivamente na loacutegica da abordagem

ldquocegardquo dos conteuacutedos (rdquomateacuteriasrdquo) consignados nos programas Avaliar tambeacutem eacute

conhecer e compreender cada um dos alunos e por conseguinte adequar os

processos agraves suas possibilidades de aprendizagem Os princiacutepios da adequaccedilatildeo e da

diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica natildeo satildeo bandeiras hasteaacuteveis exclusivamente no mastro

das necessidades educativas especiais Adequar e diferenciar nos processos de

ensino-aprendizagem neles incluiacuteda a avaliaccedilatildeo eacute para todos Processos de trabalho

especiacuteficos com cada turma requerem processos e instrumentos de avaliaccedilatildeo

especiacuteficos que se adequacuteem especificamente a essa realidade e em particular agraves

caracteriacutesticas dos alunos e do ensino pelo professor O professor tem aqui tambeacutem

aqui uma responsabilidade que natildeo deveria alienar sendo positivo ndash porque

constitui uma oportunidade de reflexatildeo e aprendizagem ndash o envolvimento dos alunos

na proacutepria criaccedilatildeo dos especiacuteficos instrumentos de avaliaccedilatildeo

Todo o percurso com sentido em teatro natildeo pode ignorar que as aprendizagens se

constroem complementarmente em 3 eixos estudo experimentaccedilatildeo e fruiccedilatildeo Por

conseguinte natildeo basta dizer ao aluno ldquopesquisardquo ldquofazrdquo ou ldquoapreciardquo eacute essencial

fornecer ao aluno as coordenadas para essas concretizaccedilotildees Ao avaliar o aluno

produz no fundo um juiacutezo de valor

[O juiacutezo de valor do aluno] depende por um lado dum enunciado prescritivo

que o precede dado que natildeo (hellip) poderaacute+ apreciar sem estabelecer uma

comparaccedilatildeo com aquilo que (hellip) entende+ que deveria ser e por outro de um

julgamento do observador uma vez que natildeo (hellip) poderaacute+ estabelecer uma

apreciaccedilatildeo sem conhecer algo daquilo que (hellip) estaacute+ a apreciar (Pinto amp

Santos 2006 p 29)

Quando o professor e os alunos analisam o que eacute pesquisado feito ou apreciado

mobilizam ndash a par de dados subjetivos e pessoais que devem ser considerados e

valorizados ndash conhecimentos especiacuteficos da linguagem artiacutestica que foram adquiridos

tambeacutem em contexto curricular

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

161

Quanto agrave segunda linha de forccedila a avaliaccedilatildeo como estrateacutegia de aprendizagem e

participaccedilatildeo ela define-se numa loacutegica de avaliaccedilatildeo contiacutenua em torno de dois

aspetos centrais (i) o aluno-participante e (ii) o professor-regulador

Uma estrateacutegia de avaliaccedilatildeo pressupotildee da parte do professor acompanhar e

orientar os alunos dando-lhes pistas e retornos com a plena consciecircncia de que ldquoo

ato de conhecer natildeo eacute uma passagem da ignoracircncia ao saber de uma soacute vez mas um

processo de reestruturaccedilotildees progressivasrdquo (Pinto amp Santos 2006 p 114) Na aula de

teatro eacute natural que haja realizaccedilotildees incompletas inacabadas experimentais E eacute

importante que sejam vistas como passiacuteveis de serem melhoradas pois a aula de

teatro tende a privilegiar processos de experimentaccedilatildeo de repeticcedilatildeo de tentativa e

erro e de permanente procura de melhoramento Esta dinacircmica tanto requer

frequentes interaccedilotildees de natureza avaliativa ou seja de ldquomicro balanccedilos sobre o

desenvolvimento de tarefas realizadas pelos alunos e de intervenccedilotildees reguladoras

por parte do professorrdquo (Ibidem p 115) que constituem permanentes

oportunidades de aprendizagem como obriga a um autocontrolo por parte do

docente da eventual tendecircncia que possa ter para antecipar respostas e soluccedilotildees ou

para se assumir como modelo a seguir Como advertem Pinto amp Santos ldquoa ansiedade

de dar a resposta ou dizer como se faz sem dar espaccedilo para que o aluno perceba o

erro e reconstrua a sua representaccedilatildeo da tarefa deixa normalmente o aluno numa

situaccedilatildeo de vulnerabilidade quando novas situaccedilotildees semelhantes ocorreremrdquo

(Ibidem p 114)

A modalidade de avaliaccedilatildeo formativa eacute por excelecircncia aquela que proporciona aos

alunos a constante tomada de consciecircncia do seu processo de aprendizagem porque

uma parte relevante da responsabilidade desse processo eacute transferida para eles Ao

intervirem na avaliaccedilatildeo dos seus processos de trabalho e dos resultados obtidos os

alunos estatildeo a demonstrar quotidianamente os seus conhecimentos aos colegas e

ao professor bem como a tomar consciecircncia do caminho que estatildeo a percorrer Esta

perspetiva opotildee-se diametralmente a uma accedilatildeo que natildeo valoriza o continuum de

realizaccedilotildees e de aprendizagens Trata-se no fundo numa siacutentese algo esquemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

162

da ldquotradicionalrdquo diferenccedila entre a crianccedila ter de se ldquodesenvencilharrdquo no espetaacuteculo

feito agrave pressa para a festa da escola (natildeo raras vezes seguindo com hesitaccedilatildeo e

desconforto agrave vista do espectador as afanosas indicaccedilotildees sopradas pelo professor

dos bastidores) e ocupar o lugar central no processo de conceccedilatildeo planeamento

implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de um projeto de teatro com o apoio do professor na

sequecircncia de uma regular abordagem curricular do teatro

Conclusatildeo

O tiacutetulo deste artigo parte de um pressuposto que nem sempre corresponde agrave

realidade o de que haacute teatro no curriacuteculo Como se expressa na introduccedilatildeo deste

texto embora as iniciativas que reforccedilam a importacircncia da educaccedilatildeo artiacutestica em

geral tenham vindo a multiplicar-se nacional e internacionalmente as artes nos

curriacuteculos em Portugal ndash umas menos outras mais (como o Teatro) ndash tecircm vindo a ser

objeto de um tratamento que nem sempre eacute coerente com as linhas orientadoras

que tecircm sido apontadas para estas aacutereas ou vecircm sendo dissimuladamente

transferidas para fora do curriacuteculo obrigatoacuterio no 1ordm ciclo (para o ldquoenriquecimento

curricularrdquo ou para o extracurricular) ou encurtadas na sua carga horaacuteria limitadas a

menos anos de escolaridade e reduzidas a meras opccedilotildees das escolas nos 2ordm e 3ordm

ciclos ou totalmente extintas como nalguns cursos do ensino secundaacuterio

Mas quando haacute teatro no curriacuteculo haacute que perspetivar a dimensatildeo da avaliaccedilatildeo

Neste artigo em que propositadamente natildeo entro no ldquocomordquo fazer (pretendo

dedicar-lhe uma reflexatildeo autoacutenoma) para aleacutem de procurar definir avaliaccedilatildeo

simultaneamente procedendo a uma breve revisatildeo de literatura sobre o tema

detemo-nos nos dois toacutepicos principais que o tiacutetulo principal anuncia Avaliar o quecirc

Avaliar para quecirc

No primeiro caso proponho dois princiacutepios para a definiccedilatildeo do que se avalia em

teatro na educaccedilatildeo (1) a assunccedilatildeo de que o teatro na educaccedilatildeo assenta numa

especiacutefica linguagem artiacutestica que deve estar refletida na avaliaccedilatildeo e (2) o

entendimento de que o produto faz parte integrante do processo por conseguinte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

163

refutando a ideia de que a avaliaccedilatildeo se restringe a avaliaccedilatildeo sumativa ou a

classificaccedilatildeo

No segundo caso explicito o toacutepico atraveacutes de duas linhas de forccedila (1) a avaliaccedilatildeo

como buacutessola da definiccedilatildeo de percursos educativos com sentido destacando a

relevacircncia que devem ter (i) a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica (ii) a adequaccedilatildeo e a

diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica e (iii) a complementaridade entre

estudoexperimentaccedilatildeofruiccedilatildeo e (2) a praacutetica de avaliaccedilatildeo regular como estrateacutegia

de aprendizagem e de participaccedilatildeo pensada numa loacutegica de avaliaccedilatildeo contiacutenua em

torno de dois aspetos centrais (i) o aluno-participante e (ii) o professor-regulador

Em suma neste artigo que pretende sobretudo identificar questotildees mais do que

avanccedilar respostas haacute uma conclusatildeo que parece integrar outras conclusotildees

possiacuteveis dependendo da forma como eacute entendida e integrada no quotidiano

pedagoacutegico a avaliaccedilatildeo pode contribuir para se crescer ou para se mirrar para se

prosseguir ou para se desistir

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165

PRAacuteTICAS DE LITERACIA E AVALIACcedilAtildeO DA COMPETEcircNCIA

DE ESCRITA31

Maria da Conceiccedilatildeo Pires

Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd ndash Universidade do Minho saopiresgmailcom

Joseacute Antoacutenio Brandatildeo Carvalho

Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd ndash Universidade do Minho jabrandaoieuminhopt

RESUMO O desfasamento entre a escola e os diferentes contextos sociais em que se

insere a dificuldade em dar resposta agraves solicitaccedilotildees e desafios que as suas

comunidades lhe colocam a deficiente preparaccedilatildeo de muitos dos alunos para um uso

competente e criacutetico da linguagem oral e escrita constituem trecircs criacuteticas seacuterias ao

papel atual da escola

O projeto que estamos a dinamizar com uma turma do ensino secundaacuterio procura

contrariar este rumo da educaccedilatildeo demonstrando que eacute possiacutevel construir e valorizar

as competecircncias de literacia que natildeo se circunscrevem agrave proacutepria vida escolar atraveacutes

de atividades de aprendizagem efetiva da escrita numa relaccedilatildeo interdisciplinar com

outras aacutereas de conhecimento Ele surge nos antiacutepodas do ensino tradicional onde a

produccedilatildeo escrita eacute imposta aos alunos tendo quase sempre o professor como uacutenico

destinataacuterio valorizando-se aspetos de natureza formal e superficial em detrimento de

outros que satildeo fundamentais em termos de eficaacutecia discursiva fazendo dela depender

quase exclusivamente a avaliaccedilatildeo do aluno muitas vezes assente numa mera

reproduccedilatildeo de conhecimento

31

Este trabalho faz parte de um projeto de investigaccedilatildeo desenvolvido no acircmbito do doutoramento em Ciecircncias da Educaccedilatildeo (especialidade de Literacias e Ensino do Portuguecircs) pelo Centro de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo ndash CIEd - da Universidade do Minho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

166

Assim e com recurso agrave metodologia do trabalho de projeto concebemos um roteiro

paisagiacutestico ainda em fase de realizaccedilatildeo acerca de uma quinta de D Antoacutenia

(Ferreirinha) destinado aos seus turistas que tem obrigado a uma participaccedilatildeo no

quadro mais alargado da escola enquanto comunidade e nas comunidades em que os

seus membros se inserem fazendo com que os alunos interajam com os contextos

culturais histoacutericos econoacutemicos sociais e institucionais onde atuam estudam e

vivem o Douro

Nesta comunicaccedilatildeo procuramos divulgar estas praacuteticas e discutir a sua viabilidade

evidenciando o modo como os alunos constroem o seu saber sobre a liacutengua e de que

modo a avaliaccedilatildeo eacute um processo indispensaacutevel quer nas diferentes etapas de

elaboraccedilatildeo de um projeto quer no domiacutenio da competecircncia de escrita

Palavras-chave metodologia de trabalho de projeto escrita avaliaccedilatildeo

Abstract Among other things schools are often criticised for the gap between their

work and the demands of the contexts where they are inserted the difficulty in

responding to the challenges raised by the communities and the insufficient

preparation of the students in what concerns competent and critical uses of oral and

written language

The project that we are developing at a secondary school aims at demonstrating that it

is possible to enhance literacy skills that are not limited to the school context through

learning activities that imply an interdisciplinary relationship with other areas of

knowledge

This approach intends to be different from traditional ways of teaching writing that

tend to focus on superficial aspects rather than on discourse effectiveness and mainly

use writing as an assessment tool In this project students are invited to create the

touristic road-map of a farm where Port Wine is produced what implies multiple

language uses the insertion in different social and cultural contexts and the

interaction with several institutions of the region where they live the Douro

In this presentation we describe the project activities and discuss their interest trying

to demonstrate their contribution to the enhancement of studentsrsquo language skills We

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

167

also try to describe how the different steps of the project and its impact on students

writing performance are evaluated

Key words project methodology writing evaluation

1 Introduccedilatildeo

Uma reflexatildeo sobre o ensino do Portuguecircs no ensino secundaacuterio leva-nos a questionar

o percurso de aprendizagem a que os alunos satildeo submetidos e a discutir o que tem

falhado no ensino desta disciplina na qual se vem verificando bastante insucesso no

que se refere agrave competecircncia da escrita algo que os exames nacionais parecem

confirmar

Esta preocupaccedilatildeo agudiza-se se considerarmos que a escola eacute hoje chamada a

responder a novos desafios colocados pela sociedade e que exigem um indiviacuteduo

autoacutenomo e haacutebil na escrita perfil nem sempre coadunado com as metodologias

pedagoacutegicas predominantes que ainda tendem a apresentar esta competecircncia como

um saber de natureza declarativa e normativa e dela fazem depender quase

exclusivamente a avaliaccedilatildeo do aluno muitas vezes assente na mera reproduccedilatildeo de um

conhecimento imposto e tendo normalmente o professor como uacutenico destinataacuterio

Os elevados niacuteveis de iliteracia registados na populaccedilatildeo portuguesa escolarizada

continuam a alertar para a pouca e por vezes incorreta utilizaccedilatildeo que um grande

nuacutemero de pessoas faz da linguagem escrita deixando-as expostas a manipulaccedilotildees

sociais e poliacuteticas revelando uma escola ineficaz nesta mateacuteria que contraria deste

modo o princiacutepio de que eacute uma escola para todos Por outro lado confirmam que os

alunos natildeo chegam a desenvolver capacidades especializadas em vaacuterios geacuteneros

textuais implicando diferentes suportes nem as de comunicar em contextos que

pelas suas caracteriacutesticas proacuteprias implicam usos especiacuteficos da linguagem que

exigem na maior parte dos casos um maior grau de explicitaccedilatildeo e cuja relevacircncia nem

sempre os professores reconhecem Frequentemente eacute apenas em momentos de

avaliaccedilatildeo que abordam a escrita em contexto escolar (CARVALHO 1999)

Segundo vaacuterios estudos feitos nas uacuteltimas deacutecadas a escrita eacute natildeo soacute essencial agrave

construccedilatildeo do conhecimento de outras disciplinas como apresenta potencialidades

para se tornar ela proacutepria num instrumento de aprendizagem desde que natildeo se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

168

confine agrave transcriccedilatildeo ou repeticcedilatildeo de informaccedilatildeo antes transforme o conhecimento

numa parte integrante de um contexto que o torne significativo no qual laquo(hellip) o aluno

encontraraacute durante o processo e no momento de realizaccedilatildeo de funccedilotildees por meio do

produto escrito vivecircncias nas quais se projeta como pessoa com o seu empenho e

com os seus sentimentos e emoccedilotildeesraquo (BARBEIRO 2007185) Contudo tal natildeo pode

acontecer agrave margem da escola pois haveraacute alunos que nunca encontraratildeo no seu meio

sociocultural o acesso a tais vivecircncias a sua promoccedilatildeo e valorizaccedilatildeo Pelo contraacuterio

ela deve laquo(hellip) alargar as vivecircncias proporcionadas no meio escolar ao universo de

funccedilotildees que os textos desempenhamraquo (p186) como tambeacutem defende o programa de

Portuguecircs do ensino secundaacuterio (MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO 2001)

Eacute isto que advoga a perspetiva sociocognitiva sobre o ensino-aprendizagem da escrita

para a qual o processo de escrever se relaciona com os contextos sociais na procura

de uma maior aproximaccedilatildeo entre a escrita e os conteuacutedos curriculares reconhecendo

que os textos natildeo satildeo independentes do contexto mas dele emergem revelando-se

essenciais os ensinamentos dos estudos linguiacutesticos sobre a enunciaccedilatildeo e o discurso ao

fornecerem bases conceptuais indispensaacuteveis agrave compreensatildeo da produccedilatildeo escrita

como atividade de uso da liacutengua As situaccedilotildees de ensino e aprendizagem representam

laquo(hellip) atividades partilhadas sociais que satildeo levadas a cabo na escola lugar onde

crianccedilas e jovens desenvolvem uma parte da sua vida com o objetivo de crescer como

cidadatildeos e de se apropriarem daqueles saberes que a sociedade considera baacutesicos

para siraquo (CAMPS 200521) A eles deve ser dado o papel principal na escola como

espaccedilo de comunicaccedilatildeo atraveacutes da sua participaccedilatildeo em projetos onde a escrita surge

laquo(hellip) como meio de exploraccedilatildeo e de conhecimento de si mesmos da sua proacutepria

realidade e da realidade agrave sua volta e como instrumentos de exploraccedilatildeo do mundoraquo

(idem) pois os textos escritos laquo(hellip) interagem sempre com os contextos culturais

histoacutericos e institucionais onde atuam estudam e trabalham aqueles que os produzem

(hellip)raquo (NIZA 200715)

Perspetivada assim a competecircncia da escrita natildeo faz sentido que a avaliaccedilatildeo continue

a ser implementada segundo um modelo tradicional que a investigaccedilatildeo jaacute veio provar

desajustada por natildeo haver lugar a um ensino puramente expositivo antes a um

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

169

trabalho pedagoacutegico cujos propoacutesitos passam por uma avaliaccedilatildeo contiacutenua imediata

formal expliacutecita e integrada na praacutetica pedagoacutegica fornecendo orientaccedilotildees aos

professores e alunos sobre os desempenhos individuais

2 Desenvolvimento

Segundo o programa de Portuguecircs do ensino secundaacuterio a avaliaccedilatildeo eacute uma

laquocomponente essencial do processo de ensino-aprendizagemraquo (ME 200130)

devendo ser sistemaacutetica e cuidadosa para que se cumpram a objetividade e o rigor

assim como o desenvolvimento das competecircncias do aluno ao longo deste ciclo de

estudos Deve por isso contemplar a adequaccedilatildeo das teacutecnicas e instrumentos aos

objetivos e conteuacutedos e ao processo de ensino-aprendizagem especificar o objeto de

avaliaccedilatildeo ndash os processos e os produtos - os criteacuterios e as estrateacutegias proporcionar

condiccedilotildees para a autoavaliaccedilatildeo e a coavaliaccedilatildeo ponderar o percurso individual e o

coletivo considerando ajustamentos e correccedilotildees para reorientar as praacuteticas

pedagoacutegicas e dar a conhecer ao aluno as informaccedilotildees respeitantes a todo o seu

processo avaliativo

Atraveacutes da avaliaccedilatildeo nas suas diferentes modalidades (diagnoacutestica formativa e

sumativa) obtecircm-se informaccedilotildees sobre a consecuccedilatildeo dos objetivos e a atitude dos

intervenientes ao longo desse processo de ensino-aprendizagem delineando-se

estrateacutegias de superaccedilatildeo de eventuais dificuldades ainda natildeo ultrapassadas com vista

agrave melhoria da qualidade da formaccedilatildeo do processo e das estrateacutegias a implementar ao

longo do ano Os instrumentos de avaliaccedilatildeo a usar na disciplina de Portuguecircs variaratildeo

consoante a competecircncia nuclear (compreensatildeo e expressatildeo oral e escrita e

funcionamento da liacutengua) com criteacuterios de avaliaccedilatildeo especiacuteficos de cada uma delas

cabendo ao professor escolher aqueles que melhor se adequam ao objeto a ser

avaliado Passam pela observaccedilatildeo direta questionaacuterios textos orais textos escritos

listas de verificaccedilatildeo escalas de classificaccedilatildeo (onde constam os criteacuterios de

desempenho como competecircncias linguiacutestica discursiva e sociolinguiacutestica) testes

objetivos (exerciacutecios de escolha muacuteltipla de associaccedilatildeo de alternativa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

170

verdadeirofalso de completamento) testes natildeo objetivos (com resposta longa e

ensaio)

Por isso a laquoatribuiccedilatildeo de uma classificaccedilatildeo ao aluno deveraacute decorrer dos vaacuterios dados

recolhidos em momentos de avaliaccedilatildeo formais e informais (hellip) mas tambeacutem da

avaliaccedilatildeo de vaacuterias produccedilotildees dos alunos tais como elaboraccedilatildeo de dossiecircs de vaacuterios

tipos projetos de escrita e de leitura trabalhos realizados fora da sala de aula

cadernos diaacuterios etcraquo (ME 200131) O programa sugere que o aluno organize um

portefoacutelio de avaliaccedilatildeo no qual incluiraacute uma amostra significativa de trabalhos

datados e comentados para que o professor conheccedila o seu esforccedilo os seus

progressos e o seu desempenho ao longo de um determinado periacuteodo de tempo

laquoEm suma a avaliaccedilatildeo em Portuguecircs deve gerar uma dinacircmica processual coerente

com todo o processo de ensino-aprendizagem que passe pela perspetiva de

consciencializaccedilatildeo e participaccedilatildeo zele em termos de eficiecircncia pela validade e

relevacircncia e busque melhorias para promover mudanccedilasraquo (ME 200133)

Conscientes destas realidades iniciaacutemos no ano letivo de 20112012 com uma turma

do deacutecimo ano de escolaridade do Curso Cientiacutefico-Humaniacutesticos de Liacutenguas e

Humanidades - pretendemos continuar a acompanhaacute-la ateacute agrave conclusatildeo do seu deacutecimo

segundo ano (junho de 2014) - um estudo de caso no intuito de verificar em que

medida a metodologia de trabalho de projeto constitui uma mais-valia na

aprendizagem efetiva da escrita no ensino secundaacuterio se lhe confere sentido se

motiva o aluno e se como defendem os seus seguidores o leva a construir e a

mobilizar conhecimento ancorado na leitura e produccedilatildeo de textos em cooperaccedilatildeo

com todos os participantes atraveacutes de vivecircncias laquo(hellip) que permite+m a descoberta das

funccedilotildees da escrita e que torn[a]m significativas as competecircncias de leitura e de escrita

em ligaccedilatildeo a dimensotildees como a fruiccedilatildeo e criaccedilatildeo esteacuteticas a expressatildeo pessoal a

procura de informaccedilatildeo a elaboraccedilatildeo de documentos para o exerciacutecio da cidadania e

para a comunicaccedilatildeo interpessoal a descoberta de utilizaccedilotildees especiacuteficas no acircmbito de

determinadas atividades (hellip)raquo (BARBEIRO 20062) Frequentemente o

desenvolvimento de projetos embora proporcione a participaccedilatildeo em eventos de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

171

literacia circunscreve-se agrave proacutepria vida escolar tornando-se depois objeto de

avaliaccedilatildeo

Quisemos ir mais longe ultrapassando a vida escolar numa tentativa de aproximaccedilatildeo

agrave realidade social e cultural do meio de onde os alunos satildeo provenientes o Douro

Assim e com recurso agrave metodologia de aprendizagem por projeto concebemos um

roteiro paisagiacutestico ainda em fase de realizaccedilatildeo acerca de uma quinta que pertenceu

a uma figura destacada do meio em que a escola onde ele se desenvolve se insere Dordf

Antoacutenia Ferreira a Ferreirinha Tal roteiro destina-se aos turistas que a visitam e a sua

construccedilatildeo associa os processos de ensino-aprendizagem da escrita agrave participaccedilatildeo nos

contextos mais alargados da escola enquanto comunidade e no das comunidades em

que os seus membros se inserem fazendo com que os alunos interajam com os

ambientes culturais histoacutericos econoacutemicos sociais e institucionais onde atuam

estudam e vivem

A construccedilatildeo do nosso projeto insere-se numa perspetiva recente da investigaccedilatildeo

sobre a pedagogia da escrita que a projeta em quatro planos distintos natildeo os

encarando de forma estanque antes potenciando cada um deles para uma abordagem

mais completa da escrita na escola colocando-se a ecircnfase no diaacutelogo que deve existir

entre os geacuteneros escolares e os tipos de discurso que as sociedades alfabetizadas

foram elaborando e cujas caracteriacutesticas os alunos devem aprender a dominar laquo(hellip) a)

o plano do sujeito que aprende com as suas caracteriacutesticas pessoais o seu niacutevel de

desenvolvimento cognitivo as suas competecircncias de uso da linguagem em geral e da

escrita em particular b) o plano da relaccedilatildeo da escrita com os outros domiacutenios ou

conteuacutedos da disciplina de Portuguecircs ndash conhecimento expliacutecito da liacutengua leitura e

oralidade c) num outro niacutevel o plano da implicaccedilatildeo da escrita no quadro das outras

disciplinas escolares d) finalmente o plano da participaccedilatildeo pela escrita no quadro

mais alargado da escola enquanto comunidade e na(s) comunidade(s) em que a escola

e os sujeitos se inseremraquo (CARVALHO 201194)

Por isso e porque sempre nos preocupaacutemos com o modo ldquocomo avaliarrdquo e ldquopor que

avaliarrdquo era imperioso que agora na dinamizaccedilatildeo do nosso projeto a avaliaccedilatildeo se

instaurasse como um referente flexiacutevel adequado agrave grande variedade de geacuteneros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

172

textuais que os alunos escreveriam aos seus contextos aos processos a eles

subjacentes e aos diferentes intervenientes Deste modo ela facilitaria esta nossa

conceccedilatildeo de projeto que certifica as diversas competecircncias adquiridas - neste caso a

escrita sobretudo - e que conduz agrave adoccedilatildeo de estrateacutegias de diferenciaccedilatildeo

pedagoacutegica Partimos do pressuposto de que a avaliaccedilatildeo contribui para uma melhoria

da qualidade dos projetos curriculares sendo imperioso que os alunos estivessem na

posse dos criteacuterios de apreciaccedilatildeo de qualquer trabalho escolar Soacute desta maneira se

chegaria agrave regulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos percursos de formaccedilatildeo estimulando a

construccedilatildeo de opccedilotildees pessoais adequadas e com sentido face aos objetivos propostos

Privilegiariacuteamos uma pedagogia diferenciada organizadora das atividades e das

interaccedilotildees de maneira a que cada aluno fosse confrontado com situaccedilotildees didaacuteticas

mais proveitosas para ele geradoras de verdadeiras aprendizagens da escrita

A aposta recaiu assim no uso do portefoacutelio educativo como instrumento de

regulaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo ligado verdadeiramente agrave metodologia de trabalho de projeto

visando o desenvolvimento de competecircncias implicando a autonomia do aluno na sua

relaccedilatildeo com o saber e estimulando o gosto pela aprendizagem Perspetivaacutemo-lo natildeo

na sua materialidade ndash uma coleccedilatildeo de documentos organizados correspondentes aos

diferentes trabalhos realizados pelo aluno titular desse dossiecirc - mas antes como um

dispositivo pedagoacutegico dirigido ao desenvolvimento de uma competecircncia nuclear ndash a

escrita no nosso projeto - no qual se colocaria a toacutenica no procedimento do discente

na execuccedilatildeo das tarefas a propor numa variedade de contextos e natildeo tanto nos seus

conhecimentos e na avaliaccedilatildeo destes uacuteltimos Ele seria o instrumento que salientaria

as necessidades e os desafios colocados as opccedilotildees tomadas as reaccedilotildees e os esforccedilos

do aluno as suas melhorias processos e rendimentos Este assumiria o protagonismo

e a responsabilidade do seu processo de aprendizagem da competecircncia da escrita pela

reflexatildeo a ele inerente autoavaliando-se (e desmistificando a avaliaccedilatildeo) a qualquer

momento fornecendo simultaneamente ao professor a visatildeo global dos seus

progressos individuais Com ele tornar-se-ia um cidadatildeo responsaacutevel autoacutenomo

confiante em si mesmo continuando a sua aprendizagem depois da escola o que lhe

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

173

proporcionaria a emancipaccedilatildeo social Ao mesmo tempo o professor refletiria sobre as

suas praacuteticas para melhorar o ensino da escrita

De entre os variados tipos de portefoacutelio escolhemos o de aprendizagem Nele

deveriam constar os resultados das pesquisas os textos produzidos a descriccedilatildeo dos

processos imanentes agrave redaccedilatildeo dos diferentes geacuteneros textuais - os planos para a

textualizaccedilatildeo as vaacuterias versotildees dos textos e a sua revisatildeo as pesquisas realizadas para

aprofundar o seu conhecimento acerca do conteuacutedo do texto em elaboraccedilatildeo ou para

facilitar uma tomada de posiccedilatildeo pessoal num texto argumentativo a organizaccedilatildeo

seguida para a estruturaccedilatildeo das ideias seguindo modelos dependentes das tipologias e

geacuteneros textuais a decisatildeo sobre o estilo e o formato a adotar no seu texto - as

comparaccedilotildees com outras produccedilotildees textuais as reflexotildees sobre os materiais as suas

escolhas as reformulaccedilotildees propostas pela professora e por ele proacuteprio as fichas de

auto e coavaliaccedilatildeo a autoavaliaccedilatildeo do trabalho e a ligaccedilatildeo entre avaliaccedilatildeo e

aprendizagem assim como as justificaccedilotildees das escolhas e das estrateacutegias usadas

consideradas mais eficazes Deste modo achamos que os alunos estabeleceriam a

ligaccedilatildeo entre a avaliaccedilatildeo e as aprendizagens Decidimos com os alunos o seu iacutendice

para uma organizaccedilatildeo mais eficaz no que se refere agrave funcionalidade e acessibilidade

Para o ensino da escrita defendemos que o aluno deve desenvolver o seu portefoacutelio

de aprendizagem da escrita por lhe proporcionar a aprendizagem efetiva dos

processos de escrita As dificuldades que a turma revelava quando comeccedilaacutemos o nosso

estudo de caso e que urgia ultrapassar ndash ausecircncia de uma planificaccedilatildeo preacutevia agrave

redaccedilatildeo textual lacunas na organizaccedilatildeo discursiva e correccedilatildeo linguiacutestica desrespeito

pelas propriedades especiacuteficas do geacutenero textual em causa e desmotivaccedilatildeo pela

composiccedilatildeo escrita pelo seu fingimento face agraves reais necessidades comunicativas da

sociedade a que pertencem acrescidas frequentemente de alguma incerteza na

escolha do curso adequado aos seus anseios profissionais - justificaram esta opccedilatildeo

Por isso o projeto de escrita tem sido sempre realizado numa oficina de escrita

modalidade obrigatoacuteria no programa do ensino secundaacuterio na qual os alunos

aprendem a escrever pelo treino e os professores ensinam a escrita contrariando o

mito do talento inato da escrita e as ideias de que neste niacutevel de ensino natildeo haacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

174

espaccedilo para o seu ensino da escrita e o que deve ser avaliado eacute o produtoresultado

do ato de escrever laquoNuma oficina de escrita o aluno treina modelos de escrita

mobiliza estrateacutegias ligadas a modalidades discursivas distintas desenvolve as

competecircncias discursiva e textual adequa agrave situaccedilatildeo comunicativa transferindo

recorrecircncias e estruturas que sirvam de referentes agrave produccedilatildeo de textos

diversificadosraquo (COELHO 200352)

O nosso projeto tem sido construiacutedo em contexto de sala de aula tendo-se traduzido

jaacute numa variedade de geacuteneros textuais produzidos individualmente ou em grupo

pelos alunos e que constaratildeo no roteiro paisagiacutestico final Todo o processo que lhes

subjaz tem sido considerado no nosso estudo pelos seus efeitos na aprendizagem

expliacutecita da escrita no ensino secundaacuterio indo simultaneamente ao encontro do

estipulado no programa de Portuguecircs deste niacutevel de ensino

Aleacutem disso os materiais usados pautam-se pela diversidade proporcionando de

forma intencional experiecircncias de literacia indispensaacuteveis agrave plena integraccedilatildeo destes

jovens na sociedade Por exemplo a imagem tem-nos auxiliado enquanto elemento

motivador e ilustrativo da aprendizagem na esteira do proacuteprio programa oficial que

impotildee ldquo(hellip) natildeo soacute a leitura de textos escritos mas tambeacutem de imagens equacionando

a relaccedilatildeo entre o verbal e o visualrdquo (ME 200124) devido tambeacutem ao seu caraacuteter

interdisciplinar e polivalente A deslocaccedilatildeo agrave quinta em estudo tem permitido o registo

fotograacutefico e fiacutelmico dos seus espaccedilos a partir do que criaacutemos variadas oficinas de

escrita

O recurso aos media tem-se revelado tambeacutem indispensaacutevel na prossecuccedilatildeo do nosso

projeto atraveacutes da produccedilatildeo e da leitura analiacutetica e criacutetica - os textos dos media satildeo

essenciais na formaccedilatildeo de leitores criacuteticos e conscientes da informaccedilatildeo de que

diariamente satildeo recetores leitores capazes de distinguir objetividade de subjetividade

facto de opiniatildeo - em termos de conteuacutedo intencionalidade e forma de textos de

caraacuteter multimodal de natureza poliacutetica histoacuterica econoacutemica e socioculturalmente

situada Procuramos promover a tomada de consciecircncia dos modos distintos de

comunicar na sociedade visando uma participaccedilatildeo ativa e esclarecida na vida local e

social pela leitura e produccedilatildeo de geacuteneros textuais diversos Enquanto fonte de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

175

conhecimentos gerais e de consulta mais atualizada de conteuacutedos organizados claros

e sequenciados eles abrem as janelas para o mundo ao mesmo tempo que ensinam a

desenvolver e treinar a par de outras as competecircncias de leitura de textos e imagens

(fixas e em movimento) as competecircncias de oralidade e de escrita e a reflexatildeo sobre a

liacutengua Na verdade cabe agrave escola promover situaccedilotildees de aprendizagem com vista ao

desenvolvimento da competecircncia de comunicaccedilatildeo competecircncia linguiacutestica

discursivatextual sociolinguiacutestica e estrateacutegica

Paralelamente respeitaacutemos os conteuacutedos constantes no programa oficial desta

disciplina distribuindo-os de forma mais consonante com as fases de elaboraccedilatildeo do

projeto No que respeita agraves obras literaacuterias de referecircncia foram acrescentadas duas ndash

Vindima de Miguel Torga e Fuacuteria das Vinhas de Francisco Moita Flores - para aleacutem

da opccedilatildeo por As Cidades e as Serras de Eccedila de Queiroacutes em detrimento de Os Maias

habitualmente escolhido pelos professores no deacutecimo primeiro ano de escolaridade

devido agrave temaacutetica do nosso roteiro e aos seus objetivos

No iniacutecio do ano letivo de 20112012 quando enunciaacutemos os objetivos gerais do nosso

projeto e o produto final desejado os alunos planificaram a curto e a longo prazo

comeccedilaram a organizar o seu portefoacutelio de aprendizagem e redigiram um ofiacutecio

endereccedilado aos proprietaacuterios de quintas durienses ainda pertencentes a descendentes

diretos de D Antoacutenia Ferreira e geograficamente proacuteximas da escola solicitando a sua

participaccedilatildeo na consecuccedilatildeo do referido projeto

Precisamente por causa desta figura iacutempar na histoacuteria do Douro recorremos quer agrave

seacuterie televisiva escrita por Francisco Moita Flores A Ferreirinha quer a documentaacuterios

muitos deles acessiacuteveis apenas na internet para um conhecimento mais aprofundado

tanto da sua eacutepoca como da sua vida privada o que foi complementado com a visita agrave

exposiccedilatildeo temporaacuteria do Museu do Douro intitulada D Antoacutenia uma vida singular

realizada em 2011 no acircmbito das comemoraccedilotildees dos duzentos anos do seu

nascimento e com a leitura da sua biografia A este propoacutesito consultaacutemos a

imprensa regional e a nacional com vista agrave recolha de informaccedilatildeo imprescindiacutevel agrave

elaboraccedilatildeo do friso cronoloacutegico constante no nosso roteiro porque jornalismo e

memoacuteria caminham lado a lado colocando agrave nossa disposiccedilatildeo de maneira contiacutenua e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

176

ininterrupta factos da vida selecionados e construiacutedos jornalisticamente com tantas

faces e vozes quanto os media existentes

Algum tempo depois voltaacutemos a este espaccedilo cultural para participarmos no projeto

ldquoBIOSrdquo que haveria de nos introduzir na paisagem fiacutesica e imaterial desta regiatildeo

portuguesa Atraveacutes dele produzimos um texto autobiograacutefico coletivo ndash a integrar no

roteiro - convocando memoacuterias de um passado aqui vivido pelos alunos para o qual

muito contribuiacuteram textos selecionados de variados autores durienses

Porque era necessaacuteria uma autorizaccedilatildeo formal quer da direccedilatildeo do estabelecimento de

ensino quer tambeacutem dos Encarregados de Educaccedilatildeo dos alunos participantes para

nos ausentarmos do espaccedilo escolar aprendemos a escrever requerimentos tantas

vezes retomados quantas as saiacutedas jaacute verificadas

Todas as visitas agrave quinta satildeo precedidas de contactos telefoacutenicos efetuados pela

professora mas tambeacutem de menagens eletroacutenicas algumas das quais redigidas com

auxiacutelio dos discentes Aquelas satildeo detalhadamente planificadas em grupo turma assim

como os guiotildees daiacute resultantes Numa fase inicial pretendiacuteamos a recolha de imagens

fotograacuteficas e fiacutelmicas ndash enquanto representaccedilotildees do real percecionado e instrumento

de comunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo de conhecimento de discurso de ensinamento mas

tambeacutem como utensiacutelio de memorizaccedilatildeo e de observaccedilatildeo do real que traduzissem a

diversidade da fauna e da flora em diversos momentos do ano tendo em conta que se

trata de uma exploraccedilatildeo viniacutecola Para que esta atividade surtisse efeito procedemos

em muacuteltiplas ocasiotildees ao estudo preacutevio em contexto de sala de aula de diversos

tipos de imagem nomeadamente a sua linguagem especiacutefica e o seu valor proacuteprio

Dela extraiacutemos a maior quantidade de informaccedilatildeo e treinaacutemos algumas estrateacutegias da

sua leitura correta e adequada Natildeo raras vezes elaboraacutemos um guiatildeo de exploraccedilatildeo

fragmentada e com cadecircncia da imagem fixa e em movimento que passava pela

identificaccedilatildeo do tema da(s) teacutecnica(s) usadas dos modos de criaccedilatildeo da ilusatildeo do

espaccedilo e da luz (como nos quadros por exemplo) das marcas do estilo do periacuteodo

histoacuterico representado da linguagem simboacutelica e alegoacuterica subjacente mas tambeacutem

pela dimensatildeo pessoal que a observaccedilatildeo de uma imagem exige dos alunos em

consonacircncia com as suas experiecircncias e vivecircncias No final procuraacutevamos com todos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

177

estes elementos construir a sua significaccedilatildeo e contribuir para a familiarizaccedilatildeo dos

jovens com diferentes formas de comunicar Noutras ocasiotildees optaacutemos pela fruiccedilatildeo

plena da imagem sem mediaccedilatildeo da professora aproveitando-se as intervenccedilotildees orais

dos alunos para focar a sua atenccedilatildeo nos aspetos mais cientiacuteficos e importantes por

vezes complementados com esquemas para clarificaccedilatildeo do conteuacutedo da imagem Ateacute

ao momento presente jaacute foram redigidos textos expositivos sobre por exemplo os

tipos de vinha e de aacutervores de fruto um texto argumentativo ao serviccedilo de uma

anaacutelise criacutetica das mensagens visuais ou ainda um outro expressivo criativo e mais

intimista como a evocaccedilatildeo de memoacuterias infantis ou juvenis vivenciadas no Douro a

sua terra natal Por outro lado os alunos desenvolvem as suas capacidades percetivo-

visuais atraveacutes da composiccedilatildeo de mensagens icoacutenicas para se expressarem e

comunicarem com os demais o que exige algum domiacutenio do coacutedigo visual ndash eacute o caso

da combinaccedilatildeo de fotografias na mesma paacutegina do roteiro ou da produccedilatildeo de um filme

global e final do projeto para posterior divulgaccedilatildeo quer junto dos seguidores do

enoturismo desta quinta quer no Museu do Douro - mas tambeacutem da sua combinaccedilatildeo

com outras linguagens como por exemplo a legendagem de fotografias entre outras

situaccedilotildees

Para facilitar este trabalho servimo-nos uma vez mais dos meios de comunicaccedilatildeo

social neles procurando imagens plaacutesticas e anuacutencios publicitaacuterios sobre variados

temas reportagens notiacutecias e documentaacuterios sobre o Douro e as suas realidades

histoacutericas geograacuteficas econoacutemicas ambientais e sociais e revistas especializadas

sobre o vinho A literatura aparece associada ao Douro Portanto a leitura integral de

A Cidade e as Serras de Eccedila de Queiroacutes tem ajudado na seleccedilatildeo das melhores imagens

para o roteiro O trabalho levado a cabo tem sustentado outras atividades

conducentes ao nosso roteiro paisagiacutestico

Ainda para essas deslocaccedilotildees agrave quinta a entrevista jaacute mereceu a nossa atenccedilatildeo quer

para recolha de informaccedilatildeo sobre a regiatildeo duriense quer para anaacutelise criacutetica quanto agrave

sua especificidade e complexidade ao niacutevel da tipologia e estrutura para posterior

preparaccedilatildeo e realizaccedilatildeo de outras como a do proprietaacuterio de uma quinta produtora de

vinho a do seu caseiro e as de alguns dos seus hoacutespedes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

178

Os editoriais os artigos de opiniatildeo e a croacutenica (radiofoacutenica e da imprensa) foram

outros geacuteneros textuais do discurso jornaliacutestico estudados quanto agraves suas

propriedades Nestes textos a dimensatildeo argumentativa eacute particularmente relevante

dado que o locutor pretende fazer com que os seus alocutaacuterios adiram agraves suas teses

convencendo-os e persuadindo-os Por conseguinte estudaacutemos as sequecircncias de tipo

argumentativo dominantes em textos deste geacutenero Separaacutemos a responsabilidade da

opiniatildeo em cada um deles e refletimos sobre as macroproposiccedilotildees integradoras das

sequecircncias textuais de tipo argumentativo enquanto modos de estruturaccedilatildeo textual

para nos apercebermos do modo de ordenaccedilatildeo das premissas e da conclusatildeo

Com base na leitura destes geacuteneros textuais recolhidos essencialmente na imprensa e

com temaacuteticas atuais e variadas os alunos encontraram modelos para a produccedilatildeo dos

seus textos argumentativos subordinados a temaacuteticas variadas alguns dos quais

integraratildeo o roteiro paisagiacutestico que estatildeo a construir sendo outros uacuteteis noutros

contextos adjacentes ao decurso do referido projeto Todo este trabalho de

desenvolvimento da competecircncia da escrita tem decorrido nas chamadas ldquooficinas de

escritardquo espaccedilo privilegiado de verdadeiras aprendizagens do processo da escrita nas

quais tem sido possiacutevel trabalhar os seus trecircs sub-processos - planificaccedilatildeo redaccedilatildeo e

revisatildeo - de modo recursivo e interativo

A reportagem tem sido outro geacutenero discursivo trabalhado em contexto de sala de

aula sobretudo pelo seu efeito perlocutoacuterio pretendido - o de informar - sendo a

funccedilatildeo denotativa a funccedilatildeo da linguagem predominante Neste aspeto evidencia

caracteriacutesticas proacuteprias da notiacutecia e da entrevista esta uacuteltima por poder integrar

sequecircncias de tipo dialogal ao colocar questotildees e ao obter respostas dos indiviacuteduos

entrevistados Foi o que aconteceu por exemplo com uma reportagem sobre o

enoturismo extraiacuteda da revista Visatildeo que foi determinante na preparaccedilatildeo das

entrevistas aos turistas da quinta duriense envolvida no projeto

Associada agrave reportagem surgiu a notiacutecia com a qual o locutor pretende divulgar um

acontecimento ou um conjunto de eventos de variada natureza com correspondecircncia

entre os conteuacutedos veiculados e a realidade objetiva atestaacutevel Sobejamente estudada

no ensino baacutesico recordaacutemos a seleccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos conteuacutedos no texto e a sua

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

179

dimensatildeo informativa quer se tratasse de uma notiacutecia escrita em suporte papel ou

digital quer produzida oralmente na televisatildeo e na raacutedio Este contacto visava a

recolha de dados sobre a referida quinta as figuras de D Antoacutenia Ferreira e do seu

descendente direto atual proprietaacuterio da quinta o Douro e as vindimas Estes dados

tecircm-se revelado muito uacuteteis na elaboraccedilatildeo do nosso roteiro

Para divulgaccedilatildeo de todas as atividades jaacute levadas a cabo e os objetivos subjacentes agrave

investigaccedilatildeo universitaacuteria por detraacutes da construccedilatildeo do roteiro em suporte papel e

audiovisual os alunos foram ainda chamados a conhecer o comunicado de imprensa

para posterior redaccedilatildeo de um Mais uma vez tratou-se de uma ocasiatildeo propiacutecia ao

desenvolvimento da competecircncia da escrita ao permitir que os alunos tomassem

consciecircncia deste modo especiacutefico de comunicar em sociedade Na verdade para a

redaccedilatildeo do nosso comunicado de imprensa os alunos tiveram de adequar o texto agrave

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo tendo em conta os objetivos que presidiam agrave sua produccedilatildeo e

o leitor a quem se destinava cujo contexto proacuteprio e necessidade de informaccedilatildeo

determinavam a estrutura conteuacutedo e organizaccedilatildeo textuais

A curto prazo e a propoacutesito da descriccedilatildeo da geologia da vinha dos socalcos e muros

das aacutervores em suma da paisagem da quinta em estudo os alunos teratildeo de ler artigos

cientiacuteficos sobretudo em revistas especializadas para procederem agrave escrita de textos

expositivos e descritivos sobre aquelas realidades e que constaratildeo do roteiro

Contudo jaacute tiveram ocasiatildeo de escrever textos poeacuteticos e intimistas a partir das suas

deslocaccedilotildees agrave quinta em oficinas de escrita criativa como aquela focada na teacutecnica do

ldquopasticherdquo numa imitaccedilatildeo aberta do estilo de Cesaacuterio Verde

Todos estes textos produzidos pelos alunos constam do seu portefoacutelio de

aprendizagem perspetivado agora tambeacutem como um dossiecirc evolutivo e foram

submetidos a uma avaliaccedilatildeo formativa A professora analisou-os diagnosticou os

problemas ou as dificuldades valorizou os aspetos considerados jaacute adquiridos ou

aperfeiccediloados orientou os alunos ndash sempre na posse de todas estas informaccedilotildees - na

melhoria desta competecircncia ajudando-os e motivando-os a aprender a desenvolver-

se Destacou sempre a importacircncia do processo relegando para segundo plano o

produto Consequentemente o portefoacutelio foi sempre avaliado ou observado pelo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

180

desenvolvimento da competecircncia visada e pelo envolvimento do aluno (autor do

portefoacutelio) no processo de construccedilatildeo dos seus proacuteprios saberes que tem aprendido a

refletir ndash em associaccedilatildeo permanente com a capacidade de julgar e de corrigir - a ter

em conta as sugestotildees que a professora foi fazendo ao longo da realizaccedilatildeo da tarefa a

experimentar a reformular a explicitar as decisotildees a ganhar autonomia e a conceber

a sua trajetoacuteria e a tomar consciecircncia das suas aprendizagens e das estrateacutegias de

regulaccedilatildeo que adotou Analisaacutemos sempre as suas escolhas e as suas justificaccedilotildees

verificaacutemos a eficaacutecia das estrateacutegias cognitivas e metacognitivas utilizadas e o seu

pensamento criativo e criacutetico Finalmente avaliaacutemos o trabalho cooperativo com os

seus pares e os diferentes contextos sociais nos quais fez a sua aprendizagem

3 Conclusotildees

Ainda que o projeto natildeo tenha sido concluiacutedo podemos adiantar que os resultados

obtidos com as atividades desenvolvidas ateacute ao momento presente se revelam jaacute

bastante positivos

Em primeiro lugar a anaacutelise dos textos produzidos pelos alunos cuja evoluccedilatildeo eacute

notoacuteria demonstra as potencialidades da abordagem da metodologia de trabalho de

projeto para promover aprendizagens significativas Os textos que escrevemos

surgiram porque necessitaacutevamos deles para prosseguir o roteiro proporcionando aos

discentes o contacto com uma variedade de geacuteneros textuais que ultrapassa os

previstos no programa de Portuguecircs do ensino secundaacuterio

Aleacutem disso na escola as atividades pedagoacutegicas relacionadas com a imagem

constituiacuteram formas de ldquoalfabetizaccedilatildeo visualrdquo ao permitirem aos alunos a

compreensatildeo e domiacutenio de uma linguagem com o seu sistema proacuteprio de

representaccedilatildeo utilizada como elemento de comunicaccedilatildeo afinal a linguagem com a

qual eles mais se defrontam no seu dia a dia fora da escola da qual gostam e a qual

procuram para se expressarem Acreditamos que eacute preciso ensinar a ver uma imagem

pois eacute importante interpretaacute-la nela descobrindo as suas conotaccedilotildees e as suas

potencialidades interpretativas assim como o essencial e o acessoacuterio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

181

Por outro lado e aproveitando os ensinamentos da investigaccedilatildeo temos criado

momentos reais de escrita nos quais os contextos entendidos como situaccedilatildeo

comunicativa (quem escreve a quem escreve com que intenccedilatildeo o faz) e como espaccedilo

social se sobrepotildeem Comeccedilamos a compreender como os alunos constroem o seu

saber sobre a liacutengua atraveacutes de situaccedilotildees que lhes permitam relacionar os conteuacutedos

da aprendizagem com as atividades de produccedilatildeo e de compreensatildeo em contextos que

lhes datildeo sentido respeitando o seu estaacutedio de desenvolvimento linguiacutestico cognitivo e

emocional Todo este trabalho tem sido facilitado pela uso do portefoacutelio de

aprendizagem

Ao mesmo tempo temos registado uma preocupaccedilatildeo em respeitar os conteuacutedos

processuais no momento de produccedilatildeo escrita com reflexos transversais noutras

disciplinas

Tambeacutem o empenhamento destes tem sido notoacuterio pois sentem jaacute o projeto como

seu indo ao encontro dos seus interesses e necessidades mobilizando diversos

saberes adequados a uma situaccedilatildeo concreta e implicando um fazer que se desenrola

no tempo sempre aberto agrave transformaccedilatildeo agrave descoberta agraves ideias novas e agrave resoluccedilatildeo

de problemas imprevistos apresentando-se como cenaacuterio ideal de uma verdadeira

aprendizagem laquoEsta dimensatildeo de reflexatildeo alarga o relacionamento do indiviacuteduo com

os textos escritos constituindo-os como objetos de descoberta e de projeccedilatildeo para

novas possibilidades a partir das experiecircncias do sujeitoraquo (BARBEIRO 20063)

Sabendo ainda que a motivaccedilatildeo individual e os objetivos que cada aluno se propotildee

atingir com determinada atividade de escrita satildeo determinantes no sentido a atribuir-

lhe na metodologia de trabalho de projeto que nos tem servido de orientaccedilatildeo na

nossa investigaccedilatildeo tecircm sido concebidas situaccedilotildees de aprendizagem escolar da

composiccedilatildeo escrita relacionadas tambeacutem com os conteuacutedos curriculares e as suas

finalidades com significado na relaccedilatildeo com o todo atraveacutes das interaccedilotildees verbais das

pessoas que partilham um mesmo contexto de comunicaccedilatildeo aprendendo a conhecer

e a participar na complexa realidade social na qual se constroem como pessoas Eacute

nesta dinacircmica que os geacuteneros discursivos tecircm sido convocados e trabalhados

detalhadamente em sequecircncias didaacuteticas planificadas permitindo a entrada noutras

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

182

aacutereas do conhecimento na construccedilatildeo de uma interdisciplinaridade de saberes e de

uma transversalidade da escrita afinal tatildeo desejadas neste niacutevel de ensino Como

afirma Anna Camps (200523-24) laquo[a] linha de investigaccedilatildeo sobre o ensino da

composiccedilatildeo escrita a partir de sequecircncias didaacuteticas baseadas em projetos tem

permitido avanccedilar na anaacutelise dos dois processos o de composiccedilatildeo textual que tem os

seus proacuteprios objetivos na dinacircmica da comunicaccedilatildeo verbal e o de ensino e

aprendizagem dos procedimentos e dos conteuacutedos linguiacutestico-discursivos do geacutenero

sobre o qual se trabalharaquo

Por outro lado na avaliaccedilatildeo do portefoacutelio temos seguido o modelo construtivista da

aprendizagem damos agrave avaliaccedilatildeo formativa uma funccedilatildeo de regulaccedilatildeo quer da

pedagogia quer das atitudes e procedimentos dos alunos face agraves suas aprendizagens

aceitamos o erro como processo de formaccedilatildeo enquadramos a avaliaccedilatildeo nas atividades

de aprendizagem em situaccedilotildees reais e indispensaacuteveis ao prosseguimento da realizaccedilatildeo

do roteiro paisagiacutestico praticamos uma avaliaccedilatildeo autecircntica ao monitorizarmos a

produccedilatildeo do discente integramos sistematicamente a praacutetica da autoavaliaccedilatildeo e

coavaliaccedilatildeo privilegiando uma avaliaccedilatildeo mais qualitativa que quantitativa motivando

continuamente o aluno a avanccedilar no seu processo (individual) de aprendizagem da

competecircncia da escrita e cujo talento acaba por demonstrar porque a escrita aprende-

se escrevendo Pensamos que esta eacute a melhor forma de obtermos a motivaccedilatildeo e o

sucesso de uma aprendizagem da escrita autecircntica e significativa para o aluno

Segundo Conceiccedilatildeo Coelho (200352) laquoUma pedagogia da escrita soacute promoveraacute o

sucesso se o aluno desempenhar continuamente um papel ativo em todos os

momentos do processo sobretudo e tambeacutem na revisatildeo textual que deve ser

entendida como um aperfeiccediloamento sistemaacutetico na praacutetica pedagoacutegicaraquo

Finalmente o desenvolvimento deste projeto tem permitido a abordagem do conceito

pleno de ldquoliteracyrdquo de conteuacutedos de forma apelativa e facilitado a compreensatildeo e a

aquisiccedilatildeo de conhecimentos a capacidade criacutetica o enriquecimento do pensamento a

intensificaccedilatildeo das emoccedilotildees a estimulaccedilatildeo do sonho da imaginaccedilatildeo e da criatividade

Simultaneamente registamos a participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo dos alunos cuja

socializaccedilatildeo e integraccedilatildeo na comunidade local e nacional aparecem mais facilitadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

183

devido agrave compreensatildeo do mundo que os rodeia porque defendemos uma escola

atualizada e interessante com alunos ativos que interagem entre si e com o professor

em aulas necessariamente mais dinacircmicas

Perspetivada como contributo na construccedilatildeo de uma didaacutetica eficaz da escrita com

vista ao cumprimento da funccedilatildeo e da responsabilidade exclusiva da escola - o ensino

desta competecircncia da qual nenhum professor se deveria alhear pois soacute a ele compete

reservando um espaccedilo para a escrita - temos delineado a nossa investigaccedilatildeo na busca

de soluccedilotildees para os obstaacuteculos relativos agrave incapacidade de conciliaccedilatildeo dos conteuacutedos

programaacuteticos previstos para a disciplina de Portuguecircs no ensino secundaacuterio com a

carga horaacuteria semanal a ela atribuiacuteda e com a tarefa exigida de ldquorecuperaccedilatildeordquo e de

ldquoremediaccedilatildeordquo de aprendizagens linguiacutesticas ldquoincompletasrdquo ou mal sucedidas

anteriormente natildeo descurando o interesse do aluno e o exame que o aguarda no final

deste ciclo Acreditamos que eacute possiacutevel ensinar e aprender a escrever neste niacutevel de

ensino respeitando o estipulado no programa oficial praticando nas aulas de

Portuguecircs a escrita como atividade segundo criteacuterios e frequecircncia determinados pelo

cumprimento de um projeto participado e condicionado por uma variedade de fatores

especiacuteficos desta modalidade de trabalho Com ele achamos que eacute possiacutevel propor

uma intervenccedilatildeo que se revele mais eficaz no domiacutenio da escrita integrando todos os

conhecimentos e competecircncias interligadas e relativas ao funcionamento e agrave produccedilatildeo

do escrito para aleacutem das operaccedilotildees cognitivas numa tentativa de explicitar os

procedimentos a adotar que natildeo se confinam agraves praacuteticas corretivas ndash tantas vezes

fluidas feitas de forma empiacuterica reforccedilando a ideia errada de que a avaliaccedilatildeo dos

escritos eacute em Portuguecircs muito subjetiva - antes tecircm passado pelo ensino processual

da escrita conducente agrave sua real aprendizagem associado sempre agrave motivaccedilatildeo do

aluno e agraves aprendizagens anteriores

Encontrar uma resposta a questotildees como esta representaraacute um modesto contributo

na construccedilatildeo de uma verdadeira didaacutetica da escrita na aula de Portuguecircs do ensino

secundaacuterio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

184

Referecircncias bibliograacuteficas

BARBEIRO Luiacutes (2006) Processo e produtos de escrita no desenvolvimento de projectos Disponiacutevel em lthttpalmadaformaorgproformarrevistaedicao_15proc_escr_desen_projectospdfgt [Consulta realizada em 18082011] BARBEIRO Luiacutes (2007) A escrita no trabalho de projecto construccedilatildeo de conhecimento e eventos de literacia Disponiacutevel em lthttpsedllorgesadminuploadscongresos12act21Barbeiro_Lgt [Consulta realizada em 18082011] CAMPS Anna (2005) ldquoPontos de vista sobre o ensino-aprendizagem da expressatildeo escritardquoIn Joseacute A Brandatildeo Carvalho et alii (Org) (2005) A escrita na Escola Hoje Problemas e Desafios Atas do II Encontro de reflexatildeo sobre o ensino da escrita Universidade do Minho Instituto de Educaccedilatildeo e Psicologia pp 11-26 CARVALHO Joseacute A Brandatildeo (1999) ndash O ensino da escrita Da teoria agraves praacuteticas pedagoacutegicas Universidade do Minho Instituto de Educaccedilatildeo e Psicologia pp 11-26 CARVALHO Joseacute A Brandatildeo (2011) ldquoA Escrita como objeto escolar ndash contributo para a sua (re)configuraccedilatildeordquo In Isabel Duarte amp Oliacutevia Figueiredo (Orgs) Portuguecircs Liacutengua e Ensino Porto U Porto Editorial pp76-105 COELHO Conceiccedilatildeo e Campos Joana (2003) Como abordarhellipO Portfolio na sala de aula Porto Areal Editores MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO (2001) Programa de Portuguecircs 10ordm 11ordm e 12ordm anos Cursos Cientiacutefico- Humaniacutesticos e Cursos Tecnoloacutegicos Lisboa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Departamento do Ensino Secundaacuterio NIZA Seacutergio (2007) ldquoPrefaacuteciordquo In Inaacutecia Santana (2007) A aprendizagem da escrita Estudo sobre a revisatildeo cooperada de texto Porto Porto Editora 2007 p13-6

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

185

Relatoacuterio de Estaacutegio Que desafios(s) para a avaliaccedilatildeo das

aprendizagens Uma anaacutelise a partir de um Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar numa Escola Superior de Educaccedilatildeo

ANA SIMOtildeES

Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

anasimoeseselxiplpt

Resumo A formaccedilatildeo profissional nomeadamente a formaccedilatildeo profissionalizante (2ordmCiclo de

Estudos no acircmbito de Bolonha) tem vindo a ser alvo de discussatildeo entre as diferentes

aacutereas do conhecimento nomeadamente no que respeita agraves possiacuteveis metodologias de

avaliaccedilatildeo a adotar (praacuteticas profissionais supervisionadas elaboraccedilatildeo de portefoacutelios

individuais realizaccedilatildeo de trabalhos de grupo com acompanhamento tutorial redaccedilatildeo

de Relatoacuterios de Estaacutegio entre outras)

A presente comunicaccedilatildeo tem como principal objetivo discutir e analisar as conceccedilotildees

dos educadores de infacircncia receacutem-formados acerca da educaccedilatildeo de infacircncia e das

aprendizagens realizadas no acircmbito da Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

atraveacutes da anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio elaborados no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar de uma escola superior de educaccedilatildeo especificamente os que

dizem respeito a um grupo de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 2011-2012 e

2012-2013 Nesta anaacutelise seratildeo privilegiados os seguintes eixos i) a caracterizaccedilatildeo

reflexiva do contexto socioeducativo ii) a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo iii) as

consideraccedilotildees finais realizadas Pretende-se a partir desta anaacutelise identificar e

compreender os potenciais desafios (que elementos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo Como

caracterizar de forma reflexiva um determinado contexto socioeducativo) trazidos

ao processo de avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos mestrandos do curso em questatildeo

O quadro teoacuterico de referecircncia centra-se numa revisatildeo de literatura sobre a formaccedilatildeo

profissional dos educadores de infacircncia e sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos

adultos

A metodologia utilizada de natureza qualitativa inclui anaacutelise documental (objetivos

do curso perfil profissional de saiacuteda guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de

Estaacutegio) e a subsequente anaacutelise de conteuacutedo Os resultados obtidos apontam para as

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

186

seguintes conclusotildees se por um lado todos (12) os mestrandos do estudo seguiram

escrupulosamente o guiatildeo fornecido pela equipa de docentes da Praacutetica Profissional

Supervisionada para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de Estaacutegio por outro lado e no que se

relaciona com a caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo a anaacutelise reflexiva

da intervenccedilatildeo e as consideraccedilotildees finais realizadas constata-se que existem diferenccedilas

significativas na estrutura organizativa do discurso escrito na escolha do quadro

teoacuterico de referecircncia bem como nas reflexotildees pessoais realizadas Enquanto que os

mestrandos (5) do ano letivo 2010-2011 demonstram ter optado por construir um

quadro teoacuterico de referecircncia ancorado preferencialmente por referecircncias

bibliograacuteficas relacionadas com a Educaccedilatildeo de Infacircncia e facultadas pela equipa de

docentes do mestrado em estudo os mestrandos do ano letivo 2011-2012 (3) optaram

por recorrer a um quadro teoacuterico de referecircncia mais alargado e abrangente no qual se

pode verificar tambeacutem a existecircncia de uma consulta e anaacutelise documental frequente

sobre a legislaccedilatildeo em vigor para o acircmbito da Educaccedilatildeo de Infacircncia Por sua vez os

mestrandos que terminaram a sua formaccedilatildeo no ano letivo 2012-2013 (4)

demonstraram na elaboraccedilatildeo dos seus relatoacuterios de estaacutegio uma preocupaccedilatildeo e

intenccedilatildeo claras em dar resposta a todas as questotildees colocadas fazendo emergir

algumas questotildees de fundo 1) por que razatildeo os relatoacuterios de estaacutegio analisados

apresentam diferenccedilas significativas nas aprendizagens realizadas pelos mestrandos

em estudo 2) Quais as possiacuteveis razotildees para estas diferenccedilas 3) Que aprendizagens

realizaram estes mestrandos e quais foram as mais significativas Estes satildeo alguns dos

possiacuteveis desafios colocados agrave avaliaccedilatildeo das aprendizagens

Palavras-chave Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-escolar Relatoacuterios de Estaacutegio Avaliaccedilatildeo

das Aprendizagens

Abstract

Vocational training including professional qualification (within the second cycle of the

Bologna Process) has been the subject of discussions between different areas of

knowledge Attention has been specially paid to possible evaluation methodologies

(mentoring of professional practices preparation of individual portfolios conducting

group work with tutorial guidance writing Apprenticeship Reports among others)

The main goal of the present work is to analyse the Apprenticeship Reports made

during a second cycle program in Master in Preschool Education of the Higher School

of Education A convenience sample of reports written by students of academic years

2010-2011 2011-2012 and from 2012-2013 is considered In this analysis the

following will be privileged axes i) the reflective characterization of the educational

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

187

context ii) the reflective analysis of their own teaching practices iii) the contents of

the final remarks It is intended therefore to understand and analyse the potential

challenges brought to the process of assessment of these studentsrsquo learning

The theoretical framework focuses on a literature review on training of early childhood

educators (Cardona 2002 Moita 2012 and Vasconcelos 2009 2012) and on

assessment of adultsrsquo learning (Danis amp Solar 2001 and Fernandes 2008) A qualitative

methodology was used including document analysis (course objectives expected

professional profile guidelines for writing the apprenticeship report) and subsequent

content analysis

The results achieved point to the following conclusions if on the one hand all (12) the

students of the study followed precisely the script provided by the team of teachers

on the other side and in what relates to the characterization of the reflective

educational context a reflective analysis of the intervention and the final

considerations carried out noted that there are significant differences in organizational

structure of speech writing in the choice of theoretical framework of reference as well

as on personal reflections While the master students (5) of the school year 2010-2011

show to build a theoretical framework for bibliographic references related to

childhood and education provided by the team of teachers of the master in study

students of the school year 2011-2012 (3) opted for a wider theoretical framework of

reference which we can also check the existence of a query and documental analysis

on legislation regarding childhood education In turn students who have completed

their training in the academic year 2012-2013 (4) demonstrate in the preparation of

their reports to internship a concern and a clear intent in responding to all the

questions subjected and triggering some substantive issues 1) Why the internship

reports analysed have significant differences in the accomplished learning undertaken

by graduate students in study 2) What are the possible reasons for these differences

3) What did the masters learned and what was the most significant subject These are

some of the possible challenges to the evaluation of learning

Keywords Masters Degree in Preschool Education Apprenticeship Report

assessment of learning

Introduccedilatildeo

Esta comunicaccedilatildeo tem como principal objetivo discutir e analisar as conceccedilotildees dos

educadores de infacircncia receacutem-formados acerca da educaccedilatildeo de infacircncia e das

aprendizagens realizadas no acircmbito da Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

188

atraveacutes da anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio elaborados no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar de uma escola superior de educaccedilatildeo especificamente os que

dizem respeito a um grupo de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 2011-2012 e

2012-2013

O quadro teoacuterico de referecircncia centra-se numa revisatildeo de literatura sobre a formaccedilatildeo

profissional dos educadores de infacircncia (Cardona 2002 Moita 2012 Vasconcelos

2009) e sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos adultos (Danis amp Solar 2001

Fernandes 2008)

A formaccedilatildeo profissional nomeadamente a formaccedilatildeo profissionalizante (2ordmCiclo de

Estudos no acircmbito de Bolonha) tem vindo a ser alvo de discussatildeo entre as diferentes

aacutereas do conhecimento nomeadamente no que respeita agraves possiacuteveis metodologias de

avaliaccedilatildeo a adotar (praacuteticas profissionais supervisionadas elaboraccedilatildeo de portefoacutelios

individuais realizaccedilatildeo de trabalhos de grupo com acompanhamento tutorial redaccedilatildeo

de Relatoacuterios de Estaacutegio entre outras)

A formaccedilatildeo profissional dos educadores de infacircncia ministrada nas escolas superiores

de educaccedilatildeo (puacuteblicas e privadas) portuguesas tem vindo a sofrer uma evoluccedilatildeo

significativa no que se relaciona com a avaliaccedilatildeo das aprendizagens (processos

criteacuterios elementos) dos seus alunosmestrandos (jovens adultos) Nesse sentido um

dos elementos de avaliaccedilatildeo privilegiado nos mestrados profissionalizantes eacute a

elaboraccedilatildeo de um Relatoacuterio de Estaacutegio que deveraacute ilustrar todo o processo da praacutetica

pedagoacutegica vivida por cada alunomestrando

No que se refere ao Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e a uma reflexatildeo mais

aprofundada sobre a Educaccedilatildeo de Infacircncia considerada por Cardona (200223) como

ldquotoda a contribuiccedilatildeo direta ou indireta para o bem-estar das crianccedilasrdquo os mestrandos

satildeo convocados a refletir sobre as suas praacuteticas pedagoacutegicas a partir de um referencial

teoacuterico no campo da Educaccedilatildeo de Infacircncia A esse propoacutesito e no acircmbito da formaccedilatildeo

profissional Vasconcelos (2009) afirma que se passou de uma visatildeo assistencialista

(relacional) para uma visatildeo educativa e pedagoacutegica (desenvolvimento socioemocional

das crianccedilas) e que por essa razatildeo a reflexatildeo sobre a praacutetica profissional na formaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

189

de educadores de infacircncia eacute fundamental para a melhoria da qualidade das praacuteticas

pedagoacutegicas desejando-se de forma exigente e cada vez mais atingir a excelecircncia

Moita (201245) reitera que ldquoa educaccedilatildeo eacute uma ocupaccedilatildeo eacuteticardquo e defende uma Eacutetica

na formaccedilatildeo profissional dos educadores de infacircncia que corresponde ao ldquolugar por

excelecircncia das decisotildees pessoais que fundamentam e conferem sentido ao agirrdquo agrave

ldquoresponsabilidade em relaccedilatildeo ao outrordquo (Moita 201231-32)

Mas que outro eacute este Eacute a crianccedila com quem se interveacutem eacute a famiacutelia dessa crianccedila eacute

a equipa na qual se estaacute integrado(a) satildeo todos os que interagem direta eou

indiretamente com cada profissional da infacircncia

Segundo Danis (2001) o adulto que estaacute em processo de formaccedilatildeo

profissionalprofissionalizante estaacute em constante aprendizagem num processo de

desenvolvimento pessoal e profissional atraveacutes da descoberta do sentido profundo

dos acontecimentos experienciais (experiecircncias vividas) que satildeo integrados no seu

pensamento a partir de uma tomada de consciecircncia pessoal Com efeito satildeo estas

experiecircncias pessoais e profissionais aliadas a uma atitude reflexiva e eticamente

situada que permitem realizar aprendizagens e avaliar as mesmas Para Fernandes

(2008) a avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos adultos visa a melhoria das proacuteprias

aprendizagens sustentada por trecircs razotildees o desenvolvimento das teorias do

desenvolvimento e da aprendizagem o desenvolvimento das teorias do curriacuteculo e a

democratizaccedilatildeo dos sistemas educativos

Metodologia um estudo preliminar

A metodologia utilizada de natureza qualitativa inclui anaacutelise documental (objetivos

do curso perfil profissional de saiacuteda guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de

Estaacutegio) da escola superior de educaccedilatildeo em estudo e a subsequente anaacutelise de

conteuacutedo De um universo de cerca de 60 mestrandosano letivo foram analisados os

Relatoacuterios de Estaacutegio de um grupo (12) de mestrandos dos anos letivos 2010-2011 (5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

190

2011-2012 (3) e 2012-2013 (4)32 Trata-se portanto de um estudo preliminar Na

anaacutelise realizada foram privilegiados os seguintes eixos i) a caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo ii) a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo iii) as consideraccedilotildees

finais realizadas Pretende-se a partir desta anaacutelise identificar e analisar os potenciais

desafios trazidos ao processo de avaliaccedilatildeo das aprendizagens dos mestrandos do curso

em questatildeo

Seguidamente far-se-aacute uma breve apresentaccedilatildeo de um Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar ministrado numa Escola Superior de Educaccedilatildeo puacuteblica portuguesa a escola em

estudo nesta comunicaccedilatildeo

O MEPE da Escola Superior de Educaccedilatildeo em anaacutelise ldquo (hellip) confere habilitaccedilatildeo

profissional para a docecircncia na Educaccedilatildeo Preacute-Escolar possibilita uma qualificaccedilatildeo

sustentada por praacuteticas de ensino supervisionadas em contextos educativos nos niacuteveis

de ensino para que habilita assumindo como referecircncia os perfis de desempenho

docente e os planos curriculares da educaccedilatildeo baacutesicardquo Tem como principal objetivo ldquo

(hellip) capacitar profissionais para o desempenho de funccedilotildees docentes em creche e

jardim-de-infacircncia Prepara ainda para o desempenho de funccedilotildees educativas em ATL

e em outros contextos socioeducativos para a infacircnciardquo (Fonte

wwweselxiplptmestradosmepeindexhtml)

No que se refere ao perfil profissional de saiacuteda o MEPE defende que no final do curso

os estudantes deveratildeo ser capazes de ldquointegrar-se e relacionar-se de forma positiva

com as equipas os educadores cooperantes crianccedilas e suas famiacutelias (hellip) construir um

modelo pessoal de intervenccedilatildeo educativa reflectido e fundamentado e (hellip)

implementar abordagens investigativas como motor essencial das mudanccedilas das

praacuteticas pedagoacutegicasrdquo (Fonte httpwwweselxiplptmestradosmepeindexhtml)

32

Nota da autora a opccedilatildeo por analisar os relatoacuterios de Estaacutegio deste grupo de mestrandos (12) e natildeo de outros mestrandos deveu-se ao facto do acesso a estes documentos ter sido privilegiado (acesso em tempo uacutetil)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

191

Relatoacuterios de Estaacutegio33 que desafio(s) para a avaliaccedilatildeo das aprendizagens Uma

anaacutelise preliminar

O Relatoacuterio de Estaacutegio eacute um dos elementos de avaliaccedilatildeo da unidade curricular Praacutetica

Profissional Supervisionada (PPS) que integra o Plano de Estudos do MEPE da escola

superior de educaccedilatildeo em anaacutelise (consultar Quadro 1 Plano de Estudos do MEPE (2

semestres)

Quadro 1 Plano de Estudos do MEPE (2 semestres)

Unidades Curriculares Aacuterea Cientiacutefica Tipo

Organizaccedilatildeo e Desenvolvimento na Educaccedilatildeo de Infacircncia (0-6)

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Desenvolvimento e Aprendizagem (0-6)

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Necessidades Educativas Especiais e Intervenccedilatildeo Precoce

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Matemaacutetica em Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Liacutengua Portuguesa em Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Conhecimento do Mundo e Educaccedilatildeo de Infacircncia

Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Expressotildees e Educaccedilatildeo Fiacutesica Didaacuteticas Especiacuteficas Semestral

Administraccedilatildeo e Gestatildeo Educacional

Educaccedilatildeo Geral Semestral

Projetos Curriculares Integrados Educaccedilatildeo Geral Semestral

Seminaacuterio de Apoio agrave Praacutetica Profissional Supervisionada (0-3

e 3-6)

Educaccedilatildeo Geral Anual

Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS) (0-3 e 3-6)

PPS Anual

Fonte Adaptado de

httpwwweselxiplpteselxdownloadsSAcademicosMestrados2012_13plano_pre_escolarpdf

33

Nota da autora Ao fazer-se referecircncia ao Estaacutegio na Escola Superior de Educaccedilatildeo em anaacutelise utiliza-se a expressatildeo Praacutetica Profissional Supervisionada (PPS)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

192

No que respeita aos Relatoacuterios de Estaacutegio dos 12 mestrandos o Quadro 2 apresenta a

caracterizaccedilatildeo de cada mestrando por geacutenero e ano letivo a que pertenceram na

escola de formaccedilatildeo

Quadro 2 Caracterizaccedilatildeo dos mestrandos (geacutenero e ano letivo)

Mestrando (M)

Geacutenero (MF)

2010-2011 2011-2012 2012-2013

M1 (F) X

M2 (F) X

M3 (M) X

M4 (F) X

M5 (M) X

M6 (F) X

M7 (F) X

M8 (F) X

M9 (F) X

M10 (F) X

M11 (F) X

M12 (F) X

No que se refere aos trecircs eixos de anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio (Quadro 3)

apresentam-se alguns subpontos que se consideraram na discussatildeo e anaacutelise dos

resultados obtidos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

193

Quadro 3 Os trecircs eixos de anaacutelise dos Relatoacuterios de Estaacutegio

1 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo

2 Anaacutelise reflexiva da

intervenccedilatildeo

3 Consideraccedilotildees finais

realizadas

11 Caracterizaccedilatildeo para a accedilatildeo 21 Identificaccedilatildeo e

fundamentaccedilatildeo das intenccedilotildees

para a accedilatildeo pedagoacutegica

31 Caracterizaccedilatildeo do impacto

da intervenccedilatildeo

12 Siacutentese global e articulaccedilatildeo

de pontos convergentes e

explicitaccedilatildeo de especificidades

22 Identificaccedilatildeo da

problemaacutetica (que justifica o

tiacutetulo do Relatoacuterio a partir do

ano letivo 2011-2012)

32 Reflexatildeo sobre a construccedilatildeo

da identidade profissional

Fonte Guiatildeo para a elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio da Praacutetica Profissional Supervisionada

Discussatildeo e anaacutelise dos resultados

O Quadro 4 apresenta os resultados obtidos no que diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo

reflexiva do contexto socioeducativo realizada por cada mestrando organizada por

anos letivos (consultar Quadro 4 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo

(SimNatildeo)

Quadro 4 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo (SimNatildeo)

Mestrando

(M)

Ano letivo

2010-2011 2011-2012 2012-2013

M1 Sim com referecircncias teoacutericas

expliacutecitas e pertinentes

M2 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M3 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M4 Sim com referecircncias teoacutericas

expliacutecitas e pertinentes

M5 Sim com referecircncias teoacutericas

pouco adequadas

M6 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

194

M7 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

M8 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco

adequadas

M9 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M10 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M11 Sim com referecircncias

teoacutericas adequadas

M12 Sim com referecircncias

teoacutericas pouco adequadas

No que diretamente se relaciona com o eixo de anaacutelise 1 Caracterizaccedilatildeo reflexiva do

contexto socioeducativo pode verificar-se que todos (12) os mestrandos

caracterizaram de forma mais ou menos reflexiva os contextos socioeducativos nos

quais decorreram as suas praacuteticas profissionais supervisionadas sendo que a M2 o

M3 o M5 a M6 a M7 M8 e M12 fizeram-no mas com base em referecircncias teoacutericas

pouco adequadas A tiacutetulo de exemplo apresentam-se aqui alguns excertos dos

relatoacuterios analisados ldquoRelativamente aos materiais existe variedade de recursos natildeo

soacute em quantidade mas tambeacutem em relaccedilatildeo a diferentes intencionalidades O

conhecimento dos mesmos eacute importante para a praacutetica uma vez que permite

proporcionar diferentes experiecircncias agraves crianccedilasrdquo (M2)

ldquoNo que diz respeito ao espaccedilo fiacutesico do Jardim-de-Infacircncia algumas das estrutura

fiacutesicas da instituiccedilatildeo encontram-se degradadas pela antiguidade da instituiccedilatildeo (hellip)

As paredes da sala que dividem a sustentaccedilatildeo do preacutedio dividem a sala ao meio

retirando visibilidade aos adultos da sala e condicionando a realizaccedilatildeo de actividades

que envolvam a utilizaccedilatildeo de uma aacuterea mais alargadardquo (M5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

195

A M12 afirma que

ldquoNo que se refere agraves estruturas e aos materiais (hellip) existem algumas discrepacircncias

nas duas instituiccedilotildees sendo que o Coleacutegio do Monte apresenta um maior nuacutemero de

materiais de qualidade com estruturas para os manter de forma organizada sendo

que o JI Arco Redondo tem tambeacutem vaacuterios materiais no entanto apresentam

alguma falta de manutenccedilatildeo assim como estruturas para arrumaccedilatildeo dos mesmos

Estes aspetos traduzem-se na qualidade das oportunidades de aprendizagem das

crianccedilasrdquo (M6) ldquoA relaccedilatildeo entre a equipa educativa primava pelo diaacutelogo aberto

ambas as equipas dos contextos partilhavam as informaccedilotildees relevantes relativas agraves

crianccedilas da sala e todas as decisotildees erma tomadas em conjuntordquo (M12)

A M10 a propoacutesito da caracterizaccedilatildeo dos meios onde estatildeo inseridos os contextos

socioeducativos afirmou ldquoConsciente da importacircncia de caraterizar o meio

envolvente uma vez que ldquopara compreender os processos sociais que estruturam e

satildeo estruturados pelas crianccedilas enquanto actores nas acccedilotildees sociais que desenvolvem

e em que se envolvem no contexto educativo de um JI situo-me no laquoantesraquo (Ferreira

2004 p67)rdquo (M10) por sua vez A M9 a propoacutesito das famiacutelias das crianccedilas reiterou

que

ldquoFerreira (2004) alerta para a importacircncia de termos presente que ldquo (hellip) as crianccedilas

quando chegam agrave porta do JI natildeo satildeo seres ocos associais ou desprovidos de histoacuteria

(hellip) satildeo portadores de uma cultura que se revela no modo como se exprimem nas

situaccedilotildees sociaisrdquo torna-se assim imprescindiacutevel caracterizar as famiacutelias para que

possa valorizar as vivecircncias e os valores familiares de cada crianccedilardquo (M9)

A M11 defendeu que ldquo(hellip) cada contexto socioeducativo tem especificidades

organizacionais e culturais muito proacuteprias estas devem ser compreendidas pelo

educador de modo a encontrar uma resposta educativa adequada agravequele contexto

especiacutefico Numa perspetiva sisteacutemica e ecoloacutegica do desenvolvimento defendida por

Broffenbrenner isto eacute o meio eacute ldquoconstituiacutedo por diferentes sistemas que

desempenham funccedilotildees especiacuteficas e que estando em interconexatildeo se apresentam

como dinacircmicos e em evoluccedilatildeohelliprdquo (OCEPE 1997 p32) influencia profundamente a

crianccedilardquo (M11) Sobre a relaccedilatildeo existente entre a equipa educativa a M12 afirmou

que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

196

ldquo (hellip) A relaccedilatildeo existente primava pelo diaacutelogo aberto ambas partilhavam as

informaccedilotildees relevantes relativas agraves crianccedilas da sala e todas as decisotildees eram

tomadas em conjunto bem como a definiccedilatildeo e a organizaccedilatildeo das propostas

educativas a desenvolver com o grupo No que diz respeito agraves tarefas relativas aos

cuidados quotidianos das crianccedilas tambeacutem essas eram partilhadas Assim o clima de

interaccedilotildees eacute caracterizado pelo respeito cooperaccedilatildeo e entreajuda no qual tambeacutem

eu me integrei e me identifiqueirdquo (M12)

No que concerne agrave anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo apresentam-se de seguida os

resultados obtidos com a informaccedilatildeo sistematizada por ano letivo (Consultar quadros

5 6 e 7)

Quadro 5 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (a)

Mestrando (M) 2010-2011

M1 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pertinente e com exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M2 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M3 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M4 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pertinente e com exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

M5 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco pertinente e mobiliza de forma pouco frequente e pouco

consistente os exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Poder-se-aacute constatar pela anaacutelise do quadro apresentado que todos (5) os

mestrandos do ano letivo 2010-2011 identificaram e fundamentaram as suas intenccedilotildees

pedagoacutegicas apesar de uns (M2 M3 e M5) o terem feito de forma pouco pertinente

mobilizando com pouca frequecircncia os exemplos das suas praacuteticas pedagoacutegicas A

tiacutetulo de exemplo apresentam-se de seguida alguns excertos dos relatoacuterios

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

197

analisados ldquoAo longo da minha praacutetica privilegiei os interesses das crianccedilas realizando

actividades que fossem ao encontro dos mesmosrdquo (M2) ldquoAo longo da minha praacutetica

(hellip) acompanhei todos os momentos o acolhimento das crianccedilas] momento em que

interagia com os pais de forma a passar-lhes alguma tranquilidade em relaccedilatildeo agrave minha

presenccedila na sala efectuava a higiene das crianccedilas sendo esse um excelente momento

de interaccedilatildeo com as mesmasrdquo (M3) Jaacute a M5 afirmou o seguinte

ldquoTanto em Creche como em Jardim-de-Infacircncia penso que me apropriei

adequadamente agraves rotinas diaacuterias das crianccedilas Na Creche a minha intervenccedilatildeo

iniciou-se sobretudo atraveacutes da leitura de histoacuterias agraves crianccedilas No contexto de

Jardim-de-Infacircncia fui dirigindo de forma gradual vaacuterios momentos diaacuterios das

crianccedilas como a marcaccedilatildeo das presenccedilas ou as transiccedilotildees sala-refeitoacuteriordquo (M5)

Quadro 6 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (b)

Mestrando (M) 2011-2012

M6 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

M7 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

M8 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma

pouco frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica

pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com

referecircncias teoacutericas escassas e pouco adequadas

As mestrandas do ano letivo 2011-2012 (ano letivo em que foi introduzida a

identificaccedilatildeo de uma problemaacutetica que justificasse o tiacutetulo do Relatoacuterio) identificaram

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

198

e fundamentaram as suas intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica e identificaram tambeacutem

a problemaacutetica que justificou o tiacutetulo do Relatoacuterio34 Natildeo obstante as referecircncias

teoacutericas mobilizadas demonstraram ser escassas e pouco adequadas A M6 identificou

as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma pouco frequente e pouco consistente

ldquoUma das minhas preocupaccedilotildees constantes prendeu-se com o facto de querer dar

continuidade aos objetivos e propostas das educadoras cooperantes [natildeo explicita]

(hellip) Durante os processos interventivos fiz-me valer do curriacuteculo HighScope e das

OCEPE para enriquecer e adequar as minhas propostas agraves diferentes valecircnciasrdquo (M6)

a M7 a propoacutesito da fundamentaccedilatildeo teoacuterica da problemaacutetica ldquoA importacircncia do

registo escrito no Jardim de Infacircncia uma reflexatildeordquo afirmou

ldquoOutro aspeto relevante para esta reflexatildeo vai ao encontro da grande maioria das

crianccedilas de quatro a cinco anos conhecer as letras sendo esta outra ldquocompetecircncia

importante para a literaciardquo pois o conhecimento das competecircncias letra-som em

particular do nome das letras eacute um bom preditor de sucesso (hellip) da aprendizagem da

leitura e da escrita (Whitehurst amp Lonigan 2001 cit in Leal et al 2006) ldquo (M7)

Por seu lado a M8 defendeu que ldquo (hellip) As minhas intencionalidades educativas em

ambos os contextos recaiacuteam sobre o promover a seguranccedila e a autonomia das

crianccedilas envolver as mesmas em actividades que partissem dos interesses delas

envolvendo-as numa praacutetica de aprendizagem ativa (Post amp Hohman 2007) Recorde-

se que esta mestranda desenvolveu a sua Praacutetica Profissional Supervisionada numa

instituiccedilatildeo cooperante que se encontrava em fase de implementaccedilatildeo do Movimento

da Escola Moderna e que a escolha da mestranda para a problemaacutetica a estudar foi ldquoO

Movimento da Escola Moderna Portuguesa Um novo caminho para a accedilatildeo

pedagoacutegicardquo

O quadro 7 (Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (c) apresenta os dados relativos agraves

mestrandas do ano letivo 2012-2013

34

Nota da autora apresentam-se a tiacutetulo de curiosidade os tiacutetulos dos Relatoacuterios dos mestrandos (2011-2012) M6 ldquoAs Ciecircncias Naturais no Jardim de Infacircncia um relatordquo M7 ldquoA importacircncia do registo escrito no Jardim de Infacircncia uma reflexatildeordquo M8 ldquoO Movimento da Escola Moderna Portuguesa Um novo caminho para a accedilatildeo pedagoacutegicardquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

199

Quadro 7 Anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo (c)

Mestrando

(M)

2012-2013

M9 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M10 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M11 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma frequente

e consistente mobiliza exemplos da praacutetica pedagoacutegica (Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio com referecircncias

teoacutericas pertinentes e adequadas

M12 Identifica e fundamenta as intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica de forma pouco

frequente e pouco consistente mas com exemplos da praacutetica pedagoacutegica

(Estaacutegio)

Identifica a problemaacutetica que justifica o tiacutetulo do Relatoacuterio mas com referecircncias

teoacutericas escassas e pouco adequadas

As mestrandas do ano letivo 2012-2013 identificaram e fundamentaram as suas

intenccedilotildees para a accedilatildeo pedagoacutegica e identificaram tambeacutem a problemaacutetica que

justificou o tiacutetulo do Relatoacuterio35 Todas (4) revelaram ter mobilizado exemplos das suas

praacuteticas pedagoacutegicas Seguem-se alguns excertos dos relatoacuterios das mestrandas do ano

letivo 2012-2013 ldquo (hellip) Posso afirmar que ao longo da minha intervenccedilatildeo pretendi ser

muito mais do que uma mera detentora e transmissora de sabres ou uma mediadora

de atividades indo ao encontro do conceito de adulto playmate conceito que surge na

obra de Portugal (2000) rdquo (M9) E apresenta de seguida uma nota de campo em

35

Apresentam-se os tiacutetulos dos Relatoacuterios dos mestrandos (2012-2013) M9 ldquoNo dia-a-dia dos afetos a importacircncia das interaccedilotildees na relaccedilatildeo pedagoacutegicardquo M10 ldquoDar voz agraves vozes das crianccedilas na construccedilatildeo da praacutetica pedagoacutegicardquo M11 ldquoEscutar para planear a participaccedilatildeo das crianccedilas na planificaccedilatildeo pedagoacutegicardquo M12 ldquoA importacircncia da linguagem oral no Jardim de Infacircnciardquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

200

conformidade] A M10 por sua vez a propoacutesito da problemaacutetica que justifica o tiacutetulo

do Relatoacuterio afirma

ldquo (hellip) Eacute importante referir que adoto uma postura de respeito pelos direitos das

crianccedilas natildeo soacute por serem estas as posturas que as Educadoras Cooperantes

demonstraram ter mas tambeacutem porque acredito enquanto futura profissional que

as crianccedilas devem estar conscientes daquilo que podem (e devem) fazer no decorrer

da vida social promovendo assim o desenvolvimento do grupo sem esquecer o

desenvolvimento individual e o respeito pelos pares e pelos adultosrdquo (M10)

E justifica esta afirmaccedilatildeo com uma referecircncia teoacuterica consistente e contextualizada A

M11 reitera no acircmbito da problemaacutetica que identificou (ldquoEscutar para planear a

participaccedilatildeo das crianccedilas na planificaccedilatildeo pedagoacutegicardquo) que ldquo (hellip) poderemos dizer que

participar eacute agir em conformidade com as normas e as dinacircmicas existentes no

contexto no qual se estaacute inserido Neste trabalho vou considerar como participaccedilatildeo agrave

semelhanccedila de Tomaacutes (2007) ldquoa partilha de poderes entre adultos e crianccedilas (hellip) a

introduccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que permitam as crianccedilas participarrdquo (M11) Por

fim a M12 justifica o tiacutetulo do seu Relatoacuterio mas com referecircncias teoacutericas escassas e

pouco adequadas ldquo (hellip) Uma preocupaccedilatildeo constante que eu tinha era corrigir frases

mal construiacutedas pelas crianccedilas e ir alargando o seu vocabulaacuteriordquo (M12) Ilustra com

uma nota de campo mas natildeo discute esta questatildeo agrave luz de um referencial teoacuterico

pertinente

No que se refere agraves consideraccedilotildees finais realizadas em que cada mestrando deveria

apresentar a caracterizaccedilatildeo do impacto da sua intervenccedilatildeo e refletir sobre a

construccedilatildeo da identidade profissional apresentam-se de seguida alguns resultados

da anaacutelise realizada Assim a M1 a M2 e a M4 caracterizaram o impacto da

intervenccedilatildeo com atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo das aprendizagens realizadas

refletiram sobre a construccedilatildeo da identidade profissional com sentido eacutetico e

apresentaram os seus princiacutepios pedagoacutegicos ldquo (hellip) Uma das aprendizagens que

identifico como das mais relevantes foi o facto de ter desenvolvido trabalho de

projecto com as crianccedilas de Jardim-de-Infacircnciardquo (M1) e fundamenta teoricamente em

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

201

que consiste a Metodologia de Trabalho de Projeto+ ldquo (hellip) Ao longo das praacuteticas fui

adequando a minha intervenccedilatildeo de acordo com o que ia observando e reflectindo e

devido agraves sugestotildees das educadoras cooperantesrdquo (M2) ldquo (hellip) Considero que tudo que

aprendi ao longo das praacuteticas eacute relevante para a minha praacutetica profissionalrdquo (M4) A

M2 revelou uma ausecircncia de pensamento criacutetico e uma escassa fundamentaccedilatildeo

relativa agrave construccedilatildeo da sua identidade profissional bem como o M3 ldquo (hellip) Na

bagagem levo experiecircncias e vivecircncias que jamais irei esquecer bem como ldquopedaccedilosrdquo

de cada crianccedilardquo (M2) ldquo (hellip) Pretendi relacionar-me com as crianccedilas para favorecer a

sua seguranccedila e autonomia acontecendo com bastante frequecircncia no JI que as

crianccedilas me falavam sobre um determinado assunto e eu observava que o facto de

lhes dar atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave temaacutetica elas apresentavam-se animadasrdquo (M3) Por

sua vez o M5 natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo da sua identidade profissional e

caracterizou o impacto da sua intervenccedilatildeo de forma pouco reflexiva ldquoSatildeo as crianccedilas

que constroem o conhecimento aos adultos compete serem agentes que auxiliam e

proporcionam momentos em que as crianccedilas possam alcanccedilar esses conhecimentos

Assim toda a minha praacutetica profissional pedagoacutegica funcionou em torno das crianccedilas

das suas necessidades e potencialidadesfragilidadesrdquo (M5) A M6 caracterizou o

impacto da intervenccedilatildeo com atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo das aprendizagens

realizadas e refletiu sobre a construccedilatildeo da identidade profissional mas com ausecircncia

de pensamento criacutetico e de forma pouco fundamentada

ldquo (hellip) Durante as intervenccedilotildees fiz com que as crianccedilas se sentissem ouvidas

esperando sempre que cada uma tivesse o seu tempo para interagir comigo e com o

restante grupo uma vez que nestas idades as capacidades sociais satildeo adquiridas

essencialmente atraveacutes do processo das interaccedilotildees em momentos de brincadeiras

ou de trabalho cooperativo como eacute referido por Katz e McClellan (2006) rdquo (M6)

No que respeita agrave M7 esta caracterizou o impacto da intervenccedilatildeo com atitude pouco

reflexiva e natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo da identidade profissional ldquo (hellip) Foram

longos os caminhos percorridos em ambas as intervenccedilotildees concretizadas na creche e

no jardim de infacircncia Caminhos estes repletos de alegrias aprendizagens harmonia

trabalho responsabilidades experiecircncias enriquecedoras e tambeacutem com alguns

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

202

obstaacuteculosrdquo (M7) A M8 deu uma resposta adequada a estas questotildees demonstrando

ter uma atitude reflexiva e de autoavaliaccedilatildeo de qualidade

ldquo (hellip) A atitude reflexiva vivida ao longo de ambos os momentos da praacutetica vai por si

soacute ao encontro do que se espera ser o perfil geral de desempenho dos professores e

educadores de infacircncia o educador ldquoreflecte sobre as suas praacuteticas apoiando-se na

experiecircncia na investigaccedilatildeo e em outros recursos importantes para a avaliaccedilatildeo dos

seu desempenho profissional nomeadamente no seu proacuteprio projeto de formaccedilatildeordquo

(V ndash Decreto-Lei nordm 2402001 de 30 de agosto) rdquo (M8)

No ano letivo 2012-2013 todas quase todas (3) as mestrandas revelaram ser capazes

de refletir e avaliar o impacto das suas intervenccedilotildees apenas a M12 caracterizou o

impacto da intervenccedilatildeo com atitude pouco reflexiva e natildeo refletiu sobre a construccedilatildeo

da identidade profissional ldquo (hellip) No decorrer da minha intervenccedilatildeo foi-me possiacutevel

observar contextos diferentes integrar equipas educativas diferentes aplicar

diferentes metodologiasrdquo (M8)E acrescenta ldquo (hellip) Ao escolher seguir este percurso

[ser educadora de infacircncia] para a minha vida sempre tive a intenccedilatildeo de ajudar

crianccedilas a desenvolverem-se enquanto seres humanos aprendendo a viver em

sociedade com um desenvolvido sentido democraacutetico e respeitando e aceitando

sempre as diferenccedilas dos outros ldquo (M8) Nesta reflexatildeo natildeo mobiliza qualquer revisatildeo

de literatura

Conclusotildees

Os resultados obtidos atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo realizada aos Relatoacuterios de

Estagio de um grupo de mestrandos de uma escola superior de educaccedilatildeo puacuteblica

portuguesa apontam para as seguintes conclusotildees

Se por um lado todos (12) os mestrandos seguiram escrupulosamente o guiatildeo

fornecido pela equipa de docentes da Praacutetica Profissional Supervisionada para a

elaboraccedilatildeo dos Relatoacuterios de Estaacutegio por outro lado e no que se relaciona com a

caracterizaccedilatildeo reflexiva do contexto socioeducativo a anaacutelise reflexiva da intervenccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

203

e as consideraccedilotildees finais realizadas constata-se que existem diferenccedilas significativas

na estrutura organizativa do discurso escrito na escolha do quadro teoacuterico de

referecircncia bem como nas na reflexotildees pessoais realizadas Enquanto os mestrandos (5)

do ano letivo 2010-2011 demonstram ter optado por construir um quadro teoacuterico de

referecircncia ancorado preferencialmente por referecircncias bibliograacuteficas relacionadas

com a Educaccedilatildeo de Infacircncia e facultadas pela equipa de docentes do mestrado em

estudo os mestrandos do ano letivo 2011-2012 (3) optaram por recorrer a um quadro

teoacuterico de referecircncia mais alargado e abrangente no qual se pode verificar tambeacutem a

existecircncia de uma consulta e anaacutelise documental frequente sobre a legislaccedilatildeo em vigor

para o acircmbito da Educaccedilatildeo de Infacircncia

Apresentam-se alguns exemplos de referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos

mestrandos do ano letivo 2010-2011

Quadro 8 Referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2010-201136

Mestrando

(M)

2010-2011

M1 Brazelton T B (2009) O Grande Livro da Crianccedila (11ordf ediccedilatildeo) Queluz de Baixo

Editorial Presenccedila

M2 Brazelton T B (2006) A Crianccedila e o seu Mundo Queluz de Baixo Editorial

Presenccedila

M3 Siraj-Blatchford I (2007) Manual de Desenvolvimento Curricular para a

Educaccedilatildeo de Infacircncia Lisboa Texto Editores

M4 Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (1997) Orientaccedilotildees Curriculares para a Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar Lisboa Departamento de Educaccedilatildeo Baacutesica

M5 Katz L amp Chard S (2009) A abordagem por projectos na Educaccedilatildeo de Infacircncia

Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

O quadro seguinte (Quadro 9) pretende apresentar algumas das referecircncias

bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2011-2012

36

Nota optou-se por respeitar na iacutentegra a forma de apresentaccedilatildeo das referecircncias bibliograacuteficas por parte dos mestrandos do presente estudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

204

Quadro 9 Referecircncias bibliograacuteficas utilizadas pelos mestrandos do ano letivo 2011-201237

Mestrando

(M)

2011-2012

M6 Hohman W amp Weikart DP (1997) Educar a Crianccedila Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian

Decreto-Lei nordm752008 de 22 de abril Diaacuterio da Repuacuteblica nordm79 ndash 1ordf Seacuterie

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lisboa

M7 Portugal G (1998) Crianccedilas Famiacutelias e Creches ndash Uma abordagem ecoloacutegica da

adaptaccedilatildeo do bebeacute agrave Creche Porto Porto Editora

Portaria nordm 2622011 de 31 de agosto Diaacuterio da Repuacuteblica nordm 167 ndash 1ordf Seacuterie

Ministeacuterio da Solidariedade e Seguranccedila Social

M8 Niza S Lino D amp Formosinho J (2007) Modelos Curriculares para a Educaccedilatildeo

de Infacircncia Porto Porto Editora

Decreto-Lei nordm41997 de 10 de Fevereiro

Por sua vez os mestrandos que terminaram a sua formaccedilatildeo no ano letivo 2012-2013

(4) demonstraram na elaboraccedilatildeo dos seus relatoacuterios de estaacutegio uma preocupaccedilatildeo e

intenccedilatildeo claras em dar resposta a todas as questotildees colocadas fazendo emergir

algumas questotildees de fundo e revelando uma reflexatildeo fundamentada sobre a accedilatildeo

pedagoacutegica desenvolvida

Quadro 10 As reflexotildees sobre a accedilatildeo pedagoacutegica dos mestrandos do ano letivo 2012-2013

Mestrando

(M)

2012-2013

M9 ldquoQuando recorremos agrave praacutetica pedagoacutegica afetiva esta estimula natildeo soacute a

relaccedilatildeo afetiva mas ao ter em conta os sentimentos e as emoccedilotildees das crianccedilas

favorece tambeacutem o seu desenvolvimento cognitivo e social transformando o

educador num profissional insubstituiacutevelrdquo

M10 ldquoNas palavras dessas profissionais acabaacutevamos por nos adaptar de tal forma

aquele adulto que nos acolhia e orientava que nos tornaacutevamos quase que uma

37

Nota optou-se por respeitar na iacutentegra a forma de apresentaccedilatildeo das referecircncias bibliograacuteficas por parte dos mestrandos do presente estudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

205

extensatildeo da sua personalidaderdquo ndash posso concluir que natildeo natildeo sou uma coacutepia

fiel das minhas Educadoras Cooperantes nem nunca o fui Sempre lutei por ser

eu mesma ser autecircntica Natildeo pretendo seguir um modelo especiacutefico de alguma

profissional que eu tenha conhecido (ou que ainda venha a conhecer) criando

um modelo de filosofia educativa que se adapte por completo a mimrdquo

M11 ldquoNote-se que em busca de me tornar uma educadora cada vez melhor e mais

reflexiva de acordo com Alarcatildeo (1995) foi importante este trabalho de

ldquohellipprocura da minha+ identidade pessoal e profissional na constante

redescoberta do sentido dos [meus] actos e na plena assunccedilatildeo da [minha]

responsabilidade socialhelliprdquo (p15) rdquo

M12 A propoacutesito das interaccedilotildees adulto-crianccedila a mestranda recorre agrave seguinte

citaccedilatildeo ldquo (hellip) As interacccedilotildees das crianccedilas+ com adultos em quem confiam

dentro e fora de casa proporcionam o ldquocombustiacutevelrdquo emocional de que (hellip)

precisam para desvendar os misteacuterios com que se deparam no mundo social e

fiacutesicordquo (Post amp Hohmann 2011 p12) rdquo

Notas finais e questotildees emergentes

As diferenccedilas encontradas nos Relatoacuterios de Estaacutegio analisados fazem emergir algumas

questotildees finais a saber

- Que aprendizagens realizaram os mestrandos Parecem existir algumas evidecircncias

nos relatoacuterios analisados aprendizagens no aperfeiccediloamento da liacutengua portuguesa na

capacidade de se descrever e analisar contextos socioeducativos capacidade de

autoreflexatildeo e de auto avaliaccedilatildeo bem como mobilizaccedilatildeo de revisatildeo de literatura

pertinente para a construccedilatildeo de uma determinada problemaacutetica entre outras

aprendizagens (organizaccedilatildeo gestatildeo do tempo cumprimento de normas formais)

- Por que razatildeo os relatoacuterios de estaacutegio analisados apresentam diferenccedilas significativas

nas aprendizagens realizadas pelos mestrandos em estudo Quais as possiacuteveis razotildees

para estas diferenccedilas

Uma das possiacuteveis razotildees poderaacute estar relacionada com o facto dos relatoacuterios de

estaacutegio analisados pertencerem a um grupo de mestrandos que satildeo antes de mais

indiviacuteduos e por essa razatildeo seres uacutenicos com expectativas objetivos e ldquoformas de ver

o mundordquo diferentes outra razatildeo possiacutevel poderaacute ser a forma como cada

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

206

pessoamestrando aprende (pelas suas motivaccedilotildees pessoais e profissionais e pela

predisposiccedilatildeo para a aprendizagem) enquanto alguns mestrandos perspetivaram e

encararam a sua formaccedilatildeo profissional e a elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio de Estaacutegio como

um desafio para a avaliaccedilatildeo das suas aprendizagens outros poderatildeo eventualmente

ter encarado a elaboraccedilatildeo daquele trabalho como mais um elemento de avaliaccedilatildeo

sem refletirem na pertinecircncia do mesmo para os seus percursos de formaccedilatildeo

Referecircncias

Cardona M J (1997) Para a Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Infacircncia em Portugal O discurso

oficial (1834-1990) Porto Porto Editora

Danis C (2001) Processos de Aprendizagem dos Adultos numa Perspetiva de

Desenvolvimento Em Danis C amp Solar C (2001) Aprendizagem e Desenvolvimento dos

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Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar Disponiacutevel em

httpwwweselxiplptmestradosmepeindexhtml (Consultado em 21 de novembro

de 2013)

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e_escolarpdf (Consultado em 21 de novembro de 2013)

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Lisboa APEI

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207

Vasconcelos T (2009) Praacutetica Pedagoacutegica Sustentada Cruzamento de Saberes e

Competecircncias Lisboa Ediccedilotildees Colibri Instituto Politeacutecnico de Lisboa

Documentos consultados

Relatoacuterios finais da Praacutetica Profissional Supervisionada no acircmbito do Mestrado em

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar (anos letivos 2010-2011 2011-2012 e 2012-2013) de uma escola

superior de educaccedilatildeo puacuteblica portuguesa38

38

Por questotildees de eacutetica na investigaccedilatildeo natildeo se apresentam de forma discriminada os autores e os respetivos tiacutetulos dos relatoacuterios finais elaborados pelos doze mestrandos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

208

O Portefoacutelio e a aprendizagem no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Inecircs Pimentel

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Setuacutebal Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Ines-cunhhotmailcom

Jorge Pinto Escola Superior de Educaccedilatildeo de Setuacutebal Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Jorgepintoeseipspt

Resumo

O processo de autorregulaccedilatildeo natildeo se desenvolve nos alunos de forma espontacircnea

Neste sentido eacute necessaacuterio preparar o trabalho com os alunos a fim de se conseguir

uma autorregulaccedilatildeo eficaz e uma apropriaccedilatildeo do significado dos objetivos de

aprendizagem

No acircmbito do Mestrado em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar e Ensino do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

realizei um estudo com o objetivo de compreender o contributo do Portefoacutelio

enquanto instrumento (auto) regulador da aprendizagem Assim as nossas hipoacuteteses

de trabalho consistiram em analisar como se negociou com os alunos o processo de

construccedilatildeo e como foi dinamizado e utilizado o portefoacutelio em sala de aula Com esta

anaacutelise procuraacutemos perceber tambeacutem como eacute que os alunos evoluiacuteram neste percurso

em termos da sua apropriaccedilatildeo deste instrumento para o desenvolvimento das suas

aprendizagens

A metodologia adotada inscreve-se numa abordagem qualitativa com um design

proacuteximo da investigaccedilatildeo-accedilatildeo Os dados foram recolhidos atraveacutes da observaccedilatildeo

inqueacuterito atraveacutes de entrevistas e questionaacuterio e ainda atraveacutes de anaacutelise documental

dos portefoacutelios dos alunos Para a anaacutelise de dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo

em que as categorias se foram construindo no decurso do trabalho

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

209

Os resultados mostram que a apropriaccedilatildeo de um trabalho novo eacute gradual e que a

utilizaccedilatildeo do portefoacutelio enquanto instrumento de autorregulaccedilatildeo contribui para o

desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se relacionam com as aacutereas

curriculares mas tambeacutem com a autonomia O estudo tambeacutem mostra que o

portefoacutelio assume-se como um instrumento por excelecircncia para a atribuiccedilatildeo de

feedback que tambeacutem possibilita que os alunos melhorem o seu desempenho

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo formativa Portefoacutelio Aprendizagem 1ordm ciclo do EB

Abstract

The process of self-regulation does not develop in the students in a spontaneous way

