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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS COMUNIDADES COSTEIRAS COM RELAÇÃO À PRESERVAÇÃO DO PEIXE-BOI-MARINHO NO ESTADO DO CEARÁ: O CASO DE ICAPUÍ [email protected] Apresentação Oral-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável ROGÉRIO CÉSAR PEREIRA DE ARAÚJO; HELOÍSA CUNHA DE SOUZA; RAFAEL REIS ALENCAR OLIVEIRA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL. ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS COMUNIDADES COSTEIRAS COM RELAÇÃO À PRESERVAÇÃO DO PEIXE-BOI- MARINHO NO ESTADO DO CEARÁ: O CASO DE ICAPUÍ Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Resumo O peixe-boi-marinho, Trichechus manatus manatus (LINNAEUS, 1758), único mamífero marinho herbívoro existente, atualmente encontra-se na lista de animais ameaçados de extinção do IBAMA (2001) e da IUCN (2000). A ocorrência dessa espécie no litoral do município de Icapuí, Estado do Ceará, frente à sua forte interação com as comunidades costeiras locais, configura-se motivo de imensa preocupação quanto à sua preservação. Para entender melhor as atitudes e comportamento da comunidade de Icapuí com relação a esta espécie, aplicou-se um questionário com 57 questões fechadas do tipo escala de Likert junto às lideranças e representantes do poder municipal de Icapuí. Investigaram-se questões sobre a existência e efetividade das leis de preservação da biodiversidade marinha, a efetividade da gestão dos recursos naturais costeiros pelo poder público, os modelos de gestão costeira e os valores da comunidade com relação aos recursos naturais. Pode-se concluir que a comunidade de Icapuí demonstrou atitudes e comportamentos de apoio à preservação do peixe-boi-marinho, contudo constatou-se que a comunidade encontra-se insatisfeita com o desempenho dos órgãos ambientais e do poder público local, e que a comunidade desconhece completamente as leis relacionadas com a proteção da biodiversidade marinha. Palavras-chaves: Peixe-boi-marinho, biodiversidade, escala de Likert, preservação, Icapuí. Abstract The Antillean manatee, Trichechus manatus manatus (LINNAEUS, 1758), the unique sea mammal herbivorous existent, at present it is included in the threatened animals list of IBAMA (2001) and IUCN (2000). The occurrence of this species on the coast of municipality of Icapuí, state of Ceará, given its strong interaction with the coastal local communities, is reason for concern regarding its preservation. In order to understand better the attitudes and behaviors of the community of Icapuí regarding the preservation of this species, it was applied to leaders and key respondents of the public sphere a questionnaire of 57 closed-ended questions of the Likert scale type. It was investigated issues concerning

ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS COMUNIDADES … · O peixe-boi-marinho, Trichechus manatus manatus (LINNAEUS, 1758), único mamífero marinho herbívoro existente, atualmente encontra-se

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    ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS COMUNIDADES COSTEIRAS COM RELAO PRESERVAO DO PEIXE-BOI-MARINHO NO ESTAD O DO

    CEAR: O CASO DE ICAPU [email protected]

    Apresentao Oral-Agropecuria, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentvel

    ROGRIO CSAR PEREIRA DE ARAJO; HELOSA CUNHA DE SOUZA; RAFAEL REIS ALENCAR OLIVEIRA.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR, FORTALEZA - CE - BRASIL.

    ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS COMUNIDADES COSTEIRAS COM RELAO PRESERVAO DO PEIXE-BOI-

    MARINHO NO ESTADO DO CEAR: O CASO DE ICAPU

    Grupo de Pesquisa: Agropecuria, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel

    Resumo O peixe-boi-marinho, Trichechus manatus manatus (LINNAEUS, 1758), nico mamfero marinho herbvoro existente, atualmente encontra-se na lista de animais ameaados de extino do IBAMA (2001) e da IUCN (2000). A ocorrncia dessa espcie no litoral do municpio de Icapu, Estado do Cear, frente sua forte interao com as comunidades costeiras locais, configura-se motivo de imensa preocupao quanto sua preservao. Para entender melhor as atitudes e comportamento da comunidade de Icapu com relao a esta espcie, aplicou-se um questionrio com 57 questes fechadas do tipo escala de Likert junto s lideranas e representantes do poder municipal de Icapu. Investigaram-se questes sobre a existncia e efetividade das leis de preservao da biodiversidade marinha, a efetividade da gesto dos recursos naturais costeiros pelo poder pblico, os modelos de gesto costeira e os valores da comunidade com relao aos recursos naturais. Pode-se concluir que a comunidade de Icapu demonstrou atitudes e comportamentos de apoio preservao do peixe-boi-marinho, contudo constatou-se que a comunidade encontra-se insatisfeita com o desempenho dos rgos ambientais e do poder pblico local, e que a comunidade desconhece completamente as leis relacionadas com a proteo da biodiversidade marinha. Palavras-chaves: Peixe-boi-marinho, biodiversidade, escala de Likert, preservao, Icapu. Abstract The Antillean manatee, Trichechus manatus manatus (LINNAEUS, 1758), the unique sea mammal herbivorous existent, at present it is included in the threatened animals list of IBAMA (2001) and IUCN (2000). The occurrence of this species on the coast of municipality of Icapu, state of Cear, given its strong interaction with the coastal local communities, is reason for concern regarding its preservation. In order to understand better the attitudes and behaviors of the community of Icapu regarding the preservation of this species, it was applied to leaders and key respondents of the public sphere a questionnaire of 57 closed-ended questions of the Likert scale type. It was investigated issues concerning

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    the existence and effectiveness of the marine biodiversity preservation Acts, the effectiveness of the coastal natural resources by the government, the models of coastal management and the community values regarding the natural resources. We could conclude that the community of Icapu showed attitudes and behaviors supporting the preservation of the Antillean manatee, however we could verify that the community is unsatisfied with the performance of the environmental agencies and state and municipal government, and that the community is completely unknown of the Acts related to the marine biodiversity protection. Key Words: Antillean manatee, biodiversity, Likert scale, preservation, Icapu-CE. 1 INTRODUO

    O Brasil possui a maior biodiversidade1 do mundo tanto em ambiente terrestre quanto marinho, acolhendo 14% da biota mundial (COUTO et al., 2003; COSTA et al., 2005). At o presente, o nmero total de espcies registradas para as guas marinhas do Brasil totaliza cerca de 8.100, sem considerar a fauna de guas profundas que completamente desconhecida (COUTO et al., 2003). Segundo a Earth Trends, em 2002, o nmero total de mamferos conhecidas no Brasil era de 394, sendo que 81 eram consideradas ameaadas de extino.

    O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA), em sua lista de espcies ameaadas de extino de 2003, inclui 66 espcies de mamferos. A Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2000), no mesmo ano, inclui 74 espcies de mamferos brasileiros (COSTA et al. 2005).2 A distribuio por habitat dos mamferos ameaados no Brasil esto assim distribudos: 29% nos ambientes marinhos, 18% na Mata Atlntica, 13% nos Pampas, 12% no Cerrado, 11% no Pantanal, 7% na Amaznia e 6% na Caatinga (COSTA et al. 2005).

    Os impactos das atividades humanas nos ecossistemas costeiros tm sido apontados como a principal causa do grande nmero de espcies marinhas ameaadas. Dentre outros fatores, destacam-se a sobre-explorao dos recursos marinhos, alterao fsica, atividades petrolferas, pesca costeira, a caa, a pesca acidental em redes de espera ou espinhel, poluio qumica, turismo e trfego aqutico (COSTA et al. 2005; COUTO et al., 2003).

    Ambas as espcies de peixe-boi que ocorrem no Brasil o peixe-boi-amaznico (Trichechus inunguis Natterer, 1883) e o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus manatus Linnaeus, 1758) esto em perigo, sendo que o peixe-boi-marinho o mamfero aqutico mais ameaado no pas (COSTA et al. 2005).

    O peixe-boi-marinho um mamfero herbvoro aqutico, encontrado em guas ocenicas e estuarinas em nove estados brasileiros (AL, AP, CE, MA, PA, PB, PE, PI e

    1 Para Edward O. Wilson, que primeiro cunho o termo biodiversidade, biodiversidade representa a diversidade de todas as formas de organismos vivos, cobrindo trs escalas biolgicas diferentes onde o homem tem interesse direto: ecossistemas, espcies e genes. Diversidade gentica a diversidade de genes dentro dos indivduos de uma espcie, diversidade de espcies representativa do nmero de espcies e diversidade ecolgica refere-se aos ecossistemas diferentes habitats numa paisagem. Cada uma dessas escalas depende dos dois outros e todos esto em perptua evoluo (GARNIER, 2008). 2 A divergncia entre a lista brasileira e a lista da IUCN deve-se ao escopo da lista, nacional versus global, divergncia de opinio entre os especialistas e desatualizao.

