Ativismo Judicial e Judicialização da Política na Realidade Neoconstitucional

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    1/44

    UNIVERSIDADE CATLICA DE PETRPOLIS

    ATIVISMO JUDICIAL E JUDICIALIZAO DA POLTICA

    NA REALIDADE NEOCONSTITUCIONAL

    Monografia apresentada como requisito final

    obteno do ttulo de Ps-Graduado lato sensu em

    Direito Pblico pela Universidade Catlica de

    Petrpolis.

    ORIENTADOR:

    _______________________________

    SUPERVISOR METODOLGICO:

    Professora Maristela Chicharo

    Por

    Flvio Luiz de Aguiar Lbo

    Rio de Janeiro

    2011

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    2/44

    Agradeo minha me e minha esposa, pelo carinho e apoio incondicional.

    Sobretudo, agradeo a Deus e aos meus filhos, Biel e Bia, que do real sentido minha vida.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    3/44

    Querer ser mais do que se , ser menos.

    - Gilberto Amado

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    4/44

    RESUMO

    LBO, Flvio Luiz de Aguiar. Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade

    Neoconstitucional. Brasil. 2011. 44 f., Monografia (Ps-Graduao em Direito Pblico).

    Universidade Catlica de Petrpolis. Rio de Janeiro.

    Frequentemente, o Poder Judicirio imiscui-se nas competncias dos outros Poderes,Legislativo e Executivo, produzindo atos normativos, leis para casos concretos, apontando

    polticas pblicas a serem executadas ou obstando a implementao de alguma medidapretendida pelo administrador pblico. comum verificar o Judicirio vedando ou ratificandodecises da Administrao Pblica. A despeito da verificao da ocorrncia do AtivismoJudicial e da Judicializao da Poltica mundo fora, sua legitimidade alvo de constantesdebates. Como principal crtica sua ocorrncia, suscita-se a violao ao Princpio daSeparao dos Poderes. O presente estudo abordar ambos os fenmenos, a fim de contribuirde maneira efetiva na compreenso de sua ocorrncia e da sua legitimidade, sob uma

    perspectiva neoconstitucional.

    Palavras-chave: Ativismo Judicial. Judicializao da Poltica. Neoconstitucionalismo.Legitimidade.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    5/44

    ABSTRACT

    Often, the Judiciary maculates the authority of the other powers, legislative and executive,producing normative acts, laws to specific cases, pointing out public policies to be implementedor hindering the implementation of any action adopted by the public administrator. It iscommon to verify the Judiciary preventing or ratifying decisions of the public administration.Despite the verification of the occurrence of Judicial Activism and Politics Judicializationworldwide, its legitimacy is a subject of constant debate. The most significant criticism of itsoccurrence, leads to violation of the Principle of Separation of Powers. This study will deal with

    both phenomena in order to effectively contribute in understanding its occurrence and itslegitimacy from the neo-constitutional perspective.

    Keywords: Judicial Activism. Politics Judicialization. Neo-Constitutionalism. Legitimacy.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    6/44

    SUMRIO

    1. INTRODUO 07

    2. CONTEXTUALIZAO GEOPOLTICA 10

    3. O CASO BRASILEIRO 17

    4. A PROBLEMTICA 21

    5. CONCLUSO 34

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 42

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    7/44

    1. INTRODUO

    No raro hoje, possvel vislumbrar o Poder Judicirio atuando em reas de

    competncia tpica de outros Poderes, produzindo leis para casos concretos ou

    apontando polticas pblicas a serem executadas.

    De maneira muito apressada, possvel afirmar que o ativismo judicial percebido

    como uma atitude, uma deciso ou um comportamento adotado pelo Poder Judicirio no

    sentido de revisar temas ou inovar em questes de competncia de outros poderes.

    A judicializao da poltica[1], a materializao da possibilidade de submeter

    apreciao judicial uma matria que seja afeta a competncia de outros poderes, a saber,

    Executivo e Legislativo, representando, em ltima anlise, o prprio acesso justia,

    garantia fundamental contra qualquer tipo de leso ou ameaa a um direito.

    A despeito da verificao da ocorrncia de ambos os fenmenos mundo fora, sua

    legitimidade alvo de constantes debates.

    Distante da perspectiva de simples exerccio de atividades atpicas, em que os poderes

    exercerem funes de competncias tpicas uns dos outros, tratam-se de hipteses em

    que h um insupervel conflito entre as decises, de ao ou de omisso, acerca de

    determinada matria, pelos Poderes Legislativo e, ou, Executivo, com as do Judicirio,

    em nome, e por meio, dos ditames da Constituio.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    8/44

    Como principais crticas sua ocorrncia, fala-se em violao ao Princpio da Separao

    dos Poderes e promoo da insegurana jurdica.

    Hodiernamente a acepo mais aceita a respeito da judicializao da poltica

    alcunhada por dois cientistas polticos, Tate e Vallinder, numa obra clssica chamada

    The global expansion of judicial power ou A Expanso Global do Poder

    Judicirio[2].

    Naquela obra, tratam-na por dois fenmenos correlatos ou duas dimenses do mesmo

    fenmeno.

    A primeira tem relao com essa expanso do Judicirio, entrando em campos que

    tradicionalmente eram de alada exclusiva dos poderes polticos estrito senso, entenda,

    os poderes Legislativos e Executivo, tais como a definio de polticas pblicas,

    arbitramento de controvrsias no campo moral e outros temas dessa ndole.

    A outra dimenso da judicializao da poltica tem a ver no com a mudana no

    Judicirio ou a sua penetrao em campos antes no explorados, mas na mudana da

    atuao dos poderes no judiciais que aproximariam sua lgica de atuao quela

    caracterstica do poder Judicirio, comeando a se valer, com cada vez mais freqncia,de procedimentos como o contraditrio, a obrigao de fundamentao de suas decises,

    dentre outros.

    A presente exposio vai focar a primeira dessas dimenses, que tem se mostrado a mais

    relevante no cenrio brasileiro, e aquela que vem despertando mais debate no contexto

    jurdico do pas.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    9/44

    Num primeiro momento pretendo explicar como esse fenmeno vem tona no mundo,

    demonstrando que no se trata de uma singularidade brasileira.

    Num segundo momento direi como isso tem ocorrido no Brasil, fazendo um rpido

    histrico.