In this sense it is necessary to prepare students to work in order to achieve effective

self-regulation and ownership of the meaning of the learning objectives

In the context of Masters in Preschool and Primary Teaching Education we conducted a

study aimed at understanding the contribution of the Portfolio as an instrument (self)

control of learning So our working hypotheses consisted of examining how students

have negotiated with the construction process and how it was used and developed the

portfolio in the classroom With this analysis we also try to understand how students

progressed in this path in terms of their appropriation of this tool for the development

of their learning

The methodology is part of a qualitative approach with a design close to the action

research Data were collected through observation investigation through interviews

and questionnaire and also through documentary analysis of portfolios of students For

data analysis we used the content analysis where the categories are gone during the

building work

The results show that ownership of a new work is gradual and that the use of the

portfolio as a tool for self-regulation contributes to the development of a set of

learning that relate to curriculum areas but also with autonomy The study also shows

that the portfolio is assumed as an instrument par excellence for the assignment

feedback which also enables students to improve their performance

Keywords Formative Assessment Portfolio Learning in the Primary Education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

210

Introduccedilatildeo

Quando a avaliaccedilatildeo eacute entendida como um meio de regulaccedilatildeo da aprendizagem surge

o portefoacutelio enquanto instrumento de autoavaliaccedilatildeo Este constitui-se como uma

ldquoescolha refletida de alguns de um conjunto mais vasto de trabalhosrdquo (Pinto 2010

p7) Esta escolha exige entatildeo que os alunos selecionem uns trabalhos em detrimento

de outros que reflitam sobre o que aprenderam e que identifiquem os pontos fracos e

fortes do seu trabalho

O portefoacutelio ao dar voz ao principal narrador permite o desenvolvimento da sua

capacidade de pensar e refletir sobre as suas proacuteprias aprendizagens e de autorregular

o seu proacuteprio processo de ensino e aprendizagem Neste sentido proporciona uma

visatildeo global do trabalho realizado pelos alunos e da sua evoluccedilatildeo em detrimento de

uma visatildeo confinada a aspetos isolados ou pontuais daquilo que os alunos fazem Isto

permite criar situaccedilotildees de apoio e ajuda (Pinto 2010)

A introduccedilatildeo do portefoacutelio natildeo eacute natural e espontacircnea pois muda substancialmente a

loacutegica da avaliaccedilatildeo Assim o professor tem de criar oportunidades para que os alunos

se apropriem do trabalho e do significado dos seus objetivos em termos de

aprendizagem Um caminho possiacutevel para fazecirc-lo eacute atraveacutes de um processo negociado

Este estudo ao procurar compreender o contributo do portefoacutelio para a aprendizagem

de todos os alunos tem como ponto de partida perceber como eacute que os alunos

pensam as tarefas inerentes ao portefoacutelio e como este trabalho contribui para as suas

aprendizagens

Avaliar como uma tarefa de aprendizagem

Este estudo pressupotildee a introduccedilatildeo de um instrumento de trabalho na sala de aula ndash O

Portefoacutelio que implica uma alteraccedilatildeo na pedagogia adotada passando assim da

pedagogia do ensinar para a pedagogia do aprender

Na pedagogia do ensinar existe uma maior preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo de saberes

teoacutericos que se assumem como produto final sem ter em atenccedilatildeo as suas

potencialidades de uso no quotidiano para aleacutem de existir um processo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

211

transmissatildeo de conhecimento expositivo de forma preacute-estabelecida por parte do

professor e uma uniformizaccedilatildeo dos tempos letivos meacutetodos e trabalhos esquecendo

a crianccedila enquanto ser individual e autoacutenomo De um modo geral podemos referir

que a pedagogia do ensinar centra-se ldquona loacutegica dos saberes no conhecimento que

quer vincular (hellip) atraveacutes da escolha unidirecional dos saberes a serem transmitidos

(hellip) (Oliveira Formosinho 2007 p17)

A histoacuteria da pedagogia oferece-nos meios para pensar em praacuteticas mais significativas

e em consonacircncia com a realidade educativa desafiando assim o ldquocurriacuteculo uacutenicordquo e a

mudanccedila de praacuteticas muito centradas no professor para outras onde o aluno eacute

considerado protagonista da sua aprendizagem Atraveacutes deste envolvimento

determina-se a ldquopraacutexis como loacutecus da Pedagogiardquo (Oliveira-Formosinho 2007 p17)

pois envolve ldquoum processo interativo de diaacutelogo e confronto entre crenccedilas e saberes

entre saberes e praacuteticas entre praacuteticas e crenccedilas e entre estes polos em interaccedilatildeo e os

contextos envolventesrdquo (Oliveira-Formosinho 2007 p17) Deste modo preocupa-se

em promover o desenvolvimento holiacutestico do individuo atraveacutes de muacuteltiplas interaccedilotildees

(interaccedilatildeo aluno-aluno professor-aluno e aluno-material)

No campo pedagoacutegico existem dois grandes tipos de avaliaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo sumativa e

a avaliaccedilatildeo formativa A introduccedilatildeo do portefoacutelio tambeacutem pressupotildee uma alteraccedilatildeo no

modelo de avaliaccedilatildeo adotado Assim deixamos a avaliaccedilatildeo sumativa para nos

centrarmos na avaliaccedilatildeo formativa Ou seja deixamos a avaliaccedilatildeo realizada

exclusivamente pelo professor que se centra nos produtos de trabalho e que tem

como objetivo verificar e certificar aprendizagens para nos centrarmos na avaliaccedilatildeo

que possibilita a participaccedilatildeo do aluno que se centra tanto no processo como no

produto de trabalho e que tem como objetivo melhorar e regular o processo de

aprendizagem Desta forma passamos de uma avaliaccedilatildeo que se apresenta como a

ldquoavaliaccedilatildeo das aprendizagensrdquo para uma avaliaccedilatildeo que se assume como a ldquoavaliaccedilatildeo

para as aprendizagensrdquo (Black amp William in Pinto 2010 p4)

O portefoacutelio enquanto instrumento de autoavaliaccedilatildeo regulada constitui-se como uma

ferramenta organizada de trabalhos produzidos pelos alunos durante um

determinado periacuteodo de tempo que ilustra e documenta a aprendizagem e a reflexatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

212

desenvolvidas (Pinto amp Santos 2006) Neste processo o aluno reflete sobre as diversas

experiecircncias de aprendizagem justificando a sua escolha e por isso estamos perante

um processo que apela ao pensamento reflexivo e agrave metacogniccedilatildeo (Pinto amp Santos

2006)

No desenvolvimento de todo este processo o professor desempenha um papel de

extrema importacircncia pois deve estabelecer encontros perioacutedicos com o aluno para

analisar o seu portefoacutelio (Bernardes amp Miranda 2003) a fim de conhecer os seus

pontos fortes e fracos para que consiga ajustar a sua accedilatildeo e intervenccedilatildeo no sentido de

ajudar a superaacute-los Assim antes de se reunir com os alunos o professor deve ver os

portefoacutelios tomar notas sobre as questotildees a colocar durante o encontro para tornar o

momento num ldquodiaacutelogo construtivordquo (Bernardes amp Miranda 2003 p27) As mesmas

autoras afirmam que durante este diaacutelogo o professor deve deixar o aluno falar sobre

o que aprendeu e explicar as suas opccedilotildees negociando e planificando posteriormente

com ele os aspetos a melhorar eou as etapas seguintes Como tal o portefoacutelio eacute um

instrumento que possibilita que o curriacuteculo e a praacutetica docente sejam adequados a

cada aluno garantindo e respeitando assim a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica

Sendo o portefoacutelio um instrumento regulador ele eacute tambeacutem um pretexto para a

atribuiccedilatildeo de feedback uma vez que os alunos para melhorarem e regularem as suas

aprendizagens necessitam de orientaccedilotildees sistemaacuteticas e de avaliaccedilotildees dos seus

trabalhos Assim no desenvolvimento de uma avaliaccedilatildeo formativa o feedback eacute um

requisito fundamental para o progresso das aprendizagens dos alunos (Tunstall e

Gipps1996) De facto eacute atraveacutes deste dado de uma forma regular que os alunos

podem ldquocomeccedilar a desenvolver competecircncias de autoavaliaccedilatildeo e autorregulaccedilatildeo das

suas aprendizagensrdquo (Fernandes 2005 p84) durante e no final de um periacuteodo de

aprendizagem podendo utilizaacute-lo para melhorar ou corrigir o trabalho que havia sido

feito

Tunstall e Gipps (1996) distinguem dois tipos de feedback o feedback avaliativo e o

feedback descritivo O primeiro implica a emissatildeo de um juiacutezo de valor com

referecircncias expliacutecitas centrado nas caracteriacutesticas do aluno ou no trabalho realizado

por ele O segundo relaciona-se com as tarefas que satildeo apresentadas aos alunos e eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

213

utilizado para se referir explicitamente agraves aprendizagens que satildeo evidenciadas na sua

resoluccedilatildeo Para aleacutem disso o feedback descritivo procura incentivar o aluno a repensar

na proposta de aprendizagem daacute pistas para a accedilatildeo que o aluno deve executar para

conseguir progredir na sua aprendizagem e natildeo inclui a correccedilatildeo do erro no sentido

de dar ao proacuteprio a oportunidade de o corrigir contribuindo assim para uma

aprendizagem mais longa no tempo Este feedback assinala tambeacutem os pontos fortes

para que sejam conscientemente reconhecidos e para encorajar o aluno para as etapas

seguintes (Santos 2003 referida por Pinto amp Santos 2006)

Metodologia

Este trabalho insere-se numa abordagem qualitativa com metodologia proacutexima da

investigaccedilatildeo-accedilatildeo uma vez que o objeto de estudo refere-se agrave praacutetica pedagoacutegica do

proacuteprio autor Foi desenvolvido numa turma de 4ordm ano de escolaridade e os

participantes foram respetivamente 24 alunos Destes seis alunos foram objeto de

uma recolha de dados e de uma anaacutelise mais pormenorizada Estes alunos foram

escolhidos em funccedilatildeo do seu estatuto escolar como tal escolheu-se um aluno com

dificuldades de aprendizagem uma aluna que natildeo relevava dificuldades e quatro

alunos intermeacutedios que foram selecionados aleatoriamente

Os dados foram recolhidos atraveacutes dos seguintes instrumentos observaccedilatildeo

participante utilizada para observar a dinacircmica de trabalho com o portefoacutelio

entrevistas que designei por conversas de explicitaccedilatildeo que permitiram clarificar

alguns aspetos das reflexotildees escritas dos alunos e anaacutelise documental que recaiu sobre

as reflexotildees dos alunos

Para analisar os dados foi utilizada a anaacutelise de conteuacutedo uma vez que foi necessaacuterio

interpretar compreender e inferir sobre os dados que se apresentaram

essencialmente em texto

A intervenccedilatildeo educacional foi como se segue

1 Preparaccedilatildeo e construccedilatildeo dos portefoacutelios

2 Negociaccedilatildeo da dinacircmica de trabalho

3 Sessotildees de seleccedilatildeo e reflexatildeo das tarefas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

214

4 Leitura dos Portefoacutelios feedback encontros perioacutedicos com os alunos e

negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo

Resultados

Para iniciar o trabalho de negociaccedilatildeo com os alunos decidi fazer um levantamento das

ideias preacutevias dos alunos a partir da palavra portefoacutelio pedindo-lhes para dizerem o

que achavam que era um portefoacutelio Depois expliquei que podem existir vaacuterios tipos

de portefoacutelios e aproveitei para questionaacute-los sobre o que entendiam por portefoacutelio de

avaliaccedilatildeo para as aprendizagens uma vez que foi o objetivo atribuiacutedo agrave utilizaccedilatildeo

deste portefoacutelio

Este debate revelou-se importante para introduzir e fazer emergir sentidos sobre

portefoacutelios de modo a que os alunos se apropriassem do seu significado e dos

objetivos pretendidos Seguidamente passaacutemos agrave construccedilatildeo do portefoacutelio e agrave

negociaccedilatildeo dos materiais a utilizar

Professora Estagiaacuteria (PE) Que materiais podemos utilizar para construir a capa dos

portefoacutelios

JA Cartolinas

R Material reciclado

M Folhas brancas

PE Cartolinas parece-me uma boa ideia Concordam com a ideia do JA

IR Sim com cartolinas eacute melhor porque satildeo mais duras do que as folhas e

duram mais tempo

PE Parece-me muito bem Eu por acaso trouxe umas cartolinas grossas porque

parece-me que este material eacute o mais adequado para que os nossos portefoacutelios durem

mais tempo

Esta discussatildeo permitiu-nos passar agrave construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo da capa do portefoacutelio

Promovi entatildeo um diaacutelogo em torno das informaccedilotildees que os alunos consideravam

importantes para constarem na capa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

215

PE O que acham que podemos colocar na capa

RB Podemos fazer um desenho

PE Parece-me bem todos concordam

Turma Sim

PE E que informaccedilotildees devemos colocar na capa

IR O Tiacutetulo ndash Portefoacutelio

PE Sim boa Parece-me uma boa ideia E mais

MA O nome e a data

R A data natildeo porque o portefoacutelio eacute para o ano todo

PE O nome parece-me bem para conseguirmos saber de quem eacute E a data

colocamos ou natildeo

B Natildeo eu concordo com a R Acho eacute que temos de colocar o ano letivo mas

podemos escrever na outra capa [referindo-se agrave contracapa]

PE Quem eacute que concorda com a B (hellip)

Para aleacutem disso tambeacutem negociaacutemos a dinacircmica de trabalho Aqui tratava-se de

envolver os alunos na configuraccedilatildeo desta atividade previamente pensada pelo

professor Todavia houve sempre a disponibilidade para a ajustar o que fosse

necessaacuterio para que o trabalho fizesse sentido para os alunos

PE Eu pensei em selecionarmos as duas tarefas de Liacutengua Portuguesa em que

acham que aprenderam mais O que vos parece

JA Parece-me bem por exemplo se acho que aprendi muito sobre o grau dos

adjetivos posso selecionar essa

PE Sim claro

PE E depois tambeacutem pensei em selecionarmos duas tarefas de Matemaacutetica a

que mais gostaram e a que menos gostaram O que vos parece

R Sim eu gosto sempre dos problemas mas natildeo gosto quando satildeo faacuteceis

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

216

Como se pode verificar em todos os diaacutelogos estabelecidos com os alunos todos eles

participaram contribuindo com ideias e opiniotildees distintas para que juntos

decidiacutessemos como iriamos trabalhar

Para compreender como o portefoacutelio eacute um instrumento que contribui para as

aprendizagens dos alunos considerei fulcral compreender como eacute que os alunos

comentam e refletem as suas aprendizagens e participam na gestatildeo do seu curriacuteculo

escolar Para tal passo a analisar a natureza das tarefas selecionadas pelos alunos a

sua capacidade de reflexatildeo e o seu papel na regulaccedilatildeo das suas aprendizagens

Em relaccedilatildeo agrave natureza das tarefas verifica-se que os alunos selecionam um leque

variado de produccedilotildees tanto na aacuterea da Liacutengua Portuguesa como na da Matemaacutetica

Contudo constata-se que alguns alunos selecionam em momentos diferentes tarefas

idecircnticas e relacionadas com o mesmo conteuacutedo quando reconhecem que houve mais

aprendizagem uma vez que referem que aprenderam ldquomais um bocadinhordquo

Relativamente agrave capacidade de reflexatildeo verifica-se que todos os alunos satildeo capazes

de pensar sobre a sua aprendizagem ainda que de formas diferentes A maioria dos

alunos permanece no niacutevel descritivo puro indicando apenas o que aprenderam R ldquoA

tarefa ajudou-me a aprender os sinoacutenimos e os antoacutenimosrdquo no entanto outros vatildeo

mais longe pois satildeo capazes de descrever o que aprendem recorrendo a evidecircncias

que comprovam a sua aprendizagem por exemplo A ldquoAprendi o sujeito e o predicado

como por exemplo na frase As irmatildes da Joana comem As irmatildes da Joana corresponde

ao sujeito e comem ao predicadordquo Verifica-se ainda que alguns alunos descrevem a

sua aprendizagem com recurso ao passado MF ldquoAjudou-me a aprender porque eu jaacute

natildeo me lembrava do que era o predicado e o sujeito de uma fraserdquo

Quanto agraves escolhas na aacuterea da Matemaacutetica verifica-se que existe uma relaccedilatildeo entre

duas variaacuteveis o saber e o gostar Os alunos selecionam como as tarefas que mais

gostaram aquelas em que se sentem confortaacuteveis com o conteuacutedo em estudo ou

aquelas que consideram que criam desafio e que lhes permitem aprender algo de

novo Como as tarefas que menos gostaram consideram aquelas em que natildeo sentem

dificuldades e por isso acham faacuteceis ou entatildeo aquelas em que sentem dificuldades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

217

Depois das sessotildees de seleccedilatildeo e reflexatildeo das tarefas reuni-me com os alunos para

verificar a consolidaccedilatildeo ou natildeo dos conteuacutedos em estudo A partir deste encontro

negociei tarefas de trabalho autoacutenomo com os alunos em funccedilatildeo das suas dificuldades

e ou necessidades Depois da realizaccedilatildeo destas tarefas verificam-se alteraccedilotildees nas

escolhas dos alunos pois as tarefas que inicialmente foram selecionadas como as que

menos gostaram por natildeo terem sido capazes de perceber passaram a ser

consideradas como as que mais gostaram depois de terem levado tarefas de trabalho

autoacutenomo para melhorarem alguns aspetos da sua aprendizagem Ao longo do

trabalho com o portefoacutelio verifiquei tambeacutem que os alunos escreviam as suas

reflexotildees com alguns erros Desta forma considerando o portefoacutelio como um

instrumento que contribui para a aprendizagem dos alunos decidi dar feedback agraves

produccedilotildees dos alunos com o intuito de melhorar a sua escrita Como se pode verificar

na imagem apresentada em baixo (figura 1) o feedback foi centrado nas tarefas e os

alunos foram encorajados a procurar as respostas corretas e a corrigir os seus erros

Neste sentido optei por assinalar os erros dos alunos sublinhando as palavras e

dando-lhes algumas indicaccedilotildees que lhes permitisse chegar agrave sua correccedilatildeo como por

exemplo ldquoVerifica a acentuaccedilatildeo Podes consultar o dicionaacuterio Revecirc este verbo

Verifica estas duas palavras podes consultar a folha da tarefa etcrdquo

Figura 1 - Exemplo de feedback dado

Para aleacutem disso quando constatei que surgiam palavras escritas corretamente e mais

agrave frente ou atraacutes a mesma palavra surgia escrita com erro decidi assinalar as palavras

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que estavam bem escritas tambeacutem com uma anotaccedilatildeo ldquoMuito bem ou Aqui

escreveste bemrdquo (ver figura 2)

Figura 2 ndash Exemplo de feedback a incentivar um aluno

Para aleacutem disso tambeacutem atribuiacute feedback a algumas tarefas realizadas pelos alunos

quando natildeo houve disponibilidade para se realizar a correccedilatildeo coletiva no quadro

como era habitual na praacutetica da professora titular de turma Nestas tarefas optei por

assinalar o que estava correto e por colocar algumas questotildees que encaminhassem o

aluno para a resoluccedilatildeo na proacutexima fase

Dado ao tempo destinado agrave implementaccedilatildeo deste estudo natildeo foi possiacutevel reunir-me

semanalmente com todos os alunos para a realizaccedilatildeo das conversas de explicitaccedilatildeo e

para a posterior negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo Neste sentido decidi

dar feedback agraves reflexotildees escritas de alguns alunos com o intuito de clarificar as suas

reflexotildees e de obter evidecircncias que comprovem as aprendizagens Depois de obter as

respostas dos alunos verifiquei se existia necessidade de partir para a conversa de

explicitaccedilatildeo e para a posterior negociaccedilatildeo de tarefas de trabalho autoacutenomo

Ao longo das sessotildees verificou-se que deixou de ser preciso questionar os alunos

quanto agrave sua vontade para melhorar a sua aprendizagem atraveacutes da realizaccedilatildeo de

novas tarefas pois eram os proacuteprios que solicitavam apoio B ldquoProfessora eu natildeo

percebi muito bem este exerciacutecio Pode dar-me uma tarefa parecida para eu

melhorarrdquo

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Todos os alunos acharam as tarefas de trabalho uacuteteis referindo ldquoProfessora eu acho

que estas tarefas satildeo uma coisa boa porque eu sinto que melhorei agora jaacute natildeo tenho

dificuldadesrdquo

Conclusatildeo

Em siacutentese podemos com este estudo verificar a importacircncia de negociar com os

alunos quando se pretende introduzir uma mudanccedila na praacutetica da sala de aula de

modo a que os alunos sintam essa mudanccedila como sua e que percebam os seus

sentidos e como se faz Tambeacutem se destaca a importacircncia da persistecircncia do professor

na implementaccedilatildeo da atividade Ela eacute necessaacuteria para que os alunos se apropriem das

mudanccedilas e para o benefiacutecio de todo o trabalho intencionalmente dirigido agrave

aprendizagem

Apoacutes a anaacutelise de todo o percurso verifica-se que o portefoacutelio contribui para o

desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se relacionam com as

aprendizagens curriculares pois os alunos aprenderam conteuacutedos tais como sujeito e

predicado palavras compostas soacutelidos geomeacutetricos operaccedilotildees melhoraram a escrita

etc mas tambeacutem para o desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens que se

relacionam com a autonomia desenvolvimento da capacidade de reflexatildeo seleccedilatildeo

organizaccedilatildeo e sentido criacutetico

Foi possiacutevel perceber que os alunos satildeo capazes de refletir sobre a sua aprendizagem

de diversas formas quando lhes eacute dada a oportunidade de pensar sobre o seu

processo de aprendizagem

O feedback dado permitiu que os alunos desempenhassem um papel ativo na correccedilatildeo

dos seus erros adquirindo aprendizagens soacutelidas e duradouras uma vez que depois de

o erro ter sido assinalado e posteriormente corrigido verificou-se que nas produccedilotildees

seguintes esse mesmo erro jaacute natildeo se verificava Verificam-se evoluccedilotildees nas

produccedilotildees escritas dos alunos com a diminuiccedilatildeo de feedback que natildeo pretendia

corrigir o erro mas promover o envolvimento do aluno neste processo de

aprendizagem atraveacutes de anotaccedilotildees que encaminhavam o aluno para a sua

autocorreccedilatildeo Estas anotaccedilotildees lembravam sistematicamente os alunos do que

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precisavam de melhorar para atingirem o que se propuseram e permitiam-lhes tomar

consciecircncia dos seus proacuteprios progressos comparativamente aos seus desempenhos

anteriores Assim a avaliaccedilatildeo acompanhada de feedback escrito demonstrou que os

alunos conseguem acompanhar o seu progresso apercebem-se das suas proacuteprias

dificuldades e posteriormente autonomamente conseguem ultrapassaacute-las

Esta proposta de atividade suscitou interesse nos alunos dando-lhes a possibilidade de

participarem ativamente no processo de aprendizagem gerindo e autorregulando o

seu processo de aprendizagem a partir da identificaccedilatildeo dos seus erros e dificuldades

Para aleacutem disso esta proposta cria ainda condiccedilotildees de aproximaccedilatildeo entre professor e

aluno permitindo-lhes refletir sobre as evoluccedilotildees reveladas nas atividades propostas e

dificuldades sentidas na realizaccedilatildeo das mesmas bem como negociar e pensar em

estrateacutegias em conjunto que permitam melhorar a aprendizagem

O trabalho autoacutenomo surgiu como um instrumento que permitiu colocar o aluno numa

situaccedilatildeo de aprendizagem ldquofecunda para elerdquo (Perrenoud 2000 p51) e que

possibilitou a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica pois constitui-se como uma forma de adaptar

o ensino agraves dificuldades de cada um dos alunos para os conduzir ao domiacutenio dos

objetivos pretendidos

A concluir podemos afirmar que o portefoacutelio tanto pode ser usado numa perspetiva

sumativa como formativa Contudo neste caso a nossa intenccedilatildeo foi utilizaacute-lo como

um instrumento de reflexatildeo e documentaccedilatildeo das aprendizagens como um

instrumento de avaliaccedilatildeo formativa uma vez que o objetivo era ajudar os alunos a

tomar consciecircncia e eventualmente a superarem as suas dificuldades nas

aprendizagens realizadas De facto por vezes os alunos ao considerem ter aprendido e

selecionarem trabalhos representativos dessa aprendizagem revelam hesitaccedilotildees e

atraveacutes do dialogo evidenciam que haacute aprendizagens ainda natildeo totalmente

consolidadas Desta forma a avaliaccedilatildeo reguladora isto eacute a capacidade de refletir

sobre o que se aprendeu relativamente ao que se devia aprender foi um instrumento

poderoso para a aprendizagem mas fundamentalmente para a superaccedilatildeo das

dificuldades existentes durante a construccedilatildeo do conhecimento Deste modo

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pensamos que se os alunos aprenderam efetivamente seraacute expectaacutevel que isso se

venha a traduzir posteriormente nos momentos formais de avaliaccedilatildeo sumativa

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Problematizar a metodologia de projeto articulando e avaliando

aprendizagens

Irene Cortesatildeo Costa Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

irenecortesaotildeesepfpt

Ivone Neves Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

Ivoneesepfpt

Paula Pequito Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

pequitoesepfpt

Resumo

O presente texto pretende fazer uma avaliaccedilatildeo criacutetica sobre a experiecircncia da aplicaccedilatildeo de um instrumento de avaliaccedilatildeo de projetos instrumento este que contempla um conjunto de indicadores que evidenciam qualitativa e criticamente a qualidade dos projetos realizados no contexto de Jardim de Infacircncia tendo em conta a riqueza dos processos e natildeo soacute dos resultados Este instrumento e respetivos indicadores foram construiacutedos de forma adaptada agrave realidade concreta que eacute a do trabalho no contexto de Jardim de Infacircncia Este instrumento foi aplicado no contexto de estaacutegios profissionalizantes em educaccedilatildeo de infacircncia pelas equipas pedagoacutegicas dos mesmos (educador cooperante e estagiaacuterio finalista) Posteriormente fez-se uma anaacutelise de conteuacutedo das grelhas preenchidas Olhando globalmente para os resultados recolhidos os criteacuterios a que se recorreu evidenciam que o projeto constitui uma metodologia muito importante para o desenvolvimento e aprendizagem da crianccedila atraveacutes do qual se pode atingir um niacutevel de profundidade e riqueza de intervenccedilatildeo diferenciada Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Competecircncias Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo Metodologia de Projeto Qualidade Jardim-de-infacircncia

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Abstract

This text aims to make a critical assessment on the experience of the application of an project evaluation instrument a set of indicators that looks qualitatively and critically on the quality of the projects taking into account the richness of processes and not only the results adapted to the kindergartenrsquos context This instrument was applied by the pedagogical teams in kindergartenrsquos contexts of vocational training in childhood education Later there was a content analysis of the completed grids Looking globally to the results they show that the project constitutes a very important methodology for the childrsquos learning process and development through which one can achieve a level of depth and richness of differentiated intervention Keywords Evaluation Competences Action Research Project Methodology Quality

Introduccedilatildeo

O trabalho que aqui se apresenta eacute fruto de vaacuterios desafios que adiante se iratildeo

descrever

No decurso do trabalho docente desenvolvido no contexto da atividade docente da

Escola Superior de Educaccedilatildeo (supervisatildeo de estaacutegios em contexto de Jardim de

infacircncia) o contacto com a qualidade e diversidade de projetos luacutedicos vividos nas sala

das instituiccedilotildees cooperantes de estaacutegio foi tornando clara a necessidade construir

instrumentos de registo e avaliaccedilatildeo destas experiecircncias que permitissem mostrar a

riqueza dos processos e a quantidade e qualidade de competecircncias e aprendizagens

que a Metodologia de Projeto permitia alcanccedilar Neste sentido foi concebida uma

grelha de avaliaccedilatildeo de projetos luacutedicos de forma a respeitar as caracteriacutesticas dos

projetos realizados em contexto de Jardim-de-infacircncia

Foi desenvolvido um estudo (Pequito amp Cortesatildeo 2007 p-11) em que se procurou

entatildeo perceber ateacute que ponto era possiacutevel utilizar uma grelha de avaliaccedilatildeo de projetos

no universo do trabalho em Jardim de Infacircncia A grelha de avaliaccedilatildeo que foi

construiacuteda eacute composta de duas partes distintas um conjunto de criteacuterios que

procuram fazer um balanccedilo das competecircncias adquiridas pelas crianccedilas nos diferentes

momentos e um conjunto de criteacuterios que procuram avaliar a qualidade do trabalho

desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

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Foram convidados a participar sete estagiaacuterias finalistas e respetivas equipas

pedagoacutegicas a quem foi pedido no final do ano letivo que utilizassem esta grelha de

avaliaccedilatildeo para fazer uma avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos que tinham desenvolvido

durante o ano letivo

Logo nessa altura se perceberam duas coisas muito importantes que o conjunto de

criteacuterios que constitui a grelha de avaliaccedilatildeo de projetos eacute perfeitamente adaptaacutevel ao

contexto especiacutefico de trabalho em Jardim de Infacircncia (idem p108) mas tambeacutem que

seria necessaacuterio perceber ateacute que ponto os criteacuterios utilizados poderiam ser usados

como ferramenta de auto avaliaccedilatildeo das equipas envolvidas nos projetos constituindo-

se como um instrumento de melhoria da qualidade no decurso do trabalho (idem p

125)

Pensou-se entatildeo que seria interessante procurar utilizar esta grelha como

instrumento de avaliaccedilatildeo formativa que pudesse ir servindo de buacutessola orientadora

dos percursos dos diferentes projetos desenvolvidos no contexto de Jardim de Infacircncia

e jaacute natildeo soacute como instrumento de avaliaccedilatildeo final

Neste sentido no iniacutecio do ano letivo de 20092010 e como este seria o uacuteltimo ano

em que a profissionalizaccedilatildeo dos educadores de infacircncia acontecia ao niacutevel da

Licenciatura em Educaccedilatildeo de Infacircncia decidiu-se nessa altura evidenciar a qualidade

do trabalho em contexto de Jardim de Infacircncia no que diz respeito agrave utilizaccedilatildeo da

metodologia de projeto nos estaacutegios profissionalizantes

Assim apoacutes a explicaccedilatildeo dos criteacuterios utilizados na grelha de avaliaccedilatildeo (ver grelha de

avaliaccedilatildeo anexo I) desafiaram-se todos os finalistas do Curso de Educaccedilatildeo de infacircncia

(76 no total) a utilizarem este instrumento de avaliaccedilatildeo logo desde o iniacutecio dos

projetos nas respetivas salas Foi tambeacutem proposto que esta avaliaccedilatildeo fosse feita de

forma regular (mensal bimensal ou trimestral) e que fosse feita natildeo soacute pela estagiaacuteria

mas envolvendo toda a equipa pedagoacutegica para que servisse de facto de espaccedilo de

reflexatildeo conjunta para os adultos envolvidos nos diferentes projetos Isto porque se

acredita que quando se estaacute implicado ativa e afetivamente no desenvolvimento dos

projetos se tem a capacidade de os avaliar de forma profunda sendo importante

garantir que essa anaacutelise seja criacutetica e metodologicamente controlada

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No final de ano letivo foram recolhidas 22 grelhas de avaliaccedilatildeo de projetos luacutedicos

Estas eram o resultado de todo um processo de avaliaccedilatildeo formativa que tinha sido

realizada ao longo do ano desde o aparecimento dos projetos nos diferentes

contextos

A avaliaccedilatildeo proposta centra-se entatildeo mais na qualidade dos processos do que nos

resultados embora estes tambeacutem possam e devam ser avaliados

Os dados analisados mostram realmente que em primeiro lugar o projeto luacutedico eacute de

facto uma metodologia extremamente rica e eficaz no que diz respeito agrave qualidade do

trabalho desenvolvido e agrave variedade de competecircncias das crianccedilas que permite

trabalhar mas mostra tambeacutem que a grelha de avaliaccedilatildeo proposta pode funcionar de

facto como um instrumento eficaz de avaliaccedilatildeo formativa de projetos

O Trabalho de Projeto

Parece fundamental antes de mais nada tornar clara a forma como aqui eacute entendida a

Metodologia de projeto

Epistemologicamente a palavra projeto que deriva do latim conteacutem a noccedilatildeo de

futuro (pro para a frente no espaccedilo ou no tempo) e de intervenccedilatildeo (jectare atirar)

(Many e Guimaratildees 2006)

O Trabalho de Projeto eacute uma metodologia investigativa e segundo Lilian Katz projeto

designa-se como sendo ldquoum estudo em profundidade de um determinado toacutepico que

uma ou mais crianccedilas levam a cabo Consiste na exploraccedilatildeo de um toacutepico ou temardquo

(1997 p3) que desperta a curiosidade das crianccedilas e prende a sua atenccedilatildeo

Com efeito o trabalho eacute orientado para a resoluccedilatildeo de um problema que deve ser

considerado importante e real para todos os participantes levando a aprendizagens

novas e tendo em conta o meio envolvente

ldquoEsta abordagem daacute ecircnfase ao papel do professor no incentivo agraves crianccedilas a

interagirem com pessoas objectos e com o ambiente de formas que tenham um

significado pessoal para elasrdquo (Katz amp Chard 1997 p5) pois se a crianccedila estiver

ativamente envolvida na construccedilatildeo da sua aprendizagem esta vai fazer muito mais

sentido e a crianccedila vai sentir-se muito mais motivada O educador pode deste modo

sensibilizar as crianccedilas para a procura de informaccedilatildeo e para a dedicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao

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projeto fornecendo ao grupo os materiais e os recursos necessaacuterios favorecendo

saberes competecircncias e sentimentos

Segundo Many e Guimaratildees (2006) um projeto ldquohellip+ parte de uma ideia de um sonho

de uma vontade cuja realizaccedilatildeo seraacute planificadardquo (p10) Assumimos que o projeto

parte dos interesses das crianccedilas sendo planificadas possibilidades e oportunidades de

aprendizagem com base nos mesmos que permitam aprofundar o toacutepico em questatildeo

O Educador tornaraacute a aprendizagem possiacutevel e provaacutevel

Como Vasconcelos (1998) afirmamos que todo o projeto se desenvolve em fases das

quais destacamos os seguintes percursos na primeira fase Definiccedilatildeo do Problema

define-se perguntas questiona-se acerca de um tema toacutepico um problema pelo qual

o grupo estaacute interessado As crianccedilas partilham o seu conhecimento sendo este

registado por exemplo atraveacutes do desenho Com o apoio do educador pode

construiacuteda uma teia ou rede para que as crianccedilas esquematizem as suas ideias Cabe

ao educador ajudar a manter os diaacutelogos e discussotildees

Na segunda fase Planificaccedilatildeo e Desenvolvimento do Trabalho as crianccedilas com o apoio

do educador decidem o que querem fazer como fazer por onde comeccedilar e por fim

atribuem-se tarefas Antecipam atividades tarefas recursos e documentaccedilatildeo que

necessitem Agrave medida que continuam a construir a teia as crianccedilas ldquocomeccedilam a ganhar

consciecircncia da orientaccedilatildeo que pretendem tomarrdquo (Vasconcelos 1998 p142) O

educador guia as crianccedilas daacute sugestotildees e acima de tudo observa e regista

Na terceira fase Execuccedilatildeo as crianccedilas datildeo iniacutecio agraves pesquisas Aprontam as perguntas

o que desejam saber e comeccedilam a procurar respostas atraveacutes de visitas consulta de

livros e outros suportes quer documentais ou informaacuteticos Posteriormente as

crianccedilas organizam o material que recolheram realizam registos e voltam a fazer

consultas para completar a informaccedilatildeo que adquiriram Durante esta fase eacute

fundamental que as crianccedilas usem todas as linguagens e formas de expressatildeo

desenhar pintar dialogar e dramatizar Nesta fase o educador tem de dar respostas

agraves necessidades e perguntas das crianccedilas

Por uacuteltimo na quarta fase Avaliaccedilatildeodivulgaccedilatildeo o grupo deve divulgar o seu trabalho

Primeiramente tecircm de pensar a quem se destina a divulgaccedilatildeo (crianccedilas adultos pais)

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e o educador trabalha com as crianccedilas a preparaccedilatildeo da apresentaccedilatildeo Quanto agrave

avaliaccedilatildeo as crianccedilas reuacutenem-se para avaliar a qualidade do trabalho realizado

comparam o que aprenderam com o que estava inicialmente definido analisando o

contributo de cada crianccedila em atitudescomportamentos e na cooperaccedilatildeo com os

colegas O educador por sua vez suscita o debate para que as crianccedilas compreendam

o que realizaram e o que podia ter sido aperfeiccediloado

A grelha de avaliaccedilatildeo proposta

A grelha de avaliaccedilatildeo (ver anexo I) eacute composta de duas partes distintas um conjunto

de criteacuterios que procuram fazer um balanccedilo das competecircncias adquiridas pelas

crianccedilas nos diferentes momentos e um conjunto de criteacuterios que procuram avaliar a

qualidade do trabalho desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

O texto ldquoO Recurso a Criteacuterios nas Praacuteticas Avaliativas em Questatildeordquo39 de Cortesatildeo

(2005) serviu de base agrave construccedilatildeo do instrumento por definir um conjunto de criteacuterios

de avaliaccedilatildeo de projetos que reflete de forma muito clara o tipo de preocupaccedilotildees jaacute

enunciadas Trata-se de um conjunto de indicadores construiacutedos a partir dos ldquoSete

princiacutepios de Avaliaccedilatildeo Curricularrdquo de S Kemmis 40 (Cortesatildeo 2005) A estes sete

princiacutepios a autora faz corresponder sete indicadores de avaliaccedilatildeo indicadores esses

que foram utilizados na construccedilatildeo de uma grelha de avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos

no que diz respeito ao trabalho desenvolvido pela equipa pedagoacutegica

Verificou-se que em quase todos os casos era possiacutevel fazer uma aplicaccedilatildeo quase

direta destes criteacuterios ao universo da Educaccedilatildeo de Infacircncia embora em alguns casos

tenha sido necessaacuteria uma redefiniccedilatildeo dado o contexto de aplicaccedilatildeo

Esses criteacuterios satildeo

O princiacutepio do caraacuteter socialmente razoaacutevel das racionalidades41 a partir do qual a

autora propotildee o conceito de Negociaccedilatildeo que se entende como ldquoa capacidade maior

39

Idem 40

Kemmis S (1989) Seven Principles for Program Evaluation in Curriculum Development and Innovation in House ER New Direction in Educational Evaluation London The Falmer Press 41

Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) defende a importacircncia da atenccedilatildeo necessaacuteria ao caraacutecter orgacircnico e reflexivo da vida social defendendo que ldquoos programas deveratildeo ser capazes de alterar os

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ou menor que eacute encontrada no projeto de identificar e compatibilizar deferentes

interesses e valores presentes na populaccedilatildeo abrangida pelo projetordquo

O princiacutepio da autonomia e responsabilidade42 valorizando como indicador de

avaliaccedilatildeo dos projetos a ldquocapacidade maior ou menor que um projeto revela de

proporcionar espaccedilos de intervenccedilatildeo pelos quais os diferentes atores nele implicados

se sintam responsaacuteveis em praacuteticas desenvolvidas cooperativamenterdquo de onde surge o

conceito de Partilha

O princiacutepio da comunidade com interesses partilhados43 entendendo-se por

ldquoAdequaccedilatildeo a capacidade maior ou menor de resposta do projeto agraves necessidades

identificadas nas populaccedilotildees com que o projeto trabalhardquo (Cortesatildeo 2005 pp7-8)

O princiacutepio da pluralidade de interesses e valores44 - eacute necessaacuterio considerar a

existecircncia (simultacircnea e conflitual) de dois criteacuterios importantes para a avaliaccedilatildeo dos

projetos a Pertinecircncia (o grau de relevacircncia que as propostas do projeto assumem

parar a qualidade de vida das populaccedilotildees abrangidas) e a Eficaacutecia (a qualidade eou

Quantidade de efeitos - previstos e imprevistos ndash para os quais o projeto poderaacute estar

a contribuir ao longo do seu processo de desenvolvimento) (Cortesatildeo 2005)

O princiacutepio da capacidade de se autocriticar por parte da comunidade (avaliaccedilatildeo

interna avaliaccedilatildeo por consultoria mate avaliaccedilatildeo avaliaccedilatildeo externa e independente)45

ndash a partir do qual surge o conceito de Reflexibilidade aqui entendida como o estiacutemulo

objetivos agrave medida que mudam as circunstacircncias e oportunidades pois as necessidades em educaccedilatildeo satildeo relativas e natildeo absolutasrdquo 42

- Como Cortesatildeo afirma (idem) pretende-se valorizar neste tipo de projetos a implicaccedilatildeo e a partilha dos organizadores e dos participantes no trabalho e portanto a responsabilidade de todos os actores implicados reconhecendo a importacircncia da existecircncia da pluralidade de valores e do caraacutecter cooperativo do desenvolvimento do trabalho 43

Considera-se muito importante ter consciecircncia da variedade de interesses presentes na comunidade com que se desenvolve o projeto ldquointeresses particulares que se submetem eou conflituam com os interesses comunsrdquo (Cortesatildeo 2005) 44

A avaliaccedilatildeo de projetos deve incidir a sua atenccedilatildeo para o facto de que existem no interior de cada projeto interesses e valores que variam de participante para participante Segundo Luiza Cortesatildeo ldquoo avaliador teraacute a responsabilidade de iluminar a intensidade da partilha e conflitos entre valores e interesses dos participantes do projetordquo (idem) 45 Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) advoga que a avaliaccedilatildeo natildeo deve ser vista como uma actividade a desenvolver soacute por pessoas exteriores ao projeto (com uma visatildeo mais distanciada) mas sim ter em conta a opiniatildeo e os interesses dos envolvidos no processo devendo entatildeo ser um processo interactivo e reactivo

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maior ou menor que o projeto daacute agrave ocorrecircncia de actividade de auto e hetero

avaliaccedilatildeo do processo em curso

O Princiacutepio da propriedade da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo46 ndash que permite

apontar outro criteacuterio importante o da Responsabilidade aqui entendida como ldquoo

papel mais ou menos relevante atribuiacutedo aos avaliadores relativamente agraves decisotildees a

tomar sobre a utilizaccedilatildeo das informaccedilotildees recolhidasrdquo (Cortesatildeo2005)

O princiacutepio da adequaccedilatildeo47 ndash a Flexibilidade como criteacuterio de avaliaccedilatildeo aqui

entendida como ldquoa agilidade maior ou menor de um projeto em recorrer a diferentes

estrateacutegias que se estejam a revelar mais adequadas agraves caracteriacutesticas do contexto e

dos problemas que o projeto procura enfrentarrdquo (Cortesatildeo 2005)

No que diz respeito ao balanccedilo de competecircncias os indicadores utilizados foram

Aprendizagem entendida como ldquoa aquisiccedilatildeo maior ou menor de saberes e

competecircncias relativas a problemaacuteticas enfrentadas no projetordquo Neste caso concreto

pedimos para os estagiaacuterios finalistas referirem as aacutereas curriculares abordadas no

projeto explicitando a forma como foram trabalhadas em termos de

interdisciplinaridade e de criatividade) Autonomia que surge como a maior ou menor

capacidade ldquoque os agentes que trabalham no projeto tecircm de gerirem espaccedilos de

autonomia existentes no contexto em que se movemrdquo Cooperaccedilatildeo que surge como a

capacidade maior ou menor que os elementos do grupo ldquotecircm de trabalhar em grupo e

de partilhar experiecircncias e saberesrdquo Eficaacutecia entendida como a ldquocapacidade maior ou

menor de isoladamente ou em grupo contribuir para que sejam conseguidos

resultados considerados positivos no processordquo Implicaccedilatildeo que procura avaliar o

sentimento de pertenccedila e de responsabilidade maior ou menor que as crianccedilas ldquoteratildeo

em relaccedilatildeo ao projeto em que trabalhamrdquo e Negociaccedilatildeo vista como a ldquocapacidade

maior ou menor de lidar com situaccedilotildees conflituais surgidas no decurso do projetordquo

Os grupos envolvidos

46

Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) chama a atenccedilatildeo para o facto de os avaliadores ldquoterem de ser responsabilizar e ter consciecircncia das consequecircncias da produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeordquo 47

para Kemmis (citado em Cortesatildeo 2005) a planificaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo de um projeto tecircm de ser renegociadas agrave medida que os interesses vatildeo mudando como consequecircncia da proacutepria evoluccedilatildeo do projeto

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Responderam ao nosso desafio como jaacute foi dito 22 grupos de crianccedilas e adultos do

universo das Instituiccedilotildees Cooperantes da ESE de Paula Frassinetti com estaacutegios

profissionalizantes da Licenciatura em Educaccedilatildeo de Infacircncia no ano letivo de

20092010 Estes estatildeo distribuiacutedos pelos distritos do Porto (grande maioria) mas

tambeacutem pelo distrito de Braga

O alvo desta investigaccedilatildeo foi o trabalho de metodologia de projeto desenvolvido no

contexto de estaacutegios profissionais em Educaccedilatildeo de Infacircncia da ESEPF com grupos de

crianccedilas dos 3 anos (5 salas) dos 4 anos (8 salas) dos 5 anos (8 salas) e ainda uma sala

mista de 45anos No cocircmputo geral estiveram entatildeo envolvidos entre adultos

(equipas pedagoacutegicas das salas) e crianccedilas cerca de quinhentas pessoas

Neste trabalho vamos apenas apresentar os dados recolhidos relativamente agrave

avaliaccedilatildeo das aprendizagens que a Metodologia de Projeto permite ao grupo de

crianccedilas pois nesta apresentaccedilatildeo existem condicionantes que natildeo possibilitam a

explicaccedilatildeo do estudo na sua globalidade Os dados relativos agrave avaliaccedilatildeo da qualidade

do trabalho desenvolvido pelas equipas pedagoacutegicas seratildeo alvos de anaacutelise e discussatildeo

numa oportunidade que se pretende proacutexima

O que mostraram os dados recolhidos

Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo das aprendizagens adquiridas pelas crianccedilas no decurso dos

projetos os resultados recolhidos apoiam a ideia de que a metodologia de projeto eacute de

facto um espaccedilo de crescimento de desenvolvimento do grupo no sentido de se

tronarem mais questionadores mais reflexivos mais autoacutenomos e como indiviacuteduos e

tambeacutem como grupos A primeira conclusatildeo que parece ser possiacutevel tirar eacute de que o

trabalho de projeto eacute de facto uma ferramenta muito uacutetil no que diz respeito agraves

Aprendizagens que as crianccedilas fazem no seu decurso

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

232

Aprendizagem

2019

18

1615

95

18

0 10 20 30

cate

gori

as

nordm de referecircncias

Interdisciplinaridade

Capacidade investigativa

Todas a aacutereas de conteuacutedo

Iniciaccedilatildeo aacute leitura e abordagem agrave

escritaDomiacutenio da matemaacutetica

Expressatildeo e comunicaccedilatildeo

Formaccedilatildeo pessoal e social

Conhecimento do mundo

De facto e se nos debruccedilarmos mais de perto sobre os dados recolhidos vemos que a

grande maioria das referecircncias vai no sentido das aacutereas de conteuacutedo trabalhadas no

decurso dos vaacuterios projetos (ao todo 106 referecircncias) Haacute 15 referecircncias a que os

projetos luacutedicos trabalharam todas a aacutereas de conteuacutedo sendo que haacute 5 referecircncias agrave

importacircncia interdisciplinaridade Isto pode ser entendido como um sinal de que na

educaccedilatildeo preacute-escolar e neste tipo de metodologia as aacutereas de conteuacutedo satildeo

trabalhadas transversalmente e de forma interligada o que parece conferir um

especial interesse ao projeto como instrumento de desenvolvimento de inuacutemeras

competecircncias que devem ser trabalhadas no contexto de Jardim de Infacircncia Olhando

para as diferentes aacutereas de conteuacutedo vemos que o maior nuacutemero de referecircncias (20)

vai para a aacuterea do conhecimento do mundo seguindo-se a aacuterea de formaccedilatildeo pessoal e

social com 19 referecircncias que parece surgir sobretudo ligada agraves competecircncias que o

trabalho de projeto requer tambeacutem foram feitas aprendizagens nas aacutereas de

expressatildeo e comunicaccedilatildeo (18 referecircncias) e no domiacutenio da matemaacutetica (18

referecircncias) Um nuacutemero consideraacutevel de referecircncias (16) destaca a aacuterea da iniciaccedilatildeo agrave

leitura e abordagem agrave escrita falando-se de um maior contacto com o mundo dos

livros e das histoacuterias

Com um peso tambeacutem muito consideraacutevel surgem as referecircncias (9) ao

desenvolvimento da capacidade investigativa das crianccedilas Com efeito os

testemunhos recolhidos revelam que estes grupos atingiram uma qualidade e

profundidade de pesquisa e investigaccedilatildeo no miacutenimo surpreendente quando se pensa

que estamos a falar de investigadores entre os trecircs e os cinco anos de idade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

233

O projeto luacutedico parece ser um espaccedilo privilegiado de exerciacutecio da Autonomia por

parte das crianccedilas segundo os testemunhos recolhidos Este conceito aparece

sobretudo ligado ao espaccedilo dado aos grupos para se co-responsabilizarem pela gestatildeo

de aprendizagem espaccedilos e materiais no decurso dos diferentes projetos

Autonomia

19

11

8

4

1

1

0 5 10 15 20

cate

gori

as

nordm de referecircncias

Capacidade investigativa

Capacidade de gestatildeo de conflitos

Capacidade de co-avaliar

Capacidade gerir papeis dentro de

uma equipaCapacidade de gestatildeo de espaccedilos e

materiaisCapacidade de co-planificar

De facto podemos verificar que as referecircncias (19) vatildeo sobretudo no sentido de verem

a co-planificaccedilatildeo como um espaccedilo privilegiado para o exerciacutecio da autonomia dos

grupos Verifica-se que as crianccedilas formam em muitos casos parte do investigador

coletivo (juntamente com a equipa pedagoacutegica) construindo a problemaacutetica a

investigar agindo investigando e reformulando os dados da pesquisa de acordo com

o que vatildeo recolhendo Parecem pequenos traccedilos de processos de investigaccedilatildeo accedilatildeo

Olhando os dados recolhidos parece claro que a competecircncia de Cooperaccedilatildeo (aqui

entendida como a capacidade maior ou menor de trabalhar em grupo e partilhar

experiecircncias e saberes) eacute muito trabalhada durante o desenvolvimento dos projetos

luacutedicos Surgem exemplos de cooperaccedilatildeo tanto com os elementos internos agrave equipa de

trabalho (grupo e equipa pedagoacutegica) como com elementos externos (famiacutelia e

comunidade)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

234

Cooperaccedilatildeo

1612

106

311

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

ind

icad

ore

s

nordm de referecircncias

Negativo

Partilha com outras

instituiccedilotildeesPartilha crianccedilacrianccedila

Partilha com outras salas

da instituiccedilatildeoGestatildeo do trabalho em

equipaPartilha jardim de

InfacircnciafamiacuteliaPartilha crianccedilagrupo

Um dos aspetos mais citados (16) eacute o exerciacutecio da cooperaccedilatildeo feito atraveacutes dos

contributos que cada crianccedila traz para o grupo

De acordo com os dados recolhidos parece possiacutevel afirmar-se que os projetos

analisados contecircm inuacutemeros exemplos de Eficaacutecia aqui entendida como sendo a

capacidade maior ou menor de isoladamente ou em grupo contribuir para que sejam

conseguidos resultados considerados positivos no processo

Eficaacutecia

129

65

3222

0 5 10 15

cate

go

ria

s

nordm de referecircncias

Envolvimento da famiacutelia

Contributo para a capacidade de trabalho

de equipa

Contributo para o desenvolvimento nas

aacutereas curriculares

Contributo para a capacidade de resoluccedilatildeo

de problemas

Contributo para aumentar a autonomia

Contributo para a capacidade reflexiva do

grupo

Contributo para a capacidade de pesquisa

Contributo para o envolvimento na

temaacutetica trabalhada

Haacute muitos exemplos (12) que falam de contributos eficazes das crianccedilas para o

desenvolvimento do projeto atraveacutes do envolvimento com as temaacuteticas trabalhadas

A Implicaccedilatildeo eacute vista aqui como sentimento de pertenccedila e responsabilidade maior ou

menor que as crianccedilas teratildeo em relaccedilatildeo ao projeto em que trabalharam

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

235

Implicaccedilatildeo

13

12

12

6

4

0 2 4 6 8 10 12 14

ca

teg

oria

s

nordm de referecircncias

Responsabilidade pelo material

construiacutedo em conjunto

Vontade de divulgarpartilhar o

projecto

Responsabilidade em contribuir

com materiais

Envolvimento afectivo

Responsabilidade em contribuir

com produtos de pesquisa

A implicaccedilatildeo aparece nas respostas analisadas (13 referecircncias) como associada agrave

responsabilidade demonstrada pelas crianccedilas em contribuir com produtos da sua

pesquisa

A Negociaccedilatildeo parece ser uma das competecircncias mais trabalhadas transversalmente

no decurso dos diferentes projetos Eacute referida como tendo em muitos projetos uma

evoluccedilatildeo positiva importante no decurso dos mesmos

Negociaccedilatildeo

14

14

10

0 5 10 15

ca

teg

oria

s

nordm de referecircncias

Evoluccedilatildeo na capacidade de

negociaccedilatildeo

Co-planificaccedilatildeo como exemplo

da capacidade de negociaccedilatildeo do

grupoEntre interesses individuais e

do grupo

Grande parte das referecircncias (14) fala do desenvolvimento da capacidade de

negociaccedilatildeo demonstrada pelos diferentes momentos de negociaccedilatildeo entre interesses

individuais e do grupo fundamentais para o eficaz desenvolvimento dos projetos

Reflexatildeo Final

Os dados analisados revelaram como se pode verificar que a Metodologia de Projeto eacute

um campo extremamente feacutertil de aprendizagens e crescimento quer para as crianccedilas

quer para os adultos Sentia-se que era importante natildeo deixar cair este campo de

investigaccedilatildeo que parecia ser ainda muito promissor em termos de resultados

interessantes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

236

Partindo desta experiecircncia jaacute vivida e percebendo a necessidade que existe de

construir instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo da Metodologia de Projeto no

contexto da Educaccedilatildeo de Infacircncia em Portugal pensou-se que seria importante

procurar encontrar um espaccedilo de reflexatildeo e de trabalho com equipas pedagoacutegicas no

terreno no sentido de se procurar construir e sistematizar numa loacutegica de

investigaccedilatildeo accedilatildeo instrumentos de acompanhamento dos projetos desenvolvidos nas

diferentes instituiccedilotildees convidadas a participar nesta primeira fase do projeto

Desta forma no ano letivo de 20122013 surge o Projeto de Investigaccedilatildeo

ldquoProblematizar a Metodologia de Projeto Articulando e Avaliando Aprendizagensrdquo

Convidaram-se cinco instituiccedilotildees com a valecircncia de Jardim de Infacircncia que de alguma

forma se foram mostrando empenhadas em aprofundar esta Metodologia Trata-se de

instituiccedilotildees com carateriacutesticas muito diferentes (jardins de infacircncia da rede puacuteblica

coleacutegios privados uns situados no centro da cidade do Porto outras em zonas

desfavorecidas da cidade e ainda outros de concelhos do grande Porto) Estas

diferenccedilas juntamente com praacuteticas diferenciadas de aplicaccedilatildeo da Metodologia de

Projeto com diferentes experiecircncias vivecircncias e saberes pareceram-nos uma riqueza

fundamental para que se pudessem produzir de facto novos conhecimentos No

entanto estava-se consciente que seria necessaacuterio abordar estas questotildees atraveacutes de

uma metodologia de investigaccedilatildeo que natildeo soacute respeitasse estas diferenccedilas como

permitisse articulaacute-las e valorizaacute-las

Assumiu-se sempre que a Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo seria uma metodologia de investigaccedilatildeo

que se adapta particularmente bem ao tipo de trabalho que se pretendia desenvolver

por se tratar de uma metodologia que desenvolve ldquoum conjunto de praacuteticas de

pesquisa visando produzir um conhecimento que se admite ser necessaacuterio pois que

permitiraacute intervir melhor num problema social eou educativo que se pensa ser

importante enfrentarrdquo48

48

Cortesatildeo L Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo ndash um convite a praacuteticas cientificamente transgressivas Conferecircncia proferida no Recife em Dezembro de 2004 p 3

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

237

A loacutegica do projeto sendo este de investigaccedilatildeo accedilatildeo assenta na problematizaccedilatildeo das

praacuteticas educativas dos diferentes intervenientes e na construccedilatildeo coletiva de um plano

de investigaccedilatildeointervenccedilatildeo

Tambeacutem e ainda segundo Cortesatildeo ldquo esse conjunto de praacuteticas usa sempre os

resultados obtidos da anaacutelise do que acontece em consequecircncia da

intervenccedilatildeo para produzir novo conhecimento (e assim sucessivamente)

Assim sendo poderaacute dizer-se que a Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo privilegia a mudanccedila

que catalisa como instrumento de pesquisa bem como a actividade de pesquisa

que produz como agente de mudanccedila (Bataille 1981 p 34)49

Outra das caracteriacutesticas que pareceu ser particularmente promissora em termos de

resultados eacute o facto de a Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo implicar a construccedilatildeo do que se

denomina de ldquoInvestigador coletivordquo o qual ldquorealiza um trabalho simultacircneo de

pesquisa e accedilatildeo conseguido atraveacutes de uma sinergia dos seus saberes e competecircncias

dos atores sociais que o compotildeem Eacute pois uma criaccedilatildeo coletiva de inovaccedilatildeo

pedagoacutegica e de aquisiccedilatildeo de conhecimentos (Perrenoud 1980) Eacute esta criaccedilatildeo

coletiva de inovaccedilatildeo e produccedilatildeo de conhecimento que confere agrave Investigaccedilatildeo-acccedilatildeo a

sua especificidade (Bataille 1981 p 30)50

A construccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo de instrumentos de acompanhamento dos projetos

desenvolvidos nas diferentes instituiccedilotildees constituiu desde o iniacutecio um dos

mecanismos para a reflexatildeo problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de novos saberes entre os

investigadores Atraveacutes de uma accedilatildeo partilhada entre os diferentes investigadores

tem-se procurado desde o iniacutecio encontrar coerecircncia entre os pressupostos da

metodologia e o seu impacto na construccedilatildeo das aprendizagens dos grupos de crianccedilas

e adultos envolvidos nos projetos

Este projeto estaacute ainda no seu iniacutecio Tratando-se de um projeto de Investigaccedilatildeo-accedilatildeo

a construccedilatildeo do investigador coletivo pareceu ser a necessidade inicial mais premente

para que o trabalho se pudesse desenvolver da forma mais produtiva possiacutevel Assim

neste primeiro ano de desenvolvimento do projeto privilegiaacutemos espaccedilos de

formaccedilatildeo e de reflexatildeo conjunta a todos os envolvidos Nestes momentos os

49

Idem 50

Idem 200434

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

238

participantes foram convidados a refletir sobre questotildees teoacutericas importantes para

que a linguagem e princiacutepios a utilizar no projeto fossem de facto comuns a todos os

investigadores (foram abordados temas como a Investigaccedilatildeo accedilatildeo - Investigaccedilatildeo-Acccedilatildeo

ndash um convite a praacuteticas cientificamente transgressivas) Anaacutelise e discussatildeo da grelha

de avaliaccedilatildeo de projetos proposta multiculturalidade e diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica)

Foram tambeacutem realizadas sessotildees de partilha de experiecircncias (por exemplo a

realizaccedilatildeo de um Seminaacuterio de partilha das diferentes experiecircncias vividas na

instituiccedilotildees da Metodologia de Projeto) Por uacuteltimo realizou-se um seminaacuterio em que

conjuntamente todos os investigadores refletiram sobre o rumo que o projeto deveria

tomar Foram levantadas questotildees como quais os aspetos importantes para refletir

que necessidades satildeo sentidas na praacutetica no dia a dia nos Jardins de Infacircncia em

relaccedilatildeo agrave utilizaccedilatildeo da Metodologia pelos investigadores que aspetos da avaliaccedilatildeo e

de reflexatildeo dos processos da Metodologia os investigadores sentem como importantes

e neste sentido foi proposta a construccedilatildeo de instrumentos e dispositivos a

experienciar

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

240

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Frassinetti

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

241

Transversalidade e continuidade em educaccedilatildeo

Um olhar sobre os instrumentos de registo e observaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Preacute-escolar e no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

DIANA CUNHA

O Caminhar ndash Jardim de Infacircncia Lda dianaptcunhagmailcom

IVONE NEVES

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti ivonenevesesepfpt

ANA PINHEIRO

anapinheiroesepfpt Escola Superior de Educaccedilatildeo de Paula Frassinetti

Resumo

Tomar consciecircncia do papel do educador de infacircncia e do professor do 1ordm CEB manifesta-se uma tarefa essencial agrave praacutetica permitindo uma orientaccedilatildeo da intervenccedilatildeo educativa no sentido de ir ao encontro do que eacute esperado por parte destes profissionais O trabalho espelha as experiecircncias nos contextos de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar sendo que se encontram evidenciadas as especificidades transversalidade e continuidade existentes em ambos os contextos A abordagem do estudo apresenta um caraacuteter misto Isto eacute por um lado um caraacuteter qualitativo na medida em que procuramos perceber mecanismos comportamentos e atitudes por outro lado um caraacuteter quantitativo na medida em que a informaccedilatildeo recolhida atraveacutes dos questionaacuterios e entrevistas pode espelhar uma perspetiva quantitativa

O trabalho comum a ambas as valecircncias com vista a um incremento na melhoria da intervenccedilatildeo educativa visa compreender as necessidades motivaccedilotildees e comportamentos dos sujeitos de estudo Este estudo tem carateriacutesticas proacuteximas de uma investigaccedilatildeo-accedilatildeo que permitiram uma avaliaccedilatildeo constante da intervenccedilatildeo com o objetivo de a tornar mais eficaz

Os instrumentos e teacutecnicas de investigaccedilatildeo utilizados foram a anaacutelise documental as listas de verificaccedilatildeo ou controlo as grelhas de observaccedilatildeo a observaccedilatildeo participante os registos de observaccedilatildeo o inqueacuterito por questionaacuterio a entrevista os instrumentos de avaliaccedilatildeo das aprendizagens o portfoacutelio de crianccedila o registo de projeto luacutedico e a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

242

rede curricular O conhecimento dos grupos de crianccedilas permite atitudes adequadas assim como uma planificaccedilatildeo mais eficaz na medida em que satildeo promovidas atividades significativas e diferenciadas que vatildeo de encontro agraves necessidades e interesses de cada um

Estes reguladores da praacutetica educativa satildeo instrumentos que permitem a reflexatildeo praacutetica sine-qua-non para uma intervenccedilatildeo de qualidade pois esta accedilatildeo vai permitir uma avaliaccedilatildeo dos acontecimentos e suas consequecircncias e ainda a remodelaccedilatildeo de praacuteticas e atitudes

Palavras-chave transversalidade continuidade profissional generalista

Abstract

The work of early childhood educators as well as primary schoolrsquos teachers is an essential practice allowing the intervention to shows us what to be expected from these professionals The work reflects the experiences in both these contexts especially in what concerns both transversal and continuity of pedagogies and methodologies with in each of them This report is mainly characterized as being based on mixed study On one hand has a qualitative nature as we tried to understand mechanisms behaviors and attitudes On the other hand we used a quantitative approach as the information gathered from questionnaires and interviews reveal a quantitative perspective

The study is aimed to understand the needs motivations and behaviors of the subjects It has features of an action-investigation that allowed a constant assessment of the intervention in order to make it more effective

The instruments and research techniques used to collect data were document analysis checklists and control grids for register participant observation observation records questionnaire survey interview childrsquos portfolio and childrensrsquos work The knowledge both teachers and educators have of the group they work with allows appropriate intervention as well as more efficient planning Significant activities related to childrenrsquos needs and interests

Keywords transversality continuity general professional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

243

Refletir sobre o profissional reflexivo

A constante busca da atualizaccedilatildeo e da reformulaccedilatildeo da praacutetica educativa visando a

melhoria das aprendizagens do educando leva o Educador51 a tomar uma atitude

reflexiva Neste processo estatildeo implicados os valores e crenccedilas que defendemos isto

eacute refletir implica o ldquohellip+ exerciacutecio da actividade reflexiva sobre a sua laquopraacutexisraquo hellip+rdquo

(Neves 2007 p81) revestindo este processo ldquohellip+ de uma dinacircmica construtivista

situado nos contextos onde decorre a acccedilatildeo e por isso eacute interactivo e

multidimensional considerando-se essencial para a melhoria da qualidade das praacuteticas

educativasrdquo (Ibidem p79) Deste modo tendo como base os seus ideais o Educador

reflete acerca do que observou e aconteceu no contexto atribuindo-lhe um significado

e concluindo as razotildees que o justificam

Agrave luz do que referimos anteriormente e de modo a melhorar as praacuteticas educativas a

reflexatildeo eacute indispensaacutevel sendo que ldquopara que o professor possa assumir o papel de

solucionar os seus proacuteprios problemas da accedilatildeo concreta hellip+ eacute necessaacuterio que o

professor assuma um processo de reflexatildeo criacutetica sobre a sua praacutetica docenterdquo (Nunes

2000 p21) Esta reflexatildeo criacutetica deve ter lugar antes durante e apoacutes a accedilatildeo tendo em

vista uma avaliaccedilatildeo formativa que ao longo do percurso de aprendizagem vai

melhorando o que se considera menos correto

De modo a organizar e documentar todos os resultados consequentes da sua praacutetica

reflexiva o Educador recorre ao portfoacutelio reflexivo sendo que este se trata rdquohellip+ de um

conjunto de trabalhos que atraveacutes de estrateacutegias de investigaccedilatildeo-acccedilatildeo procuram

evidenciar a natureza reflexiva colaborativa e interpessoal dos processos de

construccedilatildeo de conhecimento hellip+rdquo (Saacute-chaves 2007 p7) Ou seja adotar uma postura

reflexiva eacute um alicerce para que imprimamos maior qualidade nas nossas praacuteticas O

portfoacutelio visa ldquohellip+ em primeiro lugar a autoavaliaccedilatildeo e a autotransformaccedilatildeo hellip+ que

teratildeo com certeza repercussotildees na melhoria da praacutetica educativa e no

desenvolvimento pessoal e profissional do professorrdquo (Nunes 2000 p36)

O presente estudo reporta a duas experiecircncias de estaacutegio interventivo desenvolvidos

nos contextos de 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico e de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar Estas

experiecircncias decorreram no periacuteodo de 26 de setembro de 2011 a 11 de janeiro de

2012 e de 6 de fevereiro a 6 de junho de 2012 respetivamente sendo que o primeiro

periacuteodo mencionado decorreu numa instituiccedilatildeo da rede puacuteblica concretamente com

51

No presente documento surgiraacute a necessidade de nos referirmos ao educador de infacircncia e ao professor do 1ordm CEB em simultacircneo quando tal acontecer estes seratildeo denominados como Educador ou profissional de educaccedilatildeo uma vez que ambos desempenham um papel educativo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

244

uma turma do 2ordm ano de escolaridade e o segundo periacuteodo de tempo referido teve

ocorrecircncia com um grupo de 45 anos numa instituiccedilatildeo particular e cooperativa

Para a prossecuccedilatildeo deste estudo foi necessaacuterio compreender qual o meio mais eficaz e

adequado de obter a informaccedilatildeo pretendida e para tal foi necessaacuteria uma

apropriaccedilatildeo das metodologias de investigaccedilatildeo

Ao longo destas experiecircncias adotamos uma atitude de professor-investigador Tal

postura implicou o desenvolvimento de ldquohellip+ competecircncias para investigar na sobre e

para a acccedilatildeo educativa hellip+rdquo (Alarcatildeo 2001 p6) bem como adotar uma postura

criacutetica questionando-nos acerca da nossa intervenccedilatildeo educativa ldquohellip+ como intelectual

que criticamente questiona e se questionardquo (Ibidem)

A abordagem de estudo apresentou um caraacuteter misto Isto eacute por um lado um caraacuteter

qualitativo na medida em que procuramos ldquohellip+ compreender os mecanismos o como

funcionam certos comportamentos atitudes e funccedilotildeesrdquo (Sousa 2009 p31) por outro

lado um caraacuteter quantitativo na medida em que a informaccedilatildeo recolhida atraveacutes dos

questionaacuterios e entrevistas ldquohellip+ pode ser transformada em nuacutemeros ou dados

quantitativos hellip+rdquo (Tuckman 2000 pp307-308)

O estudo comum a ambas as valecircncias com vista a um incremento na melhoria da

intervenccedilatildeo educativa visava compreender as necessidades motivaccedilotildees e

comportamentos dos sujeitos de estudo ou seja ldquohellip+ uma propriedade que natildeo eacute

passiacutevel de ser medida numa escala numeacuterica hellip+rdquo (Rosental amp Freacutemontier-Murphy

2002 p17) Tendo em conta que a investigaccedilatildeo-accedilatildeo eacute uma investigaccedilatildeo hellip+

sistemaacutetica e auto-reflexiva levada a cabo por praacuteticos para melhorar a praacuteticardquo

(McKernan 1998 citado em Maacuteximo-Esteves 2008 P20) este estudo tem

carateriacutesticas proacuteximas de uma investigaccedilatildeo-accedilatildeo que permitiram uma avaliaccedilatildeo

constante da intervenccedilatildeo com o objetivo de a tornar mais eficaz

Pode ainda considerar-se que este estudo teve um caraacuteter etnograacutefico na medida em

que a etnografia eacute entendida como ldquohellip+ um meacutetodo de investigaccedilatildeo assente no

contacto directo e prolongado com os actores sociais cuja interacccedilatildeo constitui o

objecto de estudordquo (Silva 2003 citado em Vasconcelos sd p87)

Os sujeitos de estudo envolvidos foram a turma de vinte alunos do 2ordm ano de

escolaridade do 1ordm CEB com idades compreendidas entre os 7 e os 8 anos de idade

assim como o grupo de 25 crianccedilas da sala dos 45 anos de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar com

idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos de idade Sendo os educandos o centro

da accedilatildeo educativa estes devem ser alvo de constante observaccedilatildeo e investigaccedilatildeo pois

os sinais de qualidade da accedilatildeo educativa satildeo transmitidos atraveacutes dos mesmos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

245

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar surgiu uma questatildeo pertinente que colocou os

pais das crianccedilas e a educadora cooperante tambeacutem como sujeitos de estudo uma vez

que consideramos pertinente compreender a perceccedilatildeo destes face agraves implicaccedilotildees que

o projeto luacutedico ldquoA Selvardquo vivenciado pelo grupo de crianccedilas teve no desenvolvimento

e aquisiccedilatildeo de novas competecircncias do grupo de crianccedilas em questatildeo Torna-se

impreteriacutevel justificar o porquecirc da seleccedilatildeo destes sujeitos de estudo a educadora

cooperante pois como educadora titular do grupo acompanhou todo o seu processo e

desenvolvimento e os pais das crianccedilas uma vez que se envolveram ativamente no

projeto Importa ainda referir que os pais foram representados atraveacutes de uma

amostra de cinco pais selecionada aleatoriamente uma vez que todos se envolveram

nas atividades do projeto luacutedico

Instrumentos e teacutecnicas do profissional-investigador

Os instrumentos e teacutecnicas de estudo devem ser criteriosamente selecionados para

que deles se possa tirar o melhor partido Neste sentido os instrumentos e teacutecnicas de

investigaccedilatildeo utilizados neste estudo foram a anaacutelise documental as listas de

verificaccedilatildeo ou controlo as grelhas de observaccedilatildeo a observaccedilatildeo participante os

registos de observaccedilatildeo o inqueacuterito por questionaacuterio a entrevista os instrumentos de

avaliaccedilatildeo das aprendizagens o portfoacutelio de crianccedila o registo de projeto luacutedico e a rede

curricular

A anaacutelise documental carateriza-se pelo ldquohellip+ procedimento indirecto de pesquisa

reflexivo e sistemaacutetico controlado e criacutetico procurando dados factos relaccedilotildees ou leis

sobre determinado tema em documentaccedilatildeo existenterdquo (Sousa 2009 p 88) Esta

teacutecnica foi utilizada aquando da anaacutelise dos documentos de autonomia e gestatildeo das

instituiccedilotildees de ensino em que estas experiecircncias tiveram lugar para um conhecimento

mais aprofundado das mesmas bem como para a apropriaccedilatildeo de pressupostos

teoacutericos que sustentassem a praacutetica educativa Por outro lado estas anaacutelises tambeacutem

incidiram sobre os documentos oficiais orientadores da praacutetica educativa em Educaccedilatildeo

Preacute-Escolar e 1ordm CEB bem como na consulta de artigos cientiacuteficos livros e publicaccedilotildees

relacionados com as problemaacuteticas vivenciadas

Segundo Alberto Sousa (2009) ldquohellip+ a observaccedilatildeo em educaccedilatildeo destina-se

essencialmente a pesquisar problemas a procurar respostas para questotildees que se

levantem e a ajudar na compreensatildeo do processo pedagoacutegicordquo (p109) daiacute a

pertinecircncia da observaccedilatildeo em contexto educativo pois leva a uma compreensatildeo mais

profunda do que ocorre no meio em estudo A observaccedilatildeo nestes contextos a que nos

referimos foi permanente como condiccedilatildeo sine-qua-non pois eacute fundamental em todas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

246

as etapas do processo educativo Foi tambeacutem participante pois integramo-nos nos

diferentes contextos participando na vida dos grupos para recolher informaccedilatildeo Para

que a observaccedilatildeo seja eficaz como ato promotor de conhecimento urge a necessidade

de que esta seja alvo de registo Deste modo foram utilizados diferentes formatos de

observaccedilatildeo como meio de documentar as aprendizagens e carateriacutesticas dos

educandos

As listas de verificaccedilatildeo ou controlo ldquohellip+ satildeo listas de traccedilos especiacuteficos ou

comportamentos agrupados numa ordem loacutegica O observador assinala a presenccedila ou

ausecircncia de cada comportamento enquanto observa ou faacute-lo posteriormente quando

reflecte sobre as observaccedilotildees realizadasrdquo (Parente 2002 p187) Este natildeo foi um

instrumento utilizado com frequecircncia e foi apenas utilizado no acircmbito de 1ordm CEB pois

poucas situaccedilotildees permitiam este tipo de registo em que o comportamento estaacute ou natildeo

presente natildeo existindo um meio-termo Um exemplo da aplicaccedilatildeo de uma lista de

verificaccedilatildeo foi aquando da observaccedilatildeo da identificaccedilatildeo dos cuidados a ter com a visatildeo

As descriccedilotildees diaacuterias permitem ldquohellip+ documentar mudanccedilas ao niacutevel do crescimento do

comportamento e do desenvolvimento hellip+rdquo (Parente 2002 p180) Atraveacutes deste tipo

de registo pudemos constatar por exemplo a aquisiccedilatildeo de competecircncias pelos

educandos ou a alteraccedilatildeo de comportamentos

No que respeita ao registo contiacutenuo este trata-se de um ldquohellip+ relato narrativo e

detalhado de um comportamento ou acontecimento registado sequencialmente tal

como ocorremrdquo (Parente 2002 p183) Este tipo de registo foi apenas utilizado no

contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar permitindo-nos observar comportamentos

complexos no seu ambiente natural assim como observar comportamentos de

determinadas crianccedilas em contextos especiacuteficos

Os registos de incidentes criacuteticos ldquohellip+ descrevem um incidente ou comportamento

considerado importante para ser observado e registadordquo (Parente 2002 p181) sendo

que devem ser objetivos relatando o que aconteceu quando onde e o que foi dito

De entre muitos aspetos este instrumento permitiu-nos no contexto de 1ordm CEB

verificar demonstraccedilotildees de crenccedilas de carecircncias afetivas ou de sentido de entreajuda

e cooperaccedilatildeo Jaacute no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar possibilitou constatar por

exemplo manifestaccedilotildees de responsabilidade e lideranccedila de irresponsabilidade

perante as quais era necessaacuterio atuar ou de consciecircncia ambiental

A amostragem de acontecimentos foi tambeacutem um instrumento utilizado Este permitiu

a focalizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em ocorrecircncias de comportamentos previamente definidos

como alvo de observaccedilatildeo (PARENTE 2002) Este tipo de registo de observaccedilatildeo permitiu

documentar no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar as aacutereas que eram mais ou menos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

247

frequentadas pelas crianccedilas permitindo uma posterior atuaccedilatildeo face agraves lacunas

apresentadas por algumas das aacutereas e proporcionando um maior conhecimento dos

interesses de cada crianccedila

Os instrumentos de recolha de dados ateacute aqui abordados foram criados por Cristina

Parente (2002) e permitiram uma recolha variada de informaccedilotildees que se converteram

em intervenccedilotildees mais adequadas a cada grupo bem como agraves suas necessidades e

vivecircncias

As grelhas de observaccedilatildeo permitem ldquohellip+ um registo imediato e raacutepido das observaccedilotildees

realizadasrdquo (Trindade 2007 p41) favorecendo o processo de observaccedilatildeo Deste

modo no contexto de 1ordm CEB foram utilizadas grelhas de observaccedilatildeo com muita

frequecircncia sendo que estas apresentavam o comportamento a ser observado

criteacuterios de observaccedilatildeo e escalas Em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar este instrumento verificou-

se profiacutecuo aquando das sessotildees de motricidade na medida em que permitiram um

raacutepido e faacutecil registo do desempenho de cada crianccedila em atividades especiacuteficas Os

campos que constavam destas grelhas foram por noacutes criados no sentido de criar um

instrumento que se ajustasse agraves nossas necessidades e que para noacutes fizesse sentido e

facilitasse o processo de observaccedilatildeo

O registo das atividades significativas traduz-se no registo de atividades que por algum

motivo tiveram um maior impacto no grupo ou ateacute num soacute educando Este tipo de

instrumento permitiu o registo de atividades como a implementaccedilatildeo de uma nova

aacuterea na sala as pesquisas autoacutenomas realizadas pelos alunos ou ainda o trabalho de

grupo todas estas em contexto de 1ordm CEB Em Educaccedilatildeo Preacute-Escolar permitiu o registo

de atividades que foram significativas para o grupo ou apenas para alguns elementos

como por exemplo a exploraccedilatildeo da digitinta ou as sessotildees de culinaacuteria em que

inuacutemeras competecircncias eram desenvolvidas

O PIP ndash Perfil de Implementaccedilatildeo do Programa ndash eacute um instrumento criado pela

Fundaccedilatildeo de Investigaccedilatildeo Educacional High-Scope em 1989 que visa a avaliaccedilatildeo da

qualidade da implementaccedilatildeo do programa nas salas Este instrumento foi em 1998

complementado pelo PQA ndash Program Quality Assessment ndash um outro instrumento que

tem como finalidade a avaliaccedilatildeo dos contextos Apesar de o PIP ser um instrumento

criado para a regulaccedilatildeo das salas que implementam o modelo High-Scope este

modelo de recolha de dados eacute facilmente adaptaacutevel a outros contextos que natildeo sigam

o modelo curricular a que nos referimos pois os elementos avaliados satildeo geneacutericos agrave

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar nomeadamente o espaccedilo fiacutesico a rotina diaacuteria a interaccedilatildeo

adulto-crianccedila e a interaccedilatildeo adulto-adulto No acircmbito de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar o PIP

em relaccedilatildeo ao ambiente fiacutesico foi utilizado pois essa necessidade foi sentida apoacutes as

conclusotildees retiradas da amostragem de acontecimentos Desta forma pudemos refletir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

248

acerca da organizaccedilatildeo do espaccedilo e posteriormente reorganizar o mesmo face agraves

necessidades manifestadas pelo grupo e agraves conclusotildees alcanccediladas pela equipa

pedagoacutegica

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar na tentativa de compreender as implicaccedilotildees que

o projeto luacutedico vivenciado pelo grupo tivera no seu desenvolvimento recorremos ao

inqueacuterito por questionaacuterio para perceber a opiniatildeo da famiacutelia face agrave questatildeo

levantada O inqueacuterito por questionaacuterio ldquoConsiste em colocar a um conjunto de

inquiridos geralmente representativo de uma populaccedilatildeo uma seacuterie de perguntas

relativas hellip+ ao seu niacutevel de conhecimento ou de consciecircncia de um acontecimento ou

de um problema ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse o investigadorrdquo

(Quivy amp Campenhoudt 1998 p188) estas carateriacutesticas aliadas agrave possibilidade de

ldquohellip+ quantificar uma multiplicidade de dados e de proceder por conseguinte a

numerosas anaacutelises de correlaccedilatildeordquo (Ibidem p189) levaram a que consideraacutessemos o

inqueacuterito por questionaacuterio o instrumento mais indicado para compreender a perceccedilatildeo

das famiacutelias face agraves aprendizagens dos seus educandos no acircmbito do projeto luacutedico ldquoA

Selvardquo Uma vez que este inqueacuterito por questionaacuterio era destinado agraves famiacutelias foi

necessaacuterio dotaacute-lo de uma contextualizaccedilatildeo introduzindo a metodologia utilizada no

trabalho desenvolvido em sala garantindo assim um conhecimento miacutenimo acerca do

assunto sobre o qual se pretendia que os pais fossem criacuteticos Para as questotildees deste

inqueacuterito foram tidos em conta indicadores como conhecimento do projeto luacutedico

partilha das crianccedilas motivaccedilatildeo das crianccedilas importacircncia do projeto luacutedico no

desenvolvimento das crianccedilas importacircncia do envolvimento parental

No que concerne agrave entrevista esta foi utilizada tambeacutem apenas no acircmbito de

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar para compreender a opiniatildeo da educadora cooperante face ao

desenvolvimento do grupo no acircmbito do projeto luacutedico A entrevista ldquohellip+ eacute um acto de

conversaccedilatildeo intencional e orientado que implica uma relaccedilatildeo pessoal hellip+ utilizada

quando se pretende conhecer o ponto de vista do outrordquo (Maacuteximo-Esteves 2008

pp92-93) Tratando-se a educadora de um indiviacuteduo restrito do qual se pretendia

recolher informaccedilotildees acerca de algo que vivenciou optamos por este instrumento

pois permite um maior ldquohellip+ grau de profundidade dos elementos de anaacutelise

recolhidosrdquo (Quivy amp Campenhoudt 1998 p194)

Os dados destes dois uacuteltimos instrumentos de recolha de informaccedilatildeo foram

devidamente tratados atraveacutes de uma anaacutelise de conteuacutedo que possibilitou

compreender a perceccedilatildeo dos sujeitos de estudo face agrave questatildeo levantada

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo das aprendizagens foram tambeacutem fonte de recolha de

dados que permitiam a regulaccedilatildeo das aprendizagens a par com os registos de

observaccedilatildeo efetuados assim como a intervenccedilatildeo do adulto

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

249

No contexto de 1ordm CEB estes instrumentos traduziram-se nas fichas de trabalho por

noacutes construiacutedas nas estrateacutegias promotoras de aprendizagem ativa pelo aluno

nomeadamente os trabalhos de pesquisa de grupo e experimentais assim como nas

estrateacutegias luacutedicas em que os alunos aprendiam brincando Todos estes momentos

foram alvo de observaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo formativa no sentido de regular as

aprendizagens

No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar a realizaccedilatildeo do portfoacutelio de crianccedila permitiu

verificar a mais-valia que este instrumento representa na orientaccedilatildeo da accedilatildeo pois este

instrumento encoraja ldquohellip+ a reflexatildeo e o estabelecimento de objetivos a cada aprendiz

hellip+rdquo (Shores amp Grace 2001 p13) Assim atraveacutes do registo sistemaacutetico da evoluccedilatildeo da

crianccedila e do diaacutelogo com a mesma pudemos refletir acerca das competecircncias que

seriam importantes que a crianccedila desenvolvesse sendo que esta reflexatildeo se

apresentou sob a forma de propostas de intervenccedilatildeo ou de relatoacuterio narrativo

O registo do projeto luacutedico tambeacutem possibilitava uma reflexatildeo acerca das

aprendizagens alcanccediladas pelas crianccedilas assim como uma reflexatildeo acerca do trabalho

desenvolvido na medida em que as atividades eram descritas da forma como haviam

decorrido elencando competecircncias trabalhadas e comportamentos manifestados

pelas crianccedilas A grelha de avaliaccedilatildeo dos projetos luacutedicos foi tambeacutem algo a que

recorremos para a documentaccedilatildeo das aprendizagens das crianccedilas no acircmbito do

projeto luacutedico Este instrumento que referimos por uacuteltimo permitiu a avaliaccedilatildeo das

competecircncias alcanccediladas pelas crianccedilas assim como a avaliaccedilatildeo da equipa pedagoacutegica

face agrave sua atuaccedilatildeo

A rede curricular surgiu a par com o registo do projeto luacutedico Esta representa um meio

de registo do trabalho desenvolvido numa sala ao longo de um ano letivo Este

instrumento permite-nos uma leitura integral do trabalho desenvolvido

compreendendo o caraacuteter sequencial e articulado do trabalho de projeto e podendo

ser verificada a interdisciplinaridade que cada atividade contempla Uma vez que ldquoA

rede natildeo tem centro ou pode ter vaacuterios centros que trazem ao redor de si pequenas

ramificaccedilotildeesrdquo (Ferreira de Arauacutejo 2008 sp) neste instrumento natildeo consta apenas o

registo das atividades realizadas no acircmbito do projeto luacutedico mas tambeacutem outras

atividades realizadas os instrumentos de organizaccedilatildeo social do grupo e a organizaccedilatildeo

do ambiente educativo assim como o trabalho desenvolvido no acircmbito da instituiccedilatildeo

e com a comunidade Atraveacutes de siacutembolos formas e cores previamente definidos

pode facilmente fazer-se a leitura das aacutereas de desenvolvimento trabalhadas na

atividade em questatildeo e se a mesma foi uma sugestatildeo do grupo dos pais ou do

Educador pode ainda perceber-se o encadeamento das atividades

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

250

No que respeita agrave avaliaccedilatildeo da sua intervenccedilatildeo ndash autoavaliaccedilatildeo ndash o Educador

necessita de se descentralizar para que seja capaz de refletir criticamente acerca das

suas intervenccedilotildees e das suas propostas Neste sentido ao longo destas experiecircncias

utilizamos a redaccedilatildeo de reflexotildees escritas a realizaccedilatildeo de avaliaccedilotildees semanais e no

contexto de 1ordm CEB as grelhas de observaccedilatildeo de aula preenchidas pelo par

pedagoacutegico

As reflexotildees escritas eram devidamente fundamentadas teoricamente e tinham como

intuito o esclarecimento acerca de temas imperativos na praacutetica educativa decorrente

Exemplo de um tema que se revelou alvo de reflexatildeo foi a diferenciaccedilatildeo pedagoacutegica

pois ao depararmo-nos com uma heterogeneidade muito demarcada a niacutevel cognitivo

no grupo de 1ordm CEB sentimos a necessidade de compreender o que poderia ser feito

na tentativa de atender agraves necessidades de cada um dos alunos Refletir acerca deste

tema permitiu-nos uma elucidaccedilatildeo das conceccedilotildees teoacutericas e deste modo encontrar

estrateacutegias para colmatar este obstaacuteculo O profissional reflexivo tambeacutem foi um tema

que nos suscitou interesse pois tiacutenhamos a intenccedilatildeo de incrementar a qualidade das

proacuteprias reflexotildees escritas e a consulta de bibliografia adequada foi fundamental para

perceber em que aspetos deveriacuteamos melhorar No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar

continuou a haver assuntos alvo de reflexatildeo como eacute o caso por exemplo da rede

curricular

No que respeita agrave realizaccedilatildeo das avaliaccedilotildees semanais estas permitiam refletir sobre os

aspetos a melhorar numa proacutexima intervenccedilatildeo e tambeacutem sobre os aspetos positivos

que se destacaram Temos como exemplo no contexto de 1ordm CEB a avaliaccedilatildeo do dia

18 de outubro em que refletimos sobre uma gestatildeo natildeo tao eficaz do tempo e do

grupo numa atividade em que foi solicitado o diaacutelogo em grande grupo a reflexatildeo

levou-nos natildeo soacute a identificar um aspeto a melhorar como nos permitiu apontar uma

soluccedilatildeo para a resoluccedilatildeo deste contratempo A tiacutetulo de exemplo no contexto de

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar a avaliaccedilatildeo semanal permitiu constatar a eficaacutecia de estrateacutegias

Estas reflexotildees constantes permitiam uma regulaccedilatildeo da praacutetica sendo que assim nos

forneceu meios para reformular a intervenccedilatildeo alcanccedilando uma progressiva qualidade

das praacuteticas educativas

No que refere ao 1ordm CEB as grelhas de observaccedilatildeo de aula preenchidas pelo par

pedagoacutegico e pela professora cooperante eram tambeacutem um oacutetimo instrumento de

reflexatildeo pois estas eram capazes de observar situaccedilotildees e aspetos que nos passariam

despercebidos por nos encontrarmos embrenhados na realizaccedilatildeo das atividades

pedagoacutegicas e na assistecircncia a todos os alunos As grelhas de observaccedilatildeo de aula

permitiram ainda que tiveacutessemos em atenccedilatildeo os aspetos que realmente satildeo

importantes na praacutetica educativa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

251

Avaliar para agir

Relativamente agrave avaliaccedilatildeo dos educandos nos dias que correm eacute dado adquirido que

a avaliaccedilatildeo natildeo se reduz apenas a um momento isolado no final de cada periacuteodo letivo

e assim a uma avaliaccedilatildeo que visa meramente a atribuiccedilatildeo de classificaccedilotildees A avaliaccedilatildeo

eacute um elemento regulador da praacutetica isto eacute avaliamos em primeiro lugar para

perceber em que niacutevel os nossos educandos se encontram e podermos atuar face agraves

suas necessidades depois eacute necessaacuterio que haja uma avaliaccedilatildeo constante ao longo do

processo e como natildeo podia deixar de ser eacute necessaacuterio avaliar os resultados finais

Eacute entatildeo evidente que a avaliaccedilatildeo eacute realizada em diferentes momentos do processo

educativo momentos esses que datildeo lugar a trecircs tipos de avaliaccedilatildeo distintos

nomeadamente a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica a avaliaccedilatildeo formativa e a avaliaccedilatildeo sumativa

A avaliaccedilatildeo diagnoacutestica eacute utilizada para apurar a ldquohellip+ posiccedilatildeo do aluno face a novas

aprendizagens que lhe vatildeo ser propostas e a aprendizagem anteriores que servem de

base agravequelas hellip+rdquo (Ribeiro 1991 p79) permitindo diagnosticar as necessidades das

crianccedilas

No que respeita agrave avaliaccedilatildeo formativa esta tem por excelecircncia um caraacuteter evolutivo

na medida em que ldquohellip+ pretende determinar a posiccedilatildeo do aluno ao longo de uma

unidade de ensino no sentido de identificar dificuldades e de lhes dar soluccedilatildeordquo

(Ribeiro 1991 p84) No contexto em 1ordm CEB a avaliaccedilatildeo formativa foi realizada

atraveacutes do acompanhamento constante de cada aluno aquando da realizaccedilatildeo de

tarefas de jogos de pesquisas de trabalhos de grupo de experiecircncias da realizaccedilatildeo

de fichas de trabalho por parte dos alunos bem como aquando do preenchimento de

grelhas de observaccedilatildeo e listas de verificaccedilatildeo permitindo a averiguaccedilatildeo de dificuldades

para a posterior intervenccedilatildeo no sentido de colmatar tais dificuldades Jaacute no contexto

de jardim-de-infacircncia o acompanhamento de cada crianccedila os registos de observaccedilatildeo

e por vezes as grelhas de observaccedilatildeo tambeacutem foram instrumentos que suportaram a

avaliaccedilatildeo formativa deste grupo

Os instrumentos de observaccedilatildeo direta enumerados anteriormente permitiram avaliar

as aquisiccedilotildees conseguidas pelos educandos nos diferentes domiacutenios do

desenvolvimento bem como documentar os seus progressos

A autoavaliaccedilatildeo dos alunos foi tambeacutem um instrumento de avaliaccedilatildeo utilizado em

ambas as valecircncias No contexto de 1ordm CEB este instrumento permitiu verificarmos o

modo como os alunos estavam a percecionar o seu desempenho e se seriam capazes

de apontar soluccedilotildees para a colmataccedilatildeo de lacunas No que respeita agrave Educaccedilatildeo Preacute-

Escolar esta autoavaliaccedilatildeo acontecia ao niacutevel da reflexatildeo acerca de comportamentos e

atitudes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

252

Jaacute em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo sumativa esta tem como finalidade determinar se os

objetivos previamente estipulados foram alcanccedilados Esta avaliaccedilatildeo eacute rdquo hellip+ pertinente

no final de um qualquer segmento jaacute longo de aprendizagem ndash seja ele uma ou mais

unidades de ensino hellip+rdquo (Ribeiro 1991 p89)

Sendo aplicada em todos estes momentos a avaliaccedilatildeo transforma-se num ato de

comunicaccedilatildeo entre professor e aluno em que o professor capta as necessidades do

aluno e as vai transmitindo ao mesmo e este vai dando a resposta adequada Assim a

avaliaccedilatildeo como feedback ldquohellip+ tem como uacutenica finalidade melhorar o desenrolar da

accedilatildeo e tornaacute-la mais condizente com o seu projeto hellip+rdquo (Barlow 2006 p15)

Para avaliar os educandos o profissional de educaccedilatildeo tem de saber o que vai avaliar

Assim a avaliaccedilatildeo torna-se indissociaacutevel da planificaccedilatildeo pois ao iniciar qualquer

planificaccedilatildeo importa ldquohellip+ natildeo definir primeiro o que o professor vai fazer para

transmitir tal saber ou habilidade mas o que o aluno seraacute capaz de fazer ao teacutermino da

formaccedilatildeo Natildeo vamos nos situar no ponto de partida da acccedilatildeo mas no seu ponto de

chegadardquo (Ibidem p83)

Conclusatildeo

O crescimento pessoal e profissional depende em muito da capacidade de reflexatildeo

criacutetica uma vez que esta accedilatildeo vai permitir uma avaliaccedilatildeo dos acontecimentos e suas

consequecircncias e por sua vez a remodelaccedilatildeo de praacuteticas e atitudes

As duacutevidas que se levantaram ao longo das experiecircncias nos diferentes contextos

foram inuacutemeras e exigiram uma postura de permanente procura pelo saber uma

articulaccedilatildeo entre as conceccedilotildees teoacutericas e a praacutetica apostando na ldquohellip+ contiacutenua

procura de novos dados de resoluccedilatildeo de problemas de mudanccedila [que se processa]

atraveacutes de um movimento contiacutenuo entre acccedilatildeo e reflexatildeo que exige intervenccedilatildeo

implicaccedilatildeo e participaccedilatildeordquo (Fernandes 1990 p34)

No contexto de 1ordm CEB a dificuldade em compreender como estabelecer esta ponte

levou a que a nos questionaacutessemos inuacutemeras vezes uma vez que nos encontraacutevamos

com uma turma do 2ordm ano de escolaridade que jaacute estaria ambientada com as

especificidades do 1ordm CEB Ao fim de algum tempo compreendemos que atraveacutes de

uma relaccedilatildeo proacutexima e afetuosa um elemento mediador jaacute seria criado assim como

atraveacutes do luacutedico e dos jogos como estrateacutegias de ensino e dos momentos de

acolhimento e diaacutelogo Poreacutem natildeo satisfeitos questionando-nos acerca do que mais

poderia ser feito e julgamos que a criaccedilatildeo de aacutereas na sala aproximando-nos de

caracteriacutesticas de um projeto luacutedico seria uma possiacutevel estrateacutegia e nesse sentido foi

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

253

criada uma aacuterea de descoberta e construccedilatildeo ativa do conhecimento o Centro de

Recursos

Por sua vez no contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar uma vez que se tratava de um grupo

com idades compreendidas entre os cinco e os seis anos de idade a necessidade de

continuidade pedagoacutegica tambeacutem se fez sentir A abordagem de conteuacutedos

programaacuteticos comuns ou semelhantes a ambos os contextos tambeacutem foi uma das

estrateacutegias utilizadas assim como o convite a familiares que lecionam no 1ordm CEB para

abordar conteuacutedos que abordariam em sala desmistificando as ideias preacute-concebidas

das crianccedilas

A relaccedilatildeo pedagoacutegica foi uma preocupaccedilatildeo desde o iniacutecio e foi privilegiada de igual

forma em ambos os contextos Entendemos que esta relaccedilatildeo deveria ser nutrida

diariamente atraveacutes do reforccedilo positivo da atenccedilatildeo conferida a cada crianccedila das

brincadeiras e dos carinhos trocados transformando-se num laccedilo inquebraacutevel

Compreendemos que esta relaccedilatildeo natildeo deve ser de todo uma relaccedilatildeo de imposiccedilatildeo e

distanciada pelo contraacuterio deve traduzir-se numa relaccedilatildeo de respeito cooperaccedilatildeo e

ateacute mesmo de carinho o que natildeo impede o papel de lideranccedila necessaacuterio do

Educador No que respeita agrave relaccedilatildeo estabelecida com as crianccedilas o companheirismo e

proximidade estabelecidos natildeo tardaram em ambos os contextos o que aliado agrave

curiosidade e interesse inatos dos grupos se traduziu em crianccedilas ativamente

envolvidas e participativas

A envolvecircncia com a comunidade e com os pais era valorizada por ambas instituiccedilotildees

o que facilitou este contato Proporcionamos momentos de partilha e conviacutevio com a

comunidade educativa assinalando datas comemorativas assim como a solicitaccedilatildeo do

envolvimento dos pais foi regular incentivando os mesmos a participarem no

desenvolvimento dos seus filhos e no trabalho realizado em sala Os proacuteprios pais

agradeciam e congratulavam a iniciativa pois estavam a passar momento de qualidade

com os filhos verificando a sua evoluccedilatildeo e ateacute em alguns casos constatando lacunas

que necessitavam de ser corrigidas

No que concerne agraves metodologias utilizadas no contexto de 1ordm CEB o meacutetodo ativo foi

privilegiado Este meacutetodo pressupotildee ldquohellip+ que os alunos tenham a oportunidade de

viver situaccedilotildees estimulantes de trabalho escolar que vatildeo da actividade fiacutesica e da

manipulaccedilatildeo dos objectos e meios didaacutecticos agrave descoberta permanente de novos

percursos e de outros saberesrdquo (Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 1991 p23) Elevaacutevamos o

diaacutelogo como forma de exploraccedilatildeo e troca de saberes e opiniotildees numa perspetiva de

valorizar e aproveitar o que cada aluno tinha para dar respondendo ainda agraves suas

curiosidades e interesses No contexto de Educaccedilatildeo Preacute-Escolar era privilegiada a

metodologia de projeto que tambeacutem prevecirc uma pedagogia participativa em que ldquoA

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

254

imagem da crianccedila eacute a de um ser competente que participa com liberdade agecircncia

inteligecircncia e sensibilidaderdquo (Oliveira-Formosinho 2011 p100) Neste contexto

incentivaacutevamos a crianccedila a buscar o seu proacuteprio conhecimento pesquisando

experimentando solucionando

Para que este autoconhecimento tenha sido alcanccedilado foi necessaacuteria a constante

reflexatildeo sobre o tipo de pessoa e Educador que ambicionaacutevamos ser o tipo de crenccedilas

e teorias que desejaacutevamos seguir assim como os constrangimentos que nos eram

colocados A utilizaccedilatildeo do portfoacutelio reflexivo contribuiu para desenvolvermos esta

postura reflexiva e fundamentarmos os processos de reflexatildeo sobre a accedilatildeo

Recorrendo a estes instrumentos vimos facilitados os processos de auto e

heteroavaliaccedilatildeo pois permitiu-nos compreender mais facilmente as nossas atitudes

assim como reunimos dados para a reformulaccedilatildeo da praacutetica educativa

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

256

Como avaliar as aprendizagens das praacuteticas musicais em

Educaccedilatildeo Musical

MAacuteRIO RELVAS

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

marioreselxiplpt

Resumo

Eacute do conhecimento geral que muitos professores ensinam os alunos a ouvir cantar e

compor mas usam testes escritos para avaliar as aprendizagens Este facto revela que

por um lado haacute quem tenha a ideia que os testes escritos estatildeo mesmo a avaliar as

praacuteticas musicais e por outro lado tambeacutem haacute quem considere que eacute muito difiacutecil e

inconsistente avaliar as praacuteticas musicais porque a Muacutesica tem um caraacutecter transitoacuterio

efeacutemero imaterial Aleacutem do problema ser interessante ele eacute abrangente porque

existe tanto entre os professores especialistas de Muacutesica como entre os professores

generalistas de Educaccedilatildeo de Infacircncia e de 1ordm Ciclo

A experiecircncia levada a cabo nos uacuteltimos trecircs anos no Mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo

Musical no Ensino Baacutesico sobre a forma de avaliar as aprendizagens dos alunos em

Educaccedilatildeo Musical manteacutem os testes escritos para avaliar os conhecimentos teoacutericos

mas introduz um instrumento de avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais as grelhas de

descritores de desempenho Estas grelhas ainda que mantendo princiacutepios

orientadores comuns satildeo sempre feitas agrave medida para cada situaccedilatildeo especiacutefica de

obra atividade musical alunos e satildeo aplicadas natildeo soacute em observaccedilatildeo direta mas

tambeacutem sobre registos aacuteudioviacutedeo Estes instrumentos satildeo construiacutedos pelos

docentes e natildeo em conjunto com os alunos mas satildeo-lhes apresentados e explicados

desde o iniacutecio de cada unidade didaacutetica usados regulamente para autoavaliaccedilatildeo

formativa e nas apresentaccedilotildees finais para avaliaccedilatildeo sumativa Desta forma os alunos

sabem desde o iniacutecio onde se espera que cheguem e sabem em cada momento do

processo em que ponto se encontram e que problemasdificuldades musicais devem

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

257

ser ultrapassados Em cada atividade comparaacutemos a autoavaliaccedilatildeo dos alunos com a

avaliaccedilatildeo dos professores e verificaacutemos em todas as situaccedilotildees uma elevada correlaccedilatildeo

positiva (r gt 09)

Teremos ainda que consolidar os dados jaacute obtidos pelo que esperamos o envolvimento

de mais professores A possibilidade de divulgar a soluccedilatildeo aqui apresentada

nomeadamente atraveacutes de accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua permitiraacute um evidente

aumento da consistecircncia e fiabilidade da avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo

Musical

Palavras-chave muacutesica avaliaccedilatildeo descritores

Abstract

Is commun knowledge that many teachers teach students to perform compose and

appraise but tend to assess music learning through written tests This fact shows that

some teachers believe that they are really assessing the music making processes and

also that other teachers think it is very difficult to assess musical making because of

the immaterial nature of music It is not only a very interesting problem but also a

generalized one that affects specialist music teachers and non-specialists like

kindergarten and primary school teachers

The experiments conducted during the last three years in the Master of Arts in

Teaching Music for General Schools kept the written tests to assess theoretical

knowledge but introduced a new assessment device rubrics with progression

descriptors These rubrics although sharing common principles are tailored for each

musical activity piece of music and class and applied both on live and on audiovideo

recordings Rubrics are written by teachers not by students but are used by the later

as a formative self-assessment tool to devise and overcome musical problems In each

activity we compared the assessment by the teachers with studentsrsquo self-assessment

and obtained a very high positive co-relation

We still need to confirm these results by conducting a new research involving a larger

group of teachers The music making assessment rubrics will be part of the next

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

258

continuous professional development programme at the higher education institution

previously mentioned

Keywords music assessment rubrics descriptors

Introduccedilatildeo

O mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo Musical lecionado na ESELx inclui unidades

curriculares (UCs) de praacutetica profissional supervisionada Ao iniciarem o seu estaacutegio

nas escolas cooperantes os alunos estagiaacuterios foram confrontados com a necessidade

de elaborar fichas diagnoacutestico e ateacute ao final do 1ordm periacuteodo foi-lhes solicitada a

elaboraccedilatildeo de testes escritos Surgiram entatildeo as primeiras interrogaccedilotildees mas

avaliamos o cantar o tocar o ouvir atraveacutes de testes escritos

Tanto a Organizaccedilatildeo Curricular e Programas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico como os

Programas de Educaccedilatildeo Musical para os 2ordm e 3ordm Ciclos52 estabelecem como princiacutepio

orientador que Ouvir Tocar e Compor satildeo a base de todas as aprendizagens Ao

cumprirem os programas preparando aulas em que se Faz Muacutesica os professores

cooperantes e os estagiaacuterios viram-se confrontados com vaacuterias dificuldades o que

avaliar como registar o som das interpretaccedilotildees dos alunos como transmitir aos alunos

as nossas expectativas como operacionalizar a avaliaccedilatildeo individual em turmas grandes

e como assegurar que a avaliaccedilatildeo dos alunos eacute semelhante entre todas as turmas da

escola

A experiecircncia levada a cabo aqui na ESELx no acircmbito do Mestrado em Ensino de

Educaccedilatildeo Musical manteacutem os testes escritos para avaliar os conhecimentos teoacutericos

mas introduziu um instrumento de avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais contribuindo assim

para ultrapassar as dificuldades enunciadas

Criaacutemos grelhas com descritores de desempenho para avaliar as aprendizagens praacuteticas

52

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1990) e (1991)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

259

Construiacutemos os descritores segundo princiacutepios gerais mas as grelhas foram feitas agrave medida de cada situaccedilatildeo

Usaacutemos as grelhas no princiacutepio meio e fim do processo permitindo ao alunos saber onde deveriam chegar a meio do processo para identificar os aspetos a melhorar e no fim para avaliaccedilatildeo sumativa

Aumentaacutemos a consistecircncia da avaliaccedilatildeo entre os docentes e fiabilidade da avaliaccedilatildeo

O problema

Vamos ouvir o excerto de uma interpretaccedilatildeo instrumental (School Curriculum and

Assessment Authority SCAA 1996 faixa 5 000-031) Como avaliamos as

aprendizagens das praacuteticas musicais que acabaacutemos de escutar Quaisquer que sejam

as respostas elas vatildeo implicar seguramente ouvir vaacuterias vezes os excertos e isso soacute eacute

possiacutevel porque registaacutemos o som Pode parecer uma resposta oacutebvia para

ultrapassar o caraacuteter efeacutemero e imaterial da Muacutesica mas apesar de todos termos

computador e telemoacutevel poucos somos os que nos socorremos deles para registar o

som Poreacutem mesmo com a possibilidade de ouvir vaacuterias vezes o desempenho dos

alunos os estagiaacuterios tinham dificuldade em verbalizar que caracteriacutesticas procuravam

durante a escuta e os professores cooperantes tinham opiniotildees diferentes sobre os

objetivos a atingir pelos alunos Estas duas situaccedilotildees dificuldade e diversidade satildeo

comuns a muitos colegas em muitas escolas sejam generalistas ou especialistas E

quando procuraacutemos ajuda nos manuais escolares mdash o nosso mestrado tem um moacutedulo

especificamente para avaliar os manuais escolares existentes no mercado mdash

constataacutemos que a esmagadora maioria deles natildeo inclui instrumentos de avaliaccedilatildeo e

os casos raros em que os tecircm consistem em testes escritos com alguns exemplos

auditivos e soacute um caso apresenta instrumentos de avaliaccedilatildeo da Interpretaccedilatildeo e da

Composiccedilatildeo

Com este panorama geral natildeo eacute de estranhar que muitos de noacutes natildeo tenhamos ainda

conseguido incluir nas nossas praacuteticas letivas outros instrumentos de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

260

(Spruce 2002 p117) tanto mais que todos temos que ter registos escritos que

sustentem perante os pais e a escola as avaliaccedilotildees que fazemos do trabalho dos alunos

em Expressatildeo e Educaccedilatildeo Musical No entanto isto natildeo nos deve impedir de procurar

melhores soluccedilotildees e eacute importante relembrar a todos os intervenientes que os

programas satildeo clariacutessimos e estatildeo ldquodo nosso ladordquo no Programa do 1ordm ciclo ldquoA praacutetica

do canto constitui a base da expressatildeo e educaccedilatildeo musical no 1ordm ciclordquo (ME+ 1990

p73) e nos Programas dos 2ordm e 3ordm Ciclos ldquoTeoria e informaccedilatildeo satildeo considerados meios

e suportes que soacute por si natildeo levam agrave compreensatildeo musicalrdquo (ME+ 1991 p7)

