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COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR HENRIQUE MANOEL FALCÃO ATENDIMENTO E CONTENÇÃO FÍSICA DE PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL PELO BOMBEIRO MILITAR GOIÂNIA/GO 2016

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COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR

HENRIQUE MANOEL FALCÃO

ATENDIMENTO E CONTENÇÃO FÍSICA DE PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL PELO BOMBEIRO MILITAR

GOIÂNIA/GO

2016

HENRIQUE MANOEL FALCÃO

ATENDIMENTO E CONTENÇÃO FÍSICA DE PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL PELO BOMBEIRO MILITAR

Artigo Científico, apresentado ao CAEBM, como parte das exigências para conclusão de Curso de Formação de Oficiais e obtenção do título de Aspirante a Oficial, sob a orientação do Sr. Major QOC BM Flávio Morais.

GOIÂNIA/GO 2016

HENRIQUE MANOEL FALCÃO

ATENDIMENTO E CONTENÇÃO FÍSICA DE PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL PELO BOMBEIRO MILITAR

Goiânia/GO 21 de Março de 2016.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Major QOC BM Antônio Carlos Moura

____________________________________________ 1°Ten QOC BM Alex Divino Pereira

___________________________________________________ 2°Ten QOA BM Marcos Borges de Jesus Peres

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ATENDIMENTO E CONTENÇÃO FÍSICA DE PACIENTES COM

TRANSTORNO MENTAL PELO BOMBEIRO MILITAR

Henrique Manoel Falcão1

RESUMO O presente artigo pretende avaliar o atendimento do Bombeiro Militar ao se deparar com situação de urgência e emergência que envolve o portador de transtorno mental com ameaça à sua integridade física e de outros sob sua responsabilidade de segurança pública, ao mesmo tempo, demonstrar os procedimentos adotados pelo Bombeiro diante da situação. A metodologia adotada é de revisão bibliográfica e descritiva, que se desenvolve a partir de material existente. O estudo vincula-se a questão do preparo nesse tipo de atendimento de emergências, no qual é preciso garantir a integridade física do agressor, de terceiros e a própria corporação. Trata-se de um conhecimento profissional que dá margem a formação qualificada no desempenho da função de Bombeiro Militar, focada na atenção, percepção, autocontrole, entre outras qualificações no exercício das suas atividades. Para atender a demanda de atendimentos ao paciente com transtorno mental, se faz necessário bons conhecimentos e especial cuidado, principalmente na adoção de cuidados a serem adotados que obedecem a procedimentos legais. Concluiu-se com o estudo, que no geral, para o atendimento a pacientes com transtorno mental em situação de emergência, o profissional Bombeiro Militar precisa estar na busca constante de informações relevantes para a situação, principalmente por se tratar de ameaça à sua integridade física, visto que está diante de um paciente potencialmente agressivo e condição que pode envolver agressão física e danos materiais. Palavras-Chave: Atendimento. Integridade Física. Emergência.

ABSTRACT This article aims to evaluate the service of the Military Fire when faced with urgent and emergency situation involving the mentally ill with a threat to their physical safety and other under their law enforcement responsibilities at the same time, demonstrate the procedures adopted by Fire on the situation. The methodology is bibliographical and descriptive review, which develops from existing material. The study is linked to the issue of preparing this type of emergency response, which is necessary to guarantee the physical integrity of the offender, third and the corporation itself. It is a professional knowledge that gives rise to skills training in the performance of Military Firefighter function, focused on attention, perception, self-control, among other qualifications in carrying out their activities. To meet the demand for care to patients with mental

1Aspirante a Oficial do Curso de Formação de Oficiais na CAEBM. E-mail: [email protected]

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disorders, it is necessary good knowledge and special care, particularly in the adoption of care to be adopted to comply with legal procedures. It concludes with the study, in general, for the care of patients with mental disorders in emergencies, professional Firefighter Military needs to be in constant search for information relevant to the situation, mainly because it is a threat to their physical integrity since it is facing a potentially aggressive and patient condition that may involve physical aggression and property damage. Keywords: Service. Physical integrity. Emergency.

