ativo intangível e valor de mercado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CINCIAS ECONMICAS DEPARTAMENTO DE CINCIAS CONTBEIS CENTRO DE PS-GRADUAO E PESQUISAS EM CONTABILIDADE E CONTROLADORIA

Dissertao:

ATIVOS INTANGVEIS E O DESEMPENHO ECONMICO DAS EMPRESAS DO NOVO MERCADO

BELO HORIZONTE 2009 Priscilla Bianchi Couto

ATIVOS INTANGVEIS E O DESEMPENHO ECONMICO DAS EMPRESAS DO NOVO MERCADO.

Dissertao apresentada ao Centro de Ps-Graduao e Pesquisas em Contabilidade e Controladoria CEPCON da Faculdade de Cincias Econmicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Cincias Contbeis. rea de Concentrao: Contabilidade Financeira Orientador: Prof. Dr. Wagner Moura Lamounier Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte Faculdade de Cincias Econmicas 2009

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Wagner Moura Lamounier, pelo apoio no decorrer do curso e no desenvolvimento do trabalho, pela disposio em ajudar e por me indicar sempre a direo a ser tomada nos momentos de maior dificuldade. Aos professores do curso, em especial ao Prof. Dr. Romualdo Douglas Colauto, pela sabedoria e amizade demonstrada durante toda a trajetria do mestrado. Aos membros da banca de qualificao e defesa, Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira e Prof. Dr. Poueri do Carmo Mrio, pelas excelentes contribuies. Aos funcionrios do departamento por toda a ajuda durante esses anos. CAPES, por financiar parte dos meus estudos. Aos amigos que cultivei durante o curso, em especial: Amanda, Helton e Amynthas, pelo companheirismo e pela aprendizagem. Aos amigos que me apoiaram durante todo o processo, em especial, Gabriela, Roberta e Wanessa. Deus por todas as oportunidades.

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RESUMO

A necessidade de diferenciao das empresas diante do mais fcil acesso s tecnologias e inovaes o que estimula a criao dos ativos intangveis, visto que estes so nicos e inimitveis. Vrias pesquisas vm sendo feitas no intuito de quantificar estes ativos, embora no exista na literatura um modelo totalmente confivel e livre de questionamentos. A representatividade desses ativos, de acordo com os modelos existentes, diante do patrimnio contbil das empresas alvo de diversos questionamentos quanto necessidade de mensurao dos mesmos pela Contabilidade. Neste estudo procura-se identificar o comportamento dos ativos intangveis das empresas do Novo Mercado de Governana Corporativa por meio das mtricas mais utilizadas nas pesquisas acadmicas, baseadas na capitalizao de mercado, bem como mensurar o impacto dos nveis de intangibilidade no desempenho econmico das companhias. Os resultados obtidos demonstram que o valor de mercado da maioria das companhias do Novo Mercado superior ao valor contbil, sendo que esta diferena sofreu um aumento ao longo dos perodos analisados, e de acordo com a anlise da tendncia espera-se aumentos ainda mais significativos. Quanto s relaes entre os ndices de intangibilidade e de desempenho econmico, esta mostrou-se significativa na maioria das companhias, no entanto, observou-se tambm relaes negativas entre estes ndices.

Palavras-Chave: Intangveis . Desempenho . Governana

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ABSTRACT

The need for differentiation of business before the easiest access to technology and innovation is what stimulates the creation of intangible assets, because they are unique and arent possible to imitate. Several studies have been made in order to quantify these assets, although there isnt in the literature a completely reliable model and free of doubts. The representativeness of these assets, according to existing models, front of the business wealth the accounting is being questioned about the need of measurement. This study seeks to identify the behavior of the intangible assets of companies in the New Market of Corporate Governance by most used metrics at academics researches: based in the capitalization of market, as well as quantify the impact of the levels of intangibility in the economic performance of the company. The gotten results demonstrate that the value of market of the majority of the company of the New Market is superior to the countable value, being that this difference suffered an increase throughout the analyzed periods, and in accordance with the analysis of the trend the expects is increases more significants. How much to the relations between the indices of intangibility and economic performance, this revealed significant in the majority of the company, however, it also observed negative relations between these indices.

Key-Words: Intangible . Performance . governance

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LISTAS DE ILUSTRAES

LISTA DE FIGURAS

Figura1- Classificao do Capital intelectual Segundo Edvinsson e Malone...............................................32 Figura 2- Agrupamento das Empresas do Nvel 1 de acordo com o Grau de Intangibilidade.....................67 Figura 3- Agrupamento das Empresas do Nvel 2 de acordo com o Grau de Intangibilidade.....................68 Figura 4- Agrupamento das Empresas do Novo Mercado de acordo com o Grau de Intangibilidade.........69

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LISTAS DE QUADROS

Quadro 1- Paradigmas da Era Industrial e da Era do Conhecimento.............................................24 Quadro 2- Resumo das Variveis do Estudo..................................................................................57

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1: Anlise Descritiva do Grau de Intangibilidade das Empresas do Nvel 1......................63 Tabela 2: Anlise Descritiva do Grau de Intangibilidade das Empresas do Nvel 2......................64 Tabela 3: Anlise Descritiva do Grau de Intangibilidade das Empresas do Novo Mercado..........65 Tabela 4: Anlise Descritiva do Q Aproximado das Empresas do Nvel 1................................70 Tabela 5: Anlise Descritiva do Q Aproximado das Empresas do Nvel 2................................71 Tabela 6: Anlise Descritiva do Q Aproximado das Empresas do Novo Mercado....................71 Tabela 7- Resumo da Anlise da Relevncia dos Ativos Intangveis.....................................................73 Tabela 8- Tendncia do Grau de Intangibilidade do Nvel 1.........................................................75 Tabela 9- Tendncia do QAproximado do Nvel 1....................................................................77 Tabela 10- Tendncia do Grau de Intangibilidade do Nvel 2.......................................................78 Tabela 11- Tendncia do Qaproximado do Nvel 2...................................................................79 Tabela 12- Tendncia do Grau de Intangibilidade do Novo Mercado..........................................80 Tabela 13- Tendncia do Qaproximado Novo Mercado............................................................81 Tabela 14: Anlise da tendncia dos ndices de intangibilidade....................................................83 Tabela 15- Tendncia do da Margem Lquida do Nvel 1.............................................................84 Tabela 16- Tendncia do Retorno sobre o Patrimnio Lquido do Nvel 1.........................................84 Tabela 17- Tendncia do EVA % do Nvel 1.................................................................................85 Tabela 18- Tendncia da Margem Lquida do Nvel 2...................................................................86 Tabela 19- Tendncia do Retorno sobre o Patrimnio Lquido do Nvel 2....................................87 Tabela 20- Tendncia do EVA% do Nvel 2..................................................................................87 Tabela 21- Tendncia da Margem Lquida do Novo Mercado.......................................................88 Tabela 22- Tendncia do Retorno sobre o Patrimnio Lquido do Novo Mercado.......................89 Tabela 23- Tendncia do EVA % do Novo Mercado....................................................................90 Tabela 24: Anlise da tendncia dos ndices de Desempenho Econmico....................................91 Tabela 25: Impacto do Grau de Intangibilidade no EVA% das empresas do Nvel 1....................93 Tabela 26: Impacto do Grau de Intangibilidade na Margem Lquida das empresas do Nvel 1....94 Tabela 27: Impacto do Grau de Intangibilidade no Retorno sobre o Patrimnio Lquido das empresas do Nvel 1.....................................................................................................95 9

Tabela 28: Impacto do Q Aproximado no EVA% das empresas do Nvel 1..............................97 Tabela 29: Impacto do QAproximado na Margem Lquida das empresas do Nvel 1................98 Tabela 30: Impacto do QAproximado no Retorno sobre o Patrimnio Lquido das empresas do Nvel 1............................................................................................................................99 Tabela 31: Impacto do Grau de Intangibilidade no EVA% das empresas do Nvel 2..................100 Tabela 32: Impacto do Grau de Intangibilidade na Margem Lquida das empresas do Nvel 2..101 Tabela 33: Impacto do Grau de Intangibilidade no Patrimnio Lquido das empresas do Nvel 2...............................................................................................................................102 Tabela 34: Impacto do Qaproximado no EVA% das empresas do Nvel 2..............................102 Tabela 35: Impacto do Q aproximado na Margem Lquida das empresas do Nvel 2..............103 Tabela 36: Impacto do Q aproximado no Retorno sobre o Patrimnio Lquido das empresas do Nvel 2..........................................................................................................................104 Tabela 37: Impacto do Grau de Intangibilidade no EVA% das empresas do Novo Mercado.....105 Tabela 38: Impacto do Grau de Intangibilidade na Margem Lquida das empresas do Novo Mercado..................................................................................................................106 Tabela 39: Impacto do Grau de Intangibilidade no Retorno sobre o Patrimnio Lquido das empresas do Novo Mercado............................................................................................107 Tabela 40: Impacto do Qaproximado no EVA% das empresas do Novo Mercado..................108 Tabela 41: Impacto do Qaproximado na Margem Lquida das empresas do Novo Mercado...109 Tabela 42: Impacto do Qaproximado no Retorno sobre o Patrimnio Lquido das empresas do Novo Mercado.............................................................................................................110 Tabela 43- Relao entre o Grau de Intangibilidade e os ndices de Desempenho Econmico...111 Tabela 44: Relao entre o Q Aproximado e os ndices de Desempenho Econmico.............112 Tabela 45: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis no EVA%..............113 Tabela 46: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis na Margem Lquida..............................................................................................................................113 Tabela 47: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis no Retorno sobre o Patrimnio Lquido..............................................................................................114 Tabela 48: Impacto do Grau de Intangibilidade no Desempenho Econmico de cada Setor......115 Tabela 49: Impacto do Qaproximado no Desempenho Econmico de cada Setor...................117 Tabela 50: Relao entre o Grau de Intangibilidade e o EVA%..................................................119 10

Tabela 51: Relao entre o Q aproximado e o EVA%..............................................................120 Tabela 52: Relao entre o Grau de Intangibilidade e a Margem Lquida...................................120 Tabela 53: Relao entre o Q aproximado e a Margem Lquida..............................................121 Tabela 54: Relao entre o Grau de Intangibilidade e o Retorno sobre o Patrimnio Lquido....122 Tabela 55: Relao entre o Qaproximado e o Retorno sobre o Patrimnio Lquido................122 Tabela 56: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis no EVA%...............123 Tabela 57: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis na Margem Lquida..............................................................................................................................124 Tabela 58: Teste t de varincia combinada para o impacto dos Intangveis no Retorno sobre o Patrimnio Lquido ............................................................................................124

