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    Resumo

    GORGATTI, M. G., PENTEADO, S. H.N.W., PINGE, M. D.,DE ROSE JR., D. Atitudes dos professores de educaofsica do ensino regular com relao a alunos portadores dedeficincia.R. bras. Ci e Mov.2004; 12(2): 63-68.

    O objetivo deste estudo foi avaliar as atitudes deprofessores de educao fsica da rede regular de ensino, arespeito da incluso de alunos portadores de deficinciasnas aulas. Para tanto, 10 professores de educao fsica,cinco da rede pblica e cinco da particular, responderam aum questionrio adaptado dos modelos originais da

    literatura especializada. Este questionrio abordou trsaspectos: como o professor avaliava seus conhecimentospara lidar com crianas especiais, como o professor percebiaa aceitao dessas crianas pelos colegas ditos normaise como o professor avaliava as condies de sua escolapara aderir proposta do ensino inclusivo. Os resultadosindicaram que 50% dos professores acreditavam que seusconhecimentos para lidar com crianas especiais eraminsuficientes e que tambm no gostavam ou no gostariamde trabalhar com proposta de ensino inclusiva. Por outrolado, 90% dos professores acreditavam nos benefcios daproposta inclusiva para todas as crianas, entretantotambm 90% julgaram que suas escolas no estopreparadas para receber crianas especiais. O nmero

    pequeno da amostra no permitiu que se observassemtendncias de respostas diferenciadas entre os professoresda rede pblica e os da rede particular de ensino.

    PALAVRAS-CHAVE: educao inclusiva, deficincia,crianas especiais.

    Atitudes dos professores de educao fsica do ensino

    regular com relao a alunos portadores de deficincia

    Attitudes of physical education teachers from regular

    schools toward handicapped children

    Gorgatti, Mrcia Greguol 1,2;Penteado, Sandra H.N.W. 1;

    Pinge, Marcelo D.1;De Rose Jr, Dante 2

    1 Curso de Educao Fsica da Universidade Paulista UNIP2 Escola de Educao Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo

    Abstract

    GORGATTI, M. G., PENTEADO, S. H.N.W., PINGE, M. D.,DE ROSE JR., D. Attitudes of physical education teachersfrom regular schools toward handicapped children. R. bras.Ci e Mov.2004; 12(2): 63-68.

    The purpose of this study was to assess the attitudes ofphysical education teachers working in general schools,toward the inclusion of handicapped children in the classes.For that, 10 physical education teachers, five from publicschools and five from private ones, answered a questionnaire,adapted from the original models of the literature. This

    questionnaire covered three aspects: how teacher evaluatedhis knowledge to work with special children, how teacherperceived the childrens attitudes toward his handicappedpeers and how teacher evaluated the school conditionsto apply the inclusive teaching purpose. The resultsindicated that 50% of the teachers believed treirknowledge were insufficient to work with special childrenand that they didnt like to work with the inclusivepurpose either. By the other hand, 90% of the teachersbelieved in the benefits of the inclusive education for allthe children, nevertheless also 90% judged that theirschools were not prepared to recieve special children.Results indicated no tendencies in responses betweenthe teachers from public and private schools.

    KEYWORDS: inclusive education; handicap, specialchildren.

    Recebido: 04/09/2003

    Aceite: 03/02/2004

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    Introduo

    Muito se tem discutido nos ltimos anos a respeito daproposta inclusiva que o Governo Federal vem tentandoimplementar nos estabelecimentos do sistema regular de

    ensino (3). Os professores, que at ento encaravamcrianas portadoras de deficincias como uma realidademuito distante, agora so obrigados a fazer cursos e seatualizar para receb-las. Algumas questes nesse processoforosamente devem ser discutidas:

    - ser que a escola est preparada para receber estascrianas, tanto no sentido de adaptaes paraacessibilidade quanto no apoio necessrio aosprofessores?

    - ser que os cursos oferecidos aos professores podemde fato capacit-los a lidar com tais alunos especiais?