INTRODUÇÃO

O estudo proposto diz respeito ao atendimento de urgência e emergência ao

portador de transtorno mental pelo Bombeiro Militar, profissional que demanda

conhecimento em diversas áreas, principalmente aquele que trabalha em contato

direto com a população, em ocorrências onde se faz necessário o uso da força física,

com resguardo a integridade da vitima, de terceiros e da própria equipe que integra a

segurança pública e atua nos mais diversos tipos de atendimento à população e isso

inclui pessoas portadoras de transtornos mentais.

Sabe-se que para atender a demanda de atendimentos a essa tipo de paciente

são necessários bons conhecimentos e especial cuidado, principalmente nos

procedimentos a serem adotados que obedecem a procedimentos legais e às

diretrizes da política nacional de saúde mental sintetizados em lei, em que se deve

preservar o prestígio da instituição e dano aos valores de cidadania.

Sabe-se que o transtorno mental pode ser compreendido como um conjunto de

sinais/sintomas emocionais e comportamentais que trazem prejuízo pessoal e para

terceiros. Nesse indivíduo pode manifestar descontrole por impulsividade,

alucinações, delírios e comportamento agressivo. Com isso, pode acontecer o

descontrole e agressividade.

Os transtornos mentais são condições frequentemente crônicas. Nessas

condições que o Bombeiro Militar está diante de determinado tipo de

comportamentos e reações, que podem oferecer riscos à sua integridade física, o

que justifica seu treinamento e conhecimento a respeito desse tipo de urgência.

Nesse sentido que, para dar atendimento a uma pessoa com problemas

psiquiátricos é importante conhecer fatores que envolvem a doença, caracterizados

por ansiedade, impulsividade e até mesmo comportamento suicida. Por isso é que se

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vê a importância do preparo técnico para atender as ocorrências e se necessário for,

o uso da força física.

Assim o trabalho pretende abordar os aspectos que envolvem o atendimento a

essas urgências e emergências atendidas pelo Bombeiro que visa de forma eficaz e

segura atender tais ocorrências, que se inicia a partir do momento que recebe o

chamado sobre o tipo de ocorrência que irá atender.

Justifica-se a relevância do trabalho, pois vincula-se a questão do preparo no

atendimento pelo Bombeiro e a emergência de pessoas com problemas de transtorno

mental, pois trata-se de um conhecimento profissional que dá margem a formação

qualificada no desempenho de sua função, que envolve atenção, percepção,

autocontrole, entre outras qualificações no exercício de suas atividades.

O presente artigo tem como objetivo principal avaliar o atendimento do

Bombeiro ao se deparar com uma situação de urgência e emergência que ameace

sua integridade física e de outros sob sua responsabilidade.

Nesse trabalho pretende-se ainda, apresentar os procedimentos envolvendo o

portador de transtorno mental e verificar os procedimentos do Bombeiro no controle

de comportamento potencial agressivo acerca dos aspectos que permeiam esse tipo

de ocorrência.

A metodologia adotada é de revisão bibliográfica e descritiva e o estudo de

natureza qualitativa, no momento em serão utilizados livros, revistas, informativos,

artigos científicos e sites especializados para coleta dos dados dos aspectos

relativos ao atendimento de urgência e emergência de pessoas com problemas

transtornos psiquiátricos fundamentando-se dessa forma, pelo referencial teórico

apresentado.

Nesta perspectiva, o trabalho divide-se primeiramente nos aspectos de

procedimentos de Urgência e Emergência que envolve o Portador de Transtorno

Mental, que abrange o conceito de Emergências Psiquiátricas, os tipos de

emergência, manejo e contenção física, bem como as medidas preconizadas para

Manejo de Pacientes com Transtornos Mentais.