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LISTA DE SIGLAS

APM- Arbitrage Pricing Model BOVESPA Bolsa de Valores de So Paulo CAPM- Capital Asset Pricing Model CPC- Comit de Pronunciamentos Contbeis CVM- Comisso de Valores Mobilirios EVA- Economic Value Added FAS-Financial Accounting Standards FMI- Fundo Monetrio Internacional IASB- International Accounting Standards Board IBGC- Instituto Brasileiro de Governana Corporativa IGF- Intelect Gerenciamento Financeiro ML- Margem Lquida ROE- Retorno sobre o Patrimnio Lquido

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LISTA DE FRMULAS

(1) Grau de Intangibilidade (2) Valor de Mercado (3) Q de Tobin (4) Q Aproximado (5) Valor Contbil das Dvidas (6) EVA (7) Spread (8) WACC (9) Custo do Capital Prprio (10) Custo da Dvida (11) Retorno sobre o Investimento (12) Retorno sobre o Patrimnio Lquido (13) Margem Lquida (14) Modelo de Tendncia Linear (15) Modelo de Regresso Linear (16) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao do EVA com o GI (17) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao do EVA com o Q Aproximado (18) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao do ROE com o Grau de Intangibilidade (19) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao do ROE com o Q Aproximado (20) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao da ML com o GI (21) Modelo de Regresso Linear para Anlise da Relao da ML com o Q Aproximado

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SUMRIO

1 INTRODUO ..................................................................................................................... 16 1.1 APRESENTAO .................................................................................................................. 16 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................................................... 18 1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 19 1.4 - JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIES ..................................................................................... 20 1.5- HIPTESES DE PESQUISA ..................................................................................................... 21 2- REFERENCIAL TERICO.................................................................................................. 24 2.1- A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO ...................................................................................... 24 2.2 - DEFINIES DE ATIVOS INTANGVEIS ................................................................................. 27 2.3 - CLASSIFICAO DOS ATIVOS INTANGVEIS ........................................................................ 31 2.4 - MENSURAO DOS INTANGVEIS ........................................................................................ 34 2.4.1- Grau de Intangibilidade .............................................................................................. 37 2.4.2- Q de Tobin Aproximado.......................................................................................... 39 2.5- DESEMPENHO ECONMICO DAS EMPRESAS ......................................................................... 41 2.5.1- EVA (Economic Value Added) .................................................................................... 42 2.5.2- Retorno sobre o Patrimnio Lquido e Margem Lquida............................................ 47 2.6 GOVERNANA CORPORATIVA ............................................................................................ 49 2.7- CRISE ECONMICA MUNDIAL.............................................................................................. 52 3 METODOLOGIA DA PESQUISA...................................................................................... 54 3.1 - MTODO DE PESQUISA........................................................................................................ 54 3.2 - TCNICA ESTATSTICA UTILIZADA ..................................................................................... 55 3.3- VARIVEIS EMPRICAS ........................................................................................................ 57 3.4- TRATAMENTO DOS DADOS .................................................................................................. 58 4 ANLISE DOS RESULTADOS .......................................................................................... 62 4.1- ANLISE DESCRITIVA DOS NDICES DE INTANGIBILIDADE ................................................... 62 14

4.2- ANLISE DA TENDNCIA DOS NDICES DE INTANGIBILIDADE E DESEMPENHO ECONMICO 74 4.2.1- Tendncia dos ndices de Intangibilidade................................................................... 74 4.2.2- Tendncia dos ndices de Desempenho Econmico.................................................... 83 4.3- AVALIAO DO IMPACTO DOS ATIVOS INTANGVEIS NO DESEMPENHO ECONMICO DASEMPRESAS................................................................................................................................... 92

4.3.1- Avaliao do impacto dos ativos intangveis no desempenho econmico das empresas de acordo com o Nvel de Governana Corporativa que ocupam ........................................ 92 4.3.2- Diferenas dos Impactos dos Ativos Intangveis de acordo com o Nvel de Governana Corporativa..................................................................................................... 112 4.3.3- Avaliao do impacto dos ativos intangveis no desempenho econmico do total de empresas e de acordo com o Setor em que atuam............................................................... 114 4.4- COMPARAO DO IMPACTO DOS ATIVOS INTANGVEIS NO DESEMPENHO ECONMICO ENTREAS EMPRESAS DO NOVO MERCADO E AS EMPRESAS DO IBOVESPA ........................................... 119

5- CONCLUSO ....................................................................................................................... 126 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 129

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1 INTRODUO

1.1 Apresentao

Desde meados da dcada de 60 a sociedade vem passando por um perodo de grandes mudanas tecnolgicas, econmicas e sociais, transformaes estas resultantes da transio da economia, onde o capital fsico e financeiro substitudo pela informao e pelo conhecimento. Essa nova economia, conhecida hoje como Era do Conhecimento, caracteriza-se pela crescente difuso de novas tecnologias, que alm de serem a base para o aperfeioamento da produo, tambm so meios de transmisso do conhecimento entre os indivduos. Para Lev (2001), esta Era do Conhecimento marcada pelo processo de crescente transformao em que vive a sociedade e pela velocidade em que ocorrem as inovaes, destacando tambm, a valorizao da capacidade humana de aplicao do conhecimento aos recursos disponveis, bem como a forma de utilizao dos mesmos. O mesmo autor salienta que a tecnologia permite o aperfeioamento das tcnicas e do conhecimento, fator este que, nos dias de hoje, o responsvel pela diferenciao das organizaes. Esse diferencial proporcionado no s pelo conhecimento e habilidade dos empregados, mas tambm por outros fatores como marcas, reputao, softwares, dentre outros, so os chamados ativos intangveis, ou seja, aqueles que no possuem estrutura fsica ou corprea. Para Kayo (2002, p.14):...duas empresas que fabricam o mesmo tipo de produto podem at construir fbricas semelhantes, comprar as mesmas mquinas, utilizar o mesmo tipo de matria-prima, manter o mesmo nvel de capital de giro e possuir outros ativos tangveis similares. Entretanto, essas duas empresas podem apresentar valores de mercado bastante distintos em funo, principalmente, da presena de ativos intangveis. A atuao dos intangveis pode resultar em um preo superior, custos e despesas inferiores ou uma combinao desses fatores.

Na Contabilidade, os ativos intangveis tm tido maior nfase desde a dcada de 80, e um reflexo do aumento dos ativos intangveis nas companhias, segundo Lev (2001), o estudo realizado nas empresas relacionadas no S&P 500, onde foi detectado um crescimento do ndice de valor de 16

mercado sobre o valor contbil, do ano de 1980 at o ano de 2001. De acordo com o estudo, este ndice, que inicialmente era em mdia igual a 1, representando assim um valor contbil igual ao valor de mercado, foi para 6, o que significa que em 2001 o valor de mercado das empresas pesquisadas era cerca de 6 vezes maior que o valor patrimonial relatado pela contabilidade. Essa diferena entre o valor contbil e o valor de mercado vem crescendo ainda mais nos ltimos anos, e alguns dos principais fatores responsveis por este evento, segundo Schmidt e Santos, (2002) so: as ondas de incorporaes; o interesse nas marcas famosas; a expanso dos setores de servios; os avanos tecnolgicos; o crescimento dos mercados financeiros; e as riquezas advindas do conhecimento humano. No Brasil, o estudo sobre os ativos intangveis e a busca pela ampliao da funo da cincia contbil ao mensurar os intangveis j era discutida em 1972, quando Martins (1972) defendeu a mensurao dos ativos intangveis para um melhor aperfeioamento dos relatrios contbeis, ressaltando ainda que, a aproximao da Contabilidade Economia representa um grande passo para atingir o seu objetivo principal de fornecer informaes teis s decises dos agentes. No entanto, no s a mensurao dos intangveis, como tambm, a associao destes com outros fatores como desempenho econmico e financeiro tambm alvo de discusso no mbito da cincia contbil. De acordo com Lev (2001) a competio intensificada e o desenvolvimento da tecnologia da informao so os fatores responsveis pelo papel singular que os intangveis assumem nas organizaes, o de fonte geradora de vantagens competitivas. Para Lev (2001, p. 17-18):A riqueza e o crescimento na economia de hoje so direcionados principalmente pelos ativos intangveis. A competio intensificada em praticamente todos os setores de negcios, induzida pelos processos de globalizao, desregulamentao e mudana tecnolgica, tem levado as empresas a uma srie de mudanas fundamentais, com nfase nos processos de inovao, desverticalizao e uso intensivo da tecnologia da informao.

Essa capacidade dos ativos intangveis deve-se ao carter de singularidade que assumem, visto que, os ativos fsicos ou tangveis podem ser comprados e at mesmo copiados, permitindo assim, um mesmo nvel de competitividade entre empresas similares. Na verdade, o que proporciona a

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criao de valor dentro de uma organizao a combinao dos recursos fsicos com os recursos intangveis, possibilitando assim um diferencial exclusivo e inimitvel.

1.2 Problema de Pesquisa

Atualmente diversas pesquisas tm sido feitas buscando-se identificar possveis relaes entre o desempenho das firmas e a presena de intangveis nas mesmas (KAYO, 2002; ASSAF NETO, 2003; FAM & PEREZ, 2004; SILVA & ROBLES JR, 2007). A identificao de uma relao positiva entre os ativos intangveis e o desempenho econmico ou financeiro constantemente identificada, e, em alguns estudos, existe a demonstrao de uma alta correlao entre o desempenho e ndices de intangibilidade das empresas. No entanto, estudos que visem uma quantificao dos efeitos dos ativos intangveis no desempenho das firmas, assim como, anlises mais aprofundadas que possam avaliar estes impactos ao longo do tempo ainda so escassas na literatura nacional. Nos estudos citados pode-se destacar a relevncia do valor assumido pelos ativos intangveis em relao composio do patrimnio das entidades, no entanto a Contabilidade sofre o efeito da regulao, o que ressalta um fator negativo da legislao ao no permitir a mensurao de todos os ativos intangveis. Em concordncia, alguns autores como LEV (2001), KAYO (2002) e SANTOS (2007) atribuem esse crescimento do valor dos intangveis ao novo cenrio onde esto inseridas as companhias, marcado pela ascenso das tecnologias de informao e das telecomunicaes. Lev (2001) destaca ainda que a combinao de duas foras mudou as estruturas empresariais, sendo elas a globalizao dos mercados e os avanos das tecnologias de informao. Para o autor, isso fez com que os intangveis assumissem um papel importante na economia, o de principal condutor de valor dos negcios nas economias desenvolvidas. Speckbacher (2003), tambm defende o papel dos intangveis como condutor de valor, ao afirmar que o gerenciamento dos mesmos o que sustenta a vantagem competitiva no atual cenrio industrial.

