Atlas de Pressões e Ameaças Às Terras Indigenas Na Amazônia Brasileira

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  • ATLAS de Presses e Ameaass Terras Indgenas na

    Amaznia Brasileira

    So Paulo, novembro de 2009.

    Arnaldo Carneiro Filho Oswaldo Braga de Souza

  • Licena

    Para democratizar a difuso dos contedos publicados neste livro, os textos esto sob a licena Creative Commons (www.creativecommons.org.br), que flexibiliza a questo da propriedade intelectual. Na prtica, essa licena libera os textos para reproduo e utilizao em obras derivadas sem autorizao prvia do editor (no caso o ISA), mas com alguns critrios: apenas em casos em que o fim no seja comercial, citada a fonte original (inclusive o autor do texto) e, no caso de obras derivadas, a obrigatoriedade de licenci-las tambm em Creative Commons.

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    Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    AutoresArnaldo Carneiro Filho Oswaldo Braga de Souza

    TextosOswaldo Braga de Souza

    MapasArnaldo Carneiro Filho

    Edio de arteAna Cristina Silveira

    Pesquisa fotogrficaClaudio Aparecido Tavares

    Colaborao Adriana Ramos, Ana Paula Caldeira, Beto Ricardo, Carolina Ctia Schffer, Ccero Cardoso Augusto, Fany Ricardo, Julianna Malerba (Fase), Mrcio Santilli, Maria Ins Zanchetta e Patrcia Bonilha (Rede Brasil)

    Parceiros

    Apoio

    O contedo desta publicao de exclusiva responsabilidade de seus autores, no devendo, em circunstncia alguma, ser tomado como expresso dos pontos de vista de seus apoiadores financeiros.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    ndices para catlogo sistemtico:1. Amaznia : Povos indgenas : Atlas de presses e ameaas : Problemas sociais

    363.705

    Carneiro Filho, ArnaldoAtlas de presses e ameaas s terras indgenas na Amaznia brasileira / Arnaldo Carneiro Filho, Oswaldo Braga de Souza. -- So Paulo : Instituto Socioambiental, 2009.

    ISBN 978-85-85994-71-6

    1. Amaznia - Povos indgenas - Condies sociais 2. Degradao ambiental - Amaznia 3. Desmatamento - Amaznia 4. Povos indgenas - Amaznia 5. Reservas indgenas - Amaznia I. Souza, Oswaldo Braga de. II. Ttulo.

    09-12198 CDD-363.705

    SrieBrasil Socioambiental

    Cart Brasil Socioambiental uma srie de publicaes cartogrficas, aberta a parcerias e sem periodicidade regular, que pretende apresentar um panorama de algumas das principais questes socioambientais da atualidade sob diferentes perspectivas e recortes territoriais (pas, biomas, bacias hidrogrficas, municpios, estados, cidades e outros). A srie traz mapas elaborados em linguagem comunicativa e acessvel a pblicos variados, em diversos suportes e formatos, e mais um trabalho que parte da base de dados do ISA mantida desde a sua fundao, em 1994.

    O InSTITuTo SocIoAmBIEnTAL (ISA) uma associao sem fins lucrativos, qualificada como Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (Oscip), fundada em 22 de abril de 1994, por pessoas com formao e experincia

    marcante na luta por direitos sociais e ambientais. Tem como objetivo defender bens e direitos sociais, coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimnio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O ISA produz estudos e pesquisas, implanta projetos e programas que promovam a sustentabilidade socioambiental, valorizando a diversidade cultural e biolgica do pas.

    Para saber mais sobre o ISA consulte www.socioambiental.org

    Conselho Diretor: Neide Esterci (presidente), Marina Kahn (vice-presidente), Adriana Ramos, Ana Valria Arajo e Srgio Mauro (Sema) Santos Filho

    Secretrio executivo: Srgio Mauro (Sema) Santos Filho

    Secretrios executivos adjuntos: Adriana Ramos e Enrique Svirsky

    Apoio institucional

    Icco (Organizao Intereclesistica para Cooperao ao Desenvolvimento)

    NCA (Ajuda da Igreja da Noruega)

    ISA So PAuLo (sede) Av. Higienpolis, 901, 01238-001. So Paulo (SP), Brasil. Tel: (11) 3515-8900, fax: (11) 3515-8904, [email protected]

    ISA BrASLIA SCLN 210, bloco C, sala 112, 70862-530. Braslia (DF), Brasil. Tel: (61) 3035-5114, fax: (61) 3035-5121, [email protected]

    ISA mAnAuS Rua Costa Azevedo, 272, 1 andar, Largo do Teatro, Centro, 69010-230. Manaus (AM), Brasil. Tel/fax: (92) 3631-1244/3633-5502, [email protected]

    ISA BoA VISTA Rua Presidente Costa e Silva, 116, So Pedro, 69306-670. Boa Vista (RR), Brasil. Tel: (95) 3224-7068, fax: (95) 3224-3441, [email protected]

    ISA So GABrIEL dA cAchoEIrA Rua Projetada, 70, Centro, caixa postal 21, 69750-000. So Gabriel da Cachoeira (AM), Brasil. Tel/fax: (97) 3471-1156, [email protected]

    ISA cAnArAnA Rua Redentora, 362, Centro, 78640-000. Canarana (MT), Brasil. Tel: (66) 3478-3491, [email protected]

    ISA ELdorAdo Residencial Jardim Figueira, 55, Centro, 11960-000. Eldorado (SP), Brasil. Tel: (13) 3871-1697, [email protected]

  • apresentao p.4

    introduo p.5 mAPA Conjunto de presses e ameaas sobre as Terras Indgenas na Amaznia Legal Brasileira p.7

    terras e povosAs Amaznias p.8 mAPA Os limites hidrogrficos da Amaznia p.9

    Uma floresta nem to protegida p.10 mAPA reas Protegidas na Amaznia Legal p.11

    Os ndios no Brasil e na Amaznia p.12 mAPA Terras Indgenas na Amaznia Legal p.13

    infraestrutura estradas

    A Amaznia das estradas avana sobre a Amaznia dos rios p.14 mAPA Rodovias e Terras Indgenas p.15

    pac e iirsaNa mira dos grandes projetos de infraestrutura p.16 mAPA Obras previstas e em andamento p.17

    hidreltricasAs TIs e a nova geografia da gerao e distribuio de energia p.18 mAPA Projetos hidreltricos, microbacias e mesobacias afetadas p.19

    Povos indgenas sero os principais atingidos por hidreltricas p.20 mAPA Classificao das macrobacias amaznicas segundo a incidncia de projetos hidreltricos p.21

    Grandes rios amaznicos esto ameaados p.22 mAPA Classificao das TIs segundo a proximidade com rios afetados por projetos hidreltricos p.23

    desmatamentoA dinmica da devastao p.24 mAPA Desflorestamento acumulado na Floresta Amaznica p.25

    Um balano do desmatamento nas TIs p.26 mAPA Classificao das TIs segundo grau de presso do desflorestamento p.27

    assentamentosPolticas ineficientes de reforma agrria criam conflitos com TIs p.28 mAPA Assentamentos e Terras Indgenas p.29

    uso do soloA Amaznia pecuarizada p.30 mAPA Esboo do uso do solo nas reas desmatadas da Amaznia Legal p.31

    queimadasO fogo j faz parte do cotidiano da floresta p.32 mAPA Focos de calor em 2005 p.33

    recursos mineraisMinerao e Terras Indgenas p.34 mAPA Processos minerrios na Amaznia Legal p.35

    Passivos socioambientais da minerao em TIs p.36 mAPA Classificao das TIs segundo presses e ameaas da atividade mineral p.37

    Atividade garimpeira p.38 mAPA Atividade garimpeira por microbacia p.39

    Conflitos e impactos da atividade petrolfera na Amaznia Ocidental p.40 mAPA Petrleo e gs: zonas de explorao atual e interesses declarados p.41

    explorao madeireiraPonta-de-lana do desmatamento p.42 mAPA Zonas de atividade madeireira p.43

    urbanizao e saneamento Os ndios e as cidades amaznicas p.44 mAPA Capitais municipais por populao p.45

    reas de tensoUm resumo das presses e ameas s TIs p.46 mAPA Classificao das macrobacias amaznicas por presses e ameaas p.47

    sumrio

  • 4 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    O Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira apresenta uma viso complementar e integrada de diferentes formas de interveno no territrio amaznico e de seus impactos

    sobre as Terras Indgenas (TIs). A publicao pretende

    contribuir com a refl exo e o debate sobre os principais

    problemas socioambientais dessas reas ao oferecer ao

    leitor o endereo espacial de alguns deles. Pretende apoiar

    tambm as aes e estratgias de movimentos e lideranas

    indgenas, pesquisadores, tcnicos, militantes, organizaes

    no governamentais e instituies diversas que lutam pelo

    desenvolvimento sustentvel da Amaznia e pelos direitos

    de suas populaes.

    Os textos e mapas das pginas seguintes no tm a

    pretenso de fazer uma exposio exaustiva de cada tema

    tratado, mas de apresentar um panorama geral sobre cada

    um deles. Sem descuidar do rigor tcnico, o tratamento

    dos dados cartogrfi cos realizado neste trabalho no visou

    alcanar preciso absoluta, mas apontar os principais

    vetores da degradao dos ecossistemas amaznicos e

    delimitar os espaos geogrfi cos onde eles se movimentam,

    numa linguagem acessvel que facilitasse sua visualizao.

    Reunimos informaes sobre agropecuria, minerao,

    explorao madeireira, projetos de infraestrutura, populao

    e saneamento, entre outras. Em quase sua totalidade, elas

    foram obtidas em instituies ofi ciais, como o Instituto

    Brasileiro de Geografi a e Estatstica (IBGE), o Instituto Nacional

    de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agncia Nacional de Energia

    Eltrica (Aneel), o Departamento Nacional de Produo

    Mineral (DNPM) e a Agncia Nacional de Petrleo, Gs

    Natural e Biocombustveis (ANP).

    O objetivo da publicao indicar dinmicas territoriais atuais,

    mas tambm discutir cenrios e tendncias. Recolhemos e

    tentamos traduzir em linguagem cartogrfi ca dados sobre

    o endereo espacial da degradao

    Na orelha interna da capa da publicao, h

    um mapa com todas as TIs da Amaznia Legal

    e uma lista numerada com seus nomes em

    ordem alfabtica e por estado. TIs especfi cas

    so citadas em vrios textos e retratadas, em

    separado, em alguns cartogramas mapas

    menores com informaes adicionais

    espalhados pela publicao. Mantendo a

    orelha aberta,

    possvel ler os

    mapas do atlas e

    consultar a lista

    ao mesmo tempo

    para localizar e identifi car as TIs mencionadas

    e outras que o leitor desejar.