    Depois vou explicar que fatores tornam a judicializao da poltica, no cenrio

    brasileiro, uma ocorrncia inevitvel.

    Em seguida vou suscitar os problemas que a judicializao da poltica enseja e

    apresentar de maneira sumria algumas medidas para dar um equacionamento a esses

    mesmos problemas, considerando variveis como o princpio democrtico e a

    capacidade tcnica e operacional do prprio poder Judicirio.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    10/44

    2. CONTEXTUALIZAO GEOPOLTICA

    Atualmente, os vrios canais da mdia noticiam e do destaque a diversas decises

    judiciais tomadas mundo fora, sobretudo em matria constitucional.

    Nos ltimos anos temos visto a mdia nacional cobrindo em profundidade casosemblemticos, como o da Reserva Raposa Serra do Sol[3], tratando de demarcao de

    terras indgenas, de julgados sobre fornecimento de medicamentos e atendimento na

    rede pblica de sade[4], ou ainda sobre controle de atos de CPI[5], aborto de feto

    anenceflico[6], unio entre pessoas do mesmo sexo[7], julgamentos de altas

    autoridades da repblica, como recentemente o caso do Governador do DF[8].

    Enfim, a abordagem miditica da judicializao de inmeros assuntos vem se

    incorporando ao dia-a-dia da populao brasileira, o que , no nosso pas umas novidade

    muito importante, digna de sinceras e eloquentes comemoraes.

    Do ponto de vista global, possvel afirmar que a jurisdio constitucional era quase

    que uma excentricidade norte americana. Um ou outro pas, fora os Estados Unidos da

    Amrica, tambm a adotava, como o prprio Brasil, desde 1890, antes da primeira

    Constituio Republicana.

    Entretanto, ela sempre fora adotada, com exceo dos Estados Unidos da Amrica, de

    maneira muito tmida, havendo uma quase que absoluta hegemonia dos poderes

    polticos, o que correspondia ao modelo constitucional francs, em que a Constituio

    era vista muito mais como uma proclamao poltica que deveria inspirar a ao do

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    11/44

    legislador e no confiava no poder Judicirio, como garante da Constituio, pois se

    acreditava que o Judicirio no tinha legitimidade democrtica pra isso.

    Predominava o sentimento de que o Judicirio provavelmente trairia os ideais

    emancipatrios e democrticos, depositando toda a confiana no novo e grande agente

    de implementao dos valores constitucionais, o Poder Legislativo. [9]

    Essa era a viso predominante no mundo todo, inclusive nos pases que adotavam

    algumas medidas de controle de constitucionalidade, como o Brasil.

    possvel afirmar que o direito no gravitava em torno das constituies, mas da

    codificao, da legislao infraconstitucional.

    A rotina de um operador do direito ou de um magistrado no envolvia a aplicao da

    Constituio, esperando que tivesse sobre a sua mesa de trabalho um cdigo civil, um

    cdigo penal, um cdigo de processo, mas no havia ou se esperava envolvimento na

    aplicao da Constituio, nem tampouco havia a prtica de levar as grandes questes

    constitucionais ao conhecimento do poder Judicirio.

    Importa comentar que existiu antes a tentativa de criar um novo modelo constitucional

    alternativo, com Kelsen, na ustria e na Iugoslvia, na dcada de 20 do sculo passado,

    mas sem grande relevncia prtica.

    A virada comea a acontecer de fato depois da segunda guerra mundial, quando, diante

    da constatao de que as maiorias podem, muitas vezes, perpetrar barbries, como onazismo na Alemanha e, em menor escala, o facismo na Itlia, desmonta-se a crena de

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    12/44

    que o legislador no violaria direitos pois seria um amigo, irmo, ou at mesmo um pai,

    desses mesmos direitos, jamais seu adversrio.

    .

    Ento quando os pases europeus se reconstroem ao final da 2 guerra mundial, surge a

    sbria e inafastvel preocupao em contemplar nas suas prprias constituies

    mecanismos de conteno do poder, inclusive do Legislativo, sobretudo no que diz

    respeito proteo dos direitos fundamentais, e isso comea a se expandir.

    Ento surge na Alemanha a Lei Fundamental de Bonn, em 1949, o grmen do

    neoconstitucionalismo, inaugurando o Estado Social.

    Naquela poca, a pennsula ibrica no vivia um ambiente democrtico, ento, com um

    pouco de atraso, quando terminam as ditaduras em Portugal e na Espanha, esses pases

    se reconstitucionalizam e adotam tambm um modelo de constitucionalizao de

    direitos, com fortalecimento da jurisdio constitucional.

    Destaca-se a importncia deste documento, para a inspirao direta das constituies

    portuguesa e espanhola, de 1976 e 1978, respectivamente, bem como, para as novas

    constituies do leste europeu, nascidas da fragmentao da vetusta Unio Sovitica.

    Essa tendncia chega nossa Amrica Latina apenas no final dos anos 80 e incio da

    dcada de 90, quando eram superados os regimes ditatoriais que vicejaram no

    continente.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    13/44

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    14/44

    Em 2004, na Coria do Sul, o Poder Judicirio invalidou um processo de impeachment e

    colocou de volta no cargo um presidente que tinha sido afastado pelo Parlamento[11].

    Na frica do Sul, num interessante caso de controle da prpria Constituio, grau

    elevadssimo de judicializao da poltica, a Constituio originria foi submetida

    Corte Constitucional Sul-Africana, a qual declarou que a mesma tinha que ser

    reelaborada em algumas matrias, pois violava um pacto anterior elaborao da

    prpria.

    Nesse sentido, a Corte Constitucional Sul-Africana tem proferido decises

    emblemticas, seno vejamos [12]:

    Direito Habitao Caso Grootboom [13] Obrigou o Poder Pblico a criar e

    implementar, de acordo com os recursos disponveis, um programa abrangente e

    coordenado para progressivamente efetivar o direito ao acesso a uma moradia adequada,

    que deveria incluir medidas razoveis capazes de, alm de outras coisas, providenciar

    socorro para as pessoas que no tinham acesso a terra, nem abrigo e que estariam

    vivendo em situao deplorvel, medidas essas a serem monitoradas pela Comisso de

    Direitos Humanos que atuou no caso como amicus curiae.