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No atual cenrio corporativo, caracterizado pela ascenso dos mercados financeiros, so freqentes tambm, os estudos visando associao do nvel de governana corporativa com o desempenho econmico e com a presena de intangveis. A adoo de prticas de governana corporativa vista por diversos autores como fator determinante no desempenho das organizaes, e conseqentemente, associa-se tambm ao crescimento do valor de mercado das mesmas. Em uma empresa moderna, a capacidade de gerenciar os intangveis est associada capacidade de gerar conhecimento. Para Schmidt e Santos (2002: p. 167), na medida em que se aceita o conhecimento como um novo fator de produo, torna-se necessrio enfocar os impactos que essas mudanas esto ocasionando nas organizaes. Assim sendo, a questo principal da presente pesquisa pode ser expressa da seguinte forma: Baseando-se nas premissas quanto aos atributos dos ativos intangveis e sua utilidade como fatores que possivelmente possibilitariam vantagens competitivas para as empresas que os possuem, qual a relao entre os ativos intangveis e o desempenho econmico das organizaes listadas nos nveis 1, 2 e Novo Mercado de Governana Corporativa da BOVESPA?

1.3 Objetivos

Diante das perspectivas de crescimento dos ativos intangveis como fator de diferencial e competitividade, afetando assim, o desempenho econmico das organizaes, o objetivo principal da presente pesquisa consiste na identificao da relao entre os ativos intangveis e o desempenho econmico e financeiro das empresas listadas nos nveis 1, 2 e Novo Mercado da BOVESPA no perodo trimestral iniciado em dezembro de 2001 a maro de 2009. Como forma de alcanar o objetivo geral do estudo, as etapas da investigao so organizadas e detalhadas como os seguintes objetivos especficos:

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Anlise da relevncia dos ativos intangveis nas firmas, por meio do clculo de sua representatividade diante dos ativos tangveis; Determinar a tendncia dos ndices de intangibilidade e dos ndices de desempenho econmico e financeiro das empresas; Quantificar e avaliar estatisticamente o impacto dos ativos intangveis no desempenho econmico das empresas em sua totalidade. Analisar comparativamente o impacto dos ndices de intangibilidade no desempenho econmico das empresas de acordo com o nvel de governana em que esto listadas e de acordo com o setor em que atuam.

Comparar o impacto dos ativos intangveis no desempenho econmico das empresas listadas nos nveis 1, 2 e Novo mercado com o mesmo impacto nas empresas do Ibovespa que participam do mercado tradicional.

1.4 - Justificativas e Contribuies

O aumento do uso de recursos intangveis notado por meio do crescimento do valor de mercado das aes em relao ao valor contbil das empresas. Essa discrepncia entre os valores vista como uma falha da contabilidade e questionada por alguns autores. Cinca e Garcia (2000) criticam a ausncia de informaes acerca dos ativos intangveis nos demonstrativos contbeis, afirmando que a informao que hoje interessa gerncia da empresa e ao mercado no est suficientemente refletida nos balanos e documentos contbeis tradicionais. Sveiby (1998)

defende a necessidade de mensurao dos intangveis como forma de avaliao externa, feita pelos credores e fornecedores, o que possibilitaria a visualizao da qualidade da gerncia da empresa, e principalmente, como forma de avaliao interna, feita pela gerncia, o que facilitaria o monitoramento de desempenho e a tomada de decises. A necessidade de mensurao dos ativos intangveis pela contabilidade torna-se mais ntida em funo da relevncia desses valores na composio do patrimnio e da capacidade de gerao de fluxos futuros de caixa. Por meio de uma anlise comparativa, segmentando as indstrias por setor e por nvel de governana espera-se identificar onde os impactos so maiores, caso existam, 20

demonstrando assim, as perdas de informao da contabilidade ao no mensurar adequadamente todos os ativos intangveis e quais os setores mais prejudicados por essa falha. Autores como Sveiby (1998) e Lev (2001), atribuem aos ativos intangveis a responsabilidade pela vantagem ou desvantagem competitiva, visto que, os recursos tangveis so mais acessveis devido possibilidade de imitao dos mesmos. Como uma das contribuies do estudo, busca-se evidncias para comprovao das hipteses tericas de que um maior uso de recursos intangveis proporcionaria uma vantagem competitiva e conseqentemente um maior desempenho econmico. Conforme foi citado, existem estudos que comprovam a existncia de uma correlao positiva entre o grau de intangibilidade e o desempenho econmico, no entanto, a ausncia de pesquisas mais precisas mensurando o impacto dos intangveis no desempenho econmico justifica a contribuio esperada da presente pesquisa. Diante da realidade observada onde a contabilidade fornece demonstrativos financeiros estticos e baseados em valores histricos, em contrapartida ao dinamismo das organizaes modernas, fica explcita a importncia da mensurao de todos os ativos intangveis no patrimnio das firmas como ferramenta de complemento ao controle gerencial, o que permitiria um melhor planejamento das atividades e dos investimentos. Adicionalmente aos benefcios citados, a avaliao dos impactos dos ativos intangveis no desempenho proporcionaria aos scios/acionistas uma viso mais ampla da criao de valor nas companhias, destacando assim a importncia dos intangveis, o que conseqentemente serviria como auxlio nas tomadas de decises estratgicas, fortalecendo assim a justificativa de se agregar contabilidade ferramentas de mensurao dos ativos intangveis.

1.5- Hipteses de Pesquisa

Como forma de orientao ao processo investigativo, adotam-se as seguintes perguntas e hipteses que sero testadas na pesquisa: 21

Pergunta 1: Existe uma tendncia de crescimento do ndice de intangibilidade das empresas dos nveis 1, 2 e Novo Mercado de Governana Corporativa?

H 0 = No existe uma tendncia de crescimento do ndice de intangibilidade das empresaslistadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA.H1 = Existe uma tendncia de crescimento do ndice de intangibilidade das empresas

listadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA. Pergunta 2: Existem impactos estatisticamente significativos dos ativos intangveis no desempenho econmico das empresas listadas nos nveis 1, 2 e Novo Mercado de governana corporativa da BOVESPA?

H 0 = No existem impactos estatisticamente significativos entre o ndice deintangibilidade e o desempenho das empresas listadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA.

H1 = Existem impactos estatisticamente significativos entre o ndice de intangibilidade e odesempenho das empresas listadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA. Pergunta 3: Existem diferenas estatisticamente significativas nas relaes dos ndices de intangibilidade com os ndices de desempenho econmico entre os nveis 1, 2 e Novo Mercado de Governana Corporativa?

H 0 = No existem diferenas nas relaes dos ndices de intangibilidade com os ndicesde desempenho econmico nos nveis de governana corporativa da BOVESPA.H1 = Existem diferenas nas relaes dos ndices de intangibilidade com os ndices de

desempenho econmico nos nveis de governana corporativa da BOVESPA. Pergunta 4: Existem diferenas estatisticamente significativas entre as relaes dos ndices de intangibilidade e desempenho econmico das empresas dos nveis de Governana Corporativa e das empresas do mercado tradicional? 22

H 0 = No existem diferenas entre as relaes dos ndices de intangibilidade e

desempenho econmico das empresas listadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA e das empresas do mercado tradicional.H1 = Existem diferenas entre as relaes dos ndices de intangibilidade e desempenho

econmico das empresas listadas nos nveis de governana corporativa da BOVESPA e das empresas do mercado tradicional.

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2- REFERENCIAL TERICO

2.1- A Sociedade do Conhecimento

As constantes mudanas que ocorrem no ambiente externo s organizaes, em se tratando do campo social, poltico e principalmente, tecnolgico, conduzem as mesmas a um ambiente cada vez mais competitivo. Para que alcancem o sucesso ou mesmo, a sobrevivncia, as organizaes recorrem a elementos que possam diferenci-las frente aos seus concorrentes, ressaltando-se a busca pelo conhecimento e o gerenciamento das informaes, caractersticas estas que, segundo Angeloni e Fernandes (2000), marcam a nova era em que a sociedade encontra-se, a Era da Sociedade do Conhecimento, substituindo assim a Sociedade Industrial. De acordo com Angeloni e Fernandes (2000), a Era Industrial, que antecede a Era do Conhecimento, era caracterizada pela gesto focada nos recursos fsicos, as transformaes eram mais lentas e a competio menos acirrada. No entanto, as constantes mudanas proporcionadas pelos avanos tecnolgicos e pela tecnologia da informao resultaram em um ambiente de forte competio onde a necessidade de diferenciao mudou o foco da gesto para a criao de valor atravs do conhecimento humano. Essa mudana de paradigma pode ser mais bem visualizada atravs da sntese de Stewart (1998), evidenciando assim a transferncia de valores dentro das organizaes dos recursos tangveis para os recursos intangveis, descrito conforme segue: Quadro 1- Paradigmas da Era Industrial e da Era do ConhecimentoItem Pessoas Base de poder dos gestores Era Industrial Geradores de custos ou recursos Nvel relativo da hierarquia organizacional Trabalhadores fsicos capitalistas Instrumento de controle versus Era do Conhecimento Geradores de recursos Nvel relativo de conhecimento

Luta de poder Informao Produo

Fluxo da Informao Forma bsica de receita

Trabalhadores fsicos processando recursos fsicos para criar produtos tangveis Via hierarquia organizacional Tangveis

Trabalhadores do conhecimento versus gestores Ferramenta para o recurso da comunicao Trabalhadores do conhecimento convertendo conhecimento em estruturas intangveis Via redes colegiadas Intangveis

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Estrangulamento da produo Manifestao da produo Relacionamento com o cliente Conhecimento Finalidade do aprendizado Valores do mercado Economia

Capital financeiro e habilidades Produtos tangveis Unilateral pelos mercados Uma ferramenta ou um recurso entre outros Aplicao de novas ferramentas Regidos pelos ativos tangveis De reduo de custos

Tempo e conhecimento Estruturas intangveis Interativo pelas redes pessoais O foco empresarial

Criao de novos ativos Regidos pelos ativos intangveis De aumento de lucros e reduo de custos Fonte: Quadro adaptado de Sveiby (1998, p.32)

Conforme o quadro exposto, a Era do Conhecimento possui o foco central no conhecimento humano, que segundo Nonaka e Tateuchi (1997, p. 33) significa sabedoria adquirida a partirda perspectiva da personalidade como um todo. Ressaltam-se algumas caractersticas bsicas

que diferem a Era do conhecimento do perodo que a antecede, como, por exemplos: o intenso investimento em pesquisas cientficas e programas de treinamentos, o papel fundamental da educao e o crescente fluxo de informaes. Existem dois tipos de conhecimento, de acordo com Nonaka e Tateuchi (1997), o conhecimento tcito e o conhecimento explcito e a criao do conhecimento ocorre quando o conhecimento tcito convertido ao conhecimento explcito. O conhecimento tcito aquele inerente ao ser humano, o conhecimento subjetivo que advm de habilidades ou experincias individuais do ser humanos e, portanto, o conhecimento mais difcil, ou mesmo impossvel de ser transferido. J o conhecimento explcito aquele facilmente transfervel, podendo este ser articulado na linguagem formal, em textos, grficos, desenhos, etc. Nonaka e Takeuchi (1997), afirmam que o trabalho efetivo da gesto do conhecimento somente possvel em um ambiente em que possa ocorrer a contnua converso entre esses dois formatos. A forma de gerenciamento e aplicabilidade deste conhecimento afeta de forma significativa o valor da organizao, visto que pode implicar na criao de bens intangveis. Nonaka e Takeuchi (1997) ressaltam que criao de valor na empresa ocorre na transferncia do conhecimento aos bens e servios produzidos, sendo que este processo de deteno do conhecimento pode ser dividido em 4 etapas, sendo elas: a socializao, a externalizao, a combinao e a internalizao do conhecimento.