    Os mapas esto relacionados a

    alguns temas-chave, como, por exemplo,

    infraestrutura, recursos minerais e

    desmatamento. Esses temas esto indicados no

    canto esquerdo superior da pgina que contm

    os textos do atlas (sua forma de apresentao

    no segue uma ordem de importncia).

    Sempre acima dos mapas, nas pginas

    que os precedem, so apresentados textos

    que contextualizam a insero das TIs no tema

    destacado e no territrio amaznico. Vrios

    deles apresentam exemplos emblemticos de

    regies e TIs mais afetados por determinada

    atividade ou agente.

    Com essa disposio na pgina, o leitor pode

    localizar no mapa principal que est lendo

    alguma informao destacada no texto.

    Ainda na pgina do texto, sua esquerda,

    est a seo Bibliografi a, que traz as

    publicaes, artigos, textos diversos e sites

    usados como fontes.

    Logo abaixo do texto principal esto os

    mapas que focalizam sempre as TIs na

    Amaznia em face de algum tipo de ao

    nociva, presso ou ameaa socioambiental.

    Ao longo de toda a publicao foram

    dispostos ainda tabelas e grfi cos com

    nmeros sobre o assunto tratado.

    apresentao

    atividades e agentes que provocaram, provocam e devem

    continuar provocando num futuro imediato impactos

    negativos diretos e indiretos sobre as TIs e as regies onde

    elas esto localizadas. Neste caso, falamos de presses que

    ocorrem, por exemplo, na forma de invases, ocupaes

    e desmatamentos ilegais; roubo de madeira; incndios

    fl orestais; atividade garimpeira; barragens; presena de

    atividades agropecurias e minerrias, serrarias, frigorfi cos e

    ncleos urbanos. Tambm apresentamos informaes sobre

    intervenes que podem manter ou ampliar em mdio e

    longo prazo esses impactos, destacando o que consideramos

    ameaas (ou presses potenciais): requerimentos de pesquisa

    minerria; estradas, usinas hidreltricas e linhas de transmisso

    previstas e em estudo; entre outros. Em alguns casos, a

    anlise desses dados permitiu classifi car regies e reas

    especfi cas segundo o grau dos impactos socioambientais

    sofridos atualmente e de suas vulnerabilidades em diferentes

    horizontes de tempo.

    como ler o atlas?

    orelha aberta,

    possvel ler os

    mapas do atlas e

    consultar a lista

    ao mesmo tempo

    para localizar e identifi car as TIs mencionadas

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  • 5 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraintroduo

    Houve grande avano no processo de reconhecimento oficial das Terras Indgenas (TIs) nos ltimos 20 anos no Brasil, sobretudo na Amaznia, apesar das pendncias histricas ainda no resolvidas. A demarcao

    de territrios extensos, a formao de mosaicos de reas

    protegidas e de grandes corredores de sociobiodiversidade

    conferem novos contornos ao mapa da regio.

    Essas conquistas deslocam o eixo das preocupaes e

    reivindicaes dos ndios, historicamente focadas na luta pela

    terra. Ganha importncia o desafio da gesto e da proteo

    desses vastos territrios, que no tm estruturas institucionais

    de governana, de representao poltica nacional e de

    instrumentos econmicos e tributrios capazes de enfrentar

    demandas que se diversificam e adquirem escala.

    avanos e desafios das terras indgenas na amaznia

    Mesmo nos casos em que a demarcao das terras

    contempla rigorosamente a Constituio e as expectativas

    dos povos ocupantes, ela representa certo confinamento

    histrico: tais comunidades passam a ter de equacionar

    suas necessidades dentro daqueles limites, no presente e

    no futuro, sejam quais forem sua dinmica populacional,

    o crescimento da sua demanda de consumo e a

    disponibilidade de recursos naturais.

    Por outro lado (o lado de fora), reas que h 20 ou 30 anos

    encontravam-se isoladas, quase inacessveis, agora esto

    cada vez mais interligadas s redes de infraestrutura de

    transportes e de comunicaes. Houve um salto nas relaes

    estabelecidas entre os povos indgenas e os seus vizinhos,

    as cidades e os rgos de governo. Ao mesmo tempo, as

    polticas de ocupao do territrio atravessam as fronteiras

    nacionais, transformando o que antes era fim do mundo em

    rotas de passagem entre diferentes mundos.

    Ainda que extensas, as TIs encontram-se cercadas. O futuro

    das comunidades indgenas assim como a integridade das

    florestas e dos recursos naturais nelas existentes depender

    cada vez mais do contexto territorial, social, econmico e

    cultural em que essas comunidades esto inseridas, bem

    como da sua capacidade de gerir o conjunto das suas

    relaes com a sociedade brasileira.

    uma onda de projetos e interessesNa medida em que se intensificam essas relaes, ocorrem

    conflitos e surgem ameaas s TIs e ao conjunto de

    direitos a elas agregado pela Constituio. Nos ltimos

    anos, segmentos mais conservadores do governo e da

    imprensa, lideranas do agronegcio, empresrios do setor

    hidreltrico e mineral, parlamentares de variados matizes

    ideolgicos vm se empenhando em passar sociedade a

    idia de que a criao de reas protegidas uma ameaa

    ao crescimento da produo agropecuria; que prazos,

    estudos e consultas prescritos na legislao ambiental

    so trmites burocrticos dispensveis. Cria-se uma falsa

    oposio entre os interesses das populaes tradicionais

    e o que considerado progresso. Os povos indgenas e

    quem defende seus direitos so convertidos em viles do

    desenvolvimento e agentes do atraso.

    Os mapas apresentados nas prximas pginas, no

    entanto, permitem entrever que a floresta no entrave

    s atividades produtivas, em que pese a importncia das

    leis ambientais, das Unidades de Conservao (UCs) e

    TIs para conter o desmatamento. Ao contrrio, o Atlas

    de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia

    Brasileira revela a existncia de uma onda de projetos de

    infraestrutura, empreendimentos e interesses econmicos NOTA

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  • 6 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraintroduo

    cujas consequncias para parte expressiva da populao

    amaznica tm sido a ocupao ilegal de terras, o saque

    dos recursos naturais, degradao dos ecossistemas,

    concentrao de renda, insegurana, violncia.

    Os mapas includos nesta introduo representam, em

    apenas trs imagens, as TIs amaznicas e um conjunto

    de agentes e atividades que so retratados com maior

    detalhe ao longo de toda a publicao. O mapa maior, na

    pgina 7, ilustra a sobreposio de interesses e presses

    socioambientais resultantes dos setores agropecurio,

    madeireiro, mineral, garimpeiro, petroleiro, de infraestrutura

    e energticos. Combinados num s mapa, tornam

    quase impossvel sua leitura detalhada e, ao mesmo

    tempo, oferecem um panorama do caos anunciado de

    intervenes que vo alm do desmatamento e cujos

    impactos ainda no so totalmente conhecidos.

    Os dois mapas menores, oriundos do primeiro, j

    permitem uma viso mais organizada dessas presses,

    agora agrupadas por certa afinidade de origem. No mapa

    da pgina anterior, foram includas informaes sobre

    estradas e desmatamentos realizados nos ltimos trs anos,

    sobrepostos a um esboo da presso madeireira. No mapa

    desta pgina combinaram-se as presses da atividade

    mineral, de hidreltricas e linhas de transmisso planejadas.

    Alm da situao crtica j bastante conhecida do conjunto

    de TIs localizadas no chamado arco do desmatamento, na

    poro sul da Amaznia, chama a ateno o movimento

    dos agentes e atividades econmicos sobre a faixa que

    se estende desde o Acre, passando por Rondnia, o

    sul do Amazonas, o centro do Par (ao longo da calha

    do Rio Amazonas) at o Amap. Segundo a imagem,

    no se pode falar mais em uma fronteira agrcola que

    avana gradualmente sobre o territrio amaznico a

    partir de um permetro com contorno definido. Agora

    ela lana ramificaes e estabelece ncleos ativos em

    vrias direes, chegando a reas at pouco tempo

    consideradas isoladas e mais preservadas. Esse trecho do

    Bioma Amaznico, considerado por alguns como arco

    do desenvolvimento, em franca consolidao, gera novas

    demandas energticas e econmicas, o que intensifica as

    presses sobre o territrio e os recursos naturais.

    estado esquizofrnicoEssa realidade no tem origem apenas na falta de polticas

    pblicas, como muitas vezes tem sido afirmado. Como

    indicam mapas e textos desta publicao, a dinmica territorial

    da devastao induzida por vetores especficos originados,

    em grande parte, de gestes governamentais. O Estado

    est presente na Amaznia, mas de forma esquizofrnica:

    enquanto tenta, a muito custo, tirar do papel aes ainda

    incipientes de controle do desmatamento, financia por meio

    de instituies como o Banco Nacional de Desenvolvimento

    Econmico e Social (BNDES), outros bancos regionais e

    estaduais atividades que esto destruindo a maior floresta

    tropical do planeta. Como apontam os textos deste atlas,

    empreendimentos de infraestrutura e agropecuria custeados

    com dinheiro pblico so responsveis por grande parte do

    desflorestamento na Amaznia.

    Ao pretender chamar a ateno para essa situao,

    esta publicao no tem a inteno de demonizar

    nenhum segmento ou atividade econmica. Fugindo

    de generalizaes, seu objetivo oferecer um panorama

    abrangente de como as TIs esto sendo ou sero impactadas

    por obras de infraestrutura, pelo avano da fronteira

    agropecuria e por diversas outras formas de explorao

    dos recursos naturais. Se sua leitura possibilitar uma viso

    objetiva dos desafios colocados para a conservao da

    diversidade cultural e biolgica, para o debate de alternativas

    econmicas mais sustentveis para a Amaznia, teremos

    alcanado nosso objetivo. NOTA

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  • 7 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    conjunto de presses e ameaas sobre as terras indgenas na amaznia legal brasileiraintroduo

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    OceanoAtlntico

  • 8 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraterras e povos as amaznias

    H vrias formas de definir a Amaznia. A Bacia Hidrogrfica Amaznica composta por todos os afluentes e rios formadores do Rio Amazonas. Ela drena sete pases e corresponde a quase 40% da Amrica do

    Sul, com uma rea de 6,6 milhes de quilmetros quadrados

    (includas as macrobacias consideradas parcialmente

    amaznicas, como as do Araguaia e do Tocantins). A

    Bacia Amaznica o maior compartimento de gua doce

    superficial do planeta, com cerca de 15% do total disponvel

    desse recurso.1

    O Bioma Amaznico, Domnio Ecolgico Amaznico

    ou Domnio Biogeogrfico Amaznico o conjunto de

    ecossistemas florestais existentes na Bacia Amaznica.