    - como os professores e os demais alunos se comportamdiante de ingressantes portadores de algum tipo dedeficincia?

    - como a prpria criana nessas condies encara aproposta de ensino integrado? Quais as vantagens edesvantagens dessa proposta?

    - ser que um aluno especial pode influir negativamenteno andamento do programa para a classe inteira?

    - em qual ambiente (integrado ou segregado) ocorrera melhor evoluo motora da criana portadora dedeficincia?

    Esse contexto de profundas modificaes na viso doensino regular e do ensino especial, alm dasdiscusses por elas geradas, vem motivando muitosprojetos de pesquisa na rea, especialmente no mbito da

    educao fsica escolar, visto que, na maioria das vezes,mesmo o aluno tendo acesso escola, ele dispensado dasaulas de educao fsica.

    Talvez por confundir deficincia com doena, talvez porcomodismo ou total falta de informao, o fato que muitosprofessores privam seus alunos especiais da oportunidadecrucial de vivenciarem experincias motoras e recreativas,o que fatalmente trar conseqncias por vezes irreparveis.De fato no suficiente apenas a criao de instrumentoslegais que assegurem o ingresso de todos escola. Maisdo que isso, preciso que se modifiquem atitudes,comportamentos, vises estigmatizadas.

    At pouco tempo atrs, acreditava-se que crianas ejovens portadores de deficincias teri am melhoresresultados caso estivessem sendo atendidos por um sistemaespecial de ensino, inclusive no que se refere educaofsica. Considerava-se que, em funo das limitaes, osestudantes com necessidades especiais no poderiam seengajar irrestritamente, de forma segura e com sucesso, ematividades vigorosas de um programa de educao fsicaconvencional. Exigia-se que houvesse mudanas ou ajustesde metas, objetivos e instrues. Tal preceito, nos dias dehoje, no premissa para a implementao e implantaode programas, dada a tendncia de convivncia e inclusosocial manifestada pela sociedade, com base no modelo dedireitos humanos e direitos sociais.

    A formao profissional na rea de educao fsica

    evoluiu muito nos ltimos anos. A incluso pode ser vista

    como um motivo que levar ao aprimoramento dacapacitao profissional de professores, constituindo uma

    ferramenta para que a escola se modernize em prol de

    uma sociedade sem espao para preconceitos,

    discriminaes ou barreiras sociais (9, p.62). Entretanto,no se pode esquecer a questo da qualidade. Para que aproposta inclusiva seja levada adiante com xito, precisoa coeso e a disposio de todos os segmentos, inclusivedos prprios alunos. Incluir sim, mas com qualidade. Essadeve ser a premissa maior do processo.

    A rea da educao, e aqui se inclui a educao fsica,no pode ser to limitada a ponto de afastar uma criana daconvivncia de outra por questes irrelevantes. Aconvivncia com pessoas diferentes deveria ser uma grandeferramenta em educao, preparando pessoas maisconscientes para a vida e para suas possibilidades. O ensinoespecial deve ser uma sada quando o progresso do alunoestiver seriamente comprometido em uma classe regular eno uma questo de convenincia para professores e

    diretores de escola.A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao (4), pelaprimeira vez na histria do pas, reservou um captuloexclusivamente para o tratamento da educao especial. Deforma sinttica, esse captulo determina a necessidade deque os alunos da educao especial sejam atendidos nasclasses regulares e que, apenas quando esse procedimentono for possvel, sejam criadas classes para atendimentoespecfico. A legislao atual tambm define que todos osprofessores de classes regulares ou especiais devem receberespecializao adequada para lidar com todos os alunos,visando sempre que possvel a integrao em salas comuns.O grande avano da nova legislao em relao anteriorfoi a insero de temas antes s tratados em decretos,portarias ou normas (12). A dedicao de um captuloespecfico para a educao especial resultado docrescimento de pesquisas na rea e reflete uma evoluosobre a discusso do tema, visto que na lei anterior (5692/71) este era tratado em apenas um artigo.