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A socializao converte o conhecimento tcito em tcito e consiste na troca de experincias entre os indivduos, assim como a externalizao, o que difere uma etapa da outra que na primeira a troca de experincias ocorre atravs da observao, de forma indireta, enquanto na segunda o conhecimento transmitido formalmente, atravs da linguagem falada ou escrita. Nas terceira etapa, da combinao, um processo de sistematizao de conhecimentos em um sistema de conhecimentos, ou seja, ocorre a converso do conhecimento explcito em explcito, e na internalizao o conhecimento explcito convertido em tcito, caracterizando a forma de colocar-se em prtica o aprendizado. Segundo Sveiby (1998), o conceito de Gesto do Conhecimento surgiu no incio da dcada de 90, e o seu objetivo principal a criao de valor dentro das organizaes atravs da mxima eficincia do uso de seus recursos, o que seria possvel por meio da aprendizagem organizacional. Para Santiago e Santiago Jr. (2007) a gesto do conhecimento traz como conseqncias: a valorizao do ser humano como detentor do conhecimento; a identificao dos recursos de produo no mais como fatores determinantes; a materializao dos conhecimentos em tecnologias, a expanso dos setores de servios e a utilizao de mais recursos intelectuais do que materiais na produo. Apesar de que, em alguns casos, seja possvel a materializao do conhecimento, para que o mesmo seja criado essencial o seu desenvolvimento primordial pelo ser humano, justificando assim a ateno focada na cincia da informao. Neste sentido Angeloni (2008, p. 59) destaca que a implantao e o gerenciamento da gesto do conhecimento trata-se fundamentalmente de uma forma de alavancar a eficcia organizacionalque se utiliza de elementos presentes no comportamento individual/grupal, nas tecnologias de informao e nos elementos estruturais da organizao, realando assim o seu papel como

condutor de valor para as organizaes. No entanto, a era do conhecimento requer um estilo gerencial que propicie o comprometimento das pessoas, o esprito criativo, a confiana e a responsabilidade compartilhada, indispensvel para a gesto do conhecimento. Devido ao papel de criao de valor, nota-se uma proximidade dos conceitos de Gesto do Conhecimento e de Ativos Intangveis. Santiago e Santiago Jr. (2007) explicam que a aplicao 26

do conhecimento produz benefcios que impactam de forma expressiva no valor de mercado das empresas, no entanto o conceito de ativo intangvel tende a ser mais amplo, visto que abrange todo o conjunto de benefcios incorpreos que agregam valor para a empresa. Na realidade o conhecimento um tipo de ativo intangvel, e conforme Stewart (1998) o ativo intangvel que gera maior vantagem competitiva para as organizaes. Segundo Angeloni (2008, p. 191) as organizaes dos dias atuais, tambm chamadas de organizaes do conhecimento, no so mais avaliadas pelo seu patrimnio fsico e sim pela capacidade intelectual das pessoas que nela atuam.

2.2 - Definies de Ativos Intangveis

Antes de conceituar os ativos intangveis de forma mais precisa, torna-se necessria a definio de ativos. Pode-se, ainda, dizer que este um dos maiores conflitos da teoria da contabilidade devido sua amplitude e complexidade. Para Schmidt e Santos (2002, p. 12) as divergncias so no s em virtude das dificuldades de sua definio, mas principalmente pelas incertezas arespeito da mensurao de seus valores e de sua vida til.

Para Hendriksen e Van Breda (1999, p. 286), ativos devem ser definidos como potenciais defluxos de servio ou direitos a benefcios sob o controle de uma organizao. Seguindo a

mesma linha de pensamento, Iudcibus (2000, p. 130) afirma que ativos so recursos controlados pela entidade, capazes de gerar fluxos de caixa, bem como, de acordo com Schmidt e Santos (2002, p. 12), ativos caracterizam-se como agentes controlados por uma entidade que geram benefcios presentes ou futuros. Para Iudcibus (2000, p. 130), existem algumas caractersticas bsicas dos ativos. A primeira delas que o ativo deve ser considerado luz de sua propriedade ou luz de sua posse e controle, sendo que normalmente as duas condies viro juntas. O ativo tambm precisa apresentar alguma potencialidade de benefcios futuros para a entidade e por ltimo refere-se necessidade da entidade ter direito exclusivo sobre ele. Nota-se que quando o autor refere-se posse e direito sobre o ativo, ele descarta a possibilidade de criao do conhecimento, sendo que este no pode 27

ser considerado propriedade da empresa ou mesmo controlado, o que demonstra certo direcionamento aos ativos tangveis. No entanto, com uma viso mais econmica, Martins (1972, p. 30) conceitua ativo como sendoo futuro resultado econmico que se espera obter de um agente. Tal definio, apesar de seu

carter histrico, contempla tanto os ativos fsicos como os ativos intangveis. Com outro conceito que abrange tambm os ativos intangveis, conforme Hendriksen e Van Breda (1999, p. 281), ativos so essencialmente reservas de benefcios futuros e em relao ao reconhecimento dos mesmos, os autores afirmam que, para que sejam considerados ativos, devem preencher alguns requisitos. Atendendo a essas exigncias, segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p.388), os ativos fsicos, bem como os ativos intangveis, devem ser reconhecidos quando:a) corresponderem definio de ativo; b) serem relevantes: a informao capaz de fazer diferena na tomada de decises; c) serem mensurveis: existncia de um atributo relevante de mensurao suficientemente confivel; d) terem valor preciso: a informao representativamente verdadeira, verificvel e neutra.

A Contabilidade mede o valor patrimonial de uma empresa atravs de dados histricos acerca dos custos, ou seja, pressupe que o valor de compra com os ajustes legais, como a depreciao e a amortizao, representa o valor do ativo, o que no se aplica aos intangveis, visto que, alguns no podem ser adquiridos e so produzidos internamente. No Brasil, em se tratando das companhias de capital aberto, que so regulamentadas pela CVM (Comisso de Valores Mobilirios), at o fim do ano de 2007 no existia uma norma especfica quanto ao tratamento dos ativos intangveis pela Contabilidade. No entanto, a lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2007 alterou e revogou alguns dispositivos da lei 6.404/76, lei das sociedades por aes, resultado assim na incluso dos ativos intangveis nas demonstraes financeiras das sociedades annimas. Assim no grupo dos ativos intangveis, conforme a lei exposta, art. 179, passam a vigorar os direitos que tenham por objeto bens incorpreos destinados manutenoda companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comrcio adquirido.. Isso

significa que considera-se intangveis basicamente os agentes sem estrutura fsica que

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reconhecidamente contribuam para o exerccio da empresa e o gio na aquisio de investimentos, que tambm pode ser chamado de Goodwill. Quanto ao reconhecimento e consecutiva contabilizao destes ativos intangveis, o Comit de Pronunciamentos Contbeis (CPC) em seu pronunciamento 04 define que tal situao deve acontecer quando for provvel a ocorrncia de benefcios futuros favorveis entidade e quando o custo deste ativo possa ser mensurado com segurana, sendo que, a contabilizao destes farse-, inicialmente, por meio do custo histrico. As normas norte-americanas que dizem respeito aos ativos intangveis, os pronunciamentos do FAS n 141 e n 142, parcialmente mais avanadas que as normas brasileiras, tambm reconhecem o Goodwil advindo da combinao de negcios e determina que um ativo intangvel ser reconhecido separadamente do Goodwill se resultante de um contrato ou outro direito legal, e sero testados pelo teste de impairment para verificar se existe diferena significativa entre o seu valor contbil e o seu valor justo. Quanto definio de ativo intangvel, Hendriksen & Van Breda (1999, p. 388) afirmam que o verbete intangvel originrio do latim tangere, ou seja, tocar, e os intangveis so bens que no podem ser tocados, porque no tm corpo, ampliando a definio de ativo intangvel como sendo resultantes do diferimento de desembolsos com servios em contraste com os desembolsos com bens. No entanto, Hendriksen & Van Breda (1999, p. 388) chamam ateno para o fato que os contadores tm procurado limitar a definio de intangveis, na medida em que os restringea ativos permanentes, ou seja, ativos no circulantes.

O IASB, por meio do pargrafo 7 do IAS 38, que foi emitido em julho de 1998, ressalta algumas caractersticas bsicas dos ativos intangveis, sendo elas, a possibilidade de identificao dos mesmos, a posse e conseqentemente o controle deles pela empresa e a expectativa de rendimentos futuros atravs do seu uso, e os define conforme segue:An identifiable nonmonetary asset without physical substance. An asset is a resource that is controlled by the enterprise as a result of past events (for example, purchase or self-creation) and from which future economic benefits (inflows of cash or other assets) are expected.

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Stewart (1998), assim como Edvinsson e Malone (1998) e Schmidt e Santos (2002), afirma que o conjunto de todos os ativos intangveis representa o seu capital intelectual, e o define como o conjunto de conhecimentos e informaes encontrados nas organizaes, que agregam valor ao produto e/ou servios, mediante a aplicao da inteligncia e no do capital monetrio, ao empreendimento. Para Edvinsson e Malone (1998), o capital intelectual representa a diferena entre o valor de mercado e o valor contbil da organizao, sendo que essa diferena representada pelo capital humano e pelo capital estrutural. Essa definio pode ser contestada por Gu & Lev (apud Gomes, 2003, p. 44), quando afirmam que:A tentativa de estimar o valor desses elementos atravs da diferena entre o valor de mercado da empresa e o seu valor contbil no satisfatria, porque no leva em considerao os erros de precificao do mercado, e que os valores histricos dos ativos no balano patrimonial no refletem seus valores correntes.