    Direito Sade Caso TAC [14] a Corte Constitucional sul-africana

    determinou que o Poder Pblico providenciasse gratuitamente o fornecimento de

    remdios para as gestantes portadoras do HIV, bem como para seus bebs quando

    nascessem.

    Casamento Gay [15] A Corte Constitucional da frica do Sul decidiu que seria

    inconstitucional negar aos homossexuais o direito de se casarem. Com isso, determinou

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    15/44

    ao Parlamento que emendasse, dentro de um ano, as leis sobre o casamento, para que

    incluam as unies de pessoas do mesmo sexo.

    H alguns meses a Corte Constitucional Colombiana impediu uma tentativa de

    viabilizao de um terceiro mandato para o ento presidente Sr. lvaro Uribe[16],

    traduzida numa manifestao muito forte de judicializao da poltica.

    Evidencia-se um fenmeno, embora seja um pouco mais agudo no Brasilcontemporneo, mas um fenmeno do segundo ps guerra, decorrente do fato que a

    maioria dos pases do mundo passaram a ter cortes constitucionais, e portanto

    prevaleceu o modelo norte americano, em que as leis so sujeitas ao controle de

    constitucionalidade por um rgo do poder Judicirio, ou que se estrutura como se fosse

    um rgo do Judicirio, e a partir da, no mundo romano germnico, a judicializao

    passou a estar crescentemente presente e os exemplos contemporneos so

    extremamente significativos.

    Portanto, em todo o mundo h o fenmeno que a judicializao, passando o

    Judicirio a ser um ator poltico relevante no cenrio atual.

    Esta no uma histria constante, ela pendular, como bem ressalta o Professor Lus

    Roberto Barroso, em que h avanos e recuos da relevncia do Judicirio, normalmente

    em funo da legitimidade, maior ou menor, do processo poltico majoritrio nos pases,

    a cada tempo.

    O processo poltico majoritrio aquele que normalmente envolve o Executivo e

    Legislativo e que feito de debate pblico e de eleies de maneira geral.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    16/44

    Algum poderia dizer que, a rigor, no Brasil no temos nenhuma novidade, j que, afinal

    de contas, o controle de constitucionalidade praticamente nasce juntamente com a

    repblica.

    Tal assertiva no verdadeira, como ser explicitado no capitulo seguinte, que trata do

    caso brasileiro.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    17/44

    3. O CASO BRASILEIRO

    Todas as constituies brasileiras, de 1891 pra c, consagraram a hiptese do controle

    de constitucionalidade[17]. Inicialmente, com nfase no controle difuso e concreto, mas

    j havia controle de constitucionalidade.

    Entretanto, em que pese existir o controle, as pessoas no pensavam na Constituio

    como norma.

    Eis o maior empecilho efetividade desse controle e de todos os preceitos

    constitucionais.

    Some-se a isso o absoluto descompasso entre o que diziam as constituies e as prticas

    polticas no Brasil.

    Mesmo antes da Constituio da Repblica, a Constituio de 1824 consagrava a

    igualdade, mas no tinha uma palavra sobre a escravido, uma das principais atividades

    econmicas do pas poca.

    Em 1891, surge o sufrgio universal, mas, no entanto, todas as eleies eram

    sistematicamente fraudadas, tornando o voto quase que irrelevante, juntamente com um

    amplo catlogo de direitos individuais que ficavam da porteira da fazenda pra fora.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    18/44

    Na prtica o que se tinha era o coronelismo, que dentro do seu domnio territorial e no

    mbito em que exercia seu poder poltico, quem mandava era o coronel.

    Na era das constituies do regime militar, a de 1969, em seu artigo 165, inciso XVIII,

    enunciava que o trabalhador tinha direito clnica de repouso e colnia de frias.

    E os registros hoje acessveis no indicam que em algum momento algum chegou a

    propor uma ao trabalhista exigindo seu direito dita colnia de frias.

    Justamente por que isso era visto como um constitucionalismo de fachada.

    No havia na cultura jurdica a ideia de que aquilo era norma. Que podia e deveria ser

    aplicada na realidade social, no penas como fonte inspiradora[18].

    Ainda hoje, a grade curricular das faculdades de direito refletem isso, estimulando o

    foco no Direito Privado e disciplinas correlatas, reservando um espao mnimo para o

    Direito Constitucional, que estudado nos primeiros anos da faculdade, junto com

    outras disciplinas introdutrias, como se a Constituio Federal no fosse norma de

    verdade.

    Ento, de certa forma, at mesmo no nosso currculo reflete essa viso de mundo em que

    a Constituio tem funo acessria, no muito importante, quase uma proclamao

    retrica e no uma norma jurdica efetiva.

    Isso comea a mudar no Brasil aps a Constituio Federal de 1988, importando apontar

    vrios fatores que contriburam pra essa mudana.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    19/44

    uma Constituio muito invasiva, que trata de uma infinidade de assuntos,consagrando, ao mesmo tempo, clusulas abertas e princpios vagos, mas com um

    potencial de irradiao enorme, como dignidade da pessoa humana, liberdade,

    igualdade, moralidade, dentre vrios outros.

    uma Constituio que apostou muito no Poder Judicirio e fortaleceu sua autonomia,

    consagrando a inafastabilidade do controle jurisdicional, a jurisdio constitucional,sobretudo ao controle concentrado e abstrato de constitucionalidade, em especial ao

    elastecer o elenco dos legitimados ativos para a provocao do Supremo Tribunal

    Federal, o que at hoje privilgio para pouco nos Estados Unidos da Amrica.

    Antes de 1988, o nico que podia provocar a Corte Constitucional Brasileira no controle

    abstrato de constitucionalidade era o Procurador Geral da Repblica, que poca era

    nomeado e exonerado livremente pelo Presidente da Repblica, colocando o prprio

    controle em cheque, pois no se esperava que o Procurador Geral questionasse medidas

    adotadas pela prpria Administrao Pblica.

    A Constituio Cidad de 1988 amplia sensivelmente o rol de legitimados, incluindo

    muitos daqueles que efetivamente tem interesse no questionamento judicial, tornando o

    procedimento muito mais efetivo.

    H hoje em dia quase um convite pra que isso ocorra, onde aquele que perde uma

    disputa no espao poltico tem um incentivo institucional para levar o debate a um

    terceiro turno poltico, agora, no Supremo Tribunal Federal.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    20/44

    Incentivado ainda pelos baixos custos, comparados aos de se tentar reverter no prprio

    processo poltico uma eventual derrota, dependendo da mobilizao da opinio pblica e

    uma srie de outros fatores.