    Muitos professores da rede regular de ensino estosendo convocados a freqentar cursos que abordam aquesto da deficincia e da integrao. Escolas pblicas eparticulares vm manifestando a inteno real deimplementar programas inclusivos. Entretanto, em algumascircunstncias preciso que se verifique a viabilidade totaldessas mudanas, visando o maior benefcio possvel paraos alunos especiais. A importncia de pesquisas nesta rea

    torna-se cada vez maior em virtude dos acontecimentos. fundamental que estudos sejam dirigidos a fim de queprofissionais da rea de educao possam ter formas deavaliar o quanto o processo de integrao est sendopositivo para todos os alunos (portadores ou no decondies especiais).

    Segundo dados de 2000 do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatstica (IBGE), pouco mais de 10% dapopulao brasileira possui alguma deficincia motora,mental, sensorial ou mltipla (5). Com relao idade, olevantamento mostra que 14% deste total est na faixa dos0 aos 10 anos e que 24% est na faixa dos 11 aos 20 anos.Embora no existam dados oficiais, sabe-se que grande partedessas crianas e adolescentes nunca teve acesso ou

    oportunidade de freqentar uma escola, quer regular, quer

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    especial. Das crianas que conseguem ter acesso escola,muitas so dispensadas pelos professores das aulas deeducao fsica, com o falso pretexto de garantir a suaintegridade fsica. Das que conseguem participar das aulasde educao fsica, muitas so relegadas e incumbidas paraa realizao de atividades paralelas, enquanto todos osalunos participam de alguma atividade diferente.

    Felizmente, excees acontecem. Algumas escolas, atpela exigncia legal, tm de fato buscado implementar oprograma de educao fsica integrada em seu currculo.Tais iniciativas ainda so recentes e esto causando muitadiscusso nos estabelecimentos de ensino. O foco principaldessa discusso , ou pelo menos deveria ser, os alunosportadores de deficincias. Mensurar e avaliar a evoluode crianas em sistemas integrados e segregados de ensinoparece ser uma sada vivel e necessria para compreenderas vantagens e desvantagens de cada processo. Trata-sede um assunto novo, polmico e, acima de tudo, iminente.Acredita-se que a criao de instrumentos vlidos de

    medio e avaliao dessa realidade possa colaborar noprocesso de disseminao da informao entre pais,professores e alunos envolvidos.

    Tendo em vista a crescente importncia do tema exposto,o objetivo deste trabalho foi analisar a viabilidade daproposta de ensino integrada nas aulas de educao fsicaescolar, observando as atitudes dos professores deeducao fsica ao receber alunos portadores de deficinciasmotoras.

    Metodologia

    Amostra

    Foram entrevistados 10 professores de educao fsicado ensino regular da cidade de So Paulo, sendo 5 deles darede estadual e 5 da rede particular, trabalhando com crianasde 5 a 8 sries. Todos os professores avaliados eramlicenciados em educao fsica e estavam devidamenteregistrados no Conselho Regional de Educao Fsica. Dos10 professores, 8 possuam alunos portadores de deficinciaem suas aulas de educao fsica regulares.

    Procedimentos

    Para avaliar as atitudes dos professores de educao fsicacom relao presena de alunos portadores de deficinciaem suas aulas regulares, foi aplicado um questionrio (Anexo1), adaptado dos modelos originais da literatura especializada.O questionrio apresentou quatro nveis de resposta:concordo totalmente, concordo quase totalmente, discordoquase totalmente e discordo totalmente, das quais oprofessor deveria assinalar apenas uma.

    As questes de 1 a 5 deste questionrio visam verificarcomo o professor avalia seus conhecimentos para lidar compopulaes especiais e seu desejo de ingressar por essarea. As questes de 6 a 9 se referem percepo doprofessor sobre como os demais alunos recebiam os colegasportadores de deficincia nas aulas de educao fsicaregulares. As questes de 10 a 12 tratam da forma como oprofessor avaliava as condies de sua escola para receberessa populao especial de alunos em programas regulares

    de ensino. Foi solicitado que os professores no se

    identificassem no teste, nem o nome da escola, a fim de queas respostas pudessem ser as mais reais possveis. Asrespostas dos testes foram avaliadas levando-se em contaa freqncia relativa (%) de sua ocorrncia.