Com um conceito mais atual, Schmidt e Santos (2002), definem capital intelectual como o conhecimento adquirido e transformado pelas pessoas, com o objetivo de produzir ativos de maior valor para a organizao. J Lev (2001), define o ativo intangvel como um direito a benefcios futuros que no possui corpo fsico ou financeiro que podem ser gerados a partir de descobertas, prticas organizacionais e recursos humanos. Destacando ainda a capacidade de criao de valor dos ativos intangveis, Kayo (2002, p. 14) os define como sendo um conjuntoestruturado de conhecimentos, prticas e atitudes da empresa, que, interagindo com seus ativos intangveis, contribui para a formao do valor das empresas..

So vrios os conceitos de ativos intangveis, porm o contedo apresenta a mesma essncia. A idia principal dos conceitos apresentados diz respeito produo de valor na empresa, visto que, os intangveis so responsveis pela valorizao de ativos, e conseqentemente, da empresa. Tambm se verifica que existe um consenso entre os autores de que o ativo intangvel um recurso oculto, ou seja, incorpreo, e, ao agregar valor organizao, permite a sua continuidade.

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2.3 - Classificao dos Ativos Intangveis

Os ativos intangveis, tambm conhecidos como ativos invisveis, capital intelectual ou ativos do conhecimento, podem ser subdivididos conforme a taxonomia de diversos autores como:, Stewart (1998), Sveiby (1998), Edvinsson e Malone (1998), Reilly e Schweihs (1998) e Lev (2001). De acordo com Stewart (1998, p. 67), que adota a taxonomia de Hubert Saint Onge do Canadian Imperial Bank of Commerce, o ativo intangvel, chamado de capital intelectual, pode ser dividido em capital humano, capital estrutural e capital cliente. Para o autor a separao do capital intelectual nos itens citados permite uma descrio mais visvel para os gerentes e investidores. Para Stewart (1998, p. 68) o capital humano importante porque a fonte de inovao erenovao e constitudo do talento, da habilidade e do conhecimento dos empregados. No

entanto, para compartilhar e transmitir o conhecimento faz-se necessrio o uso de ativos intelectuais estruturais, o capital estrutural, que composto pelos sistemas de informaes, patentes, processos, banco de dados, e outros ativos intangveis internos da empresa, e funcionacomo uma espcie de amplificador, ele embala o capital humano e permite seu uso repetido para a criao de valor (STEWART, 1998, p. 69). O capital cliente, segundo Stewart (1998, p.

69) o valor dos relacionamentos de uma empresa com as pessoas com as quais faz negcio, o que diz respeito basicamente ao relacionamento com os clientes e fornecedores. Edvinsson e Malone (1998) apresentam uma metodologia semelhante de Stewart, no entanto, classificam o capital cliente como uma segmentao do capital estrutural, sendo que, este ltimo apresenta outra subdiviso, o capital organizacional. O capital humano constitui-se de toda capacidade, conhecimento, habilidade, e experincia individuais dos empregados e gerentes (Edvinsson e Malone, 1998, p. 31). O Capital Estrutural a infra-estrutura que apia o capital humano, cujo objetivo transmitir e armazenar o conhecimento intelectual (Edvinsson e Malone, 1998, p. 32) e o capital cliente o relacionamento das empresas com seus clientes. (Edvinsson e Malone, 1998, p. 33) A diviso do capital intelectual pode ser mais bem visualizada por meio da figura a seguir.

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Figura1- Classificao do Capital intelectual Segundo Edvinsson e MaloneCapital Intelectual

Capital Humano

Capital Estrutural

Capital Organizacional

Capital Cliente

Capital Inovao

Capital Processo

Fonte: Stewart (1999, p.256)

Sveiby (1998) utiliza a expresso ativos invisveis para se referir aos ativos intangveis e os classifica em trs grupos: competncia dos empregados, estrutura interna e estrutura externa. A competncia dos empregados, conforme Sveiby (1998, p.10) a capacidade de agir em uma ampla variedade de situaes para criar tanto ativos tangveis como intangveis. A estrutura interna formada pelas patentes, conceitos, modelos, sistemas de computao e sistemas administrativos, alm do esprito e da cultura organizacional. (Sveiby, 1998, p. 10). A estrutura externa o relacionamento com clientes e fornecedores, e inclui a marca e a imagem da empresa. (Sveiby, 1998, p. 11). Entretanto, Lev (2001) argumenta que, os ativos intangveis devem ser classificados de acordo com o fato gerador, ou seja, a ferramenta que ocasionou o surgimento ou o aumento do ativo intangvel. Assim, a classificao proposta pelo autor resume-se em: inovao, desenhos organizacionais singulares e recursos humanos. A inovao est relacionada aos investimentos realizados com pesquisa e desenvolvimento, que podem ser classificados em puros, quando ocorre o desenvolvimento de novas cincias e tecnologias, ou aplicados, quando aplicado ao desenvolvimento e aprimoramento de novos produtos (Lev, 2001, p. 55). Os desenhos organizacionais correspondem aos ativos intangveis internos e exclusivos das organizaes, sendo eles, a estrutura e os sistemas singulares. Os recursos humanos apresentam a mesma denominao dos outros autores citados, ou seja, so os talentos e habilidades dos empregados.

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A classificao proposta por Reilly e Schweihs (1998), no entanto, mais especfica e possui um maior nmero de divises, sendo elas relacionadas : Marketing, Tecnologia, Processamento de dados, Engenharia, Clientes, Contratos, Capital Humano, Localizao e Goodwill (Reilly e Schweihs, 1998, p.19). Tal classificao to explcita, que no se v a necessidade de explicar as caractersticas de cada grupo no presente estudo. No entanto, dentre as subdivises dos ativos intangveis propostas por Reilly e Schweihs (1998), cabe ressaltar o Goodwill, um ativo intangvel que alvo de discusses desde o sc XIX, conforme j observava Martins (1972, p. 55):O Goodwill tem sido motivo de estudos, debates, artigos, livros, legislao, concordncias e divergncias desde h muito anos. As citaes e referncias a ele datam de sculos atrs, mas a primeira condensao do seu significado e o primeiro trabalho sistemtico tendo-o como tema central parecem ter existido em 1891.

O conceito de Goodwill torna-se algo complexo devido s divergncias de opinies entre os autores, visto que alguns autores como Reilly e Schweihs (1998) o consideram como um dos ativos intangveis, e outros como Santiago e Santiago Jr. (2007) o definem como sendo a diferena entre o valor de mercado e o valor contbil das organizaes. J quanto sua importncia, Hendriksen e Van Breda (1999, p. 392), afirmam que o Goodwill o mais importante ativo intangvel na maioria das empresas. Freqentemente, o ativo de tratamento mais complexo porque carece de muitas das caractersticas associadas a ativos, tais como identificabilidade e separabilidade. Alguns autores como Martins (2001, p.131) consideram o goodwill um resduo afirmando querepresenta um resduo de valor no identificvel. Em contrapartida, segundo Iudcibus (2000,

p.211) o goodwill origina-se da expectativa de rentabilidade futura e pode ser conceituado como o valor atual dos lucros futuros esperados descontados pelos seus custos de oportunidade, e reconhecido contabilmente ...nas consolidaes como o excesso de valor pago pela companhiame por sua participao sobre os ativos lquidos da subsidiria.

Diferentemente dos autores citados, o FASB classifica os ativos intangveis de uma forma mais abrangente, sendo estes divididos em 5 grupos, alm do Goodwill, sendo eles: os ativos 33

intangveis relacionados ao marketing, relacionados aos clientes, relacionados s artes, baseados em contratos e baseados em tecnologia. Dentre os ativos baseados no marketing encontram-se as marcas, imagem do produto e o interesse que o mesmo proporciona nos consumidores. Os ativos relacionados aos clientes dizem respeito relao da empresa com os clientes, sendo estes referentes a contratos, pedidos, etc e os ativos relacionados arte so aqueles decorrentes da criao artstica ou compra de direitos autorais. J os ativos intangveis baseados em contratos diferem dos ativos relacionados aos clientes, pois tratam de contratos de servios que fornecem um fluxo monetrio, como por exemplo, contratos de arrendamentos e contratos de direitos de usos. Por ltimo, os ativos intangveis baseados na tecnologia tm como caracterstica essencial a relao com as inovaes e os avanos tecnolgicos.

2.4 - Mensurao dos intangveis

Diante da aproximao dos conceitos de avaliao e mensurao fez-se necessria uma definio clara sobre o que mensurar. Para Hendriksen & Van Breda (1999: p. 304) mensurao oprocesso de atribuio de valores monetrios significativos a objetos ou eventos associados a uma empresa, obtidos de modo a permitir agregao ou desagregao, quando exigida em situaes especficas. Apesar de o autor utilizar a palavra valores monetrios, o mesmo admite

que, embora pouco comum, dados no monetrios, no entanto, numricos como exemplo dos ndices, tambm so utilizados na mensurao dos ativos. De uma forma mais simples, Bueno (1996) explica que mensurar significa medir, avaliar, e avaliar significa estimar, aquilatar, aferir, apreciar. A partir destes conceitos pode-se diferenciar os dois conceitos de mensurao e avaliao, ressaltando que a mensurao est relacionada a valores numricos e inclui tambm o conceito de avaliao, enquanto a avaliao aproxima-se do reconhecimento da grandeza do ativo, sendo possvel notar a ocorrncia de um julgamento de grandezas. Brooking (1996) defende a adoo de mtricas para mensurao dos ativos intangveis argumentando que tal procedimento possibilita a anlise do valor real da empresa, alm de: fornecer informaes para possveis programas de reestruturao organizacional; permitir um melhor planejamento das atividades de pesquisa e desenvolvimento; servir de base para 34

elaborao de programas de educao organizacional e treinamento e certificar-se de seu potencial para atingir seus objetivos. De acordo com a classificao sugerida por Luthy (1998), os mtodos de avaliao dos ativos intangveis se subdividem em quatro categorias, sendo elas: mtodos baseados na capitalizao de mercado, mtodos baseados em medidas diretas de capital intelectual, mtodos baseados no retorno sobre os ativos e mtodos scorecard. Os mtodos baseados na capitalizao de mercado tm como objetivo estimar o valor dos ativos intangveis baseados no valor de mercado das empresas, ou seja, calcula-se a diferena entre a capitalizao de mercado e os ativos fornecidos pelas demonstraes contbeis. Os mtodos que compem este grupo so: razo entre o valor de mercado e o valor contbil (Market-to-bookvalue), conhecido tambm como grau de intangibilidade (Fam e Perez, 2004), e o Q de Tobin proposto por Tobin e Brainard (1968). Existe uma grande dificuldade de mensurao dos ativos intangveis de forma mais objetiva, no entanto, os mtodos da capitalizao de mercado apresentam vantagens de um maior embasamento terico, visto que, quase um consenso entre os pesquisadores, como exemplo Stewart (1998) e Gomes (2003), que a obteno da diferena entre o preo de venda e o valor dos ativos fsicos de uma organizao reflete o valor atribudo pelo mercado aos ativos intangveis da mesma, conforme argumenta Stewart (1998, p. 51):...quando o mercado de aes avalia empresas em trs, quatro ou dez vezes mais que o valor contbil de seus ativos, est contando uma verdade simples, porm profunda: os ativos fsicos de uma empresa baseada no conhecimento contribuem muito menos para o valor de seu produto (ou servio) final do que os ativos intangveis os talentos de seus funcionrios, a eficcia de seus sistemas gerenciais, o carter de seus relacionamentos com os clientes que, juntos, constituem seu capital intelectual.