Na sequência, apresenta-se abordagem sobre o Bombeiro Militar e a

emergência de Pacientes com Transtornos mentais, a análise e discussão do estudo

e, posteriormente, a finalização com a conclusão do trabalho.

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2. CONCEITUAÇÃO E PROCEDIMENTOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

ENVOLVENDO O PORTADOR DE TRANSTORNOS MENTAIS

2.1 Conceito de Emergências Psiquiátricas

Inicialmente é interessante conceituar emergências psiquiátricas que envolvem

o portador de transtornos mentais, pois se caracteriza por sintomas considerados

distintos, tendo necessidade de intervenção imediata, visto que representa um risco

bastante significativo, tanto para terceiros quanto ao próprio paciente.

O paciente torna-se incapaz de lidar com suas situações, por isso a

emergência psiquiátrica é entendida como um conjunto de interesses afetivos e

práticos, já que o ambiente de uma emergência dificulta de maneira, a ansiedade do

profissional e também do paciente (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2012).

Nota-se que há impossibilidade do paciente em lidar com a situação, pois se

apresentam em crise e sofrimento emocional.

O paciente apresenta fragilidade emocional e expectativas de fantasias irreais

e isto influencia na resposta ao tratamento. Prevalece, portanto a atmosfera de

segurança e proteção, com comunicação clara e franca em que não se permite atos

violentos e intoleráveis. Nesse caso, a segurança física e emocional é prioridade. É

importante considerar todas as situações de ameaças, gestos, tendências suicidas,

entre outras até que se prove o contrário, no entanto, toda essa situação necessita

ser observada.Não se considera atos violentos. Porém, é necessária a atenção para

qualquer sinal de violência ou alterações no comportamento ou mesmo perda de

controle (PSIQUIATRIA GERAL, 2012).

Devido a fragilidade emocional não são permitido atos violentos e sim uma

atmosfera de segurança e proteção.

Na emergência psiquiátrica são freqüente distúrbios psicóticos, depressão

agitada, distúrbios de personalidade caracterizada por fúria e ausência de controle,

entre outros.

A definição dos aspectos essenciais que caracterizam as manifestações psiquiátricas que poderiam ser categorizadas como emergência, bem como as especificidades dos serviços destinados a esse tipo de atendimento, não é uma tarefa simples, havendo falta de concordância entre as diferentes conceituações e dificuldade de se estabelecer definições precisas. Além disso, a distinção entre urgência e emergência adotada para a medicina geral parece ser de

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pouca utilidade para a prática psiquiátrica (Munizza, 1993 citado por BARROS et al., 2010, p.1).

Com relação aos aspectos que caracterizam a manifestação da emergência

psiquiátrica e especificidade nesse atendimento não é considerada simples, por isso a

existência de diferentes conceituações e definição.

Assim a emergência psiquiátrica se refere a situações há existência de risco

são realmente situações que se configuram emergenciais.

Trata-se, portanto, de uma situação que se não atendida rapidamente pode

causar dano ao paciente e a outros também.

2.2 Tipos de Emergência Psiquiátrica

Existem alguns tipos de situação de emergência psiquiátrica, como por

exemplo:

Emergência:- Distúrbio de pensamento, sentimento ou ações que envolvem risco de vida ou risco social grave, necessidade de intervenções imediatas e inadiáveis. Exemplos comuns incluem violência, suicídio ou tentativa de suicídio, estupor depressivo, excitação maníaca, automutilação, juízo critico acentuadamente comprometido severa e autonegligência. Urgência:- A situação implica riscos menores que necessitam de intervenções a curto prazo. Alguns exemplos são comportamentos bizarros, quadros agudos de ansiedade, síndromes conversivas, entre outros. Eletivas:- A rapidez da intervenção não é um critério essencialmente importante. São exemplos ansiedade leve distúrbios de relacionamento interpessoal, informações sobre medicações e fornecimento de receitas (BOTTURA, 2015, p.2).