    Ento esse arranjo da Constituio Federal de 1988, em boa parte favoreceu a

    judicializao da poltica.

    Alm disso, atualmente as pessoas tem mais conscincia de seus prprios direitos e no

    tem mais medo de postul-los em juzo.

    No se trata, pois, de reduzir a Constituio a condio de norma, mas elev-la a essa

    estatura, pois se em teoria ela mais que uma norma, na prtica, no detinha fora

    alguma.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    21/44

    4. PROBLEMTICA

    Ento, apesar de adotar uma viso otimista a respeito da judicializao da poltica,

    importa tambm suscitar alguns problemas que esse fenmeno enseja.

    Procuremos nos ater a 3 questes centrais:

    O Problema do Elitismo;

    O Problema Democrtico;

    O Problema da Capacidade Institucional.

    H autores que fazem um paralelo entre judicializao da poltica e posies mais

    progressistas ou posies mais conservadoras, apesar de a melhor doutrina apontar

    falhas nesse paralelo.

    Ser favorvel ao ativismo judicial, ao Judicirio muito forte, no necessariamente uma

    bandeira que favorea as causas emancipatrias, nem necessariamente uma causa

    contrria a elas, pois isso depende de uma srie de fatores.

    E encontramos na histria exemplos de uma coisa e de outra.

    Talvez o exemplo de um Judicirio superativista, no mundo todo, seja o do modelo norte

    americano, sobretudo da Suprema Corte Norte-Americana, no final do sculo XIX e

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    22/44

    incio do sculo XX, at o final da dcada de 30, num perodo que foi conhecido como a

    Era Lockner1.

    No vale aqui explicar detalhes sobre a Lockner era, mas basta dizer o que fez o

    Judicirio naquele perodo.

    A partir de uma leitura da Constituio, em uma clusula muito vaga constante na

    Constituio americana, que a do devido processo legal, impediu a legislao que

    protegia os trabalhadores, que intervinha nas relaes sociais em proveito das partes

    mais frgeis, em proveito dos grupos mais vulnerveis.

    E isso sem o menor amparo democrtico, pois a maior parte da populao era contrria a

    tais vedaes, e tambm sem nenhum amparo na prpria Constituio, uma vez que ela

    no tratava desse assunto

    Isso ficou muito claro depois da eleio do presidente Roosevelt, que tinha um amplo

    respaldo popular e ainda assim via a Suprema Corte impedindo muitas de suas polticas.

    Ento, temos ali um extremo ativismo judicial, erigido a partir de uma retricaconservadora de direitos fundamentais.

    1 A expresso ativismo judicial foi utilizada para estigmatizar a jurisprudncia progressista da Corte Warren. No entanto,que o ativismo judicial precedeu a criao do termo e, nas suas origens, era deveras conservador. Na verdade, foi justamentena atuao proativa da Suprema Corte que os setores mais reacionrios encontraram amparo para a segregao racial (DredScott v. Sanford, 1857) e para a invalidao das leis sociais em geral (Era Lochner, 1905-1937), culminando no confrontoentre o Presidente Roosevelt e a Corte, com a mudana da orientao jurisprudencial contrria ao intervencionismo estatal(West Coast v. Parrish, 1937). A situao se inverteu no perodo que foi de meados da dcada de 50 a meados da dcada de70 do sculo passado. Todavia, depois da guinada conservadora da Suprema Corte, notadamente no perodo da presidncia

    de William Rehnquist (1986-2005), coube aos progressistas a crtica severa ao ativismo judicial que passou a desempenhar.V. Frank B. Cross e Stefanie A. Lindquistt, The scientific study of judicial activism, Minnesota Law Review 91:1752, 2006-2007, p. 1753 e 1757-8; Cass Sunstein, Tilting the scales rightward,New York Times, 26 abr. 2001 (um notvel perodo deativismo judicial direitista) e Erwin Chemerinsky, Perspective on Justice: and federal law got narrower, narrower, LosAngeles Times, 18 mai. 2000 (ativismo judicial agressivo e conservador) [18].

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    23/44

    Em contraponto, devemos olhar pro que ocorre na Colmbia de hoje, talvez o pas latino

    com o maior grau de judicializao da poltica, convertido em um processo

    extremamente avanado e progressista, na defesa das minorias, dos grupos mais pobres,

    de homossexuais, de indgenas e afrodescentes.

    Aqui no Brasil, tornou-se o discurso mais frequente associar a defesa do ativismo

    judicial a bandeiras ou teses progressistas, o que no verdade[18].

    Talvez isso se explique pela histria do Brasil e do seu Judicirio, pois ele pecou, data

    vnia, mais pela omisso do que pelo excesso, causando estranheza a superatividade da

    jurisdio.

    A postura do Judicirio brasileiro, apesar de uma ou outra exceo, geralmente era de

    evitar o embate com os poderes polticos, sobretudo o Executivo.

    luz um pouco desse passado, a doutrina e o pensamento jurdico brasileiro,

    comearam a depositar no Judicirio uma certa esperana, a qual receia-se que o

    Judicirio no ter como atender.

    Pensa-se no Judicirio como se fosse a fora mais progressista, o Hrcules dos direitos,

    como se fosse libertar a todos ns e combater a opresso onipresente nas relaes

    econmicas e sociais.

    No nos cumpre, entretanto, afirmar que o nosso Judicirio tem essa capacidade, nem

    que esteja l pra isso.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    24/44

    Outro problema que a judicializao da poltica enseja o problema democrtico, j que

    todos ns sabemos que os juzes no so eleitos e podem derrubar decises tomadas

    pelos representantes do povo.

    Mas talvez dissesse que o juiz ou o Ministro do Supremo, quando exerce a jurisdio

    constitucional, no est substituindo a vontade do legislador pela sua. Ele est apenas

    tutelando a Constituio, que norma superior e produto da vontade popular.

    No to singela assim, a questo.

    Em primeiro lugar, pois a prpria ideia de uma Constituio estabelecida num dado

    momento fixar limites intransponveis para o legislador do futuro, suscita, sim, algumas

    perplexidades tendo em vista a teoria democrtica.

    possvel atentar para uma possibilidade de tirania intergeracional, que retiraria do

    alcance das novas geraes o seu direito de escolha, criando verdadeira ditadura dos

    mortos sobre os vivos.