    Resultados e discussoNo caso de professores de educao fsica que no

    possuam alunos especiais em suas aulas, as respostasdeveriam ser marcadas de acordo com suas expectativasem relao incluso em sua escola. Estas respostas estosintetizadas na TABELA 1.

    Tabela 1 Freqncia de respostas dos professores deeducao fsica.

    Como se observa nos dados da tabela 1, 50% dosprofessores entrevistados sentem-se despreparados paralidar com alunos especiais em suas aulas, mesmo com oscursos preparatrios oferecidos pelo governo. Essasrespostas independeram do fato da escola de origem doprofessor ser pblica ou particular. Talvez essa sensaode despreparo seja responsvel pelo fato que os mesmosprofessores afirmaram que no gostam ou no gostariam

    de receber alunos portadores de deficincias em suas aulasde educao fsica. Dos cinco professores que responderamnegativamente essas questes, quatro assilaram discordototalmente e apenas uma discordo quase totalmente.

    Os dados anteriormente citados so similares aos obtidosem outro estudo (8), no qual foram entrevistados seisprofessores da rede regular de ensino que possuam em suassalas alunos com algum tipo de deficincia. Os resultadosindicaram que os estilos de ensino e as formas de promovera integrao dos alunos variavam bastante, porm todosprofissionais afirmaram que sentiam algum grau de frustraoe culpa por no poder ou conseguir realizar um trabalho melhorcom as crianas especiais. Tais sentimentos negativos eramatribudos ao pouco apoio recebido pela direo da escola e

    falta de conhecimentos especficos sobre as deficincias.

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    Os professores afirmaram que possuam uma preparaoprofissional precria a este respeito e no eram estimulados afazerem cursos de especializao.

    Em outro estudo semelhante (6), os autores, analisandoprofessores que trabalhavam em salas regulares ou salasespeciais de ensino, verificaram que existiam diferenasmarcantes no enfoque da proposta educacional e na prpriafilosofia de ensino. De acordo com o estudo, os professoresdeveriam receber uma preparao profissional queuniformizasse os conhecimentos e as propostaspedaggicas e curriculares para ambas situaes, visandoprincipalmente que todos os alunos tivessem acesso aprogramas e oportunidades semelhantes. Essas diferenasentre as competncias dos professores poderiam explicar adificuldade dos profissionais de classes regulares emreceber alunos portadores de condies especiais.

    Mesmo com esse sentimento negativo por parte demuitos professores, entretanto, pde ser constatado que90% deles concordam totalmente em fazer cursos para se

    aperfeioar na rea da atividade fsica voltada para pessoasportadoras de deficincias. Apenas um professor da redepblica disse discordar quase totalmente de fazer cursosde aprimoramento nesta rea. preciso que os cursospreparatrios, no entanto, sejam oferecidos ou estimuladospela prpria escola, para que o professor se sinta maismotivado a freqent-los. Em um levantamento sobre apreparao profissional de professores de educao fsicados Estados Unidos nos anos de 1980 e 1988, observou-seum certo despreparo no que se refere a alunos comnecessidades especiais (10). Nas duas ocasies, 51% dosprofessores pesquisados salientaram que no recebiamqualquer apoio ou encorajamento por parte da direo daescola para que pudessem trabalhar com alunos especiais.A expectativa que professores ao se sentirem maispreparados para lidar com crianas especiais, tendam areceb-las com uma atitude mais positiva.

    Na segunda parte do presente estudo, quandoquestionados sobre os possveis benefcios para as crianasda prtica inclusiva nas aulas de educao fsica, oito dosdez professores afirmaram concordar totalmente (seis) ouquase totalmente (dois) que essa situao era benfica paratodas as crianas, portadoras ou no de deficincias. Umfato interessante que os dois professores que discordaramtotalmente de tais benefcios eram os nicos que nopossuam alunos especiais inclusos em suas turmasregulares de educao fsica.