Proposta de soluccedilatildeo

A minha experiecircncia como professor de Educaccedilatildeo Musical do Ensino Baacutesico e os

muitos Conselhos de Turma em que participei sempre me levaram a questionar se

parte dos problemas com que nos defrontamos em termos de sucesso educativo natildeo

seriam causados por uma avaliaccedilatildeo se natildeo incorreta pelo menos incompleta Claro

que se nas aulas damos prioridade agrave teoria e natildeo agrave praacutetica se nos centramos nos

siacutembolos e nas definiccedilotildees e natildeo em fazer Muacutesica entatildeo os testes escritos satildeo os

instrumentos de avaliaccedilatildeo adequados e coerentes com o processo de ensino-

aprendizagem Poreacutem se cumprimos os programas entatildeo o desenvolvimento musical

dos alunos eacute feito a partir de atividades de Audiccedilatildeo Interpretaccedilatildeo e Composiccedilatildeo e

logo satildeo necessaacuterios outros instrumentos de avaliaccedilatildeo adequados e coerentes com

este outro processo de ensino-aprendizagem

Estas preocupaccedilotildees acompanham-me desde haacute muitos anos e tambeacutem isso justifica

que o tema Avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Musical esteja presente nas unidades curriculares

que coordeno e leciono no mestrado nomeadamente Metodologias do Ensino de

Muacutesica e Praacutetica Profissional Supervisionada Satildeo unidades curriculares pensadas para

funcionarem em simultacircneo ao longo de todo o ano letivo permitindo aos estagiaacuterios

dar significado aos quadros teoacutericos e refletir sobre a praacutetica Mas se em termos de

organizaccedilatildeo do plano de estudos estavam criadas boas condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo e

avaliaccedilatildeo destes instrumentos de avaliaccedilatildeo importava principalmente que desde o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

261

iniacutecio dos trabalhos se conseguisse ldquoganharrdquo ldquoconquistarrdquo os alunos estagiaacuterios e os

professores cooperantes removendo o maior nuacutemero possiacutevel de obstaacuteculos Seraacute que

tudo iria ser posto em causa pela simples falta de facilidade e qualidade em registar o

som Agrave partida natildeo pois nos uacuteltimos 5 anos tenho constatado uma evoluccedilatildeo muito

significativa na acessibilidade agraves TIC e hoje todos os alunos do mestrado tecircm

computador portaacutetil e software gratuito para registar o som Alguns estagiaacuterios para

aleacutem do computador tecircm tambeacutem telefones moacuteveis com a capacidade de registar

som e viacutedeo com muito boa qualidade E o que poderia esperar dos professores

cooperantes e da sua necessidade em gerir o tempo letivo e natildeo letivo Tambeacutem aqui

natildeo me parecia que pudesse vir a encontrar grande resistecircncia pois alguns dos

professores cooperantes foram nossos alunos aqui na ESELx logo jaacute tinham

desenvolvido trabalho neste domiacutenio

A ideia passava entatildeo por

1 apresentar e discutir a avaliaccedilatildeo em termos teoacutericos no acircmbito da unidade

curricular de Metodologias do Ensino de Muacutesica realizando aiacute tambeacutem alguns

exerciacutecios de aplicaccedilatildeo

2 seguidamente responder agraves solicitaccedilotildees da Praacutetica Profissional Supervisionada

debatendo e criando descritores de desempenho organizados em grelhas para

cada uma das obras e atividades musicais

3 apresentar e explicar estes instrumentos aos alunos desde o iniacutecio de cada

projeto musical usados regularmente para autoavaliaccedilatildeo formativa e nas

apresentaccedilotildees finais para avaliaccedilatildeo sumativa

4 proceder agrave anaacutelise estatiacutestica dos coeficientes de correlaccedilatildeo entre os resultados

das avaliaccedilotildees dos alunos estagiaacuterios dos professores cooperantes e da

autoavaliaccedilatildeo dos alunos do Ensino Baacutesico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

262

Desenvolvimento

Quadro teoacuterico

Os alunos que entram para o mestrado sabem tocar um instrumento e tecircm o haacutebito de

se apresentar em puacuteblico logo das trecircs atividades musicais preconizadas nos

Programas do Ensino Baacutesico a atividade de Interpretaccedilatildeo eacute aquela com que eles estatildeo

mais familiarizados em que se sentem mais agrave vontade Por isso decidi que na unidade

curricular de Metodologias deveria comeccedilar a abordar o tema Avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Musical pela avaliaccedilatildeo da atividade de Interpretaccedilatildeo e soacute depois abordar a avaliaccedilatildeo

das atividades de Composiccedilatildeo e de Audiccedilatildeo Comeccedilaacutemos com um brainstorming em

torno de perguntas sobre o que avaliar (Figura 1)

Figura 1 Exemplo do brainstorming realizado na aula de Metodologias antes da apresentaccedilatildeo do

quadro teoacuterico

A resposta a estas e outras perguntas foram encontradas no documento Consistency in

Teacher Assessment - Exemplification of Standards Music ([SCAA] 1996) Ele comeccedila

por apresentar as metas expectations e a progressatildeo nas trecircs atividades musicais

Tem um segundo capiacutetulo em que apresenta casos concretos de trabalhos de alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

263

em CD e em partitura com breve descriccedilatildeo dos contextos em que ocorreram Por fim

apresenta a avaliaccedilatildeo realizada pelos autores com as justificaccedilotildees definidas no

primeiro capiacutetulo

A primeira ideia a destacar do quadro teoacuterico eacute a necessidade de definir expectativas

que todos os alunos devem alcanccedilar A segunda ideia eacute que alguns alunos

ultrapassaratildeo essas expectativas e outros estaratildeo ainda a tentar alcanccedilaacute-las A Figura 2

mostra estes trecircs estaacutedios

ALGUNS ALUNOS MAIORIA DOS ALUNOS ALGUNS ALUNOS

ultrapassaram

as expectativas

demonstra ter atingido as

expectativas

ainda estatildeo a

trabalhar no

sentido de

alcanccedilar as

expectativas

Figura 2 Estaacutedios das expectativas que os descritores de desempenho devem refletir

A segunda ideia do quadro teoacuterico diz respeito agraves dimensotildees que devemos ter em

conta na progressatildeo de cada uma das atividades musicais

DIVERSIDADE

DIFICULDADE

QUALIDADE

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264

Na dimensatildeo Diversidade deveremos procurar evidecircncias de que o aluno mobiliza mais

e diferentes competecircncias e conhecimentos na realizaccedilatildeo das tarefas por exemplo

utilizando vaacuterios instrumentos musicais ou aplicando os seus conhecimentos em vaacuterios

contextos Na dimensatildeo Dificuldade teremos de verificar se o aluno participa em

tarefas mais difiacuteceis e complexas tanto em competecircncias como em conhecimentos

por exemplo compondo com estruturas musicais mais elaboradas ou realizndo

pesquisas sobre questotildees mais abstratas das muacutesicas que interpreta Por fim na

dimensatildeo Qualidade procuram-se evidecircncias de interpretaccedilotildees musicais mais seguras

aplicaccedilatildeo dos conhecimentos na apreciaccedilatildeo musical e produtos das composiccedilotildees mais

bem acabados

Apoacutes este primeiro contacto com o quadro teoacuterico e seguindo as atividades propostas

pelo documento citado procuraacutemos uma avaliaccedilatildeo consensual sobre os exemplos de

interpretaccedilatildeo instrumental contidos no CD Esta foi uma etapa fundamental para os

estagiaacuterios aferirem criteacuterios ouvindo as opiniotildees uns dos outros e dos proacuteprios

autores do documento (SCAA 1996 faixa 4 009-022) Foi um processo que resultou

bem pois se das primeiras vezes surgiram avaliaccedilotildees bastante diferentes agrave medida que

iam praticando os estagiaacuterios comeccedilaram a realizar uma avaliaccedilatildeo mais proacutexima uns

dos outros por vezes quase unacircnime De referir algo tambeacutem jaacute mencionado por

outros autores (Hallam 2006) os estagiaacuterios tenderam a ser mais exigentes na

avaliaccedilatildeo dentro das suas especialidades ou seja um estagiaacuterio licenciado em canto

tende a ser mais exigente que um estagiaacuterio licenciado em piano quando ambos

avaliam um aluno a cantar

Para terminar este estudo teoacuterico do problema os estagiaacuterios partiram dos consensos

e formularam descritores de desempenho para os vaacuterios niacuteveis de progressatildeo e

tentaram aplicaacute-los aos exemplos do CD ouvidos anteriormente Da aplicaccedilatildeo destes

protoacutetipos concluiu-se da necessidade de os melhorar em particular tendo em vista a

utilizaccedilatildeo para autoavaliaccedilatildeo formativa pelos alunos do Ensino Baacutesico Por fim faltava

perceber se poderiacuteamos aplicar instrumentos preacute-concebidos a interpretaccedilotildees

musicais do mesmo tipo Para isso socorremo-nos de uma grelha de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

265

elaborada para uma situaccedilatildeo de desempenho musical (Rodrigues 2004) e chegou-se agrave

conclusatildeo de que eacute indispensaacutevel construir o instrumento para cada situaccedilatildeo

especiacutefica tendo em conta a obra musical o grau de desenvolvimento musical dos

alunos e os objetivos que se pretende alcanccedilar

Grelhas construiacutedas para situaccedilotildees especiacuteficas

Como referi no iniacutecio desta comunicaccedilatildeo importava que os estagiaacuterios dessem

resposta agraves solicitaccedilotildees dos professores cooperantes e ao problema de como avaliar as

praacuteticas musicais Assim para cada unidade didaacutetica planificada foram construiacutedas

grelhas de avaliaccedilatildeo de desempenho Das muitas e variadas obras musicais que os

estagiaacuterios prepararam para os seus alunos apresentarei na Tabela 1 apenas uma

situaccedilatildeo especiacutefica e na Tabela 2 quais as expectativas e progressatildeo do desempenho

dos alunos em termos de controlo teacutecnico e de competecircncias de conjunto

Tabela 1

Caracterizaccedilatildeo da situaccedilatildeo especiacutefica

Ano de escolaridade 6ordm

Obra musical Natildeo haacute estrelas no ceacuteu (Rui Veloso Rock portuguecircs)

Conceito e conteuacutedo do programa Ritmo ritmos pontuados (niacutevel IX)

Competecircncia a desenvolver O aluno interpreta canccedilotildees harmonizadas a capella e com acompanhamento instrumental

Unidade didaacutetica Com 1 aula por semana durante 6 semanas os alunos ouvem cantam e tocam pesquisam compotildeem e apresentam-se em puacuteblico (por esta ordem)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

266

Tabela 2

As grelhas com os indicadores de desempenho para cada uma das partes musicais e para o conjunto

Niacutevel 2 Niacutevel 3 Niacutevel 4 Niacutevel 5

Voz

O aluno natildeo consegue cantar a melodia e a letra da canccedilatildeo do iniacutecio ao fim

O aluno consegue cantar a melodia e a letra do iniacutecio ao fim e consegue recuperar quando existem hesitaccedilotildees

O aluno consegue cantar toda a canccedilatildeo do iniacutecio ao fim sem se enganar

O aluno consegue cantar toda a canccedilatildeo do iniacutecio ao fim realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados e a descontraccedilatildeo

Clavas

O aluno natildeo consegue manter a pulsaccedilatildeo nem interpretar a linha riacutetmica do arranjo instrumental do iniacutecio ao fim

O aluno consegue manter a pulsaccedilatildeo do iniacutecio ao fim e consegue recuperar quando existem hesitaccedilotildees na parte riacutetmica

O aluno consegue executar o arranjo do iniacutecio ao fim mantendo a pulsaccedilatildeo

O aluno executa o arranjo musical do iniacutecio ao fim mantendo a pulsaccedilatildeo e realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados

Xilofones

O aluno natildeo consegue tocar o acompanhamento dos xilofones do iniacutecio ao fim

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim mas revela hesitaccedilotildees no ritmo e nas notas

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim sem hesitaccedilotildees

O aluno consegue tocar do iniacutecio ao fim realccedilando aspetos caracteriacutesticos da obra tais como os ritmos pontuados

Conjunto

O aluno consegue seguir indicaccedilotildees visuais comeccedilar e acabar ao mesmo tempo mas natildeo faz pequenos ajustes a partir do que ouve dos colegas

Integra-se no todo escutando os colegas p ex consegue integrar o conjunto mesmo depois de se enganar

Tem noccedilatildeo do efeito global produzido p ex fazendo pequenos ajustes na sua parte para equilibrar e atingir o efeito pretendido

Reconhece toda a estrutura do arranjo e integra-se com consciecircncia do estilo musical e atenccedilatildeo aos restantes inteacuterpretes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

267

Didaacutetica da utilizaccedilatildeo das grelhas de avaliaccedilatildeo

A forma de utilizar estes instrumentos de avaliaccedilatildeo tambeacutem foi sendo melhorada ao

longo do ano letivo cada vez mais integrada no processo de ensino-aprendizagem

Chegaacutemos a um conjunto de procedimentos que pelos resultados obtidos nos parece

adequado

1 Sempre que iniciaacutemos o ensino de uma das partes musicais mostraacutemos aos

alunos a respetiva grelha de avaliaccedilatildeo Pedimos voluntaacuterios para ler depois

outros para explicar por palavras proacuteprias o que tinham entendido Por fim

exemplificaacutemos musicalmente o que poderia ser representativo de cada niacutevel

Desta forma os alunos ficavam a saber onde deveriam chegar em termos de

desempenho musical

2 Durante os ensaios voltaacutemos a mostrar as grelhas e pedimos aos alunos que se

autoavaliassem e identificassem os pontos fortes e os problemas musicais a

ultrapassar num processo de avaliaccedilatildeo formativa regulador dos ensaios

seguintes

3 Na apresentaccedilatildeo final aos colegas da turma com registo aacuteudio e ou viacutedeo as

grelhas foram usadas para avaliaccedilatildeo sumativa pelos alunos estagiaacuterios e

professores cooperantes

Apesar de natildeo termos diaacuterios com a opiniatildeo dos alunos sobre este processo pudemos

observar como estavam disponiacuteveis para participar nesta autoavaliaccedilatildeo de forma

autecircntica como se apercebiam dos problemas e principalmente da possibilidade de

os ultrapassar A dimensatildeo formativa e o estabelecimento claro de expectativas a

alcanccedilar foram um fator de motivaccedilatildeo para os alunos que valeria a pena investigar por

si soacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

268

Anaacutelise da correlaccedilatildeo classificaccedilotildees atribuiacutedas por estagiaacuterios cooperantes e auto-

avaliaccedilatildeo dos alunos

Ao longo do ano letivo sempre que se fez a avaliaccedilatildeo sumativa dos projetos musicais

registaacutemos numa folha de caacutelculo os niacuteveis atribuiacutedos pelos estagiaacuterios professores

cooperantes e a autoavaliaccedilatildeo dos alunos Para o tratamento destes dados os alunos

foram apoiados no moacutedulo de TIC da unidade curricular de Metodologias de Ensino de

Muacutesica e na unidade curricular de Metodologias de Investigaccedilatildeo em Educaccedilatildeo A tiacutetulo

de exemplo apresenta-se na Tabela 3 os dados recolhidos e os resultados obtidos

numa situaccedilatildeo diferente da descrita anteriormente com outros estagiaacuterios

professores cooperantes e alunos do 3ordm Ciclo

Tabela 3

Dados de avaliaccedilatildeo e coeficientes de correlaccedilatildeo

Professor cooperante

(A)

Estagiaacuterio

(B)

Autoavaliaccedilatildeo

(C)

1

2

3

5

4

4

1

1

3

1

5

1

2

2

2

5

3

4

2

2

3

2

4

2

1

3

2

4

3

3

1

1

3

2

3

1

Nota com estes dados obteacutem-se as seguintes correlaccedilotildees A-B r =09 A-C r=09 e B-C r=08

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

269

Estes resultados parecem apontar para uma elevada consistecircncia e fiabilidade do

processo e dos instrumentos de avaliaccedilatildeo mas eacute importante para todos noacutes sermos

capazes de realizar esta anaacutelise de uma forma sistemaacutetica tal como avaliamos a

fiabilidade dos testes ([ME] 1992)

Conclusotildees e continuaccedilatildeo do trabalho

O trabalho aqui apresentado soacute foi possiacutevel graccedilas ao empenhamento dos vaacuterios

intervenientes nomeadamente os professores cooperantes e os estagiaacuterios do

Mestrado em Ensino de Educaccedilatildeo Musical e os alunos das vaacuterias Escolas do Ensino

Baacutesico onde se realizou a Praacutetica Profissional Supervisionada

A construccedilatildeo agrave medida de cada situaccedilatildeo de descritores de desempenho das praacuteticas

musicais explicitando as expectativas e a progressatildeo e a sua utilizaccedilatildeo para

autoavaliaccedilatildeo formativa e avaliaccedilatildeo sumativa aumentou a consistecircncia da avaliaccedilatildeo

entre os docentes

Como tudo em Educaccedilatildeo natildeo haacute resultados com ldquoo estalar dos dedosrdquo e eacute preciso

tempo Teremos ainda que consolidar os dados jaacute obtidos em particular no 1ordm Ciclo do

Ensino Baacutesico pelo que esperamos o envolvimento de mais professores A

possibilidade de divulgar a soluccedilatildeo aqui apresentada nomeadamente atraveacutes de

accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua permitiraacute um evidente aumento da consistecircncia e

fiabilidade da avaliaccedilatildeo das praacuteticas musicais em Educaccedilatildeo Musical

Referecircncias

Hallam S (2006) Assessment Music Psycholgy in Education London Institute of

Education University of London pp155-164

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1990) Ensino Baacutesico

1ordm Ciclo Organizaccedilatildeo curricular e programas Lisboa Editorial do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

270

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1991) Ensino Baacutesico

2ordm Ciclo Programa de Educaccedilatildeo Musical (5ordm e 6ordm anos) Lisboa Editorial do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Departamento da Educaccedilatildeo Baacutesica (1991) Ensino Baacutesico

3ordm Ciclo Programa de Educaccedilatildeo Musical (7ordm - 9ordm anos) Lisboa Editorial do Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo [ME] Gabinete de Estudos e Planeamento (1992) Praacuteticas de

elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de testes escolares Lisboa GEP

Pauline A (2001) Assessment in the Music Classroom In Philpott C Learning to

Teach Music in the Secondary School Nova Iorque RoutledgeFalmer pp163-176

Rodrigues H (2004) Estudo de validade do teste Intermediate Measures of Music

Audiation de Edwin Gordon para uma situaccedilatildeo de desempenho musical de crianccedilas do

1ordm ano de escolaridade Educare-Educere X (Especial) 11-33

School Curriculum and Assessment Authority [SCAA] (1996) Consistency in Teacher

Assessment - Exemplification of Standards - Music Key Stage 3 (com CD-DA) London

UK SCAA Publications

Spruce G (2002) Assessment in the Arts issues of objectivity In Spruce G Teaching

Music in Secondary Schools A reader London RoutledgeFalmer pp117-129

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

271

Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) implicaccedilotildees e desafios nas praacuteticas de gestores

e docentes de escolas puacuteblicas (2007-2012)

MALUacute DE SOUZA FERNANDES

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP (Brasil)

malufernandesuspbr

RITA DE CASSIA GALLEGO

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP (Brasil)

ritagallegouspbr

Resumo As avaliaccedilotildees externas compotildeem as poliacuteticas puacuteblicas educacionais brasileiras

implantadas a partir da deacutecada de 1990 No Estado de Satildeo Paulo as avaliaccedilotildees

externas constituiram-se elementos inerentes agrave atividade escolar mediante a

implantaccedilatildeo do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

(SARESP) impondo muitos desafios de modo particular aos gestores e professores A

comunicaccedilatildeo proposta fruto de pesquisa em andamento no acircmbito do mestrado tem

como objetivo discutir as possiacuteveis implicaccedilotildees e desafios enfrentados nas praacuteticas

pedagoacutegicas e administrativas de escolas puacuteblicas da rede estadual paulista que

oferecem o Ensino Fundamental I particularmente duas escolas localizadas na

periferia da zona Sul da cidade de Satildeo Paulo apoacutes a implementaccedilatildeo do SARESP em

2007 Nesta oportunidade seraacute privilegiada a discussatildeo de dados da legislaccedilatildeo e dos

documentos oficiais da Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo sobre o

SARESP A anaacutelise eacute ancorada nos referenciais teoacutericos de Azanha Frago e Escolano

que tecircm contribuiacutedo para o mapeamento das praacuteticas escolares a partir do conceito

de cultura escolar e de Catani e Gallego para a reflexatildeo em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo escolar

Os estudos realizados ateacute 2007 sinalizavam o SARESP como fator de induccedilatildeo sobre o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

272

curriacuteculo nas escolas o que se concretizou nos textos legais elaborados pela Secretaria

de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo Jaacute os estudos realizados apoacutes 2007 apontavam o

SARESP como orientador de praacuteticas escolares e fator de legitimaccedilatildeo das mesmas

juntos agraves instituiccedilotildees de ensino

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo externa Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Praacuteticas de Ensino

Abstract

External evaluations comprise the educational policies implemented in Brazil from the

1990s In Satildeo Paulo external evaluations constituted elements are inherent to school

through the implementation of the System of School Performance Evaluation of the

State of Satildeo Paulo (SARESP) imposing many challenges in particular managers and

teachers The proposed communication the result of ongoing research in the Masters

aims to discuss the possible implications and challenges in teaching practices and

administrative public school state public offering elementary school particularly two

schools located on the outskirts of the south of the city of Satildeo Paulo after the

implementation of SARESP in 2007 This time the discussion will turn to data

legislation and official documents of the Department of Education of the State of Satildeo

Paulo on SARESP The analysis is grounded in the theoretical framework of Azanha

Frago and Escolano which have contributed to the mapping of school practices from

the concept of school culture and Catani and Gallego for reflection in relation to

school evaluation Studies to 2007 signaled SARESP factor induction on the curriculum

in schools which has resulted in legal texts downloaded from the Ministry of

Education of Satildeo Paulo The studies conducted after 2007 pointed SARESP school

practices as guiding factor and legitimization of same together with educational

institutions

Keywords External evaluations Learning evaluation Teaching practice

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

273

Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo eacute tambeacutem um ato poliacutetico a proacutepria escola traz em sua gecircnese a essecircncia

de um projeto de naccedilatildeo arquitetado pelos regimes poliacuteticos de cada periacuteodo histoacuterico

pois

() a escola bem como trata Martin Lawn (2000) integra um projeto civilizador o qual pretende alcanccedilar a todos da naccedilatildeo Sem duacutevida a histoacuteria da escola de modo particular da sua cultura eacute influenciada em diferentes paiacuteses por traccedilos caracteriacutesticos do regime poliacutetico (GALLEGO 2008 p 38)

Ponderamos no entanto que nenhuma poliacutetica educacional eacute implantada e efetivada

sem que haja accedilotildees praacuteticas no acircmbito das salas de aula natildeo negando as forccedilas

exercidas por essas esferas na intenccedilatildeo de concretizaccedilatildeo das poliacuteticas mas

entendendo que a sua implantaccedilatildeo depende da praacutetica de cada unidade escolar

Conforme assinala Azanha (1991 p69) acerca das sucessivas reformas da educaccedilatildeo

brasileira que a cada nova reforma natildeo se realiza um exame da repercussatildeo das

reformas anteriores no interior da vida escolar O mesmo autor chama a atenccedilatildeo para

o fato de que natildeo haacute descriccedilotildees confiaacuteveis acerca das alteraccedilotildees da vida escolar

provocadas pelas reformas quase sempre haacute uma seacuterie de julgamentos ideoloacutegico

sobre as mesmas Poreacutem eacute no interior das salas de aula que o destino de poliacuteticas e

reformas educacionais eacute definido segundo Azanha Essas consideraccedilotildees embora a

propoacutesito do contexto educacional da deacutecada de 1990 satildeo muito perspicazes e

adequadas para se pensar o objeto deste texto implicaccedilotildees e desafios nas praacuteticas de

gestores e docentes de escolas puacuteblicas apoacutes a implemantaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo

externa ndash o SARESP

A avaliaccedilatildeo inerente agrave praacutetica escolar e elemento da cultura escolar natildeo pode ser

vista como algo natural no processo escolar pois natildeo o eacute trata-se de uma praacutetica

produzida por uma cultura contextualizada num periacuteodo histoacuterico e para atender a

uma demanda social de sua eacutepoca No contexto atual ldquoos exames integram cada vez

mais intensamente a cultura escolarrdquo (Catani amp Gallego 2009 p30)

A escola tem sua cultura estabelecida e que eacute institucionalizada que se manifesta

segundo Escolano (2002) atraveacutes do conjunto de ideias pautas praacuteticas

mentalidades haacutebitos e comportamentos que estatildeo consolidados e se estrutura sobre

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

274

processos valores normas regras ritos e tradiccedilotildees No entanto devemos considerar

que a cultura escolar tambeacutem sofre pressotildees das estruturas sociais inclusive das

reformas poliacuteticas que delas emergem Nesse sentido Frago (1996 p 37) sublinha que

ldquoas macro reformas estruturais e curriculares geradas desde o acircmbito poliacutetico

administrativo modificam pois a cultura escolarrdquo Assim qualquer reforma produz

efeitos natildeo previstos e cada escola a assimila e dela faz uso de maneira proacutepria e

peculiar Desse modo uma uacutenica reforma tem sua implantaccedilatildeo e desdobramentos

singulares em cada instituiccedilatildeo escolar produzindo inovaccedilotildees e continuidades

mudanccedilas e permanecircncias

Eacute importante se levar em conta que a avaliaccedilatildeo enquanto praacutetica escolar e objeto de

poliacuteticas educacionais ldquoassumiu ao longo dos anos sentidos particulares havendo

marcas de rupturas mas tambeacutem marcas de permanecircncias e ressignificaccedilotildeesrdquo (Catani

amp Gallego 2009 p31)

O presente trabalho eacute parte da pesquisa desenvolvida e em andamento no Programa

de Mestrado em Educaccedilatildeo junto agrave Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo

Paulo que pretende investigar as possiacuteveis implicaccedilotildees do SARESP para as praacuteticas

escolares relativas agrave avaliaccedilatildeo orientadas e realizadas por gestores e professores do

Ensino Fundamental I no interior de duas escolas puacuteblicas da rede estadual paulista

no periacuteodo de 2007 a 2012 Tal investigaccedilatildeo tem sido efetivada mediante a coleta de

dados por meio do levantamento leitura e sistematizaccedilatildeo da legislaccedilatildeo dos

documentos oficiais da Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo sobre o

SARESP dos documentos escolares que possam trazer indiacutecios das mudanccedilas nas

praacuteticas escolares no periacuteodo estudado e entrevistas semiestruturadas gravadas e

transcritas A anaacutelise dos dados estaacute sendo realizada agrave luz das contribuiccedilotildees teoacutericas de

Azanha (1991) Frago (1996) e Escolano (2002) sobre poliacuteticas educacionais e praacuteticas

escolares a partir do conceito de cultura escolar e de Catani e Gallego (2009) para a

reflexatildeo sobre a avaliaccedilatildeo escolar

Nesta oportunidade seraacute apresentada uma discussatildeo acerca das disposiccedilotildees sobre o

SARESP com base nos textos legais do Estado de Satildeo Paulo que versam sobre o

referido sistema de avaliaccedilatildeo e nas poliacuteticas que foram desencadeadas desde a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

275

implementaccedilatildeo do SARESP na Rede Puacuteblica de Ensino do Estado de Satildeo Paulo em

consequecircncia dos resultados apresentados pelas escolas Busca-se dar visibilidade agrave

estrutura desse exame e as prescriccedilotildees acerca dos modos de trabalho a serem notados

nas escolas desde sua implantaccedilatildeo Apresentamos ainda um panorama sobre esse

objeto de estudo a fim de buscar elementos que contribuam para a compreensatildeo de

como esse vem sendo tratado pela literatura educacional nos uacuteltimos anos mediante a

realizaccedilatildeo de um levantamento e sistematizaccedilatildeo das pesquisas realizadas sobre as

avaliaccedilotildees externas com foco no SARESP no periacuteodo de 1990 a 2012

Assim apresentaremos a seguir os resultados dos levantamentos leituras e

sistematizaccedilotildees jaacute realizados Num primeiro momento discutiremos embasados nos

autores que referenciam o trabalho um breve histoacuterico sobre o SARESP e seu advento

e num segundo momento explicitaremos o panorama dos trabalhos cientiacuteficos que

tiveram como objeto de estudo o SARESP

Um breve histoacuterico do SARESP e das poliacuteticas educacionais desencadeadas a partir da

anaacutelise de seus resultados nas escolas

No Estado de Satildeo Paulo o direcionamento poliacutetico rumo agrave construccedilatildeo de um sistema

de avaliaccedilatildeo externo agraves unidades escolares iniciou-se em 1992 quando foi instituiacutedo o

Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual Tal programa que antecedeu ao

SARESP tinha como propoacutesito ldquoobter elementos para formulaccedilatildeo de poliacuteticas

educacionais e de informar as escolas com dados objetivos acerca dos pontos criacuteticos

do processo ensino-aprendizagemrdquo (SEESP 1996 p 3) e consistia numa sistemaacutetica de

avaliaccedilotildees externas das disciplinas de Liacutengua Portuguesa e redaccedilatildeo Matemaacutetica

Histoacuteria Geografia e Ciecircncias que eram aplicadas apenas aos alunos matriculados nas

8ordf seacuteries das escolas que faziam parte do Projeto Escola Padratildeo53 criadas no ano de

1991 abrangendo inicialmente apenas 307 escolas de um total de 6700 escolas agrave

eacutepoca Atualmente a rede puacuteblica estadual conta com 557854 escolas visto que o

restante sofreu o processo de municipalizaccedilatildeo

53

O Projeto Escola Padratildeo implantado gradativamente em 2224 escolas estaduais paulistas durante o Governo Fleury (1991-1994) pelo Decreto Estadual nordm 340351991 54

Dados retirados do site da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

276

Em 1994 o Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual foi ampliado e

passou-se a avaliar o rendimento dos alunos de toda a Rede Puacuteblica Estadual atraveacutes

de uma amostragem estatisticamente representativa da Rede Estadual Paulista e natildeo

somente dos alunos matriculados nas escolas pertencentes ao Projeto Escola Padratildeo

Em documento oficial a Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo

descreve uma de suas constataccedilotildees a partir da experiecircncia do Programa de Avaliaccedilatildeo

Educacional da Rede Estadual

() evidenciou a importacircncia da avaliaccedilatildeo educacional enquanto instrumento orientador para tomadas de decisatildeo que visem a melhoria da qualidade do ensino oferecido pelas escolas Impocircs-se assim a necessidade de formular e consolidar uma poliacutetica de avaliaccedilatildeo do sistema educacional do Estado (SEESP 1997 p5)

Assim o Programa de Avaliaccedilatildeo Educacional da Rede Estadual contribuiu para a

construccedilatildeo do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

bem como as diretrizes poliacuteticas nacionais e internacionais Portanto no ano de 1996

a Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo institui o Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) atraveacutes da Resoluccedilatildeo SE nordm 27

de 29 de marccedilo de 1996 e no mesmo ano realizou-se a primeira avaliaccedilatildeo do SARESP

Conforme informa Scorzafave (2010 p 21)

O Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo ndash SARESP ndash eacute uma avaliaccedilatildeo externa da Educaccedilatildeo Baacutesica realizada desde 1996 pela Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo ndash SEESP O SARESP tem como finalidade fornecer informaccedilotildees consistentes perioacutedicas e comparaacuteveis sobre a situaccedilatildeo da escolaridade baacutesica da rede puacuteblica de ensino paulista visando orientar gestores do ensino no monitoramento das poliacuteticas voltadas para a melhoria qualidade educacional

Outras ediccedilotildees do SARESP foram realizadas nos anos subsequentes com exceccedilotildees dos

anos de 1999 e 2006 Contudo eacute necessaacuterio salientar que a ediccedilatildeo do SARESP de 2005

em que todos os anos do Ensino Fundamental e Meacutedio foram avaliados foi

determinante para o desencadeamento de uma seacuterie de poliacuteticas educacionais que

com o objetivo de buscar a melhoria da qualidade do ensino puacuteblico paulista tinha

como alvo as mudanccedilas nas praacuteticas escolares e justamente no ano de 2006 natildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

277

houve a aplicaccedilatildeo do SARESP pois foi o ano em que os oacutergatildeos centrais analisaram e

organizaram as poliacuteticas que viriam

Os resultados do SARESP de 2005 evidenciaram agrave Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo a

necessidade de realizar intervenccedilotildees ou interferecircncias principalmente nos anos

iniciais do Ensino Fundamental no que tangia agrave alfabetizaccedilatildeo dos alunos agrave

aprendizagem de leitura e de escrita em todas as seacuteries do Ensino Fundamental I

conforme explicita a parte preliminar da Resoluccedilatildeo SE nordm 862007

() a urgecircncia em solucionar as dificuldades apresentadas pelos alunos de Ciclo I com relaccedilatildeo agraves competecircncias de ler e escrever expressas nos resultados do SARESP 2005 a necessidade de promover a recuperaccedilatildeo da aprendizagem de leitura e escrita dos alunos de todas as seacuteries do Ciclo I a imprescindibilidade de se investir na efetiva melhoria da qualidade de ensino nos anos iniciais da escolaridade () (Resoluccedilatildeo SE nordm 862007)

A partir do ano de 2007 a avaliaccedilatildeo do SARESP passa a ter uma matriz de referecircncia

uacutenica para cada disciplina e em consonacircncia agraves matrizes de referecircncias das avaliaccedilotildees

externas nacionais do Sistema de Avaliaccedilatildeo da educaccedilatildeo Baacutesica (SAEB) Conforme

afirma Scorzafave (2010) ldquodesde de 2007 os resultados da avaliaccedilatildeo do SARESP em

Liacutengua Portuguesa e em Matemaacutetica podem ser comparados aos da avaliaccedilatildeo nacional

(SAEB Prova Brasil) e aos do proacuteprio SARESP ano apoacutes anordquo

Aleacutem da definiccedilatildeo de uma matriz de referecircncia uacutenica nos anos de 2007 e 2008 inicia-

se o processo de implantaccedilatildeo de um curriacuteculo unificado na rede puacuteblica estadual

inicialmente sinalizado pela Instituiccedilatildeo do Programa Ler e Escrever dedicado aos anos

iniciais do Ensino Fundamental atraveacutes da publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo SE nordm86 de 19 de

dezembro de 2007 e posteriormente com a Resoluccedilatildeo SE nordm 76 de 7 de novembro de

2008 que dispotildee sobre a implementaccedilatildeo da proposta curricular do Estado de Satildeo

Paulo para o Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio nas escolas da rede estadual

O Programa Ler e Escrever enquanto programa viabilizador da proposta curricular do

Estado de Satildeo Paulo para os anos iniciais do Ensino Fundamental trazia como

principais objetivos uma resposta aos resultados do SARESP2005

Art 1ordm Fica instituiacutedo a partir do ano de 2008 o Programa ldquoLer e Escreverldquo com os seguintes objetivos I ndash alfabetizar ateacute 2010 a todos os alunos com idade de ateacute oito anos do Ensino Fundamental da Rede Estadual de Ensino

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

278

II ndash recuperar a aprendizagem de leitura e escrita dos alunos de todas as seacuteries do Ciclo I do Ensino Fundamental (Resoluccedilatildeo SE 862007)

Desse modo o SARESP determina as tomadas de decisotildees no niacutevel central das esferas

governamentais que afetam as unidades escolares diretamente em suas praacuteticas

inclusive eacute importante pontuar que a funccedilatildeo de Professor Coordenador para cada

ciclo55 do Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio eacute criada no Estado de Satildeo Paulo

nesse mesmo periacuteodo atraveacutes da Resoluccedilatildeo SE nordm 88 de 19 de dezembro de 2007 tal

Resoluccedilatildeo tambeacutem eacute influenciada pelos resultados expressos nas ediccedilotildees do SARESP

Aliados agraves poliacuteticas citadas ateacute o momento e que estatildeo diretamente ligadas ao

SARESP no ano de 2008 satildeo instituiacutedos o Programa de Qualidade da Escola ndash PQE e o

Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo ndash IDESP pela

Resoluccedilatildeo SE nordm 74 de 6 de novembro de 2008 tais programas satildeo considerados no

texto legal indicadores de qualidade das escolas estaduais paulistas e que permitem

avaliar qualidade de ensino fixar metas especiacuteficas para cada unidade escolar e

subsidiar accedilotildees de melhoria para a qualidade de ensino O IDESP eacute calculado

considerando dois criteacuterios especiacuteficos fluxo escolar em quanto tempo os alunos

aprenderam medido pela taxa de aprovaccedilatildeo e reprovaccedilatildeo nas seacuteries do Ensino

Fundamental e Meacutedio e desempenho escolar medido pelos resultados alcanccedilados por

cada escola no SARESP

Assim o SARESP natildeo somente se consolidou ao longo dos anos enquanto sistema de

avaliaccedilatildeo externa de rendimento escolar do Estado de Satildeo Paulo como contribuiu

entre outras coisas para o surgimento de um iacutendice que mede o desempenho das

escolas paulistas a unificaccedilatildeo do curriacuteculo do Ensino Fundamental e Meacutedio mediado

pelo material didaacutetico do Programa Ler e Escrever no caso do Ensino Fundamental I e

para a criaccedilatildeo da funccedilatildeo de professor coordenador pedagoacutegico em cada segmento de

ensino e em cada ciclo do Ensino Fundamental

55

Na Rede Puacuteblica Estadual Paulista o Ensino Fundamental foi e continua estruturado em dois ciclos o primeiro abrangendo do 1ordm ao 5ordf ano e o segundo do 6ordm ao 9ordm ano

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

279

O que sinalizam os estudos sobre o SARESP (1990-2012)

A Fundaccedilatildeo Carlos Chagas (FCC) realizou um levantamento do conhecimento

produzido sobre a Avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica do periacuteodo de 1990 a 1998 sob a

coordenaccedilatildeo de Elba Siqueira de Saacute Barreto (2001) e Regina Pahim Pinto (2001) e que

foi publicado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacional As fontes utilizadas pelas autoras foram principalmente

artigos de nove perioacutedicos de maior expressatildeo nacional (Cadernos de Pesquisa

Educaccedilatildeo e Realidade Educaccedilatildeo amp Sociedade Em aberto Ensaio Estudos em

Avaliaccedilatildeo Educacional Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Revista da Faculdade

de Educaccedilatildeo da USP e Tecnologia Educacional) dissertaccedilotildees e teses e uma minoria

composta por comunicaccedilotildees apresentadas em congressos livros capiacutetulos de livros e

relatoacuterios de pesquisa

No referido levantamento foram encontrados 218 artigos sobre a Avaliaccedilatildeo no Ensino

Baacutesico e apenas dois que tratam diretamente do Sistema de Avaliaccedilatildeo do Rendimento

Escolar do Estado de Satildeo Paulo (SARESP) um intitulado ldquoO Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo implantaccedilatildeo e continuidaderdquo (BITTAR et

al 1998) em que as autoras descrevem um breve histoacuterico da implantaccedilatildeo do SARESP

e do contexto em que o mesmo surgiu aleacutem de situar os objetivos e os pressupostos

desse sistema de avaliaccedilatildeo Jaacute o outro trata do proacuteprio documento de implantaccedilatildeo do

SARESP pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo

Outros oito artigos embora natildeo tenham tratado especificamente do SARESP podem

ser considerados como estudos precursores do Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento

Escolar do Estado de Satildeo Paulo Isso

porque apresentam e discutem estudos de avaliaccedilatildeo realizados a partir de 1988 e que foram importantes para criar em Satildeo Paulo certa competecircncia em relaccedilatildeo ao que se pode chamar de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar nos sistemas de ensino (INEP 2001 p 59)

Dentre os trabalhos levantados e relacionados pela Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sob a

coordenaccedilatildeo de Barreto e Pinto (2001) consta o artigo ldquoDesenvolvimentos de

projetos de avaliaccedilatildeo do sistema educacional no Estado de Satildeo Paulordquo em que a

autora Bernadete Gatti (1996) apresenta e discute as experiecircncias de avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

280

realizadas nos anos de 1987 1988 e 1989 de um possiacutevel Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo proposto pelo MEC com apoio do Banco Mundial e as experiecircncias de

avaliaccedilatildeo realizadas nos Estados da Federaccedilatildeo entre elas destaca a avaliaccedilatildeo da rede

puacuteblica estadual Paulista no ano de 1992 num primeiro movimento de implantar um

sistema de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar no acircmbito da Secretaria de Educaccedilatildeo de

Satildeo Paulo vinculada no momento ao Projeto das Escolas-Padratildeo Tal artigo embora

natildeo trate especificamente sobre o SARESP mas ao contextualizaacute-lo no cenaacuterio

nacional possilita que compreendamos melhor a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica do

SARESP

Os estudos pioneiros realizados sobre os sistemas de avaliaccedilatildeo de rendimento escolar

nesta deacutecada sinalizaram que

() eacute importante que o sistema gere e processe informaccedilotildees que possibilitem melhor fundamentar a tomada de decisotildees quanto agrave formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Revela tambeacutem que a avaliaccedilatildeo de monitoramento nos estilos Saeb Saresp e Paemg natildeo tem se revestido da conotaccedilatildeo concorrencial e do caraacuteter competitivo que foi muito acentuado nas experiecircncias de outros paiacuteses o que sinaliza para as limitaccedilotildees da aplicaccedilatildeo de um modelo que utiliza testes e publica os resultados dos alunos por escola tendo em mira sobretudo a orientaccedilatildeo dos consumidores da mercadoria educacional (INEP 2001 p 61)

Para a compreensatildeo do estado do conhecimento sobre o SARESP na deacutecada seguinte

do periacuteodo de 2000 a 2012 realizamos um levantamento de teses e dissertaccedilotildees

produzidas e defendidas no interior das Universidades localizadas no Estado de Satildeo

Paulo a saber Universidade de Satildeo Paulo Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de

Mesquita Filhordquo Universidade Federal de Satildeo Paulo Universidade Estadual de

Campinas Universidade Federal de Satildeo Carlos Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo

Paulo Universidade de Taubateacute e Universidade Satildeo Francisco visto que tal objeto de

estudo foi mais amplamente discutido e produzido nas universidades localizadas no

Estado de Satildeo Paulo

De 2000 a 2012 encontramos vinte e oito trabalhos dos quais trecircs satildeo teses de

doutorado e o restante satildeo dissertaccedilotildees de mestrado A maioria das pesquisas

encontradas sobre o tema foi realizada nos de 2006 2007 2008 A maioria das

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

281

pesquisas desenvolvidas ateacute 2007 possibilita visualizar o Sistema de Avaliaccedilatildeo de

Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo como um instrumento iminente para o

direcionamento do curriacuteculo escolar Tal fato se concretiza posteriormente pois a

partir do ano de 2007 uma seacuterie de resoluccedilotildees entram em vigor entre elas as

resoluccedilotildees que dispotildeem sobre a proposta curricular do Estado de Satildeo Paulo para o

Ensino Fundamental e Meacutedio

Os resultados do SARESP de 2005 satildeo responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo de uma proposta

curricular organizada pelos Programas Ler e Escrever destinado agraves seacuteries iniciais do

Ensino Fundamental e Satildeo Paulo faz escola destinado agraves seacuteries finais do Ensino

Fundamental e Ensino Meacutedio aleacutem disso cria-se o Iacutendice de Desenvolvimento da

educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo o IDESP conforme explicitado no Caderno do

Gestor publicado pela SEE-SP em 2010

A Secretaria da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo desenvolve desde de 2007 uma poliacutetica educacional articulada em quatro grandes eixos Implantaccedilatildeo de uma base curricular comum para todas as escolas da rede estadual organizadas pelos programas ler e escrever (Ensino Fundamental ndash Ciclo I) Satildeo Paulo faz escola (Ensino Fundamental ndash Ciclo II e Ensino Meacutedio) Avaliaccedilatildeo e metas de qualidade com a completa reformulaccedilatildeo do Saresp e a criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento da educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo (Idesp) que fixou metas de qualidade por escola e por segmento de ensino () Programa de incentivo aos profissionais da educaccedilatildeo e mais qualidade na escola com inovaccedilotildees nas carreiras () (caderno do Gestor 2010 pp 6-7)

Portanto o que sinalizavam as pesquisas realizadas ateacute o ano de 2007 sobre o SARESP

como fator de induccedilatildeo sobre curriacuteculo nas escolas se concretizou efetivamente atraveacutes

dos textos legais e pelos documentos baixados pela SEESP

Destacamos ainda as pesquisas de Machado (2003) e de Bauer (2006) que

contribuiacuteram para a ampliaccedilatildeo da compreensatildeo a respeito do SARESP para a definiccedilatildeo

de poliacuteticas de gestatildeo na educaccedilatildeo da rede de ensino estadual paulista pois ambas

discutem os usos dos resultados do SARESP para a definiccedilatildeo de accedilotildees por parte das

Diretorias Regionais de Ensino

Machado (2003) faz uma anaacutelise da utilizaccedilatildeo dos resultados SARESP do ano de 2000

como instrumento para direcionar as accedilotildees no niacutevel das Diretorias de Ensino visando agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

282

melhoria da qualidade do ensino puacuteblico Nesse trabalho a autora detalha e

aprofunda a anaacutelise sobre o contexto de implantaccedilatildeo e as principais caracteriacutesticas do

SARESP e da utilizaccedilatildeo dos resultados da avaliaccedilatildeo de 2000 pelas Diretorias de Ensino e

assinala que o SARESP tem possibilidade de ser um instrumento para direcionar accedilotildees

e poliacuteticas visando construir a qualidade do ensino nas escolas puacuteblicas estaduais por

estar alicerccedilado nos testes de rendimento dos alunos Poreacutem destaca que o mesmo

tem sido utilizado muito mais para dar visibilidade a esses resultados por escolas

estabelecendo um ranking que gera a comparaccedilatildeo entre as escolas e enfatiza que

desse modo as escolas e as Diretorias de Ensino satildeo impossibilitadas de refletir sobre

as condiccedilotildees nas quais os rendimentos dos alunos satildeo alcanccedilados e de propor

iniciativas accedilotildees e alternativas que viabilizem a construccedilatildeo de uma escola puacuteblica de

qualidade

Bauer (2006) ao pesquisar o uso dos resultados do SARESP na formulaccedilatildeo de accedilotildees de

formaccedilatildeo de professores no acircmbito das diretorias regionais da capital paulista cujo

problema que guiou as reflexotildees foi a anaacutelise sobre em que medida os resultados da

avaliaccedilatildeo sistecircmica subsidiam a formulaccedilatildeo de poliacuteticas de formaccedilatildeo docente aponta

que os dados analisados sinalizaram que o uso dos resultados do SARESP para a

elaboraccedilatildeo de accedilotildees de formaccedilatildeo docente depende da equipe responsaacutevel por essa

formaccedilatildeo no acircmbito da diretoria e que as equipes tinham dificuldades no

entendimento dos resultados da avaliaccedilatildeo fato que poderia ser uma das explicaccedilotildees

para a diferenciaccedilatildeo das accedilotildees observadas entre as diretorias Tambeacutem identificou que

muitas das accedilotildees realizadas nas diretorias satildeo desdobramentos de atividades de

formaccedilatildeo definidas pela SEE para toda a rede de ensino indicando a partir de 2002

uma tendecircncia agrave centralizaccedilatildeo das accedilotildees de formaccedilatildeo Tambeacutem foram percebidas

algumas iniciativas das diretorias na busca de accedilotildees de formaccedilatildeo balizadas pelas

necessidades dos professores evidenciadas pelos resultados da avaliaccedilatildeo

A partir de 2007 as pesquisas sobre o SARESP se intensificaram e trouxeram

elementos diversificados para a compreensatildeo desse objeto de estudo Um exemplo eacute o

estudo de Freire (2008) que retoma a discussatildeo sobre o impacto do SARESP no

interior das escolas Com base em um estudo de caso estuda as vicissitudes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

283

provocadas pelo SARESP na dinacircmica de uma escola da rede estadual da Grande Satildeo

Paulo no decorrer do processo avaliativo do ano de 2005 O objetivo foi investigar o

percurso que foi trilhado pela escola aleacutem de apreciar sua eventual articulaccedilatildeo com os

objetivos traccedilados pela SEE Ao finalizar este estudo a autora verificou que a avaliaccedilatildeo

externa natildeo manteacutem um diaacutelogo com a cultura de avaliaccedilatildeo da escola tatildeo necessaacuteria

para que a educaccedilatildeo em nosso Estado trilhe um caminho em busca da qualidade e

sinaliza a necessidade do aprofundamento desta questatildeo

Chiste (2009) ao investigar a repercussatildeo do resultado positivo de seus alunos nas

avaliaccedilotildees do SARESP em duas escolas no ano de 2007 realizou um apontamento

importante de alguns fatores e accedilotildees que contribuem para o bom rendimento destas

escolas grupo de professores efetivos trabalhando na escola haacute muitos anos e de

maneira coesa busca por resultados que traduzem os esforccedilos dos docentes e dos

alunos reuniotildees com professores e gestores para reavaliar e discutir estrateacutegias

pedagoacutegicas diretores e coordenadores atuantes servindo de ligaccedilatildeo entre anseios

dos alunos da comunidade e os da escola

A tese de Paulo Henrique Arcas (2009) favoreceu a ampliaccedilatildeo da compreensatildeo acerca

dos estudos sobre o SARESP ao investigar as implicaccedilotildees da progressatildeo continuada e

do SARESP na avaliaccedilatildeo escolar Com o objetivo de identificar e analisar eventuais

alteraccedilotildees ocorridas na avaliaccedilatildeo induzidas pela implantaccedilatildeo dessas medidas o autor

realizou o levantamento de pesquisas acadecircmicas acerca dos temas tratados aplicou

questionaacuterios e realizou entrevistas com professores coordenadores de escolas de

uma Diretoria de Ensino da rede estadual paulista e apoacutes a anaacutelise dos dados concluiu

que a Progressatildeo Continuada e o SARESP estatildeo refletindo na avaliaccedilatildeo escolar

Contudo identificou-se que a Progressatildeo Continuada tende a influenciar mais o

discurso do que as praacuteticas avaliativas e enfrenta maior resistecircncia do professorado

Segundo o autor

O SARESP tem assumido gradualmente o papel de orientador de praacuteticas escolares sendo utilizado no planejamento e replanejamento das escolas Tem repercutido nas praacuteticas avaliativas induzindo ao fortalecimento de uma concepccedilatildeo de verificaccedilatildeo escolar em detrimento da avaliaccedilatildeo formativa potencializada pela progressatildeo continuada O dilema causado pela convivecircncia dessas medidas evidencia um confronto entre a loacutegica da avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

284

formativa com praacuteticas tradicionalmente desenvolvidas nas escolas que tendem a restringir a avaliaccedilatildeo agrave medida de resultados com fim classificatoacuterio O SARESP ao servir como referecircncia para organizaccedilatildeo das praacuteticas escolares e avaliativas potencializa a tensatildeo entre a avaliaccedilatildeo tradicional e a avaliaccedilatildeo formativa Devido agrave importacircncia que tem adquirido na poliacutetica educacional evidenciou-se a tendecircncia em tornar-se gradativamente indutor do trabalho escolar (Arcas 2009 p 09)

Alves (2010) investigou como professores de duas escolas do municiacutepio de Guarulhos

agiam sob os efeitos do SARESP segundo ele importante ferramenta de gestatildeo

administrativa da Secretaria da Educaccedilatildeo do Estado de Satildeo Paulo Para compreender a

produccedilatildeo do cotidiano desses sujeitos foi utilizada a perspectiva de Michel de

Certeau analisando o uso de taacuteticas ou seja de usos cotidianos que se distanciam ou

apropriam das normativas do exame considerado na pesquisa como uma estrateacutegia

do Estado para o controle do trabalho docente Os resultados indicaram um grande

desconhecimento dos professores das duas escolas em relaccedilatildeo a essa medida estatal e

tambeacutem mostraram que eles jaacute conheciam muitas maneiras de lidar com ela sendo

que algumas eram consensualmente vistas como legiacutetimas pela grande maioria como

os simulados aplicados com frequecircncia a utilizaccedilatildeo de questotildees de provas antigas e os

estiacutemulos agrave adesatildeo discente agrave prova Poreacutem as escolas diferiram no que dizia respeito

agrave mobilizaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica como um todo para um uso bem sucedido e

contiacutenuo dessas taacuteticas O autor aponta pois que ainda eacute preciso refletir sobre a

utilizaccedilatildeo dos seus resultados

Camba (2011) pretendeu com sua pesquisa disponibilizar um leque de vetores como

(re)orientadores dos rumos da poliacutetica apontando especificidades do processo de

implementaccedilatildeo de uma poliacutetica para tanto analisou a trajetoacuteria da elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo da poliacutetica de avaliaccedilatildeo no Brasil com foco no SARESP atraveacutes da

descriccedilatildeo e anaacutelise de trecircs gestotildees governamentais que no periacuteodo de 1995 a 2010

elaboraram e implementaram a poliacutetica de avaliaccedilatildeo Essa periodizaccedilatildeo permitiu

reconhecer os momentos de iniciaccedilatildeo desenvolvimento e consolidaccedilatildeo e

simultaneamente em que medida cada uma das gestotildees foram imprimindo ajustes e

criando dispositivos de (re) orientaccedilatildeo eou fortalecimento de seus propoacutesitos

vinculados a criar uma cultura de avaliaccedilatildeo e fornecer subsiacutedios para discutir a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

285

melhoria da qualidade da educaccedilatildeo A autora concluiu que o instrumento instalou-se

de forma permanente e que a poliacutetica do SARESP se consolidou

Em suma os estudos realizados ateacute 2007 sinalizavam o SARESP como fator de induccedilatildeo

sobre o curriacuteculo nas escolas jaacute os estudos realizados apoacutes 2007 apontavam o SARESP

como orientador de praacuteticas escolares e fator de legitimaccedilatildeo das mesmas nas

Diretorias de Ensino

Consideraccedilotildees finais

Tanto a trajetoacuteria histoacuterica do SARESP das poliacuteticas puacuteblicas que decorreram dos

resultados evidenciados por essa avaliaccedilatildeo sistecircmica quanto o panorama dos estudos

realizados cujo objeto foi o SARESP nos permite ampliar a compreensatildeo de como esse

sistema foi se configurando na rede puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo se tornando

direcionador de poliacuteticas puacuteblicas tendo sempre como alvos as unidades escolares e

ainda de como o proacuteprio SARESP foi sendo legitimado ao longo dos anos nas

Diretorias de Ensino e nas escolas cada qual a seu modo

Nesse sentido salientamos a necessidade de se compreender as maneiras pelas quais

as equipes escolares se relacionam legitimam ou natildeo resistem ou modificam suas

praacuteticas escolares diante da poliacutetica do SARESP pois entendemos que o SARESP com

quase duas deacutecadas de existecircncia estaacute consolidado como poliacutetica puacuteblica e estaacute

presente na histoacuteria cotidiana da educaccedilatildeo paulista nas instituiccedilotildees escolares e as

maneiras de como ele se manifesta nas praacuteticas escolares ainda eacute segundo Frago

(1996) uma ldquocaixa pretardquo a ser aberta e investigada

Referecircncias bibliograacuteficas

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ARCAS P (2009) Implicaccedilotildees da Progressatildeo Continuada e do SARESP na avaliaccedilatildeo escolar tensotildees dilemas e tendecircncia Satildeo Paulo Tese PUC

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

286

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SAtildeO PAULO (2010) Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo Caderno do Gestor gestatildeo do curriacuteculo na escola Satildeo Paulo SEESP SP

__________ (1997) Secretaacuteria de Estado da Educaccedilatildeo Sistema de Avaliaccedilatildeo de Rendimento Escolar do Estado de Satildeo Paulo

__________ (1991) Decreto Nordm 34035 Institui o Projeto Educacional Escola-Padratildeo

__________ (2007) Resoluccedilatildeo SE Nordm 86 Institui para o ano de 2008 o Programa ldquoLer e Escreverrdquo no Ciclo I das Escolas Estaduais de Ensino Fundamental das Diretorias de Ensino da Coordenadoria de Ensino da Regiatildeo Metropolitana da Grande Satildeo Paulo

__________ (2007) Resoluccedilatildeo SE Nordm 88 Dispotildee sobre a funccedilatildeo gratificada de Professor Coordenador

__________ (2008) Resoluccedilatildeo SE nordm 74 Institui o Programa de Qualidade da Escola ndash PQE

__________ (2008) Resoluccedilatildeo SE Nordm 76 Dispotildee sobre a implementaccedilatildeo da proposta curricular do Estado de Satildeo Paulo para o Ensino Fundamental e para o Ensino Meacutedio

SCORZAFAVE L (2011) As avaliaccedilotildees externas no Brasil Satildeo Paulo USP

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

287

Desafios da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior um exame dos

discursos presentes em perioacutedicos educacionais brasileiros

(2000-2010)

Dislane Zerbinatti Moraes

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

dzmoraesuspbr

Rita de Cassia Gallego

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

ritagallegouspbr

Vivian Batista da Silva

Faculdade de Educaccedilatildeo da USP

vivianbsyahoocom

Resumo

A comunicaccedilatildeo aqui proposta visa a apresentar os dados da produccedilatildeo cientiacutefica sobre

o tema da avaliaccedilatildeo no Ensino Superior publicada em perioacutedicos brasileiros no

periacuteodo de 2000 a 2010 como fruto dos dados da pesquisa que integra o Projeto de

Pesquisa Avaliaccedilatildeo Ensino e Aprendizagens no Ensino Superior em Portugal e no Brasil

Realidades e Perspectivas (PTDCCPE-CED1143182009) vinculado agrave Universidade de

Lisboa sob a coordenaccedilatildeo geral do professor Domingos Fernandes Participam do

Projeto quatro universidades portuguesas (Universidade de Lisboa Universidade de

Coimbra Universidade do Minho e Universidade de Eacutevora) e trecircs brasileiras

(Universidade de Satildeo Paulo ndash USP Universidade do Estado do Paraacute ndash UEPA e

Universidade da Amazocircnia ndash UNAMA) Discute-se nesta oportunidade como essa

temaacutetica se constitui pauta entre os especialistas da aacuterea ou seja entre os

pesquisadores que na maior parte das vezes satildeo professores universitaacuterios Quando

se comeccedila a pensar sobre as questotildees de avaliaccedilatildeo no ensino superior O que

diferencia as discussotildees mais amplas sobre a avaliaccedilatildeo educacional daquelas que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

288

atentam especificamente para o que acontece nas universidades e faculdades Que

preocupaccedilotildees estatildeo presentes nos estudos sobre avaliaccedilatildeo no ensino superior Que

praacuteticas satildeo criticadas Que praacuteticas se quer inspirar Quais os principais desafios

enfrentados Para responder questotildees como essas selecionamos revistas

educacionais considerando sua representatividade no meio acadecircmico Os quatro

tiacutetulos com os quais trabalhamos aproximam-se por serem publicaccedilotildees com vocaccedilatildeo

para o debate acadecircmico e sensibilidade quanto agraves demandas sociais com ecircnfase nos

estudos educacionais Um desses tiacutetulos satildeo os Cadernos de Pesquisa Outras revistas

pesquisadas estatildeo voltadas agrave difusatildeo da produccedilatildeo realizada entre os investigadores de

expressatildeo no campo acadecircmico educacional Satildeo Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo

Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

Palavras-chave ensino superior avaliaccedilatildeo perioacutedicos educacionais

Abstract

The communication proposal aims to present the data of the scientific production on

the subject of the evaluation in Higher Education published in Brazilians Journals of

Education in the period of 2000 the 2010 as fruit of the data of the research that

integrates the Project of Research Evaluation Education and Learnings in Higher

Education in Portugal and Brazil Realities and Perspectivas (PTDCCPE-

CED1143182009) tied with the University of Lisbon under the general coordination

of the professor Domingos Fernandes They participate of the Project four Portuguese

universities (University of Lisbon University of Coimbra University of the Minho and

University of Eacutevora) and three Brazilians universities (University of Satildeo Paulo - USP

University of the State of Paraacute - UEPA and University of Amazocircnia - UNAMA) It is

argued in this chance as this thematic one if it constitutes guideline enters the

specialists of the area that is between the researchers who to a great extent are

university professors When it is started to think on the evaluation questions about

Higher Education What it differentiates the quarrels amplest on the educational

evaluation of that they attempt against specifically for what it happens in the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

289

universities and colleges That concerns are presents in the studies on evaluation in

Higher Education Which practical is criticized Which the main faced challenges To

answer these questions we select Journals of Education considering its

representation in the half academic The four headings with which we work are come

close for being publications with vocation for the academic debate and sensitivity how

much to the social demands with emphasis in the educational studies They are

Cadernos de Pesquisa Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

Keywords higher education evaluation educational journals

A comunicaccedilatildeo aqui proposta consiste nos primeiros esforccedilos de apresentar os dados

da produccedilatildeo cientiacutefica sobre o tema da avaliaccedilatildeo no ensino superior publicada em

perioacutedicos brasileiros no periacuteodo de 2000 a 2010 O que se quer eacute investigar como essa

temaacutetica se constitui pauta entre os especialistas da aacuterea ou seja entre os

pesquisadores que muitas vezes satildeo professores universitaacuterios Quando se comeccedila a

pensar sobre as questotildees de avaliaccedilatildeo no ensino superior O que diferencia as

discussotildees mais amplas sobre a avaliaccedilatildeo educacional daquelas que atentam

especificamente para o que acontece nas universidades e faculdades Que

preocupaccedilotildees estatildeo presentes nos estudos sobre avaliaccedilatildeo no ensino superior Que

praacuteticas satildeo criticadas Que praacuteticas se quer inspirar Para responder questotildees como

essas selecionamos revistas educacionais considerando sua representatividade no

meio acadecircmico Os quatro tiacutetulos com os quais trabalhamos aproximam-se por serem

publicaccedilotildees com vocaccedilatildeo para o debate acadecircmico e sensibilidade quanto agraves

demandas sociais com ecircnfase nos estudos educacionais Um desses tiacutetulos satildeo os

Cadernos de Pesquisa Outras revistas pesquisadas estatildeo voltadas agrave difusatildeo da

produccedilatildeo realizada entre os investigadores de expressatildeo no campo acadecircmico

educacional Educaccedilatildeo e Pesquisa Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

290

Este trabalho de levantamento e anaacutelise bibliograacutefica se integra ao Projeto de Pesquisa

Avaliaccedilatildeo Ensino e Aprendizagens no Ensino Superior em Portugal e no Brasil

Realidades e Perspectivas (PTDCCPE-CED1143182009) proposto pela Universidade

de Lisboa sob a coordenaccedilatildeo geral do professor Domingos Fernandes Participam do

Projeto quatro universidades portuguesas (Universidade de Lisboa Universidade de

Coimbra Universidade do Minho e Universidade de Eacutevora) e trecircs brasileiras

(Universidade de Satildeo Paulo ndash USP Universidade do Estado do Paraacute ndash UEPA e

Universidade da Amazocircnia ndash UNAMA) O principal objetivo do projeto eacute conhecer e

compreender as praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo e processos de participaccedilatildeo dos

estudantes no desenvolvimento de suas aprendizagens no ensino superior em

contextos reais de sala de aula Aleacutem da identificaccedilatildeo da bibliografia especializada os

pesquisadores envolvidos estatildeo em processo de coleta de dados sendo esses

compostos por entrevistas com professores questionaacuterios aos alunos e observaccedilotildees

de aulas em diferentes cursos do Ensino Superior

Fundamenta o projeto o reconhecimento de que haacute uma diversidade de perspectivas e

abordagens em relaccedilatildeo ao domiacutenio cientiacutefico da avaliaccedilatildeo assim como diferentes

entendimentos do que seja o ato de avaliar em sua dimensatildeo praacutetica Assim caberia

um esforccedilo investigativo procurando discernir e clarificar os sentidos atribuiacutedos agrave

avaliaccedilatildeo nos sistemas de ensino evitando-se dogmatismos e ortodoxias ontoloacutegicas

epistemoloacutegicas ou metodoloacutegicas de qualquer espeacutecie De acordo com Fernandes

Eacute importante que se compreenda que a avaliaccedilatildeo eacute em boa

medida e em muitas situaccedilotildees concretas uma construccedilatildeo social

complexa que envolve pessoas que funcionam em determinados

contextos com suas praacuteticas e poliacuteticas proacuteprias e que envolve

a natureza do que estaacute a ser avaliado que por sua vez tambeacutem

tem as suas finalidades loacutegicas e poliacuteticas proacuteprias (2008 p5)

Parece-nos que este trabalho com os textos produzidos na aacuterea eacute um importante

ponto de partida pois permite mapear como o discurso acadecircmico eacute produzido e ao

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

291

mesmo tempo produz aquilo que se espera das praacuteticas de avaliaccedilatildeo no Ensino

Superior As revistas aqui examinadas satildeo instacircncias de debate intenso e satildeo lugares

nos quais pesquisadores e professores universitaacuterios expotildeem suas perspectivas de

compreensatildeo das praacuteticas de avaliaccedilatildeo no ensino superior A anaacutelise dos perioacutedicos

indica que ateacute os anos 2000 esse tema era mais raramente tratado entre os

especialistas da aacuterea que falavam sobretudo sobre a avaliaccedilatildeo nos niacuteveis mais

elementares de ensino Ao examinarmos artigos publicados na primeira deacutecada do

seacuteculo XXI estamos atentas justamente para um momento em que a avaliaccedilatildeo no

Ensino Superior comeccedila a se configurar como tema de interesse ganhando visibilidade

cada vez maior entre os educadores Afinal quem fala sobre a temaacutetica O

levantamento realizado nos quatro perioacutedicos aqui escolhidos mapeia as iniciativas e

os discursos que datildeo vida agrave avaliaccedilatildeo no Ensino Superior como tema de debate no

campo Comecemos o exame do material considerando os textos localizados na revista

onde as preocupaccedilotildees com os rumos da educaccedilatildeo satildeo mais evidentes

O perioacutedico Cadernos de Pesquisa eacute uma publicaccedilatildeo mantida pela Fundaccedilatildeo Carlos

Chagas instituiccedilatildeo privada sem fins lucrativos dedicada agrave seleccedilatildeo e agrave pesquisa na aacuterea

de Educaccedilatildeo com sede em Satildeo Paulo A Fundaccedilatildeo Carlos Chagas foi fundada em l964

com o objetivo de preparar exames vestibulares de ingresso ao Ensino Superior e

passou a atuar tambeacutem na seleccedilatildeo de recursos humanos para oacutergatildeos puacuteblicos e

empresas privadas Sua histoacuteria de projeccedilatildeo como centro de pesquisas deu-se a partir

dessa atividade praacutetica de caracterizaccedilatildeo socioeconocircmica de candidatos e de avaliaccedilatildeo

de competecircncias Em 1971 foi criado o Departamento de Pesquisas Educacionais com

pesquisadores associados promovendo projetos de investigaccedilatildeo voltados para a

relaccedilatildeo da educaccedilatildeo com os problemas e perspectivas sociais do paiacutes No mesmo ano

inicia-se a publicaccedilatildeo dos Cadernos de Pesquisa nos quais passa a ser veiculado amplo

espectro de investigaccedilotildees interdisciplinares de temas emergentes e de estudos e

pesquisas que propiciam o debate com especial atenccedilatildeo agraves poliacuteticas puacuteblicas de

educaccedilatildeo Nesse longo periacuteodo o grupo de pesquisadores envolvido com a publicaccedilatildeo

tem buscado o equiliacutebrio entre o compromisso de trazer em cada nuacutemero notiacutecias de

pesquisas originais e portanto expressar a produccedilatildeo do Departamento de Pesquisa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

292

Educacionais da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas e receber a colaboraccedilatildeo de investigadores

externos associados a outras instituiccedilotildees de pesquisa e universidades atraveacutes de

demanda induzida ou proposta por autores independentes Pretende atingir assim

um puacuteblico de interesses diversificados natildeo soacute em relaccedilatildeo agrave aacuterea de educaccedilatildeo mas

tambeacutem na aacuterea de gecircnero relaccedilotildees eacutetnico-raciais e outros temas que espelham as

questotildees poliacuteticas e sociais do momento (AUAD 1998)

Durante as deacutecadas de 1970 1980 e 1990 os autores publicados abordaram o tema da

avaliaccedilatildeo tomando como objeto de estudo os modos de avaliar as competecircncias dos

estudantes o curriacuteculo e material didaacutetico-instrucional com ecircnfase nas questotildees de

acesso agrave universidade aprovaccedilatildeo reprovaccedilatildeo e evasatildeo desempenho linguiacutestico

rendimento escolar instrumentos de medidas e objetivos instrucionais eficiecircncia do

sistema nos niacuteveis da educaccedilatildeo baacutesica (ensino fundamental e meacutedio) Dois espaccedilos de

aplicaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo as destinadas agrave avaliaccedilatildeo do professor e das instituiccedilotildees

sobretudo no niacutevel Ensino Superior enfrentavam resistecircncias relacionadas a motivos

corporativos e apoiadas na criacutetica em relaccedilatildeo agrave ausecircncia de um modelo de avaliaccedilatildeo

adequado agrave realidade brasileira Estudos sobre as metodologias de obtenccedilatildeo de dados

para avaliaccedilatildeo com discussotildees sobre os meacutetodos quantitativos qualitativos e pesquisa

participante (pesquisaaccedilatildeo) tambeacutem se constituiacuteram em temas privilegiados pelos

investigadores

Nesse periacuteodo o tema da avaliaccedilatildeo se consolida como um objeto de investigaccedilatildeo

surgindo discussotildees sobre a relevacircncia desses estudos para a melhoria da qualidade

dos projetos e sistemas educacionais Poreacutem ainda em l992 em artigo de balanccedilo da

produccedilatildeo sobre avaliaccedilatildeo nos Cadernos de Pesquisa Heraldo Marelim Vianna

afirmava

() inexiste em nosso contexto uma cultura da avaliaccedilatildeo

mas por pressatildeo das autoridades educacionais e das grandes

agecircncias financiadoras a avaliaccedilatildeo comeccedila ser considerada

uma necessidade de primeira grandeza Haacute contudo falta de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

293

elementos qualificados para o exerciacutecio da avaliaccedilatildeo salvo

algumas exceccedilotildeesrdquo (Cadernos de Pesquisa 80 p 102)

Identificamos cinco artigos entre os anos de 2000-2010 abrangendo as seguintes

temaacuteticas a) estudos sobre a poliacutetica de avaliaccedilatildeo do Ensino Superior atraveacutes do

Exame Nacional de Cursos (2 artigos) b) investigaccedilotildees sobre o rendimento de alunos

ingressantes na Universidade pelo sistema de cotas reservadas agrave etnia negra (2

artigos) c) apresentaccedilatildeo de pesquisa com cooperaccedilatildeo internacional (UFRGS UFPel e

Universidade de Aveiro) identificando a percepccedilatildeo dos estudantes sobre a relevacircncia

de avaliaccedilotildees institucionais na universidade (1 artigo)

Quanto agrave natureza dos artigos em um deles a autora analisa o Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo Educacional de modo teoacuterico buscando referecircncias na literatura cientiacutefica

Vale frisar que a partir dos anos finais da deacutecada de 1990 haacute um aumento significativo

dos instrumentos avaliativos utilizados pelo Estado brasileiro com vistas a controlar o

desempenho dos alunos nos diferentes niacuteveis de ensino inclusive no Ensino Superior

discussotildees essas que ocupam um espaccedilo expressivo natildeo soacute nesse perioacutedico mas nos

demais Os outros quatro textos utilizaram entrevistas abertas questionaacuterios

socioculturais e documentaccedilatildeo acadecircmica de desempenho escolar para

desenvolverem as pesquisas Dois textos entre esses tratam de maneira extensiva da

questatildeo metodoloacutegica para a obtenccedilatildeo e anaacutelise dos dados quantitativos e

qualitativos Cada qual segue perspectiva metodoloacutegica diferente Um deles produzido

por pesquisadores do campo da estatiacutestica apresenta nova metodologia

fundamentada em medidas de diversidades proposta por Rao e na utilizaccedilatildeo de U-

estatiacutesticas Com base na variaacutevel ldquoganho relativordquo propotildeem testes de

homogeneidade para avaliar se existe diferenccedila no desempenho entre estudantes

segundo alguns agrupamentos (sexo formaccedilatildeo em escola puacuteblica ou particular

caracteriacutesticas socioeconocircmicas) O outro estudo que aborda a percepccedilatildeo de

estudantes sobre a avaliaccedilatildeo baseou-se na anaacutelise de respostas a questotildees abertas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

294

Foram organizadas categorias segundo o seu significado com apoio de dispositivo

informaacutetico

O segundo perioacutedico selecionado para esta anaacutelise eacute Educaccedilatildeo e Pesquisa que eacute uma

revista trimestral da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo uma das

mais renomadas universidades brasileiras e da Ameacuterica Latina Tem sido editada

ininterruptamente desde 1975 originalmente como Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo

e com o tiacutetulo atual desde 1999 Eacute uma publicaccedilatildeo bastante conceituada que aceita

para publicaccedilatildeo artigos ineacuteditos na aacuterea educacional resultantes de pesquisa de

caraacuteter teoacuterico ou empiacuterico assim como revisotildees da literatura de pesquisa

educacional Satildeo publicados nesta revista artigos dos mais variados temas e

comumente satildeo realizados Dossiecircs temaacuteticos poreacutem natildeo foi localizado nenhum sobre

Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior Entre os anos 2000 e 2010 foram encontrados somente

dois artigos que versam sobre a temaacutetica avaliaccedilatildeo relativa ao niacutevel Superior sendo

que todos discutem as poliacuteticas de avaliaccedilatildeo externa numa perspectiva poliacutetica

publicados em 2006 e 2009 O primeiro com autoria de Carmen Luacutecia Dias Maria de

Lourdes Morales Horiguela e Paulo Sergio Marchelli eacute intitulado ldquoPoliacuteticas para

avaliaccedilatildeo da qualidade do Ensino Superior no Brasil um balanccedilo criacuteticordquo (n 32

setdez2006) e faz a anaacutelise por meio de revisatildeo bibliograacutefica e de anaacutelise

documental acerca das origens do processo de avaliaccedilatildeo da sequecircncia histoacuterica dos

debates poliacuteticos que definiram os programas de trabalho na aacuterea das concepccedilotildees

metodoloacutegicas adotadas por esses programas dos instrumentos de mensuraccedilatildeo e

acompanhamento que foram desenvolvidos e dos sistemas de indicadores criados para

aferir a qualidade de ensino nas instituiccedilotildees bem como do desempenho dos

estudantes No segundo artigo ldquoAvaliaccedilatildeo e qualidade no Ensino Superior os impactos

do periacuteodo 1995-2002rdquo (n 35 setdez2009) Giselle Cristina Martins Real discute os

impactos que a poliacutetica de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior adotada no periacuteodo de 1995

a 2002 proporcionou agrave construccedilatildeo da concepccedilatildeo de qualidade nas instituiccedilotildees de

Ensino Superior de forma a compreender a sua loacutegica intriacutenseca

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

295

No acircmbito das discussotildees poliacuteticas acerca das avaliaccedilotildees institucionais o autor Joseacute

Dias Sobrinho eacute um dos mais citados nos artigos encontrados seja na Educaccedilatildeo e

Pesquisa seja em outros perioacutedicos e foi quem produziu um nuacutemero significativo de

livros e artigos sobre essa temaacutetica dos quais podemos destacar os seguintes livros

Universidade e Avaliaccedilatildeo Entre a eacutetica e o mercado (Insular 2002) Avaliaccedilatildeo

Poliacuteticas educacionais e reformas da educaccedilatildeo superior (Cortez 2003) e Dilemas da

Educaccedilatildeo Superior no mundo globalizado Sociedade do conhecimento ou economia

do conhecimentordquo (Casa do Psicoacutelogo 2005) Dias Sobrinho eacute professor do Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da UNISO (Universidade de Sorocaba) e professor

titular aposentado da UNICAMP onde atua na Poacutes-Graduaccedilatildeo e eacute editor de uma

revista voltada agrave temaacutetica da Avaliaccedilatildeo no Ensino Superior desde sua primeira ediccedilatildeo

1996 O perioacutedico Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute produzido

por RAIES (Rede Brasileira de Avaliaccedilatildeo Institucional do Ensino Superior) em parceria

com a UNISO Observa-se que a revista tinha sido publicada desde 1996 pela RAIES

sob o subtiacutetulo Revista de Rede de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e a partir de

2007 em parceria com a UNISO a legenda foi alterada para Revista da Avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superiorrdquo sendo financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico) agecircncia do Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo (MCTI) que tem como principais atribuiccedilotildees fomentar a

pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica e incentivar a formaccedilatildeo de pesquisadores brasileiros

A produccedilatildeo desse perioacutedico tambeacutem eacute marcadamente poliacutetica e ao se remeter a uma

anaacutelise pedagoacutegica essa eacute voltada na maior parte das vezes ao formato das avaliaccedilotildees

institucionais e ao sistema de Ensino Superior Foram encontrados esparsos registros e

anaacutelises de experiecircncias particulares de modo geral na formaccedilatildeo teacutecnica

Foi possiacutevel ainda examinar os conhecimentos produzidos pelos chamados

ldquoespecialistasrdquo a partir de pesquisas realizadas na aacuterea da educaccedilatildeo ou mais

especificamente junto agrave sociologia educacional agrave psicologia educacional agrave filosofia

educacional e outras aacutereas afins Nessa perspectiva o projeto incluiu tambeacutem o

levantamento sistematizaccedilatildeo e exame de artigos publicados pela Revista Brasileira de

Educaccedilatildeo uma publicaccedilatildeo quadrimestral da ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

296

Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo) em circulaccedilatildeo desde 1995 Natildeo se poderia deixar

de mencionar aqui a atual e notaacutevel ldquocomplexificaccedilatildeordquo do campo dos educadores

configurada no significativo aumento do nuacutemero de centros reuniotildees congressos

teses dissertaccedilotildees e publicaccedilotildees educacionais destacando-se os livros e os perioacutedicos

da aacuterea Os esforccedilos da ANPEd satildeo indiacutecios relevantes dessa tendecircncia Em 2002 ao

avaliar e propor as atividades e seus vaacuterios grupos de trabalho a Diretoria da

Associaccedilatildeo reafirmou entre outros o propoacutesito de reunir pesquisadores estudiosos e

interessados na praacutetica educacional construir um espaccedilo para expor vaacuterias

perspectivas teoacuterico-metodoloacutegicas presentes nos estudos da aacuterea acompanhar e

analisar a produccedilatildeo cientiacutefica e os projetos de pesquisa aleacutem de colaborar com a

melhoria das disciplinas da Poacutes-Graduaccedilatildeo e produzir bibliografia analiacutetica Eacute nesse

sentido que um dos artigos que trata da avaliaccedilatildeo do Ensino Superior ainda que natildeo

de uma forma central eacute o de Maria de Lourdes Albuquerque Faacutevero (2002) no qual a

autora apresenta e discute a origem o desenvolvimento e a produccedilatildeo de um dos

Grupos de Trabalho da ANPEd sobre Poliacutetica de Educaccedilatildeo Superior

Nem sempre o tema da avaliaccedilatildeo comparece nos trabalhos relativos ao Ensino

Superior como eacute o caso do artigo de Ana Waleska sobre a histoacuteria do Ensino Superior

no Brasil (2000) As colaboraccedilotildees do texto satildeo inegaacuteveis evidenciando uma

preocupaccedilatildeo mais presente na produccedilatildeo localizada na RBE que eacute situar os princiacutepios e

as orientaccedilotildees poliacuteticas desse niacutevel de escolarizaccedilatildeo Em 2003 conjuntamente

Bernardete Gatti Marli Andreacute Osmar Faacutevero e Vera Maria Candau examinam o

modelo de avaliaccedilatildeo da CAPES (Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento do Pessoal de

Ensino Superior) O artigo eacute emblemaacutetico de um tipo de preocupaccedilatildeo que comeccedila a se

configurar entre os profissionais da aacuterea jaacute que a CAPES eacute um dos oacutergatildeos federais que

financiam apoiam e controlam o trabalho acadecircmico no Brasil A avaliaccedilatildeo eacute aqui

pensada para medir os resultados de um sistema de ensino que conta com uma

pluralidade de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas algumas com mais reconhecimento e

condiccedilotildees de funcionamento do que outras Discussatildeo semelhante eacute tratada por Joseacute

Silveacuterio Baiacutea Horta e Maria Ceacutelia Marcondes de Moraes em 2005 quando os autores

escrevem sobre ldquoO sistema CAPES de avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo da aacuterea de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

297

educaccedilatildeo agrave grande aacuterea de ciecircncias humanasrdquo O referido sistema de avaliaccedilatildeo opera

uma espeacutecie de ldquofabricaccedilatildeordquo da identidade (Lawn 2000) do ensino superior regulando

seus princiacutepios e suas praacuteticas Os artigos publicados na revista por sua vez satildeo

instancias mediante as quais esses mecanismos de controle satildeo expostos e

examinados pelos profissionais da aacuterea eles mesmos professores e pesquisadores do

ensino superior Esses artigos podem ser entendidos como respostas e ateacute mesmo

resistecircncias que tambeacutem participam da construccedilatildeo da identidade das praacuteticas no

ensino superior

Com base nas consideraccedilotildees acima pode-se afirmar que a Revista Brasileira de

Educaccedilatildeo colabora para construir o que Marilena Chauiacute em artigo publicado no

perioacutedico em 2003 chama de nova perspectiva da universidade puacuteblica Eacute no acircmbito

das disputas travadas em torno do ensino superior que mais recentemente os autores

Thiago Leitatildeo Gabriela Moriconi Mariangela Abratildeo e Dayse Silva evidenciam os

efeitos das medidas de controle da qualidade do Ensino Superior ao examinarem o

boicote dos estudantes aos exames de avaliaccedilatildeo As formas de se pensar propor e

viver o controle da qualidade do trabalho acadecircmico tambeacutem comparecem no artigo

de Carlos Cury (2010) em que ele trata da pesquisa e a avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo em

educaccedilatildeo De todos os artigos localizados o de Maria Isabel da Cunha (2006) eacute o que

mais se interroga sobre as praacuteticas cotidianas da instituiccedilatildeo pensada assim natildeo apenas

na perspectiva do sistema de ensino Em seu artigo intitulado ldquoDocecircncia na

universidade cultura e avaliaccedilatildeo institucional saberes silenciados em questatildeordquo a

autora ajuda a compreender como as diretrizes poliacuteticas e educacionais satildeo

apropriadas por alunos e professores

Buscando uma siacutentese podemos dizer que no conjunto de artigos selecionados

predominam perspectivas de investigaccedilatildeo que problematizam a atuaccedilatildeo estatal no

acircmbito da avaliaccedilatildeo tanto nos cursos de graduaccedilatildeo como no niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo

e portanto denuncia-se o seu caraacuteter de regulaccedilatildeo e controle do Sistema de Ensino

Superior ao direcionar os objetos de investigaccedilatildeo no plano da pesquisa e as praacuteticas

dos professores em relaccedilatildeo ao curriacuteculo e objetivos de ensino em detrimento de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

298

iniciativas que favoreccedilam a utilizaccedilatildeo dos dados para a melhoria dos processos

internos de gestatildeo democraacutetica formaccedilatildeo de professores invenccedilatildeo de novos

caminhos de produccedilatildeo de conhecimento e aperfeiccediloamento das praacuteticas de ensino e

de aprendizagem Em consonacircncia a essa abordagem criacutetica nos estudos voltados a

temaacuteticas especiacuteficas privilegia-se a anaacutelise com ecircnfase na figura do estudante

universitaacuterio buscando-se ampliar o conhecimento sobre as suas percepccedilotildees acerca

da avaliaccedilatildeo institucional bem como a respeito da possibilidade de fatores

socioculturais raccedila e etnia sexo formaccedilatildeo em escola puacuteblica ou particular culturas

estudantis sejam determinantes ou natildeo do desempenho acadecircmico Nesse sentido

no proacuteprio espaccedilo acadecircmico eacute possiacutevel identificar as tensotildees que recobrem o tema

Ao acompanhar as decisotildees poliacuteticas voltadas agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees e sua

consequente classificaccedilatildeo marcadamente a partir dos anos de 1990 compreende-se a

ecircnfase dada a essa discussatildeo nos anos de 2000 em diante sendo de modo geral

tecidas criacuteticas aos modos de realizaccedilatildeo dessas avaliaccedilotildees

Esse levantamento foi essencial para dar visibilidade agrave lacuna na produccedilatildeo sobre

avaliaccedilatildeo no Ensino Superior acerca das praacuteticas avaliativas em sala de aula das

concepccedilotildees dos professores ao avaliarem e dos alunos ao serem avaliados num

determinado curso de graduaccedilatildeo fortalecendo a relevacircncia do projeto em

desenvolvimento Os artigos da Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo e Pesquisa

Avaliaccedilatildeo Revista da Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e tambeacutem os dos Cadernos de

Pesquisa compotildeem um conjunto variado de produccedilotildees Satildeo instacircncias diversas de

produccedilatildeo espaccedilos de circulaccedilatildeo e estrateacutegias de apropriaccedilatildeo do conhecimento sobre

o tema da avaliaccedilatildeo no Ensino Superior Elas participam de um jogo de construccedilatildeo

discursiva fundamental para que se definam as diretrizes para a avaliaccedilatildeo nesse niacutevel

de ensino e para as condiccedilotildees concretas de seu exerciacutecio sejam conhecidas e

discutidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

299

Referecircncias Bibliograacuteficas

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SCHRIEWER J A difusatildeo mundial da escolar Lisboa Educa 2000

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

300

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

301

Praacutetica de Ensino Supervisionada no 1ordm e no 2ordm Ciclo do Ensino

Baacutesico o interesse dos alunos pela aacuterea de Estudo do Meio

Carina Ferreira

Externato Matildee de Deus

cpferreiraahotmailcom

Antoacutenio Almeida

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

aalmeidaeselxiplpt

Resumo

A presente comunicaccedilatildeo tem como principal finalidade relatar a Praacutetica de Ensino

Supervisionada desenvolvida no 2ordm ano do Curso de Mestrado em Ensino do 1ordm e do

2ordm Ciclo do Ensino Baacutesico refletindo todo o percurso formativo desafios processos e

desempenhos do quotidiano profissional experienciado

Neste acircmbito foi desenvolvida uma investigaccedilatildeo com enfoque sobre o interesse dos

alunos do 1ordm Ciclo pela aacuterea disciplinar de Estudo do Meio que procurou analisar se a

intervenccedilatildeo afetou positivamente o referido interesse Para tal foi aplicado um

questionaacuterio antes e apoacutes a realizaccedilatildeo da praacutetica (que teve a duraccedilatildeo de seis semanas)

a um grupo de vinte alunos com idades entre os 8 e os 10 anos que frequentavam no

ano letivo 20122013 o 3ordm ano de escolaridade numa escola da aacuterea de Lisboa O

questionaacuterio implementado antes da intervenccedilatildeo permitiu efetuar uma avaliaccedilatildeo

diagnoacutestica acerca do interesse por esta aacuterea e da predisposiccedilatildeo das crianccedilas para

investigar autonomamente determinados temas desta aacuterea disciplinar

Os resultados apoacutes realizaccedilatildeo de atividades praacuteticas e experimentais demonstram

que o interesse por determinados temas de Estudo do Meio aumentou Todavia o

interesse dos alunos por esta aacuterea natildeo se alterou significativamente o que pode

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

302

dever-se a um preacute-conceito interiorizado nas crianccedilas de que se trata de uma aacuterea

difiacutecil e que envolve aprendizagens com um certo grau de dificuldade

Palavras-chave Aacuterea de Estudo do Meio interesse dos alunos atividades praacuteticas e

experimentais

Abstract

The present communication aims to report a study developed during Supervised

Teaching Practice in the 2nd year of the Master of Teaching in 1ordm and 2ordm Cycles of

Basic School reflecting all the educational challenges processes and performances of

daily experienced professionals

The research study was focused on the interest of the 1st Cycle students for the

curriculum area of ldquoEstudo do Meiordquo we sought to examine whether the intervention

positively affected that interest For this purpose a questionnaire was applied before

and after the teaching practice (which lasted for six weeks) to a group of twenty

students aged between 8 and 10 years who attended the school year 20122013 3rd

grade in a school in the Lisbon area The questionnaire was implemented before the

intervention and allowed performing a diagnostic evaluation about the interest in the

mentioned area and the predisposition of children to independently investigate certain

topics of this curriculum area

The results have demonstrated that the interest in certain topics of this area increased

when they involved practical activities and experiments Simultaneously the students

interest in the area of ldquoEstudo do Meiordquo has not changed significantly which may be

due to a misconception in children that this is a difficult area and involves a certain

degree of difficulty

Keywords Area of ldquoEstudo do Meiordquo childrenacutes interests practical and experimental

activities

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

303

A Aacuterea Curricular de Estudo do Meio

O Estudo do Meio (EM) eacute uma aacuterea disciplinar do 1ordm CEB para a qual concorrem

conceitos meacutetodos e teacutecnicas das Ciecircncias da Natureza ndashBiologia Geologia Fiacutesica e

Quiacutemica ndash e das Ciecircncias Sociais ndashGeografia Histoacuteria Economia e Sociologia Esta aacuterea

permite que os alunos adquiram conhecimentos e competecircncias desenvolvam e

interiorizem atitudes e valores que os levam a compreender a realidade fiacutesica e social

que os rodeia com respeito por todas as culturas e despertando a consciecircncia de que

somos cidadatildeos do mundo (Cardoso 1998) Por isso esta aacuterea contribui para a sua

preparaccedilatildeo enquanto cidadatildeos ativos de uma sociedade em mudanccedila

Deste modo Roldatildeo (2001) encara o EM como uma aacuterea de abertura para o futuro

apelando a todos os docentes para que promovam uma reflexatildeo criacutetica sobre esta aacuterea

disciplinar e sobre as praacuteticas didaacuteticas a ela associadas na busca de estrateacutegias e

atividades adequadas aos alunos com o intuito de contribuir natildeo apenas para o seu

empenho mas tambeacutem para o interesse e sucesso nesta aacuterea Para tal o programa de

EM deve ser orientado de forma aberta e flexiacutevel de modo a proporcionar aos alunos

a conceccedilatildeo e o desenvolvimento de projetos e a realizaccedilatildeo de atividades investigativas

de teor diferenciado Este tipo de atividades promove a aquisiccedilatildeo de conhecimentos

de meacutetodos de estudo e estrateacutegias de aprendizagem e ainda contribui para o

desenvolvimento socioafetivo dos alunos

Por esta razatildeo o referido programa apresenta uma estrutura disciplinar por

alargamento progressivo denominada por laquoexpanding horizons curriculumraquo De

acordo com este modelo haacute uma progressatildeo dos conteuacutedos a abordar que se inicia

pela exploraccedilatildeo do meio proacuteximo da famiacutelia do presente do eu para um

alargamento progressivo a contextos mais amplos (Roldatildeo 2001)

Embora o programa se apresente por blocos de conteuacutedos seguindo uma

determinada ordem o documento da Organizaccedilatildeo Curricular e Programas para o 1ordm

CEB sugere que os professores ldquodeveratildeo recriar o programa de modo a atender aos

diversificados pontos de partida e ritmos de aprendizagem dos alunos aos seus

interesses e necessidades e agraves caracteriacutesticas do meiordquo (1998 p108) podendo ainda

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

304

ldquoalterar a ordem dos conteuacutedos associaacute-los de diferentes formas variar o seu grau de

aprofundamento ou mesmo acrescentar outrosrdquo (Curriacuteculo Nacional do Ensino Baacutesico

2001 p 76)

Poreacutem nas escolas nem sempre esta aacuterea curricular eacute abordada com o merecido

desenvolvimento evocando os professores a necessidade de uma atenccedilatildeo maior agrave

Liacutengua Portuguesa e agrave Matemaacutetica porque os conteuacutedos destas aacutereas satildeo objeto de

provas finais de avaliaccedilatildeo

O Estudo do Meio como aacuterea potenciadora do interesse das crianccedilas

As crianccedilas satildeo seres com um interesse e uma curiosidade intrinsecamente naturais

Desde muito cedo questionam sobre tudo o que as rodeia pedindo explicaccedilotildees para o

que observam e formulando perguntas como por exemplo as seguintes ldquopor que eacute

que a lua natildeo cairdquo ldquose os barcos satildeo tatildeo pesados por que eacute que flutuamrdquo ou ldquoas

plantas satildeo tortas porque algueacutem lhes mexeu56rdquo

Muitas destas perguntas satildeo claramente do acircmbito do EM e cabe aos professores

alimentar o fasciacutenio e o interesse das crianccedilas pelo mundo que as rodeia De facto as

crianccedilas em qualquer parte do mundo ficam intrigadas com problemas simples quer

sejam idealizados quer identificados no meio circundante Num encontro de

especialistas da UNESCO em 1983 afirmou-se que se o EM ldquoincidir sobre tais

problemas explorando os caminhos que despertem o interesse das crianccedilas nenhuma

outra disciplina seraacute mais apelativa e excitante para elasrdquo (Saacute 2002 p 35)

Catita (2007) acredita que o uso pelas crianccedilas de todos os seus sentidos na

descoberta do Meio Fiacutesico e Social deve opor-se agrave tendecircncia de um ensino que

privilegie a receccedilatildeo passiva de informaccedilatildeo verbal Tambeacutem Saacute (2002) admite que ldquoo

interesse e a curiosidade natural da crianccedila pelo ambiente proacuteximo que habita faz da

56

Estas questotildees foram colocadas por trecircs alunos que frequentavam o 3ordm ano de escolaridade durante a Praacutetica de Ensino Supervisionada II

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

305

exploraccedilatildeo dos objetos materiais e seres vivos uma pulsatildeo geneacutetica como comprova a

Psicologia do Desenvolvimentordquo (p 36)

Muitos autores afirmam que a seleccedilatildeo de saberestemas pode suscitar o interesse e a

curiosidade dos alunos desde que tenha como base as suas experiecircncias pessoais

Migueacutens Santos Simotildees amp Roldatildeo (1996) satildeo da opiniatildeo que ldquoeacute considerado

desmotivador (quer para os alunos quer para os professores) trabalhar assuntos que

aparentemente natildeo tecircm qualquer utilidade ou significado no presente e no futuro

proacuteximordquo (p 58)

Uma forma de consubstanciar algumas das ideias anteriores pode ser atraveacutes do

recurso agrave implementaccedilatildeo com alguma periodicidade de atividades praacuteticas e

experimentais relacionadas particularmente com as Ciecircncias da Natureza Lunetta

(1991) considera que as atividades praacuteticas contribuem de forma positiva para a

compreensatildeo de algumas perspetivas da natureza da ciecircncia para a progressatildeo

intelectual concetual e de atitudes positivas das crianccedilas para com a ciecircncia Jaacute Saacute

Veiga Martins Jorge amp Teixeira (2003) sugerem que o ensino experimental das

ciecircncias eacute fundamental para o desenvolvimento dos chamados processos cientiacuteficos

como o planificar e prever executar procedimentos fazer mediccedilotildees observaccedilotildees

registar e explicar interpretar e avaliar

Portanto pode-se considerar que as atividades praacuteticas e experimentais natildeo satildeo

simples manipulaccedilotildees fiacutesicas executadas de forma mecacircnica por imitaccedilatildeo ou seguindo

as instruccedilotildees fornecidas pelo professor Elas contecircm uma forte intencionalidade

associada ao desenvolvimento mental do aluno combinando o seu pensamento e

conduzindo agrave aprendizagem Por isso eacute que Williams Rockwell e Sherwood (2003)

afirmam que as atividades nesta aacuterea permitem ldquodesenvolver espiacuteritos investigadores

(hellip) e natildeo crianccedilas que satildeo simplesmente armazeacutens de informaccedilatildeordquo (p 38)

Muitos autores satildeo de opiniatildeo que mesmo que natildeo se proporcione agraves crianccedilas o

contacto formal com o ensino das ciecircncias elas desenvolveratildeo ideias acerca do

mundo Poreacutem essas ideias seratildeo baseadas em observaccedilotildees casuais de senso-comum

podendo ateacute constituir-se como conceccedilotildees erradas Eacute importante que os alunos sintam

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

306

necessidade de descobrir e explorar aspetos que surgem no quotidiano quer atraveacutes

das atividades praacuteticas em geral quer das de iacutendole mais experimental e de

preferecircncia inseridas na dinacircmica do trabalho investigativo Assim para Reis (2008)

este tipo de trabalho ldquosempre que envolva a procura de soluccedilotildees para problemas

levantados pelo educadorprofessor ou pelas crianccedilas constitui uma instrumento

adequado ao desenvolvimento de capacidades como observar classificar prever

medir interpretar discutir colaborar e comunicarrdquo (pp 16-17) capacidades

naturalmente potenciadas no decurso de atividades praacuteticas

Posto isto no acircmbito da aacuterea do EM (1ordm CEB) e nas Ciecircncias da Natureza (2ordm CEB) o

professor deveraacute desenvolver atividades impulsionadoras do desenvolvimento da

crianccedila como por exemplo questionar e facultar informaccedilotildees que estimulem a sua

capacidade de pensar ajudar e incentivar a procurar respostas para solucionarem os

problemas com que se deparam desafiando-as com ideias novas obrigando-as a

testar a exatidatildeo das mesmas

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo surgiu da necessidade pessoal de aumentar a visibilidade da aacuterea de

Estudo do Meio (EM) alimentada por questotildees levantadas por um grupo de 20 alunos

do 3ordm ano de um Agrupamento de Escolas de Lisboa Estes alunos levantavam

questotildees pertinentes relativamente aos conteuacutedos programaacuteticos abordados que natildeo

eram respondidas pelo professor cooperante devido essencialmente a uma

modalidade de praacutetica pedagoacutegica muito fechada agraves intervenccedilotildees e curiosidades das

crianccedilas

Assim foi aplicado um questionaacuterio aos alunos com as seguintes finalidades

identificar as suas duas aacutereas disciplinares preferidas e as duas aacutereas de que natildeo

gostavam tanto identificar os temas pelos quais tinham mais interesse e saber se

eventualmente jaacute tinham sentido curiosidade em pesquisar sobre eles e ainda

identificar quais os modos como preferiam aprender EM na escola

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

307

O questionaacuterio era constituiacutedo por um leque de perguntas fechadas com recurso a

uma escala ordinal no caso dos temas (natildeo gosto gosto pouco gosto mais ou menos

gosto muito e nunca ouvi falar) Os alunos podiam justificar as suas escolhas atraveacutes da

inclusatildeo de espaccedilos de resposta aberta Com o objetivo de detetar eventuais erros na

sua conceccedilatildeo o questionaacuterio foi pilotado junto de um grupo de dez crianccedilas que

frequentavam um centro de explicaccedilotildees com idades compreendidas entre os 8 e os 10

anos o mesmo leque de idades da amostra e residentes no concelho de Vila Franca de

Xira As crianccedilas reagiram de forma positiva agraves questotildees colocadas natildeo apresentando

quaisquer dificuldades em responder com a exceccedilatildeo de terem mencionado

desconhecer alguns dos temas programaacuteticos incluiacutedos situaccedilatildeo previsiacutevel por os

mesmos nunca terem sido abordados em contexto formal de aprendizagem

No momento da aplicaccedilatildeo do questionaacuterio e indo de encontro das ideias defendidas

por Tuckman (2000) todas as crianccedilas foram informadas do objetivo da investigaccedilatildeo

da proteccedilatildeo dos dados da oportunidade para o esclarecimento ao longo da aplicaccedilatildeo

e das orientaccedilotildees especiais uma vez que todo o questionaacuterio foi lido em voz alta Os

questionaacuterios foram passados com duas versotildees em que a ordem dos itens (aacutereas

disciplinares e temas disciplinares) foi diferente Pretendeu-se assim garantir que

questotildees de ordem na apresentaccedilatildeo dos itens natildeo afetassem a seleccedilatildeo das respostas

O questionaacuterio foi aplicado em dois momentos distintos antes da intervenccedilatildeo

propriamente dita e no final desta na tentativa de verificar alguma mudanccedila que

pudesse ser explicada pelo teor da proacutepria intervenccedilatildeo No decurso desta foram

realizadas oito atividades praacuteticas sendo uma de teor experimental pois envolvia o

controlo de variaacuteveis tendo em conta os conteuacutedos programaacuteticos contemplados na

Praacutetica de Ensino Supervisionada

A primeira atividade proposta consistiu num trabalho de pesquisa em grupo sobre o

tema dos animais Para a sua concretizaccedilatildeo disponibilizou-se aos alunos um guiatildeo do

trabalho que continha os seguintes pontos o que jaacute sei o que goatva de saber como

vou pesquisar e como vou apresentar o trabalho Disponibilizaram-se ainda alguns

livros para pesquisa A recolha de informaccedilatildeo em enciclopeacutedias atlas e internet foi

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

308

realizada durante uma semana com supervisatildeo dos professores No fim cada grupo

apresentou os trabalhos ao grande grupo atraveacutes de cartolinas

A segunda atividade visou a observaccedilatildeo de rochas em amostra de matildeo Para isso

disponibilizaram-se seis amostras diferentes a cada grupo O objetivo principal da

atividade foi a sua identificaccedilatildeo utilizando uma chave dicotoacutemica partindo das suas

carateriacutesticas

A terceira atividade consistiu em verificar a permeabilidade de trecircs tipos solos ndash

argiloso terra arenoso- verificando a sua cor cheiro e textura Para esta atividade

recorreu-se a material reciclaacutevel (garrafas de aacutegua de plaacutestico) que serviram de

recipientes para a execuccedilatildeo da atividade

Atraveacutes destes trabalhos pretendeu-se que os alunos desenvolvessem vaacuterias

competecircncias natildeo soacute de EM mas tambeacutem de Liacutengua Portuguesa nomeadamente

atraveacutes da pesquisa e seleccedilatildeo de informaccedilatildeo pertinente e exposiccedilatildeo oral das

aprendizagens efetuadas

Desenvolveram-se ainda na sala de aula a construccedilatildeo de um terraacuterio uma sessatildeo com

iacutemanes outra com materiais de diferentes carateriacutesticas (transparentes opacos e

transluacutecidos) para se observar o comportamento da luz e a construccedilatildeo da maquete do

ciclo da aacutegua Poreacutem natildeo se procedeu a uma autoavaliaccedilatildeo formal

Todas as atividades descritas anteriormente foram realizadas a pares eou em

pequenos grupos (maacuteximo de 45 alunos) Para cada uma foi tambeacutem elaborado um

guiatildeo de apoio onde se forneciam informaccedilotildees acerca do procedimento que os alunos

deviam seguir bem como algumas questotildees que os ajudavam a retirar conclusotildees Ao

longo da sua execuccedilatildeo o professor desempenhou o papel de tutor isto eacute um

facilitador das aprendizagens que se pretenderam em parte autoacutenomas

Anaacutelise dos resultados

Para se proceder agrave anaacutelise dos resultados optou-se por contabilizar as frequecircncias de

resposta dos alunos ao questionaacuterio A partir destes dados construiacuteram-se tabelas de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

309

frequecircncia e para algumas perguntas graacuteficos As respostas abertas foram agrupadas

em funccedilatildeo do seu teor e algumas dadas reproduzidas Estas foram quase sempre

curtas facto compreensiacutevel se atendermos agrave idade das crianccedilas

Da aplicaccedilatildeo do questionaacuterio antes da intervenccedilatildeo (Quadro 1) verificou-se que as

aacutereas disciplinares preferidas dos alunos foram a Expressatildeo Fiacutesica-Motora (13 alunos ndash

65) e a Matemaacutetica (10 alunos ndash 50) De entre as diversas aacutereas o EM foi pouco

escolhido (5 alunos - 25) Ainda assim os que o escolheram afirmaram que ldquoera

interessanterdquo permitia ldquoaprender coisas novasrdquo e ldquofazermos experiecircnciasrdquo Outros

alunos por sua vez justificaram pelo interesse que alguns dos conteuacutedos desta aacuterea

lhes despertavam

De opiniatildeo contraacuteria 10 alunos assinalaram natildeo preferir o EM afirmando natildeo gostar

de alguns temas meacutetodos de trabalho a ela associados (ouvir os alunos fazer coacutepias

ler o manual) niacutevel de dificuldade mas tambeacutem por considerarem que ldquoeacute chato e

aborrecidordquo

Quadro 1 ndash Preferecircncias dos alunos face agraves Aacutereas disciplinares

Aacutereas Disciplinares De que mais gosta De que menos gosta

Frequecircncia Frequecircncia

Portuguecircs 4 20 10 50

Matemaacutetica 10 50 7 35

Expressotildees Artiacutesticas 8 40 8 40

Estudo do Meio 5 25 10 50

Expressatildeo Fiacutesica-

MotoraMotora

13 65 5 25

No que diz respeito aos conteuacutedos programaacuteticos um nuacutemero significativo de crianccedilas

afirmou natildeo gostar ou gostar pouco de temas jaacute abordados ou ainda por abordar

Como se previa algumas disseram que natildeo conheciam alguns deles nomeadamente

os iacutemanes e as atividades econoacutemicas

O niacutevel de pesquisa autoacutenoma sobre os temas rondou os 586 existindo alguns para

os quais as crianccedilas estavam mais despertas razatildeo pela qual provavelmente a

pesquisa aumentava como por exemplo em temas como ldquoos animaisrdquo e ldquoos astrosrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

310

Analisando individualmente os questionaacuterios estabeleceu-se uma relaccedilatildeo entre o

interesse e o niacutevel de pesquisa os alunos pesquisavam apenas sobre os temas de que

gostavam mais ou menos ou de que gostavam muito

Quando se questionou as crianccedilas sobre como gostavam de aprender EM verificou-se

uma grande diversidade de respostas (Quadro 2) Pensa-se que o facto de as crianccedilas

soacute conhecerem a metodologia de trabalho do professor titular da turma impediu-as

de optar por formas de aprendizagem mais dinacircmicas

Quadro 2ndash Anaacutelise da questatildeo ldquona escola como preferes aprender EMrdquo (inicialmente)

Atividade preferida Frequecircncia absoluta Percentagem

Pesquisar na internet 3 15

Realizar exerciacutecios 3 15

Ouvir o professor 7 35

Fazer coacutepiasresumos 7 35

Fazer experiecircncias 2 10

Ler livros 7 35

Trabalhos de grupo 1 5

Observar o que me rodeia 1 5

Tendo por base as ideias referidas anteriormente na praacutetica de ensino supervisionada

privilegiaram-se as atividades praacuteticas e experimentais para abordar os conteuacutedos de

EM Como jaacute foi mencionado a primeira atividade proposta foi um trabalho de

pesquisa em grupo sobre o tema dos animais ndash agrave descoberta do meio natural Dos

resultados obtidos na auto avaliaccedilatildeo dos alunos obteve-se uma grande diversidade de

respostas tendo 5 alunos (25) afirmado ter gostado de tudo mas os restantes

identificaram sempre algo mais ou menos positivo na atividade (Figura 1)

Figura 1 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquoos animaisrdquo

3 15

2 10

5 255 25

5 25

O que gostei menosConfusatildeo na salade aula

Conflitos entre ogrupo

Dar a opiniatildeo

Redigir o texto

Sem resposta

3 15

5 25

7 35

5 25

O que gostei mais

ExpressatildeoPlaacutestica

Tudo

Apresentaccedilatildeooral

Trabalho emgrupo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

311

No que respeita agrave sessatildeo praacutetica de observaccedilatildeo das rochas (Figura 2) 8 alunos (40)

referiram que gostaram de tudo havendo um aumento em relaccedilatildeo agrave atividade

anterior Em relaccedilatildeo ao que assinalaram gostar menos houve uma diversidade de

respostas maior percebendo-se entre outros aspetos que 3 alunos (15) natildeo

gostaram de observar as rochas e outros 3 (15) de posteriormente as moldar

Figura 2 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquoobservaccedilatildeo das rochasrdquo