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    RN) (LIMA, 1999). Considerado criticamente em perigo, esta situao tem sido determinada pela morte intencional e acidental dos indivduos: o encalhe de filhotes, a captura acidental em redes de emalhe, tapagem, arrasto e currais de pesca, seguidos de morte intencional (IBAMA, 1997, 2001). Atualmente, a populao remanescente desse mamfero marinho na costa brasileira estimada em cerca de apenas 278 animais na regio nordeste e 207 na regio norte (LIMA, 1997).

    A proteo do peixe-boi-marinho depende da efetividade do arcabouo legal, institucional e poltico relacionado proteo da biodiversidade brasileira.

    Os marcos legais importantes para a proteo da diversidade biolgica so os seguintes: a Constituio Federal de 1988 que eleva a proteo ambiental competncia da Unio e dos Estados (art. 24, VI) (LIMA, 1999); a Lei de Crimes Ambientais, aprovada em 1998; os decretos que definem a lista de espcies ameaadas e as reas prioritrias para a conservao da biodiversidade (COSTA et al. 2005); os princpios e diretrizes da Poltica Nacional da Biodiversidade (Decreto no. 4.339 de 22 de agosto de 2002) que enaltecem o valor intrnseco da diversidade biolgica, independente de seu valor para o homem ou potencial para uso humano, devendo assegurar-lhe um meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade, o dever de defend-lo e preserva-lo para as geraes presentes e futuras (artigo 2, pargrafo I e V); a Lei de Proteo Fauna (n. 5.197, de 03de janeiro de 1967) que em seu artigo 3 declara que proibido o comrcio de espcies da fauna silvestre e de produtos e objetos que impliquem a sua caa, perseguio, destruio ou apanha...; a legislao do Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), instituda em 2002, que incorpora novas categorias de reas protegidas tais como reservas extrativistas marinhas (RESEX) e reservas de desenvolvimento sustentvel (RDS), onde o uso sustentvel dos recursos ajudariam a conservar a biodiversidade e melhoraria o padro de vida de sua populao.

    No mbito institucional, o Ministrio do Meio Ambiente (MMA) coordena o Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira (PROBIO), que apia diversas pesquisas e iniciativas de conservao, incluindo planos de manejo para espcies ameaadas (COSTA et al. 2005). At 2007, o IBAMA, instituio vinculada ao Ministrio do Meio Ambiente (MMA), era responsvel pelo estabelecimento e gerenciamento das reas protegidas no Brasil. Com sua reestruturao, o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio) passou a ser responsvel pelas reas protegidas do governo federal.

    A conservao dos ambientes marinhos brasileiros comeou apenas recentemente nos anos 80 com o estabelecimento de vrias unidades de conservao marinha, incluindo a Reserva Biolgica do Atol das Rocas (Rio Grande do Norte), o Parque Nacional Marinho de Abrolhos (Bahia), a Reserva de Comboios (Esprito Santo) e a Reserva Biolgica de Santa Isabel (Sergipe). Nesse perodo, tiveram incio tambm projetos visando proteger certas espcies ameaadas, incluindo as tartarugas marinhas, peixe-boi-marinho, e a baleia jubarte (COUTO et al., 2003).

    Em 1980, visando proteger o peixe-boi-marinho, foi criado o Projeto Peixe-boi-marinho que tem como objetivo desenvolver estudos, programas e projetos de pesquisa, conservao e manejo do peixe-boi-marinho. O projeto desenvolve aes educativas nas comunidades litorneas buscando conscientizar e incentivar a populao adotar voluntariamente medidas que preservem esta espcie. No Estado do Cear, estudos foram realizados pela Associao de Pesquisa e Preservao de Ecossistemas Aquticos

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    (AQUASIS) que integrava o REMANE (Rede de Encalhe de Mamferos Aquticos no Nordeste) e estava vinculada Fundao de Mamferos Aquticos (FMA) (LIMA, 1999).

    Devido s falhas das abordagens convencionais de gerenciamento dos recursos naturais e frente aos desafios encontrados no campo da conservao e manejo dos ecossistemas marinhos, diversas abordagens esto surgindo e recebendo crescente ateno no meio acadmico, em rgos governamentais e no governamentais. Uma abordagem que vem se destacando so as reas de Proteo Marinhas (APMs) que so reas marinhas que esto sob algum nvel de restrio de uso, podendo, no Brasil, serem enquadradas dentro das categorias previstas no SNUC, Sistema Nacional de Unidades de Conservao, ou at mesmo em reas Militares da Marinha, entorno de plataformas de petrleo, prticas de manejo de comunidades locais e outras situaes onde a atividade humana de alguma forma controlada. Em 2004, o 7 Encontro da Conferncia das Partes (COP7) para o Conservao da Diversidade Biolgica (CBD, do ingls Convention on Biological Diversity) declarou que as APMs, como parte de uma abordagem mais ampla de gerenciamento marinho e costeiro, so uma das ferramentas essenciais para a conservao e uso sustentvel da biodiversidade marinha e costeira. O Encontro destacou que esta ferramenta permite adotar a abordagem ecossistmica e o princpio da precauo, e que contribuem para: (a) proteger a biodiversidade; (b) uso sustentvel dos componentes da biodiversidade; e (c) gerenciar conflitos, aumentar o bem-estar econmico e melhorar a qualidade de vida (DIEGUES, 2008).

    No Cear existem duas reas de ocorrncia do peixe-boi-marinho: Setor Extremo Oeste, litoral do municpio de Barroquinha (divisa com o Piau), principalmente no esturio do Rio Timonha; e Setor Leste, litoral dos municpios de Fortim, Aracati e Icapu, j na divisa com o Rio Grande do Norte (AQUASIS, 2003). A rea de estudo desta pesquisa est localizada no Setor Extremo Leste do Cear, litoral do municpio de Icapu, que considerado uma das principais reas de ocorrncia de peixes-bois marinhos. Por esta razo, em Quitrias-Icapu, o IBAMA instalou uma base de observao do peixe-boi-marinho. Embora, duas reas de Proteo Ambiental3 tenham sido institudas neste municpio, esta ferramenta no tem mostrado suficiente para incentivar a preservao do peixe-boi-marinho no municpio.

    No intuito de reduzir a vulnerabilidade da biodiversidade marinha face ao contexto legal, institucional e poltica ambiental corrente, outras abordagens de gerenciamento dos recursos costeiros precisam ser investigadas, principalmente com relao aos seus efeitos sobre as comunidades costeiras. No caso especfico de Icapu, cogita-se a criao de uma Unidade de Conservao (Reserva Biolgica4 ou Extrativista Marinha) como estratgia para proteger sua diversidade biolgica marinha.

    Portanto, este artigo tem como objetivo analisar as atitudes e comportamentos da comunidade de Icapu com relao proteo da biodiversidade marinha, em particular do peixe-boi-marinho, levando em considerao as dimenses institucionais, polticas e modelos de gerenciamento costeiro, utilizando um questionrio com questes fechadas do tipo escala de Likert. Os resultados desta pesquisa so teis para orientar a elaborao de 3 Segundo o SNUC, as APAs tm como objetivos bsicos de proteger a biodiversidade, disciplinar o processo de ocupao e assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais. 4 Reserva Biolgica Marinha, de acordo com o SNUC, prev a proteo integral da biota e atributos naturais existentes, havendo a desapropriao de reas particulares includas em seus limites, a proibio de visitao pblica e a pesquisa cientfica, dependentes de autorizao prvia do rgo responsvel.

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    polticas para proteo da diversidade biolgica marinha e gesto dos recursos costeiros levando em considerao as atitudes das comunidades costeiras.