    Outros autores tm se dedicado pesquisa sobre ospossveis benefcios ou prejuzos da incluso de alunosespeciais em aulas de educao fsica regulares. Buscandoavaliar o impacto da incluso de trs alunos com sriaslimitaes motoras em aulas regulares de educao fsicana sexta srie do ensino fundamental, foi realizado um estudolongitudinal durante um bimestre em duas salas de sextasrie: uma sem alunos portadores de deficincias (C1) e aoutra com as trs crianas portadoras de graves limitaesmotoras (C2). Como o contedo do bimestre era odesenvolvimento de habilidades bsicas de basquetebol,os pesquisadores realizaram testes pr e ps a unidade deensino, englobando habilidades como passes, arremessose dribles. Aps a anlise dos dados, os autores puderam

    concluir que, embora C2 apresentasse valores pr-teste

    superiores a C1, no houve diferenas significativas nosganhos de resultados entre as duas classes comparando-se o pr e o ps-teste. Dessa forma, com professores bempreparados, a presena de alunos portadores de deficinciasno mostrou qualquer influncia negativa sobre odesempenho dos alunos ou sobre o cumprimento das metasde ensino estabelecidas (2).

    Com relao aceitao dos alunos especiais por seuscolegas no portadores de deficincias, 90% dos professoresconcordam que esse processo ocorre naturalmente, semhumilhaes para nenhuma criana. Apenas um professor darede pblica, que possui um aluno com deficincia mentalincluso em suas aula, afirmou que percebia uma m aceitaoe que esse aluno era humilhado pelos seus colegas ditosnormais. Os dois professores que no possuam alunosportadores de deficincias em suas aulas tambm mostraramuma expectativa positiva no que diz respeito aceitao decrianas especiais pelos demais alunos.

    Os resultados obtidos neste estudo so coerentes com

    os de algumas pesquisas na rea de educao fsicainclusiva que tm se preocupado com a aceitao de alunosespeciais por seus colegas no portadores de deficinciana rede regular de ensino. A fim de observar talcomportamento, foram avaliadas 455 crianas de 9 a 12 anosem turmas de educao fsica regular, sendo 226 em classesintegradas e 229 em classes segregadas, ou seja, sem apresena de alunos portadores de deficincias. Foi aplicadaa Escala de Atitudes dos Colegas em Relao aos Portadoresde Deficincia (PATHS3 ) ao final do perodo letivo. Osachados do estudo permitiram aos autores concluir que ascrianas que faziam aulas de Educao Fsica no sistemaintegrado demonstravam atitudes muito mais positivas emrelao aos colegas portadores de deficincia do que aquelasno sistema segregado. Dessa forma, o estudo apoiou aTeoria do Contato, afirmando que o contato direto comcrianas especiais torna o relacionamento entre as crianasmais positivo e com uma maior aceitao (13).

    Ainda buscando avaliar o comportamento das crianasno portadoras de deficincias a respeito da integrao decrianas especiais nas aulas de Educao Fsica, foi validadoo questionrio Atitudes das Crianas em Relao Educao Fsica Integrada Revisado (CAIPE R4 ) (1). Oquestionrio foi respondido por 208 crianas de 10 a 12anos da quinta srie do ensino fundamental. De acordocom os resultados, todas as crianas que responderam aoquestionrio demonstraram atitudes favorveis Educao

    Fsica Integrada e tais atitudes no tiveram quaisquerrelaes com o sexo dos alunos. O estudo prope anecessidade de pesquisas abrangendo alunos da redepblica e particular de ensino em outras regies, a fim deque os resultados possam ser comparados.