A terceira atividade teve caraacutecter experimental e foi dedicada agrave permeabilidade dos

solos Analisando a auto e heteroavaliaccedilatildeo dos alunos (Figura 3) constatou-se que a

preferecircncia dos alunos por esta atividade aumentou (14 alunos ndash 70)

Figura 3 ndash Auto-avaliaccedilatildeo da atividade ldquopermeabilidade dos solosrdquo

2 10

4 20

14 70

O que gostei maishellip

Cheirar os solos

Sentir a textura dos solos

Fazer a experiecircncia

14 70

3 15

2 10

1 5

O que gostei menoshellip

Sem resposta

Sentir a textura dossolos

Retirar conclusotildees

Confusatildeo da sala

5 25

7 35

8 40

O que gostei maishellip

Observar as rochas

Trabalhar em grupo

Tudo

3 151 5

4 20

1 5

3 15

8 40

O que gostei menoshellip Atividade de EEP

Confusatildeo na sala

Retirar conclusotildees sobre a atividade

Desentendimentos no grupo

Observar as rochas

Sem resposta

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

312

Ainda assim alguns alunos apontaram aspetos negativos que decorreram natildeo soacute do

seu proacuteprio comportamento que conduziu a alguma ldquoconfusatildeo na salardquo mas tambeacutem

da proacutepria atividade principalmente no que se refere agrave necessidade de ldquoretirar

conclusotildeesrdquo

Se estabelecermos uma comparaccedilatildeo entre os resultados apresentados acerca das trecircs

atividades (Quadro 3) pode verificar-se semelhanccedilas no que se refere aos aspetos que

os alunos gostaram menos Estas razotildees comuns surgem provavelmente porque os

alunos natildeo estavam habituados a esta forma de trabalhar mais autoacutenoma pelo que

talvez tivessem sentido dificuldades na retirada de conclusotildees ou na redaccedilatildeo de um

texto conclusivo sobre as aprendizagens que fizeram De igual modo porque

raramente trabalhavam em grupo houve a necessidade no iniacutecio de acentuar as

regras estipuladas para a sala de aula nomeadamente no que se refere ao tipo de

comportamentos esperados no decurso da realizaccedilatildeo deste tipo de atividades Ainda

assim estas regras natildeo foram totalmente interiorizadas e natildeo foi raro ver surgir como

anaacutelise negativa os motivos de ldquoconfusatildeo na salardquo e ldquoconflitos entre o grupordquo

Quadro 3 ndash Quadro comparativo dos aspetos negativos avaliados pelos alunos

Atividade realizada Confusatildeo

na sala

Conflitos

entre o

grupo

Redigir o

texto

Retirar

conclusotildees Os animais 3 2 5 0

Observar rochas 1 1 0 4

Permeabilidade dos

solos

1 0 0 2

Natildeo obstante verificou-se o decreacutescimo no nuacutemero de alunos que referenciam estas

razotildees associadas ao que gostaram menos Daiacute que seja legiacutetima a seguinte pergunta

ldquoseraacute que se este tipo de trabalho com os alunos se prolongasse mais tempo estes

deixariam de referir estes motivosrdquo

No final do periacuteodo de intervenccedilatildeo aplicou-se novamente o questionaacuterio tal como jaacute

tinha sido referido Ao contraacuterio do que se esperava mais de metade da amostra de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

313

alunos continuou a natildeo preferir a aacuterea de Estudo do Meio (Quadro 4) quando

comparada com as restantes referindo que tinham de saber muita mateacuteria ser difiacutecil

mas tambeacutem porque era chata e cansativa

Quadro 4 ndash Preferecircncias finais dos alunos face agraves Aacutereas Disciplinares

Aacutereas Disciplinares De que mais gosta De que menos gosta

Frequecircncia Frequecircncia

Portuguecircs 5 25 11 55

Matemaacutetica 8 40 7 35

Expressotildees Artiacutesticas 12 50 4 20

Estudo do Meio 4 20 13 65

Expressatildeo Fiacutesica-Motora 11 55 5 25

Poreacutem se analisarmos o niacutevel de interesse inicial por cada tema do EM e o niacutevel de

interesse final apoacutes a praacutetica de ensino constatou-se que muitos dos alunos

aumentaram o seu interesse por determinados temas Por outras palavras

inicialmente havia uma meacutedia de 398 de alunos que gostavam muito dos temas

definidos e no fim este valor subiu para 594 Para aleacutem disso e como seria de

esperar desapareceu o nuacutemero de alunos que nunca tinham ouvido falar de alguns

temas

O mesmo se passou em relaccedilatildeo ao niacutevel de pesquisa por cada tema do EM

Inicialmente os alunos apresentavam uma meacutedia de pesquisa autoacutenoma de 586

aumentando substancialmente para uma meacutedia de pesquisa final de 678

De modo semelhante tambeacutem o modo como preferem aprender EM sofreu alteraccedilotildees

(Quadro 5) No final da intervenccedilatildeo este grupo de alunos optou com maior frequecircncia

pela pesquisa na internet e pelas experiecircncias ao inveacutes de ouvir o professor e realizar

coacutepiasresumos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

314

Quadro 5 ndash ldquoNa escola como preferes aprender EMrdquo

Atividade preferida Frequecircncia absoluta Percentagem

Pesquisar na internet 10 50

Realizar exerciacutecios 1 5

Ouvir o professor 0 0

Fazer coacutepiasresumos 2 10

Fazer experiecircncias 8 40

Ler livros 1 5

Trabalhos de grupo 0 0

Observar o que me rodeia 2 10

Assim em termos globais a perceccedilatildeo negativa da aacuterea do Estudo do Meio persistiu

mas muitos dos temas trabalhados neste acircmbito passaram a merecer um maior

interesse

Conclusotildees

Ao longo de toda a Praacutetica de Ensino Supervisionada houve a preocupaccedilatildeo de

incentivar motivar acompanhar e ajudar todas as crianccedilas tendo em conta os seus

interesses e as suas necessidades individuais Para isso a aposta foi na diversificaccedilatildeo

de atividades nas diferentes aacutereas disciplinares e na construccedilatildeo de materiais didaacuteticos

apelativos sempre que tal fosse possiacutevel

No caso do EM os resultados da investigaccedilatildeo encetada levam a acreditar que esta aacuterea

pode de facto contribuir para que os alunos se interessem pelo conhecimento e

encontrem resposta para algumas das suas perguntas e curiosidades E pareceu claro

que vaacuterios e importantes objetivos educacionais foram atingidos em particular devido

agrave dimensatildeo praacutetica associada agraves Ciecircncias da Natureza que foi introduzida

Poreacutem e embora se planificasse com rigor todo o plano de accedilatildeo e se refletisse acerca

das estrateacutegias que seriam utilizadas algumas tarefas natildeo decorreram como previsto

tendo sido necessaacuterio reformular o planeamento inicial Um exemplo deste

constrangimento foi a realizaccedilatildeo dos momentos com trabalho de grupo uma vez que

os alunos natildeo estavam habituados a esta metodologia como foi bem visiacutevel nas

apreciaccedilotildees mais negativas que fizeram associadas agrave avaliaccedilatildeo das atividades praacuteticas

realizadas Assim e como forma de encontrar soluccedilotildees com vista agrave concretizaccedilatildeo dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

315

objetivos definidos para cada sessatildeo foi importante uma atualizaccedilatildeo permanente na

busca das melhores respostas o que se considera ter constituiacutedo um dos princiacutepios

desafios enfrentados

Esta procura vai de encontro agrave ideia de que um professor eacute um eterno aluno E como

tal existe sempre a necessidade de atualizar e aperfeiccediloar os conhecimentos e

debruccedilar-se sobre o desempenho pedagoacutegico modificando ou corrigindo a atuaccedilatildeo

sempre que for necessaacuterio E por isso como defende Arends (2008)

Eacute necessaacuterio muito voluntarismo alimentado pelo desejo de perfeiccedilatildeo eacute

necessaacuterio compreender que aprender a ensinar consiste num processo de

desenvolvimento que se desenrola ao longo de toda a vida durante o qual se vai

gradualmente descobrindo um estilo proacuteprio mediante reflexatildeo e pesquisa

criacuteticas (p 19)

Este desejo de perfeiccedilatildeo tem assim de aplicar-se ao modo como se planificam todas as

aacutereas do curriacuteculo potenciando as competecircncias especiacuteficas de cada uma como aliaacutes

se pretendeu exemplificar atraveacutes do trabalho desenvolvido em EM

Referecircncias

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Ediccedilatildeo) Lisboa Instituto Piaget

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

317

Os contributos da coavaliaccedilatildeo entre pares atraveacutes do feedback

na regulaccedilatildeo das aprendizagens

Helga Machado

Escola Superior de Educaccedilatildeo Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Helgamachadogmailcom

Jorge Pinto

Escola Superior de Educaccedilatildeo Instituto Politeacutecnico de Setuacutebal

Jorgepintoeseipspt

Resumo

Neste trabalho eacute analisado de que modo o fornecimento de feedback num

processo de coavaliaccedilatildeo entre pares contribui para a regulaccedilatildeo das aprendizagens dos

alunos em Matemaacutetica Atraveacutes de uma investigaccedilatildeo qualitativa elaborou-se um

processo de avaliaccedilatildeo dividido em cinco fases em que os alunos do 3ordm ano envolvidos

trabalhavam em pequenos grupos Pode-se concluir que este estudo evidencia a

importacircncia do feedback enquanto instrumento de aprendizagem da matemaacutetica natildeo

soacute para os alunos que avaliam como tambeacutem para os que satildeo avaliados O feedback

regulador providenciado pelos alunos avaliadores possui pistas orientadoras

importantes que permitiram aos seus pares identificar o erro e corrigirem-no de forma

autoacutenoma melhorando o seu desempenho Com efeito este processo de coavaliaccedilatildeo

promove a regulaccedilatildeo das aprendizagens e contribui para o desenvolvimento de

competecircncias de autoavaliaccedilatildeo e autorregulaccedilatildeo nos alunos

Palavras-chave Coavaliaccedilatildeo feedback processos matemaacuteticos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

318

Abstract

The peer assessment seems a fruitful process in identifying and overcoming the

difficulties of students in a class However for this to happen it is necessary to ensure

that each element give the right answer to the other It is necessary that the mutual

feedback in pair have some characteristics that require everyone to think about what

he did and give clues finding each other in order to help him overcome the difficulties

encountered in task analysis by the pair These works try to understand the role of

feedback in a situation of peer assessment in terms of regulation of learning by

students in Mathematics

In qualitative research on own practice teacher was implemented a peer assessment

process organized into three phases in which students of the 3rd year was involved

working in small groups Data collection was based on observation document analysis

and interviews

The data analysis evidences the importance of feedback as a tool for learning

mathematics not only for assessorrsquos students but also for those which are assessed

The feedback provided by the assessors students has important guiding clues that

enabled their peers to identify the error and correct it independently improving their

performance Indeed this process promotes peer assessment regulation of learning

and contributes to the development of skills of self-assessment and self-regulation in

students

Keywords Peer assessment feedback mathematical processes in primary school

Introduccedilatildeo

A avaliaccedilatildeo tem para muitos investigadores um objetivo que consiste em

principalmente e acima de tudo apoiar a aprendizagem dos alunos A anaacutelise das suas

componentes nomeadamente a complexidade cognitiva das tarefas a valorizaccedilatildeo do

erro o feedback o questionamento a transparecircncia dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo e a

adequaccedilatildeo de instrumentos avaliativos diversificados satildeo essenciais para o

desenvolvimento da avaliaccedilatildeo formativa (Hattie amp Timperley 2007) Este tipo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

319

avaliaccedilatildeo preconiza situaccedilotildees de aprendizagem onde o aluno tem necessariamente um

papel de destaque enquanto agente ativo deste processo (Semana amp Santos 2009)

Para isso os propoacutesitos da avaliaccedilatildeo formativa contemplam o destaque da

componente reguladora e o envolvimento dos alunos no processo de avaliaccedilatildeo (Dias amp

Santos 2010)

Debruccedilando-nos apenas sobre o feedback este eacute reconhecido como uma das formas

de comunicaccedilatildeo mais poderosa que ocorre no processo de regulaccedilatildeo de aprendizagens

entre os alunos e os professores e ou os seus pares (Semana amp Santos 2009) Contudo

ateacute ao momento tem sido relativamente desvalorizado o efeito da coavaliaccedilatildeo em que

o feedback eacute o principal objeto de avaliaccedilatildeo Quer isto dizer neste caso concreto que

a falta de praacuteticas avaliativas formativas em que alunos providenciem feedbacks aos

seus pares como elemento de avaliaccedilatildeo regulador da aprendizagem da Matemaacutetica eacute

pouco ponderada e utilizada

Posto isto a presente investigaccedilatildeo serviu para estudar os resultados da praacutetica de um

processo de avaliaccedilatildeo formativa que incide sobre o papel dos alunos enquanto

aprendizes e avaliadores dos conteuacutedos matemaacuteticos O objetivo deste estudo eacute

entatildeo compreender de que modo a praacutetica de um processo de avaliaccedilatildeo formativa

baseada na coavaliaccedilatildeo atraveacutes do feedback realizado pelos alunos aos seus pares

pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem matemaacutetica Natildeo obstante

com este projeto de investigaccedilatildeo espera-se responder a duas questotildees pedagoacutegicas

- Que tipo de feedback foram os alunos capazes de fornecer

- Qual o tipo de feedback que contribuiu mais como objeto de regulaccedilatildeo das

aprendizagens matemaacuteticas

Avaliaccedilatildeo Formativa

Ao longo dos anos muitos autores debruccedilaram-se sobre a avaliaccedilatildeo formativa

definindo-a de forma diferente Contudo apesar de natildeo existir uma definiccedilatildeo uacutenica

Pinto amp Santos (2006) encontram nas definiccedilotildees de diversos autores alguns aspetos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

320

comuns que caracterizam a accedilatildeo pedagoacutegica da avaliaccedilatildeo formativa nomeadamente

a) dirige-se ao aluno e agrave sua aprendizagem b) implica o aluno no percurso da sua

aprendizagem quando consciente das suas dificuldades e sucessos c) eacute parte

constitutiva da aprendizagem d) procura respeitar e adaptar o indiviacuteduo mas tambeacutem

o grupo e) valoriza as informaccedilotildees que se observam no processo de aprendizagem e

natildeo somente o resultado do aluno f) nela ocorrem intervenccedilotildees pedagoacutegicas sobre o

ensino e sobre a aprendizagem ou ambos g) tenta compreender as causas do erro e

da dificuldade do aluno e h) fornece orientaccedilotildees de correccedilatildeo de forma subtil e eficaz

para o desenvolvimento da aprendizagem

O objetivo principal desta avaliaccedilatildeo com caracteriacutestica reguladora eacute prestar atenccedilatildeo ao

percurso do aluno mais propriamente agraves suas manifestaccedilotildees e produtos para

descobrir-se as possiacuteveis complicaccedilotildees e dificuldades que emergem no seu processo

de aprendizagem Soacute assim eacute possiacutevel atuar diretamente nas necessidades dos alunos

atraveacutes de adequaccedilotildees na gestatildeo curricular (Dias amp Santos 2010) A funccedilatildeo principal

da avaliaccedilatildeo formativa eacute deste modo (re)investir no processo de ensino-

aprendizagem consoante os dados recolhidos e analisados atraveacutes dos dispositivos de

regulaccedilatildeo (Pinto amp Santos 2006)

Existem dispositivos de regulaccedilatildeo externos ou internos aos alunos Os primeiros satildeo

produzidos e disponibilizados pelo professor E dos segundos destacam-se os

processos cognitivos57 e metacognitivos58 dos alunos que desempenham um papel

fundamental na autorregulaccedilatildeo e autoavaliaccedilatildeo das proacuteprias aprendizagens De

acordo com isto Fernandes (2008) explica que o essencial neste tipo de avaliaccedilatildeo ldquoeacute

estudar e perceber os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos e intervir a

partir daiacute para que eles proacuteprios regulem as suas aprendizagensrdquo (p66) Com efeito

um dos papeacuteis do professor na promoccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo que assiste as

aprendizagens eacute desenvolver competecircncias metacognitivas de autoavaliaccedilatildeo e de

autorregulaccedilatildeo nos alunos

57

Processos cognitivos processos onde a funccedilatildeo da inteligecircncia adquire um conhecimento 58

Processos metacognitivos processos onde se faz uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo cognitiva

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

321

Para aleacutem disto eacute importante mencionar que outro dos princiacutepios da avaliaccedilatildeo

formativa eacute integrar o processo da avaliaccedilatildeo no ensino e na aprendizagem A ponte de

ligaccedilatildeo entre os processos envolvidos ndash da avaliaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem - eacute

o feedback uma vez que este possibilita a regulaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem

atraveacutes de tarefas que simultaneamente satildeo para ensinar aprender avaliar e

contextualizar a avaliaccedilatildeo (Fernandes 2008 p78)

Neste sentido o professor pode ser capaz de compreender (a) como ajudar os alunos

a aprenderem melhor e (b) o que pode fazer para melhorar o ensino dos conteuacutedos

(Wiliam 2007) Assim a avaliaccedilatildeo reguladora permite ajudar os alunos a

ultrapassarem as dificuldades de novo no ldquotrilhordquo da aprendizagem (id)

O feedback eacute um comentaacuterio escrito ou oral dado por um avaliador Ele possui

mensagens cujo propoacutesito eacute dar aos alunos informaccedilatildeo uacutetil que os ajuda a alterar e

melhorar os seus pensamentos ideias e respostas (Fernandes 2008) Atualmente

podemos distinguir o feedback em dois tipos diferentes o feedback avaliativo ou o

feedback descritivo (Gipps 1999 cit in Pinto amp Santos2006)

O feedback avaliativo relaciona-se com a avaliaccedilatildeo sumativa Este feedback acentua a

presenccedila de juiacutezos de valor com a funccedilatildeo de transmitir informaccedilatildeo escrita ou simboacutelica

(certo vs erradocorreto vs incorreto ou vs respetivamente) cujo contributo para

a aprendizagem ou melhoramento de desempenho eacute reduzido Adicionalmente o

feedback avaliativo pretende descrever eou quantificar somente os produtos

realizados pelos alunos Neste tipo de avaliaccedilatildeo o erro eacute desvalorizado e representa a

incompetecircncia do aluno

Em contrapartida o feedback descritivo eacute um elemento poderoso da avaliaccedilatildeo

formativa No feedback descritivo em oposiccedilatildeo ao avaliativo o professor partilha o

seu poder de avaliador com os alunos responsabilizando-os do mesmo modo pelas

suas aprendizagens e pela utilizaccedilatildeo das estrateacutegias autorreguladoras no processo de

aprendizagem Apesar deste tipo de feedback ser caracteriacutestico do processo de

regulaccedilatildeo da aprendizagem os seus efeitos podem ser positivos e reguladores ou

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

322

negativos e inibidores de progressatildeo dependendo da qualidade do comentaacuterio

realizado

Especificamente a utilizaccedilatildeo do feedback descritivo valoriza o erro na medida em que

a partir dele procura-se orientar e incentivar os alunos a melhorarem o seu

desempenho atraveacutes de questotildees pistas anaacutelise e reflexatildeo especificando qual o

caminho para o progresso Neste sentido o feedback descritivo deve possuir

determinadas caracteriacutesticas para que tenha qualidade e provoque um efeito positivo

como ser claro informativo e objetivo para que os alunos o compreendam

apresentar-se em forma de diaacutelogo natildeo identificar o erro nem a sua soluccedilatildeo ser

diversificado e adequado a cada aluno pois o mesmo feedback tem efeitos diferentes

em alunos diferentes ser descritivo e incidir na tarefa em anaacutelise possuir pistas de

accedilatildeo futura detalhadas que conduzam o aluno a prosseguir incentivar o aluno a

reanalisar a sua resposta salientar o que estaacute correto para que seja percetiacutevel e

reconhecer o esforccedilo do aluno para que promova a sua autoconfianccedila (Black amp Wiliam

1998 Santos amp Pinto 2010 Santos amp Dias 2006 e Gipps 2003 Santos 2003 Jorro

2000 cit in Dias amp Santos 2009)

Para aleacutem disso Wiliam (2007) entre outros acrescentam que o feedback para que

seja eficaz deve ocorrer de forma sistemaacutetica intencional e contiacutenua apresentar-se

de forma curta apenas com a informaccedilatildeo necessaacuteria promover uma postura de

autoquestionamento e autonomia nos alunos para redirecionar a sua accedilatildeo e natildeo

incluir classificaccedilotildees nem surgir antes de o aluno ter oportunidade para pensar e

trabalhar sobre a tarefa (Black et al2003 Wiliam 1999 2007 cit in Semana amp Santos

2009)

Em suma a avaliaccedilatildeo formativa natildeo o seraacute realmente sem um sistema de feedback

que apoie regule e melhore os processos de ensino e de aprendizagem (Fernandes

2008) No entanto o fornecimento de feedback por si soacute natildeo eacute a soluccedilatildeo para um

melhoramento na aprendizagem por parte dos alunos tendo de ser necessaacuterio o uso

de outras estrateacutegias que preconizem uma avaliaccedilatildeo formativa mais eficiente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

323

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo seguiu uma metodologia qualitativa proacutexima da investigaccedilatildeo-accedilatildeo

(Bell 2002 amp Afonso 2005) A recolha de dados foi feita atraveacutes da observaccedilatildeo-

participante nas aulas e da anaacutelise dos documentos que contemplavam a resoluccedilatildeo

das tarefas e a sua avaliaccedilatildeo

O estudo envolveu uma turma de 3ordm ano constituiacuteda por 23 alunos que foram

organizados em 6 grupos de trabalho com 34 elementos com diferentes niacuteveis de

desempenho matemaacutetico Os grupos funcionaram sempre a pares nomeadamente o

grupo 1 com o grupo 2 o grupo 3 com o grupo 4 e o grupo 5 com o grupo 6

O processo de avaliaccedilatildeo concretizado na investigaccedilatildeo foi realizado durante cinco

semanas e estava organizado em cinco fases distintas

Fase 1 Construccedilatildeo da ficha de trabalho para outro grupo resolver

Fase 2 Resoluccedilatildeo da ficha de trabalho que outro grupo construiu

Fase 3 Primeira avaliaccedilatildeo da ficha de trabalho pelo grupo que

construiu

Fase 4 Reformulaccedilatildeo das respostas da ficha de trabalho que o outro

grupo avaliou

Fase 5 Avaliaccedilatildeo final da ficha de trabalho pelo grupo que construiu

Para a concretizaccedilatildeo destas cinco fases foram precisas 3 sessotildees de trabalho com uma

duraccedilatildeo de sensivelmente 60 minutos cada As fases 1 e 2 eram realizadas em duas

sessotildees diferentes ao passo que as fases 3 4 e 5 eram realizadas juntas numa sessatildeo

igualmente distinta Isto quer dizer que a realizaccedilatildeo do processo avaliativo foi

efetuado em trecircs sessotildees por semana normalmente em dias diferentes Para aleacutem

disso destaca-se que em cada uma destas semanas elaborou-se resolveu-se e avaliou-

se uma ficha de trabalho com um toacutepico matemaacutetico distinto No final da investigaccedilatildeo

o processo de avaliaccedilatildeo foi realizado em cinco semanas consecutivas originando assim

cinco fichas de matemaacutetica com os toacutepicos ldquoTabuada e muacuteltiplos do cincordquo ldquoFiguras e

soacutelidos geomeacutetricosrdquo ldquoDinheirordquo ldquoCombinaccedilotildeesrdquo e ldquoSequecircncias e padrotildeesrdquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

324

Apresentaccedilatildeo e anaacutelise de dados

Os alunos avaliadores numa fase inicial precisaram de aprender o que eacute a avaliaccedilatildeo

como se avalia o que eacute o feedback e como se daacute feedback Como eacute percetiacutevel na

primeira semana de implementaccedilatildeo deste processo de coavaliaccedilatildeo os alunos

avaliadores tiveram dificuldades em providenciar um tipo de feedback descritivo uacutetil

para os outros Devido a isso alguns alunos escreveram duas versotildees da primeira

avaliaccedilatildeo (ldquo1ordf avaliaccedilatildeo- 1ordf versatildeordquo e ldquo1ordf avaliaccedilatildeo ndash 2ordf versatildeordquo) sendo que a uacuteltima

era a uacutenica a ser apresentada ao grupo parceiro pois trata-se de um melhoramento da

primeira (como na fig1 no exemplo nordm1) Noutras situaccedilotildees os alunos realizaram duas

avaliaccedilotildees ldquo1ordf avaliaccedilatildeordquo e ldquo2ordf avaliaccedilatildeordquo em que a primeira diz respeito agrave avaliaccedilatildeo

da resoluccedilatildeo original da tarefa e a segunda eacute referente agrave correccedilatildeo da resoluccedilatildeo da

tarefa (como se pode ler na figa4 no exemplo nordm2)

Exemplo nordm1

Nos post-its de avaliaccedilatildeo apresentados na fig1 verificamos que os alunos avaliadores

referiram que existem trecircs tarefas cujas respostasresoluccedilotildees estavam incorretas Os

feedbacks dados pelos alunos avaliadores do grupo 6 a estas incorreccedilotildees satildeo

Fig 1 ndash Feedbacks escritos pelo grupo 6 agrave ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

Ao analisarmos as avaliaccedilotildees apresentadas na fig1 percebemos que no post-it ldquo1ordf

avaliaccedilatildeo - 1ordf versatildeordquo os feedbacks fornecidos pelos alunos satildeo avaliativos Este tipo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

325

de indicaccedilotildees caracteriza-se como feedback de constataccedilatildeo natildeo satildeo fornecidos dados

apreciativos sobre o desempenho do aluno natildeo tecircm em vista o melhoramento da

produccedilatildeo e a aprendizagem de conhecimentos a partir dos erros dos alunos avaliam

apenas o que o aluno sabe em vez de ajudaacute-lo a ultrapassar as suas dificuldades

Tendo em conta que esta foi a primeira experiecircncia que os alunos avaliadores

realizaram era importante que refletissem sobre os feedbacks providenciados e os

seus contributos Assim apoacutes pensarem na anaacutelise de exemplos de feedbacks com

qualidade (apresentados numa das aulas tidas anteriormente) e realizarem uma

conversa com a professora o grupo considerou que podia melhorar os seus feedbacks

escrevendo entatildeo os feedbacks dados na ldquo1ordf avaliaccedilatildeo ndash 2ordf versatildeordquo

Ao contraacuterio da primeira avaliaccedilatildeo dada na segunda (fig1) os alunos avaliadores

conseguiram apresentar algumas caracteriacutesticas reguladoras tais como pistas sobre os

erros encontrados Deste modo os feedbacks dados nesta segunda versatildeo da

avaliaccedilatildeo satildeo descritivos centrados na produccedilatildeo com pistas cujo objetivo eacute a

reformulaccedilatildeo das respostas

De acordo com a leitura das avaliaccedilotildees da fig1 constatamos que a tarefa 1 2 e 4

possuem erros Especialmente neste caso vamos proceder agrave anaacutelise apenas da tarefa

4 A principal finalidade desta tarefa eacute identificar quantas satildeo as combinaccedilotildees possiacuteveis

de cinco toucas e sete fatos de banho diferentes Na fig2 observa-se a primeira

resoluccedilatildeo do grupo 5

Fig 2ndash Resoluccedilatildeo inicial do grupo 5 agrave tarefa 4 da ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

326

As representaccedilotildees icoacutenicas utilizadas pelos alunos na resoluccedilatildeo da fig2 mostram sete

fatos de banho e sete toucas para combinar o que natildeo corresponde agrave instruccedilatildeo da

tarefa Analisando este aspeto percebemos que a resoluccedilatildeo estaacute errada pois deveriam

estar representadas cinco toucas e sete fatos de banho Neste sentido a avaliaccedilatildeo

realizada para esta tarefa foi ldquoerraram satildeo menos do que 7 toucasrdquo (fig1) Os proacuteprios

alunos avaliadores perceberam qual foi o motivo do erro e perante isso conseguiram

fornecer um feedback com uma pista crucial chamando a atenccedilatildeo do nuacutemero de

toucas que os aprendizes representaram (fator regulador) Mediante esta avaliaccedilatildeo o

grupo 5 alterou a sua resposta como se observa na fig3

Fig 3 ndash Correccedilatildeo da resoluccedilatildeo na tarefa 4 pelo grupo 5 da ficha ldquotabuada e muacuteltiplos do cincordquo

A correccedilatildeo da resoluccedilatildeo evidencia que os alunos realizaram uma nova forma de

representar os dados do problema chegando agrave soluccedilatildeo correta A estrateacutegia aplicada

dos alunos centrou-se na representaccedilatildeo das cinco toucas a partir das quais

desenharam os sete fatos de banho correspondentes Devido a esta situaccedilatildeo

compreendemos que o feedback dado pelo grupo 6 foi eficaz na medida em que a

pista permitiu que o grupo 5 identificasse o erro que cometeu e corrigisse-o de forma a

melhorar o seu desempenho Neste sentido podemos concluir que neste caso

somente houve regulaccedilatildeo da aprendizagem efetuada devido ao feedback regulador

providenciado e haacute oportunidade de (re)pensar e (re)solucionar o problema

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

327

Exemplo nordm2

Ao observarmos os feedbacks providenciados pelos alunos avaliadores do grupo 6 na

fig4 verificamos que a tarefa 3 teve um erro no processo de resoluccedilatildeo

Fig 4 ndash Feedbacks escritos pelo grupo 6 agrave ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo

A tarefa 3 eacute composta por um padratildeo geomeacutetrico que tem de ser completado de

forma a responder agraves aliacuteneas Os alunos do grupo 5 redigiram a resoluccedilatildeo original da

seguinte forma

Fig 5 ndash Resoluccedilatildeo original do G5 agrave tarefa 3 da ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo A anaacutelise da resoluccedilatildeo do grupo 5 mostra que os alunos resolvem incorretamente a

aliacutenea 3 uma vez que na representaccedilatildeo icoacutenica expuseram uma figura com dez

quadrados e dez triacircngulos Ora o correto eacute que uma figura com dez quadrados

possua nove triacircngulos Mediante o erro efetuado pelo grupo 5 os alunos avaliadores

do grupo 6 redigiram um feedback que menciona ldquoEstaacute mal desculpa pensa melhor

eacute nos triacircngulos do 3ordmrdquo (fig4) Este comentaacuterio eacute centrado na tarefa descritivo e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

328

possui uma pista de resoluccedilatildeo que tem a funccedilatildeo de reformular a resposta Como

resultado o impacto deste comentaacuterio na correccedilatildeo da resoluccedilatildeo foi

Fig 6 ndash Correccedilatildeo da resoluccedilatildeo na tarefa 3 da ficha ldquosequecircncias e padrotildeesrdquo pelo G5

Como podemos verificar os alunos do grupo 5 conseguiram identificar e corrigir o seu

erro evidenciado uma representaccedilatildeo icoacutenica (semelhante agrave resoluccedilatildeo anterior) mas

corretamente Desta forma conseguiram determinar o nuacutemero certo de triacircngulos da

figura Mais uma vez esta situaccedilatildeo educativa revelou o poder positivo do feedback nas

regulaccedilotildees das aprendizagens pois permitiu que os alunos repensassem na sua

resposta identificasse o erro e corrigi-lo Aleacutem disto os alunos do grupo 5 tiveram

que devido agrave natureza do trabalho ser concretizado em grupo debater e explicitar

raciociacutenios de forma a que todos estivessem de acordo sobre a ldquonovardquo resoluccedilatildeo e

porquecirc

Conclusotildees

- Que tipo de feedback foram os alunos capazes de fornecer

Os alunos avaliadores foram capazes de fornecer natildeo soacute feedbacks avaliativos mas

tambeacutem descritivos Os feedbacks avaliativos utilizados pelos alunos tinham somente

uma informaccedilatildeo ldquocertordquo ou ldquoerradordquo Enquanto no que diz respeito ao feedback

descritivo as caracteriacutesticas mais utilizadas pelos alunos foram fornecimento de

comentaacuterios centrados no desempenho do grupo de alunos sendo normalmente

curtos objetivos motivadores e com a presenccedila de pistas reguladoras fulcrais para a

identificaccedilatildeo dos errosdificuldades e para a descoberta da suas causas Estas pistas

escritas pelos alunos tinham somente funccedilatildeo de reformulaccedilatildeo

Ainda relativamente agraves caracteriacutesticas dos feedbacks providenciados pelos alunos

avaliadores a anaacutelise dos dados evidencia alguns aspetos negativos nomeadamente a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

329

inexistecircncia de frases lexical e ortograficamente corretas o que confere falta de

clareza

- Quais os tipos de feedbacks que contribuiacuteram mais como objeto de regulaccedilatildeo

Sem duacutevida alguma que se pode afirmar que os feedbacks descritivos favoreceram

mais a regulaccedilatildeo das aprendizagens matemaacuteticas do que os comentaacuterios avaliativos

Isto porque nos casos de ausecircncia de feedback natildeo houve regulaccedilatildeo e na maior parte

das vezes o mesmo aconteceu em situaccedilotildees em que a avaliaccedilatildeo dada era de iacutendole

sumativa com feedbacks de constataccedilatildeo

Poreacutem o tipo de feedback de constataccedilatildeo com ausecircncia de pistas em raras situaccedilotildees

teve impacto na correccedilatildeo da resoluccedilatildeo Efetivamente podemos concluir que a praacutetica

sucessiva do processo centrado na avaliaccedilatildeo formativa desenvolveu nos alunos

competecircncias autorreguladoras de aprendizagens tais como o mecanismo de

identificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de erros de autoavaliaccedilatildeo e de autoeficaacutecia (Hattie amp

Timperley 2007)

Em suma constatam-se diversos aspetos fulcrais para o processo de avaliaccedilatildeo atraveacutes

da ministraccedilatildeo de feedback dado que este foi uma aprendizagem completamente

nova para os alunos Com efeito para realizar-se este tipo de avaliaccedilatildeo os alunos

tiveram de ser capazes de analisar e compreender os dados os processosestrateacutegias

utilizados testaacute-los para verificar se estatildeo corretos refletir sobre o que estaacute

corretoerrado descobrir o porquecirc e fornecer pistas para realizarmelhorar o

desempenho jaacute efetuado Eacute correto afirmar que estas etapas despoletaram

aprendizagens relevantes para os alunos pois atraveacutes desta avaliaccedilatildeo gerou-se um

processo de reflexatildeo pesquisa e aprendizagem e consequentemente a correccedilatildeo de

resoluccedilatildeo

Para aleacutem disso providenciar e receber feedback principalmente em trabalho de

equipa requere que os alunos possuam e desenvolvam diversas elevadas capacidades

especiacuteficas como lidar com diversos julgamentos ter profundos conhecimentos dos

conteuacutedos de forma a estar preparado para fornecer feedback agraves tarefas ter ideias e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

330

vontade para incentivar a autorregulaccedilatildeo e fornecer feedback no momento ideal

(Hattie amp Timperley 2007)

De acordo com estes autores natildeo se pode esperar que os alunos sejam capazes de

fornecer feedback com qualidade logo da primeira vez Com efeito a aprendizagem

dos alunos sobre a avaliaccedilatildeo com qualidade foi um processo contiacutenuo em que foi

visiacutevel a sua evoluccedilatildeo No decorrer da investigaccedilatildeo a capacidade de providenciar

feedback com qualidade foi evoluindo Nas uacuteltimas semanas as avaliaccedilotildees dos alunos

apresentavam caracteriacutesticas reguladoras mais diversificadas Em alguns casos as

avaliaccedilotildees expunham questotildees reflexivas apelavam agrave fundamentaccedilatildeo das respostas

natildeo possuiacuteam erros cientiacuteficos requeriam respostas claras e organizadas eou

alertavam para os erros ortograacuteficos

Referecircncias Bibliograacuteficas

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

332

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Leila Pessocirca Da Costa

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

dacostaleilagmailcom

Resumo

A visatildeo de homem mundo e conhecimento constituiacuteda ao longo do desenvolvimento

da humanidade marcaram a concepccedilatildeo de escola ensino aprendizagem e sobretudo

de avaliaccedilatildeo Este trabalho se propocircs analisar a mediaccedilatildeo do professor no processo de

ensino e aprendizagem da leitura e da escrita Utilizamos a observaccedilatildeo o questionaacuterio

e a anaacutelise documental como instrumentos para refletir sobre o papel da avaliaccedilatildeo no

processo de ensino e de aprendizagem Observamos que a avaliaccedilatildeo adotada impotildee

regras que definem e estabelecem certo padratildeo de conduta inserido num modelo preacute-

determinado aleacutem de excluir do grupo aqueles que aos seus criteacuterios natildeo conseguem

atender desempenhando um papel importante na produccedilatildeo do fracasso escolar Eacute

necessaacuterio que a escola perceba-se como instrumento desse sistema e abra espaccedilo na

conquista de sua autonomia para servir ao ensino e aprendizagem

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Fracasso escolar Ensino fundamental

Abstract

The vision of man world and knowledge formed along the development of humanity

marked the conception of school teaching learning and above all for evaluation

This Study proposes to analyze the mediation by the teacher in teaching and learning

process of reading and writing We used the observation the questionnaire and the

documentary analysis to reflect on the role of assessment in the teaching and learning

process We observed that the evaluation adopted imposes rules that define and

establish a certain standard of conduct inserted in a pre-determined model also

excludes the group those that cannot meet in his judgment playing an important role

in the production of school failure It is necessary that the school understands itself as

an instrument of this system and open space in the conquest of their autonomy to

serve the teaching and learning

Keywords Evaluation School failure Elementary education

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

333

Introduccedilatildeo

O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica no Brasil hoje direito constitucional foi mote de inuacutemeras

poliacuteticas puacuteblicas seguidas pelos esforccedilos da permanecircncia e ampliaccedilatildeo do nuacutemero de

anos de escolarizaccedilatildeo do paiacutes A visatildeo de homem mundo e conhecimento constituiacutedos

ao longo do desenvolvimento da humanidade marcaram a concepccedilatildeo de escola

ensino aprendizagem e sobretudo de avaliaccedilatildeo Se eacute dever da escola e direito do

cidadatildeo o acesso a esse saber e a forma como os sujeitos de direito e dever se

relacionam a ele podemos dizer que como se concebe esse saber e esse

conhecimento mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com a praacutetica

pedagoacutegica

Para esse trabalho analisamos como se daacute a avaliaccedilatildeo do processo de ensino e de

aprendizagemdo da leitura e da escrita em uma classe da seacuterie final do ciclo I do Ensino

Fundamental em uma escola de um municiacutepio da cidade de Satildeo Paulo numa regiatildeo

marcadamente industrial Utilizamos a observaccedilatildeo um questionaacuterio e a anaacutelise de

diferentes documentos utilizados pelo professor e pelos alunos atraveacutes dos quais

procurou-se verificar se a avaliaccedilatildeo desempenha um papel de mediaccedilatildeo do processo

de ensino e a aprendizagem e quais as concepccedilotildees subjacentes a ele

Da avaliaccedilatildeo

Segundo o dicionaacuterio Aureacutelio avaliar eacute ldquodeterminar a valia ou o valor de apreciar ou

estimar o merecimento de fazer a apreciaccedilatildeo ajuizarrdquo Assim ao avaliarmos

emitimos um juiacutezo de valor que natildeo eacute absoluto mas relativizado pois que ldquona

realidade nenhum juiacutezo de valor lsquoexistersquo em tal isolamento Todo juiacutezo funciona

sempre expliacutecita ou implicitamente como parte da totalidade de uma teoria de uma

concepccedilatildeo do mundo de uma imagem do mundordquo (Heller1992 p13)

A avaliaccedilatildeo natildeo soacute normatiza ao impor regras que definem e estabelecem certo

padratildeo de conduta inserido num modelo preacute-determinado como tambeacutem exclui do

grupo aqueles que aos seus criteacuterios natildeo conseguem atender e consequentemente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

334

desempenha um papel importante na produccedilatildeo do fracasso escolar pois tem ldquoa

capacidade de lsquopenumbrarrsquo a realidade de nos lsquomiopizarrsquo de nos ensurdecer que faz

por exemplo a muito de noacutes aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista

neoliberalrdquo (Freire 1987 p142)

Ao analisarmos os dados os iacutendices percentuais do Indicador de Alfabetismo Funcional

(Inaf)59 do Instituto Paulo Montenegro (IPM) na populaccedilatildeo de 15 a 64 anos na Tabela

1 percebemos que haacute um avanccedilo nos niacuteveis de alfabetismo mas que estatildeo longe de

podermos ser considerados uma sociedade com pleno domiacutenio das habilidades de

leitura e escrita ldquoque satildeo hoje condiccedilatildeo imprescindiacutevel para a inserccedilatildeo plena na

sociedade letradardquo (INAF 2011 p1)

2007 2009 2011-2012

Analfabetos funcionais

(Analfabeto e Rudimentar) 34 27 27

Alfabetizados funcionalmente

(Baacutesico e Pleno) 66 73 73

Tabela 1 Escolaridade da populaccedilatildeo de 15 a 64 anos no Brasil (em ) IBGE

Fonte INAF BRASIL 2007-2011

Assim ao discutirmos os aspectos teacutecnicos da avaliaccedilatildeo eacute imprescindiacutevel focarmos

nossa atenccedilatildeo para o dever da escola que eacute

A transmissatildeo do saber e sua apropriaccedilatildeo pelos alunos O saber

escolar eacute entendido como um conjunto dos conhecimentos

selecionados entre os bens culturais disponiacuteveis enquanto

patrimocircnio coletivo da sociedade em funccedilatildeo de seus efeitos

formativos e instrumentais (Libacircneo 1994 p 13-14)

Palma Filho (1994 p31) ao discutir o papel que a avaliaccedilatildeo desempenha no processo

de ensino ndash aprendizagem como um todo aponta que ldquoeacute evidente que eacute necessaacuterio

avaliar caso contraacuterio natildeo saberiacuteamos se o processo educacional estaria sendo

eficiente na transmissatildeo daquilo que eacute desejado pelo conjunto da sociedaderdquo

59

O IPM adota os conceitos de analfabetismo e alfabetismo funcional sugerido pela UNESCO A explicitaccedilatildeo dos niacuteveis pode ser consultada em httpwwwipmorgbripmb_paginaphpmpg=402000000ampver=por

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Pelos dados apresentados podemos observar que a escola puacuteblica brasileira tem

excluiacutedo atraveacutes do processo educativo o direito ao acesso ao conhecimento e agrave

cidadania e tem na avaliaccedilatildeo um dos instrumentos para assegurar o mecanismo de

exclusatildeo social Perrenoud (1999) ao analisar a avaliaccedilatildeo no princiacutepio de excelecircncia e

do ecircxito escolares para explicar o fracasso aponta que

[] o ecircxito e o fracasso satildeo realidades socialmente construiacutedas

tanto em sua definiccedilatildeo global quanto na atribuiccedilatildeo de um valor a

cada aluno Uma sociologia da avaliaccedilatildeo nasce a partir do instante

em que se recusa a acreditar que o ecircxito e o fracasso escolares

resultam de uma medida objetiva de competecircncias reais em que

essas satildeo vistas ao contraacuterio como representaccedilotildees criadas pela

escola (e que a escola) tem o poder de lhes atribuir forccedila de lei

(grifos do autor) (Perrenoud 1999 p19)

Se for dever da escola e direito do cidadatildeo o acesso a esse saber e a forma como os

sujeitos de direito e dever se relacionam a ele podemos dizer que o modo como se

concebe esse saber e esse conhecimento nos diferentes momentos da histoacuteria

mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas relaccedilotildees com a praacutetica pedagoacutegica

Ao entendermos que o papel da escola eacute o de transmissatildeo do saber atribuiacutemos a ela

um poder de julgar os que sabem e aqueles que natildeo sabem ou ainda os que podem

daqueles que natildeo podem Pressupomos que ela ndash a escola ndash deteacutem todo o

conhecimento necessaacuterio e eacute a uacutenica apta para avaliar e julgar

Do contexto da pesquisa

Com base nesses pressupostos realizamos uma pesquisa numa escola da rede puacuteblica

estadual que atende o Ciclo I do Ensino Fundamental no municiacutepio de Mauaacute

localizado na sub-regiatildeo sudeste da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo conhecida

como regiatildeo do grande ABC

Pesquisa por amostragem realizada pela SEPLAMA - Secretaria de Planejamento de

Mauaacute indica que 41 da populaccedilatildeo tecircm ateacute 18 anos apontando para uma renda

familiar de 411 salaacuterios miacutenimos Esta situaccedilatildeo eacute acentuada pela baixa oferta de

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empregos e ausecircncia de qualificaccedilatildeo profissional da populaccedilatildeo para o ingresso no

mercado de trabalho

A escola pesquisada tem sete classes do uacuteltimo ano do Ensino Fundamental I e

realizamos junto a uma dessas classes nossa pesquisa A classe selecionada

aleatoriamente para a observaccedilatildeo eacute composta por 43 alunos 26 meninas e 17

meninos com idades que variam de 9 a 13 anos Apesar da baixa renda do grupo

possuem em sua maioria em suas residecircncias televisatildeo aparelho de som ferro

eleacutetrico raacutedio maacutequina de lavar roupas batedeira e liquidificador

Os pais concluiacuteram o Ciclo I do Ensino Fundamental ou iniciaram o 5ordm ano mas natildeo

concluiacuteram

Deste grupo 16 alunos trabalham e em sua maioria satildeo as meninas que se ocupam das

atividades domeacutesticas em casas de famiacutelia e muitas vezes natildeo satildeo remuneradas (13

alunos)

No geral esse grupo reproduz as desigualdades observadas no municiacutepio e espelha a

situaccedilatildeo dramaacutetica de algumas famiacutelias quanto ao niacutevel de pobreza da populaccedilatildeo seja

em relaccedilatildeo agrave renda per capita seja na ausecircncia de qualificaccedilatildeo profissional que atenda

agrave demanda da atual conjuntura econocircmica do pais

Mesmo residindo em casas proacuteprias a maioria dessas pessoas mora em casas

populares agraves vezes coletivas e algumas em terrenos da prefeitura que foram cedidos

ou invadidos

Eacute um grupo que representa significativamente o contexto do municiacutepio e tem na

escola puacuteblica a possibilidade de acesso ao saber e nela depositam a esperanccedila de uma

melhoria de vida

A professora desta classe que funciona no periacuteodo da manha eacute formada em Letras

ministra aulas de Portuguecircs na 5ordf serie do Ensino Fundamental em outra escola no

periacuteodo vespertino e na suplecircncia I no periacuteodo noturno Observamos que a tripla

jornada de trabalho desta professora natildeo eacute diferente da que encontramos junto aos

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demais profissionais do ensino que quando natildeo estatildeo envolvidos com cursos de

graduaccedilatildeo ou especializaccedilatildeo se dedicam a vaacuterios trabalhos como forma de garantir

sua sobrevivecircncia ou a da famiacutelia e tecircm pouco ou nenhum tempo para refletir ou

buscar alternativas com vistas agrave melhoria do trabalho desenvolvido

Da anaacutelise do material

Um dos documentos analisados foi o Plano de Gestatildeo visto ser um documento que

deve ser elaborado pelo coletivo escolar e traduz o perfil dos alunos e as accedilotildees a

serem desencadeadas para os objetivos propostos Esse documento eacute condiccedilatildeo baacutesica

para a autonomia escolar e que se constroacutei a partir de trecircs eixos fundamentais ldquoa

capacidade de identificar os problemas e de apresentar alternativas para solucionaacute-los

e a capacidade de administrar recursos financeiros consoante com essas alternativasrdquo

(Oyafuso 1998 p13) a anaacutelise buscou verificar sua identidade intencionalidade e

accedilotildees a serem desencadeadas

Dessa anaacutelise percebemos que em seus objetivos a escola demonstra sua preocupaccedilatildeo

com o exerciacutecio da cidadania a participaccedilatildeo de todos pressupondo um espaccedilo de

discussatildeo do trabalho pedagoacutegico a ser realizada de forma coletiva necessaacuterio agrave sua

autonomia condiccedilatildeo sine qua non para construccedilatildeo de sua identidade

Nele a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo explicita os problemas observados e tem seus

objetivos definidos de forma bastante geneacuterica e paternalista ao ldquodar condiccedilotildees de

questionamento [] utilizando-se da praacutetica da solidariedade [] irem de encontro

aos menos favorecidosrdquo ou seja a escola se coloca agrave margem da comunidade ao natildeo

se institui como espaccedilo de relaccedilotildees a ser questionado e de possibilidade de

mudanccedilaAo definir as metas a serem atingidas apesar de natildeo haver um diagnoacutestico

mais preciso sobre os problemas da escola haacute uma preocupaccedilatildeo com ldquoreduzir os

iacutendices de evasatildeo e retenccedilatildeo garantindo a melhoria da qualidade de ensinordquo Assim

posto a diminuiccedilatildeo da evasatildeo e retenccedilatildeo remete-nos automaticamente para a

melhoria da qualidade do ensino

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Ao propor ldquodesenvolver a integraccedilatildeo entre os educadores para garantir o trabalho

coletivo e solidaacuteriordquo percebe-se que natildeo concebe o trabalho como forma de

integraccedilatildeo ao mesmo tempo em que o termo solidaacuterio parece negar a possibilidade

de um trabalho que se paute nas diferenccedilas e ao negaacute-las junto ao grupo e ao

trabalho apoia-se numa concepccedilatildeo de homogeneidade seja nas relaccedilotildees seja no

desenvolvimento do trabalho

Consta tambeacutem no Plano um grande nuacutemero de projetos mas natildeo haacute uma vinculaccedilatildeo

entre eles e natildeo observamos registros que sejam significativos quanto ao seu

acompanhamento e resultados

Haacute um equiacutevoco quanto agrave concepccedilatildeo do que seja um Projeto ndash capaz de modificar

haacutebitos e comportamentos ou ainda buscar a soluccedilatildeo de um problema e desta forma

satildeo concebidos como eventos mesmo que aconteccedilam com frequecircncia e de forma

sistemaacutetica

Outro documento analisado foram os registros constantes na Ata do Horaacuterio de

Trabalho Pedagoacutegico Coletivo (HTPC) Esse horaacuterio eacute o periacuteodo instituiacutedo para que os

professores possam organizar o trabalho pedagoacutegico Nesta escola estaacute organizado em

duas reuniotildees semanais com uma hora de duraccedilatildeo cada uma Acreditamos que o HTPC

eacute o espaccedilo de discussatildeo coletiva para o encaminhamento do Plano de Gestatildeo que se

viabiliza na praacutetica de sala de aula

Os registros desses encontros constam de uma listagem com os nomes dos

participantes e duas colunas com os dias da semana para assinatura dos professores

As pautas registradas elencam toacutepicos sobre os assuntos que seratildeo abordados mas

natildeo elege prioridades ou determina a profundidade com que os assuntos foram

tratados pois o registro natildeo estabelece os objetivos a serem atingidos nem tampouco

contempla o registro das discussotildees ou decisotildees tomadas

Em nenhum dos registros observados haacute essa preocupaccedilatildeo com o processo ou o

objetivo da discussatildeo desta forma natildeo situam as discussotildees num contexto mais amplo

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do papel e funccedilatildeo da escola e do grupo nem na avaliaccedilatildeo do trabalho desenvolvido

ou tampouco nos objetivos do Plano de Gestatildeo

Esse eacute um dos espaccedilos de importacircncia fundamental para sustentar a accedilatildeo da escola

ldquoao exercer o trabalho coletivo o professor cresce Eacute na discussatildeo com os colegas que

desenvolve seu potencial de participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo respeito muacutetuo e criacutetica Ao

analisar uma questatildeo um texto uma praacutetica pedagoacutegica o professor ouve pensa

discute decide ndash exerciacutecio fundamental do trabalho coletivo ndash ficando ainda mais

seguro para desenvolver essas mesmas habilidades em seus alunosrdquo (CENPEC 1994

p3)

No trabalho coletivo pressupotildee-se a discussatildeo no e com o grupo visto que a discussatildeo

eacute um instrumento precioso na organizaccedilatildeo do pensamento

[] o pensamento nasce atraveacutes das palavras Uma palavra desprovida de pensamento eacute uma coisa morta e um pensamento natildeo expresso por palavras permanece na sombra A relaccedilatildeo entre eles natildeo eacute no entanto algo jaacute formado e constante surge ao longo do desenvolvimento e tambeacutem se modifica [] O pensamento e a linguagem que refletem a realidade de uma forma diferente daquela da percepccedilatildeo satildeo a chave para a compreensatildeo da natureza da consciecircncia humana As palavras desempenham um papel central natildeo soacute no desenvolvimento do pensamento mas tambeacutem na evoluccedilatildeo histoacuterica da consciecircncia como um todo Uma palavra eacute um microcosmo da consciecircncia humanardquo (Vygotsky 1989 pp131-132)

O registro desses momentos pode auxiliar na conscientizaccedilatildeo e portanto na produccedilatildeo

de conhecimento sobre o trabalho realizado Deve contemplar o movimento dessa

proacutepria accedilatildeo suas idas e vindas O ato de registrar exige um distanciamento da

situaccedilatildeo real fundamental para sua apreensatildeo e reflexatildeo Vygotsky (1989) ao

diferenciar a escrita da fala propotildee que ldquoos motivos para escrever satildeo mais abstratos

mais intelectualizados mais distantes das necessidades imediatas Na escrita somos

obrigados a criar a situaccedilatildeo ou a representaacute-la para noacutes mesmos Isso exige um

distanciamento da situaccedilatildeo realrdquo (Vygotsky 1989 p85)

O trabalho desenvolvido pela professora no que se refere ao aprendizado da leitura e

da escrita foi analisado a partir dos seguintes registros o diaacuterio de classe do 1ordm

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bimestre do ano pasta de alunos com suas produccedilotildees cadernos dos alunos de uma

avaliaccedilatildeo realizada pela escola junto as classes dos 4ordms anos e os registros de

observaccedilatildeo realizados pela pesquisadora em suas visitas Outro registro analisado

refere-se agrave ficha individual de aproveitamento pedagoacutegico por parte dos alunos

preenchida pela professora

No Resumo Programaacutetico dos meses de Fevereiro Marccedilo e Abril haacute propostas diaacuterias

de leitura e escrita em que os gecircneros discursivos mais explorados satildeo os contos

lendas e fabulas seguido dos textos expositivos

Observamos uma intensa oferta de textos agraves crianccedilas incluindo diferentes autores

mas com uma variaccedilatildeo bastante pobre quanto aos gecircneros discursivos Em geral satildeo

contos e lendas populares que reforccedilam a estrutura da linguagem oral como

referencial para o que seja escrever ndash escreve-se o que se fala ndash restringindo o ensino

a aprendizagem e a importacircncia da linguagem escrita

a seleccedilatildeo do material de leitura deve ter como criteacuterios validade de gecircneros a possibilidade de o conteuacutedo interessar o atendimento aos projetos de estudo e pesquisa das demais aacutereas o subsiacutedio aos projetos da proacutepria aacuterea (Brasil1997 p106)

Podemos perceber que natildeo haacute um planejamento especiacutefico para o trabalho com a

linguagem oral e nas situaccedilotildees observadas essas atividades ocorrem

espontaneamente em relaccedilatildeo aos alunos e com a professora geralmente contam fatos

e acontecimentos do dia-a-dia socializados no grupo Aliaacutes a professora coloca-se

sempre agrave disposiccedilatildeo dos alunos e os ouve atentamente fazendo comentaacuterios sobre os

relatos Sua postura de receptividade para com eles faz com que o relacionamento seja

tranquilo e em contra partida haacute um respeito muito grande por parte do grupo em

relaccedilatildeo a ela quando fala ou explica consegue a atenccedilatildeo de todos bem como o

envolvimento na realizaccedilatildeo das tarefas propostas Em nenhum momento a

pesquisadora observou outro tipo de comportamento da professora com relaccedilatildeo ao

grupo que natildeo fosse essa

Ao oferecer textos diferenciados agraves crianccedilas buscando ampliar e incluir novos gecircneros

de textos nota-se uma preocupaccedilatildeo com os aspectos discursivos da liacutengua mas ao

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fazer a exploraccedilatildeo desses textos haacute mais preocupaccedilatildeo com seu conteuacutedo do que com

a forma como eles se organizam ou com os diferentes elementos especiacuteficos de cada

um desses textos Isso pode ser tambeacutem observado nas questotildees que satildeo colocadas na

lousa para que as crianccedilas as respondam referem-se as informaccedilotildees que estatildeo

expliacutecitas no texto ou datildeo uma abertura para que escrevam o que pensam sobre a

situaccedilatildeo exposta

Natildeo se percebeu no planejamento uma preocupaccedilatildeo expliacutecita com as habilidades que

se quer explorar e desenvolver junto aos alunos o que natildeo significa que natildeo ocorram

dada a formaccedilatildeo da professora e sua praacutetica na docecircncia mas essa ausecircncia de

explicitaccedilatildeo dos objetivos a serem alcanccedilados dificulta sobremaneira o processo de

avaliaccedilatildeo

Com relaccedilatildeo aos procedimentos de leitura verificamos que satildeo intuitivamente

trabalhados junto aos alunos mas na medida em que natildeo eacute uma praacutetica intencional e

planejada descaracteriza o trabalho da escola no sentido de garantir aos alunos de

fato a aprendizagem da leitura e da escrita

Outro aspecto interessante relaciona-se agrave interaccedilatildeo que ocorre em sala de aula toda

atividade estaacute centrada na figura do professor organiza o material distribui propotildee e

responde agraves questotildees dos alunos Atende individualmente algumas crianccedilas para

responder agraves duacutevidas que colocam

As conversas paralelas satildeo aceitas com tranquilidade pela professora e percebe-se que

assim estabelece implicitamente para os alunos que o colega do lado eacute seu

interlocutor no desenvolvimento da tarefa Apesar de natildeo haver uma organizaccedilatildeo

clara haacute um consenso no grupo sobre isso mas que perde sua qualidade agrave medida

que natildeo haacute uma mediaccedilatildeo direta e nem planejada por parte da professora ou ainda

uma observaccedilatildeo ou um registro sobre essa intervenccedilatildeo diferentemente do que

propotildee Vygotsky (1989) e Luria (1998) ao explorar a zona de desenvolvimento

proximal

Depois de atender alguns alunos a professora aguarda o teacutermino da tarefa Vemos

aqui retomada a importacircncia do produto em detrimento do processo explicitado pela

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fala da professora ldquoQuem terminou coloca na mesa e sentardquo Parece que a conclusatildeo

da tarefa garante a realizaccedilatildeo do trabalho

Outro aspecto a salientar e jaacute observado em outras praacuteticas escolares eacute que parece

haver um entendimento que basta expor a crianccedila a diferentes tipos de gecircneros

discursivos para que a anaacutelise e a reflexatildeo sobre a liacutengua oral ou escrita ocorram

Nesse exemplo parece que o proacuteprio portador de texto as diferentes formas de

registro e organizaccedilatildeo dos textos estatildeo agrave disposiccedilatildeo para serem decodificados e

tratados isoladamente do seu contexto de produccedilatildeo e inserccedilatildeo histoacuterica Eacute preciso

lembrar que a liacutengua eacute um ldquoveiacuteculo de valores e preconceitos de classe credo gecircnero

e etniardquo (Brasil 1997 p 46) e a discussatildeo eacute um dos instrumentos essenciais para

explicitar contrapor e argumentar sobre essas questotildees Ao mesmo tempo eacute preciso

ter claro que a atividade discursiva realiza-se num tempo e num espaccedilo em que eacute

necessaacuterio considerar as funccedilotildees e o funcionamento da escrita aleacutem das condiccedilotildees nas

quais eacute produzida

Assim com relaccedilatildeo aos textos propostos apesar de serem extraiacutedos de um mesmo

portador possuem caracteriacutesticas e estruturas diferenciadas que natildeo satildeo exploradas

Essa praacutetica pedagoacutegica habitualmente observada em diferentes circunstacircncias

parece ocasionar um entendimento de que o conteuacutedo jaacute foi lsquotrabalhadorsquo quando na

verdade soacute foi lsquoapresentadorsquo e desta forma ocasiona um lsquoconhecimentorsquo que na

verdade natildeo foi transformado em lsquosaberrsquo

A ficha de acompanhamento dos alunos natildeo especifica o que o professor considera

como satisfatoacuterio ou insatisfatoacuterio e os encaminhamentos propostos para os alunos

com rendimento insatisfatoacuterio demonstram que o professor atribui a si a

responsabilidade de desenvolver atividades que garantam um melhor aproveitamento

dos alunos

Natildeo se observa em nenhum dos registros uma reflexatildeo mais rigorosa que incluiacutesse o

ensino e a aprendizagem como elementos de um mesmo processo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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O mesmo ocorre com os registros do trabalho realizado em sala de aula natildeo fornecem

subsiacutedios para que o professor possa propor uma accedilatildeo capaz de garantir a

aprendizagem

Algumas consideraccedilotildees

Na realizaccedilatildeo da pesquisa foi possiacutevel constatar que o grupo observado representa

significativamente o contexto do municiacutepio e tem na escola puacuteblica a possibilidade de

acesso ao saber e nela deposita a esperanccedila de uma melhoria de vida

A questatildeo da autonomia da escola que se viabiliza a partir do Plano de Gestatildeo natildeo eacute

uma realidade no universo observado visto que natildeo consegue diagnosticar com

fidedignidade o contexto no qual se insere ou as necessidades da comunidade para

desencadear accedilotildees ou formas realmente eficazes que garantam o cumprimento do seu

papel

Ao longo do seu percurso histoacuterico a escola puacuteblica tem estado a serviccedilo do sistema

de manutenccedilatildeo do poder que desconsiderou a autonomia da escola Hoje o discurso

oficial propotildee uma autonomia a serviccedilo da comunidade contudo estabelece

procedimentos e normatiza sobre a forma de como ela deve ocorrer fazendo com que

a escola continue sendo dividida entre o discurso preconizado e as restriccedilotildees impostas

agrave sua accedilatildeo

Percebemos que essa incoerecircncia eacute formalizada no Plano de Gestatildeo da escola e uma

das possibilidades de mudanccedila seria o movimento do proacuteprio grupo de professores

que em interaccedilatildeo pudessem discutir e refletir sobre os aspectos teoacutericos subjacentes

agrave pratica desenvolvida em sala de aula

A observaccedilatildeo acerca desses momentos formalizadas nos registros das HTPCs mostrou

que natildeo haacute uma apropriaccedilatildeo desse espaccedilo de interlocuccedilatildeo por parte dos professores

A proacutepria organizaccedilatildeo do grupo quanto ao nuacutemero de professores (34 no total) e o

tempo disponiacutevel - dois encontros semanais com duraccedilatildeo de uma hora cada ndash fazem

com que os assuntos abordados priorizem as questotildees administrativas ou

organizacionais do trabalho ao inveacutes do processo pedagoacutegico O proacuteprio registro

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explicita a construccedilatildeo burocraacutetica desse espaccedilo registra a presenccedila e pontua os

toacutepicos discutidos

Observamos aiacute uma das perversidades do sistema e dos mecanismos que dispotildee ao

propor a HTPC como espaccedilo coletivo de discussatildeo do trabalho pedagoacutegico formaliza-o

em um curto periacuteodo de tempo para um grupo bastante numeroso Mesmo que a

organizaccedilatildeo fosse alterada para um encontro de duas horas - teriacuteamos ainda um grupo

grande de professores com pouca possibilidade de participaccedilatildeo de todos e caso

tiveacutessemos um grupo subdividido este natildeo garantiria o coletivo da escola

Outro aspecto importante para o processo de constituiccedilatildeo do coletivo eacute o registro

desses encontros Natildeo haacute como conceber um registro que natildeo aponte as vivecircncias as

duacutevidas as descobertas e as hipoacuteteses do grupo Sem ele todo planejamento ou

avaliaccedilatildeo eacute superficial e inconsequente pois natildeo possibilita a reflexatildeo sobre o trabalho

realizado e quais encaminhamentos seratildeo dados visto que ldquonatildeo existem receitas ou

modelos A realidade nos desafia a cada momento e eacute preciso responder de forma

original se quisermos modificaacute-lardquo (Elias 2000 p202)

O Resumo do Conteuacutedo Programaacutetico e das Atividades Desenvolvidas as pastas

cadernos e produccedilotildees dos alunos reforccedilam significativamente que o ensino ocorre de

forma paralela agrave aprendizagem numa visatildeo que dissocia o ensino do sujeito da

aprendizagem e natildeo institui tampouco o professor como mediador desses processos

Contudo a ficha de avaliaccedilatildeo do desempenho dos alunos institui o professor como o

uacutenico responsaacutevel pelo sucesso da aprendizagem

O trabalho da professora espelha o trabalho do proacuteprio grupo de professores da

escola natildeo pressupotildee que os processos pedagoacutegicos sejam intencionais e deliberados

e que portanto devem ser observados registrados discutidos e avaliados

O conhecimento eacute visto como algo pronto a ser transmitido e aprendido Ao natildeo se dar

conta do movimento que haacute na apropriaccedilatildeo desse conhecimento eacute comum que o

grupo restrinja ainda mais a anaacutelise e discussatildeo da praacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Essa dinacircmica faz com que a avaliaccedilatildeo seja vista individual e parcial com um caraacuteter

seletivo verificar os que sabem daqueles que natildeo sabem visto que natildeo haacute uma

articulaccedilatildeo entre as inuacutemeras atividades propostas o Plano de Gestatildeo e a

aprendizagem dos alunos

Na pesquisa realizada natildeo se conseguiu observar o desenvolvimento de propostas

intencionalmente planejadas que pudessem garantir a construccedilatildeo de habilidades

sociais de leitura

Considerando que esse grupo iraacute para o 2ordm ciclo do Ensino Fundamental onde a leitura

eacute ferramenta baacutesica para a apropriaccedilatildeo de conhecimento pode-se prever que as

dificuldades iniciais seratildeo inuacutemeras e estes alunos tecircm grandes possibilidades de

reproduzirem a trajetoacuteria de seus pais que abandonaram o estudo nesse mesmo ciclo

e talvez pelas mesmas razotildees

Trabalhar estrateacutegias de leitura pressupotildee ainda a organizaccedilatildeo do trabalho em torno

de uma diversidade de textos que circulam socialmente e que natildeo foram

contemplados nos registros e observaccedilotildees feitas Ao contrario as atividades propostas

estatildeo voltadas para decodificaccedilatildeo dos textos numa concepccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo ligada

ao domiacutenio do coacutedigo

Natildeo se poderia como diz Perrenoud (1999 p83) ldquorecriminar os professores pela

ignoracircncia dos processos de aprendizagemrdquo mas isso impede tanto o diagnoacutestico

como a mediaccedilatildeo por parte do professor que deve ocorrer num determinado tempo ndash

no conflito evidenciado pelo aluno ndash como no planejamento de uma accedilatildeo que

assegure uma aprendizagem real

Desta forma os pressupostos de trabalho descritos nas normas para avaliaccedilatildeo do

rendimento escolar constantes do Plano de Gestatildeo ldquorealizada de forma contiacutenua

cumulativa e sistemaacutetica tendo como um de seus objetivos o diagnoacutestico da situaccedilatildeo

de aprendizagem de cada alunordquo natildeo satildeo legitimados pela praacutetica

Se for considerado que avaliar eacute uma lsquoforma de verrsquo permeada pelas nossas

concepccedilotildees de mundo de homem e de conhecimento eacute preciso entatildeo aprender a ver

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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de uma forma que teoria e praacutetica se unam na busca de uma transformaccedilatildeo da

realidade que hoje se nos apresenta

Deve-se entender que toda educaccedilatildeo se daacute num contexto (espaccedilo - temporal)

determinado por sujeitos que ensinam e aprendem e portanto reconstroem ou

recriam conhecimento para transformaacute-lo em uacuteltima instacircncia em benefiacutecio do

proacuteprio homem

Tem-se discutido e praticado a avaliaccedilatildeo num discurso que muitas vezes o dissocia da

praacutetica Transpor essa oacutetica para se apropriar num sentido mais amplo deste

conhecimento eacute produzir um novo conhecimento e consequentemente instaurar uma

nova praacutetica Ocultamos no conhecimento a violecircncia das praacuteticas as quais fomos

submetidos que enraizadas numa pseudo-especificidade fez com que perdecircssemos a

capacidade imaginativa e inventiva capaz de transformar a realidade em que vivemos

O discurso atual propaga a importacircncia da autonomia da escola e da participaccedilatildeo da

comunidade em suas decisotildees princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica mas como se vecirc

a proacutepria escola natildeo tem clareza quanto aos problemas que enfrenta e assim ao inveacutes

de ser instrumento da comunidade em busca de sua cidadania serve de instrumento

para continuidade de uma concepccedilatildeo a ser superada

Nesse contexto verifica-se que o papel e funccedilatildeo da escola polarizam por um lado

uma escola que se pretende e faz parte do discurso oficial e de outro uma escola que

se pretende e se manifesta atraveacutes do anseio da populaccedilatildeo que dela se serve Entre

elas haacute uma escola real que natildeo atende a nenhuma das partes natildeo eleva o niacutevel da

qualificaccedilatildeo esperada na atual conjuntura poliacutetica e nem contribui para a conquista da

cidadania

Mas eacute justamente nesse movimento e na possibilidade de seu vir-a-ser que um novo

perfil de escola pode se configurar de um lado uma elevaccedilatildeo qualitativa que garanta a

qualificaccedilatildeo pretendida pelo sistema ou por outro como instrumento que impulsione

a conquista da cidadania

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Eacute necessaacuterio que a escola exerccedila de fato sua autonomia tendo clareza sobre `a serviccedilo

de quem estaacute determinando assim se a avaliaccedilatildeo serviraacute para manter a seletividade

excluindo e perpetuando o fracasso escolar ou serviraacute ao ensino e aprendizagem e

nesse sentido somos todos aprendizes

Referecircncia

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto Secretaria de Ensino Fundamental

Paracircmetros curriculares nacionais Brasiacutelia MECSEF v 2 Liacutengua Portuguesa1997

CENPEC ndash Centro de pesquisas para educaccedilatildeo e cultura Projeto raiacutezes e asas Satildeo Paulo CENPEC 1994 v 3 p 3 ELIAS MDC (2000) De Emilio a Emilia a trajetoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Scipione FREIRE P (1987) Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 17ordf ed HELLER A 1972) O cotidiano e a histoacuteria Rio de Janeiro Paz e Terra IPM - Instituto Paulo Montenegro e Accedilatildeo Educativa (Org) INAF BRASIL 2011 Indicador

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Consideraccedilotildees sobre o erro na avaliaccedilatildeo escolar

Leila Pessocirca Da Costa

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

dacostaleilagmailcom

Janira Siqueira Camargo

Universidade Estadual de Maringaacute ndash BrasilPR

janirascamargogmailcom

Resumo

O objetivo deste texto foi analisar o papel do erro no processo de avaliaccedilatildeo escolar a

partir de uma percepccedilatildeo de erro construtivo e constitutivo do processo de

ensinagem60 e aprendizagem A partir de pesquisa teoacuterica discutimos o papel da

escola como transmissora de um saber repleto de representaccedilotildees sociais de professor

e aluno que acaba por atribuir ao primeiro a responsabilidade e o poder de

dimensionar o desempenho do segundo uacutenica e exclusivamente por meio da avaliaccedilatildeo

ndash prova desconsiderando as tentativas e as hipoacuteteses levantadas pelo aluno no

processo O erro no processo de avaliaccedilatildeo deve ser utilizado como instrumento para

redimensionar o que se ensina e o que se aprende portanto como referencial tanto

para o professor quanto para o aluno dos conteuacutedos programaacuteticos que tem lugar na

escola mas levando em conta o conhecimento anteriormente adquirido pelo aluno em

suas relaccedilotildees extra muros escolares

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo Erro Escola

ABSTRACT

The aim of this paper was to analyze the role of error in the process of school

evaluation from a perception error constructive and constitutive process teaching and

learning From theoretical research we discuss the role of the school as a transmitter

60

O termo aprendizagem se configura como processo em contraponto ao termo aprendido como algo concluiacutedo Por isso o uso do termo ensinagem como busca de dar uma perspectiva de processo que o termo ensino utilizado usualmente e que natildeo aponta

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of knowledge full of social representations of teacher and student which ultimately

assign to the first responsibility and power to scale the performance of the second

single exclusively through evaluation - proof disregarding attempts and hypotheses

raised by the student in the process The error in the assessment process should be

used as a tool to resize what is taught and what is learned therefore as a reference

for both the teacher and to the student of the syllabus that takes place in school but

taking into account the knowledge previously acquired by the student in their

relationships extra school walls

Key-words Evaluation Error School

A escola o saber e a avaliaccedilatildeo

O objetivo deste texto eacute analisar a avaliaccedilatildeo e o erro na perspectiva escolar a partir de

uma percepccedilatildeo de erro construtivo e constitutivo do processo de ensinagem e

aprendizagem Ao discutirmos a avaliaccedilatildeo e o erro na perspectiva escolar eacute

importante definirmos inicialmente o papel da escola e sua relaccedilatildeo com o saber e

sobre isso Libacircneo (1994) afirma que

ldquoA transmissatildeo do saber eacute sua apropriaccedilatildeo pelos alunos O

saber escolar eacute entendido como um conjunto dos

conhecimentos selecionados entre os bens culturais

disponiacuteveis enquanto patrimocircnio coletivo da sociedade em

funccedilatildeo de seus efeitos formativos e instrumentais Longe de ser

caracterizado como conjunto de informaccedilotildees a serem

depositadas na cabeccedila do aluno o saber escolar constitui-se

em elemento de elevaccedilatildeo cultural base para a inserccedilatildeo criacutetica

do aluno na pratica social de vidardquo (pp 13-14)

Ao desempenhar o papel de transmissora do saber a escola assume um poder de

julgar os que sabem e os que natildeo sabem e um dos instrumentos que a escola utiliza

para que isso se efetive eacute a avaliaccedilatildeo e eacute importante considerarmos que

ldquotodo saber eacute expressivo pois procura representar mundos

subjetivos intersubjetivos e objetivos Longe de serem

construtos cognitivos monoloacutegicos sistemas de saber satildeo

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gerados por triacuteades intersubjetivas que ligam o conhecimento a

pessoas e aos contextos puacuteblicos em que eacute produzidordquo

(Jovchelovitch 2008 p 259)

Acerca dessa triacuteade a autora aponta que ela representa o espaccedilo potencial da

possibilidade da representaccedilatildeo simboacutelica ou seja eacute espaccedilo de produccedilatildeo de sentido e

de significaccedilatildeo ou ainda eacute a estrutura mediadora pertencendo ao ldquoentrerdquo na triacuteade

sujeito ndash mundo e objeto de conhecimento

O segundo aspecto ldquorefere-se agrave ideia de que diferentes formas de saber podem viver

lado a lado [] satildeo vistos como fenocircmeno plural e heterogecircneordquo (Jovchelovitch 2008

p 21) Estudar os saberes ldquosignifica estudar o conjunto de praacuteticas relaccedilotildees e

contextos concretos em que o saber enquanto accedilatildeo social ocorrerdquo (Jovchelovitch

2008 p 261) cujo objetivo eacute o de ldquorecuperar a visatildeo dialoacutegica da representaccedilatildeo

reafirmar seu caraacuteter simboacutelico e social e ligar sua dinacircmica a diferentes formas de

conhecimentordquo (Jovchelovitch 2008 p 22)

Jovchelovitch (2008 p 276) considera ainda que o processo de formaccedilatildeo do

conhecimento depende das condiccedilotildees sociais concretas que tambeacutem datildeo forma a sua

estrutura interna ou seja ldquoinformam as coerccedilotildees e obrigaccedilotildees cotidianas que

organizam as praacuteticas de um grupordquo e mapeaacute-las implica estudar os mundos

subjetivos intersubjetivos e objetivos que ela compreende

ldquoo saber eacute um sistema variaacutevel relacionado agrave arquitetura

intersubjetiva das representaccedilotildees que o produzem A gecircnese

relacional do conhecimento faz dele um fenocircmeno plaacutestico e

variaacutevel que muda dependendo do ldquoquemrdquo ldquocomordquo ldquoquerdquo

ldquopor querdquo e ldquopara querdquo da representaccedilatildeo Estas diferentes

dimensotildees do processo representacional constituem contextos

do saber e eacute para estes contextos que necessitamos nos dirigir

se quisermos compreender a expressividade de um sistema de

conhecimentordquo (Jovchelovitch 2008 p 263)

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Considerando que o saber estaacute relacionado ao contexto no qual foi produzido

Machado (1996 p 263) aponta que ldquoa avaliaccedilatildeo educacional eacute tributaacuteria de uma

concepccedilatildeo de conhecimento irradiada pela escolardquo que lhe confere uma dimensatildeo

epistemoloacutegica que o homem partilha e que o constitui sua racionalidade e sua

historicidade ou como apontado por Bombassaro (1993 p 14) ldquoo homem nasce

marcado natildeo soacute pela racionalidade mas tambeacutem pela historicidade que se manifesta

como praacutexis como o conjunto das accedilotildees que ele realiza no tempordquo

Consideraccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo

Antes de adentrarmos na discussatildeo acerca da representaccedilatildeo do erro no processo de

avaliaccedilatildeo gostariacuteamos de retomar alguns aspectos importantes sobre a avaliaccedilatildeo e

suas representaccedilotildees sociais

De acordo com Da Costa (2006 p 45)

ldquose eacute dever da escola e direito do cidadatildeo o acesso a esse

saber a forma como os sujeitos de direito e dever se

relacionam a ele podemos dizer que o modo como se concebe

esse saber () mediatizam a concepccedilatildeo de avaliaccedilatildeo e suas

relaccedilotildees com a praacutetica pedagoacutegica constituindo assim uma

nova dimensatildeo a epistemoloacutegicardquo

A essa dimensatildeo epistemoloacutegica Luckesi (2004) aponta que os professores mantecircm

modelos que inconscientemente refletem na praacutetica da avaliaccedilatildeo escolar entre eles o

ato de examinar ou dar notas ao inveacutes de avaliar Para o autor avaliar eacute sempre um

procedimento qualitativo pois

ldquoAvaliaccedilatildeo para ser constitutivamente avaliaccedilatildeo soacute pode ser

qualitativa O termo avaliar proveacutem etimologicamente de dois

outros termos latinos prefixo a e verbo valere que significa

lsquodar preccedilo arsquo lsquodar valor arsquo em siacutentese atribuir lsquoqualidade arsquo

Com isso compreendo que toda avaliaccedilatildeo eacute qualitativa levado

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a seacuterio o conceito natildeo existe avaliaccedilatildeo quantitativardquo (Luckesi

2004 p 86)

Nessa perspectiva a avaliaccedilatildeo eacute vista como uma forma de diagnosticar a

aprendizagem ou de atribuir uma qualidade a alguma coisa e no caso ao ensino e a

aprendizagem Luckesi (2004 p 86) aponta ainda que com frequecircncia ldquoconfundimos

instrumentos de coleta de dados com instrumentos de avaliaccedilatildeordquo ou seja natildeo

qualificamos a realidade apenas a constatamos O autor aponta ainda que

ldquonoacutes educadores agimos mais pelo padratildeo inconsciente do

que por um ato consciente o que quer dizer que em nossa

praacutetica da avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola orientamo-nos

muito mais por representaccedilotildees sociais do que por decisotildees

conscientesrdquo (Luckesi 2004 p 88)

A avaliaccedilatildeo eacute um processo que tem muitas funccedilotildees algumas especiacuteficas em relaccedilatildeo aos

componentes do espaccedilo escolar alunos professores metodologias curriacuteculos

estrutura fiacutesica e pode ser definida como instrumento que ldquo+ diagnostica uma

situaccedilatildeo e permite modificaacute-la de acordo com as necessidades detectadasrdquo (Santrsquoanna

1997 p 30) Vasconcellos (1994 p 43) define avaliaccedilatildeo como

ldquoum processo abrangente da existecircncia humana que implica

uma reflexatildeo criacutetica sobre a praacutetica no sentido de captar seus

avanccedilos suas resistecircncias suas dificuldades e de possibilitar a

tomada de decisatildeo sobre o que fazer para superar os

obstaacuteculosrdquo

Mas pode ainda ter funccedilotildees mais gerais apontando aspectos poliacuteticos econocircmicos e

sociais que regem a realidade onde estaacute inserida a escola e todos os seus elementos

Para Santrsquoanna (1995) os objetivos da avaliaccedilatildeo satildeo

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- fornecer bases para o planejamento das aulas e das atividades a serem

desenvolvidas tendo como referecircncia o desempenho dos alunos

- ajustar poliacuteticas e praacuteticas curriculares na medida em fornece paracircmetros acerca da

necessidade de adequaccedilatildeo da poliacutetica educacional agraves necessidades sociais

- possibilitar a seleccedilatildeo e a classificaccedilatildeo dos alunos em casos que seja preciso como

por exemplo em concursos para premiaccedilatildeo etc

- facilitar o diagnoacutestico permitindo ajustar o desenvolvimento das aulas tendo como

ponto de partida o conhecimento jaacute adquirido pelos alunos

- melhorar a ensinagem e a aprendizagem pois o que se busca na escola eacute a

transmissatildeo de conhecimentos cientiacuteficos preferencialmente pelo professor e a

apreensatildeo destes pelos alunos por meio da mediaccedilatildeo

- estabelecer situaccedilotildees individuais de aprendizagem tendo em vista que o domiacutenio de

conhecimento eacute diferenciado de sujeito para sujeito e ensinar tendo consciecircncia desta

diversidade proporciona maiores condiccedilotildees de que as atividades propostas se ajustem

aos alunos

- interpretar resultados uma vez que tambeacutem natildeo basta ter um resultado numeacuterico e

quantitativo sobre o desempenho analisando os dados fornecidos pela avaliaccedilatildeo eacute

possiacutevel definir os diferentes niacuteveis de desenvolvimento dos alunos e em que aacutereas se

encontram suas maiores dificuldades

Hoffmann (1993) afirma que satildeo trecircs os tipos de avaliaccedilatildeo diagnoacutestica somativa e

formativa A diagnoacutestica normalmente se realiza no iniacutecio do processo e determina a

ausecircncia ou presenccedila de conhecimentos e habilidades dos avaliados sobre o tema a

ser desenvolvido na aula ou periacuteodo Um dos instrumentos a ser utilizado para a

avaliaccedilatildeo diagnoacutestica pode ser a auto avaliaccedilatildeo e pode ser realizado tanto de maneira

formal (com um preacute-teste por exemplo) quanto de maneira informal (questionando-

se os alunos acerca do assunto)

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A avaliaccedilatildeo somativa tem como principal objetivo a classificaccedilatildeo dos alunos porque se

baseia no rendimento apresentado em termos dos objetivos propostos Este tipo de

avaliaccedilatildeo eacute o mais comumente usado em concursos vestibulares ou de trabalho pois

buscam classificar os indiviacuteduos em relaccedilatildeo a um nuacutemero de vagas disponiacuteveis No

entanto e mais ainda quando os editais com os resultados satildeo tornados puacuteblicos

expotildee as pessoas gerando muitas vezes desconforto e sentimento de incompetecircncia o

que do ponto de vista emocional pode trazer profundas sequelas

A avaliaccedilatildeo formativa indica como os alunos estatildeo se comportando em funccedilatildeo dos

objetivos traccedilados inicialmente sua evoluccedilatildeo ou natildeo para isso deve-se selecionar os

objetivos e os conteuacutedos formular os objetivos elaborar esquema teoacuterico corrigir

erros e insuficiecircncias selecionar alternativas terapecircuticas

Existem diferentes instrumentos de avaliaccedilatildeo um dos mais utilizados eacute a prova

percebida por muitos educadores como o uacutenico que de fato fornece resultados

significativos No entanto o seminaacuterio pode e deve ser usado em sala de aula

favorecendo o desenvolvimento de habilidades de explanaccedilatildeo argumentaccedilatildeo

organizaccedilatildeo mental verbalizaccedilatildeo dentre outras Aleacutem destes a pesquisa teoacuterica eacute

fundamental no processo ensino-aprendizagem do conhecimento cientiacutefico que tem

lugar na escola por isso o uso de teacutecnicas para o registro destas pesquisas eacute

importante como o fichamento o resumo e a resenha Outro instrumento eficaz de

avaliaccedilatildeo eacute o relato de experiecircncias vivenciadas por observaccedilatildeo ou por participaccedilatildeo e

registradas de maneira sistemaacutetica como resultados de pesquisas

O professor dispotildee de inuacutemeros instrumentos para efetuar a avaliaccedilatildeo e a arte por

exemplo disponibiliza diversos recursos que podem ser utilizados pelos professores

natildeo somente para os alunos de cursos especiacuteficos da aacuterea artiacutestica (plaacutestica dramaacutetica

musical) mas para qualquer aacuterea como ferramenta para verificar o niacutevel de apreensatildeo

e compressatildeo dos conhecimentos apresentados em sala de aula Por isso o relato de

observaccedilatildeo e anaacutelise de uma obra de arte tambeacutem pode servir como instrumento de

avaliaccedilatildeo

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Contudo a escolha de um ou outro instrumento deve ser realizada baseada em

criteacuterios e um destes eacute o objetivo que se estabeleceu para o desenvolvimento do

processo ou seja o que ensino buscou transformar em aprendizagem O conteuacutedo

que se quer verificar eacute um outro criteacuterio pois alguns conteuacutedos programaacuteticos de

algumas aacutereas de conhecimento exigem um determinado tipo de habilidade cognitiva

tal como a memorizaccedilatildeo enquanto outros exigem raciociacutenio loacutegico matemaacutetico por

exemplo

Os alunos tambeacutem devem ser levados em consideraccedilatildeo porque com a poliacutetica da

educaccedilatildeo inclusiva dia a dia encontramos sujeitos com necessidades especiais que

carecem de uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica diferenciada incluindo-se a avaliaccedilatildeo e isto

vale tambeacutem para alunos considerados ldquonormaisrdquo

O professor deve ter claro esses criteacuterios para que possa escolher um ou outro

instrumento aleacutem de considerar que sua seleccedilatildeo deve se pautar no conhecimento

que tem desses instrumentos ou seja sua familiaridade e domiacutenio em funccedilatildeo de sua

aacuterea de atuaccedilatildeo de sua formaccedilatildeo pessoal e da forma como percebe sua relaccedilatildeo com

os alunos e dos alunos com o conhecimento a ser avaliado

A instituiccedilatildeo tambeacutem ajuda a definir os criteacuterios para a escolha do instrumento de

avaliaccedilatildeo Existem normas estabelecidas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo acerca da

avaliaccedilatildeo mas cada instituiccedilatildeo tem autonomia para definir regras mais especiacuteficas

como estabelecer tipo e quantidade de instrumentos a serem utilizados no processo

de avaliaccedilatildeo ou o peso atribuiacutedo a cada uma delas

Avaliaccedilatildeo e erro na perspectiva construtivista

Acreditamos assim que uma das formas de conceber a avaliaccedilatildeo numa perspectiva

qualitativa eacute compreender a funccedilatildeo e o papel do erro nesse processo Para Castorina

(1988 p 43) haacute erros sistemaacuteticos ldquo+ que marcam o limite entre o que um sujeito

consegue e natildeo consegue fazer ndash e os erros manifestos durante o processo de

invenccedilatildeo e descobertardquo

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O erro demonstra ou aponta indiacutecios de quais estrateacutegias o aluno utilizou na resoluccedilatildeo

do problema apresentado portanto funciona como balizador para o professor

apontando para as necessaacuterias adequaccedilotildees nas estrateacutegias de ensino Por isso permite

que o aluno tome consciecircncia do procedimento utilizado e do procedimento esperado

para a resoluccedilatildeo do problema proposto e o ajuste em termos dos objetivos

Ao mesmo tempo o erro detectado pela avaliaccedilatildeo deve ser instrumento para que o

professor defina a partir de onde deveraacute dar continuidade ou retomar o processo

ensino-aprendizagem com seus elementos tais como conteuacutedos metodologia

viacutenculos

Castorina (1988) afirma que

ldquoAo considerar os erros sistemaacuteticos ndash o fato de as crianccedilas

diante de situaccedilotildees diferentes se equivocarem da mesma

maneira ndash teve-se que ir aleacutem da sua proacutepria fenomenalidade

para descrever e especificar a organizaccedilatildeo intelectual que os

explicavam Os erros infantis respondiam a certa estruturaccedilatildeo

das accedilotildees que podia ser caracterizada positivamente Os erros

deixaram de ser soacute indiacutecio de uma dificuldade ou uma

incapacidade e passaram a ser reveladores de uma loacutegica

infantil irredutiacutevel agrave loacutegica dos adultosrdquo (p 33)

Por isso para o pesquisador o erro funciona como dado de pesquisa e como tal deve

ser analisado possibilitando a retomada do referencial teoacuterico-metodoloacutegico que

embasa a praacutetica pedagoacutegica do docente proporcionando temas de pesquisa a serem

aprofundados na compreensatildeo dos processos vivenciados Oacutergatildeos financiadores de

pesquisas puacuteblicos e privados devem estar atentos ao erro pois ele sinaliza as aacutereas

onde haacute maior necessidade de investimento em novas pesquisas

Hoffmann (1993) argumenta que

ldquoNem todos os erros cometidos podem ser denominados lsquoerros

construtivosrsquo passiacuteveis de descoberta por ele em termos de

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melhores soluccedilotildees Os erros construtivos caracterizam-se por

sua perspectiva loacutegico-matemaacuteticardquo (p 79)

O erro desta maneira deve ser compreendido como fazendo parte do processo de

aprendizagem como parte constitutiva do processo de construccedilatildeo de conhecimento

como sinalizador do percurso utilizado pelo sujeito compreendido como ser ativo e

atuante

Natildeo se poderia como diz Perrenoud (1999 p 83) ldquorecriminar os professores pela

ignoracircncia dos processos de aprendizagemrdquo mas pudemos perceber que isso impede

tanto o diagnoacutestico como a intervenccedilatildeo que deve ocorrer num determinado tempo ndash

no conflito evidenciado pelo aluno ndash como no planejamento de uma accedilatildeo que

assegure uma aprendizagem real

Assim o erro tem um papel importante na articulaccedilatildeo desse processo e deve

possibilitar ldquoa troca de experiecircncias e a partilha de saberes que+ consolidam espaccedilos

de formaccedilatildeo muacutetua nos quais cada professor eacute chamado a desempenhar

simultaneamente o papel de formador e de formandordquo (Noacutevoa 1992 p 26) pois ldquonatildeo

existem receitas ou modelos A realidade nos desafia a cada momento e eacute preciso

responder de forma original se quisermos modificaacute-lardquo (Elias 2000 p 202)

Da pesquisa

O trabalho eacute resultado de pesquisa teoacuterica desencadeada a partir de experiecircncias

vivenciadas pelas autoras como professoras em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo cujas discussotildees

acerca dos conceitos e preacute-conceitos relacionados a processos avaliativos encontraram

eco nas representaccedilotildees sociais de professores e alunos e interferem significativamente

no processo de ensinagem e de aprendizagem Por isso o referencial de anaacutelise

utilizado pelas autoras pautou-se nas representaccedilotildees sociais encontradas nas obras

pesquisadas que discutem avaliaccedilatildeo priorizando o conceito de erro e o papel da

escola como transmissora de saber

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Ao analisarmos a avaliaccedilatildeo escolar podemos afirmar que ela tem desempenhado o

papel de julgar os alunos ou separar os que sabem dos que natildeo sabem Segundo Saul

(1994) a avaliaccedilatildeo

ldquose tornou uma praacutetica ameaccediladora uma praacutetica autoritaacuteria

Mas ela natildeo eacute isoladamente autoritaacuteria Ela o eacute porque estaacute no

bojo de um conjunto de uma Educaccedilatildeo entendida como

transmissora de informaccedilotildees que eacute igualmente autoritaacuteriardquo

(p66)

Assim compreendida a avaliaccedilatildeo eacute sempre a emissatildeo de um juiacutezo de valor que natildeo eacute

absoluto mas relativizado e ldquofunciona sempre expliacutecita ou implicitamente como

parte da totalidade de uma teoria de uma concepccedilatildeo do mundo de uma imagem do

mundordquo (Heller 1992 p13)

Perrenoud (1999) afirma ainda que

ldquoo ecircxito e o fracasso satildeo realidades socialmente construiacutedas

tanto em sua definiccedilatildeo global quanto na atribuiccedilatildeo de um valor

a cada aluno () Uma sociologia da avaliaccedilatildeo nasce a partir do

instante em que se recusa a acreditar que o ecircxito e o fracasso

escolares resultam de uma medida objetiva de competecircncias

reais em que essas satildeo vistas ao contraacuterio como

representaccedilotildees criadas pela escola (e que a escola) tem o

poder de lhes atribuir forccedila de leirdquo (p19)

Podemos entatildeo afirmar que avaliar eacute antes de tudo posicionar-se poliacutetica e

ideologicamente frente ao que se estaacute avaliando estabelecendo padrotildees de

racionalidade associados ao mundo praacutetico no qual o conhecimento eacute produzido e que

tem na historicidade seu elemento central e que nem sempre se pauta pelo

conhecimento cientiacutefico embora muitas vezes o use para subsidiar o discurso e

consequentemente encobrir a ideologia que veicula pois tem ldquoa capacidade de

lsquopenumbrarrsquo a realidade de nos lsquomiopizarrsquo de nos ensurdecer e faz por exemplo a

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muito de noacutes aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista neoliberalrdquo (Freire

1997 p142)

Um dos aspectos relacionados agrave avaliaccedilatildeo escolar eacute o que se refere agrave qualidade do

ensino Contudo definir qualidade depende de inuacutemeros fatores entre eles ldquoos

valores nos quais as pessoas acreditam as tradiccedilotildees de uma determinada cultura os

conhecimentos cientiacuteficos sobre como alunos aprendem e se desenvolvem o contexto

histoacuterico social e econocircmico no qual a escola se insere () a qualidade pode ser

concebida de forma diversa conforme o momento histoacuterico o contexto cultural e as

condiccedilotildees objetivas locaisrdquo (Brasil 2009 p 13)

Se a escola eacute o espaccedilo no qual o trabalho coletivo deve ser instaurado eacute preciso ter

claro que este eacute antes de tudo um espaccedilo de negociaccedilotildees e articulaccedilotildees entre a

ensinagem e a aprendizagem

Para tanto se faz necessaacuterio que o processo de ensinagem e de aprendizagem seja

registrado apontando as vivecircncias as duacutevidas as descobertas e as hipoacuteteses do grupo

pois os processos pedagoacutegicos satildeo sempre intencionais e deliberados e que portanto

devem ser observados registrados discutidos e avaliados e sem ele todo

planejamento ou avaliaccedilatildeo eacute superficial e inconsequente

Faz-se necessaacuterio ainda que o aluno seja considerado tanto do ponto de vista

bioloacutegico quanto a partir das relaccedilotildees intra e interpessoais pois o conhecimento natildeo eacute

algo pronto a ser transmitido e aprendido ao contraacuterio haacute todo um movimento nesse

processo e somente a sua compreensatildeo pode contribuir para que a avaliaccedilatildeo seja

efetivada de forma compartilhada e natildeo individual

Consideraccedilotildees finais

A avaliaccedilatildeo ndash ferramenta baacutesica para a reflexatildeo do processo de ensinagem e

aprendizagem e portanto para o planejamento do professor ndash natildeo tem na realidade

contribuiacutedo para a superaccedilatildeo dos obstaacuteculos epistemoloacutegicos do aluno

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O diagnoacutestico dos diferentes sistemas de saber e sua comunicaccedilatildeo pressupotildee uma

postura dialoacutegica que reconheccedila a legitimidade das perspectivas locais como meios

praacuteticos de uma comunidade para expressar a si mesma sua identidade e seu modo

de vida A perspectiva dialoacutegica pressupotildee a comunicaccedilatildeo entre diferentes

reconhecendo os saberes locais - reconhecendo que possuem saber de tipo diferente

mas rico e que podem gerar alianccedilas produtivas ndash evitando-se a extensatildeo de saberes

com outras identidades A anaacutelise desses fatores - da identidade representaccedilotildees

sociais e o poder da comunidade - eacute um processo reflexivo importante para o

desenvolvimento da consciecircncia criacutetica

Para Santrsquoanna (1997) a avaliaccedilatildeo deve ser contiacutenua integrada progressiva dinacircmica

voltada para o aluno abrangente cooperativa versaacutetil Na praacutetica pedagoacutegica a

avaliaccedilatildeo formativa deve ser priorizada todavia exige que o professor altere a

metodologia de trabalho em sala de aula diminua a ecircnfase na avaliaccedilatildeo redimensione

o conteuacutedo da avaliaccedilatildeo altere a postura diante dos resultados da avaliaccedilatildeo e trabalhe

na conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar pois esta mudanccedila deve ser ampla

para alcanccedilar resultados efetivos

A avaliaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla tanto aponta aquilo que o aluno aprendeu ou

natildeo quanto o que o professor ensinou ou natildeo e desta forma a reflexatildeo desse

processo no coletivo faz do erro um norte para a melhoria do processo de ensinagem

e aprendizagem assumindo de fato o seu papel

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362

Avaliaccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas

Preacute-Escolares com e sem problemas de linguagem

TAcircNIA FERNANDES

Professora de Educaccedilatildeo Especial na Regiatildeo Autoacutenoma da Madeira

Centro de Apoio Psicopedagoacutegico do Funchal

tanifernandes28hotmailcom

JOAtildeO ROSA

Professor na Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

jmsrosahotmailcom

Resumo

Neste estudo de intervenccedilatildeo avaliou-se o niacutevel de desenvolvimento da consciecircncia

fonoloacutegica em crianccedilas preacute-escolares com e sem problemas de linguagem e mediu-se

o impacto de um programa de promoccedilatildeo daquela competecircncia metalinguiacutestica

Os estudos mostram que os programas de promoccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica satildeo

exequiacuteveis e implementaacuteveis antes da iniciaccedilatildeo formal agrave leitura e escrita (Capovilla amp

Capovilla 2000 Nunes 2009 Sim-Sim Duarte Barbeito amp Pereira (2010) e

especialmente necessaacuterios para potenciar o desenvolvimento de crianccedilas com

problemas de linguagem (Freitas Alves amp Costa 2007 Mota amp Silva 2007 Soeiro

2007)

Neste estudo participaram 62 crianccedilas de cinco e seis anos de idade a frequentar sete

estabelecimentos de ensino preacute-escolar divididas em trecircs condiccedilotildees experimentais 1)

Grupo de Intervenccedilatildeo I (crianccedilas sem problemas de linguagem) 2) Grupo de

Intervenccedilatildeo II (crianccedilas com problemas de linguagem) 3) Grupo de Controlo (crianccedilas

sem problemas de linguagem) Todas as crianccedilas realizaram individualmente um preacute

e um poacutes-teste atraveacutes da aplicaccedilatildeo das Provas de Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica (Jimeacutenez e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

363

Ortiz 1995) e de um teste de especificidade da intervenccedilatildeo (Aritmeacutetica - WISC III) Os

dois grupos de intervenccedilatildeo participaram em oito sessotildees desenhadas para potenciar o

desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica de acordo com um programa

desenvolvido originalmente por Silva (2002) Os trecircs grupos eram equivalentes no preacute-

teste em consciecircncia fonoloacutegica total

Os resultados revelaram uma significativa superioridade das crianccedilas dos dois grupos

de intervenccedilatildeo em importantes sub-competecircncias da consciecircncia fonoloacutegica quando

comparadas com o grupo de controlo Comprovou-se ainda que o efeito da

intervenccedilatildeo era especiacutefico

Em conclusatildeo o niacutevel de desenvolvimento atual da consciecircncia fonoloacutegica de crianccedilas

preacute-escolares com e sem problemas de linguagem pode ser significativamente

potenciado antes da iniciaccedilatildeo formal agrave leitura e agrave escrita

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo da Consciecircncia Fonoloacutegica Desenvolvimento da Consciecircncia

Fonoloacutegica Consciecircncia Fonoloacutegica e Problemas de Linguagem

Abstract

This intervention study aimed at evaluating phonological awareness development level

in pre-school children with or without language delays and assess the impact of a

programme designed to promoting that metalinguistic ability

Studies show that such programmes are feasible can be implemented before formal

instruction on reading and writing (Capovilla amp Capovilla 2000 Nunes 2009 Sim-Sim

Duarte Barbeito amp Pereira (2010) and are especially necessary to potentiate the

development of children showing language delays (Freitas Alves amp Costa 2007 Mota

amp Silva 2007 Soeiro 2007)

The participants were sixty two five- and six-year-olds attending seven pre-schools

They were allocated to three experimental conditions 1) Intervention Group I -

children with no language delay 2) Intervention Group II - children with language

delay 3) Control Group - children with no language delay Pre- and post-tests were

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364

individually administered to all children consisting of a battery of linguistic

segmentation tests (Jimeacutenez amp Ortiz 1995) and an intervention specificity test

(Arithmetic - WISC III) The two intervention groups further participated in eight

training sessions designed to enhance phonological awareness according to a

programme developed by Silva (2002) There were no significant pretest differences on

total phonological awareness across the three groups

The two intervention groups significantly outperformed the control group on

important phonological awareness sub-skills The effect of the intervention was found

to be specific

To conclude the atual phonological awareness development level of pre-school

children with or without language delays can be successfully improved before formal

literacy instruction

Keywords Phonological Awareness Assessment Phonological Awareness

Development Phonological Awareness and Language Delays

Introduccedilatildeo

O objetivo deste estudo de intervenccedilatildeo eacute avaliar o efeito de um programa de

estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica em crianccedilas preacute-escolares com e sem

problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico)

De acordo com Sim-Sim (1998) um bom domiacutenio da linguagem falada eacute um dos

suportes basilares para a aprendizagem da leitura e da escrita Se tudo decorre dentro

da normalidade os primeiros cinco anos de vida satildeo suficientes para dotar a crianccedila de

uma capacidade satisfatoacuteria de expressatildeo oral Caso contraacuterio muitos satildeo os

problemas que podem surgir no desenvolvimento da linguagem falada e que podem

interferir grandemente na aprendizagem da leitura e da escrita Assim e tomando

como base o estudo efetuado por Mota e Silva (2007) haacute evidecircncia de que a

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365

estimulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo em consciecircncia fonoloacutegica podem produzir melhorias na

produccedilatildeo da fala

Investigaccedilotildees realizadas por Alves Freitas e Costa (2007) evidenciaram que uma

consciecircncia fonoloacutegica tatildeo desenvolvida quanto possiacutevel agrave entrada para o 1ordm ciclo eacute

uma competecircncia promotora de sucesso escolar na leitura e na escrita melhorando

assim os niacuteveis de literacia da crianccedila

Quando a crianccedila natildeo identifica corretamente os sons da fala ela acabaraacute

reproduzindo estes equiacutevocos na escrita e poderaacute tambeacutem apresentar lacunas na

leitura Verificamos diariamente nas nossas escolas que alguns alunos com e sem

Necessidades Educativas Especiais apresentam dificuldades na aprendizagem da

leitura e da escrita no 1ordm ciclo do Ensino Baacutesico Como tal torna-se fulcral um trabalho

mais sistematizado e intensivo com estes alunos para a estimulaccedilatildeo da consciecircncia

fonoloacutegica

Da mesma forma o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo atraveacutes do Programa Nacional de Ensino

do Portuguecircs (PNEP) e a Direccedilatildeo Geral de Inovaccedilatildeo e de Desenvolvimento Curricular

(DGIDC) alertaram os professores do preacute-escolar e do 1ordm ciclo do ensino baacutesico para a

necessidade de se treinar a consciecircncia fonoloacutegica antes e durante a aprendizagem do

coacutedigo alfabeacutetico Para evitar que aconteccedilam problemas decorrentes da falta de treino

desta competecircncia o seu desenvolvimento deve ser introduzido logo na educaccedilatildeo preacute-

escolar facultando agrave crianccedila o contacto e a relaccedilatildeo com diferentes formas de

expressatildeo Eacute isso que estaacute definido nas ldquoMetas de Aprendizagemrdquo (Sim-Sim Duarte

Duarte Barbeito e Pereira 2010) para o preacute-escolar Eacute por isso grande a relevacircncia

desta temaacutetica e importante verificar o impacto de um programa de promoccedilatildeo neste

acircmbito

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366

I- Revisatildeo da Literatura

11 - Consciecircncia fonoloacutegica conceitos gerais

Como sabemos as crianccedilas quando aprendem a falar natildeo tecircm consciecircncia de que as

palavras satildeo formadas por sucessotildees de sons uma vez que apenas focalizam a sua

atenccedilatildeo e o seu interesse na significaccedilatildeo do que estatildeo a ouvir e do que pronunciam

As crianccedilas tecircm que se consciencializar de que as palavras ditas oralmente satildeo

constituiacutedas por uma sequecircncia de fonemas correspondente ao que eacute representado

pelo coacutedigo alfabeacutetico atraveacutes da escrita Eacute esta consciecircncia da estrutura fonoloacutegica da

liacutengua que se designa por consciecircncia fonoloacutegica

Silva (1992) enfatiza que para alguns investigadores a noccedilatildeo de consciecircncia fonoloacutegica

significa o acesso ao niacutevel foneacutetico e agrave capacidade para manipular cognitivamente as

representaccedilotildees situadas a este niacutevel para outros significa a competecircncia geral de

sensibilidade aos sons do discurso oral

Para Morais (1997) eacute a consciecircncia de que as palavras satildeo constituiacutedas por diversos

sons ou grupos de sons e que elas podem ser fragmentadas em partiacuteculas menores

Importa ainda frisar que de acordo com Wood e Terrel (1998) muitos autores

confundem a Consciecircncia Fonoloacutegica com a Consciecircncia Foneacutetica sendo esta uacuteltima o

conhecimento da estrutura foneacutemica das palavras ou seja conseguir decompor uma

palavra em unidades mais pequenas - os fonemas

De acordo com Alves Freitas e Costa (2007) a Consciecircncia Fonoloacutegica ramifica-se em

trecircs tipos

(i) ldquo ao isolar siacutelabas a crianccedila revela consciecircncia silaacutebica (ex pra - tos)

(ii) ao isolar unidades dentro da siacutelaba a crianccedila revela consciecircncia

intrassilaacutebica (ex pra] [tos)

(iii) ao isolar sons da fala a crianccedila revela consciecircncia foneacutemica (ex pratos)

rdquo (p4)

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367

12 - Desenvolvimento Fonoloacutegico

Sabe-se que o desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica se inicia muito cedo e se vai

expandindo progressivamente ao longo da infacircncia Para Lane e Pullen (2004) haacute que

considerar o desenvolvimento cognitivo as experiecircncias linguiacutesticas da crianccedila e a

exposiccedilatildeo formal ao sistema alfabeacutetico Estes mesmos autores referem que o

desenvolvimento desta competecircncia metalinguiacutestica nem sempre ocorre da mesma

forma dado que o niacutevel de maior complexidade da consciecircncia fonoloacutegica e a uacuteltima

capacidade a surgir eacute a consciecircncia foneacutemica

Juacutenior Freitas Souza Maranhe e Bandini (2006) referem que a consciecircncia fonoloacutegica

eacute uma habilidade que permite aos indiviacuteduos formar novas palavras atraveacutes da

recombinaccedilatildeo de sons de palavras diferentes O acreacutescimo ou remoccedilatildeo de sons de

uma palavra permite agrave crianccedila encontrar palavras embutidas noutras e realizar

diferentes tipos de jogos com a sonoridade das palavras Estes autores referem que a

evoluccedilatildeo desta habilidade eacute gradual isto eacute tem iniacutecio na discriminaccedilatildeo de expressotildees

palavras ou siacutelabas dentro de unidades mais amplas de fala progride para a

discriminaccedilatildeo de rimas aliteraccedilotildees e siacutelabas e soacute depois eacute que se chega agrave consciecircncia

dos fonemas como unidades independentes na fala

Eacute importante frisar que na literatura surgem diferentes etapas do desenvolvimento da

consciecircncia fonoloacutegica assim como diferentes habilidades metafonoloacutegicas sendo que

umas satildeo adquiridas mais precocemente do que outras deixando transparecer uma

loacutegica de complexidade crescente

2 - A importacircncia da promoccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica

