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Uma crítica do livro Até o fim da queda, de Ivan Mizanzuk, lançado em 2014.
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"Até o m da queda", de Ivan Mizanzuk
por Eduardo Souza, disponível em https://animusmundus.wordpress.com/2015/01/31/ate-o-m-da-queda-de-ivan-mizanzuk/
O demônio tem muitas faces. Ivan Mizanzuk também.
“Até o m da queda” não é uma leitura convencional; não poderia ser, vindo de um bacharel em Design, mestre em ciências da
religião, doutorado de tecnologia com ênfase em Design a caminho. Você é jogado no universo do escritor Daniel Farias, que
conversa sobre o lançamento de seu último livro, que levou muitos jovens ao suicídio. Mas não só nesse universo.
A narrativa de Ivan é multifacetada, multivocal; constituída por recortes e uxos de diálogos, cartas, documentos, ilustrações,
notícias, comentários de sites. Essa, parece, é uma característica de sua visão de mundo e do nosso século: é necessário atenção para
juntar as partes difusas de uma realidade caótica. As várias linguagens e meios de nos envolver na narrativa é, para mim, o ponto
forte desse romance; o autor-designer tratou com muito cuidado o projeto gráco do livro, também uma ferramenta de storytelling.
Toda essa contemporaneidade não exclui os dilemas humanos, interpretados pela lente do misticismo (na melhor acepção da
palavra) que atravessa eras, por personagens que—se não são— poderiam existir em várias épocas da história. Ele parece entender
bem o mindset de cada um sem cair em clichês. Por exemplo, ao falar da Idade Média: quem vivia naquela época, possuía crenças
religiosas que fundavam a realidade; aquilo era real, por mais ingênuo que pareça quando olhamos a distância de séculos.
O que está nas entrelinhas o tempo inteiro é o autor. Talvez por ouvir a alguns anos o seu podcast e lhe conhecer—como dizer que
conheço alguém que apenas ouço?—, acho possível entrever-lhe nos falando em todas as vozes, com o véu de todos os
personagens. Isso faz do livro, em alguns trechos, bem didático, que seria uma crítica plausível—inclusive uma que ele próprio faz a
lmes.
Ainda assim, nada é claro, nada é óbvio. Ele nos dá o que gosta de ter: o leitor tem um papel fundamental no que é o livro. O inefável
está sempre rondando a narrativa, sempre nos tornando mais humanos, sempre nos levando, de novo e de novo, à queda.