    Ele tem 6,9 milhes de quilmetros quadrados, distribudos

    por nove pases: Bolvia, Brasil, Colmbia, Equador, Guiana,

    Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.2

    No Brasil, incluindo reas de

    transio e trechos de outras

    formaes vegetais, o Bioma

    Amaznico tem 4,2 milhes de

    quilmetros quadrados.

    Nos anos 1950, para tentar

    desenvolver e integrar a regio

    por meio da concesso de

    incentivos fiscais, o governo

    brasileiro criou o conceito de

    Amaznia Legal, que abrange

    uma rea com pouco mais

    de 5 milhes de quilmetros

    quadrados (dois teros do

    Pas). Esse territrio inclui os

    estados do Amazonas, Par,

    Roraima, Rondnia, Acre, Amap,

    Tocantins, Mato Grosso e grande

    parte do Maranho. A Amaznia

    Legal brasileira caracterizada

    por um mosaico de habitats com grande variedade na

    ocorrncia e quantidade de espcies. Alm da Floresta

    Amaznica, abarca 37% do Bioma Cerrado, 40% do Bioma

    Pantanal e pequenos trechos de formaes vegetais variadas.3

    O Bioma Amaznico a regio de maior biodiversidade do

    planeta. Calcula-se que contenha quase 30% de todas as

    espcies existentes.4 No Brasil, abriga mais de 30 mil espcies

    de plantas, 1,8 mil de peixes continentais, 1,3 mil de aves,

    311 de mamferos e 163 de anfbios. As explicaes para

    essa formidvel multiplicidade de espcies e ecossistemas

    apontam para as variaes climticas (atuais e passadas),

    geolgicas, geogrficas, das formas de ocupao e uso dos

    recursos naturais existentes no bioma.5

    Por causa de sua grande extenso em florestas contnuas, a

    Amaznia muito importante para a estabilidade do clima

    regional. Ela impulsiona grandes quantidades de vapor de

    gua originadas no Oceano Atlntico e transporta-as ao

    longo da Amrica do Sul, o que assegura a regulao do

    regime de chuvas em lugares como a Argentina, Paraguai

    e o centro-sul do Brasil. Estima-se que a evaporao e a

    transpirao da vegetao amaznica, composta por rvores

    de at 50 metros de altura, liberem aproximadamente sete

    trilhes de toneladas de gua por ano na atmosfera.6

    A Amaznia abriga ainda uma enorme diversidade

    sociocultural. Considerando seus limites polticos em cada

    pas, nela vivem 33 milhes de habitantes, inclusive 1,6 milho

    de indgenas de 370 povos diferentes, distribudos em 2,2

    mil territrios (sem contar comunidades isoladas e urbanas).7

    Esses grupos detm, usam e protegem um vasto repertrio de

    recursos genticos e conhecimentos tradicionais associados

    biodiversidade. Estima-se que os povos indgenas

    amaznicos manipulem perto de 1,6

    mil espcies de plantas medicinais.8

    Na Amaznia Brasileira, vivem tambm

    357 comunidades remanescentes

    de quilombos e centenas de

    outras habitadas por seringueiros,

    castanheiros, babaueiros, ribeirinhos.9

    Apesar de toda essa riqueza

    socioambiental, segundo o Instituto

    Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),

    mais de 586 mil quilmetros quadrados

    de florestas j foram destrudos na

    Amaznia Brasileira o equivalente

    ao territrio de Minas Gerais! Entre os

    pases amaznicos, o Brasil tem o maior

    nmero de espcies extintas.10 Estamos

    perdendo um patrimnio de centenas

    e talvez milhares de espcies de

    animais, plantas e micro-organismos

    antes de conhec-las.

    BiBliografia(1) amaznia, desflorestamento e gua.

    arnaldo carneiro Filho, Javier tomasella e Ralph trancoso. In Cincia Hoje. Vol. 40,

    no239. Julho de 2007. Pg. 30-37.

    (2;7) Amaznia 2009. reas Protegidas e Territrios Indgenas. Rede amaznica

    de informao Socioambiental Georreferenciada (RaiSG). 2009.

    (3) Amaznia Brasileira 2009. alcia Rolla e Fany Ricardo (coord.). instituto

    Socioambiental (iSa). 2009.

    (4) O Livro de Ouro da Amaznia. Joo meirelles Filho. ediouro. 2004.

    (5; 8; 10) GeoAmaznia. Perspectivas do meio ambiente na amaznia.

    PnUma/otca/ centro de Pesquisa da Universidad del Pacifico. 2008.

    (6; 9) amaznia. lcio Flvio Pinto. In Almanaque Brasil Socioambiental 2008. Pg. 83-106. instituto Socioambiental (iSa). 2007.

  • 9 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    os limites hidrogrficos da amaznia

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    OceanoPacfico

    OceanoAtlntico

  • 10 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    Hoje, 2,1 milhes de quilmetros quadrados ou pouco mais de 43% da Amaznia Legal so ocupados por reas protegidas. As Unidades de Conservao (UCs) correspondem a 22% do territrio

    amaznico e as Terras Indgenas (TIs) a 21% (considerando

    apenas reas no continente e descontando-se sobreposies

    entre TIs e UCs). Cerca de metade dessas UCs federal e a

    outra metade estadual.1

    O grau de implantao das reas protegidas varia muito,

    em especial das UCs. Apesar de existir na letra da lei,

    grande parte delas no fiscalizada, no tem infraestrutura

    e funcionrios em nmero suficiente. Alm disso, a

    distribuio de UCs e TIs por estado desigual e revela

    regies crticas que precisam de maior proteo. Enquanto

    o Amap tem cerca de 70% de seu territrio protegido e

    mais da metade de Roraima est na mesma situao, no

    Mato Grosso e no Maranho os ndices so de 18,6% e

    14,7%, respectivamente. Apenas 3,4% do Mato Grosso

    recoberto por UCs e somente 4,8% do Bioma Amaznico

    encontra-se protegido nesse estado.2 Portanto, o ndice

    de quase metade da Amaznia protegida esconde uma

    realidade no to favorvel.

    o que so as ucs?De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao da Natureza (SNUC), a UC uma parte do

    territrio sob regime especial de administrao ao qual

    se aplicam garantias especiais de proteo por possuir

    caractersticas naturais relevantes. As UCs podem ser de

    proteo integral e de uso sustentvel. No primeiro caso,

    esto as reas onde no so permitidos o uso direto dos

    recursos naturais e a presena de moradores. Por exemplo,

    as Estaes Ecolgicas (Esecs), as Reservas Biolgicas (Rebios)

    e os Parques Nacionais (Parnas). As UCs de uso sustentvel

    pretendem compatibilizar a conservao com o manejo

    de seus recursos. Incluem-se nessa categoria as Reservas

    Extrativistas (Resex), as Florestas Nacionais (Flonas) e as Reservas

    de Desenvolvimento Sustentvel (RDS), entre outras.

    corredores e mosaicosAs reas protegidas so fundamentais para a conservao da

    biodiversidade. Apesar de estarem seriamente ameaadas

    em alguns lugares, mais de 98% de sua cobertura vegetal

    na Amaznia est intacta. Alm de abrigar comunidades

    tradicionais que dependem de seus recursos para sobreviver,

    so responsveis por uma srie de servios ambientais,

    como a regulao do clima e o abastecimento de

    mananciais de gua. Enfim, garantem a qualidade de vida

    de inmeras populaes.3

    Se sua posio geogrfica for definida adequadamente,

    a criao de TIs e UCs interligadas, na forma de corredores

    e mosaicos, pode potencializar essas funes e constituir

    verdadeiras barreiras contra o avano do desflorestamento.

    Esse tipo de ligao de reas isoladas ou que estejam

    protegendo habitats de forma insuficiente facilita o trnsito

    de animais, a disperso de sementes e as trocas genticas.

    Assim, aumenta a capacidade de sobrevivncia de espcies

    e ecossistemas.

    Os mosaicos de UCs e os corredores ecolgicos de reas

    protegidas esto previstos na legislao brasileira como forma

    de conservar os recursos naturais de grandes territrios, mas as

    experincias com esse tipo de instrumento so poucas no Pas.

    Ainda no existem polticas pblicas consistentes para facilitar

    a sua implantao e gesto. O desafio conseguir controlar

    um conjunto extenso de terras com diferentes destinaes

    e rgos responsveis, onde podem conviver diversos atores

    (comunidades tradicionais, produtores rurais, prefeituras etc),

    num quadro de restries oramentrias e desarticulao

    poltico-administrativa do Estado. A manuteno de grandes

    blocos de reas protegidas poder representar uma vantagem

    comparativa do Brasil nas negociaes internacionais sobre

    mudanas climticas, j que esto em discusso ou sendo

    colocados em prtica mecanismos para compensar pases que

    evitem o desmatamento.

    No norte da Amaznia, estendendo-se de leste a oeste desde

    o Amap, passando pelo norte do Par, um pequeno trecho

    do sul de Roraima e a grande faixa central do Amazonas,

    chegando fronteira com o Peru existe um corredor de

    reas protegidas contguas que provavelmente o maior do

    planeta, com 588,7 mil quilmetros quadrados (quase 12% da

    Amaznia Legal). Ele contm 244 mil quilmetros quadrados

    de TIs, 146,4 mil quilmetros quadrados de

    UCs de proteo integral e quase 200 mil

    quilmetros de UCs de uso sustentvel. Outro

    importante conjunto de reas protegidas

    conectadas est situado ao longo do Vale

    do Rio Xingu, do nordeste do Mato Grosso

    ao centro do Par, perfazendo 264,7 mil

    quilmetros quadrados (73% formados por TIs

    e quase 25% por UCs federais). Alm de abrigar

    uma populao de cerca de 12 mil pessoas,

    incluindo 25 etnias indgenas, tem papel

    estratgico para a conservao por ser uma

    ligao entre os dois maiores biomas nacionais:

    a Amaznia e o Cerrado.

    foToarquiplago de anavilhanas no Rio

    negro, entre manaus e barcelos (am). o Parque nacional de anavilhanas uma das Ucs do grande corredor de

    reas protegidas da amaznia central.

    BiBliografia(1; 2) Amaznia Brasileira 2009. alcia

    Rolla e Fany Ricardo (coord.). instituto Socioambiental (iSa). 2009.

    (3) reas protegidas. cristina Velsquez. In Almanaque Brasil

    Socioambiental 2008. Pg. 261-269. instituto Socioambiental (iSa). 2007.

    uma floresta nem to protegidaterras e povos

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  • 11 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    terras e povosreas protegidas na amaznia legal

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    OceanoAtlntico

  • 12 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraos ndios no brasil e na amazniaExistem no Brasil 227 povos indgenas, falantes de 180 lnguas originadas de dois troncos principais (Tupi e Macro-J) e vrias famlias lingusticas. S metade dessas lnguas recebeu registro cientfico.1 Em

    todo Pas, h 643 Terras Indgenas (TIs) em diferentes

    etapas de identificao e regularizao, que somam

    1.103.965 quilmetros quadrados ou cerca de 13% do

    territrio nacional.2

    Nunca foi feito um censo indgena especfico para todo o

    Pas, mas no ltimo recenseamento da populao brasileira

    realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    (IBGE), em 2000, mais de 734 mil pessoas declararam-se

    indgenas.3 Clculos do Instituto Socioambiental (ISA) feitos

    com base nas populaes das TIs estimam que os ndios

    brasileiros seriam aproximadamente 450 mil.