A consciecircncia fonoloacutegica eacute fundamental para compreender o princiacutepio alfabeacutetico Por

isso antes da sua compreensatildeo as crianccedilas devem entender que os sons associados agraves

letras satildeo os mesmos sons da fala e eacute atraveacutes do treino desta habilidade que as

crianccedilas ganham esta sensibilidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Correia (2010) afirma que o mais importante eacute que ldquoo treino da consciecircncia fonoloacutegica

seja gradual e para isso torna-se necessaacuterio apresentar diversas etapas de acordo com

uma ordem em que se vaacute aumentando o grau de complexidaderdquo (p120)

Corroborando esta ideia Freitas Alves e Costa (2007) referem que devemos comeccedilar

pelo treino da consciecircncia silaacutebica uma vez que todas as crianccedilas a possuem

naturalmente agrave entrada na escola A consciecircncia intrassilaacutebica e a consciecircncia

foneacutemica devem ser estimuladas em contexto letivo antes e durante o processo de

iniciaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacutetico

Sim-Sim (1998) considera que desde tenra idade sensivelmente por volta dos 2 ou 3

anos se a crianccedila for estimulada eacute capaz de realizar atividades de manipulaccedilatildeo

silaacutebica Muito antes do ingresso no 1ordm ciclo do ensino baacutesico as crianccedilas jaacute brincam

com as palavras e satildeo capazes de produzir rimas habilidades essas que exigem

sensibilidade agraves componentes sonoras da liacutengua Por isso eacute fundamental desenvolver

estimular e treinar a consciecircncia fonoloacutegica em idade preacute-escolar atraveacutes de

atividades de discriminaccedilatildeo auditiva rimas infantis e contos rimados uma vez que

favorecem o vocabulaacuterio e a memoacuteria auditiva Freitas Alves e Costa (2007)

consideram que eacute atraveacutes destes jogos que as crianccedilas comeccedilam a refletir sobre a

estrutura da linguagem oral e a analisar a liacutengua nos seus constituintes sonoros

Para Viana (2006) o treino da consciecircncia fonoloacutegica eacute importante para a

aprendizagem da leitura e da escrita pelo que a implementaccedilatildeo de estrateacutegias

promotoras desta capacidade eacute indispensaacutevel quer no 1ordm ciclo do ensino baacutesico quer

no preacute-escolar O treino sistemaacutetico no ensino preacute-escolar eacute crucial pois evita o

insucesso escolar na liacutengua portuguesa como nos referem Freitas Alves e Costa

(2007) Segundo estas autoras a realizaccedilatildeo de atividades promotoras de escuta de

atenccedilatildeo auditiva perceccedilatildeo e manipulaccedilatildeo de sons satildeo exemplos de atividades

promotoras do treino da consciecircncia fonoloacutegica Acrescentam ainda que eacute importante

que o educador inclua nas suas praacuteticas e rotinas diaacuterias atividades luacutedicas onde treine

esta habilidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

369

O treino desta competecircncia pode ser realizado de forma luacutedica e deve ser apropriado agrave

faixa etaacuteria em que a crianccedila se encontra Deve iniciar-se por um niacutevel mais faacutecil por

exemplo atraveacutes da exploraccedilatildeo de rimas e da segmentaccedilatildeo de palavras Os poemas

os trava-liacutenguas as muacutesicas as adivinhas as lengalengas os ditados populares as

histoacuterias os jogos de escuta e de linguagem satildeo igualmente exemplos de atividades

facilitadoras do desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica no preacute-escolar

3 - Intervenccedilotildees com crianccedilas com problemas da linguagem e da fala

Magnusson (1999) realizou um estudo com o intuito de estabelecer comparaccedilotildees

entre crianccedilas com e sem desvios fonoloacutegicos Os resultados obtidos comprovaram

que as crianccedilas que possuiam um desvio fonoloacutegico tinham um niacutevel de consciecircncia

metalinguiacutestica inferior ao das crianccedilas sem esse problema Esta autora concluiu que

algumas crianccedilas natildeo desenvolvem o processamento cognitivo necessaacuterio para refletir

analisar julgar ou manipular a liacutengua ou seja natildeo tecircm acesso ao conhecimento

linguiacutestico Refere tambeacutem que as crianccedilas com deacutefice fonoloacutegico por possuiacuterem uma

representaccedilatildeo fonoloacutegica diferente fornecem respostas incorretas agraves tarefas

metalinguiacutesticas

Juacutenior et al (2006) realizaram um estudo com 4 crianccedilas que possuiacuteam dificuldades na

aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita e um baixo niacutevel de consciecircncia fonoloacutegica Os

participantes foram submetidos a um programa de ensino para o desenvolvimento de

habilidades de consciecircncia fonoloacutegica com tarefas de identificaccedilatildeo de rima e

aliteraccedilatildeo e anaacutelise e siacutentese silaacutebica e foneacutemica enquanto continuavam sendo

expostos a um programa individualizado para ensino de leitura no qual natildeo haviam

obtido sucesso previamente

Estes investigadores evidenciaram que apesar destas crianccedilas apresentarem um fraco

desempenho no preacute-teste nas provas de consciecircncia fonoloacutegica obtiveram sucesso

com o programa de desenvolvimento tal como as elevadas pontuaccedilotildees no poacutes-teste

mostraram Como consequecircncia desse programa verificaram-se ainda melhorias na

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

370

leitura e na escrita Isso mostra que o treino da consciecircncia fonoloacutegica contribui para a

aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita ateacute mesmo com crianccedilas com dificuldades nessa aacuterea

O estudo efetuado por Mota e Silva (2007) clarifica a importacircncia do treino fonoloacutegico

nas crianccedilas com desvio fonoloacutegico Estes autores realizaram uma investigaccedilatildeo no

Brasil que tinha como objetivo verificar a relaccedilatildeo entre as habilidades de consciecircncia

fonoloacutegica e a escrita sob ditado Para avaliar a consciecircncia fonoloacutegica foi aplicado o

Instrumento de Avaliaccedilatildeo Sequencial ndash CONFIAS Os resultados apontavam para a

eficaacutecia da intervenccedilatildeo na produccedilatildeo da fala e no desenvolvimento da leitura Os

autores concluiacuteram que eacute importante estimular a consciecircncia fonoloacutegica durante a

idade preacute-escolar principalmente em crianccedilas com desvio fonoloacutegico dado o risco de

emergecircncia de futuras dificuldades no desenvolvimento da linguagem

Segundo Freitas (2004) as crianccedilas com necessidades educativas especiais

nomeadamente com problemas da linguagem e da fala necessitam de mais tempo e

de estrateacutegias variadas para desenvolver a codificaccedilatildeo e a descodificaccedilatildeo Por isso eacute

importante proporcionar-lhes estiacutemulos que as ajudem a desenvolver a consciecircncia

linguiacutestica

II- Metodologia

21 - Objetivo e hipoacuteteses do Estudo

Na sequecircncia da revisatildeo da literatura e relembrando o objetivo de avaliar o impacto de

um programa de intervenccedilatildeo no desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica em

crianccedilas preacute-escolares com e sem problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico) foram

definidas as seguintes hipoacuteteses

Hipoacutetese 1 - Haacute um efeito significativo da estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica no

desenvolvimento dessa competecircncia em crianccedilas com ou sem problemas de

Linguagem

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371

Espera-se poder verificar que as crianccedilas a quem for feita a intervenccedilatildeo progrediratildeo

substancialmente mais nas variaacuteveis medidas pelas Provas de Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica

(Jimeacutenez e Ortiz 1995) nomeadamente em Segmentaccedilatildeo Leacutexica Consciecircncia

Intrassilaacutebica Omissatildeo de Siacutelabas com ou sem indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo Identificaccedilatildeo da

Siacutelaba Inicial e Final Contagem de Siacutelabas e Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

Hipoacutetese 2 - O efeito da estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica eacute especiacutefico

Na sequecircncia das recomendaccedilotildees de Nunes Bryant e Olsson (2003) foi introduzida

uma medida numa aacuterea natildeo trabalhada na intervenccedilatildeo para verificar se eventuais

ganhos em consciecircncia fonoloacutegica poderiam considerar-se especiacuteficos e relativos a

essa intervenccedilatildeo por natildeo se generalizarem a aacutereas natildeo trabalhadas Se essa

generalizaccedilatildeo acontecesse entatildeo os resultados poderiam estar apenas dependentes

da maior atenccedilatildeo recebida pelos grupos experimentais por parte do investigador

22 - Participantes

Os participantes foram 62 crianccedilas de idade preacute-escolar habitando na Regiatildeo

Autoacutenoma da Madeira Destas 50 natildeo tinham problemas de linguagem e foram

distribuiacutedas em dois grupos equivalentes (Experimental 1 - GE1) e de Controlo - GC)

em funccedilatildeo dos valores obtidos em consciecircncia fonoloacutegica total no preacute-teste

As restantes (N=12) tinham sido diagnosticadas como apresentando um desvio

fonoloacutegico e formaram um segundo grupo Experimental (GE2) Este grupo foi

constituiacutedo a partir de uma amostra de conveniecircncia identificada pelos serviccedilos

regionais de educaccedilatildeo

A meacutedia de idades das crianccedilas era de 6616 meses (dp = 364) com idades variando

entre os 62 e os 73 meses

A equivalecircncia das meacutedias em consciecircncia fonoloacutegica total do GE1 e GC foi garantida agrave

partida pelo meacutetodo de alocaccedilatildeo usado Contrariamente agraves expectativas tambeacutem o

GE2 revelou uma meacutedia semelhante aos outros dois grupos

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Como forma de confirmar que os grupos eram equivalentes no Preacute-teste foi realizada

uma Two-Way ANOVA em que a variaacutevel dependente era o score de consciecircncia

fonoloacutegica total e os f atores o grupo (3 grupos) e a idade

Os resultados mostraram que os grupos natildeo eram significativamente diferentes quer

em funccedilatildeo do grupo (F (261) = 042 p = 959) quer em funccedilatildeo da idade (F (261) = 1041 p

= 360) Este resultado garante que eventuais diferenccedilas a encontrar no poacutes-teste natildeo

podem ser devidas a diferenccedilas de partida nestas variaacuteveis

23 - Design do Estudo

Neste estudo de intervenccedilatildeo todas as crianccedilas foram avaliadas nos preacute- e poacutes-testes

em Consciecircncia Fonoloacutegica (PSL) e em Aritmeacutetica (WISC ndash III)

Os dois grupos experimentais foram sujeitos a um mesmo programa de intervenccedilatildeo

com 8 sessotildees com a duraccedilatildeo aproximada de 30 minutos cada O grupo de controlo

natildeo realizou qualquer intervenccedilatildeo

Definiram-se as seguintes variaacuteveis

1) Variaacuteveis dependentes A Consciecircncia Fonoloacutegica das crianccedilas medida atraveacutes da

Prova Segmentaccedilatildeo Linguiacutestica (PSL) com as seguintes sub-variaacuteveis

Segmentaccedilatildeo Leacutexica Consciecircncia Intrassilaacutebica Omissatildeo de Siacutelabas com e sem

indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo Identificaccedilatildeo da Siacutelaba Inicial e Final Contagem de Siacutelabas e

Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

2) Variaacutevel independente o Grupo

3) Variaacutevel de controlo da especificidade da intervenccedilatildeo Sub-teste de Aritmeacutetica

(WISC ndash III)

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373

III-Resultados

31Siacutentese de Resultados

Por razotildees de espaccedilo e dado o grande nuacutemero de variaacuteveis examinado apresenta-se

aqui apenas uma siacutentese de resultados61

Quanto agrave Hipoacutetese 1 de que haveria um efeito significativo da estimulaccedilatildeo da

Consciecircncia Fonoloacutegica no desenvolvimento dessa competecircncia em crianccedilas com ou

sem problemas de Linguagem e considerando a diferenccedilas de ganhos entre o preacute-

teste e o poacutes-teste verificou-se que

a) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo nas variaacuteveis Consciecircncia

Fonoloacutegica Total e Omissatildeo de Siacutelabas com indicaccedilatildeo da posiccedilatildeo (GE1gt GE2gt

GC) isto eacute o Grupo Experimental 1 obteve ganhos significativamente maiores

que o Grupo Experimental 2 mas ambos os grupos obtiveram ganhos

significativamente superiores ao Grupo de Controlo

b) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Omissatildeo de Siacutelabas sem

indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo (GE1 = GE2 gt GC) isto eacute os dois grupos experimentais

obtiveram ganhos semelhantes e significativamente superiores ao grupo de

controlo

c) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Segmentaccedilatildeo Leacutexica (GE1 gt

GE2 = GC) isto eacute o grupo experimental 1 obteacutem ganhos significativamente

superiores aos outros dois grupos natildeo se distinguindo estes dois uacuteltimos

grupos entre si

d) Houve um efeito significativo da intervenccedilatildeo em Consciecircncia Intrassilaacutebica

(GE2gt GE1 gt GC) isto eacute as crianccedilas com desvio fonoloacutegico lucraram mais do

61

Para uma descriccedilatildeo detalhada consultar Fernandes T (2011) Efeitos do Treino da Consciecircncia Fonoloacutegica em Crianccedilas Preacute- Escolares Com e Sem Problemas de Linguagem Tese de Mestrado Escola Superior de Educaccedilatildeo Lisboa httprepositorioiplptbitstream104002113661Efeitos20do20Treino20da20ConsciC3AAncia20FonolC3B3gicapdf

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374

que o GE1 composto por crianccedilas sem problemas de linguagem e ambos os

grupos de intervenccedilatildeo se distinguiram significativamente do grupo de controlo

e) Houve um efeito significativo de intervenccedilatildeo em Identificaccedilatildeo da Siacutelaba Inicial e

Final (GE1 gt GE2 = GC) isto eacute o Grupo Experimental 1 eacute superior aos restantes

dois grupos que natildeo se distinguem entre si

f) Natildeo houve efeito significativo da intervenccedilatildeo em Contagem de Siacutelabas e

Recomposiccedilatildeo Silaacutebica

Quanto agrave Hipoacutetese 2 de que avaliava se o efeito do treino da Consciecircncia Fonoloacutegica

era especiacutefico da intervenccedilatildeo verificou-se que natildeo houve diferenccedilas significativa entre

os trecircs grupos em raciociacutenio aritmeacutetico Isto eacute os ganhos alcanccedilados em muitas das

sub-competecircncias da Consciecircncia Fonoloacutegica natildeo podem ser explicados apenas pelo

facto de as crianccedilas dos grupos de intervenccedilatildeo terem recebido maior atenccedilatildeo Eles

foram devidos agrave especificidade da intervenccedilatildeo

IV- Conclusotildees e discussatildeo

Pretendeu-se em primeiro lugar investigar se havia um efeito da estimulaccedilatildeo da

consciecircncia fonoloacutegica no desenvolvimento dessas competecircncias em crianccedilas com ou

sem problemas de Linguagem

Dado que os trecircs grupos eram semelhantes em consciecircncia fonoloacutegica total no preacute-

teste pudemos controlar o efeito potencial de diferenccedilas de partida No entanto apoacutes

a intervenccedilatildeo os grupos experimentais apresentaram ganhos estatisticamente

superiores num grande nuacutemero de competecircncias fonoloacutegicas O grupo de controlo natildeo

revelou progressos por natildeo ter tido participaccedilatildeo no programa Estes resultados

confirmam os encontrados por Bandini e Rose (2006) e por Nunes et al (2009)

Tambeacutem Gillon e Dodd (1995) e Gillon (2000) encontraram uma relaccedilatildeo entre

intervenccedilatildeo precoce em consciecircncia fonoloacutegica e ganhos nestas competecircncias apoacutes

um programa de estimulaccedilatildeo

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375

No presente estudo a intervenccedilatildeo tambeacutem possibilitou agraves crianccedilas que apresentavam

problemas de linguagem uma melhoria significativa em muitas competecircncias

fonoloacutegicas Estes resultados vecircm confirmar os encontrados por Freitas (1999) que

tambeacutem verificou uma melhoria significativa em crianccedilas com desvio fonoloacutegico

Neste estudo constatou-se que em Contagem de Siacutelabas e Recomposiccedilatildeo Silaacutebica as

crianccedilas dos GE 1 e GE2 natildeo lucraram nestas tarefas Partindo das ideias de Bandini e

De Rose (2005) na liacutengua portuguesa as siacutelabas satildeo unidades mais acessiacuteveis pela fala

isolaacuteveis do ponto de vista acuacutestico salientes e menos abstratas pois baseiam-se

diretamente na articulaccedilatildeo justificando-se assim a facilidade encontrada Isso sugere

que as crianccedilas jaacute tinham este treino bem adquirido aos 5 anos Por essa razatildeo essas

tarefas foram excessivamente simples tal como se verificou no estudo efetuado por

Sim-Sim (1997)

As tarefas de Consciecircncia Intrassilaacutebica parecem situar-se num niacutevel intermeacutedio de

dificuldade entre a siacutelaba e o fonema de acordo com Valente e Martins (2004) No

entanto e atendendo ao seu grau de complexidade e agraves diferentes propriedades

acuacutesticas das palavras as crianccedilas com problemas de linguagem (desvio fonoloacutegico)

lucraram mais significativamente do que o GE1 nesta tarefa Especula-se que esses

progressos satildeo fruto do apoio terapecircutico semanal a niacutevel da fala e pelo facto dos

docentes especializados treinarem este tipo de tarefas linguiacutesticas

Na tarefa de Omissatildeo de Siacutelabas com indicaccedilatildeo de posiccedilatildeo as crianccedilas com desvio

fonoloacutegico obtiveram resultados inferiores aos do grupo experimental 1 embora

significativamente superiores aos do grupo de controlo Pensamos que isso se deve ao

facto de se tratar de uma tarefa mais complexa e portanto passiacutevel de ser bem

conseguida apenas por crianccedilas mais desenvolvidas (Snowling 2004) Apesar de as

crianccedilas do grupo experimental 2 apresentarem problemas de linguagem

conseguiram lucrar de forma muito significativa em muitas variaacuteveis Isto leva-nos a

refletir sobre a importacircncia da utilizaccedilatildeo do programa de estimulaccedilatildeo da consciecircncia

fonoloacutegica e da intervenccedilatildeo dos docentes especializados no sentido de estimularem e

propiciarem muacuteltiplas experiecircncias linguiacutesticas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

376

No que se refere agrave Segmentaccedilatildeo Leacutexica trata-se de uma competecircncia que na opiniatildeo

de Barrera e Maluf (2003) soacute eacute adquirida de forma sistemaacutetica por volta dos 7 anos

Neste estudo constatou-se que os meninos com problemas de linguagem natildeo

lucraram em Segmentaccedilatildeo Leacutexica mais do que o grupo de controlo o que vai de

encontro ao que eacute apresentado na literatura (Meneses Lozi Souza e Assecircncio-Ferreira

2004) No entanto as crianccedilas sem problemas de linguagem lucraram

significativamente com a intervenccedilatildeo

Comparando os resultados da presente investigaccedilatildeo com os resultados observados por

Olofsson e Lundberg (1985) e por Silva (2003) podemos igualmente concluir que

programas de estimulaccedilatildeo da consciecircncia fonoloacutegica podem ser eficazmente

conduzidos com crianccedilas de idade preacute-escolar e potenciarem a aprendizagem da

leitura e da escrita tal como eacute comprovado em numerosos estudos (Capovilla e

Capovilla 1998 Jenkins e Bowen 1994 Lundberg Frost e Petersen 1988 Warrick

Rubin e Rowe-Walsh 1993 citados por Capovilla e Capovilla 2000)

Para analisar a especificidade da intervenccedilatildeo usou-se um meacutetodo proposto por Nunes

Bryant e Olsson (2003) As crianccedilas dos grupos de intervenccedilatildeo progrediram em

consciecircncia fonoloacutegica mas continuaram equivalentes em raciociacutenio aritmeacutetico De

acordo com os autores acima citados se ocorressem efeitos genuiacutenos na intervenccedilatildeo

esses seriam especificamente encontrados na consciecircncia fonoloacutegica e natildeo em

aritmeacutetica Ao encontrar-se o mesmo niacutevel aritmeacutetico nos trecircs grupos entatildeo pode

sugerir-se que a intervenccedilatildeo foi responsaacutevel pelas melhorias encontradas

41 - Limitaccedilotildees do Estudo e Futuras Linhas de Investigaccedilatildeo

No decorrer desta investigaccedilatildeo levantaram-se questotildees que conduziram a uma

reflexatildeo sobre algumas limitaccedilotildees e como poderiam ser aperfeiccediloadas Eacute possiacutevel

sintetizaacute-las da seguinte forma

1 Apesar do programa de estimulaccedilatildeo ter sido aplicado somente a um pequeno

nuacutemero de participantes pensa-se existirem razotildees suficientes para continuar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

377

a realizar investigaccedilotildees sobre a eficaacutecia de um programa desta natureza

Justifica-se por isso alargar o nuacutemero de participantes em futuros estudos

2 Se estabelecermos uma comparaccedilatildeo entre a duraccedilatildeo da intervenccedilatildeo neste

estudo e nos estudos referenciados na revisatildeo da literatura concluiacutemos que

este programa de estimulaccedilatildeo teve uma duraccedilatildeo meacutedia Seria uacutetil verificar se as

intervenccedilotildees com menor duraccedilatildeo satildeo mais eficientes do que as intervenccedilotildees

mais longas e vice-versa

3 Natildeo foi realizado um poacutes-teste diferido por razotildees de tempo Contudo isso eacute

necessaacuterio para se confirmar a eventual permanecircncia dos efeitos da

intervenccedilatildeo

4 Em futuros estudos seria tambeacutem pertinente controlar os efeitos explicados

pelas diferenccedilas de desenvolvimento cognitivo das crianccedilas

5 Face agraves condiccedilotildees da experimentaccedilatildeo e aos resultados verificados sugere-se

que este estudo constitua o ponto de partida para outras investigaccedilotildees que

incluam um maior nuacutemero de escolas

6 A aplicaccedilatildeo de um programa de treino de Consciecircncia Fonoloacutegica para alunos

com necessidades educativas especiais com outros diagnoacutesticos seria outra

aacuterea de investigaccedilatildeo a explorar

7 Deve-se tambeacutem repensar a importacircncia destas questotildees na formaccedilatildeo inicial e

contiacutenua dos educadores de infacircncia Os educadores jaacute em exerciacutecio deveriam

frequentar accedilotildees de formaccedilatildeo que lhes permitissem conhecer as vantagens do

desenvolvimento desta competecircncia antes das crianccedilas ingressarem no Ensino

Baacutesico

43Implicaccedilotildees para a Praacutetica Pedagoacutegica

Com este estudo podem tambeacutem apontar-se algumas sugestotildees ou implicaccedilotildees para a

praacutetica pedagoacutegica

1 Para ajudar as crianccedilas a progredir em Consciecircncia Fonoloacutegica natildeo basta

realizar jogos de batimentos de siacutelabas Tal como alguns estudos sugerem

(Carlisle 1988) eacute necessaacuterio um trabalho intencional e explicitador por parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

378

dos profissionais de educaccedilatildeo de infacircncia As Orientaccedilotildees Curriculares para a

Educaccedilatildeo Preacute-Escolar (1997) sensibilizam os educadores de infacircncia para a

realizaccedilatildeo de atividades de reflexatildeo sobre os segmentos sonoros das palavras

uma vez que ldquoas rimas as lengalengas os trava-liacutenguas e as adivinhas satildeo

aspetos da tradiccedilatildeo cultural portuguesa que podem ser trabalhados na

educaccedilatildeo preacute-escolar e (hellip) podem ainda ser meios de competecircncia

metalinguiacutestica isto eacute de compreensatildeo do funcionamento da liacutenguardquo (p 67)

Eacute crucial que os educadores de infacircncia realizem tarefas promotoras de

consciecircncia fonoloacutegica facultando agrave crianccedila maior habilidade metalinguiacutestica

preparando assim as aprendizagens subsequentes

2 As crianccedilas aprendem e progridem em consciecircncia fonoloacutegica atraveacutes de

atividades especiacuteficas e que satildeo objeto de preparaccedilatildeo por parte do

educadorprofessor Estas envolvem discussatildeo reflexatildeo e interaccedilatildeo entre as

crianccedilas e o educadorprofessor

3 Tendo em vista a promoccedilatildeo da continuidade entre ciclos de ensino Sim-Sim

Duarte Duarte Barbeiro e Pereira (2010) num grupo de trabalho da DGIDC

lanccedilaram as ldquoMetas de Aprendizagemrdquo intermediaacuterias e finais relativas agraves

diferentes aacutereas do preacute-escolar e dos trecircs ciclos do ensino baacutesico O objetivo

destas metas eacute promover a qualidade do ensino e da aprendizagem e para tal

pretende-se que os docentes analisem as metas dos ciclos posteriores e

precedentes para poderem trabalhar numa linha de continuidade das

aprendizagens Para o preacute-escolar por natildeo ser de caraacuteter obrigatoacuterio nem

abranger todas as crianccedilas desde os trecircs anos de idade lanccedilaram-se apenas

metas finais e natildeo metas intermediaacuterias como nos trecircs ciclos do ensino baacutesico

O Decreto - Lei nordm51997 do Diaacuterio da Repuacuteblica define que ldquoa educaccedilatildeo preacute-

escolar eacute a primeira etapa da educaccedilatildeo baacutesica no processo de educaccedilatildeo ao

longo da vidardquo (p 670) Por isso o objetivo primordial destas metas eacute facilitar a

continuidade entre a educaccedilatildeo preacute-escolar e o 1ordm ciclo do ensino baacutesico Como

tal o educador deveraacute estar consciencializado de que o desenvolvimento da

consciecircncia fonoloacutegica eacute fundamental para a aprendizagem da literacia para

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

379

todas as crianccedilas e especialmente para aquelas cujas dificuldades na linguagem

podem dificultar ainda mais essa aprendizagem

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

383

Compreensatildeo na Leitura e Resoluccedilatildeo de Problemas de

Matemaacutetica

Cacircndida Ribeiro Agrupamento de Escolas Joseacute Cardoso Pires

candi75gmailcom

Faacutetima Cruz Agrupamento de Escolas da Damaia

cruzpiresfatimagmailcom

Manuela Coelho Agrupamento de Escolas Nordm 1 de Loures

mcfcoelhogmailcom

Maria da Luz Fragoso Agrupamento de Escolas S Joatildeo da Talha

luz_mariasapopt

Resumo A formaccedilatildeo contiacutenua enquanto processo de construccedilatildeo e desenvolvimento profissional assente em praacuteticas de investigaccedilatildeo envolvendo reflexatildeo experimentaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de boas praacuteticas poderaacute ser essencial para dar resposta aos desafios decorrentes da acentuada ldquomudanccedila na natureza e exigecircncia do serviccedilo prestado pelo profissional de ensino e pela instituiccedilatildeo educativardquo (Roldatildeo 1999 p 99) Assim apresenta-se um percurso de investigaccedilatildeo de caraacuteter exploratoacuterio no acircmbito da compreensatildeo das dificuldades dos alunos na resoluccedilatildeo de problemas matemaacuteticos a partir da liacutengua portuguesa realizado por quatro formandas da accedilatildeo de formaccedilatildeo contiacutenua no domiacutenio do Portuguecircs ldquoDesenvolver competecircncias em Liacutengua Portuguesardquo promovida pela Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa no ano letivo 20122013 Dizer que os alunos natildeo conseguem resolver os problemas porque natildeo sabem liacutengua portuguesa eacute tatildeo dramaacutetico quanto redutor Haacute uma relaccedilatildeo de impregnaccedilatildeo muacutetua entre a matemaacutetica e a liacutengua materna pois a liacutengua materna constitui-se um instrumento de intermediaccedilatildeo na construccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos Nesse sentido desenvolveu-se um trabalho investigativo com a finalidade de avaliar em que medida a liacutengua portuguesa coloca obstaacuteculos na compreensatildeo dos problemas matemaacuteticos Estiveram envolvidos 48 alunos de quatro turmas do 2ordm ao 5ordm ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 7 e os 14 anos de idade Para desenvolver o estudo optou-se por um ldquocorpusrdquo constituiacutedo por enunciados de problemas de caacutelculo de dois passos com predominacircncia de estruturas passivas A resoluccedilatildeo dos problemas foi realizada em diacuteades cujos alunos apresentavam diferentes niacuteveis de desenvolvimento cognitivo

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Os instrumentos de recolha de dados consubstanciaram-se em protocolos e na observaccedilatildeo participante com registos sobre as interaccedilotildees aluno-aluno e professor-aluno e a mediaccedilatildeo estabelecida entre todos A recolha de dados fez-se a dois niacuteveis um mais direcionado para as questotildees da compreensatildeo leitora linguiacutesticas e outro no domiacutenio dos conceitos matemaacuteticos As dificuldades apresentadas pelos alunos natildeo incidiram propriamente nos enunciados com estruturas passivas mas sim no enunciado com estrutura ativa onde questotildees de natureza semacircntica e do conhecimento do mundo impediram a resoluccedilatildeo correta dos problemas Foi ainda possiacutevel identificar dificuldades relacionadas com o tipo de problemas apresentado dando origem a reflexotildees de caraacuteter cientiacutefico-pedagoacutegico

Palavras-chave Praacuteticas de ensino transversalidade da Liacutengua Portuguesa resoluccedilatildeo de problemas de matemaacutetica desenvolvimento profissional Abstract Professional development and learning as a process of construction and development based on research practices involving reflection experimentation and evaluation of good practices may be essential to meet the challenges arising from the sharp change in the nature and the demands of the service provided by professional teaching staff and by the educational institution62 (Roldatildeo 1999 p 99 )Thus we present an exploratory research which regards the understanding (OR analysis) of studentsrsquo difficulties in solving mathematical problems arising from difficulties in the comprehension of the Portuguese language The research was led by four participants of the professional training session Developing skills in Portuguese Language promoted by the institution ldquoEscola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboardquo (Higher School of Education Lisbon) in the academic year of 20122013 Affirming that students cannot solve mathematical problems because they do not know Portuguese is as dramatic as reductionist There is a relationship of mutual impregnation between mathematics and language because language is an instrument of mediation in the construction of mathematical concepts Accordingly the research work was developed in order to assess to what extent the Portuguese language might set obstacles in understanding mathematical problems48 students of four classes from 2nd to 5th grade between the ages of 7 and 14 were involved in the research study A corpus consisting of two step math word problems with predominantly passive structures was chosen to develop the study On behalf of the children the resolution of the problems was done in pairs built up by two students with different levels of cognitive development The instruments for data collection used were protocols participant observation records of the student-student and student-teacher interactions and mediation established among all Data collection was done at two levels at one level more focused on the issues of reading comprehension and at the other on what regards understanding mathematical concepts The difficulties shown by the students did not exactly focus on word problems withholding passive structures but on the ones using an active structure in which issues related to semantics and ldquoknowledge of the world aroundrdquo

62

nossa traduccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

385

prevented the correct resolution of the problems It was also possible to identify other difficulties related to the type of word problems presented to students which gave rise to other reflections of scientific-pedagogical nature Keywords Teaching practices transversality of the Portuguese language solving math problems professional development

Introduccedilatildeo

A aprendizagem em qualquer aacuterea depende do desenvolvimento de competecircncias ao

niacutevel da compreensatildeo e expressatildeo quer no modo oral quer no modo escrito No que

diz respeito agrave resoluccedilatildeo de problemas e porque este eacute um domiacutenio em que os alunos

continuam a revelar fragilidades como se comprova pelos resultados de estudos

internacionais designadamente PISA (2003) e TIMSS (1996) bem como nos testes

intermeacutedios do 2ordm ano e nas provas de afericcedilatildeo do 4ordm ano importa saber em que

medida a transversalidade curricular da Liacutengua Portuguesa se assume fundamental na

aquisiccedilatildeo de saberes estruturantes do pensamento Sendo assim uma intervenccedilatildeo

didaticamente mais consistente na matemaacutetica poderaacute ser uma condiccedilatildeo necessaacuteria

mas natildeo suficiente

Dizer que os alunos natildeo conseguem resolver os problemas porque natildeo sabem liacutengua

portuguesa eacute tatildeo dramaacutetico quanto redutor Haacute uma relaccedilatildeo de impregnaccedilatildeo muacutetua

entre a matemaacutetica e a liacutengua materna pois a liacutengua materna constitui-se um

instrumento de intermediaccedilatildeo na construccedilatildeo de conceitos matemaacuteticos

Colocar a ecircnfase a montante justifica-se pelas evidecircncias das praacuteticas em sala de aula

que nos proporcionam este cenaacuterio recorrente os alunos perante um enunciado

perguntam se eacute de dividir ou de somar e os professores (con)vencidos dizem que os

alunos natildeo resolvem porque natildeo sabem o que o problema pede

A anaacutelise das implicaccedilotildees da liacutengua materna na resoluccedilatildeo de problemas tem merecido

a atenccedilatildeo de vaacuterios autores (Barnett Sowder e Vos 1997) Poggioli (2001) identificou

variaacuteveis verbais que interferem na resoluccedilatildeo de problemas matemaacuteticos as de

natureza sintaacutetica e as de natureza semacircntica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

386

Face a este vasto campo de possibilidades de estudo optaacutemos por nos debruccedilar sobre

as variaacuteveis de natureza sintaacutetica mais concretamente enunciados de problemas com

a predominacircncia de estruturas passivas O corpus documental constituiu-se a partir de

enunciados que se podem encontrar em qualquer manual escolar

As dificuldades apresentadas pelos alunos natildeo incidiram nos enunciados com

estruturas passivas mas sim no enunciado com estrutura ativa onde questotildees de

natureza semacircntica e do conhecimento do mundo impediram a resoluccedilatildeo correta dos

problemas Foi ainda possiacutevel identificar dificuldades relacionadas com o tipo de

problemas apresentado dando origem a reflexotildees de caraacuteter cientiacutefico-pedagoacutegico

Enquadramento do estudo

A Centralidade da Liacutengua Portuguesa nas Aprendizagens

A linguagem desempenha na aprendizagem a funccedilatildeo de mediadora das relaccedilotildees entre

o sujeito e o objeto a conhecer seja na escola ou em qualquer outro contexto Se a

relaccedilatildeo entre o conhecer e a linguagem eacute assim tatildeo estreita torna-se relevante a tese

de Vygostky defendida por Azevedo e Rowell (2007 p15) de que ldquoa linguagem daacute

forma ao pensamento estruturando-o Eacute por meio da linguagem que o sujeito

interpreta constroacutei reconstroacutei ressignifica redimensiona e socializa o conhecimentordquo

Esta dimensatildeo do fenoacutemeno social da interaccedilatildeo verbal configura-se como a verdadeira

substacircncia da liacutengua que natildeo se aprende nos dicionaacuterios ou nas gramaacuteticas mas sim

atraveacutes dos enunciados concretos que ouvimos e adquirimos em situaccedilotildees reais

Neste contexto a disciplina do portuguecircs liacutengua materna para a maioria dos nossos

alunos ou liacutengua de escola para os demais assume a dupla funccedilatildeo de lhes fornecer os

mecanismos linguiacutestico-discursivos necessaacuterios agrave leitura e escrita dos mais variados

geacuteneros textuais e de os instrumentalizar linguisticamente para que possam interagir

nas diferentes disciplinas curriculares

A centralidade da liacutengua portuguesa eacute inquestionaacutevel As dificuldades dos alunos nem

sempre estatildeo situadas no acircmbito dos algoritmos das foacutermulas ou dos conceitos da

matemaacutetica quiacutemica fiacutesica geografia biologia ldquomas nas construccedilotildees linguiacutesticas dos

enunciados dos problemas Satildeo dificuldades de niacutevel lexical sintaacutetico semacircntico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

387

textual eou discursivo que impedem os alunos de resolver adequadamente os

problemas por natildeo poderem recuperar a sua unidade de sentidordquo (Azevedo e Rowell

2007 pp 18-19)

Partindo do pressuposto de que o fraco domiacutenio da liacutengua materna escrita pode

constituir mais um obstaacuteculo a vencer na resoluccedilatildeo de um problema importa analisar

as situaccedilotildees problemaacuteticas que o professor fornece aos seus alunos para em concreto

saber o que especificamente em cada niacutevel acima referido contribui para o fracasso

das aprendizagens

A Complexidade Sintaacutetica das Construccedilotildees Passivas

A investigaccedilatildeo no acircmbito da apropriaccedilatildeo e desenvolvimento da linguagem procura

determinar a natureza das dificuldades do processo de compreensatildeo e produccedilatildeo de

determinadas estruturas sintaacuteticas Haacute uma correlaccedilatildeo entre as construccedilotildees que

apresentam um maior grau de complexidade sintaacutetica e o baixo niacutevel de compreensatildeo

Satildeo as construccedilotildees passivas as que causam maior dificuldade agrave interpretaccedilatildeo dos

enunciados dos problemas de matemaacutetica (Correia 2004)

Para as crianccedilas as estruturas passivas satildeo mais difiacuteceis do que as ativas e os verbos

natildeo agentivos satildeo mais exigentes do que os agentivos

ldquoO motorista derrubou o murordquo ndash sujeito agentivo

ldquoO vento derrubou o murordquo - sujeito causativo

ldquoO trator derrubou o murordquo - sujeito instrumental

Na perspetiva da gramaacutetica generativa a passiva eacute encarada como o reverso da

ativa ou seja constitui um processo de transformaccedilatildeo por excelecircncia classificando-se

como uma forma alternativa de parafrasear estruturas ativas No entanto a

reversibilidade natildeo se pode aplicar a todo o universo como por exemplo i) ldquoAs

crianccedilas gostaram dos palhaccedilosrdquo ii)ldquoOs palhaccedilos foram gostados pelas crianccedilas

No portuguecircs europeu temos passivas perifraacutesticas verbais (1) e as passivas de cliacutetico

(2) a tiacutetulo de exemplo (1)ldquoForam repartidas 100 bolachas pelos vinte alunos da

turmardquo (2)ldquoDistribuiacuteram-se 100 folhetos pelos pais das crianccedilas do jardim de infacircnciardquo

Correia (2004) refere que haacute trecircs diferenccedilas baacutesicas nestes dois enunciados

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

388

a) O tipo de sujeito que em (2) eacute indeterminado em (1) eacute interpretado como

toacutepico Em ambos os exemplos os alunos perguntam ldquoQuem reparte as

bolachasrdquo (1) e ldquoQuem daacute os folhetosrdquo (2)

b) A expressatildeo do agente que dificilmente ocorre nas passivas de cliacutetico mas

ocorre com alguma frequecircncia nas passivas perifraacutesticas ldquoEstatildeo a ser enviadas

pelos ambientalistas cartas a todos os jornaisrdquo

c) A intencionalidade eacute mais presente nas construccedilotildees perifraacutesticas a que natildeo eacute

alheia a presenccedila de um sujeito impliacutecito supondo-se a presenccedila de um agente

concreto que opera sobre um objeto externo por exemplo ldquoforam vendidas 80

caixas de laacutepisrdquo enquanto nas construccedilotildees de cliacutetico enuncia-se o facto

ldquovenderam-se a quarta parte dos jornais escolaresrdquo

A identificaccedilatildeo de processos e estruturas de aquisiccedilatildeo tardia dentro dos quais

se situam as construccedilotildees passivas eacute imprescindiacutevel para que os professores faccedilam a

melhor escolha dos materiais didaacuteticos quer pelo contributo que possam vir a ter na

estabilizaccedilatildeo do desenvolvimento da linguagem quer pelo seu caraacuteter mediador nas

aprendizagens especiacuteficas das outras disciplinas

Seguidamente apresentar-se-aacute o percurso metodoloacutegico desenvolvido e os resultados

obtidos

Metodologia e Resultados

Partimos da questatildeo ldquoEm que medida a liacutengua portuguesa coloca obstaacuteculos na

compreensatildeo dos problemas matemaacuteticosrdquo Retomou-se um estudo efetuado por

Correia (2004) que analisou a natureza das dificuldades no processo de compreensatildeo

das estruturas passivas em diversas fases do desenvolvimento de falantes de

portuguecircs europeu A sua amostra constituiu-se por 80 sujeitos alunos do 4ordm 6ordm e 9ordm

anos com idades compreendidas entre os 9 e os 15 anos e sujeitos adultos

Estando noacutes a trabalhar com diferentes anos de escolaridade dos quatro domiacutenios

comuns ao 1ordm e 2ordm ciclos optaacutemos pelo domiacutenio dos nuacutemeros e caacutelculo na forma de

resoluccedilatildeo de problemas uma vez que os resultados das aprendizagens dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

389

relativamente agrave disciplina de matemaacutetica apontam este domiacutenio como um dos que

regista mais insucesso

Dentro da tipologia de problemas escolhemos problemas de caacutelculo de dois passos

porque satildeo frequentes nas fichas de trabalho e nos manuais escolares e permitem que

os alunos mobilizem conceitos e destrezas previamente apreendidos

A recolha de dados fez-se atraveacutes de um teste composto de trecircs problemas

1ordm problema ndash enunciado com estruturas ativas Um Mercado ofereceu agrave escola da Maria 240 peccedilas de fruta de duas qualidades A quarta-parte recebeu bananas os restantes receberam laranjas Quantos alunos receberam laranjas

2ordm problema ndash enunciado com estruturas passivas perifraacutesticas de verbais Foram oferecidos 300 livros para comemorar o dia Mundial da Poesia agrave biblioteca de uma escola Nesse dia foi requisitada a terccedila-parte dos livros para os alunos lerem em casa Quantos livros natildeo foram requisitados

3ordm problema ndash enunciado com estruturas passivas de cliacutetico Na semana da Ciecircncia fizeram-se 150 folhetos de divulgaccedilatildeo Entregou-se a quinta-parte dos folhetos aos pais do Jardim de Infacircncia Quantos folhetos se entregaram aos pais dos outros alunos

Cada protocolo entregue aos pares continha um enunciado do problema e questotildees de

resposta aberta para os alunos refletirem sobre o modo como resolveram e

expressarem as dificuldades

Cada formanda selecionou uma turma onde aplicou o teste que foi resolvido a pares

Para o tratamento de dados escolheram 12 alunos No final estiveram envolvidos 48

alunos do 2ordm ano ao 5ordm ano de escolaridade com idades compreendidas entre os 7 e os

14 anos

A opccedilatildeo do trabalho em diacuteades encontra a sua justificaccedilatildeo em Vigotsky defendido por

Fino (2007 p 5) quando afirma que ldquoo desenvolvimento consiste num processo de

aprendizagem do uso das ferramentas intelectuais atraveacutes da interaccedilatildeo social com

outros mais experimentados no uso dessas ferramentasrdquo Aleacutem de estarmos a explorar

a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) tambeacutem quisemos tirar partido do papel

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

390

de mediador no processo de construccedilatildeo do conhecimento da crianccedila desempenhado

aqui pelo professor

Os instrumentos de recolha de dados consubstanciaram-se em protocolos e na

observaccedilatildeo participante onde fizemos registos sobre as interaccedilotildees aluno-aluno e

professor-aluno e a mediaccedilatildeo estabelecida entre todos A observaccedilatildeo fez-se a dois

niacuteveis um mais direcionado para as questotildees da compreensatildeo leitora linguiacutesticas e

outro no domiacutenio dos conceitos matemaacuteticos

Os protocolos recolhidos foram sujeitos a trecircs anaacutelises uma no domiacutenio do raciociacutenio

loacutegico e ou abstrato outra no domiacutenio da compreensatildeo e por fim numa leitura

cruzada entre ambos os domiacutenios

No domiacutenio da matemaacutetica contabilizaram-se as respostas das diacuteades a niacutevel do

raciociacutenio do caacutelculo e do resultado podendo-se concluir que 58 (14 diacuteades)

resolveram o 1ordm primeiro problema (Graacutefico 1 da Figura 1) o que quer dizer que 10

diacuteades falharam o segundo passo Isto aconteceu em todos os anos de escolaridade

sendo os alunos do 3ordm ano os que menos acertaram Quatro pares em cada ano

completaram a tarefa com sucesso

Figura 1 ndash Graacutefico da resoluccedilatildeo do problema 1

O insucesso situou-se no primeiro problema cujo enunciado continha estruturas

ativas No segundo e no terceiro natildeo se registaram dificuldades sendo estes os que

continham construccedilotildees passivas Inicialmente previacuteamos que aqui se situariam os

maiores obstaacuteculos agrave resoluccedilatildeo dos problemas mas tal natildeo se verificou Propomos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

391

como explicaccedilatildeo que a proacutepria dinacircmica da investigaccedilatildeo e as questotildees colocadas na

parte final do protocolo fizeram emergir outras dificuldades que constituiacuteram outras

descobertas para noacutes

Da anaacutelise feita aos vaacuterios registos recolhidos sobre a explicitaccedilatildeo do modo como os

alunos chegaram ao resultado pode-se inferir que esta tarefa facilita o processo de

generalizaccedilatildeo indo ao encontro do que vaacuterios autores dizem nomeadamente Chi et

al (1989) como estrateacutegias a que os alunos recorrem para resolver problemas (Figura

2)

Figura 2 ndash Resoluccedilatildeo do problema 2 ndash Diacuteade 1 do 2ordm ano

Do ponto de vista da matemaacutetica o exemplo acima referido reporta-se a uma correta

resoluccedilatildeo do problema 2 verificando-se que sete diacuteades natildeo completaram o 2ordm passo

Podemos ainda observar no Quadro 1 o nuacutemero de respostas certas e incompletas

sobre cada um dos problemas resolvido pelas diacuteades

Quadro 1 ndash Respostas certas e incompletas apoacutes a resoluccedilatildeo dos problemas

No domiacutenio da Liacutengua Portuguesa a anaacutelise colocou-nos interrogaccedilotildees de saber por

que razatildeo o primeiro problema teve mais resoluccedilotildees incompletas do que os outros

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

392

dois contrariando assim investigaccedilotildees anteriores como se pode observar no

testemunho dos alunos (Figura 3)

Figura 3 ndash Dificuldades identificadas sobre o problema 1 ndash Diacuteade 5 do 3ordm ano

Satildeo os alunos do 2ordm ano e do 5ordm ano que tiveram mais dificuldades em compreender

globalmente o texto pelo que solicitaram ajuda (trecircs pares do 2ordm ano e cinco do 5ordm)

Durante a resoluccedilatildeo algumas diacuteades dos vaacuterios anos colocaram questotildees mais

focalizadas

ldquoo que satildeo qualidades de frutardquo

ldquobananasrdquo e ldquolaranjasrdquo fazem parte da fruta (hiperoacutenimo)

ldquo quantos eram os alunosrdquo

A construccedilatildeo dos enunciados criou dificuldades de compreensatildeo que natildeo estavam

previstas Era necessaacuterio que os alunos fizessem inferecircncias do tipo

a) ldquoEram 240 alunos porque havia 240 peccedilas de fruta e todos

receberam peccedilas de frutardquo

Podendo ser este o raciociacutenio esperado eacute certo que numa das turmas os alunos

comem mais do que uma peccedila de fruta mas tambeacutem eacute certo que nas outras turmas

havendo haacutebito um aluno uma peccedila de fruta algumas diacuteades perguntaram ldquoquantos

alunos eramrdquo

b) ldquoBananasrdquo e ldquolaranjasrdquo satildeo exemplos de fruta e natildeo a ldquofrutardquo No entanto esta

relaccedilatildeo entre parte e o todo natildeo parece clara para os pares e mais complicado ficou

com a palavra ldquoqualidaderdquo que no universo escolar destes alunos poderaacute ser familiar

se estivermos a estudar adjetivos mas o vocaacutebulo tornou-se estranho num problema

matemaacutetico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

393

Fazendo o cruzamento das duas anaacutelises na intenccedilatildeo de articular o referencial

matemaacutetico e o referencial linguiacutestico e sabendo que no raciociacutenio loacutegico eou

abstrato analiticamente dividido em raciociacutenio caacutelculo e resultado o raciociacutenio eacute o

niacutevel que estabelece as correlaccedilotildees mais fortes com o domiacutenio da compreensatildeo

(Lorensatti 2009 p 92) pareceram-nos ldquoadquiridasrdquo as noccedilotildees de metade terccedila parte

e quinta parte Quer recorrendo agrave linguagem simboacutelica quer agrave linguagem icoacutenica os

alunos possuiacuteam os ldquoskillsrdquo para resolver com sucesso o primeiro passo do ponto de

vista da matemaacutetica

Concluiu-se que uma das dificuldades consistiu em ajustar esta linguagem formalizada

agrave linguagem natural do enunciado Isto tornou visiacutevel as zonas de opacidade dos

textos Natildeo se verificou aqui a possibilidade de haver compreensotildees diferentes porque

os erros decorrem da natildeo resoluccedilatildeo do segundo passo Para tal concorreram

dificuldades de ordem sintaacutetica semacircntica e de conhecimento do mundo

Apresentamos o testemunho da interaccedilatildeo professor-diacuteade do quarto ano no final da

resoluccedilatildeo dos problemas

P - Expliquem como fizeram Me ndash Aqui fizemos 240 Ma ndash A dividir por 4 Me ndash Para saber a quarta -parte Depois fizemos o ciacuterculo e cortaacutemos em 4 para representar a quarta-parte Ma ndash A conta deu 60 P ndash Este problema tem dificuldade Me ndash Natildeo P- Leiam a pergunta Me ndash Quantos alunos receberam laranjas P ndash Entatildeohellip Me ndash Diz que eram 240 peccedilas de fruta de duas qualidades P- Que qualidades satildeo essas Me ndash Bananas e laranjas P ndash Essa quarta -parte refere-se a que fruta Me ndash Bananashellip a quarta -parte eacute uma delas agora eacute que eu percebi P- Explica agrave Ma Me ndash Imagina que este ciacuterculo satildeo 240 peccedilas de fruta e uma das partes eacute bananas e depois tiacutenhamos de fazer 60x3 Ma ndash Jaacute percebi P ndash Entenderam este problema de dois passos Me e Ma ndash Sim

Questionados os alunos do quarto ano no sentido de melhorar o texto para outros

colegas resolverem os mesmos problemas (Figura 4) foram unacircnimes quanto a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

394

especificar o seguinte ldquoO Mercado ofereceu agrave escola da Maria 240 peccedilas de fruta de

duas qualidades diferentesrdquo

Figura 4 ndash Sugestatildeo para melhoramento do enunciado ndash Diacuteade 1 do 4ordm ano

E mesmo que alguns alunos acrescentassem que ldquoas laranjas eram do Algarve porque

eram as mais docinhasrdquo (evidenciando conhecimentos do mundo) referiram que era

importante dizer antes da pergunta que ldquotodos os alunos receberam uma peccedila de

frutardquo Em boa medida estas sugestotildees sublinham a importacircncia dos problemas

matemaacuteticos conterem retomas de elementos jaacute enunciados e ao mesmo tempo ser

importante acrescentar informaccedilatildeo Num certo sentido os alunos transpotildeem algumas

caracteriacutesticas de outros geacuteneros textuais nomeadamente da narrativa para o geacutenero

textual matemaacutetico Realccedilamos que as retomas (marcas que caracterizam a coerecircncia

dos textos narrativos especialmente das histoacuterias tradicionais) podem ser utilizadas

nas estrateacutegias de ensino da leitura e da escrita e portanto de compreensatildeo leitora de

acordo com diversos autores (Sousa e Cardoso 2010)

Proposta de mapeamento dos textos matemaacuteticos

Na parte final da pesquisa o grupo concebeu uma proposta de mapeamento dos

textos matemaacuteticos para este tipo de problema baseado nos resultados obtidos Na

intervenccedilatildeo didaacutectica sabemos que eacute relevante que o professor localize as

dificuldades dos alunos e simultaneamente o proacuteprio professor clarifique o seu

quadro de referecircncias sobre o que eacute que o aluno tem de fazer em termos de liacutengua

para passar agrave resoluccedilatildeo do ponto de vista matemaacutetico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

395

Por sua vez o aluno deveraacute desenvolver competecircncias sobre o geacutenero textual

matemaacutetico para criar o referencial linguiacutestico Tal implica o ensino expliacutecito

articulando os processos de leitura com a compreensatildeo matemaacutetica atraveacutes da

mobilizaccedilatildeo de estrateacutegias de automonitorizaccedilatildeo da leitura em vaacuterios momentos

antes de leitura durante a leitura e depois da leitura (Sim-Sim 2007)

Tendo por base estas informaccedilotildees apresentamos um esquema como proposta

didaacutetica para a resoluccedilatildeo de problemas (Quadro 2)

Quadro 2 - Etapas de Resoluccedilatildeo de Problemas

Etapas de Resoluccedilatildeo de Problemas

ANTES DURANTE DEPOIS

Conhecimentos preacutevios

Explicitaccedilatildeo de leacutexico

Mediaccedilatildeo seleccedilatildeo de palavras

organizaccedilatildeo de dados

Verificar o resultado com

o que foi pedido

Compreender o enunciado Planear a resoluccedilatildeo Resolver o problema Verificar a soluccedilatildeo

Poacutelya (1945)

A partir das etapas anteriormente enunciadas apresentamos uma proposta de modelo

de mapeamento de enunciados matemaacuteticos enquanto geacutenero textual direcionados

para problemas de dois passos (Figura 5)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

396

Figura 5 ndash Modelo de Mapeamento de enunciados matemaacuteticos

Embora fundamentadas teoricamente e induzidas pela praacutetica estas propostas natildeo

dispensam a sua testagem Elas fazem parte do processo de formaccedilatildeo em que a

investigaccedilatildeo eacute desenvolvida pelos ldquopraacuteticosrdquo nas suas salas de aula

Conclusatildeo

A leitura de textos matemaacuteticos vai aleacutem da compreensatildeo do leacutexico Para interpretar o

aluno precisa de um referencial linguiacutestico e para decifrar os coacutedigos matemaacuteticos um

referencial de linguagem matemaacutetica (Lorensatti 2009) A

Embora a Liacutengua Portuguesa seja no miacutenimo o veiacuteculo das informaccedilotildees pode estar

nela as dificuldades que os alunos encontram na resoluccedilatildeo de problemas como foi

possiacutevel constatar com os dados recolhidos na nossa investigaccedilatildeo A liacutengua eacute

necessaacuteria para ler e compreender o texto de matemaacutetica Contudo tambeacutem eacute

necessaacuterio ler e escrever em linguagem matemaacutetica compreender os significados dos

siacutembolos dos sinais ou das notaccedilotildees proacuteprias dessa linguagem uma vez que de acordo

com Lorensatti (2009 p 2) Eacute provaacutevel que a compreensatildeo verbal do problema seja

anterior agrave compreensatildeo de natureza matemaacutetica

O resultado da compreensatildeo leva agrave construccedilatildeo de uma representaccedilatildeo mental

decorrente da interaccedilatildeo entre os conhecimentos preacutevios do aluno e as informaccedilotildees

novas contidas no enunciado Seraacute neste momento que o aluno ldquofechardquo o Plano de

Resoluccedilatildeo se estivermos a utilizar os princiacutepios da ldquoarte de resolver problemasrdquo

propostos por Poacutelya (1959) a saber compreender o enunciado planear a resoluccedilatildeo

resolver o problema e verificar a resoluccedilatildeo

Aceitando que um problema eacute um geacutenero textual ensinar a resolver problemas requer

natildeo soacute cuidado na escolha de enunciados bem construiacutedos como tambeacutem uma

abordagem linguiacutestica porque conteacutem uma sintaxe e uma semacircntica que podem

facilitar ou natildeo a sua compreensatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

397

Assim os enunciados bem estruturados satildeo aqueles que apresentam textos com

coesatildeo e coerecircncia ou seja as suas marcas linguiacutesticas ligam os elementos de forma

a apresentarem uma organizaccedilatildeo sequencial e com possibilidade de ser interpretados

(Lorensatti 2009)

Agrave medida que fomos fazendo o percurso iacuteamos encontrando desafios para encontrar a

resposta agrave pergunta ldquopara quecirc investigar em educaccedilatildeordquo A praacutetica profissional

reclama o concurso ora de sequecircncias de accedilotildees para enfrentar as situaccedilotildees de rotina

ora de combinaccedilotildees originais de accedilotildees para enfrentar e resolver problemas novos

(Esteves 2009 p 43) Assim fazer da sala de aula um espaccedilo de investigaccedilatildeo justifica-

se no desejo de transformar e simultaneamente apresenta-se como um campo de

possibilidade e alternativas Estas duas razotildees satildeo referentes do nosso entendimento

sobre o desenvolvimento profissional de professores

Conveacutem referir que todo este processo implica que o professor perceba quais os

problemas que levam o aluno a natildeo ser capaz de concluir com ecircxito a tarefa que lhe foi

proposta Assim o professor assume o papel de investigador das suas praacuteticas sendo

fundamental para promover um ensino expliacutecito e mais eficaz

Acreditamos que eacute dentro da proacutepria escola que se podem encontrar alternativas para

melhorar e aperfeiccediloar as praacuteticas pedagoacutegicas Conforme Loiola (2005p2) ldquoeacute

necessaacuterio desenvolver estrateacutegias de formaccedilatildeo a partir das exigecircncias de praacuteticas

concretas e das interaccedilotildees com os seus pares procurando ao mesmo tempo o apoio

dos profissionais que trabalham com problemaacutetica da formaccedilatildeo de professoresrdquo

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

399

Dez anos de investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das aprendizagens

(2001-2010) uma siacutentese de teses de doutoramento

DOMINGOS FERNANDES

Universidade de Lisboa

dfernandesieulpt

ANDREIA GASPAR Universidade de Lisboa

andreiacgaspargmailcom

Resumo

Este trabalho integra-se numa linha de pesquisa cujo propoacutesito eacute produzir siacutenteses do

que no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das aprendizagens se vai realizando em Portugal A

relevacircncia de sintetizar literatura resulta da escassez de investigaccedilotildees que integrem os

seus resultados para construir conhecimento Assim sintetizaram-se conteuacutedos de

oito teses de doutoramento concluiacutedas entre 2001 e 2010 em universidades

portuguesas cujo objeto de pesquisa era a avaliaccedilatildeo das aprendizagens em contextos

do ensino natildeo superior

Uma anaacutelise de literatura sobre avaliaccedilatildeo das aprendizagens permitiu identificar alguns

dos temas mais discutidos neste domiacutenio do conhecimento (eg avaliaccedilatildeo formativa e

avaliaccedilatildeo sumativa auto e heteroavaliaccedilatildeo feedback participaccedilatildeo dos alunos) e linhas

de orientaccedilatildeo que permitissem produzir uma reflexatildeo sistematizada sobre o conteuacutedo

das teses e natildeo uma mera revisatildeo de literatura Assim o propoacutesito deste trabalho foi

identificar os problemas e questotildees selecionados pelos investigadores as suas opccedilotildees

metodoloacutegicas e as suas conclusotildees para a partir daiacute produzir uma siacutentese da

investigaccedilatildeo realizada no acircmbito das teses analisadas

A investigaccedilatildeo apresentada neste artigo foi financiada por Fundos Nacionais atraveacutes da FCT (Fundaccedilatildeo

para a Ciecircncia e a Tecnologia) no acircmbito do projeto PTDCCPE-CED1143182009

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

400

Para cada tese foram construiacutedas siacutenteses verticais e horizontais a partir da descriccedilatildeo

e anaacutelise de cada um dos temas referidos e uma siacutentese integrada global

Foi possiacutevel elaborar conclusotildees tais como a) a maioria da investigaccedilatildeo realizada

baseou-se no estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de professores b) foram poucas as

investigaccedilotildees em que se observaram praacuteticas no contexto da sala de aula c) a maioria

das teses utilizou essencialmente abordagens qualitativas na recolha e anaacutelise de

dados Os investigadores abordaram alguns dos temas identificados na literatura com

relevo para questotildees relacionadas com a avaliaccedilatildeo formativa Apesar dos progressos

alcanccedilados em relaccedilatildeo a deacutecadas anteriores discutem-se fragilidades que caraterizam

a produccedilatildeo teoacuterica em avaliaccedilatildeo das aprendizagens

Palavras-chave AVALIACcedilAtildeO DAS APRENDIZAGENS SIacuteNTESE DE INVESTIGACcedilAtildeO

AVALIACcedilAtildeO FORMATIVA

Abstract Research presented in this paper is part of a broader project that aims at

synthesising what has been made in Portugal in the learning assessment domain

Literature synthesis is relevant because there are few studies that integrate its results

for knowledge construction Contents of eight doctoral dissertations in the domain of

learning assessment (K-12 contexts) produced in the 2001-2010 period within

Portuguese universities were synthesised

A literature analysis on learning assessment enabled one to identify some of the most

discussed issues in this knowledge domain (eg formative and summative assessment

self and hetero assessment feedback student participation) as well as a set of

guidelines to produce a systematic reflection on the dissertations content rather than

a mere literature review Thus the purpose of this research was to identify problems

and questions selected by the researchers their methodological options and

conclusions in order to produce a synthesis of research developed within the selected

dissertations

For each one of the dissertations a set of both vertical and horizontal syntheses was

produced based upon the description and analysis performed for each one of the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

401

above mentioned issues A global integerated synthesis was also performed The

synthesis enabled conclusions such as a) most of the dissertations dealt with teacher

beliefs and teacher practices b) very few investigations made use of observations in

the classroom context c) most of the research studies were qualitative in nature Also

one could notice that researchers dealt with one or more of the most discussed issues

in the literature particularly those related to formative assessment Although there

are clear improvements concerning precedent decades some weaknesses concerning

theoretical construction on the learning assessment domain were analysed and

discussed

Keywords Learning assessment Research synthesis Formative assessment

Introduccedilatildeo e Enquadramento

O trabalho que se apresenta e discute neste artigo integra-se numa linha de pesquisa

que estaacute em curso haacute alguns anos e cujo principal propoacutesito eacute o de ir produzindo

siacutenteses do que no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens se tem vindo a

realizar em Portugal nas uacuteltimas deacutecadas (eg Fernandes 2006 2007 Martins 2008)

A avaliaccedilatildeo para as aprendizagens designaccedilatildeo essencialmente equivalente a avaliaccedilatildeo

formativa eacute um processo eminentemente pedagoacutegico indissociaacutevel da organizaccedilatildeo e

desenvolvimento do curriacuteculo no contexto das salas de aula e comprovadamente

associado agrave melhoria das aprendizagens de todos os alunos Em particular satildeo os

alunos com mais problemas os que mais beneficiam das praacuteticas sistemaacuteticas de

avaliaccedilatildeo formativa (Black amp Wiliam 1998) Por outro lado na sua mais recente

conceccedilatildeo a avaliaccedilatildeo das aprendizagens ou avaliaccedilatildeo sumativa ainda que tenha

propoacutesitos distintos da avaliaccedilatildeo para as aprendizagens tambeacutem tem propoacutesitos

semelhantes o mais relevante dos quais eacute o de poder contribuir igualmente para que

os alunos aprendam mais e melhor com mais profundidade (eg Harlen 2006 Harlen

amp James 1997) Nestas condiccedilotildees avaliar nas salas de aula o que os alunos sabem e

satildeo capazes de fazer assume uma particular relevacircncia e estaacute muito dependente de

aspetos tais como a) as dinacircmicas de participaccedilatildeo dos alunos (eg auto-avaliaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

402

heteroavaliaccedilatildeo avaliaccedilatildeo entre pares) b) a estrutura e desenvolvimento das aulas c)

as tarefas utilizadas para recolher informaccedilatildeo d) os papeacuteis desempenhados pelos

alunos e pelos professores e) as relaccedilotildees que se estabelecem entre a avaliaccedilatildeo e o

ensino e as aprendizagens Estes aspetos mostram bem a complexidade que o

processo de avaliaccedilatildeo no domiacutenio das aprendizagens envolve e por isso mesmo

prosseguem os esforccedilos de investigaccedilatildeo que contribuam para aprofundar a nossa

compreensatildeo e o nosso conhecimento das perspetivas neste domiacutenio Na verdade uma

anaacutelise da literatura permitiu identificar alguns dos temas que mais tecircm suscitado o

interesse de investigadores de referecircncia na aacuterea (eg Black amp Wiliam 1998 Gardner

2006 Gifford amp Orsquo Connor 1992 Gipps 1994 Kellaghan amp Stufflebeam 2003) e que

foram tidos em conta na presente investigaccedilatildeo (eg relaccedilotildees entre a avaliaccedilatildeo

formativa e a avaliaccedilatildeo sumativa papeacuteis de alunos e professores no processo de

avaliaccedilatildeo procedimentos de recolha de informaccedilatildeo processos de autoavaliaccedilatildeo e de

heteroavaliaccedilatildeo relaccedilotildees entre o feedback a avaliaccedilatildeo e as aprendizagens integraccedilatildeo

dos processos de aprendizagem avaliaccedilatildeo e ensino) Estes temas tiveram relevacircncia

para a presente investigaccedilatildeo porque constituiacuteram referecircncias indispensaacuteveis para a

anaacutelise das teses que integraram o corpus do trabalho

As siacutenteses de literatura satildeo reflexotildees sistematizadas que em geral integram o

trabalho de investigaccedilatildeo empiacuterica realizado por outros (Fernandes 2007) O seu

principal propoacutesito eacute o de compreender a investigaccedilatildeo disponiacutevel sobre um

determinado toacutepico entendido como um todo (Rhoades 2011) Por exemplo Cooper

(2003) apesar de considerar que haveraacute sempre arte nos processos de construccedilatildeo

cientiacutefica porque a partir das suas concepccedilotildees conhecimentos e experiecircncias os

investigadores elaboram e criam acerca do que quando e como estudar desenvolveu

um conjunto de categorias (eg definiccedilatildeo de um Foco clarificaccedilatildeo de um Objetivo

adoccedilatildeo de uma Perspetiva seleccedilatildeo da Audiecircncia) para sistematizar e caraterizar

siacutenteses de literatura Estas categorias contribuiacuteram para orientar e organizar a siacutentese

realizada no acircmbito desta investigaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

403

Problema e Questotildees da Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo realizada no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens

particularmente a que se baseia em dados empiacutericos recolhidos em contextos reais eacute

relativamente escassa (eg Fernandes 2005 2007 Neves Jordatildeo amp Santos 2004)

A investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens que se desenvolve no

acircmbito de programas de doutoramento reflete com boa aproximaccedilatildeo agrave realidade o

que naquele domiacutenio se tem realizado de mais significativo em Portugal Neste

sentido pareceu ser oportuno sintetizar o trabalho de investigaccedilatildeo constante em teses

de doutoramento realizadas no acircmbito da avaliaccedilatildeo das e para as aprendizagens

Mais concretamente esta investigaccedilatildeo foi concebida e desenvolvida tendo em conta

as seguintes questotildees orientadoras

1 Que problemas questotildees de investigaccedilatildeo eou objetivos foram

selecionados pelos investigadores das teses de doutoramento realizadas

em Portugal no domiacutenio da avaliaccedilatildeo das aprendizagens

2 Como se poderatildeo caraterizar as principais opccedilotildees metodoloacutegicas feitas

pelos investigadores

3 Quais foram as conclusotildees mais relevantes das investigaccedilotildees realizadas

4 Como se poderaacute definir o estado da arte da investigaccedilatildeo em avaliaccedilatildeo

das e para as aprendizagens no contexto das teses analisadas

Meacutetodo

Para efeito da seleccedilatildeo das teses a integrar na investigaccedilatildeo foram definidos os

seguintes criteacuterios a) a tese tinha sido realizada no acircmbito de um programa de

doutoramento de uma universidade com assento no Conselho de Reitores das

Universidades Portuguesas (CRUP) b) o orientador ou orientadora ou pelo menos um

dos orientadores no caso de co-orientaccedilatildeo exerciam a sua atividade docente e de

investigaccedilatildeo numa universidade com assento no CRUP c) o principal objeto de

investigaccedilatildeo da tese era a avaliaccedilatildeo das ou para as aprendizagens no contexto do

ensino natildeo superior e d) a tese tinha sido concluiacuteda e formalmente defendida ateacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

404

2011 (inclusive) Uma vez que existiam fundadas razotildees para crer que o nuacutemero de

teses concluiacutedas seria reduzido decidiu-se inicialmente natildeo definir o ano a partir do

qual se iniciaria a seleccedilatildeo Tendo em conta os criteacuterios referidos foram identificadas

11 teses de doutoramento concluiacutedas (defendidas) entre 1992 e 2011 (inclusive)

Poreacutem tendo em conta que nos anos 90 foram apenas identificadas duas teses

(Cardoso 1993 Lemos 1992) e que em 2000 e 2011 natildeo foram encontrados quaisquer

trabalhos foi decidido selecionar as nove teses concluiacutedas entre 2001 e 2010

inclusive conforme se pode verificar na Tabela 1 No entanto apesar de todos os

esforccedilos desenvolvidos pelos investigadores junto de diversas entidades e pessoas

natildeo foi possiacutevel obter a tese de Alves (2001) que consequentemente natildeo pocircde ser

incluiacuteda na siacutentese aqui apresentada

Tabela 1

Distribuiccedilatildeo das teses selecionadas para anaacutelise de acordo com a data constante em

cada uma o(a) autor(a) o tiacutetulo e a instituiccedilatildeo onde se realizou

Data Autor Tiacutetulo Instituiccedilatildeo

2001 Maria Palmira

Carlos Alves

O papel do pensamento do professor nas

suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo

Universidade

do Minho

2001 Carlos Manuel

Folgado Barreira

Avaliaccedilatildeo das aprendizagens em contexto

escolar estudo das atitudes dos docentes

face ao modelo de avaliaccedilatildeo do ensino

baacutesico

Universidade

de Coimbra

2002 Jorge Manuel

Bento Pinto

A avaliaccedilatildeo Formal no 1ordm ciclo do ensino

baacutesico uma construccedilatildeo social

Universidade

do Minho

2003

Carlos Alberto

Alves Soares

Ferreira

O pensamento e as praacuteticas de avaliaccedilatildeo

formativa no 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Universidade

de Traacutes-os-

Montes e

Alto Douro

2003 Margarida da Silva

Damiatildeo Serpa Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar

perspectivas de professores do ensino

Universidade

dos Accedilores

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

405

baacutesico

2004 Maria Cristina

Cristo Parente

A construccedilatildeo de praacuteticas alternativas de

avaliaccedilatildeo na pedagogia da infacircncia sete

jornadas de aprendizagem

Universidade

do Minho

2008 Antoacutenio Joseacute

Nunes de Almeida

Avaliaccedilatildeo em matemaacutetica escolar

implementando portfoacutelios de

aprendizagens dos alunos contributos de

um projeto de investigaccedilatildeo colaborativa

para o desenvolvimento profissional de

professores

Universidade

do Minho

2010 Aldina Silveira

Lobo

A avaliaccedilatildeo formativa avaliaccedilatildeo sumativa

e exames na praacutetica de trecircs professoras

de portuguecircs de 12ordm ano

Universidade

de Lisboa

2010 Dalva Maria

Queiroz

A avaliaccedilatildeo como acompanhamento

sisteacutemico da aprendizagem uma

experiecircncia de investigaccedilatildeo colaborativa

no ensino fundamental

Universidade

de Coimbra

A anaacutelise de cada tese teve em conta trecircs categorias a) o problema b) as questotildees de

investigaccedilatildeo eou os objetivos e c) a metodologia e as conclusotildees e resultou num

processo de elaboraccedilatildeo de descriccedilotildees e anaacutelises de cada uma dessas categorias nas

teses em estudo Ora estas descriccedilotildees e anaacutelises deram origem a siacutenteses analiacuteticas

que permitiram uma leitura integrada das referidas categorias ao longo das oito teses

No fundo este trabalho traduz uma interpretaccedilatildeo feita a partir dessas siacutenteses

analiacuteticas

Apresentaccedilatildeo e Discussatildeo dos Principais Resultados

A maioria dos investigadores optou por estudar relaccedilotildees entre conceccedilotildees de

professores e praacuteticas de avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens tendo por base os

discursos dos professores (Almeida 2008 Barreira 2001 Ferreira 2003 Pinto 2002

Serpa 2003) Este resultado eacute consistente com o que se verificou em investigaccedilotildees

anteriores (eg Martins 2008 Neves Jordatildeo e Santos 2004) Ou seja verificou-se

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

406

que as praacuteticas foram sobretudo estudadas atraveacutes das narrativas que os professores

produziam sobre essas mesmas praacuteticas

Siacutentese dos Problemas e Questotildees

Apesar de todos os investigadores terem de algum modo estudado relaccedilotildees entre

conceccedilotildees e praacuteticas pedagoacutegicas de professores os problemas as questotildees e os

objetivos formulados apresentaram algumas diferenccedilas originando abordagens

singulares daquela temaacutetica

Serpa (2003) e Queiroz (2010) partilharam o propoacutesito de compreender como

melhorar as aprendizagens dos alunos atraveacutes de abordagens de avaliaccedilatildeo para as

aprendizagens Assim baseadas nos discursos dos professores participantes estas

investigadoras estudaram a consistecircncia entre as conceccedilotildees declaradas nesses

discursos e as praacuteticas quotidianas nas salas de aula Apesar de semelhantes no seu

propoacutesito geral as duas investigadoras tinham interesses e ecircnfases de investigaccedilatildeo

distintos Para Serpa (2003) os objetivos e as questotildees definidos tinham mais a ver

com a compreensatildeo dos professores sobre a avaliaccedilatildeo das aprendizagens com

processos de classificaccedilatildeo e com as relaccedilotildees entre as caracteriacutesticas pessoais e

profissionais dos professores e as suas conceccedilotildees No caso de Queiroz (2010) as

questotildees orientadoras sugerem uma investigaccedilatildeo mais relacionada com a regulaccedilatildeo

dos processos de ensino-aprendizagem a partir de uma visatildeo sisteacutemica e integrada da

avaliaccedilatildeo e da aprendizagem

Foram vaacuterios os autores que deram especial ecircnfase a questotildees diretamente

relacionadas com a avaliaccedilatildeo formativa avaliaccedilatildeo para as aprendizagens ou com

alguma forma de avaliaccedilatildeo alternativa a visotildees mais classificatoacuterias do processo

avaliativo (eg Ferreira 2003 Parente 2004 Almeida 2008 Lobo 2010) Por

exemplo Lobo (2010) descreveu com detalhe praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo e

relaccedilotildees entre a avaliaccedilatildeo para as aprendizagens e a avaliaccedilatildeo externa das

aprendizagens nas praacuteticas de trecircs professoras do ensino secundaacuterio tendo como

contexto geral os exames nacionais Aleacutem disso estudou igualmente de que modo os

exames nacionais influenciavam as praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo das referidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

407

professoras Ferreira (2003) investigou conceccedilotildees e praacuteticas de avaliaccedilatildeo formativa de

quatro grupos de professores do 1ordm ciclo (estagiaacuterios orientadores professores

iniciados e professores experientes) tendo em conta o processo de construccedilatildeo do

conhecimento praacutetico Para este autor a questatildeo central era compreender em que

medida o conhecimento praacutetico e a experiecircncia dos professores se relacionavam com

as suas conceccedilotildees e com as suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo formativa

Parente (2004) e Almeida (2008) investigaram no domiacutenio do que designaram como

ldquoavaliaccedilatildeo alternativardquo mas cujas caracteriacutesticas se identificam com a avaliaccedilatildeo

formativa ou avaliaccedilatildeo para as aprendizagens Em ambos os casos foram utilizados

portefoacutelios (Parente 2004) investigou praacuteticas e conceccedilotildees de avaliaccedilatildeo de um grupo

de educadoras envolvidas num processo participado de formaccedilatildeo A investigadora

analisou o desenvolvimento e a utilizaccedilatildeo de portefoacutelios de avaliaccedilatildeo por parte das

educadoras participantes e procurou compreender o processo de formaccedilatildeo incluindo

as suas dificuldades e obstaacuteculos Almeida (2008) tambeacutem investigou conceccedilotildees e

praacuteticas avaliativas de professores do 3ordm ciclo do ensino baacutesico e do ensino

secundaacuterio procurando identificar as suas principais dificuldades e as respetivas

consequecircncias no quotidiano das salas de aula

As investigaccedilotildees de Barreira (2001) e Pinto (2002) tiveram em conta os contextos

formais em que a avaliaccedilatildeo se desenvolve assim como os normativos legais aplicaacuteveis

naquele domiacutenio Assim Barreira (2001) quis compreender as atitudes dos professores

dos 2ordm e 3ordm ciclos do ensino baacutesico relativamente ao Despacho Normativo 98-A92

Este autor procurou conhecer as dificuldades e as necessidades de formaccedilatildeo dos

professores em temas relacionados com o chamado novo modelo de avaliaccedilatildeo assim

como a consecuccedilatildeo praacutetica das suas recomendaccedilotildees Pinto (2002) desenvolveu o

essencial da sua investigaccedilatildeo no contexto formal das reuniotildees do conselho escolar

numa escola do 1ordm ciclo do ensino baacutesico procurando compreender o funcionamento

da avaliaccedilatildeo formal atraveacutes das respetivas praacuteticas dos professores e da instituiccedilatildeo

Assim Pinto estudou questotildees tais como a formulaccedilatildeo de juiacutezos avaliativos as reaccedilotildees

do conselho escolar aos enunciados avaliativos as consequecircncias das respetivas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

408

decisotildees para os alunos os significados pedagoacutegicos e institucionais das praacuteticas de

avaliaccedilatildeo formal e a natureza da informaccedilatildeo que era divulgada aos pais e

encarregados de educaccedilatildeo apoacutes os momentos formais de avaliaccedilatildeo

Siacutentese das Metodologias

Tendo em conta uma das muitas caraterizaccedilotildees da investigaccedilatildeo em educaccedilatildeo (eg

Cohen Manion amp Morrison 2011) pode dizer-se que na maioria das teses a

abordagem qualitativa agrave recolha e anaacutelise dos dados prevaleceu largamente em

relaccedilatildeo agrave abordagem quantitativa Assim Almeida (2008) Lobo (2010) Parente (2004)

Pinto (2002) e Queiroz (2010) utilizaram abordagens estritamente qualitativas Barreira

(2001) utilizou uma abordagem essencialmente quantitativa e Ferreira (2003) e Serpa

(2003) abordagens mistas As principais estrateacutegias de investigaccedilatildeo selecionadas pelos

autores variaram entre o estudo de caso qualitativo (Lobo 2010 Pinto 2002 Parente

2004 Queiroz 2010) o inqueacuterito por questionaacuterio (Barreira 2001) ou por entrevista

(Serpa 2003) a etnografia referida por Ferreira (2003) como a principal estrateacutegia de

investigaccedilatildeo utilizada no seu trabalho e a investigaccedilatildeo-accedilatildeo mencionada por Almeida

(2008)

Apesar de alguns investigadores (Ferreira 2001 Parente 2004 Serpa 2003) fazerem

referecircncia agrave utilizaccedilatildeo da observaccedilatildeo verificou-se que esta teacutecnica raramente foi

utilizada pelos mesmos sobretudo em contexto de sala de aula A observaccedilatildeo

ocasional referida por Serpa (2003) serviu de acordo com a autora o propoacutesito de

clarificar algum aspeto que atraveacutes das entrevistas natildeo tenha ficado esclarecido No

entanto outros autores utilizaram observaccedilotildees sistemaacuteticas e frequentes como

principal processo de recolha de informaccedilatildeo (Almeida 2008 Lobo 2010 Pinto 2002

Queiroz 2010)

Em siacutentese o inqueacuterito por questionaacuterio ou entrevista foi o meio privilegiado de

recolha de informaccedilatildeo para responder a questotildees relacionadas com praacuteticas de

avaliaccedilatildeo de professores Apesar de haver praacuteticas de avaliaccedilatildeo que ocorrem fora das

salas de aula a anaacutelise das teses mostrou que a utilizaccedilatildeo do termo praacuteticas por parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

409

dos autores estava associada ao que normalmente se designa por praacuteticas de sala de

aula ou praacuteticas na sala de aula

Siacutentese das Principais Conclusotildees

A anaacutelise das conclusotildees das teses permitiu constatar que a avaliaccedilatildeo predominante

na grande maioria dos contextos em que decorreram as investigaccedilotildees analisadas era

de natureza sumativa e essencialmente centrada nos resultados exibidos pelos alunos

(eg Almeida 2008 Barreira 2001 Ferreira 2003 Queiroz 2010 Pinto 2002 Serpa

2003) Nos seus discursos muitas vezes progressivos grande parte dos professores

participantes reconheceu as vantagens pedagoacutegicas da avaliaccedilatildeo para as

aprendizagens mas simultaneamente assumiu as dificuldades em utilizaacute-la de forma

sistemaacutetica e deliberada integrando-a nos processos de ensino e de aprendizagem A

argumentaccedilatildeo utilizada baseou-se sobretudo na falta de formaccedilatildeo e na falta de tempo

De modo geral as investigaccedilotildees analisadas mostraram que os alunos natildeo participaram

de forma regular e sistemaacutetica nas atividades das aulas nomeadamente no que se

refere agrave produccedilatildeo de reflexotildees sobre as suas realizaccedilotildees e agrave organizaccedilatildeo e

desenvolvimento da avaliaccedilatildeo e das suas aprendizagens Na maioria dos casos os

professores participantes manifestaram ter dificuldades em delinearem estrateacutegias

que suscitassem a participaccedilatildeo ativa dos alunos nos processos de avaliaccedilatildeo (eg

Barreira 2001 Lobo 2010 Queiroz 2010) A utilizaccedilatildeo de portefoacutelios nos casos de

Almeida (2008) e Parente (2004) contribuiu para que se gerassem dinacircmicas de

participaccedilatildeo por parte dos alunos na avaliaccedilatildeo das suas aprendizagens e na discussatildeo

do seu trabalho com os colegas Tambeacutem uma das participantes na investigaccedilatildeo de

Lobo (2010) organizou o processo de ensino de forma a que os seus alunos

participassem ativamente em todas as atividades de uma forma natural e autoacutenoma A

natureza das tarefas a relaccedilatildeo pedagoacutegica a dinacircmica de trabalho e a estrutura das

aulas satildeo alguns dos aspetos que neste caso facilitaram a participaccedilatildeo dos alunos

No que se refere ao envolvimento dos alunos em processos de auto e de

heteroavaliaccedilatildeo apenas na investigaccedilatildeo de Lobo (2010) uma das docentes criou

condiccedilotildees que permitiam que os alunos pudessem refletir de forma sistemaacutetica acerca

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

410

do seu proacuteprio trabalho e do dos seus colegas Ainda assim a maioria dos

investigadores referiu as potencialidades de envolver regularmente os seus alunos

naqueles processos mas revelou dificuldades em implementaacute-los nas suas praacuteticas

docentes (eg Barreira 2001 Ferreira 2003 Queiroz 2010) A recolha de informaccedilatildeo

atraveacutes de uma diversidade de processos (eg testes composiccedilotildees investigaccedilotildees

relatoacuterios apresentaccedilotildees dramatizaccedilotildees experiecircncias) eacute fundamental pois soacute assim

seraacute possiacutevel determinar com algum rigor e de forma abrangente o que efetivamente

os alunos sabem e satildeo capazes de fazer (eg Black amp Wiliam 2006 Fernandes 2005

Gipps 1994) Ainda que em geral os professores participantes reconhecessem isso

mesmo a verdade eacute que nas suas praacuteticas de avaliaccedilatildeo utilizavam essencialmente

testes ou provas de natureza semelhante (eg Almeida 2008 Ferreira 2003 Lobo

2010 Queiroz 2010 Pinto 2002 Serpa 2008) Por outro lado soacute muito pontualmente

partilharam responsabilidades na avaliaccedilatildeo dos seus alunos apesar de reconhecerem

a importacircncia dessa partilha e da diversificaccedilatildeo de intervenientes no processo de

avaliaccedilatildeo (eg Barreira 2001 Ferreira 2003 Serpa 2003) Pinto (2002) e Ferreira

(2003) referiram-se respetivamente agrave avaliaccedilatildeo como domiacutenio da accedilatildeo individual dos

professores e ao papel passivo sem deveres e responsabilidades dos pais e

encarregados de educaccedilatildeo nesse processo Queiroz (2010) concluiu que a falta de

clareza dos criteacuterios utilizados pelos professores parecia constituir um fator de

afastamento dos pais e encarregados de educaccedilatildeo e dos proacuteprios alunos do processo

de avaliaccedilatildeo

Conclusotildees

A grande maioria da investigaccedilatildeo realizada em Portugal no periacuteodo estudado (2001-

2010) no acircmbito de programas de doutoramento centrou-se fundamentalmente no

estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de docentes do ensino baacutesico no domiacutenio da avaliaccedilatildeo

daspara as aprendizagens Com exceccedilatildeo de uma tese que utilizou essencialmente

dados de natureza quantitativa obtidos atraveacutes de um inqueacuterito por questionaacuterio as

restantes investigaccedilotildees foram qualitativas por natureza utilizando estrateacutegias tais

como o estudo de caso (a maioria) o inqueacuterito por entrevista a etnografia e a

investigaccedilatildeo-accedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

411

A anaacutelise e a siacutentese das conclusotildees elaboradas nas oito teses selecionadas permite

referir antes do mais que as praacuteticas de avaliaccedilatildeo da grande maioria dos docentes

participantes natildeo satildeo consistentes com as recomendaccedilotildees constantes na literatura

nacional e internacional (eg Black amp Wiliam 1998 Fernandes 2005 2006 2009

Gardner 2006) nem com a legislaccedilatildeo aplicaacutevel Isto eacute a avaliaccedilatildeo eacute essencialmente

sumativa orientada para a produccedilatildeo de classificaccedilotildees com o protagonismo exclusivo

do professor sem a participaccedilatildeo e o envolvimento dos alunos ou outros intervenientes

e por isso sem recurso aos processos de auto e de heteroavaliaccedilatildeo Aleacutem disso as

investigaccedilotildees mostraram igualmente que em geral os docentes variam pouco os

processos de recolha de informaccedilatildeo baseando-se sobretudo nos testes as dinacircmicas

de trabalho e de avaliaccedilatildeo e a estrutura das aulas (em que tendem a ser os uacutenicos

protagonistas expondo a ldquomateacuteriardquo enquanto os alunos se limitam a ldquoouvirrdquo) A

avaliaccedilatildeo na maioria dos casos natildeo estaacute integrada ou articulada com os processos de

ensino e de aprendizagem No entanto nos seus discursos os professores

participantes reconheceram quase sempre as vantagens pedagoacutegicas da avaliaccedilatildeo para

as aprendizagens ou da avaliaccedilatildeo formativa mas referiam que natildeo tinham formaccedilatildeo

eou tempo para a pocircr realmente em praacutetica Por fim constatou-se que alguns

docentes organizaram a avaliaccedilatildeo com o principal propoacutesito de apoiar os alunos a

aprender melhor envolvendo-os nas atividades das aulas e promovendo a sua reflexatildeo

e autonomia

O nuacutemero de teses concluiacutedas no periacuteodo considerado (2001-2010) eacute modesto e pode

indiciar o estado ainda embrionaacuterio da investigaccedilatildeo portuguesa no domiacutenio da

avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens Poreacutem tendo em conta que na deacutecada anterior

se produziram apenas duas parece haver um interesse crescente por aquele domiacutenio

de investigaccedilatildeo Os problemas e as questotildees selecionados pelos investigadores na sua

maioria enquadram-se nos programas de investigaccedilatildeo em curso um pouco por todo o

mundo No entanto este significativo corpo de investigaccedilatildeo evidencia fragilidades

(eg ausecircncia de investigaccedilotildees relacionadas com a avaliaccedilatildeo externa das

aprendizagens ou que estudem as suas relaccedilotildees com a avaliaccedilatildeo interna a significativa

escassez de estudos baseados na observaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

412

professores a exclusiva dependecircncia do ldquomodelo da avaliaccedilatildeo formativardquo no estudo

das conceccedilotildees e praacuteticas de avaliaccedilatildeo dos professores) que podem estar relacionadas

com situaccedilotildees tais como a dimensatildeo da comunidade de investigaccedilatildeo em educaccedilatildeo em

geral e no domiacutenio da avaliaccedilatildeo pedagoacutegica em particular a ldquodiluiccedilatildeordquo da avaliaccedilatildeo

noutros domiacutenios do conhecimento em educaccedilatildeo e a pouca tradiccedilatildeo na realizaccedilatildeo de

estudos empiacutericos com estadias prolongadas no terreno

Nestas condiccedilotildees o que se poderaacute dizer acerca do ldquoestado da arterdquo da investigaccedilatildeo no

domiacutenio da avaliaccedilatildeo daspara as aprendizagens tal como ele pode ser percecionado

atraveacutes das teses analisadas nesta pesquisa eacute o progresso assinalaacutevel em relaccedilatildeo agrave

deacutecada anterior a densidade e sofisticaccedilatildeo teoacuterica da investigaccedilatildeo uma certa

fragilidade no domiacutenio metodoloacutegico traduzida na falta de recolha direta de dados nos

contextos das praacuteticas e um espetro ainda muito estreito de questotildees e de problemas

investigados essencialmente centrado no estudo de conceccedilotildees e praacuteticas de

professores

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

415

O desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo mediado pela

apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

INEcircS BRUNO

Agrupamento de escolas D Carlos I

inesbrunogmailcom

LEONOR SANTOS

Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa

mlsantosieulpt

Resumo Este artigo estuda o processo de desenvolvimento da competecircncia de

autorregulaccedilatildeo dos alunos mediado pela apropriaccedilatildeo de criteacuterios de avaliaccedilatildeo de

relatoacuterios de tarefas investigativas de Fiacutesica e Quiacutemica Apresentamos um estudo de

caso interpretativo que envolve um aluno do ensino secundaacuterio que desenvolve quatro

relatoacuterios ao longo dos 10ordm e 11ordm anos de escolaridade Os resultados sugerem que o

diaacutelogo em torno das produccedilotildees do aluno eacute fundamental para a apropriaccedilatildeo dos

criteacuterios de avaliaccedilatildeo Ocorreu evoluccedilatildeo na competecircncia de autorregulaccedilatildeo ainda que

este seja um processo em desenvolvimento que necessita de uma praacutetica sistemaacutetica

e prolongada de modo a que as reflexotildees sejam mais profundas e fundamentadas e as

reformulaccedilotildees mais frequentes

Palavras-chave Criteacuterios de avaliaccedilatildeo Autorregulaccedilatildeo Ensino secundaacuterio

Abstract This article studies the process of development of students self-regulation

competence mediated by the appropriation of assessment criteria of Physics and

Chemistry inquiry reports We present an interpretative case study involving a high

school student who developed four reports over the 10th and 11th grades The results

suggest that the dialogue about the studentrsquos assignments is essential for the

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

416

appropriation of assessment criteria There was evolution of the self-regulation

competence but this revealed to be a continuous process that requires systematic

and long-lasting practice in order to promote deeper reflections and more frequent

improvements

Keywords Assessment criteria Self-regulation Secondary school

Introduccedilatildeo

Nos dias de hoje a sociedade requer indiviacuteduos com capacidade de resoluccedilatildeo de

problemas pensamento criacutetico e principalmente capacidade para adquirir novos

conhecimentos e competecircncias ao longo da vida De acordo com as orientaccedilotildees do

programa de Fiacutesica e Quiacutemica ldquoeacute necessaacuterio ensinar melhor a pensar e sobretudo

ensinar melhor a aprenderrdquo (Martins amp Caldeira 2001 p 7) Eacute fundamental que o

aluno tenha um papel ativo e construtivo na sua aprendizagem e que ele proacuteprio seja

um elemento chave na deteccedilatildeo e superaccedilatildeo das suas dificuldades (Nunziati 1990

Zimmerman 2002) Segundo Perrenoud (1999) ldquotoda a regulaccedilatildeo em uacuteltima instacircncia

soacute pode ser uma auto-regulaccedilatildeo pelo menos se aderirmos agraves teses baacutesicas do

construtivismo nenhuma intervenccedilatildeo externa age se natildeo for percebida interpretada e

assimilada pelo sujeitordquo (p 96) Eacute muito improvaacutevel que o aluno progrida se natildeo

refletir sobre si proacuteprio sobre o que fez e como fez sobre os sucessos e o que estaacute por

alcanccedilar (Dann 2002) Neste sentido uma das competecircncias essenciais para que se

desenvolva uma aprendizagem autorregulada consiste na autoavaliaccedilatildeo A

autoavaliaccedilatildeo ajuda os alunos a assumir o controle da sua aprendizagem na medida

em que torna expliacutecitos (logo acessiacuteveis ao proacuteprio controlo) processos que estariam

inacessiacuteveis por serem inconscientes e automaacuteticos (Taras 2001) Como tal a

avaliaccedilatildeo deve evoluir para uma situaccedilatildeo em que o aluno tenha desenvolvido a sua

autorregulaccedilatildeo de tal modo que natildeo seja necessaacuteria a intervenccedilatildeo do professor

(Perrenoud 1999 Santos 2008)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

417

A autorregulaccedilatildeo envolve a recolha de dados acerca do desempenho do proacuteprio a

interpretaccedilatildeo desses dados (a realizaccedilatildeo de julgamentos acerca da qualidade das suas

produccedilotildeesaprendizagens com a identificaccedilatildeo do que jaacute foi conseguido e do que falta

alcanccedilar bem como as causas dos sucessos e dos fracassos) e por uacuteltimo a utilizaccedilatildeo

desses resultados para (re)orientar o processo de aprendizagem (Zimmerman 2002)

Por conseguinte conhecer os criteacuterios de avaliaccedilatildeo eacute fundamental (Crisp 2012)

Poreacutem dado que cada indiviacuteduo estabelece os seus proacuteprios padrotildees criteacuterios ou

autorrepresentaccedilotildees qualquer tentativa de trabalhar os criteacuterios de avaliaccedilatildeo seraacute

influenciada pelos mesmos logo eacute indispensaacutevel recorrer-se a estrateacutegias que

promovam a sua apropriaccedilatildeo (Santos 2008) A criaccedilatildeo de um entendimento comum

acerca do significado dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo eacute de tal forma importante que Pacheco

(2002) considera que uma deacutebil construccedilatildeo do referente ou a sua falta de clarificaccedilatildeo

justificam em grande parte o insucesso dos alunos

Pelas razotildees apresentadas este estudo63 focou-se na apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Pretendeu compreender o modo como alunos do ensino secundaacuterio

compreendem valorizam e aplicam os criteacuterios de avaliaccedilatildeo de relatoacuterios de tarefas

investigativas bem como o modo como essa apropriaccedilatildeo contribui para o

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo Para tal enunciaacutemos as

seguintes questotildees de investigaccedilatildeo

1 De que modo alunos do ensino secundaacuterio apropriam os criteacuterios de

avaliaccedilatildeo de relatoacuterios de tarefas investigativas de Fiacutesica e Quiacutemica

2 Qual o contributo da apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo no

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo

Tal como vaacuterios estudos sustentam (por exemplo Kirby amp Downs 2007) dar a

conhecer os criteacuterios de avaliaccedilatildeo geralmente eacute insuficiente para que ocorra a sua

apropriaccedilatildeo isto eacute a sua explicitaccedilatildeo pode natildeo ser suficiente para ajudar os alunos a

julgar a qualidade ou guiar o seu trabalho porque haacute sempre muitas variaacuteveis em jogo

(Sadler 1989) O significado dos criteacuterios tem de ser interpretado para que os alunos

63

Financiado pela Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD360832007)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

418

compreendam efetivamente o que eacute pretendido (Vial 2012) Alguns estudos empiacutericos

apontam recursos que poderatildeo promover este processo como o feedback fornecido

pelo professor para ajudar o aluno a identificar e compreender os pontos fortes e

fracos de exemplos ou do proacuteprio desempenho em relaccedilatildeo aos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

(Andrade Du amp Mycek 2010 Semana 2008 Taras 2001) Como tal e de acordo com

o que eacute sugerido na literatura optaacutemos por recorrer agrave accedilatildeo combinada de vaacuterias

estrateacutegias e recursos para a promoccedilatildeo da apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

Metodologia

Com este estudo pretendemos compreender atraveacutes da descriccedilatildeo de acontecimentos

os processos associados agrave elaboraccedilatildeo de relatoacuterios norteada pelos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Por isso e tendo em conta que as questotildees que o orientaram incidem na

atribuiccedilatildeo de significados na compreensatildeo e na interpretaccedilatildeo optaacutemos por seguir um

paradigma metodoloacutegico interpretativo (Lichtman 2006 Silverman 2004) Os alunos

participantes fazem parte de uma turma do ensino secundaacuterio tendo sido

selecionados dois que foram objeto de anaacutelise em dois estudos de caso Segundo

Merriam (1988) o estudo de caso em particular o estudo de caso qualitativo ldquoeacute o

design ideal para compreender e interpretar observaccedilotildees de fenoacutemenos educacionaisrdquo

(p 2)

A seleccedilatildeo dos casos teve em conta os seguintes criteacuterios disponibilidade para

participar no estudo facilidade de comunicaccedilatildeo dificuldade em refletir sobre o

trabalho desenvolvido e diferirem quanto ao geacutenero ao niacutevel de desempenho (entre o

meacutedio e o bom) e ao envolvimento na utilizaccedilatildeo do feedback escrito No entanto

nesta comunicaccedilatildeo seratildeo apenas apresentados e discutidos os resultados

relativamente a um deles o Gustavo64

O Gustavo eacute um aluno com um desempenho meacutedio na disciplina de Fiacutesica e Quiacutemica A

sua postura em sala de aula variou Umas vezes estava atento e intervinha colocando

questotildees e participando em discussotildees no grupo-turma Noutros momentos

64

Foram atribuiacutedos nomes fictiacutecios aos participantes para garantir a confidencialidade e anonimato

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

419

conversava com os colegas sobre assuntos alheios agrave aula Demonstrava ter confianccedila

nas suas capacidades e revelava ter sentido criacutetico A experiecircncia que teve no ensino

baacutesico tanto ao niacutevel do trabalho experimental e investigativo e dos respetivos

relatoacuterios como ao niacutevel da autoavaliaccedilatildeo foi escassa Ainda assim foi capaz de utilizar

formativamente grande parte do feedback escrito fornecido na primeira versatildeo do

relatoacuterio da primeira tarefa

O estudo acompanhou os alunos ao longo de dois anos tendo a turma no primeiro

ano letivo a primeira autora como professora e no segundo ano uma outra

professora que trabalhou de perto com a primeira no que respeita agrave intervenccedilatildeo

pedagoacutegica desenvolvida no acircmbito do estudo No que diz respeito ao contexto

pedagoacutegico-didaacutetico foram implementadas quatro tarefas investigativas (T) ao longo

dos 10ordm e 11ordm anos de escolaridade entre novembro de 2008 e janeiro de 2010 Estas

tarefas envolveram os alunos na realizaccedilatildeo de observaccedilotildees na anaacutelise de fontes de

informaccedilatildeo na planificaccedilatildeo de investigaccedilotildees na utilizaccedilatildeo de instrumentos para

recolher e organizar dados na interpretaccedilatildeo de resultados na proposta de respostas

explicaccedilotildees e previsotildees e na comunicaccedilatildeo dos resultados (NRC 1996) Atendendo a

que as questotildees a investigar foram apresentadas pela professora estas podem

classificar-se em tarefas investigativas guiadas (Bell Smetana amp Binns 2005)

Relativamente a cada tarefa os alunos desenvolveram um relatoacuterio escrito incluindo

cinco secccedilotildees introduccedilatildeo planificaccedilatildeo procedimento resultados e conclusotildees O

guiatildeo para a elaboraccedilatildeo dos mesmos foi discutido na aula que antecedeu a realizaccedilatildeo

da primeira tarefa tendo sido posteriormente elaborada uma ruacutebrica (grelha que

operacionaliza os criteacuterios de avaliaccedilatildeo atraveacutes de descritores de niacuteveis de

desempenho) que foi sofrendo reajustes ao longo do estudo Ao longo do

desenvolvimento das tarefas e dos respetivos relatoacuterios foi fornecido feedback oral e

trecircs dos quatro relatoacuterios (R) envolveram a realizaccedilatildeo de uma segunda versatildeo (V)

norteada pelo feedback escrito Aleacutem disso foi solicitada a realizaccedilatildeo de uma reflexatildeo

escrita que consistiu na atribuiccedilatildeo de um niacutevel a cada secccedilatildeo do relatoacuterio

(considerando os niacuteveis da ruacutebrica) de forma justificada (salientando os pontos fortes e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

420

fracos) Aquando da discussatildeo dos relatoacuterios da segunda tarefa foi entregue e

discutido um relatoacuterio-exemplo que consistiu na compilaccedilatildeo das melhores partes das

produccedilotildees dos alunos

A recolha de dados incluiu a observaccedilatildeo a entrevista e a recolha documental65 A

primeira autora fez observaccedilatildeo participante (Cohen Manion amp Morrison 2003) com

registo aacuteudio nas aulas (A) em que os alunos realizaram as tarefas os respetivos

relatoacuterios e as reflexotildees escritas Aleacutem disso fez entrevistas semiestruturadas (E)

(Burns 2000) com registo aacuteudio aos alunos que constituiacuteram os casos apoacutes a

devoluccedilatildeo da uacuteltima versatildeo de cada relatoacuterio e no final do estudo Esta teacutecnica permite

que o informante revele sentimentos intenccedilotildees significados e pensamentos sobre um

toacutepico ou situaccedilatildeo (Lichtman 2006) Neste caso sobre o desenvolvimento das tarefas

e respetivos relatoacuterios e reflexotildees escritas As questotildees procuraram fomentar a anaacutelise

por parte dos alunos de cada secccedilatildeo do relatoacuterio de modo a favorecer a compreensatildeo

dos processos utilizados para a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo e as razotildees

subjacentes aos aspetos menos conseguidos Procurou-se ainda que os alunos

fizessem uma anaacutelise criacutetica das reflexotildees escritas

A recolha documental permite aceder a alguns pensamentos ideias e significados

atribuiacutedos pelos autores dos documentos e pode levantar questotildees a retomar em

momentos subsequentes da recolha de dados (Lichtman 2006 Yin 2002) Neste

estudo os documentos recolhidos foram fundamentalmente ambas as versotildees dos

relatoacuterios e as reflexotildees escritas A qualidade destas produccedilotildees estaacute relacionada com

uma apropriaccedilatildeo mais ou menos conseguida dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

Na anaacutelise de dados utilizou-se o meacutetodo do questionamento e comparaccedilatildeo

constantes (Strauss amp Corbin 1998) recorrendo-se a categorias definidas durante o

processo de anaacutelise e com base no referencial teoacuterico do estudo Deste modo para

estudar a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo foram consideradas as seguintes

65 As transcriccedilotildees e excertos apresentados satildeo fieacuteis ao que foi ditoescrito pelos alunos logo podem

conter erros ortograacuteficos gramaticais ou natildeo respeitar o acordo ortograacutefico de 1990

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

421

categorias a compreensatildeo a valorizaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo No

que concerne ao estudo do desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo foi

analisada a evoluccedilatildeo das reflexotildees feitas pelos alunos sobre as suas produccedilotildees e das

reformulaccedilotildees realizadas

Apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados

A apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo No que diz respeito agrave compreensatildeo dos

criteacuterios de avaliaccedilatildeo Gustavo salientou que determinadas palavras da ruacutebrica como

por exemplo ldquoadequadordquo poderatildeo ser pouco esclarecedoras se o aluno natildeo souber de

antematildeo o seu significado no contexto em que estatildeo inseridas Por exemplo o que eacute

um esquema adequado para ilustrar o procedimento adotado

Soacute que aiacute o niacutevel maacuteximo diz ldquoInclui um esquema adequadordquo mas como eacute

que noacutes sabiacuteamos quehellip ahh pronto o que eacute o esquema adequado

Pronto natildeo sei talvez pudesse tar [sic] um pouco mais expliacutecito (hellip) Natildeo

sabemos como eacute que vai ser o esquema adequado (E3)

Ao natildeo compreender o que se pretendia o Gustavo natildeo incluiu qualquer esquema

ilustrativo no relatoacuterio da primeira tarefa ateacute porque parece natildeo ter valorizado esta

parte do relatoacuterio uma vez que uma descriccedilatildeo pormenorizada dos passos realizados

permitiria dar a conhecer o que foi feito

Porque eu ainda tentei fazer um esquemazinho com as setinhas e o que eacute

que podia fazer (hellip) Natildeo tinha loacutegica nenhuma (hellip) Estava a ver que natildeo iria

conseguir e entatildeo desisti do esquema e tentei explicar mais

pormenorizadamente estes passos (E1)

Na primeira versatildeo do relatoacuterio da segunda tarefa em vez de representar o esquema

de montagem apresentado na simulaccedilatildeo computacional (utilizada para dar resposta agraves

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

422

questotildees-problema) elaborou um esquema que procurava ilustrar os caacutelculos

efetuados (Figura 1) Nesta altura parecia existir uma tensatildeo entre os padrotildees

autoimpostos e o que era pretendido Nem a explicitaccedilatildeo e exemplificaccedilatildeo do que se

pretendia durante a primeira entrevista nem a pista fornecida atraveacutes de feedback

escrito na primeira versatildeo deste relatoacuterio (ldquoum esquema da simulaccedilatildeo ajudava a

compreender o que fizeram o que mediramrdquo) conduziram a um ajustamento ou a um

autocontrolo das suas representaccedilotildees iniciais uma vez que a segunda versatildeo

continuou a incluir um esquema que natildeo ia ao encontro do esperado O relatoacuterio-

exemplo parece ter contribuiacutedo para que o Gustavo compreendesse e valorizasse o

que se pretendia de tal modo que elaborou um esquema adequado para incluir no

relatoacuterio da quarta tarefa (Figura 2)

Figura 1 Excerto do procedimento (R2_V1)

Figura 2 Esquema ilustrativo do

procedimento (R4_V1)

No que diz respeito agrave organizaccedilatildeo do registo e do tratamento dos dados inicialmente

emergiu a conceccedilatildeo de que o registo de dados deveria incluir mediccedilotildees diretas e

indiretas ldquoPenso que o registo de dados tenha sido da [sic] tabela porque satildeo os dados

registados o que noacutes tiacutenhamos tirado da simulaccedilatildeo e os resultados a que tiacutenhamos

chegado (E2)rdquo Apesar do feedback escrito e oral fornecido no acircmbito do relatoacuterio da

segunda tarefa surgiu uma tensatildeo entre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo e os padrotildees

autoimpostos Durante a entrevista sobre a terceira tarefa o aluno parece

compreender que se pretende que haja uma separaccedilatildeo entre o registo e o tratamento

de dados mas considera que a leitura e compreensatildeo do relatoacuterio satildeo facilitadas se

esta separaccedilatildeo natildeo existir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

423

Por um lado estaacute bem feito mas por outro natildeo estaacute bem organizado

porque talvez os registos dos dados deviam estar todos juntos Soacute que

aqui como estamos tipo fazemos dizemos os dados depois fazemos a

contahellip Se fizeacutessemos soacute a conta a pessoa que natildeo visse nada era capaz de

pensar ldquoTaacute [sic] aqui mas onde eacute que eles foram buscar os dadosrdquo (hellip)

Penso que seja melhor assim como estaacute porque pronto eacute mais seguido a

pessoa vai com a loacutegica Pronto aqui mete-se a loacutegica para a pessoa soacute

que natildeo taacute [sic] pronto tatildeo cientiacutefico (E3)

Apenas no acircmbito do desenvolvimento do relatoacuterio da quarta tarefa o Gustavo

demonstrou querer separar o registo do tratamento de dados

Gustavo ndash A gente deviacuteamos [sic] de acho que eacute para dividirmos isto em

medidas diretas e medidas indiretas As diretas eacute as que a gente tipo

vemos [sic] tipo o alcance quanto vai medimos

Luiacutesa ndash Sim

Gustavo ndash E tiramos o tempo Enquanto a velocidade natildeo conseguimos

tirar logo temos de a calcular

Luiacutesa ndash Sim

Gustavo ndash Acho que eacute para fazer isso assim (T4_A1)