    Alm disso, tem um problema talvez ainda mais grave, que o fato de que essasnormas, que muitas vezes ensejam a judicializao da poltica, serem muito vagas e se

    abrirem para leituras das mais variadas, como por exemplo, dignidade da pessoa

    humana.

    H certas expresses cujo sentido conseguimos definir com uma certa dose de

    objetividade, enquanto em outras as compreenses, os gostos experincias e opinies decada um vo pesar muito.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    25/44

    Para ilustrar o impasse, vejamos casos como o do aborto de feto anenceflico, onde umadas partes alega que a impossibilidade de aborto atenta contra a dignidade da pessoa

    humana das mulheres e o outro lado alega que o aborto atenta contra a dignidade da

    pessoa humana dos fetos.

    Ambos tem um grau de razo, de modo que dificulta a escolha sobre qual direito deve

    prevalecer.

    H ainda quem pergunte porque no o prprio povo quem vai decidir, mas sim o

    Judicirio.

    No to fcil legitimar a jurisdio constitucional e a legitimidade democrtica dela,

    pelo fato de que a Constituio no tem um sentido pr definido, permitindo, no ato de

    interpretar, uma boa parcela de criatividade e pessoalidade.

    E se o juiz tambm cria, muitas vezes, ao criar ou recriar a norma, ele coloca a sua

    prpria vontade, e, ao faz-lo, derruba a vontade de quem tem a legitimidade decorrente

    das urnas, do batismo do voto popular.

    Um terceiro problema que a judicializao da poltica enseja diz respeito prpria

    capacidade do poder Judicirio.

    Temos que lidar e resolver problemas concretos, com agentes concretos, tal como eles

    so, com suas limitaes e capacidades.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    26/44

    Se sabemos hoje que o legislador no a encarnao da vontade geral do povo, que

    muitas vezes existe um dficit democrtico no prprio Legislativo, que minimiza um

    pouco o problema democrtico a que aludimos, por outro lado tambm se sabe que o

    Judicirio tem limitaes de capacidade institucional, vez que o Direito cada vez mais

    interdisciplinar.

    Hoje comeamos a ter o controle social, a mdia e a sociedade discutindo, sem isso de

    pensar o juiz como um encastelado numa torre de marfim.

    Outro ponto que devemos quebrar a ideia de que o intrprete da Constituio seria

    apenas o Judicirio.

    Todos ns somos intrpretes da Constituio. O Legislativo, o Executivo e o prprio

    povo so intrpretes da Constituio, sendo o Poder Judicirio um mero intrprete

    qualificado.

    O ideal constitucional de que um Poder possa efetivamente controlar o outro e que

    todo o povo possa controlar a atividade desses poderes.

    Entretanto, algum tem que dar a ltima palavra pra julgar um caso concreto, e a ltima

    palavra deve ser do Judicirio, pois isso caracterstica do Estado de Direito.

    E no h nada de ruim nisso, pois quando o texto constitucional trata dos efeitos

    vinculantes do controle de constitucionalidade, ele cita o Executivo, mas bota de fora o

    Legislativo, possibilitando a inovao no ordenamento jurdico, sem engess-lo.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    27/44

    Temos aqui uma pista importante de por que, no Brasil, ao contrrio da posio hoje

    hegemnica nos Estados Unidos da Amrica, no existe um Judicirio com o monoplio

    da ltima palavra em termos de interpretao constitucional.

    Se algum tem que dar a ltima palavra ao analisar um caso concreto, certo tambm

    que ningum fixa derradeiramente o significado das palavras da Constituio, pois ele

    deve ficar permanentemente aberto ao debate pblico, numa sociedade que deve se

    mobilizar contra as decises do Judicirio que ela considera incorretas.

    Outro mecanismo pra viabilizar a convivncia com esse ativismo judicial, seria o

    Judicirio Brasileiro incorporar a ideia de que em alguns casos ele pode ser mais ativo e

    em outros deve mais cauteloso, auto contido e reverente em relao s escolhas e

    valoraes feitas por quem tem mandato popular ou expertise em determinado assunto,

    (i) evitando aplicar diretamente a Constituio a situaes que no estejam no seu

    mbito de incidncia expressa, aguardando o pronunciamento do legislador ordinrio;

    (ii) utilizam critrios rgidos e conservadores para a declarao de inconstitucionalidade

    de leis e atos normativos; e (iii) abstm-se de interferir na definio das polticas

    pblicas.[18]

    No se trata de ressuscitar doutrinas antigas da insindicabilidade jurisdicional, da

    questo poltica imune ao controle, haja vista que elas no tem espao numa ordemjurdica como a nossa, que consagra a inafastabilidade do controle jurisdicional.

    Trate-se, sim, de calibrar, luz de algumas variveis, quando o Judicirio deve ser mais

    ou menos ativista, por meio da fixao de standards de conduta.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    28/44

    Em alguns casos ele s deve derrubar uma lei se for ostensiva, a sua incompatibilidade,

    com o texto constitucional, em outros casos se justifica uma posio mais construtiva,

    que busque, enfim, a partir dos valores que a Constituio consagra, algumas

    intervenes.

    O grau de participao da sociedade importante instrumento na elaborao de uma

    norma, pois quanto maior for, mais auto contido deve ser o Judicirio ao analisar a sua

    constitucionalidade, constituindo um importante standard para a aplicao cientfica e

    metodolgica dessa nova sistemtica.

    Um exemplo prtico: H pouco tempo foi realizado um referendo contra a posse de

    armas.

    Houve um amplo debate social, foram apresentadas as vrias facetas do panorama e a

    posio pelo desarmamento perdeu[19].

    Algum pode construir, com base no direito vida, que quanto mais se facilita o acesso

    s armas, mais se ameaa o direito vida.

    Nesse caso, entretanto, o Judicirio no pode e nem deve fazer essa leitura, por conta da

    deliberao direta do povo, exigindo uma postura auto contida.