    Este artigo dividido em outras trs sees. A segunda seo trata dos aspectos metodolgicos: delimitao da rea de estudo; detalhamento do mtodo da escala de Likert; definio do questionrio; delineamento da anlise estatstica; e fonte dos dados. A terceira seo apresenta o resultado da anlise de confiabilidade, o perfil dos respondentes e a discusso das respostas dos respondentes escala de Likert. Finalmente, na ltima seo, so apresentadas as concluses e sugestes para futuras pesquisas. 2 METODOLOGIA 2.1 rea de Estudo

    A rea de estudo est inserida no municpio de Icapu no estado do Cear,

    abrangendo os principais ncleos populacionais distribudos ao longo dos 63 quilmetros do litoral, onde h incidncia de peixe-boi-marinho.

    O municpio de Icapu, de acordo com o Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear (IPECE), em 2000, possua 16.052 habitantes, sendo que 70,9% viviam na zona rural. A densidade demogrfica, no mesmo ano, era de 37,5 hab/km2, com uma taxa geomtrica 1,8%. A taxa de urbanizao mostra-se em declnio, passando de 37,3% em 1991 para 29,0% em 2000. A taxa de mortalidade infantil no municpio (10,68 por mil nascidos vivos) consideravelmente inferior mdia do estado (18,28 por mil nascidos vivos). O municpio possui o IDH=0,631, nvel mdio de IDH, colocando-se na 92 posio, em 2000, na classificao nacional (IPECE, 2007).

    Em 2004, o PIB de Icapu alcanou R$ 60.387.000,00 e uma PIB per capita de R$ 3.495,00, abaixo da mdia estadual (R$ 4.170,00). O PIB por setor est distribudo da seguinte forma: agropecuria, 16,5%; indstria, 30,2%; e servios, 53,4% (IPECE, 2007). Portanto, o setor de servios o que mais contribui para a economia do municpio. De acordo com Segundo et al. (2003), Icapu enfrenta a mesma dificuldade de outros municpios da zona costeira, caracterizadas pela sobre-explorao dos estoques pesqueiros, especulao imobiliria e conflitos pelo uso dos recursos naturais.

    2.2 Mtodo

    2.2.1. Escala de Likert O mtodo utilizado nesta pesquisa denominado de Escala de Likert que foi

    desenvolvido por Rensis Likert, em 1932. Este mtodo consiste em usar uma soma escalar para avaliar as atitudes dos respondentes de um questionrio. As escalas de Likert atribuem valores s percepes qualitativas de uma dada declarao (questo, afirmao), permitindo tornar empiricamente observveis os conceitos abstratos incorporados nas declaraes e que podem ser utilizadas como indicadores para monitorar mudanas no comportamento dos indivduos. Este mtodo usado amplamente para investigar como os respondentes classificam uma srie de declaraes, sendo til para capturar os sentimentos,

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    opinies e atitudes dos respondentes. Tambm aplicado em pesquisas de mercado para avaliar as percepes dos consumidores sobre uma ampla gama de questes, permitindo investigar suas vrias dimenses.

    Como mencionado anteriormente, a escala de Likert buscam capturar mudanas nas atitudes e comportamentos dos respondentes. Atitude um constructo5 hipottico que representa a preferncia ou rejeio do indivduo por um item. Em outras palavras, as atitudes so vises positivas, negativas ou neutras com relao um objeto, isto , uma pessoa, comportamento ou evento. Similarmente, Baron e Byrne (1994) definem atitudes como aglomerados relativamente duradouros de sentimentos, crenas, e tendncias comportamentais direcionadas s pessoas, idias, objetos ou grupos. As pessoas podem tambm ser ambivalentes com relao a uma meta, significando que simultaneamente possuem um vis positivo e negativo direcionado atitude em questo.

    As atitudes so compostas por vrias formas de julgamentos que podem ser representadas por um modelo baseado no afeto (sentimento), mudana de comportamento (aes) e cognio (crena) 6. A Figura 1 faz uma representao esquemtica das relaes entre os componentes da atitude.

    FIGURA 1 Atitude e seus componentes

    Fonte: Spooncer (1992) Resultante das interaes dos sentimentos, crenas e comportamento, a atitude sofre

    a ao de estmulos que levam s manifestaes das emoes, aes ostensivas e respostas cognitivas. A atitude o resultado do complexo conjunto destas relaes: a resposta afetiva uma resposta psicolgica que expressa a preferncia do indivduo por uma entidade; a inteno comportamental uma indicao verbal da inteno de um indivduo; e a resposta cognitiva uma avaliao cognitiva da entidade para formar uma atitude. Muitas das atitudes dos indivduos o resultado da aprendizagem observacional de seu ambiente (SPOONCER, 1992).

    5 Constructo aquilo que elaborado ou sintetizado com base em dados simples, como, por exemplo, os constructos cientficos (MICHAELIS, 2008). 6 Cognio um conceito usado de vrias formas por diferentes disciplinas, mas geralmente aceito como o processo de pensamento.

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    A Escala de Likert ou escala de atributos utilizada como mtodo para atribuir valores s percepes qualitativas dos respondentes com relao a um conjunto de declaraes que representam suas atitudes, comportamento e cognio que retratam questes sendo investigadas.

    Na construo da escala de atributos, podem-se considerar vrios tipos de declaraes, como por exemplo: as declaraes de atitudes que se referem aos estados psicolgicos que incluem as percepes mantidas pelas pessoas, seus pensamentos, idias e sentimentos sobre uma dada matria; as declaraes de comportamento que se ao que as pessoas fazem ou fizeram no passado; e as declaraes cognitivas que se ao que as pessoas sabem, com o que esto familiarizadas, as habilidades que possuem etc.

    A aplicao da escala de Likert pode dar origem a trs tipos de vieses, quais sejam: (i) Tendncia central: o respondente pode evitar usar as categorias de respostas extremas; (ii) Resposta de aceitao: o respondente concorda com as declaraes como apresentadas; (iii) Aceitao social: o respondente tenta mostrar a si mesmo ou a seu grupo uma imagem socialmente desejvel. A construo do questionrio deve levar em considerao a possibilidade de ocorrncia desses vieses e medidas devem ser adotadas para minimiz-los.

    2.3 Questionrio

    Os dados da pesquisa foram coletados por meio de questionrio estruturado

    composto de questes fechadas na forma de escala simtrica de Likert de cinco pontos. A escala de Likert apresenta cinco nveis discretos, assim definidos: 1=discordo fortemente, 2=discordo, 3=nem concordo nem discordo, 4=concordo e 5=concordo fortemente.

    De acordo com Stone (2003) apud Okcert (2005), na elaborao de um questionrio utilizando escala de Likert devem-se considerar algumas regras bsicas que so: (i) evitar declarao factual; (ii) fazer declaraes no presente; (iii) evitar ambigidade; (iv) evitar declaraes que todos endossam; (v) manter declaraes objetivas, claras e simples; (vi) manter declaraes curtas e de mesma extenso; (vii) expressar apenas um conceito por item; (viii) evitar sentenas compostas; (ix) assegurar um nvel apropriado de dificuldade na leitura; (x) evitar frases com dupla negao; e (xi) no usar e ou ou, ou ainda listas de exemplos.

    O questionrio possui 34 itens da escala de Likert, dispostos alternadamente na forma direta e reversa, ou seja, as declaraes foram arranjadas de tal forma que o respondente tivesse que avaliar declaraes afirmativas e negativas alternadamente, com o intuito de evitar os vieses das respostas.

    O questionrio composto de seis partes. A primeira parte (introduo) dedicada identificao do questionrio (nmero do questionrio, nome do anotador e data de aplicao do questionrio) e apresentao da natureza e objetivos da pesquisa, bem como o carter sigiloso da pesquisa. As outras quatro partes so denominadas por A, B, C, e D, descritas abaixo.

    A Parte A procura capturar as atitudes e percepes dos respondentes com relao existncia e efetividade das leis ambientais relacionadas proteo da biodiversidade. Com esta finalidade, foi apresentado aos respondentes declaraes que tratam de aspectos relacionados ao conhecimento, cumprimento, penalidades e informao das leis de preservao da biodiversidade. As declaraes desta parte so apresentadas no Quadro 1.

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    A Parte B procura capturar as atitudes e comportamentos dos respondentes com relao efetividade do poder pblico na preservao da biodiversidade, e em particular do peixe-boi-marinho. Neste sentido, foram apresentadas declaraes que tratavam da execuo de polticas de preservao ambiental, da disponibilidade de recursos para execuo das polticas, das restries na execuo das polticas, da relao das comunidades com o poder pblico e dos conflitos e integrao das aes dos rgos governamentais. As declaraes da Parte B so apresentadas no Quadro 2.