No que diz respeito agrave aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo o Gustavo adotou vaacuterias

estrateacutegias de apoio Uma delas foi o pedido de ajuda tanto aos colegas de grupo

[falas 1 a 5 do excerto seguinte] como agrave professora [fala 6] para conseguir

desenvolver com rigor e completude algumas partes do relatoacuterio especialmente

aquelas que envolviam a execuccedilatildeo de caacutelculos Procurou natildeo soacute obter uma resposta

correta mas tambeacutem compreender o raciociacutenio subjacente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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1 Gustavo ndash Como eacute que se faz a massa molar (hellip)

2 Duarte ndash Agora vais fazer M igual a quatro 3 Gustavo ndash Onde eacute que tu foste buscar o quatro 4 Duarte ndash Vi pela Tabela Perioacutedica Vezes um 5 Gustavo ndash Como eacute que sabes que eacute um (T2_A1)

6 Gustavo ndash Oacute stora o Gomes fez isto [a previsatildeo de resultados] assim soacute que eu jaacute natildeo tou a entender nada disto (T3_A1)

Uma outra estrateacutegia utilizada foi a aprendizagem atraveacutes do erro Por exemplo a

partir do relatoacuterio da primeira tarefa o Gustavo passou a desenvolver introduccedilotildees

teoacutericas mais completas incluindo a definiccedilatildeo das grandezas mais relevantes

Gustavo ndash Penso que uma pessoa como se diz tambeacutem aprende com os

erros natildeo eacute

(hellip)

Investigadora ndash Daacute-me laacute um exemplo

Gustavo ndash Um exemplo Aqui na introduccedilatildeo por exemplo quando a stora

diz para eu explicar o que eacute a massa voluacutemica se para uma proacutexima vez eu

utilizar a massa voluacutemica e tambeacutem a terei de referir na introduccedilatildeo e daiacute

explicaacute-la de uma forma detalhada

Investigadora ndash Entatildeo e se natildeo for a massa voluacutemica se for outro assunto

qualquer

Gustavo ndash Se for outro assunto tambeacutem (hellip) eu dei o exemplo da massa

voluacutemica (E1)

Tambeacutem ao niacutevel do rigor cientiacutefico parece ter havido uma aprendizagem com o erro

na medida em que algumas falhas cometidas nos primeiros relatoacuterios natildeo se repetiram

nos subsequentes Na primeira versatildeo do relatoacuterio da primeira tarefa o Gustavo

escreveu ldquoanota-se o resultado indicado no visor da balanccedila que corresponde agrave

quantidade de massa do tipo de areia em 10 cm3rdquo (R1_V1) Ao ter sido indicado

atraveacutes de feedback escrito que ldquoNatildeo eacute correcto dizer quantidade de massa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

425

quantidade de temperatura quantidade de volumerdquo este erro natildeo voltou a ser

cometido Neste relatoacuterio o aluno tambeacutem indicou que ldquoDepois divide-se o resultado

da massa por 10 que eacute para obter-mos [sic] o resultado em gcm3rdquo (R1_V1) sem

referir a grandeza que estava a calcular Atendendo ao comentaacuterio escrito ldquoO

resultado do quecirc Que grandeza estaacutes a calcularrdquo o aluno acrescentou na segunda

versatildeo a grandeza que estava a ser determinada (a massa voluacutemica) Aleacutem disso em

ambas as versotildees do relatoacuterio da segunda tarefa continuou a indicar as grandezas

medidas ou calculadas em vez da sua unidade ldquocalcular a massa molarrdquo ldquocalcular o

volume molarrdquo (R2_V1) ldquocalcular o nuacutemero de partiacuteculasrdquo (R2_V2) evidenciando que

a aprendizegem tinha sido feita

O Gustavo procurou ainda criar um ambiente favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do relatoacuterio

propondo que a realizaccedilatildeo ou a revisatildeo de algumas partes em que sentia mais

dificuldade ou que considerava natildeo estarem de acordo com o esperado (com falhas ao

niacutevel do rigor da expressatildeo escrita incompletas ou pouco desenvolvidas) decorresse

num ambiente mais calmo e com mais tempo

A estrateacutegia que noacutes optaacutemos foi calcular a energia cedida pela limonada

pois esta eacute igual agrave energia absorvida pela aacutegua fria ou pelo gelo Natildeo eacute Eu

acho que isto natildeo estaacute bem dito Eu em casa tenho de ver isto Depois tens

de me mandar isso Duarte (hellip) Agora natildeo sei mais (T3_A1)

Ao longo da elaboraccedilatildeo dos relatoacuterios o Gustavo recorreu ainda agrave interaccedilatildeo criacutetica

consigo proacuteprio Propocircs e fez alteraccedilotildees de forma a melhorar fundamentalmente a

escrita o rigor cientiacutefico e a correccedilatildeo analiacutetica

Isto eacute o peso do balatildeo Peso do balatildeo igual a 96 ponto 753 (hellip) Espera aiacute

isto eacute qual pesohellip isto eacute massa qual peso (T2_A1)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

426

Porque depois tipo primeiro fiz as contas todas soacute que dava-me nuacutemeros

um bocado grandes Entatildeo mas o que eacute que se passa aqui Isto eacute

impossiacutevel dar um escorrega com 100 metros Fui ver natildeo sei quecirc tinha-

me esquecido de meter na energia cineacutetica a velocidade ao quadrado (hellip)

Enganei-me uma data de vezes (T4_A3)

O desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo A autorregulaccedilatildeo envolve

numa primeira fase a reflexatildeo sobre a produccedilatildeo atendendo aos criteacuterios de avaliaccedilatildeo

e numa segunda fase a reformulaccedilatildeo da produccedilatildeo para que esta se aproxime do que

eacute esperado No que diz respeito agraves reflexotildees realizadas pelo Gustavo a partir do

primeiro relatoacuterio deixaram de ser tatildeo vagas e de se restringir agrave anaacutelise da

completude (presenccedila ou ausecircncia dos itens solicitados) contemplando outros

criteacuterios de avaliaccedilatildeo (por exemplo o desenvolvimento) e por vezes a justificaccedilatildeo das

suas afirmaccedilotildees Ainda assim verificou-se que ao longo do estudo a argumentaccedilatildeo

relativamente aos criteacuterios assinalados como pontos fortes ou fracos geralmente foi

diminuta

Estrateacutegias ndash 3 porque apresento poucas estrateacutegias Procedimento ndash 3 porque natildeo apresento um esquema (R1_V1) A estrateacutegia natildeo estaacute bem explicada de uma forma detalhada (T2_A3) O esquema natildeo tem legenda apesar de ilustrar o procedimento (R2_V2)rdquo

Como se pode verificar atraveacutes da anaacutelise do quadro seguinte ao longo do tempo

verifica-se um aumento da percentagem de itens cuja avaliaccedilatildeo por parte de Gustavo

esteve em conformidade com a do professor Este aumento verifica-se tanto quando

se comparam as primeiras versotildees entre si como as segundas versotildees Assim pode

sugerir-se que a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo contribuiu para a realizaccedilatildeo de

apreciaccedilotildees mais fidedignas ao longo do tempo

Quadro 1 Percentagem de itens cuja avaliaccedilatildeo por parte do Gustavo esteve em conformidade com a do professor nos vaacuterios relatoacuterios

Relatoacuterio 1ordf Tarefa 2ordf Tarefa 4ordf Tarefa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

427

1ordf Versatildeo 50 50 63

2ordf Versatildeo 50 86 ----

Natildeo foram apresentadas pelo grupo do Gustavo as reflexotildees escritas sobre o relatoacuterio da terceira tarefa e sobre a segunda versatildeo do relatoacuterio da quarta tarefa No entanto no que diz respeito agrave secccedilatildeo das conclusotildees a explicaccedilatildeo dos efeitos das

fontes de erro eacute um item que nunca foi assinalado como um ponto fraco Contudo os

alunos nunca explicaram os efeitos o que leva a supor que natildeo compreenderam o que

era pretendido

Investigadora ndash Vocecircs explicam o efeito de cada uma das fontes de erro

nos resultados

Gustavo ndash () Acho que dizemos o que eacute que pronto o que eacute que as

fontes de erro fizeram Penso eu

()

Investigadora ndash Vocecircs dizem o facto de massa ter ficado laacute o facto disto o

facto daquilohellip influenciaram o resultadohellip

Gustavo ndash Mas natildeo influenciaram como

Investigadora ndash Natildeo explicam eacute como

Gustavo ndash Exato Jaacute entendi Pois (E3)

Agrave semelhanccedila do que se verificou relativamente agrave reflexatildeo sobre os relatoacuterios as

reformulaccedilotildees tambeacutem parecem ter sido favorecidas pela compreensatildeo e

interiorizaccedilatildeo daquilo que era esperado Durante a primeira entrevista mediante os

esclarecimentos fornecidos sobre o que era pretendido o Gustavo ao contraacuterio do

que se verificou em ambas as versotildees do relatoacuterio da primeira tarefa conseguiu

identificar fontes de erro (fala 1) Na quarta entrevista foi capaz de fazer

autonomamente uma anaacutelise criacutetica de aspetos que em relatoacuterios anteriores tinham

sido pouco conseguidosausentes (como o esquema ilustrativo) e propocircs melhorias

(fala 2)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

428

1 Penso que tambeacutem natildeo tenha escrito as fontes de erro (hellip) Quando noacutes pesamos tem sempre o erro erro de observaccedilatildeo (hellip) Poderia ter alguma coisa algum componente diferente do outro canto (hellip) Natildeo ficar certamente no limite eacute de olho natildeo se consegue ter a certeza que eacute mesmo no limite ou entatildeo pode ter algum erro de caacutelculo (E1)

2 A gente temos [sic] aqui as medidas reais e tudo porque isto eacute o procedimento eacute o procedimento que a gente utilizamos [sic] na experiecircncia e este esquema eacute sobre o escorrega que ia ser feito na realidade Tem aqui cinco metros e sete metros Isto era impossiacutevel a gente fazer [na aula praacutetica] (hellip) Natildeo metiacuteamos medidas nenhumas e ficava pronto ficava ao criteacuterio depois do que eacute que a gente iacuteamos [sic] utilizar tanto que a gente natildeo sabiacuteamos [sic] A gente natildeo sabiacuteamos [sic] o alcance (E4)

Embora existam evidecircncias que apontam para o desenvolvimento da competecircncia de

autorregulaccedilatildeo o Gustavo nem sempre se envolveu neste processo tanto quanto seria

desejaacutevel Durante a entrevista que sucedeu a quarta tarefa o aluno referiu que natildeo

releu todo o relatoacuterio ldquoNatildeo eu acho que este relatoacuterio a gente nem chegaacutemos [sic] a

ler o relatoacuterio a relerrdquo (E4) Tambeacutem no relatoacuterio da terceira tarefa concluiacutedo extra-

aula a leitura feita pelo Gustavo antes de o entregar natildeo parece ter sido muito

pormenorizada ldquoPronto fomos dar assim uma revisatildeo Natildeo eacute preciso ler os

pormenores todosrdquo (E3) Tal sugere que fornecer mais tempo poderaacute natildeo ser

suficiente para se fomentar a realizaccedilatildeo de reflexotildees mais cuidadas Aleacutem disso

verificou-se que muitas vezes esta reflexatildeo realizada no final da elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios natildeo culminou em reformulaccedilotildees relativamente aos aspetos identificados

como pontos fracos

Conclusotildees

Os criteacuterios que inicialmente natildeo foram compreendidos parecem natildeo ter sido

valorizados porque natildeo foram contemplados no(s) primeiro(s) relatoacuterio(s) e natildeo houve

um questionamento para esclarecer o que era pretendido

O diaacutelogo que se estabeleceu principalmente em relaccedilatildeo agraves produccedilotildees do Gustavo

(atraveacutes do confronto entre as mesmas e o que era esperado) favoreceu a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

429

identificaccedilatildeo de aspetos menos claros e de padrotildees autoimpostos Logo a verbalizaccedilatildeo

do significado dos criteacuterios realizada pelo aluno em colaboraccedilatildeo com a professora teve

um papel muito importante (Nunziati 1990) A partir dela o professor compreende o

modo como os alunos interpretam os criteacuterios de avaliaccedilatildeo e confronta as suas

representaccedilotildees com as deles para se alcanccedilar um entendimento comum (Barbosa amp

Alaiz 1994)

Ao longo do estudo por vezes emergiram tensotildees entre os padrotildees autoimpostos e os

criteacuterios de avaliaccedilatildeo tal como se verificou nos estudos desenvolvidos por Gomes

(2005) e Semana (2008) e em algumas situaccedilotildees o processo de modificaccedilatildeo das

representaccedilotildees do Gustavo mostrou-se lento Por vezes foi necessaacuterio recorrer a mais

do que um recurso foi preciso fornecer feedback em vaacuterios momentos e recorrer agrave

anaacutelise do exemplo Para este aluno parece ser essencial compreender e concordar

com as razotildees subjacentes ao que eacute solicitado para que o ajustamento ou autocontrolo

ocorra Tal como Santos (2008) salienta eacute fundamental que os criteacuterios de avaliaccedilatildeo

faccedilam sentido para os proacuteprios alunos de modo a que natildeo ocorram falsas

apropriaccedilotildees

No que diz respeito agrave aplicaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo o Gustavo adotou vaacuterias

estrateacutegias com o intuito de ir ao encontro do esperado tais como a interaccedilatildeo criacutetica

consigo proacuteprio o pedido de ajuda (aos colegas e agrave professora) a aprendizagem

atraveacutes do erro e a criaccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do relatoacuterio

Relativamente ao desenvolvimento da autorregulaccedilatildeo os resultados parecem sugerir

que a qualidade das reflexotildees foi favorecida pela apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo A partir do relatoacuterio da primeira tarefa as reflexotildees deixaram de ser tatildeo

vagas e incidiram num leque mais diversificado de criteacuterios de avaliaccedilatildeo Tal como no

estudo desenvolvido por Semana e Santos (2012) observou-se uma aproximaccedilatildeo entre

a reflexatildeo dos alunos sobre o seu desempenho e a avaliaccedilatildeo do professor Aleacutem disso

as reformulaccedilotildees tambeacutem parecem ter sido favorecidas pela compreensatildeo e

interiorizaccedilatildeo daquilo que era esperado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

430

Mas se por um lado a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo parece ter fomentado

reflexotildees mais adequadas e subsequentes reformulaccedilotildees (escritas ou orais) por outro

quando os criteacuterios natildeo foram apropriados a reflexatildeo que foi feita em relaccedilatildeo a eles

tambeacutem natildeo foi adequada apoiando a ideia de que a apropriaccedilatildeo dos criteacuterios de

avaliaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo essencial para o desenvolvimento da autoavaliaccedilatildeo (Dann 2002)

Apesar de as evidecircncias sugerirem a ocorrecircncia de algum progresso no que diz

respeito agrave competecircncia de autorregulaccedilatildeo verificou-se que por vezes as reflexotildees

feitas pelo Gustavo foram pouco pormenorizadas e argumentadas e as reformulaccedilotildees

realizadas durante o desenvolvimento dos relatoacuterios foram pouco frequentes Estes

resultados parecem sustentar que eacute difiacutecil levar os alunos a refletir sobre o seu proacuteprio

trabalho nomeadamente em funccedilatildeo dos criteacuterios de avaliaccedilatildeo com a profundidade

que se pretende (Black Harrison Lee Marshall amp Wiliam 2003) Deste modo o

desenvolvimento da competecircncia de autorregulaccedilatildeo parece ser um processo

complexo e que requer tempo (Black et al 2003 Semana 2008) Em futuras

investigaccedilotildees seria importante investigar formas de levar os alunos a refletir mais

profunda e criticamente sobre os processos utilizados e sobre as suas produccedilotildees

assim como a reformular as suas produccedilotildees na sequecircncia dessas reflexotildees

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434

A institucionalizaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas atraveacutes de

mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e traduccedilatildeo anaacutelise cognitiva

de uma poliacutetica puacuteblica

Elvira Tristatildeo

Instituto de Educaccedilatildeo da Universidade de Lisboa

elviratristaogmailcom

Resumo

O projeto de investigaccedilatildeo em curso visa conhecer os mecanismos atraveacutes dos quais a

autoavaliaccedilatildeo das escolas tem vindo a instituir-se como um novo instrumento poliacutetico

de regulaccedilatildeo local da educaccedilatildeo

Analiso a implementaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo das escolas enquanto processo que se

desenrola num contexto global de reconfiguraccedilatildeo do papel dos Estados Concebo esta

poliacutetica enquanto accedilatildeo puacuteblica onde intervecircm muacuteltiplos atores em escalas e niacuteveis de

accedilatildeo variados num quadro multipolar de interdependecircncias onde as fronteiras entre

puacuteblico e privado social e econoacutemico se esbatem sendo o Estado um ator entre

muitos Neste contexto de governanccedila encaro a autoavaliaccedilatildeo das organizaccedilotildees

escolares como um instrumento de regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo Considero que esse

instrumento de regulaccedilatildeo se baseia no conhecimento produzido e difundido no seio de

redes complexas de atores e que os profissionais mobilizam esses conhecimentos para

a operacionalizaccedilatildeo de dispositivos de autoavaliaccedilatildeo que por sua vez satildeo o resultado

de processos de traduccedilatildeo e de bricolagem

Analiso os dispositivos de autoavaliaccedilatildeo dos agrupamentos de escolas e escolas natildeo

agrupadas da Regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo que no periacuteodo entre 20062007 e

20102011 foram objeto de avaliaccedilatildeo externa recorrendo agrave anaacutelise de conteuacutedo da

secccedilatildeo respeitante ao domiacutenio ldquoCapacidade de autorregulaccedilatildeo e melhoriardquo dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

435

relatoacuterios produzidos pelos avaliadores externos Atraveacutes desse estudo extensivo

exploratoacuterio procuro fazer uma caracterizaccedilatildeo dos dispositivos produzidos pelas

organizaccedilotildees escolares focando a minha anaacutelise em trecircs eixos os atores envolvidos o

conhecimento organizacional evidenciado e os dispositivos de autoavaliaccedilatildeo

montados No acircmbito deste uacuteltimo eixo fiz uma entrada pelos modelos de

autoavaliaccedilatildeo identificados e constatei que cerca de 30 das escolasagrupamentos

tinham recorrido ao CAF (Common Assessment Framework) Esse dado conduziu a

uma nova etapa do estudo que me permitiu iluminar a dimensatildeo europeia na

elaboraccedilatildeo e difusatildeo da poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo

Palavras-chave autoavaliaccedilatildeo instrumentaccedilatildeo regulaccedilatildeo

Abstract

With this research I intend to know the arrangements through which the school self-

evaluation has been institutionalized as a new political tool on the educationrsquos local

regulation

I analyse the implementation of the school self-evaluation as a process developed in a

context of global reconfiguration of the role of States I conceive this policy as public

action in which multiple actors take part in diverse scales and levels of action in a

multipolar framework of interdependencies where the boundaries between public and

private social and economic become blurred and where the State is one among many

others In this context of governance I treat the schoolrsquos self-evaluation as a tool of

educationrsquos regulation I consider that this regulationrsquos tool is founded on the

knowledge produced and diffused within complex networks of actors and that those

professionals mobilize those knowledges to operate school self-evaluation which are

in turn the result of translation and bricolage processes

I analyse the self-evaluationrsquos processes of the schools and the schools clusters of the

Lisbon and Tagus Valleyrsquos Region which between 20062007 and 20102011 have

been submitted to the school external evaluation To this end I resort to the content

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

436

analyse of the external evaluationrsquos reports on the section concerning the dimension

laquo Self-regulation capacity and improvement raquo elaborated by the external evaluators

Through this extensive exploratory study I intend to describe the devices elaborated

by the schools focusing my analysis upon three axes the actors engaged the

organizational knowledge evidenced and the assembled devices As part of the last

axis I made an entrance through the self-evaluation models identified on the reports

and I found that about 30 of schoolsschools clusters have adopted the CAF

(Common Assessment Framework) This outcome led the research to a new stage

which let me illuminate the Europeanrsquos dimension of the fabrication and diffusion of

the public policy of self-evaluation

Keywords self-evaluation tool regulation

Introduccedilatildeo

A emergecircncia das poliacuteticas de avaliaccedilatildeo nos sistemas educativos nacionais tem

evidenciado a introduccedilatildeo de novos modos de regulaccedilatildeo na educaccedilatildeo que importa

analisar enquanto fenoacutemeno poliacutetico com implicaccedilotildees na regulaccedilatildeo social Este

fenoacutemeno enquadra-se num processo de reconfiguraccedilatildeo do papel do Estado num

contexto de globalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e de expansatildeo do paradigma neoliberal

nas sociedades capitalistas

No conjunto das poliacuteticas de avaliaccedilatildeo em educaccedilatildeo escolhi a poliacutetica puacuteblica de

autoavaliaccedilatildeo da escola para nosso objeto de estudo Procurei compreender os

mecanismos de difusatildeo receccedilatildeo e traduccedilatildeo do conhecimento na implementaccedilatildeo da

autoavaliaccedilatildeo organizacional nos estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino natildeo

superior

No estudo do processo de implementaccedilatildeo desta poliacutetica puacuteblica concebo-a enquanto

accedilatildeo puacuteblica levada a cabo por uma diversidade de atores em muacuteltiplos contextos de

praacutetica Assim desloco a minha anaacutelise dos textos e da decisatildeo poliacutetica para olhar para

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

437

a autoavaliaccedilatildeo da escola enquanto processo de aprendizagem pelos atores que a

recontextualizam em dispositivos de avaliaccedilatildeo interna

1 Apresentaccedilatildeo do quadro teoacuterico-conceptual para uma anaacutelise das poliacuteticas

puacuteblicas

Concebo uma poliacutetica puacuteblica enquanto ldquoprograma de accedilatildeo governamentalrdquo (Rose amp

Davies 1994) No entanto mesmo quando satildeo articulados em termos nacionais os

processos que definem a poliacutetica educacional satildeo constituiacutedos globalmente e muito

para laacute do Estado-naccedilatildeo ( Hassenteufel 2008 Rizvi amp Lingard 2010)

Uma poliacutetica puacuteblica eacute tambeacutem um processo que veicula conteuacutedos se traduz em

accedilotildees e gera efeitos (Thoenig 2006) Os conteuacutedos veiculados pelas poliacuteticas puacuteblicas

remetem para a sua dimensatildeo cognitiva que se prende com os valores que estas

comportam nos seus aspetos discursivos Por sua vez as accedilotildees desencadeadas pelas

poliacuteticas puacuteblicas resultam em arranjos institucionais que fazem coexistir as mudanccedilas

propostas com as normas preexistentes no seio de contextos culturais histoacutericos e

poliacuteticos simultaneamente muacuteltiplos e singulares Os efeitos produzidos muitas vezes

escapam agrave intencionalidade expressa nos textos que cristalizam a tomada de decisatildeo

pois os diferentes atores implicados na sua implementaccedilatildeo protagonizam diferentes

processos de aprendizagem atraveacutes dos quais reelaboram essas poliacuteticas

Interessa-me especialmente ldquoa accedilatildeo dos atores as suas interaccedilotildees e o sentido que

estes lhes datildeo mas tambeacutem as normas que orientam o conjunto dessas interaccedilotildees

assim como as representaccedilotildees coletivasrdquo (Lascoumes amp Le Galegraves 2007 p 10) Concebo

o conhecimento envolvido no processo poliacutetico como uma construccedilatildeo social da

realidade que ldquose desenvolve transmite e conserva em situaccedilotildees sociaisrdquo (Berger amp

Luckmann 2004) Neste sentido postulo que o conhecimento ndash incluindo o

conhecimento cientiacutefico - natildeo eacute neutro porquanto eacute situado relativamente aos seus

contextos de produccedilatildeo A sua difusatildeo constitui um processo contiacutenuo cujas dinacircmicas

determinam a sua traduccedilatildeo e reproduccedilatildeo em contextos de praacutetica Como Callon

(Callon 2006 p 268) postulo que ldquoum facto cientiacutefico ou um artefacto tecnoloacutegico satildeo

moldados por forccedilas exteriores cuja origem se situa na sociedade pode tratar-se por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

438

exemplo de interesses ou ideologias ou ainda de relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo ou de

poderrdquo (Callon 2006 p 268)

2 O papel do conhecimento nas poliacuteticas de avaliaccedilatildeo da escola

Salientando o papel que o conhecimento tem na esfera da decisatildeo poliacutetica situo as

origens da poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo institucional nos estudos sobre a escola

que a partir da deacutecada de 1960 deram origem aos movimentos de eficaacutecia e melhoria

da escola Os conhecimentos cientiacuteficos produzidos sobre os fatores que condicionam

a eficaacutecia das escolas no que respeita ao sucesso acadeacutemico dos seus alunos e agrave

garantia da igualdade de oportunidades para todos tecircm vindo assim a sustentar os

discursos que legitimam a poliacutetica de avaliaccedilatildeo das escolas Todavia estes movimentos

com origem no mundo acadeacutemico das ciecircncias da educaccedilatildeo inscrevem-se em

contextos poliacuteticos mais abrangentes que se desenvolvem em interaccedilatildeo com

fenoacutemenos econoacutemicos E eacute por isso importante recordar que a necessidade de olhar

para a escola como o centro estrateacutegico da mudanccedila e da melhoria da educaccedilatildeo

coincide com a retraccedilatildeo do investimento puacuteblico nos sistemas educativos nacionais em

consequecircncia do decliacutenio do paradigma keinesiano do Estado-providecircncia e da

progressiva expansatildeo ao niacutevel global dos ideais neoliberais assentes no mercado

como modo privilegiado de regulaccedilatildeo econoacutemica e social Eacute com esta moldura que

olho para a poliacutetica puacuteblica de autoavaliaccedilatildeo da escola como ldquoportadora

simultaneamente de uma ideia do problema de uma representaccedilatildeo do grupo social ou

do setor implicado que esta contribui para tornar presente e de uma teoria de

mudanccedila socialrdquo (Muller 1995 p 159) Neste sentido os objetivos de eficiecircncia e

eficaacutecia presentes nos discursos sobre a avaliaccedilatildeo da escola estatildeo associados agrave

necessidade de alcanccedilar melhores resultados escolares com menos recursos num

clima de competiccedilatildeo e comparaccedilatildeo

Um conceito central na minha anaacutelise eacute o de ldquogovernanccedilardquo Encarada como um

sistema de organizaccedilatildeo num mundo pacificado e democraacutetico e preservando a

concorrecircncia entendo que a governanccedila visa alcanccedilar o interesse geral atraveacutes de

uma constante renegociaccedilatildeo dos compromissos (Gaudin 2002) Nessa dinacircmica de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

439

constante renegociaccedilatildeo de compromissos intervecircm inuacutemeros atores numa intrincaccedilatildeo

entre teacutecnica e poliacutetica puacuteblico e privado nacional e internacional (Defarges 2002)

Olhar para as poliacuteticas puacuteblicas enquanto accedilatildeo puacuteblica implica enquadrar o papel do

Estado num sistema multipolar de governo tendo em conta a interaccedilatildeo de atores

exteriores agrave esfera governamental a ausecircncia de rigidez nas fronteiras entre a accedilatildeo

econoacutemica e social a interdependecircncia entre as instacircncias formais e os atores

associados agrave accedilatildeo coletiva a intervenccedilatildeo de redes de autores autoacutenomos e a

possibilidade de accedilatildeo natildeo endossaacutevel ao Estado (Stoker 1998)

Eacute com este enquadramento que olho para a autoavaliaccedilatildeo da escola como um

instrumento de regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo baseado no conhecimento Nesse processo de

produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do conhecimento no que diz respeito aos fatores de eficaacutecia e

melhoria mas tambeacutem a questotildees metodoloacutegicas e conceptuais sobre como avaliar as

organizaccedilotildees escolares participam inuacutemeros atores Esses atores satildeo oriundos dos

setores puacuteblico e privado pertencem ao campo da educaccedilatildeo mas tambeacutem ao da

economia e da gestatildeo fazem parte das hierarquias estatais mas tambeacutem de

organizaccedilotildees internacionais e de redes de peritos

3 A autoavaliaccedilatildeo da escola loacutegicas e modos de regulaccedilatildeo

Correspondendo agrave outra face da poliacutetica de promoccedilatildeo da autonomia da escola

(Afonso 1999) a autoavaliaccedilatildeo institucional eacute proposta aos docentes e aos agentes

educativos em cada comunidade como um instrumento atraveacutes do qual se prestam

contas ao mesmo tempo que se implementam processos de melhoria Aparentemente

este novo modo de regulaccedilatildeo da escola parece substituir a regulaccedilatildeo de conformidade

para com as regras hierarquicamente estatuiacutedas pela regulaccedilatildeo pelos resultados Ao se

implicarem nestes processos de accedilatildeo coletiva os atores escolares e em especial os

professores definem compromissos que visam o interesse geral E eacute por isso que

entendo a autoavaliaccedilatildeo como um instrumento de regulaccedilatildeo soft

A cultura de avaliaccedilatildeo que se vai instituindo na escola inscreve-se em certa medida

num discurso reformista que defende a modernizaccedilatildeo dos serviccedilos puacuteblicos por

mimetismo aos meacutetodos de gestatildeo do mundo empresarial e da atividade das empresas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

440

privadas e que se concretiza no movimento da nova gestatildeo puacuteblica (new public

management) Assim esta cultura de avaliaccedilatildeo ora atende ao conhecimento que

radica do campo das ciecircncias da educaccedilatildeo sobre os fatores de melhoria e eficaacutecia da

escola ora se hibridiza com outros conhecimentos oriundos da economia e da gestatildeo

no acircmbito dos processos de garantia da qualidade

As poliacuteticas de avaliaccedilatildeo concretizam um novo modelo de Estado ndash o Estado-avaliador

ndash que natildeo abdicando das funccedilotildees de definiccedilatildeo dos objetivos e de controlo do sistema

delega nas instituiccedilotildees educativas e na sociedade civil as tarefas de provisatildeo da

educaccedilatildeo e de implementaccedilatildeo de processos de melhoria para alcanccedilar as metas e os

padrotildees tidos por desejados com base em dispositivos de autoavaliaccedilatildeo formal A

escola passa com estas poliacuteticas de responsabilizaccedilatildeo a ser sujeito e objeto de

controlo social atraveacutes da combinaccedilatildeo de programas de avaliaccedilatildeo externa com

processos de autoavaliaccedilatildeo A autoavaliaccedilatildeo das escolas eacute assim apresentada como

uma estrateacutegia essencial para o desenvolvimento organizacional e dos seus

profissionais que se desenvolve atraveacutes da praacutetica coletiva de reflexatildeo sobre as

praacuteticas ao mesmo tempo que constitui um instrumento chave para o planeamento

estrateacutegico e para a tomada de decisatildeo Deste modo a autoavaliaccedilatildeo da escola

apresenta-se ao mesmo tempo como um instrumento de regulaccedilatildeo institucional de

controlo por parte do Estado e da sociedade civil e de regulaccedilatildeo autoacutenoma pela accedilatildeo

dos atores que ajustam as suas condutas a regras localmente construiacutedas

A autoavaliaccedilatildeo da escola enquanto instrumento local da educaccedilatildeo pode concretizar-

se vinculada agrave loacutegica burocraacutetico-profissional proacutepria de um modelo de Estado

centralizador que privilegia a regulaccedilatildeo de controlo obedecendo agrave loacutegica de mercado

que olha para os alunos e suas famiacutelias como consumidores no ldquomercado educativordquo

ou numa loacutegica comunitaacuteria Estes trecircs modos de regulaccedilatildeo da escola pressupotildeem

dinacircmicas poliacuteticas que se traduzem em ldquoalianccedilas bipolares de que resultam sempre

um terceiro excluiacutedordquo (Barroso 2005 p 73) Com a regulaccedilatildeo burocraacutetico-profissional

os pais satildeo os excluiacutedos de uma regulaccedilatildeo assente na alianccedila entre o Estado e os

professores na regulaccedilatildeo pelo mercado a alianccedila do Estado com os pais dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

441

exclui os professores finalmente a regulaccedilatildeo comunitaacuteria pressupotildee a alianccedila entre

pais e professores em detrimento do Estado (ibidem) Nos dispositivos de

autoavaliaccedilatildeo julgo ser possiacutevel encontrar a presenccedila dessas loacutegicas em tensatildeo uma

vez que estas fazem parte das distintas representaccedilotildees dos diferentes atores sobre

este instrumento por sua vez moldadas pelas normas e valores que integram as

culturas escolares Neste sentido entendo que estes instrumentos de regulaccedilatildeo tecircm

uma natureza hiacutebrida coexistindo neles diferentes loacutegicas

4 A implementaccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das escolas nas escolas e

agrupamentos de escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo uma entrada

pela avaliaccedilatildeo externa das escolas

Desenvolvo um estudo qualitativo naturalista (Afonso 2005) que visa descrever e

interpretar o modo como nas organizaccedilotildees escolares a poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das

escolas eacute reapropriada pelos atores escolares em dispositivos de avaliaccedilatildeo interna e

compreender em que medida estes constituem instrumentos de autorregulaccedilatildeo

organizacional O design investigativo contempla uma primeira etapa extensiva de

caraacuteter exploratoacuterio e prevecirc o cruzamento desta com um estudo intensivo num

segundo momento Na primeira foco as estruturas formais de avaliaccedilatildeo interna das

escolas e agrupamentos de escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo que foram

objeto de avaliaccedilatildeo externa no periacuteodo de universalizaccedilatildeo do programa de Avaliaccedilatildeo

Externa das Escolas (de 20062007 a 2010-2011) Elejo como fontes documentais os

relatoacuterios de avaliaccedilatildeo externa de cada uma das organizaccedilotildees escolares avaliadas

produzidos pelas equipas de avaliadores e publicados pela Inspeccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo

(atualmente IGEC) designadamente a secccedilatildeo correspondente ao domiacutenio ldquocapacidade

de autorregulaccedilatildeo e melhoria da escolardquo composto pelos fatores ldquoautoavaliaccedilatildeordquo e

ldquosustentabilidade do progressordquo

Procedi agrave anaacutelise de conteuacutedo de 345 relatoacuterios exclusivamente da secccedilatildeo acima

referida partindo de uma grelha de anaacutelise para descrever os processos de

autoavaliaccedilatildeo implementados por aquelas organizaccedilotildees escolares aquando da

atividade de avaliaccedilatildeo externa A minha anaacutelise documental conduziu-me agrave construccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

442

de uma base de dados composta por categorias analiacuteticas por indexaccedilatildeo visando

saber a) quem foram os atores envolvidos nos dispositivos de autoavaliaccedilatildeo na escola

ou agrupamento de escolas b) quais os objetos focados nessa avaliaccedilatildeo c) que

estrateacutegias foram desenvolvidas pelos atores responsaacuteveis pelas estruturas de

autoavaliaccedilatildeo no decurso dos processos de avaliaccedilatildeo interna d) que modelos de

avaliaccedilatildeo foram referenciados como tendo sido adotados pelas escolas ou

agrupamentos de escolas e) que tipos de conhecimentos sobre a organizaccedilatildeo foram

produzidos pelos atores f) e em que medida esses dispositivos deram origem a

poliacuteticas de melhoria organizacional Criei uma categoria marginal agraves anteriores

procurando situar no tempo as primeiras praacuteticas de avaliaccedilatildeo interna das escolas ou

agrupamentos de escolas tendo como referecircncias as iniciativas da tutela na promoccedilatildeo

de uma cultura de avaliaccedilatildeo organizacional a fim de compreender em que medida

estas uacuteltimas tiveram impacto na institucionalizaccedilatildeo dessa cultura de avaliaccedilatildeo A

anaacutelise de conteuacutedo por indexaccedilatildeo-classificaccedilatildeo (Bardin 2007) e a conclusatildeo da base

de dados em Access 2000 permite-me descrever sumariamente cada um dos

processos de avaliaccedilatildeo interna e dar conta das tendecircncias em funccedilatildeo do nuacutemero de

ocorrecircncias por categoria e subcategoria de anaacutelise

5 A autoavaliaccedilatildeo das escolas quem a faz como eacute feita a quem se destina e

quais os seus efeitos nas tomadas de decisatildeo

Este estudo extensivo exploratoacuterio com base em dados qualitativos permitiu-me

identificar algumas tendecircncias na implementaccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo das

escolas da regiatildeo de Lisboa e Vale do Tejo entre 20062007 e 20102011

Nas escolas e agrupamentos de escolas contemplados neste estudo (345) 65 tinha

criado uma equipa de autoavaliaccedilatildeo enquanto cerca de 20 criou estruturas anaacutelogas

com designaccedilotildees distintas tais como ldquoobservatoacuteriordquo ldquogrupo de trabalhordquo ou

ldquocomissatildeordquo Eacute residual o nuacutemero das organizaccedilotildees escolares que atribuem a missatildeo da

avaliaccedilatildeo interna aos oacutergatildeos de administraccedilatildeo e gestatildeo

No que concerne agrave constituiccedilatildeo das equipas de autoavaliaccedilatildeo estas satildeo na sua maioria

compostas exclusivamente por docentes A participaccedilatildeo dos utilizadores (alunos e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

443

encarregados de educaccedilatildeo) nessas estruturas ocorre no seu conjunto em pouco mais

de 20 Assim a autoavaliaccedilatildeo institucional tendo em conta os atores responsaacuteveis

pela sua execuccedilatildeo pode estar a ser integrada no quotidiano das escolas como uma

tarefa subordinada agrave loacutegica da burocracia-profissional isto eacute a sua praacutetica pode ser

vista como tarefa da esfera dos profissionais que tecircm o dever de prestar contas agraves

hierarquias da tutela Apesar disso haacute alguma hibridez aparente na natureza destas

estruturas que funcionam paralelamente agraves hierarquias da escola como equipas de

missatildeo tendo em conta as suas designaccedilotildees de ldquoequipardquo ldquocomissatildeordquo ou ldquogrupo de

trabalhordquo

Quis saber se os responsaacuteveis pela autoavaliaccedilatildeo contemplaram a inquiriccedilatildeo de outros

atores fundamentando com isso os seus juiacutezos Verifiquei que em mais de metade dos

processos formais de avaliaccedilatildeo interna natildeo eacute contemplado o ponto de vista dos atores

escolares que ldquohabitamrdquo os estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino (alunos pais e

encarregados de educaccedilatildeo funcionaacuterios natildeo docentes) tratando-se de um exerciacutecio

de expertise profissional para o qual alguns professores foram mandatados

Identifiquei tambeacutem a participaccedilatildeo de atores externos nos processos de autoavaliaccedilatildeo

Em 44 relatoacuterios eacute mencionada a participaccedilatildeo de colaboradores externos e em 31

destes eacute feita referecircncia agrave sua condiccedilatildeo de consultores externos A participaccedilatildeo dos

representantes das autarquias e de elementos da comunidade acadeacutemica eacute residual

naqueles processos Estes dados sugerem o recurso a uma expertise teacutecnica a dos

consultores que dispotildeem de know-how para a realizaccedilatildeo de uma tarefa que eacute assim

percecionada pelos responsaacuteveis pelas organizaccedilotildees escolares como um artefacto

teacutecnico e natildeo como uma praacutexis de questionamento agraves praacuteticas

Relativamente ao que eacute avaliado em cada organizaccedilatildeo escolar verifiquei que a

principal preocupaccedilatildeo satildeo os resultados escolares dos alunos isto eacute os seus

desempenhos vertidos em pautas de classificaccedilatildeo Em cerca de dois terccedilos dos

relatoacuterios este objeto de avaliaccedilatildeo interna eacute mencionado Os planos anuais de

atividades surgem em segundo lugar referidos em cerca de um quarto dos relatoacuterios

Quanto ao projeto educativo as referecircncias diminuem para cerca de 10 das

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

444

organizaccedilotildees escolares intervencionadas A organizaccedilatildeo e gestatildeo satildeo referidas em

cerca de 14 dos relatoacuterios e os processos de ensino e de aprendizagem satildeo referidos

em 12 das instituiccedilotildees avaliadas Em inuacutemeros estabelecimentos a avaliaccedilatildeo interna

debruccedila-se sobre projetos ministeriais a que estes aderiram e que obrigavam agrave regular

prestaccedilatildeo de contas perante os organismos da tutela (Programa de Ocupaccedilatildeo Plena

dos Tempos Livres ou Biblioteca Escolar por exemplo) A diversidade de referecircncias ao

que os estabelecimentos decidiram avaliar internamente eacute significativa da

singularidade de cada um dos processos e de cada um dos contextos de accedilatildeo Julgo

poder afirmar no entanto que a avaliaccedilatildeo pelos resultados se impotildee ndash os resultados

escolares o grau de execuccedilatildeo do plano de atividades e do projeto educativo A

avaliaccedilatildeo pelos resultados indicia um novo modo de regulaccedilatildeo designado de poacutes-

burocraacutetico cujo enfoque deixa de ser a conformidade agraves regras para se focar nos

resultados As classificaccedilotildees correspondem assim a unidades de medida que

traduzem padrotildees do desempenho dos alunos no que respeita agraves suas aprendizagens

nas aacutereas do curriacuteculo formal parecendo evidente o enfoque nos resultados do

desempenho dos alunos ao serviccedilo da autoavaliaccedilatildeo da escola

No que concerne ao modo como se desenvolvem os processos de autoavaliaccedilatildeo

institucional considero o recurso dos responsaacuteveis pela autoavaliaccedilatildeo a dois tipos de

fontes os suportes escritos produzidos no seio das estruturas de gestatildeo de

coordenaccedilatildeo e de supervisatildeo educativa e os instrumentos de recolha de dados O

instrumento de recolha de dados mais mencionado nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo externa

eacute o inqueacuterito por questionaacuterio com 204 referecircncias que contrasta com 12 menccedilotildees agrave

realizaccedilatildeo de entrevistas Sobre o conteuacutedo dos questionaacuterios raramente encontrei

dados que fossem para aleacutem de referecircncias a ldquosatisfaccedilatildeordquo Deste modo a inquiriccedilatildeo

dos alunos e seus representantes legais coloca-os no papel de

utilizadoresconsumidores de um serviccedilo realidade que sugere alguma aproximaccedilatildeo

aos processos de avaliaccedilatildeo e garantia da qualidade de iacutendole empresarial

Nem sempre o processo de avaliaccedilatildeo interna culmina na elaboraccedilatildeo de um relatoacuterio a

apresentar agrave comunidade escolar A divulgaccedilatildeo formal do relatoacuterio de autoavaliaccedilatildeo eacute

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

445

mencionada em 17 documentos analisados Haacute no entanto 53 outros documentos

que referem a divulgaccedilatildeo dos resultados sem que se saiba em que formato

No total das referecircncias agrave divulgaccedilatildeo formal dos resultados de avaliaccedilatildeo interna ndash 53

(15 do total) ndash o conselho pedagoacutegico eacute o destinataacuterio privilegiado e soacute em metade o

conselho geral (ou assembleia de escolaagrupamento) surge como destinataacuterio

Somente em quatro organizaccedilotildees escolares eacute feita referecircncia agrave divulgaccedilatildeo dos

resultados agrave comunidade envolvente atraveacutes do seu website

Procurei referecircncias agrave utilizaccedilatildeo de modelos de autoavaliaccedilatildeo tendo em consideraccedilatildeo

dois grupos principais os modelos abertos presentes em algumas experiecircncias

promovidas pela administraccedilatildeo central e os modelos estruturados oriundos das

realidades empresariais Constatei que a maior parte dos relatoacuterios natildeo mencionava

qualquer nomenclatura a este respeito o que me levou a considerar que na maior

parte dos estabelecimentos a metodologia adotada resultou de um processo singular

de (re)construccedilatildeo da poliacutetica de autoavaliaccedilatildeo a partir dos conhecimentos mobilizados

para o efeito

Todavia em cerca de 30 dos processos foi possiacutevel detetar a adoccedilatildeo de um modelo

estruturado a Common Assessment Framework (CAF) Na maior parte das instituiccedilotildees

onde este modelo foi adotado foi tambeacutem possiacutevel constatar a presenccedila de

consultores externos Para conhecer as circunstacircncias que determinaram a adoccedilatildeo

deste modelo de autoavaliaccedilatildeo institucional realizei um inqueacuterito por questionaacuterio

dirigido agraves direccedilotildees daquelas escolas e agrupamentos de escolas A sua adoccedilatildeo foi na

maior parte dos casos da exclusiva iniciativa das direccedilotildees executivas tendo ocorrido a

auscultaccedilatildeo do conselho pedagoacutegico em menos de metade Uma empresa privada de

consultoria (Another Step) assim como a formaccedilatildeo do Instituto Nacional de

Administraccedilatildeo (INA) dirigida a presidentes do conselho executivo ou diretores foram

os principais agentes de difusatildeo deste modelo de autoavaliaccedilatildeo organizacional nos

estabelecimentos de educaccedilatildeo e ensino da regiatildeo em estudo As razotildees apontadas

pelos gestores escolares para a adoccedilatildeo deste modelo prenderam-se com as suas

representaccedilotildees sobre a credibilidade do modelo e sobre a sua adequaccedilatildeo agraves exigecircncias

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

446

da tutela Na escolha do modelo os decisores escolares tiveram em conta a opiniatildeo

dos seus pares e a reputaccedilatildeo dos peritos (consultores e formadores do INA) Em perto

de 80 da nossa amostra o modelo foi utilizado em mais de um ano letivo Tambeacutem

em perto de 80 dos estabelecimentos verificou-se a presenccedila dos consultores

externos apesar da responsabilidade do processo ter sido assumida maioritariamente

pela equipa de autoavaliaccedilatildeo segundo as fontes inquiridas

Os processos de autoavaliaccedilatildeo na sua maioria natildeo conduzem a planos de melhoria

segundo os dados recolhidos Somente 102 relatoacuterios apresentam referecircncias a accedilotildees

de melhoria na sequecircncia dos processos formais de autoavaliaccedilatildeo

Identifiquei 50 referecircncias a accedilotildees de melhoria na dimensatildeo da organizaccedilatildeo e gestatildeo

agraves quais acrescentei mais 32 menccedilotildees agraves alteraccedilotildees aos documentos de planeamento

estrateacutegico que considero uma dimensatildeo integraacutevel na primeira Na dimensatildeo do

curriacuteculo constatei 29 referecircncias agrave diversificaccedilatildeo da oferta curricular e 22 no acircmbito

das mudanccedilas introduzidas nos processos de ensino e de aprendizagem Todas as

demais referecircncias surgem em muito menor nuacutemero

Quanto aos processos internos que dizem respeito agrave melhoria das competecircncias dos

profissionais designadamente no acircmbito da formaccedilatildeo e da implementaccedilatildeo de

estrateacutegias para o reforccedilo do trabalho colaborativo dos professores as evidecircncias

encontradas satildeo residuais Somente quatro escolasagrupamentos de escolas deram

conta da implementaccedilatildeo de processos de formaccedilatildeo interna e outras trecircs referiram

como accedilatildeo de melhoria o desenvolvimento do trabalho colaborativo dos docentes

Discussatildeo dos resultados

Em primeiro lugar considero que a implementaccedilatildeo da autoavaliaccedilatildeo ndash sobretudo nos

uacuteltimos anos do ciclo - se daacute por via da avaliaccedilatildeo externai Na maior parte dos

processos os resultados da autoavaliaccedilatildeo realizada pelos professores para prestar

contas agraves hierarquias das organizaccedilotildees e agrave Inspeccedilatildeo Geral da Educaccedilatildeo apresenta uma

loacutegica burocraacutetica-profissional

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

447

No entanto se atentarmos no modo como os alunos e os pais e encarregados de

educaccedilatildeo satildeo convocados para o processo arriscaria afirmar que a loacutegica de mercado

estaacute tambeacutem presente O recurso ao inqueacuterito por questionaacuterio visa aferir da

ldquosatisfaccedilatildeordquo dos utilizadores Ao serem implicados deste modo os alunos e seus

encarregados de educaccedilatildeo satildeo tratados como ldquoclientesrdquo ou ldquoconsumidoresrdquo dos

serviccedilos prestados

Apesar da predominacircncia de uma loacutegica burocraacutetica-profissional quanto agrave finalidade

do dispositivo eivada de uma loacutegica de mercado no modo como se dirige ao puacuteblico

visado natildeo queremos excluir da nossa anaacutelise a existecircncia de condiccedilotildees de contexto

que possam potenciar a emergecircncia de uma regulaccedilatildeo de loacutegica comunitaacuteria No

entanto soacute uma abordagem intensiva poderaacute demonstraacute-lo

A emergecircncia do modelo CAF nos processos de autoavaliaccedilatildeo das escolas e

agrupamentos de escolas eacute quanto a mim um indicador de uma deriva gerencialista

na regulaccedilatildeo da educaccedilatildeo que incorpora princiacutepios da nova gestatildeo puacuteblica por

emulaccedilatildeo de praacuteticas do setor empresarial privado Natildeo soacute os princiacutepios gestionaacuterios

oriundos do setor privado ndash ainda que adotados agrave educaccedilatildeo - orientam o dispositivo de

autoavaliaccedilatildeo como se verifica a participaccedilatildeo de atores privados na avaliaccedilatildeo interna

do setor puacuteblico da educaccedilatildeo esbatendo-se assim as fronteiras entre o puacuteblico e o

privado

Julgo poder concluir tambeacutem que os processos de autoavaliaccedilatildeo das escolas se focam

nos resultados dos alunos enquanto fator que passa a orientar as praacuteticas

organizacionais Deste modo ldquoresultadosrdquo e ldquogestatildeo estrateacutegicardquo satildeo vocaacutebulos que

orientam o governo das escolas mandatos que os atores escolares vatildeo aos poucos

integrando no seu quotidiano

Num sistema educativo marcado pela centralizaccedilatildeo por uma autonomia mais retoacuterica

do que efetiva e pela atual robustez da poliacutetica de avaliaccedilatildeo externa das escolas

considero que a avaliaccedilatildeo das escolas constitui principalmente uma praacutetica instituiacuteda

de regulaccedilatildeo de controlo para a qual a autoavaliaccedilatildeo institucional contribui Considero

assim a avaliaccedilatildeo externa das escolas um dispositivo de vigilacircncia do Estado em

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

448

relaccedilatildeo agraves organizaccedilotildees escolares ao qual se associa a autoavaliaccedilatildeo como mecanismo

indutor de formas de ldquosubjetivaccedilatildeordquo (Foucault 2010) Os atores escolares vatildeo

integrando a autoavaliaccedilatildeo da escola nos seus quotidianos adotando ldquocriteacuterios de

autorresponsabilizaccedilatildeordquo e definindo ldquoobjetivos autoimpostosrdquo (Broadfoot 2000) por

referecircncia a outros instrumentos de regulaccedilatildeo Num quadro de multirregulaccedilatildeo

(Barroso 2005) a autoavaliaccedilatildeo das escolas como instrumento de autorregulaccedilatildeo e

desenvolvimento organizacional colhe ainda um estatuto de menoridade

Referecircncias

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450

Avaliaccedilatildeo de Capacidades e Competecircncias

Contributos para uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade

Ricardo Machado

Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Unidade de Investigaccedilatildeo

Educaccedilatildeo e Desenvolvimento

ricardojrmachadogmailcom

Margarida Ceacutesar

Universidade de Lisboa Instituto de Educaccedilatildeo

macesarieulpt

Joseacute Manuel Matos

Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Unidade de Investigaccedilatildeo

jmmfctunlpt

Resumo O insucesso acadeacutemico em Matemaacutetica eacute elevado Documentos de poliacutetica educativa

realccedilam as vantagens do trabalho em grupo e do recurso a tarefas diversificadas

Estudos sobre desempenhos matemaacuteticos iluminam a importacircncia das interacccedilotildees

sociais nas aprendizagens Mas eacute preciso conhecer as capacidades e competecircncias dos

alunos desde a primeira semana de aulas para adequar as tarefas agraves caracteriacutesticas

necessidades e interesses da turma Elaboraacutemos no projecto Interacccedilatildeo e

Conhecimento um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e competecircncias (IACC)

para ser utilizado por professores Este estudo de caso intriacutenseco inserido no

paradigma interpretativo analisa o IACC iluminando o processo de elaboraccedilatildeo

utilizaccedilatildeo padrotildees de desempenho e impactes nas praacuteticas incluindo a formaccedilatildeo Os

participantes principais satildeo os alunos (cerca de 600 turmas) O instrumento de recolha

de dados privilegiado eacute a recolha documental O tratamento e anaacutelise de dados

baseou-se numa anaacutelise de conteuacutedo emergindo categorias indutivas Os resultados

iluminam os padrotildees de desempenho e os contributos do IACC para a promoccedilatildeo de

uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade intercultural e inclusiva

Palavras-chave Avaliaccedilatildeo capacidades e competecircncias Matemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

451

Abstract

Underachievement in Mathematics is high Educational policy documents stress the

advantages of group work and diversified tasks Studies regarding mathematical

performances illuminate the importance of social interactions in learning We need to

know studentsrsquo abilities and competencies since the first week of classes to adequate

the tasks to the characteristics needs and interests of a class In the Interaction and

Knowledge project we elaborated an instrument to evaluate studentsrsquo abilities and

competencies (IACC) and to be used by teachers This intrinsic case study developed in

an interpretative paradigm analyses the IACC illuminating its elaboration process use

studentsrsquo patterns of performances and its impacts upon practices including teachersrsquo

education The main participants are the students (around 600 classes) The main data-

collecting instrument is the documents The data treatment and analysis was based in

a content analysis from which inductive categories emerged The results illuminate

studentsrsquo patterns of performance and the contributions of IACC to the promotion of a

quality intercultural and inclusive mathematics education

Keywords Evaluation abilities and competencies Mathematics

Quadro de referecircncia teoacuterico

Aprendizagens matemaacuteticas e trabalho colaborativo

A Matemaacutetica eacute apreciada por uns e odiada por muitos mais deixando poucos

indiferentes (Machado 2008 Machado amp Ceacutesar 2012 2013) Para aleacutem disso sendo o

insucesso acadeacutemico elevado e tratando-se de uma das disciplinas mais selectivas em

termos de percurso escolar futuro entrar num ciacuterculo vicioso de insucesso repetido

pode ser extremamente penalizante para os alunos traduzindo-se em representaccedilotildees

sociais negativas e em alguns casos em abandonos escolares precoces (Ceacutesar 2009)

Markovaacute (2005) sustenta que as representaccedilotildees sociais que se constroem satildeo

dinacircmicas e dialoacutegicas pelo que podem mudar ao longo do tempo Por outro lado

influenciam os desempenhos dos alunos na disciplina de Matemaacutetica (Ceacutesar 2009

Machado 2008 Machado amp Ceacutesar 2012 2013) pelo que eacute importante conhececirc-las e

desenvolver praacuteticas em aula que facilitem a mudanccedila nessas representaccedilotildees sociais

quando estas satildeo negativas para que os alunos consigam realizar aprendizagens

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

452

matemaacuteticas atribuindo-lhes sentidos Isso facilita que mobilizem esses conhecimentos

(matemaacuteticos) em novos contextos cenaacuterios ou situaccedilotildees

Em Portugal desde a deacutecada de 80 do seacuteculo XX que diversos documentos de poliacutetica

educativa realccedilam as vantagens dos trabalhos de grupo e de confrontar os alunos com

tarefas de natureza diversificada (Abrantes 1994 Matos 2006) colocando em acccedilatildeo

princiacutepios de uma educaccedilatildeo (mais) inclusiva e onde exista equidade em que todos

tenham tempo e espaccedilo para apropriarem conhecimentos (matemaacuteticos) e

desenvolverem capacidades e competecircncias atraveacutes do diaacutelogo e do confronto de

formas de pensamento diversificadas ou seja atraveacutes das interacccedilotildees sociais e

dialoacutegicas que se estabelecem entre pares (Ceacutesar 2009 2013)

A importacircncia das interacccedilotildees sociais nos processos de ensino e de aprendizagem eacute

realccedilada em diversos estudos muitos deles centrados nos desempenhos matemaacuteticos

(Baucal Arcidiacono amp Budevac 2011 Ceacutesar 2013 Ceacutesar amp Kumpulainen 2009 Roth

amp Radford 2011) Ao assumirmos a aprendizagem como situada e dialoacutegica as

interacccedilotildees sociais que se estabelecem quando se desenvolvem praacuteticas colaborativas

em cenaacuterios de educaccedilatildeo formal actuam como uma componente indissociaacutevel da

aprendizagem matemaacutetica

Desenvolver praacuteticas de aprendizagem que se baseiam no trabalho colaborativo tem

subjacente que os alunos assumem um papel mais activo nos processos de

aprendizagem tornando-se mais responsaacuteveis e aprendendo de uma forma mais

autoacutenoma (para mais detalhes sobre trabalho colaborativo ver Ceacutesar 2009 2013

Machado 2013) Assim consideramos a aprendizagem como historico-culturalmente

situada (Ceacutesar 2009 2013 Roth amp Radford 2011 Vygotsky 19341962) na medida

em que os fenoacutemenos que ocorrem satildeo sociais culturais e o conhecimento eacute

construiacutedo e partilhado pelos vaacuterios elementos envolvidos nesses processos Eacute

necessaacuterio negociar um contrato didaacutectico coerente com essas praacuteticas bem como

realizar tarefas matemaacuteticas de elevada exigecircncia cognitiva (Boston amp Wolf 2006) que

promovam argumentaccedilotildees sustentadas colocando em confronto diversas formas de

pensamento matemaacutetico Tambeacutem eacute essencial pocircr em praacutetica uma avaliaccedilatildeo que

promova a melhoria nas aprendizagens dos alunos ou seja o que Fernandes (2005

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453

2008) designa por avaliaccedilatildeo formativa alternativa ou Santos e seus colaboradores

(2010) por auto-avaliaccedilatildeo regulada

Este tipo de praacuteticas colaborativas facilita que se trabalhe na zona de desenvolvimento

proximal (ZDP) de cada aluno (Vygotsky 19341962) permitindo que eles consigam

desenvolver capacidades e competecircncias (matemaacuteticas) essenciais numa sociedade

em constante mudanccedila e cada vez mais exigente Mas continuava a existir uma

questatildeo que permanecia em aberto como conhecer as capacidades e competecircncias

dos alunos desde a primeira semana de aulas permitindo ajustar as tarefas propostas

e as instruccedilotildees de trabalho agraves caracteriacutesticas necessidades e interesses de uma turma

especiacutefica Foi para responder a esta questatildeo que a equipa do projecto Interacccedilatildeo e

Conhecimento (IC) elaborou um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e

competecircncias (IACC) que analisamos nesta comunicaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo de capacidades e competecircncias

A avaliaccedilatildeo eacute um elemento intriacutenseco de qualquer processo de ensino e de

aprendizagem Fernandes (2011) afirma que a avaliaccedilatildeo ldquopode e deve+ contribuir para

ajudar os alunos a melhorar as suas aprendizagensrdquo (p 131) pelo que avaliar as

capacidades e competecircncias que os alunos conseguem mobilizar e quais as que

precisam de desenvolver ao longo do ano lectivo assume especial importacircncia

quando se pretende proporcionar uma educaccedilatildeo matemaacutetica de elevada qualidade

Os conceitos de capacidade e competecircncia satildeo muitas vezes confundidos ou mesmo

utilizados como sinoacutenimos Concebemos as competecircncias como conhecimentos em

acccedilatildeo que se mobilizam em diferentes situaccedilotildees cenaacuterios ou contextos na resoluccedilatildeo

de um determinado problema Ao considerarmos que as competecircncias mobilizam

conhecimentos implicitamente estamos a assumir que para que as competecircncias se

manifestem eacute necessaacuterio existirem transiccedilotildees ou seja que os indiviacuteduos sejam

capazes de usar o que aprenderam noutros contextos cenaacuterios ou situaccedilotildees Esta

posiccedilatildeo teoacuterica eacute tambeacutem assumida por outros autores (Abrantes 1994 Perrenoud

1999 Roldatildeo 2003) A capacidade resulta da actualizaccedilatildeo de uma potencialidade Por

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exemplo os seres humanos tecircm a capacidade de memorizar de atenccedilatildeo mas tambeacutem

de falar uma liacutengua oral ou seja de articular sons que constituem palavras Eacute de

realccedilar que as competecircncias tecircm subjacente a utilizaccedilatildeo de capacidades pois soacute se

conseguem mobilizar competecircncias linguiacutesticas quando jaacute se desenvolveu a

capacidade de emitir sons e reconhecer letras ou outros siacutembolos

Quando se avaliam capacidades e competecircncias podemos utilizar dois tipos de

instrumentos de acordo com os princiacutepios teoacutericos subjacentes agrave sua elaboraccedilatildeo e

utilizaccedilatildeo psicomeacutetricos ou desenvolvimentistas Os instrumentos que seguem uma

perspectiva psicomeacutetrica baseiam-se numa concepccedilatildeo de que as capacidades e

competecircncias se mantecircm constantes ao longo da vida e satildeo susceptiacuteveis de serem

medidas rigorosamente Assim pretendem medir quantitativamente essas

capacidades e competecircncias de forma objectiva para depois as comparar com as de

outros sujeitos ou ateacute mesmo com uma populaccedilatildeo (Lourenccedilo 2010) Satildeo exemplos

deste tipo de instrumentos a escala de inteligecircncia de Binet-Simon a escala de

inteligecircncia para crianccedilas de Weschler (WISC) ou as Matrizes Progressivas de Raven

(Anastasi 2003) Por seu turno os instrumentos desenvolvimentistas baseiam-se na

concepccedilatildeo de que as capacidades e competecircncias se desenvolvem ao longo da vida se

constroem pelo que natildeo se pretende medi-las quantitativamente mas sim avaliaacute-las

qualitativamente de forma situada ou seja num determinado espaccedilo e tempo Estes

instrumentos podem ser respondidos por sujeitos de idades e niacuteveis de

desenvolvimento variados permitindo traccedilar padrotildees de desenvolvimento atraveacutes da

anaacutelise dos desempenhos Este tipo de instrumentos tecircm subjacente a teoria

elaborada por Piaget (1923) como por exemplo acontece com as provas Piagetianas

Nesta investigaccedilatildeo assumimos uma perspectiva desenvolvimentista

Metodologia

Esta investigaccedilatildeo analisa parte do corpus empiacuterico do projecto IC que teve a duraccedilatildeo

formal de 12 anos (199495 a 200506) incluindo 10 anos de follow up e cujo

principal objectivo era estudar e promover o trabalho colaborativo em cenaacuterios de

educaccedilatildeo formal para melhorar os desempenhos acadeacutemicos dos alunos e

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

455

desenvolver capacidades e competecircncias soacutecio-cognitivas e emocionais O IC recorreu

a trecircs designs de investigaccedilatildeo (1) estudos quasi experimentais (2) projectos de

investigaccedilatildeo-acccedilatildeo e (3) estudos de caso (para mais detalhes ver Ceacutesar 2009 2013

Machado 2013 Ventura 2012) Era no Design 2 ou seja nos projectos de

investigaccedilatildeo-acccedilatildeo que o IACC era respondido pelos alunos na primeira semana de

aulas pelo que eacute nos resultados destes projectos que nos focamos Neste estudo

assumimos uma abordagem interpretativa (Denzin 2002) e desenvolvemos um estudo

de caso intriacutenseco (Stake 1995) pois procuraacutemos obter um conhecimento mais

aprofundado sobre um caso particular o IACC

O principal objectivo desta investigaccedilatildeo consistiu em estudar e compreender as

potencialidades e os contributos de um instrumento de avaliaccedilatildeo de capacidades e

competecircncias (IACC) construiacutedo no acircmbito do projecto Interacccedilatildeo e Conhecimento

(IC) Abordaremos duas das questotildees de investigaccedilatildeo (1) Como satildeo analisados os

desempenhos dos alunos quando se utiliza este instrumento de acordo com os

princiacutepios do projecto IC e (2) Como contribui o IACC para praacuteticas pedagoacutegicas em

aula nomeadamente para a formaccedilatildeo das primeiras diacuteades

Os participantes satildeo os alunos das turmas que participaram no projecto IC desde o 5ordm

ao 12ordm anos de escolaridade de norte a sul de Portugal Continental (cerca de 600

turmas) Accedilores (3 turmas) Cabo Verde (6 turmas) e Escola Europeia de Bruxelas (4

turmas) Foram tambeacutem considerados como participantes os 69

professoresinvestigadores que leccionavam a essas turmas Matemaacutetica ou disciplinas

afins investigadores e outros significativos (famiacutelias e outros agentes educativos)

Em relaccedilatildeo aos instrumentos de recolha de dados foram considerados dois grupos O

primeiro grupo ndash recolha documental ndash eacute constituiacutedo pelo corpus empiacuterico do IC ou

seja os instrumentos utilizados para recolher dados durante os 12 anos de duraccedilatildeo

formal desse projecto nomeadamente o IACC questionaacuterios (Q) tarefas de

inspiraccedilatildeo projectiva (TIP) entrevistas (E) conversas informais (CI) protocolos dos

alunos (PA) e outros documentos (D) do IC Ao segundo grupo pertencem os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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instrumentos de recolha de dados que foram utilizados especificamente para esta

investigaccedilatildeo e que complementam os dados recolhidos durante a vigecircncia do IC como

o diaacuterio de bordo do investigador (DB) e conversas informais (CI) (para mais detalhes

ver Machado 2013)

Quanto aos procedimentos comeccedilaacutemos por organizar os dados provenientes dos 12

anos de existecircncia formal do projecto IC nomeadamente no que respeita agraves respostas

dos alunos ao IACC procurando encontrar padrotildees de desempenho que permitissem

caracterizar o niacutevel de desenvolvimento dos alunos e simultaneamente as

capacidades e competecircncias que jaacute conseguiam mobilizar Posteriormente o

tratamento e anaacutelise de dados referente agraves respostas ao IACC e demais instrumentos

de recolha de dados considerados baseou-se numa anaacutelise de conteuacutedo de tipo

narrativo (Clandinin amp Connelly 1998) sistemaacutetica e sucessiva passando duma leitura

flutuante ao reconhecimento de padrotildees fazendo emergir categorias indutivas de

anaacutelise (Ceacutesar 2009)

Resultados

O IACC eacute um instrumento que apresenta caracteriacutesticas que o tornam singular no

panorama educativo portuguecircs (1) eacute um instrumento baseado numa perspectiva

desenvolvimentista e natildeo psicomeacutetrica pelo que se baseou na noccedilatildeo de prova

(eacutepreuve) da teoria piagetiana (2) avalia capacidades e competecircncias e natildeo

conhecimentos como por exemplo acontece nos testes de diagnoacutestico

habitualmente respondidos pelos alunos no iniacutecio do ano lectivo (3) como natildeo avalia

conhecimentos matemaacuteticos especiacuteficos de um determinado ano de escolaridade

pode ser respondido por alunos desde o 5ordm ao 12ordm anos de escolaridade iluminando

desta forma a evoluccedilatildeo dessas capacidades e competecircncias ao longo do processo de

desenvolvimento e (4) pode ser utilizado de forma autoacutenoma pelos professores

desde que previamente tenham realizado formaccedilatildeo nesse sentido atraveacutes de cursos

ou acccedilotildees de formaccedilatildeo especiacuteficos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

457

O IACC eacute composto por cinco tarefas que visam identificar quais as capacidades e

competecircncias que os alunos jaacute conseguem mobilizar e as que ainda precisam de

desenvolver Cada tarefa permite analisar uma ou mais capacidades e competecircncias

de acordo com as que um grupo alargado de professores (N=1011) que tinha

diferentes anos de experiecircncia e que leccionava anos de escolaridade distintos indicou

como as mais essenciais a serem conhecidas no iniacutecio do ano lectivo para promover

uma educaccedilatildeo de qualidade e o acesso dos alunos ao sucesso escolar O processo de

elaboraccedilatildeo de cada tarefa resultou de um trabalho colaborativo entre professores e

investigadores do ensino universitaacuterio psicoacutelogos e professores do ensino baacutesico e

secundaacuterio Por isso o IACC natildeo soacute se destina a potenciar o desenvolvimento de

praacuteticas colaborativas em aula mas foi ele proacuteprio fruto de um trabalho colaborativo

que caracterizava a equipa central do IC

Eacute fundamental que os alunos e professores percebam a importacircncia de explicarem as

estrateacutegias de resoluccedilatildeo utilizadas podendo para tal recorrer a diversos tipos de

explicitaccedilatildeo como as composiccedilotildees matemaacuteticas ou de estrateacutegias de resoluccedilatildeo como

as representaccedilotildees graacuteficas (onde se incluem esquemas eou desenhos) ou as

estrateacutegias aritmeacuteticas que incluem as operaccedilotildees baacutesicas foacutermulas entre outras

(Machado 2008 2013 Ventura 2012) Essa explicitaccedilatildeo permite ao professor adaptar

de forma mais adequada as praacuteticas em aula uma vez que consegue inferir os

processos de raciociacutenio utilizados iluminando quais as capacidades e competecircncias

envolvidas facilitando a constituiccedilatildeo de diacuteades assimeacutetricas cujos elementos

consigam mobilizar capacidades e competecircncias complementares facilitando que os

alunos consigam trabalhar na ZDP de cada um deles ou seja possibilitando que o que

hoje ainda natildeo faz parte do niacutevel de desenvolvimento real que os sujeitos conseguem

utilizar autonomamente dele venha a ser parte integrante no futuro (Ceacutesar 2009

2013 Vygotsky 19341962)

A Tarefa A permite avaliar se o aluno consegue mobilizar sentido criacutetico em relaccedilatildeo a

uma notiacutecia que conteacutem informaccedilatildeo matemaacutetica No exemplo da Figura 1 o Aluno

CP1 refere que a notiacutecia estaacute incorrecta uma vez que natildeo existiu um decreacutescimo no

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

458

nuacutemero de assaltos mas sim um aumento elaborando uma composiccedilatildeo matemaacutetica

como forma de explicitaccedilatildeo da sua estrateacutegia de resoluccedilatildeo que eacute aritmeacutetica

Figura 1 ndash Desempenho do Aluno CP1 na Tarefa A (10ordm ano de escolaridade Viseu)

Este desempenho ilumina que ele conseguiu mobilizar o sentido criacutetico face a uma

notiacutecia de um jornal que conteacutem dados matemaacuteticos Para aleacutem disso revela mobilizar

competecircncias matemaacuteticas associadas a conhecimentos como o conceito de fracccedilatildeo e

suas representaccedilotildees Tambeacutem revela capacidade de comunicaccedilatildeo escrita e

matemaacutetica que sustentam competecircncias linguiacutesticas (ortografia sintaxe riqueza

vocabular) bem como outras competecircncias tais como as que lhe permitem

interpretar o enunciado estabelecer conexotildees entre conhecimentos matemaacuteticos

utilizar raciociacutenio matemaacutetico e verificar os resultados obtidos com a estrateacutegia de

resoluccedilatildeo pela qual optou

Em relaccedilatildeo agrave Tarefa B esta pretende avaliar se o aluno evidencia intuiccedilatildeo matemaacutetica

criatividade ou persistecircncia na tarefa

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

459

Figura 2 ndash Desempenho do Aluno CT1 na Tarefa B (8ordm ano de escolaridade Lisboa)

Na Figura 2 podemos observar um exemplo de desempenho desta tarefa no qual o

Aluno CT1 mobiliza a intuiccedilatildeo matemaacutetica recorrendo a uma pequena composiccedilatildeo

matemaacutetica como forma de explicitaccedilatildeo da estrateacutegia de resoluccedilatildeo que utilizou Este

desempenho revela a mobilizaccedilatildeo das capacidades como o pensamento divergente e

a intuiccedilatildeo matemaacutetica Para aleacutem disso recorre a competecircncias linguiacutesticas presentes

na clareza da composiccedilatildeo matemaacutetica que elabora bem como ao raciociacutenio

matemaacutetico presente nos mecanismos de verificaccedilatildeo da intuiccedilatildeo matemaacutetica que lhe

permitem mostrar que seguindo aqueles passos consegue obter o litro de leite

pedido no enunciado da tarefa Assim tambeacutem revela competecircncias relacionadas com

a interpretaccedilatildeo de enunciados

A Tarefa C permite avaliar se o aluno mobiliza o raciociacutenio concreto ou o raciociacutenio

abstracto (ver Figura 3)

Figura 3 ndash Desempenho do Aluno EM4 na Tarefa C (10ordm ano de escolaridade Cabo

Verde)

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460

Atraveacutes da anaacutelise do desempenho do Aluno EM4 podemos afirmar que ele

conseguiu compreender duas informaccedilotildees desta figura complexa (1) a existecircncia de

um elemento invariante ndash o quadrado central ndash pois aparece em qualquer das figuras

que se considere e (2) segundo cada linha natildeo existe repeticcedilatildeo do elemento exterior

ou seja este deveraacute ser rectacircngulo e triacircngulo Contudo natildeo consegue compreender

na uacuteltima figura que desenha a informaccedilatildeo respeitante ao nuacutemero de pintas pelo que

considera existir apenas uma pinta Assim revela competecircncias matemaacuteticas

relacionadas com conhecimentos de geometria como o reconhecimento de figuras

geomeacutetricas e a identificaccedilatildeo de padrotildees Este tipo de desempenho pode evidenciar

que este aluno se encontra na transiccedilatildeo do raciociacutenio concreto para o abstracto ou

seja que revela capacidades relacionadas com o raciociacutenio concreto mas natildeo com o

raciociacutenio abstracto Atendendo a que se encontra no 10ordm ano de escolaridade e que o

iniacutecio dos conteuacutedos matemaacuteticos apela agrave mobilizaccedilatildeo do raciociacutenio abstracto o

professor deveraacute ter especial cuidado na elaboraccedilatildeo adaptaccedilatildeo ou selecccedilatildeo das

primeiras tarefas propostas uma vez que precisa que este aluno desenvolva o

raciociacutenio abstracto Para aleacutem disso como natildeo explicita o que o levou a optar por

aquelas figuras natildeo revela capacidades muito desenvolvidas de memorizaccedilatildeo e

atenccedilatildeo concentrada

A Tarefa D pretende avaliar o tipo de raciociacutenio preferencial na abordagem de um

problema (analiacutetico ou geomeacutetrico) no qual os alunos devem determinar a aacuterea da

parte pintada do mosaico sabendo que este tem de dimensotildees 15 cm por 10 cm Na

Figura 4 o Aluno CR3 tem preferecircncia por um raciociacutenio geomeacutetrico na medida em

que estatildeo envolvidos processos de raciociacutenio referentes agrave decomposiccedilatildeo da figura

Assim revela competecircncias matemaacuteticas relacionadas com a noccedilatildeo de aacuterea de um

poliacutegono incluindo a sua foacutermula bem como com a decomposiccedilatildeo de figuras

geomeacutetricas A estrateacutegia de resoluccedilatildeo utilizada ndash representaccedilatildeo graacutefica ndash ilumina que

este aluno vai associando cada parte a negro agrave respectiva parte em branco

preenchendo metade do mosaico No entanto para determinar a aacuterea da parte

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

461

pintada divide as duas dimensotildees de mosaico por dois obtendo um resultado

desadequado ao problema e apresentando um desempenho tiacutepico de quem mobiliza

raciociacutenio concreto e natildeo o raciociacutenio abstracto

Figura 4 ndash Desempenho do Aluno CR3 na Tarefa D (9ordm ano de escolaridade Lisboa)

Por fim a Tarefa E tem como finalidade avaliar que abordagem um aluno adopta

(global ou passo-a-passo) num problema relacionado com uma situaccedilatildeo da vida

quotidiana ndash a compra e venda de um artigo O Aluno JC3 recorre a uma estrateacutegia

de resoluccedilatildeo que ilumina uma preferecircncia por uma abordagem passo-a-passo pois

analisa o que acontece em cada transacccedilatildeo (ver Figura 5)

Figura 5 ndash Desempenho do Aluno JC3 na Tarefa E (12ordm ano de escolaridade Faro)

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462

Este aluno opta por recorrer a uma composiccedilatildeo matemaacutetica como forma de

explicitaccedilatildeo da estrateacutegia de resoluccedilatildeo aritmeacutetica a que recorreu em que explica o

que aconteceu e o lucro obtido no final das duas transacccedilotildees Assim revela

capacidade de comunicaccedilatildeo e competecircncias linguiacutesticas Observamos tambeacutem

capacidades como a selecccedilatildeo de dados do enunciado organizaccedilatildeo e argumentaccedilatildeo

associadas a competecircncias matemaacuteticas tais como o recurso agraves operaccedilotildees baacutesicas

para calcular o lucro obtido tendo em consideraccedilatildeo a situaccedilatildeo descrita Este

desempenho ilustra ainda competecircncias como as conexotildees entre a vida real e a

Matemaacutetica ou a verificaccedilatildeo das estrateacutegias de resoluccedilatildeo utilizadas

Um exemplo de utilizaccedilatildeo nas aulas de Matemaacutetica

A anaacutelise do IACC conjugada com a dos outros instrumentos que os alunos respondem

na primeira semana de aulas ndash TIP1 e Q1 ndash e a observaccedilatildeo realizada permitem

desenvolver praacuteticas mais adaptadas agraves caracteriacutesticas necessidades e interesses de

uma determinada turma As informaccedilotildees a que estes instrumentos permitem ter

acesso satildeo essenciais para a constituiccedilatildeo das primeiras diacuteades bem como para a

escolha da natureza das tarefas propostas nas primeiras aulas

Na Figura 6 podemos observar um exemplo de uma diacuteade de uma turma de 9ordm ano de

escolaridade que se encontrava a trabalhar colaborativamente pela primeira vez ou

seja numa turma que anteriormente natildeo tinha sido leccionada por este

professorinvestigador

Figura 6 ndash Exemplo de uma diacuteade (9ordm ano de escolaridade Lisboa)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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A diacuteade formada pelos Alunos E e Z eacute constituiacuteda por um elemento do geacutenero

masculino (Z azul) e por um do feminino (E rosa) O Aluno Z mobiliza o raciociacutenio

concreto (RC verde) e a Aluna E o raciociacutenio abstracto (RA verde) observaacuteveis atraveacutes

dos desempenhos na Tarefa C Se reparamos o aluno que mobiliza RC eacute o que se

considera muito bom (MB lilaacutes) a Matemaacutetica e que obtinha habitualmente Niacutevel 5

nessa disciplina nos anos lectivos anteriores enquanto o aluno que mobilizava o RA

era o que se considerava muito fraco (MF lilaacutes) e que tinha transitado de ano com

niacutevel inferior a 3 a Matemaacutetica

Quanto agrave representaccedilatildeo social que estes alunos construiacuteram acerca da matemaacutetica no

Aluno Z esta eacute positiva (+ vermelho) e inovadora (I vermelho) enquanto que na Aluna

E esta eacute negativa (- vermelho) e tradicional (T vermelho) iluminando que estes alunos

tecircm representaccedilotildees sociais de matemaacutetica e deles proacuteprios enquanto aprendentes de

Matemaacutetica que satildeo complementares Esta informaccedilatildeo eacute importante na medida em

que pode indiciar que esta diacuteade pode estabelecer interacccedilotildees dialoacutegicas produtivas

evitando por exemplo que ambos desistam de realizar alguma das tarefas propostas

em aula

No que respeita agrave anaacutelise dos desempenhos destes alunos no IACC podemos afirmar

que a Aluna E tem preferecircncia por raciociacutenios geomeacutetricos ndash D(Geo verde) ndash e o Aluno

Z por analiacuteticos ndash D(A verde) Ambos percebem que a aacuterea da parte pintada

corresponde a metade da aacuterea do mosaico embora a Aluna E natildeo determine esse

valor como pedido no enunciado da tarefa Assim para esta diacuteade as tarefas

matemaacuteticas devem apelar simultaneamente ao recurso a estrateacutegias de resoluccedilatildeo

associadas a raciociacutenios analiacuteticos e a raciociacutenios geomeacutetricos para que estes dois

alunos possam mobilizaacute-los e ambos desenvolvam aquilo que necessitam ao

trabalharem na ZDP de cada um deles (Vygotsky 19341962) Isso tambeacutem permite

que cada um deles possa actuar como par mais competente alternadamente em

funccedilatildeo do tipo de raciociacutenio usado na resoluccedilatildeo de uma tarefa matemaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

464

O Aluno Z revelou capacidade de observaccedilatildeo e sentido criacutetico em relaccedilatildeo a notiacutecias

com conteuacutedos matemaacuteticos (Tarefa A verde) enquanto a Aluna E natildeo respondeu a

esta tarefa Assim no que se refere ao sentido criacutetico o Aluno Z pode actuar como par

mais competente (Vygotsky 19341962) Na Tarefa B nenhum revela intuiccedilatildeo

matemaacutetica nem criatividade Como tal estas capacidades teratildeo de vir a ser

desenvolvidas durante as discussotildees gerais ou posteriormente com outros pares

quando as diacuteades forem reorganizadas algo que acontece periodicamente Quanto agrave

Tarefa E o Aluno Z resolve-a de forma completa preferindo uma abordagem passo-a-

passo enquanto a Aluna E indica um lucro de 100 euros mostrando que o seu

desempenho se encontra na transiccedilatildeo entre o raciociacutenio concreto e o raciociacutenio

abstracto que mobilizou na Tarefa C mais associado a raciociacutenios geomeacutetricos que

ela prefere Na Tarefa E que apelava a raciociacutenios analiacuteticos preferenciais para o

Aluno Z ela jaacute natildeo consegue mobilizar o raciociacutenio abstracto Eacute frequente os alunos

que se encontram na transiccedilatildeo entre o RC e o RA soacute conseguirem mobilizar o RA na

forma preferencial de raciociacutenio analiacutetico ou geomeacutetrico (Machado 2013)

As tarefas matemaacuteticas propostas durante o ano lectivo devem proporcionar o

confronto de diferentes estrateacutegias de resoluccedilatildeo bem como formas de pensamento e

processos de raciociacutenio entre os alunos de cada diacuteade e no grupo turma Mas para que

tal aconteccedila as tarefas deveratildeo ser de elevado niacutevel de exigecircncia cognitiva (Boston amp

Wolf 2006) promovendo espaccedilos e tempos nos quais a argumentaccedilatildeo e a

comunicaccedilatildeo matemaacutetica ganham especial relevo (Ceacutesar 2009 2013)

Consideraccedilotildees finais

A promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo matemaacutetica de qualidade estaacute relacionada com as

opccedilotildees de cada professor em termos das formas de actuaccedilatildeo das praacuteticas

desenvolvidas em aula bem como dos instrumentos que utiliza quando pretende

conhecer os alunos no iniacutecio do ano lectivo Comeccedilar a seleccionar adaptar ou

elaborar tarefas matemaacuteticas desconhecendo as capacidades e competecircncias que os

diversos alunos de uma determinada turma jaacute conseguem mobilizar bem como as que

precisam de desenvolver significa que natildeo se promovem oportunidades desses

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

465

mesmos alunos trabalharem na ZDP aspecto que Vygotsky (19321964) realccedila ser

essencial para que as aprendizagens contribuam para o desenvolvimento Poreacutem

muitos satildeo os professores que quando questionados sobre as capacidades e

competecircncias mobilizadas pelos alunos das turmas que leccionam natildeo as conseguem

identificar nem conseguem explicitar as capacidades e competecircncias que as tarefas

matemaacuteticas que propotildeem permitem desenvolver O IACC eacute um instrumento que

permite ao professor ter acesso agraves capacidades e competecircncias que os alunos jaacute

conseguem mobilizar para poder adaptar as praacuteticas em aula agraves caracteriacutesticas

necessidade e interesses de cada turma Essa avaliaccedilatildeo permite operacionalizar

praacuteticas colaborativas fomentando o desenvolvimento do pensamento (matemaacutetico)

da argumentaccedilatildeo sustentada da responsabilizaccedilatildeo e da autonomia aspectos

essenciais no desenvolvimento de cada aluno e agrave participaccedilatildeo activa e criacutetica

enquanto cidadatildeo informado e capaz de decidir

AGRADECIMENTOS

O projecto Interacccedilatildeo e Conhecimento foi parcialmente subsidiado pelo IIE em

199697 e em 199798 medida SIQE 2 (projecto nordm 796) e pelo CIEFCUL desde

1996 Agradecemos a todos os participantes que tornaram este trabalho possiacutevel

principalmente aos alunos professores investigadores e investigadores que mais

horas de trabalho colaborativo e reflexatildeo lhe dedicaram

Nota Por vontade expressa dos autores este artigo natildeo utiliza o novo acordo ortograacutefico

Utilizaacutemos Matemaacutetica (com maiuacutescula) apenas quando nos referimos agrave disciplina de

Matemaacutetica no ensino baacutesico ou secundaacuterio

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467

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

469

Avaliar para Conhecer A Avaliaccedilatildeo Externa vs Documentos

Norteadores da Praacutetica Letiva ndash (des)Articulaccedilatildeo

Madalena Teixeira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de SantareacutemUniversidade de Lisboa

madalenadtgmailcom

Rosaacuteria Correia

Instituto Superior de Educaccedilatildeo e Ciecircncias

rosariacorreiahotmailcom

Susana Pereira

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Santareacutem

susanafigueirapereiragmailcom

Resumo Esta comunicaccedilatildeo eacute sobre a avaliaccedilatildeo do conhecimento gramatical no 1ordm Ciclo do

Ensino Baacutesico sendo o nosso ponto de partida aferir a articulaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo externa

com os textos reguladores da praacutetica pedagoacutegica Pois embora o domiacutenio do

Funcionamento da Liacutengua agora Gramaacutetica apresente resultados positivos ndash 54 - eacute

de salientar que correspondem (apenas) ldquoateacute um maacuteximo de trecircs respostas no

conjunto dos seis itens consideradosrdquo (Prova de Afericcedilatildeo de 1ordm Ciclo - Liacutengua

Portuguesa ndash Relatoacuterio 2012 p8)

O facto de a investigaccedilatildeo ter vindo a demonstrar a existecircncia de correlaccedilatildeo entre os

diferentes competecircncias do portuguecircs (Correia Neves amp Teixeira 2011 Teixeira amp

Santos 2011) e de o proacuteprio Programa de Portuguecircs do Ensino Baacutesico (PPEB) (2009)

referir que se entende ldquopor leitura o processo interactivo () que exige vaacuterios

processos de actuaccedilatildeo interligados (decifraccedilatildeo de sequecircncias grafemaacuteticas acesso a

informaccedilatildeo semacircnticardquo e ldquopor escrita o resultado dotado de significado e conforme agrave

Gramaacutetica da Liacutengua de um processo de fixaccedilatildeo linguiacutesticardquo (p16) justificam a

relevacircncia de um conhecimento aprofundado acerca da temaacutetica mencionada no

paraacutegrafo anterior

Assim eacute nosso propoacutesito i) analisar o PPEB (2009) no que concerne ao Conhecimento

Expliacutecito da Liacutengua ii) analisar as Metas Curriculares de Portuguecircs no que refere agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

470

Gramaacutetica iii) analisar a prova do final do 1ordm Ciclo (2013) iv) conhecer os criteacuterios de

correccedilatildeo aplicados v) perceber as caracteriacutesticas da avaliaccedilatildeo externa

A investigaccedilatildeo ainda se encontra em fase de desenvolvimento Todavia os resultados

apontam para a ausecircncia de articulaccedilatildeo entre os normativos reguladores da praacutetica

letiva e as provas de avaliaccedilatildeo externa

Palavras-chave Gramaacutetica Avaliaccedilatildeo Documentos reguladores da praacutetica letiva

Summary This communication is about the evaluation of grammatical knowledge in the 1st cycle

of basic education being our starting point the knowledge of the articulation between

external evaluation and the regulatory texts of pedagogical practice like programs

For although the field of Funcionamento da Liacutengua now Gramaacutetica - grammar)

presents positive results - 54 - is to emphasize that it corresponds (only) up to three

answers in all the six items considered (Prova de Afericcedilatildeo de 1ordm Ciclo - Liacutengua

Portuguesa ndash Relatoacuterio 2012 p8)

The fact the research has been showing the correlation between the different

competence of the Portuguese Language (Correia Neves amp Teixeira 2011 Teixeira amp

Santos 2011) and the Programme Portuguese Basic Education (PPBE) 2009) itself

refers ldquofor reading the interactive process () that require several processes of

interconnected performance (the deciphering of ldquografemaacuteticasrdquo sequences of

semantic informationrdquo and ldquofor writing the result bestowed upon meaning and

according to the grammar of the language upon a process for the linguistic settingrdquo

(p16) justifies the importance of a deeper knowledge about the thematic mentioned

in the previous paragraph

Thus it is our purpose i) to analyse the PPBE (2009) regarding the explicit knowledge

of the language ii) to analyse the Goals of Portuguese Curriculum (GPC) (2012) in

terms of grammar iii) to analyse the assessment proof of the end of the 1st cycle

(2013) iv) to know the criteria applied for classification v) to understand the

characteristics of external evaluation

This investigation is still on development However the results point to an articulation

between external evaluation and the guiding documents of teaching practice

Keywords Grammar Assessment Guiding documents for teaching practice

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

471

Introduccedilatildeo

Num mundo cada vez mais competitivo a escola tem ao longo dos tempos modificado

a sua accedilatildeo adaptando-se agraves exigecircncias da atual sociedade adquirindo a avaliaccedilatildeo de

aprendizagens dos alunos uma importacircncia crescente no seu percurso escolar Deste

modo investigar sobre a avaliaccedilatildeo da qual satildeo alvo os alunos bem como sobre os

documentos reguladores da praacutetica letiva e demais diretrizes institucionais

compreendendo a sua pertinecircncia e apropriaccedilatildeo afigura-se-nos essencial Os

resultados escolares dos alunos ao niacutevel da aacuterea do portuguecircs visiacuteveis atraveacutes dos

relatoacuterios das provas e exames nacionais e de estudos internacionais como o PISA66

(2000 2003) e Reading Literacy - IEA (1992) bem como estudos nacionais como A

Literacia em Portugal (1995) tecircm-se verificado pouco abonatoacuterios Tendo em conta o

Relatoacuterio de 2012 referente agraves Provas de Afericcedilatildeo do 1ordm Ciclo do mesmo ano verifica-

se que os alunos obtiveram 159 de niacuteveis D 55 de niacutevel E perfazendo um total de

214 de resultados negativos - percentagem semelhante ao niacutevel C - 21 (p8)

Embora o domiacutenio Funcionamento da Liacutengua agora Gramaacutetica apresente resultados

positivos - 54 (Idem p19) consideramos que estes parecem ser insuficientes para

um conhecimento adequado da liacutengua uma vez que esta percentagem corresponde

apenas a ldquoum maacuteximo de trecircs respostas no conjunto dos seis itens consideradosrdquo

(Idem p19) Cientes de que o desenvolvimento da competecircncia gramatical interfere

com outros domiacutenios do saber natildeo nos surpreende que no mesmo Relatoacuterio se

constate que o domiacutenio da Escrita eacute aquele que ldquoapresenta resultados mais baixosrdquo

(Idem10) verificando-se a percentagem mais elevada (27) de alunos a obterem niacutevel

D Segundo o mesmo Relatoacuterio a meacutedia nacional dos alunos no ano de 2012 eacute de 66

Agora tendo em conta a anaacutelise preliminar dos resultados das Provas Finais de Ciclo

de 2013 a classificaccedilatildeo meacutedia na 1ordf fase foi de 49 na disciplina de Portuguecircs

Segundo o mesmo relatoacuterio ldquoo desempenho meacutedio dos alunos portugueses em sede

da avaliaccedilatildeo externa mostra sinais de estabilidaderdquo (p17)

66

Programme for International Student Assessment

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

472

Dado que a investigaccedilatildeo recente (Duarte 2008 Correia Neves amp Teixeira 2011) tem

vindo a demonstrar a existecircncia de correlaccedilatildeo entre os diferentes domiacutenios do

portuguecircs e o PPEB (2009) entender ldquopor leitura o processo interactivo () que exige

vaacuterios processos de actuaccedilatildeo interligados (decifraccedilatildeo de sequecircncias grafemaacuteticas

acesso a informaccedilatildeo semacircnticardquo e ldquopor escrita o resultado dotado de significado e

conforme agrave Gramaacutetica da liacutengua de um processo de fixaccedilatildeo linguiacutesticardquo (p16) leva-

nos a considerar que o ensino da Gramaacutetica eacute fundamental tendo implicaccedilotildees ao niacutevel

dos restantes domiacutenios conferindo-lhe por isso particular importacircncia Assim sendo

pretende-se compreender se a avaliaccedilatildeo efetuada anualmente a niacutevel nacional se

encontra de acordo com aquilo que eacute indicado nos documentos reguladores da praacutetica

letiva ou seja aferir a articulaccedilatildeo destes mesmos documentos com a avaliaccedilatildeo

externa no que refere ao conhecimento gramatical dos alunos do 1ordm Ciclo do Ensino

Baacutesico

Neste texto num primeiro momento refletiremos acerca da importacircncia do

conhecimento gramatical e do ensino da Gramaacutetica Seguidamente analisaremos as

Provas Finais de 1ordm Ciclo de Portuguecircs do 4ordm ano 1ordm e 2ordm fase realizadas pelos alunos

no ano letivo de 20122013 Por uacuteltimo teceremos as consideraccedilotildees finais

1 Importacircncia do Conhecimento Gramatical

Desde cedo a crianccedila vai desenvolvendo conhecimentos linguiacutesticos no que respeita agrave

sua liacutengua materna Com efeito quando iniciam o seu percurso escolar os alunos jaacute

possuem conhecimento que eacute impliacutecito (Sim-Sim Silva amp Nunes 2008) Depois de

aprender a utilizar a sua liacutengua a crianccedila necessita conhecer a sua estrutura

funcionamento e os termos que designam os seus elementos transformando o seu

conhecimento impliacutecito em expliacutecito iniciando a sua reflexatildeo sobre a liacutengua e as suas

propriedades formais - consciecircncia linguiacutestica (Idem) Para Antunes (2012 p25) a

Gramaacutetica expliacutecita trata-se de ldquoum conhecimento consciente e refletido da liacutenguardquo

A consciecircncia linguiacutestica estando diretamente ligada com o desenvolvimento de

capacidades para um uso adequado da liacutengua possui um papel transversal e crucial

para a aquisiccedilatildeo de competecircncias de escrita leitura e oralidade (Teixeira Silva amp

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

473

Santos 2011) Tal como refere o PPEB (2009 p2) a aprendizagem expliacutecita da

Gramaacutetica permite ldquoo controlo das regras e a seleccedilatildeo dos procedimentos mais

adequados agrave compreensatildeo e agrave expressatildeo em cada situaccedilatildeo comunicativardquo Assim o

ensino da Gramaacutetica deve ser interligado com os demais domiacutenios a desenvolver

ldquocessandordquo a praacutetica letiva onde o ensino da escrita eacute separado da leitura e estes

totalmente desvinculados da Gramaacutetica contribuindo para que os alunos natildeo

compreendam ldquoquando nem como nem para quecirc fazer uso daquilo que lhe

ensinavamrdquo (Antunes 2012 p2) Corroborando esta ideia pode ler-se no documento

MCP (20126)

No domiacutenio da Gramaacutetica pretende-se que o aluno adquira e desenvolva a

capacidade para sistematizar unidades regras e processos gramaticais da nossa

liacutengua de modo a fazer um uso sustentado do portuguecircs padratildeo nas diversas

situaccedilotildees da Oralidade da Leitura e da Escrita O ensino dos conteuacutedos gramaticais

deve ser realizado em estreita sintonia com atividades inerentes agrave consecuccedilatildeo dos

objetivos dos restantes domiacutenios

Do mesmo modo o PPEB (2009) refere que o Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua eacute

transversal aos diferentes domiacutenios da liacutengua Costa Costa amp Barbosa (2008)

preconizam que o ensino da Gramaacutetica se encontra em constante articulaccedilatildeo com os

restantes domiacutenios da liacutengua nomeadamente no que refere agrave escrita por exemplo ao

niacutevel da micro-estrutura textual da ortografia e da pontuaccedilatildeo Tambeacutem no domiacutenio da

Leitura o conhecimento expliacutecito de normas sintaacuteticas complexas possibilita uma

leitura proficiente No que refere agrave Oralidade o conhecimento de Gramaacutetica

possibilita por exemplo uma adequaccedilatildeo do registo oral a distintos contextos de

formalidade Deste modo para compreender e produzir impotildee-se um conhecimento

metalinguiacutestico ativado sempre que se trata de um processamento da liacutengua Tal como

refere o Conselho da Europa (2001) o ensino da Gramaacutetica viabiliza o

desenvolvimento das competecircncias da liacutengua que possibilitaratildeo a execuccedilatildeo de tarefas

e atividades essenciais para situaccedilotildees de comunicaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

474

2A Gramaacutetica no Programa de Portuguecircs do Ensino Baacutesico e nas Metas Curriculares

de Portuguecircs

Os professores referem constantemente as lacunas dos seus alunos ao niacutevel da

produccedilatildeo textual sejam de ordem sintaacutetica morfoloacutegica eou ortograacutefica a leitura

demonstra que natildeo reconhecem automaticamente as palavras evidenciando um

inadequado desenvolvimento da consciecircncia fonoloacutegica e um desconhecimento das

normas do funcionamento da liacutengua comprovando assim a importacircncia do

conhecimento gramatical para o exerciacutecio das restantes competecircncias do portuguecircs67

Os oacutergatildeos de gestatildeo tecircm revelado estar cientes da importacircncia do ensino da liacutengua

bem como da necessidade de adequar constantemente as orientaccedilotildees curriculares agraves

modificaccedilotildees da sociedade e aos desafios que estas acarretam Note-se a realizaccedilatildeo da

Conferecircncia Internacional sobre o Ensino do Portuguecircs (2007) o Plano Nacional de

Leitura (2007) o Dicionaacuterio Terminoloacutegico (2008) a implementaccedilatildeo do Programa de

Portuguecircs do Ensino Baacutesico (2009) e as recentes Metas Curriculares de Portuguecircs

(2012) Materiais e recursos que atualmente direcionam o trabalho e a praacutetica docente

devendo ser utilizados natildeo de forma mecacircnica e acriacutetica mas compreendidos em

profundidade de modo a contribuiacuterem para uma praacutetica educativa consciente e

fundamentada em funccedilatildeo do grupo e do contexto concreto em que este se insere

(Teixeira Silva amp Santos 2011)

Para o ensino da aacuterea do Portuguecircs os dois documentos reguladores que deveratildeo ser

colocados na primeira linha do labor pedagoacutegico contecircm indicaccedilotildees precisas devendo

ser ambos utilizados em estreita articulaccedilatildeo permitindo uma intervenccedilatildeo coerente e

coesa sem esquecer que as MCP (2012) contribuem para que o professor seja capaz

de tomar decisotildees mediante prioridades previamente estabelecidas No entanto e

apesar de o mais recente documento (MCP2012) ter como referecircncia o PPEB (2009)

estes satildeo distintos e em determinados aspetos parecem contraditoacuterios tanto no que

refere agrave estrutura e modo de organizaccedilatildeo como no que concerne agrave terminologia

67

Teixeira Silva amp Santos (2011)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

475

utilizada Focando a nossa atenccedilatildeo no que pertence ao saber gramatical o PPEB (2009)

estaacute estruturado por competecircncias descritores de desempenho e respetivos

conteuacutedos sendo que a nomenclatura para ldquoeste saberrdquo eacute Conhecimento Expliacutecito da

Liacutengua (CEL) Um uacuteltimo apontamento recai no facto de este documento para o 1ordm

Ciclo estar construiacutedo por blocos de dois anos isto eacute 1ordm e 2ordm Anos e 3ordm e 4ordm Anos Jaacute

nas MCP (2012) deparamos com domiacutenios ndash o que nos parece corresponder agraves

competecircncias enunciadas no PPEB (2009) e que no caso pretendido altera CEL para

Gramaacutetica- seguidos de Subdomiacutenios para os quais se definem Objetivos Gerais que

por sua vez se desdobram em Descritores de Desempenho Salientamos ainda que os

Domiacutenios estatildeo por cada ano de escolaridade ndash 1ordm Ano 2ordm Ano 3ordm Ano e 4ordm Ano

Efetivamente natildeo eacute raro ouvir-se em contexto escolar ldquoAgora natildeo se diz

Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua eacute Gramaacuteticardquo ldquoAs planificaccedilotildees tecircm de ser feitas

com base nas Metasrdquo ldquoO Programa jaacute natildeo estaacute em vigorrdquo ldquoOs conteuacutedos satildeo os que

estatildeo nas Metasrdquo Ora embora estas afirmaccedilotildees tenham com base o empirismo satildeo

suficientes para levantarmos algumas questotildees nomeadamente uma vez que as

Metas devem ldquoidentificar os desempenhos que traduzem os conhecimentosrdquo seraacute

que podem ser consideradas como o documento no qual constam os conteuacutedos a

aprender Se este documento indica as capacidades que se querem ver desenvolvidas

seraacute que o Programa era demasiado exigente uma vez que estas apresentam o que eacute

essencial e sobretudo prioritaacuterio Se houve a preocupaccedilatildeo de as formular as Metas

de forma clara e precisa de modo a que os professores saibam exatamente o que se

pretende que o aluno aprenda o que se pretende quando no mesmo documento se lecirc

que eacute importante natildeo esquecer que uma vez alcanccediladas eacute possiacutevel e desejaacutevel ir mais

aleacutem sendo o professor quem deve decidir por onde e como prosseguir Natildeo temos

resposta para estas (e outras perguntas) mas estamos em crer que este documento eacute

redutor parecendo inclusivamente que se registam prioridades diferentes

relativamente ao PPEB (2009) Para tanto veja-se a Figura 1

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

476

Figura 1 ndash Do Programa agraves Metas Curriculares

Os descritores de desempenho no 1ordm Ciclo satildeo invariavelmente os mesmos sendo que

no 2ordm e 3ordm Ciclos jaacute se poderatildeo ler como processos de operacionalizaccedilatildeo

Relativamente aos conteuacutedos verifica-se que eacute dada a indicaccedilatildeo do documento a

utilizar pelo professor - Dicionaacuterio Terminoloacutegico (DT) - e do Plano a trabalhar B11

que corresponde ao Plano Fonoloacutegico Os conteuacutedos que se encontram escritos a

negrito satildeo aqueles nos quais a aprendizagem integra o recurso agrave metalinguagem Os

que estatildeo com traccedilo simples indicam os conteuacutedos a trabalhar sem o uso

metalinguiacutestico No entanto e a tiacutetulo exemplificativo ao efetuar-se uma leitura na

coluna da direita no documento MCP (2012) observa-se que os conteuacutedos imbricados

nos objetivos e nos descritores de desempenho em nada se relacionam com os

preconizados no PPEB (2009) ndash atente-se na Figura 2

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

477

Figura 2 ndash Do Programas agraves Metas Curriculares ndash 2

Dos Planos considerados no Dicionaacuterio Terminoloacutegico ndash Plano da Liacutengua Variaccedilatildeo e

Mudanccedila (DT A) Plano Fonoloacutegico (DT B1) Plano Morfoloacutegico (DT B2) Plano das

Classes de Palavras (DT B3) Plano Sintaacutetico (DT B4) Plano Lexical e Semacircntico (DT B5 e

B6) Plano Discursivo e Textual (DT C) Plano da Representaccedilatildeo Graacutefica e Ortograacutefica

(DT E) com exceccedilatildeo do DT A todos os Planos estatildeo contemplados nos PPEB (2009) no

1ordm e no 2ordm anos de escolaridade enquanto para estes mesmos anos nas Metas

Curriculares (2012) o Plano em foco eacute o da Morfologia

Se por um lado o termo Gramaacutetica eacute tal como refere Antunes (2012) ldquoa designaccedilatildeo

internacionalmente conhecida do estudo dos factos e das estruturas linguiacutesticas

comummente utilizadas por alunos pais e professoresrdquo (p23) e por outro o termo

Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua sendo muitas vezes substituiacutedo pelo acroacutenimo CEL

perder segundo Machado (2012) ldquoa essecircncia do valor semacircntico da designaccedilatildeordquo

(p14) colocamos a hipoacutetese de que o mais importante independentemente desta

nomenclatura utilizada eacute efetivamente que os docentes trabalhem articuladamente

esta competecircncia entendendo-a como a ferramenta essencial para aprendizagem da

leitura da escrita e da oralidade contribuindo assim para uma melhoria na qualidade

de vida No entanto sublinhamos que ldquoestas oscilaccedilotildeesrdquo potenciam a inseguranccedila e a

duacutevida culminando no erro de se considerar a possibilidade de os conteuacutedos de

Gramaacutetica poderem ser ldquopostos de parterdquo na medida em que ldquosatildeo instaacuteveis pouco

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

478

clarosrdquo (Costa Costa amp Barbosa (2008160) Claro estaacute que surgem justificaccedilotildees para

os resultados escolares dos alunos ao niacutevel da (falta de conhecimento gramatical) (i)

formaccedilatildeo inicial e contiacutenua de professores (ii) peso da Gramaacutetica nas provas de

exame (iii) instabilidade terminoloacutegica (iv) metodologias de ensino da Gramaacutetica (v)

articulaccedilatildeo entre os conteuacutedos de Gramaacutetica e as restantes competecircncias (Idem)

3Articulaccedilatildeo entre Avaliaccedilatildeo Externa e Documentos Reguladores da Praacutetica

Analisando os Relatoacuterios disponibilizados desde 20072008 pelo Gabinete de

Avaliaccedilatildeo Educacional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ciecircncia no que diz respeito agraves

Provas de Avaliaccedilatildeo eacute observaacutevel que os resultados tecircm demonstrado ser

insatisfatoacuterios Assim importa analisar a Prova Final de Ciclo de 4ordm ano referente ao

ano letivo 20122013 1ordf e 2ordf fase perspetivando a sua articulaccedilatildeo com os

documentos reguladores da praacutetica letiva no que refere ao conhecimento gramatical

Cada um dos itens do Grupo II do primeiro caderno foi analisado e comparado com os

descritores de desempenho da competecircncia Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua no

PPEB (2009) para os 3ordm e 4ordm anos de escolaridade bem como com os descritores de

desempenho do domiacutenio Gramaacutetica para o 4ordm ano de escolaridade no documento MCP

(2012) uma vez que eacute neste ano que ldquorecairdquo a avaliaccedilatildeo de final do 1ordm CEB e ainda

porque consideramos semelhantes os objetivos definidos para os dois uacuteltimos anos

deste ciclo Efetuamos tambeacutem para este estudo uma consulta aos criteacuterios de

correccedilatildeo no qual o grupo II da prova mencionada eacute designado como ldquofuncionamento

da liacutenguardquo - uma terminologia a nosso ver pouco coerente na medida em que agrave data

da Prova Final de Ciclo o termo apresentado natildeo se encontra de acordo com os

documentos reguladores da praacutetica letiva em vigor e que serviram de base para a

elaboraccedilatildeo da referida prova Esta anaacutelise assume caracteriacutesticas de um estudo de

caso em virtude de se cingir a uma situaccedilatildeo particular que analisa um fenoacutemeno da

atualidade no seu contexto real (Yin 2003 p13)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