    No julgamento de pesquisa de clulas tronco, o ilustre Prof. Lus Roberto Barroso

    sustentou brilhantemente da tribuna que, o fato de as pesquisas com clulas tronco ter

    sido amplamente discutida na sociedade e apoiada por uma maioria consagradora doCongresso Nacional, era extremamente relevante para que o Supremo adotasse uma

    posio auto contida sobre o tema.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    29/44

    Infelizmente, na ocasio, o STF entendeu que esse aspecto no era relevante, e assimtem se posicionado at agora, conferindo, de fato, menor grau de cientificidade

    tcnica.

    Um segundo standard Proteo de minorias, no no sentido numrico, mas no sentido de

    maior ou menor vulnerabilidade.

    Infelizmente o processo poltico majoritrio, pela sua prpria natureza, no o espao

    mais adequado para a promoo e proteo dos direitos das minorias.

    E se h alguma legitimidade importante e relevante do Judicirio exatamente a de

    proteger as minorias do arbtrio e do descaso das maiorias polticas.

    A constatao de condies que restrinjam a constitucionalidade democrtica, impondo

    um padro de "cidadania de baixa intensidade", indica a total incapacidade do Estado de

    assegurar a todos os cidados os direitos que lhes so genericamente reconhecidos [20].

    Questes como a de unio de pessoas do mesmo sexo, em que sabemos que existe um

    enorme preconceito no cenrio poltico, traduzem verdadeira barreira tutela legal,

    conferem ao Judicirio a legitimidade para ser ativista e fazer construes extremas, que

    podem vir a ser supridas ou compensadas pelo Legislativo oportunamente.

    A questo do voto dos presos um bom exemplo, pois estes j so extremamente

    estigmatizados e no podem sequer votar.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    30/44

    Talvez uma consulta populao, constate que achamos as condies dos presdios noBrasil boa demais e que poderia ser investido menos dinheiro no sistema penitencirio,

    pois aqueles, os encarcerados, no merecem o receber recursos nossos, retratando um

    caso mais do que justificado de necessrio ativismo por parte do Judicirio.

    Outro standardimportante que, quanto mais um tema envolver questes no-jurdicas,

    quanto mais ele extravasar a seara em que o Judicirio tem a sua expertise, mas oJudicirio deve ser cauteloso ao avaliar as escolhas e valoraes feitas por quem tem

    mais conhecimento da matria.

    Por derradeiro, muito importante que tenhamos infirmado na nossa cultura a ideia de

    que a nossa Constituio norma e que o Judicirio tem que estar disponvel pra

    proteg-la e tutel-la.

    Nesse ponto, importa destacar que h uma significativa distino entre judicializao

    da poltica e ativismo judicial.

    A judicializao da poltica, de uma maneira geral, significa uma transferncia de

    poder poltico das instncias tradicionais, que so o Legislativo e o Executivo, para o

    poder Judicirio, que passa a se pronunciar e a dar a ltima palavra em questes de largo

    alcance poltico, social e moral, como tem sido na experincia brasileira.

    Embora o fenmeno seja mundial, o Brasil tem peculiaridades que potencializaram a

    judicializao, dentre as quais, talvez a mais notvel, seja a circunstancia de termos uma

    Constituio extremamente abrangente, que alm de tratar de muitos temas, o faz de

    maneira extremamente minuciosa e detalhada.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    31/44

    De certa forma, constitucionalizar significa judicializar, porque trazer uma matria paraa Constituio e cristaliz-la numa norma, significa tirar aquele tema do debate poltico

    e traz-lo para o mundo do direito.

    Portanto, na medida em que existe, no Brasil, norma sobre quase tudo, quase tudo

    judicializvel.

    De modo que a Constituio trata de separao de poderes, trata de direitos

    fundamentais, trata do sistema tributrio, o que pareceria normal, mas tambm trata do

    sistema previdencirio, trata da policia rodoviria, dos cartrios, da sede do Colgio

    Pedro II, de ndios, trata de idosos, crianas, meio ambiente e outros temas.

    Poucas constituies so, como a brasileira, analticas, prolixas e casusticas.

    impossvel deixar de observar que nossa carta poltica produziu uma

    constitucionalizao excessiva e esta uma das causas de inafastabilidade da

    judicializao da poltica no Brasil.

    O fenmeno da judicializao um fato que decorre desse arranjo constitucional que

    ns temos. Em que a Constituio trata de muitas coisas e todo juiz pode aplicar a

    Constituio ao caso concreto.

    De modo que evidencia-se a premissa do presente trabalho, de que a judicializao no

    Brasil um fato, no um deciso policita do Judicirio de se expandir.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    32/44

    A deciso poltica do Judicirio se expandir ou no est ligada a um outro fenmeno que

    no a judicializao, mas o ativismo judicial.

    Como j foi dito anteriormente, medida em que se diz que a judicializao da poltica

    um fato, possvel dizer que o ativismo judicial uma atitude.

    O ativismo judicial um modo pr ativo e expansivo de se interpretar a Constituio

    para lev-la a situaes que no foram previstas pelo legislador ordinrio, nem pelo

    legislador constituinte. E, portanto, se expande o alcance da Constituio.

    No final das contas, o ativismo no pode ser classificado como bom ou ruim, como

    progressista ou conservador.

    uma posio ativista a que autoriza o Supremo Tribunal Federal, dizer se o regime

    jurdico das unies estveis previstas no Cdigo Civil, se aplica tambm s unies

    homoafetivas.

    Isso no est previsto no ordenamento jurdico.

    Ainda assim, defende-se essa possibilidade sob o fundamento de que decorre do

    princpio da Dignidade da Pessoa Humana, que as pessoas escolham seus projetos

    existenciais e onde querem colocar os seus afetos.

    Esta seria, nesta acepo, uma interpretao ativista, pois se leva a tutela da Constituio

    uma matria que no foi expressamente tratada.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    33/44

    O ativismo, portanto, identifica esse modo expansivo de levar a Constituio a espaosem relao aos quais nem o constituinte nem o legislador ordinrio havia se

    manifestado.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    34/44

    5. CONCLUSO

    Determinados avanos sociais no superam o processo poltico majoritrio, em

    realidade, por que as maiorias no fazem com que o processo avance, apesar de deterem

    as rdeas da legiferao.

    Nesses casos, preciso uma Corte Constitucional ousada e corajosa, que faa o processo

    social avanar.

    A judicializao da poltica e o ativismo judicial tem sido fatores mais positivos que

    negativos, sobretudo olhada a jurisdio da nossa Corte Constitucional, contribuindo

    para o avano do processo social.