    Cdigo Declarao A1 As leis ambientais de preservao dos animais e plantas marinhas no so cumpridas pelo rgo

    ambiental competente (IBAMA). A2 As comunidades tm conhecimento das leis ambientais de preservao dos animais e plantas

    marinhas. A3 As leis ambientais de preservao do peixe-boi-marinho no so cumpridas em Icapu. A4 As leis ambientais so suficientes para motivar a comunidade a proteger as plantas e animais

    marinhos. A5 As punies previstas na lei ambiental para quem comete crime ambiental no so suficientes

    para intimidar quem prejudica os animais e plantas marinhas. A6 As leis ambientais que protegem as plantas e animais marinhos devem ser mais rigorosas. A7 Os rgos ambientais (IBAMA, SEMACE) no conseguem conscientizar a comunidade de

    Icapu sobre o contedo das leis de preservao das plantas e animais marinhos.

    QUADRO 1 Declaraes da Parte A Cdigo Declarao

    B8 O rgo ambiental (IBAMA) executa bem as polticas e aes de preservao das plantas e animais marinhos.

    B9 O rgo ambiental (IBAMA) no coloca a preservao das plantas e animais marinhos como prioridade em suas aes polticas.

    B10 O rgo ambiental (IBAMA) dispe de recursos (pessoal e equipamentos) suficientes para executar sua misso de proteger os animais e plantas marinhas.

    B11 O rgo ambiental (IBAMA) impedido de proteger as plantas e animais marinhos porque as comunidades tradicionais no aceitam restries na pesca e coleta dos produtos marinhos (peixe, ostras, mexilhes, etc.)

    B12 O rgo ambiental (IBAMA) tem o apoio da comunidade na execuo da sua poltica de preservar as plantas e animais marinhos.

    B13 O poder pblico no consegue proteger as plantas e animais marinhos por causa dos conflitos existentes entre os rgos ambientais.

    B14 Os poderes pblicos federal, estadual e municipal trabalham de forma coordenada para a preservao das plantas e animais marinhos.

    QUADRO 2 Declaraes da Parte B A Parte C procura capturar as atitudes e comportamentos dos respondentes quanto

    s formas de gesto dos recursos costeiros, e suas repercusses sobre a preservao da biodiversidade. Foram considerados trs modelos de gesto dos recursos costeiros, assim definidos: gesto participativa (GP) que objetiva integrar o planejamento, a pesquisa, e a tomada de deciso, fazendo a comunidade local participar ativamente e compartilhar as responsabilidades com o Estado, reduzindo o controle deste, no entanto, sem elimin-lo; gesto comunitria (GC) em que as decises so tomadas exclusivamente pela comunidade

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    local, ficando a participao do Estado a critrio da comunidade; e gesto estatal (GE) em que o Estado tem o controle exclusivo das decises, cujas polticas e decises so centralizadas e impostas de cima-para-baixo, podendo excluir as comunidades locais desse processo.

    As questes apresentadas nessa parte esto relacionadas com a vulnerabilidade do peixe-boi-marinho, participao comunitria na gesto ambiental, eficincia da fiscalizao, criao de unidades de conservao, gesto compartilhada e atuao de organizaes no-governamentais. As declaraes da Parte C so apresentadas no Quadro 3.

    A Parte D procura capturar os valores, atitudes e comportamentos que a comunidade detm com relao aos recursos marinhos, e em particular com relao preservao do peixe-boi-marinho. Neste sentido, foram apresentadas declaraes que destacavam o valor das espcies marinhas, o conhecimento sobre a importncia do peixe-boi-marinho, as atitudes relacionadas preservao do peixe-boi-marinho, as oportunidades econmicas a partir da preservao do peixe-boi-marinho. As declaraes da Parte D so apresentadas no Quadro 4.

    Cdigo Declarao

    C15 O aumento da ameaa de extino do peixe-boi-marinho acontece porque quem cuida da poltica ambiental o governo.

    C16 Haveria uma maior proteo do peixe-boi-marinho se houvesse uma maior participao da comunidade na elaborao da poltica ambiental.

    C17 A ameaa de extino do peixe-boi-marinho aumentou porque no existe nenhuma fiscalizao ou controle da pesca marinha.

    C18 A preservao do peixe-boi-marinho depende da criao, em Icapu, de uma Reserva Biolgica Marinha, onde a pesca seria proibida.

    C19 A preservao das plantas e animais marinhos no acontece por falta de um plano local de gerenciamento dos recursos costeiros.

    C20 A preservao dos animais e plantas marinhas seria melhor se fosse executada pela prpria comunidade, sem a participao do poder pblico.

    C21 A comunidade tem o apoio de organizaes no-governamentais para a preservao dos animais e plantas marinhas ameaadas.

    QUADRO 3 Declaraes da Parte C Cdigo Declarao

    D22 O pescador valoriza somente as espcies marinhas que servem para o consumo prprio e comrcio.

    D23 A comunidade no tem conhecimento da importncia do peixe-boi-marinho para natureza. D24 A populao de Icapu est preocupada em proteger o peixe-boi-marinho. D25 A comunidade no busca ajuda do rgo ambiental quando h encalhe do peixe-boi-marinho. D26 A comunidade toma alguma providncia para salvar o peixe-boi-marinho quando este encalha

    na praia. D27 O pescador no procura salvar o peixe-boi-marinho quando ele se emalha na rede de pesca. D28 A comunidade sabe que o peixe-boi-marinho pode gerar renda e emprego atravs da atividade

    turstica. D29 Os tcnicos dos rgos ambientais que trabalham na preservao do peixe-boi no criam

    problemas para os pescadores artesanais. D30 A comunidade participa de atividades de preservao ambiental promovidas pelos rgos

    ambientais (IBAMA).

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    Cdigo Declarao D31 As pessoas da comunidade no denunciam a pesca ilegal (compressor, caoeira, captura de

    lagosta mida, pesca durante o defeso). D32 A comunidade solicita ao rgo ambiental a realizao de programas de proteo ambiental

    (fiscalizao, monitoramento, educao ambiental, etc.). D33 A comunidade de Icapu no pretende transformar o mar de Icapu em rea exclusiva para

    preservao dos animais e plantas marinhas. D34 A comunidade sabe que o leo dos barcos de pesca pode afetar a sade do peixe-boi-marinho.

    QUADRO 4 Declaraes da Parte D

    2.4 Anlise Estatstica

    2.4.1. Natureza dos Dados e Anlise Estatstica A escala de Likert gera um conjunto de dados quantitativos em uma escala ordinal,

    uma vez que cada item da escala de Likert faz o respondente revelar em qual das alternativas (categorias) ordinais ele pertence. Portanto, a anlise apropriada dos itens individuais da escala de Likert deve reconhecer a natureza discreta da resposta, caso contrrio pode-se incorrer em erro de inferncia. Desta forma, os dados devem ser sumarizados pelas freqncias absolutas ou relativas para as vrias categorias de respostas dos itens.

    Portanto, a anlise estatstica, predominantemente descritiva, baseia-se no clculo da mdia, desvio padro, valores mximos e mnimos das escalas numricas, freqncias relativas e absolutas das caractersticas demogrficas dos respondentes e das respostas aos itens de Likert. Os dados quantitativos so codificados e analisados usando o programa estatstico SPSS Statistic Package for Scientifc Studies, verso 12.0 para Windows.

    2.4.2. Anlise de Confiabilidade

    Confiabilidade a propriedade que uma escala possui de consistentemente refletir o

    constructo que se est medindo. Em outras palavras, uma escala confivel se uma pessoa ao responder o questionrio em dois momentos distintos gera o mesmo escore, ceteris paribus. Em termos estatsticos, a confiabilidade reflete a idia de que os itens individuais (ou conjunto de itens) de um questionrio devem produzir resultados consistentes. A confiabilidade pode ser medida por dois mtodos: Split-half Reliability (SHR) e Cronbachs Alpha (CA).

    O mtodo SHR considerado a forma mais simples de medir a confiabilidade. Este mtodo consiste em dividir o conjunto de dados ao meio, dando origem a dois subconjuntos, para os quais calculado um escore. Uma escala confivel quando o escore de um indivduo para a metade da escala igual (ou similar) ao escore da outra metade, de tal forma que, entre vrios participantes, os escores das duas metades do questionrio apresentam correlao perfeita. Portanto, um valor alto de correlao entre as duas metades um indicativo de confiabilidade. Este mtodo possui a desvantagem de apresentar medidas de confiabilidade que variam em funo da forma como o conjunto de dados divido. Para superar este problema, Cronbach (1951) props uma medida em que os dados so divididos em todas as formas possveis e computados coeficientes de

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    correlao para cada uma das divises, cuja mdia a medida de confiabilidade, denominada de Cronbachs Alpha ().