Na emergência psiquiátrica encontram-se tais situações citadas acima de

emergência própria dita, de urgência e eletivas com suas respectivas características,

que são situações que envolvem risco, necessitam de intervenção e rapidez.

É possível classificar situação psiquiátrica no serviço de urgência, de acordo

com Nicolau (2015, p.1):

EMERGÊNCIA

1. Delirium Tremens 2. Comportamento violento 3. Toxicidade por drogas 4. Tentativa de suicídio

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URGÊNCIA

1. Comportamento bizarro 2. Agitação aguda 3. Embriaguez 4. Avaliação de internações 5. Atitudes suicidas

ELETIVAS

1. Distúrbios situacionais (familiar, marital, trabalho) 2. Ansiedade leve ou moderada 3. “Somente quero falar” 4. Questões sobre medicação ou desejo de receitas, ou informações acerca de efeitos colaterais 5. Pacientes conhecidos, necessitando de suporte e contínuo envolvimento em programas de trabalho comunitário.

No entendimento de Nicolau (2015) é possível definir situações de

emergências onde se tem risco de vida ou risco social grave, a intervenção deve ser

imediata. Por outro lado, nas situações de urgência envolvendo riscos menores, a

intervenção é realizada a curto prazo. Já as eletivas ocorrem sem muita rapidez de

critérios.

Vale destacar entre as emergências psiquiátricas, a ideação e comportamento

suicida como sendo uma das mais comuns constituindo a décima causa morte o

mundo e de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de mil

pessoas independente de etnias, religião e nível socioeconômico cometem suicídio a

cada dia (KAPCZINSKI et al., 2014).

Estes são, portanto, alguns tipos de emergência que podem ser enfrentadas

pelo Bombeiro Militar,

2.3 Manejo e Contenção Física

É de grande importância o manejo de um paciente com transtornos mentais em

uma situação de emergência, o interessante é não se colocar em condições que

possa ser agredido, nesse caso, é preciso proteger-se e proteger a pessoa em

atendimento, não deixando surpreender-se, pois a violência é sempre uma

possibilidade. Importante também que haja uma distância de pelo menos um braço

entre o individuo em atendimento e jamais estar de costas virada (MANTOVANI et al,

2010, p.3).

De acordo com Mantovani et al. (2010) é relevante considerar no manejo físico,

que são práticas comuns, no entanto existem controvérsias em psiquiatria, pois são

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consideradas técnicas em caráter coercitivo/punitivo, que recai no respeito à

dignidade e aos direitos civis do paciente. No entanto, dependendo do grau de

agitação e agressividade, pode representar risco à própria integridade física e aos

demais.

Com relação à contenção física, há uma restrição de movimentos por um

período considerado suficiente para a contenção, no entanto é instável e insegura se

prolongada por muito tempo.

“A contenção física é um recurso que pode ser utilizado no momento em que

todas as tentativas de abordagem e intervenção precoce na crise não obtiveram êxito”

(SANCEVERINO, 2010, p.8).

Convém ressaltar que na contenção há necessidade de dispositivos que limita

a mobilidade física, no sentido de evitar comprometer a mobilidade de outros

evitando-se danos.

A figura 1 mostra um atendimento de contenção a paciente com transtorno

mental

Fonte: abmjm-cbmma.blogspot.com

Na figura 1 demonstrou-se um procedimento realizado por dois bombeiros

militares na contenção de paciente psiquiátrico, de maneira firme, apesar de se tratar

de paciente menos agressivo.