    Na Amaznia Legal, vivem 173 povos em 405 TIs, que

    somam 1.085.890 quilmetros quadrados, ou 21,7%

    da regio. Ainda segundo dados do ISA, cerca de 300

    mil ndios vivem nessas reas (1,15% da populao

    amaznica). As Terras Indgenas na Amaznia

    correspondem a 98% da rea total de Terras Indgenas no

    Brasil. Existem ainda referncias a 46 grupos indgenas

    isolados, sem contato oficial com o Estado e a sociedade

    envolvente e sobre os quais no se tem informaes

    precisas de localizao ou etnia.4

    Vez ou outra, segmentos contrrios aos direitos indgenas

    tentam confundir a sociedade ao divulgar a idia de

    que haveria muita terra para poucos ndios ou que a

    demarcao de TIs, especialmente em faixa de fronteira,

    seria um risco segurana nacional. A realidade, porm,

    outra. A regularizao dessas reas visa acabar com os

    conflitos fundirios e assegura a integridade do territrio

    brasileiro, j que, segundo a Constituio Federal, elas so

    patrimnio da Unio. A criao de TIs no diminui as terras

    disponveis agropecuria, que so mais que suficientes

    para a sua expanso no Pas. Governo e lideranas ruralistas

    admitem que a recuperao de propriedades degradadas ou

    abandonadas pode multiplicar a produo agrcola nacional

    sem que seja preciso desmatar ainda mais.

    Segundo pesquisa de opinio encomendada pelo ISA ao

    Ibope, em 2000, a maioria dos brasileiros (68%) apoia a

    demarcao e o tamanho atual das TIs. Os entrevistados

    disseram que os trs maiores problemas dos ndios so:

    invaso de terras (57%), desrespeito sua cultura (41%) e

    doenas transmitidas pelos brancos (28%).5

    os direitos indgenas na constituio A Constituio Federal consagrou o direito originrio

    dos ndios sobre suas terras: ela reconhece que eles as

    habitavam antes da formao do Estado Nacional e,

    portanto, tal direito deve prevalecer sobre outros. (A

    ocupao indgena na Amaznia remonta h pelo menos

    10 mil anos).6 A Carta Magna confere aos ndios a posse

    permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo,

    dos rios e dos lagos existentes nas TIs. De acordo com

    o Pargrafo 1 do Artigo 231, as terras tradicionalmente

    ocupadas pelos ndios so aquelas por eles habitadas

    em carter permanente, as utilizadas para suas atividades

    produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos

    ambientais necessrios ao seu bem-estar e as necessrias

    a sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos,

    costumes e tradies.

    Ainda segundo a Constituio, o Poder Pblico obrigado,

    por meio da Fundao Nacional do ndio (Funai), a promover

    o reconhecimento das TIs por ato declaratrio que tornem

    pblicos os seus limites, assegure sua proteo e impea

    sua ocupao por terceiros. O processo de reconhecimento

    formal dessas reas feito por etapas e obedece alguns

    procedimentos administrativos, originalmente estabelecidos

    pelo Estatuto do ndio, de 1973, e posteriormente alterados

    e hoje dispostos no Decreto 1.775/96.

    As TIs tm importncia fundamental tanto na proteo

    dos direitos e da cultura dos ndios quanto na conservao

    da floresta. Alm disso, abastecem com produtos de

    vrios tipos inmeras cidades. Muitas terras indgenas,

    entretanto, tm sido invadidas por grileiros, madeireiros,

    fazendeiros, garimpeiros, pescadores e caadores em

    busca dos recursos naturais ali preservados. Veja nas

    pginas seguintes como vrias dessas e outras presses

    e ameaas aos povos indgenas apresentam-se no

    territrio amaznico.

    foToVista area da escola indgena baniwa

    e coripaco (eibc-Pamali), terra indgena alto Rio negro, So Gabriel

    da cachoeira (am).

    BiBliografia(1) Povos indgenas. beto Ricardo.

    In Almanaque Brasil Socioambiental 2008. Pg. 226-233. instituto Socioambiental (iSa). 2007.

    (2) Site Povos Indgenas no Brasil. instituto Socioambiental (iSa).

    http://pib.socioambiental.org/pt. (consultado em 26/10/2009)

    (3) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    http://www.ibge.gov.br/home/

    (4; 6) Amaznia Brasileira 2009. alcia Rolla e Fany Ricardo (coord.). instituto Socioambiental (iSa). Junho de 2009.

    (5) Povos Indgenas no Brasil 1996-2000. beto Ricardo (ed. Responsvel). instituto

    Socioambiental (iSa). 2000.

    terras e povos

    beto ricard

    o/isa

  • 13 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    terras e povosterras indgenas na amaznia legal

    FON

    TE: I

    SA, 2

    009.

    TErrAS IndGEnAS nA AmAznIA LEGAL Por SITuAo jurdIco-AdmInISTrATIVA (22/6/2009)

    NOTA: *A extenso deste grupo refere-se apenas quelas seis em reviso, ou seja, que j tiveram algum tipo de defi nio de limites anteriormente. As outras terras nesta categoria ainda no tiveram seus limites defi nidos.FONTE: Amaznia Brasileira 2009. Instituto Socioambiental (ISA). 2009.

    Situao Jurdico-administrativa No de Tis % do No de Tis Extenso (ha) % da extenso de Tis

    Em identifi cao (6 em reviso)* 57 14,07% 49.780 0,05%

    Com restrio de uso a no ndios 4 0,99% 704.257 0,65%

    Aprovada pela Funai. (Sujeita a contestaes) 9 2,22% 1.165.060 1,07%

    Declarada 37 9,14% 9.606.300 8,85%

    Homologada 5 1,23% 711.011 0,71%

    Reservada. (Duas demarcadas pelo Incra, 1 Dominial Indgena) 6 1,48% 38.846 0,04%

    Registrada no CRI e/ou SPU 287 70,86% 96.253.758 88,64%

    Total na amaznia legal 405 100,0% 108.589.012 100,0%

    OceanoPacfi co

    OceanoAtlntico

  • 14 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraa amaznia das estradas avanasobre a amaznia dos rios

    foToa rodovia bR-163, que liga cuiab (mt)

    a Santarm (Pa), foi aberta nos anos 1970 como mais uma das grandes

    obras de infraestrutura projetadas pela ditadura militar para pretensamente

    tentar integrar a amaznia economia nacional. o asfaltamento da estrada

    ainda no foi concludo.

    BiBliografia(1) O Avano das Estradas Endgenas na Amaznia. o estado da amaznia. carlos Souza Jr., amintas brando Jr.,

    anthony anderson e adalberto Verssimo. instituto do Homem e do meio ambiente da amaznia (imazon). agosto de 2004.

    http://www.imazon.org.br/novo2008/arquivosdb/ea_1p.pdf

    (2) Lentido na demarcao estimula invasores da Terra Indgena Cachoeira

    Seca (PA). oswaldo braga de Souza. Site do instituto Socioambiental (iSa), 5/4/2007.

    http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2434

    (3) Plano de Desenvolvimento Regional Sustentvel para a rea de Influncia

    da Rodovia BR-163 (Cuiab-Santarm). Grupo de trabalho interministerial.

    casa civil da Presidncia da Repblica. Junho de 2006.

    (4) Geo Amaznia. Perspectivas do meio ambiente na amaznia. PnUma/otca/

    centro de Pesquisa da Universidad del Pacifico. 2008.

    (5) transporte. adriana Ramos. In Almanaque Brasil Socioambiental 2008.

    Pg. 336-338. instituto Socioambiental (iSa).

    (6) Avana Brasil: os custos ambientais para a Amaznia. Relatrio do Projeto

    cenrios Futuros para a amaznia. instituto de Pesquisa ambiental da amaznia (ipam)

    e instituto Sociombiental (iSa). 2000.

    As estradas tm sido o meio de acesso para o roubo de madeira, o surgimento de garimpos e a apropriao ilegal de terras em TIs na Amaznia. So inmeros os exemplos de prejuzos e mesmo tragdias

    entre povos indgenas causados pela abertura de rodovias.

    Como indica o mAPA, Rondnia, Roraima e o oeste do Mato Grosso so regies onde as vias ilegais avanam com

    maior intensidade sobre as TIs. O mesmo ocorre no centro-

    sul do Par, onde estimativas apontam que as estradas

    informais em grande parte abertas por madeireiras

    ilegalmente estariam se multiplicando com muita

    velocidade e j seriam maioria na malha viria local.1

    A TI Cachoeira Seca, do povo Arara, est localizada nessa

    regio. H informaes de que quase um quarto da

    rea estaria ocupada por invasores. Partindo da rodovia

    Transamaznica (BR-230), cerca de 735 quilmetros de vicinais

    teriam sido abertos dentro da TI, que tem 734 mil hectares

    (4% j desmatados). As invases atravancam o processo de

    regularizao, que se arrasta h 20 anos. No incio dos anos

    1980, colonos foram assentados no local pelo governo.

    Mais tarde, outros acabaram instalando-se estimulados por

    polticos e fazendeiros. Grileiros e madeireiros tambm se

    aproveitaram da situao para invadir as terras.2

    Perto dali, outra grande estrada ameaa os povos

    indgenas. Mais de 32 mil ndios, de 37 etnias diferentes,

    podem sofrer algum tipo de impacto do asfaltamento da

    BR-163 (Cuiab-Santarm). Eles vivem na rea de influncia

    da estrada, entre o Mato Grosso, o Par e o Amazonas. Entre

    as consequncias da obra, so apontados crescimento

    populacional desenfreado e a intensificao de conflitos

    pela terra e outros recursos naturais.3 As 33 TIs localizadas

    nessa regio j sofrem com o assdio cada vez maior de

    madeireiras e grileiros de terras. A abertura da rodovia, nos

    anos 1970, quase levou extino, por doenas e conflitos,

    os ndios Panar, que viviam no norte do Mato Grosso.