    Um valor de CA () entre 0,7 e 0,8 uma medida aceitvel de confiabilidade, sendo valores substancialmente baixos um indicativo de uma escala no confivel. Cortina (1993) destaca que tais guias gerais precisam ser usados com cautela porque o valor de alfa depende do nmero de itens na escala. O CA () afetado por itens de escores reversos que so utilizados para reduzir o vis de resposta de aceitao, podendo at conduzir a um valor de CA negativo. Para evitar este problema, os itens reversos devem ser invertidos antes de se realizar a anlise de confiabilidade que devem abranger todos os itens e subescalas.

    Este estudo realiza a anlise de confiabilidade por meio do mtodo de Cronsbachs Alpha, sendo analisados os seguintes parmetros: (i) Alpha se o item for eliminado: mostra o valor de alfa quando certo item eliminado; (ii) Correlao total: obtido ao calcular as correlaes entre cada item e o escore total do questionrio. Se um item apresentar correlao menor do que 0,3, isto demonstra que este item no est correlacionado com a escala, podendo ser eliminado; (iii) Cronbachs Alpha: mede a confiabilidade geral da escala que deve assumir valores entre 0,7 e 0,8, ou em torno disto.

    2.5 Fonte de Dados

    Os dados utilizados nesta pesquisa foram de natureza primria e secundria. Os

    dados primrios foram obtidos por meio de questionrios aplicados a 57 informantes-chaves, representados pelas lideranas polticas e comunitrias do municpio de Icapu, dentre eles presidentes de associaes comunitrias e colnia de pescadores, vereadores e secretrios da prefeitura. A aplicao dos questionrios foi realizada no perodo de 5 e 8 de novembro de 2008 por trs estudantes do curso de Engenharia de Pesca da UFC, devidamente treinados. Os anotadores percorreram 63 quilmetros do litoral do municpio de Icapu, abrangendo os trs distritos do municpio (sede de Icapu, Ibicuitaba e Manib), 17 comunidades e quatorze praias, visitando preferencialmente as vilas de pescadores onde havia ocorrncia do peixe-boi-marinho.

    Os dados secundrios consistiram do conjunto de informaes obtidas em artigos, boletins, jornais, revistas cientficas, monografias e dissertaes disponibilizados na internet e/ou bibliotecas de instituies como a Universidade Federal do Cear (UFC), Instituto Chico Mendes de Conservao Biodiversidade (ICMBio), Associao de Pesquisa e Preservao de Ecossistemas Aquticos (AQUASIS), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear (IPECE), Secretaria Especial de Aqicultura e Pesca (SEAP) e Prefeitura Municipal de Icapu. 3 RESULTADOS E DISCUSSO

    Nesta seo, primeiramente, so apresentados os resultados da anlise de

    confiabilidade do questionrio, e, em seguida, discutem-se os resultados das escolhas feitas pelos respondentes para as escalas de Likert.

    3.1 Anlise de Confiabilidade

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    O valor do teste de confiabilidade Cronbachs Alpha de todos os itens do

    questionrio, aps eliminar os itens que apresentaram baixa correlao com o escore total do questionrio, foi de 0,8083, evidenciando, portanto, um grau de confiabilidade bom. De acordo com Pasquali (2003 apud BARROS FILHO et al., 2005), valores prximos de 1 indicam consistncia interna boa. Gabriel e Tritapepe (2008) ressaltam que, para uma pesquisa exploratria, se aceita valores de Cronbach s Alpha acima de 0,6.

    Do total de 34 itens de Likert originalmente includos no questionrio, somente 18 deles apresentaram correlao maior ou igual a 0,3 e Alpha em torno de 0,80. Os itens, com seus respectivos valores de , que tornaram o questionrio confivel foram: A1 (0,8031), A2 (0,7945), A5 (0,8069) e A7 (o,832), da Parte A; B8 (0,7965), B9 (0,8066), B12 (0,7925) e B14 (0,7935), da Parte B; somente C17 (0,7971), da Parte C; e D23 (0,7973), D24 (0,8018), D25 (0,7981), D26 (0,8022), D27 (0,7899), D28 (0,8038), D31 (0,8009), D32 (0,7975) e D33 (0,8010), da Parte D. O questionrio com itens confiveis ficou formado por 4 itens da Parte A, 4 itens da Parte B, 1 item da Parte C e 9 itens da Parte D, totalizando 18 itens.

    O teste de confiabilidade da Parte A obteve valor Alpha de 0,6040, tendo sido mantidos os itens A1, A3, A5 e A7 e eliminados os itens A2, A4 e A6. Este resultado confirmou parcialmente o teste de todos os itens do questionrio por ter excludo o item A2 e includo A3. A Parte B obteve valor Alpha de 0,6489, tendo sido mantido os itens B8, B9, B12 e B14 e eliminados os itens B10, B11 e B13. Este resultado confirmou completamente o resultado obtido na aplicao do teste para todos os itens do questionrio. A Parte C obteve valor Alpha negativo, tanto para todos os itens desta parte (-0,4416) quanto para os itens eliminados, bem como para a correlao total do item corrigido. Este resultado confirma o teste de todos os itens do questionrio, quando apenas o item C17 foi mantido por contribuir com a boa confiabilidade do questionrio. A Parte D obteve o maior valor de Alpha entre as partes (0,7447), tendo sido excludo do grupo os itens D22, D29 e D31. Este resultado confirmou parcialmente o teste aplicado para todos os itens do questionrio, uma vez que ambos os testes incluram os D23, D24, D25, D26, D27, D28, D32 e D33; e divergiram quanto incluso dos itens D30 e D34, includos no teste da Parte D, e o item D31, includo no teste de todos os itens. O valor Alpha da Parte D foi o que mais se aproximou do Alpha obtido quando avaliado todos os itens do questionrio (0,8083).

    Dos resultados obtidos para o teste de Cronbachs Alpha, tanto para o questionrio como um todo quanto para suas partes, pode-se concluir que uma vez eliminados os itens com baixa correlao, o questionrio apresentou nveis satisfatrios de confiabilidade (bom), ou seja, com Alpha apresentando valores superiores a 0,6. Apenas a Parte C no apresentou confiabilidade que pode ser devido elevada complexidade dos constructos envolvidos na tarefa de avaliar os modelos de gesto dos recursos naturais na zona costeira, ou pelo fato do respondente desconhecer os modelos de gesto, ou ainda por no estar familiarizado com este tipo de questo.

    3.2 Anlise da Escala de Likert

    A anlise da escala de Likert das partes A, B e D foi restringida aos itens que contriburam para a confiabilidade do questionrio, seja no teste do questionrio como um

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    todo ou de suas partes individuais. A Parte C, embora no tenha obtido confiabilidade, tambm analisada no intudo de identificar os fatores que determinaram tal resultado. 3.2.1. Parte A Percepo e efetividade das leis de proteo da biodiversidade marinha

    Os escores dos itens da escala de Likert da Parte A demonstraram que os

    respondentes concordam ou concordam fortemente (n=34 ou 59,6%) que as leis de preservao da biodiversidade marinha no so cumpridas pelo rgo ambiental competente (A1); discordam ou discordam fortemente (n=32 ou 56,1%) que as comunidades tm conhecimento das leis ambientais de preservao dos animais e plantas marinhas (A2); discordam ou discordam fortemente (n=36 ou 63,2%) que as leis ambientais de preservao do peixe-boi-marinho no so cumpridas em Icapu (A3); concordam ou concordam fortemente (n=35 ou 61,4%) que as punies previstas na lei ambiental (...) no so suficientes para intimidar quem prejudica os animais e plantas marinhas (A5); e concordam ou concordam fortemente (n=47 ou 88,5%) que os rgos ambientais no conseguem conscientizar a comunidade de Icapu sobre o contedo das leis de preservao das plantas e animais marinhos (A7) (Tabela 1 do Anexo).