Os mtodos baseados em medidas diretas de capital intelectual (Direct Intellectual Capital methods, DIC) quantificam os intangveis por meio da identificao dos seus componentes, que, quando mensurados podem ser diretamente avaliados ou como um coeficiente agregado. Este grupo composto pelos seguintes mtodos:

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Technology Broker (BROOKING, 1996) Citation-Weighted Patents (BONTIS, 2000) The Value Explorer (ANDRIESSEN & TIESSEN, 2000) Intellectual Asset Valuation (SULLIVAN, 2000) Total Value Creation TVC (ANDERSEN & MCLEAN apud GOMES, 2003) Accounting for the Future AFTF (NASH apud GOMES, 2003) J os mtodos baseados nos retornos sobre os ativos (Return on Assets methods, ROA), baseiamse na lucratividade das empresas, relacionada ao valor contbil dos seus ativos tangveis. Segundo GOMES (2003) utiliza-se a seguinte metodologia de clculo: a mdia de lucros antes dos impostos para um determinado perodo de tempo dividida pelo valor mdio dos ativos tangveis da empresa, resultando no valor do Retorno sobre os Ativos dela. O valor obtido , ento, comparado com a mdia do setor onde ela est inserida, sendo a diferena multiplicada pelo valor mdio dos seus ativos tangveis, para se obter uma mdia anual de lucro dos intangveis. Alguns mtodos que compem o grupo so: Human Resource Costing & Accounting (JOHANSSON apud GOMES, 2003) Valor intangvel calculado (STEWART , 1999 e LUTHY, 1998) Knowledge capital earnings (LEV, 2000) Valor do Capital intellectual adicionado (PULIC, 2000) Por ultimo esto os mtodos Scorecard (Scorecard Methods, SC), onde os componentes dos ativos intangveis so identificados e atribui-se valores aos mesmos na forma de indicadores, que so gerados e relatados nos Scorecards ou em grficos. So semelhantes aos mtodos de medidas diretas de capital intelectual, exceto pelo fato de que eles no estimam valores monetrios, e sim, ndices. Alguns mtodos deste grupo so: Human Capital Intelligence (JAC FITZ-ENZ apud GOMES, 2003) Skandia Navigator (EDVINSSON e MALONE, 1997) Value Chain Scoreboard (LEV, 2000) IC-Index (ROOS, ROOS, DRAGONETTI e EDVINSSON ,1997) 36

Monitor de Ativos Intangveis Intangibles Assets Monitor (SVEIBY, 1997) Balanced Scorecard (KAPLAN e NORTON, 1996) Gomes (2003) classifica os principais mtodos de avaliao dos intangveis, escolha esta associada s referncias nas diversas publicaes sobre o assunto. Tais mtodos so: Razo entre o valor de mercado e o valor contbil, Q de Tobin, Balanced Scorecard e Skandia Navigator.

2.4.1- Grau de Intangibilidade

No presente estudo, os mtodos de avaliao dos ativos intangveis a serem utilizados sero: o Q de Tobin e a razo entre o valor de mercado e o valor contbil, ou seja, os mtodos baseados na capitalizao de mercado. Stewart (1998, p.201) justifica a adoo destes mtodos ao afirmar que se o valor de uma empresa maior do que o valor que os acionistas possuem, faz sentidoatribuir a diferena ao capital intelectual. Para o autor, se o mercado avalia a empresa por um

valor acima de seu valor contbil, isto significa que o excesso deste valor corresponde ao capital intelectual da empresa. A razo entre o valor de mercado e o valor contbil, tambm chamado de grau de intangibilidade por Kayo (2002) e (Fam e Perez, 2004), pode ser calculado dividindo-se o valor de mercado da empresa (verificado a partir do preo de suas aes multiplicado pelo nmero de aes existentes) pelo seu valor contbil, ou seja, a representao monetria do seu patrimnio lquido. Este mtodo representado pela seguinte frmula: Grau de intangibilidade = GI =

VM VC

(1)

Sendo: VM= Valor de mercado VC= Valor contbil

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O Valor de mercado de uma empresa pode ser obtido por meio da multiplicao do preo de suas aes, tanto ordinrias como preferenciais, pelo nmero de aes, de acordo com a representatividade de cada tipo.Vm = N AO PAO + N AP PAP

(2)

Onde:N AO = Nmero de aes ordinrias PAO = Preo de cada ao ordinria N AP = Nmero de aes preferenciais

J o valor contbil obtido por meio da subtrao de todas as dvidas da empresa do seu ativo total, sendo estes divulgados pela contabilidade, ou seja, avaliados a custo histrico. Assim sendo, pode-se dizer que o valor contbil representado pelo valor do patrimnio lquido de cada empresa. O grau de intangibilidade uma medida relativa que permite a identificao da composio dos ativos intangveis na estrutura das empresas. Trata-se de uma medida global de valor, visto que, indica a expectativa do mercado em relao situao da empresa. Em termos prticos, pode-se dizer que o valor de mercado o valor econmico da empresa, j que no momento determinado, suas aes encontram-se em disponibilidade para possveis operaes comerciais. Tambm conhecido como Market-to-book-value por Stewart (1998) e Luthy (1998), o grau de intangibilidade, representado pela diviso do valor de mercado pelo valor contbil dos ativos lquidos da empresa, gera um quociente que, segundo Stewart (1998), permite a anlise comparativa das empresas, visto que, fatores exgenos afetariam o mercado como um todo de forma semelhante.

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2.4.2- Q de Tobin Aproximado

O quociente proposto originalmente por Tobin e Brainard (1968) e Tobin (1969), que viria a ser conhecido como o Q de Tobin, pode ser definido como a relao entre o valor de mercado de uma empresa e o valor de reposio de seus ativos fsicos. Esse ndice consolidou-se como uma varivel de indiscutvel utilidade em diferentes aplicaes nas reas de economia e finanas, tendo possibilitado uma nova compreenso de fenmenos to distintos entre si, a exemplo de poltica de dividendos, a estrutura de capital e o poder de monoplio das empresas (Fam e Barros, 2001, p. 2). A frmula de clculo deste ndice :

Q=

VMA + VMD VRA

(3)

Sendo: VMA =Valor de mercado das aes VMD = Valor de mercado das dvidas VRA = Valor de reposio dos ativos da firma Devido s dificuldades de se mensurar o valor de mercado das dvidas e o valor de reposio dos ativos da firma, dado o nmero de empresas estudadas, decidiu-se pelo uso de um modelo alternativo para o clculo do Q de Tobin. Esta forma alternativa de clculo do Q de Tobin, conhecida como Q aproximado foi proposta por Chung e Pruitt (1994), e de acordo com os autores, em pesquisa realizada em 40 empresas no perodo de 1978 a 1987, cerca de 96,6% da variabilidade do Q de Tobin explicado pelo Q aproximado ou Aproximao do Q de Tobin. Basicamente o Q aproximado difere do Q de Tobin pela utilizao de variveis fornecidas pela contabilidade, exceto a varivel valor de mercado, o que simplifica a anlise e conforme

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descrito no interfere de forma significativa nos resultados encontrados. A mtrica detalhada pela frmula a seguir:

Q=

VMA + D AT

(4)

Onde: VMA = valor de mercado do total de aes negociadas na Bolsa de Valores. D = valor contbil das dvidas (Passivo Circulante + Passivo Exigvel a longo prazo + Estoques Ativo Circulante) AT = ativo total da firma, avaliado pelo seu valor contbil. Para o clculo do valor das dvidas tm-se a seguinte frmula:

D = VCDcp VCRcp + VCest + VCDlponde: VCDcp = valor contbil das dvidas de curto prazo; VCRcp = valor contbil dos recursos atuais da firma; VCest = valor contbil dos estoques; VCDlp = valor contbil das dvidas de longo prazo.

(5)

Os mtodos citados apresentam limitaes, visto que so baseados em valores de aes e o mercado acionrio pode ser bastante voltil. No entanto, as companhias analisadas sero

agrupadas de acordo com o setor em que atuam, o que diminuiria os efeitos desta limitao, j que, as variaes de mercado e outras alteraes exgenas como taxas de juros, afetam o setor como um todo. Alm disso, os dados sero analisados em bases trimestrais, tomando-se, sempre que preciso, mdias de valores.

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A deciso de escolha desses dois mtodos tambm se faz devido composio da amostra de pesquisa, que trata de empresas de capital aberto, e baseia-se tambm na premissa imposta por Stewart (1998), de que todo o excesso em relao ao valor dos ativos na avaliao do mercado corresponde ao capital intelectual, ou seja, ao ativo intangvel.

2.5- Desempenho Econmico das Empresas

No ambiente competitivo em que vivemos, como forma de atrair investidores e valorizar a empresa, os gestores buscam estratgias que possibilitem um maior retorno aos acionistas. O uso de mtricas relacionadas ao retorno sobre o investimento como forma de se mensurar o desempenho defendido por autores como Fam e Perez (2004) e Santos, Mussa e Muller (2007). Pontes (2005, p.26) afirma que:Avaliao ou administrao de desempenho um mtodo que visa, continuamente, a estabelecer um contrato com os funcionrios referente aos resultados desejados pela organizao, acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos, quando necessrio, e avaliar os resultados conseguidos. o sopro da vida da organizao, e sem a sua existncia o planejamento ou as estratgicas organizacionais no faro o menor sentido.