    H anos, a finalizao dos 950 quilmetros ainda no

    asfaltados da BR-163 reivindicada como forma de

    facilitar o escoamento de gros e carne produzidos no

    Centro-Oeste e atender a demanda por servios bsicos

    da populao local. Em 2002, o governo federal anunciou

    a pavimentao desse trecho, o que fez com que a taxa

    de desmatamento na regio desse um salto. Quase toda

    a obra e o plano elaborado pelo governo e sociedade

    civil para mitigar e compensar seus impactos negativos

    continuam parados.

    mudana na feio do biomaA construo de grandes rodovias pelo governo militar, a

    partir dos anos 1960, interiorizou a ocupao no indgena,

    que at ento se concentrava ao longo dos principais rios,

    e mudou a feio do Bioma Amaznico. A abertura da BR-

    153 (Belm-Braslia), da BR-364 (Cuiab-Porto Velho),

    da Transamaznica (Norte-Nordeste) e da BR-163

    configurou o chamado arco do desmatamento, a grande

    faixa que margeia a rea central da Regio Norte, onde

    ocorrem os maiores ndices de desflorestamento e a

    fronteira agrcola avana a partir do leste do Par, norte

    de Tocantins, do Mato Grosso e Rondnia rumo ao corao

    da Floresta Amaznica.

    Em 1975, a Amaznia Brasileira tinha 29,4 mil quilmetros

    de estradas, dos quais 5,2 mil quilmetros asfaltados. Em

    2004, a extenso da malha rodoviria multiplicou-se quase

    dez vezes e passou para 268,9 mil quilmetros (menos

    de 10% pavimentados).4 Parte significativa dessas vias

    construda de forma irregular, sem os estudos de impacto

    ambiental e as licenas exigidas por lei, em terras pblicas

    e reas protegidas.

    Como outros projetos de infraestrutura, as estradas so

    importantes para estimular a economia, integrar locais

    distantes e prover acesso a servios pblicos, como escolas

    e hospitais. Quando no so acompanhadas de polticas

    de desenvolvimento sustentvel, no entanto, podem ser

    indutoras da devastao, como tem ocorrido com as TIs.

    Na Amaznia, nenhum outro tipo de empreendimento

    de infraestrutura to responsvel pelo desmatamento:

    75% dele ocorre em uma faixa de at 100 quilmetros

    ao redor das rodovias, segundo o Inpe.5 Um estudo

    calculou que o desflorestamento associado a obras virias

    planejadas para a regio, em 2000, poderia ser de at 180

    mil quilmetros quadrados ao longo dos prximos 25

    ou 35 anos. O asfaltamento aumentaria ainda o risco de

    incndios florestais.6

    wig

    old sch

    affer/m

    ma

    infraestruturaestradas

  • 15 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    rodovias e terras indgenasinfraestruturaesTraDas

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    009.

    OceanoAtlntico

    ESTrAdAS E dESmATAmEnTo nA TI cAchoEIrA SEcA do IrIrI (PA)

  • 16 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileirana mira dos grandes projetos de infraestrutura

    BiBliografia(1) Financiamento a megaprojetos: novos desafios. Ricardo Verdum. In Contracorrente. Rede brasil sobre

    instituies Financeiras multilaterais. Janeiro de 2009. http://www.rbrasil.org.br

    (2) Site oficial do PAC. http://www.brasil.gov.br/pac

    (3) o futuro da amaznia: os impactos do Programa avana brasil.

    Philip m. Fearnside e William F. laurence. In Cincia Hoje 61. maio de 2002.

    (4) BR-319 Projeto de Reconstruo. contribuies ao Processo de

    licenciamento e anlise do estudo de impactos ambientais. idesan, Gta, cimi

    e Greenpeace. Junho de 2009. http://www.greenpeace.org.br/amazonia/pdf/

    analise_eia_Rima_consolidado_15_Junho_2009_autarquias.pdf

    (5) Uma Tempestade Perfeita na Amaznia Desenvolvimento e

    Conservao no Contexto da IIRSA. timothy J. Killeen. conservao

    internacional. 2007. http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/

    liVRo_iRSa_PoRt.pdfImplicaes da IIRSA e projetos

    correlacionados na poltica de conservao no Brasil. Poltica ambiental

    n 3. conservao internacional. 2007. http://www.conservation.org.br/

    publicacoes/files/politica_ambiental_3_maio_2007.pdf

    Site oficial da IIRSA. http://www.iirsa.org

    A enorme quantidade de minrios, madeira, terras e gua fez com que a Amaznia fosse sempre vista como uma grande reserva de recursos naturais, uma plataforma de exportao para o resto

    do Brasil e do mundo. As polticas pblicas buscaram

    atender demandas externas e no as da prpria populao

    amaznica. No toa que a implantao de grandes

    projetos de infraestrutura seja prioridade dos governos para

    a regio h dcadas.

    Um exemplo a Iniciativa para Integrao da Infraestrutura

    Regional Sul-americana (IIRSA), criada em 2000 pelos doze

    pases da Amrica do Sul. Trata-se do maior programa para

    construo e integrao de hidreltricas, ferrovias, oleodutos,

    gasodutos, telecomunicaes e principalmente rodovias j

    desenvolvido no subcontinente. At agora, foram investidos

    US$ 21 bilhes, a maior parte dos governos nacionais, mas

    tambm do setor privado e de agncias multilaterais, como

    o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a

    Corporao Andina de Fomento (CAF). O Banco Nacional

    de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) tem se

    destacado no financiamento de projetos dentro e fora do

    Brasil, em especial de usinas hidreltricas.1

    O Plano de Acelerao do Crescimento (PAC) uma espcie

    de contraparte nacional da IIRSA. Apesar de poder ser

    considerado uma repetio em nova roupagem de programas

    de governos anteriores, como o Avana Brasil, foi anunciado,

    em 2007, pelo governo de Lus Incio Lula da Silva como um

    conjunto de investimentos supostamente capaz de produzir

    taxas de crescimento duradouras para o Pas. A promessa

    aplicar R$ 503,9 bilhes em todo Brasil, at 2010. Na Amaznia

    Legal, para o mesmo perodo, h previso de investimentos de

    R$ 35,1 bilhes para gerao e transmisso de energia e

    R$ 10,6 bilhes em logstica de transporte (excludos gastos

    do Mato Grosso e Maranho de carter regional).2

    Os investimentos, os subsdios oficiais, a perspectiva de

    aquecimento da economia, a disputa pelo acesso, uso

    e controle dos recursos naturais explicam o interesse de

    empresas, governos e polticos pelas obras. Da a presso

    para diminuir restries sua execuo e, se necessrio,

    alterar a legislao ambiental e limitar os direitos de

    populaes localizadas nas reas de influncia dos projetos.

    Os impactos socioambientais de grandes empreendimentos

    de infraestrutura perduram no tempo e espalham-se pelo

    territrio. Na Amaznia, os canteiros de obras muitas vezes

    levam criao de ncleos urbanos precrios, que, em geral,

    no conseguem atender a demanda por saneamento, sade

    e educao. A perspectiva de melhora no fornecimento

    de energia e nas condies de acesso acaba fazendo o

    preo das terras aumentar, o que estimula a grilagem e o

    desmatamento. Uma avaliao da implantao na Amaznia

    de um programa semelhante ao PAC estimou entre as suas

    consequncias a perda de at 506 mil hectares de floresta

    por ano, o equivalente ao territrio do Distrito Federal.3

    Um dos mais importantes empreendimentos previstos

    no PAC e na IIRSA a pavimentao da rodovia BR-319

    (Manaus-Porto Velho), orada em R$ 390,1 milhes. Com

    877 quilmetros, a estrada foi aberta em 1973, mas grande

    parte nunca foi asfaltada. A obra causa polmica porque

    atravessa uma das reas mais bem preservadas da

    Amaznia. Levantamento recente indica que ela

    pode significar o desmatamento de at

    39 milhes de hectares at 2050 e

    que, levando em considerao a

    interligao com outras estradas,

    pode afetar at 50 TIs, com

    uma populao de quase seis mil

    pessoas. Haveria ainda na rea de

    influncia da rodovia 11 outras TIs que

    precisam ser identificadas e quatro povos

    isolados, comunidades que so alvo constante

    de pistoleiros, madeireiros e grileiros de terras.

    Invases podem potencializar conflitos e dificultar a

    regularizao de algumas dessas reas.4

    InVESTImEnToS PrEVISToS PELA IIrSA (2005-2010)5

    Eixos de integrao e Desenvolvimento

    objetivosNo de

    projetos

    investimento estimado

    (em US$ milhes)

    financiamento prioritrio

    (em US$ milhes)

    amazonas* Pavimentao de rodovias para escoamento da produo de regies centrais do continente 91 8.027 1.215

    Peru-Brasil-Bolvia*Construo de hidreltricas, linhas de transmisso, redes rodovirias e fluviais para escoamento de produtos amaznicos e minerais via Oceano Pacfico

    21 12.000 1.067

    Escudo das guianas*Aproveitamento de recursos naturais (minrio de ferro, bauxita, ouro e produtos florestais) e potencial hidreltrico

    44 1.072 121

    andino*Interligao das malhas rodovirias, principais portos e aeroportos, linhas de transmisso e rede de telecomunicaes de Bolvia, Colmbia, Equador, Peru e Venezuela

    92 8.400 117

    Mercosul-ChileMelhoramento da malha rodoviria, facilitao do transporte nos rios Paraguai e Uruguai e conexo da malha energtica de Brasil, Uruguai, Argentina e Chile

    70 13.197 2.895

    interocenico CentralInterligao dos plos industriais de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e So Paulo com Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, a regio produtora de petrleo, gs e soja na Bolvia e o Oceano Pacfico

    54 7.210 921,5

    Capricrnio Melhoramento da malha rodoviria e ferroviria e interconexo com a hidrovia Paran-Paraguai 27 2.702 65

    Hidrovia Paraguai-Paran

    Reduo dos custos de transporte para exportao de gros e minrios 3 1.000 1

    Total 402 53.608 6.402,5

    NOTA: 1) excludos os eixos Sul e Sul-Andino, que no abragem o Brasil e a Amaznia; 2) modificado a partir dos originais. * Eixos com projetos previstos para o territrio pan-amaznico.

    infraestruturapac e iirsa

  • 17 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    obras previstas e em andamentoinfraestruturapaceiirsa

    FON

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    OceanoAtlntico

  • 18 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    foToHidreltrica de tucuru no

    Rio tocantins (Pa)

    BiBliografia(1) Site oficial do PAC.

    http://www.brasil.gov.br/pac

    (2) Plano Nacional de Energia 2030. empresa de Pesquisa energtica

    (ePe)/mme. 2007.

    (3) anlise das estimativas de populao atingida por projetos hidreltricos.

    mrian Regini nuti. In Integrao, Usinas Hidreltricas e Impactos Socioambientais.

    Pg. 57-88. instituto de estudos Socioeconmicos (inesc). 2007.

    (4) explorao do potencial hidreltrico da amaznia. Jos G. tundisi. In

    Revista Estudos Avanados 21 (59). Pg. 109-117. instituto de estudos avanados

    (iea/USP). 2007.