    Por fim, quando questionados sobre o preparo da escolapara receber alunos portadores de deficincia em aulas deeducao fsica regulares, 90% dos professores discordaramtotalmente da capacidade da escola em cumprir esta tarefa.As questes sobre este tema abordaram fatores comoadaptaes estruturais das instalaes, materiais adequadose profissionais de apoio. O nico professor que concordou

    1 PATHS Peer Attitudes Toward the Handicapped Scale.2 CAIPE R Childrens Attitudes Toward Integrated Physical

    Education Revised.

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    quase totalmente que sua instituio estava capacitada areceber alunos especiais era proveniente de uma escolapblica. Mais uma vez se verifica que apenas a criao deinstrumentos legais e boa vontade dos professores nopodem garantir o sucesso da proposta inclusiva nosestabelecimentos regulares de ensino. preciso que a escolatenha sua estrutura como um todo preparada para esseprocesso. Instalaes com rampas, banheiros adaptados,portas na largura correta e materiais especficos podem serfundamentais para a possibilidade de ingresso efetivo dealunos portadores de deficincia nas aulas de educao fsica.

    Concluses

    Apesar da amostra reduzida, no se observaramtendncias de diferenciaes entre as respostas dosprofessores vinculados s escolas estaduais e sparticulares. A anlise geral das respostas indica que osprofessores em muitos casos, apesar da obrigatoriedade deincluir alunos especiais em aulas regulares, no se sentempreparados e nem gostam de lidar com crianas portadorasde deficincias. Parece haver uma tendncia de que osprofessores que tm experincia nessa prtica integradapercebam os benefcios advindos para as crianasportadoras de deficincia e para as ditas normais.Entretanto, de forma muito marcante tambm se nota que asescolas ainda esto muito aqum das condies ideais parareceber essa populao especial de jovens e que isso muitovezes impede que os professores possam trabalhar demaneira mais eficiente.

    Sugere-se que esse estudo seja ampliado para umapopulao maior de professores de educao fsica, a fim

    de que os resultados obtidos possam ser correlacionadoscom a faixa etria, o sexo, o tipo de escola (pblica ouparticular) e o tempo de experincia destes.

    Referncias Bibliogrficas

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    Anexo 1

    Questionrio sobre as atitudes dos professores de educao fsicadiante de alunos portadores de deficincia integrados s aulasregulares (adaptado de KOZUB e PORRETTA,1998 e SIDERIDISe CHANDLER, 1997).OBS.: As respostas devero ser assinaladas de 1 a 4, representado,respectivamente, 4 nveis: concordo totalmente, concordo quasetotalmente, discordo quase totalmente e discordo totalmente.

    1) Eu sinto que eu tenho o conhecimento suficiente para atingir

    as necessidades educacionais de crianas portadoras dedeficincias.2) Eu sinto que eu sou capaz de remediar os dficits de

    aprendizagem e/ou de execuo da criana portadora dedeficincia.

    3) Eu sinto que eu sou capaz de administrar o comportamentodas crianas portadoras de deficincias.

    4) Eu gosto de ter crianas portadoras de deficincia em minhaaula.

    5) Eu pretendo participar de cursos e palestras para aumentarmeus conhecimentos sobre os mtodos de ensino para crianasportadoras de deficincias.

    6) Eu sinto que as crianas portadoras de deficincia vo sebeneficiar da interao oferecida por um programa em umaclasse regular.

    7) Eu sinto que as crianas normais iro se beneficiar com aintegrao de crianas portadoras de deficincias nas aulasregulares.

    8) Eu sinto que as crianas portadoras de deficincias so aceitassocialmente por seus colegas normais.

    9) Eu sinto que as crianas portadoras de deficincia sohumilhadas por seus colegas normais na aula regular.

    10) Eu sinto que existem materiais instrucionais suficientes paraque eu ensine crianas portadoras de deficincia.

    11) Eu sinto que so oferecidos pela escola todos os servios desuporte suficientes para que eu ensine crianas portadorasde deficincia (mdico, psiclogo, fonoaudilogo, auxiliares)

    12) Eu sinto que eu tenho recursos suficientes da escola paraadquirir os materiais necessrios para planejar as aulas etrabalhar com crianas portadoras de deficincias.

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