Assim, pode-se afirmar que o processo de mensurao do desempenho envolve todo um planejamento estratgico que inclui o acompanhamento dos resultados e a comparao destes com os resultados esperados. Para Schmidt, Santos e Martins (2006) a mensurao contnua do desempenho faz-se necessria para a sobrevivncia das organizaes, visto que, os prprios especialistas em medio do desempenho afirmam que se no se pode medir, tambm no ser possvel controlar e gerenciar. O mesmo autor destaca a complexidade da medio do desempenho e afirma que a presso competitiva dos dias atuais o que refora e sofistica os sistemas de medio, medio esta associada capacidade de maximizao do retorno do capital investido.

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2.5.1- EVA (Economic Value Added)

Uma mtrica muito utilizada na avaliao do desempenho econmico o EVA (Economic Value Added), ou Valor Econmico Agregado, que comeou a ser implementado nas companhias brasileiras em 1995. Segundo Young & Obyrne (2003) o EVA um indicador do lucro econmico das firmas. Os mesmos autores baseiam-se na premissa de que o lucro econmico um indicador que leva em considerao no s os custos de capital de terceiros, como tambm, os custos do capital prprio, e por isso afirmam que a noo de lucro econmico confirma a relao que o EVA tem com a riqueza do acionista. (YOUNG & OBYRNE, 2003: p. 45) O EVA, ou Economic Value Added, uma marca registrada da empresa de consultoria Stern Stewart & Co, que serve como instrumento de medio da criao ou destruio de riqueza, visto que, segundo Stewart (1999), o EVA o lucro operacional lquido, menos o custo de oportunidade de todo capital empregado. Entende-se por custo de oportunidade o retorno

mnimo aceitvel dos investimentos, ou seja, o valor exigido pelos acionistas para determinado investimento. Martins (2001: p. 238) ressalta ainda que o EVA assume papel de destaque devido sua popularizao e relativa simplicidade de aplicao. Para Stewart (1999, p. 2) o EVA a medida de lucros verdadeiros, pois retrata o lucro

operacional aps o pagamento de impostos menos o encargo sobre o capital, apropriado tanto para o endividamento quanto para o capital acionrio. O autor considera o EVA umaferramenta de grande utilidade para gerncia e atribui o uso desta mtrica ao sucesso de algumas empresas como Eli Lily, Monsanto, e Briggs & Stratton. De forma mais clara e relacionada apurao quantitativa do indicador, Stewart (1999) e Young e O' Byrne (2003) definem o EVA como sendo a diferena entre o lucro operacional e o custo de todo o capital investido, sendo estes custos alocados de acordo com a parcela que ocupam no patrimnio da empresa. A partir da definio de Stewart, o EVA pode ser calculado conforme a frmula seguinte:

EVA = NOPAT (WACC Capital )

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Onde: NOPAT = Lucro Operacional Lquido depois dos impostos WACC = Taxa correspondente ao Custo Mdio Ponderado de Capital Capital = Capital investido Interpretando os valores encontrados no clculo do EVA, caso este seja positivo, pode-se dizer que a empresa agregou valor, caso contrrio, a empresa est perdendo valor, pois sua lucratividade no est sendo o suficiente para cobrir os custos de capital incorridos no processo de produo. Cabe ressaltar que um resultado negativo no significa necessariamente que a empresa est tendo prejuzos, e sim a ocorrncia de custos de capital superiores sua rentabilidade. Assaf Neto (2005, p. 384) tambm aprecia o uso desta mtrica argumentando que a empresa s agrega valor quando for capaz de produzir um retorno operacional maior que o custo de suas

fontes de capital. Esse excedente de remunerao expressa um acrscimo de riqueza dosproprietrios, que promove condies de valorizao de mercado da empresa. Assim, economicamente, para que haja uma melhoria do desempenho, faz-se necessria a obteno de um retorno operacional superior aos custos de suas fontes. Em relao aos acionistas, Stewart (1999) defende o uso do EVA como medida de desempenho devido possibilidade de visualizao do valor criado, argumentando que o retorno total no permite uma comparao justa, j que os riscos assumidos em cada investimento so diferentes e, conseqentemente, tambm so distintos os retornos exigidos. Fundamentando a utilizao do EVA, tambm conhecido como VEA (Valor Econmico Agregado), Assaf Neto (2002, p. 174) diz:O clculo do VEA exige o conhecimento do custo total de capital da empresa, o qual determinado pelo custo de cada fonte de financiamento (prpria e de terceiros) ponderado pela participao do respectivo capital no total do investimento realizado (fixo e de giro). Representa, em essncia, o custo de oportunidade do capital aplicado por credores e acionistas como forma de compensar o risco assumido no negcio.

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Outro argumento muito utilizado pelos adeptos da utilizao do EVA que o fato da empresa ter resultados positivos no significa que a mesma est criando valor, visto que, analisando somente pela tica dos dados contbeis, no possvel uma anlise dos lucros em contraste com o capital investido e seu respectivo custo. Como forma alternativa de clculo do EVA, utiliza-se uma mtrica conhecida como Spread de rentabilidade (EVA percentual) ou RROI (Residual Returno on Investment). Segundo Perez e Fam (2006), trata-se de uma forma relativa e alternativa de clculo e mensurao do EVA, e pode ser calculado de acordo com a frmula:

SPREAD = ROI WACCOnde: ROI = Retorno sobre o capital investido WACC = Taxa correspondente ao Custo Mdio Ponderado de Capital

(7 )

O custo mdio ponderado de capital torna-se til na anlise de criao de valor para o acionista dado que o custo de capital de uma empresa no representado somente pela remunerao do capital de terceiros. Para Young & Obyrne (2003) o custo de capital de uma empresa deve levar em considerao o risco da empresa e o retorno exigido pelos investidores para adquirirem aes da empresa. Sendo assim, pode-se dizer que o custo mdio ponderado de capital uma ponderao dos custos de capital prprio e de terceiros de acordo com a representatividade destes itens no balano patrimonial e pode ser descrito pela frmula:

PL PC + PELP WACC = CMPC = Ke + Kd P P Onde: Ke = Custo do Capital de Terceiros Kd = Custo do Capital Prprio

(8)

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PL = Patrimnio Lquido PC = Passivo Circulante PELP = Passivo Exigvel a Longo Prazo P = Passivo Total Cabe ressaltar que uma das limitaes deste mtodo seria o fato de que nem todos os componentes do passivo circulante e do passivo exigvel a longo prazo resultam em um custo para a empresa, como exemplo disso, pode-se citar o item salrios a pagar, que faz parte do Passivo Circulante, no entanto, no ocorre a incidncia de despesas financeiras sobre esta conta.

Custo do Capital PrprioDe acordo com MARTINS (2001) existem vrias formas de clculo do custo do capital prprio, e dentre elas destaca-se as seguintes mtricas: Modelo de Gordon, Capital Asset Pricing Model (CAPM), e Arbitrage Pricing Model (APM). Nessa pesquisa, para estimar o custo do capital prprio ser utilizado o modelo CAPM, (Capital

Asset Pricing Model ou Modelo de Precificao de Ativos de Capital), que foi desenvolvido porWillian Sharpe, e que segundo MARTINS (2001: p. 212), trata-se de um modelo que parte do pressuposto de que a taxa de rendimento requerida pelo investidor igual ao retorno dos

investimentos sem risco acrescido a um prmio pelo risco, o que significa que quanto maior foro risco maior ser o retorno exigido pelo acionista.

ke = R f + j (R m R f ) Onde: k e = custo do capital prprio;

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R f = taxa de retorno livre de risco (medida pelo retorno sobre o Ttulo do Tesouro);

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j = coeficiente beta da empresa j (mede o grau de oscilao do retorno da empresa j emresposta s mudanas no retorno do mercado); R m = taxa de retorno do mercado (medido pelo ndice Ibovespa)

Custo do Capital de TerceirosO Custo do capital de terceiros pode ser definido como sendo a taxa de remunerao dos credores pela concesso de emprstimos por perodo de tempo. Esta varivel deve ser calculada pela diviso das despesas financeiras pelo valor contbil do passivo oneroso da empresa, que gerador dessas despesas. Para Stewart (1999, p.435):O custo de capital de terceiros o mais fcil de ser apurado. Ele a taxa que uma companhia deveria pagar no mercado corrente para obter novos financiamentos de longo prazo. Sua melhor indicao a taxa predominante nas negociaes dos dbitos da empresa no mercado pblico e aberto. Na inexistncia de uma cotao para seus dbitos, o custo de capital de terceiros de uma companhia pode ser apurado de forma aproximada pela taxa corrente que est sendo paga na aquisio de dbitos de empresas com a mesma avaliao.

Para Martins (2001), deve-se utilizar as despesas financeiras antes dos tributos para efetuar o clculo do custo de capital de terceiros, o que pode ser descrito conforme a frmula:

Kd =

Ka PC + PELP

(10)

Sendo:

K d = Custo da dvida K a = Despesas financeiras antes das tributaesPC = Passivo Circulante

PELP = Passivo Exigvel a longo prazoJ o Retorno sobre o investimento, segundo MARTINS (2001, p. 240) representa a razo entre

o resultado lquido e o capital total investido, sendo que, as variveis utilizadas neste clculo

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so nmeros expressos pela contabilidade com base apenas no custo histrico, e, com a seguinte frmula:

ROA =Onde:

LL AT

(11)

LL = Lucro Lquido AT = Ativo TotalRessalta-se que a deciso de utilizar o Spread, ao invs do EVA, deve-se ao fato desta ltima mtrica ser uma medida em valores absolutos, o que influenciaria na anlise estatstica dos dados, visto que, os intangveis so avaliados em ndices, portanto uma medida percentual como o Spread permitiria uma comparao entre as firmas.

2.5.2- Retorno sobre o Patrimnio Lquido e Margem Lquida

Outra forma de clculo do desempenho das firmas, mais focado no desempenho financeiro, a utilizao de ndices, que para Matarazzo (2003, p 147) a relao entre contas ou grupos de

contas das demonstraes financeiras que visa evidenciar determinado aspecto da situao econmica ou financeira de uma empresa. O mesmo autor defende o uso das tcnicas de anlisede balanos como forma de anlise de desempenho financeiro das firmas, principalmente no que diz respeito previso de insolvncia, afirmando ainda que a conjugao de ndices-padro e de pesos que possibilita uma anlise global da empresa. Para Padoveze, (2003, p. 429):[...] a metodologia clssica para avaliao do desempenho global da empresa normalmente chamada de anlise financeira ou anlise de balano. Atravs de um conjunto de procedimentos e conceitos aplicados de forma inter-relacionada, obtm-se uma srie de indicadores que permite fazer uma avaliao sobre a situao econmica e financeira da empresa e o retorno do investimento.