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A respeito da Contenção física de pacientes com transtornos mentais Silva et

al (2006, p.16) definem que:

A contenção física é a restrição dos movimentos por meio indireto, ou seja, com materiais como faixas de contenção e assemelhados. A contenção física permite uma restrição de movimentos por período suficiente para que seja efetiva a contenção farmacológica, porém é preciso ter em mente que toda forma de contenção física se torna instável ou insegura com o prolongamento do tempo, daí a obrigatoriedade do manejo contensivo medicamentoso

Outra definição de contenção física é trazida por Sanceverino (2010, p.8) de

que: “A contenção física é um recurso que pode ser utilizado no momento em que

todas as tentativas de abordagem e intervenção precoce na crise não obtiveram êxito”

Depois de esgotados os recursos de intervenção na crise, aí então são

utilizados contenção física.

Vale destacar as palavras de Silva et al (2006) quando relatam que o

comportamento agressivo e a hostilidade são razões principais de preocupação ao

realizar o manejo e a contenção física, ao lidar com pacientes com transtornos

mentais, dada as atitudes agressivas que podem surgir de forma traiçoeira, sem

qualquer aviso e o paciente tende a externar atitudes hostis, principalmente através

de comportamento e atitudes hostis estão relacionadas a risco agressivo e por isso

devem ser manejados como urgência ou emergência.

De acordo com Silva et al (2006, p. 16) é indicado para o uso da contenção:

•Prevenir ou interromper danos físicos iminentes a outros especialmente a equipe. • Prevenir ou interromper danos físicos ao próprio paciente. • Prevenir ou interromper danos materiais. • Interromper a agitação psicomotora quando esta for obstáculo absoluto para o atendimento do paciente.

No entendimento dos autores citados, os pacientes contidos, além de serem

observados, são considerados pacientes em estado crítico.

2.4 Medidas Preconizadas para Manejo de Pacientes com transtornos Mentais

A Lei 10.216/2001 dispõe sobre a proteção e direitos da pessoa portadora de

transtornos mentais, pacientes psiquiátricos, propriamente dito, que no caso aqui

especificamente, quando se refere a ação coercitiva no Estado de direito, ainda que

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para proteger e salvaguardar a integridade desse paciente, bem como a ordem

pública e exercida para o cumprimento da lei. Obedecendo aos procedimentos legais.

Diz o Artigo 1º da referida Lei que: “Os direitos e a proteção das pessoas

acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem

qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião,

opção política, nacionalidade, idade [...]”.

O Artigo 2º da Lei 10.216/01 assegura que no atendimento de pessoa

portadora de transtorno mental, de qualquer natureza, o paciente e seus familiares ou

responsáveis devem ser cientificados formalmente dos direitos enumerados no

parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Vale ressaltar os parágrafos II e III do artigo 2º da Lei 10216/2001 se refere a

como deve ser o tratamento, ou seja, com humanidade e respeito e no interesse

exclusivo de beneficiar sua saúde, com vistas a alcançar sua recuperação pela

inserção na família, no trabalho e na comunidade. Além de assegurar proteção contra

qualquer abuso ou exploração.

Desse modo, as pessoas com transtornos mentais devem ser tratadas com

acolhimento e valorizadas reconhecidas em suas vontades.

Além da Lei que dá proteção aos portadores de transtornos mentais, também é

importante lembrar a Constituição Federal (1988) que assegura a implementação de

políticas públicas voltadas à redução do risco de doença e de outros agravos, bem

como ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de atendimento

especializado.

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2.5 O Bombeiro Militar e a Emergência de Pacientes com Transtornos Mentais

O atendimento de urgência e emergência pode ser feito por diversos

profissionais que enfrentam situação peculiar à sua realidade, o que ocorre com o

Bombeiro em suas atividades diárias, em atendimento a uma ocorrência.

Muitas vezes o Bombeiro Militar é chamado, não apenas como medida de

apoio, mas como um recurso e para tanto, precisa estar preparado para tal situação,

contudo é necessária que seja visada sua proteção, a do paciente e demais

componentes da equipe, em caso de uma possível contenção.