    (5;6) tucuru Hydropower complex, brazil. a WcD case study prepared as an input to

    the World commission on Dams. cape town. e.l. la Rovere e F.e mendes. 2000. citado em guas Turvas. alertas

    sobre as consequncias de barrar o maior afluente do amazonas. Glen Switkes (org.)

    e Patrcia bonilha (ed.). international Rivers network (iRn). 2008.

    (7) Hidreltricas e suas consequncias socioambientais. Slvio coelho dos Santos.

    In Integrao, Usinas Hidreltricas e Impactos Socioambientais. Pg. 41-56.

    instituto de estudos Socioeconmicos (inesc). 2007.

    (8) anlise do projeto belo monte e de sua rede de transmisso associada

    frente s polticas energticas do brasil. andr Saraiva de Paula. In

    Tenot-M. Pg. 114-32. international Rivers network (iRn). 2005.

    as tis e a nova geografia da gerao e distribuio de energiaDe acordo com as informaes assinaladas no mAPA, esto operando hoje na Amaznia Legal 16 usinas hidreltricas (UHEs) e 67 Pequenas Centrais Hidreltricas (PCHs), com at 30 megawatts (MW)

    de potncia instalada. Existem outras 177 PCHs e 70 UHEs

    planejadas. Para a Regio Norte, at 2010, o PAC prev

    investimentos de R$ 24,3 bilhes em dez UHEs e seis

    PCHs, alm de R$ 5,4 bilhes em 4,7 mil quilmetros de

    linhas de transmisso.1

    Grande parte do potencial hidreltrico do centro-sul do

    Pas j foi aproveitada. Enquanto isso, a Bacia do Amazonas

    abriga a maior parte do potencial ainda a ser aproveitado

    e tem seu prprio potencial praticamente inexplorado

    (veja tabela). Segundo os planos do governo, 66% da

    expanso potencial da gerao de energia hidreltrica

    prevista para o Brasil at 2020 de 43.787 MW dever

    acontecer na regio amaznica.2

    Os dados revelam uma nova geografia da gerao e

    distribuio de energia, que, por sua vez, redesenha

    as relaes do Brasil com a Amaznia. Como indica o

    mapa ao lado, a ampliao da conexo da regio ao

    Sistema Interligado Nacional por meio de novas linhas de

    transmisso abre caminho para consolid-la como uma

    grande exportadora de eletricidade para os centros

    urbanos brasileiros, os setores industrial e minerrio.

    impactos sobre grandes territriosNo existem dados sistematizados sobre o nmero de

    pessoas afetadas por projetos hidreltricos no Pas, mas

    segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

    elas seriam 1 milho. Representantes do governo e de

    empresas falam de um contingente de at 300 mil.3

    O alagamento de reas, o deslocamento e reassentamento de

    moradores, por si s, j so motivo de uma srie de problemas

    e conflitos. Mas, ao contrrio do que muitas pessoas acham,

    essas no so as nicas consequncias da construo de

    uma barragem. Elas ainda vo alm do assoreamento do rio

    represado, da diminuio ou extino de peixes que fazem

    parte da dieta das comunidades ribeirinhas. A natureza e

    o alcance dessas consequncias podem variar bastante,

    dependendo do local e das dimenses do empreendimento.

    Alm de ecossistemas aquticos e terrestres, tambm podem

    ser impactados o clima, o ciclo hidrolgico, a economia, a

    forma de ocupao da terra, a distribuio e o crescimento

    da populao, o padro de

    disseminao de doenas. E

    no apenas de uma regio, mas

    tambm de grandes territrios.

    Segundo especialistas, a

    construo de barragens na

    Amaznia comporta problemas de

    ordem diferente do que no resto

    do Pas. O grau de especializao

    e de adaptao de animais e

    plantas muito grande. Como em

    nenhum outro lugar, o equilbrio

    dos ciclos de vida depende

    do sistema de cheias e

    vazantes. Alteraes

    nesse sistema podem

    impactar toda a cadeia

    de espcies de vrzeas e

    plancies inundveis, com efeitos ainda pouco conhecidos

    tambm sobre a agricultura, a explorao madeireira, a

    pecuria e a criao de peixes. H estimativas de que s a

    pescaria artesanal na regio amaznica empregaria 70 mil

    pessoas, manteria outras 250 mil e geraria entre US$ 100

    milhes e US$ 200 milhes por ano.4

    A Amaznia guarda alguns dos piores exemplos de relao

    entre custos e benefcios de hidreltricas (saiba mais na

    pgina 36). Um estudo da Comisso Mundial de Barragens

    estima que a formao do reservatrio de 3 mil quilmetros

    quadrados da usina de Tucuru (PA) tenha desalojado de 25

    mil a 35 mil pessoas. Os povos indgenas Parakan, Assurini e

    Gavio foram diretamente afetados.5

    O setor de minerao e metalurgia consome cerca da

    metade da capacidade instalada de energia eltrica da

    Regio Norte.6 Aproximadamente 20% da energia eltrica

    produzida hoje no Brasil agregada a produtos destinados

    exportao, em particular o alumnio.7 O detalhe que as

    empresas do ramo j tm sua carga de impostos reduzida e

    Tucuru, por exemplo, concedeu a elas subsdios da ordem

    de US$ 2 bilhes.8

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    SiSTEMa iNTErligaDo

    NaCioNal E liNHaS DE TraNSMiSSo PrEviSTaS

    Para a aMazNia

    infraestruturahidreltricas

  • 19 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    projetos hidreltricos, microbacias e mesobacias afetadas na amaznia legal

    Bacia Hidrogr ca

    Potencial Estimado

    Total (MW)

    Potencial inventariado

    (MW)

    Potencial aproveitado*

    (%)

    Amaznica 106.149 77.893 1,07%

    Paran 57.801 52.438 79,5%

    Tocantins-Araguaia 28.035 23.495 51,9%

    So Francisco 17.757 15.840 64,9%

    Outras bacias 41.748 34.275 37,2%

    Total/Brasil 251.490 203.941

    GErAo dE hIdroELETrIcIdAdE Por BAcIA hIdroGrfIcA no BrASIL

    NOTA: modifi cado do original. FONTE: Plano Nacional de Energia 2030. Empresa de Pesquisa Energtica (EPE)/MME. 2007.*Sobre o potencial inventariado.

    infraestruturaHiDreLTricas

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    OceanoPacfi co

    OceanoAtlntico

  • 20 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    foToPovos indgenas protestam contra

    hidreltricas durante encontro Xingu Vivo para Sempre em altamira (Pa), em 2008.

    BiBliografia(1) Plano Nacional de Energia 2030.

    empresa de Pesquisa energtica (ePe) / mme. 2007.

    (2;3) anlise das estimativas de populao atingida por projetos hidreltricos.

    mrian Regini nuti. In Integrao, Usinas Hidreltricas e Impactos Socioambientais.

    Pg. 57-88. instituto de estudos Socioeconmicos (inesc). 2007.

    (4) minerao e hidreltricas em terras indgenas: afogando a galinha dos ovos de

    ouro. Raul Silva telles do Valle. In Revista Proposta. Federao de rgos para

    assistncia Social e educacional (FaSe). out/Dez de 2007.

    povos indgenas sero os principais atingidos por hidreltricasO

    mAPA classifica as macrobacias amaznicas segundo a presena de projetos hidreltricos e sua

    potncia instalada prevista. Grifadas em vermelho,

    as macrobacias do Tapajs, do Madeira e do Tocantins

    concentram uma enorme quantidade de empreendimentos.

    O Amap tambm tem um conjunto significativo de

    usinas planejadas, sobretudo para abastecer mineradoras.

    A macrobacia do Xingu, assinalada em laranja, possui uma

    quantidade menor de projetos, mas abriga aquele que pode

    ser o segundo maior do Brasil, Belo Monte (PA), com cerca de

    12.000 MW de potncia instalada prevista.

    Essas regies renem 80% do potencial hidreltrico

    passvel de aproveitamento na Amaznia e, ao mesmo

    tempo, um grande nmero de TIs e outras reas protegidas,

    classificadas pelos tcnicos do governo como restries

    socioambientais ao aproveitamento hidreltrico (veja

    tabela 1). Como indica o mapa, so regies onde grande

    a possibilidade de usinas provocarem conflitos e impactos

    negativos sobre populaes indgenas.

    Segundo a Empresa de Pesquisa Energtica (EPE), o

    aproveitamento de 44% do potencial hidreltrico da Bacia

    Amaznica e das macrobacias do Araguaia e Tocantins

    (apenas parcialmente amaznicas) trar algum tipo de

    consequncia sobre as TIs (veja tabela 2).1 No h dvida,

    portanto, que os povos indgenas sero os principais

    atingidos pelos projetos hidreltricos previstos para a

    Amaznia. Clculos baseados em informaes de 27

    empreendimentos planejados nessas bacias estimam que

    eles possam afetar pelo menos 44 mil pessoas.2

    Os nmeros sobre o assunto so imprecisos e, muitas

    vezes, subestimados: a maioria dos Estudos de Impacto

    Ambiental (EIA) negligencia custos e consequncias

    socioambientais das barragens. Uma parcela significativa

    deles simplesmente no traz nenhuma informao

    sobre moradores que precisam ser realocados.3 No

    caso dos ndios, alm da inundao de territrios, as

    barragens colocam em risco o suprimento de peixe, sua

    principal fonte de protena e elemento importante de

    diversas prticas culturais. As comunidades indgenas

    so extremamente adaptadas e dependentes do

    funcionamento regular dos ecossistemas que habitam para

    sobreviver.4 O abandono forado de seus locais de moradia

    e modos de vida tradicionais tem efeitos desastrosos. Em

    geral, os EIAs tambm no mencionam problemas graves

    como alcoolismo, mendicncia, prostituio e desnutrio

    infantil, que tendem a aumentar com a realizao de obras

    em TIs e reas prximas.

    as hidreltricas e a constituioApesar de tantas usinas planejadas ou em construo

    na Amaznia, a Constituio diz que quaisquer

    empreendimentos que afetem TIs precisam de autorizao

    do Congresso Nacional, consulta prvia aos povos atingidos,

    estudos de inventrio e impactos socioambientais

    adequados e uma lei especfica que regulamente o assunto.

    Mesmo inexistindo essa legislao, o projeto que autoriza a

    Tabela 1. rESTrIES SocIoAmBIEnTAIS Ao PoTEncIAL hIdrELTrIco nA AmAznIA

    FONTE: Plano Nacional de Energia 2030. Empresa de Pesquisa Energtica (EPE)/MME. 2007.

    NOTA: modificado do original.