A utilizao de ndices financeiros, segundo Matarazzo (2003), tambm possibilitam um grande nmero de informaes sobre a situao econmica das empresas, visto que proporcionam uma anlise objetiva e ao mesmo tempo global das atividades ao fornecerem informaes sobre diferentes aspectos da empresa. O mesmo autor ainda defende esta tcnica devido possibilidade de se avaliar os efeitos de alguns eventos sobre a situao financeira das empresas. 47

O nmero de ndices utilizados depende do nvel de profundidade a que se pretende analisar a situao da empresa. Conforme os objetivos do estudo que pretende analisar o desempenho focado na criao de valor para o acionista, decidiu-se pelo uso de mtricas relacionadas rentabilidade. As mtricas citadas possibilitam uma anlise da relao da lucratividade com os seguintes itens patrimoniais: patrimnio lquido e receita de vendas lquidas. Assim, como forma de anlise do desempenho financeiro faz-se necessrio tambm o uso de ndices financeiros, como o Retorno sobre o Patrimnio Lquido (ROE) e a Margem Lquida (ML), que apesar de fornecerem informaes a partir de um cenrio passado, tambm so teis anlise de desempenho organizacional quando devidamente combinadas. O ndice de retorno sobre o patrimnio lquido, tambm chamado de ROE, uma medida financeira que, segundo Assaf Neto (2002), retrata o retorno obtido pelos proprietrios da empresa em relao ao capital investido pelos mesmos. Isso significa que o ndice representa a lucratividade obtida para cada unidade monetria de recursos prprios (patrimnio lquido). A relevncia deste ndice d-se devido ao seu possvel impacto no mercado de capitais, visto que, segundo Grapelli (1998, p. 67):O ndice do Retorno Sobre o Patrimnio Lquido (ROE) mede a taxa de retorno para os acionistas. Os analistas de mercado de capitais, tanto quanto os acionistas, esto especialmente interessados nesse ndice. Em geral, maior o retorno, mais atrativa a ao.

O retorno sobre o patrimnio lquido mede o retorno obtido sobre o investimento (aes

preferenciais e ordinrias) dos proprietrios da empresa. (GITMAN, 2002, p. 123). Este ndicepode ser calculado como segue:

ROE =Onde:

LL PL

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LL = Lucro Lquido

PL = Patrimnio LquidoComo forma de complemento anlise do desempenho utiliza-se tambm a Margem Lquida. Para Gitman (2002), a Margem Lquida uma medida bastante citada para anlise do 48

desempenho em termos de comparao da lucratividade com as vendas. Este ndice reflete a representatividade dos lucros perante as receitas obtidas nas vendas. Assim, a Margem Lquida Indica quanto empresa obtm de lucro para cada unidade monetria dereceita de vendas lquida. O clculo deste ndice se d da seguinte forma:

ML =

LL RL

(13)

Onde:

LL = Lucro Lquido

RL = Receita LquidaO uso de indicadores para a medio do desempenho permite uma melhor interpretao dos resultados e possibilita a execuo de estratgias a curto e longo prazo, no entanto, apesar do dinamismo da mtrica exposta, existem as mtricas tradicionais de mensurao do desempenho, baseadas exclusivamente em informaes contbeis, e que tambm sero utilizadas no estudo. Para Matarazzo (2003) a utilizao de ndices para anlise da situao financeira da empresa deve ser feita de acordo com os objetivos dos usurios, e, como forma de justificativa ao uso dos ndices citados est a relao dos mesmos com a performance das firmas, visto que, buscam comparar a lucratividade das empresas com receitas, ativo e patrimnio lquido, ou seja, o rendimento dos investimentos.

2.6 Governana Corporativa

Nas sociedades modernas, onde existe uma segregao da posse e do controle das firmas, e com a possibilidade de conflito de interesses entre os acionistas, gestores e demais interessados na empresa, destaca-se o papel da governana corporativa como fator chave na reduo desses

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conflitos. O Instituto Brasileiro de Governana Corporativa (IBGC, 2001) (2001) a define da seguinte forma: Governana corporativa o sistema pelo qual as sociedades so dirigidas emonitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administrao, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas prticas de governana corporativa tm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua confiabilidade.

O Intelect Gerenciamento Financeiro (IGF) apresenta a seguinte definio:Governana Corporativa pode ser definida como o esforo contnuo em alinhar os objetivos da administrao das empresas aos interesses dos acionistas, atravs da adoo de prticas mais justas. O que proporciona maior liquidez e melhor valorizao das aes negociadas no mercado.

Nota-se que ambos os conceitos ressaltam o papel da governana corporativa no relacionamento dos acionistas e investidores com a administrao das empresas. No entanto, existe tambm o papel informacional da governana corporativa, visto que, alm da adoo de prticas que alinhem os objetivos da administrao e dos investidores, estes ltimos buscam nveis cada vez mais altos de evidenciao, o que proporciona maior segurana e confiabilidade nas suas tomadas de decises. A busca dos investidores por nveis cada vez maiores de evidenciao o que vm motivando estudos sobre a necessidade de aprimoramento do mercado como fator de crescimento econmico. Em junho de 2000, a McKinsey & Co, em parceria com o Banco Mundial conduziu uma pesquisa (Investors Opinion Survey) junto a investidores, com o objetivo de detectar e medir eventuais acrscimos de valor s companhias que adotassem boas prticas de governana corporativa. Apurou-se que os investidores pagariam entre 18% e 28% a mais por aes de empresas que adotam melhores prticas de administrao e transparncia, isto, pois, o maior nvel de evidenciao das informaes permite aos acionistas uma melhor fiscalizao do desempenho e a valorizao das aes demonstra a importncia atribuda pelos mesmos informao. (IBGC, 2001) No intuito de incentivar e melhorar a relao com os investidores, em 2000, a BOVESPA criou os nveis de governana diferenciada, onde existe um maior comprometimento das empresas 50

com as chamadas boas prticas de governana corporativa, que so basicamente prticas com maiores nveis de transparncia e evidenciao. Integram este grupo o Nvel 1, Nvel 2 e o Novo Mercado, onde as empresas so classificadas de acordo com o volume de informaes que se compromete a divulgar. Segundo o IBGC (2001):Basicamente, o segmento de Nvel 1 caracteriza-se por exigir prticas adicionais de liquidez das aes e disclosure. Enquanto o Nvel 2 tem por obrigao prticas adicionais relativas aos direitos dos acionistas e Conselho de Administrao. O Novo Mercado, por fim, diferencia-se do Nvel 2 pela exigncia para emisso exclusiva de aes com direito a voto.

Silveira (2004) defende a idia de que os mecanismos de governana corporativa afetam o desempenho econmico e financeiro das entidades. Para o autor, os mecanismos de governana visam aumentar a probabilidade de retorno dos investimentos, o que permite aos investidores uma maior segurana na alocao de seus recursos, e, alm disso, tais mecanismos possibilitam uma ampliao do acesso ao financiamento, o que viabiliza o crescimento e desenvolvimento econmico das firmas. Estudos como os de Okimura (2003), Silveira (2004) e Leal e Silva (2004) demonstram uma alta correlao entre o desempenho e o nvel de intangveis com o nvel de governana das organizaes. De acordo com o estudo de Silveira (2004, p. 197) os resultados indicaram que o desempenho pode influenciar a qualidade de governana, embora a maioria dos estudos procure obter uma relao de causalidade entre o nvel de governana e o desempenho. O mesmo autor afirma ainda que a adoo de melhores ndices de governana bem vista pelo mercado e isso se reflete positivamente na valorizao da empresa. Alm desses estudos comprovando uma forte correlao entre o nvel de governana corporativa com o desempenho e a presena de intangveis, a disponibilidade das informaes, assim como, a possibilidade de comparar as empresas viabiliza e enriquece o estudo realizado. Tais informaes so importantes no s para estudos do capital fsico e intelectual das empresas como tambm como auxlio para que gestores, analistas, acionistas, contadores, e outros interessados possam ter subsdios para a identificao e mensurao dos ativos intangveis, bem como avaliar os efeitos sobre o desempenho econmico.

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2.7- Crise Econmica Mundial

Conforme exposto, a pesquisa visa a anlise da interferncia dos ativos intangveis no desempenho econmico das firmas, e para tal foram utilizadas mtricas baseadas em demonstrativos financeiros e de mercado. No entanto, os dados utilizados foram substancialmente afetados por uma crise econmica mundial em alguns dos perodos em anlise, apresentando-se assim a necessidade de contemplao da mesma durante a obteno dos resultados. No segundo semestre do ano de 2008 a economia mundial viu-se em decadncia devido a uma crise financeira que teve sua origem nos Estados Unidos e se estendeu por todo o mundo, tornando-se conhecida como Crise Econmica Mundial, afetando tambm o mercado de capitais. Essa crise comeou nos EUA em meados de 2007, desencadeada pela inadimplncia do mercado imobilirio e pela falta de providncias em relao ao seu monitoramento, cujos reflexos, no Brasil, estendem-se at os dias atuais, representado pelo primeiro semestre do ano 2009. O evento causador da atual crise econmica enfrentada, segundo Fajardo (2009), foi a concesso do emprstimo hipotecado, que segundo o autor trata-se de aes de emprstimos residenciais vendidos a investidores. Basicamente, uma instituio financeira empresta dinheiro para o financiamento de um imvel em troca de recebimentos mensais, sendo que estes emprstimos so negociados com outras instituies financeiras e transformados em ttulos hipotecrios ou crditos hipotecrios. Jorion apud Chesnais (2007) ressalta que os norte-americanos, em mdia, so proprietrios de apenas 10% do valor real de suas casas, sendo que os 50% mais pobres possuem apenas 2,8% do patrimnio e o 1% mais rico detentor de 32,7%. Tal situao ocorre devido desregulamentao acelerada do setor imobilirio nas dcadas de 1990 e 2000, permitindo assim o crescimento de empresas independentes de emprstimos hipotecrios. Chesnais (2007) afirma ainda que essas empresas independentes de emprstimos hipotecrios, na busca de garantia dos seus contratos, venderam promissrias hipotecrias conhecidas como sub52

prime (alto risco) aos hedge funds (fundos especulativos de alto risco), sendo que estes eramfiliais de grandes bancos de investimento e comerciais estadunidenses e estrangeiros, afetando assim outros setores da economia. Assim, no comeo do ano de 2007, iniciou-se a crise financeira no setor imobilirio dos Estados Unidos. O aumento da inadimplncia quant