    O percentual de respondentes indecisos, ou seja, que responderam nem concordo nem discordo, que uma resposta de neutralidade diante da declarao, foi relativamente baixa em todos os itens da Parte A, assim distribudos: A1 (12,3%), A2 (8,8%), A3 (5,3%), A5 (15,8%) e A7 (3,5%). Como ficou evidenciado, o item que mais levou indeciso foi A5 que questionou sobre a adequao das punies previstas para crimes contra a biodiversidade.

    O desvio padro para os itens da Parte A demonstra que todos os itens apresentaram disperso em torno da mdia, variando entre 1,20 e 1,28. O item que apresentou maior disperso (1,28) foi A1 que questionou sobre o cumprimento das leis ambientais de preservao da biodiversidade por parte do rgo ambiental competente (IBAMA).

    3.2.2. Parte B Efetividade do poder pblico na proteo da biodiversidade

    Os escores dos itens da escala de Likert da Parte B demonstraram que os

    respondentes discordaram ou discordaram fortemente (n=37 ou 64,9%) que o rgo ambiental (IBAMA) executa bem as polticas e aes de preservao das plantas e animais marinhos (B8); concordaram ou concordaram fortemente (n=32 ou 56,1%) que o rgo ambiental (IBAMA) no coloca a preservao das plantas e animais marinhos como prioridade em suas aes polticas (B9); concordam ou concordam fortemente (n=32 ou 56,1%) que o rgo ambiental (IBAMA) tem o apoio da comunidade na execuo da sua poltica de preservar as plantas e animais marinhos (B12); concordam ou concordam fortemente (n=24 ou 42,1%) que o poder pblico federal, estadual e municipal trabalham de forma coordenada para a preservao das plantas e animais marinhos (B14), enquanto a grande maioria (n=33 ou 57,8%) discorda, discorda fortemente ou indiferente esta declarao (Tabela 2 do Anexo).

    O percentual de respondentes indecisos, ou seja, que responderam nem concordo nem discordo, foi elevada comparada aos escores da Parte A, assim distribudos: B8 (12,3%), B9 (19,3%), B12 (17,5%) e B14 (7%). O menor nmero de indecisos ocorreu

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    para o item B14 que questionou sobre a coordenao entre os poderes pblicos (federal, estadual e municipal) para execuo de aes de preservao da biodiversidade.

    O desvio padro dos itens da Parte B demonstra que todos os itens apresentaram disperso em torno da mdia, variando entre 1,08 e 1,26. O item que apresentou menor disperso foi B9 enquanto o que apresentou maior disperso (1,26) foi B14.

    Observou-se que o maior desvio padro dos escores dos itens desta parte tambm ficou evidenciado pelo fato de que a escala de maior freqncia no foi apoiada pela maior proporo das respostas do grupo para algumas declaraes. No item B14, que questiona a coordenao entre o poder pblico federal, estadual e municipal, a maior freqncia recai sobre a escala concordo (n=21 ou 36,8%), embora a maioria dos respondentes tenha declarado que discorda ou discorda fortemente (n=29 ou 50,8%) desta declarao, demonstrando que a maioria dos respondentes acredita que os poderes pblicos atuam de forma descoordenada. 3.2.3. Parte C Modelos de gesto dos recursos costeiros

    Os escores dos itens da escala de Likert da Parte C demonstraram que os

    respondentes discordam ou discordam fortemente (n=34 ou 59,6%) que o aumento da ameaa de extino do peixe-boi-marinho acontece porque quem cuida da poltica ambiental o governo (C15); concordam ou concordam fortemente (n=52 ou 91,3%) que haveria uma maior proteo do peixe-boi-marinho se houvesse uma maior participao da comunidade na elaborao da poltica ambiental (C16); discordam ou discordam fortemente (n=23 ou 42,1%) que a ameaa de extino do peixe-boi-marinho aumentou porque no existe nenhuma fiscalizao ou controle ambiental (C17), embora a grande maioria (n=27 ou 47,4%) concorde ou concorde fortemente com esta declarao; concorda ou concorda fortemente (n=32 ou 56,2%) que a preservao do peixe-boi-marinho depende da criao, em Icapu, de uma Reserva Biolgica Marinha, onde a pesca seria proibida (C18); concordam ou concordam fortemente (n=35 ou 61,5%) que a preservao das plantas e animais marinhos no acontece por falta de um plano local de gerenciamento dos recursos costeiros (C19); discordam ou discordam fortemente (n=43 ou 75,6%) que a preservao dos animais e plantas marinhas seria melhor se fosse executada pela prpria comunidade, sem a participao do poder pblico (C20); concordam ou concordam fortemente (n=32 ou 56,2%) que a comunidade tem o apoio de organizaes no-governamentais para a preservao dos animais e plantas marinhas ameaadas (C21) (Tabela 3 do Anexo).

    O percentual de respondentes indecisos da Parte C ficou assim distribudo: C15 (21,1%), C16 (1,8%), C17 (10,5%), C18 (17,5%), C19 (14%), C20 (7%) e C21 (5,3%). O maior nmero de indecisos foi observado no item C15 que afirma que a causa do aumento da ameaa de extino do peixe-boi-marinho deve-se ao governo por ser ele o responsvel pela execuo da poltica ambiental. O menor nmero de indecisos ocorreu para o item C16 que sugere que uma maior participao da comunidade na elaborao da poltica ambiental poderia resultar numa maior proteo do peixe-boi-marinho.

    O desvio padro dos itens da Parte C demonstra que todos os itens apresentaram disperso em torno da mdia, variando entre 0,93 e 1,27. O item que apresentou maior disperso (1,27) foi C17 que afirma que o aumento da ameaa de extino do peixe-boi-marinho devido inexistncia de fiscalizao e controle da pesca marinha. Por sua vez,

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    os itens com menor desvio padro foram C15 e C16, respectivamente com 0,93 e 0,95, o primeiro questiona o papel do governo na proteo do peixe-boi-marinho e o segundo questiona o papel da comunidade na elaborao da poltica ambiental voltada para proteo do peixe-boi-marinho.

    3.2.4. Parte D Valores da Comunidade Relativo ao Uso dos Recursos Costeiros

    Com relao aos valores atribudos pela comunidade ao peixe-boi-marinho, os

    respondentes concordam ou concordam fortemente (n=44 ou 77,2%) que o pescador valoriza somente as espcies marinhas que servem para o consumo prprio e comrcio (D22); concorda ou concorda fortemente (n=36 ou 63,2%) que a comunidade no tem conhecimento da importncia do peixe-boi-marinho para a natureza (D23).

    Com relao atitude da comunidade com relao proteo do peixe-boi-marinho, os respondentes concordam ou concordam fortemente (n=25 ou 43,8%) que a populao de Icapu est preocupada em proteger o peixe-boi-marinho (D24), embora a maioria dos respondentes (n=32 ou 56,1%) discorde, discorde fortemente ou esteja indiferentes a esta declarao; discordam ou discordam fortemente (n=45 ou 74%) que a comunidade no busca ajuda do rgo ambiental quando h encalhe do peixe-boi-marinho (D25); concordam ou concordam fortemente (n=45 ou 79%) que a comunidade toma alguma providncia para salvar o peixe-boi-marinho quando este encalha na praia (D26); discorda ou discorda fortemente (n=27 ou 47,3%) que o pescador no procura salvar o peixe-boi-marinho quando ele se emalha na rede de pesca (D27), embora a maioria dos respondentes (n=30 ou 52,7%) concorde, concorde fortemente ou esteja indiferente a esta declarao (Tabela 4 do Anexo).

    Em termos de conhecimento sobre os benefcios que podem obter com o peixe-boi-marinho, os respondentes discordam ou discordam fortemente (n=28 ou 49,1%) que a comunidade sabe que o peixe-boi-marinho pode gerar renda e emprego atravs da atividade turstica (D28), embora a maioria dos respondentes (n=29 ou 50,9%) concorde, concorde fortemente ou esteja indiferentes a esta declarao.

    Quanto s aes dos rgos ambientais e da comunidade com relao proteo da biodiversidade, os respondentes concordam ou concordam fortemente (n=30 ou 52,6%) que a comunidade participa de atividades de preservao ambiental promovidas pelos rgos ambientais (IBAMA) (D30); concordam ou concordam fortemente (n=36 ou 60,1%) que as pessoas da comunidade no denunciam a pesca ilegal (D31); concordam ou concordam fortemente (n=29 ou 50,9%) que a comunidade solicita ao rgo ambiental a realizao de programas de proteo ambiental (D32), embora quase a mesma proporo de respondentes (n=26 ou 45,6%) discorde, discorde fortemente ou esteja indiferente a esta declarao.