479

31 Anaacutelise e Interpretaccedilatildeo dos Resultados Obtidos

Tanto na 1ordf como na 2ordf fase da Prova Final de Ciclo (PFC) o domiacutenio que pretendemos

analisar integra-se invariavelmente no Grupo II sendo sempre constituiacutedo por cinco

ldquoquestotildeesrdquo

Atentemos na primeira questatildeo do Grupo II Nas provas de ambas as fases era

solicitado aos alunos que completassem duas frases selecionando uma palavra de

duas apresentadas de acordo com o sentido da frase Na 1ordf fase os alunos deveriam

selecionar em 1 a) agrave ou haacute para a frase Achas que __ algum filme de sereias e em 1

b) querer ou crer para a frase Depois do filme ele vai __ em sereias Na 2ordf fase os

alunos deveriam selecionar em 1 a) traacutes ou traz para a frase Ruy sem olhar para __

tomou uma decisatildeo e selecionar em 1 b) haver ou a ver para a frase A falta de

coragem nada teve __ com o resultado alcanccedilado Analisando os criteacuterios de correccedilatildeo

as respostas vaacutelidas para a 1ordf fase satildeo haacute em a) e crer em b) e na 2ordf fase traacutes em a) e a

ver em b) No acircmbito do Conhecimento Expliacutecito da Liacutengua do PPEB (2009) o item

enquadra-se no plano da representaccedilatildeo graacutefica e ortograacutefica referente ao descritor de

desempenho Explicitar regras e procedimentos identificar palavras homoacutenimas

homoacutefonas e homoacutegrafas Analisando a estrutura do item e comparando-a com o

descritor de desempenho consideramos que natildeo se encontra em total concordacircncia

na medida em que natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem as regras e

procedimentos da diferenccedila entre ldquografiardquo e ldquofoniardquo nem mesmo que recorram agrave

metalinguagem para identificar as palavras No acircmbito das MCP (2012) tendo em

conta o domiacutenio Gramaacutetica referente ao 4ordm ano de escolaridade a questatildeo natildeo se

enquadra em nenhum dos descritores de desempenho previstos

Veja-se agora a segunda questatildeo do Grupo II No item 2 da 1ordf e da 2ordf fases os

alunos necessitavam escrever uma frase dando a determinada palavra uma acessatildeo

diferente contextualizando-a de modo adequado Na 1ordf fase da PFC a frase

apresentada em 2 era A escultura de maacutermore tinha a altura de um rapaz devendo

ser a palavra altura utilizada numa nova frase revestindo-se de um outro significado

Na PFC da 2ordf fase a frase apresentada em 2 era O curso de aacutegua era pouco profundo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

480

desta vez a alteraccedilatildeo deveria focalizar-se em curso No que concerne ao Conhecimento

Expliacutecito da Liacutengua (PPEB 2009) o item enquadra-se no plano da representaccedilatildeo graacutefica

e ortograacutefica referente ao descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos

identificar palavras homoacutenimas homoacutefonas e homoacutegrafas No entanto consideramos

que o descritor de desempenho natildeo se encontra em total coerecircncia com a questatildeo 2

na medida em que natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem as razotildees da sua escolha

recorrendo inclusivamente agrave metalinguagem Agrave semelhanccedila do item anterior

tambeacutem este natildeo se encontra nas MCP (2012) no domiacutenio da Gramaacutetica nem mesmo

se encontra qualquer alusatildeo ao conteuacutedo referente agraves relaccedilotildees de sentido entre

palavras escritas

Na terceira questatildeo do Grupo II da 1ordf fase os alunos necessitavam de (apenas)

transcrever o adjetivo da seguinte frase A avoacute era uma senhora orgulhosa da sua

posiccedilatildeo Tendo em conta os criteacuterios de correccedilatildeo o aluno deveria transcrever

orgulhosa Na 2ordf fase a frase apresentada era Houve atletas que chegaram atrasados

ao estaacutedio Sendo considerado correto apenas a transcriccedilatildeo da palavra atrasados

Relativamente ao PPEB (2009) mais concretamente ao Conhecimento Expliacutecito da

Liacutengua o item enquadra-se no plano das classes de palavras referente ao descritor de

desempenho Explicitar identificar as caracteriacutesticas que justificam a inclusatildeo (ou

exclusatildeo) de palavras numa classe Quanto agraves MCP (2012) no domiacutenio Gramaacutetica o

item refere-se ao objetivo Reconhecer classes de palavras e ao descritor de

desempenho Integrar as palavras nas classes a que pertencem adjetivo qualificativo e

numeral Neste item afigura-se uma concertaccedilatildeo entre o texto que serve de referencial

para a avaliaccedilatildeo externa (MCP 2012) e o proacuteprio Programa (2009)

Quarta questatildeo do grupo II - os alunos necessitavam conjugar verbos apresentados no

infinitivo em diferentes tempos verbais Na 1ordf fase os verbos em avaliaccedilatildeo foram

mergulhar e estar (preteacuterito perfeito do indicativo) partir e ter (presente do

indicativo) e ser e viver (futuro do indicativo) Tendo em conta os criteacuterios de correccedilatildeo

eram aceites como corretas as respostas mergulharam e estiveram partem e tecircm e

por uacuteltimo seratildeo e viveratildeo Na 2ordf fase os alunos necessitavam conjugar os verbos ser

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

481

e ter (preteacuterito perfeito do indicativo) os verbos estar e conversar (presente do

indicativo) e os verbos responder e decidir (futuro do indicativo) De acordo com os

criteacuterios de correccedilatildeo eram aceites as seguintes respostas foram e tiveram estatildeo e

conversam e por uacuteltimo responderatildeo e decidiraacute Este item enquadra-se no plano

morfoloacutegico referente ao descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos

explicitar algumas regras de flexatildeo nominal adjetival pronominal e verbal (verbos

regulares) (PPEB 2009) Neste caso entendemos que o descritor de desempenho eacute

bastante abrangente cingindo-se a questatildeo da prova agrave flexatildeo verbal Mais uma vez

natildeo eacute solicitado aos alunos que explicitem o ldquoporquecircrdquo das suas escolhas de regras e de

procedimentos parecendo-nos que as respostas poderiam ser apresentadas (quase)

intuitivamente por falantes para quem o portuguecircs eacute liacutengua materna ndash natildeo fosse o

(des)conhecimento de desinecircncias como as da 3ordf pessoa do plural do futuro do

indicativo No acircmbito das MCP (2012) no domiacutenio Gramaacutetica o item corresponde ao

objetivo Conhecer propriedades das palavras e explicitar aspetos fundamentais da sua

morfologia e do seu comportamento sintaacutetico e ao descritor de desempenho Conjugar

verbos regulares e verbos irregulares muito frequentes no indicativo (preteacuterito perfeito

preteacuterito imperfeito e futuro) e no imperativo Consideramos que este descritor eacute de

algum modo redutor em termos de aprendizagem pois ldquoprenderdquo agrave situaccedilatildeo de

conjugaccedilatildeo e isso natildeo implica que haja aprendizagem relativa ao uso dos tempos

verbais indicados Note-se que os alunos para a consecuccedilatildeo das suas respostas

tinham a indicaccedilatildeo do tempo verbal a utilizar sem que para isso necessitassem de

refletir acerca do contexto do respetivo uso Ao contraacuterio do PPEB (2009) o

documento MCP (2012) natildeo contempla a flexatildeo nominal adjetival e pronominal

destacando os verbos regulares e irregulares

Finalmente na quinta questatildeo do grupo II os alunos deveriam selecionar de entre

quatro opccedilotildees o predicado de uma dada frase Na PFC da 1ordf fase a frase apresentada

era Uma roseira e uma bela escultura de maacutermore decoravam o canteiro Na PFC da

2ordf fase a frase apresentada era Os atletas deram uma justificaccedilatildeo ao diretor Os

criteacuterios de correccedilatildeo indicaram para o primeiro caso - decoravam o canteiro e para o

segundo - deram uma justificaccedilatildeo ao diretor jaacute se percebendo a eventual influecircncia do

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

482

Dicionaacuterio Terminoloacutegico na deriva terminoloacutegica pois chegou a verificar-se em

situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo interna que o predicado era constituiacutedo unicamente pelo verbo

Tanto no PPEB (2009) - descritor de desempenho Explicitar regras e procedimentos -

identificar funccedilotildees sintaacuteticas ndash como nas MCP (2012) ndash descritor de desempenho

Identificar as seguintes funccedilotildees sintaacuteticas sujeito e predicado ndash se pode verificar que o

ser capaz de identificar funccedilotildees sintaacuteticas neste caso o predicado eacute tido como

fundamental em ambos os documentos

Consideraccedilotildees Finais

Pelo que acima fica exposto consideramos que a PFC evidencia que os itens

respondentes ao grupo II natildeo se encontram em total articulaccedilatildeo com os documentos

reguladores da praacutetica letiva quer no que refere agrave nomenclatura utilizada estrutura

das questotildees e no que concerne ao conteuacutedo de cada item Assim sublinhamos os

seguintes aspetos i) alguns itens encontram-se referenciados apenas num dos

documentos reguladores da praacutetica - no PPEB (2009) - natildeo fazendo parte do domiacutenio

Gramaacutetica para o 4ordm ano de escolaridade do documento MCP (2012) ii) todos os itens

da prova encontram-se referidos no documento PPEB (2009) o que nos leva a

considerar que a avaliaccedilatildeo externa ldquoconduziu a organizaccedilatildeordquo desta prova

essencialmente por este documento e note que as MCP (2012) definem-se como o

documento ldquode referecircncia para o ensino e a aprendizagem e para a avaliaccedilatildeo interna e

externardquo (p4) iii) a estrutura e conteuacutedo dos itens apresentados em prova natildeo estatildeo

articulados com os descritores de desempenho (PPEB 2009) (MCP 2012) dos

documentos nomeadamente porque estes se focam em capacidades de explicitaccedilatildeo

de procedimentos e de regras sendo o recurso metalinguiacutestico (quase) inevitaacutevel

diferenciando-se assim do que eacute solicitado nas questotildees analisadas

Questionamo-nos ateacute que ponto o volume e o ritmo de trabalho as constantes

solicitaccedilotildees escolares e ainda o peso da avaliaccedilatildeo poderaacute levar os docentes a

restringirem o seu ato pedagoacutegico pois segundo o documento MCP (2012 p4) este

ldquohellipfornece uma visatildeo o mais objetiva possiacutevel daquilo que se pretende alcanccedilar

permitindo que os professores se concentrem no que eacute essencial () Houve a

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

483

preocupaccedilatildeo de as formular de forma clara e precisa de modo a que os

professores saibam exatamente o que se pretende que o aluno aprendardquo

Questionamo-nos ainda se estaremos perante um contrassenso na medida em que

limitando-se ao que eacute prioritaacuterio em relaccedilatildeo ao PPEB (2009) o documento MCP (2012)

natildeo tornaraacute o processo de ensino demasiado delimitado uma vez que ldquoas metas (hellip)

identificaram os desempenhos que traduzem os conhecimentos a adquirir e as

capacidades que se querem ver desenvolvidas respeitando a ordem de progressatildeo da

sua aquisiccedilatildeordquo Qual eacute entatildeo ldquoa margem de manobrardquo do professor Em que

consiste Sendo que tal como houve oportunidade de analisar a avaliaccedilatildeo externa

natildeo se encontra em nosso entender de acordo com o que eacute considerado essencial

uma vez que alguns itens da prova natildeo satildeo abrangidos pelo domiacutenio Gramaacutetica do

documento MCP (2012) qual eacute entatildeo o referencial do professor

Eacute fundamental que os professores encarem os documentos reguladores com

reflexividade e que os utilizem a ambos em plena articulaccedilatildeo Diante desta realidade

consideramos a Gramaacutetica o cerne das dificuldades dos alunos devendo ser por isso

encarada como competecircncia foco para o desenvolvimento da oralidade da leitura e

em particular da escrita Julgamos ainda essencial uma reformulaccedilatildeo harmoniosa

entre estes documentos em particular no que toca aos descritores de desempenho e

ainda uma adequaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo externa em conformidade com as ldquoprescriccedilotildeesrdquo ali

indicadas uma vez que estes guiam o ato pedagoacutegico

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486

Contributos da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional de Assistentes Operacionais no

1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico

Fernando Ferraz

Professor do Ensino Baacutesico Lisboa

fferraz12gmailcom

Joatildeo Rosa

Professor na Escola Superior de Educaccedilatildeo do Instituto Politeacutecnico de Lisboa

jmsrosahotmailcom

RESUMO

Este estudo analisou se haveria um contributo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos

no desenvolvimento profissional de Assistentes Operacionais (AO) quer quanto agrave

mobilizaccedilatildeo de conhecimentos fundamentados naquela aacuterea quer quanto agrave perceccedilatildeo

de mudanccedilas de atitude quando intervecircm em situaccedilotildees de conflituosidade entre

alunos

Os recreios das escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico (1ordm CEB) satildeo os locais onde

ocorre a quase totalidade dos conflitos entre alunos (Fernaacutendez 2007 Oliveira 2007

Rosa 2007) Esses recreios satildeo supervisionados pelos AO os quais devem ter

formaccedilatildeo especiacutefica em estrateacutegias de resoluccedilatildeo de conflitos A mediaccedilatildeo eacute apontada

como a melhor estrateacutegia na abordagem dos conflitos escolares conduzindo a

melhoria na convivecircncia escolar e na construccedilatildeo de um clima escolar positivo propiacutecio

agrave eficaacutecia da educaccedilatildeo (Torrego 2003 Boqueacute 2008 Tomaacutes 2010)

A estrateacutegia de pesquisa baseou-se num estudo de intervenccedilatildeo com uma amostra de

conveniecircncia simultaneamente qualitativo e quantitativo Os dados foram recolhidos

por questionaacuterio por levantamento dos conhecimentos anteriores e posteriores agrave

formaccedilatildeo e por entrevistas aos participantes No estudo participaram sete AO de uma

escola puacuteblica na aacuterea da Grande Lisboa em Portugal

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

487

Os resultados revelaram que os AO desenvolveram conhecimentos sobre mediaccedilatildeo e

percecionaram em si mesmos mudanccedilas de atitude face agraves suas intervenccedilotildees na

resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos Os resultados ainda revelaram que os AO sentem

que as autoridades educacionais e escolares desvalorizam em grande medida o seu

valor profissional mas retiram motivaccedilatildeo da interaccedilatildeo com os alunos

Concluiu-se que a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos oferece um contributo

significativo para avaliar o impacto da formaccedilatildeo no desenvolvimento profissional dos

Assistentes Operacionais que estatildeo conscientes do seu papel educativo e tecircm

sugestotildees pertinentes de melhoria da sua intervenccedilatildeo

Palavras-chave Desenvolvimento profissional Formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo de conflitos

Assistentes Operacionais

ABSTRACT

This study evaluated whether training in conflict mediation contributed for

professional development of Operational Assistants (OA) either on grounded

knowledge on that subject area or on their perceived attitudinal change when sorting

out conflicts between students

Most conflicts between students take place in school playgrounds (Fernaacutendez 2007

Oliveira 2007 Rosa 2007) These are supervised by OA who should have specific

training in conflict mediation strategies Mediation is considered as the best strategy

for addressing conflict thus improving school coexistence and positive climate and

enhancing education effectiveness (Torrego 2003 Boqueacute 2008 Tomaacutes 2010)

The research strategy was based on an intervention study with both qualitative and

quantitative data collected through questionnaire knowledge assessment tests and

interviews The participants were seven OA from a state run school in the greater

Lisbon area in Portugal

The results revealed that knowledge about conflict mediation did improve and

attitudinal change was perceived when conflicting situations were sorted out by OA

There was also evidence that OA felt to a large extent professionally devalued by

educational and school authorities but find interaction with students as motivating

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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It is concluded that training in conflict mediation offers a significant contribution to

assess the impact of training on Operational Assistants professional development who

are well aware of their educational role and have relevant suggestions for improving

their intervention

Key-words Professional Development Training in Conflict Mediation Operational

Assistants

INTRODUCcedilAtildeO

O estudo que apresentamos teve como objetivo analisar o contributo da formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo de conflitos no desenvolvimento profissional dos AO em escola puacuteblica do

1ordm CEB Mais especificamente pretendeu verificar se haveria um contributo da

formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo no desenvolvimento de conhecimentos nessa aacuterea e na

mudanccedila de atitude nos AO face agrave intervenccedilatildeo nos conflitos entre alunos

Segundo Torrego (2003) Boqueacute (2008) e Tomaacutes (2010) a mediaccedilatildeo eacute a melhor

estrateacutegia na intervenccedilatildeo dos conflitos escolares com vista agrave convivecircncia e agrave

construccedilatildeo de um clima escolar propiacutecio agrave aprendizagem e agrave eficaacutecia da educaccedilatildeo

Os recreios das escolas do 1ordm CEB satildeo os locais onde ocorre a quase totalidade dos

conflitos entre alunos Tais recreios devem ser adequadamente equipados e

supervisionados atendendo agrave faixa etaacuteria daqueles alunos e ao papel das atividades

luacutedicas na socializaccedilatildeo dos alunos (Fernaacutendez 2007 Oliveira 2007 Rosa 2007) Sendo

aqueles recreios supervisionados pelos AO torna-se urgente a necessidade de

formaccedilatildeo dos AO em mediaccedilatildeo de conflitos

A relevacircncia do estudo fundamenta-se no contributo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo dos

AO para o seu desenvolvimento profissional considerando a necessidade do

reconhecimento e valorizaccedilatildeo profissional daqueles atores educativos uma vez que

podem desempenhar um papel relevante na intervenccedilatildeo dos conflitos entre alunos

perspetivando-se melhoria na qualidade da educaccedilatildeo do cidadatildeo da sociedade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

489

ENQUADRAMENTO TEOacuteRICO

O conflito natural e inerente ao desenvolvimento humano deve ser encarado de

forma construtiva num processo que resulte em aprendizagem com vista agrave

convivecircncia paciacutefica O comportamento social humano torna-se complexo em virtude

dos relacionamentos interpessoais se basearem em interesses por vezes

incompatiacuteveis como a afirmaccedilatildeo da autoimagem o dinheiro e a realizaccedilatildeo pessoal

(Matos 1993)

Numa visatildeo tradicional o conflito eacute visto como um mal resultante de comportamento

indesejaacutevel associado agrave agressividade agrave violecircncia fiacutesica e verbal a sentimentos e a

comportamentos negativos e prejudiciais que precisa eliminar recorrendo agrave

autoridade e ao poder Ao contraacuterio numa visatildeo atual eacute admissiacutevel um certo grau de

conflito nos grupos pois a partilha e a discussatildeo aberta de pontos de vista diferentes

pode proporcionar uma maior exploraccedilatildeo de sentimentos de valores e de atitudes

favorecendo ideias inovadoras e melhores soluccedilotildees (Fachada 2012)

O conflito natildeo tem que acabar em destruiccedilatildeo A questatildeo natildeo se coloca em erradicar os

conflitos mas sim em abordaacute-los de forma construtiva pois ldquoaproveitar a riqueza de

cada pessoa favorece a inovaccedilatildeo social e promove o bom entendimentordquo (Boqueacute

2008 p 20)

A escola reflete a complexidade da sociedade circundante As tensotildees motivadas pelos

contrastes sociais econoacutemicos culturais e familiares repercutem-se no quotidiano

escolar Indisciplina violecircncia bullying satildeo termos que refletem a conflituosidade nas

escolas ultrapassando a dimensatildeo da sala de aula As ocorrecircncias de agressividade e

maus tratos entre alunos registam-se prioritariamente em zonas urbanas de grande

densidade populacional e nos meses iniciais de cada ano letivo (Estrela 2002

Sebastiatildeo Alves amp Campos 2010)

Nas escolas de 1ordm CEB o recreio eacute o local onde ocorre a quase totalidade das

agressotildees fiacutesicas e verbais entre alunos (Rosa 2007 Oliveira 2007) Os espaccedilos de

recreio podem ser de grande importacircncia educativa para os alunos e por isso os

recreios precisam de ser adequadamente equipados preservados e supervisionados

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

490

por profissionais com formaccedilatildeo e treino especiacutefico na abordagem dos conflitos entre

alunos (Pereira et al 2003 Pereira 2005 Fernaacutendez 2007)

A literatura referente agrave problemaacutetica dos conflitos escolares tem incidido de um modo

geral sobre adolescentes e jovens sendo escassos os estudos em escolas de 1ordm CEB

Por um lado as consequecircncias fiacutesicas das agressotildees fiacutesicas entre as crianccedilas nessas

idades natildeo satildeo em geral graves e consequentemente natildeo constituem notiacutecia Por

outro lado o mau trato entre iguais (Bullying) eacute a forma de violecircncia que mais se

pratica nas escolas com graves consequecircncias imediatas e a longo prazo (Estrela

2002) Por isso haacute toda a conveniecircncia em encarar a abordagem dos conflitos desde

crianccedila pois ldquoos programas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo devem ser efetuados o mais

precocemente possiacutevelrdquo (Matos Simotildees Gaspar amp Equipa do Projeto Aventura Social

2010 p 63) podendo a mediaccedilatildeo desempenhar um papel crucial

A mediaccedilatildeo eacute ldquoum meacutetodo de resoluccedilatildeo de conflitos em que duas partes em confronto

recorrem voluntariamente a uma terceira pessoa imparcial o mediador a fim de

chegarem a um acordo satisfatoacuteriordquo (Torrego 2003 p 5) Trata-se de um processo

inovador de abordar o conflito baseado no respeito na aprendizagem e no

crescimento contribuindo para uma sociedade paciacutefica desenvolvida e humanista um

processo que abrange um conjunto de competecircncias e procedimentos com vista a

transformar os conflitos em oportunidades resultando num maior conhecimento de si

proacuteprio e de outros A mediaccedilatildeo eacute ldquoa forma mais eficaz e assertiva de chegar a um

consenso e de prevenir um determinado conflito (Tomaacutes 2010 p 27)

A mediaccedilatildeo registou um impulso decisivo nas uacuteltimas deacutecadas sendo aplicada em

diversas situaccedilotildees Na escola a mediaccedilatildeo tem sido considerada uma boa abordagem

para a transformaccedilatildeo criativa dos conflitos aproveitando-os como oportunidade de

crescimento e aprendizagem cria um ambiente mais descontraiacutedo e produtivo reduz

o nuacutemero de sanccedilotildees e dada a intervenccedilatildeo da mediaccedilatildeo entre pares diminui a

intervenccedilatildeo dos adultos (Torrego 2003) Portanto a mediaccedilatildeo promove o

desenvolvimento de capacidades e competecircncias interpessoais e sociais essenciais

para o exerciacutecio da cidadania

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

491

Nos processos de mediccedilatildeo satildeo necessaacuterios os contributos das teacutecnicas para uma

comunicaccedilatildeo eficaz bem como os contributos da mediaccedilatildeo formal e informal No caso

da mediaccedilatildeo informal as teacutecnicas satildeo proacuteprias da comunicaccedilatildeo diaacuteria e as normas satildeo

mais flexiacuteveis o mediador pode natildeo ser um especialista em mediaccedilatildeo pretende-se

uma melhoria das relaccedilotildees entre as partes em desacordo

Estando o objetivo do nosso estudo relacionado com a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo dos AO

em escolas do 1ordm CEB atendendo agrave sua funccedilatildeo de supervisatildeo nos recreios locais de

frequentes conflitos entre alunos consideramos que a intervenccedilatildeo dos AO se situa

preponderantemente no quadro da praacutetica da mediaccedilatildeo informal ateacute porque ldquoo

exerciacutecio natildeo formal da mediaccedilatildeo chega a ser o substrato onde se enraiacutezam sociedades

mais paciacuteficas e por isso mais justasrdquo (Boqueacute 2008 p 29)

A formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo eacute recomendada natildeo apenas a professores mas tambeacutem a

toda a comunidade educativa incluindo alunos AO e famiacutelias (Morgado amp Oliveira

2011) pois contribui para uma diminuiccedilatildeo de conflitos entre alunos e para o

desenvolvimento pessoal e profissional dos auxiliares na gestatildeo de conflitos entre

alunos (Arroz 2010) Tambeacutem ao niacutevel das escolas do 1ordm CEB eacute proposto a

implementaccedilatildeo de projetos de mediaccedilatildeo com a participaccedilatildeo ativa dos alunos e da

restante comunidade educativa (Oliveira 2007 Rosa 2007)

Poreacutem precisamos de ser realistas e saber que os processos de mudanccedila de

comportamentos sociais satildeo sempre lentos Seraacute necessaacuteria a vontade de mudanccedila

por parte dos intervenientes o apoio por parte da comunidade escolar e o incentivo

por parte das poliacuteticas educativas Se eacute verdade que ldquoo comportamento perturbador eacute

um haacutebito de vida do aluno sendo difiacutecil acabar com ele num soacute diardquo (Lopes amp

Rutherford 1994 p 71) e se tambeacutem eacute verdade que ldquoatuar dentro de um estilo de

colaboraccedilatildeo exige condiccedilotildees de tempo e de contexto que nem sempre ocorremrdquo

(Torrego 2003 p 40) o facto eacute que natildeo podemos baixar os braccedilos

Poderemos esperar melhor eficaacutecia na educaccedilatildeo melhor clima escolar nas escolas dos

adolescentes e jovens comeccedilando pelas crianccedilas envolvendo os AO na formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo ldquoA formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo assume-se como um elemento nuclear de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

492

qualquer projeto de intervenccedilatildeo em prol da melhoria da convivecircncia escolarrdquo (Costa

E Almeida L amp Melo M 2009 p 177)

A realidade do pessoal natildeo docente ldquoo pessoal teacutecnico-profissional administrativo e

de apoio educativo dos estabelecimentos puacuteblicos de educaccedilatildeo preacute-escolar e dos

ensinos baacutesico e secundaacuteriordquo (Decreto-Lei nordm 1842004 de 29 de julho p 4898)

sempre esteve presente na escola ainda que com outras designaccedilotildees como pessoal

menor pessoal auxiliar pessoal auxiliar de apoio auxiliar de accedilatildeo educativa (AAE) e

atualmente como assistente operacional (AO)

A literatura normativa tem procurado dar relevacircncia ao grupo profissional dos AO

considerando-os imprescindiacuteveis no processo educativo nomeadamente na

organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas e no apoio agrave funccedilatildeo educativa (Decreto-Lei

nordm 1842004 de 29 de julho Decreto-Lei nordm 1212008 de 11 de julho)

Na verdade uma escola reduzida a alunos e professores estaacute cada vez mais

ultrapassada a favor de uma escola autoacutenoma e reflexiva interagindo com todos os

seus atores e parceiros uma escola que eacute lugar de aprendizagem para todos crianccedilas

e jovens educadores e professores auxiliares e outros funcionaacuterios natildeo docentes

(Alarcatildeo amp Tavares 2003) Inclusivamente os AO podem assumir papeacuteis importantes

na escola pois ldquorepresentam um poder subtil com formas de expressatildeo verbal pouco

significativas mas com grande poder de cariz informalrdquo (Rodrigues 2009 p 147)

No entanto a verbalizaccedilatildeo da promoccedilatildeo dos AO contrasta com o sentimento de

desvalorizaccedilatildeo e com a falta de reconhecimento sendo ainda conotados como um

ldquogrupo profissional de limpeza subalterno e com poucas habilitaccedilotildees (Gonccedilalves

2010 p 153)

No acircmbito da formaccedilatildeo dos AO eacute suposto que eles tenham como habilitaccedilatildeo miacutenima o

ensino baacutesico e que lhes seja proporcionada formaccedilatildeo complementar adequada (Lei

nordm 461986 de 14 de outubro) Os serviccedilos devem elaborar e atualizar o diagnoacutestico

das necessidades de formaccedilatildeo (Decreto-Lei nordm 501998 de 11 de marccedilo)

Em relaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional a literatura cientiacutefica eacute esclarecedora em

reconhecer a pertinecircncia e a necessidade de formaccedilatildeo e desenvolvimento profissional

do pessoal natildeo docente (Alarcatildeo amp Tavares 2003) Inclusivamente na avaliaccedilatildeo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

493

desempenho dos AO eacute-lhes solicitada a ldquocapacidade para se ajustar a novas tarefas e

atividades e de se empenhar na aprendizagem e desenvolvimento profissionalrdquo

(Competecircncia nordm 8 Lista de Competecircncias do Pessoal Operaacuterio e Auxiliar Anexo VI

Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro p 9151) Tambeacutem lhes eacute pedida a

capacidade e o contributo para o ldquodesenvolvimento ou manutenccedilatildeo de um bom

ambiente de trabalhordquo e para ldquointeragir adequadamente com pessoas com diferentes

caracteriacutesticas tendo uma atitude facilitadora do relacionamento e gerindo as

dificuldades e eventuais conflitos de forma ajustadardquo (Competecircncia nordm 5 e

Competecircncia nordm 7 Lista de Competecircncias do Pessoal Operaacuterio e Auxiliar Anexo VI

Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro p 9151)

A escola a tempo inteiro no 1ordm CEB tem vindo a aumentar consideravelmente o tempo

em que os alunos estatildeo sob supervisatildeo dos AO Se tivermos em conta as alteraccedilotildees

introduzidas no 1ordm CEB nos uacuteltimos anos a construccedilatildeo de centros escolares a

generalizaccedilatildeo do serviccedilo de almoccedilo e a introduccedilatildeo das Atividades de Enriquecimento

Curricular (AEC) ateacute agraves 17h30 verificamos um significativo acreacutescimo do tempo em que

os alunos do 1ordm CEB estatildeo sob supervisatildeo dos AO

Acresce que a investigaccedilatildeo cientiacutefica tem deixado para plano secundaacuterio o pessoal natildeo

docente (Carreira 2007 Rodrigues 2009 Silva 2009) centrando-se os poucos estudos

na aacuterea da administraccedilatildeo e gestatildeo escolar Escassos satildeo os estudos no acircmbito da

supervisatildeo educativa na perspetiva do desenvolvimento profissional dos AO

especificamente no campo da mediaccedilatildeo ainda que comece a ser indicada a formaccedilatildeo

dos AO em aacutereas da psicologia da educaccedilatildeo em especial da comunicaccedilatildeo e do

relacionamento humano (Gonccedilalves 2010)

Sendo certo que os AO tecircm a funccedilatildeo de supervisionar os alunos no recreio local onde

ocorre a quase totalidade dos conflitos entre alunos parece inquestionaacutevel a

relevacircncia da formaccedilatildeo dos AO em estrateacutegias de gestatildeo de conflitos entre alunos

pois ldquona educaccedilatildeo da crianccedila todos intervecircm com o seu saber com a atitude e com o

exemplordquo (Duratildeo Odete Pereira amp Saboga 1998 p 15)

Face aos pressupostos teoacutericos que acabaacutemos de rever estabeleceram-se para o

presente estudo as seguintes hipoacuteteses

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

494

- Hipoacutetese 1 haacute um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo para os

conhecimentos que os AO tecircm dessa temaacutetica

- Hipoacutetese 2 haacute um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo na

mudanccedila de atitude nos AO face agrave sua intervenccedilatildeo nos conflitos entre alunos

METODOLOGIA

Os participantes (N=7) uma amostra de conveniecircncia satildeo todas as pessoas que

exerciam funccedilotildees de AO numa escola puacuteblica em Lisboa Satildeo todas do sexo feminino

A escola de 1ordm CEB onde se realizou o presente estudo estaacute integrada num

agrupamento de escolas numa zona residencial com importantes centros de comeacutercio

e serviccedilos onde se empregam pessoas provenientes de outros locais da cidade de

Lisboa e de concelhos limiacutetrofes A escola alvo do estudo tem cerca de 400 alunos

Para aleacutem da Componente Letiva satildeo disponibilizados aos alunos as Atividades de

Enriquecimento Curricular (AEC) e o Serviccedilo de Apoio agrave Famiacutelia A quase totalidade dos

alunos participa nas AEC e almoccedila na escola pelo que os alunos permanecem no

espaccedilo escolar cerca de 9 horas diaacuterias

O estudo de intervenccedilatildeo com um design composto por preacute-teste ndash intervenccedilatildeo ndash poacutes-

teste usou uma metodologia simultaneamente quantitativa e qualitativa com as

seguintes etapas

Primeira etapa Questionaacuterio de diagnoacutestico

Foi desenhado um questionaacuterio com questotildees sugeridas pela revisatildeo da literatura que

foi previamente validado com entrevistas exploratoacuterias semiestruturadas a trecircs AO

em funccedilotildees que natildeo participaram no estudo

O questionaacuterio centrou-se em trecircs aspetos essenciais para o estudo ou seja a)

Perceccedilatildeo da funccedilatildeo das AO na escola b) Perceccedilatildeo do comportamento dos alunos e c)

Perceccedilatildeo das estrateacutegias de resoluccedilatildeo de conflitos Para complementar e conferir

opiniotildees foi solicitado aos participantes que manifestassem a sua avaliaccedilatildeo sobre os

mesmos aspetos essenciais numa escala de 0 a 20 Por fim numa questatildeo aberta os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

495

participantes puderam exprimir o seu pensamento sobre a preparaccedilatildeo que sentiam

para intervir na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos

Segunda etapa Conhecimentos sobre mediaccedilatildeo anteriores agrave formaccedilatildeo

Esta etapa consistiu na resposta a quatro questotildees sobre mediaccedilatildeo nomeadamente o

conceito de mediaccedilatildeo a diferenccedila entre a atuaccedilatildeo de um mediador de um aacuterbitro e

de um juiz a diferenccedila entre mediaccedilatildeo formal e informal e por fim as vantagens e os

inconvenientes da utilizaccedilatildeo da mediaccedilatildeo na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos

Terceira etapa Formaccedilatildeo intervenccedilatildeo

Foram realizadas quatro sessotildees consistindo essencialmente na apresentaccedilatildeo de

alguns conceitos na partilha de experiecircncias e na realizaccedilatildeo de atividades praacuteticas de

treino de competecircncias sociais As sessotildees decorreram com intervalos de duas

semanas para que as participantes pudessem praticar os conteuacutedos da formaccedilatildeo na

sua atividade diaacuteria de acompanhamento e vigilacircncia aos alunos nos recreios

Quarta etapa Conhecimentos posteriores agrave formaccedilatildeo

Nesta etapa foram colocadas as mesmas questotildees da segunda etapa como forma de

recolher dados sobre o desenvolvimento ou natildeo de novos conhecimentos

Quinta etapa Entrevistas aos participantes

Na sequecircncia dos resultados do questionaacuterio e dos conhecimentos anteriores e

posteriores agrave formaccedilatildeo percebeu-se a necessidade de aprofundar alguns aspetos pelo

que foram realizadas entrevistas finais semiestruturadas aos participantes

RESULTADOS

As AO tecircm uma forte perceccedilatildeo de desvalorizaccedilatildeo da escola em relaccedilatildeo a si proacuteprias e

agraves suas funccedilotildees pois sentem desconsideraccedilatildeo por parte de pais de professores e da

direccedilatildeo da escola sentem desconforto pela sobrecarga de trabalho pelo baixo salaacuterio

pela avaliaccedilatildeo de desempenho e por lhes ser atribuiacutedo predominantemente a funccedilatildeo

de limpeza No entanto as AO tambeacutem referem motivaccedilatildeo para o trabalho bom

ambiente entre colegas preferecircncia por atividades de interaccedilatildeo com os alunos e

consciecircncia do seu contributo para a educaccedilatildeo dos alunos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

496

Os problemas de comportamento dos alunos o seu niacutevel de conflituosidade e

agressividade natildeo satildeo considerados pelas AO como muito complexos contudo

reconhecem situaccedilotildees pontuais de maior complexidade As AO propotildeem a

dinamizaccedilatildeo dos recreios para melhorar o comportamento dos alunos

No que se refere agrave temaacutetica da resoluccedilatildeo de conflitos as AO consideram-se num

primeiro momento do questionaacuterio com preparaccedilatildeo capazes eficazes e com

conhecimentos Contudo o discurso eacute contraditoacuterio pois considerando a uacuteltima parte

do questionaacuterio os conhecimentos preacutevios e entrevistas verifica-se que as AO revelam

dificuldades e falta de formaccedilatildeo especiacutefica

Quando se comparam os resultados anteriores e posteriores agrave formaccedilatildeo e pela anaacutelise

das entrevistas verifica-se que as AO desenvolveram os seus conhecimentos sobre

mediaccedilatildeo pois apresentaram respostas globalmente corretas sobre o conceito de

mediaccedilatildeo a diferenccedila entre o mediador o aacuterbitro e o juiz a diferenccedila entre mediaccedilatildeo

formal e informal e as vantagens e os inconvenientes da mediaccedilatildeo escolar Utilizaram

os conceitos discutidos de forma mais rigorosa

A anaacutelise das entrevistas revela que as AO percecionaram em si mesmas mudanccedilas de

atitude na resoluccedilatildeo de conflitos satildeo menos autoritaacuterias com os alunos ouvem-nos

mais criam condiccedilotildees de diaacutelogo utilizam a escuta ativa esforccedilam-se pela

imparcialidade e procuram que eles encontrem as soluccedilotildees para os proacuteprios conflitos

No conjunto dos resultados verificou-se que as AO desenvolveram os seus

conhecimentos sobre mediaccedilatildeo e que percecionaram em si mesmas mudanccedila de

atitude na resoluccedilatildeo de conflitos entre alunos Estes eram resultados esperados Como

resultados emergentes verificou-se que as AO exprimiram um forte sentimento de

desvalorizaccedilatildeo manifestaram consciecircncia do papel educativo com os alunos e

apresentaram sugestotildees pertinentes de melhoria para o comportamento dos alunos

CONCLUSAtildeO E DISCUSSAtildeO

Decorrente dos resultados pocircde concluir-se que reportando-nos agrave hipoacutetese 1 se

verificou um contributo significativo da formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo nos conhecimentos

que os AO tecircm dessa temaacutetica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

497

Os estudos cientiacuteficos apontam para a necessidade de formaccedilatildeo especiacutefica dos AO

pois ldquomuitas vezes apresentam seacuterias dificuldades de relacionamento com os alunosrdquo

(Pereira et al 2003 p 240) com vista agrave manutenccedilatildeo da ordem nomeadamente na

supervisatildeo dos recreios o local onde se registam a maioria das ocorrecircncias (Oliveira

2007 Rosa 2007 Fernaacutendez 2007)

A formaccedilatildeo realizada aliando teoria praacutetica e reflexatildeo partilhada conferiu ou

desenvolveu conhecimentos na temaacutetica da mediaccedilatildeo permitindo fundamentar as

praacuteticas na abordagem quotidiana dos conflitos tal como concluiu Arroz (2010) em

que os Auxiliares de Accedilatildeo Educativa evidenciaram ldquocrescimento pessoal e profissionalrdquo

(p 12) e uma evoluccedilatildeo significativa na gestatildeo de conflitos entre alunos

Tambeacutem para a hipoacutetese 2 se verificou um contributo significativo da formaccedilatildeo em

mediaccedilatildeo na mudanccedila de atitude dos AO face agrave sua intervenccedilatildeo na resoluccedilatildeo de

conflitos entre alunos

Na verdade a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo eacute recomendada pela literatura cientiacutefica

(Torrego 2003 Pereira et al 2003 Gonccedilalves 2010) sendo considerada ldquoum

elemento nuclear de qualquer projeto de intervenccedilatildeo em prol da melhoria da

convivecircncia escolarrdquo (Costa et al 2009 p 177)

A anaacutelise das entrevistas aos participantes revelou que as AO percecionaram em si

mesmas mudanccedilas de atitude na intervenccedilatildeo dos conflitos dos alunos pois passaram a

ser menos autoritaacuterias com os alunos a ouvir mais os alunos a criar mais condiccedilotildees de

diaacutelogo a utilizar a escuta ativa a esforccedilarem-se mais pela imparcialidade e a

procurarem que os alunos encontrassem as soluccedilotildees para os proacuteprios conflitos

Concluiu-se assim que a formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo em contexto escolar facilita uma

mudanccedila de atitude na intervenccedilatildeo dos AO quando eles intervecircm na resoluccedilatildeo de

conflitos entre alunos Do mesmo modo o jaacute referido estudo de Arroz (2010) concluiu

que os Auxiliares da Accedilatildeo Educativa ldquoaprenderam a gerir melhor os conflitos entre os

alunos aplicando a aprendizagem conseguida na formaccedilatildeo e sentindo que eram

capazes de resolver situaccedilotildees que antes natildeo tinham autonomia para o fazerrdquo (p 11)

Os resultados fizeram ainda emergir outros aspetos nomeadamente em relaccedilatildeo agrave

funccedilatildeo das AO na escola Por exemplo verificou-se o contraste entre o

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

498

reconhecimento normativo e a ausecircncia de reconhecimento real Por um lado os AO

satildeo considerados como indispensaacuteveis ao sucesso educativo na organizaccedilatildeo e

funcionamento das escolas (Decreto-Lei nordm 1842004 de 29 de julho) sendo-lhes

reconhecido um significativo impacto de caraacutecter informal (Rodrigues 2009) por

outro lado os AO satildeo conotados como um grupo profissional de limpeza subalterno e

com poucas habilitaccedilotildees (Gonccedilalves 2010) Os proacuteprios AO participantes neste estudo

revelaram um forte sentimento de desvalorizaccedilatildeo sobretudo por parte dos

professores ldquosomos o elo mais fraco da cadeia (hellip) somos aquele peatildeozinho que anda

ali a olhar e a limpar (hellip) os professores tecircm laacute as coisas deles e noacutes estamos ali no

nosso cantinhordquo (AO1)

Outro aspeto emergente foi a sugestatildeo de formaccedilatildeo adicional em animaccedilatildeo de

recreios Verificou-se que as AO foram unacircnimes em sugerir a animaccedilatildeo de recreios

como sugestatildeo de melhoria tal como refere a literatura (Fernaacutendez 2007)

Como sugestotildees para novos estudos seria interessante avaliar a implementaccedilatildeo de

projetos de mediaccedilatildeo de conflitos em escolas de 1ordm CEB considerando a

especificidade etaacuteria dos alunos incluindo alunos mediadores Sabemos que a vivecircncia

num clima escolar de qualidade pode marcar decisivamente os alunos com provaacuteveis

ganhos na fase etaacuteria seguinte a da adolescecircncia nas EB23 e Secundaacuterias Poderia

tambeacutem ser relevante estudar o impacto dos conflitos natildeo resolvidos durante os

intervalos nas escolas do 1ordm CEB no recomeccedilo da atividade letiva apoacutes os intervalos O

tempo gasto no recomeccedilo da atividade letiva apoacutes os recreios por motivos de

conflitos ocorridos no recreio e natildeo resolvidos pode ser significativo

Este estudo reforccedila a urgecircncia em motivar valorizar e respeitar os AO pois tecircm

consciecircncia da sua importacircncia na escola e sentem-se motivados para atividades com

crianccedilas visando a educaccedilatildeo Eacute necessaacuterio ouvir e dar voz aos AO pois natildeo soacute tecircm

sugestotildees pertinentes de melhoria como tambeacutem com formaccedilatildeo e experiecircncia

pessoal adquiridas podem colaborar no desenvolvimento da escola Seraacute tambeacutem

importante investir na formaccedilatildeo em mediaccedilatildeo em contexto escolar dos agentes

educativos pois se preparados para tal podem contribuir significativamente para o

desenvolvimento de uma cultura de mediaccedilatildeo com vista agrave melhoria do clima escolar

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

499

da aprendizagem da educaccedilatildeo do cidadatildeo da sociedade Assim as autoridades

educacionais e de gestatildeo teriam de refletir sobre as necessidades de reconhecimento e

de valorizaccedilatildeo profissional dos AO

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Portaria nordm 16332007 de 31 de dezembro

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

502

AVALIACcedilAtildeO DO DESEMPENHO DOCENTE PERCEPCcedilOtildeES DE

PROFESSORES SOBRE O MODELO E OS SEUS CRITEacuteRIOS

ALAN STOLEROFF CIES-ISCTEIUL

alanstoleroffisctept

PATRIacuteCIA SANTOS CIES-ISCTEIUL

anapatriciasantosisctept

Resumo

No quadro da revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente (2007) implementou-se um

sistema de avaliaccedilatildeo individual dos professores do ensino puacuteblico portuguecircs com

consequecircncias visiacuteveis para o trabalho e para a profissatildeo de professor que por sua vez

originou um periacuteodo intenso de conflitos entre Governo sindicatos e professores

Nesta comunicaccedilatildeo apresentamos uma anaacutelise de perceccedilotildees e formas de reaccedilatildeo dos

professores com respeito ao modelo e criteacuterios de avaliaccedilatildeo do desempenho

introduzido e os seus efeitos na sua profissionalidade Para tal recorremos a resultados

parciais de um inqueacuterito por questionaacuterio realizado a uma amostra de professores

(N=1872) dos ensinos preacute-escolar baacutesico e secundaacuterio de Portugal continental

Verificamos predominantemente reaccedilotildees negativas da parte dos professores em

relaccedilatildeo ao modelo e aos seus criteacuterios de avaliaccedilatildeo mas tambeacutem encontramos

reaccedilotildees que indicam atitudes diversas em relaccedilatildeo agraves suas consequecircncias Um dos

elementos-chave da anaacutelise eacute a diferenciaccedilatildeo e convergecircncia de sentidos que o

modelo teve para os professores consoante a geraccedilatildeo profissional a que pertencem

Palavras-chave modelo de avaliaccedilatildeo professores profissionalismo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

503

Abstract In the review of the Teaching Career Statute (2007) was implemented a

system of individual evaluation of Portuguese public school teachers with visible

consequences for the teaching profession that for has led to an intense period of

conflict between the government unions and teachers In this communication we

present an analysis of perceptions and ways of reaction of teachers with respect to the

model and the performance evaluation criteria introduced and its effects on their

professionalism For this we uso partial results of a survey conducted with a sample of

pre-school primary and secondary teachers (N = 1872) of Portugal We predominantly

observed negative reactions from the teachers in relation to the model and its

evaluation criteria but we also found responses that indicate various attitudes in

relation to their consequences One of the key elements of the analysis is the

differentiation and convergence of meaning for teachers about this evaluation model

depending on the professional generation that they belong

Keywords evaluation model teachers professionalism

A avaliaccedilatildeo do desempenho dos professores no centro das reformas profissionais em

Portugal

Desde a viragem do seacuteculo para responder a problemas de eficaacutecia e eficiecircncia no

campo da educaccedilatildeo puacuteblica os governos dos paiacuteses da OCDE como os de Portugal

tecircm vindo a desenvolver poliacuteticas visando a responsabilizaccedilatildeo dos professores como o

meio basilar para a melhoria dos resultados escolares (Osborn amp McNess 2005 Day amp

Quing 2009) Esta perspectiva que nasceu de uma ideologia supranacional e integra

poliacuteticas europeias e nacionais com agendas globais (Magalhatildees amp Stoer 2006)

traduziu-se em medidas de ldquoprestaccedilatildeo de contasrdquo ndash sobretudo atraveacutes da avaliaccedilatildeo do

desempenho Trata-se de uma estrateacutegia hegemoacutenica que subjaz as tendecircncias gerais

de ldquoracionalizaccedilatildeo institucionalrdquo (Evetts 2003) no sector puacuteblico em conformidade

com o quadro da jaacute velha ldquonova gestatildeo puacuteblicardquo e a reclamada convergecircncia do

modelo de gestatildeo puacuteblica com a gestatildeo de recursos humanos no sector privado Tudo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

504

isso teve em consequecircncia implicaccedilotildees organizacionais para a gestatildeo das escolas em

particular no que diz respeito agraves funccedilotildees e agrave profissionalidade dos professores

Em 2007 o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo reformulou neste sentido o Estatuto da Carreira

Docente (Decreto-Lei nordm152007) e em 2008 regulamentou a Avaliaccedilatildeo de

Desempenho Docente (Decreto Regulamentar nordm22008 de 10 de Janeiro) Esta

regulamentaccedilatildeo fixou as bases de um novo sistema de avaliaccedilatildeo individual dos

professores agrave imagem do criado para os restantes funcionaacuterios puacuteblicos68 e terminou

com as promoccedilotildees ldquoautomaacuteticasrdquo fazendo depender a progressatildeo na carreira dos

professores as promoccedilotildees e a remuneraccedilatildeo do meacuterito apurado atraveacutes de novos

procedimentos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo do seu desempenho individual

Evidentemente a medida natildeo foi consensualmente aceite Na medida em que o

modelo de avaliaccedilatildeo promove criteacuterios de gestatildeo em oposiccedilatildeo a criteacuterios profissionais

para apurar o meacuterito (Stoleroff amp Pereira 2008) a sua aplicaccedilatildeo despertou a

resistecircncia e oposiccedilatildeo visiacuteveis dos professores e dos seus representantes sindicais

Como marco de uma nova orientaccedilatildeo na regulaccedilatildeo das poliacuteticas profissionais a

introduccedilatildeo deste tipo de esquema de gestatildeo de recursos humanos nas escolas abalou

e implicou uma rutura com o padratildeo existente de relaccedilotildees de trabalho na profissatildeo

docente Contudo mesmo argumentando que a resistecircncia tenha produzido um forte

movimento social profissional de afirmaccedilatildeo de identidades natildeo eacute verosiacutemil pressupor

que entre os professores a medida tenha sido consensualmente rejeitada Daiacute com

base na hipoacutetese de que esta reforma trouxe consequecircncias significativas para a

identidade docente eacute pertinente analisar as representaccedilotildees dos professores

relativamente ao modelo de avaliaccedilatildeo implementado

Neste trabalho eacute nossa intenccedilatildeo tornar visiacuteveis as representaccedilotildees e atitudes dos

professores sobre este tema Para tal faremos uma anaacutelise de itens pertinentes de um

questionaacuterio aplicado a niacutevel nacional a professores que lecionam os diferentes niacuteveis

68

Tal como os restantes funcionaacuterios puacuteblicos os professores estatildeo sujeitos a um sistema de avaliaccedilatildeo de desempenho individual e agraves suas implicaccedilotildees na progressatildeo ao longo dos diversos escalotildees de remuneraccedilatildeo Poreacutem o grupo docente beneficia de procedimentos e criteacuterios de avaliaccedilatildeo regulados por legislaccedilatildeo especiacutefica do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

505

do ensino puacuteblico69 A amostra foi probabiliacutestica e estratificada por NUTS II (Norte

Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo e Algarve) e niacutevel de ensino e foram

considerados 1872 inqueacuteritos (com um erro amostral de 227 para um intervalo de

confianccedila de 95) A composiccedilatildeo de geacutenero na amostra vai ao encontro da

caracterizaccedilatildeo do proacuteprio grupo predominam as professoras (77) Tambeacutem a

maioria (555) dos professores natildeo se encontra filiado num sindicato profissional

A amostra do grupo profissional eacute constituiacuteda por vaacuterias geraccedilotildees de professores cuja

entrada na profissatildeo teve lugar em diferentes momentos histoacutericos grande parte dos

professores encontra-se entre os 16 e os 25 anos de serviccedilo (348) seguindo-se dos

que se encontram entre os 26 e os 35 anos de serviccedilo (259) e entre os 7 e 15 anos

de serviccedilo (258) e finalmente dos professores ldquonovatosrdquo com ateacute seis anos de

serviccedilo (65) e ldquoveteranosrdquo com mais de 36 anos de serviccedilo (29) Se eacute certo que as

representaccedilotildees dos professores sobre a profissatildeo modificam-se ao longo das suas

carreiras (Huberman 1989) haveraacute efetivamente variaccedilatildeo nas diferentes perspectivas

sobre o tema da avaliaccedilatildeo do desempenho e o modelo implementado entre os

professores de acordo com a geraccedilatildeo profissional a que pertencem

O Modelo de avaliaccedilatildeo do desempenho profissional e a revisatildeo do Estatuto da

Carreira Docente nas perceccedilotildees dos professores

Parece existir aquilo a que Hughes (1958 cit por Dubar 2005) chama de ldquofilosofiardquo do

grupo profissional entre uma maioria dos professores indicando a existecircncia de uma

certa coerecircncia interna nas representaccedilotildees do grupo profissional no seu conjunto

Contudo existindo no geral e tendencialmente uma maioria que exprime oposiccedilatildeo agraves

mudanccedilas em curso estaacute presente uma corrente minoritaacuteria entre os professores com

representaccedilotildees e atitudes contraacuterias ao grupo dominante na profissatildeo A coexistecircncia

69

Os objetivos deste artigo enquadram-se no projeto ldquoOs professores do ensino puacuteblico e associativismo docente em Portugal a reconstruccedilatildeo de identidades e discursosrdquo que decorreu no CIES-ISCTEIUL financiado pela Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia e coordenado por Alan Stoleroff No acircmbito deste projeto foram tanto utilizadas metodologias quantitativas (cujos resultados satildeo aqui parcialmente representados) como metodologias qualitativas (anaacutelise de conteuacutedo aos discursos sindicais e entrevistas biograacuteficas a professores do 3ordm ciclo do ensino baacutesico e ensino secundaacuterio)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

506

de muacuteltiplos e diacutespares quadros de referecircncia geracionais impulsionam

potencialmente os professores em direccedilotildees distintas

Este eacute o caso da posiccedilatildeo face agrave introduccedilatildeo do proacuteprio modelo de avaliaccedilatildeo de

desempenho que provocou uma resistecircncia alargada do grupo profissional Grande

parte dos professores rejeitou (436) ou rejeit plenamente (252) este modelo de

avaliaccedilatildeo mas uma minoria expressiva dos professores aceit-o (283) Os professores

que aceitam esta medida na sua maioria lecionam no 3ordm ciclo do ensino baacutesico e do

ensino secundaacuterio (525) na regiatildeo Norte (354) efetivos (762) posicionam-se

ideologicamente no centro (386) e direita (38) e natildeo pertencem a nenhum

sindicato (629) Estas diferenccedilas satildeo significativas quando cruzadas com as geraccedilotildees

profissionais Nesse sentido a rejeiccedilatildeo tende a crescer com o aumento do nuacutemero de

anos de serviccedilo os professores ldquoveteranosrdquo satildeo mais propensos a rejeitar o modelo de

avaliaccedilatildeo (741) enquanto os jovens professores ldquonovatosrdquo estatildeo tendencialmente

mais abertos as novas formas de avaliaccedilatildeo (451 aceitou-o) Mas mesmo entre os

novatos uma maioria rejeita o modelo

Verificamos ainda que existe uma relaccedilatildeo negativa e significativa entre as perceccedilotildees

relativas agrave forma como a revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente mudou a profissatildeo e

o grau de aceitaccedilatildeo do modelo de avaliaccedilatildeo (t=-17779 plt0001) ou seja quanto

maior a concordacircncia com a ideia de que estas medidas afectaram a profissionalidade

em sentidos opostos aos ideais e poderes profissionais tradicionais menor eacute o grau de

aceitaccedilatildeo do modelo de avaliaccedilatildeo A intensidade da rejeiccedilatildeo parece derivar assim de

um choque relativamente ao conteuacutedo do novo modelo com as conceccedilotildees da

profissionalidade docente ldquoa especificidade de ser professorrdquo (Sacristaacuten 1995 65)

Talvez por isso a maioria dos professores rejeita a ideia de que a revisatildeo visou

melhorar o seu desempenho profissional (563 discorda e 285 discorda

plenamente com a proposiccedilatildeo de que a revisatildeo do ECD tenha visado melhorar o

desempenho profissional) e considerou que a revisatildeo do Estatuto da Carreira Docente

implicou alteraccedilotildees no que se considerava ser o modelo de ldquobom professorrdquo (553

concorda e mais 89 concorda plenamente) Neste uacuteltimo caso importa salientar que

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

507

as alteraccedilotildees no modelo profissional satildeo tendencialmente mais reconhecidas pelos

professores ldquonovatosrdquo (615 + 66) do que pelos ldquoveteranosrdquo (472 + 75) num

sentido significativamente decrescente com o aumento dos anos de serviccedilo (p=0020)

Parece assim que os anos de serviccedilo ajudam a preservar a profissionalidade mesmo

face a grandes mudanccedilas no enquadramento da carreira Pode ser que uma orientaccedilatildeo

em que os ideais e os princiacutepios estatildeo acima de tudo havendo pouca ou nenhuma

adaptaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo se contrapotildee a uma estrateacutegia em que as orientaccedilotildees poliacuteticas

prevalecem sobre os ideais em que uma acomodaccedilatildeo conformista pode prevalecer

Existe tambeacutem algum consenso de que o modelo de avaliaccedilatildeo tal como estaacute

estabelecido exerce um controlo sobre o exerciacutecio da profissatildeo para assegurar a

aplicaccedilatildeo e o cumprimento das normas num processo de ldquofuncionarizaccedilatildeordquo A vasta

maioria dos professores (825) concorda com a afirmaccedilatildeo de que esta revisatildeo visou

transformar os professores em meros funcionaacuterios do Estado (53 concorda e mais

295 concorda plenamente) e implicou o reforccedilo do poder das direccedilotildees (825) A

escola ter sido ateacute entatildeo uma organizaccedilatildeo basicamente horizontal pode ser a

explicaccedilatildeo para uma natildeo-aceitaccedilatildeo sem tensotildees desta maior divisatildeo hieraacuterquica no

seio dos professores Estas reformas acabam tambeacutem por representar uma ameaccedila no

que se refere agraves supostas garantias de autonomia sobre determinados terrenos

contraditoacuterio com a retoacuterica largamente difundida sobre a autonomia profissional

Parece haver uma percepccedilatildeo generalizada de que a revisatildeo do Estatuto da Carreira

Docente impocircs funccedilotildees burocraacuteticas que desvalorizam as funccedilotildees pedagoacutegicas (917

dos professores concorda ou concorda plenamente com esta alteraccedilatildeo 489 e 428

respectivamente) Assim o trabalho dos professores eacute visto pelos proacuteprios como cada

vez mais dependente de criteacuterios normalizados e impostos externamente levando a

uma proliferaccedilatildeo de papelada e tarefas administrativas Sendo que a profissionalidade

implica sobretudo uma funccedilatildeo pedagoacutegica esta percepccedilatildeo do aumento das tarefas

burocraacuteticas pode contribuir para um sentimento de que ensinar natildeo eacute o mais

importante

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

508

Ainda assim umas das questotildees-chave nesta temaacutetica satildeo os seus criteacuterios de

avaliaccedilatildeo Se os professores natildeo concordarem ou natildeo entenderem os indicadores que

medem o seu desempenho dificilmente cooperaratildeo com o processo (Richardson

1999) Como seria de esperar quanto maior o grau de aceitaccedilatildeo das reformas maior eacute

a concordacircncia com os criteacuterios de avaliaccedilatildeo (t=11657 plt0001) Mas quanto agraves

perceccedilotildees sobre os criteacuterios de avaliaccedilatildeo existem diferenccedilas estatisticamente

significativas (p=0002) entre os professores com ateacute 25 anos de serviccedilo e os

professores ldquoveteranosrdquo

As orientaccedilotildees desta medida baseiam-se na convicccedilatildeo de que uma melhoria na

qualidade do desempenho dos professores exige a criaccedilatildeo de esquemas de promoccedilatildeo

baseados no meacuterito individual do docente (Stoleroff amp Pereira 2009) Os resultados

deste inqueacuterito indicam que de facto muitos professores apoiam abstratamente a

justiccedila desta ideia sendo que 458 concordam e mais 120 concordam plenamente

com a afirmaccedilatildeo ldquoEacute justo que a promoccedilatildeo na carreira se baseie no meacuterito individualrdquo

Em outras palavras eacute uma minoria de professores (463) que discorda com a

proposiccedilatildeo (A variaacutevel geraccedilatildeo profissional natildeo eacute significativamente diferenciadora

com respeito a esta pergunta) Poreacutem a maioria dos professores seria resistente ao

uso dos resultados dos alunos como forma de medir esse meacuterito do professor e 556

discorda com a afirmaccedilatildeo teoacuterica ldquoO meacuterito dos professores reflecte-se nos resultados

dos alunosrdquo E em termos concretos parece haver um grande ceticismo face a ideia de

que estes esquemas de avaliaccedilatildeo tenham efectivamente recompensado os melhores

professores (959 dos professores discorda com a afirmaccedilatildeo ldquoCom o ECD os

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

509

melhores professores tecircm vindo a ser efectivamente recompensadosrdquo) Tal pode estar

relacionado com o desenvolvimento de sentimentos de injusticcedila entre professores

relativamente a criteacuterios muitas vezes pouco relacionados com aspectos cientiacuteficos e

pedagoacutegicos ou com o cumprimento dos objectivos enunciados para o modelo de

avaliaccedilatildeo Por exemplo a aplicaccedilatildeo de quotas introduz uma seleccedilatildeo quantitativa onde

mesmo os professores que cumpram os requisitos de preenchimento das quotas

podem natildeo vir a preenchecirc-las uma vez que haacute um limite de atribuiccedilatildeo

Quanto ao uso dos resultados dos alunos como forma de medir o desempenho do

professor as criacuteticas advecircm precisamente porque haacute uma gama de questotildees (sociais

econoacutemicas culturas e poliacuteticas) na sala de aula que extravasam a proacutepria escola que

tornam difiacutecil correlacionar diretamente o desempenho do professor com o

desempenho dos alunos Mesmo assim este criteacuterio permanece controverso no

interior do grupo profissional A discordacircncia diminui com o aumento da geraccedilatildeo

profissional haacute uma maior concordacircncia nos professores ldquoveteranosrdquo (679)

enquanto a maioria dos jovens professores e no iniacutecio e ao meio da carreira discorda

(por exemplo 593 dos com 1-6 anos de experiecircncia e 603 dos com 7-15 anos) Tal

pode ilustrar por um lado uma tendecircncia de autoconfianccedila no cumprimento do seu

dever que se repercute nos resultados atingidos pelos alunos daqueles que tecircm mais

anos de serviccedilo e que adquiriram um conhecimento taacutecito e por outro lado a menor

confianccedila dos jovens professores e os que ainda estatildeo no pleno da sua actividade no

processo e resultados do trabalho desenvolvido nestas fases da carreira Tal criteacuterio ndash

se introduzido na avaliaccedilatildeo - pode pressionar os professores para atingir as metas

quantitativas preacute-estabelecidas uma vez que a vertente qualitativa natildeo se torna tatildeo

apreensiacutevel pelos meacutetodos e criteacuterios propostos

Modelo de avaliaccedilatildeo do desempenho profissional emoccedilotildees versus reaccedilotildees dos

professores com impactos na satisfaccedilatildeo e compromisso profissional

Reformas criam reaccedilotildees com base racional e emocional (Kelchtermans 2005)

Verificamos que estas mudanccedilas no contexto profissional conduziram agrave produccedilatildeo de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

510

emoccedilotildees sobretudo negativas (869 das emoccedilotildees identificadas) Emoccedilotildees que

enunciam uma experiecircncia particular alicerccedilada precisamente em sentimentos

extremos satildeo avanccediladas pelos professores que foram solicitados a identificar a

emoccedilatildeo sentida em reacccedilatildeo agrave revisatildeo e as medidas implementadas da ldquorevoltardquo

(133) agrave desmotivaccedilatildeo (23) passando pela desilusatildeo (69) indignaccedilatildeo (54)

frustraccedilatildeo (49) tristeza (43) e injusticcedila (42) nas suas proacuteprias palavras No

entanto as reaccedilotildees emocionais dos professores agrave mudanccedila devem ser apuradas e

vistas em relaccedilatildeo agrave fase em que estatildeo na sua carreira

A ldquorevoltardquo eacute a emoccedilatildeo mais salientada por todas as geraccedilotildees excetuando os

ldquonovatosrdquo que apresentam sentimentos de ldquodesacircnimordquo e ldquotristezardquo Para quem se

encontra numa situaccedilatildeo precaacuteria a motivaccedilatildeo profissional principal eacute obter o acesso a

um estatuto reconhecido sinoacutenimo da construccedilatildeo de uma carreira Nesse sentido

estas reacccedilotildees denotam a percepccedilatildeo dos constrangimentos a essa expectativa Para os

professores de entre os 7 e os 35 anos de carreira trata-se de uma experiecircncia de

dececcedilatildeo e ldquodesilusatildeordquo Jaacute a ldquoindignaccedilatildeordquo eacute a segunda emoccedilatildeo mais salientada pelos

ldquoveteranosrdquo alimentada talvez por um sentimento de conflito de oposiccedilatildeo entre os

valores profissionais e a loacutegica imposta por estas medidas

Contudo as reformas que provocam sentimentos intensos natildeo provocam

necessariamente uma participaccedilatildeo em accedilotildees de protesto ou de resistecircncia 276 dos

professores indica que nunca participou em manifestaccedilotildees contudo isso significa que

quase trecircs quartos participaram em qualquer grau (da participaccedilatildeo rara agrave participaccedilatildeo

constante) A geraccedilatildeo profissional eacute uma variaacutevel estatisticamente significativa no que

diz respeito ao grau de participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees decorrentes da revisatildeo do

Estatuto da Carreira Docente (p=001) Isto eacute explicado uma vez que os diferentes

grupos geracionais aguardam no momento atual coisas diferentes o desempenho

adequado de uma nova funccedilatildeo que garanta alguma estabilidade profissional melhores

condiccedilotildees de trabalho e uma mobilidade ascendente uma experiecircncia de reforma a

curto prazo Os resultados sugerem que satildeo os professores com 7 a 35 anos de serviccedilo

os que participaram mais em manifestaccedilotildees (entre 38 e 40 dos professores com

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

511

estes anos de serviccedilo respondem que participaram frequentemente ou sempre nas

manifestaccedilotildees organizadas pelos sindicatos) Natildeo eacute surpreendente que os professores

nesta fase sejam mais ativos eacute um meio de afirmar a sua profissionalidade e

sobretudo uma forma de reivindicar o seu status quo para quem ainda tem muitos

anos de serviccedilo pela frente

Interessante eacute verificar que os polos geracionais aproximam-se uma grande parte dos

ldquonovatosrdquo nunca participou numa manifestaccedilatildeo (41) tal como uma minoria grande

dos ldquoveteranosrdquo (321) No caso dos professores ldquonovatosrdquo haacute uma situaccedilatildeo de ainda

fraca ligaccedilatildeo ao grupo profissional e de constrangimentos profissionais decorrentes da

instabilidade e intensidade do trabalho que podem ajudar a reduzir as margens de

liberdade de pensamento e levar ao ajustamento da construccedilatildeo da carreira agraves

medidas Centralizam a sua accedilatildeo no cumprimento das tarefas o que pode fazer

resvalar a intervenccedilatildeo para o cumprimento passivo das medidas poliacuteticas No caso dos

professores ldquoveteranosrdquo como vimos ldquoindignadosrdquo este processo pode traduzir-se na

fragmentaccedilatildeo das identidades profissionais em que a desmobilizaccedilatildeo e

posteriormente o abandono da carreira se transformam na uacutenica saiacuteda Uma reaccedilatildeo

que pode traduzir o ldquoabandono da causardquo por parte do professor

A racionalidade e a emoccedilatildeo advinda do ldquoataque profissionalrdquo conjugam-se fortemente

neste caso Verificaacutemos a existecircncia de uma relaccedilatildeo estatisticamente significativa

entre o grau de participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees e a concordacircncia com os criteacuterios de

avaliaccedilatildeo (t=-2126 p=034) mas trata-se de uma relaccedilatildeo negativa ou seja quanto

maior a concordacircncia com os criteacuterios menos participam em manifestaccedilotildees e vice-

versa Por outro lado existe uma relaccedilatildeo estatisticamente significativa entre as

perceccedilotildees sobre as mudanccedilas na profissatildeo provocadas por estas medidas e o grau de

participaccedilatildeo nas manifestaccedilotildees (t=5405 plt0001) sendo que quanto mais consideram

que houve mudanccedilas significativas na sua profissatildeo mais participam em

manifestaccedilotildees Ou seja a mobilizaccedilatildeo dos professores aparenta um movimento para a

afirmaccedilatildeo da sua profissionalidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

512

A satisfaccedilatildeo no trabalho e as perspetivas futuras dos professores satildeo consequecircncias

fundamentais de todo este processo Supotildee-se que a satisfaccedilatildeo no trabalho eacute tanto

afetada pela situaccedilatildeo de trabalho como influencia o compromisso profissional Nesta

caso haacute convergecircncia os professores atravessam uma fase de desmotivaccedilatildeo As

poliacuteticas do governo e os conflitos e atritos tiveram um impacto negativo sobre a

motivaccedilatildeo dos professores A grande parte dos professores encontra-se pouco

satisfeita profissionalmente (403) e uma parte consideraacutevel nada satisfeita (180)

Nesta profissatildeo chave para a socializaccedilatildeo e formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees apenas 45

declara-se muito satisfeito Apesar de natildeo haver diferenccedilas geracionais significativas

(p=0294) em termos gerais pode constatar-se que satildeo os professores ldquoveteranosrdquo

aqueles que se encontram menos satisfeitos (688) Tal achado vai no sentido daquilo

que alguns investigadores jaacute analisaram a perceccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho como

ingratas podem produzir sentimentos de desencanto no final (Huberman 1989) e o

compromisso do professor tende a diminuir progressivamente ao longo da sua carreira

em resposta a fatores como as mudanccedilas nas poliacuteticas de educaccedilatildeo (Day 2000)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

513

Jaacute quando questionados se deixariam de ser professores 415 respondem

afirmativamente Verifica-se que satildeo os professores ldquonovatosrdquo aqueles que na sua

maioria afirmam que sim (500) havendo um decreacutescimo da intenccedilatildeo ou vontade de

deixar a profissatildeo agrave medida que os anos de serviccedilo aumentam (estatisticamente

significativo plt0001) 66 dos professores ldquoveteranosrdquo afirma que natildeo deixaria

Enquanto os ldquoveteranosrdquo jaacute estatildeo em ldquopasso de retiradardquo da profissatildeo os jovens

professores ainda vatildeo a tempo de reencaminhar a sua profissatildeo podendo encontrar

oportunidades de trabalho fora do ensino Em ambos os casos pode haver um

desinvestimento progressivo (jaacute analisado no Reino Unido por Osborn e McNess [2005]

no decorrer de medidas gestionaacuterias) Em ambos os casos o seu compromisso estaacute sob

ataque

Reflexotildees finais

Em geral os professores foram criacuteticos da medida de avaliaccedilatildeo do desempenho dos

professores e altamente criacuteticos dos seus criteacuterios Estatildeo longe de estarem

convencidos de que este modelo pode levar agrave efetiva meritocracia recusam os

resultados acadeacutemicos dos alunos serem um criteacuterio fundamental para a sua avaliaccedilatildeo

e enfatizam que a prestaccedilatildeo de contas adicionou exigecircncias burocraacuteticas com

consequecircncias nas funccedilotildees pedagoacutegicas Esta medida desafia a profissionalidade dos

professores sobretudo a sua autonomia e estes procuram estrateacutegias que lhes

permitam perpetuar o status que ateacute entatildeo possuiacuteam Tudo isto resulta num

sentimento generalizado de desmotivaccedilatildeo especialmente no caso dos professores

ldquonovatosrdquo e ldquoveteranosrdquo que conduz a uma conformidade aparente com as alteraccedilotildees

Embora se possa falar de percepccedilotildees comuns ao grupo profissional no que diz

respeito a esta temaacutetica este grupo profissional constitui um conjunto

consideravelmente fragmentado O sentido que esta medida de poliacutetica teve nos

professores num determinado momento da sua carreira profissional varia e em uacuteltima

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

514

instacircncia pode expressar diferentes ldquomodos de serrdquo profissional Verificamos que os

ldquonovatosrdquo satildeo consideravelmente mais abertos a estas mudanccedilas talvez mobilizados

pelas expectativas de mobilidade ascendente no interior da organizaccedilatildeo Neste

sentido retomamos o conceito de Bucher e Strauss (1991) de ldquosegmentosrdquo para

questionar se esta profissatildeo pode perder as ligaccedilotildees entre grupos geracionais que

perseguem objetivos distintos

Parece que a identidade profissional de professor esteja a perder forccedila neste contexto

de exigecircncias que impotildeem a objetividade e a previsibilidade da praacutetica profissional

Parece ainda que as preocupaccedilotildees de padronizaccedilatildeo de certos processos

administrativos e pedagoacutegicos sejam vistas mais como uma tentativa de normalizaccedilatildeo

da praacutetica do que de aumento de qualidade - apesar da retoacuterica poliacutetica privilegiar a

uacuteltima - se natildeo tiverem em conta a complexidade do trabalho do professor Aleacutem

disso a ecircnfase crescente na responsabilizaccedilatildeo pela melhoria do desempenho do aluno

dentro de conteuacutedos capacidades e competecircncias mensuraacuteveis e restritas pode tornar

preferiacutevel um modelo orientado para a transmissatildeo de conhecimento a um modelo

que reconhece e incluiu uma abordagem mais holiacutestica e centrada no aluno

Ficaram de fora desta anaacutelise aspectos importantes Este modelo pode representar

uma ameaccedila agrave colaboraccedilatildeo e o decliacutenio do modelo colegial Qual o impacto desta

divisatildeo na socializaccedilatildeo profissional dos jovens professores estando eles num periacuteodo

determinante da construccedilatildeo identitaacuteria Tambeacutem as percepccedilotildees sobre a utilidade e

eficaacutecia da utilizaccedilatildeo da observaccedilatildeo formal de aulas como forma de avaliar a qualidade

do desempenho do professor satildeo importantes

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517

AVALIACcedilAtildeO DE DESEMPENHO DOCENTE FEITA PELOS ALUNOS

UM ESTUDO NO ISCED DO SUMBE

Eduardo Nangayafina

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe

Universidade Katyavala Bwila

Kwanza Sul-ANGOLA

eduardonangayafinagmailcom

RESUMO

Enquadramento conceptual a avaliaccedilatildeo de desempenho docente no ensino superior

constitui um tema de grande atualidade e importacircncia no mundo e particularmente

em Angola No entanto faltam estudos empiacutericos nesta aacuterea com instrumentos

vaacutelidos Objetivos com esta investigaccedilatildeo pretende-se caraterizar o desempenho dos

Professores visto pelos estudantes no ISCED do Sumbe Identificar os fatores e analisar

as correlaccedilotildees entre o desempenho dos professores percebido pelos estudantes com o

ano de escolaridade geacutenero e habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais e desta forma

contribuir para melhorar a eficiecircncia do Desempenho Docente no ISCED do Sumbe

Angola Metodologia a natureza desta investigaccedilatildeo assume uma abordagem mista ou

seja qualitativa e quantitativa tendo como instrumento de recolha de dados o

inqueacuterito com questionaacuterio e entrevista A amostra eacute composta por 137 elementos

dos quais 72 satildeo do sexo Masculino e 28 do Feminino com idades compreendidas

entre 21 e 58 anos de idade 56 inquiridos (479) frequentam o 4ordm ano e 45 (385)

frequentam o 1ordm ano ambos do Instituto Superior de Educaccedilatildeo do Sumbe Resultados

para o alcance dos resultados recorreu-se agrave anaacutelise estatiacutestica descritiva e natildeo

parameacutetrica dada a natureza dos dados Admite-se que a informaccedilatildeo recolhida

permitiu encontrar os fatores e analisar as Correlaccedilotildees entre o desempenho dos

professores percebido pelos estudantes com o ano de escolaridade geacutenero e

habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais Desta forma contribuiu para melhorar a eficiecircncia do

Desempenho Docente no ISCED do Sumbe Angola

Palavras-chave avaliaccedilatildeo desempenho docente no ensino superior percepccedilatildeo dos

estudantes sobre o desempenho docente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Abstract

Evaluating higher education lecturersrsquo teaching ability is of outmost importance and

there is a need for empirical studies and for the development of reliable research

tools especially in Angola We attempt to cover this gap by analysing what higher

education students think about their lecturersrsquo teaching skills at the Higher Institute

for Educational Studies (ISCED) Sumbe Angola thus aiming to contribute to a

significant improvement and effectiveness of the evaluation process A quantitative

and qualitative methodology will be used Data will be collected through questionnaire

and interviews The participants are twenty (N=20) students ending their first honours

degrees Content analysis and non-parametric statistics will be performed We expect

to identify dimensions and indicators allowing for the understanding of lecturersrsquo

teaching effectiveness level of participation on the development of evaluation criteria

and how those are judged for their subjectivity and what procedures were used to

develop the present Model of Teaching Evaluation at ISCED We also hope to bring in

new knowledge enabling the restructuring of a new and more effective model of

teachersrsquo evaluation

Keywords Teachersrsquo teaching skill Higher education lecturer Improving teaching

effectiveness Evaluation criteria

1 INTRODUCcedilAtildeO

Avaliaccedilatildeo de desempenho dos professores eacute um assunto recorrente que interessa agrave

maioria das pessoas com ligaccedilotildees diretas ou indiretas aos problemas da Educaccedilatildeo

ansiosas por ver nos seus resultados praacuteticos a prova de uma visatildeo aprioriacutestica de

incompetecircncia desinteresse desleixo e absentismo da maioria dos docentes Joel

Serratildeo (1981 cit por Azevedo 2001 p 253) fez um diagnoacutestico breve sem rodeios

nem cautelas escrevendo o seguinte ldquo a condiccedilatildeo de professor entre noacutes sempre se

definiu pela humildade do seu estipecircndio e pela precariedade da sua preparaccedilatildeo

cultural e profissionalrdquo

Deste modo e atraveacutes de um julgamento historicamente sustentado estatildeo lanccediladas

as bases sumaacuterias simplistas e demasiado redutoras da justificaccedilatildeo cientiacutefica de todo

o insucesso educativo Angolano e natildeo soacute bem ilustrado nas baixas prestaccedilotildees dos

nossos alunos nas mais diversas disciplinas e nos diacutespares rankings oficiais de vaacuterias

instituiccedilotildees

Atento a esta situaccedilatildeo e com a sua perspicaacutecia habitual Antoacutenio Noacutevoa (1992 p9)

refere que ldquoa profissatildeo de professor estaacute na atualidade sob o fogo cruzado das mais

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

519

diversas acusaccedilotildees criacuteticas e depreciaccedilotildees da sociedade atraveacutes de miras diversas

que passam pelo poder poliacutetico econoacutemico mediaacutetico entre outrosrdquo Eacute neste

enquadramento reconhecidamente adverso que os professores tecircm de construir a

sua argumentaccedilatildeo aceitando as criacuteticas e reparos fundamentados e repensando a

forma como querem ser avaliados Numa anaacutelise relativamente a esta problemaacutetica

Ana Paula Curado (2002) apresenta duas alternativas para reflexatildeo que sintetizo da

seguinte maneira (i) Manter o status quo corporativista que estigmatiza a classe e se

calhar indicia aquilo que de pior existe nos professores um certo comodismo

existencial que reage agraves criacuteticas com uma postura defensiva comprometedora

reveladora de medos e inseguranccedilas pouco recomendaacuteveis que servem de alimento

agraves suspeiccedilotildees mais negras sobre a classe (ii) Ou em contrapartida propor sem

receios e com audaacutecia novos moldes de ver analisado o seu trabalho diaacuterio de curto

meacutedio e longo prazo com as respectivas preparaccedilotildees e realizaccedilotildees lectivas as suas

planificaccedilotildees curriculares e extracurriculares e o seu desempenho pedagoacutegico

Por conseguinte enuncia-se as razotildees pelas quais foi escolhido o tema da Avaliaccedilatildeo

do desempenho dos Professores feita pelos estudantes um estudo realizado no

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe)

Porque apesar de ser um tema muito em vulgar natildeo tem tido o devido

destaque e atenccedilatildeo das Ciecircncias da Educaccedilatildeo em especial no nosso paiacutes isto

eacute em Angola a niacutevel acadeacutemico e ao niacutevel da reflexatildeo e intervenccedilatildeo da classe

docente

A necessidade de aprofundar o conhecimento relativamente a avaliaccedilatildeo de

desempenho dos professores atraveacutes dos estudantes e desta contribuir na

qualidade do processo docente-educativo no Ensino Superior

Assim sendo com vista a delimitar o problema elaborou-se a seguinte pergunta

geneacuterica que conduziu o processo de investigaccedilatildeo (Alvarenga 2009)

Problema de Investigaccedilatildeo

bull Como se caracteriza o Desempenho dos Professores visto pelos estudantes no

Instituto Superior Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe e quais satildeo os factores

Questotildees do Estudo

No intuito de operacionalizar a problemaacutetica de investigaccedilatildeo foram consideradas as

seguintes questotildees de investigaccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

520

I Como se atribuem os estudantes pelos que avaliam o desempenho dos

professores (em termos de competecircncias altas ou baixas)

II Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

Estudantes e a reprovaccedilatildeo dos mesmos (dos estudantes)

III Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

estudantes e o ano de escolaridade (dos estudantes)

IV Que relaccedilatildeo existe entre o desempenho dos professores percebido pelos

estudantes e as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

V Seraacute que existe diferenccedilas significativas nas competecircncias dos professores

percebidas pelos estudantes entre o geacutenero Masculino e Feminino

VI Seraacute que existe diferenccedilas significativas nas competecircncias dos professores

percebida pelos estudantes entre os cursos de Licenciatura em Ciecircncias de

Educaccedilatildeo Exatas da Natureza e Sociais

Objetivos do Estudo

Na tenta de encontrar resposta ao do problema de Investigaccedilatildeo elaborou-se os

seguintes objectivos Geral e Especiacuteficos

Geral

Com este estudo pretende-se caracterizar o Desempenho dos Professores visto pelos

estudantes no ISCED do Sumbe Identificar os factores e analisar correlaccedilotildees entre o

desempenho dos Professores percebido pelos estudantes com o ano de escolaridade

geacutenero e habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

Especiacuteficos

bull Investigar a forma como se atribuem os estudantes pelos avaliam o

desempenho dos professores (em termos de competecircncias altas ou baixas)

bull Constatar a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos Estudantes e a reprovaccedilatildeo dos mesmos (dos estudantes)

bull Averiguar a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos estudantes e o ano de escolaridade (dos estudantes)

bull Conhecer a relaccedilatildeo existente entre o desempenho dos professores percebido

pelos estudantes e as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

bull Saber se existe diferenccedilas significativas no desempenho dos professores

percebido pelos estudantes entre o geacutenero Masculino e Feminino

bull Averiguar se existe diferenccedilas significativas no desempenho dos professores

percebido pelos estudantes entre os cursos de Licenciatura em Ciecircncias de

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

521

Educaccedilatildeo Exatas da Natureza e Ciecircncias Sociais

Metodologia

Na tentativa da procura de coerecircncia e de validaccedilatildeo dos procedimentos metodoloacutegicos

recorreu-se agrave vaacuterias sugestotildees metodoloacutegicas com vista a atender agrave questotildees de

estudo

As teacutecnicas sendo adequadas aos objetivos do estudo e consequente problema de

investigaccedilatildeo tiveram como base a metodologia quantitativo e qualitativa uma vez que

atraveacutes da mesma torna-se possiacutevel ldquoencontrar relaccedilotildees entre variaacuteveis fazer

descriccedilotildees recorrendo ao tratamento estatiacutestico de dados recolhidos e testar teoriasrdquo

(Carmo amp Ferreira 1998 p178)

O meacutetodo quantitativo foi ainda considerado pelo facto de o mesmo possibilitar a

classificaccedilatildeo e anaacutelise de todos os dados permitindo posteriores generalizaccedilotildees Em

linha com esta opccedilatildeo assumiu-se que a recolha dos dados de informaccedilatildeo seria

efetuada com base num inqueacuterito por questionaacuterio Sendo este um instrumento que

se pretende passiacutevel de representatividade de um determinado universo de indiviacuteduos

uma vez que permite interrogar um elevado nuacutemero de sujeitos (Hill amp Hill 2009) e

dada a importacircncia atribuiacuteda agraves conclusotildees passiacuteveis de serem retiradas das respostas

obtidas junto dos inquiridos assume-se o seu contributo na anaacutelise de fenoacutemenos

sociais

O questionaacuterio foi aplicado a um conjunto de alunos dos cursos de Pedagogia

Psicologia Histoacuteria Matemaacutetica e Geografia mais concretamente haacute alunos integrados

em turmas do 1ordm e 4ordm anos do periacuteodo regular e Poacutes-laboral ambos do Instituto

Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe Atraveacutes das suas opiniotildees e perceccedilotildees

face aos itens indicados procurou-se dar respostas agraves questotildees de estudo No que

respeita agrave anaacutelise dos dados importa referir que os mesmos foram codificados de

forma a facilitar o tratamento dos mesmos tendo sido posteriormente analisados

estatisticamente

Relativamente agraves limitaccedilotildees associadas a este processo haacute a assinalar o tempo de

duraccedilatildeo do questionaacuterio e as taxas de natildeo resposta ao mesmo compensadas no

entanto pela fiabilidade atribuiacuteda a esse procedimento pela salvaguarda do

anonimato dos inquiridos aquando do preenchimento

Amostra do estudo

Com o intuito de tornar a amostra o mais representativa possiacutevel e de forma a permitir

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

522

posteriores generalizaccedilotildees procurou-se uma amostra que viabilizasse os resultados

para tal e seguindo os criteacuterios de que os agrupamentos deveriam ser todas as turmas

do 1ordm E 4ordm anos de todos os cursos leccionados no Instituto Superior de Ciecircncias de

Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe) Assim sendo foram selecionadas

aleatoriamente 13 turmas dos quais sete (7) do 1ordmano e seis (6) do 4ordm ano ambas

turmas do periacuteodo regular e poacutes-laboral Assim a aplicaccedilatildeo do inqueacuterito por

questionaacuterio decorreu em treze turmas no Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo

do Sumbe da Universidade Katyavala Bwila

Os questionaacuterios foram distribuiacutedos numa composiccedilatildeo de trecircs paacuteginas e dividido em

trecircs secccedilotildees Numa primeira secccedilatildeo constavam elementos caracteriacutesticos do aluno

geacutenero idade ano de escolaridade nuacutemero de reprovaccedilotildees preferecircncias sobre

ciecircncias de Educaccedilatildeo Exatas Sociais ou letras Modernas e as habilitaccedilotildees literaacuterias do

pai e da matildee Na segunda secccedilatildeo estava incluiacutedo um conjunto de situaccedilotildees referentes

Opiniatildeo sobre o desempenho docente ndash ODD-FHV

Que permite avaliar o desempenho dos docentes na percepccedilatildeo dos alunos (Veiga

2010) perante os quais os alunos optavam de acordo com uma escala de 1 a 6 do

discordo totalmente a concordo totalmente Integrava a terceira secccedilatildeo sobre as

Representaccedilotildees dos Alunos acerca dos comportamentos de Profissionalidade Docente

(ERA-CPD) um conjunto total de quarenta e dois itens sobre os Indicadores da

Avaliaccedilatildeo de desempenho do professor no ensino superior

Procedimentos

Apoacutes a conclusatildeo da elaboraccedilatildeo do questionaacuterio aplicado aos alunos foi solicitada

autorizaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED

do Sumbe) para a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios em meio escolar Na sequecircncia da

autorizaccedilatildeo contactaram-se os chefes de Departamentos dos de Cinco curso

leccionados no ISCED do Sumbe para obter a sua autorizaccedilatildeo tendo sido entregues os

comprovativos da autorizaccedilatildeo da Exma Senhora Decana do ISCED do Sumbe

2 CONCEPCcedilOtildeES DE AVALIACcedilAtildeO DE DESEMPENHO DOCENTE

21 Conceito de Avaliaccedilatildeo

A funccedilatildeo de avaliar tem lugar preponderante em operaccedilotildees de planeamento

sistemaacutetico conforme as acccedilotildees realizadas numa instituiccedilatildeo de ensino o planeamento

de uma disciplina um semestre

Segundo Idalberto Chavenato (2010) a avaliaccedilatildeo seraacute numa perspectiva lata um meio

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

523

que permite manter alterar ou suspender justificadamente um dado plano ou numa

perspectiva pedagoacutegica leccionar o que tem interesse optimizar a qualidade do que eacute

aceite e eliminar o que representa desperdiacutecio Contudo avaliar poderaacute significar o

acto de examinar o grau de adequaccedilatildeo entre um conjunto de informaccedilotildees e um

conjunto de criteacuterios apropriados ao objectivo fixado para uma tomada de decisatildeo

Sistemas de avaliaccedilatildeo e suas formas

Um sistema de avaliaccedilatildeo como qualquer outro sistema eacute baseado em determinados

pressupostos que por um lado o justificam e por outro o tornam exequiacutevel logo uma

planificaccedilatildeo de todo o processo de ensino-aprendizagem torna-se extremamente

relevante (Ponte 2000p19-23)

Basicamente a avaliaccedilatildeo assenta em trecircs formas distintas Heteroavaliaccedilatildeo auto-

avaliaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo mista conforme o agente que avalia

Heteroavaliaccedilatildeo consiste na valorizaccedilatildeo do rendimento escolar feita por

pessoas distintas do proacuteprio aluno

Auto-avaliaccedilatildeo consta do juiacutezo de valor que o aluno faz do rendimento

educativo que teve

A avaliaccedilatildeo mista tem lugar quando o docente e o aluno avaliam em comum as

actividades ou o rendimento deste eacute uma avaliaccedilatildeo conjunta que tem lugar

quando ambos analisam determinadas tarefas ou rendimentos

Salienta-se que tambeacutem iremos praticar este tipo de avaliaccedilatildeo porque seraacute tido em

conta as respostas que o aluno deu ao um conjunto de questotildees colocadas como as

respostas que o aluno deu a um inqueacuterito

Resultados da aprendizagem

Na perspectiva de Brunner amp Gagne (2001) um dos principais valores da avaliaccedilatildeo

consiste em permitir diagnosticar uma deficiecircncia de aprendizagem mal ela se produza

para se poder superar tal dificuldade de imediato Se os alunosformandos natildeo forem

avaliados eles prosseguiratildeo pelos diversos graus de ensino sem saberem quais as suas

falhas consequentemente surgiratildeo carecircncias difiacuteceis de ultrapassar noutros niacuteveis de

ensino

E finalmente no sentido mais pedagoacutegico o objectivo bem definido descreveraacute o que

o aluno teraacute de fazer para demonstrar que o atingiu Resumindo a avaliaccedilatildeo permite-

nos conhecer os pontos fortes e os pontos fracos do ensino e da aprendizagem e

consequentemente facilitaraacute a sua correcccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

524

22 Avaliaccedilatildeo de Desempenho

De acordo Brilman Jean (2000P377-392) a avaliaccedilatildeo de desempenho eacute um

questionaacuterio padronizado que visa classificar o desempenho do avaliado (com base em

criteacuterios quantificaacuteveis comentaacuterios qualitativos e as aacutereas prioritaacuterias a melhorar) Em

regra a avaliaccedilatildeo eacute feita pelo superior hieraacuterquico eou pelo proacuteprio avaliado

Para que serve a Avaliaccedilatildeo de Desempenho

Segundo o autor acima citado a aplicaccedilatildeo de uma gestatildeo previsional do pessoal supotildee

a existecircncia de um sistema de avaliaccedilatildeo que permita reunir as informaccedilotildees necessaacuterias

para construir os diferentes programas (promoccedilatildeo remuneraccedilatildeo formaccedilatildeo) e que

estabeleccedila as decisotildees respeitantes agraves carreiras dos colaboradores da empresa

A avaliaccedilatildeo de desempenho eacute o sistema que serve aos superiores e aos restantes

colaboradores para reflectirem conjuntamente acerca dos resultados e em novos

planos de acccedilatildeo O sistema de avaliaccedilatildeo torna-se um utensiacutelio de direcccedilatildeo e de

comunicaccedilatildeo Esta ferramenta orienta a acccedilatildeo dos organizadores e dos directores em

trecircs variaacuteveis

1 Acccedilatildeo sobre as capacidades e as competecircncias individuais A avaliaccedilatildeo faz

surgir lacunas sobre as quais eacute possiacutevel agir atraveacutes da formaccedilatildeo do trabalhador

e elevaccedilatildeo do seu niacutevel de intervenccedilatildeo de forma a responder agraves exigecircncias da

sua tarefa

2 Acccedilatildeo sobre a organizaccedilatildeo das tarefas As carecircncias em termos de organizaccedilatildeo

dos postos de trabalho da definiccedilatildeo das tarefas e as insuficiecircncias dos modos

operatoacuterios limitam a produtividade dos esforccedilos realizados A avaliaccedilatildeo de

desempenho pode ressaltar as melhorias a introduzir na organizaccedilatildeo do

trabalho de modo a fazer crescer a eficaacutecia do posto de trabalho

3 Acccedilatildeo sobre o esforccedilo atraveacutes de uma acccedilatildeo sobre as recompensas A

avaliaccedilatildeo de desempenho condiciona a concessatildeo das recompensas

(promoccedilatildeo distinccedilatildeo aumentos remuneratoacuterios)

23 Objectivos da Avaliaccedilatildeo de Desempenho

Na visatildeo de Hiam Alexander (1998 pp 20-24) os objectivos da Avaliaccedilatildeo de

Desempenho devem ser delineados de forma a orientar e responsabilizar os

colaboradores da empresa para os resultados da sua funccedilatildeo Assim reconhece-se o

desempenho efectivamente demonstrado Os objectivos devem ser definidos pela

empresa e devem incluir prazos estimados indicadores e metas a atingir No final do

periacuteodo de avaliaccedilatildeo caberaacute ao avaliador efectuar a avaliaccedilatildeo do cumprimento dos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

525

objectivos definidos consoante os indicadores e as suas metas

Caracteriacutesticas da Avaliaccedilatildeo de Desempenho

A avaliaccedilatildeo de desempenho possui trecircs caracteriacutesticas que observadas actuam como

catalisadores do desenvolvimento organizacional Assim a avaliaccedilatildeo de desempenho

teraacute de ser

Sistemaacutetica porque requer uma observaccedilatildeo orientada e continuada do

desempenho profissional dos indiviacuteduos

Perioacutedica na medida em que implica a definiccedilatildeo de periacuteodos regulares de

observaccedilatildeo

Estandardizada e Qualificada porque obedece a um conjunto de criteacuterios e

procedimentos estabelecidos tecnicamente e concretizados na utilizaccedilatildeo de

uma ficha e de um manual de avaliaccedilatildeo

24 Avaliaccedilatildeo de Desempenho Docente e Controveacutersias

A literatura neste domiacutenio tem demonstrado a complexidade e tambeacutem a controveacutersia

da avaliaccedilatildeo de professores tendo em conta os seus propoacutesitos os processos e os

efeitos Para Natriello (1990) as razotildees do processo de avaliaccedilatildeo e o respectivo

resultado quer estabelecendo ou natildeo qualquer relaccedilatildeo com os propoacutesitos iniciais

deveratildeo estabelecer relaccedilatildeo com as praacuteticas e as actividades empreendidas no

processo No seu estudo das consequecircncias natildeo esperadas da avaliaccedilatildeo ao niacutevel

individual organizacional e contextual defendeu uma maior consciencializaccedilatildeo dessas

consequecircncias na formulaccedilatildeo dos modelos de avaliaccedilatildeo

Neste contexto haacute autores que defendem a possibilidade de no mesmo sistema de

avaliaccedilatildeo serem incorporados propoacutesitos formativos e sumativos mas outros haacute que

advogam a incompatibilidade entre estes dois propoacutesitos (Duke amp Stiggins 1990

Simotildees 2000 Chow et al 2002 Avalos amp Assael 2006)

A este propoacutesito Darling-Hammond clarifica e distingue dois conceitos relacionados o

de qualidade dos professores e o de qualidade do ensino Refere que

ldquoA qualidade do ensino eacute em parte uma funccedilatildeo da qualidade

do professor () mas eacute tambeacutem fortemente influenciada pelo

contexto de ensino () Um professor ldquode qualidaderdquo pode natildeo ser

capaz de proporcionar um ensino de qualidade num contexto onde se

verifica um desfasamento entre as exigecircncias da situaccedilatildeo e o seu

conhecimento ou destrezas () Por exemplo um professor preparado

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

526

para ensinar alunos do ensino secundaacuterio pode natildeo ser capaz de

ensinar alunos mais novos um professor que eacute capaz de ensinar

alunos com elevadas destrezas e competecircncias pode natildeo ser capaz de

ensinar alunos que tecircm dificuldades ou que natildeo dispotildeem em casa dos

recursos que o professor estaacute habituado a assumir que existemrdquo

(Darling-Hammond 2008 p 4)

A qualidade dos professores diz respeito ao conjunto de traccedilos pessoais destrezas e

perspectivas que algueacutem traz para o ensino incluindo tambeacutem determinadas

disposiccedilotildees em termos de comportamento A referida autora com base na

investigaccedilatildeo sobre a eficaacutecia docente identifica um conjunto de qualidades entre as

quais se destacam o domiacutenio do conhecimento do conteuacutedo e do conhecimento

pedagoacutegico do conteuacutedo a capacidade de comunicaccedilatildeo a compreensatildeo dos

aprendentes e da sua aprendizagem e desenvolvimento ser um profissional

especializado e com capacidade de se adaptar permitindo ao professor julgar sobre o

modo como deve agir em determinado contexto para responder agraves necessidades dos

alunos

5APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

Dos 137 inquiridos 56 inquiridos (479) dizem estar a frequentar o 4ordm ano de

escolaridade (ver graacutefico 1) e 45 (385) frequentam o primeiro ano

Graacutefico 2 ndash Ano de escolaridade

A idade dos inquiridos varia entre os 21 e os 58 anos sendo que a maioria dos alunos

(504) tem idade inferior a 30 anos (ver graacutefico 2) e 229 tem idade igual ou

superior a 40 anos De modo geral os inquiridos tecircm em meacutedia 325plusmn822 anos isto eacute

a meacutedia de idade varia entre os 24 e os 41 anos

45

16

56

0

20

40

60

80

100

11 3 4

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

527

Graacutefico 3 ndash Idade dos inquiridos em categorias

A amostra eacute composta por 72 alunos do sexo masculino sendo que o sexo feminino

representa 28 da amostra (ver graacutefico 3)

28

72

Feminino

Masculino

Graacutefico 4 ndash Sexo

Apesar de 599 dos inquiridos natildeo ter respondido a questatildeo sobre o nuacutemero de

reprovaccedilotildees ateacute a data dos que responderam 527 (29 casos) natildeo tiveram qualquer

reprovaccedilatildeo e 291 (16 casos) soacute reprovaram uma vez O maacuteximo de reprovaccedilotildees

identificadas foi de 5 anos (18 dos inquiridos que responderam) sendo que a meacutedia

de reprovaccedilotildees eacute de 085plusmn122 isto eacute as reprovaccedilotildees variam em meacutedia entre 0 e 2

anos Estes dados correlacionam-se negativamente com o ano de escolaridade (RS[50]=-

0329 p=0020) indicando que os alunos que estatildeo em anos de frequecircncia superiores

tecircm tendencialmente menos reprovaccedilotildees em comparaccedilatildeo com os alunos que estatildeo

num ano de frequecircncia menor Esta relaccedilatildeo tambeacutem poderaacute indicar que os alunos com

menos reprovaccedilotildees tendem a avanccedilar (ano de frequecircncia) no curso no entanto

identificar os motivos da existecircncia desta correlaccedilatildeo teraacute de ser efectuado outro

estudo

Graacutefico 5 ndash Nuacutemero de reprovaccedilotildees ateacute agora 0

5

10

15

20

25

30

35

0 1 2 3 4 5

26

40

17 1812

18

0

10

20

30

40

50

lt 25 anos [25-30[ anos [30-35[ anos [35-40[ anos [40-44[ anos gt= 45 anos

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

528

Paralelamente os inquiridos foram questionados sobre qual a aacuterea de preferecircncia de

cursos sendo que 61 (72 casos) respondeu que tecircm preferecircncia pela aacuterea de ciecircncias

de educaccedilatildeo (ver graacutefico 5) Das restantes aacutereas 195 prefere as ciecircncias sociais

seguidas das ciecircncias exatas com 178 e por uacuteltimo as ciecircncias da natureza com 17

De realccedilar que nenhum dos inquiridos escolheu a aacuterea das letras modernas Esta

variaacutevel estaacute relacionada com a idade (p=0010) Pela anaacutelise das classificaccedilotildees meacutedias

verificamos que por ordem decrescente de idade os alunos preferem as ciecircncias da

natureza seguidas das ciecircncias sociais ciecircncias da educaccedilatildeo e ciecircncias exatas (por esta

ordem) Tambeacutem encontramos uma relaccedilatildeo entre a aacuterea de preferecircncia do curso e o

sexo dos alunos (p=0014) Pela anaacutelise das classificaccedilotildees meacutedias verificamos que os

alunos do sexo feminino tecircm maior preferecircncia pelas aacutereas ciecircncias de educaccedilatildeo e

ciecircncias sociais enquanto que os alunos do sexo masculino preferem as ciecircncias da

natureza e as ciecircncias exatas

72 21 23 2

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

1

Ciecircncias de Educaccedilatildeo Ciecircncias Exactas Ciecircncias Sociais Ciecircncias da Natureza

Graacutefico 6 ndash Aacuterea de preferecircncia dos cursos

Verificamos que as habilitaccedilotildees da matildee satildeo inferiores agraves do pai As matildees tecircm um valor

meacutedio de 181plusmn1397 (classificaccedilatildeo das habilitaccedilotildees literaacuterias) isto eacute em meacutedia variam

entre natildeo terem estudos e terem o ensino meacutedio No caso dos pais o valor meacutedio eacute de

25plusmn1368 isto eacute em meacutedia variam entre o ensino primaacuterio e o ensino teacutecnico

Paralelamente existe uma correlaccedilatildeo entre as habilitaccedilotildees da matildee e do pai

(RS[86]=773 plt00001) que nos indica que quanto maior forem as habilitaccedilotildees da

matildee maior seratildeo as habilitaccedilotildees do pai

As habilitaccedilotildees dos pais tambeacutem estatildeo (ambas) negativamente correlacionadas com a

idade dos alunos inquiridos (plt00001) sendo que quanto maior for a idade do aluno

menor seratildeo as habilitaccedilotildees dos pais Estas duas variaacuteveis tambeacutem se relacionam com

o sexo dos alunos (matildee p=0057 significativo para um grau de confianccedila de 90 pai

p=0034 significativo para um grau de confianccedila de 95) Analisando as classificaccedilotildees

meacutedias verificamos que medas das habilitaccedilotildees dos pais dos alunos do sexo feminino

satildeo superiores agrave meacutedia das habilitaccedilotildees dos pais dos alunos do sexo masculino

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

529

0

10

20

30

40

Sem Estudos Ensino Primaacuterio Ensino

Secundaacuterio

Ensino Meacutedio Ensino Teacutecnico Ensino Superior

Matildee Pai

Graacutefico 7 ndash Habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais

Tambeacutem foi questionado qual a escola que o inquirido frequenta Apesar de nem

todos terem respondido agrave questatildeo sabemos que este inqueacuterito foi aplicado somente a

alunos do ISCED do Sumbe pelo que consideramos que 100 dos inquiridos satildeo

alunos desta escola

Opiniatildeo sobre o desempenho do docente ndash ODD-FHV

Iniciamos este capiacutetulo com a anaacutelise da normalidade para podermos definir quais os

testes estatiacutesticos a aplicar para obtenccedilatildeo das correlaccedilotildees existentes entre as

variaacuteveis avaliadas

Tabela 1 ndash Teste de Normalidade

Aplicou-se o teste K-S agraves variaacuteveis quantitativas e verificamos que as variaacuteveis natildeo tecircm

uma distribuiccedilatildeo normal (ver tabela 6)

Paralelamente o valor de Alpha de Cronbach para as variaacuteveis desta escala eacute de 0895

o que nos indica que a escala ODD_FHV tem uma fiabilidade alta (ver tabela 7)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

530

Pela anaacutelise da tabela 2 podemos verificar se existe alguma questatildeo que esteja a

ldquoprejudicarrdquo o valor de Alpha de Cronbach encontrado no entanto todos os valores de

Alpha de Cronbach encontrados variam entre 0878 e 0893 mantendo-se a

classificaccedilatildeo de fiabilidade alta

Tabela 2 ndash Alpha de Cronbach se uma variaacutevel for eliminada para a escala ODD_FHV

As respostas agraves questotildees colocadas podem ser divididas em dois grupos Os que estatildeo

em desacordo com as afirmaccedilotildees que englobam as respostas ldquoCompletamente em

desacordordquo ldquoBastante em desacordordquo e ldquoMais em desacordo que de acordordquo e os que

estatildeo de acordo com as afirmaccedilotildees que englobam as repostas ldquoCompletamente de

acordordquo ldquoBastante de acordordquo e ldquoMais de acordo que em desacordordquo

0 25 50 75 100

Os elementos do estudo indicados pelo professor satildeo adaptados

Os docentes expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulas

As actividades da sala de aulas satildeo bem organizadas

Os docentes respondem com clareza agraves questotildees colocadas nas aulas

Os docentes satildeo acessiacuteveis para apoios fora das aulas

O relacionamente pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bom

A assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadas

O processo de avaliaccedilatildeo eacute adequado aos conteuacutedos ensinados

O processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidade

A minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boa

Em Desacordo De Acordo

Graacutefico 8 ndash Respostas agraves questotildees colocadas ndash ODD_FHV

Das afirmaccedilotildees apresentadas vamos em destaque agrave que classifica como boa a

apreciaccedilatildeo global do docente sendo que 354 diz estar bastante de acordo e 308

afirma estar mais de acordo do que em desacordo A meacutedia de respostas eacute de

429plusmn1184 (ver tabela 3) o que nos indica que a meacutedia de resposta varia

positivamente isto eacute em meacutedia os alunos consideram que a apreciaccedilatildeo global do

docente eacute boa apesar de termos respostas todas as respostas possiacuteveis (Min=1 e

Max=6)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

531

Tabela 3 ndash Estatiacutestica descritiva da escala ODD_FHV

Pela anaacutelise da tabela 3 verificamos que todas as afirmaccedilotildees apresentadas tecircm em

meacutedia respostas positivas indicando que estatildeo mais de acordo com as afirmaccedilotildees do

que em desacordo podendo em meacutedia chegar a resposta do tipo ldquoconcordo bastanterdquo

e destacar a afirmaccedilatildeo ldquoOs docentes satildeo acessiacuteveis para apoios fora das aulasrdquo onde a

meacutedia eacute inferior (364plusmn1478) agraves restantes indicando que nesta afirmaccedilatildeo as meacutedia de

resposta varia entre uma resposta negativa e uma positiva isto eacute entre o ldquomais em

desacordo que de acordordquo e ldquomais de acordo que em desacordordquo

Como era esperado cada uma das 10 variaacuteveis que analisam a opiniatildeo sobre o

desempenho do docente estaacute positivamente e significativamente relacionada as

outras 9 variaacuteveis (plt0002)

Tabela 4 ndash Correlaccedilatildeo entre escala ODD-FHV e caraterizaccedilatildeo da amostra

O ano de escolaridade do aluno estaacute positivamente correlacionado com ldquoos docentes

expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulasrdquo (p=0001) e com ldquoa minha apreciaccedilatildeo global

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

532

do docente eacute boardquo (p=0015) indicando que os alunos com mais anos de escolaridade

tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo a estas duas afirmaccedilotildees (ver tabela 4)

A idade do aluno estaacute positivamente correlacionada com ldquoos docentes expotildeem a

mateacuteria com clareza nas aulasrdquo (p=0039) com ldquoo relacionamento pedagoacutegico entre

docentes e alunos eacute bomrdquo (p=0010) com ldquoa assiduidade dos docentes agraves aulas eacute

elevadasrdquo (p=0025) com ldquoo processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidaderdquo

(p=0044) e com ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boardquo (p=0013) indicando

que os alunos com mais idade tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo a estas

cinco afirmaccedilotildees (ver tabela 4)

O nuacutemero de reprovaccedilotildees ateacute agrave data do aluno estaacute negativamente correlacionado

com ldquoo processo de avaliaccedilatildeo eacute adequado aos conteuacutedos ensinadosrdquo (p=0030)

indicando que os alunos com mais reprovaccedilotildees tecircm uma opiniatildeo menos favoraacutevel em

relaccedilatildeo a esta afirmaccedilatildeo (ver tabela 4)

Tabela 5 ndash Correlaccedilatildeo da escala ODD_FHV com a variaacutevel Sexo

Em relaccedilatildeo ao sexo do aluno este estaacute correlacionado (ver tabela 5 com ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo (p=0019) e com ldquoO processo de

avaliaccedilatildeo eacute aplicado com equidaderdquo (p=0043) Pela anaacutelise da classificaccedilatildeo das meacutedias

verificamos que as mulheres tecircm uma opiniatildeo mais negativa que os homens em

relaccedilatildeo agraves duas afirmaccedilotildees referidas

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

533

Tabela 6 ndash Correlaccedilotildees da escala ODD_FHV com a aacuterea de preferecircncia de cursos