    Em matria de direito civil, alm de o Judicirio ter, ao longo do tempo, criado os

    direitos das mulheres no casadas, que eram extremamente discriminadas e foram

    depois consagradas, na Constituio Federal de 1988.

    Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal acabou com a possibilidade de priso

    civil por dvida, um avano institucional importante.

    O mesmo Tribunal decidiu que o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) se aplica nas

    relaes envolvendo os clientes do sistema bancrio, o que foi uma disputa ideolgica

    importantssima, travada perante a corte.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    35/44

    O Supremo Tribunal Federal decidiu, ainda, que inconstitucional a vedao da

    progresso de regime no cumprimento de pena, no caso dos crimes hediondos, o que era

    uma poltica pblica extremamente arbitrria, que impedia a ressocializao das pessoas

    e foi um avano em matria penal.

    Tambm, num caso delicadssimo envolvendo liberdade de expresso e antissemitismo

    entendeu, com acerto, que os grupos vulnerveis devem ser protegidos de manifestaes

    racistas.

    Ainda, fez a demarcao das terras indgenas no caso Raposa Serra do Sol, nos

    mesmos moldes que o fez o Executivo, pela portaria do Ministrio da Justia.

    Como visto, possvel contabilizar com certa facilidade, muitas decises que

    significaram avano no processo social, tomadas no mbito da jurisdio constitucional

    no Brasil.

    Assim, razovel concluir que, por enquanto, frise-se, a democracia brasileira tem sido

    bem servida pela expanso do poder Judicirio, levada a efeito por meio da

    Judicializao da Poltica e do Ativismo Judicial.

    Se nossos Tribunais esperassem que o congresso legislasse sobre unies homoafetivas

    ou sobre interrupo da gestao em caso de inviabilidade do feto, muito provavelmente

    daqui h mais de uma ou duas dcadas ainda estaramos reclamando por isso, de modo

    que a Suprema Corte brasileira deve tratar de tais assuntos, ou uma garantia

    constitucional poder no ser desfrutada.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    36/44

    Nesse contexto, o processo judicial em si prprio e em sua interao com todo o sistema

    poltico, constitui um meio de articulao de conflitos e uma forma de exerccio da

    autoridade constitucional.[21]

    Assim, possvel afirmar que uma dose de ativismo em favor dos direitos fundamentais,

    em uma sociedade que tem alguns espaos retrgrados, como a sociedade brasileira,

    absolutamente vital para o avano do progresso social e a promoo da justia para

    todos de maneira geral.

    Portanto, no demais frisar, o ativismo judicial, um tanto diferente da judicializao,

    uma atitude, uma postura filosfica no processo de interpretao.

    Assim, importa destacar, em algumas matrias o Judicirio pode e deve ser ativista, e

    em outras ele pode e deve ser auto contido.

    Portanto, o que pode gerar debate em quais matrias o Judicirio deve ter uma tal

    atitude, e em quais ele deve ter a outra.

    Por fim, preciso saber quais os riscos envolvidos nessa expanso do Judicirio, no

    sem antes assinalar que tal expanso decorre do fato de que o poder Legislativo, por

    circunstncias variadas, vive um momento de crise de legitimidade, de

    representatividade, de funcionalidade, evidenciando um descolamento entre a classe

    poltica e a sociedade civil no Brasil[18].

    Portanto, nesse espao, em que a poltica no corresponde aos anseios da sociedade,que o Judicirio tem ocupado o espao, aceitado a judicializao e sido ativista.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    37/44

    Mas impossvel deixar de reconhecer que isto decorre, em parte, de uma anomalia e,assim sendo, que o pas precisa de uma reforma poltica que recoloque o Legislativo no

    centro do debate poltico, pois o local de debate poltico, por excelncia, o Legislativo

    e no o Poder Judicirio, como tem ocorrido.

    Mas o Legislativo vive uma crise de tal gravidade, que antes que a lei que permitiu as

    pesquisas com clulas tronco embrionrias fosse aprovada no Legislativo, a participaopopular ou debate pblico, foi extremamente limitado.

    Houve debate no Congresso, houve aprovao significativa, mas um debate pblico

    muito limitado.

    Somente quando a matria foi posta perante o Supremo Tribunal Federal, a mdia, as

    universidades e a sociedade em geral debateu o assunto, evidenciando que hoje o Poder

    Judicirio tem muito mais visibilidade do que o Legislativo.

    No nos cumpre valorar se isso bom ou no, mas sim reconhecer que h fatos da vida

    que justificam essa expanso judiciria.

    As pessoas inteligentes e comprometidas com futuro do Brasil tem a obrigao de

    investir sua energia em resgatar a credibilidade do Legislativo, por que no h

    democracia sem um Legislativo srio e capaz de representar de maneira legtima e

    adequada a sociedade como um todo.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    38/44

    De certa forma as crticas poltica e ideolgica se agregam e vem justapostas, a primeira

    envolve a questo democrtica, posto que os membros do poder Judicirio no so

    eleitos, mas recrutados por critrios tcnicos, portanto, a rigor tcnico, eles no so

    representantes do povo, pois no tem o batismo da vontade popular.

    Por essa razo, determinadas decises polticas no devem ter o seu foro prprio no

    Judicirio, exatamente por sua falta de representatividade eleitoral.

    Importa observar que mesmo no tendo representatividade democrtica o Judicirio

    pode, e deve, atuar em nome da Constituio, inclusive para defender as minorias contra

    a vontade das maiorias, no processo poltico majoritrio.

    Mas a segunda crtica, ideolgica, mais difcil de equacionar, posto que, por estranhos

    desgnios do processo histrico brasileiro, o Judicirio hoje mais representativo do que

    o Legislativo, luz das evidencias j expostas.

    Essa latente capacidade do Judicirio de estar em melhor sintonia com a sociedade que o

    Legislativo que tem se manifestado em questes sucessivas, como a da fidelidade

    partidria e a do nepotismo em que, o no atendimento de demandas sociais pela

    classe poltica motivou ao Judicirio a expandir o seu poder e apreciar a essasdemandas, aps a devida provocao pelos titulares do direito.