    MacrobaciaPotencial a

    aproveitar (MW)Potencial com

    restries (MW)Potencial com restries (%)

    Tapajs 24.626 17.841 72,4%Xingu 22.795 17.114 75%Madeira 14.700 1.556 10,5%Tocantins 8.019 7.109 88,6Trombetas 6.236 4.745 76%Negro 4.184 4.184 100%Araguaia 3.095 3.095 100%Jari 1.691 1.373 81,1%Branco 1.079 660 61,1%Paru 938 118 12,5%Oiapoque 250 250 100%Purus 213 213 100%Maecuru 161 161 100%Nhamund 110 110 100%Uatum 75 0 0%Total 88.172 58.529 66,3%

    implantao da usina de Belo Monte (PA), no Rio Xingu, foi

    aprovado pelos parlamentares em 2005, sem consulta s

    comunidades interessadas e em menos de uma semana.

    Atualmente, existem quatro propostas

    em tramitao no Congresso para

    autorizar a construo de usinas que

    podem atingir TIs (trs em Roraima e

    uma no Paran). A Conveno 169 da

    Organizao Internacional do Trabalho

    (OIT), referendada pelo Brasil, tambm

    determina que atividades econmicas

    que atinjam povos indgenas,

    como as hidreltricas, precisam do

    consentimento livre, prvio e informado

    desses povos. Quanto a esses pontos,

    portanto, a Constituio e os acordos

    internacionais assinados pelo Pas tm

    sido desrespeitados sistematicamente.

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    infraestruturahidreltricas

  • 21 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    classificao das macrobacias amaznicas segundo a incidncia de projetos hidreltricos

    impacto Potencial (MW) Potencial (%)

    Sem impacto signifi cativo 30.106 34%

    Terra Indgena 39.095 44,2%

    Parque Nacional 9.545 10,8%

    rea de Quilombo 2.883 3,2%

    Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS)

    968 1%

    rea de Proteo Ambiental (APA) 768 0,8%

    Floresta Nacional (Flona) 420 0,4%

    Reserva Biolgica 50 0,05%

    Demais impactos* 4.520 5,1%

    Total 88.355 100%

    Tabela 2. PoTEncIAL hIdrELTrIco nA AmAznIA SEGundo ImPAcToS SocIoAmBIEnTAIS

    * Cidades, rea populosa, rio virgem, rea alagada, custo da terra e presena de infraestrutura de importncia signifi cativa.NOTA: modifi cado do original. FONTE: Plano Nacional de Energia 2030. Empresa de Pesquisa Energtica (EPE)/MME. 2007.

    infraestruturaHiDreLTricas

    FON

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    OceanoAtlntico

  • 22 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia BrasileiraGrandes rios amaznicos esto ameaados

    foToDe acordo com os ndios enawen-naw,

    a diminuio do nmero de peixes em suas terras, no norte do mato Grosso,

    provocada pelas obras em usinas no Rio Juruena, um dos formadores do tapajs.

    todo ano os enawen-naw erguem barragens tradicionais de pesca.

    o peixe representa a quase totalidade da dieta da comunidade e figura

    central de seus rituais.

    BiBliografia(1; 3) Tenot-M. alertas sobre as

    consequncias dos projetos hidreltricos no Rio Xingu. oswaldo Sev Filho (org.).

    international Rivers network (iRn). 2005.

    (2) CPFL Energia projeta que Belo Monte possa custar at R$ 25 bilhes. alexandre

    canazio, agncia canal energia, 20/08/2009. http://www.canalenergia.com.br/

    zpublisher/materias/busca.asp?id=73316

    (4; 5) guas Turvas. alertas sobre as consequncias de barrar o maior afluente

    do amazonas. Glen Switkes (org.) e Patrcia bonilha (ed.). international Rivers

    network (iRn). 2008.

    (6) Cartilha de Mobilizao Social Barragens no Madeira e a cidade de

    Porto Velho. campanha Popular Viva o Rio madeira Vivo. artur de Souza moret, iremar

    antnio Ferreira e Srgio P. cruz. 2007. http://www.riomadeiravivo.org

    (7) Site oficial do PAC. http://www.brasil.gov.br/pac

    (8) Estudos de inventrio hidreltrico dos rios Tapajs e Jamanxim. camargo

    corra/ eletronorte/cnec. maio de 2008.

    (9) Eletrobrs entrega estudos de inventrio de complexo hidreltrico do

    Tapajs Aneel. Fbio couto, agncia canal energia, 19/11/2008. http://www.

    canalenergia.com.br/zpublisher/materias/meio_ambiente.asp?id=68341

    O mAPA apresenta uma classificao das TIs segundo a presena de projetos hidreltricos nas microbacias

    e mesobacias onde elas esto localizadas. As TIs

    grifadas em vermelho esto situadas em regies onde h uma

    grande concentrao de empreendimentos previstos (presso

    potencial). Aquelas assinaladas em laranja e amarelo esto em

    bacias onde existem projetos em construo (presso futura)

    e em operao (presso atual), respectivamente. Saiba abaixo

    um pouco mais sobre os principais projetos hidreltricos que

    ameaam os povos indgenas na Amaznia.

    belo monteEntre as vrias regies que podem ser afetadas por

    usinas hidreltricas, a Bacia do Xingu abriga um dos mais

    importantes conjuntos de reas protegidas do Brasil e

    do mundo (veja na pg.10). Estima-se que cerca de 16 mil

    pessoas podem ser deslocadas por conta da construo da

    usina de Belo Monte, no Rio Xingu, em Altamira (PA). Caso ela

    seja construda, clculos sugerem que, nos meses de seca,

    logo abaixo da represa onde esto as TIs Paquiamba e

    Arara da Volta Grande o rio poderia ter menos da metade

    da vazo mnima j registrada. Entre outros impactos, so

    esperados a diminuio e possvel extino de peixes;

    assoreamento; emisso de gases de efeito-estufa pela

    decomposio da vegetao submersa; contaminao

    de peixes e pessoas por mercrio (dejeto de atividade

    garimpeira).1 As comunidades que podem ser afetadas

    no foram consultadas sobre o projeto adequadamente,

    enquanto os trmites para sua implantao avanam.

    Desde os anos 1980, povos indgenas e movimentos sociais

    lutam para impedir o barramento do Xingu. Empresas do

    setor eltrico calculam que o empreendimento custe entre

    R$ 20 bilhes e R$ 25 bilhes,2 fora os gastos com dois mil

    quilmetros de linhas de transmisso, estimados em mais

    de R$ 10 bilhes.3 A usina pode vir a operar com menos da

    metade da potncia instalada prevista de 12.000 MW durante

    vrios meses do ano. Grande parte da eletricidade gerada

    dever ser destinada a mineradoras e siderrgicas.

    rio madeiraOutro dos grandes rios amaznicos ameaados por hidreltricas

    o Rio Madeira. Ele responsvel por metade da carga de

    sedimentos do Rio Amazonas e seu

    mais importante afluente. Isso no

    impediu que o governo autorizasse

    e esteja financiando, por meio do

    BNDES, grande parte da construo

    das usinas de Santo Antnio e

    Jirau, em Porto Velho (RO), com

    capacidades instaladas de 3.150 MW

    e 3.300 MW, respectivamente. As

    duas obras esto oradas em cerca

    de R$ 25 bilhes. H ainda 2,4 mil

    quilmetros de linhas de transmisso,

    estimados em at R$ 15 bilhes.4

    Movimentos sociais e organizaes

    no governamentais realizaram

    inmeras mobilizaes contra as

    duas barragens. A mesma histria se repete: comunidades

    locais e povos indgenas no foram ouvidos, mas a construo

    das duas usinas seguiu adiante. Avaliaes independentes

    revelaram que o EIA do complexo hidreltrico do Madeira

    inconsistente. Processos de eroso e assoreamento do rio foram

    desconsiderados. O tamanho dos reservatrios pode ser at o

    dobro do que o previsto. Ao contrrio do que afirmou o estudo,

    o territrio boliviano situado acima dos reservatrios dever

    ser inundado. Centenas de espcies de peixes correm risco

    de extino.5 Os povos Karitiana, Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau,

    Kaxarari e ndios isolados devero ser afetados.6

    bacia do tapajsO represamento do Madeira pode gerar impactos em cadeia

    sobre outras regies. O PAC prev, at 2010, investimentos de

    R$ 4,2 bilhes para construo de linhas de transmisso que

    iro distribuir energia no Mato Grosso e Rondnia e ampliar

    a conexo dos dois estados ao sistema eltrico nacional.7

    Essas linhas devero viabilizar a enorme quantidade de usinas

    previstas e em estudo entre o oeste do Mato Grosso e o sul

    de Rondnia e estimular a construo de outras (veja mapas

    nas pp.18 e 19). Esse corredor de transmisso e gerao de

    energia dever ter impactos em alguns dos principais rios

    formadores dos afluentes da margem direita do Rio Amazonas,

    afetando boa parte do sul da Amaznia. De acordo com

    estudo de inventrio, o Rio Tapajs, localizado nessa regio,

    poderia abrigar at trs hidreltricas e o Rio Jamanxim, seu

    principal afluente, mais quatro, totalizando 14.245 MW de

    potncia instalada.8 Informaes do conta de que o governo

    pretende acelerar os procedimentos para tirar do papel pelo

    menos cinco delas, a um custo da ordem de R$ 30 bilhes.9 O

    inventrio do Teles Pires, outro formador do Tapajs, indicou a

    possibilidade de seis barramentos. No Rio Juruena, na mesma

    bacia, h 10 PCHs operando, nove em construo e mais 54

    planejadas, alm de 17 UHEs planejadas. reas protegidas

    ocupam pouco mais 60% da Bacia do Tapajs. H na regio 19

    TIs, que abrigam cerca de 10 mil moradores.

    vin

    cen

    t ca

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    i

    infraestruturahidreltricas

  • 23 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    classificao das tis segundo a proximidade com rios afetados por projetos hidreltricosinfraestruturaHiDreLTricas

    FON

    TE: I

    SA, 2

    009.

    OceanoPacfi co

    OceanoAtlntico

  • 24 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraa dinmica da devastaodesmatamento

    foToSreas de floresta em diferentes estgios:

    (de cima para baixo) conservada, altamente degradada e com corte raso.

    A. So Flix do Xingu (Pa), 2002.

    B. Desmatamento margem do Rio iriri, terra do meio (Pa), 2002.

    C. Fazenda em mato Grosso, 2008.

    BiBliografia(1) O avano da fronteira na Amaznia:

    do boom ao colapso. Daniele celentano e adalberto Verssimo. imazon. 2007

    http://www.imazon.org.br/novo2008/arquivosdb/edaind02_boomcolapso.pdf

    (2) Devastao combina com violncia. In Almanaque Brasil Socioambiental

    2008. Pg. 388. instituto Socioambiental (iSa). 2007.

    (3) Queimadas. arnaldo carneiro Filho. In Almanaque Brasil Socioambiental

    2008. Pg. 283-284. instituto Socioambiental (iSa). 2007.

    (4) Emisso de gs-estufa no pas sobe 24,6% em 15 anos. Rafael Garcia.