    Com relao ao interesse de criao de uma unidade de conservao, os respondentes concordam ou concordam fortemente (n=23 ou 40,4%) que a comunidade de Icapu no pretende transformar o mar de Icapu em rea exclusiva para preservao dos animais e plantas marinhas (D33), embora a maioria dos respondentes (n=34 ou 59,7%) discorde, discorde fortemente ou estejam indiferentes a esta declarao.

    O percentual de respondentes indecisos da Parte D ficou assim distribudo: D22 (7%), D23 (10,5%), D24 (22,8%), D25 (10,5%), D26 (7%), D27 (24,6%), D28 (14%), D30 (22,8%), D31 (10,5%), D32 (12,3%) e D33 (28,1%). O maior nmero de indecisos foi

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    observado para o item D33 que questiona sobre a inteno da comunidade de Icapu em criar uma unidade de conservao visando preservar animais e plantas marinhas em seu litoral. Esse elevado nmero de respostas neutras pode refletir a indiferena ou ignorncia dos respondentes com relao a essas questes. Comparado s outras partes, a Parte D foi a que gerou a maior freqncia de respostas neutras comparado s outras partes.

    A medida de disperso dos itens da Parte D demonstra que todos os itens apresentaram disperso em torno da mdia, variando entre 0,98 e 1,28. O item que apresentou maior disperso (1,28) foi D32 que afirma que a comunidade solicita ao rgo ambiental a realizao de programas de proteo ambiental, evidenciando pouca convico do grupo com relao a esta declarao. Por outro lado, os itens com menor desvio padro, ou seja, obtiveram valores em torno de 1, foram D25, D30, D26 e D27. O item D25, que obteve o menor desvio padro, questiona o fato de a comunidade buscar ajuda do rgo ambiental quando da ocorrncia de encalhe do peixe-boi-marinho, o que demonstrou forte convico dos respondentes com relao a esta declarao.

    4 CONCLUSES E SUGESTES

    O questionrio elaborado de acordo com o mtodo da escala de Likert se mostrou

    efetivo para capturar as atitudes, comportamento e cognio das lideranas comunitrias e polticas com relao proteo da biodiversidade em Icapu. Uma vez eliminados os itens com baixa correlao com o escore total do questionrio, este instrumento apresentou bom nvel de confiabilidade, tanto para todos os itens quanto para as partes do questionrio. Apenas a parte C do questionrio no apresentou a confiabilidade desejada, o que pode ter sido determinada pela complexidade do construto ou falta de familiaridade com as questes relacionadas aos modelos de gesto costeira.

    A Parte A do questionrio, que trata da existncia e efetividade das leis ambientais, d margem a respostas contraditrias por parte dos entrevistados e que podem ser determinadas por convico baseada no senso comum. Isto fica evidenciado pelo fato de que, mesmo reconhecendo que a comunidade de Icapu desconhece as leis ambientais de preservao dos animais e plantas marinhas, os respondentes acreditam que essas mesmas leis no so cumpridas pelo rgo ambiental competente, embora sejam cumpridas pela comunidade de Icapu, e que as punies pelos crimes ambientais no so suficientes para inibir o descumprimento das mesmas. Porm, a grande maioria reconhece que os rgos ambientais no desenvolvem campanhas de conscientizao sobre o contedo das leis de preservao das plantas e animais marinhos na comunidade.

    A Parte B do questionrio evidencia que as lideranas de Icapu nutrem sentimentos de reprovao com relao atuao do rgo ambiental, em particular o IBAMA. Isto porque a maioria dos respondentes declararou que o rgo ambiental no executa bem as polticas de preservao das plantas e animais marinhos, mesmo porque no coloca esta questo como prioridade em suas aes polticas, e ainda porque o poder pblico (federal, estadual e municipal) no atuam de forma coordenada em prol da proteo da biodiversidade. Porm, os respondentes enalteceram que o rgo ambiental tem o apoio da comunidade de Icapu na execuo de suas polticas.

    Apesar dos itens da Parte C no mostrarem confiabilidade, algumas concluses podem ser inferidas a partir das respostas dos entrevistados sobre os modelos de gesto costeira, e que, posteriormente, merecem uma investigao mais aprofundada. As

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    lideranas polticas e comunitrias no responsabilizam o governo quanto ao aumento da vulnerabilidade do peixe-boi-marinho sua extino, porm acreditam que uma maior participao da comunidade e a elaborao de um plano de gesto costeria, ou mesmo a criao de uma unidade de conservao de proteo integral (como uma reserva biolgica marinha) seriam necessrias para promover uma maior proteo da espcie. Porm, os respondentes reconhecem que delegar a competncia de proteger o peixe-boi-marinho prpria comunidade no resultaria em melhores resultados. Ainda sobre esta parte, os respondentes reconhecem o apoio de organizaes no governamentais na proteo da biodiversidade marinha de Icapu e no tm clareza quanto ao papel da fiscalizao e controle ambiental na proteo do peixe-boi-marinho.

    A Parte D do questionrio d evidncia de que os respondentes acreditam que o pescador atribui valor apenas para as espcies marinhas que servem para consumo prprio e comrcio e que a comunidade no tem conhecimento da importncia do peixe-boi-marinho para o ecossistema, embora reconheam que determinadas prticas realizadas no setor pesqueiro possa prejudicar a espcie (derramamento de leo, redes de pesca). Por outro lado, a populao est preocupada em proteger o peixe-boi-marinho, medida que busca ajuda ao rgo ambiental quando ocorre encalhe do peixe-boi-marinho ou toma providncias neste sentido. Entretanto, a comunidade desconhece a oportunidade que o peixe-boi-marinho pode oferecer em termos de gerao de renda e emprego por meio da atividade turstica. As escolhas dos respondentes evidenciam que a comunidade solicita ao rgo ambiental a realizao de programas ambientais e que a presena dos tcnicos de rgos ambientais no cria constrangimento aos pescadores artesanais. Contraditoriamente, a comunidade no est disposta a denunciar a pesca ilegal realizada em suas guas e indecisa quanto a inteno da comunidade em transformar o mar de Icapu em rea exclusiva para preservao dos animais e plantas marinhas.

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    ANEXOS

    TABELA 1 Distribuio de freqncia absoluta e relativa, mdia e desvio padro dos itens da escala de Likert quanto existncia e efetividade das leis de preservao da biodiversidade marinha (Parte A)

    Declaraes N Discordo

    Fortemente Discordo Nem Concordo

    Nem Discordo Concordo Concordo

    Fortemente Mdia Desvio

    Padro A1. As leis ambientais de preservao dos animais e plantas marinhas no so cumpridas pelo rgo ambiental competente (IBAMA).

    57 5 (8,8%) 11 (19,3%) 7 (12,3%) 21 (36,8%) 13 (22,8%) 3,46 1,28

    A2. As comunidades tm conhecimento das leis ambientais de preservao dos animais e plantas marinhas.

    57 8 (14,0%) 24 (42,1%) 5 (8,8%) 15 (26,3%) 5 (8,8%) 2,74 1,25

    A3. As leis ambientais de preservao do peixe-boi-marinho no so cumpridas em Icapu.

    57 9 (15,8%) 27 (47,4%) 3 (5,3%) 13 (22,8%) 5 (8,8%) 2,61 1,25

    A4. As leis ambientais so suficientes para motivar a comunidade a proteger as plantas e animais marinhos.

    57 12 (21,1%) 23 (40,4%) 7 (12,3%) 13 (22,8%) 2 (3,5%) 2,47 1,17

    A5. As punies previstas na lei ambiental para quem comete crime ambiental no so suficientes para intimidar quem prejudica os animais e plantas marinhas.

    57 3 (5,3%) 10 (17,5%) 9 (15,8%) 18 (31,6%) 17 (29,8%) 3,63 1,23

    A6. As leis ambientais que protegem as plantas e animais marinhos devem ser mais rigorosas.

    57 2 (3,5%) 5 (8,8%) 7 (12,3%) 19 (33,3%) 24 (42,1%) 4,02 1,11

    A7. Os rgos ambientais (IBAMA, SEMACE) no conseguem conscientizar a comunidade de Icapu sobre o contedo das leis de preservao das plantas e animais marinhos.