    De modo que a questo poltica existe, no desimportante, mas, pensada numa

    contextualizao brasileira, ela tem ingredientes diferentes do debate em outras partes

    do mundo.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    39/44

    possvel afirmar que o Judicirio Brasileiro est esquerda do Congresso, de modo

    que a critica ideolgica, que pode ser verdadeira em outras partes do mundo, no

    pertinente no caso brasileiro.

    No que diz respeito capacidade institucional, embora o Judicirio possa dar a ltima

    palavra sobre quase tudo, isso no quer dizer que ele deva dar a ltima palavra sobre

    quase tudo.

    Ou seja, a humildade de o Judicirio reconhecer no ser a instncia tecnicamente mais

    qualificada para produzir a ltima palavra em determinada matria especialmente

    importante, como em questes como as que envolvam transposio de rios ou

    demarcao de terras indgenas feitos aps a anlise de laudos antropolgicos, por

    exemplo.

    O poder Judicirio a instncia de afirmao de direitos fundamentais e de proteo do

    jogo democrtico.[18]

    Para isso, as escolhas polticas devem ser feitas por quem tem voto e o Judicirio deve

    tambm ser deferente para a discricionariedade tcnica do Executivo, desde que ela seja

    executada com razoabilidade.

    E h uma terceira e ltima crtica, alm da poltico-ideolgica e da capacidade

    institucional, que o risco da limitao do debate, na medida em que a poltica se

    judicializa, h o risco de voc excluir do debate pblico todas as pessoas que no

    dominam as categorias do Direito e que no tem acesso ao

    loco em que as decises jurdicas so tomadas.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    40/44

    Automaticamente, exclui-se do debate uma parcela relevante da sociedade brasileira, o

    que evidentemente indesejvel.

    A judicializao da poltica deve agregar valor ao debate pblico, mas no se sobrepor a

    esse debate, que deve ser travado na sociedade, por meio de um movimento social, na

    imprensa, nas universidades, no Congresso Nacional e onde mais haja algum querendo

    emitir uma opinio.

    Por derradeiro, preciso no acreditar que a judicializao possa ser a soluo normal

    das crises polticas, posto que a judicializao sempre uma patologia.

    Judicializar significa que a norma no foi cumprida espontaneamente, motivo pelo qual

    ningum pode achar que a judicializao seja a forma natural de se resolver os

    problemas numa sociedade democrtica.

    Pessoas pensam de maneira diferente, pois tm religies diferentes, vises filosficas

    prprias e opes existenciais particulares, de modo que, onde h desacordo moral

    razovel que o juiz precise decidir, essa escolha envolver alguma dose de valorao

    poltica.

    A expresso "judicializao da poltica" tem sido proposto para designar esse papel

    poltico dos juzes, sobretudo dos tribunais constitucionais.

    Embora poltica e direito sejam domnios diferentes, preciso reconhecer que no so

    mundos apartados, no sendo possvel construir um muro divisrio entre ambos.

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    41/44

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    42/44

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    [1] VALLINDER, T. (1994), "The judicialization of poltics - a world-wide

    phenomenon: introduction".International Political Science Review, 15, 2,: 91-9.

    [2] TATE, C. N.; e VALLINDER, T. (ores.). (1995), The global expansion of

    judicial power,New York, New York University Press.

    [3] http://www.estadao.com.br/especiais/decisao-no-stf,27637.htm Acesso em

    novembro de 2011.

    [4] http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4326086-EI715,00-

    STF+SUS+deve+garantir+tratamentos+e+remedios+de+alto+custo.html Acesso em

    novembro de 2011.

    [5] http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-stf-cpi-nao-vai-infringir-

    direitos-de-aparecido,173241,0.htm Acesso em novembro de 2011.

    [6] http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-

    TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+

    FETOS+ANENCEFALOS.html Acesso em novembro de 2011.

    [7] http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/uniao-civil-estavel-homossexual-

    tem-maioria-no-stf/ Acesso em novembro de 2011.

    [8] http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1516298-5601,00.html Acesso em

    novembro de 2011.

    [9] BARROSO, Lus Roberto (2010), Curso de Direito Constitucional

    Contemporneo: Os Conceitos Fundamentais e a Construo do Novo Modelo, 2. ed.,

    So Paulo, Ed. Saraiva.

    http://www.estadao.com.br/especiais/decisao-no-stf,27637.htmhttp://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4326086-EI715,00-STF+SUS+deve+garantir+tratamentos+e+remedios+de+alto+custo.htmlhttp://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4326086-EI715,00-STF+SUS+deve+garantir+tratamentos+e+remedios+de+alto+custo.htmlhttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-stf-cpi-nao-vai-infringir-direitos-de-aparecido,173241,0.htmhttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-stf-cpi-nao-vai-infringir-direitos-de-aparecido,173241,0.htmhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/uniao-civil-estavel-homossexual-tem-maioria-no-stf/http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/uniao-civil-estavel-homossexual-tem-maioria-no-stf/http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1516298-5601,00.htmlhttp://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1516298-5601,00.htmlhttp://www.estadao.com.br/especiais/decisao-no-stf,27637.htmhttp://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4326086-EI715,00-STF+SUS+deve+garantir+tratamentos+e+remedios+de+alto+custo.htmlhttp://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4326086-EI715,00-STF+SUS+deve+garantir+tratamentos+e+remedios+de+alto+custo.htmlhttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-stf-cpi-nao-vai-infringir-direitos-de-aparecido,173241,0.htmhttp://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-stf-cpi-nao-vai-infringir-direitos-de-aparecido,173241,0.htmhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL747855-5598,00-TEMPORAO+DEFENDE+EM+AUDIENCIA+NO+STF+ABORTO+EM+CASO+DE+FETOS+ANENCEFALOS.htmlhttp://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/uniao-civil-estavel-homossexual-tem-maioria-no-stf/http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/uniao-civil-estavel-homossexual-tem-maioria-no-stf/http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1516298-5601,00.html
  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    43/44

  • 7/23/2019 Ativismo Judicial e Judicializao da Poltica na Realidade Neoconstitucional

    44/44

    [20] O'DONNELL, G. (1993), "On the state, democratization and some conceptual

    problems: A Latin American view with glances at some postcommunist

    countries". World Development, 21, 8: 1355-69.

    [21] DWORKIN, R. (1985), "Political judges and the rule of law", in id.,A Matter of

    Principle, (pp. 11-32). Cambridge, Harvard University Press.