“A necessidade de se acionar a Brigada Militar para a contenção de uma crise

não deve acontecer como forma de intimidação, mas como forma de construção de

novos sentidos sociais da atuação da Brigada Militar, sem a violência (WILLRICH,

2009 citado por SANTOS et al., 2011, p.6).

Dessa forma, o Bombeiro Militar atua no atendimento com outros profissionais

de emergência.

Ressalta-se que, geralmente na emergência psiquiátrica o nível de violência é

alto, por isso que o profissional Bombeiro ao sair para dar atendimento necessita

proteger-se e proteger a equipe que o acompanha, pois esse tipo de atendimento

envolve risco, porém, a contenção se fizer necessária, deve ser realizada sem

violência e com respeito ao paciente.

Por outro lado, o Bombeiro que dá esse tipo de atendimento, também corre

risco em sua integridade física e de acordo com Dantzer (1987) esses profissionais

que exercem essa função de proteção e segurança, ainda enfrentam o risco para si

mesmo e para os demais e estes riscos, muitas vezes desencadeiam

comprometimentos físicos.

Inicialmente o Bombeiro precisa estudar o local; ao aproximar-se, observar o

paciente e aqueles que estiverem com ele. Esclarecer os fatos é importante e

observar o ambiente, certificando-se de que os presentes e o paciente estão

protegidos, além de verificar se a equipe que o acompanha também está protegida,

para posteriormente neutralizar o paciente com transtorno mental. Uma aproximação

calma e firme.

Os demais componentes da guarnição deverão permanecer a distância, sem interferir no diálogo, com o objetivo de tranquilizar o ambiente. Muitas vezes a ansiedade dos presentes dificulta a abordagem e o manejo do caso. É indispensável que o interventor

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tenha atitudes firmes, ordens claras e objetivas, mas não arrogantes (CBMERJ, 2015, p.2).

O ambiente precisa ser tranqüilizado e importante firmeza na atitude, fazendo

com o que paciente sinta que está sendo proporcionado ajuda para ele.

Para Rodrigues (2012) muitos fatores dizem respeito à natureza do trabalho do

militar no enfrentamento de situações agressivas de descontrole. Alguns autores

relatam que o lidar com o perigo de forma constante tem adoecido o profissional de

segurança pública.

2.5.1 Procedimento Operacional Padrão Bombeiro

Existem procedimentos padrões que devem ser adotados pelo Bombeiro no

atendimento a pacientes com transtornos mentais. Assim são definidos

procedimentos que merecem que sejam destacados, conforme determinação do

Batalhão de Enfermagem Médica do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

(2012, p.2):

1. - Dimensionamento da cena. 2. - Realize avaliação inicial e dirigida.

3. - Localize informante e/ou responsável (parente, amigos, vizinhos, etc.) para a identificação do caso. 4. - Verifique qual a perturbação apresentada (se possível saiba qual doença: esquizofrenia, psicoses, etc.) E quanto tempo está descompensado. 5. - Verifique se o paciente psiquiátrico faz uso de medicação controlada e qual é a medicação. 6. - Observe se é usuário de drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, etc.) e/ou de álcool. 7. - Observe manifestações subjetivas (sintomas) de: agressividade, irritabilidade, agitação psicomotora, fala sem sentido, desconexão com a realidade, alucinações, hiperatividade. 8. - Observe manifestações objetivas (sinais) de: sinais vitais, nível de consciência, ferimentos, odores estranhos (gasolina, éter, etc.). 9. - Verifique outras informações: antecedentes de outras doenças importantes (diabetes, hipertensão, AIDS, tuberculose, etc.); se já foi internado antes por distúrbios psiquiátricos; se já praticou atos criminosos e/ou suicidas.] 10. - Seja paciente, chame-o pelo nome, não faça movimentos bruscos que possam assustar o paciente, não use termos chulos nem tom de voz alta. 11. - Fale pausadamente, firme mantendo ligação com a realidade, não retruque em caso de agressão verbal. 12. - Nunca revide em caso de agressão física, nem agrida-o, contenha-o, se necessário.