    57 5 (8,8%) 3 (5,3%) 2 (3,5%) 25 (43,9%) 22 (38,6%) 3,98 1,20

    TABELA 2 Distribuio de freqncia absoluta e relativa, mdia e desvio padro dos itens da escala de Likert que descrevem a efetividade do poder pblico na preservao da biodiversidade marinha (Parte B)

    Declaraes N Discordo Fortemente

    Discordo Nem Concordo Nem Discordo

    Concordo Concordo Fortemente

    Mdia Desvio Padro

    B8. O rgo ambiental (IBAMA) executa bem as polticas e aes de preservao das plantas e animais marinhos.

    57 15 (26,3%) 22 (38,6%) 7 (12,3%) 12 (21,1%) 1 (1,8%) 2,33 1,14

    B9. O rgo ambiental (IBAMA) no coloca a preservao das plantas e animais marinhos como prioridade em suas aes polticas.

    57 2 (3,5%) 12 (21,1%) 11 (19,3%) 24 (42,1%) 8 (14,0%) 3,42 1,08

    B10. O rgo ambiental (IBAMA) dispe de recursos (pessoal e equipamentos) suficientes para executar sua misso de proteger os animais e plantas marinhas.

    57 11 (19,3%) 15 (26,3%) 9 (15,8%) 16 (28,1%) 6 (10,5%) 2,84 1,32

    B11. O rgo ambiental (IBAMA) impedido as plantas e animais marinhos porque as comunidades tradicionais no aceitam restries na pesca e coleta dos produtos marinhos (peixe, ostras, mexilhes, etc.)

    57 14 (24,6%) 18 (31,6%) 11 (19,3%) 11 (19,3%) 3 (5,3%) 2,49 1,21

    B12. O rgo ambiental (IBAMA) tem o apoio da comunidade na execuo da sua poltica de preservar as plantas e animais marinhos.

    57 5 (8,8%) 10 (17,5%) 10 (17,5%) 26 (45,6%) 6 (10,5%) 3,32 1,15

    B13. O poder pblico no consegue proteger as plantas e animais marinhos por causa dos conflitos existentes entre os rgos ambientais.

    57 2 (3,5%) 15 (26,3%) 15 (26,3%) 19 (33,3%) 6 (10,5%) 3,21 1,06

    B14. O poder pblico federal, estadual e municipal trabalham de forma coordenada para a preservao das plantas e animais marinhos.

    57 10 (17,5%) 19 (33,3%) 4 (7,0%) 21 (36,8%) 3 (5,3%) 2,79 1,26

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    TABELA 3 Distribuio de freqncia absoluta e relativa, mdia e desvio padro dos itens da escala de Likert que descrevem os modelos de gesto ambiental da zona costeira (Parte C)

    Declaraes N Discordo Fortemente Discordo Nem Concordo Nem Discordo Concordo

    Concordo Fortemente Mdia

    Desvio Padro

    C15. O aumento da ameaa de extino do peixe-boi-marinho acontece porque quem cuida da poltica ambiental o governo.

    57 4 (7,0%) 30 (52,6%) 12 (21,1%) 10 (17,5%) 1 (1,8%) 2,54 0,93

    C16. Haveria uma maior proteo do peixe-boi-marinho se houvesse uma maior participao da comunidade na elaborao da poltica ambiental.

    57 2 (3,5%) 2 (3,5%) 1 (1,8%) 23 (40,4%) 29 (50,9%) 4,32 0,95

    C17. A ameaa de extino do peixe-boi-marinho aumentou porque no existe nenhuma fiscalizao ou controle da pesca marinha.

    57 3 (5,3%) 21 (36,8%) 6 (10,5%) 16 (28,1%) 11 (19,3%) 3,19 1,27

    C18. A preservao do peixe-boi-marinho depende da criao, em Icapu, de uma Reserva Biolgica Marinha, onde a pesca seria proibida.

    57 3 (5,3%) 12 (21,1%) 10 (17,5%) 23 (40,4%) 9 (15,8%) 3,40 1,15

    C19. A preservao das plantas e animais marinhos no acontece por falta de um plano local de gerenciamento dos recursos costeiros.

    57 0 14 (24,6%) 8 (14,0%) 23 (40,4%) 12 (21,1%) 3,58 1,08

    C20. A preservao dos animais e plantas marinhas seria melhor se fosse executada pela prpria comunidade, sem a participao do poder pblico.

    57 15 (26,5%) 28 (49,1%) 4 (7,0%) 7 (12,3%) 3 (5,3%) 2,21 1,13

    C21. A comunidade tem o apoio de organizaes no-governamentais para a preservao dos animais e plantas marinhas ameaadas.

    57 5 (8,8%) 17 (29,8%) 3 (5,3%) 27 (47,4%) 5 (8,8%) 3,18 1,21

    TABELA 4 Distribuio de freqncia absoluta e relativa, mdia e desvio padro dos itens da escala de Likert que descrevem as atitudes, comportamento e cognio com relao aos recursos naturais marinhos (Parte D)

    Declaraes N Discordo

    Fortemente Discordo Nem Concordo Nem Discordo Concordo

    Concordo Fortemente Mdia

    Desvio Padro

    D22. O pescador valoriza somente as espcies marinhas que servem para o consumo prprio e comrcio.

    57 3 (5,3%) 6 (10,5%) 4 (7,0%) 27 (47,4%) 17 (29,8%) 3,86 1,13

    D23. A comunidade no tem conhecimento da importncia do peixe-boi-marinho para natureza.

    57 2 (3,5%) 13 (22,8%) 6 (10,5%) 24 (42,1%) 12 (21,1%) 3,54 1,17

    D24. A populao de Icapu est preocupada em proteger o peixe-boi-marinho.

    57 2 (3,5%) 17 (29,8%) 13 (22,8%) 19 (33,3%) 6 (10,5%) 3,18 1,09

    D25. A comunidade no busca ajuda do rgo ambiental quando h encalhe do peixe-boi-marinho.

    57 14 (24,6%) 31 (54,4%) 6 (10,5%) 4 (7,0%) 2 (3,5%) 2,11 0,98

    D26. A comunidade toma alguma providncia para salvar o peixe-boi-marinho quando este encalha na praia.

    57 2 (3,5%) 6 (10,5%) 4 (7,0%) 31 (54,4%) 14 (24,6%) 3,86 1,03

    D27. O pescador no procura salvar o peixe-boi-marinho quando ele se emalha na rede de pesca,

    57 6 (10,5%) 21 (36,8) 14 (24,6%) 15 (26,3%) 1 (1,8%) 2,72 1,03

    D28. A comunidade sabe que o peixe-boi-marinho pode gerar renda e emprego atravs da atividade turstica.

    57 2 (3,5%) 26 (45,6%) 8 (14,0%) 16 (28,1%) 5 (8,8%) 2,93 1,12

    D29. Os tcnicos dos rgos ambientais que trabalham na preservao do peixe-boi no criam problemas para os pescadores artesanais.

    57 4 (7,0%) 8 (14,0%) 12 (21,1%) 30 (52,6%) 3 (5,3%) 3,35 1,03

    D30. A comunidade participa de atividades de preservao ambiental promovidas pelos rgos ambientais (IBAMA).

    57 2 (3,5%) 12 (21,1%) 13 (22,8%) 26 (45,6%) 4 (7,0%) 3,32 1,00

    D31. As pessoas da comunidade no denunciam a pesca ilegal (compressor, caoeira, captura de lagosta mida, pesca durante o defeso).

    57 1 (1,8%) 14 (24,6%) 6 (10,5%) 19 (33,3%) 17 (29,8%) 3,65 1,20

    D32. A comunidade solicita ao rgo ambiental a realizao de programas de proteo ambiental (fiscalizao, monitoramento, educao ambiental, etc.)

    57 6 (10,5%) 13 (22,8%) 7 (12,3%) 22 (38,6%) 7 (12,3%) 3,26 1,28

    D33. A comunidade de Icapu no pretende transformar o mar de Icapu em rea exclusiva para preservao dos animais e plantas marinhas.

    57 2 (3,5%) 16 (28,1%) 16 (28,1%) 16 (28,1%) 7 (12,3%) 3,18 1,09

    D34. A comunidade sabe que o leo dos barcos de pesca pode afetar a sade do peixe-boi-marinho.

    57 1 (1,8%) 8 (14,0%) 5 (8,8%) 26 (45,6%) 17 (29,8%) 3,88 1,05