Paralelamente encontramos 5 afirmaccedilotildees que se correlacionam com a aacuterea de

preferecircncia de cursos (ver tabela 6) sendo elas ldquoOs docentes expotildeem a mateacuteria com

clareza nas aulasrdquo ldquoO relacionamento pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bomrdquo ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo ldquoO processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado

com equidaderdquo e ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do docente eacute boardquo

Pela anaacutelise da classificaccedilatildeo de meacutedias verificamos que os alunos que assinalaram as

ciecircncias da natureza satildeo os que tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel em relaccedilatildeo agraves cinco

afirmaccedilotildees apresentadas no entanto natildeo nos podemos esquecer que soacute 2 em mais de

100 alunos escolheram esta aacuterea Os alunos que escolheram as ciecircncias soacutecias como a

aacuterea de preferecircncia satildeo os que (em segundo lugar) datildeo mais respostas positivas Os

alunos que selecionaram as ciecircncias exatas tecircm uma opiniatildeo mais favoraacutevel que os

alunos que selecionariam as ciecircncias da educaccedilatildeo nas afirmaccedilotildees ldquoOs docentes

expotildeem a mateacuteria com clareza nas aulasrdquo e ldquoO processo de avaliaccedilatildeo eacute aplicado com

equidaderdquo Em oposiccedilatildeo os alunos que selecionaram as ciecircncias de educaccedilatildeo tecircm uma

opiniatildeo mais favoraacutevel que os alunos que selecionaram as ciecircncias exatas nas

afirmaccedilotildees ldquoO relacionamento pedagoacutegico entre docentes e alunos eacute bomrdquo ldquoA

assiduidade dos docentes agraves aulas eacute elevadasrdquo e ldquoA minha apreciaccedilatildeo global do

docente eacute boardquo Anaacutelise do Inqueacuterito aplicado aos alunos do 1ordm 3ordm e 4ordm anos dos

Cursos de Licenciatura em Matemaacutetica Geografia Histoacuteria Pedagogia e Psicologia no

Instituto Superior de Ciecircncias de Educaccedilatildeo do Sumbe (ISCED do Sumbe)

4CONCLUSOtildeES

A amostra eacute composta por 72 de alunos do sexo masculino e 28 do sexo masculino

A maioria dos alunos (50) tem idade inferior a 30 anos no entanto 23 tecircm idade

superior a 40 anos Tendo em conta que natildeo foram inquiridos alunos do segundo ano

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

534

48 dos alunos frequentam o quarto ano enquanto que 385 frequentam o primeiro

ano tambeacutem se observou que o nuacutemero de reprovaccedilotildees eacute mais elevado nos alunos do

primeiro ano (p=002)

As aacutereas de preferecircncia de cursos mais escolhida eacute a de ciecircncias de educaccedilatildeo (61) no

entanto esta preferecircncia varia significativamente com o sexo dos alunos sendo esta

aacuterea a preferida das mulheres enquanto que os homens preferem as ciecircncias exactas

e da natureza A idade tambeacutem influencia significativamente a aacuterea de preferecircncia dos

cursos sendo que os mais novos preferem as ciecircncias exactas e da educaccedilatildeo

Paralelamente as habilitaccedilotildees literaacuterias dos pais estatildeo relacionadas entre si

(plt00001) indicando que quanto maior for as habilitaccedilotildees da matildee maior seratildeo as

habilitaccedilotildees do pai Os alunos com mais idade tecircm pais com menos habilitaccedilotildees

literaacuterias (plt00001) e os alunos do sexo feminino tecircm pais com mais habilitaccedilotildees

literaacuterias que os alunos do sexo masculino

A opiniatildeo que os alunos tecircm sobre o desempenho do docente eacute positiva para mais de

55 dos alunos para as 10 afirmaccedilotildees apresentadas sendo que para 6 dessas

afirmaccedilotildees mais de 75 dos alunos datildeo resposta positiva

Destaca-se que quanto mais idade ou quanto maior fora a idade escolar do aluno

melhor a sua opiniatildeo sobre o desempenho do docente indicando que os alunos do

primeiro ano (ou os alunos mais novos) satildeo os que tecircm uma opiniatildeo menos favoraacutevel

Como era de esperar os alunos com mais reprovaccedilotildees satildeo os que datildeo opiniotildees menos

favoraacuteveis em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo dos conteuacutedos ensinados versus o processo de

avaliaccedilatildeo

Os alunos do sexo feminino satildeo mais criacuteticos comparativamente com os alunos do

sexo masculino sobre a assiduidade dos docentes e sobre a equidade do processo de

avaliaccedilatildeo

Os alunos que tecircm referecircncia pela aacuterea das ciecircncias sociais satildeo os que tecircm uma

opiniatildeo mais positiva em relaccedilatildeo agrave maioria das afirmaccedilotildees apresentadas inclusive

sobre a apreciaccedilatildeo global do docente

5 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Brilman J (2000) As melhores praacuteticas de gestatildeo no centro do desempenho Lisboa

Editora Siacutelabo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

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Hiam A (1998) Ferramentas de Decisatildeo para Executivos (VEST POCKET CEO)

BenficaExecutive Digest

Farinha P amp Jacinto P (2007) Consultoria Em Gestatildeo De Recursos Humanos Lisboa

ISLA

Rodrigues J N (2005) 50 Gurus da Gestatildeo para o Seacuteculo XXI Vila Nova de Famalicatildeo

Editora Centro Atlacircntico

Gomes M C (2010) Avaliaccedilatildeo de Desempenho Docente Objetivos e Controveacutersias

Dissertaccedilatildeo de Mestrado in

httprecilgrupolusofonaptjspuibitstream1043711551Dissertacao-Avaliacao-

MCeuGomespdf

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536

O (re)conhecimento da estrutura passiva por alunos do

Ensino Superior

ANTOacuteNIA ESTRELA

Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa

antoniaestrelaeselxiplpt

Resumo Tendo em conta as recentes propostas de tipologia das construccedilotildees passivas como

eventivas (ser) resultativas (ficar) e estativas (estar) (Embick 2004 Duarte e Oliveira

2010 Duarte 2013) o objetivo deste estudo eacute avaliar atraveacutes de um estudo

experimental se os alunos do Ensino Superior conseguem distinguir os trecircs tipos de

passiva e as suas diferentes especificidades e se satildeo sensiacuteveis agraves propriedades dos

verbos passivizaacuteveis (transitivos diretos)

O estudo experimental desenvolvido visa testar a compreensatildeo dos trecircs tipos de

estruturas passivas atraveacutes de uma tarefa de juiacutezo de gramaticalidade No estudo

participaram 47 alunos do 1ordm ano de licenciatura tendo sido testados 60 pares de

frases (com 20 verbos distintos) que contrastavam passivas eventivas e estativas

eventivas e resultativas e resultativas e estativas e ainda 5 pares de frases fillers

(distratores)

Os resultados apurados mostram natildeo haver dificuldades no reconhecimento das

estruturas em anaacutelise No estudo experimental foram introduzidos alguns itens de

teste que funcionaram como fillers mas que serviram para testar a capacidade para

distinguir os verbos que podem surgir em oraccedilotildees passivas eventivas em portuguecircs

europeu dos que natildeo podem ocupar esse lugar

Os resultados mostram que os alunos tiveram alguma dificuldade em reconhecer as

caracteriacutesticas dos verbos passivizaacuteveis o que corrobora os resultados apurados por

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

537

Estrela (2012) que datildeo conta da produccedilatildeo de passivas com verbos que natildeo satildeo

transitivos em textos de alunos do Ensino Superior A anaacutelise de resultados individuais

permite vislumbrar tambeacutem essa dificuldade

Palavras-chave Estrutura passiva transitividade

Abstract

Given the recently proposed typology of passive constructions as eventives (ser)

resultative (ficar) and stative (estar) (Embick 2004 Duarte and Oliveira 2010 Duarte

2013) the aim of this study is to evaluate through an experimental study if students

of Higher Education can distinguish these three types of passive and their different

specificities and if they are sensitive to the properties of verbs that can occur in the

passive construction

The experimental study was designed as a grammaticality judgment task The study

involved 47 students in the 1st year of degree Sixty pairs of sentences (with 20 verbs)

which contrasted eventive and stative passives eventive and resultative and

resultative and stative plus 5 pairs of sentences fillers

The results show that there is no difficulty in recognizing the structures under

consideration In the experimental study we have introduced some test items that

functioned as fillers but which served to test the ability to distinguish verbs that can

occur in passive sentences in European Portuguese and those that cannot

The results show that the students had some difficulty in recognizing the

characteristics of verbs that can occur in this construction which corroborates the

results obtained by Estrela (2012) that account for the production of passive with

transitive verbs by students in Higher Education

Keywords Passive structure transitivity

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538

Introduccedilatildeo

Com este trabalho pretende-se abordar uma proposta recente de tipificaccedilatildeo de

passivas segundo uma perspetiva tripartida passivas eventivas passivas resultativas e

passivas estativas Tal proposta defendida em Duarte (2013) parece dar conta de um

modo muito refinado das especificidades que distinguem cada um dos tipos de

passivas Com base nos contrastes propostos pela autora avaliaacutemos atraveacutes de um

estudo experimental a sensibilidade de alunos do Ensino Superior face aos trecircs tipos

de passiva e agraves suas diferentes propriedades

Este trabalho organiza-se do seguinte modo numa primeira parte apresentamos a

tipologia tripartida das passivas proposta por Duarte (2013) para o portuguecircs de

seguida descrevemos o estudo experimental levado a cabo apresentando a

metodologia os participantes e os resultados apurados e por uacuteltimo apresentamos

algumas notas finais

A adequaccedilatildeo da tipologia tripartida para o portuguecircs

Duarte e Oliveira (2010) e Duarte (2013) argumentam a favor da adequaccedilatildeo da

proposta de Embick (2004) para o portuguecircs e apontam argumentos nesse sentido Os

exemplos de 1) a 3) constituem uma passiva eventiva uma passiva resultativa e uma

passiva estativa respetivamente detendo particiacutepios eventivos resultativos e

estativos70

1) O exemplo foi corrigido por um falante nativo

2) O exemplo ficou corrigido (depois de ter sido revisto)

3) O exemplo estaacute correcto

Quer os particiacutepios eventivos quer os resultativos exibem uma componente eventiva

que falta aos particiacutepios estativos A componente agentiva por sua vez eacute apenas

carateriacutestica dos particiacutepios eventivos Estes satildeo os uacutenicos que podem ocorrer em

portuguecircs com agente da passiva com adveacuterbios orientados para o agente com

70

Os exemplos de 1) a 5) satildeo de Duarte e Oliveira (2010 p401)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

539

sintagmas preposicionais instrumentais Para aleacutem disso podem controlar o sujeito

nulo de oraccedilotildees finais Os exemplos em 4) e 5) datildeo conta desse contraste

4) a O exemplo foi corrigido por um falante nativo

b O exemplo foi corrigido propositadamente (pelo autor)

c O exemplo foi corrigido com tinta azul

d O exemplo foi corrigido por [um falante nativo]i para [-]i mostrar a pronuacutencia

correcta

5) a O exemplo ficou corrigido por um falante nativo

b O exemplo ficou corrigido propositadamente (pelo autor)

c O exemplo ficou corrigido com tinta azul

d O exemplo ficou corrigido para mostrar a pronuacutencia correcta

Como vimos a ausecircncia de uma componente eventiva nos particiacutepios estativos marca

a diferenccedila em relaccedilatildeo aos eventivos e aos resultativos

Se tradicionalmente natildeo se fazia a diferenciaccedilatildeo dentro das passivas adjetivais com a

distinccedilatildeo entre os particiacutepios resultativos e estativos essa separaccedilatildeo torna-se mais

clara podendo ser perspetivada natildeo apenas a partir do auxiliar com que se constroacutei

(serestarficar) mas tambeacutem com os tipos aspectuais de predicaccedilotildees (Duarte e

Oliveira 2010402)

21 Passivas eventivas

Nas construccedilotildees passivas eventivas a natureza aspectual do particiacutepio eacute irrelevante

como se pode verificar em 6) em que ocorrem particiacutepios eventivos pertencentes a

diferentes classes aspectuais baacutesicas

6) a Bagdad foi destruiacuteda pelos bombardeamentos americanos (processo

culminado)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

540

b A janela foi aberta para arejar o quarto (culminaccedilatildeo)

c O carro foi conduzido por um piloto experiente (processo)

d A sobremesa foi apreciada por todos (estado)

Geralmente as oraccedilotildees passivas eventivas descrevem situaccedilotildees dinacircmicas em que

uma das entidades envolvidas sofre alguma mudanccedila (de estado lugar ou posse) Isto

explica a existecircncia de fortes restriccedilotildees relativamente agrave ocorrecircncia nestas oraccedilotildees de

verbos transitivos estativos Um exemplo entre outros eacute a impossibilidade de verbos

estativos de posse admitirem passivas eventivas como se vecirc em 7)

7) As riquezas satildeo tidas pelos reis

22 Passivas resultativas

As passivas resultativas constroem-se tipicamente com ficar Este verbo marca o fim

de um evento e o iniacutecio de um estado resultativo como se vecirc nos exemplos seguintes

8) a O poste ficou caiacutedo

b As pontes ficaram destruiacutedas

Aspetualmente as passivas resultativas surgem principalmente com predicaccedilotildees

baacutesicas de tipo teacutelico culminaccedilotildees e processos culminados como se ilustra em 9) e

10)

9) a O espelho ficou partido

b O espelho jaacute estaacute partido

10) a A cidade ficou destruiacuteda

b A cidade jaacute estaacute destruiacuteda

Este tipo de passivas eacute incompatiacutevel com estados e raramente ocorre com processos

necessitando neste caso de contextos especiais (Embick 2004)

11) a A Rita ficou amada (estado)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

541

b A Rita jaacute estaacute amada

12) a O carro ficou empurrado (processo)

b O carro jaacute estaacute empurrado

Outra caracteriacutestica que diferencia as passivas eventivas das passivas resultativas eacute o

facto de estas uacuteltimas natildeo admitirem em princiacutepio a realizaccedilatildeo lexical do argumento

externo do verbo atraveacutes de um complemento agente da passiva como mostra o

exemplo 13)

13) O espelho ficou partido pela rapariga

A impossibilidade de ocorrecircncia do agente da passiva deve-se nestas construccedilotildees ao

facto de o argumento externo natildeo estar impliacutecito ao inveacutes do que acontece nas

passivas eventivas Assim de acordo com Duarte amp Oliveira (2010) as passivas

resultativas natildeo admitem adveacuterbios orientados para o agente natildeo coocorrem com

oraccedilotildees subordinadas finais (cf 14) e natildeo admitem sintagmas preposicionais de valor

instrumental (cf 15)

14) O espelho ficou partido para natildeo se gastar mais dinheiro

15) O espelho ficou partido com um martelo

As passivas resultativas assinalam natildeo soacute o estado resultante como ainda a fronteira da

passagem a esse estado pelo que admitem a expressatildeo em x tempo que mede o

tempo que o processo demora ateacute atingir o estado resultante

16) O espelho fica partido em 5 minutos

Jaacute quando a expressatildeo em x tempo co-ocorre em passivas com estar a interpretaccedilatildeo

primeira da expressatildeo em x tempo eacute daqui a x tempo como se observa em 17)

17) O espelho estaacute partido em 5 minutos

A passiva estativa contempla entatildeo o estado resultante mas natildeo a fronteira de

passagem a esse estado

23 Passiva estativa

As passivas estativas descrevem situaccedilotildees estativas mas natildeo encerram a componente

da fronteira da passagem ao estado como se pode assinalar nos exemplos 18) e 19)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

542

18) O autor eacute reconhecido mundialmente

19) A professora estaacute desorientada

O que se nota eacute que a construccedilatildeo com ficar e a construccedilatildeo com estar partilham o facto

de exprimirem um estado mas distinguem-se por a primeira implicar dinamismo e

uma alteraccedilatildeo do estado de coisas

No quadro seguinte apresentamos um resumo dos contextos que poderatildeo ser usados

para aferir se determinada construccedilatildeo exibe uma estrutura passiva eventiva

resultativa ou estativa

Passiva

Eventiva

Passiva

Resultativ

a

Passiva

Estativa

Sintagmas preposicionais de

valor instrumental

Oraccedilotildees subordinadas finais

Complemento agente da passiva

Adveacuterbios orientados para o

agente

Expressatildeo em x tempo

Quadro 2- O comportamento de particiacutepios eventivos resultativos e estativos

Estudo experimental

Tendo em conta a pertinecircncia da tipologia tripartida de passivas foi desenvolvido um

estudo com o objetivo de testar a sensibilidade de alunos do Ensino Superior perante

esta construccedilatildeo Assim consideramos duas hipoacuteteses A primeira diz respeito agrave

sensibilidade face agraves diferenccedilas entre as passivas eventivas resultativas e estativas

distinguindo-se a conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares (ser ficar estar) com diferentes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

543

constituintes a segunda refere-se agrave sensibilidade face aos verbos que satildeo passivizaacuteveis

e aos que natildeo o satildeo

A metodologia utilizada consiste numa tarefa de juiacutezo de gramaticalidade No estudo

participaram 47 alunos do 1ordm ano de licenciatura com idades compreendidas entre os

18 e os 37 anos tendo sido testados 60 pares de frases (com 20 verbos distintos) que

contrastavam passivas eventivas e estativas eventivas e resultativas e resultativas e

estativas e ainda 5 pares de frases fillers

Assim foram testadas frases como as que a seguir se apresentam

Passiva eventiva Passiva estativa

20) O castelo foi construiacutedo com uma paacute

21) O castelo estaacute construiacutedo com uma paacute

Passiva eventiva Passiva resultativa

22) O desenho foi colorido para mostrar agrave professora

23) O desenho ficou colorido para mostrar agrave professora

Passiva resultativa Passiva estativa

24) O quadro ficou pintado em cinco minutos

25) O quadro estaacute pintado em cinco minutos

Os resultados foram os que se mostram na tabela 1

Eventiva vs estativa Eventiva vs resultativa Resultativa vs estativa

47 adultos 9145 895 926

Tabela 1 Percentagem de acerto dos adultos face aos trecircs contextos

Como vemos os resultados situam-se nos 90 de acerto nos trecircs contextos o que

revela que os alunos mostraram sensibilidade face agraves diferenccedilas entre passivas

eventivas e resultativas eventivas e estativas e resultativas e estativas tendo-se

distinguido a conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares (ser ficar estar) com diferentes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

544

constituintes como sintagmas preposicionais de valor instrumental oraccedilotildees

subordinadas finais e a expressatildeo em x tempo

No que diz respeito aos fillers (ou distratores) usados foram testadas algumas frases

que visavam verificar a capacidade para distinguir os verbos que podem surgir em

oraccedilotildees passivas eventivas em portuguecircs europeu dos que natildeo podem ocupar esse

lugar Os exemplos em 26) 28) e 30) exibem um verbo transitivo e um intransitivo

pelo que a escolha da frase considerada gramatical deveraacute recair sobre a construccedilatildeo

com o verbo transitivo Por sua vez os exemplos em 27) e 29) exibem apenas verbos

transitivos Nestes dois pares de frases seratildeo as caracteriacutesticas do sujeito [+- HUM]

que condicionaratildeo a respetiva aceitabilidade Os alunos perante as duas frases tecircm

de decidir qual a aceitaacutevel Assim foram testados os seguintes pares de frases estando

a frase agramatical marcada com asterisco

26) a O Joatildeo foi chegado

b O Joatildeo foi ultrapassado

27) a O menino foi explicado

b O menino foi ouvido

28) a A Maria foi agradecida

b A Maria foi transportada

29) a A cantora foi dificultada

b A cantora foi aplaudida

30) a O professor foi apelado

b O professor foi encontrado

Os resultados relativos aos juiacutezos de gramaticalidade dos fillers dos alunos do 1ordm ano

foram os seguintes

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

545

Percentagem de respostas

corretas

Chegar vs ultrapassar 98

Explicar vs ouvir 98

Agradecer vs transportar 89

Dificultar vs aplaudir 64

Apelar vs encontrar 91

Tabela 2 Resultados dos alunos face aos fillers

Natildeo se verificam dificuldades na identificaccedilatildeo de frases com verbos transitivos como

aqueles que podem ocorrer na passiva Em relaccedilatildeo ao par de frases em que os alunos

tiveram pior desempenho (dificultar vs aplaudir) as dificuldades encontradas parecem

poder justificar-se com as propriedades sintaacutetico-semacircnticas dos verbos Os alunos

teratildeo aceitado frases como a de 29a) porque natildeo identificam o traccedilo [+- HUM] do

sujeito como relevante Se por um lado podemos ter frases como O trabalho foi

dificultado natildeo satildeo aceitaacuteveis por outro frases como A cantora foi dificultada Assim

os alunos parecem natildeo reconhecer os traccedilos semacircnticos associados ao sujeito que

pode ocorrer neste contexto

Conclusatildeo

A tipologia tripartida de passivas proposta por Duarte (2013) para o portuguecircs revela-

se adequada e pertinente se tivermos em conta tambeacutem a sensibilidade que os

alunos revelaram face agrave conjugaccedilatildeo de diferentes auxiliares e contextos especiacuteficos

que permitem o uso de tais estruturas passivas

O verbo auxiliar assume um papel importante na distinccedilatildeo dos trecircs tipos de passivas

bem como a possibilidade de ocorrecircncia destas trecircs estruturas em contextos que

possibilitam a sua identificaccedilatildeo diferenciaccedilatildeo como sintagmas preposicionais com

valor instrumental oraccedilotildees subordinadas finais e a expressatildeo em x tempo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

546

Por um lado os alunos natildeo mostraram dificuldades no reconhecimento da distinccedilatildeo

entre passivas eventivas e resultativas passivas eventivas e estativas e passivas

resultativas e estativas Por outro revelaram dificuldades no reconhecimento de um

verbo transitivo (dificultar) que apenas eacute passivizaacutevel se ocorrer na passiva com um

sujeito que apresenta determinados traccedilos semacircnticos Tais dificuldades permitem-

nos apontar para a necessidade de um trabalho minucioso sobre as caracteriacutesticas dos

verbos que podem ocorrer na estrutura passiva em contexto de sala de aula

Referecircncias

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Portuguesa de Linguiacutestica

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

547

Trajetoacuterias profissionais de professores mdash casos de diplomados

da ESELx

Clara Rolo Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

clararolo7gmailcom

Cristina Loureiro Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

cristinaeselxiplpt

Carolina Gonccedilalves Escola Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa CIED

carolinageselxiplpt

Resumo

Pretendemos com esta comunicaccedilatildeo dar conta de um estudo que temos em

desenvolvimento sobre trajetoacuterias profissionais de professores diplomados pela ESELx

desde 1991 de todos os cursos e que tecircm no miacutenimo 5 anos de profissatildeo

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa de matriz compreensiva alicerccedilado em

entrevistas biograacuteficas e materializa-se na anaacutelise de um ldquocorpusrdquo documental de

narrativas profissionais que nos permitem conhecer como as formas identitaacuterias que

assumem concretizam a profissionalidade docente no quotidiano das escolas em que

trabalham A conceccedilatildeo teoacuterica de formas identitaacuterias eacute tributaacuteria dos contributos de

Dubar e Demazieacutere (1997) que as definem como o resultado da relaccedilatildeo entre dois

percursos de identificaccedilatildeo profissional como uma relaccedilatildeo entre os contextos e os

percursos biograacuteficos

Ao privilegiarmos as narrativas biograacuteficas estamos a dar ldquoa vozrdquo a atores que no

quotidiano assumem um conjunto de conhecimentos atitudes valores e accedilotildees

atraveacutes dos quais se manifesta a profissionalidade docente nos vaacuterios campos da accedilatildeo

praacutetica o campo pedagoacutegico o contexto profissional e o contexto sociocultural

(Sacristan 1991 Roldatildeo 2005 2007)

A anaacutelise das entrevistas jaacute realizadas ateacute ao momento permite evidenciar um

conjunto de respostas padratildeo comuns a todos os atores devolvendo-nos assim um

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

548

olhar retrospetivo criacutetico e reflexivo sobre a sua formaccedilatildeo inicial O conhecimento das

trajetoacuterias profissionais de diplomados da ESELx remete-nos para uma reflexatildeo sobre o

projeto de formaccedilatildeo que desenvolvemos ao mesmo tempo que acentua a

necessidade de estabelecer relaccedilotildees consistentes com os profissionais que fazem a

profissatildeo Recuperar este tipo de ligaccedilotildees eacute tambeacutem reconhecer o potencial destes

profissionais e das suas trajetoacuterias como elementos catalisadores do desenvolvimento

da proacutepria instituiccedilatildeo

Palavras chave mdash trajetoacuterias profissionais entrevista biograacutefica profissionalidade

docente

Teachers professional trajectories - cases of graduates of ESELx

Abstract

We present a study under development about the professional careers of graduate

teachers from ESELx since 1991 from all courses and who have at least 5 years of

professional experience

This is a qualitative study with a comprehensive matrix based on biographical

interviews It is materialized in the analysis of a corpus of professional documentary

narratives that allow us to know how the assumed identity forms concretize the

teaching profession in the everyday of the schools in which they work The theoretical

design of identity forms is tributary to contributions of Dubar and Demaziegravere (1997)

who define them as the result of the relationship between two routes of professional

identity as a relation between contexts and biographies

By choosing the biographical narratives we are giving voice to actors that in

everyday life assume knowledge attitudes values and actions in their teaching

profession which is manifested in the various fields of practical action the educational

field the professional context and socio cultural context (Sacristan 1991 Roland

2005 2007)

The analysis of interviews allows us to highlight a set of standard responses common

to all actors giving us a retrospective critical and reflective look on their initial

training The knowledge of the professional careers of graduates of ESELx leads us to

reflect on the training project that we have developed which accentuates the need to

establish consistent relationships with those professionals Recovering such

connections is also recognizing the potential of these professionals and their

trajectories as enablers of development of the institution

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

549

Keywords - Professional trajectories biographical interview teacher professionalism

1 O estudo mdash motivaccedilotildees e objetivos

O trabalho que apresentamos no acircmbito de um projeto ainda em desenvolvimento

comeccedilou por uma motivaccedilatildeo muito simples revisitar diplomados da ESE com os quais

tiacutenhamos mantido algum contacto ao longo do tempo e que tinham no seu percurso

profissional alguma caracteriacutestica considerada marcante por noacutes Duas ideias

assinalam esta motivaccedilatildeo (i) a constituiccedilatildeo da equipa de investigadores do projeto e a

sua ligaccedilatildeo a alguns destes diplomados A equipa de investigadores inclui duas

professoras da ESE haacute mais de vinte anos elas proacuteprias com um percurso profissional

fortemente marcado pelo acompanhamento de estaacutegios e por uma soacutelida ligaccedilatildeo aos

alunos e aos contextos profissionais e (ii) a relaccedilatildeo mantida com alguns destes alunos

ao longo de muitos anos e com envolvimento grande no seu desenvolvimento

profissional Importa ainda registar a intenccedilatildeo de convocar para este trabalho

diplomados que jaacute tinham ultrapassado a fase de inserccedilatildeo profissional e nos quais

identificaacutevamos ou tiacutenhamos conhecimento de algum aspecto a privilegiar e a

destacar do ponto de vista profissional

Desde o iniacutecio tiacutenhamos presente que o conhecimento das manifestaccedilotildees da

profissionalidade docente destes diplomados pela ESELx nos remeteria para uma

reflexatildeo sobre o projeto de formaccedilatildeo que desenvolvemos De acordo com a nossa

motivaccedilatildeo definimos como grande objetivo para este estudo o conhecimento das

manifestaccedilotildees de profissionalidade docente nos vaacuterios campos da accedilatildeo praacutetica em que

a funccedilatildeo de professor se exerce bem como a caraterizaccedilatildeo dos percursos

profissionais entendendo-os como trajetoacuterias profissionais (Dubar 1999) na dupla

aceccedilatildeo em que o autor as considera objetiva isto eacute os lugares de posiccedilatildeo funccedilotildees

desempenhadas certificaccedilotildees acadeacutemicas e subjectiva isto eacute a significaccedilatildeo e os

sentidos que os indiviacuteduos atribuem ao proacuteprio percurso

Investigar e estudar a profissatildeo docente neste momento histoacuterico em que Portugal

atravessa uma profunda crise econoacutemica e social com as instituiccedilotildees sociais e culturais

fragilizadas e desacreditadas eacute de algum modo audacioso mas tambeacutem por isso

desafiador Como refere Noacutevoa (2009) Dar voz a professores que no dia a dia

constroem a profissatildeo em tempos e espaccedilos social e culturalmente diversos eacute

tambeacutem contribuir para a dignificaccedilatildeo de uma profissatildeo para o reconhecimento

profissional de pessoas que resistem e persistem em fazer da escola um espaccedilo de

aprendizagem e de formaccedilatildeo moral e eacutetica Eacute tambeacutem ldquoassegurar que a riqueza e a

complexidade do ensino se tornem visiacuteveis do ponto de vista profissional e cientiacutefico

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

550

adquirindo um estatuto idecircntico a outros campos de trabalho acadeacutemico e

criativordquo(p7) Trata-se de construir conhecimento pessoal no interior do

conhecimento profissional de captar o sentido de uma profissatildeo ou seja aquilo que

estaacute no cerne da identidade profissional docente

2 O objeto de estudo mdash a profissionalidade docente e o conhecimento profissional

A profissatildeo docente eacute o objeto de estudo deste trabalho Como nos diz Sacristaacuten

(1991) as profissotildees definem-se pelas suas praacuteticas e por um certo monopoacutelio das

regras e dos conhecimentos da atividade que realizam O que eacute ser professor na

atualidade Qual a especificidade da sua accedilatildeo Que princiacutepios e fundamentos

orientam a sua intervenccedilatildeo Como encaram o seu desenvolvimento profissional

Quais as marcas da formaccedilatildeo inicial na atividade que realizam

Sacristaacuten classifica a profissatildeo docente como uma ldquosemiprofissatildeordquo porque depende

natildeo soacute de coordenadas poliacutetico-administrativas que regulam o sistema educativo em

geral mas tambeacutem de condiccedilotildees do posto de trabalho em particular Assim a praacutetica

profissional dos professores depende de decisotildees individuais mas rege-se por normas

coletivas adotadas pela classe profissional por regulaccedilotildees organizacionais e

sobretudo por decisotildees de poliacutetica educativa em cada momento

A especificidade da profissatildeo de professor eacute uma construccedilatildeo histoacuterico-social em

permanente evoluccedilatildeo sendo a sua principal carateriacutestica a accedilatildeo de ensinar

independentemente do tempo histoacuterico em que nos situemos Em sentido geral a

atividade docente remete-nos frequentemente para o processo ensino-aprendizagem

e muita da investigaccedilatildeo realizada centra-se na accedilatildeo didaacutetica mas a atividade dos

professores natildeo se circunscreve a esta praacutetica visiacutevel sendo necessaacuterio perceber

outras dimensotildees da sua profissionalidade menos evidentes

Agrave educaccedilatildeo referem-se accedilotildees muito diversas que influenciam as praacuteticas de ensino

numa sala de aula Nesse sentido Sacristaacuten considera que a atividade profissional dos

professores eacute influenciada por um conjunto de praacuteticas consideradas como um

sistema de praacuteticas aninhadas Assim as praacuteticas pedagoacutegicas e didaacuteticas interiores agrave

sala de aula onde tem lugar a maior parte da atividade docente satildeo influenciadas por

praacuteticas de educaccedilatildeo e ensino anteriores e paralelas agrave escolaridade proacuteprias de uma

determinada sociedade ou cultura pelas praacuteticas estruturais do funcionamento do

sistema educativo pelas opccedilotildees de poliacutetica educativa pelas praacuteticas de iacutendole

organizativa das escolas e ainda fora do sistema educativo pelas praacuteticas

concorrentes como satildeo por exemplo as editoras de manuais escolares e outros

materiais didaacuteticos que influenciam e muitas vezes condicionam diretamente a

atividade pedagoacutegica dos professores

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

551

Desta forma torna-se clara a dependecircncia dos professores relativamente ao meio

socialmente organizado em que desenvolvem o seu trabalho dando origem a conflitos

e dilemas porque nem sempre as exigecircncias exteriores coincidem com as suas

interpretaccedilotildees pessoais Portanto a imagem do professor completamente autoacutenomo eacute

tatildeo irreal como a ideia de que o seu trabalho eacute a reproduccedilatildeo acriacutetica de situaccedilotildees

herdadas ou impostas A profissionalidade docente soacute pode ser compreendida se

considerarmos as restriccedilotildees e condicionalismos que advecircm do funcionamento

burocraacutetico das escolas dado que satildeo espaccedilos socialmente organizados anteriores agrave

existecircncia dos professores como atores sociais Mas se isto eacute uma evidecircncia tambeacutem eacute

real que em todas as organizaccedilotildees sociais existem sempre margens para a expressatildeo

da individualidade profissional dos atores que as constituem originando

interpretaccedilotildees e comportamentos alternativos face agraves regulamentaccedilotildees normativas de

uniformizaccedilatildeo das praacuteticas Assim a profissionalidade docente deve ser compreendida

na relaccedilatildeo com os contextos em que se exerce manifestando-se em diversos campos

de accedilatildeo na sala de aula na organizaccedilatildeo escola e no sistema social e igualmente no

desempenho de uma grande diversidade de funccedilotildees ensinar orientar o estudo ajudar

individualmente os alunos regular as relaccedilotildees preparar materiais avaliar organizar

espaccedilos e atividades na escola trabalho em parcerias etc

A conduta profissional de um professor pode assumir loacutegicas de simples adaptaccedilatildeo agraves

condiccedilotildees preestabelecidas e impostas pelos contextos mas pode igualmente

revestir-se de uma perspetiva criacutetica intervindo nesses mesmos contextos com base

em decisotildees estrateacutegicas Esta conceccedilatildeo de profissionalidade docente alargada

convoca um conhecimento profissional especiacutefico Maria do Ceacuteu Roldatildeo (2007 2009)

afirma que os professores satildeo detentores de um saber profissional que se define como

especiacutefico da funccedilatildeo e que comporta um corpo de conhecimentos de natureza

compoacutesita e complexa natildeo sendo redutiacutevel ao conhecimento do quecirc nem de como

ensinar Natildeo basta portanto soacute o conhecimento de conteuacutedo nem tatildeo pouco o

conhecimento das teorias pedagoacutegicas ou didaacuteticas e da sua aplicaccedilatildeo a um dado

conteuacutedo da aprendizagem para que daiacute decorra aprendizagem por parte dos alunos a

quem ensina

A compreensatildeo do ldquoofiacutecio de professorrdquo potildee em evidecircncia discursos e praacuteticas sobre a

sua principal funccedilatildeo ensinar cujo conceito estaacute longe de ser consensual ou estaacutetico

(Roldatildeo 2007) Como Shulman (1986 p29) sublinhou ldquoteaching is a beautifully

ambiguous termrdquo Esta ambiguidade do conceito tem raiacutezes histoacutericas e sociais desde

logo porque a atividade de ensinar se praticou muito antes de sobre ela se produzir

conhecimento sistematizado associando-se agrave ideia de transmitir um saber

independente da sua natureza

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

552

Se a conceccedilatildeo de ensinar como sinoacutenimo de transmitir um saber assumiu significado

e utilidade social em tempos distantes quando o saber disponiacutevel era muito menor na

atualidade em que se verifica o acesso alargado agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

global tal conceccedilatildeo revela-se anacroacutenica e deixa de ser a marca distintiva da

profissionalidade docente Tal como eacute defendido por vaacuterios autores (Jonnaert amp

Vander Borght 2002 Perrenoud 1999 Roldatildeo 2005 2007) a funccedilatildeo de ensinar nos

nossos dias exige clarificaccedilatildeo devendo ser entendida como a especificidade de fazer

aprender alguma coisa a algueacutem Desta forma ensinar implica uma relaccedilatildeo transitiva

entre quem ensina e quem aprende e ainda entre o saber que se quer fazer aprender

Soacute quando a transaccedilatildeo estabelecida entre quem ensina e quem aprende resulta em

apropriaccedilatildeo da informaccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento pelo aprendente podemos

falar da funccedilatildeo de ensinar como atividade principal do professor sob pena de a natildeo

efetuar-se aprendizagem a funccedilatildeo de ensinar ser inexistente ou mesmo gratuita

As dificuldades na clarificaccedilatildeo da especificidade do conhecimento profissional docente

como eacute referido por Roldatildeo (2007a) resultam de uma constelaccedilatildeo de saberes de

vaacuterios tipos ligados ao ato de ensinar Retomando a classificaccedilatildeo analiacutetica do

conhecimento profissional proposta por Lee Shulman (1986) observamos que ele

integra conhecimento (i) de conteuacutedo referindo-se aos conteuacutedos das mateacuterias a

ensinar (ii) do curriacuteculo referindo-se ao domiacutenio especiacutefico de programas e materiais

(iii) dos alunos e suas carateriacutesticas (iv) pedagoacutegico geral referindo-se ao domiacutenio dos

princiacutepios geneacutericos subjacentes agrave organizaccedilatildeo e gestatildeo da classe conhecimentos

transversais (v) pedagoacutegico de conteuacutedo sobre os modos de ensinar cada conteuacutedo o

conhecimento didaacutetico (vi) dos fins e valores educacionais e dos seus fundamentos

filosoacuteficos e histoacutericos (vii) dos contextos que remete para as dimensotildees que vatildeo da

especificidade da sala de aula e da escola agrave natureza particular das comunidade e das

culturas

Significa portanto que este conjunto de saberes o que ensinar como ensinar a quem

ensinar com que finalidades condiccedilotildees e recursos resultam num conhecimento

profissional de grande complexidade que estaacute presente no quotidiano da atividade

docente e que vulgarmente se designa como o saber praacutetico dos professores Este

saber praacutetico requer e implica uma accedilatildeo emancipatoacuteria (Kemmis Stephen amp Smith

Tracey J 2008) o poder de decisatildeo sobre a accedilatildeo desenvolvida e a consequente

responsabilizaccedilatildeo social e puacuteblica (Roldatildeo 2005) ou como refere Noacutevoa (2009) um

compromisso social inscrito num quadro de valores e princiacutepios (inclusatildeo social

diversidade cultural etc) que obriga a que realidade de quem faz a escola hoje vaacute

para aleacutem da escola isto eacute ldquocomunicar com o puacuteblico intervir no espaccedilo puacuteblico da

educaccedilatildeo faz parte do ethos profissional docenterdquo(p12)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

553

Em nenhuma circunstacircncia este saber praacutetico pode ser confundido com atividade

rotineira e mecacircnica a que muitas vezes se associa o termo praacutetico A conceccedilatildeo

claacutessica do ofiacutecio de professor ainda hoje bastante difundida mesmo junto dos

professores apoia-se no entendimento de que o seu conhecimento profissional resulta

de um conjunto de saberes adquiridos atraveacutes da experiecircncia saberes-fazer e que soacute

ocasionalmente necessita de formalizaccedilatildeo Corresponde a uma certa visatildeo que

considera a teoria e a praacutetica como entidades separadas cuja relaccedilatildeo se traduz apenas

em processos de aplicaccedilatildeo De acordo com esta perspetiva praticista a atividade

docente (a praacutetica) resultaria do domiacutenio e da aplicaccedilatildeo de um reportoacuterio de teacutecnicas

procedimentos tarefas etc produzidos pela investigaccedilatildeo educacional (os teoacutericos)

aprendidas na formaccedilatildeo inicial ou nos espaccedilos de socializaccedilatildeo profissional

A vasta literatura produzida a partir de investigaccedilatildeo aponta para um sentido contraacuterio

a esta visatildeo racionalista e teacutecnica da profissionalidade docente Com efeito as zonas

de imprevisibilidade e incerteza que caraterizam as situaccedilotildees educativas de todos os

tempos mas particularmente as que decorrem da concretizaccedilatildeo de uma escola de

massas natildeo satildeo passiacuteveis de ser analisadas segundo a ideia redutora de uma escola

como um sistema de reproduccedilatildeo da informaccedilatildeo (Canaacuterio 1992) A perspetiva de um

ensino uniformizado em que a homogeneizaccedilatildeo dos processos e produtos satildeo o

objetivo central e em que a accedilatildeo dos professores se reduz agrave transmissatildeo de saberes

produzidos no exterior e a dos alunos ao consumo acriacutetico desses mesmos saberes

revela-se atualmente completamente desajustada

A perspetiva que adotamos neste estudo implica construir um conhecimento que

decorre de trajetoacuterias pessoais sobre as formas de pensar e de trabalhar na escola o

que pressupotildee a explicitaccedilatildeo das justificaccedilotildees eacuteticas cientiacuteficas e sociais que subjazem

agrave accedilatildeo educativa Mais do que o saber-fazer o saber como fazer interessa-nos o saber

porque se faz isto eacute conhecer os processos e os meios que sustentam e fundamentam

a accedilatildeo praacutetica

Como afirma Sacristan (1991) em educaccedilatildeo natildeo existem saberes-fazer desligados de

implicaccedilotildees de valor de consequecircncias sociais de opccedilotildees epistemoloacutegicas acerca do

conhecimento que se transmite de pressupostos sobre o funcionamento da natureza

humana individual e de grupo Para este autor o ofiacutecio de quem ensina natildeo pode ser

visto somente como uma acumulaccedilatildeo de ldquoesquemas praacuteticosrdquo entendidos como

rotinas ou modos de fazer procedimentais enraizados na cultura profissional Por

detraacutes de cada sequecircncia de esquemas praacuteticos na conduccedilatildeo da accedilatildeo educativa

existem ldquoesquemas estrateacutegicosrdquo entendidos como a ordem consciente da accedilatildeo como

princiacutepios reguladores a niacutevel intelectual e praacutetico o que significa que ldquouma praacutetica

transmite a teoria que fundamenta os pressupostos da accedilatildeordquo (p82) Natildeo eacute portanto

soacute o domiacutenio de procedimentos e teacutecnicas didaacuteticas nem tatildeo pouco a pura inspiraccedilatildeo

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

554

criativa ou ldquoartiacutesticardquo que fazem a especificidade do saber docente Como salienta

Roldatildeo (2007) o domiacutenio destas valecircncias instrumental e criativa soacute se convertem em

conhecimento profissional quando sobre elas se exercem capacidades de anaacutelise

sustentadas em conhecimentos formalizados

O desenvolvimento da profissionalidade docente e a especificidade do conhecimento

profissional que lhe eacute inerente residem na relaccedilatildeo dialeacutetica entre os elementos

categoriais do conhecimento propostas por Shulman mobilizados na accedilatildeo praacutetica e o

questionamento sistemaacutetico dessa mesma accedilatildeo Este conhecimento constroacutei-se e

exercita-se no quotidiano das praacuteticas profissionais sustentado por capacidades

impliacutecitas numa praacutetica reflexiva em processos mediados por soacutelidos saberes

cientiacuteficos e didaacuteticos e em situaccedilotildees dialoacutegicas de muacutetua supervisatildeo entre pares e

investigadores A natildeo ser assim corre-se o risco de banalizaccedilatildeo da expressatildeo o

professor como praacutetico reflexivo e da proacutepria conceccedilatildeo de reflexatildeo na medida em que

tal exerciacutecio pode natildeo passar da simples discussatildeo e troca de opiniotildees realizadas no

quotidiano dos professores incapazes de avanccedilar e produzir saltos qualitativos nas

suas praacuteticas apesar do empenhamento e genuiacuteno esforccedilo com que o fazem

De acordo com este quadro conceptual entendemos os professores como

profissionais analiacuteticos e investigativos das suas praacuteticas de ensino e por isso neste

nosso estudo procuramos conhecer e compreender a partir das narrativas contadas

o seu papel no desenvolvimento da profissionalidade docente e na construccedilatildeo de

conhecimento profissional

3 Opotildees metodoloacutegicas mdash questotildees de investigaccedilatildeo e entrevistas

Procuraacutemos anteriormente enquadrar conceptualmente o objeto de estudo ndash a

profissionalidade docente e o conhecimento profissional que lhe eacute inerente as

relaccedilotildees que mantecircm entre si as especificidades que os constituem e a sua construccedilatildeo

dialeacutetica ao longo de um percurso profissional A este processo de construccedilatildeo natildeo satildeo

alheios os processos as relaccedilotildees as experiecircncias de aprendizagem vividas na

formaccedilatildeo inicial que habilita para o exerciacutecio da profissatildeo nem fatores pessoais

(disposiccedilotildees expectativas interesses etc) bem como os fatores contextuais ligados agrave

situaccedilatildeo de trabalho Trata-se portanto como refere (Dubar 2012) de processos de

socializaccedilatildeo profissional que articulam permanentemente no tempo e no espaccedilo

situaccedilotildees e percursos tarefas a realizar e perspetivas a seguir relaccedilotildees com os outros

e consigo (self) As atividades de trabalho qualificadas de profissionais satildeo produtoras

de obras ou no caso dos professores produtoras de serviccedilos uacuteteis a outros Elas

possuem uma dimensatildeo simboacutelica em termos de realizaccedilatildeo de si e de reconhecimento

social e permitem agravequeles que as realizam identificar-se pelo seu trabalho e serem por

isso reconhecidos socialmente

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

555

Estamos em presenccedila de trajetoacuterias socioprofissionais reveladas pelas representaccedilotildees

do universo profissional produzidas pelos indiviacuteduos atraveacutes dos processos de

inserccedilatildeo em muacuteltiplos espaccedilos sociais (escola famiacutelia profissatildeo formaccedilatildeo etc) Estas

trajetoacuterias datildeo-nos conta dos processos de construccedilatildeo de identidades profissionais

(Dubar 1990) como resultado de uma dupla transaccedilatildeo por um lado entre o indiviacuteduo

e as instituiccedilotildees (o local de trabalho) e por outro entre o indiviacuteduo confrontado com a

mudanccedila com o seu passado e as suas aspiraccedilotildees e desejos de futuro Esta

investigaccedilatildeo procura assim estudar os processos de construccedilatildeo da profissionalidade

docente de diplomados pela ESELx acedendo aos seus percursos profissionais num

determinado tempo e aos modos como eles satildeo contados

Inspirando-nos em Dubar (1998) e Demazieacutere (2011) enquadramos

metodologicamente o nosso objeto de estudo na anaacutelise de trajetoacuterias individuais na

dupla acepccedilatildeo em que os autores as consideram objetivamente como a sequecircncia de

posiccedilotildees num ou mais campos da praacutetica social (o posto de trabalho estatuto

socioprofissional certificaccedilotildees etc) e subjetivamente como uma parte da sua

rdquohistoacuteria pessoalrdquo que daacute conta das visotildees de si e do mundo articuladas nos espaccedilos

significativos de investimento de si e em temporalidades consideradas

De acordo com estas opccedilotildees metodoloacutegicas procuramos (1) caraterizar as trajetoacuterias

objetivas no que refere ao tipo de licenciatura anos de profissatildeo e locais de trabalho e

(2) compreender trajetoacuterias subjetivas no que se refere a justificaccedilotildees princiacutepios e

fundamentos das praacuteticas profissionais e da funccedilatildeo docente os campos de accedilatildeo em

que se realizam as relaccedilotildees com a formaccedilatildeo em serviccedilo e as marcas significados e

relaccedilotildees com a instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo (ESELx) que os habilitou para a docecircncia

Assim definimos quatro grandes questotildees orientadoras de investigaccedilatildeo

Quais os princiacutepios e fundamentos que orientam o desempenho profissional nos

vaacuterios campos da accedilatildeo praacutetica (a sala de aula a escola o sistema social)

Como se processou a inserccedilatildeo na profissatildeo (dificuldades apoios influecircncias)

Como perspetivam o papel e as funccedilotildees do professor na atualidade

Como perspetivam o seu desenvolvimento profissional e quais as referecircncias

mantecircm da sua passagem pela instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo que os diplomou

31 A entrevista biograacutefica

Dado que se trata de um estudo de natureza qualitativa de matriz compreensiva

recorremos agrave entrevista de inspiraccedilatildeo biograacutefica por considerarmos ser o melhor

meacutetodo para captar o discurso dos sujeitos do estudo dado o papel central que este

tipo de entrevista atribui aos sujeitos e ao estatuto epistemoloacutegico que eacute conferido agrave

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

556

subjetividade na produccedilatildeo de conhecimento sobre o social (Alves 2007)

Este tipo de entrevista como salienta a autora eacute uma situaccedilatildeo comunicacional como

que uma conversa em que os sentidos satildeo negociados reforccedilados e questionados

pelos interlocutores Contar uma parte da sua histoacuteria sobre um plano da vida ndash o

plano profissional constitui a representaccedilatildeo de si que se daacute a conhecer na trama como

cada entrevistado organiza o discurso sobre o seu percurso Implica escolher entre

muacuteltiplos acontecimentos que constituem uma parte da vida os que satildeo mais

significativos para conferirem veracidade agrave imagem de si que datildeo a conhecer Silva

(2007 p 77) citando Demaziegravere e Dubar (1999) define a entrevista biograacutefica de

investigaccedilatildeo como uma ldquonarrativa ou contordquo consistindo na recordaccedilatildeo de episoacutedios

na sua interpretaccedilatildeo e na articulaccedilatildeo temporal do passado presente e futuro

inserindo-os numa histoacuteria com um sentido E continua afirmando que numa

entrevista de investigaccedilatildeo biograacutefica cada interveniente com papeacuteis distintos utiliza a

linguagem para mediar a troca de palavras e a produccedilatildeo da narrativa O entrevistado

faz uma reflexatildeo retrospectiva e prospectiva do que eacute importante na proacutepria vida que

os autores denominam por ldquotravail sur soirdquo

Poirier et al (1995) consideram que este tipo de entrevistas que tecircm por fim explorar

uma parte da vida do narrador natildeo corresponde a histoacuterias de vida em que se pede a

um indiviacuteduo que se conte que descreva a sua histoacuteria pessoal No caso particular do

nosso trabalho a entrevista eacute guiada e tem por fim explorar uma parte da vida do

narrador estando focalizada em situaccedilotildees vividas em acontecimentos em

significaccedilotildees A liberdade de palavra deve ser total para todos os casos mas pode ser e

deve ser controlada o que significa que o narrador se pode exprimir sem

constrangimentos ou restriccedilotildees sobre todos os assuntos da maneira que escolher o

que natildeo obsta a que o entrevistador se assegure de que nenhum campo da memoacuteria

seraacute negligenciado

O investigador tem agrave sua disposiccedilatildeo um guiatildeo previamente estabelecido que cumpre

duas funccedilotildees a funccedilatildeo de natildeo deixar o narrador sair do campo da pesquisa e a funccedilatildeo

de precisatildeo sobre a informaccedilatildeo que o narrador natildeo fornece espontaneamente A

entrevista tem assim a funccedilatildeo de recolher o saber especiacutefico de que o narrador eacute

portador pelo que o entrevistador deve ter a preocupaccedilatildeo de recensear todas as

informaccedilotildees em profundidade salvaguardando a singularidade do discurso do

entrevistado

Desta forma assumindo uma atitude de escuta ativa constitui-se como parceiro do

narrador a pessoa que potildee as perguntas que formam a trama da entrevista A sua

funccedilatildeo natildeo eacute o de simples auditor porque soacute a sua presenccedila chega para o transformar

em narrataacuterio (Poirier et al 1995) em coprodutor da narrativa que eacute contada pelo

narrador

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

557

32 A realizaccedilatildeo das entrevistas

O aspeto central da recolha de dados para este estudo satildeo os diplomados selecionados

e as entrevistas realizadas Por esta razatildeo eacute importante situar a seleccedilatildeo dos

entrevistados clarificando os criteacuterios que presidiram a essa escolha bem como

algumas preocupaccedilotildees que estiveram presentes na concepccedilatildeo e realizaccedilatildeo das

entrevistas

Na nossa trajetoacuteria de formadoras de professores desde o iniacutecio da criaccedilatildeo da Escola

Superior de Educaccedilatildeo de Lisboa (ESELx) muitos foram os diplomados que

acompanhaacutemos no seu percurso de formaccedilatildeo inicial em diversas unidades curriculares

dos planos de estudo e muito particularmente na supervisatildeo das unidades curriculares

de praacutetica pedagoacutegica tanto no 1ordm como no 2ordm ciclo do ensino baacutesico (1ordm CEB 2ordm

CEB) Com bastantes destes diplomados agora profissionais quer na escola puacuteblica

quer no ensino privado desenvolvemos ao longo destes anos interaccedilotildees de

variadiacutessimo tipo desde simples relaccedilotildees pessoais e afetivas a apoios a niacutevel da

formaccedilatildeo contiacutenua acreditada acompanhamento de processos de formaccedilatildeo

acadeacutemica participaccedilatildeo em associaccedilotildees socioprofissionais e ateacute colaboraccedilotildees

institucionais nomeadamente como cooperantes da ESELx para as atividades de

praacutetica pedagoacutegica Muitos deles satildeo professores de formaccedilatildeo de variante de ensino

com habilitaccedilatildeo para trabalhar no 2ordm CEB mas que optaram pelo trabalho no 1ordm CEB

Eacute portanto natural o conhecimento que temos dos seus percursos profissionais das

referecircncias sobre a qualidade da sua intervenccedilatildeo pedagoacutegica que nos chegam quer por

vias institucionais ligadas ao posto de trabalho quer por vias informais

O nosso interesse por este estudo comeccedila com esta circunstacircncia Por isso

transformaacutemos este interesse em objeto de investigaccedilatildeo enquadrando-o

conceptualmente e definindo objetivos possiacuteveis de realizaccedilatildeo como anteriormente

procuraacutemos dar conta Os criteacuterios de seleccedilatildeo orientaram-se em duas ordens de

razotildees (1) objetivas ndash trabalho no 1ordm CEB mais de cinco anos na profissatildeo de todos

os cursos de formaccedilatildeo de professores da ESELx e (2) subjetivas - conhecimento de

alguma marca de profissionalidade identificaccedilatildeo feita com base no conhecimento

pessoal ou acompanhamento dos percursos destas pessoas tanto em situaccedilotildees de

formaccedilatildeo informais como em situaccedilotildees formais ligaccedilatildeo que mantiveram agrave ESE

colaboraccedilotildees pontuais cooperaccedilatildeo em estaacutegios participaccedilatildeo em projetos de

formaccedilatildeo contiacutenua percurso acadeacutemico relevante apoacutes a saiacuteda da ESE Foram

excluiacutedos os diplomados que exercem ou tenham exercido funccedilotildees docentes na ESE

Consideraacutemos assim na seleccedilatildeo dos entrevistados marcas relevantes das suas

trajetoacuterias profissionais das quais destacamos o interesse no aprofundamento e

atualizaccedilatildeo das praacuteticas de ensino (trabalho com as crianccedilas) reconhecido pelos pares

e com eventual divulgaccedilatildeo em espaccedilos puacuteblicos eou em publicaccedilotildees da especialidade

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

558

reconhecidas o envolvimento em cargos da gestatildeo administrativa ou pedagoacutegica nas

escolas por eleiccedilatildeo ou por indicaccedilatildeo de outros o investimento na sua formaccedilatildeo

acadeacutemica lideranccedilas ou envolvimento em projetos sociais eou educativos e ainda a

participaccedilatildeocolaboraccedilotildees com organizaccedilotildees nacionais ou estrangeiras

Logo na fase inicial do projeto foram identificados mais de vinte diplomados que

poderiam ser convidados como informantes privilegiados deste projeto Ateacute ao

momento realizaacutemos treze entrevistas e estatildeo agendadas outra seacuterie tendo os

convites jaacute sido feitos com o mesmo objetivo

O guiatildeo das entrevistas foi construiacutedo tendo em conta algumas categorias preacute-

definidas de acordo com os objetivos da investigaccedilatildeo e o enquadramento teoacuterico em

que esta se inscreve Quanto agraves questotildees integrantes no guiatildeo da entrevista houve a

preocupaccedilatildeo de as formular de modo a proporcionar descriccedilotildees interessantes das

vivecircncias dos entrevistados capazes de recolher memoacuterias e reflexotildees e quem sabe

ateacute provocadoras de novas reflexotildees

Todas as entrevistas foram realizadas no espaccedilo da ESELx Os entrevistados foram

convidados a estar presentes atraveacutes de um telefonema ou uma mensagem de email

recebendo neste caso um pequeno texto explicativo da razatildeo do convite Todas as

entrevistas duraram pelo menos uma hora e em alguns casos hora e meia As

entrevistas foram gravadas em aacuteudio mas no fim de todas elas a conversa prolongou-

se depois para aspetos mais pessoais jaacute sem o gravador ligado Algumas vezes o

gravador voltou a ser ligado e em muitos casos percebemos que muito tinha ficado por

dizer

Desde o iniacutecio deste trabalho estivemos conscientes dos efeitos de contaminaccedilatildeo que

este estudo acarretava e portanto da necessidade de salvaguardar a dimensatildeo eacutetica

desta investigaccedilatildeo De facto as pessoas foram escolhidas com base no conhecimento

pessoal das suas praacuteticas noacutes proacuteprias sobretudo dois membros da equipa fomos

suas professoras e por isso temos as nossas proacuteprias memoacuterias do seu percurso de

formaccedilatildeo inicial Esta duplicidade de papeacuteis durante a realizaccedilatildeo da entrevista mdash as

professoras e as investigadoras mdash forccedilou-nos a criar um distanciamento entre este

duplo papel pertencendo as primeiras ao mundo observado e as segundas ao mundo

da investigaccedilatildeo De facto enquanto professoras da instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo destes

diplomados natildeo estamos totalmente descomprometidas com este trabalho de certa

forma ele representa tambeacutem a histoacuteria da instituiccedilatildeo a que pertencemos e o

reconhecimento social da nossa funccedilatildeo de formadoras Como nos adverte Costa (1990

p135) na pesquisa social muitas vezes o investigador torna-se interferente o que

segundo o autor natildeo eacute ldquosimplesmente um obstaacuteculo ao conhecimento socioloacutegico mas

tambeacutem um veiacuteculo desse conhecimentordquo A questatildeo natildeo estaacute em tentar evitar esta

interferecircncia mas sim tecirc-la em consideraccedilatildeo controlaacute-la e objetivaacute-la tanto quanto

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

559

possiacutevel Por esta razatildeo optaacutemos por uma dupla ou tripla presenccedila na realizaccedilatildeo das

entrevistas soacute duas das entrevistas foram realizadas por apenas uma das

investigadoras

Do ponto de vista do clima criado na entrevista importa ressaltar que foi sempre

muito caloroso e por isso facilitador da fluecircncia O guiatildeo estabelecido funcionou

sempre como guiatildeo com ligeiras adaptaccedilotildees relativamente ao perfil eou agrave histoacuteria

pessoal do entrevistado Uma orientaccedilatildeo uniforme que natildeo tivesse em conta este

aspeto poderia empobrecer os relatos ou mesmo tornaacute-los desinteressante Como

afirma Pedrosa (2004) ldquonenhuma conversa segue a cronologia das frases ditas a natildeo

ser que natildeo se queira saber nada sobre a pessoa de quem falamosrdquo Esta foi uma

preocupaccedilatildeo presente em todas as entrevistas Criar um contexto favoraacutevel agrave

recapitulaccedilatildeo de todo um percurso profissional em alguns casos com mais de dez

anos e alimentar o mais possiacutevel esse pescar de memoacuterias procurando natildeo influenciar

o entrevistado

A realizaccedilatildeo destas entrevistas constituiu um prazer enorme Agrave medida que iacuteamos

avanccedilando no processo aumentava o interesse e o gosto por fazecirc-las A ideia inicial da

investigaccedilatildeo que sempre nos tinha parecido promissora ia-se revelando cada vez mais

rica e estimulante Fazer uma nova entrevista passou a ser quase um acontecimento

Por um lado era o gosto de reencontrar algueacutem de quem gostaacutevamos de o trazer de

novo agrave sua escola de formaccedilatildeo e de ouvir as suas histoacuterias profissionais Por outro o

desafio de descobrir novas ideias nessas histoacuterias de identificar ligaccedilotildees entre elas de

confirmar aspetos comuns com as outras histoacuterias anteriores de identificar padrotildees

Tambeacutem fomos percebendo o gosto dos entrevistados por estes momentos de

recordaccedilatildeo mas tambeacutem de reflexatildeo O prazer de voltarem agrave ESELx onde todas as

entrevistas foram feitas E tambeacutem o secreto desejo de alguns de voltar mais vezes de

poderem estar mais presentes na vida da instituiccedilatildeo Parece-nos que a expressatildeo

formulada por alguns ldquoVenho caacute quando quiseremrdquo denota esse desejo

Em todas as entrevistas fomos descobrindo a ligaccedilatildeo que estes professores tinham agrave

ESELx Para alguns essa ligaccedilatildeo tinha determinado a vinda para fazer mestrados ou

para participar em outro tipo de realizaccedilotildees Para outros a ligaccedilatildeo estava patente na

valorizaccedilatildeo da sua formaccedilatildeo nesta escola na importacircncia desta vivecircncia na sua vida

profissional

O contexto em que as entrevistas realizadas se enquadram e a nossa profissatildeo de

formadores e atores sociais com capacidade real de intervenccedilatildeo permite-nos dar a

estas entrevistas uma outra dimensatildeo Natildeo as encaramos como uma mera recolha de

informaccedilatildeo Reconhecemos-lhes contributos transformadores na medida em que

provocaram reflexotildees significativas Conversaacutemos longas horas apoacutes as entrevistas e

passaacutemos a integrar exemplos decorrentes destas entrevistas em vaacuterias instacircncias da

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

560

nossa accedilatildeo profissional muito para aleacutem desta investigaccedilatildeo Vaacuterias ideias foram

surgindo apoacutes a convocaccedilatildeo destes diplomados De certa forma reforccedilaacutemos ou

reestabelecemos uma ligaccedilatildeo e vamos com certeza voltar a convocar estes

professores porque percebemos que os laccedilos destes profissionais agrave escola matildee podem

ser reforccedilados e podem originar outro tipo de ligaccedilotildees Por outro lado as entrevistas

permitiram identificar dimensotildees distintas entre estes profissionais o que nos exigiu

um aprofundamento teoacuterico muito grande

Todas as entrevistas foram transcritas com o apoio de um elemento exterior agrave equipa

e ao ritmo com que eram realizadas Deste modo pudemos todas ter conhecimento de

todas as entrevistas e ir analisando-as agrave medida que avanccedilaacutevamos no processo de

pesquisa e fundamentaccedilatildeo teoacutericos

4 Os dados recolhidos mdash anaacutelise das entrevistas

41 As trajetoacuterias objetivas

Como dissemos anteriormente o conhecimento parcial que possuiacuteamos dos percursos

profissionais de alguns diplomados da ESELx e que consideraacutevamos relevante foi uma

das motivaccedilotildees principais deste estudo Contudo as entrevistas realizadas permitem-

nos agora ter uma ideia muito mais abrangente destas trajetoacuterias evidenciando os

aspetos que consideramos relevantes para a compreensatildeo das suas trajetoacuterias

subjetivas

Analisando toda a informaccedilatildeo recolhida organizaacutemo-la em subcategorias que

destacamos curso no qual foi obtido o diploma profissional situaccedilatildeo profissional em

2013 graus acadeacutemicos escolas ou ciclos em que trabalhou cargos ocupados

formaccedilatildeo contiacutenua realizada colaboraccedilatildeo com a ESSE intervenccedilatildeo na comunidade

soacutecio profissional visibilidade no espaccedilo educativo alargado Nestas importa clarificar

o que contemplam A frequecircncia de accedilotildees de formaccedilatildeo contiacutenua inclui accedilotildees formais e

accedilotildees informais A colaboraccedilatildeo com a ESE refere-se agrave colaboraccedilatildeo como cooperante

dos estaacutegios A intervenccedilatildeo na comunidade soacutecio profissional inclui a colaboraccedilatildeo em

associaccedilotildees profissionais ou outras organizaccedilotildees que intervecircm na educaccedilatildeo formal ou

natildeo formal a participaccedilatildeo em projetos ligados agrave educaccedilatildeo ou natildeo a atividade como

pais em espaccedilos escolares e a participaccedilatildeo comunitaacuteria Por visibilidade no espaccedilo

educativo alargado entendemos a participaccedilatildeo em encontros nacionais ou

internacionais a apresentaccedilatildeo de comunicaccedilotildees e a produccedilatildeo escrita publicada

Esta categorizaccedilatildeo corresponde ao tratamento de toda a informaccedilatildeo recolhida ateacute ao

momento nem todos os entrevistados revelam evidecircncias em todas as categorias

havendo aspetos que estatildeo mais presentes e com uma incidecircncia mais forte em alguns

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

561

do que em outros dos diplomados Em alguns casos para a mesma categoria satildeo

revelados vaacuterios aspetos de atuaccedilatildeo

Consideramos que esta forma de organizaccedilatildeo nos permite reforccedilar a ideia inicial que

tiacutenhamos relativamente agrave relevacircncia dos seus percursos profissionais e ao mesmo

tempo contribui para a anaacutelise e compreensatildeo das suas trajetoacuterias subjetivas Em

paralelo a anaacutelise da categorizaccedilatildeo efetuada permite-nos tambeacutem a clarificaccedilatildeo do

proacuteprio conceito de trajetoacuteria individual contemplando as dimensotildees objetiva e

subjetiva propostas por Dubar e Demazieacutere

42 Trajetoacuterias subjetivas

Relativamente agrave dimensatildeo subjetiva das trajetoacuterias profissionais a anaacutelise de

conteuacutedo das treze entrevistas realizadas ateacute ao momento induz uma organizaccedilatildeo

possiacutevel da informaccedilatildeo em quatro grandes categorias princiacutepios e fundamentos da

accedilatildeo praacutetica relaccedilotildees com o desenvolvimento profissional imagens e projeccedilotildees do

professor na atualidade referecircncias e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial A primeira

engloba informaccedilatildeo que nos remete para os princiacutepios que orientam a accedilatildeo praacutetica

destes profissionais as suas conceccedilotildees de ensino e de aprendizagem o respeito pelos

valores de inclusatildeo a promoccedilatildeo da cidadania democraacutetica a aprendizagem em

cooperaccedilatildeo o desenvolvimento da autonomia e a valorizaccedilatildeo dos contextos e das

comunidades locais como pontos de partida para uma escola aberta e participada Na

categoria de relaccedilotildees com o desenvolvimento profissional inclui-se a informaccedilatildeo que

daacute conta das atitudes face aos modos como encaram a formaccedilatildeo profissional contiacutenua

Tornam-se aqui evidentes as preocupaccedilotildees de que a atividade praacutetica de um professor

exige processos de aprendizagem permanente e contextualizada a necessidades

sentidas quer ela seja organizada de modo informal no interior das escolas em que

trabalham quer em associaccedilotildees socioprofissionais quer ainda recorrendo a

instituiccedilotildees acadeacutemicas que certifiquem com diplomas essa formaccedilatildeo Na terceira

categoria que designamos por imagens e projeccedilotildees do professor na atualidade emerge

a informaccedilatildeo que daacute conta dos modos como estes profissionais encaram o papel e a

funccedilatildeo da escola na atualidade e os grandes desafios que hoje se colocam aos

professores Por uacuteltimo em referecircncias e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial ressaltam o

significado e o sentido que representou para cada um este tempo e espaccedilo de

formaccedilatildeo Sob a forma de memoacuterias estatildeo presentes no discurso espontacircneo dos

entrevistados sem reservas os pontos fortes da sua formaccedilatildeo inicial mas tambeacutem as

criacuteticas sugestotildees de melhoria dos planos de estudo e ateacute ideias para futuras

colaboraccedilotildees

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

562

43 A voz dos professores mdash marcas e memoacuterias da formaccedilatildeo inicial

Eacute sobre a uacuteltima grande categoria identificada que iremos tecer algumas

consideraccedilotildees Na qualidade de formadores da ESELx elas apontam e contribuem para

uma reflexatildeo sobre as intencionalidades e os processos de trabalho que orientam a

formaccedilatildeo que realizamos

Assim um dos grandes pontos fortes que se destacam no discurso destes professores

sob a forma de memoacuterias mas que o tempo amadureceu e tornou referecircncia eacute a

tomada de consciecircncia das capacidades transversais que foram sendo desenvolvidas

durante o tempo e o espaccedilo da formaccedilatildeo inicial Eacute assim que se tornam evidentes a

presenccedila de capacidades reflexivas de espiacuterito criacutetico de abertura de autonomia na

tomada de decisotildees fundamentadas na profissatildeo Eacute clara a rejeiccedilatildeo de uma

aprendizagem da profissatildeo como se de um receituaacuterio teacutecnico se tratasse da

importacircncia da coerecircncia dos processos vividos com as finalidades

Vejamos a tiacutetulo de exemplo o modo como estas ideias transparecem nos discursos

ldquo() acho que a ESE acima de tudo deu-me essa visatildeo mais abrangente da

maneira de estar na profissatildeo mas tambeacutem me deu espaccedilos aqui para pensar

sobre qual era o caminho que eu queria seguir como professorrdquo () (AA)

ldquoAcho que [A ESE] me preparou com seguranccedila porque me deu a mim como

pessoa a capacidade de procurar quando eu sentia dificuldadesrdquo(H)

ldquo() a formaccedilatildeo tem um papel preponderante ao dizer que o seu papel eacute formar

pessoas reflexivas pessoas boas comunicadoras pessoas que saibam liderar

processos ou pessoas que saibam seguir referecircncias () isso tem que ser

expliacutecito na formaccedilatildeo rdquo A mim foi preciso ser-me dito isso formalmenterdquo (A)

Outro aspeto igualmente referido pela maioria dos entrevistados eacute a relaccedilatildeo educativa

estabelecida entre formadores e formandos e do modo como esta relaccedilatildeo isomoacuterfica

contribuiu para o desenvolvimento pessoal e depois revela pertinente na profissatildeo

ldquo() houve aqui pessoas que me marcaram positivamente a niacutevel de atitudes da

atitude de criar relaccedilatildeo () como aluno-professor acho que isso foi muito

positivo () Acho que foi assim das coisas melhores que levei daqui para a

praacutetica foi isso foi a relaccedilatildeo foi muita coerecircncia ao niacutevel da praacutetica das

cadeiras ligadas agrave pedagogia agrave praacutetica aos estaacutegios()rdquo (F)

ldquoEu acho que minha formaccedilatildeo pessoal () tem tambeacutem muito a ver com o que

aprendi aqui de facto isso natildeo tem a ver soacute com a parte do conhecimento ligado

agrave parte acadeacutemica () tem a ver tambeacutem com a parte das relaccedilotildees () e essa

construccedilatildeo foi feita agrave medida que os anos foram passando e deve ter a ver

provavelmente com os professores que estiveram envolvidos () consigo ver

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

563

agora com algum distanciamento que foram um pilar muito importante para o

meu desenvolvimento profissionalrdquo (H)

ldquo() O que eacute importante e eu acho que isso fizeram aqui comigo eacute preparar o

professor para estar disponiacutevel para aprender com os seus alunosrdquo (A)

Mas se estes exemplos de pontos fortes como grandes aprendizagens marcam o

discurso na generalidade dos nossos entrevistados a instituiccedilatildeo ESELx e os formadores

natildeo estatildeo isentos de criacuteticas tambeacutem reveladoras dos modos como ao longo dos

anos nos posicionaacutemos face agraves intencionalidades da formaccedilatildeo agraves dificuldades e

constrangimentos conjunturais que marcaram este percurso agraves incoerecircncias e

contradiccedilotildees vividas Mas tambeacutem estes pontos fracos que agora agrave distacircncia

emergem satildeo sinais das preocupaccedilotildees e da nossa procura de soluccedilotildees organizativas

para a concretizaccedilatildeo de uma formaccedilatildeo coerente com os princiacutepios que defendemos

Os proacuteximos excertos discursivos documentam dificuldades constrangimentos e

contradiccedilotildees das situaccedilotildees de estaacutegio incoerecircncias dos discursos dos professores

entre o que se diz que se deve fazer e o que realmente se faz da descoberta dos

sentidos e das intencionalidades da formaccedilatildeo

ldquo() os estaacutegios e os cooperantes natildeo terem nada a ver com esse caminho ()

noacutes estamos a ser avaliados () precisamos corresponder agravequilo que a ESE

pretende () por outro lado temos a cooperante com quem noacutes estamos todos

os dias com quem noacutes temos de ter uma relaccedilatildeo minimamente cordial e

saudaacutevel e que quer um caminho completamente diferente () que nos

pressiona depois diz natildeo nada disto isto eacute soacute teoria isto eacute agora porque estatildeo

no estaacutegio esqueccedilam isso ()rdquo(AA)

ldquo() faziacuteamos muitas vezes uma criacutetica aos professores aqui da ESE () falavam

e abordavam muitos conteuacutedos de vaacuterias cadeiras que apontavam para

maneiras inovadoras e ativas de preparar as aulas de mobilizar as atitudes etc

mas depois os proacuteprios professores natildeo conseguiam organizar a proacutepria aula de

acordo com esses princiacutepios que nos queriam incutir rdquo(F)

() ldquomas depois no final do curso no 4ordm ano () senti mesmo pela primeira vez

os professores a quererem realmente dar o exemplo daquilo que falavam em

termos de trabalho cooperativo e de interdisciplinaridade ao fazerem uma equipa

de tutoria nesse ano por ter havido este tipo de coordenaccedilatildeo de articulaccedilatildeo

entre os professores lembro-me de dizer ldquopelo menos haacute aqui uma tentativa de

pocircr em praacutetica aquilo que querem que noacutes ponhamos em praacutetica no futurordquo( F)

ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

564

5 Conclusatildeo

Da anaacutelise das entrevistas realizadas e de acordo com as opccedilotildees metodoloacutegicas que

orientam este estudo eacute possiacutevel concluir que as trajetoacuterias objetivas e as trajetoacuterias

subjetivas se entrecruzam e se influenciam mutuamente Em rigor os percursos

profissionais destes professores natildeo podem ser analisados linearmente nem se

iniciam com a entrada na formaccedilatildeo inicial Eles satildeo influenciados por trajetoacuterias

anteriores agrave sua entrada na ESELx nomeadamente as razotildees e motivaccedilotildees que

determinaram a escolha da profissatildeo de professor experiecircncias escolares anteriores

experiecircncias de vida etc que conferem disponibilidades diferenciadas perante a

formaccedilatildeo fazendo com que ao longo de quatro anos se focalizem em interesses

distintos atribuam agraves suas experiecircncias significados diferentes e privilegiem respostas

diferenciadas Da mesma forma tambeacutem agora a sua profissionalidade docente eacute

reveladora do cruzamento de todas estas influecircncias e dos modos como se orientam

trajetoacuterias objetivas que por sua vez determinam e datildeo sentido a trajetoacuterias

subjetivas num processo evolutivo de convergecircncia destas duas dimensotildees Como

bem refere Sacristaacuten (1991 p 74)

ldquoA competecircncia docente natildeo eacute tanto uma teacutecnica composta por uma seacuterie

de destrezas baseadas em conhecimentos concretos ou na experiecircncia nem uma

simples descoberta pessoal O professor natildeo eacute um teacutecnico nem um improvisador

mas um profissional que pode utilizar o seu conhecimento e a sua experiecircncia

para se desenvolver em contextos pedagoacutegicos praacuteticos preexistentesrdquo

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ATAS do VI Encontro do CIED ndash I Encontro Internacional em Estudos Educacionais Avaliaccedilatildeo Desafios e Riscos

566

Une eacutevaluation au service des apprenants de leurs projets et

de la socieacuteteacute entiegravere

Alain Brouteacute Universiteacute Autonome de Madrid

alainbrouteuames

Reacutesumeacute

Lorsque nous parlons drsquoeacutevaluation aujourdrsquohui la tendance geacuteneacuterale est agrave opposer

savoirs (connaissances) et savoir faire (compeacutetences) Or depuis plus de quinze ans

nous sommes exposeacutes agrave de nombreuses interpreacutetations contradictoires des neacutecessiteacutes

de lrsquoeacuteconomie de marcheacute Drsquoune telle constatation il en reacutesulte que la focalisation des

recherches autour de la dichotomie laquo savoirs savoir faire raquo ou laquo connaissances

compeacutetences raquo ne semble pas justifieacutee Crsquoest ainsi qursquoon assiste agrave une survalorisation

du cognitif qui priorise le reacutesultat sur le processus Par ailleurs lrsquoopposition entre

savoirs et savoir faire nrsquoa pas grand sens si nous pensons au caractegravere compleacutementaire

et incontournable des deux composantes Cela induit une focalisation superficielle sur

un deacutebat qui nous semble deacutejagrave deacutepasseacute De plus pourquoi se limiter agrave ces deux

composantes lorsque nous savons que notre monde requiert chaque fois plus du non-

cognitif Face agrave de telles constatations nous proposons drsquoopter deacutelibeacutereacutement pour une

eacutevaluation personnaliseacutee au service drsquoun collectif agrave travers laquelle le savoir-ecirctre est

synonyme de centration sur lrsquoapprenant le savoir paraicirctre permet drsquoeacutevaluer la

capaciteacute drsquoidentification et de distanciation (ou comment se mettre dans la peau de

lrsquoautre sujet ou objet) et le savoir devenir permet aux formateurs le passage drsquoune

dialectique laquo sujetobjet raquo agrave une trialectique laquo sujet objet projet raquo Au niveau

pratique une telle approche priorise une eacutevaluation multi-profils inteacutegrant une

eacutevaluation formative et continue drsquoun cocircteacute un test des connaissances et des

compeacutetences comme eacutevaluation normative de lrsquoautre et enfin un projet personnaliseacute

pour eacutevaluer le savoir devenir

Mots cleacutes eacutevaluation savoirs compeacutetences non-cognitif personnalisation projet

Abstract

When we talk about evaluation today the general trend is to oppose knowledge

(knowledge) and know-how (skills) However for over fifteen years we are exposed to

many contradictory interpretations of the requirements of the market economy In

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such a finding it follows that the focus of research around the dichotomy of

knowledge know-how or knowledge skills does not seem justified Thus we are

witnessing an overvaluation of cognitive that prioritizes the result of the process

Moreover the opposition between knowledge and skills do not make much sense if we

think about complementary and essential character of the two components This

induces a superficial focus on a debate that seems already outdated Moreover why

limit yourself to these two components when we know that our world requires ever

more non-cognitive Faced with such findings we propose to deliberately opt for a

personalized assessment for a collective through which knowledge is synonymous

with being centration learner knowledge seem possible to evaluate the ability of

identification and distancing (or how to get into the skin of another subject or object)

and of becoming allows trainers passing a dialectic subject object to a trialectic

subject object project On a practical level this approach prioritizes a multi-profile

incorporating formative assessment and ongoing evaluation of a hand a test of

knowledge and skills as a normative assessment of the other and finally a custom

project to assess knowledge become

Keywords Evaluation knowledge skills non-cognitive customization project

Introduction

Si certains chercheurs comme Bertemes posent la question de faccedilon radicale laquo A quoi

sert lrsquoeacutecole Est-ce qursquoelle sert agrave preacuteparer les eacutelegraveves agrave reacutepondre aux questions qursquoon

leur pose agrave lrsquoeacutecole ou est-ce qursquoelle sert agrave preacuteparer agrave la vie et donc agrave des questions

auxquelles on nrsquoest pas preacutepareacute raquo (Bertemes 2012) le grand deacutebat qui agite la

recherche en eacuteducation et la recherche appliqueacutee depuis au moins deux deacutecennies est

celui qui oppose une eacutevaluation dite traditionnelle en lrsquooccurrence celle des acquis de

savoirs que certains veulent assimiler au deacuteveloppement drsquoune culture et une

eacutevaluation de compeacutetences ou savoir-faire qui prend le dessus aujourdrsquohui avec

lrsquoapproche par compeacutetences et qui pour certains repreacutesente une reddition face au

marcheacute dominant et au pouvoir eacuteconomique et financier

Mais ce deacutebat nrsquoest-il pas un peu superficiel et ne nous eacuteloigne-t-il pas du vrai deacutebat

On peut se le demander pour au moins deux raisons

1 Pourquoi opposer deux types drsquoeacutevaluation qui semblent incontournables pour une

formation complegravete dans les apprentissages de tout acteur social en formation

Savoirs et savoir faire connaissances et compeacutetences sont en effet deux composantes

vitales pour toute formation

2 Ce dilemme ne masque-t-il pas un manque criant pour revaloriser drsquoautres savoirs

ou compeacutetences comme les savoir-ecirctre savoir-paraicirctre et surtout les savoir-devenir

qui devraient jouer aujourdrsquohui un rocircle preacutepondeacuterant dans la formation de tout acteur

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social drsquoune eacuteconomie de marcheacute au sein de laquelle le non-cognitif prend chaque fois

plus de place (deacuteveloppement personnel capaciteacute pour ecirctre autonome capaciteacute pour

participer et srsquointeacutegrer dans un projet)

Aussi dans un premier temps nous eacutevoquerons cette dichotomie

laquo savoirscompeacutetences raquo pour mieux en deacutenoncer les limites par rapport au monde

drsquoaujourdrsquohui Dans un second temps nous mettrons en avant lrsquoimportance de

deacutevelopper drsquoautres savoirscompeacutetences comme ceux mentionneacutes auparavant pour

finalement transmettre comment nous travaillons dans la pratique les savoir-ecirctre

savoir paraicirctre et savoir devenir agrave travers trois grands types drsquoeacutevaluations que nous

deacuteveloppons dans nos formations agrave lrsquoUniversiteacute Autonome de Madrid en Espagne

eacutevaluation continue et formative (savoir-ecirctre savoirs savoir-faire savoir paraicirctre)

eacutevaluation normative (savoirs savoir faire) et projets ( savoir devenir savoir ecirctre

savoirs savoir faire)

1 De lrsquointerpreacutetation contradictoire des neacutecessiteacutes de lrsquoeacuteconomie de marcheacute ou la

focalisation des recherches autour de la dichotomie laquo savoirssavoir faire raquo ou

laquo connaissancescompeacutetences raquo

11 La survalorisation du cognitif priorise le reacutesultat sur le processus

Pour nombre de chercheurs lrsquoeacuteconomie de marcheacute doit imposer ses critegraveres et

privileacutegier lrsquoeacutevaluation des acquis De cette sorte les reacutesultats sont toujours prioritaires

par rapport aux processus et les reacutesultats attendus doivent toujours ecirctre obtenus

rapidement Une telle prise de position amegravene agrave ce que la plupart des systegravemes

scolaires soient reacuteguleacutes par une routine drsquoeacutevaluations scolaires sous forme drsquoitems et

de grilles de critegraveres qui assurent la permanence et la fiabiliteacute statistique dont sont

demandeurs les parties prenantes et les deacutecideurs de lrsquoeacuteducation en lrsquooccurrence les

autoriteacutes publiques les parents drsquoeacutelegraveves les propres eacutelegraveves et leurs professeurs

Or les tests passeacutes par les eacutelegraveves qui portent la plupart du temps sur un petit nombre

de compeacutetences de base (expression eacutecrite et matheacutematiques) ont pour fonction non

pas deacutevaluer les eacutelegraveves mais de mesurer la capaciteacute des eacutecoles et parfois des

enseignants agrave remplir les objectifs de niveau et de progression qui leur ont eacuteteacute

assigneacutes Des reacutesultats deacutependent le jeu des incitations de telles incitations pouvant

ecirctre des primes agrave la performance ou bien des sanctions ces sanctions pouvant aller

jusqursquoagrave la fermeture de leacutecole (A Vinokur 2008)

Par ailleurs la floraison des classements et des palmaregraves a tendance agrave creacuteer une

deacuteviation dans le sens ougrave la plupart des institutions eacutevalueacutees attrapeacutees dans un

systegraveme comparatif brut cherchent plus agrave imiter les leaders du palmaregraves qursquoagrave

ameacuteliorer leurs propres reacutesultats Ce pheacutenomegravene de deacuteviation a tendance agrave se

reacutepercuter agrave tous les niveaux des institutions scolaires et des diffeacuterents acteurs qui y

collaborent

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12 De la focalisation superficielle sur un deacutebat deacutejagrave deacutepasseacute en lrsquooccurrence celui

de lrsquoopposition laquo savoirs savoir-faire raquo

Sur le terrain les savoirs imposeacutes ne prennent peut-ecirctre plus autant le dessus

aujourdrsquohui mais lrsquoapproche par compeacutetences ne reacutesout en rien le fond de la question

de lrsquoeacutevaluation car de fait laquo lrsquoapproche par compeacutetences permettrait drsquoinsister sur la

transformation en profondeur de lrsquoorganisation cognitive de lrsquoeacutelegraveve car il srsquoagit bien de

voir comment le savoir est approprieacute et opeacuterationnaliseacute dans des contextes varieacutes et

non pas seulement reacutepeacuteteacute ou restitueacute dans les mecircmes conditions de son acquisition raquo

(Rey Carette Defrance et Kahn 2006) Toutefois la plupart des deacutefenseurs de

lrsquoapproche par compeacutetences ont tendance agrave vouloir reacuteduire le rocircle de la culture de

lrsquoeacuterudition et de lrsquoacquisition des connaissances dans leur deacutesir de privileacutegier la mise en

action et la mise en reacutealisation en contextes diversifieacutes de connaissances mettant en

avant une opposition artificielle justifiant leurs theacuteories

Crsquoest ainsi que pour de nombreux chercheurs la dialectique sujet apprenant-objet

drsquoapprentissage formate lrsquoensemble des terrains et lrsquoeacuteducation doit choisir entre une

eacutevaluation au service de lrsquoeacuteconomie de marcheacute en lrsquooccurrence celle de socieacuteteacutes

avides de compeacutetences reacutepondant agrave leurs besoins les plus impeacuterieux en matiegravere de

marcheacute du travail ou une eacutevaluation au service de lrsquoeacuteducation et de la formation

culturelle des citoyens apprenants qui seraient lieacutees agrave lrsquoacquisition de connaissances

Dans le premier cas il suffit alors de deacuteterminer uniquement lrsquoobjet agrave eacutevaluer et le

modus operandi le plus efficace Neacuteanmoins lrsquoeacutevolution du monde actuel en matiegravere

de formation et de deacuteveloppement professionnel avec en toile de fond une

globalisation chaque fois plus imposante nous amegravene agrave interpeller et agrave questionner

cette dichotomie que nous jugeons artificielle

13 Pourquoi se limiter aux deux composantes du cognitif dans un monde qui

requiert chaque fois plus du non-cognitif

Pour aborder la probleacutematique que soulegraveve la limitation de lrsquoeacutevaluation au cognitif je

me permettrai une longue citation de Hallak qui me semble reacutesumer parfaitement la

situation actuelle laquo La certification des compeacutetences par un systegraveme international

constitue une veacuteritable chance pour lrsquoeacuteducation si la course agrave lrsquoexcellence se traduit

effectivement par une ameacutelioration de la qualiteacute de lrsquoeacuteducation et de la transparence

dans lrsquoeacutevaluation des compeacutetences Cette ameacutelioration ne pourra srsquoeffectuer que si les

compeacutetences acquises au sein de lrsquoeacutecole et des diffeacuterentes formes drsquoeacuteducation

informelle reacutepondent le plus exactement possible aux neacutecessiteacutes du marcheacute Or les

capaciteacutes neacutecessaires seront de plus en plus de lrsquoordre du non-cognitif

(eacutepanouissement personnel et autonomie capaciteacute de participation et drsquointeacutegration)

Ce sont autant drsquoaptitudes qui sont difficilement quantifiables et standardisables Il

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faut donc chercher le moyen de standardiser et eacutevaluer non seulement les

compeacutetences cognitives mais aussi celles qui ne le sont pas Lrsquoeacutechec dans cette mission

risquerait drsquoentraicircner deux conseacutequences drsquoune part tout systegraveme de certification

deviendrait inefficace puisqursquoil ne reacutepondrait pas aux exigences du marcheacute qui a

besoin drsquoune source drsquoinformation sucircre sur laquelle fonder les critegraveres de recrutement

drsquoautre part le reacuteductionnisme du systegraveme drsquoeacutevaluation des aptitudes a toutes les

chances de se reacutepercuter sur la qualiteacute de lrsquoeacuteducation qui tendrait agrave limiter son action agrave

lrsquoapprentissage du savoir raquo (Hallak1998) Et jrsquoajouterai seulement qursquoil en est de mecircme

en ce qui concerne lrsquoapprentissage des savoir faire

De fait les savoirs et les savoir faire ne sont plus les seuls reacutefeacuterences les savoir-ecirctre

qui integravegrent les attitudes et les comportements les savoir-paraicirctre qui traitent de la

capaciteacute drsquointerpreacutetation de rocircles diversifieacutes ouvrant au deacuteveloppement social et

socioprofessionnel et surtout les savoir devenir ou la capaciteacute agrave se projeter en tant

qursquoindividu apprenant dans une socieacuteteacute et un monde professionnel et agrave mettre en

devenir les projets en question doivent ecirctre preacutesents au moins agrave la mecircme hauteur que

les savoirs et les savoir faire De fait le rocircle important qursquoils jouent aujourdrsquohui dans

les recrutements de lrsquoeacuteconomie de marcheacute qui nous gouverne ne peut ecirctre minoreacute

2 Pourquoi opter pour une eacutevaluation personnaliseacutee au service drsquoun collectif

Sur le terrain des enseignements-apprentissages des langues sur lequel nous

travaillons et au vu des eacutevolutions sociales et socioprofessionnelles des derniegraveres

anneacutees les savoir-ecirctre les savoir devenir et les savoir paraicirctre sont devenus chaque

fois plus deacuteterminants plus encore que les savoirs et les savoir faire car ils jouent un

rocircle de valeur ajouteacutee incontournable En effet la plupart des institutions

europeacuteennes et mondiales mettent en avant le rocircle de la recherche et de lrsquoinnovation

comme facteurs deacuteterminants du deacuteveloppement des socieacuteteacutes et des individus mais

oublient tregraves souvent que cette recherche et cette capaciteacute drsquoinnovation passent par

des compeacutetences lieacutees directement aux savoir-ecirctre aux savoir paraicirctre et aux savoir

devenir Or ces trois piliers du deacuteveloppement suggegraverent une eacutevaluation qui ne soit

plus normative et anonyme mais bien personnaliseacutee

21 Le savoir-ecirctre ou la centration sur lrsquoapprenant

Partir des acteurs en formation crsquoest privileacutegier leurs repreacutesentations et favoriser la

diversiteacute et lrsquoinnovation Cela nous oblige agrave regarder de pregraves leurs biographies leurs

profils et leurs expeacuteriences

Pour prendre un exemple sur le terrain qui nous occupe plus particuliegraverement celui

de lrsquoapprentissage des langues ces derniegraveres sont lieacutees directement aux cultures et

dans ce domaine les repreacutesentations jouent un rocircle fondamental pour ce qui est de la

construction des compeacutetences de telles compeacutetences pouvant devenir selon les

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expeacuteriences ou des freins ou des moteurs du deacuteveloppement dans les apprentissages

(Brouteacute 2011) Le savoir-ecirctre ou travail sur les repreacutesentations de chacun et de tous

et notamment lrsquoeacutetude des steacutereacuteotypes de mecircme que la prise en compte des attitudes

et des comportements dans lrsquoapprentissage entre autres la participation lrsquointeacutegration

au sein du groupe classe la toleacuterance envers les autres et lrsquoouverture agrave autrui dans sa

diffeacuterence doivent ecirctre au cœur de ces apprentissages

Toutefois nous avons donc affaire agrave une composante difficilement quantifiable et cela

peut repreacutesenter un obstacle insurmontable agrave lrsquoheure drsquoeacutevaluer les apprenants mais

nous savons que nous ne pouvons en faire lrsquoeacuteconomie et que selon chaque terrain

des outils speacutecifiques peuvent ecirctre mis en place de tels outils permettant une

eacutevaluation certes non scientifique mais empirique et efficace ce qui importe le plus

dans le cas preacutesent

22 Le savoir paraicirctre ou la capaciteacute drsquoidentification et de distanciation

Arriver agrave se mettre dans la peau de lrsquoautre comporte plus drsquoun avantage en ce qui

concerne la compreacutehension des ecirctres sur le terrain de lrsquoapprentissage Une telle

compeacutetence se deacuteveloppe gracircce agrave lrsquointerpreacutetation de rocircles divers et diffeacuterents de soi

que ces rocircles soient de lrsquoordre du sujet ou de lrsquoobjet

Une fois mises agrave jour les repreacutesentations des acteurs en formation gracircce au travail sur

leur biographie et au diagnostic les deux ayant la vertu de favoriser une prise de

conscience le travail doit se centrer sur lrsquoeacutevolution de lrsquoapprenant ou sa capaciteacute agrave

eacutevoluer en tant qursquoacteur social et socioprofessionnel au sein drsquoune socieacuteteacute

changeante et multiple Un tel deacuteveloppement met en relief lrsquoimportance de travailler

et drsquoeacutevaluer la capaciteacute agrave interpreacuteter des rocircles diffeacuterents de soi de se mettre dans la

peau de lrsquoautre non seulement lrsquoautre en tant qursquoacteur de la formation mais aussi

lrsquoautre en tant qursquoobjet diffeacuterent agrave traiter notamment agrave travers un travail sur

lrsquoinduction Ce savoir paraicirctre ou interpreacutetation de rocircle favorise le deacuteveloppement

drsquoune capaciteacute agrave se transposer dans lrsquoautre donc agrave faire des hypothegraveses agrave induire des

solutions (E Goffman Les cadres de lrsquoexpeacuterience 1974 1991) Une telle compeacutetence

joue un rocircle chaque fois plus important dans un monde ougrave la recherche et lrsquoinnovation

repreacutesentent des piliers incontournables du deacuteveloppement eacuteconomique des socieacuteteacutes

23 Le savoir devenir ou le passage de la dialectique laquo sujetobjet raquo agrave la trialectique

laquo sujet objet projet raquo

La trialectique sujet-objet-projet doit prendre le dessus par rapport agrave la dialectique

sujet-objet qui domine les terrains de lrsquoenseignement-apprentissage depuis plusieurs

deacutecennies En effet lrsquoeacutecole doit ecirctre le reflet de la socieacuteteacute mais elle doit en ecirctre aussi

lrsquoespoir lrsquoespoir de millions drsquoapprenants avec leurs biographies en devenir et

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surtout avec leurs projets personnels qui restent la base inconsciente de tout projet

drsquoapprentissage

Pour revenir au terrain qui nous occupe plus particuliegraverement en lrsquooccurrence celui de

lrsquoenseignement-apprentissage des langues eacutetrangegraveres il faut souligner lrsquoimportance

des relations dans les compeacutetences interactionnelles ces derniegraveres illustrant des

compeacutetences majeures (Brouteacute 2014) De lagrave la neacutecessiteacute de la reconnaissance des

personnes en tant que telles et en tant qursquoindividus deacuteveloppant un projet personnel

de futur sachant que chacun et chacune possegravede un profil diffeacuterencieacute drsquoapprentissage

Crsquoest ainsi que depuis quinze ans sur le terrain preacuteciteacute nous avons deacuteveloppeacute un

systegraveme drsquoeacutevaluation des compeacutetences qui prend en compte tous les profils

drsquoapprentissage Gracircce une combinaison actualiseacutee en permanence drsquoeacutevaluations

formatives continues et sommatives au centre desquelles lrsquoautoeacutevaluation joue un

rocircle fondamental sans avoir recours agrave une quelconque deacutemagogie nous avons mis en

place dans nos eacutetudes un systegraveme qualitatif drsquoeacutevaluation des eacutetudiants que nous allons

exposer plus en avant en preacutecisant lrsquoapproche et ses applications pratiques tout en

proposant plusieurs exemples et plusieurs cas particuliers

3 Comment nous avons deacuteveloppeacute notre projet drsquoeacutevaluation personnaliseacutee au

service de la socieacuteteacute

En tenant compte des profils diffeacuterencieacutes drsquoapprenants nous avons opteacute pour trois

grands types drsquoeacutevaluation une eacutevaluation formative qui se projette agrave travers une

eacutevaluation continue une eacutevaluation axeacutee sur lrsquoautonomie drsquoapprentissage agrave travers un

projet personnaliseacute et une eacutevaluation normative axeacutee sur un controcircle de meacutemorisation

et drsquoacquisition de connaissances et de savoir-faire ou compeacutetences

31 Le projet formatif

Le projet formatif doit prendre en compte la neacutecessiteacute drsquoun suivi continu de

lrsquoapprentissage ce qui revient agrave dire que lrsquoeacutevaluation en question doit se vivre

reacuteellement au quotidien Concregravetement cela suppose une eacutevaluation de toutes les

activiteacutes reacutealiseacutees en assistance donc en classe en lrsquooccurrence les travaux reacutealiseacutes au

niveau individuel et en groupes les interventions orales ou eacutecrites de chaque

apprenant et bien sucircr la participation aux activiteacutes sans sous-estimer la coopeacuteration

avec les pairs lors des activiteacutes qui se deacuteveloppent en groupes Mais il ne faut pas

oublier non plus de prendre en consideacuteration tout ce qui doit ecirctre deacuteveloppeacute en

autonomie comme les travaux chez soi ou encore toutes les activiteacutes pratiques qui

requiegraverent une reacutealisation agrave lrsquoexteacuterieur du cadre de la classe Une telle eacutevaluation se

penche prioritairement sur les aspects formatifs deacuteveloppeacutes de faccedilon continue Elle

repreacutesente la veacuteritable prioriteacute car ce type drsquoeacutevaluation reconnaicirct lrsquoengagement dans

la formation un tel engagement eacutetant le requis de base de toute formation cette

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notion drsquoengagement eacutetant prise au sens que lrsquoentend E Goffman (Goffman 1974

1991)

En ce qui concerne notre terrain nous avons opteacute pour un systegraveme de reconnaissance

agrave partir de points accordeacutes en fonction du travail reacutealiseacute Pour prendre un exemple agrave

chaque seacuteance de cours la moitieacute des points concernent lrsquoaction en elle-mecircme ou le

fait de reacutealiser lrsquoactiviteacute demandeacutee lrsquoautre moitieacute repreacutesentant la valeur ajouteacutee agrave

travers laquelle la participation et la coopeacuteration sont fondamentales Sur lrsquoensemble

du cours nous calculons le nombre de points moyen par seacuteance pouvant traduire un

engagement moyen dans la formation Le calcul de lrsquoeacutevaluation se fait sur cette base

Par ailleurs il faut ajouter que tout travail reacutealiseacute en classe peut trouver une

compensation agrave travers les mecircmes travaux effectueacutes agrave lrsquoexteacuterieur ou drsquoautres travaux

ayant une valeur similaire Dans le contexte universitaire un tel principe de base est

vital pour certains eacutetudiants ayant lrsquoobligation de travailler en parallegravele de leurs

eacutetudes

32 Le test des connaissances et savoir-faire

Ce test permet de jauger non seulement la meacutemorisation et lrsquoacquisition de savoirs et

savoir-faire mais eacutegalement la capaciteacute du rendu ponctuel en temps limiteacute En effet si

certains de nos collegravegues ou chercheurs en eacuteducation procircnent lrsquoabandon de toute

eacutevaluation sommative nous consideacuterons pour notre part qursquoun tel abandon peut creacuteer

un handicap pour lrsquoapprenant dans la mesure ougrave le rendu en temps ponctuel reste un

des requis principaux de la plupart des terrains socioprofessionnels Par ailleurs il ne

faut pas oublier qursquoun grand nombre drsquoacteurs ont eacuteteacute formeacutes sur les bases drsquoune telle

eacutevaluation forgeant ainsi leur identiteacute et leur profil drsquoapprenant Tout miser sur

lrsquoautonomie de lrsquoapprenant pour des acteurs qui nrsquoont jamais eacuteteacute preacutepareacutes agrave une telle

autonomie peut conduire ces derniers agrave un eacutechec fracassant En effet lrsquoautonomie

drsquoapprentissage comme toute strateacutegie de conquecircte de la connaissance et de la

compeacutetence requiert son propre apprentissage ses habileteacutes et ses habitudes Au-

delagrave drsquoun tel constat il faut mettre aussi en avant que lrsquoexercice mneacutemotechnique

repreacutesente un axe de travail fondamental dans tout apprentissage et que refuser de le

soumettre agrave toute eacutevaluation perd en grande partie de son sens

Concregravetement pour nous et sur le terrain qui nous occupe il srsquoagit de veacuterifier certains

acquis incontournables tels que les contenus linguistiques pour ne citer que ces

derniers Dans ce contexte il srsquoagit de soumettre agrave eacutevaluation le passage de

lrsquoapprentissage agrave lrsquoacquisition en lrsquooccurrence la capaciteacute pour reacutepondre

spontaneacutement agrave une sollicitation de savoirs et de savoir-faire quelle qursquoelle soit et ce

dans des contextes diffeacuterents Dans ce cadre la notation relegraveve de lrsquoeacutevaluation

sommative et prend la forme drsquoune reconnaissance de lrsquoimportance relative de chacun

des contenus mis en jeu dans une telle eacutevaluation

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574

33 Le projet

Dans la compeacutetition mondiale de l eacuteconomie de la connaissance les produits

strateacutegiques sont deacutesormais moins ceux de lenseignement que de la recherche

deacuteveloppement (Vinokur 2008)

Le projet en tant que tel est la grande reacutefeacuterence de lrsquoapprentissage en termes

drsquoautonomie et drsquoautoeacutevaluation Lrsquoacteur en formation y deacuteveloppe des compeacutetences

de clarteacute dans le jugement de preacutecision dans la probleacutematique rechercheacutee de teacutenaciteacute

dans la recherche mecircme des informations de capaciteacutes drsquoexpression pour transmettre

le projet et les voies exploreacutees ainsi que les eacuteventuelles pistes agrave approfondir dans le

futur

ldquoOn srsquoaccorde souvent sur lrsquoideacutee que lrsquoeacutelegraveve compeacutetent est celui qui est capable de

reacutesoudre des tacircches complexes et ineacutedites qui demandent le choix et la combinaison

de proceacutedures apprises raquo (Carette 2009) De tels propos nous ont ameneacute agrave faire le

choix drsquoune deacutemarche rigoureuse drsquoeacutevaluation des compeacutetences ces derniegraveres

neacutecessitant de mettre lrsquoeacutelegraveve face agrave une situation complexe et ineacutedite ce qui pose un

problegraveme en termes de contrat didactique la plupart des eacutelegraveves comme des

enseignants estiment logiquement que lrsquoeacutevaluation porte sur des connaissances et des

compeacutetences qursquoon a enseigneacutees or la situation drsquoeacutevaluation de la compeacutetence ne

peut faire que difficilement lrsquoobjet drsquoun enseignement preacutealable (Kahn 2012) sauf si

on a les moyens de tester les capaciteacutes en jeu dans un contexte reacuteellement

socioprofessionnel

Or il faut ecirctre tregraves attentif car laquo ce qui est en jeu nrsquoest (donc) pas de confronter

lrsquoeacutelegraveve agrave des opeacuterations laquo infaisables raquo ou trop compliqueacutees pour son niveau mais lui

faire mettre en jeu une articulation diffeacuterente dlsquoopeacuterations deacutejagrave connues ou reacutealiseacutees raquo

(Geacuterard 2008) comme lors de la preacutesentation de son projet en public En effet si

lrsquoautonomie de lrsquoapprenant doit ecirctre totale en ce qui concerne le choix du sujet et de

la probleacutematique traiteacutes la recherche et le travail continu requis doivent ecirctre

accompagneacutes de maniegravere permanente jusque dans les moindres deacutetails Une autre

approche serait irresponsable

De cette sorte les rendez-vous avec les eacutequipes en projet (un deux ou trois eacutelegraveves)

sont constamment preacutesents que ce soit agrave la demande de lrsquoenseignant ou des

apprenants Quant agrave la phase de diffusion ou compte-rendu du projet en question elle

se conclut de maniegravere incontournable par une preacutesentation orale en public agrave travers

laquelle il nrsquoest pas tant question de montrer des reacutesultats que drsquoeacutechanger un

questionnement un processus une recherche et des pistes de reacuteflexion qui pourront

conduire eacuteventuellement dans le futur agrave un travail de recherche aux aspects plus

scientifiques ou pourquoi pas agrave une reacutealisation prenant la forme drsquoune production

faisant sur le marcheacute socioprofessionnel Lrsquoeacutevaluation se base alors plus sur la capaciteacute

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575

agrave parler du projet et de la deacutemarche qui lrsquoaccompagne plutocirct que drsquoun rendu eacuteventuel

Le projet est synonyme de projection de prise de conscience des enjeux personnels

face agrave un apprentissage de lrsquoaccomplissement drsquoun savoir devenir vital pour chaque

acteur apprenant Les critegraveres sur lesquels nous nous basons alors se reflegravetent sur la

fiche que nous avons transcrite en annexe (cf annexe p 10) et qui logiquement

illustrent non seulement des contenus abordeacutes mais eacutegalement une compeacutetence agrave

communiquer un thegraveme une probleacutematique et une recherche une telle

communication se reacuteveacutelant drsquoautant plus efficace que lrsquoapprenant srsquoest engageacute et srsquoest

centreacute sur le projet en question

Conclusion

Au-delagrave de la particulariteacute des diffeacuterentes eacutevaluations mises en avant la question de

lrsquoimportance relative de chacune dans le poids global de lrsquoensemble eacutevaluatif est

deacutecisive et ne peut ecirctre prise agrave la leacutegegravere De fait si nous avons fait le choix drsquoune

eacutevaluation fidegravele agrave la variation des profils drsquoapprentissage afin de permettre aux

acteurs de donner leur pleine mesure et drsquoecirctre eacutevalueacutes drsquoune maniegravere complegravete et

pertinente pour leur futur socioprofessionnel nous ne pouvons oublier complegravetement

quel est lrsquoobjectif et la prioriteacute deacutefinitifs de la formation et de son eacutevaluation En effet

comme nous lrsquoavons souligneacute au deacutebut de cet article lrsquoobjectif majeur de toute

formation et de son eacutevaluation doit ecirctre la personnalisation de cette formation afin

drsquoatteindre une autonomie drsquoaction et de deacuteveloppement chaque fois plus ample au

niveau de chacun des apprenants Ainsi donc lrsquoeacutevaluation du projet doit prendre plus

drsquoimportance au fur et agrave mesure du processus drsquoapprentissage tout en tenant compte

que le requis de lrsquoautonomie ne peut ecirctre le mecircme au deacutebut et agrave la fin de cet

apprentissage dans la mesure ougrave preacuteciseacutement les apprenants se forment

progressivement agrave cette autonomie Concregravetement pour prendre en compte tous ces

diffeacuterents paramegravetres nous avons opteacute sur notre terrain agrave la distribution suivante

pour ce qui est du premier cours eacutevaluation formative et projet repreacutesentent 30 de

lrsquoeacutevaluation totale et lrsquoeacutevaluation normative 40 Lors du deuxiegraveme cours le projet

passe agrave 40 alors que lrsquoeacutevaluation sommative se reacuteduit agrave 30 Enfin le dernier et

troisiegraveme cours voit le projet repreacutesenter 50 de lrsquoeacutevaluation finale alors que

lrsquoeacutevaluation sommative se reacuteduit agrave 20 Comme on peut le constater lrsquoeacutevaluation

continue ou formative se maintient agrave 30 tout au long du processus de formation

Les choix que nous avons effectueacutes en matiegravere drsquoeacutevaluation donnent des reacutesultats plus

que probants et nous sommes convaincus de leur pertinence sur drsquoautres terrains et

pour drsquoautres publics ce qui nous amegravene agrave encourager de nombreux formateurs agrave

travailler dans un sens proche du nocirctre La centration sur lrsquoapprenant nrsquoeacutecarte en rien

la prise en compte du reacuteel gracircce agrave une volonteacute afficheacutee en permanence drsquoun

deacutepassement des activiteacutes transformeacutees ou activiteacutes simulant la reacutealiteacute (exercices

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576

tests divershellip) pour srsquoouvrir chaque fois plus au reacuteel ou agrave la vie sociale Une telle

exigence doit aussi nous amener agrave ecirctre attentifs en permanence quant aux eacutevolutions

des requis sur les marcheacutes socioprofessionnels et pour ce qui est de la formation une

telle exigence se traduisant alors en de constantes actualisations rapides efficaces et

susceptibles de provoquer un engagement absolu des apprenants

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