    Folha de S. Paulo. 26/10/2009.

    (5) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). http://www.inpe.br

    O peso de cada uma das causas do desmatamento e a forma como se combinam podem variar na Amaznia, mas, em geral, elas so as mesmas: a agropecuria, a explorao madeireira, a grilagem

    de terras e projetos de infraestrutura. A devastao

    segue um roteiro conhecido: 1) as madeireiras abrem

    vicinais a partir das rodovias na direo de locais com

    rvores valiosas, muitas vezes em reas protegidas ou de

    comunidades ribeirinhas; 2) as madeireiras esgotam o

    estoque de madeiras nobres e buscam novas frentes de

    extrao; 3) aproveitando-se das estradas abertas, grileiros

    e fazendeiros financiam a converso da floresta em pasto

    com a venda da madeira restante; 4) consolida-se uma

    pecuria extensiva de baixa produtividade.

    Por causa do salto e posterior declnio no nvel da atividade

    econmica que esse processo ocasiona, pesquisadores

    do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia

    (Imazon) apelidaram-no de boom-colapso. De acordo

    com eles, os benefcios iniciais do desmatamento, como

    emprego e renda, ficam restritos a poucos setores da

    sociedade e no duram mais que 15 anos. O saldo deixado

    para trs de estagnao econmica, pobreza, conflitos

    fundirios, floresta e solo arruinados.1 Em 2004, apenas 21%

    da populao economicamente ativa da Amaznia Legal

    tinha emprego formal. Par, Amazonas, Acre, Tocantins e

    Maranho esto entre os estados com piores indicadores

    sociais e de concentrao de renda. Os municpios que

    mais desmatam tambm tm um nmero de casos de

    assassinatos acima da mdia nacional.2

    Desde 1988, o Inpe estima taxas de desmatamento anuais

    por meio do Programa de Clculo do Desflorestamento

    na Amaznia (Prodes). Em 2003, o rgo criou o Sistema

    de Deteco de Desmatamento em Tempo Real (Deter),

    que utiliza imagens de satlites de menor resoluo, mas

    que podem ser obtidas em apenas algumas semanas. O

    Deter vem sendo usado para subsidiar aes de combate

    ao desmatamento em campo. Em 2008, o Inpe colocou

    em operao o Mapeamento de Degradao Florestal na

    Amaznia Brasileira (Degrad), capaz de identificar locais

    que sofreram extrao seletiva de madeira. Esse novo

    sistema veio sanar uma lacuna de informao importante:

    pesquisas apontam que uma rea equivalente quela

    completamente desmatada j pode ter sido afetada por

    diferentes graus de degradao na regio amaznica.3

    fhc e lulaDe acordo com o Inpe, 14% dos 4,2 milhes de

    quilmetros quadrados da Floresta Amaznica no Brasil

    j foram desmatados. Durante o governo Fernando

    Henrique Cardoso (1995-2002), em mdia 19.125

    quilmetros quadrados de floresta foram destrudos

    anualmente. At 2008, o governo Lula consumou uma

    marca no muito melhor: 18.487 quilmetros quadrados

    anuais. Estimativas apontam que a participao do

    desflorestamento nas emisses de gases de efeito-estufa

    do Brasil est diminuindo, mas que ele ainda responde

    por mais da metade do total.4

    Nos ltimos 20 anos, o Mato Grosso foi responsvel por

    35,6% do desflorestamento na regio amaznica; o Par,

    por 32,5%, e Rondnia por 13,8% do total. Nos ltimos

    trs anos, o Par assumiu a liderana na lista dos maiores

    desmatadores.5 Entre 2005 e 2008, a propenso de

    queda do ndice geral de desflorestamento da Amaznia

    foi observada nas principais frentes de desmatamento

    (Rondnia, norte do Mato Grosso e nordeste do Par). O

    centro-sul paraense, outra frente importante, acompanhou

    a tendncia, mas manteve suas taxas num patamar ainda

    comparativamente alto, com Altamira, por exemplo,

    no topo da lista dos municpios que mais desmatam.

    Uma nova frente importante surgiu em Lbrea, no sul

    do Amazonas, regio que est sendo acessada pelas

    madeireiras pelas rodovias do norte do Mato Grosso.

    A

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  • 25 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    desflorestamento acumulado na floresta amaznicadesmatamento

    FON

    TE: I

    NPE

    / PR

    OD

    ES, 2

    009.

    OceanoAtlntico

    dESmATAmEnTo nAS cABEcEIrAS do rIo xInGu (mT)

  • 26 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileiraum balano do desmatamento nas tisdesmatamento

    foTomadeireira clandestina abastecida

    com madeira roubada dentro da ti alto Rio Guam (Pa).

    BiBliografia(1) O desmatamento na Amaznia e a importncia das reas protegidas.

    leandro Valle Ferreira, eduardo Venticinque e Samuel almeida. In Revista de Estudos

    Avanados 19 (53). instituto de estudos avanados (iea/USP). 2005.

    (2) Serrarias mveis so nova estratgia usada por madeireiros ao explorar

    ilegalmente regio amaznica do Maranho. amazonia.org, 02/09/2009. http://www.amazonia.org.br/noticias/

    noticia.cfm?id=326235 Ibama associa crime ambiental a

    trabalho escravo, trfico e explorao infantil no Par. Gilberto costa. agncia

    brasil, 27/04/2009. http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/04/27/

    materia.2009-04-27.8985023837/view Ibama fecha 13 madeireiras no Par.

    catarina alencastro. o Globo, 09/04/2009.

    (3) A Farra do Boi na Amaznia. Greenpeace. 2009. http://

    www.greenpeace.org.br/gado/farradoboinaamazonia.pdf

    As TIs tm cumprido papel fundamental na conservao: 98,4% de sua rea total na Amaznia est preservada. O desmatamento dentro delas corresponde a apenas 1,3% do desmatamento amaznico

    total. As TIs representam uma proteo to ou mais eficiente

    do que as UCs. Estimativas apontam que, em regies do Mato

    Grosso e Rondnia, o desflorestamento pode ser at 10 vezes

    maior fora das reas legalmente protegidas do que dentro

    delas. Essa proporo sobe para 20 vezes no Par.1

    Como indica o mAPA, porm, existem vrias regies crticas onde preocupante o ndice de desmates nas TIs. Elas so

    mais vulnerveis onde h maior facilidade de acesso. O muro

    de conteno ao desmatamento representado por TIs e

    UCs em locais at agora bem preservados pode comear a

    desmoronar caso no haja fiscalizao e medidas que possam

    frear a devastao de forma duradoura fora dessas reas.

    Mais de 93% do desmatamento identificado nas TIs seria de

    origem externa. (Para calcular esse ndice, foi feita uma anlise

    de imagens de satlite dos desmatamentos que levou em

    conta sua forma geomtrica e a contiguidade a outras reas j

    abertas, estradas, assentamentos e propriedades.)

    A classificao por cores do mapa abaixo levou em conta:

    1) TIs contguas ou mais prximas dos desmatamentos

    realizados nos ltimos trs anos e que esto situadas

    nos municpios que mais desmatam; 2) TIs que fazem parte

    do arco do desmatamento, onde teoricamente

    o desmatamento est consolidado; 3) TIs que no

    obedecem aos dois primeiros critrios foram consideradas

    menos ameaadas.

    Seguindo essa classificao, as TIs grifadas em vermelho

    apresentam o maior grau de presses relacionadas ao

    desflorestamento. Nessa situao, esto aquelas localizadas

    onde a fronteira agrcola avana com mais fora: em toda

    a faixa que se estende do sul do Amazonas, passando por

    Rondnia, oeste e norte do Mato Grosso, chegando ao Par

    (principalmente ao longo da Bacia do Xingu) e ao Maranho.

    As TIs Alto Rio Guam, Alto Turiau, Aw e Caru esto

    nessa situao. Elas esto localizadas em meio a um dos

    plos madeireiros mais tradicionais da Amaznia, entre

    o Maranho e o Par. So contguas e formam uma rea

    de cerca de 1,1 milho de hectares. Destes, mais de 18%

    foram desmatados. Segundo informaes

    da Funai e relatos da imprensa, milhares de

    metros cbicos de madeira foram retirados

    ilegalmente dessas reas nos ltimos anos.

    A atividade madeireira seria responsvel

    pelo crescimento desenfreado das cidades

    prximas, o que deve aumentar ainda

    mais as presses por terras, empregos e

    novas estradas.2 As TIs Rio Pindar e Krikati,

    situadas na mesma regio, esto em situao

    semelhante: 19% e 58% delas j foram

    desmatados respectivamente.

    A TI Apyterewa um caso um pouco diferente,

    mas igualmente emblemtico de rea

    pressionada. Ela est situada em So Flix do

    Xingu (PA), que tambm vem se mantendo no topo da lista

    dos municpios que mais desmatam nos ltimos 12 anos.

    Segundo levantamento realizado pela Funai entre 2006 e

    2008, haveria 1.159 reas ocupadas dentro da Apyterewa.3

    Dados do Inpe mostram que 8% dos 773,4 mil hectares da

    TI foram desflorestados, grande parte recentemente.

    As TIs grifadas em laranja so as de grau mdio de risco.

    So aquelas situadas em zonas j consolidadas da fronteira

    agrcola (Tocantins, centro do Maranho, extremo oeste

    do Mato Grosso e de Rondnia) ou que sofrem outros

    tipos de presso. Este o caso das TIs Yanomami e Waimiri

    Atroari (RR/AM), Vale do Javari (AM) e Mundurucu (PA/MT).

    As principais presses e ameaas que recaem sobre essas

    reas so a explorao ilegal de madeira e a minerao.

    As TIs representadas em amarelo, como a Alto Rio Negro,

    apresentam um grau mais baixo de risco.

    DESMaTaMENTo NaS Tis alTo rio guaM (Pa), alTo Turiau, aW, Caru E rio PiNDar (Ma)

    tho

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  • 27 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileira

    classificao das tis segundo grau de presso do desflorestamentodesmatamento

    FON

    TE: I

    SA, 2

    009.

    OceanoAtlntico

    dESmATAmEnTo nA TI APYTErEWA (PA)

  • 28 Atlas de Presses e Ameaas s Terras Indgenas na Amaznia Brasileirapolticas ineficientes de reforma agrria criam conflitos com tisassentamentos

    foToagrovila do Projeto de assentamento coutinho Unio, em Querncia (mt).

    BiBliografia(1; 2) O Fim da Floresta? A devastao das Unidades de Conservao e Terras

    Indgenas no Estado de Rondnia. Grupo de trabalho amaznico (Gta) / Regional

    Rondnia. Junho de 2008.

    (3; 5; 6; 7) Assentamentos rurais na Ama