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13. - Lembre que o paciente psiquiátrico é imprevisível, não deixe ele convencê-lo de nada, nem ceda a pedidos deste. Neste caso tente desviar a atenção do paciente. 14. - Contenha-o em caso de agressividade com risco do paciente ferir-se ou vir a ferir outros (inclusive o próprio socorrista). Para isso use lençóis e bandagens, não usar materiais que possam feri-lo. 15. - Transporte-o deitado, com acompanhante se possível e em decúbito lateral de segurança em caso de náusea ou vômito. 16. - Realize observação rigorosa durante todo o percurso. 17. - Na abordagem verifique a presença de materiais cortantes, ou outras armas com o paciente. 18. - Encaminhe-o ao pronto-socorro de um hospital geral.

Ressalta-se que se referem a procedimentos para bombeiros e policiais

militares que vão desde o dimensionamento da cena ao encaminhamento ao pronto

socorro ou hospital geral.

Sabe-se que o procedimento em ocorrências de emergência psiquiátrica visa

atender de forma eficaz e segura de atendimento à vitima e em contrapartida a

segurança dos Bombeiros que compõem a guarnição.

O procedimento padrão do Bombeiro, de acordo com o Manual de Atendimento

de Emergência Psiquiátrica prediz que o atendimento inicia-se no momento em que é

recebido o aviso do Centro Operacional de Bombeiros (CIOPS), onde se obtém o

máximo de informações a respeito do paciente que será atendido, para dessa forma,

agir de maneira correta para chegar ao local.

Chegando ao local é importante confirmar com os familiares do paciente,

informações mais detalhadas para que se inicie uma negociação que começa no

diálogo, passa pela contenção até o transporte até o hospital psiquiátrico e de

preferência que haja um acompanhamento por parte do responsável pelo paciente.

No caso do bombeiro negociador, este precisa identificar-se e dizer o motivo

pelo qual se encontra ali. Sua linguagem precisa ser clara e objetiva. Porém, a

distância em relação ao paciente deve ser resguardada, ou seja. Deverá ser maior

que a habitual, para sua segurança, visto que o paciente violento é suscetível à

proximidade física.

O CIOPS (2015, p.19) determina que em atendimentos de emergência

psiquiátrica se faça algumas argumentações, tais como:

Argumentações necessárias: a) A vítima tem histórico de doença psiquiátrica? b) Está agressiva? Agrediu alguém? c) Toma medicação controlada?

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d) A vítima porta alguma arma (faca, canivete, arma de fogo)? e) A vítima é usuário de drogas? Qual? e) Tem consulta marcada em hospital psiquiátrico?

Logicamente que muitas vezes existem dificuldades no atendimento decorrente

de comportamento violento e agressivo, visto como uma ameaça à integridade física

do bombeiro e guarnição.

Ressalta-se que até a chegada do local onde será conduzido o paciente, o

condutor da viatura deve fazê-lo com sinais sonoros e visuais desligados.

Outro fator a ser considerado no atendimento é que os socorristas do Bombeiro

deverão estar de capacete de salvamento; luvas de proteção, óculos de proteção e

fita para a contenção, assim como o negociador que deve estar de capacete de

salvamento e luvas de proteção.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta pesquisa possibilitou o conhecimento sobre os aspectos relacionados ao

atendimento de emergência para pacientes com transtornos mentais, bem como a

assistência prestada no momento da ocorrência em que envolve o Bombeiro Militar.

O referencial teórico apresentado demonstrou que na emergência psiquiátrica

é freqüente distúrbios psicóticos, depressão agitada, bem como distúrbios de

personalidade caracterizada por fúria e ausência de controle.

É uma situação que merece prioridade, pois está relacionada à segurança

física e emocional do paciente. Quanto a isso, a Lei 10.216/2001 dá proteção e

direitos ao portador de transtornos mentais, impedindo que, em situação de

emergência de atendimento não ocorra ação coercitiva. Dessa forma, há proteção da

integridade, cumprindo o que determina a lei.

Assim, o Bombeiro Militar nas suas atividades laborais, se depara com

situações que tenha que agir com cautela, pois vivencia uma contradição entre ser

protegido e proteger ao tentar buscar a repressão que o requisita em sua função na

resolução de conflito dentro do que determina a lei (RODRIGUES, 2012).

Ainda de acordo com Rodrigues (2012) existem momentos críticos em que

podem ocorrer reações emocionais muito fortes nas equipes de emergência, que são

capazes de interferir no exercício de sua função, seja no momento da ocorrência, seja

mais tarde.

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Desse modo, a pesquisa apontou a necessidade de um vasto conhecimento a

respeito dos procedimentos relacionados ao atendimento de um paciente psiquiátrico,

com transtorno mental, para que sejam adotadas medidas preventivas de proteção à

integridade física do paciente, bem como do Bombeiro atendente da emergência.

É preciso entender o que acontece com o militar que, simultaneamente, tem de

garantir a segurança e se sentir seguro protegendo a si e aos demais envolvidos no

atendimento.

Considerou-se, portanto, que é necessário que o Bombeiro atuante em uma

emergência receba treinamento específico que determina seus domínios, limites e

possibilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Importante concluir o trabalho realizado com a certeza de que os

conhecimentos adquiridos demonstraram a importância do atendimento e contenção

de pacientes com transtornos mentais Bombeiro Militar, tendo em vista que este

profissional deve ser capaz de prover sua própria segurança, principalmente quando

se depara com uma condição que lhe impõe risco.

Considerou-se a condição de contenção física como a restrição dos

movimentos, seja indireta ou com a utilização de materiais, que irá permitir ao

Bombeiro a restrição dos movimentos. Dessa forma, espera-se que esse profissional

previna ou interrompa os danos físicos.

Dentre os procedimentos a serem realizados está o de jamais assumir

qualquer atitude hostil para com a vítima, caso um dos Bombeiros do atendimento se

afastar por algum momento, outro Bombeiro precisa permanecer junto a ela. Como

regra geral, não a deixe sozinha nem por um instante; a observação deverá ser

constante. Para atender a demanda de atendimentos a esse tipo de paciente se faz

necessário bons conhecimentos e especial cuidado, principalmente nos

procedimentos a serem adotados que obedecem a procedimentos legais.

Destacou-se que a base que cada profissional Bombeiro enfrenta com a

situação peculiar à sua realidade no local de atendimento é referenciada não como

um simples apoio, mas como um recurso que em caso de não estar disponível

compromete o atendimento que dispõe sobre o funcionamento dos serviços de

urgência e emergência, os sinais de gravidade das patologias psiquiátricas devem ser

observados na cena da ocorrência e descritos ao médico regulador e se houver risco

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à equipe, ou até mesmo ao paciente, outros atores poderão ser acionados ao

atendimento.

Compreendeu-se que a doença mental se refere a um sintoma fora do

normal, variação capaz de produzir prejuízo a pessoa e daqueles com quem convive

e ao ser chamado o Bombeiro para dar atendimento de emergência para a contenção

de ocorrer como forma de construção de novos sentidos sociais da atuação desse

profissional e principalmente sem a violência.

O estudo, portanto, demonstrou as ações desenvolvidas de urgência e

emergência junto à pacientes em crise psiquiátrica e acima de tudo, avaliou os

procedimentos do Bombeiro diante dessas potencialidades e desafios. Trouxe ainda

materiais que subsidiam o conhecimento de que no atendimento à pessoa com

problemas psiquiátricos é preciso saber uma série de fatores que envolvem a doença

e ainda levar em consideração que a condução coercitiva, também tem respaldo legal

ao paciente com transtorno mental.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fio Cruz; 2008.

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